Análise Da Letra Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Análise Da Letra Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
Análise Da Letra Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
símbolo de resistência.
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar o momento histórico da ditadura militar
no Brasil a partir das músicas de resistência do canto popular. Traz reflexões sobre o momento de
repressão que levou os artistas, principalmente os músicos da MPB, a se voltarem contra o
governo opressor. O objeto de análise é a música Pra não dizer que falei das flores de Geraldo
Vandré, que mobiliza as palavras e suas construções de sentidos ao tratar sobre o período da
ditadura, e como se deu, viabilizando interpretações anti-fascistas.
1. Introdução
No Brasil, as décadas de 60 a 80 foram marcadas por um período de violência,
opressão e censura partindo de um governo militar elitista e autoritário que tinha como alvo
os artistas e as classes marginalizadas. Os governantes temiam que algumas músicas
pudessem provocar indignação nos civis, por isso censuravam e oprimiam não somente
música, como também qualquer manifestação artística. A produção de música era vista como
algo subversivo que propagava valores comunistas.
Artistas como Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Oscar
Niemeyer, Raul Seixas, entre outros, foram exilados tendo que buscar refúgio em outros
países, na ditadura militar qualquer manifestação artística que incitasse o governo de forma
direta ou indireta era considerada uma ameaça para ordem social. Desta maneira, os militares
garantiram que se circulassem somente mídias que fossem favoráveis ao governo. Após a
introdução do AI-5, a censura de letras de músicas aumentou, além de ocasionar demissões
em massa, censura de peças de teatros, superlotação dos presídios, repreensão e tortura dos
contrários ao golpe.
2. Desenvolvimento
A música que é objeto de análise deste trabalho, é só mais um exemplo de como a arte
foi (e permanece sendo) um forte instrumento de luta contra o regime da época. Nessa
análise, refletimos sobre o emprego das palavras e seus movimentos e configurações em
relação ao seu contexto de produção, as significações que o chamado da música pode
assumir, as referências externas e o forte sentimento de luta e combate à opressão.
Pra não dizer que não falei das flores - foi lançada em 1971 de forma oficial, já que
antes foi censurada pelos militares por fazer um convite urgente para uma revolução, uma
tomada de iniciativa que era urgente na época. Em 1968, o compositor e intérprete paraibano
interpretou ele mesmo sua música no Festival Internacional da Canção de 1968, um concurso
de músicas nacionais e estrangeiras realizado anualmente no ginásio do Maracanãzinho (RJ),
e era transmitido pela TV Rio e pela TV Globo. A música traz um forte sentimento
revolucionário, como observamos no trecho:
O trecho apresentado incita a questão que não importa a classe social, a religião
tampouco a etnia, somos todos iguais e o chamado é para a união das pessoas em combate a
repressão imposta à sociedade pelos militares. O chamado incentivava os brasileiros a se
mobilizarem contra a ditadura, por isso, ela acabou tornando-se um hino de resistência do
movimento civil e estudantil no país. Sua letra foi censurada e a música ficou proibida de
1968 até 1979, período que Vandré foi exilado e torturado pelos militares da ditadura.
Geraldo Vandré cantou Pra não dizer que não falei das flores, na frente de uma
comissão militarista que presenciou o evento em 1968. A música ganhou a premiação de
segundo lugar, perdendo somente para Tom Jobim e seu parceiro Chico Buarque com a
música, Sabia. Um dos jurados confessou numa entrevista que "Pra não dizer que não falei
das flores" teria sido o tema vencedor. Vandré ficou em segundo lugar devido às pressões
políticas que a organização do evento e a TV Globo, rede que emitia o programa, sofreram.
Vítimas de lavagem cerebral tendo como lema “De morrer pela pátria e viver sem
razão “os jovens da época eram induzidos a entrar nas forças militares “Quase todos perdidos
de armas na mão” os militares usaram da violência e do moralismo deturpado para conduzir
os soldados a abusar de seus poderes perante os cidadãos, tornando normal práticas de tortura
física, psicológica, sequestros e assassinatos.
3. Considerações finais
Em síntese, temos que a proposta do trabalho foi fazer uma breve apresentação do
momento histórico da ditadura militar, época na qual a música era um dos elementos de
resistência, bem como refletir sobre a relação de significações entre a música de Vandré e a
história da ditadura.
Geraldo Vandré foi uma das vítimas desse sistema opressor que foi a ditadura militar,
logo, tudo indica que a construção de suas músicas, precisamente a música analisada, seguiu
o caminho percorrido nesta análise, a de atingir, de certa forma, o governo, além de
simbolizar resistência e luta.
Assim, concluo este artigo reforçando a importância da arte e da música como forte
instrumento de força e resistência, capaz de mobilizar toda uma nação, uma vez que essas
artes refletem a realidade política e social e funcionam como alerta, denúncia e
conscientização para a sociedade, que a partir do contato com essas manifestações artísticas,
pode buscar novas maneiras de conscientização, união e mudança tendo em vista o papel de
cada um enquanto cidadão, dotado de direitos e deveres.
4. Referências
NAPOLITANO, Marcos. A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos
serviços de vigilância política (1968-1981). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 24,
n. 47, 2004. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbh/v24n47/a05v2447.pdf>.
Cultura Genial. Música pra não dizer que não falei das flores de Geraldo Vandré Disponível
em: https://www.culturagenial.com/musica-pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-flores-de-
geraldo-vandre/ Acesso em: 13 de junho de 2021.
MELLO, Manuela Garanhani Lopes de ; RAMÍREZ, Hernán . Na selva das cidades: o teatro
do Grupo Oficina da Ditadura civil militar brasileira (1964-1979). In: VII Seminário de
Pesquisa em Ciências Humanas, 2008. Anais VII Seminário de Pesquisa em Ciências
Humanas. Londrina : Universidade Estadual de Londrina.