Costa, 2011

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Universidade de Aveiro Departamento de Comunicação e Arte

2011

Tiago António Nunes Música contemporânea para saxofone no ensino


da Costa secundário
Universidade de Aveiro Departamento de Comunicação e Arte
2011

Tiago António Nunes Música contemporânea para saxofone no ensino


da Costa secundário

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos


requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Música para o Ensino
Vocacional, realizada sob a orientação científica do Doutor Evgueni Zoudilkine,
Professor Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade
de Aveiro.
o júri
presidente Professora Doutora Filipa Martins Baptista Lã
Professora auxiliar convidada da Universidade de Aveiro

Professor Doutor Alexandre Alberto da Silva Andrade


Professor auxiliar do ISEIT do Instituto Piaget

Professor Evegueni Zoudilkine


Professor auxiliar da Universidade de Aveiro
Agradecimentos Manifesto o meu profundo agradecimento:

Ao Professor Evgueni Zoudilkine pela orientação, compreensão, entusiasmo e


conhecimentos partilhados.

Ao André Almeida e Madalena Gonçalves pela sua participação neste trabalho


e sem a qual não seria possível realizar.

A todos os meus professores e colegas de trabalho com os quais fui


aprendendo ao longo do tempo.

À minha família, em especial à minha esposa Ana, pela paciência e por todo o
apoio prestado.

Por fim, mas jamais em último, aos meus amigos que, tal como em todas as
vicissitudes, sempre me transmitiram energia e ânimo.
palavras-chave saxofone, música contemporânea, ensino secundário, técnicas
contemporâneas para saxofone

Resumo A realização deste trabalho prende-se com a identificação de uma lacuna no


ensino vocacional da música no nível secundário, concretamente no ensino do
saxofone. Tendo em conta que o saxofone é um instrumento recente e com
um repertório exíguo, particular e com um carácter contemporâneo esta lacuna
existente carece de análise e atenção. Nos planos curriculares de saxofone
pode verificar-se que o estudo da música contemporânea não é contemplado.
Assim sendo, com este trabalho procura-se perceber e contextualizar esta
problemática através de uma reflexão sobre a música contemporânea e o
ensino do saxofone. Além disso, pretende-se compreender as potencialidades
da música contemporânea no que diz respeito ao desenvolvimento técnico e
musical dos alunos que frequentam o ensino vocacional da música no nível
secundário. Mais do que isto, pretende-se também perceber qual o impacto
que a linguagem contemporânea pode ter na performance do habitual
repertório tradicional neste nível de ensino.
Em suma, este estudo tenta contextualizar a realidade que é a ausência da
música contemporânea nos planos de estudos de saxofone no ensino
vocacional da música no nível secundário. De igual modo apresenta a música
contemporânea como um veículo para o desenvolvimento musical dos alunos
com vista a uma formação mais completa proporcionando novas experiências
que contribuem para a compreensão de um universo musical mais alargado.
keywords saxophone, contemporary music, secundary teaching, contemporary
techniques for saxophone

abstract The proposit of this work is present a gap in the musical education, precisely in
the case of the saxophone.
The saxophone is a recent instrument with a very specific repertory and
contemporary. So it´s important give some attention to this problem. In the
curricular plans of the vocational music schools the contemporary music simply
not appears. In this work the concern is understand and make the context of
the problem with a reflection about the contemporary music and saxophone
teaching. More than this the objective is also understand the contemporary
music vantages concerning the technical and musical development of music
students. Also important it´s realize if and wich impact can have this musical
style in performance of the traditional repertory played in the secondary music
schools. In resume this work present the gap wich is the ausence of
contemporary music. At the same time present the contemporary music like a
valid possibility for the musical development of music students with the great
objective of give news opportunities and new musical experiences and at the
same time make a contribution for a largest comprehension of the musical
universe.
ÍNDICE

Páginas

Lista de Figuras 3

Lista de Tabelas 3

I. Contextualização do estudo 5

I.1. Introdução 5

I.2. Razões para a escolha do tema 6

I.3. Enquadramento do estudo 8

I.4. Problemática e objectivos do estudo 9

II. Revisão Bibliográfica 11

II.1. Ensino do saxofone no nível secundário 11

II.2. Música Contemporânea 13

II.3. A Música Contemporânea e sua aplicação no nível secundário 14

II.4. Ensino e Aprendizagem da Música Contemporânea 17

II.5. Vantagens da aprendizagem da música contemporânea 19

III. Metodologia de Investigação 21

III.1. Natureza da Investigação 21

III.2. Amostragem 22

III.3. Apresentação esquemática da investigação 23

III.4. Descrição da investigação 24

III.5. Descrição dos materiais pedagógicos e seus conteúdos 32

IV. Apresentação e discussão de resultados 41

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IV.1. Apresentação dos dados obtidos na fase I da investigação 41

IV.2. Apresentação dos dados obtidos na fase II da investigação 42

IV.3. Apresentação dos dados obtidos na fase III da investigação 43

IV.3.1. Análise da prestação dos alunos durante a implementação do


repertório contemporâneo 44

IV.4. Apresentação dos resultados da IV fase da investigação 58

V. Conclusões 63

VI. Bibliografia 67

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Lista de Figuras

Páginas

Figura 1: Resumo esquemático das fases de investigação. 23

Figura 2: Excerto de um exercício do capítulo “overtones” do método “Top Tones for


Saxophone” de S. Rascher. 48

Lista de Tabelas

Páginas

Tabela 1: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Jan. 26

Tabela 2: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Fev. 27

Tabela 3: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Mar. 28

Tabela 4: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Abril. 29

Tabela 5: Descrição dos critérios de Avaliação. 31

3
4
I. Contextualização do estudo

I.1. Introdução

O ensino do saxofone no ensino secundário, nomeadamente nos


conservatórios e academias de música baseia-se em programas e planos de
estudos pré-definidos. Contudo, cada escola segue um programa específico
adaptado à sua realidade, contexto social, necessidades e características da
aprendizagem dos seus alunos. Contudo, neste estudo pretende-se abordar a
implementação da música contemporânea no ensino do saxofone nos
conservatórios e academias de música, assim como a possível influência da
aprendizagem da música contemporânea na performance e prática do
repertório tradicional. Após diversas pesquisas podemos também concluir que
a música contemporânea não faz parte dos programas elaborados para a
disciplina de saxofone.

A música contemporânea é um género musical com características próprias e


cuja linguagem e recursos estilísticos exigem uma abordagem diferenciada.
Assim sendo, pretendo abordar este género musical como parte integrante da
formação e cultura musical de um instrumentista tentando perceber qual a
influência da aprendizagem da música contemporânea na performance do
repertório tradicional para saxofone.

O presente trabalho consiste em duas partes distintas. Numa primeira fase


pretende-se esclarecer e reflectir sobre a música contemporânea, o ensino do
saxofone e sobretudo sobre a funcionalidade deste género musical na
aprendizagem musical relativamente ao saxofone. Sendo esta a questão
central, pretende-se explorar um universo musical distinto e novo que pode
trazer consigo novas perspectivas, vantagens para a aprendizagem musical e
performance do instrumento. A segunda fase é toda ela preenchida pela
realização de uma investigação que pretende analisar a possibilidade de a
música contemporânea poder potenciar um desenvolvimento musical
diferenciado e influenciar positivamente a performance do repertório
tradicionalmente abordado no ensino musical no nível secundário são os dois
objectivos da segunda fase deste trabalho.

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I.2. Razões para a escolha do tema

A escolha deste tema prende-se com o facto de existir pouca informação sobre
a aplicação da música contemporânea no ensino especializado da música,
nomeadamente nos conservatórios e academias. Se verificarmos os programas
aplicados ao ensino do saxofone podemos verificar que o repertório tradicional
é predominante. O percurso académico de um aluno é feito sempre com
recurso a este tipo de repertório. Por certo, este repertório é aquele que, “à
priori”, é considerado o mais eficaz e capaz de proporcionar ao aluno uma fácil
aquisição de competências. Porém, esta premissa será uma verdade absoluta?

Excluindo este à parte, não se pretende discutir qual o género ou géneros


musicais que poderão potenciar o melhor ou maior desenvolvimento musical. O
que se pretende frisar é a ausência do repertório contemporâneo no ensino
secundário do saxofone. Efectivamente, nos dias de hoje o repertório
tradicional é preponderante na aprendizagem musical. O ensino do saxofone
não é excepção. O repertório usado no ensino do saxofone cinge-se a
transcrições, assim como algumas obras compostas para o instrumento. Entre
o repertório tradicional mais usado podemos encontrar ferramentas
pedagógicas elaboradas por J. M. Londeix, Guy Lacour, Marcel Mule, E. Bozza,
entre outros. As ferramentas pedagógicas destes compositores estendem-se
desde métodos de exercícios técnicos, escalas e estudos. Quanto às obras
musicais podemos mencionar vários compositores como sendo os principais
responsáveis pela expansão do repertório tradicional. Dos primeiros
compositores que dedicaram ao saxofone obras de sua autoria foram H.
Berlioz, André Caplet, Vincent d´Indy, Florent Schmit e Claude Debussy.

Entretanto, outros compositores ajudaram no desenvolvimento do repertório do


saxofone ficando as suas obras para a posterioridade. A. Glazounov, E. Bozza,
H. Tomasi, J. B. Singelée, J. Ibert, P. M. Dubois, M. Ravel foram alguns dos
compositores que deixaram um contributo muito importante devido às suas
composições dedicadas ao instrumento. Ainda hoje em dia as suas obras
continuam a ser uma referência no panorama musical do instrumento. Contudo,
outros compositores dedicaram também a sua atenção ao saxofone. Porém, o
repertório sempre foi exíguo quando comparado com o de outros instrumentos.

6
De facto, o repertório de saxofone sofreu um grande desenvolvimento devido à
dedicação de diversos compositores franceses. Entretanto, o repertório
contemporâneo para saxofone foi crescendo devido a influências diversas. O
saxofone é um instrumento bastante versátil e com muitas potencialidades em
diversos géneros musicais. Devido a esta versatilidade vários compositores
tentaram explorar as suas possibilidades dando assim um contributo importante
para a criação de um repertório mais vasto e diversificado. Além disto, o
saxofone adaptou-se a novas linguagens musicais integrou novas técnicas por
influência de outros instrumentos. Ryo Noda é um bom exemplo da
versatilidade do saxofone, sendo um compositor bastante importante na
criação de repertório contemporâneo para o saxofone. As suas obras para o
instrumento têm influência da música japonesa, mais propriamente da música
Shakuhachi (Bunte, 2010). Entretanto, a introdução da tecnologia no âmbito
musical veio acrescentar ainda mais possibilidades para uma criação musical
ainda mais diversa. A música concreta e electroacústica são exemplos de
novas correntes musicais adoptadas pelo saxofone. Multiplicaram-se as obras
musicais para o saxofone com recurso à fita magnética com a exploração do
som. No que diz respeito à musica concreta Schaeffer foi o seu grande
impulsionador criando os conceitos de objecto sonoro e escuta reduzida
(Bittencourt, 2009). Entretanto, o repertório de saxofone também foi sendo
alargado devido à criação de obras musicais com recurso à electroacústica. A
manipulação e gravação dos sons acústicos são uma parte do trabalho desta
nova linguagem musical. A conjugação do saxofone (instrumento acústico) com
estes novos meios e recursos permitiram criar um repertório distinto e variado.
Segundo Bittencourt, este vasto leque de possibilidades permite um
alargamento dos horizontes do ponto de vista da composição e da performance
musical.

Entretanto, é importante frisar que este estudo não contempla estas novas
linguagens musicais modernas. As performances destas linguagens musicais,
normalmente, são de elevada dificuldade e exigem uma maturidade musical
assinalável por parte do performer. Este estudo aborda uma linguagem musical
diferente. As obras contemporâneas e materiais pedagógicos usados na
presente investigação não integram a música electrónica.

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I.3. Enquadramento do estudo

Em Portugal, o ensino da música faz-se com recurso ao repertório tradicional


da Música Ocidental. A música contemporânea dos séculos XX e XXI é uma
parte da História da Música Ocidental que continua órfã dos Conservatórios e
Academias de Música. O repertório usado no ensino do saxofone restringe-se
às relativamente poucas obras criadas para o instrumento, assim como a
diversas adaptações e transcrições de forma a colmatar uma lacuna
considerável. De facto, o saxofone não dispõe de um repertório vasto e isto é
uma fraqueza latente no ensino do saxofone.

Assim sendo, verifica-se uma falha na formação dos alunos no ensino


secundário da música. Este problema ganha mais impacto se pensarmos que
os alunos terão que prosseguir os seus estudos no ensino superior. Quando
um aluno ingressa no ensino superior o aluno não aborda apenas o repertório
tradicional do saxofone, pois as obras de carácter contemporâneo também são
parte integrante do plano curricular. Estas obras musicais apresentam um grau
de dificuldade elevado. As competências técnicas e musicais necessárias para
a performance são distintas. O aluno deve ter uma maturidade técnica e
musical que lhe permita abordar este tipo de repertório. Esta maturidade só
pode existir quando o aluno desenvolve um contacto assíduo com determinada
linguagem musical ou tipo de repertório. Neste caso específico seria importante
que os alunos tivessem um contacto prévio com o repertório contemporâneo
para que no futuro não sentissem dificuldades quando o tivessem que abordar.

Em síntese, pretende-se alertar para as lacunas existentes no ensino do


saxofone e despertar os alunos para um universo musical distinto. Acima de
tudo, pretende-se contribuir para uma melhor preparação e formação dos
alunos, assim como tentar perceber as possíveis potencialidades da música
contemporânea no desenvolvimento musical dos alunos.

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I.4. Problemática e objectivos do estudo

A partir do desenvolvimento deste estudo pretende-se obter respostas para a


seguinte questão central:

- A introdução da música contemporânea no Ensino Complementar pode


melhorar a performance dos alunos?

Do problema acima enunciado emergem as seguintes sub-questões:

- Que conjunto de obras de música contemporânea pode ser incluído no


programa de Ensino Complementar?

- Quais as competências técnicas e musicais podem ser melhoradas atrvés do


estudo da música contemporânea?

De acordo com as questões levantadas, o planeamento e condução deste


trabalho pretende alcançar os seguintes objectivos:

- Identificar as obras de música contemporânea passíveis de serem


introduzidas no Ensino Completar;

- Analisar o impacto do estudo de obras contemporâneas no desempenho


técnico e musical dos alunos na performance do repertório tradicional do
saxofone;

- Contribuir para o fomento da interpretação de obras contemporâneas,


melhorando a preparação dos alunos para o ensino superior na área musical.

Em suma, com este estudo pretende-se perceber e medir o desenvolvimento


técnico e musical de um conjunto de alunos através do estudo de algum
repertório contemporâneo. O repertório será seleccionado de forma que os
alunos consigam desenvolver várias competências, relativas à música
contemporânea cuja linguagem é muito distinta do restante repertório.

9
10
II. Revisão Bibliográfica

II.1. Ensino do saxofone no nível secundário

Em Portugal existem alguns conservatórios nacionais onde é ministrado o


ensino especializado da música. Os principais conservatórios de música estão
localizados nos maiores centros urbanos, nomeadamente Lisboa, Porto, Braga,
Coimbra, entre outros. Todos os outros conservatórios e academias de música
estão agregados às escolas públicas regendo-se assim pelas suas normas no
que diz respeito às directrizes pedagógicas. Por sua vez, cada escola de
música rege-se através das directrizes que lhe são “impostas” criando o seu
próprio modelo de ensino, plano de estudos e programas para cada disciplina.
Consequentemente, o plano de estudos de saxofone é criado conforme
premissas pré – estabelecidas. Cada escola cria um programa específico
seguindo estas premissas, contudo adaptando-o à sua realidade musical.
Nestes programas são descriminadas as competências e conhecimentos a
adquirir, assim como são definidos os objectivos, estratégias e critérios de
avaliação a serem usados. Tal como referido anteriormente, o repertório
tradicional e as transcrições para saxofone são predominantes no plano de
estudos do saxofone.

Tradicionalmente, a estrutura das aulas divide-se em três partes. Cada uma


destas partes está destinada ao trabalho e desenvolvimento de competências
específicas. Numa primeira parte, procura-se o desenvolvimento de
competências através do recurso de escalas e exercícios técnicos. Numa
segunda fase são trabalhados estudos musicais. Os estudos podem ser de
carácter puramente técnico, melódicos ou conciliar as duas componentes
musicais. Posteriormente, o aluno aborda obras musicais específicas
designadas pelo professor conforme as necessidades do aluno. Em todas
estas fases da aula pretende-se desenvolver várias competências musicais,
nomeadamente as competências auditivas, motoras, competências de leitura e
performativas.

Para além das aulas, os alunos são avaliados através de exames trimestrais ou
semestrais, assim como através da sua participação em audições e recitais.
Nos exames os alunos cumprem um programa com a mesma estrutura de uma

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aula normal. Entretanto, os alunos participam em audições e recitais de forma a
melhorar as suas competências musicais e performativas.

Esta é a rotina e o percurso que os alunos vão fazendo durante a sua


formação. É através desta sistematização de processos que as competências e
conhecimentos se vão adquirindo e desenvolvendo. Não obstante que existem
diversas lacunas no ensino especializado da música, uma das notórias é
limitação e circuncisão dos programas e repertório tradicionais. Esta é uma
lacuna correlacionada com o objecto de estudo deste trabalho. No ensino
secundário seria necessário alertar e despertar consciências tendo em conta
que o universo musical é bastante alargado e tende a crescer cada vez mais,
devido a novas correntes estéticas que surgiram e, certamente, continuarão a
aparecer. Assim sendo, com vista a melhor preparação dos alunos, deveria
existir uma maior preocupação e incremento das linguagens mais
contemporâneas e actuais.

Actualmente, e desde há muito tempo, os alunos cumprem programas cujo


repertório é tradicional. Pode compreender-se que este tipo de repertório seja o
mais utilizado para potenciar e desenvolver as competências técnicas e
musicais do aluno, devido à sua linguagem tradicional. As competências
auditivas, motoras, de leitura, expressivas e performativas, por certo, serão
mais facilmente assimiladas e desenvolvidas. Contudo, as técnicas
contemporâneas e linguagem contemporânea são, ou pelo menos, deveriam
ser parte da formação musical dos alunos. Também, as técnicas usadas na
linguagem musical contemporânea podem contribuir para um desenvolvimento
ainda maior da capacidade performativa dos alunos.

De facto, deve-se ponderar o uso das técnicas contemporâneas com bastante


cuidado. A evolução do aluno deve ser sustentada, na medida em que o aluno
só deve abordar estas técnicas quando apresentar um bom domínio técnico do
instrumento. Contudo, o estudo de técnicas contemporâneas, se iniciado na
altura certa, e se for um estudo progressivo e sequencial pode trazer muitos
benefícios. Além disso, se houver uma complementaridade entre as técnicas e
métodos contemporâneos com métodos e técnicas tradicionais podemos
colmatar possíveis lacunas que o repertório, métodos e técnicas tradicionais
apresentem por inerência.

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II.2. Música Contemporânea

Nas décadas de 30 e 40 do século XX, os compositores retomaram as formas


e técnicas musicais da era Barroca e Clássica. É a partir desta fase que surge
o Neo – Classicismo como uma corrente estética cujo objectivo é uma reacção
ao carácter dramático inerente ao Romantismo (Gifford, sem data). Esta
corrente estética usa elementos de outras épocas acrescentando-lhes as suas
harmonias e ritmos distintos, irregulares e, até então, pouco convencionais.

A partir desta fase a música começa a assumir e explorar diversas direcções. O


jazz, a música não – ocidental exercem influência e levam os compositores a
explorarem novas linguagens. Mais tarde, a música electrónica, minimalista são
a expressão de uma ruptura com o passado em que o conceito do que é
música vai sofrendo uma alteração significativa. O som, o ruído passa a ser
considerado como elementos independentes, enquanto toda a organização
formal das melodias, ritmo e harmonia passam a ser desvalorizadas. Assim
sendo, podemos inferir que no século XX surge um novo paradigma musical,
uma nova corrente estética denominada Música Contemporânea. A música
atonal e o dodecafonismo são duas das linguagens musicais mais evidentes no
que diz respeito à “revolução” dos conceitos e paradigmas musicais até ao final
do séc. XIX. O prelúdio da ópera “Tristão e Isolda” de R. Wagner é um exemplo
do início do que viria a ser uma inovação. Este prelúdio tinha a especificidade
de não ter uma tonalidade definida. Seria a primeira manifestação de
atonalismo. A partir deste momento surgem as primeiras discussões sobre o
sistema tonal, emergindo até a ideia que o sistema tonal estava esgotado. Com
estas novas concepções a música atonal destaca-se pela ausência de um
centro tonal, da tonalidade e modos. O atonalismo traz consigo uma nova
liberdade (Molina, sem data).

Por sua vez, o dodecafonismo representa uma nova forma de criação musical.
O sistema tonal é considerado como um sistema esgotado e os compositores
tendem a procurar novas alternativas. Os compositores mais notáveis que
tiveram um papel preponderante no serialismo foram A. Schönberg, A. Berg e
A. von Webern. O dodecafonismo baseia-se na criação de uma série de doze
sons. A série pode ser organizada de diversas formas podendo manipular
vários parâmetros como intensidade, altura e ritmo. Esta nova forma de
13
composicional apresenta inúmeras possibilidades tornando-se num método de
composição “virtualmente infinito” (Kozu, sem data).

Tal como Giulio Carlo Argan defende, a partir da década de 60 do século XX o


pensamento de diversas áreas, não só a música, voltou-se para o passado
procurando dar-lhe um novo significado para, com isso, compreender seu
presente.

Em suma entendamos a música contemporânea como a música erudita dos


séculos XX e XXI, feita após os movimentos impressionista e regionalista.
Pode-se dizer ainda que músicas contemporâneas são aquelas cujo
compositor encontra-se ainda vivo na época do locutor.

Entretanto, refira-se que quando se fala em música contemporânea surge de


imediato a ideia que este género musical encerra em si uma linguagem
preponderantemente atonal. De facto, a música contemporânea é
maioritariamente atonal, embora exista algum repertório contemporâneo que
tenha uma linguagem tonal.

II.3. A Música Contemporânea e sua aplicação no nível secundário

“…apesar do desenvolvimento de novas abordagens de ensino, os professores


de música ainda são muito conservadores na escolha do repertório…” (Boal
Palheiros et al., 2006).

De facto, hoje em dia os professores ainda apresentam uma ideia muito


redutora relativamente ao repertório musical. As suas ferramentas pedagógicas
são muito parecidas, ou até as mesmas da mesma altura em que estudavam.
Assim sendo, não se verifica uma vontade de inovar e implementar novas
ferramentas que possam melhorar e potenciar um maior e melhor
desenvolvimento por parte dos alunos. Esta é uma questão preponderante para
compreender o facto de a música contemporânea ter uma aplicação e
abordagem muito reduzidas. De facto, no que diz respeito à música
contemporânea podemos perceber claramente a apreensão muitas vezes
latente quanto à implementação deste género musical neste nível de ensino.

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“…um dos principais aspectos do ensino da música seria desenvolver a
habilidade de apreciação para possibilitar uma experiência estética e musical
mais rica” (Bradley, 1971).

Tendo em conta esta ideia pode referir-se que o ensino musical deveria ser
abrangente de forma a abordar todos os géneros musicais possibilitando a
compreensão de diferentes linguagens e estéticas musicais. Assim sendo, tal
como referido anteriormente, devido à ausência da música contemporâneo no
nível secundário do saxofone podemos depreender uma lacuna na formação
dos alunos. Esta lacuna torna-se ainda mais notória quando os alunos
prosseguem os estudos a nível superior. É nesta fase que os alunos se
deparam com uma grande parte de repertório contemporâneo como uma
linguagem diferente e com um grau de dificuldade acentuado. De forma a
perceber esta realidade podemos destacar algumas das razões que levam à
ausência da música contemporânea no ensino secundário da música.

Um estudo elaborado por Boal Palheiros et al. (2006) aponta várias razões
para que a música contemporânea tenha pouca aceitação e a sua
implementação seja rara neste nível de ensino. Entre outras, prendem-se com
o facto deste género musical integrar melodias difíceis de cantar, compassos e
ritmos irregulares de difícil execução, sons electro - acústicos, harmonia atonal.
Segundo o autor, estes elementos “perturbam o senso de equilíbrio na
apreciação estética”.

Outra razão para que a música contemporânea seja de extrema complexa


compreensão deve-se ao facto de os alunos terem pouquíssimo contacto com
este género musical, e quando este existe é proporcionado em fases tardias do
ensino. Uma das principais razões para que isto aconteça parece estar
relacionada com a pouca disseminação e mediatização deste género musical.
Num dos seus estudos, Boal Palheiros defende que a música do século XX não
é muito apreciada devido à sua deficitária mediatização e utilização nos
programas escolares. Também é importante realçar que a abordagem à música
contemporânea revela-se preponderante para o sucesso da implementação,
estudo e prática mais recorrente deste género musical. Geralmente, a atitude
dos professores e alunos perante a perfomance de obras contemporâneas é de

15
falta de conhecimento, medo que se transformam numa apreensão na
abordagem deste tipo de repertório.

“The general attitude towards the very words contemporary classical music is
often one of apprehension, fear, and misconception.” (Mckay, 2007) Esta
afirmação faz transparecer e permite-nos perceber a forma como a música
contemporânea é encarada no ensino da música.

É importante referir que a inclusão da música contemporânea nos níveis mais


básicos do ensino musical, de facto, desperta reacções diversas. Dalla Bella et
al. (2001:B9) parecem defender que a música do século XX é inapropriada
para os anos iniciais da aprendizagem musical. Contudo, para que se
quebrasse o estigma e o preconceito que envolve a música contemporânea
como sendo inacessível seria importante promover o contacto com este género
musical desde cedo. Por outro lado, um projecto como o “Contemporary Music
Project”, entre outros, demonstra o oposto (Mark, 1996). O projecto foi
desenvolvido na década de sessenta (séc. XX) nos Estados Unidos. Verificou-
se a falta de preparação dos alunos e até os professores em relação ao
domínio da linguagem contemporânea. Apesar disto, os alunos demonstraram
boa receptividade a uma linguagem distinta. Através do contacto com
compositores residentes nas escolas conclui-se que a música contemporânea
é apropriada e interessante para crianças ou aluno de qualquer idade. Mais do
que isso, a música contemporânea deveria ser apresentada bastante cedo,
antes das crianças a poderem intelectualizar. Além disso, devido às suas
características a música contemporânea pode potenciar um maior
desenvolvimento auditivo dos alunos. Estas ideias apresentadas anteriormente
permitem verificar as diferentes concepções em relação à música
contemporânea, sua aplicação e funcionalidade no ensino especializado da
música. Conclui-se que a música contemporânea suscita controvérsias, mas
também podemos inferir que poderá trazer consigo vantagens na
aprendizagem musical.

16
II.4. Ensino e Aprendizagem da Música Contemporânea

Actualmente desconhece-se a aplicação de obras musicais contemporâneas


durante o percurso académico de um aluno durante o ensino preparatório e
secundário (conservatório ou academia de música).

Consequentemente, concluiu-se que a música contemporânea quando


abordada provoca apreensão e estranheza devido ao pouco conhecimento
deste género musical. Assim sendo, foi-se criando um estigma ou preconceito
que dita as obras musicais como extremamente complexas, de difícil
compreensão e consequente execução. A conjugação destes pressupostos faz
com que os alunos fiquem privados de um universo musical distinto, rico que
pode e deve ser abordado para que os alunos possam ter uma formação mais
completa. Neste âmbito podemos tentar perceber algumas questões que se
prendem como o desenvolvimento das competências dos alunos com recurso à
música contemporânea, assim como tentar descobrir possíveis vantagens do
estudo da música contemporânea, ou até compreender se o estudo da música
contemporânea pode influenciar a performance do repertório tradicional através
das suas diferentes exigências técnicas e musicais.

Contudo, estas questões só serão abordadas posteriormente, principalmente a


última. Incidindo sobre o saxofone e a sua contemporaneidade a nível de
repertório, ensino e aprendizagem pode-se inferir que existe uma grande
lacuna.

Entretanto, um estudo realizado por Valentina Daldegan (2008) sobre a


inclusão da música contemporânea numa fase inicial da aprendizagem
apresenta algumas conclusões interessantes que deveriam ser valorizadas e
servir de inspiração para outros instrumentos. O objectivo do estudo é ampliar
o gosto pela música contemporânea, pelo repertório contemporâneo e alargar
os horizontes estéticos do aluno. As crianças que integram este estudo são
incentivadas a ouvir a música contemporânea, assim como a aprender novas
técnicas e explorar novas sonoridades. As ideias chave deste estudo são o
desenvolvimento do gosto por este género musical, assim como a importância
do contexto social em que cada indivíduo se insere. É natural que um aluno
que, desde cedo, tenha contacto permanente ou regular com a música

17
contemporânea comece a desenvolver uma relação de proximidade com este
género musical. Este trabalho é feito com alunos de flauta e que estão a iniciar
os seus estudos no instrumento. O intuito deste estudo é apresentar e explorar
novas sonoridades abordando a música contemporânea fazendo com que este
género musical não seja subestimado. Durante este estudo os alunos são
incentivados a escutar obras de carácter contemporâneo, criando assim um
contacto com novas sonoridades. Porém antes de este projecto ter início,
através de um questionário, tentou-se compreender quais os conhecimentos
dos alunos relativamente à música contemporânea, sendo que no final do
projecto o teste será repetido para tentar perceber se houve alguma alteração,
por parte dos alunos, no que diz respeito às posições e concepções
demonstradas inicialmente. Este projecto torna-se bastante interessante, pois
mais do que a familiarização dos alunos com a música contemporânea, estes
têm oportunidade de compreender, apreender novas técnicas e linguagem
distinta através do instrumento.

No presente estudo podemos concluir o seguinte:

 As crianças mais novas tendem a ser mais abertas às novas


experiências musicais;
 O gosto musical pode ser moldado através da escuta repetitiva de
um determinado género musical;
 O papel dos pais é essencial na formação do gosto musical
através das experiências que proporcionam aos seus filhos;
 A arte musical do século XX é desconhecida devido à falta de
mediatização e implementação nas escolas;

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II.5. Vantagens da aprendizagem da música contemporânea

A música contemporânea pode ser encarada de várias formas. Infelizmente, a


maior parte das pessoas, incluindo os músicos, têm uma visão um pouco
negativista e algo redutora deste género musical. Como foi mencionado
anteriormente, esta corrente musical é considerada de difícil compreensão,
difícil execução e valor questionável. Apesar de tudo, no âmbito da
aprendizagem musical, persiste a ausência da música contemporânea.
Portanto, seria importante tentar compreender possíveis vantagens que este
género musical teria no desenvolvimento técnico e musical dos alunos. Mais do
que isto, pode questionar-se porque não deverá incluir-se no repertório obras
musicais que acabem com a ideia de nota musical (Galvão, 2006)
possibilitando a apreciação e interesse pela música contemporânea.

Algumas vantagens apontadas são:

 Compreensão de um universo musical mais alargado;


 Exploração de uma linguagem musical distinta;
 Conhecimento e exploração de novas técnicas e sonoridades;
 Oportunidade de trabalhar directamente com compositores;
 Capacidade de comparar a música composta nos nossos dias
com a música de outros géneros musicais;

Contudo, também surgem algumas limitações:

 Música complexa quanto à compreensão;


 Ritmos e compassos irregulares e complexos;
 Harmonia maioritariamente atonal e desprovida de aparente
organização;
 Sons electro – acústicos;

As vantagens e desvantagens apontadas anteriormente são apontadas por


vários autores que abordaram o tema nos seus estudos e investigações. Por
conseguinte, no presente estudo pretende-se abordar a música
contemporânea, sua aplicação na aprendizagem musical e, sobretudo, tentar

19
perceber se o estudo deste género musical pode ter, ou não, alguma influência
no desenvolvimento técnico e musical e consequente influência na
performance do repertório musical maioritariamente tradicional usado como
ferramenta pedagógica preponderante e dominante durante o percurso
académico musical. Para tal foi elaborado um estudo que inclui dois alunos do
ensino secundário, ambos a frequentar o 6º grau de saxofone. Reitero que a
intenção deste estudo não é discutir ou pôr em causa o uso de repertório
tradicional na aprendizagem musical, mas sim explorar uma linguagem musical
distinta. Para tentar perceber e compreender os pressupostos descritos
anteriormente, foi elaborada uma investigação cujas características e linhas
orientadoras serão descritas posteriormente.

20
III. Metodologia de Investigação

III.1. Natureza da Investigação

Em função dos objectivos anteriormente enunciados, esta investigação utilizará


a técnica de amostragem que consiste na selecção de um subconjunto de uma
dada população (Ferreira, 1998). Neste caso, a amostra será constituída por
dois alunos que frequentam o 6º grau do Curso de Instrumento (Saxofone) na
Academia de Música Valentim Moreira de Sá (escola onde o autor deste estudo
lecciona). Um dos alunos escolhidos é do sexo feminino e tem 16 anos, sendo
que o outro é do sexo masculino e tem 17 anos de idade.

O 6º grau é o início do Ensino Complementar, sendo que os alunos que


atingem este nível evidenciam o domínio técnico do instrumento. Nesta fase, os
alunos já apresentam competências rítmicas e de leitura suficientemente
desenvolvidas para iniciarem a abordagem à música contemporânea. Pelo
exposto, recorrer-se-á a uma amostra do tipo não probabilístico, uma vez que
os seus elementos são seleccionados, tendo em conta os objectivos da
investigação (Ferreira, 1998). Para este estudo projectou-se a observação
directa no terreno, assim como a elaboração de relatórios que sirvam de registo
de todos os dados relevantes.

21
III.2. Amostragem

No presente trabalho, em função dos seus objectivos, a escolha recaiu na


realização de uma amostragem. Subscrevendo a ideia de Ferreira, a
amostragem é a técnica que “ conduz à selecção de uma parte ou subconjunto
de uma dada população que se denomina amostra” (1998: 191). É de salientar
a existência dos diferentes tipos de técnica de amostragem:

- probabilística: em que cada elemento de uma população, recorrendo ao


acaso, tem igual probabilidade (conhecida e não nula) de ser incluído na
amostra;

- não probabilística: em que os membros da amostra são seleccionados pelo


investigador tendo em conta os objectivos da investigação (Ferreira, 1998).

Assim sendo, a amostra foi escolhida em função dos objectivos da


investigação, sendo que a mesma é constituída por dois alunos designados por
A e B (amostragem não probabílistica).

Tendo em conta que a investigação incide sobre a música contemporânea e


que este género musical é exigente devido à sua linguagem e exigência técnica
e musical, o autor escolheu alunos cujas competências técnicas e musicais
estivessem desenvolvidas e que permitissem um nível de performance
relativamente elevado. Por isto, os alunos em causa foram escolhidos devido
ao facto de estarem a frequentar o 6º grau de saxofone. O 6º grau é o início de
um novo ciclo em que os alunos já possuem as competências técnicas e
musicais básicas desenvolvidas. Nesta fase da aprendizagem, os alunos
evidenciam um bom nível de autonomia para interpretar as obras musicais que
lhe são propostas, assim como possuem uma consciência musical
relativamente desenvolvida. Estas são as razões pelas quais a amostra foi
escolhida.

22
III.3. Apresentação esquemática da investigação

André Madalena
Sólo de
concerto de J.
B. Singelée

Análise da Análise da
Performance performance
Comparação/Avaliação

Aluno A Improvistion nº 1 R. Aluno B


Noda

Análise da Análise da
performance performance

Comparação/Avaliação

Execução do Plano de estudos com


implementação da música
contemporânea

Fantasie Brilhante Execução de uma Fantasie Brilhante


obra do repertório
J.B. Singelée J. B. Singelée
tradicional

Análise da Análise da
performance performance
Comparação/Avaliaç
ão

Figura 1: Resumo esquemático das fases de investigação.

23
III.4. Descrição da investigação

A presente investigação é constituída por quatro fases distintas. Para


compreender a investigação e cada uma das suas fases proceder-se-á à
descrição de cada uma das etapas.

Numa primeira parte, será entregue aos alunos uma obra do repertório
tradicional de saxofone. Cada aluno terá uma semana para preparar a obra
musical sendo sujeito a uma avaliação com base em critéiros e parâmetros de
avaliação pré-definidos. A obra escolhida foi o sólo de concerto de J. B.
Singelée.

Na segunda fase deste estudo será entregue a cada aluno uma obra do
repertório contemporâneo. Também nesta fase, o aluno terá ma semana para
poder preparar uma performance com esta obra musical. Nesta fase, os alunos
também serão avaliados com recurso a critérios de avaliação adequados de
forma a perceber as concepções prévias, dificuldades ou necessidades que
cada aluno poderá ter em relação a este repertório. A obra escolhida para esta
fase do estudo foi a Improvisation 1, pour saxophone alto Seul de Ryo Noda
(1972).

Posteriormente, na terceira fase do estudo cada aluno terá que cumprir um


plano de estudos baseado, exclusivamente baseado no repertório
contemporâneo para saxofone. O plano de estudos será elaborado tendo em
conta a avaliação resultante da segunda fase do estudo respeitando os
conhecimentos e o nível de performance dos alunos em causa. Refira-se que o
plano de estudos elaborado será encarado como uma iniciação à linguagem
musical contemporânea presente no repertório para saxofone. Serão
abordados os princípios e técnicas básicas para a performance deste género
musical. O plano de estudos foi elaborado tendo em conta o tempo disponível
dos alunos participantes neste trabalho, assim como os seus conhecimentos
prévios sobre a música contemporânea. De seguida podemos verificar a
planificação do estudo da música contemporânea constante nas tabelas, assim
como os seus conteúdos.

24
Nas tabelas seguintes (tabela 1; tabela 2; tabela3; tabela 4) podemos verificar
os conteúdos programáticos usados durante o estudo de repertório
contemporâneo para saxofone. Especificamente, os materiais pedagógicos
usados têm como objectivo apoiar os alunos na abordagem de técnicas
contemporâneas para saxofone com o intuito de fornecer um suporte para o
desenvolvimento de competências no que diz respeito à performance da
música contemporânea. As seguintes tabelas são importantes para estabelecer
objectivos, assim como ajudam a compreender a aplicação dos materiais
pedagógicos e seus conteúdos durante a investigação. Pela análise das
tabelas pode depreender-se que o tempo de investigação e consequente
tempo proporcionado para os alunos desenvolverem as suas competências
não é muito alargado. Contudo, foi possível planear o estudo das técnicas
contemporâneas mais básicas inerentes à prática da música contemporânea.

Após uma planificação do estudo urge estabelecer critérios de avaliação. Estes


critérios de avaliação (tabela 5) terão como objectivo ajudar na avaliação de
todas as fases da investigação. Estes critérios de avaliação são distintos
conforme a sua aplicação, pois em algumas fases a avaliação refere-se ao
repertório tradicional, enquanto noutras fases a avaliação refere-se ao domínio
e aprendizagem do repertório contemporâneo. Os critérios de avaliação foram
definidos para ajudar a aferir os conhecimentos dos alunos no que diz respeito
às competências técnicas e musicais relativamente ao repertório tradicional,
assim como ao repertório contemporâneo.

25
Tabela 1: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Janeiro.

Janeiro

7 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporary Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan:

“etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 1

14 “Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher

Introdução: “Sustained Tones”; “Uniformity of Tone Character”

21 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 2

“Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº 1 e 2

28 “Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher

“Sustained Tones”; “Uniformity of Tone Character”

“Tone Imagination”; “Overtone Exercises”

26
Tabela 2: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Fevereiro.

Fevereiro

4 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 3

“Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº3

11 “Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher

“Tone Imagination”; “Overtone Exercises”

Slap tongue

18 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“Quarter Tones”

“Quater Tones Fingerings for Saxophone” ; estudo nº 1

25 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 4

“Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº4

27
Tabela 3: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Março.

Março

4 Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“Quarter Tones”; estudo nº 2

Slap tongue

11 “Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher

“Overtone Exercises”

18 “Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher

“Overtone Exercises”

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“Multiphonics” : “Preleminary Exercises”

25 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 5

“Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº5

28
Tabela 4: Planificação do estudo do repertório contemporâneo para o mês de Abril.

Abril

1 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 5 e 6

“Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº5 e 6

8 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“Multiphonics” : “Preleminary Exercises”

15 “Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

“Use of Special Multiphonic Fingerings”

22 “10 Pièces pour saxophone solo” – G. Gastinel

Estudo nº2

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporary Techniques for


Saxophone” – R. L. Caravan

Revisão dos conteúdos

29 “10 Pièces pour saxophone solo” – G. Gastinel

Estudo nº3

29
Numa última fase, será entregue aos alunos uma obra do repertório tradicional.
Cada aluno terá que executar a obra musical sendo sujeito a avaliação. Esta
avaliação será feita de forma a compreender a evolução dos alunos no que diz
respeito à performance. Nesta fase, é fundamental perceber se o estudo de
repertório contemporâneo pode potenciar um maior desenvolvimento técnico e
musical e consequente influência na execução do repertório tradicional do
instrumento. A obra escolhida parte esta fase é Fantasie Brilhante de J. B.
Singelée.

Note-se que a obra escolhida para a quarta fase da investigação é do mesmo


autor da obra escolhida para a primeira fase. Para perceber se a prática do
repertório contemporâneo tem influência na performance do repertório
tradicional urge a necessidade de comparar as performances dos alunos
envolvidos da primeira e quarta fase da investigação. Assim sendo, fazendo
recurso a obras do mesmo compositor (nas fases um e quatro) torna-se mais
fácil perceber se existem diferenças no que diz respeito à performance. Isto
acontece devido às semelhanças no que diz respeito às exigências técnicas e
musicais presentes nas duas obras em causa. Com isto pretende-se
compreender a evolução dos alunos da forma mais exacta.

30
Tabela 5: Descrição dos critérios de Avaliação.

Critérios de Avaliação

I fase II fase III fase IV fase

 Domínio técnico do  Domínio técnico do  Domínio técnico do  Domínio técnico do


instrumento; instrumento; instrumento; instrumento;
 Leitura;  Leitura: capacidade  Leitura: capacidade  Leitura;
 Afinação; de adaptação a uma de adaptação a uma  Afinação;
 Dinâmicas; nova notação; nova notação;  Dinâmicas;
 Fraseado;  Afinação;  Afinação;  Fraseado;
 Correcta aplicação  Dinâmicas;  Dinâmicas;  Correcta aplicação
das competências  Fraseado;  Fraseado; das competências
performativas ao  Correcta aplicação  Correcta aplicação performativas ao
género musical; das competências das competências género musical;
 Expressividade. performativas ao performativas ao  Expressividade.
género musical; género musical;
 Conhecimento das  Conhecimento das
técnicas técnicas
contemporâneas contemporâneas
usadas no repertório usadas no repertório
contemporâneo; contemporâneo;
 Expressividade.  Capacidade de
aquisição de novas
competências;
 Capacidade de
aplicação de novos
conhecimentos;
 Expressividade.

31
III.5. Descrição dos materiais pedagógicos e seus conteúdos

“Preliminary Exercises & Etudes In Contemporary Techniques for Saxophone” –


Ronald L. Caravan1.

Este método pode ser encarado como uma iniciação à técnica e linguagem
contemporâneas. Os seus conteúdos são variados e distintos e proporcionam
ao estudante uma abordagem a novas técnicas contemporâneas de forma
sequencial e progressiva. Neste método são abordados temas como a variação
tímbrica, intervalos de ¼ tom, multifónicos, vibrato, glissando, flatter, slap,
efeitos percurssivos (com o uso das chaves do instrumento), sons com recurso
do ar, entre outros. Estas são as principais técnicas abordadas neste método,
embora existam outras presentes que derivam das técnicas descritas
anteriormente.

Contudo, seria muito difícil abordar todos os temas, assim como os seus
diversos conteúdos tendo em conta que o período da investigação é
relativamente curto. Consequentemente, no plano de estudos elaborado foram
contemplados temas como a variação tímbrica, intervalos de ¼ tom e
multifónicos.

No que diz respeito à variação tímbrica foram seleccionados os estudos


dedicados a esta temática. Os estudos em questão proporcionam aos alunos a
exploração do timbre em todo o registo do instrumento. Para tal, o autor faz
recurso de digitações alternativas para conseguir o efeito pretendido, sendo o
objectivo principal destes estudos desenvolver a qualidade sonora e cor do
som. Para isto, não é suficiente o uso e domínio das digitações alternativas.
Para conseguir os objectivos definidos, o aluno deve ter em conta outros
factores como, a embocadura, emissão do ar (pressão e velocidade) e

1
R. L. Caravan foi professor de clarinete e saxophone na Syracuse University Setnor School of Music
desde 1980. Diplomou-se em clarinete na escola Eastman School of Music onde também terminou o
mestrado de artes em teoria e doutorou-se em educação musical. Como performer R. L. Caravan teve
uma vasta experiência tanto como saxofonista e clarinetista. Como compositor publicou diversos
trabalhos, nomeadamente materiais pedagógicos para clarinete e saxofone. Dr. Caravan foi presidente da
North American Saxophone Alliance e actualmente colabora como a revista New York State School Music
News assim como com a New York State School Music Association. (http://vpa.syr.edu/directory/ronald-
caravan)

32
cavidade oral. A conjugação de todos estes factores irá permitir um
desenvolvimento do controlo da sonoridade e, eventualmente, possibilitar uma
evolução no que diz respeito à qualidade do som. Contudo, deve ser
evidenciado que estes estudos, apesar de serem de fácil leitura melódica e
rítmica, apresentam uma dificuldade acrescida para o aluno. Nos estudos
tradicionais, o aluno apenas tem que se preocupar com a leitura da informação
que está na pauta musical. Nos estudos contemporâneos como os que estão
aqui em causa, o aluno tem que conseguir descodificar a informação presente
na pauta, assim como deve ser capaz de ler as digitações alternativas a aplicar
em cada nota. Tal como o autor defende, numa fase inicial, o aluno é quase
obrigado a focar mais a sua atenção nas digitações alternativas do que na
pauta musical. “It will probably be necessary for the saxophonist to focus his
eyes more on the fingering diagrams than on the music notation in the course of
playing, at least in the early stages” (Caravan, 1980).

Quanto aos intervalos de ¼ de tom optou-se pelo estudo de escalas de forma


a sistematizar novos rotinas. Embora, o saxofone tenha sido concebido de
forma a possibilitar a reprodução de intervalos semi-tonais, também é capaz de
possibilitar a reprodução de intervalos de ¼ de tom. Contudo, a maior parte dos
intervalos de ¼ de tom só podem ser reproduzidos através da utilização de
“cross-fingers” (digitações alternativas que afectam a coluna de ar, reduzem os
harmónicos presentes em cada som ou alteram o espectro do som
reproduzido). O resultado prático revela-se na modulação do som tornando-o
mais “escuro” ou “brilhante”.

O grande desafio no estudo desta temática, para além do maior


desenvolvimento técnico, consiste na percepção e descriminação auditiva. O
ensino tradicional da música baseia-se na música tonal e no seu tradicional
sistema cromático semi-tonal. Quando se faz abordagem do sistema semi-
cromático pode notar-se alguma estranheza na reprodução e audição dos
intervalos, pois não existe uma prática frequente de obras musicais que
empreguem este recurso no ensino tradicional.

33
Numa primeira fase, o aluno deve tocar cada intervalo separadamente, de
seguida praticar pequenas sucessões intervalares e, finalmente, praticar
escalas. Assim sendo, será possível mecanizar as digitações alternativas a
aplicar e desenvolver melhor as capacidades técnicas na execução destes
intervalos. Contudo, o aluno deve ter muita atenção à afinação, para que os
intervalos sejam bem definidos.

O estudo de multifónicos foi um dos conteúdos considerados na presente


investigação. Este recurso musical começou a aparecer na literatura do
saxofone na segunda metade do séc. XX (Caravan, 1980). Os multifónicos
podem ser produzidos de várias formas. Os multifónicos consitem na
reprodução de vários sons em simultâneo. Tendo em conta que o saxofone não
é um instrumento polifónico, tal só é possível com recurso de técnicas
alternativas. Uma técnica que possibilita a reprodução de multifónicos consiste
na produção simultânea de diferentes sons, sendo um reproduzido pelo
instrumento enquanto que o outro é vocalizado pelo performer. Outra técnica
possível é alteração da coluna de ar através de digitações alternativas. Esta
técnica é a mais utilizada, sendo também a que permite a obtenção de sons
mais complexos. É importante frisar que estas técnicas devem ser estudadas e
envolvem diversas condicionantes. Para obter sucesso na reprodução de
multifónicos, o performer deve ser capaz de equacionar vários aspectos, assim
como a embocadura, emissão do ar, velocidade do ar, posicionamento da
língua e cavidade oral.

Os estudos abordados e apresentados neste capítulo possibilitam a aquisição,


assimilação e aplicação de competências de forma progressiva e sequencial.
Consequentemente, estes estudos potenciam uma maior flexibilidade e
controlo na produção do som. Os conteúdos abordados e descritos
anteriormente foram considerados como essências à técnica contemporânea
do saxofone na presente investigação. Todos eles apresentam pontos comuns
quanto às exigências necessárias para atingir o sucesso na sua execução.
Para além disso, existem potenciais vantagens, assim como algumas
limitações decorrentes de cada uma das técnicas apresentadas anteriormente.
É importante referir que estas técnicas exigem um controlo e domínio técnico
do instrumento. Para que o aluno possa desenvolver ao máximo as

34
competências implícitas e potenciadas por estas técnicas contemporâneas
deve ter atingido um nível de performance e solidez técnica. O domínio da
embocadura, emissão do ar, correcta produção do som e destreza técnica
devem ser bases muito bem assimiladas. De outra forma, quando existem
lacunas relativamente às bases técnicas do instrumento, o estudo destas
técnicas pode causar efeitos adversos. Devido ao grau de dificuldade destas
técnicas, o aluno pode não conseguir assimilar e colocar em prática os
exercícios propostos. Consequentemente, o aluno pode sentir dificuldades
acrescidas e sentir frustração durante o processo de aprendizagem. É muito
importante reiterar que, para existir evolução, o aluno esteja no estádio de
performance e desenvolvimento cujas bases técnicas e musicais estejam
sólidas, assim como é muito importante que o aluno tenha feito todo o trabalho
de base através de métodos e ferramentas pedagógicas capazes de potenciar
a assimilação, sistematização e prática dos processos básicos e essências ao
domínio do saxofone.

“Top Tones for the Saxophone” – S. M. Rascher2

O saxofone é um instrumento cuja extensão está limitada a pouco mais de


duas oitavas. Contudo, houveram inúmeras tentativas para conferir ao
saxofone uma extensão mais ampla, embora não passassem de meras
experiências. Não foi criado nenhum método capaz de potenciar e desenvolver
competências necessárias para tornar capaz a reprodução de sons para além
do âmbito do registo do instrumento. S. M. Rascher, foi o responsável pelo
desenvolvimento do saxofone neste aspecto. Através do estudo extenso do
saxofone, foi criado o método “Top Tones for the Saxophone”, uma ferramenta
pedagógica capaz ajudar o aluno, ou performer, no estudo e execução dos
sons acima do âmbito do registo do saxofone. Os sons acima do âmbito do

2
Sigurd M. Rascher nasceu na Alemanha em 1907 iniciando a sua carreira em 1930 como clarinetista,
embora mais tarde se dedicasse ao saxofone, tornando-se um performer de excelência. A sua
experiência musical foi vasta. Como instrumentista tocou inúmeros concertos nos maiores centros
musicais europeus, assim como tocou com grandes orquestras europeias, e americanas, como Boston
Philarmonic Orchestra, Philadelphia Orchestra, entre outras. As suas capacidades técnicas e musicais
despertaram o interesse de vários compositores para o saxofone, sendo-lhe dedicadas várias obras
musicais. Sigurd M. Rascher também foi um ícone do ensino do saxofone. A sua experiência pedagógica
também bastante alargada. Foi professor em diversos conservatórios, nomeadamente no Royal Danish
Conservatory, Malmö Conservatory, assim como também, depois de radicado nos Estados Unidos da
América, nas Universidades de Michigan, Easteman School of Music. Sigurd M. Rascher tornou-se uma
referência incontornável do saxofone, assim como a sua obra foi preponderante no desenvolvimento do
saxofone.
35
registo do saxofone são designados como sobre – agudos e são produzidos
através do uso de “false – fingers” (posições falsas ou digitações não
convencionais). Cada digitação alternativa foi pensada para que não fosse
muito complexa tecnicamente, assim como fosse capaz de proporcionar cada
som com a máxima precisão relativamente à afinação. Para conseguir evoluir e
dominar esta técnica, o método em questão apresenta diversos exercícios que
devem ser praticados frequentemente, cada competência deve ser muito bem
assimilada e praticada para que os efeitos sejam os desejados e possa haver
sucesso na aprendizagem. Contudo, o aluno deve deter um bom domínio
técnico do instrumento, nomeadamente da reprodução do som dentro do
âmbito normal do instrumento, afinação e vibrato.

O método é dividido em capítulos distintos, especificamente “Sustained Tones”,


“Terrace Dynamics”, “Uniformity of Tone Character”, “Tone Imagination”,
“Natural Overtones”, “Fingers for Tones above Top F” e “Scales in Natural
Overtones”.

Cada capítulo mencionado anteriormente apresenta conteúdos, exercícios e


estudos específicos para que o aluno desenvolva as competências necessárias
para dominar a produção de sobre – agudos. Todo o trabalho é apresentado e
proposto de forma sequencial para que seja possível atingir os objectivos
pretendidos. Para compreender melhor este método é importante descrever
resumidamente cada capítulo, apresentando os seus objectivos e potenciais
competências a desenvolver.

“Sustained Tones” é a fase inicial deste método. O principal objectivo é fazer


com que o aluno consiga obter homogeneidade em todo o registo do saxofone.
Para tal, é proposto que o aluno consiga produzir cada som sem qualquer
recurso extra, como crescendo, decrescendo ou vibrato. Tal como Sigurd M.
Rascher defende, independentemente da altura do som, este deve ter a
mesma intensidade, assim como o mesmo grau de força. Para que o aluno
consiga obter os resultados desejados neste capítulo deve fazer exercícios
com notas longas, percorrendo todas as dinâmicas desde o pianíssimo até ao
fortíssimo.

36
“Terrace Dynamics” propõe um trabalho específico no domínio das dinâmicas.
Cada dinâmica, desde o pianíssimo até ao fortíssimo deve ser trabalhada
separadamente em todo o registo do instrumento. De acordo com o autor, cada
nota deve ser produzida numa determinada dinâmica e terminada exactamente
na mesma dinâmica, sem nunca haver qualquer oscilação dinâmica. Aqui
propõe-se uma separação entre cada nível de intensidade, criando assim
planos dinâmicos separados, assim como um âmbito dinâmico mais alargado.
Tal como anteriormente, é proposto que o aluno faça estes exercícios e
desenvolva as competências exigidas através do estudo de notas longas para
que possa identificar e corrigir potenciais falhas ou dificuldades.

Por sua vez, “Uniformity of Tone Character” é um capítulo presente neste


método cujo objectivo prende-se com o equilíbrio entre os diferentes registos
do saxofone. O equilíbrio, neste caso, refere-se ao volume e qualidade tímbrica
nos diferentes registos. Por defeito, é frequente existir uma disparidade quanto
a estes parâmetros. Normalmente, o registo grave do saxofone possui um
timbre mais “escuro” e volume maior quando comparado com o registo agudo.
Por sua vez, o registo agudo possui um timbre mais “brilhante” e volume menor
quando comparado com o registo grave do instrumento. Para tentar debelar
estes desequilíbrios são propostos alguns ajustes, nomeadamente na
embocadura, pressão dos músculos do maxilar, assim como da emissão do ar.

“Tone Imagination” alerta para a necessidade de desenvolvimento do “ouvido


interno” do aluno. Segundo o autor, para uma performance mais correcta,
devemos ter consciência do que vamos fazer. A duração do som, timbre,
afinação, intensidade devem ser parâmetros conscientes e presentes antes da
própria produção dos sons. Os exercícios apresentados sugerem que o aluno
seja capaz de produzir um som enquanto, ao mesmo tempo, idealiza e “toma
consciência” do som seguinte. Só depois deste processo o aluno deve produzir
o som seguinte. Este exercício é feito sequencialmente através da produção de
um ciclo de quintas ascendentes e quartas descendentes.

37
“Natural Overtones” constitui um grande desafio para o aluno. Nesta fase é
importante existir um bom treino mental e capacidade de ouvir internamente os
sons. “Tone Imagination” assume uma importância capital para a realização
dos exercícios apresentados no presente capítulo. É essencial que a
embocadura e a emissão do ar sejam dois aspectos muito bem dominados.

Os exercícios consistem na reprodução de harmónicos com recurso às


posições dos sons fundamentais. O aluno deve conseguir produzir os
harmónicos, sem forçar, através da adaptação da embocadura, velocidade e
quantidade do ar. É muito importante que o aluno consiga consciencializar e
ouvir os sons internamente antes de os produzir. Os exercícios são
progressivos, mas é muito importante que o aluno não exclua etapas. Este
trabalho exige muita paciência para que possam ser assimilados os
conhecimentos.

“Fingers for Tones above Top F” consiste na apresentação das digitações que
permitem a produção de sons fora da escala do saxofone. Contudo, deve ser
ressalvado que estes exercícios só devem ser praticados após a realização dos
exercícios precedentes. Para uma maior sistematização e desenvolvimento
relativamente a estes exercícios, o aluno deve praticar os exercícios
apresentados em “Special Exercises”. Estes exercícios devem ser praticados
lentamente e legatto. A mecanização das posições e capacidade de execução
dos sons acima do registo do saxofone são desenvolvidas com o estudo destes
exercícios.

“Scales in Natural Overtones” é o último capítulo deste método e pressupões


domínio das matérias enunciadas anteriormente. Este capítulo propõe o estudo
de escalas com recurso, apenas, a digitações alternativas. O aluno deve ser
capaz de produzir os sons representados na pauta com recurso às digitações
apresentadas abaixo da pauta musical.

Este método assume uma importância muito grande no desenvolvimento de


várias competências técnicas, proporcionando um estudo alargado das
possibilidades sonoras do saxofone. Para além disso, este método assume
grande preponderância, apresenta novas potencialidades, assim como veio
quebrar alguns limites do saxofone.

38
“10 Pièces pour saxophone solo” – G. Gastinel3

Esta ferramenta pedagógica é constituída por dez pequenas obras musicais


com características próprias. Estas obras apresentam uma linguagem
contemporânea, mais livre e repletas de técnicas contemporâneas, algumas
delas enunciadas anteriormente. O carácter destas obras potencia um
desenvolvimento de competências técnicas e expressivas a um nível superior
e, sobretudo, distintas. O aluno deve ser capaz de se adaptar a uma nova
notação, novas exigências a nível rítmico, entre outras. Este método é bastante
útil na aprendizagem da linguagem contemporânea, pois permite uma
aplicação prática das competências abordadas em métodos anteriormente
descritos. Através do estudo destas obras musicais, o aluno pode consolidar
melhor as suas competências, assim como desenvolver ainda mais as suas
capacidades técnicas e musicais.

“Improvisation 2, pour saxophone alto Seul” – Ryo Noda4

“Improvisation 3, pour saxophone alto Seul” – Ryo Noda

Ryo Noda, compôs as improvisações para saxofone usando como inspiração a


música oriental, nomeadamente uma corrente musical tradicional chinesa e,
que mais tarde, se expandiria também pelo Japão. Estas obras recorrem a uma
notação bastante distinta da notação tradicional, assim como as técnicas
usadas são completamente contemporâneas. O uso de técnicas como ¼ de
tom, portamentos, glissandos, slap togue, multifónicos, flatter é comum. Estas
obras musicais são extremamente importantes na abordagem da linguagem
contemporânea implementada repertório para saxofone. As suas

3
Gérard Gstinel nasceu em Lyon, em 1949. Estudou no Conservatório Superior de Música e Dança de
Paris. Posteriormente, em 1979 foi nomeado professor do Conservatório Nacional Superioi de Música e
Dança de Lyon, leccionando diversas disciplinas, nomeadamente piano, harmonia, contraponto, estética,
composição, entre outras. Gérard Gastinel estudou composição com Olivier Messiaen durante cinco anos.
Contudo, foi aperfeiçoando-se com compositores como L. Berio, K. Stockhausen, entre outros. O
compositor possui um vasto e variado repertório, incluindo repertório orquestral, música de câmara,
música vocal, bandas sonoras, ballets. As obras de Gérard Gastinel têm tido bastante aceitação e têm
sido tocadas em diversos festivais e concertos.
4
Ryo Noda nasceu no Japão, em 1948 e tem sido aclamado no hemisfério musical ocidental pelas suas
inovadoras técnicas composicionais. O compositor representa um novo expoente da música japonesa
para o saxofone. Entretanto, o seu repertório inclui obras musicais de carácter ocidental do período
barroco, clássico e romântico. Ryo Noda formou-se em saxofone na Universidade de Northwestern e no
Conservatório de Bordeaux. Foi galardoado duas vezes com o Osaka Art Festival Prize e, em 1986 e
1989, foi galardoado com os prémios Osaka Prefecture Award e Grand Prix of the Yamaha Electone
Festival, respectivamente. Como compositor, foi reconhecido em 1973 quando ganhou o SACEM
Composition Prize.
39
características próprias permitem ao aluno desenvolver novas capacidades,
alargar as suas perspectivas musicais e o seu universo musical.

Após uma análise das ferramentas a implementar durante a investigação surgiu


a necessidade de planificar a implementação do repertório contemporâneo.
Esta planificação (ver tabelas em III.4) foi pensada e elaborada de forma
sequencial. O objectivo foi potenciar o desenvolvimento técnico e musical dos
alunos de forma progressiva. O plano em questão teve o intuito de ajudar os
alunos na iniciação à abordagem ao repertório contemporâneo, tentando assim
apresentar e explorar novas ferramentas pedagógicas distintas. Com a
abordagem a estas novas ferramentas pretendeu-se alertar os alunos para
uma nova linguagem musical e novas técnicas capazes de proporcionar um
maior desenvolvimento técnico e musical. Para além disto, esta nova
linguagem e o domínio de novas técnicas pode ajudar o aluno na optimização
dos seus recursos musicais, não só na performance de repertório
contemporâneo, como também pode criar e desenvolver novas competências e
capacidades que ajudarão na abordagem e performance do repertório
tradicional. Após a planificação do estudo do repertório contemporâneo
procedeu-se à sua implementação. Nesta fase, é importante perceber quais as
dificuldades, conhecimentos, competências que os alunos apresentam a nível
técnico e musical quando abordam o repertório contemporâneo cuja linguagem
é bastante distinta do repertório tradicional.

40
IV. Apresentação e discussão de resultados

IV.1. Apresentação dos dados obtidos na fase I da investigação

Tal como mencionado anteriormente, nesta fase os alunos A e B foram sujeitos


a uma avaliação através da execução de uma obra do repertório tradicional
(sólo de concerto de J. B. Singelée). A intenção desta avaliação era fazer um
diagnóstico às capacidades técnicas e musicais dos alunos envolvidos, assim
como criar uma ferramenta passível de ser comparada com performances
posteriores.

Relativamente ao aluno A concluiu-se o seguinte:

 O aluno já tinha estudado a obra musical em causa;


 Demonstrou bom domínio do instrumento embora se tenha notado
alguma insegurança técnica;
 Evidenciou algumas falhas rítmicas;
 Apresentou dificuldades em manter o tempo durante a performance;
 Demonstrou necessidade em alargar o âmbito no que diz respeito às
dinâmicas;
 Necessidade de desenvolver articulação;
 Evidenciou necessidade em desenvolver noção do fraseado;
 Correcta aplicação das competências performativas;
 Demonstrou expressividade;

Relativamente ao aluno B concluiu-se o seguinte:

 O aluno já tinha estudado a obra musical;


 Demonstrou bom domínio do instrumento;
 Apresentou algumas dificuldades em manter o tempo durante a
performance;
 Evidenciou necessidade em trabalhar melhor as dinâmicas e a
articulação;
 Demonstrou expressividade e correcta aplicação das competências
performativas ao género musical em causa;

41
 Evidenciou necessidade de desenvolver a compreensão da frase
musical;

IV.2. Apresentação dos dados obtidos na fase II da investigação

Tal como na primeira fase, objectivo desta fase da investigação é fazer uma
avaliação das competências técnicas e musicais dos alunos no que diz respeito
à performance do repertório contemporâneo. Para tal, foi proposto aos alunos
A e B a execução de Improvisation 1, pour saxophone alto Seul de Ryo Noda
(1972).

Relativamente ao aluno A conclui-se o seguinte:

 Dificuldades de leitura;
 Dificuldades rítmicas;
 Apresentou falta de compreensão da notação;
 Falta compreensão estilística da obra musical;
 Demonstrou pouco domínio de recursos técnicos como glissandos,
flatter e vibratto;

Quanto ao aluno B conclui-se o seguinte:

 Demonstrou boa capacidade de leitura;


 Facilidades na compreensão rítmica;
 Boa compreensão da notação;
 Demonstrou algumas dificuldades no domínio de recursos musicais
como flatter e execução de intervalos ¼ t;
 Demonstra alguma compreensão do género musical em causa;

42
IV.3. Descrição e apresentação dos dados obtidos na fase III da
investigação

Esta fase da investigação é a mais extensa comparada com as demais. Nesta


fase procedeu-se à apresentação e implementação de repertório
contemporâneo aos alunos envolvidos. Para esta fase foi elaborado um plano
de estudos que engloba algumas ferramentas pedagógicas de carácter
exclusivamente contemporâneo. O principal objectivo desta fase da
investigação é potenciar o desenvolvimento de uma linguagem musical distinta,
mais complexa cujas exigências técnicas e musicais são diferenciadas.

O plano de estudos elaborado engloba as seguintes ferramentas pedagógicas:

 “Preliminary Exercises & Etudes In Contemporary Techniques for


Saxophone” – Ronald L. Caravan;
 “Top Tones for the Saxophone” – S. M. Rascher;
 “10 Pièces pour saxophone solo” – G. Gastinel;
 “Improvisation 2, pour saxophone alto Seul” – Ryo Noda;
 “Improvisation 3, pour saxophone alto Seul” – Ryo Noda;

As ferramentas pedagógicas acima mencionadas foram seleccionadas devido


ao seu carácter contemporâneo e grau de dificuldade, tendo em conta que os
alunos participantes nesta investigação estão a iniciar a abordagem à
linguagem contemporânea. Para compreender a funcionalidade e objectivos de
cada material pedagógico, surge a necessidade de apresentar e descrever os
seus conteúdos.

43
IV.3.1. Análise da prestação dos alunos durante a implementação do
repertório contemporâneo

Na primeira aula, realizada no dia 7 de Janeiro de 2011, foi abordado:

 “Études on timbre variation for saxophone”: estudo nº 1 (“Preleminary


Exercises & Etudes in Contemporary Techniques for Saxophone” – R. L.
Caravan).

Nesta primeira aula, os alunos envolvidos nesta investigação demonstraram


reacções muito semelhantes. Ambos os alunos evidenciaram dificuldades no
que diz respeito ao domínio técnico do instrumento.

Quanto ao domínio técnico, as dificuldades estavam relacionadas com a


sistematização de digitações alternativas presentes ao longo de todo o estudo.
O objectivo deste estudo, assim como dos seguintes, é proporcionar a
exploração tímbrica do instrumento. Para isso, o autor propõe digitações
alternativas. Assim sendo, o aluno deve conseguir descodificar a informação
presente na pauta musical, assim como a informação adicional localizada
abaixo da pauta musical (digitações alternativas). Sendo que, tanto o aluno A
como o aluno B nunca tiveram contacto com este tipo de repertório, foi notória
uma deficiente sistematização e mecanização das competências técnicas neste
âmbito.

A segunda aula decorreu no dia 14 de Janeiro de 2011 e foram abordados os


seguintes conteúdos:

 “Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher: “Sustained Tones”;


“Uniformity of Tone Character”.

Este é um dos capítulos do método acima mencionado. O principal objectivo é


conseguir a homogeneidade no som desde o registo grave até ao registo
agudo. Pretende-se que o aluno consiga produzir o som em todo o registo do
instrumento com o mesmo timbre e a mesma intensidade. Para isto, o aluno
deve conseguir ter bastante controlo relativamente à embocadura e emissão do

44
ar. Estes exercícios pretendem ajudar o aluno no controlo destas competências
mencionadas.

Tanto o aluno A como o aluno B, foi notório o desequilíbrio entre o registo


grave e agudo no que diz respeito à capacidade de projecção do som. O
registo agudo tende a carecer de mais projecção. Para além disso, nota-se
uma diferença do timbre na produção dos diferentes registos. O registo médio
grave apresenta um timbre demasiado escuro em relação ao registo agudo. O
registo agudo, por natureza, apresenta um timbre mais brilhante devido à
quantidade de harmónicos agudos. Entretanto, todos os estes aspectos devem
ser tidos em conta. O aluno, ou performer, devem procurar obter um som
homogéneo cujas características sejam idênticas e não sejam notórias
diferenças acentuadas entre os diferentes registos. Claro que devemos ter em
conta que, por defeito, o registo grave do saxofone, em comparação com o
registo agudo, tende a ter mais intensidade e um timbre diferenciado devido às
características físicas e naturais do som.

No dia 21 de Janeiro de 2011, foram abordados os seguintes conteúdos:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 2;


 “Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº 1 e 2.

Quanto ao primeiro item, os alunos não demonstraram uma reacção muito


diferente comparativamente com a abordagem ao estudo nº 1 abordado na
primeira aula. Apesar de mais familiarizados com as digitações alternativas
inerentes à execução do estudo, notou-se que ainda não tinham mecanização
e sistematização técnica necessária. Contudo, os alunos evidenciaram mais à
vontade na abordagem do estudo, pois anteriormente ficou uma sensação de
estranheza quando tiveram um primeiro contacto com este tipo de repertório.

45
Entretanto, os alunos, demonstraram alguma dificuldade no que diz respeito ao
domínio do tempo durante a performance. Isto foi notório, devido ás
dificuldades técnicas enumeradas anteriormente, assim como devido ao facto
de os alunos não estarem habituados a ler e processar tanta informação em
simultâneo. Para além de ler a melodia, o ritmo, as dinâmicas, os alunos têm
que ler e aplicar diferentes digitações, muitas vezes, digitações complexas que
exigem grande domínio técnico e destreza técnica.

Embora, estes estudos tenham sido precedidos de exercícios técnicos e


específicos, nomeadamente o estudo de escalas os alunos demonstaram
necessidade de mais estudo para assimilar esta matéria. Relativamente aos
estudos nº 1 e 2 do capítulo “Quarter- Tone Etudes for Saxophone” os alunos
demonstraram pouco domínio quanto à aplicação das digitações necessárias à
reprodução de intervalos de ¼ de tom. Tanto o aluno A, como o aluno B
demonstraram a necessidade de desenvolver mais a flexibilidade e percepção
da afinação. Foi notório a dificuldade de reproduzir os intervalos de ¼ de tom
com precisão relativamente à afinação, assim como a frequente dificuldade em
aplicar as digitações correctas e inerentes a esta técnica.

Na aula de 28 de Janeiro de 2011 foram abordados alguns conteúdos do


método “Top – Tones for the Saxophone” de Sigurd Rascher, nomeadamente:

 “Sustained Tones”;
 “Uniformity of Tone Character”;
 “Tone Imagination”;
 “Overtone Exercises”.

Esta aula teve como funcionalidade continuar o trabalho de competências


técnicas directamente relacionadas com a produção e qualidade do som.
Alguns destes conteúdos foram abordados anteriormente, embora seja
importante continuar a desenvolver estas competências ao longo do tempo.

Quanto a “Sustained Tones” e “Uniformity of Tone Character” os alunos


demonstraram maior domínio quanto à homogeneidade do som, volume e
qualidade tímbrica, respectivamente. Relativamente ao capítulo “Tone

46
Imagination” pode considerar-se que é uma preparação para atingir o domínio
técnico na reprodução de “Overtones” (harmónicos do saxofone). Assim sendo,
surge o capítulo “Overtone Exercises” como uma ferramenta para desenvolver
esta nova competência técnica.

Quanto ao capítulo “Tone Imagination” tanto o aluno A, como o aluno B


demonstraram algumas dificuldades, nomeadamente na capacidade de ouvir
internamente os sons, tal como é proposto nos diversos exercícios
apresentados. Neste capítulo é proposto que o aluno produza um som
enquanto, ao mesmo tempo, ouve internamente (imagina) o próximo som a
produzir. Este processo repete-se diversas vezes para que o aluno seja capaz
de desenvolver as suas capacidades auditivas. Neste exercício, ambos os
alunos (aluno A e aluno B) demonstraram dificuldades na sua execução
evidenciando poucas capacidades de ouvir internamente os sons. Os alunos
consideraram estes exercícios difíceis de executar e revelaram nunca ter
abordado esta matéria.

Realativamente a “Overtone Exercises” pretende-se que os alunos sejam


capazes de produzir os harmónicos do saxofone através de digitações dos
sons fundamentais do instrumento. Para isto, exige-se domínio dos exercícios
mencionados anteriormente. Como consequência das limitações descritas
anteriormente, neste capítulo os alunos também demonstram dificuldades. Este
capítulo é bastante extenso, os exercícios apresentados são diversos e o seu
grau de dificuldade é cada vez maior. Sendo assim, nesta aula foram
abordados apenas alguns exercícios mais simples, normalmente os exercícios
mais fáceis. Os alunos conseguiram executar alguns dos exercícios
apresentados, embora com dificuldade. Estas dificuldades evidenciadas
prendem-se com o facto de os alunos não dominarem as competências
exigidas no capítulo anterior (“Tone Imagination”), assim como alguma falta de
flexibilidade no que diz respeito à emissão do ar (velocidade e quantidade do
ar), posicionamento da língua, abertura da cavidade oral e pressão na
embocadura. Não obstante destas limitações, os alunos conseguiram executar
alguns exercícios depois de algum trabalho. Entretanto, existiram alguns
exercícios que os alunos só conseguiram executar com ajuda do professor.

47
Figura 2: Excerto de um exercício do capítulo “overtones” do método “Top Tones for
Saxophone” de S. Rascher.

Nestes exercícios, por exemplo, os alunos demonstraram dificuldade na


produção do 2º harmónico. Contudo, quando o professor tocava o 2º harmónico
enquanto os alunos ainda estavam a tocar o som fundamental e o 1º
harmónico, estes conseguiam executar o exercício com sucesso mais vezes.
Neste âmbito, os dois alunos (A e B) demonstram muitas semelhanças no que
diz respeito às suas dificuldades e competências, embora o aluno A tenha
evidenciado maior velocidade de aprendizagem na aquisição destas
competências.

Na aula de 4 de Fevereiro forma abordados os seguintes conteúdos:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 3;


 “Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº 3.

Nesta aula foram abordados estes conteúdos para dar continuidade ao


desenvolvimento da técnica contemporânea do saxofone. As competências vão
desenvolvendo-se progressivamente e a evolução dos alunos vai sendo
verificada ao longo das aulas. Nesta aula o aluno A demonstrou mais domínio
técnico do instrumento relativamente aos estudos de variação tímbrica.
Entretanto, relativamente ao estudo inserido no capítulo “Quarter Tones” o
aluno ainda demonstrou a necessidade de consolidar melhor as competências,
principalmente no que diz respeito à afinação. Por sua vez, o aluno B
demonstrou uma boa evolução quanto à execução do estudo inserido no
capítulo “Timbre variation” conseguindo evidenciar boa destreza técnica.
Entretanto, no que se refere ao estudo nº 3 inserido no capítulo “Quarter

48
Tones” o aluno evidenciou ainda algumas dificuldades técnicas revelando
algumas limitações na aplicação das digitações alternativas inerentes aos
intervalos semi – cromáticos.

Na aula do dia 11 de Fevereiro de 2011 foram abordados os seguintes


conteúdos apresentados na aula foram:

 “Tone Imagination” - Top – Tones for the Saxophone” - Sigurd Rascher;


 “Overtone Exercises” - “Top – Tones for the Saxophone” - Sigurd
Rascher;
 “Slap tongue”.

Quanto aos exercícios inseridos no capítulo “Overtone Exercises” o aluno A


evidenciou melhorias quanto à capacidade de execução dos exercícios
demonstrando uma melhor compreensão de desenvolvimento das variáveis a
ter em conta para o sucesso na execução dos exercícios propostos,
nomeadamente, emissão do ar, flexibilidade e capacidade de ouvir
internamente os sons (“tone imagination”). Quanto ao domínio da técnica “slap
tongue” o aluno A demonstrou ter alguns conhecimentos conseguindo executar
esta técnica, embora com algumas dificuldades, nomeadamente no registo
médio e agudo. Por sua vez, relativamente aos exercícios inseridos no capítulo
Overtone Exercises” também demonstrou melhorias quanto à capacidade de
execução destes exercícios, embora ainda evidencie algumas dificuldades no
que diz respeito à aplicação da técnica “tone imagination”. Entretanto, no que
se refere ao domínio da técnica “slap tongue” este aluno não evidenciou
qualquer tipo de dificuldade.

49
Na aula do dia 18 de Fevereiro de 2011 foram abordados os seguintes
conteúdos:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone”


– R. L. Caravan:

 “Quarter Tones”;
 “Quater Tones Fingerings for Saxophone”: estudo nº 1.

Neste capítulo os alunos evidenciar um conhecimento mais alargado das


competências inerentes à produção de intervalos de ¼ de tom demonstrando
um domínio técnico mais consistente no que diz respeito à aplicação das
digitações alternativas necessárias para a execução desta técnica. Contudo,
ainda foi notória a necessidade de consolidar melhor as competências técnicas
e, sobretudo, melhorar aspectos relacionados com a afinação.

No dia 25 de Fevereiro de 2011 os conteúdos programados para a aula foram:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan;

 “etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 4;


 “Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº4;

Relativamente ao estudo nº 4 inserido no capítulo “etudes on timbre variation


for saxophone” tanto o aluno A como o aluno B demonstraram uma boa
evolução conseguindo executar o estudo sem grandes dificuldades técnicas.

No que diz respeito ao estudo nº 4 inserido no capítulo “Quarter- Tone Etudes


for Saxophone” os alunos demonstram a necessidade de continuar a
desenvolver, assimilar e consolidar competências, sobretudo, relativamente
aos aspectos relacionados com a afinação.

50
Na aula de 4 de Março foram abordados os seguintes conteúdos:

Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “Quarter Tones”; estudo nº 2;


 “Slap Tongue”;

Esta aula teve o objectivo de consolidar conhecimentos e competências,


especificamente no que diz respeito ao domínio da execução de intervalos de
¼ de tom. Para além disso, nesta aula os alunos tiveram a oportunidade de
desenvolver competências, mais especificamente, relativamente ao domínio do
“slap tongue”.

Quanto ao estudo nº 2 do capítulo de “Quarter Tones” o aluno A demonstrou


melhorias quanto ao domínio técnico. O aluno conseguiu aplicar as digitações e
melhorar no que diz respeito à afinação. Entretanto, notou-se a necessidade de
consolidar melhor as competências exigidas neste âmbito. Entretanto, o aluno
B evidenciou maior discernimento e percepção relativamente à afinação.
Tecnicamente, o aluno B evidenciou melhorias quanto à aplicação das
digitações necessárias para a reprodução de intervalos de ¼ de tom.

Relativamente ao domínio da técnica “slap tongue” o aluno A evidenciou


melhorias no que diz respeito à compreensão e execução dos exercícios
propostos na aula. Por sua vez, o aluno B, como referido anteriormente, não
evidenciou dificuldades na execução dos exercícios propostos.

Na aula do dia 11 de Março de 2011 foi abordado um único conteúdo


programático, especificamente:

“Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher:

 “Overtone Exercises”;

A razão pela qual este conteúdo foi abordado de forma isolada nesta aula
prende-se com o facto de os alunos, após uma abordagem inicial a este tema,

51
demonstrarem mais dificuldades na aquisição de competências inerentes a
esta matéria.

Tanto o aluno A como o aluno B demonstram muitas semelhanças no que diz


respeito às suas dificuldades neste capítulo. Para o sucesso na execução
destes exercícios é necessário possuir flexibilidade ao nível da embocadura,
conseguir perceber e moldar a forma de soprar (velocidade, quantidade e
direcção do ar), assim como conseguir moldar a cavidade oral e compreender a
influência do posicionamento da língua na execução dos exercícios. Entretanto,
não menos importante é a necessidade de conseguir uma boa capacidade de
ouvir internamente os sons antecipando a sua audição à sua execução (“tone
imagination”). Pode verificar-se que esta tarefa é bastante complexa devido à
necessidade de domínio de diversas variáveis e competências.

Assim sendo, tornou-se essencial a abordagem deste tema de forma mais


aprofundada. Depois de trabalhar algumas competências, principalmente “tone
imagination”, verificou-se que os alunos conseguiram cumprir a execução dos
exercícios de forma mais satisfatória. Entre todas as competências
enumeradas anteriormente como essenciais ao sucesso na execução destes
exercícios, “tone imagination” revelou-se uma das competências mais
importantes, embora todas as competências estejam interligadas.
Consequentemente, tanto o aluno A e B demonstraram melhorias e conseguir
atingir os objectivos propostos com mais facilidade.

No dia 18 de Março de 2011 foram abordados os seguintes conteúdos


programáticos:

“Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd Rascher:

 “Overtone Exercises”;

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “Multiphonics” : “Preleminary Exercises”.

52
Relativamente a “Overtone Exercises”, o aluno A, assim como o aluno B
evidenciaram melhorias na execução dos exercícios demonstrando um domínio
mais consistente das competências inerentes a este capítulo.

No que se refere a “Multiphonics”, os alunos demonstraram um conhecimento


muito pouco aprofundado desta matéria. Entretanto, os exercícios preliminares
não são de elevada complexidade, permitindo uma abordagem sequencial e
progressiva. Consequentemente, o aluno A, assim como o aluno B não
demonstraram dificuldades no cumprimento dos exercícios preliminares
referentes a este capítulo.

No dia 25 de Março de 2011 foram abordados os sequentes conteúdos:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 5;


 “Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº5;

No que se refere ao estudo nº 5 inserido no capítulo “etudes on timbre variation


for saxophone”, o aluno A demonstrou um domínio técnico satisfatório. Assim
sendo, foi possível iniciar uma abordagem diferente a este género de estudos.
Até então, o domínio técnico foi preponderante. Contudo, devido ao
desenvolvimento técnico conseguido iniciou-se uma abordagem diferenciada
cujo objectivo era contemplar as competências musicais inerentes a uma
linguagem musical distinta.

O aluno B evidenciou um domínio técnico bastante satisfatório.


Comparativamente com o aluno A este demonstrou uma evolução mais
acentuada. Á semelhança do trabalho realizado com o outro aluno a
preocupação principal foi desenvolver as competências musicais inerentes a
esta linguagem musical.

Relativamente ao estudo nº 5 inserido no capítulo “Quarter- Tone Etudes for


Saxophone” os alunos (A e B) evidenciaram uma evolução satisfatória. Foram
53
evidentes as melhorias no que diz respeito ao domínio e aplicação das
digitações alternativas, assim como melhorias no que se refere ao domínio da
afinação.

Na aula do dia 1 de Abril de 2011 foram abordados os seguintes conteúdos:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “etudes on timbre variation for saxophone”: estudo nº 5 e 6;


 “Quarter- Tone Etudes for Saxophone”: estudo nº5 e 6;

Nesta fase de implementação do repertório contemporâneo os alunos já


tiveram um contacto significativo com as técnicas contemporâneas. Assim
sendo, no que se refere aos conteúdos acima apresentados, os alunos
demonstraram possuir competências básicas relativamente desenvolvidas para
a execução deste repertório. Consequentemente, o nível de performance
apresentado considerou-se satisfatório. Ambos alunos apresentaram, até
então, uma boa evolução.

Na aula do dia 8 de Abril de 2011 os conteúdos abordados foram:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “Multiphonics” : “Preleminary Exercises”;

Relativamente a esta matéria os alunos demonstraram um bom nível de


desempenho. Os exercícios apresentados foram executados com relativa
facilidade. Devido ao facto de os exercícios serem uma iniciação à prática de
multifónicos os alunos não demonstraram dificuldades assinaláveis.

54
Na aula do dia 15 de Abril de 2011 foram abordados os seguintes conteúdos:

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporar Techniques for Saxophone” –


R. L. Caravan:

 “Use of Special Multiphonic Fingerings”

Relativamente a esta aula os alunos evidenciaram níveis de compreensão e


execução diferentes. O aluno A evidenciou algumas dificuldades na execução
dos exercícios propostos devido a alguma falta de flexibilidade no que diz
respeito à embocadura e adaptação da cavidade oral.

Por sua vez, o aluno B demonstrou algumas dificuldades na execução dos


exercícios propostos devido a alterações na embocadura. Especificamente, o
aluno mudava a embocadura constantemente para cada som a reproduzir. Isto
fazia com que não houvesse estabilidade suficiente na embocadura, assim
como provocava quebras na coluna de ar. Assim sendo, a execução de
determinados exercícios ficava comprometida.

Na aula do dia 22 de Abril de 2011 os conteúdos programáticos foram:

“10 Pièces pour saxophone solo” – G. Gastinel:

 Estudo nº2;

“Preleminary Exercises & Etudes in Contemporary Techniques for Saxophone”


– R. L. Caravan:

 Revisão dos conteúdos.

Nesta aula procedeu-se a uma revisão de alguns conteúdos trabalhados nas


aulas precedentes. Apesar disto, abordou-se uma nova ferramenta pedagógica
para tentar perceber a evolução de cada aluno no que diz respeito à
performance de repertório contemporâneo. Assim sendo, os alunos tiveram que
apresentar o estudo nº 2 de G. Gastinel.

O carácter deste estudo é bastante distinto do carácter dos estudos do


repertório tradicional a que os alunos estavam habituados a estudar. O estudo

55
em causa não tem um compasso, métrica ou armação de clave definida. As
barras de compasso foram completamente banidas e a notação utilizada faz
entender uma forma de escrever mais livre apelando à capacidade
interpretativa do executante. Durante este estudo, os alunos podem aplicar
conhecimentos e competências desenvolvidas durante o estudo do repertório
contemporâneo, nomeadamente domínio de multifónicos, flatter e acelerando
escrito.

Depois de cada aluno ter executado o estudo mencionado e descrito


anteriormente foi possível estabelecer algumas considerações sobre as suas
performances.

Os alunos (aluno A e aluno B) demonstraram uma leitura razoável do estudo


assim como evidenciaram uma execução razoável das técnicas
contemporâneas, nomeadamente flatter e os acelerandos escritos. Entretanto,
a alunos demonstraram algumas dificuldades na execução de alguns
multifónicos. Pode afirmar-se que, tecnicamente, os alunos não evidenciaram
grandes limitações. Contudo, foi possível compreender que as principais
limitações prendiam-se com questões de carácter musical e expressivo. Após a
execução do estudo, abordar algumas dificuldades e trabalhar as
características musicais, performativas e expressivas percebeu-se que as
limitações diziam respeito à abordagem de uma linguagem musical diferente.
Mais do que pontuais erros técnicos ou falhas relativamente ao domínio
técnico, conclui-se que o alunos tinham dificuldades em compreender e
executar um estudo cujas características apelam à criatividade, capacidade
interpretativa, explorar novas sonoridades, ideias musicais e até diferentes
formas de pensar o discurso musical.

Na aula do dia 29 de Abril de 2011 foram abordados os seguintes conteúdos:

“10 Pièces pour saxophone solo” – G. Gastinel:

 Estudo nº3

Esta aula também teve como objectivo perceber o desenvolvimento dos alunos
relativamente ao repertório contemporâneo. Assim sendo, foi escolhido o

56
estudo nº 3 de G. Gastinel para esta aula. Maioritariamente, este estudo apela
ao domínio de um conteúdo programático específico abordado diversas vezes,
nomeadamente, Overtones (“Top – Tones for the Saxophone” – Sigurd
Rascher). Além disto, o domínio de flatter também é necessário para o sucesso
na execução deste estudo. Se o aluno dominar as técnicas enunciadas
anteriormente não existirão dificuldades na execução deste estudo. Assim
sendo este estudo não pressupõe uma complexidade técnica ou rítmica muito
elevada. Contudo, a simplicidade do estudo torna-se um desafio para o aluno
na medida em que exige a criação e implementação de novos conceitos
expressivos, performativos e musicais.

O aluno A não evidenciou dificuldades técnicas relevantes. A exigência técnica


estava directamente relacionada com o domínio de “Overtones” cuja sua
dificuldade de execução não era acentuada. Relativamente ao domínio desta
matéria o aluno demonstrou apenas alguns défices relativamente à afinação.
Entretanto, como referido anteriormente, a principal dificuldade prendeu-se com
a correcta aplicação de competências expressivas e performativas.

À semelhança do aluno A, o aluno B também não demonstrou grandes


dificuldades relativamente aos aspectos técnicos inerentes a este estudo. O
aluno demonstrou alguma dificuldade em compreender a linguagem musical
característica deste estudo, assim como desenvolver uma performance
coerente com a linguagem musical imposta.

A implementação do repertório contemporâneo pressupõe o desenvolvimento


de competências técnicas e musicais distintas. O repertório contemporâneo
apresentado e constante no plano de estudos e consequente avaliação tem o
objectivo de promover novas experiências musicais. Além disto, pretende-se
alargar as perspectivas musicais do aluno através do desenvolvimento,
aquisição e assimilação de novas competências que permitem uma maior
abrangência no que diz respeito ao conhecimento do repertório musical
dedicado ao instrumento. Consequentemente, o aluno terá uma melhor
preparação musical que lhe permitirá enfrentar novos desafios apresentados
durante o percurso académico.

57
Após implementação do repertório importa perceber até que ponto as técnicas
contemporâneas apresentadas no plano de estudos podem ter influência na
performance do repertório tradicional. No fundo pretende-se compreender se o
desenvolvimento destas novas competências e recursos musicais podem-se
traduzir melhorias na performance de repertório tradicional. Numa primeira
análise esta é a principal questão. Posteriormente, importa perceber se os
resultados deste trabalho podem dar resposta à problemática e objectivos do
estudo proposto e apresentado inicialmente.

IV.4. Apresentação dos resultados obtidos na IV fase da investigação

Nesta fase pretende-se avaliar o impacto do estudo de repertório


contemporâneo na performance do repertório tradicional. Para isto, os alunos
envolvidos na investigação (aluno A e aluno B) executaram uma obra musical
inserida no repertório tradicional para saxofone. Para tentar fazer uma
avaliação coerente foi seleccionada uma obra musical do mesmo género
musical, até do mesmo compositor da obra musical seleccionada para a
primeira fase da investigação. Assim sendo, a obra musical escolhida foi
“Fantasia Brilhante” de J. B. Singelée. Pretende-se compreender a evolução do
aluno tendo em conta parâmetros técnicos e musicais bem definidos.
Especificamente, é importante perceber a evolução a nível técnico fazendo
uma avaliação do domínio de aspectos como afinação, qualidade sonora,
domínio das dinâmicas, flexibilidade da embocadura, controlo da emissão do
ar, velocidade técnica (destreza técnica relativamente à digitação). Em suma
pretende-se avaliar a evolução dos alunos mediante os critérios de avaliação
apresentados anteriormente (tabela 5). Musicalmente, pretende-se
compreender uma possível evolução no que diz respeito ao desenvolvimento
de uma linguagem distinta, correcta aplicação de competências expressivas e
performativas adequadas ao género musical, capacidade de explorar novas
perspectivas musicais e capacidade de compreensão e execução de um
discurso musical distinto. Estes parâmetros musicais acima referidos encerram
em si um nível de subjectividade superior quando comparados com os
parâmetros técnicos definidos. Em suma, pretende-se compreender o
desenvolvimento dos alunos através do estudo de repertório e técnicas

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contemporâneas inerentes à linguagem musical contemporânea e seu impacto
na performance do repertório tradicional.

Entretanto, nesta fase também é pertinente tentar compreender o


desenvolvimento dos alunos ao longo do tempo em que foi implementado o
repertório contemporâneo. Os alunos envolvidos na investigação
demonstraram características técnicas e musicais diferenciadas e
consequentes necessidades, conhecimentos e competências distintas em
relação ao repertório contemporâneo para saxofone. Em termos globais o
aluno A evidenciou mais dificuldades técnicas e musicais comparativamente
com o aluno B.

O aluno A demonstrou um conhecimento prévio pouco aprofundado da


linguagem contemporânea. Especificamente, os recursos musicais como
“overtones” e multifónicos foram aqueles que provocaram mais dificuldades.
Estas dificuldades manifestaram-se pela insuficiente flexibilidade relativamente
à embocadura e controlo de diversas variantes, nomeadamente o controlo do
ar, abertura da cavidade oral e posição da língua. Do mesmo modo, a
complexidade das digitações alternativas necessárias à produção de variações
tímbricas e multifónicos também foram uma dificuldade premente. Para além
das dificuldades técnicas surgiram dificuldades relacionadas com as
competências expressivas e performativas. Especificamente, a compreensão
da estrutura da obra musical, o fraseado, o uso adequado do vibrato são
exemplos práticos que reflectem as limitações apontadas anteriormente.

As dificuldades técnicas e musicais evidenciadas durante a investigação são


resultado de um contacto reduzido com a linguagem contemporânea. O
contacto diminuto com esta linguagem musical é o reflexo da ausência da
música contemporânea nos currículos e planos de estudos do ensino
secundário da música. Os alunos não são incentivados a ouvir, estudar e
abordar este tipo de repertório. Consequentemente, quando confrontados com
a linguagem contemporânea surgem imensas limitações. Contudo, foi possível
registar uma evolução que se traduziu num aumento da destreza técnica,
desenvolvimento da capacidade de controlo da emissão do ar, qualidade
sonora assim como uma compreensão e perspectiva musicais mais alargadas.

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Por sua vez, o aluno B evidenciou um maior conhecimento da linguagem
musical contemporânea. No que diz respeito à leitura e compreensão da
notação, conhecimento das técnicas contemporâneas o aluno demonstrou
possuir maior informação. Contudo, este aluno evidenciou lacunas e
necessidades bastante semelhantes com aquelas demonstradas pelo aluno A.
Estas dificuldades eram evidentes no que diz respeito ao domínio das
digitações alternativas necessárias à produção de multifónicos e variações
tímbricas. Além disso, a produção de overtones e a execução de glissandos
também impuseram dificuldades. Contudo, é importante referir uma diferença
substancial entre os alunos. Perante as dificuldades técnicas e musicais que a
linguagem e técnica contemporâneas impunham o aluno B demonstrou mais
capacidades de compreensão e assimilação de competências revelando uma
maior eficácia na transposição das suas limitações. Apesar das dificuldades foi
possível verificar uma evolução no que diz à homogeneidade sonora, mais
domínio técnico, melhor controlo da emissão ar e mais facilidade na produção
de sobre – agudos (sons acima do registo do saxofone). Assim sendo, o aluno
evidenciou maior desenvolvimento técnico e musical e consequentemente
conseguiu atingir níveis de performance mais elevados.

Nesta fase surge a necessidade de referir as diferenças que surgem entre as


performances. Os dados descritos anteriormente permitem verificar as
dissemelhanças entre os alunos envolvidos na investigação no que diz respeito
ao domínio de repertório, competências e capacidades. Em suma, é possível
compreender as características de cada aluno, assim como a sua evolução ao
longo da investigação. Igualmente crucial é comparar as performances do
repertório tradicional por parte dos alunos no antes da abordagem do repertório
contemporâneo e após a sua implementação e estudo. Quando comparadas a
primeira performance de uma obra do repertório tradicional com a segunda
performance de uma obra do mesmo género podemos perceber diferenças
relativamente ao nível do domínio técnico do instrumento. Especificamente,
controlo do ar, qualidade sonora e afinação foram parâmetros em que os
alunos demonstraram mais domínio. Além disso, o controlo das dinâmicas foi
melhorado traduzindo-se numa maior capacidade de execução das mesmas.
Sobretudo, os alunos demonstraram maior percepção das dinâmicas e do seu
âmbito. Contudo, a articulação foi uma competência sobre a qual os alunos não

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demonstraram evolução ou desenvolvimento significativo. Do ponto de vista
técnico podemos inferir um impacto positivo que o estudo da música
contemporânea pode potenciar. Quanto às competências musicais não foi feita
uma avaliação comparativa devido à óbvia diferença estética entre o repertório
tradicional e contemporâneo. Contudo, é importante referir o estudo de
repertório contemporâneo parece ter uma contribuição preponderante para o
aluno na medida em que potencia novas experiências desenvolvendo novos
conceitos musicais e estéticos que permitem uma visão mais alargada do
espectro musical por parte dos alunos.

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V. Conclusões

Em primeiro lugar surge a necessidade de referir que a música contemporânea


é um género musical muito pouco disseminado no ensino secundário da
música. Especificamente, nos planos de estudos para saxofone a linguagem
contemporânea é omissa. Tendo em conta que o saxofone é um instrumento
recente, possuí um repertório exíguo e com características contemporâneas,
durante o percurso académico os alunos perdem a oportunidade de
desenvolver um conjunto de competências inerentes à música contemporânea.
Numa perspectiva evolutiva pretende-se que os alunos sejam capazes de
conhecer, abordar e interpretar os diferentes géneros musicais. Mediante este
pressuposto, os alunos terão uma lacuna na sua formação. Além disso, existirá
um impacto nos alunos que prosseguem os estudos no ensino superior. Neste
nível de ensino os alunos têm um contacto bastante mais efectivo com um
repertório contemporâneo, cujo nível de exigência é bastante elevado. Se
tivermos em conta que no ensino secundário não existe promoção e incentivo
ao estudo das linguagem e técnicas contemporâneas, os alunos vão sentir
imensas dificuldades quando tiveram a necessidade de abordar este género de
repertório. Além disto, esta linguagem implica o desenvolvimento e
competências técnicas e musicais distintas e que o repertório tradicional não
pressupõe. Através desta linguagem é possível potenciar um desenvolvimento
técnico e musical do aluno podendo ajudar no desenvolvimento de níveis de
performances mais elevados relativamente ao repertório tradicional.
Consequentemente, é possível dotar os alunos de mais recursos técnicos e
musicais, assim como proporcionar novas experiências musicais, desenvolver
novos conceitos estéticos e alargar as perspectivas musicais.

Tendo em conta a descrição da investigação, a apresentação dos materiais


pedagógicos e da análise da performance dos alunos durante o período em
que foi implementado o repertório contemporâneo parece ser possível
esclarecer a problemática e objectivos do estudo. É notória a influência da
música contemporânea na performance de repertório tradicional devido às
diferentes exigências que pressupõem o desenvolvimento mais aprofundado de
determinadas competências, assim como obriga a abordagem e
desenvolvimento de competências diferenciadas. Além disto, os materiais

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pedagógicos usados nesta investigação (estudos, obras musicais e métodos)
são passíveis de ser utilizados na introdução à linguagem contemporânea
desde que implementados de forma sequencial e progressiva. Contudo,
existem alguns estudos e exercícios específicos que devem ser abordados com
bastante cuidado devido à sua complexidade. Sobretudo, deve haver a
preocupação de implementar este repertório tendo em conta que os alunos
possuem bases técnicas e musicais suficientemente consolidadas sob pena de
não conseguir atingir os resultados desejados do ponto de vista evolutivo.

É importante frisar que a presente investigação demonstra que a música


contemporânea não é abordada no ensino secundário da música verificando-se
esta realidade no ensino do saxofone. Contudo, verifica-se que a linguagem
contemporânea potencia o desenvolvimento de competências e conhecimentos
diferenciados. Os alunos evoluíram e demonstraram estar mais evoluídos no
que diz respeito às competências técnicas e musicais. Além disso, possuem
mais conhecimentos sobre uma linguagem musical que futuramente abordarão
quando prosseguirem os estudos no nível superior. Porém, também pode
verificar-se que através das competências desenvolvidas através da música
contemporânea os alunos evidenciam melhorias significativas relativamente à
performance do repertório tradicional.

Contudo, refira-se que esta investigação apresenta limitações. A primeira


limitação prende-se com o facto de apenas dois alunos integrarem o presente
estudo. Consequentemente este trabalho não traduz significado em termos
estatísticos, mas demonstra uma lacuna, o que pode ser feito, assim como as
suas vantagens. Outra limitação refere-se ao período de tempo em que
decorreu a investigação. O repertório contemporâneo foi implementado e
abordado durante quatro meses. Além disso, foram abordados vários materiais
pedagógicos, cada um deles com diversos conteúdos com um grau de
complexidade superior. Tendo em conta estes factos considera-se que o tempo
empregue na investigação não permitiu o desenvolvimento aprofundado dos
materiais pedagógicos devido ao nível de complexidade dos mesmos.

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Apesar de tudo, este trabalho aponta para a existência de uma limitação do
ensino da música no ensino secundário, especificamente relativamente ao
ensino do saxofone. Entende-se que a música contemporânea não está
incluída no percurso académico dos alunos. Contudo, esta investigação
demonstra que é possível abordar uma linguagem musical distinta, capaz de
potenciar diversos tipos de competências diferenciadas. São apontadas
vantagens, possíveis desvantagens e algumas conclusões. Através dos
indicadores deste trabalho, sugere-se que esta problemática carece de mais
estudo. Futuramente, poder-se-á construir e analisar um plano de estudos que
integrasse a música contemporânea no ensino secundário da música, de forma
a complementar a formação dos alunos, perspectivando a melhoria da sua
preparação.

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