HEERS, Jacques. A Idade Média, Uma Impostura
HEERS, Jacques. A Idade Média, Uma Impostura
HEERS, Jacques. A Idade Média, Uma Impostura
Fonte: HEERS, Jacques. A Idade Média, uma impostura. Lisboa: Edições Asa, 1994.
Tradução: António Gonçalves
A reprodução para fins educacionais não comerciais é permitida desde que citada a fonte.
mas da orientação da pesquisa, e até da interpretação dos resultados. As hipóteses de trabalho têm
sempre um grande peso, e são sempre numerosos aqueles que se empenham, sobretudo em ilustrar a
idéia dominante, em vez de prosseguirem uma investigação liberta de apriorismos. Disse-se e
escreveu-se em demasia que, no século XV, o mundo ocidental se viu confrontado com graves
incertezas, que a sociedade deixou de se sentir solidamente implantada nas suas bases habituais. O
quadro de conjunto impôs-se; bastava ilustrá-lo até aos mínimos pormenores. Desejosos de se
manterem fiéis a essa linha técnicamente aceite, foram muitos os historiadores de boa fé que se
lançaram em perseguição dos sinais de uma profunda evolução das estruturas socioeconômicas, das
relações humanas, das partilhas dos poderes e das fortunas. Exumaram assim inúmeros indícios
mais ou menos claros, mas sempre interpretados no mesmo sentido. Estes tempos de transição
continham inevitavelmente a marca de transformações, e portanto das formas de enriquecimento; e
também de desordens e, de motins e de “revoluções”. Estes mesmos esquemas aplicavam-se
naturalmente a outros domínios: devoções e sentimentos religiosos, preceitos do viver, expressões
culturais. Tudo isso conduzia a imagens de mal-estar e de desequilíbrio.