Perito e Perícia - Novo Capítulo de (Des) Naturalização Da Antropologia
Perito e Perícia - Novo Capítulo de (Des) Naturalização Da Antropologia
Perito e Perícia - Novo Capítulo de (Des) Naturalização Da Antropologia
O tema central do texto é debater sobre a noção de perícia antropológica partindo dos pontos
de vista do antropólogo e, do outro lado, sob uma perspectiva positivista, estariam o Código
de Processo Civil e o conglomerado de profissionais como geólogos, arqueólogos,
historiadores, operadores do direito, etc. O intuito é chamar a atenção para a problemática
com a normatização dos procedimentos, que assim, por parte dos legisladores e demais, reduz
a função do antropólogo, contaminando de positivismo as provas ditas, literalmente,
antropológicas.
No texto introdutório, o autor explica que já no Código de Processo Civil há uma redução da
função de antropólogo-perito a, tão somente, perito.
O autor alfineta articulando que “pelo código mencionado, o perito deve se cingir à
verificação, ao reconhecimento de um dado que existe e ‘que é’. Não lhe compete interpretar
ou relativizar possíveis evidências. E os domínios pensados como científicos para os
legisladores parecem ser aqueles correspondentes às ciências naturais.” (p.46). Ou seja,
trabalho que não seria de um antropólogo-perito, mas sim, e tão somente, a de um perito,
como, realmente, diz o Art. 145, do Código.
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Graduada em Comunicação Social - Jornalismo e Especialista em Comunicação e Marketing
Político pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). Aluna-ouvinte da
disciplina Antropologia Extramuros: Laudos e consultorias como ofício do antropólogo, ministrada
pelo professor Ugo Maia.
Ele ainda indaga que, às vezes, querer aproximar o discurso antropológico do jurídico-formal,
permite que as provas, literalmente, antropológicas sejam contaminadas pelas forças
positivistas, sendo que o exercício do antropólogo é, justamente, marcar essas diferenças.
A questão central para o autor é evitar os riscos de uma normatização dos procedimentos
periciais de um antropólogo se ancorando ao aspecto relacional. O autor é contra a imposição
de regras, através de um manual, “frigorificando” a profissão. “Levando ao limite, esse
pragmatismo é uma forma de positivismo”.(p.46).
Por ser o ato antropológico dinâmico, não há uma definição perfeita dos processos, o Código
separaria o perito-antropológico dos demais assistentes técnicos. Sendo que a perícia é um
trabalho interdisciplinar, não devendo haver esse distanciamento.
O autor levanta por isso, então, o termo ‘solidão do antropólogo’ (p.47). Porque é “por
transcender às evidências,” que “acabamos por entrar em rota de colisão com os assistentes
técnicos de outros domínios do conhecimento (...) Ao contrariar os positivistas, torna-se
inversamente a ‘prova’ do que jamais foi ou pretendia ser, reconhecendo em verdade o seu
contrário” (p.47).
Esse isolamento, é apontado por Frederik Barth como uma “forma de sobrevivência” (p.48).
Enquanto que para um geógrafo os limites de terra representam uma prova, para um
arqueólogo um artefato prova a existência de um povo e a história delimita o tempo de
existência de um objeto, a antropologia observa, por exemplo, o “conceito de território como
produto de uma construção social do próprio grupo identificado” (p.48).
“As relações sociais são dinâmicas e as sociedades também o são” (p.48), e isso é o ponto de
conflito entre o olhar do perito-antropólogo e as demais especificidades, pois a segurança dos
legisladores vem do fato de negar essa dinâmica.
O autor finaliza criticando os prazos de perícias dos acordos instituídos pela ABA e PGR, que
além de curtos, dão prevalências a antropólogos que já atuaram nas áreas a serem periciadas,
levando então “a distinção entre etnografia e observações de natureza etnográfica” (p.49).
E, por fim, conclui que o trabalho de perícia antropológica precisa sair da naturalização do
conhecimento e coloca em mesa a questão de uma ‘proteção intelectual’ para que os
antropólogos não passem pelo risco de serem ‘inventores de áreas’. (p.50).
“Da mesma forma que classificamos a ideologia da ‘prova do fato’, somos, também,
retrucados no lugar comum de outras formações acadêmicas que talvez ainda nos vejam
como ciência menor que conspira contra as evidências” (p.50).
Bibliografia