Projeto Videira Cultivando Uma Cultura
Projeto Videira Cultivando Uma Cultura
Projeto Videira Cultivando Uma Cultura
O Projeto
Videira define um modelo que é tanto radical quanto administrável
para a igreja local. Em vez de levar-me a sentir culpado ou
deprimido, a leitura me revigorou e refrescou minha paixão pelo
ministério do evangelho ‘no chão de igreja’!”
— David Helm, pastor da Igreja da Santíssima Trindade
(Chicago/EUA) “Certos autores conseguem dialogar com o leitor,
antecipando suas dúvidas, trazendo respostas claras e propostas
práticas. Neste livro, o leitor encontrará este tipo de diálogo
construtivo, interessante e desafiador que valoriza a Palavra de
Deus e o caminho do discipulado. Vale destacar que não é uma
proposta pronta, mas um esboço que permitirá ao leitor interagir,
adaptar à sua realidade e aplicar com muita firmeza teológica.
Projeto Videira mostra sua intenção de formar discípulos de Cristo, a
partir da exposição da Palavra de Deus. Este livro é mais um bom
exemplo da possibilidade de ter fidelidade às Escrituras com a
prática do discipulado.”
— Leonardo Sahium, pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea
(Rio de Janeiro/RJ) “Aquilo que já era bom em A treliça e a videira
fica ainda melhor em Projeto Videira. Não me sinto apenas feliz,
mas obrigado a recomendar a nova obra de Marshall e Payne.
Prático, o livro nos apresenta respostas e convicções para todos
que almejam excelência no discipulado.”
— Wilson Porte Jr, pastor da Igreja Batista Liberdade
(Araraquara/SP)
“O livro que você tem em mãos é a sequência que faltava. A treliça
e a videira, obra aclamada que antecede a esta, esboçou de forma
esplêndida o que Mark Dever chamou de “uma mudança crucial que
é necessária à maneira de pensar de muitos pastores”. Agora, em
Projeto Videira, toda a sabedoria pastoral, a enorme sensibilidade
humana e a forma tão sensacional de escrever de Colin Marshall e
Tony Payne ressurgem — de um jeito ainda mais prático; de fato,
como um manual — para auxiliar pastores e igrejas no cumprimento
da Grande Comissão de Jesus: fazer discípulos. Enquanto no
primeiro livro nós fomos apresentados a ‘uma mentalidade de
discipulado que muda tudo’, neste nós aprenderemos a cultivar ‘uma
cultura de discipulado’ que dará forma ao ministério e à igreja.
Sensacional!”
— Leandro B. Peixoto, pastor da Segunda Igreja Batista
(Goiânia/GO)
“A vocação da igreja é fazer discípulos, e para criar uma cultura de
discipulado é preciso mudar as convicções e as práticas que por
vezes operam como obstáculos à missão. Colin Marshall e Tony
Payne apresentam proposições e argumentos muito bem
fundamentados na Palavra de Deus como também oferecem
preciosas diretrizes práticas para promover o crescimento da igreja
através do discipulado. Crescimento, uma metáfora biológica,
demanda tempo, envolve processo e exige paciência. O
crescimento vem de Deus, mas plantar e regar são
responsabilidades humanas. O discipulado é essencial para vida da
igreja e esse livro nos ajuda a entender e aplicar essa verdade.”
— Judiclay Santos, pastor da Igreja Batista do Jardim Botânico
(Rio de Janeiro/RJ) “Em meio a tanta confusão e heresias que usam
o discipulado de forma equivocada, Colin Marshall e Tony Payne
presenteiam a igreja com um guia sólido e prático capaz de nos
tomar pela mão e caminhar conosco na importante tarefa de criar
uma cultura de discipulado em nossa vida e em nossas igrejas.”
— Filipe Niel, pastor da Igreja Batista Vida Nova (Caldas
Novas/GO)
Sumário
Agradecimentos
Preparando o Cenário
A grande questão
Mudando a cultura
Fase 1 | Aprofundando as Convicções
Introdução
Convicção 1: Por que fazer discípulos?
Convicção 2: O que é um discípulo?
Convicção 3: Como se faz um discípulo?
Convicção 4: Quem faz discípulos?
Convicção 5: Onde fazer discípulos?
Resumo
Fase 2 | Reformando sua Cultura pessoal
Reformando sua cultura pessoal
Fase 3 | Avaliaçãohonesta e Amorosa
Avaliação honesta e amorosa
Fase 4 | Inovar e Implementar
Introdução
Área de foco 1: tornar o domingo uma referência
Área de foco 2: criar caminhos que promovam o avanço
Área de Foco 3: Planejar para o crescimento
Área de foco 4: criar uma nova linguagem
Fase 5 | Manter o Ímpeto
Manter o ímpeto
Epílogo
Apêndices
Apêndice 1 | A treliça e a videira: o que você perdeu?
Apêndice 2 | Repensando pequenos grupos
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Agradecimentos
Ao escrever um livro sua mente se concentra nisso. E escrever um
livro sobre como proceder como servos de Deus, na igreja e em
nome de Cristo, realmente faz com que foquemos mente e coração.
Estamos sendo fiéis à mente revelada de Deus?
Tony e eu não escrevemos Projeto videira em nossos escritórios.
Os últimos anos desde que A treliça e a videira1 foi publicado foram
de conversas contínuas sobre a vida cristã, a igreja e o ministério.
Tem sido desafiador, humilhante, às vezes agonizante e, sobretudo,
exultante. Somos extremamente gratos aos milhares de pastores e
presbíteros que dialogaram conosco em oficinas, conferências e
seminários em todo o mundo.
Também queremos reconhecer pessoas específicas que
investiram tempo e reflexão nessa conversa.
Cerca de 40 pastores aceitaram meu convite para orientar seus
ministérios enquanto tentavam implantar os princípios de A treliça e
a videira em suas igrejas. Essa experiência de ver em primeira mão
igrejas muito diferentes lidando com novas formas de pensar e agir
foi inestimável.
Uma dúzia de pastores analisou as primeiras versões do material
e ofereceu feedback detalhado e nos encorajou para continuar. Essa
contribuição aperfeiçoou nossa compreensão de ministério e moldou
significativamente o produto final.
Gary Bennetts, Stuart Holman e Greg Peisley passaram um ano
inteiro usando as primeiras versões deste material, não apenas em
suas próprias igrejas, mas também como mentores em igrejas
vizinhas. Steve Lindemann nos preparou para entender o processo
de mudança cultural ao longo do caminho. Eu sempre aguardava
com expectativa as nossas reuniões mensais, pois elas nos
ajudaram a tornar a coisa toda mais utilizável (assim espero).
Phil Colgan e Gary Koo, pastores das igrejas locais onde Tony e
eu estamos envolvidos, nos encorajaram a ensinar e experimentar
essas ideias, porque eles são totalmente dirigidos pelas mesmas
convicções. Nós precisávamos desse espaço para trabalhar com
pessoas e grupos enquanto escrevíamos sobre o ministério.
Obrigado, Phil e Gary!
Também somos muito gratos aos oito pastores que concordaram
em ser entrevistados sobre seus ministérios e permitir que trechos
dessas conversas fossem incluídos no livro.
Recentemente, Andrew Heard e Craig Tucker passaram horas
lendo nosso esboço e nos enviaram feedback detalhado. Eles têm
vivido este projeto por muitos anos como pastores cuja prática
ministerial deriva de profunda reflexão teológica. Eles continuarão
sua crítica construtiva a este livro muito depois de sua publicação,
para benefício de todos nós. Dois outros amigos merecem menção
especial. Um de nossos jovens escritores teologicamente afiados,
Guan Un, trabalhou longa e proveitosamente sobre o tema do
discipulado para produzir artigos que moldassem o que você está
prestes a ler. E meu colega Craig Glassock está construindo a
comunidade de apoio online que será de grande benefício para
todos os que embarcam neste projeto. Sua paixão pelo discipulado
não tem limites.
Também somos muito gratos à equipe da Matthias Media
(especialmente a editora-chefe, Emma Thornett), que não apenas
trabalhou arduamente para tornar este livro uma realidade, mas tem
praticado seus princípios por quase três décadas na publicação de
recursos ministeriais para discipulado. De fato (como você
descobrirá), não conseguimos deixar de recomendar e elogiar os
recursos da Matthias Media em vários pontos ao longo do livro.
Esses são recursos que conhecemos e confiamos — esperamos
que você não se incomode com nosso entusiasmo e defesa da
nossa casa.2
E o que posso dizer sobre o Tony? Simplesmente que o texto final
é dele. Alguém teve que transformar essa conversa de seis anos em
um todo coerente. Tinha que ser alguém que carrega essas
convicções no sangue por décadas e alguém que estuda e escreve
sobre essas coisas desde sempre. Quando lia o manuscrito de Tony,
dizia a mim mesmo: “Sim, é exatamente isso que queremos dizer, e
o que, em nome de Deus, precisa ser dito a essa hora”.
A Deus seja a glória!
Colin Marshall, fevereiro de 2016.
Colin Marshall e Tony Payne, A treliça e a videira: a mentalidade de discipulado que muda
tudo (São José dos Campos: Fiel, 2016).
N. do E.: A maior parte desses recursos não foi traduzido do inglês. Contudo para aqueles
que desejam aprofundar-se, mantivemos as recomendações nas notas de rodapés.
Preparando o Cenário
A grande questão
Nós conversávamos boa parte do dia. Éramos cerca de sessenta na
sala, de muitas igrejas diferentes do meio-oeste dos Estados
Unidos. Então um pastor levantou e fez a pergunta que nos foi feita
inúmeras vezes nos últimos seis anos.
“Veja, eu li A treliça e a videira. Eu achei o livro ótimo. Expressou
o que sempre pensei e acreditei sobre o ministério cristão. Então,
Deus os abençoe, e obrigado por escrevê-lo.
Mas à medida que lia, também tive essa sensação estranha por
dentro. Só sei que o que realmente acontece em nossa igreja está
muito distante da visão do ministério de discipulado que vocês
descrevem e no qual eu realmente acredito. Não sei exatamente
como ficamos tão longe disso. Mas o problema é que realmente não
sei por onde começar ou como obter progresso. É como se todas as
estruturas e ministérios existentes em nossa igreja fossem feitos de
concreto.
Então, aqui está meu problema básico: como eu posso mudar
toda a cultura de nossa igreja na direção do discipulado?”
Ele era batista, de uma igreja de tamanho médio em Chicago,
mas poderia ter sido um presbiteriano de Melbourne ou um
anglicano evangélico da Cidade do Cabo. Em conversas, e-mails,
oficinas e conferências, já nos fizeram alguma versão dessa
pergunta mais vezes do que podemos nos lembrar desde que A
treliça e a videira se tornou um improvável best-seller internacional.3
Eu digo improvável porque, para nós, A treliça e a videira era um
livrinho comum que consistia principalmente em ideias óbvias. Nós
pensamos que ele seria lido por um pequeno número de pessoas
leais aqui na Austrália, e talvez pudesse servir como uma
declaração útil de princípios de ministério que poderiam ser
passados para a próxima geração.
No entanto, às vezes o óbvio é o que as pessoas mais precisam
ouvir (como quando a criança disse sobre o imperador: “Mas ele
está nu!”). De alguma forma, nossa reafirmação dos princípios
bíblicos do “trabalho da videira” e do ministério tocou pastores e
líderes evangélicos de todo o mundo.
Uma das consequências foi uma experiência imensamente rica
pela qual somos profundamente gratos a Deus. Ao longo dos
últimos seis anos, falamos em conferências e realizamos oficinas
sobre A treliça e a videira em todo o mundo. Tivemos a alegria de
passar milhares de horas discutindo sobre ministério com milhares
de pastores e líderes leigos, de igrejas de diferentes tamanhos,
locais, denominações e culturas — da Cidade do Cabo a Chicago,
de Cingapura a Sydney, de Dublin a Dallas.
As pessoas iam a essas oficinas e conferências com todos os
tipos de perguntas e pensamentos sobre a filosofia ministerial
apresentada em A treliça e a videira. Três tipos de perguntas eram
particularmente comuns:
• O que vocês realmente querem dizer com “discipulado” e “fazer
discípulos”? Vocês estão basicamente argumentando em favor
de mais trabalho individual ou em pequenos grupos? Ou estão
falando de mais evangelismo? Ou as duas coisas, ou nada
disso?
• Onde a pregação se encaixa no que vocês estão dizendo? Sua
ênfase em “treinar discípulos” não leva a uma desvalorização do
ministério de pregação expositiva — que é algo que temos
lutado tanto para defender e fortalecer ao longo desta geração?
• Vocês não acabaram fazendo das “treliças” (isto é, as estruturas
e suportes do ministério) as vilãs da vida da igreja? É possível
que vocês tenham subestimado a importância sistêmica de como
a vida da igreja é estruturada e organizada? Priorizar o “trabalho
da videira” sobre o “trabalho de treliça” leva a um menosprezo
das muitas pessoas que passam tantas horas trabalhando
fielmente na “treliça”?4
Fomos enormemente abençoados ao falar repetidamente sobre
essas questões com muitos irmãos e irmãs diferentes, como um
ferro afiando outro ferro. Nos capítulos que se seguem, esperamos
que o fruto dessas conversas seja visto em uma apresentação
aprimorada e aprofundada dos princípios essenciais do ministério,
enunciados pela primeira vez em A treliça e a videira.
No entanto, a principal razão por que as pessoas vieram falar
conosco nos últimos seis anos foi para lidar com o dilema levantado
pelo pastor de Chicago. Em muitas igrejas ao redor do mundo, há
uma lacuna imensamente insatisfatória entre o que esperamos que
o evangelho produza ao frutificar entre nós e o que realmente
vemos dia a dia e domingo a domingo. Para colocá-lo nos termos
que defendemos em A treliça e a videira, ansiamos que o “trabalho
da videira” ao estilo da Grande Comissão seja a agenda normal e a
prioridade dentro de nossas igrejas. Ansiamos que todos os
membros de nossa congregação compreendam e vivam isso — orar
e alcançar os que estão ao seu redor para fazer novos discípulos, e
nutrir, edificar e encorajar uns aos outros à maturidade em Cristo.
E, no entanto, quando olhamos para a lacuna entre essa
empolgante visão bíblica e a realidade da vida da igreja, nossos
corações às vezes desanimam. Nossas congregações locais
parecem tão complexas e tão presas aos hábitos e modos atuais de
fazer as coisas. As estruturas e “treliças” existentes em nossa igreja
quase parecem ter vida própria.
Elas absorvem, assimilam ou repelem nossas tentativas de reforma
e mudança. Talvez essa conversa de “trabalho de videira” e de todo
discípulo ser um fazedor de discípulos funcione em outro lugar (em
um campus universitário, talvez), mas não parece estar pegando
aqui. E se formos honestos sobre os números, não estamos vendo
muito crescimento; e o pouco crescimento que vemos é em grande
parte o resultado de transferências, e não de conversões.
Poderíamos multiplicar os exemplos, ou expor esse tipo de
cenário mais demoradamente, mas isso apenas inflamaria o
sentimento de desconforto que muitos pastores, presbíteros e
membros de igreja já sentem. Quando trabalhamos duro, mas não
vemos crescimento, isso machuca. Isso nos leva ao inquirir sobre a
soberania de Deus (Por que ele não está dando o crescimento?), a
nos compararmos com os outros (O que há de errado comigo? Por
que outros estão indo tão bem?) e, muitas vezes, a adotar o último
programa ou modelo de ministério da moda, esperando finalmente
alcançar o sucesso e o crescimento.
Conversando e pensando constantemente sobre essas questões
nos últimos seis anos, nós nos convencemos da necessidade de
responder à pergunta que o pastor batista de Chicago fez em nome
de quase todas as igrejas evangélicas no mundo ocidental: Como
podemos mudar toda a cultura de nossa igreja na direção do
discipulado?
Essa é a questão que Projeto Videira pretende responder.
Pode parecer contraintuitivo dizer isso, mas uma das razões
pelas quais estamos tão interessados em responder a essa questão
é que sabemos muito bem a enorme pressão que muitos pastores e
membros de igreja estão sofrendo. Para muitos leitores deste livro,
seja você um líder leigo perspicaz ou um pastor de tempo integral,
cada semana é uma nova luta simplesmente para não afundar na
areia movediça. Sabemos disso não apenas pela nossa própria
experiência de vida no ministério nas equipes pastorais da igreja,
mas pelos últimos seis anos de oficinas e treinamento de pastores e
equipes de liderança da igreja. Temos conversado constantemente
com pastores e líderes leigos que estão lidando com situações
cansativas e emocionalmente desgastantes — tudo, desde doenças,
tristezas e mágoas em suas próprias famílias até conflitos
relacionais, problemas de saúde mental e abuso sexual na família
da igreja. Nós nos encontramos esperando por aquele ano “normal”
livre de crises, no qual poderemos realmente fazer algum
planejamento e progredir, mas ele nunca chega.
Para aqueles de nós que se sentem assim, trabalhar em um
projeto para mudar toda a cultura de nossa igreja pode parecer
completamente além de nosso alcance. E para alguns de vocês,
isso pode ser verdade. Pode não ser o momento certo para
começar. Você pode querer ler este livro e preparar alguns planos
para começar corretamente daqui a um ou dois anos.
No entanto, como discutiremos a seguir, fazer discípulos é na
verdade chamar as pessoas à fé e à esperança em Jesus Cristo em
meio a esta presente era perversa, com todas as suas pressões.
Tornar-se uma igreja mais focada em fazer discípulos é tornar-se
uma comunidade que compreenda mais claramente por que a vida é
muitas vezes difícil e que recursos Deus nos deu para crescer em
fé, esperança e amor em meio à luta. Uma igreja discipuladora é, na
verdade, mais capaz de lidar com as crises e pressões da vida
diária.
Além disso, um dos principais pontos de pressão para muitos
pastores e equipes de liderança de igreja é que simplesmente há
poucas mãos sendo colocadas na obra. Nós não estamos treinando
e mobilizando um número suficiente de nossos membros para
serem colaboradores na tarefa, e assim a pressão sobre o pastor e
os principais líderes continua implacável. Precisamos construir uma
equipe maior de discipuladores engajados e preparados para
trabalhar juntos, e esse é um dos principais resultados de Projeto
Videira.
Em outras palavras, uma razão muito importante pela qual
escrevemos O projeto videira, e pela qual exortamos você a
embarcar nele assim que puder, é que sabemos como a vida e o
ministério da igreja podem ser difíceis.
UM LIVRO INCOMUM
É uma grande questão que estamos procurando responder (como
mudar a cultura da igreja na direção do discipulado), e a tarefa é
dificultada pelo fato óbvio de que cada igreja precisa de sua própria
resposta. Cada igreja está em um ponto diferente do espectro, tem
diferentes pontos fortes e fracos, enfrenta diferentes obstáculos e,
algo crucial, tem pessoas diferentes com as quais Deus a abençoou.
Alguns de vocês podem olhar para a sua igreja e ver a necessidade
de uma reforma radical; outros podem achar que estão indo na
direção certa, mas precisam de uma injeção de crescimento e
mudança. Alguns de vocês podem até estar prestes a plantar uma
nova igreja, estando em uma posição de moldar a cultura a partir do
zero.
Ainda assim, apesar de nossos diferentes pontos de partida, o
processo essencial de mudança, as ferramentas de mudança e os
resultados desejados da mudança são comuns em todas as igrejas,
porque têm suas raízes não apenas na forma como grupos de
pessoas (como igrejas) funcionam e crescem, mas no caráter,
propósito e atos de Deus para o seu povo.
É por isso que (de maneira um pouco incomum) chamamos este
livro de “projeto”. Não é um conjunto de respostas detalhadas ou
prescrições vindas de cima para resolver seus problemas. É um
conjunto de processos, ferramentas e orientações para você
trabalhar com uma pequena equipe de colegas que pensem como
você — partindo de onde você estiver, com os pontos fortes e fracos
que tiver.
Isso significa que Projeto Videira não é um livro para ser apenas
lido como todos os outros livros sobre ministério que você compra
em conferências, lê e se sente um pouco entusiasmado por um
tempo, mas que no fim das contas vai morar na estante com todos
os outros. É um projeto. Ele descreve um processo para trabalho e
discussão. É um livro que deve levar a um plano e a ações ao longo
do tempo.
É por isso que este é um livro que pode levar vários anos para
ser concluído — deixe-nos acrescentar logo, não porque seu
conteúdo é muito longo ou complexo, mas porque o processo que
ele orienta não é uma solução rápida. Crescimento e mudança na
igreja, como todo crescimento e mudança na vida cristã, leva tempo.
É preciso implantação realista e paciência. É passível de falsos
começos e tropeços. Precisa de monitoramento, revisões
constantes e mudanças de direção para dar conta de circunstâncias
novas ou inesperadas. Ao longo do livro, em alguns pontos
regulares, você será solicitado a conversar a respeito, avaliar suas
circunstâncias atuais, elaborar planos, tomar atitudes, trabalhar em
miniprojetos e assim por diante. É um processo que levará meses e
anos para ser concluído. De fato, em alguns aspectos, este é um
livro que você nunca terminará. Nós fervorosamente esperamos que
Projeto Videira não acabe sendo apenas mais um daqueles livros de
ministério que você folheia, pega algumas observações
interessantes, e depois deixa de lado.
Este também não é um livro que você conseguirá ler de maneira
bem-sucedida sozinho. A menos que você reúna um pequeno grupo
de pessoas piedosas e comprometidas para ler este livro e passar
por este processo com você, temos certeza de que ele não servirá
de muita coisa para sua vida ou para sua igreja. É claro,
entendemos que, para decidir se você deseja reunir um grupo de
pessoas e participar do Projeto Videira juntos, você pode querer
primeiro ler o livro todo! Mas nosso ponto é simplesmente que, para
que haja qualquer crescimento ou mudança reais na cultura de sua
igreja, você precisará trabalhar tudo isso com uma equipe.5
Quanto tempo, esforço, pensamento, energia e suor, quantas lágrimas, retrocessos, sucessos,
fracassos, alegrias e tristezas você acha que serão necessários para provocar esse tipo de
mudança ampla e profunda em qualquer organização — ainda mais, em uma cultura de igreja de
longa data?
Não será um processo rápido — é por isso que este livro é parte de um projeto de trabalho ao
longo de anos, em vez de ser outro livro sobre ministério para ser lido e colocado no lugar em sua
estante com todos os outros.
Isso exigirá mais tempo, esforço e dons que qualquer indivíduo possua — e é por isso que este é
um projeto que deve ser encarado com uma equipe de cooperadores piedosos, comprometidos e
com o coração no evangelho, que podem encorajar e sustentar uns aos outros.
E é claro, é um trabalho que nenhum de nós é previamente competente para fazer — é por isso
que dependemos de Deus. Como o apóstolo Paulo, nós dizemos com gratidão:
Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo
contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova
aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3.5-6)
UM PROCESSO DE MUDANÇA
Então, por onde começar?
Como Craig Hamilton aponta em seu livro Wisdom in Leadership, a maioria dos ministros tem a
tendência de começar em um destes dois lugares:
Geralmente parece que há duas maneiras de viver quando se trata de estar no ministério cristão. Ou você
é uma pessoa da Bíblia ou uma pessoa de liderança. Você lê livros de teologia ou você lê livros de
liderança. Você lê livros de Don Carson e John Stott ou lê livros de Bill Hybels e John Maxwell.
E isso é um problema.
Sempre me pareceu um problema porque sou um cara da Bíblia. Sempre fui um cara de doutrina. Vamos
falar sobre modelos de expiação e pericorese, enipostático e anipostático, a ordo salutis e todos os outros
tipos de palavras em latim. Vamos falar sobre pregação, textos, contextos e subtextos. Eu sempre fui e
ainda sou esse tipo de cara.
Contudo, como líder em diferentes contextos ao longo dos anos, observei que quando grupos de pessoas
se reúnem, funcionam de algumas maneiras previsíveis. Eu sabia que era verdade que eu poderia liderar
um grupo bem ou mal. E mesmo que eu tivesse toda sorte de coisas incríveis e transformadoras para
ensinar, e mesmo que eu as explicasse da forma mais clara e persuasiva que eu pudesse, ainda tinha que
ajudar grupos de pessoas a organizar e realizar coisas.
Percebi que a escolha entre um ou outro era falsa — que toda essa conversa sobre liderar pessoas não era
necessariamente um pragmatismo incrédulo e distante de Deus. Pelo contrário, tinha a ver com viver com
sabedoria e amar o próximo. E ambas as coisas estão na Bíblia e Deus parece pensar que são boas ideias.
Assim, concluí que, se eu realmente queria ser um cara da Bíblia, eu provavelmente também precisava ser
um cara de liderança, porque não se trata de um ou outro, mas de um e o outro.14
Se você é um “cara da Bíblia”, provavelmente vai querer começar a mudar sua cultura com as
convicções teológicas e bíblicas que quer que seu povo afirme, e é bem provável que nunca vá
além disso. Se você é um “cara de liderança”, provavelmente ficará ansioso por passar rapidamente
pelas questões teológicas, a fim de chegar logo detalhes práticos de análise estratégica e
planejamento.
O processo que estamos prestes a descrever trata enfaticamente de ambos. As convicções e
crenças teologicamente orientadas são vitais e fundacionais — precisamos de tempo para explorá-
las e aperfeiçoá-las e para vivê-las e respirá-las. Mas as práticas, programas, atividades e
estruturas que expressam que dão forma e facilitam a vivência de nossas convicções são
igualmente vitais. Isso significa que o trabalho em longo prazo é necessário neste momento.
Queremos encorajá-lo a não desistir no meio dele — porque você será tentado a fazê-lo.
O processo que estamos prestes a apresentar dificilmente pode ser considerado revolucionário
ou controverso. É um procedimento bastante comum que qualquer organização pode aplicar para
gerar mudanças organizacionais ou culturais significativas. Ele possui cinco fases:
• Fase 1: Aprofundar suas convicções — mergulhe na Bíblia e em sua teologia para esclarecer
o que você crê a respeito de discipulado e ministério.
• Fase 2: Reformar sua cultura pessoal — certifique-se de que suas convicções tenham
penetrado na cultura de sua própria vida; que você está demonstrando suas convicções pela
forma como você vive e ministra aos outros.
• Fase 3: Avaliação amorosa e honesta — faça um exame cuidadoso de tudo o que acontece
em sua igreja para ver como ela está adequada com suas convicções: em que áreas sua cultura
reflete melhor suas convicções, onde elas estão mais fracas e onde está o maior potencial de
crescimento e mudança?
• Fase 4: Inovar e implantar — defina o que você quer parar de fazer, começar a fazer e
continuar fazendo; planeje novos caminhos para o discipulado e defina como implantá-los ao
longo do tempo.
• Fase 5: Manter o ímpeto — monitore e analise como o projeto está acontecendo; veja os
obstáculos e descubra como superá-los; crie um movimento e mantenha seu ímpeto.
Cada uma dessas fases levará algum tempo para ser concluída. De fato, algumas (como a Fase
2), por definição, nunca serão concluídas.
Contudo, há uma lógica em como as fases se seguem e se baseiam umas nas outras. Nós
reforçamos o conselho para que você não passe rápido demais por qualquer uma delas, mas gaste
tempo para fazer o trabalho refletida e cuidadosamente. Manobrar um transatlântico demanda
grandes quantidades de energia e tempo. Mas depois que você tiver gasto essa energia e tempo e
estabelecido uma nova direção (e um novo destino), o movimento pode trabalhar a seu favor.
Diferentes igrejas e ministérios passarão por essas fases em ritmos diferentes. Você precisará
elaborar um plano adequado ao seu próprio contexto (e, sem dúvida, modificar esse plano à medida
que avança).
A proposta a seguir é o que nós consideramos como cerca de um padrão de prazos para uma
igreja “média” imaginária. Ela pressupõe que você se reúna regularmente com seus colegas
escolhidos para a “Equipe do Projeto Videira” para uma reunião de duas horas e também marque
algumas reuniões prolongadas em diferentes momentos — por exemplo, no sábado de manhã ou
em um retiro de final de semana.
FASE CONTEÚDO TEMPO APROXIMADO
DISCUSSÃO
1) Se vocês tivessem que resumir a cultura de sua igreja em um slogan de duas ou três palavras,
qual seria?
2) Tentem identificar os principais hábitos, atividades e tradições que expressam e reforçam a
cultura de sua igreja.
3) Das cinco fases do processo que estamos prestes a iniciar, qual vocês consideram mais difícil?
Por quê?
4) No processo que descrevemos, qual etapa de trabalho lhes trazem maior expectativa?
O que, de fato, várias práticas e atividades realmente comunicam irá variar de acordo com o lugar, dependendo do que poderíamos
chamar de “vocabulário cultural predominante”. Portanto, não estamos dizendo que o pregador/pastor vestir roupas normais e
sentar-se na congregação é uma lei imutável, como a dos medos e persas! Mesmo assim, no ambiente social e eclesiológico de
Sydney nos anos 80, isso comunicava uma mensagem importante e poderosa.
Tg 1.22.
A palavra “cultura” não é fácil de definir. Na verdade, Raymond Williams classifica-a como “uma das duas ou três palavras mais
complicadas da língua inglesa” (Raymond Williams, Keywords [Londres: Flamingo, 1983], 87). Ela pode ser usada para descrever
as produções intelectuais ou artísticas de uma sociedade ou de um subgrupo dentro de uma sociedade (por exemplo, “alta cultura”).
Muitas vezes, é usada para se referir aos costumes, hábitos, normas, arranjos sociais e modo de vida de um determinado grupo de
pessoas, e os artefatos e produtos que eles produzem (por exemplo, “cultura francesa do século 21” ou “a cultura corporativa da
IBM”). Estamos usando-a aqui mais neste último sentido, para descrever “toda a maneira com fazemos as coisas por aqui”.
Existe uma extensa literatura sobre “cultura” e seu lugar dentro das organizações, a maior parte dela do mundo da administração. Um
artigo de resumo útil é John Katzenbach e Ashley Harshak, “Stop blaming your culture”, Strategy + Business, vol. 62, Primavera de
2011 (visto em 13 de dezembro de 2015): http://strategy-business.com/article/11108. Para uma perspectiva diferente que oferece
muitos pontos interessantes, ver To change the world: the irony tragedy and possibility of Christianity in the late modern world de
James D Hunter (Nova Iorque: OUP, 2010), especialmente o ensaio 1, “Cristianismo e transformação do mundo”. Uma das
percepções de Hunter é que as ideias, por si mesmas, raramente mudam uma cultura.
Veja mais informações sobre isso no livro: David Helm, One-to-one Bible reading: a simple guide for every Christian (Sydney: Matthias
Media, 2011).
Utilizamos nomes e detalhes fictícios para as pessoas e igrejas nessas histórias para proteger os envolvidos — tanto do orgulho de
serem consideradas como igrejas “bem-sucedidas”, quanto da tentação de mascarar a realidade (se eles soubessem que os
membros de suas igrejas ou seus amigos poderiam lê-las). Fora isso, deixamos os envolvidos falarem por si mesmos.
N. do E.: As versões completas das entrevistas podem ser encontradas em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira.
N. do E.: Jogo realizado em um campo gramado que se parece com o beisebol, criado na Inglaterra no século XVI.
Craig Hamilton, Wisdom in leadership: the how and why of leading the people you serve (Sydney: Matthias Media, 2015), 11.
Fase 1 | Aprofundando as Convicções
Introdução
Temos sugerido que gerar uma mudança efetiva e duradoura na
cultura de sua igreja envolverá tanto as convicções (ou teologia) que
você defende e ensina em espírito de oração, quanto as estruturas,
hábitos, práticas, programas e relacionamentos que expressam e
apoiam essas convicções.
Ambos os aspectos são importantes e certamente estão ligados.
Convicções levarão a certas práticas; as práticas expressarão e
serão baseadas em certas convicções. E em conjunto, convicções e
práticas geram uma cultura — uma “maneira de fazer as coisas por
aqui”.
Os dois principais problemas que quase toda cultura de igreja
enfrenta são:
• falta de clareza compartilhada sobre as convicções básicas (ou
seja, nem todos têm uma compreensão clara e compartilhada de
quem somos e do que estamos tentando fazer juntos sob a
orientação de Deus);
• falta de alinhamento entre convicções e prática (ou seja, muitas
coisas diferentes acontecem na igreja que não refletem mais
nossas convicções, se é que já refletiram; ou pior, que refletem e
reforçam outras convicções que nos são estranhas).
Caso você esteja preocupado com a possibilidade de
começarmos a usar linguagem de negócios neste momento, e logo
estarmos falando sobre intenção estratégica, alavancagem de ativos
e indicadores de desempenho, tudo o que estamos dizendo é que
temos que trabalhar tanto com as nossas crenças quanto com a
nossa prática, tanto as nossas convicções quanto nossas estruturas,
se queremos ver uma mudança real. Não há muita controvérsia
nisso.
Não é nada radical dizer que um bom lugar para começar o
processo é com nossas convicções; com o coração e a alma; com o
que realmente cremos. Precisamos ter um alto grau de clareza
compartilhada sobre o que acreditamos, se desejamos realmente
gerar uma mudança real para toda a cultura que expressa e
materializa essas crenças.
Sem gastar todo o tempo e espaço que seria preciso para
defender isso aqui, vamos partir do pressuposto de que a clareza
que estamos procurando deve ser buscada na Bíblia — e não
através de um meio termo entre as várias opiniões que venham a
existir em nosso meio. Não estamos à procura de clareza e
concordância a qualquer custo. O que buscamos é uma
compreensão clara, aguçada e compartilhada da verdade das
Escrituras sobre a vida e o ministério cristão, para servir como base
sólida e estrutura para toda a cultura de nossa igreja.
CINCO CONVICÇÕES
As cinco convicções que estamos prestes a explorar capturam o que
consideramos ser o coração do discipulado bíblico, de fazer
discípulos e do ministério.
Talvez isso nem precisasse ser dito, mas não acreditamos nem
por um minuto que a nossa maneira de fazer isso é a única maneira
de fazer isso. De fato, um elemento essencial dessa primeira fase
do processo é que você crie sua própria maneira de expressar e
comunicar as convicções profundas e compartilhadas que devem
impulsionar tudo que vocês farão. Tampouco pensamos que
paramos de aprender e crescer em nossa própria compreensão
desses assuntos. De muitas maneiras, as convicções que se
seguem são uma reafirmação (usando uma estrutura diferente) dos
princípios do ministério teologicamente orientado que articulamos
em A treliça e a videira, refletindo tudo o que aprendemos nos
últimos seis anos de ampla discussão, leitura e reflexão. Estamos
ansiosos para que esse processo continue!
Dito isso, obviamente consideramos que as cinco convicções a
seguir são uma expressão verdadeira e útil do que a Bíblia diz sobre
discipulado e ministério. Como qualquer conjunto de princípios
fundamentais, eles buscam dizer tudo o que é necessário para ser
uma base de ação conjunta. E cada princípio se esforça para ser
objetivo e completo em si mesmo (isto é, não simplesmente repetir
algum aspecto de um dos outros princípios).
As cinco convicções são construídas em torno de cinco questões-
chave relacionadas ao “discipulado” e a fazer discípulos, a saber:
• Por que fazer discípulos?
• O que é um discípulo?
• Como se faz um discípulo?
• Quem faz discípulos?
• Onde fazer discípulos?
Respondendo a cada uma dessas questões, bíblica e
teologicamente, você deve ser capaz de construir uma visão
coerente do que é discipulado, e do que isso significa para a sua
igreja. (O capítulo de resumo e o diagrama ao final das cinco
convicções também deve ajudá-lo a fazer isso).
Vamos começar, então, com a pergunta do “porquê”.
Convicção 1: Por que fazer discípulos?
Por que é importante fazer discípulos?15
Eu suponho que poderíamos responder a essa pergunta poupando algum tempo simplesmente
citando Mateus 28.19 e dizendo: “Porque Jesus nos mandou”.
E isso é certamente verdade. Com toda a autoridade que possui como o Senhor ressurreto do
céu e da terra, Jesus realmente deu a seus discípulos a tarefa de ir e fazer discípulos de todas as
nações.
No entanto, em sua generosidade e gentileza para conosco, Deus fez mais do que nos dar um
simples comando (“Apenas vá, faça e pare de reclamar”). Ele revelou muito, muito mais.
Ele nos mostrou por que “fazer discípulos” é tão importante e urgente. De fato, ele nos confiou um
segredo que explica a natureza e o destino de tudo em nosso mundo, incluindo nós e nossas vidas,
nossas igrejas e muito mais.
De muitas maneiras, a Bíblia é a história desse segredo sendo revelado. Toda a primeira metade
da Bíblia apresenta o problema e a promessa de uma solução — mas uma solução que está oculta
nas nuvens impenetráveis do futuro. Os profetas e sábios do Antigo Testamento falaram deste
futuro, e ansiavam por conhecê-lo e vê-lo, mas não tiveram nada além de um vislumbre ao longe.16
Este mistério que o Antigo Testamento tenta ansiosamente ver, o Novo Testamento proclama
como de forma aberta, às claras, no Senhor Jesus Cristo. O eterno propósito de Deus para todo o
seu mundo está agora disponível para todos verem, tocarem e ouvirem:
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que
contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós
a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos
foi manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros (1Jo 1.1-3).
Os apóstolos vão pelo mundo proclamando essa notícia extraordinária — que a vida que estava
com o Pai, que era desde o princípio, que traz a vida eterna, agora foi “manifestada” na pessoa de
Jesus.
Essa revelação do segredo de Deus é como o momento “Aha!” no final da história de mistério,
quando todas as pistas e peças do quebra-cabeça se encaixam. Agora, finalmente, podemos ver
qual era o plano o tempo todo.
Nesta primeira convicção, vamos explorar e esclarecer exatamente o que é esse extraordinário
plano de Deus — pois isso nos ajudará a compreender mais clara e poderosamente por que “fazer
discípulos” é algo de importância tão urgente.
REDIMINDO UM POVO PARA SEU FILHO
Qual é o plano de Deus para nós e nosso mundo?
Há muitas passagens espalhadas pelo Novo Testamento que respondem a essa pergunta e,
embora as respostas dadas por elas empreguem palavras e metáforas diferentes, a essência delas
é notavelmente semelhante.
Vamos dar apenas alguns exemplos, começando pelo final do Novo Testamento e voltando para
trás.17
Em Apocalipse 7, o apóstolo João avista uma multidão incontável, de todas as nações, povos e
línguas imagináveis, todos em pé diante do trono de Deus e diante do Cristo crucificado e
ressurreto, que é representado simplesmente como o Cordeiro. E esta vasta multidão, cujas
magníficas vestes foram tornadas brancas pelo sangue do Cordeiro, clama em celebração: “Ao
nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação”!18
Eles podem mesmo celebrar, pois servirão na sala do trono de Deus, e serão protegidos por sua
própria presença. As devastações e frustrações da vida terrena — fome, sede, calor escaldante,
lágrimas — não existirão mais, mas, ao contrário, serão cuidadas pelo Cordeiro, que é ao mesmo
tempo seu pastor:
Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde
vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande
tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante
do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono
estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o
sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para
as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 7.13-17).
Observe os elementos neste quadro dos momentos definitivos do futuro: o Cristo crucificado e
ressurreto está presente, governando com Deus; por sua morte ele purificou e reuniu um povo de
todas as nações ao redor do trono de Deus; e os danos do pecado, do mal e da morte não existem
mais.
O livro de Apocalipse desvenda para nós outras cenas de tirar o fôlego sobre o propósito final de
Deus para sua criação; mas vamos voltar algumas páginas para o livro de Hebreus, onde o capítulo
12 nos mostra outra imagem do plano final de Deus para todas as coisas. Novamente, é uma vasta
assembleia. Desta vez, o local é descrito como a Jerusalém celestial, com inúmeros anjos
presentes, juntamente com todos aqueles que estão registrados no céu e os espíritos dos justos
aperfeiçoados. Mais uma vez, há duas figuras no centro — Deus, o juiz de todos, e Jesus, o
mediador de uma nova aliança, cujo sangue aspergido fala de algo superior ao sangue do
assassinado Abel.
Novamente, observe os elementos: Deus, seu Filho ressurreto, a alegre reunião das pessoas que
foram aspergidas por seu sangue e o contraste com o mal e a morte:
Ora, não tendes chegado ao fogo palpável e ardente, e à escuridão, e às trevas, e à tempestade, e ao
clangor da trombeta, e ao som de palavras tais, que quantos o ouviram suplicaram que não se lhes falasse
mais, pois já não suportavam o que lhes era ordenado: Até um animal, se tocar o monte, será apedrejado.
Na verdade, de tal modo era horrível o espetáculo, que Moisés disse: Sinto-me aterrado e trêmulo! Mas
tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de
anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e
aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao sangue da aspersão
que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel (Hb 12.18-24).
Voltar mais algumas páginas nos leva à pequena carta de Paulo a Tito, que se concentra
principalmente em como o povo de Deus deve viver agora — na igreja, em seus lares, na sociedade
— considerando seu lugar no plano de Deus que está em andamento. No final do capítulo 2, há
uma descrição resumida do que é esse plano, girando em torno das duas “aparições” de Jesus
Cristo.
A primeira foi quando ele apareceu como a graça de Deus para trazer a salvação para todas as
pessoas e para nos treinar a viver não mais na impiedade e nas paixões mundanas, mas de
maneira piedosa e sensata nesta era presente. A segunda aparição é a que ainda estamos
aguardando:
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que,
renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e
piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e
Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar,
para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras (Tt 2.11-14).
O fim para o qual o plano está se dirigindo mais uma vez envolve um povo que foi redimido do
mal pela generosa doação de Jesus Cristo — um povo, neste caso, purificado e ansioso por fazer o
bem.
Vamos voltar ao Novo Testamento, desta vez ao capítulo de abertura de Colossenses. Aqui Paulo
lembra aos seus leitores que Deus gerou uma mudança revolucionária em suas vidas. Ele os
resgatou e redimiu da escuridão em que foram escravizados, perdoou seus pecados e deu-lhes
uma herança no reino cheio de luz de seu amado Filho.19 E esse Filho, esta figura majestosa e
preeminente, está no centro da imagem mais uma vez. Ou melhor, ele está no começo, no meio e
no final da imagem:
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a
redenção, a remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação;
pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos,
sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes
de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito
de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse
toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo
mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus (Cl 1.13-20).
No Filho todas as coisas foram criadas, nele todas as coisas subsistem, e nele todas as coisas
encontram seu propósito e realização. E novamente, como nas outras passagens que examinamos,
Deus reuniu uma congregação de pessoas de todas as nações — uma igreja — da qual Jesus é o
cabeça.
Poderíamos continuar e encontrar ensinamentos semelhantes em vários outros lugares.
Poderíamos olhar para o extraordinário capítulo de abertura de Efésios, com sua história cósmica
do plano de como Deus, desde antes do início dos tempos, começou a escolher e redimir, perdoar e
adotar um povo santo para si mesmo por meio do sangue de Jesus Cristo — um plano para o
mundo inteiro, tanto para judeus como gentios, o qual, na plenitude dos tempos, chegará ao fim
quando todas as coisas estiverem unidas sob Cristo.
Ou poderíamos escalar até o topo da montanha de Romanos 8, e de lá ver a magnífica vista do
plano eterno de Deus: enviar seu Filho na carne para salvar seu povo da condenação; dar a eles
seu Espírito como garantia de que agora são seus filhos adotivos enquanto aguardam a criação
renovada por vir; predestinar, chamar, justificar e glorificar todos aqueles a quem ele escolheu para
serem refeitos à imagem deste Filho. Isso é como Tito 2 — o novo povo que Deus está reunindo
terá um novo caráter. A imagem marcada e desfigurada que eles carregam será refeita para que
seja como o próprio Jesus, que é a imagem verdadeira e perfeita de Deus.
Como todas as tentativas de representar visualmente esse tipo de ideia, reconhecemos que
haverá falhas e simplificações em nosso diagrama. Ficaríamos felizes se você o aprimorasse (e, por
favor, entre em contato para compartilhar suas melhorias). Continuaremos adicionando
componentes a este diagrama nas páginas seguintes, enquanto trabalhamos as cinco convicções.28
•
Essa deve ser a nossa primeira e fundamental convicção, porque ela dá forma e determina todo o
resto. Ela nos lembra de que fazer discípulos não é primordialmente uma atividade humana com
objetivos que estabelecemos (embora o seja, de maneira secundária). Tudo que acontece no
ministério cristão e na igreja, e tudo que acontece em nossas vizinhanças, famílias e locais de
trabalho, é parte do que Deus está fazendo para levar todas as coisas inexoravelmente a seu
objetivo e fim — que é Jesus Cristo.
DISCUSSÃO
Aqui estão algumas sugestões para ajudá-lo a trabalhar o conteúdo desta seção com uma equipe.
Para esta e cada uma das convicções seguintes:
• Antes de se reunir, cada membro da equipe deve ler o texto que expõe a convicção, marcando-o
no processo. Sublinhem as coisas que vocês acham que são particularmente importantes;
coloquem pontos de interrogação ao lado de coisas que você não tem certeza de que estão
certas ou que você não entende completamente. Este é um livro que você tem permissão para
rabiscar.
• Quando vocês se reunirem, comece compartilhando seus rabiscos. O que vocês acharam
particularmente impressionante, útil ou desafiador? Onde estavam seus pontos de interrogação?
• Analisem todas as sugestões de perguntas de discussão, passagens bíblicas e atividades que
considerarem úteis.
• Concluam cada discussão com oração.
1) Leiam pelo menos quatro das seguintes passagens (que mencionamos acima):
Apocalipse 7.9-17;
Hebreus 12.18-24;
Tito 2.11-14;
Colossenses 1.13-20;
Efésios 1.1-14;
Romanos 8.
Em cada passagem, observem especialmente o que vocês podem aprender sobre:
a) o fim para o qual Deus está direcionando tudo (incluindo nós);
b) o lugar de Jesus Cristo nos planos de Deus;
c) o significado da morte de Jesus para os planos de Deus;
d) o lugar da humanidade nos planos de Deus;
e) por que fazer discípulos é importante.
2) Por que vocês acham que muitas igrejas perdem a motivação e a urgência de fazer mais
discípulos de Jesus? (Como você descreveria sua própria urgência para a tarefa? E a da sua
igreja?)
3) Veja de quantas maneiras diferentes é possível concluir esta frase de forma verdadeira:
Nós fazemos discípulos porque…
Talvez fosse mais lógico perguntar “o que é um discípulo?” antes de perguntarmos por que devemos fazê-los, mas por razões que
devem se tornar óbvias à medida que você lê, decidimos começar com a pergunta “por quê”. Chegaremos a “o quê” na nossa
segunda convicção.
1Pe 1.10-12.
Apenas resumiremos brevemente os principais pontos dessas passagens; em sua discussão (veja o guia no final desta convicção),
reserve um tempo para lê-las e explorá-las por si mesmo.
Ap 7.10.
Cl 1.13-14.
Gn 11.1-9.
At 17.26-27.
Rm 3.23-24.
Ef 5.8.
Ef 6.12. Observe também as palavras de Jesus em João 12.46: “Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê em
mim não permaneça nas trevas”. Veja também Colossenses 1.13.
Jo 12.46.
1Pe 2.4-5.
Mt 16.18.
Tentamos representar a tensão entre o “já” e o “ainda não” desta presente era maligna, “inserindo” o reino do Filho no “domínio das
trevas”. O domínio das trevas ainda existe, ainda que pessoas estejam sendo transferidas para o reino do Filho. Ele só será
finalmente destruído no último dia, quando a nova criação surgir.
Convicção 2: O que é um discípulo?
Discípulos, discipular, discipulado, fazer discípulos.
Essas palavras são tão consolidadas nas conversas sobre o ministério e a vida da igreja que
raramente paramos para considerar o que realmente queremos dizer com elas.
Veja, por exemplo, essas citações recentes, nas quais “discipulado” e “fazer discípulos” parecem
significar uma série de coisas diferentes:
Enquanto ouvia o Dr. Hendricks falar, senti que o discipulado poderia ser algo que eu poderia fazer, ao
contrário de tipos mais públicos de ministério, porque não é preciso pregar ou fazer nada público.29
O que aconteceria com a igreja de Jesus Cristo se a maioria daqueles que afirmam seguir a Cristo
tivessem sido conduzidos até a maturidade por meio de relacionamentos íntimos e responsáveis, centrados
no essencial da Palavra de Deus? O resultado seriam discípulos com iniciativa e que se reproduzem.30
Discipulado tem tudo a ver com a viver a vida juntos, em vez de apenas uma reunião estruturada por
semana.31
Muitas igrejas têm usado vários tipos de pequenos grupos como parte de sua estratégia de discipulado
(grupos nos lares, grupos de vida, grupos de comunhão, grupos comunitários, etc.).32
Marcos chama a Igreja a abandonar seus sonhos imperialistas, por um lado, e seu não-envolvimento
passivo, por outro, e tornar-se para o mundo o que Jesus foi para o mundo. É isso que discipulado, seguir a
Jesus, realmente significa.33
Precisamos de mais do mecanismo que Jesus usou para mudar o mundo, o mecanismo que ele nos instrui
a usar. Este mecanismo não criará igrejas perfeitas, mas criará igrejas eficazes. É o discipulado
relacional.34
Essas citações representam boa parte da conversa sobre “discipulado” hoje, incluindo as muitas
discussões que tivemos com pastores desde que A treliça e a videira foi publicado. Ficamos com a
impressão de que, embora muitas pessoas usem a linguagem do discipulado e de fazer discípulos
com frequência, poucas pessoas estão realmente cientes do que querem dizer com isso. Suas
definições (às vezes implícitas) são frequentemente muito restritas ou muito vagas sobre o que está
envolvido.
De um modo geral, a maioria das pessoas presume que o discipulado é um tipo de coisa pessoal,
relacional e íntima; algo que acontece em nossas vidas privadas ou em pequenos grupos, talvez em
contraste com outros aspectos da vida da igreja que são mais públicos ou programáticos. A maioria
geralmente compara “ser discípulo” com “seguir a Jesus”. E quase todos concordam que o
discipulado eficaz e a formação de discípulos são extremamente importantes e são um (ou o) fator
vital para rejuvenescer as igrejas e mudar o mundo.
Mas por que “discípulo” é a categoria ou linguagem que devemos usar para falar sobre essas
coisas não é algo tão óbvio, menos ainda quando vemos como o Novo Testamento usa a palavra (o
que veremos abaixo).
É claro que o problema das palavras — como “discípulo” e “discipulado” — é que elas mudam e
se transformam com o tempo, à medida que as usamos de maneiras diferentes e com referência a
diferentes coisas no mundo. Isso não é um problema; é apenas a realidade da linguagem como um
dom vivo e dinâmico de Deus.
Mas às vezes pode ser um problema quando tomamos uma palavra da Bíblia — como “discípulo”
— e a usamos com sentido diferente de como a Bíblia a usa, ou para significar algo diferente do que
a Bíblia quer dizer com ela. É um problema não porque a precisão absoluta na linguagem seja uma
virtude em si, mas porque isso pode nos levar a perder as riquezas do que a Bíblia está realmente
dizendo com aquela palavra. Vemos uma palavra em nossa língua na Bíblia (como “discípulo”), e o
significado, as referências e os sentidos de como usamos a palavra em nosso contexto vêm à nossa
mente. Nós naturalmente admitimos que é nesse sentido atual que a Bíblia está falando neste
momento, mas pode não ser. O autor bíblico pode ter um conjunto um pouco diferente de ideias em
mente e, assim, perdemos a força ou as implicações do que está sendo dito. Pior, podemos
interpretar mal o que está sendo dito, e tratar com o peso de um imperativo bíblico algo de nossa
experiência atual na igreja que não é necessariamente o que a Bíblia está falando.
Tudo isso significa que um passo vital para esclarecer nossas convicções sobre discipulado e
fazer discípulos é esclarecer o que queremos dizer com esses termos importantes.
O QUE É UM DISCÍPULO?
Não há muita controvérsia ou dificuldade sobre o significado da palavra traduzida como “discípulo”
no Novo Testamento (a palavra grega mathétés).
Ela se refere basicamente a um aluno ou aprendiz, alguém que é orientado por um professor para
aprender com ele.35
Simplificando, um discípulo é um “aprendiz”; portanto, discipulado é “aprendizado”.
Nós vemos isso claramente na maneira como os Evangelhos usam a palavra. Um discípulo tem
como objetivo aprender os caminhos, práticas e sabedoria de seu professor:
O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem instruído será como o seu
mestre (Lc 6.40).
Disseram-lhe ele: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus frequentemente jejuam e fazem
orações; os teus, entretanto, comem e bebem (Lc 5.33).
Sejam os discípulos de João, dos fariseus ou de Jesus, o ponto básico é o mesmo: os
“aprendizes” têm relação com seu professor (ou professores), cujos ensinamentos e modo de vida
procuram aprender e adotar.
Certamente eles estão aprendendo conteúdo intelectual — uma maneira de pensar e perceber o
mundo, um conjunto de conhecimentos e compreensões. Muitas vezes vemos Jesus ensinando aos
seus “aprendizes” esse conteúdo nos Evangelhos:
Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e
ele passou a ensiná-los, dizendo: […] (Mt 5:1-2).
Mas, no caso dos discípulos de Jesus, o resultado desse aprendizado não era simplesmente o
domínio de certo conjunto de conhecimento — o que nós hoje associamos à aprendizagem
acadêmica ou à sala de aula. O que os “aprendizes” estavam aprendendo com Jesus era um modo
de vida baseado na compreensão de certas verdades sobre a realidade (como também faziam os
discípulos de João e dos fariseus, inclusive). O objetivo era que eles não apenas soubessem o que
o professor sabia, mas também que fossem como seu professor, que andassem em seus caminhos.
Eles não estavam aprendendo uma matéria; eles estavam aprendendo uma pessoa, se podemos
dizer dessa maneira — seu conhecimento, sua sabedoria, todo o seu modo de vida.
Em parte, esse é o motivo pelo qual os “aprendizes” frequentemente acompanhavam seus
professores. Eles não somente escutavam as palavras do professor, mas viam suas palavras em
ação em sua vida, e buscavam aprender esse modo de vida estando com ele constantemente.
Segui-lo e estar com ele era também o modo rotineiro de transmitir e assimilar o ensino. Vemos isso
nos Evangelhos, com os “aprendizes” frequentemente fazendo perguntas a Jesus, apresentando-lhe
dilemas e pedindo que ele esclareça e aprofunde seu ensino público.
Talvez essa seja uma razão pela qual o conceito de “seguir alguém” passou a dominar o
pensamento da maioria das pessoas sobre o discipulado. Se perguntadas sobre uma simples
definição do que é um discípulo, muitas pessoas responderiam: “Alguém que segue a Jesus”. Pelo
que vimos até agora, talvez seja mais correto dizer: “Alguém dedicado a aprender Jesus”.
Contudo, embora “discipulado” não seja idêntico a “seguir”, os dois estão intimamente
relacionados nos Evangelhos, por pelo menos duas razões.
A primeira está relacionada ao tipo de aprendizado com o qual os “aprendizes” (ou seja,
discípulos) estavam se comprometendo. Você dificilmente poderia aprender com o Mestre, e adotar
o estilo de vida que ele ensinava e personificava, se não estivesse regularmente com ele —
assistindo, ouvindo, praticando, perguntando, e assim por diante. Jesus queria que seus aprendizes
andassem com ele e aprendessem a ser como ele.
Mas o significado de seguir Jesus é mais profundo do que isso nos Evangelhos, em razão de
quem Jesus era e para aonde seus seguidores o estavam seguindo. Jesus repetidamente diz às
pessoas que segui-lo é um compromisso exclusivo, de vida ou morte. Acompanhá-lo significa deixar
tudo para trás, incluindo sua própria vida — como ele coloca tão claramente no Evangelho de
Lucas:
Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo
[aprendiz] (Lc 14.33).
“Aprender” Jesus — submeter-se ao seu ensinamento, andar em seus caminhos — significará
deixar para trás todas as suas lealdades e compromissos atuais. Significará caminhar com ele a
estrada para Jerusalém e enfrentar a cruz que está esperando lá. Como Jesus deixa bem claro,
salvar nossa vida antiga não é uma opção; é apenas perdendo nossa vida que a salvaremos.36 Ou,
para usar as palavras de Paulo, apenas sendo crucificados com Cristo poderemos ressurgir para
uma nova vida nele.37
“Seguir” Jesus de acordo com os Evangelhos se parece muito com arrependimento. É abandonar
minha existência atual e seguir em uma nova direção, para aprender uma nova vida de um novo
Mestre, e para fazer parte do novo reino que ele trará.
DOIS SÍMBOLOS PODEROSOS
Talvez seja por isso que o batismo é um símbolo tão apropriado para a iniciação de um “aprendiz”.
O batismo era como alguém tipicamente se “tornava” discípulo, como o Evangelho de João nos
mostra de passagem:
Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava
mais discípulos que João […] (Jo 4.1).
O batismo era um símbolo de arrependimento, apagar o velho e começar de novo, morrer e
ressurgir.. O batismo de um novo “aprendiz” era um modo vívido de declarar que ele havia se
afastado decisivamente de sua antiga compreensão e modo de vida, e agora embarcava numa nova
vida que aprenderia com seu professor.
É claro que, no caso de ser iniciado no aprendizado de Jesus, esse arrependimento não era
apenas se afastar da vida anterior, mas reconhecer que a vida anterior fora vivida em egoísmo e
rebelião contra Deus. O arrependimento era também um pedido de perdão — lavar-se de todos
aqueles pensamentos, ações, atitudes e traços de caráter que eram contrários ao novo reino que
Jesus personificava e ensinava.
Jesus não é um mestre qualquer, e ao se arrepender e segui-lo, você não está se tornando um
“aprendiz” qualquer. Tornar-se um “aprendiz” de Jesus requer um repúdio — um “desaprendizado”
radical — de nosso antigo modo de vida rebelde. Significa ser perdoado pela ofensa que era nossa
vida aos olhos de Deus, e submeter-se a um Mestre divino que fala as próprias palavras do Pai.
Isso pode ser um pouco diferente do que aprendemos a pensar sobre “aprender”. Tendemos a
ver a aprendizagem através das lentes da educação moderna, segundo a qual passamos de um
estado de ignorância para sermos “educados”; isto é, adquirimos informações, conhecimentos ou
habilidades que antes não tínhamos. O problema que o “aprendizado” aponta é a falta de
conhecimento, quase como se houvesse uma folha em branco precisando ser preenchida.
Mas as pessoas que Jesus chama a serem “aprendizes” não são um quadro em branco. Seu
quadro é bem cheio — de pensamentos insensatos, obscuros e escravizados que se opõem ao
aprendizado de Jesus em todas as áreas. Tornar-se um aprendiz de Cristo requer, portanto, uma
mudança radical. Requer uma grande obra de Deus em nos resgatar do domínio das trevas em que
fomos escravizados e nos transportar para o reino de seu Filho amado.38 Do nosso lado, requer
arrependimento — isto é, morrer para a rede de mentiras em que nossa vida foi construída.
Não é realmente uma surpresa, então, quando chegamos a Mateus 28, que o batismo seja uma
parte integral da grande comissão de Jesus para fazer “aprendizes” de todas as nações. Mas
voltaremos a Mateus 28 em breve.
O outro símbolo poderoso de se tornar um “aprendiz” é o jugo. Nós vemos isso nas palavras de
Jesus em Mateus 11:
Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai,
senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é
leve (Mt 11.27-30).
“Tomar o jugo” é uma metáfora para o serviço, submissão e obediência, para aceitar a autoridade
de outro — como os bois, que estão unidos sob o mesmo jugo para arar a serviço de seu dono; ou
escravos, que carregam o jugo (o fardo) de seu mestre.
“Tomar o jugo” é uma maneira de falar sobre “aprendizado” — submeter-se para aprender e
seguir os caminhos de um mestre ou professor.39 Isso é essencialmente o que um “discípulo” era
nos tempos do Novo Testamento: alguém que se submetia à autoridade de um professor, a fim de
aprender com ele e se tornar como ele.
Nessa passagem, Jesus dá duas razões por que ele é a pessoa óbvia de quem aprender. A
primeira é a assombrosa afirmação de que todas as coisas lhe foram entregues pelo Pai — de que
ele é o Filho e herdeiro de Deus (como vimos na Convicção 1). Ele, e somente ele, tem acesso
exclusivo ao conhecimento fundamental de todas as coisas. Ele é o único que conhece o Pai e que
pode, portanto, revelar o Pai aos outros. Se você quer aprender como Deus realmente é — na
verdade, se você quer conhecer ao próprio Deus Pai — o Filho é sua única opção como professor.
Veja, uma afirmação como essa não soa como as palavras de alguém que é “manso e humilde de
coração”, e cujo jugo é suave e leve. E, no entanto, esse é o impressionante e desconcertante
contraste que Jesus apresenta constantemente, e que os escribas e fariseus falham
constantemente em compreender. O Filho de Deus, conquistador absoluto, que traz o Reino e
revela o Pai, nasce em um lugar remoto, num estábulo, e cresce no anonimato. Ele não vem com
espada e poder militar, mas com ensino, cura e compaixão. Ele entra em Jerusalém não em um
cavalo de guerra, mas em um jumento. E quando ele é finalmente levantado em seu grande
momento de glória, seu trono acaba por ser uma cruz em que ele morre uma morte de desprezo,
pelos pecados de seus inimigos.40
Ele vem para trazer descanso, paz e salvação. É por isso que seu jugo é um alívio bendito do
fardo pesado e duro que os escribas e fariseus colocavam sobre os ombros de seus “aprendizes”. A
escola deles ensinava autojustificação externa por meio de uma observação rígida da lei, baseada
nas tradições dos homens, em vez do verdadeiro conhecimento do Pai.
O que nos leva à segunda razão pela qual tomar o jugo de Jesus é algo tão atraente: não é uma
escola em que você é aprovado por mérito. Ou melhor: é uma escola em que a nota de aprovação é
100%, mas o exame final é feito pelo professor.
O jugo de Jesus é total submissão à sua autoridade como o Mestre. Mas isso não é um fardo; é
libertação. Seu jugo traz uma liberdade paradoxal — liberdade do pesado fardo do pecado por meio
do perdão; e liberdade para agora aprender um novo modo de vida próprio do reino de Deus.
Esses dois símbolos, o batismo e o jugo, dizem muito sobre o tipo de aprendizado que os
aprendizes de Jesus experimentavam. Ele exigia uma ruptura radical com o passado e a entrada
em um novo relacionamento com o mestre; era uma forma de serviço e submissão que era de fato
descanso e liberdade; envolvia um novo modo de vida, para aprender a ser como o mestre.
•
Talvez possamos resumir o que vimos até agora dizendo que um “discípulo” é alguém envolvido em
um aprendizado transformador.41
Esse é um tipo de aprendizado no qual a compreensão do aluno sobre a realidade é mudada e
continua mudando, levando a uma experiência e uma vida transformadas. Nossa compreensão e
vida mudam decisivamente à medida que nos arrependemos e nos submetemos a um novo
professor, que nos revela o Pai e nos revela a nós mesmos. E nossa compreensão continua sendo
renovada ao longo do tempo, à medida que se aprofunda e se amplia e começa a ser expressa em
ação e em vida; enquanto desaprendemos antigas formas de pensar, e enquanto continuamos a
reorganizar os móveis de nossa mente de acordo com o novo proprietário que entrou na casa.
Na Convicção 3, exploraremos mais como exatamente essa mudança de pensamento se dá por
meio da obra da Palavra e do Espírito de Deus; mas, no momento, precisamos notar que o efeito
dessa compreensão transformada é uma mudança em toda a pessoa — da nossa identidade,
experiência, vida e ação. Ser um “aprendiz” de Jesus envolve necessariamente aprender a verdade
e o conteúdo transmitidos em palavras, mas também deve envolver o aprendizado de um novo
modo de ser e viver.
A Grande Comissão nos lembra disso. Os onze primeiros aprendizes são encarregados por
Jesus de fazer discípulos de todos os povos, iniciando-os (ou batizando-os) no relacionamento com
o Pai, o Filho e o Espírito, e ensinando-os a guardar todos os mandamentos de Jesus.42
Muitas vezes não prestamos muita atenção a essa pequena palavra, “guardar”. Os aprendizes
devem ser ensinados não apenas a conhecer os mandamentos de Jesus. O resultado do
aprendizado é que eles guardem, observem ou obedeçam aos mandamentos de Jesus. Eles devem
aprender o novo modo de vida que o Senhor Jesus Cristo ordena que seus súditos vivam, que é
resumido e condensado no mandamento do “amor” — doar-se sacrificialmente em benefício dos
outros, como Cristo fez por nós.
De fato, embora pensemos muitas vezes em aprender em termos de nosso próprio crescimento e
avanço pessoal — de nos tornarmos melhores de alguma forma — aprender Cristo é estar cada vez
mais focado nos outros e não em nós mesmos. É dar a vida pelos outros, como Cristo entregou a
sua, em fraqueza, sofrimento e morte.
É isso que um “aprendiz” de Jesus está aprendendo: uma existência transformada baseada em
um relacionamento transformado com Deus em Cristo.
Não parece necessário ressaltar que “discípulo” (ou “aprendiz”) é, portanto, apenas outro nome
para “cristão” — para alguém que renunciou à mentira que costumava estar no centro de sua vida,
que reconheceu a escuridão e perdição em que vivia e que se voltou para Cristo em fé como seu
Mestre, Senhor e Salvador — para aprender a ser como ele, guardar todos os seus mandamentos e
cumprir esse compromisso diária, semanal e anualmente, pelo resto de sua vida.
Nesse sentido, o “aprendizado” não pode ser pensado como uma subseção da vida cristã ou
como um estágio na vida cristã. É simplesmente uma maneira de descrever a totalidade da vida
cristã.43 Ser um “aprendiz” desse tipo é simplesmente ser um cristão.
O mesmo é verdade sobre a igreja. Como discutiremos mais adiante, uma igreja pode ser
pensada de forma produtiva como uma “comunidade de aprendizado transformador” — isto é, uma
reunião de pessoas que, juntas, estão aprendendo Cristo. “Fazer aprendizes” de Cristo não é algo
que uma igreja faz na Escola Dominical adulta, ou em um programa de quarta-feira à noite, ou
motivando as pessoas a fazerem estudos bíblicos em duplas — ainda que, é claro, todas essas
atividades possam realmente ajudar as pessoas a aprenderem Cristo. Tudo o que fazemos como o
povo de Deus (como “igreja”) deve ser um exercício no aprendizado transformador de Cristo.
Mas voltaremos a isso no devido tempo.
O APRENDIZ DESAPARECIDO?
Um dos mistérios curiosos no Novo Testamento é que parece não haver “discípulos” depois do livro
de Atos.
Ao longo dos Evangelhos e em Atos, o substantivo mathétés (“discípulo” ou “aprendiz”) aparece
frequentemente como uma descrição daqueles que se devotaram a aprender de Cristo. Mas depois
de uma menção final em Atos 21.16, a palavra desaparece abruptamente. Em todos os 22 livros
restantes do Novo Testamento, ninguém é descrito como “aprendiz” ou “discípulo”.
Isso é um pouco estranho, ainda mais porque Jesus disse especificamente aos seus aprendizes
(discípulos) para irem e fazerem mais aprendizes (discípulos). E não é que eles tenham chegado a
Atos 21 e desistido da tarefa. É óbvio, pelas epístolas, que o que os apóstolos fizeram para formar
aprendizes em Atos (isto é, pregar o evangelho no poder do Espírito, batizar pessoas em Cristo e
ensiná-las a guardar todos os seus mandamentos) era o que eles e todo o grupo apostólico
continuaram a fazer em todos os lugares.
De fato, a forma verbal de “discípulos” — manthanó, “aprender” — aparece com bastante
frequência nas epístolas, em conexão com a verdade do evangelho que os cristãos aprenderam e o
estilo de vida ou ação que a acompanha. Aqui está uma amostra:
Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a
doutrina que aprendestes; afastai-vos deles (Rm 16.17).
Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem consolados (1Co 14.31).
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai; e o Deus da paz será
convosco (Fp 4.9).
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação (Fp
4.11).
[…] Por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da
verdade do evangelho, que chegou até vós; […] desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de
Deus na verdade; segundo fostes instruídos por Epafras, nosso amado conservo […] (Cl 1.5-7).
Os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda
sorte de impureza. Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele
fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos
despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no
espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade (Ef 4.19-24).
Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos
necessitados, para não se tornarem infrutíferos (Tt 3.14).
Talvez os cristãos como “aprendizes” não tenham desaparecido do restante do Novo Testamento,
afinal de contas.
É notável como essas poucas citações breves se alinham com o que vemos sobre “aprendizado”
nos Evangelhos e em Atos. Isso claramente envolve conteúdo — isto é, palavras sendo faladas e
ensinadas, e então recebidas e aprendidas. Mas também envolve aprender com as ações e
exemplos de um professor e procurar fazer o mesmo (como em Fp 4.9). Envolve aprender não
apenas informação, mas um modo de vida totalmente novo e arrependido — matar o velho “eu” e,
com uma mente renovada, embarcar em uma nova existência (como em Ef 4.19-24).
E, é claro, ao olhar para essas poucas ocorrências da palavra “aprender”, não examinamos a
multiplicidade de outros termos e frases que transmitem os mesmos conceitos — que a vida cristã é
uma questão de entender e adotar uma nova visão de realidade, uma nova verdade, uma nova
palavra que foi anunciada, proclamada, ensinada, praticada e passada adiante; e que também é
uma questão de responder a essa palavra libertadora em arrependimento e fé contínuos que são
vividos em todas as esferas de nossas vidas.
“Aprender Cristo” é uma realidade que o Novo Testamento afirma repetida e poderosamente.
No entanto, vale a pena perguntar se o “aprendizado” diminuiu (ou mesmo desapareceu) em
muitas igrejas modernas. E com isto não queremos dizer que há menos ministérios pessoais do que
deveria haver, ou menos grupos pequenos, ou que toda igreja deveria ter um “pastor de
aprendizado”.
O que queremos dizer é que, pela nossa observação de igrejas e por nossas conversas com
pastores em todo o mundo, a cultura que existe em muitas igrejas não é mais uma cultura de
aprendizado transformador, se é que já foi um dia. Todo o “modo como fazemos as coisas por aqui”
não é focado no aprendizado transformador por meio da Palavra de Deus no poder do Espírito de
Deus.
Você descreveria a cultura de sua igreja dessa maneira? Você descreveria sua própria vida dessa
maneira, a propósito? Que outras culturas e estruturas parecem estar operando no lugar?
Falaremos mais sobre isso na Fase 3, ao avaliarmos nossa cultura atual em relação às nossas
convicções. Mas não vamos nos antecipar.
O que é um discípulo? Um pecador perdoado que está aprendendo Cristo em arrependimento e
fé.
Poderíamos acrescentar um pequeno detalhe ao nosso diagrama para representar isso — um
sinal de “A” (aprendiz) acima da pessoa que foi transportada das trevas para o reino do Filho, e que
agora continua esse aprendizado transformador em todas as esferas da vida, especialmente na
“comunidade de aprendizado transformador” que chamamos de “igreja”.
O próximo passo é refletir sobre o conteúdo dessa convicção, confrontá-lo com as Escrituras e
formular sua própria maneira de expressá-la.
DISCUSSÃO
Além de suas próprias anotações e rabiscos, aqui estão alguns pontos para começar a discussão.
1) Leiam estas passagens conhecidas nas quais Jesus explica o que significa ser seu discípulo:
Mateus 10.16-33; Marcos 8.31-38; Lucas 14.25-33.
a) O que os discípulos precisam aprender sobre Jesus?
b) Quais são as consequências de aprender Cristo dessa maneira?
c) Por que é inconsistente “aprender Cristo” e não sujeitar toda a nossa vida à sua vontade?
d) Que mestres alternativos Jesus destaca?
2) Discutam cada uma das seguintes visões comuns de discipulado. Se expressam alguma
verdade, que verdade elas expressam? Em que elas estão erradas ou inadequadas?
Visão 1: O discipulado é um segundo estágio da experiência cristã que acontece algum tempo
depois da conversão. Você pode ser um cristão, mas apenas os realmente dedicados e
comprometidos são discípulos.
Visão 2: O discipulado é uma estratégia ou programa intencional do ministério — como
aconselhamento individual, ministério em pequenos grupos ou um programa de discipulado de 12
semanas.
Visão 3: A essência do discipulado é a prestação de contas a um discipulador. O discipulado
diz respeito ao tipo de relacionamento de confiança em que alguém nos cobra sobre os
momentos de quietude, a frequência à igreja ou a resistência a pecados específicos, como a
pornografia.
Visão 4: Pregar não tem realmente a ver com discipular pessoas. Tem mais a ver com
proclamação, ensino e exortação.
3) Escrevam sua própria declaração concisa do que significa ser um discípulo de Jesus. (Vocês
podem considerar essa declaração útil mais tarde na Fase 3, ao avaliar com que eficácia os
vários ministérios da sua igreja estão “fazendo discípulos”).
Dennis McCallum e Jessica Lowery, Organic discipleship: mentoring others into spiritual maturity and leadership (New Paradigm, n.p.,
2012), 15.
Greg Ogden, Discipleship essentials: a guide to building your life in Christ (Downers Grove: Inter Varsity Press, 2007), 9.
Francis Chan & Mark Beuving, Multiply: Disciples Making Disciples (Colorado Springs, David C. Cook, 2012), 11.
Randy Pope & Kitti Murray, Insourcing: bringing discipleship back to the local church (Grand Rapids: Zondervan, 2013), 107.
N. T. Wright, Following Jesus: biblical reflections on discipleship, (Grand Rapids: Eerdmans, 1995), 49-50.
Jim Putman, Bobby Harrington & Robert E. Coleman, DiscipleShift: five steps that help your church to make disciples who make
disciples (Grand Rapids: Zondervan, 2013), 22; ênfase original.
Isso se reflete na origem de nossa palavra “discípulo”, do latim discere, “aprender”.
Mc 8.34-36.
Rm 6.1-8; Cl 2.11-15.
Cl 1.13-14.
A palavra grega para “aprendei” (manthanō) no versículo 30 é a forma verbal do substantivo que normalmente traduzimos como
“discípulo” (mathētē).
Em Isaías 50, o Servo que diz: “O S Deus me deu língua de eruditos, para que eu saiba dizer boa palavra ao cansado” (v. 4) é
aquele que não era rebelde e, no entanto, foi tratado com afronta (v. 5-6).
“Aprendizado transformador” é um termo usado na teoria educacional, e sobre o qual há algum debate. Ao tomar emprestado o
termo, certamente não pretendemos entrar nesse debate (não é nossa especialidade).
Mt 28.16-20.
Não é a única maneira, é claro, mas é uma maneira muito útil.
Convicção 3: Como se faz um discípulo?
Após erguer nossos olhos para o panorama dos planos gloriosos de
Deus para reunir seu povo em Cristo (“Por que fazer discípulos?”) e
fazer uma reflexão cuidadosa sobre o que um discípulo realmente é
(um “aprendiz de Cristo”), agora chegamos à questão do “como”:
Por qual método ou meio Deus está resgatando e reunindo seu
povo para o reino de seu Filho?
É extremamente importante colocarmos a questão dessa
maneira, com essa sintaxe gramatical — isto é, com Deus como o
sujeito ativo da frase. Ao pensar sobre meios e métodos, e
especialmente sobre a parte que os esforços e atividades humanas
desempenham no processo de fazer discípulos, devemos
constantemente afirmar a primazia da vontade e ação de Deus.
Voltaremos a isso mais à frente, mas que este seja o primeiro de
vários lembretes sobre isso: você pode plantar e eu posso regar,
mas é Deus quem dá o crescimento.44
Nossa esperança é que você considere a explicação a seguir de
como fazer discípulos algo totalmente convencional e comum — na
verdade, não; esperamos que você considere notável, mas não por
ser algo novo. Não encontramos o Santo Graal da metodologia de
discipulado, nem achamos que exista um segredo ou chave perdida
para isso.
Os meios que destacaremos são aqueles que Deus concedeu
desde o princípio, mas que, por várias razões, negligenciamos,
entendemos errado ou fazemos mau uso. Faremos o nosso melhor
para expor e explicar esses métodos de forma clara, precisa e com
uma nova perspectiva (que esperamos que seja revigorante), mas
não reivindicamos ser inovadores.
Vamos começar, então, mergulhando em algumas passagens
bíblicas importantes.
•
O lugar lógico para começar é, sem dúvida, a Grande Comissão em
Mateus 28, mas ela realmente não entra em detalhes sobre como os
discípulos são feitos. Como já observamos, todas as nações devem
ser iniciadas como “aprendizes” do Cristo ressurreto e Senhor de
toda autoridade (pelo batismo), com uma expectativa de ensino
contínuo sobre guardar todos os seus mandamentos, e uma
promessa de que o próprio Jesus estará conosco até o fim dos
tempos. Para além disso, não há detalhes sobre a metodologia
envolvida.
A imagem é preenchida um pouco mais em Lucas 24, onde lemos
uma versão diferente (ou adicional) da Grande Comissão nas
palavras de Jesus aos discípulos reunidos no cenáculo. Jesus abre
suas mentes para entenderem as Escrituras e lhes mostra que a
tarefa para a qual estão sendo enviados a cumprir sempre foi o
plano de Deus. O que foi escrito na Lei, nos Profetas e nos Salmos
deve ser cumprido: Então, lhes abriu o entendimento para
compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que
o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro
dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão
de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém. Vós sois
testemunhas destas coisas. Eis que envio sobre vós a promessa de
meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais
revestidos de poder. (Lc 24.45-49) Três necessidades estavam
“escritas”: que o Cristo padecesse, que ressuscitasse dos mortos e
que o arrependimento e a remissão de pecados fossem
proclamados em seu nome a todas as nações, a partir de
Jerusalém. Como em Mateus 28, a autoridade global do Cristo
crucificado e ressuscitado significa que o arrependimento e o perdão
(isto é, tornar-se seu discípulo) se aplicam a todas as nações. A
tarefa dos discípulos é declarar essa notícia para o mundo pela
proclamação no poder do Espírito.
Isso, claro, é o que vemos acontecer em Atos. O Espírito desce
em poder sobre toda a congregação de discípulos no Pentecostes, e
suas bocas são abertas para declarar as grandes obras e feitos de
Deus para as nações.45 Pedro se levanta e explica que o que está
acontecendo é exatamente o que as Escrituras (e o próprio Jesus)
predisseram: o Messias davídico morreu e ressuscitou para ser o
Senhor de todos, derramou seu Espírito sobre seu povo, e agora é o
tempo para o arrependimento e perdão dos pecados. A mensagem
atinge o coração da multidão e muitos respondem.46
Esse padrão inicial continua por todo o livro de Atos. Os
discípulos de Jesus, liderados pelos apóstolos (incluindo o novato
Paulo, que se junta às fileiras no capítulo 9), espalham-se de
Jerusalém para a Judeia e Samaria e para o restante do mundo com
as grandiosas notícias de Jesus Cristo. O resumo do que aconteceu
em Derbe em Atos 14 é um exemplo típico: E, tendo anunciado o
evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para
Listra, e Icônio, e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos,
exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através
de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. (At
14.21-22) O evangelho é pregado, discípulos são feitos, fortalecidos
e encorajados a continuar na fé até o fim. Essa é a história de Atos
— contudo, se o livro deve ser chamado de “Atos dos Apóstolos” ou
“Atos de Deus” é uma questão interessante. Em todo o livro de Atos,
embora a palavra do evangelho seja proclamada por e através dos
discípulos de Jesus (em obediência à sua comissão), há também
várias referências à palavra de Deus tendo vitalidade e poder
próprios: Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se
multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos
sacerdotes obedeciam à fé. (At 6.7) Entretanto, a palavra do Senhor
crescia e se multiplicava. (At 12.24) E divulgava-se a palavra do
Senhor por toda aquela região. (At 13.49) Assim, a palavra do
Senhor crescia e prevalecia poderosamente. (At 19.20) Da mesma
forma, Atos não deixa dúvidas de que o poder por trás da
proclamação e propagação da Palavra é o poder do próprio Deus
pelo seu Espírito. Em todos os pontos da narrativa, o Espírito é ativo
— seja para dar ousadia aos discípulos a fim de falarem diante da
oposição,47 cair sobre aqueles a quem eles falam,48 direcionar o
caminho da missão49 ou dar alegria aos discípulos em meio ao
sofrimento.50
Fazer discípulos é obra de Deus, alcançada quando a sua
Palavra e seu Espírito operam por meio da atividade dos discípulos
e nos corações daqueles a quem eles falam.
Quando chegamos às cartas do Novo Testamento, escritas às
igrejas estabelecidas pelo ministério dos apóstolos em Atos,
encontramos uma continuação desses temas metodológicos. Para
ilustrar, vamos fazer um breve passeio por 1 Tessalonicenses, mas
o mesmo exercício poderia ser feito produtivamente com qualquer
uma das cartas do Novo Testamento.
Como os tessalonicenses se tornaram “aprendizes de Cristo”,
tanto inicialmente como em sua contínua caminhada com ele?
• Paulo lhes anunciou o evangelho não “tão-somente em palavra,
mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena
convicção”.51
• A resposta dos tessalonicenses nos diz algo não apenas sobre o
efeito da proclamação sobre eles, mas também sobre o
conteúdo desse anúncio. Depois que ouviram Paulo e foram
convencidos pelo Espírito Santo, “deixando os ídolos, vos
convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro e
para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou
dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura”.52
• Nada disso foi fácil. Paulo, Silvano e Timóteo afirmam: “tivemos
ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o
evangelho de Deus, em meio a muita luta”;53 e uma marca da
autenticidade da conversão dos tessalonicenses é que eles se
tornaram “imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a
palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do
Espírito Santo”.54
• Paulo e seus colegas amaram e cuidaram dos tessalonicenses,
sendo gentis com eles como uma mãe,55 encorajando-os como
um pai56 a andar de uma maneira digna de Deus.57 Eles
compartilhavam “não somente o evangelho de Deus, mas,
igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito
amados de nós”,58 o que, no contexto, significava uma
preocupação muito prática e diligente de Paulo em ganhar seu
próprio sustento, enquanto proclamava “o evangelho de Deus”.59
• Paulo envia Timóteo “para, em benefício da vossa fé, confirmar-
vos e exortar-vos, a fim de que ninguém se inquiete com estas
tribulações”.60
• Paulo continua a agradecer por eles e a orar fervorosamente por
eles para que Deus aumente seu amor e sustente seus corações
sem culpa diante de Deus até quando Jesus voltar.61
• Paulo então os exorta a continuar “cada vez mais” a viver uma
vida de santidade e amor, agradando a Deus, de acordo com as
instruções (ou “mandamentos”) que ele lhes deu através do
Senhor Jesus.62
• Paulo então aponta para a esperança da ressurreição e do
retorno de Jesus, não apenas para que eles não sejam
enganados ou desinformados sobre esses assuntos, mas
também para que eles continuem a encorajar e edificar uns aos
outros nessas verdades.63
• A carta termina com exortações finais para fazerem o bem e
apegar-se a ele, alegrar-se e orar constantemente, e com uma
oração para que Deus os mantenha íntegros na vinda de Jesus
Cristo.64
Os elementos aqui são aqueles que encontramos repetidamente
em todo o Novo Testamento: • A Palavra ou evangelho de Deus a
respeito de seu Filho, proclamada e ensinada, tanto inicial quanto
continuamente.65
• A obra de Deus pelo seu Espírito para trazer convicção, mudar o
coração e produzir o fruto plantado pela Palavra — que pode ser
resumido como “arrependimento e fé” (novamente, como uma
resposta inicial e então continuamente, dia a dia).66
• A ação do povo de Deus ao falar a Palavra, exemplificar e
personificar a vida de aprendizado de Cristo, orar para que Deus
trabalhe pelo seu Espírito, e em encorajamento mútuo,
exortação e edificação.67
• A luta, o conflito e o sofrimento que acompanham todo esse
processo, pois está ocorrendo em todo o tempo neste “mundo
tenebroso”; isto é, a contínua proclamação e prática de
“aprender Cristo” são constantemente ameaçadas, do lado de
fora, pela oposição, e, dentro, por ensinos falsos e por causa de
nosso próprio coração rebelde (daí a necessidade constante de
contínua proclamação, oração, arrependimento e fé).68
Dizendo da maneira mais breve possível, um discípulo é feito
pela perseverante proclamação da Palavra de Deus pelo povo de
Deus, na dependência do Espírito de Deus em oração.
Ficaríamos surpresos se muitos dos nossos leitores achassem
este breve resumo particularmente controverso ou inovador.
Contudo, também ficaríamos surpresos se muitos dos nossos
leitores sentissem que, assim sendo, têm o discipulado sob controle.
Nosso problema não é que nunca tenhamos ouvido falar desses
métodos básicos do ministério de discipulado, nem mesmo que não
os pratiquemos, pelo menos até certo ponto. Nosso problema é
muito parecido com o problema que os tessalonicenses enfrentaram
em relação à vida cristã: uma tendência constante para perder de
vista o que é importante, e se distrair com alternativas falsas ou
meias verdades, se cansar ou perder o rumo diante de pressões
diversas.
De muitas maneiras, nossa mensagem neste livro é como a de
Paulo aos tessalonicenses: sabemos que essas verdades não são
novas para você; sabemos que você as tem praticado (pelo menos
até certo ponto); agora, nós insistimos que você continue fazendo
“ainda mais”.
Esse “ainda mais” exigirá um olhar honesto sobre o que você faz
atualmente, para perceber se se adéqua bem às suas convicções
sobre a metodologia básica de discipulado. Essa será nossa tarefa
na Fase 3.
Mas antes de chegarmos lá, precisamos aprimorar e aprofundar
nossa compreensão desses princípios fundamentais sobre como se
fazer discípulos, para termos um entendimento aguçado não apenas
para avaliar o que fazemos atualmente, mas também para planejar
a mudança.
Vamos aprofundar o que queremos dizer com esses
componentes-chave na formação de aprendizes de Cristo em quatro
tópicos, todos com a letra P.
1. PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NO NOVO
TESTAMENTO, A PROCLAMAÇÃO DA PALAVRA É O
MEIO BÁSICO PARA CRIAR E DESENVOLVER
“APRENDIZES DE CRISTO”. PODERÍAMOS ATÉ MESMO
DIZER QUE HÁ APENAS UMA ATIVIDADE CENTRAL
SOBRE O “FAZER DISCÍPULOS” — FALAR A PALAVRA
DE DEUS69 — E QUE OS OUTROS ELEMENTOS
DESCREVEM POR MEIO DE QUAL ESPÍRITO, POR
QUAIS PESSOAS, E DE QUE MANEIRA ESSE FALAR
ACONTECE.
Muitos volumes poderiam ser (e foram) escritos sobre este
assunto,70 mas aqui teremos que nos limitar a cinco breves pontos: •
O conteúdo da “palavra” é essencialmente o plano e a promessa de
Deus centrados em Jesus Cristo (isto é, o que exploramos na
Convicção 1). Poderíamos tentar condensá-lo em uma frase longa
como esta: Deus cumpriu seu plano eterno para sua criação
enviando seu Filho, nascido na linhagem de Davi, para morrer pelos
pecados e ressuscitar como o Salvador, Senhor e Cristo de todo o
mundo, para que pessoas que vivem nas trevas em todas as nações
possam agora ouvir seu chamado ao arrependimento e à fé, sejam
perdoadas, reconciliadas e justificadas, e vivam uma vida que
crescentemente busca obedecer a todos os seus mandamentos,
enquanto aguardam a firme esperança de entrar em seu reino
eterno. Essa é uma maneira de dizer isso. Mas você pode preferir o
resumo de Paulo em duas palavras (“Cristo crucificado”),71 ou seu
resumo em dez mil palavras (a Epístola aos Romanos).
• Essa palavra de Deus não consiste em duas palavras diferentes
— uma palavra evangelística para os não-cristãos e uma palavra
de edificação para os discípulos cristãos. A palavra que é
proclamada no começo é a mesma palavra que é proclamada no
meio e no fim, e em toda a duração desse processo. Essa
palavra do evangelho a respeito da graça de Deus para nós em
seu Filho é o que invade nossas vidas e nos muda a direção, e é
também o que continua ensinando, instruindo e admoestando-
nos à piedade e fé todos os dias enquanto aguardamos seu
retorno.72 Certamente, vamos entender a Palavra mais
profundamente à medida que avançamos. Perceberemos com
maior clareza a força da escuridão da qual fomos resgatados,
como são impressionantes os propósitos eternos de Deus
elaborados ao longo de gerações por Israel, quão certa e
gloriosa é nossa esperança, quão maravilhosa é a justificação e
reconciliação que veio do sangue de Cristo, e quão libertadora e
desafiadora é a vida que agora somos chamados a viver ao
“guardar todos os seus mandamentos”. Mas (como D. B. Knox
costumava dizer), embora o evangelho de Cristo seja um poço
que você pode sempre cavar um pouco mais fundo, é sempre o
mesmo poço, cavado no mesmo lugar.
• Essa mensagem sobre Jesus Cristo, em todas as suas facetas
deslumbrantes, é a mensagem da Bíblia. Nós pregamos o
evangelho expondo a Bíblia.73 A Bíblia é nossa fonte de
autoridade e suficiente para conhecer e falar a de forma
verdadeira e fiel. Essa é a Palavra que deve ser proclamada —
não um conjunto de pensamentos inspiradores sobre como
melhorar sua vida, não os pensamentos que um versículo
isolado dispara em nossas cabeças, e nem uma nova revelação
que achamos que Deus nos deu. Se cremos que a palavra da
Bíblia é o poderoso discurso de Deus, então, em muitos
aspectos, o que queremos ver florescer na cultura de nossa
igreja é o maior número possível de situações em que a Bíblia
seja falada, lida, estudada, pregada, explicada, ensinada,
discutida, memorizada, orada e meditada.
• Existem muitas maneiras e modos pelos quais essa palavra
bíblica pode ser falada.74 Pode ser por carta (assim é grande
parte do Novo Testamento); pode ser em uma casa particular
tarde da noite;75 pode ser em uma sinagoga ou em um
mercado,76 ao ar livre77 ou em uma sala de aula;78 pode ser na
forma de leitura pública e pregação na igreja,79 ou em uma
conversa no carro.80 De todos esses modos diferentes em que a
Palavra pode ser falada, a pregação e o ensino da Palavra na
congregação reunida tem um lugar particularmente central e
fundamental — e diremos mais sobre isso nas duas convicções
que se seguem.81 Mas, por enquanto, é importante notar que os
contextos em que a Palavra pode ser falada são amplos e
multifacetados. Um sintoma de uma cultura congregacional fraca
em “fazer discípulos” é que existem poucos contextos ou
instâncias, além do sermão dominical, em que a palavra da
Bíblia é regularmente falada.
• Nem todas as ocasiões em que a Palavra é falada exigem que a
Bíblia especificamente esteja aberta. Quando nos sentamos na
cama de nosso filho e o encorajamos a confiar em Jesus em
meio às suas ansiedades e medos, estamos engajados em uma
forma de ensino ou proclamação. Poderíamos tê-lo ensinado
abrindo Filipenses 4.6-7, 1 Pedro 5.6-7 ou Salmo 27, e em algum
momento ou local será importante fazê-lo. De fato, se não
estivermos regularmente lendo, estudando, falando e ouvindo a
palavra da Bíblia, não saberemos o que dizer ao nosso filho.
Mas sempre que fazemos com palavras o que os autores
bíblicos estão fazendo com palavras, estamos falando da
mensagem da Bíblia. Quando proclamamos certa verdade
(sobre Deus, Cristo, o futuro ou nós mesmos), repetimos alguma
promessa, exortamos sobre certa maneira de viver, ou provemos
encorajamento com base na fidelidade de Deus, ou o que quer
que seja, nós “re-falamos” a palavra que Deus falou na Bíblia.82
Esta é a essência de como aprendemos Cristo.
Como nenhum livro está completo sem uma citação de Martinho
Lutero, vamos encerrar esta breve seção sobre a centralidade da
Palavra proclamada com as palavras do grande reformador: Uma
coisa, e apenas uma coisa, é necessária para a vida cristã, a justiça
e a liberdade. Essa coisa é a santíssima Palavra de Deus, o
evangelho de Cristo; como Cristo diz, João 11.25: “Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”;
e João 8.36, “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres.”; e Mateus 4.4: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda
palavra que procede da boca de Deus”. Consideremos, portanto,
certo e firmemente estabelecido que a alma pode se privar de tudo,
exceto da Palavra de Deus, e que onde a Palavra de Deus está
ausente, não há nenhum socorro para a alma. Se ela tem a Palavra,
é rica e nada lhe falta, pois é a Palavra da vida, verdade, luz, paz,
justiça, salvação, alegria, liberdade, sabedoria, poder, graça, glória e
todas as bênçãos incalculáveis […]
Você pode perguntar: “Então, o que é a Palavra de Deus e como deve
ser usada, sendo que há tantas palavras de Deus?” Respondo: o
apóstolo o explica em Romanos 1. A Palavra é o Evangelho de Deus a
respeito de seu Filho, que se fez carne, sofreu, ressuscitou dos mortos
e foi glorificado pelo Espírito que santifica. Pregar Cristo significa
alimentar a alma, torná-la justa, libertá-la e salvá-la, conquanto creia
na pregação.83
2. PRECE DEPENDENTE DO ESPÍRITO DE DEUS NÃO
CONHECEMOS NENHUMA IGREJA QUE USE 1 PEDRO
1.10-12 COMO SEU LEMA; ISSO NÃO É NENHUMA
SURPRESA, PORQUE É UMA FRASE LONGA E
COMPLICADA. MAS TAMBÉM É UMA PENA, PORQUE
ESSES VERSÍCULOS TÊM TUDO: O PLANO DE
SALVAÇÃO DE DEUS ANUNCIADO PELOS PROFETAS,
SEU CUMPRIMENTO NOS SOFRIMENTOS E GLÓRIAS
DE CRISTO E A PROCLAMAÇÃO DE TUDO ISSO NO
EVANGELHO. PEDRO ENFATIZA PARTICULARMENTE A
INICIATIVA E OBRA DO ESPÍRITO DE DEUS EM TUDO
ISSO — “O ESPÍRITO DE CRISTO” FALOU POR MEIO
DOS PROFETAS PARA PREDIZER “OS SOFRIMENTOS
REFERENTES A CRISTO E SOBRE AS GLÓRIAS QUE
OS SEGUIRIAM” (V. 11) E O “PELO ESPÍRITO SANTO
ENVIADO DO CÉU” FALOU POR MEIO DAQUELES QUE
“VOS PREGARAM O EVANGELHO” (V. 12).
Como já afirmamos mais de uma vez, Deus é quem não apenas
propõe o grande plano de salvação em Cristo, mas o coloca em
ação, entra na criação para morrer e ressuscitar e derrama seu
próprio Espírito para capacitar a propagação de sua Palavra e trazer
mudança e crescimento em nossas vidas. Deus é quem trabalha;
nós somos seus assistentes e agentes (como veremos mais
adiante).
O Novo Testamento fala desta obra ativa de Deus como a obra do
seu Espírito, que é chamado de “o Espírito de Deus”,84 “o Espírito
do Senhor”,85 “o Espírito do vosso Pai”,86 “o Espírito de seu Filho”,87
“o Espírito de Cristo”,88 “o Espírito Santo”,89 ou simplesmente “o
Espírito”.90 Em todas as etapas de se fazer aprendizes de Cristo,
Deus está ativo por seu Espírito: • Ele fala pelo seu Espírito através
das bocas dos autores bíblicos para nos dar a sua palavra;91
• Ele regenera e renova nossos corações pelo seu Espírito para
tomarmos posse de sua oferta de salvação e sermos justificados
gratuitamente por sua graça;92
• Ele nos dá o seu Espírito como garantia de nossa esperança
futura e cidadania no reino de Deus;93
• Ele nos transforma pelo seu Espírito e produz o fruto da justiça
em nossas vidas;94
• Ele derrama seu Espírito sobre os discípulos para abrir suas
bocas e falar sua Palavra;95
• Ele dá ousadia pelo seu Espírito para continuarem falando a sua
Palavra;96
• Pelo seu Espírito ele está presente conosco, dando-nos dons e
capacitando-nos a falar a Palavra em amor uns aos outros, para
edificação mútua.97
Nós apenas arranhamos a superfície da descrição de quão vital
(em todos os sentidos dessa palavra) é a obra do Espírito de Deus
em fazer aprendizes de Cristo. Quando falamos a Palavra — em
qualquer contexto, de qualquer maneira — somos como o semeador
descrito na parábola de Jesus.98 Não podemos controlar ou
determinar em que tipo de solo a Palavra cai. Muitas vezes, nossas
palavras parecem colidir com a superfície impenetrável dos rostos
das pessoas, ou penetram apenas leve e temporariamente em seus
corações.
Mas quando o Espírito de Deus está presente em nossos
ouvintes para amolecer o coração, abrir os olhos e tornar o solo
fértil, então as palavras que falamos tornam-se, para nosso ouvinte,
as palavras de vida eterna. Foi assim para os tessalonicenses, que
receberam a pregação de Paulo “no Espírito Santo e em plena
convicção”99 e que reconheceram as palavras que estavam ouvindo
“não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra
de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os
que credes”.100 É por isso que Paulo, por sua vez, agradece a Deus
de maneira tão característica pela fé, amor e esperança que ele vê
no povo de Deus, e continua orando que Deus aumente seu
entendimento espiritual, maturidade e frutificação.101
Isso aponta para o indicador-chave dessa convicção dentro de
nossas próprias vidas e igrejas: nosso nível de confiança neste
princípio será demonstrado por nossa constante dependência em
oração a fim de que Deus dê o crescimento.102 A ausência de
oração, como a ausência da Palavra, é um sintoma clássico de uma
cultura de discipulado adoecida.
Em outras palavras:
• Pela cruz de Cristo somos resgatados do domínio das trevas para o reino do Filho e temos uma
herança eternamente segura em Cristo que já é nossa.
• Nossa “caminhada” diária é agora na luz e não na escuridão, desenvolvendo dia a dia quem
realmente somos (como cidadãos do reino de Cristo). Estamos todos em diferentes pontos nessa
caminhada e precisamos continuar avançando para o que está adiante. O movimento é sempre
para avançar, por assim dizer. Os aprendizes de Cristo são transformados à medida que crescem
para a maturidade em Cristo.
• Aqueles que permanecem presos no domínio das trevas também estão em pontos diferentes e têm
problemas diferentes. Alguns estão “longe” e são duros de coração; outros estão “mais próximos”,
por estarem ouvindo e considerando o evangelho de Cristo.
• Assim, o objetivo de toda forma de ministério cristão pode ser resumido simplesmente em procurar
ajudar a todos, onde quer que estejam, a avançar um passo — a aproximar-se para ouvir o
evangelho e ser retirado do domínio da escuridão a fim de entrar no reino; e depois a avançar em
direção à maturidade em Cristo em todos os aspectos de suas vidas.
• Os meios pelos quais Deus faz as pessoas avançarem são: Proclamação, Prece dependente do
Espírito, Pessoas como seus cooperadores e Perseverança, passo a passo.126
Isso tem implicações importantes para a metodologia pela qual as pessoas se tornam aprendizes de
Cristo e crescem como aprendizes de Cristo.
Para começar, ela é inevitável e continuamente pessoal. Cada um tem suas próprias lutas. Cada
pessoa vive em um lugar diferente, seja no domínio das trevas ou no reino da luz. Assim como é
importante afirmar a importância da vida corporativa da igreja — estamos unidos em amor como um só
corpo — também é importante dizer que o corpo é composto de muitos membros individualmente
diferentes.
Esse é o risco constante de todas as abordagens sistêmicas ou programáticas para o aprendizado
de Cristo: simplificarmos o processo e tratarmos todos os envolvidos nesse programa como se
estivessem no mesmo ponto, necessitando da mesma abordagem. Esse não é um motivo para
renunciar a todas as tentativas de nos organizarmos, projetar sistemas ou executar programas; isso
seria quase impossível, de qualquer maneira. De fato, na Fase 4, usaremos tempo e energia
consideráveis nos organizando. Mas, ao fazer isso, este é um risco a ser gerenciado e amenizado.
Nossos programas e atividades devem funcionar para ajudar cada um a avançar a partir do ponto em
que está.
Pegando mais termos emprestados da educação, o aprendizado de Cristo é um aprendizado
diferenciado. Ele atende cada aprendiz individual onde está e procura levá-lo adiante. Naturalmente,
há muitas coisas que aprendemos juntos e em que somos encorajados juntos (especialmente na igreja
todos os domingos), mas as implicações e aplicações pessoais dessas verdades precisam ser
discutidas e colocadas em oração com cada pessoa. Assim, quando Fred se torna um aprendiz de
Cristo, ele deve ter seu próprio tutor ou tutores — uma ou mais pessoas que realmente conhecem
Fred e suas lutas, que distinguem quais ensinamentos Fred ainda não apreendeu, que caminham com
ele durante meses e anos, que o ajudam a permanecer forte, a continuar progredindo na piedade e a
continuar resistindo e avançando.
O pastor reformado Richard Baxter foi muito incisivo nisso. Ele insistia na necessidade da
“conferência pessoal” combinada com a pregação pública. Em sua opinião, um pastor que não
combinasse seus sermões com instrução pessoal regular ou catequização de seu rebanho estava
negligenciando um dever vital.127
Podemos levar a afirmação de Baxter um pouco mais longe (à luz do que vimos acima) e dizer que
isso se conecta particularmente com o papel de todo o povo de Deus em proclamar a Palavra de Deus
aos outros. Nem todos seremos pregadores públicos nos púlpitos nem evangelistas nas praças, mas
todos nós podemos ser “tutores privados” para a multidão de indivíduos (cristãos e não-cristãos) que
conhecemos e com quem convivemos todos os dias — em nossa família, em nosso local de trabalho,
em nossa vizinhança, em pequenos grupos de discípulos cristãos e assim por diante.
Falaremos mais sobre a relação entre a pregação pública e o ministério da Palavra de todo o povo
de Deus nas duas convicções que se seguem, mas, por enquanto, vamos apenas destacar um dos
benefícios do aspecto libertador de pensar dessa maneira sobre a natureza gradual e perseverante do
crescimento cristão (e, portanto, do ministério cristão).
Se o objetivo do ministério cristão pode ser visto simplesmente como ajudar qualquer pessoa que
conhecemos a avançar um passo (em direção a Cristo ou à maturidade em Cristo), então esta é uma
tarefa que todo e qualquer cristão pode abraçar com confiança. Se convocarmos o membro médio da
igreja para se alistar como ministro do evangelho, discipulador ou evangelista, então (correta ou
incorretamente) muitos se sentirão bastante tentados a correr na direção oposta. Mas e se, em vez
disso, disséssemos o seguinte: “Por que você não ora pela pessoa ao seu lado (onde quer que ela
esteja), e tenta, pela sua palavra e exemplo, incentivá-la a avançar um passo — ainda que um
pequeno passo?”.
Isso é muito mais concreto, imediato e realizável para a pessoa comum. Com a confiança de que
Deus irá trabalhar por meio de sua Palavra e seu Espírito, mesmo que lenta e gradualmente ao longo
do tempo, todos nós podemos fazer a nossa parte para ajudar todos à nossa volta a dar um passo à
frente em direção a Cristo.
Mobilizar nossos esforços para treinar e preparar o maior número de nossos membros para esse
tipo de ministério é um passo fundamental para criar uma nova cultura de aprendizado de Cristo em
nosso meio.
DISCUSSÃO
1) Usamos os quatro Ps para resumir os meios que Deus nos dá para fazer discípulos. Tentem criar
uma maneira simples de comunicá-los. Por exemplo, tentem criar uma sigla usando: a) outras
quatro iniciais iguais
b) alguma palavra conhecida
c) outra coisa que você puder inventar
2) Todos os diagramas são inadequados de alguma forma. Tentem encontrar alguma maneira de
melhorar ou ajustar o diagrama para que ele comunique melhor a essência do ministério cristão:
3) Escolham uma das breves epístolas do Novo Testamento a seguir, e leiam-na fazendo a seguinte
pergunta: Por que meios ou de que maneira essa carta diz que as pessoas se tornam cristãs e
crescem como cristãs? Anotem tudo que encontrarem e usem para apoiar ou modificar ou melhorar
nosso argumento acima sobre como os discípulos são feitos.
Efésios
Filipenses
Colossenses
1 Tessalonicenses
1 Timóteo
Tito
1 Pedro
4) Pensem em alguém que vocês conhecem que considera a vida difícil neste mundo caído, e ore
sobre o que você pode fazer para ajudá-lo a “avançar um passo” em direção a Cristo. Como vocês
podem demonstrar seu amor por essa pessoa? Que história você poderia contar de sua vida que a
direcionaria para Cristo? O que você poderia lhe dizer sobre a verdade de Cristo? Qual passagem
da Escritura você poderia compartilhar com ela (pessoalmente, por e-mail, por cartão)? O que pode
impedi-lo de tomar alguma ação?
1Co 3.6.
At 2.1-11.
At 2.14-41.
At 4.31.
At 11.15.
At16.6-7.
At 13.62.
1Ts 1.5; cf. 2.13.
1Ts 1.9-10; cf. 5.9-10.
1Ts 2.2.
1Ts 1.6; também 2.14.
1Ts 2.7.
1Ts 2.11-12.
1Ts 2.12.
1Ts 2.8.
1Ts 2.9.
1Ts 3.2-3.
1Ts 3.8-13.
1Ts 4.1-12.
1Ts 4.13-5.11.
1Ts 5.12-28.
Lc 24.45-47; Rm 10.14-17; 1Co 1.17-18; 15.1-11; 2Co 4.5-6; Cl 1.3-8; 2Tm 4.1-2.
Jo 16.7-11; At 1.8; 2.1-4; Gl 5.16-24; Ef 1.13-14; 1Ts 1.4-5; 2Tm 1.13-14.
Rm 15.14; 1Co 14.1-3, 26; Ef 4.7-16; Fp 1.3-4; 1Ts 4.18; 5.12-14; Tt 2.3-5; 1Pe 2.9-12.
Jo 15.18-19; At 4.29-31; 2Co 4.7-12; Ef 6.10-20; Fp 1.27-30; 3.7-16; 1Ts 1.6-7; 2.14-16; 2Tm 2.14-19; 3.10-13; Hb 3.12-14.
Usamos o termo “falar” como uma palavra abrangente — no Novo Testamento há uma ampla gama de termos sobrepostos e
relacionados que descrevem diferentes propósitos ou estilos de discurso que são direcionados para o aprendizado de Cristo
(evangelizar, ensinar, exortar, proclamar, encorajar, admoestar, instruir, lembrar, repreender, e assim por diante).
Peter Adam, Speaking God’s words: A practical theology of preaching (Leicester: Intervarsity Press, 1996); Peter Jensen, The revelation
of God (Leicester: Intervarsity Press, 2002); Matt Chandler, Josh Patterson & Eric Geiger, Creature of the Word: The Jesus-centered
church (Nashville: B&H Publishing, 2012); D. B. Knox, “What must not change in a changing ministry” and “The priority of preaching” em
D. Broughton Knox Selected Works, vol. 2, Church and ministry, Kirsten Birkett, ed., (Sydney: Matthias Media, 2003), 211-20;
Christopher Green e David Jackman, eds., When God’s voice is heard: Essays on preaching presented to Dick Lucas (Leicester,
Intervarsity Press, 1995); Peter G, Bolt, ed., Let the Word do the work: Essays in honour of Phillip D. Jensen (Camperdown, Australian
church record, 2015).
1Co 2.2.
Tt 2.11-14.
Ver Phillip D. Jensen e Paul Grimmond, The archer and the arrow: Preaching the very words of God (Sydney, Matthias Media, 2010), cap.
3.
Veja o material de Peter Adam sobre isto em Speaking God’s Words, p. 59-70.
At 20.7-9.
At 17.17-18.
At 16.13-14.
At 19.9.
1Tm 4.13.
At 8.29-35.
Phillip Jensen e Paul Grimmond oferecem um tratamento perspicaz não apenas da centralidade e importância da pregação expositiva,
mas do conteúdo cristocêntrico dessa pregação. Ver The archer and the arrow, especialmente o capítulo 2.
Timothy Ward argumenta que a teoria contemporânea dos atos de fala pode nos ajudar a entender como a leitura ou proclamação da
palavra da Bíblia é uma “re-performance” do que Deus está fazendo por meio da palavra da Escritura em seu contexto original. Veja
Timothy Ward, Words of Life: Scripture as the living and active Word of God (Downers Grove, IVP Academic, 2009) [edição em
português: Teologia da revelação, (São Paulo: Vida Nova, 2017)].
Martinho Lutero, “The freedom of a Christian, em J. Dillenberger, ed., Martin Luther: Selections from his writings (Nova Iorque, Anchor
Books, 1962, pp. 54-5).
1Co 2.11.
At 5.9.
Mt 10.20.
Gl 4.6.
Rm 8.9.
Lc 11.13.
Rm 8.5.
At 1.16; 4.24-25.
Tt 3.4-7; Jo 3.1-8.
Ef 1.11-14.
2Co 3.17-18; Gl 5.16-24.
At 2.6-11;17-18.
At 4.31.
1Co 12-14.
Mc 4.1-9.
1Ts 1.5.
1Ts 2.13.
Colossenses 1.3-5 e 9-12 fornecem um exemplo desse padrão comum de Paulo.
1Co 3.6.
Tão importante, na verdade, que voltaremos a aspectos disso mais detalhadamente na Convicção 5.
Essa maneira de expressar a interação entre a ação humana e a ação divina é por vezes chamada de “compatibilismo”. Para uma clara
exposição e defesa desta visão, ver D. A. Carson, How long, o Lord?: Reflections on suffering and evil, 2ª ed. (Grand Rapids: Baker
Academic, 2006).
Este é o ponto de Paulo em 1 Coríntios 3.5-8.
É isso que Paulo segue dizendo em 1 Coríntios 3.10-17.
Êx 19.6.
Is 42.6; 49.6; 60.3.
1Pe 2.9-10.
At 2.11, 16-18.
Essa diversidade dentro da unidade é a grande ideia de 1 Coríntios 12-14, à qual retornaremos na Convicção 4. Também usaremos mais
algum espaço para reunir as provas desse princípio crucial, além de explorar como devemos entender corretamente o ministério
“democratizado” da palavra de todos os cristãos em relação aos papéis e responsabilidades dos pastores, presbíteros e mestres.
Fp 3.17; 1Ts 1.6-7; Tt 2.1-10. Falaremos mais sobre isso na Fase 2, quando discutiremos a reforma de nossa própria cultura pessoal.
Cl 3.12-14.
Novamente, este é o argumento de 1 Coríntios 12-14. O famoso capítulo 13 sobre o amor conduz o ensinamento do capítulo 14 — ou
seja, por causa do amor, não buscamos nossos próprios interesses, nem mesmo nossa própria edificação, mas a edificação dos que
nos cercam.
1Ts 2.7-12.
Também devemos estar cientes de que essa visão binária do mundo em termos de luz e escuridão é terrivelmente ofensiva na cultura
ocidental, e será ainda mais à medida que nossa sociedade se torna cada vez mais politicamente correta. Entretanto, se não
mantivermos uma teologia clara de conversão, desistiremos de chamar os incrédulos ao arrependimento. Acabaremos tratando todos
como se já estivessem na luz, ou possivelmente em alguma zona cinzenta civilizada nas proximidades da luz.
Rm 8.13; cf. Cl 3.5ss.
Cl 3.10; as novas vestes são descritas nos versos seguintes, especialmente 12-14.
Rm 5.3-4. Assim como minimizar a natureza binária da conversão diminuirá o apelo ao arrependimento, subestimar a natureza
perseverante e transformadora da vida cristã tende a promover um cristianismo conversionista, descomprometido, de “graça barata”:
“garanti meu bilhete para o céu, agora posso relaxar e curtir a vida”.
Rm 12.1-2.
Hb 12.3-4.
Rm 2.5; At 19.9.
Como o escriba em Marcos 12.34.
Ef 2.12.
Mt 23.1-28; 2Tm 3.5.
Em capítulos posteriores, vamos resumir isso como “ministério dos 4Ps”.
Veja Richard Baxter, The Reformed Pastor, 5ª ed. (Londres: Banner of Truth, 1974), 174-6, 196 [edição em português: Manual pastoral de
discipulado, 2ª ed. (São Paulo: Cultura Cristã, 2015)].
Convicção 4: Quem faz discípulos?
Até agora, vimos o que um discípulo realmente é, por que “fazê-lo” é tão importante e que métodos
ou meios Deus nos deu para isso.
Nesta quarta convicção, queremos nos aprofundar em um aspecto de “como” fazer discípulos —
a saber, quais pessoas exatamente estão envolvidas na tarefa e como devemos entender seus
diferentes papéis e dons.
Nós já discutimos isto brevemente na Convicção 3, quando argumentamos que o povo de Deus é
seu agente ao proclamar a Palavra em oração e com perseverança. Além disso, sugerimos que não
apenas os mais comprometidos do povo de Deus, ou uma classe de elite do povo de Deus, mas
todo o povo de Deus recebe a alegria e o privilégio de “fazer discípulos”. Voltando a Mateus 28, a
comissão para fazer discípulos é uma comissão para todos os discípulos.128
Discutindo essa questão com muitos pastores em todo o mundo nos últimos anos, alguns pontos
ou questões importantes surgiram com frequência.
• Em primeiro lugar, era difícil encontrar alguém que discordasse, em princípio, da ideia de que o
discipulado é para todos os discípulos. De fato, para a maioria dos pastores, este é o sonho —
de alguma forma, persuadir a massa dos membros de sua congregação de que o trabalho do
ministério, seja em alcançar descrentes ou edificar os crentes, é algo em que todos devem se
envolver. Pastores também geralmente relatavam que muitos de seus membros regulares mais
maduros tinham a mesma opinião: que o trabalho da igreja é um esporte coletivo, e todos
devemos fazer o nosso melhor para nos envolver, em vez de sermos apenas espectadores,
mesmo que o sucesso em conseguir esse envolvimento fosse irregular.
• Porém, em muitos lugares, “envolver-se” consistia basicamente em algum tipo de ajuda
administrativa ou prática — ter o nome em uma lista, organizar ou executar alguma coisa, ajudar
com a propriedade ou outras tarefas práticas, e assim por diante. Em outras palavras, em muitas
igrejas com as quais falamos, o “ministério de todos os membros” era um conceito comum e
aceito, desde que “ministério” fosse definido como qualquer ato geral de serviço ou ajuda
realizado em favor da igreja — em vez de algo que se parecesse com os quatro Ps
(Proclamação, Prece, Pessoas e Perseverança).
• Este era o ponto em que as coisas ficavam mais sérias, e sobre o qual muitos pastores queriam
conversar mais — não apenas para questionar sobre as evidências bíblicas para preparar
potencialmente cada membro como um proclamador da Palavra de Deus, mas para entender
como isso poderia acontecer na prática. Como transformar a cultura da igreja para que um
número crescente de membros se considere proclamador da Palavra em oração aos que estão
ao seu redor? E o que pode motivar e preparar mais pessoas para se dispor e ajudar outros a
aprenderem Cristo?
• Isto leva a outra questão comum (e importante): se é certo que todos nós estamos engajados
nos quatro Ps juntos, como fica a diversidade e a doutrina dos dons? E aqueles que não
parecem sequer remotamente preparados ou capazes de falar a Palavra de Deus? Como
devemos entender a tarefa e a responsabilidade dos pastores, presbíteros e mestres? Em
particular, promover um ministério da Palavra mais aberto a toda a congregação de alguma
maneira desvaloriza ou prejudica o relevante papel da pregação expositiva do púlpito?
Nesta quarta convicção, examinaremos essas importantes questões sob quatro tópicos:
• O que a Bíblia diz sobre todos os cristãos anunciarem a Palavra
• Como isso acontece na prática?
• Superando inibições
• O púlpito expositivo e a igreja expositiva
O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE TODOS OS CRISTÃOS ANUNCIAREM A PALAVRA
Quando recorremos à Bíblia para dirigir e moldar o que fazemos, vemos que Deus fala conosco de
várias maneiras — por instrução e comando direto, por ilustração e exemplo narrativo, por
sabedoria proverbial, ou por um princípio que nos ensina sobre a natureza das coisas ou sobre o
nosso lugar nos propósitos de Deus (e, portanto, que tipo de ação é desejável ou necessária).
Por exemplo, se alguém nos pedisse para justificar por que a Bíblia considera errado o adultério,
diríamos: por causa do sétimo mandamento; por causa dos muitos exemplos do mal e da destruição
que o adultério traz (por exemplo, Davi e Bate-Seba); por causa das frequentes advertências da
literatura sapiencial sobre o assunto; e também porque o adultério ofende o ensino geral da Bíblia
sobre o bem do casamento, da sexualidade e dos relacionamentos.
O mesmo vale para o que a Bíblia diz sobre a natureza e o propósito da fala do cristão, e em
particular o falar de “edificação” que exercemos para que outros conheçam a Cristo e cresçam nele.
Não são apenas alguns textos-prova ou comandos (mas vamos chegar neles mais tarde). Isso se
encaixa no quadro maior dos propósitos de Deus para nós como “proclamadores”.
No nível mais básico, Deus nos deu bocas para falar porque nos criou como seres pessoais
capazes de expressar pensamentos, intenções e promessas uns aos outros (e ao Deus pessoal que
nos criou). As palavras nos permitem fazer certas coisas nos relacionamentos com outros que, de
outro modo, não poderíamos fazer: agradecer, pedir, confortar, confessar, perdoar, celebrar, louvar,
lamentar, informar, ensinar, e assim por diante. Palavras revelam o coração.129 Palavras são a
moeda do relacionamento.
Naturalmente, nossa capacidade de fala (como toda parte criada em nós) é corrompida e
distorcida pelo nosso pecado e rebelião contra Deus. Fazemos o mal com o nosso falar, tanto ao
rejeitar a Deus como ao ferir os outros — blasfemamos, mentimos, amaldiçoamos, odiamos,
enganamos, manipulamos, bajulamos, difamamos, falamos obscenidades e muito mais.130
Da mesma maneira, nossa fala (como todos os aspectos de nossas vidas) é transformada pela
obra salvadora de Deus. Pela obra do Espírito de Deus, somos libertos para confessar que Jesus é
o Senhor, para louvar seu nome, para dar voz à nossa fé em oração e ações de graças, e para levar
vida e encorajamento a outros pelo que dizemos a eles.131
Em seu pequeno livro sobre falar o evangelho, Lionel Windsor aponta que esse é um padrão
comum na Bíblia. Deus não só dá aos pecadores a dádiva da salvação, mas também “põe um
discurso ou canção em suas bocas, e lhes diz para falarem repetidas vezes sobre como a sua
salvação é realmente maravilhosa”.132
O exemplo mais evidente disso é a profecia. Quando o Espírito de Deus vem sobre alguém no
Antigo Testamento, o que normalmente acontece em seguida é que a pessoa profetiza — fala a
palavra que Deus lhe mandou dizer.133 Em Números 11, Moisés expressa o desejo de que Deus
faça isso não apenas aos setenta anciãos, mas a todo o seu povo: “Que todo o povo do Senhor
fosse profeta, para que o Senhor colocasse seu Espírito sobre eles!”134
O que Moisés diz aqui, quase irritado, prefigura uma esperança que se tornaria mais urgente com
o desenrolar da triste história de Israel — a saber, que quando finalmente chegasse a hora de Deus
redimir e renovar o Israel rebelde, ele derramaria seu Espírito de vida e de profecia não apenas
sobre alguns líderes ou representantes seletos, mas sobre todos eles, do menor até o maior.
Essa, é claro, é a promessa que Pedro cita para explicar à multidão os eventos extraordinários do
Pentecostes, em que pessoas de todo o mundo estavam ouvindo os discípulos cheios do Espírito
“falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus”.135 Esse derramamento democrático do
falar cheio do Espírito, diz Pedro, é apenas o que fora predito:
Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, diz o
Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão,
vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas
derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. (At 2.16-18, citando Jl 2.28-29)
Três pontos às vezes despercebidos aqui são dignos de nota:
• Primeiro, todos do grupo, e não apenas Pedro ou os onze, “ficaram cheios do Espírito Santo e
passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem”.136
• Segundo, a passagem estabelece uma equivalência entre contar “as grandezas de Deus” (v. 11)
e a “democratização” da profecia prometida por Joel.137
• Terceiro, o derramamento do Espírito e seus efeitos são evidências claras de que o Jesus
crucificado e ressuscitado é de fato Senhor e Cristo, o Messias.138
Chegou a era do Messias, na qual o Espírito é derramado sobre todo o seu povo, e a evidência
clara disso (de acordo com Pedro) é o fenômeno extraordinário que eles estavam testemunhando —
a manifestação da profecia nos lábios de todo o povo de Deus.
Em outras palavras, os notáveis eventos do Pentecostes indicam que um novo estado de coisas
está agora em vigor. Aqueles que se arrependerem e depositarem sua fé em Jesus, o Cristo, serão
preenchidos com o Espírito Santo prometido (como Pedro afirma à multidão no final de seu
sermão).139 Isso nos levaria a esperar um desenvolvimento correspondente do falar inspirado pelo
Espírito no meio do povo de Deus — e isso é, de fato, o que vemos acontecer no restante do Novo
Testamento. Em Atos e nas epístolas, vemos um florescimento da proclamação conduzida pelo
evangelho e fortalecida pelo Espírito, não apenas por meio dos apóstolos, evangelistas, pastores e
presbíteros, mas pela boca dos crentes em geral.
Aqui está uma seleção de evidências disso, seja em exemplos desse tipo de fala acontecendo,
seja em mandamentos apostólicos para que isso ocorra.
• Em Atos 4.31, os discípulos que estavam com Pedro e João oraram por um aumento na ousadia
para falar a Palavra, e como resultado “tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram
cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus”. Como no
Pentecostes, o enchimento do Espírito capacita todo o grupo a falar corajosa e abertamente.
• Quando a igreja está dispersa por toda a Judeia e Samaria em Atos 8, os apóstolos
permanecem em Jerusalém, mas “os que foram dispersos iam por toda parte pregando a
palavra”.140 Vemos o exemplo de Filipe, um homem “de boa reputação, cheio do Espírito e de
sabedoria”, que em Atos 6 recebe a tarefa de distribuir alimentos.141 O papel dado a Filipe na
igreja pode ser voltado a questões práticas, mas ele não pode deixar de proclamar Cristo, tanto
publicamente em Samaria142 quanto em particular no carro do eunuco etíope.143 Curiosamente,
como Pedro em Atos 2, Filipe, cheio do Espírito, expõe a verdade de Cristo por meio das
Escrituras inspiradas pelo Espírito.144
• Paulo está ansioso para visitar os romanos para que “em vossa companhia, reciprocamente nos
confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha”.145 Mais adiante na epístola, ele afirma
novamente a capacidade deles para a instrução mútua: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu
mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento,
aptos para vos admoestardes uns aos outros”.146
• O argumento da passagem extensa de 1 Coríntios 12-14 é essencialmente este: que pelo nosso
batismo em comum no Espírito, todos somos membros de um só corpo, e devemos buscar o
bem comum por meio da diversidade de nossos dons; de fato, por causa da importância
motivadora do amor (no capítulo 13), todos os cristãos devem buscar um tipo de dom em
particular — falar palavras inteligíveis da parte de Deus (isto é, profecia) que edificam aqueles
que os rodeiam. Talvez o versículo que resume tudo isso seja o seguinte: “Que fazer, pois,
irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra
língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação”.147 Toda a seção pressupõe
que falar a Palavra de Deus de forma rica, cheia do Espírito, diversa, unificada e ordenada,
motivada e regulada pelo amor, é a norma para a comunhão cristã.
• Em Efésios 4, qualquer que seja a nossa compreensão acerca do “desempenho do seu serviço”
para o qual os santos devem ser aperfeiçoados (v. 12), o resultado é a fala comunitária — que
“seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem
todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação
de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.148
• Em Efésios, como em 1 Coríntios, é o amor que descreve tanto a motivação quanto a maneira
de falar. Isso aponta para uma verdade importante: quanto mais os cristãos crescem em amor
cristão, mais procuram fazer o bem aos outros com suas palavras. Ou, na linguagem que temos
usado: quanto mais os aprendizes de Cristo “avançam”, mais querem falar a Palavra para
aqueles que estão para trás de si (sejam descrentes, cristãos mais jovens ou imaturos).
• Em Colossenses, Paulo resume seu próprio ministério como proclamação de Cristo: “advertindo
a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria”.149 Mais adiante, ele usa termos
similares para incentivar os colossenses a fazerem o mesmo: “Habite, ricamente, em vós a
palavra (grego: logos) de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria,
louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso
coração”.150 Paulo pede aos colossenses que orem para que Deus abra uma porta para que ele
pregue a Palavra (logos), e então os orienta para que sua palavra (logos) aos outros seja
agradável, temperada com sal e adequada para responder a cada um.151 Novamente, o quadro
é de uma variedade de ministérios baseados na palavra única de Cristo (ensinar, admoestar,
cantar, pregar, falar, responder), conduzidos tanto pelo apóstolo quanto pelos irmãos cristãos
aos quais ele está escrevendo.
• Depois, há os comandos diretos de 1 Tessalonicenses: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com
estas palavras”;152 “Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como
também estais fazendo”;153 “Exortamo-vos, também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos,
consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos”.154 Ou as
instruções igualmente diretas em Hebreus: “pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia,
durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano
do pecado”;155 “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às
boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos
admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima”.156
A jornada do ensino bíblico sobre este assunto culmina no livro do Apocalipse, que mostra o povo
redimido de Deus reunido em volta do trono, clamando, cantando e expressando seus louvores. É
como se a humanidade perfeita em Cristo tivesse apenas uma palavra para dizer:
Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos,
povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas
nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro,
pertence a salvação. (Ap 7.9-10)
Em outras palavras, há grandes e fortes evidências de que falar a Palavra de Deus aos outros
para sua salvação e encorajamento é um componente esperado e necessário da vida cristã regular.
Da mesma forma, a cultura de uma igreja saudável é aquela em que uma ampla variedade de
ministérios da Palavra é exercida por uma proporção cada vez maior dos membros.
A IGREJA APRENDIZ
Simplificando, “aprender Cristo” acontece onde quer que a Palavra e
o Espírito de Deus estejam operando ao longo do tempo pelas
pessoas — porque é assim que acontece o aprendizado de Cristo
(como vimos na Convicção 3). Acontece no começo de nossa vida
cristã quando somos libertos das trevas para a luz e aprendemos os
fundamentos da fé; continua a acontecer enquanto crescemos e
somos transformados rumo à maturidade em Cristo.
Isso significa que o “discipulado” pode e deve acontecer em toda
e qualquer esfera de nossas vidas:
• Quando pregamos o evangelho e a Palavra de Deus para nós
mesmos — que é o que realmente fazemos quando, em espírito
de oração, lemos e meditamos sobre as Escrituras a sós;
• Quando nos reunimos com uma ou duas outras pessoas (formal
ou informalmente) e em oração falamos a Palavra de Deus uns
aos outros — quando lemos a Bíblia junto com nosso cônjuge ou
filho, compartilhamos (ou recebemos) uma palavra bíblica com
um colega de trabalho ou vizinho, ou conversamos com alguém
no café depois da igreja e falamos sobre a Palavra de Deus que
ouvimos;
• Quando nos reunimos em um pequeno grupo para ler, estudar e
falar a Palavra da Bíblia uns com os outros e orar;
• Quando nos reunimos em um grupo maior para ouvir a Palavra
de Deus ensinada e explicada, e para responder a ela juntos em
arrependimento e fé (isto é, quando vamos à igreja).
Dito de outra maneira: se um discípulo é alguém que está
passando por um “aprendizado transformador” em Cristo, então uma
igreja é uma comunidade de aprendizado transformador em Jesus
Cristo — um ajuntamento que Deus convocou para que possamos
aprender seu Filho. Tudo o que fazemos, promovemos e facilitamos
como uma comunidade de igreja — pessoalmente, em duplas, em
grupos ou todos juntos no domingo — deve ensinar e representar
Cristo, para que todos possam aprender Cristo.
Esta é uma visão muito maior e mais rica do que a tendência, tão
comum nas igrejas modernas, de departamentalizar o “discipulado”
em uma área especializada voltada principalmente às disciplinas
pessoais ou à vida em pequenos grupos. O grande plano de Deus é
fazer discípulos de Cristo de todas as nações por meio dos quatro
Ps (Proclamação, Prece, Pessoas, Perseverança), e é como parte
do cumprimento deste plano que ele nos ajunta em comunidades —
nas igrejas (ou assembleias).
Deus em sua sabedoria nos uniu como igreja e nos deu uns aos
outros — não apenas porque nosso destino é precisamente este
(estarmos juntos em torno de Jesus Cristo em alegria, celebração e
contemplação redimida), mas porque precisamos uns dos outros.
Deus nos dá uns aos outros como o meio pelo qual ouvimos a
Palavra de Cristo e aprendemos Cristo.
Dietrich Bonhoeffer é um desses teólogos que todos parecem
querer citar e chamar para perto de si. Não temos tais pretensões,
nem queremos sugerir que o que estamos dizendo tem mais ou
menos chance de ser verdade porque o citamos. Mas essa
passagem de Vida em Comunhão expressa com clareza o que
estamos tentando dizer sobre a igreja ser uma comunidade cujo
princípio operacional é o falar e ouvir mútuo da Palavra:
Cristianismo significa comunhão através de Jesus Cristo e em Jesus
Cristo. Nenhuma comunidade cristã é mais ou menos que isso […]
O que isso significa? […]
Primeiro, o cristão é o homem que não mais busca sua salvação, sua
libertação, sua justificação em si mesmo, mas somente em Jesus
Cristo […] A morte e a vida do cristão não são determinadas por seus
próprios recursos; em vez disso, ele encontra ambos somente na
Palavra que vem a ele de fora, na Palavra de Deus para ele […] O
cristão vive inteiramente pela verdade da Palavra de Deus em Jesus
Cristo. Se alguém lhe perguntar “onde está a sua salvação, a sua
justiça?”, ele nunca pode apontar para si mesmo. Ele aponta para a
Palavra de Deus em Jesus Cristo, que lhe assegura a salvação e a
justiça. Ele está tão alerta quanto possível a esta Palavra. Porque ele
diariamente tem fome e sede de justiça, ele diariamente deseja a
Palavra redentora. E ela só pode vir de fora […]
Mas Deus colocou esta Palavra na boca dos homens para que ela
possa ser comunicada a outros homens. Quando uma pessoa é
atingida pela Palavra, ele a fala para os outros. Deus quer que o
procuremos e encontremos sua Palavra viva no testemunho de um
irmão, na boca de um homem. Portanto, um cristão precisa de outro
cristão que fale a Palavra de Deus para ele. Ele precisa dele sempre
que fica inseguro e desanimado, pois ele, por si mesmo não pode se
ajudar sem faltar com a verdade. Ele precisa de seu irmão como
portador e proclamador da palavra divina da salvação. Ele precisa de
seu irmão somente por causa de Jesus Cristo. O Cristo em seu
coração é mais fraco que o Cristo na palavra de seu irmão; seu próprio
coração é inseguro, o de seu irmão é seguro.
E isso também esclarece o objetivo de toda a comunidade cristã: eles
se encontram como portadores da mensagem de salvação. Como tais,
Deus permite que eles se encontrem e lhes dá comunidade. Sua
comunhão é fundada unicamente em Jesus Cristo e nesta “justiça
externa”. Tudo o que podemos dizer, portanto, é: a comunidade dos
cristãos surge apenas da mensagem bíblica e reformada da
justificação do homem apenas pela graça; apenas esta é a base do
anseio dos cristãos uns pelos outros.169
Sem dúvida, leitores diferentes chegarão a este livro com
diferentes eclesiologias e tradições, não apenas com respeito à
política e ao governo, mas também com relação a como a reunião
dominical da igreja acontece (como é chamada, como se desenrola,
como é a música e assim por diante). Dificilmente conseguiríamos
abarcar todas essas questões, muito menos chegar a um acordo
sobre elas.
Entretanto, quaisquer que sejam nossas diferenças em
eclesiologia, tradição ou estilo de igreja, há um ponto fundamental
com o qual todos devemos concordar: a igreja, em todos os
aspectos de sua vida, é uma comunidade de aprendizado
transformador em Cristo.
Se isso for verdade, então nossa reunião dominical deve ser a
ocasião principal, central e mais destacada na qual o “aprendizado
de Cristo” ocorre, e a partir da qual todos os outros aprendizados na
comunidade recebem sua direção e ímpeto. Se o aprendizado
transformador está no centro de nossa vida conjunta como povo de
Deus, então ele deve estar no centro de nossas reuniões regulares
de domingo.
Ao dizer isso, não estamos de modo algum sugerindo que o culto
dominical deva ter o estilo e o ambiente de uma sala de aula! Não é
esse tipo de “aprendizagem” que está envolvido (como esperamos
ter deixado claro na Convicção 2). Sempre que ocorre o verdadeiro
aprendizado em Cristo, o próprio Deus está em ação — falando sua
Palavra e inclinando nossos corações para responder em
obediência, fé, gratidão, amor e louvor. Não há nada de
desapaixonado ou meramente intelectual nesse tipo de
aprendizado, seja em nosso quarto enquanto lemos as Escrituras,
em um pequeno grupo ou em nossas reuniões dominicais. É um
encontro vivo, relacional e transformador com Deus por sua Palavra
e espírito, quando ouvimos sua voz e lhe respondemos
alegremente.
O domingo não é apenas a principal ocasião em que aprendemos
Cristo uns com os outros — é também um dos impulsionadores
mais poderosos de toda a cultura da igreja. Se “a maneira como
fazemos as coisas” no domingo não comunica, exemplifica,
expressa, promove e defende o “aprendizado de Cristo”, então há
pouca chance de que a cultura de nossa igreja mude de maneira
significativa.
Conversando com pastores nos últimos seis anos, essa tem sido
uma questão significativa — e, portanto, essa convicção é
particularmente importante. Você acredita que o domingo é uma
plataforma para fazer discípulos? Você entende que um de seus
principais propósitos é ajudar todos os presentes a “avançar um
passo” por meio da proclamação da Palavra de Deus em oração? E
como isso aconteceria em seu próprio contexto? Já tratamos disso
na Convicção 4, ao falar sobre como um “púlpito expositivo” ajuda a
gerar uma “igreja expositiva”, e voltaremos a esse assunto nas
Fases 3 e 4.
Mas primeiro precisamos pensar sobre o outro local-chave em
que os discípulos são feitos.
AS NAÇÕES QUE VIVEM NAS TREVAS
Que os discípulos devem ser feitos em toda parte é uma
consequência direta do senhorio universal de Jesus Cristo
ressuscitado (o que consideramos na Convicção 1). Uma vez que
“toda autoridade no céu e na terra” foi concedida a ele como Senhor
e Rei do reino eterno de Deus, seus aprendizes devem recrutar e
fazer outros aprendizes de todas as nações.170
É fácil pensarmos nas “nações” como países estrangeiros, mas
não era exatamente isso que Jesus estava dizendo — como se a
tarefa dos discípulos fosse evangelizar ao longo de uma lista de
antigos estados-nação.
Ele estava falando sobre os povos do mundo — toda a enorme
variedade de nações, tribos, línguas e raças, das quais Israel foi
chamado para ser o povo especial de Deus, sua nação santa. Esse
“resto do mundo” não-judeu é geralmente chamado de “nações” ou
“gentios” no Novo Testamento (a mesma palavra grega ethné é
comumente traduzida como “nações” ou “gentios” na maioria das
versões).
Talvez possamos começar a sentir como aquela deve ter sido
uma declaração radical e chocante para os onze discípulos na
montanha com Jesus. O Messias judeu havia se levantado do
túmulo para salvar seu povo e ser o governante de todos. Mas sua
comissão para eles não era fazer discípulos de Israel, mas das
nações — os de fora, os pagãos, as pessoas que eram
consideradas tão impuras e contaminadas que um judeu não podia
sequer comer com elas. Era uma comissão para fazer discípulos do
inimigo, dos pagãos desprezados que tinham derrotado e oprimido
Israel por séculos.
Naturalmente, isso poderia não ter sido chocante para os
discípulos se eles tivessem ouvido o ensinamento de Jesus durante
os três anos anteriores e conhecessem o Antigo Testamento.171 O
grande plano de Deus sempre incluiu as nações. Desde o tempo da
grande dispersão na torre de Babel, quando Deus confundiu as
línguas do povo e o dispersou por toda a terra, o propósito de Deus
foi sempre reuni-los novamente, e abençoar as nações por meio do
homem (Abraão) e da nação (Israel) que ele escolhera.172
De certa forma, a história do Antigo Testamento é a história de
Israel sendo chamado dentre as nações como a possessão santa e
especial de Deus, para que fosse uma bênção para as nações, um
reino de sacerdotes para representar Deus ao mundo.173 A vocação
maior de Israel era ser o veículo da salvação, ser luz e bênção para
toda a terra.
Infelizmente, Israel falha repetidamente nesta vocação e acaba
sendo mais uma maldição do que uma bênção para as nações. Os
profetas se levantam e declaram juízo sobre o povo de Israel por
sua rebeldia e incredulidade, e declaram que eles mesmos serão
exilados e dispersos entre as nações por causa de seu pecado.
Mas, ao mesmo tempo, os profetas aguardam ansiosamente um
tempo em que Deus enviaria seu Servo, pelo qual Israel seria
finalmente e verdadeiramente uma “luz para os gentios, para seres
a minha salvação até à extremidade da terra”.174
O Evangelho de Mateus começa com astrólogos pagãos (os
magos) sendo guiados até Belém, a cidade de Davi, onde se
dobram e adoram o Cristo recém-nascido. A mensagem é
inconfundível: por meio desta criança, a bênção para as nações
finalmente chegará. Alguns capítulos depois, Mateus cita Isaías para
dizer que esse Jesus é verdadeiramente aquele em cujo nome as
nações esperam.175
Um dos principais temas de todos os Evangelhos é a rejeição de
Jesus por seu próprio povo. É quase como se a constante rebeldia e
incredulidade de Israel ao longo de sua longa história chegasse a
um clímax nesse ponto — o ponto exato em que o próprio Deus vem
a ela como Salvador e Messias. Jesus sabia muito bem que sua
missão se encaminhava para isso; que os líderes de seu próprio
povo o rejeitariam e o entregariam às “nações” (ou gentios) para ser
crucificado.176 Os judeus e as nações podem ter se dividido por uma
muralha de cultura e religião, e por séculos de guerra e hostilidade,
mas estavam unidos nisso — em uma conspiração pecaminosa
para matar o autor da vida. Sobre Jesus, diz Pedro aos judeus
reunidos no Pentecostes: “sendo este entregue pelo determinado
desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por
mãos de iníquos”.177
Ao fazê-lo, eles cumpriram o plano eterno de Deus. Ao se unirem
para crucificar Jesus, os judeus e as nações mostraram duramente
o problema fundamental que compartilham — que ambos são
cidadãos do “mundo tenebroso”.178 E na sabedoria espantosa de
Deus, este ato extremo de rebelião e pecado foi de fato o próprio ato
que também os uniu na salvação — pois por meio da morte de
Jesus, a barreira entre os judeus e as nações é derrubada, e ambos
são reconciliados “em um só corpo com Deus, por intermédio da
cruz”.179
Assim, quando Jesus convoca os discípulos a ir e “fazer
discípulos de todas as nações”, trata-se de um momento culminante
na história da salvação. O Messias veio, morreu e ressuscitou para
ser o Salvador e o Rei não apenas de Israel, mas de todas as
nações — de todas as tribos, clãs e culturas de toda a terra. Ele
está enviando seus “aprendizes” (aqueles que voltaram para ele e
foram perdoados, e se dedicaram inteiramente a aprender seus
caminhos) para fazer outros aprendizes que façam o mesmo.
Em outras palavras, a “comunidade de aprendizes” que Jesus
está edificando agora funciona como o sacerdócio real que Israel
sempre foi destinado a ser. Somos chamados a fim de proclamar:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”.180
O onde fazer discípulos de Cristo deve ser, portanto, não apenas
dentro da comunidade de seu povo, mas em todos os cantos das
trevas em que as pessoas estão presas em rebelião contra o
Senhor Cristo ressuscitado — todas as ruas, todos os bairros, todas
as comunidades, todos os povos, toda subcultura, toda nação. O
lugar de fazer discípulos é em todo lugar, desde a mesa de jantar da
família até os proverbiais campos missionários da África mais
profundos e escuros (um lugar, aliás, onde é atualmente mais
provável encontrar um “aprendiz” de Jesus do que nos subúrbios de
classe média do Ocidente “cristão”).
Há uma ironia em tudo isso, para as várias igrejas e cristãos no
Ocidente que veem “fazer discípulos” ou “missões” como algo que
ocorre em algum outro lugar, no exterior, entre “as nações”. A ironia,
claro, é que nós somos as nações. Nós, ocidentais pagãos não-
judeus, somos as mesmas pessoas que os primeiros discípulos
foram enviados para discipular. Nós somos o povo “distante”, que de
acordo com Paulo em Efésios são “estranhos às alianças da
promessa, não tendo esperança e sem Deus no mundo”.181 E o
simpático casal vizinho, que nos cumprimenta e recolhe nossas
correspondências quando estamos fora — é tão parte das “nações
que vivem nas trevas” quanto nós éramos, e com a mesma
necessidade de ouvir o evangelho de Cristo e ser incorporado no
grande ajuntamento global de aprendizes que Deus está reunindo
em Cristo.
DISCUSSÃO
1) A discussão mais extensa da Bíblia sobre a dinâmica e os
propósitos da igreja se encontra em 1 Coríntios 12–14. Esta se
tornou uma passagem controversa nos últimos 50 anos, por
causa dos debates sobre a natureza do falar em línguas e da
profecia. Sem gastar muito tempo nesses detalhes controversos,
leiam esses três capítulos e anotem o seguinte:
a) Quais são as principais metáforas ou imagens sobre a vida da
igreja?
b) Quais são as principais marcas que devem caracterizar o que
fazemos quando nos reunimos?
c) Em que aspectos somos todos diferentes?
d) Em que aspectos estamos todos buscando a mesma coisa?
e) Como vocês acham que o capítulo 13 se relaciona com os
capítulos 12 e 14? Tentem fazer um resumo de uma frase de
cada capítulo, que explique o argumento básico de toda a
seção.
2) Como vocês pensam que é uma “comunidade de aprendizado” na
prática? Pensem em quantas maneiras diferentes puderem
imaginar — formal e informalmente — para que as pessoas
ajudem outras a “avançar um passo” como parte de sua
comunidade eclesiástica.
3) Como Paulo lidou com o pensamento e o comportamento
etnocêntrico, tribal e egoísta em si mesmo e nas igrejas? Leiam e
reflitam em 1 Coríntios 8–10 e Gálatas 2.
4) Pensem a respeito de cada subcultura ou comunidade com as
quais vocês estão em contato (individualmente ou como igreja):
a) Qual seu sucesso em buscar fazer “aprendizes” de Cristo
nessas comunidades?
b) Se pessoas de algumas dessas comunidades fossem à sua
igreja, o que as ajudaria ou atrapalharia em suas reuniões
atuais?
5) Tentem encontrar algumas estatísticas sobre a composição
étnica, religiosa e socioeconômica da sua região.
a) Qual é a semelhança entre a membresia de sua igreja e a
composição de sua comunidade local?
b) Quais subculturas ou tipos de pessoas são de aproximação
mais difícil para os membros da sua igreja, em sua opinião? Por
que isso é difícil para eles?
c) Pensem em alguns membros da igreja que poderiam ter um
papel especial em alcançar subgrupos de sua comunidade —
não apenas grupos étnicos e religiosos, mas pessoas
associadas por idade, trabalho, deficiência, solidão, necessidade
financeira, interesse cultural ou esportivo, e assim por diante.
(Não se sintam na obrigação de fazer nada com essa
informação ainda; voltaremos a tudo isso nas Fases 3 e 4.)
ADENDO: O LAR COMO UM CONTEXTO PARA FAZER
DISCÍPULOS
Se os discípulos são feitos na vida da igreja e nas nações, onde o
lar se encaixa?
Para muitas igrejas com uma herança reformada, a reunião de
domingo foi entendida como o ajuntamento de famílias cristãs que
“congregaram” toda a semana. Os cultos familiares ou devocionais
foram incorporados ao ritmo normal da vida familiar piedosa. De
fato, que melhor contexto haveria para “aprender Cristo” do que no
dia-a-dia do lar, onde a Bíblia é lida, orações são feitas e o estilo de
vida gracioso do evangelho está visível (ou não) em todos os altos e
baixos da vida familiar?
Conversando com muitos pastores sobre isso, há um consenso
de que esse padrão de discipulado familiar praticamente
desapareceu.
Isso é um desastre não só para as famílias, mas também para a
igreja e para a sua missão no mundo.
O LAR DO NOVO TESTAMENTO
Nas Escrituras, a conexão entre igreja e lar é muito próxima.
O lar era um local comum de reunião dos crentes — como nas
casas de Áquila e Priscila em Éfeso,190 Priscila e Áquila em
Roma191 e Ninfa em Laodiceia.192 Os primeiros capítulos de Atos
apresentam uma figura da igreja local em Jerusalém expressando
sua vida por meio de reuniões públicas no templo e reuniões
menores em casas. Ambos os aspectos foram essenciais para a
vida da igreja.193
Por quase 300 anos, até que Constantino começasse a construir
as primeiras basílicas em todo o Império Romano, os cristãos se
reuniram em casas particulares, não em edifícios de igreja
projetados para o culto público. O lar era ao mesmo tempo uma
comunidade e um local de reunião.
Em um nível, as razões eram pragmáticas e refletiam as
condições socioeconômicas da época. Os primeiros cristãos
precisavam de um espaço para se reunir e as casas familiares
antigas forneciam um “lar” característico para as primeiras
comunidades cristãs.
Mas seu significado vai além do pragmático. O antigo lar (grego:
oikos) estava intimamente relacionado com a igreja (grego:
ekklesia). Não que eles fossem equivalentes — descrentes ainda
eram membros do oikos —, mas a igreja estava inserida na
sociedade por meio de suas casas. Ir à igreja nestes primeiros
séculos era ir à comunhão da família estendida, mas que havia sido
transformada pelo evangelho.
O evangelho transforma a ordem criada, incluindo o casamento, a
família e todas as relações sociais, como parte da nova criação de
Deus em Cristo. O lar cristão é renovado pela Palavra de Deus, de
modo que reflete o amor e a paz de Cristo em seus relacionamentos
interpessoais.
Paulo fala de como é essa renovação na prática, no que se ficou
conhecido como os “códigos do lar”.194 Nestes códigos do lar,
vemos o que significa tudo ser feito “em nome do Senhor Jesus”.195
Como as esposas e maridos se relacionam em Cristo? Como os
pais disciplinam e instruem os filhos no Senhor? E os
relacionamentos que podem existir com servos ou escravos que
trabalham na casa?
No evangelho, onde não há judeu nem grego, homem nem
mulher, escravo nem livre,196 essas relações domésticas não são
destruídas ou abolidas, mas são radicalmente transformadas. As
velhas formas de conflito, raiva, amargura, dominação, aspereza,
crueldade, egoísmo e malícia devem ser mortas, como todas as
outras características carnais de nossa vida anterior; e, em lugar
disso, devemos colocar respeito, submissão, disciplina, honra,
serviço, bondade, justiça, perdão, abnegação e, acima de tudo,
amor, que liga tudo em perfeita união.
O lar era a esfera cotidiana básica em que os discípulos
aprendiam a obedecer a todos os mandamentos de Cristo,
especialmente seu novo mandamento de amar uns aos outros.
E esse novo comportamento orientado pelo evangelho e o amor
sacrificial nos lares não passavam despercebidos. Em Tito 2, o
comportamento piedoso das mulheres mais jovens e dos escravos
testificava do evangelho.197 No lar cristão renovado, as extremas
divisões sociológicas e étnico-religiosas do mundo antigo — entre
judeus e gentios, livres e escravos, homens e mulheres, classes alta
e baixa — foram derrubadas. O lar cristão não era apenas o núcleo
da igreja, mas fornecia um testemunho forte do aprendizado
transformador de Cristo para a comunidade ao redor.
O lar também era o laboratório em que a liderança cristã era
praticada e vista. A liderança pastoral de um homem no lar cristão
era um indicador de suas qualificações para liderar a casa de Deus
(a igreja). Afinal de contas, ao ir à igreja naqueles primeiros séculos,
você entrava na casa de seu pastor/presbítero e podia ver em
primeira mão se ele gostava muito de álcool, se tinha mão pesada
com sua família, ou se seus filhos estavam fora de controle.
O próprio fato de que bispos, presbíteros e diáconos deviam ser
apontados com base em seu exemplo, liderança e ensino na vida
familiar é um forte indicativo de que cada lar deveria ser conduzido à
semelhança de Cristo pela graça do evangelho.198 Quando os pais
(em particular) são exortados a não provocar seus filhos à ira, mas
criá-los no conhecimento do Senhor, eles não estão apenas
seguindo o padrão israelita de ensinar às crianças a Palavra de
Deus,199 mas também reforçando o padrão básico de discipulado na
igreja — de instrução paciente e amorosa na Palavra de Deus.
CONCLUSÃO
Como fazemos discípulos no lar? Por meio dos mesmos quatro Ps,
como na igreja e no mundo. Se pensarmos em nossos lares como
“pequenas igrejas” e as guiarmos desta maneira, diminuímos muito
nossa chance de erro.
O puritano Richard Baxter é conhecido por sua missão de
catequizar famílias e recrutar os líderes dos lares como
cooperadores no ministério:
Devemos ter um olhar especial sobre as famílias, para que elas
estejam bem ordenadas, e os deveres de cada relação
desempenhados. […] Se formos negligentes nisso, colocaremos tudo a
perder. O que faremos para reformar uma congregação, se todo o
trabalho for lançado apenas sobre nós, e se os chefes das famílias
negligenciam esse dever necessário, pelo qual eles são obrigados a
nos ajudar? Se algum bem for iniciado pelo ministério em qualquer
alma, uma família mundana, descuidada e sem oração provavelmente
irá sufocá-lo ou impedi-lo; ao passo que, se ao menos conseguisse
fazer com que os governantes das famílias cumprissem seus deveres,
assumissem o trabalho onde você o deixou e o ajudassem, quanto
bem poderia ser feito! Suplico-lhe, portanto, que, se desejar a reforma
e o bem-estar de seu povo, faça tudo o que puder para promover a
religião familiar […] Obtenha informações sobre como cada família é
ordenada, para saber como prosseguir em seus esforços para o bem
deles. […]
Você provavelmente não verá qualquer reforma geral, até que obtenha
a reforma da família. Alguma pequena religião pode haver, aqui e ali;
mas enquanto estiver confinada a indivíduos, e não for promovida em
famílias, não prosperará, nem prometerá muito aumento futuro.200
Em termos práticos, isso significa que, ao pensar sobre como
vamos ensinar, motivar, apoiar e preparar todo o nosso pessoal para
serem aprendizes de Cristo que ajudem os outros a aprenderem
Cristo, não devemos excluir a casa como um local-chave para que
isso aconteça. Não devemos limitar nosso pensamento às
atividades da igreja e grupos de jovens, por um lado, e atividades
evangelísticas, por outro. O lar é como um elo onde a igreja e o
mundo se encontram. É tanto um local onde um frutífero “ministério
dos 4Ps” pode acontecer — entre maridos e esposas, pais e filhos,
e a família estendida — quanto um pequeno bolsão do reino de
Cristo, testemunhando às ruas e bairros do efeito transformador do
evangelho.
É claro que, como qualquer aspecto de nossas vidas e igrejas,
nossos lares estão longe de ser perfeitos. De fato, para alguns de
nós, ver nossa família reformada pelo evangelho parece uma
esperança perdida. Nossa mais profunda tristeza é que alguns
membros da nossa família estão perdidos na escuridão sem Cristo.
“Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como
sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”201 É exatamente isso:
não sabemos, mesmo quando edificamos nossa vida familiar no
evangelho. Para muitos de nós, o evangelho dividiu nossas famílias
como Jesus disse que aconteceria.202 Sofremos muito com isso,
nos culpamos por “errar” de alguma forma, e imploramos pela
misericórdia de Deus em nosso lar fragmentado.
Mas a verdade permanece: se queremos uma cultura da igreja de
aprendizado transformador, nossos lares precisam refletir essa
visão, e nossas famílias precisam ser ensinadas, encorajadas e
preparadas para abraçá-la. A conexão entre fazer discípulos em
casa e na igreja é muito próxima. Uma alimentará a outra.
DISCUSSÃO
1) Que ambições para nossos filhos às vezes estão em desacordo
com o propósito do discipulado?
2) Como serão nossos lares se eles forem comunidades de
aprendizado transformador sobre o evangelho?
3) Como essa imagem se compara ao que eles são agora?
4) Como os programas de nossa igreja podem desenvolver o
aprendizado no lar, em vez de substituí-lo?
5) Como vocês acham que o ensino da Bíblia sobre o lar se aplica
ao fenômeno cada vez mais comum de pessoas solteiras que
compartilham uma casa?
6) Por que muitas vezes nos vemos mais envolvidos no discipulado
fora de casa do que dentro dela?
7) Como a nossa igreja poderia preparar os pais para fazerem seus
lares crescerem como comunidades discipuladoras? Quais são
os obstáculos para que isso seja alcançado?
8) Que hábitos regulares de leitura da Bíblia, oração e comunhão
vocês precisam reafirmar?
Bonhoeffer, Life Together, p. 11-12.
Mt 28.18-19.
Talvez possamos nos solidarizar com a lentidão dos discípulos, porque em algumas etapas
de seu ministério no evangelho de Mateus, Jesus envia os discípulos exclusivamente às
“ovelhas perdidas da casa de Israel” (10.6). Mas essas ovelhas perdidas rejeitam
continuamente seu Messias e sofrem o juízo (12.39ss), e em seu lugar as nações são
convidadas a participar do reino (por exemplo, 15.21-28). Em muitos lugares, Mateus
antecipa que as pessoas de outras nações devem ser incluídas no reino (4.15-16; 8.5-13;
10.18; 13.38; 24.14). Esse movimento — dos discípulos enviados a Israel, da rejeição de
Israel e da inclusão de todas as nações — é, em si mesmo, uma figura em miniatura do
todo da história da salvação.
Gn 12.1-3; 17.1-8; 22.15-18.
Êxodo 19.1-6 deixa claro que a razão pela qual Deus havia redimido Israel do Egito para
ser sua própria possessão preciosa era para que eles fossem um “reino de sacerdotes”
(isto é, para mediar Deus às nações).
Is 49.6.
Mt 12.20-21.
Mt 20.18-19.
At 2.23.
Ef 6.12; veja a seção estendida na Convicção 1 sobre isso.
Ef 2.14-18.
1Pe 2.9.
Ef 2.12-13.
Lc 24.47.
At1.8.
At 10.28.
At 11.18.
At 15.9.
1Co 9.22-23.
Há uma questão substancial à espreita aqui que só podemos mencionar; a saber, o debate
entre aqueles que dizem que a igreja deve sair em missão para as culturas e
comunidades ao nosso redor (a abordagem “missional”); e aqueles que tentam criar
reuniões da igreja que sejam atraentes para pessoas de fora (a igreja “atrativa”). Nós não
pensamos que seja necessário escolher entre uma das alternativas! As igrejas devem
sempre encontrar maneiras de sair para as comunidades vizinhas com o evangelho (em
vez de esperar que elas venham até nós); mas devemos também conduzir nossas
reuniões da igreja de tal maneira que, se e quando pessoas de fora se juntarem a nós,
tenham uma experiência acolhedora, acessível e inteligível, que os aponte para o Cristo
e o evangelho. Dito de outro modo: mesmo que a igreja seja a reunião dos salvos, por
ser uma comunidade moldada pelo evangelho, sempre terá um coração aberto aos
perdidos, tanto para sair para o mundo quanto para acolher curiosos e forasteiros em
nossas reuniões. Vamos falar muito mais sobre tudo isso na Fase 4.
Ap 7.10.
1Co 16.19.
Rm 16.3-5.
Cl 4.15.
At 2.46; 5.42; 8.3; 20.20.
As duas principais passagens são Colossenses 3.18-4.1 e Efésios 5.22-6.9, mas veja
também Tito 2.1-10 e 1 Pedro 2.13-3.7.
Cl 3.17.
Gl 3.28.
No primeiro caso, porque a Palavra de Deus não era “difamada” (v. 5); no outro, por ornar a
“doutrina de Deus, nosso Salvador” (v. 10).
1Tm 3.1-13; Tt 1.1-9.
Ef 6.1-4; cf. Dt 6.1-9.
Richard Baxter, The Reformed Pastor, 100-102 [edição em português: Manual pastoral de
discipulado, 2ª ed. (São Paulo: Cultura Cristã, 2015)].
1Co 7.16.
Mt 10.34-39.
Resumo
Antes de começarmos a aplicar as convicções recentemente aprofundadas às nossas próprias vidas
e a toda a cultura de nossa igreja, precisamos fazer uma breve pausa para consolidação e resumo.
Vamos relembrar os pontos principais das cinco convicções e resumi-las esquematicamente à
medida que avançamos.
CONVICÇÃO 1: POR QUE FAZER DISCÍPULOS?
Esta é a razão pela qual queremos fazer mais e mais discípulos de Jesus Cristo: porque o objetivo
de Deus para todo o mundo e toda a história humana é glorificar seu Filho amado no meio das
pessoas que ele resgatou e transformou.
Deus está agora executando esse plano, resgatando pessoas desse “mundo tenebroso” para o
reino de seu Filho por sua morte e ressurreição — pessoas que estão sendo transformadas para
serem como Jesus, e que agora têm um lugar seguro e certo junto ao trono de Cristo em uma nova
criação na qual o mal e a morte não mais existem.
Esta é o panorama que explica por que fazer mais discípulos é uma tarefa tão importante e tão
urgente.
Podemos representar desta maneira:
SOBRE A FASE 3
Esta fase é uma consequência das duas anteriores:
• Na Fase 1, vocês investiram tempo para esclarecer suas
convicções sobre o “aprendizado” e sobre fazer discípulos.
Vocês chegaram a uma opinião comum sobre os propósitos,
verdades e valores que todo ministério deve refletir.
• Na Fase 2, vocês aprofundaram e abraçaram sua compreensão
dessas convicções, vivendo e servindo de modelo delas,
reformando sua cultura pessoal em função deles. Vocês
começaram (ou continuaram) a experimentar como essas
convicções acontecem na prática.
Agora, na Fase 3, vocês usarão essas convicções para pesar o
estado atual das coisas em seu grupo, comunidade ou igreja. E para
ser eficaz, essa avaliação precisará olhar a vida da igreja de vários
ângulos.
Por exemplo, precisaremos falar sobre pessoas. Se nossas
convicções dizem que o ministério cristão tem a ver com conduzir
cada pessoa a “avançar um passo”, então, para ter uma ideia de
onde estamos, precisaremos pensar onde todo o nosso pessoal
está nessa jornada. Precisamos pensar se a visão de “fazer
aprendizes de todas as nações” é compreendida por nosso pessoal
(ou por muitos deles). Teremos que considerar como cada pessoa
em nossa comunidade pode avançar — o que eles precisam
“aprender” em seguida para se tornarem como Jesus?
Também precisaremos avaliar todas as diferentes atividades de
ministério que acontecem semanalmente; ou, dito de outra forma, as
várias “treliças” que temos para facilitar e aperfeiçoar o “trabalho da
videira” de fazer cada pessoa avançar por meio da Palavra e da
oração.
Isso incluirá a avaliação de todos os aspectos de nossas reuniões
dominicais, porque (como observamos na Fase 1, Convicção 4) o
domingo é o horário nobre do discipulado. É o momento de
referência para fazer aprendizes de Cristo por meio da proclamação
da Palavra de Deus em oração. Ele dá o tom e ensina e reforça
nossas convicções. Mais do que qualquer outra atividade individual,
o culto regular de domingo forma e molda a cultura de toda a sua
vida congregacional. É seu batimento cardíaco. Se o domingo não
está “alinhado” com suas convicções — se não está ensinando,
exemplificando e reforçando o que vocês essencialmente creem
sobre o ministério — então há pouca chance de que haja mudança
cultural significativa.
O objetivo é ter uma visão clara e realista de suas atividades,
estruturas, eventos e programas:
• Quais estão funcionando bem (ou seja, estão bem alinhados
com suas convicções), e devem ser defendidos e aprimorados?
• Quais têm potencial real, mediante algum trabalho?
• Quais atualmente não encarnam suas convicções e não
parecem ter muito potencial de mudança?
• Onde estão as lacunas: aquelas áreas nas quais vocês não
estão fazendo muito e novos programas, estruturas ou
atividades podem ser necessários?
O objetivo desta fase é descoberta, compreensão e clareza. Não
é gerar novas ideias ou soluções (este é o nosso próximo trabalho,
na Fase 4). É muito fácil, no meio da avaliação, pular direto ao que
deveríamos fazer a respeito. Tentem resistir a essa tentação! Pode
ser útil ter um arquivo de ideias ou um “estacionamento” para
sugestões e novas ideias que surjam durante a fase de avaliação —
algum lugar para anotar a ideia ou solução sugerida, para que vocês
possam voltar a ela na Fase 4.
Como na maioria dos aspectos do Projeto Videira, os exercícios
de avaliação sugeridos abaixo são mais como um cardápio para
escolher uma comida do que um currículo que precisa ser seguido.
Por favor, sintam-se à vontade para modificá-los como melhor
atender às suas circunstâncias e ao tempo que você tem disponível.
Tendo dito isso, nós recomendamos fortemente que você faça
alguma versão dos exercícios 1–4 como um mínimo antes de
resumir suas descobertas e passar para a Fase 4.
Mais duas dicas antes de começar:
• Façam uma gravação de áudio ou vídeo de todo o culto/reunião
dominical da sua igreja. Vocês farão uso disso em uma das
avaliações abaixo. Organize-o agora para que possam fazer
essa avaliação quando estiverem prontos.
• Se vocês estão no processo de plantação de igreja, então não
terão que gastar tanto tempo nesta fase (já que estão tentando
estabelecer uma nova cultura em vez de mudar uma existente).
No entanto, sugerimos fazer, pelo menos, os Exercícios 2 e 4.
EXERCÍCIO DE AVALIAÇÃO 1: PREPARANDO SEUS
CORAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO
Antes de começarmos os pormenores da avaliação, precisamos
colocar nossos corações e mentes no lugar certo e falar
abertamente sobre as armadilhas desse tipo de exercício.
1) Comecem estudando as passagens a seguir e anotando qualquer
coisa que aprenderem sobre:
a) Nossas atitudes e motivações do coração ao conversarmos
juntos (tanto as motivações corretas como as que devemos
evitar);
b) Como deveríamos realmente falar uns com os outros, isto é, o
conteúdo do que deveríamos dizer e a maneira como
deveríamos dizê-lo (mais uma vez, tanto o que devemos fazer
quanto o que não devemos);
c) As consequências dos vários tipos de fala:
Efésios 4.25-5.2
Colossenses 3.12-17
Provérbios 15.1-2
Provérbios 15.4
Provérbios 27.5-6
2) Com essas ideias bíblicas em mente, a quais dos seguintes
“pecados de avaliação” você acha que pode ser mais suscetível?
Fale sobre um (ou dois) que você acha mais arriscado, além de
qualquer pensamento que você tenha sobre como evitar essa
armadilha:
a) Ser excessivamente pessimista ou negativo sobre
determinados ministérios ou pessoas;
b) Ser fantasiosamente otimista ou positivo sobre determinados
ministérios ou pessoas;
c) “Marcar pontos” ou fazer palpites (por exemplo: “eu sempre
disse que o Ministério X não funcionaria, mas ninguém me
escutou”);
d) Ter alguma satisfação pessoal em apontar as deficiências ou
falhas dos outros;
e) Ficar defensivo ou ressentido com qualquer crítica percebida
aos ministérios e atividades nos quais você está envolvido;
f) Querer evitar tensões e conflitos a todo custo, e por isso não
estar disposto a expressar algo negativo ou uma crítica;
g) Perder-se em detalhes (por exemplo, em todas as razões
administrativas pelas quais o evento de Natal do ano passado
foi um desastre);
h) Falar apenas de maneira genérica e não estar disposto a
discutir exemplos concretos e específicos;
i) Outros: ______________
3) Tentem chegar a um resumo de uma frase (como um lema) que
será seu guia ao falar sobre como as coisas estão indo na igreja.
Talvez algo nesta direção:
Ao fazermos essa avaliação, em todas as nossas discussões em
conjunto, buscaremos ser motivados por ___________ em vez de
___________, falar de uma maneira ___________, evitar
___________ e orar para que o resultado seja ___________.
RESUMO E CONCLUSÃO
Pensem nos vários exercícios de avaliação que vocês fizeram.
1) Como vocês caracterizariam ou resumiriam a cultura de sua
igreja? Tentem chegar a apenas uma ou duas palavras que
melhor capturem o tipo de igreja que vocês são. Não precisa ser
com “C”, mas aqui estão alguns exemplos:
• Igreja confusa (não brigamos um com o outro, mas não temos
uma noção clara de quem somos e do que estamos tentando
fazer);
• Igreja conflituosa (existem filosofias de ministérios concorrentes
que disputam proeminência);
• Igreja confortável (sabemos quem somos, gostamos desse jeito
e ficamos felizes em continuar assim);
• Igreja congestionada (muitas pessoas comprometidas fazendo
muitas coisas, mas não vendo muitas pessoas se convertendo
ou crescendo);
• Igreja cética (estamos um pouco cansados e desconfiados de
novos programas e modas);
• Igreja consumidora (nossa cultura é construída em função de
proporcionar uma experiência espiritual agradável para aqueles
que chegam);
• Igreja carinhosa (há um caloroso senso pessoal de cuidado um
pelo outro, mas não muitos “passos adiante”);
2) Analisem suas avaliações e tentem apontar três destaques para
cada um dos itens a seguir:
a) Quais são as três áreas ou ministérios dentro de sua igreja que
têm mais potencial (isto é, investindo nelas, seria mais provável
gerar mudanças para toda a cultura da igreja)?
b) Se fosse necessário reduzir ou encerrar três atividades,
ministérios ou programas, quais seriam?
c) Quais são os três principais obstáculos ou bloqueios em
potencial que têm mais chance de se colocar no caminho?
d) Quais são as três principais coisas que vocês gostariam de
melhorar em suas reuniões de domingo?
Fase 4 | Inovar e Implementar
Introdução
Talvez você estivesse impaciente para chegar a essa fase do
processo, em que você realmente faz alguns planos e os põe em
prática. Esperamos e confiamos que o trabalho vital que você
realizou nas três primeiras fases agora dará frutos em alguns planos
concretos de mudança. Até agora, nós:
• Esclarecemos as principais convicções que queremos que
impulsionem toda a cultura de nossa igreja (Fase 1);
• Procuramos viver e respirar essas convicções na “cultura
pessoal” de nossas próprias vidas (Fase 2);
• Avaliamos nossa atual cultura ministerial e procuramos entender
exatamente onde ela se alinha ou não com as nossas
convicções (Fase 3).
Agora chegamos ao que não receamos admitir ser a fase mais
difícil e desafiadora do processo.
Para nós, certamente foi a mais difícil de escrever. Foi um desafio
decidir o que incluir e o que deixar de fora — há tanta coisa que
poderíamos dizer sob cada seção. Também tivemos que trabalhar
duro para tornar nossas sugestões e conselhos gerais o suficiente
para serem amplamente utilizáveis e aplicáveis em diversos
contextos ministeriais, mas também suficientemente específicos
para serem úteis para ajudá-lo a planejar uma mudança
significativa.
Esperamos ter alcançado o equilíbrio certo e pedimos perdão
antecipadamente onde não conseguimos. Nosso objetivo é dar uma
ideia de como na prática uma comunidade de aprendizado
transformador pode ser em todas as suas diferentes facetas — um
gosto ou senso das possibilidades tão diversas que existem para
mudar a forma como a sua igreja pensa, fala e age, de tal forma que
uma nova cultura se desenvolve ao longo do tempo.
Também suspeitamos fortemente que esta será a fase mais difícil
de trabalhar para a sua equipe do Projeto Videira, por pelo menos
quatro razões.
Em primeiro lugar, esta é a fase em que vocês inevitavelmente
irão incomodar algumas pessoas, porque esta é a fase em que você
começa a realmente mudar coisas — onde você inicia novas coisas,
ajusta as existentes e deixa de fazer outras. Não importa o cuidado,
sensibilidade, amor e consideração com que vocês administrem
isso, algumas pessoas terão sentimentos negativos. É uma parte
inescapável da nossa natureza humana caída. Quando você
começa algo novo, algumas pessoas ficam desconfiadas,
resistentes ou céticas. Quando você ajusta ou atualiza algo que já
existe, algumas pessoas vão reclamar que preferiam do jeito que
era (que é como se faz há anos). E quando você para de fazer algo,
algumas pessoas que estavam particularmente envolvidas nesse
ministério sofrerão seu fim.
Isso, obviamente, não é razão para desistir do processo de
mudança. Afinal, se vocês deixassem as coisas exatamente como
eram, um grupo diferente de pessoas reclamaria que nada muda e
que não estamos indo a lugar algum. Mas é uma razão para
planejar cuidadosamente, de modo a minimizar a desordem e
decepção onde for possível, para trabalhar duro em trazer todos
juntos com vocês enquanto fazem as mudanças, e para orar muito
para que Deus derrame seu amor no coração de seu povo, para que
estejam mais preocupados com os outros do que consigo mesmos.
(A propósito, vale a pena fazer um esforço especial para trazer
alguns de seus críticos construtivos para dentro do grupo. Não é a
coisa mais agradável do mundo, mas uma oposição leal é um
grande trunfo para se ter pensamento aguçado, planos viáveis e,
com o tempo, uma ampla adesão.)
Em segundo lugar, esta fase será difícil porque igrejas são
complexas. Planejar como fazer para que todas as diferentes partes
da “máquina” da igreja trabalhem juntas na direção de fazer
discípulos é complicado; parece que há tantas partes móveis! E
quando adicionamos a isso o fato de que cada uma dessas partes é
um ser humano complexo, confuso, imprevisível e pecador
(incluindo nós, que estamos fazendo o planejamento), então o
processo se torna ainda mais desafiador. Isso exigirá quantidades
divinamente ministradas de persistência e consideração para
elaborar um plano que dê conta da entidade complexa que é a sua
igreja. Ele precisará de reservas divinamente ministradas de
persistência, tolerância e bondade para tratar todos os membros de
sua comunidade como pessoas preciosas e não apenas peões em
seus grandes planos. E vocês precisarão continuar confiando
firmemente em Deus — que ele usará os planos e esforços
vacilantes e imperfeitos das pessoas, até mesmo de pessoas
pecaminosas como nós, para trabalhar seus propósitos
surpreendentes.
Em terceiro lugar, esta fase será complicada porque o seu
contexto e situação irão moldar significativamente os seus planos.
Estamos escrevendo em um contexto socioeconômico razoável,
portanto nossos exemplos e histórias tendem a supor instalações
adequadas de igrejas em sociedades relativamente pacíficas, com
condições econômicas que permitem que pastores e equipes
recebam salários apropriados e executem planos estratégicos. Mas
sabemos, por falar com os leitores de A treliça e a videira, que
alguns ministram na floresta amazônica, em favelas grandes
cidades ou nas cidades da Europa Oriental, e em muitos outros
lugares. Acreditamos que as convicções bíblicas da Fase 1 e a
preparação das Fases 2 e 3 são aplicáveis em todos os lugares,
mas esta próxima fase de elaboração e implementação de planos
será muito moldada pelo seu contexto.
A quarta razão pela qual esta fase será difícil é porque a
execução é sempre difícil. Um corpo significativo de literatura sobre
gestão tem sido construído em torno deste fenômeno muito comum
no planejamento estratégico. A maioria das organizações (sejam
empresas, escolas ou igrejas) considera perfeitamente possível
montar um plano estratégico sensato e coerente para fazer
progressos em seus objetivos. Mas segui-lo ao longo do tempo e
colocá-lo de fato em prática? Isso é muito mais difícil.216 É por isso
que tantos documentos de planejamento estratégico estão
acumulando poeira nas gavetas ao redor do mundo.
Isso é algo para se estar antecipadamente ciente e para levar em
consideração em seu planejamento. Não pensem em planos tão
grandes, ambiciosos e elevados, ou estarão se preparando para um
fracasso rápido na execução. Reconheçam que, como em toda
reforma de casa, transformar planos em realidade leva mais tempo,
custa mais e é mais cheio de tropeços e obstáculos do que
imaginavam (É por isso que há uma Fase 5 em nosso processo
sugerido — é importante planejar como lidar com obstáculos e
fracassos inevitáveis e manter o ritmo).
Bem, se você ainda está disposto a continuar, vamos mergulhar.
Se você quer ver mudanças culturais significativas ao longo do
tempo em sua igreja ou ministério, precisará gerar e implementar
planos significativos em pelo menos quatro áreas principais:
1) Sua reunião principal (na maioria das igrejas, será o culto
dominical) — para que funcione melhor como a referência da
cultura que vocês desejam criar;
2) O resto da vida da sua igreja (todos os seus programas,
ministérios, grupos e atividades, incluindo a vida familiar de
cada membro) — para que eles forneçam caminhos claros e
eficazes para “fazer as pessoas avançarem”.
3) Seus planos de crescimento em longo prazo — para que vocês
se antecipem e se preparem para o crescimento que (se Deus
quiser) seus planos produzirão.
4) Sua comunicação e linguagem comum — para que uma nova
maneira de pensar e falar sobre discipulado e ministério se
torne normal em sua comunidade.
Nesta fase do Projeto Videira, vocês elaborarão um plano
estratégico para cada uma dessas quatro principais áreas. Depois
de trabalhar nelas, poderão decidir que outros planos são
necessários e que não estão incluídos em nosso processo.217 Não
há problema algum nisso, mas essas quatro áreas são as primeiras
por onde começar.
Também é preciso reconhecer que essas quatro áreas principais
se sobrepõem e se interconectam. Por exemplo, o domingo servirá
como um ponto de encontro e uma fonte de vitalidade e direção
espiritual para todos os ministérios, grupos, atividades e programas
em toda a vida da igreja. A comunicação e a linguagem comum
serão tão importantes nos pequenos grupos e outros ministérios
quanto no domingo. E os planos de crescimento de longo prazo se
relacionam com o domingo, com outros ministérios e com a
comunicação.
Isto significa que provavelmente não importa muito em que ordem
as quatro áreas serão trabalhadas, porque vocês terão que trabalhar
com todas as quatro e depois voltar e passar por elas novamente —
para ver onde seus vários planos estão se sobrepondo ou estão em
conflito, para considerar quais áreas e ações vocês desejam
priorizar, e assim por diante. (Mas note: há alguma lógica óbvia em
pensar sobre linguagem e comunicação depois de ter estabelecido
sua visão, planos e prioridades nas outras áreas de foco.)
Em cada uma das quatro áreas, apresentaremos um espectro de
ideias e sugestões que mostram como suas convicções (Fase 1)
podem ser expressas, incorporadas e reforçadas para criar uma
nova cultura na igreja. Em cada caso, o processo será pensar sobre
suas circunstâncias atuais (a partir da avaliação na Fase 3), e
elaborar um plano estratégico simples para gerar mudanças em
cada área, incluindo:
• Um pequeno conjunto de estratégias ou prioridades claramente
articuladas;
• Algumas metas simples, mensuráveis e realistas para essas
prioridades;
• Um conjunto de ações para começar a seguir rumo a esses
objetivos (incluindo quem vai fazer, quando, com que
recursos/custo).
Vamos colocar a mão na massa.
Para um bom resumo, ver Lawrence G. Hrebiniak, “Execution is the key” in Making strategy
work: Leading effective execution and change (Upper Saddle River: Wharton School
Publishing/Pearson Education lnc., 2005), 1–29). Disponível on-line (em inglês) em
http://www.informit.com/articles/article.aspx?p=360437 (acessado em 21 ago. 2019).
Por exemplo, falamos brevemente sobre o lar na Área de Foco 2, mas você pode querer
torná-la uma área de foco separada.
Área de foco 1: tornar o domingo uma
referência
Se vamos gerar mudança em “toda a maneira como fazemos as
coisas por aqui”, então precisamos pensar em nossa principal
reunião semanal — por duas razões óbvias.
A primeira é que nossos cultos ou reuniões principais da igreja
são ocasiões de destaque para aprender Cristo. Tocamos neste
ponto já na Fase 1 (Convicção 4) — nossas reuniões dominicais não
podem ser excluídas do “onde” fazer aprendizes de Cristo, como
frequentemente parece ocorrer na vida da igreja. De fato, longe de
serem excluídas, as ocasiões em que toda a congregação se reúne
são os momentos primários e essenciais em que o povo de Deus é
edificado em seu aprendizado de Cristo por meio da Palavra e do
Espírito de Deus.218 O que quer que aconteça no domingo, ou
qualquer coisa que esperamos alcançar ou fazer no domingo, se
não estamos vendo o “aprendizado transformador” ocorrendo por
meio do falar e ensinar da Bíblia em oração, então algo está errado
em algum lugar.
A segunda razão pela qual temos que pensar cuidadosamente
sobre o domingo é que ele define o tom e a direção de tudo o que
fazemos como comunidade na igreja. O domingo é o ponto de
encontro, a referência, o coração — ou qualquer outra metáfora que
você queira usar para descrever esse evento regular que constitui,
define e une uma comunidade de pessoas. O domingo é onde nós
somos mais “nós” como igreja — onde nosso caráter, propósito e
“cultura” como congregação são mais claramente expressos. É onde
comunicamos com mais frequência e com mais clareza aquilo que
pretendemos. Se quisermos que toda a cultura da igreja mude da
maneira como temos discutido, então o domingo também deve
mudar. A “maneira como fazemos as coisas” no domingo tem que
ensinar, expressar, reforçar e incorporar as convicções que temos
sobre fazer discípulos.
Isso pode soar duro, mas se nossas reuniões de domingo não
incorporarem nossas convicções (se expressarem uma cultura
diferente, baseada em diferentes convicções subjacentes), e se não
fizermos nada para resolver isso (talvez por parecer muito difícil),
realisticamente podemos desistir de fazer qualquer progresso
significativo na mudança de cultura em nossa congregação.
Introduzir uma nova ênfase no “aprendizado transformador de
Cristo” ou em “avançar um passo”, mas não fazer nada para
expressar, ensinar e representar isso no domingo, acabará como o
experimento mental que fizemos no início em “Mudando a cultura”
— de tentar inserir a teologia evangélica em uma cultura anglo-
católica sem mudar nada no modo como o culto dominical era
realizado. O fracasso é quase certo.
Se quisermos progredir de verdade, nossas reuniões dominicais
devem ser momentos nos quais o “aprendizado transformador” se
dá por meio da Palavra de Deus e da oração, e o lugar onde toda a
cultura que queremos promover é exemplificada, expressa,
defendida e propagada. Queremos que nossas reuniões dominicais
sejam momentos nos quais as pessoas experimentam nossas
convicções pela maneira que tudo é dito e feito, e pela maneira que
os membros as vivenciam e respiram. Queremos que um visitante
atencioso venha à igreja por algumas semanas e seja capaz de
dizer: “Eu entendo exatamente do que essas pessoas estão
tratando” — com suas percepções combinando com nossas
convicções.
Agora, este é um dos pontos deste livro em que as tradições e
culturas existentes de nossos leitores serão mais diversificadas.
Conversando sobre “treliça e videira” com muitos pastores nos
últimos seis anos, encontramos grande concordância sobre nossas
convicções evangélicas sobre ministério e discipulado entre os
batistas reformados e os batistas não-reformados, entre gente de
igrejas congregacionais, tradicionais presbiterianas, bíblicas
independentes, anglicanas ou episcopais, carismáticas reformadas
e muito mais.
Mas, curiosamente, apesar de um alto nível de concordância
entre essas tantas e diversas igrejas, quando se trata da maneira
como “fazemos” o domingo, há uma enorme variedade de práticas e
estilos. Cada um de nós tem uma linguagem, uma ordem na qual
fazemos as coisas, um conjunto de rituais e tradições, um estilo
musical, um código de vestimenta, um clima. Em alguns casos, essa
cultura dominical só foi estabelecida nos últimos dez ou quinze
anos; em outros casos, remonta há séculos. Mas, em quase todos
os casos, para a maioria de nós e para a congregação, parece que
sempre foi assim.
Gostaríamos de sugerir que, seja a sua cultura dominical algo
mais formal e com as formas litúrgicas clássicas da Reforma, seja
ela com um clima mais moderno e evangélico mais informal, há
muita coisa que você pode fazer para fazer a cultura da reunião
dominical avançar — para torná-la uma referência do aprendizado
transformador. Conforme apresentamos uma série de sugestões e
ideias para fazer isso (a seguir), confiamos que você saberá fazer a
“tradução cultural” para aplicá-las à sua própria situação.
Também confiamos que as ideias que reunimos serão tratadas
como sabedoria e não como lei. Queremos estimular o seu
pensamento e dar a você o benefício de nossos mais de sessenta
anos somados de pensamento, aprendizado e experiência na
tentativa de construir culturas de discipulado. Mas estamos bastante
conscientes do quanto ainda temos que aprender com os outros,
quão limitada é a nossa compreensão humana finita das
complexidades da vida e do ministério, e como Deus
maravilhosamente concede dons a outras pessoas (incluindo
aquelas na sua equipe do Projeto Videira).
O plano para esta primeira área de foco é olhar para cada estágio
amplo de pessoas avançando como aprendizes de Cristo (Envolver,
Evangelizar, Estabelecer, Equipar),219 e pensar em como os
domingos poderiam facilitar esse movimento e servir de modelo de
todo o processo para a congregação. Trataremos de:
1) Envolver-se com descrentes no domingo
2) Evangelizar no domingo
3) Estabelecer no domingo
4) Equipar no domingo
5) Equipar para o domingo
6) Histórias sobre o domingo
Depois, passaremos algum tempo planejando como tornar o
domingo uma referência.
1) ENVOLVER-SE COM DESCRENTES NO DOMINGO
Como é a experiência para alguém totalmente de fora da igreja
comparecer às suas reuniões de domingo? Estamos falando de um
não-cristão que foi convidado por um de seus membros, ou que
simplesmente acaba de entrar — alguém no extremo inicial do
nosso espectro de “avanço”, que sabe pouquíssimo sobre Cristo,
igreja ou cristianismo.
Seu culto de domingo os envolve? É compreensível e acessível
para eles? Eles se sentem bem-vindos e considerados?
É bem possível “fazer” a igreja de uma maneira aberta,
acolhedora e acessível ao de fora, sem alterar os propósitos e
atividades básicos de nossa reunião, empobrecer o nível do
conteúdo ou reduzir o número de atividades espirituais importantes
com as quais pessoas de fora talvez não estejam familiarizadas
(como a oração).
Ao dizer isso, não pretendemos nos aventurar no mundo da
“igreja seeker-sensitive”220 — isto é, uma reunião dominical como a
que foi muito popular nos anos 80 e 90, em que todo o culto é
construído em função de ser interessante ao visitante não-cristão,
com um ambiente acolhedor e atraente, uma mensagem prática,
levemente bíblica e um convite para descobrir mais.221 Estamos
simplesmente sugerindo que podemos “fazer” igreja de uma
maneira que não seja incompreensível e embaraçosa para quem é
de fora.
É como receber um convidado em sua casa para o jantar de
Natal. Isso geralmente acontece em nossa parte do mundo. Se há
alguém na igreja que não tem família com quem compartilhar o
Natal, você o convida a se juntar à sua família para passar o Natal.
Ao fazer isso, porém, você não muda quem vocês são ou o que sua
família faz de nenhuma maneira significativa. Mas se certifica de
que seu convidado está sendo cuidado. Você o recebe
calorosamente e o apresenta a todos. Você explica o que está
acontecendo em diferentes momentos: por que o tio Fred sempre
tem de se sentar naquela cadeira, qual é o histórico de seus jogos
ou rituais familiares, como jogar e assim por diante. Você se dispõe
para fazer com que seu hóspede se sinta em casa e parte da
família, mesmo que não seja a casa ou a família dele.
Assim também na igreja — pessoas de fora não fazem parte da
nossa família da igreja. Não deixamos de ser quem somos, ou de
buscar os propósitos de Deus, apenas porque temos convidados
presentes. Mas damos as boas-vindas aos nossos convidados, que,
como os de fora em 1 Coríntios 14, aparecem e (se Deus quiser)
passam a conhecer e adorar o Deus vivo em nosso meio.222
Como já observamos,223 não há duas palavras de Deus, uma
para os descrentes e outra para os crentes. O evangelho de Cristo
que salva é o mesmo evangelho de Cristo que nos amadurece e nos
transforma. Então, outra maneira de fazer a pergunta é esta: a
Palavra de Cristo é proclamada em oração no domingo na igreja de
uma maneira que seja acessível e compreensível tanto para os
crentes como para os descrentes?
Há inúmeras pequenas coisas que podemos fazer para que um
estranho se sinta acolhido e bem-vindo, em vez de confuso ou
desconfortável:
• Mencione-os durante a reunião — por exemplo: “Se é sua
primeira vez conosco hoje, e especialmente se você é novo na
igreja ou no cristianismo, estamos muito felizes em tê-lo
conosco. Sempre temos visitantes aqui na igreja, incluindo
pessoas que estão em todos os estágios diferentes de
relacionamento com Deus — é ótimo ter você conosco.”.
Naturalmente, a maneira como vocês fazem isso irá variar de
acordo com o tamanho de sua igreja e as normas da cultura ao
seu redor.
• Dê pequenas explicações que sirvam para orientar os de fora
sobre o que está acontecendo — por exemplo: “Vamos ler a
Bíblia juntos agora, porque é onde Deus fala conosco. A
passagem que vamos ler está em João, capítulo 1. Você a
encontrará na página 756 das Bíblias da igreja.”224
• Esteja ciente de que os visitantes geralmente ouvem com muita
atenção nossos avisos ou anúncios. O que anunciamos e como
anunciamos pode ter um grande impacto sobre o que uma
pessoa de fora pensa que estamos fazendo e sobre como ela se
sente em nosso meio. Nossos avisos anunciam não apenas os
eventos específicos, mas o tipo de comunidade que somos, o
que achamos importante e assim por diante.
• Pregue como se pessoas de fora estivessem presentes. Ao
introduzir um tópico ou aplicar uma verdade bíblica, presuma
que alguns ouvintes não são cristãos e envolva-os
apropriadamente. Faça uma pausa para explicar termos
conforme avança. (Falaremos mais a seguir sobre a pregação
aos crentes e descrentes no mesmo sermão.)
• Evite piadas internas e atividades embaraçosas — isto é,
aquelas com as quais os cristãos podem estar acostumados ou
toleram, mas com as quais alguém de fora pode se envergonhar.
(Um exemplo da nossa parte do mundo: não cantem uma
canção infantil e exijam que todos os adultos se levantem e
façam ações bobas.)
• Ofereça um próximo passo para os de fora — maneiras de
descobrir mais, oportunidades de ler a Bíblia com alguém, uma
reunião ou evento especialmente para novatos e assim por
diante.
Se você quiser medir quão amigável ou envolvente sua igreja é
para pessoas de fora, uma forma simples é convidar um amigo para
ir à igreja com você, e ver como vão as coisas ao longo do culto. De
repente, você notará todas as coisas, pequenas e grandes, que são
estranhas, embaraçosas ou alienantes para o seu amigo, porque ele
estará sentado bem ao seu lado. (Claro que você também deve
perguntar ao seu amigo o que ele notou).
Outro exercício interessante é visitar um contexto cultural
diferente e ver qual é a sensação. Não estamos necessariamente
recomendando isso, mas alguém que conhecemos uma vez levou
um grupo de líderes de sua igreja até o TAB local (que é uma casa
de apostas australiana), para eles experimentarem o que era ser um
completo forasteiro. Este era um lugar em que nenhum desses
homens estivera antes, e foi uma experiência instrutiva. Eles
estavam vestidos de forma muito diferente de todos os outros. Eles
não sabiam onde ficar ou para onde olhar. Eles tentaram descobrir o
que fazer seguindo os sinais e imitando os caras parados, mas
acharam difícil. E quando eles finalmente foram fazer apostas,
sentiram-se envergonhados e totalmente deslocados.
Esta é a sensação da igreja para muitos de fora.
Se fizermos da igreja um lugar que seja amistoso, acolhedor e
envolvente para um não-cristão de fora — isto é, se conduzirmos
nossas reuniões da igreja na expectativa de que não-cristãos
estejam lá — então enviamos uma mensagem poderosa para todos
os presentes. Comunicamos aos visitantes que eles são muito bem-
vindos, mas também comunicamos constantemente aos nossos
membros que a igreja é um bom lugar para convidar seus vizinhos e
amigos não-cristãos.
Como tudo nesta seção, isso também tem a ver com “equipar”.
Se quisermos que nossos membros convidem pessoas de fora para
a igreja e que sejam calorosos e acolhedores quando eles estiverem
lá, precisamos pensar em como ajudá-los a aprender a fazer isso.
Parte de “fazer avançar” no domingo está em direcionar a própria
congregação para frente, para que eles entendam e estejam
preparados para se envolver com os recém-chegados. (Voltaremos
a isso adiante, em “Equipar para o domingo”.)
Tendo dito tudo isso sobre tornar a igreja tão acolhedora e
acessível quanto possível para os de fora, nosso objetivo não é
remover o “fator de estranheza” da igreja para os descrentes.
Visitantes incrédulos ainda acharão estranhos alguns aspectos de
nossas reuniões. Alguns ficarão completamente surpresos com o
canto congregacional; alguns nunca se sentaram por 30 minutos
para ouvir qualquer coisa parecida com um sermão antes em suas
vidas; outros acharão estranho todos nós inclinarmos nossas
cabeças, fecharmos nossos olhos e orarmos. Mas ainda faremos
essas coisas, porque elas são parte do aprendizado de Cristo.
Nosso objetivo não é remover tudo que possa ser incomum,
estranho ou fora da experiência do visitante descrente; caso
contrário, não faria muito sentido eles aparecerem!
Em outras palavras, nunca deixaremos de ser distintamente
cristãos e fazer o que fazemos. Apenas tentaremos facilitar o
máximo possível para alguém de fora estar lá, “olhar para dentro” do
que está acontecendo e ficar intrigado e afetado (pela graça de
Deus) o suficiente para querer voltar.
Discussão
1) Qual consideram ser a atitude de seus membros em relação a
convidar um amigo ou parente não-cristão para ir à igreja?
2) Quais elementos da reunião da sua igreja vocês classificariam
como:
a) Confuso ou incompreensível para alguém de fora?
b) Embaraçoso para alguém de fora?
c) Acolhedor e amigável para alguém de fora?
d) Envolvente e relevante para alguém de fora?
3) Se vocês fossem fazer apenas três mudanças na reunião da
igreja para torná-la mais atraente para alguém de fora, quais
seriam elas?
4) Se um incrédulo viesse à sua igreja em qualquer domingo, o
que ele concluiria sobre o que significa ser um “aprendiz de
Cristo” a partir coisas que vocês fazem juntos? Além do
conteúdo do sermão, o que os diferentes aspectos da reunião
comunicariam a eles sobre o que vocês acreditam?
2) EVANGELIZAR NO DOMINGO
Seu culto dominical é um lugar onde os visitantes não-cristãos
ouvem o evangelho?
Em certo sentido, há uma sequência natural de pensar em
envolver pessoas de fora para considerar se ou como podemos
evangelizar essas pessoas que vêm a nossas reuniões de domingo.
E podemos dizer que é claro que o domingo deveria ser um evento
do evangelho e que a morte e ressurreição de Jesus certamente
devem ser proclamadas.
Mas, novamente, alguns de nós podem se sentir um pouco
desconfortáveis com isso. O culto de domingo não é primariamente
um tempo para o culto corporativo, ou para a edificação e o
fortalecimento dos santos? Se o domingo é para evangelismo,
quando os santos são nutridos com alimento sólido?
Historicamente, algumas igrejas têm refletido sua visão da
relação entre a igreja dominical e o evangelismo tendo dois cultos
no domingo: o culto de “adoração” da manhã e o culto
“evangelístico” da noite.225
Em nossa opinião, isso separa coisas que Deus não separou: a
saber, a poderosa palavra do evangelho e a edificação da igreja. A
igreja é certamente a reunião do povo redimido de Deus ao redor do
seu Senhor, a fim de ouvir sua Palavra e responder a ele em
arrependimento, fé, gratidão e louvor. Mas se a Palavra que
ouvimos e respondemos na igreja não está constantemente
exaltando Cristo, e voltando nossos olhos para ele como Salvador e
Senhor, então não é a Bíblia que está sendo pregada — porque o
evangelho de Cristo é a mensagem central e a chave para toda a
Escritura. Ele é aquele a quem todo o Antigo Testamento aguarda, e
sobre o qual todo o Novo Testamento é obcecado.
O cristianismo não tem duas mensagens, uma para o de fora e
outra para o de dentro. A palavra do evangelho que traz alguém à
igreja é a mesma palavra que o edifica na igreja.226 E quanto mais
esta palavra edificar, santificar e amadurecer uma congregação de
crentes, mais eles estarão com suas mentes voltadas para o
evangelho. Phillip Jensen coloca assim:
Uma igreja edificada será santa, santificada e diferente do mundo,
tendo membros que sejam como Cristo no caráter e na vida. Tais
membros estarão todos comprometidos com a salvação da
humanidade, pois esta foi a própria missão do Cristo (1Tm 1.15). Um
santo ajuntamento de pessoas, não comprometido com o evangelismo
mundial, não é santo, pois seus membros não são como Cristo.227
Talvez possamos dizer que, embora o objetivo principal ou foco
do culto dominical não seja “evangelismo” (isto é, a apresentação do
evangelho a pessoas não-cristãs), o culto dominical ainda deve ter
uma dimensão ou mentalidade evangelística. Ele recomendará a
Cristo tanto para o crente como para o descrente.
Várias consequências decorrem de uma falta de mentalidade
evangelística no domingo:
• Você terá dificuldades para criar uma “cultura” evangelística na
congregação se não houver consciência ou forma evangelística
em suas reuniões dominicais. O evangelismo se tornará um
elemento extra em seu programa, em vez de algo intrínseco à
sua comunidade. O domingo define o tom. Se o tom tiver uma
forma evangelística, você estará constantemente comunicando
as verdades da Convicção 5 à congregação — que todos estão
presos neste “mundo tenebroso” e precisam desesperadamente
ouvir a verdade do evangelho.
• Tal como acontece com “envolver” (acima), se não houver uma
dimensão evangelística na igreja (e especialmente na pregação),
então os membros da congregação não levarão seus amigos
não-cristãos à igreja para ouvir a Palavra de Deus. Por outro
lado, sempre que você prega como se não-cristãos estivessem
presentes, passa a mensagem muito clara de que a igreja é um
lugar para o qual você pode convidar seus amigos.
• Obviamente, se não houver conteúdo evangelístico nas reuniões
de sua igreja, então os não-cristãos que entrarem, e os
frequentadores nominais ou não-convertidos que estão em todas
as igrejas, não ouvirão o evangelho para serem salvos.
O que significa, em termos práticos, o culto dominical ter um tom
evangelístico? Isso significa pelo menos quatro coisas.
a) Pregar com uma mentalidade evangelística
Pregar evangelisticamente não significa inserir um esboço do
evangelho como Duas maneiras de viver em toda mensagem, ou
terminar cada sermão com um chamado ao altar. Em termos
simples, isso significa pregar o evangelho ensinando a Bíblia —
porque a Bíblia é um livro evangelístico. Ela constantemente aponta
para a pessoa e obra de Cristo, e nos chama a nos arrepender e
colocar nossa fé nele. Phillip Jensen, um dos grandes expoentes
modernos desse tipo de pregação, sugere que a pregação
evangelisticamente pensada tem os seguintes elementos:
• Ela mostra ao ouvinte que o que está sendo dito vem da Bíblia,
que está sendo lida como qualquer outro texto é lido;
• Ela explica o significado de palavras e conceitos bíblicos em
linguagem comum;
• Ela explica as doutrinas fundamentais do evangelho conforme
surgem da passagem (ou servem como fundo necessário para a
passagem): criação, pecado, julgamento, expiação, ressurreição,
glória;
• Ela localiza a mensagem da passagem na história do evangelho
conforme ela se desenrola por toda a Bíblia, chegando ao clímax
com Jesus Cristo — isto é, ela prega o aspecto do evangelho
que está naquela passagem (teologia bíblica);
• Ela mostra como a verdade da passagem confere sentido para o
mundo;
• Ela desafia humilde e graciosamente as atuais hipóteses ou
cosmovisões alternativas que não conseguem explicar a
realidade, com a expectativa de que as pessoas que adotam
essas visões estejam muito provavelmente presentes (em outras
palavras, evita falar em termos de “nós” contra “eles”, o que faz
com que os “eles”, que por acaso estejam presentes, se sintam
decididamente indesejados);
• Ela aplica o evangelho às circunstâncias reais da vida das
pessoas (isso recomenda o evangelho a crentes e descrentes,
mostrando que o evangelho, aplicado nessa área específica, é
uma boa notícia);
• Ela chama a uma resposta ao evangelho em obediência,
arrependimento e fé (ou seja, prega para transformação);
• Ela afirma clara e inequivocamente a verdade de Deus centrada
no evangelho que vem da passagem, e aborda as maneiras
pelas quais nossos corações resistem a esta mensagem.228
Esta é uma receita para tornar cada sermão em algo que
recomenda o evangelho tanto para o crente como para o descrente.
Em outras palavras, queremos que os descrentes saiam da igreja
pensando: “Essas pessoas enfrentam as mesmas questões e
problemas que eu, e se envolvem com a Bíblia de uma maneira real
e honesta. Não parece uma fachada religiosa. Eu ainda não tenho
certeza do que é verdade, mas gostaria de continuar aprendendo
sobre o que eles estão falando. Não me sinto tratado como uma
criança ou como um alienígena.”.
Naturalmente, algumas passagens da Bíblia e épocas do ano se
prestam a ser mais específica ou intencionalmente evangelísticas do
que outras. Aproveite esses momentos — por exemplo, deixe a
congregação saber com antecedência que os sermões nas
próximas duas semanas serão particularmente bons para trazer um
convidado não-cristão. Porém, quanto mais a congregação esperar
que todos os domingos sejam um tempo em que as pessoas não-
cristãs sejam bem-vindas, consideradas e escutem o evangelho,
maiores serão as chances de aproveitarem essas oportunidades
especiais.
b) Contar histórias que mostram o evangelho em ação
A maioria das igrejas consegue encontrar alguma maneira
apropriada para o contexto em que os membros da congregação
possam testemunhar do poder da Palavra e do Espírito de Deus em
suas vidas. Isso pode ser na forma do clássico “testemunho” ou em
uma breve entrevista. Pode relacionar-se com um acontecimento ou
tema específico; pode ser um relato de como o evangelho age em
um determinado ministério ou atividade que a igreja realiza.
Qualquer forma que assuma, histórias regulares sobre o poder
cotidiano do evangelho transmitem mensagens poderosas e
encorajamento — tanto para crentes como para descrentes.
c) O testemunho pessoal dos membros da congregação
É claro que nem tudo que acontece na igreja acontece
formalmente ou em público. Conversas que acontecem antes e
especialmente depois da reunião têm um grande potencial para
evangelismo. Um visitante não-cristão ou um participante regular ou
não-cristão provavelmente não procurará o pregador depois do culto
para falar mais sobre os efeitos de sua mensagem. Mas eles estão
sentados ao lado de alguém com quem essa conversa poderia
facilmente acontecer — se esse membro da congregação estiver
pronto, disposto e capacitado para ter a conversa.
Isso novamente tem a ver com “equipar”, e vamos falar sobre isso
a seguir.. Uma das principais maneiras pelas quais podemos trazer
uma postura ou mentalidade evangelística para nossas reuniões de
domingo é ensinar, treinar e preparar nossos membros para ter essa
predisposição e saber como colocá-la em prática de maneira
simples e viável.
d) A forma do que é feito
Nós falamos acima sobre como “a maneira como fazemos as
coisas” comunica algo, tanto aos crentes quanto aos descrentes.
Isso inclui como estruturamos os diferentes elementos do culto, o
que tradicionalmente chamamos de “liturgia”. Sem querer elogiar
qualquer forma ou ordem particular de culto na igreja, nem entrar
em debates sobre formalidade e informalidade, recomendamos uma
pausa para considerar o que a forma ou “trajetória” da reunião de
sua igreja comunica — porque ela comunicará algo, mesmo que
esse “algo” não tenha sido pensado.
A ordem na qual as coisas são feitas, e como esses diferentes
elementos são unidos, podem comunicar as verdades do evangelho
de forma muito poderosa — ainda mais porque acontece em um
nível sutil, semana a semana. Por exemplo, em algumas ordens de
culto reformadas clássicas, há um movimento partindo do
reconhecimento ou confissão de pecado, para garantia de salvação,
para uma resposta de louvor e ação de graças, para a audição da
Palavra (leitura e sermão), que leva novamente a uma resposta de
oração e arrependimento. Este é apenas um exemplo de uma forma
para o que está acontecendo que, por si só, recomenda o evangelho
ao crente e ao descrente.
Discussão
1) Que aspectos da sua reunião dominical ou cultura possuem
um tom evangelístico? Qual destes vocês acham que têm
potencial para ser desenvolvido ou aperfeiçoado? Como?
2) Pensem em algumas ideias novas para tornar suas reuniões
de domingo mais evangelísticas.
3) Ao abordar a área de pregação com uma mentalidade
evangelística, vocês terão que discutir a qualidade da pregação
em sua igreja. Falar sobre isso na equipe do Projeto Videira
pode ser um assunto delicado ou desconfortável — supondo
que o pastor provavelmente faça parte da equipe. Talvez
possamos todos concordar que não importa como o seu pastor
pregue (e sem dúvida ele é excelente!), sempre há espaço para
feedback e aperfeiçoamento.
Dito isso, desenvolvam um programa ou método para trabalhar
coletivamente como uma equipe a fim de aperfeiçoar esse
aspecto da pregação. Por exemplo: por um mês, vocês podem
se revezar como o “visitante não-cristão” designado por um
domingo e ouvir o sermão especificamente com ouvidos não-
cristãos, anotando:
a) Conceitos ou ilustrações que se conectavam com você e
faziam sentido para alguém “de fora”, assim como elementos
que não faziam sentido (por exemplo, jargões, conceitos não
explicados);
b) Áreas ou aspectos nos quais (como um “não-cristão”) você
percebeu que a mensagem se aplicava à sua vida ou à sua
cosmovisão;
c) Aspectos da mensagem que você achou intrigantes ou
atraentes como um não-cristão, bem como aspectos que você
pode ter achado desnecessariamente ofensivos ou
desconcertantes;
d) Aspectos da mensagem que desafiaram suas opiniões ou
chamaram ao arrependimento como um não-cristão.
Passem esse feedback para o pastor, que irá conferir e informar
ao grupo sobre algumas coisas que ele gostaria de melhorar
em sua pregação. (E depois orem juntos pelo pastor e
descubram como fornecer um feedback contínuo de uma
maneira útil.)
4) O conteúdo das orações em suas reuniões dominicais
convence alguém de que vocês são um grupo de pessoas que
desejam ver os perdidos conhecerem a Cristo? Como seria
possível melhorar nesta área?
3) ESTABELECER NO DOMINGO
Uma maneira de descrever o que está acontecendo ao nos
reunimos no domingo é perceber que Jesus está edificando sua
igreja — que ele está presente conosco para falar sua Palavra
nutritiva, vivificante, e movendo nossos corações para responder a
ele pelo seu Espírito. Dizendo de outra forma, um dos propósitos de
Deus para o domingo é o aprendizado transformador.229 Nos
reunimos na presença de Deus para sermos ensinados e edificados
a fim de que possamos crescer até a maturidade em Cristo (esta é a
parte de “estabelecer” do espectro do crescimento).
Em nossa observação, a maioria das igrejas tem muito o que
melhorar no “aprendizado transformador” como parte intrínseca de
sua cultura dominical. Vamos analisar alguns exemplos de como
podemos criar esse tipo de cultura de “aprendizado de Cristo” no
domingo.
a) Pregar para que haja aprendizado transformador
“Sermõezinhos criam cristãozinhos”, diz um velho ditado. Se
quisermos que nosso povo continue avançando passo a passo, os
sermões precisam instigá-los e incentivá-los a avançar. A pregação
transformadora mergulha na Palavra, desdobra e explica sua
mensagem de maneira clara e convincente, e aplica o desafio do
evangelho de cada passagem aos corações, mentes e vidas dos
ouvintes.
Isso não significa de modo algum que a pregação deva ser
acadêmica, impenetrável e carregada de citações de comentários
sobre o significado do grego. Isso geralmente não promove o
aprendizado! Mas isso significa que nós abertamente tratamos o
sermão como o ponto alto da reunião; como um momento de
engajamento sério e importante com a Palavra de Deus; como o
tempo em que todos nos sentamos juntos em torno da Palavra de
Deus, procurando ouvir, ler, considerar, aprender e digeri-la
internamente.
A pregação é um assunto extenso demais para discutir
adequadamente aqui.230 Vamos apresentar apenas cinco breves
apontamentos e sugestões:
• Pense em cada sermão como um exercício para ajudar as
pessoas a “avançar um passo”, para progredir em sua
compreensão e obediência. Quando as pessoas ouvem você (o
pregador) expor a ideia principal da passagem bíblica, de onde
elas estão partindo (ou seja, qual é o problema, dilema, questão
ou pecado que a passagem aborda, e que provavelmente forma
sua introdução)? Aonde você quer levá-los (ou seja, qual é o
novo entendimento ou verdade que leva a um novo modo de
vida ensinado pela passagem)? E como você vai levá-los até lá
(usando os principais pontos da passagem para passar da
introdução para a conclusão)?
• Use quaisquer técnicas pedagógicas ao seu alcance para ajudar
seus ouvintes a aprender e entender (ilustração, repetição,
diagramas, esboços, variação no andamento e assim por
diante).231 Lembre-se: o resultado que você procura não é
apenas apresentar a mensagem bíblica; é fazer com que seus
ouvintes aprendam uma verdade que mudará suas vidas.
• Como pregador, continue sendo exemplo em sua própria
determinação para crescer e seguir adiante em Cristo. Sem fazer
o sermão ser sobre você (!), compartilhe de vez em quando
como a passagem desafiou sua vida, como ela mudou sua
mente ou ensinou algo novo sobre Deus e seus caminhos.
• Pense no sermão como parte de um processo de aprendizado
em vez de um evento isolado. Divulgue a passagem a ser
pregada com antecedência; dê oportunidades para as pessoas
lerem e pensarem sobre a passagem antes do domingo (por
exemplo, algumas perguntas para reflexão pessoal ou um
estudo bíblico que pequenos grupos possam fazer com
antecedência). Crie a expectativa de que nos reunimos para
aprender dessa parte da Palavra de Deus. Da mesma forma,
pense em maneiras de prosseguir após o sermão; forneça
alguns desafios ou perguntas de reflexão para as pessoas
ponderarem e orarem na segunda-feira de manhã, ou em seus
pequenos grupos durante a semana seguinte.
• Considere ter um momento de perguntas após o sermão.
Algumas igrejas fazem isso diretamente após o sermão, com
uma oportunidade para a congregação fazer perguntas, fazer
comentários e assim por diante. Outras igrejas fazem esse tipo
de momento de perguntas com o pastor depois que a reunião
principal foi concluída. De qualquer maneira, pode ser
extremamente útil, ao permitir que o pregador esclareça ou
reforce os pontos que ele propôs e elucide os mal-entendidos.
Porém, também muda o tom e a expectativa do que está
acontecendo: estamos juntos na igreja para aprender com a
Palavra de Deus, para continuar pensando, perguntando e
esclarecendo até entendermos e aprendermos. O pregador
expôs e explicou a Palavra, mas é a Palavra que possui
verdadeira autoridade e poder — e o pregador também está
debaixo dela. Os momentos de perguntas podem fazer uma
mudança pequena, mas útil, na “cultura de aprendizado” do
domingo.
b) Escuta ativa em oração
Aprender é obviamente uma experiência de mão dupla. Podemos
incentivar e colaborar para que o domingo seja um momento de
aprendizado estimulando e ajudando a congregação a ser ouvintes
e aprendizes ativos. Por exemplo:
• Como mencionado acima, se a passagem for conhecida de
antemão, e houver uma expectativa de ler e refletir sobre ela
com antecedência, os membros da congregação chegarão mais
pensativos para o sermão e com expectativas sobre o que eles
podem aprender.
• Pode ser útil distribuir esboços impressos do sermão a fim de
que os ouvintes possam ver a direção para aonde a exposição
está indo, fazer anotações, elaborar desafios e aplicações —
não apenas para ajudar no aprendizado e na memória, mas para
servir como material para “digestão interna” posterior e oração.
Tomar notas pode ser útil para promover a escuta e a
aprendizagem ativas.
• Ouvir é uma atividade espiritual — “Vede, pois, como ouvis”,
disse Jesus.232 O tipo certo de audição é algo que pode ser
aprendido e que devemos ensinar e encorajar. Falamos de uma
audição com arrependimento e coração aberto, com atenção e
perspicácia, oração e humildade, e que se envolve com quem
fala (em contato visual, ao menos).233
c) Ensino mútuo e encorajamento
Se queremos criar uma cultura na qual todos nós somos
aprendizes de Cristo que buscam ajudar outros aprendizes a
aprender, então o domingo tem que ser um tempo em que
praticamos e exemplificamos essa convicção. Se a única pessoa
que tem algum ministério da Palavra no domingo é o pastor,
enviamos uma mensagem completamente errada.
Há duas maneiras principais de promover e exemplificar um
amplo ministério mútuo da Palavra aos domingos:
• Em primeiro lugar, podemos encontrar formas dentro da
estrutura da reunião para os membros da congregação
testemunharem e encorajarem a congregação. Em uma igreja
em que estávamos envolvidos, isso se chamava “momento
14.26” — por causa de 1 Coríntios 14.26 — e variava de semana
para semana. Pode ser um breve testemunho sobre uma lição
que alguém aprendeu com a Palavra, ou como o evangelho
capacitou alguém a lidar com o sofrimento e a dificuldade, ou
como se tornou cristão. Pode ser uma breve entrevista sobre
algum ministério da Palavra em que um membro da
congregação está envolvido, ou uma história sobre como Deus
respondeu suas orações congregacionais. Pode ser uma breve
reflexão por um membro piedoso e maduro da congregação
após o sermão sobre como a mensagem o desafiou ou ensinou.
Tudo isso precisa ser feito de maneira pensada e ordenada,234 e
geralmente com alguma preparação. Contudo, quanto mais esse
tipo de contribuição edificante dos membros da congregação se
tornar parte de sua cultura normal, mais espontânea ela poderá
ser. (Na igreja de Colin, agora até os homens estão começando
a tomar coragem e dizer alguma coisa!)
• Em segundo lugar, podemos incentivar e preparar nossos
membros para ver o domingo como um lugar para conversa e
encorajamento mútuos em torno da Palavra de Deus. Mais uma
vez, falaremos mais sobre isso adiante (em “Equipar para o
domingo”), mas devemos chegar a um ponto em que os
membros venham no domingo com uma expectativa em oração
de que Deus os usará em conversas encorajadoras e baseadas
na Palavra — seja com visitantes e recém-chegados, ou com os
membros regulares. O horário nobre para isso geralmente é no
café após o horário “formal” da igreja, seja conversando sobre as
principais lições ou questões do sermão, ou sobre o que está
acontecendo em nossas vidas e famílias, ou sobre o que lemos
na Bíblia durante a semana passada. Estes podem ser breves
momentos de encorajamento ou conversas mais longas que se
desdobram em discussões e orações durante a semana. O fator
chave é a nossa expectativa de que Deus nos use para ajudar
uns aos outros dessa maneira, e nossas orações para que ele
abra nossas bocas para falar e aproveitar as oportunidades que
surgem.
d) Oração arrependida e responsiva
Em muitas igrejas evangélicas contemporâneas que visitamos, a
oração corporativa substancial praticamente desapareceu. Há 30
minutos de música, 30 minutos de mensagem, vários anúncios,
promoções e entrevistas, itens musicais e, claro, a realização do
ofertório — mas parece que a única hora que podemos dedicar à
oração é uma petição curta e superficial quando a reunião começa
ou quando o sermão termina. Isso é surpreendente quando se
pensa a respeito, e diz muito sobre o que achamos que estamos
fazendo quando nos reunimos como povo de Deus.
A oração é fundamental para a vida cristã e para a vida da igreja,
porque é a linguagem da fé. A oração é a dependência verbalizada
de Deus.235 Além disso, nossas convicções nos dizem que o
aprendizado transformador só acontece quando o Espírito de Deus
aplica soberanamente a Palavra de Deus aos corações humanos.
Devemos, portanto, depender constantemente de Deus em oração
para que ele faça isso pelo seu Espírito em nossas reuniões de
domingo. Essas convicções devem moldar nossas orações
congregacionais. Por exemplo:
• A tradição em algumas igrejas de orar preces prontas de
confissão de pecado, se bem realizadas, pode ser muito útil.
Enquadra nossa audição da Palavra com uma atitude de
arrependimento e anseio — nós sabemos como caímos, que
somos indizivelmente gratos pela graça do evangelho, e que
queremos aprender, crescer e ser transformados pela Palavra de
Deus que estamos prestes a ouvir.
• Da mesma forma, é bom ter um tempo de oração após o
sermão, quando respondemos como congregação à mensagem
e suplicamos a ajuda de Deus para amolecer e transformar
nossos corações teimosos. Trabalhe na integração do conteúdo
das orações e ações de graças com o tópico ou tema sobre o
qual o culto é elaborado.
• Assim como o tempo fora da reunião formal no domingo é útil
para encorajamento mútuo, conversa e ensino, também é uma
excelente oportunidade para orar uns pelos outros. Quando você
está conversando com alguém sobre alguma questão ou
acontecimento em sua vida, ou compartilhando algum
encorajamento ou conversa sobre o sermão, por que não
concluir com uma breve oração juntos? Na verdade, essa
também é uma excelente maneira de iniciar uma conversa
proveitosa: pergunte à pessoa com quem você está conversando
se há algo que gostaria que você orasse por ela. Em nossa
experiência, isso instantaneamente faz com que a conversa saia
da previsão do tempo e do futebol para as coisas que realmente
importam, e muitas vezes abre oportunidades para um
encorajamento mútuo significativo.
e) Música que ensina
Martinho Lutero, como de costume, captou a maravilha do dom
divino da música de forma mais memorável do que qualquer outra
pessoa:
Uma pessoa que pensa um pouco e ainda assim não considera a
música como uma criação maravilhosa de Deus, deve ser realmente
grosseira e não merece ser chamada de ser humano; ele deveria ter
permissão para ouvir apenas zurro de burros e grunhido de porcos.236
Mesmo assim, o tema da música na igreja é também uma caixa
de marimbondos de Pandora (para extrair o máximo possível de
duas metáforas). Estamos relutantes em abrir demais a caixa, mas
vamos fazer apenas alguns comentários sobre como o canto pode
fazer parte da cultura de aprendizado de sua congregação.
Cantar é uma forma de fala com bastante carga emocional.
Consiste em palavras que — de uma maneira que não
compreendemos completamente — geram mais impacto do que
palavras que são apenas faladas. Isso faz da fala cantada uma
maneira particularmente poderosa de construir uma cultura
transformadora de aprendizado em nossas reuniões dominicais, de
pelo menos três maneiras:
• Alguns aspectos do nosso canto têm a ver conosco. Cantar é
uma forma simples e poderosa de toda a congregação ensinar e
encorajar uns aos outros. Quando cantamos juntos, nos
firmamos e declaramos uns aos outros as maravilhosas obras e
o caráter de Deus. Isso é realmente “louvar”: declarar
(geralmente com alegria e celebração) o que Deus fez, quão
maravilhoso é o caráter de Deus, quão grande, bom e magnífico
é o Senhor Jesus Cristo e seu evangelho.237 Isso significa, é
claro, que devemos escolher cuidadosamente as canções que
realmente fazem isso — nos quais os versos estão repletos de
ensinamentos teológica e biblicamente ricos sobre o que Deus
fez em Jesus Cristo. Como tem sido frequentemente observado,
muitos pastores preparam e guardam cuidadosamente os 25
minutos de ensino que acontecem do púlpito, sem tomar
conhecimento dos 25 minutos de ensino que acontecem por
meio das canções que cantamos.
• Não é apenas o conteúdo verídico das músicas que é
encorajador e transformador — é o fato de que posso ver você
de pé, entusiasmado e alegre, mostrando o quanto acredita
naquilo que canta. Cantar é uma forma de testemunho. É uma
chance para todos nós dizermos: “Sim, aqui estou! E é nisso que
eu acredito.” Isso é encorajador, da mesma forma que todo
exemplo de vida é encorajador. Faz com que eu saiba que você
também crê nessas verdades, porque quando você abre seus
pulmões e canta com todo o seu coração, você me mostra que
crê nelas. É por isso que cantar com o coração é uma coisa tão
edificante de se fazer na igreja — tendo ou não uma boa voz,
seja a música em particular do nosso gosto musical ou não.
• Cantar também é uma maneira poderosa de responder a Deus e
ao que ele nos falou por meio da Palavra. No canto, podemos
nos regozijar, agradecer, orar e dizer a Deus quão digno,
poderoso e maravilhoso ele é (novamente, isso é “louvor” — a
declaração das excelências de Deus). Cantar nos dá a
oportunidade de expressar as afeições que a Palavra de Deus
desperta em nós.238
f) Declarar credos e confissões históricas
Assim como cantar, recitar credos e afirmações confessionais
históricas coletivamente na igreja é ao mesmo tempo declaração e
resposta. Estamos falando as grandes verdades da fé uns aos
outros e, ao mesmo tempo, testemunhando uns aos outros sobre
nossa crença nessas verdades. Como uma característica regular de
nossas reuniões, isso pode ser uma poderosa experiência de
“aprendizado” (especialmente se explicarmos seu significado e o
contexto em que foram escritos). Eles conectam o pequeno posto
avançado do reino de Deus que é a nossa igreja com a fé histórica
que os cristãos desde o princípio e em todos os lugares têm
afirmado. Diz ao nosso povo (e aos de fora) que não somos apenas
uma pequena tribo de pessoas estranhas, que se destacam como
um espantalho num milharal. De fato, somos um ramo de uma
árvore viva, maciça e antiga, cujas raízes descem profundamente.
Discussão
Há muito que abordar e pensar nesta seção. Discutam cada uma
das áreas que examinamos e anotem um aspecto que vocês
estejam fazendo muito bem, algo que já exista e que possa ser
melhorado, e uma nova ideia que precisa progredir:
a) Pregar para que haja aprendizado transformador
b) Escuta ativa em oração
c) Ensino mútuo e encorajamento
d) Oração arrependida e responsiva
e) Música que ensina
f) Declarar credos e confissões históricas
4) EQUIPAR NO DOMINGO
A cultura que estamos querendo construir é aquela em que todos os
santos pensem em se envolver no aprendizado transformador juntos
como um privilégio e alegria — para que todo o povo de Deus, cada
um a seu modo, persevere em proclamar a Palavra, com oração
dependente do Espírito, a fim de ajudar os outros a avançarem um
passo (os quatro Ps).239
Podemos equipar nosso povo para essa proclamação em oração
de muitas maneiras e contextos, mas o domingo em si é o momento
importante onde essa preparação pode acontecer. Aqui estão três
maneiras pelas quais isso pode acontecer:
• Podemos pregar de maneira a equipar. Há uma maneira de
apresentar um sermão que faz o ouvinte pensar depois: “Uau,
isso foi muito encorajador. Mas eu não sei como ele conseguiu
tirar essa mensagem da passagem. Eu nunca conseguiria ler a
Bíblia assim”. E há outra maneira de apresentar um sermão em
que o ouvinte pense: “Uau, isso foi muito encorajador. Além
disso, eu pude ver como sua mensagem veio diretamente do
conteúdo da Bíblia. Acho que conseguiria ler a Bíblia assim”. Se,
como pregadores, apresentamos o suficiente da base exegética
de nossa mensagem — o suficiente para mostrar como ela vem
da própria passagem, mas não para aborrecer nossa audiência
com um comentário detalhado em todos os versos — , com o
tempo, prestamos um enorme serviço para a leitura bíblica do
nosso povo. Ensinamos a eles a ler a Bíblia por si mesmos,
mostrando-lhes todos os domingos como estamos extraindo
nossos sermões da Bíblia.
• Nossa pregação também pode equipar a congregação para
ministrar a Palavra uns aos outros por ser compartilhável — isto
é, quando cada sermão tem como parte de sua aplicação formas
de compartilhar essa Palavra com outra pessoa. Por meio da
nossa pregação, podemos definir a expectativa e a norma de
que a Palavra não termina conosco; deve ser compartilhada e
transmitida. Você pode até ter um espaço em seu
esboço/boletim com “O que eu aprendi com o sermão de hoje”, e
encorajar todos a escreverem algo nesse espaço e conversar
sobre isso juntos depois, no café.
• Podemos programar momentos regulares curtos para “equipar”
durante nossa reunião de domingo; por exemplo, peça a alguém
da congregação que faça um breve relato sobre como está lendo
a Bíblia em dupla com outra pessoa, e quais são as lições e
consequências encorajadoras resultantes dessa experiência.
Extraia durante a entrevista/testemunho algumas lições simples
sobre “como todos podemos ler a Bíblia uns com os outros”. Isso
será curto e tem certo limite de alcance, mas a repetição regular
desse tipo de testemunho mostra à congregação como todos
podemos nos envolver ajudando uns aos outros a aprender
Cristo por meio da Palavra.
Tudo o que fazemos no domingo molda a maneira como nosso
povo se envolve no ministério — incluindo líderes de grupos,
professores da Escola Dominical e assim por diante. Ele molda
como eles leem e ensinam a Bíblia, sua compreensão da verdade
cristã, pelo que eles oram, como eles respondem à Palavra de Deus
— a direção de todos os carros de sua frota é definida pelo carro-
chefe, e esse carro-chefe é a sua principal reunião dominical.
5) EQUIPAR PARA O DOMINGO
Muitas das sugestões e possibilidades que levantamos nesta
primeira área de foco envolvem mudança na mentalidade, nas
expectativas e (em alguns casos) nas habilidades de nossa
congregação. Sugerimos (entre outras coisas) que seria
maravilhoso se todos os nossos membros:
• Pensassem, orassem e convidassem seus amigos e familiares
não-cristãos para irem à igreja;
• Fossem receptivos e prestativos com pessoas de fora, visitantes
e recém-chegados;
• Estivessem prontos para compartilhar o evangelho
pessoalmente com não-cristãos que encontram na igreja;
• Lessem a passagem do sermão com antecedência e fossem
preparados para aprender e crescer;
• Estivessem preparados para ouvir ativamente o sermão com
corações abertos e receptivos;
• Fossem entusiasmados com a música;
• Estivessem prontos e capacitados para falar a Palavra em
conversas com os outros em qualquer momento durante o
domingo, especialmente na hora do café depois do culto;
• Estivessem prontos para orar com outras pessoas se a
oportunidade surgir.
Imagine uma congregação cheia de pessoas assim! Imagine
como seria diferente toda a experiência do domingo, não só para
toda a congregação, mas também para qualquer pessoa nova ou
visitante.
Nada disso acontecerá por mágica ou puramente por osmose.
Para a maioria dos membros da congregação, aprender a pensar,
orar e agir dessa maneira envolve avançar alguns passos. E é
assim que acontece — equipando, treinando e encorajando
proposital e intencionalmente os membros de nossa congregação a
crescer em sua compreensão e modo de vida nessas áreas.
Este tipo de preparação geralmente acontece melhor em um
ambiente pessoal ou de grupo pequeno, onde você pode:
• Trabalhar conteúdos, ideias e informações juntos;
• Praticar, colocando-os em ação, e depois relatando um ao outro;
• Orar juntos sobre seus esforços;
• Encorajar uns aos outros a continuar quando alguns se
cansarem.
Há muitos bons recursos disponíveis para ajudar com isso.240
Quaisquer que sejam os recursos, programas ou livros que você
use para preparar as pessoas dessa maneira, é importante lembrar
que mudar a mentalidade, as expectativas e ações das pessoas em
qualquer área requer tempo, encorajamento e persistência. Você
poderia dar um livro sobre como servir e discipular para ler, e sem
dúvida isso o ajudaria no processo de aprender a pensar
diferentemente sobre o domingo. Mas, a menos que haja algum tipo
de processo contínuo de aprendizado — de falar sobre isso, fazer
perguntas, ver em ação, tentar colocar em prática, falar de novo, e
assim por diante —, é improvável que um novo caminho de pensar e
agir seja “aprendido”. Equipar alguém dessa maneira requer tempo
e interação pessoal. Como sugeriremos na Área de Foco 2 (sobre
criar caminhos), precisamos de oportunidades e estruturas dentro
de nossa vida congregacional, onde esse tipo de preparação pode
acontecer regularmente.
Discussão
1) De que maneiras a sua reunião de domingo atual comunica a
mensagem de “equipar”, em que todos nós podemos nos
preparar para nos envolvermos em fazer outros avançarem? O
que poderia ser mudado ou adicionado?
2) Pensando nos atuais membros da congregação:
a) Quem dentre eles melhor exemplifica o tipo de mentalidade e
pratica o que discutimos nesta seção? Quem procura
ativamente ajudar os outros a aprenderem a Cristo no
domingo de várias maneiras?
b) Como é possível incentivar e ajudá-los a melhorar ainda
mais?
c) Como eles poderiam ajudá-los a equipar os outros para
pensar e agir da mesma maneira?
Ê
REFERÊNCIA
Analise as discussões feitas em cada segmento nesta primeira área
de foco (“Tornar o domingo uma referência”).
1) Escolham algumas estratégias ou prioridades importantes nas
quais vocês desejam se concentrar nos próximos 12 meses. Não
tentem fazer tudo. Comecem com quatro ou cinco coisas
importantes.
2) Para cada uma dessas estratégias ou prioridades, definam uma
meta simples e mensurável. Há um triplo propósito:
• Ter clareza do tipo de resultado que vocês esperam alcançar;
• Às vezes, dar um pouco de motivação para continuar quando
seus passos começarem a se arrastar;
• Permitir que vocês façam algumas perguntas ao final do ano
sobre por que atingiram ou não seu objetivo.
3) Para cada uma das prioridades e metas, escrevam o que, quem,
quando e quanto (que ações serão feitas, por quem, por quando
e com que recursos ou a que custo).
(Dica: depois de terminar o passo prático 3 de descobrir quem
realmente fará todas essas coisas acontecerem, vocês podem
acabar decidindo que assumiram muitas prioridades!)
Um exemplo trabalhado
Prioridade 1: Vamos trabalhar muito nos próximos 12 meses para tornar a
nossa reunião de domingo o mais envolvente possível para os de fora e
encorajar a congregação a convidar as pessoas.
Objetivo: Pela graça de Deus, esperamos ver 50 pessoas não-cristãs
diferentes visitarem nossa congregação nos próximos 12 meses.
Ações:
O QUÊ QUEM QUANDO RECURSOS/CUSTO NOTAS
etc.
Por conveniência, continuaremos nos referindo a essas reuniões de toda a congregação simplesmente
como “domingo” ou “culto dominical”, já que é o dia em que quase todos nós temos essas reuniões.
Essas são as quatro categorias amplas que apresentamos no resumo das convicções, ao final da Fase 1.
N. do T.: Termo específico do movimento; em português, algo como “sensível ao que busca”
No modelo seeker-sensitive conforme apresentado por Bill Hybels na Willow Creek Community Church, o
domingo é realmente um comício evangelístico para reunir pessoas de fora — a reunião “real” da igreja,
com ensino bíblico mais profundo e tudo mais, ocorre durante a semana à noite.
1Co 14.16-17, 23-25.
Na Fase 1 (Convicção 3).
Como com todas as coisas, isso deve ser feito de forma sensata. Você não quer que sua reunião morra
uma morte de mil explicações.
Esse foi realmente um precursor da abordagem seeker-sensitive da Willow Creek, que tinha o culto de
“evangelismo” como o evento principal nas manhãs de domingo, e a reunião de “louvor” ou “ensino” nas
noites de quarta-feira.
Curiosamente, a palavra “edificar” (grego: oikodomeō) significa simplesmente “construir”. A forma como
lemos este termo na maioria das traduções parece implicar que edificar trata de alguém que já faz parte
da igreja. Mas quando Cristo disse: “edificarei (oikodomeō) minha igreja” (Mt 16.18), ele estava falando
sobre todo o processo — de pregar o evangelho e ver as pessoas entrarem na comunhão da igreja e
crescerem até a maturidade. A igreja é construída pelo evangelho (cf. At 20.32; Rm 15.20-21; 1Co 3.9-11;
2Co 10.8, 13.10; Ef 2.19-22). Poderíamos dizer que as pessoas são “edificadas” na igreja da mesma
como são “edificadas” como igreja e que, em ambos os casos, é pela poderosa palavra de Cristo, por seu
Espírito.
Phillip Jensen, “A igreja e a evangelização: o culto deve ser evangelístico?”, Voltemos ao Evangelho, 23
ago. 2019, voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/a-igreja-e-a-evangelizacao-o-culto-deve-ser-
evangelistico/.
Veja especialmente o capítulo 5 em Jensen e Grimmond, The archer and the arrow. Veja também Colin
Marshall, “Preaching with an evangelistic mindset”, in Let the word do the work, Peter G. Bolt, ed.,
(Camperdown: Australian Church Record, 2015), 75-84.
Veja a discussão na Fase 1, convicção 5, sobre a igreja ser um cenário para o discipulado.
Uma abordagem revigorante e muito prática da pregação como uma experiência de aprendizado pode ser
encontrada em Gary Millar e Phil Campbell, Saving Eutychus: how to preach God’s word and keep people
awake (Sydney: Matthias Media, 2013).
Novamente, você encontrará algumas ótimas ideias em Saving Eutychus, de Millar e Campbell.
Lucas 8.18.
O livreto de Christopher Ash, Listen up!, é um excelente recurso para preparar a congregação para ser
melhores ouvintes. Christopher Ash, Listen up! A practical guide to listening to sermons (Londres: The
Good Book Company, 2009).
1 Coríntios 14.33, 40.
Para uma expansão deste ponto, ver Phillip Jensen e Tony Payne, Prayer and the voice of God (Sydney:
Matthias Media, 2006). 60-64.
Martinho Lutero, “Preface to Georg Rhau’s Symphoniae iucundae” (1538), trad. US Leupold, in Luther’s
works, J. Pelikan e H.T. Lehmann, eds., (Filadélfia: Fortress, 1965), 53:324.
Para saber mais sobre a natureza do louvor como “declarar ou anunciar como alguém é grande”, veja Tony
Payne, “Confissões de um viciado em louvor”, Voltemos ao Evangelho, 24 ago. 2019,
voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/ confissoes-de-um-viciado-em-louvor/.
Para uma excelente discussão recente de todas essas questões relacionadas ao canto congregacional, ver
Philip Percival, Then sings my soul: rediscovering God’s purposes for singing in church (Sydney, Matthias
Media, 2015).
Veja a convicção 3 na Fase 1 para nossa discussão dos quatro Ps.
Por exemplo: Seus pequenos grupos podem ler o pequeno livreto de Christopher Ash, Listen Up! juntos
(sobre como ser um melhor ouvinte de sermões), falar sobre o conteúdo, orar sobre isso e encorajar uns
aos outros a colocá-lo em prática. Um grupo (ou vários grupos) poderia estudar Six steps to loving your
church, um curso de seis sessões que trabalha o que todo cristão poderia fazer antes, durante e depois
da igreja a fim de ser um meio de encorajamento amoroso para aqueles ao redor (isto é, fazendo o tipo de
coisas que temos discutido em toda esta seção).
Uma grande igreja pentecostal em Sydney, famosa por seu ministério de música.
1 Coríntios 9.22.
N. do E.: A entrevista completa com Gabriel em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre
como ele aborda: todos serem evangelistas; leitura bíblica em duplas; evitar a cultura do consumidor onde
tudo é empacotado e programado; e treinamento de liderança.
N. do E.: A entrevista completa com Ricardo em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui seus
pensamentos sobre: usar momentos críticos para mudança; ajudar membros a convidar pessoas para a
igreja; e moldar a cultura através dos principais líderes.
N. do E.: A entrevista completa com Davi em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre
como ele aborda a incorporação do discipulado na cultura e nas estruturas de uma igreja.
Área de foco 2: criar caminhos que
promovam o avanço
No segundo exercício de avaliação da Fase 3, você fez o melhor
que pôde para ter um diagnóstico de todas as pessoas de sua
congregação ou comunidade — de onde eles estão em seu
“aprendizado” de Cristo. A maioria dos grupos com que fizemos este
exercício descobriu ser uma experiência um tanto impressionante.
Tantas pessoas. Tantas necessidades ministeriais. Tão poucos
líderes ou pessoas equipadas para ajudar na tarefa.
Como vamos fazer todas essas pessoas avançarem, cada uma
com suas próprias necessidades e situações particulares na vida?
Considerando que o método básico são os quatro Ps do ministério
(Proclamação, Prece, Pessoas, Perseverança),246 então, falando de
maneira prática, como esse “ministério dos 4Ps” pode acontecer de
uma forma que ajude a todos a dar passos adiante de todos os
diferentes lugares que ocupam no espectro? (E isso nem mesmo é
pensar no desafio ainda maior: todas aquelas pessoas em nossos
bairros e comunidades com as quais ainda não nos envolvemos ou
evangelizamos.)
Parte da resposta, claro, é a área de foco que acabamos de ver.
Nosso principal encontro dominical deve funcionar para fazer as
pessoas avançarem de onde quer que estejam. Mas algumas coisas
são difíceis (ou quase impossíveis) de se fazer em uma grande
reunião de grupo como a igreja. Como vamos usar todos os outros
aspectos da vida da igreja para levar as pessoas a avançarem —
isto é, todas as diferentes reuniões e interações, sejam elas
individuais, em pequenos grupos ou em grupos médios, seja em
eventos isolados ou estruturas regulares?
Agora, se por acaso se tratasse de uma igreja doméstica de 24
pessoas, a resposta a essas perguntas poderia ser relativamente
simples: “Há três de nós que exercem alguma liderança aqui. Cada
um se responsabiliza por sete pessoas, trabalha com eles pessoal e
individualmente para ajudar cada um a avançar. Simples.”
Mas é claro que poucos de nós estão em situações tão
descomplicadas (lembre-se: as pequenas igrejas domésticas
também têm todos os tipos de complicações!).
Seu grupo não precisa ficar muito maior antes que algum tipo de
sistema ou estrutura se torne necessário para organizar, facilitar e
apoiar o crescimento de cada pessoa. Sem o que estamos
chamando neste capítulo de “caminhos”, o ministério 4Ps é muito
difícil de sustentar e ampliar além das pessoas que você pode
influenciar e se relacionar pessoalmente. Quanto maior for o seu
grupo, ou mais ampla for a sua visão sobre o quanto você quer
crescer, mais reflexão, cuidado e trabalho árduo você terá para
construir, manter e mexer constantemente com a “arquitetura
relacional” que conecta as pessoas umas às outras no ministério
4Ps.
Em certo sentido, ser atencioso e proativo sobre como nossas
estruturas de ministério promovem o crescimento do evangelho é
apenas uma boa sabedoria prática, e não precisamos construir uma
base teológica elaborada para nossa maneira particular de fazê-lo.
No entanto, fazer este trabalho de fato concorda teologicamente
com a nossa visão das igrejas como “comunidades de aprendizado”.
Deus nos colocou juntos porque somos melhores juntos.
Precisamos uns dos outros. O amor nos levará a descobrir como
podemos capacitar e facilitar o maior número possível de
relacionamentos de ministérios 4Ps — e é isso o que estamos
fazendo quando projetamos e implantamos estruturas, caminhos ou
sistemas (ou como quiser chamá-los).
Para colocar tudo isso nos termos familiares de nossa metáfora já
bem usada, se o ministério 4Ps é o “trabalho da videira” que
impulsiona o crescimento espiritual na vida das pessoas em todos
os níveis, então projetar estruturas ou caminhos é o “trabalho de
treliça” vital que permite ao trabalho da videira acontecer de forma
ampla e profunda em toda a congregação e além.
Quatro advertências finais antes de prosseguirmos:
• Em primeiro lugar, estabelecemos a linguagem dos caminhos
para falar sobre as estruturas ou sistemas a serem criados para
tentar ajudar o maior número possível de pessoas a avançarem.
Nenhuma linguagem ou metáfora é perfeita. “Caminho” não é
ruim, porque evoca pessoas andando em determinada direção,
fazendo progresso, passando de um marco para o próximo e
assim por diante. Mas sinta-se livre para criar sua própria
linguagem e descrição.
• Em segundo lugar, tente evitar os dois extremos de atear fogo
em tudo ou de brincar enquanto Roma pega fogo. Em um
extremo está a abordagem que trata tudo da cultura atual e das
estruturas do ministério como incuravelmente doente, e quer
desfazer tudo e começar de novo. Por mais que isso possa ser
tentador às vezes, quase sempre é um erro transformar a cultura
atual em sua inimiga — e é isso que acontecerá se tentar
destruir tudo e construir do zero. Por outro lado, é um
desperdício de tempo de todos fazer apenas alguns ajustes
tímidos nas bordas, quando a cultura está precisando de uma
mudança profunda e duradoura. Na maioria dos casos, a chave
é encontrar os aspectos de sua cultura atual que refletem suas
convicções e têm potencial para crescimento — e eles foram
identificados na Fase 3 — e basear-se neles. Ajuste-os,
reenergize-os, coloque recursos neles — coloque os pontos
fortes que a cultura atual tem para trabalhar a seu favor na
condução da mudança.
• Em terceiro lugar, vale a pena dizer (mesmo que seja óbvio) que
há sobreposição entre as quatro categorias ou etapas do nosso
espectro (Envolver, Evangelizar, Estabelecer, Equipar). Onde o
envolvimento com alguém para e a evangelização começa? Às
vezes é claro; outras vezes é mais difícil dizer. Em particular,
onde está a fronteira entre estabelecer e equipar? Estes dois
estarão sempre se sobrepondo, porque estabelecer é um
processo vitalício que nunca termina, e equipar é um aspecto e
consequência de tornar-se mais maduro e estabelecido em
Cristo.
• Finalmente, lembre-se sempre de que nenhum sistema ou
estrutura será perfeito, ou abrangerá tudo o que Deus está
fazendo à sua volta por meio de seu povo. O ministério será
confuso, porque as pessoas são confusas e porque nós mesmos
somos pessoas finitas e imperfeitas. Apesar de todos os nossos
melhores e mais cuidadosos esforços, alguns de nossos planos
não funcionarão. Não se ligue demais a eles nem os invista de
muita importância. Uma treliça não tem vida; é uma construção
que pode ser desmontada e remontada. Uma treliça também
serve para apoiar a videira, não para determinar exatamente
onde todo o crescimento da videira irá acontecer. Um ministério
4Ps realmente frutífero em geral acontecerá informalmente ao
lado e fora de suas estruturas. Às vezes, um ministério ou
pessoa se levantará e florescerá independentemente de toda a
organização cuidadosa que fizemos. Esteja pronto para lidar
com isto, e construir a partir disto, mesmo se não se encaixar
muito bem com sua estrutura. O importante é que as pessoas
continuem crescendo como aprendizes de Cristo, não que
tenhamos bons e belos caminhos.
Basta, então, das palavras e advertências introdutórias. Vejamos
cada uma de nossas quatro etapas principais para fazer avançar, e
pensemos em como podemos projetar caminhos que ajudem as
pessoas a avançarem por meio delas.
As principais perguntas que precisaremos fazer em cada um dos
tópicos a seguir são:
• Que estruturas ou grupos ministeriais existentes podemos
melhorar ou que novas coisas precisamos iniciar para conduzir
mais eficazmente o ministério 4Ps nesta área?
• Qual é o próximo passo para as pessoas que foram ministradas
em cada fase? (Por exemplo, como alguém deixa de ser
envolvido para ser evangelizado? Ou de ser evangelizado para
ser acompanhado e estabelecido na fé?)
• Quem irá liderar esses ministérios ou grupos novos ou
aprimorados? Que tipo de preparação ou treinamento será
necessário? Isso se tornará cada vez mais urgente ou aparente
à medida que avançarmos por “Estabelecer”, “Evangelizar” e
“Estabelecer”, a seguir. Quase certamente você descobrirá que
as ideias que você tem para progredir em cada área não são
correspondidas pelas pessoas que você tem disponível para
liderá-las ou executá-las. É disso que se trata a etapa “Equipar”!
• Por mais importantes que sejam as estruturas e a liderança, o
conteúdo é igualmente vital. O que realmente está sendo
proclamado e ensinado em nossos diferentes grupos e
ministérios? É a Palavra bíblica de Cristo ou alguma outra coisa?
• Estamos tratando de um único caminho, ou de vários? Vamos
nos referir principalmente a caminhos (plural) no material abaixo,
em reconhecimento de que normalmente são criados múltiplos
caminhos ou opções para as pessoas seguirem adiante.
Contudo, em outro sentido, é possível pensar nisso como uma
grande rodovia integrada na qual seu ministério ajuda as
pessoas a viajarem de “envolver” até “equipar”, com um número
de “pistas” diferentes na estrada que são adequadas para
pessoas e circunstâncias diferentes.
Trabalharemos em cada uma das quatro etapas, oferecendo
algumas ideias e sugestões para refletir e discutir, e contando
algumas histórias sobre como as igrejas que conhecemos estão
trabalhando nisso. Então, no final, você precisará projetar seus
próprios projetos de caminhos que integrem as quatro etapas.
PRIMEIRA ETAPA DO CAMINHO: ENVOLVER
Conversando ao longo de muitos anos com pastores de todo o
mundo sobre ministério e evangelismo, um tema tem sido
comumente angustiante: a maioria das igrejas evangélicas no
mundo ocidental tem pouco ou nenhum envolvimento com suas
comunidades locais.
Uma geração atrás, isso era diferente em muitos lugares. A igreja
era vista como parte da vida da comunidade. Ir à igreja era algo
normal de se fazer, mesmo que muitos dos que iam fossem apenas
nominalmente cristãos. Era na igreja que seus filhos eram
batizados, onde você se casava e onde você até aparecia na
Páscoa e no Natal. O pastor era uma figura local respeitada e
alguém a quem recorrer em tempos de dor e problemas. As pessoas
sabiam sobre a igreja e conheciam muitas das pessoas envolvidas
com ela. Existia uma plataforma relacional, em outras palavras,
sobre a qual uma conversa sobre o evangelho poderia acontecer.
Esses dias se foram, ou estão indo rapidamente, para a maioria
das igrejas ocidentais. Nossas comunidades locais parecem cada
vez mais estranhas, complexas e fora do nosso alcance. A lacuna
cultural entre a “comunidade do mundo” e a “comunidade da igreja”
está se tornando um abismo. Para muitos na “comunidade do
mundo”, a igreja é uma irrelevância inexistente ou (cada vez mais)
um grupo marginal prejudicial com atitudes fanáticas.247
As igrejas estão lutando para lidar com esse ambiente de
mudança. Talvez por termos uma tradição ou memória cultural de
estar natural e facilmente conectados com a comunidade local,
muitas igrejas não sabem como se engajar ativamente ou se
envolver com suas comunidades locais. Elas nunca tiveram que
fazer isso no passado, e agora não sabem por onde começar.
Quando isso é combinado com o modo como a maioria das
congregações está ocupada em apenas tentar sobreviver e lidar
com seus próprios problemas, não é surpresa que a imagem seja
decepcionante. Quando conversamos com pastores sobre o nível de
atividade e sucesso de sua igreja em alcançar além dos muros da
igreja, apenas para se envolver, conhecer e formar bons
relacionamentos amigáveis com as comunidades locais, os relatos
foram sombrios.
Como podemos ajudar as pessoas nesse primeiro passo do
nosso caminho? Precisamos pensar sobre isso, porque é muito
difícil evangelizar milhares de pessoas que vivem à nossa volta
neste “mundo tenebroso” se não as conhecermos nem tivermos
algum contato com elas.
Esse tipo de envolvimento pode acontecer em vários contextos.
a) Relacionamento pessoal
À medida que a proeminência e a respeitabilidade institucionais
da igreja diminuem na cultura ocidental, será cada vez mais
importante que os membros da igreja sejam a linha de frente do
engajamento com a comunidade, enquanto realizam seu trabalho
diário e se relacionam com seus vizinhos e amigos.
Simplificando: precisamos incentivar e ajudar nossos membros a
conhecer pessoas não-cristãs, a se misturar com elas, a criar
amizades e a se envolver com a subcultura ou comunidade em que
vivem e trabalham. Se nossos membros não estão convidando as
pessoas para suas casas e vidas, não adianta insistir para
convidarem pessoas para eventos e atividades da igreja.
Podemos facilitar esse tipo de envolvimento de duas maneiras
principais:
• Não preenchendo a semana com tantas atividades e programas
da igreja que não haja tempo para o nosso povo se envolver
com seus vizinhos;
• Equipando e treinando nosso pessoal para pensar dessa
maneira sobre si e seus vizinhos.
Este segundo ponto será um tema comum em grande parte do
que se segue. Um dos principais passos na criação de “caminhos” é
ensinar e preparar o seu povo para andar nestes caminhos, como
pessoas cuja alegria e privilégio é ajudar o maior número possível
de pessoas a avançarem. Um motivo significativo pelo qual muitos
de nossos membros não se envolvem com seus vizinhos e amigos é
que eles não entenderam a visão de discipulado.248
b) Equipes e grupos
O envolvimento com seus amigos e vizinhos e com a comunidade
local não precisa ser um exercício individual (assim como o caso do
evangelismo, como veremos adiante). De fato, convidar um grupo
de amigos não-cristãos para um evento social com um grupo de
amigos cristãos pode ser uma maneira poderosa e útil de derrubar
barreiras. A comunhão, o amor e a amizade dos cristãos entre si e
pelos outros é um testemunho poderoso e intrigante para muitos
não-cristãos. Muitas histórias de conversão começam com um
testemunho de pessoas simplesmente impressionadas com o modo
como os cristãos vivem e se relacionam uns com os outros; mas
esse testemunho não pode acontecer se não estivermos envolvidos
com as pessoas ao nosso redor.
Existem duas formas inter-relacionadas de pensar sobre isso:
• Podemos fazer disso uma meta ou valor para nossos pequenos
grupos existentes (ou grupos nos lares, ou como eles se
chamarem) — isto é, definir a expectativa de que cada pequeno
grupo (digamos) realize um evento social com amigos ou
familiares não-cristãos ao menos duas vezes por ano.
• Poderíamos criar equipes específicas ou pequenos grupos cujo
foco seja se envolver com uma comunidade ou subcultura em
particular, com o objetivo de não apenas conhecer e relacionar-
se com as pessoas daquela comunidade, mas com o tempo
conduzi-las ao longo do caminho para ouvir o evangelho.
Isso levanta uma questão muito significativa que será relevante
para muitos dos pontos desta seção inteira (sobre a criação de
caminhos): o lugar e a natureza dos pequenos grupos. Estamos
assumindo que, se você está lendo este livro (e chegou até aqui),
então pequenos grupos quase certamente são parte de sua vida
congregacional. Mas o que são exatamente nossos pequenos
grupos? Como devemos pensar sobre eles? Para que servem? E
que lugar eles podem ou devem ter nos caminhos que queremos
projetar para fazer todos avançarem?
Estas são grandes questões, e será preciso parar e discuti-las em
algum momento durante essa área de foco sobre os caminhos —
talvez depois de terminar esta primeira seção sobre “envolver”.
Fornecemos algumas sugestões e um guia para essa discussão no
apêndice 3, “Repensando pequenos grupos”.
c) Ministérios, grupos ou eventos especializados
Muitas igrejas possuem ministérios ou eventos específicos, de
forma regular ou ocasional, para envolver e construir
relacionamentos com sua comunidade. Alguns deles funcionam
porque atendem a necessidades reais da comunidade e outros
porque são apenas divertidos. Exemplos que vimos incluem:
• Círculos de brincadeiras infantis ou grupos de mães — a igreja
organiza uma reunião semanal regular para mães com filhos
pequenos, geralmente em uma manhã durante a semana. As
mães da igreja podem conhecer as mães da comunidade local.
• Aulas de inglês (ou do idioma local) — muitas igrejas,
especialmente aquelas em áreas com uma alta proporção de
migrantes que não falam inglês, organizam aulas semanais para
os membros da comunidade melhorarem seu inglês
(frequentemente usando passagens bíblicas como textos
básicos para ler, e assim por diante).
• Atividades esportivas — é comum em algumas áreas as igrejas
realizarem competições esportivas ou ligas para jovens locais.
• Clubes de férias ou festivais — algumas igrejas organizam um
programa ou festival de uma semana durante as férias
escolares, focados principalmente em atividades para crianças,
para os quais toda a comunidade é convidada.
• Noites para os homens — eventos que envolvem algum tipo de
atividade sem perigo para a qual os homens podem convidar
seus amigos, para que possam ter uma noite agradável,
aprender algumas habilidades importantes para a vida (como
preparar o bife perfeito, torrar seus próprios grãos de café) e
conhecer alguns cristãos.
As possibilidades para esses tipos de eventos e atividades são
limitadas apenas pela sua imaginação. Toda comunidade ou cultura
terá pontos de contato e necessidades com as quais podemos nos
conectar.
Esses tipos de eventos são mais corretamente classificados
como “envolvimento” do que como “evangelização”, porque (em
nossa experiência) eles geralmente não contêm muito conteúdo ou
conversa real sobre o evangelho. Isso não é de forma alguma uma
crítica, apenas um reconhecimento de sua natureza e propósito.
Esse tipo de atividade é um bom e necessário primeiro passo. São
coisas simples e fáceis de anunciar na comunidade local e convidar
alguém para participar. Eles geralmente têm algum tipo de nuance
ou mensagem cristã em si; mas na maioria dos casos isso será uma
introdução leve e fácil a algum aspecto do cristianismo, em vez de
uma apresentação clara do evangelho e um chamado ao
arrependimento. Sem problemas. O propósito desses eventos é
envolver, construir um relacionamento e uma conexão, começar a
falar — realmente conhecer e estar em contato com as pessoas
com quem queremos compartilhar o evangelho.
Vale a pena lembrar alguns pontos sobre esse tipo de atividade:
• Elas tendem a exigir muitos recursos. Geralmente gastam muito
tempo e energia (e às vezes dinheiro) para iniciar e manter, e
esses são recursos que não podem ser colocados em outras
áreas.
• Há uma tendência comum na vida da igreja de confiar em um
evento ou estrutura para “cuidar” de algum aspecto de nossa
missão, diminuindo assim a sensação de que isso é algo que
todos nós podemos estar pensando e agindo como uma parte
regular de nossas vidas. Esse tipo de atividade envolvente pode
ser assim — as possibilidades muito frutíferas mencionadas
acima (em “Relacionamento pessoal” e “Equipes e grupos”)
nunca são consideradas ou priorizadas porque “fazemos” nosso
envolvimento por meio do Festival de Inverno anual.
• Eventos e atividades de “envolvimento” são geralmente muito
populares e bem apoiados pela congregação. Eles
frequentemente geram feedback muito positivo e são
relativamente fáceis de fazer. Há uma sensação de “alcançar” a
comunidade, mas não é algo tão ameaçador (para os cristãos,
isto é) como algo mais especificamente evangelístico. De fato,
vimos um grande número de igrejas nas quais o envolvimento
substituiu o evangelismo no programa da igreja. Isso é algo a ser
observado.
• De longe, a falha mais comum nesse tipo de evento é que não
há um próximo passo claro para os envolvidos. Nós tendemos a
não pensar o suficiente sobre como as pessoas que vêm para os
eventos avançarão mais um passo — isto é, para realmente
ouvir e responder ao evangelho. É como se o objetivo fosse
simplesmente envolver-se e, então, esperar que de alguma
forma algo surgisse em algum momento da caminhada.
• Como estudo de caso, não podemos deixar de pensar em dois
grupos de atividades que conhecemos em igrejas aqui em
Sydney. Ambos eram bem organizados por mulheres cristãs
piedosas e maduras, e ambos conseguiram atrair mais de vinte
mães não-cristãs da comunidade ao redor para ir à igreja toda
semana com seus bebês e crianças pequenas. Durante um
período de três anos, um dos grupos não viu nenhuma de suas
mães não-cristãs ir à igreja, e ninguém se converteu. O outro
grupo viu um fluxo constante de mães não-cristãs comparecer
ao estudo bíblico ou à igreja, com cerca de meia dúzia de
convertidas ao longo dos três anos. Qual foi a diferença entre os
dois? No primeiro caso, as quatro mulheres que dirigiam o grupo
gastavam todo seu tempo e energia apenas para organizá-lo e
executá-lo a cada semana. Havia pouco tempo ou oportunidade
para realmente se conectar com as mães que vinham, conhecê-
las, convidá-las para um café, convidá-las para outra coisa, e
assim por diante. No segundo caso, assim como uma equipe de
quatro pessoas que organizava e dirigia o grupo, outra equipe de
quatro mães da igreja foi recrutada e preparada com a única
tarefa de ir ao grupo de atividades, relacionar-se com as outras
mães, conhecê-las, orar por elas e convidá-las a ler a Bíblia ou
participar de outro evento ou programa do evangelho de algum
tipo. Em outras palavras, algum pensamento, planejamento,
recrutamento e treinamento intencionais foram postos em como
o “envolvimento” levaria à “evangelização”. Isso fez toda a
diferença.
Este último ponto é crucial não apenas para a etapa de
“envolvimento”, mas também para cada ponto ao longo do nosso
caminho. Qual o próximo passo para alguém? Como alguém faz a
transição (neste caso) do envolvimento para o que estamos
esperando e orando que venha a seguir (neste caso, ouvir e
responder ao evangelho)?
Em todo o nosso pensamento sobre ministérios, eventos e
atividades específicas — particularmente com envolvimento e
evangelização — é importante não pular rapidamente para a última
moda. Você sabe como é: você lê ou ouve sobre uma nova ideia ou
ministério inovador que outra igreja está fazendo com ótimos
resultados, e então decide inseri-la em seu próprio caminho,
esperando que ela tenha o mesmo efeito onde você está. Isso
raramente acontece.
É quase sempre melhor construir esse tipo de ministério em torno
de pessoas, em vez de ideias. Olhe ao redor da sala. Veja quem são
as pessoas que Deus lhe deu — sua idade, sexo e etnia, seus
interesses e habilidades, seus contatos e redes — e pense de
maneira criativa sobre como esse grupo de pessoas poderia
envolver e evangelizar as pessoas ao seu redor.
A história de Bruno
Bruno é um dos ministros de uma igreja evangélica
denominacional em um subúrbio onde pessoas de muitas nações
estão se estabelecendo.
Que tipos de questões vocês estão enfrentando para se
envolverem com sua comunidade?
Como podemos, como igreja local (em vez de apenas indivíduos),
ser sal e luz para aqueles que nos rodeiam? Como estamos nos
lembrando dos pobres, o que Paulo fez todos os esforços para
fazer, e que os outros apóstolos ordenaram (Gl 2.10)? Estamos
ministrando da maneira apresentada em Tiago 2.15–16? Estamos
pescando com uma vara de pescar ou com uma rede?
As duas questões-chaves a serem trabalhadas são: “o que nossa
comunidade local precisa?” e “o que nossa igreja local pode
oferecer?”. Onde essas duas respostas se encontram, temos o
formato de nosso envolvimento com a comunidade.
O que você quer dizer com pescar com uma vara ou uma rede?
Quero dizer que não posso apenas fazer sozinho as coisas, o que
torna difícil envolver toda a igreja. Adotando uma abordagem de
“rede”, me conectei às agências comunitárias na área, percebendo o
que seus clientes precisam e o que nós, como igreja, podemos
oferecer. As duas áreas principais são as pessoas que lidam com
violência doméstica e as famílias que precisam de apoio específico.
Quanto a mim, entrei para um número de comitês envolvendo
violência doméstica, e por meio destes eu respondi as perguntas
acima.
O que nossa comunidade local precisa? Ajuda material e novos
relacionamentos para os afetados pela violência doméstica. O que
nossa igreja pode oferecer?
• Ajuda emergencial por meio de nossa igreja na forma de
alimentos, artigos de limpeza, fraldas, cupons para roupas e
alimentos. As pessoas podem coletar cestas aos domingos.
• Relacionamentos por meio de pertencimento à comunidade da
igreja, atividades sociais regulares, grupos de atividades.
Também organizamos almoços a cada dois meses, para os quais
convidamos pessoas que passaram pelo programa de ajuda
emergencial para almoçar, com um programa para crianças e um
lugar onde os adultos podem descansar e ficar. Também estamos
tentando criar um grupo de atividades e a partir daí, esperamos
também vincular pessoas a pequenos grupos.
Quais são os objetivos gerais em tudo isso?
Nosso ministério de alcance tem dois objetivos. Em primeiro
lugar, queremos que as pessoas experimentem pessoalmente o
amor de Deus por meio do povo dele. E em segundo lugar, é claro,
queremos que as pessoas conheçam pessoalmente o amor de
Deus, no Filho de Deus, pela Palavra de Deus.
Em que situações vocês oferecem oportunidades para aprender
sobre Cristo?
Por meio das conversas que acontecem na distribuição dos
alimentos, mas também queremos oportunizamos essas conversas
no almoço (temos uma equipe de boas-vindas que faz isso) e no
grupo de atividades.
Nós os encorajamos a ir à igreja e também realizamos uma série
de cinco noites sobre “Liberdade: respondendo às grandes questões
da vida”. Eu dou palestras sobre temas como liberdade de desejos
prejudiciais, de culpa e vergonha, de rituais religiosos, de injustiça,
de desespero, e temos tempo de discussão.
Então, como são seus caminhos de discipulado?
Nossos caminhos de discipulado agora são algo assim:
A rede de pesca > grupos de atividade e sociais > palestras sobre
liberdade
> pequenos grupos e ir à igreja ao longo do caminho.
Quais são alguns dos desafios?
É fácil, nesse tipo de trabalho de “capelania comunitária”, fazer
apenas contato superficial. Por isso estamos trabalhando duro para
garantir que a igreja faça um contato mais significativo e duradouro
com a comunidade, de modo que encoraje as pessoas a se
juntarem a pequenos grupos e outros programas semelhantes
executados pela igreja.
Por exemplo, o socorro de emergência funciona bem, mas nós
não queremos apenas cair em um modelo transacional, onde
dizemos: “Tudo bem, aqui estão suas coisas, até mais”.
Queremos manter contato em longo prazo e garantir que ele
tenha um rosto e fomente relacionamentos. Estamos
constantemente tentando descobrir qual a melhor maneira de
encorajar as pessoas a seguirem o caminho do discipulado de
Jesus.
Qual foi o impacto em toda a igreja?
Toda a igreja está mais envolvida no ministério, particularmente
com os almoços comunitários em que mais da metade da igreja está
envolvida. Esse tem sido um bom efeito colateral por adotar essa
abordagem, eu acho, e há várias coisas fáceis que as pessoas
podem fazer nos almoços para ajudar, não importa quão novas elas
sejam entre nós. Elas podem arregaçar suas mangas e servir, e
acho que isso também ajuda as pessoas a se sentirem mais
encorajadas no ministério.
A história da Virgínia
Virgínia é do ministério infantil em uma igreja evangélica em um
subúrbio culturalmente diversificado.
Que programas você tem em sua igreja para se conectar com
novas famílias?
Novas famílias vêm para a igreja das crianças (nossa escola
dominical). Também administramos o Clube Infantil depois da
escola, que é um programa baseado em jogos para crianças de 8 a
12 anos. E também há Música e Movimento, que é um programa
quinzenal para crianças de 3 a 4 anos (pré-escolares). Ele está
repleto de atividades de canto, dança e música, e termina com uma
história da Bíblia e o chá da manhã.
Também temos a Hora dos Jogos para crianças pré-escolares em
outras manhãs. É um momento em que pais, avós e cuidadores
podem vir e desfrutar de um estimulante programa de jogos, música,
histórias e artesanato com seus filhos. É também um momento no
qual os adultos podem conhecer outros adultos e obter apoio e
encorajamento, além de criar amizades. E é uma oportunidade para
os cristãos falarem do evangelho na vida das pessoas.
O Clube Infantil, Música e Movimento e a Hora dos Jogos são
todos para alcançar novas pessoas. E no momento, em toda a
igreja, existem cerca de 60 grupos étnicos representados.
Como vocês estão chegando aos pais?
As equipes no meio da semana que viram mais frutos foram as
que tinham um evangelista em sua equipe.
Nosso cuidado pastoral com as famílias da Hora dos Jogos tem
sido um pouco irregular. Mas quando acertamos, é ótimo. Uma
mulher tem um bebê e alguém da igreja aparece com uma cesta de
bebê e refeições. O esposo e a esposa ficam maravilhados, pois
nem mesmo suas famílias fazem isso por alguns deles.
Havia uma senhora que veio à Hora dos Jogos e na segunda
semana disse: “Não tente me converter. Eu não estou aqui pela
religião. Eu gosto do fato de que este é um ambiente limpo e vocês
têm brinquedos de qualidade.”. Ela era muito franca. No final do
ano, ela fez uma cirurgia. Os cristãos da Hora dos Jogos amavam e
cuidavam dela — ela recebia refeições e apoio. E no final daquele
ano, ela alegremente veio ao nosso culto de natal!
Você pode falar um pouco mais sobre os evangelistas?
Todos são chamados para evangelizar, mas identificamos
pessoas que demonstraram ter o dom do evangelismo. Eles falam
de Jesus o tempo todo e nem precisam pensar sobre isso.
Você tenta ter um evangelista em cada um desses programas,
certo?
Sim, é importante que o líder da equipe não seja o evangelista.
Você não quer que seu evangelista seja quem tenha que pensar em
levar o programa adiante, matrículas, certificar-se de que as coisas
estão encaixadas e instaladas. Você realmente quer que seus
evangelistas estejam livres para vir e apenas conversar. Eles não
precisam estar cortando as frutas.
Como vocês injetam o evangelho nos programas?
Em nosso Música e Movimento, todas as vezes há uma história
da Bíblia para as crianças. Geralmente isso estimula as conversas
sobre o evangelho, mas às vezes não. O que é de importância
primordial em qualquer ministério no meio da semana para as
famílias é que os cristãos da equipe vivam e falem de Jesus.
Às vezes as pessoas vêm porque estão curiosas: “O que há para
oferecer aos meus filhos? Sobre o que é esta igreja? Será que serei
bem recebido?”.
Uma senhora muçulmana entrou (por causa do letreiro na frente),
mas estava muito hesitante. Ela disse: “Não tenho certeza se devo
estar aqui. Eu sinto que estou tomando o lugar de alguém de sua
igreja.”. O líder da equipe assegurou-lhe que ela era muito bem-
vinda e lhe deu um pacote de boas-vindas. Dentro do pacote havia
um CD de músicas infantis, My God is so big. O marido não a
deixava ouvir em casa, então ela tocava em seu carro no caminho
de ida e volta da escola. Ela disse que era a única coisa que seus
filhos queriam ouvir.
A outra coisa que fazemos em nossos programas no meio da
semana é dar presentes. Tivemos uma celebração de Páscoa no
ano passado, na qual as famílias de nossos programas Hora dos
Jogos e Música e Movimento se juntaram. Tínhamos cerca de
setenta a oitenta pessoas lá — mães, pais, avós e filhos; era muito
diversificado etnicamente.
Um de nossos líderes leu uma história que levou as crianças do
ovo de páscoa ao túmulo vazio, permitindo que eles vissem Jesus.
Depois, enquanto as crianças faziam uma atividade artesanal, os
adultos ouviram a história da mulher no poço e foram convidadas
para o nosso curso Explicando o cristianismo e para nosso culto de
Páscoa. O dia terminou com uma caça aos ovos de páscoa. Quando
cada família saiu para ir embora, nós lhes demos um livro de
figuras. Custou cerca de 600 dólares, mas todas as famílias
(muçulmanas, hindus etc.) aceitaram o presente. Nossa oração é
que esses livros ilustrados sobre Jesus sejam lidos nesses lares.249
Discussão
1) O que vocês sabem sobre sua comunidade local? Quem vive
aí? Qual é o perfil demográfico de idade, afiliação religiosa,
etnia, cenário socioeconômico e assim por diante? (Se vocês
nunca fizeram esse tipo de pesquisa, agora seria um bom
momento para começar.)
2) Existem alguns pontos de contato óbvios entre a natureza da
comunidade à sua volta e sua congregação — no tipo de
pessoa que vocês são, ou nos tipos de necessidades que vocês
poderiam facilmente satisfazer?
3) Que “envolvimento” vocês estão realizando atualmente? O que
está funcionando bem e pode ser aprimorado? Que novas
ideias vêm à mente?
4) Sem resolver nada definitivamente, quais seriam os três
movimentos mais importantes que vocês poderiam fazer como
congregação para se envolver mais com as pessoas ao seu
redor?
SEGUNDA ETAPA DO CAMINHO: EVANGELIZAR
Então alguém foi “envolvido”; seja pessoalmente, por meio de um
pequeno grupo ou de algum evento ou programa. O que vem a
seguir, a fim de avançarem? Como ouvirão o evangelho? Mais uma
vez, você pode pensar que isso acontece em diferentes contextos.
a) Pessoalmente e em pequenos grupos
Assim como no envolvimento pessoal, o evangelismo pessoal
prospera quando os membros da congregação:
• Pessoalmente entendem e abraçam as convicções que
esclarecemos na Fase 1;
• São equipados e treinados para conhecer o evangelho de
maneira clara e profunda, e para serem capazes de articulá-lo
por si mesmos — cada um à sua maneira, de acordo com seus
próprios dons e oportunidades;
• Encorajam e ajudam uns aos outros a continuar fazendo isso
(por exemplo, sendo uma faceta regular ou tema de pequeno
grupo ou da vida da igreja).
Em outras palavras, o evangelismo pessoal é muito parecido com
estar em um time de futebol. Há um nível básico de habilidade e
comprometimento que todos compartilham, assim como o
reconhecimento de que existem diferentes especialidades, dons e
papéis ao trabalhar juntos como um time em direção a um objetivo
comum.
A habilidade básica para cada membro da equipe cristã é
conhecer o evangelho e ser capaz de articulá-lo (mesmo de forma
muito simples) para outra pessoa; o compromisso básico é querer
fazer isso e procurar fazer isso sempre que Deus nos der
oportunidade. O evangelismo pode acontecer de muitas maneiras
diferentes em um nível pessoal ou em pequenos grupos — desde
ler a Bíblia com um não-cristão até compartilhar seu testemunho ou
ler um livro cristão juntos ou explicar um simples esboço do
evangelho.
Mais uma vez, estamos de volta a “Equipar”. Ensinar, treinar e
encorajar os cristãos nessa área requer que as coisas estejam
acontecendo no extremo “equipar” de seu caminho (mais sobre isso
à frente).
Assim como no envolvimento, pequenos grupos devem ter um
constante soar evangelístico, porque eles são feitos de aprendizes
de Cristo que deveriam estar crescendo em seu amor pelos outros e
em seu desejo de ver outros salvos. E como no envolvimento, isso é
algo que você pode considerar como um valor básico para todos os
pequenos grupos, além de ser um foco particular para alguns
pequenos grupos. Podem ser formados alguns pequenos grupos
cujo foco ou propósito específico seja promover e praticar o
evangelismo.
b) Em programas ou cursos evangelísticos
Muitas igrejas usam cursos ou programas sobre o evangelho
como um próximo passo conveniente e eficaz para alguém
considerar as reivindicações de Cristo.250 Esses tipos de cursos têm
inúmeras vantagens:
• Eles são agradáveis e envolventes, e dão aos participantes não-
cristãos tempo (em várias sessões) para entender o evangelho,
falar sobre isso em um grupo pequeno e descontraído, fazer
suas perguntas e assim por diante.
• Eles possibilitam que os cristãos convidem amigos para
participar com eles.
• Eles podem ser realizados em casas, restaurantes ou na própria
igreja — em qualquer lugar que seja mais prático para aqueles
que você está tentando convidar.
• Fazer com que eles ocorram regularmente (duas ou três vezes
por ano, digamos) garante um ritmo evangelístico regular na vida
congregacional. Continuamos a orar por isso (à medida que
cada novo curso acontece), e continuamos sendo lembrados
sobre o desafio de nos envolvermos com os nossos vizinhos e
amigos e de convidá-los a vir.
• Eles também fornecem um próximo passo simples e claro para
as várias pessoas com quem temos contato na igreja — seja um
visitante que não conhece realmente o evangelho ou um
frequentador esporádico de igreja que nunca tenha realmente
resolvido seu relacionamento com Deus. Se o próximo curso
evangelístico não estiver sendo programado para os próximos
meses, há um passo óbvio a ser dado.
• À medida que capacitamos nosso pessoal para participar
desses tipos de cursos (por exemplo, ensinando-os como
convidar seus amigos e como responder a perguntas e participar
de discussões), estamos equipando-os para evangelizar de
forma mais ampla em suas vidas e motivando-os a continuar.
Sentar-se à mesa com não-cristãos e falar sobre o evangelho
(que é o que acontece nesses tipos de programas) é
tremendamente empolgante e estimulante para a maioria dos
cristãos.
c) Na igreja
Não vamos gastar muito tempo neste ponto, que já foi discutido
com profundidade na Área de Foco 1 (Tornar o domingo uma
referência), mas se a própria igreja é uma ocasião constante para
evangelismo, isso também fornece um próximo passo para alguém
com quem nos envolvemos. Podemos convidá-los à igreja, sabendo
que será uma experiência envolvente e acessível, na qual eles
serão desafiados com algum aspecto do evangelho.
d) Em eventos ou missões pontuais
A era das missões ou cruzadas em grande escala ao estilo de
Billy Graham parece ter passado, pelo menos em nossa parte do
mundo. Grandes eventos com os grandes oradores (frequentemente
famosos ou internacionais) são muito menos frequentes do que nas
décadas passadas.
Sem debater todos os prós e contras do evangelismo em
“eventos especiais” — seja um evento combinado de várias igrejas,
ou dentro da sua própria congregação —, eventos ou missões
pontuais podem ser úteis:
• Eles podem servir como foco e ponto de encontro; algo para
preparar, treinar e orar; algo para catalisar energia e atividade.
• O sucesso ou a utilidade desses eventos depende em grande
parte se eles são sua única estratégia evangelística ou se fazem
parte de um esforço mais amplo de envolvimento e evangelismo.
Igrejas que já estão se envolvendo e evangelizando
extensivamente de outras maneiras (como descrevemos acima)
podem ter muito proveito em um evento pontual de alto nível.
Pode servir como um “ponto de colheita” no qual as pessoas que
têm considerado Cristo por algum tempo tomam a decisão de se
arrepender e confiar nele. Ou pode servir como um “ponto de
escavação” — como um passo anterior no caminho, em que
alguém com quem você está envolvido aparece, sente-se
instigado ou desafiado e decide descobrir mais. Algumas igrejas
realizam algum tipo de evento maior algumas semanas antes do
início do próximo curso de discipulado.
• Por outro lado, as igrejas que ainda não se envolvem ou
evangelizam muitas vezes acabam tendo uma decepção com o
evento ou missão. A congregação não está envolvida com seus
amigos, e por isso não tem ninguém para convidar. Não há um
fluxo de pessoas que estejam considerando o evangelho e,
portanto, ninguém está preparado e pronto para se decidir por
Cristo. E chegamos à conclusão de que “esse tipo de evento não
funciona”.
Mais da história de Davi
Davi é o pastor de uma igreja independente no centro de uma
grande cidade.
Quais são algumas de suas programações ou caminhos para o
evangelismo?
O Dia da Austrália é muito importante em nossa cidade, então em
nossa primeira reunião como igreja, anunciamos que iríamos fazer
uma banca nos mercados e falar do evangelho às pessoas. Todos
compareceram — foi ótimo para nossa nova igreja, e as pessoas
ficaram sabendo quem somos.
Desde o início, realizamos um programa evangelístico chamado
“Café e Jesus” durante cinco semanas, muitas vezes em um café
local. Nós encorajamos os membros a irem com seus amigos. As
pessoas ouvem o evangelho no “Café e Jesus”, mas a ação real não
acontece no evento; acontece no carro, a caminho de casa. Então
eu (ou outra pessoa) dou uma palestra para gerar discussão, com
uma mistura de apologética e exposição do evangelho, como Duas
maneiras de viver, mas com palavras diferentes.
Então, nos fale de um tópico típico de uma palestra.
A palestra 3 é sobre a cruz. Começamos com uma pergunta na
mesa: “Por que é tão difícil perdoar e esquecer?”. Então discutimos
amor e justiça, e como um Deus que ama também pode ser justo, e
isso nos leva à cruz.
O grande detalhe é que os colocamos em mesas — não em uma
mesa grande, mas em muitas mesas pequenas — e queremos que
essas mesas discutam. Isso proporciona duas coisas. Torna o
ambiente realmente seguro para o não-cristão; eles não estão
pensando que todos aqui são cristãos. E nossos membros têm
prática real e ao vivo de evangelismo. Tem sido uma ótima maneira
de vermos pessoas se tornarem cristãs, e também o modo como
conquistamos pessoas pelo poder do evangelismo.
O que mais vocês fazem de evangelismo em sua igreja?
O “Café e Jesus” está sempre acontecendo. Em termos de
dinâmica anual, quero que tenhamos algo que defina o tom do
restante do ano, algo que nos lembre do que estamos fazendo.
Assim, apesar de algumas pessoas na igreja estarem de férias no
verão, é importante que tenhamos evangelismo no começo do ano.
Na verdade começamos em outubro, quando pedimos a todos em
nossa igreja para fazer uma pergunta a amigos e familiares. Neste
ano foi: “Qual você acha que é o maior problema do mundo?”. Então
nossos membros se tornam mais desinibidos para conversar, e nós
(como pregadores) queremos as respostas! Nós recebemos as
respostas, e elas se tornam a base de nossa série evangelística em
janeiro. Nós pregamos sobre as quatro respostas mais comuns
dadas pelas pessoas à pergunta.
Estamos no meio dessa série no momento. Então, há duas
semanas falamos sobre “medo”, e domingo passado sobre
“mudanças climáticas”. Uma pessoa que conheci no domingo à
noite, George, vinha de uma tradição ortodoxa sérvia. Ele foi
abordado em casa por um casal da equipe da missão que lhe disse
que estávamos fazendo essas perguntas. Ele disse que a mudança
climática era o maior problema do mundo, e eles disseram: “Bem,
esse é um dos temas que vamos abordar!”. Ele estava interessado
em saber por que uma igreja falaria sobre mudança climática, então
veio no domingo. Ele foi muito agressivo comigo antes do culto e
estava esperando que eu tropeçasse em alguma coisa. Depois da
programação, ele conversou com muitas pessoas, e então ele se
voltou para mim e disse: “Eu realmente gostei. Estou surpreso e
gostaria de voltar para as próximas duas semanas. Tudo bem?”.
Você tem alimentado a igreja com pregação expositiva ao longo
dos livros da Bíblia. Então, esse cara vai ficar para ouvir sobre
Juízes em fevereiro?
Começamos com um evangelho em fevereiro todos os anos. Se
George continuar indo, ele vai ouvir os primeiros oito capítulos do
Evangelho de Marcos.
Como você evita uma quebra de sentido passando de “mudanças
climáticas” para o evangelho de Marcos?
É preciso estar ciente de que as pessoas que estiveram lá na
semana passada ainda estarão lá esta semana, por isso precisamos
pegar leve com elas. Assim que a série de pregações em Marcos
começa, também começamos nossa primeira série de “Café e
Jesus”, e por isso estamos orando para que George volte nas
próximas duas semanas, e que ele esteja interessado em saber
mais. Toda semana temos apenas um anúncio, e é sobre “Café e
Jesus”. Esse é, na verdade, o ponto de aplicação da maioria dos
sermões: você precisa conhecer mais sobre Jesus, então você
deveria ir ao “Café e Jesus”.
Discussão
1) Analise seus exercícios de avaliação da Fase 3. O que eles
dizem sobre como o evangelismo está acontecendo (ou não)
dentro e por meio de sua igreja?
2) O que está funcionando bem ou tem potencial para ser
aprimorado? Que novas ideias vêm à mente?
3) Sem resolver nada de modo definitivo, quais são os três
movimentos mais importantes que poderiam ser feitos como
congregação para ver o evangelho ser mais compartilhado com
os não-cristãos?
TERCEIRA ETAPA DO CAMINHO: ESTABELECER
Só para esclarecer: “estabelecer” significa a fase no crescimento de
um aprendiz depois que ele se arrepende e se volta para Cristo, a
partir da qual ele cresce em conhecimento e compreensão, cria
raízes profundas de fé e aprende a crescer em vida piedosa,
conforme “guarda todos os seus mandamentos”. É o processo de
amadurecimento da vida cristã e, portanto, é para a vida toda. Inclui
acompanhar um novo crente, ajudar um cristão firme a crescer
ainda mais ou a lidar com um pecado particular, encorajar e
fortalecer os crentes que lidam com dificuldades e sofrimento, e
assim por diante. (Nós nos perguntamos se Encorajar ou Edificar
seriam melhores rótulos para esta etapa — sinta-se livre para
escolher a descrição que gostar mais!)
Na maioria das igrejas, este é o momento em que a ação
acontece. Trabalhando nos exercícios de avaliação da Fase 3 com
muitos pastores em todo o mundo, descobrimos que na vasta
maioria das igrejas, na maioria das vezes, a energia e o esforço da
vida da igreja vão para essa área — em grupos, atividades e
ministérios que ajudam os cristãos a perseverar em Cristo e crescer
em seu conhecimento e piedade (suspeitamos que você
provavelmente descobriu isso em sua própria igreja na Fase 3).
Em certo sentido, isso é compreensível e correto. O que Paulo diz
aos presbíteros de Éfeso?
Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos
constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele
comprou com o seu próprio sangue. (At 20.28)
Para que servem os pastores, se não para cuidar, alimentar e
proteger as ovelhas?
Mesmo assim, muitas igrejas enfrentam duas questões
significativas nesta área:
• Há uma falta de produtividade real ou de resultados observáveis
em muitos desses ministérios. As atividades, grupos e
programas existem (e muitas vezes há muito tempo) e
continuam seguindo, mas temos pouca confiança de que estão
efetivamente fazendo as pessoas avançarem. (Você chegou a
essa conclusão por si mesmo no Exercício de Avaliação 3 da
Fase 3?)
• Muito esforço e tempo são dedicados à manutenção e
crescimento de vários ministérios de “Estabelecer” (como
pequenos grupos, ministérios de mulheres ou grupos de jovens),
e muito pouco acontece nas outras áreas. Não há muito
envolvimento ou evangelização realmente acontecendo, e isso
geralmente acontece porque não há muito “Equipar”
acontecendo.
Essas duas questões estão ligadas. Se a maior parte da vida de
sua igreja está nesta área de “Estabelecer”, sem muita coisa
acontecendo em outro lugar, na verdade significa que essa etapa
está falhando em um ponto-chave. Seu povo não está, de fato, se
tornando semelhante a Cristo — porque, se estivesse, estaria
crescendo em seu anseio de ver outras pessoas salvas e de dar sua
vida para que isso acontecesse. A falta de envolvimento e
evangelismo, que geralmente é acompanhada da falta de pessoas
que querem ser equipadas e apoiadas para fazer isso, geralmente é
sintomática de uma congregação espiritualmente imatura e
subdesenvolvida.
Vamos examinar três aspectos dos ministérios de “Estabelecer” e
explorar como podemos melhorá-los.
a) Estabelecer novos crentes
Quando alguém é convertido por meio do ministério de sua
congregação, o que acontece em seguida? Como eles são
acompanhados?
Esta é uma questão vital. Espiritualmente falando, os novos
crentes são como recém-nascidos. Eles precisam de alimentação
constante, têm muito a aprender e precisam da proteção e do
cuidado de seus “pais” espirituais. Os primeiros 6 a 12 meses
depois que alguém chega à fé em Cristo são um momento tão
animador quanto perigoso. Muitas vezes há uma bagagem
considerável a ser tratada por causa de seu antigo modo de vida, e
pressões e tentações com as quais os crentes mais antigos não têm
mais contato.
Esta é uma área na qual o ministério pessoal e relacional é vital.
Se há algum estágio em “aprender Cristo” no qual precisamos de
acompanhamento pessoal intensivo, orientação e treinamento, é
este. Certamente podemos ter grupos especiais para crentes novos
ou jovens, e isso pode ser muito útil para conduzi-los
sistematicamente pelas verdades fundamentais da fé. Mas mesmo
em tais grupos, precisa haver cristãos maduros o suficiente para
que cada novo crente seja acompanhado por alguém que possa
caminhar ao seu lado e ajudá-lo a aprender Cristo neste estágio vital
(isto é, “discipulá-lo”).
Esse tipo de acompanhamento pessoal de novos crentes é algo
que os cristãos piedosos mais maduros são muito capazes de fazer,
com um pouco de treinamento e apoio (mais uma vez, equipar!).251
No passado (e ainda hoje em algumas tradições), os catecismos
eram usados para esse aprendizado fundamental, com perguntas e
respostas formais sobre os fundamentos da fé.252 Esta abordagem
pode parecer fora de moda para nós, mas tem benefícios que
devem ser ponderados, principalmente na simplicidade do método
(não é difícil de fazer) e na maneira como padroniza a sã doutrina
que desejamos que todos os cristãos aprendam.
Outras igrejas têm um programa “básico” de um ano que elas
exigem que todos em sua igreja completem (incluindo todos os
novos crentes),253 ou classes adultas da Escola Dominical que se
concentram nos fundamentos.
Seja qual for o método, o ensino sadio (ou “catequese”, como J. I.
Packer chama nesta citação) é essencial para o estabelecimento de
discípulos cristãos:
A igreja deve ser uma comunhão de aprendizado e ensino na qual a
transmissão do que aprendemos torna-se uma parte regular do serviço
que prestamos uns aos outros. Certamente essa é uma percepção que
as igrejas de hoje precisam urgentemente recuperar. […]
Ao contemplarmos as complexas preocupações, esperanças, sonhos e
aventuras de renovação cristã de hoje, o discipulado nos impressiona
como a questão-chave atual, e a catequese como o elemento-chave
do discipulado atual, em todo o mundo. A fé cristã deve ser bem e
sabiamente ensinada e bem e verdadeiramente aprendida! Uma ampla
mudança de mentalidade é necessária, sem a qual ditados tão
desgastados como “o cristianismo americano tem três quilômetros de
largura e dez centímetros de profundidade” continuarão, infelizmente, a
ser confirmados.254
b) Estabelecer os recém-chegados na igreja
As pessoas que passam por nossas portas como recém-
chegados apresentam um tipo particular de desafio de
“Estabelecer”. Temos o objetivo organizacional de estabelecê-los
como membros potenciais de nossa igreja — ajudá-los a chegar, se
acomodarem, conhecer pessoas e se tornarem parte do tecido de
nossa comunidade, e assim por diante. Mas o objetivo mais
significativo (embora também esteja relacionado, é claro, a eles se
unirem a uma igreja) está em descobrir em como fazer os recém-
chegados avançarem um passo, a partir de onde quer que estejam.
Na maioria dos casos, os recém-chegados à nossa congregação
serão algum tipo de cristão, mas exatamente onde eles estão e o
que eles precisam para crescer é algo que varia imensamente. Os
recém-chegados chegam à nossa porta em todos os tipos de
estágios diferentes ao longo do espectro — desde alguém que não
é cristão e precisa ser evangelizado até um cristão maduro e firme
que esteja pronto e disposto a se integrar e fazer parte do ministério.
Em outras palavras, estabelecer recém-chegados é outra área
em que o toque pessoal é importante. Alguém precisa dedicar
tempo suficiente a cada novato para realmente conhecê-lo — saber
de onde vem e o que precisa em seguida. Ele pode precisar que o
evangelho lhe seja explicado; talvez precise lidar com uma mágoa
que o manteve fora de qualquer igreja nos últimos 12 meses; ele
pode ter visões amplamente divergentes sobre questões teológicas
que precisam ser discutidas.
Quaisquer sistemas ou processos que existam para receber
recém-chegados, o recém-chegado idealmente precisa do que uma
igreja que conhecemos chama de concierge255 — alguém para ficar
com ele, cuidar dele, apresentá-lo à igreja e a outras pessoas e
guiá-lo para o que ele precisa em seguida, a fim de crescer em
Cristo.
Isso novamente requer alguma organização e algum treinamento.
Por exemplo, você poderia formar um pequeno grupo ou equipe
especificamente para essa finalidade. Eu (Tony) lidero um grupo
como este na minha igreja local. Funcionamos como um pequeno
grupo “normal” em um sentido — somos um grupo de cristãos
maduros que buscam fazer uns aos outros avançarem em Cristo por
meio da Palavra e da oração. Mas nosso foco ministerial além do
grupo está em acompanhar os recém-chegados. Mantemos uma
atenção especial nos recém-chegados aos domingos, e trabalhamos
duro para conhecê-los e obter algumas informações de contato para
poder acompanhá-los. Toda semana, em nossa reunião do grupo,
conversamos e oramos pelos nomes de todos os recém-chegados
que vieram no domingo (ou nas várias semanas anteriores). Cada
um de nós é escalado para acompanhar um recém-chegado ou
casal (geralmente as pessoas que cada um conheceu no domingo),
e depois ficamos com eles nos meses seguintes — entrando em
contato por telefone na primeira semana após a visita, convidando
para os nossos lares (ou visitando os deles), apresentando-os aos
outros, descobrindo onde estão espiritualmente e ajudando-os a
descobrir o que precisam fazer em seguida. Em dado momento,
cada um de nós pode ter até meia dúzia de pessoas pelas quais
estamos orando e acompanhando.
Esse tipo de dimensão pessoal em estabelecer recém-chegados
pode se encaixar muito proveitosamente com outros ministérios,
atividades e estruturas que ajudam os recém-chegados a encontrar
seu caminho. Por exemplo, é possível:
• Haver uma mesa de recepção especial para recém-chegados no
domingo;
• Convidar recém-chegados para um chá da manhã especial
depois da igreja para conhecer o pastor;
• Enviar um e-mail ou carta para eles no início da semana após a
primeira visita;
• Organizar almoços especiais ou outros eventos sociais para os
recém-chegados conhecerem o pastor, outras pessoas novas e
frequentadores regulares;
• Fazer algum tipo de programa especial para orientar os recém-
chegados sobre como é sua igreja, e ajudá-los a dar os
primeiros passos para se tornarem parte de sua irmandade.256
c) Estabelecer crentes em crescimento
Assim como no envolvimento e na evangelização, o ministério de
estabelecer, que faz os crentes avançarem, pode acontecer em
múltiplos contextos:
• Relacionamentos de leitura bíblica em duplas: é quando as
pessoas se reúnem regularmente para se estabelecerem
mutuamente, seja em curto prazo (por exemplo, semanalmente
por três meses) ou em longo prazo (por exemplo, uma vez por
mês durante anos). Isso pode ser muito poderoso porque é
individual e intensivo — podemos nos aprofundar em questões,
desafiar e advertir uns aos outros de uma maneira que muitas
vezes é difícil fazer em um pequeno grupo. Claro, por ser tão
intensivo, também é pouco eficiente e difícil de se multiplicar
rapidamente.
• Pequenos grupos: pequenos grupos caseiros — isto é,
pequenos ajuntamentos de aprendizes de Cristo que se reúnem
regularmente para se ajudarem a avançar por meio dos quatro
Ps — continuam a ser uma estrutura básica e importante para
ajudar os crentes a amadurecer. As vantagens e potencialidades
de pequenos grupos para este tipo de ministério são bem
reconhecidas. No entanto, como observamos em nossa
discussão no apêndice 3, esse potencial muitas vezes não é
colocado em prática. Em muitas igrejas, o pequeno grupo
“treliça” precisa de um trabalho significativo — na visão do que
os grupos são e estão tentando alcançar, na qualidade dos
líderes e no treinamento (inicial e contínuo) que recebem, na
qualidade do material que forma a base para o estudo, e assim
por diante. Talvez o passo mais significativo seja o compromisso
de recrutar, treinar e apoiar líderes piedosos que compreendam
o que é necessário, e estejam equipados e orientados para
crescer em seu papel. (Mais uma vez, falaremos mais a seguir
em “Equipar”.)
• Grupos maiores: seja em seminários, conferências, noites de
ensino, cursos de curta duração ou classes adultas da Escola
Dominical, existem várias maneiras pelas quais o ministério 4Ps
pode acontecer para ajudar a estabelecer os cristãos em sua
congregação. Muitas igrejas usam esses tipos de ocasiões para
abordar tópicos polêmicos em particular (como questões sociais,
sexo e relacionamentos), ou para fornecer aprofundamento ou
ensino intensivo sobre um tópico teológico.
Estabelecer (ou desenvolver) crentes cristãos não é,
naturalmente, um caminho suave, coberto de pétalas de rosa.
Diversos tropeços, quedas e desastres acontecem ao longo do
caminho. Essa é uma das razões por que não nos importamos em
usar a palavra “estabelecer” para descrever todo o processo de
crescimento cristão até a maturidade. Como o Novo Testamento
enfatiza repetidamente, crescimento em sabedoria espiritual,
conhecimento, piedade e frutificação é em grande medida
demonstrado em firmeza e perseverança — em permanecer firme e
não ser movido quando as tempestades se enfurecem e nos
atingem (ver, por exemplo, em Colossenses 1.9–11 como o
resultado da oração ambiciosa de Paulo por eles é perseverança e
longanimidade com alegria). O cristão que continua a “avançar”
(paradoxalmente) está cada vez mais profundamente enraizado em
um único lugar — em Cristo.
Isso levanta a questão do que é frequentemente chamado de
“cuidado pastoral” — isto é, cuidar um do outro, especialmente
durante os tempos difíceis da vida. Algumas igrejas estabelecem
uma estrutura ou método específico para lidar com isso, de modo
que quando algo difícil acontece na vida (um luto, uma doença ou
alguma outra dificuldade), uma determinada equipe ou grupo de
pessoas entra em ação para fornecer apoio pessoal e cuidado.
Idealmente, se nossos pequenos grupos estivessem funcionando
como centros de ministério mútuo, muito desse cuidado pessoal
extra ou especializado talvez não fosse necessário. Não é como se
houvesse dois tipos de amor e ministério uns para os outros — o
tipo de estudo bíblico que fazemos nas noites de quarta-feira, e o
amor prático em tempos de provação, que um grupo diferente cuida
em algum outro ponto. O grupo de aprendizes de Cristo, que é um
“pequeno grupo”, deve amar e cuidar um do outro. Mesmo assim,
muitas igrejas ainda consideram vantajoso equipar as pessoas
particularmente para esse tipo de ministério de amor em tempos de
crise — seja como uma estrutura separada, ou como parte do que
todo pequeno grupo aprende.
É útil pensar no ministério de cuidado pastoral à luz de nossa
visão de ajudar cada pessoa a avançar um passo ao aprender
Cristo. Tempos difíceis na vida não são a exceção, mas a norma
neste mundo tenebroso, tanto para os descrentes como para os
discípulos de Cristo. E sabemos que Deus tem um propósito maior
nessas provações para produzir confiança robusta, duradoura e
alegre nele.257 Crescer em caráter, esperança e perseverança em
meio às tempestades da vida é simplesmente um aspecto de ser
estabelecido como cristão, e acontece (como todo crescimento
cristão) por meio dos quatro Ps.
Então, quando visitamos um paciente com câncer, ou oramos
com uma viúva em luto, não estamos fazendo nada
fundamentalmente diferente de qualquer outro tipo de ministério —
embora as circunstâncias exijam paciência, sensibilidade e cuidado
particulares. Isso nos leva novamente a equipar nossos membros
(talvez por meio de pequenos grupos ou classes) com uma
compreensão básica de como ouvir e amar e, em espírito de oração,
abrir a Palavra com alguém que esteja sofrendo, para que possam
ser consolados e encorajados.258
Discussão
1) Que aspectos de “Estabelecer” estão indo bem? O que poderia
ser aprimorado ou melhorado?
2) Fale sobre seus pequenos grupos (se vocês tiverem). Quais
são os problemas? O que poderia ser feito para melhorá-los
como comunidades de aprendizado eficazes? Quais novos
grupos talvez precisem ser iniciados? Como essa estrutura
central em sua igreja pode ser mais bem usada para equipar
discípulos que fazem discípulos? (Se vocês ainda não leram e
discutiram o apêndice 3 sobre “Repensando pequenos grupos”,
agora provavelmente seria um momento apropriado.)
3) Falem sobre a sua Escola Dominical para adultos (se tiverem).
Qual sua eficácia em ensinar a sã doutrina? O que poderia ser
feito para melhorar? Que novas classes talvez precisem ser
iniciadas? Como é possível usar melhor essa estrutura de sua
igreja para equipar discípulos que fazem discípulos?
COMUNICAÇÃO EXPLÍCITA
Seus olhos sempre reviram quando as pessoas começam a falar
sobre visões, missões, valores, propósitos, metas e prioridades
estratégicas? Você se senta em silêncio esperando que você não
seja o único na sala que realmente não entende a diferença entre
todas essas palavras que soam tão importantes? Nesse caso, ficará
aliviado ao saber que não estamos prestes a entrar em uma
discussão teórica sobre terminologia de gerenciamento.
Mas se você quer mudar toda a cultura da sua igreja na direção
que estamos discutindo, então independentemente de rótulos ou
termos que queira usar, existem várias mensagens importantes que
precisará comunicar de forma explícita, memorizável e frequente. É
preciso criar uma nova (ou renovada) linguagem que se torne a
maneira padrão e normal na qual vocês falam como uma
congregação sobre quem são, sobre o que estão tratando e o que
veem no seu futuro.
Em particular, é preciso criar uma comunicação clara que
responda a quatro perguntas-chave. Felizmente, tudo o que foi feito
até este ponto deve ajudar a responder a essas perguntas
rapidamente:
a) Que tipo de igreja Deus quer que sejamos? (Isso geralmente é
chamado de “visão” e é guiado pelas convicções teológicas que
aprofundamos na Fase 1.)
b) Com a orientação de Deus, como vamos chegar a esse futuro?
(Esses são os meios ou estratégias gerais que usaremos e,
novamente, resultam de nossas convicções da Fase 1 sobre os
quatro Ps do ministério, sobre fazer avançar, e assim por
diante.)
c) Quais são os nossos objetivos específicos para o crescimento
nos próximos (digamos) cinco anos? (Estes são os objetivos
específicos para o crescimento trabalhados há pouco na Área
de Foco 3).
d) Quais são as nossas prioridades específicas ou planos para
alcançar esses objetivos? (Estas são as outras áreas de foco
trabalhadas nesta fase — ou seja, Tornar o domingo uma
referência e criar caminhos — bem como outros principais
passos práticos necessários, como empregar funcionários ou
tomar decisões sobre propriedade.)
Suas respostas a (a) e (b) são sua maneira de expressar as
convicções teologicamente orientadas que devem moldar e mudar
sua cultura. Juntas, elas devem fornecer uma justificativa para
praticamente tudo que é feito como congregação. Sempre que
alguém em sua congregação faz uma pausa para se perguntar por
que estamos fazendo X em vez de Y, a resposta que deve aparecer
em suas mentes é: “Ah, claro, sei por quê: porque Deus quer que
nos tornemos esse tipo de igreja, e a maneira como vamos chegar
lá é fazendo isso”.
Como é possível efetivamente comunicar suas respostas para (a)
e (b)? Aqui estão algumas ideias:
• Transforme suas respostas em declarações curtas, claras e
memorizáveis que possam ser repetidas sempre, nas várias
formas e contextos possíveis. Você pode até combinar suas
respostas a (a) e (b) em uma mesma frase: “com a graça de
Deus, queremos nos tornar [esse tipo de igreja] fazendo [isso]”.
• Tente fazer com que a maneira de expressá-las seja distinta e
penetrante (“Todos queremos aprender Cristo e ajudar os outros
a aprender Cristo envolvendo, evangelizando, estabelecendo e
equipando”), em vez de genérica (“Queremos dar a glória a Deus
em todas as coisas, amando a ele e às pessoas”). Busque
sempre a clareza.
• Compartilhe esses resumos memorizáveis sempre que puder:
em cada pedaço de papel impresso, em todos os e-mails e em
todas as páginas da web, em marcadores e camisetas, em suas
apresentações do PowerPoint no domingo, em seu boletim
informativo regular, como um prelúdio constante para anúncios
sobre o que está acontecendo e assim por diante. Sua
congregação deve chegar ao ponto em que eles sabem o que
vem por aí e terminem a frase para você.280
• Desdobre, explique e exponha regularmente suas respostas a
(a) e (b) em sermões, em “dias de visão” para toda a
congregação, em reuniões com líderes principais, em cursos de
membros, em livretos e outros documentos, em estudos bíblicos
e de qualquer outra forma que comunique e convença o seu
povo sobre a verdade dessas convicções.
• Essas declarações curtas do tipo “visão” são direcionadas à sua
congregação e não necessariamente estarão em sua publicidade
externa sobre sua igreja na comunidade local. Não pense que é
preciso criá-las de modo que sejam atraentes para um não-
cristão que vê a placa de sua igreja ao passar de carro. Como
você anuncia sua igreja para a comunidade é uma questão
separada.
Quando combina suas respostas a (a) e (b) (sua grande visão
para o futuro e como chegar lá), com suas respostas mais
específicas a (c) e (d) (metas específicas para o futuro e planos
específicos para chegar lá), o que você magicamente tem é um
“plano estratégico”. Este documento deve ser detalhado o suficiente
para fornecer um roteiro para a maioria de suas decisões e ações
semanais e mensais, mas curto o suficiente para ser digerível e
utilizável. Um plano encadernado de 60 páginas ficará sem uso na
gaveta de alguém. Um PDF de 6 páginas, com boas tabelas e
gráficos de resumo, pode ser uma presença constante na área de
trabalho e na mesa de discussão.
COMUNICAÇÃO IMPLÍCITA
Além de comunicar sua visão explicitamente (e muitas vezes), você
também quer que ela se torne uma nota constante — como o som
de um diapasão — que ressoa em sua vida congregacional. Aqui
estão algumas ideias de como é possível conseguir isso:
• Pense um pouco em mudar os nomes de alguns de seus
ministérios ou elementos em seu “caminho”, para que eles
reflitam a visão que você deseja comunicar.
• Ao planejar as orações públicas semanais na reunião principal
de sua igreja, use algumas das principais categorias, rótulos ou
linguagem de sua visão para moldar suas orações. Se os quatro
Es fazem parte da sua linguagem, por exemplo, é possível se
concentrar em orar por envolver, evangelizar, estabelecer e
equipar os ministérios em diferentes semanas.
• Continue relacionando a pregação com aspectos da visão,
quando a passagem bíblica o conduzir a isso.
• Quando anunciar ou relatar eventos ou atividades da igreja,
continue usando a linguagem de sua visão para descrevê-los,
para mostrar como eles se encaixam no quadro maior do que
vocês estão fazendo juntos.
• Compartilhe histórias de como as pessoas estão se tornando
cristãs e crescendo, como estão aprendendo a ser semelhantes
a Cristo no dia-a-dia, como estão sendo perseguidas por
defenderem Cristo, e assim por diante (veja a história de Gabriel
abaixo como exemplo). Contar histórias é talvez a forma mais
importante de comunicação implícita. Seja em depoimentos ou
entrevistas durante o culto de domingo, em cartas de notícias
por e-mail, videoclipes ou outros documentos, há poucas coisas
mais poderosas do que ouvir pessoas reais falarem sobre como
estão começando a viver a cultura de discipulado que você quer
ver crescer.
Mais da história de Gabriel
Gabriel lidera uma igreja anglicana evangélica em uma
comunidade multicultural com uma população em rápido
crescimento.
Como você continua definindo a visão e a cultura que deseja?
Eu realmente reforço o princípio de que a visão se beneficia de
histórias que captam nossa visão e valores. Então, sempre que
ouço uma história de alguém testemunhando para outra pessoa, ou
alguém fazendo um grande chamado para Jesus, eu envio por e-
mail ou entrevisto a pessoa na igreja.
Por exemplo, recentemente uma mulher me contou uma história
sobre fazer com que seu grupo de crescimento a cobrasse sobre
visitar uma senhora afegã em sua rua. As duas mulheres estão
agora se reunindo regularmente com seus respectivos maridos,
tendo “conversas sobre Jesus”. É simplesmente uma história
adorável. Então (com a permissão dela) eu vou enviar isso em um
e-mail para todos. Na maioria das semanas, há histórias sendo
divulgadas.
E entrevistas pessoais — é apenas fazer com que as pessoas
comuns falem das oportunidades que elas têm. Nós usamos a frase
“Tornar as pessoas comuns em heróis”. Como pastor eles meio que
esperam que eu evangelize, você sabe — eu sou pago para isso, e
eu fui para o seminário. Mas estou sempre tentando encontrar
aquela pessoa que não vai ser o caso clássico, para trazê-la à frente
e deixá-la contar sua história de evangelização.
Mais da história de Ricardo
Ricardo foi nomeado ministro de uma igreja denominacional em
uma grande cidade há alguns anos.
Que símbolos ou artefatos ajudaram a mudar a cultura?
Mudar o letreiro da igreja foi um grande momento. A igreja ficava
num grande quarteirão, e faz tempo venderam a metade da frente
para um hotel para pagar o prédio. Da estrada, tudo o que você
pode ver da nossa igreja é uma entrada de automóveis. Então havia
essa enorme seta branca, com escrita azul conservadora e a foto de
uma família dos anos 70.
Alguém sugeriu que mudássemos a placa, aumentássemos
nossa visibilidade e fizéssemos algo divertido. Eu sugeri fazer algo
verde e brilhante. Dois presbíteros conservadores disseram: “Vamos
pintar uma grande seta verde”. Então eu me afastei e deixei os dois
presbíteros pintarem a placa. Se alguém me perguntasse sobre a
placa, eu dizia: “Você terá que perguntar a Breno e Isaque sobre
isso!”.
Imediatamente as pessoas da comunidade começaram a falar
sobre a grande seta verde. Colocamos uma faixa no topo e
tínhamos um novo site. Essas mudanças nos deram visibilidade. Foi
divertido.
Outra coisa importante foram as canções de natal. Nós
costumávamos cantar canções de natal todos os anos no prédio da
igreja.
“Por que fazemos isso?”, eu perguntei.
“Porque é Natal.”
Eu sugeri convidarmos a comunidade. Então formamos uma
equipe, distribuímos convites nas caixas de correio, imprimimos e
vestimos camisetas verdes com o nosso slogan, e fizemos pinturas
nos rostos. Era um evento grande, e as pessoas estavam um pouco
nervosas com isso. Mas ficou lotado (cerca de quatrocentas
pessoas vieram) e as pessoas vieram para o nosso espaço. Foi
louco. As crianças ficaram amontoadas na frente, algumas delas se
estranhando — e eu tentando separar essas crianças com meus
pés para impedi-las de brigarem, enquanto tocava Natal281 com
meu violão.
Mas Deus honrou tudo isso, e a partir daí percebemos que
tínhamos que sair com as canções natalinas. Desde então, fazemos
um culto de cantos ao ar livre, conduzido da traseira de um
caminhão estacionado em nossa garagem.
Também remodelamos o boletim da igreja e tornamos as coisas
mais profissionais. Trabalhamos em nosso site e em nossos
audiovisuais. Não queríamos que as pessoas ficassem
envergonhadas se viessem.
Todas as semanas eu envio um e-mail que inclui notícias do
boletim, além de um pequeno artigo que escrevi — elogiando a
congregação por ser acolhedora para os recém-chegados e
reforçando isso, ou respondendo ao sermão. Tudo isso ajudou a
remodelar a cultura — pequenas coisas que juntas se tornam muito
poderosas.
PROJETO: DESENVOLVER UM PLANO
DE COMUNICAÇÃO
1) Analisem o rascunho do manifesto elaborado no final da Fase 1.
Há algo que vocês gostariam de mudar ou melhorar?
2) Reduzam o manifesto a algumas declarações simples que
respondam às duas questões gerais sobre a cultura da sua igreja:
a) Que tipo de igreja Deus quer que sejamos?
b) Com a orientação de Deus, como vamos chegar a esse futuro?
3) Elaborem um plano de comunicação sobre como pretendem:
a) Explicar, expor e persuadir a congregação sobre a verdade
dessas declarações por meio de sermões, apresentações na
web, videoclipes, apresentações de visão, reuniões com líderes
e assim por diante.
b) Continuar repetindo e divulgando essas declarações da
maneira mais ampla e frequente possível.
Vocês podem usar um modelo de planejamento como este:
FORMA DE PESSOA
MEIO OU CANAL PRAZO
COMUNICAÇÃO RESPONSÁVEL
Declaração resumida Slide de abertura, 2 de Jonas
boletim abril
Apresentação da Jantar de celebração 20 de Wesley
visão (em 1 hora) para toda a igreja junho
Veja o capítulo de Craig Hamilton “Seu povo deve ser capaz de ter uma boa impressão
sobre você” em Wisdom in Leadership, p. 421-8. Sobre repetir a visão diversas vezes, ele
diz: “é quando começo a ficar entediado com ela que provavelmente as pessoas estão
começando a se lembrar vagamente dela”. Seu capítulo sobre a natureza da visão
também é muito útil; veja “O ponto é clareza, não rótulos”, p. 337-44.
N. do E.: Charles Wesley, “Natal”, trad. Robert Hawkey Moreton, em Cantor Cristão, 10ª ed.
(Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1995), hino nº 27.
Fase 5 | Manter o Ímpeto
Manter o ímpeto
Talvez você esteja pensando que a parte difícil acabou. Não há
dúvida de que a Fase 4 exige tempo e esforço — tanto pensar e
repensar, tantas opções e possibilidades, e tanto falar, falar, falar
sobre o que vamos realmente fazer.
Contudo, como já notamos uma vez, o planejamento estratégico
é, na verdade, a parte fácil. É na execução que quase todos caem.
O estágio realmente desafiador de impulsionar qualquer mudança
cultural profunda é, na verdade, executar seus planos — de forma
persistente, flexível e eficaz durante o período considerável que será
necessário para que qualquer mudança real ocorra.
Esta fase final do Projeto Videira tem a ver com esse desafio.
Nesta fase, falaremos sobre os inevitáveis obstáculos, desafios e
dificuldades que virão, e planejaremos como manter o ímpeto não
apenas para este ano, ou o seguinte, mas por muitos anos no
futuro. Vamos analisar cinco tópicos:
1) Entendendo os obstáculos
2) A pressão sobre os pastores
3) A pressão sobre o nosso povo
4) Liderança, equipe e governança
5) Habilidades práticas para manter o ímpeto
Ao fazer isso, estamos muito conscientes de que estamos
cobrindo tópicos que merecem capítulos ou livros inteiros para si.282
Nosso objetivo é dar os contornos da paisagem e um mapa para
percorrer o seu caminho nessa jornada, mas depois apontar para
onde podem ser encontradas direções e orientações mais
detalhadas.
1) ENTENDENDO OS OBSTÁCULOS
Mudar a “maneira como fazemos as coisas por aqui” nunca
acontece de maneira rápida ou fácil. Nossas linguagens
compartilhadas, práticas, hábitos, estruturas, atividades, tradições,
sabedoria, símbolos, rituais e relacionamentos foram estabelecidos
ao longo de um considerável período de tempo — às vezes séculos.
Cada cultura tem certo peso ou inércia, como um brinquedo do
tipo joão-bobo que você pode empurrar, mas que sempre se apruma
e retorna à sua antiga posição. Como já notamos mais de uma vez,
mudar uma cultura requer alguma persistência. Não é uma
operação estratégica de ataque; é mais como uma guerra terrestre
prolongada na Ásia.
Mas há também a dificuldade inerente de implantar qualquer
plano com sucesso em nosso mundo, dadas as forças naturais do
caos e da entropia. As pessoas são falíveis; elas cometem erros ou
deixam de cumprir suas promessas. O mundo é complexo e não
podemos considerar todas as circunstâncias ou variáveis em nossos
planos. O futuro é desconhecido para nós e pode trazer uma
mudança inesperada que destrói completamente nossos planos.
Tudo isso é apenas o oceano em que navegamos. Qualquer
tentativa de “mudança de cultura” em qualquer organização em
nosso mundo — seja uma empresa, agência governamental ou
escola — enfrentará esses ventos desfavoráveis.
Mas à medida que procuramos gerar mudança cultural nas
igrejas, enfrentamos um obstáculo adicional no nível primário: o
pecado. Suponho que podemos dizer que a entropia e a frustração
geral de fazer qualquer coisa no mundo são resultado do pecado e
da queda, mas na mudança da cultura da igreja a presença do
pecado é mais aguda. Isto porque o que estamos procurando fazer
é mover toda a cultura da igreja, e as pessoas que nela habitam, na
direção da piedade e maturidade em Cristo. Se nossas convicções
estiverem certas, o tipo de mudança de que estamos falando não é
apenas um realinhamento organizacional ou uma nova abordagem
estratégica — é um arrependimento em direção à semelhança com
Cristo.
Em outras palavras, a razão fundamental pela qual as culturas
das igrejas não estão mais alinhadas com as convicções que
esclarecemos na Fase 1 não é histórica ou circunstancial; é
espiritual. É falta de confiança na Palavra de Deus, falta de
dependência do Espírito de Deus, falta de amor cristão pelas
pessoas que nos rodeiam, falta de esperança no reino eterno de
Cristo que é o nosso verdadeiro lar, e assim por diante.
Essa é a razão básica pela qual a cultura da igreja e as pessoas
nela resistirão à mudança na direção da qual estamos falando. É a
mesma razão pela qual nossos corações resistem a essa mudança.
Enquanto eu (Tony) escrevo este parágrafo, estou olhando pela
janela do meu escritório para o meu vizinho não-cristão trabalhando
em seu quintal. Há uma parte do meu coração que está feliz por eu
estar ocupado aqui na minha mesa escrevendo sobre evangelismo
e crescimento, porque é mais fácil do que estar lá fora falando com
ele sobre Cristo. E é assim que todos nós somos. Nossos corações
pecaminosos têm uma tendência a “retroceder”, mesmo quando a
Palavra e o Espírito de Deus nos impelem e nos levam a “avançar”.
A mudança cultural é ainda mais difícil do que uma guerra
terrestre na Ásia. É uma batalha espiritual contra forças que não
podemos sequer conquistar em nós mesmos, muito menos em
nossa congregação — não com nossos próprios recursos. Nós só
podemos fazer isso com as armas que Deus provê, como a
armadura da verdade, justiça, evangelho, fé, salvação, Espírito,
Palavra e oração em Efésios 6.
Em particular, devemos continuar orando e dependendo que
Deus maneje a espada do seu Espírito no coração de seu povo.
Discussão
1) Revisem a lista de obstáculos ou dificuldades para a mudança
analisados na Fase 3, Exercício de Avaliação 7. Vocês
mudariam sua classificação agora sobre quais são os mais
difíceis?
2) Vocês adicionariam algum outro obstáculo importante à lista
(de acordo com o planejamento feito na Fase 4)?
3) Olhando novamente para os obstáculos mais significativos
identificados agora:
a) Tentem reformular cada um como um problema espiritual,
com uma passagem da Bíblia que avisa sobre esse problema
ou nos ordena a ser diferente.
b) O que seria possível fazer para detectar e desarmar ou evitar
cada um desses obstáculos?
4) Aqui está uma lista diferente de obstáculos — uma lista de
razões que as igrejas deram, retrospectivamente, a respeito de
por que seus esforços para iniciar o crescimento e a mudança
falharam.283 Quais destas têm mais chances de comprometer
seus próprios esforços para reformular a cultura de sua igreja?
a) O projeto não foi realmente levado a Deus em oração;
falamos sobre orar, mas acabamos não orando muito.
b) Não conseguimos alistar um grupo central de líderes ou
defensores leigos apaixonados para ajudar a modelar e
liderar a mudança.
c) Subestimamos o poder e a inércia da cultura existente.
d) Não fizemos o suficiente para promover um senso de
urgência para as mudanças.
e) Não demos às pessoas tempo e espaço suficientes para
fazer a transição emocional para algumas das novas
estruturas e iniciativas que introduzimos.
f) Compramos a solução pronta de outras pessoas. Tentamos
“encaixar” novos programas e estratégias no trabalho
existente, em vez de reconstruir a cultura a partir do zero.
g) Recuamos de algumas decisões importantes porque não
queríamos enfrentar as consequências ou constrangimentos
de colocá-las em prática.
h) Depois de um tempo, não conseguimos ver os benefícios das
mudanças, então voltamos ao status quo.
i) Nós realmente não demonstramos a nova cultura do
ministério de tal forma que as pessoas pudessem ver do que
se tratava.
j) Não comunicamos eficazmente as razões da mudança e o
que isso significaria para alcançar mais pessoas com o
evangelho.
k) Não estávamos dispostos a fazer mudanças em nossas
estruturas organizacionais para remover obstáculos à
mudança.
l) Não conseguimos traduzir a visão em etapas de implantação
compreensíveis e realizáveis.
m) Tentamos fazer muitas coisas novas de uma só vez. O
processo morreu por causa de mil iniciativas.
n) Começamos o processo de mudança, mas perdemos o
ímpeto. Não tínhamos planos para nos mantermos em
movimento.
O Ministério Fiel visa apoiar a igreja de Deus, fornecendo conteúdo fiel às Escrituras
através de conferências, cursos teológicos, literatura, ministério Adote um Pastor e
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Disponibilizamos em nosso site centenas de recursos, como vídeos de pregações e
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“Este livro expõe uma mudança crucial que é necessária à maneira de pensar de muitos
pastores. Os autores ouviram cuidadosamente a Bíblia. O resultado é um livro bem
escrito e bem ilustrado, porém, muito mais do que isso, um livro cheio de sabedoria
bíblica e conselho prático. Este é o melhor livro que já li sobre a natureza do ministério.”
— Mark Dever, pastor da Capitol Hill Baptist Church (Washington/D.C.)
UM PROJETO EM GRUPO PROJETO VIDEIRA NÃO É UM LIVRO QUE
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N. do T.: Groundhog Day (1993, dir. Harold Ramis) é um filme em que o personagem
principal revive seguidas vezes o mesmo dia, em uma espécie de loop temporal.
Em uma igreja norte-americana muito grande e bem conhecida na qual estávamos
conduzindo um seminário sobre essas questões, a equipe de liderança confessou
(timidamente) que, por muitos anos, líderes de pequeno grupo foram recrutados pelo
envio de um e-mail pedindo voluntários.
N. do E.: Veja Peter Blowes, O método sueco de leitura bíblica, Voltemos ao Evangelho,
acessado em 26 de agosto de 2019, voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/o-metodo-
sueco-de-leitura-biblica/.
John Dickson, Simply Christianity: a modern guide to the ancient Faith (Sidney: Matthias
Media, 2003)
Usando uma versão anterior à publicação do material que se tornou Six steps to loving your
church.
Recursos adicionais
sobre evangelização, discipulado e igreja.
Recursos adicionais
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