2008 Souza 2008 - Ss Na Educação - Irisls
2008 Souza 2008 - Ss Na Educação - Irisls
2008 Souza 2008 - Ss Na Educação - Irisls
Natal/RN
2008
IRIS DE LIMA SOUZA
Natal/RN
2008
S 729s Souza, Íris de lima.
Serviço social na educação: saberes e competências
necessárias no fazer profissional / Íris de lima Souza. Natal,
2008.
249f.
IRIS
Orientadora: DE LIMA
Betânia SOUZA
Leite Ramalho
CDU 36 (043)
SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO: SABERES E
COMPETÊNCIAS NECESSÁRIOS NO FAZER PROFISSIONAL
BANCA EXAMINADORA
Chegou o momento. Agradecer a todos e todas que contribuíram nessa caminhada reflexiva e
sistematizada do pensamento. Digo-lhes que deixei essa parte por último, mas em cada capítulo vinha
em mente as pessoas que colaboraram para que estes tomassem forma.
Para alguns, essa parte pode não ter nenhum significado; podem ser escritos recheados de bobagens.
Outros adoram ler os agradecimentos dos seus colegas. Conferir se fez parte dessa cena da sua vida.
Confesso que quando lia os agradecimentos dos meus colegas ficava me perguntando, o que lhe passava
pela cabeça quando iriam registrar seus agradecimentos? Hoje tenho mais clareza. É uma forma de
expressar, de deixar gravado, registrado, para todos tomarem conhecimento, quem foram os
personagens que fizeram parte de mais uma cena da sua história. No papel registra-se o que a mente e
o coração queria dizer pessoalmente, mas que, às vezes, não é verbalizado.
Mas o que importa na verdade? Continuar. Acreditar que “no final tudo dará certo” (claro que com a
força dos familiares e amigos). Pode não ser o esperado, mas o importante é que você continuou, não
deixando que as “pedras no meio do caminho” impedissem sua caminhada. Alguns arranhões podem
ficar, mas sem dúvida servirão para você sempre lembrar por tudo que passou e conseguiu vencer.
Acredito que esta é uma das poucas partes de uma tese em que o orientador não tece suas considerações
sobre, não opina diante do escrito. Claro. Esta é uma fase muito particular, subjetiva, cuja emoção
muitas vezes adormecida brota nesse momento. Afinal, é o momento de falar de pessoas – sujeitos
importantes no início, meio e fim da construção de um Trabalho Científico – que, de uma forma ou de
outra, direta e indiretamente, fizeram parte desse processo.
Agradeço...
- A minha mãe Inês e ao meu pai Benedito por dizerem, sempre que necessário, “calma, vai dar tudo
certo”. Incentivadores
Incentivadores da educação e do amor;
amor
- As minhas irmãs Ilka e Ilma por terem ficado com o meu Akira Vitor (filho), dias, noites,
madrugadas, e por estarem dispostas a ajudar de qualquer forma. Incentivadoras da seriedade e da
descontração;
descontração
- A minha sobrinha Gaby que auxiliou em algumas digitações, revisões, e no cuidado com Akira.
Incentivadora do perfeccionismo;
perfeccionismo
- Aos Professores Margot e Vicente Madeira por, mesmo distantes, acreditarem em mim e continuarem
me tratando da mesma forma mesmo quando passamos anos sem nos ver. Incentivadores da busca pelo
saber e aprender;
aprender
- A Letissandra e Milton,
Milton funcionários do Programa de Pós-Graduação em Educação/UFRN, pela
prestação de informações e pelo carinho com que sempre me trataram. Incentivadores da amizade;
amizade
- As amigas Adriana
Adriana Paula e Marinalda Queiroz,
Queiroz companheiras e verdadeiras amigas desde a
Graduação em Serviço Social. Incentivadoras da esperança e do sucesso;
sucesso
- A companheira e amiga da Pós, Cláudia Lima, Lima por contribuir nas trocas de conhecimento e
experiências. Incentivadora
Incentivadora das articulações sociais e profissionais;
profissionais
E não se recitam os que não foram aqui registrados. A conclusão de uma Tese não é apenas glória,
mas, sobretudo, cansaço. Então, a memória pode falhar. Sendo assim, especialmente para os que não
foram contemplados, mas sem dúvida estão na memória:
The Theory analyzes what should know and what competes, formally, to the
Professional of Social Service to act in the School Education. He/she investigates,
starting from studies on the theme, and close to Council Federal and Regional of Social
Service, and of the Brazilian Association of Studies and Researches in Social Service,
that you know and competences are necessary for the social worker performance in
that specific area. Through a research of nature empiric, bibliographical and
documental, the analysis focus outlines the glance and the understanding of the
professionals' category that represent the defense organs, fiscalization and formation
of the profession. The importance of the scientific study is justified for the social worker
necessary contribution acting in the School Education, whose political and pedagogic
context presents multiple demands, you know and relationships, and when it is lived a
social and education picture at the present time with order words in formation, as
inclusion, empowerment, competence, that they demand other specialists in the school
scenery to work with the varied expressions of the social subject. Since the years 1930
the social worker acts in the area of the Education, with an originating from knowledge
the human and social areas that you/he/she makes possible him/it to contribute,
undisciplinement, close to the pedagogic team of the School Education. The clarity of
the you know and of the necessary competences to intervene in that field of specific
work makes possible the legitimation of the identity, of the social worker
professionalization and the formalization of his/her practice. The Theory ends that the
profissionality and the social worker professionalism is built and it is recognized in the
area of the Education starting from the knowledge of the you know and pertinent
competences to intervene in that context, beginning that knowledge on the part of the
category of the Social Service and of the formation organs and representation of the
profession so that the school community - administration and pedagogic coordination,
teachers and students - he understands and recognize the social worker necessary
intervention in that field. The formalization of those you know and competences are
built starting from actions and thought mobilizations and operation in the group of the
category, and not for isolated actions and individualized. It is revealed, in the opinion of
the ones that represent Regional Council of Social Service, a wide vision of the social
worker in that space exercising, among other, functions that don't compete to the
professional's profile or restricted to actions and techniques historically exercised in
their work fields. A new profile of the professional of the Social Service that it acts in
the School Education is possible when his/her action is visualized centered not just in
the work with the family, but, doing of the school a proposition space and execution of
programs, projects, studies and social researches. He intends, an action politics and of
popularization on them know and the social worker competences in the School
Education.
INTRODUÇÃO 12
1 Construção do objeto de estudo 13
2 Contribuição do Serviço Social em um campo de trabalho 21
específico
3 Perfil social a e educativo do Assistente Social: pressupostos 26
teórico-metodológicos
4 Procedimento metodológico 34
5 Estrutura da tese 40
REFERÊNCIAS 233
Desde 1998 leio, releio, construo, reconstruo o meu olhar sobre a
temática do Serviço Social na Educação. Nessa trama de leituras,
releituras, o objeto
objeto de estudo vai ganhando forma e sendo
modificado de maneira a chegar o mais próximo possível do que
projetamos mentalmente. Assim como, as aproximações entre os
saberes da área da Educação e do Serviço Social vão se estreitando,
e as articulações (possíveis
(possíveis e necessárias) com profissionais,
pesquisadores, estudiosos vão construindo trilhas que se
entrecruzam ao longo desses anos. Ao introduzir mais um estudo
científico, sintetizo uma das minhas reflexões a partir do
pensamento de Freire: “... insisto na importância
importância fundamental da
apreensão crítica da ou das razões de ser dos fatos em que nos
envolvemos. Quanto melhor me ‘aproximo’ do objeto que procuro
conhecer, tanto mais eficazmente funciono como sujeito cognoscente
e melhor, por isso mesmo, me assumo como como tal.” (FREIRE, 2000).
INTRODUÇÃO
12
Na atualidade, o Programa de Pós-Graduação em Educação, da UFRN, não trabalha mais sob a ótica de Base de
Pesquisa, mas, de Núcleos com Linhas de Pesquisa específicas. No caso, apresenta-se hoje o Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Educação, Linguagem e Comunicação – NEPELC.
Adentrando neste mundo do saber iniciam-se, em 1998, os estudos referentes
ao Serviço Social na Educação. A pesquisa desenvolvida no Curso de Especialização
em Educação, na área de Gestão e Coordenação do Processo Pedagógico, foi o
primeiro passo. O objetivo desta consistiu em revelar a dimensão educativa que
caracteriza o saber e o fazer do Assistente Social. Uma pesquisa exploratória, de
natureza bibliográfica sobre a questão: haverá uma dimensão educativa a ser ocupada
pelo Assistente Social no espaço escolar? O estudo se propôs a identificar o espaço e
necessidades do trabalho do Assistente Social na escola.
Revelou-se com o estudo que o profissional de Serviço Social ao atuar na área
da Educação Escolar deve e pode ocupar um espaço na comunidade escolar mais
ampla. Assim, ele deve estar habilitado para desenvolver estratégias de atuação não
apenas a determinados perfis de educandos (carentes, desassistidos) e suas famílias,
mas, também, contribuindo com a formação social dos educadores, na elaboração e
operacionalização de ações conjuntas do Projeto Político-Pedagógico, decifrando a
realidade social onde a escola se insere, “[...] tendo em vista a adequação do projeto
educacional a essa realidade e participar de ações desencadeadas a partir da escola
ampliando os limites de sua ação à família e à comunidade.” (ARIAS; SILVA, 1998, p.
68).
Tratar da prática educativa do Assistente Social pressupõe a operacionalização
de metodologias e de conhecimentos específicos que propiciem a compreensão e
indagação do cenário real em seus vieses econômico, cultural e político. Além disso,
torna-se fundamental familiarizar-se com aspectos relacionados às percepções e
motivações da população ou público com o qual se irá trabalhar.
A dimensão educativa da sua prática caracteriza-se no espaço escolar não
apenas pela sua base epistemológica, mas, principalmente, pela possibilidade deste
profissional trabalhar as características individuais, articuladas no coletivo dos sujeitos
usuários dos Serviços Sociais. Assim como analisa Iamamoto (1999a): o Serviço
Social dispõe de uma dimensão prático-interventiva situada em um processo coletivo
de trabalho, partilhado com outras categorias de profissionais que, juntos, contribuem
na obtenção dos resultados ou produtos pretendidos.
Acredita-se que a inserção do Assistente Social no campo da Educação Escolar
possibilita-o ampliar seus referenciais teóricos e metodológicos, bem como implicá-lo,
qualificadamente, em mais uma frente de inserção profissional. Assim, o Serviço
Social e a Educação, juntos e formalmente constituídos como áreas de conhecimento
e campos de saberes, podem melhor enfrentar os históricos desafios em prol da
melhoria da qualidade de vida, da garantia dos direitos humanos, da valorização dos
sujeitos sociais como ser pensante, criativo, participativo, construtivo e transformador
do seu meio.
Diante de tais inferências, a pesquisa possibilitou um desdobramento.
Ingressando no Mestrado, objetivou-se identificar e caracterizar as demandas que
emergem no espaço escolar que revelam (ou não) a necessidade de atuação
profissional do Assistente Social. Para tanto, trabalhou-se com grupos da Gestão e da
Coordenação Pedagógica de seis escolas públicas municipais da cidade do Natal/RN.
O estudo dissertativo revelou, dentre outros resultados, que existe no âmbito da
Gestão e da Coordenação Pedagógica uma visão restrita do papel do Assistente
Social, centrada na percepção do profissional como aquele que intervém,
exclusivamente, nos “males sociais” que afetam a humanidade, nos “distúrbios
individuais e coletivos” que dificultam a vida e a ordem social. Em outros termos, a
pesquisa revelou que a ação do Assistente Social, ao atuar na escola, tem uma
natureza meramente preventivo/assistencialista, distanciada do projeto educativo
escolar mais amplo.
Sinaliza-se, ainda, que a rede de violência altera o universo do processo
educativo, assim como as problemáticas sociais geram inquietações no cotidiano
escolar.13 As escolas estão vulneráveis frente ao aumento de condutas antiéticas e
incivilizadas, bastante influenciadas pelas questões da sobrevivência, do desemprego
e, conseqüentemente, da precariedade de vida das famílias. Crianças e jovens
embarcando cedo nos vícios, nas redes de tráfico, no mundo do crime e no mercado
do sexo, gerando uma insustentabilidade nas escolas que compromete todos os seus
eixos de trabalho, de ação educativa, social e política.
O trabalho junto à família é pontuado, pela Gestão e Coordenação Pedagógica,
como o principal núcleo de atenção e ação do Assistente Social na escola. Existe
um jogo de culpabilização - a escola coloca as dificuldades de interlocução na família
13
As causas categorizadas como problemáticas sociais presentes nas escolas, são variadas e de grande
complexidade: falta de diálogo/comunicação entre escola e família – questiona-se a participação da família no
desenvolvimento do seu filho no espaço escolar, como responsável pelas atitudes construtivas ou não que este
venha a desempenhar; crianças que, ao sair da escola, têm a rua como referência de lar e de sobrevivência; crianças
que consomem drogas, muitas vezes oferecidas no próprio ambiente familiar; a sexualidade associada à
pornografia; gravidez precoce e exploração sexual; crianças com dificuldades cognitivas; crianças que participam
da escola apenas para receber uma determinada quantia de algum Programa Social do Governo; carência afetiva,
material e nutricional; professores que, por falta de especialistas em outras áreas, desempenham funções que
deveriam ser assistidas por outros profissionais.
e, por conseguinte, diz que a família a coloca como culpada pelo “fracasso escolar”
dos seus filhos. Por fim, a pesquisa mostra, dentre os desafios da Educação, o quão
é preocupante trabalhar o processo educativo de crianças, adolescentes (e famílias)
que sobrevivem com mínimas condições de sustentabilidade.
O quadro apresentado pela dissertação revela o elevado nível de complexidade
que emana do processo educativo levado à cabo pelas instituições escolares. Um
cenário de problemáticas sociais que, não resistindo a variadas obscuridades, em
grande medida surtam o projeto educativo e muitas das ações do conjunto da equipe
pedagógica e dos docentes.
Ao partir para a tese de doutorado, alguns argumentos construídos nos estudos
anteriores foram modificados diante das releituras e de novas leituras apreendidas nos
atuais referenciais teóricos e na produção científica da área, sendo reelaborado o
quadro de referência.14
Quando se afirma em pesquisa anterior que ainda é muito restrito o avanço de
referenciais e de publicações sobre o Serviço Social atuando na Educação, tal
afirmação precisa, hoje, ser melhor explicada: não existe uma carência de produções
teóricas sobre tal tema, o fato é que estas sistematizações estão, ainda, restritas ao
âmbito acadêmico, portanto, com dificuldade para chegar aos profissionais do Serviço
Social que atuam no campo escolar.
Na tese da Professora Doutora Ilda Lopes Witiuk, da PUC-SP, defendida em
2004, intitulada – a trajetória socio-histórica do Serviço Social no espaço da educação
escolarizada – ela constata, em investigação realizada com as quatro primeiras
escolas brasileiras de Serviço Social, um número de 223 Trabalhos de Conclusão de
Curso produzidos sobre o tema (a primeira monografia datada de 1944). Em seu
estudo, a professora identificou, ainda, uma produção significativa de 156 publicações
(dissertações, artigos em livros, periódicos, anais) referentes ao Serviço Social no
espaço da escola. (WITIUK, 2004, p. 148).15
14
Segundo Laville e Dionne (1999), o Quadro de Referência define-se
pelo o conjunto de conhecimentos e dos valores que influenciam nosso
modo de ver as coisas. (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 95).
15
Ao realizar essa trajetória, Witiuk (2004, p. 77) registra que essa discussão adquire densidade em âmbito
nacional no I Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado no Rio de Janeiro, em 1974, impetrado pelos
Assistentes Sociais do Estado de Alagoas. (WITIUK, 2004, p. 77). E, mais: “A regulamentação da profissão do
Orientador Educacional junto ao ensino de 1º grau, requisitou dos Assistentes Sociais que atuam nas escolas,
definição de atribuições dentro da equipe multiprofissional. O que gerou preocupação e mobilizou o grupo de
Assistentes Sociais de Alagoas que atuam na educação a apresentar o trabalho intitulado Análise Avaliativa da
Aplicabilidade do Serviço Social Escolar, no Iº Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais – CBAS, realizado no
Constata-se, também, que o número das produções vem aumentando, dado o
debate circunstanciado sob este tema em âmbito nacional, nos órgãos representativos
e formativos da profissão, bem como, o chamamento do Serviço Social por escolas
públicas, privadas e Universidades para firmar uma rede de comunicação e ação.
Esse dado é revelador de que o debate sobre a temática sempre foi maturado nas
redes de articulação processadas nos eventos científicos da profissão do Serviço
Social.
De maneira geral, o avanço do Serviço Social, como área de conhecimento
acadêmico-científico, vem crescendo, cuja pesquisa vem sendo a propulsora desse
avanço. A partir da década de 1980, o Serviço Social ampliou, qualitativamente, seu
espaço na sociedade, assim como, ganhou maior visibilidade dada as revisões
processadas nas legislações profissionais e do “[...] adensamento do mercado editorial
e da produção acadêmica.” (IAMAMOTO, 2005, p. 51). Denota-se, ainda, que
Rio de janeiro, no período de 12 a 17 de maio de 1974. Neste trabalho as Assistentes Sociais colocam para
discussão as atribuições que consideram pertinentes ao Serviço Social Escolar, ressaltando a importância dessa
discussão, tendo presente o problema evidenciado de ambigüidade de funções entre o Serviço Social e a Orientação
Educacional.” (WITIUK, 2004, p. 74, 75).
formado enquanto um “agente de mudança”: de mentes, de atitudes, de posturas
frente ao outro e ao meio social. Tratando sobre essa questão de agente de mudança
no pensar do outro, do despertar de uma consciência crítica, as reflexões de Freire se
fazem pertinentes ao dizer que,
16
Relato em Palestra proferida no I Encontro de Assistentes Sociais na área da Educação realizado pelo CRESS de
Belo Horizonte - 6ª Região -, em 28 de março de 2003 cujo objetivo, entre outros, foi iniciar o processo de
reconhecimento e o registro das práticas desenvolvidas pelos Assistentes Sociais na educação no Estado.
17
Entre outras, A educação na cidade (2006), Pedagogia do Oprimido (2005), Pedagogia da Esperança (2001).
Destaca-se, no I Encontro de Assistentes Sociais na área da Educação,
registros sobre o porquê da importância do Serviço Social na Educação e no espaço
escolar18, quais sejam:
dar suporte à equipe da escola;
ajudar no processo educativo como elemento de formação humana e política;
atender às necessidades essenciais que contribuem para a minimização da
evasão escolar;
trabalhar no espaço escolar como lugar de formação social e política;
envolver escola, família e comunidade;
capacitar a equipe escolar, desenvolvendo um trabalho articulado;
promover a interlocução com o sujeito sociocultural;
desenvolver trabalhos preventivos com as famílias;
trabalhar valores éticos com educandos e educadores;
trabalhar com a inclusão de alunos portadores de necessidades especiais;
atuar com o corpo pedagógico da escola, contribuindo na resolução de
alguns problemas sociais enfrentados pela escola e que de certa forma se refletem na
comunidade;
participar na elaboração do projeto político-pedagógico;
contribuir para garantir a universalização de direitos ao universo escolar
(direito a permanência, a inclusão escolar);
contribuir na formação de redes multiprofissionais.
Em julho de 2005 realizou-se mais um Encontro Estadual para tratar de tal
temática. Assistentes Sociais que atuam na área da Educação, no Estado do Rio de
Janeiro, expuseram e dialogaram sobre suas experiências de intervenção.
(ENCONTRO ESTADUAL DO SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO, 2005).
Nas mesas de discussão sistematizaram-se os seguintes diálogos:
O Serviço Social tem suas ações voltadas para o estudo e a permanência de
adolescentes na escola. Além de objetivar o fortalecimento dos direitos assegurados
no Estatuto da Criança e do Adolescente e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
18
Os registros descritos foram construídos pelos grupos de trabalho formados por Assistentes Sociais inseridos na
área da educação em atividades profissional, de ensino e de pesquisa. Ver : (ENCONTRO DE ASSISTENTES
SOCIAIS..., 2003).
O trabalho na escola é realizado com uma equipe multidisciplinar, ficando o
Serviço Social responsável por atuar no atendimento às famílias, realizando reuniões
para aproximação entre família e escola e para acompanhamento das crianças na
escola; buscando orientar a família sobre os instrumentos legais que garantem a
proteção à criança e ao adolescente, e a sua cidadania.
A ênfase nas atividades do Assistente Social é de maneira multiprofissional,
procurando promover a integração com organizações não-governamentais, instituições
públicas ou empresas. O Serviço Social tem tido um papel fundamental no processo
de elaboração, implementação, planejamento, execução e avaliação de projetos e
políticas públicas.
As demandas mais freqüentes que chegam ao Serviço Social são casos de
dificuldades de aprendizagem, agressividade, evasão escolar e maus-tratos. Casos
esses sempre atrelados a outras questões externas à escola.
O Serviço Social tem dentre os seus objetivos acompanhar crianças e
adolescentes em situação de risco social; planejar atividades culturais com crianças e
famílias; realizar visitas sociais a crianças e adolescentes, a fim de conhecer sua
realidade social e familiar, assistir e encaminhá-los adequadamente.
O Assistente Social atua como agente facilitador da compreensão de
fenômenos presentes em demandas emergentes.
Até o término desta tese se teve conhecimento, além destes Encontros
específicos à discussão do Serviço Social na Educação, da realização, em 2006, de
um Curso de Extensão promovido pela Faculdade de Serviço Social da UERJ e a
Comissão de Educação do CRESS-RJ.19 Esses Encontros evidenciam o que vem
sendo discutido sobre a temática e, de certa forma, reforça o porquê da contribuição
do Serviço Social na Educação.
Registra-se, ainda, a realização anual do Encontro Nacional CFESS/CRESS
(respectivamente, Conselho Federal de Serviço Social e Conselho Regional de
Serviço Social), o qual objetiva ser um espaço de articulação entre os Delegados
Representantes dos 24 CRESS, do CFESS, da ABEPSS (Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa em Serviço Social), da ENESSO (Executiva Nacional dos
19
Entretanto, é preciso registrar que outros eventos para discussão de tal temática podem ter sido realizados, mas,
não se teve conhecimento devido, nem todos os encontros, círculos de discussão terem uma ampla divulgação e
repercussão no interior da profissão.
Estudantes de Serviço Social) e de todos os Profissionais do Serviço Social que se
interessem pela discussão da sua base teórico-metodológica e epistemológica.
Trata-se de um Evento20 que busca fortalecer a articulação entre as entidades
da categoria do Serviço Social, estreitando os laços que congregam a dimensão do
exercício com a formação profissional dos Assistentes Sociais, sobretudo, quando
estes se inserem em um cenário social, político, econômico e cultural desafiador, haja
vista que, no atual governo Lula,
20
No capítulo IV registram-se as deliberações desse Encontro Nacional em torno dos sete eixos de ação que são
base para o desenvolvimento do Projeto Ético-Político da Profissão do Serviço Social, a serem realizadas por cada
Conselho em suas respectivas regiões.
se para um novo perfil social e educativo desse profissional na Educação, dada a sua
intervenção em um contexto institucional que, além da função de educar tem a de
socializar o indivíduo.
Como bem retrata Libâneo (2001), ao debater a qualidade social do ensino, a
escola assume esta característica quando promove aos sujeitos conhecimentos e o
“desenvolvimento de capacidades cognitivas, operativas, sociais”, humanas e políticas
para que este possa se inserir no mundo do trabalho, construir sua cidadania e estar
preparado para atuar no mundo tecnológico, comunicacional pleno de conflitos e
desafios. (LIBÂNEO, 2001, p. 54, 55).
A instituição escola, como espaço de apreensão de uma educação formal,
demarca um sinal estratégico de reprodução da ideologia dominante, incorporando,
por outro lado, elementos questionadores da própria realidade social, sendo também,
ambiente de articulação e de relação coletiva entre os sujeitos que assimilam traços
da sua história e cultura criando caminhos para a reconfiguração da sua prática social
e política.
O trabalho do Assistente Social, insurgindo no cenário social na década de 30
do século passado, incorpora em suas ações um cunho reprodutor dos valores
capitalistas. Este profissional trabalha no sanar das expressões da questão social
mediatizando suas ações entre as necessidades das classes subalternizadas pelo
capital e os interesses do domínio burguês-capitalista.
Também a escola imbrica-se em uma sociedade de poder de uma maioria sob
uma minoria. O Assistente Social, como profissional inserido na divisão social e
técnica do trabalho coletivo da sociedade está mergulhado nas contradições acirradas
entre os blocos sociais em uma posição de produtor de serviços ao atendimento de
necessidades. (IAMAMOTO, 2005, p. 22). Sendo assim, trabalha com questões
políticas, sociais, culturais que perpassam todo o universo das instituições de
formação, reprodução e desenvolvimento humano.
O termo social, como categoria que qualifica formas de sociabilidade presentes
no mundo natural, reflete-se no universo do Assistente Social por este ter como ponto
de ação, relações com e entre sujeitos de diferentes classes, cultura, história grupal e
individual, movimentos sociais e políticos, formas de ver, compreender e participar.
O termo Serviço Social pode se apresentar como profissão a serviço da
sociedade, intervindo na e por uma sociedade marcada pela luta de classes, cujo pólo
de sujeitos à margem do desenvolvimento econômico é o foco de sua atenção. Nesse
sentido, ganha expressão e reflete-se o papel social diferenciador a ser assumido pelo
Assistente Social em seus espaços de trabalho, especificamente, na Educação
Escolar.
Trabalhando com individualidades, mas, sempre, articuladas ao coletivo, dado
que o sujeito não é um ser isolado, o Assistente Social desempenha um papel de
mediador entre os direitos dos cidadãos e as regras estatais, possuindo um conteúdo
social que percebe o sujeito inserido em um sistema que lhe (re) constrói e o
transforma em ser social (revelando-se na relação com o outro em busca da
igualdade), político (emancipado e participativo) e cultural (imbuído de valores, regras,
normas morais e éticas).
O seu cariz social é perceptível quando se julga que, dentre as estratégias para
se enfrentar a questão social, o Assistente Social assume um papel político de “[...]
estimular inserções sociais que contenham potencialidades de democratizar a vida em
sociedade, conclamando e viabilizando a ingerência de segmentos organizados da
sociedade civil na coisa pública.” (IAMAMOTO, 2001, p. 23). Enfim,
21
Para Marpeau (2002), uma equipe é “constituída do conjunto de profissionais que participam de uma ação
educativa institucionalizada. O trabalho em equipe supõe a aceitação, por todos os membros, de um
questionamento que permita abordar a problemática de todas as pessoas acompanhadas e interrogar as práticas para
avaliar a pertinência dos projetos, estratégias, atitudes e recursos utilizados”. (MARPEAU, 2002, p. 163).
engendradas com os grupos sociais, nas relações gerais e particulares vivenciadas. O
seu perfil educativo revela-se quando o seu olhar adentra os muros da escola e
transforma a linguagem em seu estratagema para operar nos modos particulares de
vida dos sujeitos; age a partir de princípios educativos que buscam “aprofundar e
ampliar a ‘intelectualidade’ de cada indivíduo.” (GRAMSCI, 2004, p. 19). A
intelectualidade compreendida como possibilidade do indivíduo desenvolver-se e
intervir nos campos social, político, econômico, cultural tendo a clareza da sua
condição de sujeito partícipe da construção e reestruturação da história.
É cabível refletir, referindo-se ao termo educativo que este é utilizado junto a
numerosos outros termos: ato, ação, dispositivo, relação, intervenção, os quais muitas
vezes são passíveis de serem confundidos ou utilizados de maneira inadequada. A
referência do perfil educativo comunicada nesse estudo parte do pressuposto de que o
Assistente Social assume uma ação educativa ao intercambiar seus saberes e
competências na relação com o outro, seja aluno/família, professor ou gestão e
coordenação pedagógica.
Dessa forma, partindo da idéia de educativo como ação conjetura-se que este é
um ato que envolve duração, tendo uma intenção e buscando uma continuidade.
Trata-se de um conjunto de gestos, atitudes, relações, tarefas, métodos coordenados
em uma estratégia, a fim de alcançar objetivos de elaboração de capacidades pela
própria pessoa. (MARPEAU, 2002, p. 162). Pode-se dizer, assim, que uma ação
educativa leva o sujeito que se interage a pensar sobre si em seu processo de vida.
Sob essa ótica, a ação educativa do Assistente Social na escola não se verte
na idéia de que esta se mobiliza para agir de forma pontual, beneficente, simples
mediadora de conflitos, interventor em todas as atividades institucionais, multiplicador
da dependência ao assistencial. A ação educativa implica que, na relação humana, a
identidade do sujeito entra em mutação ao se construir ou desconstruir no intercâmbio
de experiências e saberes. Transformações estas que não ocorrem como um passo
de mágica, mas, em um processo lento, sistemático e objetivado.
Nesse sentido, esse estudo identifica-se com Abreu (2004), ao discutir a
dimensão educativa do Serviço Social em seu desenvolvimento no sistema capitalista,
ao compreender que o Serviço Social encontra-se no campo das atividades que
mobilizam os processos políticos de formação da cultura humana. Sendo assim, um
elemento importante nas relações de sociabilidade, culturalmente reestruturadas em
uma hegemonia dominante, o Serviço Social é uma
[...] profissão de cunho educativo, inscrita, predominantemente, nos
processos de organização/reorganização/afirmação da cultura
dominante – subalternizante e mistificadora das relações sociais –
contribuindo para o estabelecimento de mediações entre o padrão de
satisfação das necessidades sociais, definido a partir dos interesses do
capital, e o controle social sobre a classe trabalhadora. Todavia, cabe
ressaltar que, nas três últimas décadas, em contraposição a essa
tendência dominante registra-se, no âmbito do amplo movimento de
reconceituação do Serviço Social na sociedade brasileira, o avanço do
processo de vinculação do projeto profissional que se consolida, nos
anos 1980, às lutas sociais da classe trabalhadora e de outros
segmentos sociais[....]. (ABREU, 2004, p. 44).
22
“A pedagogia da ‘participação’ desenvolve-se e consolida-se na prática do assistente social a partir,
fundamentalmente, das propostas de Desenvolvimento de Comunidade (DC), sob a influência da ideologia
desenvolvimentista modernizadora. Essas propostas são introduzidas e difundidas no continente latino-americano
nos marcos das estratégias expansionistas do capitalismo monopolista, sob a hegemonia do imperialismo
econômico dos Estados Unidos, contando com o adesismo e submissão de governos e lideranças nacionais nos
diferentes países.”(ABREU, 2002, p. 105).
agora, diante da situação de pauperismo e da ameaça do comunismo se instaurar, é
integrar a população nos programas de governos como possibilidade de “integração” e
“promoção social”. Na verdade, é esta uma estratégia para acalmar qualquer forma de
expressão, mobilização e revolução de massa, assim como, é um elemento
estratégico na luta pela hegemonia.
No entanto, a questão da participação, como estratégia pedagógica na
organização da cultura, repercute de forma significativa na profissão, “[...] na medida
em que responde a demandas profissionais em torno de um de seus objetivos
históricos, que é o de contribuir na geração do ‘bem-estar’ coletivo e na superação do
atraso[...]” (CASTRO apud ABREU, 2004, p. 54).
Com o processo de redefinição do projeto societário do Serviço Social, nos
marcos do chamado Movimento de Reconceituação23, a partir dos anos 1960, a ação
educativa do Assistente Social começa a assumir um caráter de emancipação das
classes subalternas - as estratégias Pedagógicas anteriormente adotadas, de “ajuda”
e “participação”, com um teor de benevolência e persuasão, ganha agora um caráter
contestador da ordem vigente, cuja intervenção profissional irá pautar-se numa ação
educativa de
23
O Movimento de Reconceituação trata-se do início de um processo questionador da profissão do Serviço Social,
onde se busca romper com os ideais conservadores da prática profissional. Para Iamamoto (1994), “A ruptura com
a herança conservadora se expressa como uma procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação
profissional do Assistente Social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício
profissional, busca colocar-se, objetivamente, a serviço dos interesses dos usuários, isto é, dos setores dominados
da sociedade. Não se reduz a um movimento ‘interno’ da profissão. Faz parte de um movimento social mais geral
[...]” (IAMAMOTO, 1994, p. 36, 37).
posteriormente, agindo de forma mais crítica e emancipatória - fica claro que o
Assistente Social não apenas constrói sua prática de acordo com as reestruturações
societárias e das organizações culturais, mas, redireciona o próprio pensar da
sociedade. (IAMAMOTO, 1994, p. 20-39). A profissão não apenas atua a partir da e na
realidade social, mas, é partícipe ativo das reconfigurações processadas na história,
particularmente, na biografia dos movimentos sociais.
Quer seja o espaço do exercício de sua prática, em seus diferentes processos
de trabalho, o Assistente Social deve ter a perceptibilidade do seu papel como
redirecionador de idéias, atitudes, ações dentro de uma cultura dominantemente
contraditória. As suas áreas de atuação vêm sendo consolidadas dentro de uma
dinâmica contraditória de lutas sociais e de correlação de forças. Tomando como
exemplo a Educação, como espaço estratégico de atuação do Estado, é pertinente
sinalizar que nesta a
3 Procedimento metodológico
Objeto de Estudo
SERVIÇO SOCIAL NA
EDUCAÇÃO
Níveis da Pós-Graduação
ESPECIALIZAÇÃO
2001
DOUTORADO
2007
4 Estrutura da tese
34
De acordo com o Dicionário Aurélio, o pragmatismo refere-se à Doutrina segundo a qual as idéias são
instrumentos de ação que só valem se produzem efeitos práticos. (PRAGMATISMO, 2001, p. 550). No
Serviço Social esse pragmatismo ocorre quando algumas pesquisas buscam avaliar os modelos e/ou
procedimentos técnico-operativos, objetivando subsidiar a prática profissional. Na verdade, a investigação
social é instrumento de contribuição para a transformação social, mas não quer dizer que esta
transformação tenha que se realizar. (KAMEYAMA, 1998).
35
Na coleta de opiniões/informações junto aos CRESS, o de Salvador enviou uma lista de 12
profissionais que atuam na Educação, segundo dados constantes no Conselho. Enviando e-mail com
perguntas direcionadas a estes, sobre a sua prática de trabalho, obtivemos resposta dos 3 profissionais
citados no corpo do texto.
Na literatura pesquisada, encontraram-se alguns registros de
experiências, de ações profissionais que descrevem atividades, propostas e
competências do Profissional do Serviço Social no espaço escolar. Serão
descritas obras (publicadas em livro) que correspondem aos anos de 1939,
1968, 1974, 1978, 1979, 1987, 1984, 1990, 1997 e 2001.
Na obra de 1939 (reeditada em 1985) – Serviço Social, Infância e
Juventude Desvalidas – Pinheiro procura situar as idéias e técnicas que
perpassam o mundo do Serviço Social, qual o alcance deste Serviço em
diferentes áreas de atuação. A escola, como área de atuação, é registrada
como espaço de “ação social” que deve, pelo menos, prestar o seu subsídio de
informações sobre a vida das crianças que a freqüenta. (PINHEIRO, 1985)
Nessa época, a escola é percebida como uma “agência social” que se
transformou em lugar de preparação para a vida, onde se há de viver plena e
harmoniosamente. Este espaço deve estender-se à sua atividade educativa até
o lar. Para isso, tem que ser organizado para buscar elementos positivos do
caráter, da personalidade da criança no seu meio familiar, compreendendo este
público de acordo com as influências ambientais, a fim de modificá-lo para
facilitar o trabalho educativo de ajustamento social.
Com essa visão de ajustamento, o Assistente Social vem contribuir
como agente de ligação entre o lar (a família), a sociedade e a escola para dar
unidade à ação educacional, criando um conjunto de medidas de ajuda às
famílias através do provimento de necessidades básicas de subsistência, de
vida higiênica e sadia. Como afirma Pinheiro (1985, p. 45),
36
O texto foi reeditado tal qual escrito no ano de 1939, conservando a ortografia e a linguagem da época.
Em 1968, ao investigar sobre as Fallas de Desenvolvimiento en la
escuela publica: un enfoque de servicio social de grupo37, Vinter e Sarri
destacam que a evasão escolar, o fracasso, a insuficiência e a dificuldade na
aprendizagem, a má conduta dos alunos interferindo nas aulas e na disciplina
escolar eram questões voltadas para o Serviço Social. Entretanto, era um
trabalho que poderia ser desenvolvido junto com outros serviços da escola, no
sentido de contribuição sócio-pedagógica, para modificar a percepção e a
forma de tratamento que era dada aos alunos mais difíceis. Para Vinter e Sarri
(1968, p.10-11),
37
Esse estudo foi realizado em cinco escolas públicas do Sudeste de Michigan, onde existia a presença do
Trabalhador Social de Grupo integrando o Serviço Social Escolar: una comunidad rural, una de
académicos de la clase media, dos industriales y una no industrial urbanas. (VINTER; SARRI, 1968).
Nessa perspectiva, o Assistente Social atuava com um público diverso,
ocupando um lugar estratégico na escola ao ter contato mais próximo com
alunos, professores, demais profissionais da escola, famílias, instituições extra-
escolar. Como defendem Vinter e Sarri (1968), os Assistentes Sociais “tienen la
oportunidad de ayudar a los maestros y administradores a descubrir aquellas
prácticas y disposiciones escolares que inadvertidamente contribuyen al mal
desenvolvimiento y ponen trabas al estúdio y a la adaptación”. (VINTER;
SARRI, 1968, p. 17).
Outra obra de teórico latino-americano, Ander-Egg, publicada em 1974,
sobre El Trabajo Social como acción liberadora, retrata os seguintes campos
de atividade em que o Assistente Social exercia seu trabalho: Saúde e
Hospitais, Bem-Estar Familiar, Proteção ao Menor, Indivíduos e Grupos com
Necessidades Especiais, Indústria, Educação, Programas de Habitação,
Desenvolvimento de Comunidade, Seguridade Social, Benefício, Sindicato.
Em específico ao Serviço Social na Educação Escolar, assim como nas
demais obras citadas anteriormente, o Assistente Social tem o papel de
estabelecer e fortalecer as relações entre a escola e os pais; integrar as
crianças que têm dificuldades de adaptação à vida escolar e desenvolver seu
trabalho em articulação com outros profissionais que atuam na escola. O
Programa de Serviço Social é desenvolvido, principalmente, em escolas
primárias, algumas de nível secundário, em Universidades e nos
Departamentos de Bem-Estar ao Estudante. Sobre a articulação entre os
profissionais, Ander-Egg (1974, p. 25) registra que
38
Trata-se da antiga ênfase na ordem social, em descobrir e consertar as tidas “anormalidades sociais”
para não desequilibrar a sociedade e, nesse contexto, a escola.
39
A gestão democrática foi contemplada na Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, com o intuito das escolas terem um mecanismo que garantisse o direito à
Contudo, em 1999, o processo de gestão democrática é reimplementado
pelo Governo da época, instituindo uma equipe composta de doze profissionais
para a Construção e Acompanhamento da Gestão Democrática Educacional
(ECAGDE). Nesta equipe, seis eram Assistentes Sociais, trabalhando numa
ação objetiva para traçar as linhas estratégicas da Gestão Democrática
Educacional, desencadeando e implementando o processo de democratização
em todas as escolas da rede estadual.
Portanto, percebe-se nas experiências supracitadas, as múltiplas
demandas que permeiam, trajetoriamente, a Profissão do Serviço Social nas
escolas, considerando o tempo histórico, a realidade, as mudanças sociais,
políticas e econômicas que direcionavam, e direcionam, as reflexões e
intervenções dos Assistentes Sociais nesse campo de trabalho. O papel do
Assistente Social na escola, para Faleiros (apud COSTA, 1998, p. 319-320),
40
Novamente, pontua-se que, o conhecimento e a articulação com estes profissionais, foi possível pela
relação que o CRESS da Bahia forneceu, constando o contato de Assistentes Sociais que atuam nessa
área. Diante das informações, se entrou em contato com estes profissionais, via e-mail, direcionando 7
(sete) perguntas. No entanto, apenas as 3 (três) profissionais citadas no corpo do texto enviaram suas
contribuições.
De acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão, constitui
atribuição privativa do Assistente Social, em seu Art. 5o, inciso XII, “dirigir
serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas”
(BRASIL, 2002). No caso destas duas últimas funções, não foi possível coletar
a informação se estas são assim designadas para que o profissional não
receba o valor salarial, correspondente legalmente, caso estivesse registrado
como Assistente Social, ou se são caracterizadas como técnicas no sentido de
ser uma especialidade do trabalho profissional ao realizar pareceres, visitas
domiciliares, diagnósticos e outras atribuições técnicas do Assistente Social.
Para atuar na Educação, uma das profissionais compreende que o
Assistente Social deve conceber o que é a educação,
41
De acordo com Gadotti (2005), “A educação formal tem objetivos claros e específicos e é representada
principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de uma diretriz educacional centralizada como
o currículo, com estruturas hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos
fiscalizadores dos ministérios da educação. A educação não-formal é mais difusa, menos hierárquica e
menos burocrática. Os programas de educação não-formal não precisam necessariamente seguir um
sistema seqüencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder
certificados de aprendizagem.”. Entretanto, “usualmente define-se a educação não-formal por uma
ausência, em comparação com a escola, tomando a educação formal como único paradigma, como se a
educação formal escolar também não pudesse aceitar a informalidade, o ‘extra-escolar’”. (GADOTTI,
2005, p. 2).
e flexíveis no mundo das tecnologias avançadas e da comunicação
globalizada.
No caso específico do Professor, subtraem-se duas idéias de Nuñez e
Ramalho (1999) sobre os desafios para a formação profissional:
La formación de un nuevo profesor, frente a la problemática de
la globalización y las nuevas tecnologías origina la necesidad
de reforzar el carácter democrático de las escuelas y de las
agencias formadoras, de revisar los contenidos de los
currículos com el fin de enriquecer no sólo la enseñanza
tecnológica, sino también como ya fue dicho, la humanista y
cívica.
42
Nos dizeres de Sampaio (2000), a multidisciplinaridade “... caracteriza-se pela relação de justaposição
de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração de conteúdos numa disciplina, alcançando a
integração de métodos, teorias ou conhecimentos”. (SAMPAIO, 2000, p. 83). Dá-se, neste estágio, uma
comunicação baseada no diálogo paralelo entre disciplinas.
o processo pedagógico trabalhado em conjunto no interior desse universo
globalizado, e no contexto histórico-social-cultural-político.
A construção do Projeto Político-Pedagógico dá-se a partir de aspectos
inerentes à escola, percebendo as relações de força interpessoais e
interprofissionais que o impulsionam ou não. Evidenciar essas relações é fator
relevante para a elaboração e execução do fazer pedagógico. Mas, os canais
de comunicação no interior das escolas ainda são realizados de forma
superficial, sem analisar as relações estabelecidas entre os vários membros
que fazem e atuam em seu âmbito.
Não se deve falar, genericamente, de um Projeto Pedagógico, mas, sim,
de Projetos Pedagógicos que são planejados e delineados de acordo com o
contexto escolar e com os propósitos educacionais de cada instituição de
ensino.
Para que estes projetos se transformem realmente em elementos
norteadores, faz-se necessário que sejam produção de cada escola em
particular e que seus elementos estejam envolvidos, para que a inércia dos
antigos planejamentos, copiados ano a ano, seja eliminada; para que este se
torne um elemento vivo, em constante movimento no interior da escola, com
seus componentes sendo monitorados, avaliados e atualizados.
Pensar na construção coletiva de um projeto educacional é articulá-lo a
um projeto mais amplo da sociedade, percebendo o contexto político-social em
que as escolas e toda comunidade estão inseridas. O que ocorre nas escolas,
entretanto, é que alguns membros mostram-se reticentes na hora de
aprofundar discussões, não criando um espaço de debate em torno de um
projeto realmente político-pedagógico que tenha como referência a qualidade
do ensino, integrando o indivíduo as suas origens, permitindo-lhe acesso aos
conhecimentos já construídos fora da escola e propiciando a elaboração de
novos saberes.
Deve-se partir para uma experiência de gestão participativa que faça de
homens e mulheres ‘seres pensantes’, criativos e críticos e que os enriqueçam
quando lhes forem dadas oportunidades de interlocução com a sociedade,
contribuindo para um fazer coletivo e igual. Nessa experiência, “os agentes
envolvidos não são exclusivamente os docentes, mas, toda a comunidade
escolar. Cada vez mais, a educação e as aprendizagens dependem de uma
realidade contextual mais ampla”. (TORTAJADA; FLECHA, 2000, p. 29).
Embora o novo paradigma da gestão escolar participativa e democrática
ainda esteja silencioso, deve-se considerá-lo promissor. Seu avanço,
entretanto, necessita de condições concretas de participação social, e dos
significados e valores que os atores sociais venham a construir através de suas
experiências dentro dos conselhos escolares, bem como da própria atuação
dos conselhos no seu respectivo espaço.
Ao fazer referência aos conselhos escolares, pensando-os no debate
entre as forças sociais empenhadas com a democracia da educação, deve-se
salientar que estes foram concebidos como meio de ampliar o espaço público
de direito, como canal que articulasse escola e sociedade, de forma que as
práticas participativas, a descentralização do poder, a socialização das
decisões, se voltassem para um permanente exercício de conquista da
cidadania, concebida como materialização dos direitos fundamentais, entre os
quais, o direito à educação (BRASIL, 1997). Entretanto,
Este item realiza uma síntese analítica sobre documentos que compõem
a base legal e formativa do profissional de Serviço Social, quais sejam:
Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social (DC), Projeto Ético-Político
da Profissão (PEP), Projetos Político-Pedagógicos (PPP) de três Instituições de
Ensino Superior do Rio Grande do Norte, que oferecem o Curso de Serviço
Social (Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Potiguar e
Faculdade de Ciências, Cultura e Extensão do Rio Grande do Norte).
Versa, ainda, sobre a relação entre a Lei de Regulamentação da
Profissão, o Código de Ética do Assistente Social, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação e o Estatuto da Criança e do Adolescente, a fim de referenciar
sobre a sintonia estabelecida entre os seus princípios e regulamentações.
Sendo as citadas referências formativas e legais, base de
institucionalização, reconhecimento e fortalecimento do Serviço Social faz-se
preciso um olhar mais direcionado a estas, ao se projetar a contribuição do
Serviço Social na Educação, assim como, a necessária articulação do
Assistente Social junto à gestão, coordenação pedagógica e educadores da
Educação Escolar. Afinal, defende-se de que para atuar nesse campo de
trabalho específico, o Assistente Social precisa conhecer e compreender que
saberes e competências são necessários para uma intervenção qualificada.
Portanto, propondo-se a investigar, nesse estudo, o que é necessário
saber e o que compete ao Assistente Social para atuar na Educação Escolar, é
pertinente a construção deste capítulo, no momento em que, esta base legal e
formativa faz parte do desenvolvimento profissional, da profissionalização do
Assistente Social em suas diferentes áreas de trabalho.
2.1 Projetos profissionais e diretrizes curriculares: relações indissociáveis
22
Apenas a partir de novembro de 1998 que a ABESS (Associação Brasileira de Ensino de Serviço
Social) passa a denominar-se ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social).
[...] a dimensão ético-política da prática foi ressaltada como
“uma mediação necessária ao enfrentamento da barbárie” e
como suporte à prática profissional, sendo defendida a
formulação de estratégias de reforço aos valores democráticos
e das políticas públicas com corte efetivamente social.
(ABESS/CEDEPSS, 1996, p. 147).
Código de Ética
Constitui, democraticamente, direitos e deveres
dos assistentes sociais, segundo princípios e
valores humanistas, guias para o exercício
profissional cotidiano.
Lei de Regulamentação
Representa a defesa da profissão na
sociedade, sendo direção para a formação
acadêmico-profissional.
Diretrizes Curriculares
Produto de um amplo e sistemático debate
realizado pelas unidades de ensino superior
contendo novo desenho curricular embasado
em diretrizes, pressupostos, núcleos de
fundamentação ético-político,
Projeto teórico-
Ético-Político
metodológico e técnico-operativo.
Subsidia e fortalece
Projeto Ético-Político Projeto Pol./Pedagógico das IES
Direciona o exercício profissional em suas áreas de trabalho
Define o perfil do profissional a ser formado
23
Barroco (2000) faz uma reflexão importante ao tratar da centralidade da ética na formação profissional
– “[...] falar de liberdade e igualdade, defender direitos humanos, pode parecer uma abstração, pois a
universalização da liberdade choca-se com as necessidades socioeconômicas de (re)produção das relações
sociais burguesas, donde os limites da cidadania burguesa que só poderá contemplar a igualdade enquanto
norma jurídica. Perante a lei, todos são iguais, mas, de fato, todos não podem ter cidadania econômica,
porque isto fere o direito ‘atual’ à propriedade privada, fundamento da sociedade capitalista.”.
(BARROCO, 2000, p. 22).
[...] nega o projeto societário, hoje hegemônico, e posiciona-se
a favor da construção de uma nova ordem sem dominação e
exploração de classe, gênero e etnia. Tem ainda, como
princípios, a defesa dos direitos humanos, a recusa ao
autoritarismo e ao preconceito e o reconhecimento do
pluralismo. (SANT’ANA, 2000, p. 81).
24
Sobre essa trajetória de transformação na formação profissional, ver Carvalho (1986), Faleiros (2000),
Nicolau (2005).
No período compreendido entre 1979-1982, o Projeto Profissional do
Serviço Social propunha uma forte vinculação da profissão com a luta da
classe trabalhadora – excluída, desapropriada e dominada pelo movimento
capitalista. A proposta era romper com a visão fragmentada que se tinha da
realidade, ou seja, mobilizar um projeto que analisasse a realidade econômica,
política e social de forma crítica, tendo o compromisso com a transformação
social e com os movimentos sociais.
Objetivava-se, capacitar os Assistentes Sociais para trabalhar as
contradições sociais como estratégia de “[...] apoio e reforço aos movimentos
sociais [...]” (CARVALHO, 1986, p. 20). Entretanto, “na sua implementação, a
proposta se viu confusa, teoricista, estruturalista, sem abertura para repensar a
multiplicidade da prática.” (FALEIROS, 2000, p. 164).
Para Nicolau, é nesse período, na segunda metade da década de 70 e
início da de 1980, que se começa a exigir da profissão do Serviço Social novas
respostas à questão social reinante, tornando-a necessária no tempo e no
espaço de uma nova conjuntura social e constituída nos moldes democrático-
burguês. (NICOLAU, 2005a, p. 88).
Em uma conjuntura permeada pelo aumento da pobreza e do
desemprego, ampliação da violência nas ruas, concentração de renda nas
mãos de uma pequena minoria de classe, questionamento e manifestação da
sociedade civil frente ao regime autocrático burguês, políticas sociais de
caráter assistencial, começa a se questionar a formação profissional do
Assistente Social, sendo esta basilar para a sua intervenção em uma realidade
em crescente desenvolvimento e desigualdade social. (NICOLAU, 2005a, p.
89-92).
A revisão curricular traz redefinições ao Projeto Profissional,
compreendendo o Serviço Social como processo, ou seja, a profissão
transforma-se no instante em que se modificam as condições e as relações
sociais, as demandas e as respostas instrumentalizadas a estas. Segundo a
ABEPSS/CEDEPSS (1996, p.7),
25
Tem-se claro de que na internet nem sempre todas as informações estão disponibilizadas e atualizadas.
Por isso o número das informações colhidas não é expressivo.
prevê a inclusão de disciplinas eleitas pelo Curso como adequadas à realidade
regional – seus problemas e suas carências[...].” (UNIVERSIDADE FEDERAL
DO PARÁ, 2005).
Conjectura-se que, a atuação do Assistente Social na Educação Escolar
tem uma necessária contribuição nesse campo, pelo elenco do seu conteúdo
curricular coadunante com os conteúdos, os temas a serem ministrados nas
escolas. Trabalha-se nas escolas, com questões que permeiam a cidadania, o
conhecimento da realidade social, a situação social, econômica, política,
cultural da sociedade, a formação do homem como ser pensante, racional que
vive em relação, a formação sócio-histórica dos países, os direitos e deveres
do cidadão, entre outros conhecimentos. No contexto da proposta dos
Parâmetros Curriculares, os conteúdos ministrados na Educação Escolar
devem ter consonância com as questões sociais de cada período histórico.
Sendo assim, a Educação Escolar é compreendida
26
Tratando do Serviço Social como campo de intervenção, Andrade (2005) analisa que a intervenção do
Assistente Social “... caracteriza-se pela manipulação de variáveis concretas e pela rearticulação sincrética
de um conjunto de representações teóricas, conhecimentos e saberes, que permitem a configuração e a
implementação de projetos institucionais específicos, bem como a emergência de novos vetores na
configuração de políticas sociais, por interferência de movimentos sociais e em articulação com os
sujeitos sociais que os protagonizam.”. (ANDRADE, 2005, p. 96).
su pertinencia; la posición política, ideológica y epistemológica en
la que se sustentan; la forma como reproducen el proyecto social
dominante, o en caso contrario, los insumos que brindan para
explicar la sociedad desde una perspectiva crítica y con la
posibilidad de generar cambios transformadores orientados al
bienestar común.
27
Ver documentos legais nas referências: BRASIL (2002), ABEPSS (2001).
(instituições públicas, organizações privadas e populares, entidades e
organizações não-governamentais).
Quando se atribui ao Assistente Social a função de “educador”,
compreende-se que esta caracteriza-se no âmbito do ensino da docência
superior, entretanto, é salutar o cuidado em clarificar o que se entende por
educador, haja vista, que a expressão pode caracterizar professor nos
diferentes níveis de ensino (e não apenas no superior), e essa especialidade
não é de competência do Assistente Social.
Por outro lado, a expressão pode deslocar-se para o pensamento da
dimensão educativa característica, também, às ações do Assistente Social, no
sentido deste possuir um caráter de orientador, facilitador, prestador de
informações, intermediador e mediador nas relações profissionais, quer seja o
espaço de trabalho atuante. Educador, portanto, pode ter a conotação de um
perfil assumido em diferentes campos de atuação, inclusive, na Educação
Escolar. Assim como, as funções de “pesquisador”, “gestor”, “assessor” podem
ser assumidas, também, no âmbito da Educação Escolar vinculada a profissão
do Serviço Social.
Compreende-se que, como o Projeto Político-Pedagógico norteia a
formação de futuros profissionais, é pertinente a clareza das informações na
condução do processo e na visualização do que é possível – em que áreas
podem atuar no mercado de trabalho -, ou não, ao profissional ao sair da
Instituição de Ensino Superior.
No caso da Universidade Potiguar destaca-se que, na esfera da política
de Seguridade Social – saúde, assistência e previdência social – o Serviço
Social tem alcançado a afirmação e ampliação de ancestrais e jovens campos
de trabalho, dentre eles, criança e adolescente, família, terceira idade,
portadores de necessidades especiais, movimentos sociais, atuando nas
problemáticas da violência doméstica, dependências químicas, AIDS, na
questão ambiental, étnica, no campo das políticas de educação, habitação,
questão agrária e outros.
Os postos de trabalho ampliam-se, assim, para além das instituições
públicas e privadas, partindo para as ONG’s, instituições de natureza
filantrópica, religiosa e particular, setor empresarial, conselhos de políticas
públicas e, ainda, frentes de trabalho na esfera da pesquisa, do planejamento,
assessorias e consultorias, nos gerenciamentos de programas e projetos.
Pontua-se que o leque de atuação do exercício profissional é extenso,
assim como, as possibilidades de articulação com outras áreas e campos do
saber. O campo da política de educação, por exemplo, representa uma atuação
mais ampla do Serviço Social – Secretarias de Educação, Conselhos de
Educação, escolas - nos diferentes ciclos/níveis de formação, na elaboração,
gestão, coordenação de programas e projetos, realização de pesquisas,
diagnóstico social, parecer e outras ações.
Quanto ao perfil profissional do egresso, os projetos pautam-se pela a
busca de uma formação que compreenda e atue na realidade, nas múltiplas
expressões da questão social, a fim de elaborar e implementar propostas para
o seu enfrentamento. Para tanto, é necessário partir de um instrumental técnico
e político, de uma metodologia que oriente a sua intervenção, de uma proposta
de formação que tenha como valor a luta pela democracia, cidadania, eqüidade
e justiça social. Dentro desse perfil, o que é de competência a esses futuros
Assistentes Sociais? Enfatiza-se que as competências necessárias são a
teórica, ético-política e técnico-operativa, listando-se abaixo uma série de
habilidades que, do ponto de vista da pesquisadora, pode gerar alguns
equívocos/dúvidas no entendimento do que é competência e habilidade diante
do que está proposto nos Projetos.28
Analisando as competências e habilidades que os projetos propõem
como necessárias para a formação do profissional de Serviço Social, algumas
percepções merecem destaque:
1. Quando se enfatiza que o profissional de Serviço Social deve ter
competência teórica, ético-política e técnico-operativa, questiona-se o que se
entende por competência teórica - São os conteúdos curriculares que este
deve ser capaz de apreender e mobilizá-los? É o conjunto de saberes dos
teóricos que estudam, pesquisam, escrevem sobre a profissão do Serviço
Social? São os princípios que norteiam o saber e o fazer do profissional? A
clareza de que competência é esta (e das demais), faz-se precisa na medida
em que se compreende que falar de competência, de um profissional
28
No capítulo III se trabalhará com mais profundidade a categoria competência.
competente, é reportar-se a idéia de que esta categoria revela a maturidade
racional e lógica que o profissional deve possuir para mobilizar seus
pensamentos na prática diante do contexto em que se encontra.
2. As chamadas “competências”, pontuadas nos projetos, são bem
generalistas, podendo ser desenvolvidas nos vários campos de atuação do
Assistente Social. No caso da Educação Escolar, pode-se destacar:
Note-se que existe uma intrínseca relação deste subitem com o anterior.
Referir-se ao Projeto Formativo do Serviço Social é dialogar o Código de Ética
(CEP), a Lei de Regulamentação da Profissão (LRP) e a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB) – documentos fundamentais não só de suporte
legal/jurídico, mas, de direção na condução das formas de pensar, agir,
relacionar e participar de um profissional. O Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) sintoniza-se com esses documentos pelo objeto de estudo
proposto, pela área de atuação e público de atenção do Serviço Social na
Educação Escolar.
O tratamento teórico e analítico desse item parte das seguintes idéias: 1.
defender a necessária contribuição do Serviço Social na Educação Escolar,
parte do entendimento de é preciso conhecer os princípios, pressupostos que
regem os citados documentos, visando uma prática fundamentada e alicerçada
em valores profissionais específicos que, por vezes, coadunam com as idéias e
princípios de outros profissionais da área das ciências humanas e sociais; 2. o
CEP, a LRP e a LDB intercomunicam-se por um objetivo global comum –
transformar os sujeitos em cidadãos de fato, ou seja, atuantes, mobilizadores,
capazes de redefinir sua própria história e unirem-se na reivindicação do que
lhe é de direito (mesmo que seja este um objetivo nem sempre concretizado na
realidade); 3. por ser uma lei de proteção à criança e ao adolescente, fase em
que se inicia (em sua maioria) o processo de formação educativa nas
instituições de ensino, o ECA carece de conhecimento dos seus dispositivos
aos que se lançam a atuar com e nesta área.
Enfim, quem se propõe a atuar no campo da Educação Escolar deve
conhecer e compreender os direcionadores legais que regulamentam a sua
prática, o seu exercício junto à sujeitos de diferentes classes, sexo, habilidades
e potencialidades, os quais configuram a identidade profissional. Como
descreve Nahra (2001), referindo-se especificamente ao Código de Ética,
“Códigos de Ética não devem existir ‘pra bonito’ ou para serem utilizados como
estratégias de marketing. Códigos de Ética devem ser efetivamente seguidos
pela categoria, devem efetivamente orientar a prática dos profissionais.”
(NAHRA, 2001, p. 33).
Não é propósito desse estudo realizar uma análise crítica (em termos de
limites, obstáculos) do que propõem os citados documentos, mas, buscar nas
leis onde estas se coadunam, o que simbolizam, o que traduz como
representação de princípios basilares ao atuar nas escolas.
Princípios como liberdade, solidariedade, exercício da cidadania,
respeito à dignidade fazem parte do que propugnam o CEP, a LDB e o ECA. O
trio referencial tem em sua face um quadro que prevê a garantia e preservação
dos direitos sociais e humanos, principiando a autonomia, emancipação e
plena expansão dos indivíduos sociais (BRASIL, 2002, p. 1), o pleno
desenvolvimento do indivíduo no âmbito do ensino preparando-o para o
exercício da cidadania e qualificando-o para o trabalho (BRASIL, 2005, p. 16),
assegurando oportunidades e facilidades que facultem o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social. (BRASIL, 2002, p. 34-35).
A igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, e a
gratuidade do ensino são direitos dispostos na LDB e no ECA à população, os
quais, perfazem o caminho dos compromissos a serem assumidos pelo
Assistente Social de (tentar) assegurar a universalidade do acesso aos bens e
serviços públicos/sociais vislumbrando a construção de uma nova ordem
societária, sem qualquer tipo de exploração.
Para tanto, está entre as competências do Assistente Social,
(idealizando especificamente a sua atuação na escola), de acordo com a Lei de
Regulamentação da Profissão, realizar estudos socioeconômicos com os
usuários de seus serviços sociais junto a órgãos da administração pública
direta e indireta, e outras entidades. (BRASIL, 2002, p. 23). Considerando,
nesse quadro, que muitas problemáticas ocorridas na instituição escola
necessitam de articulação, recursos, apoio externo a esta.
Podendo contribuir nos diferentes níveis de ensino (fundamental, médio,
creches, EJA, Educação Especial), o Assistente Social é um dos profissionais
que tem uma contribuição necessária no processo educativo considerando que
é dever do Estado garantir, entre outros incisos, oferta de ensino noturno
regular, adequando às condições do educando, e de educação escolar regular
para jovens e adultos, garantindo aos que forem trabalhadores as condições de
acesso e permanência na escola. É premente a participação de outros
profissionais, além do professor, para buscar estratégias que garantam a
permanência desse educando em sala de aula. E como pode ser essa
contribuição?
Entende-se que o Assistente Social pode realizar o acompanhamento do
alunado diagnosticando como ele se insere nesse contexto escolar, que
possibilidades ele tem dentro da escola para facilitar seu processo educativo,
que recursos a escola disponibiliza que pode favorecer o seu aproveitamento, o
despertar de habilidades, o aprendizado e a permanência na escola. O que a
escola (e o próprio Estado) tem a oferecer a esse aluno que trabalha durante o
dia e estuda a noite? O que a escola oferece em termos de motivação? Quem
é esse aluno, qual o seu perfil? A orientação a indivíduos e grupos para que
estes identifiquem recursos, está dentre as competências contempladas na
LRP.
A Lei de Regulamentação (nº. 8.662/93) e o Código de Ética da
Profissão do Serviço Social são documentos legais que sustentam (ou
deveriam sustentar) que a profissão deve trilhar um caminho que defenda a
vida sob um olhar humano e ético, acreditando na calmaria das ondas nesse
mar de incertezas que é uma sociedade historicamente guiada por padrões
contraditórios.
A crença em uma sociedade com eqüidade e justiça social, e a luta
profissional de construir com os sujeitos sociais um espaço onde a cidadania
seja a mola mestre nas relações e nas condutas humanas, é uma idealização
que perpassa o mundo dos Assistentes Sociais. Acredita-se que esta idéia
também faça parte do imaginário dos educadores/professores que têm uma
visão da Educação como a propulsora do respeito, crescimento e participação
social de homens e mulheres.
No campo escolar, os princípios que regem o Código e, por conseguinte,
o trabalho do Assistente Social, coadunam com o que se espera encontrar
nesse espaço: a revitalização da formação ética, com reconhecimento das
diferenças humanas e culturais, a difusão de saberes e valores úteis
socialmente, e a luta contra a exclusão e a violência em favor da liberdade de
pensar e de agir. Sendo profissionais assentados em conhecimentos teórico-
práticos e compromissos éticos, cabe aos Assistentes Sociais
29
Para Gentilli (1998), a cidadania, enquanto reconhecimento do valor humano é o respeito à igualdade
entre os indivíduos, o direito das pessoas governarem com liberdade sua vida e tomar suas próprias
decisões.
30
“A inclusão de questões sociais no currículo escolar não é uma preocupação inédita. [...]. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam essa tendência e a incluem no currículo de forma a
compor um conjunto articulado e aberto a novos temas, buscando um tratamento didático que contemple
sua complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das áreas convencionais. [...] O
conjunto de temas aqui proposto (Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação
Sexual) recebeu o título geral de Temas Transversais, indicando a metodologia proposta para sua inclusão
no currículo e seu tratamento didático” (BRASIL, 1997, p. 29).
31
Ao falar da emergência da noção de complexidade, Jacques MARPEAU, em seu livro “O Processo
Educativo” (2002), retrata que a complexidade de uma situação, em nível das ciências humanas, “... leva
em conta o aleatório, a história, o sujeito e seu desejo, sua intencionalidade, as diferentes temporalidades,
a heterogeneidade dos componentes da realidade observada”. (MARPEAU, 2002, p. 21).
contradições, mas, é pertinente o conhecimento desta legalidade para atuar em
uma área tão complexa e diversa como é a escola, fazendo ser concretizado o
que está na lei quando se fizer necessário. Apenas detendo o poder deste
conhecimento se saberá como agir, que caminho pode ser traçado para
atender as demandas dos usuários.
Portanto, a parte a seguir busca aprofundar a discussão sobre o perfil
profissional do Assistente Social, a construção histórica da sua identidade, bem
como, discutir o processo de profissionalização, e como se configura o saber e
a competência dentro do desenvolvimento profissional do Assistente Social.
O que saber diante de tantos saberes, conhecimentos,
informações, opiniões que, frequentemente, nos são
passados e repassados? O que nos compete saber e fazer na
nossa vida pessoal e profissional? Quem nós somos? O que
queremos fazer e saber? Para Paulo Freire não há saber
mais ou saber menos, o que existe mesmo são saberes
diferentes. Além disso, existem formas de agir diferenciadas;
identidades construídas dentro dos saberes e das
competências que assumimos no dia-dia-a-dia. Enfim, busca-
busca-se
também nesse estudo tornar compreensível o que é
necessário saber para agir no campo profissional? O que
compete ao profissional Assistente Social para ter uma
postura qualificada e fundamentada em seu espaço de
trabalho?
CONFIGURAÇÃO PROFISSIONAL DO TRABALHO DO ASSISTENTE
SOCIAL NA EDUCAÇÃO
32
Entre outros, Ottoni (1978), Montaño (2000), Ander-egg (1974), Bartlett (1979), Paulo Netto (2000),
Castro (1993), Yazbek (2005), Martinelli (1991, 2005), Iamamoto (1994, 1999, 2001, 2005), Faleiros
(1999 e 2000).
33
Martinelli (1991) destaca que o surgimento do Serviço Social no Brasil remonta os primeiros anos da
década de 30 tendo como referência o Serviço Social Europeu.
mulher, jornada excessiva de trabalho do menor, valorização da máquina e do
lucro), exigiu um tipo de ação profissional para adequar os trabalhadores à
dinâmica do novo sistema e discipliná-los.34
Tendo como base um trabalho calcado na filantropia e em ações
emergenciais à camada pauperizada da sociedade, o Serviço Social começa a
ser executado por mulheres ‘piedosas’, pelas ricas damas da caridade, em uma
sociedade com visível divisão social de classes e de trabalho no início do
século XIX. Com a expansão do capitalismo e, conseqüentemente, o
agravamento das questões sociais, as agentes da caridade entram em cena
para manter a ordem social.
Na segunda metade do século XIX, as ações de cunho assistencial
pautavam-se numa lógica religiosa e ideológica, exercida de forma
assistemática, em caráter não profissional, mas sim, voluntário, das classes
com maior poder aquisitivo para com as que possuíam poucos bens. Vem à
tona a necessidade de todos praticarem o bem, realizarem ações de benfeitoria
com o próximo, preocupar-se com os problemas sociais.
O Serviço Social nasce como demanda da burguesia para trabalhar o
operariado insatisfeito - exercendo o controle de uma classe emergente que
começa a reivindicar e exigir participação política, e devendo atender aos
interesses da burguesia e dos trabalhadores através dos serviços de saúde,
creche, educação, moradia, assistência e demais serviços públicos sociais.
Como resume Martinelli (1991), é uma profissão que emerge com uma
“identidade atribuída” - “mistificada ilusão de servir”, de ajustar os desajustados
-, tendo sido “... roubadas as possibilidades de construir formas peculiares e
autênticas de prática social, expressando-se sempre como um modo de
aparecer típico do capitalismo, em sua fase industrial.”. (MARTINELLI, 1991, p.
66).
Os Assistentes Sociais deveriam estar sempre prontos a oferecer
respostas imediatas às demandas sociais, para garantir a expansão do capital,
sendo-lhes conferido, então, uma identidade que “[...] reproduzia a alienação
política, social, econômica, cultural presente no espaço mais amplo da
34
Enfatiza-se que “Era crucial para o capitalismo manter sempre escondida, ou no mínimo dissimulada,
essa massacrante realidade por ele produzida, evitando que suas próprias contradições e antagonismos
constituíssem fatores propulsivos da organização do proletariado e da estruturação de sua consciência de
classe.” (MARTINELLI, 1991, p. 61).
sociedade burguesa” (MARTINELLI, 1991, p. 124-128). Em síntese, uma
identidade caracterizada pela subordinação ao capital e pelo controle social.
Nesse cenário, pode-se dizer que a categoria construiu uma identidade
fragilizada (alienada e alienante) calcada nos ditames capitalista, burguês,
religioso, tendo sido bloqueada pela falta de uma mobilização que gerasse
consciência social e crítica da posição em que se encontravam, da prática que
exerciam e dos ideais que transmitiam.
Nas décadas de 20 a 30 o Serviço Social orientou-se como uma
profissão socialmente importante, com a tarefa de socializar o proletariado no
capitalismo adotando uma concepção meramente paternalista, ou seja,
atuando ainda, na concepção de Estevão (1984), com uma identidade
alienada. São as “[...] Ligas das Senhoras Católicas e a Associação das
Senhoras Brasileiras que vão assumir a educação social dos trabalhadores
urbanos brasileiros, dentro de uma perspectiva de assistência preventiva e do
apostolado social”. (ESTEVÃO, 1984, p. 47).
As atividades iniciais que as futuras Assistentes Sociais se incumbiriam
pautavam-se na prevenção da “desestruturação” das famílias proletariadas, na
regularização legal da união entre os casais, no preenchimento e
encaminhamento de formulários e fichários dos usuários atendidos, na
realização de cursos de formação moral, bem como outras tarefas assistenciais
e pontuais.
Os preceitos éticos, a dedicação e a vocação eram aspectos relevantes
à atuação do Assistente Social, visualizando o Serviço Social como causa a ser
defendida (YAZBEK, 1980). Com a expansão das escolas de Serviço Social, a
prática da assistência deixa de ser exclusivamente centrada na caridade.
Vinculam-se, assim, objetivos mais amplos e fundamentados, apoiados em
bases e conhecimentos mais consistentes.
Com a institucionalização do Serviço Social no Brasil, no século XX, os
Assistentes Sociais começam a ocupar cargos em instituições governamentais,
tendo legalizada a profissão. Os problemas sociais passam a ser tratados de
forma individual – atendimento de casos – e os Profissionais do Serviço Social
necessitavam ser neutros, “puros”, tratando os casos com certo distanciamento
para não se envolverem emocionalmente e mudarem suas visões ideológicas –
existia, ainda, uma visão mais fundamentada em aspectos doutrinários do que
científicos.
A partir de então, passou-se a exigir para as agências de formação uma
ação profissional que rompesse “[...] com as características que marcaram o
surgimento e a evolução do Serviço Social no Brasil, como o confessionalismo,
o paroquialismo, o assistencialismo, o filantropismo, etc[...]”. (NICOLAU, 1999,
p. 125). Via-se, ainda, neste período, uma identidade profissional e uma
consciência sócio-política fragilizada, em termos do profissional ainda estar
atrelado a uma ideologia hegemônica, que buscava o controle da classe dos
trabalhadores e a legitimação dos setores dominantes e do Estado.
É a partir da década de 60 que o Serviço Social no Brasil começa a
expandir-se, tanto em termos profissionais (considerando um maior número de
Assistentes Sociais de diferentes classes sociais), como em aspectos teórico-
metodológicos. Inicia-se o período crítico-reflexivo da Profissão, questionando
as origens dos problemas sociais e a realidade histórico-social. Nesse período
de Ditadura, iniciam as mobilizações dos movimentos sociais contra o Estado
autoritário e em defesa dos direitos humanos; começa a se questionar e refletir
na sociedade a insatisfação popular, a reivindicar mudanças que
contemplassem as classes populares. Começa a se rever, desde então, o
status quo e a prática institucional - os Assistentes Sociais, que antes
adotavam uma postura de neutralidade frente aos casos que orientavam,
passam a ter uma percepção mais questionadora da sociedade, repensando a
sua prática e os valores trabalhados na profissão.
Atuando estrategicamente durante anos com uma identidade ditada
pelos valores capitalistas, sem um projeto político-profissional próprio e um
pensamento questionador de si e do outro, o Serviço Social ficou marcado
como profissão dependente de terceiros, caracterizada pela repressão e o
controle. Apenas ao iniciar interrogações sobre a sua prática e o seu papel na
sociedade, a partir da década de 60, é que a profissão segue o caminho da
ruptura de uma identidade cujo eu existia subordinada a uma lógica
controladora das idéias transformadoras.
Fica claro, ao se investigar sobre a identidade, que as referências
hegemônicas tendem em um determinado momento a ser questionadas. Quem
questiona sobre a posição que ocupa na sociedade “[...] coloca-se na posição
de outro e, simultaneamente, numa situação de carência e, por isso, de
subordinação.” (SANTOS, 1994, p. 135). Sendo assim, se inicia um processo
de repensar e reconstruir o eu de forma a querer modificar a realidade
presente.
A partir do momento que se começa a operar um processo de ruptura da
alienação, inicia-se o fortalecimento e amadurecimento da identidade
profissional. Segundo Martinelli (1991), a parcela crítica dos Assistentes
Sociais inicia
35
Remete-se essa analogia à profissão do professor, considerando que Assistente Social e professor são
profissionais que possuem em si marcas identitárias e culturais estigmatizadas como executáveis por
qualquer pessoa. Assim como o professor, o Assistente Social pode se caracterizar, também, como parte
de um grupo que “[...] desenvolve seu trabalho em instituições burocráticas e hierarquizadas, onde ocupa
posições subordinadas e está sujeito a variadas formas de controle burocrático e administrativo – depara-
se com nítidos limites na conquista de autonomia e autocontrole”. (COSTA, 1995, p. 89)
36
Federal de Serviço Social, publicado em 2005. O citado estudo sobre o perfil
do(a) Assistente Social no Brasil, surge em resposta à uma necessidade
apontada pelo conjunto CFESS/CRESS que percebia uma lacuna para
fundamentar os estudos sobre a identidade da profissão.
O estudo coletou indicadores sobre o perfil profissional, as relações de
trabalho, o conhecimento da legislação profissional, e a participação política
dos profissionais. Os dados coletados em relação ao perfil profissional revelam
os seguintes percentuais:
Sexo - Confirma-se a tendência histórica da profissão, ou seja, 97%
dos profissionais são do sexo feminino, o qual autoriza esse estudo a tratar
a categoria sempre no genérico feminino;
Idade - 38% se centram na faixa etária entre 35 a 44 anos;
Religião - 67,65% são católicas;
Pertença étnico-racial - 72,14% dos profissionais se identificando como
branca;
Sexualidade - 95% se declararam heterossexuais;
Situação conjugal - 53% dos profissionais são casadas, sendo a
grande maioria sem filhos, ou seja, 44%. (CFESS, 2005, p. 17-22).
Quanto aos aspectos relacionados ao trabalho, identificou-se que:
77,19% das profissionais possuíam apenas um vínculo empregatício; “a
pesquisa confirma a tendência histórica de inserção do Serviço Social na
esfera pública estatal - 78,16%, no nível nacional”; 85% das profissionais
ocupam o cargo com a nomenclatura de Assistentes Sociais; a carga
horária de trabalho no principal vínculo empregatício chega a 40h/s, no caso
50,70% das profissionais; 45,19% declaram que detém uma renda mensal de
4 a 6 salários mínimos; o indicador sobre a formação/titulação revela que
grande parte das profissionais não tem acesso ainda à pós-graduação, ou seja,
55,34% ainda são apenas graduadas. (CFESS, 2005, p. 23-36).
O conhecimento da categoria sobre a Legislação Profissional vem
revelar que 96,37% e 90,55% dizem conhecer, respectivamente, o Código de
Ética e a Lei de Regulamentação da Profissão. Entretanto, destaca-se que
36
“A coleta de dados foi feita através da aplicação de um questionário, respondido pelos sujeitos da
pesquisa – assistentes sociais, participantes dos eventos comemorativos ao dia da(o) assistente social, no
mês de maio de 2004, inscritos no CRESS e com registro ativo.”. (CFESS, maio 2005, p. 13).
ainda 9,45% dos profissionais desconhecem a Lei que regulamenta a
profissão, mesmo esta sendo promulgada há 11 anos. Assim como, 39,69%
dos profissionais dizem não considerar que a legislação respalde o cotidiano
profissional. (CFESS, 2005, p. 37-40). Esse é um fator que revela o baixo nível
de percepção e o elevado desconhecimento do grupo profissional sobre as
suas competências, atribuições, funções, papel, enfim, sobre aspectos que são
da natureza da sua identidade profissional. Isto é, reflete o que sabem e como
se percebem como grupo profissional.
Questiona-se, ainda, o que julgam conhecer da legislação: será apenas
uma leitura da mesma sem interpretação, sem fazer as costuras com a prática,
com as necessidades da realidade da profissão? Essas suposições estão
justificadas pela iniciativa do conjunto CFESS/CRESS ao promover cursos
sobre o Código de Ética, propiciando à categoria uma leitura aprofundada,
dialogada, reflexiva sobre um instrumento legal que tem um fundamental papel
jurídico, político e de defesa da profissão. Essa leitura atenta propicia ao
profissional pensar a sua identidade, a representação que tem de si, da sua
profissão e dos próprios usuários dos seus serviços, já que é a partir destes
que a sua identidade é revelada e construída.
Com esses dados pode-se aferir que os Assistentes Sociais possuem,
ainda, dois desafios a serem superados e que, certamente, podem dificultar
sua auto-identificação:
1. a formação pós-graduada ainda não é uma prioridade, possibilitando
que a maioria avance no seu desenvolvimento profissional pelo caminho da
pesquisa para, assim, qualificar sua prática e transformá-la rumo à uma nova
identidade profissional;
2. o conhecimento sobre o referencial da base formativa, as novas
diretrizes curriculares são desconhecidos por 56,11% dos profissionais.
Tomando como exemplo o estágio curricular, ao não conhecer as bases
formativas atuais (os saberes, os princípios, as teorias), que fundamentam e
direcionam a profissão, o profissional fica limitado de, na ação de supervisionar
estagiários, fornecer subsídios para que estes futuros profissionais saibam qual
o seu papel no espaço da prática, de como ele pode fazer a ponte com as
teorias/saberes apreendidos na Universidade e os da prática. Como concebe
Pourtois e Desmet (1999, p. 148), a “[...] identidade que o sujeito reconhece
parece o reflexo do olhar do outro.
Em síntese, se o profissional Assistente Social encontra-se alheio aos
saberes contemporâneos que permeiam a profissão, as novas bases teórico-
metodológicas, ao mundo da pesquisa, aos novos e tradicionais espaços de
trabalho que estão se revelando, a identidade construída historicamente
continua sendo a mais reconhecida e legitimada. A sua representação de si, e
a do outro sobre si fica centrada em uma concepção restrita e simplista do que
é a profissão. Na perspectiva da importância do saber na construção da
identidade, Charlot (2000) expressa que
Ao considerar que “não existe uma identidade para sempre, [pois] ela
evolui e muda em processos de continuidade e rupturas, numa relação
dialética” (RAMALHO, 2005, p. 8), se concebe que os saberes apreendidos no
espaço da formação (Universidade), da prática (instituições empregadoras),
nas relações profissionais (usuários, colegas de trabalho) e pessoais (em casa,
na comunidade, na sociedade) vão formando o profissional, o tornando
conhecido, legitimado, referenciado, significado no tempo e no espaço em que
interage, enfim, forma-se a sua identidade individual e profissional.
Investigando sobre a identidade profissional do professor, Botía, Cruz e
Ruiz (2004) diagnosticam que a identidade individual/pessoal “se configura,
como uma transacción recíproca (objetiva y subjetiva), entre la identidad
atribuída por otros y la identidad asumida.” Enquanto que, a identidade
profissional “se configura como el espacio común compartido entre el individuo,
su entorno profesional y social y la institución donde trabaja.” (BOTÍA; CRUZ;
RUIZ, 2004, p. 2). Ambas se comungam por uma se desenvolver a partir e
sobre a outra; por uma ser objeto de edificação ou (re) construção da outra.37
Discutindo a identidade profissional do Assistente Social, sinaliza-se que
esta é representada para intervir no espaço da Educação Escolar contribuindo
junto à sociabilização com a família, para resolver os problemas que afligem a
escola, os quais esta não sabe como resolvê-los. Essa é uma opinião coletada
junto à gestão e coordenação pedagógica de seis escolas públicas da cidade
de Natal/RN quando se realizou a pesquisa sobre a necessidade do Serviço
Social nas escolas, no Curso de Mestrado (conforme expressado na
Introdução). As falas abaixo expressam qual seria o papel do Serviço Social
nas escolas:
37
O uso de argumentos teóricos sobre as dimensões identidade, profissionalização, saber e competência
trabalhadas no estudo sustenta-se, em muito, por teorias de pesquisadores da área de Educação diante dos
estudos já desenvolvidos sobre essas temáticas, pela articulação realizada nesse estudo sobre o Serviço
Social e a Educação, bem como, pela sustentação e aproximação teórica que os argumentos viabilizam.
Sendo a família alicerce do indivíduo desde o seu nascimento, trabalhar
com esta instituição não pode ser descartada pelos profissionais que lidam com
relações humanas. Entretanto, é necessário que o Assistente Social construa e
defina junto a esse público uma identidade profissional para si e para o outro
tendo claro:
1. a sua função dentro da instituição;
2. o papel que assume junto a uma equipe interdisciplinar;
3. o conhecimento que possui do público de atendimento, da sua
realidade;
4. os objetivos que direcionam a sua ação;
5. os instrumentais técnico-operativos que o profissional tem acesso;
6. os apoios humanos, administrativos, técnicos (dentro e fora da
instituição) existentes para viabilizar a eficácia do trabalho;
7. os serviços oferecidos dentro da instituição;
8. e qual formação, capacitação teórico-metodológica é possível e
necessária ser realizada.
Ao discutir sobre a função pedagógica do Serviço Social, Abreu (2002b)
trabalha, em um dado momento, uma linha de pensamento em que articula a
intervenção do Assistente Social à educação, inferindo que ao atuar na
perspectiva da emancipação dos sujeitos inseridos nesse espaço institucional –
a escola – este profissional tem o desafio de “[...] fortalecer, via prática político-
profissional, processos concretos de luta, de articulação de forças, no sentido
de ampliar cada vez mais a incorporação de vastos segmentos e de suas
necessidades nas políticas estatais[...]”. (ABREU, 2002b, p. 218).
Nessa linha de raciocínio, a função pedagógica do Assistente Social é
sinalizada como parte da história da profissão que, conseqüentemente, marca
a sua identidade e se faz aparecer na prática. Entretanto, ao tratar dessa
função, particularmente no espaço da Educação Escolar, vê-se que existe certo
desconhecimento do papel do Assistente Social a ser assumido, das
competências e saberes necessários para o seu exercício nesse espaço de
trabalho.
Em pesquisa realizada com Assistentes Sociais, Gentilli (1998) destaca
seis aspectos identificados como problemáticos na identidade profissional: 1. a
complexidade das mediações realizadas na prática; 2. os problemas de
reconhecimento profissional; 3. os desafios práticos decorrentes de
reconhecimento profissional; 4. os desafios práticos decorrentes de uma falta
de reflexão maior sobre a instrumentalização profissional; 5. o despreparo
técnico; 6. as questões institucionais e a eficácia social da profissão.
(GENTILLI, 1998, p. 74).
Decorre desse diagnóstico que a identidade profissional do Serviço
Social, especificamente no contexto da escola, é construída também a partir do
trabalho que é operacionalizado; das relações estabelecidas com a
comunidade interna e externa à escola; do conhecimento da sua competência
naquele contexto específico; das mediações construídas com os órgãos
públicos de direito, de defesa e representação da sociedade civil.
O Assistente Social, no seu exercício profissional, também produz saber,
portanto, se forma e aprende na prática, sendo essa uma experiência que
mobiliza informações, conhecimentos, novas aprendizagens e saberes.
Segundo Nicolau (2005a, p.102),
38
“No direito francês, a posição de assalariado é definida pela existência de um laço de subordinação
entre o assalariado e seu empregador, isto é, de um compromisso de obediência às regras antecedentes e
exógenas em relação à atividade prestes a ser cumprida. Inversamente, as profissões liberais são definidas
pelo fato de que o profissional regula sua ação com base nos conhecimentos disponíveis em sua
especificidade e nas regras deontológicas do grupo a que pertence”. (JOBERT, 2003, p. 223).
políticas sociais com a possibilidade de ser não apenas um executor destas,
mas um propositor de programas e serviços públicos.
Retomando a análise da profissionalização como processo, Gauthier
(2001) complementa que esta consiste em formalizar os saberes, habilidades e
atitudes necessárias ao exercício de uma profissão, e fazer com que essa
perícia especializada seja reconhecida pela sociedade. Esse processo refere-
se a dois tipos diferentes, que se complementam: a profissionalidade (processo
interno) e o profissionalismo (processo externo).
A profissionalidade consiste em um conjunto de características mais ou
menos formalizadas de uma profissão aonde, de posse de saberes, vão se
construindo as competências para atuar como profissional. Através da
profissionalidade o profissional adquire os conhecimentos necessários, os
saberes específicos de sua profissão para desempenhar as suas atividades.
(RAMALHO; NUÑEZ, 2005, p.5). O profissionalismo é o próprio
reconhecimento social e legal em troca de certos privilégios,
O mesmo autor registra, ainda, que uma profissão para ser considerada
como tal abarca três dimensões, quais sejam: econômico-lucrativa - ao
receber um salário pela sua força de trabalho; técnica - ao possuir um saber
teórico-metodológico que subsidie sua prática; e ética - que concerne à
licitude, ao respeito, à honestidade na prática profissional, sem esquecer,
entretanto, a vocação para exercer aquele tipo de trabalho.
Por outro lado, Barros (1983) cita cinco aspectos necessários para
considerar uma atividade como profissional:
1. A atividade deve exercer-se em campo ou área definida do
conhecimento e ou da intervenção.
2. Deve desempenhar uma função específica dentro dessa área.
39
Em tempos atuais, esse “trabalho estável” apregoado pelo professor Fernando Ávila está
gradativamente perdendo espaço no mercado de trabalho, dando margem a trabalhos informais e
instáveis. Ao se referir à profissionalização, Nuñez e Ramalho (2002) argumentam que a
profissionalização participa do movimento global de ‘terceirização’ das sociedades desenvolvidas e de
aumento contínuo das forças de trabalho afectas aos serviços, nomeadamente na área do trabalho e
assistência às pessoas [...]. Quando o progresso tecnológico garante um aumento de produção de bens e
consumo com cada vez menos postos de trabalho [...] é evidente que a multiplicação, a diversificação, a
sofisticação e a estratificação dos postos de trabalho do setor terciário é a única alternativa ao desemprego
em massa”.
3. Deve possuir ou ter condições de elaborar continuamente um corpo
específico de conhecimentos teóricos transmissíveis e uma metodologia
específica, também transmissível, seja de elaboração e sistematização de
conhecimentos, seja de intervenção.
4. Deve, ainda, ser reconhecida legalmente, ou, pelo menos,
tacitamente, pela sociedade como atividade da qual se espera prestação de
determinado serviço.
5. Finalmente, deve tender a organizar-se no que diz respeito ao seu
desempenho funcional e enquanto grupo profissional. (BARROS, 1983, p. 8).
Para Lieberman (apud RAMALHO, 1993) uma ocupação para se
transformar em profissão apresenta dentre suas características: a realização de
serviços sociais importantes, claramente definidos e executados com base em
conhecimentos específicos; a existência de um Código de Ética para
regulamentá-la; e uma base profissional e de pesquisa com caráter científico.
Desta forma, o Serviço Social tem definido como núcleo de atenção da
profissão a questão social. A questão social faz parte de um conjunto de
fatores complexos e desafiadores que vêm sendo objeto de estudo da
profissão desde o seu surgimento, com o Assistente Social intervindo, mais
ativamente (dada a sua própria gênese), junto à classe desprovida dos bens e
serviços públicos.
Entretanto, entende-se que o Assistente Social deve ser reconhecido,
valorizado como profissional que possui uma dimensão intelectual, técnica,
política e educativa para atuar em outros níveis sociais; não são apenas
profissionais que lidam com o imediato, para sanar os problemas, ao invés de
preveni-los. Como diz Junqueira, “[...] já é abundante a legislação específica
que reconhece e regulamenta o Serviço Social como profissão. Mas, se de um
lado o reconhecimento legal se robustece, do lado da sociedade, esse
reconhecimento se enfraquece” (grifo nosso)40, caso a categoria não consiga
se legitimar perante à sociedade e aos próprios profissionais que a compõem.
Para ser valorizada como profissão, é necessário que a categoria dos
Assistentes Sociais tenha uma organização estável e bem formalizada por
40
Em Comunicação apresentada ao I Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais para debates no
Simpósio Interprofissional sobre Serviço Social, Psicologia e Sociologia, na cidade do Rio de Janeiro/RJ.
Citado por Décio Barros no livro “Serviço Social: profissão ou ideologia?” (BARROS, 1983).
meio dos Conselhos Federal e Regionais de Serviço Social, e das Associações
e Grupos de Pesquisa nessa área41.
Quando se reporta à profissionalidade do Serviço Social, Gentilli (1998)
considera que este é um processo que envolve regras, normas, atitudes,
procedimentos e competências que devem estar imbricadas no saber-fazer do
Profissional. Essa profissionalidade é, portanto, decorrência de fatores com
formulações teóricas, políticas e ideológicas; organizações e sistematizações
teórico-metodológicas; prescrições moralizadoras e socialmente organizadas.
(GENTILLI, 1998, p. 76-78).
Em estudo realizado sobre a identidade profissional do Assistente
42
Social , Gentilli (1997, p.143) apreendeu junto a um grupo de Assistentes
Sociais a seguinte definição:
41
O Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, instituído pela Lei 8662/93, é uma entidade nacional,
de natureza jurídica de direito privado, com poder delegado pela União, que tem como atribuição: a
normatização, a fiscalização, a orientação, a supervisão, a disciplina e a defesa do exercício profissional
dos Assistentes Sociais brasileiros. Hoje, existem 24 Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS) em
todo o país, que compõem o Conjunto CFESS/CRESS. São cerca de 57.000 profissionais, o maior
contingente da América Latina e do mundo (CFESS, 2001).
42
A Assistente Social Raquel de Matos L. Gentilli elaborou, em 1994, sua tese de doutorado tendo como
objeto de estudo “Identidade Profissional do Serviço Social: diversidade e pluralidade”. A partir desta,
desenvolveu o artigo “A prática como definidora da identidade profissional do Serviço Social”, que
expressa as representações apreendidas a partir da coleta de dados com outros profissionais acerca,
também, da categoria Profissão.
História do Serviço Social, Planejamento Social, Pesquisa em Serviço Social e
outras disciplinas43.
Nesse escopo teórico, o Serviço Social começou como profissão no
momento em que incorporou procedimentos científicos em sua atuação, sem
desconsiderar, portanto, o seu trabalho, o seu comprometimento político,
social, educacional com objetivos, objetos, papéis, funções, áreas de atuação,
seu avanço acadêmico, por meio da institucionalização da pesquisa. O Serviço
Social é uma profissão, nos dizeres de Iamamoto (1999b), porque “[...] produz
serviços que atendem às necessidades sociais, isto é, tem um valor de uso,
uma utilidade social.” (IAMAMOTO, 1999b, p. 24); para Silva (1984), “[...] surge
e se institucionaliza quando procura dar resposta a uma demanda social
concreta [...]”. (SILVA, 1984, p. 36).
O conhecimento das finalidades, dos sujeitos e objetos de estudo, das
estratégias de operacionalização que pautam uma determinada profissão é um
processo de construção social e histórico que integra teorias, métodos,
técnicas, habilidades, saberes que a define. É importante pontuar que não
existe uma única definição do que seja profissão, o melhor conceito para
identificá-la. Este não é um termo que tenha claro os limites da sua elaboração
e aplicação.
Para se debater a profissão do Serviço Social, e para a apreensão das
novas demandas, dos novos atores sociais, das perspectivas presentes no
cenário contemporâneo, é pertinente apropriar-se das configurações mais
determinantes que perfazem esse cenário social, que solidificam ou destroem
as relações sociais, as relações entre o homem e a natureza na perspectiva de
harmonia. Desta forma é que se podem confrontar, com maior propriedade, os
velhos e novos desafios, as questões sociais44 que a realidade impõe.
43
Em específico ao Curso de Serviço Social da UFRN, o plano curricular é o norte no processo de
formação profissional dos futuros Assistentes Sociais, estruturando-se da seguinte maneira: Disciplinas
Obrigatórias: Sociologia I e II, Filosofia, Fundamentos de Economia Política, Antropologia, Teoria
Política, Trabalho e Sociabilidade, Psicologia Aplicada a Serviço Social, Pesquisa em Serviço Social,
Administração e Planejamento em Serviço Social, Ética Profissional e Serviço Social, Fundamentos
Históricos, Teóricos-Metodológicos do Serviço Social I, II e III, Política Social, Direito e Legislação
Social, Classes e Movimentos Sociais, Capitalismo e Questão Social, Serviço Social e Processos de
Trabalho, Formação Social, Econômica e Política do Brasil e do Nordeste, Seminário de Estágio I e II,
Seminário de TCC, Orientação ao TCC. E, dentre as disciplinas eletivas, Tópicos especiais em Políticas
Sociais e Setorias e Gênero. (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2000).
44
No VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social - ABEPSS -, em novembro de 2000, na
cidade de Brasília, a Assistente Social e Professora Potyara Pereira remeteu a seguinte assertiva: “O que
Tem-se para o Profissional do Serviço Social um desafio, que é
intelectual: o de recuperar a finalidade da profissão, de construir estratégias
orientadas sem perder de vista os novos processos que marcam a sociedade.
Necessita-se colocar em prática novas idéias, intervenções mais
fundamentadas, conquistando espaços de trabalho antes colocados como
específicos a outras profissões. É preciso sair da defensiva, enfrentar o núcleo
do problema, operar com uma racionalidade que permita,
existe pela frente [na atualidade social] é uma incômoda e perigosa não-questão social, e não uma questão
social”. Os Profissionais de Serviço Social têm como desafio contemporâneo uma não-questão social
concernente às necessidades, demandas que existem na prática, mas que não foram problematizadas por
atores politicamente situados; são manifestações pontuais que ainda não foram articuladas, decifradas,
colocadas na agenda pública para serem efetivamente enfrentadas.
Para Montaño (2000), o que legitima uma profissão são as respostas
dadas a determinadas demandas sociais, e quando existem
organizações/instituições com interesse e capacidade de contratação de
profissionais. Para tanto,
45
Como já referenciada no item anterior, reforça-se agora que a expressão sistematização é retratada não
apenas como um ato de classificação e organização de um conjunto de idéias. Mas, no âmbito do Serviço
Social, como um processo de reflexão teórica da profissão do Serviço Social que permite uma auto-
avaliação, um investimento teórico-metodológico e investigativo da prática. (GUERRA, 2005).
Sistematizar é revelar, para si e para outrem, de forma lógica e ordenada a maneira de pensar, de sentir, de
agir, de interagir nas situações do fazer profissional. A sistematização permite que o profissional se inclua
no próprio processo de trabalho, evitando que sua ação/atividade seja vista como um apêndice; assim
como, a partir desse processo é possível consolidar “[...] uma nova dimensão às tradicionais formas de
registro da prática profissional, superando uma lacuna histórica no Serviço Social, e há muito reclamado,
que é a ausência de socialização das experiências profissionais[...]”. (ALMEIDA, 1997, p. 91, 92).
Discutindo sobre as idéias e polêmicas em torno da noção de
competência, ressalta-se que a origem e amadurecimento do seu uso e
reflexões partem, em grande medida, de economistas, sociólogos, psicólogos e
pedagogos ligados ao estudo e pesquisa junto ao setor do operariado fabril.
Reconhece-se no discurso de educadores, autoridades governamentais,
economistas e até pesquisadores o termo competência associado à
habilidades e capacidades gerais - habilidades interpessoais, trabalho em
equipe, comunicação, espírito inovador, negociação, ação, intervenção,
decisão, entre outros. São expressões supostamente requisitadas e tidas como
importantes diante das exigências do contexto socioeconômico, no qual os
profissionais deverão lidar, simultaneamente, com o grande volume de
informação, as rápidas mudanças tecnológicas, a reestruturação produtiva, o
deslocamento do capital industrial para a “acumulação flexível”, a ampliação do
setor de serviços.
Autores como Ropé e Tanguy (1997), Manfredi (1998) e Stroobants
(1998) argumentam que na atual ênfase dada na noção de competência, o que
há na verdade é um deslocamento ou ressignificação da noção de qualificação.
Desse modo, se considera que a adoção da primeira noção (competência) se
dá em função de uma ampliação dos conteúdos e requisitos colocados,
anteriormente, para a segunda (qualificação), tornando mais fluidos alguns
códigos sociais que já existiam.
Embora sejam importantes as reflexões sobre as implicações
econômicas e sociológicas do deslocamento da noção de qualificação para
competência (ROPÉ e TANGUY, 1997; STROOBANTS, 1998; TANGUY,
1998), e observando a possibilidade polissêmica da noção de competência,
haverá sempre diferenças consideráveis no conteúdo de sua definição,
conforme cada área de atuação, em relação às suas respectivas tarefas,
valores ou, ainda, matizes epistemológicos de cada campo de conhecimento.
De qualquer maneira, sejam quais forem as referências para o estudo de
uma intervenção profissional, elas serão circunstancialmente diferentes
daquelas utilizadas para pesquisa, análise e reflexão do trabalho operariado,
que é objeto de parte da literatura sobre competência. Junto a isso, então,
deve-se assumir também que o meio onde o profissional deve operar uma
determinada intervenção é contingente e vinculado a espaços socioculturais.
Portanto, para Manfredi (1998) algumas conotações relativas à noção de
competência precisam ser examinadas com cautela, pois são pautadas
exclusivamente em princípios de racionalidade técnica, constituída muitas
vezes a partir de referências comportamentalistas. (PATTO apud MANFREDI,
1998).
O que de certa forma se está procurando, são medidas universalizadas
e padrões a serem seguidos, encobertos por subterfúgios como habilidades
gerais, referências de conduta e determinadas experiências individuais, os
quais acabam servindo como parâmetros de exclusão ou para não
reconhecimento de habilidades outras que não aquelas colocadas como
referência.
Perrenoud (2001), ao abordar a problemática da noção de competência
aplicada à profissão do professor, também destaca que alguns “referenciais de
competências” que são construídos para fomentar a formação inicial acabam
se tornando, por via de regra, referenciais muito gerais, na maior parte das
vezes, desconectados de uma real análise das tarefas que fazem parte da
intervenção profissional. Argumenta ainda que “[...] as competências permitem-
nos enfrentar a complexidade do mundo e nossas próprias contradições. Seria
surpreendente que elas coubessem em algumas listas[...]” (PERRENOUD,
2001, p.14).
Stroobants (1997 e 1998) destaca que muitos dos estudiosos concordam
sobre a complexidade e extensão das manifestações de competência durante o
processo de intervenção, no entanto, pontua que não há consenso no
momento de se definir os conhecimentos observados. Para a autora, mais
importante do que adotar categorias de saberes e de competências como
fatores explicativos, é preciso tomá-las como objetos a explicitar.
Para o aprimoramento e estudo da competência, então, se tem claro,
segundo Meghnagi (1998) a necessidade de se avançar da idéia de
simplesmente definir ou demarcar tarefas, procurando uma correlação
instaurada com conhecimentos que, supostamente, as embasariam. Dessa
forma,
SABER
46
Constatou-se a impossibilidade desta parceria quando não se obteve resposta dos contatos estabelecidos
com as Secretarias. Contribuindo com a pesquisa, o CRESS do Rio Grande do Norte enviou ofícios, fax,
Com a impossibilidade de contar com as Secretarias Estadual e
Municipal de Educação, a pesquisa centrou o estudo empírico no Conselho
Federal de Serviço Social (CFESS), Conselhos Regionais de Serviço Social
(CRESS) e Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
(ABEPSS).
O primeiro encontro formal, para apresentação da pesquisa, realizou-se
em setembro de 2003, no 32º Encontro Nacional CFESS/CRESS (conforme
detalhado no procedimento Metodológico, na Introdução). Aproveitou-se o
momento para coletar, por meio de um Questionário,47 informações junto aos
representantes dos Conselhos Regionais. No momento, se apresentou a
proposta do estudo argumentando sobre a sua pertinência para a profissão do
Serviço Social e no cenário da Educação. Logo após, representante do CFESS
se posicionou reafirmando a importância da contribuição de todos os Regionais
para o andamento das discussões sobre a temática.
Foi um momento significativo para o estudo, sendo possível tecer
articulações com outros pesquisadores, profissionais estudiosos da temática.
Após esse contato, outros foram firmados a fim de se obter os retornos dos
questionários.48
Em 2006, o CFESS e os CRESS passam por um processo de eleição e
uma outra gestão assume dificultando, assim, o retorno dos questionários.
Muitos Regionais alegaram que a descontinuidade de vários Conselheiros na
gestão dificultou o preenchimento e retorno dos questionários. O que se verifica
é que existe em muitos Regionais um esfacelamento da categoria participando
do Conselho. Sendo assim, muitas atividades não são encaminhadas,
deliberadas, respondidas ao destinatário por falta não só de recursos humanos,
mas, por ineficiências para agilizar algumas ações.
e-mails e agendou reuniões, pessoalmente, com os Assessores dos Secretários, mas, nenhuma resposta foi
obtida.
47
As perguntas do questionário constam em uma tabela do item 4 (Procedimento Metodológico), na
Introdução, e no item 4.3 deste Capítulo.
48
E-mails aos CRESS’s solicitando retorno do questionário e contribuição com a pesquisa: 25/09/2003,
1/10/2003, 6/10/2003, 8/10/2003, 26/05/2004, 4/06/2004, 15/03/2005, 2/2/2006. Alguns CRESS alegaram
ter perdido o questionário e solicitaram o reenvio; outros, que tinham deixado uma Comissão responsável
para responder as questões e esta não o fez. Envio de dois faxs reforçando a importância para a pesquisa
da contribuição de todos os Conselhos; duas cartas e e-mails para o CFESS e a ABEPSS solicitando o
apoio à pesquisa.
No caso do CFESS e da ABEPSS, cujos questionários tinham um teor
diferenciado do que foi aplicado aos CRESS, também não se obteve o retorno
das respostas. A ABEPSS, especificamente, não respondeu também aos e-
mails e cartas enviadas. Estas seriam colaboradoras significativas nesse
estudo, considerando a sua missão representativa e formativa no Serviço
Social.
Entretanto, o estudo considera pertinente sistematizar as informações
obtidas sobre o que vem sendo pensado e deliberado sobre o Serviço Social
na Educação, a partir dos materiais produzidos pelo CFESS sobre o tema de
estudo, e dos Relatórios dos Encontros Nacionais CFESS/CRESS, sendo a
ABEPSS um dos órgãos participantes das deliberações encaminhadas nesses
Encontros.49
Mesmo não sendo possível cruzar as respostas do questionário do
CFESS/ABEPSS com as dos CRESS’s, os conteúdos presentes nos
documentos demonstram que existe um debate formal sendo aprofundado nos
órgãos de representação, fiscalização, defesa e formação da profissão. Nesse
estudo, fica claro como esses documentos são referências na discussão do
tema dentro dos Conselhos Regionais.
Em síntese, durante todo processo de mobilização com os Conselhos e
a Associação ficou nítida a dificuldade de um maior engajamento dos órgãos
representativos da profissão com as pesquisas que estão sendo viabilizadas
pelos próprios profissionais, os quais pertencem ao movimento de representar,
defender, fiscalizar, pensar o Serviço Social. Se, estando dentro do Conselho,
com o apoio do CFESS, foi possível contar com a participação de apenas 12
(doze) Conselhos, questiona-se quantos iriam participar do estudo se não
houvesse ligação e conhecimento da pesquisadora com esta rede?
Portanto, abaixo se evidenciam os Conselhos Regionais que
participaram desse estudo:
CRESS 1ª Região – Belém/PA
CRESS 2ª Região – São Luís/MA
CRESS 3ª Região – Fortaleza/CE
CRESS 4ª Região – Recife/PE
49
Dentre os materiais produzidos pelo CFESS sobre o tema ver, a propósito: CFESS (2003, 2004, 2005,
2006).
CRESS 5ª Região – Salvador/BA
CRESS 9ª Região – São Paulo/SP
CRESS 10ª Região – Porto Alegre/RS
CRESS 11ª Região – Curitiba/PR
CRESS 12ª Região – Florianópolis/SC
CRESS 14ª Região – Natal/RN
CRESS 15ª Região – Manaus/AM
CRESS 20ª Região – Cuiabá/MT
CRESS 21ª Região – Campo Grande/MS
Denota-se que dos 13 (treze) Conselhos 38% são da Região Nordeste,
mesmo espaço territorial da pesquisa, e 23% da Região Sul, constando nos
Conselhos representantes que também investigam o tema do Serviço Social na
Educação. Destaca-se, ainda, que os CRESS’s das 2a, 3a, 5a, 9a, 10a, 11a e 15a
regiões foram os que contribuíram, também, dentre os 24, com a brochura “Em
Questão”, publicada pelo CFESS sobre as “Atribuições privativas do(a)
Assistente Social”, no ano de 2002. Enfim, existe o pouco envolvimento dos
Conselhos Regionais nos próprios estudos e pesquisas viabilizadas pelo
Conselho Federal.
CRESS DOCUMENTOS
1ª Região – Belém/PA - Questionário (respondido completo)
- Questionário (respondido completo)
2ª Região – São Luís/MA - Relatório de visitas das Agentes Fiscais na
área de Educação
- Questionário (respondido completo)
- Ofício
- Folder
3ª Região – Fortaleza/CE
- Política Estadual de Educação Especial
(Secretaria da Educação Básica do Estado do
Ceará)
4ª Região – Recife/PE - Questionário (respondido completo)
5ª Região – Salvador/BA - Resposta apenas das questões 3 e 4
9ª Região – São Paulo/SP - Questões 10, 11 e 12 não foram respondidas
- Questionário (respondido completo)
10ª Região – Porto Alegre/RS
Projeto de Lei n. 165/2003
- Questionário (respondido completo)
11ª Região – Curitiba/PR
- Questionário (respondido completo)
12ª Região – Florianópolis/SC
- Exceto resposta 12
- Projetos de Lei
14ª Região – Natal/RN
- Proposta de Implementação do Serviço Social
na Educação
- Questionário (respondido completo)
15ª Região – Manaus/AM
- Questionário (respondido completo)
20ª Região – Cuiabá/MT
21ª Região – Campo - Questionário (respondido completo)
Grande/MS
Ilustração 6: Relação dos documentos entregues pelos CRESS’S – 2003/2006
Avaliando o conteúdo dos documentos, toma-se como registro
importante o Relatório de Visitas da Fiscalização do Conselho de São Luís, o
qual contempla uma das ações planejadas e realizadas pelos Conselhos, qual
seja: visitas de fiscalização às instituições empregadoras de Assistentes
Sociais, neste caso, em específico, conhecimento do espaço de trabalho dos
profissionais que atuam na área da Educação na cidade de São Luís.
Identificou-se no período de novembro de 2002 a abril de 2003 que 12
instituições, ou seja, 75% do total de instituições identificadas no CRESS/MA
são empregadoras de Assistentes Sociais na área de Educação, totalizando 93
profissionais.51 As instituições identificadas são Centros de Educação
Tecnológica, Universidades, Escolas de Ensino Fundamental, Médio e de
Educação Especial:
Centro Integrado de Avaliação e Diagnóstico Padre João Mohana;
Colégio Adventista
Secretaria Municipal de Educação
Escola Modelo
Centro de Ensino Especial Helena Antipoff
Gerência Metropolitana de São Luís
Unidade Integrada Monsenhor Frederico Chaves
Centro Federal Tecnológico
Unidade Integrada Alberto Pinheiro
Universidade Federal do Maranhão
Escola José Assub
CINTRA
Centro de Apoio Pedagógico Anna Maria Patello Saldanha
Escola Rubem Almeida
Escola Ana Lúcia Chaves Fecury
Escola Especial Inês Santana
Configura-se, nessa realidade, que as escolas se constituem espaços de
trabalho com pouca expressividade de atuação de Assistentes Sociais,
verificando-se que “a inserção destes profissionais nas escolas da rede pública
Municipal e Estadual de Ensino dá-se por iniciativa dos próprios profissionais,
51
Salienta-se que esse resultado só foi possível pela inscrição dos profissionais no Conselho e pelas
visitas de fiscalização realizadas.
que solicitam lotação para tais escolas”. (CRESS/MA, 2003). O Ensino
Superior, na função de docência, revela-se como o maior concentrador de
Assistentes Sociais na área de Educação.
Outro dado importante, constante no Relatório, volta-se para as
atribuições do Assistente Social e os objetivos profissionais na Educação
Escolar. O conteúdo é revelador de uma prática voltada para a garantia e
exercício da cidadania e para o “bom rendimento” dos alunos no processo de
ensino e aprendizagem, visando contribuir na “concretização dos espaços de
democratização do ensino, o qual visa a ampliação da comunidade escolar no
processo de escolarização”. (CRESS/MA, 2003). Revela-se, assim, que dentre
as atividades do Assistente Social se apresentam:
atendimento à família;
palestras educativas;
visitas domiciliares;
trabalho junto aos alunos que apresentam problemas na aprendizagem
e no relacionamento;
triagem de alunos para escola especial;
divulgação de programas e mobilização.
Objetiva-se com estas atividades o fortalecimento das ações e
organizações comunitárias; desenvolvimento integral do aluno, na perspectiva
da cidadania; defesa da liberdade, dos direitos humanos; concretização do
direito ao acesso à educação; melhoria do rendimento escolar.
Denota-se que são focos de ação coadunantes com os princípios
compostos nos documentos legais da profissão – defesa da liberdade, garantia
do exercício da cidadania e a efetivação de direitos – e que, segundo o
Relatório, 57% dos profissionais possuem conhecimento sobre o Código de
Ética Profissional (CEP) e 66% faz relação da prática com as competências e
atribuições preceituadas pela Lei de Regulamentação da Profissão (LRP).
Um ponto a se questionar a partir do citado acima, é como estes
documentos estão sendo interpretados e utilizados como ferramenta
direcionadora e potencializadora da prática profissional, de acordo com as
necessidades e demandas do espaço de trabalho. Referindo-se a Educação
Escolar, o CEP e a LRP são ferramentas fortes para que o profissional
reivindique junto a essas instituições empregadoras elementos fundamentais
para o desenvolvimento do trabalho do Assistente Social: espaço de trabalho
adequado, a fim de garantir o sigilo profissional; equipamentos que facilitem a
agilização das ações; capacitação e formação dos profissionais; conhecimento
da comunidade escolar do papel do Serviço Social dentro dessa realidade.
A impressão refletida é de que o conhecimento destes documentos fica
restrito ao profissional, não sendo utilizados como ferramenta de poder e
efetivação de direitos profissionais junto à instituição empregadora, o que,
conseqüentemente, desqualifica o trabalho junto ao público de atendimento.
Outra consideração, é que estas atividades não são possíveis de serem
trabalhadas sem articulação com os demais profissionais que compõem a
comunidade escolar. O trabalho junto aos alunos que apresentam problemas
na aprendizagem e de relacionamento, por exemplo, é uma ação que necessita
da intervenção, de uma parceria com outros especialistas. Juntos, com
diagnósticos e ações específicos, é possível chegar ao encaminhamento mais
adequado para se trabalhar o caso e contribuir, como objetivam os
profissionais, no rendimento escolar dos alunos.
As demais atividades – triagem, atendimento à família, visitas
domiciliares, palestras -, já fazem parte da história dos instrumentos utilizados
no trabalho do Assistente Social. No entanto, mesmo sendo instrumentos de
trabalho tradicionais da profissão, o que se tem a considerar é a forma como
estes estão sendo utilizadas e com qual objetivo? Dessa maneira, convém
questionar: que resultados e respostas se pretendem no manejo destes
instrumentos? Existe, por exemplo, um retorno destas visitas para a equipe
técnica-pedagógica? Estas são questões a se refletir, haja vista, que a clareza
da identidade do Assistente Social, do objetivo das suas ações, do porquê de
utilizar ou não certos instrumentos de trabalho contribui na intervenção
qualificada junto aos usuários dos seus serviços.
No caso do CRESS/CE, foi enviada a cópia de um Ofício emitido em
setembro de 2002 à Secretaria de Educação do Estado do Ceará solicitando
informações sobre a inserção do Serviço Social na Política Educacional do
Estado. Em resposta, datada em 3 de outubro de 2003, constatou-se que não
existe no quadro da Secretaria nenhum profissional do Serviço Social, assim
como, “nenhum alcance legal para a inclusão do Assistente Social no Sistema
de Ensino”. (CRESS/CE, 2002).
Entretanto, existe um documento preliminar desta mesma Secretaria –
“Política Estadual de Educação Especial: integração com responsabilidade” –,
do ano de 1997, que apresenta o Assistente Social compondo a equipe de
triagem, diagnóstico e acompanhamento em um trabalho de integração das
pessoas com necessidades especiais nas escolas. Específico a função do
Assistente Social nesta equipe, cabe a este articular a escola com a família, o
núcleo de atendimento especializado e as instituições que são parceiras no
atendimento do aluno, além do apoio aos alunos incluídos no Ensino Regular.
De maneira geral, a função da equipe consistia em
52
Na parte 2 desta tese registrou-se a prática de alguns destes profissionais da sua atuação na área da
Educação, a partir de questões enviadas e recebidas via e-mail.
53
De acordo com o CRESS/BA as estudantes se encontravam, no ano de 2003, em processo de
elaboração do citado Trabalho de Conclusão de Curso.
INSTITUIÇÃO ASSISTENTES SOCIAIS
Faculdade Bahiana de Medicina 1
Instituto Social da Bahia - ISBA 2
Faculdade de Tecnologia e Ciências - FTC 1
Universidade Católica do SSA - Viracom 16
Escola Oficina de SSA - UFBA 1
Colégio Antônio Vieira 1
Colégio São José 1
Colégio Nossa Srª da Soledade 1
Universidade Católica do SSA - Viracom - Palma 6
Instituto Adventista de Ensino do NE - IAENE 1
Secretaria de Educação de Catú 1
Secretaria de Educação de Pojuca 1
Colégio 7 de Setembro – Paulo Afonso 1
Universidade Estadual de FSA - UEFS 2
TOTAL 36
Ilustração 7: Atuação profissional de Assistentes Sociais na área de Educação -
Bahia, 2003. 54
35.407
0
0
3.000
3.394 2.119
1.810 1.045
2.524 850 829 1.039 1.840
1ª Região – Belém/PA 2ª Região – São Luís/MA 3ª Região – Fortaleza/CE 4ª Região – Recife/PE 5ª Região – Salvador/BA
9ª Região – São Paulo/SP 10ª Região – Porto Alegre/RS 11ª Região – Curitiba/PR 12ª Região – Florianópolis/SC 14ª Região – Natal/RN
15ª Região – Manaus/AM 20ª Região – Cuiabá/MT 21ª Região – Campo Grande/MS
56
Os números correspondentes a 0 (zero) dos Estados da Bahia (CRESS 5a Região) e do Rio Grande do
Sul (CRESS 10a Região), não responderam a esta questão.
Se o profissionalismo “exige uma consolidação do grupo profissional
com a sociedade para legalizar seu crescimento como grupo profissional,
ganhar prestígio social na base de suas competências, avanços na identidade
do grupo[...]”. (RAMALHO, NUÑEZ, GAUTHIER, 2003, p. 194). O Assistente
Social precisa conhecer, compreender e socializar os instrumentos do seu
trabalho, a sua base metodológica e epistemológica, as suas competências e
seus saberes específicos que lhe dão sustentação para atuar em diferentes
áreas de trabalho. É necessário que a sua ação seja formalizada para se
construir sua identidade profissional e social.
O Assistente Social é um profissional confrontado diariamente com
problemas complexos e diferenciados, e nem sempre compreende e sabe
como solucioná-los de imediato. Entretanto, diante da sua base formativa, dos
saberes construídos em sua formação inicial/continuada, e no espaço da
prática, este tem capacidade e autonomia para buscar suas próprias respostas
e soluções. E, assim, legitimar cada vez mais a sua profissão e aumentar o
nível da sua profissionalização, da sua postura profissional orientada por
objetivos claros e princípios éticos definidos.
É importante destacar que as respostas referentes à Questão 5
(Quantos, em que espaços, e há quanto tempos estes profissionais atuam na
Educação?) revelam de forma ampla os espaços de atuação do Assistente
Social. Para não interpretar as informações de maneira equivocada, decidiu-se
especificar em um Quadro esses espaços possibilitando uma visão mais
detalhada da atuação do Assistente Social na Educação, e depois construir um
Gráfico mais geral para cruzar com o Gráfico 1. Dessa forma, a Ilustração 8 a
seguir demonstra:
Número de
CRESS Espaços de atuação
A.S.
-Secretaria Estadual de Educação/SEDUC 03
-Coordenadoria de Educação Especial 05
-Unidades especializadas/SEDUC 05
-Instituições Especializadas Conveniadas ao 08
1ª Região –
SEDUC
Belém/PA
-Escolas particulares 02
-Escolas da UFPA – INP 04
-Escolas da rede estadual/SEDUC 04
-Escola municipal/Belém 01
-Educação Especial (04 Escolas 20
Estadual/Filantrópica)
-Ensino Fundamental e Médio (09 Escolas 19
2ª Região – São Estadual/Municipal/Privada)
Luís/MA -Ensino superior - docência/técnico (01 40
Federal)
-Coordenação/Gerência/Secretaria (02 14
Estadual/Municipal)
-Núcleo de atendimento especializado 13
-Centro Federal de Educação Tecnológica do 02
3ª Região –
Ceará
Fortaleza/CE
-Pró-reitoria de assuntos estudantis 03
(Universidade Federal do Ceará)
-Secretarias de Educação 04
4ª Região –
-Universidades 33
Recife/PE
-Escolas e creches 10
-Secretaria de Educação -
5ª Região –
-Escola particular -
Salvador/BA57
-Universidade -
-Prefeituras Municipais de Limeira e Não especificou
9ª Região – São Caçapava
Paulo/SP -Universidade Mackenzie
-Universidade de Campinas
10ª Região – Não identificou Não identificou
Porto Alegre/RS
-Secretaria Municipal de Educação 01
(Educação Especial)
-Escolas Particulares 02
11ª Região – -SAE (Serviço de Atendimento ao Estudante) 02
Curitiba/PR na PUCPR e Tuiuti
- Secretaria Municipal de Educação 01
(Município de Ponta Grossa)
-Secretaria Municipal de Toledo 01
12ª Região – -Escolas (Ensino Fundamental e Médio) 07
Florianópolis/SC -Universidades 87
-Escolas (particulares/filantrópicas) Não especificou
14ª Região –
-Universidades
Natal/RN
-Secretarias de Educação
-Secretaria de Municipal de Educação e 09
Cultura
15ª Região –
-Secretaria Estadual de Educação e Cultura 09
Manaus/AM
-Centro Federal de Educação Tecnológica do 02
Amazonas
-Universidade 18
20ª Região –
-Secretaria de Estado de Educação 17
Cuiabá/MT
-Secretaria Municipal de Educação de Várzea 02
57
No capítulo I registra-se que este Conselho enviou uma lista com o nome de 12 profissionais que atuam
na Educação, em Secretarias, Instituições de Ensino Superior e Escolas. Entretanto, existe um
desencontro de informações quando diz que o CRESS/BA tem informação de Assistentes Sociais atuando
nessa área a partir do resultado de entrevistas realizadas por duas estudantes da UCSal, que estão
escrevendo uma monografia sobre essa temática no ano de 2003. Sendo assim, segundo as alunas 5
Assistentes Sociais atuam nesse campo, 4 em Secretarias de Educação e Escolas Particulares e 1 no
Conselho Municipal de Educação. Portanto, considera-se prudente não explicitar no Quadro o número de
Assistentes Sociais de acordo com a lista, apenas os espaços de atuação.
Grande
21ª Região – Não tem conhecimento Não tem
Campo conhecimento
Grande/MS
Ilustração 8: Espaços de atuação do Assistente Social na área da Educação (Dados
coletados nos anos 2003 - 2006)
1ª R egião – B elém/P A
2ª R egião – S ão L uís /MA
3ª R egião – F ortaleza/C E
4ª R egião – R ecife/P E
11ª R egião – C uritiba/P R
12ª R egião – F lorianópolis /S C
15ª R egião – Manaus /AM
20ª R egião – C uiabá/MT
87
40 39
33
19 21
18 18
13 14
10
7 7
2 2 2 3 2 4 3 2 4
0 0
20ª Região – 15ª Região – 12ª Região – 11ª Região – 4ª Região – 3ª Região – 2ª Região – São 1ª Região –
Cuiabá/MT Manaus/AM Florianópolis/SC Curitiba/PR Recife/PE Fortaleza/CE Luís/MA Belém/PA
3ª Região – Fortaleza/CE
4,53
4ª Região – Recife/PE
Fonte:
1,27 Questionários enviados pelos CRESS’s, 2003-2006.
11ª Região – Curitiba/PR
1,92
4,46 12ª Região –
Florianópolis/SC
Fonte: Questionários enviados pelos CRESS’s, 2003-2006.
15ª Região – Manaus/AM
Gráfico 4: Número de profissionais inscritos x Assistentes Sociais atuando
20ª Região na
– Cuiabá/MT
Educação por Região (%)
59
Vale considerar o período em que os dados foram coletados – 2003 a 2006. Na atualidade, outros
Conselhos podem apresentar uma Comissão Temporária de Educação ou, no caso das apresentadas (1a, 9a
e 14a Regiões) esta pode ter sido extinta.
As Comissões Temáticas são importantes espaços de articulação da
categoria junto aos Conselhos, cujos profissionais têm a possibilidade de
participar mais de perto da rotina dos CRESS’s e do que vem sendo discutido
pelos órgãos de representação da profissão. Entretanto, os profissionais da
base (como se chamam os Assistentes Sociais que não compõem a chapa do
CRESS) não fazem uso efetivo desse espaço, o que ocasiona, em alguns
casos, o fechamento da Comissão por não ter profissionais para discutir e
encaminhar as ações.
As Comissões tornam-se, ainda, campo de reflexão da
profissionalização do Assistente Social, quando é possível o profissional
mobilizar o seu pensamento particular junto ao coletivo, construindo outras
referências que contribuam no seu saber e fazer profissional.
As respostas dos Conselhos revelam que o debate dentro das
Comissões gira em torno da discussão dos Projetos de Lei que estão sendo
elaborados nos Estados e Municípios, os quais buscam garantir, legalmente, a
inserção do Serviço Social na Educação, mais especificamente nas escolas, já
que existe um número significativo de profissionais atuando nas Secretarias de
Educação, conforme visualizando nos Gráficos anteriores. É importante
destacar a iniciativa do CRESS do Pará em pensar na possibilidade de realizar
um curso sobre a “instrumentalidade do Serviço Social na escola”,
considerando que por ser um campo de ação com pouca expressividade,
alguns profissionais não têm compreensão do seu fazer profissional nessa
especificidade.
Denota-se, assim, uma das defesas desse estudo, da necessidade de se
formalizar os saberes e as competências do Assistente Social na Educação
Escolar para uma atuação planejada e qualificada; de ampliar os espaços de
discussão entre a categoria do Serviço Social e da Educação, a fim de
aprofundar o que compete ao Assistente Social ao atuar nessa área, qual o seu
papel social, político e educativo em articulação com a gestão e a coordenação
pedagógica.
A categoria organizada tem que lutar pela formalização de um campo de
trabalho – a Educação – que tem estreita ligação com o Serviço Social, pois
são áreas das ciências humanas e sociais que tem, como um dos seus
propósitos, a construção e o exercício da cidadania de crianças, adolescentes,
jovens; a garantia do direito à aprendizagem, ao saber, a socialização dos
conhecimentos. Entretanto, apenas quando o Assistente Social conhecer e
compreender o seu papel dentro da Educação Escolar, do que o aproxima da
proposta pedagógica das escolas, dos saberes e competências específicos
para a sua atuação, é que será possível que a comunidade escolar sinta e
reconheça a necessidade da sua contribuição, do seu trabalho dentro da
equipe pedagógica nas escolas.
Concernente às relações que se tenta estabelecer com as Secretarias
de Educação, com o Governo, nem sempre estas são possíveis. Existe uma
política diferenciada entre os interesses, onde a Educação como prioridade
pública ainda não é um fato constatado. A inserção do Serviço Social nas
escolas não é percebida como prioridade, diante da necessidade de capacitar
professores, estruturar as escolas, oferecer ao aluno um “ensino de qualidade”.
Entretanto, se compreende que a intervenção do Assistente Social abre
espaço, também, para a mediação entre escola e sociedade, entre professores,
alunos e família, em um trabalho partilhado com outros profissionais. Citando
Iamamoto (2002),
60
Muitos outros Projetos de Lei existem, uns mais atuais, outros mais antigos. O CFESS realizou, em
2005, um levantamento de Projetos de Lei Federais, Estaduais e Municipais, de 1974 a 2003, que
objetivam a inserção do Serviço Social na Educação. Os Projetos foram analisados e emitidos pareceres
por um professor/pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A propósito ver no
site www.assistentesocial.com.br, Caderno Especial n. 26, Edição 4 a 25 de novembro de 2005.
No caso desse estudo, compreende-se o Serviço Social na Educação
com a clareza de que as reflexões e análises sistematizadas visam contribuir
no debate sobre a intervenção do Assistente Social no âmbito da instituição
escolar, em seus vários níveis de ensino. O Assistente Social é um profissional
necessário nas instituições escolares, haja vista, as inúmeras e variadas
demandas presentes nesse âmbito.
Assim como se fala em novas competências para ensinar, de trabalho
em equipe, de pedagogias diferenciadas nas escolas, tem-se o desafio de
reconhecer e legitimar outros profissionais (com especialidades na área da
ciência social) que dêem conta, ou, pelo menos, contribuam nas estratégias de
prevenção e enfrentamento das problemáticas emergentes na instituição
escolar, as quais têm estreita ligação com o todo social: violência, exclusão
racial, social, discriminações sexuais, desrespeito, entre outras.
Sendo assim, a sua inserção nessa área deve ser formalizada, as suas
competências devem ser clarificadas, sistematizadas, com sentido. Trata-se
essas competências não como uma receita, um manual para a prática
profissional, mas, “[...] como um horizonte, [e não] um conhecimento
consolidado” (PERRENOUD, 2000, p. 12), como um “eixo orientador” que
serve para “mobilizar os diferentes saberes na solução de situações-problema
no contexto profissional”. (NUÑEZ; RAMALHO, 2002, p. 29).
61
É pertinente assinalar que na Brochura do CFESS (2001) não se utiliza o termo competência, mas, sim,
atividades técnicas profissionais, funções a serem desenvolvidas pelo Assistente Social na Educação.
Nesse estudo utiliza-se a noção de competência por compreender que o seu significado é mais abrangente,
considera e articula as ações teóricas e práticas da profissão, o contexto em que o profissional se situa, os
recursos utilizados em sua atuação, as situações problemas que o profissional precisa conhecer e entender
Assistente Social são as mesmas em qualquer área, devendo estar assegurado
à ação e prática profissional na perspectiva da inclusão social, da defesa de
direitos, da atenção e assistência integral pelo pleno exercício da cidadania.”.
(CRESS/RS, 2003).
Sendo assim, o Quadro a seguir revela as competências do Assistente
Social na Educação segundo os 10 (dez) Conselhos que responderam a
questão.
para agir. Considerando, ainda, que a noção de competência é “característica dos profissionais que se
formam à luz de uma relação dinâmica, complexa, dialogando com o objeto da profissão, num tempo
real”. (NUÑEZ; RAMALHO, 2002, p. 20).
Ilustração 9: Competências do Assistente Social na Educação (Registro das opiniões
dos CRESS’s)62
62
As competências foram seqüenciadas por ordem crescente, ou seja, do menor ao maior número de
vezes em que aparecia nas respostas dos CRESS’s.
RAMALHO, 2002). Por outro lado, não se pode pensar o Serviço Social como
um profissional paliativo, que faz tudo na escola para facilitar o trabalho de
outro profissional.
A competência “trabalhar de forma interdisciplinar”, caracteriza-se como
algo já dado na ação do profissional. Ao intervir em um espaço cujo trabalho
deve ser realizado em conjunto com os demais profissionais, diante da gama
de situações vivenciadas (sucesso e fracasso escolar, jogo de força e poder
entre família e escola), é notório que essa relação seja pré-requisito na prática
profissional, entretanto, pode-se especificar que aspectos essa competência irá
mobilizar.
O termo interdisciplinar está presente em muitas literaturas que tratam a
Educação, o Serviço Social e outras áreas. Nos documentos oficias da
Educação, por exemplo, nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação, a
interdisciplinaridade aparece como proposta de organização curricular. A idéia
de organização curricular, para romper com a fragmentação das disciplinas
escolares, integra há algumas décadas, os discursos da renovação
pedagógica, estando a escola voltada para o desenvolvimento de capacidades
ao invés da transmissão de informações. As práticas interdisciplinares,
contribuindo para o alcance dos objetivos propostos na LDB,
(T) Criação,
A B C D
proposição, realização
T 1% 1%1% 3% E de
F estudos/projetos/progr
13% 3%
3% G amas/pesquisas;
3% H
3% I (S) Realização de
S 3%J diagnóstico
13% socioeconômico;
4%
L (R) Intervenção junto à
4% família/aluno/comunida
M de;
R 4%
N (O) Articulação com
11% instituições
5%
Q O públicas/privadas/assis
11% P 7% tenciais;
8% (P) Coordenação,
elaboração, execução
de programas de
orientação/prevenção/
educação.
Gráfico 4: Competências de maior destaque na opinião dos Conselhos
Diante do Gráfico 4 destacam-se 5 (cinco) competências de maior
visibilidade na opinião dos CRESS, em ordem decrescente – as de menor
destaque podem ser visualizadas, anteriormente, na Ilustração 9.
Verifica-se que são “competências” historicamente demandadas ao
profissional, em seus diferentes campos de atuação, com todas se articulando
por uma estar imbricada na outra. Detalhando essa idéia temos: para a
realização do diagnóstico social do alunado, utiliza-se como uma das
estratégias visitas domiciliares para conhecer de perto a realidade da família e
da comunidade; com as informações coletadas, é possível uma intervenção
mais respaldada/fundamentada junto ao aluno, à família, e à comunidade.
Tendo mais clareza da situação socioeconômica familiar do aluno, é possível
decifrar, com base em estudos, análises, saberes, que articulações externas à
instituição escolar são necessárias de serem acionadas (tipo, programas de
orientação e prevenção) a fim de atender suas necessidades.
Visualizando as “competências” identificadas pelos CRESS e as funções
publicadas na Brochura do CFESS percebe-se que das 19 competências, 8
(oito) não se aproximam do que é colocado pelo Conselho Federal. São estas:
capacitação de recursos humanos, mobilização da escola no enfrentamento
das questões sociais, participação na Associação de Pais e Mestres/Grêmio
Estudantil, participação na elaboração/avaliação do Projeto Político-
Pedagógico, realização de atividades assistenciais/culturais, realização de
estudos/oficinas sobre temas transversais, realização de processos seletivos,
trabalho de aproximação família-escola.
Na Lei de Regulamentação da Profissão, o que se coloca como
“competência” pelos CRESS’s caracteriza-se como atribuição na Lei:
coordenar, elaborar, executar programas e pesquisas; realizar, assessoria,
consultoria, perícia social. E no Art. 4o, das competências, a realização de
estudos socioeconômicos coaduna-se com o registrado pelos CRESS’s.
Ao tratar sobre o Serviço Social na Educação, o CFESS coloca essa
inserção como “possível e necessária”, dada a função social da escola e da
educação ser um direito social. Dessa forma, o Serviço Social vem como
profissão para contribuir na garantia desse direito e na efetivação da cidadania,
dentro de uma sociedade com múltiplas problemáticas sociais e um sistema de
ensino que se encontra “insuficiente”, necessitando de melhorias. (CFESS,
2001, p. 9-11).
Na mesma publicação que trata da temática, o CFESS (2001) apresenta
o Parecer Jurídico 23/00 que analisa e se manifesta sobre a implantação do
Serviço Social nas escolas, de acordo com a sua Assessoria Jurídica. Algumas
notas desse Parecer podem ser assim citadas:
COMPETÊNCIA 1
Descrição da Competência:
No saber e no fazer do Assistente Social já se aponta, historicamente, a
necessidade de se ter um olhar e uma compreensão crítica, reflexiva da
sociedade e do seu campo de atuação. Diferentes fenômenos, subjetividades e
objetividades inserem-se no âmbito escolar, reestruturando o seu processo
educativo e condicionando a comunidade escolar em suas escolhas, atitudes e
necessidades.
Conhecer e interpretar esses fenômenos é uma atitude profissional
indispensável para qualificar a intervenção do Assistente Social nas demandas
concretas surgidas no âmbito de atuação, da problemática presente na escola.
Por outro lado, essa atitude representa um avanço na construção de uma nova
identidade profissional a ser assumida de acordo com novas ações a serem
operacionalizadas que fujam do tradicional assistencialismo assumido nas
práticas.
Considerando que a educação, a escola e a sociedade fazem parte de
um mesmo cenário, os componentes que neste fazem parte são os mesmos –
sujeitos cidadãos que têm um propósito, uma necessidade, um rumo a seguir;
que vivem e sobrevivem em um determinado tempo, espaço, lugar, contexto.
A educação como instância que liberta, reproduz ou transforma a
sociedade; a sociedade composta por um conjunto variado de sujeitos, raças,
classes; e a escola como aparelho ideológico com uma função social, política e
educativa a ser objetivada, são elementos da ação política, pedagógica e
profissional do Assistente Social que, se não formalmente compreendidos,
limita a qualidade da sua intervenção.
As problemáticas presentes hoje na sociedade brasileira, na educação,
nas escolas, não apenas em termos estruturais, mas, sobretudo, na
mentalidade e na moralidade dos sujeitos, reclamam posturas éticas,
pedagógicas, políticas, profissionais. Para tanto, interpretar o que ainda está
mascarado ou aparente na totalidade social é um passo para a (re)estruturação
de um futuro mais inovador no mundo das crianças, dos adolescentes, jovens e
adultos.
Atuar na Educação Escolar, com uma visão mais aprofundada e atual do
que acontece na sociedade, na política educacional, implementando programas
e ações sociais, assistenciais, educacionais, diferencia o Assistente Social
nesse campo no enfrentamento de problemas como acesso e permanência na
rede de ensino, participação inconstante da família nos processos de decisão e
acompanhamento escolar, dissociação entre prática profissional e atitude de
pesquisador.
Componentes da competência:
a) Realizar diagnóstico socioeconômico do alunado partindo da sua
base familiar e comunitária, utilizando uma postura crítica, reflexiva, de
pesquisa;
b) Utilizar estratégias de trabalho (instrumentais, técnicas, métodos)
que facilitem e operacionalizem as ações;
c) Promover, no âmbito da escola, momentos de interlocução e debates
sobre as questões sociais que afligem na atualidade a vida dos sujeitos;
d) Aperfeiçoar continuamente seus conhecimentos e instrumentos de
trabalho a partir da demanda e das necessidades apresentadas no espaço da
prática.
COMPETÊNCIA 2
Descrição da Competência:
Cada profissional possui sua especialidade, seus saberes particulares
que ampliam e fortalecem o seu trabalho quando são construídas redes de
parceiros para contribuir e encaminhar as inúmeras demandas, serviços,
necessidades individuais e coletivas no âmbito escolar. Vivendo uma realidade
de recursos escassos (materiais, humanas, tecnológicas), as escolas carecem
de estratégias para agilizar a execução do seu projeto pedagógico, tornando-o
qualificado e eficaz. O Assistente Social, portanto, insere-se na escola como
mais um profissional necessário nesse espaço, mas, não é o único e não
detém o poder de solucionar e encaminhar todas as ações e serviços.
COMPETÊNCIA 3
Descrição da Competência:
O profissional de Serviço Social assume como uma das suas tarefas não
apenas a execução de projetos e programas, mas, sobretudo, a elaboração,
proposição e coordenação no sentido de acompanhar cada objetivo a ser
atingido, as demandas a curto, médio e longo prazos a serem satisfeitas, a
participação e o interesse dos sujeitos inseridos no processo educativo.
O Assistente Social deve assumir atitudes de pesquisador - cercear ele
mesmo o que quer saber, construir e definir suas questões de estudo, seus
argumentos para defender suas posições epistemológicas. Como profissional
pesquisador na Educação Escolar, o Assistente Social tem na prática o seu
campo de pesquisa para, aliado a teoria, aos seus saberes, interrogar a
coerência, a pertinência e o alcance de suas ações, de seu projeto ético,
político, pedagógico.
A escola, portanto, vem a ser o seu campo de estudo, de pesquisa, de
desenvolvimento profissional para elaborar, coordenar e executar
projetos/programas, partindo de um conhecimento científico, de um saber
formalizado. Dessa forma, o desenvolvimento profissional do Assistente Social
concretiza-se como uma atitude investigativa, de pesquisa, de questionamento
e busca de soluções, e isso o diferencia nesse espaço quando esta
competência pressupõe uma base formativa-investigativa fundamentada.
O Assistente Social contribui para que os problemas emergentes no
âmbito escolar sejam prevenidos, minimizados e (almeja-se) solucionados.
Entretanto, este não é um ato isolado, individual, pessoal. A elaboração e
execução de projetos ou programas de prevenção atrelam-se ao projeto
político-pedagógico da escola, o qual define o rumo do processo de ensino, de
aprendizagem e de formação.
A proposição e operacionalização de projetos/programas preventivos,
com um cunho político-pedagógico consistem no desenvolvimento de ações
voltadas para questões como violência, evasão, exploração, e outras,
vivenciadas no seio familiar e comunitário, as quais interferem em todo
procedimento de socialização e amadurecimento intelectual, humano do
alunado, bem como, na inserção do aluno na vida escolar e nas aprendizagens
curriculares.
Componentes da Competência:
a) Participar ativamente das reuniões da equipe pedagógica e técnica;
b) Intercambiar idéias entre a comunidade escolar sobre a pertinência
dos projetos e programas a serem desenvolvidos;
c) Definir e organizar, com demais profissionais integrados à escola,
projetos e programas em função das demandas e dos objetivos a serem
atingidas na proposta política-pedagógica da escola;
d) Definir as situações que requerem a colaboração de outros
profissionais, membros da equipe pedagógica, instituições na condução do
projeto/programa.
COMPETÊNCIA 4
Componentes da Competência:
a) Definir as funções a serem assumidas e as ações a serem
executadas;
b) Discernir os valores que aparecem em suas intervenções;
c) Respeitar e fazer ser respeitados os princípios, direitos e deveres
atribuídos a sua profissão;
d) Justificar, sempre que necessário, suas decisões, seus pareceres,
sua postura profissional frente aos casos que atuou;
e) Evitar qualquer forma de discriminação e desrespeito aos direitos
humanos;
f) Utilizar de maneira adequada a base legal que rege a profissão,
fazendo-a ser conhecida e compreendida pelos demais profissionais da escola.
COMPETÊNCIA 5
Componentes da Competência:
a) Definir, dentro da proposta de trabalho, os objetivos a serem
alcançados que necessitam do apoio de outras especialidades;
b) Confrontar e analisar, em conjunto, o projeto pedagógico da escola,
bem como as situações complexas apresentadas no contexto escolar;
c) Discernir as situações que requerem a colaboração de outros
profissionais e o papel de cada um na condução do caso;
d) Organizar encontros, reuniões que possibilitem a troca das práticas
profissionais e a análise da condução das ações.
Descrição do saber:
Além das disciplinas ofertadas no Curso de Serviço Social, como
Filosofia do Serviço Social, Política Social e Serviço Social, compreende-se a
necessidade de disciplinas específicas à Educação, podendo estas serem
cursadas no Curso de Pedagogia, como: Fundamentos Sociopolíticos e
Econômicos da Educação, Sociologia, Filosofia e Psicologia da Educação,
Política e Planejamento Educacional. Saberes das ciências sociais, humanas e
da educação.
Reflete-se, ainda, que saberes disciplinares como Processo de
intervenção do Assistente Social na Educação, Serviço Social na Política de
Educação poderiam ser ofertadas nos Cursos de Serviço Social como
disciplinas optativas para quem possui interesse em atuar nessa área. Os
saberes processados nestas disciplinas possibilitam uma base de
conhecimento e formativa para as primeiras construções sobre sociedade,
educação, escola, problemáticas sociais.
Descrição do saber:
As legislações abaixo, pertinentes à área da Educação e do Serviço
Social, são fundamentais de conhecimento e interpretação, sendo a base do
saber legal para a atuação do Assistente Social na Educação Escolar:
− Código de Ética da Profissão
− Lei de Regulamentação da Profissão
− Lei Orgânica da Assistência Social
− Estatuto da Criança e do Adolescente
− Declaração dos Direitos Humanos
− Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
− Declaração dos Direitos Humanos
− Lei de Diretrizes e Bases da Educação
− Política Nacional da Educação (Infantil, Educação Especial, de acordo
com o nível da instituição de ensino)
− Política Estadual ou Municipal da Educação
− E outras leis locais, regionais, nacionais percebidas na própria prática
como necessárias.
Descrição do saber:
Estudo das idéias pedagógicas, a fim de assumir uma atitude reflexiva
diante das práticas e dos problemas educacionais, dentre outras: pensamento
pedagógico iluminista (Herbart), positivista (Durkheim), socialista (Marx,
Gramsci), progressista (Freire) e tecnológico (Skiner).
Estudiosos da temática do Serviço Social na Educação e da dimensão
educativa do Assistente Social, dentre outros: Marina Abreu, Ney Almeida,
Sarita Amaro.
Métodos, técnicas e instrumentos de pesquisa que auxiliem na
intervenção (individual ou grupal), dentre outros: pesquisa participativa,
pesquisa ação, estudo de caso, grupos focais de discussão.
Descrição do saber:
Conhecimento, interpretação e análise do Projeto Político-Pedagógico
da instituição escolar em que irá atuar articulado com o seu Projeto Profissional
a ser sistematizado e operacionalizado.
Conhecimento das normas e regras do espaço escolar; das funções da
equipe técnica, pedagógica; dos programas e serviços (internos e externos)
executados.
ARIAS, Eidinê Corsi; SILVA, Helena Almeida S. Serviço Social Escolar – uma
experiência junto ao ensino público. Cadernos de Serviço Social, Campinas, n.
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AVANZINI, Guy. As finalidades da educação. In: _______. A pedagogia atual:
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