Araújos e Feitosas Colonizadores Do Alto e Médio Acaraú - F. Araujo Farias

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F. ARAUJO FARIAS

Í1JRAÚJO§ E FIERTO§A§

FUNDAÇÃO CULTURAL DE ·FOIIIMIZA


1995 '
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

' ..
Aos pioneiros, Capitão Dumingos Ferreira Chaves,
Dona Joana Paula Vieira Mimosa, ao seu irmão,
Capitão-Mor José de Araújo Chaves.Capitão-Mor
Antonio de Barros Galvão, Capitão-Mor Bernardino
Gomes Franco (o velho), Silvestre Rodrigues Veras (o
velho), e ao Capitão Luis Vieira de Sousa e sua mulher,
dona Ana Alves Feitosa, primitivos fundadores de
alicerces e fincadore s de estacas e esquecidos
desbravadores dos nossos sertões.

Aos pequeninos Caio e Felipe, lego mais esta dedicação ao trabalho,


extensivo às minhas filhas Fernanda, Socorro e Neide.

Ao meu saudoso tio e padrinho Anastácio de Araújo Costa Sales (neto),


que sábiamente soube amar a sua terra.

Ao meu estimado primo, Dr. José Augusto Rocha Araújo, e ao velho


amigo Frederico Guilherme de H. Rangel.
"ENFIM, A HISTÓRIA CONSTRÓI-SE COM O DOCUMENTO"
Raimundo Girão

"NA ÁRVORE, TUDO O QUE VIRÁ A SER A MADEIRA, A CASCA,


AS FOLHAS, AS FLORES E OS FRUTOS, NÃO PROVÉM SENÃO DA
RAIZ".
Johannes Amós Komensky
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO J\LTO E MÉDIO J\CARAÚ

COPYRIGHT 1995-F. ARAÚJO FARIAS

REVISÃO: Do Autor
CAP A: Do Autor

FUNDAÇÃOCULTURALDEFORTALEZA
Rua Pereira Filgueiras, Nº 2 Centro
Fortaleza - Ceará
CEP 60.000.000

GRÁFICA RAMOS
Rua Dom Lourenço, 14 3 3
Fone: 281.5835 - Fortaleza - Ceará

F224a Farias, F. Araújo


Araújos e Feitosas: Colonizadores
do Alto e Médio Acaraú./F. Araújo
Farias. - Fortaleza: Gráfica Ramos, 1995
194 p.
- Fortaleza: Barraca do Escritor
Cearense, 1995.
1. Genealogia
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

SUMÁRIO

- Introdução ;.................................................................... 4
- Os índios . .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. 7
- Atividade econômica do Ceará colonial 10
- A chegada dos colonizadores do Alto e Médio Acaraú . .. .. 13
- Os Araújos....................................................................................... 21
- Os Feitosas 33
- A freguesia de São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos 41
- Os colonizadores povoam o Alto e Médio Acaraú 46
- Comprovação documental da ocupação colonial . .. .. .. .. .. .. .. 52
- Jaguaribe 54
-Acaraú 58
- Lado sul do rio Acaraú 72
- Lado norte do rio Acaraú . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
- Serras das Matas :.. 125
- Gen. Antonio de Sampaio: reparo histórico-biográfico 141
-As cidades........................................................................................ 147
' - Guaraciaba do Norte........................................................................ 150
- lpu.................................................................................................... 154
- lpueiras .. 159
-Ararendá ··························································································· 171
- Nova Russas ···················································································· 177
- Hidrolândia .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . . .. 186
- Tamboril........................................................................................... 189
- Bibliografia 192
·······················································································
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

INTRODUÇÃO

Todo o povo destas ribeiras e adjacências conhece esta velha máxima:


"É velho como a serra dos Cocos!" Desde criança, sempre a ouvir tal sentença
minha insatisfeita curiosidade ardia em desejo para descobrir que Serra seria
essa. Já em idade escolar indagava dos meus mestres e pessoas idosas, recebendo
a invariável e desconversada respostas de ser uma Serra velha, para os lados
da Serra Grande. Lembro-me que ao ouvir tal máxima meu intelecto infantil
indagava: "E existe serra velha e serra nova?" Anos adiante, algo me dizia que
nesta Serra dos Cocos fatos de muita importância haviam acontecido em época
remota, razão de adjetivarem-na de velha. Muitos anos deixei de lado a Serra
dos Cocos, e como dela diziam fui também ficando velho. Contudo, quis o
destino que eu e a velha serra cruzássemos o mesmo caminho, quando meio
século depois resolvi pesquisar o passado histórico de minha terra, a também
velha Tamboril. Fiquei tal um garimpeiro que encontra uma grande pepita em
sua bateia, quando surpreso e perplexo fui encontrar as raízes históricas de
minha terra fincadas sobre o azul-anil da cordilheira da lbiapaba, também
conhecida por Serra Grande, na decantada Serra dos Cocos.
Então, resolvi cavar as raízes da Serra do Cocos, descobrindo mais tratar-
se do farol civilizatório de uma vastíssima região, colonizada por duas famílias
pioneiras, que plantaram suas sementes do Alto ao Médio Acaraú e regiões
circunvizinhas, numa saga heróica de sacrifícios e pelejas. Corajosamente
adentraram estas ribeiras numa luta épica, enfrentando as duras e ásperas
contradições da natureza hostil do nordeste do Brasil, com especial ênfase no
nosso inóspito sertão semi-árido. Descobri que suas coragens, seus bacamartes
boca-de-sino, granadeiras, rosários, rifles papo-amarelo, responsos a Santo
Antonio, suor, lágrimas e ao preço maior do próprio sangue, fizeram a história
primitiva e colonial do vasto território da pioneira Freguesia de São Gonçalo do
Amarante da Serra dos Cocos. Foram estes os resultados históricos das raízes
que cavei e da árvore que delas adveio, com sua madeira, casca, folhas, flores
e frutos. Não todos bons, nem todos maus.
Também, desta imensa árvore resolvi escrever este trabalho, despido de
quaisquer pretensões de rigidez literária, sendo minha preocupação maior a
busca incessante do antanho. Procurando fazê-lo transparente e isento, desprezei
sempre os velhos chavões de "rezam as crônicas", 'segundo a versão oral" e
outros semelhantes, os quais seguramente deturpam a verdade histórica,
resvalando para as enganosas maldades contidas em muitos escritos de grande
ARAt'r.JOS E Fl-:ITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO 1: Mi'.:1)10 ACARA\:

parte dos cronistas do nosso passado. Meu intuito foi trazer a verdade de longe,
do mais longínquo possível. tendo a nortear-me a bússola válida para o estudo
histórico: o documento.
Vários foram os projetos e formas que idealizei para a concepção deste
estudo, havendo passagens de quase desistência, tamanha vi a magnitude do
desafio que me aguardava. Afoito terçei armas. e sem contar com qualquer ajuda
mergulhei num extenso e intensivo trabalho de pesquisa. resolvido a não deixar
no eterno esquecimento os feitos históricos destes pioneiros.
Como natural do mais longínquo e primitivo povoado sertanejo da
Freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos- Tarnboril-, iniciei por pesquisar
sobre a ocupação colonial de seu território.culminando com a constatação óbvia:
toda a contextura do primitivo território de Tamboril. incluindo parte dos vizinhos
municípios de Independência. Crateús, Nova Russas, Monsenhor Tabosa,
H idrolând ia e Santa Quitéria - grande parte desmembrados do primitivo território
de Tarnboril-, foram terras apossadas. colonizadas e povoadas por membros das
famílias Araújo e Feitosa. Não foi pequeno o esfôrço que desenvolvi para uma
comprovação documental desta realidade. pois quase duas centenas de imóveis
rurais foram estudados, sendo a quase totalidade constituída de imensos
latifúndios. inclusive com o indispensável relato genealógico de seus primitivos
colonos. Comprovado ficou. que estando tão distante região em poder colonial
dos descendentes dos velhos sesmciros, as demais terras já antes por eles
colonizadas estavam também sob o domínio de outros descendentes. filhos destes
e demais parentela. Por outro lado, cm pesquisa paralela efetuada em obras
primárias e bibliográficas, chegou-me a certeza de haverem sido membros destas
famílias os primitivos colonizadores dos extensos territórios onde hoje se erguem
as cidades situadas na contextura territorial da remota freguesia. e que são
objeto de menção neste trabalho. Portanto, repito. para uma comprovação
definitiva e inconteste restou-me como alternativa única o detalhamento minucioso
dos imóv~is rurais colonizados nesta distante região.
Numa análise apressada, pode parecer ao leitor enfadonha a leitura de
tantas descrições imobiliárias. No entanto nos relatos genealógicos estão contidas
muitas passagens históricas interessantes e até aqui desconhecidas. que tratam
não só da vida dos colonos. mas, também de ocorrências regionais.
Muitas constatações fiz no decurso das pesquisas para este estudo. sempre
focalizadas cm provas documentais. como a parentela entre Araújos e Feitosas
com os Ferre iras. detendo estes a primazia de antecederem àqueles na chegada
às terras do "Siará Grande". Numa simples análise das crônicas da época,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

descerrei o véu histórico que mascarou a vilania de um mestiço de germânico e


flamengo - Oeynhausen e Grawenburg -, que trazia os prenomes lusos de João
Carlos Augusto, odiemo martirizante de inocentes. Encontrei satânicas tramas,
urdidas nos bastidores da politicagem imperial com o fito de lançar irmãos contra
irmãos, além de dirimir a poeira secular que maculava o passado genealógico do
maior Soldado da História Militar do Brasil.
Finalmente, pretendo despertar nos eruditos historiadores das cidades
mencionadas neste trabalho o que diz o Pe. F. Sadoc de Araújo, na também
introdução do seu livro RAIZES PORTUGUESAS DO VALE DO ACARAÚ
- GRECEL - Fortaleza - 1991 - fl. 09: "O certo é que a História do Ceará não
estará escrita enquanto escrita não estiver a história particular de cada um dos
seus municípios ( sic)".
Algodões, dezembro, 24, 1994.

Fernando Araújo Farias

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ARAÚJOS li FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

,.
OSINDIOS

O mais sério obstáculo encontrado pelos portugueses, ao descerem em


nossas praias com o propósito de conquista e colonização, foram os índios.
Senhores absolutos das terras, livres, desconhecedores das leis morais dos
brancos e sem maiores obstáculos legais, viram os nativos na pessoa do branco,
um inimigo. Este reconhecimento tomou maior amplitude, quando os colonos
pretenderam transformar-lhes em escravos, no início da exploração da agricultura
cana vieira.
Com maior precisão, assim nos conta o historiador: "Enquanto o colono
portuguese exigiu do índio que abatesse árvores, transportasse toros de pau-
brasil para seus navios, caçasse e lutasse contra as tribos inimigas, a escravidão
índigena prosperou, pois não se criaram propriamente modificações no modus
vi vendi do selvagem. Quando, porém, pretendeu transformar o índio em escravo
agrícola - plantador de cana-de-açúcar, segregado nos engenhos, sem o estímulo
da caça, da pesca, da mata e da luta - o colono compreendeu que pouco ou
nada conseguiria (sic)". A. SOUTO MAIOR - História do Brasil - Companhia
Editora Nacional - São Paulo - 1966 - fl. 44.
Quando foi iniciada a difinitiva colonização d,) Ceará por Martim Soares
Moreno, no ano de 1611, depois de malogradas as iniciativas de Pero Coelho de
Sousa - 1603 - , e a dos Jesuítas Francisco Pinto e Luis Figueira - 1607 - . já
mais de um século fazia da chegada da esquadra de Cabral. Portanto, também
havia quase um século que se tinha iniciado em Pernambuco e Bahia o "ciclo
do açúcar:", pois, em 1526 a alfândega de Lisboa já cobrava impostos de entrada
ao açúcar brasileiro. Sobre a não adaptação do índio à agricultura cana vieira, é
o mesmo historiador que nos diz: "Não servindo o índio para o trabalho rotineiro
da cana-de-açúcar, desempenhou, contudo, um papel de destaque no Brasil
colonial, como inimigo, aliado ou escravo. Foi o guia, o canoeiro, o caçador e o
guerreiro dos bandeirantes. Na língua, deixou-nos quase toda nossa toponimia
e uma infinidade de termos designativos de alimentos, árvores e animais (sic)",
obra citada, fl.44 ).
Por conseguinte, com o início da colonização do Ceará, o índio nordestino
já estava habituado a fugir dos engenhos de açúcar, procurando seminômade
interiorizar-se. A primeira tentativa colonizadora dos índios no Ceará, foi a que
levaram a termo os padres jesuítas Francisco Pinto e Luis Figueira, atrás
referidos, na Serra da lbiapaba, quando perdeu a vida o primeiro. Chegou aqui

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Martim Soares Moreno em 1611, logo percebeu que nossas terras não se
prestavam ao cultivo da cana-de-açúcar, provando isto, quando aqui chegou de
regresso da Europa, trazendo vacas, cavalos, e sementes diversas. No entanto,
o índio cearense resistiu ao avanço do branco, merecendo destaque o seguinte
registro: "Após um curto período de acalmia, a luta entre os brancos e os índios
prosseguiu cada vez mais acesa e cruenta. Em 1694 novamente a rebelião
levara com desusada intensidade em tôda ribeira do Jaguaribe e regiões
circunvizinhas. Cientificado dos fatos por carta de 8 de março de 1694, determina
D. Pedro li (Rei de Portugal) a Caetano de Melo e Castro, Governador de
Pernambuco, que, à vista do estado ruinoso em que se achavam as capitanias
do Rio Grande do Norte e Ceará, fizesse doação das terras fronteiras aos
aborígenas a pessoas que fôssem capazes de povoá-las e irnperdir-lhe o passo.
No caso de pretenderem alargar a área de suas sangrentas tropelias, devia o
Governador estabelecer em Açu (Rio Grande do Norte), Jaguaribe e Piranhas
(Crateús) seis aldeias de índios domésticos de "toda a segurança", duas em
cada ribeira. Seriam providas com cem casais de nativos, vinte soldados pagos
e respectivo cabo. A 26 de junho de 1694 Fernão Carrilho, Capitão-Mor do
Ceará no impedimento de Pedro Lelou, tendo obtido permissão para dar caça
ao gentios sublevados, despachava contra os Paiacus uma companhia de
infantaria, sob o comando do soldado Francisco Dias Carvalho, provido no pôsto
de Capitão. Batidos, os índios propuseram, pouco depois, submeter-se aos
portugueses. Anuiu Fernão Carrilho ao pedido, mas impôs-lhes, como castigo
de sua longa vida de rapinagem, a obrigação de irem combater os Icós que se
achavam em pé-de-guerra (sic)". Revista do Instituto do Ceará - Tomo LXXV
- Ano 1961 - tl.207. No entanto, fazendo uma cronologia de fatos no livro
CRATEÚS, MEUS AVÓS, assim nos informa o historiador Raimundo Raul
Correia Lima, tl. 157: "1713 - dizia-se que os índios que habitavam às margens
do Rio Poty foram os que mais resistiram aos conquistadores do território
piauiense, ao tempo de comandados por um índio domesticado (ver referências
a Ayres de Casal). 1717 - os índios Jucás foram, temporariamente administrados
pelo Cel. Gregório Martins Chaves. Que visitou terras de Crateús, à frente dos
índios que administrava (sic)".
Fizemos esta análise, com intuito de situar o leitor na conquista do Ceará
colonial. No entanto, como nosso estudo tem por objetivo a região da Serra da
lbiapaba, mais especificamente a denominada Serra dos Cocos: envolvendo os
sertões do centro-oeste que ficavam a leste da cordilheira da Serra Grande,
nela já não mais existiam divergências marcantes entre o índio e o branco
colonizador. Como atrás nos referimos, foi na lbiapaba a tentativa colonizadora

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

dos gentios, acrescendo a informação que nos presta o historiador, nestes termos:
"Desde 1656, com algumas interrupções, os Jesuítas misionavam os índios
tabajaras (sic)". Na mesma página: "No ano de 1722, a junta das Missões da
Diocese de Pernambuco resolveu criar o Curato da Ribeira do Acaraú para
catequizar os índios já aldeados. O Curato compreendia trê- missões: a dos
Tremembés do Aracatimirim, sediada na Capela de Nossa Senhora da
Conceição de Almofala, entregue ao Pe. José Borges Novais, a dos Reriús,
sediada na Capela de Nossa da Conceição da Meruoca, entregue ao Pe. José
Teixeira de Morais e a dos aconguaçus, sediada na Capela de Santo Antonio de
lbuaçu, entregue ao Pe. Antonio de Sousa Leal. A jurisdição dos jesuítas, na
Serra de Ibiapaba, estendia-se até a margem do rio Inhuçu. Para além, era a
Serra dos Cocos, sem qualquer capela, mas sujeita diretamente à autoridade do
Cura da Ribeira do Acaraú (sic)". História Religiosa de Guaraciaba do Norte
Pe. F. Sadoc de Araújo - IOCE - Fortaleza - 1988 - fl.33.
Portanto, recebendo presença do homem civilizado deste 1656, os tabajaras
já haviam absorvido os brancos em seu habitat, o que completa a informação
contida à fl. 27 do livro GENEALOGIA E HISTÓRICO DE CRATHEÚS, de
Ismar de Melo Torres: "Em 20 de abril de 1740, Carta do Pe. Manoel de Matos,
visitador das missões do Ceará, dirigida a EL Rei de Portugal, na qual dizia que
a missão da Ibiapaba era a mais importante do B~asil, pelas conquistas feitas
na capitania, no Piauí e Paranaguá e no estado do Maranhão (sic)", Desta
forma, havia muitos anos já era reconhecido o aldeamento pacífico dos tabajaras
na lbiapaba, compreendendo a parte desta cordilheira denominada Serra dos
Cocos.
Antecedendo a informação do Pe. Manoel de Matos de 20 de abril de
1740, prova mais concreta da integração daqueles índios à comunidade branca,
vamos encontrar documentada na distribuição de sesmarias àqueles índios, como
as seguintes : "Vol. 6º, nº 377, em data de O 1.02.1718 - área 2,5 por 0,5. Gaspar
Capuranha - índio tabajara. Entre a serra do Guajugá e o caminho que vai ao
Acaraú descobriu uni sítio (sic)", vindo logo a seguir: "Vol. 6º, nº 477, em data
de 26.08.1720 - área 3x I e 3x 1. Requeridas por d. José de Vasconcelos e seu
filho Baltazar de Vasconcelos (índios tabajaras e principais de sua gente).
Descobriram o sítio e lugar chamado Jopepaba em terra devoluta (sic)"-
SESMARIAS CEARENSE - D I O - Fortaleza - 1971.
Desta forma, não teve nosso colono branco chegando à região da Serra
dos Cocos, na lbiapaba, lutas de porte relevante com os índios, sendo o que
constatamos ao cabo de inúmeras pesquisas realizadas nesta direção. Inclusive

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

nos livros mais remotos da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos,
sequer figuravam nos atos batismais com a indicação de indígenas, exceção
feita a apenas dois nascituros, oriundos do Maranhão e cá trazidos pelo Cel.
Diogo Lopes de Araújo Sales.
A ,

ATIVIDADE ECONOMICA DO CEARA COLONIAL


Como já foi dito no capítulo precedente, logo nossos colonizadores
verificaram que as terras cearenses não se prestavam à exploração da cana-de-
açúcar, tendo que volver seus olhos na direção da atividade pecuária, menos
dispendiosa de que o grande trabalho dos canaviais, onde a mão-de-obra humana
era pouco requisitada.
A guerra e ocupação holandesa, que de 14 de fevereiro de 1630 a 23 de
janeiro de 1654, especialmente em Pernambuco e na Bahia, teve a desastrosa
consequência de serem arrazados engenhos e queimados os canaviais, pondo
em pânico a população, quer do litoral como do interior. Estes, temerosos de
serem alvos do inimigo próximo, demandaram a procura de lugares mais seguros,
onde não lhes atribulasse a sanha invasora.
Sem dúvida, foi esta uma das grandes causas que fomentaram o
povoamento dos nossos sertões, levando ao incremento da pecuária e surgimento
de fazendas. Fazendo o intróito do livro SESMARIAS CEARENSES - D10 -
Fortaleza - 1971, assim diz o eminente Raimundo Girão: "Com base estrutural
na exploração dos canaviais, a riqueza econômica do país sul-americano de
Portugal mantinha-se, absorventemente, na chamada econômica colonialista
ou de exportação de produtos do litoral - os naturais e os industrializados, alheios
os donos de engenhos à procura das terras no interior, pois se os construíssem
a maior distância do oceano, sair-lhes-iam os efeitos muito mais onerosos e
consequentemente não compensadora a produção. Como salienta Capistrano
de Abreu, não poderiam as propriedades do sertão competir com os fazendeiros
mais vizinhos do mar, cujo produto não se agravava com as despesas de transporte
(Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil, Rio, Livraria Briguiet, 1960, p.
88). A dcsr- ito disso, não tardou que os indivíduos menos presos a esta
contingente -ituação se aventurassem a entrar pela hinterlândia em busca de
outros meios de enriquecimento, e isto sugeriu maior interesse pela aquisição
de sesmarias. Mas, não lhes sendo fácil nem retribuitiva a implantação do trabalho
agrícola, por motivos vários, a solução estaria na criação dos gados, dada a
ótima natureza dos campos de pastagens. Seria o boi o grande fator dessa nova

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

economia, porque, ao mesmo passo, valia, vivo, como dinheiro, trocado por
mercadorias e bens, e como força de tração, para tanger as almanjarras dos
engenhos e puxar os carros-de-boi, que eram caminhões da época. Valia pela
carne, como alimento, e valia por sua pele, matéria-prima de que, em cru ou
transformada nas solas, se utilizou o sertanejo para o preparo da roupa-de-
vaqueiro e de quantos arreios, móveis e utensílios exigia a vida da vaquerice,
que caracterizaria a tão falada civilização nordestina do couro (sic)". Esqueceu
o emiente historiador de fazer menção ao leite, do qual, além da alimentação nas
fazendas derivavam muitos outros produtos alimentícios.
De outra parte, assim narra A. Souto Maior a expansão da pecuária
nordestina: "Foi a criação de gado que nos deu a segunda dimensão da terra
brasileira", na feliz expressão de Nélson Wemeck Sodré, interiorizando o homem
branco, antes mesmo da mineração. No Nordeste a pecuária realizou o milagre
de abastecer os núcleos de povoação situados na costa, desde o Maranhão até a
Bahia. Através de um polígono sêco, com poucos rios, de vegetação
predominantemente arbustiva e sobretudo cactácea, irradiou-se a pecuária para
diversas regiões partindo de dois núcleos especiais: Pernambuco e Bahia. Os
maiores criadores de gado na Bahia eram as famílias Garcia d' Arvila e Guedes
de Brito. A conquista de Sergipe em fins do século XVI, dera aos baianos uma
imensa área, logo distribuída em sesmarias e utilizada para criação de gado.
Embora os índios muitas vezes reagissem aos primeiros contatos com o branco
que lhes invadia as terras para se estabelecer com fazendas criatórias,
posteriormente adaptaram-se bem ao trabalho da pecuária, mais livre e mais de
acôrdo com suas tradições nômades do que a lavoura canavieira. Da Bahia
espalharam-se fazendas de criação em direção ao S. Francisco, povoando-se,
no século XVII, seu curso médio. Pouco a pouco o grande rio enche-se de
fazendas, estabelecidas por baianos, que se tornaram tão numerosas a ponto de
ser o S. Francisco durante muitos anos, chamado de "Rio dos Currais". A
expansão baiana ocupou o que Capistrano denominou "sertão de dentro" (atual
território do Estado da Bahia), atingindo a margem esquerda do S. Francisco
(que pertencia a Pernambuco), alcançando posteriormente o sul do Piauí, do
Maranhão e do Ceará, confluindo-se aí com a corrente de povoamento vinda
de Pernambuco. De Pernambuco saía o gado que iria reproduzir-se nas fazendas
da Paraíba e do Rio Grande do Norte. As fazendas estabeleciam-se
preferencialmente às margens dos rios, razão pela qual é tão comum o nome
"ribeira", na região nordestina (sic)". Obra citada, fl. 93.
No Ceará, a pecuária teve um incremento de tal importância, que deu
motivo ao surgimento de uma raça rústica crioula, nativa dos nossos sertões,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

como informa-nos outro historiador: "A povoação (Caiçara, depois Sobral)


expande-se rapidamente, cresce, avoluma-se, desenvolve-se torna-se centro
de grande comércio, atraindo ao seio as populações adventícias de procedências
várias, maxime portuguezas e mestiças vindas directamente do Reino ou das
Capitanias limitrophes, principalmente de Pernambuco e Rio Grande do Norte,
que aqui encontravam meios certos e seguros de se enriquecerem dedicando-
se à criação de gados mais facil, productiva e renumeradora na Ribeira do
Acaraú do que em qualquer outra parte. Dali a origem do nome "CARACÚ"
dado à raça bovina, que aqui se fez, disseminando-se, em breve trecho, pelos
dilatados sertões brasileiros, e que pela sua grande capacidade de resistência,
belleza de formas, productividade de leite e de saborosa carne e ainda pela sua
rusticidade é preferida por muitos a quantas raças exoticas vindas ultimamente
do extrangeiro. Corroborando o affirmado acima, ouçamos o que, a pretexto,
nos diz o Dr. Theodoro Sampaio, Engenheiro Sanitário de S. Paulo, sobre: a
origem d' "O gado Caracú", artigo publicado no Jornal do Commérci@ do Rio:
"A leitura do bel lo trabalho do Dr. Firmino Rodrigues Silva Júnior, acerca do
gado caracú, me sugere as seguintes observações relativas à origem ou
procedencia do nome dado a essa variedade de gado bovino, que tam eminentes
qualidades revela nos claros e ridentes geraes do Estado de Minas, como nos
campos do sul, de São Paulo ao Rio Grande. Parece-me não ser preciso viajar
à Ásia, percorrer as costas da Índia para descobrir, corno o Dr. Firmino pretende,
na corruptela do nome "Calicut" a origem do nome caracú", O problema parece-
m e, se não me engano, muito mais facil. No Ceará, terra votada à criação de
gado, desde os primeiros annos de sua conquista pelos Portuguezes ao Valentes
Potyguaras, está a região que, com toda a probalidade, servia de habitat a essa
especie bovina, que trez seculos de adaptação tornaram excellente. Quem
conhece a história da conquista das costas do norte do Brasil no seculo XVII e
a invasão hollandeza nessa parte do Paiz, convirá com o Dr. Joaquim Carlos
Travasso que com a introducção de algumas raças de procedencia flamenga
que se cruzaram com as introduzidas pelos os Portuguezes e Hespanhóes, já
então aclimadas, veiu o excelente produto que teve o nome CARACÚ, nome
que aliás o mesmo Travesso não sabe explicar. O nome "CARACÚ" é, de
facto, uma corruptela, não do nome daquella cidade indiana tam celebre a epoca
dos "Luziadas", mas do vocabulo tupy "Acarahú". de que a ultima partícula
fortemente aspirada, como a pronunciava o gentio potyguara, se corrompeu em
labios portuguezes, transformando "Acarahú"em "Acaracú", depois o vulgo
ignaro em "Caracú", como ainda hoje se diz. Ainda a propósito da procedencia
do ·-e ARACÚ" o illustre agronomo Dr. Eurico Dias Metins tractando cio
problema zootechnico do Ceará deixa pensar que nosso gado creolo, o gado

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E M(DIO ACARAt':

nacional por excellencia - o ''Caracú''- é descendente de raças diversas, entre


outras - ibéricas com a aquitanica pela variedade lirnosina, raças que tanto
concorreram para a formação de nossos rebanhos (sic ). Pe. Fortunado Alves
Linhares - Revista Trimensal lnst. do Ceará - Tomo XXXVI - Ano 1922 - fls.
2611263 - conservada a grafia original.
É conveniente lembrarmos, que há o registro histórico a que atrás já nos
referimos de que Martim Soares Moreno, ao regressar da Europa em 1621, com
a boa visão de já conhecedor de nossas terras trouxe consigo cavalos, vacas
(naturalmente reprodutores) e semente diversas.

A CHEGADA DOS COLONIZADORES DO ALTO E


DO MÉDIO ACARAÚ
Embora haja concomitância na doação das capitanias hereditárias entre
a principal do Sul - São Vicente-, e a de Pernambuco, foi nesta que teve real
começo-imediato da colonização do Brasil. Tendo como donatário uma pessoa
nobre e experimentada - Duarte Coelhc -. com qualificações de diplomata, alto
comerciante de especiarias da Índia, técnico militar e comandante de uma antiga
expedição às costas do Brasil em 1531. tomou posse da capitania em 1534,
impondo-lhe rápido progresso. A corôa portuguesa tinha tal predileção pelo
donatário Duarte Coelho. que mandou-lhe escolher o nome da capitania entre
Pernambuco ou Nova Lusitânia, ou seja, "nova terra portuguesa".
Inicialmente. procurou povoá-la de portugueses de linhagem nobre,
considerando os deportados pior que a peste, como diz em carta dirigida ao Rei
D. João Ili, em data de 20 de dezembro de 1548, nestes termos: "Já por três
vezes tenho escrito dano conta a V. A., acêrca dos degredados e nisto, Senhor,
sempre digo, por mim e minha terra, quão poucos serviços de Deus e de V. A.
e por bem momento desta capitania mandar tais degredados como de dez anos
para cá. me mandão. Creia V. A. que são os piores na terra do que a peste, pelo
que pessoa V. A .. pelo amor de Deus tal peçonha não me mande (sic)", OS
PRIMITIVOS COLONIZADORES NORDESTINOS E SEUS
DESCENDENTES - Carlos Xavier Paes Barreto - Editora Melso - Rio - 1960 -
fl. 17.
A economia inicial desta capitania teve sua sustentação na exploração
canavieira. Com o declínio desta atividade surgiu a exploração pastoril, com
especial destaque para a pecuária bovina, espalhou-se pelas províncias vizinhas
dependentes da capitania pernambucana, e todo o Nordeste.

13
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

A razão que nos moveu a este rápido comentário sobre a capitania de


Pernambuco, é que de lá procederam os colonizadores da vasta freguesia da
Serra dos Cocos e Alto e Médio Acaraú, tema central de estudo deste trabalho.
Já algures dissemos, que as concessões sesmeiras foram o elixir
estimulante da ocupação das nossas terras interiores, sendo através destes sesmos
que travamos conhecimento com nossos conquistadores e colonizadores.
As primeiras concessões deferidas sobre a serra da lbiapaba são bastante
remotas. Isto é o que nos informa o livro SESMARIAS CEARENSE,já referido,
no comento à concessão deferida ao Pe. Acenso Gago, Superior das Missões da
lbiapaba - certamente jesuíta-, no Vol. 5°, nº 344, em data de 11.12.1708. assim
dita: "Em cima da serra, além da tera lavradia que se mediu para os índios, há
uns tabuleiros· de pastos agrestes que podem criar gados (sic )". Grafia contida
no livro SESMARIAS CEARENSES- D I O- FORTALEZA- 1971. Contudo, o
pioneiro portugues a requerer terras sobre a lbiapaba foi Rodrigo da Costa
Araújo, realmente colono. constante do Vol. 4°, nº 199. datada de 24.01.1707.
Do mesmo modo, foi êle uns dos pioneiros a requerer no vale Acaraú. o que
nos mostra o Vol. 3°, nº 172, em data 13.11.1706. em conjunto com mais quatro
requerentes. Neste mesmo dia, era feita concessão também a Félix da Cunha
Linhares e mais quatro companheiros, fazendo ver o Vol. 3º. nº 171, na mesma
data de 13.11.1706.
No livro Raízes Portuguesas do Vale do Acaraú, de autoria do eminente
historiador Pe. Sadoc. de Araújo - Sobral - 1992. é feita as tls. 185/ 199 uma
relação de 120 portugueses que teriam emigrado para a região sobralense do
Acaraú, nela estando a seguinte menção: ·· 1 1-l - Rodrigo da Costa Araújo. nat.
da fre. de Ferreira. cone. de Paços do Ferreira. e.e Juliana Ferreira Barros, fillha
de Matias Vital de Negreiros e Clara de Araújo Sarnpaio rsic)", Lendo atentamente
a obra. que é um excelente trabalho sobre as origens das famílias sobralenses,
nada encontramos referente a Rodrigo da Costa Araújo. que no requerimento
da sesmaria do Acaraú, é dado como proveniente de Pernambuco.
Contudo, a verdadeira colonização branca na lbiapaba. ao sul do rio Inhuçu,
foi a concessão feita a Domingos Ferreira Chaves, com informação mais completa
prestada pelo rnesmo historiador: '"O SÍTIO BURITI. O primeiro sítio de lavoura
e pecuária organizado na região do Campo Grande (a mesma da Serra dos
Cocos) foi de Domingos Ferreira Chaves e sua mulher Maria Dias. Este foi o
primeiro casal branco, de que se tem conhecimento, a fixar residencia e manter
liderança naquelas cercanias semidesertas. A 6 de dezembro de 1718 conseguiu
sesmaria, concedida pelo capitão-mor do Ceará. Salvador Alves da Silva,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

medindo três léguas de comprimento por uma de largo, pegando das cabeceiras
do Riachão (sítio Oiteiro ), afluente do Jaibaras, buscando as cabeceiras do
riacho Juré (sítio Potós). Na petição diz ele ter descoberto os olhos-dágua que
o gentio chama Guinoti (sic), com nascentes no pé da lbiapaba, buscando as
cabeceiras do rio Juré. Diz mais que tais terras foram pedidas, há mais de dez
anos, pelo defunto Manoel Gomes de Oliveira que nunca as povou e ficam nas
testadas de Francisco Pereira Chaves. (2). Aí. nessa extrema sesmaria, fundou
o sítio Buriti (moriti) que se tornou o centro das atividades, também religiosas,
da então população dispersa. (sic )". História Religiosa de Guaraciaba do Norte
- Pe. F. Sadoc. de Araújo - IOCE - 1988 - tl.23.
Chamamos a especial atenção do leitor para os apelidos ARAÚJO,
encontrado em Rodrigo da Costa Araújo, e FERREIRA. verificados em Juliana
Ferreira Barros. mulher de Rodrigo, e em Domingos Ferreira Chaves, os quais
serão objeto de estudo em capítulo adiante.
No entanto, a pedra fundamental da colonização da lbiapaba - Serra dos
Cocos - como asim de todo o Alto e Médio Acaraú, só teve concretização com a
concessão de uma das maiores sesmarias do período colonial do Ceará, feita em
17.07.1722. Teve uma extensão de 24 léguas - ou 144 kms. - que continua a ser
um documento desconhecido de quantos habitam estas ribeiras, inclusive de
alguns cronistas que escreveram sobre esta região, razão que nos motiva a
transcrevê-lo obedecendo a grafia original:" Nº 39. Registro da data e sesmaria
do Coronel Francisco Alves Feitosa e mais companheiros, de uma sorte de terras
de três léguas, para cada um. nas cabeceiras do rio Acarahú, concedida pelo
Capitão Mor Manoel Francez, em 17 de julho de 1722, das páginas 28 a 29 do
livro nº 1 O das Sesmarias. Rezito de datta, e Sesmaria do Coronel Francisco
Alves Feitosa, e mais companheiros. Manoel Francez Capitão Mayor do Ciará
grande a cujo cargo está o governo delta, por Sua Magestade que Deos guarde
ettº. Fasso saber aos que esta carta de datta. e Sismaria. virem que a mim me
Representarão em sua petição por escrito. o Coronel Francisco Alves Feitosa. o
Comissário geral Lourenço Alves Feitosa. o Capitão Mór Joseph de Araújo
Chaves, o Capitão Luiz Vieira de Sousa, o Capitão Antonio Rodrigues Vidal, o
thenente João da Maya de Cordoa, e o Coronel Lourenço Alves penedo e Rocha,
e o Capitão Manoel Gomes Leitão; cujo theor he o seguinte. Dizem o Coronel
Francisco Alves Feitosa, e o Comissário geral Lourenço Alves Feitosa. o Capitão
Mór Joseph de Araújo Chaves. o Capitão Luiz Vieira de Sousa, o Capitão
Antonio Roiz Vidal, e o thenente João da Maya de Cordoa, o Coronel Lourenço
Alves Penedo e Rocha. o Capitão Manoel Gomes Leitão, que elles tem seus
gados vacuns e Cavallares, e não tem terras bastantes para os criar, e como

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

agora tem descuberto, terras devoluto e desaproveitadas, nas cabesseiras da


Ribeira do Caracú da barra do Riacho pera sima, pretendem elles suplicantes
pera cada hum, tres legoas de comprido, húa de largo, meya legua para cada
banda, pegando dos últimos providos pera sirna, donde acharem mais capacidades
pera se poderem encher, em agoas vertentes, e Riachos e Lagoas, que se
acharem pertencer a Capitania do Siará Grande athe Serem cheios os ditos
erêos pelo que; pedem a vossa merce que lhe faça merce mandar passar carta
de datta e Sismaria das terras que pedem, em nome de Sua Majestade que
Deos guarde, pera Sy, e seus erdeiros, e recebera merce// Despacho// Informe
o escrivão das dattas, dezassete de julho de mil, e setecentos, e vinte, e dous
annos// Rubrica// lnformaçam// Senhor Capitão Mayor, como as terras que os
Suplicantes pedem as descubriram e estão devoluto, e desaproveitadas, vossa
merce lhe deve deferir como for servido, lcó dezassete de julho de mil, e
setecentos e vinte, e dous annos// Simão gonçalves de Souza// Concedo aos
Suplicantes as terras que pedem pera se encherem das suas tres Legoas cada
hú em nome de Sua Majestade que Deos guarde não prejudicando a tersseiro .
dezassete de julho de 111 i 1. e Setecentos e vinte, e dous annos/ / Rubrica// o que:
visto por mim seu Requerimento, feitas as deligencias necessarias: Hey por
bem de conseder, como pella prezente o fasso em nome de sua Majestade as
terras que os suplicantes pedem, e confrontam, em sua petiçam não prejudicando
a tersseiro, pera Sy, e seus erdeiros asendentes, e dessendentes com todas as
agoas, campos, mattos, testadas, lougradouros . e mais uteis que nellas
ouverern.das quais pagaram dizimo a Deos dos frutos que nellas ouver, guardando
em tudo as ordens de Sua Majestade e por ellas darem caminho livres ao
Concelho, para pontes, fontes, e pedreiras, pello que ordeno a todos os ofeciais
e Ministros da fazenda, a que esta minha carta datta e Sismaria, deva e haja de
pertençer, lhe dem posse Real afectiva e actuai na forma costumada, e por
firmeza de tudo mandey passar a prezente por mim asignada com o Signete de
minhas armas que se guardara e cumprira tão pontual, e inteiramente como
nella se contem, Sem duvida, embargo, ou contradição algúa, e se Rezistara,
nos livros de dattas desta Capitania, e nos mais a que tocar: dada nesta matriz
de lcó aos dezassete dias do mez de julho de mil e setecentos e vinte e dous
annos, e eu Simão gonçalves de souza, escrivão das dattas a Rezistey: estava o
Sei lo: Manoel Françes (assignado). Simão gls. de souza (sic)."
Dos requerentes desta extensa sesmaria, devem merecer destaque os
filhos do portugues Antonio de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves,
bem assim os filhos do também portugues João Alves Feitosa, e.e. Ana Gomes
Vieira. As mulheres destes dois portugueses - Antonio e .João - eram irmãs,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

filhas do Cel. Manoel Martins Chaves ( 1 º), habitante em Penedo, Alagoas,


onde também eram sesmeiros seus genros. Os primeiros, filhos do portugues
Antonio de Sousa Carvalhedo e Nazária Ferreira Chaves, foram: o Capitão-
Mor José de Araújo Chaves ( 1 º),das lpueiras, e.e. Luiza de Matos Vasconcelos,
e sua irmã Joana ?aula Vieira Mimosa, c.c.,o sesmeiro Capitão Luis Vieira de
Sousa. Deve ser esclarecido que provinham do baixo São Francisco, todos
casados quandos aqui chegaram.
De outra parte, todos já eram sesmeiros no rio Jaguaribe, bacia para onde
afluíram os primeiros conquistadores do Ceará interior, em virtude de ser a mais
úmida e extensa, como também por sua proximidade das regiões de onde
provinham - Pernambuco e São Francisco-, ocorrendo suas prenetações pelo
sul da província, como atrás informou o historiador A. Souto Maior.
É documentalmente comprovado, que dos oito sesmeiros que fizeram
parte do requerimento desta imensa extensão de terras, apenas os filhos do
portugues Antonio de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, fixaram
residencia nestas ribeiras, sendo eles o Capitão-Mor José de Araújo Chaves
( 1 º ) das lpueiras, e.e. Luiza de Matos Vasconcelos, e a irmã Joana Paula
Vieira Mimosa, e.e. o sesmeiroCapitão Luis Vieiras de Sousa(!º), que fundaram
a fazenda Ipú. Posteriormente, a eles veio juntar-se o irmão, Cel. João Ferreira
Chaves, e.e. a sobrinha Ana Gonçalves Vieira, filha do Capitão Luis de Sousa
e Joana Paula Vieira Mimosa.
Pelos fatos que adiante analizaremos, merece especial atenção a chegada
aqui do último dos irmãos, no caso o Cel. João Ferreira Chaves, a quem foi
concedida uma sesmaria sobre a lbiapaba - Serra dos Cocos-, constante do
Vol. 6°, nº 498, em data de 05.02.1746, assim dita; "Aí está de posse há 11 anos.
Pede para confirmar em nome seu as terras acima ditas do sítio Canindé, 1/5
pelo riacho das Eguas acima, e 1/5 pelo riacho abaixo. Comprou a Domingos
Ferreira Chaves um sítio de 5 léguas na Serra dos Cocos. no riacho das
Macambiras que corre de norte a sul e faz barra no rio do Jacaré, da parte do
poente (sic )."Esta grafia é a constante do livro SESMARIAS, atrás referido.
Inúmeras evidências históricas-documentais, indicam uma verdade assaz
inconteste, e que procuraremos provar em capítulos seguintes, de que o Cel.
Manoel Martins Chaves ( 1 º),de Penedo, Alagoas, cuja consorte desconhecemos
o nome. tenha deixado uma insignificante prole de apenas duas filhas: Nazária
Ferreira Chaves, e.e. Antonio de Souza Carvalhedo, e Ana Gomes Vieira, e.e.
João Alves Feitosa. Seria um comportamento inusitado, pois nenhum documento
coevo aponta a existencia de uma família de tão pequena descendência,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Comportamento não usado entre os casais da época, inclusive os dos nossos


dias. Leonardo Feitosa, ao publicar o Tratado Genealógico da Família Feitosa o
fez nos idos de 1952, não dispondo de meios para registrar a descendência do
velho lusitano, sesmeiro no Rio São Francisco, em região distante, cuja
documentação histórico-genealógica, se houvesse, demoraria nos arquivos da
antiga Capitania de Pernambuco, a cujo território pertencia Penedo, Alagoas.
local onde tinha moradia o velho Cel. Manoel Martins Chaves ( 1 ° ). Por outro
lado, sabemos das grandes dificuldades com que contou o paciente Leonardo
na elaboração de seu pioneiro trabalho, tendo, inclusive, como trunfo maior o
fato de ser funcionário dos antigos Correios e Telégrafos. Ora, se a busca
documental acarreta sérias dificuldades ao historiador honesto na consumação
de um trabalho. idéia façamos das de que foi padecente Leonardo Feitosa.
As ocorrências históricas, que têm como único agente o homem, não são
fruto do acaso e imprevisto, pois é elementar em qualquer compêndio de seu
estudo esta primeira informação ,h) estudante, desejoso de conhecer a explicação
dos fatos: quando? onde? corno? porque? Estas obrigatórias interrogações
precedem a posterior explicação. Os acontecimentos históricos não podem ocorrer
aleatoriamente, pois não teria: 1 a praticá-los o intelecto do racional. Mesmo
antes da descoberta da escrita, o homem deixou suas pegadas na conquista da
terra, registradas nos famosos "letreiros" - tão comuns aqui nos sertões de
Tamboril - além de achados arqueológicos que indicam evidencias históricas
incontestes.
No caso por nós enfocado, de acontecidos recentes, contamos com as
concessões das sesmarias. fonte documental da qual não pode prescindir o
historiador, no conhecimento dos primórdios da existência do homem civilizado
em terras cearenses. Portanto, tendo a nos nortear êste elementar princípio.
passamos a estudá-las com acuidade, examinando as datas em que foram
concedidas, as pessoas que as requereram e seus apelidos familiares. e suas
localizações geográficas, associando os dados encontrados com as informações
bibliográficas
Para exemplificar, leiamos o seguinte documento: "Nº 413. 8 de Abril ele
1693- Confirmação do posto de capitão de hua companhia de infantaria no Ceará
em Domingos Ferreira Chaves. Dom Pedro ( Pedro li, Rei de Portugal ) por
graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves etc. faço saber aos que esta
minha Carta Patente de confirmação virem que tendo respeito a Domingos
Ferreira Chaves estar provido pello capitão da capitania do Ceará Thomas
Cabral de Olival em o posto de capitão da companhia de infantaria da ordenança
da mesma capitania que estava vago por João da Costa, respeitando ao dito

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Domingos Ferreira Chaves ser pessoa de valor pratico na disciplina militar e


experiência de guerra e me haver servido nesta Corte embarcandosse na
Armada real, que no anno de seis centos e oitenta e seis foy levar socorro a
praça de Magazão e em duas armadas da Junta de comercio que farão a
Pernambuco e naquella Capitania de soldado pago havendosse sempre com
satisfação. E por esperar delle que com a mesma se havera daquy em diante,
em tudo o de que for incarregado de meu serviço conforme a confiança que
faço de sua pessoa Hey por bem fazer lhe merçe de o confirmar ( como por
esta confirmo ) no dito posto de capitão da dita companhia de infantaria da
ordenança da capitania do Ceará em que o proveo o Capitão mor della com
qual posto não haverá Soldo algum de minha fazenda mas gozará de todas as
honras privilégios liberdades isenções e franquezas que em razão do dito posto
lhe tocarem. pello que mando ao Capitão da Capitania do Siará conheça ao dito
Domingos Ferreira Chaves por capitão da dieta companhia e como tal honrre e
estime, e deixe servir e exercitar o dito posto debaixo da posse de juramento
que se lhe deo quando nelle entrou, e aos officiaes e soldados da dita Companhia
ordeno que em tudo lhe obdeção e cumprão suas ordens por escrito e de palavra
como devem, e são obrigados que por firmeza de tudo lhe mandei passar esta
carta de confirmação por duas vias por mim assinada e sellada com o sello
grande minhas armas. Dada na cidade de Lisboa aos oito dias domes de Abril
Manoel Barbosa Brandão a fes Anno do nascimento de- nosso Senhor Jeus
Christo de mil e seis centos e noventa e tres o Secretario Andre Lopes de lavre
a fis escrever. EL REY. (sic ).''Grafia original contida na publicação inserida
na Rev. Trimensal do I nst. do Ceará - Tomo XXXVI - Ano de 1922 - fls. 288/
289.
Não terminam aqui as referencias a Domindos Ferreira Chaves. Antes
de receber esta honraria da Coroa portuguesa, já era sesmeiro no rio Jaguaribe,
um dos pioneiros, aliás, conforme nos documenta o Vol. 1 º, nº 4, datado de
16.08.1691. onde está dito: "Da demarcação de Escrivão Velho para o rio
Jaguaribe (sic )." Grafia contida nas SESMARIAS CEARENSES.já referida.
É competência obrigatória de quem escreve história, exercer o máximo
de cuidado, e tendo a acuidade honesta de colimar os fatos, na direção da verdade
histórica. Isto - sem falsa modéstia - é o nosso único propósito, pois, o inverso
só dissabores nos traria.
Não é necessário ser arguto observador de ocorrências históricas, para
que ao leitor surja a indagação das razões que deram origem a que fosse
requerida esta extensa sesmaria, compreendendo o Alto e Médio Acaraú, ao
mesmo tempo verificando que de tão distante vinham seus requerentes, donos

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

de imensas terras no rio Jaguaribe. Mais aguçada fica a curiosidade, quando,


tendo o leitor conhecimento da história colonial do Ceará, é sabedor de que
sequer as rixas entre Montes e Feitosas tivera início nas ribeiras jaguaribanas.
Inicialmente, merece ser dito que os apelidos Martins Chaves, Araújo
Chaves e Ferreira Chaves, têm a origem comum do velho portugues Antonio
de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, filha do Cel. Manoel Martins
Chaves ( J º),sendo a razão que pedimos atrás a atenção do leitor no.início deste
capítulo para os apelidos FERREIRA e ARAÚJO.
Assim sendo, vamos conhecer a pessoa de Domingos Ferreira Chaves,
homem que gozava da estima e confiança do rei portugues, e que, antes de
receber o pomposo título de Capitão das Ordenanças de Sua Majestade, corno
comandante de uma Companhia de Infantaria, foi sesmeiro no mesmo rio
Jaguaribe, tendo, por outro lado, procedência da capitania de pernambuco, onde
esteve a serviço, e, de onde procedem os sesmeiros da Carta de 17.07.1722.
Portanto, tinham procedencia comum, foram sesmeiros no mesmo rio, traziam
o apelido comum de Ferreira, culminando por ser ao Cel. João Ferreira Chaves
que o Capitão- mor Domingos Ferreira Chaves faz venda de sua sesrneira sobre
a Serra dos Cocos.
Portanto, não fazemos aqui uma simples iliação histórica, mas a
confluência de dados histórico-documentais, que outra convergência não teriam,
senão a conclusão da verdade histórica, isto é, de que foi através do Capitão-
Mor Domingos Ferreira Chaves que aqui chegaram os sesmeiros de 17.07.1722,
afluindo um curioso fato de que, os que permaneceram tinham os mesmos
apelidos comuns ao Capitão-mor Domingos Ferreira Chaves. Sobre este fato,
falaremos em capítulo posterior com melhores evidências, inclusive sobre não
serem só três os descendentes do Cel.Manoel Martins Chaves ( 1 º), de Penedo,
Alagoas.
Finalizando, queremos que saiba o leitor ser de tal dimensão histórica a
importância da Carta de Sesmaria de 17.07.1722, transendendo em muito ao
que dela pensam os poucos que a conhecem, pois, além de dar razão à
colonização do vastíssimo território que formaria a freguesia de São Gonçalo
da Serra dos Cocos, dela decorrem o surgimento das cidades de Guaraciaba do
Norte, Ipú, lpueiras, Nova Russas, Ararendá, Hidrolândia e Tamboril, além
d'outros municípios que destes foram desmembrados.

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AJU.ÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

OS ARAÚJOS
Provenientes do Rio São Francisco, onde eram sesmeiros seus ascendentes,
região onde só tinham privilégio de receber concessões nobres portugueses,
como as famílias Garcia d' Ávila e Guedes de Brito, território de onde Duarte
Coelho afastou a escória portuguesa, conforme carta a EI Rei datada de 20 de
dezembro de 1548, aí floresceu a ramo brasileiro dos nobres ARAÚJOS.
É dos genealogista Raimundo Raul Lima, autor de CRA TEÚS - MEUS
AVÓS- IOCE- Fortaleza, e Ismarde Melo Torres, autor de TERRA E GENTE
DO V ALE DO CRA THEÚS, que trazem suas origens desta família, que vamos
encontrar alguns informes sobre a nobre ascendência dos Araújos. O primeiro,
fundado no Arquivo Heráldico Genealógico, assim informa à fl.297: "ARAÚJOS
- Solar Arauza (vila de Galiza). Deles descendem os Pedrosas. Esta família é
de Galiza, tomou o apelido do Castelo de Araújo, de que são Senhores. Passou
por Portugal muitas vezes e ainda hoje estão passando muitas pessoas a casar
neste reino, pela grande comunicação que tem com a Província do Minho. As
Armas que há naquele reino são: em campo azul, uma torre de prata com uma
dama no alto da torre e tres flores delis de oiro em chebe. Timbre: uma bolção
de sua cor. Em Portugal, trazem. Em campo de prata, uma aspe azul carregada
d~ cinco besantes de outo. Timbre: um moiro vestido de azul, sem braços, um
capelo de cacis na cabeça (sic )". O segundo, com esteio no "Armorial Lusitano,
Genelogia e Heraldica"- Dr. Afonso Eduardo Martins Zúquete, assim diz:
"ARAÚJO - Apelido que vem dos tempos de Rodrigo Anes de Araújo, que
teve o senhorio do Solar de ARAUZO na Vila de Galiza, de onde tomou o
nome. Rodrigo de casou com D. Maria Alvares de Aza. Se atribuem diversas:
Os Azar, Os Mais, o francês João Tiranoth, início era ARAUZA, ARAÚJA
hoje modificado para ARAÚJO. As armas são: de prata, com aspa de azul
carregada de cinco besantes de ouro postos em aspa. Timbre: meio mouro, sem
braços vestido de azul, ou a aspa do escudo (sic)". Obra citada, fl. 79.
O tronco da família ARAÚJO no Ceará, e que específicamente conquistou
e povoou a vasta região territorial da freguesia se São Gonçalo do Amarante da
Serra dos Cocos, e, com seus primos FEITOSAS, por parentela com os mesmos
ARAÚJOS a também vasta região dos Inhamuns, nas ribeiras do rio Jaguaribe,
tem suas origens cearenses nos filhos do portugues Antonio de Sousa Carvalhedo,
c. c. Nazária Ferreira Chaves, filha do Cel. Manoel Martins Chaves, de Penedo
Alagoas, território pertencente à capitania de Pernambuco. Migrantes do rio
Francisco - como os primos Feitosas - suas chegadas em terras cearenses
deve ter ocorrido por volta do final do século XVII (1.600), precendendo aos

21
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Feitosas, como bem mostra a sesmaria atrás referida, conferida ao Capitão-mor


Domingos Ferreira Chaves, entrando eles em território cearense pela estrema
com Pernambuco, no sul do Estado, como adiante demonstraremos.
Há muito pesquisamos o trabalho de conquista e colonização pioneira
desta família nestas ribeiras do Alto e Médio Acaraú e regiões circunvizinhas,
inclusive seus laços com os primos Feitosas no também trabalho de colonização
do Rio Jaguaribe, região onde ambos - Araújos e Feitosas - deram começo à
atividade acima referida. No decurso deste estudo, com paciência e acuidadle,
verificamos a afluência constante do apelido de família FERREIRA, sempre
em evidência remota - comum a Araújos e Feitosas - presente no nome dos mais
antigos povoadores do rio Jaguaribe, como relataremos a seguir.
Não constitui uma fuga ao tema do capítulo, mas, um adendo de suma
importância, corroborado com ocorrências históricas e documentais, que nos
levam a esta importante análise, que outro efeito não terá senão trazer luz a fatos
até aqui não estudados pela crônica das famílias ARAÚJO e FEITOSA,
especialmente da primeira. Não quer significar, que iremos fornecer provas a
estes fatos, mas, procurar explicá-los à flor das evidências, esperando que um
historiador deles se ocupe, nos trazendo viva-luz de melhores esclarecimentos.
O Cel. João da Fonseca Ferreira, um dos três maiores sesmeiros do Ceará
colonial, deu início a requerer concessões no final do século XVII, quando
certamente aqui chegou, identicamente procedente do rio São Francisco, como
adiante mostraremos, tendo a antecê-lo o Capitão-mor Domingos Ferreira
Chaves, conforme sesmaria algures referida, datada de 16 de agosto de 1691.
Inicialmente, vamos encontrar o Cel. João da Fonseca Ferreira requerendo
uma concessão constante do Vol. nº 1, nº 6, datada de 25.02.1694, nas
proximidades da que requerera dois anos antes o Capitão Domingos Ferreira
Chaves (obra citada). Posteriormente, consoante nos mostra o Vol. 3º, nº 169,
em 12.11.1706, lhe é concedida outra sesmaria, dizendo no requerimento: "No
rio Salgado, nas ilhargas da sua data do Jaguaribe, Do poço do Arraial para
cima (sic)"- obra citada, dizendo além no mesmo requerimento: "Heréu da data
dos herdeiros do rio São Francisco, no Jaguaribe (sic)">, grafia contida em
SESMARIAS CEARENSES, já referida. Heréu tem por sinônimo o também
substantivo herdeiro, o que torna clara a procedência do Cel. João da Fonseca
Ferreira da região do "Velho Chico". No dia seguinte a esta concessão, é feita
uma outra a Francisco de Montes e Silva, na mesma região da concessão do
Cel. João, configurada no Vol. 3º, nº 174, em data de 13.11.1706 ( obra citada).
Curiosamente, decorridos menos de dois anos, no mesmo dia são concedidas
duas sesmarias aos mesmos Francisco de Montes e Silva e ao Cel. João da

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Fonseca Ferreira, sendo a primeira encontrada no Vol. 5!!, n!! 296, em 21.01.1708,
e a segunda no mesmo volume, n!! 297, na mesma data de 21.01.1708. Sesmeiros
na mesma região, empreendendo uma viagem longa em busca destas concessões,
surgem duas conclusões óbvias a esta coincidência: ou estes homens eram
muito amigos, ou estava em jogo uma corrida em busca da posse da terra.
Adiante, o leitor poderá fazer juizo desta ocorrência.
Prosseguindo na trilhas dos sesmos - só em águas do rio Salgado-, vamos
encontrar o Cel. João da Fonseca Ferreira, acompanhado do irmão Manoel
Ferreira da Fonseca no requerimento, recebendo a concessão de outra sesmaria,
relatada no Vol. 6!!, n!! 384, datada de 21.03.1718. Retrocedendo, verificamos a
concessão de duas sesmarias, ambas na ribeira do Quixelô, concedidas no
mesmo dia ao Cel. João da Fonseca Ferreira e ao mano Antonio da Fonseca
Ferreira, sendo a deste constante do Vol. 5!!, n!! 318, datada de 21.02.1708,
quando assim informa no requerimento: "Há cêrca de 13 anos tem seus gados
na ribeira do Jaguaribe (sic)" - grafia e obra citadas. A do Cel. João da Fonseca
Ferreira, consta do mesmo volume, n!! 319, mesma data de 21.02.1708,
informando no requerimento: "Há cêrca de 25 anos asiste no Jaguaribe, onde
há 23 está situado; povoou o lugar Lagoa Velha (sic)"- grafia e obra citadas. É
bom observar, que estas últimas concessões tiveram ocorrência apenas um
mês após as que antes referimos, feitas a Francisco de Montes e Silva e ao
Cel. João da Fonseca Ferreira. Sobre as razões do litígio entre Montes e Feitosas,
já que estas concessões sempre referem e ribeira dos Quixelôs, é bom sabermos
o que nos informa o historiador: "Depois de identificadas as terras do Rio de
Jucás, viu-se que a origem dos embates dos Montes e Feitosas estava na Lagoa
do Iguatú e no rio Truçu, na Ribeira dos Quixelôs, muito distante daquelas
terras. A própria nomeclatura dos locais das lutas não assinala nenhum topônimo
no Alto Jaguaribe, cercanias de lcó (sic)". Dr. Carlos Feitosa - Publicação da
Rev. do Inst. do Ceará, Tomo LXXVIII - ano 1964.
Destes velhos documentos, e do comportamento dos conquistadores dos
nossos sertões jaguaribanos, dois fatos nos ficam transparentes. Primeiramente,
fica cronologicamente comprovado que os FERREIRAS antecederam aos
parentes FEITOS AS na colonização jaguaribana. Em segundo lugar, nos apontam
para um fato que merece um estudo acurado, pois faz indicação de que a futura
querela territorial entre Montes e Feitosas, pode ter tido seu início com os
Ferreiras, pois, antes dos Feitosas aqueles já tinham extensas sesmarias
confinantes com os Montes. Uma da razões indicativas desta provável
ocorrência, nos dá notícia o isento trabalho do historiador Billy Jaynes Clander
- OS FEITOSAS E O SERTÃO DOS INHAMUNS - Edições UFC - Civilização

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Brasileira - 1981 - tl.36: "O Juiz Ordinário Clemente de Azevedo relatava qw~
no dia anterior (20.05.1724) um grande grupo de homens liderados por Lourenço
e Francisco Alves Feitosa, tinha chegado ao Cariri Novo (mais tarde chamado
de Crato); ali uniram suas forças com o coronel João da Fonseca Ferreira, um
sesmeiro pioneiro da região do rio Salgado, e seus indígenas para desencadear
um ataque contra os residentes do lugar (sic)". Portanto, à parentela Ferreira-
Feitosa, pode ter influindo no Cel. João da Fonseca Ferreira fatos anteriormente
acontecidos, respeitantes às possessões que detinha em confinação com os
Montes, devendo ser acrescido que o apôio do Cel. João da Fonseca Ferreira aos
Feitosas perdurou até perto da finalização dos embates.
As ligações da parentela entre ARAÚJOS-FEITOSAS-FERREIRAS, é
também evidenciada quando foi em parceria com um Ferreira que foi requerida
a primeira sesmaria concedida ao Cel. Francisco Alves Feitosa, e ao irmão
Comissário Geral Lourenço Alves Feitosa, encontrada no Vol. 4º, nº 202, datada
de 26.01.1707, sendo êle Simão Rodrigues Ferreira.
O apelido FERREIRA, até hoje encontrado nesta região em descendentes
dos ARAÚJOS, foi usado pelo Cel. Francisco Alves Feitosa, na denominação
de sua descendência de suas segundas núpcias com Catarina Cardosa da Rocha
Resende Macrina: "2. MANOEL FERREIRA FERRO, casado com Bernardina
Cavalcanti Bezerra, irmã de Ana Cavalcanti, mulher de seu irmão Pedro ( sic )".
Na mesma relação, temos logo a seguir outra ligação Feitosa-Ferreira, assim:
"3. Josefa Alves Feitosa, casada com Sargento-mor Francisco FERREIRA
Pedrosa, enteado do Cel.Francsico Alves Feitosa, em virtude do 3° casamento
deste (sic)". Leonardo Feitosa, obra cit. fl.13.
A parentela dos FERREIRAS, vinha dos Inhamuns à Serra dos Cocos ..
que foi fundada por um Ferreira - disto nos fazendo prova a seguinte informação
documental: "NASCIMENTO DE INDEPENDENCIA. No fim do século XVIIII
pelo ano de 1797 existia a fazenda Pelo Sinal de propriedade de José FERREIRA
de Melo, grande senhorio de imensas glebas de terras que se estendiam ao longo
do Riacho do Gado, subindo rio acima até encontrar o rio Cupim e dali as suas
nascenças além de outras terras rumo ao sul como a fazenda Almas e outras.
Como acontece geralmente no Brasil, as povoações, vilas e cidades começam
sua vida propriamente dita com a construção de Capelas e Igrejas. No final do
século XVIII quando em desobriga passou pela fazenda Pelo Sinal Frei Vida]]
da Penha, aconselhou ao fazendeiro José Ferreira Melo a construir uma capela
para orações da população. Concordou o velho fazendeiro, começando de logo
a construção da Igreja com a invocação de Senhora Santana. No seu inventário

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

ocorrido em 181 O, constava em seu testamento a doação de um terreno medindo


meia légua no rio Cupim. começando na volta do rio onde faz extrema com o
Coronel Manoel Martins Chaves, subindo rio acima até onde desse referida
meia légua (sic)". Histórias de Independência- Luiz Nogueira Mota- Editei -
Fortaleza - 1987 - fl. 09. É interessante neste documento a presença do Cel.
Manoel Martins Chaves (2º), homem de personalidade marcante, de quem nos
ocuparemos adiante, membro da central parentela dos Ferreiras, o que vem
confirmar o que atrás referimos.
Como os ARAÚJOS e FEITOSAS, os FERREIRAS que com aqueles
tinham fortes ligações de consangüinidade, têm suas origens também nobres,
sendo do "Arquivo Heráldico Genealógico" que se valeu Raimundo Raul Correia
Lima, para às fls. 297 /298 dar a seguinte informação: "FERREIRA - O primeiro
que usou o apelido do Ferreira foi Raul Pires que o tomou de Ferreira de Aves,
de que era Senhor e fundou o solar de família. Era bisneto de Fernão Gerem ias,
um dos fidalgos que passaram de Castela a Portugal, em 1095, acompanhado
de Da. Teresa, casada com Dom Henrique de Borgonha (pais do primeiro Rei
de Portugal). Era filho de Afonso VI, Rei de Castela, que deu ao genro o
Condado de Portucale. Tem por armas um campo vermelho e quatro faixas de
ouro. Timbre: Uma ema de sua cor com uma ferradura de ouro no bico". ( obra
citada).
Foi costume milenar entre as remotas famílias portuguesas denominar os
descendentes com homenagens nominais a apelidos de famílias dos ascendentes
remotos. ou mesmo próximos. Verificamos isto quando o Cel. Manoel Martins
Chaves ( 1 º), de Penedo, Alagoas, denominou duas filhas assim: Ana Gomes
Vieira, e.e. João Alves Feitosa, e Nazária Ferreira Chaves, e.e. Antonio de
Sousa Carvalho. Este, que trazia de ascendentes o apelido Araújo, assim
denominou o Capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 º), das Ipueiras. Esta prática
foi posta em uso pelas famílias reais, onde apareciam descendentes com 18
prenomes e apelido de família, caso encontrado em D. Pedro I, Imperador do
Brasil. De outra parte, os topónimos serviam para originar apelidos de família-
como bem sabemos - sendo extenso citarmos exemplos.
Afloram evidências documentais de que o apelido FERREIRA deveria
prevalecer ao ARAÚJO. No entanto, não é nosso desejo mudar a remota história
genealógica desta família, preferindo - como fez Leonardo Feitosa -, dar
continuidade ao ARAÚJO.
De snitra parte - embora tenhamos ascendência materna ARAÚJO e
FEITOSA - não somos movidos pela vaidade em dar-lhes ascendentes de nobreza

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

e fidalguia, até porque êste estudo não é um trabalho de heráldica. No entanto,


devemos mencionar o milenar axioma que diz não existiram pastores que não
descendam de reis, nem reis que não provenham de pastores. Envaidecidos
ficamos, isto sim, em termos a certeza de que estas famílias traziam no sangue a
audácia, a intrepidez e a coragem, qualidades próprias do conquistador e do
valente, tendo como um dos exemplos a figura do Gen. Antonio de Sampaio,
um dos maiores - senão o maior - soldado da História do Brasil.
Dando continuidade, vamos oferecer as proles dos filhos do portugues
Antonio de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, filha do Cel. Manoel
Martins Chaves, de Penedo, Alagoas, território pertencente á capitanias de!
Pernambuco:
1. O Capitão-mor José de Araújo Chaves, e.e. Luzia de Matos Vasconcelos,
fundador da fazenda lpueiras.
2. O Coronel João Ferreira Chaves, e.e. a sobrinha Ana Gonçalves Vieira,
filha do Capitão Luís Vieira de Sousa e Joana Paula Vieira Mimosa, moradores
e sesmeiros na Serra dos Cocos, chapada da serra da lbiapaba.
3. Joana Paula Vieira Mimosa, e.e. o Capitão Luís Vieira de Sousa,
fundadores da fazenda Ipu.
Queremos ressaltar que os títulos outorgados a estes descendentes do
portugues Antonio de Sousa Carvalhedo pela Côroa portuguesa, não são frutos
de invencionice das crônicas, pois com esta designação os tratou o Capitão -
Mor da capitania do Ceará, Manoel Francez, quando outorgou-lhes a sesmaria
algures referida.
Sobre a ascendência de dona Luzia de Matos Vasconcelos, e.e. o Capitão-
mor José de Araújo Chaves (1 Q ), das Ipueiras, que se tornaria o pater-familias
dos ARAÚJOS, trazendo informes da Nobiliarquia Pernambucana, de Borges
da Fonseca, assim diz Raimundo Raul Carreira Lima, obra citada, fls. 55/56.
"Manoel da Costa Gadelha, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão-mor e
Governador das Armas do Rio São Francisco, português de nascimento e que
obteve patente de Capitão-mor em 25-04-1675, casou-se com Francisca Lopes
Leitão, filha de Pedro Leitão Arnoso. Manoel era filho de Francisco Rodrigues
Gadelha e irmão de Tomé da Costa Gadelha. Sua mãe chamava-se Francisca
da Costa. Faleceu a 01-01-1694. Nasceu em Cartaxo. Teve mais um irmão, de
nome Francisco Rodrigues Gadelha.
Foram seus filhos do primeiro matrimônio:
1.- Bento Fernandes;

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

2.- Violante de Borba;


3.- Francisca Lopes Leitão;
E do segundo casamento:
1.- Jorge da Costa Gadelha ;
2.- Nicolau da Costa Gadelha;
3.- João Leitão Arnoso, casado com D. Luísa de Matos Vasconcelos,
filha do Capitão José de Prado Leitão, que foi Juiz Ordinário da Vila de Igarassu,
e de sua mulher D. Maria de Matos de Vasconcelos. Foram filhos de João
Leitão Arnoso com Luísa de Matos Vasconcelos:
a) João Leitão Arnoso:
b) Luzia de Matos Vasconcelos, esposa do Capitão-mor José de Araújo
Chaves, ascendentes de Manuela Carreira Lima, esposa de Francisco Lopes
Correia Lima (sic )."
Portanto, aí temos mais uma prova de que os ARAÚJO provinham do
rio São Francisco, onde era Governador das Armas, o avô paterno da mulher
do Capitão-mor José de Araújo Chaves (I? ), das Ipueiras.
A genealogia, que não consideramos uma ciência auxiliar da História,
mas, suas próprias raizes, é hoje um estudo desinteressante. A geração dos nossos
dias, situada em meio a uma sociedade competitiva e desagregadora dos valores
maiores, voltada para a busca exclusiva dos bens materiais e do poder político,
esteada no qual caminha para o enriquecimento ilícito, não tem o mínimo interesse
por seus antecedentes, em flagrante contradição aos costumes das antigas
civilizações. Assim procedendo, vão nossas gerações coevas ficando isoladas
do passado, dos seus maiores e da própria História, fato que mais se torna
evidente quando constatamos o deplorável estado da educação escolar no Brasil.
Este registro fazemos com tristeza, no intento de pedir ao leitor a necessária
paciência para alguns relatos genealógicos, sem os quais este estudo - ou outro
sirnilar-, não teria existência.
As três famílias atrás referidas e seus descendentes - como adiante
veremos em detalhes -, além de colonizarem o vasto território que formaria a
remota freguesia de São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos, inclusive o
Alto e Médio Acaraú, deteem o crédito histórico de haverem sido os pioneiros
no trabalho de anexação de parte do território da província do Piauí ao Ceará,
que foi a vasta região ande estavam as localidades de Pelo Sinal (Independência)
e Piranhas (Crateús), de cujos territórios já se emanciparam vários municípios.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Comprovando esta assertiva, vejamos o seguinte informe histórico: "Em 30 de


dezembro de 1765 - O ouvidor dr. José Duarte Freire dá conta ao governador
da capitania (Piauí), em ofício desta data, da incumbência que lhe fora cometida
a ir à vila Marvão (atual Campo Maior) sindicar dos fatos que se deram na
mesma vila com relação aos seus limites territoriais com a vizinha capitania do
Ceará, que deu motivo a repetidas e sérias questões entre os dois povos.
Provocou essa sindicância o seguinte ofício, que a respeito de semelhantes
fatos, dirigiu o juiz ordinário da vila de Marvão ao governador da capitania: "Na
presença de V. S. ponho o lastimoso estado em que se acha a ribeira do Crateús,
pela falta que experimenta de não haver na mesma ribeira quem encontre as
disposições voluntárias de uns moradores intrusos, que na mesma ribeira se
têm metido e estão metendo, com frívolo pretexto de que pertencem aquelas
moradias à comarca do Ceará Grande, dando para este fim posse das ditas
terras e sítios ao pároco da matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, que
desde o ano de 1760 tem tomado desta capitania para aquela mais de vinte
povoações, não se dando por contentes, em tomarem aquela que mais perto lhe
ficam, senão ainda dentro da mesma ribeira; este presente ano veio o pároco
de São Gonçalo a fazenda chamada São Joaquim, que é dentro da ribeira;
nestes termos V. S. obrará o que for servido (sic)", Ismar de Melo Torres -
TERRA E GENTE DO VALE DE CRATHEÚS, já referida, fl.30.
É incisivo o rnissivista, quando diz que os moradores da Serra dos Cocos
que invadiram a ribeira de Crateús, estão dando posse das terras ao pároco daquela
freguesia. Fácil é a comprovação documental deste fato, pois os livros de assentos
batismais da matriz da Serra dos Cocos, mesmo no século seguinte, estão fartos
em desobrigas naquelas ribeiras. Sem fazermos extensas menções, vejamos os
informes que nos presta o livro de assentos de batismo da Matriz de São Gonçalo
de 1825/1829, do arquivo da Secretaria da Diocese de Crateús: Irapuá- fl.74,
na qual constam três termos, data de 29.03.1825. São Joaquim (a mesma
reclamada no ofício), em data de 17.07.1826. Oiticica - fl. 79, em data de
14.07.1826. Sacramento - fl.112 (hoje distrito de Ipaporonga), em data de
22.05.1827. São Luís (hoje do distrito de Sucesso) (antigo Pinheiro), do município
de Tamboril, em data de 22.09.1829. Pinheiro - fl.198 (hoje com topônimo de
Sucesso, distrito de Tamboril), em data de 23.09.1829.
Corroborando com a informação das "invasões", vamos constatar que
foram membros desta família que colonizaram os sertões da ribeira de Crateús,
pois é esta a informação: "Encabeçados por D. Luiza Coelho da Rocha Passos,
antiga proprietária da fazenda Riacho do Gado, em Crateús, em 1778, coube
aos Mourões, Meios, Araújo Chaves, Cavalcantes de Albuquerque e outros o

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

encargo de povoarem, prioritariamente, o território de Crateús, sem incluirmos


o de Irapuá. O Piauí, só em 30 de dezembro de 1765, reclamava de uns intrusos
da Serra dos Cocos, que certamente eram os mencionados e primitivos
povoadores de Crateús, originários do Ceará e em lutas com os sesmeiros do
Irapuá, oriundos do Piauí (sic)". Raimundo Raul Correia Lima - CRATEÚS -
MEUS AVÓS,já referida, fl. 98. Todos os apelidos acima referidos são do clã
dos ARAÚJOS, cabendo acrescer que pelos dados do livro de batismo da
Matriz de São Gonçalo, os povoadores advindos da Serra dos Cocos suplantaram
os sesmeiros piauienses.
Por conseguinte, estes descendentes dos sesmeiros ARAÚJOS, ligados
por laços consanguineos aos FEITOSAS de São João do Príncipe (Tauá). uniram
os territórios do Alto e Médio Acaraú aos do Alto Jaguaribe numa posse de
parentalha única. Merece a verificação de que esta região representa, em extensão,
um território maior do que têm muitos paises importantes dos continentes
Europeu e Asiático.
A família ARAÚJO, inicialmente unificada sob a liderança do velho
Capitão-Mor José de Araújo Chaves (I"), das Ipueiras, com sua morte teve a
substitui-lo o filho - Cel. Manoel Martins Chaves (2Q) - que já desf~utava de
grande prestígio não só na região da lbiapaba e Alto e Médio Acaraú, como
assim no norte da capitania, fato que documentalmente adiante provaremos.
Não querendo tomar parte em conspirações e maquinações sórdidas, costume
em voga na política provincial e que chegou aos nossos dias, tomou-se alvo de
perseguições mesquinhas e do ódio de alguns governadores da província.
Possuindo vários antagonistas estimulados pelo ódio dos governantes,
que viam no jovem Cel. Martins Chaves um provável ocupante de seus cargos,
os ânimos se agravaram quando, pela influência do Cel. Martins Chaves foi o
Campo Grande elevado à categoria de vila - município -, pelo Alvará de
12.05.1791, instalada pelo Ouvidor Dr. Manoel de Magalhães Pinto e Avelar
de Barbedo, amigo pessoal do Cel. Manoel Martins Chaves (Ver Tratado
Genealógico da Família Feitosa - Leonardo Feitosa, já referido, fl.243/244 ), com
a denominação de Vila Nova d'EI-Rei. Na mesma ocasião, o Ouvidor deu
posse à primeira Câmara Municipal, sendo eleito Presidente e Cel. Manoel
Martins Chaves, segundo informação que nos presta a Enc. dos Mun. Brasileiros,
já referida, fl.284.
Prosseguiu a ignóbil perseguição à família Araújo, orquestrada pela torpe
figura do juiz ordinário Barbosa Ribeiro, que proferiu injusta sentença contra o
'Ien, Cel. Antonio da Costa Leitão - irmão do Cel. Martins Chaves - além de ter

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

mandado matar um rapaz ligado ao Capitão Bernardino Gomes Franco, sobrinho


do Cel. Martins Chaves, homônimo do pai e morador na sua fazenda "Curtume"
(hoje Nova Russas). Já desafetos em potencial, o Cel. Martins Chaves e o Juiz
Barbosa Ribeiro realizaram uma corrida de cavalos, em dezembro de t 794,
oportunidade em que saiu vitorioso o corcel de Barbosa. Não satisfeito com a
derrota, o Cel. Martins Chaves propõe comprar o cavalo de Barbosa, que recusou-
se a vendê-lo. Dias depois, aparece morto o animal de Barbosa Ribeiro, que
atribuiu o fato ao Cel. Martins Chaves, prometendo revide. A arrogância de
Barbosa era tal, que sequer devassa levantou quanto ao assassinato do rapaz
ligado ao Capitão Bernardino Gomes Franco, sendo grande o número de inimigos
que granjeou com seus atos arbitrários e prepotentes.
No dia 03 de março de 1795, uma malta de 30 homens invadiram a casa
do Antonio Barbosa Ribeiro, matando-o, saindo a dar vivas ao Cel. Martins
Chaves. Este gesto hipotético serviu de razão para ser instaurado um inquérito,
a mando do governador da província Luis da Mota Féo e Torres, que concluiu
pela forma como nos diz o historiador: "Do que ficou apurado constou que
foram mandantes o Capitão-mor Bernardino Gomes Franco e seu tio Manoel
Martins Chaves. O juiz foi morto a tiros de espingarda e golpes de catanas e
facas (sic )."Prossegue ainda a informação: "Em face da grave situação, o
Governador de Pernambuco pediu ajuda ao General do Maranhão no sentido de
que expeça ordens e alguns homens do Piauí para prender os dois criminosos,
pois as praças locais são insuficientes. Acha que João Ferreira Chaves ou Antonio
da Costa Leitão seriam capazes de ser nomeados para o posto de capitão-mor,
apesar de parentes, para substituir o Capitão-mor Bernadino Gomes Franco que
deve ser exonerado do posto . Mal sabia o General Pernambuco que Antonio
da Costa Leitão, irmão do Cel. Manoel Martins Chaves, tinha sido o verdadeiro
mandante do crime, como depois foi apurado (sic ). História Religiosa de
Guaraciaba do Norte - Pe. F. Sadoc de Araújo - IOCE - Fortaleza - 1988 - tls. 58/
59.
Procede a informação de que o Ten. Cel. Antonio de Costa Leitão, e seu
sobrinho, Capitão - mor Bernardino Gomes Franco hajam sido os mandantes da
morte de Barbosa Ribeiro, desconhecendo o Governador de Pernambuco de
que o Cel. João Ferreira Chaves (1 º), da Serra dos Cocos, já em 1771 era
falecido, conforme faz ver o requerimento do Capitão Antonio de Barros Galvão
- casado no clã dos Araújos - ao requerer uma sesmaria na Serra dos Cocos,
naquele ano.
Com mais intensidade, prosseguiu a perseguição oficial, já agora sob o

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

governo do prepotente João Carlos Augusto de Grawenburg ( a quem o Imperador


Pedro I ameaçaria degolar), que em março de 1805, traiçoeiramente prendeu o
Cel. Martins Chaves, conforme o mesmo historiador obra citada, fl. 60 "Em
março de 1805, alegando passar em revista os regimentos da Capitania, o
governador viajou para a Serra da lbiapaba. Manoel Martins Chaves, querendo
ser gentil e desconhecendo a trama (observe o leitor o substantivo trama, que
significa procedimento ardiloso, próprio do covarde ),o acompanhou por algumas
localidades. Em lbiapina aconteceu que o governador achou ter chegado o
momento propício para a prisão do criminoso. Colocando uma coroa real sobre
uma mesa, perguntou o Governador ao Coronel: - De quem é esta coroa? Ao
que ele respondeu: - É de Sua Majestade, a Rainha, minha Soberana! O
Governador então retrucou-lhe: - Pois em nome dela se considere preso! O
Coronel a nada reagiu. Com ele foi também preso o seu sobrinho Francisco
Xavier de Araújo Chaves, tido também como um dos mandatários mais crueis
do assassinato c4> juiz (sic )."
Conforme veremos em capítulo próprio, o Capitão Francisco Xavier de
Araújo Chaves, avô matemo do maior Soldado do Brasil, o Gen. Antonio de
Sampaio, veio a falecer em operação bélica em defesa da pátria portuguesa,
enquanto o estócio e intrépido Cel. Manoel Martins Chaves - mártir da honra
dos seus - faleceria na cadeia de Limoeiro, em Lisboa, no dia 27 de maio de
1808.
Como homenagem nossa à pessoa do destemido Cel. Manoel Martins
Chaves, transcrevemos a seguir o poema de autoria do também parente do Cel.
Martins Chaves, o bilhante jornalista, poeta e escritor Gerardo Melo Mourão,
constante da obra de sua autoria - O PAÍS DOS MOURÕES - Rio - 1972.
"Naquele Tempo
Manoel Martins Chaves, Coronel das Ordenanças
da Cavalaria do Rei
tataravô de meus tataravós
sobre a cordilheira da lbiapaba
no pé da Serra dos Cocos
assentou sua casa
sobre a várzea dos carnaubais das Ipueiras
sobre a macambira do Tamboril e dos Inhamuns
assentou sua casa

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

e no alto da serra
entre as palmeiras de São Gonçalo dos Mourões
nas lonjuras altas e azuis do lpú e da Vila Nova em Campos Grande
assentou sua casa:
e as colunas de aroeira da alpendrada
riscam o retângulo: era fundado
o país dos Mourões
e o Coronel Manoel Martins Chaves
mantinha a tropa e era senhor no lpuçaba
das ribeiras do Poti, do Acaraú, do Jatobá
mantinha a tropa e era senhor
até o Parnaiba ,
e além, muito além daquela serra que ainda azula
no horizonte
naquele tempo
levantaram a fronde
os coqueiros e os machos
no País dos Mourões."
Quando desapareceu trágicamente o Cel. Manoel Martins Chaves, a família
ARAÚJO já era proeminente em todo o vasto território da Matriz de São Gonçalo
- compreendendo o Alto e Médio Acaraú - nos sertões piauienses de Pelo Sinal
(Independência ) e Piranhas ( Crateús ), indo ao norte da capitania- no que não
exagera o poema de Gerardo Melo Mourão - , ensejando o surgimento de pater
- famílias regionais, trazendo uma desagregação clânica. Já pelo início do século
XVIII ( 1800 ), eram verificadas lideranças localizadas nas seguintes povoações
- únicas na época >, como o Capitão Sales, em Tamboril, casado na família
ARAÚJO; os Meios, Mourões e Bezerras, em Crateús, descendentes dos
ARAÚJOS, o Cel. Francisco Paulino Galvão, no lpú, descendente e casado na
família ARAÚJO.
Com o correr dos anos, a família ARAÚJO sotr-u a natural fragmentação
genealógica, advinda de sucessivos entrelaçamentos com outros familias,
formando uma gigantesca árvore genealógica, impossível de decifração nos nossos
dias. No entanto, os municípios que estão compreendidos no antigo território da

32
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

matriz de São Gonçalo, como Guaraciaba do Norte. Ipú, lpueiras, Nova Russas,
Arererndá, Hidrolândia e Tamboril, que serão referidos particularmente em
capítulo próprio, além dos de Crateús, Monsenhor Tabosa e os recém- instalados
de Poranga e lpaporanga, até hoje têm pessoas em evidência advindas da família
ARAÚJO, no comércio, indústria, pecuária, com especial enfoque na vida política.

OS FEITOSAS
Vasta é a literatura existente sobre esta família, não sendo nosso propósito
aqui enriquecê-la. No entanto, dado a parentela entre ela e os ARAÚJOS.
associada - embora com parcimônia-, na colonização do território da Matriz de
São Gonçalo da Serra dos Cocos e do Alto e Médio Acaraú, tema deste estudo.
não podemos deixar de dela nos ocuparmos.
Inicialmente, por ser inédito em obras publicadas, vamos transcrever o
artigo de autoria do Dr. Carlos Feitosa, inserido no jornal ''O POVO,•· de Fortaleza
- Cardeno Especial - 7 - edição de 07 .O 1 .1993. que trata das origens portuguesas
da família: .. A TERRA- MÃE DOS FEITOSAS DOS INHUMANS EM
PORTUGAL - Carlos Feitosa - A Povoação t: Freguesia Feitosa. sob a
denominação de Domez, Portela de Cascata ( os Feitosa dos lnhamuns têm
uma Data de Sesmaria com o nome de OLHO d' Água da Cascata - v. 6º , nº
469, 08.06.1720 ) e, como Vedetiari, aparece abundantemente documentada
desde o século X, precisamente 985 ( "Verbo Encici.", 515 ), em que o Conde
D. Telo Alvites e sua mulher D. Muma doaram-na ao Mosteiro Ante Altares: -
"ln Ripia Limia "Vil la" vocitada Paratela cum eclesia vocabulo Salvatori." Em
Portugues: - .. Na margem do Lima, uma "villa" chamada Pardela, com uma
igreja sob a denominação de São Salvador." Essa igreja corresponde à de São
Salvador em Feitosa porque com esse Orago, não existe outra freguesia próxima
ao couto de Pardela. É informação do historiador luso A. de J. da Costa. Em
1527 São Salvador Domez estava anexada ao Priorado de Ponte de Lima ("Verbo
Encicl." p. 515 ) e tinha apenas 16 habitantes ( "Anais de Pontes de Lima", 2°
ed. 1977, p. 48 ). Em 1115 o Papa Pascoal Ili confirmou a Sé de Braga (
cautum decitur Feitosa - um couto que se chama Feitosa), como informa Carl
Erdmann em "Papsturkunden in Portugal", p. 166. Nos séculos XIII e XIV são
as inquisições o mais vasto e valioso repositório de informações respeitantes a
esta Freguesia e de maior interesse para a sua história ( "Verbo Encicel.", p. 515
). Pelo visto. neste minúsculo chão da santa terrinha deveria existir muito judeu
ou cristão - novo. A localidade Feitosa- não restam dúvidas-, é terra de remota
fundação, pois surgiu já no século XI, na pessoa de D. Sisnando Ramires (

33
ARAt'JJOS E fEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E Mf:DIO ACARAÚ

fazendo uma biografia romanceada de D. Sisnando em "A Ilustre Casa de


Ramires". o imortal Eça de Queiroz citou 49 vezes a Quinta Feitosa) . e sua
mulher D. Justezenda Soares que, em 1131 - antes de D. Afonso Henriques
( 1139 a 1185 ), fundador da Casa de Borgonha - têm a administração, entre
outras. das "Terras" de São Martinho ou Ponte e de Penela, e, então, dito casal
deram-nas ao Arcebispado de Braga e a seu Cabido e sucessores a sua Vila
Dómizi ( Que antigamente se chamava Vendredi ). Há porém muitos séculos
tem o nome de Feitosa. e foi Vila Normanda. pois já existia - pelo menos - no
século XII ( "Grande Encicl.", p- 46) . Terras eram assim chamadas as
circunscrições em que se dividia o Reino, para os fins de administração civil e
militar ( "Anais de Ponte de Lima", 1977, p. 23 ). Ao depois teve o nome de
Dómizi, que se corrompeu para Domes e, quando assim se chamava é que foi
coutada. Antes de ser coutada a Freguesia Feitosa fôra dos Condes de Portugal.
pois pertenceu a Mômio Nunes. filho do Conde D. Nunes Alvites, irmão do
Conde D. Mendo Nunes. Couto é o lugar de algum Senhor de terras onde não
entrava ajustiça de EL-REY. O Cel. Leandro da Barra. em Cococi ( pronunciar
cócuci ). gozou deste privilégio. Os perguidos da polícia só corriam até enquanto
não punham a mão numa estaca das cercas de suas propriedades e exclamavam:
"Valei-me Cel. Leandro". a cuja invocação os policiais estancavam e
regressavam aos seus quartéis. Na fazenda Barra não gozavam deste privilégio
os ladrões. Era tradição. A antiga Freguesia Feitosa. cabe la de couto do mesmo
nome - de que eram Senhores e Donatários os Arcebispos de Braga - foi
anexada ao priorado de Ponte de Lima. com apresentação do Prior. O Prior de
Ponte de Lima apresentava o Cura e tinha 40$000 réis ( informação de 1907).
Passou mais tarde a Reitoria Independente. Apresentação significa conferir
benefícios a. Fazem parte da Freguesia Feitosa os Lugares Cancela. Cancinhola. ·
Catinho, Coelheira. Cruzes. Dumes, Espírito Santo, Fijó, Lamezinho, Mourinho.
Poço dos Cabaços. Poza. Quinta. Ribeiro. Santa Quitéria, Santo Amaro.
Sernardas, Sobreiro e Vendas ( "Grande Encicl.", p. 46 ). Nos Inhamuns/ Arneirós
existe Data de Sesmaria com o nome fazenda Cabaços. fundada pelo pioneiiro
Francisco Alves Feitosa. E há outros locais como Cruzes. Espírito Santo Santa
Quitéria que recordam a terra-mãe. Soboeiro não seria uma deturpação de
Sobreiro? Cruzes nos Inhamuns é local assinalado por feroz batalha travada
entre Montes e Feitosas ( Ceará - Homens e Fatos. 1919. p. 83 ). de João
Brigido. Só restaram cruzes ... e os Feitosas. A Freguesia Feitosa. em Portugal.
legislativamente. integra o Concelho de Ponte de Lima; no Executivo, pertence
ao Distrito Administrativo de Viana do Castelo: Judicialmente. à Relação do
Porto. Para efeito Cartorário. estão unidos os coutos de Feitosa e de Cabaços.
como se vê das Notas do Cartório Mâncio em escritura de 1659. e as Notas do

34
. ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Tabelião João de Oliveira Cavalheiros, de 1658 a 1660 ("Anais", ps.76 e 128).


Eclesiásticamente, está vinculada ao Arcebispado de Braga, tendo como Orago
o Divino São Salvador. Com a denominação da Capela de N. S. do Rosário
(também Padroeira de Tauá/Ceará), um retábulo foi para Igreja de Feitosa,
onde é hoje o altar do Sagrado Coração de Jesús ("Anais", p.105). O Serviço
dos Correios é feito pela Estação Postal de Ponte de Lima; e, militarmente,
pertence à 3!! Divisão Militar e ao Distrito de Recrutamento e Reserva nº 03,
com sede em Viana do Castelo. Territorialmente, está no contexto da Província
do Minho, ao norte de Portugual. A população da Freguesia Feitosa, salvo
pequenas quedas, foi sempre crescente. Senão, vejamos: 1527 - 16 hab.; 1840
-305hab.; 1867-205hab.; 1890-311 hab.; 1911-382hab.; 1920-355hab.;
1930 - 430 hab.; e 101 fogos (casas); 1957 - 350 hab. e 82 fogos; 1960 - 518
hab. e 121 fogos; e, em 1970-515 hab. Dados colhidos dos "Anais Municipais
de Ponte de Lima", publicação da Câmara Mt:1nicipal de Ponte de Lima, 2!!
Edição, 1977, p.48; na "Grande Encicl. Portg. e Brasileira", Lisboa, p. 46; em
"Verbo Encicl. Luso-Brasileira de Cultura", p. 315 e em "Portugal - Dic. Hist.
Coreg. Bibliog."- Vol. III, 1907, Lisboa, p.46. Sua situação geográfica fica acerca
de 1,5 km. ao SSO (sul-sudeste) da sede do Concelho de Ponte de Lima (a
"Grande Encicl."dá 1,3 km. e o "Dic. Hist." apresenta 3 km.). O lugar já se
chamou Vedrendi e crê-se tenha sido fundado pelos normandos (homens vindos
do norte, .os Vikings) lá pelos anos de 700 da era cristã ("Dic. Histo.". p.338,
1907). Nesses rempos remotos a Freguesia foi vila, quando então se chamada
Vedrendi, e foi, também nessa época, sede de pequeno Concelho ("Verbo
Encicl.". p.515). Esta é a terra-mãe dos Feitosas dos Inhamuns em Portugal.
BIBLIOGRAFIA. - Além das obras referidas, foram consultadas: - "Fastos"
( ... ), v. I, p.272, nota 1, do Mons. Augusto Ferreira; "O Bispo Dom Pedro", v.
II, p.138 a 143,317,327,423,438, de A.J. Costa; "Guia de Portugal", v. IVnI,
Lisboa, 1967, pesquisa de F. Ribeiro; "Portugal", Pierre Birot, Ediciones Moreton,
Bilbao, Espanha, 1963, p.50; "Cadastro das Vilas Municipais de Ponte de
Lima"(planta); "Dicionário Geográfico": "Corografia Portuguesa"; "Terras
Portuguesas": e várias fotografias da Vila Feitosa, de sua Escola Primária, das
Igrejas, do Cemitério, de quintas das zona rural, etc., tudo em poder do autor
destas linhas. (Carlos Feitosa é magistrado aposentado) - (sic)".
Como querem alguns autores, a chegada dos primeiros FEITOSAS ao
Ceará, não teve ocorrência em 1707, pois, já em 30.01.1707 lhes era concedido
o primeiro sesmo na bacia do J aguaribe, já referido. neste trabalho. Certo é, que
lhes precedeu os parentes FERREIRAS, fato já comprovado cronologicamente
algures. Pelas datas das concessões das semarias aos Araújos e Feitosas na

35
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

baciajaguaribana, tudo leva a crer que houve concomitância em suas chegadas


em terras do Ceará. Para· tanto, vejamos o que informa a concessão feita a
Gregório Martins Chaves, constante do vol. 5°, nº 351. datada de 07.08.1717,
quando expõe o seu requerimento: : "Diz ter descoberto o riacho Caldeirão, nas
testadas de Lourenço Alves Feitosa (sic)", obra citada. Isto não importa em
dizer que Gregório Martins Chaves tenha chegado ao Ceará em data aproximada
desta concessão, pois, num resumo cronológico contido em "Crateús - Meus
Avós"- Raimundo Raul Carreira Lima- IOCE, fl. 157, assim é dito: "1717 - Os
índios Jucás foram, temporariamente, administrados pelo Cel. Gragório Martins
Chaves, no lugar de São Mateus, hoje Jucás. Martins Chaves visitou terras de
Crateús, à frente dos índios que administrava (sic):. Oura fonte documental,
vem corroborar com este informe: "Concedidas as sesmarias e instalada a fazenda,
estava fincado o marco do Arraial que, com o estímulo do capitão-mor Salvador
Alves da Silva, iria despontar nos idos de 1719, quando o coronel Gregário
Martins Chaves é nomeado administrador-geral das terras situadas entre os sertões
de Quixelô e São Mateus, carecidas de pacificação para o seu desbravamento. A
tarefa de Martins Chaves não foi difícil tendo em vista que em 1707 o padre
João de Matos Serra, prefeito das Missões, após ingentes sacrifícios, missionara
os quixelôs no lugar denominado Telha (Iguatú), de onde haveria de surgir mais
tarde a atual cidade do Jguatú (sic)". Enc. dos Munic. Brasileiros - Edição IBGIE
- Rio - 1959 - fl. 260. Portanto, precedidos dos parentes Ferreiras, Araújos e
Feitosas devem ter chegado na província cearense pelo início do século XVIII
(1700), antes de 1705.
Como a repetência é salutar na narrativa histórica, ensejando ao leitor
melhores condições de memorização, repetimos que a origem dos Feitosas
procede do casamento do portugues João Alves Feitosa com Ana Gomes Vieira,
filha do Cel. Manoel Martins Chaves, habitante em Penedo, Alagoas, território
pertencente à capitania de Pernambuco.
Deste casamento, advieram os filhos:
1. O Comissário Geral Lourenço Alves Feitosa, casado com Antonia
de Oliveira Leite, irmã do padre José Ferreira Gondim, Vice-Vigário Geral do
Recife e vigário de Gôiania
2. O Coronel Francisco Alves Feitosa, casado em primeiras núpcias
com Isabel do Monte, irmã do Capitão-mor Geraldo do Monte; em segundas
núpcias com Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, descendente da
família Cavalcante e Albuquerque, de Pernambuco, e, em terceiras núpcias
com Isabela Maria de Melo. Estas três mulheres eram viúvas, e traziam filhos

36
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

dos seus leitos anteriores (L. Feitosa, ob. cit. fl. 13 ).


João Alves Feitosa, genro do Cel. Manoel Martins Chaves ( 1 º), era
sesmeiro no rio São Francisco. Por já estar bastante povoado este rio e afluentes,
onde já estava em franca florescência a atividade pecuária, certamente por
informação dos parentes Ferreiras já aqui chegados, hajam sido as razões que
levaram os irmãos a esta migração. Fato é, que não tardaram a iniciar a
colonização da baciajaguaribana, inclusive com desenvoltura tal que levou o
primogênito, Comissário Geral Lourenço Alves Feitosa a se tornar o maior
sesmeiro da história colonial do Ceará. obtendo 22 concessões, informação
contida no livro SESMARIA CEARENSES, já referido.
Já dissemos em capítulo precedente, que desde antanho tempo os
primitivos colonos verificaram que nossas terras não tinham destinação agrícola,
mas, vocacionadas para a atividade pecuária, faso que assim documenta o
Relatório do 1 ° governador holandês, tenente Vam Ham, endereçado ao Conde
Maurício de Nassau, no qual diz não apresentarem nossas terras interesse de
ocupação e consequente advento de lucros (Hist. do Ceará - R. Batista Aragão
- Fortaleza - 1° Vol. pgs. 93,94-). Situados nas férteis terras do litoral, com
vistas ao lucrativo comércio do açucar, não tiveram os holandeses a visão "do
outro lado", desconhecimento que lhes foi fatal.
Não foi esta ótica que norteou nossos primitivos colonizadores, que já
vocacionados para a pecuária há muito tinham prévio conhecimento desta
realidade, como os FEITOSAS. Num acurado estudo de concessões dos semos
- o que já foi dito em capítulo anterior -, os FERREIRAS precederam aos
ARAÚJOS e FEITOSAS, com ocupações ·iniciais na região nordeste da
província, como bem documentam as concessões feitas a Domingos Ferreira
Chaves e ao Cel. João da Fonseca Ferreira. O primeiro - Domingos -,já referido
anteriormente, teve a concessão referida no Vol. 1 º, nº 4, datada de 16.08.1691,
onde é dito: "Da demarcação de Estevão Velho para o Rio Jaguaribe (sic)"-
grafia da ob. ref. Ora, o Capitão Estevão Velho, também procedente de
Pernambuco,juntamente com outros 21 requerentes, foram concessionários de
um vastíssimo território, o que é visto no Vol. 1 º, nº 29, datada de 08.11.1682,
onde está dito:" Do rio Paracuru, pela costa, ate o rio Acaraú, mais ou menos
50 léguas (sic)", ob. cit. o que dificulta a localização geográfica do sesmo de
Domingos Ferreira Chaves. Já o Cel. João da Fonseca Ferreira, foi
concessionário da sesmaria verificada no vol. 1 º, nº 6, datada de 25.02.1694,
onde explica: "No Cascavel, a direita da estrada do Choro. A começar do lugar
Cascavel uma légua e 6 mais ou menos para o sertão, até o Malcozinhado
(sic)", ob. cit., por seu lado bem localizável.

37
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

É até dispensável acrescer que os FEITOSAS, como os ARAÚJOS, tinham


procedência de destaque, o ciue vem documentado pelos próprios governantes
provinciais que , ao lhes tornar concessionários de sesmarias dispensava-lhes os
títulos de Coronel, Comissário Geral, Sagento-rnor e outros, honrarias ciue a
corte portuguesa não conferia facilmente.
Como dissemos no limiar deste capítulo, não nos move o propósito de
enriquecer as crônicas até aqui existentes sobre a família Feitosa, mas fazer
alguns comentários sobre ocorrências históricas, envolvendo este clã ao dos
Araújos e Ferreiras, até agora esquecidos pelo noticiário histórico. De outra
parte, muito do que aqui poderia ser dito, já o foi no capítulo precedente pela
razão de que as famílias Araújo e Feitosa, embora com habitat e pater-familias
próprios, tinham origem comum, objetivos iguais, enriquecidos por fortes laços
de amizade esteados na remoticidade de suas raizes genealógicas.
Os Feitosas e os Araújos, ao contrário de outras famílias migrantes,
adentraram em nossos sertões de cabeça erguida, como se senhores já fossem
da própria terra, constituindo-se como principais proprietários da maioria das
terras desta província. De suas partes não transparece aquela timidez própria
dos migrantes, mas uma desenvoltura própria do conquistador, requerendo e
ocupando extensas sesmarias nos mais longuinqúos pontos do nosso território,
como bem demonstram as colonizações do Jaguaribe e Acaraú, maiores bacias
hídricas do Ceará.
Como o Capitão-mor Domingos Ferreira Chaves foi o farol indicador da
sesmaria de 17.07.1722, motivo da colonização do Alto e Médio Acaraú, o Cel.
João da Fonseca Ferreira teve idêntico papel na do Alto e Médio Jaguaribe.já
por nós demonstrado no capítulo anterior, não podendo - nem devendo-, dar-se
a vinda destes colonos como fruto do acaso e do imprevisto. Com antecipação,
tiveram eles pleno conhecimento da situação reinante na província cearense,
do local onde deveriam situar-se para exercitarem a atividade pecuária, suas
conveniências e vantagens, de vez que não eram neófitos.
Discorrer sobre as querelas entre Montes e Feitosas, é outra prolixidade,
devendo prevalecer, pelo que já foi visto, que as razões únicas foram de ordem
fundiária, com provável antecedência do vale do São Francisco donde ambas
provinham. É esta a informação que nos presta Helvécio Monte, em carta à
João Brígido, publicada no jornal "Unitátio", edição de 04.06.1916, tiragem nº
2.168, ano XIV, republicada pela Rev. do lnst. do Ceará, Tomo LXXV - ano
,· 1961, pg. 309: "João José do Monte casou-se em Penedo com uma filha do
Comendador Antonio José da Silva Travassos, alii foragido por lutas políticas

38
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E Mf:1)10 ACARAt'i

em Sergipe, voltando depois a residir em Sergipe, acalmadas as paixões


partidárias." Continuando: "Foram quatro filhos de João José do Monte que, de
Cotinguiba, seguiram para o Ceará, firmando aí residência entre parentes: e não
pessoas dos primeiros Montes ( sic )."
Quando falamos algures em reparar omissões nas crônicas de antanho,
mostramos o desinteresse naqueles relatos da figura do venerável lusitano Cel.
Manoel Martins Chaves ( 1 º),de Penedo, Alagoas, até aqui posto à margem nas
citações destas famílias, certamente associado ao homônimo bisneto, vitima da
negrejada justiça discricionária dos regimes despóticos. Tronco comum de
Araújos e Feitosas. pelo liame materno, seus descendentes cobriram as terras
do "Siará Grande" com a maior e jamais suplantada árvore genealógica.
Por tratarem especificamente para relatos dos Feitosas, muitos autores,
inclusive os mais argutos, deixam transparecer distanciamento familiar entre
Araújos e Feitosas. como foi o caso do atento Billy Jaynes Clander.ob. cit. pag.
23: .. Embora a maioria da família mais numerosas dos lnhamuns tivesse escolhido
cônjuges do próprio grupo familiar, um número significante de pessoas casou
com forasteiros. Estes casamentos trouxeram, além de sangue novo, valiosas
alianças com outras famílias, tais como os Araújos. Os Araújos no Ceará
descendem de dois irmãos e uma irmã, um deles sendo o Capitão-mor José
Araújo Chaves. Em suas terras de Vila Nova d'El-Rey, situada a duzentos
quilômetros ao norte dos Inhamuns, eles eram tão poderosos quanto os Feitosas
nos lnhamuns, senão mais. Os Araújos estenderam sua influência nos lnhamuns
durante os primeiros anos de colonização, recebendo sesmarias em 1717 e 1720.
A união dessas famílias começou com a segunda geração dos Feitosas nascidas
nos lnhamuns: duas netas de Francisco casaram, respectivamente. com um
filho e um sobrinho do Capitão-mor Chaves. Tornando como base essas alianças,
a união aprofundou-se nas gerações subsequentes, como resultado dos
casamentos realizados entre os Feitosas daquela área e os Araújos de Vila
Nova d'el-Rey (sic)".
Pelo que já foi exaustivamente tratado até aqui, estas observações
desmerecem maiores comentários: José de Araújo Chaves, João Ferreira Chaves,
Joana Paula Vieira Mimosa e, com acentuados índices de probalidade, Gregório
Martins Chaves e Domingos Ferreira Chaves, eram primos por linhagem
materna de Francisco Alves Feitosa e Lourenço Alves Feitosa. Nesta parte,
chamamos a atenção do leitor, visto as fortes ligações anteriormente referidas
com espelho documental, de que a descendência de Antonio de Sousa Carvalhedo
e Nazária Ferreira Chaves, não fica restrita a que nos fornece Leonardo Feitosa,

39
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

ob. cit. fl. 231, pois, em todos os lugares e nos mesmos assuntos históricos em
que estiveram os três mencionados por Leonardo, lá estavam também Gregório
Martins Chaves e Domingos Ferreira Chaves. A história não comporta deduções
de simples aparências, mas, conclusões advindas de informes documentais,
que formem uma conjuntura que envolva pessoas, regiões, datas 1:!
acontecimentos, como se verifica com a conclusão a que acima chegamos.
Desatento, o próprio Billy Jaynes cai em contradição, quando à fl. 41-42,
assim se expressa: "Manoel Francês, não obstante, continuou a emitir suas
ordens sobre a guerra, duas das quais durante janeiro e fevereiro de 1725 dirigidas
aos Feitosas. A primeira delas, uma proclamação datada de 28 de janeiro,
suspendia Lourenço e Francisco de seus postos na milícia, autorizando os
residentes da área e não lhes prestar obdiência e dava ao capitão-mor José de
Araújo Chaves a responsabilidade de comando temporário dos Inhamuns. O
novo comandante não era um estranho no domínio dos Feitosas. Chaves, fundador
de uma das famílias mais importantes do Ceará Colonial, possuia terras doadas
nos Inhamuns, embora sua residência e sede de seu poder estivessem na região
chamada de Vila Nova d'El-Rey, Anos mais tarde, conforme registramos
anteriormente, muitos dos seus descendentes tomaram-se intimamente ligados
aos Feitosas (sic)". Se as ligações dos Araújos e Feitosas provinham dos
casamentos relatados, devem eles ter tido ocorrência antes de 1725, época em
que o Capitão-mor José de Araújo Chaves é chamado a assumir o comando da
milícia dos Inhamuns, justificando os casamentos este chamamento que
representava um "acomodamento". Ora, a neta do Cel. Francisco, que casou
com um sobrinho do Capitão-mor Araújo Chaves, foi Ana Alves Feitosa e.e. o
Capitão Luis Vieira de Sousa (2º). Já viúva, no dia 30.03.1799 Ana Alves Feitosa
fez doação para formação do patrimônio do orago de Tamboril, Santo Anastácio,
vindo a falecer nos primeiros anos do século XIX ( 1800). Caso seu
consorciamento tivesse ocorrido mesmo em 1725, contando ela 16 anos, ao
falecer teria a longeva idade de um século. Afigura-se, destarde, um despropósito
cronológico.
. '
A desatenção do cronista transpõe mais de século, mais parecendo uma
teimosia a um desconhecimento, pois é assim que diz à pags. 61-62: "Durante
os anos que se seguiram à morte de José Alves Feitosa, várias pessoas dos
Inhamuns se destacaram em assuntos locais e da província. Figura proeminente
durante a segunda década do século XIX foi o Coronel João de Araújo Chaves,
da Fazenda Estreito, oficial que comandou as tropas enviadas ao Piauí em 1823.
O bisneto de João Araújo Chaves, pioneiro do rio Carrapateira, Coronel Chaves
do Estreito, casou-se com Josefa Alves Feitosa, bisneta de Francisco Alves

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Feitosa, o colonizador. Quando, em I 824, o Ceará teve outra experiência com a


República aderindo à Confederação do Equador, que por alguns meses exerceu
controle sobre o Nordeste do Brasil em desobediência a Pedro I, foi o Coronel
Chaves que representou os Inhamuns no novo governo. Mas quando a criação
vacilante dos republicanos começou a cair, Chaves voltou-se contra o governo
ao qual havia jurado lealdade e, acompanhado por José do Vale, hasteou a
bandeira real nos Inhamuns. Ele não apenas escapou ao destino que tiveram os
principais líderes da república do Ceará, muitos dos quais foram assassinados ou
executados, mas assumiu um papel até mais importante no governo monarquista
seguinte. Foi nomeado comandante militar da vila do Icó durante os últimos
dias da resistência republicana, e, antes do final da década, indicado comandante
das forças militares do Ceará. Seu irmão mais moço, Antonio Martins Chaves,
da Fazenda São Bento, foi o último Capitão-mor dos Inhamuns, sendo este
posto extinto em I 831. Embora o último ocupante desse cargo, fosse
inadequadamente uma pessoa fora da linhagem genealógica dos Feitosas,
contraiu núpcias com uma prima em primeiro grau pertencente àquela família
(sic)".
Procedente dos Estados Unidos, ;tqui vindo realizar um trabalho para
doutoramento em História - brilhante sob o aspecto proposto -, é plenamente
compreensível que Billy Jaynes Clander incida em tais enganos, especialmente
quando suas atenções estavam voltadas, com exclusividade, para a região dos
lnhamuns. Não podemos perdoar, isto sim, acontecer o mesmo com cronistas
conterrâneos, incidentes na mesma desatenção.
Isto posto, não sendo nossa proposta uma extensa análise sobre os Feitosas,
o que está evidenciado, dissertamos sobre fatos que entrelaçam esta família à
Araújo, aqui ficando evidenciado nosso desrespeito à sequência quando falamos
de uns quando era próprio de outros, desejando, assim assentar ambas nos seus
papeis na contextura histórica do Ceará colonial, especialmente direcionando-
as ao nosso intuito neste estudo, que é a colonização da freguesia de São
Gonçalo do Amarante da Serra do Cocos e Alto e Médio Acaraú. Em capítulo
próprio, daremos os descendentes desta família e dos Araújos que primeiramente
subiram às cabeceiras do Acaraú.

A FREGUESIA DE SÃO GONÇALO DO


AMARANTEDASERRADOSCOCOS
No capítulo A CHEGADA DOS COLONIZADORES DO ALTO E

41
ARAÚJOS E FEITOS/,S - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

MÉDIO ACARAÚ, muito já falamos sôbre os primórdios coloniais desta remota


freguesia. Aqui, vamos dar ao leitor a explicação sobre o surgimento: "Desde
1656, com algumas interrupções, os jesuitas missionavam entre os índios
tabajaras. Com a criação do Curato do Acaraú, começaram a surgir problemas
de jurisdição. Uma vez que as três outras missões e a coordenação do Curato
estavam entregues a padres seculares, chamados, então, da Ordem de São Pedro,
e sujeitos à Diocese de Pernambuco, os jesuítas, que dependiam da casa Provincial
do Maranhão, julgavam-se isentos de qualquer prestação de contas ao Pe.
Matinhos (Pe. João de Matos Monteiro). Tal fato começou a criar dificuldades
de bom relacionamento entre eles. A crise se agravou em 1722, quando o Pe.
João Guedes superior da Missão de Viçosa, foi intimado pelo Pe. Matinhos a se
retirar da Serra. Opôs-se a isto o Coronel Sebastião de Sá, potentado da Ribeira
do Acaraú, que na ocasião estava na aldeia da lbiapaba e prestou solidariedade
aos padres da Companhia de Jesús. A notícia correu longe e até os moradores
da Pamaiba quiseram vir à serra para defender os jesuítas. O fato foi comunicado
pelo Pe. João Guedes ao Cabido de Pernambuco e este ordenou ao Pe. Matinhos
entregasse o Curato a um outro sacerdote. Enquanto não chegava o substituto, o
cura, com auxílio do Frei José da Madre de Deus, carmelita que se encontrava
na Ribeira do Acaraú, resolveu que se construisse uma Igreja sobre a Serra dos
Cocos, a fim de que osjesuitas não pudessem estender sua jurisdição até aquela
parte da lbiapaba. A CONSTRUÇÃO DA CAPELA. Com ordem de escolher o
local para o novo templo, Frei José foi ter com o Capitão José de Araújo Chaves,
potentado daquela região e proprietário das vastas sesmarias da Boa Vista, na
Serra do Cocos, e da Ipueira Grande, no sertão. O encontro do carmelita com o
capitão foi dos mais amistosos e a idéia da construção foi muito bem aceita. O
capitão propôs até que em vez de uma, fossem construidas duas capelas, sendo
uma sobre a serra e a outra no sertão, e para tanto doou os terrenos necessários.
Ele mesmo escolheu os oragos: São Gonçalo e Nossa Senhora da Conceição. O
primeiro santo escolhido seria uma homenagem ao Conselho de Amarante, vila
portuguesa de onde provinham os Martins Chaves, e a Senhora da Conceição,
homenagem a Portugal do qual é a..padroeira. (sic )". Ob. cit. pgs.33-34.
Evidenciado está, portanto, o que algures referimos, isto é, de que a Data
de Sesmaria de 17.07.1722 foi o pilar histórico, do qual provieram as condições
para a colonização da futura freguesia, com o consequente povoamento da
Serra Grande ou lbiapaba, daí decorrendo a colonização cios sertões que lhes
ficavam, a leste norte e sul. Por outro lado, mostra a história que foi o Capitão-
mor José de Araújo Chaves ( 1 º), das I pueiras, o fundador da freguesia de São
Gonçalo da Serra dos Cocos. Se no Pe. Matinhos e no Frei José da Madre d1;:

42
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Deus encontramos o interesse de parar a expansão jurisdicional dos jesuitas,


nele vamos encontrar o anseio colonial e religioso, inclusive com a indicação
dos oragos.
Sob dois ângulos, com a visão do mesmo autor, vamos situar o leitor no
contexto territorial da freguesia de São Gonçalo da Serra do Cocos: "Feguesia
da Serra dos Cocos ou Vila Nova - A freguesia da serra dos Cocos foi
desmembrada do Curato do Acaraú, hoje Vila de Sobral, por Provisão do Bispo
Dom Francisco Xavier Aranha, passada a 30 de agosto de 1757 e lhe foi designada
por Matriz interina a capela de São Gonçalo do Amarante, fundada sobre a Serra
Grande no lugar denominado Serra do Cocos, de que veio o nome da freguesia.
Esta compreende parte da Serra Grande, e também sertão, e tem dentro dos seus
limites a povoação de Campo Grande, que em 12 de maio de 1791 foi criada
Vila com o nome d'El-Rei e nela reside o pároco, por ser solitária a povoação de
São Gonçalo. 'Confina ao Norte com a freguesia de Sobral em 20 léguas; ao Sul,
com Crateús, freguesia do Marvão da Capitania do Piauí, em 9 léguas; ao
Nascente, com a freguesia de Quixeramobim, em 25 léguas; ao Poente, com a
freguesia de Viçosa, em 19 léguas. Tem de longitude 29 léguas e 44 de latitude.
É curato amovível e o orago é São Gonçalo do Amarante. Tem, além da Matriz,
as seguintes igrejas: a de Nossa Senhora da Expectação e São Sebastião, no
Ipú, distante 1 O léguas da Matriz; e a de Nossa Senhora dos Prazeres em Vila
Nova dei-Rei, distante 14 léguas. O pároco tem o título de cura e é vigário da
vara (sic )." Pe F. Sadoc de Araújo, ob. cit. pags. 36-37.
Estes dados, o autor extraiu do jornal "PEDRO II", de Fortaleza, edição
de 7 de janeiro de 1858, havendo a omissão da freguesia de Santo Anastácio, de
Tamboril, criada em 17.12.1853, sendo a primeira freguesia - propriamente
sertaneja - a ser criada no território da Matriz de São Gonçalo. Noutra passagem,
assim o eminente historiador situa a confrontação da imensa freguesia da Matriz
de São Gonçalo da Serra dos Cocos: "O território de Vila Nova d'El-Rei,
coincidente com o da Matriz de São Gonçalo dos Cocos, esendia-se, ao norte,
até Inhaçu; a leste, até a barra do rio Macaco, onde dominava o comissário
Sebastião Dias Madeira, e os sertões de Tamboril sob o comando do Cap. Luis
Vieira de Sousa, até os sertões de Crateús dos Mourões e Feitosas, passando
pela Ipueira do Cap-Mor José de Araújo Chaves, e ao poente, pelo Piauí (sic
)". Ob.cit. pg. 61.
Aqui abrimos um parêntese, para darmos alguns informes que julgamos
necessários ao bom entendimento de certas passagens deste estudo. O
substantivo freguesia. usado na organização administrativa eclesial de antanho,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

é derivado de "freguês" - aquele que era assistido pelo cura da freguesia - onde
nos termos sacramentais era tratado pelos padres "freguês desta freguesia",
ou "freguês desta Matriz", é o mesmo ao que hoje corresponde o também
substantivo paróquia. De outra parte, complementando a informação do
historiador sobre os limites da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos,
em vista das pesquisas.que realizamos, merece acrescer que tinham eles uma
maior extensão. Ao leste, ultrapassavam a cordilheira da Serra das Matas,
onde vamos encontrar desobrigas rotineiras na fazenda Espírito Santo,
pertencente ao Coronoel Antonio Ribeiro Campos, livro de 1825-1829, fl. 78,
em data de 04.07.1826, onde é padrinho o dito Cel. Antonio Ribeiro Campos, na
fazenda Livramento- atual distrito de Monsenhor Tabosa, mesmo livro, fl. 77,
em data de 03.07.1826, restando acrescentar que estas localidades estão a
leste da Serra da Matas, em águas do rio Quixeramobim, portanto em águas
jaguaribanas.
Na parte sul, muito embora fizessem parte do termo do Marvão, da
Comarca de Oeiras, capitania de São José do Piauí, Bispado do Maranhão,
significativa parte do território de Pelo Sinal (Independência) e Piranhas (Crateús
), estava compreendido no contexto geográfico da freguesia da Serra dos Cocos.
Como exemplo, encontramos habituais desobrigas no Oratório do Irapuá (
Crateús ), onde numa só fl. , a 111, do livro referido, encontramos dois termos
seguidos, datados de 06.12.1826, o que indica ser a fazenda Irapuá um lugar de
repouso dos curas itinerantes, tendo este lá passado as festas natalinas. A título
de ilustração, o Oratório do Irapuá foi mandado construir pelo pai do Pe. Inácio
Ribeiro Melo - Sebastião Ribeiro Melo -, como local de oração para o filho
sacerdote, em suas visitas ao Irapuá. Este padre, envolveu-se em atividades
políticas no Princípe Imperial (Crateús ), em consequências do que veio a ser
bárbaramente assassinado no lugar Três Passagens do Riacho, Paraiba.a mando
do Pe. Francisco Ferreira Santiago, vigário colado de Príncipe Imperial, de
quem o Pe. Inácio era coadjutor. Pe. Inácio ia em direção da cidade de Piancó
- PB., em busca do juiz que havia sido nomeado para Crateús, a quem rogaria
justiça pela perseguição que lhe movia o Pe. Francisco Santiago. Este malsinado
crime, teve ocorrência no dia 20 de agosto de 1849, com os mais crueis requintes
de perversidade,com a agravente de que o mandante - Pe. Francisco Santiago
- veio a Pelo Sinal (Independência ), receber os criminosos em pomposa
recepção. Pe. Inácio Ribeiro Melo, também ministrou na capela de Nossa
Senhora dos Prazeres de Vila Nova d'EI -Rei, sendo o que nos fazem ver
inúmeros termos de batismo assentados no livro de 1841-1844, pg. 85 e seguintes.
Prossigamos na verificação dos limites sul, agora relativos ao Pelo Sinal

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

(Independência), iniciando porque a localidade de Bom Princípio - hoje Ematuba


e distrito de Independência - até bem pouco tempo pertencia à paróquia de
Tamboril, adiantando que desobrigas rotineiras eram realizadas nas fazendas
Oiticica e São José, hoje território de Independência.Com esta comprovação,
transparece a verdade das "invasões", referidas na obra de Ismar de Melo
Torres - TERRA E GENTE DE CRATEÚS, já mencionadas no capíltulo OS
ARAÚJOS.
Já que os Inhamuns e a freguesia da Serra dos Cocos são regiões limítrofes,
façamos uma comparação de suas extensões territoriais. Segundo Billy Jaynes
Clandler, era assim formado o território dos lnhamuns: "Os lnhamuns localizam-
se nas cabeceiras do Jaguaribe ao norte da extremidade sudoeste do Ceará, e se
estendem numa área cujos pontos extremos distam cerca de 113 km, de leste a
oeste por 153 aproximadamente de norte a sul ( sic )". Ob. cit. fl. 19. A região
compreendida pela Serra dos Cocos - sem acrescermos as terras chamadas
"invadidas" - , tem seus pontos extremos assim configurados: 174 k11,1s. de norte
a sul, por 264 de leste a oeste, superando, em muito, o território dos lnhamuns.
Na vida eclesial, os lnhamuns antecederam a Serra dos Cocoa, tendo sua
freguesia de Nossa Senhora do Carmo dos lnhamuns, com sede em São Mateus,
criada por Provisão de 07.12.1755, enquanto que São Gonçalo do Amarante da
Serra do Cocos só o foi por Provisão de 30.08.1757, um ano e oito meses
depois. Para uma melhor compreenção do leitor, acrescemos que os limites
geográficos da freguesia nem sempre coincidem com os da administração civil
ou militar, fato que não ocorria com a Matriz de São Gonçalo, desprovida de
povoados ou vilas com autonomia própria, pois a primeira vila criada neste
estenso território foi a de Vila Nova d'El-Rei, em .12.05.1791, mas continuando
a fazer parte da freguesia. A administração civil deste território tinha sede na
Vila Distinta e Real de Sobral, anterior à criação da Vila Nova d'EI-Rei.
Segundo nos informa o Pe. Sadoc de Araújo, ob. cit. o primeiro vigário
colado da freguesia de São Gonçalo do Amarante da Serra do Cocos, foi o Pe.
Antono Tomás da Serra, cujo vigariato teve início a 30.08.1757, com término
no dia 30.10.1761. O último, Pe. João José de Castro, tomou posse no dia
12.09.1881, findando no dia 27.10.1883. É o mesmo autor, que à fl. 40~1os traça
os seguines dados biográficos do Pe. João José de Castro: "Sobralense. Nasceu
a 27 de janeiro de 184 7. Ordenado sacerdote a 30 de novembro de 1872. Foi
cõoperador de Santa Quitéria e de Sobral. A 27 de outubro de 1883 foi extinta
a freguesia da Matriz de São Gonçalo e criada a de São Sebastião do Ipú, onde
se manteve na função. Foi o último paróco de São Gonçalo e o primeiro do Ipú.
Faleceu a 11 de junho de 1893 (sic)", Há uma curiosidade a ser registrada

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

quanto ao Pe. João José de Castro, último vigário colado da importante freguesia
de São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos, encontrada no livro
DICIONÁRIO BIOGRÁFICO DE SACERDOTES SOBRALENSES, de
autoria do Pe. F. Sadoc de Araújo à pg. 85, quando aasim diz: "Neto paterno de
Inácio de Castro e Silva, natural de Santa Cruz do Jaguaribe, e de Rosa Maria do
Nascimento. Neto matemo de Francisco Gomes Parente e Isabel Carolina da
Hungria (sic)". O avô materno era o Pe. Francisco Gomes Parente, fundador e
vigário colado da freguesia de Santa Quitéria, que abandonando as ordens sacras
passou a viver maritalmente com Isabel Carolina da Hungria, sendo readmitido
posteriormente ao sacerdócio. Era o Pe. Francisco Gomes Parente sobrinho
matemo do Cap. Francisco Xavier de Sales Araújo, Cap. Sales, do Serrote, o
que já relatamos no livro HISTÓRIA DA TAMBORIL. Fazemos este registro
no intento de demonstrar que o último vigário colado da Matriz de São Gonçalo,
era neto de um sobrinho do velho Cap. Sales, figura proeminente na fundação
da cidade de Tamboril.
Finalizando, deve o leitor ter percebido que o território da freguesia de
São Gonçalo da serra dos Cocos, compreendida águas triburárias das duas maiores
bacias hídricas do Ceará - Jaguaribe e Acaraú -, e da segunda maior do Piauí -
Poti -, afluente do rio Pamaiba.

OS COLONIZADORES POVOAM O ALTO E MJt-


D10 ACARAÚ
As famílias dos sesmeiros filhos do portugues Antono de Sousa Carcalhedo
e Nazária Ferreira Chaves, filha do Cel. Monoel Martins Chaves ( l º), de Penedo,
Alagoas, algures referidos, eram constituidas de numerosas proles, como a seguir
veremos. Pelos dados documentais expostos em capítulo posterior, verifica-se
que parte destes descendentes foram casados em concomitância com a chegada
a esta região dos seus ascendentes, o que iria importar na ocupação das imensas
terras da Data de Sesmaria de 17.07.1722, em parte já ocorrida de forma dilatada.
De outra parte, as famílias destes descendentes com raras exceções, também
eram formadas de grande número de filhos, sendo esta outra razão preponderante
que demandava na exigência de espaço territorial. Já que a agricultura era
exercitada quase exclusivamente para a sobrevivência, a atividade predominante
destes colonos era o pastoreio.
A abundância de terras provinda da grande sesmaria, que os velhos
sesmeiros encontraram desabitada, não lhes trouxe de início motivo para

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

preocupações. No entanto, quando verificaram a grande expansão colonial do


interior cearense, já estando ocupadas as terras circunvizinhas, resolveram ser
chegada a hora da posse definitiva do imenso sesmo que lhes fora concedido.
Constatada esta verdade, antes do início da segunda metade do século XVIIII,
por volta de 1740/50, despacharam os velhos sesmeiros três filhos homônimos
em demanda das cabeceiras do "rio das graças". Com eles, muitos outros
parentes e cunhados empreenderam esta grande marcha, ocupando estes as
terras que ficavam além da meia légua de ilharga sul-norte, identicamente
desocupadas. Registro nenhum encontramos - sequer através das conhecidas
"versões orais"ou "rezam as crônicas"-, de que haja qualquer tipo de violencia
nesta ocupação.mesmo com os indígenas.
Os filhos dos verdadeiros sesmeiros da Carta de 17.07.1722, o Ten. José
de Araújo Chaves (2º), do Covento, e seu primo, Capitão Luis Vieira de Sousa
(2º), do Tamboril, tiveram o natural privilégio de ocuparem as terras margeantes
do rio Acaraú, enquanto o outro filho homônimo, capitão-mor João Ferreira
Chaves (2º), filho do Cel. João Ferreira Chaves (lº), sesmeiro da Serra dos
Cocos, não havendo o pai participado da sesmaria das cabeceiras do
Acaraú,passou a ocupar imensas terras do lado sul deste rio,já em território que
pertencia à província do Piauí. Pelos remotos documentos que diante passaremos
a estudar com detalhes, a saga de ocupação colonial foi de tal amplitude, que
veremos os descendentes destes sesmeiros encherem as terras que tinham
início no Batoque-norte -, indo aos sertões de Pelo Sinal (lndependencia) e
Principe Imperial (Crateús) - sul-, adentrando pelos sertões do Quixeramobim
- leste -, a chapada da Ibiapaba - oeste -, com típicas conotações de uma
operação militar.
Um detalhe de suma importância para o qual chamamos a atenção do
leitor, era o excessivo uso entre estas famílias da endogamia e da homonimia,
razão que nos levou, desde o princípio deste estudo a fazer as distinções pós-
nominais de 1 º, 2º, 3º etc. para evitar dificuldades de identificações.
Fazendo uma comprovação do que já foi dito algures, isto é, de que
Araújos e Feitosas ligaram o Alto e Meio Acaraú ao Alto Jaguaribe, vejamos a
extensão que deveria ter o Vale do Poti, constante do livro CRATEÚS - MEUS
AVÓS - Raimundo Raul Correia Lima - IOCE -, pg. 86: "O Vale tem extensão
de cerca de 180 quilômetros sobre 120 de largura. É circundado a Oeste pela
Cordilheira da Ibiapaba, que o separa do Vale da Macambira e do termo do
Marvão; ao Norte, por uma linha de serrotes em algumas partes interrompida,
que se destaca das faldas da Ibiapabajunto a antiga Matriz da Serra dos Cocos,
com direção a Leste, onde forma os picos da Forquilha e do Moleque, e passa

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

ao sul da Vila de Tamboril, na distância de 3 quilômetros, indo ligar-se à Serra


do Bargado, prolongamento da Serra das Matas, que se estende de Norte a Sul,
ficando, deste modo, metade do termo de Tamboril e um têrço de Ipu pertencendo
ao dito Vale; a Leste, pela mencionada Serra do Bargado, que, baixando
gradualmente até a fazenda Balanças, continua além com o nome de Caboti,
ponta mais setentrional da Serra da Joaninha, a qual, em direção Leste, Sul e
Sudeste, atravessa o município de São João do Princípe (Tauá) e termina a
Oeste na Ibiapaba, na Serra do Jatobá, ficando.assim, o Vale compreendido
entre Ipu, Princípe Imperial (Crateús), Independência, São João do Princípe e
Tamboril (sic)". Efetivamente, as linhas perimétricas que formam este contômo
constituem águas do rio Poti, por direito pertencentes à província do Piauí, o
que bem se evidencia por um mapa atualizado do atual Ceará. No entanto, em
nenhum momento eles foram respeitados pelos colonos da Serra dos Cocos e
Alto e Médio Acaraú. Embora constitua prolixidade, pois referido no capítulo
OS. ARAÚJOS, é o mesmo autor, ob. cit. fl. 98, que assim confirma:
"Emcabeçados por Dona Luiza Coelho da Rocha Passos, antiga proprietáriia
da fazenda Riacho do Gado, em Crateús, em 1778,. coube aos Mourões, Meios,
Araújos Chaves, Cavalcante de Albuquerque e outros o encargo de povoarem,
prioritariamente, o território de Crateús, sem incluirmos o de Irapuá. O Piauí, só
em 30 de dezembro de 1762, reclamava de uns intrusos da Serra do Cocos, que
certamente eram os mencionados e primitivos povoadores de Crateús, originários
do Ceará e em lutas com os sesmeiros do Irapuá, oriundos do Piauí (sic)",
Desnecessário é dizer que todas as famílias acima referidas tinham descendênciia
ou casaram nas famílias ARAÚJO e FEITOSAS. muitos deles, pelos apelidos
de família já descendentes do capitão-mor José de Araújo Chaves (1 º), das
Ipueiras.
No curso deste trabalho, várias vezes o leitor já viu a referência de "rio
das. graças". Esclarecemos que este é o significativo da palavra híbrida de
origem tupi: Acaraú, que traduzida quer dizer: "acara?e garça+ "ú" = rio, isto
é, "rio das garças".
Para não tornar cansativa a leitura, já que descrições genealógicas são
desinteressantes à quase totalidade dos leitores; de uma só vez vamos oferecer
as descendencias dos três filhos de Antonio de Sousa Carvalhedo e Nazária
Ferreira Chaves, em seguida dando as descendências dos também três filhos
homônimos destes sesmeiros que subiram às cabeceiras do "rio das garças".
I. O Capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 º), e.e. Luzia de Matos
Vasconcelos, moradores de Ipueiras, tiveram os seguintes filhos:

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 0O ALTO E MÉDIO ACARAÚ

1. O Capitão João de Araújo Chaves, da Carrapateira (Inhamuns), que se


casaria com Nazária Ferreira de Sousa, filha de João Ferreira de Sousa, da
Vitória, perto da Serra das Matas.
2. José de Araújo Chaves (2º), que viria a casar-se com dona Leonarda
Bezerra do Vale, filha de João Bezerra do Vale, de Arneiroz, moradores no
Convento, em Tamboril.
3. O Cel. Manoel Martins Chaves (2º), que foi e.e. Dona Úrsula Gonçalves
Vieira, filha de Cel. João Ferreira Chaves. ( l º), da Serra dos Cocos.
4. O Tenente-Coronel Antonio da Costa Leitão, que foi e.e. Dona Maria
Saraiva da Purificação, também filha do Cel. João Ferreira Chaves (1 º).
5. Eleutéria Vieira, que foi e.e. Luciano Martins Chaves, oriundo do Rio
São Francisco, que morou na Cacimba do Meio, no rio do Macaco. Em segundas
nípcias, Eleutéria Vieira foi e.e. Manoel Gomes de Almeida. Deste consórcio,
não conhecemos a descendência.
6. Luzia de Matos Vasconcelos, e.e. o Ten. Cel. Antonio Bezerra Chaves,
que habitaram em Jatobá (Santa Quitéria).
7. Cosma de Araújo Chaves, que foi e.e. o portugues Silvestre Rodrigues
veras, moradores na fazenda do Batoque (Santa Quitéria).
8. Ana Ferreira de Vasconcelos, casada com o parente (não sabemos o
grau) João Ferreira, moradores em Sítio Escuro, antigo território de Crateús,
hoje do distrito de Sucesso, Tamboril.
9. Josefa de Araújo Chaves, e.e. Antonio Cavalcante de Albuquerque,
pernambucano, moradores em Izidório, nos Inhamus.
10. Francisca de Matos Vasconcelos, e.e. Francisco Xavier, moradores
na Barra do Macaco (Entre-Rios), hoje Macaraú.
II - O Capitão Luís Vieira de Sousa ( l º), e.e. Joana Paula Vieira Mimosa,
moradores no sítio Ipu, deixaram os seguintes filhos:
1. O Capitão Luís Vieira de Sousa (2º), e.e. Ana Alves Feitosa, neta do
Cel. Francisco Alves Feitosa, moradores na fazenda Tamboril.
2. Ponciana Vieira, e.e. Victor de Barros Galvão, que foi governador da
Província de Piauí.
3. Ana Gonçalves Vieira, que foi e.e. o tio, Cel. João Ferreira Chaves
(1 º), da Serra dos Cocos.
III - O Coronel João Ferreira Chaves (1º), acima referido, e.e. a sobrinha
Ana Gonçalves Vieira, moradores da Serra dos Cocos, deixaram a seguinte
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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

prole:
1. O Sargento-mor Antonio Alves Bezerra, e.e. Josefa de Barros Galvão,
filha de Diogo de Barros.
2. O capitão-mor João Ferreira Chaves (2!!). e.e. Maria Vieira de Sousa,
filha do Capitão Luis Vieira de Sousa (2!!) e Ana Alves Feitosa, acima
mencionados. O capitão-mor João Ferreira Chaves (2º) fundou a fazenda
Cachoeira Grande, em Tamboril.
3. O Capitão Antonio de Sousa Carvalhedo, solteiro, que viveu na fazenda
Vitória (Santa Qutéria).
4. Nazária Ferreira de Sousa, e.e. o Capitão João de Araújo Chaves,
moradores da fazenda Carrapateira (lnhamuns). Aqui existe uma pequena
confusão, em contadição com a informação da filiação do capitão-mor José de
Araújo Chaves ( l º), das Ipueiras, quando fala do casamento do primeiro filho
do Capitão, no caso o também João de Araújo Chaves. Pessoalmente, somos de
idéia que tenha procedência esta última informação.
5. Maria Saraiva da Purificação, e.e. o Ten. Cel. Antonio da Costa
Leitão, já referidos.
6. Úrsula Gonçalves Vieira, e.e. o Cel. Manoel Martins Chaves (2), já
mencionados.
7. Ana Gonçalves Vieira, e.e. o Capitão Antonio de Barros Galvão, filho
de Victor de Barros Galvão e Ponciana Vieira.
8. Luzia de Matos Vasconcelos, e.e. o Capitão Antonio Martins Chaves,
moradores na Pintada, Tamboril.
9. Nepomucena Gonçalves Vieira. e.e. o Capitão Estevão Lopes Galvão,
primitivos fundadores da fazenda Jardim, nas atuais confrontações de Crateús
e Tamboril. Posteriormente, esta fazenda pertenceria aos parentes Mourões.
I O. José Ferreira Chaves e mais duas irmãs de prenome Maria, que
morreram inuptos na Casa da Lapa, na falda da Serra dos Cocos.
Aqui, pode o leitor constatar o que atrás referimos, de que além de
numerosas, nas famílias destes pioneiros colonizadores aflorou o uso da
homonimia e endogamia. É bom esclarecer que o uso de casamentos no seio da
parentela clânica, tinha como uma das principais motivações a continuidade do
domínio fundiário, o que também vinha significar a não interrupcão nos postos
de poder e mando, que tinham prosseguimento no descendente de maior
proeminência, quase sempre adredemente preparado.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Não podemos prescindir de escrever a descendência dos três filhos destes


sesmeiros mandados às cabeceiras do rio Acaraú, pois, necessário se faz que o
leitor dela tome conhecimento para uma melhor compreensão deste trabalho.
Por outro lado, repetimos, não foram só eles que vieram ocupar uma extensão
de terra de tamanha amplitude. Prevalece a decisão de relatar estas
descendências, pela razão maior de haverem sido eles os primeiros ocupantes
do curso do rio Acaraú.
I - O Capitão Luis Vieira de Sousa, e.e. Ana Alves Feitosa, moradores na
fazenda Tamboril, deixaram os seguintes filhos:
1. Luis Vieira de Sousa (3º), e.e. Leonarda Bezerra do Vale, filha do Ten.
José de Araújo Chaves (2º), do Convento, moradores na fazenda Cacimba
Segura, Tamboril (primos em duplo 2º grau).
2. Maria Vieira de Sousa, e.e. o capitão-mor João Ferreira Chaves,
moradores na fazenda Cachoeira Grande, Tamboril (primos em duplo 2º grau).
3. Quitéria Vieira de Sousa, e.e. o Ten. José de Araújo Chaves (3º), filho
do Ten. José de Araújo Chaves (2º), do Convento (primos em duplo 2º grau).
4. Isabel Vieira de Sousa, e.e. capitão-mor Francisco Xavier de Araújo
Chaves, filho do Ten. José de Araújo Chaves (2º), do Convento (primos em
duplo 2º grau). Foram os avós maternos do grande Gen. Antonio de Sampaio, o
que trataremos em capítulo próprio.
5. Tereza Vieira de Sousa, e.e. Geraldo Alves Feitosa (não conseguimos
encontrar os laços congangüinios).
6. Francisca Alves Feitosa, e.e. o Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo
- cap. Sales, da fazenda Serrote (não eram parentes).
7. Joana Alves Feitosa, solteira.
8. Esméria Vieira de Sousa, solteira.
9. Tomé Alves Feitosa, que faleceu inupto em companhia da sobrinha
Ana Alves Feitosa (homônima da avó materna), na fazenda Olho d' Água,
Tamboril.
III - O Tenente José de Araújo Chaves (2º), do Convento, em Tamboril,
e.e. dona Leonarda Bezerra do Vale, neta do Cel. Francisco Alves Feitosa,
deixaram a seguinte descendência:
1. O capitão-mor Francisco Xavier de Araújo Chaves, e.e. Isabel Vieira
de Sousa, já referidos.
2. O Ten. José de Araújo Chaves (3º), e.e. Quitéria Vieira de Sousa, já

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

relatados.
3. Josefa, e.e. José de Araújo, filho de Luciano Martins Chaves (primos
em 32 grau).
4. Maria Madalena de Vasconcelos, e.e. o tio Antonio Martins Chaves.
III - O capitão-mor João Ferreira Chaves (22), e.e. Maria Vieira de Sousa,
já referidos. Não ocupou as margens do rio Acaraú, pois seu pai não fez parte da
sesmaria de ·17 .07 .1722. Fundou e habitou a fazenda Cachoeira Grande, deixando
os seguintes filhos:
1. João Ferreira Chaves (32), e.e. Maria Madalena (desconhecemos o
grau de parentesto).
2. Capitão Francisco Ferreira Pedrosa (homônimo do bisavô matemo),
e.e. Josefa Martins Chaves (sabemos serem parentes, mas não conhecemos
os liames).
3. Raimundo Ferreira Chaves, e.e. Maria (desconhecemos o parentesto).
4. Úrsula Gonçalves Vieira, e.e. o Capitão Luciano Martins Chaves I[
sabemos serem parentes, mas desconhecemos o grau). Deste casal descendem
Gonçalo Martins de Araújo e Anastácio Martins de Araújo, atualmente
residentes em Monsenhor Tabosa, os quais adiante serão melhormente
detalhados.
5. Maria Vieira de Sousa, e.e. em primeiras núpcias com Antonio Martins
Chaves, e em segundas núpcias com Leonardo de Araújo Chaves (sabemos
serem parentes, mas não conseguimos em que grau).
6. Ana Gonçalves Vieira, solteira.
7. Antonio de Sousa Carvalhedo (homônimo do bisavô paterno), e.e.
Ana Alves Feitosa, (homônima da avô materna ), filha do Capitão Sales, do
Serrote, e de dona Francisca Alves Feitosa (primos em 32 grau ).

COMPROVAÇÃO DOCUMENTAL DA OCUPAÇÃO


COLONIAL
Ficando a freguesia de São Gonçalo do Amarante dos Cocos localizada
na chapada da serra da Ibiapaba, tinha o seu limite oeste com a província do
Piauí. A Leste, tinha o verdadeiro início do seu vasto território bem demonstrado
quando traçamos seu contorno perimétrico - ficando evidenciado que seu ponto
extremo ultrapassava em pouco o território de Tamboril, sendo o território deste:
município quase o ponto terminal do limite Leste da freguesia.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Tendo o rio Acaraú um curso aproximado de 320 kms. , seu mediano


seguimento está situado a oeste de Irajá, município de Hidrolândia, quando este
rio desemboca no reservatório Paulo Sarasate ( açude Araras ), a leste do
município de lpu.
Por outro, verificando-se que a Carta de Sesmaria de 17.07.1722 tem
uma extensão superior a 144 kms. , geográficamente esta extensão compreende
o médio curso do rio Acaraú.
Verificada esta verdade geográfica, nos lançamos a um intenso e extenso
trabalho de pesquisa documental que delongou grande tempo, no intuito de
obtermos dados comprobatórios irrefutáveis do que historicamente já sabíamos
verdadeiro, isto é, de que a colonização da freguesia da Serra dos Cocos, e por
extensão do Alto e Médio Acaraú, fôra efetivada pelas famílias ARAÚJO e
FEITOSA - com acentuado destaque para a primeira - tendo o resultado destas
grandes buscas nos dado autoridade para empreendermos este trabalho.
Sendo o território tamborilense o ponto terminal da freguesia de São
Gonçalo da Serra dos Cocos, além de ter no seu contexto as nascenças do rio
Acaraú, portanto o primitivo povoado mais distante da Serra do Cocos, delem o
privilégio geográfico de merecer um detalhamento imobiliário que corrobore
com nossa assertiva.
Assim sendo, resolvemos tomar como parâmetro para esta demonstração
as terras do município de Tamboril, dividindo seu detalhamento,
preferencialmente, pelo cursos hídricos, iniciando pelos imóveis que ultrapassam
nossas fronteiras pela parte Leste, e que fazem parte das águas que vertem
para o rio Jaguaribe. Em seguida, pegaremos o curso do rio Acaraú, a partir de
suas nascenças, para, logo depois analizarmos os imóveis que ficam além das
ilhargas da meia légua deste rio, tendo início pelo lado Sul, cujas terras
representam aproximadamente 70% do território municipal de Tamboril, dando
continuidade pelas terras do lado Norte. Por último, analizaremos as terras
compreendidas na Serra da Matas.
Cumpre-nos informar, que todos os documentos referidos neste
detalhamento - muitos em seus próprios originais, outros 'em forma pública -
além da bibliografia constante de obras publicadas, são parte integrante de
nosso arquivo particular, com franco acesso a quem interessar.
Também merece ser acrescido que os documentos estudados, não
obstante sua antiguidade, não querem significar não haverem outros mais remotos,
por nós desconhecidos. Encarecidamente, rogamos ao leitor que os detiver ou
deles tenha conhecimento, nos obsequiar com fotocópias ou informação de suas

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

origens, o que nos será de grande valia para correções em futura edição.
Por último, não obstante a acuidade e perspicácia que dispensamos, seria
impossível a inexistência de enganos e omissões, comuns em estudo de tal
amplitude. Contudo, são frutos do involutário ou do desconhecimento.

JAGUARIBE
Sem a presença da autoridade coercitiva, que os impusesse o cumprimento
das leis à época vigentes, habitando as poucas existentes em grandes distâncias
dos locais das infrações, nem assim, nossos primitivos colonos deixaram de lhes
tributar submissão. Com o passar dos tempos, advindo sucessivas gerações
trazendo novos costumes e usos, muitas vezes o contrário veio a ocorrer.
As sesmarias, doadas por um capitão-mor ou governador provincial,
fundamentadas num requerimento onde prevalecia a informação do postulante,
nada conhecendo os cedentes das terras pleiteadas, tinham o sério agravante da
imprecisão quando davam como marcos confrontantes rios, riachos, gratas,
lagôas, serrotes, lagêdos e vários outros acidentes geográficos.
Como única exigência, o Alvará Régio de 01.04.1680 impunha ao
concessionário a obrigação de ocupa-la e desmarcar suas confrontações no prazo
de dois anos, sob pena de comisso, isto é, vir a perder a concessão deferida.
Muitos nela incidiram, pois em acelerada marcha estava a ocupação do nosso
interior, o que ensejava aos desejosos na obtenção de concessões estarem sempre
em vigília sobre os faltosos. A incidência em comisso, foi motivo para muitos
conflitos fundiários, merecendo destaque o ocorrido entre as famílias Monte ,e
Feitosa.
Em nossa região, verificou-se apenas uma inserção neste estatuto legal,
recaida na sesmaria requerida por Calixto Lopes da Silva, pacíficamente
transferida a Antonio Domingos Alves, relativa às cabeceiras do rio
Quixeramobim, onde mais tarde este último assentaria a fazenda Espírito Santo.
Atrás já dissemos, que os limites das freguesias nem sempre eram os
mesmos coincidentes com os da administração civil ou militar, fato que não
teve prevalência com a freguesia da Serra dos Cocos, em cujo território só veio
surgir uma vila no final do século XVIII, mais precisamente no dia 12.05.1791,
com a transformação do povoado do Campo Grande em Vila Nova d'El-Rei,
passando a ter foro civil.judicial e militar, permanecendo no contexto territorial
da velha freguesia.

54
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Com estas observações, queremos demonstrar dois fatos correlatos


verificados na nossa região. O primeiro é respeitante ao comportamento dos
sesmeiros primitivos das cabeceiras do Acaraú, que jamais ultrapassaram as águas
deste rio. O segundo é que se verificou com relação aos limites eclesiásticos da
freguesia da Serra do Cocos, ultrapassados pelos curas desta freguesia conforme
fazem ver inúmeros assentos de batismos efetuados nas fazendas Espírito Santo
e Livramento, território eclesiástico da freguesia de Santo Antonio do Campo
Maior de Quixeramobim.
Não é nosso intuito eximir os descendentes destes sesmeiros de sucessivas
"invasões", já reladadas neste trabalho e que serão comprovadas
documentalmente.
A razão de detalharmos estes imóveis situados em águas tributárias da
bacia jaguaribana,é que os mesmos passaram a compor o território de Tamboril
com a elevação deste povoado a município pela Lei Provincial n2 664, de
04.10.1854. Hoje, estes imóveis compõem a comarca de Monsenhor Tabosa.
De outra parte, estas observações têm por finalidade maior fazer ver ao
desatento, não ser nosso intuito configurar tais imóveis no contexto territorial
de Tamboril, mas, e tão-somente por haverem eles tido como colonizadores
membros das famílias referidas.
Fato idêntico o leitor verificará com inúmeros outros imóveis, hoje fora
das fronteiras territoriais de Tamboril a comporem a de outros municipios, como
é o caso, repetimos, do próprio Monsenhor Tabosa, Independência, Crateús,
Nova Russas e Hidrolândia.

Imóveis: ESPÍRITO SANTO e VACA BRAVA.


Data do documento analizado: 20.10.1813.
HISTÓRICO
Esta Carta de Sesmaria consta do Vol. 92, n2 706, concedida em data de
20.10.1813 ao Coronel Antonio Ribeiro Campos, que foi casado em primeiras
núpcias com uma filha da Antonio Domingos Alves, e em segundas com dona
Beatriz Francisca de Vasconcelos. No requerimento, que é a reprodução da
concessão, constam os seguintes dizeres: "Diz que a sua fazenda Espírito Santo,
havida por herança do seu sogro Antonio Domingos Alves, está contígua a
terras devolutas pelo riacho Vaca Brava acima, até as extremas do Acaraú ( sic
)". Grafia contida no livro SESMARIAS CEARENSES - Distribuição geofrafica
- Edição da Secretaria de Cultura do Ceará - Departamento de Imprensa Oficial-

55
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Fortaleza - 1971, já referido neste estudo. Como já foi mencionado neste trabalho,
a fazenda Espírito Santo era desobrigada pelos curas da Serra dos Cocos, com
menções documentais algures referidas.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Não encontramos a ascendência do Coronel Antonio Ribeiro Campos.
Temos informação documental contida no livro ENCICLOPÉDIA DOS
MUNICÍPIOS BRASILEIROS - Edição IBGE - Rio - 1959 - Vol. XVI, pág.
412 de que foi ele Deputado à Primeira Constituinte Brasileira, como
representante de Pernambuco. De outro lado, sabemos haver sido casado em
segundas núpcias com dona Beatriz Francisca de Vasconcelos, filha do Capitão
Francisco Xavier de Sales Araújo e Francisca Alves Feitosa, o que nos faz ver
o inventário de dona Beatriz datado de 03.10.1870, onde o imóvel Espírito Santo
é por ela herdado, havendo a informação de pertencer o mesmo ao termo de
Boa Viagem. No testamento de dona Beatriz, constante dos autos, à fl. 3/7v. é
por ela dito que do seu consorciamento com o Cel. Antonio Ribeiro Campos, só
houve um filho, homônimo do pai, que faleceu inupto aos 20 anos. Legou todlos
os bens aos sobrinhos. Sendo dona Beatriz casada com o pioneiro colonizador
das cabeceiras do rio Quixerarnobirn, é a razão do detalhamento deste imóvel.
Dona Beatriz era trineta materna do Cel. Francisco Alves Feitosa, sesmeiro
da Carta de 17.07.1722

Imóvel: JACINTO.
Data do documento analizado: 10.06.1864.
HISTÓRICO
A data epigrafada refere-se ao inventário do Cel. José de Araújo Costa,
no qual é o imóvel assim descrito: "Declarou haver mais por aforamento de
Quixeramobim, um sítio com uma légua denominado Jacintho", extremando ao
poente com as águas do Aracaú, ao nascente da Barra do Olho d' Águinha, ao
Norte no divisor das águas do Cedro, ao sul, nas quebradas da Serra, sendo
ditas terras por uma e outra banda do Riacho Jacintho (sic)".
Genealogia : ARAÚJO FEITOSA.
O Cel José de Araújo Costa foi o primogênio do Capitão Francisco Xavier
de Sales Araújo - Cap. Sales, do Serrote - e.e. Francisca Alves Feitosa, era
irmão de dona Beatriz Francisca de Vasconcelos e.e. o Cel. Antonio Ribeiro
Campos, casal este que apadrinhou seu primogênito que recebeu o nome do
padrinho - Antonio Ribeiro Campos de Noronha-, cujos descendentes trouxeram
o apelido de família Ribeiro Campos, sem com ela ter laços de consanguinidade.

56
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

O Cel Jose de Araújo Costa, identicamente era trineto matemo do Cel. Francisco
Alves Feitosa, sesmeiro de Carta de 17.07.1772.

Imóvel : JOÃO LOPES.


Data do documento analizado: 10.06.1864
HISTÓRICO
Trata-se do mesmo inventário, onde o imóvel é sumariamente transcrito:
"Declarou mais uma posse de terras sem extremas, no lugar João Lopes, havida
por compra ao Cel. Antonio Ribeiro Campos (sic)". O imóvel em referência,
está localizado às margens do rio João Lopes, que tem suas nascenças na
Serra da Viração, sendo afluente do rio Quixerammobim. Como o leitor poderá
observar no curso deste estudo, muitos imóveis não têm confrontações,
procedentes de inventários mal escriturados, dificultando bastante a obtenção
de melhores dados, inclusive a própria localização geográfica. _,r , ...••··:: \ _¼. •

Genealogia: ARAÚJO FEITOSA . .r---;:~·~' / " \\


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É a mesma antes relatada. .,./' ·; · · e. ~e,~ •:
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Imóvel: SANTANA.
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Data do documento analizado: 08.05.1868. e,<i1--<;,. •. , -
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HISTÓRICO \
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A primeira referência bibliográfica encontrada sobre este imóvel, nos


fornece Leonardo Feitosa, in Tratado Genealógico da Família Feitosa, dividido
em dois capítulos, sendo o último dedicado a família Araújo. Consta à pg. 256,
onde o autor nos dá conta de que o capitão-mor Antonio de Barros Galvão, e.e.
Ana Gonçalves Vieira, era morador na fazenda Santana. Adiantando nossa
pesquisa, fomos encontrar uma ligeira referência ao mesmo imóvel, sem
condições de localização, no inventário de José Rodrigues Veras, feito na data
epigrafada. Não satisfeito, fomos encontrar comprovação mais remota e
inconteste, ofertada no velho livro de assentos de batismo da freguesia da Serra
dos Cocos, que é de 1825-1829, quando numa só desobriga, constante da fl.
112, encontramos dois assentoa de batismo alí realizados no dia 06.06.1829.
Este imóvel fica em águas do rio Quixeramobim, que deságua no Banabuiu,
afluente do ro Jaguaribe. Constituindo um grande latifúndio, este imóvel é hoje
um assentamento agropecuário gerido pelo o INCRA, onde residem cerca de 68
famílias.
Genealogia: ARAÚJO.
O capitão-mor Antonio de Barros Galvão, era filho de Victor de Barro-

57
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONI7' r 10RES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Gal vão e Ponciana Vieira, filha ,. i. • sesmeiro Capitão Luis Vieira de Sousa (} !~)
e Joana Paula Vieira Mimosa, fundadores da fazenda Ipu. Foi casado com
dona Ana Gonçalves Vieira, filha do sesmeiro da Serra do Cocos, Cel. João
Ferreira Chaves ( 19) e.e. Ana Gonçalves Vieira, mãe que lhe homonimou. O
capitão-mor Antonio de Barros Galvão foi pai das irmãs Úrsula Gonçalves
Vieira e Eufrásia Gonçalves Vieira, que se casaram com dois irmãos: Alexandre
da Silva Mourão ( o velho) e Sebastião Ribeiro Melo, aquele morador na fazenda
Jardim, nas proximidades dos limites de Crateús com Tamboril, e este último no
Irapuá, onde, conforme já atrás referimos mandou construir um oratório para
Pe. Inácio Ribeiro Melo, seu filho. Portanto, os filhos de Alexandre e.e. Úrsula
e Sebastião e.e. Eufrásia, eram primos carnais. Não obstante parentesco tão
próximo, estas duas famílias travaram uma luta de mútuo extermínio, tendo por
razão única a satisfação das ambições políticas do rixento Pe. Francisco Correia
de Carvalho Silva, penúltimo vigário colado da Matriz de São Gonçalo da Serra
dos Cocos, que residia no Ipu. Associado ao poderoso Cel. Francisco Paulino
Galvão,jogou estas famílias uma contra a outra, redundando num triste epílogo
sangrento. Resta acrescentar que o Cel. Francisco Paulino Galvão, além de
descendente da família Araújo, era casado com uma parenta, também
proveniente da mesma família, filha do Ten. Cel. Luis Lopes Teixiera, por sua
vez casado com duas irmãs: Ana, em primeira núpcias, e Úrsula em segunda,
ambas filhas de Sebastião Ribeiro Melo e Ana Gonçalves Vieira. Finalizando,
o capitão-mor Antonio de Barros Galvão e sua mulher Ana Gonçalves Vieira
eram primos, sendo ele materno do Capitão Luis de Sousa, sesmeiro da Carta
de 17.07.1722.

ACARAÚ
Em capítulo anterior já oferecemos o significado da palavra Acaraú, que
tem origem em vocábulo híbrido de origem tupi, formado de A CARA = garça,
+ Ú = rio, isto é, RIO DAS GARÇAS. Nasce na Serra São Gonçalo, que faz
parte do complexo do maciço da Serra da Matas. nas proximidades do lugar
Lagoa dos Santos, inicialmente com a direção norte-sul, tomando direção leste-
oeste ao ultrapassar a fazenda Cacimba dos Moços, seguindo o mesmo rumo
ao banhar a cidade de Tamboril. Ao adentrar o município de Nova Russas,
começa a tomar a direção sul-norte, assim desaguando no Oceano Atlântico.
Tem os seguintes e principais afluentes: Jaibara, Jatobá, Acaraú-mirim, Feitosa,
Macacos, Groairas, .Jacurutu e Madeira. Mede aproximadamente 12.540 Km.2,
e seu curso é de mais ou menos 320 Kms., sendo a segunda maior bacia hidráulica
do Ceará.

58
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONTZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Queremos acrescer, que a fonte documental-bibliogáfica que nos orienta


nos detalhamentos, tem sua principal proveniencia do livro Tratado Genealógico
da Família Feitosa, já bastante referido, sendo os demais dados genealógicos
complementados por inventários, escrituras, livros de assentos batismais da Matriz
da Serra do Cocos e demais documentos afins, todos integrantes do arquivo
particular do autor, em seus originais e outros em fotocópias autenticadas.

Imóvel: PIEDADE (hoje com as denominações de Lagoa dos Santos e muitas


outras).
Data do documento analizado: 18.03.1791.
HISTÓRICO
É um dos documentos mais antigos referentes a terras do Tamboril. Foi
lavrado na fazenda Convento, em casa do do Ten. José de Araújo Chaves (2º),
no qual é vendedora sua sobrinha Ana Correia Barbosa, viúva de Manoel Ferreira
Sampaio, em cujo ato foram os filhos menores representados pelo irmão maior
Luis Ferreira Sampaio. É o imóvel assim descrito na escritura: "huma sorte de
terras de lavrar citas na cabeceiras do rio Acaraú chamada Piedade que terá
pouco mais ou menos uma legoa de comprido pegando a dita legoa de terras no
pé de huns oitys buscando para a parte do puente com outra tanta para as
ilhargas e da parte do Norte estremando com terras de dona Leonarda Bezerra
do Vale e dona Anna Alves Feitosa e da parte do Sul donde se completar a dita
legoa por dentro de humas serrarias (sic)".
Genealogia : ARAÚJO
No curso deste estudo, em capítulo próprio faremos o reparo de um erro
histórico, no qual também incidimos quando escrevemos a HISTÓRIA DE
TAMBORIL, e referente a genealogia do valoroso Gen. Antonio de Sampaio,
glória do Tamboril e da nação brasileira, em cuja ocasião a escritura pública
acima referida será melhormente detalhada. A vendedora Ana Correia Barbosa,
era filha de Luciano Martins e dona Eleutéria Vieira, sendo, portanto, neta
materna do capitão-mor José de Araújo (1 º), das Ipueiras, sesmeiro da Carta
de 17.07.1722.

Imóvel: MULUNGU (]º análise).


Data do documanto analizado: 03.03.1786.
HISTÓRICO
Como a anterior, esta escritura pública lavrada na data epigrafada, constitui
um dos mais remotos documentos relativos a terras do território tamboriense.

59
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Feita na fazenda "Pajeú" - não diz em morada de quem - figurando como


vendedores Manoel Gomes de Almeida e sua mulher Eleutéria Vieira, e como
comprador o Ten. João Ferreira Chaves (2º), dado como morador na sua fazenda
Cahoeira Grande. O imóvel é assim dscrito na escritura: "Um sitio de terras de
criar gados Vacuns e Cavallar chamado MULUNGU, nesta Ribeira das cabeceiras
do Acaraú, pegando o dito sitio no comprimento da parte do Nascente da Lagoa
chamada Vaca Brava, com o comprimento até o Boqueirão do Salobro,
estremando com a fazenda Tamboril, com a largura que se achar de uma e outra
banda do dito riacho Mulungu, ,a saber: da parte do norte com a Serra das Matas
e para a parte do Sul com o riacho Pajaú (sic)". Os limites desta escritura nos
indicam duas evidências: a primeira, faz ver que as terras da fazenda Tamboril,
pertencentes ao Capitão Luis Vieira de Sousa (2º) e sua mulher dona Ana Alves
Feitosa, findavam a leste no Boqueirão do Salobro, nas proximidades do Serrote
Salobro, o que evidencia o imenso latifúndio constituído pela fazenda Tamboril.
De outra parte, o imóvel Mulungú pelo lado Sul ia ter às águas do riacho Pajeú,
implicando em que as atuais terras que constituem a parte norte do atual distrito
de Curatis - antiga fazenda Lagoinha -, faziam parte do território do Mulungu,
vindo daí a comprovação das chamadas "invasões", pois, o riacho Pajeú afluindo
para o Poti, deveria este território pertencer à província do Piauí.
Genealogia: ARAÚJO
Se não tivessemos estudado com acuidade a história colonial destas
primitivas famílias, suas origens genealógicas e a ligação que advém com a
Carta de Sesmaria de 17.07.1722. estaríamos enredados num impasse. É que:
Eleutéria Vieira. filha do sesmeiro capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 º), das
lpueiras, é dada por Leonardo Feitosa, obra citada, pág. 232, como e.e. Luciano
. Martins Chaves, discorrendo o mesmo autor à pág. 252 sobre a desdendência
do casal, quando assim finaliza: "No dia 7 de maio de 1794, os filhos do Ten.
Cel. Luciano Martins Chaves, mandaram rezar ofício solene por alma deste na
Capela de Arneiroz, pelo Pe. Antonio Lopes de Azevedo e outros sacerdotes
. (sic )", de cuja informação devemos concluir que o óbito de Luciano Martins
Chaves deve ter ocorrido bastante tempo antes da celebração referida, deixando
viúva dona Eleutéria Vieira. Ao mencionar a descendência de Lucinao e
Eleutéria, o mesmo autor faz referência a filha Ana Barbosa, que é a mesma
Ana Correia Barbosa, atrás referida como viúva de Manoel Ferreira Sampaio.
razão que a motivou a vender terras nas cabeceiras do Acaraú, certamente
herdadas do pai falecido. cuja venda foi motivo de distorção de nossa parte no
livro HISTÓRIA DE TAMBORIL. Que Eleutéria tenha casado com Luciano
Martins Chaves, não pomos dúvida. Contudo, irrefutável é a prova documental

60
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

advinda da escritura pública aqui referida, que a dá como e.e. Manoel Gomes de
Almeida, certamente em segundas núpcias. Quanto ao comprador, Ten. João
Ferreira Chaves (2Q}, da Cachoeira Grande, primo paterno de Eleutéria Vieira,
inicia com esta compra a formar o maior patrimônio latifundiário em território
tamborilense, como constatará o leitor no curso deste trabalho. Finalizando,
dona Eleutéria Vieira era filha do capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 Q), das
Ipueiras e de dona Luzia de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: MULUNGU (2ª análise).


Data do documento analizando: 12.06.1818
HISTÓRICO
Este segundo detalhamento, tem por objetivo comprovar o que diz o
historiador Hugo Catunda, em trabalho publicado na Rev. do Inst. do Ceará -
Ano 1995 - págs. 96-97, quando reza: "É o que Oliveira Viana chamou a "lei de
continuidade geográfica", predominante na expansão povoadora da colônia, e,
segundo a qual a família tronco, partindo de um domínio inicial, espalhava-se
em derredor, como num sistema de gravitação, fixando-se e irradiando-se por
continuidade, não rareando os casos em que um só núcleo familiai senhoreava
um município e até mesmo uma vasta região (sic)". Sendo pretensão única
deste trabalho a demonstração da parte final do que enuncia o historiador, de
que as famílias Araújo e Feitosa colonizaram o vatíssimo território da remota
freguesia da Serra dos Cocos, e por extensão do Alto e Médio Acaraú, é nosso
desejo que o leitor observe que quase um século já havia decorrido da concessão
de 17.07.1722, verificando-se aqui o que o historiador proclama de "continuidade".
Como adiante veremos, até hoje existem descendentes do Cel. José de Araújo
Costa como proprietários de sua fazenda sede, num correr de quase três séculos.
A data epigrafada no documento aqui analizado, é referente a uma escritura
pública lavrada em Vila Nova d'El-Rei (hoje Guaraciaba do Norte), na qual são
vendedores Antonio de Sousa Carvalhedo (homônimo do bisavó paterno) e
Ana Alves Feitosa (homônima da avó materna}, e, como compradores o
"Comandante José de Araújo Costa" - que é o mesmo Coronel José de Araújo
Costa - e, o também "Comandante Antonio Ribeiro Campos" - que também é
o mesmo Cel. Antonio Ribeiro Campos, sendo estes cunhados, já referidos
neste trabalho. Na escritura, é o imóvel assim mencionado: "uma sorte de terras
de criar gados no riacho denominado Mulungú, termo desta Villa comarca do
Ceará Grande a qual sorte de terras houveram elles vendedores por título de
herança que lhes tocou em partilha por falecimento do Capitão Mor João Ferreira

61
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Chaves (sic)", Logo depois vem esta informação: "advirto que dita sorte de
terras tem o seu princípio na barra do mencionado riacho Mulungú até as
nascenças, ficando a parte do Nascente para o Comandante Antonio Ribeiro
Campos, estremando com as terras delle mesmo comprador e servindo de
extrema a Lagoa da Vaca Brava, e da parte do Poente para o Comandante
José de Araújo Costa, estremando com terras do Capitão Francisco Xavier de
Sales e servindo de estrema o Massapê do Correia, onde tem uma aroeira
grande onde tem umas barrocas (sic)". Por estes limites fica comprovado o
que algures dissemos sobre a grande extensão da fazenda Tamboril, verificando-
se neste documento que o limite Oeste já era com a fazenda Serrote, do Capitão
Sales. Neste ano - 1818 -, já era falecido o capitão-mor João Ferreira Chaves,
da Cachoeira Grande.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Antonio de Sousa Cavalhedo (bisneto), era filho do Capitão-mor João
Ferreira Chaves (2!!), da Cachoeira Grande, e de Maria Vieira de Sousa. Ana
Alves Feitosa (neta), era filha do Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo -
Cap. Sales, do Serrote -, e de Francisca Alves Feitosa. Neste caso, Antonio
era bisneto matemo do Capitão Luis Vieira de Sousa ( l !!) e.e.Joana Paula Vieira
Mimosa, sendo Ana trineta materna do Cel. Francisco Alves Feitosa e.e. Catarina
Cardosa da Rocha Resende Macrina, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CACIMBA DOS MOÇOS.


Data do documento analizado: 08.05.1898.
HISTÓRICO
Como outros imóveis, êste também faz parte do primitivo contexto
territorial do Imóvel Mulungú. Contudo, a primeira referência documental que
o denomina Cacimba dos Moços, fomos encontrar no inventário de Anastácio
de Araújo Costa Sales, levado a termo na data epigrafada, onde está
sumariamente descrito: "Mais uma posse de terras no lugar Cacimba dos
Moços.deste termo, havida por compra a Francisco Cordeiro da Rocha e sua
mulher (sic)". Era, repetimos, um costume infeliz a forma como eram descritos
muitos imóveis nestes inventários de antanho, o que motivou muitos litigíos
territoriais.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Na escritura pela qual Anastácio de Araújo Costa Sales adquiriu o imóvel
a Francisco Cordeiro da Rocha e sua mulher Maria Francisca de Araújo, foram
estes representados pelo procurador Dr. Francisco de Sales Ribeiro Campos,

62
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

assim dizendo o documento: "representados por nosso procurador bastante e


genro Dr. Francisco de Sales Ribeiro Campos ( sic )". Maria Francisca de Araújo,
está relacionada como filha entre os herdeiros do Cel. José de Araújo Costa,
sendo irmã do comprador Anastácio de Araújo Costa Sales, dada como e.e.
Francisco Cordeiro da Rocha, pais de Ana Ribeiro Cordeiro de Sales Campos,
mulher do Dr. Francisco de Sales Ribeiro Campos. Portanto, o Dr. Sales -
como era simplicadamente conhecido-, foi e.e. uma neta do Cel. José de Araújo
Costa. O inventariado Anastácio de Araújo Costa Sales, era trineto paterno do
Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º), e.e. Joana Paula Vieira Mimosa, do lpu, e
tetraneto também paterno do Cel. Francisco Alves Feitosa, ambos sesmeiros
da Carta de 17.07. 1·722. O Dr. Francisco de Sales Ribeiro Campos, além de
haver sido o primeiro filho de Tamboril a exercer as funções de Promotor Público
em sua terra, também foi o primeiro Juiz de Direito da Comarca de Crateús na
fase republicana, conforme assim informa Ismar de Melo Torres, ob. citada, fl.
56: "em 1891 a comarca anteriormente criada foi mantida com a Lei nº 196, de
5 de junho, abrangendo os termos de Crateús, Vertentes, Santa Quitéria,
Independência e Tamboril. Nesta fase inicial do regime republicano funcionaram
como juiz de Direito da comarca o Dr. Francisco de Sales Ribeiro Campos
(sic )". No texto da mencionada escritura, os vendedores Francisco Cordeiro e
Maria Francisca informam haverem adquirido o imóvel por compra a Gonçalo
Martins Chaves e sua mulher, donde devemos concluir que os herdeiros do
capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), da' Cachoeira Grande, além de Antonio
de Sousa Cavalhedo atrás referido, outros também herdaram no imóvel Mulungú,
pois o Gonçalo Martins Chaves - vendedor -, era bisneto paterno do velho
patriarca da Cachoeira Grande, cuja descendência é a seguinte:
I - Capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), da Cachoeira Grande, e.e.
Maria Vieira de Sousa, filho do Capitão Luís Vieira de Sousa (2º) e de Ana
Alves Feitosa, pais de
1. Úrsula Gonçalves Vieira, e.e. o Capitão Luciano Martins Chaves,
pais de
2. Gonçalo Martins Chaves ( 1 º), e.e. Maria Vieira de Sousa, sua prima,
já viúva de José de Quadro Favela, pais de
3. Gonçalo Martins Chaves (2º), e.e. Maria de Sousa Martins, morador
no lugar Sítio do Sousa, onde veio a falecer no dia 26.11.1900, pais de
4. Gonçalo Martins Chaves (3°), e.e. Luzia Martins de Araújo, pais de
a) Francisca Martins de Araújo, com 24 anos de idade, residente no
lugar Geraldo, termo de Boa Viagem.

63
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

b) Maria Doria de Araújo.com 22 anos de idade, residente na Telha.


c) Luiza Martins de Araújo, com 19 anos de idade. É a mãe de José de
Araújo Souto, Prefeito Municipal de Monsenhor Tabosa no período de 1989-
1992.
d) Gonçalo Martins Chaves (4Q), que posteriomente passou a assinar-se
Gonçalo Martins de Araújo, com 17 anos de idade.
e) Anastácio Martins de Araújo, com 15 anos de idade. Estes três últimos
são dados como residentes no lugar Sítio do Sousa, na Serra das Matas. Os
dados foram extraídos do inventário de Gonçalo Martins Chaves (2Q), que não
obstante haver falecido no dia 26.11.1900, só teve o inventário efetuado no dia
22.08.1930.
Gonçalo Martins de Araújo e Anastácio Martins de Araújo atualmente
residem na cidade de Monsenhor Tabosa, vindo o último a compor a primeira
Câmara Municipal quando da instalação do município.
Queremos aqui repisar - o que faremos no decurso deste estudo-, que
Anastácio de Araújo Costa Sales era trineto paterno do Capitão Luis Vieira de
Sousa ( 1 Q) e tetraneto também paterno do Cel. Francisco Alves Feitosa, sesmeiro
da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: BOA VISTA, BELA AURORA e CACHOEIRA DO PEIXE.


Data do documento analizado: 10.06.1864.
HISTÓRICO

Consta do Inventário do Cel. José de Araújo Costa, com origens que


remontam aos primitivos colonizadores, sendo assim a descrição: "Declarou
mais uma légua de terras no lugar Boa Vista, deste termo, no rio Acaracú, cuja
légua de terra ou o que se achar principiam suas estremas ao Poente com a
fazenda Serrote, no Riacho Fundo; ao Nascente com terras do mesmo
inventariado, no Boqueirão do Salobro, ao Sul, com terras do São João, e ao
Norte, com a Serra das Matas, havidas por herança do pai do inventariado
Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo ( sic )". Além desta, há outra
descrição: "Declarou mais uma posse de terra no lugar Boa Vista, deste termo,
rio Acaracú, cuja posse tem meia légua, pouco mais ou menos, principiando
suas estremas ao Poente com o Boqueirão do Salobro; ao Nascente, na
cachoeira do mesmo rio, com terras do inventariado; ao Norte, com a Serra das
Matas, e ao Sul com terras do riacho São João, que a houve por compra aos
herdeiros do finado Francisco Xavier de Sales Araújo ( sic )". No conjunto

64
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACAR)

territorial compreendido pelos limites acima referidos, estão inseridos os imóvei


Bela Aurora e Cachoeira do Peixe, cujas denominações surgiram posteriormente.
Genealo2ia: ARAÚJO FEITOSA.
Já relatada.

Imóvel: SERROTE.
Data do documento analizado: 10.06.1864.
IDSTÓRICO
Quando escrevemos a HISTÓRIA DE TAMBORIL, lamentamos não
termos encontrado o inventário do Cap. Sales do Serrote, e.e. dona Francisca
Alves Feitosa, portanto, genro do Cap. Luis Vieira de Sousa ( 2º ) e de dona
Ana Alves Feitosa, cujo processado deve ter tido tranmitação em Vila d'El-
Rei. Já atrás referida e comprovada sua posse no imóvel Serrote, local de sua
moradia, vamos encontrar outra comprovação no inventário do primogênio do
velho Cap. Sales, Cel. José de Araújo Costa, levado a termo na data epígrafada,
onde encontramos: "Declarou haver mais uma posse de terras, sem estremas
no lugar Serrote, havida por herança do finado pai do inventariado, Capitão
Francisco Xavier de Sales Araújo ( sic )". Além da herança paterna, o Cel.
José de Araújo Costa comprou mais a herança do irmão, Cel. Diogo Lopes de
Araújo Sales, assim mencionada: "Declarou haver mais uma posse de terras,
sem estremas, no lugar Serrote, deste termo,a margem do rio Acaracú,
compradas ao Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales e sua mulher Maria José de
Araújo Sales ( sic )". Esta herança vendida pelo Cel. Diogo deve ter sido a
paterna, pois, logo a seguir vem a seguinte descrição: "Declarou haver mais
uma posse de terras, sem estremas, no lugar Serrote, deste termo, comprada a
João Ribeiro Pessoa Montenegro e sua mulher Raquel do Brasil Montenegro (
sic )". Raquel do Brasil Montenegro é filha do Cel. Diogo Lopes, que tinha o
hábito de denominar os filhos com prenomes, de cidades e paises, como é o
caso de Maria Genebra de Vasconcelos, e.e. o Ten. Cel. Joaquim José de
Castro, homem que presidiu a sessão de instalação do município de Tamboril no
dia 25.06.1863, sendo o político de maior poder de liderança da história de
Tamboril, último habitante da legendária fazenda Serrote.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
À exceção do Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales, os demais já estão
referidos neste estudo. O Cel. Diogo Lopes foi o segundo e último filho masculino
do casal - Capitão Sales, do Serrote, e dona Francisca Alves Feitosa-, vindo do
casamento do Cel. Diogo com Maria José Rodrigues de Farias ( nome que

65
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

usava como solteira), o cruzamento das famílias Araújo Feitosa com Farias.
Dona Maria José era irmã de Bento e José Rodrigues de Farias, originários do
Ipu, onde o Cel. Diogo Lopes foi minerador de ouro no lugar Juré, ocasião em
que veio a conhecer dona Maria José e com ela contrair núpcias. Sobre a
singular pessoa do Cel. Diogo Lopes já nos ocupamos em HISTÓRIA DE
TAMBORIL. O Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales era bisneto matemo do
Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º ), do Ipu, e.e. Joana Paula Vieira Mimosa, e
tetraneto também matemo do Cel. Francisco Alves Feitosa, e.e. Catarina
Cardosa da Rocha Resende Macrina, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóveis: BUENOS AIRES e JUÁ, compreendendo também BABOSA e


SOSSÊGO.
Data do documento analizado: 07 .O 1.1879.
HISTÓRICO
Não obstante estarem no contexto geográfico das primitivas terras da
fazenda Tamboril, o que nos provam os limites da escritura pública de venda do
imóvel Mulungú ( 1 !! análise), foi no inventário do primogênito do Cel. José de
Araújo Costa - Capitão Antonio Ribeiro Campos de Noronha-, com início na
data epigrafada, que vamos encontrar a primeira referência documental que
assim denomina este imóvel. Buenos Aires, topônimo proveniente da capital da
República Argentina, tem a seguinte descrição: "Declarou haver mais uma posse
de terra nesta Villa, no lugar denominado Buenos Ayres, havida por herança do
seu finado pai José de Araújo Costa ( sic )". Outra, tem estes dizeres: "Declarou
mais haver uma posse de terras nesta Villa, estremando com a fazenda Buenos
Ayres, havia por herança de sua falecida mãe Anna do Nascimento Vidal ( sic
)". As terras do Jaú, são assim mencionadas: "Declarou mais uma posse de
terras de criar no rio Acaracú, no lugar denominado Juá (sic )". Justificando
que os imóveis Babosa e Sossego estão contidos na contextura das primitivas
terras da fazenda Tamboril, voltemos nossa atenção ao inventário do Cel. José
de Araújo Costa, já aqui referido, no qual encontramos a seguinte descrição:
"Declarou haver mais no lugar Tamboril, desta Villa, no rio Acaracú uma posse
de terra estremando pela parte do Nascente com terras do Juá, pela parte do
Puente, com terras da Cacimbinha, pela parte do Sul com terras do Pajeú, e pela
parte do Norte com terras da Santa Bárbara (sic )". À exceção das terras já
doadas ao patrimônio de Santo Anastácio, esta posse de terra compreende um
vasto território, ficando implícito pelos limites nela constantes, que compreendiam
as terras que hoje formam as propriedades Babosa e Sossêgo, uma vez que pelo
lado Sul iam ter ao Pajeú.

66
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.


O Major Antonio Ribeiro Campos, título com que é tratado no inventário,
foi e.e. Prudenciana Ribeiro Campos, sendo o filho primogênito do Cel. José de
Araújo Costa e dona Ana do Nascimento Vida!. Foi chamado de Antonio Ribeiro
Campos de Noronha, como homenàgem que fez o pai ao cunhado, compadre e
amigo, Cel. Antonio Ribeiro Campos, casado em segundas núpicas com dona
Beatriz Francisca de Vasconcelos, irmã do Cel. José de Araújo Costa. O Major
Antonio Ribeiro Campos de Noronha veio ao mundo na fazenda Caiçara, moradia
de seus genitores, no dia 03.08.1827, onde foi batizado, vindo a falecer no dia
07.01.1879, com a pouca idade de 52 anos, deixando numerosa prole. Era trineto
paterno do Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 °),e.e. Joana de Paula Vieira Mimosa,
e também tetramenta paterno do Cel. Francisco Alves Feitosa, ambos sesmeiros
da Carta de 17.071722.

Imóvel: TAMBORIL.
Data do documento analizado: 30.03.1799.

HISTÓRICO
Não obstante ter sua origem de posse jurídica na Carta de Sesmaria de
17.07.1722, achamos de máxima importância histórica a menção da escritura
pública datada de 30.03.1799, pela qual a viúva dona Ana Alves Feitosa fez
doação para constituição do patrinômio de Santo Anastácio, orago da capela
que ela mandaria erigir. O documento foi lavrado "na fazenda Tamboril, na
casa de morada de donna Anna Alavares Feitosa ( sic )". viúva do Capitão
Luis Vieira de Sousa ( 2º ), no qual é dito que a doadora Ana Alves Feitosa
"fazia patimonio e doação de trezentas braças de terra de comprido e outras
tantas de largo,de uma só banda do rio Acaracú da parte do Sul, onde ela
doadora tem sua casa de vivenda, com quarenta vacas situadas neste lugar
desta doação, ao Sr. Santo Anastácio, para Patimônio de uma Capella que se
pretende erigir neste mencionado lugar do Tamboril, e nella se colocar o dito
Santo ( sic )". No livro HISTÓRIA DE TAMBORIL, bastante nos referimos
sobre este documento, necessitando acrescer que a velha casa, primeira habitação
dos primitivos colonizadores, encontra-se em estado de abandono e minas, o
que deve não causar admiração. Enfim, estamos em Tamboril, na região Nordeste
do Brasil, fato que bem justifica esta deplorável constatação.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
O Capitão Luis Vieira de Sousa (2º ), e.e. dona Ana Alves Feitosa, era
filho do Capitão Luís Vieira de Sousa ( 1 °),e.e. Joana de Paula Vieira Mimosa,

67
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

sesmeiro da Carta de 17.07.1722. Já dona Ana Alves Feitosa era filha do Sargento
-mor Francisco Ferreira Pedrosa, e.e. Josefa Alves Feitosa, filha do Cel. Francisco
Alves Feitosa e de dona Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, também
sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imovél: CONVENTO.
Data do documento analizado: 17.07.1722.
HISTÓRICO
Como fundador da fazenda Convento, o Ten. José de Araújo Chaves ( 2°
), filho de pai homônimo, o sesmeiro Capitão -mor José de Araújo Chaves ( 1 °
), das Ipueiras e de dona Luiza de Matos Vasconcelos, é evidente que o documento
que lhe dava posse jurídica - como aos demais-, no Alto Acaraú.jera a Carta
de Sesmaria já exaustivamente referida. Outras indicações documentais
comprovam haver sido ele o colonizador daquelas terras, corno diz Leonardo
Feitosa, obra citada, fl. 232, bem assim a escritura pública datada de 18.03.1791,
lavrada na fazenda Convento, onde está expresso ser a morada do Ten. José de
Araújo Chaves ( 2° ). Afloram indícios de que, a exemplo do Capitão Luis
Vieira de Sousa ( 2º ), seu primo, o Ten. José de Araújo Chaves ( 2º) faleceu
antes de sua mulher, dona Leonarda Bezerra do Vale. De outra parte, vários e
remotos batizados foram ministrados no Convento, como nos faz ver o livro de
1825-1829 da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, fl. 221, em data
de 02.08.1828. Em capítulo futuro deste estudo, melhor referência faremos
deste casal. Quanto as suas descendências, o Ten. José de Araújo Chaves,
como já foi fito, era filho do capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 ° ), das
lpueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.
Já dona Leonarda Bezerra do Vale, era filha do Sargento-mor João
Bezerra do Vale, e.e. Ana Gonçalves Vieira, filha do Cel. Francisco Alves
Feitosa, também sesmeiro da Carta de 17.07.1722.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Acima relatada.

Imóvel: CARÃO.
Data do documento analizados: 02.08.1800.
HISTÓRICO

É mais uma comprovação documental de que o Ten. José de Araújo


Chaves ( 2° ), foi o colonizador das terras do Convento. A data acima é de uma

68
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

escritura pública, pela qual o mesmo Ten. José de Araújo Chaves faz venda de
terras no lugar Carão a Francisco dos Santos Vieira, que não obstante omitido
por Leonardo Feitosa, tem relação de parentesco com o Capitão Luís Vieira de
Sousa ( 2º ). Neste documento, o imóvel é assim descrito: "que elle era senhor e
possuidor de mança e pacifica posse de meia legoa de terra de comprido e uma
de largo na beira do rio Acaracú, meia para cada banda do mesmo rio no lugar
onde se acha situado o dito comprador acima declarado denominada Carão que
a houve por herança do seu falecido pai Tenente -Coronel José de Araújo Chaves,
cujas terras pega o comprimento da meia légoa da parte do Nascente em um
Tabuleiro chamado extremas, estremando neste lugar com terras da fazenda
Tamboril, de Dona Anna Alves Feitosa pelo rio Acaracú abaixo buscando o
Puente, até uma Várzea chamada do Vaquejador, estremando neste lugar com
terras da fazenda Convénto, dele vendedor, e a largura pegando da dita beira
do dito rio Acaracú, buscando o Sul até a beira do riacho Fundo, e da outra
parte pegando da beira do mesmo rio buscando o Norte, até a beira do Riacho
Escuro ( Sítio Escuro )estremando neste Riacho de uma e outra parte com as
próprias terras dele vendedor ( sic )". Este documento nos prova o que dissemos
no início deste detalhamento, de que o comprador Francisco dos Santos Vieira
tinha laços de parentesco com o Capitão Luís Vieira de Sousa ( 2º ), bem
comprovado na simples expressão inserida na escritura "no lugar onde se acha
situado o dito comprador ( sic )". Ora, ciosos da posse de suas terras, estes
filhos de sesmeiros jamais consentiriam que alguém, sob suas vistas, tomasse
posse em suas terras. Para tanto, basta vermos o cuidado como eram detalhados
os limites.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida.
Imóvel: CACONHA.

Data do documento analizado: 10.06.1864.


HISTÓRICO
O primeiro e claro informe sobre este imóvel, fomos encontrar no
inventário do Cel. José Araújo Costa, levado a termo na data epigrafada e já
bastamte referido. Nele, o imóvel tem a seguinte descrição: "Declarou haver
mais uma meia légua de terra de criar, no lugar Caconha, no rio Acaraú, neste
termo, comprada a Pedro Martins de Araújo Veras e sua mulher Anna Rodrigues
Veras, estremando o Puente com a fazenda Mata Fresca, para o Nascente
com terras da fazenda Convento, para o Norte com terras da fazenda Alegre,

69
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

· e para o Sul com terras da fazenda Cachorro (sic)". No território compreendido


nesta descrição, encontrar-se atualmente o distrito de Carvalho, do município
de Tamboril.Quando ao Cel. José de AraújoCosta, a exemplo do capitão-mor
João Ferreira Chaves (2º), da Cachoeira Grande, foi identicamente um dos
maiores latifundiários da história colonial de Tamboril.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Suficiente identificado já está o comprador. Já os vendedores Pedro
Martins de Araújo Veras e sua mulher Ana Rodrigues Veras, é ele filho do
Sargento-mor Manoel Martins Veras, do Morcego, e de Ana de Matos
Vasconcelos. Foi e.e. a prima Ana Rodrigues Veras, filha do tio paterno Silvestre
Rodrigues Veras ( o novo), do Cascavel. São todos referidos por Leonardo Feitosa,
ob. cit. págs. 254, 262 e 263. Pedro de Araújo Veras, juntamente com o sogro
e tio Silvestre Rodrigues Veras, do Cascavel, foram os principais inimigos dos
Macieis nas lutas que entre si travaram. Era bisneto paterno do capitão-mor
José de Araújo Chaves (lº), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CACHORRO, com a parcial denominação de CANAUBA.


Data do documento analizado: 03.05.1850.
HISTÓRICO
Nas primeiras décadas deste século, quando os novos "coroneis"e seus
descendentes,já senhoreavam grande parte dos imensos latifúndios colonizados
pelos ancestrais das primitivas famílias aqui referidas, veio a ter surgimento no
foro de Tamboril a um movimento que bem podemos chamar de "febre das
demarcações e divisões", ocasionando a ocorrência de grandes litígios territóriais.
A palavra de ordem era "terra datada", o que significava dizer que este ou
aquele riacho tinha origem numa Carta de Sesmaria, e quem se encontrasse
apossado nas suas ilhargas de meia légua, não detendo um documento que
remontasse às origens de seus primitivos proprietários, perderia sua terra, mesmo
que sobre ela exercitasse posse cinquentenária.
A excitação "febril"tomou tal vulto, causando um verdadeiro pânico entre
pequenos e médios proprietários rurais à simples mensão de que suas terras
não eram "datadas". Alguns fatores contribuiram para esta avalanche de
desonestidade, tais como o declínio econômico, político e social das primitivas
famílias colonizadoras, que no passado eram anchas de terras, o desejo
expansionista dos "novos ricos", o crescimento demográfico que demandava
mais território, associando-se todas estas razões à eterna conivência das
autoridades. Ninguém informava a estes incautos proprietários, de que a única

70
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

e exclusiva Carta de Sesmaria existente no município é a que exauridamente


temos aqui referido!
Foi no crepúsculo desta época, que dona Virgínia Ferreira de Sousa
requereu a demarcação e divisão do imóvel Carnauba, em data de 31.07.1951,
em cujo requerimento, citando as origens do imóvel Cachorro assim diz seu
patrono: "Se conpunha o imóvel denominado Cachorro, do qual foi desmembrado
o imóvel Carnauba, de uma sorte de terras na ribeira do Rio Acaraú, nesta
Comarca, com as seguintes extremas: pela parte do Nascente, com terras do
imóvel Convento; pela parte do poente, com terras do Curtume, no riacho
Ferreira; pela parte do sul, com terras da fazenda Pintada, e pela parte do
Norte, com terras dos imóveis Peixe e Mata Fresca, marginais ao curso do
mesmo rio Acaraú, estremas com que foi adquirido na sua totalidade, por
Simplício Rodrigues da Silveira, por compra que fizera, em de 3 de maio de
1850 a Joaquim Felício de Almeida e Castro e sua mulher Cosma Rodrigues
Veras (sic)". A simples leitura deste documento nos indica que o seu limite
poente era com terras do lugar Cortume, antigo topônimo da progresista cidade
de Nova Russas, além da denominação do imóvel Cachorro, local onde nasceu
o lendário e legendário Vicente Lopes Vida! de Negreiros, e sua irmã, dona
Ana do Nascimento Vidal, mulher do Cel. José de Araújo Costa, já referidos
no livro HISTÓRIA DE TAMBORIL.
Genealogia: ARAÚJO.
No âmbito de nossas restritas limitações, procuramos o possível para
darmos ao leitor o maior e mais completo número de informações documentais
sobre os imóveis situados no curso do rio Acaraú. Contudo, queremos relembrar
que este estudo não é voltado, específicamente, para um levantamento cadastral
do setor imobiliário de Tamboril. Nosso propósito único e de maior amplitude
histórica, é a comprovação de que as terras compreendidas no contexto territorial
da remota freguesia da Serra dos Cocos, e por extensão do Alto e Médio
Acaraú, foram colonizadas pelas famílias ARAÚJO e FEITOSA. Para tal,
usamos como único instrumento a prova documental, cujos documentos, alguns
em seus originais e outros em fotocópias públicas demoram em nosso arquivo
particular, franqueado a todos quantos deles desejem ter acesso, inclusive a
parte bibliográfica. Desejamos e aceitamos a contestação, mas, quem o fizer
deve ter como prova única o documento. Quanto ao fato da análise colonial dos
imóveis do território de Tamboril - também repetimos-, tem por razão única ser
a região que o forma a mais distante geográficamente da remota freguesia de
São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos, primeiro e único polo irradiador
de civilização dos sertões inseridos no seu contexto territorial, e, por extensão

71
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

do centro-oeste do Ceará.

LADO SUL DO RIO ACARAÚ


Tomando como centro geográfico de nosso estudo o rio Acaraú, que no
seu curso em território tamborilense tem a quase direção única Leste-Oeste,
vamos comentar as terras que lhe são meridionais.
O maior e o mais importante afluente do rio Acaraú, na sua margem sul,
em terras do município de Tamboril é o Riacho Fundo, que tem sua nascença no
Tabuleiro do Pau d' Arco, entre os morros do lnxú e das Aroeiras, banhando -
principalmente-, as fazendas Sossêgo, Bom Tempo e Jaboti, deságuando no
Acaraú em terras do imóvel Convento, nas indicações do lugar Barra. Outros
existem, de menor expressão, como o Potirão, Conventinho, Tacha e Combe,
constituindo quase pequenos córregos.
A quase totalidade do território Sul do município de Tamboril, que vem a
representar, mais ou menos, 70% da área global do município, está em águas do
rio Poti, cujas terras deveriam pertencer, por direito, à província do Piauí, o que
ensejou ao Ouvidor-mor daquela província oficiar ao governador, em data de 30
de dezembro de 1765, dando conta das "disposições voluntárias de uns moradores
intrusos, que na mesma ribeira se têm metido e estão metendo, com frívolo
pretexto de que pertencem aquelas terras à comarca do Ceará Grande, dando
para este fim posse das ditas terras e sítios ao pároco da Matriz de São Gonçalo
da Serra do Cocos, que desde o ano de 1760 tem tomado desta capitania para
aquela mais de vinte povoações (sic)"- lsmarde Melo Torres, ob. citada, fl.30,
já referida neste estudo. Se é que o Ouvidor-mor chama de "povoações" extensos
latifúndios, só em território de Tamboril o leitor poderá multiplicar este número.
Assim sendo, vamos dar seguimento ao nosso trabalho com o costume
potâmico dos colonizadores, seguindo o curso dos maiores riachos que afluem
ao Poti, iniciando pelo riacho Pajeú - que também teve denominação de riacho
São João-, e constitui o mais caudaloso tributário do Poti em nosso território.
O topônirno Pajeú, que é também um vocábulo híbrido de origem tupi,
significa PAJÉ = feiticeiro tribal= ú = rio, ou seja. Rio do Feiticeiro. Tem suas
nascenças no divisor das águas do rio Quixeramobim com as do Poti, no serrote
do Pedro Velho, cortando inteiramente o município no sentido Leste-Oeste,
recebendo, ao chegar nas proximidades do distrito de Sucesso a designação de
Rio Pinheiro, antigo topônimo deste distrito.

Imóvel: ANGICOS.

72
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Data do documento analizado: 08.05.1898.


HISTÓRICO
Em território deste imóvel estão localizados o marco divisório dos
municípios de Tamboril e Monsenhor Tabosa, bem assim a divisa de águas do
Quixeramobim, afluente do Jaguaribe, e do Poti. A primeira mensão documental
que assim o denomina, fomos encontrar no inventário de Anastácio de Araújo
Costa Sales, onde está sumariamente está dito: "Uma posse de terras de criar,
neste termo, no lugar Angicos, no riacho denominado Sítio ( sic)'. Esta designação
de riacho sítio, até hoje o Pajeú tem em suas nascenças, Como observação
curiosa, destacamos a descrição da casa localizada no mencionado lugar, que é
a seguinte: "Uma casa de taipa, coberta de telhas, na fazenda Angicos, com
péssimas condições, onde o fazendeiro deixou de criar pelo estado de seca
(sic)", evidenciando o baixo índice pluviométrico de que padece a vasta região
conhecida por "Cabeceiras", onde estão localizadas muitas fazendas, inclusive
o atual distrito de Curatis - antiga Lagoinha -, no município de Tamboril. Este
território, no entanto, tem esta designação em vista de nele estarem contidos
alguns serrotes, dentre deles o da Viração e do Tourão, onde está o divisor de
águas das duas maiores bacias hídricas do Ceará - Jaguaribe e Acaraú - e a
segunda maior do Piauí - Poti - maior afluente do rio Parnaíba.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida.

Imóvel: AREIAS.
Data do documento analizado: 08.05.1898.
HISTÓRICO
Este imóvel é anexo ao antes analizado, estando assim referido no
inventário de Anastácio de Araújo Costa Sales, efetuado na data em epígrafe:
"Uma posse de terras de criar, no lugar Areias, deste termo, no Riacho Pajeú
(sic)", sendo interessante a maneira como está descrita a casa nele localizada:
"Uma casa de taipa, coberta de telhas, na fazenda Areias,deste termo, deteriorada
e sem portas (sei)", significando este abandono as mesmas razões referidas no
relato anterior, as quais, há quase meio milênio assolam o Nordeste do Brasil,
com especial intensidade no nosso semi-árido, sem nenhuma pespectiva de
solução. Bom seria que nossos governantes mostrassem aos sofridos nordestinos
o que é feito nos desertos americanos e israelenses.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA

73
ARAÚJOS E FEITO~AS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Já referida.

Imóvel: SÍTIO.
Data do documento analizado: 08.05.1898.
HISTÓRICO
Como os dois anteriores.este imóvel também está a eles ligado, sendo
relatado no inventário de Anastácio de Araújo Costa Sales, onde estão
mencionadas duas posses de terras, com descrição sumaríssima e incompleta,
onde nada encontramos que mereça transcrição, tornando o trabalho longo e
desinteressante.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
Já referida.

Imóvel: LAGOINHA (atual distrito de Curatis), compreendendo terras da


CACIMBA DO MEIO.
Data do documento analizado: 26.06.1852.
HISTÓRICO
Segundo a informação que nos presta Leonardo Feitosa, ob. cit. pág.
267, este imóvel foi originariamente colonizado por Eufrásio Alves Feitosa, e.e.
Ana. Não encontramos vestígio do inventártio de Eufrásio ou de sua mulher
Ana. Intensificando nossas buscas, fomos encontrar provas em documentos
afins, comprovantes de que Eufrásio Alves Feitosa teve moradia, o que nos
demonstram vários termos de batismos efetuados no lugar Lagoinha, constantes
do livro da freguesia de São Gançalo da Serra dos Cocos - 1841-1844 -, fl.
103v., efetivado em data de 29.07.1843, além de outros inseridos no mesmo
livro. Por conseguinte, prevalece a informação de Leonardo Feitosa, sendo que
Eufrásio fez venda deste imóvel, o que nos faz ver uma escritura pública datada
de 26.06.1852, na qual encontramos a indicação de que este imóvel já pertencia
a João dos Santos Este documento será a seguir melhor detalhado. Este imóvel
Lagoinha é hoje sede do destrito de Curatis, que também teve o topônimo
intermediário de São João.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Consoante o mesmo Leonardo, ob. pág. 267, Eufrásio Alves Feitosa era
filho de Geraldo Alves Feitosa e de Tereza, filha de Luis Vieira de Sousa (3°) e
de Leonarda Bezerra do Vale (2ª), sendo bisneto do Capitão Luis Vieira de
Sousa (1 º) e de Joana Paula Vieira Mimosa, e tetraneto do Cel. Francisco

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Alves Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: SÃO JOÃO, compreendendo as denominações de POÇOS, MELOSA


e BELO HORIZONTE.
Data do documento analizado: 26.06.1852.

HISTÓRICO
Ao contrário do que muitos imaginaram, inclusive o requerente da
demarcação e divisão do imóvel São João, sr. Francisco Holanda Melo, já
falecido, o documento mais remoto sobre as origens coloniais deste imóvel é
representado por uma escritura pública que traz a data acima epigrafada.
Constitui o primeiro documento público lavrado por um oficial que assim se
intitula, exercendo tal função em Tamboril, e refere-se a uma escritura pública
de ratificação, na qual os herdeiros de Luis Vieira de Sousa (3º), e.e. Leonarda
Bezerra do Vale (2ª) ratificam a venda feita por estes ao Sargento-mor Manoel
Martins Veras, do Morcego, venda esta feita em 1812 sem uma consumação
documental. Nela é assim referido o imóvel: "uma sorte de terras de criar na
Fazenda de São João, riacho do Sítio, por uma outra banda do dito riaxo, pegando
o seo comprimento da parte do Nascente que estrema com terras da Fazenda
Lagoinha de João dos Santos, de hú riaxo que tem na ponta de hú morro quitem
e nisto declara, chamado riacho dos moços, e para a parte do Puente, com
terras dos herdeiros do Serrote na lagoa chamada do Peitoral na ponta de
baixo, e para a parte do Assude, com terras do Coronel José de Araújo Costa,
passando o riaxo mororó subindo um alto que tem adiante e uma baixinha que
tem, e para a parte da fazenda Boa Vista na beira do macapé do barbalho, com
meia legoa de largura para uma outra banda do mesmo riaxo (sic)", Vem aqui
a designação inicial que tinha o riacho Pajeú, neste documento referido como
Sítio. Verificamos que o posterior topônimo São João, que antecedeu a Pajeú,
vem em função de banhar este riacho a fazenda São João, que representava a
maior extensão territorial próxima às suas cabeceiras. Quem lavrou este
documento foi Bento Rodrigues de Farias, dizendo no princípio "nesta Povoação
do Tamboril, Comarca de Vi lia Nova do lpu e Provinciado Ceara Grande (sic)".
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
O Sargento-mor Manoel Martins Veras, do Morcego, era filho do portugues
Silvestre Rodrigues Veras (o velho). e.e. Cosma de Araújo Chaves, filha do
capitão-mor Joseé de Araújo Chaves ( 1 º) da Ipueiras e de dona Luzia de Matos
Vasconcelos, sendo o Sargento-mor Manoel Martins Veras neto materno do
velho sesmeiro de 17.07.1722. Já Luis Vieira de Sousa (3°), e.e. Leonarda

75
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Bezerra do Vale (2ª), era ele neto paterno do Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º)
e.e. Joana Paula Vieira Mimosa, enquanto sua mulher Leonarda Bezerra do Vale
(2ª), era bisneta do Cel. Francisco Alves Feitosa, todos também semeiro da
Carta da 17.07.1722.

Imóvel: JUNCO, compreendendo as deseignações de CAMPO NOBRE e


UNIÃO.
Data do documento analizado: 10.06.1864.
HISTÓRICO

O imóvel Junco, que compreende as denominações acima, está assim


narrado no inventário do Cel. José de Araújo Costa, com início na data em
epígrafe: "Declarem haver mais uma posse de terras do lugar Junco, desse termo,
estremando com terras do Capitão Antonio Martins Veras para o Nascente, com
terras do Pajehú para o Puente, com terras do Olho d' Água e Assude para o Sul,
sendo.:"c:littás-"tê.rr11s por um só lado do riacho São João, compreendendo nesta·
posse de terra o-lug'ar-,em que se acha situado o Capitão José Felipe Ribeiro
Campos, por haver este rrocàdo com o casal do inventariado por igual quantidade
de terras 1,10 lugar Floresta, deste termo (sic)". Como vemos, o limite Nascente
é dado corri terras do Capitão Antônio Martins Veras, no SãoJoão , no inventário
de quem fundamentaram os requerentes da demarcação e divisão do imóvel
São João o seu pedido, desconhecendo a existência da escritura atrás
mencionada, pois o Capitão Antonio Martins Veras era filho do Sargento-Mor
Manoel Martins Veras, do Morcego. Pelos limites oferecidos, os imóveis Campo
Nobre e União, cujas denominações surgiram posteriormente, estavam e estão
inseridos na antiga contextura do imóvel Junco. Verificamos a antiguidade dia
aquisição deste imóvel, pois o riacho Pajeú ainda tinha a designação de riacho
São João.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
Já relatada

Imóvel: CAMPO LARGO.


Data do documento analizado: 06.03.1863.
HISTÓRICO

Este imóvel está localizado nas águas do riacho Bico d' Arara, tributário
do Pajeú, tendo seu I imite Norte no meio deste riacho, como devemos depreender
dos dizeres da escritura atrás relatada: "por um só lado do Riacho São João, pela

76
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

parte do Sul (sic)", sendo este detalhe omitido por nós. Foi no inventário de José
Rodrigues de Farias, e.e. Joana Rodrigues de Farias, efetuado na data acima
epigrafada, que encontramos a primeira menção documental e parcial sobre este
imóvel, assim dita: "Uma sorte de um quarto de lagoa de terras de criar, no lugar
de Campo Largo, no distrito de Tamboril. com um cercado pequeno e um açude
de terra (sic )". Desta descrição afluem dois informes que merecem registro: é o
primeiro documento que nos fala na existencia de "um pequeno cercado"e de
"açude de terra", o que bem demonstra a forma de pastoreio destes primitivos
colonos, e, por outro lado seu desinteresse em armazenar a água - tão carente
nas estiagens-, embora contando com a mão-de-obra escrava.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Joana Rodrigues de Farias, e.e. o inventariado José Rodrigues De Farias,
era filha do Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales e de dona Maria José de Araújo
Sales, sendo trineta paterna do Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º) e de Joana
Paula Vieira Mimosa, do Ipú, e tetraneta do Cel. Francisco Alves Feitosa e de
Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, ambos sem_s:.~;"dâ~arta de
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HISTORICO ~~ c'r-~ ..,,-,,;,f'''.•·"'
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Tendo seu limite Nascente com o imóvé\J~,;:'1ftfás referido, é assim
mencionado no inventário do Cel. José de Araújo'Costa: "Declarou haver mais
uma posse de terra nas do lugar Pajeú, deste termo, iniciando da estrada que
sai do dito lugar Pajehú para o lugar Tamboril, pela parte Poente da estrada até
estremar com a fazenda do inventariado, cujas terras é só pela do Norte, com
meia legoa de ilharga do riacho São João, que houve por compra a Antonio
Ferreira Sampaio (sic)", Como o anterior, este imóvel tem sua aquisição que
remonta a antigos tempos, pois ainda perdura a denominação de riacho São
João.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Antonio Ferreira Sampaio, é o pai do grande herói de Truiuti, Gen. Antonio
de Sampaio, vindo esta escritura reforçar a informação que oferecemos no livro
HISTÓRIA DE TAMBORIL, de que a fazenda Pajeú foi o local do nascimento
deste valoroso tamborilense, ao contrário do lugar Victor, como querem seus
biógrafos. Quando pesquisamos para a HISTÓRIA DE TAMBORIL,
desconheciamos esta compra feita pelo Cel. José de Araújo, usando como

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

argumento sobre seu nascimento no Pajeú apenas o batizado da criança Quitéria


- irmã de Sampaio -, levado a termo na fazenda Pajeú no dia 28.07.1828,
constante da pág. 82, do livro de assentos de batismos da freguesia da Serra dos
Cocos de 1825.1829, sendo padrinhos desta criança o Cel. José de Araújo
Costa e sua mulher Ana do Nascimento Vidal. Desta forma, nenhuma dúvida
pode existir de que o grande soldado brasileiro veio ao mundo na fazenda Pajeú.
Outro erro em que incorreram seus biógrafos - nós também-, diz respeiro à sua
ascendência. Em capítulo próprio deste estudo, nos ocuparemos sobre este
palpitante assunto. O Cel. José de Araújo Costa, como já está exaustivamente
dito, é bisneto materno do Capitão Luis Vieira de Sousa (1 º)e.e.Joana Paula
Vieira Mimosa, e trineto também materno do Cel. Francisco Alves Feitosa e.e.
Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, ambos sesmeiros da Carta sde
17.07.1722.

Imóvel: PAJEÚ. (Lado Sul).


Data do documento analizado: 31.01.1831.
HISTÓRICO

Provém do inventário de Luis Vieira de Sousa (3°), e.e. Leonarda Bezerra


do Vale (2ª),julgado na data acima em Vila Nova d'El-Rei, onde o imóvel tem
a seguinte menção: "Declarou mais o herdeiro inventariante haver trez legoas
de terras de criar ;,o lugar Pajaú deste termo só por huma parte do Riacho, com
meia legoa de largo, extremando a leste com terras da fazenda Sam João do
Sargento Mor Manoel Martins Veras, a oeste com terras de Theodorico Bezerra
Galvão que houve por herança do fallecido seu Pai Luis Vieira de Sousa, ao
Sul, com terras da fazenda Olho dagoa do Assude, terras Seccasl (sic )". Este
imóvel, na sua totalidade, fez parte da meação de dona Leonarda Bezerra do
Vale (2ª), viúva de Luis Vieira de Sousa (3º), tendo este herdado de seu pai Luiis
Vieira de Sousa (2º), e.e. Ana Alves Feitosa, certamente levado a termo também
em Vila Nova dEl-Rei, devendo ter tido o destino que informa o h.istoriador
Antonio Bezerra, no livro Notas de Viagem, Imprensa Universitária do Ceará,
1965, pág. 205, quando diz: "Por motivos políticos o cartório e mais papeis de
Campo Grande (depois Vila Nova d'El-Rei), que deveriam ser transferidos
para a nova sede (Ipu), em virtude das Leis de 1840 e 1842, naufragaram, os
que convinham, na passagem do riacho Ipuçaba! (sic)". Diferente de Tamborill,
que teve parte do arquivo do 1 ° Cartório destruído pelas águas do Acaraú que
invadiram o prédio numa grande cheia do inverno de 1974, valiosos documentos
históricos da nossa região foram simplesmente jogados no riacho Ipuçaba, por

78
ARAÚJOS E FEITOSAS • COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

mesquinhas questiúnculas políticas.


Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Embora já relatados neste trabalho, é bom lembrar que Luis Vieira de
Sousa (3°) era neto paterno do Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º), e.e. Joana
Paula Vieira Mimosa, enquanto sua mulher, dona Leonarda Bezerra do Vale
(2ª) era bisneta de Cel. Francisco Alves Feitosa e.e. Catarina Cardosa da Rocha
Resende Mecrina, ambos os varões sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: URUBUZINHO.
Data do documento analizado: 10.06.1864.
HISTÓRICO
Mais uma vez, trata-se do inventário do Cel. José de Araújo Costa,
detentor do maior patrimônio imobiliário de Tamboril, superando ao próprio
capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), da Cachoeira Grande, fato que o leitor
comprovará no curso deste estudo. No processado, tem o imóvel a seguinte
dscrição: "Declarou mais uma posse de terra no lugar Urubuzinho, de um quarto
de legoa que comprou a Joaquim de Barros Galvão e sua mulher Francisca
Maria da Penha, estremando com o riacho São João, da parte do nascente com
terras de dona Francisca da Mota Sousa; ao Poente, com terras do mesmo
inventáriado no lugar Caiçara, para o Sul com terras do Assude do falecido
Capitão Francisco Xavier de Sales, e para o Norte com terras do riacho São
João (sic)". No ensejo, chamamos a atenção do leitor para dois fatos de real
importância. cuja compreensão é necessária ao bom entendimento de muitas
passagens deste detalhamento. Em primeiro lugar, é fácil depreender que as
aquisições do Cel. José de Araújo Costa no curso do riacho Pajeú são bastante
antigas, época em que este riacho ainda detinha o topônimo de São João. Em
segundo lugar, é a menção feita pelos escrivães e oficiais públicos que
manuscreveram estes documentos, nos quais mencionam como confinantes
pessoas já falecidas há decenios, como é o exemplo acima do Capitão Sales, do
Serrote, quando deveriam ser dados como confinantes seus herdeiros. Esta última
observação o leitor poderá constatar assíduamente no decurso deste trabalho,
merecendo bastante atenção, sob pena de resvalar em enganos ou má
interpretação.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
Bastante identificado já está o comprador, Cel. José de Araújo Costa.
Quanto ao vendedor Joaquim de Barros Galvão, é filho de Antonio de Barros
Galvão, e.e. Ana Gonçalves Vieira, sendo neto paterno de Victor de Barros

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ARAÚJOS E FEITO'iAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Galvão e Ponciana Vieira, nesta condição binesto paterno do capitão-mor José


de Araújo Chaves (1 º), das lpueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CAIÇARA.
Data do documento analizando: 1806/1809.
HISTÓRICO
Esta fazenda, foi a sede residencial do Cel. José de Araújo Costa, cujas
origens - como as demais relatadas -, remontam ao processo colonizador da
região. Foi ela doada pelo Capitão Sales, seu primitivo colonizador, ao Pe. Miguel
Francisco de Oliveira, 11 º vigário colado da freguesia de São Gonçalo da Serra
dos Cocos, doação ocorrida no período de quadro anos, no decurso dos quais
exerceu aquele sacerdote seu vicariato na freguesia de São Gonçalo. A aquisição
deste imóvel pelo Cel. José de Araújo Costa teve ter acontecido em 1809,
época em que Pe. Miguel deixou a velha Matriz de São Gonçalo. A fazenda
Caiçara, está sendo objeto de estudo genealógico por nós já iniciado, e que
receberá o título de O SOLAR DA CAIÇARA. Vamos descrevê-la, como
consta do inventário do Cel. José de Araújo Costa: "Declarou haver mais uma
legoa de terras no lugar Caiçara, por um e outro lado do riacho São João, que
houve por compra ao Reverendo Miguel Francisco de Oliveira, estremando de
uma Timbauba que fica junto da cacimba de que serve de estremas com terras
do Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo, pelo dito riacho acima até inteirar
meia legoa a contestar com terras do Capitão Luis Vieira de Sousa de uma
A lagoa para cima que fica junto a estrada, com meia legoa por uma e outra
banda do riacho, de norte a sul fazendo um quadrado (sic )''. Fica evidente a
observação que fizemos na análise anterior, pois tendo o Cel. José de Araújo
Costa falecido no dia 10.06.1864, ainda são citados como confinantes o seu pai,
falecido por volta de 1833, e seu avô materno Capitão Luis Vieira de Sousa,
que havia falecido no século anterior.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
O inventariado, Cel. José de Araújo Costa, bem como seu pai, Capitão
Francisco Xavier de Sales Araújo = Cap. Sales, do Serrote -, já estão bem
referidos neste estudo. Qaunto ao proprietário provisório - ou quiçá intermediário
- Pe. Miguel Francisco de Oliveira. é ele biografado pelo Pe. F. Sadoc de
Araújo, no livro de História Religiosa de Guaraciaba do Norte -IOCE - Fortaleza
- 1988 - pág. 39.
Para não deixar um hiato dos imóveis mesopotâmicos, que ficam entre a
Caiçara e Tamboril, dos quais temos prova documental, vamos fazer uma ligeira

80
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

paralização do curso do riacho Pajeú, voltando nossa vista em direção Norte.


Existem apenas dois.

Imóvel: REGALO.
Data do documento analizado: 1 O.OS .1899.
HISTÓRICO

Foi no inventário de José Honorato de Araújo Chaves, que fomos


encontrar a primeira referência documental assim denominando o imóvel Regalo.
José Honorato foi e.e. Úrsula Cândida de Araújo Mourão, sendo o imóvel assim
referido no inventário: "Uma posse de terras no lugar denominado Regalo, deste
termo, com duas casas de taipa em estado de ruina, dois cercados, um açude
de parede de terra, sita no riacho Cipó, estremando para o Nascente na estrada
do Pagehú que segue da Caiçara para o mesmo Tamboril entre a Lagoa do
Mato e o Regalo, ao Sul, na ponta de baixo da Lagoa Tapada rumo direito a
ponta de baixo da Lagoa do Feiticeiro, ao Norte, com terras do Bom Tempo
(sic)", Segundo documento em nosso arquivo, este imóvel veio a pertencer a
Sebastião Lopes Cavalcante e sua mulher Nazária Lopes Cavalcante, que lá
residiram e firmaram uma escritura particular datada
o
de 02.04.1903. Na descrição
é feita menção ao riacho Cipó, levando-nos a crer que seja neste imóvel as
nascenças deste riacho. No entanto, os mapas que estudamos não oferecem
nenhuma indicação a este respeito.
Genealogia: ARAÚJO.
Pelos apelidos Araújo Chaves, fica evidente que o inventariado José
Honorato de Araújo Chaves tem descendência do capitão-mor José de Araújo
Chaves ( 1 º) das Ipueiras. Os possuidores seguintes, Sebastião Alves Cavalcante
e sua mulher Nazária Lopes Cavalcante, era esta irmã de Úrsula Cândida de
Araújo Mourão, mulher do inventariado José Honorato de Araújo Chaves. Estas
duas irmãs - Úrsula e Nazária -, eram netas maternas do Ten. Cel. Luis Lopes
Teixeira, da Canabrava (hoje a cidade de Ararendá), sendo que o Ten. Cel. Luis
Lopes Teixeira foi casado com duas irmãs, netas do Cel. João Ferreira Chaves
( 1 º), da Serra dos Cocos, irmão do capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 º), das
Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: BOM TEMPO, em águas do riacho Fundo.


Data do documento analizado: 05.03.1884.
HISTÓRICO

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

Trata-se do inventário de Bento Rodrigues de Farias, com início na da.ta


epigrafada, e onde encontramos a primeira referência documental designativa
deste imóvel, onde está assim referido: "Declarou mais existir em seu casal
uma posse de terra denominada Bom Tempo, deste termo, com assude e algumas
cercas, da qual exibiu a escritura respectiva por onde mostrou haver satisfeito
os direitos nacionaes, a qual vai avaliada pelo juiz na quantia de hum conto de
reis (l.000$000) (sic)". Pelo valor atribuído ao imóvel na época, tomando-se
por parâmetro outras avaliações, deveria o mesmo constituir uma grande extensão
de terras. Infelizmente - como já dissemos antes exaustivamente -, a quase
totalidade deste antigos inventários não caracterizavam e sequer confrontavam
os imóveis. De outra parte, observa-se neste processo do final do século passado,
o aparecimento de referências a cercados e açudes, evidenciando o despertar
daqueles proprietários no sentido da evolução de emprego de melhores técnicas
na atividade agropastoril.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
O inventariado Bento Rodrigues de Farias, já foi referido neste estudo
quando detalhamos o imóvel São João. Foi e.e. Monica Rodrigues de Farias,
filha de Geraldo Alves Feitosa e Tereza Bezerra do Vale, esta, filha de Luís
Vieira de Sousa (3º) e de Leonarda Bezerra do Vale (2ª), sendo bisneta paterna
do Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º), e trineta materna do Cel. Francisco Alves
Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.
Voltemos à narração dos imóveis margeantes do riacho Pajeú.

Imóvel: FLORESTA.
Data do documento analizado: 10.06.1864.
HISTÓRICO

Vamos encontrar a primeira referência documental sobre este imóvel no


inventário do Cel. José de Araújo Costa, onde é assim referido: "Declarou
haver mais hum quarto de legoa de terra, mais ou menos, sem extremas, no
lugar Floresta, no riacho de São João, havida por troca com o Capitão José
Felipe Ribeiro Campos e sua mulher Raimunda Francisca de Vasconcelos, por
outra de igual porção na Alagoa do destêrro, a margem esquerda do mesmo
riacho São João, hoje Campo Nobre (sic)", É aqui feita a primeira referência
sobre a designação do imóvel Campo Nobre, moradia do Ten. Cel. José Felipe
Ribeiro Campos, sendo até nossos dias pertencente a seus descendentes, como
é o caso de seu atual proprietário Anastácio Farias Sales, constituindo uma
posse consangüinea e contínua de quase três séculos.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.


Bastante referido já está o Cel. José de Araújo Costa. Quanto ao Ten.
Cel. José Felipe Ribeiro Campos, vinha a ser filho das primeiras núpcias do
Cel. Antonio Ribeiro Campos com uma filha de Antonio Domingos Alves,
primitivo colonizador das terras do Espírito Santo. Foi o Ten. Cel. José Felipe
e.e. Raimunda Francisca de Vasconcelos, cujo nome original era Raimunda
Alves Feitosa, filha do Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales e dona Maria José
Rodrigues de Farias. O nome Raimunda Francisca de Vasconcelos, foi adotado
em homenagem e reconhecimento à tia materna Beatriz Francisca de
Vasconcelos, viúva do Cel. Antonio Ribeiro Campos, que a criou desde a mais
tenra idade, tomando-a sua legatária, conforme faz ver o testamento público de
dona Beatriz, apenso aos autos de seu inventário levado a termo em data de
30.10.1870. Dona Raimunda Francisca de Vasconcelos era trineta do Capitão
Luis Vieira de Sousa ( 1 º), e nas mesmas condições tretraneta do Cel. Francisco
Alves Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CIPO. Existem duas denominações: CIPO DE BAIXO e CIPÓ DE


CIMA.
Datas dos documentos analizados: 28.08.1845 e O 1.02.1870.
HISTÓRICO
Embora as informações cartográficas não apontem com precisão,· há
indicações de que o riacho Cipó tenha suas nascenças na planície da fazenda
Regalo, como atrás referimos, pelo lado Norte do riacho Pajeú, do qual é afluente.
Como outros grandes latifündios - tanto ao norte como ao sul do riacho
Pajeú -, as terras que margeiam o riacho Cipó foram colonizadas pelos
descendentes do velho portugues Silvestre Rodirgues Veras, e.e. Cosma de
Araújo Chaves, filha do capitão-mor José de Araújo Chaves (1°), das lpueiras.
Densa é a prova documental sobre estes primitivos colonos, sendo que a grande
parte documental deste imóvel tem procedência do inventário de Silvestre de
Araújo Veras, processado em São do Princípe (Tauá), em da ta de 29.08.1845,
de quem era filha Delfina de Araújo Veras, que vendeu sua herança ao Dr.
Antonio Primeiro de Araújo Citá, cujo verdadeiro nome era Antonio Primeiro
de Araújo Chaves, ficando conhecido pela simplificação de Dr. Antonio Citá. É
citado por L. Feitosa, obra referida, pág. 154, tendo concluído o curso na
Faculdade de Direito do Recife em 1842. Era parente - o autor não diz o grau
- do Dr. Antonio Leopoldino de Araújo Chaves, que substituiu o Dr. José Antonio
Maria Ibiapina à frente da comarca de Quixeramobim em 1836, passando a

83
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

exercer a função na recém-criada comarca dos Inhamuns, à frente da qual esteve


até a ano de 1851.
A razão que levou o Dr. Antonio Citó a comprar estas terras, é que ele era
e.e. Antonia, filha do Sargento-mor Manoel Martins Veras, do Morcego, sendo
este, filho de Silvestre Rodrigues Veras (o velho) e de Cosma de Araújo Chaves.
O Dr. Antonio Primeiro de Araújo Chaves - Dr. Antonio Citó -, era filho do
capitão-mor Antonio Martins Chaves, da fazenda São Bento, nos Inhamuns,
avô do genealogista Leonardo Feitosa, como diz o mesmo, ob. citada, pág. l 08.
Portanto, fica mais esta comprovação de que estas terras tiveram como
colonizador o portugues Silvestre Rodrigues Veras (o Velho) ..
Falha e resumida, é a forma como são descritos muitos deste imóveis nos
velhos documentos que lhe dão origem, como é o caso dos imóveis Cipó de
Cima e Cipó de Baixo. Muitos dos inventários dos descendentes de Silvestre (o
velho), por nós pesquisados, fazem deles referência de forma sumária, onde:
apontam rápidas menções de estremas, como é o caso do Cipó de Baixo dando
estremas com os Pereiros, nada evidenciando para termos uma real idéia de:
suas dimensões. Respeitante ao Cipó de Baixo, podemos aduzir ter seu início
no lugar denominado Extremas, cujo topônimo indica que sejam alí suas estremas
com as terras da Floresta, estendendo-se pelo curso do riacho abaixo.
Identicamente, as terras do Cipó de Cima - ao norte do Cipó de Baixo-·
, também foram colonizadas por Silvestre (o velho), sendo vasta a prova.
documental que traz esta confirmação. Como tal, vamos encontrar no inventário
de Silvestre Rodrigues Veras (bisneto), que foi e.e. Maria de Araújo Chaves,
processado em data de 01.02.1870, dando estremas do imóvel Cipó de Cima.
com o lugar Umburanas, onde Silvestre (bisneto) era possuidor de terras,
adquiridas por sucessão de sua mãe Nazária da Penha.
Por fim, robustecendo a prova oferecida, vem confirmar que estas terras
foram colonizadas pelo portugues Silvestre (o velho) e seus descendentes, o
livro de assentos de batismos da freguesia da Serra dos Cocos - 1825/1829 •·
onde vamos encontrar à pág. 213, em data de 04.07.1828, o termo que diz "em
desobriga na fazenda Cipó de Sima (sic)", figurando como madrinha ninguém
menos que dona Nazária da Penha.
Genealogia: ARAÚJO.
O portugues Silvestre Rodrigues Veras ( o velho), era e.e. Cosma de:
Araújo Chaves, filha do capitão-mor José de Araújo Chaves (lº), das Ipueiras,
e de dona Luzia de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Imóvel: PEREIROS.
Data do documento analizado: 15·.06.1874.

IDSTÓRICO
Conforme referência que fizemos na análise anterior, onde dissemos que
o imóvel Cipó de Baixo tem estremas com o imóvel Pereiras, vamos encontrar
a confirmação e definitiva conclusão da remota colonização destes imóveis no
inventário de Rodrigo de Araújo Costa Veras, levado a termo na data acima,
onde está contida esta resumida, porém conclusiva descrição: "Uma posse de
terras no lugar Pereiras, deste termo, havida do pai do inventariado (sic)".
Fortalecendo a prova cartorial, vamos encontrar mais confirmação no livro de
assentos da freguesia de São Gonçalo da Serrados Cocos, de 1825-1829, quando
é cristianizada a menina Benedita, sendo seus padrinhos Antonio da Costa Veras
e sua mulher Maria de Araújo Chaves, termo constante à fl. 214, em data de
19/06/1826.
Genealogia: ARAÚJO.
Rodrigo de Araújo Costa Veras, que foi e.e. Isabel de Araújo Veras, não
deixaram descendência, figurando como herdeiros além da viúva Isabel, os
irmãos do inventariado: Manoela de Araújo Costa Veras, Ana de Araújo Veras
e.e. Major José Gonçalves Veras, Antonia de Araújo Veras e.e. o Capitão
Leonardo Sérgio de Araújo Veras, e ainda os sobrinhos filhos do irmão já falecido,
Antonio da Costa Veras. Rodrigo de Araújo Costa Veras, como seus irmãos,
eram filhos de Antonio da Costa Veras e de Maria de Araújo Chaves, referidos
nos termo de batismo acima mencionados, sendo bisnetos paternos de Silvestre
Rodrigues Veras ( o velho), e.e. Cosma de Araújo Chaves, filha do capitão-mor
José de Araújo Chaves ( 1 º), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: PINHEIRO - Hoje distrito de Tamboril, com a denominação de Sucesso


-, e VARZEA GRANDE, à época pertencente ao termo do Princípe Imperial
(Crateús), província do Piauí.
Data do documento analizado: 1824 e .J.5.06.1874.
HISTÓRICO
O imóvel Pinheiro, antigo topônimo do distrito de Sucesso, tem sua primitiva
menção documental no inventário de dona Ana Ferreira de Matos, que foi e.e.
o Sargento-mor Manoel Martins Veras, do Morcego, feito na Vila Nova do Ipú
no ano de 1824 ( o documento que temos em arquivo não diz o mes nem dia),
que ao fazer a descrição dos limites do imóvel Morcego, assim diz: "para o

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Puente, com terras no Pinheiro (sic)", comprovando ser remota a colonização


daquelas terras pelo portugues Silvestre ( o velho) e seus descendentes, pois
vimos antes que o Sargento-mor Manoel Martins Veras era seu filho. Já em
data mais recente, no inventário de Rodrigo de Araújo Costa Veras, atrás referido,
vamos constatar outra comprovação, no qual encontramos esta resumida
descrição: "Uma posse de terra no lugar Pinheiro, do termo do Princípe Imperial,
havida por compra feita a Jerônimo Clímaco de Araújo Veras (sic)". Logo
adiante, vem esta outra: "Uma outra posse de terra no lugar Varzea Grande,
termo do Princípe Imperial, Província do Pihauy, havida por herança do pai e do
sogro do casal (sic)". Sabemos que a Lei Geral nº 3.012, de 22.10.1880, anexou
a comarca do Princípe Imperial (Crateús), às terras do Ceará. No entanto, o
motivo que nos leva a descrever este imóveis é mais uma vez mostrar ao leitor
que têm prevalência as tais invasões, referidas por Ismar de Melo Torres, ob.
citada, fl. 30. Inclusive, no próprio Pinheiro, encontramos uma transcrição feita
no livro de 1825-1829, da Matriz de São Gonçalo da Serra do Cocos,
estranhamente datada de 23.09.1819, onde foi feita ali uma desobriga e batizada
a criança Quitéria, tendo como padrinhos José Rodrigues Veras e Ana de Barros
da Purificação, constante à fl.198.
Genealogia: ARAÚJO.
Já referida.
Encerramos aqui, nossos comentários sobre as terras margeantes do
riacho Pajeú, que, com um curso em nosso território de aproximadamente 45
Kms, ao chegar nas proximades do distrito de Sucesso, passa a ter a
denominação de rio Pinheiro, antigo topônimo daquele distrito, onde já é bastante
caudaloso, indo deságuar no rio Poti nas imediações do lugar lbiapaba, que é
sede distrital do município de Crateús.
Como as do rio Acaraú, torna-se impossível uma análise atual e detalhada
de todas as denominações existentes no seu curso, levando em consideração
que todos os grandes latifúndios, foram divididos e subdivididos nas sucessivas
partilhas nos inventários dos seus primitivos colonizadores, seguindo-se as dos
seus descendentes, razão que deu ensejo ao surgimento de outras denominações
mais recentes.
Dando continuidade ao estudo das terras do lado sul de nosso município,
onde existem inúmeros outros riachos, quase na sua totalidade afluentes do
riacho Pajeú, não iremos obedecer a sequência potâmica, mas, as descrições e
os comentários serão feitos obedecendo a forma como nos chegaram às mãos
os remotos documentos e outros informes afins.

86
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Aliás, é bom relembrar ao leitor - o que fazemos pela enésima vez, e


outras vezes além-, que este estudo não tem a finalidade de um levantamento
cadastral dos imóveis no município de Tamboril, mas, tão-somente uma
comprovação de que o território da antiga freguesia de São Gonçalo do Amarante
da Serra do Cocos, e do Alto e Médio Acaraú, teve como colonizadores membros
das famílias ARAÚJO e FEITOSA, com acentuado destaque para a primeira.
Portanto, nossas buscas têm a direção do antanho, onde residem estas provas.

Imóvel: POÇO ESCURO - antigamente do termo de Princípe Imperial (Crateús),


hoje território do município de Tamboril.
Data do documento analizado: 1809.
HISTÓRICO
Localizado ao sul da atual vila-sede do distrito de Sucesso, este imóvel
tem sua origem no inventário de Ana Ferreira Chaves, que foi e.e. Joaquim de
Araújo Chaves, referidos de forma errônea por L. Feitosa, ob. cit. fl.232 e
Raimundo Raul Correa Lima, ob. cit. fl.55, quando descrevem a filiação do
capitão-mor José de Araújo Chaves (1°), das Ipueiras, dizendo o primeiro: "7-
Ana, casada com seu parente João Ferreira, morador no Poço Escuro, em Crateús
(sic)", e o segundo: "Ana Ferreira de Vasconcelos, que se casou com seu
parente João Ferreira, moradores e proprietários do Sítio Escuro, em Crateús
(sic)". Na verdade, as pessoas por eles referidas são as que acima mencionamos,
cuja comprovação documental vem do inventário de Ana Ferreira Chaves,
concluso na data epigrafada e processado na vila Marvão, encontrando-se em
arquivo no l º Cartório da cidade de Crateús, cuja certidão temos em arquivo.
Genealogia: ARAÚJO.
Como ficou atrás referido, Ana Ferreira Chaves, e.e. Joaquim de Araújo
Chaves, era filha do capitão-mor José de Araújo Chaves ( l º), das Ipueiras, e de
dona Luzia de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: BOI MORTO


Data do documento analizado: 10.02.1886 e 16.02.1826.
HISTÓRICO
O imóvel Boi Morto, fica localizado a NO - noroeste - da vila-sede do
distrito de Sucesso, sendo sua primeira referência encontrada no inventário de
Joaquim Gonçalves de Carvalho, realizado na primeira data epigrafada, onde é

87
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

assim descrito: "Declarou mais existir em seu casal uma posse de terras no lugar
Boi Morto, deste termo, havida por compra a José Gonçalves de Lima e sua.
mulher Cosma Maria Gonçalves, cuja escritura foi exibida em juizo, por onde:
mostra haver satisfeito os direitos nacionais (sic)". Quase sempre nosso estudo
procura comprovações em documentação afim, sendo uma destas preciosas
fontes as pegadas dos curas da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos,
com o privilégio do enriquecimento genealógico. Como muitos outros, é o que
ocorre com este imóvel, onde vamos encontrar no livro de 1825~1829, à pág.
74, o batismo da criança Joana, realizado em desobriga no lugar Boi Morto, em
data de 16.02.1826, em cujo sacramento são padrinhos Antonio da Costa Veras
e sua mulher Maria de Araújo Chaves.
Genealogia: ARAÚJO.

No inventário de Joaquim Gonçalves de Carvalho, que foi e.e. Maria


Gonçalves de Carvalho, ao ser oferecida a relação dos filhos é declarado
Eufrosina Alves de Araújo, demonstrando indícios de terem parentesco com a
família Araújo. Por serem geração recente, não são relacionados por L. Feitosa,
ob. cit. Não satisfeitos com uma prova não definitiva, estudando o mesmo autor,
à fl.263, na descrição dos filhos de Antonio da Costa Veras e Maria de Araújo
Chaves, padrinhos referidos no ato de batismo, vamos encontrar a citação de
Cosma, assim feita: "4 - Cosma, que não sabemos se casou (sic)". Abrindo
exceção ao costume ciânico, Cosma veio a contrair núpcias fora da parentela.
Dona Cosma, filha dos padrinhos mencionados, Antonio da Costa Veras e Maria
de Araújo Chaves, era bisneta paterna do capitão-mor José de Araújo Chaves
(1°), e.e. dona Luzia de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: UMBURANAS.
Data do documento analizado: 03.02.1870.
HISTÓRICO

Trata-se do inventário de Silvestre Rodrigues Veras (bisneto), que foi e.e.


Maria de Araújo Chaves, já por nós referidos quando analizamos o imóvel
CIPÓ - Nele é assim resumidamente descrito o imóvel Umburanas: "Declarou
haver mais uma posse de terras de crear, no Riacho das Umburanas, lugar
denominado Umburanas, havida por herança do finado pai do inventariado José
Rodrigues Veras (sic)". Conforme as indicações cartográficas, este imóvel está
localizado a NE - nordeste - da vila-sede do distrito de Sucesso.
Genealogia: ARAÚJO.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Embora já referido, Silvestre Rodrigues Veras (bisneto), é trineto paterno


do capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 º), das Ipueiras, e de dona Luzia de
Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: BRILHANTE.
Data do documento analizado: 06.08.1883.
HISTÓRICO
Foi também no ocaso da época que algures denominamos de "febre das
demarcações e divisões", que Gonçalo Martins de Freitas e sua mulher Eugenia
Martins Mota, no dia 22.12.1951, requereram a demarcação e divisão do imóvel
Brilhante. descrevendo desta forma no pedido: "Uma parte de terras na fazenda
denominada Brilhante, desta comarca, nos fundos das terras do Convento, em
cuja fazenda encontram-se casas, cercados, cacimbas e outras benfeitorias ( sic)".
Com melhores características e confrontações, fomos encontrar referência a
este imóvel em documento bem mais remoto, constante de uma escritura
particular datada de 06.08.1883, onde figuram como vendedores José de Araújo
Costa Veras e sua mulher Luzia Rita Quitéria Veras, onde está expres~a a
seguinte descrição: "Uma posse de terra de crear, a marge do rio Acaraú, de
uma só banda, que é a do sul, no lugar denominado Convento, termo e comarca
de Tamboril, Província do Ceará, que ouvemos por herança do sogro. Capitão
Antonio Martins Veras, estremando para a parte do Nascente com terras do
Tenente Joaquim José de Castro; com duas casas de morada, de taipa, cobertas
de telhas, uma no Convento com cinco portas, um banco, um curral e mais
benfeitorias e, a outra no Brilhante com todas as benfeitorias que existe no
mesmo Brilhante: esta posse de terra com o valor de cem mil reis (sic)".
Genealogia: ARAÚJO.
Embora não seja referido por L. Feitosa, ob. cit. pág.262, como filho de
Silvestre Rodrigues Veras (o novo), do Cascavel, o Capitão Antonio Martins
Veras figura como filho na relação constante do inventário de Silvestre ( o novo),
levado a termo na Vila do lpu, em 1855. É referido como e.e. Luzia Rodrigues
Veras, de quem o vendedor José de Araújo Costa Veras era filho. Portanto,
deixando bem claro, José era neto paterno de Silvestre (o novo), bisneto paterno
de Silvestre (o velho), e trineto também do capitão-mor José de Araújo Chaves
( 1 º), das Ipueiras, e.e. dona Luzia de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de
17.07.1722.

Imóveis: BOA VISTA, FLORES, CACHOEIRA GRANDE, no riacho

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Cachoeira Grande, compreendendo as denominações de AÇUDE VELHO,


AROEIRAS e MASSAPÊ.
Data do documento analizado: 04.01.1853~
HISTÓRICO
Trata-se dos autos de prestação de contas requerido por Ana Martins
Chaves, viúva de Victor de Barros Galvão (filho), cujo feito tranmitou em Vila
Nova d'El-Rei, n0,; qual consta uma escritura particular que trás a data de
04.01.1853, pela qual a viúva Ana, compra para suas filhas orfãs o imóvel Boa
Vista, que é assim descrito: "somos senhores e possuidores de hua legoa e meia
de terras de comprido, e com meia de largura por hua só banda do riaxo Caxoeira,
lugar denominado Boa Vista, que ouvemos por herança de nossa finada Avó
Maria Vieira de Sousa, as quais terras estremão da parte do Puente com terras
da fazenda Caxoeira de João Ferreira Chaves, no lugar chamado Malhada das
Emburanas, da part~: de sima com terras de Vicente Batista, na estrada que vai
da Boa Vista para a fazenda Flores, e para o Sul com terras da mesma fazenda
Flores (sic)". A fazenda Cachoeira Grande, originariamente chamada apenas
Cachoeira, foi colonizada pelo capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), onde este
tinha sua moradia, o que já foi dito neste estudo. Em documentos afins, fomos
encontrar também a remoticidade colonial das terras que compreendiam o
território deste imóvel, como no livro mais antigo da freguesia da Serra dos
Cocos - 1825-1829 -, onde inúmeros atos do sacramento do batismo foram
ministrados em desobrigas nos lugares Cachoeira e Flores, fazendo como citação
apenas o que consta da fl. 82, datado de 09.01.1826, sendo que em todos os
termos são mencionados descendentes do capitão-mor João Ferreira Chaves
(2°). Para o leitor ter uma idéia do vasto latifúndio deste capitão-mor, informamos
que os vendedores desta légua e meia de terra foram Reinaldo Bezerra do Vale
e sua mulher Josefa Ferreira Pedrosa, que informam na escritura serem netos
de Maria Vieira de Sousa, mulher do capitão-mor João Ferreira Chaves (2º).
Enriquecendo esta informação, vejamos o que nos diz a escritura pública datada
de 13.05.1800, pela qual a viúva Ana Alves Feitosa faz venda ao Ten. Cel.
Antonio da Costa Leitão, primo do seu falecido marido Luís Vieira de Sousa, da
parte sul do imóvel Açude Grande, onde está dito:"da parte do Sul, pegando de
uma só parte do riacho do assude da parte do Sul, fazendo estrema pela mesma
parte com terras da fazenda Cachoeira do Sargento-mor João Ferreira Chaves
(sic)". Abrimos um parêntese, para informar que não obstante receber os
tratamentos que o titulam de Tenente, Sargento-mor e Capitão-Mor, deve ter
prevalência o último conforme prova que oferecemos no curso deste estudo.

90
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Prosseguindo nosso comentário sobre a grande dimensão do latifúndio que detinha


o Capitão-Mor no corpo de terras formado pela Cachoeira Grande, vamos
encontrar seu neto Gonçalo Martins Chaves, fazendo vendas das terras do
Ipuzinho-provenientes de herança do mesmo Capitão-Mor João Ferreira Chaves
(2°) -, por escritura de 23.06.1862, dando o limite norte do Ipuzinho da forma
seguinte: "ao Norte, com terras dos vendedores (sic)", dizendo adiante "por
compra que fizemos ao finado Francisco Ferreira Pedrosa (sic)", sendo este,
filho do Capitão-Mor e tio dos vendedores. Isto significa dizer que o corpo de
terras formado pela posse inicalmente exercida pelo Capitão-Mor, tendo por
sede a morada do mesmo na fazenda Cachoeira Grande, tinha ao Norte estremas
com terras do Açude Grande, e, ao Sul ultrapassavam as terras do Ipuzinho.
Ao leitor coevo, pode causar estranheza tamanha estensão de terras, mas, a
razão reside no fato de que o Capitão-Mor João Ferreira Chaves (2º) era também
proprietário de vasto latifúndio no riacho São Francisco, em cujas terras está
situado o imóvel Ipuzinho, conforme veremos. em oportuno momento.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Repetimos que o capitão-mor João Ferreira Chaves (2°), era filho do
capitão-mor João Ferreira Chaves (1°), sesmeiro nas Macambiras, sobre a
Ibiapaba, na Serra dos Cocos, irmão do também capitão-mor José de ruâújo
Chaves (1°), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.
Já sua mulher, dona Maria Vieira de Sousa, era filha do Capitão Luis
Vieira de SQUsa (2º) e dona Ana Feitosa, em cuja condição era bisneta materna
do Cel. Francisco Alves Feitosa e.e. Catarina Cardosa da Rocha Resende
Macrina, também sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: ASSUDE, com as posteriores denominaçãoes de AÇUDE e AÇUDE


GRANDE. .
Datas dos documetos analizados: 13.05.1800 e 1843.
IDSTÓRICO
A origem documental deste imóvel, está contida numa escritura pública
feita no livro nº 7, fls.06/07, em data de 13.05.1800, onde está dito que foi
lavrada "nesta fazenda de Tamboril (sic)". A certidão que demora em nosso
arquivo foi extraida do Cartório do 1 ° Oficio da comarca de Ipú, onde está o
livro referido, nela figurando como vendedora dona Ana Alves Feitosa, e como
comprador o Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, sendo o imóvel assim descrito:
"hum sítio de terras de criar gados vacuns e cavallares nas Cabeceiras do
Carateús no lugar chamado Assude do Termo desta Villa Nova de EI-Rey de

91
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

uma só parte do riacho denominado Assude, de huma só parte do dito riacho, da


parte Sul, com duas e meia legua de comprido ou que na verdade se achar e
meia de largo, cujas terras são de crear gados vacuns e cavallares que a ouve
por titulo de meação que lhe coube por falecimento de seu marido Capitão Luis
Vieira de Sousa, cujas terras pega da parte do Puente defronte da Alagoa
chamada de Sam Francisco extremando neste lugar com terras da fazenda do
Murcego do Sargento Mor João de Araújo Chaves, buscando ao Nascente no
Morro chamado do Tigre fazendo extrema no dito Morro com terras da Fazenda
Pajahú de Luiz Vieira de Sousa e a meia de largo, pegando de uma só parte do
riacho do Assude da parte do Sul, fazendo extrema pella mesma parte com
terras da fazenda Cachoeira do Sargento Mor João Ferreira Chaves (sic)".
Chamamos a atenção do leitor para o limite dado com a fazenda Pajeú, que era
propriedade de Luis Vieira de Sousa (3°), filho da vendedora Ana Alves Feitosa..
Por esta escritura, foi vendida só a parte sul do riacho, vindo a surgir maior
contexto deste imóvel no inventário do Ten. Cel. José do Vale Pedrosa, processado
em Tauá no ano de 1843, cuja certidão temos em arquivo, e assim descreve o
imóvel: 'Tres légoas de terras de comprido, com huma légoa de largura, de
crear, no Certão, muito seccas, no lugar denominado Assude (sic)", não
constando nenhuma confrontação. Pelo que comprova a escritura pública de
13. 05. l 800, este imóvel, na sua totalidade, foi apossado e colonizado pelo Capitão
Luis Vieira de Sousa (2°), pois, sendo sua viúva dona Ana Alves Feitosa
possuidora da parte Sul, proveniente de sua meação, fica óbvio que a parte
Norte fez parte da herança dos filhos do Capitão Luis Vieira de Sousa (2°),
sendo posteriormente adquirido pelo Ten. Cel. José do Vale Pedrosa, na sua
totalidade.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
O Capitão Luis Vieira de Sousa (2º) e sua mulher dona Ana Alves Feitosa,
estão sabejamente referidos neste trabalho. Contudo, por haverem colonizado
este imóvel, relembramos que o Capitão Luis, era filho de pai homonimo, sesmeiro
da Carta de 17. 07. l 722, enquanto dona Ana era neta materna do Cel. Francisco
Alves Feitosa, que capetaneou a sesmaria de 17. 07. l 722.
Já o proprietário intermediário, Ten. Cel. Antonio da Costa leitão, e.e.
dona Maria Saraiva da Purificação, irmã do Capitão-mor João Ferreira Chaves
(2º), da Cachoeira Grande, eram primos. Foram moradores na fazenda
Cachoeirinha, neste município de Tamboril, terra esta que depois seria vendida
pela viúva Maria Saraiva da Purificação ao Ten. Cel. Luis Lopes Teixeira, da
Cana-brava, por escritura pública datada de 10.02.1830, que será referida em
momento oportuno.

92
ARAÚJOS E FEITOSAS - 'COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

O Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, juntamente com o sobrinho Capitão


Bernardino Gomes Franco (2°), homônimo do pai, mandaram assassinar ao juiz
ordinário Antonio Barbosa Ribeiro, de Vila Nova d' EI Rei, no dia 03.03.1795,
conforme já referimos no capítulo OS ARAÚJOS. Pela quantidade de pessoas
que fizeram parte desta verdadeira execução da lei de Lynch, composta por um
número superior a trinta, informação contida em todas as crônicas que narram
o episódio, deixa uma séria dúvida sobre quem teria mandado levar a termo tal
assassinato, pois também são unânimes os cronistas em afirmar que este faccioso
Barbosa Ribeiro, por seu procedimento de parcialidade, agravado por rixas
políticas, granjeou um grande número de inimigos. Deste deplorável acontecido
- conforme também já narramos - restou o martírio do Cel. Manoel Martins
Chaves (bisneto), morto na cadeia do Limoeiro, em Lisboa, no dia 27 de maio
de 1808, sendo com ele também injustiçado e aprisionado, o Capitão Francisco
Xavier de Araújo Chaves, avô matemo do maior Soldado da História Militar do
Brasil, o valoroso Brigadeiro Antonio de Sampaio, Patrono da Arma de Infantaria
de nosso Exército.
Quanto ao Ten. Cel. José do Vale Pedrosa, era filho do Capitão-mor
José Alves Feitosa e de Maria Madalena Vieira,tendo e.e. Ana Gonçalves
Vieira Mimosa, filha única do Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto ) e de
Úrsula Gonçalves Vieira, sendo o Ten. Cel. José do Vale Pedrosa bisneto do
Cel. Francisco Feitosa, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: ONÇA. Em terras do riacho da Onça, afluente do Pajeú.


Data do documento analizado: 15.06.1874.
HISTÓRICO
Vem do inventário de Rodrigo de Araújo Costa Veras, com início na data
acima referida. Nele, sucintamente é unóvel descrito: "Uma posse de terra no
lugar Onça, deste termo, havida por herança do pai do inventariado ( sic )".
Descreve mais: "Uma casa no lugar Onça, construida de Tijolos e telhas ( sic
)".Procedendo do inventário de Rodrigo de Araújo Costa Veras, pode o leitor,
abreviando nosso trabalho, volver os olhos para o detalhamento do imóvel
Pereiros, constatando ser bastante remota a colonização do imóvel Onça. Como
complemento, podemos citar várias desobrigas dos curas da Serra dos Cocos alí
realizadas, como a que consta do livro nº 19, 1855-1863, fl. 145, datada de
27.09.1859.
Genealogia: ARAÚJO.

93
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Já detalhada, quando referimos o imóvel Pereiros.

Imóvel: INHARÉ- com as denominações de INHARÉ DE CIMA E INHARÉ


DE BAIXO.
Data do documento analizado: 30.07.1888.
HISTÓRICO

Muito pesquisamos no intuito de encontramos uma origem mais remota


sobre a colonização deste território do imóvel Inharé. O único documento de
reconhecimento oficial e público que encontramos, foi um requerimento de
assunção de tutoria, pela qual Luciano Martins Chaves, neto do Capitão-mor
João Ferreira Chaves ( 2° ), da Cachoeira Grande, assume a tutoria da menor
Ana, filha dos falecidos pais da mesma, João Emídio Ferreira Chaves e Maria
Madalena Chaves, também descendentes do mesmo Capitão-mor, ficando desta
forma demonstrado que o original colonizador daquelas terras foi o Capitão-
mor João Ferreira Chaves, de vez que tanto Luciano como os pais da menor
eram proprietários no imóvel Inharé.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida. Verificar os comentários sobre os imóveis Cachoeira Grande,
Boa Vista e Flores.

Imóvel: RIACHÃO- com as designações de RIACHÃO DE CIMA e


RIACHÃO DE BAIXO.
Data do documento analizado: 02.09.1842.
HISTÓRICO

A notícia mais remota sobre a colonização do imóvel Riachão, nos é


dada no inventário de João Martins de Araújo Veras, que foi e.e. Delfina Maria
Veras, processado em Vila Nova D'El-Rei na data referida.Várias vezes já
dissemos algures sobre a omissão de passagens importantes, e o sumarismo
contido nestes antigos inventários, fato verificado com este, onde está o imóvel
assim descrito: "Declarou mais a mesma inventariante meeira haver ficado em
seu casal por obito do dicto seu marido, uma sorte de terras de criar gados, nas
tres legoas de terras de comprido, no lugar denominado Riachão, Freguesia da
Serra dos Cocos, do termo de Vila Nova d'El-Rei, cuja sorte de terras a ouve o
seu casal a titulo de herança na factura do inventário e partilhas que pelo juizo
de orfãos de Vila Nova se procedeu dos bens que ficarão por obito de sua
sogra e e mai Donna Anna Ferreira de Matos ( viúva do Sargento-mor Manoel

94
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Martins Veras, do Morcêgo) (sic )". O parêntese elucidativo é nosso. Afora esta
posse, existe outra de três de léguas no mesmo Riachão, onde é dito "que as
ouve o mesmo seu casal a titulo de herança na factura do inventário e partilhas
que se procedeu pelo Juízo de orfãos de Vila Nova d'El Rei dos bens que ficarão
por óbito do seo tio e pai o sobredicto fallecido Sargento-mor Manoel Martins
Veras ( sic )".
Genealogia: ARAÚJO
Embora omitido por Leonardo Feitosa, oh. cit., na filiação do Sargento-
mor Manoel Martins Veras, do Morcego, o nome de João Martins de Araújo
Veras, a prova documental patente no inventário supra, vem suprir o olvido. O
Sargento-mor Manoel Martins Veras, do Morcego, foi e.e. Ana Ferreira de
Matos, falecida no ano de 1824, cujo inventário foi procedido na Vila do Ipú,.
onde se acha arquivado, sendo filha do Sargento-mor João de Araújo Chaves
Junior, mencionada por L. Feitosa, pág. 259, como Ana de Matos Vasconcelos,
que não corresponde com seu verdadeiro nome. O Sargento-mor Manoel Martins
Veras, do Morcêgo, era filho do portugues Silvestre Rodrigues Veras ( o Velho )
e de dona Cosma de Araújo Chaves, sendo neto matemo do Capitão-mor José
de Araújo Chaves ( 1 ° ), das Ipueiras, havendo sido um grande colonizador de
vastíssimos latifundios em nosso território. Dele nos ocuparemos adiante, em
vários oportunidades. Repetindo, era neto matemo do sesmeiro da Carta de
17.07.1722.

Imóvel: PIEDADE.
Data do documento analizado: 06.07.1790.

IDSTÓRICO
Dissemos no final da análise do imóvel Pinheiro, de que não iríamos·
obedecer a uma sequência potâmica na continuidade do detalhamento dos
imóveis situados ao sul do município de Tamboril. Vamos agora referir alguns
imóveis localizados nos estremos territoriais dos nossos antigos limites, iniciando
pelo denominado Piedade, situado nas confrontações do município de Monsenhor
Tabosa com Boa Viagem, com localização a SE - sudeste - do município de
Tamboril, limitando-se a Leste com a serra da Boa Fé-águas do Quixeramobim
- e a Oeste com a de Santa Rita, em águas do Poti, conforme nos mostram as
indicações cartográficas. O documento que trás a data acima, refere-se a uma
escritura pública lavrada "nesta fazenda da Victória donde eu Tabeliam me acho
(sic )", figurando como vendedor José Antonio de Carvalhedo, morador em
Pernambuco, e como comprador o Capitão Antonio de Sousa Carvalho ( neto ),
"morador na mesma fazenda Victória, do termo do Campo Grande, freguezia de
95
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Sam Gonçalo da Serra dos Cocos, da nova repartição da Vila de Granja ( sic )"'.
Temos em arquivo o original deste documento, lavrado pelo tabelião José Alvares
Maya, contendo uma grafia de difícil leitura onde é o imóvel assim descrito: "
hum sítio de crear gados Vacum e Cavallar e mais no riaxho de Santa Anna
chamado Piedade termo do Campo Grande que as ouve por compra que fizera
elle vendedor a Antonio Martins Chaves e sua mulher Luiza Gonçalves Veras,
com legoa e meia de terra de comprido e huma de largo, cujas terras ( ilegível
) confronta pelo riacho abaixo da parte do Sul com terras do ( ilegível ) de que
é senhor Antonio da Silveira e da parte do Norte com terras do Sítio dos Defuntos
de que é senhor o mesmo comprador Capitam Antonio de Sousa Carvalhedo e
da parte do nascente com terras do sitio novo, de que é senhor os erdeiros do
falecido ( ilegível ), e da parte do Puente com terras do Sam José dos mesmos
erdeiros ( sic )". O primitivo colonizador deste imóvel, tendo em vista a exagerada
homonimia existente na família Araújo, está entre dois Antonios: Antonio Martins
Chaves, e.e. Luiza de Matos Vasconcelos, filha do Cel. João Ferreira Chaves
( 1 º), da Serra dos Cocos, tendo em vista que o Capitão-Mor Antonio de Barros
Galvão, e.e. Ana Gonçalves Vieira, também filha do velho Cel. João Ferreira
Chaves ( 1 ° ), foi colonizador do imóvel Santana, situado nas proximidades do
imóvel Piedade. O outro é Antonio Martins Chaves, filho de Luciano Martins
Chaves e Eleutéria Vieira, L. Feitosa, obra cit. fl. 252, que em primeiras núpcias
casou com Maria Madalena de Vasconcelos, devendo ter contraido novas
núpcias com Luiza Gonçalves Veras, o que achamos mais provável.
Genealogia: ARAÚJO.
Antonio de Sousa Carvalhedo ( neto ), o vendedor, será adiante bem·
referido. Quanto ao primitivo colonizador deste imóvel, que apontamos para
Antonio Martins Chaves, filho de Luciano Martins Chaves e Eleutéria Vieira,
era neto materno do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 ° ), das Ipueiras, e
de dona Luiza de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: RIACHO DOS BOIS - hoje no município de Indepência.


Datado documento analizado: 08.01.1800.
HISTÓRICO
Como o anterior, este imóvel fica localizado nos sertões centrais qui~
dividem os municípios de Tamboril e Indenpendência. Tem sua localização às
margens do Riacho dos Bois, donde se origina sua denominação, que constitui
a formação das nascenças do rio Tourão, afluente do Poti, o qual desemboca
na entrada da cidade de Crateús. Vários documentos nos provam que tanto o

96
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 0O ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

imóvel Piedade, como o Riacho dos Bois e São José, ·fizeram parte do território
do município de Tamboril. A data acima epigrafada, decorre de uma escritura
pública lavrada em Vila Nova d'El Rei, pela qual o Capitão Antonio de Sousa
Carvalhedo (neto ), faz venda das referidas terras ao também Capitão Antonio
Rodrigues Pires "morador na sua fazenda dos Crateús (sic )," na qual o imóvel
é assim descrito: "hum sítio de terras de criar gados vaccum e cavallar chamado
Riacho dos Bois, com trez legoas de terras de comprido com toda a largura das
cabiceiras do mesmo riacho, nos sertões dos Cratiús, de huma so bando do dito
riacho, que fica para a parte do norte, como também trinta braças de terra de
largura no riaxo chamado de Sam José, no mesmo sertão dos Cratius, na cacimba
de Santa Maria, ficando a dita cacimba no meio das mesmas trinta braças, de
huma so parte do dito riacho, que fica para a banda do Sul, cujas terras são
também de criar gados vaccum e cavallar, tudo no termo desta mesma Villa
Nova d'EL Rei, pegando o comprimento das dietas trez legoas das testadas da
fazenda denominada Felippe, pelo riacho dos bois acima, até as cabiceiras do
dicto riacho por uma so parte do dicto riacho, da parte do Norte, com a largura
das ditas cabeceiras, cortando rumo direito ao morro das Queimadas e a largura
da parte de baixo das testadas do Felippe até a picada do xeixo e desta picada
cortando rumo direito ao mesmo morro das queimadas (sic)". É bom observar
que a venda das 30 insignificantes braças de terra, teve por razão única a
existência de uma cacimba localizada no meio das referidas 30 braças,
demonstrando a grande carência d' água nos secos sertões do nosso semi-árido.
Esta cacimba, representava com certeza, a única fonte d' água em época de
pouca chuva neste imenso latifúndio. Mais uma vez, ficam aqui comprovadas
as tão referidas "invasões" no território que pertencia à província do Piauí. Nos
parece que os colonizadores iam adquirindo as terras, seguidos pelos curas da
freguesia da Serra dos Cocos que passavam a reconhecer estas terras como
pertencentes àquela freguesia, pois dela eram oriundos os tais "invasores".
Estes, por seu lado, documentavam tais terrenos como pertencendo juridicamente
à Villa Nova d'El Rei, tomando definitivas as tais "invasões".
Genealogia:
., ARAÚJO .
Antonio de Sousa Carvalhedo (neto), mencionado por L. Feitosa, oh.
cit. fl. 232, onde está um êrro gráfico do seu nome, pois é dito "Antonio de
Sousa Carvalho, casado e morador em Santa Quitéria ( sic )". É filho do Cel.
João Ferreira Chaves (1° ), sesmeiro das Macambiras, na Serra dos Cocos, que
foi e.e. sua sobrinha Ana Gonçalves Vieira. Mostram os documentos originais
dos imóveis Piedade e Riacho dos Bois, que o Capitão Antonio de Sousa
Carvalhedo ( neto ), não casou. De outra parte, êle é o mesmo referido no

97
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

artigo do Dr. Carlos Feitosa, publicado pela Rev. do Inst. do Ceará-Ano 1957 -
fls. 74/87, intitulado O Barão de Studart e as Famílias Feitosa e Araújo, que foi
vitimado por injusta perseguição do governador João Batista Azevedo Montaury,
numa demanda de terras com o Capitão-mor Antonio Pinto de Mesquita.
Comprova que o Capitão Antonio de Sousa Carvalhedo foi - como os Pinto e
Mesquita, de Santa Quitéria-, também colonizador naquele território, onde tinha
moradia na fazenda Vitória, que ainda em nossos dias é um grande latifúndio
naquele município. Em vista de tal perseguição, e referido por L. Feitosa, ob.
cit. fl. 244, como um dos envolvidos no linchamento do juiz ordinário Barbosa
Ribeiro, posto em liberdade em Sobral.
Corrigindo um engano que cometemos nas duas últimas análises, o Capitão
Antonio de Sousa Carvalhedo, filho do Cel. João Ferreira Chaves (1°), da Serra
dos Cocos, e.e. a sobrinha Ana Gonçalves Vieira, filha do Capitão Luís Vieira
de Sousa ( l º) e de Joana Paula Vieira Mimosa, era neto do velho portugues
Antonio de Sousa Carvalhedo, sendo também neto matemo do Capitão Luís
Vieira de Sousa (lº),.sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: QUEIMADAS.
Data do documento analizado: 30.05.1892.
IDSTÓRICO
Os informes cartográficos nos mostram a existência do serrote das
Queimadas, no estremo sul do limite de Tamboril com Independência. Pela
descrição que é feita a seguir, deve o riacho das Queimadas ter suas nascenças
naquele serrote que lhe toponimou, fazendo parte das águas do riacho das Contas,
afluente do Poti. A mais antiga referência documental sobre o imóvel Queimadas,
fomos encontrar numa escritura pública feita em Santa Quitéria em data de
30.05.1892, na qual aparecem como vendedores Maria Madalena de Araújo
Chaves, Pedro Martins de Araújo Chaves, João Martins de Araújo Chaves, Pedro
Martins de Araújo Chaves Junior e Úrsula Martins de Araújo Chaves, tendo o
imóvel a seguinte descrição: "Duas e meia léguas de terras de um e outro lado do
riacho Queimadas, com as seguintes extremas: ao Norte, com terras das fazendas
Soledade e Ponta da Serra no riacho do Meio, com terras da fazenda São
Francisco; ao Sul, corn terras das fazendas Juazeiro e São José, com terras do
Mundo Novo (no riacho dos Bois), e com terras que forão de João Ribeiro Melo
no lugar Várzea d'Água: ao Nascente, com terras que forão de João Ferreira
Chaves, com as fazendas Tapera e Assudinho (ambas às margens do riacho São
José) no meio da picada defronte do Morro, e ao poente com terras que forão de

98
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

João Ribeiro Melo e do Ten. Cel. Luís Lopes Teixeira na barra do riacho do
Meio, na confrontação das extremas da Ponta da Serra com Novo Recreio
(sic)". É bom ser observado, que todas as pessoas referidas nos limites deste
imóvel eram da família Araújo, já referidas ou por serem mencionadas.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
O livro genealógico de L. Feitosa, como ele mesmo nos diz à pág. 231,
na introdução do capítulo OS ARAÚJOS, não lhe foi possível oferecer as
descendências das famílias mais recentes, fato que muito tem requerido de
nossa parte maiores pesquisas e dificuldades na identificação de vários
descendentes dos colonizadores de antanho. No caso dos vendedores referidos
nesta escritura, eram filhos de Leonardo de Araújo Chaves, que foi casado em
segundas núpcias com Maria Vieira de Sousa, homônima da mãe, de quem lhe
advieram o imóvel por sucessão hereditária, filha do Capitão-mor João Ferreira
Chaves (2°) da Cachoeira Grande e de Maria Vieira de Sousa, filha do Capitão
Luis Vieira de Sousa e de dona Ana Alves Feitosa. Nesta condição, eram trinetos
matemos do Capitão Luis Vieira de Sousa ( l º), e.e. Joana Paula Vieira Mimosa
e também tetranetos nas mesmas condições do Cel. Francisco Alves Feitosa,
e.e. Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, ambos os varões sesmeiros
da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: IPÚ, posteriormente denominado apenas IPUZINHO.


Data do documento analizado: 23.06.1862.

HISTÓRICO
Pela descrição do Imóvel São Francisco, que faremos adiante, nos parece
que o imóvel Ipuzinho fazia parte da contextura original daquele. Contudo, por
ter denominação distinta, inclusive por haver sido nesta localidade que Cosme
Damião da Fonseca deu alforria à primeira criança escrava em território de
Tamboril, achamos por bem relatá-lo. Aliás, corrigindo informações do batistério,
Cosme Damião da Fonseca habitava na serra de Santa Rita. O documento aqui
referido, consta de uma escritura particular datada de 23.06.1862, na qual Gonçalo
Martins Chaves e sua mulher Maria Vieira de Sousa fazem venda de parte do
imóvel Ipuzinho, dando as seguintes confrontações: "ao Nascente, com terras
dos mesmos vendedores, no lugar em que a estrada que vem do Ipu e encontra
a Lagoa do Pau Ferro; ao Poente, com terras dos vendedores no meio da
Ipueira do Juazeiro; ao Norte, com terra dos vendedores em cima da Serra do
Alazão, onde as águas fazem oposto, e ao Sul, no meio do riacho do lpu, com
terras dos vendedores (sic)". Fica implícito que as terras possuidas por Gonçalo

99
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Martins Chaves tinham uma grande dimensão, pois esta posse vendida com ele
limita em todos os pontos cardeais. Há uma curiosidade histórica verificada
nesta escritura, pois foi ela manuscrita do próprio punho do Pe. Raimundo Felix
Teixeira, 1 ° vigário da paróquia de Tamboril, que teve também a missão de
instalador. É datada da Cachoeira Grande, onde foi manuscrita.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Maria Vieira de Sousa, que foi casada em primeiras núpcias com José
de Quadro Favela, era neta do Capitão-mor João Ferreira Chaves (2º) e de
dona Maria Vieira de Sousa, avó que lhe homonimou, tendo contraido segundas
núpcias com o primo Gonçalo Martins Chaves, identificamente neto do Capitão-
mor, filho de Úrsula Gonçalves Vieira e do Capitão Luciano Martins Chaves.
Portanto, Gonçalo Martins Chaves e Maria Vieira de Sousa eram primos, sendo
nestas condições trinetos do Capitão Luís Vieira de Sousa ( 1 º) e.e. Joana Paula
Vieira Mimosa, fundadores do Ipu, e tetranetos matemos do Cel. Francisco
Alves Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: BOM SUCESSO.


Data do documento analizado: 13.07.1891.
HISTÓRICO
Pelas vendas feitas pelos herdeiros-descendentes do Capitão-mor João
Ferreira Chaves (2º), da Cachoeira Grande, comprova-se que sendo deste as
origens destes imóveis, obrigatoriamente foram por eles primitivamente
colonizados. O imóvel Bom Sucesso - conforme informes cartográficos - fica a
oeste do Ipuzinho, sendo sua primeira referência documental provinda de uma
escritura particular que traz a data acima epigrafada, onde é vendedor Belmiro
José de Quadro Favela, em cujo documento é o imóvel assim resumidamente
descrito: "Uma posse de terras de criar e plantar, no lugar Bom Sucesso, por um
e outro lado do riacho do mesmo nome (sic)".
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Belmiro José de Quadro Favela, era filho de José de Quadro Favela e de
Maria Vieira de Sousa, quando das primeiras núpcias desta, que era neta do
Capitão-mor João Ferreira Chaves (2°), da Cachoeira Grande, e de dona Maria
Vieira de Sousa, avó que lhe homonimou. O inventário de José de Quadro
Favela foi processado em Vila Nova d'EL Rei (Guaraciaba do Norte), julgado
no dia 01.08.1835. Pela linhagem materna, Belmiro era tetraneto do Capitão
Luís Vieira de Sousa (1°), e pentaneto do Cel. Francisco Alves Feitosa, ambos
sesmeiros da Carta de 17. 07. 1722.

100
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Imóvel: SÃO FRANCISCO.


Data do documento analizado: 30.09.1785.

HISTÓRICO
Ao contrário do que informamos em História de Tamboril, não é este o
documento mais antigo referente a imóvel situado em território tamborilense. ·
Pela análise seguinte, veremos que existe outro que lhe antecedeu em 25 dias.
Este que aqui detalhamos, provém de uma escritura pública lavrada na fazenda
Jardim, na ribeira de Crateús, termo da vila do Marvão, comarca da cidade de
Oeiras, capitania de São José do Piauí, na casa de residência do Capitão Estevão
Lopes Galvão, e.e. Nepomucena Gonçalves Vieira, filha do Cel. João Ferreira
Chaves (lº) e de Ana Gonçalves Vieira, consoante informa L. Feitosa, oh. cit.
pág. 232. O Capitão Estevão e Nepomucena figuram como vendedoras, sendo
comprador o Capitão-mor João Ferreira Chaves (2°), da Cachoeira Grande,
irmão de Nepomucena, sendo o imóvel assim descrito na escritura: "um sitio de
terras de criar gados chamado São Francisco, sitio no Districto da povoação do
Campo Grande, freguesia da Villa da Granja, Capitania do Ceara Grande, o qual
extrema pela parte do Norte no lugar do morro chamado São Francisco; e pela
parte Nascente com o sitio de Santa Rita, no meio da ladeira e para a parte do
Puente com o sitio de Santa Quitéria no lugar de uma caiçara que tem na beira
do mesmo riacho, e para a parte do Sul extremando com o sitio de São José de
Ignácio do Nascimento no lugar da ponta do morro que vai para lá (sic)". Sendo
este documento lavrado em casa de vivenda do Capitão Estevão Lopes Galvão,
na fazenda Jardim, traz comprovação de que foi ele o primeiro colonizador
deste imóvel, que depois passaria a pertencer aos Mourões, parentes de sua
mulher. De outro lado, esta escritura nos oferece a prova de religiosidade destes
primitivos colonos, toponimando os imóveis com prenomes de santos, como
São Francisco, São José, Santa Rita e Santa Quitéria.
Genealogia: ARAÚJO.
A vendedora Nepomucena Gonçalves Vieira e o comprador Capitão-mor
João Ferreira Chaves(2º), eram filhos do Cel. João Ferreira Chaves (lº), sesmeiro
nas Macambiras, na Serra dos Cocos, irmão do Capitão-mor José de Araújo
Chaves (lº), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: SANTA QUITÉRIA.


Data do documento analizado: 05.09.1785.

HISTÓRICO

101
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Constitui esta escritura pública, que traz a data acima, o documento mais
remoto que trata de terras do Tamboril. Demora em nosso arquivo o original,
manuscrito pelo tabelião Manoel Antonio Lisboa, sendo, como o anterior lavrado
"em casa de vivenda da dita fazenda (sic)", que é a fazenda Jardim antes
referida, sendo vendedores o mesmo Capitão Estevão Lopes Galvão e sua
mulher Nepomucena Gonçalves Vieira, tratada na escritura como Polucena, e
como comprador o mesmo seu irmão, Capitão-mor João Ferreira Chaves (2°),
sendo uma das testemunhas o Alferes Francisco Xavier de Araújo Chaves,
concunhado do comprador e que viria a ser avô matemo do Gen. Antonio de
Sampaio, conforme adiante veremos. Neste velho documento é o imóvel bem
caracterizado: "um sitio de terras de criar gados chamado Santa Quitéria no
districto da povoação do Campo Grande Termo da comarca da Granja, Capitania
do Ceara Grande, o qual extrema pela parte do Nascente com o sitio de São
Francisco no lugar da Caiçara que tem na beira do Riacho, e pela parte do Norte
com o sitio do Riachão onde seja lugar o meio, para o Poente extremando com a
fazenda Cachoeirinha da Onça, do Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, e para o
Sul, extremando com a fazenda do Irapuá de Siá Joana no lugar da lagoa do
veado e com a fazenda São José do Ignácio do Nascimento na picada do Xique-
Xique (sic)". Os comentários destes dois últimos imóveis, são suficientes para
o leitor formar uma idéia do imenso território que detinha o Capitão-mor João
Ferreira Chaves (2º), no lado sul do município de Tamboril, em águas tributárias
do rio Poti.
Genealogia: ARAÚJO.
O Capitão-mor João Ferreira Chaves (2°), da Cachoeira Grande, já é
bastante mencionado neste estudo. Com relação ao imóvel Jardim, cabe aqui
reparar um engano em que incorreu Nertan Macedo, no livro Bacamarte dos
Mourões, págs. li e 12, quando informa que o emigrante Antonio da Silva
Mourão, tronco comum das famílias Melo e Mourão, foi o primitivo colonizador
da fazenda Jardim, no município de Crateús, acrescendo que o mesmo aqui
chegou por volta d~: 1750 - 1777. As duas últimas escrituras atrás referidas
destroem esta versão, pois, ainda em 1785 o Capitão Estevão Lopes Galvão era
proprietário deste imóvel, onde tinha sua moradia. Aqui, é conveniente informar
que Estevão Lopes Galvão e Antonio de Barros Galvão foram casados com
duas irmãs, filhas do Ccl. João Ferreira Chaves (lº), sesmeiro nas Macambiras
na Serra dos Cocos, que foi e.e. a sobrinha Ana Gonçalves Vieira. Dois netos de
Antonio da Silva Mourão, os irmãos Sebastião Ribeiro Melo e Alexandre da
Silva Mourão (o velho), vieram a contrair matrimônio com duas irmãs, filhas do
Capitão Antonio de Barros Galvão, que foi e.e. Ana Gonçalves Vieira, homônima

102
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

da mãe. Portanto, o imóvel Jardim deve ter sido adquirido por Antonio de
Barros Galvão ao concunhado Estevão Lopes Galvão, que por herança ou doação
veio a ser possuido pelo genro Alexandre da Silva Mourão (o velho). Como foi
dito na análise precedente, a vendedora Nepomucena Gonçalves Vieira era irmã
do Capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), da Cachoeira Grande, filhos do Cel.
João Ferreira Chaves (lº), da Serra dos Cocos, irmão do Capitão-mor José de
Araújo Chaves {lº), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CACHOEIRINHA e NOVO RECREIO.


Data do documento analizado: 10.02.1830.

HISTÓRICO
Trata-se de uma escritura pública lavrada na fazenda São Francisco - não
diz em morada de quem - onde aparece como vendedora dona Maria Saraiva da
Purificação, irmã do Capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), e casada com o
primo, Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, filho do Capitão-mor José de Araújo
Chaves {lº, das lpueiras. Dona Maria Saraiva da Purificação já aparece como
viúva, sendo comprador o Ten. Cel. Luiz Lopes Teixeira, em cujo documento é
dito como morador "na sua fazenda denominada Recreio (sic)", estando o imóvel
assim descrito: "Treis legoas de terras no lugar denominado Caxoeirinha pegando
do Riacho do Espalhafado, que fica ao Puente pelo mesmo riaxo acima a extremar
para a parte do Nascente com o mesmo comprador antes de chegar na Grota
dos Caibros, junto da casa denominada Novo Recreio, e para a parte do Sul no
lugar denominado Feijão extremando com João Alves Adorno, e da parte do
Norte, extremando com terras do Riachão, com terras dos herdeiros do finado
Sargento-mor Manoel MartinsVeras (sic)". Este último limite, vem confirmar
que foi o Sargento-mor Manoel Martins Veras o primitivo colonizador do imóvel
Riachão.
Genealogia: ARAÚJO.
O Ten. Cel. Luiz Lopes Teixeira, segundo nos informa Raimundo Raul
Correia Lima, oh. cit. págs. 43/47, era filho de Francisco de Sousa Nogueira e
Cosma Maria de Melo, originários do lcó, tendo nascido no ano de 1784. Segundo
o mesmo autor, do casal Francisco e dona Cosma descende também o Pe. Dr.
Luís Lopes Teixeira, homônimo do Ten. Cel., não informando o grau de
consangüinidade. De nossa parte, temos comprovação documental de que este
Padre Doutor, funcionou como advogado no Ipú, em ação requerida pelo Cel.
Francisco Paulino Galvão, genro do Ten. Cel. Luiz Lopes Teixeira, fato que
relataremos quando analizarmos os imóveis Bonito e Sítio-Escuro, no estudo do

103
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

capítulo LADO NORTE DO RIO ACARAÚ.


Casado duas vezes na família Araújo, com as irmãs Ana Gonçalves
Vieira e em segundas núpcias com Úrsula Gonçalves Vieira, filhas de Sebastião
Ribeiro Melo e Eufrásia Gonçalves Vieira, tendo morado em nosso território,
além de amigo e compadre do Cel. José de Araújo Costa, padrinho que foi da
filha Francisca, nascida na fazenda Caiçara e lá batizada em desobriga do cura
da Matriz de São Gonçalo, como consta do livro de 1841-1844, pág, 39, em data
de 25.01.1841, o Ten. Cel. Luiz Lopes Teixeira não teve uma velhice tranquila.
Já morando na fazenda Canabrava (hoje Ararendá), casado que foi com duas
primas carnais de Meios e Mourões, veio a ser vítima de implacável perseguição
por tropas provinciais que andavam no encalço dos Mourões. Em razão disto,
foi por várias vezes feito prisioneiro, sendo muito mencionado nos relatórios
dos comandantes das tropas.
Outra observação, diz respeito ao que nos informa L. Feitosa, oh. cit.
pág. 251, quando enuncia que o Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão e sua mulher
Maria Saraiva da Purificação, tenham feito testamento legando todos os seus
bens à sobrinha Ana Gonçalves Vieira Mimosa, filha única do martirizado Cel.
Martins Chaves (2º), que foi casada com o Capitão José do Vale Pedrosa, filho
também único do Capitão-mor José Alves Feitosa. Ora, vendendo na qualidade
de viúva o imóvel a.cima referido, dona Maria Saraiva da Purificação certamente
o houve por meação do marido, Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão. Se o
testamento existiu, houve um legado parcial dos bens, pois, inclusive, o Capitão
José do Vale Pedrosa adquiriu metade do imóvel Açude Grande por compra,
conforme está dito no comentário deste imóvel.
Finalizando, queremos repetir que o primitivo colonizador dos imóveis
Cachoeirinha e Novo Recreio, Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, era filho do
Capitão-mor José de Araújo Chaves {1°), das Ipueiras, e.e. dona Luzia de Matos
Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

. Imóvel: MORCEGO - com a primitiva designação de ALAGO A DA AREIA.


Data do documento analizado: 20.06.1796.
HISTÓRICO

Encontramos aqui mais uma vez - o que já foi algures dito e repetido -, a
confirmação das chamadas "invasões", referidas por Ismar de Melo Torres,
oh. cit. pág. 30, corroborando o que também informa Raimundo Raul Correia
Lima, oh. cit. pág. 86, quando dá o traçado do que deveriam ser os originais

104
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

limites do Vale do Poti. A data epigrafada refere-se a uma escritura pública,


lavrada na fazenda Carrapateira "termo do novo julgado da povoação do Tahuá
(sic)", sendo comprador o Sargento-mor João de Araújo Chaves Junior, devendo
o leitor atentar para algumas passagens nela contidas: a primeira, é a que diz
que o imóvel está localizado "na ribeira do Cratiuz, da comarca da cidade de
Oeiras (sic)", enquanto na descrição adiante da meação do Sargento-mor
Manoel Martins Veras, provinda do inventáriio de sua mulher Ana Ferreira de
Matos, julgado em Vila Nova d' EL Rei em 1824, assim já localiza o imóvel:
"neste Termo de Villa Nova d'EL Rei (sic)", merecendo o leitor saber que só
pelo Dec. nº 3.012, de 22.10.1880, as terras do Vale do Poti, que abrangem os
territórios dos grandes municípios de Crateús e Independência, afora outros
que deles depois foram desmembrados, passaram a compor o território do Ceará.
Por conseguinte, além de colonizadores, comprova-se também que os Araújos e
Feitosas foram os bandeirantes que ocuparam este vasto território.forçando sua
troca pelo insignificante porto de Amarração, com uma área muitas vezes inferior.
Vejamos como o imóvel está descrito na escritura: "duas legoas de terras de criar
gados pouco mais ou menos ou que se achar, na ribeira do Cratius da comarca
da cidade Oeiras, sitio denominado Murcego, por uma e outra parte do riacho,
com as ilhargas que direitamente lhe pertenceram segundo a posição da donataria
extremando na extensão da parte de baixo com terras do mesmo comprador na
fazenda denominada Morcego em o lugar denominado Morrinhos, e da parte
de cima extrema com terras do Sargento Mor João Ferreira Chaves, na malhada
dos Paus d' Arcos; e da parte do Norte na ilharga seguir-se rumo da referida
malhada dos Paus d' Arcos até a lagoa do São Francisco, extremando com terras
dos herdeiros do fallecido Capitão Luiz Vieira de Sousa, e com terras da fazenda
Mulungu, onde se julgar ser o meio do caminho que vai do Murcego para a
referida fazenda Mulungu; com a fazenda do Sipó, serve de extrema o riacho
das Queimadas; e da parte do Sul na outra ilharga extrema com terras da
fazenda Cachoeirinha do Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, em a estrada que
vem do Massapê para baixo em uma grota onde se acha uma aroeira nova com
uma cruz, e pela estrada que vai para o Irapuá, na lagoa da carnauba, e na
testada de baixo extrema com terras das fazendas Jardim e Boa Vista, onde
fizer extrema o comprador com seus respectivos donatários (sic)". Por morte
do Sargento-mor João de Araújo Chaves Junior, este imóvel foi herdado pelo
genro, o também Sargento-mor Manoel Martins Veras, que, por ter sua morada
na localidade, teve acrescido ao seu nome a identificação de Sargento-mor
Manoel Martins Veras, do Morcego. Foi casado com Ana Ferreira de Matos,
que faleceu em 1824, cabendo-lhe o imóvel na meação, onde está assim descrito:
"um sitio de terras de criar denominado Alagoa da Areia, antigamente Murcego

105
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

(até hoje perdura c~sta denominação), neste Termo de Villa d'EI Rei, para o
Nascente confinado com terras dos Herdeiros do Tamboril, para o Poente com
terras do Pinheiro, para o Norte com terras do riacho Cipó, para o Sul com
terras do Jardim e Cachoeirinha (sic)". Pelos limites, fica evidenciado tratar-se
de um imenso latifúndio, tendo sido bastante habitado, cuja confirmação
encontramos nos livros de assentos de batismo da velha Matriz da Serra dos
Cocos, exemplificando o mais antigo, de 1825 - 1829, onde às fls. 107/107v.
vamos encontrar seis termos seguidos. Por outro lado, demonstra que lá os
padres faziam suas paradas de repouso, pois, nesta desobriga o Pe. João
Fernandes Vieira lá demorou do dia 23 a 26 de abril de 1827. Nos estranha a
referência à fazenda Mulungu, já que em documentos cartorários ou
cartográficos nenhuma referência encontramos de sua existencia naquelas
imediações.
Genealogia: ARAÚJO.
A fazenda Carrapateiras, localizada às margens do riacho do mesmo
nome, é hoje sede distrital no município de Tauá. Foi a primitiva morada do Cel.
João de Araújo Chaves, primogênio do Capitão-mor José de Araújo Chaves
(lº), das Ipueiras, que foi e.e. a prima Nazária Ferreira de Sousa, filha do tio
paterno, Cel.João Ferreira Chaves (1°), sesmeiro nas Macambiras, na Serra
dos Cocos. Segundo nos informa L. Feitosa,ob. cit. pág. 234, lá o Cel. João de
Araújo Chaves construiu uma capela, rogando ao cura de Arneiros, em petição
de 09.09.1772, fosse concedida sepultura para si e seus descendentes naquele
santuário. O primogênito do Cel. João de Araújo Chaves, o Sargento-mor João
de Araújo Chaves Junior, foi pai do também primogênito Cel. João de Araújo
Chaves (neto), que foi e.e. Josefa Alves Feitosa, moradores na fazenda Estreito,
no Tauá, de quem o Dr, Carlos Feitosa, no estudo publicado na Rev. do Inst. do
Ceará, á pág. 82 assim se ocupa: "Como prova de nossa assertiva, apresentamos
o Cel. João de Araújo Chaves, do Estreito, Comendador do Hábito de Cristo
pelos serviços prestados na sêca de 1825 - 1827 e Conselheiro Provincial em
1829, de quem Manuel Martins Chaves (2°) era tio-avô, que marchou em 1823
como Comandante das tropas dos Inhamuns para se reunir às fôrças
Expedicionárias Cearenses ao comando de Filgueiras e Tristão, despachados
pelo Imperador Pedro 1, contra o Major Fidié, que, em Oeiras, no Piauí,
representava a última resistência portuguesa, cuja ação se estendeu a Caxias,
no Maranhão, com o escôpo de ajudar a consolidar a independência política do
Brasil. Por outro lado, estava contra a legalidade, quando esta procurava ferir
direitos dos nacionais, como foi a dissolução da Constituinte por D. Pedro I, que
provocou a deflagação da Revolução do Equador, a favor da qual o Coronel

106
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

João de Araújo Chaves pretou relevantes serviços tomando parte na célebre


Comissão Matuta ou o chamado Govêmo Revolucionário do Icó, em 1824, do
qual foi um dos três vogais (sic)".
O Sargento-mor João de Araújo Chaves Junior, teve duas filhas casadas
com dois filhos do portugues Silvestre Rodrigues Veras (o velho): Maria, e.e.
Antonio da Costa Veras, e Ana Ferreira de Matos (erroneamente chamada por
L. Feitosa de Ana de Matos Vasconcelos), e.e. o Sargento-mor Manoel Martins
Veras, do Morcego, gênese dos Araújo Veras. Filho de Silvestre Rodrigues
Veras (o velho), e.e. Cosma de Araújo Chaves, o Sargento-mor Manoel Martins
Veras, do Morcego, era neto matemo do capitão-mor José de Araújo Chaves
( 1 º), das Ipueiras, enquanto que sua mulher era bisneta paterna do mesmo velho
sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

LADO NORTE DO RIO ACARAÚ


Como foi dito no princípio do capítulo precendente, serve o curso do rio
Acaraú como marco divisório do estudo dos imóveis que lhe ficam ao Sul e ao
Norte, sendo esta parte do território municipal bastante menor que a do Sul,
representando, aproximadamente, 30% da contextura absoluta do município. A
maior expressão territorial deste lado Norte, é vista por uma forma geográfica
que tem o feitio de um vértice triangular na direção SO - sudoeste-, fazendo
limite ao Norte com o município de Hidrolândia, a Oeste com Nova Russas, e a
Leste com o recém-instalado município de Catunda, e Monsenhor Tabosa.
De outra parte, vai o leitor constatar - a exemplo do que ocorreu no
exame imobiliário do lado Sul -, que vários imóveis aqui relatados não estão
mais no contexto territorial do município de Tamboril, em virtude de já comporem
os mesmos territórios de outros municípios desmembrados em épocas mais
recentes, e por não ser nosso intento - repetimos-, fazermos um levantamento
cadastral com as atuais designações de todos os imóveis que compõem nosso
território municipal. Também relembramos - pela enésima vez -, que nosso
objetivo maior e único, é tão-somente o detalhamento documental dos imóveis
que tiveram como colonizadores membros das famílias Araújo e Feitosa.
Isto posto, isentando as terras que ficam sobre o maciço da Serra das
Matas, que vão merecer capítulo distinto, usando - como sempre -, a prova
documental e cartográfica oficial, vamos dar início ao detalhamento dos imóveis,
lembrando ao leitor que todas as águas desta região são tributárias do rio Acaraú.
A menção dos imóveis, como em parte ocorreu do lado Sul, não segue uma

107
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

rígida ordem de colonização potâmica.

Imóvel: ESCONDIDO.
Data do Documento analizado: 18.01.1899.

IDSTÓRICO
Este imóvel está assim descrito no inventário de Cândida Rodrigues de
Farias, que foi e.e. Manoel Rodrigues de Farias, julgado na data epigrafada:
"Uma posse de terras no lugar Escondido, deste termo, extremando de riacho
acima no olho d' água do riacho Escondido, de riacho abaixo na confrontação de
um serrote do Bicudo, para o lado do Norte com terras do sítio Cedro e Olho
dÁgua da Gameleira, e do lado do Sul nas quebradas da Serra da Jurema
(sic)". Não obstante situado no início ocidental da Serra das Matas, fica este
imóvel nas proximidades da ilharga do Acaraú, além de suas águas afluírem
para este rio, razões que nos levaram a este detalhamento.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Manoel Rodrigues de Farias, viúvo inventariado, foi o primogênio do casal
José Rodrigues de Farias e Joana Rodrigues de Farias, de cujo inventário temos
cópia autêntica. Joana, era filha do Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales e dona
Maria José Rodrigues de Farias, sendo o Cel. Diogo Lopes filho do Capitão
Sales, do Serrote, que foi e.e. Francisca Alves Feitosa. Por conseguinte, pela
linha materna, era Manoel Rodrigues de Farias tetraneto do Capitão Luis Vieira
de Sousa (1 º), e nas mesmas condições pentaneto do Cel. Francisco Alves Feitosa,
sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CEDRO.
Data do documento analizado: 1 O. 06 .1864.

HISTÓRICO
Provém êste imóvel do imenso latifündio formado pelo Cel. José de Araújo
Costa, exaustivamente mencionado neste estudo. Como ocorre com a quase
totalidade dos imóveis descritos no seu inventário, levado a termo na data acima,
é nele sumariamente assim descrito: "Declarou mais uma posse de terras no
lugar Cedro, deste termo, havida por herança do finado pai do inventariado
Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo (sic)". São mencionadas mais duas
posses de terras no mesmo lugar Cedro, adquiridas pelo Cel. José de Araújo

108
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Costa aos herdeiros do Capitão Sales, em cujas descrições não são oferecidas
confrontações.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já oferecida anteriormente. Contudo, relebramos que o Cel. José de
Araújo Costa, pela linha materna, era bisneto do Capitão Luis Vieira de Sousa
( l º), e trineto do Cel. Francisco Alves Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de
17.07.1722.

Imóvel: SÃO PEDRO e SÃO PAULO.


Data do documento analizado: 09.02.1898.
HISTÓRICO
Alguns imóveis relatados neste trabalho, embora trazendo datas de pouco
menos de um século, podem levar o leitor a imaginar que estamos precipitando a
informação de haveram os mesmos sido colonizados pelos Araújos ou Feitosas.
No entanto, o que nos leva a assim proceder é que, no mínimo, os anteriores
proprietários descendem destas famílias, ficando óbvia que suas origens coloniais
são antigas. Por outro lado, vem a fragmentação ocorrida nas sucessivas partilhas
dos seus primitivos colonizadores, que acarretou novas denominações, fato
plenamente comprovado. Os imóveis acima mencionados, têm suas primeiras
referências documentais com as atuais denominações no inventário de Pedro
Honorato de Araújo Junior, onde estão assim descritos: "Uma posse de terras
no lugar São Pedro, em que se acha encravada a casa acima dita, neste
município, havida por compra a Vicência Martins Chaves (sic)". Mais uma vez
o leitor pode constatar o que já temos criticado no curso deste estudo, a forma
leviana e relaxada como são resumidas pelos oficiais públicos as descrições de
inúmeros imóveis, em muito dificultando um melhor detalhamento, inclusive
suas próprias localizações, de que têm nos valido as obras cartográficas. Por
estranho que possa parecer, o contrário vamos encontrar cm escrituras e
inventários de datas muito mais remotas.
Genealogia: ARAÚJO.
Confessa o próprio L. Feitosa, ob. cit. pág. 23 l, que cm vista das
dificuldades encontradas, os ramos citados por ele da família Araújo são os
mais remotos. No caso aqui enfocado, fica evidente que pelos apelidos de família
o inventariado Pedro Honorato de Araújo Junior, que foi e.e. Mariana de Araújo
Chaves, como assim a vendedora Vicência Martins Chaves, têm suas origens
no Capitão-mor José de Araújo Chaves ( l º), das Ipueiras, sesmciro da Carta
de 17.07.1722.

109
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Imóvel: DESERTO. Compreende também uma posse de terras, à margem do


rio Macaco.
Data do documento analizado: 04.03.1899.
HISTÓRICO
Decorre esta análise de um requerimento, feito na data epigrafada por
Manoel Martins Chaves ao escrivão de Tamboril, pedindo lhe seja fornecida
certidão de sua herança no inventário de sua mãe Ana Ferreira de Sousa. Na
certidão, o escrivão não menciona a data do processamento do inventário,
descrevendo desta forma a herança: "Haverá na posse de terra do lugar Deserto,
deste termo, margem esquerda do riacho Arara, em seguida a outra posse acima
descrita, com meia légua de fundos e comprimento que se achar (sic)". Em
seguida, vem descrita outra posse de terras no mesmo lugar, sem dar
confrontações, mencionando logo após uma posse de terras no lugar João Ferreira,
à margem do rio Macaco, assim dizendo no tocante aos limites: "ao Nascente,
no olho dágua do Macaco, e ao Poente, na volta do mesmo rio Macacos (sic)".
Conforme veremos adiante, não obstante os primitivos descendentes dos
sesmeiros do Acaraú, especialmente o Capitão Luis Vieira de Sousa ( 2º ), e seu
primo Ten. José de Araújo Chaves ( 2° ), do Convento, não terem interesse em
adentrar nas águas deste rio pela parte que as mesma afluem em território de
Santa Quitéria, o mesmo não aconteceu com seus parentes. Embora não detendo
sesmaria naquele rio, quiçá por encontra-lo desabitado, para lá estenderam
suas possessões coloniais.
Genealogia: ARAÚJO e FEITOSA.
Verificada a ocupação colonial também em águas do rio Macacos,
deixamos para fazer um melhor comentário genealógico por ocasião do
detalhamento do imóvel Cana-Brava, que virá neste capítulo. Contudo, deve de
logo ficar esclarecido que Ana Ferreira de Sousa e seu filho Manoel Martins
Chaves são descendentes do Capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), da
Cachoeira Grande, e.e. Maria Vieira de Sousa, filha do Capitão Luís Vieira de
Sousa (2°) e de dona Ana Alves Feitosa, nestas condições neta materna do
Capitão Luis Vieira ele Sousa ( l º), e bisneta também materna do Cel. Francisco
Alves Feitosa, que capetaneou a sesmaria de 17.07.1722.

Imóvel: BONITO, SÍTIO ESCURO, SÃO MATEUS E BREJINHO - com a


inclusão das atuais denominações de LAGOA GRANDE e PELADO.
Data do documento analizado: 26. l 0.1840.
HISTÓRICO

110
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

São estes imóveis originários de uma escritura particular datada de


26. l 0.1840, pela qual Luís Vieira de Sousa (4°) - atente o leitor para a homonímia
- e sua mulher Nazária Ferreira de Sousa, vendem os mencionados imóveis ao
Cel. Franciisco Paulino Galvão, merecendo os mesmos a seguinte descrição:
"sette posses de terras no lugar denominado Sítio Escuro, cabeceiras do rio
Acaracú, termo da Villa do lpu, compreendendo mais uma sorte de terras anexas
as mesmas terras do Sitio Escuro denominado Matheus e Brejinho, as quais
extremão para o Poente com terras do Alegre, do Cel. José de Araújo Costa,
na estrada do Convento para a Arara até o lageiro, para o Sul, com terras do
Convento e Carão cortando o rumo do lageiro a passagem velha, e dahí extremão
com a posse do Comandante Superior Joaquim Ribeiro da Silva, até a barra do
riacho Tocaia, para o Nascente, no Sítio Santa Bárbara, na confrontação da
Caxoeira do Encanto (Serra do Encanto) e morro Antonio de Araújo, e para o
Norte, com terras de Manoel Pinto de Carvalho no lageiro do Callengue, na
estrada que vai da Cacimba Segura (sic)". Estas terras, o poderoso Cel.
Francisco Paulino Galvão, na condição de Juiz de Orfãos do Ipu ofereceu em
hipoteca por escritura pública datada de 02.06.1847 "por haver retirado do
cofre dos Orfãos a quantia de 1.037$020 (hum conto, trinta e sete mil e vinte
reais)". Naquela época, o Cel. Francisco Paulino Galvão juntamente com o
Pe. Francisco Correia de Carvalho e Silva, 14° e penúltimo vigário colado da
Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, com residência já no lpu, exerciam
intensa atividade política nesta Vila. Conforme informações históricas, bastante
tumultuada foi a vida política de ambos estes personagens, com acentuada
tendência para a do Cel. Francisco Paulino Galvão. Tinha ele como advogado
no foro do Ipu o Padre e Doutor Luís Lopes Teixeira, homônimo do Ten. Cel.
Luís Lopes Teixeira, sogro do Cel. Francisco Paulino Galvão. Na escritura
pública de hipoteca, lavrada no lpu, já foram os imóveis mais resumidamente
descritos desta forma: "huma legoa de terras de criar no Citio Bonito deste
termo com uma morada de casas de tijolos coberta de telhas com desanove
portas, inclusivel quatro de frentes, com currais, sercados de boiadas. E
igualmente treis legoas de terras, pouco mais ou menos no lugar chamado Sítio
Escuro, com uma casa de telhas, tapada de barro, terras de criar e plantar
(sic)". Os limites oferecidos na escritura original de 26.10.1840, bastando ao
leitor verificar pelo mapa do município de Tamboril, demonstram constituir
estes imóveis um imenso latifúndio. Quanto aos dizeres contidos na mesma
escritura original de venda, onde está dito "cabeceiras do rio Acaracú", os
vendedores queriam expressar que as águas que o banhavam tinham nascenças
próximas, como o caso do riacho Arara, primeiro e maior afluente do Acaraú
pelo lado Norte do município de Tamboril.

111
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.


Os vendedores Luís Vieira de Sousa (4°) e sua mulher Nazária Ferreira
de Sousa, vem êle a ser bisneto paterno do capitão Luís Vieira de Sousa ( 1 º),
e.e. Joana Paula Vieira Mimosa, do Ipu, e tetraneto materno do Cel. Francisco
Alves Feitosa, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.
Quanto ao Cel, Francisco Paulino Galvão, chefe político no lpu e figura
de grande evidência na vida pública do Ceará, Cavalheiro da Imperial Ordem
da Rosa e Deputado à primeira Assembléia Legislativa Provincial do Ceará, é
assim referido por Hugo Víctor Guimarães no livro Deputados Provinciais e
Estaduais do Ceará- 1835 - 1947: "Francisco Paulino Galvão -Juiz de Orfãos
do Ipu, juramentado a 20 de outubro de 1834. Patente de Tenente-Coronel, de
19 de novembro de 1844, e Coronel da Legião da Guarda Nacional do Ipu, por
Decreto Imperial de 23 de agosto de 1847 (sic)". O Cel. Francisco Paulino
Galvão, foi e.e. dona Maria Paulina de Melo, filha do Ten. Cel. Luís Lopes
Teixeira e de dona Ana Gonçalves Vieira, trineta materna do Cel. João Ferreira
Chaves ( 1 º), sesmeiro nas Macambiras, na Serra dos Cocos, irmão do Capitão-
mor José de Araújo Chaves (1°), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: MORRO REDONDO.


Data do documento analizado: 1 O. 06 .1884.
IDSTÓRICO
Encontramos sua origem documental no inventário do Cel. José de Araújo
Costa, onde está assim descrito: "Declarou mais uma posse de terras no lugar
Morro Redondo, comprada a Manoel Ferreira Ferro e sua mulher Raimunda
Benedita Martins, extremando para o Norte do Olho d' água para baixo até a
cacimba do novilho, extremando com Belchior de Barros Galvão, para o Sul
extremando com terras de Antonio Martins Chaves e para a parte do Norte.
com terras da Fazenda Saco Grande de Francisco Paulino Galvão (sic)". ·-
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
O Cel. José de Araújo Costa, como alguns referidos na descrição acima,
já foram relatados neste estudo, todos como descendentes dos sesmeiros da
Cartade 17.07.1722.

Imóvel: ALEGRE e ARARA, no riacho ARARA.


Data do documento analizado: 10.06.1864.
HISTÓRICO

112
ARAÚJOS E FEITOSAS - COW NIZAQORES DO ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

Quando o leitor concluir a leitura deste trabalho, vai constatar que a origem
documental mais volumosa dos imóveis nele relatados, têm suas origens
documentais no inventário do Cel. José de Araújo Costa, não obstante a forma
resumida como foram os imóveis nele descritos. Inclusive, muitas das tais
demarcações e divisões foram nele buscar suas origens documentais. Ao falecer
na data acima epigrafada, este grande latifundiário era dono de quase a totalidade
do curso do rio Acaraú, desde suas cabeceiras até adentrar no lugar Curtume
(hoje Nova Russas), num percurso de aproximados 40 kms. Como o anterior,
têm estes suas origens no inventário referido, onde estão assim.mencionados:
"Declarou mais uma légua de terras no lugar Alegre, deste termo, compradas a
Antonio Martins Galvão e sua mulher Luzia de Matos Vasconcelos, extremando
com terras para a parte do Nascente no Riacho do Mil, de uma a outra parte do
rio, e para a parte do Sul, extremando com terras da fazenda Convento, no
cume do Lageiro, para a parte do Norte, com terras do Capitão Silvestre
Rodrigues Veras no rumo da casa de pedra, e para a parte do Poente, com
terras do lrapuá, na Barra do Rio, de uma a outra parte (sic)". Já o imóvel
Arara mereceu a seguinte descrição: "Declarou mais uma posse de terra côm
meia legua de comprido, com meia de largo para cada banda do Riacho Arara,
extremando por um lado com terras do Capitão Victor e do outso com terras do
Capitão Sales, por outro lado com terras de Antonio Martins Chaves e para a
outra com terras do sítio Arara, comprada a Raimundo Francisco e sua mulher
Maria Madalena de Vasconcelos (sic)". Pelos apelidos de família das pessoas
de quem o Cel. José de Araújo Costa adquiriu todos os imóveis que formaram
seu imenso patrimonio imobiliário, fica bastante claro que todos os trazem dos
primitivos sesmeiros, observando-se, de outra parte, que estas aquisições foram
feitas em grande parte no início do século XIX ( 1800), constatação que fica
evidenciada pelos nomes dos confrontantes. Já algures nos referimos de que os
nomes das pessoas que com ele faziam limites, por ocasião de seu inventário já
há muito tempo eram falecidas, o que significa dizer que eram vivas quando os
imóveis foram adquiridos, razão de continuarem seus nomes citados no processo,
embora devessem constar os atuais.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Como a totalidade dos imóveis aqui analizados, a colonização destes
imóveis remonta aos primórdios da ocupação do alto Acaraú pelos descendentes
dos velhos sesmeiros. Bem nos comprova o antigo livro'de assentos de batismo
da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, de 1825 - 1829, quando só à
pág. 221, em desobriga do dia 03.08.1828, aparecem quatro termos, todos
realizados na fazenda Alegre. Á titulo de curiosidade histórica, vamos transcrever

113
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DQ ALTO E MÉDIO ACARAÚ

um só deles, onde estão mencionadas três pessoas referidas nas descrições dos
imóveis acima relatados, o qual tem o seguinte teor: "Maria, filha legítima de
Domingos José e Francisca, Escravos do Capitão Antonio Martins Galvão morador
nesta Freguesia, nasceo aos vinte e treis de Janeiro de mil oito Centos e vinte e
sete e foi Solemnemente baptizado de minha licença pelo Reverendo João
Fernandes Vieira na Fazenda do Alegre em desobriga de trez de Agosto de mil
Oito Centos e vinte e oito sendo padrinhos Antonio Martins Chaves e sua mulher
dona Luzia do que para constar mandei fazer o presente termo que aSigno.
Manoel Pacheco Pimentel- Vigário da Serra dos Cocos (sic)". O padrinho desta
criança, Antonio Martins Chaves, é filho de Luciano Martins Chaves e Eleutéria
Vieira, e.e. Luzia de Matos Vasconcelos, homônima da avó paterna, filha do
Ten. José de Araújo Chaves (2°), do Convento, e de Leonarda Bezerra do Vale
( 1 º), sendo bisneto matemo do Capitão José de Araújo Chaves (l º), das Ipueiras,
e também bisneto matemo do Cel. Francisco Alves Feitosa, sesmeiros da Carta
de 17.07.1722.

Imóvel: PEIXE, MATA FRESCA E IRAPUÁ.


Data do documento analizado: 25.06.1849.
IDSTÓRICO
Estes imóveis, estão relatados no inventário de Pedro José de Carvalho,
feito em concomitância com o de sua mulher Maria Madalena do Nascimento,
processado na "Villa Nova da comarca do Ipu Grande"(sic), como manuscreveu
com letras garrafais o orgulhoso escrivão. No processo, os imóveis tiveram as
seguintes descrições: "Declarou mais elle enventariante ter ficado por morte de
sua finada May hua posse de terras de hum quarto de crear no sertão do Rio
Acaracú no lugar denominado Peixe termo desta Villa, que pega dita terra das
Extremas da terra da fazenda Hirapuá Rio abaixo athé preincher dito quarto de
legoa com meia legoa de lagura para cada banda do Rio Acaracú que a houve
por miação que tocou a sua finada May na ocasião que se fez o Inventário de
seu finado Pay Pedro José de Carvalho, e que este ouvi por compra que della
fizerão a Dona Luiza Francisca Palhado, esta a ouve por herança de seus
falicidos Pays Bernardino Gomes Francisco e Dona Francisca de Mattos e
Vasconcelos (sic)", vindo em seguida a do imóvel Irapuá, onde está escrito:
"Declarou mais elle Inventariante herdeiro haver ficado por morte de sua finada
May hua posse de terras de criar no lugar denominado Hirapuá termo desta Villa
ou o que na verdade se achar a margem do Rio Acaracú Extremando pela parte
de baixo do mesmo Rio com terras de dona Luiza Palhano na fazenda do Peixe

114
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

lugar chamado Mata Fresca (sic)".


Genealogia: ARAÚJO.
Embora omitida por L. Feitosa, oh. cit. quando à pág. 255 oferece a
descendência de Bernardino Gomes Franco (o velho), dona Luiza Francisca
Palhano foi e.e. José Tavares Pessoa, natural da freguesia de Igarassu,
Pernambuco, pais do Padre João Gualberto Ribeiro Pessoa, assim biografado
pelo historiador Pe. F. Sadoc de Araújo no livro Dicionário Biográfico de
Sacerdotes Sobralenses, Secretaria de Cultura e Desporto - Fortaleza - 1985,
págs, 84/85: "JOÃO GUALBERTO RIBEIRO PESSOA-Nasceu a 12 de julho
de 1782, filho do Capitão José Tavares Pessoa e Luiza Francisca Palhano. O
termo de batismo presta detalhadas informações sobre a naturalidade de seus
ascendentes: "João Gualberto, filho legitimo de José Tavares Pessoa, natural
da freguesia de Igarassu, e de sua mulher Dona Luiza Francisca Palhano, natural
da freguesia de São Gonçalo da Serra dos. Cocos e moradores nesta de Nossa
Senhora da Conceição da Vila de Sobral, neto paterno do Capitão-mor João
Ribeiro Pessoa, natural de Igarussu, e de sua mulher Dona Genebra de
Vasconcelos Castro, de Goiana, e neto matemo do Sargento-mor Bernardino
Gomes Franco, natural de Cascais do Patriarcado de Lisboa, e de sua mulher
Francisca de Matos Vasconcelos, natural da Serra dos Cocos, nasceu a doze
de julho de mil setecentos e oitenta e dois e foi batizado com santos oleos a
vinte e oito do mesmo mês e ano, nesta Matriz, pelo Padre Coadjutor Antonio
Jácome Bezerra, de minha licença. Foram padrinhos: eu cura João Ribeiro
Pessoa e Dona Felicia Teodora Domelas Pessoa, mulher de Gonçalo Novo de
Lira, moradores nesta freguesia, do que para constar fiz este termo e assinei.
João Ribeiro Pessoa, cura e vigário da Vila do Sobral". ( Liv. Bat. Sobral 1777
- 1778, fl. 291). "Seu pai era irmão do vigário de Sobral, Pe. João Ribeiro
Pessoa, e tio do Padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, cabeça e
mentor da Revolução Pernambucana de 1817. Foi Juiz Ordinário da Câmara
de Sobral, de 1776 a 1782, João Gualberto, juntamente com seu primo João
Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro, foram alunos, em Sobral, dos Padres
Manuel Francisco Rodrigues da Cunha e Antonio Jácome Bezerra. Ainda muito
jovem, em companhia do primo, foi enviado para o Colégio dos Nobres em
Lisboa, onde concluiu o curso de humanidades. Retomou a Sobral em janeiro
de 1803, quando seu nome aparece nos termos de batismo, na qualidade de
padrinho de várias crianças, com o título de "licenciado". Em 1804 seguiu para
Olinda, a fim de se matricular no Seminário. Ali foi ordenado sacerdote no ano
de 1807. Não mais regressou a Sobral (sic)".
Este termo de-batismo nos comprova que os descendentes do Capitão-

115
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

mor José de Araújo Chaves (1°), das Ipueiras, e.e. dona Luzia de Matos
Vasconcelos, que trazia suas origens da vila pernambucana de lgarassu, continou
com o casamento de sua neta Luiza Francisca Palhano, vendo-se, de outra
parte que duas de suas filhas contrairam núpcias com portugueses, sendo a
primeira delas dona Cosma de Araújo Chaves que foi e.e. o portugues Silvestre
Rodrigues Veras (o velho), e dona Francisca de Matos Vasconcelos, e.e. o
portugues Capitão Bernardino Gomes Franco (o velho), tendo ambos filhos
homônimos. Os nomes das pessoas presentes a este batismo, também
compravam que os descendentes do velho sesmeiro tinham entrelaçamento
familiar com as principais famílias pernambucanas, sendo bastante observar
seus apelidos de família Melo, Pessoa e Montenegro, bem como as localidades
de suas origens, as aristocráticas Igarasau e Goiana.
Portanto, dona Luiza Francisca Palhano, e.e. o Capitão José Tavares
Pessoa, era neta materna do Capitão-mor José de Araújo Chaves {l º), das
lpueiras, e de dona Luzia de Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de
17.07.1722.

Imóvel: CANA-BRAVA, nas cabeceiras do rio Macacos.


Data do documento analizado: 02.12.1872.
IDSTÓRICO
A referência que fizemos ao imóvel João Pereira, em águas do rio
Macacos, quando neste capítulo relatamos o imóvel Deserto, a que agora faremos
e a que será feita em seguida, documentam que membros destas famílias de
colonizadores ultrapassaram a imensa vastidão territorial que formava a velha
freguesia de São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos, não só pelas
chamadas "invasões"- verificadas no capítulo LADO SUL DO RIO ACARAÚ,
mas também neste lado Norte do Acaraú. Este fato por nós desconhecido, não
obstante as intensas pesquisas que realizamos, ficando evidente quando iniciamos
os relatos destes imóveis do lado norte do Acaraú. Lembramos ao leitor, que a
jurisdição eclesiástica das águas do rio Macacos pertencia á freguesia de Santa
Quitéria, cuja administração civil estava a cargo da Cidade Januária do Acaraú
(um dos topônimos da bela cidade de Sobral). De outro lado, como veremos na
referência genealógica, vendo-se de quem elas são originárias, devem estas
terras terem sido apossadas e colonizadas em data anterior à criação daquela
freguesia, ocorrida no dia 22.03.1823. A data acima epigrafada, decorre de
uma escritura, na qual dona Francisca Ferreira Chaves vende o imóvel assim
sumariamente descrito: "Uma posse de terras de criar, nas cabeceiras do Rio

116
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Macacos, no lugar denominado Cana-Brava, termo de Santa Quitéria, cuja posse


me houve por dote de meu fallecido pai Raimundo Ferreira Chaves (sic)". Assina
a rogo da mãe o filho Antonio de Sousa Martins, que diz haver manuscrito a
escritura.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Raimundo Ferreira Chaves, pai da vendedora Francisca Ferreira Chaves,
era filho do Capitão-mor João Ferreira Chaves (2º), da Cachoeira Grande, e de
Maria Vieira de Sousa, filha do Capitão Luis Vieira de Sousa (2°) e de dona Ana
Alves Feitosa. Bem o identifica L. Feitosa, quando assim diz: "3. Raimundo
Ferreira Chaves, e. com Maria, moravam na Arara (sic)", pág. 255, quando dá
a descendência do Capitão-mor da Cachoeira Grande. Ora, como já vimos que
o Capitão-mor João Ferreira Chaves participou como comprador na mais remota
escritura pública relativa a imóveis do território de Tamboril, datada de 05.09.1785,
sendo de sua sucessão hereditária a proveniência das terras no rio Macacos,
fica claro que a colonização destas terras remontam aos primórdios coloniais
de nossa região, merecendo ser observado que seu irmão, Capitão Antonio
Sousa Carvalhedo era possuidor de terras na mesma região, o que se comprova
pelas descrição dos imóveis Piedade e Riacho dos Bois, no capítulo LADO SUL
DO RIO ACARAÚ, em cujas escrituras públicas analizadas, está dito que era
o mesmo morador de sua fazenda Vitória. Leve-se em conta que estas escrituras
datam: a primeira, respeitante à compra do imóvel Piedade, datada de 08.07.1790,
onde está dito "morador nesta Fazenda da Victoria do termo do Campo Grande,
freguesia de Sam Gonçallo da Serra dos Cocos, da nova repartiçam da Villa de
Granja (sic)", devendo ser lembrado que ainda não havia sido criada a Vila
Nova d' EI Rei, muito menos a freguesia de Santa Quitéria. Na segunda escritura,
quando o Capitão Antonio de Sousa Carvalhedo vende o imóvel Riacho dos
Bois em data de 08.01.1800, diz o tabelião "morador na sua fazenda Victoria,
deste termo (sic)", já estando instalada Vila Nova d'EI Rei, mas, ainda não
criada a freguesia de Santa Quitéria. Portanto, até o território da fazenda Vitória
fazia parte da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, continuando com a
criação de Vila Nova d' EI Rei, topônimo que substituiu o de Campo Grande.
Pela terceira vez vamos modificar as referências anteriores feitas com
relação ao Capitão Antonio de Sousa Carvalhedo, da Vitória, tendo em vista a
profusão do uso homonimal e endogâmico posto em prática pelas famílias Araújos
e Feitosas, senão vejamos: o Capitão Antonio de Sousa Carvalhedo, da Vitória,
era filho do Cel. João Ferreira Chaves ( 1 º), que foi e.e. a sobrinha Ana Gonçalves
Vieira, filha de sua irmã Joana Paula Vieira Mimosa, que foi e.e. o Capitão Luis
Vieira de Sousa ( I º), sendo nesta condição neto paterno do velho portugues

117
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Antonio de Sousa Carvalhedo e.e. Nazária Ferreira Chaves. Sendo sua mãe neta
do portugúesAntonio de Sousa Carvalhedo, vinha ele a ser bisneto matemo do
velho hisitano ide-S1.Ja mulher Nazária Ferreira Chaves.
/Voltando a ~;feri~~nmndo Ferreira Chaves, pai de Francisco Ferreira
Ch~fes, sendo Raimundo filho do Capitão-mor João Ferreira Chaves (2°), da
Caêhoeira Grande, e.e. Maria Vieira de Sousa, vinha a ser bisneto matemo do
CapitãoLuisVieira de Sousa (lº);e trineto também matemo do Cel. Francisco
Alves Feitosaámbos sesmeiros da Carta de 17.07.1722.
•·,... ~

Imóvel: LAGOA DO ARROZ no riacho do Tamanduá, termo de Santa Quitéria.


Data do documento analizado: 12.11.1888.
HISTÓRICO
O riacho Tamanduá, atualmente em território de Hidrolândia, tem suas
nascenças na Serra da Panela, com o curso Sul-Norte, afluente do rio Macacos,
que deságua no Acaraú nas proximidades da vila de Macaraú, sede distrital no
município de Santa Quitéria. Encontramos referência documental sobre este
imóvel numa escritura particular que traz a data acima epigrafada, sendo
vendedor João Ferreira Chaves, e o imóvel nela assim descrito: "uma posse de
terra de criar e plantar no lugar denominado Lagoa do Arroz, no Riacho
Tamanduá, districto de Santa Quitéria, província do Ceará, cujas terras me
houve por herança que me tocou por falecimento de meu avô o Sr. Alferes
João Ferreira Chaves, dieta terra extrema: para o Norte, com terras do Sr. João
Damasceno Evangelista, para a parte do Sul, com terras do meu mano Manoel
Ferreira, e para a parte do Nascente e Poente com fundos de meia légua (sic)".
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Mais uma vez veremos aqui o exagerado uso da indistinção homonímica
nestas famílias. Ao dizer como adquiriu o imóvel vendido, João Ferreira Chaves
assim se expressa: "que me tocou por falecimento de meu avô o Sr. Alferes João
Ferreira Chaves ( sic )", Iniciando no Cel. João Ferreira Chaves ( 1 ° ), sesmeiro
nas Macambiras, na Serra dos Cocos, chapada da Ibiapaba, segue-se-lhe o filho
Capitão-mor João Ferreira Chaves ( 2° ), da Cachoreira Grande, que homonimou
o primogênito de João Ferreira Chaves ( 3° ), referidos por L. Feitosa, ob. cit. fl.
255, surgindo nesta escritura um bisneto que trás o mesmo nome de João Ferreira
Chaves ( 4° ), sem nenhuma distinção pós-nominal. Idêntica ocorrência verifica-
se com o Capitão-mor Luis Vieira de Sousa ( 1 ° ), sesmeiro da Carta de
17.07.1722, já referido quando analizamos os imóveis Sítio Escuro, Bonito e
São Mateus, neste capítulo. Portanto, sendo o Capitão Mor João Ferreira Chaves

118
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

( 2° ), da Cachoeira Grande, e.e. Maia Vieira de Sousa, o aqui vendedor João


Ferreira Chaves ( 4°) era bisneto matemo do Capitão Luis Vieira de Sousa ( lº
), e trineto também matemo do Cel. Francisco Alves Feitosa, ~ ~eiros
da Carta de de 17.07.1722. -$i""-j:::;,rM~C,0. . ,•.~
,_;,;.~-.
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Imóvel: BATOQUE - hoje a cidade de Hidrol~~ ~o.~'l \\)~<,$ \
Data do documento anahzado: 16.11.1886.
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~,,,,/._-•

Já que este trabalho visa o estudo da colóniza~~v~to território da


J;; ~ · . .,...,.

freguesia de São Gonçalo do Amarante da S~a do Cocos, tendo por


consequência a do Alto e Médio Acaraú, inserido no contexto da referida
freguesia em decorrência da Carta de Sesmaria de 17. 07. l 722, é nossa obrigação
mencionarmos as cidades compreendidas nessa jurisdição territorial. Contudo,
sendo também intento maior a referência documental da área estudada, vamos
aqui mencionar o que traz a data acima epigrafada, concernente ao imóvel
Batoque, topônimo primitivo da cidade de Hidrolândia. Embora não seja um
documento de data muito remota, procede do inventário do Major José Gonçalves
Veras, que foi e.e. Ana de Araújo, tendo o imóvel a seguinte descrição: "Uma
posse de terra no Sítio Batoque, do termo de Santa Quitéria ( sic )".
Genealogia: ARAÚJO.
Adiante, maiores e melhores detalhes acrescentaremos sobre a
colonização das terras do rio Feitosa, afluente do Acaraú, e adjacências. Quanto,
ao Major José Gonçalves Veras, merece aqui a transcrição de uma interessante
observação feita por Antonio Bezerra, no seu livro Notas de Viagem - Imprensa
Universitária do Ceará - 1965, pág. 273, quando esteve em nossa cidade nos
idos de 26.11.1884: "Foi o lugar onde vi pessoas de maior idade, ostentando nos
hábitos robustez admirável. Informaram-me que o finado Major José Gonçalves
Veras, que servira nas guerras da Bahia, com 80 anos tomava parte nas vaquejadas,
e corria no mato como o vaqueiro mais adestrado ( sic )". O Major José
Gonçalves Veras era filho de Antonio Martins Veras e de Luzia Rodrigues Veras,
sendo Antonio filho de Silvestre Rodrigues Veras ( o novo ), do Cascavel, filho
de pai homônimo que foi e.e. Cosma de Araújo Chaves, filha de Capitão-mor
José de Araújo Chaves ( lº ), das lpueiras, nestas condições vindo o Major José
Gonçalves Veras a ser trineto paterno do velho sesmeiro da Carta de 17. 07. l 722.

Imóvel: CASCAVEL - hoje em território de Hidrolândia ou Nova Russas.


Data do documento analizado: 02.09.1842.

119
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

HISTÓRICO
Trata-se do inventário de João Martins de Araújo Veras, e.e. Delfina
Maria Veras, processado no Ipu na data acima epigrafada, merecendo o imóvel
a seguinte descrição: " Uma posse de terras de crear gados a margem do
Riacho Feitosa, por um e outro lado do mesmo Riacho, com meia legoa para
cada banda do mesmo Riacho, nas terras da fazenda denominada Cascavel,
pelo Riacho abaixo, Freguesia de Santa Quitéria do termo da Cidade Januária
do Acaracú ( sic )". Cidade Januária do Acaraú, é a hoje metrópole de Sobral.
O topônimo desta fazenda, serviu para distinguir seu proprietário - Silvestre
Rodrigues Veras ( o novo) - filho do pai homônimo, como diz L. Feitosa, ob.
cit. fl. 262: "Silvestre: Rodrigues Veras, do Cascavel ( sic )". Na fazenda Cascavel,
encontramos a realização do segundo mais antigo batizado ocorrido em território
sertanejo da freguesia da Serra dos Cocos, constante do livro de 1825-1829, fl.
73, quando foi cristianizada a menina Maria, filha de Antonio Martins Veras ,~
de Luzia Rodrigues Veras, em desobrigada do dia 03.08.1826. Antonio e Luzia
Rodrigues Veras já foram relatados na genealogia anterior, sendo esta criança
neta paterna do primitivo proprietário da fazenda Cascavel, Silvestre Rodrigues
Veras ( o novo ) .
Genealogia: ARAÚJO.
João Martins de Araújo Veras, é o segundo filho do Sargento-mor Manoel
Martins Veras, do Morcego, e de dona Ana Ferreira de Matos, falecida em
1824, de cujo inventário temos cópia autêntica. O Sargento-mor Manoel Martins
Veras, do Morcego, era filho do portugues Silvestre Rodrigues Veras ( o novo },
e.e. Cosma de Araújo Chaves, filha do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( I 0
), das lpueiras. Portanto, João Martins de Araújo Veras era bisneto paterno do
velho sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóveis: MUQUEM, SÃO BRAZ e RODEADOR - hoje em territórios de


Hidrolândia ou Nova Russas.
Data do documento analizado: 02.09.1842.
HISTÓRICO
Procedem do mesmo inventário de João Martins de Araújo Veras, antes
relatado, no qual estão referidos desta forma: "Uma legoa de terras de crear
gados a margem do riacho Feitosa, com meia de largo para cada banda do
sobredito riacho, no lugar denominado Muquem, Freguezia de Santa Quitéria,
termo da Cidade Januária do Acaracú, cujas terras extremão em seo
comprimento da parte de baixo com terras do São Braz dos herdeiros do finado

120
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Capitão Silvestre Rodrigues Veras, da parte de sima com terras do Rudiador de


Joaquim Rodrigues Veras e José Rodrigues Veras ( sic )". Pelos limites aqui
referidos, evidenciamos que a procedência destas terras é do velho portugues
Silvestre Rodrigues Veras ( o velho), de vez que o inventáriado João Martins
de Araújo Veras é primo paterno de Joaquim Rodrigues Veras e José Rodrigues
Veras. Esclarecendo melhor, é que o Sargento-mor Manoel Veras, do Morcego,
era irmão de Silvestre Rodrigues Veras ( o novo), pai dos referidos Joaquim e
José Rodrigues Veras, relacionados como filhos no inventário de Silvestre ( o
novo), feito no lpu em 1855, do qual temos cópia autêntica. Quanto ao riacho
Feitosa, cujo topônimo é uma clara homenagem à família homônima. em obras
por nós consultadas, como o Anuário do Ceará - 1960 - 1961- Waldery Uchoa,
fl. 55, é dado como um dos principais afluentes do rio Acaraú, chamado de Rio
Feitosa, ocorrência verificada também nas obras cartográficas. Tem suas
nascenças no Serrote dos Bois, a leste do distrito tamborilense de Boa Esperança,
correndo no sentido leste-oeste Ultrapassando o distrito de Boa Esperança,
passa a ter o curso Sul-Norte, indo após receber vários afluentes desaguar no
rio Acaraú, além do distrito de Irajá, no município de Santa Quitéria.
Comprovando, definitivamente, a original colonização das terras do rio Feitosa
e adjacências pelo velho portugues Silvestre Rodrigues Veras (o velho), cuja
posse foi transmitida aos descendentes por sucessão hereditária, vamos encontrar
no livro de assentamento de batismo da freguesia da Serra dos Cocos - 1825/
1829 -, fl. ll 7v., em desobriga na fazenda Cascavel no dia 14.07.1827, o termo
de batismo da menina Silvéria, onde figuram como padrinhos "o Capitão Sivestre
Rodrigues Veras, e Donna Cosma Rodrigues Veras (sic)". Este Silvestre é o
novo, do Cascavel, e Cosma, sua filha.
Genealogia: ARAÚJO.
Na análise anterior, já dissemos que João Martins de Araújo Veras era
bisneto paterno do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( 1 º), das Ipueiras, sesmeiro
da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: CAIÇARA, às margens do riacho Caiçara.


Data do documento analizado: 02.09.1842.
IDSTÓRICO
'
Como os anteriores, decorre do mesmo inventário, onde está o imóvel
assim descrito: "Declarou mais a mesma Inventariante meeira haver ficado em
seu casal por óbito do dicto seu marido hum quarto de legoa nas trez legoas das
terras de Caiçara, a margem do Riacho do mesmo nome Caiçara, por um e

121
ARAÚJOS E FEITOSAS • COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ
'

outro lado do mesmo Riacho, com meia legoa de largo por um e outro lado do
mesmo Riacho, Freguesia de Santa Quitéria, do termo da Cidade Januária do
Acaracú (sic)". O riacho Caiçara, afluente do rio Feitosa, nasce na parte norte
do Serrote do Pupo, ao norte do distrito de Boa Esperança, tendo o curso Sul-
Norte, deságuando no rio Feitosa nas proximidades do lugar Maracajá. À guisa
de informe histórico, o topônimo Cidade Januária do Acaraú foi dado à Sobral
pelo Presidente Provincial, Pe. José Martiniano de Alencar, em homenagem a
uma das irmãs legítimas de D. Pedro II, no caso a princesa Januária, como nos
diz o Pe. F. Sadoc de Araújo, em Raízes Portuguesas do Vale do Acaraú, fl. 30.
Genealogia: ARAÚJO.
Já referida nas análises anteriores.

Imóvel: LAJEIRO GRANDE, também conhecido por PATOS.


Data do documento analizado: 08.05.1868.
IDSTÓRICO
Trata-se do inventário de José Rodrigues Veras, e.e. Úrsula Gonçalves
Veras, onde o imóvel está assim descrito: "Meia legoa de terras no lugar Lajeiro
Grande, deste termo, com meia legoa para cada lado do riacho do mesmo
nome, sendo terras dá fazenda denominada Patos, extremando para o nascente
com terras do lugar Volta e Muquem, para o Poente com terras do Urubú e
Cacimba do Meio, para o Sul com terras do riacho Coronel e para o Norte com
terras do São Braz, havidas por herança do finado pai do invetariado (sic)".
Este imóvel está localizado a NO - noroeste - do distrito de Boa Esperança,
devendo fazer parte do município de Nova Russas.
Genealogia: ARAÚJO.
Como o Major José Gonçalves Veras, José Rodrigues Veras aqui
inventariado, eram filhos de Antonio Martins Veras, este, filho de Silvestre
Rodrigues Veras (o novo), do Cascavel. Neste caso, José Rodrigues Veras era
também trineto paterno do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( l º), das
lpueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: VOLTA. Com a menção do imóvel BOA ESPERANÇA.


Data do documento analizado: 08.05.1868.
IDSTÓRICO
Decorre do mesmo inventário acima relatado, onde o imóvel tem a seguinte
descrição: "Uma posse de terras de criar, no lugar denominado Volta, no Riacho

122
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

do Feitosa deste termo, por um e outro lado do mesmo riacho com meia légua
de fundos, extremando para a parte de baixo com terras do Muquem, e para a
parte de cima com terras da Boa Esperança, havidas por herança do finado pai
do inventariado (sic)". É nesta descrição que vamos encontrar a primeira
referência em documento público sobre o imóvel Boa Esperança, vila-sede do
distrito homônimo do município de Tamboril, até hoje bastante habitado por
descendentes da família Veras.
Neste inventário de José Rodrigues Veras, foram partilhados os imóveis
Lageiro Grande, Morro Agudo, Caiçara, Volta, São Joaquim, Santana e Muquern,
merecendo destaque este último, pois assim diz Nertan Macedo no seu livro
"Bacamarte dos Mourões", à fl. 30: "Dele se conheceu um filho bastardo, Capitão
Antonio da Silva Mourão, morador na fazenda Muquem, nos Inhamuns, filho
de uma moça que Alexandre amara em outros tempos (sic)".Refere-se Nertan a
Alexandre da Silva Mourão (o novo), personagem central do livro, sendo que no
inventário de José Rodrigues Veras está relacionada uma filha de nome Benedita
Gonçalves Veras, que foi e.e. Gonçalo da Silva Mourão, verdadeiro filho de
Alexandre (o novo), moradores na fazenda Muquem. Portanto, não fica Muquem
nos Inhamuns, nem teve Alexandre filho de prenome Antonio, mas, Gonçalo,
homenagem que certamente prestou ao padroeiro da Matriz da Serra dos Cocos.
De outra parte, este livro "O bacamarte dos Mourões", fundamentado em
descrições de "Memórias" - onde o memorialista escreve sempre o que lhe é
agradável, muitas vezes em detrimento da verdade -, em outras passagens
embasado no velho chavão "rezam as crônicas", resvala para um método
duvidoso da verdade histórica.
Genealogia: ARAÚJO.
José Rodrigues Veras, já referido em análise anterior, era trineto paterno
do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( l º), das lpueiras, sesmeiro da Carta
de 17.07.1722.

Imóvel: SANTANA, no riacho do Coronel.


Data do documento analizado: 08.05.1868.
HISTÓRICO
Decorre este imóvel do mesmo inventário de José Rodrigues Veras, que
foi e.e. Úrsula Gonçalves Veras, onde recebeu a seguinte transcrição: "Três
posses de terras de criar, sem extremas, no lugar Santa Anna, no riacho do
Coronel, neste termo (sic)". Verificando a confrontação norte do imóvel Alegre,
já relatado neste estudo, que pertenceu ao Cel. José de Araújo Costa,

123
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

encontramos os seguintes dizeres: "para a parte do Norte, com terras do Capitào


Silvestre Rodrigues Veras, no rumo da casa de pedra (sic)".Sabendo-se que o
portugues Silvestre (o velho), teve seu inventário feito em Vila Nova d'EI Rei
no dia 29 de março de 1799, fica evidente que o Silvestre referido neste limite
é o filho homônimo, já bastante referido neste estudo como Silvestre Rodrigues
Veras (o novo), do Cascavel, falecido em 1855, e cujo inventário foi efetuado
na Vila do Ipú, do qual temos cópia autêntica. Portanto, as terras onde estão
Silvestre (o novo), referido como possuidor, a êle chegaram por sucessão
hereditária do pai homônimo, que as primitivamente povoou e colonizou.
Genealogia: ARAÚJO.
Já referida nas análises precedentes.

Imóvel: CACHOEIRA, no riacho Feitosa.


Data do documento analizado: 15.06.1874.
HISTÓRICO

Tem este imóvel procedência do inventário de Rodrigo de Araújo Costa


Veras, que foi e.e. Isabel de Araújo Veras, tendo a seguinte descrição: "Cinco
posses de terras no lugar denominado Caxoeira, no Riacho do Feitosa, neste
termo, havida por troca que fez o invetariado com Antonio de Araújo Veras
Citá e sua mulher donna Maria Thomazia de Vasconcelos Veras (sic)". Fica
esta terra localizada às margens do riacho Cachoeira, pequeno afluente do rio
Feitosa, com a denominação atual de Cachoeirinha, devendo estar em territórios
municipais de Nova Russas ou Hidrolândia.
Genealogia: ARAÚJO.
Já referida quando analizamos o imóvel Pereiros, no capítulo LADO
SUL DO RIO ACARAÚ. No entanto, repetimos que Rodrigo de Araújo Costa
Veras era trineto paterno do Capitão-mor José de Araújo ( I º), das Ipueiras,
sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: SÃO JOAQUIM.


Data dos documentos analizados: 08.05.1868, 15.06.1874 e 13.10.1886.
IDSTÓRICO

Estas datas correspondem, respectivamente, aos inventários de José


Rodrigues Veras, e.e. Úrsula Gonçalves Veras, Rodrigo de Araújo Costa Veras,
e.e. Isabel de Araújo Veras, e José Gonçalves Veras, e.e. Ana de Araújo Veras,
nos quais foi partilhado o imóvel São Joaquim, dito às margens do riacho

124
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Cariman, sendo todos os inventariados - como está dito em suas genealogias


anteriores referidas-, bisnetos do portugues Silvestre Rodrigues Veras (o velho),
e.e. Cosma de Araújo Chaves, de quem os inventariados houveram o imóvel já
em terceira sucessão hereditária. Em nenhum dos inventários é feita a mais leve
referência aos limites deste imóvel, possibilitando sua localização. O mesmo
ocorre com os informes cartográficos. Em todas as descrições nos inventários
é invarialmente dito: "localizado neste termo (sic)". De outro lado, pela sucessão
de partilhas iniciada com a do velho lusitano Silvestre, evidenciamos que este
imóvel constituía um vasto latifúndio, bem demonstrado em vir o mesmo sofrendo
sucessivas partilhas, devendo, em nossos dias, fazer parte dos territórios dos
municípios de Nova Russas e Hidrolândia, que levaram parte do território
tamborilense quando de suas elevações à municípios. Por outrç lado, há grande
probabilidade de estar o imóvel São Joaquim em terras do município de Santa
Quitéria, pois a Lei Provincial nº 1.551, de 04.09.1873, que criou a comarca de
Tamboril, a ela anexou o termo de Santa Quitéria, situação que perdurou até a
vigência do Dec. nº 196, de 05.06.1891, em cujo período estão compreendidos
os inventários aqui referidos. Contudo, podemos afirmar sêr muito remota a
colonização da fazenda São Joaquim, comprovada pelo termo de batismo ali
realizado em desobriga do cura da Serra dos Cocos no dia 08.08.1828, constante
do livro de 1825 - 1829, fl. 222, quando recebeu este sacramento a criança
Maria, filha do Capitão Jeronimo Rodrigues Veras e dona Isabel Gonçalves
Veras, sendo padrinhos Antonio da Costa Veras Junior e dona Maria de Araújo
Chaves.
Genealogia: ARAÚJO.
Sendo o colonizador destas terras o portugues Silvestre Rodrigues Veras
(o velho), era ele e.e. Cosma de Araújo Chaves, filha do Capitão-mor José de
Araújo Chaves (1°), das lpueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

SERRAS DAS MATAS


Ao tempo da colonização do Alto Acaraú, decorrente da outorga da Carta
de Sesmaria de 17.07.1722, nas faldas e chapada da Serra das Matas, legalmente
seria posse dos sesmeiros as terras que afluem ao rio Acaraú pelo lado ocidental,
e parte do meridional. As águas setentrionais, embora tributárias do mesmo
Acaraú, inicialmente deveriam fazer parte do território da freguesia de Nossa
Senhora da Conceição, criada por Provisão de 30 de agosto de 1757, juntamente
com a de São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos, sendo a séde da
freguesia de Nossa Senhora da Conceição a povoação da Caiçara (Sobral).

125
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES.DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Posteriormente, com a criação da freguesia de Santa Quitéria pelo Alvará Régio


de 22.03.1823, iniciativa do jovem Pe. Francisco Gomes Parente, sobrinho
matemo do Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo - Cap. Sales, do Serrote
-, que foi seu instalador e primeiro vigário colado, estas terras deveriam pertencer
a esta nova freguesia. Sabemos que grande parte do território sul da freguesia
de Santa Quitéria, foi desmembrado do da Serra dos Cocos, informação que
encontramos na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros - Edição IBGE - Rio
de Janeiro - 1959 - Vol. XVI, pág. 492: "os moradores da povoação de Santa
Quitéria, então pertencente à freguesia da vila de Sobral, requereram, em 1816,
por seu procurador Manoel do Vale Porto, a ereção da capela em matriz, alegando
a distância de 18 a 20 légoas que separava a povoação da vila de Sobral, o que,
no tempo das chuvas, tomava-se ainda mais dificil com a travessia dos rios
Jacurutu, Groairas e Acaraú. Sabendo do requerimento, o Vigário da Freguesia
de São Gonçalo da Serra dos Cocos, Padre Manoel Pacheco Pimentel,
representou que aqueles moradores incluíram na divisão os seus fregueses dos
riachos Macaco e Feitosa, roubando assim a preciosa porção do povo que fazia
a riqueza e lustre da sua freguesia. A questão durou perto de sete anos, sendo
decidida, finalmente, pelo Imperador Constitucional e Perpétuo do Brasil, que,
em alvará datado de 22 de março de 1823, erigiu em freguesia colada a capela
de Santa Quitéria, desmembrada da de Sobral, compreendendo três ribeiros:
Groairas, Jacurutu e Pires, da citada freguesia, bem assim os ribeiros Macaco
e Subeba, pela parte do, norte, da de São Gonçalo da Serra dos Cocos, sendo
seu primeiro Vigário o Padre Francisco Gomes Parente (sic)". Pelas várias
análises do capítulo anterior, encontramos vários colonos da família Araújo
situados nos rios Macaco e Feitosa, posses óbviamente adquiridas antes da
criação da freguesia de Santa Quitéria.

126
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

As águas orientais da Serra das Matas, desde o extremo setentrional do


atual município de Monsenhor Tabosa, até a Serra do Bargado, que constitui
um "prologamento da Serra das Matas (sic)", como diz Raimundo Raul Correia
Lima, oh. cit. pág. 86 afluem ao rio Quixeramobim, tributário do rio Jaguaribe.
Por consequência, todo o território compreendido neste contexto, legalmente
pertencia à jurisdição eclesiástica da Nova Vila do Campo Maior de
Quixeramobim, primitivo topônimo de Quixeramobim. Contudo, quiçá pela grande
distância que separa esta região de sua primitiva jurisdição, pouco ou quase
nenhum interesse despertou nos primitivos colonos da vila de Campo Maior,
sendo o primeiro sesmo concedido nestas terras a Calixto Lopes da Silva, em
data de 10.02.1732, que requereu nas cabeceiras do rio Quixeramobim - que
tem suas nascenças nesta parte oriental da Serra das Matas -, com três léguas
de comprido por meia para cada lado do riacho, terras estas já em território
sertanejo. Não explorando a concessão de acordo com o determinado pelo
Alvará Régio de O 1.04.1680, veio Calixto a cair em cornisso, sendo esta sesmaria
transferida para Antonio Domingos Alves, que nelas instalou a fazenda-a que
denominou de Espírito Santo. Por sucessão hereditária, vieram estas terras ao
domínio do Cel. Antonio Ribeiro Campos, genro de Antonio Domingos Alves.
Ficando viúvo, o Cel. Antonio Ribeiro Campos veio a contrair novas núpcias
com dona Beatriz Francisca de Vasconcelos, filha do Capitão Francisco Xavier
de Sales Araújo - Cap. Sales, do Serrote -, a elas anexando a sesmaria da
Vaca Brava que lhe doi concedida em data de 20.10.1813, constante do Vol. 9,
nº 706, das Sesmarias Cearenses, fato que já referimos no capítulo
JAGUARIBE.
Por outra parte, também em vista das grandes distâncias que separavam
os raros povoados, inclusive as próprias fazendas, quando comum eram existir
30 kms, separando uma da outra, bastante confusa tomava a administração
eclesiástica, civil e militar. Estas duas últimas eram da responsabilidade de um
Coronel, ou, na falta deste ao Capitão-Mor, cujas funções eram exercitadas
como as de um verdadeiro soberano, segundo nos informa Billy Jaynes Chandler,
ob. cit. fls. 29/30: "A principal função do capitão-mor local, logo após a conquista
da área, era servir como representante do governador. Sua missão era manter o
governador informado sobre os acontecimentos da área, prender criminosos e
expulsar outros que julgasse indesejáveis, proibir ajuntamentos públicos quando
considerandos desnecessários, e tomar providências para evitar confusões e
motins. O cargo, ocupado nos períodos de três anos até 1749 e posteriomente
por toda a vida, era normalmente outorgado à personalidade mais poderosa da
área. Essa era uma tentativa que a autoridade real fazia para utilizar o poder dos

127
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

potentados locais para seus próprios fins, e talvez a única adaptação que a
coroa podia fazer pois carecia de um exército regular grande ou de outros
meios para exercer controle efetivo. Em consequência, o Capitão-Mor muitas
vezes funcionava como um soberano absoluto (sic)".
Para uma clara comprovação da inexistencia da administração civil-
judicial, basta ao leitor saber que as escrituras remotas citadas neste estudo,
precendentes à criação de Vila Nova d'El Rei, anteriormente chamada de
Campo Grande, em todas o tabelião dizia, invarialmente, "da nova repartição da
Villa de Granja, da capitania do Siara Grande (sic)". Era impossível à Câmara
dessa vila, ou seu juiz ordinário, tomar o mínimo conhecimento de fatos ocorridos
nestes longínquos sertões, do qual dista aproximados 400 kms. Por outro lado,
conforme erroneamente informamos no capítulo A FREGUESIA DE SÃO
GONÇALO DO AMARANTE DA SERRA DOS COCOS, esta administração
deveria caber à Vila Distinta e Real de Sobral, instalada no dia 05.07.1773,
bem mais próxima. Certamente, nos limites jurisdicionais de sua criação, não
estava compreendida a freguesia da Serra dos Cocos.
Em vista de tal desordenamento, próprio mesmo de um período colonial,
não poderiam nem deveriam os curas ficarem adstritos aos seus quase imprecisos
limites eclesiásticos, deixando de levar os sacramentos cristãos aos piedosos
fieis de tão distantes localidades. Esta ocorrência verificou-se com relação à
jurisdição do Campo Maior do Quixeramobim, consoante nos prova o livro mais
remoto da freguesia da Serra dos Cocos, em arquivo na Diocese de Crateús, dos
anos de 1825 a 1829. Nele à fl. 77v. encontramos .desobrigas feitas no
Livramento e Espírito Santo, em datas de 03.07.1826 e 04.07.1826, onde aparece
como padrinho o próprio proprietário da fazenda, Cel. Antonio Ribeiro Campos.
Já na fazenda Santana, numa só fl., a 116, aparecem dois termos seguidos, em
data de 10.06.1827.
Pelas referênc:ias documentais que a seguir relataremos, fica comprovado
que boa parte da Serra das Matas foi colonizada pelos descendentes dos sesmeiros,
em parte pelo direito que lhes dava a Carta de Sesmaria de 17.07.1722, e outra
por encontra-la certamente desabitada. A primeira venda ali acontecida, data de
03.03.1786, quando Manoel Gomes de Almeida e sua mulher Eleutéria Vieira
venderam ao Capitão-Mor João Ferreira Chaves o imóvel Mulungu, em cuja
escritura pública está dito: "da parte do norte com a Serra das Matas (sic)", já
tendo este documento sido referido neste estudo quando analisamos o imóvel
Mulungu, no capítulo ACARAÚ. Pelo estudo destes imóveis podemos concluir,
que, caso estes colonizadores desejassem teriam ocupado a totalidade da Serra
das Matas. O leitor deve indagar, com razão, a não ocorrência de tal ocupação,

128
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

sendo a resposta encontrada nos seguintes fatores: em primeira análise, sabiam


estes colonos que parte destas terras, por direito, não lhes cabia, sendo basta e
vasta a terra sertaneja a ser ocupada; em segundo lugar, o tempo já lhes havia
mostrado que, não obstante as terras serranas servirem de refrigério para os
rebanhos no período seco do ano, estava sujeita às mesmas inclemências nas
longas estiagens ou nos anos propriamente secos. Desta forma, sua utilização só
era aproveitada em anos que houvesse inverno, mesmo com poucas chuvas,
pois, consumido o recurso no sertão para lá os fazendeiros mandavam seus gados,
comportamento até hoje posto em prática. Constatada esta verdade, sabiam
também os colonos que por mais impiedosa que fosse a seca, a cordilheira da
Ibiapaba tem sempre um índice pluviométrico melhor, desde as faldas até a
chapada, nesta parte com incidência de maiores precipitações, medrando e
capim e a "rama"para socorro aos seus rebanhos. Portanto, jamais tiveram
eles a Serra das Matas como recurso extremo. Outro fator de importância em
não lhes despertar cobiça territorial refere-se à atividade econômica por eles
desenvolvida, que tinha sustentação exclusiva na pecuária bovina, descartando
a agricultura como atividade lucrativa. Faziam seus cultivos a título de
sobrevivência, buscando as férteis terras da Serra das Matas na época invernosa,
sem a presença do gado, que para lá seguia no verão em busca dos recursos
deixados pelos roçados e pela ausência dos animais no período chuvoso.
Contudo, não obstante estas terras - também acidentadas -, não lhes
despertar grande cobiça, .documento há que aponta, que mesmo no local onde
hoje está assentada a 'Suiça do semi -árido", a bela cidade de Monsenhor
Tabosa, os descendentes dos sesmeiros firmaram posse, fato que nos comprova
a remota escritura particular de 07 .0.7 .1832, onde pela primeira vez figura
documentalmente o primitivo topônimo daquela cidade, Telha. Nesta escritura
são vendedores Teodósio José dos Santos e sua mulher, e como comprador
Inácio Gomes Vilassa, sendo o limite ocidental asssim configurado: "e do poente
extremando com terras de Antonio Martins Veras, no riacho Fundo (sic)", sendo
o Capitão Antonio Martins Veras e.e. Luzia Rodrigues Veras, filho de Silvestre
Rodrigues Veras ( o novo), do Cascavel, figurando na relaçào de seus filhos
constante do inventário feito na vila do lpu em 1855, do qual temos cópia
autêntica. Nesta condição, o Capitão Antonio Martins Veras - já referido no
capítulo LADO SUL DO RIO ACARAÚ, quando analizamos o imóvel Brilhante
-, vinha a ser bisneto paterno do Capitão-mor José de Araújo Chaves (1°), das
Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.
No entanto, embora sem contarmos com uma comprovação cartorial
remota, a data desta escritura é posterior ao que colhemos em documentos

129
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

afins, fato que mostraremos nos relatos adiante feitos, cujas colonizações tiveram
concomitância com as terras sertanejas. A seguir, faremos um relato das terras
colonizadas pelos descendentes dos sesmeiros sobre a Serra das Matas. Na
análise destes imóveis, não obedecemos a ordem potâmica ou regional, mas,
simplesmente narrando-os à medida que encontramos documentos a eles
referentes.

Imóvel : SÃO GONÇALO.


Data do documento analisado: 10.06.1864.

IDSTÓRICO
Encontramos referência sobre este imóvel no invetário do Cel. José de
Araújo Costa, levado a termo na data supra, onde está assim descrito: "Declarou
mais uma posse de terras sem extremas, no lugar São Gonçalo, em cima da
Serra das Matas, deste termo, no lugar São Gonçalo, havida por herança do
finado pai do inventariado Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo (sic)'.
Comprova-se que a posse destas terras vem do final do século XVIII (1700),
quando aqui chegou o Cap. Sales e contraiu núpcias com dona Francisca Alves
Feitosa, filha do Capitão Luis Vieira de Sousa (2º) e dona Ana Alves Feitosa. O
Cel. José de Araújo Costa comprou as heranças dos seus irmãos Beatriz
Francisca de Vasconcelos, Ana Alves Feitosa (neta), e do Cel. Diogo Lopes
de Araújo Sales. De outra parte, devemos concluir que o topônimo São Gonçalo
foi dado a este imóvel em homenagem prestada pelo Cap. Sales, seu primitivo
colonizador, ao orago da matriz da Serra dos Cocos, São Gonçalo do Amarante.
Recorrendo às pegadas dos curas da Serra dos Cocos, constatamos ser antiga
a colonização deste imóvel, o que nos prova o livro de 1825-1829, quando à
fl.77 encontramos termo de batismo ali realizado no dia 01.07.1826, figurando
como padrinhos o Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
Já referidas.

Imóvel: SACO DOS COQUEIROS.


Data do documento analizado: 18. O 1.1899.

IDSTÓRICO
A menção deste imóvel deveria ter precedido ao anterior, pois está este
situado no sopé da Serra das Matas, pelo lado ocidental. Contudo, em vista do

130
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

topônimo São Gonçalo, devemos prevalência àquele. No inventário de Cândida


Ridrigues de Farias, iniciado na data epigrafada, está assim mencionado: "Uma
posse de terras no lugar Sacco dos Coqueiros, deste termo, havida por herança
da mesma minha finada mãe (sic)". Como está dito no relato do imóvel Escondido,
o inventariante e viúvo Manoel Rodrigues de Farias, herdou este imóvel de sua
mãe Joana Rodrigues de Farias, filha do Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales, e
que foi e.e. Maria José Rodrigues de Farias. Pela origem possesória,
depreendemos que tem sua remota colonização ligada ao Cap. Sales, do Serrote.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
Já relatadas quando analizamos o imóvel Escondido.

Imóvel: ROSÁRIO.
Data do documento analisado: 18.01.1899.

IDSTÓRICO
É também referido no inventário de Cândida Rodrigues de Farias, onde
recebeu sumária descrição: "Uma posse de terras na Serra das Matas, neste
termo, no sacco denominado Rosário (sic)". Conforme já dissemos algures, o
livro mais antigo da freguesia de São Gonçalo, em arquivo na Diocese de Crateús,
é o de 1825-1829, onde vamos encontrar à fl. 158 batizado realizado nesta
localidade, em data de 04.02.1828, atestando que a colonização deste imóvel
teve concomitância com as demais localidades sertanejas.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
Já referidas quando analisamos o imóvel Escondido.

Imóvel: SÃO FÉLIX.


Data do documento analisado: 16.01.1870.
HISTÓRICO
A data epigrafada tem procedência do litígio judicial que envolveu as
terras do imóvel Piedade. Nos autos, à fl. 30v. o Capitão Gonçalo Martins
Chaves faz prova de ser possuidor do sítio São Felix, sobre a Serra das Matas.
Vem confirmar a remota colonização destas terras o informe que nos presta o
livro de 1825-1829, da matriz de São Gonçalo, fl. 158, quando nesta localidade
foi feita desobriga no dia 08.02.1828.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
O Capitão Gonçalo Martins Chaves, está referido quando analizamos o

131
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

imóvel Cacimba dos Moços. Acrescemos, que pela linha materna foi êle trineto
do Capitão Luis Vieira de Sousa (lº), e tetraneto do Cel. Francisco Alves
Feitosa, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: GAMELEIRA.
Data do documento analizado: 14.01.1870.

IDSTÓRICO
Nos mesmos autos do litígio que envolveu o imóvel Piedade, à fl. 54 João
de Araújo Barros e seus filhos João de Araújo Barros Junior, Antonio de Araújo
Chaves, Belchior de Araújo Barros e Leonardo de Araújo Bem, juntam prova
de serem proprietários do imóveÍ Gameleira, onde é dito "que desde imensos
anos são por eles possuidas e cultivadas com casas de residência (sic)". Estes
autos constituem uma peça histórica do passado social, político e cultural, não
só de Tamboril como do Ceará, pois, neles funcionaram pessoas como Luiz
Xavier da Silva Castro, na função de escrivão, e que seria um dos pioneiros na
libertação dos escravos no Ceará, já por nós referido no livro História de
Tamboril. Como juizes municipais funcionaram o Ten. Cel. Joaquim José de
Castro, que presidiu a sessão de instalação do município em data de 25.06.1863,
datando os seus despachos da fazenda Serrote, como o que consta da fl. 133.
Também funcionou o Alferes Vicente Alves de Araújo Sal;es, que fez parte da
lª Câmara Municipal de Tamboril.
Genealogia: ARAÚJO.
João de Araújo Barros, é referido por L.Feitosa, ob.cit. fl. 261, como
filho de Belchior de Barros Galvão e dona Luzia de Matos Vasconcelos, filha
do Cel. João de Araújo Chaves, da Carrapateira. Nesta condição, era trineto
materno do Capitão-mor José de Araújo Chaves (1 º), das Ipueiras, sesmeiro de
17.07.1722.

Imóvel: CORONEL.
Data do documento analisado: 28.01.1871.

IDSTÓRICO
A origem documental deste imóvel, vem também dos autos do litígio da
Piedade, onde à fl. 57 Clemente Gomes de Melo, e.e. Luiza Vieira de Sousa faz
prova de ser possuidor do "sítio Coronel", em cima da Serra das Matas (sic)". De
acordo com informe cartográfico, este imóvel fica localizado entre a Serra de São

132
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Gonçalo e a Serra da Ventura, componente da cordilheira da Serra das Matas.


Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Luiza Vieira de Sousa, mulher de Clemente Gomes de Melo, era filha de
Geraldo Alves Feitosa e Tereza Vieira de Sousa, esta, filha de Luis Vieira de
Sousa (3°) e Leonardo Bezerra do Vale (2°). Nesta condição, pela linhagem
materna era trineta do Capitão Luis Vieira de Sousa (1 º), e tetraneta do ~L
Francisco Alves Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.17.22.
,,,,/ O.~r;§,0.
Imóvel: CUPIDO.
. .• ,.V.. ,'~n \_.\>~'a,\.••\"
Data do documento analizado: 05.03.1884. ~ ~ti-O.ti ~09ec~':>'6r:,'?>
,r;f,'(, ~ec i>-g ex.
HISTÓRICO > c~'v:-'i'< , ,

A data em epígrafe, é a do inventário de Bento Rodrigqe.sde Farias, que


foi e.e. Mônica Rodrigues de Farias, no qual é assim mencionado o imóvel:
"Declarou mais um sítio na ·Serra das Matas com a denominação de Cupido, o
qual houverão por posse (sic)". Para o leitor ter uma idéia de que a terra era
farta, e do pouco interesse que despertavam as serranas, está bem espelhado
neste inventário que expressamente diz "o qual houverão por posse (sic)".
Analizando os autos, onde não consta a idade do inventariado Bento, traz o da
viúva Mônica, que tinha 77 anos na data do falecimento do marido. tendo em
consideração que Bento haja falecido aos 80 anos, teria nascido em 1804,
devendo ter tomado posse destas terras à época do casamento, ou seja, por
volta de 1824, idade provável do seu casamento. A cartografia estudada nos
indica, que este imóvel está localizado entre os sítios Belém e Cotovelo.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Não obstante já havermos referido, quando analizamos o imóvel Bom
Tempo, acrescemos, corrigindo a informação anterior, que Mônica Rodrigues
de Farias, pela linha materna era trineta do Capitão Luis Vieira de Sousa (lº), e
pela paterna tetraneta do Cel. Francisco Alves Feitosa, sesmeiro da Carta de
17.07.1722.

Imóvel: AÇUDINHO.
Data do documento analizado: 05.03.1884.

.QISTÓRICO
Tem origem no mesmo inventário de Bento Rodrigues de Farias, que foi
e.e. Mônica Rodrigues de Farias, em cujo processado é o imóvel assim descrito:

133
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

"D eclarou haver m ais em seu casal um a posse de terras no lugar A ssudinho,
sobre a Serra das M atas, deste term o, havida por herança (sic)". A localidade
de A çudinho é hoje um a próspera vila, localizada em região de grande m anancial
agrícola, com condições de ser sede distrital. É servida com energia da C O E L C E ,
com linha telefónica da T E L E C EA R Á pelo sistem a D D D , núm ero 811.1948,
com auxílio de telefonista. D e acordo com os inform es cartográficos, a vila
está localizada sobre a Serra do A çudinho, com ponente da cordilheira da Serra
das M atas, onde se encontra instalada a antena repetidora de T V, que serve a
toda região centro-oeste, com o tam bém de telefonia.
G enealogia: A R A Ú JO FFE IT O SA .
Já detalhadas e acim a repetidas.

Im óvel: PA R A ISO .
D ata do docum ento analizado: 03.10 .1870.

IDSTÓRICO
Trata-se do inventário de dona Beatriz Francisca de Vasconcelos, filha
do Cap. Sales, do Serrote, onde está o imóvel assim descrito: "Declarou haver
mais uma posse de terras sem extremas, no lugar Paraiso, terras do sítio
Manipueira, em cima da Serra das Matas, deste termo, havida por herança dos
finados pais da inventariada (sic)". Recordamos ao leitor que dona Beatriz
Francisca de Vasconcelos, era filha do Capitào Sales, do Serrote, que foi e.e.
dona Francisca Alves f eitosa, filha do Capitão Luis Vieira de Sousa (2º) e de
dona Ana Alves Feitosa, donde provém a remota colonização destas terras.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Dona Beatriz Francisca de Vasconcelos, que foi e.e. o Cel. Antonio
Ribeiro Campos, não deixaram descendência. Já foram por nós referidos quando
relatamos o imóvel Vaca Brava, em águas jaguaribanas. Merece acrescentar,
que pela linha materna dona Beatriz era bisneta do Capitão Luis Vieira de Sousa
(lº), e trineta do Cel. Francisco Alves Feitosa, sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: COTOVELO.
Data do documento analizado: 03.09.1870.

IDSTÓRICO
A data acima procede do inventário de dona Ana Alves Feitosa (neta),
que foi e.e. o primo Antonio de Sousa Carvalhedo (neto), em cujo processado

134
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

é o imóvel assim descrito: "Declarou haver mais de uma posse de terras no


lugar denominado Cotovelo, em cima da Serra das Matas deste termo
extremando para o Nascente com o riacho da Manipueira, para o Poente, com
terras de Fernandes, para o Sul nas quebradas da Serra, e para o Norte, com
terras do sítio Brandão, havida por herança do finado pai da inventariada
Francisco Xavier de Sales Araújo (sic)". De acordo com informe cartográfico,
este imóvel está loalizado acima do sítio Rosário.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Observe o leitor a curiosa diferença de falecimento destas duas irmãs,
últimos filhos do casal Capitão Francisco Xavier de Sales Araújo e dona
Francisca Alves Feitosa, verificando-se o intervalo de 30 dias: dona Beatriz no
dia 03.10.1870 e dona Ana, no dia 03.09.1870. Ambas terminaram seus dias na
fazenda Campo Largo, ambas não deixaram descendência, e ambas fizeram
testamentos legando todos os seus bens aos sobrinhos, pois os dois irmãos, Cel.
José de Araújo Costa e Cel.Diogo Lopes de Araújo Sales, já haviam falecido.
Do mesmo modo que dona Beatriz, dona Ana Alves Feitosa (neta), pela linha
materna era bisneta do Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º), e trineta do Cel.
Francisco Alves Feitosa, ambos sesmeiros da Carta de 17.07.17220''
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Imóvel: BELÉM. ,, . \:. ~e"'
Data do documento analizado: 10.06.1864. o'(\Me . -:,).?>{\a \.':

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IDSTÓRICO
Tem origem documental no inventário do C.d. José de Araújo Costa,
onde o imóvel é sumariamente referido: "Declarou haver mais duas posses de
terras sem extremas no lugar Belém, sobre a Serra das Matas, deste termo
(sic)". Este imóvel, posteriomente, iria ser possuído em sua totalidade pelo filho
caçula do inventariado, Anastácio de Araújo Costa Sales, conforme demonstram
os autos de inventário deste.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já foram sufieientemente relatadas. Contudo, relembramos que como o
irmão, Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales, e as irmãs Beatriz Francisca de
Vasconcelos e Ana Alves Feitosa (neta), o Cel. José de Araújo Costa, pela linha
materna era bisneto do capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º) e trineto do Cel.
Francisco Alves Feitosa, sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: MANIPUEIRA.

135
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Data do documento analizado: 10.06.1864.


IDSTÓRICO
É ainda no inventário do Cel. José de Araújo Costa, que vamos encontrar
remota referência documental sobre este imóvel, onde está assim mencionado:
"Declarou haver mais uma posse de terras, sem extremas, no lugar Manipueira,
sôbre a Serra das Matas, deste termo,que o casal do inventariado houve por
troca com o Ten. Cel. Joaquim José de Castro (sic)". A forma de aquisição
destas terras bem demonstra sua remota colonização, pois, o Ten. Cel.Joaquim
José de Castro era genro do Cel. Diogo Lopes de Araújo Sales, devendo ter
adquirido deste por herança. O mesmo deve ter ocorrido com o Cel. Diogo
Lopes, que era filho do Capitão Sales, do Serrote.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já relatada.

Imóvel: SACO.
Data do documento analizado: 10.06.1864.

IDSTÓRICO
Como o anterior, também procede do inventário do Cel. José de Araújo
Costa, onde é sumariamente descrito: "Declarou haver uma posse de terras
sem extremas no lugar Sacco, sobre a Serra das Matas, deste Termo, havida
por compra ao CeL Diogo Lopes de Araújo Sales e sua mulher Maria José
Rodrigues de Farias (sic)".
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já relatada.

Imóvel: CEDRO.
Data do documento analizado: 10.06.1864.

IDSTÓRICO
No relato do Lado Norte do Rio Acaraú, verifica-se a existência de
outro imóvel com o mesmo topônimo, identicamente pertecente ao Cel. José de
Araújo Costa. O aqui referido, segundo informe cartográfico, fica sobre a Serra
das Matas, estando localizado ao sul do Riacho do Ponte, e ao norte do sítio
Olho d' Águinha. Somos levados a crer, que devido ao grande número de imóveis
rurais arrolados no inventário, o escrivão foi indolente nas suas descrições,

136
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

pois, raros são os que não têm relato sumário, como êste: "declarou haver mais
uma posse de terra no lugar Sedro, sem extremas, comprada a João Ribeiro
Pessoa Montenegro e sua mulher Raquel do Brasil Montenegro (sic).
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Raquel do Brasil Montenegro era filha do Cel. Diogo Lopes de Araújo
Sales e de dona Maria José Rodrigues de Farias, sendo, pela linha paterna
trineta do Capitão Luis Vieira de Sousa ( l º), e tetraneta do Cel. Francisco
Alves Feitosa, sesmeiros da Carta de 17.07.1722. •

Imóvel: ALGODÕES.
Data do documento analizado: 08.05.1898.

HISTÓRICO
A data acima, corresponde ao falecimento de Anastácio de Araújo Costa
Sales, caçula do Cel. José de Araújo Costa, e, como este, constituiu um imenso
patrimônio imobiliário, parte herdado dos pais e parte adquirida de seus irmãos
e parentes, transformando-se num dos maiores proprietários de terras na chapada
da Serra das Matas. No seu inventário;tem o imóvel a seguinte descrição: "Uma
outra posse de terra no mesmo lugar algodões, deste termo, havida por compra
a João Ribeiro Campos (sic)". A expressão "outra posse", é feita em vista de
haver o inventariado adquirido mais quatro heranças de seus sobrinhos, no mesmo
imóvel, herdadas do pai, Capitão Antonio Ribeiro Campos de Noronha,
primogênito do Cel. José de Araújo Costa.
Genealogia: ARAÚJO FEITO0SA.
Anastácio de Aráujo Costa Sales, já está referido quando analizamos o
imóvel Cacimba dos Moços, no início do curso do rio Acaraú. Já os sobrinhos,
filhos do Capitão Antonio Ribeiro Campos, eram tetranetos do Capitão Luis
Vieira de Sousa (lº), e pentanetos do Cel. Francisco Alves Feitosa, sesmeiros
da Carta de 17.07.1722.

Imóvel: SÃO MANOEL.


Data do documento analizado: 08.05.1898.

HISTÓRICO
Procede também do invetário de Anastácio de Araújo Costa Sales, onde
recebeu a sumária referência: "Uma posse de terras no lugar São Manoel,
sobre a Serra das Matas, deste termo (sic) ". Conforme indicação cartográfica,

137
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

este imóvel fica a Oeste do sítio Rosário, já aqui referido.


Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida.

Imóvel: SÍTIO.
Data do documento analizado: 08.05.1898.

IDSTÓRICO
Identicamente, porém do invetário de Anastácio de Araújo Costa Sales,
onde está assim desc:rito: "Uma posse de terra no lugar denominado Sítio, sobre
a Serra das Matas, com uma parte na casa sita na dieta terra, havida por
compra a Maria Rilbeiro Campos (sic)". Os imóveis localizados sobre a Serra
das Matas, em sua grande maioria, constituíam propriedades de médio porte,
para onde os fazendeiros levavam seus rebanhos no período de verão - setembro
a janeiro - costume até hoje em prática, e que tomou o nome de "refrigério". O
imóvel aqui relatado, deve ser o denominado Sítio Serra Velha, que fica localizado
ao sul do serrote do Saquinho.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida.

Imóvel: FELIPE.
Data do documento analisado: 08.05.1898.

HISTÓRICO
Não obstante ser possuidor de terras na chapada da Serra da Ibiapaba,
Anastácio de Araújo Costa Sales - conforme atrás mencionamos - foi um dos
maiores posseiros na chapada da Serra das Matas. Tantos eram seus imóveis,
que o escrivão os abreviava o máximo nas descrições, como é caso deste: "Uma
posse de terra no sítio denominado Felipe, sobre a Serra das Matas, deste termo,
havida por compra a Florêncio Alves Feitosa (sic)". Pela indicação cartográfica,
este imóvel está localizado ao norte do sítio Belém, também pertencente ao
inventariado.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida.

Imóvel: CHUPADOR.

138
ARAÚJOS E FEITOSAS - C0LONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Data do documento analisado: 08.05.1898.


Como os demais, tem procedência no já bastante referido inventário de
Anastácio de Araújo Costa Sales, onde é assim descrito: "Uma posse de terras
no lugar Chupador, deste termo, havida por compra feita a Anastácio Martins
Chaves (sic)". De acordo com informe cartográfico, este imóvel fica localizado
ao sul do vilarejo de Grota Verde, tendo as atuais denominações de Chupador
de Cima e Chupador de Baixo.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA
O inventariado Anastácio de Araújo Costa Sales, e o anterior posseiro
Anastácio Martins Chaves, estão identificados no comentário do imóvel Cacimba
dos Moços, no curso do rio Acaraú.

Imóvel: OLHO D' ÁGUA.


Data do documento analizado: 09.02.1898.

HISTÓRICO
Trata-se do inventário de Pedro Honorato de Araújo Junior, que foi e.e.
Mariana de Ajaújo Chaves, já referido quando relatamos os imóveis São Pedro
e São Paulo. Pela indicação cartográfica, este imóvel fica localizado ao norte da
atual cidade de Monsenhor Tabosa, entre as águas que afluem ao rio Macacos,
da bacia do rio Acaraú, e as que correm para o rio Quixaramobim, tributário do
rio Jaguaribe. Com este comentário do imóvel Olho d' Água, tentamos evidenciar
que membros da família Araújo foram colonos de terras na chapada da Serra
das Matas, além daquelas que naturalmente afluem ao Acaraú, pelo lado leste e
sul da cordilheira. No inventário, o imóvel recebeu esta sumária descrição: "Tres
posses de terras no lugar Olho d'Água, districto da Telha, deste município
. )" .
( SIC
Genealogia: ARAÚJO.
Já referida, quando comentamos os imóveis São Pedro e São Paulo.

Imóvel: JUCÁ
Data do documento analizado: 18.01.1898.

IDSTÓRICO
O cometário que antes fizemos sobre o imóvel Olho D' Água, é igualmente
válido para este imóvel. Segundo as indicações cartográficas, está êle situado a
SO - sudoeste - da cidade de Monsenhor Tabosa, sendo assim descrito no

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

inventário de Cândida Rodrigues de Farias, que foi e.e. Manoel Rodrigues de


Farias: "Uma posse de terra na chapada da Telha a margem direita do riacho
Jucá, no mesmo lugar denominado Jucá, inclusive uma casinha velha e um
cercadinho (sic)".
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
Já referida, quando mencionamos o imóvel Escondido, na análise do lado
Norte do Rio Acar:aú.

Imóvel: QUEIMADAS.
Data do documento analisado: 08.05.1859.

HISTÓRICO
Por constituir assunto principal do capítulo seguinte deste estudo, deixamos
para fazer menção deste documento na finalizaçào da análise dos imóveis da
Serra das Matas, com o intuito de oferecer melhor compreensão ao leitor do
que adiante falaremos. Não temos dúvida de que esta escritura, que traz a data
de 08.05.1859, constitui um valioso e inédito documento, que vem modificar a
ascendência do valoroso Gen. Antonio de Sampaio, Patrono da Infantaria do
Exército Brasileiro, alterando, em decorrência, dados da História Militar' do Brasil.
Vejamos o que ela nos diz: "Digo eu abaixo assinado que entre os mais bens que
prisuo de mansa e paficica posse e bem ascim hum sitio de plantar na Cerra das
Matas denominado Queimadas que me ouve por adiuição que me fez a Snra.
Dona Leonarda Bezerra do Vale quando casei-me com sua neta Antonia de
Araújo Chaves cujo sitio da parte de cima extrema na pedra do porco com terras
dos erdeiros do finado Francisco dos Santos pelo riaxo acima do sitio Coronel a
thé os limites das aguas ... (sic)". Finaliza a escritura: "trequisimos em vida de
minha mulher Antonia de Araújo Chaves com Leonarda Bezerra do Vale como
trocado temos por outro sitio na mesma Serra das Matas denomindo
Brandão ... (sic). Victor, 8 de maio de 1859. Antonio Ferreira Sampaio (sic)". A
assinatura tem caligrafia trêmula e fora de alinhamento, denotando problema de
visão ou idade. É a primeira referência documentar da denominação do imóvel
Victor, já no ano de 1859. Fundamentados em informes orais de que Ó pai do
Gen. Sampaio teve :sua primitiva residência no lugar Victor, foram seus biógrafos
levados a crer que lá havia nascido Sampaio, o que não é verdadeiro, e assim
nos mostram os documentos. Deitando por terra tal informação, transcrevemos
o batismo de sua irmã, constante do livro de assentos da freguesia de São
Gonçalo da Serra dos Cocos, 1825-1829, fl. 82, cujo teor é o seguinte: "Quitéria,
filha legítima de Antonio Ferreira Sampaio e Antonia de Araújo, naturaes e

140
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 0O ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

moradores nesta freguezia, nasceo aos desacete de julho de mil oitocentos e


vinte e ceis, baptizada Solenemente por mim parocho em a fazenda Pajaú, em
desobriga de vinte e oito do dito mes e anno sendo seus padrinhos o Capitão
José de Araújo Costa e sua mulher Anna do Nascimento, do que para constar
mandei fazer opresente termo, em que me Asigno - Felipe Benicio Moraes - par.
interino (sic)". Logo, fica aqui a informação definitiva de que o Gen. Sampaio
nasceu na fazenda Pajeú, morada primitiva de seus pais.
Genealogia: ARAÚJO FEITOSA.
A informação contida nesta escritura, deita por terra a remota afirmação
de que o pai do Gen. Sampaio seria um filho bastardo do Capitão Fracisco Xavier
de Araújo Chaves. Explicita o documento que Antonio Ferreira Sampaio - pai
do General - foi casado com Antonia de Araújo Chaves, neta de dona Leonarda
Bezerra do Vale e do Ten. José de Araújo Chaves (2°), do Convento, estes, pais
do Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves, que foi legitimamente casado
com Isabel Vieira de Sousa. Portanto, se bastardia houvesse seria pelo lado
materno, para onde os documentos apontam legitimidade. De outra parte, provas
documentais nos autorizam a afirmar que Antonio Ferreira Sampaio - pai do
General - era filho de Manoel Ferreira Sampaio e Ana Correia Barbosa, esta,
filha do Ten. Cel. Luciano Martins Chaves e das primeiras núpcias de Eleutéria
Vieira, por seu lado filha do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( l º), das
Ipueiras, e de dona Luzia de Matos Vasconcelos, de quem Antonio Ferreira
Sampaio era bisneto materno. Já Antonia de Araújo Chaves, era filha do Capitão
Francisco Xavier de Araújo Chaves e de Isabel Vieira de Sousa, primos em
duplo segundo grau. O Capitão Francisco - avô materno do Gen. Sampaio-, era
filho do Ten. José de Araújo Chaves (2°), do Convento, e de Leonarda Bezerra
do Vale (1 º). Dona Isabel Vieira de Sousa - avó materna do Gen. Sampaio-, era
filha do Capitão Luiz Vieira de Sousa (2º) e de dona Ana Alves Feitosa. Desta
forma, Antonia de Araújo Chaves - mãe do Gen. Sampaio -, pela 'linhagem
paterna era bisneta do Capitão-mor José de Araújo Chaves ( l º), das Ipueiras, e
trineta do Cel. Francisco Alves Feitosa. Pela linhagem materna, era bisneta do
Capitão Luis Vieira de Sousa (1°), e também trineta do Cel. Francisco Alves
Feitosa, sesmeiros da Carta de 17.07.1722.

GEN.ANTONIO DE SAMPAIO: REPARO HISTÓ-


RICO-BIOGRÁFICO
Embora já acima documentalmente mostrado e explicado, achamos que
este assunto requer um comentário mais denso, que possibilite ao leitor sua
141
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

maior e melhor compreensão. Dos biográfos do Gen. Sampaio, julgamos ser


um dos mais autorizados - senão o melhor - o Gen. Dr. Carlos Studart Filho, por
justificáveis razões. Como o biografado, é cearense e General do Exército
Brasileiro, além de ostentar o título de doutor. Homem culto e laborioso intelectual,
promoveu extensa e! intensa pesquisa para a consecução do trabalho, constando
da bibliografia nada menos que 53 ítens pesquisados. Por último, recebeu o aval
oficial da então Sec:retaria de Cultura, Desporto e Promoção Social, quando da
2ª edição do livro em 1973, ao ensejo da inauguração do Parque Brigadeiro
Antonio Sampaio, ,em Tamboril, desta forma, obra merecedora de crédito.
No entanto, revestida de tantas credenciais omite o biográfo fatos
importantes sobre a ascendência do Gen. Sampaio, limitando-se a este pequeno
comentário: "Muito de passagem, relembraremos a sua obscura infância
transcorrida em Tamboril (Fazenda Vítor), onde veio ao mundo em 181 O, sendo
seu pai Antonio Ferreira Sampaio, antigo ferreiro de Monte Mor, o velho (2º)".
pág. 18. O número dois, entre parêntesis, conduz à seguinte informação de pé
de página: "A propósito da ascendência paterna de Sampaio, publicamos a
carta do historiador Gomes de Freitas que por solicitação nossa, estudou o
assunto. Ei-la: "Fortaleza, 3 de junho de 1966. Meu caro General Carlos Studart:
Foi com satisfação que procedi às necessárias pesquisas com vista à satisfação
integral do seu pedido, no que diz respeito às origens genealógicas, pelo lado
paterno, do nosso valoroso herói da Guerra do Paraguai, General Sampaio, que
é oriundo dos Feitosas dos Inhamuns. O que encontrei acerca do assunto foi o
seguinte: o compêndio Tratado Genealógico da Família Feitosa, de autoria de
Leonardo Feitosa, informa que o General Sampaio era filho de um filho
reconhecido de Francisco Xavier de Araújo. Este, avô do General Sampaio, foi
levado preso para Portugal e encarcerado na prisão de Limoeiro tendo morrido
anos depois "em defesa da Pátria na guerra de fé do morro da Taboca".
Genealogia do pai do General Sampaio pelo lado paterno: Antonio Ferreira
Samapio, filho reconhecido de Francisco Xavier de Araújo, natural de Tamboril.
Francisco Xavier d~: Araújo, filho de José de Araújo Chaves e Leonarda Bezerra
do Vale, filha do Sargento-mor João Bezerra do Vale e Ana Gonçalves Vieira,
moradores na fazenda "Cabaços", lnhamuns. Ana Gonçalves Vieira, filha do
itimorato colonizador dos Inhamuns, Cel. Francisco Alves Feitosa, e sua mulher
Catarina Cardosa da Rocha Resende Macrina, moradores na fazenda, hoje
cidade de Cococi, Inhamuns. O destemido cabo de guerra general Sampaio
tinha a quem puxar: era descendente de Jerônimo de Albuquerque Maranhão,
que na guerra que manteve com os franceses e seus parciais aborígenes, nas
costas do Maranhão, enfrentou os intrusos com forças numericamente inferiores,

142
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

e no aceso da luta, um dos oficiais chamava a sua atenção para a assombrosa


superioridade do adversário, a que respondeu: "O medo não vai diminuir a
pujança do inimigo, e, nem fá-lo recuar, cabe-nos ter fé em Deus e nos punhos".
Fico sempre ao seu dispor para mais alguns esclarecimentos de que necessite.
Cordialmente, Gomes de Freitas (sic)".
Comodamente, o celebrado historiador Gomes de Freitas foi buscar tais
informes numa carta transcrita por L.Feitosa, ob. cit. fls. 244/246 escrita por
Francisco do Vale Pedrosa, neto do Cel. Manoel Martins Chaves(2º), na qual
o missivista faz uma rápida alusão, sendo claríssima sua improcedência. Tal
inverdade tomou vulto de credibilidade sob os auspícios de publicações de notórios
historiadores, sendo necessário ser dito que nenhum deles veio à Tamboril
realizar qualquer tipo de pesquisa sobre qualquer aspecto da vida passada de
Antonio de Sampaio.
No ensejo da elaboração do livro História de Tamboril, realizando
pesquisas sobre o antanho desta cidade, nos deparamos com uma escritura pública
lavrada na fazenda Convento, em casa de morada do Ten. José de Araújo Chaves
(2º), e.e. Leonarda Bezerra do Vale, cujo documento datado de 18.03.1791,
nele figurando como vendedores a viúva de Manoel Ferreira Sampaio - Ana
Correia Barbosa - sendo os filhos menores do casal representados pelo
primogênio maior Luis Ferreira Sampaio, evidenciando que dentre os menores
estaria o pai do Gen. Sampaio - Antonio Ferreira Sampaio-, devendo ser dito
que, segundo a tradição provinda dos biógrafos, seria o Ten. José de Araújo
Chaves (2°), e sua mulher, dona Leonarda Bezerra do Vale, avós paternos
bastardos do Gen. Sampaio. Por ser o único documento encontrado até então,
que nos trazia indicação sobre a ascendência paterna de Sampaio, caimos no
crasso engano de tomá-lo como definitivo, o que consta do livro História de
Tamboril, fls. 75/76, e que vamos reparar adiante documentalmente.
Como o objetivo do presente estudo tem por meta única a comprovação
documental da colonização do Alto e Médio Acaraú pelas famílias Araújo e
Feitosa, necessário se fez uma pesquisa mais densa nos mais remotos
documentos imobiliários. Para supresa nossa, vamos encontrar nesta escritura
pública de data anterior - 03.03.1786 - dona Eleutéria Vieira, filha do Capitão-
mor José de Araújo Chaves (lº), das Ipueiras, irmã do Ten. José de Araújo
Chaves (2°), do Convento - Tamboril, casada em primeiras núpcias com o Ten.
Cel. Luciano Martins Chaves, conforme L. Feitosa, ob. cit. pág. 252, onde
figura como caçula do casal Ana Barbosa, que é a mesma Ana Correia
Barbosa, avó paterna do Gen. Antonio de Sampaio. Nesta escritura pública,
dona Eleutéria Vieira já é casada em segundas núpcias com Manoel Gomes de

143
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Almeida. Portanto se o leitor for bom observador, de logo poderá concluir que
Ana Correia Barbosa, e.e. Manoel Ferreira Sampaio, era sobrinha do Ten.
José de Araújo Chaves (2°), do Convento, prima do Capitão Francisco Xavier
de Araújo Chaves, filho do Ten. José de Araújo Chaves. Desta forma, a avó
paterna de Sampaio e seu avô matemo - como provaremos adiante - eram
pnmos.
Aprofundando as buscas imobiliárias-documentais, encontramos a
escritura particular ele venda do imóvel Queimadas, atrás referida e que elucida
a genealogia materna de Sampaio, na qual está dito pelo viúvo Antonio Ferreira
Sampaio, que sua fenecida mulher Antonia de Araújo Chaves - que traz os
apelidos de família-, é neta paterna de dona Leonarda Bezerra do Vale, e.e. o
Ten. José de Araújo Chaves (2°), do Convento, e neta materna, nas mesmas
condições de legitimidade do Capitão Luís Vieira de Sousa (2º), do Tamboril, e
de sua mulher dona Ana Alves Feitosa.
Dois fatos ficam documentalmente comprovados, com relação ao passado
do Gen. Sampaio, sendo o primeiro deles a comprovação de que seu local de
nascimento foi a fazenda Pajeú, primitiva morada de seus pais. Reforçando
esta afirmação, além do termo de batismo transcrito no comentário do imóvel
Queimadas, vejamos este informe definitivo que traz o inventário de seu
compadre, Cel. José de Araújo Costa, julgado por sentença do juiz de Orfãos
Manoel Rodrigues de Farias em data de 21.03.1865, fls. 27v/28: "Declarou
haver mais uma posse de terras no lugar Pajehú, deste Termo, extremando da
estrada que sai do dito lugar Pajehú para o lugar Tamboril, pela parte do poente
da estrada, até extremar com a fazenda do inventariado, cujas terras é só pela
parte do Norte, com meia légua de ilharga do riacho São João, que houve por
compra a Antonio Ferreira Sampaio, avaliada por sessenta mil reis (60$000)
(sic)". Assim, havendo nascido Quitéria no Pajeú e lá batizada em data de 28 de
julho de 1826, sendo Antonio Ferreira Sampaio proprietário desta fazenda, que
foi posteriomente vendida, não demora a mais remota dúvida de que lá veio ao
mundo o Gen. Antonio de Sampaio no dia 24 de maio de 1810.
Já a segunda comprovação procede da escritura particular do imóvel
Queimadas, que traz: a prova definitiva de que o Gen. Sampaio jamais foi filho
de um filho "reconhecido'tou bastardo do Capitão Francisco Xavier de Araújo
Chaves, pois, se tal bastardia houvesse seria pelo lado matemo, onde o documento
aponta legitimidade.
Isto posto, com dados documentais podemos oferecer as ascendências
legítimas - paterna e materna -, deste ilustre filho de Tamboril que foi imolado
cm defesa da Pátria na maior batalha campal da América do Sul. Ei-la:

144
ARAÚJOS E FEITOSAS -

Genealogia materna, pela linhagem ARAÚJO (1º).


l. Antonio de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, filha do
Cel. Manoel Martins Chaves, de Penedo, Alagoas, pais de
2. Joana Paula Vieira Mimosa, e.e. o Capitão Luís Vieira de Sousa (lº),
sesmeiro da Carta de 17.07.1722, pais de
3. Capitão Luís Vieira de Sousa (2º), e.e. Ana Alves Feitosa, do Tamboril,
pais de
4. Isabel Vieira de Sousa, e.e. o Capitão Francisco Xavier de Araújo
Chaves, pais de
5. Antonia de Araújo Chaves, e.e Antonio Ferreira Sampaio, pais de
6. General Antonio de Sampaio, Patrono da Infantaria do Exército
Brasileiro.
Genealogia materna, pela linhagem ARAÚJO (2°).
1. Antonio de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, filha do
Cel. Manoel Martins Chaves, de Penedo Alagoas, pais de
2. Capitão-mor José de Araújo Chaves (1°), das Ipueiras, e.e. Luzia de
Matos Vasconcelos, sesmeiro da Carta de 17.07.1722, pais de
3. Ten. José de Araújo Chaves (2º), do Convento, Tamboril, e.e. Leonarda
Bezerra do Vale, pais de
4. Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves, e.e. Isabel Vieira de Sousa,
pais de ·
5. Antonia de Araújo Chaves, e.e. Antonio Ferreira Sampaio, pais de
6. Gen. Antonio de Sampaio, Patrono da Infantaria do Exército Brasileiro.
Genealogia materna, pela linhagem FEITOSA ( 1 º).
l. João Alves Feitosa, e.e. Ana Gomes Vieira, filha do Cel. Manoel
Martins Chaves, de Penedo, Alagoas, pais de
2. Cel. Francisco Alves Feitosa, e.e. Catarina Cardosa da Rocha Resende
Macrina, sesmeiro da Carta de 17.07.1722, pais de
3. Ana Gonçalves Vieira, e.e. o Sargento-mor João Bezerra do Vale, pais
de
4. Leonarda Bezerra do Vale, e.e. o Ten. José de Araújo Chaves (2°), do
Convento, Tamboril, pais de
5. Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves, e.e. Isabel Vieira de

145
·os E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

, ,>ais de
6. Antonia de Araújo Chaves, e.e. Antonio Ferreira Sampaio, pais de
7. Gen. Antonio de Sampaio, Patrono da Infantaria do Exército Brasileiro.
Genealogia materna, pela linhagem FEITOSA (2°).
1. João Alves Feitosa, e.e. Ana Gomes Vieira, filha do Cel. Manoel
Martins Chaves, de: Penedo, Alagoas, pais de
2. Cel. Francisco Alves Feitosa, e.e. Catarina Cardosa da Rocha Resende
Macrina, sendo ele sesmeiro da Carta 17.07.1722, pais de
3. Josefa Alves Feitosa, e.e. o Sargento-mor Francisco Ferreira Pedrosa,
pais de
4. Ana Alves Feitosa, e.e. o Capitão Luis Vieira de Sousa (2°), fundadores
da fazenda Tamboril, pais de
5. Isabel Vieira de Sousa, e.e. o Capitão Francisco Xavier de Araújo
Chaves, pais de
6. Antonia de Araújo Chaves, e.e. Antonio Ferreira Sampaio, pais de
7. Gen. Antonio de Sampaio, Patrono da Infantaria do Exército Brasileiro.
Antigamente, por falta de legislação específica, a denominação dos filhos
ficava a critério dos pais, sem quase nenhuma obediência aos apelidos de família,
Por esta razão, são encontradas incontáveis incongruências denominativas,
exemplificando o caso do nosso trisavô matemo, Cel. José de Araújo Costa, e.e.
Ana do Nascimento Vidal, que denominaram o primogênio de Antonio Ribeiro
Campos de Noronha e o caçula de Anastácio de Araújo Costa Sales, prática que
muito dificulta a pesquisa genealógica.
Esta observação, tem por finalidade aclarar o que se verifica com a
genealogia paterna do Gen. Sampaio, quando o Ten. Cel. Luciano Martins
Chaves, e.e. Eleutéria Vieira, denominaram a caçula de Ana Barbosa, que é a
mesma Ana Correia Barbosa, avó paterna de Sampaio (L. Feitosa, ob. cit. pág.
252), que foi e.e. Manoel Ferreira Sampaio,já antes referidos.
Procurando as origens da família Ferreira Sampaio, fomos encontrar no
livro Raízes Portuguesas do Vale do Acaraú, de autoria do Pe. F. Sadoc de Araújo.,
pág. 198, ligeira reforência quando enumera 120 portugueses que para vieram,
e povoaram o vale do Acaraú: "114. Rodrigo da Costa Araújo, nat. da freg. de
Ferreira, con. de Paços de Ferreira, e.e. Juliana Ferreira Barros, filha de Matias
Vidal de Negreiros e Maria de Araújo Sampaio (sic)", Clara é a menção dos
apelidos de família Ferreira e Sampaio, o que não nos autoriza a ligá-los aos dos

146
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

ascendentes paternos do Gen, Sampaio, de vez que não dispomos do instrumento


que nos autorize tal liame, o documento.
Contudo, é comprovado que os ascendentes paternos do Gen. Sampaio -
Ferreira Sampaio-, foram entrelaçados com a família Araújo, pois, é esta sua
ascendência paterna:
1. Antonio de Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, filha do
Cel. Manoel Martins Chaves, de Penedo, Alagoas, pais de
2. Capitão-mor José de Araújo Chaves (1°), das Ipueiras, e.e. Luzia de
Matos Vasconcelos, sendo ele sesmeiro da Carta de 17.07.1722, pais de
3. Eleutéria Vieira, e.e. o Ten. Cel. Luciano Martins Chaves, pais de
4. Ana Correia Barbosa, e.e. Manoel Ferreira Sampaio, pais de
5. Antonio Ferreira Sampaio, e.e. Antonia de Araújo Chaves, pais de
6. Gen. Antonio de Sampaio, Patrono da Infantaria do Exército Brasileiro.
Desta forma, diante da inconteste prova documental cremos ficar
definitivamente aclarado este remoto êrro sobre a ascendência do gen. Sampaio,
elucidados os legítimos e verdadeiros antepassados genealógicos deste ilustre
tamborilense, reconhecidamente o mais valente Soldado da História Militar do
Brasil.
Ao leitor, com a paciência esgotada de tantas e tão cansativas citações
genealógicas devemos dizer, que, sendo a História uma ciência indagativa,
narrativa e analítica dos acontecimentos que têm no homem seu principal agente,
não pode prescindir da genealogia. Doravante, com uma leitura talves mais
interessante serão tratados os capítulos conclusivos deste trabalho.

AS CIDADES
Por inumeráveis vezes já o dissemos, que este estudo tem como universo
de pesquisa o prisco territorio eclesiástico do mais antigo centro irradiador de
civilização de todo o centro-oeste do Ceará, e por extensão do Alto e Médio
Acaraú, que foi a freguesia de São Gonçalo do Amarante da Serra dos Cocos.
Nosso objetivo fundamental - também repetimos -, é a comprovação documental
de que esta vasta região teve como colonizadores as famílias ARAÚJO E
FEITOSA, tudo procedendo da Carta de Sesmaria 17. 07. l 722, já exaustivamente
referida.
Contudo, estaria esta investigação histórica comprometida e incompleta,

147
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

se não fizessemos menção às cidades hoje inseridas no contexto geográfico da


área pesquisada. Para tanto, nos valemos exclusivamente das provas documentais,
dando prevalência às incontestes fontes primárias, seguidas de obras de
editoramento público e oficial, sempre entendidas como de maior credibilidade
e responsabilidade editoriais, inçlusive daquelas que receberam patrocínio de
secretarias culturais e orgãos afins. Por último, no intuito de tomar mais completos
estes pequenos informes, recorremos a outras obras impressas.
Não é nossa intenção -o que configuraria uma veleidade -, tratarmos
com pormenores sobre a extensão histórica destas cidades, tarefa que
consideramos de exclusiva competência dos seus naturais. No entanto, ao
contrário de outras ciências, o trabalho histórico não é direcionado apenas aos
estudiosos da matéria, abrangendo um amplo e generalizado leque de leitores,
ensejando a que sejam acrescidos esclarecimentos que facilitem seu melhor
entendimento, desde a simples localização geográfica.
Antes, já foi referido que no contexto territorial estudado, hoje estão
contidos os municípios de Guaraciaba do Norte, lpu, Ipueiras, Nova Russas,
Ararendá, Hidrolândia, Tamboril e ponderável parte do complexo da Serra das
Matas, já referido anteriormente. Outros municípios já foram emancipados dos
acima referidos em épocas recentes, sendo nossos comentários adstritos somente
aos referidos.
Faremos rápidos comentários sobre cada uma destas cidades, concluindo
por analizarmos seus primórdios coloniais, destacando as figuras dos seus
primitivos povoadores, daqueles que corajosamente adentrando nossos inóspitos
sertões, derramando seu suor, sem sangue e lançando em risco suas próprias
vidas, em remotas épocas nelas cavaram os primeiros alicerces e fincaram a~ ..
primeiras estacas.
Pelo que temos estudado, encontramos algumas divergências entre
historiadores na interpretação dos verbos colonizar e fundar. Passa a constituir
um tema elementar levar o leitor a tal extremo, mas, sendo nosso interesse
didatizar este estudo vejamos o literal significado destes verbos, buscando-o
também em obra pública e primária, como é o Dicionário Escolar da Lingua
Portuguesa - Francisco da Silveira Bueno - Ministério da Educação e Cultura -
11 ª edição - Rio de Janeiro - 1984: "Colonizar: v.t. Estabelecer colonia em;
promover a colonização de; habitar como colono; povoar. Fundar: v.t. Construir;
assentar os alicerces de; edificar; criar; instituir (sic)".
Está claro que são ações idênticas com resultado concomitante. Esta
pequena e quase desnecessária observação, tem como razão o fato de alguns

148
.
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

autores atribuirem a titularidade da fundação ao sacerdote que edificou a capela,


ou àquele que doou terreno para tal, o que não procede. Tendo o padre uma
atividade exclusivamente religiosa-espiritual, fica evidente que a construção da
capela é decorrência natural do já estabelecido aglomerado humano, motivo
único de sua edificação.
Assim sendo, é indiscutível que a titularidade do ato de fundar é
obrigatoriamente atribuidade ao colono, ao povoador, não comportando dúvida
de que àquele que cava os primeiros alicerces e finca as primeiras estacas
reside o ato intencional de fundar, na inequívoca função de colono. Infelizmente,
a voraz poeira do tempo, associada a influente pessoa do padre, ou do novo e
poderoso ricaço do lugarejo, tendem a ofuscar a prisca figura do colonizador,
arrebatando-lhe um justo direito que a história lhe atribui.
Como exemplo citamos a fazenda Tamboril, que foi colonizada e fundada
pelo Capitão Luis Vieira de Sousa (2º), e.e. dona Ana Alves Feitosa, fato
comprovado em obras primárias e impressas, inexistindo na atual cidade uma
única e humilde ruela que lhe tribute uma merecida homenagem. À sua viúva,
dona Ana Alves Feitosa, a quem é historicamente reconhecido o ato de fundar,
foi em sua homenagem nominada uma rua, cujas edificações tiveram início em
época recente, localizada no bairro Cidade Nova, bem distante do centro da
cidade onde está em ruinas a casa que lhe serviu de moradia.
Muitas vezes já nos referimos sobre os limites territoriais-eclesiásticos
da freguesia de São Gonçalo· da Serra dôs Cocos. Contudo, para amostragem
documental e demonstrativa do que nos propomos neste trabalho, tomamos
para tal o atual território do município de Tamboril, pela simples e convincente
razão de ser a área mais distante e longínqua daquela freguesia. Documentalmente
demonstrada - como está-, a ocupação literal desta distante região, desnecessário
é dizermos que o restante do território, cuja colonização tivera início muitos
anos antes pelos primitivos sesmeiros, desde os sertões até a chapada da Ibiapaba,
obviamente já se encontrava sob o domínio colonial dos seus descendentes, dos
filhos destes e demais parentela.
Ao contrário dos parentes Feitosas, que se ocuparam da colonização do
Alto e Médio Jaguaribe, os Araújos não tiveram nas gerações subsequentes a
frequência do uso endogâmico. Enquanto aqueles deram séguimento a uma
unidade clânica, daí surgindo a adjetivação de "Feitosas dos Inhamuns", este
deram sequência a uma extensa conquista territorial, adentrando nas terras
piauienses de Pelo Sinal (Independência) e Piranhas (Crateús), procedimento
que as autoridades do Piauí denominaram de "invasões".

149
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

É este outro ponderável motivo que nos leva aos comentários sobre as
cidades mencionadas, pois ao promoverem as conquistas territoriais, membros
das famílias Martins Chaves, Araújo Chaves e Ferreira Chaves, que o
genealogista L. Feitosa, ob. cit. fls. 231/302 preferiu denominar simplicadamente
ARAÚJO, muito matrimoniou-se com outras famílias, daí procedendo uma
imensa parentela com Melo, Bezerra, Mourão, Dias, Rodrigues Veras, Costa,
Pereira, Mesquita, Ribeiro, Farias, Magalhães, Sousa, Pedrosa, Carvalho, Torres,
Mororó, Aragão, e inúmeras outras, dando surgimento a uma imensa árvore
genealógica cujos galhos estão espalhados não só no Ceará, mas, em todo o
Brasil. Alguns historiadores, ácidos críticos do procedimento colonial das famílias
Feitosa e Araújo, chegam a desacreditar seus próprios estudos. Como exemplo
referimos Nertan Macêdo, que no seu livro "O clã de Santa Quitéria"- Editora
Renes - Rio de Janeiro - 2ª Edição - 1980, faz referência à nobre origem da
família Mesquita. Neste livro, à fl. 78 diz que os Pinto de Mesquita uma única
vez tiveram de apelar para as armas, quando a povoação de Santa Quitéria, em
1825, foi assaltada por um grupo de facínoras, chefiados por Benedito Martins
Chaves, segundo o autor, "da célebre família do Coronel Manoel Martins Chaves
(sic)". Agigantando á contradição e desmerecendo crédito, na mesma obra,
em passagem anterior referida à fl. 27, quando relata o entrelaçamento dos
Pinto de Mesquita com outras famílias, são enumeradas as famílias "Martins",
"Araújo", "Farias"e outras, todas resultantes numa só: ARAÚJOS. Agora, faça
o leitor seu julamento sobre tão celebrado historiador.

Embora não fazendo parte das cidades comentadas, vamos repetir o que
nos informa o historiador sobre a colonização e povoamento de Crateús:
"Encabeçados por D. Luiza Coelho da Rocha Passos ( titulada como fundadora
de Crateús), antiga proprietária da fazenda Riacho do Gado, em Crateús, em
1778, coube aos Mourões, Meios, Araújo Chaves, Cavalcante de Albuquerque
e outros (já entrelaçados consanguineamente) o encargo de povoarem,
prioritariamente, o território de Crateús, sem incluirmos o de Irapuá (sic)". -
Raimundo Raul Correia Lima - ob. cit. fl. 98. Os parêntesis são nossos.

GUARACIABA DO NORTE

Campo Grande, Rua Nova, Vila Nova d'EL-Rei, Inhuçu e Guaraciaba


do Norte, é a sequência de topônimos que recebeu esta cidade, aos quais
acrescemos o de "Suíça da lbiapaba"por seu aprazível e deleitoso clima,
associado ao belo toporama. Foi a primeira vila criada no terrotório da freguesia
de São Gonçalo da Serra dos Cocos, em razão de atender às duas principais
150
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

atividades econômicas no período colonial: a agricultura e a pecuária, daí provindo


seu rápido desenvolvimento. Seu atual topônimo procede de uma formação
híbrida de origem tupi, significando: coaracy = SOL e aba = CABELO, que
resulta em CABELO COR DO SOL. Sobre esta cidade, já se ocupou o
historiador Pe. F. Sadoc de Araújo, no livro HISTÓRIA RELIGIOSA DE
GUARACIABA DO NORTE - IOCE - Fortaleza - 1988, cuja leitura é
recomendada aos interessados.
Vejamos alguns dados sobre o município, oferecidos por Raimundo Girão,
no livro "Os municípios cearenses e seus distritos" - IOCE - Fortaleza - 1983 -
fl. 89: "Guaraciaba do Norte - Distritos: o da s~e e os de Barra do Soter~
Gravatá, Espinho, Morrinhos Novos e Sussuanha. Areado município: 986 kms
. Altitude da cidade: 902, 40m. Coordenadas geográficas da cidade: Latitude:
4°, 9' 44" S; Longitude 40° 44'56" W (sic)".
Tendo a capela da Serra dos Cocos sido edificada para servir de marco
divisório-eclesiástico entre o Curato do Acaraú, com sede na Caiçara (Sobral ),
entregue aos padres seculares, e a Missão de Viçosa, sob a responsabilidade
dos jesuítas, o foi em local onde não existia um preestabelecido povoamento.
Em razoável tempo foi ultrapassado pelo povoado do Campo Grande, que passou
a ser o mais importante empório comercial, e centro das decisões políticas e
sociais da freguesia. Não obstante haver se constituído no principal polo irradiador
de civilização de grande parte da lbiapaba e do Alto e Médio Acaraú,
paradoxalmente, a tão falada e antiga freguesia de São Gonçalo da Serra dos
Cocos, hoje é simples distrito de lpueiras, com a significativa denominação de
Matriz.
É nossa obrigação tratarmos nestes comentários sobre a figura do Cel.
Manoel Martins Chaves (bisneto), pessoa que muito trabalhou e influiu para a
elevação do povoado do Campo Grande, já com topônimo de Rua Nova, à
categoria de vila, fato que teve ocorrência no dia 12.05.1791. Por motivos que
o leitor adiante observará, deixamos este assunto para capítulo posterior. Em
contradição com informações de alguns historiadores, a Enc. dos Mun. Brasileiros
- edição IBGE - Rio de Janeiro - 1959 - Vol. XVI, pág. 284 nos informa haver
sido o Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto) o primeiro presidente da câmara
da já denominada Vila Nova d' EL-Rei, nestes termos: "O Coronel do Regimento
de Cavalaria e Presidente do Senado da Vila Nova d'EL-Rei, Manoel Martins
Chaves, dominava, com seu poderio inconstrastável, todo o vasto território de
Vila Nova d'EL-Rei e sertões vizinhos até os Inhamuns, onde predominava a
família Feitosa, da qual era ele aliado e parente afim (sic)". Somos levados a
crer que tal informação tem procedencia, pois, o abalizado garimpeiro do nosso

151
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

passado histórico Billy Jaynes Chandler nos oferece provas legais de que o
procedimento para preenchimento de tais funções, de acordo com as leis coloniais
portuguesas, era o seguinte: "A câmara da vila era composta de dois ou três
vereadores e dois juiizes ordinários, eleitos pelos homens bons; os vereadores
por período de três anos, e os juizes ordinários por período de um ano (sic)" ··
ob. cit. pág. 30. Com esta informação desejamos afirmar que Antonio Barbosa
Ribeiro - de quem adiante nos ocuparemos - linchado no dia 03.03.1795 quando
ocupava o cargo de juiz ordinário daquela Vila, não o era por ocasião de sua
instalação. Basta acrescer que foi o próprio Ouvidor Geral da Capitania do
Ceará, Doutor pela Universidade de Coimbra, Manoel de Magalhães Pinto e
Avelar de Barbedo, amigo pessoal do Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto)··
L. Feitosa, ob. cit. fls. 243/244, que veio, pessoalmente, instalar Vila Nova
d'EL-Rei.
Como já referimos em passagens anteriores deste trabalho, a colonização
portuguesa dos nossos sertões tem uma rica fonte de pesquisa histórica nas
concessões territoriais, oriundas das conhecidas Cartas de Sesmarias, exclusivo
documento de que dispõe o historiador, para, seguindo as pegadas dos
concessionários comprovar a posse e o decorrente processo colonizador. Com
relação a Guaraciaba do Norte, nos dá notícia o historiador Pe. F. Sadoc de
Araújo, obra referida, pág. 23, quando diz que Domingos Ferreira Chaves, em
data de 06.12.1718 conseguiu uma sesmaria, nela fundando o sítio Buriti, local
onde os curas ministravam os sacramentos religiosos. Também o Cel. João
Ferreira Chaves (1°), como faz ver o Vol. 6°, nº 498, em, data de 05.02.1746,
requereu e lhe foi concedida uma extensa sesmaria, dizendo no requerimento
que "comprou a Domingos Ferreira Chaves um sítio de 5 léguas na Serra dos
Cocos no riacho das Macambiras que corre de norte a sul e faz barra no rio
Jacaré, da parte do poente (sic)". acrescentando que "aí está de posse há onze
anos (sic)". Um genro do mesmo Cel. Joào Ferreira Chaves (lº), Antonio de
Barros Galvão, e.e. Ana Gonçalves Vieira Mimosa, também requereu e lhe foi
concedida uma sesmaria constante do Vol. 7°, nº 598, em data de 22.06.1771,
com uma extensão de três léguas por duas de largura (SESMARIAS
CEARENSES -Despartamento de Imprensa Oficial -DIO - Fortaleza- 1971).
Visto o que já foi dito em capítulos precedentes, inclusive a transcrição
do título de Capitào outorgado a Domingos Ferreira Chaves pelo Rei de Portugal,
constante da Rev. Trim. do Instituto do Ceará - Tomo XXXVI - ano de 1922 -
fls. 288/289, vejamos o que mais nos informa o Pe. F. Sadoc de Araújo, quando
à pág. 23 refere-se à sesmaria de Domingos Ferreira Chaves: "Aí, nessa extrema
sesmaria fundou o sítio Buriti (Moriti) que se tomou o centro, das atividades,

152
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

também religiosa, da então rara população dispersa (sic)".


Pedimos ao leitor, que acompanhe com atenção as informações que adiante
serão transcritas, extraídas da mesma fl. 23, passando à 24, assim diz: "Já que
nos interessa apenas o aspecto religioso, concentramos nossas pesquisas nos
livros de assento de batismo e casamento do antigo Curato da Ribeira do
Acaraú, que se encontram arquivados na Cúria Diocesana de Sobral e que
documentam a administração dos sacramentos a partir de 1725.Nessa época, a
região dependia eclesiásticamente daquele velho curato. Nota-se claramente,
ao exame desses documentos, que ao sítio Buriti de Domingos Ferreira Chaves
dirigiam-se os sacerdotes seculares ou religiosos itinerantes, que serviam ao
Curato, para ali atender a população, já que não existia qualquer capela naquelas
cercanias (sic)". Um pouco adiante, à pág. 26, acresce o autor: "Não há registro
de cerimônia religiosa em qualquer outro sítio do Campo Grande, o que prova
que o sítio Buriti, mesmo sem capela, foi o centro e local das atividades religiosas
durante muitos anos (sic)". •
Assim, textualmente afirma o historiador que em terreno do primitivo
colono Domingos Ferreira Chaves gravitava a vida inicial do Campo Grande,
sendo o seu sítio Buriti o "centro das atividades"da região, inclusive religiosas.
No entanto, à pág. 29 assim prossegue o autor: "RUA NOVA - Em 1760,
o Pe. Felipe Dias Santiago deu início à construção de uma pequena capela
dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, na região do Campo Grande. Em
tomo desta ermida, pouco a pouco a população branca e os poucos índios
dispersos, e já catequisados, foram se agregando, à margem do Rio Piau, afluente
do Inhuçu, fazendo um arruado irregular de casas de beira e bica, que recebeu
o nome de Rua Nova. Foi o início da cidade de Guaraciaba do Norte, que deve
ser creditada ao Pe. Felipe Dias Santiago (sic)". Um pouco além, contrariando
a informação acima, à fl. 37 o mesmo autor retira do Pe. Felipe Dias Santiago
o mérito de construtor da capela, do Campo Grande, dizendo: "RELAÇÃO
DOS VIGÁRIOS - A freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos teve os
seguintes vigários: 1 - PE. ANTONIO TOMÁS DA SERRA - 30 ago 1757 -
30 out 1761. Nasceu em Goiana, Pe., filho de Manoel da Serra Cavalcante e
Isabel Álvares Castro. Deu início à construção da primitiva Capela do Campo
Grande que foi benta em 1761, pelo Pe. Felipe Dias Santiago. Foi professor em
Sobral, onde faleceu a 13 de agosto de 1787 (sic)". Assim, prevalece uma
dubiedade de atribuições sobre a construção da primitiva capela do Campo
Grande, restando a pergunta: quem é, realmente, o fundador da cidade de
Guaraciaba do Norte?
Melhor juizo deixamos a critério do leitor. Mas, pelas contradições acima
153
ARAÚJOS E FEITOSA.S - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

verificadas, embora o sítio Buriti não haja sido o território central onde teve
início a cidade, significaria passar uma esponja na histórica figura do Capitão
Domingos Ferreira Chaves, comprovadamente o primeiro colono a fundar
alicerces e fincar estacas na região do Campo Grande, nele inegavelmente
reside o ato de fundar, de habitar. Portanto, é historicamente justo e correto qm:
ao Capitão Domingos Ferreira Chaves seja atribuída a titularidade de fundador
de Guaraciaba do Norte.
Comprovando o que algures dissemos, resta-nos acrescer que membros
da família Araújo foram e são pessoas eminentes nesta cidade, citando como
exemplos o ex-Prefeito e ex-Deputado Estadual José Maria Melo, já falecido,
o ex-prefeito Egberto Martins Farias, e o atual Antonio Bezerra Marques, todos
trazendo apelidos de família advindos do velho Capitão-Mor José de Araújo
Chaves (1°), das Ipueiras, sesmeiro da Carta de 17.07.1722.

IPU

A bonita cidade de Iracema, decantada pelo imortal José de Alencar


como "a virgem dos lábios de mel", ornando-lhe o toporarna a majestosa "BICA"
onde a tabajara Iracema banhava-se à luz do arco-iris, traz suas remotas origens
em informações do ipuense e historiador Eusébio de Sousa, contidas na Enc.
dos Municípios Brasileiros,já referida, pág. 278, que assim dizem: "HISTÓRICO
- Rezam as crônicas que, a Côrte Portuguesa fez. doação de vinte léguas de
terras a Dona Joana Paula Vieira Mimosa, mulher excepcional, mãe de muitos
filhos e que foi um baluarte para a conquista e definitiva colonização das terras
onde hoje se ergue a cidade do Ipu, sede do município do mesmo nome. O
historiador Eusébio de Sousa,filho de Ipu, referindo-se ao fato, afirma que D.
Joana conseguia, com muito jeito, catequizar a indiada que descia a Serra Grande
e vinha pescar nos rios e riachos nas proximidades do lpu (sic)".
Com esta informação corrobora outra ipuense, a escritora e professora
Maria Valdemira Coêlho Mello, no seu livro O IPU EM TRÊS ÉPOCAS -
Popular Editora - Fortaleza - assim dizendo à pág. 14: "Chegaram uns
missionários .da Vila Real de Viçosa e continuaram o trabalho de catequese
iniciado por Dona Joana Paula Vieira Mimosa, seguidos de outros padres, vindos
depois, os quais construiram a pequena capela,edificada em 1765 e em torno da
qual surgiu o povoado chamado PAPO (sic)".
Sobre o topônimo Ipu, diz a mesma escritora, ob. cit. pág. 17: "A opinião
predominante em relação a palavra IPU, conhecida pelo ipuense de ontem e de

154
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

hoje, é a do Dr. Eusébio de Sousa: A denominação deste vocábulo nasceu da


admiração que faziam os índígenas da queda que davam as águas do cimo da
montanha, grafado assim em língua tupi: IG: água, e PU, palavra onomatopaica
que quer dizer-queda. Portanto, IPU - quer dizer: QUEDA D'ÁGUA (sic)".
Conheçamos alguns dados sobre o município: "IPU. - Distritos - o da
sede e os de Delm~o Gouveia, Flores, Pires Ferreira e Várzea do Giló. Área do
município 651 km . Altitude da cidade 247,20 m. Coordenadas geográficas da
cidade: Latutude: 4º 19' 20" S; Longitude 40° 42' 39" W (sic)". Raimundo
Girão - oh. cit. fl. 102.
No entanto, sobre as origens coloniais da "terra de Iracema", a verdade
histórica é um pouco diferente. Dona Joana Paula Vieira Mimosa, que tinha o
nome de solteira de Joana de Paula Chaves, era filha do portugues Antonio de
Sousa Carvalhedo, e.e. Nazária Ferreira Chaves, filha do Cel. Manoel Martins
Chaves; de Penedo, Alagoas, à época pertencente à capitania de Pernambuco.
Dona Joana Paula Vieira Mimosa veio a casar-se com o Capitão Luis Vieira de
Sousa ( l º), um dos sesmeiros da Carta de Sesmaria de 17. 07 .1722,donde provém
erroneamente a informação de que "rezam as crônicas"ter a Coroa Portuguesa
a ela doado 20 léguas de terras. Ficando viúva, dona Joana Paula permaneceu
na fazenda que fundara com o marido, pois, era irmã do Capitão-Mor José de
Araújo Chaves ( l º), das lpeuiras, pater-familias dos Araújos, bem como do Cel.
João Ferreira Chaves (1°), maior sesmeiro na Serra dos Cocos.
Do casamento de Dona Joana Paula Vieira Mimosa com o Capitão Luis
Vieira de Sousa ( 1 º), nasceram os seguintes filhos: 1. Capitão Luis Vieira de
Sousá (2º), e.e. Ana Alves Feitosa, fundadores da fazenda Tamboril; 2. Ponciana
Vieira, que no dia 08.09.1755 contraiu núpcias com Victor de Barros Galvão,
que foi governador da província do Piaui, e 3. Ana Gonçalves Vieira Mimosa,
que foi e.e. o tio materno, Cel. João ferreira Chaves (l º), acima referido.
A Lei Provincial nº 200, de 26.08.1840, suprimiu a hegemonia política
de Vila Nova d"EL-Rei para a agora denominada Vila Nova do lpu Grande,
gerando um indisfarçável ressentimento aos habitantes da antiga vila
predominante. Um deles, que veio destruir parte do patrimônio histórico da
região, é assim descrito por Antonio Bezerra- Notas de Viagem - IUC - Fortaleza
- 1965, pág. 205: "Por motivos políticos o cartório e mais papeis do Campo
Grande, que deveriam ser transferidos para a nova sede (IPU), em virtude das
Leis de 1840 e 1842, naufragaram (em negrito), os que convinham, na passagem
do riacho Ipuçaba! (sic)". O historiador, sentindo a dimensão de tamanha
destruição, e com o olhar voltado para o prístino, termina a informação com

155
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

uma vibrante exclamação de desagrado.


Como não é nossa intenção - o que já foi sobejamento dito - fazermos
extensos comentários sobre as cidades referidas, e, no intuito de trazer melhores
informações sobre as famílias ipuenses, vamos transcrever a seguir, parte de
um trabalho que nos ofertou o advogado Anastácio Martins Camelo, ex-Prefeito
de Tamboril, e que traz suas raízes dos Araújos. Em síntese, é êste o seu teor:
"OS MARTINS. O tronco da família, até aqui por nós conhecida, esbarra no
Coronel Manoel Martins Chaves, de Penedo, Alagoas, colono portugues que
amealhou considerável fortuna e gozou de grande influência na região. A família
entrelaçou-se à de Feitosa com o casamento de uma filha do Cel. com João
Alves Feitosa, portugues, e que teria sido o primeiro Feitosa a chegar ao Brasil,
décadas antes de 1700. Outra casou-se com Antonio de Sousa Carvalhedo e
depois misturaram-se aos Araújos, Bezerras, Monte, etc. Depois, espalharam-
se por várias províncias da então Colônia, inclusive, a do Ceará-Grande. Enquanto
os Feitosas se installaram na região dos lnhamuns, um neto do Coronel Manoel
Martins Chaves, no caso o Capitão José de Araújo Chaves, procurou a zona
Norte, onde obteve a concessão de vastas sesmarias, tais como a da Boa Vista,
na Serra dos Cocos, na Serra Grande, e lpueira Grande, na zona do sertão. A
construção da capela na Serra dos Cocos (hoje Matriz de São Gonçalo) uma
das mais antigas da região, pois inaugurada em 1732, deveu-se à doação do
terreno feito por elle. Doou, igualmente, terreno para a construção de outra
Capela em Ipueira-Grande, no sertão, onde residia, esta inaugurada em 1745.
lpueira-Grande é a hoje cidade de Ipueiras. Quando das doações dos terrenos
para o patrimônio das duas ermidas, fez questão de escolher, junto à autoridade
religiosa, os padroeiros das duas ermidas: - São Gonçalo para a primeira e N.
Senhora da Conceição para a segunda, escolhas com as quais homenageava
ao Conselho do Amarante, vila portuguesa de onde provinham os Martins Chaves,
e a Portugal, de cujo país a Santa é Padroeira. Era casado com Luzia de Matos
Vasconcelos e pai de Manoel Martins Chaves, bisneto e homônimo daquele
Coronel de Penedo, o qual, foi nomeado Coronel do Regimento de Cavalaria
de Vila Nova d' EL--Rei, hoje Guaraciaba. Exerceu ali importantes funções de
mando, porém acabando preso como indigitado co-autor do assassinato do juiz
ordinário da vila e indo morrer na penitenciária de Limoeiro, na Corte, se bem
que dados apurados depois o inocentassem. Os descendentes do Cap. José de
Araújo Chaves passaram a usar sobrenomes diferentes: Araújo Chaves, Martins
Chaves, Ferreira Chaves e até Costa Leitão (sic)". Não desejamos fazer
corrigendas em algumas das informações contidas neste documento. Ao leitor,
que já vem acompanhando o relato deste trabalho, muito bem pode escoima-

156
.
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

los. Abrimos este parêntese para dizermos que os apelidos de família Araújo
Chaves, Martins Chaves e Ferreira Chaves proveem dos ascendentes do
Capitão-Mor José de Araújo Chaves (1 º), das Ipueiras, razão que motivou o
genealogista L. Feitosa, obra referida, a simplificá-los para fins de estudo, em
ARAÚJO. Quanto ao Costa Leitão, procede da família da mulher do Capitão-
Mor, dona Luzia de Matos Vasconcelos, conforme está relatada no capítulo OS
ARAÚJOS, razão que a levou a nominar assim o Ten. Cel. Antonio da Costa
Leitão. Prossegue o documento: "BRASÕES - ANUÁRIO GENEALóGICO
BRASILEIRO - Por Salvador de Moya. Titulares estrangeiros no Brasil - 936
- 937 - 938. MARTINS -Tem por armas o campo partido em faxa, no primeiro
em ouro e tres flores de Liz Púrpura em faxa; no segundo de preto, duas faxas
em ouro. TIMBRE: huma flor de Liz. A Rainha Dona Catherina, governando
este reino na menoridade Del Rei D. Sebastião as deu a Diogo Martins, anno
de 1560 (de Martine, Itália): Partido de ouro e de negro, com um homem
nascente, de braços levantados, tendo uma foucinha na mão direita e cinco
espigas de trigo na esquerda, toucada de chapéu cônico, tudo entrecambado.
(De Diogo Martins): Cortado, um negro com duas palas de oiro'com tres flores-
de-liz de púrpura. Martins de Deus: Partido: um de vermelho, com uma torre.de
oiro; dois de oiro, com uma águia de azul arquendo o voo. A origem nobre e de
Brasões das famílias brasileiras, consta do "Anuário Genealógico Brasileiro"-
Por Salvador Moya - E foi compilada pessoalmente pelo mesmo Coronel, do
"Nobiliarchia Portuguesa", de Antonio de Vilas Boas e Sampaio. Brasões de
Portugal. (Abaixo estão os desenhos dos t;ês escudos, contendo os números
936, 937 e 938). OS MARTINS DO IPU. FRANCISCO MARTINS DE
ARAÚJO - nascido em 1785 e MARIANA MARTINS DE ARAÚJO - nascida
eml 790. Seus pais - Manoel Bezerra de Araújo Feitosa e Ana Martins de
Araújo Bezerra - eram senhores de engenho em Sirinhaém, zona da mata da
então província de Pernambuco, e descendentes daquele Cel. MANOEL
MARTINS CHAVES, de Penedo - Alagoas. Diz-se que havendo Mariana se
envolvido num caso de amor não do agrado da família, ela e o irmão se
aventuraram em uma viagem bastante longa e vieram ter a Cococi, nos Inhamuns,
onde pretendiam ficar à sombra do Capitão-mor José Alves Feitosa, primo do
pai deles, isto na primeira década do século XIX. Naquele tempo primo do pai
era considerando tio e o fato é que os dois jovens teriam recebido acolhida
fraterna na casa do Capitão-mor. Este era homem reconhecidamente rico e
prestigioso. As suas zonas de influência abrangiam desde o Cariri ao interior da
então Província do Piaui. Pois bem. Naquele tempo o-Capitâo-rncr cultivava
estreita amizade com os parentes da zona Norte: - O Capitão-mor José de
Araújo Chaves, em Ipueira-Grande e seu filho - Coronel do Regimento de

157
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Cavalaria de Vila Nova d' EL Rei - Manoel Martins Chaves, com os quais
mantinha frequente correspondência através de emissários. E eis que, face à
disposição manisfestada por Francisco, sempre disposto a tudo, passou a ser o
preferido para tais viagens. Numa delas hospedou-se na fazenda Marruás,
.município do Ipu-Grande, quando conheceu e se enamorou da jovem Francisca
Pereira dos Reis, filha do Capitào Luis Pereira dos Reis, e passado algum tempo
realiza-se o casamento, isto por volta de 1810. Foi então residir na fazenda
Mulungú, pertencente ao sogro. Algum tempo depois fez vir para a sua
companhia a irmã Mariana, que se encontrava em Cococi, e que - diga-se de
passagem - seria uma mulher muito bonita, e que veio a casar-se, tempos depois,
com Domingos de Paiva Dias. Do casamento de Francisco nasceram três filhos,
todos do sexo masculino: 1. João Martins Pereira; 2. Luiz Martins Pereira; 3 .
Antonio Martins Pereira. Morrendo-lhe a esposa casou-se em seguida com uma
cunhada - Eugenia Pereira dos Reis, que lhe deu mais seis filhos, todos varões
4. Joaquim Martins Pereira; 5. José Martins Pereira; 6. Sebastião Martins
Pereira; 7. Florêncio Martins Pereira; 8. Francisco Martins Pereira e 9. Manoel
Martins Pereira. Era avô de Abílio Martins intelectual e político que foi deputado
e exerceu as funções de Chefe de Polícia no Governo de Justiniano de Serpa.
É nome de rua em Fortaleza e de um distrito no município do Ipu. José Martins
Pereira e Maria Francisca de Sousa, foram os pais de: O 1. Cesário de Sousa
Martins; 02. Antonio de Sousa Martins; 03 Raimundo de Sousa Martins; 04.
Felix de Sousa Martins; 05. João de Sousa Martins; 06. José de Sousa Martins;
07. Francisca de Sousa Martins; 08. Maria de Sousa Martins; 09. Josefa de
Sousa Martins, e 10. Isabel de Sousa Martins (sic)".
Como dissemos antes, só em parte nos foi possível transcrever este
documento, sendo a razão maior não tomar muito alongado nosso comentário
sobre a cidade de Ipu. Procurando emprestar maior credibilidade ao relato, fomos
mergulhar nos velhos livros de assentamentos de batismo da freguesia da Serra
dos Cocos, encontrando no livro nº 14, data de 22.07.1850, Antonio Martins
Pereira, terceiro filho do primeiro casamento de Francisco Martins de Araújo
com Francisca Pereira dos Reis, apadrinhando a criança Raimundo. Outros foram
encontrados, confirmando o entrelaçamento das famílias Pereira, Mororó, Dias
e Paiva com os primitivos Araújos, exemplificando o que consta do mesmo
livro, datado de 08.03.1853, quando foi cristianizada a criança Agripina,
figurando como seus padrinhos Pedro Rodrigues Veras e Rita Maria de Paiva,
sacramento ministrado pelo Pe. Francisco Carvalho de Correia e Silva.
De outra parte, este documento nos traz a evidência de que o Coronel
Manoel Martins Chaves, de Penedo, Alagoas, quando emigrou para o Brasil já

158
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

vinha matrimoniado, fato que se confirma com a patente de Capitão outorgada


a Domingos Ferreira Chaves, já transcrita neste estudo. Ora, o Capitào-mor
José Alves Feitosa, era bisneto materno do portugues João Alves Feitosa,
devendo os migrantes Francisco e Mariana também o serem do portugues
Antonio de Sousa Carvalhedo, pois, diziam-se primos do Capitão-mor José Alves
Feitosa. Seriam descendentes de outro filho do Cel. Manoel Martins Chaves,
de Penedo, Alagoas? Sempre fomos levados a crer que os filhos do Cel. Manoel
Martins Chaves não estão resumidos em Ana Gomes Vieira, e.e. João Alves
Feitosa, e Nazária Ferreira Chaves, e.e. Antonio de Sousa Carvalhedo, devendo
- pelas circunstâncias históricas que revestem tantas coincidências e fatos -,
entre eles serem incluidos o . Capitão Gragório Martins Chaves e o Capitão
Domingos Ferreira Chaves. Para chegar a esta conclusão - que julgamos óbvia
-, basta o leitor atentar para os fatos relatados neste estudo.
Queremos ressaltar que figuras eminentes descendentes dos Araújos,
ornaram e continuam a ornar a vida pública ipuense até nossos dias, dando
como exemplo - dentre inúmeros outros -, o Cel. Felix de Sousa Martins, primeiro
Prefeito eleito no município, e o Dr. Antonio Milton Pereira, que foi o penúltimo
gestor municipal da cidade.
Finalizando estes já extensos comentários, está historicamente
comprovado que a fundadora do lpu - Dona Joana Paula Vieira Mimosa -. foi
casada com o Capitão Luis Vieira de Sousa ( 1 º), sesmeiro da Carta de Sesmaria
de 17.07.1722.

IPUEIRAS
A elegante cidade de Ipueiras, conforme adiante veremos, precede como
assentamento colonial a todas as demais cidades inseridas no contexto territorial
da remota freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, constituindo-se numa
das razões de fazermos comentário mais éxtenso sobre seus primórdios.
Seu topônimo - como o de muitas cidades cearenses -, é também formado
por uma palavra híbrida de origem tupi, significando IP = água + UEIRA =
rasa, que vem expressar ÁGUA RASA, termo até hoje usado pelos nossos
sertanejos para designar a lagoa que junta água no período chuvoso, secando
no verão.
Possui como distritos o da sede, e os de América, Engenheiro João Tomé,
Gázea, Livramento, Matriz (antiga sede da freguesia de São Gonçalo do Amarante
da Serra dos Cocos), Nova Fátima e São José das Lontras. Área do município:

159
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

2
1.204 Km . Altitude: 231,34 m. A cidade tem as seguintes coordenadas
geográficas: Latitude - 4° 32'30" S; Longitude: 40" 43'8" (sic)". Raimundo
Girão - ob. cit. pág. 105. Fica localizada nas proximidades das faldas orientais
da serra da Ibiapaba.
Consta do Vol. 6°, nº 419, datada de 16.11.1718, a concessão de uma
sesmaria concedida a Gregório Barbosa, Torquato da Rocha, José Dias Valente,
Manoel Rodrigues Fraga, Domingos da Rocha, Joaquim da Rocha e Manoel
Gomes Ferreira, com uma extensão de duas léguas de comprimento, por uma de
largura para cada um dos concessionários "no riacho Jatobá, que dizem ter
descoberto (sic)". É bom lembrar que apenas 20 dias depois - 06.12.1718 - foi
concedida a sesmaria do Capitão Domingos Ferreira Chaves, no riacho
Macambiras, já referida neste trabalho. Muito pouco ou quase nada demoraram
aqui estes colonos, pois, não há nenhum registro histórico de suas passagens,
ou de notícia de descendentes seus nestas ribeiras. Causa espécie a qualquer
conhecedor da região, o requerimento desta sesmaria num tributário do Acaraú,
quando mostra o bom senso que conveniências de ordem geográfica, estratégica
e econômica seria a terem requerido nas cabeceiras do "rio das garças", que
além de oferecer as férteis terras da Serra das Matas - onde tem suas nascenças
-, segue-se-lhe vastas áreas até hoje cobiçadas para a exploração pecuária.
Notícias existem de que esteas terras teriam sido adquiridas pelo Capitão-mor
José de Araújo Chaves ( 1 º), das Ipueiras, quando aqui chegou apenas quatro
anos depois para tomar posse na extensa sesmaria de 17.07.1722, como a que
nos presta o historiador José Nilton Aragão e Melo, em seu trabalho inédito
HISTÓRIA DE IPUEIRAS, assim concluindo: "São estas terras que
constituiram a Fazenda Ipueiras, em cuja casa principal residia o Capitão-mor
José de Araújo Chaves, e estava edificada numa parte do mesmo local onde se
encontra a cidade de: Ipueiras (sic)".
Inexiste documento que nos informe como estas terras da sesmaria do
riacho Jatobá vieram ao poder do Capitão-mor José de Araújo Chaves, restando
as hipóteses de compra, ou simples abandono e consequente comisso, pois, menos
de quatro anos depois de requeridas já eram propriedades do Capitão-mor, sendo
o que nos informa o historiador Pe. F. Sadoc de Araújo no livro História Religiosa
de Guaraciaba do Norte - IOCE - Fortaleza - 1988 - fls. 34/35: "A
CONSTRUÇÃO DA CAPELA - Com ordem de escolher o local para o novo
templo, Frei José foi ter com o Capitão José de Araújo Chaves, potentado daquela
região e proprietário das vastas sesmarias da Boa Vista, na Serra dos Cocos, e da
Ipueira Grande, no sertão. O encontro do carmelita com o Capitão foi dos mais
amistosos e a idéia da construção foi muito bem aceita. O Capitão propôs até

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

que em vez de uma, fossem construidas duas capelas, sendo uma sobre a serra
e a outra no sertão, e para tanto doou os terrenos necessários. Ele mesmo
escolheu os oragos: São Gonçalo e Nossa Senhora da Conceição. O primeiro
santo escolhido seria uma homenagem ao Conselho de Amarante, vila portuguesa
de onde provinham os Martins Chaves, e a Senhora da Conceição, homenagem
a Portugal do qual é a padroeira (sict. Queremos abrir um parêntese para
informar ao leitor, que, segundo o mesmo autor, em trecho anterior ao acima
transcrito, o encontro entre o carmelita frei José da Madre de Deus e o Capitão-
mor José de Araújo Chaves, teve ocorrência no ano de 1722, época em teve
agravamento a crise entre os jesuitas - da missão de Viçosa -, e os padres
seculares, responsáveis pelo Curato do Acaraú, conforme consta da pág. 33.
Vamos prosseguir sobre o que respeita a lpueiras, com palavras do mesmo
autor, ob. cit. pág. 35 "A CAPELA DE IPUEIRAS - Também a capela de
Nossa Senhora da Conceição da Ipueira do Capitão José Araújo Chaves foi
levantada, embora com mais vagar. Sua inauguração e benção deu-se no dia 4
de julho de 1745, pelo Pe. Pedro da Costa. No mesmo dia foi batizado Manoel
Martins Chaves, o célebre potentado da Vila Nova, filho do construtor da
capela, Capitão José de Araújo Chaves e de sua mulher Luzia de Matos
Vasconcelos, como se vê da transcrição do seguinte documento: "Aos quatro
dias do mês de julho de mil setecentos e quarenta e cinco, na Capella de Nossa
Senhora da Conceição da Ipueira, baptizou sem santos óleos, de minha licença,
o Pe. Pedro da Costa a MANOEL, filho legítimo do Capitão-mor José de Araújo
Chaves e de sua mulher Luzia de Matos. Foram padrinhos José de Araújo
solteiro e Luzia de Matos solteira, de que fiz termo que assigno. Antonio de
Carvalho e Albuquerque, cura do Acaraú. (sic)". (liv.Misto, Sobral, 1725-50, fl.
48v).
Como vemos, embora antecedendo até na construção da capela ao Campo
Grande, Ipueiras não teve um surto de progresso semelante aquela localidade,
que detinha uma privilegiada e estratégica localização geográfica, ponto de intensa
movimentação econômica entre o Piaui, a lbiapaba e o sertão. Falecendo o
Capitão-mor José de Araújo Chaves em 1787, Ipueiras permaneceu como uma
fazenda, conforme nos mostram inúmeros termos de batismo ali realizados,
ministrados pelos curas da Serra dos Cocos, como o que consta do livro de
1825-1827, fl. 113, que transcrevemos: "JOSÉ filho legítimo de José Martins
Chaves, e Anna Ferreira de Barros, moradores nesta freguesia, nasceo aos ceis
de Fevereiro de mil oito centos e vinte e sete, baptizado Solememente por mim
Parocho em a Fazenda da Ipueiras, em desobriga de onze de Maio do dito
anno, sendo seus padrinhos o Capitão Joào Ferreira Chaves Evangelista e sua

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

mulher Anna de Mattos dos Prazeres do que para Constar mandei fazer o
presente termo em que me aSigno. Felipe Benicio Morais - Par. Interino (sic)".
Muitos anos decorreram, para que fossem criadas as condições materiais,
econômicas e políticas para o surgimento da freguesia e do município de Ipueiras,
segundo informes contidos no trabalho inédito de José Nilton Aragão e Melo,
atrás referido: "A Lei Provicial nº 2.037, de 27 de outubro de 1883, instituiu a
Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, tendo por limite o Distrito de Paz de
Ipueiras e o de São Gonçalo, isto é, extiguindo a antiga Freguesia de São Gonçalo
da Serra dos Cocos, reduzindo a simples capela da Paróquia de Nossa Senhora
da Conceição. Canonicamente, a Paróquia foi instituída por provisão de Dom
Joaquim José Vieira, segundo Bispo de Fortaleza, datado de 21 de abril de 1884.
A 16 de maio de 1884, foi nomeado o seu primeiro vigário o Pe. João Dantas
Ferreira Lima, que tomou posse no dia 16 de julho do mesmo ano. Erguida a
capela, iniciou-se o arruamento em seu redor, isto é, em terras do Patrimônio de
Nossa Senhora da Conceição, doado por Joaquim Alves de Freitas (sic)".
Interrompemos aqui a transcrição, para fazer o registro de um fato criminoso,
obra da coroa portuguesa ou de governos provinciais. É que, de acordo com o
Direito Canônico vigente à época da doação do terreno pelo Capitão-mor José
de Araújo Chaves para a construção da capela primitiva, não poderia ele ter
feito parte do perjúrio sequestro dos bens do Cel. Manoel Martins Chaves
(bisneto), de quem adiante nos ocuparemos. Continuamos as informações do
historiador: "Em 22 ele outubro de 1870, a Lei nº 1.340, do Presidente da Província
João Antonio de Araújo Freitas Henrique, eleva o povoado de Ipueiras a categoria
de Distrito, pertencente ao município de Ipu, que já estava emancipado desde
1840, portanto já estavamos desmembrados do município de Vila Nova d' EL-
Rei, a quem pertecemos inicialmente. A Lei Provincial nº 2036 de 25 de outubro
de 1883, criou o município, graças aos esforços do Pe. Francisco da Mota de
Sousa Angelim, filho dos Inhamuns, não como vigário, mas como Deputado
Provincial, eleito pelo Partido Liberal, autor do projeto que se transformou nesta
Lei, mas o município não foi instalado, e a Lei de autoria do Pe. Angelim foi
revogada pela Lei n" 2.071, de 02 de agosto de 1884, resduzindo-o a simples
distrito de lpu. Foi de autoria do Pe. Angelim a Lei Provincial nº 2.037, de 27 de
outubro de 1883, que criou a Paróquia de lpueiras. Pouco tempo depois, isto, no
dia 18 de julho de 1884, faleceu no Distrito de lpueiras o Pe. Angelim, que foi
sepultado no antigo Cemitério da cidade, ao lado direito do rio Jatobá. Em 1933
o Cemitério foi transferido para a margem esquerda do Jatobá, e os restos
mortais do Pe. Angelim foram transladados para Igreja Matriz, que foram postos
na segunda coluna à direita, por iniciativa do historiador ipueirense Hugo Catunda

162
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Fontenele, sendo celebrante na cerimônia religiosa o Revoo. Pe. Vigário


Francisco Felipe Fontenele. No dia 17 de agosto de 1889 a Lei Provicial nº
2.064, sancionada por Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim, cria-se o município
de lpueiras desmembrando do lpu, compondo-se de três distritos, o Distrito
Sede, o Distrito de São Gonçalo (hoje matriz) e o Distrito de Várzea Formosa
(hoje cidade de Poranga). O Município foi instalado, e foi nomeado o seu primeiro
Intendente (hoje Prefeito), o Sr. Jerônimo Alves de Araújo, que tomou posse no
dia 11 de janeiro de 1890. (sic)". Prossegue o brilhante e talentoso trabalho de
José Nilton Aragão e Melo, repleto de importantes informações sobre a cidade.
Contudo, não sendo nosso propósito sermos extensos nestes comentários, e,
tendo outros a relatar suspendemos atranscrição.
Não sendo nosso intento - como já está dito e repetido-, fazermos extensos
relatos sobre as cidades referidas, reservamos um espaço maior sobre as
anotações acêrca de lpueiras, tendo por único objetivo fazermos um reparo
histórico. Precedeu-nos nesta faina a ilustre figura do Dr. Carlos Feitosa,
historiador com trabalhos publicados pela seleta Rev. Trim.do Instituto do Ceará,
de circulação restrita à elite intelectual, com o titulado O BARÃO de STUDART
E AS FAMÍLIAS FEITOSA E ARAÚJO, constante do referido periódico, ano
de 1957, fls. 74/87. Avocando escritos passados e os "INÉDITOS"do Dr.
Guilherme Studart - Barão de Studart -, figura ímpar da historiografia cearense,
provou o estudo de forma brilhante - pois documental -, o inverso de tudo até
então dito sobre o brilhante passado das famílias Feitosa e Araújo na vida colonial
do "Siará-Grande". À fl. 85, assim diz o historiador: "De tudo o que ficou dito,
há um fato a lamentar. É que a causa de tantas verdades andarem ainda torcidas
e de já não estarem totalmente desmentidos os cronistas sem vocação, em que
faltam fé histórica - para não dizer inteireza moral -, deve-se, na maioria dos
casos, à circunstância de os livros do Barão de Studart terem sido lidos por
pouca gente, no tempo de suas edições, em virtude de tiragens reduzidas e fora
do mercado. E hoje, que se tomaram raridades bibliográficas, muito menos o
são (sic)".
Mas, quem foi aquele primeiro menino de nome MANOEL, aquele
primeiro ipueirense, cristianizado na pobre e primitiva capela mandada levantar
por seu pai, e benta e inaugurada no mesmo dia do seu batizado - 04. 07 .17 45?
Que diferenças existiram entre este menino e os seus celebrados e
ilustrados conterrâneos como o Pe. Eurico de Melo Magalhães, Des. João Firmino
de Holanda Cavalcante, Moos. Dr. João Tolentino Gadelha Mourão, Dr. Hugo
Catunda Fontenele, assentado na Academia Cearense de Letras e no

163
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

internacionalmente celebrado Instituto do Ceará, e do Dr., Poeta e novamente


Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, Gerardo Mello
Mourão, que tanto cantou as gitiranas das Ipueiras pelos quatro cantos da terra?
A resposta está numa simples e curta oração: - É que este foi herói e mártir!
Sem rezar nos altares, ser,n sentar nas faculdades, sem ocupar tribunais,
sem proferir "sentenças", sem título de doutor, sem sentar em academias, sem
ser poeta, este primeiro menino das lpueiras soube, acima de tudo como um
simples sertanejo, st!r sublime na vida e na morte.
Para comprovar o heroismo e o martírio deste primeiro menino das
Ipueiras, não nos foi preciso recorrer à crônicas de celebridades históricas do
passado. Nosso único trabalho foi ler os fatos, já relatados por cronistas coevos.
Ler e compreender, tão-somente isto.
Seguindo o exemplo do pai, homem diligente e laborioso, o jovem Manoel
passou a infância nas lpueiras, tendo por trabalho as árduas tarefas da época:
agricultura e pecuária. Logo cedo descobriu o surto de desenvolvimento porque
passava o Campo Grande, para onde mudou residencia. Com seu trabalho, com
o prestígio do pai rico, dono de imensas terras na Serra Grande e no sertão,
inclusive outros parentes, como o tio, o Cel. João Ferreira Chaves ( 1 º), também
proprietário de sesmarias na lbiapaba, aproveitou-se o jovem Manoel para
amealhar imensa fortuna, apar de prestígio social e influência política.
Já em 1783, contando apenas 38 anos de idade, era nomeado Coronel da
5ª Companhia de Cavalaria do Campo Grande. Seu prestígio não estava restrito
só à região do Campo Grande ou adjacências, mas, com a morte do pai assumiu
o encargo de pater-familias dos Araújos, há muito senhores do imenso território
formado pela freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, compreendendo q _.
Alto e Médio Acaraú. A influência do jovem Manoel Martins Chaves (bisneto),
não ficava por aqui. Comprovando esta assertiva, vamos transcrever um artigo
de autoria do Dr. Carlos Feitosa, publicado no jornal O POVO - Fortaleza •-
Edição de 07.01.1994 - fl. 4 - l: "CAPITÃO DOS INHAMUNS É NOMEADO
CONTRATANTE DOS DÍZIMOS REAIS DE SOBRAL. Eis a íntegra do Alvará
de Correr passado ao Capitão-mor dos Inhamuns José Alves Feitosa Júnior e a
seu sócio o Coronel Manoel Martins Chaves, Contratador dos Dízimos Reais
da Freguesia da Vila Distinta Real de Sobral: "Faço saber a todas as pessoas de
qualquer qualidade ou condissão que sejão do districto da Freguesia da Villa
Distinta Real de Sobral que no dia desasseis de Agosto de mil setecentos e noventa
rematou por tempo de três anos o Capitão José Álvares Feitosa Junior e seo
sócio o Coronel Manoel Martins Chaves o Contrato dos Dízimos Reais e miunças
da. dita Freguesia que hão de principiar no primeiro de julho de mil setecentos

164
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

noventa e hum e findão em trinta de julho de mil setecentos e noventa e quatro


na forma das Ordens Reais a este fim dirigidas e os moradores da mesma
freguesia e mais pessoas que nela tiveram fazendas e lavouras conheção ao
dito Capitão José Álvares Feitosa e seo sócio por Rematante e Dizimeiro e por
este me requerer lhe mandasse passar seu ALVARÁ DE CORRER para que
não houvesse dúvida nem impedimento algum a lhe satisfazerem os mesmos
Dízimos em observância das Mesmas Ordens Régias em virtude das quais
ordeno as sobre ditas pessoas paguem os Dízimos que legitimamente deveres
no Triênio e ao sobre dito Contratador ou a quem seos poderes tiver por lhe
pertencerem as cobranças dos gados vacum, cavalar e miunças que na forma
das mesmas Ordens não izentão pessoa alguma de pagar o Dízimo e não fazendo
assim como devem e são obrigados sendo requerido serão punidos na forma
das sobre ditas Ordens pela que requeiro a todos os Ministros de Sua Majestade
fação dar a este meo Alvará seo devido e pleno cumprimento passado nesta
Villa de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção aos dezasseis de Agosto de
mil setecentos e noventa e eu Joaquim José Rodrigues 'Caldas, Escrivão da
Fazenda Real o sobrecrevy // O Doutor Manoel de Magalhães Pinto e Avelar
de Barbedo // ALVARÁ DE CORRER a favor do Capitão José Álvares Feitosa
Júnior e seo socio Contratador dos Dízimos Reais da Freguesia da Villa Distinta
real de Sobral como nelle se declara//. ( Dos INÉDITOg do Barão de Studart
arquivados no Instituto do Ceará) - (sic)".
,
Antes mesmo de desfrutar tal prestígio, a família ARAÚJO era alvo de
perseguição por parte de governadores e ouvidores provinciais, sendo o que
nos informa L. Feitosa, ob. cit. fl. 242/243, assim: "Manoel Martins Chaves era
Coronel da Cavalaria auxiliar do distrito de sua residencia, e gosava de grande
prestígio no norte da capitania, à frente da família Araújo, cujos membros eram
distinguidos com os mais elevados cargos do tempo, na localidade que
representavam. Já em 1781 ou 82, apareciam perseguição à família Araújo,
especialmente ao Coronel Martins Chaves, por não ter querido fazer parte da
conspiração levantada contra o Ouvidor André Ferreira de Almeida Guimarães
pelo Capitão-mor João Batista de Azevedo Coutinho do Montaury, visando
mesmo a destruir o prestígio total daquela família, e, em confirmação do que
acabamos de dizer, transcrevemos e atestado seguinte (sic ). "Segue-se a
transcrição de um atestado da lavra do Doutor Manoel de Magalhães Pinto Avelar
de Barbedo que se intitula "graduado pela Universidade de Coimbra,
Desembargador de sua Majestade Fidelíssima e seu buvidor Geral e Corregedor
no Crime e no Cível de sua Capitania do Ceará Grande (sic )," em cujo texto
afirma esta autoridade "attesto e certifico em beneficio da innocencia e da

165
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

verdade ser o Coronel Martins Chaves, residente no Campo Grande, uma das
pessoas mais honradas e distinda desta Capitania e no mesmo tempo zelloso do
Real serviço de sua Majestade, assim como também sumamente e obediente à
justiça de sua Majestade e mais superiores, também, dotado de excelentes
qualidades e virtudes morais. Assim também attesto e certifico que quanto elle
tem padecido e toda a sua família nos presentes tempos, tudo tem nascido delle
ser honrado, amador da paz e por ser um dos que não quis conspirar contra o
Ouvidor e Desembargador que acabou desta Capitania, razão porque o
malquistaram com o atual Capitão-mor Governador desta Capitania e lhe fizeram
conceber um ódio valeniano contra imposturas e falsidades ... (sic ). "Este atestado,
traz a data de 23.09.1786, quase cinco anos antes do próprio Dr. Manoel de
Magalhães Pinto Avelar de Barbedo ir pessoalmente instalar Vila Nova d'El
Rei, fato verificado a 12.05.1791. Portanto, a intenção de "destruir"a família
Araújo,já vinha de algum tempo. Informa, ainda, L. Feitosa que dito documento
foi lançado no "livro de notas de 1799, em Villa Nova d' EL Rei, pelo mesmo
Tabelião Antonio Carneiro da Cunha que funcionaria no processo de 1795 (sic)".
Descarece de uma análise política, que um homem portador de tamanho
prestígio e influência, logo despertou a desconfiança dos detentores do poder,
que nele viram um provável e futuro concorrente aos cargos de mando na
Capitania. Necessário se fazia destrui-lo, daí começando a execrável trama.
Numa eleição para escolha de juiz ordinário de Villa Nova d'EL Rei,
fizeram eleger a Antonio Barbosa Ribeiro, inimigo reconhecido da família Araújo
e a quem atribuiram a macabra função. De pronto, nesta direção duas
providências de ordem econômica foram tomadas inicialmente, sendo a primeira
uma sentença de próprio punho do governador João Batista de Azevedo Coutinho
de Montaury, contra o Capitão Antonio de Sousa Carvalhedo (neto), primo e
cunhado do Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto), relacionada com uma
contenda judicial envolvendo a fazenda Vitória, localizada no atual município de
Santa Quitéria. Logo a seguir, outra sentença desfavorável é proferida contra
um Araújo, desta feita contra o Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão, irmão do
Coronel Manoel Martins Chaves (bisneto), relacionada com outra contenda
judicial referente às terras da fazenda Cachoeirinha, hoje do território do município
de Tamboril. Não satifesto, o prepotente Barbosa Ribeiro mata um rapaz da
intimidade do Capitão-mor Bernardino Gomes Franco, homônimo do pai e
sobrinho do Cel. Martins Chaves (bisneto), de cujo delito sequer inquérito foi
instaurado. O instinto perverso e arbritrário de Barbosa Ribeiro, o fez granjear
um sem número de inimigos. Isto nos diz o Dr. Carlos Feitosa, ob. cit. fl. 81,
assim: "Quem se dispuser a ler as crônicas do tempo, verá que o crime foi

166
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

cometido por uma multidão, tantos quantos eram os seus desafetos (sic)".
Vamos tomar o que dizem uniformemente sobre os fatos três historiadores,
todos fundamentados em crônicas anteriores. O Pe. F. Sadoc de Araújo, oh.
cit. fls. 58/61; L. Feitosa, oh. cit. 245, e José Nilton Aragão e Melo, trabalho
inédito, já referido. Para que o leitor possa fazer um real e isento julgamento
deste cruel,injusto e perverso "enredo", vamos fazer as transcrições não em
ordem sequencial, mas, tratando os fatos na ordem lógica dos seus
acontecimentos.
I. O ACONTECIMENTO - Em dezembro de 1794, um cavalo pertencente
ao juiz foi posto à prova, em desafiante corrida, ao lado de um outro animal
pertencente ao coronel. Saindo vencedor o corcel de Barbosa, Martins Chaves
não aceitou a derrota e propôs a compra do cavalo. Recusada a proposta, o
Coronel de Cavalaria mandou matar o animal que foi barbaramente sacrificado
por dois de seus sobrinhos, Daí nasceu séria desavença entre os dois potentados.
O juiz ameaçou revide e tudo terminou em tragédia. Pelas nove horas da manhã
do dia 3 de março de 1795, o juiz Antonio Barbosa Ribeiro era brutalmente
assassinado pelos capangas de Manoel Martins Chaves. O crime abalou a
província, então sob o governo de Luís da Mota Feo e Torres que mandou
instaurar rigoroso inquérito. Do que ficou apurado constou que foram mandantes
o Capitão-mor Bernardino Gomes Franco e seu tio Manoel Martins Chaves. O
juiz foi morto a tiros de espingarda e golpes de catanas e facas. Foram trinta os
malfeitores que assaltaram a residencia do juiz, mandatários do coronel, dentre
os quais foram arrolados Felipe Néri, seus filhos Sebastião e Manoel e sobrinhos
Vítor e Raimundo, os cabras Teodório, João Pereira, Felipe Marçal e seu irmão
Antonio Manoel, João Martins, João de Araújo, Bernardino, João Dias, Francisco
Ribeiro, Luís Antonio, Domingos Ferreira, o crioulo Simeão e o preto Pedro de
Tal, todos pronunciados a 29 de julho de 1796 (sic)". Adianta L.Feitosa, oh. cit.
245, que após a chacina, a multidão saiu grintado: "Viva o Coronel Martins
Chaves e a Rainha (sic)".
II - LOCAL E HORA DO ACONTECIDO - Conforme está dito na
transcrição precedente, o fato verificou-se às 9:00 horas da manhã do 03 de
março de 1795, na residência do juiz, onde foi efetuada perícia, que diz: "Na
vistória da casa, onde residia o juiz, vimos: quatro portas escaladas de machado,
a saber: a da rua com rombo da parte das dobradiças, com a lagura de um grande
palmo e o comprimento de dois; a parte inferior do quintal, toda escalada ao
chão; a de um corredor da dita casa com uma lasca tirada de baixo até em cima
da parte da fechadura; e a de uma camarinha com uma lasca tirada da largura
de quatro dedos, pouco mais ou menos (sic)".

167
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

III - O CORPO DE DELITO - "Os cadáveres se achavam deitados de


costas, ambos em cima de um couro de vaca em cabelo. O juiz ordinário Antonio
Barbosa Ribeiro com uma camisa de pano de linho vestido e umas ceroulas do
masmo pano, sem mais outra vestimenta alguma, todo ensanguentado e nele
vimos: uma facada na boca do estômago, com uma largura de três polegadas,
que penetrou-lhe o vão, que mostrava ser feita com faca grande a que chamam
Parnaiba; uma estocada no peito direito, que também foi ao vão, de largura de
uma polegada, que mostrava ser feita com catana; uma grande cutilada na
nuca, do tamanho de um palmo. que lhe partiu o osso do pescoço que só ficou
pregado à cabeça pelas gargantas ( o sublinhamento é nosso); mais duas
estocadas em cima do ombro direito, que também foram ao vão, com largura
de uma polegada cada uma, que, aos nossos pareceres, mostravam ser de
catana; mais uma cutilada de faca grande no lombo direito buscando o vazio,
tão penetrante que chegou ao vão e estava aparecendo o interior, a qual tinha o
comprimento de cinco polegadas; tinha mais um tiro de arma de fogo em cima
da junta do ombro esquerdo, com cinco buracos, a saber: quatro mostrando ser
de bastardos e um de bala; os bastardos não sairam, ficaram dentro, e a bala
atravessou pela pá da mesma parte, que todos de necessidade eram mortais
(sublinhamos) (sic)". No cadáver de João do Nascimento (serventuário de
Barbosa Ribeiro), vimos as seguintes feridas: um tiro de espingarda no rosto, da
parte esquerda, com oito buracos de chumbo grosso e uma bala junto ao ouvido,
da mesma parte, que lhe veio a sair pela nuca; e uma cutilada, que mostrou ser
de catana, pelas costas, acima das cadeiras um palmo, com o comprimento de
oito polegadas, com couro e carne cortados, porém pouco penetrante. De cujas
feridas faleceram logo, repentinamente, e sem os sacramentos (sublinhamos)
(sic)".
IV - A "RESSURREIÇÃO" DOS MORTOS - "Consta também que o
juiz, ferido e esvaindo em sangue, ainda teve forças de sair correndo para a rua
.e foi morrer aos pés do cruzeiro, que também ficou crivado de balas (sic)".
V - AS PRISÕES - "Em março de 1805, alegando a necessidade de
passar revista nos regimentos da Capitania, o governador viajou para a Serra da
Ibiapaba. Manoel Martins Chaves querendo ser gentil e deconhecendo a trama,
o acompanhou por algumas localidades. Em lbiapina aconteceu que o
Governador achou ter chegado o momento propício para a prisão do criminoso.
Colocando uma coroa real sobre uma mesa, perguntou o Governador ao Coronel:
- De quem é esta coroa? Ao que ele respondeu: - É de sua Majestade, a
Rainha, minha Soberana! O Governador então retrucou-lhe: - Pois em nome
dela se considere preso! O Coronel a nada reagiu. Com ele foi também preso o

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

sobrinho Francisco Xavier de Araújo Chaves, tido também como um dos


mandatários mais cruéis no assassínio do juiz (sic)". Continua: "De Sobral,
foram os presos transferidos para Fortaleza e de lá para a cadeia de Limoeiro
em Lisboa. Ali, depois de muitos padecimentos, o coronel veio a falecer a 27 de
maio de 1808 (sic)". Sobre esta prisão, entreguemos a palavra ao Dr. Carlos
Feitosa: "Por outro lado, tendo o juiz ordinário sido assassinado a 3 de março
de 1795, como justificar a prisão de Martins Chaves, em novembro ou dezembro
de 1805, mais de dez anos depois, sem ele nunca haver arredado o pé de sua
fazenda, em pleno gozo dos seus direitos políticos, pois era Coronel da 5ª Cia.
de Cavalaria de Vila Nova d' EI-Rei, quando os ânimos já estavam arrefecidos?
Não há negar que se tratava de perseguição política, pois nem sequer tinha sido
cassada a sua patente ou os Governadores que antecederam a João Carlos
procuraram prendê-lo (sic)". Ob. cit. fls. 80/8 l.
Ao historiador, compete compilar honestamente os fatos, analizando-os
com isenção e deles oferecendo uma conclusão lógica dos acontecimentos,
obrigação que se apresenta até desnecessária com o conteúdo dos relatos acima.
As incoerências contidas nas informações desta "devassa" - certamente obtidas
de testemunhas "fabricadas"- raiam o absurdo. É querer transformar em beócio
o mais simples leitor. Delas se infere a mentira, a perseguição política, a
desonestidade, a crueldade, a torpeza moral, a felonia e a maior de todas as
maldades que se infringe ao ser humano: a injustiça. Vejamos onde estão
evidenciadas as incongruências relatadas na "devassa", interpretando
literalmente o que narram os cronistas da época, a quem recorreram os
historiadores antes referidos.
1. Em hipótese alguma, um homem do porte social, econômico, político e
moral do Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto) mandaria uma multidão de
trinta homens assassinar um seu desafeto, quando existiam mil outras formas
de efetivar o intento sem tamanho e desnecessário alarde. E o que é mais
ridículo, mandá-los dar "vivas"à rainha de Portugal e a si próprio. Num exemplo
dos nossos dias, seria o mesmo que um assaltante chegar ao caixa de um
banco, entregar sua cédula de identidade, pedir ao gerente que telefone à polícia,
chamar um cinegrafista de TY, para dar início ao assalto.
2. O massacre foi levado a termo na própria residencia de Antonio Barbosa
Ribeiro, que se achava trancada no horário de maior movimento de qualquer
povoado ou cidade, ou seja, as 9:00 horas da manhã. Duas interrogações lógicas
ficam sem reposta: porque os assassinos mataram apenas o juiz e seu
serventuário? O que estariam eles fazendo, trancafiados em casa? Jorge Amado
diz que "caxixe"vem de longas datas ...

169
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

3. Agora, vem o mais incrível, fantástico e até de hilariância macabra:


um homem com tantos ferimentos - todos mortais-, decepado, sair correndo de
sua casa pela rua, indo morrer aos pés de um cruzeiro! Mesmo a um bicéfalo,
seria impossível tal proeza.
4. No "inquérito" instaurado para apurar o massacre, foram incriminados
o Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto), e seu sobrinho Capitão-mor Bernardino
Gomes Franco, homônimo do pai, que se evadiu. No entanto, sem sequer figurar
no "inquérito"- conforme transcrição anterior-, foi também mandado para Lisboa,
à cadeia do Limoeiro, outro sobrinho do Cel. Martins Chaves que o acompanhava
na ocasião, o Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves. Depois de muitos
padecimentos e verdadeiros flagício, o Cel. Manoel Martins Chaves (bisneto),
veio a falecer no dia 27 de maio de 1808, enquanto o sobrinho morreria em
defesa dos seus algozes, numa tal guerra de fé do morro da Taboca. Coroando
a desgraça, resta acrescer que todos os bens do Cel. Manoel Martins Chaves
(bisneto), foram confiscados pela coroa portuguesa.
5. "Como depois foi apurado (sic)", o Ten. Cel. Antonio da Costa Leitão,
irmão do Cel. Martins Chaves, tinha sido o verdadeiro mandante da chachina.
Até hoje, ninguém sabe onde demoram estas provas. Restou até nossos dias a
indagação: e a honra, a dignidade, a família, os bens e a vida do Cel. Manoel
Martins Chaves (bisneto)?
Cabe aqui o que diz o filósofo e conterrâneo José Gerardo Torres Veras,
em "O homem e a universalidade das conveniências" - fl. 20, "que desde a
época em que passou para o estágio de "homo erectus", o homem vive em
função de conveniências (sic)", o que vem a significar que os interesses - "as
conveniências"- pessoais dos poderosos, estão acima da dignidade, da honra,
da verdade, acima de tudo e de todos.
Era de "conveniência"do ímpio governador João Carlos Augusto de
Oeynhausen e Gravenburg aniquilar um poderoso e imenso clã familiar da
província que gerenciava, com isto agradando e aparecendo junto à corte
portuguesa. Tanto é verdadeiro, que além do título de Marques de Aracati,
governou além da província do Ceará, as de Mato Grosso e São Paulo, terminando
por ser Ministro das Relações Exteriores e da Marinha de D. Pedro I. Tido como
cavador de elogios reais, sem caráter e de ânimo servil, foi nesta última função
que, num dos costumeiros gestos de "conveniência"para agradar o apaixonado
Pedro I, quase ia tendo o fim do seu "preposto"Antonio Barbosa Ribeiro: "A
rigidez do carater do Marquez de Aracati foi muito apregoada no seu tempo, e
passou para a história de nossos paiz. Mas, isto se entende, quando elle agia

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

amparado pelo poder official contra adversários mais fracos, ou quando, na


presunção de que a Marqueza de Santos começava a perder as graças de
Pedro I, ·cortou-lhe a visita à imperatriz moribunda, ameaçando-a asperamente.
Mas quando D. Pedro lhe disse verbalmente: "E eu no meu regresso vos
enforcaria por crime de lesa-beleza! ... acrescentando: "Agora, meu amigo,
para que jamais apareçam motivos de perigo para o seu pescoço, eu o dispenso
do Ministério. A um Ministro enforcado,eu prefiro um Ministro esquecido. Saia
de minha presença (sic)"- Dr. Carlos Feitosa, ob. cit. fl. 84.
Nem sempre as "conveniências"são "convenientes" ...
Bastante extenso já está nosso comentário sobre Ipueiras. Entretanto, a
principal razão é redimir a conspurcada imagem do heróico e martirizado Cel.
Manoel Martins Chaves (bisneto), primeiro ipueirense a ser cristianizado em
seu torrão natal.
Como em outras cidades do contexto territorial da freguesia de São Gonçalo
da Serra dos Cocos, descendentes dos Araújos ocupam funções de destaque em
Ipueiras, dentre eles o atual Prefeito Municipal José Flávio Morais Mourão.
Por último, queremos deixar o registro histórico de que o fundador de
Ipueiras, foi o velho Capitão-mor José de Araújo Chaves, sesmeiro da Carta de
17.07.1722.

ARARENDÁ

Cidade localizada no sopé oriental da verdejante e ubertosa cordilheira da


lbiapaba, município de instalação recente, cujo território fez parte sucessivamente
de Vila Nova d'EL Rei, Ipu, Ipueiras e finalmente Nova Russas, sendo erigido
distrito deste último município com o topônimo de Canabrava, pelo Dec. Lei nº
448, de 20.12.1938. Por outro Dec. Lei nº 1114, de 30.12.1943, teve seu
topônimo mudado para o atual Ararendá,segundo Raimundo Girão, oh. cit. fl.
238, "relembrando o nome de uma aldeia dos índios Tabajaras, quase no pé da
serra da Ibiapaba, onde foram hospedados os jesuítas missionários Francisco
Pinto e Luís Figueira (sic)". Sobre a origem do topônimo, prossegue o mesmo
autor, fls. 238/239: "O nome da taba era ARARENA,que o capuchinho francês
Claude de Abbéville grafou ARARENDÁ, que prevaleceu. ARARENA, segundo
Paulino Nogueira ( Vocabulário Indígena, na Revista do Instituto do Ceará, V.,
1) e no seu trabalho O Padre Francisco Pinto, na mesma Revista, seria corruptela
de IRARANA - de IRA mel e RANA falso, parecido com (sic)", o que vem
significar PARECIDO COM MEL. Pela Lei nº 6525, de 05.09.1963, foi o distrito

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

elevado à município e desmenbrado do de Nova Russas, não chegando a ser


instalado em vista da Lei nº 8339, de 14.12.1965, que retomou à antiga condição.
Sobre suas origens, diz o mesmo autor, ob. cit. fl. 238: "Canabrava era
nome do sítio no sopé da Ibiapaba, comprado pelo Capitão-mor Antonio de
Barros Galvão, um dos potentados do Ipu na primeira década do século passado.
Aí, situou-se seu genro Sebastião Ribeiro Melo, filho de João Ribeiro Melo e
Maria Coelho Franco, origem de família dos Mourões e Meios, famosos na
crônica criminal de Crateús, Serra Grande (lbiapaba) e vizinhanças, no século
passado (Ver Ranato Braga, Dicionário Geográfico e Histórico do Ceará, v. 2,
p. 231). A capela local tem como padroeiro São Vicente de Paulo, do bispado
de Crateús (sic)".
Fundamentado em informes de Renato Braga, o conceituado historiador
Raimundo Girão incorreu em erros crassos, inclusive maculando com
adjetivações ofensivas e impróprias as conceituadas famílias Melo e Mourão.
Inicialmente, o Capitão-mor Antonio de Barros Galvão, que foi e.e. Ana
Gonçalves Vieira Mimosa, jamais foi potentado no Ipu na primeira· década do
século passado, onde sequer teve moradia. Era filho de Victor de Barros Galvão
e de Ponciana Vieira, desta forma neto matemo' do Capitão Luis Vieira de
Sousa(!º), sesmeirode 17.07.1722, e de sua mulher Joana Paula Vieira Mimosa,
tendo contraido núpcias com a prima Ana Gonçalves Vieira Mimosa, filha do
tio matemo Cel. João Ferreira Chaves, sesmeiro na Serra dos Cocos, por sua
vez e.e. a sobrinha Ana Gonçalves Vieira Mimosa, que homonimou a filha.
Certamente por herança do sogro, Cel. João Ferreira Chaves, veio a possuir
as terras onde hoje está localizada a cidade de Ararendá, pois, no dia 22.06.1771
requereu e lhe foi concedida uma sesmaria, com três léguas de extensão por
uma de largura, constante do Vol. 7°, nº 598, onde diz "pegando das testadas do
defunto João Ferreira Chaves", que significa dizer da serra da Ibiapaba para o
leste, acrescentando no requerimento: "confrontando com outro, anexo à sua
fazenda", evidenciando que antes de requerer esta sesmaria já era fa~endeiro
naquelas ribeiras. ( Grafia contida no livro SESMARIAS CEARENSES -
Departamento de lmpresa Oficial - D 10 - Fortaleza - 1971). Segundo nos
informa L. Feitosa, ob. cit. fl. 256, o Capitão-mor Antonio de Barros Galvão
"residiu na fazenda Santana, freguesia da Serra dos Cocos (sic)", fato que
deve ter ocorrido quando duas de suas filhas casaram com os irmãos Sebastião
Ribeiro Melo e Alexandre da Silva Mourão (o velho), pois, a Sebastião que
casou-se com Eufrásia Gonçalves Vieira, entregou o sítio Canabrava, enquanto
que a Alexandre que contraiu casamento com Úrsula Gonçalves Vieira fez
entrega do sítio Boa Esperança, também na mesma região. Sobre a moradia do
172
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Capitão-mor Antonio de Barros Galvão na Santana, já foi objeto de comentários


quando nos referimos a êste imóvel, no capítulo JAGUARIBE.
Quando recebeu o sítio Canabrava, Sebastião Ribeiro Melo já o encontrou
dotado da infra-estrutura necessária, dele passando a ser dono definitivo por
herança do sogro, Capitão-mor Antonio de Barros Galvão. Por esta época,
Sebastião já possuía outras propriedades, como a fazenda Santiago, no Princípe
Imperial (Crateús), e a do Irapuá, que embora fazendo parte do território do
mesmo Princípe Imperial era curada pelos padres da Serra dos Cocos. O livro
de assentos de batismo desta prisca freguesia, de 1825-1829, nos dá testemunho
de que Sebastião Ribeiro Melo teve moradia também no Irapuá, pois, inúmeros
são os sacramento alí ministrados e onde está escrito "no Oratório do Irapuá
(sic )", figurando em um deles como padrinho o Cap. Sales, do Serrote, e sua
filha Beatriz de Vasconcelos, constante da fl. 111 do mesmo livro, datado de
25.12.1826. Lá faziam demoradas pousadas os curas intinerantes, e como
comprovação de que Sebastião lá residiu, foi no Irapuá que mandou construir
um Oratório para as orações do filho Pe. Inácio Ribeiro Melo.
Para quem se dispuser a ler os processos coloniais de todas as regiões da
terra, logo verá que nos seus primórdios eram as guerras, os atritos regionais,
locais e pessoais advindos de várias razões. Não é necessário ser arguto sociólogo,
para, constatando o primitivismo de nossa sociedade colonial,totalmente
desprovida do amparo legal de autoridades, lançada à própria sorte nos inóspitos
e ínvios sertões, não fossem naturais os desencontros pessoais, provindos da
luta pela posse da terra, da sustentação da ordem e da moral clânicas, da
hegemonia política, com que saciavam os interesses dos distantes senhores do
poder provincial, sempre a cultuarem a discórdia, protegendo uns em detrimento
de outros, semeando cruzes pelas veredas do sertão, jamais conciliando. Era
prevalente o axioma: "quem não está comigo, está contra mim", e este "está
contra mim" até bem pouco tempo servia de pretexto para a prática dos mais
iníquos abusos, que principiavam na perseguição política pura e simples,
resvalando para os mais crueis assassinatos. ··
Se esta era a norma usual até bem poucos anos, que diremos do período
colonial? Sem a presença de autoridade constituída nos pequenos e longínquos
núcleos de povoamentos, nossos primitivos colonos tinham na figura do parter-
famílias a única pessoa a quem deviam obediência nos atos práticos da vida
civil, e no padre o espelho moral e a vivência espiritual e religiosa. Enquanto
aquele já estava forjado nas práticas impostas pelas arbitrárias autoridades
provinciais, estes, em grande parte já viviam em acasalamentos ilícitos, fazendo
proles e participando ativamente da rixenta vida política, enriquecidos e

173
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

escravagistas, e até envolvidos em bárbaros assassinatos, desmoralizados. Numa


árvore social assim semeada e regada, não poderia florescer lindas rosas.
Esta pequena observação, tem como razão principal o fato de que os
cronistas da época - eles próprios como narradores parciais dos fatos -, com
suas tendências e paixões partidárias, em vista de pequenas e isoladas querelas,
deixaram na história do Ceará colonial inverdades maldosas, maculando famílias
imensas pelos atos de uns poucos isolados. Narraram maldosamente os efeitos,
sem numca procurarem as causas, os motivos, as razões que lhes ensejaram o
surgimento. É farta, bem farta, nossa crônica colonial em tais narrações.
Com isto, queremos enfocar aqui os atritos entre Meios e Mourões, famílias
que constituiam uma só, de vez que Alexandre da Silva Mourão ( o velho ) e
Sebastião Ribeiro Melo, eram irmãos, transformando-se numa fusão ainda mais
densa quando estes irmãos contrairam núpcias com duas irmãs, Úrsula e Eufrãsia
Gonçalves Vieira, como já sabemos, filhas do Capitão-mor Antonio de Barros
Galvão e de dona Ana Gonçalves Vieira Mimosa.
Como comprovação de causa fecundante dos atritos que adiante
analizaremos,entre estes primos coirmãos a história não registra qualquer disputa
territorial, de honra, ou qualquer outro motivo de ordem familiar que desse
causa a desvanças. Portanto, vamos conhecer causa e efeito.
No dia 26.08.1840, pela Lei nº 200 foi suprimida a VilaNovad'EI-Rei,sendo
transformada em sede administrativa regional a Vila Nova do Ipu Grande, sendo
na mesma Lei transferida a Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos para a
"Capela de São Sebastião do Ipu Grande, quando esta estiver em estado de
nela se celebrarem decentemente os oficias divinos (sic )". Findava aqui a mais
que centenária hegemonia eclesiástica da Matriz de São Gonçalo, e quase meio
século do poder administrativo de Vila Nova d'El Rei.
Para esta transformação, muito concorreu e contribui o já juiz de erfãos
do Ipu, juramente em 20 .1 O .1834, Deputado à primeira Assembléia Legislativa
Provincial do Ceará, instalada no dia 07.04.1835, patente de Tenente-Coronel
de 19.11.1844, e Coronel da Legião da Guarda Nacional do Ipu e Cavaleiro da
Imperial Ordem da Rosa por Decreto Imperial de 23.08.1847, o poderoso
Francisco Paulino Galvão, neto do Capitão-mor Antonio de Barros Galvão e
casado com uma prima, filha do Ten.Cel. Luiz Lopes Teixeira, da Canabrava, e
de sua mulher dona Ana Gonçalves Vieira Mimosa, genuinamente das famílias
Melo e Mourão.
Vivia o Cel. Francisco Paulino Galvão fazendo política no Ipu em parceria
com os parentes Melo e Mourão, segundo nos diz Alexandre da Silva Mourão

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

(o novo), em suas Memórias publicadas pelo Barão de Studart na Rev. Trim.


do Instituto do Ceará, Tomo XLI, ano de 1927: "Fiz a casa na cinta da serra (
lbiapaba ) no lugar Corrente, onde passava o verão. Conseguimos passar Vila
Nova para Jpu e êste para a cabeça de comarca, e organizar a Guarda Nacional
com um esquadrão de cavalaria (sic )", continuando assim: "Em lugar do Padre
Pacheco ficou, como vigário, o Revmo. José Gomes Ferreira Torres, padre
muito simples e bom pastor (sic )".
Para substituir ao Pe. José Gomes Ferreira Torres, toma posse como
vigário da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, com sede provisória
no lpu, onde fixa residência, o Pe. Francisco Correia de Carvalho e Silva, no
dia ll.01.184:3. Dele assim fala o mesmo Alexandre, ob. cit.: "Depois veio o
Padre Franscisco Correia de Carvalho, Vigário Colado, muito moço e pobre,
filho de pais pobríssimos, que suas primeiras desobrigas fazia em cavalos de
José de Barros ( primo carnal de Alexandre), que alistou-se em nossas fileiras
(sic )".
Encontrando o campo propício para dar vazão às suas ambições pessoais,
este padre "muito moço e pobre", logo traçou seus planos de galgar o poder e
fazer fortuna. Assim diz o seu biógrafo Senador Catunda, publicação da
tipografia "Cearense"- Fortaleza - 1917: "No Ceará o roubo e o assassinato
foram elevados à categoria de medidas eleitorais. Uma horda de assassinos
sob a denominação de Majores Gonçalos devastava o sul da Província. A vida
e a propriedade não dispunham de garantias; os tribunais fecharam-se por faltar-
lhes fôrça para fazerem respeitar as suas decisões. Dir-se-ia que a sociedade
retrogadava ao seu estado rudimentar. O padre Correia mostrava um entusiasmo
ardente por /\tôdos êsses resultados ... Apenas chegou o Padre Correia na
Freguesia da Serra dos Cocos, rojou-se humildemente aos pés da família Mourão
e foi mais humilde e reverente com Francisco Paulino Galvão, chefe dos
conservadores na localidade, do que com o próprio Deus, em cujo altar celebrava.
Astuto e sagaz, ele explorava o lado fraco desses homens fracos e simples.
fingindo para com êsses uma obediência passiva, ia insensivelmente preparando-
os por meio dêsses recursos em que a hipocrisia é fecundada, para. convertê-
los em instrumentos de suas próprias paixões. A êsse tempo, o falecido
Albuquerque destacava-se dos conservadores e fora criar o Partido Equilibrista.
O Vigário Correia aderiu a êsse novo partido e pôde arrastar em sua companhia
Francisco Paulino Galvão e os Meios, que todos eram da família Mourão.
Albuquerque disputava a eleição para si; José Pio Machado e outros chefes
conservadores opunham-lhe a canditatura do Dr. Piretti, Secretário do Govêmo.
O gênio atrabiliário e intrigante do Padre Correia incandescia a luta que se ia

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

travar entre as duas facções do mesmo partido. Aos Mourões dizia que Francisco
Paulino Galvão e outros propalavam que aproveitavam o ensejo para os porem
à margem, pois que eram mais onerosos do que úteis. Aos Meios dizia que os
Mourões se ufanavam de lhe haverem dado sombra, retirada a qual, volveriam
à nulidade e ao esquecimento. E depois de haver assim estimulado as duas
facções do partido, dizia a cada uma delas: "Breve veremos quem tem
razão"(sic )".
Tendo-se em consideração que o Senador Catunda e o Padre Correia,
nutriam entre si profundas divergências políticas, podendo haver parcialidade
nessas informações, vejamos o que diz um dos membros da família: "O Padre
Alencar, Senador e Chefe do Partido, concordou com o Capitão-mor Paula
Pessoa, deu-lhe planos, e semeou uma tal semente nos corações de Francisco
Paulino Galvão e Padre Correia, que veio produzir e ramificar cenas tristes,
dolorosas e lamentáveis. O Padre Alencar na Côrte, o Presidente da Província
na Capital, Senador Paula Pessoa em Sobral, Francisco Paulino e Padre Correia
no Ipu, teciam uma rêde infernal e, com todo o cuidado, cruzavam os correios
ocultos do Ipu para Sobral, de Sobral para a Capital e dali para a Côrte. Seria
impossível escapar qualquer vítima (sic)". (As Memórias de Alexandre da Silva
Mourão, ob. cit.).
Fica comprovado que o gênio atrabiliário do Pe. Francisco Correia de
Carvalho e Silva, para tirar proveito político aproveitou-se da índole daqueles
homens crédulos e simples, tecendo uma infernal têia de intrigas entre êles, daí
provindo uma infeliz luta de famílias com resultados desastrosos para ambas.
Foi esta a infernal semente, o satânico sacramento ministrado à estas famílias
pelas mãos peçonhentas do Pe. Correia, ensejando a que cronistas apressados
as tratassem com levianas adjetivações. ·
Pela Lei nº 11.771, de 21 de dezembro de 1990, Ararendá foi elevado às
condições de cidade e município, e dando uma comprovação definitiva da
importancia social e política, até hoje exercida pela família Mourão nas suas
ribeiras de origem, Vicente Carlos Mourão, que antes foi Prefeito de Nova
Rissas, está hoje investido nas mesmas funções na cidade de Ararendá.
Finalizando, já que nossa busca maior é o pretérito, a titularidade da
fundação de Ararendá historicamente aponta para o Capitão-mor Antonio de
Barros Galvão, primeiro colono a fundar ali alicerces e fincar as primeiras
estacas, pai das matrizes Úrsula e Eufrásia Gonçalves Vieira, troncos das famílias
Melo e Mourão. Deve ser dito, que a mãe dessas senhoras - Ana Gonçalves
Vieira Mimosa -, filha do Cel. João Ferreira Chaves, sesmeiro na Serra dos
Cocos, era neta materna do Capitão Luis Vieira de Sousa ( I º), e sobrinha materna

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

do Capitão-mor José de Araújo Chaves, das Ipueiras, ambos sesmeiros da


Carta de Sesmaria de 17. 07. l 722.

NOVA RUSSAS
A progresista cidade de Nova Russas, embora não sendo um município
de criação remota, constitui-se no maior empório comercial de quantos fazem
parte do contexto territorial da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, e
por extensão do Alto e Médio Acaraú.
Seu primitivo topônimo era Curtume, que designa também o riacho que
banha a cidade, tributário do rio Acaraú. O primeiro colono e proprietário dessas
terras, foi o portugues Capitão-mor Bernardino Gomes Franco (o velho), e.e.
dona Francisca de Matos e Vasconcelos, filha do Capitão-mor José de Araújo
Chaves, das Ipueiras, e de sua mulher dona Luzia de Matos Vasconcelos. A
fazenda denominada Curtume, inclusive era inserida no primitivo território
municipal de Tamboril, quando êste município foi criado e desmembrado do de
lpu, o que atesta a análise do imóvel Cachorro, quando o mencionamos no
capítulo ACARAÚ. Com a criação do distrito judiciário pelo Ato provincial de
17. 08.l901, passou seu território a fazer parte do de Ipueiras. Segundo Raimundo
Girão, oh. cit. fl. 158, tem a cidade as seguintes coordenadas geográficas:
Latitude - 4° 42' 16" S; Longitude - 40º 33' 54" W.
Sobre suas origens, assim diz a Enc. dos Mun. Brasileiros, Vol. XVI, já
referida, fl. 408: "HISTÓRICO - Bernardino Gomes Franco, constituinte e
procurador de sua mãe - D. Francisca de Matos e Vasconcelos - vendeu a
Vitorino de Lima Barbalho, conforme escritura de 5 de agosto de 1808, um sítio
denominado "Curtume", juntamente com o outro de nome "Olho-d'Água
Grande", os quais, reunidos mediam três léguas de comprimento e três de largura,
começando os limites, ao sul, no lugar ainda hoje conhecido por "São Mateus"e
findando ao norte com o "Tabuleiro Grande". Esta vasta área, na qual está hoje
localizada a cidade, custou a importância de quatrocentos mil reis. O nome
"Curtume"provém da pequena atividade rudimentar então em desenvolvimento
na fazenda: o curtimento de couros e peles, de que ainda hoje há vestígios na
parte leste da cidade, no lugar Ventura, onde se encontra, intacto, um tanque de
pedra e cal, utilizado neste mister. Tendo pertencido a vários proprietérios, a
fazenda "Curtume"- irrigada pelo riacho "Várzea Grande", posteriomente
denominado "Curtume" - passou ao domínio de Manuel de Oliveira Peixoto e
sua mulher, D. Manuela Rodrigues de Oliveira, que fizeram doação, em 1876,

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

de terreno para a construção de patrimônio da Capela de Nossa Senhora das


Graças. A dita capela, construida pelo Vigário de Tamboril, padre Joaquim
Ferreira de Castro (vigário de Tamboril de 1876 a 1879), filho da vila de São
Bernardo de Russas (atual cidade de Russas), não passava de uma choupana
de taipa, com latada à frente, onde o Vigário celebrava o santo oficio. Ao
povoado, que então se formou em tôrno da capela, o Padre denominou-o de
Nova Russas, em homenagem à sua terra natal. Em 1894, a precária construção
de taipa foi demolida, substituindo-a nova capela, cuja benção ocorreu no dia 19
de março. (sic)".
Quando em 1834 toma posse no govêmo provicial do Ceará, o Pe. José
Martiniano de Alencar, época em que resolveu desencadear séria perseguição
à Alexandre da Silva Mourão (o novo), referindo-se à fazenda Curtume assim
registra êle em suas Memórias, publicadas pelo Barão de Studart na Rev. Trim.
do Instituto do Ceará, já referida neste estudo: "Voltou José de Barros para o
Curtume, casa de Eufrosino, onde este e Antonio Mourão o esperavam (sic)",
continuando um pouco adiante: "Cara preta (capitão João Pereira Cara Preta),
voltando do Serrote (Tamboril), veio ao Curtume onde deixou o Tenente da
Guarda Nacional destacado com 20 praças de guarda e 20 da primeira linha,
prendem o meu parente e amigo Pedro Alves Feitosa em casa de quem tinha
sido preso José de Barros (sic)". Pelos dizeres de Alexandre, fica entendido
que a fazenda Curtume pertencia a seus familiares àquela época, onde tinham
morada Eufrosino Vieira de Melo, seu primo e cunhado, e Pedro Alves Feitosa.
Quando peregrinou pelo norte do Ceará o grande historiador Antonio
Bezerra, nos idos de l 884, faz ele menção a todos os povoados, lugarejos ou
cidades por onde andou no seu livro NOTAS DE VIAGEM - IUC - Fortaleza
- Reedição de 1965, sendo que ao sair de lpueiras para o Princípe Imperial
(Crateús), nenhum registro deixou sobre o Curtume.
Na parte eclesiástica, como já ficou visto, era capela da freguesia de
Tamboril, sendo interessante observar o que diz Norberto Ferreira Filho no seu
livro CRATEÚS. NOVA RUSSAS E TAMBORIL - Fatos e cousas do passado
- Edigraff- Fortaleza - 1993 - fls. 118/119, quando relata recordações de sua
visita à Nova Russas, no ano de 1925: "Encontrei a Vila com um Mercado,
tendo ao centro um pequeno barracão, sustentado por colunas de madeira. Ao
redor do Mercado existiam apenas dois trechozinhos de rua, um pelo lado poente,
outro abeirando o riacho, e quatro prédios pelo Norte. A Capela era semi-
redonda, rodeada de mureta. Era construida sobre uma elevação de alvenaria,
obra do Pe. Joaquim, então Vigário de Tamboril e filho de Russas. O piso, que
era em tijolos, distava um metro do solo ao redor. Ali curava o Pe. Manoel

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Vitorino de Oliveira, granjense e Vigário de Tamboril. Ali, junto à porta que


dava dos fundos da Capela para o terraço, cercado pela mureta, eu estava
recostado, antes da Novena de Nossa Senhora das Graças, quando recebi um
"cocorote" vindo dos dedos daquele Padre, que sorridente, encarou-me dizendo:
- "vamos rezar?". Àquele tempo já o jovem cura cuidava da construção da
atual Matriz, numa distância de uns cem ou mais metros da Capela. Após as
Novenas, rumavam rapazes e moças, meninos e meninas, para a avenida feita
com varas de marmeleiro descascadas, ligadas por cordas umas às outras. Ali
eram os cochichos dos namorados, a vozeria da meninada, a voz estentória do
gritador do leilão, e por fim os "camelôs"anunciando as gulodices, como pirolitos,
bombons, broas e tijolinhos, tudo isto produzido pelas pobres mães, num esforço
heróico para ajudar no sustento da família. Um dos "slogans": - olha o pirolito
americano, quem dele não comer não se casa este ano". Ou então, outro assim:
- "Olha o pirolito brasileiro, quem dele não comer terá de ficar solteiro". (sic)".
Somente pela Portaria de Dom José Tupinambá da Frota, Bispo de Sobral,
datada de 15.08.1937, foi criada a paróquia que já tinha a invocação de Nossa
Senhora das Graças, sendo seu primeiro vigário o Pe. Francisco Ferreira de
Morais, empossado no dia 09.0l.l938(sic)."
Em vista dos quase inexistentes meios de comunicação, o rápido surto
de progresso de Nova Russas, é explicado pela inauguração ali da estação
ferroviária da Rede de Viação Cearense (Estrada de Ferro de Sobral), no dia
03. l l .191 O, fato que muito contribuiu para criação do município pela Lei nº
2.043, de 11.11.1922, com território desmembrado dos municípios de Ipueiras e
Tamboril.
Sobre a organização política e administrativa de Nova Russas, vamos
oferecer ao leitor o trabalho inédito que nos foi ofertado por seu autor, José
Nilton Aragào e Melo: "PREFEITOS E INTERVENTORES DE NOVA
RUSSAS - A Constituição do Império, promulgada a 24 de março de 1824 por
D. Pedro 1, não mencionou em seu texto o chefe do Executivo Municipal. Em
face desta falha constituicional, a Monarquia Brasileira só reconheceu a Câmara
Municipal, que governava a comuna, atráves do Presidente acumulando as
funções Legislativa e Executiva. Esse regime perdurou no Brasil até 15 de
novembro de 1889, quando se proclamou a República e foi promulgada a
Constituição Federal de 24 de fevereiro de 1891, que traçou as normas
orientadoras do novo regime. O Estatuto Político Cearense, promulgado em 12
de julho de 1892 no seu artigo 95, criou o cargo de JNTENDENTE na sede dos
municípios e de tantos SUB-INTENDENTES quantos fossem os distritos
constituidos. Esse Intendente, que a princípio era eleito por um ano pela Câmara,

179
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉOIO ACARAÚ
.
tornou-se depois de livre nomeação do Governo do Estado, pela Lei nº 764, de
12.08.1904. O Intendente permaneceu com esse nome até 1914, quando por
força da Lei nº 1190, de 05 de agosto deste ano, passou a chamar-se PREFEITO,
continuando a ser nomeado pelo Governo do Estado, até 1926. Nesse período
houve a emancipação política de Nova Russas, pela Lei nº 2.043 de 11 de
novembro de 1922. Os partidos políticos da época eram dois: Partido Conservador
e Partido Democrata, que logo foram sendo formados no novo município. O
Partido Conservador liderado pelo Coronel Antonio Rodrigues Veras e o Partido
Democrata pelo Senhor Gregório Martins, que há muito tempo militava na
política, tendo sido eleito Vereador por lpueiras, várias vezes, e também assumiu
a Prefeitura daquele município nos anos de 1921 e 1922. O Governador do
Estado, Dr, Justiniano de Serpa, que sancionou a Lei de criação do município,
também nomeou o seu primeiro Prefeito o Sr. Antonio Rodrigues Veras ( 1 ')
Prefeito) a 28 de janeiro de 1923. Em 1924, era então Governador do Ceará o
Dr. José Moreira da Rocha, que por divergências políticas se atritou com Antonio
Rodrigues e, esse pediu a demissão do cargo de prefeito. O desembargador
Moreira, como era conhecido, nomeou o Sr. Gregório Euclides Martins (2°
Prefeito), que ficou na chefia do município até o dia 1 ° de dezembro de 1926. A
Constituição Cearense de 1925,. democrática por excelência no artigo nº 89,,
tornou obrigatória a eleição de Prefeito interiorano com um mandato bienal, por
sufrágio direto. Tal dispositivo não era auto-executável. Precisava de diploma
legal que o disciplinasse. Daí a publicação ~ Lei Eleitoral nº 2367 de 31 de
julho de 1926, sob cujas diretrizes se realizou, em 15 de novembro desse ano, a
primeira eleição cearense para Prefeito. Foi nesta data, isto é, em 15 de novembro
de 1926, que ocorreu a primeira eleição municipal para prefeito e vereadores em
Nova Russas, foi eleito o Sr. ARTUR PEREIRA DE SOUSA (3° Prefeito), que
tomou posse no dia 1 º de dezembro de 1926, para um mandato de dois anos.
No dia 15 de novembro de 1928, realizou-se em Nova Russas a segunda eleição
municipal, correspondente ao biênio de I 929 a 1930. Saiu vitorioso nas urnas o
sr. Helvérsio Rodrigues Moura, que por motivos pessoais não tomou posse.
Sendo substituido legalmente pelo Presidente da Câmara SR. GONÇALO DE
AQUINOMOURÃO(4ºPrefeito),de lºdedezembrode 1928a 1° dedezembro
de 1929, isto é, no primeiro período Legislativo. E no segundo período, assumiu
o SR. ANTONIO JOAQUIM DE SOUSA (5º Prefeito), no dia lº de dezembro
de 1929, também por ter sido eleito Presidente da Câmara nesta mesma data, e
governou o município até o dia 16 de outubro de 1930, data em que foi afastado
pelo movimento revolucionário de 1930. Antes do término do mandato das
autoridades municipais eleitas e empossadas, irrompeu, no Brasil a 03 de outubro
de 1930, a revolução chefiada pelo Dr. Getúlio Vargas, candidato a Presidente

180
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

que havia sido derrotado nas urnas por Júlio Prestes. Vitoriosa a revolução,
Getúlio Vargas assumiu, como Ditador a chefia Suprema da Nação a 24 de
outubro de 1930. Vargas, demitiu todos os governantes dos Estados e fechou o
Congresso Nacional, baixou um decreto dissolvendo os partidos políticos e
somente em 1934, fez uma abertura política, para a crição de novos partidos.
Foi nesta época que foi implantado no Brasil o sistema multi partidarista. Muitas
siglas surgiram no Brasil, no Ceará, estas assim denominadas: UDN-União
Democrática Nacional, PSD - Partido Social Democrático, LEC-Liga Eleitoral
Católica, PSP- Partido Social Popular, PRP- Partido de Representação Popular
e PCB- Partido Comunista do Brasil, todos com representação nacional. Foi
nomeado Interventor do Ceará, o Dr. Manoel do Nascimento Fernandes Távora,
que baixou o Decreto nº 06, de 16 de outubro de 1930, dissolvendo as Câmaras
Municipais, destituindo os Prefeitos eleitos no regime decaido, e nomeando em
substituição a estes, pessoas de sua confiança. Essa fase discrionária perdurou
no Brasil até 16 de julho de 1934, data da promulgação da Constituição Federal,
restauradora da democracia. O Prefeito Antonio Joaquim de Sousa, foi afastado
do cargo, e foi nomeado como Interventor o SR. LEONARDO BEZERRA
DE ARAÚJO ( l O Interventor- 6° Prefeito ). No dia 20 de maio de 193 l o Dr.
Fernandes Távora, num gesto humilhante e degradante ao povo de Nova Russas,
baixou o Decreto de nº 193, afastando o Sr. Leonardo Araújo da função de
Interventor e, extingiu o município que foi reduzido a simples Distrito e anexado
ao de lpueiras, a quem pertencíamos anteriormente. No dia 22 de agosto de
193 l, foi nomeado Interventor do Ceará o Capitão Roberto Carneiro de
Mendonça, que no ano de 1933, visita a Zona Norte do Estado, pela Estrada de
Ferro. Passando em Nova Russas, achou o lugarejo simpático e progresista, e
num gesto de reconhecimento, através do Decreto nº 1156, de 04 de dezembro
de 1933, restaura o município e nomeia como Interventor o SR. r.tits
CARVALHO ( 2° Interventor- 7° Prefeito ). De acordo com as normas
orientadoras da Constituição de 1934, instalou-se a Assembléia Legislativa do
Ceará, que a 11 de maio de 1935, elegeu o Dr. Francisco de Menezes Primental
e aprovou a Carta Política do Estado em 24 de setembro do mesmo ano. Uma
vez empossado, o Dr. Menezes Pimentel, demitiu todos os Prefeitos do interior,
sem distinção de cor política, o Sr. Luis Carvalho foi afastado do cargo de
Prefeito, e foi nomeado o SR. HERMINIO FRANCISCO DE PAULA ( 3°
Interventor - 8° Prefeito ). A 29 de março de 1936, houve eleição no Estado do
Ceará, para Prefeitos e Vereadores para um quadriênio. Foi eleito em Nova
Russas o SR. ARTUR PEREIRA DE SOUSA ( 9° Prefeito), que tomou posse
no dia 16 de junho do mesmo ano. A coisa política corria, assim, com aparência
de normalidade.Eis senão quando o Presidente Vargas, em 10 de novembro de

181
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

1937, dá o golpe de Estado, transformando-se outra vez, em Ditador. O Dr.


Menezes Pimental, por lhe merecer confiança, continuou à frente do Governo
do Estado do Ceará, na condição de Interventor. Sem perda de tempo, por ato
de 29 de novembro de 1937, demitiu os Prefeitos adversários, conservando nos
cargos os correligionários. O Prefeito Artur Pereira, foi demitido do cargo, e foi
nomeado como Interventor de Nova Russas, o SR. ANTONIO RODRIGUES
DE CARVALHO ( 4° Interventor - 1 Oº Prefeito). Menezes Pimentel, continuou
dirigindo os destinos Ceará na qualidade de Interventer, de 11 de novembro de
1937, a 27 de outubro de 1945, data em que foi afastado do cargo pelo Chefe da
Nação, por motivo até hoje desconhecido no seio dos políticos e do povo. Durante
esse período, nomeou ainda como Interventores em Nova Russas os cidadãos
SR. ANTONIO CARVALHO ( 5º Interventor - 11º Prefeito), o SR. INÁCIO
DE MELO FALÇÃO ( 6º Interventor - 12º Prefeito), o SR. ARGEMIRO DE
CARVALHO ( 7° Interventor - 13º Prefeito), o SR. FRANCISCO FURTADO
LANDIM ( 8° Interventor- 14° Prefeito). Poucos dias após a saída de Menezes
Pimentel do cargo de Interventor do Ceará, foi Getúlio Vargas deposto do Poder.
Mudou-se por completo o cenário da política brasileira. Novos Presidentes,
novos Interventores e novos Prefeitos passaram a atuar nos diferentes cargos.
De três em três meses, surgia um Presidente, no Palácio das Águias, um
Interventor no Palácio da Luz e outros Prefeitos nas sedes dos municípios,
Parecia uma gozada comédia política, com aparecimento sucessivo de diferentes
figurantes no palco. Essa situação irregular e caótica continuou por quase um
biênio. Só desapareceu com o advento da Carta Magna de 18 de setembro de
1946, que colocou o país dentro da legalidade. Após a demissão de Menezes
Pimentel, foi nomeado Interventor do Ceará, pelo Presidente Gaspar Outra o
Dr. Beni de Carvalho (Benedito Augusto Carvalho dos Santos), que nomeou
como Interventor de Nova Russas o Sr. FERNANDO PEREIRA DE SOUSA
(9° Interventor - 15º Prefeito). Com a queda do Dr. Beni Carvalho, surgiram
vários Interventores no Ceará, com pequeno espaço de tempo à frente do
governo como: Tomás Pompeu Filho, Acrísio Moreira da Rocha, Pedro Firmeza,
Coronel José Machado Lopes, Desembargador Feliciano de Ataíde, este
nomeou o Capitão João Vieira de Sousa, Interventor de Nova Russas ( 1 Oº
Interventor - 16º Prefeito). Promulgada a Constituição Cearense de 23 de junho
de 1947, efetuaram-se eleições municipais de 07 de dezembro de 1947. Foi
eleito nesta data em Nova Russas o SR. FERNANDO PEREIRA DE SOUSA
(17º Prefeito), que assumiu no dia 06 de janeiro de 1948, acabando, assim, o
ciclo de Interventores em Nova Russas. No dia 07 de dezembro de 1950, novo
pleito eleitoral se realizou em Nova Russas, desta vez foi eleito o SR. JOSÉ
DE SOUSA ALVES (18º Prefeito) que assumiu no dia OI de fevereiro de

182
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

1951. José Chagas, como era conhecido, pleiteou a eleição através de uma .
coligação PSD e PTB, que desarticulou a oligarquia do Coronel Artur Pereira
que mandava e desmandava em Nova Russas há mais de vinte anos, da seguinte
forma: o Judiciário estava na vingaça, o Legislativo no direito da força e o
Executivo no papo-amarelo. Porém o Prefeito José Chagas, não concluiu o seu
mandato, que era de quatro anos. No ano de 1953 renunciou ao cargo que foi
substituido pelo Presidente da Câmara SR. FRANCISCO FURTADO LANDIM
(19° Prefeito). Na eleição de 03 de outubro de 1954, foi eleito o SR. ORIEL
MOTA (20° Prefeito) que assumiu no dia 25 de março de 1955. Oriel Mota, na
eleição de 1958, candidata-se a Deputado Estadual, sendo eleito pelo PTB, e,
recebeu expressiva votação do povo deste município. No dia 03 de março de
1959 se afasta do cargo de Prefeito, para tomar posse à cadeira da Assembléia
e assumiu a Prefeitura, o Presidente da Câmara SR. TEMÓTEO FERREIRA
CHAVES (21 ° Prefeito) que concluiu o restante do mandato e fez a transferência
do cargo ao prefeito eleito. Na eleição de 03 de outubro de 1958, foi criada em
todo o Brasil a figura do Vice-Prefeito, para substituir o titular em suas ausências
temporárias e assumir definitivamente na vacância do cargo por motivos diversos
como: renúncia, morte ou cassação. E era votada separadamente por sigla
partidária, sendo eleito aquele que obtivesse mais votos entre os concorrentes
ao cargo, não importando qual a sigla que dentro da mesma eleição viesse
eleger o Prefeito. Nesta eleição foi eleito a Prefeito o DR. JOSÉ ALMIR
FARIAS DE SOUSA (22º Prefeito) e Vice-Prefeito o SR. FRANCISCO
TORRES ARAGÃO, que tomaram posse no dia 25 de março de 1959. Neste
pleito houve um fato curioso, dígno de registro, o Sr. Francisco Torres Aragão
candidato eleito a vice-prefeito pelo PSP tirou mais votos que o candidato da
UDN eleito a prefeito Dr. Almir Farias. No pleito eleitoral de 03 de outubro de
1962 foram eleitos os Srs. OSÉAS CARLOS PINTO (23° Prefeito) e
ANTONIO ALVES DA COSTA, Prefeito e Vice-Prefeito respectivamente,
que tomaram posse no dia 25 de março de 1963. Nesta gestão Nova Russas
foi marcada pelo progresso com a implantação de obras de largo cunho social
como: a Energia Elétrica vinda da Cachoeira de Paulo Afonso, Sistema de
Abastecimento d' Água, implantação de uma central telefônica local, linha de
ônibus diariamente para Fortaleza, etc. Nesse mesmo período irrompeu no Brasil
a Revolução de 31 de março de 1964, que através de uma quartelada militar
afastou o Presidente João Goulart do cargo e assumiu a Chefia Suprema da
Nação o Marechal cearense Humberto de Alencar Castelo Branco. O nosso
governador de Estado era o Coronel Virgílio Távora, que havia sido eleito em
1962, pela coligação PSD e UDN denominada União pelo Ceará.Virgílio, por
ser militar e ter aderido ao movimento em tempo hábil, foi mantido no cargo

183
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

pelo governo revolucionário. Este poupou também muitos prefeitos em seus


cargos, entre eles o prefeito de Nova Russas, Oséas Pinto, que embora fosse
um homem de poucas letras, era um cidadão honesto e muito trabalhador. O
Presidente Castelo, dissolveu os partidos políticos, e em 1965, implantou no
Brasil o sistema bi-partidarista, e foi criado de um lado a ARENA (Aliança
Renovadora Nacional), que abrigava os políticos de tendência udenistta e
governista, que aderiram à Revolução por conveniência ou opressão, e do outro
lado o MDB (Movimento Democrático Brasileiro) formado pelas tendências
pessedistas e petebistas e os inconformados que formaram um bloco de oposição
ao governo ditatório, sustentando a bandeira da democracia, e a eles devemos
a volta desta Nação ao regime democrático. O Presidente Ditador, mudou a
data da eleição para 15 de novembro e passou a nomear os governadores de
Estado, Prefeitos das Capitais e das grandes cidades, além de caçar os mandatos
e direitos políticos de governadores de Estado, de Senadores, de Deputados
Federais e Estaduais, Prefeitos e até Vereadores. Em 15 de novembro de 1966,,
foram eleitos em Nova Russas os SRS.JOSÉ GONÇALVES ROSA (24º
Prefeito) a prefeito, e o SR. FRANCISCO ASSIS LOPES VICE-PREFEITO,.
que assumiram no dia 15 de março de 1967. A 15 de novembro de 1970, novo
pleito eleitoral realiza-se em todo o Brasil, desta vez para um mandato tampão,
isto é, de apenas dois anos, foi eleito prefeito de Nova Russas o SR. JOSÉ
SANTOS MOURÃO (25º Prefeito) e vice-prefeito o SR. JOSÉ MARTINS
DE MELO, que assumiram no dia 15 de março de 1971. Nesta administração
Nova Russas viveu um surto de progresso onde o Executivo se fez presente e
mostrou operosidade em todo o município. Na eleição de 15 de novembro de
1'972, foram eleitos os SRS. FRANCISCO DAS CHAGAS FARIAS DE SOUSA
(26º Prefeito) e ANTENOR GOMES DA SILVEIRA, Prefeito e Vice-prefeito
respectivamente que tomaram posse no dia 15 de março de 1973. Em 15 de
novembro de 1976, foi eleito pela segunda vez o Prefeito JOSÉ SANTOS
MOURÃO (27º Prefeito) acompanhado do vice-prefeito MANOEL ABDIAS
EVANGELISTA, que assumiram no dia 15 de marçode 1977. Estava prevista a
eleição de Prefeito para 15 de novembro de 1980, porém o Presidente João
Batista de Oliveira Figueiredo, numa atitude arbitrária e inconstitucional prorrogou
os mandatos dos prefeitos por mais dois anos. Somente em 15 de novembro de
1982 foi realizado novo pleito eleitoral, desta vez para um mandato de seis anos,
outro casuísmo da política brasileira. Foram eleitos a Prefeito de Nova Russas o
SR. MANUEL ABDIAS EVANGELISTA (28º Prefeito) e o SR. VICENTE
MOURÃO CARLOS a Vice-Prefeito, que tomaram posse no dia 31 de janeiro
de 1983. O Prefeito Manuel Evangelista se suicidou à 13 de junho de 1985, e o
Vice-Prefeito VICENTE MOURÃO (29º Prefeito) assumiu legalmente a chefia

184
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

do município no dia seguinte e concluiu o restante do mandato. Na eleição de 15


de Novembro de 1988 foram eleitos os SRS. FRANCISCO DAS CHAGAS
ROSA (30° Prefeito) e MANOEL DIOGO NETO, Prefeito e Vice-Prefeito
respectivamente, que tomaram posse no dia 1° de janeiro de 1989. O Dr. Chico
Rosa derrotou nesta eleição um esquema político que mandava em Nova Russas
desde 1958, já havia ganhado sete eleições subsequentes, 58, 62, 66, 70, 72, 76
e 82. E por último a 03 de outubro de 1992, foi eleito o DR. LUIS ACÁCIO
DE SOUSA (31º Prefeito) a prefeito, e FRANCISCO ADALBERTO TAVARES
a vice-prefeito, que tomaram posse no dia 1 º de janeiro de 1993. Esperamos
que eles direcionem esta administração dentro dos princípios do trabalho, da
justiça, do amor, da fé e da esperança, para dar ao povo de Nova Russas tudo
aquilo que ele espera de um governante. Ante a narrativa, observamos que
Nova Russas em seus 71 anos de emancipação já foi governada por 31 gestores,
dos quais 20 já dormem o sono fatal do esquecimento. Embora seja relativamente
nova, bastante prosperou neste lapso de tempo, não obstante a índole emigratrória
de sua gente, que cumpre assim a predestinação da raça. Este progresso material
resultou, em parte da iniciativa privada. O Poder Público, nesse particular, muito
produziu, mas não realizou tudo. E deixou de fazê-lo porque o impediu a
politicagem estéril e nefasta dos políticos corruptos que figuram no cenário político
brasileiro, sendo esta a cruel estranguladora das meritórias iniciativas e das nobres
intenções dos gestores eficientes. Mas estas atitudes não passam despercebidas
aos olhos do povo, despertando neles a energia cívica para novos combates em
prol do seu maior desenvolvimento, elegendo representantes capazes de
proporcionarem ao contexto político do município o progresso e a grandeza com
que o povo mais sonha (sic)". Como o leitor acaba de constatar, este meritório e
inédito trabalho da lavra de José Nilton Aragão e Melo, além de retratar com
fidelidade minuciosa e isenta a história política de Nova Russas, é acompanhado
de excelentes informações legais da política republicana brasileira.
Pelos apelidos de família dos prefeitos municipais de Nova Russas, desde
o seu início como município autônomo até ao 29° prefeito, quase todos têm
laços consangüíneos com a família Araújo, tronco dos Meios, Mourões, Bezerra,
Ferreira Chaves, Martins Chaves e outras.
Finalizando e repetindo que sempre buscamos o antanho, o primitivo
fundador da fazenda Curtume, primeiro topônimo de Nova Russas, na qual
cavou os primeiros alicerces e fincou as primeiras estacas, inclusive com a
instalação de indústria rudimentar de curtição de couros e peles, e que detém o
mérito histórico de fundador, é o portugues Capitão-mor Bernardino Gomes
Franco (o velho), que foi e.e. dona Francisca de Matos e Vasconcelos, filha do

185
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Capitão-mor José de Araújo Chaves (lº), das lpueiras, sesmeiro da Carta de


17.07.1722.

HIDROLÂNDIA

Sobre as origens da bela cidade de Hidrolândia, fomos encontrar menção


no paciente pesquisador L. Feitosa, ob. cit. fl. 257, que vem corroborar com
informações de Raimundo Raul Correia Lima, ob. cit. 54, de que o portugues
Silvestre Rodrigues Veras ( o velho), tinha morada na fazenda Batoque, Por razões
que desconhecemos, Raimundo Girão, ob. cit. fl. 91, diz que o topônimo original
de Hidrolândia era Cajazeiras, sendo povoado do município de Santa Quitéria,
criado pela Lei nº 2005, de 08.10.1882, sendo elevado à categoria de município
pelo Dec. Lei nº 3995, de 27.11.1957, "tomando a designação do rio que corta,
o Batoque, afluente do Macacos, este tributário do Acaraú (sic)".
Fazendo seu território parte do de Santa Quitéria, as informações de
Raimundo Girão, acima citadas, conflitam com as contidas na Enciclopédia dos
Mun. Brasileiros, Vol. XVI, ob. já referida, fl. 492, que dizem: "Pelo Ato provincial
de 18 de junho de 1882, criou-se, em Santa Quitéria, o distrito Policial. No
quadro da divisão administrativa do Brasil, relativa ao ano de 1911, o município
de Santa Quitéria compõe-se de um distrito único - o da sede. Pelo Decreto-Lei
nº 448, de 20 de dezembro de 1938, a sede municipal recebeu foros de cidade e
o município se dividia nos distritos de Santa Quitéria, Cajazeiras, Catunda (ex-
Madalena), Entre Rios e Trapiá, verificando-se que o distrito de Vidéu foi extinto
e seu território anexado ao de Catunda. Promovida a alteração toponimica
determinada pelo Decreto-Lei nº 1.114, de 30 de dezembro de 1943, os distritos
de Cajazeiras e Entre Rios, passaram a denominar-se, respectivamente, Batoque
e Macaraú (sic)". Conforme ainda Raimundo Girão, ob. cit. fl. 92, "quando
ainda com o nome de Cajazeiras, passou, em virtude do Ato de 23 de setembro
de 1903, a integrar o novo Município de Entre-Rios, criado pelo Decreto nº 52,
de 29 de agosto de 1890, o qual foi extinto pela Lei nº 1794, de 9 de abril de
1920, voltando o distrito ao seu estado primitivo, isto é, passando a pertencer
novamente ao município de Santa Quitéria (sic)".
Não sendo nosso propósito dirimir informes controvertidos, é
documentalmente comprovado que, sob a administração eclesiástica, grande
parte do território que forma o atual município de Hidrolândia fazia parte da
freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos, sendo todo o município banhado
por águas tributárias do rio Acaraú. Quando da criação da freguesia de Santa
Quitéria, o Pe. Francisco Gomes Parente, um dos pricipais idealizadores e seu

186
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

primeiro vigário colado, atritou-se com o poderoso vigário da freguesia de São


Gonçalo da Serra dos Cocos, Pe. Manuel Pacheco Pimentel, fato configurado
no livro Dicionário Biográfico de Sacerdotes Sobralenses, do Pe. F. Sadoc de
Araújo - fl. · 50, e também descrito na referida Enc. dos Municípios Brasileiros,
fl. 492, assim: "Os moradores da povoação de Santa Quitéria, então pertencente
à freguesia da vila de Sobral, requereram, em 1816, por seu procurador Manuel
do Vale Porto, a ereção da capela em matriz, alegando a distância de 18 a 20
léguas que separava a povoação da vila de Sobral, o que, no tempo das chuvas,
tornava-se ainda mais dificil com a travessia dos rios Jacurutu, Groairas e Acaraú.
Sabendo do requerimento, o Vigário da Freguesia de São Gonçalo da Serra dos
Cocos, Padre Manuel Pacheco Pimentel, representou que aqueles moradores
incluiram na divisão os seus fregueses dos riachos Macaco e Feitosa, roubando
assim a preciosa porção do povo que fazia a riqueza e lustre da sua freguesia. A
questão durou perto de sete anos, sendo decidida, finalmente, pelo Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil , que, em alvará datado de 22 de
março de 1823, erigiu em freguesia colada a capela de Santa Quitéria,
desmembrada da de Sobral, compreendendo três ribeiros: Groairas, Jacurutu e
Pires, da citada freguesia, bem assim os ribeiros Macacos e Subeba, pela parte
do norte, da de São Gonçalo da Serra dos Cocos, sendo seu primeiro Vigário o
Padre Francisco Gomes Parente (sic)". Conflita, ainda, com a informação de
Raimundo Girão a indicação cartográfica, que mostra não ser o riacho Batoque
afluente do rio Macacos.
Penduravam as informações iniciais de L. Feitosa e Raimundo Raul
Correia Lima, sem uma prova documental que as confirmasse, isto é, de que
teria sido o portugues Silvestre Rodrigues Veras (o velho), e.e. Cosma de Araújo
Chaves, o primeiro proprietário da fazenda Batoque. Resolvemos, então, seguir
as pegadas dos curas itinerantes da freguesia de São Gonçalo da Serra dos
Cocos, encontrando, para confirmação documental das duas informações acima
referidas, vários termos de batizados efetuados na fazenda Batoque, inclusive
o que aqui transcrevemos: "MARIANNO filho de Benedicta, escrava de Donna ·
Cosma do Prado Vasconcelos, moradora nesta freguesia, nasceo a vinte e sete
de abril de mil oito Centos e vinte e oito, e foi Solenemente Baptizado de minha
licença pelo Reverendo João Fernandes Vieira na Fazenda Batoque, em
desobriga de nove de agosto do mesmo anno, do que para Constar mandei
fazer o presente termo que aSigno. Manuel Pacheco Pimentel - Vig. da Serra
dos Cocos (sic)". Esclarecendo, devemos informar que a proprietária da fazenda
Batoque, dona Cosma do Prado Vasconcelos, é a filha caçula de Silvestre
Rodrigues Veras e de dona Cosma de Araújo Chaves, informação que nos
presta L.Feitosa, ob. cit. fl. 254. Por outro lado, tendo sido o inventário de
187
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 0O ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Silvestre Rodrigues Veras efetuado em 20 de março de 1799, em Vila Nova


d' EL Rei, coube o imóvel por herança à caçula Cosma do Prado Vasconcelos.
Portanto, não resta qualquer dúvida de que a fazenda Batoque, onde hoje está
localizada a cidade de Hidrolândia, foi primitivamente colonizada e povoada
pelo portugues Silvestre Rodrigues Veras (o velho), cuja remota colonização -
conforme a data do batizado -, teve concomitância com as demais fazendas
sertanejas da freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos.
Quantos aos seus topônimos, assim diz Raimundo Girão, ob. cit.fls. 91/
92: "Lexicamente, Batoque é rolha grossa com que se tapa o orifício da parte
superior da pipa ou tonel; ou, ainda, pequena peça de madeira ruliça, usada
pelos índios, como adorno, no lábio inferior. O topônimo atual,' de formação
erudita, foi adotado pela Lei nº 8296, de 25 de novembro de 1965, tendo como
objetivo lembrar a presença na região de águas medicinais magnesianas é
sulfurosas e objeto de grande afluência de pessoas interessadas na cura, por
meio delas, de doenças sérias. A mudança do topônimo fez-se com movimentada
solenidade na sede do Município, no dia 5 de dezembro do referido ano de 1965
(sic)".
Outros dados sobre o município e a cidade, são oferecidos pelo mesmo
~utor, ob. cit. fl. 91: "Dist1tos: o da sede e os de Betania, Conceição e Irajá.
Areado Município: 764 Km . Altitude da cidade 195m. Coordenadas geográficas
da cidade: Latitude 4° 24'29" S; Longitude 40º 24'8" W (sic)".
Seu atual prefeito é Valter Lima Marinho, que foi precedido por Antonio
Afrânio Martins Mesquita, que traz o apelido de família Martins e indica ser êle
consangüíneo da família Araújo.
Por fim, concluimos aqui estes pequenos informes sobre Hidrolândia.
Também repetimos não ser nosso propósito, em tão poucas linhas tratarmos da
história de qualquer elas cidades que estão no contexto territorial da remota
freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos. Como já foi repetidamente dito
no curso deste estudo, nosso objetivo maior é a busca do antanho e a
comprovação de que foram membros das famílias Araújo e Feitosa os
colonizadores do Alto ~ Médio Acaraú. Sobre as origens de Hidrolândia, é
historicamente correto apontar o portugues Silvestre Rodrigues Veras (o velho),
como sendo o primeiro colono branco a fundar alicerces e fincar estacas na
remota fazenda Batoque, onde hoje ergue-se a cidade de Hidrolândia, não
podendo ser atribuida a outrem a titularidade de seu fundador. Foi ele casado
com dona Cosma de Araújo Chaves, filha do Capitão-mor José de Araújo Chaves
( 1 º), das Ipueiras, e de dona Luzia de Matos Vasconcelos, sendo o velho Capitão-
mor participante da Carta de 17.07.1722.
188
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

TAMBORIL
Através da impressão da Expressão Gráfica e Editora Ltda., de Fortalez.a,
publicamos a história desta cidade. Como é natural ocorrer, neste trabalho
omitimos alguns dados, dentre eles urna mais detalhada informação sobre os
distritos do município, além do da sede, terna central do estudo histórico antes
referido. Aqui, vamos acrescer maiores dados sobre os distritos, tendo como
base informativa o historiador Raimundo Girão, no seu livro já antes mencionado
- OS MUNICÍPIOS CEARENSES E SEUS DISTRITOS - Imprensa Oficial do
Ceará- 1983 - Fortalez.a, fls. 247,259,270,286,332 e 371, respectivamente.
1. "BOA ESPERANÇA - Distrito do Município de Tamboril. Criado pela
Lei nº 7019, de 27 de dezembro de 1963, publicada no D.O. do Governo do
Estado em 31 do mesmo mês. Do Bispado de Crateús é forânea a capela local,
que tem como padroeira Nossa Senhora de Nazaré, Fundada por Carlos Menor
de Sousa (construida em 1943). A vila fica à margem do rio Feitosa, próximo
ao açude Morros. Foram seus fundadores Joaquim Felício de Oliveira e Carlos
Menor de Sousa, acima referido (sic)".
2. "CARVALHO - Distrito do Município de Tamboril. Criado pela Lei nº
7.014, de 26 de dezembro de 1963. Do Bispado de Crateús (sic)".
3. "CURATIS - Distrito do Município de Tamboril. Criado com o nome
de Lagoinha quando da restauração do município pelo Dec. nº 1156, de 4 de
dezembro de 1933. Passou a chamar-se Pajeú, por força do Dec. Lei nº 448, de
20 de dezembro de 1938. O Dec. Lei nº 1114, de 30 de dezembro de 1943,
mudou o nome de Pajeú para o atual. Francisco Cândido é considerado o
fundador da vila, que fica à margem do rio Acaraú. O topônimo relembra o
grupo de índios, assim conhecidos, habitantes da região. Os Curatís ou Curatizes
"são indígenas a respeito dos quais sabemos simplesmente que eram inimigos
dos Baiacús, ao tempo em que Morais Navarra andava som o seu terço em
expedição de guerra pelo Nordeste. Na carta endereçada a El-Rei pelo paulista,
em 1 O de março de 1. 700, consta serem os Curatís do número de tribos contra
os quais mandava uma bandeira por se não quererem sujeitar a confessar
obediência a Sua Majestade" (Carlos Studart Filho. Os Aborígenes Cearenses,
Fortalez.a, Editora Instituto do Ceará 1965 p. 133). O padroeiro local é Bom
Jesús Dos Passos e a respectiva capela pertence ao Bispado de Crateús (sic)".
O historiador incorre, nestas informações, em dois enganos. O primeiro, é que
o primitivo colono do imóvel Lagoinha foi Eufrásio Alves Feitosa, fato que
comprovamos quando analizamos este imóvel no capítulo LADO SUL DO

189
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

RIO ACARAÚ, neste estudo. O segundo, é que a atual vila fica localizada às
margens do riacho Pajeú, tributário do Poti.
4. "HOLANDA - Distrito do Município de Tamboril. Denominava-se
Timbauba e assim figurava no Dec. nº 1158, de 4 de dezembro de 1933, alterado
para o atual pelo Dec. Lei nº 448, de 20 de dezembro de 1938, em homenagem
à família desse nome, que ali tem o seu principal núcleo. Do Bispado de Crateús
é a capela local, sob a invocação de São João Batista, tendo sido construida em
1901 por monsenhor Holanda, vigário da Paróquia. O topônimo foi adotado em
sua homenagem. Domingos Pompeu e Manuel foram os iniciadores do núcleo
de que resultou a atual vila (sic)".
5. "OLIVEIRA - Distrito do Município de Tamboril. Criado pela Lei nº
4197, de 6 de setembro de 1958. Anteriomente, chamou-se Rodilho. A vila está
à margem esquerda do riacho da Onça, um dos formadores do rio Jatobá,
tributário do rio Poti. Pertence ao Bispado de Crateús a capela local, cujo orago
é São Francisco Xavier e foi fundada por Sebastião Vida! de Araújo, em 1922,
dando-se a respectiva bênção em 1923, quando a vila tomou o nome atual, dado
em homenagem ao vigário Pe. Oliveira (Manoel Vitorino de Oliveira). As terras
em que se encontra dita capela, foram doadas por Francisco Adelino de Melo
e Deolina Ferreira Viana (sic)".
6. "SUCESSO - Distrito do Município de Tamboril. Criado com o nome
de Pinheiro quando da restauração do Município pelo Dec. nº 1.156, de 4 de
dezembro de 1933. Passou a chamar-se Sucesso pelo Dec. Lei nº 1.114, de 30
de dezembro de 1943, nome inspirado no da padroeira local - Nossa Senhora do
Bom Sucesso, cuja capela foi construida em 1918. Do Bispado de Crateús. A
vila é servida pela Estrada de Ferro de Sobral (RFFSA), cuja estação foi
inaugurada em 1° de janeiro de 1912. Pela Lei nº 6.379, de 3 de julho de 1963,
foi este distrito elevado à categoria de Município, porém não pôde ser instalado
por força da Lei nº 8.339, de 14 de dezembro de 1965, que a anulou. São
considerados fundadores da vila Ciro Otávio de Sousa, João José de Castro e
Conrado Conegundes Mota. Ela está situada à margem direita do rio Pinheiro,
nas proximidades da lagoa Areia (sic)". ··
Outro lapso que pretendemos corrigir, diz respeito à omissão do hino de
Tamboril, de autoria do Pe. José Helenio Oliveira Pereira, que tem as seguintes
estrofes:

190
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES OO ALTO E M ÉDIO ACARAÚ

É Tamboril, é Tamboril
Terra bendita
Neste chão (bis)
Do meu Brasil

I III
Quero cantar Do rio as águas
Minha terra tão querida, Descem a Serra das Matas
Onde vi a luz da vida Nas encostas as cascatas
Onde hei de descansar; Têm encanto sem igual.
E seu passado Do Pedra e Cal
Que tem momentos de glória A barragem é uma beleza
Que engrandecem sua História Enfeitando a natureza
Alegre quero exaltar De minha terra natal
II N
Vejo de longe o esbelto Feiticeiro O Acaraú
Majestoso e prazenteiro Prossegue sua caminhada
Apontando o ceu de anil E com a Grota da Mijada
Tem ao seu lado Forma o açude do Carão
O belo Bico d'Arara Bela visão
Tamanha beleza rara Que grande fertilidade
A gente vê em Tamboril. Se espalha por toda parte
Dando vida ao meu sertão.
V VI
Pelas campinas Nossas crianças
Ouço o aboio do vaqueiro Desta terra são as flores
Destemido qual guerreiro Que amenizam nossas dores
Segue de perto a boiada. E alegram nosso viver
E o agricultor São nossa força

191
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

Espaço vai conquistando No labor de cada dia


O Brasil alimentando Da vitória a garantia
Na força de sua enxada. Nas batalhas por vencer.
Àqueles que não tiveram a oportunida de ler a obra HISTÓRIA DE
TAMBORIL, informamos que a primitiva fazenda Tamboril foi colonizada e
povoada pelo Capitão Luís Vieira de Sousa (2º), e.e. dona Ana Alves Feitosa,
sendo êle filho do Capitão Luis Vieira de Sousa ( l º) e de dona Joana PaulaVieira
Mimosa, e dona Ana Alves Feitosa, neta materna do Coronel Francisco Alves
Feitosa, tronco da família Feitosa no Ceará, ambos sesmeiros da Carta de
17.07.1722.
Finalmente, damos por concluido este estudo, restando-nos a satisfação
plena de tê-lo realizado usando o único instrumento credenciado no estudo da
História: a prova documental.

BIBLIOGRAFIA

OBRAS PRIMÁRIAS
- Arquivo da Secretaria da Diocese de Crateús - Livros de assentamentos da
freguesia de São Gonçalo da Serra dos Cocos - Gent. Pe. Helenio Pereira.
- Arquivo do Cartório do l º Oficio - Gent. Sra. Tabeliã Lucia Maria Araújo
Sales.
- Arquivo do Cartório do 2° Oficio - Gent. Ora. Tabeliã Maria do Socorro
Rangel Farias.
- Arquivo particular do autor - Templo Santa Ana - Algodões - Tamboril - Ce.

OBRAS EDITADAS
- ARAÚJO, Pe. F. Sadoc de - Dicionário Biográfico de Sarced~tes Sobralenses
- IOCE - Fortaleza - 1985.
ARAÚJO, Pe. F. Sadoc de - História Religiosa de Guaraciaba do Norte -
IOCE - Fortaleza - 1988.
- ARAÚJO, Pe. F. Sadoc de - Raízes Portuguesas do Vale do Acaraú -
Sobral - 1991.
- BEZERRA, Antonio - Notas de Viagem - IUC - Fortaleza - 1965.
- BARRETO, Carlos Xavier Paes - Os primitivos colonizadores Nordestinos

192
ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES DO ALTO E MÉDIO ACARAÚ

e seus descendentes - Editora Melso - Rio de Janeiro - 1960.


- CHANDLER, Billy Jaynes - Os Feitosas e os sertões dos Inhamuns -
Edição UFC - Civilização Brasileira - Rio de Janeiro - 1980.
- FARIAS, F. Araújo - História de Tamboril - Secretaria de Cultura e Desporto
do Ceará - Expressão Gráfica Ltda - Fortaleza - 1994.
- FEITOSA, Carlos - O Barão de Studart e as famílias Feitosa e Araújo -
Rev. do Inst. do Ceará - Fortaleza - 1957.
- FEITOSA, Leonardo - Tratado Genealógico da família Feitosa - IOCE -
1985.
- FILHO, Carlos Studart - Antonio de Sampaio - Edit. Henriqueta Galeno -
Fortaleza - 1973.
- FILHO, Noberto Ferreira - Crateús, Nova Russas e Tamboril - Fatos e
cousas do passado - Edigraff - Fortaleza - 1993.
- GIRÃO, Raimundo - Os municípios cearenses e seus distritos - IOCE -
1983.
- LIMA, Raimundo Raul Correia - Crateús - meus avós - IOCE - Fortaleza.
- MACEDO, Nertan - O bacamarte dos Mourões - Edt. Instituto do Ceará -
Fortaleza-1983.
- MACEDO, Nertan - O clã de Santa Quitéria - Editora Renes - RJ - 1980.
- MELLO, Maria Valdemira Coêlho - O Ipu em três épocas - Popular editora
Ltda. - Fortaleza- 1985.
- MELO, José Nilton Aragão e - História de Ipueiras - Estudo inédito - 1991.
- MELO, José Nilton Aragão e - Prefeitos e Interdentes de Nova Russas -
Estudo inédito - 1993.
- MOTA, Luiz Nogueira - História de Independência - Editei - Fortaleza -
1987.
- STUDART, Barão de -As memórias de Alexandre da Silva Mourão - Rev.
Trim. do Instituto do Ceará -Tomo XLI - 1927.
- TORRES, Ismar de Melo - Terra e gente do vale de Cratheús - Edição
particular.
- VERAS, José Gerardo Torres - O homem e a universalidade das
conveniências - Edigraff - Fortaleza - 1993.

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ARAÚJOS E FEITOSAS - COLONIZADORES 00 ALTO E MÉDIO ACARAÚ

• OBRAS PUBLICADAS DE RESPOSABILIDADE OFICIAL


- Enciclopédia dos Municípios Brasileiros - VoL XVI - Edição IBGE - RJ -
1959. -
- Sesmarias Cearenses - Distribuição geográfica - DIO - Fortaleza - 1971.

FONTES CARTOGRÁFICAS DE EDIÇÃO OFICIAL


- Mapa do Estado do Ceará - Edição TELECEARÁ.
- Mapa do Município de Tamboril - Ministério do Exército - Departamento do
Serviço Cartográfico - 1972.
- Mapa do Município de Tamboril - DAER - Fortaleza - 1972.

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