Concepção de Competência Na BNCC e No Documento Curricular Do Território Maranhense
Concepção de Competência Na BNCC e No Documento Curricular Do Território Maranhense
Concepção de Competência Na BNCC e No Documento Curricular Do Território Maranhense
Resumo: O artigo versa sobre a concepção de competências presente na legislação educacional brasileira e na
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e no Documento Curricular do Território Maranhense (DCTM).
Analisou-se a influência dos organismos internacionais como o Banco Mundial e a Organização de Cooperação
e de Desenvolvimento Económico (OCDE) na base epistemológica da legislação educacional brasileira.
Observou-se que a política de qualidade social passa a ser suplantada pela tendência produtivista e que o DCTM
em consonância com a BNCC incorpora o conceito utilitarista de formar pessoas com as competências que lhes
permitam atuar no mercado de trabalho.
Palavras-Chave: Competências; Base Nacional Comum Curricular; Documento Curricular do Território
Maranhense.
1 Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (1989), Mestrado em Educação
pela Universidade Católica de Brasília (2008) e Doutorado em Educação pela Universidade de Brasília (2013).
Professora da Universidade Estadual do Maranhão, Campus São Luís, do curso de Pedagogia e do Programa de
Pós-Graduação em Educação (PPGE) Mestrado Profissional. Coordenadora de Pós-Graduação da Pró- Reitoria
de Pesquisa e Pós-Graduação PPG/UEMA. É líder do Grupo de Estudos em Gestão e Avaliação (GESTA),
cadastrado no Diretório de Grupo de Pesquisa do CNPq. E-mail: [email protected]. https://
orcid.org/0000-0002-6176-6750.
2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) Mestrado Profissional da Universidade
Estadual do Maranhão (UEMA). Linha de pesquisa - gestão educacional. Licenciado em Geografia -
Universidade Estadual do Maranhão - UEMA (2006). Especialização em Ensino de Ciências Humanas
- etodologias Inovadoras para a Educação - IESF(2008). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Tecnologias Digitais na Educação - (GEP-TDE -UFMA). Grupo de Estudos Política e Gestão da Educação,
Formação de Professores, Profissionalização e Trabalhos Docentes (GEPGEFOP - UEMA). Professor do Ensino
Médio (SEDUC - MA) desde 2010 e Rede Municipal de São Luis - Ma desde 2013. E-mail: renatouema@
yahoo.com.br https://orcid.org/0000-0001-6823-3415.
3 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) Mestrado Profissional da Universidade
Estadual do Maranhão (UEMA). Linha de pesquisa - gestão educacional. Possui graduação em Geografia,
Licenciatura (2000), pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Pós- Graduação em Gestão de Políticas
Públicas em Gênero e Raça (2012) Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pós- graduação em Gestão
Educacional e Escolar pela Universidade Estadual do Maranhão (2019). Professora vinculada à Secretaria de
Estado da Educação do Maranhão e à Secretaria Municipal Educação de Cururupu-MA. E-mail: mouraneria@
gmail.com https://orcid.org/0000-0003-4531-3468.
https://doi.org/10.36311/2236-5192.2020.v21n02.03.p21
Introdução
A história da educação brasileira é marcada por várias reformas,
excepcionalmente, a partir do processo de redemocratização. O marco legal desse
processo foi a Constituição Federal de 1988 que estabeleceu novos princípios
para a educação, como a gestão democrática, regulamentados por leis e diretrizes
subsequentes como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº
9.394/96. A partir de 1990, a legislação educacional teve, na sua elaboração, fortes
influências de organismos internacionais alinhados a concepções neoliberais4, de viés
economicista, com diretrizes definidas principalmente pelo Banco Mundial.
O artigo 210 da Constituição Federal de 1988 estabelece que “serão fixados
conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar formação
básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”.
Seguindo nessa direção, a LDEBEN nº 9394/96, as Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais para a Educação Básica Parecer CNE/CEB nº 4/2013, aprovado em 13 de
março de 2013 e a Lei n° 13.005/2014 que estabelece o atual Plano Nacional de
Educação (PNE) precederam a Resolução CNE/CP Nº 2/2017 que institui e orienta
a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
A elaboração da BNCC passou por uma ampla discussão tendo sido (des)
construída em um contexto de efervescência política, pós-impeachment da, então,
Presidente Dilma Rousseff, quando assumiu a presidência o Vice-Presidente, Michel
Termer. A BNCC é um documento norteador para a organização curricular do
território brasileiro e os desafios das políticas educacionais são garantir que os Estados
e os Municípios reelaborem seus currículos tendo um núcleo comum curricular
considerando, também, especificidades locais e regionais.
Tanto a BNCC como os documentos regionais que surgem a partir dela
estabelecem competências educacionais a serem desenvolvidas pelos alunos. Neste
artigo busca-se analisar alguns achados de pesquisa a partir do seguinte questionamento:
qual a concepção de competência presente na BNCC e no Documento Curricular do
Território Maranhense (DCTM)?
Para tentar responder a indagação, estabeleceu-se como objetivo inicial realizar
um levantamento das bases legais que fundamentaram a construção da BNCC e
do DCTM, analisando as bases conceituais sobre competências que norteiam a
elaboração desses dois documentos referências. Este estudo poderá contribuir em
4 Concepções de países que adotaram as políticas do Consenso de Washington, refletidas nas suas ações
educacionais: 1. Afastamento do Estado como agente financiador da educação. 2. Privatização das instituições
públicas de ensino. 3. Ênfase sobre a avaliação e controle – Estado avaliador e controlador (PROVÃO, ENEM,
etc.). 4. Critérios essencialmente quantitativos para selecionar professores e alunos, bem como para avaliar
cursos nos diversos níveis do ensino. 5. Ênfase sobre a prática em detrimento da teoria. 6. Tecnização das
ações educativas. 7. Ênfase sobre os fins a serem atingidos, pois estes justificam os meios. 8. Preparação escolar
profissionalizante e técnica para atender à demanda das empresas (pós-médio, institutos de educação, cursos
normais superiores, etc.) 9. Formação rápida e à distância. Formação esta oferecida, geralmente, por agências de
mercantilização do ensino” (SAMPAIO, Carlos M. A., et al., 2002, p. 8).
Dessa forma, observa-se que a política de qualidade social passa a ser suplantada
pela tendência produtivista como verificada na BNCC. A analise a seguir tem o recorte
5 Grupo não governamental de profissionais da educação que, desde 2013, atua para facilitar a construção
de uma Base de qualidade e promove debates, estudos e pesquisas com gestores, professores e alunos e
investiga casos de sucesso em vários países.
6 Os autores do DCTM utilizam oito princípios pedagógicos de Estrada (2017) devido a sua relevância à
docência. São eles: 1 - considerar os conhecimentos prévios dos alunos, 2 - garantia do acompanhamento da
aprendizagem, 3 - aprendizagem significativa, reconhecendo o valor social do conhecimento, 4 - planejamento
pedagógico, como meio para o planejamento da aprendizagem, 5 - metodologias que assegurem a aprendizagem
de todos, 6 – interdisciplinaridade, 7 - diversidade como fonte de riqueza da aprendizagem, 8 - ambiente
saudável e organizado como apoio à aprendizagem.
Considerações finais
No decorrer das análises procurou-se uma aproximação das respostas dos
achados de pesquisa com a concepção de competência presente na BNCC e no
DCTM. Percebeu-se que o DCTM tem na sua essência tudo que a BNCC defende
e incorporou o conceito utilitarista de formar pessoas com as competências para o
mercado de trabalho. Ao analisar o processo de elaboração da BNCC e do DCTM
encontra-se as bases conceituais de competência utilizadas anteriormente em outros
marcos legais da educação brasileira.
A concepção de competência é trabalhada desde a educação infantil quando
a criança deve adquirir a competência de cuidar de si. No ensino fundamental,
todos os componentes curriculares são apresentados com base nas competências e
habilidades que o aluno precisa adquirir. Destaca-se, também, outros conceitos como:
currículo, os processos de ensinar e aprender, alfabetização e letramento e avaliação da
aprendizagem; princípios educacionais como equidade, formação integral, inclusão
e diversidade também estão presentes no DCTM e podem ser fonte de estudos
posteriores.
E por fim, as dez competências que a BNCC apresenta e fundamentam o
DCTM podem ser estudadas de forma particularizada a depender dos objetivos de
futuras reflexões e trabalhos sobre o tema. Cabe destacar que nem a BNCC nem
o DCTM podem engessar o pensamento crítico que deve ser preponderante na
reformulação dos currículos. O mais importante nesse momento de implantação da
base é buscar compreender o tipo de pessoas que queremos formar, qual modelo
educacional atende a formação de sujeitos capazes de perceberem contradições sociais
e apresentarem-se como uma esperança de mudanças.
DUARTE, A. L. C.; SILVA, R. M.; MOURA, N. The conception of competence on the bnccc and
in the curricular documento of the territory of Maranhão (DCTM). Educação em Revista, Marília,
v. 21, n. 2, p. 21-36, 2020.
Abstract: Research on the conception of competences present in the Brazilian educational legislation and its
conjecture in the construction of the Common National Curricular Base (BNCC) and in the Maranhense
Territory Curriculum Document (DCTM). The influence of international organizations such as the World
Bank and the OECD on the epistemological basis of the Brazilian educational legislation. It was observed that
the social quality policy is superseded by the productivist tendency and that the DCTM in line with BNCC
embodies the utilitarian concept of training people with the skills to enable them to work in the labor market.
Keywords: Competences; Common National Curriculum Base; Curriculum Document of Maranhense
Territory.
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