A Inter-Relação Entre Memória e Aprendizagem

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Revista Perspectivas Online: Humanas & Sociais Aplicadas

Abril de 2018, Vol.8, nº 21, p. 15-27


ISSN: 2236-8876 (Online)
DOI: 10.25242/887682120181345

A INTER-RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM

Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias1*; Renata G. Braga Pessanha1; Cecília Cordeiro Burla de
Aguiar Nicolau2

RESUMO
DIAS, F.M.A.; PESSANHA, R.G.B.A.; NICOLAU, C.C.B.A. A Inter-relação entre memória e aprendizagem
Perspectivas Online: Humanas & Sociais Aplicadas, v. 8, n. 21, p. 15-27, 2018.

O objetivo desse trabalho é relatar os conceitos de de caso realizado na Clínica de Psicopedagogia do


Memória e Aprendizagem, demonstrando a inter- ISECENSA. O estudo proposto teve como fonte
relação entre os processos e a importância destes de dados: Observações diárias, Teses,
na vida acadêmica de um indivíduo com Intervenções, Artigos e Bibliografias recentes. Os
dificuldades de aprendizagem. Pretende-se dados analisados sugerem que é de fundamental
também apresentar os diversos tipos de memória, importância que o sujeito esteja motivado, com
bem como as suas etapas, segundo a literatura, e a níveis de atenção e ansiedade apropriados e que os
relevante interferência dos moduladores de estímulos sejam coerentes ao seu Modelo de
memória na ativação do processo. A pesquisa Aprendizagem e estado emocional, para que haja
envolveu um estudo de caráter qualitativo, um bom aproveitamento e melhor desempenho
bibliográfico e descritivo. Trata-se de um estudo escolar deste sujeito, apesar d suas dificuldades.

Palavra-chave: Memória, Aprendizagem, Moduladores de Memória.

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ABSTRACT

The objective of this work is to report the the Psychopedagogy Clinic of ISECENSA. The
concepts of Memory and Learning, demonstrating proposed study had as data source: Daily
the interrelationship between the processes and observations, Tests, Interventions, Articles and
their importance in the academic life of a person recent Bibliographies. The data analyzed suggest
with learning difficulties. It is also intended to that it is very important that the subject is
present the different types of memory, as well as motivated, with levels of attention and anxiety
its steps according to the literature, and the appropriate and that the stimuli are coherent to his
relevant interference of the memory modulators in Learning Model and emotional state, so that there
the activation of the process. The research is a good use and better school performance of
involved a qualitative, bibliographical and this person despite of your difficulties.
descriptive study. It is a case study carried out in

Keywords: Memory; Learning; Memory modulators

1
Alunas do Curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia/Institutos Superiores de Ensino do CENSA – ISECENSA -
Rua Salvador Correa, 139, Centro, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP: 28035-310, Brasil;
2
Institutos Superiores de Ensino do CENSA – ISECENSA – Clínica de Psicopedagogia - Rua Salvador Correa, 139,
Centro, Campos dos Goytacazes, RJ, CEP: 28035-310 Brasil.
(*) e-mail: [email protected]
Data de chegada: 20/04/2018 Aceito para publicação: 08/05/2018

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1. INTRODUÇÃO

cognitivas que serão pré-requisitos para a aprendizagem escolar, ou seja, os estímulos externos e internos são
fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo e seu processo de aprendizagem, assim como, os fatores
orgânicos e emocionais.

O presente trabalho tem como tema a Inter-relação entre Memória e Aprendizagem, que, segundo a
literatura, são termos que estão intrinsecamente ligados em seus conceitos. Memória é a capacidade do
homem e dos animais de armazenar informações, que possam ser evocadas ou recuperadas posteriormente.
Aprendizagem é dada como parte do processo da aquisição destas informações.

Segundo Bossa (2011, p.117) “o conceito de aprendizagem com o qual trabalha a Psicopedagogia
remete a uma visão de homem como sujeito ativo em um processo de interação com o meio físico e social”.
Sendo, portanto, o ambiente familiar e sócio-cultural no qual vive este sujeito é fator gerador de condições
orgânico-emocionais, intelectuais e afetivas primordiais à aprendizagem.

Os autores classificam os tipos de memória em Memória Ultrarrápida ou Imediata, que dura de


frações de segundos a alguns segundos; Memória de Curta Duração, que dura minutos ou horas, garante o
sentido de continuidade do presente; Memória de Longa Duração, que dura horas, dias ou anos, garante o
registro do passado autobiográfico e dos conhecimentos do indivíduo.

A Memória Ultrarrápida ou Imediata, não dura mais que alguns segundos, também chamada de
Memória Sensorial, pois trata-se da recepção das informações através dos diversos sentidos. A de Curta
Duração, pode durar de minutos a horas e nos auxilia na continuidade de nosso sentido presente. A Memória
de Longo Prazo pode durar horas, dias ou anos e garante o registro do passado autobiográfico e dos
conhecimentos do indivíduo. Divide-se em Explícita e Implícita. A Memória Explícita ou Declarativa é
aquela que pode ser descrita com palavras ou outros símbolos e pode ser classificada em Episódica (fatos que
ocorrem ao longo do tempo) e Semântica (envolve conceitos atemporais). A Memória Implícita ou Não
Declarativa são os procedimentos, hábitos e regras.

Foi citada na literatura, a Memória de Trabalho ou Operacional que auxilia o planejamento do


comportamento, diante do raciocínio lógico sobre determinada informação.

Pode-se citar também, conforme foi abordado pelos autores, a importância dos moduladores de
memória: Atenção, Motivação, Nível de Ansiedade. Sem motivação, dificilmente o sujeito terá a atenção
necessária para o completo processo de aprendizagem. Há de se considerar, neste momento, o nível de
ansiedade adequado, para que o indivíduo processe as informações sem excessivo stress ou que fique
entediado com o material apresentado. Ressaltamos também, como fatores importantes, a capacidade de
compreensão, a emoção e a situação orgânica do indivíduo, assim como, o treinamento utilizado como
recurso de melhoria do processo.

Nesta perspectiva, construiu-se questões que nortearam este trabalho: Há uma dificuldade no
processo de memorização, que torna complexa a aprendizagem deste sujeito? Como este sujeito aprende?
Qual é a relação entre memória e aprendizagem? Há fatores que podem interferir neste processo? O processo
mnemônico repercute sobre o processo de aprendizagem?

O tema tratado traz significativa importância, pois se memória e aprendizagem são processos
indivisíveis, as dificuldades podem ser transpassadas de maneira mais sutil, com a compreensão do processo
pelos profissionais que lidam com estas dificuldades no âmbito educacional ou clínico, que poderão lançar
mão de atividades mais adequadas ao quadro de dificuldades apresentado pelo indivíduo.

De acordo com Bossa (2011, p. 47) o psicopedagogo em sua função preventiva deve “detectar
perturbações no processo de aprendizagem”. Desta forma, é fundamental que o profissional compreenda o

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processo mnemônico, considerando-se que a aprendizagem é a primeira fase deste processo (LENT, 2010),
atuando de forma preventiva ou no tratamento do caso, minimizando as possibilidades de fracasso escolar
deste sujeito.

O objeto de estudo é uma criança de sete anos, em processo de alfabetização, com dificuldades de
aprendizagem. O sujeito apresenta limitadas habilidades na organização e construção de conhecimentos,
sugerindo a não retenção das informações.

Para observar como as etapas da memorização procedem neste sujeito, este trabalho pretende focar
nas ferramentas aplicadas para a adequada percepção do processo, demonstrando a real relação entre
memória e aprendizagem. Por isso, a análise e discussão dos dados foram feitas apenas dos pontos relevantes
do processo, onde foi percebido algum ponto diferencial em questão.

O Teste de Audibilização, em sua primeira parte, foi aplicado repetidas vezes com espaço de tempo
pré-determinado para a constatação do processo mnemônico e a relevância da repetição ou treinamento na
consolidação das informações.

Com a contextualização do texto “A Fada e o Galo” demonstrou-se a importância dos fatores


moduladores na seleção das informações, ratificando que quando o sujeito está motivado aumenta o seu foco
atencional em relação as atividades propostas, proporcionando um aprendizado de maneira significativa e
interessante.

Considerando tais pressupostos, o objetivo deste estudo é constatar, através da literatura, a relação
entre memória e aprendizagem e a relevância do tema na vida escolar do sujeito estudado, diante de suas
dificuldades aqui explicitadas.

2. METODOLOGIA

Esta pesquisa de classificação qualitativa, caráter descritivo e exploratório. Trata-se de um estudo de


caso, de um paciente de sete anos em processo de alfabetização, desenvolvido na Clínica de Psicopedagogia
do ISECENSA. Iniciou-se o estudo com o período de observação do sujeito, seguindo-se aplicação de testes,
tais quais, EOCA (Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem), Provas Operatórias de Piaget, Teste de
Leitura, Escrita e Oralidade, Audibilização, TIN (Teste Infantil de Nomeação), TRPP (Teste Repetição de
Palavras e Pseudopalavras); e Intervenções.

Para fundamentação de todo o trabalho utilizou-se da pesquisa bibliográfica em livros de autores


referência no tema, tais como: Lent, Izquierdo, Baddeley e artigos científicos sobre o tema abordado neste
estudo, procurando dar suporte ao objetivo da pesquisa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

M.G.S tem sete anos, estuda em escola particular e está repetindo o primeiro ano do Ensino
Fundamental. É paciente da Clínica de Psicopedagogia do ISECENSA há quatro anos. A criança tem laudo
médico de TDAH há um ano e desde então faz uso do medicamento Ritalina para concentração, quando vai à
escola e à clínica. Demonstra um modelo de aprendizagem mais voltado para o visual e tátil. O paciente usa
óculos e tem dois graus de miopia. Apresenta dificuldades na fala, trocando e omitindo letras, tem
dificuldades de reconhecimento de algumas letras do alfabeto; H, R, Z, Y, identifica as sílabas propostas,
mas não as une para formação de palavras. Tem personalidade competitiva e perfeccionista, com baixo
limiar de frustração, apresentando dissociações de conduta, principalmente, quando participa de atividades
utilizando o computador. A baixa autoestima se evidencia quando erra ou quando não consegue entender um
comando ou questão complexa, repetindo “Eu não sei falar, eu não consigo contar, etc.”. Observamos o
incômodo com ruídos externos, com duas ou mais pessoas falando ao mesmo tempo e confusão em

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colocações extensas, se perdendo na compreensão, demonstrando não reter as informações propostas ao seu
aprendizado.

Foram utilizados, neste estudo, testes psicopedagógicos para avaliação do nível cognitivo e
comportamental da criança diante do processo de aprendizagem, subsidiando uma melhor compreensão das
etapas de memorização e aprendizado. Os testes foram aplicados formalmente, sem reforço positivo ou
ênfase nos fatores moduladores. Também foi realizada atividade textual, objetivando demonstrar a
importância dos fatores moduladores (motivação, atenção e nível de ansiedade) no processo de
aprendizagem.

A EOCA é um teste que consiste em investigar os vínculos que o sujeito possui com os objetos e os
conteúdos da aprendizagem escolar, observar as suas defesas, condutas evitativas e como enfrenta novos
desafios, percebendo o que a criança sabe fazer e aprendeu a fazer.

Do ponto de vista temático, o paciente soube dizer o seu nome completo, não conseguiu pronunciar o
nome da mãe e nem a sua atividade profissional, mas disse o nome do pai e da sua profissão. Não soube
mencionar o nome da sua rua e se fica longe ou perto da escola e o horário da escola (manhã/tarde), nem
mesmo soube dizer a data de seu aniversário ou se falta muito ou pouco tempo para este dia. Portanto, não
apresentou boas noções de espaço e tempo. Não formulou perguntas adequadamente, com fala sem ritmo e
fluência, trocando e omitindo fonemas. Sendo estas competências fundamentais para que este paciente
interaja com um texto, por exemplo, ou para interagir com o objeto de conhecimento e verbalizar este
conhecimento. Neste contexto, este paciente tem, obviamente, um déficit em seu desenvolvimento cognitivo
e comportamental.

As Provas Operatórias de Piaget objetiva determinar o grau de aquisição de algumas noções-chave


do desenvolvimento cognitivo, detectando o nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de
estrutura cognoscitiva com que opera. Consiste na aplicação de testes relacionados à conservação,
classificação, seriação de objetos, provas do pensamento formal e provas espaciais. Os testes, de maneira
básica, apresentam ao sujeito situações estimuladoras, que provocarão reações variadas, estando o
profissional atento ao registro, anotando gestos, posturas, fala, inquietações, argumentos, como manipula e
organiza o material, e, também, as suas reações diante do desconhecido.

M.G.S ainda não domina a noção de reversibilidade, sequenciando bem do maior para o menor, sem
compreender o inverso. Encontra-se no nível 2, em transição para o 3, no que tange similaridade e
diferenças, classificando espontaneamente, mas oscilando na conservação, com dificuldades de
processamento dos comandos, pedindo repetidas vezes explicações sobre o que é quantidade.

O sujeito apresentou o nível cognitivo com alguma defasagem em relação a sua idade cronológica,
com o desenvolvimento cognitivo em período de transição, do estágio pré-operacional para operações
concretas, transitando entre a Hiperacomodação (tem desejo de aprender, mas precisa de uma construção
própria, uma vez, não conseguindo fazer isto, ele faz a repetição ou a cópia, querendo mostrar que aprendeu)
e Hipoassimilação (ele demonstrou pouco contato com o objeto de conhecimento dele, como números, por
exemplo, como se no ambiente escolar não tenha havido uma relação concreta entre quantidade e símbolos
numerais).

O teste de Leitura, Escrita e Oralidade avalia o nível de leitura, escrita, compreensão e oralidade do
sujeito. Este teste foi aplicado com a leitura do texto “A Foca Filó” (EM ANEXO). O sujeito demonstrou
dificuldades de expressão de ideias, entendimento de conceitos e compreensão de comandos no
desenvolvimento das atividades propostas, sendo necessário repeti-los mais de uma vez. Apresentou
dificuldades no entendimento do significado de algumas palavras, reconhecendo-as somente quando
inseridas em frases simples. M.G.S apresentou vocabulário limitado, resistência à leitura e ortografia,
buscando frequentemente a cópia. O sujeito se encontra no processo silábico alfabético, reconhecendo

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sílabas trabalhadas e unindo-as em palavras. Faz bem as atividades de escrita, mas demonstra resistência à
leitura e a ortografia. Em sua oralidade é constante a omissão e troca de fonemas, com dificuldade na
compreensão de palavras.

Os testes de Audibilização, TIN e TRPP, foram fundamentais para este estudo, demonstrando a
dificuldade que o sujeito apresenta na retenção das informações.

O teste de Audibilização é composto por 106 subitens sendo 24 itens para Discriminação
Fonemática, 36 para Memória e 46 itens para a Conceituação, cada um deles valendo 1 ponto. Todos estes
itens, em um formulário de avaliação, com elementos, para a apreciação tanto do desenvolvimento cognitivo
quanto linguístico e objetiva avaliar a discriminação fonemática, memória de frases, de dígitos e de relatos, a
conceituação dos absurdos, identificação de objetos ou situações apresentadas, definição de palavras,
organização sintático-semântica e verificação de vocabulário compreensivo. (GOLBERT, 1988)

No Teste de Audibilização, o paciente apresentou dificuldades, sendo as mais expressivas, as que


tangem à memória (frases, dígitos e relatos). Evidenciou dificuldade na compreensão das consignas, mas
demonstrou bastante interesse na fase da Conceituação e Identificação de objetos, tendo bom desempenho,
quando lhe foi explicado, através de exemplos, qual seria a sua atuação. Ainda assim, notamos certa
confusão no entendimento, na formulação e na coerência de frases e respostas.

Na parte de Vocabulário de figuras demonstrou limitações de conhecimento, mas curioso em relação


ao significado.

O que mais chamou a atenção neste teste, foi a sua dificuldade de memorização de frases, dígitos e
de relatos, onde o resultado foi significativo para este estudo. Na avaliação como um todo o sujeito
contabilizou 42 pontos da seguinte forma Discriminação Fonemática, 11 pontos; Memória, 0 pontos;
Conceituação 31 pontos (Identificação de absurdos, 3; Identificação de objetos, 5; Definição de palavras, 6;
Organização sintático-semântica, 0; Vocabulário de Figuras, 17). Os três momentos da avaliação foram
classificados como “Grupo Inferior” segundo a tabela apresentada por Golbert (1988, p. 128). Os resultados
foram insatisfatórios.

Ratificando a importância do treinamento na memorização das informações, Pantano e Zorzi (2009,


p. 30) citam que “a conservação das informações depende da repetição e utilização dos estímulos e da sua
associação com outros elementos, é, portanto, um processo dinâmico e integrativo com as memórias já
armazenadas pelo indivíduo”. Podemos citar como exemplo, o teste de Audibilização em sua primeira parte,
onde o sujeito demonstrou dificuldades iniciais e quando treinado e repetido, houve melhoria do
desempenho, conforme Tabela 1 e Figura 1 a seguir:

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TABELA 1: Teste de Audibilização – Discriminação Fonemática, distribuidos pela demonstração de
erros (-) e acertos (S), a cada repetição do teste.

Sílabas 03/mai 08/mai 09/mai

Pa/pa - S S

Pa/ba S - S

Bo/pó S - S

Bo/bo S S S

Te/te - S S

Te/de S - -

Do/do - - S

Do/to S - -

Ga/ca S - -

Ca/ca - S S

Fa/fa - S S

Fa/va S - -

Ve/ve - S S

Fe/ve S - -

Si/zi - - -

Si/si S S -

Za/za S S S

Za/sa - S S

Chu/zu - - -

Chu/chu - S S

Go/go S S S

Go/co - S S

Je/je - S S

Je/che - S S

TOTAL 11 14 16

Fonte: Teste de Audibilização – Parte I – Discriminação Fonemática

21
o
20

15

10
o

0
03-Maio 08-Maio 09-Maio 00-Jan 00-Jan

Figura 1: Teste de Audibilização – Gráfico composto pela pontuação feita pelo sujeito a cada repetição
do teste, conforme Tabela 1

A Figura 1 demonstra que com treinamento, a cada aplicação do teste, houve progresso do sujeito.

No Teste Infantil de Nomeação (Seabra, 2012) consiste em verificar se o desenvolvimento da


habilidade linguística do indivíduo ocorre como seria esperado para sua idade, através de 60 figuras que
devem ser nomeadas pelo indivíduo. O sujeito obteve 32 acertos, sendo 1 ponto para cada acerto; ficando
com 81 pontos na Tabela de Pontuação-padrão TIN por idade. Ele tem 7 anos e 9 meses ou 8 anos na Tabela
de Pontuação Padrão, logo, ficou entre 70 e 84, sendo considerado um rendimento baixo. Observamos que
houve reconhecimento de algumas figuras, mas ele disse que não se lembrava do nome, ou seja, novamente
aparece a dificuldade de retenção das informações.

O Teste de Repetição de Palavras e Pseudopalavras (Seabra, 2012) tem como objetivo avaliar a
memória de curto prazo fonológica por meio de uma tarefa de repetição de palavras e pseudopalavras. Nessa
prova, o aplicador pronuncia para a criança sequências de duas a seis palavras, com intervalo de um segundo
entre elas, sendo a tarefa da criança repetir as palavras na mesma sequência. O sujeito não conseguiu
executá-lo, mesmo quando as palavras foram repetidas mais de duas vezes.

Diante das ferramentas supracitadas e análise de dados, foi observado neste estudo, que a dificuldade
do sujeito
apresentando um desempenho de forma geral, abaixo da média.

O texto “O Fada e o Galo” (APÊNDICE) foi apresentado sob forma motivadora para despertar a
atenção e o interesse da criança, através da dramatização, com vestimentas caracterizando os personagens de
maneira divertida e adequada à faixa etária do sujeito. Foram feitas perguntas orais de compreensão textual e
um jogo de mímicas foi realizado, utilizando ilustrações em conformidade com o texto e com as palavras
consideradas importantes. A atividade proposta teve como objetivo observar o desempenho do sujeito,
quanto ao tempo de retenção das informações, evidenciando as etapas da memorização (aquisição,
consolidação e evocação), com aplicação dos fatores moduladores alinhados ao seu Modelo de
Aprendizagem, pois compreendemos que “o efeito da motivação é indireto: ela determinará tanto a
quantidade de tempo quanto o grau de atenção dedicados ao material a ser aprendido, e isso, por sua vez, vai
afetar a quantidade do aprendizado”. Baddeley (2010, p. 90)

Com objetivo de contextualizar o texto “A Fada e o Galo” foi apresentada a “farofa pronta”, que
oportunizou ao paciente ativar os sentidos visual, tátil, olfativo e gustativo. A criança fez a associação ao
churrasco em família, demonstrando emoção e motivação ao falar sobre o assunto, dando atenção a detalhes,
inclusive. Inseriu a “farofa” no contexto do texto, recordando quem comia ou gostava da farofa, dando a sua
contribuição pessoal sobre o assunto. Com emoção, motivação, atenção e interesse despertados, um nível de

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ansiedade adequado ao momento, percebemos, no final das atividades, que a palavra FAROFA foi lida com
menos dificuldade e maior rapidez, e o conteúdo textual foi assimilado de forma satisfatória, ou seja, a
criança reteve as informações da história e conseguiu fazer a leitura de uma palavra que apresentou um grau
significativo de dificuldade anteriormente.

Na visão de Cosenza e Guerra (2011, p. 49) “o cérebro é um dispositivo criado ao longo da evolução
para observar o ambiente e apreender o que for importante para a sobrevivência do indivíduo ou da espécie.
Ele prestará atenção no que for julgado relevante ou com significância. Terá mais chance de ser considerado
como significante e, portanto, alvo da atenção, aquilo que faça sentido no contexto em que vive o indivíduo,
que tenha ligações com o que já é conhecido ou que seja estimulante e agradável”.

Considerando a citação de Pantano e Zorzi (2009, p. 30) “a evocação é a reprodução dos dados
fixados”, no dia seguinte, foi feita a verificação do aprendizado ou a evocação das informações do dia
anterior. Apresentou-se a M.G.S a palavra FAROFA. A leitura foi imediata. Ele olhou a palavra e a leu
rapidamente. A recuperação das informações sobre o texto foram bem sucedidas. No decorrer da semana
seguinte, a evocação de várias palavras e informações contidas no texto “A Fada e o Galo” foram feitas, e as
respostas foram dadas oralmente de maneira coesa e correta, demonstrando, assim, que houve consolidação
das informações ou aprendizado.

Logo, a apresentação das informações, contextualizadas de forma criativa e com significado para o
sujeito, será sempre fator relevante ao sucesso escolar do indivíduo com dificuldades de aprendizado. A
evocação ou o retorno ao conteúdo do texto aplicado, também foi fundamental no processo de memorização
e aprendizado. Corroborando com esta ideia, Baddeley (2011, p. 213) em seus experimentos, ratifica que “a
probabilidade de lembrar algo depende do número de vezes que foi evocado ou trazido a mente”.

Com isto, vimos a importância dos moduladores da memória ativados pela forma de apresentação do
conteúdo em acordância com o vocabulário da criança e o seu nível de desenvolvimento escolar, assim
como, as etapas de memorização, claramente efetivadas no estudo de caso, mesmo com todas as
dificuldades de aprendizagem apresentadas pelo sujeito. Segundo Izquierdo, em acordância com Lent (2004
apud ROTTA, 2016, p. 248), “a memória é um evento que pode ser dividido em três fases: aquisição,
consolidação e evocação das informações. E a outra forma de se referir à fase de aquisição das memórias é
denominá-la simplesmente de aprendizado. Memória e aprendizagem são processos indivisíveis, pois um
evento está embutido no outro, uma vez que a aprendizagem é a primeira fase do processo mnemônico”.

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FASES DA MEMÓRIA/ FATORES MODULADORES
(Processo mnemônico)

Atenção
Seleção Mo vação
Ansiedade
Aquisição: entrada de Emoção
informação

Consolidação: formação de memória de longa duração


(Sono/ Repe ção)

Memória
Memória Processo de
de Longa
Temporária Consolidação
Duração

Esquecimento
Esquecimento: é uma propriedade
da memória Evocação
e
U lização
Evocação: lembrança ou acesso à informação

Comportamento/
Ação

Figura 2: Fluxograma explicativo do processo de Memória e Aprendizagem

A Figura 2 explica a inter-relação entre memória e aprendizagem, juntamente com a ativação dos
fatores que antecedem o processo mnemônico.

Portanto, com o estímulo apropriado ao Modelo de Aprendizagem, utilizando ferramentas que


ativem os moduladores de memória de forma adequada, as etapas da memória, citadas pelos autores,
puderam ser observadas neste estudo de caso. Sendo, então, compreendida a relação do processo de memória
e aprendizagem e a importância deste na vida acadêmica da criança, influenciando de forma direta no seu
desempenho. Conforme citado pelos autores, os moduladores de memória (motivação, atenção e nível de
ansiedade adequados), são fatores influenciadores da aprendizagem (Rotta, 2016, p.251). Sem a adequada
influência deles, não haverá memorização e, portanto, aprendizado, dificultando a evocação ou recuperação
das informações quando assim for necessário.

Com a realização da atividade textual, demonstrou-se que quando o sujeito está motivado, há maior
atenção ou interesse nas atividades propostas, facilitando o aprendizado. Desta forma, verificou-se a
relevância da atenção nos processos de memória e aprendizagem. Neste aspecto, Pantano e Zorzi (2009, p.
27-29) enfatizam que “a atenção faz com que haja a percepção de alguns estímulos e a negligência de outros
dentro do processo cognitivo. Atenção e memória formam, assim, uma via de mão dupla em que um é
dependente do outro para a seleção dos estímulos e para o seu armazenamento”.

No entanto, durante a aplicação dos testes, percebeu-se haver falhas nas etapas do processo
mnemônico, especialmente, na aquisição e quanto ao tempo de retenção das informações na memória de
curto prazo, demonstradas no TRPP e na segunda parte do Teste de Audibilização. Baddeley (2010, p.73)
cita que “as crianças com escores baixos de memória são geralmente descritas pelos professores como
“aéreas” ou desatentas; não desorganizadas, mas incapazes de seguir instruções para fazer a coisa certa no
momento certo”.

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Pode-se dizer que o sujeito mesmo com as suas dificuldades, consegue realizar atividades, quando
estimulado ou motivado de forma criativa, despertando a atenção, que é fator preponderante no processo de
memória e aprendizagem.

4. CONCLUSÕES

O que seria da vida se não tivéssemos a capacidade de aprender e lembrar?

O fato é que somos seres com equipamentos programados às nossas necessidades, não obstante a
nossa sobrevivência está intrinsecamente ligada à aprendizagem. Pode-se dizer que boa parte de nossas vidas
passamos como alunos, e este longo período de aprendizado é transformador. Trata-se de uma mudança de
comportamento resultante da aquisição de conhecimento acerca do mundo. É através da memória que este
conhecimento é codificado e armazenado para posteriormente ser evocado, gerando uma ação ou um novo
comportamento (KANDEL, 2014).

Existem diferentes tipos de aprendizagem que resultam em diferentes tipos de memória. Esta
interligação passa por um processo de etapas que dependem de fatores internos ou externos para a
conservação das informações, de forma que possam ser recuperadas eventualmente.

Portanto, é por meio dos estímulos internos ou externos, que damos sentido e respostas ao mundo em
que vivemos. Os sentidos trazem ao cérebro informações que serão processadas e emitirão uma resposta
correspondente aos estímulos captados.

Pode-se dizer que a memorização se dá pela aquisição, consolidação e evocação de informações, e as


informações lembradas posteriormente foram armazenadas na memória de longa duração, através do
processo mnemônico. A quantidade aprendida é diretamente proporcional ao tempo gasto no aprendizado: ao
duplicar-se o tempo gasto no aprendizado, dobra-se a quantidade de informação armazenada. Em termos de
aprendizagem, é recebido aquilo pelo que se paga (BADDELEY, 2011).

Neste estudo de caso, observou-se um sujeito com comportamento diferenciado na compreensão,


interpretação e linguagem verbal, evidenciadas nas suas dificuldades de leitura e escrita. Através de testes e
intervenções, demonstrou-se por eventos internos e externos as etapas do processo mnemônico neste sujeito
e a melhoria de desempenho diante da ativação do foco atencional.

Dentro da literatura proposta neste estudo, percebemos que os estímulos devem ser elaborados de
forma que se obtenha da criança a atenção, através da motivação, da emoção quando há associação às suas
vivências e um nível de ansiedade que propicie uma concentração na atividade proposta. A aquisição das
informações está diretamente ligada aos fatores moduladores citados. Sendo assim, percebemos que o
desempenho de uma criança com dificuldades de aprendizagem, pode ser mais favorável quando se conhece
o processo de memória e aprendizagem, propiciando ao profissional a oportunidade de uma análise sobre o
Método de Ensino e Modelo de Aprendizagem do sujeito, explorando assuntos de seu interesse e de suas
vivências, dando significado ao aprendizado.

Desta forma, diferentes propriedades de objetos são armazenadas em áreas diferentes do cérebro,
portanto, quanto mais uma informação for diversificadamente explorada, mais fácil será a sua recuperação
ou evocação. Garantir que a aprendizagem seja feita de forma contextualizada, utilizando-se todas
ferramentas e recursos disponíveis, é uma maneira eficaz de assegurar a aplicabilidade destes conceitos ou
informações às novas situações (BADDELEY, 2011).

E assim, percebe-se que apesar das dificuldades relacionadas à aprendizagem, que prejudicam o
desempenho escolar, com estímulos adequados ao seu Modelo de Aprendizagem, a criança terá mais chance
de aprendizado e de melhor performance educacional. Portanto, sugerimos que o sujeito em estudo continue

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em seu processo de alfabetização, sendo estimulado de forma a desenvolver as suas funções comprometidas,
com recursos que possam despertar o seu interesse e ativar os propostos fatores moduladores, dentro de um
contexto de tratamento interdisciplinar, proporcionando a conservação das informações através da repetição
criativa e contextualizada, utilizando estímulos significativos, associando-os ao meio e às vivências do
sujeito.

5. REFERÊNCIAS

BADDELEY, A.; EYSENCK, M. W., ANDERSON, M. C. Memória, Porto Alegre: Artmed, 2011.

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CONSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre:
Artmed, 2011.

EUSTACHE, F. Nos émotions modulent notre mémoire. Revista La Recherche - Hors Serie. n. 22, p. 4-8,
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avaliação, reflexões. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988.

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SEABRA, G. A.; DIAS, M. N. Avaliação neuropsicológica cognitiva: linguagem oral. volume 2. ed. São
Paulo: Memnon, 2012.

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ANEXOS

Teste de Leitura, Escrita e Oralidade Intervenção – Texto: A


Texto: A FOCA FILÓ
ESTA É A FOCA FILÓ. FADA E O GALO
GULOSA COMO ELA SÓ. A FADA LILI
COME FAROFA COM FILÉ, NÃO SABE VOAR.
NÃO TOMA CAFÉ,
DOCE DE FIGO E CAFÉ. SÓ GOSTA DE CHÁ.
COME FILÉ
E TEM MUITO CHULÉ!
E ASSIM A FOCA FILÓ,
O GALO GAGA
SABIDA COMO ELA SÓ. NÃO SABE CANTAR.
FALA DEMAIS,
APRENDEU NÃO SÓ A NADAR
SÓ COME FAROFA.
COMO TAMBÉM A DANÇAR GALO DANADO,
GOSTA MESMO É DE FOFOCA!
SAMBA, ROCK E ATÉ FORRÓ… MAS, OS DOIS SÃO MUITO AMIGOS,
CONVERSAM SEM PARAR.
FELIZ É LILI, QUE TEM O AMIGO
NA VERDADE, A FOCA FILÓ GAGA!
SAPECA COMO ELA SÓ,
GOSTA DE CAIR NA FOLIA,
SEJA DE NOITE OU DE DIA…

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