Povos Indígenas Na Constituinte de 1988
Povos Indígenas Na Constituinte de 1988
Povos Indígenas Na Constituinte de 1988
Os Povos
Indígenas
ea
Constituinte1987-1988
Rosane Lacerda
Conselho Indigenista Missionário
Os Povos
Indígenas
ea
Constituinte
1987-1988
Rosane Lacerda
Brasília – 2008
Publicação do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi),
órgão anexo à Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB).
PRESIDENTE
Dom Erwin Kräutler
Endereço
SDS - Ed. Venâncio III, sala 309-314
CEP 70.393-902 - Brasília-DF
Tel: (61) 2106-1650
Fax: (61) 2106-1651
www.cimi.org.br
Seleção de imagens
Aida Cruz
Revisão
Leda Bosi
Diagramação
Licurgo S. Botelho
Capa
Delegação Kayapó festeja a supressão do inciso que
tratava das terras dos “extintos aldeamentos”. 18/08/1988
Foto: Egon D. Heck/Arquivo Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC
APOIO
Lacerda, Rosane.
Os Povos Indígenas e a Constituinte – 1987/1988 / Rosane Lacerda.
– Brasília (DF) : CIMI – Conselho Indigenista Missionário, 2008.
240 p. il. ; 21 x 28 cm
Bibliografia
1. Povos Indígenas – Brasil. 2. Brasil – Constituinte. 3. Brasil – História.
I. Título.
CDU 34(=981)
A Dom Luciano Mendes de Almeida (in memorian),
ao Cacique Xicão Xukuru (in memorian),
aos Povos Indígenas e seus aliados,
e a todos aqueles e aquelas que acreditaram e trabalharam
para que esta virada histórica se tornasse possível.
“Eles vieram às
centenas das diversas
regiões do país, com
o aguerrido espírito
fundante, raiz profunda
dessa terra. Ocuparam
com seus gritos,
diversidade e beleza os
espaços do Congresso
Nacional.
Estavam armados
da determinação de
conquistarem seus
direitos fundamentais,
especialmente à terra,
aos recursos naturais
e à organização social.
Nunca antes, se vira
semelhante agitação no
espaço do poder”.
Egon D. Heck
14/10/1987 – Kayapó – Brasília – Foto: Egon D. Heck/Arquivo Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC
Sumário
Apresentação....................................................................................................................................8
Introdução......................................................................................................................................10
1 - Antecedentes.............................................................................................................................13
1.1. O assimilacionismo na história constitucional brasileira................................................13
1.2. A realidade indígena no contexto pré-constituinte.........................................................16
1.3. Povos indígenas e movimentos sociais nos anos 70 e 80...............................................27
1.4. Em busca de uma nova Constituição para o país............................................................31
2 – A preparação............................................................................................................................37
2.1. A Constituinte como prioridade da ação do Cimi...........................................................37
2.2. Articulações e mobilizações indígenas preparatórias.....................................................42
2.3. A questão indígena na Comissão Provisória de Estudos Constitucionais.......................45
Referências bibliográficas.............................................................................................................143
Apêndice
Cronologia da questão indígena na Assembléia Nacional Constituinte.......................................146
Anexos
I – Falam os aliados da causa indígena
- Manuela C. da Cunha (ABA) – Subcomissão das Pop. Indígenas (23.04.87).......................154
- Florestan Fernandes (PT-SP) – Subcomissão das Pop. Indígenas (23.04.87).......................157
- Dom Erwin Kräutler (Cimi) – Subcomissão das Pop. Indígenas (29.04.87).........................160
- Carlos Marés (CPI-SP) – Subcomissão das Pop. Indígenas (29.04.87).................................163
- Vanderlino de Carvalho (Conage) – Subcomissão das Pop. Indígenas (29.04.87)..............167
D. Erwin Kräutler
Bispo do Xingu, presidente do Cimi
1 CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. 4.ª Ed., Círculo do Livro,
p.9.
2 cf. MOREIRA NETO, Carlos A. Os Índios e a Ordem Imperial. Brasília: CGDOC/FUNAI, 2005, p.247.
3 LACERDA, Rosane. Diferença não é Incapacidade: gênese e trajetória histórica da concepção da incapacidade indígena
e sua insustentabilidade nos marcos do protagonismo dos povos indígenas e do texto constitucional de 1988. Dissertação
(Mestrado em Direito) Orientador: Prof. José Geraldo de Sousa Júnior. _UnB, Brasília, 2007.
4 DALLARI, Dalmo de Abreu. “Constituição e Constituinte”. In: Arquidiocese de São Paulo (org.). Povo de Deus e Constituinte
– Constituição justa e para valer. II Semana “Fé e Compromisso Social”. São Paulo : Loyola, 1985, p. 30.
5 RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a Civilização: a integração das populações indígenas ao Brasil moderno. 3.ª ed.
Petrópolis: Vozes; 1979, p.192.
Educação escolar
Essa concepção ideológica de uma incapacidade jurídica, política e até mesmo cultural dos
povos indígenas, possuía no plano formal da educação escolar o seu maior instrumento. Como dizia o
Estatuto do Índio de 1973, a educação “do índio” deveria ser “orientada para a integração na comunhão
nacional mediante processo de gradativa compreensão dos problemas gerais e valores da sociedade
nacional, bem como do aproveitamento de suas aptidões individuais” (art. 50). Este simples dispositivo,
por si só, já bastaria para dar uma idéia do caráter individualista das relações a ser privilegiado na
educação escolar prestada às comunidades indígenas (algo estranho aos padrões culturais de muitos
grupos lingüísticos no Brasil) e das estratégias a serem observadas para a concretização da plena passagem
da identidade indígena para uma identidade brasileira “não-indígena”.
A realidade, contudo, era bem mais adversa, como já constatavam os diversos encontros e
estudos realizados pelo movimento indígena e seus aliados. Mesmo instaladas em terras indígenas,
as “escolas indígenas” além de simples escolas rurais, que padeciam das mesmas carências comumente
vivenciadas pelas demais do gênero, consistiam também em unidades de reprodução das desigualdades
e da conformidade com relações estruturais de poder sob os quais viviam submetidos os povos
indígenas. Ao mesmo tempo, as experiências em curso de uma educação escolar indígena voltada
6 Daí o desenvolvimento, a partir da instalação do antigo Serviço de Proteção ao Índio, de uma política de moldes positivistas
que tinha por objetivo proteger os índios de possíveis agressões ou mudanças bruscas, proporcionando as condições para
que se integrassem “harmoniosamente” à sociedade nacional brasileira.
7 RIBEIRO, Darcy. Os Índios e a Civilização; op. cit., pp.231-242.
8 RIBEIRO, Darcy. Idem, p.236.
9 RAMOS, Alcida Rita. Sociedades Indígenas. São Paulo : Editora Ática, 1986, p.6.
10 AZEVEDO, Marta.“Educação: o que mudar na Constituinte”. In: CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º 95, jan./fev.-87,
p.5
11 Além disso, tais textos constitucionais também não faziam qualquer previsão quanto à utilização dos recursos naturais
existentes naquelas terras.
Estradas
12 Órgão este que desde 1967 era a Fundação Nacional do Índio (Funai).
13 Inicialmente, pelo Decreto n.º 76.999, de 8 de janeiro de 1976 (DOU 09/01/1976, p.248), os trabalhos de coleta de provas
da ocupação indígena, avaliação e decisão em cada procedimento demarcatório eram atribuídos quase que exclusivamente
à Funai. Posteriormente, o Decreto n.º 88.118, de 23 de fevereiro de 1983 (DOU 24/02/1983, p.3009) passou a submeter
cada procedimento a um “Grupo de Trabalho” onde a Funai dividia assento com “outros órgãos federais ou estaduais
julgados convenientes”, além de representantes dos Ministérios do Interior e de Assuntos Fundiários, cabendo a estes
dois últimos a decisão final sobre cada demarcação.
14 CIMI-CNBB. “Bases para o Diálogo entre a Igreja Missionária e o Estado. Demarcação e garantia de território e o fim da
violência – exigências para uma nova política indigenista”. In: CIMI. Os Povos Indígenas e a Nova República. São Paulo
: Paulinas, 1986. pp.51-83.
15 CEDI/PETI/MNRJ. “Terras Indígenas no Brasil”. São Paulo : CEDI; Rio de Janeiro: PETI / MNRJ. 1987; p.12.
16 Entre as perdas de lideranças indígenas neste período, destacaram-se as mortes de Maiká Waimiri-Atroari (líder da
resistência contra a passagem da BR-174 e morto em 1972 provavelmente em decorrência de uma gripe disseminada
pelos invasores); de Simão Bororo (morto a tiros em 1976 numa invasão armada de fazendeiros à Missão Salesiana do
Merure, quando também foi assassinado o padre Rodolfo Luckenbein); do cacique Ângelo Pankararé (assassinado a
tiros em emboscada, em 1979, em meio a conflito com pequenos posseiros e líderes políticos regionais); de Ângelo Kretã
Kaingang (morto em “acidente” de carro nunca esclarecido, em 1980, em meio a conflitos com madeireira que explorava
araucária na terra indígena Mangueirinha); e de Marçal Tupã’i Guarani (assassinado a tiros em emboscada, em 1983,
em meio a conflitos com o fazendeiro invasor da Terra Indígena Pirakuá).
Remoções
Mas o avanço das frentes de expansão econômica sobre as terras indígenas não se contentava
com a abertura de estradas. Muitas vezes a remoção definitiva de aldeias inteiras era posta em prática
pelos órgãos governamentais, para se garantir a liberação da terra aos seus novos ocupantes – fazendeiros,
mineradoras, projetos de colonização e usinas hidrelétricas. Foi o que ocorreu, por exemplo, com os
sobreviventes Kren-Akrôro, removidos de suas terras invadidas pela Cuiabá – Santarém, e transferidos
para o Parque Nacional do Xingu, onde foram forçados à convivência com os seus inimigos tradicionais,
os Txukarramãe. Também os Xavante de Marãewatsede ou Suyá Missu (MT) foram vítimas da tragédia
provocada pela remoção de suas terras. Em 1966, toda a comunidade, formada por 263 pessoas, foi
retirada à força em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para a Missão Salesiana de São Marcos,
ao sul da terra indígena. Poucos dias depois, 83 índios estavam mortos, devido a uma epidemia de
sarampo adquirida com a transferência. A remoção teve por objetivo liberar a terra indígena para a
expansão da “Fazenda Suyá-Missu”, empreendimento agropecuário financiado pela Superintendência
do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam)18.
Pesadelo semelhante foi também foi vivido pelos Nambikwara (MT), do Vale do Guaporé, que
tiveram suas terras rasgadas no início da década de 1960 pela BR-364 (Cuiabá - Porto Velho). A fim de
ceder lugar a diversos empreendimentos agropecuários, também financiados pela Sudam, os índios
foram transferidos para uma reserva criada fora de seu território tradicional. Enquanto isso, certidões
negativas de ocupação indígena eram expedidas pela Funai sobre aquilo que por milhares de anos
fora seu habitat. Em 1971 uma epidemia de sarampo dizimou toda a população menor de 15 anos.
Extremamente debilitados, os sobreviventes foram removidos por helicópteros da FAB para as terras
da reserva, onde os aguardavam a fome e a desolação19. Além destes, vários outros casos de remoção
foram registrados, com resultados igualmente trágicos, a exemplo dos Waimiri-Atroari, transferidos
quando suas terras eram rasgadas pela BR-174 (Manaus - Boa Vista), revolvidas pela mina de Pitinga e
inundadas pela Hidrelétrica de Balbina.
Também a remoção dos índios de suas terras consistiu em prática que logo seria prevista
no Estatuto do Índio, de 1973 (art. 20. § 2.º, “c”), por força de intervenção da União Federal, em
hipóteses que incluíam a defesa da segurança nacional, a realização de obras públicas de interesse do
Garimpo
Embora a Lei 6.001/73 fosse taxativa ao reservar apenas aos índios a exploração das riquezas
do solo (art. 44), o que se faria através das atividades de “garimpagem, faiscação e cata”, as invasões
das terras indígenas por garimpeiros eram cada vez mais freqüentes, algumas vezes contando com a
conivência direta de organismos e autoridades governamentais. Às vésperas da instalação da ANC surgiam
registros de novas ou de antigas invasões garimpeiras em diversas terras indígenas na Amazônia.
Uma das mais escandalosas ocorrera em 14 de fevereiro de 1985, quando um grupo de policiais
e particulares, utilizando fardas do Exército, pousou na serra do Surucucus, na terra Yanomami (RR/
AM), dominando a pista de pouso da Funai. A operação, realizada em oito vôos, nos quais chegaram 44
garimpeiros, partira “da Fazenda São Luiz, de propriedade da vereadora Maria de Lourdes Pinheiro, e
com envolvimento direto do empresário José Altino Machado e de políticos locais20.
Meses depois, ao avaliar a política indigenista da “Nova República”, o Secretariado Nacional
do Cimi21 denunciava que o empresário, inicialmente preso e indiciado em inquérito, permanecia em
liberdade e possuía “livre trânsito junto a Ministérios, especialmente o das Minas e Energia”. A cobiça pela
exploração garimpeira da Serra do Surucucus era encabeçada, no Congresso Nacional, pelos deputados
Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) e João Batista Fagundes (PDS-RR)22. A operação de invasão garimpeira
havia sido bloqueada, mas já provocara o início de surtos epidêmicos entre os índios, a exemplo de uma
misteriosa febre letal contraída no contato com garimpeiros vindos do Mato Grosso do Sul23.
Na área Kayapó do sul do Pará, a invasão que já somava mais de 3 mil garimpeiros, provocava
divisão interna entre as principais lideranças em torno da conveniência ou não do garimpo. A área padecia
de conseqüências negativas como poluição do rio e importantes alterações causadas pela introdução
indiscriminada de produtos industriais e supérfluos24. Além disso, os índios eram lesados também na
quantia auferida com a exploração. Das 1,8 toneladas de ouro já extraídas, que rendera 23 bilhões de
Cruzeiros, ficavam com apenas 0,01% do ouro extraído25.
Outra terra indígena afetada era o Alto Rio Negro (AM), lar de 22 diferentes povos pertencentes
às famílias lingüísticas Tukano, Aruak e Maku. Em novembro de 1983, após invadirem e descobrirem ouro
no rio Uaupés, os garimpeiros incentivaram os índios à prática do garimpo, acarretando o desequilíbrio
da estrutura política interna das comunidades. Também no Uaupés e no rio Içana, os índios chegaram a
apreender três balsas carregadas de instrumentos de garimpo, de propriedade da empresa Gold Amazon,
ligada ao então governador Gilberto Mestrinho. No ano de 1984, na Serra do Traíra, no rio Uaupés, já
se contabilizava a presença de cerca de 2 mil garimpeiros na terra indígena26.
No Parque Indígena do Tumucumaque (PA) diversas frentes de garimpo de ouro denominadas
“Garimpo 13 de Maio”, onde atuavam mais de 100 garimpeiros ilegais, levavam à introdução de
20 KRAUTLER, Erwin. “Os povos indígenas e a pastoral indigenista no atual momento histórico”. In: CIMI. Os Povos Indígenas
e a Nova República. São Paulo : Paulinas, 1986, p.11.
21 “A Política Indigenista da Nova República”.In: CIMI. Os Povos Indígenas e a Nova República. São Paulo : Paulinas, 1986,
pp.34-35.
22 O Deputado Cavalcanti chegara a propor na Câmara Federal o Projeto de Lei n.º 1.179/83, que pretendia autorizar o
Executivo a providenciar a abertura e a exploração do garimpo de cassiterita na serra do Surucucus, através de convênio
entre Funai e a Codesaima, com aproveitamento prioritário da “mão-de-obra disponível no território, inclusive a indígena”,
e destinando-se 20% dos lucros à Funai.
23 “Doença já matou dez”. FSP, 1.º.01.1985. Cf. CEDI, “Aconteceu Especial” n.º 15 – Povos Indígenas no Basil/1984,
p.96.
24 “Divergências sobre garimpos”. OESP, 26.06.84. Cf. CEDI, “Aconteceu Especial” n.º15, pp.160-161.
25 O Liberal (PA), 18 e 20/09/84.
26 GENTIL, Gabriel dos Santos e SAMPAIO, Álvaro F. “Febre do ouro no Alto Rio Negro”. In: CEDI, “Aconteceu Especial” n.º
15, p.68-69. Quatro anos depois, a invasão da terra Yanomami por dez mil garimpeiros, associada ao anúncio da divisão da
área em “florestas nacionais”, levaria à morte centenas de Yanomami, vitimados por ataques armados e surtos de malária,
tuberculose e outras doenças, inclusive sexualmente transmissíveis, um genocídio que escandalizaria o mundo.
Mineração
Na região amazônica, desde a descoberta de extensas reservas minerais pelo projeto RADAM28
na década de 1970, as terras indígenas enfrentavam na mineração mecanizada uma nova e grave onda
de ameaças. A Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) permitia a possibilidade de intervenção da União Federal
em terras indígenas “para a exploração de riquezas do subsolo de relevante interesse para a segurança e o
desenvolvimento nacional” (art. 20, § 1.º, f), e submetia à legislação vigente as regras para a exploração
de tais riquezas (art. 45, caput). As pressões pela exploração mineral levaram então o governo Figueiredo
à edição do Decreto n.º 88.985, de 10 de novembro de 1983. Pretendendo regulamentar os arts. 44 e 45
da Lei 6.001/73, o decreto possibilitava a abertura das terras indígenas à exploração mineral mecanizada
(art. 5.º).
Em 10 de setembro de 1984, preocupado com a pressa demonstrada pelo governo na
regulamentação do decreto, um grupo de entidades formado pela União das Nações Indígenas (UNI),
Associação Brasileira de Antropologia (ABA), Associação Nacional de Apoio ao Índio da Bahia (Anaí-BA),
Associação Nacional de Apoio ao Índio do Rio Grande do Sul (Anaí-RS), Comissão Pró-Índio de São Paulo
(CPI-SP), Cimi, Comissão Pela Criação do Parque Yanomami (CCPY) e Coordenação Nacional de Geólogos
(Conage), enviava ao presidente da Funai três manifestações contrárias às pretensões de exploração
mineral das terras indígenas: a primeira, um parecer jurídico, assinado pelo então presidente da Anaí-RS,
advogado Julio Gaiger, que considerava inconstitucionais desde os arts. 20 (§ 1.º, f) e 45 (§§ 1.º e 2.º) da
Lei 6.001/73, até o Decreto 88.985/83 e a minuta de portaria regulamentadora do mesmo29. A segunda,
um parecer antropológico sobre o decreto e minuta de portaria, concluindo serem ambos “totalmente
inadequados à condução de uma política indigenista coerente com a realidade pluriétnica do país e
com a igualdade e não discriminação que deve prevalecer entre as diversas etnias que o povoam”30.
Por último, uma análise política do significado e conseqüências do decreto, apontando-o não como
condição à soberania ou ao desenvolvimento nacional, nem à proteção dos direitos indígenas, mas
como base para o investimento do grande capital na Amazônia, levando a regulamentação do decreto
a “uma avalanche de empresas mineradoras em áreas indígenas”, conduzindo a sua sobrevivência física
e cultural a perdas irreparáveis31.
Logo se fez sentir no âmbito da questão da mineração em terras indígenas a repercussão
de setores da intelectualidade e da sociedade civil comprometidos com as causas populares e o
processo de redemocratização do país. O jurista Dalmo Dallari, ao mesmo tempo em que opinava pela
inconstitucionalidade da “operação mata-índio” – que via representada na tentativa de regulamentação
da exploração mineral – , denunciava como seu verdadeiro objetivo a facilitação dos interesses de
empresas estrangeiras. “É necessário”, dizia ele, “que a consciência brasileira reaja a essas investidas, que
levarão à morte e à degradação física e moral muitos índios, além de trazer prejuízos e não benefícios
ao povo brasileiro”32.
As mesmas preocupações possuía o Senador Severo Gomes, que apontava a exploração como
um atentado à soberania nacional, por satisfazer apenas os interesses do capital internacional, em
troca do “agravamento do processo de destruição da identidade física e cultural dos povos indígenas”.
27 Lúcia Hussak Van Velthem, 1985, in: CEDI “Aconteceu Especial” n.º 15, p.111.
28 Criado em outubro de 1970, no âmbito do Ministério das Minas e Energia (MME) e Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), com recursos do Plano de Integração Nacional (PIN), e o apoio de empresas estrangeiras como a Aero
Service Division of Litton Industries dos Estados Unidos, o Projeto RADAM (Radar na Amazônia) descobriu, através de
um sistema de mapeamento aero-fotográfico, extensas jazidas de ferro, manganês, bauxita, zircônio, ouro, diamantes e
outros minerais. Cf. DAVIS, Shelton. Op. cit., pp.64,90.
29 Cf. LOPES DA SILVA, Aracy et alli (org). A Questão da Mineração em Terra Indígena. Cadernos da Comissão Pró-Índio
de São Paulo, n.º 04. São Paulo : CPI-SP. pp. 34 e ss..
30 Cf. CPI-SP. A Questão da Mineração... op. cit., pp.55-56.
31 Cf. CPI-SP. A Questão da Mineração... op. cit., pp.61-62.
32 DALLARI, Dalmo. “Minérios, Índios e Independência”. FSP, 14.09.1984. Cf. CPI-SP. Idem, p.81.
33 GOMES, Severo. “Entre Custer e Rondon”. FSP, 4/10/1984. Cf. CPI-SP. Idem, p.84.
34 ALMEIDA, Luciano M. de. “Em Defesa dos Povos Indígenas”. FSP, 12.01.1985. Cf. CPI-SP. Idem, p.90.
35 CHAUÍ, Marilena. “Dizimação”. FSP, 8/10/1984. Cf. CPI-SP. Idem, p.88.
36 Folha de São Paulo, 28/09/1984. Cf. CEDI. “Aconteceu Especial” n.º15, p.31.
37 Declaração durante o Seminário sobre os Grandes Projetos na Amazônia, realizado pelo Cimi em Manaus (AM). “A Notícia”.
Manaus, 17/9/1984. Cf. CEDI. “Aconteceu Especial” n.º15, p.37.
38 Cf. ambos os editoriais In. CEDI. “Aconteceu Especial” n.º 15, p.39.
39 Brasil Mineral, n.º 13, dez. de 1984, p. 24. Formando o Sistema Estadual de Mineração, A ABREMIN era composta das
empresas CRM (BRS), CODISC (SC), MINEROPAR (PR), PROMINERIOS (SP), CODESUL (MS), DRM (RJ), METAMIG
(MG), CBPM (BA), METAGO (GO), CODISE (SE), EDRN (AL), MINERIOS (PE), CDRM (PB), CDM (RN), CEMINAS (CE),
CONDEPI (PI), COPENAT (MA), COMIPA (PA), METAMAT (MT), CRM (RO), e CODESAIMA (RR). Cf. CEDI. “Aconteceu
Especial” n.º 15, p.39.
Makuxi e
Anta RR CPRM
Wapixana
Waiwai, Xirieu,
1) Paranapanema; 2) Best Metais e Soldas; 3)
Hixkaryana,
Nhamundá AM Brascan British Petroleum; 4) CPRM; 5) Promix
Kokuryana,
Mapuera e PA Produção de Minérios do Xingu; e 6) Mineradora
Katuena e
Ribeirão de Ourives.
Mawayara
Makuxi e
Pium RR CPRM
Wapixana
Faixa de fronteira
O tratamento dado à região amazônica durante o regime militar dos anos 70 guiava-se pelas
perspectivas da segurança e da integração nacional. Para os militares brasileiros, a segurança do país
dependia de políticas de integração que retirassem a Amazônia de seu “isolamento”. Para tanto, nada
melhor do que programas de promoção e estímulo à sua ocupação por empresas e por uma mão-de-
obra de baixa qualificação (de preferência os desvalidos e sem-terra nordestinos44) a ser fixada no local
mediante projetos de colonização. As fronteiras da Amazônia com os países vizinhos, ou por serem
consideradas “anecúmenos” ou por serem habitadas por povos indígenas, eram vistas como áreas de
risco, extremamente vulneráveis. Daí o Plano de Integração Nacional (PIN) com suas rodovias, projetos de
colonização, usinas hidrelétricas, projetos de mineração, garimpos, etc., que arrastaram para a completa
dizimação muitos dos povos e comunidades indígenas que se encontravam em seu caminho.
É nesse contexto que, às vésperas da Constituinte, é ferrenha a oposição dos militares à
demarcação das terras indígenas em faixa de fronteira. É nesse contexto que surge uma “aliança e integral
apoio” entre Forças Armadas e “setores econômicos interessados no aproveitamento das riquezas naturais
existentes nas terras indígenas”45. Idéias delirantes como a expressa pelo General Bayma Denis, de
pressões pela criação, (“às custas do atual território brasileiro e venezuelano”) de um “Estado Yanomami”
46
, passaram a ser incorporadas também na política indigenista da “Nova República”.
42 Fonte: CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º 96, março.1987, p.5.
43 Cf. RICARDO, Fany & ROLLA, Alicia. Mineração em Terras Indígenas na Amazônia Brasileira. São Paulo : Instituto
Socioambiental, 2005, p. 5.
44 “Terra sem homens para homens sem terra”, dizia o slogan do regime militar na década de 70.
45 GUIMARÃES, Paulo M. “Militares conduzem política de ocupação”. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º113 nov.88,
p.3.
46 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º 93, nov.1986, p.5.
55 Declaração de Barbados I, cf. SUESS, Paulo. Em Defesa dos Povos Indígenas. Documentos e legislação. São Paulo
: Edições Loyola, 1980; pp.19-26.
56 Ao assumirem o documento, vários destes religiosos passaram e ser alvo de atos de repressão por parte dos militares,
então no poder. [cf. PREZIA, Benedito (Org.). Caminhando na Luta e na Esperança. Retrospectiva dos últimos 60 anos
da Pastoral Indigenista e dos 30 anos do Cimi. São Paulo : Edições Loyola : Cimi : Cáritas Brasileira. 2003; p.145].
57 PREZIA, Benedito. op. cit., p.139.
Ortolan Matos indica que, com a experiência das primeiras assembléias, os índios passaram a
perceber a importância da imprensa e da produção dos chamados “documentos finais” como eficazes
instrumentos de reivindicação e denúncia61. Com o tempo, perceberam também a importância do
estabelecimento de canais diretos de comunicação com os responsáveis pela política indigenista. Diz
a autora que
Ao circular pelos altos escalões do governo, os índios aprenderam a se impor como autoridades
políticas que deveriam ser recebidas e ouvidas pelos representantes do Estado brasileiro,
fosse ele presidente da Funai ou presidente da República62.
Não se limitando à simples discussão de problemas, as assembléias desaguaram numa série
de ações concretas, tais como retomadas de terra e ocupações de sedes de administrações da Funai,
63 No ano seguinte rebatizada com a sigla “Uni” . cf. PREZIA, Benedito. op. cit.; p.66.
64 Destacamento de Operações de Informações (DOI) - Centro de Operações de Defesa Interna (CODI). Temido órgão de
inteligência e repressão do regime militar de 1964, criado em 1969 como parte da doutrina da Segurança Nacional, e sob
inspiração da Escola Superior de Guerra – ESG e da Escola de Guerra Norte-Americana.
65 Movimento que culminaria em 28 de agosto de 1979 com a aprovação da Lei n.º 6.683 (“Lei da Anistia”).
66 SADER, Eder. Quando Novos Personagens entram em Cena. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1988, p.26.
67 cf. CIMI. “Porantim”, Manaus, ano II, n.º 10, ago.1979, p.15.
68 cf. CIMI. “Porantim”, Manaus, ano III, n.º 22, set.1980, p.5.
69 cf. CIMI. “Porantim”, Manaus, ano III, n.º 22, set. 1980, p.18.
Mas as discussões prosseguiam. Em outubro de 1985, um retrato das diferentes opiniões era
dado pelo Jornal “Porantim”87. Ali o advogado J. Gaiger, então assessor jurídico da entidade, afirmava a
necessidade de se discutir a “representatividade das minorias – não só os índios”, pois os partidos políticos
não proporcionariam “um canal de representação legítimo” para as minorias. Essa idéia de participação
fora da via partidária tinha também o apoio de Aílton Krenak da Coordenação de Publicações da UNI.
Para ele, a representação através de partidos geraria “um processo de desgaste violento”, motivo pelo
qual os índios deveriam ter assentos específicos na ANC, em determinados grupos temáticos. Por sua
vez, o jurista Dalmo Dallari via a possibilidade de participação através da própria UNI e das entidades
destacadas “como verdadeiras defensoras dos índios”.
Naquele mês de outubro (10 e 11) as lideranças indígenas voltavam a se encontrar em Goiânia
sob convocação da UNI. Na pauta, a avaliação da atuação da entidade em suas regiões, e a discussão
sobre o tema “Os Índios e a Constituinte”. Ali, decidiram lutar pelo reconhecimento ao direito de
representação direta junto à ANC. “Decidimos participar da elaboração da nova Constituição, pois
essa lei trata de questões de interesse imediato dos povos indígenas”, dizia o documento final do
encontro. A representação se faria através de 10 indígenas, dois por cada região do país, escolhidos
pelas comunidades de cada região, e não submetidos “ao sufrágio universal e secreto e nem à forma
de representação partidária”88.
86 Cf. CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação. “Povos Indígenas no Brasil: 1985-1986”. Série “Aconteceu
Especial”, n.º 17. São Paulo: CEDI, 1987; pp.249-250.
87 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º80, out. 1985, p.6.‑
88 “Uni estuda participação indígena na Constituinte”. In: CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º81, nov.1985, p.3.
89 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º81, nov. 1985; p.3.
90 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º89, jul. 1986; p.6.
91 No Congresso Nacional, a Mensagem tomou o n.º 48, de 1985.
92 DOU de 28/11/1985, Seção 1, p.17422.
93 Senadores nomeados pelo governo Geisel, ainda no exercício de seus mandatos. A expressão “biônico” vinha de um seriado
norte-americano de TV, sucesso na época, onde um policial era mantido vivo artificialmente através de uma cirurgia que
adicionava equipamentos eletrônicos ao seu corpo. A existência dos senadores “biônicos” fora determinada pela Emenda
Constitucional nº 8, de 14 de abril de 1977, no bojo do famigerado “pacote de abril”, um conjunto de medidas autoritárias
que pretendia refrear as lutas dos movimentos sociais por liberdade. Foram escolhidos um por estado, em 1978, por um
período de oito anos. Só em 1980, através da Emenda Constitucional nº 15, de 19 de novembro, é que se restabeleceu o
sistema de voto direto nas eleições para senador da República e para governador de estado.
94 PAOLI , Maria Célia. Constituinte e Direito: um modelo avançado de legítima organização da liberdade ?. In: SOUSA
JÚNIOR, José Geraldo de (Org.). O Direito Achado na Rua. Brasília : Editora da Universidade de Brasília, 1987; p.144.
95 BARROSO, Pérsio Henrique. Constituinte e Constituição: Participação Popular e Eficácia Constitucional (1987-1997).
Florianópolis : UFSC, 1997 [Dissertação de Mestrado em Direito], p.109.
96 Folha de São Paulo, 14/04/1985. Cf. CEDI, “Aconteceu Especial” n.º 15, p.47.
97 CNBB. Declaração Pastoral : Por uma Nova Ordem Constitucional. São Paulo : Edições Loyola, abril de 1986; p.4
98 VI Assembléia Geral do Cimi. Cf. PREZIA, Benedito, op. cit., pp.265-266.
99 cf. PREZIA, Benedito. op. cit., p.266. A idéia era, portanto, somar esforços junto aos setores populares nas pressões sobre
a tramitação da PEC 43/85, na busca pela aprovação de uma Constituinte de caráter exclusivo, representativa dos setores
historicamente excluídos. Mais tarde, aprovada pelo Congresso Nacional a convocação da Constituinte congressual, o
Cimi fazia coro com as entidades que denunciavam na medida uma manobra dos setores conservadores para se impedir
aos setores populares – inclusive aos povos indígenas, o seu avanço na elaboração da nova Constituição.
100 WHITAKER, Francisco. Palestra no “Seminário 20 Anos da Constituição Federal”, op. cit.
101 WHITAKER, Francisco. Idem.
102 cf. CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. (org.). Os Direitos do Índio – ensaios e documentos. São Paulo: Brasiliense, 1987.
p.179.
103 GUIMARÃES, Paulo M. “Relatório de Atuação do Assessor Jurídico do Cimi no Secretariado Nacional, no período
de Abril de 1985 a abril de 1986”. Brasília : Cimi, 1986 (mimeo) pp.3-4.
104 GUIMARÃES, Paulo Machado. Op cit. pp.3-5.
Cartaz da “Semana do
Índio”/ 1987
Capa do “Texto-Base”
da Semana do Índio/1987
105 MOURA, Antônio Carlos. Direitos Indígenas na Constituinte. In: CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º96,
março.1987.
106 GUIMARÃES, Paulo M. “Relatório das Atividades da Assessoria Jurídica do Cimi no período compreendido no ano
de 1987 a setembro de 1988”. Brasília:Cimi, 1988 (mimeo) p.14.
107 GUIMARÃES, Paulo M. “Relatório das Atividades da Assessoria Jurídica...”. op.cit. p.15.
108 VII Assembléia Geral do Cimi. Cf. PREZIA, Benedito, op. cit., pp.270.
109 GUIMARÃES, Paulo M. “Relatório das Atividades da Assessoria Jurídica...”. op.cit. p.4.
110 GUIMARÃES, Paulo M. “Relatório das Atividades da Assessoria Jurídica...”. op.cit. p.15.
Programa Mínimo
Em maio de 1986, em São Paulo, a UNI reúne-se novamente, desta vez para um estudo
mais aprofundado com vistas à elaboração de uma “proposta de Programa Mínimo de Campanha Pré-
Constituinte”. Na ocasião foram discutidos os temas “Terra: posse e domínio”; “Tutela: uma perspectiva
de avanço e conquista da cidadania plena”; e “Representação: a relação Estado e Nações Indígenas”. Além
dos coordenadores regionais da UNI, a reunião contou com a participação de juristas e de entidades
comprometidas com a causa dos direitos indígenas. Entre os presentes, os juristas Dalmo Dallari e Carlos
F. Marés de Sousa Filho (CPI-SP), a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, o assessor jurídico do Cimi
Paulo Machado Guimarães111.
Sobre a importância do resultado do encontro, avaliava à época o Jornal Porantim:
“a proposta de inclusão desse capítulo na Constituição, em si, já implica substancial mudança:
a extinção da previsão de incorporação dos índios à sociedade nacional e a inevitável extinção
da tutela. Esta é então substituída pelo reconhecimento do direito a uma proteção especial
ao índio, sem prejuízo da sua capacidade civil e política e respeitando sua especificidade
étnica e cultural”112.
O texto em forma de capítulo acabou servindo de base para o denominado “Programa Mínimo”
para os direitos indígenas na Constituinte. Encabeçado pela UNI, o documento recebeu a assinatura
de 29 entidades indigenistas, centrais sindicais e associações profissionais e científicas: ABA, Cimi,
Conage, SBPC, Anaí-RS, CPI-SP, CCPY, Cedi, Inesc, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Comissão
Pastoral da Terra (CPT), Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra), Associação Nacional de Docentes
do Ensino Superior (Andes), Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos (MNDH), Comissão
Pró-Índio do Acre (CPI-AC), Comissão Pró-Índio de Sergipe (CPI-SE), Centro de Trabalho Indigenista
(CTI), CEI, Operação Anchieta (Opan), Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae (Cepis),
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), Coordenadoria Ecumênica de Serviços
(CESE), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) e Grupo de Trabalho Missionário
Evangélico (GTME).
Constituíam o “Programa Mínimo” os seguintes pontos: 1) O reconhecimento dos direitos
territoriais dos povos indígenas como primeiros habitantes do Brasil; (2) a demarcação e garantia das
terras indígenas; (3) o usufruto exclusivo das riquezas naturais das terras indígenas; (4) o reassentamento,
em condições dignas e justas, dos posseiros pobres que se encontravam nas terras indígenas, e (5) o
reconhecimento e respeito às organizações sociais e culturais dos povos indígenas com seus projetos
de futuro, além das garantias da plena cidadania.
O documento defendia ainda, com base na diversidade étnico-cultural dos povos indígenas,
que a nova Constituição Brasileira deveria:
incluir o reconhecimento das organizações sociais e culturais indígenas, assegurando-lhes a
legitimidade para defenderem seus direitos e interesses e garantindo-lhes a plena participação
na vida do país113.
111 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º88, jun.1986, p.4.
112 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º88, jun.1986, p.4.
113 cf. CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Os Direitos do Índio... op. cit., pp.160-170.
Da reunião da UNI realizada em maio de 1986, resultava ainda a criação de uma coordenação
nacional, formada pela organização além do Cimi, Inesc e Cedi, para monitorar a evolução da discussão
sobre os direitos indígenas na Constituinte.
115 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º106, mar.1987; p.9. Sobre a posição de M. Terena, veja-se também o seu artigo
“A nova Constituição e as Sociedades Indígenas Brasileiras” in ABREU, Maria Rosa, ed. Constituinte e Constituição.
Brasília : Editora da Universidade de Brasília, 1987; p.43.
116 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º90, out.1986; p.8.
117 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º93, nov. 1986; p.9.
118 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º93, nov. 1986; p.9.
119 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano IX, n.º94, dez. 1986; p.8.
120 Nos termos do Dec. 91.450/85 (DOU de 22.07.1985, p.10393), a Comissão era composta por Afonso Arinos de Melo
Franco (Presidente), Joaquim de Arruda Falcão Neto, Alberto Venâncio Filho, Jorge Amado, Antonio Ermírio de Moraes,
Josaphat Ramos Marinho, Barbosa Lima Sobrinho, José Afonso da Silva, Bolívar Lamounier, José Alberto de Assumpção,
Cândido Antônio Mendes de Almeida, José Francisco da Silva, Celso Furtado, José Meira, Cláudio Pacheco, José Paulo
Sepúlveda Pertence, Cláudio Penna Lacombe, José Saulo Ramos, Clóvis Ferro Costa, Laerte Ramos Vieira, Cristovam
Ricardo Cavalcanti Buarque, Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, Edgar de Godoi da Mata-Machado, Luís Pinto Ferreira,
Eduardo Mattos Portella, Mário de Souza Martins, Evaristo de Moraes Filho, Mauro Santayana, Fajardo José Pereira Faria,
Miguel Reale, Padre Fernando Bastos de Ávila, Miguel Reale Júnior, Floriza Verucci, Odilon Ribeiro Coutinho, Gilberto de
Ulhoa Canto, Orlando M. de Carvalho, Gilberto Freyre, Paulo Brossard de Souza Pinto, Reverendo Guilhermino Cunha,
Raphael de Almeida Magalhães, Helio Jaguaribe, Raul Machado Horta, Helio Santos, Rosah Russomano, Hilton Ribeiro
da Rocha, Sérgio Franklin Quintella, João Pedro Gouvea Vieira, e Walter Barelli
121 SALINAS FORTES, Luiz Roberto & NASCIMENTO, Milton Meira do (orgs.). A Constituinte em Debate. Colóquio realizado
de 12 a 16 de maio de 1986, por iniciativa do Departamento de Filosofia da USP. São Paulo : Editora Sofia, 1987, p.91.
Art. 1.º - As terras ocupadas pelos índios são inalienáveis, a eles cabendo a sua posse
permanente e ficando reconhecido o seu direito ao usufruto exclusivo da riquezas naturais do
solo e subsolo e de todas as utilidades nelas existentes.
§ 1.º - São terras ocupadas pelos índios as terras por eles habitadas, as utilizadas para caça,
pesca, coleta, agricultura e outras atividades produtivas, bem como todas as áreas necessárias
à sua reprodução física e cultural segundo seus usos e costumes próprios, estando incluídas as
áreas necessárias à preservação do seu meio ambiente e de seu patrimônio histórico.
§ 2.º - As terras referidas no caput do artigo são bens públicos federais indisponíveis
sendo inalterável a sua destinação salvo em caso de catástrofe natural.
§ 3.º - Ficam declaradas a nulidade e a extinção dos efeitos jurídicos de atos de qualquer
natureza que tenham por objetivo o domínio, a posse, o uso, a ocupação ou a concessão de terras
ocupadas pelos índios ou das riquezas naturais do solo e do subsolo nelas existentes.
§ 4.º - A nulidade e a extinção de que trata o parágrafo anterior não dão aos titulares
de domínio, possuidores, usuários, ocupantes ou concessionários o direito de ação ou de
indenização contra o Poder Público e os índios.
122 cf. CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Os Direitos do Índio... op. cit., p.175.
123 Especificamente CPI-SP, ABA, Uni - Sul, Anaí-RS, CTI, Coordenação de Terras Indígenas do Mirad, Grupo de Trabalho
Indígena da OAB/RJ, Programa de Etnias e Sociedade Nacional da Fundação Nacional Pró-Memória, Grupo de Terra da
Sudelpa, e os advogados Dalmo Dallari e Souza Filho.
Anteprojeto
da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais
(Dec. n.º 91.450, de 18 de julho de 1985)
Apresentado em setembro de 1986125
(...)
Art. 71 – Incluem-se entre os bens da União:
(...)
VII – as terras ocupadas pelos índios;
(...)
Art. 380 – O Governo Federal, reconhecendo as populações indígenas como
parte integrante da comunidade nacional, proporá legislação específica com
vista à proteção destas populações e de seus direitos originários.
124 SALINAS FORTES & NASCIMENTO (orgs.). A Constituinte em Debate. op.cit., p. 95.
125 DOU, Seção I, Suplemento especial ao n.º 185. Brasília – DF, sexta-feira, 26.09.1986.
126 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano VIII, n.º 91, out. 1986, p.7.
A frustração ao desejo de uma Constituinte exclusiva gerou, para alguns setores dos movimentos
sociais, uma tal desconfiança com relação às possibilidades de atuação da ANC, que em alguns casos
não viria a ser superada.
Apesar disso, às vésperas da instalação da ANC uma expressiva maioria de intelectuais e
dirigentes políticos e dos movimentos sociais apostava no potencial da Constituinte como espaço
transformador, desde que devidamente ocupado pelas forças sociais desejosas de mudança. Assim, por
exemplo, ao abordar o ceticismo de diversos setores sociais sobre a Constituinte, causado sobretudo
pela decepção com a convocação de uma Constituinte Congressual, onde “o poder possivelmente
seria reforçado como exercício de dominação”, a filósofa Marilena Chauí127 chamava a atenção para a
importância dos movimentos sociais como elemento capaz de fazer a diferença. Então desdenhados por
uma concepção tradicional de instituições políticas, por seu caráter “não-institucional”, os movimentos
sociais, pela sua autonomia e busca pela criação e reconhecimento de direitos, eram apontados por
Chauí como fundamentais para o resgate do anseio da transformação política, histórica e cultural que
se desejava como resultado da Constituinte.
Se para o campo dos movimentos sociais em geral a forte participação popular a pressionar e
avaliar o andamento dos trabalhos da Constituinte era vista como indispensável, com a questão indígena
não seria diferente. Antes mesmo de instalada a ANC, o sociólogo Florestan Fernandes, então eleito
deputado constituinte pelo PT-SP, fazia um cálculo nada animador: a questão indígena só deveria contar
com o apoio de no máximo 25% dos constituintes, o que significava parlamentares do PT, PDT, PCB, PC
do B e os denominados “progressistas” do PMDB128. Isto deveria significar uma grave insuficiência de
votos para a aprovação das propostas relativas aos direitos indígenas, sobretudo junto ao Plenário.
Esta perspectiva de um fraco apoio aos direitos indígenas na Constituinte gerava para o
próprio movimento indígena e as entidades de apoio a necessidade de um amplo e intenso esforço de
acompanhamento da questão, com vistas à superação das dificuldades e a reversão da tendência apontada
por Florestan Fernandes. Seria necessário todo um trabalho de sensibilização política dos Constituintes
refratários ou sem opinião formada para a causa indígena, o que envolvia, necessariamente, uma presença
física constante nos corredores do Congresso e gabinetes dos parlamentares. Seria necessário, antes
disso, municiar os próprios indígenas a respeito da defesa de seus direitos naquele espaço institucional.
A tarefa não seria nada simples, a começar pelo fato de muitas aldeias situarem-se em locais de difícil
acesso. Além disso,
até aquele momento pouquíssimos indígenas possuíam algum conhecimento sobre as
estruturas jurídicas, políticas e administrativas do Estado Brasileiro. Muitos não tinham
vaga idéia do que seria um Legislativo Municipal, muito menos uma Constituição ou uma
Assembléia Nacional Constituinte. A maioria, entretanto, passava a afirmar uma certeza:
a grande lei dos “brancos” estava para ser escrita pelos políticos “lá em Brasília”, e, se os
índios não poderiam participar de sua elaboração com as próprias mãos, lutariam para que
pela primeira vez, em 500 anos, a lei dos “brancos” fosse escrita considerando a opinião e
a vontade dos povos indígenas 129.
Deste modo, caberia à UNI e às entidades de apoio à causa indígena não só as tarefas de
articulação política e permanente subsídio e acompanhamento aos trabalhos dos parlamentares
constituintes, mas também a incumbência de manter os povos indígenas permanentemente informados,
alertas e mobilizados. O trabalho envolvia também a necessidade freqüente de costuras políticas entre os
127 CHAUÍ, Marilena de Souza. O Ceticismo Sobre a Constituinte. In: SALINAS FORTES & NASCIMENTO (orgs.). A
Constituinte em Debate. op.cit., pp.157-165.
128 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º106, mar. 1987; p.9.
129 LACERDA, Rosane Freire. Diferença não é Incapacidade..., op. cit.
IX – Comissão de Sistematização.
X – Comissão de Redação.
Ainda segundo o Regimento, o resultado final do trabalho de cada Comissão verteria para a
Comissão de Sistematização, que teve como presidente o Senador Afonso Arinos (PFL – RJ) e relator o
deputado Bernardo Cabral (PMDB-AM).
Antes, porém, da instalação das Comissões temáticas, coube ao movimento indígena e às
entidades aliadas uma última reunião, para a formatação final da Proposta Unitária sobre os Direitos
Indígenas na Constituinte. Assim, nos dias 2 e 3 de abril de 1987, o escritório do Inesc em Brasília sediava
o encontro de representantes da UNI, Cimi, ABA, Cedi, CTI/Mirad, CCPY, Conage e da Procuradoria-geral
da República, juntamente com índios residentes em Brasília.
A Proposta Unitária, contudo, encerrava um conteúdo de alcance mais limitado do que aquele
que já vinha sendo defendido conjuntamente pelo Cimi e CNBB. De modo especial estas duas entidades
propunham o reconhecimento do caráter plurinacional do país, tema bastante avançado e polêmico no
qual as demais entidades, por uma questão de estratégia, evitavam ingressar.
Assim, como que a se possibilitar o avanço em duas frentes, concordou-se que o Cimi elaboraria
sua própria proposta, a ser entregue à Subcomissão da Nacionalidade, da Soberania e das Relações
Internacionais, abordando aspectos não previstos na proposta unitária, mantendo, contudo, a articulação
e o apoio que sempre dera a esta desde o início de sua elaboração.
130 Presidida pelo Constituinte Nelson Seixas (PDT-SP), aquela primeira seção contara com a presença dos Constituintes
Benedita da Silva (PT-RJ), Edivaldo Motta (PMDB-PB), Hélio Costa (PMDB-MG), Ivo Lech (PMDB -RS), José Carlos
Sabóia (PMDB-MA), Nelson Seixas (PDT-SP), Renan Calheiros (PMDB-AL), Salatiel Carvalho (PFL - PE), Wilma Maia
(PDS- RN), Alceni Guerra (PFL-PR), Jalles Fontoura (PFL - GO), José Moura (PFL - PE) e Aécio de Borba (PDS - CE).
131 Aqui denominada apenas como “Subcomissão das Populações Indígenas”.
132 A Subcomissão tinha ainda como titulares os constituintes Doreto Campanari (PMDB-SP), Bosco França (PMDB-SE),
Ruy Nedel (PMDB-RS), Hélio Costa (PMDB-MG), José Carlos Sabóia (PMDB-MA), Mattos Leão (PMDB-PR), Mauro
Sampaio (PMDB-CE), Renan Calheiros (PMDB-AL), Jacy Scanagatta (PFL-PR), Lourival Baptista (PFL-SE), Salatiel
Carvalho (PFL-PE), Nelson Seixas (PDT-SP) e Benedita da Silva (PT-RJ).
133 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias.
Anexo à Ata da 1.ª Reunião (Instalação), 07.04.87; p.1. Disponível em < http://www.congresso.gov.br/anc88/ > (Acessado
em 08.10.2008)
134 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros, ... Idem, p.2.
22/04/87 – Mais de 40 lideranças indígenas de diversos povos participam do ato de entrega da Proposta Unitária da
UNI à Subcomissão “das Populações Indígenas”. Foto: Cecé. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
135 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros, ...; Anexo à Ata da 2.ª Reunião,09.04.87 ; p.8-9. Disponível
em < http://www.congresso.gov.br/anc88/ > (Acessado em:09.10.2008)
Antes de dirigir-se ao local da Audiência, o grupo, liderado pelos Kayapó, ocupou a ante-sala
do gabinete do presidente da Constituinte, deputado Ulisses Guimarães. Ali,
os Gorotire e Txukarramãe, em sua maioria pintados, começaram a cantar e ameaçar alguns
passos de dança. Quando Ulysses abriu a porta e viu a manifestação, nada conseguiu falar.
Parou e, boquiaberto, ficou olhando. Um cocar foi colocado em sua cabeça e a proposta
em suas mãos 136.
Lideranças indígenas colocam um cocar na cabeça do presidente da Constituinte, deputado Ulisses Guimarães.
Foto: filme “Os Direitos Indígenas na Constituinte” (Cimi, 1989)
Depois, o grupo dirigiu-se ao gabinete do líder do PMDB, Senador Mário Covas, a quem
entregou um exemplar da Proposta Unitária. Subiu então a rampa do Congresso Nacional, e num gesto
simbólico, realizou uma pajelança no presidente da Subcomissão, deputado Ivo Lech, para permitir que
o espírito bom viesse e entrasse em sua cabeça e seu coração137.
138 Nelson Seixas (PDT-SP), Lourival Baptista (PDS-SE), Edvaldo Motta (PMDB-PB), Vasco Alves (PMDB-ES), José Carlos
Sabóia (PMDB-MA), Benedita da Silva (PT-SP), Alceni Guerra (PFL-PR), Salatiel Carvalho (PFL-PE), Doreto Campanari
(PMDB-SP), Maurílio Ferreira Lima (PMDB-PE), José Moura (PFL-PE), Sarney Filho (PFL-MA), Severo Gomes (PMDB-
SP) e Jacy Scanagatta (PFL-PR).
139 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros,...; Anexo à Ata da 3.ª Reunião, 22.04.87; pp.11-12.
Disponível em < http://www.congresso.gov.br/anc88/ > (Acessado em: 09.10.2008).
140 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros,...; Anexo à Ata da 3.ª Reunião; Idem, p.12.
141 BRASIL. ANC (Atas de Comissões) Subcomissão dos Negros,...; Idem, p.13.
142 BRASIL. ANC (Atas de Comissões) Subcomissão dos Negros,...; Anexo à Ata da 3.ª Reunião; Idem; p.13.
143 Presentes à Sessão os Constituintes José Carlos Sabóia (PMDB-MA), Nelson Seixas (PDT-SP), Doreto Camparani
(PMDB-SP), Benedita da Silva (PT-RJ), Vasco Alves (PMDB-ES), Alceni Guerra (PFL – PR, Relator da Comissão) , Jacy
Scanagatta (PFL-PR), Salatiel Carvalho (PFL-PE), Florestan Fernandes (PT-SP), Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), Bosco
França (PMDB-SE), Edivaldo Motta (PMDB-PB) e Haroldo Sabóia (PMDB-MA).
144 Vide reprodução integral dos expositores Manuela da Cunha e Florestan Fernandes no Anexo I.
29/04/1987 – D. Erwin Krautler, Presidente do Cimi, depõe em audiência pública da Subcomissão do Negro,
Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias. Ao lado os deputados José Carlos Sabóia (PMDB-MA) e Ivo Lech
(PMDB-RS). Foto: Arquivo Cimi/Secretariano Nacional/SEDOC.
145 Presentes à Sessão os Constituintes Doreto Campanari (PMDB-SP), Alceni Guerra (PFL-PR), Benedita da Silva (PT-RJ),
José Carlos Sabóia (PMDB-MA), Nelson Seixas (PDT-SP), Salatiel Carvalho (PFL-PE), Vasco Alves (PMDB-ES), Plínio
Arruda Sampaio (PT-SP), Severo Gomes (PMDB-SP), Euclides Scalco (PMDB-PR), Benedicto Monteiro (PMDB-MA),
Haroldo Sabóia (PMDB-MA) e Osmir Lima (PMDB-AC).
146 A audiência das lideranças indígenas foi acompanhada pelos Constituintes Alceni Guerra (PFL-PL), Benedita da Silva (PT-
RJ), Edivaldo Motta (PMDB-PB), Jacy Scanasatta (PFL-PR), José Carlos Sabóia (PMDB-MA) , Nelson Seixas (PDT-SP),
Salatiel Carvalho (PFL-PE), Vasco Alves (PMDB-ES), José Moura (PFL-PE), Eunice Michiles (PFL-AM), Fábio Feldmann
(PMDB-SP) e Abigail Feitosa (PMDB-BA).
147 Vide depoimentos na íntegra em Anexo II – Com a Palavra, os Povos Indígenas.
148 Cf. BRASIL.ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros,.... Ata da 11.ª Reunião (05.05.87) p.162. Vide texto na
íntegra no Anexo II.
149 Cf. BRASIL.ANC (Atas de Comissões). Idem; p.157-158. Vide texto na íntegra no Anexo II.
150 Cf. BRASIL.ANC (Atas de Comissões). Idem; p.159. Vide texto na íntegra no Anexo II.
151 Cf. BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros,.... Ata da 11.ª Reunião (05.05.87), pp.158-159. Vide
texto na íntegra no Anexo II.
152 Cf. BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Idem, pp.161-162. Vide texto na íntegra no Anexo II.
153 Cf. BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros,.... Ata da 11.ª Reunião (05.05.87); pp.159-160. Vide
texto na íntegra no Anexo II.
154 Cf. BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Idem; pp.156-157.
155 Cf. BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros,.... Ata da 11.ª Reunião (05.05.87), p. 156-157.
156 Cf. BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Idem, p.160-161. Vide texto na íntegra no Anexo II.
157 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias.
Ata da 12.ª Reunião (06.05.87); p. 175.
158 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Idem; p. 175.
25/05/87 – Reunião da Subcomissão do Negro, Populações Indígenas, pessoas Deficientes e Minorias, quando foi
votado e aprovado o texto do Substitutivo proposto pelo Relator Alceni Guerra.
Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
DIREITOS E GARANTIAS
Art 1º A sociedade brasileira é pluriétnica, ficando reconhecidas as formas
de organização nacional dos povos indígenas.
Art. 2º Todos, homens e mulheres, são iguais perante a lei, que punirá
como crime inafiançável qualquer discriminação atentatória aos direitos humanos
e aos aqui estabelecidos.
159 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 10. Brasília : Cimi, 08.mai.1987 (mimeo).
160 Presentes os Constituintes Doreto Campanari (PMDB-SP), Bosco França (PMDB-SE), Alceni Guerra (PFL-PR, Relator),
Benedita da Silva (PT-RJ), Jacy Scanagatta (PFL-PR), José Carlos Sabóia (PMDB-MA), Nelson Seixas (PDT-SP), Salatiel
Carvalho (PFL-PE), Ruy Nedel, Osmir Lima (PMDB-AC), Sandra Cavalcanti (PFL-RJ), Fábio Feldmann (PMDB-SP),
Vivaldo Barbosa (PDT-RJ), Narciso Mendes (PDS-AC) e Edmilson Valentin (PCdoB-RJ).
Mais tarde, aprovado o texto do substitutivo, observara mais uma vez a assessoria do Cimi
na Constituinte:
No que diz respeito às Subcomissões da Comissão da Ordem Social, há consenso de que
produziram os textos mais avançados da história parlamentar brasileira. Os anteprojetos
atenderam às reivindicações básicas dos diversos segmentos envolvidos, inclusive os índios.
O texto final do dep. Alceni Guerra é praticamente o anteprojeto original, com as emendas
propostas pelo movimento indígena/indigenista, através do dep. José Carlos Sabóia163.
(Grifos nossos)
161 BRASIL. ANC (Atas de Comissões). Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias.
Anexo à Ata da 16.ª Reunião (25.05.87); p. 194. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/ > (Acessado em:
09.10.2008).
162 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” s/n. Brasília : Cimi, 18.mai.1987 (mimeo).
163 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º13. Brasília : Cimi, 28.mai.1987 (mimeo).
164 Eram membros titulares da Comissão da Ordem Social os constituintes Alarico Abib (PMDB-PR), Borges da Silveira
(PMDB-PR), Bosco França (PMDB-SE), Carlos Cotta (PMDB-MG), Carlos Mosconi (PMDB-MG), Célio de Castro
(PMDB-MG), Domingos Leoneli (PMDB-BA), Doreto Campanari (PMDB-SP), Ruy Nedel (PMDB-RS), Eduardo Moreira
(PMDB-SC), Fábio Feldmann (PMDB-SP), Francisco Küster (PMDB-SC), Paulo Macarini (PMDB-SC), Geraldo Alckmin
(PMDB-SP), Geraldo Campos (PMDB-DF), Helio Costa (PMDB-MG), Ivo Lech (PMDB-RS), João Cunha (PMDB-SP),
Joaquim Sucena (PMDB-MT), Jorge Uequed (PMDB-RS), José Carlos Sabóia(PMDB-MA), Julio Costamilan(PMDB-RS),
Mansueto de Lavor(PMDB-PE), Mário Lima (PMDB-BA), Mattos Leão (PMDB-PR), Mauro Sampaio (PMDB-CE), Max
Rosenmann (PMDB-PR), Raimundo Rezende (PMDB-MG), Renan Calheiros (PMDB-AL), Ronaldo Aragão (PMDB-RO),
Ronan Tito (PMDB-MG), Teotônio Vilela Filho (PMDB-AL), Vasco Alves (PMDB-ES), Alceni Guerra (PFL-PR), Dionísio
Dal-Prá (PFL-PR), Gandi Jamil (PFL-MS), Francisco Coelho (PFL-PE), Jacy Scanagatta (PFL-PR), João da Matta (PFL-
PB), Júlio Campos (PFL-MT), Levy Dias (PFL-MS), Lourival Batista(PFL-SE), Maria de Lourdes Abadia (PFL-DF), Orlando
Bezerra (PFL-CE), Osmar Leitão (PFL-RJ), Salatiel Carvalho (PFL-PE), Stélio Dias (PFL-ES), Adylson Motta (PDS-RS),
Cunha Bueno (PDS-SP), Osvaldo Bender (PDS-RS), Wilma Maia (PDS-RN), Floriceno Paixão (PDT- RS), Juarez Antunes
(PDT- RJ), Nelson Seixas (PDT- SP), José Elias Murad (PTB -MG), Mendes Botelho (PTB -SP), Benedita da Silva (PT-RJ),
Eduardo Jorge (PT-SP), Paulo Paim (PT-RS), Oswaldo Almeida (PL-RJ), Roberto Ballestra (PDC-GO), Edmilson Valetim
(PC do B - RJ) e Augusto Carvalho (PCB-DF).
165 BRASIL.ANC. VII – Comissão da Ordem Social. Emendas oferecidas ao Substitutivo. Centro Gráfico do Senado Federal;
junho de 1987. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/ > (Acessado em 25.10.2008).
O texto da Comissão da Ordem Social levou a assessoria do Cimi na Constituinte a concluir que
a entidade estava realmente correta quando, mesmo sendo voto vencido em relação às demais entidades
do campo indigenista, apostara no conceito de nações indígenas. Hoje, dizia, “podemos estar certos
de que furtamos à ANC uma discussão mais ampla e enriquecedora”166. A idéia, contudo, seria investir
166 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º15. Brasília : Cimi, 18.jun.1987 (mimeo).
Documento da VII Assembléia Geral do Cimi, subscrito por membros da assembléia, assessores e convidados,
dirigido ao Presidente da ANC, deputado Ulisses Guimarães. Versões com o mesmo teor foram enviadas também ao
Senador Mário Covas, líder do PMDB na ANC, e ao deputado Bernardo Cabral (PMDB-AM), relator da Comissão de
Sistematização. Cimi – Secretariado Nacional – Sedoc.
• Subcomissão da Nacionalidade,
Soberania e Relações Internacionais.
Pertencente à Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher, a
Subcomissão da Nacionalidade, Soberania e Relações Internacionais era instalada em 7 de abril de 1987
na Sala D-1 do Anexo II da Câmara dos Deputados. Teve como presidente o deputado Roberto D’ Ávila
(PDT-RJ) e como relator o deputado João Hermann Netto (PMDB-SP)167.
A proposta, subscrita pelos constituintes Maria de Lourdes Abadia (PFL-DF), Benedita da Silva
(PT-RJ), Augusto Carvalho (PCB- DF) e Edmilson Valentin (PCdoB-RJ), tinha o seguinte teor:
167 Aluízio Bezerra (PMDB-AC), Aécio Neves (PMDB-MG), Geraldo Bulhões (PMDB AL), José Carlos Grecco (PMDB-SP),
Luiz Viana Neto (PMDB-BA), Manuel Viana (PMDB-CE), Maurício Nasser (PMDB-PR), Milton Barbosa (PMDB-BA), Milton
Lima (PMDB-MG), Paulo Macarini (PMDB-SC), Francisco Rollemberg (PMDB-SE), Antônio Ferreira (PFL-AL), Cleonâncio
Fonseca (PFL - SE), Odacir Soares (PFL -RO), Sarney Filho (PFL - MA) e Victor Trovão (PFL-MA).
168 Presentes os Constituintes Rubem Branquinho (PMDB-AC), José Carlos Sabóia (PMDB-MA), Haroldo Lima (PC do B –
BA) e Lídice da Mata (PC do B – BA).
173 Eram membros titulares da Subcomissão da Educação os constituintes João Calmon (PMDB-ES), Louremberg Nunes
Rocha (PMDB-MT), Antônio de Jesus (PMDB-GO), Bezerra de Melo (PMDB-CE), Hermes Zaneti (PMDB-RS), Márcia
Kubitschek (PMDB-DF), Octávio Elísio (PMDB- MG), Osvaldo Sobrinho (PMDB- MT), Paulo Silva (PMDB-PI), Tadeu
França (PMDB-PR), Ubiratan Aguiar (PMDB-CE), Flávio Palmier da Veiga (PMDB- RJ), França Teixeira (PMDB-BA),
Átila Lira (PFL- PI), Cláudio Ávila (PFL- SC), José Moura (PFL-PE), José Queiroz (PFL-SE), Pedro Canedo (PFL-GO),
Agripino Lima (PFL- PB), Dionísio Hage (PFL- PA), Aécio Borba (PDS-CE), Chico Humberto (PDT-MG), Sólon Borges do
Reis (PTB-SP), Florestan Fernandes (PT – SP) e Álvaro Valle (PL- RJ).
174 Presentes à Audiência encontravam-se os Constituintes Hermes Zaneti (PMDB-RS), Pedro Canedo (PFL-GO), Bezerra de
Mello (PMDB-CE), Antônio de Jesus (PMDB-GO), Sólon Borges dos Reis (PTB-SP), Florestan Fernandes (PT-SP), João
Calmon (PMDB), Chico Humberto (PDG-MG), Octávio Elísio (PMDB-MG), Átila Lira (PFL-PI), Aécio de Borba (PDS-CE),
Tadeu França (PMDB-PR), Louremberg Nunes Rocha (PMDB-MT), Márcia Kubitschek (PMDB-DF) e Osvaldo Sobrinho
(PMDB-MT).
Em seu depoimento a professora Villas-Boas foi acompanhada por Nieta Lindberg Monte
(CPI), Ruth Montserrat (ABA), Lucinda Ferreira Brito (Abralin e Comissão para a Defesa dos Direitos dos
Surdos), e pela professora e Religiosa Ir. Elisabeth Rondon Amarante (Cimi e Opan), todas especialistas
no campo da educação escolar indígena.
Ao longo do processo, foram diversas as manifestações das mais variadas instituições, e não
apenas das entidades indigenistas, pelo resguardo a especificidades na educação escolar indígena. Assim,
por exemplo, o direito dos indígenas à alfabetização bilíngüe, como uma ressalva ao ensino obrigatório
em língua portuguesa, foi objeto de propostas da Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior
175 A Andes, por exemplo, incluiu na sua “Plataforma Educacional” levada à Subcomissão (item 1.2.14), a previsão de
que “O ensino em qualquer nível será obrigatoriamente em língua nacional, sendo garantido aos indígenas o direito à
alfabetização em língua materna e portuguesa”. Cf. BRASIL. ANC (Atas das Comissões). Subcomissão da Educação,
Cultura e Esportes. Anexo à Ata da 12.ª Reunião (23.04.87); p.71. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/>
(Acessado em 25.10.2008).
176 BRASIL. ANC. Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes. Anteprojeto do Relator. Seção de Documentação
Parlamentar, vol. 207; p.12. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/> (Acessado em 25.10.2008).
177 BRASIL. ANC. Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes. Idem; p.11.
178 BRASIL. ANC. Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes. Idem; p.12.
179 Na ocasião o constituinte Florestan Fernandes anunciava tratar-se aquele de um momento histórico, entre outros motivos
pelo fato de o Relator João Calmon haver acolhido a expressão “nações indígenas”, expressão essa “que, até agora,
só era empregada pelos próprios indígenas”. BRASIL. ANC. Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes. Idem;
p.540.
180 BRASIL. ANC. Subcomissão da Educação, Cultura e Esportes. Constituinte Fase C – Anteprojeto da Subcomissão.
Sessão de Documentação Parlamentar. Volume 209. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/> (Acessado
em 25.10.2008).
181 BRASIL. ANC. Comissão da Família, Educação, Cultura, Esporte, Comunicação, Ciência e Tecnologia. Anteprojeto
da Comissão. Seção de Documentação Parlamentar, Vol.206. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/>
(Acessado em 25.10.2008).
182 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º 15, op. cit.
183 Naquele momento, apesar dos avanços até então obtidos, observava a assessoria do Cimi, que certos setores do
movimento popular mantinham ainda uma posição de “descrença no chamado ‘jogo’ da Constituinte”, ao concluírem que
as elites não iriam “permitir uma Constituição que devolva o poder aos trabalhadores”. Uma avaliação, segundo o então
assessor Júlio Gaiger, “simplista, desmobilizadora e censora”. [cf. GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 16 .Brasília
: Cimi, 03. jul.1987 (mimeo)].
Comissão de Sistematização
Projeto de Constituição
(julho de 1987)
(...)
Art. 12. São direitos e liberdades individuais invioláveis:
III – A Cidadania.
(...)
d) a lei punirá como crime inafiançável qualquer discriminação atentatória
aos direitos e liberdades fundamentais, sendo formas de discriminação, entre
outras, subestimar, estereotipar ou degradar grupos étnicos, raciais ou de
cor ou pessoas a eles pertencentes, por palavras, imagens ou representações,
em qualquer meio de comunicação.
(...)
f) ressalvada a compensação para igualar as oportunidades de acesso aos
valores da vida e para reparar injustiças produzidas por discriminações não
evitadas, ninguém será privilegiado ou prejudicado em razão de nascimento,
etnia, raça, cor, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, natureza do
trabalho, religião, convicções políticas ou filosóficas, deficiência física ou
mental, ou qualquer outra condição social ou individual;
(...)
Art. 22. A língua oficial do Brasil é o Português, e são símbolos nacionais
a Bandeira, o Hino, o Escudo, e as Armas da República, adotados na data da
promulgação da Constituição.
(...)
Art. 52. Incluem-se entre os bens da União:
(...)
X – as terras ocupadas pelos índios;
(...)
Art. 54. Compete à União:
(...)
XXIII – legislar sobre:
1) populações indígenas, inclusive garantia de seus direitos;
(...)
184 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 17. Brasília : Cimi, 10.jul.1987 (mimeo).
[Fonte: GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º18. Brasília : Cimi, 13-14.jul.1987 (mimeo). Grifos nossos]
No início de agosto, corriam os prazos para o oferecimento das emendas ao Projeto, que tanto
poderiam ser aquelas a serem apresentadas pelos próprios constituintes, quanto as chamadas “Emendas
Populares”, das quais falaremos adiante. As discussões em torno das primeiras foram articuladas em três
grupos políticos distintos, constituídos no interior da ANC. O primeiro deles era o “grupo do consenso”,
também chamado de “grupo da biblioteca” uma vez que sempre se reunia na biblioteca. Pelas suas
posições, o grupo do consenso se autodenominava também de “esquerda positiva”. Mesmo para este
grupo, a perspectiva era a de que apenas uma negociação viabilizaria a aprovação de um novo texto
constitucional. O segundo era o “grupo dos 32”, também chamado “Tântalo” ou grupo do Instituto
Israel Pinheiro, local onde freqüentemente se reunia. O mais à direita e conservador de todos era o
grupo liderado por Amaral Netto (PDS-RJ), e ao qual pertenciam figuras como Roberto Cardoso Alves
(PMDB-SP), ligado à União Democrática Ruralista (UDR).
Segundo avaliação da assessoria do Cimi, no “grupo do consenso”, já eram “visíveis as
tentativas para bombardear o usufruto dos índios sobre as riquezas do subsolo de suas terras, abrindo-se
à mineração por empresas nacionais”, o que era visto como um indício de risco de perda das conquistas
até então obtidas. Quanto ao grupo “Tântalo”, a avaliação era de que o seu texto havia “pulverizado os
direitos à terra, adotando as teses do Conselho de Segurança Nacional”185.
185 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 19. Brasília : Cimi, 07.ago.1987 (mimeo).
10 ou 14/08/87 – D. Luciano Mendes de Almeida, tendo à direita o então secretário executivo do Cimi, Antônio Brand,
e à esquerda D. Tomaz Balduino, lê a nota da presidência da CNBB refutando as graves acusações feitas pelo jornal “O
Estado de São Paulo”. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
20/08/87 – Em debate promovido pela Fundação Pedroso Horta, Dom Luciano Mendes de Almeida (CNBB), ao lado
do ex-deputado federal Mário Juruna, faz um discurso veemente contra as acusações do “Estado de S. Paulo”.
Foto extraída do Filme “Os Direitos Indígenas na Constituinte”. (Cimi, 1989)
Dois dias depois do Seminário, em 22 de agosto, era publicada a Resolução n.º 3, do Congresso
Nacional, aprovando a instauração da CPMI, a ser integrada por 18 membros, e tendo 120 dias de prazo
para o seu funcionamento.
Em 3 de setembro de 1987 é então instalada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI), que tem como presidente o deputado Roberto Cardoso Alves – o famoso “Robertão” – (PMDB-
SP), e como relator o Senador Ronan Tito (PMDB-MG).
Os trabalhos investigativos da CPMI transcorreram durante todo aquele mês de setembro,
prolongando-se por quase todo o mês seguinte. Neste período a Comissão ouviu, entre outros, o diretor-
responsável pelo jornal “Estadão”, Sr. Júlio Mesquita Neto e o presidente da CNBB, D. Luciano Mendes
de Almeida, colheu documentos, efetuou perícias técnicas e científicas, e colheu informações junto a
diversas instituições, governamentais e não-governamentais, nacionais e internacionais.
187 Subscreveram o Requerimento de instauração da CPMI: Roberto Cardoso Alves (PMDB-SP), Plínio de Arruda Sampaio
(PT-SP), Ricardo Izar (PFL-SP), Dirce Tutu Quadros (PSC-SP), Rita Camata (PMDB-ES), Rodrigues Palma (PMDB-MT),
José Maurício (PDT-RJ), Amaral Netto (PDS-RJ), Gastone Righi (PTB-SP), Edésio Frias (PDT-RJ), Rose de Freitas
(PMDB-ES), Gumercindo Milhomem (PT-SP) e Gabriel Guerreiro (PMDB-PA).
188 Vide texto na íntegra in Anexo III.
189 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º101, set. 1987, p.10.
190 Vide íntegra do Relatório do senador Ronan Tito no Anexo III. Observe-se que, de tempos em tempos, cópias de
tais documentos fraudulentos vêm novamente à tona, em campanhas contra a concretização dos direitos indígenas
constitucionalmente reconhecidos. Muitas vezes circulam na rede Internet, como “provas” de que a defesa destes
direitos, por parte das organizações indígenas e de entidades como o Cimi, nada mais seria do que um plano para se
“internacionalizar” a Amazônia.
191 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 25. Brasília : Cimi, 04. nov.1987 (mimeo).
192 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º 108, maio. 1988, p.11.
O retrocesso do Substitutivo em relação ao texto do Projeto era evidente. Mais ainda quando
comparado ao que havia sido aprovado pela Comissão da Ordem Social e pela Subcomissão das
Populações Indígenas. O relator Bernardo Cabral introduzia um conceito restritivo de terra indígena
que passava a ter como critério o caráter “imemorial” da posse, retrocedia aos termos das Cartas de
1934 e 1946 ao restringir o direito territorial indígena ao local onde se achassem “permanentemente
localizados”, declarava as comunidades indígenas como absolutamente incapazes, dependentes da
assistência obrigatória do órgão indigenista e do Ministério Público, criava uma distinção entre índios
“aculturados” e aqueles com “elevado estágio de aculturação”, excluindo estes últimos de quaisquer
direitos especificamente conferidos aos demais indígenas, e, enfim, abria o subsolo das terras indígenas
à exploração mineral privada. Os avanços obtidos na Subcomissão e na Comissão de Ordem Social eram
simplesmente ignorados.
Segundo a assessoria do Cimi para a Constituinte, Cabral simplesmente “adotou as teses do
“Grupo dos 32”, coordenado pelo senador José Richa (PMDB-PR), reduzindo drasticamente os direitos
indígenas”193.
Dois dias depois, em 28 de agosto de 1987, o presidente do Cimi – Dom Erwin Krautler,
divulgava a seguinte nota em coletiva de imprensa na sede da CNBB:
O Substitutivo apresentado pelo dep. Bernardo Cabral, no dia 26 deste mês, ignorou e
subverteu os debates e princípios que orientaram a redação dos dispositivos sobre os direitos
indígenas na Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias,
e na Comissão da Ordem Social. Fez-se tabula rasa das decisões aprovadas pelo voto da
imensa maioria dos membros da Subcomissão e Comissão.
Invertendo a ótica fundamental das elaborações anteriores, que se propunham legislar para
assegurar aos índios um futuro digno, possibilitando-lhes o direito à preservação de sua
integridade física e cultural, o Substitutivo logrará apenas regulamentar o extermínio das
nações indígenas. No Substitutivo, o índio é aprioristicamente considerado uma espécie em
extinção.
O Cimi espera, porém, que prevaleça o senso de justiça na Constituinte, ensejando a
recuperação dos textos antes aprovados, assim como espera que o próprio dep. Bernardo
Cabral perceba o retrocesso jurídico e a perspectiva etnocida contida no Substitutivo194.
193 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 19. Brasília : Cimi, 07.ago.1987 (mimeo).
194 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 21. Brasília : Cimi, 31.ago.1987 (mimeo).
195 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º109, jun. 1988; p.2.
196 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º103, nov. 1987; p.6.
197 Minter/Funai, CT 001/PRESI/n.º 635/97- Brasília, 25.09.1987.
198 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 16. Brasília : Cimi, 03.jul.1987 (mimeo).
Barreiras à parte, o fato é que o espaço fora aberto e precisava ser ocupado. Assim, no mês
de abril, durante a sua Assembléia anual em Itaicy, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
se comprometia com a mobilização
em torno dos seguintes temas
objeto de Emendas Populares: a
previsão constitucional de formas
e instrumentos de participação
popular – proposta do Plenário
Nacional Pró-participação Popular
na Constituinte; a previsão
constitucional de Reforma Agrária
– proposta da Campanha Nacional
pela Reforma Agrária; e os direitos
das nações indígenas – proposta do
Conselho Indigenista Missionário
(Cimi).
Tendo por base o texto
apresentado em maio do ano
anterior perante a Subcomissão
da Nacionalidade, esta proposta
de Emenda Popular era patrocinada
também pela Anaí-RS, Movimento
Justiça e Direitos Humanos do Rio
Grande do Sul (MJDH-RS) e Opan.
Nela o Brasil era definido
como uma “República Federativa
e Plurinacional” (art. 1.º), sendo
os índios reconhecidos como
possuidores de “nacionalidades
próprias, distintas entre si e da
nacionalidade brasileira, sem
prejuízo de sua cidadania” (art.
2.º, § único). A proposta também
declarava as Nações Indígenas
como pessoas jurídicas de direito
público interno (art. 3.º); reconhecia
seus direitos territoriais como
originários, e a existência de suas
próprias formas de organização
social, usos, costumes, tradições,
línguas, “e autonomia na gestão
dos bens e negócios que lhes
dizem respeito” (art. 4.º); incumbia
à União Federal a proteção a estas Cópia fac-símile da Proposta de Emenda Popular n.º 39 ao Projeto de
terras, instituições, pessoas, bens, Constituição, dispondo sobre as Nações Indígenas
199 WHITAKER, Francisco. Seminário 20 Anos da Constituição Federal de 1988. Op. cit., p.62.
202 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º101, set. 1987; p.8.
203 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º101, set. 1987; p.8.
204 Os constituintes Ademir Andrade (PMDB-PA), Adolfo Oliveira (PL-RJ), Alceni Guerra (PFL-PR), Aluisio Campos (PMDB-
PB), Arnaldo Prieto (PFL-RS), Artur da Távola (PMDB-RJ), Adylson Motta (PDS-RS), Antônio Mariz (PMDB-PB), Carlos
Sant’Anna (PMDB-BA), Délio Braz (PMDB-GO), Enoc Vieira (PFL-MA) , Euclides Scalco (PMDB-PR), Edme Tavares
(PFL-PB), João Calmon (PMDB-ES), José Freire (PMDB-GO), José Luiz Maia (PDS-PI), José Lourenço (PFL-BA), José
Tinoco (PFL-PE), Luiz Salomão (PDT-RJ), Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR), Mário Lima (PMDB-BA), Nelton Friedrich
(PMDB-PR), Renato Vianna (PMDB-SC), Roberto Freire (PCB-PE), Rose de Freitas (PMDB-ES), Sigmaringa Seixas
(PMDB-DF), e Siqueira Campos (PDC-GO).
205 Dos Constituintes não pertencentes à Comissão de Sistematização, assistiram à apresentação das Emendas Populares:
Anna Maria Rattes (PMDB-RJ), Amaury Muller (PDT-RS), Antônio Britto (PMDB-RS), Carlos Alberto Caó (PDT-RJ),
Edmilson Valentim (PC do B-RJ), Chico Humberto (PDT-MG), Gabriel Guerreiro (PMDB-PA), Gerson Camata (PMDB-ES),
Humberto Souto (PFL-MG), Heráclito Fortes (PMDB-PI), José Carlos Sabóia (PMDB-MA), José Dutra (PMDB-AM), Maria
de Lourdes Abadia (PFL-DF), Mário Covas (PMDB-SP), Marcelo Cordeiro (PMDB-BA), Nelson Aguiar (PMDB-ES), Olívio
Dutra (PT-RS), Sólon Borges dos Reis (PTB-SP),Valter Pereira (PMDB-MS), e Wagner Lago (PMDB-MA).
12/08/87 - No auditório da CNBB, o líder Xaranhum Xavante discursa para o Senador Constituinte Severo Gomes.
Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
Isso seria negar a luta, seria negar todo o passado de luta de nossos ancestrais, daqueles
como os bandeirantes, que invadiram o Oeste, buscando dilatar a nossa fronteira, preservando
os nossos interesses, para que hoje tivéssemos um País deste tamanho, falando a mesma
língua, o mesmo idioma, de norte a sul e de leste a oeste209. (Grifos nossos)
210 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 24. Brasília : Cimi, 21.set.1987 (mimeo).
211 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º 103, nov. 1987; p.6.
212 Contra a prorrogação da sessão votaram os constituintes Aluízio Campos (PMDB-PB), Bernardo Cabral (PMDB-AM),
Cid Carvalho (PMDB-MA), José Geraldo (PMDB-MG), José Richa (PMDB-PR), José Ulisses de Oliveira (PMDB-MG),
Mário Lima (PMDB-BA), Milton Reis (PMDB-MG), Nilson Gibson (PMDB-PE), Raimundo Bezerra (PMDB-CE), Rodrigues
Palma (PMDB-MT), Theodoro Mendes (PMDB-SP), Daso Coimbra (PMDB-RJ), Délio Braz (PMDB-GO), José Tavares
(PMDB-PR), Márcio Braga (PMDB-RJ), Marcos Lima (PMDB-MG), Aloysio Chaves (PFL-PA), Arnaldo Prieto (PFL-RS),
Carlos Chiarelli (PFL-RS), Christóvam Chiaradia (PFL-MG), Eraldo Tinoco (PFL-BA), Francisco Benjamin (PFL-BA),
José Jorge (PFL-PE), José Santana de Vasconcelos (PFL-MG), José Thomaz Nonô (PFL-AL), Luiz Eduardo (PFL-BA),
Mário Assad (PFL-MG), Oscar Corrêa (PFL-MG), Osvaldo Coelho (PFL-PE), Paulo Pimentel (PFL-PR), Ricardo Fiúza
(PFL-PE), Sandra Cavalcanti (PFL-RJ), Annibal Barcellos (PFL-AP), Enock Vieira (PFL-MA), Jonas Pinheiro (PFL-MT),
José Lourenço (PFL-BA), Darcy Pozza (PDS-RS), Gérson Peres (PDS-PA), Jarbas Passarinho (PDS-PA), José Luiz Maia
(PDS-PI), Virgílio Távora (PDS- CE), Gastone Righi (PTB-SP), Ottomar Pinto (PTB-RR), Adolpho de Oliveira (PL-RJ) e
Siqueira Campos (PDC-GO).
213 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 27.Brasília : Cimi, 16.nov.1987 (mimeo).
214 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano X, n.º104, dez. 1987; p.9.
215 cf. Idem, Ibidem; p.9.
216 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 30. Brasília : Cimi, 04. fev.1988 (mimeo).
217 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 31. Brasília : Cimi, 11. fev. 1988 (mimeo).
218 CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º107, abril.1988, p.5.
219 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º 32. Brasília : Cimi, 17. mar.1988 (mimeo).
220 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º 30. Brasília : Cimi, 04. fev.1988 (mimeo).
221 Foram também distribuídos exemplares da publicação “Empresas de Mineração e Terras Indígenas na Amazônia”, reedição
de um estudo conjunto do Cedi e Conage.
222 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º107, abr. 1988; p.3.
223 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º33. Brasília : Cimi, 21.abr.1988 (mimeo).
224 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º 33, op. cit.
Manuel Moura
Tukano e
Nailton Pataxó
Hã-Hã-Hãe
discursam
perante a Frente
parlamentar
Pró-Índio.
Fotos: Filme “Os
Direitos Indígenas na
Constituinte” (Cimi,
1989).
Domingos Veríssimo Terena fala aos constituintes em Reunião da Frente Parlamentar Pró-Índio.
Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – Setor de Documentação.
No dia 19 de maio chegara a vez da votação do Capítulo relativo à Educação, Cultura e Desporto,
que incluía dois importantes dispositivos para os povos indígenas: um, relativo a uma educação escolar
diferenciada, e outro que tratava da necessidade de proteção à diversidade cultural no país. Após a
votação, o texto ficou da seguinte forma:
228 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º 35. Brasília : Cimi, 11.mai.1988 (mimeo).
229 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 36. Brasília : Cimi, 02.jun.1988 (mimeo).
Cartilha “Os Índios Podem Viver – A Constituinte deve assegurar este direito” produzida pelo Secretariado Nacional do
Cimi, com as propostas de Emendas pró-índio.
Chegara então o dia 24 de maio. A votação do capítulo “Dos Índios” no primeiro turno do
Plenário da ANC estava marcada para o dia seguinte. Acampados em Brasília desde os primeiros dias
daquele mês, os indígenas buscavam aproveitar aquelas últimas horas para obter visibilidade nas suas
reivindicações e marcar o apoio de importantes setores. Realizaram um extenso roteiro de visitas: foram
à Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, à Procuradoria-Geral da República (PGR), ao
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), à Presidência da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) e à Reitoria da Universidade de Brasília (UnB).
No Ministério da Justiça os índios externaram uma série de insatisfações, relacionadas
diretamente com a postura da Funai. Queixaram-se da adoção da Portaria 520/88 (que estabelecia
“critérios de aculturação”), da criação de “colônias indígenas”, da expedição de certidões negativas de
presença indígena em benefício de projetos econômicos em suas terras, e da comercialização clandestina
de madeira de terras indígenas.
230 O Deputado Eraldo Trindade (PFL-AP) era autor de uma das emendas pró-índio.
231 GAIGER, Júlio. “Informe Constituinte” n.º 36, op. cit.
24/Maio/88 – Líderes indígenas são recebidos na Procuradoria-Geral da República pelo Procurador-Geral Sepúlveda
Pertence e pelo Procurador da República Cláudio Fonteles. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
No Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, a comitiva foi recebida pelo presidente
do órgão, o advogado Márcio Thomaz Bastos233, de quem receberam a promessa de uma “solidariedade
ativa” na defesa dos direitos indígenas.
24/Maio/88 - Líderes indígenas são recebidos no Conselho Federal da OAB pelo presidente Márcio Thomaz Bastos e
conselheiros. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
232 Anos depois Sepúlveda Pertence viria a ocupar o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), enquanto Cláudio
Fonteles viria a ser nomeado Procurador-Geral da República.
233 Mais tarde, durante o primeiro mandato do Presidente Lula, Bastos viria a ocupar o cargo de Ministro da Justiça, pasta
à qual se encontram subordinadas a Fundação Nacional do Índio (Funai), e a demarcação das terras indígenas.
24/Maio/88 – Delegações de povos indígenas pedem o apoio do Reitor da UnB, Cristóvam Buarque,
às propostas indígenas na Constituinte. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) os índios foram recebidos pelo presidente
da instituição, Dom Luciano Mendes de Almeida, que afirmou ser necessário ao país o reconhecimento
da “posse da terra” e da própria cultura indígena “como riqueza nacional”.
24/Maio/88 – Líderes indígenas são recebidos na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
por D. Luciano Mendes de Almeida. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
234 No primeiro mandato do Presidente Lula, Buarque ocuparia o cargo de Ministro da Educação.
235 cf. Cimi. “Porantim”, Brasília, ano 11, n.º109, jun. 1988; p.8.
236 cf. CIMI. “Porantim”, Ibidem; p.10.
25/05/88 – Delegação Kayapó prepara seus ornamentos e pinturas tradicionais para acompanhar o acordo de lideres
partidários e a votação do Capítulo “Dos Índios” no plenário da ANC. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC.
25/05/88 – Delegação Kayapó ouve as últimas orientações do Cacique Raoni Mentuktire antes de se dirigir ao Congresso
Nacional para acompanhar a votação do Capítulo “Dos Índios”. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC.
237 Segundo o jornal “Porantim”, “talvez uma das raras oportunidades em que tantas lideranças estiveram juntas num ritual
sagrado. (CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º109, jun. 1988; p.9)
238 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º109, jun. 1988; p.9.
25/05/88 –
Delegações
indígenas, tendo à
frente os Kayapó,
chega ao Congresso
Nacional para
acompanhar a
votação do Capítulo
“Dos Índios”.
Foto: Egon Heck. Arquivo:
Cimi/Secretariado Nacio-
nal/SEDOC.
Após cânticos e danças rituais, os índios dirigiram-se ao auditório anexo da Liderança do PMDB,
onde o colégio de líderes iniciava as negociações em torno das emendas e destaques a serem votados
ao Projeto. No auditório, as lideranças indígenas discursaram em suas línguas e iniciaram uma longa
vigília aguardando o resultado das negociações em torno do seu capítulo específico.
25/05/88 – Guerreiros Kayapó do Gorotire aguardam no auditório anexo da liderança do PMDB pelo acordo das
lideranças partidárias em torno do Capítulo “Dos Índios”. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC.
25/05/88 –
Aguardando no
auditório anexo da
liderança do PMDB
o acordo em torno
do Capítulo “Dos
Índios”, o Cacique
Kanhôk, do Gorotire,
cumprimenta
o constituinte
Ivo Lech, que
havia presidido
a Subcomissão
“das Populações
Indígenas”
Foto: Egon Heck. Arquivo:
Cimi/Secretariado Nacio-
nal/SEDOC.
Contudo, o início das negociações das lideranças partidárias em torno do capítulo “Dos Índios”
somente viria a se iniciar às 14:30 hs do dia seguinte, 26 de maio.
26 ou 31/05/88
– Reunião das
lideranças
partidárias na sala
da liderança do
PMDB, tenta chegar
a um acordo sobre
o Capítulo “Dos
Índios”.
Foto: Egon Heck. Arquivo:
Cimi/Secretariado Nacio-
nal/SEDOC.
25/05/88 – Delegações de povos diversos aguardam no auditório anexo da liderança do PMDB o acordo em torno do
Capítulo “Dos Índios”. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC.
31/05/88 – Lideranças e guerreiros Kayapó festejam o acordo ds Lideranças partidárias sobre o capítulo “Dos Índios”.
Fotos: Egon Heck. Arquivo: Cimi/Secretariado Nacional/SEDOC.
CAPÍTULO VIII
Dos índios
Art. 263. São reconhecidos aos índios seus direitos originários sobre
as terras de posse imemorial onde se acham permanentemente localizados, e sua
organização social, seus usos, costumes, línguas, crenças e tradições serão
respeitados e protegidos pela União.
§ 1º Os atos que envolvam interesses das comunidades indígenas terão a
participação obrigatória de órgão federal próprio, na forma da lei, sob pena
de nulidade.
§ 2º O aproveitamento de recursos hídricos, inclusive dos potenciais
energéticos e a exploração das riquezas minerais em terras indígenas observada
a legislação específica, obriga à concessão de participação no resultado em
favor das comunidades indígenas, na forma da lei.
Art. 264. As terras de posse imemorial dos índios são destinadas à sua
posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas naturais do
solo e dos recursos fluviais nelas existentes.
§ 1º As terras referidas neste artigo são bens inalienáveis e imprescritíveis
da União, cabendo a esta demarcá-las, ouvido o Senado Federal.
§ 2º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo nos
casos de epidemia, catástrofe natural ou de relevante interesse público,
garantido o seu retorno quando o risco estiver eliminado.
(Diário da Assembléia Nacional Constituinte, Ano II – n.º 254, quinta-feira, 2 de junho de 1988 Brasília-DF; p.20. Grifos nossos)
Submetida à votação, a Emenda Coletiva do “Centrão” era aprovada por 469 votos favoráveis
(condicionados à aprovação da emenda do acordo), cinco votos contrários e cinco abstenções. Bastante
ansiosos pela aprovação do acordo firmado no dia anterior, os indígenas acabaram aplaudindo, sem
perceber, a Emenda do “Centrão”.
Em seguida, o deputado José Lins (PFL-CE), pediu a palavra para desmentir notícia publicada
no Jornal do Brasil, segundo a qual teria declarado que os índios fedem. E concluiu externando: “Meus
cumprimentos aos índios brasileiros que nos assistem neste momento”249.
Após isso, o presidente Ulysses Guimarães anunciou o requerimento subscrito por 28
parlamentares, para a votação da Emenda-fusão substitutiva aprovada no dia anterior, cujo texto tinha
o seguinte teor:
TÍTULO VIII
CAPÍTULO VIII
Dos Índios
Art. 268. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
Parágrafo único. O aproveitamento dos recursos hídricos, inclusive dos
potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras
indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas
as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada a participação nos resultados
da lavra, na forma da lei.
Art. 269. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são destinadas
à sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo,
fluviais e lacustres nelas existentes.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas,
incluídas aquelas imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários ao seu bem-estar, e as áreas necessárias à sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são inalienáveis
e indisponíveis, e os direitos sobre elas são imprescritíveis.
§ 3º Fica vedada a remoção dos grupos indígenas das terras que
tradicionalmente ocupam, salvo, ad referedum do Congresso Nacional, nos casos
de catástrofe ou de epidemias que ponham em risco sua população e, nos casos
de interesse da soberania Nacional, após deliberação do Congresso Nacional,
garantido, em qualquer caso, o retorno imediato tão logo cesse o risco.
249 BRASIL. ANC. Ata da 277ª Sessão Plenária da ANC (01.06.88). Diário da Assembléia Nacional Constituinte, ano II – n.º
254, quinta-feira, 2 de junho de 1988; Brasília-DF. Disponível em: <http://www.congresso.gov.br/anc88/> (Acessado em
25.10.2008).
Em seguida, Ulysses Guimarães concedeu a palavra ao deputado Ruy Nedel (PMDB-RS) para
que encaminhasse a votação. Nedel, então, declamou em castelhano o poema “Maldición de Malinche”,
e pediu ao plenário um “uníssono ‘sim’ para este acordo”. Retomando a palavra, o presidente Ulysses
Guimarães pôs em votação a matéria, anunciando tratar-se “de fusão resultante de entendimento entre
as Lideranças e forças representativas junto à Assembléia Nacional Constituinte”250.
250 BRASIL. ANC. Ata da 277ª Sessão Plenária da ANC, op. cit.
Como disse à época a assessoria do Cimi na Constituinte, a partir daquele momento, para o
texto aprovado, “os índios deixaram de ser uma espécie em extinção”252. Contentes com o resultado,
os índios festejaram desde as galerias. Subiram a rampa do Congresso, onde dançaram mais uma vez.
Como bem lembrou à época o então advogado indigenista Julio Gaiger, naquele local, em 22 de abril
de 1987, os índios haviam dançado e feito pajelança invocando “o auxílio dos bons espíritos; desta vez,
retornavam agradecendo a estes mesmos espíritos”253.
O resultado espelhava fidelidade ao acordo selado pelo colégio de líderes partidários no dia
anterior. Mas as negociações que levaram a tal acordo, assim como a votação final, não teriam sido
possíveis sem toda a pressão efetuada pelas lideranças indígenas. Para estas, “foram dias de extrema
tensão e expectativa, a que reagiram com serenidade completa, sem, contudo, permitir a impressão de
estarem ou resignados ou desinteressados”254.
À noite, no alojamento, os índios comemoraram a seu modo, com cânticos, danças rituais e
mais de 140 kg de peixe assado e carne. Bem mais tranqüilos, muitos Kayapó retornaram às suas aldeias,
tendo em mãos o texto aprovado. A hora era de informar aos parentes que ficaram, o resultado dos
seus esforços em Brasília.
A principal batalha estava vencida, mas a guerra ainda não terminara.
Em 30 de junho encerrava-se o 1.º Turno de votações do Plenário da ANC. Mais uma etapa
viria pela frente.
Além disso, havia ainda outra preocupação, se bem que não surpreendente. Em 05 de julho
de 1988 o Relator da Comissão de Sistematização, deputado Bernardo Cabral (PMDB-AM) fez a entrega
oficial do Projeto de Constituição (B) ao presidente da ANC, deputado Ulysses Guimarães. Porém, o
“Projeto B” apresentava alterações anti-regimentais ao texto relativo aos índios. Tratava-se de uma redação
revisada e renumerada do que havia sido aprovado pelo Plenário da ANC no 1.º turno de votações, e
não a própria redação aprovada.
O Relator da Sistematização era então bastante criticado por produzir, no Projeto B, alterações
no mérito das decisões aprovadas no 1.ª Turno da ANC em relação aos direitos indígenas.
No texto da Emenda-fusão substitutiva aprovado no 1.º turno, o art. 269, ao dispor sobre o
usufruto exclusivo indígena, destinava as terras indígenas à sua posse permanente. Na redação dada
pelo deputado Bernardo Cabral, renumerada como art. 234, desaparecia essa importante referência a
tal destinação, que em nenhum outro dispositivo ficou estabelecida:
Por último, na parte relativa às Disposições Transitórias, ao referir-se ao prazo de cinco anos
para a demarcação, o relator omitiu o objeto, que eram as terras indígenas ainda não demarcadas:
255 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 38. Brasília : Cimi, 04.jul.1988 (mimeo).
256 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 39. Brasília : Cimi, 07.jul.1988 (mimeo).
Com a nova redação dada pelo relator, deputado Bernardo Cabral, temia-se a interpretação
de que todas as terras indígenas devessem passar por um novo processo demarcatório, inclusive as já
demarcadas. Nesse caso, a perspectiva da assessoria do Cimi era, portanto, a elaboração de emendas
de omissão e de emendas de erro.
Os prazos previstos para o 2.º Turno de votações no Plenário iam se aproximando. A preocupação
com a questão dos “extintos aldeamentos”, que atingia de modo direto, mas não único, os povos
indígenas do Nordeste, levava à necessidade de uma grande mobilização daqueles povos, muitos dos
quais considerados extintos. Como os atos de extinção de aldeamentos haviam ocorrido de forma intensa
na segunda metade do século XIX, temia-se que a sua recepção no texto constitucional representasse a
legitimação definitiva do esbulho possessório que aqueles povos – que continuavam existindo e nunca
haviam abandonado as suas terras – vinham passando desde então. Se no caso dos povos indígenas da
região amazônica o grande embate era com as mineradoras, aqui os fortes interesses contrários aos
índios eram representados pelo latifúndio, pelas oligarquias rurais implantadas nas terras indígenas
desde o século XIX e que haviam sido beneficiadas com os atos de extinção dos aldeamentos.
Registre-se, aliás, que era exatamente sobre boa parte destas terras que aqueles
povos se encontravam, desde o final da década de 1970, num forte processo de recuperação
territorial e reivindicação demarcatória. Tal situação tinha como conseqüência inúmeros conflitos
fundiários e conseqüentes atos de violência contra as lideranças do movimento indígena, por parte de
jagunços e pistoleiros contratados.
Relativamente a outras regiões que não o Nordeste, ou que não haviam passado pelo processo
de extinção de aldeamentos do séc. XIX, havia ainda o temor de que expedientes fraudulentos viessem
resultar em situações de “extintos aldeamentos”, a fim de justificar, em seguida, o repasse das respectivas
terras indígenas aos Estados.
Rapidamente o Regional NE do Cimi passou a investir no trabalho de informação daquelas
comunidades indígenas e suas lideranças quanto aos riscos daquele dispositivo. As aldeias eram
percorridas, e as lideranças indígenas alertadas da necessidade de uma nova caravana a Brasília. Uma
boa idéia desse processo nos é dada por um relatório da época, enviado em 05 de setembro à CESE:
Durante os dias 30 e 31/07/88 esses representantes estiveram reunidos em Garanhuns PE,
na sede da FETAPE, onde refletiram sobre o Processo Constituinte e definiram com clareza
o objetivo da ida à Brasília, que foi a luta contra a permanência do Artigo 26, inciso V
do Texto Pré-Constitucional, que incluía entre os Bens dos Estados, as Terras dos Extintos
Aldeamentos.
Com facilidade os índios compreenderam o grande perigo que estariam correndo se
permanecesse no texto o inciso V do art. 26: “Tirar nós da proteção Federal e botar nas
mãos do Governo Estadual, é mesmo que entregar nossas terras aos fazendeiros” (Inaldo
Kapinawá). Esses povos têm muitas experiências ruins de lutas contra o poder político
local, que sempre defende os interesses dos grandes latifundiários, visto serem eles próprios
o Poder Constituído257. (Grifos nossos)
O relatório aborda inclusive interessantes aspectos da metodologia empregada, como o recurso
às dramatizações, como forma de preparação para o que os indígenas teriam pela frente no palco da
Assembléia Nacional Constituinte:
257 Cimi NE, “Relatório sobre a viagem dos índios à Assembléia Nacional Constituinte”. Garanhuns – PE, s./d.
(provavelmente 4 de setembro de 1988). Cimi NE, Setor de Documentação.
04/08/88 – Acompanhada por missionários do Cimi, delegação de povos indígenas do Nordeste chega ao
Anexo III da Câmara. Foto: Hegon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
10/08/88 – Delegação indígena do Nordeste conversa com o deputado Constituinte Artur da Távola (PMDB-RJ)
e com o senador Marco Maciel (PFL-PE). Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
11/08/88 – Delegação de povos indígenas do Nordeste dança o Toré em frente ao Congresso Nacional.
À frente, o vice-Cacique Xicão Xukuru. Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado – SEDOC.
Mas os indígenas do Nordeste não ficariam sozinhos nesta fase da empreitada. A eles logo
se somariam os Kayapó, das aldeias do sul do Pará, e mais uma centena de indígenas do Sul, Centro-
Oeste e Norte do país, a exemplo dos Kaingang, Guarani, Xavante e Xerente259. Divididos em grupos,
os índios voltaram a percorrer os gabinetes dos parlamentares, e a executar suas danças rituais nos
corredores do Congresso.
259 Como ocorrera no primeiro turno, a mobilização indígena foi apoiada pelo Cimi, que providenciou transporte, alojamento,
alimentação e condução em Brasília, além de um constante assessoramento jurídico e político.
10/08/88 – Reunião das lideranças partidárias no gabinete do PMDB, discute o apoio à emenda supressiva
do dispositivo que destinava aos estados as terras dos “extintos aldeamentos”. No auditório ao lado, os índios
aguardavam o resultado da negociação. Fotos: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
260 Formado pela ABA, Anaí/BA, Cedi, CTI, Cimi, CPI-SP, Inesc; SBPC e UNI.
17/08/88 – Delegações Kayapó e de povos do NE fazem vigília no auditório da liderança do PMDB, aguardando a
supressão do inciso V do art. 26, que transferia aos Estados as terras dos “extintos aldeamentos”.
Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
18/08/88 – Delegação Kayapó aguarda no auditório da liderança do PMDB, a supressão do inciso V do art. 26, que
transferia às Unidades da Federação as terras dos “extintos aldeamentos”.
Foto: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
Enfim, em 30 de agosto, 11 dias após a vitória na supressão do inciso V do art. 26, o Capítulo
“Dos Índios” era submetido ao 2.º Turno de votações no Plenário. Na ocasião o presidente da ANC,
deputado Ulysses Guimarães, colocava em votação a emenda proposta por um grupo de mais de
20 constituintes, tendo à frente o deputado Fábio Feldmann. O requerimento visava reunir e votar
simultaneamente diversas Emendas e Destaques relativos ao art. 224, §§ 1.º, 2.º e 3.º do Capítulo relativo
aos índios, tornando prejudicadas outras Emendas, cujos autores haviam subscrito o requerimento de
votação simultânea. A proposta dava a seguinte redação aos dispositivos mencionados:
Art. 234.........................................
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas,
as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu
bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus
usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são destinadas à
sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas dos solos,
fluviais e lacustres nelas existentes.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos
que tenham por objetivo a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se
refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, fluviais e
lacustres neles existentes, ressalvado relevante interesse público da União,
segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e extinção
direito a indenização ou ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto
as benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé.
1.º a 04/09/88
– Brasília – DF,
Colégio Santa
Maria. Delegações
indígenas que
atuaram no processo
constituinte
participam do 1.º
encontro de estudos
e avaliação sobre o
texto constitucional
aprovado,
organizado pelo
Cimi.
Foto: Egon Heck. Arquivo:
Cimi – Secretariado Nacio-
nal – SEDOC.
266 Neste sentido se manifestaram os líderes Roberto Freire (PCB-PE), Mendes Ribeiro (PMDB-RS), Amaral Netto (PDS-RJ),
Benedita da Silva (PT-RJ), Tadeu França (PDT-PR), Sólon Borges dos Reis (PTB-SP), Haroldo Lima (PC do B-BA), José
Luiz de Sá (PL-RJ), Ademir Andrade (PSB-PA), José Maria Eymael (PDC-SP), José Lourenço (PFL-BA), e Octávio Elísio
(PSDB-MG).
267 Votaram contra o acordo os constituintes Arnaldo Martins (PMDB-RO), Eraldo Trindade (PFL-AP), Etevaldo Nogueira
(PFL-CE), França Teixeira (PMDB-BA), José Mendonça Bezerra (PFL-PE), Lavoisier Maia (PDS-RN), Rachid Saldanha
Derzi (PMDB-MS), Ricardo Fiúza (PFL-PE).
268 Além do Presidente da ANC, abstiveram-se os constituintes Álvaro Pacheco, Gilson Machado (PFL-PE), Irapuan Costa
Júnior (GO), Jesus Tajra (PFL-PI), Luís Eduardo (PFL-BA), Moysés Pimentel (PMDB-CE), Waldeck Ornélas (PFL-BA).
269 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 43, op. cit., p.1.
270 GAIGER, Julio. “Informe Constituinte” n.º 44. Brasília : Cimi, 05.set.1988 (mimeo).
O curso foi realizado com duas dinâmicas: uma para os Kayapó, que estavam em maior número
e cujo domínio da língua portuguesa é menor, e outra para os demais.
04/09/88 – Deputado Haroldo Lima (PC do B-BA) fala aos Kayapó no encontro de estudos sobre
o texto constitucional aprovado. Fotos: Egon Heck. Arquivo: Cimi – Secretariado Nacional – SEDOC.
271 cf. CIMI. “Porantim”, Brasília, ano XI, n.º110, jul./ago. 1988; p.2.
272 SOUSA JÚNIOR. José Geraldo. Ética, Cidadania e Direitos Humanos: a experiência constituinte no Brasil. Disponível
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1987
Na sede do Inesc, em Brasília, reúnem-se representantes do Cimi, ABA, Cedi, UNI, CTI/
02-03. Mirad, CCPY, Coordenação Nacional dos Geólogos e da Procuradoria-geral da República,
abr. e índios residentes em Brasília, para discutir a forma final da proposta unitária sobre os
direitos indígenas a ser encaminhada à subcomissão de populações indígenas.
Grupo Kayapó liderado por Raoni surpreende o Dep. Ulisses Guimarães na ante-sala de
seu gabinete, entrega a Proposta Unitária ao senador Mário Covas, e submete o dep. Ivo
Lech a uma pajelança.
22.abr.
Cerca de 40 lideranças dos povos Krahô (GO), Krenak (MG), Kayapó (PA/MT), Xavante (MT),
Terena (MS) e alguns Xingüanos (MT), participam da apresentação da proposta unitária à
Subcomissão dos Índios, subscrita pelo deputado José Carlos Sabóia (PMDB/MA).
Audiência pública da Subcomissão das Populações Indígenas: Falam Dom Erwin Krautler
(Cimi) Carlos Marés (CCPY e CPI-SP), Vanderlino Teixeira (Conage) e Mércio Gomes
(Iparge). Conage apresenta proposta sobre mineração.
29.abr.
Audiência Pública da Subcomissão de Educação trata da questão da educação escolar
indígena. Proposta redigida conjuntamente por várias entidades, inclusive o Cimi, foi
endossada pelo dep. Vasco Alves (PMDB-ES), e defendida por Marina Villas Boas.
06.mai. Subcomissão das populações Indígenas faz audiência Pública na Aldeia Gorotire (PA).
Assembléia da CNBB em Itaici (SP) decide pela mobilização em torno de três grandes
abril
temas, um deles a proposta de emenda popular do Cimi sobre os direitos indígenas.
Diz o Informe Constituinte n.º 15 (Cimi) que nas duas fases de emendas às Comissões,
18.jun. detectou-se uma “articulação anti-indígena que, tudo indica, é patrocinada ou inspirada
pelo Conselho de Segurança Nacional”.
1987
13-14.
Fica pronto o Projeto de Constituição da Comissão de Sistematização.
jul.
Informe Constituinte n.º 19 (Cimi) afirma que dos três grupos que se formaram entre os
07.ago. constituintes, o “grupo dos 32” (do Instituto Israel Pinheiro, ou “Tântalo”) pulverizou os
direitos indígenas à terra, adotando as teses do Conselho de Segurança Nacional.
09.ago. Tem início a campanha do Jornal “O Estado de São Paulo” contra o Cimi
Ato público em Brasília – DF para a entrega das Emendas Populares. Com a participação
de lideranças Makuxi (RR), Yanomami (AM/RR), Kiriri (BA), Pataxó Hã-Hã-Hãe (BA), Xavante
12.ago. (MT) e Rikbaktsa (MT), são entregues as Emendas Populares dos direitos indígenas, ao
presidente da Comissão de Sistematização, Dep. Afonso Arinos. Os índios participam de
reunião, na sede da CNBB, com o senador Severo Gomes (PMDB-SP).
Fundação Pedroso Horta (do PMDB) promove debate sobre a questão da mineração em
20.ago.
terras indígenas. São ouvidos representantes da CNBB, Cimi, ABA e Conage.
Resolução n.º 3-CN, aprova instauração da CPMI para apurar as acusações do “Estado de
22.ago.
S. Paulo” contra o Cimi.
1.º-15. Representantes dos regionais do Cimi auxiliam no contato pessoal com os constituintes
set. em Brasília.
20.set. Presidente da Funai, Romero Jucá Filho, defende Substitutivo Bernardo Cabral.
Delegação de 27 indígenas dos povos Fulni-ô (PE), Xukuru-Kariri (AL), Kariri-Xokó (AL) e
5a
Pankararu (PE), participa de manifestação de 8 mil trabalhadores rurais de todo o país
7.out.
em Brasília que pressionam pela reforma agrária no texto constitucional.
Senador Ronan Tito, Relator da CPMI do Cimi, apresenta relatório apontando a origem
22.out. duvidosa das acusações e “não terem fundamento as denúncias que levaram à criação da
Comissão de Inquérito.
Por decurso de prazo, Comissão de Sistematização deixa de votar o Título VIII (Da
Ordem Social), que inclui os capítulos sobre Meio Ambiente (VI), Família, Criança,
14.nov.
Adolescente e Idoso (VII) e dos Índios (VIII). Os capítulos não votados são remetidos ao
Plenário.
“Carta dos Povos Indígenas na Faixa de Fronteira” é entregue aos constituintes por uma
delegação formada por representantes dos povos Marubo (AM), Karipuna (AP), Galibi (AP),
19.nov.
Apurinã (AC), Kaxarari (RO), membros do Conselho Indígena de Roraima (CIR), FOIRN
(AM), Associação das Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro (AM) e CGTT (AM).
1988
Informe Constituinte n.º 30 (Cimi) indica lista de constituintes que devem receber
04.fev. atenção preferencial das bases missionárias do Cimi, para contatos pessoais e envio de
cartas.
Informe Constituinte n.º31 (Cimi) traz a relação dos “inimigos” dos índios nesta fase da
11.fev.
ANC, “e os destaques respectivos, que devem ser desencorajados”.
Votado o item V do art. 158: “Art. ... São funções institucionais do Ministério Público:
19.abr.
(...) V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas”.
1988
A assessoria do Cimi informa que está encaminhando gestões para consolidar o acordo
sobre o capítulo “Dos Índios”, antecipando conversas e propondo o “fechamento” de
21.abr.
posições em cima das emendas do dep. Alceni Guerra, sen. Jarbas Passarinho, destaques
do dep. Carlos Cardinal e sen. Mário Covas, e dep. Fabio Feldman.
Início. A tese da estatização da mineração em terra indígena era abandonada, para não se
Mai. por em risco a possibilidade de resgatar a redação original do capítulo dos índios.
Meados O sen. Severo Gomes (PMDB-SP) assume a articulação do acordo sobre o capítulo dos
de maio índios.
Dia previsto para a votação do capítulo “Dos Índios”. Estes realizam pajelança pela
25.mai. vitória nas votações, discutem estratégias para sensibilizar constituintes indecisos e
iniciam vigília aguardando o resultado das negociações em torno do capítulo.
Votado e aprovado por 355 votos o texto do art. art. 25: “A União demarcará, no prazo
21.jun. de cinco anos, a partir da promulgação desta Constituição, as terras indígenas ainda não
demarcadas”.
O capítulo dos índios era submetido ao 2.º Turno de votações, e aprovado, com
30.ago. 437 votos favoráveis, oito contrários e oito abstenções, consolidando assim a vitória
indígena na Constituinte.
19/08/1988 – Índio
Kayapó com Projeto de
Constituição (B) - 2º turno
nas mãos
Foto: Egon Heck/Arquivo
Cimi/Secretariado
Nacional/SEDOC.
Anexo I
– Agradeço ao Constituinte José Carlos Sabóia as palavras excessivas, bem como à Subcomissão
o convite que me foi feito para vir falar aqui, pedindo desculpas por ter que ser breve.
Abordarei diretamente algumas questões que me parecem talvez ser esclarecedoras da
questão das minorias, sobretudo da questão indígena.
Talvez eu deva falar rapidamente sobre o que é uma minoria. Minoria, já se observou, muitas
vezes, diz respeito a maioria populacionais. Existem minorias de mulheres que estão integradas na
maioria populacional.
E ser minoria, o que isso significa? Basicamente, significa que são sócias minoritárias de um
projeto de nação. É um problema que merece certa reflexão, na medida em que significa também que,
independentemente do peso demográfico sobre uma população, eles podem ser sócios das decisões
fundamentais que vão afetá-los.
Neste sentido, há que se pensar em como esta nova Carta Constitucional deve tratar aqueles
que não têm a força majoritária no País, quer dizer, qual é o papel que se deve dar àqueles estratos
populacionais. É este o sentido verdadeiro de minorias: não é um sentido demográfico. Enfatizo esta
questão.
No caso do indígena, a minoria indígena é também uma minoria fortemente demográfica. É
uma ínfima parcela da população, mas é também uma ínfima parcela daqueles 6 milhões de índios que
aqui habitavam quando o Brasil foi supostamente descoberto.
Isso da a medida do genocídio que foi praticado neste País.
Temos, hoje, algo em torno de 220 mil índios, distribuídos em 180 sociedades diferentes.
Representa uma riqueza cultura que é difícil de ser avaliada.
A tendência à homogeneização, que foi característica do começo deste século, por exemplo,
e veio até o pós-guerra, foi fortemente marcada também por essa expectativa de uma grande
homogeneização de que o Mundo seria uma aldeia global. Ao contrário, o que se viu foi o renascer
das especificidades e também os valores extraordinários que se começou a perceber em sociedades
diferentes.
O Brasil tem 180 sociedades diferentes, tem 180 línguas diferentes, e isso contribui para o
patrimônio cultural da Humanidade. Cada sociedade é uma forma original específica de convívio entre
seres humanos.
Significa, também, essa riqueza cultural ser um aspecto que é riqueza tecnológica. Talvez
seja bom lembrar: está saindo, nos próximos dias, um livro da antropóloga Berta Ribeiro, que trata
exatamente dessa contribuição tecnológica do índio. Não é apenas uma contribuição tecnológica
passada, quando desenvolveu coisas tão necessárias como, por exemplo, o cultivo da mandioca, é
também uma contribuição tecnológica atual, no manejo do território, em particular, do território
amazônico, de toda a Amazônia Legal, em que os índios detêm um conhecimento ecológico de
fundamental importância.
– Sr. Presidente da Subcomissão, Deputado Hermes Zaneti, Srs. Constituintes, aqui estamos
trazendo um documento que representa as entidades que apóiam a causa indígena, e contamos ainda
com a chegada do representante da União das Nações Indígenas, como foi explicado. Houve essa
coincidência de horários, mas creio que ele ainda vai-se apresentar.
Antes de tudo, queremos formar nossas vozes na defesa de uma educação pública gratuita e
de boa qualidade para todos os brasileiros.
Assim sendo, ao darmos sugestões para o texto constitucional, enfatizamos a questão da
educação escolar indígena, dentro da problemática mais abrangente da educação, referente a toda
população brasileira, notadamente dos grupos sociais mais estigmatizados e alijados do centro de
tomada de decisões do poder e dos benefícios daí decorrentes. Neste contexto, inserem-se os povos
indígenas do Brasil. Defendemos, assim, uma educação que garanta a consolidação de um espaço
democrático a todos os brasileiros, rompendo, desta forma, com a discriminação que historicamente
vem atingindo índios, negros e outros grupos sociais minoritários, que são, na verdade, os que
– Muito obrigado, Sr. Presidente desta Subcomissão, Srs. Constituintes, Sr.as e Srs:
Represento o IPARGE, que é um conjunto de pesquisadores, antropólogos e indigenistas do
Rio de Janeiro, de São Paulo, Minas Gerais, Brasília e Maranhão, e a apresentação que vou fazer aqui é
decorrência de uma análise feita em conjunto e que foi sintetizada por mim, como representante desta
Instituição.
A proposta que venho fazer diante desta Comissão é de que estamos diante de uma ocasião
especial, em que se pode pensar em criar um pacto indigenista nacional. É essa a apresentação que eu
vou fazer, e que, em seguida, podemos levar adiante uma discussão mais ampla.
O momento da elaboração de uma nova Constituição brasileira é a ocasião ideal e propícia
para se firmar um pacto indigenista nacional, que represente a realidade dos acontecimentos que regem
as relações interétnicas em nosso País e que traduza os legítimos interesses dos povos indígenas, e as
grandes aspirações de liberdade e respeito racial e étnico do nosso povo. Estas são virtudes nacionais
– Sr. Presidente, pretendo ser mais breve possível, devido ao adiantado da hora.
Agradecemos à Presidência desta Subcomissão e aos presentes a oportunidade que nos está
sendo dada de reforçar uma discussão amplamente encaminhada aqui, a discussão da causa indígena,
enfocando assunto que ainda não foi levado à pauta – saúde indígena.
A Fundação Oswaldo Cruz tem uma experiência muito grande na área de pesquisa, ensino e
prestação de serviços na área de saúde, mas sempre em populações brancas.
Em 1985, a partir de um interesse demonstrado pela FUNAI, foi feita uma primeira viagem à
área indígena e encaminhadas algumas propostas de trabalho junto à FUNAI, que não foram levadas a
termo, mas que também foram encaminhadas às populações do grupo indígena Ianomami, e ao Cimi –
Conselho Indigenista Missionário, onde chegamos a ministrar alguns cursos para os agentes de saúde,
não índios deste Conselho.
Em 1986, por ocasião da VIII Conferência Nacional de Saúde, no desdobramento do subtema
Proteção à Saúde Indígena, participamos, representando a Fundação, e também cooperamos na
elaboração do relatório final. E é inspirado nesse relatório final, e contando com o apoio da Comissão
– Eu dou bom-dia para todos os meus parentes, Deputados que estão aqui nesta Casa.
Também trazemos a queixa que nós temos no Nordeste, lá de Bahia, os Coroa Vermelha, Caramuru,
não só os Caramuru e Cora Vermelha, mas todos os Pataxós do sul da Bahia e do Nordeste foram
todos prejudicados, porque não tem uma demarcação e também tem a FUNAI, que tenta toda a vida
conversar muito conosco e não resolve, e eu vivo muito chateado com esse problema, não posso nem
dar assistência aos meus filhos, ao meu povo, por causa do problema que está acontecendo na aldeia.
– Bom dia, meus parentes, o índio que vive aqui em Mato Grosso, como o Xavante, como o Xingu
que aqui se encontra, Srs. Deputados, Parlamentares, gente que trabalha com índio que são missionários,
são povo que apóia o povo indígena. Então, quero relatar aqui a problemática do território de Roraima
que vem sendo há muito tempo esquecido de muitos anos; os índios vem lutando para sobreviver na
sua própria terra e nós vivemos marginalizados, escravizados, porque não temos nossa demarcação da
terra Macuxi, que é uma área que estamos lutando há muito tempo, uma área única que tem os Macuxi,
Wapyxana, Ingarikó, Taurepang, que vivem nessa área única Raposa-Serra do Sol e nós vivemos brigando,
há muito tempo, e a FUNAI não fez nada por nós; ainda somos isolados naquela parte do Território de
Roraima e esquecidos pelas autoridades que sempre vêm marginalizando o índio em favor do fazendeiro;
também os políticos ficam nos perseguindo em Roraima, dizendo que ali não tem índio, mas nós somos
índios nativos, fixo, originários naquela terra e somos os donos daquela terra.
– Sou um verdadeiro yanomami de Roraima. Quero conhecer vocês, porque todo índio está
aqui por causa do branco. E quem não me conhece, vai conhecer agora, dessa vez e eu quero conhecer
vocês todinhos, porque estamos lutando juntos para conseguir a nossa demarcação de terra.
Gostaria de contar um pouco de minhas notícias. Minhas notícias não são muito boas mas
vou contar para vocês saberem. Estamos aqui para escutar outras palavras dos parentes, e também para
os Deputados e Senadores aqui escutarem nossas notícias e também outros funcionários.
Então, na minha área do Yanomami, estamos todos sofridos porque está cheio de garimpeiro
entrando e invadindo as nossas terras, e a mineração também está levando os maquinários para fazer
estradas, e também fico muito triste porque os militares fizeram a vila militar em Surucucu. Todo
mundo sabe que os brancos estão aqui e estão sabendo também, e vocês também sabem que a notícia
vai longe.
– Está pedindo terra, ainda não marcaram a terra dele, mas para nós sabermos meu primo
nós somos parentes, mas ele ainda não marcou a terra.
Ele vem aqui, para pedir terra, nós pedimos terra para o Presidente da FUNAI. A cada
Presidente da FUNAI que entra, nós pedimos para marcar nossas terras.
Nós somos índio puro, nós não somos outra nação, nós somos uma língua só, somo caiapó;
meu parente está pedindo terra para marcar para ele, agora nós não somos índio brabo, não matamos,
por isso eu falo pouco, mas você fala bem. Então, se o Presidente da FUNAI não manda marcar, nós
continuaremos lutando. Nós brigamos até 3 meses, 4 meses, 5 meses, para ganhar terra. Ainda tem
mata pura. O meu primo, filho do meu tio, ainda não marcou terra para ele, por isso nós viemos aqui
pedir para Deputado olhar para a terra, marcar tudo junto no parque para índio de Xingú, para marcar
tudo no parque lá no Mato Grosso.
Estamos lutando para ganhar terra, vamos lutar mais para marcar terra do meu primo. Vamos
marcar tudo junto no parque para Gorotire, Origre, Kalaroâ – Maú, Kranahô, marcar tudo junto.Meu
primo está lá, mas ele não vem aqui para falar, meu sobrinho também está lá.
Eu falo pouco, eu ajudo vocês, eu ajudo a cada Nação, para falar com Presidente, Deputado.
Mas, o Presidente de FUNAI é fraco.
– Comissão, índios presente, irmãos presentes, toda a nação. Eu ouvi atentamente todo o
pronunciamento do meu irmão, sei de toda a situação da terra e foi o que mais debateram. Parece até
vergonhoso em uma nação que vive uma democracia, o índio hoje aparecer aqui falando em luta, lutas
de guerra, me parece, porque está defendendo seu direito. Sinceramente emociona, e muito.
Eu sou monitor bilíngüe, falo a língua cairés, leciono na língua e escrevo na minha língua.
É uma das grandes preocupações do Sul hoje. Além disso, hoje eu exerço a função de Presidente do
Conselho Regional de Guarapuava, Estado do Paraná, Sul do País. Eu represento 8 caciques da minha
área, de aproximadamente 5 mil índios. Sou Kaingang. Esse conselho é representado por Kaingangs e
guaranis. Existe um outro em Londrina, lá, onde está presidindo um guarani chamado Euzébio Martins,
que me parece não esta presente; era interessante ouvir o depoimento dele.
Eu estou só representando o Sul. Mas gostaria que outro representante se fizesse presente,
talvez em outros encontros, conforme a nossa idéia futura. Parece-me que tanto à questão indígena,
eu até me emocionei quando o companheiro Yanomami falou no seu idioma. Impressionou-me porque
a minha língua é bem diferente, gostaria eu de entender a língua que ele falou, e tenho certeza de que
ele também gostaria de entender a minha língua.
Parece-me que está havendo uma falta de respeito à cultura indígena. Há o avanço da
mineração, avanço das grandes serrarias, os grandes e poderosos fazendeiros violentam e afetam
bastante a região Norte do País. Isso me preocupa. Eu quero deixar o Yanomani e o companheiro
Crumare, o outro cacique também representando, quero dizer que o meu Conselho, da minha parte
terá todo nosso apoio; só gostaria de conhecer melhor. O Nelson Saracura também me parece ter um
documento com respeito a uma área em questão. Eu também gostaria de levar comigo e apresentar aos
nossos caciques do Sul a questão da terra do Nelson Saracura.
Recentemente, estivemos no Rio de Janeiro, lá também existe índio guarani em duas áreas
em questão. E é uma questão política; sempre onde há interesse há também questão política. No
Rio de Janeiro tem duas áreas que estão nas mãos do Estado, estão na mão da FUNAI, estão na mão
do Governo Federal. Interessante: me parece que o índio tem questionado, existem leis, existem
legislações, existem termos de demarcação de terras, mas até hoje as leis não foram cumpridas. Temos
hoje uma formulação, talvez, das leis do País. Eu sempre digo e sempre direi, eu ainda tenho minhas
dúvidas. Nós, índios, pensamos de uma forma, mas a política, os interesses, a ganância pensam de
outra forma. Isso é uma grande preocupação, hoje, minha, como Presidente do Conselho. Parece-me
– Primeiramente, Sr. Presidente, eu quero agradecer pela oportunidade de estar aqui com
todos vocês e prestar um depoimento também, mas quero, em primeira mão, saudar os meus irmãos
do Norte, Sul, Leste e Oeste, esses índios que também vieram com muito sacrifício, tenho certeza, para
participar deste grande encontro.
Eu também, neste momento quero agradecer à nossa Comissão Especial que foi formada
por oito índios e os Caciques que aqui estão representados pelo Sr. Marcelino, o Gabriel e os demais
Caciques presentes, que são os Terenas e, neste momento nós representaremos os kaiabis, guaranis,
terenas, guabirós e guapós.
Eu quero dizer que nós tivemos em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o I Encontro de
Lideranças Indígenas para tratar de uma proposta que estivemos debatendo nos dias 1º e 2 de maio de
1987, que foi a semana passada, e vários assuntos foram debatidos, dentre os quais aquele principal
problema que hoje aflige a comunidade indígena. E nós, dentro desses dois dias, conseguimos debater e
discutir e, posteriormente, elaborar, também, uma proposta para a Constituinte para tentarmos, dentro
dessa nova Carta Magna, inserir esses problemas que realmente vêm preocupando as comunidades
indígenas.
Nós sabemos que o índio tem vários problemas e dentre esses problemas, queremos explicar
que a demarcação da terra realmente é o que me parece vem sendo de relevante importância, e
explicamos o porquê: O índio detém o usufruto da terra e ele realmente precisa da terra, porque é
na terra que o índio planta, é da terra que o índio retira a sua alimentação. Quer dizer, é da terra que
também o índio faz seu lazer e achamos que é preciso termos a colaboração, por isso que nós pedimos
à cúpula da Constituinte e ao Parlamentares que realmente, dêem uma olhada com todo o carinho
porque nós trazemos uma proposta, que me parece, trata de iguais problemas das outras nações aqui
presentes.
Nós tivemos a oportunidade de, dentre os vários problemas, discutir onze temas que
trouxemos em mãos, para apresentar ao Presidente da Mesa para que aprecie também esses outros
problemas da comunidade indígena:
O primeiro tema trata do reconhecimento dos direitos territoriais dos índios. Nós sabemos
que a terra é de direito da União. Então, fizemos esta solicitação para que o reconhecimento dos
direitos territoriais seja reconhecido para os índios.
O segundo tema seria a demarcação.
A demarcação, como todos nós sabemos, é de vital importância, porque tanto no Norte, Sul,
Leste e Oeste onde existem as comunidades indígenas, existe o problema principal da demarcação da
terra.
Então, solicitaríamos que fossem demarcadas essas terras, porque elas são de vital importância
– e nós sentimos e acreditamos que a maioria sabe da importância e prioridade desse tema.
Quer dizer, dentre todas as discussões e debates que fizemos, achamos que a prioridade
principal está na demarcação e garantia das terras indígenas.
No tema três tivemos a discussão, debatemos sobre o uso exclusivo pelos povos indígenas
das riquezas naturais. Acredito que o usufruto exclusivo seja, por exemplo, no que tange às riquezas
naturais, o uso das madeiras, a riqueza do subsolo, tudo aquilo que estiver na demarcação das áreas
indígenas.
– Com toda a satisfação. Patrícios, companheiros da Mesa, que realmente estão interessados
em defender a questão indígena: primeiramente, durante toda essa década da Constituição passada, a
população indígena foi humilhada.
Hoje, nós estamos preocupadíssimos com a sobrevivência; como será a próxima Constituição
que vai ser elaborada?
No Mato Grosso do Sul, os Kaiowás e os Guaranis já foram humilhados muitas vezes e a Funai;
por sua vez, nunca se prontificou a ajudar a comunidade indígena dos Kaiowás e Guaranis. Tanto é que
aconteceu, nesses últimos anos, três despejos seguidos, praticamente: primeiro foi o de Maracaju,
inclusive uma funcionária da Funai confirmava que aquela área não era do índio, e sabemos muito bem
que não existia neste País nenhum fazendeiro.
Portanto, nós Kaiowás e Guaranis estamos preocupados com o restinho de nossa terra que
sobrou para nós e que não conseguimos até agora a demarcação. Nós temos a nossa terrinha que
sobrou, dos nossos antepassados, os nossos bisavós já morreram na esperança da demarcação que até
hoje não foi feita.
Nós pedimos às autoridades aqui presentes, que realmente vão se empenhar na Constituição,
que defendam os direitos do povo indígena, porque se não defenderem os nossos direitos, brevemente
seremos lembrados na História em bibliotecas e nós não queremos que aconteça isso, porque o nosso
coração está cheio de ódio por aqueles que tomaram as nossas terras, por aqueles latifundiários que
mandaram matar os líderes indígenas para tomar as suas terras, e hoje não houve um resultado pacífico.
Onde está a justiça? Onde está a justiça quando assassinaram o Marçal por questão de terra? O que
ocorreu com o Marçal ocorre com todos que lutam pelos seus direitos, pela sua terra.
O Presidente da República defende mais a questão dos latifundiários nas partes fronteiras,
porque talvez seja melhor para eles contrabandear. Nós, índios, não criamos fronteiras. Nós queremos
nossos direitos para que sempre vivamos em paz e em tranqüilidade.
Desde a época de 1500 nós não tivemos liberdade. Nós sempre fomos humilhados, sempre
fomos massacrados; tanto é que ultimamente, no último despejo, a FUNAI contribuiu muito com o
fazendeiro e com o Juiz da Comarca do Iguatemi, que é um juiz comum, para despejar os nossos
companheiros de sua área. Por sua vez, a FUNAI falou para nós, nos humilhando, que eles fariam de
acordo com a justiça. Mas a justiça a favor do índio nunca existiu! Existe a justiça a favor do fazendeiro,
a favor dos grandes empresários.
O que nós queremos é justiça que realmente beneficie a todos nós, porque a luta não é só
para nós, a luta é para o futuro da juventude que vai crescer, porque muitos de nossos avós já morreram
na esperança da demarcação.
Por exemplo, a violência. No Mato Grosso do Sul já morreram vários líderes e até hoje não se
deu o resultado de quem é o culpado. Agora, por exemplo, se um índio matasse um fazendeiro, eles
iriam mandar matar todos os índios e isso eu tenho certeza que aconteceria.
Nós, índios, não faremos esse tipo de ação, embora somos mais selvagens, nós somos mais
educados do que os brancos que têm cargos políticos, quer dizer, que têm o cargo para defender
a questão do mais humilde, da população indígena. Falando de modo geral, o próprio povo branco
massacra o seu povo. O índio, por sua vez, não tem defensor nenhum.
Nesta Constituinte nós queremos que realmente seja bem elaborado um documento,
de acordo com o que já foi enviado para esta Comissão: várias entidades apoiando o direito ao
reconhecimento territorial indígena. O outro é a demarcação, porque sem demarcação nós não temos
segurança nenhuma, como, por exemplo, bem claro aconteceu outro dia lá no Município de Amambaí,
– Quero agradecer a presença de todos os patrícios e demais pessoas que lutam em defesa
do índio.
Primeiramente, Sr. Presidente, quero dizer que sou do Acre e estou representando aqui onze
povos indígenas que se encontram no Acre e deixar também registradas as dificuldades em que nos
encontramos dentro de todo povo indígena acreano.
O que me trouxe até aqui não foi só a questão indígena que está sendo debatida, a preocupação
é mais ampla, em forma de Constituinte: é a preocupação de que não se deve pensar em ficar esperando
a Grande Lei, que está sendo elaborada neste momento e que para nós, índios, representa muito mais,
porque nós somos brasileiros e devemos estar atentos e informados sobre as normas que se pretendem
dirigir a nós.
A pergunta, que já foi aqui discutida e que hoje é muito preocupaste é: qual é o nosso destino
daqui para frente? O índio, como um todo, precisa da força política, precisa que os Constituintes
reconheçam o massacre dos seus antepassados; hoje, precisamos estar atentos para que isso não mais
aconteça no futuro.
– Bom dia, aos parentes que vieram de regiões diferentes do Brasil, ao pessoal que veio de
Mato Grosso do Sul, Paraná, Roraima, Mato Grosso e de outras regiões onde há populações indígenas
e que, nesta última audiência pública da Subcomissão, que está ouvindo as populações indígenas,
tiveram hoje a oportunidade de trazer a sua visão dos problemas que estão ocorrendo com a população
indígena.
As audiências que tivemos aqui nesta Subcomissão, desde a primeira semana de abril, onde
foram feitas as apresentações das questões gerais que envolvem a população indígena, onde foi feita
a apresentação de um documento com propostas das populações indígenas para a Constituinte; mas
sabemos que muitos dos representantes indígenas que se encontram nas suas regiões lutando, no
dia-a-dia, sofrendo violências, sofrendo constrangimentos, não poderiam ficar fora dessas audiências
públicas. Assim como os nobres Constituintes tiveram a oportunidade de ouvir uma proposta de certa
– Eu vou falar uma coisa pra vocês ouvir. Minha preocupação é muito séria. Antigamente, não
tinha muita cidade aqui no Brasil. Meu pai contava muita história pra mim. Eu não esqueço aquelas
história antiga...
Nós nasceu primeiro, aqui no Brasil. O nome do homem era Iperere; na língua sua língua
chama Deus. Quem fez a terra pra nós foi esse homem que chama Iperere. Iperere fez terra pro nosso
índio.
O primeiro avô que morava aqui andava toda parte aqui no Brasil. Aqui não tinha briga, não
tinha complicação e confusão. Meu pai contava história antiga, contava sempre pra mim que branco
português veio do outro lado pra cá, rio e mar atravessando. Começou a brigar com o nosso avô,
matava muito, roubava mulher, criança,... Isso meu pai contava pra mim.
Então, sempre penso na palavra do meu pai. Ele era um grande homem, homem de peito,
homem guerreiro. Hoje temos muito problema no meu povo. O povo dos senhores matava o meu povo,
coitado !
Então, vou procurar explicar mais pra vocês, pra vocês ouvir a minha idéia. Minha idéia é
muito importante pro meu povo. Então, sempre tou vendo que o seu povo, polícia e soldados tão
mexendo na área do meu povo, tão querendo matar, atirar, acabar.
CNBB
Nota à imprensa1
Surpresos, tomamos conhecimento da matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, em
sua edição de domingo, 09/08, afirmando que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão anexo
à CNBB, estaria engajado em suposto projeto de conspiração internacional propugnando o conceito de
soberania restrita do Estado brasileiro sobre as áreas indígenas. A matéria revela leitura tendenciosa das
atividades da Igreja e se baseia em informações absolutamente falsas. Manifestamos o nosso veemente
repúdio às afirmações de “O Estado” que visam claramente varrer da futura Constituição a garantia dos
direitos indígenas.
1 – O Cimi nunca postulou junto à Assembléia Nacional Constituinte o estabelecimento do
estatuto de soberania restrita para as nações indígenas.
2 – O Cimi não é vinculado ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs e tampouco o representa.
Da mesma forma desconhece o documento identificado como “Diretriz Brasil n.º 4 – ano 0”. Quanto ao
citado documento de Barbados ele não foi assinado pela Igreja. O único brasileiro que o assinou foi o
conhecido antropólogo Darcy Ribeiro.
3 – O Cimi não possui nenhum arquivo secreto. Como qualquer organização privada ou oficial,
o órgão indigenista possui arquivo para pesquisas e documentação. O Cimi nega ainda a existência de
carta atribuída a seu secretário executivo.
4 – O relacionamento do Cimi com comunidades cristãs e entidades solidárias de outros
países objetiva o fortalecimento da solidariedade humana em torno da defesa da vida das comunidades
indígenas, sem nenhum propósito de incentivar ou propiciar ingerências indevidas na condução dos
assuntos internos do Brasil.
5 – A proposta do Cimi à Constituinte é de que o Brasil seja reconhecido como um Estado
pluriétnico sob cuja soberania convivem, além da sociedade majoritária, várias nações indígenas, a
exemplo de constituições modernas de outros países. Não corresponde à verdade a afirmação de que
o Cimi defende a soberania restrita da União sobre as terras indígenas.
O Cimi propõe ainda a demarcação das terras indígenas garantindo aos povos nativos o
usufruto das riquezas nelas existentes.
Essa proposta é fruto de debates e estudos interdisciplinares e visa garantir a sobrevivência
física e cultural das nações indígenas no Brasil, até hoje vítimas de um processo de extermínio que
envergonha o país e contra o qual já bradaram personalidades como José Bonifácio, Marechal Rondon
e muitos outros patriotas.
Todas as emendas encaminhadas pelo Cimi à Assembléia Nacional Constituinte privilegiam
claramente a União Federal, o que evidentemente não agrada às empresas de mineração e aos interesses
do capital internacional.
6 – O Cimi nunca se opôs a medidas militares que visem a garantia de nossas fronteiras como
está bem explicitado na nota oficial divulgada em outubro de 1986, quando se tornou público o Projeto
Calha Norte: “O Cimi, como as próprias comunidades indígenas, não se opõe a providências dirigidas
1 cf. CNBB-Cimi. A Verdadeira Conspiração contra os Povos Indígenas, a Igreja e o Brasil. Brasília : CNBB, p. 53.
CNBB
Compromisso com a causa indígena 2.
1. A Presidência da CNBB, no dia 10 de agosto, divulgou nota de repúdio ao artigo publicado
na véspera pelo jornal O Estado de São Paulo difamando a ação dos missionários do Cimi. Mais quatro
artigos foram ainda publicados distorcendo a verdade dos fatos e mentindo com a intenção de confundir
a opinião pública.
2. Neste contexto, reafirmamos o direito das populações indígenas à terra, à própria cultura
e ao seu pleno desenvolvimento. Garantia deste direito que deverá continuar a ser salvaguardado na
nova Constituição retrata o caráter pluriétnico de nosso país, e em nada limita a devida soberania do
Estado brasileiro sobre as nações indígenas.
3. O Cimi une seus esforços a outras instituições de defesa e promoção do índio para evitar
os danos irreparáveis causados pela exploração de minérios que atenta contra o meio ambiente e a vida
das populações indígenas.
4. O que se esconde atrás da escandalosa campanha difamatória contra os missionários do
Cimi não é a defesa dos interesses nacionais, como afirma o jornal, mas a ambição das companhias
mineradoras, decididas a remover qualquer salvaguarda legal à exploração dos minérios em áreas
indígenas.
5. As acusações pretendem impedir que na Constituição sejam incluídas normas de proteção
aos territórios indígenas que visam coibir a cobiça das companhias mineradoras. Pretendem eliminar o
caso, agora, previsto no Projeto Constitucional de “pesquisa, lavra ou exploração de minérios em terras
indígenas, como privilégio da União, quando exigidas por interesse nacional e quando inexistirem
reservas conhecidas e suficientes para o consumo interno e exploráveis em outras partes do território
nacional”.
6. A virulência do ataque demonstra a intenção de causar impacto na opinião pública e
confundir os constituintes nas vésperas da discussão e votação do substitutivo do deputado Bernardo
Cabral.
7. É lamentável que o jornal O Estado de São Paulo desrespeitando os princípios fundamentais
da moral se tenha prestado a esta campanha, assumindo os interesses das empresas de mineração em
detrimento das populações indígenas. É inadmissível o recurso à argumentação difamatória, deturpando
fatos, manipulando e forjando documentos, sem escrúpulos, a ponto de acusar os missionários de
conspiração contra a soberania e a unidade do país e afirmar, de modo gratuito e descabido, que a
Igreja pretende vantagens econômicas em sua ação evangelizadora.
Senado Federal
Subsecretaria de Informações
RESOLUÇÃO Nº 3, de 1987-CN4
Senhor Presidente:
Nos termos do art. 21, do Regimento Comum do Congresso Nacional, requeremos a constituição de
uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar as denúncias que vêem sendo formuladas pelo Jornal
O Estado de S. Paulo, referentes a uma conspiração internacional envolvendo restrições à soberania nacional
sobre a Região Amazônica, sob o pretexto de preservar as culturas das etnias silvícolas, a ecologia e as riquezas
minerais do subsolo daquela região. A Comissão será integrada por 18 membros e terá o prazo de 120 dias para
o seu funcionamento.
Brasília, 13 de agosto de 1987. Cardoso Alves, Plínio Arruda Sampaio, Ricardo Izar, Dirce Tutu
Quadros, Rita Camata, Rodrigues Palma, José Maurício, Amaral Netto, Gastone Righi, Edésio Frias, Rose
de Freitas, Gumercindo Milhomem, Gabriel Guerreiro.
DEPUTADOS – Cardoso Alves, Plínio Arruda Sampaio, Ricardo Izar, Dirce Tutu Quadros, Rita
Camata, Rodrigues Palma, José Maurício, Amaral Netto, Delfim Netto, Gastone Righi, Edésio Frias, Rose
de Freitas, Gumercindo Milhomem, Gabriel Guerreiro, Adroaldo Streck, Adylson Motta, Sólon Borges
dos Reis, Juarez Antunes, Nelson Seixas, Robson Marinho, Doreto Campanari, Ivo Vanderlinde, Eduardo
Moreira, Francisco Küster, Maurílio Ferreira Lima, Percival Muniz, Hélio Duque, José Genoino, Florestan
Fernandes, Miro Teixeira, Ervin Bonkoski, Ronaro Corrêa, Chico Humberto, Lael Varela, Geraldo Fleming,
Raul Ferraz – Antonio carlos Mendes Thame, Fernando Gasparian, Manoel Castro, Irajá Rodrigues,
Paulo Delgado, Alceni Guerra, Jayme Santana, Paulo Zarzur, Antônio Câmara, Samir Achôa, Antônio
Perosa, Paulo Macarini, Michel Temer, Ruy Nedel, Fernando Santana, Nelton Friedrich, Hermes Zaneti,
Gilson Machado, Hélio Rosas, Oswaldo Sobrinho, João Rezek, Roberto Balestra, Octávio Elísio, Ziza
Valadares, Pimenta da Veiga, José Ulisses de Oliveira, Mauro Campos, Cunha Bueno, Nyder Barbosa,
Carlos Mosconi, Abgail Feitosa, Virgílio Guimarães, Irma Passoni, Arnaldo Faria de Sá, Jorge Arbage,
Farabulini Júnior, Benedita da Silva, Olívio Dutra, Wilma Maia, Aécio Neves, Vitor Buaiz, Sérgio Werneck,
Raimundo Rezende, Afif Domingos, José Luiz de Sá, Simão Sessim, Francisco Dornelles, Genebaldo
3 Nada tendo a ver com o inexistente “Conselho Mundial de Igrejas Cristãs”, mencionado na documentação falsificada
utilizada como base para as mencionadas matérias do “Estadão”.
4 Publicado no Diário do Congresso Nacional de 22/08/1987, p. 262. Disponível in: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/
ListaPublicacoes.action?id=131328> (acesso em 12.10.2008)
Relatório à CMPI
O SR. PRESIDENTE (Alceni Guerra): – Concedo a palavra ao Sr. Ailton Krenak, coordenador
da campanha dos índios na Constituinte. S. S.ª falará sobre a Emenda Popular nº 40, que versa sobre
populações indígenas. Na tribuna estará representando a Associação Brasileira de Antropologia, de São
Paulo, a Coordenação Nacional dos Geólogos, de Goiânia e a Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência, de São Paulo. V. S.ª tem a palavra por 20 minutos.
– Sr. Presidente, Srs. Constituintes, eu, com a responsabilidade de, nesta ocasião, fazer a
defesa de uma proposta das populações indígenas à Assembléia Nacional Constituinte, havia decidido,
inicialmente, não fazer uso da palavra, mas de utilizar parte do tempo que me é garantido para defesa de
nossa proposta numa manifestação de cultura com o significado de indignação – e que pode expressar
também luto – pelas insistentes agressões que o povo indígena tem indiretamente sofrido pela falsa
polêmica que se estabeleceu em torno dos direitos fundamentais do povo indígena e que, embora não
estejam sendo colocados diretamente contra o povo indígena, visam atingir gravemente os direitos
fundamentais de nosso povo.
O SR. PRESIDENTE (Alceni Guerra): – Esta Presidência recebe com muito respeito a
manifestação de V. S.ª e se alia às palavras dos Srs. Constituintes que o apartearam, sensibilizados com
essa chaga viva que é a forma com que a sociedade brasileira, através dos tempos, tratou do problema
da sua raça. Pede licença ao Sr. Ailton Krenak para conceder a palavra ao próximo orador inscrito, Júlio
Marcos Germany Gaiger, que falará sobre a Emenda Popular nº 39, que versa sobre as nações indígenas.
S. S.ª estará representando o Conselho Indigenista Missionário – Cimi, sediado em Brasília; Associação
Nacional de Apoio ao índio – ANAI, sediada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul; e o Movimento de
Justiça e Direitos Humanos, também sediado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Essa emenda popular
foi apresentada à Casa por 44.948 brasileiros. Tem V. S.ª a palavra por 20 minutos.
– Exmo. Sr. Presidente, Srs. Constituintes:
O SR. RUY NEDEL (PMDB – RS. Sem revisão do orador.): – Sr. Presidente, solicito que V.
Ex.ª considere lida matéria sobre a questão indígena, somente acrescentando que às 21 h de ontem
concluímos as negociações com a fusão das emendas para o que seria um belo acordo se o § 4º do art.
269 tivesse permanecido. Abriu-se uma fresta – não uma porta – pela qual, no futuro, o índio poderá
pagar caro. Ficará para a nossa competência, na legislação complementar, manter a garantia do índio
como efetivamente desejamos.
MATÉRIA A QUE SE REFERE O ORADOR
A QUESTÃO INDÍGENA
A questão indígena sempre foi associada à questão da terra, convergindo aí os obstáculos que, até
hoje, protelaram uma justa e racional apreciação, uma vez que incorriam e ainda incorrem em rota
de colisão com as prioridades políticas e econômicas governamentais.
A omissão ou insensibilidade na análise por parte da Assembléia Nacional Constituinte, no momento
em que estamos elaborando a Magna Carta, remeterá – incondicionalmente – em crime de lesa-
Pátria, condicionando as comunidades indígenas à própria sorte.
Na discriminação racial – objeto do mais palpitante tema da atualidade – o índio, infelizmente, para
desgraça, principalmente sua e também da história, conseguiu ser o mais estigmatizado.
O índio acabou sem direito algum, não tendo, sequer, o da sobrevivência.
E hoje, na Organização das Nações Unidas, é a única raça que não tem representante.
Basta da indiferença, do verdadeiro atentado contra a soberania da outrora promissora e pacífica
nação indígena, hoje objeto dos mais hediondos crimes e degradações que inclui uma ampla espiral
que vai desde o incitamento ao consumo de bebidas alcoólicas até o recente massacre dos Ticuna, no
rio Solimões.
Não é do desconhecimento público que existem aldeias no Brasil onde as índias matam os filhos recém-
nascidos porque não há perspectiva de vida para os que nascem.
Há de se registrar, também, que existe a ameaça e o risco efetivo, se permanecer a redação como está
no Projeto de Constituição, de comunidades inteiras se imolarem em suicídio, e, este peso não pode
ficar na consciência da Assembléia Nacional Constituinte, até porque, depois do fato consumado, fica
o remorso.
O essencial é o homem, o homem de agora, o homem das gerações futuras. E a história, na questão do
índio, é bem nítida. Ela não é clara, mas é bem nítida. Não é clara porque foi escrita a sangue, na base
O SR. JOSÉ GENOÍNO: – Sr. Presidente, peço a palavra para uma questão de ordem, com base
no art. 74.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): – Tem V. Ex.ª a palavra.
O SR. JOSÉ GENOÍNO (PT – SP. Sem revisão do orador.): – Sr. Presidente, a questão de ordem
que formulo a V. Ex.ª é no sentido de colaborar para o bom andamento dos trabalhos desta Assembléia
Nacional Constituinte. Eu poderia levantá-la no início da votação das Disposições Transitórias, mas
preferi fazê-lo agora, exatamente porque há tempo para que V. Ex.ª possa examiná-la, já que a considero
importante.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): – Peço que as questões de ordem digam respeito a
cada parte a ser tratada. Do contrário, tumultuaremos nossos trabalhos.
O SR. JOSÉ GENOÍNO: – Serei breve, Sr. Presidente. É sobre o processo de votação, porque
isso é importante para os acordos que serão ou não feitos.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): – Vindo de V. Ex.ª, é sempre importante.
O SR. JOSÉ GENOÍNO: – Sr. Presidente, solicito paciência a V. Ex.ª.
O SR. ROBERTO JEFFERSON: – Sr. Presidente, V. Ex.ª já anunciou a votação. Vamos votar.
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): – Vamos passar à votação, senão atrasaremos a
parte referente aos índios, que estão esperando há mais de dez dias a decisão a propósito do assunto.
(Palmas.)
O SR. JOSÉ GENOÍNO: – Sr. Presidente, a votação das Disposições Transitórias abrange vários
artigos autônomos e diferentes uns dos outros. Pergunto a V. Ex.ª se será votado artigo por artigo de
SIM – 469
NÃO – 5
ABSTENÇÃO – 5
TOTAL – 479
A emenda coletiva foi aprovada.
VOTARAM OS SRS. CONSTITUINTES: (...)
O SR. JOSÉ LINS (PFL – CE. Sem revisão do orador.): – Sr. Presidente, o Jornal do Brasil traz
hoje em sua página 2, em matéria sob o titulo “Deputado Estranha o Cheiro de Índio”, declaração
supostamente minha que em absoluto é verdadeira. Sei que declarações desse tipo jamais encontram
ressonância nos jornais responsáveis. Mas, assim mesmo, não posso deixar de consignar meu protesto
em respeito aos índios que aí estão, com os quais trabalhei vários dias e que merecem a consideração
de uma declaração formal. Jamais em minha vida disse o que o Jornal a mim atribui. Digo a V. Ex.ª e
aos meus pares que o próprio jornalista pronunciou a referida frase e a colocou em meu nome. Espero,
pelo respeito que o Jornal do Brasil me merece, que esta inverdade seja corrigida e fique, assim,
restabelecido em relação aos índios brasileiros, que certamente é uma comunidade que tem cooperado
para a formação da brasilidade, todo o nosso apoio.
Meus cumprimentos aos índios brasileiros que nos assistem neste momento. (Palmas.)
(p.23)
(...)
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): – Vamos anunciar a fusão subscrita por 28 Srs.
Constituintes, resultante de entendimento geral a propósito dos direitos e prerrogativas concernentes
aos índios brasileiros. O texto tem a seguinte redação:
“Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembléia Nacional Constituinte:
Os firmatários, autores dos destaques e emendas abaixo-assinados, vêm, requerer nos termos do §
2º do art: 3º da Resolução nº 3/88, a fusão das proposições para efeito de ser votada, como texto
substitutivo do art. 268 e segts., Cap. VIII, do Tít. VIII do Projeto (art. 263 e segts., do Subst.
2.044), a seguinte redação:
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Constituintes, este lamento secular ocorreu de Norte a Sul, da terra
dos Esquimós à Patagônia, em solo americano do litoral atlântico ao litoral pacífico. Não temos aqui o
acordo da matéria que gostaríamos de ver aprovada. Cedemos muito. Cedemos não só em sonhos, mas
em fatos concretos que poderiam ser aprovados.
Mas o fundamental era que, neste momento histórico, esta Assembléia Nacional Constituinte
salvasse do genocídio o que resta dos retalhos de aldeamentos indígenas que existem em nossa Pátria.
E foi isto o que procuramos, cedendo o tanto para não nos sentirmos realizados, mas o suficiente para
que o índio fosse resguardado e toda esta Assembléia Nacional Constituinte pudesse dar o uníssono
“sim” para este acordo.
Peço a V. Ex.as que não haja um “não” sequer, para que mostremos para a História que
queremos preservar uma raça que está em extinção.
Era isso, Sr. Presidente. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães): – Em votação a matéria. Trata-se de fusão
resultante de entendimento entre as Lideranças e forças representativas junto à Assembléia Nacional
Constituinte.
Em votação o texto da fusão concernente aos índios.
SIM – 497 6
NÃO – 5 7
ABSTENÇÃO – 10 8
TOTAL – 512
A fusão foi aprovada”.
6 Votaram SIM os Constituintes: Abigail Feitosa; Acival Gomes; Adauto Pereira; Ademir Andrade; Adhemar de Barros Filho;
Adolfo Oliveira; Adroaldo Streck; Adylson Motta; Aécio de Borba; Aécio Neves; Affonso Camargo; Agassiz Almeida; Agripino
de Oliveira Lima; Airton Cordeiro; Airton Sandoval; Alarico Abib; Albano Franco; Albérico Cordeiro; Albérico Filho; Alceni
Guerra; Aldo Arantes; Alércio Dias; Alexandre Costa; Alexandre Puzyna; Alfredo Campos; Almir Gabriel; Aloísio Vasconcelos;
Aloysio Chaves; Aloysio Teixeira; Aluízio Bezerra; Aluízio Campos; Álvaro Antônio; Álvaro Pacheco; Amaral Netto; Amaury
Müller; Amilcar Moreira; Anna Maria Rattes; Annibal Barcellos; Antero de Barros; Antônio Britto; Antônio Câmara; Antônio
Carlos Franco; Antônio Carlos Mendes Thame; Antônio de Jesus; Antônio Ferreira; Antônio Gaspar; Antônio Mariz; Antônio
Perosa; Antônio Salim Curiati; Arnaldo Faria de Sá; Arnaldo Martins; Arnaldo Moraes; Arnaldo Prieto; Arnold Fioravante;
Arolde de Oliveira; Artenir Werner; Artur da Távola; Asdrubal Bentes; Átila Lira; Augusto Carvalho; Benedicto Monteiro;
Benedita da Silva; Benito Gama; Bernardo Cabral; Beth Azize; Bezerra de Melo; Bocayuva Cunha; Bonifácio de Andrada;
Bosco França; Brandão Monteiro; Caio Pompeu; Cardoso Alves; Carlos Alberto; Carlos Alberto Caó; Carlos Benevides;
Carlos Cardinal; Carlos Chiarelli; Carlos Cotta; Carlos De’Carli; Carlos Mosconi; Carlos Sant’Anna; Carlos Vinagre; Carrel
Benevides; Cássio Cunha Lima; Célio de Castro; Celso Dourado; César Cals Neto; César Maia; Chagas Duarte; Chagas
Neto; Chagas Rodrigues; Chico Humberto; Christóvam Chiaradia; Cid Sabóia de Carvalho; Cláudio Ávila; Cleonâncio
Fonseca; Costa Ferreira; Cristina Tavares; Cunha Bueno; Dalton Canabrava; Darcy Deitos; Darcy Pozza; Daso Coimbra;
Del Bosco Amaral; Delfim Netto; Délio Braz; Denisar Arneiro; Dionísio Dal Prá; Dionísio Hage; Dirce Tutu Quadros; Dirceu
Carneiro; Divaldo Suruagy; Djenal Gonçalves; Domingos Juvenil; Domingos Leonelli; Doreto Campanari; Edésio Frias;
Edison Lobão; Edivaldo Holanda; Edivaldo Motta; Edme Tavares; Edmilson Valentim; Eduardo Bonfim; Eduardo Moreira;
Egídio Ferreira Lima; Elias Murad; Eliel Rodrigues; Enoc Vieira; Eraldo Tinoco; Eraldo Trindade; Erico Pegoraro; Ervin
Bonkoski; Etevaldo Nogueira; Euclides Scalco; Eunice Michiles; Evaldo Gonçalves; Expedito Machado; Ézio Ferreira; Fábio
Feldmann; Fábio Raunheitti; Farabulini Júnior; Fausto Fernandes; Fausto Rocha; Felipe Cheidde; Felipe Mendes; Feres
Nader; Fernando Bezerra Coelho; Fernando Cunha; Fernando Gasparian; Fernando Henrique Cardoso; Fernando Lyra;
Fernando Santana; Firmo de Castro; Flávio Palmier da Veiga; Florestan Fernandes; Floriceno Paixão; França Teixeira;
Francisco Amaral; Francisco Benjamim; Francisco Carneiro; Francisco Coelho; Francisco Dornelles; Francisco Küster;
Francisco Rollemberg; Francisco Rossi; Furtado Leite; Gabriel Guerreiro; Gandi Jamil; Gastone Righi; Genebaldo Correia;
Genésio Bernardino; Geovah Amarante; Geovani Borges; Geraldo Alckmin Filho; Geraldo Bulhões; Geraldo Campos;
Geraldo Melo; Gerson Camata; Gerson Marcondes; Gerson Peres; Gidel Dantas; Gil César; Gonzaga Patriota; Guilherme
Palmeira; Gumercindo Milhomem; Gustavo de Faria; Haroldo Lima; Haroldo Sabóia; Hélio Costa; Hélio Duque; Hélio
Manhães; Hélio Rosas; Henrique Córdova; Henrique Eduardo Alves; Heráclito Fortes; Hermes Zaneti; Hilário Braun; Homero
Santos; Humberto Lucena; Humberto Souto; Iberê Ferreira; Ibsen Pinheiro; Inocêncio Oliveira; Irajá Rodrigues; Iram Saraiva;
Irma Passoni; Ismael Wanderley; Israel Pinheiro; Itamar Franco; Ivo Cersósimo; Ivo Lech; Ivo Mainardi; Ivo Vanderlinde;
Jacy Scanagatta; Jairo Azi; Jairo Carneiro; Jalles Fontoura; Jamil Haddad; Jarbas Passarinho; Jayme Paliarin; Jayme
Santana; Jesualdo Cavalcanti; Jesus Tajra; Joaci Góes; João Agripino; João Alves; João Calmon; João Carlos Bacelar;
João Castelo; João Cunha; João da Mata; João de Deus Antunes; João Lobo; João Machado Rollemberg; João Natal;
João Paulo; Joaquim Bevilacqua; Joaquim Francisco; Joaquim Hayckel; Joaquim Sucena; Jofran Frejat; Jonas Pinheiro;
Jonival Lucas; Jorge Arbage; Jorge Hage; Jorge Leite; Jorge Medauar; Jorge Uequed; Jorge Vianna; José Agripino; José
Camargo; José Carlos Grecco; José Carlos Sabóia; José Costa; José da Conceição; José Dutra; José Elias; José Fernandes;
José Freire; José Genoíno; José Guedes; José Ignácio Ferreira; José Jorge; José Lins; José Lourenço; José Luiz de Sá;
José Luiz Maia; José Maranhão; José Maria Eymael; José Maurício; José Melo; José Mendonça Bezerra; José Moura;
José Paulo Bisol; José Queiroz; José Richa; José Santana de Vasconcelos; José Serra; José Tavares; José Teixeira; José
Thomaz Nono; José Tinoco; José Ulísses de Oliveira; José Viana; Jovanni Masini; Juarez Antunes; Júlio Campos; Júlio
Costamilan; Jutahy Magalhães; Koyu Iha; Lael Varella; Lavoisier Maia; Leite Chaves; Lélio Souza; Leopoldo Bessone;
Leopoldo Peres; Leur Lomanto; Levy Dias; Lezio Sathler; Lídice da Mata; Louremberg Nunes Rocha; Lourival Baptista;
Luís Roberto Ponte; Luiz Alberto Rodrigues; Luiz Freire; Luiz Gushiken; Luiz Inácio Lula da Silva; Luiz Salomão; Luiz Soyer;
Luiz Viana; Luiz Viana Neto; Lysâneas Maciel; Maguito Vilela; Manoel Castro; Manoel Moreira; Manoel Ribeiro; Mansueto
de Lavor; Manuel Viana; Marcelo Cordeiro; Márcia Kubitschek; Márcio Braga; Márcio Lacerda; Marco Maciel; Marcos Lima;
Marcos Perez Queiroz; Maria de Lourdes Abadia; Maria Lúcia; Mário Assad; Mário Bouchardet; Mário Covas; Mário de
Oliveira; Mário Maia; Marluce Pinto; Matheus Jensen; Mattos Leão; Maurício Campos; Maurício Corrêa; Maurício Fruet;
Maurício Nasser; Maurício Pádua; Maurílio Ferreira Lima; Mauro Benevides; Mauro Borges; Mauro Campos; Mauro Miranda;
Mauro Sampaio; Max Rosenmann; Meira Filho; Mello Reis; Melo Freire; Mendes Botelho; Mendes Canale; Mendes Ribeiro;
Messias Góis; Messias Soares; Michel Temer; Milton Barbosa; Milton Lima; Milton Reis; Miraldo Gomes; Miro Teixeira;
Moema São Thiago; Moysés Pimentel; Mozarildo Cavalcanti; Mussa Demes; Myrian Portella; Nabor Júnior; Naphtali Alves
de Souza; Narciso Mendes; Nelson Aguiar; Nelson Carneiro; Nelson Jobim; Nelson Sabra; Nelson Seixas; Nelson Wedekin;
Nelton Friedrich; Nestor Duarte; Ney Maranhão; Nilson Sguarezi; Nilson Gibson; Nion Albernaz; Noel de Carvalho; Nyder
Barbosa; Octávio Elísio; Odacir Soares; Olívio Dutra; Onofre Corrêa; Orlando Bezerra; Oscar Corrêa; Osmar Leitão; Osmir
Lima; Osmundo Rebouças; Osvaldo Bender; Sim Osvaldo Coelho; Osvaldo Macedo; Osvaldo Sobrinho; Oswaldo Trevisan;
Ottomar Pinto; Paes de Andrade; Paulo Delgado; Paulo Macarini; Paulo Mincarone; Paulo Paim; Paulo Pimentel; Paulo
Ramos; Paulo Roberto; Paulo Roberto Cunha; Paulo Silva; Pedro Canedo; Percival Muniz; Pimenta da Veiga; Plínio Arruda
Sampaio; Plínio Martins; Pompeu de Sousa; Rachid Saldanha Derzi; Raimundo Bezerra; Raimundo Lira; Raimundo Rezende;
Raul Belém; Raul Ferraz; Renan Calheiros; Renato Bernardi; Renato Johnsson; Renato Vianna; Ricardo Fiúza; Ricardo
Izar; Rita Camata; Rita Furtado; Roberto Augusto; Roberto Balestra; Roberto Brant; Roberto D’Ávila; Roberto Freire; Roberto
Jefferson; Roberto Rollemberg; Roberto Vital; Robson Marinho; Rodrigues Palma; Ronaldo Aragão; Ronaldo Carvalho;
Ronaldo Cezar Coelho; Ronan Tito; Ronaro Corrêa; Rosa Prata; Rose de Freitas; Rospide Netto; Rubem Branquinho;
Rubem Medina; Ruben Figueiró; Ruberval Pillotto; Ruy Bacelar; Ruy Nedel; Sadie Hauache; Salatiel Carvalho; Samir
Achôa; Sandra Cavalcanti Santinho Furtado; Saulo Queiroz; Sérgio Brito; Sérgio Spada; Sérgio Werneck; Severo Gomes;
Sigmaringa Seixas; Sílvio Abreu; Simão Sessim; Siqueira Campos; Sólon Borges dos Reis; Sotero Cunha; Stélio Dias;
Tadeu França; Telmo Kirst; Teotônio Vilela Filho; Theodoro Mendes; Tito Costa; Ulbiratan Aguiar; Ulbiratan Spinelli; Uldurico
Pinto; Valmir Campelo; Valter Pereira; Vasco Alves; Vicente Bogo; Victor Faccioni; Victor Trovão; Vieira da Silva; Vilson
Souza; Vingt Rosado; Virgildásio de Senna; Virgílio Galassi; Virgílio Guimarães; Vitor Buaiz; Vivaldo Barbosa; Vladimir
Palmeira; Wagner Lago; Waldyr Pugliesi; Walmor de Luca; Wilma Maia; Wilson Martins; e Ziza Valadares.
7 Votaram NÃO os Constituintes: Ângelo Magalhães (PFL-BA); Assis Canuto (PFL-RO); Francisco Diógenes (PDS-AC) e
Irapuan Costa Júnior (PMDB-GO).
8 As ABSTENSÕES foram dos Constituintes: Gilson Machado (PFL-PE); João Menezes (PFL-BA); Jorge Bornhausen
(PFL-SC); Lúcio Alcântara (PFL-CE); Paes Landim (PFL-PI); Paulo Zarzur (PMDB-SP); Roberto Campos (PDS-MT); Victor
Fontana (PFL-SC) e Waldeck Ornélas (PFL-BA).
“Art. 234.........................................
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação
dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são destinadas à sua posse permanente,
cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas dos solos, fluviais e lacustres nelas
existentes.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objetivo a
ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas
naturais do solo, fluviais e lacustres neles existentes, ressalvado relevante interesse público da
União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e extinção direito a
indenização ou ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto as benfeitorias derivadas
da ocupação de boa-fé.
Sala das Sessões, de agosto de 1988.
9 Votaram “não” os constituintes Denisar Arneiro (PMDB-RJ), Ricardo Izar (PFL-SP) e Victor Fontana (PFL-SC)
10 Se abstiveram os constituintes Arnaldo Martins (PMDB-RO) e Manoel Castro (?).
SIM – 437
NÃO – 8 11
ABSTENÇÃO – 8 12
TOTAL – 453
A reunião foi aprovada.
VOTARAM OS SRS. CONSTITUINTES:
Presidente Ulysses Guimarães –Abstenção
(...)
[pp. 352-355]
11 Votaram contra o acordo os constituintes Arnaldo Martins (PMDB-RO), Eraldo Trindade (PFL-AP), Etevaldo Nogueira
(PFL-CE), França Teixeira (PMDB-BA), José Mendonça Bezerra (PFL-PE), Lavoisier Maia (PDS-
RN), Rachid Saldanha Derzi (PMDB-MS), Ricardo Fiúza (PFL-PE).
12 Álvaro Pacheco (?), Gilson Machado (PFL-PE), Irapuan Costa Júnior (GO), Jesus Tajra (PFL-PI), Luís Eduardo (PFL-BA),
Moysés Pimentel (PMDB-CE), Waldeck Ornélas (PFL-BA).
(...)
Art. 20. São bens da União:
(...)
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
(...)
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
XIV - populações indígenas;
(...)
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
(...)
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e
a pesquisa e lavra de riquezas minerais;
(...)
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
XI - a disputa sobre direitos indígenas.
(...)
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
(...)
V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
(...)
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia
hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e
pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais a que
se refere o “caput” deste artigo somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão
da União, no interesse nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que
tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas
quando essas atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas. (Redação dada
pela Emenda Constitucional n.º 6, de 1995)
(...)
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar
formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.
CAPÍTULO VIII
DOS ÍNDIOS
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural,
segundo seus usos, costumes e tradições.
§ 2.º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente,
cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3.º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização
do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei.
§ 4.º - As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre
elas, imprescritíveis.
§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, “ad referendum” do
Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no
interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer
hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.
§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto
a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas
naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da
União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da
ocupação de boa fé.
§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar
em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do
processo.
(...)
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