Fichamento de Citações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Fichamento de Citaçõ es
A arte rupestre em perspectiva histó rica:
uma histó ria escrita nas rochas
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Resumo:
"O presente trabalho tem por objetivo abordar a história da arte rupestre no Brasil,
partindo de uma perspectiva historiográfica que abrange as principais referências acerca
da temática dos períodos colonial, monárquico e republicano. Destarte, estes relatos
estão contidos nas falas de religiosos, militares, cientistas e estudiosos que objetivavam
responder a questões relacionadas à origem e ao sentido daqueles registros na rocha.
Nesse contexto, observa-se que a necessidade dos grupos humanos deixarem suas
mensagens nas rochas a partir de pinturas, gravuras e desenhos são atividades antigas;
essas mensagens são espécies de memória social doa grupos humanos que a
produziram, cujo significado foi perdido ao longo do tempo e da história”. (p.1).
“As manifestações artísticas dos primeiros hominídeos estão relacionadas ao seu
desenvolvimento físico e mental. Estas se deram à medida que se desenvolveram no
sentido de se adaptarem ao ambiente e às mudanças climáticas do mundo em seu tempo
(LEWIN,1999). Esse desenvolvimento não foi verificado apenas por meio da produção
de ferramentas, mas também no campo das ideias artísticas como mediante o ato de
pintar, depositar e esculpir na rocha. Estas atividades demonstram um intuito de
transmitir ou depositar uma informação [...]. Seu principal diferencial consistia no ato
de denotar valores aos símbolos de suas marcas registradas nas rochas (LEROI-
GOURHAN, 1964; PINKER, 2001)” (p.2).
“ O homo sapiens e o homo de neanderthal aprenderam a representar o mundo a partir
de pinturas e gravuras no interior das cavernas europeias, entre 40 a 10 mil anos atrás,
coincidindo com um período de clima frio na região ( LEROI-GOURHAN,1984;
BAHN,2012)” (p.3).
“ A arte pré-histórica foi descoberta pelo meio acadêmico na segunda metade do século
XIX, tendo seu reconhecimento apenas no início do século XX. Contudo, relatos desse
tipo de manifestações simbólicas remontam à antiguidade em vário continentes do
mundo, tal como apontam Laming-Emperaire (1951) e Guinea (1980)” (p.3).
“Os primeiros registros sobre a arte rupestre brasileira remontam ao século XVI, quando
os europeus iniciaram o processo de colonização do continente americano. Usualmente,
esses relatos eram feitos por religiosos, aventureiros, naturalistas e militares que
estavam a serviço de alguma nação europeia [...]. A grande decepção dos portugueses
nos primeiros séculos de colonização deu-se pelo fato de que não encontraram grandes
reservas de metais preciosos (ouro e prata)” (p.4).
“A arqueologia científica brasileira desenvolveu-se na metade do século XIX e início do
século XX, período no qual se fomentou a construção de uma identidade nacional por
meio do desenvolvimento atraiu a vinda de naturalistas estrangeiros que empreenderam
seus esforços na investigação e construção da história do Brasil”
( CAVALCANTE,2008) (p.4).
“ O primeiro documento histórico que relata a presença de gravuras rupestres está
contido na Nova Gazeta Alemã, de 1511, na qual se afirma terem sido encontradas as
pegadas de São Tomé [...]. Essa presença de São Tomé reforçou a ideia da catequização
dos indígenas brasileiros, o que fez com que o padre Manuel de Nóbrega (1517-1570)
fizesse menção às “pisadas figuradas” em uma rocha, atribuídas a Tomé, na obra Cartas
do Brasil” (CORREIA,1992) (p.4).
“Pero de Magalhães Gândavo (1540-1580), [...] aborda os costumes dos nativos de
pintarem seus corpos e realizarem desenhos a partir de traços por todo o corpo e
também de perfurarem os lábios e realizarem orifícios em suas faces, no sentido de se
destacarem dos demais membros de sua tribo (GÂNDAVO,1964)” (p.4).
“O Jesuíta português Fernando Cardim (1549-1625) [...], afirma que os índios não
tinham conhecimento acerca da existência de um criador, menos ainda acerca do céu ou
sobre adoração de algum santo; também desconheciam a realização de cerimônias
religiosas ou ideias acerca da natureza e da morte” (p.5).
“Para o religioso Francês Claude D’ Abbeville (15??-1632), os índios tinham o hábito
de fazer pinturas corporais policromáticas, com formas e motivos em várias partes do
corpo a partir de uma tinta extraída do jenipapo”(p.5).
“O padre Simão de Vasconcelos, em sua narrativa [...], cita a existência das pegadas de
São Tomé, no litoral brasileiro, mencionando a presença do Santo, que teria vivido com
os nativos durante um período nas capitanias de São Vicente e da Bahia de Todos os
Santos, em 1663” (VASCONCELOS,1977) (p.5).
“ Menciona-se, ainda, Sebastião da Rocha Pitta (1660-1738), que em sua obra História
da América Portuguesa cita a presença de pegadas de São Tomé e os sinais em forma de
cruz [...]” (p.6).
“Com a mudança da corte portuguesa para o Brasil, em novembro de 1807, [...]
transformações significativas foram processadas na vida colonial, como a abertura dos
portos às nações, criação da imprensa real, fundação do Banco do Brasil, instituição de
uma academia militar [...]” (p.7).
“Estas ações descritas permitiram alterações sociais substanciais [...]. Isso permitiu uma
renovação dos estudos das artes, anteriormente associados unicamente à perspectiva
religiosa. A partir de então, uma nova significação é dada à arte rupestre, com ênfase à
possibilidade de estarem relacionados aos próprios grupos indígenas e aos povos da
antiguidade, revelando um novo cenário nacional para os estudos desta área” (p.7).
“ O naturalista francês Ferdinand Denis (1798-1890) esteve na América do Sul entre
1816 e 1821 realizando uma descrição pormenorizada das tribos e paisagens do Brasil.
Em seus escritos, o naturalista aborda os costumes, hábitos, religiosidade e organização
social dos indígenas, fazendo comparações entre a lenda de São Tomé com as
representações da civilização astecas e fenícias” (p.8).
“ O naturalista austríaco Johann Bapist Emanuel Pohl (1782-1834) participou da missão
austríaca no Brasil [...], relatou os hábitos dos indígenas destacando a pintura corporal
com o uso do urucum, do jenipapo e óleo de palmeira, realizando desenhos. Também
reforça a ausência da religião cristã nos indígenas, mas salienta que apreciavam suas
próprias festas religiosas e se ornamentam com penas, garras de animais e outros tipos
de adornos” (POHL,1976) (p.10).
“O pintor Francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) citou a existência de pinturas
rupestres na Serra do Anastácio, em Minas Gerais, “[...] Não é de estranhar que os
selvagens tupis, umas língua cujas combinações sutis podem exprimir os menores
detalhes de seu pensamento, tenham naturalmente procurado ‘reproduzir-lhe a
expressão, de uma maneira inteligível e durável, por meio de sinais ou desenhos
hieroglíficos” (DEBRET;1986 p.98) (p.10).
“Johann Moritz Rugendas (1802-1858) relata o costume entre os indígenas brasileiros
de pintar seus corpos com tintas de coloração vermelha, azul, amarela e preta –
desenhando bários tipos de motivos em seus corpos, pintando dos pés à cabeça,[...]”
(p.11).
“ Já Alfred Russel Wallace (1823-1913) desenvolveu seus interesses de pesquisas e
estudos pela região norte do Brasil. No que concerne a esta parte do país, relata a
existência de pinturas e gravuras rupestres em Monte Alegre, no Pará [...] (p.14).
“ Carl Von Koseritz (1830-1890), durante estadia no Rio de Janeiro, visitou os acervos
do Museu de História Nacional, demonstrando interesse pelos fósseis condicionados no
local, os quais eram oriundos das pesquisas de Lagoa Santa do Dinamarquês Peter
Lund, e por materiais cerâmicos encontrados na ilha de Marajó, inclusive tangas de
argila pintadas e de adorno feminino” ( KOSERITZ,1972) (p.19).
“[...] O primeiro manual de arqueologia brasileiro foi publicado por Angyone Costa em
1934, sendo classificado como um dos fundadores da arqueologia brasileira”
(MARTIN,1977) (p.19).
Nas décadas de 50 a 70 do século XX, a arqueologia brasileira passou por um processo
de profissionalização. [...] A promulgação da lei n⁰ 3.924-61, que visou criar um
dispositivo para proteção patrimonial, foi outro ponto importante para o gerenciamento
do patrimônio arqueológico brasileiro (FUNARI,2010)”(p.21). No contexto da arte
rupestre na região nordeste, a primeira classificação acadêmica foi realizada por
Valentin Calderón (1983), que formulou duas tradições rupestres na Bahia, quais sejam:
1) a Simbolista, que contemplava símbolos que remetiam ao campo do geometrismo,
sendo que não era possível identificar nitidamente suas formas, com a presença da fase
Manciaçu, de grafismos de coloração vermelha, preta e branco; e 2) a Realista, de fácil
reconhecimento visual e que se dividida nas seguintes fases: Irecê, presença de
antropomorfos de coloração vermelha ou branca; jaboticaba, grafismos de
antropomorfos de coloração e quase nenhuma esquematização; Itacira, antropomorfos
com alto grau de estilização” ( MONZON,1982) (p.24).
“As pesquisas acadêmicas no campo da arte rupestre desenvolveram-se na região
nordeste nas décadas 70 a 80 do século XX, tendo como referencial a conceituação das
ideias do PRONAPA e, deste modo, utilizando conceitos como fase, tradição, estilo e
subtradição como elementos classificatórios da teoria da arqueológica brasileira”
(SCHMITZ,2009). (p.24)
“O conceito de tradição rupestre faz referência à prática de uma recorrência estilística
por um grupo cultural em um determinado período cronológico e em espaço geográfico
circunscrito (grandes regiões rupestres); a subtradição diz respeito a uma especialização
de uma tradição rupestre, mantendo um padrão geral estético, mas contendo elementos
diferenciadores; já o estilo é uma maior especialização da tradição, de modo que possui
mais elementos diferenciadores, mas mantém uma recorrência técnica”.
(MARTIN,2008) (p.26).
“ A classificação da arte rupestre brasileira encontra-se segmentada em tradições e
agrupamentos que estão espalhados pelas várias regiões do Brasil, demonstrando, assim,
a abrangência cultural dos povos pré-coloniais no Brasil:
1) TRADIÇÃO GEOMÉTRICA (Pintura):” As principais características são grafismos
em linha, círculos concêntricos, retângulos, labirintos, flechas, quadrados, grafismos
astronômicos e marcas de pegadas de pássaros, com coloração amarela escura, branca e
vermelha; [...]. Ela está presente em vários estados das regiões Nordeste, Sul, Sudeste, e
Centro-Oeste do brasil, sendo de difícil análise devido ao caráter abstratos de seus
grafismos,[...]” (p.27)
TRADIÇÃO AGRESTE(Pintura): “ Está localizada nos estados da Paraíba, Bahia,
Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí e em várias partes da região nordeste. [...]
Suas principais características são: ausência de traçado de contorno com preenchimento,
o uso de técnicas menos elaboradas (simples), menor diversidade temática, grafismos de
maior dimensão vertical e horizontal, perspectiva estática, sem formação de cenas,[...]”.
(p.27)
3) TRADIÇÃO SÃO FRANCISCO (Pintura): “Encontra- se presente na região nordeste
do Brasil e nos estados de Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Sergipe, Tocantins Piauí
e Goiás. Suas principais características são grafismos de antropomorfos e zoomorfos
(cobras, tartarugas, sauros, répteis, aves e peixes, ausência de cercídeos) com uma forte
tendência ao geometrismo (lineares com a utilização de traços vermelhos, pretos e
amarelos, alternando a bicromia interna e externa) [...] “ (p.28).
4) TRADIÇÃO PLANALTO (Pintura): “Está delimitada nos estados da Bahia, São
Paulo, Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Paraná, tendo uma dominância de grafismos de
zoomorfos (peixes, cervídeos, onças, tatus, aves e roedores) e poucos antropomorfos.
Associada a grafismos geométricos e abstratos, com pigmentação vermelha [...]” (p.29).
5) TRADIÇÃO LITORÂNEA (Gravura): É caracterizada como uma tradição de
gravuras rupestres de formas geométricas (riscos em formas de ondas, círculos,
ampulhetas, losangos, depressões elípticas) [...]” (p.29).
6) TRADIÇÃO AMAZÔNICA (Gravura e pintura): “Tem por característica grafismos
de antropomorfos, em geral, destacando a face em detrimento do corpo [...] pequenas
movimentações e grafismos de difícil reconhecimento [...]” (p.29).
campo de estudos e pesquisas sobre a história da arte rupestre brasileira vem se
desenvolvendo em várias partes do território nacional, seja a partir da arqueologia de
contrato e/ou da arqueologia acadêmica, em especial por meio da instituição de
programas de pós-graduação stricto sensu [...]. A criação do Instituto de Arqueologia
Brasileira, em 1961, da Sociedade Brasileira de Arqueologia, em 1987, Associação
Brasileira de Arte Rupestre, em 1997, contribuíram no sentido de um melhoramento da
pesquisa científica e da troca de informações entre os pesquisadores” (PROUS,1992;
FUNARI,2010) (p.33).
“ Tem-se como certo que a diversidade do registro gráfico rupestre no território
nacional é impressionante, devido a multiplicidade de suas temáticas, ao grau de
abstração intelectual das representações e às diversas técnicas de confecção dos
registros rupestres [...] os escritos nas rochas foram realizados por uma multiplicidade
de grupos, em tempos imemoriais, com seus interesses e suas complexidades artísticas,
políticas e socioculturais” (p.34)
“ [...] os grafismos rupestres foram utilizados no período colonial por parte de religiosos
a fim de sustentar a hipótese da presença de elementos do cristianismo no Brasil,
demonstrando que os nativos já teriam contato com o ideal cristão, o que seria utilizado
no processo de aculturação dos indígenas” (p.34).
“ No estado da arte, os estudos rupestres possuem uma grande diversidade de
perspectivas no âmbito do território brasileiro, relacionados geralmente a ideias
oriundas do exterior e adaptadas por pesquisadores nacionais, como explicações que
concerne ao campo da arte, caça, xamanismo e religião. O campo da interpretação
rupestre é algo extremamente complexo e denso, visto que, para elaboração de hipóteses
e teorias, é necessária uma fundamentação teórica e metodológica embasada, gerando
uma série de discussões acadêmicas, o que se constitui como algo proveitoso, dado que
gera muitas reflexões acerca da temática.” (p.34).

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