Educacao Comparada Relevancia Epistemologica e Ope
Educacao Comparada Relevancia Epistemologica e Ope
Educacao Comparada Relevancia Epistemologica e Ope
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RESUMO: A Educação Comparada não constitui propriamente disciplina curricular, mas método para deslinde
da realidade, aferindo sistemas pedagógicos, do ponto de vista didático e institucional. Pelas discrepâncias,
peculiaridades e similitudes enseja o entendimento e fornece subsídios para o aprimoramento das estruturas
aferidas. De um lado, vale-se da Sociologia e, de outro, da Filosofia. Por via de regra, os estudos da matéria não
efetuaram abordagem epistemológica, optando pela aplicação pura e simples do método. Assim sendo, faz-se
mister desenvolver pesquisas acerca de Educação Comparada na América Latina, em função do avanço da
integração latino-americana. A implementação do método comparativo comporta várias vertentes de análise. O
princípio da comparação emana da alteridade, projetando luz sobre as disparidades e assemelhamentos. Urgem
esforços para estudos de Educação Comparada, visto que as nações latino-americanas podem auferir sobremodo
com os avanços educacionais das outras, mormente ensejo da conjuntura de globalização que ora se processa.
PALAVRAS-CHAVE: Educação. Educação Comparada. América Latina.
Introdução
Configura consenso de que a concepção de teorias e metodologias na educação
e nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, em geral, se efetua em condições
sociais específicas que não lhe conferem validade universal para explicar fenômenos
processados em conjunturas históricas e geográficas diferentes.
Em consonância do magistério de Niskier e Carvalho (1973), a sociedade
contemporânea, fortemente influenciada pelos avanços científicos e tecnológicos,
coloca em xeque os diferentes sistemas educacionais, outorgando relevo à necessidade
de muitas transformações.
Portanto, cotejar constitui recurso eficiente nos misteres da cognição. Devem
os pesquisadores educacionais, por isso mesmo, empregar o método comparativo
para esclarecimento de problemas teóricos e práticos referentes à sua necessidade.
Reserva-se, todavia, o nome Educação Comparada para designar certo tipo de
estudos, primeiramente caracterizado pela escala de observação que emprega e, deste
modo, a extensão do objeto que tem em vista elucidar. A Educação Comparada é
como um vasto domínio de estudos interdisciplinares, mais que simples setor isolado
de pesquisa. Pode-se dizer que dela partem e para ela convergem todos os ramos de
estudos pedagógicos.
Nem por outra razão muitos dos cultores da especialidade sustentam que
o método comparativo precisa figurar na formação geral dos docentes, sendo
indispensáveis, com maior profundidade, aos gestores, legisladores e analistas. Analisar
questões do método em Educação Comparada é uma das tarefas mais complexas e,
por isso mesmo, das mais gratificantes para o analista, investigador ou estudioso da
disciplina. Sendo um campo de estudos relativamente jovem, a história da Educação
Comparada, bem como sua sistematização metodológica está, ainda, por se realizar.
No entanto, previamente, faz-se urgente a abordagem epistemológica e histórica, com
ênfase na Educação Comparada na América Latina.
Considerações Preliminares
Cumpre reiterar que a Educação Comparada não constitui, propriamente,
disciplina curricular, mas método que se propõe a investigar sistemas educacionais
de diferentes países ou regiões, abarcando uma dimensão intra ou internacional, um
termo histórico fixo ou em movimento e uma perspectiva, sempre e necessariamente,
comparativa.
À luz do magistério de Bonitatibus (1989), aferir consiste em perlustrar dois
ou mais elementos ao mesmo tempo, a fim de buscar semelhanças e disparidades.
A comparação, nesse sentido, é uma atividade mental, uma forma intuitiva de
conhecimento do ser humano. Toda vez que o indivíduo se depara com um fato
novo, com algo desconhecido, procura relacioná-lo a outros da mesma espécie ou
categoria, já vivenciados, conhecidos ou experienciados e, dessa maneira, aprendê-lo
e incorporá-lo, por sua vez, ao cabedal de conhecimentos. É assim que se processa o
conhecimento humano e é nesse sentido que o indivíduo assegura ser, a comparação,
uma atitude mental espontânea intuitiva.
No entanto, a comparação, como método sistemático de trabalho e análise
científica, vem se mostrando um método fértil para o estudo e investigação, não
apenas nas áreas epistemológicas das Ciências da Natureza, e sim, mais recentemente,
nas Ciências Sociais Aplicadas e Humanas.
Desse modo, presentemente, verificam-se ramos comparativos em quase todas
as disciplinas. Em tal contexto, a educação se apresenta como relevante objeto de tal
abordagem. A Educação Comparada se propõe a investigar os sistemas educacionais
num tempo histórico fixo ou em movimento (FERREIRA, 2008).
mais amplas, que somente podem ser aprendidas por meio da relação recíproca entre
sociedade e educação.
Do ponto de vista da Educação Comparada, isto implica que, para se
realizar com proveito um estudo comparativo em educação, não bastarão os
conhecimentos pedagógicos. Mas é necessário que, fundamentalmente, se lance
mão de conhecimentos advindos dos mais variados campos do saber. A par disso,
a tentativa de compreender conhecimentos advindos de diversos campos do saber
com o desígnio de esclarecer seu próprio objeto de estudo não é, contudo, atributo
da Educação Comparada. Ao contrário, suas raízes estão radicadas na própria
disciplina que lhe serve de sustentação, que é a educação.
Por conseguinte, a própria educação é multi ou interdisciplinar em seu
processo e a Educação Comparada, ao tomar os sistemas e os fatos educacionais
como elemento de seus estudos comparativos, não teria como fugir a esta mesma
configuração. É possível, contudo, que no caso da Educação Comparada, a questão
se torne um tanto mais complexa, nem tanto por não se limitar aos fatos educativos
no âmbito de um único contexto, mas, sim, por ampliá-lo, a fim de cobrir, em
perspectiva comparativa, diferentes povos, culturas e tempos históricos.
A Educação Comparada constitui, de fato, uma auspiciosa área epistemológica.
Não obstante, cumpre reconhecer a complexidade de sua execução. Não basta o
conhecimento de uma disciplina, de um campo específico do saber. Faz-se mister
que o indivíduo se esforce em tentar abarcar um complexo de conhecimentos,
uma área verdadeiramente interdisciplinar, um conjunto de disciplinas e campos
científicos extremamente amplos e holísticos.
É por este motivo que, em universidades de países que contam com centros
de Educação Comparada muito desenvolvidos, a disciplina é trabalhada não por
um ou alguns poucos indivíduos, mas por equipes altamente especializadas em
diferentes campos do conhecimento. Especializados nas diversas Ciências Sociais
Aplicadas e Humanas dedicam-se a estudos integrados, cada um deles oferecendo
contributo, ou a perspectiva própria de sua especialização, aos estudos comparativos
em educação.
São restringidos, em número, os compêndios de Educação Comparada, além
de se mostrarem um tanto frágeis no modo como discorrem sobre a matéria, poucas
são as obras que realmente a apresentam de forma orgânica, bem-estruturada e
sistemática. A grande massa bibliográfica disponível é, ao contrário, composta
de estudos monográficos, caracterizados justamente pela fragmentação, pelas
exposições simplesmente descritivas e que, exatamente por estes motivos, estão
designadas a uma atualidade efêmera.
se mais para o futuro, sendo que nos períodos precedentes as preocupações haviam
sido essencialmente históricas (FERREIRA, 2008).
observar a herança cultural das diversas gerações humanas, as leis de sua evolução
que vão permitir a previsão que facilitará o controle social, objetivo primordial de
sua doutrina.
Refletindo sobre os estudos de Educação Comparada na América Latina, a
redução dos fenômenos educacionais à dimensão quantitativa tem como finalidade
produzir ilusões sobre a realidade complexa que acaba, assim, simplificada e suscetível
de adaptar-se aos modelos estabelecidos teoricamente.
Do ponto de vista cultural, recria-se uma escala evolutiva universal e invariável,
com alta capacidade normativa, onde alguns modelos de sistemas educativos são
considerados ideais. Estabelece-se, desse modo, um estatuto teórico para a educação
fundamentado na ideia de homogeneidade, onde comparar é estabelecer semelhanças
e diferenças com esses modelos. Reduzem-se, portanto, as diferenças entre os sistemas
educacionais e eliminam-se as formas culturais diversas ou antagônicas em relação
dominante (FRANCO, 1992).
Assim, a questão dos estudos comparados e da educação dos países
dependentes, comparada aos sistemas educacionais dos países avançados, coloca-se,
basicamente, como a análise do produto de uma situação assimétrica de dominação/
dependência, que se qualifica pelo desenvolvimento desigual e combinado dos países
dependentes, sob a estratégia da expansão da acumulação do capital transnacionalizado
(FRANCO, 2000). De acordo com Cruz (1984), a recente relação estabelecida
entre desenvolvimento e educação leva a maioria dos educadores a associarem,
imediatamente, a ideia de treinamento para o trabalho à de rendimento econômico.
As nações em via de desenvolvimento apaixonaram-se por essa relação,
na suposição de que a implantação de um ensino técnico e profissional em larga
escala pudesse colaborar no processo e continuidade do desenvolvimento. Outros,
como o Brasil, que se apresentam como países capitalistas, já despertaram para a
impossibilidade de uma educação profissional e técnica de maior alcance sob o
patrocínio governamental e começam a promover o interesse dos meios de produção
e de serviços para participarem da formação de seus operários, técnicos e especialistas
(FRANCO, 2000).
Mas o problema principal, que incide na necessidade de uma educação voltada
para um desenvolvimento no seu sentido amplo, abrangendo os setores econômicos,
social, político e cultural, e fundamentado no ser humano, nas suas dimensões,
individual e social, ao que parece não interessa suficientemente aos povos menos
desenvolvidos, em razão da partida para o desenvolvimento econômico. Há urgência
em alcançar as grandes potências mundiais para fugirem a uma dependência que
parece eterna, e, ao que tudo indica, ampliando-a cada vez mais.
Considerações Finais
Os estudos comparativos impuseram uma compreensão de mais ampla escala
para observação de fatos e situações; obrigaram a uma compreensão dinâmica do
mundo em que vive; permitiram conjugar conceitos de muitas disciplinas, antes de
tratamento estanque, para explicações de síntese. Eles evidenciaram, por fim, que
a natureza do conhecimento mais se refere a mudanças nas coisas que às próprias
coisas, estando estreitamente ligada às capacidades de ação do ser humano e a seus
propósitos, como as técnicas que ele possa dominar e na medida em que as possa com
mais discernimento empregar.
O progresso da Educação Comparada, mediante a unificação de suas
várias tendências, antes em conflito, deve-se à admissão do ponto de vista muito
abrangente, fundado numa revisão dos próprios pressupostos até agora empregados,
o qual só pode ser apurado por um tratamento interdisciplinar. Por conseguinte, o
“expert” em Educação Comparada precisa ter uma formação muito ampla, fundada
em conhecimento de diversas disciplinas. Deve conhecer, pela história da educação,
como as ideologias políticas e os objetivos têm influído no curso da educação.
Ademais disso, o método da Educação Comparada, estudo interdisciplinar,
requererá esquemas e modelos dos estudos sociais, de princípios críticos da lógica
e da epistemologia, como ainda e também das modernas investigações nos setores
político, econômico e administrativo.
A necessidade de pensar o intercâmbio acadêmico e a integração latino-
americana e caribenha a partir de um olhar próprio sobre os problemas e interesses
tornou imperativa e ruptura com o paradigma comparativista, marcado por eixos
temáticos e metodológicos externos à realidade.
A Educação Comparada levou os indivíduos a buscar alternativas de resposta
ao tratamento das diferenças e semelhanças entre os países. A direção esboçada neste
conjunto de estudos comparados é, assim, fruto da reflexão que vem ocorrendo em
diversos espaços do ensino e da pesquisa no continente.
ABSTRACT: Comparative Education is not precisely a curricular discipline, but a method to disentangle reality,
gauging pedagogical systems from the didactical and institutional point of view. Through the discrepancies,
peculiarities and similarities it leads to understanding and provides resources for the improvement of the gauged
structures. On one side it makes use of Sociology and on the other of Philosophy. Normally, the studies of
the subject did not carry out an epistemological approach, opting for the pure and simple application of the
method. Thus, it becomes priority to develop research about Comparative Education in Latin America, due to
the advance in Latin American integration. The implementation of the comparative method comprises various
aspects of analysis. The principle of comparison emanates from otherness, projecting light on the disparities
and similarities. Efforts toward studies of Comparative Education are urgently needed, being as Latin American
nations can greatly gain with the educational advances of the others, especially considering the conjuncture of
globalization which is now in process.
KEYWORDS: Education. Comparative Education. Latin America.
Referências
BONITATIBUS, S. G. Educação comparada: conceito, evolução, métodos. São Paulo: EPU, 1989.
CRUZ, Teresinha Rosa. Educação e Organização Social: estudo comparado dos sistemas de educação.
Petrópolis: Vozes, 1984.
FERREIRA, A. G. O sentido da educação comparada: uma compreensão sobre a construção de
uma identidade. Educação, Porto Alegre, v. 31, n. 2, p. 124-138, mai./ago. 2008.
FRANCO, Maria Ciavatta. Estudos comparados e educação na América Latina. São Paulo: Livros do
Tatu/Cortez, 1992.
FRANCO, Maria Ciavatta. Quando nós somos o outro: questões teórico-metodológicas
sobre os estudos comparados. Educação e Sociedade, Campinas , v. 21, n. 72, p. 197-230,
Ago. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302000000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 Ago. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/
S0101-73302000000300011.
LOURENÇO FILHO, M. B. Educação comparada. São Paulo: Melhoramentos, 1961.
NISKIER, Arnaldo Si CARVALHO, Marlene de. Educação comparada moderna. São Paulo:
Tabajara, 1973.