Desconto em Folha de Pagamento de Contribuição Partidária
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partidária
RESOLUÇÃO No 22.025
Consulta no 1.135
Brasília – DF
Vistos, etc.
__________
Publicada no DJ de 25.7.2005.
RELATÓRIO
Ter-se-ia verdadeiro dízimo, atingindo até dez por cento, considerada, como base de
incidência, a remuneração relativa ao cargo ou função comissionada ou a diferença
entre aquela do cargo efetivo e a que auferida com a designação ocorrida. Com a
prática, em vez de os recursos públicos visarem, em si, à prestação dos serviços, dar-se-
ia o financiamento de partidos.
Ocorre que à Consulta no 1.131, por tratar de situação concreta, foi negado seguimento.
3. Publique-se.
Daí a manifestação de fls. 28 a 36, em que, após referência à Lei no 8.112/90, remete-se
ao Decreto no 4.961, de 20 de janeiro de 2004, que a regulamentou, mais precisamente
aos preceitos atinentes às consignações. Então, conclui-se: a) os ocupantes de cargos em
comissão são servidores públicos; b) as consignações em folha de pagamento podem ser
compulsórias e facultativas, surgindo os arts. 3o e 4o do Decreto no 4.961/2004 com
natureza exaustiva; c) as consignações versadas na consulta não estão previstas no
citado decreto.
VOTO
A cláusula final do inciso II do art. 37 da Carta da República não encerra livre discrição
do administrador público. Submete-se à referência à natureza e complexidade do cargo
em comissão, devendo a escolha recair em quem tenha condições de satisfazer a
eficiência, sempre objetivo precípuo no campo da prestação dos serviços à
administração pública. As atribuições de direção, chefia e assessoramento devem caber
a quem esteja, do ponto de vista técnico, à altura delas próprias. Daí assentar-se, sob o
prisma constitucional, a impossibilidade de se agasalhar critério que, de alguma
maneira, leve em conta, potencializando-a, a condição de integrante de certo partido.
Logo, sob o ângulo estritamente constitucional e diante dos interesses maiores da
administração pública, surge com extravagância ímpar previsão, no estatuto do partido
político, que acabe por direcionar a escolha do ocupante do cargo ou do detentor da
função de acordo com a filiação partidária, para, em passo seguinte, fixar-se
contribuição que somente no plano formal pode ser vista como espontânea.
Mais do que isso, afigura-se latente o abuso do poder de autoridade. A razão é muito
simples. Ou bem o pretendente ao cargo de confiança ou à função comissionada
concorda em se filiar e contribuir, ou acaba não logrando a ocupação do cargo ou o
desenvolvimento da função, a fonte da subsistência referida. Em última análise, em
razão da mesclagem dos interesses em jogo – do partido e daquele que, mediante a
respectiva bandeira, foi eleito para o cargo de chefia maior do Executivo, e aí passam a
confundir-se –, haverá o conseqüente abuso do poder de autoridade, a menos que nos
imaginemos em outro contexto que não o nacional. Perpetrado o abuso de autoridade,
desviando-se, sob o ângulo da finalidade, dinheiro público, segue-se a existência de
parâmetros a evidenciar outra forma de abuso, que é a do poder econômico, situando-se
partidos políticos em patamares diferentes. Aqueles que estejam no poder, nas diversas
gradações – federal, estadual e municipal –, contarão, considerado o verdadeiro abuso
no número de cargo de confiança, com insuperável fonte de recursos e aí, em passo
seguinte, dar-se-á o desequilíbrio, sob o aspecto econômico e financeiro, da disputa que
se almeja de início igualitária. De fato, é alarmante o número de cargos de confiança –
artigo de Cláudio Weber Abramo, publicado na Folha de S.Paulo de 7 de junho de
2005, revela vinte e dois mil no nível federal e três mil no Município de São Paulo,
sendo que o presidente dos Estados Unidos conta apenas com cerca de nove mil e, em
países da Europa, o número é muito menor.
Disse, então, Sua Excelência – e foi acompanhado inclusive por mim próprio na
presidência e pelos Ministros Néri da Silveira, Costa Leite, Nilson Naves, Eduardo
Alckmin, sendo procurador-geral eleitoral, presente na assentada, o Dr. Geraldo
Brindeiro:
A vedação do art. 31, II, da Lei no 9.096/95, atinge, porém, os filiados a partido que
exerçam cargos exoneráveis ad nutum.
Aprovada.
De fato, há que se fazer distinção entre contribuição estatutária efetuada por filiados a
partidos políticos que são parlamentares e contribuição de filiados que exerçam cargos
exoneráveis ad nutum.
Ante as premissas lançadas acima, concluo que não prevalece a óptica de plena
disponibilidade da remuneração por parte do servidor, conforme assentado por esta
Corte no julgamento da Petição no 310, na sessão de 14 de agosto de 2001, relator
Ministro Nelson Jobim – Res. no 20.844.
Respondo, então, à consulta nos seguintes termos: incide a vedação do inciso II do art.
31 da Lei no 9.096/95, relativamente à contribuição de detentor de cargo ou função de
confiança, calculada em percentagem sobre a remuneração percebida e recolhida ao
partido mediante consignação em folha de pagamento.
PEDIDO DE VISTA
EXTRATO DA ATA
Cta no 1.135 – DF. Relator: Ministro Marco Aurélio – Consulente: Eduardo da Costa
Paes, deputado federal.
Presidência do Exmo. Sr. Ministro Carlos Velloso. Presentes os Srs. Ministros Gilmar
Mendes, Marco Aurélio, Humberto Gomes de Barros, Cesar Asfor Rocha, Luiz Carlos
Madeira, Gerardo Grossi e o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, vice-procurador-
geral eleitoral.
VOTO (VISTA)
Ante as premissas lançadas acima, concluo que não prevalece a óptica de plena
disponibilidade da remuneração por parte do servidor, conforme assentado por esta
Corte no julgamento da Petição no 310, na sessão de 14 de agosto de 2001, relator
ministro Nelson Jobim – Res. no 20.844.
Respondo, então, à consulta nos seguintes termos: incide a vedação do inciso II do art.
31 da Lei no 9.096/95, relativamente à contribuição de detentor de cargo ou função de
confiança, calculada em percentagem sobre a remuneração percebida e recolhida ao
partido mediante consignação em folha de pagamento.
Aprovada.
No voto se lê:
[...]
Não creio se deva interpretar o texto com o rigor com que o fez nossa Secretaria de
Controle Interno.
Tivesse sido utilizada, ali, a expressão “agentes políticos” e seriam alcançados, como
entende a melhor doutrina, “os componentes do governo em seus primeiros escalões,
investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição,
designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais” (Hely Lopes
Meirelles). Ou os que tem a função “de formadores da vontade superior do Estado”
(Celso Antônio Bandeira de Mello).
Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através
de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
[...]
Lá está dito:
Art. 5o Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego
ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.
Vale dizer que todo aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, detendo uma
parcela do poder político, é autoridade pública.
Assim, em sentido amplo, “funcionário público é todo aquele que, mesmo em caráter
transitório, exerce cargo, emprego ou função pública”.
Em sentido estrito, “funcionário público é toda pessoa física titularizada que, em caráter
permanente, exerce cargo público, criado por lei.” (Cretella Júnior, José, in Curso de
Direito Administrativo, ed. 10, Forense, Rio de Janeiro, 1989, p. 421.)
Assim sendo, “os filiados que exercerem cargos exoneráveis ad nutum” são
funcionários públicos.
Na conformidade com a Lei no 8.112, de 11.12.90, que dispõe sobre o Regime Jurídico
dos Servidores Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas
Federais:
I – a nacionalidade brasileira;
Art. 18. Para concorrer a cargo eletivo, o eleitor deverá estar filiado ao respectivo
partido pelo menos um ano antes da data fixada para as eleições, majoritárias ou
proporcionais.
A outro passo “os filiados de um partido político têm iguais direitos e deveres”,
conforme o art. 4o da Lei no 9.096/95:
Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através
de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
[...] entendemos que, ao empregar o termo “autoridades”, o que a lei procurou impedir
foi a interferência de organismos estatais na vida partidária. (Grifei.)
Se se trata de “organismos estatais” não se poderá ter por conflituosa com a lei a
cláusula estatutária que trata de funcionários públicos demissíveis ad nutum.
Como pessoa jurídica que é, não pode o Estado operar a não ser por meio de pessoas
físicas. Tais pessoas constituem os órgãos da administração, não se confundindo,
porém, de modo algum, os órgãos com os respectivos titulares: [...] (OB. cit. P. 60-61.)
Quando o inciso do art. 31, em referência, usa a expressão “autoridade ou órgãos
públicos”, não emprega conjunção alternativa nem disjuntiva, mas, certamente, o ou
nada mais é do que uma conjunção explicativa.
Do contrário, o texto não se harmoniza com ele mesmo, bem como com outros
dispositivos da própria Lei no 9.096/95 (arts. 4o e 18).
Ubi lex non distinguit nec nos distinguere debemus: “Onde a lei não distingue, não pode
o intérprete distinguir.”
VII – pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior.
Essa resolução contou com o prestígio dos Ministros Sepúlveda Pertence, Garcia Vieira,
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Costa Porto e Fernando Neves, o que faz deduzir que o e.
Ministro Costa Porto tenha revisado seu entendimento anterior.
Na condição de relator, tive a companhia dos eminentes Ministros Ellen Gracie, Carlos
Mário Velloso, Celso de Mello, Barros Monteiro, Francisco Peçanha Martins e Caputo
Bastos.
É o voto.
EXTRATO DA ATA
Cta no 1.135 – DF. Relator: Ministro Marco Aurélio – Consulente: Eduardo da Costa
Paes, deputado federal.
Presidência do Exmo. Sr. Ministro Carlos Velloso. Presentes os Srs. Ministros Gilmar
Mendes, Marco Aurélio, Humberto Gomes de Barros, Cesar Asfor Rocha, Luiz Carlos
Madeira, Gerardo Grossi e o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, vice-procurador-
geral eleitoral.
Tribunal Superior Eleitoral declara ilegal o dízimo
partidário
A cobrança do dízimo partidário — contribuição descontada sobre o salário de
filiado dos partidos políticos que ocupa cargo ou função de confiança na
administração pública — é ilegal. A decisão é do Tribunal Superior Eleitoral e foi
tomada por seis votos a um, vencido o ministro Luiz Carlos Madeira.
Prevaleceu o entendimento do ministro Marco Aurélio Mello, relator da Consulta
1.135, formulada pelo deputado Federal Eduardo da Costa Paes (PSDB/RJ).
Segundo o ministro, fere o princípio da moralidade pública a regra que “acabe por
direcionar a escolha do ocupante do cargo ou do detentor da função de acordo com
a filiação partidária para, em passo seguinte, fixar-se contribuição que somente no
plano formal pode ser vista como espontânea”.
Para Marco Aurélio, a prática também contraria a visão de plena disponibilidade da
remuneração por parte do servidor, conforme assentado na Resolução 20.844 do
TSE.
De acordo com a Lei 9.096/95 (lei dos partidos políticos), “é vedado ao partido
receber direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto, contribuição ou
auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive mediante publicidade de
qualquer espécie, procedente de autoridade ou órgão público”.