Ceja Ed Fisic Fasc 1 Unid 2
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Corporeidades
Fascículo 1
Unidade 2
Educação Física
e Corporeidades
Para Início de Conversa...
A famosa máxima “Penso, logo existo.” implica uma concepção que permeia
Educação Física 39
inseridos em uma cultura que enfatiza o conflito mente/corpo, e a escola acaba reproduzindo esta dualidade em suas
Há uma grande valorização do intelecto, já que a sociedade em que vivemos tende a ignorar tudo aquilo que
nos identifica como animais. Relegando o corpo a um segundo plano, ficam também esquecidos outros canais de
Fontes: Aconchegando o corpo na escola: as perspectivas. Pensando o lugar do corpo na escola. In Salto para o Futuro. O Corpo na
escola. Ano XVIII boletim 04 - Abril de 2008 Alexandra Pena, Isabel C. Bogéa e Leonor Pio Borges.
Objetivos de aprendizagem
Reconhecer o corpo como uma construção sociocultural, compreendendo a indissociabilidade entre corpo e
mente e as múltiplas corporeidades;
Analisar criticamente a presença das mídias na constituição dos modelos corporais que circulam na sociedade
contemporânea;
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Seção 1
Corpo, cultura e sociedade
Figura 2: Pluralidade dos corpos: vivemos num país multicultural em que as manifestações e expressões corporais se constro-
em a partir de uma vasta pluralidade histórica, social, econômica e cultural.
O corpo é atravessado pelas vibrações que o cercam; daí, desliza, se transforma, escapa, muda de forma,
contagia, afeta e é afetado. Ele é, no mundo, passivo e ativo paradoxalmente. A todo esse movimento transformacional
do corpo-no-mundo; a todas essas derivas e desdobramentos que lhe são possíveis, chamamos de corporeidade! Tal
corporeidade atua na (re)criação de sentidos, e não apenas os aloja corporalmente. É, portanto, “veículo produtor de
sentidos”. As corporeidades expressam, assim, a capacidade que o corpo tem de ser o “motor” da construção de novas
Cada gesto que fazemos, a forma como nos sentamos, a maneira como caminhamos, os costumes com o
corpo da gestante (a mensagem hoje é que ela se movimente, ao contrário de poucos anos atrás), os cuidados com
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o bebé... tudo é específico de uma determinada cultura, que não é melhor nem pior que qualquer outra. A forma de
lutar, os cuidados higiênicos com o corpo, os esportes que se praticam numa determinada época e num determinado
local são influenciados pela cultura. As brincadeiras, os tipos de ginástica, os cuidados estéticos com o corpo... enfim,
tudo é influenciado pela cultura. Numa multidão, podem-se notar certos comportamentos corporais comuns, que
caracterizam e padronizam um determinado povo. Aliás, como relata RODRIGUES (1987), pode-se reconhecer um
brasileiro num outro país pela sua forma de andar e gesticular, sua postura, seus movimentos corporais. Duas seleções
de voleibol, jogando com as mesmas regras e técnicas, e com sistemas táticos similares, possuem estilos diferentes,
um jeito característico de praticar o voleibol ou o futebol, que reflete tradições culturais distintas.
(Fonte: Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. Jocimar Daólio. Revista Movimento. Ano 2 –
N.2 – Junho/ 1995.)
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O multiculturalismo expresso nos corpos: o corpo como produto e produtor de cultura.
tóricas, culturais e sociais nos corpos. Você pode fazer este exercício utilizando as diferentes
Verbete
MULTICULTURALISMO: é o reconhecimento das diferenças e da individualidade de cada um. Daí
então surge a confusão: se o discurso é pela igualdade de direitos, falar em diferenças parece uma
contradição. Mas não é bem assim. A igualdade de que se fala é igualdade perante a lei, é igual-
dade relativa aos direitos e deveres. As diferenças às quais o multiculturalismo se refere são dife-
renças de valores, de costumes etc., posto que se trata de indivíduos de raças diferentes entre si.
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Seção 2
As mídias e os modelos corporais
Atualmente, com a difusão global e intensa da informação, a imagem corporal vem sofrendo inter-
venções variadas, que estão mais ligadas ao marketing do que à própria estrutura étnica de cada
grupo. Fronteiras sociais e padrões estéticos anteriormente estabelecidos perderam seus limites. Em
um passado não muito remoto, a identidade grupal era mais facilmente preservada, pois a distância
geográfica mantinha os grupos relativamente isolados. Não vivíamos em uma aldeia global, já pre-
conizada por Marshall McLuhan.
Certamente, a evidência do corpo não é do corpo em si, considerado na sua especificidade, mas a evidência de
um modelo de corpo. Esse modelo de corpo entra em pauta nos discursos midiáticos da sociedade contemporânea,
que, via publicidade e propaganda, forma estereótipo e reproduz e veicula imagens de representação de um dado
padrão de corpo vigente. E esse corpo, tomado como referência da cultura contemporânea e veiculado pela mídia
via publicidade, é um corpo “bonito por dever”, um corpo que se pauta pelo culto a certo padrão de beleza ocidental
Cabe ressaltar que as concepções de corpo edificadas historicamente pela civilização ocidental a que nos
referimos referem-se à padronização dos conceitos de beleza, fundados no corpo magro ou musculoso,
ancorada pela necessidade de consumo criada pelas novas tecnologias e homogeneizada pela lógica
da produção. São essas a que nos referimos e que parecem corroborar com os modelos estéticos atuais.
Ante o exposto, constata-se a necessidade de desvelar os mecanismos de construção dos modelos esté-
ticos referidos e os interesses mercadológicos envolvidos na sua determinação e propagação.
É claro que, como nos informa o renomado cirurgião plástico brasileiro, Ivo Pitanguy (2009, p. 85), a busca
pela beleza é tão antiga quanto o ser humano; é mítica. As esculturas, as pinturas e todas as manifestações de
representação da perfeição e da forma nos remetem aos módulos que representaram o cânone dominante. A meu
ver, esse “cânone dominante” é essencialmente ocidental. Mas, provavelmente, na contemporaneidade, ele está cada
vez mais se globalizando, pois já é consenso entre vários autores que vivemos atualmente numa aldeia global em que
o intercâmbio não acontece somente no plano econômico, mas também nas formas culturais e do comportamento.
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Desde os nossos mais remotos ancestrais, elementos estéticos faziam parte do seu cotidiano. O que parece ser
perfeito e passível de ser construído de acordo com as condições e possibilidades da cultura contemporânea.
(Fonte: Corpo, mídia e mercado: o corpo objeto de discurso publicitário. Lionês Araújo dos Santos. Disponível em: http://revistas.
unibh.br/index.php/ecom/article/view/604/342. Acesso em 29/10/2013.)
Figura 3: As influências das mídias na constituição dos modelos e padrões corporais: no mundo contemporâneo, somos todos consu-
midores midiáticos, especialmente da mídia televisiva. Sabemos que essas mídias têm uma intencionalidade evidente de divulgação
de modelos corporais, visibilizando determinados padrões e associando-os à felicidade, ao prazer e ao sucesso. Assim, sem refletirmos
sobre estas questões, somos facilmente capturados e passamos a adotar comportamentos na busca incessante para atingir esse“ideal”.
Figura 4: Distorção da imagem corporal: o que vemos é um exemplo extremo de uma situação que pode ocorrer quando não
conseguimos nos tornar consumidores midiáticos críticos sobre os modelos corporais, levando-nos ao sofrimento.
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Distorções da imagem corporal
A anorexia nervosa e a bulimia nervosa são transtornos alimentares caracterizados por um padrão de
comportamento alimentar gravemente perturbado, um controle patológico do peso corporal e por distúrbios da
percepção do formato corporal. Está presente, na anorexia nervosa, um inexplicável medo de ganhar peso ou de
tornar-se obeso, mesmo estando abaixo do peso, ou mais intensamente, uma supervalorização da forma corporal
como um todo ou de suas partes, classicamente descrito como distorção da imagem corporal.
Já a bulimia nervosa, Russell (2002) descreveu-a como uma urgência poderosa e irresistível de comer demais,
comportamentos compensatórios consequentes, tais como vômitos, uso inadequado de laxantes, diuréticos e
Bruch (1962) desenvolveu a primeira teoria sistemática a respeito de problemas de imagem corporal
nos transtornos alimentares, sendo que esta distorção da imagem corporal é um dos três fatores necessários
ao desenvolvimento da anorexia. Mais ainda, afirma que este era o aspecto mais importante do transtorno e
também notou que a melhoria dos sintomas da anorexia poderia ser temporária se não houvesse uma mudança
De acordo com Bruch (1962), mais alarmante do que a má nutrição em si na anorexia nervosa é sua associação
com a distorção da imagem corporal que, entre outros fatores, apresenta-se como uma ausência de preocupação com
Segundo Cash e Deagle (1997), o distúrbio da imagem corporal é um sintoma nuclear dos transtornos
alimentares, caracterizado por uma autoavaliação dos indivíduos que sofrem desse transtorno, influenciada pela
experiência com seu peso e forma corporal. Embora uma insatisfação ou distorção da imagem corporal possa estar
presente em outros quadros psiquiátricos, como transtorno dismórfico corporal, delírios somáticos, transexualismo,
depressão, esquizofrenia e obesidade, é nos transtornos alimentares que seu papel sintomatológico e prognóstico
é mais relevante.
(Fonte: Imagem corporal nos transtornos alimentares. Carolina Jabur Saikali, Camila Saliba Soubhia, Bianca Messina Scalfaro, Táki
Athanássios Cordás. Disponível em: http://urutu.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol31/n4/164.html. acesso em 29/10/2013.)
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Figura 5: Anorexia.
Figura 6: Bulimia.
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Para refletir...
2. Será que todos nós temos que acompanhar esses padrões? Por quê?
3. Quais são os sacrifícios que precisamos fazer para alcançar esses modelos? Vale a pena?
Muitas outras perguntas e reflexões vão surgir com essa dinâmica. Mãos à obra...
Verbete
Texto imagético: qualquer texto constituído a partir de uma coletânea de imagens.
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Seção 3
Corpos em movimento: sentidos e significados
Para começar a discutir o assunto, talvez um passo necessário seja reconhecermos que as interações das
pessoas acontecem por intermédio de seus corpos, que estão situados em um contexto sociocultural. Esse contexto
vai determinando modos de ser, exige-lhes performances, ou seja, os corpos, tanto de adultos quanto de crianças,
estão imersos em uma determinada cultura. Olhares, gestos, expressões, falas, representações são manifestações típicas
das diferentes culturas que, quando manifestadas, são comunicadas e compreendidas por intermédio de códigos e/ou
signos.
Verbete
Performance: a palavra performance vem do verbo em inglês “to perform”, que significa realizar, completar, executar ou efetivar.
Em muitas ocasiões, é usada no contexto de exibições em público ou quando alguém desempenha algum papel no âmbito
artístico, como um ator, por exemplo. Performance também pode ser o conjunto dos resultados obtidos em um determinado
teste por uma pessoa. (Fonte: http://www.significados.com.br/performance/)
No contexto utilizado, entendemos o termo performance como vivências de múltiplas manifestações corporais, que imprimem
sentidos e dão significados e potência a esses movimentos.
Por exemplo, quando jogamos, não estamos preocupadas com a coordenação que desenvolvemos no
exercício de jogar. Estamos experimentando formas diferentes de jogar até acharmos a mais adequada para a jogada
que desejamos fazer. Esta experiência de jogar de diferentes formas produz um repertório de movimentos que só
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Figura 7: Corpos em movimento: os movimentos corporais expressam sentidos e significados próprios de uma determinada
história e cultura. São formas potentes de ser e estar no mundo, reconstruídas a cada experiência e vivência cotidiana.
Observem as imagens a seguir. Quantos movimentos em ritmos, posições, deslocamentos diferentes são
necessários para atendermos as necessidades do dia a dia? O movimento corporal é potente quando nos possibilita
alcançar nossos objetivos por meio de atitudes cotidianas realizadas com segurança e eficácia, fortalecendo nossa
auto-estima.
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Figura 8: Movimentos cotidianos: os sentidos e os sabores da vida. As imagens demonstram que o ser humano vive em mo-
vimentos que expressam sentidos e significados de suas ações cotidianas, demonstrando potência de criação de vida. A vida
cotidiana está subordinada aos ritmos do corpo.
Educação Física 51
O corpo é genial. Não sei por que não aprendi mais cedo
sua força criadora, por que não compreendi, quando mais
jovem, que somente um corpo glorioso poderia ser real.
Estudem, aprendam, certamente sempre restará alguma
coisa, mas, sobretudo, treinem o corpo e confiem nele,
pois ele se lembra de tudo, sem qualquer dificuldade ou
impedimento. O que nos distingue das máquinas é unica-
mente nossa carne divina; a inteligência humana se dis-
tingue da artificial apenas pelo corpo.
(Fonte: Michel Serres. Variações sobre o corpo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.)
Individualmente, faça observações em seu cotidiano (de você e das pessoas ao seu
zada, dançada, desenhada, pintada, etc.) as reflexões acerca da importância dos movimen-
Resumo
Vamos reunir o que aprendemos para avançar nos estudos? Então, segura aí!
O corpo deve ser compreendido como uma construção sociocultural, indissociável das demais dimensões
As corporeidades são marcas e registros que se inscrevem nos corpos e expressam formas de ser e estar no
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Os movimentos e gestos corporais indicam inserções socioculturais.
Na contemporaneidade, os modelos e padrões corporais são atravessados e influenciados pelas mídias, espe-
cialmente a televisiva, que visibiliza determinados padrões e associa-os à felicidade, ao prazer e ao sucesso.
A anorexia nervosa é um transtorno causado por uma distorção da imagem corporal que caracteriza-se por
A bulimia nervosa é um transtorno causado por uma distorção da imagem corporal que caracteriza-se por
Os movimentos corporais são saberes e conhecimentos que adquirimos com nossas experiências de vida e sem-
pre nas relações com tantos outros e outras com os quais convivemos.
O movimento corporal é potente quando nos possibilita alcançar nossos objetivos por meio de atitudes
cotidianas realizadas com segurança e eficácia, fortalecendo nossa autoestima e nossa autonomia.
Atividade 1
uma discussão acerca das marcas sociais que se imprimem a partir dessas imagens e os sen-
tidos que essas marcas ganham no contexto social. Por exemplo, as marcas da idade na pele
castigada pelas rugas, nos remetem socialmente ao lugar do idoso na sociedade, causas e
quando as rugas são visíveis? O que significa ser idoso na sociedade capitalista? Que tal pro-
Atividade 2
corpos divulgadas em jornais e revistas de grande circulação e, com uma folha de papel par-
do, montar um “texto imagético” usando essas imagens selecionadas para dar um sentido ao
que queremos colocar em evidência para ser problematizado, como, por exemplo, os usos
dos corpos que atendem a um determinado padrão de beleza para venda de produtos de
todos os tipos, como cremes de beleza, bebidas alcoólicas, carros, etc. Isso proporciona uma
Educação Física 53
Atividade 3
Muitas são as variações possíveis para essa proposta. Um exemplo pode ser observar
como os sujeitos usam e precisam adaptar as suas movimentações corporais para circular
Bibliografia
BETTI, M. Mídia e educação. In: Seminário Brasileiro em Pedagogia do Esporte. Anais..., Santa Maria: UFSM, 1998.
DAOLIO, J. Os significados do corpo na cultura e as implicações para a Educação Física. Movimento, Porto
SERRES, Michel. Variações sobre o corpo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
Imagens
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