Pedro Varella Estruturas Abertas Nantes
Pedro Varella Estruturas Abertas Nantes
Pedro Varella Estruturas Abertas Nantes
ESTRUTURA ABERTA:
O CASO DA ESCOLA DE ARQUITETURA DE NANTES, PROJETO DE LACATON E VASSAL.
2016
ESTRUTURA ABERTA:
O CASO DA ESCOLA DE ARQUITETURA DE NANTES, PROJETO DE LACATON E VASSAL.
Orientador:
Guilherme Carlos Lassance dos Santos Abreu
Rio de Janeiro
Março de 2016
2
Varella, Pedro
Estrutura aberta: o caso da escola de arquitetura de Nantes,
projeto de Lacaton e Vassal/ Pedro Varella – Rio de Janeiro:
UFRJ/FAU, 2016.
xi, 190f
Orientador: Guilherme Carlos Lassance dos Santos Abreu
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ PROARQ/ Programa de
Pós-graduação em Arquitetura, 2016
Referências Bibliográficas: f. 158-163.
1. Estrutura aberta 2. Lacaton e Vassal. 3. Escola de
arquitetura de Nantes I. Lassance, Guilherme II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Programa de Pós-graduação em Arquitetura. III. Estrutura aberta.
O caso da escola de arquitetura de Nantes, projeto de Lacaton e
Vassal.
4
RESUMO
5
ABSTRACT
How can we design structures that remain available to new forms of appropriation
over time? Or, still, what are the inherent qualities of spaces that have this
capability? If, on the one hand, these questions point to a contradiction between the
architectonic form - traditionally perennial and determined - and the conjuncture
they are part of - unstable and unpredictable -, on the other hand, they allow us to
question the possible ways of acting facing these conditions. Through the study of
the building of the School of Architecture of Nantes, designed by architects Anne
Lacaton and Jean Philippe Vassal, this dissertation raises questions that involve the
broad notion of open structure. The interpretation of these architects´work is
structured on the basis of a context that goes beyond the questions directly posed
by them, relating it with aspects that cross the disciplinary field with prominence
from the end of the 50s, illustrated here through a collection of projects from some
of the leading architects in recent architecture history. The comparison of the
various objects studied points to a series of qualities that allow us to recognize the
limits and possibilities of the application of the notion of open structure,
establishing a parallel between the designing actions and the physical-spatial
properties of the constructed artifacts.
Key words: Architecture; Open structure; Lacaton and Vassal; Nantes school of
architecture.
6
Agradeço a Guilherme Lassance por sua incansável dedicação ao ensino em
arquitetura, pelos momentos de troca e aprendizado dos quais tive o privilégio de
desfrutar intensamente desde os primeiros anos de estudo até os dias de hoje.
Aos meus parceiros do gru.a, pelo apoio e amizade, pelas muitas conversas
sobre e para além dos temas abordados nesse trabalho.
7
SUMÁRIO:
LISTA DE ILUSTRAÇÕES................................................................................................................................ 9
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................ 13
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES:
Capítulo 1:
Figura 1.1: Planta de térreo da Hunstanton school, Em vermelho os núcleos de circulação vertical. Alice e Peter
Smithson.1954. Fonte: BANHAM, 1955.
Figura 1.2: Modelo digital da Hunstanton school. Alice e Peter Smithson.1954. Editado a partir de:
http://www.historiaenobres.net/
Figura 1.4: Planta de térreo da Universidade livre de Berlin, 1963. Candilis, Josic e Woods. Fonte: RISELADA, 2005
Figura 1.5: Modelo físico da Universidade livre de Berlin, 1963-1973. Candilis, Josic e Woods. Fonte: RISELADA, 2005.
Figura 1.6: Prancha para Concurso da Universidade livre de Berlin, 1963. Candilis, Josic e Woods. Fonte: RISELADA, 2005
Figura 1.7: Construção da primeira fase da Universidade livre de Berlin,1 973. Candilis, Josic e Woods. Fonte: RISELADA,
2005
Figura 1.9: Maquete do Plano para Argel. Le Corbusier e Pierre Jeanneret, 1930.
Fonte: Fundação Le Corbusier.
Figura 1.10: Desenho do “edifício viaduto” para Argel. Le Corbusier e Pierre Jeanneret, 1930. Editado a partir de Fundação
Le Corbusier.
Figura 1.11: Kenzo Tange e o projeto para a baía de Tóquio, 1960. Fonte: MAMI, 2011.
Figura 1.12: Desenho do crescimento de coluna vertebral usado na apresentação do projeto para a baía de Tóquio, 1960.
Fonte: MAMI, 2011.
Figura 1.13: Desenho da Plano para Tóquio a partir do “eixo cívico”. O desenho nos dá a escala das edificações projetadas
sobre a macroestrutura. Editado a partir de MAMI, 2011.
Figura 1.14: Fotografia da maquete do Plano para Tóquio. No lado esquerdo da imagem o “eixo cívico”, no direito, servidos
pelos sub-eixos, os edifícios que constituem a microestrutura . Editado a partir de MAMI, 2011.
Figura 1.15/1.16: Edifícios ligados aos sub-eixos do Plano para Tóquio. A partir do corte é possível estimar que a altura dos
edifícios varia entre aprox. 180 e 130m. Editado a partir de MAMI, 2011.
Figura 1.17: Esquema de evolução da cidade segundo a ideia de cidade espacial de Yona Friedman. in MACIEL, Carlos
Alberto: Arquitetura como Infraestrutura, 2014.
Figura 1.18: Colagem da cidade espacial, Yona Friedman. Sobreposição com a infraestrutura existente. Fonte: ROUILLARD,
2004.
Figura 1.19: Colagem da Paris espacial, Yona Friedman, 1959. Sobreposição ao monumento da Place de la Bastille, em Paris.
Fonte: ROUILLARD, 2004.
Figura 1.20: Exposição “Architecture without buildings” concebida por Friedman no Ludwig Museum. Colônia, Alemanha
2012. Fonte: Ludwig Museum.
Figura 1.21: Primeira fase de construção do projeto de habitação de baixo custo. Lima, Peru. Estrutura em blocos de
concreto pré-fabricado. Maki; Kurokawa; Kiyonori, 1968. Fonte: MAMI, 2011.
Figura 1.22: No lado esquerdo foto da construção da estrutura básica pelos moradores da região em 1968. No lado direito
imagem dos acréscimos e renovação. Habitação de baixo custo no Peru. Maki; Kurokawa; Kiyonori, 1968. Fonte: MAMI, 2011.
Figura 1.23: No lado esquerdo foto da construção da “meia casa” do projeto Quinta Monroy, pelo
grupo Elemental. No lado direito imagem dos acréscimos construídos pelos moradores. Iquique,
Chile, 2004. Fonte: Elemental, Chile.
Figura 1.24: Planta da no-Stop-City. Sobreposição da trama projetada com elementos da geografia natural. Arquizoom, 1968-
1974 Fonte: BRANZI, 2006.
Figura 1.25: Planta da no-Stop-City. Fotografias do interior da maquete da No-Stop-City. Arquizoom, 1968-1974 Fonte:
BRANZI, 2006.
Figura 1.26: Planta da no-Stop-City.. Arquizoom, 1968-1974 in Typical Plan. Fonte: KOOLHAAS, 1995.
9
Figura 1.27: Colagem de No-Stop-City.. Arquizoom, 1968-1974. Fonte: ROUILLARD, 2004.
Figura 1.28: Planta baixa do Centro Pompidou. Em vermelho elementos de circulação vertical. Richard Rogers e Renzo Piano,
1969 Editado a partir de Fundação Renzo Piano.
Figura 1.29: Fotografia da construção do Centro Pompidou. A imagem mostra a sobreposição de lajes livres no interior do
edifício, possibilitadas pelo complexo sistema de pórticos estruturais do tipo gerberetti, projetados pelo engenheiro Peter
Rice. Richard Rogers e Renzo Piano, 1969 Fonte: Fundação Renzo Piano.
Figura 1.30: Fotografia do amplo espaço térreo do Centro Pompidou. Richard Rogers e Renzo Piano, 1969 Fonte: Fundação
Renzo Piano.
Figura 1.31: Plantas típicas dos arranha-céus Nova-iorquinos. Typical Plan, 1993. Fonte: KOLHAAS, 1995.
Capítulo 2:
Figura 2.1: Palais de Tokyo, Paris 2001-2012. O projeto se instala no interior da estrutura pré-existente. Fotografia de
Phillipe Renault. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.2: FRAC de Dunquerque (centro de arte), 2009-2013. Justaposição com a estrutura pré-existente. Fotografia de
Phillipe Renault. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.3: Edifício de Habitação em Bordeaux. 2011-(2016). Antes e durante a intervenção. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.4: Edifício de Habitação em Bordeaux. 2011-(2016). Construção do acréscimo na estrutura existente. Fonte: Lacaton
e Vassal.
Figura 2.5: Plantas tipo de três dos projetos do PLUS. Em azul a parte projetada, em branco a pré-existente. Em vermelho os
elevadores adicionados pelo projeto. No caso de Bois-le-Prêtre o espaço do prisma de ventilação e iluminação dos banheiros
foi usado como passagem para os novos elevadores. Editado a partir de Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.6: Fachada da torre de Bois-le-Prêtre depois da conclusão da renovação. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.7/2.8/2.9: Interior de três unidades de habitação da torre de Bois-le-Prêtre. Detalhe para os acabamentos internos
que foram mantidos. Fotografia de Frédéric Durot. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.10: Implantação da casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.11: Corte da casa de Cap Ferret. Detalhe para as fundação em estaca, cuja profundidade é definida pela resistência
do solo. Nesse caso, a casa foi implantada em uma duna. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.12: Construção da estrutura metálica da casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El Croquis
177/178.
Figura 2.13: Casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.14: Planta baixa da casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.15: Implantação das habitações de Mulhouse. Na implantação, em vermelho o lote projetado pela dupla. A partir
desse desenho nota-se a diferente estratégias adotada pelos demais arquitetos. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e
Vassal.
Figura 2.16: Corte das habitações de Mulhouse. Sobreposição das duas estruturas. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e
Vassal.
Figura 2.17: Habitações de Mulhouse. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.18: Planta baixa térreo e primeiro pavimento Habitações de Mulhouse. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e
Vassal.
Figura 2.19: Interior do primeiro pavimento de Mulhouse. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.20: Vista aérea do conjunto do Palais de Tokyo (esquerda) e do Museu de Arte Moderna de Paris (direita). Fonte:
Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.24: Planta baixa do térreo do Palais de Tokyo. Em vermelho os elementos adicionados pela reforma. Fonte: Lacaton
e Vassal.
10
Figura 2.26: Casa construída por Vassal para si próprio em Niamey, Niger, 1984 Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.27: Planta baixa da casa em Niger, 1984. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.28: Planta baixa do térreo e primeiro pavimento. Casa Latapie, 1991-1993. Fonte: Lacaton e Vassal.
Capítulo 3:
Figura 3.1: Imagem aérea do centro de Nantes. Editado a partir de Google Earth.
Figura 3.2/.3/.4: Imagens da Îlle de Nantes em 2015. Integração entre o tecido existente e o projetado pela equipe
Alexandre Chemetov. Fotografias: Guilherme Lassance.
Figura 3.5 Instalações industriais de Alstom, Îlle de Nantes, 2014. Fonte: site oficial da Îlle de Nantes. Disponível em:
http://www.iledenantes.com/fr/
Figura 3.6: Instalação industrial na Îlle da Nantes convertida em espaço de uso público, 2015. Fotografia: Guilherme
Lassance.
Figura 3.7: Imagem aérea do Trecho Oeste da Îlle de Nantes. Editado de Bing maps.
Figura 3.8/.9: Atelier na antiga Escola de arquitetura de Nantes, 1970. Fonte: AMOROUX, 2009.
Figura 3.10: Sítio de implantação da nova Escola de arquitetura de Nantes – trecho Oeste da Îlle de Nantes. Fonte: Lacaton e
Vassal.
Figura 3.11: Imagem aérea da Escola de Nantes. Editado a partir de Bing maps.
Figura 3.12: Imagem aérea da Escola de Nantes. Editado a partir de Bing maps.
Figura 3.13: Esquema da relação entre materiais usados na construção X volume interno. Editado a partir de: RUBY, 2011.
Figura 3.14: Fachada Sul. Escola de Arquitetura de Nantes. Lacaton e Vassal, 2009. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 3.15: Fachada Sul-Oeste da Escola de Nantes, 2015. Materiais de fechamento e estrutura em elementos pré-fabricados.
Fotografia: Pedro Varella.
Figura 3.16: Fachada Leste da Escola de Nantes, 2015.. Diferentes tipos de fechamento.
Policarbonato, venezianas de alumínio e panos de vidro. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 3.18: Construção da estrutura secundária no interior da primária. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 3.19: Corte esquemático da Escola de Nantes. Em azul os espaços gerados pela estrutura secundária. Em cinza as
áreas resultantes da sobreposição das duas lógicas construtivas. Editado a partir de RUBY, 2011.
Figura 3.20: Plantas da Escola de Nantes. Em azul os ‘espaços programados’ em branco os ‘não programados.
Editado a partir de El Croquis 177/178.
Figura 3.21: Esquema axonomérico do nível 2B. Estrutura primária e secundária. Editado a partir de RUBY, 2011.
Figura 3.22: Terraço da Escola de Nantes. Fonte: Associação de estudantes Achiculture.
Figura 3.23: Imagem a partir da ponte do Rio Loire. Passarela de conexão entre os dois volumes. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 3.24: Espaço não programado Nível 1A. Ao fundo entrada para Biblioteca e escada de acesso ao atelier de informática.
Por trás da fachada de policarbonato o edifício de pesquisa que o ocupa a parcela Norte do Lote.
Fotografia: Guilherme Lassance.
Figura 3.25: Espaço não programado Nível 1A. Ao fundo acesso para rampa perimetral. No primeiro nível, ao lado direito,
entrada para Biblioteca, no nível superior atelier de informática. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 3.26: Espaço não programado Nível 2A . Do lado direito dois estúdios de projeto, à esquerda vista para o rio Loire.
Fotografia: Guilherme Lassance.
Figura 3.27: Espaço não programado Nível 2A . Ao fundo dois estúdios de projeto. Fonte: Lacaton e Vassal.
11
Capítulo 4:
Figura 4.1: planta baixa nível 1A e planta baixa nível 1A com malha estrutural de 10x10m. editado a partir de RUBY, 2011.
Figura 4.2: imagem do encontro da trama primária com a rampa perimetral. Espaço sem uso pré definido ligado ao
restaurante universitário. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.3: Planta típica de arranha-céu em NY e planta típica da Escola de Nantes. Editado a partir de KOOLHAAS, 1993 e
RUBY, 2011.
Figura 4.4: trama secundária de 5x5m e sobreposição das duas tramas. Editado a partir de RUBY, 2011.
Figura 4.5: Imagem do laboratório de fabricação. a numeração dos pilares corresponde a posição das esperas metálicas
inseridas para receber estruturas secundárias.
Figura 4.6: Imagem do terraço. Espera metálica construída para permitir montagem de tendas efêmeras.
Figura 4.8: Okohaus. Fei Otto e Herman Kendel, 1987. Fonte: Revista 2G.
Figura 4.10: Equipe de obra trabalhando na conversão de uma parcela do laboratório de fabricação em uma oficina de corte
3D, em 2015. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.11: Estrutura em concreto construída pelos alunos, montada ao lado da rampa,. em 2015. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.12: Containers armazenados no nível 2A. em 2015. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.13: Auditório aberto para a rua por meio de porta de correr no fundo do palco. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 4.14: Laboratório de fabricação aberto para a rua por meio de porta de correr. Fotografia: Guilherme Lassance.
Figura 4.15: Circulação pela praça central. Nivel 1A. Ao lado esquerdo e ao fundo os núcleos de circulação vertical. No fundo
da imagem o acesso a rampa perimetral. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.16: Cruzamento de fluxos na praça central. Nivel 1A. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.21: Interior de associação de estudantes com conexão para a rampa perimetral e para o interior do edifício.
Fotografia: Guilherme Lassance.
Figura 4.22: Fabricação das peças estruturais do tipo gerberetti, centro George Pompidou.. Fonte: Fundação Renzo Piano.
Figura 4.23: Interior de uma das cápsulas, Nakagin Tower. Fonte: MAMI, 2011.
Figura 4.27: Elementos móveis no interior da Escola de Nantes. Fotografia: Pedro Varella.
12
INTRODUÇÃO
1
LACATON, Anne; VASSAL, Jean-Philippe. Liberdade estrutural, condição del milagro.
In Revista 2G n.60: Lacaton e Vassal; recente work. Editorial Gustavo Gili. Barcelona: 2011. Traduzido
pelo autor.
13
O termo estrutura aberta foi usado na pesquisa que deu origem ao livro “Rio
Metropolitano: guia para uma arquitetura” 2 como uma das qualidades através das
quais as arquiteturas selecionadas foram avaliadas. As estruturas abertas foram
reconhecidas por nós em situações que apresentam capacidades de lidar com a
complexidade e imprevisibilidade programática dos ambientes onde se inserem
baseados na coexistência de diferentes lógicas de ocupação, e na constante
reprogramação de seus espaços ao longo do tempo.
O termo estrutura, tal qual utilizado no contexto deste trabalho, não pretende fazer
alusão direta aos elementos portantes que suportam as cargas aplicadas às
edificações. Seu sentido baseia-se na natureza de determinadas situações
arquitetônicas, no caráter ou forma de organização de certo conteúdo. Intrínseco à
noção de estrutura está a dialética entre permanência e efemeridade, entre aquilo
que é constante, recorrente e reconhecível em seus diversos estados, e o que há de
específico, de único em cada momento em que a estrutura mesma é apreendida.
Em outras palavras, o termo diz respeito a uma lógica que se manifesta com certo
grau de coerência ao longo de sua existência, mas que assume diferentes
configurações no decorrer do tempo.
Aberta, por sua vez, como adjetivo para estrutura, procura sintetizar uma série de
conotações tais como a de disposição para transformações, indefinição,
incompletude e polivalência. Sendo assim, a associação dos dois termos enfatiza a
dualidade presente no primeiro, qualificando-o como uma matriz na qual as
variações não somente são possíveis, mas são estimuladas por meio de
características de seu modo de organização. Portanto, a noção de estrutura aberta
refere-se a arquiteturas que determinam simultaneamente uma forma construída e
um espaço a ser preenchido, isto é, definem-se mas também se colocam
disponíveis.
2
LASSANCE, Guilherme; VARELLA, Pedro; CAPILLÉ, Cauê. Rio Metropolitano: Guia para uma arquitetura.
Rio Books: Rio de Janeiro, 2013.
14
Essas qualidades podem estar presentes em diferentes intensidades e formas.
Existem também múltiplos caminhos que podem conduzir a tal condição. O
presente estudo abordará essas questões sem pretender dar a elas respostas
definitivas, se centrando na avaliação de situações concretas que possam indicar
caminhos para a incorporação destes temas à cultura do projeto de arquitetura. A
hipótese aqui defendida é de que existem certas qualidades que, se não garantem,
ao menos podem fornecer as possibilidades para que essa abertura ocorra.
O objetivo aqui será interpretar a obra desses arquitetos num contexto que vai
além das questões diretamente colocadas por eles, relacionando-a com aspectos
que atravessam o campo disciplinar com proeminência a partir do final dos anos
50. Para isso, essa dissertação foi dividida em quatro capítulos.
3
Termo cunhado por Alison e Peter Smithson em oposição à cidade funcional. SMITHSON, 1958.
15
a Baía de Tóquio (1960) , de Kenzo Tange e equipe 4, e a Ville Spatialle (1958-1962),
de Yona Friedman. No terceiro tópico serão discutidas as noções de neutralidade e
indefinição trazidas por projetos como a No-Stop-City (1968-1974), do grupo
Arquizoom, e pelo artigo Typical Plan 5 (1993), de Rem Koolhaas.
Para além das questões particulares à obra dos arquitetos, reconhece-se também o
fato de que o projeto de arquitetura deriva de uma série de fatores particulares ao
contexto nos quais se inserem. Por isso, o terceiro capítulo se inicia com um relato
sobre o ambiente no qual se realizou o projeto e construção da Escola de
arquitetura de Nantes, para depois apresentar uma leitura acerca dos princípios de
projeto identificados como diretrizes para a concepção do edifício. Essa análise é
feita a partir do estudo de documentos iconográficos e textuais, mas também por
meio das impressões obtidas a partir de uma visita a campo, realizada em
dezembro de 2015.
O último capítulo aponta uma série de qualidades através das quais se investigará a
aplicabilidade das noções que envolvem o tema da abertura estrutural no projeto
para a Escola de Nantes, lançando um olhar atento aos aspectos físico-espaciais da
obra em questão e estabelecendo relações com outros projetos e situações que nos
permitam aprofundar o debate sobre o tema.
4
A equipe de projetistas foi formada por Kenzo Tange, Koji Kamiya, Arata Isozaki, Sadao Watanabe,
Kisho Kurokawa e Kahng Byung-Kee.
5
KOOLHAS, Rem; MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova Yorque; Monacelli press, 1995. Pg.335-351
16
A conclusão deste trabalho irá avaliar a contribuição dos trabalhos aqui estudados
a partir da noção de estrutura aberta, e as possibilidades de incorporação dessas
noções no pensamento de projeto de arquitetura.
17
1
ESTRUTURA ABERTA
18
As questões que envolvem o estudo das estruturas abertas remetem a reflexões
que emergem no campo da arquitetura com especial força a partir do final da
década de 50, impulsionadas pelo posicionamento crítico em relação a algumas das
questões postuladas pelo movimento Moderno.
Sabe-se que essas manifestações críticas se deram de formas diversas e, por vezes,
antagônicas, resultando em múltiplas vertentes que estabelecem entre si inflexões,
descontinuidades e sobreposições.
A fim de aprofundar o estudo dessas práticas recorreu-se ao fundamental estudo
realizado pela arquiteta e historiadora francesa Dominique Rouillard, através de
seu livro “Superarchitecture: le futur de l’achitecture 1950-1970” 6. O debate
conduzido por Rouillard inscreve-se no movimento de desestabilização dos
alicerces de uma arquitetura calcada no otimismo de suas possibilidades
revolucionárias, desdobrando-se na reavaliação das formas de conceber as
relações entre cidade e arquitetura, entre a ação projetual e os cânones da
disciplina. Sobre sua leitura a respeito das contribuições do período, a autora
aponta:
Esse conjunto de manifestações foi aqui dividido a partir de três temas que não são
apresentados em ordem cronológica, mas baseiam-se na recorrência de certas
estratégias de projeto que nos permitem aprofundar o debate sobre as estruturas
abertas. São essas: 1.1- O espaço relacional e a crítica ao funcionalismo; 1.2–
Estrutura e preenchimento: coexistências de lógicas distintas; 1.3 - Neutralidade e
indefinição: planta livre total.
6
ROUILLARD, Dominique. Superarchitecture: le futur de l’achitecture 1950-1970. Paris: Editions de
laVillette, 2004. p13..
7
ROUILLARD,2004. p.13. (Tradução pelo autor)
19
1.1 - Espaço relacional e a crítica ao funcionalismo.
8
A carta de Atenas. Le Corbusier. São Paulo, Hucitec, Ed. Usp, s/d.
9
O próprio Corbusier foi gradualmente flexibilizando suas crenças em relação à uma aproximação
estritamente funcionalista defendida na Carta de Athenas. Sobre este fato, Colquhoun comenta: “Foi
essa ambiguidade que permitiu à ele (Corbusier) permanecer uma figura importante para a geração
do pós-guerra, que sentiam que suas ideias haviam sido trivializadas pela maior parte da segunda
geração de arquitetos modernos – estes nascidos na primeira década do século XX”. (COLQUHOUN,
2002 .pg212)
20
Em 1954, entre a realização do 9º e 10º encontro dos CIAM, o TEAM 10 divulga o
“Manifesto de Doorn”, expondo sua posição de divergência em relação aos
princípios majoritariamente defendidos na Carta de Athenas. Sobre este texto, Jean
Louis Cohen escreve:
Escola de Hunstanton
10
COHEN, 2013. p.321
21
Figura 1.1: Planta de térreo da Hunstanton school, Em vermelho os núcleos de circulação vertical.
Alice e Peter Smithson.1954. Fonte: BANHAM, 1955 (editado pelo autor).
Figura 1.2: Modelo digital da Hunstanton school. Alice e Peter Smithson.1954. Editado a partir de:
http://www.historiaenobres.net/
22
divisões internas ocorram a cada 1,20m, sem que sua presença interfira na
aparência externa do edifício.
11
Os arquitetos que assinam a publicação são: Jacob Bakema, Aldo van Eyck, George Candilis, Alison e
Peter Smithson, Shadrach Woods, Giancarlo de Carlo, J. Cordech, Charles Pologni, j. Soltan, Stefan
Wewerka e R. Erskine.(RISSELADA, 2005)
12
SMITHSON, 1958.
23
No seminal artigo publicado na revista Architectural Design de 1974 13, Alison
Smithson traça um extenso panorama dos projetos realizados a partir das ideias
defendidas pelo TEAM 10, cunhando o importante conceito de “mat-buildings”:
Um dos projetos que buscava aplicar esses valores foi o da FreeUniversity (FU) de
Berlin, fruto do concurso vencido em 1963 pela equipe composta por Candilis, Josic
e Woods.
Uma parte do projeto seria construída apenas dez anos depois, tornando-se a
primeira grande experiência concretizada por membros do TEAM 10. O projeto
viria a ser uma importante referência não só para os participantes do grupo, mas
também para a grande parte da comunidade arquitetônica, incluindo Le Corbusier,
13
SMITHSON, 1974. p573
24
que adotaria estratégias de projeto semelhantes à FU em sua proposta para o
Hospital de Veneza em 1964 14.
Figura 1.4: Planta de térreo da Universidade livre de Berlin, 1963. Candilis, Josic e Woods. Fonte:
RISELADA, 2005
Figura 1.5: Modelo físico da Universidade livre de Berlin, 1963-1973. Candilis, Josic e Woods. Fonte:
RISELADA, 2005.
14
RISSELADA, 2005. p.186
25
possibilidades de interação entre as diferentes áreas da universidade. A falta de
hierarquia entre as partes, que era ainda embrionária no projeto da Hunstanton,
torna-se explícita no projeto para a Universidade de Berlin, como aponta Woods:
Figura 1.6: Prancha para Concurso da Universidade livre de Berlin, 1963. Candilis, Josic e Woods.
Fonte: RISELADA, 2005
15
Shadrach Woods, World Architecture, Londres, 1965, pp 113-114. In HERZBERGUER, 2006.
26
Ao se eximir da determinação de ‘centros’ a FU assume um caráter ‘policêntrico’ 16
que dissolve a tradicional hierarquia entre os diferentes setores de uma
universidade, propagando-se continuamente sobre o território como uma malha de
atividades interconectadas. Essa estratégia buscava dar subsídios para que a FU se
tornasse um edifício com possibilidades de mudanças, ajustes e crescimento, ideias
que pretendiam ser alcançadas através da utilização de elementos construtivos
modulares e pré-fabricados, o que, no projeto executivo, seria desenvolvido em
parceria com Jean Prouvé.
Após a construção de sua primeira fase, o edifício foi duramente criticado, inclusive
por Aldo Van Eyck, um dos participantes ativos do TEAM 10, por não atender às
premissas levantadas pelo projeto original, adotando estratégias como o
recobrimento das fachadas por placas de aço cortêm, que segundo Eyck, “eram tão
impenetráveis quanto as envolventes brancas abstratas, recorrentes nas
arquiteturas do Estilo Internacional” 17. Já Herzberguer apontou, em 1996, que a FU
“tal como foi construída, acabou por se revelar, afinal, mais uma estrutura rígida.” 18
16
Como apontou Carlo Maciel em sua tese de doutorado pela UFMG: “Arquitetura como
infraestrutura”. MACIEL, 2015
17
SMITHSON, 1974. p574
18
HERZBERGUER, 2006. p117.
27
Figura 1.7: Construção da primeira fase da Universidade livre de Berlin,1 973. Candilis, Josic e
Woods. Fonte: RISELADA, 2005
19
Informações obtidas a partir do site de Norman Foster :
http://www.fosterandpartners.com/projects/free-university/ (acessado em 30/04/2015)
28
Figura 1.8: Universidade livre de Berlin em 2015. Fonte: http://www.international.fu-
berlin.de/about/reasons/index.html.
20
Shadrach Woods, World Architecture, Londres, 1965, pp 113-114. In HERZBERGUER, 2006.
29
Em paralelo aos trabalhos realizados pelo Team Ten, grandes projetos como o
célebre plano para a Baía de Tokyo (1960), elaborado por Kenzo Tange, Koji
Kamiya, Arata Isozaki, Sadao Watanabe, Kisho Kurokawa e Kahng Byung-Kee,
introduzem novas e relevantes questões no efervescente ambiente de produção
arquitetônica da década de 60.
21
BANHAM, Reyner. Megastructure: Urban Structures of a Recent Past. Londres: Thames and Hudson,
1976.
22
ROUILLARD, 2004.p14
30
Plano Obus
Figura 1.9: Maquete do Plano para Argel. Le Corbusier e Pierre Jeanneret, 1930.
Fonte: Fundação Le Corbusier.
31
Figura 1.10: Desenho do “edifício viaduto” para Argel. Le Corbusier e Pierre Jeanneret, 1930.
Editado a partir de Fundação Le Corbusier.
Baía de Tóquio
23
MAMI, Hiroshi e outros. Metabolist, the city of the future: dreams and visions of reconstruction in
postwar and present day in Japan. pg 63. Mori ArtMuseum. Tokyo, 2011.
32
Figura 1.11: Kenzo Tange e o projeto para a baía de Tóquio, 1960. Fonte: MAMI, 2011.
33
infraestrutura, enquanto a microestrutura se apresenta heterogênea e renovável
em função da demanda e das possibilidades do desdobramento do projeto ao longo
do tempo.
Figura 1.12: Desenho do crescimento de coluna vertebral usado na apresentação do projeto para a
baía de Tóquio, 1960. Fonte: MAMI, 2011.
34
Figura 1.13: Desenho da Plano para Tóquio a partir do “eixo cívico”. O desenho nos dá a escala das
edificações projetadas sobre a macroestrutura. Editado a partir de MAMI, 2011.
Figura 1.14: Fotografia da maquete do Plano para Tóquio. No lado esquerdo da imagem o “eixo
cívico”, no direito, servidos pelos sub-eixos, os edifícios que constituem a microestrutura . Editado a
partir de MAMI, 2011.
35
Figura 1.15/1.16: Edifícios ligados aos sub-eixos do Plano para Tóquio. A partir do corte é possível
estimar que a altura dos edifícios varia entre aprox. 180 e 130m. Editado a partir de MAMI, 2011.
36
Os componentes da microestrutura eram organizados ao longo desses sub-eixos, o
que garantia sua comunicação com as redes de infraestrutura básica. Embora o
sistema secundário fosse aparentemente disposto segundo uma lógica
heterogênea, “leve” e renovável, a notável precisão dos desenhos desenvolvidos
para o projeto evidencia a magnitude dessas estruturas (Fig. 1.15/1.16). Aquilo
que, à distância, poderia ser confundido com pequenos volumes dispostos de
forma irregular são, na verdade, colossais edificações que se espalham por todo o
território.
24
Sintetizada por autores do campo das ciências naturais como Fristof Capra, a teoria sistêmica, em
suma, sinalizaria o deslocamento da compreensão do mundo pela ciência a partir da análise das
partes ou unidades autônomas, em direção ao entendimento dos diferentes níveis de realidade – da
escala cósmica à sub atômica – em função da relação estabelecida entre elas. Para um resumo do
pensamento sistêmico nas ciências naturais ver Fristof Capra: a teia da vida, 2000.
37
O diálogo incipiente com o tecido urbano existente e a propensão ao gesto
totalizante seriam questionados por outros arquitetos contemporâneos a Tange.
Segundo Rouillard, é a partir dos trabalhos do TEAM 10 que se dão “as primeiras
sobreposições à cidade existente pelas redes de fluxos” 25, sinalizando a intensão de
articular de forma mais clara suas propostas com as dinâmicas do território nos
quais se inserem. É o caso de importantes projetos como o dos Smithsons para
Berlin 26, mas também de outros menos explorados 27 como os do húngaro Yona
Friedman, cujas propostas flutuam na ambiguidade entre a esperança ambiciosa
das mega-estruturas e a produção de projetos essencialmente especulativos.
25
ROUILLARD, 2004. pg13. Tradução do autor.
26
Referente ao projeto de reconstrução do centro de Berlin concebido por Alison e Peter Smithson, em
1958. Ver RISELADA, 2005.
27
Me refiro especificamente ao contexto da pesquisa em arquitetura no Brasil.
28
Manifesto pela arquitetura móvel. Yona Friedman, 1959. Em:
http://www.yonafriedman.nl/?page_id=351. Acessado em 13/02/2016.
38
Figura 1.17: Esquema de evolução da cidade segundo a ideia de cidade espacial de Yona Friedman.
Fonte: MACIEL, Carlos Alberto: Arquitetura como Infraestrutura, 2014.
Figura 1.18: Colagem da cidade espacial, Yona Friedman. Sobreposição com a infraestrutura
existente. Fonte: ROUILLARD, 2004.
39
Se as propostas de arquitetos contemporâneos a Friedman, como a Baía de Tóquio
de Tange (1960), a Nova Babilônia de Constant Nieuwenhuis (1957-74) e a Cluster
City de Arata Isosaki (1960-62), entre outros, apostavam na criação de territórios
independentes das cidades, a Paris Spatialle tinha, na interação com o tecido
existente, o procedimento fundamental para a sua concepção. Para isso, o arquiteto
desenvolveu sistemas de construção que não eram mais baseados em grandes
estruturas unitárias, mas no imbricamento de pequenos módulos construtivos
formados por leves peças pré-fabricadas, que poderiam ser montadas e
desmontadas em função do local em que iriam ser implantadas. As estruturas
lançavam suas fundações nos interstícios dos edifícios Hausmanianos e, através da
repetição de seus módulos, formavam uma espécie de ´cobertura habitada` no
território Parisiense.
Figura 1.19: Colagem da Paris espacial, Yona Friedman, 1959. Sobreposição ao monumento da
Place de la Bastille, em Paris. Fonte: ROUILLARD, 2004.
29
ROUILLARD, p148. Em entrevista concedida à autora.
40
É relevante apontar para o fato de que nos projetos elaborados pelo arquiteto não
há diferenciação tipológica entre os espaços habitáveis. Seus interiores são
constituídos a partir da repetição de estruturas idênticas que, associadas uma às
outras, possibilitam a formação de diferentes espaços, tendo em vista, segundo o
autor, o ato de habitar como uma ação criativa e independente do planejamento
dos arquitetos.
Figura 1.20: Exposição “Architecture without buildings” concebida por Friedman no Ludwig
Museum. Colônia, Alemanha 2012. Fonte: Ludwig Museum.
30
FRIEDMAN, Yona. Function Folows Form, in: HUGHES, Jonathan. SADLER, Simon (ed) Non-Plan: Essays
on Freedom, Participation and Change in Modern Architecture and urbanism. Oxford, MA:
architectural Press, 2000 pg 107.
41
para a fragilidade da ideia de “função” quando atrelada às atividades que podem
ocorrer no interior dos espaços, introduzindo a ideia de equipamento – cama,
escada, mesa etc. – como dispositivos independentes da arquitetura e capazes de
oferecer as condições necessárias para o desenvolvimento das diferentes
atividades. A argumentação segue problematizando a ideia da forma associada ao
uso, apontando para a independência entre a aparência exterior e seu conteúdo: “o
artefato arquitetônico é um corpo com um oco” 31. Para Friedman, a percepção de
ambos, interior e exterior, são indissociáveis das faculdades subjetivas de cada
cultura ou indivíduo, logo, a ambição de concebê-las, mediante uma pré-
significação arbitrada pelo projetista, não seria mais do que uma mera ilusão ou,
no melhor dos casos, uma possibilidade de comunicação com um público restrito.
Esse raciocínio desemboca na distinção entre “o envelope“, que “pode ser
substituído com relativa facilidade”, e a “estrutura portante (ou esqueleto)”, que
seria “o componente mais imutável do artefato arquitetônico“.
Embora as propostas de Yona Friedman possam ser interpretadas como parte das
manifestações das chamadas mega-estruturas, cabe registrar que seus projetos,
apesar de grandes em escala, são essencialmente especulativos e estão, em grande
parte, acompanhados de reflexões que os distinguem da ambição de produção de
uma realidade destacada das cidades existentes. Há em Friedman um interesse
eminente em dialogar, justapor e estabelecer relações vitais com os contextos nos
quais seus projetos se inserem, seja pela abdicação da autonomia das formas por
ele produzidas, ou pela onipresente veia crítica de suas propostas em relação ao
modo de vida praticado nos contextos com os quais interagem.
31
FRIEDMAN, Yona. op citi, pg 107.
42
As contribuições destes trabalhos podem ser também avaliadas à luz de um
aspecto fundamental para os objetivos desta pesquisa: a coexistência de lógicas
distintas através de um pensamento sistêmico – relativizando a correspondência
entre estrutura e os equipamentos que oferecem as diferentes possibilidades de
apropriação dos espaços projetados por seus habitantes.
Figura 1.21: Primeira fase de construção do projeto de habitação de baixo custo. Lima, Peru.
Estrutura em blocos de concreto pré-fabricado. Maki; Kurokawa; Kiyonori, 1968. Fonte: MAMI,
2011.
32
Sobre o referido projeto ver : MAMI, 2011. pg 162.
43
para o recebimento de novas partes construídas pelos próprios habitantes, em
função de suas necessidades e desejos. A liberdade de apropriação pelo habitante
se estenderia à capacidade dos mesmos definirem os acabamentos e elementos
decorativos próprios do povo peruano.
Tais estratégias encontrariam, cinco décadas mais tarde, um nítido paralelo com os
aclamados projetos de habitação de cunho social do grupo chileno Elemental que
propõe a construção de “meia casa”, onde o complemento se dá à medida das
possibilidades e desejos de cada habitante.
Figura 1.22: No lado esquerdo foto da construção da estrutura básica pelos moradores da região
em 1968. No lado direito imagem dos acréscimos e renovação. Habitação de baixo custo no Peru.
Maki; Kurokawa; Kiyonori, 1968. Fonte: MAMI, 2011.
Figura 1.23: No lado esquerdo foto da construção da “meia casa” do projeto Quinta Monroy, pelo
grupo Elemental. No lado direito imagem dos acréscimos construídos pelos moradores Iquique,
Chile, 2004. Fonte: Elemental, Chile.
44
Sob um ponto de vista, o projeto de Maki pode ser considerado como uma das
concretizações do movimento Metabolista 33. No entanto, sua proposta substitui o
gesto grande-eloquente das mega-estruturas, por uma atuação pontual na escala
da unidade de habitação, adotando assim, uma estratégia que se inscreve nas
possibilidades do “real”, e não mais numa utopia modernizante, que só poderia ser
alcançada através de transformações radicais nos modos de vida das sociedades.
Dominique Rouillard aponta para outra consequência das propostas das mega-
estruturas nas gerações seguintes. Trata-se da eclosão de trabalhos aos quais a
autora se refere como “arquitetura radical”, devido à utilização do projeto como
um instrumento essencialmente crítico.
Esse seria o foco de atuação de arquitetos como os dos grupos italianos Arquizoom
e Superstudio, e se tornaria uma ideia chave para muitos dos que os sucederam, e
que atuam com proeminência no cenário da arquitetura contemporânea.
No contexto do final dos anos 60 e início dos 70, os grupos do movimento radical
italiano -Arquizoom, Superstúdio e UFO- desenvolveram trabalhos que
questionavam profundamente o papel do arquiteto, adotando em seus projetos
uma postura essencialmente crítica. Seus trabalhos não se apresentam mais como
33
MAMI, 2011.
45
produção de uma utopia imaginada pelos arquitetos, tampouco como veículo de
atualização das demandas populares, mas como denúncia sarcástica dos meios de
produção em massa, da sociedade do consumo e dos meios de comunicação.
No-Stop-City
34
ROILLARD, 2004. p438
35
BRANZI, 2006.
46
“Nossa ideia de uma NSC foi essa de uma cidade livre de arquitetura,
onde técnica e natureza não são harmonizadas, mais fundidas. Uma
cidade sem arquitetura, porque livre da função de mediação entre
exterior e interior, entre técnica e natureza, que a arquitetura sempre
garantiu.” 36
Figura 1.24: Planta da no-Stop-City. Sobreposição da trama projetada com elementos da geografia
natural. Arquizoom, 1968-1974 Fonte: BRANZI, 2006.
36
BRANZI, 2006. p141
47
arquitetura de seus limites e, por outro, excluindo a ideia tradicional de arquitetura
como instrumento de interface com o território.
No-stop City é um exercício teórico que lança mão do recurso de projeto como um
instrumento analítico, mas sobretudo crítico. Nos desenhos da NSC vêem-se corpos
nus que ocupam livremente superfícies sem fim. Não existem divisões espaciais,
apenas elementos móveis que se deslocam em função da vontade de seus
habitantes. Barracas de camping assentam-se em intermináveis estacionamentos,
os elementos da geografia “natural”, rochedos, lagos e montanhas se sobrepõem à
malha de pilares como em uma colagem violenta. A metrópole se torna em NSC um
grande espaço interior, imensurável em sua extensão horizontal, sem fachada ou
limites, climatizada e iluminada artificialmente.
Dominique Rouillard refere-se aos espaços da NSC como sendo providos de uma
“planta livre total”, em oposição à planta livre Corbusiana que é representada pela
autora através da Maison Graches e da Ville Savoye.
37
ROILLARD, 2004. p440
48
Figura 1.25: Fotografias do interior da maquete da No-Stop-City. Arquizoom, 1968-1974 Fonte:
BRANZI, 2006.
49
A superfície das plantas de NSC é abstrata e vazia. Como não há nada, tudo se faz
possível. Uma cidade amoral 38, sem signos ou elementos figurativos. Tudo se cria e
se transforma na velocidade do gosto de seus habitantes. O ato de habitar torna-se
uma atividade em permanente transformação e, segundo Branzi, no limite, um ato
criativo.
38
Cidade Amoral é o título de um dos artigos publicado pelo grupo Arquizoom em 1972 na Revista IN.
50
Se por um lado, o trabalho abre mão da noção tradicional de um projeto de
arquitetura que pretende transformar o mundo através de proposição de
estruturas físicas, por outro, ele se torna um potente dispositivo por lançar mão de
ideias radicais que seriam inconcebíveis de serem implantadas em estruturas
concretas. Sua originalidade se dá, ao contrário do que pode parecer óbvio, no fato
de que o grupo não elabora uma utopia conflitante à realidade que critica, não
imagina como as cidades poderiam ser em um mundo ideal, mas, ao invés disso,
utiliza recursos projetuais para explicitar a realidade do mundo, tal qual fora
observado por eles, levando as características deste mundo às últimas
consequências. Sua virtude não está em oferecer uma mediação plausível entre a
lógica do sistema reinante e as aspirações ideológicas do grupo, mas de representar
as condições que testemunham de forma clara e evidente. NSC é uma denúncia
sarcástica da realidade do mundo movido pelos interesses do capital e das
estruturas de produção e consumo.
Centro Pompidou
51
um mundo em transformação, e com a descrença do projeto como dispositivo de
controle das atividades humanas.
Figura 1.28: Planta baixa do Centro Pompidou. Em vermelho elementos de circulação vertical.
Richard Rogers e Renzo Piano, 1969 Editado a partir de Fundação Renzo Piano.
39
Em depoimento para o filme de Richard Copan: Le Centre George Pompidou, parte da série de
documentarios “23 Architectures”. DVD 01, 1997.
52
Figura 1.29: Fotografia da construção do Centro Pompidou. A imagem mostra a sobreposição de
lajes livres no interior do edifício, possibilitadas pelo complexo sistema de pórticos estruturais do
tipo gerberetti, projetados pelo engenheiro Peter Rice. Richard Rogers e Renzo Piano, 1969 Fonte:
Fundação Renzo Piano.
53
Figura 1.30: Fotografia do amplo espaço térreo do Centro Pompidou. Richard Rogers e Renzo
Piano, 1969 Fonte: Fundação Renzo Piano.
Typical Plan
O projeto para a No-Stop City aparece como a última das 27 imagens que Rem
Koolhaas publica no artigo “Typical Plan” 40 de 1993, parte do seminal S,M,L,XL.
Koolhaas reconhece algumas das características da NSC no contexto nova-iorquino,
traduzindo as aspirações radicais do grupo italiano para sua aplicação na realidade
dos arranha-céus. No início do texto o autor resume: “A planta típica é tão vazia
quanto possível: um piso, um núcleo, um perímetro e o mínimo de pilares.” 41
Typical Plan ou a planta típica é, segundo Koolhaas, uma invenção americana que
nasce no final do século XVIII e se estende até o início dos anos 70. Nestas estão
presentes apenas os elementos primordiais para sua existência: pilares (o menor
número possível), núcleo de circulação vertical (tão compacto quanto possível) e
instalações (tão invisíveis quanto possível).
40
KOOLHAAS, 1995
41
KOOLHAAS, Rem. “Typical Plan” [1993], em S,M,L,XL (New York: The Monacelli Press 1995), pg 344.
54
Figura 1.31: Plantas típicas dos arranha-céus Nova-iorquinos. Typical Plan, 1993. Fonte: KOLHAAS,
1995.
55
A planta típica surge da multiplicação do solo por meio de uma operação racional
de sobreposição de estruturas espaciais idênticas. Pragmatismo e eficiência são
seus valores essências. O número de plantas, por sua vez, é definido pelas
restrições da legislação urbanística local, e deve ser tão grande quanto esta
permitir, gerando o máximo de área útil para a edificação. Apesar de
permanecerem conectadas através de um núcleo de circulação vertical, tais
estruturas mantém total independência funcional uma das outras. Este núcleo é
formado por um conjunto de elevadores, escadas de emergência e instalações
sanitárias básicas, liberando assim, o máximo de área livre para ocupação.
Vontades compositivas ou objetivos formais primários são descartados, de modo a
fazer prevalecer a eficiência e a potencial rentabilidade dos espaços habitáveis.
É relevante destacar que a planta típica à qual Koolhaas se refere carrega consigo
muitas das qualidades que se observam nos trabalhos realizados a partir dos anos
60 nos projetos do TEAM 10. No entanto, parecem, à primeira vista, estar a serviço
de valores político-ideológicos distintos.
Independente das respostas que se possa dar a essas perguntas, parece pertinente
relativizar a aplicação de tais características como a indeterminação e a
flexibilidade em relação ao discurso que as acompanha. Enquanto a liberdade de
ação, a qual se referem os Smithsons, parece corroborar com um sentimento de
coletividade que equaciona as discrepâncias entre os distintos grupos sociais, as
plantas típicas apresentadas por Koolhaas no contexto nova-iorquino atuam como
espaços abertos à oscilação do mercado e “disponíveis para o desenvolvimento de
quaisquer negócios”, ou seja, altamente suscetíveis à lógica da competitividade
característica da sociedade baseada nos valores do capital.
56
Diante disso, é necessário questionar a real capacidade da arquitetura enquanto
estrutura física em atuar como instrumento de transformação político-ideológico.
Sem dúvida, essa posição pode ser marcada pelo discurso que tem o enorme
potencial de estimular a reflexão e transformar o modo através do qual os
indivíduos se relacionam com o mundo. No entanto, o rebatimento deste discurso
nas propriedades físico-espaciais da arquitetura parece não ser direto.
57
A cidade sem fim de No-Stop City e as ideias intrínsecas à estrutura do Typical Plan
reclamam uma posição de neutralidade e indeterminação em relação ao que se
sucederá em seus espaços. Tanto um quanto o outro, promovem, através de suas
teorias, um deslocamento entre forma arquitetônica e função. Arquiteturas que não
somente estão desconectadas de uma finalidade específica, mas que procuram, por
meio de suas propriedades físico-espaciais, estimular tantos modos de ocupação
quanto seus habitantes forem capazes de imaginar, independente de onde essa
imaginação os possa levar.
Não distante dos temas estudados neste capítulo está o conceito de liberdade
estrutural, cunhado pela dupla de arquitetos Lacaton e Vassal. O capítulo seguinte
fará uma análise das principais obras dos arquitetos com o objetivo de inseri-los
no debate acerca das estruturas abertas.
58
2
LACATON E VASSAL
59
Anne Lacaton e Jean Philippe Vassal completaram seus estudos em arquitetura na
Escola de Bordeaux no ano de 1980. Logo depois, Vassal, que nasceu e viveu sua
infância em Casablanca, no Marrocos, passaria quatro anos trabalhando como
arquiteto em Niger, no continente africano, enquanto Anne Lacatton completaria
seu doutorado em urbanismo pela mesma escola de Bordeaux. Em 2000, os
arquitetos venceriam o importante concurso para a renovação do Palais de Tokyo,
edifício destinado à produção de arte contemporânea, que hoje é uma das
instituições protagonistas da cena artística europeia. Neste período, os arquitetos
trariam seu escritório de Bordeaux para Paris, inaugurando uma longa sequência
de projetos de diferentes escalas, dos quais cerca de 30 estão hoje construídos.
42
ÁBALOS, 2011 pg 5-9.
43
ÁBALOS, 2011. pg7.
60
2.1- Arquitetura relacional: continuidade e ficção
A relação vital que Lacaton e Vassal estabelecem entre seus projetos e as situações
precedentes parecem ser uma das chaves através das quais se pode interpretar
suas obras. O interesse pelo existente, da escala da cidade aos edifícios, com suas
imperfeições, sua desorganização, seu caráter de improviso e sua heterogeneidade,
tem fundamental importância na definição das estratégias de projeto recorrentes
na carreira da dupla.
44
LACATON, Anne; VASSAL, Jean Phillipe. Liberdade Estrutural: condicion del milagro. in in: Revista 2G
nº60. p162-175. Editorial Gustavo Gili. Barcelona, 2011.
45
Diversos projetos. Pesquisa PLUS.
46
Paris, 2001-2012
47
Dunquerque, França. 2009-2013
61
Essas operações são realizadas a partir de medidas precisas e pontuais, que variam
em função das características das estruturas nas quais se intervêm.
Figura 2.1: Palais de Tokyo, Paris 2001-2012. O projeto se instala no interior da estrutura pré-
existente. Fotografia de Phillipe Renault. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.2: FRAC de Dunquerque (centro de arte), 2009-2013. Justaposição com a estrutura pré-
existente. Fotografia de Phillipe Renault. Fonte: Lacaton e Vassal.
62
PLUS
48
Frédéric Druot, Anne Lacaton, Jean Philippe Vassal. PLUS Les grands ensembles, territoires
d’exception 264 p.éditions GG, 2007
49
É relevante apontar para o fato de que tais intervenções são viáveis por conta da natureza dos
sistemas construtivos utilizados nos edifícios residências dos anos 60 e 70. A estrutura em concreto
armado, independente dos elementos de vedação, torna possível intervenções mais radicais.
63
Figura 2.4: Edifício de Habitação em Bordeaux. 2011-(2016). Construção do acréscimo na estrutura
existente. Fonte: Lacaton e Vassal.
64
Figura 2.5:Plantas tipo de três dos projetos do PLUS. Em azul a parte projetada, em branco a pré-
existente. Em vermelho os elevadores adicionados pelo projeto. No caso de Bois-le-Prêtre o espaço
do prisma de ventilação e iluminação dos banheiros foi usado como passagem para os novos
elevadores. Editado a partir de Revista El Croquis 177/178.
65
Essas propostas são implementadas por meio de duas ações conjuntas:
intervenções pontuais na estrutura original e adição de novos cômodos que se
acoplam à fachada dos edifícios. A primeira consiste na substituição dos sistemas
de infraestrutura predial, na requalificação das áreas de uso comum – sobretudo no
térreo - e na ampliação das janelas existentes, convertendo-as em portas que
permitem a ligação das áreas já existentes com as novas. Os volumes adicionados
funcionam como grandes varandas, com algumas partes fechadas e outras abertas,
que, por um lado, ampliam a área interna das habitações – em alguns casos
chegando a dobrar a superfície em planta – e por outro, redefinem a interface entre
interior e exterior. Os novos cômodos são dotados de uma série de camadas de
fechamentos: painéis de policarbonato, venezianas, cortinas térmicas e panos de
vidro. A combinação entre esses elementos visa proporcionar uma maior variedade
de opções de contato com o ambiente externo, em função do clima e das
necessidades específicas de cada habitante. Embora não pareça ter sido este o
objetivo fundamental das ações de projeto do PLUS, o fato das partes acrescidas
ocuparem a zona de contato com o exterior faz com que a intervenção seja capaz de
transformar radicalmente a aparência das torres.
Figura 2.6: Fachada da torre de Bois-le-Prêtre depois da conclusão da renovação. Fonte: Lacaton e
Vassal.
66
Figura 2.7/2.8/2.9: Interior de três unidades de habitação da torre de Bois-le-Prêtre. Detalhe para
os acabamentos internos que foram mantidos. Fotografia de Frédéric Durot. Fonte: Lacaton e Vassal.
Casa em Cap Ferret
67
A estratégia de arranjo entre os sistemas existentes e os projetados ganha novos
contornos na casa em Cap Ferret (1996-1998), região litorânea à Oeste de
Bordeaux. A casa foi erguida em um dos últimos terrenos não construídos do local.
Trata-se de uma área densamente vegetada, da qual erigem 50 pinheiros, cada um
com cerca de trinta metros de altura. Neste caso, a pré-existência sobre a qual se
sobrepõe o sistema projetado é entendida a partir das condições naturais
encontradas nos sítios: vegetação e solo.
Figura 2.10: Implantação da casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El
Croquis 177/178.
68
Figura 2.11: Corte da casa de Cap Ferret. Detalhe para as fundação em estaca, cuja profundidade é
definida pela resistência do solo. Nesse caso, a casa foi implantada em uma duna. Lacaton e Vassal,
1996-1998. Fonte: Revista El Croquis 177/178.
Figura 2.12: Construção da estrutura metálica da casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998.
Fonte: Revista El Croquis 177/178.
69
Figura 2.13: Casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El Croquis 177/178.
70
suavizar a transição entre os elementos projetados e aqueles com os quais se
relacionam, mas que expressam suas diferenças de forma nítida.
Figura 2.14: Planta baixa da casa de Cap Ferret. Lacaton e Vassal, 1996-1998. Fonte: Revista El
Croquis 177/178.
A planta de Cap Ferret sinaliza essa atitude de forma radical. A trama formada
pelas árvores e pela planta da casa se sobrepõe sem que sejam feitos grandes
ajustes em nenhuma das duas. Um tronco ocupa o espaço de um estreito corredor,
entre um dos quartos e o banheiro, enquanto outro se ergue a poucos centímetros
da bancada da cozinha. É certo que seria possível adotar outras organizações dos
ambientes interiores sem que a estrutura ou o partido fundamental que rege o
projeto fossem alterados, mas Lacaton e Vassal parecem ter provocado essa colisão
de sistemas propositalmente, com o intuito de causar uma situação atípica, uma
relação inesperada. É como se uma casa houvesse sido implantada ao acaso por
cima de uma trama de árvores. Uma tentativa de provocar uma situação
excepcional, sem que para isso seja necessário criá-la por completo.
71
históricos, por outro lado, isso ocorre também através de uma preexistência
simulada, o que os próprios autores chamam de ficção.
Habitações de Mulhouse
50
LACATON, Anne; VASSAL, Jean Phillipe. Liberdade Estrutural: condicion del milagro. in in: Revista 2G
nº60. p162-175. Editorial Gustavo Gili. Barcelona, 2011.
72
possível, organizando-as dentro de um grande volume unitário formado por
módulos estruturais regulares. Os arquitetos propuseram a sobreposição de dois
sistemas com características fundamentalmente diferentes, mas neste caso, ambos
produzidos por eles.
No térreo foi construído um primeiro volume constituído por lajes alveolares que
vencem um vão de 8m, além de pilares e vigas pré-fabricados em concreto. Esse
primeiro volume ocupa uma área de 60mX20m. Nessa base estão localizadas as
garagens, assim como as salas, os quartos e as dependências de serviço. Sobreposta
a esta, os arquitetos instalaram uma leve estrutura fabricada originalmente para
servir como uma estufa agrícola, à qual foram adicionadas grandes portas de correr
em policarbonato que permitem que estes espaços se abram ao exterior. Os
módulos estruturais do pavimento térreo foram projetados para conformarem
áreas de 3m X 6.40m, precisamente as dimensões das estufas agrícolas disponíveis
no mercado.
73
Figura 2.16: Corte das habitações de Mulhouse. Sobreposição das duas estruturas. Lacaton e Vassal,
2001. Fonte: Lacaton e Vassal.
Figura 2.17: Habitações de Mulhouse. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e Vassal.
51
SCOFFIER, Richard. Incubadoras: de lo genérico a lo cotidiano. in: AV monografias, nº170. p4-11.
Madrid 2015.
52
Entrevista com Jean Phillipe Vassal. Paris, dezembro de 2015.
74
Apesar da aparência visual homogênea e a impressão de que o projeto consiste em
um grande volume industrial, o projeto de LeV produziu 14 unidades com 5 tipos
de plantas diferentes, variando de 102m2 a 127m2 de área útil. O baixo custo e a
rapidez dos processos construtivos empregados permitiram, segundo os
arquitetos, que as habitações dispusessem do máximo de superfície útil possível,
oferecendo aos seus habitantes uma área no segundo pavimento que servisse ora
como espaço externo, ora como extensão de suas salas.
Figura 2.18: Planta baixa térreo e primeiro pavimento Habitações de Mulhouse. Lacaton e Vassal,
2001. Fonte: Lacaton e Vassal.
75
Figura 2.19: Interior do primeiro pavimento de Mulhouse. Lacaton e Vassal, 2001. Fonte: Lacaton e
Vassal.
76
2.2 - Desconexão entre estrutura e programa: a lição do Loft.
A fala dos arquitetos pode ser lida à luz de uma boa fatia de seus projetos, mas
parece derivar em grande parte de uma experiência determinante em suas
carreiras: a renovação do Palais de Tokyo, em Paris. O projeto foi fruto de um
concurso nacional vencido pela dupla em 1999, tendo sido executado em duas
fases. A primeira foi concluída em 2002, enquanto a segunda seria completada
somente dez anos mais tarde. Em entrevista concedida no contexto desta pesquisa,
Florian Depous, arquiteto colaborador da dupla há mais de 15 anos, nos dá a
dimensão da importância deste projeto:
Palais de Tokyo
53
LACATON, Anne; VASSAL, Jean Phillipe. Liberdade Estrutural: condicion del milagro. in in: Revista 2G
nº60. p162-175. Editorial Gustavo Gili. Barcelona, 2011.
54
Entrevista com Florian Depous. Paris, dezembro de 2015.
77
Figura 2.20: Vista aérea do conjunto do Palais de Tokyo (esquerda) e do Museu de Arte Moderna de
Paris (direita). Fonte: Revista El Croquis 177/178.
O edifício foi construído para abrigar a coleção de arte moderna de Paris, mas
problemas orçamentários durante o período de execução fizeram com que a ala
Oeste, onde hoje se instala o Palais de Tokyo, ficasse fechada ao público até o ano de
2001. Em 1999, foi lançado um segundo concurso com o objetivo de transformar a
ala desocupada em um centro de criação para produção artística contemporânea,
incluindo grandes espaços expositivos, salas de cinema, laboratórios de música e
moda, uma livraria e um café-restaurante.
78
Figura 2.21/.22/.23: Interior do Palais de Tokyo. Fonte: Lacaton e Vassal.
79
Além disso, o projeto de reabilitação consistiu em adições pontuais de novos
elementos de circulação e estruturas leves e móveis, definindo com delicadeza os
espaços necessários ao funcionamento do centro. A proposta explorou as
qualidades espaciais já existentes, focando seus esforços em pensar uma
intervenção que tirasse partido delas, e que se mantivesse dentro do restrito
orçamento inicial 55. Sobre as qualidades da estrutura original, Vassal aponta:
O edifício original, de estilo art déco, apresenta numerosos elementos que fazem
referência à arquitetura clássica, tais como as esculturas entalhadas na fachada, a
rigorosa simetria, escadarias monumentais, entre outros. No entanto, como
sinalizou Vassal, sua estrutura em concreto armado desvinculada dos elementos de
fechamento vence vãos que chegam a 15 metros. Em função dos poucos elementos
de vedação e das grandes dimensões internas é possível se deslocar no interior do
edifício com especial liberdade.
55
O orçamento inicial era de 3 milhões de euros para intervenção em uma área de 5.000m2, equivalente
a 600 euros p/ m2. Segundo entrevista com Jean Philippe Vassal. Paris, dezembro de 2015.
80
Figura 2.24: Planta baixa do térreo do Palais de Tokyo. Em vermelho os elementos adicionados pela
reforma. Fonte: Lacaton e Vassal.
56
Um fato curioso que indica a relativa independência entre a estrutura e suas possibilidades de
apropriação é que o mesmo subsolo onde hoje se realizam grandes exposições de arte
contemporânea foi usado como depósito para os bens que eram confiscados dos judeus perseguidos
durante a segunda guerra mundial.
81
Figura 2.25: Sub-solo do Palais de Tokyo, 2012. Fonte: Lacaton e Vassal.
“O problema é esse da parede, como nós fazemos para nos livrarmos das
paredes? Houve uma exposição (no Palais de Tokyo) com cerca de 400
artistas. Cada um fez sua pequena sala.(...) Foi bastante interessante
poder passar por essas pequenas salas e ver cada artista em seu pequeno
espaço, criado em função das suas necessidades, mas é importante saber
que tudo poderia ser desfeito, todas as partições poderiam ser
desmontadas.” 57
82
espaços em constante transformação. Vassal se refere a essa multiplicidade de
possibilidades de ocupação do espaço interno como uma lição que teria suas
origens no processo de ocupação das instalações industriais da década de 60,
usadas inicialmente como residências-atelier de grupos de artistas, como
alternativas aos elevados preços dos centros urbanos.
Segundo LeV, a hipótese que emerge da lição do loft é que, na medida em que se
oferece mais volume interior, maiores serão as alternativas de ocupação dessa
estrutura. No entanto, no que tange ao processo de construção, admite-se
tradicionalmente que quanto maior a área construída, mais elevados serão os
custos de sua realização. Os parâmetros orçamentários são dividos entre “baixo”,
“médio” e “alto padrão”, sempre em função da relação entre custo e área
construída. Por mais que essas estimativas sejam sempre uma aproximação
simplificadora, visto que edifícios de áreas semelhantes podem apresentar uma
enorme variação de volume construído, está implícito neste raciocínio que há um
rebatimento do custo por m2 na qualidade da construção - quanto menor essa
proporção, menor a qualidade da construção, quanto maior o preço por metro
quadrado, mais qualidade.
Através de uma noção muito particular de “economia”, a dupla de arquitetos
franceses pretende questionar essas premissas mundialmente aceitas. A economia
não parece ser o fim, mas o meio através do qual os arquitetos viabilizam a
implementação de suas ideias.
58
Entrevista com Jean Phillipe Vassal. Paris, dezembro de 2015.
83
2.3 - Economia de meios.
Essa dimensão, tão presente em seus trabalhos, nos remete à experiência dos
arquitetos em viver e construir em condições de extrema escassez de materiais e
recursos. O período em que Vassal viveu em Niger parece ter contribuído
enormemente para a formulação do que os arquitetos entendem por economia. Não
é por acaso que até hoje LeV continuam abrindo suas palestras com a apresentação
da singela casa construída por eles em Niger em1984.
Casa em Niger
Figura 2.26: Casa construída por Vassal para si próprio em Niamey, Niger, 1984 Fonte: Lacaton e
Vassal.
59
LACATON, Anne; VASSAL, Jean Phillipe. Liberdade Estrutural: condicion del milagro. in in: Revista 2G
nº60. p162-175. Editorial Gustavo Gili. Barcelona, 2011.
84
Figura 2.27: Planta baixa da casa em Niger, 1984. Fonte: Lacaton e Vassal.
Essa construção é feita a partir de “quase nada”: alguns galhos fincados no solo
arenoso, divisórias em palha e uma cobertura tecida a partir da junção de sacos de
arroz. No entanto, essa aparente simplicidade material não parece limitar a
capacidade de LeV de projetarem espaços com qualidades que nos remetem a
questões próprias do repertório da disciplina. Na casa de Niger, o princípio da
combinação de lógicas se faz presente através da associação de três sistemas
espaciais diferentes. Um primeiro volume circular, compacto e fechado, é
construído com referência à cabana típica da população nômade local, servindo
como o “abrigo fundamental”, o espaço da intimidade e da reclusão. Esse é
envolvido por um segundo elemento: uma cerca disposta no perímetro de um
círculo de diâmetro exatamente três vezes maior que o primeiro, um espaço de
transição, ao mesmo tempo descoberto e protegido. O conjunto dessas duas
estruturas associa-se a um terceiro volume que pode ser lido à imagem de uma
estrutura em pilotis, onde os pontos de apoio se conectam unicamente ao solo e à
cobertura, criando um espaço aberto e coberto. Desta forma, tem-se uma proteção
aos insuportáveis níveis de insolação, característicos do clima desértico, mas que
permite ao habitante estabelecer uma relação visual direta com a paisagem. Esse
85
terceiro sistema é construído a partir de uma trama de nove pilares, dispostos em
três linhas de três, gerando uma planta quadrada.
Por fim, a relação geométrica entre esses três sistemas se dá a partir de um preciso
alinhamento. Um eixo imaginário parte de uma das arestas do quadrado e se
estende até o centro geométrico do conjunto formado pelas duas estruturas
circulares.
Casa Latapie
Como boa parte de suas obras realizadas nos anos seguintes, a Casa Latapie foi
pensada a partir de dois sistemas construtivos distintos. Uma caixa
hermeticamente fechada, em dois níveis, se conecta a um volume de pé direito
duplo com generosas aberturas. O primeiro, onde se encontram sala, cozinha e
quartos, é fabricado a partir de um sistema simples de estrutura metálica, revestido
por pranchas de madeira usualmente empregadas como fôrmas para concretagem
e por telhas de fibrocimento. O segundo volume, à semelhança do que seria feito
86
anos depois nos projetos de reabilitação de imóveis residenciais, funciona como um
espaço de transição entre as áreas fechadas e a área externa, nesse caso um jardim
na parte sul do terreno. Esse amplo espaço é revestido por telhas de policarbonato
dividas em generosas aberturas que podem ser reguladas de forma a permitir a
entrada de ar durante o verão, ou reter o calor proveniente da incidência solar
durante o inverno. Esse tipo de sistema climático baseado em métodos
construtivos baratos e de baixo consumo energético, pode ser interpretado como
um dos desdobramentos das lições aprendidas no clima desértico do norte da
África.
Figura 2.28: Planta baixa do térreo e primeiro pavimento. Casa Latapie, 1991-1993. Fonte: Lacaton
e Vassal.
87
É nesse sentido que Lacaton e Vassal engendram a inteligência inerente às estufas
de produção agrícolas, a eficiência dos sistemas construtivos dos edifícios de
estacionamento e das grandes instalações industriais. Uma espécie de
detournement 60 aplicado às tipologias arquitetônicas, com objetivo de inventar
novas formas de ocupar, ou pelo menos permitir que essas novas formas sejam
inventadas pelos que ocupam seus edifícios.
Nos projetos de Lacaton e Vassal, a noção de economia não deve ser entendida
como uma atitude isolada. O objetivo não é reduzir a qualidade, muito menos
aumentar a margem de lucro do construtor. Para os arquitetos, a aplicação de
estratégias construtivas econômicas aparece como um importante parâmetro de
concepção, permitindo viabilizar suas intenções de projeto, sem que essas precisem
ser questionadas posteriormente nos tradicionais cortes orçamentários. Construir
um volume tão amplo quanto possível, com a menor quantidade de matéria
possível.
60
Termo usado com referência ao seu emprego no método situacionista cunhado por Guy Debord e Gil
Wolman no “guia para o detournement”. DEBORD, 1956.
88
3
ESCOLA DE ARQUITETURA DE NANTES
89
Este capítulo apresenta um breve relato sobre o contexto no qual se insere o
projeto para a Escola de arquitetura de Nantes (EAN 61), que inclui o projeto urbano
para a Îlle de Nantes, local onde se situa o edifício, e o processo de formulação do
concurso de arquitetura do qual Lacaton e Vassal saíram vencedores. Em seguida,
será feita uma análise sobre os principais aspectos que balizaram a proposta de
Lacaton e Vassal, que serão expostos a partir de dois tópicos: construir mais com
menos e oferecer espaços não programados.
61
Com objetivo de dar maior fluidez à leitura a sigla EAN foi usada como uma abreviação de “Escola de
arquitetura de Nantes”, que, em francês, costuma ser chamada de ENSA Nantes (École nationale
supérieure d’architecture de Nantes).
62
RUBY, Ilka e Andreas (ed). Uinversity Building in France, Nantes School of Architecture. Zurich: Holcin
Fondation, 2011.
63
PAUL, Coroline. SAUVAGE, André. Les Coulisses d’une Architecture. Paris: Archibooks + Sautereau
Éditeur. 2003.
90
3.1 - Îlle de Nantes
O território é cortado pelo rio Loire que se bifurca na altura de seu centro histórico,
formando a Îlle de Nantes, que dispõe de uma área aproximada de 350 hectares de
terra firme. Durante o século XIX, o território da Îlle de Nantes foi
predominantemente destinado ao acolhimento de atividades portuárias e de
produção industrial, sobretudo em sua parte Oeste. A partir do final do século XX,
como em muitas das grandes cidades espalhadas pelo mundo, esses equipamentos
seriam deslocados para outros sítios em função da expansão da área urbana,
deixando para trás uma grande quantidade de edifícios desocupados.
Figura 3.1: Imagem aérea do centro de Nantes. Editado a partir de Google Earth.
91
Em 1998, a prefeitura da cidade inicia um ambicioso plano de restruturação da
antiga zona portuária, à imagem do que havia ocorrido nos anos anteriores em
cidades como Londres e Barcelona 64. O plano tinha como meta a transformação da
antiga área industrial em um espaço com usos diversificados, através da
implantação de equipamentos culturais, edifícios destinados à habitação, comércio,
universidades e uma vasta área de uso público.
64
Como apontam Coroline Paul e André Sauvage em “Les Couilisses d’une architecture”.
65
Em conferência realizada na Escola de belas artes de Bruxelas, em 15/11/2010.
https://www.youtube.com/watch?v=CUYjwcoUNuU. Acessado em 20/02/2016. Tradução pelo autor.
92
Figura 3.2/.3/.4: Imagens da Îlle de Nantes em 2015. Integração entre o tecido existente e o
projetado pela equipe Alexandre Chemetov. Fotografias: Guilherme Lassance.
93
Figura 3.5 Instalações industriais de Alstom, Îlle de Nantes, 2014. Fonte: site oficial da Îlle de
Nantes. Disponível em: http://www.iledenantes.com/fr/
Figura 3.6: Instalação industrial na Îlle da Nantes convertida em espaço de uso público, 2015.
Fotografia: Guilherme Lassance.
Essa temática acompanha o projeto para a Îlle de Nantes em boa parte de sua
extensão, tanto nos longos caminhos que margeiam o rio, quanto em antigos
galpões que foram incorporados aos espaços de uso público. Em seus momentos
94
mais notáveis, a associação entre o tecido urbano antigo e o projetado ocorre com
tal concordância que mesmo os olhares mais atentos têm dificuldade de distingui-
los. Segundo o autor do projeto, “a realidade serviu como suporte” para a criação de
espaços públicos que pudessem suscitar outras atividades e outros desejos. Isso se
faz presente, sobretudo, na parte Oeste da Ilha, local onde se localizavam os
estaleiros, hangares e grandes estruturas portuárias. Esses equipamentos, antes
pertencentes ao setor privado, foram, em sua maioria, comprados pelo estado e
disponibilizados para implantação de programas estratégicos para o
desenvolvimento da Ilha. Órgãos destinados ao desenvolvimento urbano da cidade,
como o SAMOA - Société d'Aménagement de la Métropole Ouest Atlantique –, se
encarregaram de direcionar e distribuir os equipamentos para diferentes
instituições, sobretudo para aquelas voltadas para o Ensino, Cultura e Mídias.
Figura 3.7: Imagem aérea do Trecho Oeste da Îlle de Nantes. Editado de Bing maps.
95
francesas, com arquiteturas que investem na superfície de suas fachadas e ruas
cuidadosamente pavimentadas.
Grandes esforços foram feitos para que o local se tornasse um polo de convergência
de novos empreendimentos culturais e comerciais. Um deles foi a construção do
projeto de Jean Nouvel para o Palais de Justice, inaugurado em 2000. A imponente
estrutura projetada por Nouvel volta-se para o trecho Norte do rio Loire, ocupando
um sítio a poucos minutos de onde, nove anos mais tarde, se implantaria a nova
Escola de Arquitetura de Nantes.
96
Figura 3.8/.9: Atelier na antiga Escola de arquitetura de Nantes, 1970. Fonte: AMOROUX, 2009.
97
proposta de Anne Lacaton e Jean Philippe Vassal sairia vencedora. A construção do
edifício seria realizada entre 2007 e 2009.
Figura 3.10: Sítio de implantação da nova Escola de arquitetura de Nantes – trecho Oeste da Îlle de
Nantes. Fonte: Lacaton e Vassal.
98
arquitetura, e os 3.500m2 restantes para futuras expansões e espaços de interação
com outros usos da cidade. Quatro das dez premissas básicas lançadas no edital
indicam a relação do projeto vencedor com o contexto da presente pesquisa:
Figura 3.11: Imagem aérea da Escola de Nantes. Editado a partir de Bing maps.
66
Extraído do comunicado de imprensa emitido pelo Ministério da Cultura e da Comunicação do governo
Francês, 2003. (Tradução do autor)
99
Figura 3.12: Imagem aérea da Escola de Nantes. Editado a partir de Bing maps.
67
O longo processo de elaboração do edital do concurso foi acompanhado de perto pela equipe de
urbanistas liderada por Axendre Chemetov e pelas equipes escolhidas pelo mesmo para projetarem
partes da renovação da Îlle de Nantes. Entre eles estava Patric Bouchain, que anos antes havia
trabalhado na renovação do que à época era o grande equipamento cultural da cidade, conhecido
pelo nome de “le lieu Unique”. Caroline Paul e Andre Sauvage apontam que a palestra realizada por
Patric Bouchain para as equipes escolhidas para participar do concurso seria decisiva para a definição
das propostas por elas apresentadas. Embora o programa da Escola tivesse sido montado por uma
equipe de experientes especialistas na área, Bouchain argumentaria sobre a importância de que as
propostas apresentadas transgredissem os termos do edital e fizessem sua própria interpretação
sobre o programa a ser implantado na nova Escola.
68
Entrevista com Florian Depous, Anexo 02.
100
A minuciosa análise publicada por Ilka e Andreas Ruby 69 nos mostra que se
fizermos a comparação entre a demanda original da escola e o oferecido em
projeto, no que se refere aos cálculos de volume construído, essa discrepância
mostra-se ainda maior. Em uma situação tradicional onde os espaços disponham de
3m de pé-direito, os 12.500m2 previstos no edital transformam-se em 37.500m3,
enquanto o projeto vencedor do concurso oferece um volume total de 100,926m3
(Fig.3.13).
Figura 3.13: Esquema da relação entre materiais usados na construção X volume interno. Editado a
partir de: RUBY, 2011.
69
RUBY, Ilka; RUBY, andreas (ed). University Building in France, Nantes school of Architecture p44-45.
Zurich: Holcim fondation, 2011.
101
Essa operação seria marcada pela onipresente noção de economia que atravessa os
trabalhos da dupla, fazendo com que esse excedente espacial não se tornasse
também um excedente de custos.
Figura 3.14: Fachada Sul. Escola de Arquitetura de Nantes. Lacaton e Vassal, 2009. Fonte: Lacaton e
Vassal.
70
Entrevista com Jean Philippe Vassal. Anexo 01.
71
Cálculo feito com base no relatório obtido através da Holcim Fondation for Sustainable Construction.
(RUBY, 2011)
72
SCOFIER, 2009
102
não a fragmentação do edifício em múltiplos volumes. Se por um lado a estratégia
inicial de ocupar o sítio em sua totalidade gera o excedente espacial que possibilita
uma série de apropriações inesperadas ao longo do tempo, por outro, é capaz de
gerar um volume onde a proporção entre área ocupada e superfície de contato com
o exterior é a menor possível, reduzindo ao mínimo as superfícies nas quais o
contato com as intempéries implicaria em um elevado custo de fabricação.
Essas decisões iniciais nos permitem pensar sobre a relação estabelecida entre os
projetos de Lacaton e Vassal e as restrições que incidem sobre os projetos nas
cidades contemporâneas. Os arquitetos parecem incorporar tais variantes –
normativas e custos - logo de partida, deixando de entendê-las como um limitador
com o qual se confrontariam em uma fase mais avançada do projeto, para torná-las
parte estruturante de seu pensamento. Como apontou Herreros, nos trabalhos da
dupla essas contingências “convertem-se em material dotado de grande poder
criativo”, tornando-se verdadeiros “instrumentos de projeto” 73.
73
HERREROS, Juan. Nada excepcional: siete aciones revisitadas en la obra de Lacaton e Vassal. p364. in
El Croquis nº 177/178, Madrid, 2015.
103
Figura 3.15: Fachada Sul-Oeste da Escola de Nantes, 2015. Materiais de fechamento e estrutura em
elementos pré-fabricados. Fotografia: Pedro Varella.
104
Figura 3.16: Fachada Leste da Escola de Nantes, 2015.. Diferentes tipos de fechamento.
Policarbonato, venezianas de alumínio e panos de vidro. Fotografia: Pedro Varella.
105
Essa ocupação total foi guiada por duas estratégias construtivas distintas, gerando
o que os autores chamaram de estrutura primária e estrutura secundária. A
primeira, ato elementar do projeto, consistia na implantação de grande esqueleto
em concreto, servindo como suporte para a instalação da segunda, mais leve e
fragmentada (fig.3.17/3.18). Sobre o processo que levou à concepção desses
sistemas, Vassal aponta:
74
Entrevista com Jean Philippe Vassal. Anexo 01.
75
Entrevista com Florian Depous. Anexo 02.
106
fugacidade inerente ao desenvolvimento de projetos por concurso. Essa estratégia
permitiu que os membros da escola sugerissem as alterações que lhes fossem
convenientes sem no entanto, comprometer os valores fundamentais da proposta.
Figura 3.18: Construção da estrutura secundária no interior da primária. Fonte: Lacaton e Vassal.
107
públicos –, o Laboratório de fabricação – cujo funcionamento é facilitado pelo fácil
acesso em relação à rua –, e o restaurante – cujos serviços são oferecidos para
quem quer que seja. Nos andares superiores se distribuem a biblioteca, salas de
aula e ateliers de projeto. O volume definido pela ossatura em concreto foi dividido
em quatro níveis principais, situados a 0m (nível 0), 9m (nível 1), 16m (nível 2) e
23m (nível 3). A distância entre as lajes foi definida a partir das possibilidades de
inserção de níveis intermediários, como aponta Vassal:
“(...) quando nós fazemos 9m, 7m, 7m é porque nós entendemos que 9m é
três vezes 3m ou duas vezes 4,5m, e que 7m é duas vezes 3,5m, e que
portanto existem níveis intermediários que podem existir e que vão criar
espacialidades particulares.” 76
Figura 3.19: Corte esquemático da Escola de Nantes. Em azul os espaços gerados pela estrutura
secundária. Em cinza as áreas resultantes da sobreposição das duas lógicas construtivas. Editado a
partir de RUBY, 2011.
76
Entrevista com Jean Philippe Vassal. Anexo 01.
108
Figura 3.20: Plantas da Escola de Nantes. Em azul os ‘espaços programados’ em branco os ‘não
programados. Editado a partir de El Croquis 177/178.
109
Figura 3.21: Esquema axonomérico do nível 2B. Estrutura primária e secundária. Editado a partir
de RUBY, 2011.
110
A última laje se oferece como um grande terraço descoberto de acesso público,
oferecendo uma ampla vista em 360º possibilitada pelo afastamento gerado pelo
rio Loire e pelo reduzido gabarito das edificações vizinhas. Esses quatro níveis se
conectam por meio de um sistema de generosas rampas carroçáveis que se
desenvolvem contíguas à fachada sul, com aproximadamente 120m de
comprimento e inclinação que varia de 5 a 7%. O acesso à rampa se dá através da
entrada principal no nível zero, próximo à esquina entre a via interna e o limite do
lote, como que em continuidade ao traçado viário periférico ao sítio. A partir, daí a
superfície oblíqua percorre os dois primeiros níveis em mão dupla, dando acesso
aos setores onde originalmente estavam locados os estacionamentos. Em seguida, a
largura da rampa é reduzida pela metade, ganhando uma geometria complexa que
faz com que a via percorra os demais pavimentos sobrepondo-se a ela mesma até
atingir o topo do edifício, qualificando seu terraço como uma grande esplanada
pública.
111
estrutura secundária, dispondo de um sistema construtivo em componentes
metálicos e fechamentos em vidro (Fig.3.23).
Figura 3.23: Imagem a partir da ponte do Rio Loire. Passarela de conexão entre os dois volumes.
Fotografia: Pedro Varella.
112
Figura 3.24: Espaço não programado Nível 1A. Ao fundo entrada para Biblioteca e escada de acesso
ao atelier de informática. Por trás da fachada de policarbonato o edifício de pesquisa que o ocupa a
parcela Norte do Lote. Fotografia: Guilherme Lassance.
Figura 3.25: Espaço não programado Nível 1A. Ao fundo acesso para rampa perimetral. No
primeiro nível, ao lado direito, entrada para Biblioteca, no nível superior atelier de informática.
Fonte: Lacaton e Vassal
113
Figura 3.26: Espaço não programado Nível 2A . Do lado direito dois estúdios de projeto, à esquerda
vista para o rio Loire. Fotografia: Guilherme Lassance.
Figura 3.27: Espaço não programado Nível 2A . Ao fundo dois estúdios de projeto. Fonte: Lacaton e
Vassal.
114
Ao ocuparem o intervalo entre os ambientes de uso exclusivo da instituição, os
espaços não programados funcionam como dispositivos de articulação entre os
diferentes ambientes da Escola. Suas características espaciais permitem com que os
fluxos possam se dar em diferentes direções, velocidades e formas.
“eles criaram uma relação com outras instituições da cidade, com a escola
de engenharia, uma companhia de dança, 14 ou 15 associações de
estudantes, enquanto na antiga escola havia 3 ou 4. Há vídeos de
publicidade que são rodados no terraço. Eu acho interessante para um
arquiteto ou estudante de arquitetura ver essas coisas acontecerem, ver
como se faz um filme.” 77
77
Entrevista com Jean Philippe Vassal..
78
Em conversa durante a visita à Escola de Nantes.
115
podendo ser redirecionados ao financiamento de experiências didáticas e à
aquisição de novos equipamentos.
A ideia aqui apresentada sugere que estratégias de projeto como construir mais
com menos ou oferecer espaços não programados são essenciais para permitir um
mínimo grau de adaptabilidade e flexibilidade frente às imprevisibilidades
decorrentes do uso do edifício ao longo do tempo. No entanto, não são suficientes
para garantir que essas qualidades sejam rebatidas no âmbito da construção. Fazer
valer esses princípios através de determinadas qualidades é o que faz do edifício da
Escola de arquitetura de Nantes um objeto de especial interesse para essa pesquisa.
116
4
CINCO QUALIDADES DE UMA ESTRUTURA ABERTA
117
Neste capítulo buscarei relacionar as qualidades que nos permitem interpretar a
Escola de arquitetura de Nantes como uma estrutura aberta. São atributos
inerentes às propriedades físico-espaciais do edifício. Surgem a partir da
combinação entre o estudo dos documentos iconográficos disponíveis e da
experiência da visita in loco. Estão, portanto, relacionadas com o rebatimento das
decisões de desenho nas características concretas do artefato arquitetônico.
Foram identificadas cinco qualidades através das quais irei guiar essa investigação,
são elas: 1 - Estrutura rígida e ocupação frouxa; 2 - Superdimensionamento;
3 - Conexões híbridas; 4 - Anti-específico; 5 - Espaço da Bricolagem.
118
4.1 - Estrutura rígida e ocupação frouxa
Uma trama ortogonal de 10m X 10m baliza a ocupação em sua extensão horizontal.
O perímetro do terreno é formado por linhas oblíquas resultantes de um traçado
viário que converge em direção a uma rotatória. A modulação de 10 x 10 estende-
se por quase toda a área do terreno, a primeira vista de forma regular, indiferente,
como num tabuleiro de xadrez. Contudo, a partir de uma apreensão mais rigorosa,
119
nota-se duas situações onde essa trama primária é perturbada: ao atingir os limites
oblíquos do lote e ao encontrar-se com as superfícies oblíquas da rampa periférica.
Figura 4.1: planta baixa nível 1A e planta baixa nível 1A com malha estrutural de 10x10m. editado a
partir de RUBY, 2011.
120
Figura 4.2: imagem do encontro da trama primária com a rampa perimetral. Espaço sem uso pré
definido ligado ao restaurante universitário. Fotografia: Pedro Varella.
121
Os dois núcleos de espaços fixos são posicionados no centro geométrico da planta,
nas áreas menos suscetíveis a incidência de luz natural e com menor conexão visual
com a paisagem, locais que apresentam um menor grau de habitabilidade. A
distribuição destas áreas de maneira equidistante do perímetro do edifício permite
que os deslocamentos verticais se deem nos locais geometricamente mais próximos
das demais superfícies da planta, servindo aos programas de forma homogênea e
consequentemente atendendo aos imperativos das normas de combate a incêndio.
A sobreposição dos espaços fixos, andar por andar, reafirma essa estratégia, ao
mesmo tempo em que minimiza o percurso percorrido pelas tubulações, reduzindo
consideravelmente o custo de sua implementação.
Figura 4.3: Planta típica de arranha-céu em NY e planta típica da Escola de Nantes. Editado a partir
de KOOLHAAS, 1993 e RUBY, 2011.
79
Abordado no capítulo 01. KOOLHAAS, 1995
122
A matriz primária da EAN é concebida, entre outras coisas, em função de sua
capacidade de acolhimento da estrutura secundária. A grande malha de 10 x 10 é
apenas o estágio inicial de materialização do edifício. A essa matriz se sobrepõe a
secundária, em estrutura metálica e com metade da dimensão da malha principal
(5m x 5m), oferecendo à estrutura a capacidade de responder a ocupações mais
específicas. Os componentes da estrutura secundária se associam à primária por
meio de “esperas” inseridas nos pilares em concreto (Fig 4.5). Mesmo nas áreas em
princípio não ocupadas pela estrutura complementar, as esperas foram inseridas
para atender futuras necessidades. Como apontado no capítulo anterior, a distância
vertical entre as das lajes principais correspondem as possibilidades de inserção de
níveis intermediários.
Figura 4.4: trama secundária de 5x5m e sobreposição das duas tramas. Editado a partir de RUBY,
2011.
123
Figura 4.5: Imagem do laboratório de fabricação. a numeração dos pilares corresponde a posição
das esperas metálicas inseridas para receber estruturas secundárias.
Figura 4.6: Imagem do terraço. Espera metálica construída para permitir montagem de tendas
efêmeras.
124
Figura 4.7: Encontro das tramas primária e secundária. Nível 1A.
Na cidade de Berlin, o projeto para a Okohaus 80, de 1987, realizado por Frei Otto e
Herman Kendel, incorpora esse paradigma de forma esclarecedora. O projeto foi
desenvolvido no contexto da exposição internacional IBA, com o objetivo de
oferecer uma matriz inicial onde os futuros habitantes poderiam desenvolver suas
casas. O processo de construção deu-se a partir de uma dinâmica colaborativa,
onde os arquitetos não podiam impor estilos ou formas específicas, mas apenas
fornecer o subsídio técnico para a construção das unidades de habitação. O projeto
de Otto e Kendel se resume em três lajes de concreto moldado in loco, sustentadas
por seis pilares e quatro vigas transversais. As lajes são sobrepostas com
80
A pesquisa sobre o projeto OKOHAUS foi feita em grande parte a partir da leitura da dissertação de
Jorge Henrique Jimez Arias: “Okohaus, vivendas en el jardim”.
125
espaçamento aproximado de 6m entra cada uma, altura suficiente para a
construção de dois níveis para cada entre-laje. Uma escada externa com patamares
a cada 3 metros conecta não só os níveis principais, mas também os futuros níveis
intermediários projetados pelos moradores. Não há regras que determinem a
aparência visual ou a materialidade específica de cada unidade, apenas um
parâmetro genérico que estipula que a estrutura adicionada àbase de concreto
deva ser mais leve que o próprio concreto, em madeira ou metal. Desta forma, a
Okohaus funciona como uma espécie de novo solo, sobre o qual se instalaram
ocupações tão imprevisíveis quanto as que estão submetidos os terrenos situados
no nível zero de qualquer cidade.
Figura 4.8: Okohaus. Fei Otto e Herman Kendel, 1987. Fonte: Revista 2G.
3
RUBY, 2011.
126
02 – O que originalmente era uma pequena lanchonete sem dependências de
cozinha no térreo foi convertido em uma cantina com capacidade para atender a
300 refeições simultaneamente. Em paralelo a isso foi construído um bar
administrado pelos alunos.
82
Constatado durante visita à Escola.
127
Figura 4.10: Equipe de obra trabalhando na conversão de uma parcela do laboratório de fabricação
em uma oficina de corte 3D, em 2015. Fotografia: Pedro Varella.
4.2 - Superdimensionamento
128
automóveis, estes projetos são obrigados a oferecer uma resistência estrutural que
supera o exigido por quaisquer outras formas de apropriação. Isso faz com que
estes edifícios sejam capazes de absorver uma série de programas dificilmente
previstos em sua concepção, como é o caso do Terminal Menezes Cortes, edifício
que serviu como ignição para a pesquisa que resultou no livro “Rio Metropolitano”
83.
83
LASSANCE, 2013
129
Figura 4.11: Estrutura em concreto construída pelos alunos, montada ao lado da rampa,. em 2015.
Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.12: Containers armazenados no nível 2A. em 2015. Fotografia: Pedro Varella.
84
RUBY, 2011.
130
deslizantes, plantações e o que mais puder ser imaginado pelos usuários da Escola
ou ainda pelos que os sucederão. A liberdade de apropriação encontra no
superdimensionamento uma das condições primordiais para seu afloramento.
Isso se dá em grande parte por conta da distribuição não linear e não sequencial de
seus espaços, mas deriva também das diversas possibilidades de acesso a cada um
dos ambientes. Somente no térreo, existem 17 pontos de acesso ao interior do
edifício e a partir da rampa periférica, mais 15 86. Esses acessos podem estar ou não
disponíveis em função das necessidades de cada momento, sem que para isso seja
necessário inutilizar os ambientes por eles servidos 87.
85
ALLEN, 1999 p.01
86
Ver plantas do anexo 03.
87
Durante o período de três dias que visitei a EAN, entre 14 e 16 de dezembro de 2015, boa parte dos
acessos estavam bloqueados por conta da “vigipirate”, um dispositivo lançado pelo governo francês
que obriga todos os espaços de reunião de público a controlarem seus acessos. Essa medida foi
tomada em função dos atentados ocorridos em Paris em novembro de 2015.
131
Se a promenade architecturale de Corbusier pressupunha um sentido a partir do
qual a experiência de deslocamento no interior do edifício se daria, como é o caso
emblemático do Museu de Arte Ocidental 88, em Tóquio, os movimentos dentro da
vasta paisagem interna da EAN não mais correspondem a uma direção estabelecida
em projeto. Três principais dispositivos possibilitam que isso ocorra: a porosidade
do térreo, os amplos espaços sem usos definidos - nível 1A e 1B -, e a rampa que
percorre as fachadas Sul e Leste.
88
O Museum for Western Art, foi construído em Tóquio entre 1958 e 1959 a partir do projeto feito por
Corbusier, em 1955. O edifício é uma aplicação do conceito de crescimento ilimitado (croissance
illimitée), formulado pelo arquiteto em 1939. A ideia previa que o percurso do museu poderia crescer
indefinidamente em função do aumento das coleções de cada instituição. Esse crescimento se daria a
partir de um eixo espiral que se desenvolve do centro para as bordas da planta.
132
Figura 4.13: Auditório aberto para a rua por meio de porta de correr no fundo do palco. Fonte:
Lacaton e Vassal.
133
Figura 4.14: Laboratório de fabricação aberto para a rua por meio de porta de correr. Fotografia:
Guilherme Lassance.
89
Projeto de Alison e Peter Smithson, 1956. Analisado no capítulo 01.
134
fragmentos de programa. Tais características implicam na conformação de espaços
com qualidades variadas de luz, som, altura, relação com a paisagem, contato com
os programas ao seu redor, etc. Esses espaços nem sempre são conectados
visualmente uns aos outros. Isso faz com que duas pessoas que saiam de uma
mesma sala em direção à outra possam fazer diferentes percursos para alcançarem
seus destinos, aumentando consideravelmente as chances de que desfrutem de
experiências completamente diferentes ao se deslocarem de um ambiente para
outro.
Figura 4.15: Circulação pela praça central. Nivel 1A. Ao lado esquerdo e ao fundo os núcleos de
circulação vertical. No fundo da imagem o acesso a rampa perimetral. Fotografia: Pedro Varella.
135
Figura 4.16: Cruzamento de fluxos na praça central. Nivel 1A. Fotografia: Pedro Varella.
136
Figura 4.18: Rampa periférica Fotografia: Guilherme Lassance.
137
Figura 4.19: Rampa periférica. Fotografia: Pedro Varella.
138
Figura 4.20: Varanda no atelier de projeto. Fotografia: Pedro Varella.
Figura 4.21: Interior de associação de estudantes com conexão para a rampa perimetral e para o
interior do edifício. Fotografia: Guilherme Lassance.
139
Ao possibilitarem diversos roteiros dentro do mesmo edifício, as conexões híbridas
geram situações inusitadas, introduzindo o acaso e a contingência no deslocamento
de uma parte à outra, promovendo assim encontros e desencontros que só são
possíveis a partir de um sistema de interconexões variadas. Ao sair de um atelier,
um estudante está sujeito a deparar-se com atividades pouco comuns ao ambiente
escolar. Um filme sendo rodado no terraço, um debate político transmitido ao vivo
a partir de um dos espaços sem programa definido, grupos de crianças correndo
pela rampa perimetral90. Ao mesmo tempo, outro frequentador que opte por um
caminho alternativo pode não encontrar nada excepcional, apenas um grande
interior vazio que, dependendo do horário, estará tão deserto quanto as instalações
industriais não ocupadas da Îlle de Nantes.
4.4 - Anti-específico
Este procedimento pode ser interpretado por alguns como o ímpeto de incorporar
um estilo, de implementar um modo operante padrão que facilite a reflexão e
aproxime a atividade arquitetônica de uma produção em série. Entretanto, na obra
90
As três situações citadas foram reconhecidas a partir da visita in loco e de relatos de frequentadores
do edifício.
91
Termo usado por Iñaki Ábalos em seu texto “uma cartografia imaginária”. in Revista 2G.
140
de Lacaton e Vassal, a radical atitude de empregar os mesmos materiais e
procedimentos em obras destinadas a usuários de baixa ou alta renda parece
afirmar uma posição política frente às desigualdades inerentes à nossa época.
Figura 4.22: Fabricação das peças estruturais do tipo gerberetti, centro George Pompidou.. Fonte:
Fundação Renzo Piano.
92
Projeto discutido no capítulo 01. Richard Rogers e Renzo piano 1977 (data de conclusão da obra).
141
Em primeiro lugar, a estrutura portante é realizada com tamanha complexidade e
especificidade que se torna uma entidade imaculada, praticamente impossível de
ser reproduzida ou substituída, impossibilitada de ser manipulada em níveis mais
radicais. A produção de peças altamente específicas requer esforços financeiros de
grande ordem, que só se tornam viáveis perante uma rara conjectura político-
econômica como as que propiciaram à época a realização do Pompidou. As peças
estruturais do tipo gerberetti são fundidas em uma forma única de dimensões
colossais, como apontou Guilherme Wisnik 93 em conferência realizada na Escola
da Cidade em 2014. Podemos citar ainda as instalações hidrosanitárias, de
climatização, de combate a incêndio etc., que adquirem tamanha
representatividade plástica que impossibilitam sua substituição ou modificação.
Esses elementos alcançam tamanha importância no conjunto que passam a
constituir uma parte fundamental na aparência visual do edifício, sem os quais o
conjunto parece sofrer importantes perdas. Por último, outro aspecto que parece
lançar luz sobre essa questão é a previsão original de que as alturas entre pisos
poderiam ser modificadas por meio de içamento das lajes. Este dispositivo acabou
por se mostrar tão complexo e custoso que finalmente não foi executado, mesmo
tratando-se de um investimento de enormes proporções e chancelado pelo
presidente que dá nome ao edifício.
93
WISNIK, Guilherme. A formação do pós-modernismo. Conferência realizada em 2014 na escola da
Cidade, São Paulo. Acesado em 07/02/2016. http://escoladacidade.org/bau/guilherme-wisnik-pos-
modernismo/
142
ideia de luxo, glamour e riqueza. Esses conceitos não deixam de estar presentes na
Escola de Nantes, mas se manifestam de formas distintas das usuais: através da
generosidade de seus espaços e do sentimento de liberdade de ação aqual seus
espaços nos remetem. Esses atributos são alcançados através da utilização de
materiais genéricos, não específicos, industrializados e produzidos em série. São
telhas de policarbonato, perfis galvanizados, gesso acartonado, lajes alveolares,
esquadrias de alumínio, entre outros.
94
A construção da Nakagin Capsule Tower se deu em 1972. O edifício está em uma área central de Tókio.
Kurokawa desenvolveria os conceitos aplicados neste projeto em outros posteriores, como é o caso
do Moving Core (1972) e da Capsule Sumer House (1974). Para uma análise mais aprofundada desses
projetos ver: MAMI, 2011.
95
MAMI, 2011. pg 146.
96
Características observadas em visita ao projeto de Kurokawa em outubro de 2015.
143
Figura 4.23: Interior de uma das cápsulas, Nakagin Tower. Fonte: MAMI, 2011.
Figura 4.24: Nakagin Tower, 2015 Fotografia: Pedro Varella.
144
Figura 4.26: Tubulação percorrendo o teto do nível 1A Fotografia: Pedro Varella.
145
4.5 - Espaço da Bricolagem.
97
LÉVI-STRAUSS, Claude. O pensamento Selvagem. Campinas, SP: Papirus, 2012. 12a ed. p.336
98
LÉVI-STRAUSS, 2012. pg. 34.
146
influenciou não somente o modo da dupla entender e projetar arquitetura, mas
também o tipo de participação que sugerem aos que habitam seus edifícios.
Os grandes espaços sem uso específico são providos de grandes janelas deslizantes
dotadas de simples mecanismos de tranca. Qualquer um pode, a qualquer
momento, alterar significativamente a ambiência interior do edifício.
Equipamentos rolantes – divisórias, mesas, praticáveis, escadas, entre outros - são
espalhados pela escola de forma a propiciar diversas formas de apropriação de
seus espaços.
147
148
Figura 4.27: Elementos móveis no interior da Escola de Nantes. Fotografia: Pedro Varella.
Os autores do projeto parecem querer induzir os estudantes de Nantes a não se
acomodarem através dos aparatos mecânicos que garantem a climatização ideal.
Tampouco sugerem uma autonomia da vida escolar em relação às complexidades
da cidade contemporânea. O conjunto de qualidades conferidas à EAN torna
necessário uma constante atividade de negociação entre os que o frequentam
diariamente e os que por ventura dele fazem uso. O depoimento de um funcionário
da Escola resume: “antes de nos mudarmos para cá, a vida era fácil, às 17 h
estávamos todos em casa, agora é difícil, precisamos nos dedicar as questões da
escola.” 99
Essa atitude remete a uma imposição didática e mesmo política. Como é de costume
nas escolas de arquitetura, suas instalações desempenham um papel fundamental
na formação de seus alunos e professores. As dependências das escolas tornam-se
um laboratório capaz de explicitar as virtudes e incapacidades dos que dela fazem
uso. Lacaton e Vassal parecem assumir essa prerrogativa ao estimularem alunos e
professores para que tenham um papel ativo no cotidiano do edifício. Neste
sentido, talvez o relativo desconforto causado pela imposição de uma participação
ativa na manutenção do espaço, parece ter sido uma opção conscientemente
adotada pelos arquitetos como uma estratégia didática.
99
Em conversa com Raymond Leduc, assistente de direção desde 2000.
149
convenientes, dependendo da época do ano ou do momento do dia. Estas atitudes
parecem substituir a crença na arquitetura dependente de aparatos tecnológicos
por uma mobilização dos usuários em manipular dispositivos simples.
150
CONCLUSÃO
Muitos foram os casos que, por motivos diversos, não figuram entre as arquiteturas
aqui expostas. Alguns se mostraram de difícil acesso ou com escassez de material.
Outros simplesmente não foram incluídos devido ao limite de tempo disponível
para a formulação do texto aqui apresentado. Dentre estes, posso citar o
importante Fun Palace 100, fruto da parceria entre Cedric Price e Joan Littlewood,
que através de sua arquitetura móvel introduz importantes questões no fértil
ambiente londrino da década de 60. Ou ainda a famosa Mesquita de Córdoba 101,
usada pelos Smithsons 102 para ilustrar sua ideia de transformação das estruturas
ao longo do tempo. Esta, que mais tarde, foi reproduzida por Stan Allen como
referência a sua ideia de condição de campo 103 e por Raphael Moneo, como parte de
100
O Fun Palace foi um projeto com a diretora de teatro Joan Littlewood. As pesquisas do arquiteto se
fundiam com as noções inovadores que sua parceira aplicava ao teatro. Littlewood defendia uma
dinâmica cênica que não se baseava na ideia tradicional de palco e plateia, artistas e público, mas
apostava na noção de improvisação, performance e em ultima instância de dissolução da distinção
entre artistas e público. O projeto para o Fun Palace incorporou essas ideias através de estruturas
móveis que se deslocavam ao longo de uma grande estrutura principal fixa. O projeto acabou não
sendo realizado, mas deixou uma grande quantidade de ricos desenhos onde aparecem lajes que
subiam e desciam, escadas rolantes pivotantes, coberturas retráteis e outros elementos
reposicionáveis que visavam proporcionar um amplo espectro de arranjos espaciais. Ver: MATHEWS,
Stanley. The Fun Palace: Cedric Price’s experiment in architecture and technology, in: Technoetic
Arts 3:2, p.73–91, Londres, 2005.
101
Construída no século X em Andaluzia, Espanha. Passou por diversas transformações ao longo tempo,
tendo sido usada tanto pela cultura Islâmica quanto pela cristã.
102
SMITHSON, Alison. Team 10 primer. In Architectural design, 1958 London: Studio Vista.
103
ALLEN, Stan. Field Conditions, In Points+Lines diagrams and Project for the city. Nova Iorque:
Pinceton Architectural Press, 1999. p 90-135.
151
sua argumentação a favor da forma compacta 104. Ainda se destacam os muitos
participantes dos encontros do TEAM 10, dos quais se pode citar o arquiteto e
pedagogo polonês Oskar Hansen, com sua noção de Open Form 105, ou ainda a teoria
dos suportes 106, desenvolvida pelo holandês John Habraken, em 1962, onde o
arquiteto explora a dualidade entre suportes e preenchimento. Ainda no contexto
holandês, podemos lembrar os vários representantes do chamado Duch
Struturalism, como Aldo Van Eyek e seu discípulo Herman Hertzberguer 107. Por fim,
mas não menos importante, está a obra de Mies Van Der Rohe, cujos trabalhos mais
tardios como o Crown Hall 108 ou a Neue Gallery 109 fornecem extraordinários
exemplos de planta livre. Todos os casos acima citados poderiam certamente
figurar entre os aqui estudados, além dos outros, que fogem ao meu conhecimento.
Da Universidade livre de Berlin 110, aos vastos planos urbanos para a Argel e para
Tóquio 111, passando pelo pouco conhecido conjunto de habitações no Peru 112, até o
aclamado Centro Pompidou 113 e a Escola de Nantes 114, o repertório apresentado ao
longo dos quatro capítulos dessa dissertação é formado por objetos detentores de
particularidades que nos permitem abordá-los de diferentes maneiras. O que me
pareceu produtivo foi o tratamento desse arsenal de casos como componentes que
contribuem para a formação de um conjunto de ferramentas de projeto.
104
MONEO, Rafael. Paradigmas de fin de siglo: los noventa, entre la fragmentacion y la compacidade.
in: Arquitetura Viva nº66. p.17-24. Barcelona: AV, 1999.
105
Sobre a obra de Hansen ver publicação a respeito da exposição realizada no museu de arte
contemporânea de Serralves: “Oskar Hansen: forma aberta”, em fevereiro de 2015. Disponível em:
www.serralves.pt/documentos/exposicoes/DossPedagogicoOskarHansen_Serralves.pdf. (Acessado
em 12/02/2016)
106
HABRAKEN, John. Supports: an alternative to mass housing, MIT: 1972.
107
Para uma análise das obras de Aldo Van Eyek e do próprio Hertzberguer ver : HERTZBERGUER,
Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 272p.
108
Mies Van Der Rohe,1950-56. Chicago, Illinois, EUA. Ver: FRAMPTON, Keneth. Studies in Tectonic
Culture. The poetics of construction in nineteenth century Architecture. Cambridge MA/London: The MIT
Press, 1995. p. 159-209
109
Mies Van Der Rohe,1968. Berlin, Alemanha. Ver: FRAMPTON, op citi.
110
Capítulo 01: arquitetura relacional.
111
Capítulo 01: estrutura e preenchimento.
112
Capítulo 01: estrutura e preenchimento.
113
Capítulo 01: neutralidade e indefinição.
114
Capítulos 03 e 04.
152
para frente (pro-jeto)” 115, é a partir desse jogo que busco extrair o valor dos
objetos aqui estudados. Torná-los parte de um repertório projetual do qual posso
fazer uso e compartilhar – seja na prática que desenvolvo ao lado dos meus
parceiros do GRU.A 116, ou aplicando-o no contexto das minhas recentes
experiências no ensino de arquitetura.
115
ROCHA-PEIXOTO, Gustavo; BRONSTEIN, Laís; SANTOS DE OLIVEIRA, Beatriz; LASSANCE, Guilherme.
Leituras em teoria da Arquitetura, 3: objetos. Rio de Janeiro, Rio Books, 2011. pg24.
116
GRU.A (grupo de arquitetos) é um escritório de arquitetura fundado em 2012 por mim, Caio Calafate
e Sergio Garcia-Gasco.
117
LASSANCE, Guilherme; VARELLA, Pedro; CAPILLÉ, Cauê. Rio Metropolitano: Guia para uma
arquitetura. Rio Books: Rio de Janeiro, 2013. 284p.
153
apontam para possíveis formas de rebatimento das ideias de estrutura aberta no
âmbito da construção. Um processo de transposição executado por meio do
desenho de arquitetura. Um desenho que não se constitui apenas das questões
próprias ao desenho como dispositivo de representação, mas engendra em sua
elaboração questões de outra ordem. Um desenho que tem capacidade de reagir a
questões subjetivas e complexas: a princípios de relação com a cidade existente -
que, como vimos, não precisa se restringir a reprodução de símbolos ou a mimese
por meio da forma; ao princípio da evolução das estruturas edificadas ao longo do
tempo; à ideia de liberdade de ação para os habitantes; à sua integração com as
dinâmicas de fluxos das cidades; à sua relação como os meios de produção da
construção civil, entre tantas outras. A capacidade de síntese de todos esses
aspectos através do desenho é fundamental para que a arquitetura não se limite ao
discurso de seus autores, mas que, ao ser transposta para seu estado material,
construído, possa carregar consigo as marcas dessas reflexões.
Cabe então questionar: existe uma real diferença entre as lições aprendidas a partir
das arquiteturas ‘sem autor’ e aquelas concebidas por personagens proeminentes
na história da disciplina? Uma comparação entre os dois objetos que simbolizam
esses dois conjuntos pode levar a avançar nessa questão: o edifício garagem
conhecido como Terminal Menezes Cortes (TMC), objeto paradigmático que
impulsionou a pesquisa do Rio Metropolitano e a Escola de Nantes (EAN), adotada
aqui como referência para o estudo das estruturas abertas. A justaposição dessas
duas arquiteturas nos leva a apreciação de importantes aspectos.
A partir dela, penso ser possível examinar com maior precisão os limites e
possibilidades do desenho como instrumento para produção de uma estrutura
aberta. As qualidades identificadas na Escola de Nantes indicam o quanto as
decisões de projeto, quando efetivamente transpostas ao artefato construído,
podem ser convertidas na possibilidade de transformação de seus espaços,
conferindo aos habitantes a liberdade de ação da qual falavam os Smithsons. Creio
que as qualidades estudadas no quarto capítulo são indícios dessa relação.
Qualidades que, no entanto, não estão presentes de forma tão evidente no TMC. Sua
capacidade de transformação, de resposta às demandas do contexto no qual se
154
insere, de absorção de novos programas, certamente depende, em alguma escala,
do modo como o corpo edificado foi concebido, mas, seguramente, não são
garantidas por ele. O que faz do TMC uma potente estrutura aberta é justamente o
fato de não dispor de tantas qualidades espaciais como a Escola de Nantes, mas
apenas das mínimas necessárias à abertura frente às oscilações das demandas de
uma grande metrópole. Muitas vezes eleito como um dos mais “feios” edifícios da
cidade, inclusive por colegas de profissão, o TMC parece carregar nesse carma o
antídoto para seu sucesso como uma estrutura aberta. Quem se importa se um
edifício como este tem seus últimos andares descaracterizados e transformados em
uma universidade? Quem se posicionaria contra a conversão de um edifício de
estacionamento no que quer que seja? O mesmo não pode ser dito a respeito da
Escola de Nantes, o que permite pensar que a forma da ocupação das estruturas é
tão relevante, ou mais, do que as propriedades físicas passíveis de serem definidas em
projeto.
118
LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. p100. Tradução Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro,
2001.
155
Se as intenções de projeto não são suficientes para assegurar que os espaços por
elas gerados atinjam a condição de uma estrutura aberta, a hipótese que permeia
esse trabalho é que existem certas estratégias projetuais que, se não garantem, ao
menos, o que não é pouco, oferecem maiores possibilidades para que isso aconteça.
Contudo, cabe aqui o comentário a respeito dos possíveis valores qualitativos que
essa noção pode carregar. Se as estruturas abertas são essencialmente permissivas
e, no limite, libertárias, não me parece correto atribuir a elas um efeito
absolutamente positivo. Não se trata de uma condição necessariamente benéfica
para o bem estar comum, pois, como sabemos, o homem é capaz de realizar
atrocidades sem limites em nome da liberdade. Consideremos as planas típicas 119
dos edifícios de escritórios, apinhadas de funcionários em nome da eficiência e do
lucro. Ou ainda os muitos exemplos, como o já referido Palais de Tokyo 120, que se
prestaram, durante longos períodos, como depósitos de bens apreendidos dos
prisioneiros de guerra. Mas, por outro lado, o contrário também é possível. Penso
no aeroporto de Tempelhof, em Berlin, que ao ser construído, em pleno regime
Nazista, serviu como grande ponto de partida para os aviões de Hitler e hoje é um
imenso parque público oportunamente inserido no tecido da cidade. Ou ainda, no
burocrático espaço do novo terminal do aeroporto Santos Dumont, no Rio, que em
raros momentos de catarse coletiva propiciados pelo carnaval de rua é convertido
no palco de uma grande festa pública. E porque não falar das muitas avenidas
construídas para o trânsito de automóveis, como é o caso da de Copacabana, do
viaduto do charme em Madureira, ou do “minhocão” de São Paulo, que por vezes se
tornam plataformas para a livre apropriação do público.
119
Em referência ao estudo de Koolhaas sobre as plantas típicas dos arranha-céus de Nova Yorque,
estudados no capítulo 01.
120
Como apontado no capítulo 02.
156
lúdico, da realização de novas experiências do habitar, que as estruturas projetadas
possam servir como suporte para a imaginação e para outras experiências de
cidade diferentes das que existem. A abertura deixa desejos não preenchidos e
embora não seja a única, me parece uma boa forma de dar chance para que eles se
realizem. Ou, como diz David Harvey à luz do conceito de direito à cidade de
Lefebvre, contribuir para que tenhamos “a liberdade de criar e recriar nossas
cidades e a nós mesmos” 121.
121
HARVEY, David. The right to the city. in: New left review, nº53. pg23. “The freedom to make and
remake our cities and ourselves”. Tradução do autor.
157
BIBLIOGRAFIA
158
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162
Teses e dissertações:
163
ANEXO 1
164
Entrevista realizada com Jean Philippe Vassal 122, no escritório de Lacaton e Vassal em
18/12/2015, Paris.
Pedro Varella:
O termo “liberdade estrutural” é usado por vocês como um dos princípios fundamentais de seu
trabalho. Essa ideia está relacionada com a distinção entre estrutura e programa, que representa um
deslocamento claro em relação à concepção de espaços estritamente vinculados às suas previsões
de uso. Você poderia falar um pouco sobre essa estratégia?
Jean-Philippe Vassal:
O que eu acho interessante é definir espaços que possuem certas qualidades a serem criadas, ou a
serem reveladas porque já existem, e, em seguida, imaginar quais são os programas mais adequados
para ocuparem esses espaços.
Em oposição ao funcionalismo estrito nós podemos pensar sobre uma ideia de qualidade dos
espaços, de prazer, prazer de estar em um espaço, de liberdade, de facilidade. Eu acho que isso é o
que foi mostrado pelo loft – com loft, me refiro efetivamente a um bar, um antigo museu, uma antiga
garagem, um antigo atelier que foi utilizado e no qual nós entramos e nós percebemos de que não
corresponde ao padrão de habitação, mas, finalmente, é melhor. Nós utilizamos o loft de uma forma
diferente porque somos obrigados a preenchê-lo, nos posicionando em seu interior e vivendo em
seu interior numa forma de nomadismo. Uma sala com 4m de pé direito finalmente não é um
problema. Algo que não foi “feito para” determinada coisa, mas que se pode “ocupar para” essa
coisa.
Neste sentido que fizemos, por exemplo, projetos como a Escola de Nantes, ou as Cité manifeste, em
Mulhouse. Nesses casos, nós tentamos fabricar o loft. Aonde não havia um edifício pré-existente, nós
podemos fazer como se existisse.
Mulhouse se trata de uma sobreposição de um edifício eficiente em concreto no primeiro nível com
uma estufa agrícola, que cria um loft. Imediatamente, a partir do momento em que esse envelope e
uma nova estrutura são feitos nós nos dizemos que poderia ser uma estrutura feita há um ou dez ou
vinte anos e que se ocupa. Na escola de Arquitetura é semelhante. Quer dizer, nós tentamos
imaginar que neste sítio industrial na Îlle de Nantes poderia haver um armazém resistente, robusto,
com uma tipologia estrutural particular, no qual a escola de arquitetura pudesse se instalar.
Literalmente foi isso que fizemos.
PV:
Mas eu acho que há uma certa “inteligência” envolvida na fabricação dessa estrutura primária que
talvez não esteja presente em situações de apropriação de estruturas existentes. O que determinou
as características dessa primeira estrutura na qual vocês implantariam o que chamam de estrutura
secundária?
JPV:
É verdade que em Nantes nós pudemos definir algumas coisas. Por exemplo, quando nós fazemos
9m, 7m, 7m é porque nós entendemos que 9m é três vezes 3m ou duas vezes 4,5m, que 7m é duas
vezes 3,5m, e que, portanto, existem níveis intermediários que podem existir e que vão criar
espacialidades particulares. Essa ideia de dizer que o que é importante é que cada solo tem uma
altura diferente – 9m, 17m e 24m – o suficiente para receber um nível suplementar...
122
Sócio diretor do escritório Lacaton e Vassal ao lado de Anne Lacaton.
165
Eu penso que, a princípio, deve-se fazer as coisas dentro de uma economia. Não se pode fazer duas
vezes maior e depois se dar conta que vai custar duas vezes mais caro. Nós fizemos porque havia
um orçamento previsto para uma escola de arquitetura, e nós utilizamos esse orçamento dizendo
que não iríamos extrapolar.... um projeto mais simples e mais eficaz, que nos permitisse criar mais
metros quadrados e mais volume.
Depois, outra coisa que determina isso é que a forma é limitada pela regulamentação urbanística.
Nós não podíamos ir mais alto nem construir maior do fizemos. Em Nantes, nós utilizamos todo o
espaço e toda a altura possível.
Nós partimos do vértice NE (ponto de origem da modulação da estrutura primária) onde o limite do
lote é formado por um ângulo reto com uma modulação regular até que essa se deforma ao
encontrar o limite do lote. Depois havia também as dimensões das circulações que nos
interessavam. No início, nós definimos que haveria uma via dupla que serviria ao estacionamento,
originalmente nos níveis +3m e +6m, e depois a rampa se sobreporia nela mesma dando acesso aos
demais níveis.
PV:
Os chamados “espaços sem programa definido” são uma característica marcante do edifício de
Nantes. Enquanto estive lá foi interessante observar que mesmo em condições desfavoráveis para o
uso de espaços exteriores- chuva e frio - os espaços suplementares funcionavam bem, sobretudo a
praça central no primeiro nível, em frente à biblioteca. mais do que o espaço suplementar do
segundo nível, que fica mais distante do contato com a cidade, com a rua...
JPV:
Mas esses dois espaços não tem os mesmos tipos de uso. Nós consideramos que o nível 01 é o
primeiro nível da escola, o nível inferior é cidade. Então, finalmente nós poderíamos dizer que o
nível +1, a praça central, seria a entrada da escola. A partir daí, as pessoas partem para os diferentes
destinos, seja a biblioteca, as salas de curso, administração, os espaços de pesquisa. O espaço
suplementar superior (+2) está ligado aos ateliers de projeto, então depende um pouco do
momento. Há vezes que esse espaço está completamente ocupado. Depende de cada atelier utilizar
ou não o espaço suplementar a sua frente.
Existem também alguns espaços particulares (dentro dos espaços suplementares), por exemplo, na
parte sul do primeiro nível o espaço suplementar é um pouco mais isolado. Frequentemente há
pequenos grupos de professores e alunos que se apropriam desses espaços para trabalhar,
enquanto a praça central é mais um espaço de circulação. Já os espaços do nível 2 possuem
características distintas, são mais íntimos, menos pessoas passam por estes para chegar a seus
destinos, favorecem relações do tipo cara-a-cara. Um atelier pode organizar alguma atividade com o
que está à sua frente no espaço entre os dois, e o mesmo pode acontecer com todos os ateliers. A
área da cobertura oferece ainda outro tipo de espaço, descoberto e ligado à totalidade da escola,
mas também com a cidade, com a vista. Existem ainda outros espaços com características diferentes,
e isso é bom.
Eu acho que o que é interessante é que podemos ter diferentes características no mesmo edifício.
Para mim, o que é interessante é a criação de uma paisagem interior. Isso é algo que nós gostamos
muito no Palais de Tokyo e que nós tentamos trabalhar em Nantes também. Isso se pode ver
também no edifício do “Rolex learning Center” do SANAA, com uma arquitetura bastante diferente,
ou ainda num edifício que eu gosto muito que é a biblioteca do Scharoun, em Berlin, onde existe essa
paisagem interior que também está em continuidade com a paisagem exterior.
Em Nantes, existem lugares a partir dos quais se pode ver a cidade, a ponte que cruza o rio Loire e,
ao mesmo tempo, o atelier vizinho, um espaço de circulação etc... São histórias diferentes que se
cruzam mas que não atrapalham umas às outras, vivem juntas. Uma coisa que funciona bastante
bem e é ainda mais notável no “Learnig Center” por causa precisamente do movimento do solo.
166
Eu e Anne demos aulas lá e, como os ateliers do campus não são muito agradáveis, nós
frequentemente íamos dar as aulas lá, ficávamos duas horas em um lugar e depois nos
deslocávamos com a turma para outro espaço.
PV:
Eu estive no grande Atelier de Nantes no segundo andar e havia cinco juris de projeto ao mesmo
tempo. Mesmo que haja momentos de interferência, por exemplo, no nível acústico, eu pude
perceber como essa situação de simultaneidade muda o comportamento das pessoas. É preciso se
adaptar à situação para que o desenvolvimento de uma atividade não atrapalhe a outra.
Eu tenho a impressão que o projeto da escola de Nantes coloca uma questão fundamental que é a
negociação entre os que habitam seus espaços...
JPV:
Negociação numa situação conveniente. Quer dizer, apesar de tudo, quando as pessoas estão
coagidas/constrangidas não existe mais possibilidade de negociação. Então é preciso tentar deixar
as pessoas a vontade. Neste caso, a negociação se torna possível e interessante Ela leva a alguma
coisa diference, leva a trocas, ela leva, às vezes, à delicadeza, à polidez, à curiosidade, e é isso que eu
acho interessante. (...) frequentemente ocorre até negociação entre coisas que não se suportam,
entre automóveis e pedestres, por exemplo. À noite, quando há menos pessoas circulando, os carros
podem subir facilmente até o topo do edifício.
Eu acho que com isso nós nos afastamos do espaço funcional – quer dizer: nós precisamos de salas
de aulas, mas o que acontece quando se saí da sala de aula? Quando duas turmas saem de uma aula e
podem se encontrar e falar sobre o que aconteceu em cada uma delas, isso cria algo de
suplementar...
PV:
Tratando-se de uma escola de arquitetura, podemos considerar que essa situação funciona como
uma espécie de ferramenta pedagógica?
JPV:
Sim, porque é preciso ver as coisas. Por exemplo, na época da elaboração do projeto nós pensamos
que as áreas de pesquisa poderiam estar no meio da planta para que eles pudessem estar em
contato com essa dinâmica... mas finalmente não aconteceu assim. Eles estão hoje no edifício mais
próximo ao Loire (pausa). Pior para eles (risos). É inacreditável imaginar que existem certas escolas
aonde existe uma enorme quantidade de informação sobre a cidade, sobre a arquitetura, sobre
urbanismo, sobre as regiões, mas que, no final das contas, tudo está fechado em escritórios
trancados. Livros e teses importantes que as pessoas deixam de conhecer porque tudo está
‘protegido’, enquanto uma escola de arquitetura deveria ser o maior laboratório de urbanismo de
uma cidade ou região.
Eles criaram uma relação com outras instituições da cidade, com a escola de engenharia, uma
companhia de dança... Existem 14 ou 15 associações de estudantes, enquanto na antiga escola havia
3 ou 4.Há vídeos de publicidade que são rodados no terraço. Eu acho que é interessante para um
arquiteto ou estudante de arquitetura ver essas coisas acontecerem, ver como se faz um filme, por
exemplo.
PV:
Eu entendo que essa situação de negociação é essencial para uma escola, mas como, no nível da
arquitetura, dos espaços construídos, pode-se contribuir para o desenvolvimento dessa prática?
167
JPV:
O problema é esse, da parede. Como nós fazemos para nos livrarmos das paredes? (longa pausa).
PV:
Existem as cortinas...
JPV:
Com certeza. Há uma escola que funciona bastante desta forma (Haute école d'ingénierie et
d'architecture de Fribourg), perto de Zurich. Ela foi feita em uma antiga usina de turbinas e todas as
salas são separadas por cortinas, o que faz com que se possa escutar um ruído quando se passa ao
lado de uma sala. Se isso desperta uma curiosidade, se pode entrar e escutar o que está acontecendo.
Funciona bastante bem.
Há uma diferença fundamental entre a parede e a divisória, ou uma cortina. Uma divisória pode ser
deslocada. É o que acontece no Palais de Tokyo. As divisórias são montadas e desmontadas
constantemente. Houve uma exposição com cerca de 400 artistas. Cada um fez sua pequena sala. É
claro que mesmo assim havia espaço livre, aonde se podia compreender a totalidade das partições.
Foi bastante interessante poder passar por essas pequenas salas e ver cada artista em seu pequeno
espaço, criado em função das suas necessidades, mas é importante saber que tudo poderia ser
desfeito, todas as partições poderiam ser desmontadas. Eu acho isso muito bom.
Na escola de Nantes há metade dos espaços fechados e outra metade livre. Os espaços livres podem
ser divididos, mas, quando for preciso, eles podem se abrir logo em seguida.
PV:
Tanto no Palais de Tokyo quanto em Nantes, o tipo de ocupação parece facilitar essa dinâmica
espacial Mas, e quando determinado edifício é administrado por empresas que não
obrigatoriamente tem o desejo de gerar espaços de qualidade para seus funcionários, mas tem o
objetivo, por exemplo, de alojar o número máximo de pessoas que o espaço permitir? Nesses casos,
a liberdade de ocupação pode gerar um ambiente com poucas qualidades...
JPV:
É verdade que o espaço livre - o que nós chamamos espace paysagé (espaço paisagem) – permite
alojar mais pessoas que o espaço particionado, e, em certos casos, eles vão longe demais (risos).
Existe sempre essa necessidade de mais espaço, então eu penso que é preciso criá-los.
PV:
Vocês tem uma forma de trabalhar com os materiais que não é propriamente convencional. Nós não
estamos acostumados a tocar no aço bruto quando pegamos num corrimão de uma escada de um
edifício importante. Isso me parece seguir determinados princípios de projeto que respondem a
uma ideologia. O trabalho de vocês parece de fato ser uma resposta a essa ideologia, sem grandes
desvios.
JPV:
Sim, nós tentamos não desviar. Nós tentamos fazer de forma que as pessoas compreendam, que elas
vejam o que nós queríamos fazer. Então, compreender que ali existe um pilar que suporta a maior
parte da estrutura e lá um pilar mais leve que se apoia no outro e cria um mezanino. Que em certos
locais há um guarda corpo em vidro que corresponde a determinado programa, e em outro, um
guarda corpo diferente que corresponde a um espaço intermediário, e que na rampa há outro que se
parece mais com os que se vê nas estradas, porque ali passam carros. Isso faz com que em cada
parte do edifício exista registros diferentes, que, por vezes, fazem referencia à escola de arquitetura
– esse programa que invadiu o edifício principal – outros que fazem referência ao espaço industrial
168
e outros ainda que se referem ao espaço de circulação como em uma rua. Nós tentamos distinguir
essas coisas e não as embaraçar Deixá-las visíveis, compreensíveis.
PV:
Sim, podem-se ler essas coisas, mas eu tenho a impressão que a administração da escola e as
pessoas que são responsáveis por gerenciar a escola, por vezes trabalham em direção a uma espécie
de sacralização dessa brutalidade, no sentido que isso veio a ser, para eles, uma espécie de elemento
identificador do lugar, mas também uma bandeira de promoção.
Na medida em que vocês se tornam arquitetos mundialmente conhecidos, eu tenho a impressão que
esses valores são apropriados por alguns como uma espécie de marketing, deixando de responder a
uma necessidade ideológica ou política que vocês carregam em seus trabalhos. Isso incomoda
vocês?
JPV:
Se serve para esse propósito, não vejo problema. Isso ocorre de forma mais evidente ainda no Palais
de Tokyo. Houve um projeto interessante feito pelo artista Philippe Parreno, no qual ele repôs
elementos como tetos falsos, luminárias, etc. Isso veio a ser o seu projeto. Nós ficamos contentes
porque de alguma forma foi um tipo de crítica sobre a estética do Palais de Tokyo, aproximando-o ou
retomando a estética do museu de arte moderna, simétrico ao Palais de Tokyo. Mas ao mesmo tempo
sabemos que esse projeto se tornou possível porque era o Palais de Tokyo, enquanto em outro
museu não seria possível, na medida em que esses elementos já estavam lá.
PV:
Uma forma de liberdade?
JPV:
Exatamente Eu penso que na prática isso não é um problema, pelo contrário. Para além disso, eu
acho também que existe uma espécie de bom senso: se esconder essa estética for útil, se pode fazer,
mas se isso custa muito caro e não se tem interesse em fazê-lo, porque fazer? Tanto da nossa parte
quanto da parte dos que ocupam o espaço. Talvez essa situação seja mais clara nos projetos de
habitação. Em Mulhouse, por exemplo, houve pessoas que entraram em seus apartamentos e, por
ser uma obra feita por nós, decidiu não alterar nada, ou quase nada o teto foi deixado em seu estado
bruto etc.. E houve outros que não estavam nem aí, eles refizeram o piso, colaram papel de parede
por todas as partes, particionaram o espaço com grandes móveis etc. Ao final das contas, tudo é
bom. Eu sinto prazer quando alguém diz: “isso é Lacaton e Vassal, nós vamos deixar o espaço tal
qual ele nos foi entregue”. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho a impressão que os que mudam tudo na
decoração interior fazem também referência ao nosso trabalho, porque no final, o que nos agrada é
que de 14 unidades de habitação não há nenhuma igual à outra. A habitação sem as características
de seu habitante não é habitação, seja essa qual for. Uma escola primária sem crianças, sem
desenhos de crianças não é mais uma escola.
Finalmente, a estética é tudo isso: por vezes, o resultado dessas apropriações pelos habitantes ou
pelos usuários, ou em outras o que pode parecer uma não apropriação. Para nós, em todos os casos
se trata de uma forma de estética que é resultante de um processo de reflexão que lida com os usos,
funções, economia, com os materiais, com a estrutura, com o clima, e todas essas coisas... E que do
ponto de vista da imagem, vai sempre mudar. A imagem na primavera será diferente da imagem no
verão ou no inverno, porque não se trata de uma obra acabada em determinado momento, mas de
um processo vivo que se mantém permanentemente aberto, resultando sempre em uma imagem
diferente.
PV:
Muito Obrigado, foi ótimo.
169
JPV:
Obrigado por ter mencionado nossa escola. É um projeto bom porque é bem habitado. Por exemplo,
no FRAC de Dunquerque às 18h tudo fecha e as pessoas vão embora.
JPV:
Uma observação sobre a equivalência dos níveis no Beaubourg: há o espaço do térreo que é um
pouco diferente em termos de volumetria. Mas depois há cotas idênticas entre os demais andares.
Um aspecto que, na minha opinião, foi mais bem trabalhado no projeto original do Palais de Tokyo,
onde os andares têm alturas diferentes. Existem lugares bem baixos e outros muito altos. Em alguns
chega-se a 13 metros de altura, enquanto no Beaubourg se está limitado a 4m de altura a partir da
parte inferior das vigas nos andares. Isso era bem interessante no Fun Palace, de Cedric Price onde
havia a possibilidade de mover os espaços em todas as direções, verticalmente e horizontalmente.
É interessante pensar que o Beaubourg (1971) foi o museu que sucedeu o Palais de Tokyo e o
Museu de arte moderna de Paris (concurso -1934). Quando o Beaubourg foi construído, a coleção de
arte moderna foi transferida do conjunto Palais de Tokyo/Museu de arte moderna para lá. E, depois
disso, o Pompidou, que foi concebido para ser um centro de arte contemporânea, acabou de
tornando um museu. O edifício se congelou, voltando-se para os sistemas de conservação e
armazenamento de obras e, aos poucos, foi fechando seus espaços para atividades públicas. Apesar
de não ser da mesma escala, hoje em dia é o Palais de Tokyo que cumpre o papel de um centro de
arte.
Em 1930, era um edifício que Le Corbusier criticou de forma dura, porque houve um concurso
organizado para selecionar qual projeto seria executado, do qual Le Corbusier participou. Ele dizia
que o projeto vencedor se tratava de um edifício de arquitetura clássica e que a ideia de
modernidade estava totalmente ausente, mas, finalmente, a estrutura desse edifício é extremamente
moderna! O dispositivo estrutural em concreto armado, a dimensão dos vãos, a verticalidade, a
relação entre os diferentes níveis, o sistema de captação de luz natural É incrível... E em contra
partida, nada disso é visível no museu de arte moderna. O que nós fizemos foi aproveitar os
trabalhos de demolição que haviam sido feitos antes de começarmos o projeto, e decidir que era
preciso mostrar ainda mais.
170
ANEXO 2
171
Entrevista realizada com o arquiteto Florian Depous 123, no escritório de Lacaton e Vassal em
18/12/2015, Paris.
[entrevista realizada em Francês. Tradução do autor]
Pedro Varella:
Acabo de voltar de Nantes, fiquei com a impressão de que seis anos depois da inauguração do
edifício o projeto para a Escola ainda não acabou...
Florian Depous:
Não, há ainda coisas por fazer, pequenas obras, há uma modificação na cafetería e ajustes no atelier
de projeto que tomou o andar que originalmente seria destinado ao estacionamento de carros.
PV:
A forma de funcionamento do atelier 3D está começando a mudar com a demanda por máquinas de
corte a laser, impressoras 3D etc. Necessidades que não existiam na época em que o edifício foi
projetado. Agora eles estão em vias de fechar uma parte do atelier de fabricação para fazer uma sala
para esses novos usos. Você está de acordo com isso?
FD:
Mais ou menos. Eu não sei exatamente o que eles irão fazer. Será preciso um sistema de ventilação
mecânica, não sei como vai ser.
PV:
A ideia de liberdade estrutural parece estar bastante presente na Escola de Nantes, mas de alguma
forma, por mais que a intenção seja projetar uma estrutura aberta, permissiva, será que com um
projeto de arquitetura não estamos, em alguma medida, sempre impondo uma forma de habitar?
FD:
(risos) É uma pergunta complexa (pausa). Eu acho que a arquitetura é de uma maneira geral um ato
autoritário no sentido que se impõe finalmente uma situação para alguma coisa mas o que é
interessante é pensar como essa situação pode ser transformada. Mesmo se é feita uma estrutura
aberta, está se limitando de alguma forma a partir da vontade de alguém ou de um grupo de
pessoas, no sentido da concepção e da realização das coisas. Depois, o que é interessante é
justamente pensar se essa arquitetura pode ser “pirateada”, transgredida. Essa foi justamente uma
questão em relação ao programa da EAN, bem no começo do processo do concurso. Mesmo antes do
projeto ser realizado, já no programa do concurso, essa era uma questão importante. Havia um
programa clássico, tradicional e um outro mais reduzido que foi feito por uma equipe pedagógica
que sintetizou seus desejos para a nova escola, sem falar diretamente sobre programa, através de
um documento escrito. Em reuniões que fizemos com as diferentes equipes de projeto foi discutido
que havia um programa, mas que seria mais importante transgredi-lo, dar espaço para a expressão
dos desejos dos que ocupariam o edifício. Então, foi importante ter em mente essa dupla faceta de
um ato arquitetural que é sempre de alguma forma um ato político, no sentido que se fixa alguma
coisa, e de outro a capacidade da arquitetura e sobretudo das pessoas que ocupam a arquitetura de
transgredir isso ou a rebater seu lado autoritário.
É difícil saber, às vezes existem arquiteturas que são pensadas de forma rígida mas que de fato são
muito transformadas, mas pode existir também as arquiteturas ditas abertas mas que são
dificilmente transformadas.
Acho que depende da maneira de ocupar o lugar, do estado de espírito das pessoas. Em Nantes por
exemplo, bem no início (2009) havia o diretor (Philippe Bataille) que seguiu todo o processo, desde
123
Depous trabalha com Lacaton e Vassal desde 2000. Foi coordenador do projeto para o concurso da
Escola de arquitetura de Nantes e responsável pelo acompanhamento das obras de construção da
Escola.
172
quase 10 anos antes da construção, ele tinha uma ampla compreensão do projeto, mas no início ele
impôs fortes limites ao modo de ocupação do edifício e os alunos tinham muitos desejos, muitos
planos, foi uma situação contraditória com relação ao que havia sido pensado e discutido para a
EAN. Agora, com o passar do tempo, as coisas estão muito melhores, eles gerenciam melhor os
espaços. O ideal seria ter uma forma de autogestão, o que é um pouco difícil, mas cada vez que eu
vou lá existem coisas novas acontecendo, apropriações novas e, sobretudo, outros agentes da cidade
que fazem parte da vida da Escola: Le Lieu Unique (centro cultural), a prefeitura de Nantes, os que
estão relacionados com a construção da cidade como o centro de habitação social etc... fazem
sempre eventos na Escola.
O que é interessante é que o edifício se torna um receptáculo para outras coisas que não estavam
previstas. É também o local onde a escola está implantada que faz com que isso funcione, porque o
antigo edifício era na periferia da cidade, então a ocupação por estes que vivem em Nantes era
menos forte.
PV:
Durante o projeto, como foi a relação com a equipe de Chemetov, o responsável pelo projeto de
transformação urbanística da Ille de Nantes?
FD:
No início houve muita troca com Chemetov. Ele montou seu escritório perto de onde a Escola foi
construída. Ele tinha um contrato muito longo, de 10 anos, eu acho. Para seu método de trabalho era
importante estar perto do projeto para poder discutir constantemente com as pessoas que estavam
envolvidas no projeto como um todo.
PV:
Algo que eu ainda não compreendo muito bem é porque o edifício foi dividido em dois volumes, um
maior e outro menor, de frente para o rio Loire. Teve alguma coisa a ver com o plano urbanístico?
FD:
Exatamente. Isso foi uma restrição do projeto feito pelo Chemetov. Quer dizer que ele,
estranhamente, tinha um projeto de espaço público na cabeça e que para ele estava antes do
edifício. Está bem claro. Os espaços públicos foram realizados antes da obra do edifício. Ele queria
que a rua Lanue Bras de Fer cruzasse o lote. Queria também que existisse um edifício na margem do
rio que fosse mais baixo que o outro...Nós fomos até o máximo nas duas situações. Durante o
processo de projeto houve uma modificação na regulamentação do lote mais próximo ao Loire e nós
aumentamos este em um andar.
Não era o ideal (divisão em dois edifícios) , mas finalmente, como acontece frequentemente,
decidimos construir o máximo possível, e para isso tínhamos que seguir essa imposição. Outros
arquitetos participantes do concurso decidiram não construir nesse lote. A ideia é que esse segundo
edifício foi considerado parte da estrutura secundária, como se essa saísse do edifício para ocupar
esse lote. O ato fundamental era realmente a estrutura primária, que quase não mudou durante e
depois do concurso. Por outro lado, durante o concurso toda a disposição interior (estrutura
secundária) foi muito modificada a partir das reuniões entre nós e a Escola, mas a estrutura
primária não mudou.
PV:
Para além das possibilidades que essa estratégia de distinção entre os dois sistemas estruturais gera
para a ocupação do edifício parece que ela é importante também para o processo de projeto Uma
vez que as partes não dependem de relações fixas entre elas, se pode sempre mudar isso...
FD:
Sim, claro. Nós deixamos isso bem claro na resposta ao concurso. Como os projetos de concursos
públicos são anônimos, isso acaba cortando a conexão entre os usuários do edifício e os arquitetos.
Então isso foi uma forma de contornar essa questão. Nós implantamos um sistema que estava
posicionado de uma determinada maneira para o concurso, mas nós deixamos claro que tudo
poderia mudar dentro desse sistema. Um exemplo foi o estacionamento que virou um atelier de
projeto, fora algumas outras pequenas coisas.
173
PV:
E finalmente parece ser o atelier mais interessante da escola.
FD:
Os alunos se identificam bastante com esse espaço, mas frequentemente nós recebemos
reclamações dizendo que é complicado porque o espaço é todo aberto. O que me disseram é que os
estudantes se identificam muito com o lugar, eles podem fazer coisas grandes.
PV:
O que eu achei interessante quando visitei o espaço foi o fato deste possibilitar a realização, por
exemplo, de cinco bancas de projeto ao mesmo tempo, separadas pelas cortinas plásticas que vocês
projetaram.
FD:
E a cortina funciona afinal?
PV:
Mais ou menos. Eu acho que funciona mais no sentido de ser uma barreira visual, mas
acusticamente funciona menos bem do que os painéis rolantes.
FD:
O que é bom nesse atelier é que o espaço obriga os alunos e professores a negociar, a viver em
comunidade. Você presta atenção na forma de falar, para não incomodar os outros. Esse espaço era
originalmente um estacionamento, o programa mudou durante a obra. Nós já havíamos previsto
uma sobrecarga para que os espaços pudessem mudar de programa.
PV:
O superdimensionamento estrutural é uma das qualidades que eu atribuo ao projeto da EAN como
sendo uma condição para um certo nível de abertura estrutural.
FD:
É verdade que, durante o concurso, nos demos conta que finalmente não é muito mais caro fazer
uma estrutura superdimensionada. O aumento de preço não é proporcional ao aumento da
capacidade de carga, então nós tínhamos todo o interesse em super-dimensionar a estrutura.
Sempre há surpresas durante o projeto e depois. O processo de fabricação dessas peças, por ser
industrializado, não onera muito uma estrutura mais robusta. A sobrecarga permite que os pilares
em concreto recebam, através de esperas metálicas, novas estruturas secundárias. E depois nós
partimos do sistema de lajes pré-fabricadas e calculamos qual sobrecarga nós poderíamos aplicar
diretamente sobre elas, o que correspondeu a mais ou menos 16 toneladas. A partir disso, nós
definimos as lajes secas, feitas com uma estrutura mista em metal e madeira. Nós adotamos um
sistema disponível no mercado e trabalhamos com ele, o que nos permitiu ficar dentro do
orçamento previsto e, ao mesmo tempo, ocupar o máximo possível.
PV:
Então a estrutura secundária tem metade da dimensão da primária, é isso?
FD:
Exatamente. É feita de chapas de metal dobradas e madeira. Não se vê a madeira, mas ela está
dentro da laje para ligar as partes da laje metálica. É um sistema muito barato. Dentro desse
sanduíche existe gesso para acústica e para conter o fogo, e depois um forro acústico padrão. No
nível térreo o sistema é um pouco diferente. Existem alguns sistemas distintos no projeto,
dependendo da necessidade técnica de combate incêndio etc.. No nível do estacionamento, a laje
metálica é preenchida com concreto e isolante em seu interior, um sistema pré fabricado misto,
semelhante ao sistema de lajes pré- fabricadas. Isso nos permitiu solucionar as exigências acústicas
e de segurança. Para cada situação, nós buscamos o sistema que melhor respondesse aos limites do
regulamento, seja do ponto de vista térmico ou de segurança. Então, na verdade, há um sistema
primário e um secundário formados por diferentes soluções construtivas, escolhidas em função das
174
especificidades de cada situação. Mesmo sendo um pouco mais caro, isso nos permitiu resolver
muitos problemas já com o sistema estrutural.
PV:
Então existe uma ligação do tipo de sistema construtivo com o programa previsto para cada local?
FD:
Na verdade, a escolha do sistema está mais vinculada com os limites impostos pelo regulamento de
segurança contra incêndios e de controle climático e, no caso dos andares superiores, com relação
ao peso que poderíamos aplicar à laje,mais do que com o programa propriamente dito. Nós
gostaríamos de ter trabalhado em alguns casos com um sistema em madeira, mas o setor não é
muito desenvolvido na França, a maioria deles é produzida na Suíça o que faz deles menos
competitivos, portanto mais caros. Nós passamos muito tempo procurando o sistema ideal para
cada tipo de situação.
PV:
É interessante pensar que esse esforço de definir os sistemas pode ocorrer no início do processo de
projeto, mas depois, em um segundo momento, imagino que tenha uma fase de reposicionamento do
programa, você pode falar um pouco sobre isso?
FD:
Nós os resolvemos paralelamente. Nós trabalhamos sobre os sistemas construtivos sem
necessariamente falar sobre as situações específicas de cada programa. No interior do edifício
houve muitas modificações feitas a partir de conversas com a Escola, considerando a maneira que
eles imaginavam que o edifício poderia funcionar. Por exemplo, muitos laboratórios de pesquisa que
antes estavam no edifício principal foram deslocados para o edifício menor, houve um pouco de
lobby, não foi uma atitude muito comunitária. Mas é verdade que o edifício menor é mais adaptado
ao tipo de sala de pesquisa que eles vislumbravam. Como o edifício principal é bem profundo, isso
nos permitiu criar todo o núcleo de informática nas áreas menos iluminadas, nós tentamos
posicionar cada programa considerando as condições climáticas, de incidência solar porque nós
sabemos que, por exemplo, para as salas de informática não é bom ter muita luz natural.
Durante o projeto a escola insistiu muito no fato de que não havia luz o bastante, mas finalmente
quando o edifício foi construído eles acharam que havia muita luz (risos). Havia um laboratório de
pesquisa dentro da escola que trabalhava especificamente com a questão lumínica. Eles estavam
muito apegados aos cálculos feitos através de simulações digitais, diziam que não haveria luz
suficiente, o diagrama mostrava uma área como se ela fosse ficar totalmente escura.Nunca fica
totalmente escuro, sempre há alguma luz. Há a reflexão dos materiais, a vista, eu acho que esses
cálculos limitam muito a percepção das coisas. Houve muita discussão e tensão com eles, pois eles
estavam tão confiantes em relação aos seus cálculos e diagramas, cada um em sua área específica, o
que fez com que se desligassem do projeto como um todo. O mesmo ocorre para as outras
especialidades, acústica etc...especialistas por todo o lado e nós éramos os únicos que tínhamos uma
atuação mais global, então era preciso defendê-la.
Nó,s por exemplo, consideramos que a luz precisa ser diferente em cada espaço. Não é preciso ter
uma luz homogênea. Se todos tem a mesma luz isso não nos parece interessante.É o que ocorre na
maior parte dos edifícios, é uma consequência da utilização destes softwares de medição, fica tudo
muito parecido.
PV:
Na praça central (nível 1 A) isso fica bem claro, mesmo sendo um espaço aberto e amplo, ela está
subdividida em função da incidência da luz, de circulação de ar, da proximidade de um determinado
programa, da vista etc...
FD:
Sim, mesmo ao nível térmico. Os espaços não são homogêneos.
PV:
Mesmo os espaços que não possuem muitas qualidades para serem habitados acabam sendo
ocupados por outras atividades...em baixo das rampas, por exemplo...
175
FD:
Sim, exatamente, há um pouco de coisas demais em baixo das rampas, mas tudo bem...
PV:
Os núcleos de circulação vertical, eu imagino terem sido posicionados em função da capacidade de
servir as demais áreas...
FD:
Além disso, há uma questão estrutural. O edifício é dividido em dois por conta de um limite de
regulamento para a dilatação da estrutura. Um bem regular e outro mais complexo (mostrando a
planta).
No início eles estavam perturbados com o fato de terem que lidar com uma área construída tão
ampla. A escola antiga era muito mais compacta. Foi complicado no início poder achar lugares para
se encontrar, etc...com o tempo eles começaram a criar mais atividades, ocupar melhor os espaços. É
interessante observar como a escola muda em função da época do ano. O inverno não tem nada a
ver com o verão, por exemplo. Isso é interessante, o edifício não é hermético em relação às estações.
Há uma atividade de estudantes muito intensa. Há uma que se chama ArchiCulture que trabalha
especificamente para manter o edifício vivo, organizar eventos, jantares etc.... Uma vez por ano eles
fazem uma grande triagem para o Europan com todos os alunos.Nós fomos uma vez, é
impressionante, são mais de mil trabalhos expostos no térreo.
PV:
Você disse que o projeto de Nantes continua em curso. É um ato contínuo?
FD:
Nós mantemos sempre uma boa relação com a Escola. Como nós conhecemos muito bem o edifício, é
mais simples para eles recorrer a nós para modificar as coisas, para adicionar alguma coisa. É
também a ideia de que nós podemos analisar a maneira como o edifício funciona e depois corrigir as
coisas, propor ajustes, modificações. Por exemplo, não há um lugar específico para os estudantes,
porque existe uma lanchonete que é gerenciada por um organismo exterior, oCrous. Esse foi um
programa que apareceu no final das obras e que permite aos estudantes de comer na escola por um
preço bem pequeno, mas, por outro lado, a gestão do Crous faz com que o lugar só abra no horário
do almoço. Então não existe realmente um lugar de convivência para os estudantes. Então eles
tentam criar esse lugar, como o bar a vin, por exemplo. Nós fizemos um bar que não deu muito certo
com o Crous, mas aparentemente eles estão resolvendo esse problema.No momento eles tem um
espaço dentro da lanchonete e nós estamos trabalhando para ampliar esse espaço em direção ao
hall.
PV:
Você acha que isso pode acabar por criar uma dependência em relação aos arquitetos que o
projetaram?
FD:
Não sei. Eu acho que eles poderiam fazer com outros arquitetos também.
PV:
Isso não incomoda vocês?
FD:
Não. Se isso for feito de forma inteligente, não incomoda. Por exemplo, eu não sei direito o que eles
estão fazendo no atelier de fabricação (maquete).Há casos em que a própria escola é responsável
pelas modificações. Em Nantes, há muitos escritórios interessantes, mas eu acho que o problema é
que eles ainda não estão tão bem estruturados, existe apenas uma pessoa apenas que se encarrega
176
da manutenção do edifício, e essa pessoa fica numa pequena sala escondida no térreo. Eles acabam
nos chamando para fazer esses pequenos ajustes porque nós conhecemos bem o edifício. Eu acho
que é mais por conta disso. Nós fazemos porque nós gostamos muito do edifício e estamos
interessados em entender a evolução dos seus espaços, mas isso toma muito tempo do escritório e
não é muito interessante.
PV:
E vocês tem um contrato para isso?
FD:
Depende da escala da intervenção. Para a expansão da cafeteria, por exemplo, nós fizemos um
contrato. Para as pequenas coisas não. Às vezes eles simplesmente não tem condições de avaliar os
aspectos técnicos que permitem ou não fazer alguma coisa.
PV:
Eu tenho a impressão de que a escola de Nantes é um caso extraordinário. Existe um certo pudor em
relação às modificações que são feitas no edifício. Talvez um respeito excessivo aos arquitetos
responsáveis pelo projeto. Como funciona nos projetos que não são gerenciados pelo Ministério da
Cultura ou por arquitetos?
FD:
Acho que foi o antigo diretor que instituiu isso. Por vezes se torna um pouco incômodo. Está tudo
muito amarrado. Não pode ser feito muito coisa sem autorização, falta um pouco da simplicidade.
Seria mais interessante poder ter um projeto feito por alguém que aportasse algo de diferente, de
forma inteligente, é claro. Porque de alguma forma nós acabamos por repetir os mesmos processos
de reflexão. O projeto foi feito para que houvesse diferentes tipos de pensamento inscritos no
interior do edifício.
É verdade que há uma espécie de sacralização dos espaços. Era pior antes, com o antigo diretor,
agora está mais flexível neste aspecto, mas ainda é um pouco assim. Talvez a ligação (entre os
arquitetos e a Escola) seja forte demais. Eu acho às vezes que é preciso “matar” o autor uma vez que
o edifício é finalizado, por questões de segurança (risos).
Mas eu acho que os estudantes são muito mais livres em relação a isso do que a instituição. Seria
bom que houvesse uma forma de transgressão dos estudantes em relação ao projeto da Escola. Isso
já ocorre em alguma escala. No ano passado eles fizeram um cinema no terraço. Foi uma parceria
dos estudantes com alguns professores de estrutura e a curadoria das projeções foi feita no contexto
da bienal de Nantes de arte contemporânea. Essas imbricações com eventos da cidade são
interessantes. Por vezes, acontecem coisas inesperadas.
PV:
Como esperado.
FD:
(risos) Sim, como esperado.
PV:
A escola de arquitetura tem um tipo de uso muito específico, onde as reflexões a respeito do espaço
fazem parte do cotidiano. Eu me pergunto como funciona esse tipo de apropriação inesperada
quando vocês fazem outros projetos. Não o Palais de Tokyo, que faz parte mais ou menos da mesma
família de projeto, mas outros.
FD:
O Palais de Tokyo se tornou uma instituição, mas no início não foi bem assim. Nos anos 2000, bem
no início, eles tinham uma equipe bem pequena. Nós tínhamos 3 milhoes de Euros do Ministério da
Cultura e eles achavam que nós não conseguiríamos fazer todo o projeto dentro desse orçamento.
Então eles trouxeram pessoas da arte contemporânea que ainda não estavam dentro do mundo das
instituições, e o projeto de arquitetura e de direção artística foram feitos ao mesmo tempo.
177
O escritório (Lacaton et Vassal) ficava em Bordeaux quando começou o projeto. No final dos anos
90, eles vieram para Paris para fazer o projeto do Palais de Tokyo, porque era uma operação muito
complexa. E o escritório se instalou literalmente dentro do Palais de Tokyo, em um barraco de obra,
e lá ficou por anos. Naverdade o edifício havia passado por obras nos anos 90, que acabou por
destruir todo o interior para realizar um enorme projeto chamado Palais des Arts et de l’Image. Era
um grande projeto onde se pretendia instalar instituições, uma escola de cinema, a cinematheque
française etc...Então eles iniciaram a obra e começaram a demolir todo o interior, por isso o edifício
estava “nú”, eles demoliram todos os forros e acabamentos.É por isso que hoje se pode ver a
estrutura, as instalações, mas, finalmente, as obras foram interrompidas por conta da complexidade
do projeto e também, eu imagino, porque as instituições não tinham interesse em estarem juntas
naquele lugar.
Nós chegamos em 2000 num edifício onde as obras haviam sido paralisadas. Havia pilares
inacabados, andaimes, eles deixaram tudo. Foi uma loucura. Nós ficamos mais de um ano no interior
do edifício fazendo estudos. A equipe do Palais de Tokyo também se instalou lá dentro. Os diretores,
assistentes etc. No início era uma pequena equipe de mais ou mesmo 10 pessoas e agora é uma
grande instituição de cerca 50 pessoas, com muita visitação. O Palais de Tokyo é enorme, é maior do
que a escola (27.000m2).
PV:
Seria interessante entender como o acompanhamento e evolução dos projetos ocorrem em casos
radicalmente diferentes do Palais de Tokyo e da Escola de Nantes, nos casos de habitação social
como Mulhouse, por exemplo. Imagino que seja menos controlado. Vocês acompanham a evolução
desses projetos?
FD:
Sim, seguimos. Se você reparar no nosso site há várias fotos desses projetos em diferentes
momentos, habitados, com gente dentro. Frequentemente nós voltamos a esses projetos para ver
como está funcionando, fazer registros fotográficos etc...
PV:
Mas não para projetar modificações?
FD:
É mais para entender como as coisas funcionam, se a apropriação funciona. E depois nós podemos
questionar certas coisas quando fazemos outros projetos. Por vezes, nos damos conta que existem
coisas que não funcionam tão bem.
Se você reparar nos sites de escritórios que fazem projetos de habitação fica claro que quase
nenhum publica fotos com os espaços habitados. Nós temos um verdadeiro interesse em entender
como as pessoas habitam esses lugares.
Mas é verdade que nós nunca nos encontramos em uma situação onde havia realmente a
participação de outro projetista intervindo no espaço, ainda não tivemos essa oportunidade.
178
ANEXO 3
179
1
2
A
NIVEAU 0 ECOLE D'ARCHITECTURE DE NANTES
3
-0.18
+6,48 IGN BÂTIMENT LOIRE LACATON & VASSAL, architectes
+0,04 (NIV.MOY.)
dou
ble
vitra
ge fixe
-0.16
+6.50 IGN 4
(+6,70 IGN)
-0.16
+6.50 IGN
+6,51 IGN
+6,51 IGN
-0.15
-0.17
P0 7
P0 6
CE
P0 5
EVIER INOX
B 6
P0 8
0EX03
DEPOT
40,4 m2
7
0HP01
ZONE HORS PROGRAMME
NON AFFECTÉE
sol voirie
P0 9
bardage aluminium
coulissant
P0 10
98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
6 5 4 3 2 1
E4
98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
2 UP A4
800 KG
GT
+0.30 1 2 3 4
+0.30
+6.96 IGN 98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00 +6.96 IGN
D +0.30 +0.30
P0 3
P0 4
+6.96 IGN +6.96 IGN
coulissant
P0 92
P0 11
ŒUVRE 1%
P0 91
0SA01
SANITAIRES
10,5 m2 0EX01
EXPOSITION
ARTISTIQUE
P0 90
128,6 m2
HSPL
ht. moyenne: 5,95 m
P0 1
P0 2
NIVEAU 0 A
double vitrage fixe double vitrage fixe double vitrage fixe coulissant coulissant
ISSUE DE SECOURS
ISSUE DE SECOURS
+6,88 IGN +6,91 IGN +6,94 IGN +6,91 IGN +6,88 IGN +6,85 IGN +6,80 IGN
+0,00=6,66 IGN
3 UP
3 UP
8 10 12 14 16 18 20
9 11/p 11 13 15 15/p 17 19
P0A12
P0A15
P0A54
+0.15
+6,66 IGN
+6.88 IGN
+0.00
+0.22
F portail automatique grillagé portail manuel grillagé portail manuel grillagé portail manuel grillagé FACADE VITRÉE SUR LONGRINE BÉTON +6.81 IGN vitrage 8/16/55.2 silence ou équivalent F
P0A58 P0A59
+0.26 +0.16
+6.92 IGN
+6.82 IGN
P0A05
+0.26
+0.16
+0.26 +0.16 +0.16
RIDEAU-ampl. 1,7- 450g/m2 +0.11
P0A03
O
+6.92 IGN 0AFA01 +6.82 IGN
+ IS
+6.92 IGN +6.82 IGN +6.82 IGN +6.77 IGN
BUREAU TECH.
grillage galva sur fils tendus
E5
1 2 3 4 5
rée
rfo
2 UP
e pe
grillage acier galvanisé
qu
e pla
do
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
+ISO
0AEN01
+6.92 IGN
+0.21 +0.21
+0.26
13
G/p 0AFA03
-4BA
DÉPOT BUREAU +6.87 IGN +6.87 IGN AMPHITHEATRE 1 ( SURFACE TOTALE 443,03 m2)
P0A10
0 HD
0AEN02
O
13 A14
30,7 m2 172,97 m2
+ISO
PAPIER
+ IS
SAS
-4BA P0
G
14
14,2 m2 249 PLACES
rée
grillage acier galvanisé 3,45 m2
P0A07
rfo
e pe
plancher porté métallique Gr
G
0 HD
ad Larg
in eur
Sol Voirie
qu
N° Ra
altimétrie variable
Ran
1 ng gée
e pla
14
ée de
Sièg
10 es
Gr Siè
lag
ad ge
0AHA01 in s
ub
N° Ra
2 ng
do
ée
COM. (2P) 0AFA02 +0.11
3
10
98/48 4BA13+ISO
A1
Gr
+6.90 IGN
Gr Siè
+0.24
ad ad
ge in +6.77 IGN
P0
71,5 m2 REPROGRAPHIE in
N°
3 Ra
s N°
1
Pas
sag
e
ng Libr
P0A70
97,1 m2 ée
10
e
Rangée 10 Sièges Passage Libre
98/48 4BA13+ISO
Siè Gr
ge ad Gradin N°1
98/48 4BA13+ISO
s in
Ra N°
ng 2 Gradin N°1
ée
1 BA 10
Siè Gr
ad Rangée 15 Sièges
18 ge
s in
+ IS N°
3 Gradin N°2
0AHA03 O
+0.26 INFIRMERIE +0.26 +
ba
rdag
Gradin N°2
+6,71 IGN
P0A08
P0A09
P0A11
+7.15 IGN
su
+0.05
+0.49
Rangée 15 Sièges
H
PC SURV.
+6.90 IGN
+0.24 +0.26
0AHA04
98/48 4BA13+ISO
+6.92 IGN
+6.90 IGN
2,0
+0.26
+0.24
m
+6.90 IGN
+0.24
0AHA02 P0A16
ACCUEIL
ARIVEE COURRIER HSPL=2,0 m
+6.90 IGN
+0.24
+6.92 IGN
+6.90 IGN
+0.26
+0.24
P0A17
P0A01
P0A04
VOILE BETON
caniveau +0.26 +0.26
I +6.92 IGN vitrage CF 1H00 +6.92 IGN
I
PE
+0.24 +0.24
+6.90 IGN +6.90 IGN P0A90 P0A91 +0.24
+6.93 IGN
+6.92 IGN
+6.90 IGN
+0.27
+0.26
+6.90 IGN
+6.90 IGN
0ALT01
+0.24
+0.24
ESPACE EXTÉRIEUR
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
RAMPE ACCESSIBLE AUX VÉHICULES LÉGERS
L.T.CENTRALE D'AIR
VOILE BETON
sol béton + étanchéité liquide+ surface antidérapante
33,25 m2
VOILE BETON
sol dallage porté
+0.24
+6.90 IGN
SORTIE SECOURS PIETON
+6,80 IGN
+0.14
+7.19 IGN
+0.14
+0.53
+0.27 +0.17
+6.93 IGN +6.83 IGN
0AHP02
+0.24
98/48 HD-4BA13
ESPACE TAMPON +6.90 IGN
4 UP
+ISO CF 1H00
461,9 m2
+0.34 P0A18 plancher porté métallique P0A095
+6,83 IGN
sol voirie
+0.17
+7.00 IGN E2 altimétrie variable
4UP
+6.93 IGN
+6.93 IGN
+6.93 IGN
+6.93 IGN
+0.27
+0.27
+0.27
+0.27
P0A22
sol dallage béton
+0.27
+6,83 IGN
+0.17
K +6.93 IGN
+0.27 +0.17 K
P0A19
P0A20
VOILE BETON
+6.93 IGN +0.22 +0.22 +6.83 IGN
+6.86 IGN +6.86 IGN P0A096
P0A21
0AGT01
+0.22 +0.22
+0.27 +0.24 +6.86 IGN +6.86 IGN +0.17
+6.93 IGN +6.90 IGN +6.83 IGN
P0A48
P0A061
CIRCULATION
+6.95 IGN
+6.95 IGN
+6.95 IGN
+6.93 IGN
+0.29
+0.29
+0.29
+0.27
11,2 m2
sol dallage béton
+0.42
+7.08 IGN +0.29
+6.95 IGN
VOILE BETON
VOILE BETON
A2 A2
+6,82 IGN
+0.16
bardage polycarbonate fixe
+0.54 +0.54 13p 13p
+7.32 IGN
+0.66
P0A45
P0A46
L +0.09
h: 0,405m
+7.20 IGN +7.20 IGN
L
h: 1,69m +0.09 +0.29 +0.29
+6.91 IGN
h: 1,24m
+0.25
+6.75 IGN
+0.54 +0.54 +6.95 IGN +6.95 IGN
+7.20 IGN +7.20 IGN
SALLE DE
portes repliable vitrée
CAFETERIA
193 m2
+0.06
P0A60
+6.72 IGN
portail grillé coulissant
+0.42
h: 1,73m
P0A47
M +0.47 M
9%
+0.42
+7.08 IGN
bardage polycarbonate fixe
P0A73
CHAMBRE FROIDE
P0A72
0/2 °C
9.50 m2
VESTIAIRE CIRCULATION
+7.12 IGN
+0.46
+0.46
18,23 m2
BAR
12.75 m2
+0.61 P0A38
+6.91 IGN
P0A75
+0.25
+7.27 IGN
CF POSITIVE +0.44
P0A44 +7.10 IGN +0.41
18,23 m2 +7.07 IGN
+6,87 IGN
+7.39 IGN
+0.21
porte coulissante motorisée bardage polycarbonate+0.73
+6.91 IGN
+0.25
+7.07 IGN
+7.23 IGN
+0.57
P0A76
porte coulissante motorisée bardage polycarbonate
+7.15 IGN
A1
+0.49
+0.49
0AHP03
VOILE BETON
+7.15 IGN
+0.49
+0.49
DEBOITAGE
+7.39 IGN +0.74
+7.36 IGN +7.32 IGN Pas de rafraichissement
+7.40 IGN 6.75 m2
O
portes repliable vitrée
P0A30
04
P0A81
0ADI01 O
ARCHIVES
h: 2,51m
LOCAL DECHET
+0.51
+0.51
10/12 °C
bardage polycarbonate fixe
05
10.75 m2
VOILE BETON
10/12 °C +0.57
15.80 m2 +7.23 IGN +0.44
+7.10 IGN
P0A31
+7.19 IGN
+7.19 IGN
+0.53
+0.53
h: 2,42m
ZONE CUISSON
+6.91 IGN
+7.49 IGN
VOILE BETON
+0.25
+0.83
21.40 m2
+0.70
+7.66 IGN
+0.54
+7.47 IGN
+6,83 IGN
+0.17
+0.82
colonne sèche
P +
+7.20 IGN
P
+7 0.8 +0.54
.49 3
P0A43
+7.20 IGN
IG
N +0.70 +0.70 VOILE BETON
porte coulissante motorisée bardage polycarbonate
PE
ba
rdag
61
e po
P0A
lyc
arbo
na +
couli grillés
te
fix +7 0.7
ts
e .42 8
ssan
IG
N
ils
+ HSPL= 3,93 m
+7 0.7
porta
+ .42 8
+7 0.7 IG
.42 6 N
IG
N
Q
ba
rdag 0AHP04 0AFA09
e po
ESPACE TAMPON HALLE DE FABRICATION
8 lyc
arbo
395,8 m2
bardage polycarbonate fixe
na
te 466,0 m2
fix
e
tôle
artic
ulé
po e
rte P0
A0
po 0A vit +
+7 0.5
31
1H
21 rte
AT FA04
su rée
8
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en repli .22 6
A2
CF
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ss 35 ELIE du ab
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IG
P0
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+7 0.5
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+6.91 IGN
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13
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+0.25
+7 0.6
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3
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E +7 0.5
P0
lyc + rie
1 2
+7 0.6
12
arbo .22 6
na
te +0
+7 .6
.33 7 +0.57
+ IG
N R
+7 0.5
IG +7.23
.31 5 N +0.57 IGN .22 6
+6.96 IGN
IG
+0.30
N +7.23 IG +
+7 0.5
vitrage N
rie
IGN
CF .22 6
porte coulissante motorisée bardage polycarbonate
ne
1H0
+0.57
9
0 IG
on
A9
PE
+7.23 N
maç
ba
P0
rdag IGN +
9
+7 0.5
A4
e po 0A .22 6
P0
lyc
F. LT
8
arbo IG
0A
TS
A9
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+7 0.5
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INDICE
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PHASE
SOFRESID
Coordinateur santé, protection et sécurité :
CEROC coordination
O.P.C :
VULCANEO (Nantes)
Conseil en prévention et sécurité incendie :
GUI JOURDAN 57 bis, boulevard des arceaux, 34 000 Montpellier
Conseil en acoustique :
E2i
Economiste :
CESMA
SETEC BATIMENT
Ingénieurs :
LACATON & VASSAL
Architectes Mandataires
MAITRE D'OEUVRE :
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5
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+6,94 IGN
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11, rue Jean Jaurès BP 74 68 502 Guebwiller Cedex
+0.28
14 ELIE
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+6.96 IGN
(structure métallique) 24, rue Paul Mamert 33 800 Bordeaux
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bardage polycarbonate fixe
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Etablissement de Donges, ZI les Six Croix - 44 480 Donges
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12
18, rue du coutelier ZIL 44 807 St HERBLAIN cedex
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NUMERO DE PROJET
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+7 0.6
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Tour gamma D - 58 rue de la Rapée - 75 583 PARIS Cedex 12
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6
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A9
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1, rue Mikaël Faraday, ZAC du Moulin Neuf, 44800 Saint-Herblain
Emission
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P0
1H
+0.30
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206, rue La Fayette - 75 010 PARIS
-4BA
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NOM DE FICHIER :
REFERENCE EXTERNE :
PHASE
NIVEAU 0A
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+7 0.5
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+7 0.5
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[email protected]
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[email protected]
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[email protected]
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[email protected]
N
[email protected]
DESSINE VERIFIE APPROU.
ECHELLE
N° DU DOCUMENT
N° DE PLAN
DATE:
ECHELLE:
1/100
Fax 02 40 91 06 19
Fax 02 40 92 04 99
Fax 02 40 63 74 70
Fax 02 40 43 44 57
Fax 04 67 92 99 90
Fax 03 89 74 28 24
Fax 01 47 23 49 17
Fax 01 44 97 79 04
A10.10
[email protected]
Tel 02 40 45 32 00
Tel 02 40 92 15 76
Tel 02 40 94 79 50
Tel 02 40 43 45 30
Tel 04 67 58 11 32
Tel 03 89 74 97 00
Fax 05 56 92 72 77
Tel 05 56 91 51 52
Fax 01 40 04 69 89
Tel 01 40 04 69 73
Tel 01 47 23 49 09
Tel 01 44 97 78 74
Tel 01 44 97 78 72
W
INDICE
INDICE
26
0
0
2
A
NIVEAU 1 ECOLE D'ARCHITECTURE DE NANTES
3
BÂTIMENT LOIRE LACATON & VASSAL, architectes
garde- 4
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caillebotis
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P1 11
1SA01 +6,11
CF 1H00
SANITAIRES 800 KG +12,77
9,9 m2 IGN
P1060
12
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P1 70
1RE13 98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00 98/48 HD-4BA13 HSPL= 2,46 m
P1
plafond plaques de plâtre RGTS. +ISO CF 1H00 plafond plaques de plâtre 98/48 4BA13+ISO
faux-plafond démontable 98/48 HD-4BA13+ISO faux-plafond démontable P1 09
P1 10
1RE10 98/48 4BA13+ISO
ENS./RECH.(3P) 1CI01
CIRCULATION
36,70 m2
52,85 m2
98/48 HD-4BA13+ISO 98/48 HD-4BA13+ISO
1RE03
P1 05
P1 06
P1 07
P1 08
coursive exterieure
P1 04
garde-corps
57,40 m2
21,91 m2 21,91 m2 21,91 m2 21,91 m2 21,91 m2 HSPL= 2,46 m
98/48 HD-4BA13+ISO
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E
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garde-corps
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NIVEAU 0 B'/C
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(11,37/12,73 IGN)
8 10 12 14 16 18 20
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P0C060
P0C01 E5 P0C02 RIDEAU-ampl. 1,7- 450g/m2
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garde-corps VIDE SUR
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Gradin N°4
0CEN01
P0C12
P0C04 Gradin N°5
P0C03
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P0C74
Gradin N°8
6,12 m2
coursive exterieure
Gradin N°8
72/48-2BA18+ISO
0CGT04 VOILE BETON Rangée 15 Sièges
18
P0C77
P0C76
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I I
72/48-2BA18+ISO
Gradin N°9
P0C
P0C70
72/48-2BA18+ISO
Gradin N°9
98/48 HD-4BA13+ISO
garde corps
98/48 HD-4BA13+ISO CF1H00 Gradin N°11
LL Gradin N°11
20 21 22
72/48-2BA18+ISO
Niveau OC
0CEN06
P0C73
P0C72
VESTIAIRES SAS Niveau OC
Passage Libre
Largeur Rangée
de Sièges doublage
3,63 m2
+ ISO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
98/48 HD-4BA13+ISO CF1H00 ISO Passage Libre
98/48 4BA13+ISO
coulissants sur allège
98/48 4BA13+ISO
140 HD-4BA13+ISO P0C16
P0C17
CF 1H00 0CEN04 GT VENTILATION
REGIE
entrée d'air
entrée d'air
P0C91
châssis
châssis
+6,07
HD-4BA13+ISO
VOILE BETON
IGN
CF 1H00
98/48
Passage Libre Largeur Gradins Passage Libre
E2 hauteur linteau=2,10m
4UP
coursive exterieure
Rangée 8 Sièges
0CCI03
K colonne sèche VOILE BETON P0C19 CIRCULATION
Gradin N°1
Rangée 16 Sièges
Gradin N°1
K
46,56 m2
LOCAL RANGEMENT P0C10 0CGT01 HSPL= 2,96 m Gradin N°2 Gradin N°2
98/48 HD-4BA13+ISO CF1H00
sol béton finition lissé/ciré Rangée 16 Sièges
CIRCULATION
P0C14
A2 A3 SAS
2,41 m2 GT
13p 13p Gradin N°6 Gradin N°6
CF 1H00
P0C07
P0C08
GT
Rangée 14 Sièges
imposte exutoire
Rangée 14 Sièges
AMPHITHEATRE 2
79,19 m2
HSPL= 2,71 m
sol béton finition lissé/ciré Encoffrement CF 1H00
+ ISO
200 4BA13+ISO
dèsenfumage naturel
imposte exutoire
PENTE 9,46 %
garde-corps
M M
+6,07
HSPL= 2,96 m
imposte exutoire
NIVEAU
0C
imposte exutoire
dèsenfumage naturel
N 0CGT02
N
JD JD JD
VOILE BETON
A1
2000
KG
imposte ouvrante bardage polycarbonate
P0C06
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colonne sèche
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98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
+6,07
NIVEAU
NIVEAU
O +12,73 0C
0B
11 12 13 14
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+4,71
O
1 2 3 4 5 6 7 8 9
+11,37
1 2 3 4 5 6
O/p P0C05
IGN
VOILE BETON
+6,07
+12,73
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
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garde-corps
P caillebotis
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VIDE SUR NIVEAU 0B
0B'
bardage polycarbonate fixe
ZONE
0
A R C
EMETTEUR
16 02 10
DOE
DATE
PHASE
SOFRESID
Coordinateur santé, protection et sécurité :
SOCOTEC
Contrôleur technique :
CEROC coordination
O.P.C :
VULCANEO (Nantes)
Conseil en prévention et sécurité incendie :
GUI JOURDAN 57 bis, boulevard des arceaux, 34 000 Montpellier
Conseil en acoustique :
E2i
Economiste :
CESMA
SETEC BATIMENT
Ingénieurs :
LACATON & VASSAL
Architectes Mandataires
MAITRE D'OEUVRE :
imposte exutoire
E.M.O.C.
dèsenfumage naturel
23
11, rue Jean Jaurès BP 74 68 502 Guebwiller Cedex
DATE
T
16 02 10
NOM DU DOCUMENT
U'
Exu se
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NIVEAU 0C
NOM DE FICHIER :
REFERENCE EXTERNE :
PHASE
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[email protected]
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[email protected]
st
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[email protected]
[email protected]
im
[email protected]
DESSINE VERIFIE APPROU.
ECHELLE
N° DU DOCUMENT
N° DE PLAN
DATE:
ECHELLE:
1/100
Fax 02 40 91 06 19
Fax 02 40 92 04 99
Fax 02 40 63 74 70
Fax 02 40 43 44 57
Fax 04 67 92 99 90
Fax 03 89 74 28 24
Fax 01 47 23 49 17
Fax 01 44 97 79 04
A10.30
[email protected]
Tel 02 40 45 32 00
Tel 02 40 92 15 76
Tel 02 40 94 79 50
Tel 02 40 43 45 30
Tel 04 67 58 11 32
Tel 03 89 74 97 00
Fax 05 56 92 72 77
Tel 05 56 91 51 52
Fax 01 40 04 69 89
Tel 01 40 04 69 73
Tel 01 47 23 49 09
Tel 01 44 97 78 74
Tel 01 44 97 78 72
W
INDICE
INDICE
26
0
0
2
A
3
NIVEAU 2 ECOLE D'ARCHITECTURE DE NANTES
BÂTIMENT LOIRE LACATON & VASSAL, architectes
coursiv
garde-
corps
4 +9,11
(15,77 IGN)
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B 14,50 m2
98/48
13+
2RE04
4BA
ENS./RECH.(1P)
ISO
14,50m2
98/48
2RE05
13+
ENS./RECH.(1P)
4BA
ISO
14,50 m2
7
98/48
P2 04
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4BA
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corps
98/48
98/48 2HP01
P2 03
HD-4B coursiv
A13
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À L'EXTENSION D'UN LABORATOIRE e sole re
98/48 HD-4BA13+ISO
ISO
il
P2 02
98/48 4BA13+ISO
P2 01
13+
faux-p SURFACE DISPONIBLE caillebo
plafondlafond dém
4BA
2RE06 166,30 m2 tis
plaq ont
ENS./RECH.(1P) 2CI01ues de able HSPL= 2,46 m
98/48
plâtre 98/48
CIRCULATION HD-4B
14,50 m2 sol béton finition lissé/ciré
caillebotis
A13
+ISO
58,50 m2
LAUA HSPL= 2,46 m P2 13
98/48 HD-4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
C 2RE07
ENS./RECH. (1P)
14,5 m2 98/48 HD-4BA13+ISO
coursive exterieure
store brise soleil
1GT02
P2 17
P2 90
P2 91
KITCH.
garde-corps
EVIER INOX 98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
72/48-2BA18+ISO
98/48 HD-4BA13+ISO
L.T.cf
4BA13+ISO
P2 06 72/48-2BA18+ISO
98/48 HD-
faux-p
CF 1H00
1GT01 1LT01
98/48 HD-4BA13+ISO
caillebotis
lafo
plafond nd dém
98/48 HD-4BA13+ISO
2RE08 98/48 4BA13+ISO
P2 73
plaq ontable
RESP. LAUA (1P) E4
19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
E3 ues
RGT papier
de plât
P2 72 re
14,50 m2 P2 18
1SA01
P2 71 2 UP 2 UP A4
CF 1H00
SANITAIRES 800 KG +9,21
+15,87
9,9 m2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
IGN
P1060
16
P2 12
P2 70
D P2 07 2RE17 98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00 98/48 HD-4BA13
P2
RGTS. 3,76 m2 +ISO CF 1H00
HSPL= 2,46 m 98/48 4BA13+ISO
plafond plaques de plâtre
98/48 4BA13+ISO faux-plafond démontable
P2 11
2CI02
plafond plaques de plâtre
faux-plafond démontable CIRCULATION
P2 14 49,30 m2
2RE09 98/48 HD-4BA13+ISO 98/48 HD-4BA13+ISO
DOCT.STAG. (3P)
P2 08
P2 09
P2 10
coursive exterieure
2RE13
garde-corps
96,06 m2
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
ADMIN. LAUA (2P) ADMIN. CERMA (2P) RESP. CERMA (2P)
21,91 m2 21,91 m2 21,91 m2
P2 15
coursive exterieure caillebotis coursive exterieure caillebotis
stadip
+9,57
vitrage fixe
E5
2UP
(16,23 IGN)
8 10 12 1819 14 16 18 20
17
16
9 11/p 11 15 13 15 15/p 17 19
14
13
12
11
10
7
6
Pente 2,7%
5
4
3
2
1
stadip
garde-corps garde-corps bardage polycarbonate fixe bardage polycarbonate fixe porte coulissante bardage polycarbonate bardage polycarbonate fixe porte coulissante bardage polycarbonate bardage polycarbonate fixe porte coulissante bardage polycarbonate
store brise soleil store brise soleil P1A01
P1A26
F caillebotis coursive exterieure caillebotis coursive exterieure
garde-corps garde-corps garde-corps F
vitrage fixe CF 1H00
coursive exterieure
garde-corps
G
G
HSPL= 6,2 m
sol béton finition lissé/ciré
exutoire
+9,57
désenfumage naturel +16,23
ME1A21 ME1A22 IGN
ACCUEIL B.PRET
7
H (18,36 M2) H
5 6
march 28
16,2x
20
3 4
es
exutoire
2UP
1AME01
garde-corps
MEDIATHEQUE +9,57
Surface totale de la salle : 918,00 m2 +16,23
IGN
HSPL = 2,68 m
sol béton finition lissé/ciré HSPL= 2,68 m 02
P1A
coursive exterieure
store brise soleil
P1A2
garde-corps
I I
5
colonne sèche
E2
SALLE DE LECTURE (80P)
21 22
20 21 22
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
13 14
12 13 15 16
14 15 17 18
16 17 19 20
18 19
CLOISON INTEGRANT LES POTEAUX -1BA18 DE CHAQUE COTÉ + ISO
J J
11 12
10 11
6 7 8 9 10
P1A24
Gaine Technique
1AEN01
COURS (28P)
65,27 m2
caillebotis
caillebotis
HSPL= 2,68 m
P1A71
Gaine Technique
98/48 HD-4BA13+ISO
sol béton finition lissé/ciré
P1A70
P1A72
Gaine Technique
P1A73
coursive exterieure
store brise soleil
1ASA01
coursive exterieure
SANITAIRES
garde-corps
14,88 m2
K K
P1A23
CLOISON INTEGRANT LES POTEAUX -1BA18 DE CHAQUE COTÉ + ISO
VOILE BETON 1AGT01
P1A22
1ACI02 1AEN02
CIRCULATION COURS (28P)
11,2 m2 62,59 m2
98/48 HD-4BA13+ISO
HSPL= 2,68 m
exutoire
désenfumage naturel
A2 A3
13p 13p
L L
exutoire
désenfumage naturel P1A21
CLOISON INTEGRANT LES POTEAUX -1BA18 DE CHAQUE COTÉ + ISO
caillebotis
P1A20
LECTURE GRANDS FORMATS 1AEN03
ESPACE TAMPON COURS (28P)
62,97 m2
+9,57
+16,23
IGN
98/48 4BA13+ISO
HSPL= 6,2 m
store brise soleil
coursive exterieure
1APR01 98/48
P1A05
P1A06
P1A03
garde-corps
sol béton finition lissé/ciré
98/48 HD-4BA13+ISO
4BA13+ISO
120 HD-4BA13+ISO
P1A04
caillebotis
10,65 m2 19,91 m2
72/48-2BA18+ISO
1ACI01
SANITAIRES
1 UP
PERSONNEL
3,40 m2
98/48
4BA13+ISO
P1A18
P1A17
98/48 4BA13+ISO
N
VOILE BETON
JD
P1A09
coursive exterieure PE
1AGT02 BUREAU (1P) 98/48 4BA13+ISO
garde-corps
8 9 10 1112 13 14 15 16 17 1819 20 21 22 23 24 2526 27
163,02 m2 A1
HSPL= 2,68 m 2000
98/48 4BA13+ISO
caillebotis
ESPACE TAMPON
98/48 4BA13+ISO
BUREAU (1P)
garde-corps
HSPL= 2,68 m
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
98/48 4BA13+ISO
5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
P1A11
VOILE BETON
palier métallique
garde-corps
P P
P1A30
ENTRÉE
31,23 m2
CF 1H00
e pol
garde-corps
ycarbo
nate
fixe
98/48 HD-4BA13+ISO
cou
E1
lissant
bardag 4UP
e pol
caillebotis
ycarbo
7
nate
A2
P1A10
P1
can
4
ivea
u
bardag de visi
3
e pol te du rele
Q
2
ycarbo vé
nate
1
fixe
8 cou
lissant
bardage polycarbonate fixe
bardag
e pol
ycarbo
nate
21 ca
nive
au bardag
de
vis e pol
ite ycarbo
du nate
rele fixe
vé
R
EE
P1A28
EP
bardage polycarbonate fixe
bardage polycarbonate fixe coulissant bardage polycarbonate
vé
du rele
RAM
visite
PE
béton PENTE
sol
u de
(surfa 7,3 %
ivea
ce an
22
can
tidér
apan
te)
complexe d'étanchéité
+ isolation thermique
+ protection lourde béton
+9,57
ca +16,23
nive
au IGN
de
vis PA
ite
du
rele
RK
IN S
G
INDICE
ZONE
0
A R C
EMETTEUR
16 02 10
DOE
vé 18 VÉL
PL
DATE
PHASE
SOFRESID
Coordinateur santé, protection et sécurité :
SOCOTEC
Contrôleur technique :
CEROC coordination
O.P.C :
VULCANEO (Nantes)
Conseil en prévention et sécurité incendie :
GUI JOURDAN
Conseil en acoustique :
E2i
Economiste :
CESMA
SETEC BATIMENT
Ingénieurs :
LACATON & VASSAL
Architectes Mandataires
MAITRE D'OEUVRE :
OS
A
43 CES
M2
23
11, rue Jean Jaurès BP 74 68 502 Guebwiller Cedex
DATE
T
16 02 10
RA
MP
(structure métallique) 24, rue Paul Mamert 33 800 Bordeaux
E
NIVEAU
AC
NOM DU DOCUMENT
CE
18, rue du coutelier ZIL 44 807 St HERBLAIN cedex
Agence de Nantes - Agence régionale Bretagne - Pays de Loire
R 420
SS
NUMERO DE PROJET
(RAYON DE GIRATION
so IB INTÉRIEUR)
LE
57 bis, boulevard des arceaux, 34 000 Montpellier
lb
éto P AU
n (s EN X
urf TE VÉ
Tour gamma D - 58 rue de la Rapée - 75 583 PARIS Cedex 12
an %
Emission
UL
8, avenue des thébaudières, 44800 Saint-Herblain
tid ES
206, rue La Fayette - 75 010 PARIS
éra
pa LÉ
nte GE
) RS U'
vé
rele
du
ite
NOM DE FICHIER :
REFERENCE EXTERNE :
PHASE
NIVEAU 1A
vis
D O E
24
de
au
nive
MODIFICATION
ca
EE EP
re
le
vé
U'
du
te
visi
TYPE
de
au
ve
ca ni
nive ca
au
de
vis
ite
du
rele
vé
LOT
[email protected]
[email protected]
[email protected]
DESSINE VERIFIE APPROU.
ECHELLE
N° DU DOCUMENT
N° DE PLAN
DATE:
ECHELLE:
1/100
Fax 02 40 91 06 19
Fax 02 40 92 04 99
Fax 02 40 63 74 70
Fax 02 40 43 44 57
Fax 04 67 92 99 90
Fax 03 89 74 28 24
Fax 01 47 23 49 17
Fax 01 44 97 79 04
A10.40
[email protected]
Tel 02 40 45 32 00
Tel 02 40 92 15 76
Tel 02 40 94 79 50
Tel 02 40 43 45 30
Tel 04 67 58 11 32
Tel 03 89 74 97 00
Fax 05 56 92 72 77
Tel 05 56 91 51 52
Fax 01 40 04 69 89
Tel 01 40 04 69 73
Tel 01 47 23 49 09
Tel 01 44 97 78 74
Tel 01 44 97 78 72
W
INDICE
INDICE
26
0
0
2
A
NIVEAU 3 ECOLE D'ARCHITECTURE DE NANTES
3
BÂTIMENT LOIRE LACATON & VASSAL, architectes
4
+12,11
garde
corps
(18,77 IGN)
5
soleil
brise
store
B
stor
e bris 6
l
e sole
nature
il
garde
age
corps
enfum
ssis
Châ
7
dès
TERR
ASSE
com
plex ACCE
+ cail + isol e d'ét
atio anc
SSIBL
lebo E
3AD01 tis (va n thermi héité
rian
te tôleque
SALLE DU CONSEIL perforé
e)
+12,11
+18,77
IGN
3HP01 garde
corps
SURFACE DISPONIBLE
HSPL variable : 2,46 m - 3,20 m
sol béton finition lissé/ciré
C
98/48 4BA13+ISO
P3 90
P3 91
3GT02
3AD02 P3 01 KITCH. 3AD10 3,7m2
98/48 HD-4BA13+ISO
EVIER INOX RGTS.
98/48 4BA13+ISO
BUREAU COMPTA (2P)
72/48-2BA18+ISO
caillebotis
24,70 m2 L.T.cf
P3061
19 18 17 16 15 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3
P3 09
1GT01 1LT01 stor
CF 1H00
HSPL= variable e br
E3
P3 71
98/48 HD-4BA13+ISO
ise
so
2UP
RGT papier
leil
72/48-2BA18+ISO
P3 72
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 A4
98/48 HD-4BA13+ISO
3SA01 E4
CF 1H00
800 KG
2UP
P3 08
SANITAIRES
P3 10
9,19 m2 +12,31
D 3AD09
P3 70
98/48 4BA13+ISO 98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00 +19,97
IGN SÉMINAIRE
P3 02
3AD03 HSPL variable : 2,46 m - 3,20 m
3CI01
BUREAU COMPTA (3/4P) CIRCULATION
37,11 m2
caillebotis
52,90 m2 98/48 HD-4BA13+ISO
HSPL= variable
P3 06
coursive exterieure
P3 03
P3 04
P3 05
3AD09 3AD08 3AD07 3AD06
store brise soleil
RES. HUM. (1P) RES. HUM. (1P) RES. HUM. (1P) 21,97 m2
coursive exterieure
store brise soleil
14,47 m2 14,47 m2 14,47 m2 HSPL= variable
garde-corps
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
98/48 4BA13+ISO
HSPL= variable HSPL= variable HSPL= variable
dèsenfumage naturel
dèsenfumage naturel
Châssis
Châssis
EP
E vitrage fixe CF 1H00
P3 07
coursive exterieure caillebotis coursive exterieure caillebotis
E5 +12,81
2UP
(19,47 IGN)
8 10 12 1718 14 16 18 20
16
15
9 11/p 11 13 15 15/p 17 19
garde corps
14
13
12
garde corps
Pente 3,9 %
11
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
garde corps
P1B01
garde-corps imposte ouvrante bardage polycarbonate bardage polycarbonate fixe porte coulissante bardage polycarbonate bardage polycarbonate fixe porte coulissante bardage polycarbonate bardage polycarbonate fixe porte coulissante bardage polycarbonate
store brise soleil bardage polycarbonate fixe
vitrage fixe CF 1H00
dèsenfumage naturel
dèsenfumage naturel
dèsenfumage naturel
dèsenfumage naturel
imposte exutoire
imposte exutoire
imposte exutoire
imposte exutoire
+19,47
store brise soleil
SALON MULTIMÉDIA
G
02
+9,57
+16,23
HSPL= 2,74 m
IGN
20
18 19
march 28
16 17
16,2x
20
20
14 15
es
12 13
E18
11
9 10
dèsenfumage naturel
7 8
fixe
1BMU02
H H
stadip
P1B03
5 6
HSPL= 2,74m
stadip
fixe
vitrage
2UP P1B04
1BGT04
garde corps
I I
1 2 3 4
HSPL= 2,96 m
IMPRIMANTES
98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
IGN
1BMU03 98/48 4BA13+ISO 98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00 1BSA01
P1B75
SANITAIRES
ENSEIGNEMENT INITIAL 19,28 m2
garde corps
15 POSTES
48,52 m2
3
1BMU07
4
ENSEIGNEMENT INITIAL
5 6
imposte exutoire
P1B063
7
44,27 m2
8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
8 9 10 11 12 13
HSPL= 2,96m
J garde corps 98/48 HD-4BA13+ISO
J
garde-
sol souple
98/48 HD-4BA13+ISO CF 1H00
corps
1BEN01
VOILE BETON
VOILE BETON
garde corps P1B25
HSPL= 2,96 m
6
sol souple
5
+12,81
+19,47
3
HSPL= 2,79 m
15 POSTES 1BMU09
48,57 m2 E2
garde corps
19,96 m2
coursive exterieure
1BCI01
K E24
BAIES VDI
colonne sèche VOILE BETON P1B35
K
complexe d'étanchéité
+ isolation thermique 2UP 98/48 4BA13+ISO
1BGT01