Texto e Textualidade Julia Almeida
Texto e Textualidade Julia Almeida
Texto e Textualidade Julia Almeida
65-75, 2011 65
Júlia Almeida
RESUMO:
A
noção de texto foi um objeto relativamente recente da Linguística, já
que apenas a partir dos anos sessenta o termo tornou-se uma noção
própria dos estudos linguísticos, passando a receber conteúdo concei-
tual diferente daquilo que se observa nos usos correntes. Essa guinada textual
da linguística começou a ser registrada nos dicionários lexicográficos da área a
partir dos anos setenta, cuja origem é unanimemente atribuída a Hjelmslev1. No
verbete texto do Dicionário de Lingüística encontra-se assim definida a noção:
1
Cf.: TODOROV, T; DUCROT, O. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. São
Paulo: Perspectiva, 1977 (publicação original em 1972); e DUBOIS, J. et al. Dicionário de
Lingüística. São Paulo: Cultrix, 1986 (publicação original em 1973).
2
Ibid., p. 586.
3
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 329 e 331,
respectivamente.
6
BARTHES, R. O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 68-69.
7
HANKS, F. Língua como prática social: das relações entre língua, cultura e sociedade a
partir de Bourdieu e Bakhtin, São Paulo: Cortez, 2008. p. 124. O capítulo “Text and
textuality” foi publicado anteriormente como artigo na Anuual Review of Anthropology,
n.18, 1989, p. 95-127.
8
McGANN, J. The textual condition. Princeton: Princeton University Press, 1991. p. 4.
9
Ibid., p. 8
10
Ibid., p. 127.
Texto e imagem
11
CHARTIER, Roger. “Languages, books, and reading from the printed word to the digital
text”. Critical Inquiry, n. 31, out. 2004. p. 16, http://galenet.galegroup.com, 28/01/2007.
12
Ibid., p. 11.
mundo simbólico não é apenas um texto, mas ao menos um texto, uma ima-
gem e uma faixa sonora. Somos confrontados a cada dia com complexidades
sígnicas que nos deixam desconfortáveis em nossos já habituais modelos e
disciplinas de análise textual, que se fundamentam em dicotomias naturali-
zadas como palavra/imagem, verbal/visual, e distribuem o conhecimento e as
práticas acadêmicas por campos separados, em que ora predomina o interesse
pelo verbal ora pelo visual.
Eloquent Images – word and image in the age of new media13 é uma coletâ-
nea inserida nos debates em torno da palavra e da imagem na era digital, que
se propõe a escapar dos modelos dicotômicos – caracterizados pelos organiza-
dores M. E. Hocks e M. R. Kendrick como profundamente modernos – de
se pensar os híbridos textuais a partir de “duas zonas ontológicas distintas” e
que tenderia a partir de pares naturalizados tais como palavra/imagem, line-
ar/hipermidiático, construído/natural, mostrando-se incapaz de investigar as
formas simbólicas como formas híbridas complexas. Assim, para se ir além
do moderno nessa matéria, seria preciso perceber o “dinâmico interjogo” que
sempre existiu entre texto e imagem: “as relações entre palavra e imagem,
textos verbais e textos visuais, ‘cultura visual’ e ‘cultura impressa’ são interpe-
netrantes, relações dialógicas”14.
Assim, poderíamos encontrar ascendentes longínquos de nossas repre-
sentações multissemióticas nos primeiros sistemas de escrita. Aprofundando a
ideia de Mario Perniola de que o Egito teria criado um vasto sistema combi-
natório de intercambiáveis elementos midiáticos, Carol S. Lipson, nessa mes-
ma coletânea, detalha o tratamento egípcio entre texto e imagem, mostrando
como os monumentos públicos apresentavam elaborados e artísticos hierógli-
fos, em que a forte presença da matriz visual marca a preparação para a escri-
ta. Através de desenhos que, explorando a capacidade referencial da imagem
(referir-se diretamente a animais, pessoas, lugares) em uma ampla sintaxe visual
(proximidade, hierarquização, combinação), essas verdadeiras escritas figuradas
são capazes de nomear e contar histórias: “no antigo Egito a linguagem visual
provia a capacidade de apresentar sentidos complexos e coexistentes dentro
13
HOCKS, M. E.; KENDRICK, M. R. (Org.) Eloquent Images – word and image in the age
of new media. Cambridge/London: The MIT Press, 2003.
14
Ibid., p. 2
15
LIPSON, Carol S. Recovering the multimedia history of writing in the public texts of An-
cient Egype. In: HOCKS, M. E..; KENDRICK, M. R. Eloquent Images – word and image
in the age of new media. Cambridge/London: The MIT Press, 2003. p. 12.
16
Iconology – Image, Text, Ideology. Chicago: The University of Chicago Press, 1986.
17
As ideias sobre imagetext foram retomadas a partir de MITCHELL, W. J. T. “Essays into
Imagetext: an interview with W. J. T. Mitchell”. Mosaic, v. 33, jun 2000, http://galenet.
galegroup.com, 29/01/2007.
Considerações finais
18
WAGNER, P. (Org.) Icon – Texts – Iconotexts. Essays on Ekphrasis and Intermediality. Ber-
lin/New York: Walter de Gruyter, 1996. p.15.
19
Ibid., p. 16.
20
BAZERMAN, C.; PRIOR, Paul. What writing does and how it does it: an introduction
to analyzing texts and textual practices. Mahwah/London: Lawrence Erlbaum Associates,
2004.
ABSTRACT: