Nelly Novaes Coelho - Literatura Infantil
Nelly Novaes Coelho - Literatura Infantil
Nelly Novaes Coelho - Literatura Infantil
Bibliografia
ISBN 85-16-02631-0
CDD-B09.809282
Impresso no Brasil
LITERATURA INFANTIL
A literatura infantil
é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fe-
nômeno de criatividade que representa C mundo, o homem, aÀ vida,
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infantil foi minimizada como criação literária e tratada pela cultura oficial
como um gênero menor.
Ligada desde a origem à diversão ou ao aprendizado das crian-
ças, obviamente sua matéria deveria ser adequada à compreensão
e ao interesse desse peculiar destinatário. EE como À criança era vista
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1975.)
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para uma radicalização que só pode ser negativa. Por um lado, porque
se a literatura resultar de um ato criador, forçosamente essa dicotomia
não se coloca, pois as duas intenções estarão ali fundidas. É, por outro
lado, porque, dentro do sistema de vida contemporânea (pressionado
pela imagem, pela velocidade, pela superficialidade dos contatos huma-
nos e da comunicação cada vez mais rápida e aparente...), acreditamos
que a literatura (para crianças ou para adultos) precisa urgentemente ser
descoberta, muito menos como mero entretenimento (pois deste se encarre-
gam com mais facilidade os meios de comunicação de massa), e muito
mais como uma aventura espiritual que engaje o eu em uma experiência
rica de vida, inteligência e emoções.
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O pré-leitor
Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos) À criança inicia oreconhe-
cimento da realidade que a rodeia, principalmente pelos contatos
afetivos e pelo tato. É a chamada fase da "invenção da mão", pois seu
impulso básico é pegar em tudo que se acha ao seu alcance. É também
o momento em que a criança começa À conquista da própria linguagem e
a
Segunda infância (a partir dos 2/3 anos) Fase em que começam a predo-
minar os valores vitais (saúde) e sensoriais (prazer ou carências físicas e
afetivas), e quando se dá a passagem da indiferenciação psíquica para
a percepção do próprio ser. Início da fase egocêntrica e dos interesses
ludopráticos. Impulso crescente de adaptação ao meio físico e crescente
interesse pela comunicação verbal.
Em casa ou na "escolinha", a presença do adulto é fundamental
quanto àL sua orientação para a brincadeira com ) livro. Aprofunda-se a
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Predomínio absoluto da imagem (gravuras, ilustrações, desenhos,
etc.), sem texto escrito ou com textos brevíssimos, que podem ser lidos
ou dramatizados pelo adulto, a fim de que a criança comece a perceber
a inter-relação entre o mundo real que a cerca e o mundo da palavra que
nomeia esse real. É a nomeação das coisas que leva a criança a um
convívio inteligente, afetivo e profundo com realidade circundante.
a
*
As imagens devem sugerir uma situação (um acontecimento, um fato,
etc.) que seja significativa para a criança ou que lhe seja de alguma
forma atraente.
*
Desenhos ou pinturas, coloridas ou em preto-e-branco, em traços ou
linhas nítidas, ou em massas de cor que sejam simples e de fácil comu-
nicação visual. A técnica da colagem tem-se mostrado muito atraente
para o olhar O interesse infantil.
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*
/À imagem ainda deve predominar sobre o texto.
*
A narrativa deve desenvolver uma situação (acontecimento, fato,
conflito, etc.) simples, linear e que tenha princípio, meio e fim. O pen-
samento lógico da criança exige unidade, coerência e organicidade
entre os elementos da narrativa, independentemente de ser fantástica,
imaginária ou realista.
*
Como sempre, o humor, a graça, a comicidade... são fatores muito
positivos.
*
As personagens podem ser reais (humanas) ou simbólicas (bichos, plantas,
objetos), mas sempre com traços de caráter ou comportamento bem
nítidos. Isto é, com limites precisos entre bons e maus, fortes e fracos,
belos feios, etc.... Embora o maniqueísmo seja atualmente recusado
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Livros para o
Coleção "Gato e Rato", de Mary e Eliardo
leitor iniciante
França (Ática); Coleção "Girassol" (Moderna); Série "Um Dois Feijão
com Arroz", de Tenê (Ática); Série "Lagarta Pintada", (Ática); Coleção
"Escadinha", de Lúcia Góes/Naomy Kuroda (Ed. do Brasil); Coleção
"Primeiras Histórias" (FTD); Série "Pega-Pega", "Coleção Didática/Série
Descobrindo" e Coleção "Cavalo-Marinho" (Paulinas); Coleção "Hora
dos Sonhos", de Ruth Rocha (Quinteto Editorial); Coleção "Mico Mane-
co 2", de Ana Maria Machado (Salamandra); Série "Jogos Linguísticos"
(Moderna); Série "Onda Livre" (Global); Coleção "Mindinhoe seu Vizi-
nho" (Atual); Coleção "Marc Brown/Mundo de Arthur" (Salamandra);
Coleção "Derek Matthews" (Brinque-Book); Coleção "Beto e Bia" (José
Olympio); "Histórias ao pé da letra", de Hebe Coimbra (Formato); Série
"Mané Coelho", de Mary/Eliardo França (Ediouro).
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Textos escritos em frases simples, em ordem direta e de comunicação
imediata e objetiva. Predominância dos períodos simples e introdução
gradativa dos períodos compostos por coordenação.
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* A
Í narrativa deve girar em torno de uma situação central, um problema,
um conflito, um fato bem definido À ser resolvido até ) final.
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*
A efabulação (concatenação dos momentos narrativos) deve obedecer
ao esquema linear: princípio, meio fim.
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Ainda o humor, a graça e as situações inesperadas ou satíricas exercem
grande atração nos leitores dessa fase. O realismo e o imaginário ou a
fantasia também despertam grande interesse.
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no verbal.
*
Os gêneros narrativos que mais interessam são os contos, as crônicas ou
novelas, de cunho aventuresco ou sentimental, que envolvam grandes
desafios do indivíduo em relação ao meio em que se encontra. Atra-
ção pelos mitos e lendas que expliquem a gênese de mundos, deuses
e heróis; pelas novelas de ficção científica (que antecipam ) futuro) ou
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Queirós, Faca afiada; Vivina de Assis Viana, Será que ele vem?, Giselda
Laporta Nicolelis, Um Dono para Buscapé, Wagner Costa, Aí, Né... e E
Depois? Ângela Lago, Ano novo danado de bom!; "Contos da Mitologia"
(FTD); Entre a espada a rosa, de Marina Colasanti (Salamandra); O Sofá
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exige uma iniciação. |É como um jogo: não pode ser jogado por quem
não lhe conheça as regras ou não as combine com os parceiros. Em-
bora, como arte que é, literatura não comporte regras fixas e imutáveis,
a
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mesma realidade
o não imediatamente visível ou conhecido ,
transfigurando-a pelo processo metafórico (representação figurada). Nesse
caso, a matéria literária identifica-se não com ] realidade concreta, mas
a
pensamento mágico
pensamento lógico
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mundo. Desde finais do século XIX até meados dos anos 50, diferen-
tes correntes de pensamento cientificista se têm sucedido na cultura
moderna (positivismo ou materialismo; pragmatismo ou utilitarismo;
personalismo, behaviorismo, socialismo, etc.). Embora cada corrente
tenha seus fundamentos e suas características próprias, todas se igualam
na tendência realista e experimentalista: recusam taxativamente qual-
quer possibilidade de conhecimento que pretenda ir além da experiência
concreta ou sensível, seja a dos fatos positivos e da matéria, seja a do jogo
das relações sociais (indivíduo o sociedade), etc.
Nos anos 60, o próprio avanço da ciência, descobrindo fenômenos
inexplicáveis pela lógica científica, acaba por desacreditar o enfoque
realista que vai ser superado pelo enfoque fantasista. A era dos computa-
dores começa; € homem domina o espaço planetário, lança satélites,
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de Neve"
ecom frequência se encontra temporariamente
vitorioso. |...) A cultura dominante deseja fingir, particular-
mente no que se refere às crianças, que o lado escuro do homem
não existe, e professa a crença num aprimoramento otimista.
[...] As figuras nos contos de fadas não são ambivalentes
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