Contribuições Das Línguas Africanas para o PB
Contribuições Das Línguas Africanas para o PB
Contribuições Das Línguas Africanas para o PB
Curso de Letras
Trabalho de Conclusão de Curso
Brasília - DF
2013
KATIANE QUINTILIANO MOREIRA
Brasília – DF
2013
Monografia de autoria de Katiane Quintiliano Moreira, intitulada CONTRIBUIÇÕES
DAS LÍNGUAS AFRICANAS PARA O PORTUGUÊS DO BRASIL, apresentada
como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em Letras Português da
Universidade Católica de Brasília, em 27 de novembro de 2013, defendida e aprovada
pela banca examinadora abaixo assinada:
__________________________________
Prof.ª Msc. Vera Lucia Cordeiro da Conceição
Orientadora
Curso de Letras – UCB
__________________________________
Msc. Ana Carolina Nunes de Araújo
Examinador
Curso de Letras – UCB
__________________________________
Msc. Deise Ferrarini
Examinador
Curso de Letras – UCB
Brasília
2013
As minhas rainhas Iracema e Joselita,
vocês são o meu alicerce.
AGRADECIMENTO
É com muita satisfação que agradeço a todas as pessoas que, com seu carinho,
incentivaram-me a concluir este trabalho, o qual representa o encerramento de mais um
ciclo de conquistas na minha vida, em especial:
A Deus, que, com sua sabedoria, deu-me tranquilidade e força para a realização
deste trabalho.
À minha mãe, Joselita Quintiliano, que com todo seu amor e paciência
compreendeu os meus momentos de ansiedade e de estresse, incentivando-me
constantemente e ajudando-me a manter a fé, por meio de suas palavras positivas.
Ao meu namorado, Yure Oliveira, que com todo seu carinho, deu-me força e
incentivo, compreendeu-me nos momentos de tensão.
Ao meu Irmão, Samuel Quintiliano, que com dedicação e atenção, procurou me
ajudar a solucionar as dificuldades encontradas no decorrer da conclusão deste trabalho.
À professora Andréia, professora-coordenadora do PIBID, que no último ano
tornou-se para mim um exemplo de docente, inspirando-me a exercer essa profissão tão
sublime e mostrando-me, por meio da sua dedicação, como é gratificante o processo de
ensino-aprendizagem em sala de aula.
À minha orientadora, Vera Lúcia, que, com sagacidade direcionou meu trabalho,
corrigindo as imperfeições através do seu vasto conhecimento no campo da orientação
acadêmica, incentivando-me a buscar sempre o melhor.
A todos os professores que no decorrer da graduação ministraram suas aulas
com excelência, proporcionando-nos o conhecimento necessário e efetivo para a
realização deste trabalho e execução da docência.
“O negro influenciou sensivelmente a nossa língua popular. Um contato prolongado de
duas línguas sempre produz em ambas fenômenos de osmose”
Renato Mendonça.
RESUMO
A língua portuguesa do Brasil na época da sua formação manteve, até certo período da
história, relação direta com várias línguas, entre elas indígenas, africanas e as línguas
dos imigrantes. Uma das interações mais profundas se deu com as línguas africanas,
trazidas ao país por meio do tráfico negreiro, para trabalho braçal, realizado pelos
portugueses ao colonizar o Brasil. Ao chegar aqui houve, então, uma confluência de
raças e línguas. Dessa mistura podemos perceber, até os dias de hoje, as contribuições e
as marcas deixadas pelos negros com mais intensidade na nossa cultura do que na
língua falada pelos brasileiros. Acreditava-se até certo momento da história, que as
línguas dos negros haviam interferido na estrutura linguística do português do Brasil,
contudo, não há provas concretas o bastante para comprovar estes fatos. Podemos
perceber, por intermédio de várias pesquisas e estudos, a presença de alguns vocábulos
ou termos africanos que contribuíram para enriquecer o léxico da língua portuguesa
brasileira.
The Portuguese language of Brazil at the time of its formation remained, until certain
period of history, a direct relationship with several languages, including indigenous,
African and languages of immigrants. One of the most profound interactions occurred
with African languages, brought to the Country through the slave trade, for legwork,
done by the Portuguese during the colonization of Brazil. Upon arriving here was, then,
a confluence of races and languages, and from this mixture we can realize, until today,
the contributions and the marks left by blacks with more intensity in our culture than the
language spoken by Brazilians. It was believed to a certain moment in history, that
blacks language had interfered with the linguistic structure of the Portuguese of Brazil,
however, there is not enough evidence to prove these facts, what we can realize, by
means of various surveys and studies, is the presence of certain words or Africans terms
that contributed to enrich the lexicon of the Brazilian Portuguese language.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2
1. CAPÍTULO - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA............................................................. 4
1.1 DEFININDO LINGUAGEM ........................................................................................... 4
1.2 LÍNGUA X FALA ........................................................................................................... 9
2. CAPÍTULO - A ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA: FATOS
HISTÓRICOS ......................................................................................................................... 12
2.1 A LÍNGUA PORTUGUESA E A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA
IBÉRICA .............................................................................................................................. 12
2.2 DO LATIM AO PORTUGUÊS ..................................................................................... 13
3. CAPÍTULO - A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL E AS INFLUÊNCIAS
RECEBIDAS ........................................................................................................................... 17
3.1 PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA LÍNGUA TRANSPLANTADA ........................... 17
3.2 A CHEGADA DAS LÍNGUAS AFRICANAS AO BRASIL ....................................... 20
3.3 A PRESENÇA DOS IMIGRANTES NO BRASIL ....................................................... 23
4. CAPÍTULO - INTERFERÊNCIAS DAS LÍNGUAS AFRICANAS NO
PORTUGUÊS DO BRASIL .................................................................................................. 25
4.1 O CONTATO DO PORTUGUÊS COM AS LÍNGUAS AFRICANAS ....................... 25
4.2 INTERFERÊNCIAS NA FONÉTICA E FONOLOGIA ............................................... 27
4.3 INTERFERÊNCIAS NA MORFOLOGIA .................................................................... 29
4.4 INTERFERÊNCIAS NA SINTAXE .............................................................................. 32
4.5 CONTRIBUIÇÕES PARA O LÉXICO ...................................................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 42
2
INTRODUÇÃO
Benveniste (1995), Saussure (2006) e Silvio Elia (2001). O segundo capítulo será
pautado na origem da língua Portuguesa e os fatos que contribuíram para a sua
formação, os autores que contribuirá são: Teyssier (1982), Coutinho (1976), Furlan
(2006) e Ilari e Basso (2011).
No terceiro capítulo, trataremos da chegada da língua portuguesa no Brasil e das
línguas que tiveram contato direto com ela seguindo até a chegada dos africanos para o
País, utilizaremos aportes dos (as) autores (as): Lucchesi (2009), Teyssier (1982), Ilari e
Basso (2009), Fonseca (2004), Silva neto (1963) e Mendonça (1973). Por fim,
analisaremos os principais pontos em que houve contribuição linguística para o
português brasileiro proporcionado pelo contato das línguas africanas com a língua
portuguesa. Para a pesquisa utilizar-se-ão os (as) autores (as): Lucchesi (2009), Melo
(1971), De Castro (1990), Mendonça (1973) e Jacques Raimundo (1933).
A metodologia empregada será consulta bibliográfica fundamentada pelos
autores citados, por meio de análises e pesquisas já empreendidas por eles, apresentar-
se-ão algumas concepções e conceitos com intuito de dar embasamento teórico a este
trabalho. Logo após entrar-se-á na análise contributiva das línguas africanas ao
português do Brasil, consoante a visão desses estudiosos do tema.
4
Sendo assim, a autora ressalta que os primeiros sons seriam os que acompanham
os acasalamentos, as lutas e ocasiões festivas e que posteriormente passariam a
significar esses eventos.
5
A razão para essa origem divina era sua perfeição e complexidade, não
podendo ser, pois, um produto do homem primitivo, imperfeito e rústico. [...]
A explicação divina tem em si uma circularidade teológica: sem linguagem
não há razão; sem razão, não há linguagem; sem linguagem, sem razão, o
homem é incapaz de receber o ensinamento de Deus; sem ensinamento
divino, o homem não tem razão, nem língua.
A partir daí teve-se como inaceitável o dom divino, pois, o fato de não se poder
recorrer a Deus para explicar a diversidade, a falta de evidências e de provas concretas,
somadas ao fato da impossibilidade de se evocarem espíritos divinos para dar
explicações acerca da origem da linguagem, tornou essa teoria não mais aceita para os
estudiosos, como afirmou Franchetto (2004).
Ressalta ainda a autora, a visão de alguns grandes estudiosos sobre a linguagem,
que, como exposto anteriormente, são os primeiros elementos racionais fundamentados
nas ideias greco-latinas. Ela afirma que, antes de Sócrates (470/469-399 a.C), falar e
agir estavam intimamente associados, para Sócrates a linguagem servia à arte da
persuasão e ao homem político.
Franchetto (2004) mostrou a visão do filósofo suíço Jean Jacques Rousseau
(1712-1778) o qual apresenta em seu belíssimo e clássico Ensaio sobre a origem das
línguas, publicado após sua morte, em 1781, uma definição ampla de linguagem:
1
Tradição judaico-cristã ou somente judaico-cristianismo é um termo genérico usado para caracterizar o
conjunto de crenças em comum do judaísmo e o cristianismo, bem como a herança das tradições judaicas
herdadas pelos cristãos. Este termo é apropriado para caracterizar, como principal fonte doutrinária das
crenças judaicas e cristãs, com o conjunto de livros composto pelo Velho Testamento e do Novo
Testamento.
2
As ideias greco-latina acreditam que o homem é um ser racional, capaz de conhecimento, criador de
ciência. A ideia de cidadania, a ideia de participação da vida pública, a ideia do homem político, embora
herdada da Antiga Grécia, é uma ideia que foi, sobretudo, valorizada e difundida pela cultura latina, pela
civilização romana.
6
[...] há vários tipos de linguagem criados pelo ser humano, que vão das
linguagens matemáticas, linguagens de computador, passam pelas línguas
diversas, pelas linguagens artísticas (arquitetônicas, musical, pictórica,
escultórica, teatral, cinematográfica etc.) e chegam ás linguagens gestuais, da
moda, espaciais etc.
Após uma pesquisa e análise feita com abelhas para verificar como se dá a forma
de comunicação entre elas, Benveniste (1995) concluiu que, mesmo havendo uma
transmissão de mensagem entre os animais, não há o diálogo, sendo este uma das
características própria da linguagem humana, observou Benveniste (1995, p. 65):
Para nós, ela [língua] não se confunde com a linguagem; é somente uma parte
determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um
produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos.
Saussure (2006) segue mostrando que a língua pode ser estudada separada da
linguagem, pois ela é apenas uma parte da linguagem. Contudo, língua e fala são
estreitamente relacionadas. O autor (2006, p. 27) afirma: “[...] a língua é necessária para
que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que
a língua se estabeleça [...]”.
O pai da Linguística (2006, p. 22) ainda ressalta que: “[...] a língua não está
completa em nenhum [indivíduo] só na massa ela existe de modo completo”. A língua
só existe a partir de acordos feitos entre membros de uma comunidade, assim como nas
demais instituições existentes. Entretanto, o autor distingue a língua das demais
instituições, apenas por que ela tem uma natureza peculiar, sendo essa característica o
que a define.
Na visão de Saussure (2006, p. 23), a língua constitui-se num sistema de signos
que, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e onde as duas
partes do signo são igualmente psíquicas. Para ele, signos linguísticos são a relação
10
entre um conceito e uma imagem acústica, sendo o conceito uma ideia, um pensamento
que serve para interpretar o mundo, e uma imagem acústica a impressão psíquica de
uma sequência articulada de sons (vogais, consoantes e semivogais).
O mestre (2006, p. 22) definiu ainda fala como sendo: “Um ato individual de
vontade e inteligência” e também “combinações individuais, dependentes da vontade
dos que falam; atos de fonação igualmente voluntários, necessários para a execução
dessas combinações”.
A partir das definições de língua e de fala, infere-se que a fala conduz à língua;
na verdade, uma depende da outra. A diferença entre as duas, como nos explica
Saussure (2006, p.22): “A língua não constitui, pois, uma função do falante: é o produto
que o indivíduo registra passivamente [...]. Já para a fala temos que, “[...] é, ao
contrário, um ato individual de vontade e inteligência [...]”.
É interessante como Fiorin (2011, p.81) descreve, ao afirmar que, para Saussure:
A língua latina é um dos ramos derivado do itálico, este, por sua vez, derivou-se
do tronco indo-europeu, que há três ou quatro milênios a.C era a língua falada pela tribo
dos nômades no leste da Europa, como afirmou Furlan (2006).
Segundo o autor (2006, p.19-20), “o indo-europeu era um antigo tronco comum
que permitiu a derivação da maior parte das línguas faladas na Europa e grande parte
das faladas na Ásia, dele derivaram na Europa, os grupos helênico, itálico, celta,
germânico, báltico e eslavo”. O ramo dentre esses em que surgiu a língua latina foi o
itálico.
O principal fato que levou à origem do latim foi a migração das tribos nômades
para o oeste e sul do continente europeu, como afirmou Furlan (2006, p. 20): “Entre
cerca de 1400 e 1000 a.C, uma fração delas migrou para o centro da Itália, onde passou
a falar o itálico, que se ramificou em osco, úmbrio, falisco e latim”. O autor (2006, p.
20) defende ainda que “[...] o latim foi a língua falada no Lácio – região central da
Itália, em cujo território se fundou, em 753 a.C, a cidade de Roma – e em todo território
Romano”.
Um dos fatos que contribuíram para a diversificação e divisão da língua latina,
segundo Teyssier (1982), foram às invasões que a Península Ibérica sofreu, começando
pelos bárbaros germânicos que eram assim chamados pelos romanos por viverem além
das fronteiras de Roma; os primeiros a chegarem foram os vândalos e suevos e depois
os visigodos e os alanos.
Conforme Ilari e Basso (2011), a língua latina foi dividida em três variedades: o
latim literário – o falado pelos grandes poetas da época, o eclesiástico – falado pela
igreja católica, e o latim vulgar que foi assim denominado por ser uma variedade do
latim falado pelos soldados e comerciantes, ou seja, pela classe baixa da antiga Roma.
Já para Coutinho (1976), o latim era dividido em apenas: clássico e vulgar,
sendo “[...] o latim clássico a língua escrita, caracterizada pelo correto vocábulo,
correção gramatical, elegância do estilo”, essas características eram encontradas nas
obras dos escritores latinos.
Coutinho (1976, p.29) acrescenta:
mais distintos: o clássico e o vulgar. Não eram duas línguas diferentes, mas
dois aspectos da mesma língua. Um surgiu do outro, como a árvore da
semente. Essas duas modalidades do latim, a literária e a popular, receberam
dos romanos a denominação respectivamente de sermo urbanus e sermo
vulgaris.
De acordo com o mesmo autor, o latim vulgar nasceu dos falares das camadas
sociais mais humildes, como os soldados, os marinheiros, os artífices, os agricultores, os
sapateiros, os artistas de circos etc. Coutinho (1976, p.30) afirma ainda que: “Homens
livres e escravos que se acotovelavam nas ruas, que se comprimiam nas praças, que
frequentavam o fórum, que superlotavam os teatros, a negócio ou em busca de
diversões, toda essa gente enfim, que se mal passara pela escola”. Esse fato, da não
escolarização das classes sociais baixas foi um dos fatores que contribuíram para o
aparecimento do latim vulgar.
Na visão de Ilari e Basso (2011), o latim vulgar consistia em um vernáculo.
Entende-se por vernáculo, uma língua falada entre as pessoas sem a interferência da
escola, sendo, portanto, a livre comunicação. Para eles, esse vernáculo se expandiu tanto
que boa parte da Europa ocidental já o falava. Os autores afirmam (2011, p.15):
“Durante a formação do Império Romano no ano 753 a.C, o latim vulgar foi a variedade
do latim mais falada no território e foi repassada de geração em geração sem ser
ensinada formalmente”.
Tanto para Coutinho (1976) quanto para Ilari e Basso (2011), foi por meio de
todos esses “falares” que o latim vulgar foi tomando lugar na comunidade, até que
tomou a Europa “informalmente”, e, como o próprio Coutinho (1976) defendeu, foi com
a queda do Império Romano – 476 d.C no século V – e após a Península já estar
totalmente latinizada que a língua se alastrou, dando espaço para o surgimento de
algumas línguas românicas ou neolatinas, tais como: o romeno, o italiano, o sardo, o
reto-românico, o accitano, o francês, o catalão, o espanhol, o galego e o português.
No entanto, quando os muçulmanos (árabes) invadiram e conquistaram a
Península Ibérica e os cristãos tentaram reconquistar o espaço, foi que nasceu o reino
independente de Portugal, berço da língua portuguesa. A invasão dos muçulmanos e o
processo de reconquista, como afirmou Teyssier (1982, p.8), foram fatores
determinantes na formação de três línguas peninsulares: o galego português a oeste, o
castelhano no centro e o catalão a leste. Essas línguas são nascidas no norte, porém
levadas para o sul pela Reconquista.
15
3
Moçárabes – Termo que designa os povos cristãos que viviam subjugados aos árabes, sem adotarem
língua, a religião e os costumes, mas dos quais receberam profundas influências na linguagem e nos
costumes exceto na religião, pois continuavam cristãos.
16
um dos motivos é que a ortografia não estava totalmente fixada. Os autores ainda
destacam que as características linguísticas do português arcaico ficam no meio
caminho entre o latim vulgar e o português atual, ou seja, a transição entre essas línguas.
O português clássico, segundo Ilari e Basso (2011), soa-nos hoje bem mais
familiar, sofreu alteração no século XV, a partir de algumas modificações ocorridas no
léxico e na sintaxe da língua. Para os autores, desapareceram algumas marcas que eram
registradas do período arcaico. Esse fato se deve às grandes navegações portuguesas
culminadas em 1498. Com a chegada de Vasco da Gama à Índia, iniciou-se, então, um
novo ciclo comercial e ultramarino sob a liderança de Portugal.
“Com o descobrimento”, segundo Ilari e Basso (2011, p.37), “[...] desencadeou
o processo através do qual o português foi levado às terras que iam sendo submetidas à
Coroa Portuguesa”. Portugal chegou à Ásia, à África e à América impondo sua língua
aos nativos que lá habitavam.
A esse processo deu-se o nome de lusitanização, ou seja, países que a partir da
conquista portuguesa assumiram o português como língua oficial, sendo assim
chamados de países lusófonos. Na América do Sul temos o caso do Brasil, que ao ser
forçado a adotar o português como língua de comunicação, após um tempo assumiu-a
como língua oficial.
Trataremos dessa transplantação no capítulo seguinte, abordando,
principalmente, as influências que a língua portuguesa do Brasil sofreu com a interação
entre as diversas línguas que tiveram contato com ela, que contribuíram para a
formação, fixação e diversificação dessa língua no território brasileiro.
17
4
Língua comum a um grupo.
19
necessidade de mão de obra, ou seja, de braços que trabalhassem a terra, algum tempo
após o descobrimento do país.
Os Gêges são os Evés dos franceses e Ewes dos ingleses. Muitos Gêges se dizem
Efan, vulgarmente chamados caras queimadas, e outros se dizem Mahis, pequeno povo
do Dahomé. Os Fulbi ou Peul chamaram-se entre nós Fulas ou Filanins. Os Bornus,
mulçulmanos, chamavam-se Adamauás na Bahia.
Minas foi um nome vago que se deu aos negros oriundos do forte de S. Jorge da
Mina, na África. Havia os Minas-Achanti, de língua Achanti e os Minas-Popes, de
língua Tchil. Eram os Agoins da África. Fantees era o nome dos Minas da Costa do
Ouro.
Pernambuco e Bahia foram os grandes centros de condensação africana. Sendo
Pernambuco o primeiro ponto em que aportaram os escravos africanos, de acordo com
Mendonça (1973). O mesmo ainda afirma que com a fundação da Companhia de
Comércio do Grão-Pará, Belém e São Luis no Maranhão constituíram-se entrepostos da
escravatura.
O autor ressalta que nem todos os povos se conservaram uniformemente em
zonas determinadas, foram distribuídos heterogeneamente, os colonizadores misturavam
as diferentes etnias de negros para impedir a concentração de africanos de mesma
origem numa mesma região.
O português concorreu, além das inúmeras línguas indígenas, com as diversas
línguas africanas que foram trazidas para o Brasil. Lucchesi (2009) afirma que é
possível que os primeiros escravos africanos também tenham tido contato com a língua
geral – tupi, mas, com a redução da presença indígena na zona açucareira, os escravos,
desde cedo, passaram a ter contato com o português. Os escravos se dividiam entre os
ladinos, que tinham alguma proficiência em português, e os boçais, que eram incapazes
de se comunicar nessa língua. O autor acrescenta que o uso da língua geral tupinambá
tornou-se, assim, residual, até morrer.
Segundo Mendonça (1973), temos provas de que foram faladas no Brasil as
seguintes línguas: Nagô ou Ioruba, Quimbundo, Gêge ou Ewe, Kanuri ou Nifê, e
Guruncis. Essas provas constam de vocabulários dessas línguas no português do Brasil,
delas se sobressaem duas adotadas pelos escravos no país, sendo elas o nagô ou ioruba e
o quimbundo.
O quimbundo foi a língua mais importante linguisticamente, como afirmou Melo
(1971), pois tem maior poder expressivo e um vocabulário riquíssimo, sendo também
muito mais empregado por um maior número de indivíduos e numa área geográfica
23
muito mais ampla. No entanto, tanto o quimbundo quanto o nagô são línguas
desprovidas de flexão, sendo que o quimbundo faz concordância por meio de prefixos
especiais repetidos junto ao termo subordinado.
Com esses números apresentados, percebemos o forte impacto da população
africana na constituição da sociedade brasileira, com marcas e consequências
inevitáveis não só na cultura, mas também no plano linguístico. Analisaremos, com
mais profundidade, no último capítulo até que ponto se deu a contribuição das línguas
africanas na estrutura linguística da língua portuguesa do Brasil. Antes, testificaremos
as demais línguas trazidas para o país por povos imigrantes.
Para os autores, o principal efeito que resultou dessa interação, foi a capacidade
do Brasil de conviver com outras culturas, enriquecendo-se com elas e ganhando nomes
dos quais hoje fazem parte do seu vocabulário, tais como: paella, quibe, esfiha, pizza,
talharim, yakisoba. Conforme Ilari e Basso (2009) a influência das línguas dos
imigrantes foi mais abundante no vocabulário e são quase nulas as contribuições na
morfologia e sintaxe. Esse fato se deu porque quando os imigrantes chegaram aqui, o
português já era uma língua estandardizada e gramatizada.
Não cabe a esse trabalho mostrar as influências causadas pelas línguas dos
imigrantes no português, exclui-las-emos e também as demais línguas, inclusive as
indígenas, apresentamo-nas apenas por contexto histórico. Restringir-nos-emos, a partir
do próximo capítulo, apenas a contextualizar as interferências e contribuições que as
línguas africanas deixaram no português brasileiro.
25
Esses números confirmam, conforme os autores Ilari e Basso (2009), que, apesar
da ocupação do território brasileiro ter sido realizada pela Coroa Portuguesa, na
realidade,a população negra predominou.
Depois de quatro séculos de contato direto e permanente de falantes africanos
com a língua portuguesa no Brasil, Castro (1990) em seu ensaio “Influência das línguas
africanas no português brasileiro” cita que naquilo em que o português do Brasil se
afastou do português de Portugal, descontada a matriz indígena menos extensa e mais
localizada, é, em grande parte, o resultado de um movimento implícito de africanização
do português e, em sentido inverso, de “aportuguesamento” do africano.
Rodrigues (1961), por outro lado, entende que a “aportuguesação” por parte dos
africanos se deu desde o princípio quando os negros foram transportados para o Brasil,
pois eles já usavam um português “negralizado5”.
Na visão de Silva Neto (1963), esses negros já falavam um dialeto crioulo-
português, pois a nossa língua já foi geral nas costas da África durante os séculos XV,
XVI e XVII. Baseando nesse fato, Rodrigues (1961) afirma que não há o que se falar
em influência na estrutura da língua portuguesa e sim no vocabulário. O autor (1961,
p.46) ressalta:
[...] o que há são falares crioulos, que representam uma língua européia
toscamente aprendida por povos de cultura e situação social inferior. Estes
falares simplificam as formas verbais e reduzem as flexões; é, assim, uma
influencia morfológica. Não houve modificação na estrutura (que caracteriza
uma língua), e sim um enriquecimento vocabular e uma diferenciação social
na simplificação verbal e das flexões.
5
Português com influências africanas
27
significativa para a fusão entre as línguas, quando o filho de negro com uma portuguesa,
ou vice-versa – o mestiço começasse a falar um dialeto crioulo, formado entre essas
línguas. Não há hoje dialetos crioulos, mas à época, já existiam nas colônias, línguas
falada pelos africanos e seus descendentes.
Mendonça (1973) pontuou algumas contribuições africanas na fonologia/
fonética, morfologia, sintaxe e no vocabulário do português brasileiro, mostrando as
principais influências. Analisaremos algumas interferências ou contribuições das
línguas africanas no português do Brasil, segundo a visão de alguns autores e
paralelamente faremos alguns reparos críticos.
Melo (1971) também explica essa ocorrência como sendo por influência
africana, uma vez que o fato ocorre, de regra, no Brasil, nas zonas mais africanizadas,
conforme o autor, sendo quase geral num ponto intenso dos negros, São João da
Chapada, em Minas. Como por exemplo: Fiyo ao invés de filho, paya ao invés de palha.
Entende Mendonça (1973) que a assimilação do fonema /J/ passa para o sibilante
/z/, exemplo: Jesus – Zesus e José – Zozé. E que antes de e e i, o g transforma-se em z
no dialeto carioca, o que pode ser um vestígio do africano, como em Genebra – Zinebra
e registro – rezisto.
Para o autor a dissimilação ocorre nos grupos consonânticos de elocução difícil,
tem-se: nego ao invés de negro e alegue no lugar de alegre. Há também Aférese: que
para Mendonça (1973) são aféreses violentas, como ta = estar, ocê = você, caba =
Acabar, Bastião = Sebastião.
Destaca o nosso autor a Apócope que aparece em l e r finais, como:
General – generá
Cafezal – cafezá
Mel – mé
Esquecer – esquecê
28
Artur – Artú
Também faz referência à queda no r final que aparece também nos dialetos
crioulos da África: Caboverdiano: chegar fala-se chega; na Ilha de S. Tomé: cuié em
vez de colher; e na Ilha do Príncipe: vendê no lugar de vender.
Castro (1990) também cita em seu artigo “Influência das línguas africanas no
português brasileiro” a tendência do falante brasileiro em omitir as consoantes finais das
palavras ou transformá-las em vogais, falá, dizê, sambá que coincide com a estrutura
silábica das palavras em banto e em iorubá, que nunca terminam em consoante.
Outro fenômeno apresentado por Mendonça (1935 apud MELO, 1971, p.81) são
os casos de “suarabácti”6 da nossa fala plebeia, como por exemplo: Culáudio por
Claudio, Quelemente por Clemente, fulô por flor e dificuldade por dificulidade.
A autora Castro (1990) também destaca essa estrutura silábica da língua.
Observa-se na linguagem popular brasileira que onde não existem encontros
consonantais há a tendência de desfazer esse tipo de encontro, seja na mesma sílaba ou
em sílabas contíguas, pela intromissão de uma vogal entre elas, que termina por
produzir outra sílaba, como nos exemplos acima.
No entanto, Melo (1971) contradiz esse pensamento objetivando que os índios
produziam semelhantes “anaptixes”, como exemplo mostrou: curuzu ou curuçu por
cruz. Afirmou também que em Portugal se ouve felor por flor [fato paralelo a fulô],
também destaca os suarabáctis dados no latim, como feberariu e calavaria.
Mendonça (1973) aponta a redução dos ditongos ei e ou por influência africana,
reduziam-se na língua popular do Brasil, como chêro – cheiro, pêxe – peixe, bêjo –
beijo, quêjo – queijo, mentêga – manteiga, fejão –feijão, lavôra – lavoura, côve – couve,
loco – louco...
Melo (1971) contesta a visão de Mendonça no que se refere à redução dos
ditongos e o autor afirma que reduções são fatos comuníssimos no latim e nas línguas
românicas, sendo: agustu por augustu. Cita também que o francês reduziu
sistematicamente os antigos ditongos: ai, au, ei, eu e ou, e o mesmo fez o espanhol,
desde a época pré-literária, com os ditongos românicos ei e ou, transmudados em e e o,
o que produziu as formas primero, toro, oro, poço, beso, Caldera... Exatamente como
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Suarabacti (palavra oriunda do sânscrito), também conhecida como Anaptixe (palavra oriunda do
grego); designa um processo que consiste no desenvolvimento de uma vogal de apoio entre um grupo
consonântico (de consoantes).
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sucede no português falado do Brasil, afirmou o autor, não sendo, portanto, fato devido
à influência africana.
Conjugação do Conjugação do
verbo CANTAR verbo CANTAR
Pessoas
Linguagem Linguagem
culta/formal coloquial
Eu Canto Canto
Tu Cantas Canta*
Ele/Ela Canta Canta*
Nós Cantamos Canta*
Vós Cantais Canta*
Eles/Elas Cantam Canta*
Mendonça (1973) reconhece que na sintaxe a influência africana foi ainda menos
sensível. Para o autor a colocação dos pronomes oblíquos átonos se deve à influência
sintática do africano, no entanto, essa interferência foi indireta. O autor tem como base,
porque na Angola e Goa, nota-se a mesma vacilação existente na colocação dos
pronomes do Brasil, o uso da próclise em relação à ênclise e a mesóclise.
A situação dos pronomes na frase se deve à entonação, conforme Melo (1971).
Se forem átonos, acostam-se ao acento tônico do vocábulo anterior ou seguinte; se são
tônicos, têm independência fonética e, portanto, podem se colocar livremente na oração.
Logo, para o autor não é influência africana, pois no Brasil eles podem ser – quando
proclíticos, quase tônicos, como eram na língua arcaica e é no espanhol e no italiano de
hoje, como por exemplo: “Me preguntas, mi buen amigo, si sé La manera de
desencadenar um delírio” (Buenos Aires). No Brasil, é comum usarmos a próclise,
mesmo nos casos em que esta é proibida, como iniciando frases: “Me da um cigarro?”,
Te amo...
Para Jacques Raimundo (1933, apud MELO, 1971 p.86) um dos fatos de
influência africana na sintaxe portuguesa é a construção do verbo falar com
complemento regido da preposição com, substituindo tendenciosamente o dativo de
pessoa com a preposição a.
Melo (1971) ressalta que essa afirmação não procede, pois “falar com” é sintaxe
antiquíssima na língua, aparecendo, por exemplo, segundo o autor, na Demanda do
Santo Graal, texto do século XIII, tem-se: “Veede-lo: está aaquela freesta, falando com
dom Galvam”.
Temos como “traducionismo” africano, de acordo com Jacques Raimundo
(1933, apud MELO, 1971 p.85), o uso do presente do indicativo pelo futuro. Melo
(1971, p. 85) critica o autor afirmando: “É coisa tão sabida que tal emprego é latino,
românico e português!” Leia-se, por exemplo, Epitânio Dias, Sintaxe histórica (Lisboa,
1918 p.196): “O presente do indicativo também se emprega como futuro imperfeito
enfático e, na conversação, como simples futuro imperfeito: Volto amanhã”, outros
casos mais simples do visto no nosso dia-a-dia: “te vejo amanhã”, “viajo no mês de
janeiro”, “te entrego o trabalho amanhã”.
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Jacques Raimundo (1933 apud MELO, 1971 p.85) também acredita que o
emprego preferencial de estar com por ter, que é o vernáculo e clássico: “aquela
mulher está com (tem) febre”, seja influência africana.
Melo (1971) alega que não há dúvidas do uso de ter em tais casos vernáculos.
Mas vernáculo também é a expressão estar com. O autor (1971, p.85) explica: “Com a
preposição com e um substantivo, [estar] significa que se tem em um dado momento a
coisa ou a qualidade que o substantivo exprime”, como: “estar com dinheiro”, “estou
com as pernas que as não posso mexer”, “estar com animo, com fadiga, com preguiça,
com sarampo”, são construções que ocorrem com tanta frequência até nos bons autores
lusitanos.
O mesmo autor crítica também a visão de Jacques Raimundo (1933, apud
MELO, 1971 p.85) quando este afirma ser influência africana, a tendência em certos
casos, para a posposição do possessivo e do demonstrativo em giros, como: mandei-lhe
uma carta, carta minha escrita com mágoa; recebi vários papéis, papéis esses de
grande importância.
O autor Melo (1971, p.86) afirma: “São portuguesíssimas tais construções, no
primeiro exemplo, a expressão “carta minha” é aposto explicativo e enfático. Seria
possível aí antepor-se o possessivo: “minha carta”? E, de qualquer modo, não é velha na
língua a posposição do possessivo: “Alma minha gentil que te partiste?”
Quanto ao segundo exemplo, Melo (1971, p.87) informou: “Papéis esses”
também é aposto e serve para chamar a atenção para a palavra repetida, e focalizada
pelo demonstrativo”. O autor ressalta que esse tipo de construção foi tratado por Sousa
da Silveira, nas lições de Português, onde se lê: Este e esse podem pospor-se a um
substantivo com o qual se denomina ou classifica uma ou mais coisas ditas
anteriormente, como: “os seus olhos serenos, como o céu, que imitavam na cor,
tomaram a terrível expressão que ele costumava dar-lhes no revolver dos Combates,
olhar esse que, só por si, fazia recuar os inimigos”.
O autor conclui informando que é quase imperceptível a influência africana na
sintaxe da língua culta do Brasil, ficando vestígios apenas na sintaxe popular,
ressaltando a redução de flexões que alterou o tipo de concordância.
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Abará: Bolo de feijão preto frito em Bendenguê: jongo, dança dos negros
azeite Bengala: Bastão pequeno
Acarajé: Bolo de feijão cozido, fritos Birimbau: Instrumento músico
em azeite de dendê com pimenta Bunda: Nádegas
malagueta Búzio: Concha de marisco usada como
Angu: Massa feita de fubá de milho ou valor monetário entre os negros do
mandioca Brasil
Axêxê: Cerimônia preliminar à missa Cabaça: Gêmeo que nasce em segundo
de sétimo dia. lugar
Babá: Pai de santo Cabaço: Hímen, virgindade
Babaça: Irmão gêmeo Cachaça: Aguardente
Banguela: Pessoa sem os dentes da Cachimbo: Tubo para fumar terminado
frente numa espécie de concha.
Bantu: Termo aplicado às línguas Caçula: filho mais novo
africanas dos grupos centrais e sul Caçulo: gêmeo que nasce primeiro
Batuque: Dança com sapateados e Cafuné: estalidos com o polegar no alto
palmas da cabeça
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Ê Nirê, Nirê
Ê Nirê, Nirê
Babaolorum xexê salerojá
Babaolorum xexê salerojá
Aê nirê, Nirê ô
Aê nirê, Nirê ô
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não nos cabe concluir aqui qual análise está totalmente certa em relação às
divergências de opiniões entre os autores. O objetivo deste trabalho era mostrar até que
ponto as línguas africanas contribuíram na formação do português do Brasil, tendo
como base as várias visões acerca da influência das línguas africanas na estrutura da
língua portuguesa brasileira. Há quem defenda que elas apenas deixaram marcas no
vocabulário, como existem os que acreditam que o processo foi mais fundo,
influenciando também na estrutura linguística do português.
No entanto, analisando as concepções dos principais estudiosos desse fenômeno,
e parafraseando Melo (1971) o estado atual das pesquisas ainda não nos permite
conclusões seguras sobre assunto que ora nos ocupa, ou seja, não podemos concluir se
de fato houve mudança na estrutura da língua portuguesa por interferência das línguas
africanas, porque não termos provas concretas e suficientes para afirmar se a presença
delas interferiu precisamente na nossa língua.
O que podemos afirmar é que outrora houve o contato direto dessas línguas, e a
obrigação que sobreveio aos negros de aprenderem o português levou-os a modificarem,
até certo momento da história, o modo de falar dessa língua. Esse fato se dá porque a
língua sofre mudanças no decorrer do tempo, por ser esta dinâmica e falada por varias
pessoas. O falar diário e constante dessas pessoas tem a capacidade de alterar toda a
forma de uma língua, sendo que é por meio da fala que uma língua é efetivada e
estabelecida em um grupo.
Dessa forma, podemos compreender o processo que ocorreu com a presença das
línguas africana no Brasil, o falar dos negros africanos naturalmente modificou e, para
alguns, deturpou a língua portuguesa, desfigurando-a e simplificando a nossa
morfologia, reduzindo desinências, alterando a sintaxe e o modo de falar algumas
palavras e frases inteiras. Sendo obrigados a aprender o português como segundo
língua, seria mais do que normal que inserissem nela as marcas dos seus antigos hábitos
linguísticos. A falta de alfabetização e letramento dos escravos cooperou para que a
situação linguística do País tomasse formas africanizadas.
Com toda a análise explicitada no trabalho, percebemos o quão sensível foram as
marcas deixadas pelas línguas africanas. A princípio, talvez por imaginarmos a
profundidade do contato dessas línguas com a língua portuguesa, pensávamos que a
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enormemente da língua culta escrita. Com a escolarização, tais influências, sejam elas
fonológicas, morfológicas ou sintáticas tendem a desaparecer. O que fica mesmo e é de
grande relevância, é a contribuição lexical ao nosso Português, além dos traços
culturais, étnicos, e tradições religiosas ou não a nós oferecidos pelo povo africano que
tanto sofreu em nossas terras e ainda sofre, quando descendentes diretos ou indiretos
são ainda fortemente discriminados.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MAPA:
Mapas e estatísticas de Negros no Brasil.
Disponível em: <http://profwladimir.blogspot.com.br/2012/09/mapas-e-estatisticas-de-
negros-no-brasil.htm>. Acesso em: 30 nov. 2013 às 13:30.