Contribuições Das Línguas Africanas para o PB

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Pró-Reitoria de Graduação

Curso de Letras
Trabalho de Conclusão de Curso

CONTRIBUIÇÕES DAS LÍNGUAS AFRICANAS PARA O


PORTUGUÊS DO BRASIL

Autora: Katiane Quintiliano Moreira


Orientadora: Msc. Vera Lúcia C. da Conceição

Brasília - DF
2013
KATIANE QUINTILIANO MOREIRA

CONTRIBUIÇÕES DAS LÍNGUAS AFRICANAS PARA O PORTUGUÊS DO


BRASIL

Monografia apresentada ao curso de


Graduação em Letras da
Universidade Católica de Brasília,
como requisito parcial para obtenção
do Título de Licenciado em Letras
Português e suas respectivas
literaturas.

Orientadora: Msc. Vera Lúcia


Cordeiro da Conceição

Brasília – DF
2013
Monografia de autoria de Katiane Quintiliano Moreira, intitulada CONTRIBUIÇÕES
DAS LÍNGUAS AFRICANAS PARA O PORTUGUÊS DO BRASIL, apresentada
como requisito parcial para obtenção do grau de licenciatura em Letras Português da
Universidade Católica de Brasília, em 27 de novembro de 2013, defendida e aprovada
pela banca examinadora abaixo assinada:

__________________________________
Prof.ª Msc. Vera Lucia Cordeiro da Conceição
Orientadora
Curso de Letras – UCB

__________________________________
Msc. Ana Carolina Nunes de Araújo
Examinador
Curso de Letras – UCB

__________________________________
Msc. Deise Ferrarini
Examinador
Curso de Letras – UCB

Brasília
2013
As minhas rainhas Iracema e Joselita,
vocês são o meu alicerce.
AGRADECIMENTO

É com muita satisfação que agradeço a todas as pessoas que, com seu carinho,
incentivaram-me a concluir este trabalho, o qual representa o encerramento de mais um
ciclo de conquistas na minha vida, em especial:
A Deus, que, com sua sabedoria, deu-me tranquilidade e força para a realização
deste trabalho.
À minha mãe, Joselita Quintiliano, que com todo seu amor e paciência
compreendeu os meus momentos de ansiedade e de estresse, incentivando-me
constantemente e ajudando-me a manter a fé, por meio de suas palavras positivas.
Ao meu namorado, Yure Oliveira, que com todo seu carinho, deu-me força e
incentivo, compreendeu-me nos momentos de tensão.
Ao meu Irmão, Samuel Quintiliano, que com dedicação e atenção, procurou me
ajudar a solucionar as dificuldades encontradas no decorrer da conclusão deste trabalho.
À professora Andréia, professora-coordenadora do PIBID, que no último ano
tornou-se para mim um exemplo de docente, inspirando-me a exercer essa profissão tão
sublime e mostrando-me, por meio da sua dedicação, como é gratificante o processo de
ensino-aprendizagem em sala de aula.
À minha orientadora, Vera Lúcia, que, com sagacidade direcionou meu trabalho,
corrigindo as imperfeições através do seu vasto conhecimento no campo da orientação
acadêmica, incentivando-me a buscar sempre o melhor.
A todos os professores que no decorrer da graduação ministraram suas aulas
com excelência, proporcionando-nos o conhecimento necessário e efetivo para a
realização deste trabalho e execução da docência.
“O negro influenciou sensivelmente a nossa língua popular. Um contato prolongado de
duas línguas sempre produz em ambas fenômenos de osmose”

Renato Mendonça.
RESUMO

Referência: Moreira, Katiane Quintiliano. Contribuições das Línguas Africanas


para o Português do Brasil. 2013. 43 folhas. Monografia em Letras. Universidade
Católica de Brasília, Brasília, 2013.

A língua portuguesa do Brasil na época da sua formação manteve, até certo período da
história, relação direta com várias línguas, entre elas indígenas, africanas e as línguas
dos imigrantes. Uma das interações mais profundas se deu com as línguas africanas,
trazidas ao país por meio do tráfico negreiro, para trabalho braçal, realizado pelos
portugueses ao colonizar o Brasil. Ao chegar aqui houve, então, uma confluência de
raças e línguas. Dessa mistura podemos perceber, até os dias de hoje, as contribuições e
as marcas deixadas pelos negros com mais intensidade na nossa cultura do que na
língua falada pelos brasileiros. Acreditava-se até certo momento da história, que as
línguas dos negros haviam interferido na estrutura linguística do português do Brasil,
contudo, não há provas concretas o bastante para comprovar estes fatos. Podemos
perceber, por intermédio de várias pesquisas e estudos, a presença de alguns vocábulos
ou termos africanos que contribuíram para enriquecer o léxico da língua portuguesa
brasileira.

Palavras-chave: Língua Portuguesa. Formação. Língua Africana. Contribuição Africana.


ABSTRACT

The Portuguese language of Brazil at the time of its formation remained, until certain
period of history, a direct relationship with several languages, including indigenous,
African and languages of immigrants. One of the most profound interactions occurred
with African languages, brought to the Country through the slave trade, for legwork,
done by the Portuguese during the colonization of Brazil. Upon arriving here was, then,
a confluence of races and languages, and from this mixture we can realize, until today,
the contributions and the marks left by blacks with more intensity in our culture than the
language spoken by Brazilians. It was believed to a certain moment in history, that
blacks language had interfered with the linguistic structure of the Portuguese of Brazil,
however, there is not enough evidence to prove these facts, what we can realize, by
means of various surveys and studies, is the presence of certain words or Africans terms
that contributed to enrich the lexicon of the Brazilian Portuguese language.

Keywords: Portuguese language. Formation. African language. Contributions African.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2
1. CAPÍTULO - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA............................................................. 4
1.1 DEFININDO LINGUAGEM ........................................................................................... 4
1.2 LÍNGUA X FALA ........................................................................................................... 9
2. CAPÍTULO - A ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA: FATOS
HISTÓRICOS ......................................................................................................................... 12
2.1 A LÍNGUA PORTUGUESA E A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA
IBÉRICA .............................................................................................................................. 12
2.2 DO LATIM AO PORTUGUÊS ..................................................................................... 13
3. CAPÍTULO - A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL E AS INFLUÊNCIAS
RECEBIDAS ........................................................................................................................... 17
3.1 PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA LÍNGUA TRANSPLANTADA ........................... 17
3.2 A CHEGADA DAS LÍNGUAS AFRICANAS AO BRASIL ....................................... 20
3.3 A PRESENÇA DOS IMIGRANTES NO BRASIL ....................................................... 23
4. CAPÍTULO - INTERFERÊNCIAS DAS LÍNGUAS AFRICANAS NO
PORTUGUÊS DO BRASIL .................................................................................................. 25
4.1 O CONTATO DO PORTUGUÊS COM AS LÍNGUAS AFRICANAS ....................... 25
4.2 INTERFERÊNCIAS NA FONÉTICA E FONOLOGIA ............................................... 27
4.3 INTERFERÊNCIAS NA MORFOLOGIA .................................................................... 29
4.4 INTERFERÊNCIAS NA SINTAXE .............................................................................. 32
4.5 CONTRIBUIÇÕES PARA O LÉXICO ...................................................................... 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 42
2

INTRODUÇÃO

Caçula, bengala, careca, moleque e cochilo são palavras que diariamente


falamos, mas alguém já se perguntou qual é a sua origem? Ou, como vieram compor o
nosso vocabulário? São perguntas que quase nenhum falante da língua portuguesa se
faz, isso porque certas palavras se tornaram tão comum na nossa língua, que pensamos
que elas já compõem o nosso vocabulário ativo desde o princípio.
Na realidade, as palavras citadas são todas de origem africana, umas provêm do
quimbundo, outras do bantu, que são línguas faladas no continente africano e trazidas ao
Brasil, por meio dos portugueses, na época da colonização do País.
A relação do português com as línguas africanas desde o início foi muito intensa.
Dessa interação, percebemos as consequências deixadas pelos africanos na realidade do
povo brasileiro, sobretudo, nos aspectos culturais. A confluência de raças e a mistura de
línguas, acrescidos dos falares diários, cooperaram para as marcas que permeiam, até os
dias atuais, na nossa estrutura linguística.
Com base na presença africana no Brasil, este trabalho nasceu da curiosidade de
constatar se de fato houve interferência das línguas africanas no português brasileiro,
pois se imaginarmos a profundidade do contato dessas línguas, pressupomos logo que a
contribuição africana à nossa estrutura linguística foi imensa. Outro fator que levou à
realização deste trabalho foi a diversidade das palavras encontradas no nosso
vocabulário, saber a origem e significado daquelas provindas das línguas africanas e
quais foram as línguas africanas efetivamente faladas no território brasileiro.
Para a delimitação do tema, essa pesquisa visa discutir a influência dessas
línguas no português e se essa interação resultou em alteração no plano fonológico,
fonético, morfológico, sintático ou apenas contribuiu para enriquecimento do léxico da
nossa língua. O foco é mostrar os principais pontos, dentre esses, em que pode ter
havido à época, uma interferência das línguas africanas e se as mesmas ainda têm
interferido nos dias de hoje. Apesar da língua e da cultura estarem totalmente ligadas,
para que o nosso objetivo não se disperse, foge ao assunto desse trabalho tratar da
influência cultural.
O trabalho será dividido em quatro partes, sendo o primeiro capítulo a definição
de linguagem, língua e fala dentro de uma comunidade linguística fundamentada pelos
(as) autores (as): Franchetto (2004), Cunha (2008), Aranha e Martins (2003),
3

Benveniste (1995), Saussure (2006) e Silvio Elia (2001). O segundo capítulo será
pautado na origem da língua Portuguesa e os fatos que contribuíram para a sua
formação, os autores que contribuirá são: Teyssier (1982), Coutinho (1976), Furlan
(2006) e Ilari e Basso (2011).
No terceiro capítulo, trataremos da chegada da língua portuguesa no Brasil e das
línguas que tiveram contato direto com ela seguindo até a chegada dos africanos para o
País, utilizaremos aportes dos (as) autores (as): Lucchesi (2009), Teyssier (1982), Ilari e
Basso (2009), Fonseca (2004), Silva neto (1963) e Mendonça (1973). Por fim,
analisaremos os principais pontos em que houve contribuição linguística para o
português brasileiro proporcionado pelo contato das línguas africanas com a língua
portuguesa. Para a pesquisa utilizar-se-ão os (as) autores (as): Lucchesi (2009), Melo
(1971), De Castro (1990), Mendonça (1973) e Jacques Raimundo (1933).
A metodologia empregada será consulta bibliográfica fundamentada pelos
autores citados, por meio de análises e pesquisas já empreendidas por eles, apresentar-
se-ão algumas concepções e conceitos com intuito de dar embasamento teórico a este
trabalho. Logo após entrar-se-á na análise contributiva das línguas africanas ao
português do Brasil, consoante a visão desses estudiosos do tema.
4

CAPÍTULO 1 - LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA

1.1 DEFININDO LINGUAGEM

A origem da linguagem até hoje é motivo de vários estudos. De fato, sob


diferentes ângulos, a linguagem sempre exerceu sobre as pessoas certo fascínio e
curiosidade. O interesse maior dos estudiosos é saber sua origem, isso ocorre porque é
por meio dela que os seres humanos conseguem se comunicar e interagir uns com os
outros. Franchetto (2004) relata que o fato de não haver provas concretas a respeito da
origem da linguagem e como ela se desenvolveu, fez com que aparecessem diversas
teorias, crenças e histórias, a princípio fantasiosas ou sem sentido lógico.
Segundo a autora, a primeira teoria ficou conhecida como teoria onomatopaica,
pois evoca a seu favor a existência de onomatopéias em todas as línguas. Essa proposta
afirma que a linguagem nasceu da tentativa de se imitar os sons provindos dos animais e
da natureza.
Outra hipótese levantada propõe que a linguagem surgiu por meio das
interjeições, ou seja, os primeiros sons produzidos pelos homens teriam sido
exclamações de dor, alegria, desespero, espanto, surpresa etc. Franchetto (2004)
argumenta que também não há como explicar como se passou do estágio dos gritos
expressando emoções à linguagem articulada de frases como: “Eu estou com dor”.
A teoria mais fundamentada, porém não comprovada como as demais, fundou-se
no relato de que a linguagem é baseada no processo de produção de sons. Como mostra
Franchetto (2004, p. 13) no fragmento abaixo:

[...] por meio do esforço muscular exagerado ou difícil e especialmente os


esforços rítmicos são geralmente acompanhados por ação intermitente da
glote, da língua, dos lábios e do palato mole. A alternância dos movimentos
de segurar e soltar a respiração, algumas vezes fazendo as cordas vocais
vibrarem, produziu a voz.

Sendo assim, a autora ressalta que os primeiros sons seriam os que acompanham
os acasalamentos, as lutas e ocasiões festivas e que posteriormente passariam a
significar esses eventos.
5

O interesse pelo estudo da linguagem começou na Grécia, onde havia duas


longas correntes de ideias. A judaico-cristã1, que acreditava que o surgimento da
linguagem se deu mediante as crenças religiosas, e a greco-latina2, neste contexto
inserimos alguns pensadores e estudiosos da época, aos quais devemos os primeiros
elementos racionais.
A judaico-cristã acreditava que a linguagem era um dom de Deus, de acordo
com a autora Franchetto (2004, p. 21):

A razão para essa origem divina era sua perfeição e complexidade, não
podendo ser, pois, um produto do homem primitivo, imperfeito e rústico. [...]
A explicação divina tem em si uma circularidade teológica: sem linguagem
não há razão; sem razão, não há linguagem; sem linguagem, sem razão, o
homem é incapaz de receber o ensinamento de Deus; sem ensinamento
divino, o homem não tem razão, nem língua.

A partir daí teve-se como inaceitável o dom divino, pois, o fato de não se poder
recorrer a Deus para explicar a diversidade, a falta de evidências e de provas concretas,
somadas ao fato da impossibilidade de se evocarem espíritos divinos para dar
explicações acerca da origem da linguagem, tornou essa teoria não mais aceita para os
estudiosos, como afirmou Franchetto (2004).
Ressalta ainda a autora, a visão de alguns grandes estudiosos sobre a linguagem,
que, como exposto anteriormente, são os primeiros elementos racionais fundamentados
nas ideias greco-latinas. Ela afirma que, antes de Sócrates (470/469-399 a.C), falar e
agir estavam intimamente associados, para Sócrates a linguagem servia à arte da
persuasão e ao homem político.
Franchetto (2004) mostrou a visão do filósofo suíço Jean Jacques Rousseau
(1712-1778) o qual apresenta em seu belíssimo e clássico Ensaio sobre a origem das
línguas, publicado após sua morte, em 1781, uma definição ampla de linguagem:

1
Tradição judaico-cristã ou somente judaico-cristianismo é um termo genérico usado para caracterizar o
conjunto de crenças em comum do judaísmo e o cristianismo, bem como a herança das tradições judaicas
herdadas pelos cristãos. Este termo é apropriado para caracterizar, como principal fonte doutrinária das
crenças judaicas e cristãs, com o conjunto de livros composto pelo Velho Testamento e do Novo
Testamento.
2
As ideias greco-latina acreditam que o homem é um ser racional, capaz de conhecimento, criador de
ciência. A ideia de cidadania, a ideia de participação da vida pública, a ideia do homem político, embora
herdada da Antiga Grécia, é uma ideia que foi, sobretudo, valorizada e difundida pela cultura latina, pela
civilização romana.
6

[...] a motivação para a linguagem humana vem da necessidade de


comunicação, uma vez que os homens constituem uma sociedade. E o
homem pode comunicar-se pelo movimento corporal (o gesto) ou pela
vocalização (a palavra). É a linguagem como convenção que distingue o
homem dos demais animais. O gesto nasce das necessidades físicas naturais;
a palavra nasce da paixão, do sentimento. O homem não começou
raciocinando, mas sentindo. (1781, apud FRANCHETTO, 2004, p.17).

O filósofo vê a linguagem como música e paixão. Para ele a necessidade de


expressar os sentimentos é o que faz gerar a linguagem humana, sendo que essa poderia
se dá de diversas formas, mesmo sem o uso das palavras.
Rousseau (1781, apud FRANCHETTO, 2004 p.17) afirma: “A linguagem
responde a uma necessidade interna humana, que surgiria mesmo sem o intermédio da
voz”. É interessante essa afirmação do Rousseau, pois se entende que mesmo não
existindo a voz, para ele a linguagem aconteceria de outra maneira, mas haveria;
percebe-se então, que é algo expressado involuntariamente pelo ser humano. Neste
contexto, para Rousseau, a linguagem está diretamente ligada ao desenvolvimento das
formas da vida social.
Mesmo com todo o explicitado acima, para a Franchetto (2004), a questão da
origem da linguagem é algo muito complexo. No entanto, é importante que se tenha
conhecimento dela, pois foi por meio das crenças e teorias que estudiosos, após anos de
pesquisas, propuseram diversas definições sobre linguagem, as quais serão o nosso
objeto de estudo.
Comecemos por Cunha (2008, p. 3) que define linguagem como sendo: “Todo
sistema de sinais que serve de meio de comunicação entre os indivíduos. Desde que se
atribua valor convencional a determinado sinal, existe uma linguagem”.
A afirmação de Cunha tem relação com a definição das autoras Aranha e
Martins (2003, p. 30) que entendem que linguagem é:

Um sistema de signos, que possuem um repertório, ou seja, uma relação de


signos que vão compô-la”. [...] “Só quando conhecemos o repertório de
signos, as regras de combinação e as regras de uso desses signos é que
podemos dizer que dominamos uma linguagem.

Entende-se por signos, como afirmaram as autoras Aranha e Martins (2003),


como sendo uma coisa que está no lugar de outra, ou seja, o signo está no lugar do
objeto que ele representa.
7

As autoras ainda ressaltam que só o ser humano é capaz de estabelecer signos


arbitrários, estes são compostos por símbolos, exemplo: as palavras, que são regidas por
convenções sociais. Por isso dizemos que o mundo humano é simbólico. (Aranha e
Martins, 2003, p. 31).
A citação das autoras se completa com a definição de Sapir (1929 p. 8 apud
LYONS, 2009 p. 3): “A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de
se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos voluntariamente
produzidos”.
Observa-se que o conceito de linguagem definido por Sapir (1929) é muito geral,
pois sabemos que, por intermédio da linguagem, há como se comunicar diversas coisas
além de “ideias, emoções e desejos”, o que depende é o meio que o indivíduo vai
utilizar para se comunicar, ou seja, quais serão os símbolos eficazes disponíveis para
aquela interação e que irá resultar em uma comunicação eficiente.
As autoras Aranha e Martins (2003, p. 33) consideram que “[...] a linguagem é
um sistema de representações aceitas por um grupo social, que possibilita a
comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo”. Sua fala faz deduzir que,
independe da forma como será essa comunicação, se determinado grupo conhecer os
símbolos de convenção estipulados, então há ali uma linguagem.
Partindo desse pressuposto, destacamos, então, os vários tipos de linguagem que
são relatados por Aranha e Martins (2003, p. 31):

[...] há vários tipos de linguagem criados pelo ser humano, que vão das
linguagens matemáticas, linguagens de computador, passam pelas línguas
diversas, pelas linguagens artísticas (arquitetônicas, musical, pictórica,
escultórica, teatral, cinematográfica etc.) e chegam ás linguagens gestuais, da
moda, espaciais etc.

As autoras dividem a linguagem em duas classes: verbal e não verbal. Segundo


elas, a linguagem verbal é a falada e a escrita, entretanto, como afirmaram não é a única
utilizada pelo ser humano, no seu esforço de dar significados ao mundo. Podemos assim
pressupor que as demais formas de linguagem se encontram dentro da linguagem não
verbal, já que essas não se valem da fala nem da escrita para existirem.
Conforme afirmaram Aranha e Martins (2003), a capacidade humana de dar
significado ao mundo e, completamos, de entender e produzir sentenças, é umas das
características primordiais que diferem a linguagem humana da linguagem dos animais.
8

A autora Franchetto (2004, p. 42) ressalta que:

A linguagem humana possui algo qualitativamente diferente, sobretudo no


que diz respeito a sua rica e infinita capacidade de criação de sentenças. [...]
Embora possa haver mecanismos análogos no mundo animal, a versão
humana foi modificada pela seleção natural de tal forma que se formaram
traços exclusivos da nossa espécie.

Após uma pesquisa e análise feita com abelhas para verificar como se dá a forma
de comunicação entre elas, Benveniste (1995) concluiu que, mesmo havendo uma
transmissão de mensagem entre os animais, não há o diálogo, sendo este uma das
características própria da linguagem humana, observou Benveniste (1995, p. 65):

Uma diferença capital aparece também na situação em que se dá a


comunicação. A mensagem das abelhas não provoca nenhuma resposta do
ambiente, mas apenas certa conduta, que não é uma resposta. Isso significa
que as abelhas não conhecem o diálogo, que é uma condição da linguagem
humana. Falamos com outros que falam, essa é a realidade humana.

Podemos compreender que há uma comunicação entre os animais, sendo essa


comunicação não uma forma de linguagem, mas um código de sinais que leva a uma
compreensão, entretanto não se pode comparar com a forma da linguagem humana.
O que distingui de fato a linguagem humana da comunicação animal reside no
ser humano ter a faculdade de falar e de nomear as coisas. Para Aranha e Martins (2003,
p. 30): “[...] Falar é uma atividade especificamente humana”. A autora explica que falar
significar nomear objetos, é formar conceitos, é articulá-los de forma coerente.
Argumenta ainda, conquanto possamos falar, é necessário que façamos uso de uma
linguagem estruturada que nos permita pensar e comunicar este pensamento, que seja
um instrumento por meio do qual possamos estabelecer diálogos com os nossos
semelhantes e atribuir sentido à realidade que nos cerca.
Percebemos, portanto, que nenhuma comunicação animal se assemelha à
linguagem humana. Somos os únicos capazes de nos comunicar por meio da linguagem.
Benveniste (1995, p.15) concluiu que:

Até aqui é impossível estabelecer que os animais disponham, mesmo sob


uma forma rudimentar, de um modo de expressão que tenha os caracteres e as
funções da linguagem humana. Falharam todas as observações sérias
praticadas mediante técnicas variadas para provocar ou controlar uma forma
qualquer de linguagem que se assemelhasse a dos homens. As condições
fundamentais de uma comunicação propriamente lingüística parecem faltar
no mundo dos animais.
9

Outra visão de linguagem se observa em Saussure (2006), para o autor a


linguagem se apresenta em dois domínios distintos: no domínio individual e no domínio
social.
O domínio individual ele chamou de ‘parole’ que significa fala, e o domínio
social ele denominou ‘langue’, logo significa língua. Sobre esses dois aspectos distintos
da linguagem, dedicaremos o próximo tópico.

1.2 LÍNGUA X FALA

Antes de conceituar o que é língua e fala, comecemos por desmistificar a relação


entre linguagem e língua. Para Saussure (2006), não podemos confundir a linguagem
com a língua e tratarmos as duas como sendo a mesma coisa, porque enquanto a
linguagem é heterogênea – várias formas – a língua, para ele, é de natureza homogênea.
O mestre da Linguística (2006, p. 17) afirma que:

Para nós, ela [língua] não se confunde com a linguagem; é somente uma parte
determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um
produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos.

Saussure (2006) segue mostrando que a língua pode ser estudada separada da
linguagem, pois ela é apenas uma parte da linguagem. Contudo, língua e fala são
estreitamente relacionadas. O autor (2006, p. 27) afirma: “[...] a língua é necessária para
que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é necessária para que
a língua se estabeleça [...]”.
O pai da Linguística (2006, p. 22) ainda ressalta que: “[...] a língua não está
completa em nenhum [indivíduo] só na massa ela existe de modo completo”. A língua
só existe a partir de acordos feitos entre membros de uma comunidade, assim como nas
demais instituições existentes. Entretanto, o autor distingue a língua das demais
instituições, apenas por que ela tem uma natureza peculiar, sendo essa característica o
que a define.
Na visão de Saussure (2006, p. 23), a língua constitui-se num sistema de signos
que, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, e onde as duas
partes do signo são igualmente psíquicas. Para ele, signos linguísticos são a relação
10

entre um conceito e uma imagem acústica, sendo o conceito uma ideia, um pensamento
que serve para interpretar o mundo, e uma imagem acústica a impressão psíquica de
uma sequência articulada de sons (vogais, consoantes e semivogais).
O mestre (2006, p. 22) definiu ainda fala como sendo: “Um ato individual de
vontade e inteligência” e também “combinações individuais, dependentes da vontade
dos que falam; atos de fonação igualmente voluntários, necessários para a execução
dessas combinações”.
A partir das definições de língua e de fala, infere-se que a fala conduz à língua;
na verdade, uma depende da outra. A diferença entre as duas, como nos explica
Saussure (2006, p.22): “A língua não constitui, pois, uma função do falante: é o produto
que o indivíduo registra passivamente [...]. Já para a fala temos que, “[...] é, ao
contrário, um ato individual de vontade e inteligência [...]”.
É interessante como Fiorin (2011, p.81) descreve, ao afirmar que, para Saussure:

Língua opõe-se a fala, porque a língua é coletiva e a fala é particular,


portanto, a língua é um dado social e a fala é um dado individual. Além disso,
a língua é sistemática e a fala é assistemática. Pessoas que falam a mesma
língua conseguem comunicar-se porque, apesar das diferentes falas, há o uso
da mesma língua.

Assim, constata-se que a permanência de uma língua em um determinado


contexto social, precisa do exercício da fala, sendo por meio dela que a língua é
efetivada e estabelecida em um grupo social.
De acordo com esse pensamento, Silvio Elia (2001, p. 5) define língua como
estrutura e como instituição, sendo, primeiro a língua na sua estrutura física, depois a
língua como instituição e, por fim, de acordo com o uso em uma comunidade
linguística, ou seja, a língua em seu uso social.
Para o autor (2001, p. 7), comunidade linguistica é: “[...] todo agrupamento
humano dotado de um código verbal comum que, podendo não ser exclusivo, a todos se
impõe, por meio de normas que funcionam como força de coesão e solidariedade
social”, ou seja, essa comunidade interage por meio de uma língua.
Desse ponto de vista, ressalta-se que uma comunidade é composta de uma língua
que representa, além de um símbolo, um fator de identidade cultural. Ela só existe em
decorrência de espécie de contrato coletivo que se estabelece entre as pessoas e ao quais
todos aderiram. A língua é um patrimônio histórico, cultural, reconhecido oficialmente
11

por um Estado, como forma de comunicação em suas relações internas e externas,


conforme afirma Silvio Elia (2001, p. 15).
Existem alguns traços sociolinguísticos que definem como uma língua se
estabelece em uma determinada comunidade linguística. Silvio Elia (2001) destaca
alguns: o primeiro traço é a língua berço; essa característica é dada quando a língua
nasce em um determinado país, tomemos por exemplo a Língua Portuguesa (que será
objeto de estudo nos próximos capítulos). Portugal é o berço da Lingua Portuguesa,
caracteristica única e própria dele. O segundo traço é a lingua materna, esta é a primeira
língua aprendida pelo falante, geralmente na infância, dos lábios de sua mãe ou de
parente próximos.
Outro traço sociolinguistico é a lingua oficial – é a língua que o Estado
reconhece como válida em sua vida política e administrativa. O quarto chama-se língua
nacional, tem-se por essa a língua falada sem contrastes em toda a extensão do País.
Um traço interessante (e o mais recente) é o da língua de cultura, esta permite o
acesso à cultura e sendo ela mesma um patrimônio cultural. O sexto traço é gerado da
língua de cultura, sendo ele por sua vez a lingua padrão, como o próprio nome
estabelece, é a língua reconhecida pela comunidade nacional e que se ensina nas
escolas. Podemos classificar o outro traço como língua transplantada que é a língua
levada de um país para o outro e lá estabelecida; e como exemplo temos a Língua
Portuguesa, que após se estabelecer como língua oficial de Portugal, foi levada por meio
da expansão marítima a vários países, se expandindo por vários lugares e é hoje uma das
línguas mais faladas do mundo.
Para compreendermos melhor o processo de formação e estabelecimento da
língua portuguesa no território brasileiro, é necessário que retornemos às suas origens, a
língua latina. Assim entenderemos como foram as modificações que o latim sofreu até a
formação do Português atual.
12

CAPÍTULO 2 - A ORIGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA: FATOS


HISTÓRICOS

2.1 A LÍNGUA PORTUGUESA E A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA

A língua portuguesa pertence ao grupo das línguas românicas, também


chamadas de neolatinas. Ela foi resultado das transformações do latim vulgar levado à
Península Ibérica pelos romanos. Segundo Coutinho (1976), a história da Península
Ibérica antes da conquista romana é bem complexa. O autor explica que de acordo com
investigações feitas por meio da arqueologia, etnologia e linguística concluíram que
habitavam o solo peninsular na época apenas dois povos: um cantabro-pirenaico e o
outro mediterrâneo, dos quais se originaram respectivamente os bascos e os iberos. O
autor afirmou também que aos iberos coube o papel mais importante da Península, e que
em nome deles os historiadores chamam a região de Ibéria.
O território da Península Ibérica, de acordo com Teyssier (1982), no século I
a.C, foi dividido, inicialmente, em duas grandes províncias, Hispânia Citerior e a
Hispânia Ulterior; esta última sofreu nova divisão em duas outras províncias, a Bética e
a Lusitânia, onde se estendia antiga província romana, Gallaecia.
Segundo o mesmo autor, os romanos desembarcam na Península no ano 218 a.C.
A sua chegada constitui um dos episódios da Segunda Guerra Púnica – luta entre os
romanos e cartagineses. Essa guerra ocorreu quando os cartagineses invadiram a
Península, o que levou os celtiberos – nome dado a mesclagem dos povos iberos com os
celtas, após a invasão destes últimos à Península – a recorrerem aos romanos pedindo-
lhes auxílio; foi por esse motivo que os romanos invadiram o território, com o objetivo
de deter a expansão dos cartagineses.
No século II a.C. quando as legiões de Roma, depois de longas lutas,
conquistaram a Hispânia e impuseram a sua civilização, com exceção dos bascos (povos
que habitavam a península na época e que tinham como língua o basco), todos os outros
povos adotaram o latim como língua. A romanização da península não aconteceu de
uma vez, mas gradativamente o latim foi se impondo, fazendo com que as demais
línguas, inclusive a nativa, desaparecessem. Quando ocorreu a queda do Império
Romano (476 d.C no século V), a península já estava totalmente latinizada.
13

2.2 DO LATIM AO PORTUGUÊS

A língua latina é um dos ramos derivado do itálico, este, por sua vez, derivou-se
do tronco indo-europeu, que há três ou quatro milênios a.C era a língua falada pela tribo
dos nômades no leste da Europa, como afirmou Furlan (2006).
Segundo o autor (2006, p.19-20), “o indo-europeu era um antigo tronco comum
que permitiu a derivação da maior parte das línguas faladas na Europa e grande parte
das faladas na Ásia, dele derivaram na Europa, os grupos helênico, itálico, celta,
germânico, báltico e eslavo”. O ramo dentre esses em que surgiu a língua latina foi o
itálico.
O principal fato que levou à origem do latim foi a migração das tribos nômades
para o oeste e sul do continente europeu, como afirmou Furlan (2006, p. 20): “Entre
cerca de 1400 e 1000 a.C, uma fração delas migrou para o centro da Itália, onde passou
a falar o itálico, que se ramificou em osco, úmbrio, falisco e latim”. O autor (2006, p.
20) defende ainda que “[...] o latim foi a língua falada no Lácio – região central da
Itália, em cujo território se fundou, em 753 a.C, a cidade de Roma – e em todo território
Romano”.
Um dos fatos que contribuíram para a diversificação e divisão da língua latina,
segundo Teyssier (1982), foram às invasões que a Península Ibérica sofreu, começando
pelos bárbaros germânicos que eram assim chamados pelos romanos por viverem além
das fronteiras de Roma; os primeiros a chegarem foram os vândalos e suevos e depois
os visigodos e os alanos.
Conforme Ilari e Basso (2011), a língua latina foi dividida em três variedades: o
latim literário – o falado pelos grandes poetas da época, o eclesiástico – falado pela
igreja católica, e o latim vulgar que foi assim denominado por ser uma variedade do
latim falado pelos soldados e comerciantes, ou seja, pela classe baixa da antiga Roma.
Já para Coutinho (1976), o latim era dividido em apenas: clássico e vulgar,
sendo “[...] o latim clássico a língua escrita, caracterizada pelo correto vocábulo,
correção gramatical, elegância do estilo”, essas características eram encontradas nas
obras dos escritores latinos.
Coutinho (1976, p.29) acrescenta:

A princípio, o que existia era simplesmente o latim. Depois, o idioma dos


romanos se estiliza, transformando-se num instrumento literário. Passa então
a apresentar dois aspectos que, com o correr do tempo, se tornam cada vez
14

mais distintos: o clássico e o vulgar. Não eram duas línguas diferentes, mas
dois aspectos da mesma língua. Um surgiu do outro, como a árvore da
semente. Essas duas modalidades do latim, a literária e a popular, receberam
dos romanos a denominação respectivamente de sermo urbanus e sermo
vulgaris.

De acordo com o mesmo autor, o latim vulgar nasceu dos falares das camadas
sociais mais humildes, como os soldados, os marinheiros, os artífices, os agricultores, os
sapateiros, os artistas de circos etc. Coutinho (1976, p.30) afirma ainda que: “Homens
livres e escravos que se acotovelavam nas ruas, que se comprimiam nas praças, que
frequentavam o fórum, que superlotavam os teatros, a negócio ou em busca de
diversões, toda essa gente enfim, que se mal passara pela escola”. Esse fato, da não
escolarização das classes sociais baixas foi um dos fatores que contribuíram para o
aparecimento do latim vulgar.
Na visão de Ilari e Basso (2011), o latim vulgar consistia em um vernáculo.
Entende-se por vernáculo, uma língua falada entre as pessoas sem a interferência da
escola, sendo, portanto, a livre comunicação. Para eles, esse vernáculo se expandiu tanto
que boa parte da Europa ocidental já o falava. Os autores afirmam (2011, p.15):
“Durante a formação do Império Romano no ano 753 a.C, o latim vulgar foi a variedade
do latim mais falada no território e foi repassada de geração em geração sem ser
ensinada formalmente”.
Tanto para Coutinho (1976) quanto para Ilari e Basso (2011), foi por meio de
todos esses “falares” que o latim vulgar foi tomando lugar na comunidade, até que
tomou a Europa “informalmente”, e, como o próprio Coutinho (1976) defendeu, foi com
a queda do Império Romano – 476 d.C no século V – e após a Península já estar
totalmente latinizada que a língua se alastrou, dando espaço para o surgimento de
algumas línguas românicas ou neolatinas, tais como: o romeno, o italiano, o sardo, o
reto-românico, o accitano, o francês, o catalão, o espanhol, o galego e o português.
No entanto, quando os muçulmanos (árabes) invadiram e conquistaram a
Península Ibérica e os cristãos tentaram reconquistar o espaço, foi que nasceu o reino
independente de Portugal, berço da língua portuguesa. A invasão dos muçulmanos e o
processo de reconquista, como afirmou Teyssier (1982, p.8), foram fatores
determinantes na formação de três línguas peninsulares: o galego português a oeste, o
castelhano no centro e o catalão a leste. Essas línguas são nascidas no norte, porém
levadas para o sul pela Reconquista.
15

Ilari e Basso (2011, p.18) explicam com excelência o movimento da


Reconquista:
Como as duas outras grandes línguas da Ibéria, o castelhano e o catalão, o
português originou-se de um processo de reconquista. ‘Reconquista’ é o
nome dado aos movimentos político-militares de expansão pelos quais
passaram alguns reinos cristãos que, por volta do ano 1000, ocupavam a faixa
mais setentrional da Ibéria, correspondente aos montes Cantábricos; pela
Reconquista, esses reinos ampliaram progressivamente seu território à custa
dos árabes, presentes na península desde o século VIII.

Sabe-se que o movimento da Reconquista foi fundamental para a separação entre


o português e o galego. Conforme Ilari e Basso (2011) afirmaram o movimento da
Reconquista causou efeitos linguísticos quando as línguas de maior prestígio como: o
galego, o leonês, o asturiano, o castelhano e o aragonês, todas faladas no norte da
península Ibérica, foram transportadas para o sul, fazendo com que as línguas que
existiam lá desaparecessem, inclusive, o moçárabe3 que era a língua e cultura dos
cristãos que lá viviam, no território dominado pelos árabes.
À medida que o território português se desenvolve em direção ao Sul, os
territórios ocupados passam a ser habitados por colonos do Norte que levam consigo o
galego-português. No caso de Portugal, ele sofreu a transferência da capital do Estado
português da cidade do Porto para a cidade de Guimarães e depois para Lisboa. Isso fez
com que a língua portuguesa se deslocasse do norte para o sul do rio Douro.
Explicando melhor, o galego-português era falado no Reino da Galiza e no norte
de Portugal e ao se separarem o galego-português consolidou-se como língua falada e
escrita da Lusitânia. A parte sul do Reino da Galiza se tornou independente, passando a
se chamar Condado Portucalense em 1095.
Enquanto a Galícia diminuiu, Portugal independente se expandiu para o Sul e
difundiu o idioma, com a Reconquista, ficando com o português. Como relataram Ilari e
Basso (2011), o português já separado do galego torna-se a língua de um país cuja
capital é Lisboa. Podemos afirmar que Portugal é o berço da língua portuguesa, pois foi
lá que se estabeleceram as normas e o prestígio dessa nova língua.
Ilari e Basso (2011, p.24) afirmam que “[...] a língua do período que vai da
formação do Estado português até o apogeu das navegações é conhecida como
português arcaico”. Também ressaltaram que os textos dessa época são de difícil leitura,

3
Moçárabes – Termo que designa os povos cristãos que viviam subjugados aos árabes, sem adotarem
língua, a religião e os costumes, mas dos quais receberam profundas influências na linguagem e nos
costumes exceto na religião, pois continuavam cristãos.
16

um dos motivos é que a ortografia não estava totalmente fixada. Os autores ainda
destacam que as características linguísticas do português arcaico ficam no meio
caminho entre o latim vulgar e o português atual, ou seja, a transição entre essas línguas.
O português clássico, segundo Ilari e Basso (2011), soa-nos hoje bem mais
familiar, sofreu alteração no século XV, a partir de algumas modificações ocorridas no
léxico e na sintaxe da língua. Para os autores, desapareceram algumas marcas que eram
registradas do período arcaico. Esse fato se deve às grandes navegações portuguesas
culminadas em 1498. Com a chegada de Vasco da Gama à Índia, iniciou-se, então, um
novo ciclo comercial e ultramarino sob a liderança de Portugal.
“Com o descobrimento”, segundo Ilari e Basso (2011, p.37), “[...] desencadeou
o processo através do qual o português foi levado às terras que iam sendo submetidas à
Coroa Portuguesa”. Portugal chegou à Ásia, à África e à América impondo sua língua
aos nativos que lá habitavam.
A esse processo deu-se o nome de lusitanização, ou seja, países que a partir da
conquista portuguesa assumiram o português como língua oficial, sendo assim
chamados de países lusófonos. Na América do Sul temos o caso do Brasil, que ao ser
forçado a adotar o português como língua de comunicação, após um tempo assumiu-a
como língua oficial.
Trataremos dessa transplantação no capítulo seguinte, abordando,
principalmente, as influências que a língua portuguesa do Brasil sofreu com a interação
entre as diversas línguas que tiveram contato com ela, que contribuíram para a
formação, fixação e diversificação dessa língua no território brasileiro.
17

CAPÍTULO 3 – A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL E AS INFLUÊNCIAS


RECEBIDAS

3.1 PORTUGUÊS DO BRASIL: UMA LÍNGUA TRANSPLANTADA

Pedro Álvares Cabral chega às costas do Brasil, em 22 de abril de 1500,


tomando posse das terras em nome do rei D. Manoel de Portugal. Segundo Teyssier
(1982), quando os portugueses se instalaram no Brasil, o país já era povoado por índios
– esses falavam em torno de 350 línguas diferentes que eram distribuídas em dois
troncos: tupi e macro-jê e em diversas famílias (Caribe, Aruaque, Arauá, famílias
menores ao sul e ao norte da Amazonas). O autor ressalta que nesse momento a situação
linguística do Brasil se encontrava entre essas diversas línguas indígenas e os colonos
portugueses que falavam o português europeu.
Ilari e Basso (2009) afirmam que de acordo com as condições em que aconteceu
o povoamento do país, por um longo período que começou no tempo do Brasil-colônia e
se prolongou até o “tempo do rei” e no Império, o português conviveu com os falares
nativos dos índios. Defrontados com um contexto de grande fragmentação linguística e
para facilitar o processo de comunicação, os religiosos empenharam-se na catequese,
adotando a partir do século XVI a política da língua geral. Ilari e Basso (2009, p. 62)
explicam:

Fala-se em línguas gerais, no contexto da colonização, sempre que os


conquistadores, ao encontrarem nas terras conquistadas várias línguas
diferentes entre si, forçam as populações submetidas a adotar, no contato com
os colonizadores, uma única língua entre as efetivamente faladas, ou uma
língua artificial, que é a mistura dessas línguas.

Apesar da variedade de línguas indígenas presentes, a criação de “línguas


gerais” facilitou a interação entre os índios e os portugueses no Brasil. As línguas
nativas da costa pertencerem em sua maioria ao tronco tupi, essa característica fazia
com que apresentassem uma relativa uniformidade. Foi a partir delas que se criaram as
línguas gerais brasileiras. Dentre essas línguas gerais, uma teve grande difusão na região
Sudeste e continuou sendo falada em São Paulo ate o início do século XX; a outra,
conhecida como nheengatu, que significa “boa língua”, teve difusão no Norte e ainda
sobrevive em regiões circunscritas da Amazônia, como ressaltaram Ilari e Basso (2009).
18

As primeiras tribos indígenas que tiveram contato com os povoadores


portugueses, de acordo com Lucchesi (2009), eram as que habitavam a costa; esses
índios falavam línguas do tronco tupi e eram capazes de se comunicar entre si utilizando
uma espécie de Koiné,4 provinda da língua tupinambá. O autor ressalta também que essa
língua franca, foi denominada a principal língua geral da costa brasileira e serviu de
instrumento de comunicação entre os portugueses e os índios por um longo tempo.
Silva Neto (1963) alega que o tupi foi utilizado como meio de intercâmbio por
que era uma língua simples e de reduzido material morfológico; não possuía declinação
nem conjugação, e tinha todo o aspecto das línguas de necessidade, criada para esse fim,
o intercâmbio. Já com relação ao falar, era mais ou menos uniforme dos índios da costa,
o que facilitava o primeiro contato. Tal língua, segundo o autor, foi gramaticalizada e
aprendida pelo Padre Anchieta e por outros missionários para ajudar na catequização.
A partir do século XVI, quando se tentou incorporar o índio à sociedade
portuguesa e quando ele se tornava indispensável para a devassa da terra – foi grande a
influência da língua geral. Ao contrário, os portugueses sentiam muita dificuldade em
aprender as outras línguas indígenas, que eram faladas no interior, e foram assim
denominadas de línguas travadas, temos como exemplos a onheengoíba, o juruuna, o
tapajó, o teremembé, o mamaiana.
Os colonizadores portugueses, os missionários da Companhia de Jesus, os
jesuítas, realizavam o trabalho de submissão espiritual, através da catequese. Lucchesi
(2009) explica que para uma maior eficácia na conversão do gentio, os jesuítas também
aprenderam a língua tupi, chegando mesmo a codificá-la e dar-lhe feição escrita,
empregando o modelo da gramática portuguesa, inicialmente, na extração do pau-brasil,
depois, no cultivo da cana-de-açúcar, do tabaco e do algodão.
Para obter a força de trabalho indígena, logo se iniciou o processo de
escravização do índio, primeiramente, só o litoral foi colonizado, posteriormente,
Teyssier (1982) relata que com a fundação de São Paulo começou a entrada para o
interior. Após isso, o estado de Minas Gerais foi ocupado, devido à exploração do ouro.
As duas capitais seguintes foram Salvador e Rio de Janeiro que possuíam, sobretudo,
funções administrativas, religiosas e políticas.

4
Língua comum a um grupo.
19

Os índios, vendo que estavam sendo escravizados pelos portugueses, começaram


a se recusar ao trabalho escravo. Silva Neto (1963) afirma que aos poucos eles,
incompatíveis com a civilização, foram deixando de circular nas vilas e povoados, ou
definhavam ou fugiam para o sertão.
No aspecto linguístico, essa foi uma das causas que cooperaram para o
desaparecimento das línguas gerais e o desaparecimento das próprias populações
indígenas, como afirmaram Ilari e Basso (2009). Outros fatores foram o início da
colonização portuguesa, as epidemias e as doenças que os portugueses transmitiram e a
adoção forçada da cultura dos colonizadores.
Silva Neto (1963) informou que a língua geral foi pouco a pouco perdendo o
emprego, até limita-se às povoações do interior e aos aldeamentos dos jesuítas. Já
Teyssier (1982) afirma que a língua geral entrou em decadência por causa da chegada
de numerosos imigrantes portugueses interessados pela descoberta das minas de ouro e
diamantes. Também teve o Diretório criado pelo Marquês de Pombal em 3 de maio de
1757 que proibia o uso da língua geral e obrigava o uso oficialmente da língua
portuguesa em todo o território brasileiro.
Essa proibição se deu por que os colonizadores com medo de perderem o
controle sobre os índios e os negros impuseram que a partir daquela data fosse falada
apenas a língua portuguesa, e então, criaram escolas para alfabetização dos índios para
preservar e ensinar a cultura da nação.
Com isso, a necessidade de mão de obra fez com que começasse o processo de
transplantação das populações africanas para o Brasil, que segundo Lucchesi (2009),
forneceu a força de trabalho necessária para a implementação da cultura
agroexportadora do açúcar, que viveria o seu apogeu durante o século XVII. Lucchesi
(2009, p.42) afirma:
[...] com a resistência cultural intrínseca do índio ao trabalho forçado,
sobretudo ao trabalho agrícola (que na sua cultura nômade extrativista
ocupava uma posição subalterna, sendo entregue às mulheres e crianças),
aliada às campanhas contra a escravidão indígena movidas pelos jesuítas, fez
com que se fizesse necessário buscar uma outra fonte de mão de obra para
atender as crescentes demandas dos emergentes e muito prósperos engenhos
de cana de açúcar, que começaram a se instalar no Nordeste brasileiro, já no
século XVI, e se converteram muito rapidamente no setor econômico mais
dinâmico do empreendimento colonial do Brasil.

A partir daí começa o processo de inserção dos negros africanos no Brasil.


Coutinho (1976) explica que o tráfico dos africanos trazidos para cá se deu devido à
20

necessidade de mão de obra, ou seja, de braços que trabalhassem a terra, algum tempo
após o descobrimento do país.

3.2 A CHEGADA DAS LÍNGUAS AFRICANAS AO BRASIL

O tráfico de escravos africanos começou quase simultaneamente com o inicio da


colonização do Brasil pelos portugueses. Conforme Ilari e Basso (2009) não se sabem
ao certo quando os primeiros escravos foram introduzidos no Brasil. Os estudiosos
divergem quanto ao número total deles trazidos durante todo esse período.
Segundo Lucchesi (2009), a estimativa, durante cerca de três séculos de tráfico
negreiro, varia enormemente. Para Roberto Simonsen (1937, apud LUCCHESI, 2009,
p.59), baseando-se na produtividade e na vida média do escravo, chegou a um número
de três milhões e trezentos mil. Já para Maurício Goulart (1949 [1975], apud Lucchesi
2009, p.59), que adotou um método direto, com base nas poucas informações
remanescentes sobre o tráfico, chegou a um número semelhante, que oscilaria entre três
milhões e quinhentos mil e três milhões e seiscentos mil. Essa é a cifra que
normalmente é tomada por base nos estudos sobre a escravidão no Brasil.
Sendo ou não esses números reais, o fato é que, em 1800, metade da população
brasileira era de negros africanos ou afro-descendentes, como alegaram Ilari e Basso
(2009).
As razões econômicas ligadas a esses ciclos de importação são nos séculos XVI
e XVII, a cultura da cana de açúcar e do fumo; no século XVIII, a exploração das minas
de ouro e de diamantes, mas também a cultura do algodão, do arroz e a colheita de
especiarias; no século XIX, a cultura do café.
Há muita divergência sobre a origem geral dos escravos africanos trazidos ao
Brasil, nos basearemos nos estudos realizados por Renato Mendonça (1973) por que,
além de ser um dos pioneiros, é por meio dele que outros autores tomaram
conhecimento e base no tema e, também, por ele ter dedicado em seu livro “A
influência africana no português do Brasil” um capítulo especifico para o assunto,
lembrando que esses dados datam sua primeira edição em 1933 e várias mudanças já
ocorreram depois disso.
O autor, após várias análises, concluiu que a precedência dos negros brasileiros
é da África superequatorial e meridional, ou seja, sudanesa (Sul da África, ilhas de
21

Cacheu, Bissau e do Golfo de Guiné) e bantu (África ocidental e Contracosta da África),


respectivamente. Ambas tiveram elevado coeficiente numérico. Dos sudaneses vieram
as nações mais importantes da Bahia: Jalofos, Mandingas, Fulos, Haussás, Jorubas ou
Nagôs, Achanti e Gêges ou Ewes. Já os negros bantu foram os Angolas, Congos ou
Cabindas, Benguelas, Cassanges, Bángalas ou Inbángalas, Dembos, Macuas e Anjicos.

Fonte: Mapas e estatísticas de Negros no Brasil.

Segundo o autor, os negros da Guiné predominaram na Bahia, já os bantu no sul


do Brasil; nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, bem como no norte:
Pernambuco e Maranhão.
Das línguas por eles faladas devem-se salientar o nagô ou ioruba – grupo
sudanês, que teve seu ponto de irradiação, sobretudo, na Bahia como atesta o
vocabulário regional. Os Nagôs que vieram de Jorubá, Ilorin, Ijesa, Ybadan, Igê, Iebú,
Egbá são os Jorubas africanas, como afirmou Mendonça (1973). Aparentados com os
Nagôs temos os Tapas ou Nupês e Nifes com línguas semelhantes. E temos também o
quimbundo – grupo bantu, falado em Pernambuco e outros Estados do Norte, no Rio de
Janeiro, em São Paulo e Minas Gerais. Esta língua exerceu maior influência no Brasil,
por causa do número quantitativamente maior de pessoas que a falavam.
22

Os Gêges são os Evés dos franceses e Ewes dos ingleses. Muitos Gêges se dizem
Efan, vulgarmente chamados caras queimadas, e outros se dizem Mahis, pequeno povo
do Dahomé. Os Fulbi ou Peul chamaram-se entre nós Fulas ou Filanins. Os Bornus,
mulçulmanos, chamavam-se Adamauás na Bahia.
Minas foi um nome vago que se deu aos negros oriundos do forte de S. Jorge da
Mina, na África. Havia os Minas-Achanti, de língua Achanti e os Minas-Popes, de
língua Tchil. Eram os Agoins da África. Fantees era o nome dos Minas da Costa do
Ouro.
Pernambuco e Bahia foram os grandes centros de condensação africana. Sendo
Pernambuco o primeiro ponto em que aportaram os escravos africanos, de acordo com
Mendonça (1973). O mesmo ainda afirma que com a fundação da Companhia de
Comércio do Grão-Pará, Belém e São Luis no Maranhão constituíram-se entrepostos da
escravatura.
O autor ressalta que nem todos os povos se conservaram uniformemente em
zonas determinadas, foram distribuídos heterogeneamente, os colonizadores misturavam
as diferentes etnias de negros para impedir a concentração de africanos de mesma
origem numa mesma região.
O português concorreu, além das inúmeras línguas indígenas, com as diversas
línguas africanas que foram trazidas para o Brasil. Lucchesi (2009) afirma que é
possível que os primeiros escravos africanos também tenham tido contato com a língua
geral – tupi, mas, com a redução da presença indígena na zona açucareira, os escravos,
desde cedo, passaram a ter contato com o português. Os escravos se dividiam entre os
ladinos, que tinham alguma proficiência em português, e os boçais, que eram incapazes
de se comunicar nessa língua. O autor acrescenta que o uso da língua geral tupinambá
tornou-se, assim, residual, até morrer.
Segundo Mendonça (1973), temos provas de que foram faladas no Brasil as
seguintes línguas: Nagô ou Ioruba, Quimbundo, Gêge ou Ewe, Kanuri ou Nifê, e
Guruncis. Essas provas constam de vocabulários dessas línguas no português do Brasil,
delas se sobressaem duas adotadas pelos escravos no país, sendo elas o nagô ou ioruba e
o quimbundo.
O quimbundo foi a língua mais importante linguisticamente, como afirmou Melo
(1971), pois tem maior poder expressivo e um vocabulário riquíssimo, sendo também
muito mais empregado por um maior número de indivíduos e numa área geográfica
23

muito mais ampla. No entanto, tanto o quimbundo quanto o nagô são línguas
desprovidas de flexão, sendo que o quimbundo faz concordância por meio de prefixos
especiais repetidos junto ao termo subordinado.
Com esses números apresentados, percebemos o forte impacto da população
africana na constituição da sociedade brasileira, com marcas e consequências
inevitáveis não só na cultura, mas também no plano linguístico. Analisaremos, com
mais profundidade, no último capítulo até que ponto se deu a contribuição das línguas
africanas na estrutura linguística da língua portuguesa do Brasil. Antes, testificaremos
as demais línguas trazidas para o país por povos imigrantes.

3.3 A PRESENÇA DOS IMIGRANTES NO BRASIL

A chegada dos imigrantes iniciou-se, efetivamente, com a Independência, desde


o Primeiro Reinado, intensificando-se com a República, conforme Fonseca (2004)
relata.
Segundo Ilari e Basso (2009), nesse período desembarcaram no Brasil quase
quatro milhões de imigrantes, principalmente italianos, portugueses, espanhóis,
alemães, árabes, turcos e japoneses.
Chegaram ao Brasil vários povos, de acordo com Fonseca (2004). Os primeiros
foram os alemães, estes permaneceram inicialmente no Rio de Janeiro, na região de
Petrópolis, e os seguintes partiram em direção ao sul.
Já os italianos fixaram-se em São Paulo e na Serra Gaúcha, segundo a autora
(2004), originando um notável surto industrial e a plantação de vinhedos no Rio Grande
do Sul. Os japoneses foram para São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Pará, Amazônia e
Brasília, destacaram-se na agricultura.
A autora afirma ainda que aos poucos esses imigrantes vão tornando-se falantes
do português, à medida que se integram aos novos costumes, à nova pátria. Da terceira
geração em diante a aculturação entra num ritmo mais rápido.
Como muitos desses imigrantes vieram para trabalhar na lavoura, Ilari e Basso
(2009) afirmam que mais uma vez a relação do português com essas línguas foi de
desigualdade, por que suas línguas maternas permaneceram nas comunidades em que se
exerceu essa atividade – ciclo do café.
24

Para os autores, o principal efeito que resultou dessa interação, foi a capacidade
do Brasil de conviver com outras culturas, enriquecendo-se com elas e ganhando nomes
dos quais hoje fazem parte do seu vocabulário, tais como: paella, quibe, esfiha, pizza,
talharim, yakisoba. Conforme Ilari e Basso (2009) a influência das línguas dos
imigrantes foi mais abundante no vocabulário e são quase nulas as contribuições na
morfologia e sintaxe. Esse fato se deu porque quando os imigrantes chegaram aqui, o
português já era uma língua estandardizada e gramatizada.
Não cabe a esse trabalho mostrar as influências causadas pelas línguas dos
imigrantes no português, exclui-las-emos e também as demais línguas, inclusive as
indígenas, apresentamo-nas apenas por contexto histórico. Restringir-nos-emos, a partir
do próximo capítulo, apenas a contextualizar as interferências e contribuições que as
línguas africanas deixaram no português brasileiro.
25

CAPÍTULO 4 – INTERFEFÊNCIAS DAS LÍNGUAS AFRICANAS NO


PORTUGUÊS DO BRASIL

4.1 O CONTATO DO PORTUGUÊS COM AS LÍNGUAS AFRICANAS

A partir de vários estudos dedicados ao tema do contato entre línguas na história


sociolinguística do Brasil, para Lucchesi (2009) são quase unânimes as afirmativas
daqueles que acreditam que o elemento africano desempenhou um papel bem mais
relevante no processo de constituição da nossa realidade linguística atual do que o
elemento indígena.
O que nos faz acreditar nessa afirmativa é o fato de que o número de negros
africanos trazidos para o Brasil ultrapassou o número dos índios que aqui estavam,
porque, com o tempo, como afirmou o Lucchesi (2009), esses índios foram sendo
chacinados pelas “expedições punitivas” ou dizimados por moléstias adventícias contra
as quais não haviam desenvolvido qualquer imunidade — uma simples virose dizimava
tribos inteiras. Fatos que contribuíram para a diminuição da presença indígena no
território brasileiro e, consequentemente, de suas línguas.
Mendonça (1973) explica que, a substituição gradual do índio pelo negro no
século XVII, além de ajudar no desaparecimento do índio no cenário do País, fortaleceu
o contato entre as línguas africanas com o português.
De acordo com Mattos e Silva (2004, apud ILARI E BASSO, 2009 p.76), são
essas as porcentagens que mostram a composição da população brasileira por etnias, em
cinco períodos sucessivos na história do Brasil, a autora chegou à conclusão de que até
1850 a população branca não passou de 30% do total da população.

1538-1600 1601-1700 1701-1800 1801-1850 1851-1890


Africanos 20% 30% 20% 12% 2%
Negros brasileiros - 20% 21% 19% 13%
Mulatos - 10% 19% 34% 42%
Brancos Brasileiros - 55% 10% 17% 24%
Europeus 30% 25% 22% 14% 17%
Índios integrados 50% 10% 8% 4% 2%
Fonte: Mattos e Silva (2004).
26

Esses números confirmam, conforme os autores Ilari e Basso (2009), que, apesar
da ocupação do território brasileiro ter sido realizada pela Coroa Portuguesa, na
realidade,a população negra predominou.
Depois de quatro séculos de contato direto e permanente de falantes africanos
com a língua portuguesa no Brasil, Castro (1990) em seu ensaio “Influência das línguas
africanas no português brasileiro” cita que naquilo em que o português do Brasil se
afastou do português de Portugal, descontada a matriz indígena menos extensa e mais
localizada, é, em grande parte, o resultado de um movimento implícito de africanização
do português e, em sentido inverso, de “aportuguesamento” do africano.
Rodrigues (1961), por outro lado, entende que a “aportuguesação” por parte dos
africanos se deu desde o princípio quando os negros foram transportados para o Brasil,
pois eles já usavam um português “negralizado5”.
Na visão de Silva Neto (1963), esses negros já falavam um dialeto crioulo-
português, pois a nossa língua já foi geral nas costas da África durante os séculos XV,
XVI e XVII. Baseando nesse fato, Rodrigues (1961) afirma que não há o que se falar
em influência na estrutura da língua portuguesa e sim no vocabulário. O autor (1961,
p.46) ressalta:

[...] o que há são falares crioulos, que representam uma língua européia
toscamente aprendida por povos de cultura e situação social inferior. Estes
falares simplificam as formas verbais e reduzem as flexões; é, assim, uma
influencia morfológica. Não houve modificação na estrutura (que caracteriza
uma língua), e sim um enriquecimento vocabular e uma diferenciação social
na simplificação verbal e das flexões.

O mesmo autor acrescenta que o português do Brasil foi “adoçado” quando


entrou em contato com as línguas africanas, perdendo a dureza da língua falada em
Portugal, que naquela época, era tão mal compreendida pelo povo que aqui estava.
Renato Mendonça (1973) foi quem primeiro estudou amplamente a influência
africana no Português do Brasil. Para ele: “[...] o negro influenciou sensivelmente a
nossa língua popular. Um contato prolongado de duas línguas sempre produz em ambas
fenômenos de osmose”, afirmou Mendonça (1973, p.61). O autor ressalta que a língua
acompanha a raça na sua evolução, pois, na intimidade da família portuguesa, na visa do
campo, bem como na cidade, o negro era uma figura infalível o que contribuiu de forma

5
Português com influências africanas
27

significativa para a fusão entre as línguas, quando o filho de negro com uma portuguesa,
ou vice-versa – o mestiço começasse a falar um dialeto crioulo, formado entre essas
línguas. Não há hoje dialetos crioulos, mas à época, já existiam nas colônias, línguas
falada pelos africanos e seus descendentes.
Mendonça (1973) pontuou algumas contribuições africanas na fonologia/
fonética, morfologia, sintaxe e no vocabulário do português brasileiro, mostrando as
principais influências. Analisaremos algumas interferências ou contribuições das
línguas africanas no português do Brasil, segundo a visão de alguns autores e
paralelamente faremos alguns reparos críticos.

4.2 INTERFERÊNCIAS NA FONÉTICA E NA FONOLOGIA

Considera Mendonça (1973) como de origem africana a semivocalização do


fonema línguo-palatal [ lh] muda-se na semivogal [y]:
Dizem que a muyé é farsa
Tão farsa como papé,
Mas quem matou Jesus Cristo
Foi home, não foi muyé.

Melo (1971) também explica essa ocorrência como sendo por influência
africana, uma vez que o fato ocorre, de regra, no Brasil, nas zonas mais africanizadas,
conforme o autor, sendo quase geral num ponto intenso dos negros, São João da
Chapada, em Minas. Como por exemplo: Fiyo ao invés de filho, paya ao invés de palha.
Entende Mendonça (1973) que a assimilação do fonema /J/ passa para o sibilante
/z/, exemplo: Jesus – Zesus e José – Zozé. E que antes de e e i, o g transforma-se em z
no dialeto carioca, o que pode ser um vestígio do africano, como em Genebra – Zinebra
e registro – rezisto.
Para o autor a dissimilação ocorre nos grupos consonânticos de elocução difícil,
tem-se: nego ao invés de negro e alegue no lugar de alegre. Há também Aférese: que
para Mendonça (1973) são aféreses violentas, como ta = estar, ocê = você, caba =
Acabar, Bastião = Sebastião.
Destaca o nosso autor a Apócope que aparece em l e r finais, como:
General – generá
Cafezal – cafezá
Mel – mé
Esquecer – esquecê
28

Artur – Artú
Também faz referência à queda no r final que aparece também nos dialetos
crioulos da África: Caboverdiano: chegar fala-se chega; na Ilha de S. Tomé: cuié em
vez de colher; e na Ilha do Príncipe: vendê no lugar de vender.
Castro (1990) também cita em seu artigo “Influência das línguas africanas no
português brasileiro” a tendência do falante brasileiro em omitir as consoantes finais das
palavras ou transformá-las em vogais, falá, dizê, sambá que coincide com a estrutura
silábica das palavras em banto e em iorubá, que nunca terminam em consoante.
Outro fenômeno apresentado por Mendonça (1935 apud MELO, 1971, p.81) são
os casos de “suarabácti”6 da nossa fala plebeia, como por exemplo: Culáudio por
Claudio, Quelemente por Clemente, fulô por flor e dificuldade por dificulidade.
A autora Castro (1990) também destaca essa estrutura silábica da língua.
Observa-se na linguagem popular brasileira que onde não existem encontros
consonantais há a tendência de desfazer esse tipo de encontro, seja na mesma sílaba ou
em sílabas contíguas, pela intromissão de uma vogal entre elas, que termina por
produzir outra sílaba, como nos exemplos acima.
No entanto, Melo (1971) contradiz esse pensamento objetivando que os índios
produziam semelhantes “anaptixes”, como exemplo mostrou: curuzu ou curuçu por
cruz. Afirmou também que em Portugal se ouve felor por flor [fato paralelo a fulô],
também destaca os suarabáctis dados no latim, como feberariu e calavaria.
Mendonça (1973) aponta a redução dos ditongos ei e ou por influência africana,
reduziam-se na língua popular do Brasil, como chêro – cheiro, pêxe – peixe, bêjo –
beijo, quêjo – queijo, mentêga – manteiga, fejão –feijão, lavôra – lavoura, côve – couve,
loco – louco...
Melo (1971) contesta a visão de Mendonça no que se refere à redução dos
ditongos e o autor afirma que reduções são fatos comuníssimos no latim e nas línguas
românicas, sendo: agustu por augustu. Cita também que o francês reduziu
sistematicamente os antigos ditongos: ai, au, ei, eu e ou, e o mesmo fez o espanhol,
desde a época pré-literária, com os ditongos românicos ei e ou, transmudados em e e o,
o que produziu as formas primero, toro, oro, poço, beso, Caldera... Exatamente como

6
Suarabacti (palavra oriunda do sânscrito), também conhecida como Anaptixe (palavra oriunda do
grego); designa um processo que consiste no desenvolvimento de uma vogal de apoio entre um grupo
consonântico (de consoantes).
29

sucede no português falado do Brasil, afirmou o autor, não sendo, portanto, fato devido
à influência africana.

4.3 INTERFERÊNCIAS NA MORFOLOGIA

Na morfologia o negro deixou apenas vestígios o que é explicável pela diferença


profunda entre línguas indo-europeias e africanas, segundo Mendonça (1973). Para o
autor, o vestígio mais notável acha-se no plural, conservado pela linguagem dos caipiras
e matutos que deixando o substantivo invariável, dizem sempre: as casa, os caminho,
aquelas hora.
Castro (1990, p.9) em seu artigo “Influência das línguas africanas no português
brasileiro” afirma:
[...] há de ser por mero acaso ou seguindo apenas a deriva interna da própria
língua portuguesa que, na linguagem popular e descontraída do falante
brasileiro, a tendência é assinalar o plural dos substantivos apenas pelos
artigos que sempre os antecedem, a exemplo de se dizer: os menino, os livro,
segundo o padrão do plural dos nomes, feito por meio de prefixos nas línguas
bantos.

Já para Melo (1971), foi na morfologia do português que houve a influência


mais profunda das línguas africanas, com a simplificação e a redução das flexões. O
autor afirma que na nossa linguagem popular são raras as desinências de plural que
tendem a se restringir ao primeiro determinante da frase e que esse fato acontece com
mais frequência na camada popular mais baixa em frases como: “Os home tá i”, “as
prima já chegaro” (ou já chego), “ele brigô c’os fiyo”, “esses minino são endiabrado”
(ou é endiabrado), “são uns diabo os negrinho da cumádi Cândia” etc.
O autor informa que o verbo também sofre as consequências dessa atitude
simplista. Porque só há oposição de desinência entre a primeira e as demais pessoas,
como do indicativo do verbo comprar: eu compro, tu compra (a 2º pessoa de regra só
ocorre na linguagem oral das pessoas menos escolarizadas), êle compra, nóis compra,
elis compra. De acordo com a tabela abaixo:
30

Conjugação do Conjugação do
verbo CANTAR verbo CANTAR
Pessoas
Linguagem Linguagem
culta/formal coloquial
Eu Canto Canto
Tu Cantas Canta*
Ele/Ela Canta Canta*
Nós Cantamos Canta*
Vós Cantais Canta*
Eles/Elas Cantam Canta*

Atribui ainda Mendonça (1973) que as terminações -am da 3º pessoa do plural


do perfeito do indicativo foram substituídas por influência africana pela terminação
verbal -o, como em: fizeram por fizero, disseram por dissero, amaram por amaro.
Destaca o autor que os poucos verbos em português de origem africana pertencem todos
à primeira conjugação: Mandingar, zangar, bongar, carimbar, catingar, sambar,
cochilar...

Mendonça (1973) também ressalta que o gerúndio, no dialeto de S. Paulo perde


o d nas desinências, ando – ano, endo – eno, indo- ino, ondo –ono, ficando: veno, pono,
caíno, andano. O autor ainda destaca que em Pernambuco e Alagoas, os negros
deixaram certos adjetivos no dialeto local: Capiongo, cafuçu, cangulo, manzanza,
buzuntão, banguelo, dunga, granganzá, cassange, ingaggento, macambúzio, caçula,
capenga, fiota, zorô, cutuba, alguns desses entraram para a língua literária como
cassange, macambúzio, caçula. Também algumas locuções foram introduzidas e
vulgarizadas no português pelos negros: angu-caroço, angu-de-negro, banzé-de-cuia,
bodum-azedo, azeite-de-dendê, dendê-de-cheiro.

Tem-se também como influência africana, por Mendonça (1973), as expressões


folclóricas como João-murundum. Os tratamentos familiares, grandemente alterados em
virtude da próclise, como: ioiô, sinhá, sinhô, nhá e nhô. O autor destaca que a
linguagem infantil também tem um sabor quase africano, principalmente por serem
dobradas: Cacá, pipi, bumbum, neném, tatá, papato, lili, mimi, côcô, dindinho,
bimbinha.
31

Afirmou Melo (1971) que Mendonça e Jacques Raimundo consideram como


vestígios deixados pelos africanos em nossa morfologia, o prefixo Ca-, o qual resulta
em varias palavras como: camundongo, calunga, caçula, calombo, cacimba, carimbo.
No entanto, ele ressalta que não há prefixo Ca- em tais vocábulos; afirma que estes
instalaram-se no português brasileiro valendo-se cada qual como um todo, de maneira
que não há qualquer derivação, tanto que este elemento Ca- não tem nenhuma
fecundidade para formar outros vocábulos. E que esse suposto prefixo acontece com
outras palavras, tais como: milonga, miçanga, mobica, mucama, quilombo quimama,
quimbombô, quitanda. Cada uma delas vale por si, como uma estrutura vocabular, não
sendo possível nelas descobrir espontaneamente qualquer elemento formativo, concluiu
Melo (1971).
Dignos de nota, para Melo (1971), são os fenômenos de deglutinação e
aglutinação de fonemas, exemplo o s do determinante, que se incorpora à vogal da
palavra seguinte produzindo nova forma autônoma e fecundante. Exemplo: zarreio
(resultado de os+arreio), donde “zarreia”; zóio (consequência de os+óio), donde “zoiá”
zome (de os+home) que aparece em frases como ‘uma sala cheia de zome....’.

Nessa afirmação Mendonça (1973) também concorda com Melo (1971),


chamando o s de prostético, que nasce da ligação na frase perdendo o seu caráter e
agregando-se à palavra: os óio fica u-zó-io aparecendo a palavra zoio; Embora fica
zimbora,: ele foi zimbora.
Melo (1971) também destaca o pronome oblíquo da expressão “ir-se embora”,
que é interpretada como ir simbora, essa frase como “eu vou timbora” foi falada por um
negro no Rio e ouvida pelo autor, no entanto, o mais comum é ouvir a ordem “vai
timbora” e “vô mimbora”.
O autor ressalta que à medida que vai subindo a classe social, vai diminuindo
esta força simplificadora, o motivo se dá por que nas camadas menos baixas e nas
médias já se faz uma concordância melhor, sendo que ainda assim, escuta-se na fala
descuidada a ausência de flexão numérica nos nomes e nas terceiras pessoas dos verbos,
o que para o autor é muito comum na linguagem coloquial, como por exemplo: “chegou
três pessoas”. Melo (1971) destaca que com a alfabetização tende a ser tornar residual o
uso incorreto de algumas frases na fala.
32

4.4 INTERFERÊNCIAS NA SINTAXE

Mendonça (1973) reconhece que na sintaxe a influência africana foi ainda menos
sensível. Para o autor a colocação dos pronomes oblíquos átonos se deve à influência
sintática do africano, no entanto, essa interferência foi indireta. O autor tem como base,
porque na Angola e Goa, nota-se a mesma vacilação existente na colocação dos
pronomes do Brasil, o uso da próclise em relação à ênclise e a mesóclise.
A situação dos pronomes na frase se deve à entonação, conforme Melo (1971).
Se forem átonos, acostam-se ao acento tônico do vocábulo anterior ou seguinte; se são
tônicos, têm independência fonética e, portanto, podem se colocar livremente na oração.
Logo, para o autor não é influência africana, pois no Brasil eles podem ser – quando
proclíticos, quase tônicos, como eram na língua arcaica e é no espanhol e no italiano de
hoje, como por exemplo: “Me preguntas, mi buen amigo, si sé La manera de
desencadenar um delírio” (Buenos Aires). No Brasil, é comum usarmos a próclise,
mesmo nos casos em que esta é proibida, como iniciando frases: “Me da um cigarro?”,
Te amo...
Para Jacques Raimundo (1933, apud MELO, 1971 p.86) um dos fatos de
influência africana na sintaxe portuguesa é a construção do verbo falar com
complemento regido da preposição com, substituindo tendenciosamente o dativo de
pessoa com a preposição a.
Melo (1971) ressalta que essa afirmação não procede, pois “falar com” é sintaxe
antiquíssima na língua, aparecendo, por exemplo, segundo o autor, na Demanda do
Santo Graal, texto do século XIII, tem-se: “Veede-lo: está aaquela freesta, falando com
dom Galvam”.
Temos como “traducionismo” africano, de acordo com Jacques Raimundo
(1933, apud MELO, 1971 p.85), o uso do presente do indicativo pelo futuro. Melo
(1971, p. 85) critica o autor afirmando: “É coisa tão sabida que tal emprego é latino,
românico e português!” Leia-se, por exemplo, Epitânio Dias, Sintaxe histórica (Lisboa,
1918 p.196): “O presente do indicativo também se emprega como futuro imperfeito
enfático e, na conversação, como simples futuro imperfeito: Volto amanhã”, outros
casos mais simples do visto no nosso dia-a-dia: “te vejo amanhã”, “viajo no mês de
janeiro”, “te entrego o trabalho amanhã”.
33

Jacques Raimundo (1933 apud MELO, 1971 p.85) também acredita que o
emprego preferencial de estar com por ter, que é o vernáculo e clássico: “aquela
mulher está com (tem) febre”, seja influência africana.
Melo (1971) alega que não há dúvidas do uso de ter em tais casos vernáculos.
Mas vernáculo também é a expressão estar com. O autor (1971, p.85) explica: “Com a
preposição com e um substantivo, [estar] significa que se tem em um dado momento a
coisa ou a qualidade que o substantivo exprime”, como: “estar com dinheiro”, “estou
com as pernas que as não posso mexer”, “estar com animo, com fadiga, com preguiça,
com sarampo”, são construções que ocorrem com tanta frequência até nos bons autores
lusitanos.
O mesmo autor crítica também a visão de Jacques Raimundo (1933, apud
MELO, 1971 p.85) quando este afirma ser influência africana, a tendência em certos
casos, para a posposição do possessivo e do demonstrativo em giros, como: mandei-lhe
uma carta, carta minha escrita com mágoa; recebi vários papéis, papéis esses de
grande importância.
O autor Melo (1971, p.86) afirma: “São portuguesíssimas tais construções, no
primeiro exemplo, a expressão “carta minha” é aposto explicativo e enfático. Seria
possível aí antepor-se o possessivo: “minha carta”? E, de qualquer modo, não é velha na
língua a posposição do possessivo: “Alma minha gentil que te partiste?”
Quanto ao segundo exemplo, Melo (1971, p.87) informou: “Papéis esses”
também é aposto e serve para chamar a atenção para a palavra repetida, e focalizada
pelo demonstrativo”. O autor ressalta que esse tipo de construção foi tratado por Sousa
da Silveira, nas lições de Português, onde se lê: Este e esse podem pospor-se a um
substantivo com o qual se denomina ou classifica uma ou mais coisas ditas
anteriormente, como: “os seus olhos serenos, como o céu, que imitavam na cor,
tomaram a terrível expressão que ele costumava dar-lhes no revolver dos Combates,
olhar esse que, só por si, fazia recuar os inimigos”.
O autor conclui informando que é quase imperceptível a influência africana na
sintaxe da língua culta do Brasil, ficando vestígios apenas na sintaxe popular,
ressaltando a redução de flexões que alterou o tipo de concordância.
34

4.5 CONTRIBUIÇÕES PARA O LÉXICO

Para Melo (1971) as palavras africanas que enriqueceram o léxico do português


do Brasil são quase todas de origem banta ou de origem nagô. Foram mais numerosas as
primeiras, por ter havido mais falantes da língua no território brasileiro. O autor afirma
que o nagô, ou ioruba, era usado na Bahia e 90% das palavras que dele provêm são
regionalismos e designativas de entidades sobrenaturais, mitos, amuletos, praticas
religiosas, ou de pratos, quitutes, comes-e-bebes. Ressalta ainda que as palavras
africanas em número são consideravelmente menor do que as tupis, variando em torno
de 250 palavras inseridas no nosso vocabulário.
Foi Renato Mendonça (1973) quem publicou uma lista exaustiva dos vocábulos
africanos inseridos na língua portuguesa do Brasil, mostraremos as principais e mais
falados no nosso cotidiano.

Abará: Bolo de feijão preto frito em Bendenguê: jongo, dança dos negros
azeite Bengala: Bastão pequeno
Acarajé: Bolo de feijão cozido, fritos Birimbau: Instrumento músico
em azeite de dendê com pimenta Bunda: Nádegas
malagueta Búzio: Concha de marisco usada como
Angu: Massa feita de fubá de milho ou valor monetário entre os negros do
mandioca Brasil
Axêxê: Cerimônia preliminar à missa Cabaça: Gêmeo que nasce em segundo
de sétimo dia. lugar
Babá: Pai de santo Cabaço: Hímen, virgindade
Babaça: Irmão gêmeo Cachaça: Aguardente
Banguela: Pessoa sem os dentes da Cachimbo: Tubo para fumar terminado
frente numa espécie de concha.
Bantu: Termo aplicado às línguas Caçula: filho mais novo
africanas dos grupos centrais e sul Caçulo: gêmeo que nasce primeiro
Batuque: Dança com sapateados e Cafuné: estalidos com o polegar no alto
palmas da cabeça
35

Cambada: corja, súcia Muamba: negocio ilícito


Camundongo: rato pequeno Mulambo: Trapo. Roupa esfarrapada
Candomblé: primitivamente era um Muxiba: carne magra, pelanca
baile africano, e em seguida suas Orixá: Santa, divindade da feitiçaria.
praticas religiosas Quenga: Guisado de quiabo com
Careca: calvo galinha
Catinga: mal cheiro Quiabo: fruto do quiabeiro, planta da
Caxumba: inflamação das parótidas família das malváceas.
Chafariz: bebedouro público Quilombo: povoação fortificada dos
Chuchu: planta cicurbitácea negros fugidos ao cativeiro.

Cochilar: cabecear com sono Quitanda: Venda de verduras, frutas e

Curinga: certas figuras do jogo de outros vegetais comestíveis.

cartas Samba: Dança dos negros.

Dengoso: cheio de dengue: choradeira Senzala: Alojamento dos negros nas


de criança, manha fazendas.

Dunga: Senhor, é também uma figura Sinhô: Forma popular de senhor.


de jogos de carta Tanga: Pano que encobre as partes
Exu: Diabo, espírito maligno na genitais.
macumba Vatapá: espécie de purée ou quase
Fubá: farinha de milho pasta preparado com o pó de arroz ou

Iemanjá: deusa das águas no culto outra farinha, a que encorporam

gêge-iorubano camarão pisado, ou galinha, care ou

Macumba: feitiçaria, candomblé peixe, tudo banhado em alta dose de


azeite de dendê e fortemente
Maxixe: fruto de uma cucurbitácea
apimentados.
Miçanga: Joias de pouco valor
Xingar: Injuriar, ofender.
Mocotó: mão de vaca
Zebra: Eqüídeo africano.
Moleque: menino, rapazote entre os
negros

Para Castro (1967) em seu artigo “A sobrevivência das línguas africanas no


Brasil: sua influência na linguagem popular da Bahia”, as línguas africanas se
36

reduziram à linguagem ritual dos cultos religiosos afro-brasileiros, ou candomblés.


Segundo a autora, essa influência é tão forte que atinge os hábitos e costumes da vida
rural e urbana, também o folclore e as músicas dos povos da Bahia.
Por maior que tenha sido a contribuição africana ao léxico brasileiro, Melo
(1971) afirma que isso em nada desfiguraria a língua portuguesa, porque não é o
vocabulário que caracterizada uma língua e sim a estrutura. O autor explica (1971, p.
88):
Os termos de origem africana passaram a fazer parte da língua portuguesa,
por que eles se adaptaram à índole, ao gênio da língua românica, sofreram
alterações fonéticas para se ajustarem ás tendências e tipos fonéticos do
português, vestiram-se à portuguesa morfologicamente, passando a ter
desinências de gênero, número, grau e pessoa, de acordo com a língua
portuguesa: moleque, moleca, moleques, molequinhos, molecote, etc. Quer
dizer, receberam estrutura portuguesa. Logo, tornaram-se palavras
portuguesas.

Tais palavras, para o autor, produziram derivados por sufixação e prefixação,


por mudança de classe (derivação imprópria) etc: batucada, congado, quiabal,
anguzeiro, molequice, molecagem, cochilo, encafuação. Segundo Melo (1971), o negro
também contribuiu à nossa fraseologia, com expressões como: “chorar o lamba”,
“banzé-de-cuia”, “angu-de-caroço”, “virou ogó”... Expressões não usadas mais com
tanta frequência no dia-a-dia. Melo (1971) afirma que do contato do português com os
idiomas africanos no setor “vocabulário” decorreu para o português um enriquecimento.
Encontram-se de forma mais acentuada os vocabulários africanos na região do
nordeste, sobretudo na Bahia, isso por ter sido lá o maior número de concentração dos
negros. Hoje em dia convivemos com vários cantores que em suas letras trazem
palavras de origem africana, como exemplo temos o cantor Carlinhos Brown na sua
música “Ashansú” há varias expressões africanas que não há nem tradução para o português:
Obaluaê
Babalorixa-ê
Babalorixá, atotô
Babalorixa-ê

Ê Nirê, Nirê
Ê Nirê, Nirê
Babaolorum xexê salerojá
Babaolorum xexê salerojá
Aê nirê, Nirê ô
Aê nirê, Nirê ô

Meu padrinho é obaluê orixá ê


meu padrinho é obaluê orixá ê meu padrinho...
37

Outro exemplo de música com palavras africanas é “Maimbê Dandá”, a canção,


cujo título é uma saudação a Ndanda Lunda, um Nkisi do Candomblé bantu, tem seu
refrão adaptado de ritos tradicionais da religião afro-brasileira, também do cantor Carlinhos
Brown, no entanto, regravada por Margareth Menezes e Daniela Mercury cantoras baianas.
Vejamos essa “Dandalunda” de Margareth Menezes, uma das músicas mais
conhecida e apreciada pelo público baiano.
Bem pertinho da entrada do beco
Um terreiro de Angola e Ketu
Mãe maiamba que comanda o centro
Dona Oxúm dançando Oxóssi no tempo
Lá em cima no tamarineiro
Marinha da pipoca ajoelha
Em janeiro, no dia primeiro
Desce o dono do terreiro
Coquê

Dandalunda, maimbanda, coquê (4X)

Seu zumbi é santo sim que eu sei


Caxixi, agdavi, capoeira
Casa de batuque e toque na mesa
Linda santa Iansã da pureza
Vira fogo, atraca, atraca, se chegue
Vi Nanã dentro da mata do jejê
Brasa acesa na pisada do frevo
Arrepia o corpo inteiro

Coquê dandalunda maimbanda,


Coquê
Dandalunda
Paira na beira
Dandalunda
Da cahoeira
Dandalunda
Paz e água fresca
Dandalunda
Doura dendê”

Ndanda Lunda ou Dandalunda - é a Nkisi do Candomblé bantu considerada a


Senhora Nobríssima, Princesa, Rainha da Fertilidade e da Lua, cultuada na terra dos
Lundas. Senhora de riquezas ligada ao ouro e aos dengos femininos, bem como à
fertilidade e ao parto, nascimento. Identificada com a Ya Oxum dos Yorubá.
As contribuições das línguas africanas ao português brasileiro, se analisadas de
um contexto histórico, não foram tão profundas como se pensa, por meio das análises
contributivas percebe-se a superficialidade da presença africana na estrutura linguística
da nossa língua, por estarem marcadas em contextos específicos e regiões delimitadas,
38

não se espalharam e se fizeram presente no nosso país por completo, ao contrário, se


restringiram a falas particulares e pessoais de uma determinada comunidade ou grupo.
39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não nos cabe concluir aqui qual análise está totalmente certa em relação às
divergências de opiniões entre os autores. O objetivo deste trabalho era mostrar até que
ponto as línguas africanas contribuíram na formação do português do Brasil, tendo
como base as várias visões acerca da influência das línguas africanas na estrutura da
língua portuguesa brasileira. Há quem defenda que elas apenas deixaram marcas no
vocabulário, como existem os que acreditam que o processo foi mais fundo,
influenciando também na estrutura linguística do português.
No entanto, analisando as concepções dos principais estudiosos desse fenômeno,
e parafraseando Melo (1971) o estado atual das pesquisas ainda não nos permite
conclusões seguras sobre assunto que ora nos ocupa, ou seja, não podemos concluir se
de fato houve mudança na estrutura da língua portuguesa por interferência das línguas
africanas, porque não termos provas concretas e suficientes para afirmar se a presença
delas interferiu precisamente na nossa língua.
O que podemos afirmar é que outrora houve o contato direto dessas línguas, e a
obrigação que sobreveio aos negros de aprenderem o português levou-os a modificarem,
até certo momento da história, o modo de falar dessa língua. Esse fato se dá porque a
língua sofre mudanças no decorrer do tempo, por ser esta dinâmica e falada por varias
pessoas. O falar diário e constante dessas pessoas tem a capacidade de alterar toda a
forma de uma língua, sendo que é por meio da fala que uma língua é efetivada e
estabelecida em um grupo.
Dessa forma, podemos compreender o processo que ocorreu com a presença das
línguas africana no Brasil, o falar dos negros africanos naturalmente modificou e, para
alguns, deturpou a língua portuguesa, desfigurando-a e simplificando a nossa
morfologia, reduzindo desinências, alterando a sintaxe e o modo de falar algumas
palavras e frases inteiras. Sendo obrigados a aprender o português como segundo
língua, seria mais do que normal que inserissem nela as marcas dos seus antigos hábitos
linguísticos. A falta de alfabetização e letramento dos escravos cooperou para que a
situação linguística do País tomasse formas africanizadas.
Com toda a análise explicitada no trabalho, percebemos o quão sensível foram as
marcas deixadas pelas línguas africanas. A princípio, talvez por imaginarmos a
profundidade do contato dessas línguas com a língua portuguesa, pensávamos que a
40

contribuição delas ultrapassaria o enriquecimento do léxico e atingiria a estrutura


linguistica.
Muitos autores atestaram que o africano desempenhou um papel relevante no
processo de constituição da nossa realidade linguística. Mas o que aconteceu
exatamente foi que, à época, as línguas africanas em contato com o português
contribuíram para a sua alteração momentânea, e, apenas, do modo de falar. Hoje, o
cenário não é mais o mesmo, a língua é viva eestá em processo de mudança constante,
mas as palavras recebidas permanecem no nosso dia a dia.
Com isso, o objetivo geral deste trabalho foi atingido com êxito, pois se tem a
descoberta da contribuição africana de forma acentuada, no léxico, ou seja, no
vocabulário do português brasileiro, influenciando pouco na estrutura e quando
especificamos estrutura, nos referimos à fonética, à morfologia e à sintaxe que são a
base de um língua. Nesses aspectos, as línguas africanas influenciaram pouco. E o
pouco que influenciaram não é mais tão perceptível, atualmente. Portanto, quase não se
percebem mais vestígios dessas interferências no português brasileiro, tudo isso, devido
à alfabetização e ao conhecimento que foram priorizados para garantir uma formação
comum no país, assim, por intermédio destes foram sendo corrigidas algumas feições do
falar africanizado.
No contexto em que mais houve marcas deixadas pelos negros, além do
vocabulário, foi na morfologia do português brasileiro, como visto no capítulo 4,
contudo, num futuro próximo, devido à alfabetização e instrução generalizadas, bem
como a ascensão social e cultural das classes inferiores, espera-se que vão se atenuar
sensivelmente essas marcas que insistem em rastejar podendo até desaparecer, quem
sabe, da fala popular dos brasileiros.
Os principais autores que contribuíram para que esta pesquisa bibliográfica fosse
desenvolvida foram: Lucchesi (2009), Teyssier (1982), Ilari e Basso (2009), Fonseca
(2004), Silva Neto (1963), Mendonça (1973), Melo (1971), De Castro (1990) e Jacques
Raimundo (1933). E por intermédio deles não podemos deixar de atestar as
contribuições deixadas pelos africanos, pois temos muito a agradecer pelo
enriquecimento proporcionado ao nosso léxico.
Não se pode negar que, de alguma forma e em algum momento da história, a
maneira de falar africana atingiu ou colocou novas construções na nossa estrutura
linguística. No entanto, isso aconteceu na língua falada ou no vernáculo que difere
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enormemente da língua culta escrita. Com a escolarização, tais influências, sejam elas
fonológicas, morfológicas ou sintáticas tendem a desaparecer. O que fica mesmo e é de
grande relevância, é a contribuição lexical ao nosso Português, além dos traços
culturais, étnicos, e tradições religiosas ou não a nós oferecidos pelo povo africano que
tanto sofreu em nossas terras e ainda sofre, quando descendentes diretos ou indiretos
são ainda fortemente discriminados.
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