Cecilia Celis Alvim Altobelli
Cecilia Celis Alvim Altobelli
Cecilia Celis Alvim Altobelli
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Professora Orientadora - Presidente
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Examinador (a)
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Examinador (a)
DEDICATÓRIAS
Ao meu pai (in memorian) e minha mãe, que me ensinaram a amar, lutar,
perseverar e superar as adversidades.
À minha querida irmã Luzia, Tarciso e sobrinhos Tarciso e Cássia, pelo suporte
firme e carinhoso que me deram.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Professora Dra. Vera Maria Nigro de Souza Placco, pela
gentileza de aceitar-me e pela condução sábia, ágil, competente e humana com
que ajudou-me a realizar este trabalho, minha eterna gratidão.
À minha querida amiga Walkiria Rigolon, que pelo seu grande incentivo e apoio
lançou-me ao desafio hoje concluído. Quero ressaltar a minha especial admiração
por você, que é especial. Muito obrigada.
À minha querida amiga Maria Fernanda Diogo que mesmo estando distante se fez
muito presente com suas preocupações, seu carinho, sua atenção, subsidiando-
me com documentos e informações. Muito obrigada.
À minha querida amiga Lenita Maria Costa de Almeida, pelo seu desprendimento
para auxiliar e ajudar nos momentos mais difíceis desse processo, onde brotou
uma linda amizade. Muito obrigada.
Aos meus amigos, Fabricia Barêa, Dinéia Hypolitto, Vitor Manuel Fortes, Rodnei
Pereira, Alzira Buse, Isabel de Pádua e Iranilda Teobaldo pelo apoio permanente
que me dispensaram. Muito obrigada.
This research aims to investigate the reason for the alphabetizing teacher’s lack of
satisfaction faced by the Continuity Training course as well as the reason for the
inefficiency of those courses in promoting changes to the actual practice of those
teachers. In this sense, it questions the out of the measure observed between the
Continuity Training and the results in the classroom, where all the proposed
actions do not happen. It also searches, in the deep essence of education, the
way performed by the teachers, since their initial training until the actual moment.
This work also highlights the Continuity Training, trying to identify how it is
absorbed by the teachers and it also gives opportunity to the discussions between
theory and practice, from the angle of the teachers actions towards the Continuity
Training. Theoretical support essentially focuses on meaning, sense and, in a
complementary side, the teacher’s identity. Based on the interviews, this research
identify categories related to the disturbing feeling involving the teacher’s practice
as a consequence of the Continuity Training programs, which were analyzed and
discussed under the thoughts of the Ciampa, Nóvoa and others. This is a
qualitative research, taking the interviews on a person-to-person basis to form the
data collection. It aims to reveal the point of view of three teachers – integrants of
the Continuity Training Program for more than one decade, in order to identify
possible obstacles, improvement and retrocession in their practice and the
possibility of all this be related to the Continuity Training perceived. The interview
analysis has revealed itself as a warning regarding those trainings which have not
considered the wide process of giving a meaning to the experiences as well as the
production of teacher’s knowledge, and, therefore, not promoting the professional
autonomy.
Introdução .............................................................................................................11
Considerações Finais............................................................................................75
Referências Bibliográficas.....................................................................................79
ANEXOS ...............................................................................................................84
Anexo I ..................................................................................................................85
Anexo II...............................................................................................................101
Anexo III..............................................................................................................103
Anexo IV .............................................................................................................104
Anexo V ..............................................................................................................105
“Que nunca aceitemos como definitivas nem
mesmo as opiniões mais sólidas; sobretudo
aquelas que nos afirmam estarem consagradas
por uma longa tradição e que nunca temamos
repassar pelo crivo de uma experiência
incessante os conhecimentos ou métodos que se
oferecem à nossa atividade. E ainda a melhor
coisa para não se desnortear nessa atitude, para
evitar a atitude negativa e destrutiva do cético,
é não praticá-la isoladamente, é buscar a crítica
e o controle dos que exercem a mesma função.
E ainda que o controle e a experiência pareçam
ser concretos, deve-se tomar o resultado apenas
como relativo, sujeito a revisão, modificações, a
adaptações segundo os meios e a época.”
Élise Freinet
Introdução
Diante desses papéis por mim vivenciados, não só fui protagonista, mas
pude observar também que os problemas e as queixas dos professores cursistas
- assim como as minhas próprias enquanto professora - se mantinham,
independentemente da extensão da formação oferecida, dos materiais de apoio
ou das reconfigurações metodológicas que esses programas sofreram ao longo
do tempo.
De forma paradoxal, os professores não conseguiam administrar seus
conflitos e inseguranças frente às mudanças propostas pelos cursos de formação.
Sempre estávamos às voltas com os mesmos questionamentos e dúvidas,
vagando “sem rumo” diante de um sem-número de conflitos.
Este trabalho, na busca de respostas para a inquietação já delimitada no
início do texto, procurará estabelecer uma linha do tempo dos principais percursos
da educação brasileira, âncora para a compreensão da dinâmica e do fluir dos
fatos, devidamente contextualizados, estabelecendo um ponto de partida – 1920 –
para o entendimento, análise e reflexão do objeto que será investigado até a
atualidade.
O texto está estruturado em capítulos, prevalecendo a linearidade do
processo em discussão. Pela pesquisa bibliográfica, conjugada ao trabalho de
campo, pretende-se clarear as inquietações explicitadas.
Capítulo I - A Formação Inicial do Professor e Seu Caminhar
2
Publicação digital disponibilizado em novembro de 2003, sob ISBN: 85-889959-05-4,: Disponível
em: <http://www.utp.br/mestradoemeducação/vpedagogiaemdebate/pddfaab.htm. Acesso em: 01
de fev.2008.
14
O trabalho de todo legislador, por ser público, está sujeito a críticas por
vezes negativas ou não tanto. O debate é importante, pois facilita o
aperfeiçoamento, quando necessário. Nossa intenção é apenas fazer aflorar
aspectos textuais, como embasamento teórico para implementar a discussão.
Entre mudanças desencadeadas pelas ações decorrentes da LDB 9394/96,
podemos destacar algumas medidas de impacto que, por sua vez, deram origem
a outras alterações no fazer educativo:
3
Documento organizado a partir do estudo realizado por ocasião da sua II Reunião Ordinária,
realizada em Cuiabá, em junho de 1995, com vistas à integração universidade e sistemas de
ensino (CEIUSE), coordenado por Ana Luisa Machado Pinheiro.
16
4
Professora do Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
17
Percebe-se, ainda hoje, que a maioria daqueles que atuam nas séries
iniciais pertence ao gênero feminino, reafirmando as representações em torno do
trabalho realizado nas séries iniciais, que continuam enfrentando o processo de
desvalorização que permeia a atividade docente.
A turbulência das travessias do processo histórico da educação brasileira
pode ser pontuada por interferências de toda ordem, justificadas, naturalmente,
pelo contexto sócio-temporal, indutor de uma leitura privilegiada dos fatos, do não-
escrito, bem como dos pensamentos por trás da fala.
Observamos, por esse caminhar, que o perfil do professor ideal sofre
também mutações de acordo com a época em que se insere.
Como toda profissão, o magistério também possui uma trajetória construída
historicamente e atravessada pela origem dessa profissão, pelas inúmeras
interferências da trama sóciopolítico em que está inserida, pelas exigências
18
No final da década de 1960 e durante os anos 1970, foi mais difícil realizar
discussões críticas sobre a realidade, pois o país encontrava-se sob regime de
ditadura militar e o setor econômico, voltado para o processo de industrialização.
De acordo com Fusari (1992) e Libâneo (2005), nota-se a influência dos fatores já
mencionados, na pedagogia tecnicista que se propagou naquela época. Surgiram
programas de treinamento de professores que visavam à implantação de novos
elementos técnico-pedagógicos no ensino público. A citação a seguir tenta
esclarecer teoricamente as considerações de que estamos tratando. Em breve
resumo, citamos uma página na internet5 que reforça e esclarece as questões
aqui debatidas.
5
Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/prf_a.php?t=001>. Acesso em: 01.fev.2008.
19
6
Denomina-se como ensino tradicional a concepção de Homem sendo “considerado como
inserido num mundo que irá conhecer através de informações que lhe serão fornecidas e que se
decidiu serem as mais importantes para ele”. (MIZUKAMI, 1986, p.8)
7
PERELMAN, L. e POSTAMN, N. (1993). Folha de São Paulo, São Paulo, 6 jun. Especial World
Media, p. 21.
22
p.168). Além disso, a população que chegou a essa habilitação era oriunda de
uma escolarização também rápida, por exemplo, dos cursos de Suplência que
atendiam pessoas com grande atraso na relação entre idade, séries e classes
sociais menos favorecidas, o que ocasionou a proletarização do magistério, ao
longo do tempo.
A ampliação do número de professores na rede de ensino já chegava, em
1994, no Brasil, a 281 mil funções docentes na educação infantil e mais de 1
milhão e 380 mil docentes no ensino fundamental. (GATTI, 1996, p.9 e p.13).
Percebe-se que, ao mesmo tempo em que o país acompanhava a reestruturação
produtiva que exigia maior escolarização para os postos de trabalho, acentuava-
se o desprestígio da atividade docente. Diante do aumento da demanda de alunos
que adentravam a escola pública, também se fez necessário aumentar o número
de professores.
Frente a tantas mudanças no cenário brasileiro, nesse período, o sistema
de ensino também se transforma: “como instituição social educativa, a escola vem
sendo questionada acerca de seu papel, ante as transformações econômicas,
políticas, sociais e culturais do mundo contemporâneo“. (LIBÂNEO, 2005, p.36).
Indo ao encontro do pensar de Oliveira (2004), nesse entrechoque de
mudanças, os professores no chão da sala de aula deparam-se com um sem-
número de conflitos que abarcam um leque que abrange desde a diversificação
da sua ocupação propriamente dita, como enfermeiros, assistentes sociais,
psicólogos, até atuarem com classes lotadas, com falta de apoio pedagógico,
apoiando-se na precariedade de sua formação inicial - tudo isso diante de uma
nova clientela oriunda das classes menos favorecidas - trazendo novos dilemas
pedagógicos com os quais esses professores até então não haviam lidado. Esse
quadro forma um mosaico bastante complexo que merece ser investigado em
tempos de formação continuada.
Capítulo II - Contribuições das Políticas Públicas Educacionais
trabalho docente, conforme afirma Noronha (2001, apud: OLIVEIRA, 2004, p.132):
“esses profissionais são obrigados a desempenhar funções de agente público,
assistente sociais, enfermeiro, psicólogo, entre outros” .
Concordando com Marin e Giovanni (2006, p.135), “na década de 1990 e
início dos anos 2000, a nova lei de diretrizes e bases - Lei Federal nº 9394/96 -
coloca no cenário nacional os novos modelos de formação de professores
representados pelo ISE e CN Superior”. Frente ao insucesso escolar alcançado
nas décadas anteriores, credita-se às universidades a formação de professores
que atuariam nas séries iniciais. Na época, essa mudança gerou grande
polêmica, em torno do âmbito/locus em que essa formação deveria ocorrer.
Grande parte dessa controvérsia foi gerada pela própria descrição da LDB
9394/96, que, em seu artigo 62, afirma que a habilitação docente na educação
básica poderá ser obtida em universidades e Institutos Superiores de Educação.
Segundo Palma Filho (2004), de modo geral, as divergências referem-se à
concepção do tipo de profissional que se quer formar e o local dessa formação.
Ainda, segundo Marin e Giovanni (2006, p. 132) a “cultura do aligeiramento, a
cultura da ambigüidade e a cultura da racionalidade técnica” permeiam a
formação oferecida, independente do local onde será ministrada, se inicial ou
continuada. Mas, de qualquer forma, a idéia da racionalidade técnica está
presente nos contextos formativos (iniciais ou continuados), que valorizam
sobremaneira os saberes teóricos, eruditos, em detrimento dos saberes
experienciais dos professores que foram se constituindo juntamente com sua
identidade profissional. De acordo com Tardif (2002), “cabe às agências
formadoras respeitarem os saberes experienciais dos professores que foram
forjados na prática cotidiana, não relegando o saber-fazer a um conhecimento de
segunda classe”.
A recíproca aqui é verdadeira. Quando abordamos a massificação do
ensino com a entrada de um alunado portador de experiências diferenciadas, o
mesmo acontece em se tratando dos professores que não têm sua prática em
sala de aula como aporte para reflexões e teorizações requeridas.
Diversos estudos que evocam as dificuldades dos professores em sala de
aula contam com inúmeros relatos de docentes que tiveram a oportunidade de
obter formação superior e mesmo assim foi pouca a contribuição para o
enfrentamento das dificuldades com as quais lidam constantemente.
30
8
O professor ficava na escola num período prolongado para seis horas.
33
Tal Programa, também tinha como meta atender 50 mil professores e esse
número foi ultrapassado em 40 mil, no município de São Paulo.
34
O curso compôs-se de três módulos (I, II, III,) cada qual com duração
aproximada de um semestre, com encontros semanais de três horas. Esses
módulos eram planejados com pautas pré-estabelecidas, com atividades, como
realização de planejamentos, relatórios reflexivos, solicitados aos professores,
para que realizassem os trabalhos pessoais.
A avaliação era realizada ao término de cada módulo, que continha
questões referentes aos conteúdos abordados e o formador a devolvia ao cursista
como feedback.
Esse programa atingiu aproximadamente, no período de 2003 até 2006,
45.000 docentes certificados.
Como se vê nesta rápida revisão dos cursos de formação continuada
oferecidos pela rede pública paulista, foram muitas as propostas e as
oportunidades de formação de professores.
Todos os professores participantes da pesquisa que nomeia este estudo
vivenciaram esses cursos de formação. Aqui se insere o objetivo desta pesquisa,
traduzido no seguinte questionamento: o que restou dessas experiências para os
docentes participantes deste trabalho?
Capítulo III – Introduzindo o Problema da Pesquisa
Como já foi visto – apenas para não perder o foco da discussão aqui
estabelecida – a educação não ficou fora do processo. Muitos estudiosos e
pesquisadores da área subsidiam as discussões, provendo-as de verdades
cientificas.
Em pesquisa realizada com professores de 1º Grau nos estados de São
Paulo, Minas Gerais e Maranhão, as pesquisadoras Gatti, Espósito e Silva (1996)
levantaram dados sobre a condição social, cultural e econômica dos professores;
suas condições e concepções de trabalho; expectativas e imagem social.
Nessa pesquisa, os professores enfatizaram alguns aspectos mais
deficientes na sua formação: a relação teoria e prática; a compreensão dos
aspectos psicológicos das crianças; a elaboração de materiais didáticos e o
preparo para lidar com a relação escola-comunidade.
No levantamento de outros aspectos de sua formação, os professores
destacaram dois fatores que também consideravam como problemáticos: a
36
suas práticas, trocar experiências, buscar alternativas aos conflitos - muitas vezes
singulares ou complexos – questões essas, enfrentadas diariamente. A prática
reflexiva é “particularmente importante em um momento em que se enfatiza a
necessidade de um professor reflexivo: assim como necessitamos de categorias
para pensar, um professor também precisa saber sobre o que e como refletir”.
(RIGOLON, 2007, p.25), tendo como ponto de partida sempre a sua própria
realidade.
A partir do momento em que se considerem as particularidades e
especificidades de cada instituição escolar nos cursos de formação em serviço,
poder-se-á garantir um avanço na formação oferecida, principalmente no que se
refere à percepção da necessidade de criar categorias que abarquem os temas
relevantes apontados por esses professores. Conforme afirma Placco (2006):
Revisão de literatura
9
Vídeos veiculados durante os encontros de formação demonstrando discussão de professores e
situações de sala de aula.
10
Informação fornecida por Ecleide Cunico Furlanetto durante qualificação realizada em
06/09/2006, no programa de Educação: Psicologia da Educação – PUC/SP.
41
11
Revista Viver – Coleção Memória da Pedagogia, n.2 – Rio de Janeiro, 2005.
12
Anotações de aula da Professora Wanda Maria Junqueira de Aguiar, em 22/03/2006, PUC-SP.
44
- Metodologia
Relato da Pesquisa
A entrevista
13
Informação fornecida pela professora Ecleide Cunico Furlanetto durante a qualificação realizada
em 06/09/2006, no programa de Educação: Psicologia da Educação – PUC/SP.
58
experiência concreta, ou seja, nas decisões que este toma diariamente ao exercer
sua profissão. Dessa forma, há que se observar que nenhum curso de formação
continuada, que desconsidere as situações concretas do ofício docente,
contribuirá efetivamente para a mudança das práticas pedagógicas dos
professores.
Segundo Sousa (1996, p.20) “os professores constroem cotidianamente
sua história no interior do mundo do trabalho. Vão às escolas como local de
trabalho” e é nesse locus que enfrenta seus conflitos, angústias, dificuldades,
dúvidas, constituindo-se também, nesses aspectos, como sujeitos coletivos,
conforme afirma Arendt:
Claro está que por esta grande necessidade de espaço para externarem os
problemas de sala de aula das professoras cursistas, podemos inferir que outros
problemas estejam subjacentes. Por que buscar nos cursos de formação
respostas a todas as suas angústias e conflitos? Não seria a escola também o
locus privilegiado para tal discussão, haja vista que é lá onde tudo ocorre? Será
que tamanha demanda direcionada aos cursos não estaria encobrindo o espaço
negado também na escola? É neste momento que enfatizamos a questão das
relações humanas no trabalho e do trabalho coletivo, que deveria envolver todo o
corpo docente, administrativo e funcional da escola.
61
Apesar deste trabalho não ter como foco a busca de saída para os
problemas desencadeados nas relações interpessoais, no ambiente escolar,
aponta a necessidade de mais estudos a respeito, evidenciando uma lacuna
importante nesse segmento.
4. Saúde no trabalho
Muitos não ligam mais para fazer cursos porque eles acham que
ganham muito pouco; muitos têm acúmulo de cargos. Há
professores que dão aula de manhã e, a tarde inteira, trabalham
no shopping, trabalham na loja e trabalham não sei onde; então
não estão se importando em ter um tempo para pensar o que
planejar.
Então esta questão salarial atinge muitos professores hoje em dia.
Professor é mal remunerado. Então, o ganhar pouco está fazendo
o quê? Com que muitos estejam às vezes vendo, não sei se estou
errada, a profissão de professor como um “bico”. Ah! É um bico
que vou dar minha aulinha de manhã e tenho a tarde para
trabalhar em outras coisas. (Lourdes)
modelo de atuação que não condiz com o seu fazer, mesmo que este seja
calcado em anos de experiência, o profissional perde suas referências,
principalmente porque a quantidade de atribuições que ele assume não lhe
permitem uma prática reflexiva. Vejamos o que nos colocou a professora Márcia a
esse respeito:
(...) Não, eles não dão uma base suficiente (...) Estou sempre
em busca de alguma coisa diferente e isso às vezes
prejudica, porque você sai com aquela garra, você aprendeu
aquilo no curso e pensa que vai conseguir fazer igual(...),
porém na sala de aula percebo que os meus alunos são
diferentes. (Lourdes)
Talvez por isso considere que algo que o leve a mudar seja um
atentado contra a sua experiência, o seu esforço e os seus
conhecimentos, já que ele está desenvolvendo a sua identidade
de pessoa que ensina. Tal fato ocorre quando se exige uma
proposta de formação para implantar uma inovação. Quando se
comprova que não é isso que ocorre, manifesta-se o fato de que
não se quer continuar com a colaboração para não perder todo o
esforço realizado para preparar esses exercícios escolares. (1998
p.02)
(...) não posso dizer que sou construtivista e não posso jogar fora
o conhecimento do que aprendi e mudar da noite para o dia.
Então a gente mescla, eu, por exemplo, mesclo. (Lourdes)
73
Pedindo licença uma vez mais para usar neste parágrafo a primeira
pessoa, permiti-me dialogar comigo mesma no espaço silencioso de minha
própria mente, deixar que fluíssem perguntas, respostas e inquietações que nos
afligiam e que, de uma forma ou de outra, partilho, ora como elemento formador e
ora como aprendiz. As queixas e tormentos, vivenciados pelas professoras
participantes desta pesquisa, não são infundadas; estão nas salas de aulas e
podem ser conferidas, a todo momento, tendo sido mesmo por mim vivenciadas.
As análises das entrevistas apontam para a necessidade de as políticas
públicas reverem os Programas de Formação Continuada de professores, a partir
das falhas identificadas nesses programas, para não transformarem esses
profissionais em únicos culpados pelo caos em que se encontra a Educação
Brasileira. Mais uma vez, estaremos penalizando uma das vítimas, o professor, ao
atribuir-lhe a incompetência, a dificuldade de compreensão, a má vontade e a
falta de motivação diante de tantos cursos oferecidos pela Secretária da
Educação, o que estaria no cerne dos problemas enfrentados pela educação.
O fato de as professoras terem uma visão muito positiva, no tocante aos
cursos de formação oferecidos pela rede, reafirma a formação docente como um
fator essencial na qualidade da educação, mas, quando se analisa em que
medida a formação docente contribuiu para que as professoras se sintam mais
preparadas para o enfrentamento dos problemas que surgem cotidianamente em
sala de aula, notamos que os benefícios da formação, na maior parte das vezes,
não são incorporados à prática, “ao chão da sala de aula”, pauta esta que foi
mencionada por nós, no decorrer desta pesquisa, sempre que o momento era
propício.
Durante as entrevistas, identificamos que as três professoras abordaram
alguns aspectos de suma importância negligenciados pelos cursos. A elas parece
76
ALVES, M.L.; DURAN; M.C.G.; BAHIA, N.P. e SWAYA, S.M. (orgs.) (1994). Por
Trás das Letras: Alfabetização - Refletindo Sobre a Falsa Dicotomia Entre Ensino
e Aprendizagem. São Paulo: FDE.
SOUSA, Aparecida Néri de. (1996). Sou professor, sim senhor!: representações
do trabalho docente. Campinas/SP: Papirus.
ANEXOS
85
Anexo I
1ª Entrevista coletada
NOME: Lourdes
FORMAÇÃO: Pedagoga e também tenho gestão
também teve a prática. Foi então, que comecei a trabalhar com alfabeto móvel,
que anteriormente não conhecia, eu só estava habituada a trabalhar seguindo os
livros. Comecei a trabalhar com as fichinhas. Eu mesma fiz essas fichinhas para
trabalhar com os alunos, tinha que trabalhar com a leitura, eu mesmo escrevia as
tirinhas, fazia o meu próprio material. Logo depois, veio Por Trás das Letras, se
não me engano,era muito parecido com o que eu aprendi no Letra e Vida, de uma
forma semelhante.
Entrevistador: - Você disse que esses cursos eram muito parecidos, você acha
que eles possuíam a mesma concepção?
Professora: Não, eles não dão uma base suficiente, a gente vai em busca e no
caso eu não posso dizer que sou construtivista, e não posso jogar fora o
conhecimento que aprendi e mudar da noite para o dia, então a gente mescla, eu
por exemplo mesclo. Estou sempre em busca de alguma coisa diferente e isso às
vezes prejudica, porque você sai com aquela garra, você aprendeu aquilo no
curso e pensa que vai conseguir fazer igual à proposta do curso, porém na sala
de aula percebo que os meus alunos são diferentes.E eu tenho que fazer
realmente aquela sondagem para conhecer os alunos. Outras vezes eu estou
fazendo um trabalho na minha sala e eu comento com uma amiga, e sempre tem
um ou outro que não concorda com as minhas atividades e acha que são
babaquices.Dizem que sempre foram tradicionais e aprenderam dentro de uma
concepção tradicional e então, se questionam porquê seus alunos não vão
aprender com o tradicional.
87
Entrevistador: – Pelo que você me conta, percebe-se que existe uma resistência
por parte dos professores, que eles não aceitam esta mudança?
Professora: - É grande, muito grande a resistência por parte dos professore. Tem
muitos professores que ainda são super tradicionais. Na maioria dos
alfabetizadores eu percebo isso, tem muitos professores que desde quando
ingressaram pegaram a 1ª série. Então eles vão, e eu cansei de ver conhecidos
pegar o semanário e se orgulhar e falar assim: -Olha, eu tenho isso aqui já fazem
seis anos, que eu só pego 1ª série e o material é a mesma coisa. Gente as coisas
mudam, a gente tem que andar para frente.
Professora: - Sim, eles participaram dos mesmos cursos, mas não abriram a
mente, a cabeça é do mesmo jeito, não mudaram nem as folhinhas, estão
amareladas. Se mantêm nessa rotina porque é prático, é muito mais prático. Se
eu entrar na minha sala com algo já pronto na mão e der para os alunos, sem
saber se aquilo realmente está adequado para a minha clientela é muito fácil.
Durante o ano se eu tive 30 (trinta) alunos de 1ª série, no outro ano não serão as
mesmas 30 (trinta) cabecinhas, serão outras, são pensamentos diferentes. De 6
anos, 10 anos para cá, as crianças de 1ª série não são mais as mesmas, elas são
completamente letradas. Todas têm em casa, ou a maioria tem um computador,
revistas, livros, não é como antigamente. Então, como que eu posso pegar as
mesmas atividades de 10 (dez) anos atrás e aplicar com crianças de uma nova
geração. No meu ver, isso é impossível. Mas eu percebo isso, e se você traz algo
de diferente, você é vista de forma diferente perante os colegas.
Entrevistador: – Por que será que existe tanta resistência por parte dos
professores? O que você pensa a respeito disso?
Professora: - É a escola que tem de vestir a camisa. Muitas escolas não fazem
isto, porque na escola o professor sozinho não faz mudança, a escola é uma
equipe. Tem que haver por exemplo: se vou fazer um projeto de alimentação, não
tem que ser somente eu e meus alunos, um projeto vai envolver a direção,
coordenação, merendeira, pessoal da limpeza e principalmente a família, então
não é um trabalho meu e dos meus alunos, se eu não conseguir a participação
dessa outra clientela, não vai haver projeto algum, a criança não vai pegar hábitos
alimentares corretos, ela não vai chegar na essência do projeto. O projeto tem
que ter um produto final, para isso é preciso da ajuda da merendeira, porque eu
vou levar eles lá, apresentar os alimentos, falar sobre o cardápio daqui da escola,
eu vou falar sobre a higiene, os alimentos, o que adianta ensinar para os meus
alunos lavar a fruta antes de comer, se chegar em casa e a mãe nunca manda
lavar as mãos para o almoço, a mãe nunca manda lavar a fruta antes de comer.
Conclusão, não houve envolvimento, então vai ser difícil, eu acho que para
funcionar tem de ter equipe, a escola é uma equipe. Então quando tem um projeto
desse, por exemplo, um projeto do governo, se existe um envolvimento de
direção, coordenação e professores, para fazer acontecer dentro da escola,
dentro da realidade, vai para frente. Agora não adiante só um ou dois professores,
88
iam para o curso e guardar aquilo só para si. Conhecimento é para ser espalhado
e para ser passado adiante.
Professora: Isso é oferecido para todos, só que, muitos professores, falam assim:
o que eu vou ganhar fazendo este curso?, ele não está pensando do lado do
conhecimento, esta pensando nas vantagens, se vai valer ponto, se ele vai pode
pegar estes pontos e levar para a prefeitura, se ele vai ter acumulo, sabe, se ele
vai ter folga naquele horário. Muitos não estão se importando com a riqueza do
conhecimento que vai adquirir, e isso prejudica.
Entrevistador: - E você percebeu, sentiu que esses cursos foram suficientes para
estarem mudando a sua atuação?
Professora: Não, de jeito nenhum. Não foram suficientes, muito pouco. O governo
deveria dar muitos mais cursos, sabe, aqueles cursos maravilhosos que eu fiz
pelas editoras. Eu sou uma contadora de estória, mas não aprendi nesses cursos,
eu aprendi pelas editoras. As editoras antigamente, agora estão pouco, para cada
livro que era lançado, o escritor ia lá, ele divulgava, ele falava e ele ensinava
como você trabalhar com aquele livro, como você trabalhar com tal atividade,
alguma coisa assim. Então eu aprendi muito através de curso pequenos,
palestras, cursos de 4 (quatro), 8 (oito) horas oferecidos pelas editoras. As vezes
é mais válido do que um curso de meses e meses, e muitos estão indo lá por um
certificado. Então eu acho assim, hoje em dia os professores eles tem a questão
financeira, muitos estão desmotivados. Muitos não ligam mais para fazer cursos
porque eles acham que ganham muito pouco, muitos tem acumulo de cargos.
Tem professores que dão aula de manhã, e tarde inteira trabalham no shopping,
trabalham na loja e trabalham não sei aonde, então não estão se importando em
ter um tempo para pensar o que ele planejar. Porque é muito importante ter um
planejamento. Não posso entrar na minha sala e falar espera aí, o que eu vou dar
hoje. Não, eu tenho um planejamento para ser seguido. O planejamento é flexível,
muitas vezes eu consigo, as vezes eu tenho de voltar e as vezes ir adiante, é
difícil um planejamento. E se eu não me planejar a minha aula não vai sair. Uma
boa aula, porque nem sempre é como a gente imagina, a gente imagina aquelas
flores, tudo, mas às vezes os alunos não conseguiram atingir o que você
esperava. Então você vai ter que voltar atrás. Então esta questão salarial atinge
muitos professores hoje em dia. Professor é mal remunerado. Então o ganhar
pouco está fazendo o que? Com que muitos estejam as vezes vendo, não sei se
estou errada, a profissão de professor como um bico. Ah ! é um bico que vou dar
minha aulinha de manhã e tenho a tarde para trabalhar em outras coisas. Não é
assim, o professor já foi mais valorizado.
Professora: “Olha, eu acho que não porque eles põem lá os cursos e oferecem
horários pra isso, aquilo e aquilo outro. Mas isso não muda nada, muitos as vezes
dizem eu vou fazer esse curso, vou melhorar meu trabalho. Mas o governo tem
que ver que não é só dar aquele curso por dar, por exemplo nós estamos agora
trabalhando com a questão da inclusão, deveria de ter cursos de inclusão para
todos os professores e não apenas para os que querem, ah você quer? Então vai
haver um curso sobre línguas, então é oferecido apenas para os efetivos ou então
somente para quem está em sala de aula. Não é somente de línguas que tinha
que ter, teria que ter cursos para deficientes visuais, auditivos e tudo mais, porque
as vezes nós pegamos alunos com algumas dessas deficiências, e como eu vou
trabalhar com eles se eu não aprendi como lidar com eles. Muitas vezes nós
temos alguns alunos na sala de aula e nós como professores sabemos dar conta.
Sabe, as vezes nós não conseguimos atingir o mérito necessário. Mas ninguém
ensinou. Mas somos obrigados a estar com aquelas crianças, concordo não sou
contra, mas eu acho q deveria ter cursos mais específicos, horários mais
adequados, muitas vezes eles oferecem curso assim, vai haver um curso tal, tal.
Os professores perguntam em que lugar? Ah... não tem lugar definido. Qual
horário? Também não tem horário ainda definido. Então muitos ficam com o pé
atrás, ah..eu não vou fazer, não está definido o local e o horário. Então não vou
nem fazer a inscrição. Não é verdade!! Isso prejudica tem que ser certinho, com
local, horário, e para todos os professores. Pois muitos cursos são definidos, por
exemplo, apenas para alunos da 4ª serie. Está errado porque nós professores não
caímos todo ano com a mesma serie, nós mudamos, somos polivalentes, de 1ª a
4ª serie. Os cursos oferecidos têm que ser para todas as series, eu tenho de
aprender para trabalhar todas as series.
Professora: Não, não leva, porque eles estão ali preparados para passar os
conteúdos deles, mas às vezes na sala de aula, o que acontece é que aquela
ansiedade do professor,ele quer perguntar, contar, comentar os casos que ele
tem na sala de aula, por exemplo, quando eu estava falando daquela
classificação, daquela sondagem. Se for para comentar sobre os assuntos que
passam na sala de aula, não vai dar tempo para se dar o curso. Muitas vezes o
formador do curso pula esse assunto para dar continuidade ao curso. E às vezes
essa ansiedade do professor faz com que ele necessite ser ouvido, porque às
vezes ele sendo ouvido alguém pode dar uma luz de como trabalhar com essa
criança que esta com aquela dificuldade. Eu percebo que deveria ser isso, se
juntarem, olha essa criança esta com dificuldade, quem pode me ajudar.Mas
infelizmente não é assim que funciona.
péssimo professor. Nos temos muitos professores que são efetivos que mal
sabem se portar em uma sala de aula, não sabem trabalhar adequadamente, em
compensação nós temos tantos e tantos, que às vezes até estagiários, sabem dar
uma aula maravilhosa. E o que se faz com esse profissional? Todos os
estagiários que estão dentro da escola, com mais de 4 ou 5 anos e não
conseguem uma sala de aula, gente. È uma injustiça.
Professora: Olha. A gente se sente muito triste. Porque você procura trabalhar
direito e fazer as coisas. E em nenhum momento no curso, pergunta-se ao
professor quanto tempo você tem, quais são suas praticas, como você trabalha
em sua sala, o que você gostaria que eu fizesse para te ajudar. Não existem
estas perguntas maravilhosas. Ninguém quer uma receita. Muitas vezes a gente
quer saber no curso, uma resposta, mas eles falam que não se tem uma receita
pronta, mas se falarem quais os ingredientes que podemos usar, se faz um
excelente bolo. Não é verdade. Se eu estou ali fica fácil ensinar a pegar os
ingredientes, olha usa esses ingredientes aqui que você melhora esse bolo, vai
ficar muito mais homogêneo, entendeu, vai ficar uma massa mais fácil de você
lidar. Mais isso a gente não ouve. Porque quem vai dar o curso, já está com o seu
material pronto, ele fala isso, isso e isso. Ele não vai, ele não quer ter receita
pronta, mas nós professores temos a angústia de aprender isso. Você quer não a
pratica, você quer alguém que te auxilie falando com suas experiências que existe
entre nós. Sabe, às vezes no curso você ouve, eu trabalhei de tal forma. Canso
de ver a professora lá na frente dando teoria, tudo, mas você já conhece na
pratica, neh! Então ela fala de uma forma diferente e você fala nossa eu nunca
pensei, olha ficou muito mais fácil. Não é assim que funciona? Ficou mais prático!
Eu não havia pensado nisso! Então seriam pitadinhas e não uma receita pronta.
Ninguém quer uma receita pronta, ela queria pitada. Uma coisa aqui outra ali.
Olha faz assim. Tenta trabalhar com ele te tal forma. Será que vai dar certo?
Seriam essas dicas, que a gente quer no dia a dia. E isso nós não temos. Nós
temos quer ir lá abrir a apostila e dar aula. Não tem o interesse. Então vai ficar lá
mesmo, somente na teoria, a prática não vai ser desenvolvida. E existe também o
fator equipe, professores. Mas eu não posso chegar no HTP e dizer, hoje eu
aprendi isso, isso e isso. Vamos ver como dar, vamos tentar fazer nas nossas
salas, para ter uma realidade de como fica. Não. Quem fez o curso fui eu, fui eu
quem aprendi, problema de quem não foi. É mais ou menos por aí. Então tem
aqueles que são mais acomodados. Você desenvolve um projeto, desenvolve um
trabalho e aí vem um na sua porta e diz: Ah! O que, que você está dando? Aí será
que você pode me emprestar? Leva, só que eu acho, como eu posso chegar na
minha sala e dar o que a outra professora elaborou, que pensou em como dar a
aula e eu ter de dar para meus alunos sem saber como ter de trabalhar aquilo.
Não dá. Não é assim que funciona. O certo seria essa pessoa dizer: Como é que
você esta trabalhando. Olha poderia ser assim...tal. Ou seja, elaborar em
conjunto. Mas é difícil.
92
Entrevistador: - Eu gostaria que você fizesse uma avaliação do tempo que você
começou, como você começou, do inicio de sua carreira e agora que você já
passou por todos esses cursos de formação continuada. Como é que está sua
atuação, é a mesma ou houve mudança?
Professora: Houve bastante mudança porque eu sou uma pessoa que corro atrás
sempre em busca de novos conhecimentos, porque o ser humano é inacabável,
ele está sempre em busca de conhecimento. Quando iniciei o que eu mais
reclamava e ainda reclamo é a falta de troca, hoje em dia os professores se
preocupam somente consigo mesmos. A gente tem uma duvida e não tem com
quem compartilhar e esse compartilhar é importante. O que eu vejo é que uns
dias atrás,entrou um novo grupo de professores, que se efetivaram recentemente
e muitos deles vieram do comércio, bancos e não tem experiência alguma. Nada
mais justo que os mais experientes auxiliem estes. Muitos agem da seguinte
forma: os novatos estão trabalhando e perguntam o modo mais recomendado de
se trabalhar. No entanto os mais experientes descartam a ajuda e ainda
comentam que os novatos não sabem trabalhar, e ainda vem perguntar para nós.
Nada mais justo que eles venham perguntar, para quem tenha um pouco mais de
experiência e não custa a gente ajudar, porque no começo todos nós sofremos
pois não tínhamos com quem conversar, para quem perguntar. Conforme foram
passando os anos a gente foi adquirindo conhecimento, vai se aperfeiçoando e
estudando. Hoje em dia já fiz pedagogia e gestão, então é diferente, eu já tenho
uma bagagem totalmente diferenciada, eu procuro trabalhar dentro da realidade
dos alunos. Teve um curso agora que eu fiz, e eu adorei, pois ele ensinou como
trabalhar com gêneros. Muitos professores reclamam de projetos, porém o projeto
está trabalhando a atualidade e as crianças se envolvem porque dentro do projeto
você desenvolve o tema, e dentro dele você tem que pesquisar e refletir sobre o
tema. O projeto tem que ter começo, meio e fim, mas é necessário terá parte
conceitual da criança, ela tem que ter alguma atitude. Por exemplo, se o projeto
for sobre transito, a gente deve ensinar à esses alunos como olhar o semáforo,
respeitar a faixa de pedestre, olhar placas, etc...Tem que ter o produto final, isso é
importante. Hoje em dia é tudo em cima de projeto e eu concordo. Eu não posso
estar trabalhando um conceito que não está na realidade da criança. Então eu
mudei a minha forma de trabalhar. Hoje em dia eu inicio as minhas aulas com
leitura então coloco as rotinas na sala de aula. Antes a gente mandava os alunos
realizarem uma produção de texto sobre um determinado assunto, mas hoje a
gente sabe que as crianças precisam de um modelo, o professor não pode
mandar o aluno escrever sobre um determinado assunto sem antes repertoriar os
alunos, porque os alunos precisam ter conhecimento sobre o assunto para depois
poder escrever. Até mesmo quando se lê um livro precisamos dar informações
sobre o autor, como a biografia e curiosidades.
2ª Entrevista coletada
NOME: Márcia
FORMAÇÃO: Pedagoga
Entrevistador: E todos esses cursos que você participou, eram baseados na teoria
da Emilia Ferreiro?
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Professora: – Todos eles. O que eu percebo é que o referencial teórico para lidar
com a alfabetização sempre vinha dos estudos da Emilia Ferreiro, da idéia de
compreender de como que a criança constrói a escrita. E sempre foi o mesmo
referencial teórico, só que com o passar do tempo, ia se mudando um pouco o
material, os recursos áudio visuais, o tempo de formação, então a gente percebe
que a formação oferecida tinha algumas diferenças mas a concepção e o
referencial teórico dos cursos de formação eram sempre os mesmos, da Emilia
Ferreiro.
Professora: – Não. Eu acho que o Letra e Vida teve uma amplitude maior quanto
às questões dos conceitos, então por exemplo, o que eu quis dizer que o
Alfabetização teoria e prática e o Por trás das letras era uma formação para a
gente entender a idéia dos estudos da Emilia Ferreiro e saber olhar para as
escritas das crianças e identificar em que momento aquela criança estava, qual
era a hipótese que ela tinha. No Letra e vida também havia isso, mas ele avançou
também ao propor o trabalho com os alunos que se tornaram alfabéticos, como
trabalhar com uma reescrita de texto, com uma revisão de texto. Então, ele
teoricamente trazia outras discussões que não haviam sido contempladas
anteriormente, mas eu percebo que algumas contradições mostram, que nos três
cursos não consideravam as nossas dificuldades da gente. Em alguns momentos
eu percebia que o que eles pregavam para fazer com os alunos, também não era
feito com a gente. Isso gerava certa desconfiança, pois eles falavam para fazer
uma coisa que eles mesmos não faziam.
Entrevistador: Você está dizendo que o curso focava mais na teoria, mas ele
também não tinha uma parte prática?
professora aplicando uma atividade numa escola real, com aluno real, mas era
um momento. A gente não tinha um depoimento dessa professora de como essa
escola se organizava do ponto de vista coletivo, de como ela costumava lidar com
relação aos pais que vinham questionar sobre essa concepção, quer dizer é
difícil. A gente observava e sabia que era uma professora de verdade, uma escola
de verdade, mas não era a nossa escola, não era eu. Então era uma professora
que tinha uma formação, que acompanhou o programa, que tinha subsidio da
equipe para elaborar atividade, coisa que a gente na escola não tinha e mostrava
um momento estanque da aula. Não mostrava como aula dessa professora se
organizava ao longo do ano e durante as cinco horas. Então era difícil mesmo. A
gente sabe que para um trabalho de um professor dar certo não depende só dele.
Ele está na ponta diretamente ligado com os alunos, tem uma conjugação de
outros aspectos que são importantes, por exemplo, um professor que tem de
trabalhar de manhã no estado, à noite na prefeitura e fazer um curso de formação
continuada, em que horas ele planeja a aula? Em que hora ele planeja
adequação? A questão salarial, a questão das condições reais de trabalho, do
número de alunos na sala de aula, das condições até do espaço físico da escola,
da diferença de não considerar que a gente também tem uma experiência.
Observe que quando eu fiz esses cursos, e eu tenho vinte anos de estado, muita
coisa que eu faço, eu aprendi sozinha. E deu certo, eu consegui também
alfabetizar meninos no começo da carreira trabalhando com a família silábica.
Então eu acho que reduzir a questão da qualidade do ensino a uma metodologia
ou a uma forma de trabalhar, eu acho que é no mínimo simplificar muito o
contexto educacional.
Entrevistador: Por que você acha que geralmente dava errado, essas atividades?
Professora: – Eu acho que a forma como o curso propunha, por exemplo, quando
os formadores falavam sobre os quatro aspectos, uma atividade para dar certo ela
tem: - que ser difícil, porém possível; - que tinha de promover a circulação de
informações; - que o professor tinha de trabalhar com texto, não com silabas; - e
que tinha de ser uma atividade desafiadora. E a única coisa que a gente
conseguia era copiar as atividades que a gente lia no livro e ou no vídeo. Quer
dizer, a gente precisaria de um apoio para conseguir elaborar as nossas
atividades que contemplassem esses quatro aspectos. Então às vezes a gente
conseguia juntar em duplas e trabalhar com frases. Mas difícil, porém possível,
era uma coisa muito complicada, porque a gente tem na sala meninos que estão
numa hipótese muito primitiva e meninos que já escrevem. Então para ser difícil e
possível para todos, para garantir a questão da heterogeneidade, eu teria de fazer
inúmeras adequações. E esse exercício na prática de ficar adequando, a gente
não tinha espaço para fazer.
Então a gente ficava olhando modelos, mas a gente não tinha espaço para criar
as nossas atividades com as adequações coerentes.
Entrevistador: Diante do que você estava falando até agora, gostaria de saber se
você apesar de toda essa dificuldade que você encontra para mudar sua atuação,
você ainda participaria de novos cursos de formação pela rede?
3ª Entrevista coletada
NOME: Rosangela
FORMAÇÃO: Pedagoga
Entrevistador: E durante essa sua trajetória na rede pública você participou dos
cursos oferecidos pela rede? Quais?
Entrevistador: Eu gostaria que você falasse se esses cursos que você realizou
traziam uma mesma concepção?
Professora: Não foi programado, porque havia uma pauta que deveria de ser
cumprida. Existia já um tempo determinado para ser cumprido pelo formador, este
deveria passar todo o conteúdo, fechar um bloco de conhecimento onde se passa
e não se discute. O mesmo acontece com o professor que tem duzentos dias
letivos para passar todo o conteúdo aos alunos. Ele elabora um planejamento
anual e divide de forma bimestral e mensal e diz que passou todo o conteúdo.
Quando o professor diz que deu todo o conteúdo, isso não significa que o aluno
aprendeu. E a mesma coisa com a formação continuada. A formação continuada
deu aquele conteúdo mas não se discutiu com profundidade. E quando o
99
professor vai para a sala de aula e tenta aplicar tudo aquilo que ele aprendeu nos
cursos a realidade, além de ser diferente daquela apresentada nos vídeos e de ter
sido desconsiderada, o professor acha efetivamente que não vai dar certo colocar
em prática essa nova concepção, porque não houve uma discussão em que o
professor apontasse as dificuldades em mudar a sua prática.
Entrevistador: Explique melhor o que você quis dizer quando você diz que o
professor só reproduz aquilo mesmo que ele viveu?
Professora: Ele reproduz aquilo que vivenciou durante a sua própria alfabetização
e na sua própria trajetória de alfabetização como professor. Percebo que a
maioria dos professores se sente mais seguro com o que já está acostumado e
resiste ao desconhecido. Quando o coordenador e diretor não acreditam nessa
concepção, como também a maioria dos outros professores, torna-se muito mais
difícil aplicar e seguir todas as orientações do curso.
realmente como lidar com aquela turma, quer dizer, antecipando as perguntas
que virão e sabendo como direcionar as questões com o grupo. Percebo que
algumas amigas que realizaram o curso em outros grupos, apresentam certas
distorções relatadas nos HTPCs. Suponho que isso ocorra devido a falta de
discussões e esclarecimentos das suas dúvidas durante o curso. Essas
distorções cometidas pelos professores, parecem-me que são devido a falta de
entendimento efetivo da concepção. Os conteúdos só foram passados e elas
tentam reproduzir uma coisa que nem bem entenderam.
Entrevistador: Gostaria que você falasse a respeito das suas expectativas iniciais
e se foram atendidas durante o curso?
Entrevistador: Você acha que estes cursos que você participou durante a sua
trajetória, eles preparam os professores para lidarem com as dificuldades
enfrentadas na sala de aula?
Professora: Não. Não acredito que eles preparem os professores, porque senão
nós estamos discutindo receitas, e como a gente sabe que cada sala é única,
cada aluno é único e diferente, o professor apesar de muitas vezes não saber
qual teoria embasa a sua prática, essa que é a grande questão. Eu não acredito
que o curso prepare os professores para isso. O curso oferece pistas de como o
professor pode construir sua prática cada vez melhor. Eu acho que ele dá um
suporte, é você que tem que procurar esse conhecimento mais especifico. É você
que tem de olhar para essa teoria e perceber qual teoria está norteando a sua
prática.
Anexo II
COMITÊ DE ÉTICA
I – IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL
NOME: _________________________________________________________________
DATA DE NASCIMENTO......../....../...........
INSTITUIÇÃO:
ENDEREÇO:
TÍTULO DA PESQUISA:
PESQUISADORES RESPONSÁVEIS:
CARGO/FUNÇÃO:
UNIDADE:
V – INFORMAÇÕES
NOMES: __________________________________________________________
ENDEREÇOS: _____________________________________________________
TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS PELO ACOMPANHAMENTO DA
PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE DÚVIDAS.
103
Anexo III
COMITÊ DE ÉTICA
S.Paulo. / /2008
______________________________________ _____________________________
Anexo IV
COMITÊ DE ÉTICA
Prezados Srs.,
Os dados obtidos somente serão utilizados para o projeto ao qual se vinculam, guardando
seu sigilo. Temos ciência de que todo e qualquer outro uso que venha a ser planejado
deverá ser objeto de nova à Comissão de Pesquisa e Ética.
....................................................................
pesquisador responsável:
105
Anexo V
COMITÊ DE ÉTICA
São Paulo,..........de.....................de.............