Nefertiti 1 20
Nefertiti 1 20
Nefertiti 1 20
Nefertiti
e os mistérios sagrados do Egito
(Romance histórico)
© 2000 Conhecimento Editorial Ltda
Nefertiti
e os mistérios sagrados do Egito
Chiang Sing
Bibliografia
ISBN 85-7618-065-0
Nefertiti
e os mistérios sagrados do Egito
(Romance histórico)
7ª Edição — 2005
Obras de Chiang Sing:
11 Prefácio
17 Hino a Nefertiti
19 Apresentação
21 Notas
Primeira Parte
23 A bela que veio
Segunda parte
55 Os mistérios sagrados da Casa da Luz
Terceira parte
123 Akhnaton ou a glória de Aton
Quarta Parte
241 A luz de Aton morre no poente
350 Bibliografia
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Prefácio
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Nefertiti, Chiang Sing procurou unir tais indícios, a fim de for‑
mar um todo, tentando solucionar assim o grande mistério que
envolve a vida dessa nossa remota rainha da décima oitava di‑
nastia egípcia (1580‑1350 a.C.).
É curioso observar que a vida de Nefertiti suscitou contro‑
vérsias entre os mais eminentes egiptólogos. Flinder Petrie, em
sua obra História do Egito (vol. 2, p. 207), diz que “Nefertiti era
filha de uma princesa mitaniana com o faraó Amenófis III”. En‑
tretanto, dizem os eruditos professores Arthur Weigall, James
Baikie, e outros, que “Nefertiti era puramente egípcia, filha da
rainha Tii com o faraó Amenófis III, ou quiçá com seu favorito,
o sacerdote Eje”. Afirmam uns que Nefertiti apenas aceitou e
seguiu as tendências místicas do marido, o rei Amenófis IV, ou
Akhnaton. Contudo, dizem outros que Nefertiti é quem foi a in‑
centivadora do atonismo no Egito, em razão da analogia desse
culto com os praticados na Ásia Menor, onde nasceu sua mãe,
a princesa Gilukhipa, filha do rei Shutarna, de Mitani. Aliás,
a grande semelhança que há entre os salmos do rei Akhnaton
com certos hinos do Rig‑Veda, um dos livros sagrados da Índia,
levou outros autores a sugerir que Akhnaton recebeu influência
indiana, por intermédio de Mitani, terra indo‑ariana situada a
leste do Eufrates. O remoto cântico Gayatri mantra, que todo
verdadeiro brâmane recita todas as manhãs ao nascer do Sol,
é praticamente idêntico aos salmos do rei Akhnaton. Ademais,
um título que é constantemente dado a Nefertiti (“aquela que
faz Aton repousar com sua doce voz e suas belas mãos sus‑
tentando os sistros”) faz pensar, irresistivelmente, nos cânticos
sagrados das sacerdotisas védicas, em suas orações vesperais,
voltadas para o Sol.
Mas talvez haja maior mistério ainda. Aos que bem conhe‑
cem os textos da Bíblia, sabem que nela consta um salmo que
recorda, de modo espantoso, o Grande hino ao Sol, do faraó
Akhnaton. É o salmo CIV ou CIII, segundo a Vulgata, um dos
mais belos cânticos dos cento e cinqüenta que são cantados, se‑
guindo ordem, ritmo e até mesmo expressões totalmente para‑
lelos e muitas vezes idênticos, como no poema místico do Egito
dedicado à glória do Criador e à beleza alegre do mundo nasci‑
do de suas mãos.
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Qual dos dois salmos foi o primeiro em data? Terá havido
para um e outro a mesma origem, uma fonte comum, à qual
dois grandes poetas recorreram sucessivamente? Impossível di‑
zer. Os hebreus, quando Akhnaton reinava, estavam ainda em
terra egípcia. E o mais curioso é que foi em Heliópolis que o rei
Akhnaton encontrou o velho culto do disco solar. E Heliópolis
não é outra coisa senão a velha cidade egípcia de On, na qual,
segundo o Livro do êxodo, Moisés foi conhecedor de toda a sa‑
bedoria egípcia. Mas quem poderá distinguir o que provém de
Akhnaton e o que provém da antiga mensagem que Abraão,
sete séculos antes, recebera do próprio Deus e da qual seu povo
era o depositário? Quem poderá saber a verdade, passados trin‑
ta e três séculos, mais de 1300 anos antes de nossa era?
Apesar de todas essas controvérsias, Chiang Sing conseguiu
reunir em seu livro um documentário esplêndido. E assim es‑
creve as cenas orgíacas do casamento de Nefertiti, baseada no
Papiro real de Turim. Referimo‑nos à parte secreta que o museu
achou melhor ocultar ao público, pois contém a narração dos
amores de certos padres de Amon com as cortesãs sagradas,
ilustrada com desenhos libertinos. Os rituais funerários e de
embalsamamento, Chiang foi buscar em História de Heródoto
(cap.11, pp. 86‑88) e no Livro dos mortos — o remoto texto
mágico‑religioso que era enterrado com a múmia para guiar
os seus passos no Além. Nesse capítulo, vemos ainda a citação
de uma preciosa estela funerária da vigésima primeira dinastia,
gentilmente cedida pelo professor Victor Stawiarski, e que se
encontra na biblioteca do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Além disso, a autora colocou na boca de vários personagens,
diversas frases históricas do Papiro de Ebers, Prisse, Greenfield,
Anastasi e Herouben.
Amor, morte, magia, intriga, misticismo e luta religiosa são
contados magistralmente ao longo das páginas deste livro de
Chiang Sing, num estilo leve e poético que desde logo fascina
o leitor e revela a profunda erudição da autora. Ela consegue
fazer de seus personagens gente de verdade, tal como o foram
há séculos, em cuja agradável companhia percorremos as ruas,
os palácios, os jardins e os templos de Tebas, Mênfis, Napata e
Akhetaton — a Cidade do Horizonte do Sol. Seguindo o roteiro
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manifestaram de repente, em plena madurez dos seus quaren‑
ta anos, que jamais cursou nenhuma escola de belas‑artes nem
nunca entrou num ateliê de escultura. Entretanto, a sua arte
esplêndida e espontânea é tão poderosa que chegou a fazer com
que vários eminentes críticos de arte pensassem que as escultu‑
ras de Kabir eram realmente egípcias, tal como aconteceu com
o Deus Hórus e a Máscara de Ramsés II, peças de bronze que
estiveram presentes na Exposição de Arte Egípcia, realizada
numa galeria de arte do Rio de Janeiro, sob o patrocínio da
Embaixada da República Árabe Unida.
Levado por sua admiração pela arte de El‑Amarna, Kabir
esculpiu também um busto da rainha Nefertiti no qual buscou
alcançar algo mais além da forma. Possivelmente a luz interior,
essa chama indefinível que iluminou o semblante de nossa fa‑
mosa soberana, dando‑lhe uma beleza imortal. A estátua feita
por Kabir, inspirada na obra‑prima de Beck que está no Museu
de Berlim, é realmente muito próxima da velha arte egípcia da
décima oitava dinastia, em razão de suas características huma‑
nas e sensíveis. Contudo, o que há de muito especial nessa está‑
tua de Kabir são os antigos símbolos sagrados que ele colocou
na cabeça e no pedestal de A bela que veio, tornando‑a a única
estátua no mundo representando a rainha Nefertiti que ostenta
esses emblemas simbólicos.
Sobre a fronte coroada de Nefertiti estão as duas serpen‑
tes sagradas usadas pelas grandes vestais e que representam a
divindade dinástica do Baixo Egito, também chamada Buto ou
Ureaus pelos gregos. Às vezes, ornam as frontes reais egípcias
para protegê‑las de seus inimigos; porém, o comum é que esse
lugar seja ocupado apenas por uma deusa‑serpente, tal como
ocorreu no original de Beck, em que o Ureaus está quebrado,
lembrando apenas a forma de um laço. Outro símbolo usado por
Kabir encontra‑se na parte posterior da coroa de Nefertiti e é
a famosa cruz ansata ou Ankh — emblema da vida espiritual.
E, finalmente, no pedestal temos o grande lótus saído das águas
primordiais, aquele que foi o berço do Sol na primeira manhã
do mundo, segundo nos diz a tradição egípcia relativa à criação
do Universo pelo astro inicial. Desse lótus azul, brasão floral do
Egito faraônico, surge Nefertiti significando que conquistou a paz
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Hino a Nefertiti
Chiang Sing
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Apresentação
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propício para o aparecimento de bruxas, fantasmas, almas pe‑
nadas, mulas‑sem‑cabeça etc., estão obviamente ligados ao jul‑
gamento da meia‑noite, no Tribunal de Osíris.
Essas e muitas outras correlações o leitor encontrará no li‑
vro de Chiang Sing. Nefertiti e os mistérios sagrados do Egito não
é apenas para ser lido como entretenimento ou ilustração. É um
livro para ser entendido nas entrelinhas, nos antigos textos da
época faraônica que a autora transcreve. Então, numa evocação
filosófica, revivemos o espírito e o pensamento dos pensadores
egípcios de outrora.
Estamos, portanto, todos de parabéns com o aparecimento
desta obra, especialmente os grupos que vão visitar as múmias
levados por um sentimento místico. Graças ao grande esforço de
Chiang Sing, poderemos agora dar a esses visitantes uma expli‑
cação bem mais completa, bem mais poética, bem mais profunda
sobre a arte, a ciência, a cultura e as crenças do velho Egito.
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