Transtorno Borderline e Funções Executivas
Transtorno Borderline e Funções Executivas
Transtorno Borderline e Funções Executivas
Edilson Pastore
Mestrando
EDILSON PASTORE
CDU 616.89
Catalogação na Fonte:
Bibliotecária Vanessa Borges Nunes - CRB 10/1556
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Elaborada por
Edilson Pastore
Comissão Examinadora
(Orientadora)
(Membro)
(Membro)
(Relatora)
À memória dos meus pais, Affonso e Ignes, que me ensinaram a continuar persistindo, apesar
dos obstáculos que se interpõem no caminho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Beatriz Blaya, coordenadora geral da Clínica Pinel, com quem tenho
convivido nos últimos 22 anos e compartilhado inúmeras experiências que têm sido
fundamentais para meu crescimento.
Aos colegas da Clínica Pinel que encaminharam seus pacientes para participar da
pesquisa.
Aos 82 pacientes que aceitaram participar da pesquisa, possibilitando o avanço do
conhecimento científico.
À Silvia Guarise, pelo apoio nos momentos mais difíceis.
Aos colegas de mestrado, Kelin Zabtoski e Guilherme Wendt, sempre muito
prestativos em todos os momentos.
Aos estudantes de psicologia, Cristian Bacchi Schwartz, Débora Martini e Juliana
Kruel, que foram importantíssimos na pesquisa empírica.
Um agradecimento especial à orientadora deste trabalho, a Profª. Drª. Carolina Saraiva
de Macedo Lisboa, que me ajudou a sair das “trevas da ignorância” em que me encontrava
antes da sua orientação, me conduzindo com ética, profissionalismo, conhecimento e,
sobretudo, com respeito e com humanidade.
À banca examinadora: Drª. Clarissa Gama, Drª. Irani Argimon e Drª. Silvia Benetti,
que contribuíram muito no exame de qualificação e se dispuseram a participar também da
banca de defesa.
“Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu”.
Francisco Octaviano
SUMÁRIO
Apresentação.......................................................................................................................... 14
Referências...............................................................................................................................16
Seção I: Transtorno de Personalidade Borderline, aspectos cognitivos e suicídio........... 17
1 Introdução............................................................................................................................. 19
2 Transtornos de personalidade................................................................................................ 19
2.1 Transtorno de Personalidade Borderline............................................................................ 20
2.2 Aspectos cognitivos........................................................................................................... 23
3 Considerações finais............................................................................................................. 26
Referências............................................................................................................................... 28
Seção II: Desempenho cognitivo e impulsividade em pacientes com Transtorno de
Personalidade Borderline com e sem histórico de tentativas de suicídio.......................... 33
1 Introdução............................................................................................................................. 35
2 Método.................................................................................................................................. 39
2.1 Delineamento..................................................................................................................... 39
2.2 Participantes....................................................................................................................... 39
2.3 Instrumentos....................................................................................................................... 42
2.4 Procedimentos.................................................................................................................... 44
2.5 Procedimentos éticos.......................................................................................................... 44
3 Resultados............................................................................................................................. 46
4 Discussão.............................................................................................................................. 51
5 Considerações finais............................................................................................................. 55
Referências............................................................................................................................... 57
Considerações finais da dissertação..................................................................................... 61
Referências............................................................................................................................... 62
Anexos..................................................................................................................................... 63
Anexo A – Ficha de dados sociodemográficos........................................................................ 64
Anexo B – Checklist segundo o CID-10.................................................................................. 65
Anexo C – Escala Barratt de Impulsividade............................................................................ 69
Anexo D – Escala FAST.......................................................................................................... 70
Anexo E – Termo de cessão de dados...................................................................................... 71
Anexo F – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)......................................... 72
Anexo G – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa......................................................... 73
LISTA DE TABELAS
RESUMO
de suicídio, assim como o grau de adaptação medido pela Escala FAST se mostrou mais
prejudicado no mesmo grupo. Os resultados desta dissertação elucidam aspectos sobre o TPB
e permitem refletir sobre adequadas formas de tratamento. Fica também evidenciada a
necessidade da realização de outros estudos dentro dessa mesma temática, em virtude da
carência de pesquisas neuropsicológicas ou sobre funções cognitivas em pacientes com
diagnóstico de TPB no Brasil.
ABSTRACT
The objective of the present Master's thesis was to investigate the cognitive
performance of participants with Borderline Personality Disorder (BPD) with and without a
history of suicide attempts. The review of the literature and the empirical results of this study
were described in a theoretical article and an empirical article about BPD, suicide, and
cognitive functions.
The theoretical article consisted of an asystematic and critical review of the literature
on the disorder, addressing the characteristics of the development of this pathology and
discussing its cognitive aspects. This review of the literature focused on executive functions,
especially: attention, concentration, decision making, organization of thought, and working
memory, suggesting that deficits in these functions may be risk factors for suicide in patients
with this diagnosis. The conclusions of the theoretical article indicate the presence of specific
cognition deficits, mainly in the executive functions of the participants diagnosed with BPD.
We discussed recent articles on the topic and approached the need and relevance of further
studies and similar findings.
The empirical article presents the results of a quantitative, cross-sectional and comparative
study conducted with a sample of 82 patients (M =31.80, SD =0.96) diagnosed with BPD and
admitted to a psychiatric clinic in Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil. The Wechsler
Adult Intelligence Scale (WAIS III), the Barratt Impulsiveness Scale, the Beck Suicide Scale,
the FAST scale, and a questionnaire containing sociodemographic data were administered to
the participants. There was no significant difference in terms of total IQ among the
participants with BPD with and without a history of suicide attempts, suggesting that the
heterogeneity of patients with this diagnosis, as well as the large number of comorbidities in
this population, may have been important factors to explain this result. However, we found
that patients with a history of suicide attempts have higher index of impulsivity, especially
patients younger than 30 years, leading to the conclusion that individuals of this age group
with BPD may be more vulnerable to both suicide and suicide attempts. Although there was
no significant difference between the groups, the means on the Wechsler Scale (cognitive
functions) in terms of total IQ were within the mean level of cognitive functioning with an IQ
of 92 for the group of patients with a history of suicide attempt and 96 for the group without
suicide attempts. Levels of impulsivity were higher in patients with a history of suicide
attempts; in addition, the degree of adaptation measured by the FAST Scale was lower in the
same group. These results explain aspects of BPD and provide the opportunity of developing
13
appropriate therapeutic methods. The need for further studies on this topic was also evidenced
by the lack of neuropsychological research or studies on cognitive functions in patients
diagnosed with BPD in Brazil.
Apresentação
Referências
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mutilation and suicide attempts: Relationships to bipolar disorder, borderline
personality disorder, temperament and character. Australian and New Zealand Journal
of Psychiatry, 44(3), 250-257.
Sprock, J., Rader, T. J., Kendall, J. P, & Yoder, C. Y. (2000). Neuropsychological functioning
in patients with borderline personality disorder. Journal Clinical Psychology, 56, 587-
600.
O'Connor, R. C., & Noyce, R. (2008). Personality and cognitive processes: Self-criticism and
different types of rumination as predictors of suicidal ideation. Behaviour Research
and Therapy, 46, 392-401.
17
Resumo
Abstract
The objective of the present study was to perform a review of the literature about Borderline
Personality Disorder (BPD), suicide, and cognitive functions. The databases searched were:
Capes, Sciencedirect, Psichinfo, Cochrane, BVS-PSI, Bireme, and Medline. We used the
following keywords: Borderline Personality Disorder, Cognition, and Suicidal Behavior.
18
First, we discussed the main characteristics of the disorder, early onset of symptoms, and its
main manifestations. Later, we focused on the cognitive aspects of patients with BPD,
especially addressing the executive functions such as decision-making. In this sense, we also
discussed the assessment of impulsivity and suicide risk in patients with BPD. The recent
studies included in this review suggest that deficits in neuropsychological functions,
especially in executive functions, may be important risk factors for suicide and suicide
attempts in people with this diagnosis. Investigating cognition, impulsivity, and levels of
suicidal ideation in patients with BPD is critical to help health professionals to identify and
prevent suicide in these patients, as well as to improve the existing treatment strategies.
Therefore, it is extremely important to increase the knowledge on BPD based on new studies
about this disorder, especially in Latin America, where such studies are rare.
1 Introdução
2 Transtornos de personalidade
Os transtornos de personalidade são definidos por uma série de critérios, sendo que o
principal é a identificação de um padrão persistente de vivências íntimas e de comportamentos
que se desviam de forma acentuada das expectativas da cultura do indivíduo. De acordo com
os critérios da American Psychiatric Association (APA, 2002), o transtorno de personalidade
consiste em um padrão global, rígido e inflexível com duração de mais de dois anos, com
início no final da adolescência ou nos primeiros anos da vida adulta e que afeta pelo menos
20
Outra questão importante sobre a etiologia do TPB refere-se a casos de abuso sexual
na infância, sendo que Hermann, Perry e Van der Kolk (1989) identificaram em seu estudo
que 81% dos pacientes com TPB possuíam história de abuso físico e/ou sexual na infância.
Da mesma forma, Zelkovitz, Paris, Guzder e Feldman (2001) observaram que pessoas que
haviam sofrido abuso sexual apresentavam quatro vezes mais chance de desenvolver o TPB.
O abuso sexual e a concomitante severidade do TPB no futuro estariam mais ligados a fatores
como a idade em que ele ocorreu, a frequência em que acontecia e a gravidade/intensidade
existente e percebida pelos indivíduos (McLean & Gallop, 2003; Zanarini, Frankenburg, &
Vujanovic, 2002).
Ambiente familiar caótico e conturbado constitui também forte preditor para o
desenvolvimento do TPB, pois, segundo Johnson et al. (2001), relacionamentos com
vinculações problemáticas, abuso emocional e negligência por parte dos cuidadores são
fatores de risco para o desenvolvimento do TPB, tanto quanto o abuso sexual, que é um dos
aspectos mais abordados e apontados na literatura sobre o tema (Zelkovitz et al., 2001). A
vinculação insegura a figuras parentais e ambientes familiares conturbados e emocionalmente
instáveis e negligentes também podem explicar o TPB tanto quanto os demais fatores
apontados pela literatura (Salzman et al., 1993). Outro fator para tentar explicar a etiologia do
TPB diz respeito à questão da vinculação da criança com seus cuidadores e o
desenvolvimento de apego inseguro (Bowlby, 1969/1973). Pesquisas relacionando o TPB
com o apego inseguro são frequentes na literatura e apontam que experiências com cuidadores
inseguros, imprevisíveis, assustadores ou abusivos predisporiam a criança a um tipo de apego
que poderia ser um preditor para o desenvolvimento do TPB no futuro (Levy et al., 2006;
Lyons-Ruth, Jacobvitz, Cassidy, & Shaver, 1999).
Atualmente o DSM IV-TR (APA, 2002) denomina esse transtorno como Transtorno
de Personalidade Borderline e o CID-10 (Organização Mundial da Saúde [OMS], 1994) o
classifica como Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável, sendo ambas as
categorias diagnósticas clinicamente equivalentes. A prevalência do TPB é de
aproximadamente 2% a 7% da população, sendo três vezes mais comum em mulheres do que
em homens (Links, Heisel, & Garland, 2003). Encontra-se, ainda, entre os principais critérios
para definir o TPB, a identificação de esforços feitos pelo paciente para evitar abandonos,
reais ou imaginários, significativa instabilidade nos relacionamentos, alternância de extremos
de idealização e desvalorização, acentuada perturbação na identidade e na autoimagem,
desrregulação afetiva, assim como impulsividade em diversas áreas de sua vida (Kernberg,
1998). Convém salientar que devem constar pelo menos dois indicadores das seguintes
22
relação entre TPB e o comportamento suicida pode ser mediada por aspectos cognitivos,
especialmente envolvendo dificuldades relacionadas a tomada de decisões, memória de
trabalho, capacidade para obter juízo crítico e formulação de insight (Le Gris & Van Reekum,
2006). Esses aspectos podem auxiliar na explicação de uma série de variáveis ainda obscuras
na literatura e servir de subsídios para melhores estratégias de tratamento.
dificuldades parecem ser agravadas em pacientes que tentaram suicídio, nos quais os prejuízos
cognitivos parecem ainda mais acentuados. Essa revisão da literatura sugere que sejam
investigados aspectos globais da inteligência, como a avaliação de QI total, além de outros
domínios cognitivos, com o objetivo de identificar com mais clareza essas particularidades
que envolvem a cognição de pacientes com TPB que tentaram suicídio em comparação com
os que nunca tentaram.
Já Judd (2005) constatou que pacientes com TPB apresentam grande instabilidade em
seus relacionamentos interpessoais, alto grau de impulsividade, dissociação e paranoia,
características já bastante enfatizadas pela literatura. Entretanto, essa autora ressalta que as
dimensões cognitivas desses pacientes têm sido pouco estudadas, propondo que os prejuízos
neurocognitivos podem ser a chave para a compreensão dos aspectos do TPB. A autora
hipotetiza, ainda, que prejuízos cognitivos podem estar associados ao apego inseguro e que o
fator cognitivo pode ser responsável por muitos comportamentos patológicos das pessoas que
apresentam esse transtorno.
Em relação ao TPB, percebe-se que indivíduos suicidas demonstram maiores
dificuldades em relação à regulação emocional e à tomada de decisão, devido a alterações
neurológicas e cognitivas referentes a déficits na atenção, na memória e no processamento de
informações complexas (Le Gris & Van Reekum 2006; Sprock, Rader, Kendall, & Yoder,
2000). Contudo, ainda há carência de estudos nessa área, especialmente estudos brasileiros,
para que se possa descrever melhor esse fenômeno, a fim de gerar subsídios para se repensar
intervenções e tratamentos clínicos cada vez mais eficazes para esta grave condição
diagnóstica.
3 Considerações finais
pacientes com TPB com histórico de tentativas de suicídio, os déficits nas funções executivas
parecem ser ainda mais acentuados, gerando riscos elevados tanto para a consumação do
suicídio quanto para o aumento do número de tentativas cujas consequências são
extremamente danosas tanto para o paciente quanto para a família e a rede social da qual o
paciente faz parte.
A avaliação de aspectos cognitivos, nível de impulsividade e ideação suicida de
pacientes com TPB deve ser feita criteriosamente devido aos riscos inerentes a essa grave
psicopatologia de personalidade. A relevância em se avaliar aspectos cognitivos, a
impulsividade e o risco de suicídio em pacientes com TPB reside na possibilidade de gerar
subsídios para melhorar as formas de intervenção nesse transtorno, especialmente tentando
evitar o comportamento suicida e o grave risco de morte que os mesmos apresentam.
28
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33
Resumo
Abstract
Cognitive functions, impulsivity, and suicidal behavior are important aspects of the evaluation
and treatment of patients with Borderline Personality Disorder (BPD). Proper analysis and
detection of these aspects may help in the management of situations involving both the risk of
death and the design of appropriate care procedures for this clinical population. Therefore, the
objective of this study was to assess cognitive performance, impulsivity, and suicidal ideation
in 82 (M=31.80; SD=0.96) inpatients of a psychiatric clinic in Porto Alegre, RS. Patients were
divided into two groups without (G1 =33) and with a history of suicide attempt (G2=49). We
administered the following instruments: the Wechsler Adult Intelligence Scale (WAIS III),
the Barratt Impulsiveness Scale (BIS), the Beck Scale for Suicide Ideation (BSI), the FAST
Scale, and a questionnaire on sociodemographic data. The results showed no significant
differences between the two groups with respect to total IQ and executive functions
specifically, which is not in agreement with some previous studies. The levels of impulsivity,
as well as suicidal ideation, were higher in patients with a history of suicide attempts,
especially in patients younger than 30 years. Considering the comorbidities, we found that
chemical dependency showed the highest prevalence, followed by bipolar disorder and
depression. The results demonstrated that the similarities between the groups of patients with
and without a history of suicide attempt constitute a warning and a challenge. Evidences
toward impulsivity confirm previous studies, as well as what refers to comorbidities
identified. The results of the present study can be explained based on the complexity of this
disorder; thus, further studies of cognitive functions in this population are greatly important.
1 Introdução
grupos, exceto que nas pacientes com TPB a tomada de decisão se mostrou mais prejudicada
que no grupo controle. Ainda na comparação entre o grupo de pacientes com TPB com e sem
tentativa de suicídio não se identificou diferença significativa com relação à função cognitiva
referente a tomada de decisão. Além disso, nesse estudo o preditor mais significativo para a
efetivação do suicídio foi a presença de tentativas de suicídio prévias, o que também parece
ser consenso na literatura científica sobre suicídio (Lieb et al., 2004; Monarch et al., 2004).
Já no estudo realizado por Preissler et al. (2010), comparando mulheres com TPB com
um grupo controle, verificaram-se marcados prejuízos na cognição social, na regulação das
emoções, dos impulsos e pensamentos. Esse autor também identificou que quando o TPB
ocorre simultaneamente com o transtorno de estresse pós-traumático, impulsividade e abuso
sexual na infância, há maior risco de problemas na cognição e propensão para o
comportamento suicida. Reforçando esses achados, Sternbach et al. (1992) afirma que
distorções cognitivas como visão do tudo ou nada, catastrofismo e dificuldade de avaliação
adequada das situações são comuns em pacientes com TPB. Assim, a dificuldade na regulação
dos afetos e dos impulsos pode levar ao comportamento suicida em virtude de problemas na
tomada de decisões e no julgamento da realidade.
Segundo Zanarini et al. (2011), automutilações, tentativas de suicídio prévias e
problemas na cognição constituem forte risco de morte para pacientes portadores de TPB. Em
seu trabalho de investigação, foram avaliados 290 pacientes com TPB, elencando alguns
preditores para risco grave de suicídio nessa população, tais como: sexo feminino, presença de
sintomas dissociativos, transtorno de humor associado, especialmente depressão, história de
abuso sexual na infância, ter sofrido violência sexual na vida adulta e, por último, a
severidade das distorções cognitivas apresentadas. Já para Maloney, Degenhardt, Darke e
Nelson (2009), os principais fatores de risco para suicídio em pacientes com TPB também
incluem o fato de ser mulher, apresentar quadro de ansiedade e impulsividade, além de abuso
de substâncias associado. Esses pesquisadores destacam, ainda, a necessidade de se avaliar os
níveis de impulsividade em pacientes com TPB que tenham apresentado tentativa de suicídio
prévia, pois esses pacientes estariam mais propensos a efetivar o suicídio, confirmando
estatísticas que afirmam que um em cada dez pacientes com TPB comete o suicídio ao longo
do curso da doença (Le Gris & Van Reekum, 2006; Monarch et al., 2004; Zweig-Frank &
Paris, 2002). Convém salientar que esse índice é similar a patologias severas como
esquizofrenia e depressão maior (Bertolote & Feischamnn, 2002).
No que se refere à presença de comorbidades, Carpinello et al. (2011) afirmam que
quando o TPB está associado ao transtorno de humor bipolar, aumentam-se três vezes as
38
chances de suicídio, sendo o mesmo mais elevado quando o TPB apresenta comorbidade com
qualquer outra psicopatologia (Dziobek et al., 2011). Dentre as comorbidades mais
identificadas estão a dependência química, o transtorno de humor bipolar, a depressão e o
transtorno de estresse pós-traumático (Lieb et al., 2004).
Mesmo frente a todas essas evidências de estudos, pesquisas brasileiras ou latino-
americanas que investiguem as relações entre funções cognitivas, comportamento suicida e
TPB ainda são escassas. Assim, torna-se evidente a necessidade de estudos que avaliem
aspectos cognitivos, níveis de impulsividade e de ideação suicida de forma mais aprofundada
e detalhada em pacientes com TPB no nosso contexto, com vistas ao delineamento de práticas
preventivas e também no âmbito clínico. Conforme sugerido por autores que trabalham e
publicam dentro desse tema (Le Gris et al., 2012; Monarch et al., 2004; Le Gris & Van
Reekum, 2006), a exploração das questões cognitivas e comportamentais, além de ainda
necessitar de estudos e novas descobertas, é crucial para melhorar as formas de tratamento
para esta população.
A dificuldade de tratamento, os abandonos frequentes dos mesmos e o alto índice de
suicídio relacionado a esse transtorno motiva o desenvolvimento de estudos que revisem
aspectos já conhecidos do TPB, assim como se concentrem em áreas ainda pouco exploradas,
relacionadas a aspectos emocionais, mas também cognitivos. Desta forma, este estudo tem
como objetivo investigar o desempenho cognitivo, os níveis de impulsividade e a ideação
suicida de pacientes diagnosticados com TPB com e sem histórico de tentativas de suicídio,
internados em uma clínica psiquiátrica de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
39
2 Método
2.1 Delineamento
Foi realizado um estudo transversal, quantitativo e de comparação entre grupos.
2.2 Participantes
Para determinação do tamanho de amostra utilizou-se como base os dados apontados
por Le Gris e Van Reekum (2006), onde foram detectadas diferenças nas pontuações médias
das subescalas da WAIS III entre investigados com e sem histórico de suicídio variando, de
modo geral, entre 15 e 45%. Assumindo que nos grupos a serem investigados a diferença
entre as médias esteja contida no intervalo entre 15 a 20% e, considerando um nível de
significância de 5% (α=0,05) e um poder de 80% (1-β), o tamanho mínimo de amostra foi
estimado em 34 ou 49 pacientes por grupo, totalizando um mínimo de 68 sujeitos até 98
investigados. Os cálculos foram realizados através do programa Stata 8.0. A Tabela 1
apresenta as estimativas de erro e tamanho amostral.
Tabela 1
Estimativas de Erros e Tamanhos de Amostra
Tamanhos de amostra
Erro máximo admissível (YY)*
Por grupo (XX) Total (HH)
10 77 144
15 49 98
20 34 68
25 25 50
30 16 32
Tabela 2
Dados Sociodemográficos (N=82)
Frequência Porcentagem
Sexo Masculino 30 36,6%
Feminino 52 63,4%
Idade M=31,80 DP=10,96
Escolaridade E. Fundamental 11 13,8%
E. Médio 42 52,5%
E. Superior 23 28,8%
Pós-Graduação 4 5,0%
Situação Ocupacional Emprego formal 26 31,7%
Emprego informal 6 7,3%
Desempregado 27 32,9%
Benefício de saúde 22 26,8%
Aposentado 1 1,2%
Nível Socioeconômico Baixo 12 14,6%
Médio 63 76,8%
Alto 7 8,5%
Estado Civil Solteiro 50 61,7%
Casado 12 14,8%
Divorciado 8 9,9%
União estável 11 13,6%
Filhos Sim 34 41,5%
Não 48 58,5%
41
Tabela 3
Comorbidades (n=75) e Tipo de Medicação Utilizada (n=80)
Frequência Percentil
Comorbidades Dependência química 39 48,8%
Transtorno de humor bipolar 37 45,1%
Depressão 26 31,7%
TDAH 5 6,1%
Transtorno de ansiedade 5 6,1%
Psicoses 2 2,4%
Tipo de medicação Antipsicóticos 32 39,0%
Antidepressivos 26 31,7%
Estabilizadores de humor 16 19,5%
Benzodiazepínicos 25 30,5%
Outros 16 19,5%
Tabela 4
Método Utilizado para Tentativa de Suicídio (n=23)
Frequência Percentil
Ideação suicida grave 3 13,0%
Automutilações 2 8,7%
Ingestão de medicação 8 34,8%
Outros 10 43,5%
2.3 Instrumentos
2.3.1 Ficha de dados sociodemográficos (Anexo A)
Na ficha de dados sociodemográficos, elaborada para os fins da presente pesquisa,
foram investigadas características como: sexo, idade, escolaridade, nível socioeconômico,
estado civil, uso de medicação, comorbidades, doenças clínicas, história familiar de doença
mental e suicídio e uso de drogas.
processamento. Neste estudo, foram aplicados 11 subtestes, cinco da escala de execução e seis
da escala verbal permitindo assim a extração dos respectivos Q.I.s (α total=0,881).
2.4 Procedimentos
Para a realização da coleta de dados, todos os pacientes que internaram na clínica
psiquiátrica com diagnóstico confirmado de TPB foram convidados a participar do estudo. O
diagnóstico de TPB foi confirmado a partir da avaliação psiquiátrica, com a presença do
diagnóstico de CID F60.31. Os pacientes que aceitaram participar do estudo tiveram todas as
suas dúvidas esclarecidas e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE
– Anexo F), informando seu consentimento. Em seguida, foi aplicada a ficha de dados
sociodemográficos. Os demais instrumentos – o checklist de sintomas da CID-10 para
Transtorno da Personalidade Emocionalmente Instável, o WAIS-III, a Escala de Ideação
Suicida de Beck, a Escala Barratt de Impulsividade e a Escala FAST – foram aplicados em
ordem aleatória, objetivando minimizar o cansaço e evitar influência da ordem das respostas.
A aplicação de todos os instrumentos foi realizada individualmente, em sala adequada da
Instituição. Foram realizados de 3 a 5 encontros com cada participante para a aplicação dos
instrumentos.
3 Resultados
Tabela 5
Valores Mínimo e Máximo, Média e Desvio Padrão das Variáveis
Mínimo Máximo M (DP)
Escala Barratt de Impulsividade (BIS-11) 63 93 76,55 (5,98)
Impulsividade motora 19 41 26,40 (3,68)
Impulsividade atencional 14 27 20,82 (2,91)
Impulsividade por não planejamento 21 36 29,32 (3,75)
Escala FAST 7 64 28,81 (14,37)
Autonomia 0 10 3,50 (2,61)
Trabalho 0 17 6,00 (4,59)
Cognição 0 15 7,53 (3,42)
Finanças 0 6 3,16 (2,14)
Relações interpessoais 0 18 6,29 (4,53)
Lazer 0 6 2,30 (1,96)
Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI) 0 34 9,25 (10,39)
WAIS-III 64 136 94,07 (15,51)
Escala verbal 67 122 96,04 (14,62)
Escala de execução 63 148 91,90 (16,45)
Completar figuras 1 15 8,35 (2,76)
Vocabulário 4 16 10,26 (2,45)
Códigos 2 19 7,86 (3,57)
Semelhanças 3 19 11,41 (3,93)
Cubos 3 17 9,15 (3,24)
Aritmética 1 16 7,41 (3,01)
Raciocínio matricial 3 16 9,67 (3,01)
Dígitos 2 17 7,63 (3,26)
Informações 2 15 9,20 (3,32)
Arranjo de figuras 3 18 8,81 (3,09)
Compreensão 2 19 10,84 (3,73)
Tabela 6
Número de Tentativas de Suicídio (n=82)
Frequência Percentil
Não tentaram 33 40,2%
Tentaram uma vez 21 25,6%
Tentaram duas ou mais 28 34,1%
de Ideação Suicida de Beck (BSI), verificou-se diferença significativa (t=-6,96, p<0,01), entre
os grupos G1 e G2. Participantes sem tentativa de suicídio apresentaram médias inferiores aos
participantes com tentativa. Também houve diferença significativa (t=-2,87, p<0,01) na
escala BSI quanto ao sexo, sendo que as mulheres mostraram médias mais elevadas que os
homens. A Tabela 7 apresenta os resultados dos instrumentos utilizados comparando G1 e
G2.
Tabela 7
Comparação de Médias de Resultados dos Instrumentos entre G1 e G2
G1 (n=33) G2 (n=49)
M (DP) M (DP)
Escala Barratt de Impulsividade (BIS-11) 75,37 (5,19) 77,32 (6,38)
Impulsividade motora 25,59 (2,99) 26,93 (4,01)
Impulsividade atencional 21,09 (2,73) 20,65 (3,03)
Impulsividade por não planejamento 28,68 (3,54) 29,73 (3,23)
Escala FAST 27,46 (14,53) 29,80 (14,36)
Autonomia 3,56 (2,51) 3,46 (2,72)
Trabalho 6,13 (3,98) 5,90 (5,04)
Cognição 7,00 (3,47) 7,92 (3,37)
Finanças 2,60 (2,15) 3,58 (2,06)
Relações interpessoais 6,36 (4,53) 6,24 (4,59)
Lazer 1,80 (1,74) 2,68 (2,05)
Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI) 1,37 (3,85)* 14,40 (10,09)*
*p<0,01
FAST (r=-0,265, p<0,05). Esse dado indica que quanto mais impulsividade menos finanças e
quanto menos finanças mais impulsividade. Identificou-se correlação negativa entre
‘impulsividade motora’ e o fator ‘lazer’ da escala FAST (r=-0,247, p<0,05). Esse dado indica
que quanto mais impulsividade motora, menos lazer e vice-versa. Também se verificou
correlação negativa entre ‘impulsividade atencional’ e o fator ‘autonomia’ da escala FAST
(r=-0,266, p<0,05) bem como em relação ao fator ‘trabalho’ da mesma escala (r=-0,237,
p<0,05). Esses dados indicam que quanto mais impulsividade atencional, menos a pessoa é
autônoma e também quanto menos a pessoa for autônoma, mais impulsiva pode se tornar.
Além disso, quanto mais impulsividade atencional, menos trabalho e quanto menos trabalho,
mais impulsividade atencional. Na Tabela 8, apresentam-se as correlações significativas.
Tabela 8
Correlações entre Fatores da Escala FAST e Impulsividade
Lazer Autonomia Trabalho Finanças
Impulsividade motora -0,247
BIS-11 0,265
p<0,05 *p<0,01
Tabela 9
Correlação entre Semelhanças e Informação do WAIS-III com Impulsividade por não Planejamento
Semelhanças Informação
Impulsividade por não planejamento -0,245 -0,234
p<0,05
50
4 Discussão
tentativa de suicídio e aqueles com histórico de tentativa de suicídio. Esse dado vai ao
encontro aos resultados de Le Gris et al. (2012), que em seu estudo também não observaram
diferença significativa entre estes grupos de pacientes estudados, à exceção de que o grupo de
tentadores de alta letalidade apresentou maiores prejuízos cognitivos que os tentadores de
baixa letalidade; variável que este trabalho não se propôs verificar. No entanto, as pesquisas
desses autores não deixam claro quais eram as comorbidades envolvidas na amostra
pesquisada, nem tampouco se os pacientes estudados estavam ou não internados, sendo que
esses fatores podem ter dificultado a observação das diferenças cognitivas no presente estudo.
Comorbidades podem prejudicar ainda mais o desempenho cognitivo de pacientes com TPB,
a exemplo do transtorno de humor bipolar e da dependência química, que apresentam curso
cognitivo claramente deteriorante. Ainda, na comparação entre os participantes com e sem
tentativa de suicídio, quanto à área de performance do teste de WAIS-III, que avaliou as
funções executivas, não se observou diferença significativa em termos de QI, o que no estudo
revisional de Le Gris e Van Reekum (2006) aparece como sendo uma tendência. O fato de
não haver diferença em termos de QI entre os participantes com e sem histórico de tentativas
de suicídio pode estar relacionado ao alto risco de suicídio relacionado ao TPB, indicando que
os participantes que até o momento da avaliação não haviam tentado suicídio, possam vir a
fazê-lo em algum momento, uma vez que há mais similaridades que diferenças entre a
amostra (Linehan, 2010). Além disso, aspectos socioculturais brasileiros podem ter
influenciado nos resultados da pesquisa, na medida em que os estudos existentes, comparando
grupos de pacientes com TPB com e sem tentativa de suicídio, foram encontrados apenas nos
Estados Unidos e na Europa (Arza et al., 2009; Le Gris & Van Reekum, 2006). Desta forma,
mais estudos devem ser realizados em nossa cultura para que se possa afirmar que há, de fato,
um impacto cultural interferindo nos resultados desta pesquisa.
Quanto ao nível de impulsividade, indo ao encontro do que demonstra a literatura
(Monarch et al., 2004), o grupo de pacientes com tentativas de suicídio apresentou índice mais
elevado quando comparado ao grupo de não tentadores. Há um consenso de que quanto maior
a impulsividade de um indivíduo, maior é o seu risco de suicídio. Desta forma, os resultados
da pesquisa estão de acordo com o que preconiza a literatura (APA, 2002; Linehan & Mazza,
2009; Links et al., 1999; Monarch et al., 2004). Também se observou que quanto mais
impulsivo é um indivíduo, menos autonomia e menos lazer ele terá, assim como seu
desempenho no trabalho também estará mais prejudicado. Consequentemente, menos
finanças, conforme já constatado em outros estudos e na experiência clínica (Brodsky et al.,
53
2006; Gvion & Apter, 2011). Assim, conclui-se que a impulsividade interfere negativamente
em vários aspectos da vida desses pacientes, acentuando inclusive o risco de suicídio.
Corroborando os achados atuais, os pacientes mais jovens apresentaram índices mais
elevados de impulsividade, inclusive por não planejamento, o que indica que esses pacientes
apresentam risco maior para ideação e tentativas de suicídio, na medida em que as duas
variáveis, planejamento e impulsividade, podem potencializar os efeitos uma da outra. Da
mesma forma, tais resultados indicam que há uma diminuição dos níveis de impulsividade e
dos principais sintomas do TPB a partir da quarta década de vida, culminando, em alguns
casos, com a remissão quase completa da sintomatologia (Zanarini et al., 2003). Esse dado
mostra que se os pacientes com TPB puderem chegar à quarta década de vida sem cometer
suicídio, mesmo apresentando tentativas prévias, estarão em menor risco para sua
consumação.
Ainda em relação às tentativas de suicídio, os dados corroboram a literatura, indicando
haver uma tendência maior em mulheres (Linehan & Mazza, 2009; Paris et al., 1999).
Também foi possível constatar a confiabilidade da escala de ideação suicida de Beck (Cunha,
2001) como um instrumento adequado para identificação do risco de suicídio, mostrando-se a
mesma com escores mais elevados no grupo de tentadores de suicídio.
Outro resultado relevante, que vai ao encontro da literatura, refere-se ao maior risco de
suicídio em pacientes com TPB que apresentam comorbidade com transtorno de humor
(Zanarini et al., 2011). A associação entre o TPB e os transtornos de humor parece ser um
indicador de severidade maior para o quadro, além de maior risco para ideação e tentativas de
suicídio, podendo aumentar o risco de suicídio em até três vezes (Carpinello, Piramba, &
Sarder, 2011). Corroborando os achados de Berk, Jeglic, Brown, Henriques e Beck (2007),
verificou-se que o TPB está associado a inúmeras comorbidades e que essas interferem
negativamente na evolução e no tratamento dessa população. No presente estudo, mais de
45% dos pacientes apresentava comorbidade com THB e mais de 31% apresentavam
depressão, confirmando o que a literatura preconiza sobre a associação entre o TPB e várias
outras psicopatologias (Carpinello et al., 2011; Lieb et al., 2004; Zanarini et al., 2011).
Em relação ao uso de medicamentos pela população estudada verificou-se que apenas
dois participantes não faziam uso de algum psicofármaco à época da avaliação, denotando a
gravidade da população que foi pesquisada, que se encontrava integralmente em regime de
internação psiquiátrica. Esse alto índice de uso de medicamentos pode ser explicado pela
associação do TPB com as inúmeras comorbidades associadas cujo tratamento é,
54
5 Considerações finais
O TPB constitui-se como uma desordem emocional severa que atinge inúmeras áreas
do funcionamento da vida do paciente. É consenso que características do próprio transtorno
tais como a instabilidade emocional, as oscilações de humor, a ideação suicida, as
automutilações, a impulsividade e os estressores ambientais interferem significativamente no
curso e no tratamento dessa patologia. Mesmo com a utilização de instrumentos padronizados,
validados e referenciados mundialmente, ainda se mostra difícil encontrar diferenças entre
indivíduos com TPB, tanto para avaliação do risco de suicídio, quanto para alterações
cognitivas que podem ser essenciais para ajustar tratamentos mais adequados.
Este trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho cognitivo, os níveis de
impulsividade e a ideação suicida de pacientes diagnosticados com TPB com e sem histórico
de tentativas de suicídio. Em relação ao desempenho cognitivo, os resultados demonstraram
que, com relação ao QI total, os valores encontrados não diferiram significativamente entre os
participantes com e sem histórico de tentativas de suicídio, estando o mesmo um pouco mais
baixo no grupo de pacientes com tentativas de suicídio. Em relação à impulsividade, o grupo
de pacientes com tentativa de suicídio mostrou níveis mais elevados na Escala Barratt de
Impulsividade, assim como na Escala de Suicídio de Beck, indicando maior risco tanto para
tentativas como para a efetivação do suicídio.
O que se confirmou neste estudo e que também está amplamente respaldado pela
literatura é a presença de tentativas de suicídio anteriores como um importante indicador para
novas tentativas e para a consumação do próprio suicídio em pacientes com TPB. Este dado é
preocupante, reforça a importância dos estudos e o desafio que representa o tratamento para
estes pacientes. De acordo com Paris (2009), os pacientes com TPB suicidas são instáveis e
inconstantes, e tanto as tentativas quanto a consumação do ato são bastante difíceis de serem
preditas.
As limitações deste estudo centram-se principalmente na questão de que toda a
amostra de pacientes estava internada em unidade psiquiátrica, constituindo assim uma
parcela da população de pacientes com TPB mais grave, necessitando de cuidados intensivos
e apresentando riscos iminentes. O fato de esta amostra também apresentar variadas
comorbidades, como THB, depressão e dependência química, também pode ter influenciado
os resultados, pois algumas dessas patologias apresentam curso grave e deteriorante se
sobrepondo clinicamente ao TPB. A abstinência de substâncias, por exemplo, no caso dos
dependentes químicos e as dificuldades no manejo e na aplicação dos instrumentos em
56
pacientes muito deprimidos ou em exaltação maníaca nos transtornos de humor, podem ter
sido variáveis que interferiram dinamicamente nos resultados.
Em virtude da heterogeneidade, da complexidade de suas manifestações e
especialmente da sua associação com inúmeras comorbidades, o TPB é uma desordem de
personalidade que demanda mais estudos que investiguem aspectos cognitivos, assim como
comportamentais, sociais, familiares, entre outros. Embora exista um número considerável de
estudos e adequada literatura, ainda são escassos estudos latino-americanos e especificamente
brasileiros que investiguem esse transtorno e todos os aspectos que com ele se
interrelacionam. Desta forma, sugere-se novas pesquisas no Brasil, a fim de identificar
maneiras mais adequadas e eficazes de tratar esta parcela da população que se coloca
constantemente em risco tanto para automutilações e tentativas de suicídio, quanto para a
efetivação do próprio suicídio. Devido a variação na intensidade dos déficits cognitivos em
pacientes com TPB, o perfil neuropsicológico pode suportar ações de reabilitação cognitiva,
aprimorando o tratamento desta doença e, em adição, assegurando um prognóstico mais
favorável e melhores índices qualidade de vida nesta população.
57
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63
ANEXOS
64
Às vezes
Raramente/ nunca
Frequentemente
Sempre ou quase
sempre
1. Eu planejo minhas atividades com cuidado
2. Eu faço as coisas sem pensar
3. Eu sou despreocupado, “cuca fresca”
4. Meus pensamentos são rápidos
5. Eu planejo minhas saídas ou passeios com antecedência
6. Eu sou uma pessoa controlada
7. Eu me concentro com facilidade
8. Eu tenho facilidade para economizar dinheiro
9. Eu acho difícil ficar sentado por muito tempo
10. Eu costumo pensar com cuidado em tudo
11. Eu quero ter um trabalho fixo para poder pagar minhas
Despesas
12. Eu falo as coisas sem pensar
13. Eu gosto de ficar pensando sobre problemas
Complicados
14. Eu troco de trabalho frequentemente ou não fico muito
tempo com a mesma atividade (cursos, esportes)
15. Eu faço as coisas no impulso
16. Eu me canso com facilidade tentando resolver problemas
mentalmente, de cabeça
17. Eu me cuido para não ficar doente
18. Eu faço as coisas no momento em que penso
19. Eu tento pensar em todas as possibilidades antes de
tomar uma decisão
20. Eu troco de casa com frequência ou não gosto de viver
no mesmo lugar por muito tempo.
21. Eu compro coisas impulsivamente, sem pensar
22. Eu termino o que começo
23. Eu caminho e me movimento rápido
24. Eu resolvo os problemas com tentativa e erro
25. Eu gasto mais do que ganho ou do que posso
26. Eu falo rápido
27. Enquanto estou pensando um uma coisa, é comum que
outras ideias me venham à cabeça ao mesmo tempo.
28. Eu me interesso mais pelo presente do que pelo futuro
29. Eu me sinto inquieto em aulas ou palestras
30. Eu faço planos para o futuro
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