Fitoquímica e Fitoterapia - EAD

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 95

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA

PROF.A MA. NAIARA CÁSSIA GANCEDO


Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica:
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não PRODUÇÃO DE MATERIAIS
vale a pena ser vivida.”
Diagramação:
Cada um de nós tem uma grande res- Alan Michel Bariani
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, Thiago Bruno Peraro
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica
e profissional, refletindo diretamente em nossa Revisão Textual:
vida pessoal e em nossas relações com a socie- Fernando Sachetti Bomfim
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente Marta Yumi Ando
e busca por tecnologia, informação e conheci- Simone Barbosa
mento advindos de profissionais que possuam
novas habilidades para liderança e sobrevivên- Produção Audiovisual:
cia no mercado de trabalho. Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
De fato, a tecnologia e a comunicação Osmar da Conceição Calisto
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas,
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e Gestão de Produção:
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Cristiane Alves
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes
atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA

INTRODUÇÃO À FITOQUÍMICA
PROF.A MA. NAIARA CÁSSIA GANCEDO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................5
1. ROTAS BIOSSINTÉTICAS.......................................................................................................................................6
1.1 METABOLISMO VEGETAL.....................................................................................................................................6
1.2 BIOSSÍNTESE DOS METABÓLITOS SECUNDÁRIOS..........................................................................................6
2. MÉTODOS EXTRATIVOS........................................................................................................................................8
2.1 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DOS METABÓLITOS SECUNDÁRIOS......................................................................11
2.1.1 MACERAÇÃO...................................................................................................................................................... 12
2.1.2 PERCOLAÇÃO.................................................................................................................................................... 12
2.1.3 TURBÓLISE....................................................................................................................................................... 13
2.1.4 INFUSÃO............................................................................................................................................................ 14
2.1.5 DECOCÇÃO........................................................................................................................................................ 14

WWW.UNINGA.BR 3
2.1.6 EXTRAÇÃO SOB REFLUXO............................................................................................................................... 15
2.1.7 EXTRAÇÃO EM APARELHO DE SOXHLET....................................................................................................... 15
2.1.8 EXTRAÇÃO POR FLUIDOS SUPERCRÍTICOS................................................................................................. 17
2.1.9 EXTRAÇÃO LÍQUIDO/LÍQUIDO........................................................................................................................ 19
2.1.10 PURIFICAÇÃO DAS SOLUÇÕES EXTRATIVAS..............................................................................................20
2.2 OPERAÇÕES DE CONCENTRAÇÃO E SECAGEM DAS SOLUÇÕES EXTRATIVAS...........................................22
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................24

WWW.UNINGA.BR 4
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

A Unidade 1 da apostila de Fitoquímica e Fitoterapia abordará os assuntos relacionados


à investigação fitoquímica de espécies vegetais. A fitoquímica é considerada uma área da
Farmacognosia que tem como objetivo identificar os constituintes químicos de origem vegetal,
pertencentes aos principais grupos de metabólitos secundários.
Quando se pretende avaliar a composição química de uma espécie vegetal e estudos
químicos são inexistentes na literatura científica, pode-se recorrer a uma análise fitoquímica
preliminar, como a realização de testes histoquímicos ou reações químicas de caracterização dos
metabólitos secundários. Neste sentido, a disciplina de Fitoquímica e Fitoterapia abordará os
principais assuntos que fundamentam essas duas áreas da Farmacognosia, além de relembrar,
complementar e aprofundar alguns tópicos contemplados anteriormente, na disciplina de
Farmacobotânica e Farmacognosia.
Antes de iniciarmos os estudos dos ensaios clássicos utilizados na identificação
das principais classes de metabólitos secundários, assunto das Unidades 3 e 4 desta apostila,
aprenderemos, nesta unidade, as principais operações que antecedem uma análise fitoquímica.
Para isso, precisamos recordar as rotas metabólicas envolvidas na síntese dos metabólitos

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


secundários e abordar, detalhadamente, os diferentes métodos de extração utilizados na obtenção
de soluções extrativas. Por fim, veremos as operações que devem ser realizadas após o preparo da
solução extrativa, incluindo as técnicas de purificação, concentração e secagem.

WWW.UNINGA.BR 5
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. ROTAS BIOSSINTÉTICAS

1.1 Metabolismo Vegetal


Enzimas específicas participam de rotas metabólicas, produzindo, transformando ou
degradando compostos, por meio das reações enzimáticas de anabolismo, de biotransformação
ou de catabolismo, respectivamente. O produto final da reação é denominado de metabólito.
As reações acima citadas fornecem para a célula vegetal (SANTOS, 2004; KREIS; MUNKERT;
PÁDUA, 2017):

• Energia, na forma de adenosina trifosfato (ATP);


• Poder redutor, por meio de fosfato de dinucleotídeo de nicotinamida e adenina (NADPH);
• Biossíntese de macromoléculas celulares essenciais, que fazem parte do metabolismo
primário, incluindo os carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucleicos. Alguns autores
utilizam o termo metabolismo basal no lugar de metabolismo primário.
A partir dos produtos obtidos pelo metabolismo primário, os metabólitos secundários,

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


também denominados de especiais, são originados. Os metabólitos secundários são compostos de
baixa massa molecular, que apresentam propriedades biológicas interessantes, além de atuarem
na defesa contra herbívoros e microrganismos, na proteção contra a radiação ultravioleta (UV),
na atração de polinizadores, na participação de alelopatias, entre outras atividades (SANTOS,
2004; KREIS; MUNKERT; PÁDUA, 2017).

Do grego alleton (mútuo) e phatos (prejuízo), o termo alelopatia é definido como a


interação entre plantas, na qual uma compete com a outra, para assegurar o for-
necimento de água, luz e nutrientes. Tal interação pode ocorrer entre indivíduos da
mesma espécie (PIRES; OLIVEIRA, 2011).

1.2 Biossíntese dos Metabólitos Secundários


Os metabólitos secundários são originados a partir de produtos do metabolismo primário.
Segundo Santos (2004), as rotas metabólicas dos metabólitos secundários podem ser ativadas
em determinados estágios ou fases específicas do desenvolvimento da planta e, em períodos de
estresse, devido à escassez de nutrientes ou pelo ataque de microrganismos.
Os metabólitos secundários apresentam uma grande variabilidade química, podendo
apresentar distribuição restrita e variarem de espécie para espécie (SANTOS, 2004; KREIS;
MUNKERT; PÁDUA, 2017).

WWW.UNINGA.BR 6
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A síntese dos metabólitos secundários pode ser considerada constante e inva-


riável? Não! Vários são os fatores que interferem na proporção dos metabólitos
secundários, sendo sua síntese afetada por diversas alterações das condições
ambientais.

Para mais informações a respeito dos fatores que influenciam no


conteúdo de metabólitos secundários em plantas, acessar o artigo:

GOBBO-NETO, L.; LOPES, N. P. Plantas medicinais: fatores de


influência no conteúdo de metabólitos secundários. Química Nova,
[s. l.], v. 30, n. 2, p. 374-381, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.
br/pdf/qn/v30n2/25.pdf>.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


A partir da degradação da glicose, tem-se a origem dos metabólitos secundários, via dois
intermediários: o ácido chiquímico (via do chiquimato) e o acetato (via do acetil-CoA ou acetil-
coenzima A). O ácido chiquímico origina os aminoácidos aromáticos (triptofano, fenilalanina
e tirosina), precursores de grande parte dos metabólitos secundários aromáticos. Alguns
metabólitos secundários são originados pela combinação de uma unidade de ácido chiquímico e
uma ou mais unidades de acetato ou derivados. Já os derivados do acetato podem ser originados
pelas vias do ciclo do ácido cítrico, via do mevalonato e pela condensação do acetato (SANTOS,
2004; KREIS; MUNKERT; PÁDUA, 2017).
Os metabólitos secundários podem estar na forma livre, neste caso, são denominados
agliconas (geninas), ou podem estar ligados a unidades de açúcar, constituindo os heterosídeos.
A Figura 1 descreve as diferentes classes de metabólitos secundários, sintetizados a partir da
degradação da glicose pela via do chiquimato, acetil-CoA ou pela combinação de ambas
(SANTOS, 2004).

WWW.UNINGA.BR 7
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


Figura 1 - Ciclo biossintético dos metabólitos secundários. Fonte: Adaptado de Santos (2004).

Algumas etapas devem ser realizadas antes de iniciarmos uma análise fitoquímica,
incluindo a coleta, limpeza, seleção, estabilização, secagem, moagem da matéria-prima e, por fim,
a extração das substâncias químicas de interesse, por meio da utilização de diferentes métodos
extrativos (SONAGLIO et al., 2004; BASSANI; PETROVICK, 2017).

2. MÉTODOS EXTRATIVOS

O termo “extrair” significa remover de forma completa e seletiva as substâncias ativas


presentes na droga vegetal, com o auxílio de um solvente ou mistura de solventes, tecnologicamente
apropriados. O produto final da extração é a solução extrativa (SONAGLIO et al., 2004; BASSANI;
PETROVICK, 2017).
Em um método extrativo, os líquidos escolhidos devem apresentar (SONAGLIO et al.,
2004; BASSANI; PETROVICK, 2017):

WWW.UNINGA.BR 8
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

• Propriedades extrativas, relacionadas com a eficiência e seletividade na qual o líquido


extrator consegue dissolver as substâncias de interesse, à temperatura ambiente;
• Adequação tecnológica, que se refere à facilidade com a qual o líquido extrator é eliminado,
seja da solução extrativa ou do produto final. A adequação tecnológica depende de
características do solvente, como ponto de ebulição, formação de misturas azeotrópicas,
inflamabilidade ou corrosão;
• Inocuidade fisiológica, relacionada com a toxicidade do líquido extrator, devendo este
ser totalmente eliminado do produto final, ou até os limites máximos de concentração
permitidos.

Uma mistura azeotrópica ocorre quando dois líquidos apresentam um único ponto
de ebulição, quando estão misturados, se comportando como uma substância
pura, mantendo a temperatura de ebulição constante. Um exemplo de mistura aze-
otrópica é o álcool etílico, composto de 95,5% de etanol e 4,5% de água (SOUZA,
2020). Outros exemplos incluem as misturas de acetato de etila: água (98,7: 1,3,
v/v), acetato de etila: etanol (69 :31, v/v), etanol: acetato de etila (30,6: 69,4, v/v),

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


éter etílico: etanol (40:60, v/v) (SONAGLIO et al., 2004).

A água é considerada um dos líquidos extratores mais utilizados na extração de substâncias


hidrofílicas, como aminoácidos, açúcares, alcaloides na forma de sal, saponinas, flavonoides,
mucilagens, ou seja, substâncias polares, miscíveis em água. O Quadro 1 contempla diferentes
líquidos extratores utilizados na extração de drogas vegetais, incluindo exemplos de utilização
(SONAGLIO et al., 2004).

WWW.UNINGA.BR 9
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

LÍQUIDO EXTRATOR EXEMPLOS DE UTILIZAÇÃO

Hidrocarbonetos Éter de petróleo Extração de substâncias altamente lipofílicas, lipídeos


alifáticos e óleos voláteis, imiscíveis com água e misturas
n-hexano hidroalcóolicas.

Hidrocarbonetos Clorofórmio* Extração de substâncias lipofílicas, óleos fixos, ceras,


halogenados agliconas, sapogeninas, alcaloides na forma de base livre,
Diclorometano imiscíveis com água.

Éter etílico

Metanol Extração de agliconas, ceras, sapogeninas, iridoides,


sesquiterpenos e heterosídeos em geral. Miscível com água
Etanol** em todas as proporções.
Álcoois

Acetona*** Agiconas, ceras, sapogeninas, iridoides, sesquiterpenos.

Acetato de etila Agliconas, ceras, sapogeninas, iridoides, sesquiterpenos.


Imiscível com a água.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


Quadro 1 - Principais características dos líquidos utilizados na extração de drogas vegetais. *Devido à sua toxicidade
e impacto ambiental, o clorofórmio tem sido substituído pelo diclorometano, evitando-se o uso de solventes clora-
dos. **O etanol forma mistura azeotrópica com água; o metanol, não. *** A acetona é miscível em água em todas as
proporções e não forma mistura azeotrópica com água. Fonte: Adaptado de Sonaglio et al. (2004).

A extração e dissolução das substâncias de interesse pelo líquido extrator envolvem


algumas etapas importantes, incluindo:

• Intumescimento da droga vegetal pelo líquido extrator;


• Dissolução das substâncias de interesse pelo líquido extrator;
• Saída das substâncias dissolvidas do meio intracelular por difusão ou lixiviação.
Na difusão, tem-se a passagem das substâncias do meio intracelular para o extracelular. Já
a lixiviação consiste na “lavagem” e dissolução das substâncias dispersas no meio extrativo, após
a célula vegetal sofrer lise.
Dentre os fatores relacionados com a matéria-prima e líquido extrator, que interferem na
eficiência extrativa e que devemos levar em consideração antes da escolha do método extrativo,
tem-se (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004):

• Características relacionadas com o material vegetal, como grau de divisão e consistência


do órgão vegetal. Partículas pequenas apresentam maior superfície de contato e,
consequentemente, maior interação com o líquido extrator. O grau de divisão do material
vegetal depende do tipo de moinho utilizado na etapa de cominuição/moagem. Além
disso, a consistência dos tecidos que constituem a droga vegetal interfere no poder de
penetração do líquido extrator, quanto mais rígido for o material, como raízes e caules,
menor deve ser a granulometria. Folhas e flores apresentam textura mais delicada,
podendo apresentar um tamanho de partícula maior.

WWW.UNINGA.BR 10
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

• Seletividade do líquido extrator, extraindo apenas as substâncias de interesse. A


seletividade está relacionada com a polaridade. Dessa forma, substâncias de caráter
polar devem ser extraídas com solventes polares, e substâncias apolares, com solventes
apolares. Quando a composição química do material vegetal é desconhecida, deve-se
optar pela extração fracionada, ou seja, realizar sucessivas extrações, utilizando solventes
de polaridade crescente, até que o solvente ou mistura de solventes sejam definidos.
• pH do líquido extrator.
A escolha do solvente é um ponto importante, principalmente quando se pretende
extrair um grupo específico de metabólito secundário e mantê-lo estável durante toda a extração.
Alguns fatores que influenciam a eficiência do processo extrativo e que devem ser levados em
consideração, incluem (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004):

• Presença ou ausência de agitação. A agitação facilita o contato das substâncias com o


líquido extrator, reduzindo o tempo de extração.
• Temperatura de extração. O aumento da temperatura leva ao aumento da solubilidade das
substâncias, reduzindo o tempo de extração, quando comparado com métodos realizados
à temperatura ambiente. Entretanto, deve-se ter cautela ao utilizar aquecimento, pois
muitas substâncias são termolábeis, podendo ser degradadas em altas temperaturas.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


• Tempo de extração. O tempo de extração sofre influência da consistência e grau de divisão
do material vegetal, do tipo de solvente e substância a ser extraída, do emprego ou não de
temperatura e/ou agitação.
A composição química de drogas vegetais é extremamente complexa e, frequentemente,
ocorre a extração concomitante de várias substâncias, sejam ativas ou não, de interesse ou não.
Primeiramente, devemos definir qual substância ou grupo de substâncias desejamos extrair e,
após isso, considerar todos os fatores descritos acima, incluindo a disponibilidade dos meios
e custos, o solvente mais adequado e vantajoso, para finalmente definirmos o melhor método
extrativo (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

2.1 Métodos de Extração dos Metabólitos Secundários


Os métodos extrativos podem ser divididos de acordo com o estado do material vegetal
em líquido/líquido, sólido/líquido; a frio ou a quente, devido ao uso ou não de temperatura; em
sistemas abertos ou fechados e, quanto à eficiência, em parciais ou exaustivos. A exaustão, ou seja,
esgotamento das substâncias de interesse presentes no material vegetal depende da metodologia
utilizada, do tempo de contato da planta com o líquido extrator e dos fatores que aumentam a
eficiência da extração como, por exemplo, a renovação do solvente com o objetivo de evitar a
saturação do meio (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004; SONAGLIO et al., 2004; BASSANI;
PETROVICK, 2017).
As metodologias de extração sólido/líquido incluem a maceração, a percolação, a
turbólise/turbolização/turbo-extração, a infusão, a decocção, a extração sob refluxo e em aparelho
de Soxhlet. As metodologias de extração líquido/líquido podem ser divididas em contínuas ou
descontínuas. A extração por fluidos supercríticos será descrita separadamente e a extração de
óleos essenciais será abordada na Unidade 3 desta apostila. A seguir, discutiremos com mais
detalhes as metodologias de extração mencionadas (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004;
SONAGLIO et al., 2004; BASSANI; PETROVICK, 2017).

WWW.UNINGA.BR 11
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.1.1 Maceração

A maceração é um método de extração parcial, sólido/líquido, realizada à temperatura


ambiente em recipiente fechado, durante um período de horas ou dias, sob agitação ocasional
e sem renovação do líquido extrator. Pode ser usada para finalidade analítica (pequena escala,
para controle de qualidade ou análises fitoquímicas) ou tecnológica (obtenção de uma forma
farmacêutica final). É considerado um método parcial de extração, pois a não renovação do
solvente leva à saturação do líquido extrator, estabelecendo um equilíbrio difusional entre o
meio intracelular e o meio extrator. Consequentemente, a extração não leva ao esgotamento dos
constituintes de interesse (SONAGLIO et al., 2004; REGINATTO, 2017).
De acordo com definição presente na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 26 de
2014 (BRASIL, 2014), quando o líquido extrator da maceração for a água, é denominada chá
medicinal. Com o objetivo de aumentar a eficiência de extração, existem algumas variações dessa
operação (SONAGLIO et al., 2004):

• Digestão: é um tipo de maceração realizada em sistema com o uso de temperaturas entre


40-60 °C;
• Maceração dinâmica: é a maceração realizada sob agitação mecânica constante;

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


• Remaceração: consiste em repetir a operação, mantendo o mesmo material vegetal e
renovando o solvente.
Na maceração, a quantidade, a natureza, o tamanho de partícula, a capacidade de
intumescimento e o teor de umidade do material vegetal; a quantidade e a seletividade do líquido
extrator; e as condições do sistema, como proporção entre droga vegetal e líquido extrator, o
uso de temperatura, agitação e o tempo de extração são fatores que influenciam na eficiência do
método extrativo, assim como nos demais métodos (SONAGLIO et al., 2004).
As substâncias presentes em drogas vegetais e que não possuem uma estrutura celular,
como gomas, são as mais indicadas para serem extraídas por maceração. Tal metodologia também
é empregada no preparo de tinturas, como as tinturas-mães utilizadas em homeopatia. Os líquidos
extratores mais utilizados são o etanol e misturas hidroetanólicas. Contudo, deve-se ter cautela
em relação à quantidade da água utilizada em misturas hidroetanólicas. Porcentagens altas de
água podem favorecer a contaminação e o crescimento de microrganismos, não sendo indicado
o uso de misturas com concentrações etanólicas inferiores a 20% na maceração (SONAGLIO et
al., 2004).

2.1.2 Percolação

A percolação é um método de extração exaustivo, sólido/líquido, realizado à temperatura


ambiente, em recipiente metálico cônico ou cilíndrico, denominado percolador, com renovação
constante do líquido extrator. Possui finalidade tecnológica e o produto obtido é denominado
percolado. Na percolação, o líquido extrator escolhido é feito passar pelo material vegetal
cominuído e acondicionado no percolador (Figura 2) (SONAGLIO et al., 2004).

WWW.UNINGA.BR 12
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 2 – Representação esquemática de um percolador. Fonte: Sonaglio et al. (2004).

A percolação é dividida em dois tipos: a simples e a fracionada. Na percolação simples,


primeiro realiza-se o intumescimento da droga vegetal com o líquido extrator, antes de
adicioná-la no percolador. Após, espera-se de1 a 2 horas para realização da etapa mais crítica:

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


o empacotamento do percolador com a droga vegetal intumescida, de forma homogênea e não
muito compacta. Fatores como a qualidade do empacotamento, tamanho do percolador e fluxo
do solvente influenciam na eficiência da operação. Devem-se evitar partículas com granulometria
inferior a 1 mm, pelo fato de provocarem uma compactação excessiva, dificultando a passagem
do solvente, diminuindo o fluxo e a eficiência do método. O volume elevado de líquido extrator
requerido para esgotar o material vegetal é uma das desvantagens da percolação simples. Para
contornar esse problema, pode-se optar pelo uso de um sistema de percoladores em série
interconectados, sendo denominado de percolação em série ou sequencial (SONAGLIO et al.,
2004; REGINATTO, 2017).
Na percolação fracionada, as duas ou três primeiras frações de percolado, que contêm
de 75 a 80% das substâncias extraíveis, são separadas das demais frações. As últimas frações
são concentradas ou o volume final é ajustado, como na obtenção dos extratos fluidos. A
percolação é considerada uma operação dinâmica, sendo indicada para a extração de compostos
farmacologicamente muito ativos, presentes em baixa concentração na droga vegetal ou pouco
solúveis e quando o custo da matéria-prima é elevado (SONAGLIO et al., 2004; REGINATTO,
2017).

2.1.3 Turbólise

A turbólise ou turbolização, também denominada turbo-extração, é um método de


extração sólido-líquido, realizado à temperatura ambiente, que quase leva à exaustão, porém
não é considerado um método exaustivo. Possui fins analíticos e tecnológicos, podendo ser
utilizado em pequena e média escala. A quase exaustão do material vegetal ocorre pelo fato
de essa operação permitir a extração das substâncias de interesse com simultânea redução do
tamanho de partícula, devido às elevadas forças de cisalhamento geradas pelo rotor-estator que
trabalha em altas rotações por minuto (5000 a 25000 rpm). A redução do tamanho das partículas
e o rompimento das células aumentam o contato com o líquido extrator, favorecendo a rápida
dissolução das substâncias (SONAGLIO et al., 2004).

WWW.UNINGA.BR 13
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 3 – Representação esquemática do sistema rotor-estator de um turbolizador (A). Turbolizador de pequena


escala, modelo Ultra-turrax IKA T25 (B). Fonte: Sonaglio et al. (2004) e Ika (2020).

Apesar de a turbólise ser um método eficiente, rápido e versátil, ela apresenta algumas
desvantagens. A diminuição do tamanho das partículas dificulta a separação da solução extrativa
do resíduo vegetal por filtração. Além disso, tem-se a geração de calor durante a operação, devido
às elevadas rotações por minuto do rotor-estator do aparelho, sendo necessária a realização de
pausas, com o objetivo de manter a temperatura inferior a 40 ºC e evitar a degradação de compostos

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


termolábeis. Deve-se evitar o uso de materiais de alta dureza e líquidos voláteis (SONAGLIO et
al., 2004; REGINATTO, 2017).

2.1.4 Infusão

A infusão é um método de extração parcial, sólido/líquido, com finalidade analítica e


tecnológica, quando para uso próprio, com uso de aquecimento e realizada em sistema aberto.
Pelo fato de utilizar somente água como líquido extrator, também é denominado chá medicinal,
como definido na RDC n° 26 de 2014 (BRASIL, 2014).
O método consiste em verter água potável fervente sobre o material vegetal e, em seguida,
tampar ou abafar o recipiente por um período de tempo determinado, em torno de 15 minutos.
A extração ocorre durante o tempo de permanência da planta em água fervente. Para facilitar
o processo de extração, o material deve ser cortado ou pulverizado (FALKENBERG; SANTOS;
SIMÕES, 2004).
A infusão é um método indicado para partes vegetais de consistência menos rígidas,
como folhas, flores, inflorescências, frutos e para compostos que apresentem boa solubilidade
em água. Tem as vantagens de ser considerado um método rápido, fácil e barato, além de poder
ser utilizado em plantas com substâncias ativas voláteis, porém possui como desvantagem a
utilização somente de água como líquido extrator (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

2.1.5 Decocção

A decocção é um método de extração parcial, sólido/líquido, com finalidade analítica e


tecnológica, quando para uso próprio, com uso de aquecimento, realizada em sistema aberto e
também é denominada chá medicinal de acordo com a RDC n° 26 de 2014 (BRASIL, 2014).
O método consiste na ebulição da droga vegetal juntamente com água potável por tempo
determinado, aproximadamente 15 minutos. Para facilitar o processo de extração, o material
deve ser cortado ou pulverizado (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

WWW.UNINGA.BR 14
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A decocção é um método restrito para drogas vegetais com consistência rígida, como
cascas, raízes, rizomas, caules, sementes e folhas coriáceas. Tem a vantagem de ser um método
rápido, fácil e barato, porém suas desvantagens incluem o uso exclusivo de água como solvente
extrator e o fato de ser um método não recomendado para substâncias ativas voláteis e termolábeis
(FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

2.1.6 Extração sob refluxo

A extração sob refluxo é um método de extração parcial, sólido/líquido, com finalidade


analítica, uso de aquecimento e realizada em sistema fechado (FALKENBERG; SANTOS;
SIMÕES, 2004).
O método consiste em adicionar a droga vegetal juntamente com o líquido extrator em
um balão de vidro com fundo redondo, aquecido com manta de aquecimento e acoplado com
um condensador de refluxo. Dessa forma, o solvente evaporado durante o processo de ebulição
condensa e retorna ao sistema, continuando o processo de extração, até que ocorra a saturação
do meio (Figura 4) (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


Figura 4 – Sistema de refluxo (A). Manta aquecedora (B). Fonte: UFOP (2020) e Chemical Center (2020).

Esse método apresenta a vantagem de permitir a utilização de solventes voláteis, devido à


presença do condensador de refluxo. Pelo fato de a amostra permanecer sob aquecimento durante
todo o processo, deve-se ter cuidado com substâncias termolábeis, sendo esta uma desvantagem
da metodologia de extração sob refluxo (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

2.1.7 Extração em aparelho de Soxhlet

A extração em aparelho de Soxhlet é um método altamente eficiente e que pode levar


à exaustão dependendo do número de ciclos realizados. É um método sólido/líquido, com
finalidade analítica e uso de aquecimento, realizada em sistema fechado (FALKENBERG;
SANTOS; SIMÕES, 2004).
O método consiste em adicionar no extrator de Soxhlet a droga vegetal acondicionada
em um cartucho confeccionado de papel filtro. O líquido extrator é adicionado em balão de vidro
com fundo redondo, localizado na parte inferior do extrator de Soxhlet e aquecido com manta
aquecedora. O condensador de refluxo é conectado na parte superior do extrator de Soxhlet
(FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019).

WWW.UNINGA.BR 15
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Dessa forma, o solvente, ao atingir a temperatura de ebulição, evapora e, ao entrar em


contato com o condensador de refluxo, condensa, retornando ao extrator de Soxhlet. O solvente,
agora em contato com a droga vegetal, extrai as substâncias e origina a solução extrativa. Quando
a solução extrativa preenche todo o extrator de Soxhlet e ultrapassa um volume específico, ela
escoa e retorna para o balão de fundo redondo, completando um ciclo de extração. Pelo fato de
a solução extrativa ser uma mistura das substâncias extraídas com o líquido extrator, este pode
evaporar, condensar e retornar ao extrator de Soxhlet, originando mais ciclos de extração. Dessa
forma, a cada ciclo da operação, o material vegetal entra em contato com o líquido extrator
renovado, o que explica a alta eficiência extrativa do método (Figuras 5 e 6) (FALKENBERG;
SANTOS; SIMÕES, 2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


Figura 5 – Aparelho de Soxhlet. Balão de fundo redondo (A). Extrator Soxhlet (B). Condensador de refluxo (C).
Fonte: Farmacopeia Brasileira (2019).

Figura 6 - Esquema de extração de óleos essenciais pelo aparelho Soxhlet. Fonte: Gastaldi (2010) apud Porto e Rosa
(2018).

WWW.UNINGA.BR 16
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Dependendo do número de ciclos realizados, pode-se atingir o esgotamento da droga


vegetal. Contudo, deve-se ter a precaução de não manter por muito tempo a solução extrativa,
presente no interior do balão, em contato com a manta aquecedora, pois a temperatura necessária
para a ebulição do solvente pode ocasionar a degradação dos compostos termolábeis, constituindo
uma desvantagem. A vantagem da extração em aparelho de Soxhlet é o fato de o método permitir
o emprego de uma quantidade reduzida de solvente, quando comparado com os demais métodos
extrativos (FALKENBERG; SANTOS; SIMÕES, 2004).

Uma demonstração da extração por Soxhlet, incluindo a montagem


do equipamento e introdução da amostra, pode ser vista no vídeo:

UNIVERSITY OF YORK. Soxhlet extraction. 2015. 1 vídeo. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=tUDdkU2Of4s>. Acesso
em: 24 mar. 2020.

2.1.8 Extração por fluidos supercríticos

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


A extração por fluidos supercríticos é um método de extração eficiente, exaustivo, sólido/
líquido ou líquido/líquido, com finalidade tecnológica e utilizado em escala industrial (MAUL;
WASICKY; BACCHI, 1996).
O método consiste em acondicionar o material a ser extraído em um recipiente cilíndrico
com base porosa, que será colocado na câmara de extração (extrator). Selecionam-se a temperatura
e pressão ideais do material a ser extraído. O gás supercrítico é liberado, circulando pela câmara
de extração, dissolvendo e extraindo as substâncias de interesse do material. Ao completar o ciclo
de extração, a solução extrativa é encaminhada para o separador, onde a pressão é mantida abaixo
do ponto crítico. À medida que a pressão diminui, o gás carbônico retorna ao estado gasoso,
perdendo as suas propriedades de solvatação. O soluto precipitado é recolhido, constituindo o
produto da operação (Figura 7) (MAUL; WASICKY; BACCHI, 1996; BASSANI; PETROVICK,
2017).

Figura 7 - Fluxograma de um esquema de extração por fluido supercrítico. Fonte: Maul, Wasicky e Bacchi (1996).

WWW.UNINGA.BR 17
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O gás de escolha na extração por fluido supercrítico normalmente é o dióxido de carbono


(CO2). Isso ocorre devido a sua menor temperatura crítica (31,04 °C) e pressão crítica (73,8 bar),
necessárias para atingir seu ponto crítico, quando comparado com outros gases ou líquidos
(MAUL; WASICKY; BACCHI, 1996; BASSANI; PETROVICK, 2017).
O dióxido de carbono ou gás carbônico tem a vantagem de ser um gás inerte, não
oferecendo risco de reações de hidrólise, oxidações, reduções ou explosões. Além disso, é
considerado seguro, não poluente e não tóxico. Uma desvantagem é o fato de o gás carbônico ser
indicado para a extração de compostos lipofílicos, não solubilizando substâncias polares, como
açúcares, proteínas e aminoácidos (MAUL; WASICKY; BACCHI, 1996).
Quando a matéria-prima utilizada está no estado sólido, antes de ser acondicionada
no cilindro extrator, ela pode ser triturada ou moída, para facilitar o processo de extração. Já
na extração de materiais líquidos, tem-se uma coluna de extração líquido-líquido no lugar do
extrator. A amostra é injetada para dentro da coluna, sendo extraída por um fluxo contracorrente
de gás carbônico (MAUL; WASICKY; BACCHI, 1996).
A extração de amostras líquidas por fluido supercrítico é indicada para uma grande
variedade de substâncias, como óleos essenciais, sucos de frutas, na desodorização de óleos fixos,
entre outras. Além disso, a extração por fluido supercrítico permite a obtenção de produtos que
representam organoléptica e quimicamente a amostra inicial; permite o isolamento, remoção
e concentração de metabólitos vegetais, podendo ser utilizada na indústria farmacêutica, de
alimentos, cosmética, entre outras (MAUL; WASICKY; BACCHI, 1996).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


As vantagens da extração por fluido supercrítico é a de que os solventes utilizados são
gasosos a pressão normal e temperatura ambiente, permitindo, após a extração, a eliminação dos
resíduos da extração e dos produtos obtidos, podendo ser recuperado e reutilizado; são gases
fisiologicamente seguros e inertes; podem-se utilizar baixas temperaturas de extração, preservando
as substâncias termolábeis; a adição de cossolventes orgânicos aumenta a solubilidade, podendo
alterar a polaridade dos gases; o gás carbônico é inerte e não inflamável, tem o menor custo
após a água e permite a extração de compostos apolares até de polaridade média, desde que
estejam livres de umidade. A principal desvantagem desse método de extração é o alto custo do
equipamento e a limitada polaridade dos fluidos extratores, não sendo indicada para compostos
polares e produtos de baixo valor agregado e baixo rendimento (MAUL; WASICKY; BACCHI,
1996; BASSANI; PETROVICK, 2017).

O que é um fluido supercrítico? Quando se mantém a temperatura constante de


um gás, observa-se que um aumento da pressão ocasiona redução do seu volume,
até que esse gás atinja um ponto de liquefação, ocorrendo diminuição do volume,
sem aumento da pressão, até o término da liquefação. Ao se utilizar temperaturas
mais elevadas, observa-se uma diminuição do ponto inicial e final de liquefação.
Ao atingir a temperatura crítica do gás, observa-se a ausência de liquefação. A
temperatura crítica é específica para cada gás e, abaixo dessa temperatura, o
estado líquido pode existir. Já acima do ponto crítico de um gás, este se torna
supercrítico. Tecnicamente, no uso de temperatura acima do ponto crítico, tem-se
um gás e abaixo um líquido. Em pressões acima do ponto crítico, tem-se um fluido
supercrítico. Para obtenção do fluido supercrítico, ambos, temperatura e pressão,
devem estar acima do ponto crítico.

WWW.UNINGA.BR 18
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As vantagens de um fluido supercrítico é possuir características físicas de um gás


e um líquido, apresentando compressibilidade semelhante a um gás e dissolvendo
solutos como um líquido. Um fluido supercrítico, mantido a alta densidade, possui
a capacidade de dissolver diversos materiais (MAUL; WASICKY; BACCHI, 1996).

Uma revisão sobre a extração por fluido supercrítico pode ser vista
no vídeo:

NATEX PROZESS TECHNOLOGIE. Natex supercritical fluid


extraction process. 2011. 1 vídeo. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=4WY8Z-yw6YU>. Acesso em: 24 mar. 2020.

2.1.9 Extração líquido/líquido

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


A extração líquido/líquido pode ser realizada de forma contínua ou descontínua. Na
extração descontínua, utilizam-se dois solventes imiscíveis, adicionados em um funil de separação.
Ao realizar a agitação do funil, o soluto é dissolvido pelo solvente de maior afinidade, ocorrendo
a separação de acordo com a diferença de solubilidade dos compostos nos dois solventes. Após
a extração, a fase mais densa é recolhida primeiro. A extração líquido/líquido descontínua é
indicada quando existe uma grande diferença de solubilidade das substâncias presentes na
amostra com os solventes utilizados, ou seja, grande coeficiente de distribuição (KD) (Figura 8).

Figura 8 – Extração líquido/líquido descontínua. Fonte: UFSC (2020).

WWW.UNINGA.BR 19
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O coeficiente de distribuição (KD), também denominado coeficiente de partição (KP),


é a constante de equilíbrio para a solubilidade de uma substância em dois solventes imiscíveis.
Mesmo quando o coeficiente de distribuição for alto, é aconselhada a realização de extrações
múltiplas, em vez de uma única extração, aumentando a eficiência do método.
Diferentemente da extração líquido/líquido descontínua, na extração líquido/líquido
contínua, um solvente orgânico passa continuamente sobre a solução que contém o soluto,
dissolvendo e levando parte desse soluto até o balão de aquecimento. Ao atingir o ponto de
ebulição do solvente presente no balão, este evapora, condensa e extrai mais substâncias, fazendo
com que estas se concentrem no balão de aquecimento. A extração líquido/líquido contínua é
indicada quando a diferença de solubilidade da amostra com os dois solventes é pequena, ou seja,
baixo valor de coeficiente de distribuição.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


Figura 9 – Extração líquido/líquido contínua. Fonte: UFSC (2020).

2.1.10 Purificação das soluções extrativas

Como anteriormente mencionado, a solução extrativa constitui o produto final da


extração. Após a obtenção da solução extrativa, esta deve passar pela operação de purificação,
com o objetivo de separar a solução extrativa dos resíduos vegetais e material em suspensão
(SONAGLIO et al., 2004).
A purificação das soluções extrativas pode ser realizada pelas operações de sedimentação,
decantação, centrifugação e filtração. A sedimentação é um processo de separação de misturas
heterogêneas de duas ou mais fases, que se assemelha à operação de decantação, por apresentar
o mesmo princípio. A operação consiste em deixar uma mistura em repouso, até que ocorra,
pela força da gravidade e diferença de densidade, a separação das fases. Dessa forma, a fase mais
densa ficará depositada no fundo e a menos densa na superfície. Após isso, o recipiente pode ser
vertido, cuidadosamente, para remover os componentes de cada fase (Figura 10) (QUEVEDO,
2020).

WWW.UNINGA.BR 20
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 10 - Processo de separação de mistura envolvendo sedimentação, decantação e sifonação. Fonte: Brasil Es-
cola (2020).

A sedimentação e decantação são consideradas operações lentas, devido ao fato de


a separação das fases ocorrer pelo uso da força da gravidade. Uma alternativa é a utilização
da centrifugação, método mais rápido de separação de misturas, pelo fato de o processo de

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


sedimentação ocorrer pela força centrífuga aplicada ao sistema (QUEVEDO, 2020). Quando
a sedimentação e a filtração são inviáveis, a centrifugação de soluções extrativas é a operação
de escolha em nível industrial, devido ao fato de as partículas presentes na solução extrativa
possuírem tamanho muito pequeno ou pela viscosidade do sistema (SONAGLIO et al., 2004).
A sedimentação e a decantação são operações preliminares, que normalmente antecedem
a centrifugação ou a filtração. A operação de filtração pode ter caráter de operação preliminar
ou terminal. Na operação de filtração preliminar, ocorre o processo de clarificação, ou seja, uma
separação grosseira, por meio do uso de septos porosos de metal, porcelana, vidro, tecido ou
papel. Já na filtração terminal, são utilizados filtros de profundidade e septos de vidro sinterizado,
com o objetivo de obter soluções límpidas. Os fatores que influenciam a velocidade da operação
de filtração incluem (SONAGLIO et al., 2004):

• A massa dos sólidos em suspensão;


• A viscosidade da solução extrativa;
• Características do solvente utilizado na extração;
• Temperatura do sistema;
• Tamanho de partícula;
• Tipo de superfície;
• Velocidade de vazão da solução extrativa;
• O uso de pressão positiva ou negativa. Um exemplo é o uso de funil de Buchner conectado
ao Kitassato e este a uma bomba de vácuo, caracterizando a filtração a vácuo (Figura 11).

WWW.UNINGA.BR 21
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 11 - Representação do grupo de materiais necessários para realizar a filtração a vácuo. Fonte: Mundo Edu-
cação (2020).

O uso de papel filtro constitui um sistema de filtração por superfície, enquanto que o
algodão é considerado uma filtração por profundidade (SONAGLIO et al., 2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


2.2 Operações de Concentração e Secagem das Soluções Extrativas
Dependendo da forma farmacêutica final, as soluções extrativas purificadas precisam ser
concentradas. A concentração pode ser realizada em um rotaevaporador (Figura 12). A operação
de concentração tem como objetivo principal a eliminação parcial ou total do líquido extrator
presente na solução extrativa, levando-se em consideração a forma farmacêutica que se pretende
obter. Com essa operação é possível a obtenção de um produto intermediário do concentrado,
com viscosidade e consistência variáveis. Tal produto deve ser compatível com as exigências
técnicas relacionadas à finalidade do seu uso (SONAGLIO et al., 2004).

Figura 12 – Rotaevaporador. Fonte: Splabor (2020).

Na secagem, ocorre a eliminação do líquido extrator até valores residuais. A eficiência


do método depende das características do líquido, do princípio da técnica e do equipamento
utilizado.

WWW.UNINGA.BR 22
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As principais técnicas de secagem baseiam-se na utilização de calor, acoplado ou não a sistemas de


redução da pressão. Entre as técnicas mais conhecidas, pode-se citar a evaporação por aspersão,
por formação de filme, e a evaporação sob vácuo (SONAGLIO et al., 2004).
Um exemplo de secagem que não se baseia no uso de calor é a liofilização. Na liofilização,
a amostra é previamente congelada. No equipamento, o solvente presente na amostra,
obrigatoriamente a água, está no estado sólido. Devido ao uso de vácuo no sistema, a água passa
do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo estado líquido, ou seja, sublima. A água no estado
gasoso entra em contato com a serpentina do aparelho e, devido a baixas temperaturas, inferiores
a 0 °C, a água retorna para o estado sólido, sem passar pelo líquido, ocorrendo novamente o
processo de sublimação, finalizando a secagem da amostra. As amostras secas por liofilização
não apresentam tamanhos e formas homogêneas; além disso, a técnica é mais utilizada em escala
laboratorial (SONAGLIO et al., 2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1


Figura 13 – Liofilizador. Fonte: DHGATE (2020).

Uma forma de secagem e obtenção de partículas homogêneas, com tamanho definido, é o


uso da secagem em torre de aspersão ou Spray-drying. O equipamento de Spray-drying tem como
princípio de secagem o aumento da superfície da solução, suspensão ou emulsão a secar, por
intermédio de sua capacidade de aspersão e aumento da área de contato com o fluido de secagem.
É considerada uma técnica de secagem mais versátil, pois permite a utilização em pequena, média
e larga escala (SONAGLIO et al., 2004).

Figura 14 – Aparelho de Spray-drying, modelo B-290. Fonte: Buchi (2020).

A escolha de determinada técnica, dentre as mencionadas, dependerá da massa líquida


a ser eliminada da amostra por unidade de tempo, das características do líquido extrator ou
mistura de líquidos presentes na solução extrativa, além do custo da operação (SONAGLIO et
al., 2004).

WWW.UNINGA.BR 23
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Unidade 1 da apostila de Fitoquímica e Fitoterapia relembrou e complementou alguns


conceitos, definições e assuntos abordados na disciplina de Farmacobotânica e Farmacognosia,
como os conteúdos relacionados à biossíntese de metabólitos secundários.
Em adição, esta unidade proporcionou ao aluno uma aprendizagem detalhada dos
diferentes métodos extrativos empregados na produção de soluções extrativas. Vimos que os
diferentes métodos de extração abordados objetivam remover, de forma mais seletiva e eficiente
possível, os constituintes de interesse da matéria-prima vegetal e que as soluções extrativas
podem possuir finalidade analítica, quando se pretende realizar o controle de qualidade, análises
qualitativas e quantitativas dos metabólitos secundários; ou fins tecnológicos, quando o objetivo
é a obtenção de produtos farmacêuticos, ou seja, um fitoterápico.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 1

WWW.UNINGA.BR 24
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

02
DISCIPLINA:
FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA

FUNDAMENTOS EM CROMATOGRAFIA
PROF.A MA. NAIARA CÁSSIA GANCEDO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................26
1. PRINCÍPIOS BÁSICOS EM CROMATOGRAFIA.................................................................................................... 27
1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS EM CROMATOGRAFIA.............................................................................................. 27
1.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS..................................................................................28
1.3 TERMOS COMUNS EM CROMATOGRAFIA....................................................................................................... 31
1.4 CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM COLUNA CLÁSSICA.......................................................................................33
1.4.1 PREPARO DA AMOSTRA..................................................................................................................................36
1.4.2 APLICAÇÃO DA AMOSTRA...............................................................................................................................38
1.5 CROMATOGRAFIA LÍQUIDA DE ALTA EFICIÊNCIA (CLAE)..............................................................................38
1.6 CROMATOGRAFIA GASOSA (CG).......................................................................................................................40
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................42

WWW.UNINGA.BR 25
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

O termo “cromatografia” deriva do grego Chrom (cor) e graphe (escrever), embora os


métodos cromatográficos não dependam da presença de coloração, exceto para facilitar a
visualização das substâncias separadas.
A cromatografia é definida como um processo físico-químico no qual os componentes
de uma mistura podem ser separados. A separação ocorre pela distribuição dos compostos em
duas fases que estão em contato íntimo, a fase estacionária (FE) e fase móvel (FM). Durante a
eluição da fase móvel sobre a fase estacionária, os componentes da mistura são distribuídos pelas
duas fases, sendo as substâncias retidas de forma seletiva pela fase estacionária, resultando em
migrações diferenciais e, consequentemente, na separação dos componentes.
A Unidade 2 desta apostila abordará os princípios básicos em cromatografia, incluindo
dados históricos, critérios de classificação e as metodologias utilizadas na realização das diferentes
técnicas cromatográficas. A principal função dos métodos cromatográficos é a separação de
substâncias, podendo, até mesmo, isolar os componentes de uma mistura. Além disso, os métodos
cromatográficos, quando acoplados a outras técnicas de identificação, permitem a realização de
análises qualitativas e quantitativas de determinado metabólito presente em extratos vegetais e,

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


até mesmo, a determinação do controle de qualidade de formas farmacêuticas, contribuindo com
a investigação e caracterização dos principais grupos de metabólitos de origem natural.

WWW.UNINGA.BR 26
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. PRINCÍPIOS BÁSICOS EM CROMATOGRAFIA

1.1 Aspectos Históricos em Cromatografia


O botânico russo Michael Semenovich Tswett foi o primeiro a utilizar os termos e
expressões “cromatografia” e “cromatograma”, no ano de 1906. Tswett descreveu em seus trabalhos
o método cromatográfico utilizado para separar os componentes presentes em extratos de folhas,
como a clorofila, incluindo o uso de colunas de vidro empacotadas com diferentes sólidos e o éter
de petróleo como solvente (COLLINS, 2006).
Tswett conseguiu atribuir o mecanismo correto envolvido na separação dos compostos,
baseando-se na adsorção diferencial dos componentes da amostra pelo sólido utilizado como fase
estacionária e o desenvolvimento deles pela passagem da fase móvel, a qual eluía para distâncias
maiores os compostos de menor afinidade com a fase estacionária (COLLINS, 2009).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


Figura 1 - Michael Semenovich Tswett em São Petersburgo, na época da defesa do seu mestrado no São Petersburgo
em 1901. Fonte: Collins (2009).

Juntamente com os desenvolvimentos de Tswett, outros pesquisadores, incluindo Reed,


na Inglaterra, e Day, nos Estados Unidos, utilizaram colunas contendo sólidos e misturas de
solventes, na separação de sais orgânicos e amostras de petróleo, respectivamente. Entretanto,
considerou-se que a época moderna da cromatografia teve início na década de 1930, quando a
técnica de cromatografia em coluna de Tswett foi aperfeiçoada por Kuhn e Lederer, e utilizada
para a separação e identificação das xantofilas da gema de ovo. Para o processo de separação,
coluna recheada com carbonato de cálcio e o solvente éter de petróleo foram utilizados, como
fase estacionária e fase móvel, respectivamente (COLLINS, 2006).
Em 1952, Martin e Synge receberam o Prêmio Nobel, pelo trabalho desenvolvido em
1941, no qual descreveram o método de cromatografia por partição e aplicaram o conceito de
altura equivalente a um prato, antecipando o surgimento das técnicas de cromatografia gasosa
(CG) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). Martin também participou com Consden
e Gordon da reintrodução da cromatografia em papel; juntamente com Howard, aplicou a
separação por fase reversa na cromatografia líquida; e atualizou a cromatografia gás-líquido, com
James (COLLINS, 2006).

WWW.UNINGA.BR 27
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Para mais informações sobre a história da cromatografia e as


contribuições de Michael Tswett, acessar o capítulo:

COLLINS, C. H. Pilares da cromatografia. Michael Tswett e o


“nascimento” da Cromatografia. Scientia Chromatographica, [s. l.],
v. 1, n. 1, p. 7-20, 2009. Disponível em: <http://www.iicweb.org/
scientiachromatographica.com/files/v1n1a1.pdf>.

1.2 Classificação dos Métodos Cromatográficos


Os métodos cromatográficos podem ser classificados por diferentes critérios. Os mais
comuns estão relacionados à técnica empregada, ao mecanismo de separação e às fases utilizadas
(COLLINS, 2006).
Em relação à técnica empregada, a fase estacionária pode estar disposta sobre uma
superfície planar, sendo denominada cromatografia planar ou no interior de um tubo cilíndrico,

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


constituindo a cromatografia em coluna. A cromatografia em coluna é dividida em diferentes
tipos, dependendo do tamanho do diâmetro interno da coluna, como definido no Quadro 1
(COLLINS, 2006).

Cromatografia em Coluna Diâmetro Interno da Coluna (mm)


Preparativa 6-50
Analítica 2-6

Microdiâmetro 1-2
Capilar >1

Quadro 1 – Tipos de cromatografia em coluna de acordo com o tamanho do diâmetro interno do tubo. Fonte:
Adaptado de Collins (2006).

De acordo com o estado físico da fase móvel, tem-se a cromatografia a gás, quando a
fase móvel inerte está no estado gasoso; cromatografia líquida, na qual a fase móvel é um líquido
que interage com os componentes da mistura; e cromatografia supercrítica, quando o vapor
pressurizado é usado como fase móvel (COLLINS, 2006).
A cromatografia líquida em coluna é dividida em dois grupos: a cromatografia líquida
clássica, realizada em coluna de vidro, pressão atmosférica e uso da gravidade para a eluição da
fase móvel; e a cromatografia líquida de alta pressão, realizada em colunas metálicas, com uso
de bomba de alta pressão, resultando no aumento da velocidade da vazão da fase móvel, sendo
denominada cromatografia líquida de alta velocidade. Nesta unidade, optou-se por denominar
a cromatografia líquida de alta pressão e a cromatografia líquida de alta velocidade como
cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (COLLINS, 2006).

WWW.UNINGA.BR 28
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Na cromatografia líquida em coluna, assim como na cromatografia líquida planar, a fase


estacionária pode estar no estado físico líquido ou sólido, e o líquido pode formar uma camada
sobre um suporte sólido ou estar imobilizado sobre o suporte. Quando esta última envolve ligações
químicas entre o líquido e o suporte, passa a ser considerada um tipo distinto de cromatografia,
a cromatografia com fase ligada (COLLINS, 2006).
Outra forma de classificação da cromatografia baseia-se na polaridade das fases utilizadas.
Na cromatografia gasosa, o gás utilizado como fase móvel é inerte, e a separação ocorre pela
interação das substâncias presentes na amostra com a fase estacionária. Já na cromatografia
líquida, seja a planar ou a em coluna, deve-se levar em consideração a polaridade de ambas as
fases, tanto móvel quanto estacionária. Neste sentido, quando na cromatografia líquida a fase
estacionária é mais polar que a fase móvel, tem-se a cromatografia líquida com fase normal.
Quando a fase móvel é mais polar que a fase estacionária, tem-se a cromatografia líquida de fase
reversa (COLLINS, 2006).
A figura abaixo (Figura 2) representa as diferentes classificações da cromatografia,
considerando o estado físico das fases móveis e estacionárias do sistema cromatográfico
(COLLINS, 2006).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2

Figura 2 - Classificação da cromatografia pelas formas físicas das fases móveis e estacionárias. Fonte: Adaptado de
Collins (2006).

O método de introdução da amostra e seu desenvolvimento constituem mais uma forma


de classificação na cromatografia. Quando se realiza uma única aplicação da amostra e o uso de
uma fase móvel pura, tem-se o método de eluição. Entretanto, a classificação mais importante em
cromatografia baseia-se no mecanismo de separação, sendo a separação dividida em processos
físicos, químicos ou mecânicos (COLLINS, 2006).

WWW.UNINGA.BR 29
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Os processos físicos incluem os de absorção/partição e adsorção (Figura 3). A


cromatografia em papel, cromatografia gás-líquido e cromatografia líquido-líquido constituem
exemplos de métodos cromatográficos por absorção/partição. Quando se utiliza uma fase
estacionária sólida que contém grupos ativos na sua superfície, como a sílica ou alumina, tem-se
o processo de adsorção, que ocorre na interfase entre o sólido e a fase móvel. O retorno do soluto
para a fase móvel ocorre por dessorção, seja por volatilidade, como na cromatografia gasosa, ou
pela solubilidade no líquido da fase móvel, como na cromatografia líquida e na cromatografia
com fluido supercrítico. As fases quimicamente ligadas são preparadas pela reação entre alguns
grupos hidroxílicos presentes na superfície do sólido que constitui a fase estacionária, com
grupos alquilas, por exemplo. Na maioria dessas fases, a separação ocorre por uma mistura de
absorção/partição e adsorção. A cromatografia com fase ligada pode ser utilizada para a separação
de enantiômeros, em que os grupos quimicamente ligados ao suporte contêm um ou mais
centros quirais, sendo denominada cromatografia quiral. As vantagens das fases estacionárias
quimicamente ligadas incluem uma maior estabilidade em temperaturas altas e maior resistência
à dissolução pela fase móvel (COLLINS, 2006).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


Figura 3 - Mecanismo cromatográfico de adsorção (A) e partição/absorção (B). Fonte: Adaptado de Collins (2006).

O que são enantiômeros e centros quirais? Os enantiômeros são isômeros


especulares, ou seja, substâncias de mesma estrutura química, porém com
imagens não passíveis de sobreposição (COLLINS, 2006). Na separação de
isômeros, é necessária a presença de centros quirais. Os centros quirais ocorrem
quando um átomo está ligado a quatro substituintes distintos.

Em relação aos processos químicos, tem-se a cromatografia por troca iônica (Figura 4)
e por bioafinidade. Na cromatografia por troca iônica, a fase estacionária é constituída por uma
matriz que contém grupos funcionais ionizáveis. Dessa forma, tem-se os trocadores aniônicos,
nos quais os sítios ativos estão carregados positivamente, retendo ânions (compostos de carga
negativa), e os trocadores catiônicos, com sítios ativos carregados negativamente, retendo cátions
(compostos com carga positiva). A fase móvel utilizada no processo de separação por troca iônica,
geralmente, é uma solução iônica com propriedades tamponantes.

WWW.UNINGA.BR 30
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A solução tampão é uma mistura homogênea que não apresenta grandes


alterações do pH, quando são adicionadas pequenas quantidades de ácido forte
ou de base forte (SILVA, 2020).

Figura 4 - Mecanismo cromatográfico de troca iônica. Fonte: Collins (2006).

No processo químico de separação por bioafinidade, tem-se a utilização de grupos com

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


especificidade biológica, quimicamente ligados ao suporte da fase estacionária. Um exemplo é a
separação de anticorpos dispersos em uma fase móvel pela interação com antígenos específicos,
ligados à fase estacionária (COLLINS, 2006).
Nos processos mecânicos de separação, tem-se a cromatografia por exclusão (Figura
5). Na cromatografia por exclusão, a fase estacionária é uma matriz inerte, composta por
partículas de forma, tamanho e porosidade uniformes. A Sephadex® constitui um exemplo de
fase estacionária que apresenta as características mencionadas, fase estacionária amplamente
utilizada na separação de substâncias de origem natural (COLLINS, 2006).

Figura 5 - Mecanismo cromatográfico de exclusão. Fonte: Collins (2006).

1.3 Termos Comuns em Cromatografia


O cromatograma e sua correta interpretação representa uma etapa importante na análise
dos diferentes métodos cromatográficos. Tais métodos podem ter aplicações qualitativas e
quantitativas, quando acoplados a outras técnicas (COLLINS, 2006).
A Figura 6 constitui um exemplo típico de cromatograma, obtido pela técnica de
cromatografia planar, como a cromatografia em papel (CP) e a cromatografia em camada delgada
(CCD).

WWW.UNINGA.BR 31
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Na cromatografia planar, a fase móvel acondicionada em um reservatório, chamado de cuba,


elui do ponto de partida até a linha de chegada, passa pelos pontos de aplicação da amostra e,
dessa forma, arrasta os componentes durante o desenvolvimento do método. A abreviação dM é
definida como a distância percorrida pela fase móvel, e dr é a distância percorrida pela amostra
desde o ponto da aplicação.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


Figura 6 – Cromatograma típico desenvolvido por cromatografia planar. Fonte: Collins (2006).

A Figura 7 é um exemplo de cromatograma obtido por cromatografia em coluna. Neste


cromatograma, a linha de base representa a passagem da fase móvel pelo detector. Quando a fase
móvel passa pela amostra, ocorre a eluição dos componentes presentes, que ao passarem pelo
detector, terão seus perfis registrados por picos, sendo a área do pico proporcional à concentração
da substância que ele representa. Denomina-se dr a distância percorrida pelo papel desde a injeção
da amostra até o máximo do pico traçado, e dM é a distância percorrida por uma molécula da fase
móvel, desde a injeção até o detector, não interagindo com a fase estacionária. A abreviação Wb
representa a largura de base do pico (COLLINS, 2006).

Figura 7 – Cromatograma típico obtido por cromatografia em coluna. Fonte: Collins (2006).

WWW.UNINGA.BR 32
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Hoje em dia, é mais comum o uso de tempo ou volume, em vez de distância. Dessa forma,
na cromatografia em coluna, substituiremos dr por tr, ou seja, tempo de retenção, que corresponde
ao tempo gasto pela amostra desde a sua injeção até a saída do ponto máximo do pico no sistema.
O tempo de retenção engloba todo o tempo em que as moléculas do soluto ficam no sistema,
incluindo o tempo de permanência na fase móvel e na fase estacionária. Como o tempo em que as
moléculas do soluto ficam na fase móvel é igual ao tempo gasto pelas moléculas da fase móvel para
percorrerem toda a coluna, pode-se calcular o tempo de retenção ajustado (t’r), que corresponde
ao tempo que o soluto permanece retido na fase estacionária. O volume da fase móvel presente
nos poros da fase estacionária é denominado volume morto (Vm) (COLLINS, 2006).
As medidas mencionadas, como de distância, tempo e volume, possuem fins qualitativos,
contribuindo com a identificação das substâncias presentes nas amostras. Além disso, tais medidas
são utilizadas para calcular valores relacionados com a retenção, a separação e a eficiência das
separações dos métodos cromatográficos. Como exemplo, tem-se o fator de retenção (Rf ), obtido
pela razão das distâncias percorridas pelo composto e pela fase móvel na cromatografia em
camada delgada. O valor do Rf pode ser utilizado para comparar o valor de retenção obtido
por uma substância conhecida (padrão), permitindo, dessa forma, a identificação da substância
desconhecida presente na amostra. Outros termos utilizados com a finalidade qualitativa, ou
seja, de identificação, incluem o tempo de retenção ajustado em cromatografia em coluna e o
índice de retenção, em cromatografia gasosa (COLLINS, 2006).
Um termo importante em cromatografia é a resolução. Na cromatografia planar, a

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


resolução é determinada pela separação entre as manchas e, na cromatografia em coluna sob
pressão, pela distância que separa os picos, sendo um termo que não possui unidade. Quando
a resolução é igual a 1, significa que as manchas ou os picos não estão bem separados. Valores
maiores de resolução indicam melhor capacidade de separação do método, sendo que valores
de resolução superiores a 1,5 indicam separação completa dos componentes (COLLINS, 2006).
A eficiência de um cromatograma é medida pelo número de pratos teóricos. Um
prato é considerado o equivalente a uma etapa de equilíbrio do soluto entre a fase móvel e
estacionária, não possuindo unidade. Quanto maior o número de pratos, maior será a eficiência
e, consequentemente, a separação do método cromatográfico. Quando as manchas ou os picos
não estão bem definidos, considera-se a eficiência baixa. Um método com baixa eficiência e má
seletividade resulta em má resolução. O número de pratos pode ser afetado por diversos fatores,
como as condições de análise, o tamanho da amostra, o tipo de soluto e, principalmente, o
comprimento da coluna. Dessa forma, para comparar a eficiência entre colunas de comprimentos
diferentes, utiliza-se a medida da altura equivalente a um prato (H), que corresponde à razão
entre o comprimento da coluna (L) e o número de pratos (N), pela equação (COLLINS, 2006):

(Equação 1)

1.4 Cromatografia Líquida em Coluna Clássica


Neste tópico, abordaremos a cromatografia líquida em coluna clássica recheada com um
sólido, constituindo a fase estacionária e, para a fase móvel, serão utilizados diferentes solventes.
Neste primeiro momento, não será abordada a cromatografia sob pressão.
A separação por cromatografia em coluna, também denominada cromatografia líquida
clássica, constitui uma técnica simples de separação e, até mesmo, isolamento de componentes
de uma mistura. Além disso, dependendo do tamanho da coluna, pode ser utilizada para fins
preparativos (VICHENEWSKI, 2006). Neste caso, a separação dos componentes pode ser
monitorada pelo método de cromatografia em camada delgada, técnica abordada na disciplina
Farmacobotânica e Farmacognosia.

WWW.UNINGA.BR 33
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A coluna cromatográfica nada mais é que um tubo de vidro, com a extremidade superior
aberta e a inferior afilada, possuindo nessa extremidade uma torneira para controlar o fluxo da
fase móvel e saída dos compostos separados. Além disso, a coluna é mantida na posição vertical.
O tamanho da coluna dependerá da quantidade de amostra a ser separada. Na parte superior da
coluna, tem-se um reservatório contendo a fase móvel e, na parte inferior, tubos de ensaio ou
frascos, que possuem a função de coletar as frações separadas (VICHENEWSKI, 2006).
Diferentes sólidos podem ser utilizados como fase estacionária na cromatografia
em coluna, sendo divididos de acordo com o método de separação descritos anteriormente,
incluindo o processo físico de adsorção, químico de troca iônica e bioafinidade, e mecânico
por exclusão molecular. Como exemplo de substâncias adsorventes utilizadas como recheio em
colunas cromatográficas, tem-se a sílica e a alumina; o silicato de magnésio (Florisil), que possui
propriedades intermediárias a da alumina e sílica, sendo utilizado na separação de esteroides,
lipídeos, glicosídeos e derivados de açúcares; óxido de magnésio, utilizado na separação de
carotenoides e porfirinas; polímeros de estireno, um adsorvente de baixa polaridade; mistura
de carvão grafitinizado com carvão ativo, contendo grupos funcionais polares. Muitos desses
adsorventes, como, por exemplo, a sílica, são empregados em cromatografia em camada delgada,
a diferença está no tamanho das partículas, sendo que, na cromatografia em coluna, normalmente
variam de 63 a 200 µm e de 5 a 40 µm na cromatografia em camada delgada. Um exemplo de
sólido utilizado nos processos mecânicos de separação é o gel de dextrana, denominado Sephadex
LH-20, muito utilizado na purificação de produtos naturais. A Figura 8 esquematiza as partes de

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


uma coluna clássica (VICHENEWSKI, 2006).

Figura 8 – Esquema de uma coluna de adsorção. a: reservatório; b: fase móvel; c: coluna de vidro; d: adsorvente; e:
chumaço de lã de vidro; f: frasco coletor; g: amostra; h: camada de areia ou recheio, colocado após a aplicação da
amostra. Fonte: Vichenewski (2006).

WWW.UNINGA.BR 34
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Em relação à escolha da fase móvel, alguns pontos devem ser considerados. Deve ser
levada em consideração a capacidade do solvente em solubilizar os componentes da mistura;
o solvente deve possuir baixo ponto de ebulição, variando de 35 a 85 ºC, para que evapore
facilmente das frações obtidas; deve ter a propriedade de eluente, ou seja, promover na coluna
cromatográfica a eluição dos componentes da mistura, removendo ou dessorvendo de forma
seletiva as substâncias em contato com o adsorvente (fase estacionária). As substâncias ligadas ao
adsorvente são denominadas adsorvato. Quando na fase estacionária são utilizados adsorventes
polares, o uso de solventes polares facilita o processo de dessorção, enquanto solventes de menor
polaridade mantêm o adsorvato fixo no adsorvente da coluna. A Figura 9 contém exemplos de
eluentes com ponto de ebulição baixo, do mais apolar para o mais polar. A escolha do melhor
solvente dependerá da polaridade das substâncias presentes na mistura. O aumento da polaridade
deve ser gradual, evitando a sobreposição de bandas durante o processo de separação. A vazão do
solvente pode ser de uma gota por segundo (VICHENEWSKI, 2006).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


Figura 9 – Série de eluentes com ponto de ebulição baixo, em ordem crescente de polaridade. Fonte: Adaptado de
Vichenewski (2006).

Após a escolha do sólido da fase estacionária, do solvente ou mistura de solventes para a


fase móvel, deve-se realizar o enchimento da coluna, preparo e aplicação da amostra. Em relação
ao enchimento da coluna, este deve ser o mais uniforme possível, evitando que o ar fique retido
entre as partículas da fase estacionária, formando canais na coluna e alargando as bandas dos
compostos em eluição. Para evitar o acúmulo de ar, recomenda-se que o adsorvente da fase
estacionária seja primeiro misturado com a fase móvel, até que forme uma “pasta”, e após, seja
introduzido na coluna contendo, previamente, um terço da fase móvel. Em seguida, espera-se
que a fase estacionária se deposite na coluna gradualmente. Deve-se evitar deixar que a coluna
seque, seja durante o enchimento ou durante a eluição da fase móvel, evitando que a separação
dos compostos seja prejudicada pelo aparecimento de rachaduras (VICHENEWSKI, 2006).

WWW.UNINGA.BR 35
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.4.1 Preparo da amostra

O preparo da amostra constitui uma etapa fundamental e extremamente importante


em métodos analíticos. De acordo com Dionísio et al. (2010), em cromatografia líquida, o
preparo correto da amostra aumenta a seletividade, sensibilidade, precisão e exatidão da análise.
Dependendo do método cromatográfico utilizado, a etapa de preparo da amostra pode representar
o maior tempo gasto durante uma análise. Além disso, a obtenção da amostra e armazenamento
até o seu processamento são etapas que antecedem o preparo e análise da amostra, extremamente
importantes para a reprodutibilidade, qualidade e veracidade de uma análise. Nas análises
de substâncias por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), as amostras passam por
processos que tentam reduzir os interferentes presentes. Como exemplos de preparo de amostras
para análise em CLAE, tem-se o uso de cartuchos de extração em fase sólida (cartucho SPE),
seguida de filtração em membranas de 45 µm ou o uso de centrifugação a elevadas rotações por
minuto (rpm).
Os primeiros trabalhos utilizando cartucho de SPE foram descritos em 1970. Diferentes
tipos de cartucho SPE estão disponíveis no mercado, incluindo os de troca iônica (aniônica ou
catiônica), C18, C8, polares hidrofílicos, sílica, entre outros (Figura 10) (CHROMASTORE,
2020).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


Figura 10 – Cartucho de extração em fase sólida. Fonte: Chromastore (2020).

De acordo com Campos et al. (2015), o emprego de cartuchos de fase sólida como
metodologia de extração inclui as seguintes etapas:

• Condicionamento e ativação do sorvente da coluna para recebimento da amostra líquida;


• Aplicação da amostra;
• Remoção ou limpeza dos interferentes da matriz;
• Eluição dos analitos purificados e pré-concentrados.

WWW.UNINGA.BR 36
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 11- Etapas envolvidas na SPE: condicionamento do sorvente, adição da amostra, remoção dos interferentes e
eluição do analito. Fonte: Caldas et al. (2011).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


A Figura 12 demonstra o processo de extração ideal e não ideal, além de exemplificar
as etapas de aplicação da amostra, limpeza e eluição do analito. Um dos desafios da extração
com cartucho SPE é a utilização de sorventes seletivos, que possuam afinidade com os mais
diferentes analitos, sem que ocorra a coextração de interferentes. Nem sempre a otimização das
condições do processo permite a obtenção de uma amostra final livre de interferentes e de perdas
significativas dos analitos (CAMPOS et al., 2015).

Figura 12 - Esquema comparando uma extração ideal por SPE e uma extração real, em que a remoção de interfe-
rentes é insuficiente e/ou ocorre perdas do analito durante uma ou mais etapas. Círculos pretos e quadrados brancos
representam interferentes e analitos, respectivamente. Fonte: Campos et al. (2015).

WWW.UNINGA.BR 37
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.4.2 Aplicação da amostra

Após preencher a coluna com a fase estacionária adequada e preparo da amostra,


realiza-se a última etapa, a aplicação da amostra. Para isso, amostras no estado sólido devem ser
solubilizadas com o mínimo de solvente necessário e, então, são aplicadas na superfície da fase
estacionária, com o auxílio de uma pipeta. Com o término da aplicação da amostra, adiciona-se,
cuidadosamente, a fase móvel (VICHENEWSKI, 2006).
Conforme o solvente da fase móvel passa pelo adsorvente da coluna, os componentes da
amostra são arrastados e separados. A velocidade de eluição depende da afinidade das substâncias
pela fase estacionária. Na separação de fase normal, em que se utilizam fases estacionárias polares,
o uso de solventes mais polares leva ao aumento da velocidade de eluição das substâncias. Já
na separação de fase reversa, o aumento na velocidade de eluição ocorre com a diminuição da
polaridade do solvente da fase móvel (VICHENEWSKI, 2006).
Quando um único tipo de solvente é mantido durante todo o método cromatográfico, a
separação é dita isocrática. Porém, quando se utilizam solventes diferentes, o processo é chamado
de gradiente. Com a finalidade de acompanhar o processo de separação, as frações coletadas
podem ser analisadas por cromatografia em camada delgada, espectrofotometria no UV ou, até
mesmo, por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (VICHENEWSKI, 2006).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


1.5 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE)
A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) é considerada uma técnica importante
de separação de misturas complexas, além de permitir a realização de análises qualitativas e
quantitativas de substâncias. É uma técnica que pode ser totalmente automatizada, realizada
em poucos minutos, empregando-se colunas fechadas e empacotadas com fases estacionárias
apropriadas. A fase móvel é eluída sob altas pressões e as amostras devem ser solúveis na fase
móvel, permitindo a separação de macromoléculas e produtos naturais lábeis. A CLAE constitui
um método cromatográfico de alta resolução, eficiência e detecção (JARDIM; COLLINS;
GUIMARÃES, 2006).
A Figura 13 mostra os equipamentos que compõem um cromatógrafo líquido, as linhas
tracejadas são componentes do sistema que podem ser aquecidos. O método de desenvolvimento
utilizado normalmente é a eluição. Primeiramente, a fase móvel é bombeada sob alta pressão e
vazão controlada, até a obtenção de uma linha de base estável. Em seguida, um pequeno volume
de amostra é injetado pela válvula de injeção e os componentes da amostra são eluídos na coluna.
A velocidade de eluição dos compostos é menor, quanto maior for a interação das substâncias
na fase estacionária. Além disso, a eficiência de um método depende do número de pratos da
coluna, quanto maior a eficiência, melhor a separação. O solvente da fase móvel, contendo os
componentes separados da amostra, ao sair da coluna, passa pelo detector, gerando um sinal
proporcional à concentração da substância detectada. Esse sinal é enviado ao software do
equipamento responsável por realizar o tratamento dos dados e gerar o cromatograma da análise
(JARDIM; COLLINS; GUIMARÃES, 2006).

WWW.UNINGA.BR 38
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Um cromatograma é o resultado final de uma análise cromatográfica, obtido na


forma de gráfico, que representa a resposta do detector em função do tempo
de retenção, por meio de uma série de picos. Em um cromatograma ideal, os
picos devem estar bem separados, serem simétricos e cada pico representaria
uma substância da amostra, cuja concentração é proporcional à área desse pico
(JARDIM; COLLINS; GUIMARÃES, 2006).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


Figura 13 – Esquema de um cromatógrafo líquido. As linhas tracejadas indicam unidades possíveis de controle de
temperatura. Fonte: Jardim, Collins e Guimarães (2006).

Algumas vantagens da cromatografia líquida de alta eficiência incluem (JARDIM;


COLLINS; GUIMARÃES, 2006):

• Tempo reduzido de análise. Realiza separações na ordem de minutos até horas;


• Alta resolução, permitindo a análise de misturas complexas;
• Boa análise qualitativa, comparando-se tempos de retenção com substâncias conhecidas
(padrões);
• Análise quantitativa, por meio da determinação das áreas dos picos;
• Boa detectabilidade dos detectores;
• Técnica versátil, sendo aplicada nas análises de compostos orgânicos e inorgânicos,
amostras no estado líquido ou sólido, iônicas ou covalentes, de baixa ou alta massa molar;
• Automatização, desde a injeção da amostra.

WWW.UNINGA.BR 39
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Em relação às desvantagens, a cromatografia líquida de alta eficiência inclui (JARDIM;


COLLINS; GUIMARÃES, 2006):

• Alto custo do equipamento;


• Alto custo de operação, devido ao uso de fases móveis de alto grau de pureza;
• Falta de um detector universal;
• Necessidade de experiência do operador;
• Os gases são as únicas amostras não analisadas pela CLAE, sendo necessário recorrer à
cromatografia gasosa.

1.6 Cromatografia Gasosa (CG)


A cromatografia gasosa é utilizada para a separação de gases ou substâncias volatilizáveis
e é considerada uma técnica rápida, levando minutos ou segundos de análises, com poder
de resolução excelente e baixos limites de detecção, permitindo a realização de análises com
finalidades qualitativas e quantitativas. Nesse método cromatográfico, a separação baseia-se na
distribuição diferencial das substâncias da amostra entre uma fase estacionária, sólida ou líquida,

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2


e uma fase móvel gasosa e inerte (BONATO, 2006).
Na cromatografia gasosa (Figura 14), a amostra é introduzida pelo sistema de injeção. O
uso de temperaturas específicas no local de injeção da amostra e na coluna permite a vaporização
da amostra. As substâncias da amostra são arrastadas pela coluna pelo gás da fase móvel,
interagem com a fase estacionária e chegam à saída da coluna em tempos diferentes. Com o
uso do detector, sistema de registro e tratamento dos dados, os compostos são determinados. A
técnica apresenta algumas desvantagens, como o uso somente para substâncias voláteis e estáveis
termicamente (BONATO, 2006).

Figura 14 – Esquema de cromatógrafo a gás. 1: fonte do gás de arraste; 2: controlador da vazão e regulador de
pressão; 3: sistema de injeção da amostra; 4: coluna cromatográfica; 5: sistema de detecção; 6: sistema de registro e
tratamento dos dados. Fonte: Bonato (2006).

WWW.UNINGA.BR 40
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Uma revisão sobre o tema cromatografia pode ser vista no vídeo:

UNIVESP. Química analítica – Aula 24 – Introdução a métodos


cromatográficos. 2017. 1 vídeo. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=i3c_lc0ooBg&list=PLE6SHycVxcpwxxqtR-
qUb86NGjqSNBOHG>. Acesso em: 24 mar. 2020.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2

WWW.UNINGA.BR 41
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Unidade 2 da apostila de Fitoquímica e Fitoterapia permitiu ao aluno relembrar alguns


conceitos, definições e assuntos abordados no tópico de métodos cromatográficos da disciplina
de Farmacobotânica e Farmacognosia.
Em adição, esta unidade abordou, de forma detalhada, diversos assuntos da cromatografia,
incluindo dados históricos, princípios básicos, critérios de classificação, terminologias e as
metodologias utilizadas nas diferentes técnicas cromatográficas. Dessa forma, as Unidades 1 e
2 desta apostila servirão de base para as técnicas, tanto de extração quanto cromatográficas, que
serão abordadas nas Unidades 3 e 4 para cada grupo de metabólito secundário.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 2

WWW.UNINGA.BR 42
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA

GRUPOS DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS E


FITOTERAPIA I
PROF.A MA. NAIARA CÁSSIA GANCEDO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................45
1. GRUPOS DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS......................................................................................................46
1.1 ÓLEOS VOLÁTEIS.................................................................................................................................................46
1.1.1 SÍNTESE E CLASSIFICAÇÃO DOS ÓLEOS VOLÁTEIS...................................................................................... 47
1.1.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS ÓLEOS VOLÁTEIS.........................................................50
1.1.3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS ÓLEOS VOLÁTEIS......................................................................................52
1.1.4 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DE ÓLEOS VOLÁTEIS.........................................................................52
1.1.4.1 HORTELÃ-PIMENTA (MENTHA X PIPERITA L., LAMIACEAE)...................................................................52
1.1.4.2 CANELA-DO-CEILÃO ( CINNAMOMUM VERUM J.PRESL (SYN. CINNAMOMUM ZEYLANICUM
BLUME), LAURACEAE).............................................................................................................................................53
1.1.4.3 MELISSA (MELISSA OFFICINALIS L., LAMIACEAE)..................................................................................53

WWW.UNINGA.BR 43
1.1.4.4 OUTRAS ESPÉCIES........................................................................................................................................53
1.2 COMPOSTOS FENÓLICOS SIMPLES E HETEROSÍDICOS................................................................................54
1.2.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS COMPOSTOS FENÓLICOS..........................................55
1.2.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DE COMPOSTOS FENÓLICOS..........................................................56
1.2.3.1 ALCACHOFRA (CYNARA SCOLYMUS L., ASTERACEAE).............................................................................56
1.2.3.2 UVA-URSI (ARCTOSTAPHYLOS UVA-URSI (L.) SPRENG., ERICACEAE)..................................................56
1.3 CUMARINAS.........................................................................................................................................................56
1.3.1 CLASSIFICAÇÃO E SÍNTESE DAS CUMARINAS.............................................................................................57
1.3.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS CUMARINAS.................................................................58
1.3.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS CUMARINAS..............................................................................58
1.3.3.1 GUACO-CHEIROSO (MIKANIA LAEVIGATA SCH.BIP. EX BAKER, ASTERACEAE)....................................59
1.3.3.2 CITROS (CITRUS AURANTIUM L. E CITRUS MEDICA L., RUTACEAE).....................................................59
1.4 SAPONINAS.........................................................................................................................................................59
1.4.1 SÍNTESE E CLASSIFICAÇÃO DAS SAPONINAS..............................................................................................60
1.4.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS SAPONINAS.................................................................60
1.4.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS SAPONINAS............................................................................... 61
1.4.3.1 ALCAÇUZ (GLYCYRRHIZA GLABRA L., FABACEAE).................................................................................... 61
1.4.3.2 GINSENG (PANAX GINSENG C.A.MEY., ARALIACEAE).............................................................................. 61
1.5 TANINOS............................................................................................................................................................... 61
1.5.1 CLASSIFICAÇÃO E SÍNTESE DOS TANINOS................................................................................................... 61
1.5.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS TANINOS......................................................................63
1.5.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DOS TANINOS....................................................................................64
1.5.3.1 ESPINHEIRA-SANTA (MAYTENUS ILICIFOLIA MART. EX REISSEK, CELASTRACEAE)..........................64
1.5.3.2 BARBATIMÃO (STRYPHNODENDRON ADSTRINGENS (MART.) COVILLE., LEGUMINOSAE)................65
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................66

WWW.UNINGA.BR 44
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Os produtos farmacêuticos derivados de produtos naturais têm como objetivo a obtenção


de matérias-primas, ingredientes farmacêuticos ativos, adjuvantes, produtos intermediários ou
produtos terminados (fitoterápicos) (BASSANI; PETROVICK, 2017).
Várias etapas estão envolvidas na obtenção de produtos farmacêuticos: a obtenção do
insumo (matéria-prima), realização de fluxo de transformação, incluindo uma sequência de
ações, que resulta no produto final, e o produto terminado com qualidade, segurança e eficácia
comprovadas, sendo liberado para a dispensação. As matérias-primas farmacêuticas de origem
natural podem ser obtidas a partir de materiais frescos, secos ou estabilizados (droga vegetal);
materiais selecionados (livres de componentes indesejáveis); extratos brutos, obtidos após extração
de materiais frescos ou da droga vegetal, podendo ser líquidos, semissólidos ou sólidos; e extratos
purificados, contendo uma ou mais classes de metabólitos de interesse. Dessa forma, a qualidade
do produto final depende da qualidade dos insumos e do controle de qualidade das ações de
transformação, realizadas durante todas as etapas de produção (BASSANI; PETROVICK, 2017).
A Unidade 3 desta apostila abordará as principais classes de metabólitos secundários,
suas formas de classificação e síntese; os métodos de extração e identificação; e as propriedades

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


farmacológicas dos ativos de espécies de plantas medicinais.

WWW.UNINGA.BR 45
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. GRUPOS DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS

1.1 Óleos Voláteis


Os óleos voláteis são misturas complexas de substâncias voláteis e lipofílicas, presentes
em diferentes concentrações nas plantas. De acordo com a concentração, tem-se o composto
majoritário, quando uma substância está presente em altas concentrações, e o constituinte-traço,
quando a substância está presente em baixas quantidades em uma mistura (SIMÕES; SPITZER,
2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).
Normalmente, à temperatura ambiente, os óleos voláteis estão no estado líquido; são
odoríferos e possuem aspecto oleoso, o que justifica o termo “óleos voláteis”. Os óleos voláteis
também são chamados de óleos essenciais ou essências, devido ao aroma agradável e intenso,
e óleos etéreos, pelo fato de serem solúveis em solventes apolares como o éter. A volatilidade é
considerada a principal característica que diferencia os óleos voláteis de óleos fixos (misturas de
substâncias lipídicas, comumente extraídas de sementes). Os óleos voláteis possuem a propriedade
de aromatizar soluções aquosas, sendo denominadas hidrolatos. Algumas características físico-
químicas que os óleos voláteis possuem incluem (SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN;
SPITZER; SIMÕES, 2017):

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


• Sabor ácido e picante;
• Quando recém-extraídos, são incolores ou amarelados. Exemplos de óleos voláteis com
cor é o óleo de camomila-alemã (Matricaria recutita), que apresenta coloração azulada
devido ao alto teor de azulenos, e o óleo volátil do cravo-da-índia, de coloração marrom-
avermelhada;
• Apresentam baixa estabilidade, principalmente na presença de ar, luz, calor, umidade e
metais. As alterações químicas podem ser evidenciadas pelo aparecimento de coloração,
aumento de viscosidade e alteração do aroma;
• A densidade relativa dos óleos voláteis está entre 0,84 e 1,18;
• Possuem ponto de ebulição elevado, de 150 ºC até acima de 300 ºC. Os monoterpenoides
costumam apresentar pontos de ebulição mais baixos;
• São solúveis em solventes lipofílicos, como óleos fixos, éter de petróleo, clorofórmio, éter
e etanol. Possuem baixa solubilidade em água, porém óleos voláteis oxigenados, contendo
grupos alcoólicos ou ácidos, são parcialmente solúveis em meio aquoso;
• A maioria dos óleos voláteis possui índice de refração e são opticamente ativos. Tais
propriedades são usadas na identificação e no controle de qualidade.
As gimnospermas raramente possuem representantes que produzem óleos voláteis, com a
exceção de Coniferae. Além disso, os óleos voláteis são raros em angiospermas monocotiledôneas,
com a exceção de Poaceae e Zingiberaceae. Todavia, plantas do grupo das angiospermas e
eudicotiledôneas são ricas em óleos voláteis, incluindo as famílias Apiaceae, Lamiaceae, Lauraceae,
Myrtaceae, Piperaceae e Rutaceae, além de espécies das famílias Asteraceae e Myristicaceae
(HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

WWW.UNINGA.BR 46
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.1.1 Síntese e classificação dos óleos voláteis

O mevalonato é formado a partir da condensação de uma unidade de acetoacetil-CoA


com uma molécula de acetil-CoA. O mevalonato na forma ativa, ou seja, de isopreno ativo
(isopentenil-pirofosfato), origina os terpenos e esteroides. A maioria dos óleos voláteis tem
origem de derivados terpenoides ou fenilpropanoides. As principais substâncias que compõem
os óleos voláteis pertencem à classe dos monoterpenoides e sesquiterpenoides (SANTOS, 2004;
SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).
Os terpenoides são substâncias derivadas do isopreno. O isopreno, ao se ligar com radicais
fosfato, origina duas unidades com cinco átomos de carbono (C5), o difosfato de isopentina (IPP)
e o difosfato de dimetilalila (DMAPP). Com a condensação dessas unidades de isopreno, tem-se
a origem do difosfato de geranila (GPP) e do difosfato de farnesila (FPP) e, finalmente, a origem
das classes de monoterpenoides (C10) e sesquiterpenoides (C15), respectivamente. As duas rotas
responsáveis pela biossíntese dos terpenoides ocorrem no citoplasma (rota do ácido mevalônico)
e nos plastídeos (rota do 2-C-metileritritol-4-fosfato), como pode ser visualizado na Figura 1
(HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3

Figura 1 – Principais hidrocarbonetos lineares que originam os terpenoides encontrados nos óleos voláteis. IPP:
difosfato de isopentina; DMAPP: difosfato de dimetilalila; GPP: difosfato de geranila; FPP: difosfato de farnesila.
Fonte: Adaptado de Sticher (2007) apud Heinzmann, Spitzer e Simões (2017).

WWW.UNINGA.BR 47
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As diferentes classes de terpenoides, geralmente, apresentam um número de carbonos


múltiplo de cinco e são subdivididas em (SIMÕES; SPITZER, 2004):

• Monoterpenoides (C10);
• Sesquiterpenoides (C15);
• Diterpenoides (C20);
• Triterpenoides (C30);
• Tetraterpenoides (C40);
• Polisoprenoides (Cn).
Os monoterpenoides e sesquiterpenoides são compostos comumente extraídos por
processos de destilação, enquanto os diterpenos são obtidos por extração com solventes e por
fluido supercrítico (HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).
Como mencionado, os compostos terpênicos mais frequentes nos óleos voláteis são
os monoterpenoides, cerca de 90%, e os sesquiterpenoides. Os monoterpenoides podem ser
subdivididos em: acíclicos (mirceno, linalol, geraniol), monocíclicos (alfa-terpineol e terpinoleno)
e bicíclicos (alfa-pineno, tujona, cânfora, fenchona). Em cada subgrupo, existem outras

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


classificações como os hidrocarbonetos insaturados (limoneno), álcoois (mentol), aldeídos ou
cetonas (mentona, carvona), lactonas (monoterpenos lactônicos chamados de iridoides, como
nepetalactona) e tropolonas (gama-tujaplicina) (Figura 2) (SIMÕES; SPITZER, 2004).

Figura 2 – Exemplos de compostos monoterpênicos de ocorrência em óleos voláteis. Fonte: Simões e Spitzer (2004).

WWW.UNINGA.BR 48
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As variações dos sesquiterpenos incluem compostos acíclicos (farnesol, nerolidol),


monocíclicos (ácido abscísico), bicíclicos (gama-bisaboleno, beta-selineno, cariofileno) ou
lactonas sesquiterpênicas (Figura 3) (SIMÕES; SPITZER, 2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


Figura 3 – Exemplos de compostos sesquiterpênicos de ocorrência em óleos voláteis. Fonte: Simões e Spitzer (2004).

A composição do óleo volátil é determinada geneticamente, sendo específica para um


órgão e característica para o estágio de desenvolvimento da planta. Além disso, as condições
ambientais podem causar variações na composição química dos óleos voláteis. A temperatura,
a umidade relativa do ar e a duração de exposição ao sol exercem influência na síntese desses
compostos. Em adição, a composição química do óleo volátil extraído do mesmo órgão em uma
mesma espécie pode variar, dependendo da época da coleta, condições climáticas, solo, horário
da coleta, entre outros fatores (SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES,
2017).
Os óleos voláteis também podem ser originados a partir de derivados fenilpropanoides.
Os fenilpropanoides têm como origem diferentes aminoácidos aromáticos, como a fenilalanina,
a tirosina e di-hidroxifenilalanina, pela via do ácido chiquímico. Pela ação da enzima fenilalanina
amonialiase (PAL), a fenilalanina perde uma molécula de amônia e origina o ácido cinâmico. A
redução da cadeia lateral de ácidos cinâmicos origina compostos importantes, presentes em óleos
voláteis (SANTOS, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

WWW.UNINGA.BR 49
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.1.2 Métodos de extração e identificação dos óleos voláteis

Os métodos de extração podem variar conforme a localização do óleo volátil na planta,


pelo fato de a estocagem desses metabólitos ocorrerem em estruturas específicas, como tricomas
glandulares, células modificadas do parênquima e canais secretores (SBFGNOSIA, 2020). Os
métodos mais comuns de extração e quantificação dos óleos voláteis são a enfloração (do francês,
Enfleurage), a hidrodestilação (aparelho de Clevenger), o arraste por vapor d’água, a extração
com solventes orgânicos, a prensagem (expressão) e a extração por fluido supercrítico (SIMÕES;
SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).
A enfloração é um método de extração de óleos voláteis que já foi muito utilizada.
Atualmente, é uma técnica empregada por algumas indústrias de perfumes em plantas com baixo
teor de óleo volátil e alto valor comercial. O método consiste em manter as pétalas de flores à
temperatura ambiente sobre uma camada de gordura, durante um período de tempo. Conforme
ocorre esgotamento das pétalas, essas são substituídas por novas, até a saturação do meio de
extração. A gordura saturada é tratada com álcool e, para obtenção do óleo volátil, o álcool é
rotaevaporado em baixas temperaturas. O produto final possui alto valor comercial (SIMÕES;
SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


Uma breve revisão da técnica de extração de enfloração pode ser
vista no vídeo:
REZENDE, M. Enfleurage. 2012. 1 vídeo. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=GBJgaFM1FPQ>. Acesso em: 30 mar.
2020.

Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), o teor de óleos voláteis em drogas vegetais


pode ser determinado pelo método de hidrodestilação ou pelo arraste de vapor d’água. Quando
em pequena escala, a hidrodestilação é realizada em aparelho de Clevenger. Ambos os métodos
se baseiam na alta pressão de vapor dos óleos voláteis. Dessa forma, pelo fato de os óleos voláteis
apresentarem tensão de vapor mais elevada que a água, permitem ser arrastados pelo vapor
d’água.
A Figura 4 (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019) descreve as partes que constituem um
aparelho de hidrodestilação. Na hidrodestilação, primeiramente, deve-se introduzir no balão de
fundo redondo o volume do líquido indicado e a quantidade de material vegetal descrita na
monografia da droga vegetal, juntamente com fragmentos de porcelana porosa ou pérolas de vidro.
Em seguida, o condensador é adaptado ao balão. A água é introduzida pelo tubo (N) até o nível
(B) e a rolha esmerilhada é removida (K’), para introduzir a quantidade de xileno pela abertura
(K) e após fechar K’. O líquido presente no interior do balão é aquecido até o início da ebulição,
sendo destilado na razão de 2 a 3 mL por minuto, ou conforme o tempo e a velocidade indicada
em monografia. Terminada a operação, aguardar resfriar e, então, ler no tubo graduado o volume
do óleo volátil recolhido. Subtrair da leitura o volume do xileno determinado previamente. A
diferença representa a quantidade de óleo volátil contida na amostra e o resultado é obtido em
mililitros (mL) de óleo volátil por 100 g da droga (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019). Para
determinar a porcentagem de óleo volátil, a seguinte equação pode ser utilizada (SBFGNOSIA,
2020):

WWW.UNINGA.BR 50
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

% do óleo volátil (p/v): volume do óleo coletado (mL) x 100 (Equação 2)


peso da amostra (g)

O óleo obtido deve ser seco. Uma opção é o uso de sulfato de sódio anidro (Na2SO4).
Apesar de a hidrodestilação ser considerada um método clássico, pode levar à formação de
artefatos, devido ao emprego de temperaturas elevadas. Dessa forma, algumas desvantagens da
hidrodestilação incluem a possibilidade de degradação térmica das substâncias termolábeis; a
ocorrência de reações de hidrólise e a solubilização de algumas substâncias na água, alterando o
odor e sabor dos óleos voláteis (SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES,
2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


Figura 4 - Aparelho para determinação do teor de óleos voláteis em drogas vegetais pelo processo de hidrodestila-
ção. Fonte: Farmacopeia brasileira (2019).

Uma vantagem do método de arraste por vapor d’água é que, diferentemente da


hidrodestilação, o material vegetal não entra em contato direto com a água fervente. No método
de arraste por vapor d’água, o vapor produzido em uma caldeira flui até o extrator, local onde o
material vegetal encontra-se depositado em uma cesta perfurada. Assim como na hidrodestilação,
a mistura de óleo volátil e água é separada pela diferença de densidade, após a etapa de condensação
(SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).
Na extração de óleos voláteis com solventes orgânicos, são utilizados solventes
apolares como o éter de petróleo, n-hexano e diclorometano. Entretanto, os produtos obtidos
são considerados de baixo valor comercial. Isso ocorre pelo fato de o método levar à extração
concomitante de outros compostos lipofílicos como, por exemplo, os óleos fixos, ceras e pigmentos.
Outra desvantagem da extração com solventes orgânicos é o risco toxicológico, devido à presença
de resíduos do solvente no óleo. A evaporação desses resíduos pode levar à alteração química do
óleo (SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

WWW.UNINGA.BR 51
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A prensagem a frio ou expressão tem a vantagem de não gerar calor, porém apresenta
rendimentos baixos. Mesmo assim, é o método de escolha quando se pretende obter óleos voláteis
dos pericarpos de frutos cítricos (SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES,
2017).
A obtenção de óleos voláteis por fluido supercrítico é o método de escolha para a
extração industrial de óleos voláteis. Isso ocorre devido ao fato de os fluidos supercríticos, como,
por exemplo, o CO2 supercrítico, possuírem alta difusibilidade, baixa viscosidade e benefícios
ambientais em relação ao emprego de solventes orgânicos, como maior segurança, menor
toxicidade e menor impacto ambiental (SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER;
SIMÕES, 2017).

1.1.3 Avaliação da qualidade dos óleos voláteis

Vários métodos são utilizados na avaliação da qualidade dos óleos voláteis, podendo ser
classificados em organolépticos, físicos, químicos ou físico-químicos (SIMÕES; SPITZER, 2004).
Dentre os métodos físico-químicos, tem-se os métodos cromatográficos, incluindo a
análise por cromatografia em camada delgada (CCD) e por cromatografia gasosa (CG). Enquanto
a CCD fornece um perfil cromatográfico característico do óleo, permitindo a confirmação de
identidade e, até mesmo, a detecção de falsificações, a CG é considerada o método de escolha
quando se pretende separar e quantificar os componentes de óleos voláteis, podendo-se recorrer

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


à determinação do índice de Kovats (IK). O índice de Kovats correlaciona o tempo de retenção
dos compostos voláteis com uma série de hidrocarbonetos. Os dados podem ser tabelados
e comparados com bancos de dados disponíveis. Um valor de IK igual a 950 significa que a
substância analisada está eluindo entre nonano (IK = 900) e decano (IK= 1000), por exemplo
(SIMÕES; SPITZER, 2004; HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

1.1.4 Propriedades farmacológicas de óleos voláteis

1.1.4.1 Hortelã-pimenta (Mentha x piperita L., Lamiaceae)

Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), as folhas secas, inteiras, fragmentadas ou


pulverizadas constituem a droga vegetal de Mentha × piperita L. ou de suas variedades. A droga
vegetal apresenta odor forte, aromático, penetrante, semelhante ao mentol. Deve conter no
mínimo 1,2% de óleo volátil em folhas inteiras e, no mínimo 0,9% de óleo volátil em folhas
rasuradas, em relação ao material dessecado.
A espécie é usada para a obtenção de óleos voláteis e mentol, com emprego na indústria
farmacêutica no tratamento de distúrbios gastrointestinais e, principalmente, empregado como
flavorizante, aditivo em alimento e em produtos de higiene bucal. Preparações extemporâneas
a partir da droga vegetal são usadas em cólicas intestinais e biliares, dispepsia e flatulência
(HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017). De acordo com o suplemento do Formulário de
Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018), as formas farmacêuticas de Mentha x
piperita, tintura ou chá medicinal, são destinadas para uso interno, via oral, em pacientes acima
de 12 anos. Não usar em gestantes, lactantes, alcoolistas e diabéticos, em função do teor alcoólico
na formulação. Para mais informações sobre advertências, acessar o suplemento do Formulário
de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018).

WWW.UNINGA.BR 52
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O que é uma preparação extemporânea? De acordo com a RDC nº 67 (2007), uma


preparação extemporânea é toda preparação individualizada e manipulada para
uso em até 48 h.

1.1.4.2 Canela-do-ceilão (Cinnamomum verum J.Presl (syn. Cinnamomum


zeylanicum Blume), Lauraceae)

Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), a droga vegetal é composta das cascas secas
contendo no mínimo 0,25% (p/p) de aldeído trans-cinâmico, preparadas na forma de tintura. A
tintura é obtida por percolação a 20% (p/v), utilizando álcool etílico a 70% (v/v) como líquido
extrator. A tintura tem aspecto líquido, límpido e coloração vermelho acastanhada.
A tintura é uma forma farmacêutica final, definida como um produto farmacêutico
líquido, etanólico ou hidroetanólico, resultante da extração de drogas vegetais ou da diluição dos
respectivos extratos, de tal modo que uma parte da droga vegetal é extraída em cinco partes de
líquido extrator ou uma parte em dez partes de solvente (p/p ou p/v). A tintura é classificada em

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


simples ou composta, conforme preparada com uma ou mais drogas vegetais (FARMACOPEIA
BRASILEIRA, 2019).
Os óleos voláteis da canela-do-ceilão apresentam atividade antibacteriana e fungistática,
estimulam a mobilidade intestinal e são usados como corretivo de odor e sabor (HEINZMANN;
SPITZER; SIMÕES, 2017). De acordo com o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia
Brasileira, o infuso das cascas da espécie é indicado para uso interno, via oral, acima de 12 anos de
idade, como antidispéptico, antiflatulento e antiespasmódico. Não usar em gestantes e lactantes e
em pessoas com hipersensibilidade à canela. Podem ocorrer reações alérgicas de pele e mucosas
(BRASIL, 2011).

1.1.4.3 Melissa (Melissa officinalis L., Lamiaceae)

A droga vegetal consiste de folhas secas contendo no mínimo 4,0% de derivados


hidroxicinâmicos totais; 2,0% de ácido rosmarínico e 0,6% de óleo volátil (FARMACOPEIA
BRASILEIRA, 2019). O óleo volátil apresenta propriedades sedativas, carminativas e espasmolíticas
(HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).
De acordo com o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira
(BRASIL, 2018), a forma farmacêutica de folhas de M. officinalis é a tintura, destinada ao uso
adulto para auxiliar no tratamento sintomático da ansiedade leve e insônia leve; no alívio de
sintomas gastrintestinais leves, incluindo distensão e flatulência. Não usar em pacientes com
hipotireoidismo e hipotensão arterial. Para mais informações sobre advertências, acessar o
suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018).

1.1.4.4 Outras espécies

Demais espécies importantes e produtoras de óleos voláteis com atividade farmacológica


incluem as flores de alecrim (Rosmarinus officinalis L., Lamiaceae), os frutos de erva-doce ou
anis-doce (Pimpinella anisum L., Apiaceae) e as folhas de eucalipto (Eucalyptus globulus Labill.,
Myrtaceae) (HEINZMANN; SPITZER; SIMÕES, 2017).

WWW.UNINGA.BR 53
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Para mais informações sobre as demais espécies importantes e


produtoras de óleos voláteis, ler as monografias de alecrim, anis-
doce e eucalipto, disponíveis na Farmacopeia Brasileira, 6ª edição,
volume 2 – monografias sobre plantas medicinais. Disponível em:
<http://portal.anvisa.gov.br/farmacopeia-brasileira>.

1.2 Compostos Fenólicos Simples e Heterosídicos


Os compostos fenólicos incluem diversos metabólitos, variando desde estruturas simples
até complexas. Tais compostos são amplamente distribuídos nas angiospermas e gimnospermas.
Uma característica das substâncias fenólicas é a presença de pelo menos um anel aromático no
qual ao menos um hidrogênio é substituído por uma hidroxila. Dentre os compostos fenólicos
que pertencem ao metabolismo secundário vegetal, tem-se os ácidos fenólicos, os derivados da
cumarina, os pigmentos hidrossolúveis das flores, frutos e folhas, as ligninas, os flavonoides e os
taninos (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


1.2.1 Classificação e síntese dos compostos fenólicos
Os compostos fenólicos podem ser classificados de acordo com o tipo de esqueleto
principal, como representado no Quadro 1 (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2004).

ESQUELETO BÁSICO CLASSE DE COMPOSTOS FENÓLICOS


C6 Fenóis simples, benzoquinonas
C6-C1 Ácidos fenólicos
C6-C2 Acetofenonas e ácidos fenilacéticos
C6-C3 Fenilpropanoides, ácidos cinâmicos e compostos análogos,
fenilpropenos, cumarinas, isocumarinas e cromonas
C6-C4 Naftoquinonas
C6-C1-C6 Xantonas
C6-C2-C6 Estilbenos, antraquinonas
C6-C3-C6 Flavonoides e isoflavonoides
(C6-C3)2 Lignanas
(C6-C3-C6)2 Diflavonoides
(C6-C1)n Taninos hidrolisáveis
(C6-C3-C6)n Taninos condensados

Quadro 1 – Classificação dos compostos fenólicos de acordo com o esqueleto básico. C6 corresponde ao anel benzê-
nico. Fonte: Adaptado de Carvalho, Gosmann e Schenkel (2004).

WWW.UNINGA.BR 54
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Os compostos fenólicos podem ser formados pela via do ácido chiquímico, obtendo-
se substâncias com grupos hidroxilas na posição orto, formados a partir do ácido cinâmico. Já
os compostos formados pela via acetato-polimalato (acetil-coenzima A e malonil-coenzima A)
originam substâncias com grupos hidroxilas dispostos em meta. Uma característica da biogênese
de compostos fenólicos é a capacidade dos vegetais de produzirem um mesmo composto a partir
de rotas alternativas (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2004).
A maioria dos compostos fenólicos não está no estado livre na natureza, mas sob a
forma de ésteres ou heterosídeos, sendo solúveis em água e em solventes orgânicos polares. Os
heterosídeos são definidos como substâncias formadas pela combinação de um açúcar redutor
(glicona) e um grupo livre de açúcar, denominado aglicona ou genina. Pelo fato de serem fenólicos,
geralmente possuem características ácidas, podendo ser isolados em soluções fracamente básicas.
Além disso, podem formar ligações de hidrogênio intramoleculares e intermoleculares. Outra
característica importante é a capacidade de complexação dos fenóis com metais e proteínas. Por
serem compostos aromáticos, possuem absorção na região do ultravioleta (UV). Os compostos
fenólicos sofrem oxidação, seja por meio de enzimas específicas ou pela influência de metais, luz,
calor e meio básico (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2004).

1.2.2 Métodos de extração e identificação dos compostos fenólicos

Os compostos fenólicos podem ser obtidos a partir de extratos etanólicos ou hidroetanólicos

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


do material vegetal fresco ou seco. As substâncias podem ser visualizadas por cromatografia em
camada delgada (CCD), em fase estacionária de celulose, gel de sílica ou poliamida, reveladas
com luz ultravioleta (UV), vapores de amônia ou pelo uso de reagentes cromogênicos, como
cloreto férrico (FeCl3) e vanilina em meio ácido (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2004).
A determinação qualitativa de fenólicos simples heterosídicos pode ser realizada pelo
método de microssublimação. A microssublimação consiste em aquecer um sólido até que este
evapore, sem passar pelo estado líquido, retornando ao estado sólido pela condensação do vapor,
obtendo-se o sublimado. Dessa forma, os sólidos voláteis são separados dos sólidos não voláteis,
sendo este o principal objetivo da microssublimação. Para realizar a técnica, uma quantidade de
droga vegetal pulverizada é colocada dentro de uma argola de vidro com ácido clorídrico 6 N,
coberta com lâmina e aquecida sobre chapa quente, até a formação do sublimado. Em seguida,
o sublimado reage com nitrato de prata amoniacal (AgNO3), reação positiva forma precipitado
negro e, com cloreto férrico (FeCl3), há o aparecimento de coloração verde; tem-se reação positiva
(SBFGNOSIA, 2020).
Para detectar hidroxilas fenólicas livres e quantificar fenóis solúveis, pode-se
recorrer ao método de doseamento de polifenóis totais. Nesse método, utiliza-se o reagente
fosfomolibdotúngstico, que ao sofrer redução pelas hidroxilas fenólicas, origina um complexo de
coloração azul, que pode ser lido em espectrofotômetro a 760 nm, como descrito na monografia
de Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville [syn. Stryphnodendron barbatimam (Vell.) Mart.]
(FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019).

WWW.UNINGA.BR 55
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.2.3 Propriedades farmacológicas de compostos fenólicos

1.2.3.1 Alcachofra (Cynara scolymus L., Asteraceae)

A droga vegetal é composta pelas folhas secas, contendo no mínimo 0,7% de ácido
clorogênico. O extrato fluido, de coloração verde escura, é preparado na proporção droga vegetal:
líquido extrator (1:1, p/v), por percolação, utilizando álcool etílico a 70% (v/v) como solvente
(FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019). As folhas dessa espécie são ricas em ácidos fenólicos,
aos quais são atribuídas as funções colerética e colagoga, sendo indicadas para facilitar a digestão
e aliviar o desconforto abdominal, causado por gases e náuseas, resultantes da deficiência na
produção e eliminação da bile (CARVALHO; GOSMANN; SCHENKEL, 2004).
De acordo com o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira
(BRASIL, 2018), a forma farmacêutica de folhas de C. scolymus é a tintura, destinada ao uso adulto
no alívio dos sintomas dispépticos, como antiflatulento e diurético, no auxílio e na prevenção da
aterosclerose, na dislipidemia mista leve a moderada e como colagogo. Já as cápsulas contendo
o extrato da espécie são indicadas para uso adulto e pediátrico acima de 12 anos. Não usar em
gestantes, lactantes, alcoolistas, diabéticos, pessoas com cálculos biliares e obstrução dos ductos
biliares. Não usar associado ao tratamento com anticoagulantes. Para mais informações sobre
advertências, acessar o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


(BRASIL, 2018).

Uma substância tem ação colagoga, quando estimula a secreção de bile pela
vesícula biliar para o duodeno. Já a ação colerética está relacionada com a
capacidade de estimular a produção de bile pelo fígado. Ambas as ações facilitam
a digestão de alimentos gordurosos (DESCRITORES EM CIÊNCIAS DA SAÚDE,
2020).

1.2.3.2 Uva-ursi (Arctostaphylos uva-ursi (L.) Spreng., Ericaceae)

Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), a droga vegetal é composta de folhas secas,


íntegras ou rasuradas, contendo no mínimo 7% de arbutina anidra. Tradicionalmente, o extrato
da espécie é usado no tratamento de infecções das vias urinárias (CARVALHO; GOSMANN;
SCHENKEL, 2004).

1.3 Cumarinas
As cumarinas são encontradas nas angiospermas, com espécies distribuídas nas famílias
Apiaceae, Rutaceae, Asteraceae, Fabaceae, Oleaceae, Moraceae e Thymeleaceae (KUSTER;
ROCHA, 2004).

WWW.UNINGA.BR 56
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.3.1 Classificação e síntese das cumarinas

As cumarinas são compostos derivados do metabolismo da fenilalanina, tendo o ácido


p-hidróxi-cinâmico (ácido p-cumarínico) como um dos primeiros precursores. Um representante
mais simples dessa classe é a 1,2-benzopirona (cumarina). Com a exceção da 1,2-benzopirona,
todas as cumarinas possuem um grupo hidroxila substituinte no carbono 7 (C7) (KUSTER;
ROCHA, 2004). A 7-hidróxi-cumarina (umbeliferona) é a precursora das cumarinas 6,7-di-
hidroxiladas (esculetina) e 6,7,8-tri-hidroxiladas. Esses grupos hidroxilas podem ser metilados
(escopoletina) ou glicosilados (esculina) (Figura 5). A maioria das cumarinas deriva da via do
ácido chiquímico, porém algumas parecem derivar de uma via mista, ácido chiquímico e acetil-
CoA. A biogênese de cumarinas pode ser ativada em resposta a estresse biótico ou abiótico, pela
falta de nutrientes, pelo estímulo de hormônios vegetais, entre outros (KUSTER; ROCHA, 2004).
A Figura 5 mostra alguns exemplos das principais classes de cumarinas (KUSTER; ROCHA,
2004).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3

Figura 5 - Exemplos de cumarinas. Fonte: Kuster e Rocha (2004).

WWW.UNINGA.BR 57
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.3.2 Métodos de extração e identificação das cumarinas

As cumarinas possuem em sua estrutura química um anel lactônico. Em meio alcalino,


ocorre a abertura desse anel, proporcionando a extração de substâncias na forma de sais solúveis
em água. Ao acidificar o meio aquoso, tem-se a relactonização e as cumarinas podem ser
recuperadas pela extração com solventes orgânicos. Entretanto, muitas cumarinas são sensíveis
a ácidos e bases, impedindo o uso do procedimento de extração descrito acima (KUSTER;
ROCHA, 2004).
As cumarinas, quando em meio alcalino, originam o ácido cis-o-hidróxicinâmico que,
sob a ação da radiação ultravioleta (UV), origina o isômero trans, que apresenta fluorescência
azul-esverdeada (Figura 6).

Figura 6 – Reação da cumarina em meio alcalino. Fonte: SBFGNOSIA (2020).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


Na caracterização das cumarinas, pode-se aquecer por 10 min e em chapa quente o pó da
droga vegetal, acondicionando-o em câmara de microssublimação. O sublimado é dissolvido em
0,5 mL de metanol e aplicado em uma folha de papel filtro. Depois de seco, adicionar uma gota
de solução alcoólica de hidróxido de potássio ou sódio a 10%. Expor a mancha seca a radiação
UV (254 e 365 nm). Considera-se positiva a presença de coloração azul-brilhante ou verde
(SBFGNOSIA, 2020).

1.3.3 Propriedades farmacológicas das cumarinas

A partir da descoberta da ação anticoagulante do dicumarol, primeiro fármaco com ação


anticoagulante com uso por via oral, foi possível o desenvolvimento de outros anticoagulantes
contendo o núcleo básico da 4-hidróxi-cumarina, como a varfarina (KUSTER; ROCHA, 2004).

Para mais informações sobre a história dos anticoagulantes orais,


acessar a publicação A epopeia da Warfarina (CAVALCANTE, 2014).
Disponível em: <http://portal.crfsp.org.br/revistas/459-revista-
do-farmaceutico/revista-115/5358-revista-do-farmaceutico-115-
cultura-farmaceutica.html >.

WWW.UNINGA.BR 58
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.3.3.1 Guaco-cheiroso (Mikania laevigata Sch.Bip. ex Baker, Asteraceae)

A droga vegetal é composta pelas folhas secas, contendo no mínimo 0,15% de


cumarina, utilizada no tratamento de enfermidades do trato respiratório, devido à sua ação
broncodilatadora (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019). O xarope de Guaco é indicado como
auxiliar no tratamento de afecções do trato respiratório, incluindo tosses persistentes e tosses
com expectoração. As cumarinas são responsáveis pela dilatação dos brônquios e auxiliam na
eliminação das secreções respiratórias, pela tosse (CZELUSNIAK et al., 2012). Não usar em
gestantes, lactantes, concomitantemente com anti-inflamatórios não esteroidais. Para mais
informações sobre advertências, acessar o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da
Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018).

Segundo definição da Farmacopeia Brasileira (2019), o xarope é uma solução


oral de alta viscosidade. A alta viscosidade é devido à presença de elevadas
concentrações de sacarose ou outros açúcares, ou ainda, outros agentes
espessantes e edulcorantes nessa forma farmacêutica. Os xaropes geralmente
contêm agentes flavorizantes e/ou corantes autorizados. Quando não se destinam

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


ao consumo imediato, devem ser adicionados de conservantes antimicrobianos
autorizados.

1.3.3.2 Citros (Citrus aurantium L. e Citrus medica L., Rutaceae)

Os frutos imaturos de espécies do gênero Citrus são tradicionalmente utilizados em


problemas de baço e estômago, como distensão abdominal, náusea, vômito e perda de apetite.
Os constituintes predominantes são cumarinas, flavonoides (diosmina e rutina) e terpenos. Os
flavonoides são utilizados no tratamento da insuficiência venosa e como flavorizante. Devido à
presença de furanocumarinas no sumo e nas cascas dos frutos cítricos, deve-se evitar o contato
com a pele seguida de exposição solar, evitando lesões de cor escura, devido à fototoxicidade
dessas substâncias (KUSTER; ROCHA, 2004).
De acordo com o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2011),
o infuso das flores secas de C. aurantium é destinado ao uso adulto, como ansiolítico e sedativo
leve, não devendo ser usado por pessoas com doenças cardíacas. Para mais informações sobre
advertências, acessar o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2011).

1.4 Saponinas
As saponinas são metabólitos comuns no reino vegetal. As saponinas esteroidais neutras
são encontradas em monocotiledôneas das famílias Liliaceae, Dioscoreaceae e Agavaceae.
As saponinas esteroidais básicas são encontradas no gênero Solanum, pertencente à família
Solanaceae. As saponinas triterpênicas são encontradas em dicotiledôneas, principalmente nas
famílias Sapindaceae, Hippocastanaceae, Sapotaceae, Polygalaceae, Caryophyllaceae, Primulaceae
e Araliaceae (SCHENKEL; GOSMANN; ATHAYDE, 2004).

WWW.UNINGA.BR 59
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As saponinas em solução aquosa formam espuma persistente e abundante, sendo


considerada uma característica dessa classe de metabólitos. Isso ocorre pelo fato de apresentarem
em sua estrutura uma parte lipofílica, denominada aglicona (sapogenina) e uma parte hidrofílica,
constituída de um ou mais açúcares. A espuma formada é estável, mesmo na presença de ácidos
diluídos (SCHENKEL; GOSMANN; ATHAYDE, 2004).

1.4.1 Síntese e classificação das saponinas

Com a condensação de uma unidade de acetoacetil-CoA com uma molécula de acetil-


CoA, tem-se a formação do mevalonato, pela via do acetil-CoA. O mevalonato é convertido em
isopentenil-pirofosfato (isopreno ativo), unidade básica de formação de terpenos e esteroides.
Com a ligação cabeça-cabeça, entre duas moléculas de farnesil-pirofosfato (C15), tem-se a origem
do esqualeno. A partir da ciclização do esqualeno, os triterpenos são originados (C30). Dentre os
triterpenos e esteroides de origem vegetal, estão as saponinas (SANTOS, 2004).
As saponinas podem ser classificadas levando em consideração o núcleo fundamental
da aglicona, em saponinas esteroides ou saponinas triterpênicas e, conforme seu caráter ácido
(presença de carboxila na aglicona, na cadeia de açúcar ou ambos), em básico (presença de
nitrogênio) ou neutro (ATHAYDE et al., 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


1.4.2 Métodos de extração e identificação das saponinas

Quando possuem açúcares, as saponinas são solúveis em solventes polares, como a


água. Normalmente são utilizados como líquido extrator, etanol ou misturas hidroetanólicas
para a extração por maceração, percolação, sob refluxo ou com fluidos supercríticos. O extrato
obtido pode ser purificado pela realização de partição com solventes de baixa polaridade ou pela
precipitação das saponinas, após concentração do extrato e adição de acetona (ATHAYDE et al.,
2017).
Como as saponinas normalmente ocorrem na forma de misturas complexas, o seu
isolamento se torna um processo bastante trabalhoso, sendo necessário recorrer a diferentes
métodos cromatográficos. As saponinas isoladas podem ser caracterizadas por análises
cromatográficas e quantificadas por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), com
detecção em 210 nm (ATHAYDE et al., 2017).
Uma determinação semiquantitativa do índice de espuma pode ser realizada pelo índice
afrossimétrico. Esse índice determina a maior diluição em que 1 g da droga vegetal é capaz de
formar 1 cm de espuma, persistente em meio ácido (SBFGNOSIA, 2020).

Para mais informações da metodologia de análise semiquantitativa


do índice de espuma, acessar: <http://www.sbfgnosia.org.br/
Ensino/saponinas.html>.

WWW.UNINGA.BR 60
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.4.3 Propriedades farmacológicas das saponinas

1.4.3.1 Alcaçuz (Glycyrrhiza glabra L., Fabaceae)

O extrato fluido é obtido a partir de raízes e rizomas secos de G. glabra. O extrato fluido
possui coloração marrom escura e é preparado na proporção droga vegetal: líquido extrator (1:1,
p/v), empregando uma mistura de água e etanol a 90% (v/v), suficiente para obtenção do extrato
com concentração final de 20% de álcool etílico, além de conter no mínimo 2,5% (p/p) de ácido
glicirrizínico (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019).
Na medicina chinesa, G. glabra é tradicionalmente empregada no tratamento de doenças
alérgicas, distúrbios inflamatórios e úlceras gástricas (ATHAYDE et al., 2017). Evitar o uso
concomitante com diuréticos, glicosídeos cardíacos, corticosteroides, laxantes estimulantes ou
outros medicamentos que contenham alcaçuz ou que possam agravar o desequilíbrio eletrolítico.
Para mais informações sobre advertências, acessar o suplemento do Formulário de Fitoterápicos
da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018).

1.4.3.2 Ginseng (Panax ginseng C.A.Mey., Araliaceae)

A parte utilizada são as raízes e rizomas de P. ginseng. A espécie é usada na China há mais

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


de 3.000 anos como estimulante, geradora de vitalidade, sendo conhecida como elixir da longa
vida. Nas raízes, o teor de saponinas triperpênicas tetracíclicas e pentacíclicas varia de 0,5 a 3%
e são denominados de ginsenosídeos. As formas farmacêuticas são cápsulas contendo o extrato
seco padronizado (ATHAYDE et al., 2017).

1.5 Taninos
Os taninos são compostos fenólicos solúveis em água com massa molecular entre 500 e
3000 dáltons, com a capacidade de formar complexos insolúveis em água com alcaloides, gelatina
e outras proteínas. Tais compostos são responsáveis pela adstringência de frutos e vegetais
(MELLO; SANTOS, 2017).

1.5.1 Classificação e síntese dos taninos

Os taninos são classificados segundo a estrutura química em taninos hidrolisáveis e


taninos condensados. Os taninos hidrolisáveis possuem um poliol central de β-D-glicose com
hidroxilas esterificadas com moléculas de ácido gálico, este último originado pela via do ácido
chiquímico (MELLO; SANTOS, 2017).
Os taninos hidrolisáveis possuem duas classes: os galotaninos e elagitaninos, originados
a partir de transformações oxidativas do precursor com padrão máximo de substituição, o
β-1,2,3,4,6-pentagaloil-D-glicose (SANTOS; MELLO, 2004; MELLO; SANTOS, 2017). Os
galotaninos são originados da união de unidades de ácido gálico via ligações meta-depsídicas. Já
os elagitaninos são obtidos pelo acoplamento oxidativo C-C entre dois resíduos de ácido gálico
adjacentes, originando um ou dois resíduos de hexa-hidroxidifenoil-D-glicose (HHDP). Com
a hidrólise ácida das ligações éster, forma-se o ácido difênico, que se rearranja em ácido elágico
(MELLO; SANTOS, 2017). Os elagitaninos conhecidos até o momento são monômeros, dímeros,
trímeros e tetrâmeros (SANTOS; MELLO, 2004).

WWW.UNINGA.BR 61
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Os taninos condensados são oligômeros e polímeros originados pela condensação de


duas ou mais unidades flavan-3-ol e flavan-3,4-diol, derivados da via do ácido chiquímico e pela
via do acetil-CoA. Os taninos condensados também são denominados proantocianidinas, pelo
fato de produzirem pigmentos avermelhados da classe das antocianidinas, como cianidina e
delfinidina, após hidrólise com ácido mineral diluído a quente (Figura 7) (SANTOS; MELLO,
2004; MELLO; SANTOS, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


Figura 7 – Degradação de proantocianidinas catalisada por ácido mineral. Fonte: Mello e Santos (2017).

O Quadro 2 contém exemplos dos dois tipos de taninos condensados, devido à presença
ou ausência do grupo hidroxila na posição C-5 do anel A (SANTOS; MELLO, 2004; MELLO;
SANTOS, 2017).

TIPO PROANTOCIANIDINA MONÔMERO SUBSTITUINTE


Nome Trivial
R1 R2 R3 R4
1 Prodistenidina Distenina H H H H
1 Propelargonidina Afzelequina H H OH H
1 Procianidina Catequina H OH OH H
1 Prodelfinidina Galocatequina H OH OH OH
2 Proguibourtinidina Guibourtinidol H H OH H
2 Profisetinidina Fisetinidol H OH OH H
2 Prorobinetinidina Robinetinidol H OH OH OH
2 Proteracacinidina Oritina OH H OH H
2 Promelacacinidina Mesquitol OH OH OH H

Quadro 2 – Taninos condensados de acordo com o grau de hidroxilação nos anéis A e B dos monômeros básicos.
Fonte: Adaptado de Santos e Mello (2004).

WWW.UNINGA.BR 62
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As unidades flavan-3-ol são produtos da rota biossintética dos flavonoides. Tais unidades
diferem no padrão de hidroxilação nos anéis A e B, e na estereoquímica do C-3, originando
os diastereômeros (+)-catequina/ (-)-epicatequina e (-)-galocatequina/ (-)-epigalocatequina. Os
dois tipos de dímeros de procianidinas, o A (C30H24O12) e o B (C30H26O12) (Figura 8) (MELLO;
SANTOS, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3

Figura 8 – Exemplos de flavan-3-óis e proantocianidinas. Fonte: Mello e Santos (2017).

1.5.2 Métodos de extração e identificação dos taninos

A presença de água em solventes orgânicos, como metanol e acetona, pode aumentar


a eficiência da extração, elevando o rendimento dos compostos fenólicos extraídos. Quando
comparado ao metanol, a acetona consegue bloquear o complexo tanino-proteína. No entanto, a
estabilidade dos taninos é maior em meio metanol-água (SANTOS; MELLO, 2004).
Os taninos hidrolisáveis e condensados podem ser extraídos com a mistura de acetona-
água (7:3, v/v). A solução extrativa obtida é filtrada e o solvente orgânico eliminado em evaporador
rotatório, por fim, o concentrado é liofilizado, obtendo-se o extrato bruto.

WWW.UNINGA.BR 63
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O extrato bruto pode ser fracionado, empregando-se a partição líquido-líquido com diferentes
solventes, como acetato de etila. O produto final, neste caso denominado fração acetato de etila,
após ser evaporado e liofilizado, pode ser submetido ao método cromatográfico de cromatografia
em coluna, utilizando como fase estacionária a Sephadex LH-20. A eluição e separação das
substâncias pode ser acompanhada pelo método de cromatografia em camada delgada (CCD),
em suporte de gel de sílica F254. Como fase móvel, pode-se utilizar a mistura de acetato de etila:
ácido fórmico: água (90: 5: 5, v/v) para taninos condensados e tolueno: formiato de etila: ácido
fórmico (1: 7: 1, v/v), para taninos hidrolisáveis. A cromatoplaca pode ser revelada com a solução
etanólica de FeCl3 a 1% ou em solução de vanilina sulfúrica ou com ácido clorídrico a 1%, seguida
de aquecimento. Após todas as etapas de isolamento e purificação, os taninos hidrolisáveis
podem ser mantidos à temperatura ambiente, e os taninos condensados devem ser armazenados
a temperaturas baixas e ao abrigo da luz (SANTOS; MELLO, 2004).
Alguns testes qualitativos podem ser realizados com o objetivo de identificar a presença
de taninos condensados ou taninos hidrolisáveis de espécies vegetais, utilizando as soluções
extrativas. Como exemplo, tem-se a precipitação em solução de gelatina a 2,5%, reação positiva
para taninos; reação com solução de FeCl3 a 1%, com desenvolvimento de coloração azul para
taninos hidrolisáveis ou verde para taninos condensados; e a reação de Stiasny, na qual os taninos
condensados originam precipitado vermelho (flobafenos), permitindo a diferenciação entre
taninos hidrolisáveis e condensados (SBFGNOSIA, 2020).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3


1.5.3 Propriedades farmacológicas dos taninos

Acredita-se que as propriedades farmacológicas dos taninos hidrolisáveis e condensados


estejam relacionadas às características de complexação com íons metálicos; atividades
antioxidantes e sequestradora de radicais livres; e complexação com outras moléculas, como
proteínas. Quanto maior o número de grupos galoil, maior a afinidade pelas proteínas (MELLO;
SANTOS, 2017).

1.5.3.1 Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia Mart. Ex Reissek, Celastraceae)

A droga vegetal consiste de folhas secas de M. ilicifolia com no mínimo 2,0% de


taninos totais, expressos em pirogalol e, no mínimo, 0,28% de epicatequina (FARMACOPEIA
BRASILEIRA, 2019).
Popularmente a espécie é usada devido à sua ação cicatrizante, antiespasmódica, anti-
inflamatória, antiulcerogênica. O uso farmacológico reconhecido da espécie é para o tratamento
da má digestão e como coadjuvante no tratamento de úlcera do estômago e duodeno (forma
farmacêutica: cápsula dura) (MELLO; SANTOS, 2017).
De acordo com o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira
(BRASIL, 2018), o extrato seco da folha da espécie é usado no preparo de cápsulas, destinadas
ao uso adulto no alívio dos sintomas dispépticos e na gastrite. Não usar em gestantes e lactantes.
Para mais informações sobre advertências, acessar o suplemento do Formulário de Fitoterápicos
da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018).

WWW.UNINGA.BR 64
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.5.3.2 Barbatimão (Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville., Leguminosae)

A droga vegetal é composta pelas cascas caulinares secas de S. adstringens com no mínimo
8% de taninos totais, expressos em pirogalol, dos quais, no mínimo, 0,2 mg/g equivalem a ácido
gálico, 0,3 mg/g correspondem a galocatequina, em relação à droga seca (FARMACOPEIA
BRASILEIRA, 2019). Popularmente, a espécie é empregada em leucorreias, diarreias e como
cicatrizante. A ação farmacológica reconhecida é o efeito cicatrizante de S. adstringens. São
encontrados produtos farmacêuticos na forma de pomada, creme, sabonete e soluções de uso
tópico (MELLO; SANTOS, 2017). Manter fora do alcance de crianças. Para mais informações
sobre advertências, acessar o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia
Brasileira (BRASIL, 2011).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3

WWW.UNINGA.BR 65
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Unidade 3 da apostila de Fitoquímica e Fitoterapia abordou, de forma detalhada,


os assuntos relacionados com a distribuição, classificação, síntese, extração e identificação das
seguintes classes de metabólitos secundários: óleos voláteis, cumarinas, quinonas e taninos.
Para cada classe de metabólito, as drogas vegetais consideradas mais importantes, assim
como as principais atividades farmacológicas de seus ativos e formas farmacêuticas, foram
mencionadas. Dessa forma, foi possível introduzir os assuntos relacionados à fitoterapia, como o
uso popular e as propriedades farmacológicas reconhecidas e comprovadas cientificamente.
Assim como as demais classes de medicamentos, o uso de fitoterápicos deve ser
acompanhado pelo farmacêutico e/ou médico responsável, pois o fato de serem medicamentos de
origem natural não exclui o risco de efeitos colaterais, reações adversas, interações medicamentosas
e restrições de uso.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 3

WWW.UNINGA.BR 66
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA

GRUPOS DE METABÓLITOS SECUNDÁRIOS E


FITOTERAPIA II
PROF.A MA. NAIARA CÁSSIA GANCEDO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................69
1. FLAVONOIDES........................................................................................................................................................70
1.1 SÍNTESE E CLASSIFICAÇÃO DOS FLAVONOIDES.............................................................................................70
1.1.1 FLAVONAS, FLAVONÓIS E SEUS O-HETEROSÍDEOS..................................................................................... 71
1.1.2 ISOFLAVONOIDES............................................................................................................................................. 73
1.1.3 BIFLAVONOIDES............................................................................................................................................... 74
1.1.4 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS FLAVONOIDES.............................................................. 74
1.1.5 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DOS FLAVONOIDES........................................................................... 75
1.1.5.1 GINCO (GINKGO BILOBA L., GINKGOACEAE).............................................................................................. 75
1.1.5.2 MARACUJÁ (PASSIFLORA SPP., PASSIFLORACEAE)................................................................................. 75
1.2 QUINONAS........................................................................................................................................................... 76
1.2.1 CLASSIFICAÇÃO E SÍNTESE DAS QUINONAS................................................................................................ 76

WWW.UNINGA.BR 67
1.2.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS QUINONAS................................................................... 77
1.2.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS QUINONAS.................................................................................78
1.2.3.1 RUIBARBO (RHEUM PALMATUM L. E RHEUM OFFICINALE BAILL., POLYGONACEAE)........................78
1.2.3.2 CÁSCARA-SAGRADA (RHAMNUS PURSHIANA DC., RHAMNACEAE)......................................................79
1.2.3.3 SENE (SENNA ALEXANDRINA MILL., FABACEAE).....................................................................................79
1.3 HETEROSÍDEOS CARDIOATIVOS.......................................................................................................................79
1.3.1 CLASSIFICAÇÃO E SÍNTESE DOS HETEROSÍDEOS CARDIOTÔNICOS.........................................................80
1.3.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS HETEROSÍDEOS CARDIOATIVOS...............................80
1.3.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DOS HETEROSÍDEOS CARDIOATIVOS............................................ 81
1.3.3.1 DIGITALIS (DIGITALIS PURPUREA L. E DIGITALES LANATA EHRH., SCROPHULARIACEAE)................ 81
1.4 ALCALOIDES.........................................................................................................................................................82
1.4.1 CLASSIFICAÇÃO E SÍNTESE DOS ALCALOIDES.............................................................................................82
1.4.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DOS ALCALOIDES................................................................82
1.4.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DOS ALCALOIDES..............................................................................83
1.4.3.1 QUININA (CINCHONA CALISAYA WEDD. E CINCHONA PUBESCENS VAHL., RUBIACEAE)..................83
1.4.3.2 ÓPIO (PAPAVER SOMNIFERUM L., PAPAVERACEAE)..............................................................................83
1.4.3.3 BELADONA (ATROPA BELLADONNA L., SOLANACEAE)............................................................................84
1.4.3.4 VINCA (CATHARANTHUS ROSEUS (L.) G. DON, APOCYNACEAE)............................................................84
1.4.3.5 CONFREI (SYMPHYTUM OFFICINALE L., BORAGINACEAE)....................................................................84
1.5 METILXANTINAS.................................................................................................................................................85
1.5.1 CLASSIFICAÇÃO E SÍNTESE DAS METILXANTINAS......................................................................................85
1.5.2 MÉTODOS DE EXTRAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO DAS METILXANTINAS.........................................................85
1.5.3 PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS DAS METILXANTINAS......................................................................85
1.5.3.1 GUARANÁ (PAULLINIA CUPANA KUNTH., SAPINDACEAE)......................................................................85
1.5.3.2 ERVA-MATE (ILEX PARAGUARIENSIS A.ST.-HIL, AQUIFOLIACEAE).......................................................85
2. PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS NO SUS.........................................................................................86
2.1 POLÍTICA NACIONAL DE PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS...........................................................86
2.2 RELAÇÃO NACIONAL DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS (RENAME)...........................................................87
2.3 RELAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS DE INTERESSE AO SUS (RENISUS)...................................................87
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................88

WWW.UNINGA.BR 68
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

A Unidade 4 desta apostila continuará abordando as demais classes de metabólitos


secundários, suas formas de classificação e síntese; os métodos de extração e identificação; e as
propriedades farmacológicas dos compostos presentes nas principais espécies vegetais utilizadas
em fitoterapia.
No Brasil, com a criação do SUS na década de 1980, os estados e municípios passaram a
ter uma maior autonomia, definindo suas políticas e ações em saúde. Desde 2006, a fitoterapia
tem ganhado espaço como uma prática integrativa e complementar no SUS. Sobre esse contexto,
também discutiremos, nesta unidade, assuntos relacionados à Política Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos, Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e a Relação
de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4

WWW.UNINGA.BR 69
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. FLAVONOIDES

1.1 Síntese e Classificação dos Flavonoides


Como definido na Unidade 3, uma substância fenólica ou polifenólica possui um
ou mais núcleos aromáticos com substituintes hidroxilados. Porém, devemos lembrar que
existem compostos hidroxilados que fazem parte da classe dos flavonoides e de outras classes
de metabólitos secundários, como taninos. Dessa forma, na definição de flavonoides, deve-
se levar em consideração a sua origem biogenética. A Figura 1 representa um esquema da
biossíntese dos flavonoides via ácido chiquímico e via acetil-CoA. A partir da via do ácido
chiquímico, tem-se a origem da fenilalanina, precursor do ácido cinâmico e do ácido cumárico,
responsável pela formação do anel B dos flavonoides e a ponte de três carbonos. Já a via do
acetil-CoA é responsável pela síntese do anel A (ZUANAZZI; MONTANHA, 2004; ZUANAZZI;
MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4

Figura 1 – Representação esquemática simplificada da biossíntese dos flavonoides. Fonte: Zuanazzi, Montanha e
Zucolotto (2017).

WWW.UNINGA.BR 70
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Os flavonoides apresentam diversas formas estruturais. Entretanto, a maioria dos


representantes dessa classe de metabólitos possui um núcleo fundamental contendo 15 átomos
de carbono. Nos compostos tricíclicos, tem-se os núcleos A, B e C. Os átomos de carbono são
numerados em A e C, e no núcleo B, os números são seguidos de uma linha (’) (Figura 2).

Figura 2 – Núcleo fundamental dos flavonoides e sua numeração. Fonte: Zuanazzi, Montanha e Zucolotto (2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Muitos flavonoides estão conjugados a açúcares, recebendo a denominação de heterosídeos.
Quando a ligação ocorre por intermédio de uma hidroxila, tem-se O-heterosídeos e, quando a
ligação ocorre com um átomo de carbono, tem-se C-heterosídeos. Quando o flavonoide não
está ligado ao açúcar, é chamado de aglicona ou forma livre (ZUANAZZI; MONTANHA, 2004;
ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
A classificação dos flavonoides se baseia no grau de insaturações do núcleo C e no estado
de oxidação da molécula. As principais classes de flavonoides incluem as flavonas, flavonóis
e seus O-heterosídeos e C-heterosídeos; antocianos; chalconas; auronas; di-hidroflavonóis;
flavanonas; di-hidrochalconas; flavanas, leucoantocianidinas e proantocianidinas; isoflavonoides,
neoflavonoides e biflavonoides (ZUANAZZI; MONTANHA, 2004; ZUANAZZI; MONTANHA;
ZUCOLOTTO, 2017). Como os flavonoides da classe das proantocianidinas foram apresentados
no grupo dos taninos, pelo fato de fazerem parte da classe de taninos condensados, não
repetiremos este assunto. Devido ao grande número de classes de flavonoides, veremos algumas
das descritas acima e os seus principais representantes.

1.1.1 Flavonas, flavonóis e seus O-heterosídeos

As flavonas, flavonóis e seus O-heterosídeos são classes de flavonoides que possuem


origens biossintéticas próximas e suas cores variam de branca à amarela, são compostos oxigenados
que contêm em suas estruturas químicas substituintes hidroxilas e/ou metoxilas. Os flavonóis
são flavonas que possuem uma hidroxila na posição C-3 (anel C) (Figura 3) (ZUANAZZI;
MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).

WWW.UNINGA.BR 71
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 3 – Núcleo fundamental das flavonas (R=H) e flavonóis (R=OH). Fonte: Adaptado de Zuanazzi, Montanha
e Zucolotto (2017).

As flavonas derivam da 2-fenilcromona e os flavonóis da 3-hidróxi-2-fenilcromona. Os


exemplos mais comuns de flavonas e flavonóis estão na Tabela 6 (ZUANAZZI; MONTANHA;
ZUCOLOTTO, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


FLAVONAS FLAVONÓIS
Nome Trivial Substituintes Nome Trivial Substituintes
Acacetina 4’-Me-apigenina Astragalina Canferol-3-O-gli
Apiína 7-O-apio(1-2)gli-apigenina Canferol** 5,7,4’-tri-OH

Ficetina 5,3’,4’-tri-OH
Apigenina* 5,7,4’-tri-OH Galangina** 5,7-di-OH
Crisina 5,7-di-OH Gossipetina 5,7,8,3’,4’-penta-OH
Crisoeriol 3’-Me-luteolina Herbacetina 5,7,8,4’-tetra-OH
Diosmetina 4’-Me-luteolina Isorramnetina 3’-O-Me-quercetina
Escutelareína 6-OH-apigenina Miricetina** 5,7,,3’,4’,5’-penta-OH
Luteolina* 5,7,3’,4’-tetra-OH Miricitrina Miricetina-3-O-rha
Tricetina 5’-OH-luteolina Morina 5,7,2’,4’-tetra-OH
Tricina 3’,5’-di-O-Me-tricetina Quercetina** 5,7,3’,4’-tetra-OH
Ramnetina 7-O-Me-quercetina
Rutina Quercetina-3-O-
rutinosídeo

Quadro 1 – Alguns representantes mais comuns das flavonas e flavonóis. *Apigenina e luteolina, livres (agliconas)
ou conjugadas (heterosídeos), são as flavonas mais abundantes em plantas. ** Galangina, canferol, quercetina e mi-
ricetina são os flavonóis mais encontrados em plantas. Fonte: Adaptado de Zuanazzi, Montanha e Zucolotto (2017).

WWW.UNINGA.BR 72
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.1.2 Isoflavonoides

Os isoflavonoides são caracterizados por uma cadeia arila-C3-arila, do tipo difenil-


1,2-propano. Nos vegetais, muitos isoflavonoides se comportam como fitoalexinas, ou seja,
substâncias que são produzidas pela planta em resposta a uma infecção ocasionada por
patógenos. As estruturas químicas dos principais isoflavonoides estão apresentadas na Figura 4.
Os substituintes mais comuns são hidroxilas, metoxilas e metilenodioxila. Quando comparado
a flavonas e flavonóis, o número de isoflavonoides isolados na forma de heterosídeos é muito
reduzido (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4

Figura 4 – As estruturas dos isoflavonoides mais comuns. Fonte: Zuanazzi, Montanha e Zucolotto (2017).

WWW.UNINGA.BR 73
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Dentre os radicais que apresentam elétron livre em átomo de carbono, os mais


comuns são aqueles formados exclusivamente por carbono e hidrogênio. Um
exemplo de radical monovalente, ou seja, que apresenta um elétron livre em um
átomo de carbono, são os radicais arilas. No radical arila, o elétron livre pertence
ao carbono do núcleo benzênico (LUZ, 2020).

1.1.3 Biflavonoides

Os biflavonoides são flavonoides diméricos que se diferenciam de outros oligômeros, como


as proantocianidinas, devido à sua origem em comum. A maioria dos biflavonoides são dímeros
de flavonas e flavanonas, com substituintes nas posições dos carbonos 5, 7, 4’ e, mais raramente,
5,7, 3’, 4’. Alguns grupamentos hidroxilas podem se apresentar metoxilados e, os heterosídeos são
raros. A ligação das unidades dos monômeros flavona-flavona, flavanona-flavanona ou flavona-
flavanona pode ser feita entre carbonos ou entre carbono-oxigênio-carbono, sendo que a ligação
C-C entre C-3’ e C-8” é a mais comum, como pode ser observado na amentoflavona (Figura 5)
(ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Figura 5 – Amentoflavona. Fonte: Adaptado de Zuanazzi, Montanha e Zucolotto (2017).

1.1.4 Métodos de extração e identificação dos flavonoides

Para a extração dos metabólitos secundários da classe dos flavonoides, pode-se optar,
primeiramente, por um método de extração sólido-líquido com solvente apolar, objetivando
remover óleos, gorduras, esteróis e pigmentos, e facilitar a extração posterior dos flavonoides. A
extração dos flavonoides pode ser realizada pelo método de extração líquido-líquido e com o uso
de solventes um pouco mais polar, como o acetato de etila. Tais solventes permitem recuperar
as agliconas livres pouco polares, como flavonas, flavonóis, flavanonas, isoflavonas e outras
agliconas. Com o uso de solventes mais polares, como acetona, metanol e água, podem-se extrair
agliconas poli-hidroxiladas, flavonas, flavonóis, flavonoides glicosilados, entre outros flavonoides
mais polares (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).
A reação de Shinoda é um exemplo de ensaio cromático de caracterização dos flavonoides.
A reação consiste em adicionar à solução alcoólica ácida contendo a amostra (ácido clorídrico
(HCl) concentrado), um pequeno fragmento de magnésio. A reação de Shinoda baseia-se na
redução dos derivados flavônicos de cor amarela, os quais adquirem coloração avermelhada, ou
azulada, no caso dos derivados antociânicos. Esse ensaio é negativo para chalconas e isoflavonas
(ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).

WWW.UNINGA.BR 74
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Para uma revisão de outros reagentes utilizados na identificação


de flavonoides, acessar o tópico sobre flavonoides da Sociedade
Brasileira de Farmacognosia. Disponível em: <http://www.
sbfgnosia.org.br/Ensino/flavonoides_e_antocianinos.html>.

Na caracterização dos flavonoides por cromatografia em camada delgada (CCD), a sílica,


a celulose ou poliamida podem ser empregadas como fase estacionária. As agliconas podem ser
eluídas em sistema n-butanol-ácido acético-água, e os heterosídeos em acetato de etila: ácido
fórmico: água (8: 1: 1, v/v). O reagente natural A (difenilboriloxietilamina a 1% em metanol) é
o reagente cromogênico de escolha para a detecção de flavonoides. A coinjeção do extrato com
substâncias de referência (padrão), associado ao espectro de ultravioleta do pico, realizada pelo
método de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), é uma alternativa muito útil e cada
vez mais utilizada para a separação, caracterização e doseamento dos flavonoides (ZUANAZZI;
MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


1.1.5 Propriedades farmacológicas dos flavonoides

1.1.5.1 Ginco (Ginkgo biloba L., Ginkgoaceae)

A droga vegetal é constituída das folhas secas de G. biloba, contendo flavonoides


totais expressos no mínimo 0,5% de flavonol glicosilado ou 0,2 a 0,4 % de agliconas, além de
0,06 a 0,23% de ginkgolideos A, B, C, J e M (lactonas diterpênicas) e 0,26% de bilobalídeo
(lactona sesquiterpênica). O medicamento dessa espécie, na forma farmacêutica de cápsulas e
comprimidos, é indicado no tratamento de desordens e sintomas decorrentes da deficiência do
fluxo sanguíneo cerebral, como problemas de memória, função cognitiva, tonturas, vertigem.
Dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais e reações alérgicas da pele são possíveis efeitos
adversos (WHO, 1999).

1.1.5.2 Maracujá (Passiflora spp., Passifloraceae)

A Farmacopeia Brasileira (2019) contém as monografias das folhas secas das espécies
P. edulis Sims. (Maracujá-azedo) e P. alata Curtis. (Maracujá-doce), droga vegetal contendo no
mínimo 1,0% de flavonoides totais, expresso em apigenina. A droga vegetal é empregada na
forma de tintura, comprimidos e drágeas, no tratamento sintomático da ansiedade e insônia
leve (ZUANAZZI; MONTANHA; ZUCOLOTTO, 2017). Não se deve usar em pessoas com
hipersensibilidade aos componentes da formulação. Não se deve usar em gestantes, lactantes,
alcoolistas e diabéticos, em função do teor alcoólico na formulação. Para mais informações sobre
advertências, acessar o suplemento do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira
(BRASIL, 2018).

WWW.UNINGA.BR 75
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.2 Quinonas
As quinonas são produtos da oxidação de fenóis e, quando sofrem redução, originam
seus correspondentes fenólicos. A principal característica dessa classe de metabólito secundário
é a presença de dois grupos carbonílicos, formando um sistema conjugado com pelo menos duas
ligações duplas entre carbonos (C=C). As orto e para-quinonas são 1,2 e 1,4-dicetonas cíclicas
conjugadas; meta-quinonas não existem na natureza (FALKENBERG, 2017).

1.2.1 Classificação e síntese das quinonas

Benzoquinonas, naftoquinonas e antraquinonas são os três grupos principais de quinonas.


Também são encontradas quinonas terpênicas e policíclicas de estrutura mais complexa (Figura
6). Para as antraquinonas, outras denominações, como antranoides, derivados antracênicos
ou derivados hidroxiantracênicos, são encontradas na literatura. As antraquinonas podem ser
formadas via ácido chiquímico e acetato ou somente pela via acetato (FALKENBERG, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Figura 6 – Redução de quinonas (1a) a fenóis (1b), principais tipos de anéis encontrados em quinonas naturais (1
a 5) e exemplos de esqueletos encontrados em grupos taxonômicos específicos (6 e 7). Fonte: Falkenberg (2017).

As quinonas são sintetizadas por diferentes rotas metabólicas. Os derivados


hidroxiantracênicos podem ser formados por unidades de acetil-CoA ou malonilcoenzima A,
resultando em grupos hidroxila (OH) em C-1 e C-8 e, às vezes, em C-6 (Figura 7). As quinonas
geralmente se apresentam como substâncias cristalinas, com cor variando do amarelo ao
vermelho. Ocasionalmente podem ser azuis, verdes ou pretas. A presença de cor sob luz visível
é explicada pela presença de duplas ligações conjugadas que conferem absorção na região do
ultravioleta/visível. Devido ao poder de oxirredução, as quinonas são importantes carreadoras de
elétrons no metabolismo celular, interagindo com sistemas redox ou transferindo elétrons, essa
condição pode ser modificada pela presença de grupos substituintes nos anéis (FALKENBERG,
2017).

WWW.UNINGA.BR 76
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Figura 7 – Esquema da biossíntese de antronas pela via acetato/malonato. Fonte: Falkenberg (2017).

1.2.2 Métodos de extração e identificação das quinonas

A acetona é o solvente de escolha para a extração de quinonas poliméricas, empregando-


se os métodos extrativos de maceração, percolação ou a combinação deles. O isolamento e a
purificação de quinonas pode ser realizada pela técnica de cromatografia em coluna, usando
como fase estacionária gel de sílica ou Sephadex LH-20 e, em cromatografia em camada delgada
(CCD), tendo como fase estacionária a sílica gel G e, como fase móvel, a mistura de diclorometano:
metanol (83,5: 16,5, v/v). As cromatoplacas podem ser reveladas em cuba saturada com hidróxido
de amônio ou iodo (FALKENBERG, 2017).

WWW.UNINGA.BR 77
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A caracterização das quinonas pode ser realizada pela combinação de reações químicas
e análises espectroscópicas. As quinonas hidroxiladas transformam-se em ânions fenolatos
em meio alcalino, apresentando intensa coloração púrpura a violeta. A alcalinização pode ser
obtida com o uso de soluções de bases fracas, como hidróxido de amônio, denominada reação de
Bornträger (Figura 8). Como o meio é apolar, a reação de Bornträger é indicada para a detecção
de agliconas antraquinônicas, portanto deve-se realizar a hidrólise de heterosídeos, antes da
reação, seja acidificando o meio com ácido clorídrico (HCl) ou pelo uso de agentes oxidantes,
como o cloreto férrico (FeCl3) (FALKENBERG, 2017; SBFGNOSIA, 2020).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Figura 8 – Estrutura viníloga de ácido carboxílico apresentada pelas 1,8-di-hidroxiantraquinonas e formação de
ânion fenolato em meio alcalino a partir de antraquinonas hidroxiladas. Fonte: Falkenberg (2017).

1.2.3 Propriedades farmacológicas das quinonas

O principal uso terapêutico dos derivados antracênicos (antraquinonas), maior grupo


das quinonas, está relacionado com a propriedade laxante. Em relação à estrutura-atividade dos
compostos antracênicos, tem-se os glicosídeos, que possuem transporte facilitado e absorção
reduzida, quando comparados com os correspondentes de antraquinonas livres (agliconas).
Após hidrólise ou redução dos glicosídeos de antronas pela flora bacteriana, tem-se a formação
e liberação de antronas e diantronas no intestino grosso, formas antracênicas ativas e com
elevada ação laxante. As hidroxilas em C-1 e C-8 são consideradas essenciais para a ação laxante
(FALKENBERG, 2017).
Os mecanismos da atividade laxante dos antranoides incluem a estimulação direta
da contração da musculatura lisa do intestino, aumentando a motilidade intestinal; inibição
da reabsorção de água pela inativação da bomba de Na+/ K+-ATPase; inibição dos canais
de Cl-, mecanismo comprovado para 1,8-hidroxiantranoides (antraquinonas e antronas)
(FALKENBERG, 2017).

1.2.3.1 Ruibarbo (Rheum palmatum L. e Rheum officinale Baill., Polygonaceae)

A droga vegetal é composta de rizomas e raízes secas e fragmentadas de R. palmatum e/


ou R. officinale, contendo no mínimo 2,2% de derivados hidroxiantracênicos expressos em reína
(FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019). O ruibarbo é originário da China e do Tibete. Atualmente
é cultivado na Ásia e Europa. É uma das plantas mais antigas e conhecidas na medicina tradicional
chinesa, com ação laxante (FALKENBERG, 2017).

WWW.UNINGA.BR 78
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.2.3.2 Cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana DC., Rhamnaceae)

A tintura preparada a partir das cascas secas de R. purshiana apresenta coloração marrom
escura e é preparada a 10% (p/v) por percolação ou maceração usando álcool etílico a 70%
(v/v), como líquido extrator. A droga vegetal é composta de, no mínimo, 0,75% de glicosídeos
hidroxiantracênicos, dos quais, no mínimo, 60% são cascarosídeos, expressos como cascarosídeo
A (FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2019).
A espécie é originária dos Estados Unidos. As cascas devem ser usadas como laxantes,
após um ano da coleta ou após serem submetidas à oxidação acelerada em estufa, durante
100-105 ºC por uma hora, convertendo as antronas e antroquinonas. Isso ocorre pelo fato de
a droga vegetal recém-coletada conter antronas, substância que pode ocasionar fortes vômitos
e até espasmos nos usuários. A espécie é farmacologicamente usada em adultos, devido a suas
propriedades laxantes, na forma de cápsulas (FALKENBERG, 2017).
Como todos os laxativos, não se deve utilizar em pacientes que apresentam estenose,
obstrução intestinal, impactação fecal, atonia, apendicite, doenças inflamatórias do cólon, queixas
gastrintestinais agudas ou persistentes, como dor abdominal de origem desconhecida, náusea e
vômito, sem orientação de um médico. Não deve ser utilizado em casos de desidratação grave
com depleção hidroeletrolítica. Para mais informações sobre advertências, acessar o suplemento
do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (BRASIL, 2018).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


1.2.3.3 Sene (Senna alexandrina Mill., Fabaceae)

A droga vegetal, quando composta de folíolos secos de S. alexandrina, deve conter,


no mínimo, 2,5% de derivados hidroxiantracênicos, expressos em senosídeo B, com 0,6% de
senosídeo B e 0,5% de senosídeo A. Quando a droga vegetal são os frutos secos de S. alexandrina,
deve conter, no mínimo, 2,2% de derivados hidroxiantracênicos, expressos em senosídeo B, com,
no mínimo, 0,92% de senosídeo B e 0,49% de senosídeo A. Os farmacógenos devem ser utilizados
após um ano da colheita ou após atingida a estabilização da composição (FARMACOPEIA
BRASILEIRA, 2019). Isso ocorre, porque durante a secagem lenta da planta, entre 20 e 50 ºC,
ocorrem reações redox e enzimáticas, dando origem às diantronas e antraquinonas. Como as
diantronas possuem dois centros quirais, em C-10 e C-10’, tem-se a possibilidade de formação de
diferentes estereoisômeros, opticamente ativos. Essa espécie também é usada como laxante. As
formas farmacêuticas disponíveis são cápsulas gelatinosas duras e geleia (FALKENBERG, 2017).

1.3 Heterosídeos Cardioativos


Os heterosídeos cardioativos ou cardiotônicos são esteroides naturais que apresentam
ação específica e potente sobre o músculo cardíaco. Mais de 400 heterosídeos cardioativos foram
descritos, sendo restritos às angiospermas, incluindo os seguintes gêneros e famílias: Digitalis
(Scrophulariaceae), Nerium, Strophanthus, Thevetia (Apocynaceae), Asclepias (Asclepiadaceae),
Urginea e Convallaria (Liliaceae), Helleborus e Adonis (Ranunculacae), entre outras famílias
(RATES et al., 2017).

WWW.UNINGA.BR 79
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.3.1 Classificação e síntese dos heterosídeos cardiotônicos

Com a condensação de uma molécula de acetoacetil-CoA com uma molécula de acetil-


CoA, tem-se a formação do mevalonato. O mevalonato formado é convertido em isopreno
ativo (isopentil-pirofosfato), unidade básica dos terpenos e esteroides. O núcleo fundamental
dos heterosídeos cardioativos é originado do colesterol, derivado da ciclização do esqualeno
(SANTOS, 2004).
A estrutura dos heterosídeos cardioativos é composta por moléculas de açúcar ligadas a
aglicona esteroidal (Figura 9). As agliconas são chamadas de cardenolídeos ou bufadienolídeos.
Os cardenolídeos são originados da condensação de um derivado funcionalizado do pregnano e
uma unidade dicarbonada ou tricarbonada, no caso dos bufadienolídeos. Quando a glicose está
presente, encontra-se na porção terminal. As agliconas têm o esqueleto tetracíclico e a presença
de um anel lactônico α, β insaturado em C-17. Nos cardenolídeos, agliconas mais prevalentes na
natureza, o anel lactônico é constituído de quatro carbonos, enquanto que os bufadienolídeos,
menos abundantes nos vegetais, possuem cinco carbonos em seu anel lactônico. A presença ou
ausência de substituintes nas posições C-12 e/ou C-16 nas agliconas dos cardenolídeos origina
cinco séries de compostos de A a E, denominados digitoxigenina, gitoxigenina, digoxigenina,
diginatigenina e gitaloxigenina, respectivamente (RATES et al., 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Figura 9 – Exemplo de estrutura dos heterosídeos cardioativos (digoxina). Fonte: Rates et al. (2017).

1.3.2 Métodos de extração e identificação dos heterosídeos cardioativos

De uma forma geral, os heterosídeos são solúveis em água e ligeiramente solúveis em


etanol e clorofórmio. Para os heterosídeos cardioativos, a polaridade da molécula depende da
presença ou ausência de substituintes hidroxilas. O anel lactônico desses compostos é considerado
instável e sofre abertura em meio alcalino (RATES et al., 2017).
Devido ao baixo teor de heterosídeos cardioativos em plantas, na caracterização dos
extratos, estes devem ser purificados e concentrados. A extração pode ser realizada a quente,
com o uso de misturas hidroetanólicas, precipitação de interferentes, como a clorofila, com
acetato de chumbo e partição com solventes de média polaridade. A partir da solução orgânica,
são realizadas análises cromatográficas e reações de caracterização colorimétrica, estas últimas
direcionadas ao anel lactônico, ao núcleo esteroidal e à cadeia de açúcares. Nos heterosídeos, a
aglicona pode ser obtida por hidrólise ácida da solução hidroetanólica com ácido sulfúrico 1 M
(RATES et al., 2017).

WWW.UNINGA.BR 80
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

As reações colorimétricas específicas para os açúcares incluem a reação de Pesez ou do


xantidrol e a reação de Keller-Kiliani. Na reação do xantidrol, a solução extrativa é levada à secura
e o resíduo é dissolvido em ácido acético concentrado, seguido da adição do reativo de xantidrol.
Após aquecimento, tem-se o desenvolvimento de cor vermelha, confirmando a presença de
desoxiaçúcares. A reação de Keller-Kiliani é considerada específica para desoxiaçúcares e
heterosídeos hidrolisáveis, sendo negativa para desoxiaçúcares com resíduo terminal de glicose.
Nessa reação, ácido sulfúrico concentrado é adicionado na solução extrativa em ácido acético
concentrado, contendo sais férricos. Com a adição do ácido sulfúrico, tem-se a formação de
um anel vermelho pardo, e a solução contendo ácido acético adquire coloração azul-esverdeada,
sendo positiva para desoxiaçúcares (RATES et al., 2017; SBFGNOSIA, 2020).
As reações colorimétricas específicas para a parte aglicônica (núcleo esteroidal), no caso
dos cardenolídeos, são realizadas reações relacionadas ao anel pentagonal insaturado, incluindo
as reações de Kedde e de Baljet. Ambas as reações utilizam um derivado aromático nitrado e
ocorrem em meio básico. A reação de Kedde utiliza o ácido 3,5-dinitrobenzoico e resulta em
coloração vermelho-violácea estável. Já a reação de Baljet utiliza ácido pícrico, resultando em
coloração laranja estável (RATES et al., 2017; SBFGNOSIA, 2020).
As análises cromatográficas de cromatografia em camada delgada (CCD) utilizam
como fase estacionária gel de sílica G e, como fase móvel, a mistura de metanol: cicloexano:
diclorometano (15: 40: 90, v/v/v). A revelação das cromatoplacas é realizada após a aspersão da
solução etanólica a 10 % de ácido sulfúrico, seguida de aquecimento a 130 ºC por 15 min. A análise

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


quantitativa dos heterosídeos cardioativos pode ser realizada por doseamento fotocolorimétrico
em 540 nm (RATES et al., 2017).

1.3.3 Propriedades farmacológicas dos heterosídeos cardioativos

Geralmente os heterosídeos cardioativos são mais potentes do que as agliconas


correspondentes. Entretanto, ambos podem causar efeitos tóxicos. A parte osídica confere
solubilidade, que é importante na absorção e distribuição dessas moléculas. Já a aglicona é
responsável pela atividade cardíaca. A presença de um anel lactônico, β-posicionado no C-17
é fundamental para a atividade biológica. Além disso, a atividade é máxima quando os anéis
esteroidais possuem encadeamento do tipo cis/ trans/ cis (RATES et al., 2017).
Devido à afinidade pelo tecido cardíaco, os heterosídeos cardiotônicos, como a digoxina
e lanatosídeo C (via intravenosa), são utilizados na clínica para o tratamento da insuficiência
cardíaca e controle de taxa de resposta ventricular em pacientes com fibrilação arterial crônica,
contudo os heterosídeos cardiotônicos não são considerados fármacos de primeira escolha
para o tratamento dessas condições. Na insuficiência cardíaca, os heterosídeos cardiotônicos
aumentam o débito cardíaco e melhoram o retorno venoso, aumentando a força contrátil do
músculo cardíaco (RATES et al., 2017).

1.3.3.1 Digitalis (Digitalis purpurea L. e Digitales lanata Ehrh., Scrophulariaceae)

A droga vegetal de D. purpurea e D. lanata é constituída de folhas secas. D. purpurea,


espécie incluída na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME), é composta de,
no mínimo, 0,3% de heterosídeos cardiotônicos. O pó padronizado das folhas contém de 0,36
a 0,44% de cardenolídeos, expressos em digitoxina. D. lanata contém um teor superior a 1% de
heterosídeos cardiotônicos, principalmente lanatosídeos A, B, C e D. Pelo fato de os glicosídeos
cardioativos apresentarem uma janela terapêutica estreita, deve-se ter cuidado com os efeitos
tóxicos. Cefaleia, fraqueza, mal-estar, delírio ou confusão mental são alguns dos sintomas comuns
na intoxicação por digitálicos (RATES et al., 2017).

WWW.UNINGA.BR 81
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.4 Alcaloides
Os alcaloides podem ser definidos como uma substância orgânica que apresenta um
nitrogênio em heterociclo, normalmente com características básicas, mas podendo ser neutros
ou até mesmo ácidos, como os alcaloides quaternários. Os alcaloides são encontrados nas
angiospermas e raramente em gimnospermas. Alguns exemplos de famílias que apresentam
alcaloides são: a Amaryllidaceae, Annonaceae, Apocynaceae, Asteraceae, Celastraceae,
Fabaceae, Lauraceae, Liliaceae, Rubiaceae, Rutaceae, Solanaceae, entre outras (KLEIN-JÚNIOR;
HENRIQUES, 2017).

1.4.1 Classificação e síntese dos alcaloides

Os alcaloides verdadeiros são aqueles que derivam de aminoácidos e possuem o nitrogênio


em heterociclo. Já os alcaloides que possuem o nitrogênio fora de um heterociclo são chamados
de protoalcaloides (KLEIN-JÚNIOR; HENRIQUES, 2017).
Os alcaloides apresentam uma ampla diversidade estrutural, relacionada às unidades
precursoras e rotas biossintéticas. Os alcaloides podem ser sintetizados pela via do ácido
chiquímico, tendo como aminoácidos precursores o triptofano (alcaloides indólicos e quinolínicos),
fenilalanina e tirosina (protoalcaloides, alcaloides isoquinolínicos e benzilisoquinolínicos). Já a

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


síntese dos alcaloides pela via do acetil-CoA ocorre a partir dos aminoácidos lisina e ornitina,
sintetizados pelo ciclo do ácido cítrico (alcaloides pirrolidínicos, tropânicos, pirrolizidínicos,
piperidínicos e quinolizidínicos. Na síntese dos alcaloides, um mesmo precursor pode dar origem
a diferentes subclasses de alcaloides (KLEIN-JÚNIOR; HENRIQUES, 2017).

1.4.2 Métodos de extração e identificação dos alcaloides

Quando os alcaloides estão em sua forma básica (forma livre), são considerados insolúveis
ou pouco solúveis em água e solventes polares, sendo solúveis em solventes de baixa polaridade.
Já em meio ácido, os alcaloides estão protonados (forma salina), sendo solúveis em água e em
solventes de alta polaridade (KLEIN-JÚNIOR; HENRIQUES, 2017).
A extração dos alcaloides pode ser feita pelo método de maceração, seguida de
fracionamento por partição, objetivando a obtenção de uma fração enriquecida em alcaloides e
livre de interferentes. A extração pode ser realizada em meio ácido ou básico. Quando a extração
ocorre em meio ácido, os alcaloides são obtidos na forma salina, em água acidificada. Para
purificação por partição, a fase aquosa é alcalinizada e particionada com um solvente orgânico,
obtendo os alcaloides na forma livre. A fase orgânica é evaporada sob pressão reduzida, gerando
a fração enriquecida de alcaloides. Já na extração em meio básico, os alcaloides são obtidos
na forma livre e são particionados em solvente orgânico e solução aquosa ácida, extraindo os
alcaloides na forma salina, deixando os interferentes na porção orgânica. A porção aquosa ácida
é separada e alcalinizada, sendo particionada novamente com solvente orgânico, obtendo os
alcaloides na forma livre na fase orgânica, que será evaporada sob pressão reduzida, gerando a
fração enriquecida de alcaloides (KLEIN-JÚNIOR; HENRIQUES, 2017).
Os alcaloides podem ser identificados pelo método de cromatografia em camada delgada
(CCD), usando como fase estacionária a sílica ou alumina e, como fase móvel, a mistura de
hexano e acetato de etila. A revelação pode ser feita sob luz ultravioleta (UV) em 254 nm e 365
nm, bem como pela aspersão de reagentes específicos, como o reagente de Dragendorff (KLEIN-
JÚNIOR; HENRIQUES, 2017).

WWW.UNINGA.BR 82
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Os alcaloides podem ser detectados em extratos pelo uso de reativos gerais de alcaloides,
que levam à formação de turvação ou precipitação dos alcaloides em meio ácido, como definido
no Quadro 2 (SBFGNOSIA, 2020).

RGA Composição Cor do precipitado


Dragendorff Iodo bismutato de potássio Alaranjado
Mayer Iodo mercurato de potássio Branco
Bertrand Ácido sílico-túngstico
Bouchardat/Wagner Iodo-iodeto de potássio Marrom

Quadro 2 – Reativos gerais de alcaloides (RGA). Fonte: Adaptado de SBFGNOSIA (2020).

1.4.3 Propriedades farmacológicas dos alcaloides

O uso de plantas medicinais contendo alcaloides data de mais de 4.000 anos, como as
espécies Papaver somniferum L., Atropa belladonna L. e Mandragora officinarum L. Um exemplo
de alcaloide muito utilizado na terapêutica é a morfina, isolada em 1806 pelo farmacêutico
alemão Sertürner. No geral, os alcaloides apresentam diferentes atividades farmacológicas, com
característica neurotransmissora.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


1.4.3.1 Quinina (Cinchona calisaya Wedd. e Cinchona pubescens Vahl., Rubiaceae)

Os alcaloides quinolínicos apresentam em comum o núcleo quinolínico. Dentre os


exemplos clássicos, tem-se a quinina, isolada de espécies do gênero Cinchona, uma substância que
contribuiu para o tratamento da malária e o desenvolvimento de fármacos, como o antimalárico
sintético, derivado da quinina, a cloroquina. As principais espécies de Cinchona utilizadas para
a obtenção de alcaloides quinolínicos incluem a C. pubescens Vahl., casca vermelha com 5-7%
de alcaloides, e C. calisaya Wedd., casca marrom a amarela com 4-7% de alcaloides (SANTOS;
REICHERT; SANTOS, 2017a).
Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), a droga vegetal de C. calisaya (quina-amarela)
é composta pelas cascas secas contendo, no mínimo, 6,0% de alcaloides totais, dos quais 30 a 60%
são do grupo quinina. As atividades biológicas da quinina incluem o uso como antimalárica em
casos graves, no desenvolvimento de novos fármacos antimaláricos e como aditivo amargo na
produção de alimentos e bebidas (SANTOS; REICHERT; SANTOS, 2017a).

1.4.3.2 Ópio (Papaver somniferum L., Papaveraceae)

Um importante e histórico alcaloide isoquinolínico é a morfina. A história e uso da


morfina data de 3.400 anos a.C., quando a espécie P. somniferum (papoula) era cultivada na
Mesopotâmia para a obtenção do ópio, um látex extraído dos frutos imaturos dessa espécie. O
ópio apresenta como principais constituintes a morfina, codeína e papaverina, sendo utilizado
como analgésico (morfina ou codeína associada com AINES, como paracetamol e diclofenaco
sódico), para tratamento da tosse (codeína) e antiespasmódico (papaverina). A droga vegetal
contém, no mínimo, 9,8% de morfina e 1,0% de codeína (SANTOS; REICHERT; SANTOS,
2017b).

WWW.UNINGA.BR 83
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.4.3.3 Beladona (Atropa belladonna L., Solanaceae)

Os alcaloides tropânicos possuem uma estrutura bicíclica denominada tropano,


constituída pelos anéis pirrolidínico e piperidínico (HERNANDES; KATO; BACCHI, 2017).
A espécie A. belladonna é uma representante que apresenta compostos da classe dos alcaloides
tropânicos. Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), droga vegetal de A. belladonna consiste de
folhas secas, íntegras ou rasuradas, com no mínimo 0,25% de atropina.
A atropina é usada na terapêutica como antídoto dos inibidores da colinesterase e dos
inseticidas organofosforados; em oftalmologia, para exames de fundo de olho, pelo fato de a
atropina produzir dilatação da pupila e paralisação da acomodação visual (HERNANDES;
KATO; BACCHI, 2017).

1.4.3.4 Vinca (Catharanthus roseus (L.) G. Don, Apocynaceae)

As partes aéreas de C. roseus é composta por uma mistura complexa de alcaloides


indólicos, sendo os mais importantes na terapêutica os alcaloides bis-indólicos vincristina e
vimblastina. A vincristina e vimblastina são usados como antineoplásicos, devido à capacidade
de interromperem o ciclo celular na metáfase, ao se ligarem de forma específica com a tubulina e
inibirem a sua polimerização (SCHRIPSEMA; DAGNINO, 2017).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


1.4.3.5 Confrei (Symphytum officinale L., Boraginaceae)

Os alcaloides pirrolizidínicos são ésteres formados a partir de um aminoálcool derivado


do núcleo pirrolizidínico e um ou dois ácidos carboxílicos alifáticos, os ácidos nécicos. A espécie
S. officinale constitui um exemplo de planta composta por alcaloides pirrolizidínicos. As folhas da
espécie são compostas de 0,02 a 0,18% de alcaloides pirrolizidínicos. Popularmente, os extratos
e compressas das folhas de confrei são usados externamente no tratamento de fraturas, feridas,
torções e contusões, devido ao seu efeito cicatrizante. No Brasil, há apenas o uso externo de S.
officinale, na forma de pomada, com ação cicatrizante (BIAVATTI, PAREDA-MIRANDA, 2017).

Qual a importância do uso correto da via de administração dos medicamentos


fitoterápicos? A via de administração dos fármacos é a forma na qual o medicamento
entrará em contato com o organismo. Em fitoterapia, a via de administração é
extremamente importante, devendo ser seguida rigorosamente. Um exemplo da
importância da via de administração é o uso de pomadas contendo o extrato
de S. officinale (confrei). A via de administração permitida é, exclusivamente, a
tópica, ou seja, uso externo. O uso interno dessa espécie é proibido, devido à sua
hepatotoxicidade.

WWW.UNINGA.BR 84
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.5 Metilxantinas
As metilxantinas apresentam distribuição restrita, sendo encontrada principalmente nas
regiões tropicais e subtropicais, nos gêneros Coffea (Rubiaceae), Cola e Theobroma (Malvaceae),
Paullinia (Sapindaceae), Ilex (Aquifoliaceae) e Camellia (Theaceae) (RATES, 2017).

1.5.1 Classificação e síntese das metilxantinas

As metilxantinas são classificadas como pseudoalcaloides, em função de sua origem.


As metilxantinas não são sintetizadas a partir de aminoácidos, mas a partir de bases púricas
(hipoxantina, adenina, guanina) e apresentam caráter anfótero, ou seja, se comportam como
ácidos ou bases. Alguns autores as classificam como alcaloides purínicos, devido à presença de
nitrogênio heterocíclico. As principais metilxantinas são a cafeína, a teofilina e a teobromina
(RATES, 2017).

1.5.2 Métodos de extração e identificação das metilxantinas

As metilxantinas podem ser extraídas por solventes clorados, em meio amoniacal ou em


soluções aquosas ácidas, pelo fato de serem bases fracas, cujos sais se dissociam em água. As

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


metilxantinas são caracterizadas por análise cromatográfica, como cromatografia em camada
delgada (CCD) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) e pela reação da murexida. A
reação da murexida baseia-se na formação de um complexo amoniacal, purpurato de amônio, de
cor violácea (RATES, 2017).

1.5.3 Propriedades farmacológicas das metilxantinas

1.5.3.1 Guaraná (Paullinia cupana Kunth., Sapindaceae)

Segundo a Farmacopeia Brasileira (2019), a droga vegetal de P. cupana é composta de


sementes secas, desprovidas de arilo e tegumento, contendo no mínimo 4,0% de taninos totais,
5,0% de metilxantinas e 3,5% de cafeína. O guaraná é originário da Amazônia brasileira, sendo
utilizado pelos indígenas como estimulante e revigorante (RATES, 2017).

1.5.3.2 Erva-mate (Ilex paraguariensis A.St.-Hil, Aquifoliaceae)

A erva-mate é uma árvore nativa do sul da América do Sul. As folhas estabilizadas


(sapecadas) são utilizadas para preparação de bebidas, como chá, chimarrão e tererê. As folhas
são compostas de metilxantinas, expressas em 0,7 a 2,3% de cafeína, 0,3% teobromina e traços de
teofilina). Alguns trabalhos na literatura indicam o uso da erva-mate no tratamento da obesidade,
devido à melhora de parâmetros do metabolismo lipídico (RATES, 2017).

WWW.UNINGA.BR 85
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2. PLANTAS MEDICINAIS E FITOTERÁPICOS NO SUS

2.1 Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos


A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, criada em 2006 pelo Decreto
nº 5.813, tem como objetivo garantir o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e
fitoterápicos pela população brasileira e, dessa forma, promover o uso sustentável dos recursos
naturais presentes em nossa biodiversidade, além do desenvolvimento da indústria nacional. O
programa propõe (BRASIL, 2020):

• Inserir plantas medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à Fitoterapia no SUS;


• Promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais de uso de plantas medicinais;
• Promover a inclusão da agricultura familiar na obtenção das plantas medicinais, insumos
e fitoterápicos;
• Aperfeiçoar as etapas da cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso de boas práticas de cultivo, manipulação e produção de plantas

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


medicinais e fitoterápicos;
• Desenvolver instrumentos de fomento à pesquisa, desenvolvimento de tecnologias e
inovações em plantas medicinais e fitoterápicos, nas diversas fases da cadeia produtiva;
• Desenvolver estratégias de comunicação, formação técnico-científica e capacitação no
setor de plantas medicinais e fitoterápicos;
• Promover o uso sustentável da biodiversidade.

Para mais informações sobre o Programa Nacional de Plantas


Medicinais e Fitoterápicos, assistir ao vídeo do Ministério da
Saúde. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_
continue=58&v=MN_Ah6DrFPE&feature=emb_logo>. Acesso em:
7 abr. 2020.

Para mais informações sobre a Política Nacional de Práticas Integrativas e


Complementares no SUS, que tem o objetivo de atender à necessidade de se
conhecer, apoiar, incorporar e implementar experiências desenvolvidas na rede
pública de muitos municípios e estados, destacando a medicina tradicional
chinesa/acupuntura, a homeopatia, a fitoterapia, a medicina antroposófica e o
termalismo/crenoterapia.

WWW.UNINGA.BR 86
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Acessar a 2ª edição da Política Nacional de Práticas Integrativas


e Complementares no SUS, de 2015. Disponível em: <https://
bvsms.sau de.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf>.

2.2 Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename)


O Sistema Único de Saúde (SUS) oferta para a população brasileira doze medicamentos
fitoterápicos. Todos os medicamentos constam na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
(Rename). Algumas indicações dos fitoterápicos pertencentes ao Rename incluem o uso
ginecológico, tratamento de queimaduras, auxiliares terapêuticos de gastrite e úlcera, artrite e
osteoartrite (BRASIL, 2020).

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4


Para ter acesso aos fitoterápicos que fazem parte da Relação
Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename), acessar
o documento do Rename (2020). Disponível em: <https://
portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/dezembro/24/
Rename-2020-final.pdf>.

2.3 Relação de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus)


Em 2009, o Mistério da Saúde (MS) elaborou uma relação de plantas medicinais de
interesse no SUS (Renisus), incluindo 71 espécies vegetais, consideradas com potencial de
geração de produtos de interesse ao SUS. A lista tem como objetivo orientar estudos e pesquisas
que possam subsidiar a elaboração da relação de fitoterápicos disponíveis para uso da população,
com segurança e eficácia para o tratamento de determinada doença (BRASIL, 2009).

Para ter acesso à lista de espécies vegetais, acessar Renisus


(2009). Disponível: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/sus/pdf/
marco/ms_relacao_plantas_medicinais_sus_0603.pdf>.

WWW.UNINGA.BR 87
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Unidade 4 da apostila de Fitoquímica e Fitoterapia abordou, de forma detalhada,


os assuntos relacionados à distribuição, classificação, síntese, extração e identificação dos
metabólitos secundários da classe dos flavonoides, quinonas, glicosídeos cardioativos, alcaloides
e metilxantinas.
Para cada classe de metabólito, as drogas vegetais mais importantes, assim como as
principais atividades farmacológicas de seus ativos, foram mencionadas. O uso popular e as
propriedades farmacológicas reconhecidas das espécies vegetais estudadas também foram
descritos. Também foram abordadas as políticas de utilização de plantas medicinais e fitoterápicos
no Sistema Único de Saúde (SUS).
Assim como as demais classes de medicamentos, o uso de fitoterápicos deve ser
acompanhado pelo farmacêutico e/ou médico responsável, pois o fato de serem medicamentos de
origem natural não exclui o risco de efeitos colaterais, reações adversas, interações medicamentosas
e restrições de uso.

FITOQUÍMICA E FITOTERAPIA | UNIDADE 4

WWW.UNINGA.BR 88
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
ATHAYDE, M. L. et al. Saponinas. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto
natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 286-303.
BASSANI, V. L.; PETROVICK, P. R. Desenvolvimento tecnológico de produtos farmacêuticos a
partir de produtos naturais. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto natural ao
medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 129-145.
BIAVATTI, M. W.; PEREDA-MIRANDA, R. Alcaloides pirrolizidínicos. In: SIMÕES, C. M. O.
Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 389-402.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário de Fitoterápicos da
Farmacopeia Brasileira. Brasília, DF: Anvisa, 2011. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.
br/documents/33832/259456/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira.pdf/
c76283eb-29f6-4b15-8755-2073e5b4c5bf. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC
nº 26, de 13 de maio de 2014. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro
e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos. Brasília, DF: Anvisa, 2014. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2014/rdc0026_13_05_2014.pdf. Acesso em: 7
mar. 2020.
BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Suplemento do Formulário de Fitoterápicos
da Farmacopeia Brasileira. Brasília, DF: Anvisa, 2018. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.
br/documents/33832/259456/Suplemento+FFFB.pdf/478d1f83-7a0d-48aa-9815-37dbc6b29f9a.
Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos. Disponível em: https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/programa-
nacional-de-plantas-medicinais-e-fitoterapicos-ppnpmf/politica-e-programa-nacional-de-
plantas-medicinais-e-fitoterapicos. Acesso em: 5 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relação de Plantas de Medicinais de Interesse no SUS
(Renisus). 2009. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/sus/pdf/marco/ms_relacao_
plantas_medicinais_sus_0603.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 67, de 8 de outubro
de 2007. Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para
Uso Humano em farmácias. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: http://
portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_67_2007_COMP.pdf/5de28862-e018-
4287-892e-a2add589ac26. Acesso em: 7 abr. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de
acesso. 2. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.
br/bvs/publicacoes/politica_nacional_praticas_integrativas_complementares_2ed.pdf. Acesso
em: 7 abr. 2020.

WWW.UNINGA.BR 89
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos
Estratégicos em Saúde. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos.
Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: Rename 2020. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2020.
BRASIL ESCOLA. O que é decantação? Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-
que-e/quimica/o-que-e-decantacao.htm. Acesso em: 9 mar. 2020.
BONATO, P. S. Cromatografia gasosa. In: COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S.
Fundamentos de cromatografia. São Paulo: Unicamp, 2006. p. 203-215.
BUCHI. Mini Spray Dryer B-290. 1 fotografia. Disponível em: https://www.buchi.com/br-pt/
products/spray-drying-and-encapsulation/mini-spray-dryer-b-290. Acesso em: 9 mar. 2020.
CALDAS, S. S. et al. Principais técnicas de preparo de amostra para a determinação de resíduos
de agrotóxicos em água por cromatografia líquida com detecção por arranjo de diodos e por
espectrometria de massas. Química Nova, [s. l.], v. 34, n. 9, p. 1604-1617, 2011.
CAMPOS, C. D. M. et al. Preparo de amostras assistido por campo elétrico: fundamentos,
avanços, aplicações e tendências. Química Nova, [s. l.], v. 38, n. 8, p. 1093-1106, 2015.
CARVALHO, J. C. T. et al. (org.). Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto
Alegre; Florianópolis: UFRGS: UFSC, 2004. p. 510-535.
CAVALCANTE, L. A epopeia da Warfarina. 2014. Disponível em: http://portal.crfsp.org.br/
revistas/459-revista-do-farmaceutico/revista-115/5358-revista-do-farmaceutico-115-cultura-
farmaceutica.html. Acesso em: 5 abr. 2020.
CHEMICAL CENTER. Mantas aquecedoras Fisatom. Disponível em: http://www.
chemicalcenter.com.ar/folletos/Fisatom.pdf. Acesso em: 8 mar. 2020.
CHROMASTORE. Cartucho de extração em fase sólida. Disponível em: https://www.
chromastore.com.br/cartucho-extracao-fase-solida. Acesso em: 20 mar. 2020.
COLLINS, C. H. Princípios básicos em cromatografia. In: COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.;
BONATO, P. S. Fundamentos de cromatografia. São Paulo: Unicamp, 2006. p. 17-45.
COLLINS, C. H. Pilares da cromatografia. Michael Tswett e o ‘nascimento’ da cromatografia.
Scientia Chromatographica, [s. l.], v. 1, n. 1, p. 7-20, 2009. Disponível em: http://www.iicweb.
org/scientiachromatographica.com/files/v1n1a1.pdf. Acesso em: 23 set. 2020.
CZELUSNIAK, K. E. et al. Farmacobotânica, fitoquímica e farmacologia do Guaco: revisão
considerando Mikania glomerata Sprengel e Mikania laevigata Schulyz Bip. ex Baker. Revista
Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v. 14, n. 2, p. 400-409, 2012.
DESCRITORES EM CIÊNCIAS DA SAÚDE. Colagogos e coleréticos. Disponível em:
https://decs.bvsalud.org/ths/resource/?id=22383&filter=ths_termall&q=Colagogos%20e%20
Coler%C3%A9ticos. Acesso em: 2 abr. 2020.
DHGATE. Liofilizador. 1 fotografia. Disponível em: https://pt.dhgate.com/product/bentchtop-
multi-manifold-gland-type-laboratory/423016301.html. Acesso em: 9 mar. 2020.

WWW.UNINGA.BR 90
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
DIONÍSIO, A. G. G. et al. Novas tendências em preparo de amostras para cromatografia líquida.
Scientia Chromatographica, [s. l.], v. 2, n. 3, p. 19-29, 2010.
FALKENBERG, M. B. Quinonas. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto natural
ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 249-269.
FALKENBERG, M. B.; SANTOS, R. I.; SIMÕES, C. M. O. Introdução à análise fitoquímica. In:
SIMÕES, C. M. O. et al. (org.). Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre;
Florianópolis: UFRGS: UFSC, 2004. p. 232-235.
FARMACOPEIA BRASILEIRA. Brasília, DF: Anvisa, 2019. 2 v.
GOBBO-NETO, L.; LOPES, N. P. Plantas medicinais: fatores de influência no conteúdo de
metabólitos secundários. Química Nova, [s. l.], v. 30, n. 2, p. 374-381, 2007. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/qn/v30n2/25.pdf. Acesso em: 8 abr. 2020.
HEINZMANN, B. M.; SPITZER, V.; SIMÕES, C. M. O. Óleos voláteis. In: SIMÕES, C. M. O. et al.
Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 167-184.
HERNANDES, L. S.; KATO, E. T. M.; BACCHI, E. M. Alcaloides tropânicos. In: SIMÕES, C. M.
O. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p.
349-365.
IKA. Turbolizador modelo Ultra-turrax IKA T25. 1 fotografia. Disponível em: https://
www.ika.com/pt/Produtos-Lab-Eq/Dispersadores-csp-177/T-25-digital-ULTRA-TURRAX-
cpdt-3725000/. Acesso em: 7 mar. 2020.
JARDIM, I. C. S. F.; COLLINS, C. H.; GUIMARÃES, L. F. L. Cromatografia líquida de alta
eficiência. In: COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. Fundamentos de cromatografia.
São Paulo: Unicamp, 2006. p. 273, 343-345.
KLEIN-JÚNIOR, L. C.; HENRIQUES, A. T. Alcaloides: generalidades e aspectos básicos. In:
SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre:
Artmed, 2017. p. 305-315.
KREIS, W.; MUNKERT, J.; PÁDUA, R. M. Biossíntese de metabólitos primários e secundários.
In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre:
Artmed, 2017. p. 147-166.
KUSTER, R. M.; ROCHA, L. M. Cumarinas, cromonas e xantonas. In: SIMÕES, C. M. O. et al.
(org.). Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis: UFRGS:
UFSC, 2004. p. 537-556.
LUZ, M. L. Radicais orgânicos. Infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/quimica/
radicais-organicos/. Acesso em: 31 mar. 2020.
MAUL, A. A.; WASICKY, R.; BACCHI, E. M. Extração por fluido supercrítico. Revista Brasileira
de Farmacognosia, [s. l.], p. 185-200, 1996.
MELLO, J. C. P.; SANTOS, S. C. Taninos. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto
natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 235-248.

WWW.UNINGA.BR 91
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
MUNDO EDUCAÇÃO. Filtração a vácuo. Mundo Educação. Disponível em: https://
mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/filtracao-vacuo.htm. Acesso em: 9 mar. 2020.
NATEX PROZESS TECHNOLOGIE. Natex supercritical fluid extraction process. 2011. 1
vídeo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4WY8Z-yw6YU. Acesso em: 24 mar.
2020.
PIRES, N. M.; OLIVEIRA, V. R. Alelopatia. In: OLIVEIRA JR., R. S.; CONSTANTIN, J.; INOUE,
M. H. Biologia e manejo de plantas daninhas. [S. l.]: Omnipax, 2011. p. 95-123.
PORTO, L. L; ROSA, L. R. V. Avaliação do potencial antimicrobiano de óleos essenciais de
coentro (Coriandrum sativum L.) e orégano (Origanum vulgare L.). Trabalho de conclusão
de curso – (Graduação em Tecnologia em Alimentos) – Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, 2018.
QUEVEDO, R. T. Sedimentação. Infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/
quimica/sedimentacao/. Acesso em: 9 mar. 2020.
RATES, S. M. K. Metilxantinas. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do produto natural
ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 403-416.
RATES, S. M. K. et al. Heterosídeos cardioativos. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia do
produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 271-283.
REGINATTO, F. H. Introdução à análise fitoquímica. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia
do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 70-81.
SANTOS, R. I. Metabolismo básico e origem dos metabólitos secundários. In: SIMÕES, C. M.
O. et al. (org.). Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis:
UFRGS: UFSC, 2004. p. 403-434.
SANTOS, S. C.; MELLO, J. C. P. Taninos. In: SIMÕES, C. M. O. et al. (org.). Farmacognosia da
planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis: UFRGS: UFSC, 2004. p. 615-656.
SANTOS, C. A. M.; REICHERT, C. L.; SANTOS, T. G. Alcaloides quinolínicos. In: SIMÕES, C.
M. O. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017a.
p. 317-329.
SANTOS, C. A. M.; REICHERT, C. L.; SANTOS, T. G. Alcaloides isoquinolínicos. In: SIMÕES,
C. M. O. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed,
2017b. p. 331-347.
SCHENKEL, E. P.; GOSMANN, G.; ATHAYDE, M. L. Saponinas. In: SIMÕES, C. M. O. et al.
(org.). Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis: UFRGS:
UFSC, 2004. p. 711-763.
SCHRIPSEMA, J.; DAGNINO, D. Alcaloides indólicos. In: SIMÕES, C. M. O. et al. Farmacognosia
do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p. 367-387.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Alcaloides. Disponível em: http://www.
sbfgnosia.org.br/Ensino/alcaloides.html. Acesso em: 4 abr. 2020.

WWW.UNINGA.BR 92
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Cumarinas. Disponível em: http://www.
sbfgnosia.org.br/Ensino/cumarinas.html. Acesso em: 30 mar. 2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Drogas aromáticas. Disponível em:
http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/drogas_aromaticas.html. Acesso em: 6 abr. 2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Drogas cardioativas. Disponível em:
http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/drogas_cardioativas.html. Acesso em: 1 abr. 2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Antraquinonas. Disponível em: http://
www.sbfgnosia.org.br/Ensino/antraquinonas.html. Acesso em: 7 abr. 2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Flavonoides e antocianos. Disponível
em: http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/flavonoides_e_antocianinos.html. Acesso em: 7 abr.
2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Pesquisa de substâncias fenólicas
simples. Disponível em: http://www.sbfgnosia.org.br/Ensino/fenolicos_simples.html. Acesso
em: 7 abr. 2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Saponinas. Disponível em: http://www.
sbfgnosia.org.br/Ensino/saponinas.html. Acesso em: 6 abr. 2020.
SBFGNOSIA - Sociedade Brasileira de Farmacognosia. Taninos. Disponível em: http://www.
sbfgnosia.org.br/Ensino/taninos.html. Acesso em: 30 mar. 2020.
SILVA, A. L. S. Solução tampão. Infoescola. Disponível em: https://www.infoescola.com/quimica/
solucao-tampao/. Acesso em: 14 mar. 2020.
SIMÕES, C. M. O; SPITZER, V. Óleos voláteis. In: SIMÕES, C. M. O. et al. (org.). Farmacognosia
da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis: UFRGS: UFSC, 2004. p. 467-495.
SONAGLIO, D. et al. Desenvolvimento tecnológico e produção de fitoterápicos. In: SIMÕES, C.
M. O. et al. (org.). Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis:
UFRGS: UFSC, 2004. p. 289-326.
SOUZA, L. A. Mistura azeotrópica. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.
br/quimica/mistura-azeotropica.htm. Acesso em: 26 fev. 2020.
SPLABOR. Rotaevaporador ou evaporador rotativo. 1 fotografia. Disponível em: http://
www.splabor.com.br/blog/evaporador-rotativo-2/evaporador-rotativo-conheca-mais-sobre-a-
aplicacao-deste-equipamento-para-laboratorio/. Acesso em: 9 mar. 2020.
UFOP. Síntese de compostos orgânicos. Disponível em: http://professor.ufop.br/sites/default/
files/taniamelo/files/sintese_de_compostos_organicos_-_sintese_i.pdf. Acesso em: 8 mar. 2020.
UFSC. Extração líquido-líquido. Disponível em: http://www.qmc.ufsc.br/organica/exp7/
liquido.html. Acesso em: 9 mar. 2020.
UNIVERSITY OF YORK. Soxhlet extraction. 2015. 1 vídeo. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=tUDdkU2Of4s. Acesso em: 24 mar. 2020.

WWW.UNINGA.BR 93
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
VICHENEWSKI, W. Cromatografia por adsorção. In: COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO,
P. S. Fundamentos de cromatografia. São Paulo: Unicamp, 2006. p. 87-101.
WHO - World Health Organization. Monographs on selected medicinal plants. [S. l.]: WHO,
1999. v. 1. p. 160.
ZUANAZZI, J. A. S.; MONTANHA, J. A. Flavonoides. In: SIMÕES, C. M. O. et al. (org.).
Farmacognosia da planta ao medicamento. 5. ed. Porto Alegre; Florianópolis: UFRGS: UFSC,
2004. p. 277-614.
ZUANAZZI, J. A. S.; MONTANHA, J. A.; ZUCOLOTTO, S. M. Flavonoides. In: SIMÕES, C. M.
O. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre: Artmed, 2017. p.
209-233.

WWW.UNINGA.BR 94

Você também pode gostar