Perito e Perícia - Novo Capítulo de (Des) Naturalização Da Antropologia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA

Semestre 2021.1 (ensino remoto emergencial)


01/04/2021

Perito e Perícia: Novo capítulo de (des)naturalização da antropologia


(ALMEIDA, Alfredo. 2008)
Ana Marinho1

O tema central do texto é debater sobre a noção de perícia antropológica partindo dos pontos
de vista do antropólogo e, do outro lado, sob uma perspectiva positivista, estariam o Código
de Processo Civil e o conglomerado de profissionais como geólogos, arqueólogos,
historiadores, operadores do direito, etc. O intuito é chamar a atenção para a problemática
com a normatização dos procedimentos, que assim, por parte dos legisladores e demais, reduz
a função do antropólogo, contaminando de positivismo as provas ditas, literalmente,
antropológicas.

As questões levantadas no texto são os desafios do antropólogo extramuros dentro de um


processo pericial; a vigília que o profissional deve ter para não se deixar contaminar pelas
normas constituintes, e a necessidade de uma proteção intelectual.

No texto introdutório, o autor explica que já no Código de Processo Civil há uma redução da
função de antropólogo-perito a, tão somente, perito.

Como o texto: Perito e Perícia: Novo capítulo de (des)naturalização da antropologia, trata-se


de um descritivo de uma das mesas-redonda da Oficina promovida pela ABA, em 2002, o
autor relaciona a roda de conversa anterior, em que são mencionados os termos ‘prova
etnográfica’ e ‘evidência etnográfica’ (p.46), proferidos no intuito de trazer similaridade entre
o discurso antropológico e o jurídico-formal. Porém essa observação, vai além de qualquer
semelhança, pois os termos tratam, em prática, de “procedimentos distintos no trabalho de
campo”. (p.46).

O autor alfineta articulando que “pelo código mencionado, o perito deve se cingir à
verificação, ao reconhecimento de um dado que existe e ‘que é’. Não lhe compete interpretar
ou relativizar possíveis evidências. E os domínios pensados como científicos para os
legisladores parecem ser aqueles correspondentes às ciências naturais.” (p.46). Ou seja,
trabalho que não seria de um antropólogo-perito, mas sim, e tão somente, a de um perito,
como, realmente, diz o Art. 145, do Código.

1
Graduada em Comunicação Social - Jornalismo e Especialista em Comunicação e Marketing
Político pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Aluna-ouvinte da
disciplina Antropologia Extramuros: Laudos e consultorias como ofício do antropólogo, ministrada
pelo professor Ugo Maia.
Ele ainda indaga que, às vezes, querer aproximar o discurso antropológico do jurídico-formal,
permite que as provas, literalmente, antropológicas sejam contaminadas pelas forças
positivistas, sendo que o exercício do antropólogo é, justamente, marcar essas diferenças.

A questão central para o autor é evitar os riscos de uma normatização dos procedimentos
periciais de um antropólogo se ancorando ao aspecto relacional. O autor é contra a imposição
de regras, através de um manual, “frigorificando” a profissão. “Levando ao limite, esse
pragmatismo é uma forma de positivismo”.(p.46).

Por ser o ato antropológico dinâmico, não há uma definição perfeita dos processos, o Código
separaria o perito-antropológico dos demais assistentes técnicos. Sendo que a perícia é um
trabalho interdisciplinar, não devendo haver esse distanciamento.

O autor levanta por isso, então, o termo ‘solidão do antropólogo’ (p.47). Porque é “por
transcender às evidências,” que “acabamos por entrar em rota de colisão com os assistentes
técnicos de outros domínios do conhecimento (...) Ao contrariar os positivistas, torna-se
inversamente a ‘prova’ do que jamais foi ou pretendia ser, reconhecendo em verdade o seu
contrário” (p.47).

Esse isolamento, é apontado por Frederik Barth como uma “forma de sobrevivência” (p.48).

Enquanto que para um geógrafo os limites de terra representam uma prova, para um
arqueólogo um artefato prova a existência de um povo e a história delimita o tempo de
existência de um objeto, a antropologia observa, por exemplo, o “conceito de território como
produto de uma construção social do próprio grupo identificado” (p.48).

“As relações sociais são dinâmicas e as sociedades também o são” (p.48), e isso é o ponto de
conflito entre o olhar do perito-antropólogo e as demais especificidades, pois a segurança dos
legisladores vem do fato de negar essa dinâmica.

“A necessidade imperiosa de obter a evidência pode acabar por complicar a própria


obviedade, posto que são negligenciados argumentos e exposições de motivos criteriosos, são
dispensadas as explicações” (p.49).

O autor finaliza criticando os prazos de perícias dos acordos instituídos pela ABA e PGR, que
além de curtos, dão prevalências a antropólogos que já atuaram nas áreas a serem periciadas,
levando então “a distinção entre etnografia e observações de natureza etnográfica” (p.49).

E, por fim, conclui que o trabalho de perícia antropológica precisa sair da naturalização do
conhecimento e coloca em mesa a questão de uma ‘proteção intelectual’ para que os
antropólogos não passem pelo risco de serem ‘inventores de áreas’. (p.50).
“Da mesma forma que classificamos a ideologia da ‘prova do fato’, somos, também,
retrucados no lugar comum de outras formações acadêmicas que talvez ainda nos vejam
como ciência menor que conspira contra as evidências” (p.50).

Bibliografia

ALMEIDA, Alfredo Wagner. B. 2008. “Peritos e perícias: novo capítulo de (des)naturalização da


Antropologia. A luta contra positivistas e contra o empirismo vulgar”. In: SILVA, Glaucia (Org.).
Antropologia extramuros: novas responsabilidades sociais e políticas dos antropólogos. Brasília:
Paralelo 15, pp. 45-50.

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