Proposta Socioeducativa
Proposta Socioeducativa
Proposta Socioeducativa
EM TEMPOS
DIFÍCEIS
Proposta
Sócio-educativa
da Instituição
Teresiana
na América Latina
2ª edicão
Tradução
xxxxxxxxxxxxx
Instituição Teresiana
América Latina
2009
S U M Á R I O
APRESENTAÇÃO
O PROCESSO VIVIDO
I CONSTATAÇÕES E REFERENCIAIS
1.1 Contexto e perspectivas latino-americanas
1.2 Correntes pedagógicas transformadoras
1.3 Desafios educacionais atuais à luz da
pedagogia povedana
II LINHAS ESTRATÉGICAS
2.1 Ênfases Comuns
2.1.1 Evangelização – Compromisso social –
Projeto educacional
2.1.2 Dimensão global – Regional – Local
2.1.3 Memória – Identidade – Projeto
2.1.4 Diálogo intercultural – Inter-religioso –
Pluridimensional
2.1.5 Pedagogia situada – Participativa –
Interdisciplinar
2.1.6 Educadores lúcidos – Comprometidos –
Agentes culturais
2.1.7 Processos educacionais – Novas tecnologias
– Redes de solidariedade
2.1.8 Construtores de saberes – Práticas sociais –
Articulados com outros
2.1.9 Resistência – Celebração – Esperança
III ANEXO
Seleção de textos de Pedro Poveda
APRESENTAÇÃO Da
segunda edição
APRESENTAÇÃO
12
O PROCESSO VIVIDO
15
16
C O N S TATA Ç Õ E S
PARTE I
E REFERENCIAIS
I ntrodução
1 Neste contexto de desafios tão radicais, e o consumo, o ter mais do que o ser,
é imprescindível que tornemos a per- uma sociedade que valoriza a educação
guntar-nos qual é o papel dos processos na medida em que forma sujeitos capazes
educacionais. O papel da educação será de agir em sintonia com os valores e a
diferente? Cabe aos educadores assumir lógica dominantes, que a considera um
um papel diferente do que nos foi tradi- “meio” para outros fins, quase sempre
cionalmente atribuído? Acreditamos que fins econômicos. Uma pedagogia que
sim, que é indispensável e urgente que a parta desta convicção é uma pedagogia
educação favoreça processos de constru- que ousa colocar a pessoa como centro
ção de identidades pessoais e sociais ca- do processo educacional, com tudo o
pazes de ser sujeitos de sua própria vida, que isto significa; implica dizer ao sujeito
autônomas e solidárias, atores sociais que individual, único e irrepetível que ele tem
se comprometam com a transformação sentido e valor pelo simples fato de ser
da realidade e a construção de uma nova pessoa, sem que importem as condições
cidadania, nas esferas local e global. materiais, sociais, culturais ou de qual-
quer outro tipo; trata-se de sujeito que
2 Uma pedagogia que parta desta convicção se constrói na interação com os outros
é uma pedagogia contra a corrente, pois e em contextos socioculturais concretos.
atua em uma sociedade globalizada que Trata-se de uma educação que favorece a
adotou como valores centrais o mercado construção de sujeitos sociais coletivos
24
comprometidos com a transformação a aprendizagem é um processo sempre
das nossas sociedades e da totalidade do contextualizado. Cada pessoa constrói
planeta. O que buscamos é uma educação suas aprendizagens através de processos
que ajude os seres humanos a conquista- individuais e coletivos. Portanto, para
rem seu direito de ser pessoas, de viver ter sentido, a prática educacional precisa
com sentido e dar sentido às suas vidas abraçar os interesses, necessidades, senti-
para que possam ser e viver de um modo mentos e competências de cada um dos
plenamente humano. diferentes grupos e, a partir daí, construir
o futuro junto com eles.
3 Nas últimas décadas, têm-se desenvolvido
na América Latina numerosas correntes 5 A perspectiva transformadora parte da
pedagógicas com esta perspectiva trans- convicção de que todos aprendemos me-
formadora, que vem recebendo diferentes lhor o que tem sentido para nós, apren-
nomes: pedagogia crítica, libertadora, demos melhor quando realizamos ativi-
problematizadora, crítico-social, etc. No dades, exploramos, fazemos perguntas e
entanto, algumas características estão buscamos soluções, quando dialogamos,
presentes em todas elas e as configuram quando não temos medo, quando somos
em uma perspectiva comum: conceber incentivados a pensar e experimentar res-
os processos educacionais como histo- postas por nós mesmos, quando nossas
ricamente situados, articular a educação propostas e opiniões são reconhecidas e
com outros processos sociais, trabalhar valorizadas, quando confrontamos nos-
sistematicamente a relação teoria-práti- sas buscas com as dos outros e somos
ca, favorecer processos de construção de capazes de caminhar juntos/as.
sujeitos autônomos, competentes, soli-
dários, capazes de ser sujeitos de direito 6 Neste sentido, a educação transformado-
no plano pessoal e coletivo, capazes de ra promove aprendizagens significativas
construir nossa história e apostar em um sobre o eu, o tu e o outro; sobre a vida e
mundo e em uma sociedade diferentes, de o mundo, sobre o futuro e a esperança. A
utilizar metodologias ativas, participativas, aprendizagem, assim entendida, é holísti-
personalizadoras e multidimensionais, ca, é uma aprendizagem que comprome-
articuladoras das dimensões cognitiva, te a totalidade do ser: seu intelecto, seu
afetiva, lúdica, cultural, social, econômica, corpo, sua afetividade, seu ser vivencial,
política e transcendente da educação. seu ser individual e social.
33
34
PARTE II LINHAS ESTRATÉGICAS
I ntrodução
Nossa vida cotidiana no tempo presente xo: devemos conhecê-lo cada vez melhor
vai além do plano local. Ela é atravessada e procurar intervir nele, segundo nossas
por outras dimensões que não podemos possibilidades:
perder de vista ao elaborar e desenvol- • Comprometemo-nos a procurar os
ver nossas propostas educacionais. Por meios necessários de informação e
conseguinte, devemos levar em conta as discussão sobre os processos de globa-
dimensões constitutivas de nossas ações, lização e sua influência no continente,
especialmente as que se referem ao âmbi- assim como nos planos nacional e
to regional e global. Por seu intermédio, local, participando dos movimentos
quer queiramos ou não, influenciamos e de denúncia de uma globalização
fazemos parte de um tecido mais comple- excludente, discriminadora e destrui-
37
dora do meio ambiente, procurando sustentável, a partir de nossos projetos
apoiar os movimentos voltados para e centros, bem como participando de
a construção de uma globalização movimentos e redes nacionais, regio-
solidária, inclusiva e ecológicamente nais e internacionais.
Nesta época, somos especialmente inter- vezes estão marcadas pela discriminação,
pelados por uma questão que pode ser pela exclusão e pela negação da digni-
sintetizada assim: igualdade e diferença. dade de grandes maiorias de homens e
Não é fácil articulá-las. Vivemos em so- mulheres. Trata-se de promover processos
ciedades plurais nos âmbitos religioso, graças aos quais sejam transformados a
cultural, político, social, econômico. mentalidade e a dinâmica das relações,
Enfrentamos a cada dia a realidade do en- questionando tudo aquilo que negar a
contro com o diferente, com o outro. Nas humanidade do outro. Surgem assim
nossas sociedades, estas relações muitas sensibilidades e capacidades novas para
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celebrar e fazer juntos/as em um proces- logo com diferentes realidades culturais
so que cada vez mais abranja todas as e religiosas, assim como a trabalhar em
dimensões da nossa vida. nossos centros e projetos as questões
de gênero e a valorização das diversas
• Comprometemo-nos a desenvolver etnias presentes em nossas sociedades,
processos que promovam o reconheci- sobretudo as que se referem aos povos
mento do outro, a aproximação e o diá- originários e os afrodescendentes.
Para viver, nas diferentes esferas sociais, dinamismo. No transcurso de toda sua
o respeito efetivo aos direitos humanos história, nossos povos têm manifestado
individuais e coletivos, produto de rela- grande capacidade de resistência em meio
ções sociais marcadas pela fraternidade, a inúmeras crises e grandes dificuldades.
a justiça e a solidariedade, é preciso Também sabem celebrar as conquistas e
resistir a tudo o que compromete este as pequenas alegrias do dia a dia. A ca-
41
pacidade de fazer festa e celebrar a vida • Comprometemo-nos a ser construtores
é uma característica muito marcante das de Esperança. A apoiar todas as mani-
culturas latino-americanas. É fundamen- festações de resistência contra o que
tal construir socialmente a Esperança em desumaniza e reforça os mecanismos
tempos difíceis, nos quais a desesperança de exclusão e marginalização. A cele-
campeia e se proclama a impossibilidade brar a vida em suas diferentes mani-
de sonhar. Essa construção nos remete festações. A promover a capacidade de
aos espaços sócio-culturais onde essa fazer festa e alegrar-se em nossos pro-
resistência é recriada como celebração cessos educacionais. A abrir a mente e
da vida e são construídos novos sentidos o coração à paixão pelo Reino de Deus
para viver e lutar, alimentados pelos va- e sua justiça, promovendo o direito de
lores do Reino. todas as pessoas à felicidade.
43
2.2.1.2. Compromisso evangelizador
50
2.2.2.5. Gestão institucional
51
52
PARTE III A N E X O
12 Pude convencer-me de que o meu pro- Suponham uma sociedade onde cada
jeto não tinha nada de estranho, mas um dos membros esteja revestido deste
que, muito pelo contrário, ajustava-se espírito de fortaleza, e terão a paz.
às necessidades da época e à pedagogia.
(1911) A fisionomia de nossa Obra deve ser atra-
ente, com a atração de uma doce e suave
13 Nossas Academias têm fisionomia pró- fortaleza, em meio a um reinado de paz,
pria? Devem tê-la? Qual deve ser? (...) fruto do amor, do sacrifício e do traba-
O espírito de nossa fundação não é de lho. Como adquirir aquele espírito e esta
temor, e sim de fortaleza e amor, como fisionomia? Ou melhor, como adquirir o
dizia São Paulo. O amor abrange tudo espírito que se traduz nesta fisionomia?
que devemos praticar para com Deus Colocando Deus no coração: este é o
e para com o próximo. A fortaleza será segredo. Se Deus estiver nos professores
a nossa defesa e nos tornará sofridos, e nos alunos, uns e outros terão caridade
corajosos e santamente intrépidos (...) e fortaleza. (1912)
Devemos acreditar que estas palavras nos
foram ditas: “Pois Deus não nos deu um 14 Por que atribuo tanta importância à vo-
espírito de timidez, mas de fortaleza, de cação? Porque sem ela não poderão dar
amor e de sabedoria” (II Tim 1, 7). nenhum passo (...)
22 O ideal. Pensem muito alto e manifestem (...) apreço aos livros e revistas, empenho
com a maior simplicidade os seus pensa- em adquirir material didático, fazer ex-
mentos quando estiverem reunidas. Por cursões científicas, realizar conferências
muito nobre que seja ou irrealizável que e atos literários (...)
lhes pareça uma aspiração, não a quali-
fiquem de disparate. (1912) Sem pedantismo nem extravagância, de-
vem levar suas alunas a se afeiçoarem às
23 O seu exemplo será a disciplina que os palestras científicas e literárias, e dar-lhes
alunos melhor aprenderão.(1912) exemplo disto.
24 Então você acredita que é fazendo que Nas aulas de adultas, e ajudadas por
mais se progride? Acredito e pratico. En- ex-alunas, devem organizar uma certa
tão para que o projeto? Porque, em geral, extensão cultural, cursos breves e que
uma coisa não está em conflito com a abordem também temas sociais.(1912)
outra: projetar não é obstáculo para agir,
nem implica inação, mas é antes caminho 27 Como se progride com o amor! Quando
para chegar à execução. Em particular, no ele falta, tudo é difícil, tudo é frio, tudo é
que diz respeito ao nosso caso, (...) a rea- seco. O Senhor vos livre da falta de amor.
lização do projeto de que nos ocupamos (1912)
multiplicará os benefícios da ação, au-
mentará o número de operários, unificará 28 Nosso professorado não é constituído
o trabalho, somará energias, despertará por um pessoal que creia cumprir sua
entusiasmos e edificará com o exemplo. missão permanecendo no centro nos
(1912) horários de aulas: somos algo mais, guia-
nos um interesse mais elevado, mais puro
60
e, se o que pauta nossos esforços é que a escreva ou se fale do assunto, é que se
Academia (...) venha a ocupar – em dias atua, que se trabalha e que se obtêm
não remotos - um lugar significativo no resultados.
campo da ação social católica, temos de
orientar para a realização deste ideal o Deduzo: será preciso levar a sério o as-
nosso trabalho de todos os dias, de todas sunto e estudá-lo com interesse; procurar
as horas, de todos os instantes. (...) Mas conseguir que todos os que estiverem
para isto será preciso efetuar um trabalho mais ou menos envolvidos aprofundem
de conjunto, não um trabalho isolado, nestas questões; impõe-se a necessidade
caminhar em um consenso no aspecto de realizar assembléias, reuniões, ou
pedagógico; é preciso estimar-se e se como quisermos chamar, para encami-
conhecer bem, e, com esta finalidade, o nhar os trabalhos. (1913)
professorado da Academia (...) se reunirá
semanalmente, e os professores levarão à 30 As coletividades, como os indivíduos,
reunião suas observações a respeito dos têm seu momento, sua época crítica na
alunos, (...) dos êxitos ou das deficiências História, que costuma ser decisiva para
que perceberem no sistema de ensino. o destino da própria coletividade e até
Nessas reuniões, os debates serão serenos da nação a que pertence. Será a época
e imparciais; quando necessário, os pro- atual a decisiva para a meritíssima classe
cedimentos serão retificados; será traçado do magistério do ensino fundamental?
o plano a seguir com algum aluno que Acredito que sim. Até agora passamos
se encontre em circunstâncias especiais. pela época de preparação, precedente
(1913) necessário, e atualmente estamos no
momento crítico. Os marcos, alicerces,
29 Quem está a par do movimento pedagógi- ou como quisermos chamar o inusitado
co da nossa pátria terá de confessar que a movimento que se observa em nossa pá-
Espanha nunca conheceu a efervescência tria em matéria de ensino fundamental
que agora se nota nos professores, nem há vinte ou 25 anos, já estão colocados e
o entusiasmo com que agora a imprensa exigem um rumo novo, uma orientação
se preocupa com o ensino fundamental segura e progressiva. Como fazer? Quem
e com o professorado; portanto, que não tem que iniciar a campanha? Que plano
há revista ou jornal que não dedique ar- seguir? (...) É preciso realizá-lo unindo
tigos, algum artigo, ou uma seção a este as forças. (...) Os próprios professores
tema, que todos concordam em chamar têm de iniciar o movimento e fazer o
de palpitante interesse. Não é só que se plano, despojando-se do prurido de
61
singularidade, ostentação e mando. e direção (...). (1913)
(1913)
34 Os remédios mais excelentes, mais
31 Procurem, por todos os meios que estive- eficazes, precisam ser administrados a
rem ao seu alcance, oferecer o benefício tempo, oportunamente, para produzirem
incomparável da educação a todas as saudável influência. Administrados fora
pessoas. (1913) de hora, serão inúteis sem terem perdido
eficácia. Leva-se menos em conta do que
32 Deixem que cada um seja como é (...). se deveria esta verdade tão simples, clara e
É difícil calcular os males decorrentes evidente, e daí decorrem males que todos
desta tola presunção de querer que todos lamentamos.
sejam como nós queremos, sem jamais
querermos nós mesmos deixar de ser Em muitas ocasiões, não se percebe a
como somos. oportunidade; mas há outras em que esta
se mostra tão às claras, que de ninguém
A diversidade de caracteres, cultura, etc., pode passar despercebida...
imprimem modalidades específicas que
são inevitáveis, e não queremos, ao contrá- Se vocês (professores) se unissem, (...)
rio, anular a personalidade de cada pessoa, se soubessem ser tão dignos como são
mas procurar aperfeiçoá-la (...). (1913) pobres e, fazendo da sua independência
uma arma sagrada e do cumprimento
33 Condição necessária para o êxito é a do seu dever, seu escudo, caminhassem
perseverança. Travar hoje uma batalha e (...) unidos (...), que sorte a sua! Já pen-
retirar-se amanhã não conduz ao triun- saram, professores, quanto poder vocês
fo. Muitas obras não prosperam porque têm em meio à sua pobreza? (...) Seriam
falta esta condição a seus executores. um exército poderoso se a solidariedade
Lutemos enquanto pudermos, enquanto fosse o seu patrimônio (...). Se assim
tivermos forças, com a ação, e, quando acontecesse, tudo lhes seria concedido,
não pudermos agir, incentivemos o nada lhes seria negado, vocês teriam re-
próximo; quando nem isto for possível, presentação digna em todos os lugares,
oremos com fé (...) Que pensem bem em seriam consultados, considerados, nin-
tudo que foi dito (...) os que podem e guém abusaria de vocês, desprezando-os
devem assumir a parte mais ativa nestes ao ponto de não terem voz em lugar
trabalhos, assim com certeza progredire- algum e de sua opinião não ser solicitada
mos em muito pouco tempo, com união nos assuntos em que são profissionais.
62
Pois saibam: é o momento oportuno, é a dadeira vida humana (...).
época crítica, a ocasião precisa. Amanhã?
Não sei se deixando para amanhã vocês Seremos então pródigos em genero-
chegariam a tempo. Hoje é o dia; depois, sidade? Inegável. Teremos simpatias?
quem sabe! (1913) Inevitavelmente. Pretendemos destruir
o humano? Jamais, é uma quimera.
35 Neste campo há espaço para todos, um Tentaremos a perfeição do humano por
lugar para cada um, e esfera de ação onde meios diferentes? Esforço vão. Prescindir
atuar. (1913) de Deus para aperfeiçoar a obra? Tola
ilusão. Não lhes parece muito simples
36 Nossa tarefa educacional seria incom- o procedimento, racional o processo e
pleta se não contássemos com o auxílio infalível o resultado do sistema? Deus
moral das famílias; para consegui-lo, pro- inclina-se para o homem; o homem
curaremos fazer com que freqüentem o inclina-se para Deus, a humanidade
centro; nestas visitas, trataremos de tudo foi assumida pelo Filho de Deus - Deus
que possa interessar aos nossos alunos como o Pai - para não deixá-la jamais, e
com vistas ao seu aperfeiçoamento moral essa humanidade adorável foi elevada à
e intelectual. sua máxima perfeição na pessoa divina.
O humano aperfeiçoado e divinizado,
Com estas reuniões de professores e porque cheio de Deus. A Encarnação bem
famílias, visamos a estreitar os vínculos entendida, a pessoa de Cristo, sua nature-
de amizade entre todos os que colabo- za e sua vida dão, para quem o entende,
ram nesta obra para que, unidos pela a norma segura para vir a ser santo, com
comunhão de aspirações, possamos unir a santidade mais verdadeira, sendo ao
nossas modestas forças e trabalhar sem mesmo próprio tempo humano, com o
descanso em benefício da religião e da humanismo verdade. (1915)
cultura. (1914)
38 Eu lhes peço um sistema novo: um novo
37 Quero, sim, vidas humanas; ambientes método, procedimentos tão novos como
onde o humanismo, no sentido orto- antigos, inspirados no amor. (1915)
doxo da palavra, impere; mas, como
entendo que essas vidas não poderão ser 39 Será que a cultura tem forçosamente de ser
como as desejamos se não forem vidas a antítese da naturalidade? (...) Não será
de Deus, pretendo começar enchendo a escassez de cultura que nos impede de
de Deus os que deverão viver uma ver- ser francos, ingênuos e simples? (1916)
63
40 É-lhes extremamente necessário possuir Esse “vocês” (...) parece especialmente di-
a verdade. Rodeados de uma atmosfera rigido aos que têm a profissão de ensinar;
de mentiras, em meio a um mundo en- e aquela expressão “esforçai-vos” denota
ganador, a verdade nos liberta; em seu a diligência com que têm de procurar a
conhecimento, encontramos descanso fé, a virtude e a ciência.
(...) Não há convivência possível entre
a luz e as trevas, e menos ainda entre a Vocês, professores, e sobre tudo vocês,
verdade e a mentira. A medida da nossa professores de professores, não devem
verdade é a posse de Cristo. (1917) adquirir essas virtudes lentamente e
dividindo o seu tempo com coisas vãs;
41 As obras, sim, são elas que dão teste- têm de adquirir o espírito de fé que dá
munho de nós e dizem com eloqüência serenidade aos seus atos, seriedade à sua
incomparável o que somos. (1919) vida, exemplaridade aos seus costumes,
saudável temor ao seu espírito, sentido e
42 Todos nós temos de cooperar. (...) Aqui comedimento às suas conversas, retidão e
não há um que seja protagonista e ou- justeza aos seus pensamentos, aplicando-
tros, figurantes, mas cada um tem o seu se a isto com todo cuidado e com a maior
lugar, o seu dever, a sua responsabilidade. diligência possível.
(1919)
“À virtude a ciência” (...). Sua ciência de-
43 Esforçai-vos quanto possível por unir à vossa veria ser tal que ninguém soubesse mais
fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência do que vocês nem tivesse a arte que têm
a temperança, à temperança a paciência, à para tornar amável o estudo, inculcar o
paciência a piedade. (II Pe 1, 5-6) amor à ciência, cujo autor é Deus, sabe-
doria infinita (...). Que maior exercício
Primeiro a fé, sem a qual não há salvação de virtude do que o perseverante e me-
possível; depois, ou melhor, com a fé, tódico trabalho de que são encarregadas?
virtude; pois se aquela for viva, age, e suas (...) Se vocês formarem, por força da sua
obras são virtudes. ciência metódica e acessível, gerações de
professores que, imitando o seu exemplo,
Será preciso acrescentar também ciência, professem amor ao estudo e ao ensino,
porque o cumprimento dos seus deveres será frutuoso o seu apostolado? Será que
exige a ciência, que vocês não poderão vocês calculam a influência do argumento
ensinar se não possuírem. de que os professores mais ativos, com-
64
petentes e bons são os mais virtuosos e cês deve existir uma fonte inesgotável de
que têm a fé mais viva? vida verdadeira, que é a graça de Cristo,
seu espírito que nunca deve extinguir-se,
“À temperança a paciência.” É ocioso porque, caso se extinga, surgem a corrup-
comentar esta frase, porque ninguém ção e a morte.(1920)
duvida da necessidade da paciência em
quem deve educar. E para que a educa- 46 Acreditei, por isto falei (Sal 115,1). Os
ção seja perfeita como desejamos, para que pretendem harmonizar o silêncio
que tudo seja feito por Deus e por sua reprovável com a fé sincera pretendem o
glória, necessitaremos de tesouros de impossível. Quem tem fé verdadeira fala
paciência! O educador deve ser dono de para confessar a verdade que professa
si e, segundo a frase do Espírito Santo, “é quando deve, como deve, diante de quem
pela constância que alcançareis a vossa deve e para dizer o que deve (...). Como
salvação” (Lc 21,19) (...). As diferenças de deve: com seriedade, sem provocações,
classe, condição e simpatia dos discípulos mas sem covardias; sem petulância, mas
muitas vezes põem à prova a paciência sem pusilanimidade; com caridade, mas
do professor e fazem com que ele precise sem adulações; com respeito, mas sem
manter uma vigilância contínua sobre acanhamento; sem ira, mas com dignida-
si mesmo para não jogar por terra, com de; sem teimosia, mas com firmeza; com
uma impaciência injustificada e parcial, coragem, mas sem temeridade. (1920)
tudo de bom que tiver edificado com o
exercício de outras virtudes. (1920) 47 Pode-se fazer uma estatística comparando
a situação da cultura da mulher cinco
44 Devem [suas alunas] amar a todos. De- anos antes da nossa chegada [a determi-
vem preferir os pequenos, os necessita- nadas localidades] e cinco anos depois,
dos, os pobres. (1920) e se nota um movimento extraordinário.
Tanto é assim que, em alguns lugares, cen-
45 Vós sois o sal da terra (MT. 5,13). O sal suram-nos pelo excesso de sua educação
preserva da corrupção. Ali onde o sal se intelectual. (1921)
deposita, não pode haver corrupção. (...)
Suas palavras e conversas, suas obras, 48 Como têm de agir? Como Deus quer.
maneiras, formas de agir, porte, tudo deve Acima de tudo, com paz; se lhes faltar,
ser símbolo contra a corrupção. duvidem do próprio zelo, assim como
devem duvidar e temer se for algo em
A corrupção é morte, destruição, e em vo- detrimento da sua perfeição. Sem preci-
65
pitação, sem desânimo, como quem sabe 51. Assim outro dia eu lhes dizia que sejam
que a obra é de Deus e não humana, que mulheres de muita fé, de fé viva, de fé
depende Dele e não da sua atividade. sentida, e que nunca digam que têm fé su-
Com doçura, mansidão, humildade e ficiente, assim lhes afirmo hoje: desejem
alegria. Tornando-se tudo para todos, a ciência, procurem a ciência, adquiram a
adaptando-se, medindo bem as circuns- ciência, trabalhem para consegui-la e não
tâncias, sendo prudentes, não chegando se cansem nunca, nem digam jamais que
nunca a gerar cansaço, não humilhando têm suficiente ciência. Muita ciência leva
ninguém, não poupando elogios, sendo a Deus, pouca, separa-nos Dele.
organizadas, o que também deve mani-
festar-se em palavras, maneiras e até no Se vocês forem mulheres de fé, estimarão
rosto; não sendo exageradas nem a favor como dever primordial o cumprimento
nem contra; com respeito, sem parciali- de suas obrigações; uma delas, sem dú-
dades nem diferenças sequer aparentes. vida sacratíssima, é o estudo, o trabalho,
(1922) o assíduo trabalho para capacitar-se e
ostentar dignamente um diploma que,
49 Este tem de ser o segredo dos seus suces- se lhes dá acesso a cargos oficiais impor-
sos e se, meditando serenamente, vocês tantes e honrosos, obriga-as a adquirir a
se convencessem de que toda a sua gran- bagagem científica necessária para exercê-
deza, a sua influência, o seu poder e a sua los dignamente (...)
glória têm de basear-se na humildade,
aplicariam o verdadeiro empenho ao cul- Busquemos, pois, a ciência, os livros, os
tivo desta virtude (...). O que o talento, a professores, as bibliotecas, as pesquisas de
autoridade, o poder e a grandeza humana todo tipo, tudo que represente cultura.
não tiverem conseguido, a humildade
obterá. (1924) Oh, que casamento tão fecundo é o da
ciência com a virtude! Seus filhos são
50 Se você estiver alegre, fará tudo com essas obras geniais que desafiam os tem-
perfeição, com gosto, sem esmorecer pos. (1930)
(...) Sem alegria, tudo que realizar de
bom perderá o brilho. Não será sal nem 52 O estudo não é para vocês algo bom, útil,
luz (...) Sempre a alegria inseparável da proveitoso, mas algo necessário, impres-
retidão, da justiça, do bom espírito, da cindível.
posse de Deus. (1927)
É preciso apaixonar-se pelo estudo, (...)
66
recorrer a todo o engenho (...) para incor- altruísmo, forte por fora e fraca por den-
porar à sua vida o estudo, fazendo dele tro; covarde, com capa de valente; todos
uma verdadeira necessidade. (1930) tocamos os seus efeitos, presenciamos
suas cenas e conhecemos os seus frutos
53 Devem formar professoras, mulheres cul- (...)
tas que, por sua vez, têm de ser formado-
ras e líderes na sociedade. É um equívoco Vocês têm de educar no espírito cristão,
pensar que as jovens estudantes que vêm de forma séria, sensata, sólida, com dis-
aos seus centros são pessoas formadas, ciplina, fortaleza, ideais, temperança.
que não precisam dos seus cuidados.
Querer que as estudantes sejam perfeitas Nos nossos centros, as alunas avançam ou
é um bom desejo que não corresponde retrocedem em virtude, cultura, educação
à realidade; pretender que suas alunas e saúde? (1933)
não lhes dêem trabalho algum é sonhar
acordadas. 55 Será preciso aproveitar o momento, a
circunstância, o estado psicológico de
Bem sei como é difícil a tarefa de formar, cada pessoa para que sejam proveitosos a
o sacrifício que supõe, o trabalho que advertência, a admoestação, o conselho.
dá. (...) Mas convenhamos que (...) seu Além disto, devem ser perseverantes sem
campo de ação é feito das alunas, e elas serem pesadas nem insistentes (...) Não
virão a ser um dia sua glória e sua coroa, cheguem à saturação (...) Fizeram-no
ou justamente o contrário. Para elas Deus assim? Cada aluna tem um ponto que,
lhes deu a vocação. sempre que é tocado, gera resultado, uma
lembrança que, quando evocada, surte
(...) já pensaram atentamente na situação efeito, e até uma atitude que, quando
em que elas se encontram? (...) Ponham- adotada, suscita uma reação. Vocês usa-
se no lugar delas e tirem as conseqüên- ram todos estes recursos? Se a sua adver-
cias. (1933) tência não tiver sido assim, mas como
um trator; se não tiverem percorrido
54 Bem se vê que há uma educação da moda, toda a escala, mas uma só nota, repetida
meio a sério, meio de brincadeira, cristã e e monótona; se, com a mesma força que
pagã, com aparência de algo, mas sendo investiram em um momento, perderam
nada; superficial mas fazendo alarde de a continuidade, tornem a debruçar-se
racionalidade; leviana, com máscara de sobre o plano, retifiquem-no e comecem
ponderação; egoísta, mas proclamando de novo. (1933).
67
56 Quais são os critérios de suas alunas educada? Que papel fará na sociedade,
nas questões fundamentais atualmente o que resolverá com sua ciência se não
debatidas? (...) Sem tom pomposo, sem souber governar-se?
aparato de discurso, aproveitem as opor-
tunidades para dar doutrina sólida às Será preciso despertar nas jovens os senti-
suas alunas, para aconselhar-lhes livros mentos de caridade, de amor ao próximo,
onde possam encontrar o que precisam dar-lhes a conhecer os problemas que
conhecer; e preocupem-se seriamente mais tarde encontrarão no caminho.
com elas. (1933) (1933)
57 Não formem jovens egoístas, que só 58 Tenho para mim que o segredo do sucesso
amem a si mesmas e sintam desdém e está em que as alunas se sintam como
falta de consideração pelos pobres. Há em suas casas e estimem as pessoas e até
um abismo entre a aluna que só pensa as coisas como próprias. Claro que será
em si mesma, em sua comodidade, em preciso ajustar o plano que leve ao fim
seus estudos, em seu futuro, em suas indicado conforme a idade, os estudos
distrações - em suma, só no que lhes diz e a qualidade das pessoas, mas, com as
respeito - e outra que, além de cumprir o variações necessárias, sempre é possível
que é seu dever, pensa nas realidades da interessar às suas educandas, fazendo
vida, preocupa-se com as necessidades com que participem de tudo aquilo que
alheias, cuida delas e as atende segundo vocês compreenderem que lhes será agra-
suas possibilidades. dável, e procurando fazer com que lhes
seja agradável tudo que puder trazer-lhes
Considero que é um erro o empenho proveito no presente e para o futuro. Não
desmedido em rodear a jovem estudante é de todo fácil consegui-lo, mas, para
de todo gênero de comodidades e diver- quem trabalha por Deus e conta sempre
sões, e isolá-la de todo contato com a com suas luzes e sua ajuda, não há difi-
humanidade pobre e necessitada para culdade. A maior dificuldade pode estar
evitar-lhe sofrimentos e desgostos. O em não dar a este meio educacional toda
fruto disto é formar jovens que viverão a importância que merece. (1933)
cheias de medo da realidade da vida, fra-
cas, caprichosas, mimadas, egoístas, sem 59 Nem pessimismos enervantes, nem oti-
noção do que é a vida, sem pensamento mismos exaltados; nem audácias impru-
sério nem vontade disciplinada. (...) dentes, nem covardias vergonhosas; nem
Para que servirá depois uma jovem assim abundância do supérfluo, nem falta do
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necessário; nem desconhecimento dos secura, a ira, a impaciência, a brutali-
perigos, nem exagero das dificuldades. dade, a insolência, não é por entender-
(1934) mos que assim fazemos mais bem ao
próximo; é porque assim satisfazemos
60 Com doçura se educa, com doçura se à paixão, ao amor próprio, à soberba;
ensina, com doçura se inculca a virtude, porque assim é mais cômodo, mais
com doçura se consegue a emenda, (...) fácil, mais ao nosso gosto.
com doçura governa-se bem, com doçura
se faz tudo de bom. Não devemos nos iludir: a mansidão,
a afabilidade e a doçura são as virtudes
Se preferirmos a rispidez, a reticência, a que conquistam o mundo. (1935)
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