2018 Manual de Semantica Márcia Cançado
2018 Manual de Semantica Márcia Cançado
2018 Manual de Semantica Márcia Cançado
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Os temas tratados neste Manual
Semântica estão organizados em
três grandes vertentes teóricas
adotadas na literatura sobre a
abordagem referencial, abordagem
mentalista e a abordagem
Manual de·' Semântica
pragmática.
noções básicas e exercícios
O capítulo ''A investigação do
significado apresenta uma
introdução: área específica da
Semântica
Copyright © 2012 da Autora
Bibliografia.
ISBN 978-85-7244-722-5
12-04547 CDD-401.43
Índice para catálogo sistemático:
I. Semântica : Linguagem e comunicação : Lingufstica 401.43
2015
EDITORA CoNTEXTO
A investigação linguística
Semântica é o estudo do significado das línguas. Este livro é uma introdução
à teoria e à prática da Semântica na Linguística moderna. Apesar de não ser uma
introdução a qualquer teoria específica, este livro apoia-se na premissa básica de que
a habilidade linguística do ser humano é baseada em um conhecimento específico
que o falante tem sobre a língua e a linguagem. É esse conhecimento que o linguista
busca investigar.
Ao conhecimento da língua, chamaremos de gramática, entendendo-se por
gramática o sistema de regras e/ou princípios que governam o uso dos signos da
língua. A Linguística assume que o falante de qualquer língua possui diferentes tipos
de conhecimento em sua gramática: o vocabulário adquirido, como pronunciar as
palavras, como construir as palavras, como construir as sentenças', e como entender o
significado das palavras e das sentenças. Refletindo essa divisão, a descrição linguística
tem diferentes níveis de análise: o estudo do Léxico, que investiga o conjunto de palavras
de uma língua e sua possível sistematização; o estudo da Fonologia, que focaliza os
sons de uma língua e de como esses sons se combinam para formar as palavras; o
estudo da Morfologia, que investiga o processo de construções das palavras; o estudo
da Sintaxe, que investiga como as palavras podem ser combinadas em sentenças; e o
estudo da Semântica, que focaliza o significado das palavras e das sentenças.
Ao conhecimento da linguagem, associaremos o uso da língua, ou seja,
o emprego da gramática dessa língua nas diferentes situações de fala. A área da
Linguística que descreve a linguagem denomina-se Pragmática. A Pragmática
estuda a maneira pela qual a gramática, como um todo, pode ser usada em situações
comunicativas concretas. Neste livro, veremos noções que ora estão no campo da
língua, ora no campo da linguagem; tentarei, na medida do possível, situa-las em
seus domínios de conhecimento.
Semântica e Pragmática 1tros processos cognitivos, além dos processos especificamente
lingufsticos. Parece
Localizemos, primeiramente, o nosso principal objeto de estudo: a m provável que certos aspectos do significado se encontrem fora do
estudo de uma oria semântica. Veja (4):
Semântica. A Semântica, repetindo, é o ramo da Linguística voltado para
a investigação do significado das sentenças. Como assumimos que o
linguista busca descrever o conhecimento linguístico que o falante tem (4) a. Você quer um milhão de dólares sem fazer nada?
de sua língua, assumimos também, mais especificamente, que o b. Não!!! (responde o interlocutor, com uma entonação e
semanticista busca descrever o conhecimento semântico que o falante uma expressão facial que significam: claro que quero!)
tem de sua língua. Por exemplo, esse conhecimento permite que um
falante de português saiba que as duas sentenças a seguir descrevem a Evidentemente não é o sistema linguístico que permite a
mesma situação: interpretação da tença em (4b): o item lexical não levaria a uma
interpretação oposta à que todos
(1) a. O João acredita, até hoje, que a terra é quadrada.
b. O João ainda pensa, atualmente, que a
terra é quadrada.
estudo da Pragmática tem relação com os usos situados da língua e com certos tipos
de efeitos intencionais. Entretanto, o leitor verá, ao longo do livro, que nem sempre de estudo da Física é o fenômeno físico, e a metalinguagem para descrevê-la pode ser
é tão clara essa divisão e que nem sempre conseguimos precisar o que está no terreno a Matemática. Já, por exemplo, o linguista brasileiro usa a própria língua, ou seja, o
da Semântica e o que está no terreno da Pragmática.2 português brasileiro para descrever os fenômenos linguísticos observados. Porém, se
fizermos a distinção entre uso e menção, poderemos estabelecer que o ob jeto de
estudo do linguista é a menção da língua, e a metalinguagem usada é a língua em uso.
Uso, menção, língua-objeto e
Como tal distinção nem sempre é tão nítida, pois estamos estudando a língua usando a
metalinguagem própria língua para descrevê-la, existem teorias que preferem utilizar algum tipo de
formalismo como metalinguagem. Exemplos disso seriam a linguagem da lógica de
A diferença entre uso e menção de uma sentença também ajudará a compreender
predicados, usada em teorias de Semântica Formal, ou a linguagem por estruturas
as noções de Semântica e Pragmática. Para entendermos essa diferença, primeiramente
arbóreas, usada nas teorias sintáticas de cunho gerativista. A adoção de uma
vejamos o que quer dizer a palavra significado. Certamente, o significado em teorias
metalinguagem diferente da própria língua elimina prováveis distúrbios na análise
semânticas não é tão abrangente quanto o uso que se faz na linguagem cotidiana.
Observe as sentenças a seguir: linguística.
ães perseguem gatos não significam a mesma coisa, embora as palavras das duas
sentenças
:ejam as mesmas. Portanto, uma teoria semântica deve não só apreender a natureza
:xata da relação entre o significado de palavras e o significado de sentenças, mas deve
:er capaz de enunciar de que modo essa relação depende da ordem das palavras ou de
mtros aspectos da estrutura gramatical da sentença. Observe que as infinitas expressões
intáticas, altamente complexas ou não, têm associadas a elas significados que nós não
emos nenhum problema para entender, mesmo se nunca tivermos ouvido a expressão
.nteriormente. Por exemplo:
Provavelmente, você nunca ouviu essa sentença antes, mas, ainda assim, você
'ode facilmente entender seu conteúdo. Como isso é possível? A experiência de se
ntender frases nunca escutadas antes parece muito com a experiência de se somar
.úmeros que você nunca somou antes:
Das sentenças anteriores, pode-se dizer que qualquer falante deduz, a partir da verdade da
sentença (lüa), a verdade da sentença (lOb); diz-se, pois, que (lüa) acarreta (lOb). Também se pode
inferir que o sentido da expressão alguma coisa está contido no sentido da palavra carro; diz-se, então,
que carro é hipônimo da expressão alguma coisa. Em relação ao exemplo (11), percebe-se que, para
se afirmar a sentença (a), tem-se que tomar (b) como verdade; tem-se, então, que (11a) pressupõe
(11b). De (12), pode-se dizer que a sentença (a) sugere uma possível interpretação como a de (b).
Estudaremos essas relações de implicação nos capítulos "Implicações" e "Atos de fala e implicaturas
conversacionais", que são propriedades que estão no âmbito da Semântica e também da
Pragmática.
b) As relações de paráfrase e de sinonímia:
b. o garoto chego
u
24 Manual de Semântica
A investigação do significado 25
Diferentes questões estão implicadas nas ambiguidades das sentenças em
Nesse par de sentenças, podemos perceber que a palavra menino pode ser português. Em (16a), por exemplo, o item lexical banco gera duas interpretações
trocada por garoto sem que haja nenhuma interferência do conteúdo informacional possíveis para a sentença: O João pulou do alto de um banco, assento ou O João pulou
da sentença; temos, então, uma relação de sinonímia entre essas palavras. Também as do alto de um banco, prédio. Em (16b), é a organização estrutural da sentença que gera
sentenças anteriores passam a mesma informação, ou seja, se a sentença (a) é verdadeira, a ambiguidade: O motorista com um Fiat trombou no caminhão, ou O motorista
a sentença (b) também é verdadeira; e se (b) é verdadeira, (a) também o é. Diz-se, trombou no caminhão que estava com um Fiat em cima. Não só o léxico e/ou a
então, que (13a) é paráfrase de (13b). Essas relações serão vistas no capítulo "Outras sintaxe geram as ambiguidades das línguas, mas também é comum observar questões
propriedades semânticas".
c) As relações de contradição e de antonímia: (14) a. João está feliz. de escopo, de papéis temáticos, de dêixis, de anáfora, entre outras questões, como
b. João está triste. geradoras desse fenômeno. Veremos isso detalhadamente no capítulo ''Am biguidade
e vagueza".
Em (14), qualquer falante tem a intuição de que as duas sentenças não podem
f) Os papéis temáticos:
ocorrer ao mesmo tempo e, por isso, diz-se que são sentenças contraditórias. O que
leva as sentenças a serem contraditórias são as palavras feliz e triste, que têm sentidos Seguindo a posição de alguns linguistas, como Gruber (1965), Jackendoff
opostos e são, assim, chamadas de antônimos. Também essas noções serão investigadas (1983, 1990) e outros, incluirei, neste livro, esse tipo de relação que atualmente é mais
no capítulo "Outras propriedades semânticas". conhecida na literatura como papéis temáticos (essa noção também é chamada de papéis
participantes, casos semânticos profundos, papéis semânticos ou relações temáticas):
d) As relações de anomalia e de adequação: (17) a. O João matou seu colega.
(15) Ideias verdes incolores dormem furiosamente.
b. A Maria preocupa sua mãe.
c. A Maria recebeu um prêmio.
Uso, aqui, o clássico exemplo de Chomsky (1957) para ilustrar o que
d. O João jogou a bola.
conhecemos como anomalia: uma sentença com um significado totalmente incoerente.
Uma característica das expressões anômalas é a sua inadequação para o uso na maioria
Todas essas sentenças têm uma estrutura semântica comum , um paralelismo
dos contextos. As pessoas parecem ser capazes de julgar se determinadas expressões
semântico. Existe uma ideia recorrente de mudança, de afetação: o colega mudou de
são adequadas ou não para serem proferidas em contextos particulares, ou seja, são
estado de vida, a mãe mudou de estado psicológico, a Maria teve uma mudança em suas
capazes de estabelecer as condições de adequação ao contexto, ou, como também
posses e a bola teve uma mudança de lugar. Essas relações similares que se estabelecem
são conhecidas, as condições de felicidade de um proferimento. Estudaremos mais
entre os itens bucais, mais geralmente entre os verbos das línguas, são conhecidas como
detalhadamente essas propriedades nos capítulos "Outras propriedades semânticas" e
"Atos de fala e implicaturas conversacionais". papéis temáticos. Nos exemplos anteriores, podemos dizer que o elemento em itálico
tem o papel temático de paciente, e definimos paciente como o elemento cuja situação
e) As relações de ambiguidade e de vagueza: mudou com o efeito do processo expresso pela sentença. Como veremos, paciente é
apenas um dos papéis temáticos possíveis; há vários outros que serão estudados no
capítulo "Papéis temáticos".
Uma teoria semântica também pretende explicar as diversas ambiguidades que
existem na língua, ou seja, a ocorrência de sentenças que têm dois ou mais
significados: g) Os protótipos e as metáforas:
(16) a. O João pulou de cima do banco
b. O motorista trombou no caminhão com um Fiat. A noção de protótipos surge com Rosch (1973, 1975), que assume a
incapacidade de conceituarmos os objetos do mundo (mesmo abstratos) de uma
Maneira discreta, isto é, que cada objeto pertença a uma única categogia
específica. Linguistas que trabalham com a idéia de protótipos assumem que não
sabemos
diferenciar, por exemplo, quando uma xícara passa a ser uma tigela: será xícara quando
seu diâmetro for 5 em, 7 em, 1O em... Mas e 15 em? Já será uma tigela? Ou ainda será
uma xícara, mas com características de tigela? Ou será uma tigela com características
de xícara? Portanto, existem certos objetos que estão no limiar da divisão de duas ou
mais categorias; outros são mais prototípicos, ou seja, possuem um maior número de
traços de uma determinada categoria. A proposta da teoria dos protótipos é conceber
os conceitos como estruturados de forma gradual, existindo um membro típico ou
central das categorias e outros menos típicos ou mais periféricos. Veremos a noção
dos protótipos no capítulo "Protótipos e metáforas".
Outro ponto a ser investigado neste manual é a metáfora. As metáforas
são entendidas, geralmente, como uma comparação que envolve identificação de
semelhanças e transferência dessas semelhanças de um conceito para o outro. Como
ilustra o exemplo em (18):
(18) Este problema está sem solução: não consigo achar o fio da meada.
t) Os atos de fala:
28 Manual de Semântica m inglês: Saeed (1997, cap. l), Chierch ia e McConnell-Giner (1990, cap. 1 ), Larson e Sega! (1995, cap. 1), Hurford e
Heas1ey (1983, cap. 1), Cann (1993, cap. 1), Lyons (1977, cap. I) e Kempson (1977, cap. 1 ).
objeto e metalinguagem.
III.. Explique as propriedades básicas da linguagem que teorias semânticas
devem abordar.
Indicações
bibliográficas
m português: Chierchia (2003, cap. I) e Pires de Oliveira (2001, cap. 1
1
PAR
TE I
FENÔMENOS
SEMÂNTICOS
E A ABORDAGEM
REFERENCIAL
Implicações
Implicações ou inferências
A primeira propriedade a ser estudada no nosso manual será a noção de
implicação. A palavra implicação, na linguagem cotidiana, remete a várias noções,
tais como inferências, deduções, acarretamentos, pressuposições, implicaturas etc.,
sem que haja uma distinção entre elas. É comum escutarmos as seguintes frases, "isso
acarreta uma série de problemas" ou "isso implica uma série de problemas" como sendo
semelhantes. Aqui tratarei da noção de implicação de uma maneira mais rigorosa,
seguindo a tradição dos estudos em uma abordagem referencial. Existe uma gradação
no conceito de implicação, indo da noção mais restrita da implicação-conhecida como
acarretamento- à noção mais abrangente da implicação- conhecida como implicatura
conversacional. O acarretamento é uma noção estritamente semântica que se relaciona
somente com o que está contido na sentença, independentemente do uso desta. A
noção de pressuposição 1 relaciona-se com o sentido de expressões lexicais contidas na
sentença, mas também se refere a um conhecimento prévio, extralinguístico, que o
falante e o ouvinte têm em comum; pode-se dizer que a pressuposição é uma noção
semântico-pragmática. A implicatura, conhecida como implicatura conversacional, é
uma noção estritamente pragmática, que depende exclusivamente do conhecimento
extralinguístico que o falante e o ouvinte têm sobre um determinado contexto. Neste
capítulo, apresentarei as duas primeiras noções de implicação, o acarretamento e a
pressuposição, que geralmente são noções tratadas dentro da abordagem referencial.
A implicatura conversacional, que está relacionada ao uso da língua, será vista no
r"n(,.,l,... "A,.,.... rlP f,), P imnlic:: turas conversacionais", em que apresentarei fenômenos
que sã, geralmente tratados dentro de uma abordagem pragmática.
Hiponímia, hiperonímia e
acarretamento rrnpoocaçoeo vv
3) onça-mamífero
4) liquidificador -eletrodoméstico 18) a. A Maria acha que o José já chegou.
5) vegetal -árvore b. O José chegou.
19) a. O Paulo e a Maria ainda são felizes.
11. Estabeleça para as hiponímias acima, os hipônimos e os hiperônimos das cadeias. m.
b. O Paulo é feliz.
Para cada par de sentenças, diga se a sentença (a) acarreta a sentença (b) e justifique
sua resposta usando uma das três definições estudadas. 20) a. Houve um roubo no banco.
1) a. Os estudantes vão à festa. b. O banco foi roubado.
b. Todo estudante vai à festa. O Paulo fumava.
2) a. O João fez todos os exercícios. b.
O João fez alguns exercícios.
3) a. O João sabe que os porcos não têm asas. b.
Os porcos não têm asas.
4) a. O João pensa que os porcos não têm asas. b.
Os porcos não têm asas.
5) a. O Oscar e o José são ricos. b.
O José é rico.
6) a. O Oscar e o José são de meia-idade. b.
O Oscar é de meia-idade.
7) a. Todo mundo saberá a resposta cena. b.
Ninguém saberá a resposta cena.
8) a. O João é solteiro.
b. O João nunca se casou.
9) a. Nós acabamos de comprar um carro.
b. Nós acabamos de comprar alguma coisa.
1 O) a. Seu discurso me confundiu.
b. Seu discurso me confundiu profundamente.
11) a. Todos tiveram uma vida boa por lá. b.
Alguém teve uma vida boa por lá.
12) a. Os rapazes correram para casa.
b. Os rapazes foram para casa.
13) a. É difícil de se caçar elefantes.
b. Elefantes são difíceis de se caçar.
14) a. A Maria e o João são gêmeos.
b. O João e a Maria têm a mesma fisionomia.
15) a. Que a Maria tenha conseguido vencer não abalou o João. b.
A Maria venceu.
16) a. Não foi a Maria que chegou tarde. b.
Alguém chegou tarde.
17) a. O Paulo parou de fumar. b.
21) a. Que a Maria tenha fugido não surpreendeu nas chamadas pressuposições lógicas ou semânticas.7 Entretanto, proponho que as
seu namorado. b. A Maria fugiu. pressuposições também tenham algumas características pragmáticas e, por isso, vou
22) a. Não foi o menino que caiu. assumi-las como sendo uma noção semântico-pragmática. Afirmo isso por concordar
b. Alguém caiu. com Ilari e Geraldi (1987: 76), quando afirmam que
23) a. A Maria acredita
[...] em algum sentido as pressuposições não fazem parte do conteúdo
que as aves voam. b.
assertado [ou seja, característica pragmática]; entretanto, é preciso
As aves voam.
salientar que no processo pelo qual somos levados a compreender um
24) a. O presidente do Brasil
conteúdo pressuposto, a estrutura linguística nos oferece todos os
anda muito gordo. b. Existe
elementos que nos permitem derivá-lo [ou seja, característica semântica].
um presidente do Brasil.
25) a. O Paulo continua a falar dos outros. Portanto, se pensarmos em um contínuo para as implicações, a pressuposição
b. O Paulo falava dos outros. estará localizada no meio, como uma relação semântico-pragmática, diferentemente
dos acarretamentos, em que são inferidas expressões baseando-se exclusivamente no
sentido literal de outras, ou seja, uma relação estritamente semântica, diferentemente
Pressuposição das implicaturas conversacionais, que são noções estritamente pragmáticas.
Frege (1892) observou que existe um tipo de conteúdo em certas sentenças que
Para tratar da noção de pressuposição, seguirei a linha mais não é afetado, quando essas sentenças são negadas, ou são colocadas em uma forma
tradicional da abordagem referencial, focalizando a atenção somente interrogativa, ou mesmo como uma condicional antecedendo outra sentença. Por exemplo:
em (15), ele e seu interlocutor têm que compartilhar e assumir como verdade, ou
(13) a. O João conseguiu abrir a porta. seja, tomar como verdade, uma informação anterior à sentença proferida. Se for
a'. O João não conseguiu abrir a porta. verdade que
a". O João conseguiu abrir a porta? o João parou de fazer caminhadas, ou que o João não parou de fazer caminhadas, ou
para
a"'. Se o João conseguiu abrir a porta, ele deve estar
aliviado. (14) O João tentou abrir a porta. que eu faça a pergunta: "O João parou de fazer caminhadas?" ou ainda que eu
coloque uma condição antecedente como: "se o João parou de fazer
caminhadas...", temos que tomar como uma verdade anterior que o João tinha
Nas sentenças em (13), o fato de o João tentar abrir a porta permanece o hábito de fazer caminhadas. E, se existe uma informação extralinguística
inalterado. Podemos, então, afirmar que as orações afirmativa, negativa, interrogativa e
envolvida para que tais sentenças sejam proferidas, uma informação anterior ao
condicional com o verbo conseguir compartilham um tipo específico de conteúdo. A esse
próprio proferimento das sentenças em (15), podemos concluir que temos aí um
conteúdo compartilhado pelas sentenças em (13), Frege deu o nome de pressuposição.
tipo de conhecimento pragmático. Entretanto, essa suposição só é derivada a
Portanto, podemos dizer que as sentenças em (13) pressupõem a sentença em (14).
Vejamos outro exemplo: partir da estrutura linguística da própria sentença; são determinadas construções,
expressões linguísticas que desencadeiam essa pressuposição. No caso em (13), por
exemplo, é somente a partir do verbo conseguir que podemos inferir que alguém
(15) a. O João parou de fazer caminhadas.
tentou fazer algo. No caso em (15), é somente a partir da expressão arou de... que
a'. O João não parou de fazer caminhadas.
podemos inferir que João tinha o hábito de fazer... Por isso, escolho
a". Se o João parou de fazer caminhadas, ele deve ter engordado. ratar a noção de pressuposição como sendo semântico-
a'". O João parou de fazer caminhadas? pragmática.
(16) O João tinha o hábito de fazer caminhadas. Vejamos as diferenças existentes entre acarretamento e pressuposição,
mesmo endo essas duas noções consideradas, de uma maneira mais ampla, como
implicações
Podemos afirmar que existe um conteúdo que é compartilhado por todas as
sentenças em (15): o João tinha o hábito de fazer caminhadas. Ou seja, as sentenças
em (15) pressupõem a sentença em (16). Para que alguém diga qualquer das sentenças
lmptrcaço., 07
(ou, tam bém, inferências). Primeiramente, podemos observar que acarretamento é uma
relação entre duas sentenças, de tal modo que a verdade da segunda decorre da verdade
da primeira; é exclusivamente a partir da sentença proferida que podemos inferir
alguma verdade, envolvendo assim o conhecimento estritamente semântico. Já a
pressuposição é um conhecimento compartilhado por falante/ouvinte, prévio à sentença
proferida, ainda que seja desencadeado a partir desta; envolve um tipo de
conhecimento semântico, mas também exige um conhecimento pragmático. Outro
traço distintivo entre a pressuposição e o acarretamento é que, apesar de as duas noções
serem implicações, a primeira envolve não somente uma implicação, mas uma família
de implicações. Em termos sintáticos, chamaremos de família de uma determinada
sentença as quatro formas dessa sentença: a declaração afirmativa, a negação dessa
afirmativa, a interrogação e a condição antecedente. Só ocorrerá a relação de
pressuposição se rodas as quatro formas de uma determinada sentença (a), ou seja, se a
família de (a) tomar uma determinada sentença (b) como verdade. Se uma das sentenças
da família de (a) não tomar como verdade a sentença (b), não existirá a relação de
press uposição entre as sentenças (a) e (b).8 Em termos semânticos/pragmáticos, a
família representa tipos de atitudes expressas em relação à declaração afirmativa.
Vejamos, pois, como a noção de pressuposição é definida:
(17) A sentença (a) pressupõe a sentença (b) se, e somente se, a sentença (a),
assim como tam bém os ou tros membros da família da sentença (a) tomarem
a sentença (b) como verdade.
40 Manual de Semântica
Se eu digo: "Não foi a Maria que tirou nota boa em Semântica", eu estou de acarretamento:
tomando como verdade que alguém tirou nota boa em Semântica; se eu digo: "Foi
(24) a. Não foi a Maria que tirou nota boa em Semântica.
a Maria que tirou nota boa em Semântica", eu estou tomando como verdade que
h. Alguém tirou nota boa em Semântica.
alguém tirou nota boa em Semântica; se eu pergunto: "Foi a Maria que tirou nota
boa em Semântica?", eu estou tomando como verdade que alguém tirou nota boa
Temos que a sentença (24a) não acarreta a sentença (24b) porque a negação d1a1
em Semântica; finalmente, quando eu digo: "Se foi a Maria que tirou nota boa em
Semântica...", eu tomo como verdade que alguém tirou nota boa em Semântica. sentença (h) não é contraditória à sentença (a). Por exemplo, pode existir uma situação
Portanto, a sentença (21a) pressupõe a sentença (21b) porque a família da sentença tal em que um professor entre na sala e diga: "Não foi a Maria que tirou nota boa
12
(a) toma a sentença (b) como verdade. em Semântica; em realidade, ninguém tirou nota boa em Semântica, rodos tiraram
Voltando à comparação entre as duas implicações, o acarretamento e a :rrônea posição de se associar as duas noções. Vejamos essas ideias mais claramente,
pressuposição, temos que o acarretamento não é uma condição necessária para a om os exemplos a seguir.
pressuposição; mesmo porque, como se define o acarretamento, não é possível que Sentenças podem apresentar a relação de pressuposição e, também de
todas as sentenças da família (a) sejam acarretamentos umas das outras (por exemplo, acarretamento. Repitamos (21 a) em (22a)
a interrogativa ou a condição não podem ser verdades inferidas, só podem sugerir
alguma
:oisa). Portanto, existir a relação de acarretamento não é uma condição
necessária
Jara que exista a pressuposição. Contudo, pode acontecer que o acarretamento esteja
)resente na mesma sentença em que ocorra uma pressuposição, o que às vezes gera a
nota ruim''. É uma situação perfeitamente possível, e não contraditória. Apesar de,
em um primeiro momento, alguns estranharem essa argumentação, eu lembro que o
acarretamento é estritamente aquilo que está contido na sentença, e a sentença (24a)
está apenas expressando que não foi a Maria, mas não está expressando que foi alguém
que tirou nota boa em Semântica. Entretanto, a sentença (24a) pressupõe a sentença
(24h), como já foi visto. Essa relação de pressuposição é que leva muitos a acreditar
que também existe uma relação de acarretamento. Se você ainda não se convenceu,
lembre-se do que foi realçado anteriormente sobre a dificuldade de separar o nosso
conhecimento do mundo do nosso conhecimento estritamente semântico. Certamente o
falante nunca é ingênuo ao escolher certas expressões e, na verdade, quando
.....
implicações 43
Manual de Semântica
s4-
Manual de
4
Semântica
Implicações
45
desencadeadores para podermos estabelecer se existe a relação de
pressuposição. 15) a. O João acha que a Maria já
O relevante é sabermos aplicar a definição para conseguirmos estabelecer ou não saiu. b. A Maria saiu.
a pressuposição entre as sentenças.
De posse, pois, das informações anteriores, estabeleça a relação de 16) a. O João lamenta que a Maria o tenha
nos pressuposição exercícios propostos a seguir.
deixado. b. A Maria deixou João.
17) a. Foi o José que deixou a porta aberta.
Exercícios 5) a. Se o Paulo esqueceu de fazer o dever, ele deve estar em
apuros. b. O Paulo pretendia fazer o dever.
6) a. O João certificou-se de que a Maria tinha
I. Especifique as relações estabelecidas (acarretamento e/ou pressuposição) entre
saído. b. A Maria tinha saído.
as sentenças (a) e (b), justificando a sua resposta de acordo com a definição
7) a. O inventor da penicilina não morreu.
(explicite
a família de (a), no seu exercício): b. Existe alguém que inventou a penicilina.
1) a. O João não adivinhou que o Paulo estava 8) a. O menino foi salvo por um lobo.
aqui. b. O Paulo estava aqui. b. Alguém foi salvo por um
2) a. O João adorou ter conseguido um animal.
emprego. b. O João conseguiu um emprego. 9) a. O rei da França é
3) a. Sandra, você parou de vender calvo. b. Existe um rei da
perfumes? França.
b. A Sandra vendia 1O) a. Não foi o D. João que declarou a
perfumes. independência. b. Alguém declarou a
4) a. Não foi o José que roubou a independência.
loja. b. Alguém roubou a loja. 11) a. O João é solteiro.
b. O João não é casado. b. Alguém deixou a porta aberta.
12) a. Não foi a Maria que perdeu o 18) a. O Pedro assumiu que havia trancado o
trem. b. Alguém perdeu o trem. cofre. b. O Pedro havia trancado o cofre.
13) a. Que o João tenha fugido não aborreceu a 19) a. O inventor do saca-rolhas é um desconhecido.
Maria. b. O João fugiu. b. Existe alguém que inventou o saca-rolhas.
14) a. O Paulo e o José ainda são 20) a. A Maria reconheceu seu
jovens. b. O José é jovem.
erro. b. A Maria cometeu um
erro.
21) a. Alguns dos alunos não vão se formar.
b. Nem todo aluno vai se formar.
22) a. O Paulo e o José são
poderosos. b. O Paulo é
poderoso.
23) a. A Linda admitiu a
culpa. b. A Linda era
culpada.
24) a. Eu já falava inglês, francês e grego quando você aprendeu a falar
inglês.
b. Você aprendeu a falar inglês.
25) a. O Pelé, que foi um grande jogador de futebol, fez mais de mil
gols. b. O Pelé foi um grande jogador de futebol.
n. Diga, das afirmações após o texto a seguir, se são (ou não) acarretamentos
e/ou
pressuposições, justificando as suas respostas pelas definições dessas noções:
15
Ex-chacrete
desmente
Notas
1
Estou me referindo aqui apenas à noção de pressuposição l ógica ou semântica; na literatura pragmática encontram
se outras noções de pressuposição das quais não tratarei neste
livro.
2 A notação [+...] e [-...] é usada para indicar que aquela propriedade é existente ou não no item lexical. Por
exemplo, quando indico que cachorro: [+animal] , estou me referindo ao fato de que a palavra cachorro contém a
propriedade de ser an imal; poderia afirmar, também, que cachorro: [-humano], pois a propriedade de ser
humano não está presente no item lexical cachorro.
3 A diferença entre (3) e (5) é gerada pela natureza relaciona! do adjetivo alto. Um objeto é de madeira ou não é.
Entretanto, a noção de alto é relativa àquilo que o adjetivo está se referindo. Os jogadores de basquete são altos,
de uma maneira geral, se os compararmos a outros indivíduos. Mas, quando nos referimos a jogadores de
basquete,
!,SOm é ser alto em geral, mas não é alto para um jogador de basquete; a média de altura de jogadores de basquete
é de 1 ,90m -logo, um jogador de basquete de !,SOm não é um jogador de basquete alto. O que acontece com o
exemplo em (5) é que o adjetivo alto, usado em (a), está se referindo aos indivíduos em ge ral e, em (b), está se
referindo aos jogadores de basquete. Por isso, o conteúdo de (5b) não está contido, necessariamente, em (5a).
• Veja que podemos usar uma ou outra definição, pois todas têm o mesmo sentido. O que veremos é que,
metodologicamente, para estabelecer os acarretamentos, às vezes é mais fácil empregar determinada definição.
' Duas sentenças são contraditórias quando elas estiverem descrevendo situações que são impossíveis de ocorrer
simultaneamente no mundo.
6 Os exempl os e os exerdcios apresentados neste capítulo, sobre acarretamentos e pressuposições, são tirados
ou adaptados de Cançado ( 1999) , lia ri e Geraldi ( 19S7) ou traduzidos e adaptados de Chierchia e McConneii-
Ginet (1990), Hurford e Heasley (19S3) e Saeed (1997).
7
A pressuposição é tratada pela literatura sob diferentes perspectivas. Existem a utores que a concebem dentro da
abordagem referencial, como está sendo aqu i tratada (Chierchia e McConneii-Ginet, 1990; Chierchia,
2003; Lyons, 1977; Kempson, 1977; entre outros); outros que as dividem em pressuposições semânti cas e
pressuposições pragmáticas (Leech, 1 9S 1); e outros que as concebem somente como relações pragmáticas
(Stalnaker, 1974; Lewis,
1 979; e Sperber e Wilson,
1995).
8
É bom realçar que os termos tomar como verdade prt!ssupor, na linguagem cotidiana, são usados no mesmo sentido
Para falar aquilo, Maria tomou como v rdad lpressupôs qusua amiga conh cia o hom m. Na concepção semântica
da pressuposição, essas duas noções são distintas, sendo a primeira uma condição necessária para a segunda. Ou
seja, para que haja a press uposição, é necessásio que todas as quatro formas da sentença - afirmativa,
negativa, interrogativa e condici o nal - tomem como verdade um determinado conteúdo. Sigo, aqui, a definição
de Chierchia e McConneii-Ginet (1990). Muitos a utores assumem que é necessário somente que as formas
afirmativa e negativa da sentença (a) tomem (b) co mo verdade.
9 Por razões óbvi as, a relação de pressuposição pode ser estabelecida a partir de qualquer uma das quatro formas
(3) a. A Maria não se irrita quando a chamam de menina, mas não suporta
\ (5) A ,entença (a) é <inônimo de conteúdo da ,entença (b), quando (a)
'"aceita.< oomo <inônima< (.dowd o nome de <inonlmia, me<mo pa<a .emença>. acarretar (b) e (b) acarretar (a).
seguindo Chierchia e McConnell-Ginet, 1990): Uma sinonímia de conteúdo requer somente que as sentenças (a) e (b) sejam
(4) a. Aquelas mulheres do canto estão verdadeiras, exatamente nas mesmas circunstâncias.
Entretanto, assim como para a sinonímia entre palavras, existe uma outra
chamando. b. Aquelas senhoras do
pet<pectiva em que o< falanteS julgam que a< ,entença> em (4) têm diferente< <ignificados e
canto estão chamando. c. Aquelas
que, portantO, n>o <ão totalmente <inônima<. &colhendo uma e não a our<a ,entença,
damas do canto estão chamando.
o< falanto< podem e<W pa<<ando ,Jguma infotmação importante robre atitude< em
Imaginemo< que o gerente de um <e<uu<ante tenha dito a <entença (4a) relação à ,;,nação e <obre o< envolvido< nela. &<a< diferença< ,ão ttodicion.lmente
pa<a um ga<çom.que não a eocutou bem, e que pergunu ao ,eu oolega o que foi conhecidas como conotação. Imaginemos agora que o colega tenha escolhido a
que o gerente lhe sentença (4c), pa<a «referi< à> mulh<'<' da me<a do canto; por acaro, uma dela<
di<re· O oolega lhe n,;pondeo "Ele d;,e que...". A e.colha entte qualqu« da< e.cuu e n>o
our<a< dua< gom do emprego da p.lavra dama;. Ela fat uma reclamação ao geren<e e o garçom
,enrença> não fatia dife.ença. Acredito que, na <ituação pcopo<ta, n>o há pode« enoonttar em apum<. Ne"e ca<O, vemo< que a< ,entença> em (4) n>o ,,o
diferença em tot.lmen<e <inônima< e a p.lavta dama; teve uma conotação diferen<e para a cliente.
« emprega< uma da< u" ,entença< anredor<> e que n< falante< do pottugnês Vejamo< ouuo< exemplo< em que« nou e"a diferença de pwpectiva. As
bra<ildro concordarão que ela< têm o me<mo conteúdo ou « equiv.lem .entença> ativa< e pa<<iva<, em ger.l, <ão oon<idetoda< como exemplo< de ,entença>
,emanticameme. A noção de <inonlmia envolvida aqui é o que
Chierchia e McConnell-Ginet (1990) chamam de sinonímia de conteúdo e sinônimas:
que pode ser definida como: a. Todo mundo nesta sala fala duas línguas.
Passemos agora para a noção de sinonímia entre sentenças, também chamada de (6) b. Duas línguas são faladas por todo mundo nesta sala.
aráfrase. A noção de uma sentença ser sinônima ou paráfrase de outra é uma questão
.o complexa quanto a sinonímia entre palavras e expressões. Se o conteúdo explícito (7) a. A polícia procura a Sara.
b. A Sara é procurada pela polícia.
1 o significado informacional é o que interessa, então as sentenças a seguir podem
51
outros propriedades semânticas
Muitos poderiam dizer que (6) e (7) são pares de sentenças sinônimas. Exercícios
1. Diga''"' ,enrenç"' ,eguinte',ão exemplo'de ,inonhni"' de conteúdo. jw;tifique
Entretanto, em (6), por exemplo, não há um consenso se as duas sentenças têm ,ua «'Po'ta pela definição '""dada e faça o' comentádm pertinente'em relação
exatamente os mesmos acarretamentos. É provável que (6a) tenha duas interpretações:
existem duas línguas e todos falam essas duas; e, em outra interpretação, cada um ao uso desses exemplos na língua:
fala duas línguas diferentes. E (6b), provavelmente, acarreta somente a primeira 1) a. A Maria não está viva.
versão: existem duas línguas que todos falam. Assim, não poderíamos analisar as duas b. A Maria está morta.
sentenças como exemplo de acarretamento mútuo, que é a condição para que haja 2) a. O João é casado.
sinonímia entre sentenças, pois (6a) contém mais informações que (6b). Além disso, b. O João não é solteiro.
ainda podemos levar em conta que a escolha do tópico da sentença também altera a 3) a. O Carlos é o pai do André.
informação passada; a escolha de perspectiva por um falante nunca é ingênua e sem b. O André é o filho do Carlos.
4) a. O único p.hda Amédca que o pottucomo lingua é uma república.
tem
significação. Existe a opção de se colocar em evidência alguma coisa, de se esconder b. O único país que fala português na América é uma república.
alguma coisa etc. Em (7), apesar de podermos afirmar que existe um acarretamento
mútuo entre (a) e (b), mesmo assim parece que temos uma interpretação preferencial 5) a. Aquela pessoa é muito esperta.
em que (b) quer dizer que Sara é uma criminosa, enquanto (a) parece sugerir que b. Aquele indivíduo é muito esperto.
Sara 6) a. A Maria falou que o André saiu.
está apenas desaparecida.
Existe, ainda, outra maneira em que sentenças aparentemente sinônimas podem b. A Maria disse que o André saiu.
7) a. Todo' o'uab.lhadot<' d<''" empte'" recebem doi'beneficio,.
ter diferenças de significado: é a questão da entonação e do foco. 1 Por exemplo, nas :orno sendo essa noção básica para o que quer que seja a relação de
sentenças a seguir, a resposta adequada para a pergunta entre parênteses vai depender sinonímia. É o carretamento mútuo que garante a possibilidade de se
da expressão em que o falante coloca o foco: fazerem traduções de uma língua ara outra, ou para se recontarem
histórias, entre outras atividades. Evidentemente, tesmo para traduções ou
(8) a. A MARIA bateu o bolo. (Quem bateu o bolo?) paráfrases de textos, algo mais é necessário do que somente sinonímia de
b. A Maria bateu o BOLO. (O que a Maria bateu?) conteúdo, mas garantir o acarretamento mútuo entre as sentenças ssas
operações linguísticas é, sem dúvida, o ponto de partida.
Portanto, novamente chegamos à conclusão de que, mesmo entre sentenças, a
sinonímia perfeita não existe. Isso se procurarmos duas sentenças idênticas em
termos de estrutura sintática, de entonação, de sugestões, de possibilidades
metafóricas e até mesmo de estruturas fonéticas e fonológicas. Se esperarmos encontrar
a sinonímia nessas circunstâncias, então não é com surpresa que poderemos afirmar
que esta não existe.
Por outro lado, algum tipo de sinonímia tem de ser levado em conta. Como
poderíamos fazer traduções ou recontar histórias que nos foram contadas, por
exemplo? Algum tipo de equivalência semântica entre palavras e sentenças tem que
ser tomada
:orno base para se fazer operações linguísticas dessa natureza. A proposta é que
tomemos
) acarretamento mútuo, ou seja, somente o conteúdo semântico das sentenças,
b. Doi'beneficio',ão recebido'pot rodo'o'uab.lhado«' d""a emp«'a· 12) a. A Maria está bonita hoje.
b. Que bonita está a Maria hoje.
8) a. Aquela menina é muito tagarela. b. Aquela
c. Hoje, a Maria está bonita.
menina é muito faladora.
13) a. Eu comi UM cHocolATE.
9) a. A Maria é linda.
b. EU comi um chocolate.
b. A Maria é muito bonita.
1O) a. O Pedro trabalha comigo. b. Eu 14) a. A gente quer a liberdade.
trabalho com o Pedro. b. Nós almejamos a liberdade.
11) a. O João quebrou o vaso. 15) a. Os velhos não são respeitados neste país.
b. O vaso foi quebrado pelo João. b. Os idosos não são respeitados neste país.
)
(15) As sentenças (a) e (b) são contraditórias quando:
(16) a. #O João está
• (a) e (b) não pude<em •e< Ve<dadei..., ao mesmo <empo; 'O (a) mono e vivo.
fu,Venfade, (b) é falsa; e quando (b) for verdade, (a) é falsa;
b. #Essa moça que está calada está falando.
3) grosso/fino
4) preto/branco
É um contentamento descontente;
5) solteiro/casado
6) em cima/embaixo É dor que desatina sem doer;
7 ) avô/neto É um não querer mais que bem querer
8) comprar/vender É solitário andar por entre a gente;
9) grande/pequeno É nunca contentar-se de contente;
1 O ) melhor que/pior que É cuidar que se ganha em se perder;
11 ) cachorro/cadela É querer estar preso por vontade;
12) fácil/difícil É servir a quem vence, o vencedor;
13 ) macho/fêmea É ter com quem nos mata lealdade.
14) urbano/rural Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
15) bom/ruim
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Camões, Lírica)
u. Vo<ifiquo"m pu" do <Ontonçao 'Oguim"'ão com,..ditótio, ('-"uma a mO<ma
referência nos pares) e o que está gerando a contradição: Anomalia
1) a. O Paulo está alegre.
Outros propriedades semânticos 57
b. O Paulo está triste.
2) a. O Paulo não gosta de futebol.
b. O Paulo vai ao campo de futebol. III. Aponte as contradições semânticas do soneto (use a definição): Amor é fogo que
arde sem se ver;
3) a. A Maria é mãe da Rosa.
É ferid:t n"'" .. <.: - -
b. A Rosa não é filha da Maria.
4) a. A mesa daquele canto é toda de madeira.
b. A mesa daquele canto é toda de ferro.
5) a. O quarto 202 é em cima do 102.
b. O quarto 102 é embaixo do 202.
6) a. As pessoas saudáveis moram no campo.
b. As pessoas saudáveis moram na cidade.
7) a. Algumas pessoas saudáveis moram no campo.
b. Algumas pessoas saudáveis moram na cidade.
8) a. A Maria é casada com o ]oão.
b. O ]oão é viúvo.
9) a. O Paulo é o irmão mais velho do Pedro.
b. O Pedro é filho único.
1 O) a. O ]oão gosta muito de dormir.
b. O ]oão acorda cedo todos os dias.
Sentenças boas gramaticalmente, mas claramente
incoerentes ou totalmente sem sentido, que não geram nenhum
tipo de acarretamento, são chamadas, pelos linguistas, de
anomalias:
..· uo "emarnTCa
de uwa S<ntonça. Mosmo no =o om qu< não há «an,fonnaçõ« mo<afód=.
interpretações aos leitores: a sentença (27b), famoso exemplo de Chomsky (1975), é pod<m o''"'"ou«O' tipo' do pmbkmru;. Vojamo' "' <««iÇÓ<' ,docionai'pa<a o
a linha final de um poema de John Hollander. vo<bo
Chomsky (1965) introduziu a noção de restrições selecionais para marcar tais (31) ler: V, lsN 5N (-absuato11
(+humano11(-
sentenças como agramaticais.4 Imaginemos que todo falante de português, ao adquirir o
verbo beber como integrante de seu léxico, também adquire a informação lexical de As informações em (31) poderiam gerar uma sentença como:
que o seu complemento é alguma coisa bebível ou, de uma maneira mais geral, algo
líquido; e que o seu sujeito designa alguma coisa que seja um bebedor ou, mais (32) *0 analfabeto leu o carro.
geralmente, um ente animado. A ideia é que o léxico fornece um mecanismo,
assegurando que beber selecione somente argumentos 5 que satisfaçam essas Pa<a '""ingi<mo'ao máximo"' o<m<ên<ia,; com o v«bo lo, todamo' qu<,
condições. Na informação dada no léxico, beber deve estar marcado com os p<atiaun<nt<, "'"'"'"o S<ntido ospodfi<o do v«bo om 'u"' "'"içó<'
seguintes traços selecionais: ,do<ionai';
ou «i•• (-analfabotol pa<a o mj<ito < (+kgivd] pam o objoto, o qu< não""' nonhuma
vantag<m do ponto d< vi"a do uma toada. Pm ;,o, vamo' toma< as ""dçõos
(28) beber: V, [5N [+animado]] [5 N [+líquido]] ,do<ionai'do um i tom kxi<al ap<n"' oomo um ponto do pa<dda, uma os«atégia
mais g«al qu< o falao« adquire, juntam'""oom ou«"' info<maçõos laic>i,, pa.-a
ovita<
Em (28), entende-se que beber só deve ser inserido nos contextos sentenciais Nesse ponto, esbarramos de novo na divisão do que é do campo da semântica
em que haja um sujeito animado precedente e um objeto líquido posposto. As e do que é do campo da pragmática.
especificações dos SNS (sintagmas nominais)6 são dadas a partir do núcleo do sintagma. Por isso é necessário realçar que as restrições selecionais são somente uma primeira
Veja o exemplo:
você diria que uma sentença como (30) é anômala? Dificilmente alguém acharia a
sentença incoerente, embora ela esteja violando uma das restrições selecionais dos
itens lexicais aí envolvidos. Provavelmente todos interpretaríamos a sentença de um
mesmo modo: atribuiríamos o traço [+animado] ao campo e, de uma maneira
metafórica, interpretaríamos a sentença. A essa altura, fica fácil perceber que também
as anomalias são graduais, ou seja, há sentenças com um grau menor de anomalia,
como (30), facilmente transformáveis em sentenças aceitas semanticamente e
interpretáveis de uma única maneira. Em outras sentenças, altamente anômalas, por
mais que alteremos os traços selecionais, não conseguimos chegar a uma
interpretação única, ou mesmo coerente. Acredito ser o caso das sentenças em (27).
"' <ons«uÇÓ<' do sonton<;a' anômala,;, ou mosmo pa<a oonmul·l"' inton<ionalmont<. do Henrique.
5) O coração pulverizado range sob o peso nervoso.
6) Os olhos de vidro devoram os braços da musa sem braços.
7) O cachorro manso bravo falou mais alto que o homem.
Exercícios
t. Con,idmdo'o'oxomplo'om (27), oxpliqu<, om re<mo'do "'"içõos sok<ionais, 8) Aquela mulher alta é muito pequena.
9) A cadeira bebeu a esperança do menino.
u. pIdoor nqtuifeiqhuá< a"n"o'mSa<lniato. nÇ"' soguint« o qu< é anomalia ou oon«adição. 10) A cortina falou ao telefone.
Jw;tifiqu<
oo Manual de Semântica Pottamo, dependemo, do tonteqo pata entomw o' uhente, de""
demem"'. Ou "ja, a uferêneia Vatia de acoedo tom a •ituação de &la.
Ent'<tanto, o "ntido pcrmanece o
reja útil, h veu, podo n"'1""" a ongano,. Um =plo d= faro mesmo. É f.kil peteebe,que o >entido da, o"'çõe, em (33) não vatia. Se eu digo;
podo'"ilustrndo pela noção do dêi.m.• o, domonto,dêitico,pcrmhom idon "Este gato é muito bonito", o "ntido de..,.""tença >eti o de exi•te um
tifica; p""'"• co;,.,, momont"'
determinado animal, mamlfero, fdino, que tem como qualidade"' bonito, em
o lugare, a Parti< da •huação da F.úa, ou "ja, a partit do contexto. Podemo,
qualquer COntexto. O que vai va.iat é o teléunte do gato no mundo. Seguindo
"'ocia. o'domemo, dêitico, de uma manei"' mais getal , ao,
/lati e Getaldi (1987), podemo, entender que o •entido d"' dêitko, é um tetto
ptonom"demonsttativo,, ao, ptonomes p<.<,oai,, '"' tempo, de vetbru o ao,
advétbio, de lugar e de tempo. São dememo, tuj., intetpretaçõ" dependem deex;,, "toteiro pata entonttat ""'""'""· Poe exemplo, a palam eu tem pot "ntido um
toteiro que consi"e em identifitat o &Jante; aqui tem pot remido um toteim que
infi"maçõ., tontextuais, embo,
um eacltcr 'i"emitico pata a intcrptetação des,.,dememm. Vejamo,exemplo, com;,,em identifitat o lugat da &la; e "'im poe
diante. &a poeuliatidade da interputação do,dêitito'permite-no,, de..de ji,
(33) a. Este gato é muito '"'tido
ilum..,. a di,tinção exi<tente entre e .noçõe, estas que >etiio '-'tuda,J.,
ma{, à !
bonito. Teme.
b. Eu adoro chocolate. Veja que a tontextuali,.ção envolvida no ptot'-"o da dêixi, ê bem
c. Aqui é o país da di,inta da envolvida no uso do tonhecimento P"'l;mitico, paea a intetpteração
impunidade. d. Aquele ali, de determinad.,
eu levo. ><ntenç.,. Quando lidamo, tom o tonhoeimemo ptagmitko pata
attibuitmm
•ignificado h >entenças, '-'te va.ia de aeoedo com o contexto e, também,
B.,,.
Temo, em (33) exp'"'õ" que •6 podemo, entender" no, '<metermo,
ao contexto de F.úa. Em (33a), o &Jante tem quo apontat o gato no mundo
di,taneia->e muito do ><ntido "mintico da pt6ptia ><ntença. tetomatm"'
a >entença A pona td aberteax,emplo (5) do capitulo ')\investigação do
pata que o ouvinte entontre a que gato de" teféu; em (33b), o ouvinte tem
que lotal;,.o •ignificado", pata idenrilicatmo,
" vitio, •ignificado, que da adquiu de aeoedo eom o contexto usado,
individuo que &la pata >abcr a quem a palav,"'re tefére; em (33c), o ouvinte totalmento
tem listintos do sentido literal da
sentença.
que >abet onde o &Jante esti •ituado pata identifieat •obre qual pai,de &la; em
(33d), ixiscoEmnotruemtaanDtor,oeosrsi,a.,-pl,orJs.i,.ção não é'··unânime na literatura,
•6 o apontamento leva o ouvinte a identifica, qual é o objeto a"' levado. e muitos auror,.c " c··---
como antecedentes, já os outros itens só em itálico são referencialmente
dependentes dos antecedentes. Dizemos que as expressões são interpretadas
Outras propriedades semânticas anaforicamente, quando sua interpretação é derivada da expressão antecedente.
Existem expressões que podem ser usadas ora como dêiticas (35a), ora como
61 anafóricas (35b). Entretanto, existem algumas que só podem ser interpretadas
anaforicamente (36); não existe maneira de apontá-las no mundo:
e de lugar, mas também a dêixis de discurso e a dêixis social. Segundo Benveniste
(1976), a dêixis é um fenômeno que demonstra a presença do homem na língua, (35) a. Ela já saiu. (dêixis)
colocando em discussão algumas visões que limitam o estudo da significação. É um b. A Maria estava na sala, mas ela já saiu. (anáfora ou
fenômeno que tem como traço a distinção da linguagem humana das linguagens dêixis) (36) a. Maria está orgulhosa de si mesma.
artificiais, tornando-a ágil e apropriada para o uso em situações correntes. Portanto, b. *Si mesma já saiu.
é importante se estudar a dêixis também do ponto de vista pragmático, ampliando
a compreensão de tal fenômeno. 9 Na literatura linguística, usa-se a mesma letra (em geral, as letras i, j, k),
Continuando com a noção de referencialidade, vamos distinguir agora o colocadas abaixo do antecedente e do referente, para indicar a correferência entre
fenômeno da anáfora do fenômeno da dêixis. A anáfora também consiste em as expressões:
identificar objetos, pessoas, momentos, lugares e ações; entretanto, isso se dá por
uma referência a outros objetos, pessoas etc., anteriormente mencionados no (37) a. Tem uma mulher. aí fora. Ela. quer vender livros. I
I
(34) a. Tem uma mulher aí fora. Ela quer vender c. O técnicok insistiu que elek não achava nada de errado no
computador.
livros. b. Avise a Teresa que saí, se ela ligar.
c. O técnico insistiu que ele não achava nada errado no computador. Essas conexões referenciais podem ser mais complexas do que as
apresentadas
As expressões em itálico são entendidas como sendo correferenciais ..... .._ 1'2"7\ ,,..,..;,........ e ,...ln-11nc
PvPrnnlns·
(têm a mesma referência no mundo); os itens sublinhados e itálicos funcionam
62 Manual de Semântica (40) A Ginai pediu para a Maria; que elas i.il saíssem
1
da sala.
(41) O Carlos pescou [alguns peixes]i e o Marcos osi cozinhou.
(42) Se o José vir a Maria, ele a.J desculpará.
(38) a. [Toda mulherl i pensa que elai dará uma educação melhor ao [seu]i I J I
Pnrm rl -, •.,".""- -- -- ' a dêixis do ponto• ·de ·vista' da P,.rag-m-á-t-i-c-a-. -' •.-..Moo. ;nrri rn<. remeto o leitor a liv ros que tratem
de introdução
Ambiguidade e vagueza
Ambiguidade e
vagueza
Será que em (1) remos outros sentidos, além do que parece mais
óbvio, para quebrar? Ou o verbo quebrar tem o mesmo sentido em todas 67
as ocorrências, sendo somente influenciado pelos contextos em que
aparece? Será que existe um sentido geral em que se encaixe a palavra (3) O João adora aquele canto; a Maria também.
quebrarem todos os diferentes contextos mostrados em (1)? Podemos
perceber que, em ( 1 a) e em ( 1 b), os sentidos são bem próximos, talvez A ambiguidade da sentença, em (3), origina-se do faro de a
partir ou estilhaçar, só mudando as funções semânticas que o sujeito de
palavra canto ter dois significados distintos: canto relacionado a música,
cada sentença tem: em (a), o Paulo é o próprio agente da ação; em (b), o
ou canto relacionado a lugar. Veja que, se você entender que a palavra
Paulo é somente a causa. Em (c), já temos um sentido mais abstrato do
canto refere-se à música, as duas sentenças terão que se referir à música.
que seja quebrar, ou seja, temos a ideia de descumprir. Em (d), o verbo
É impossível se ter uma interpretação em que a primeira sentença refira-
quebrar tem o sentido de machucar. Em (e), temos a ideia de pensar muito
se à música e a segunda, ao lugar, ou vice-versa. A sentença (4) não
ou refletir. Em (f), podemos dizer que se recupera o sentido de
seria uma paráfrase de (3):
decepcionar. Finalmente, em (g), podemos pensar que quebrar tem o
sentido de.folir.
O problema colocado anteriormente, em geral, é discutido pelos (4) O João adora aquela música e a Maria adora aquele lugar.
semanticistas em termos de ambiguidade ou vagueza. Vejamos, pois,
como se definem essas noções. Opondo-se a esse comportamento, se tivermos sentenças em que
exista só a vagueza dos termos, os aspectos inespecíficos do sentido serão
Ambiguidade vs. vagueza invisíveis a essa identidade do também. Pode-se comparar isso, por exemplo,
com a palavra beijo, que é uma palavra que pode ser considerada vaga
Seguindo a argumentação de Saeed (1997), podemos dizer que, (beijo na mão, no rosto, na boca), mas não ambígua:
dos exemplos em (1), se cada ocorrência de quebrar tiver um sentido
diferente, então quebrar é ambíguo de sere maneiras. Entretanto, se as (5) O João beijou a Maria; o Paulo também.
sere ocorrências em (1) compartilharem um mesmo sentido mais geral,
então quebrar é simplesmente vago em seus diferentes usos. A ideia gera] É perfeitamente possível que essas sentenças estejam
é que, em exemplos de vagueza, o contexto pode acrescentar descrevendo um faro como: o João beijou a Maria no rosto e o Paulo a
informações que não estão especificadas no sentido; e, em exemplos de beijou na mão. Repare que, quando a sentença é vaga, a interpretação da
ambiguidade,
especificidade da segunda sentença com também não fica restrita à
o contexto especificará qual o sentido a ser selecionado. O problema,
interpretação da mesma especificidade da primeira; diferentemente das
naturalmente, é decidir, para um dado exemplo, quando está envolvida a
sentenças ambíguas. Esse teste parece funcionar bem para distinguir essas
ideia de ambiguidade ou de
noções. A complicação em aplicá-lo é que nem sempre conseguimos, em
vagueza. Muitos testes são propostos para se fazer a distinção entre essas
duas noções. Vejamos, pois, alguns deles. uma mesma sentença, as duas interpretações da ambiguidade, como no
caso de quebrar. Fica difícil imaginar
U3 m primeiro teste, proposto por Kempson (1977), consiste no
uso da palavra
també como uma forma reduzida de sentença, sendo uma maneira de uma mesma sentença em que se possam atribuir os sentidos de falir e de
m decepcionar
se evitar a
repetição da sentença anterior. Tornemos mais claro esse exemplo: b. O João corria todos os dias; a Maria também.
(2)
a. O Carlos adora sorvere; a Maria também. As sentenças em (2) são compreensíveis porque existe uma
convenção estabelecida de identidade entre a primeira sentença e a ao verbo quebrar, ou mesmo uma sentença em que se tenham as duas
sentença inferida a partir da palavra também. Entendemos que, em (2a), interpretações
a Maria adora sorvete e que, em (2b), a Maria corria todos os dias. O reste de estilhaçar e
de ambiguidade de Kempson vale-se dessa identidade: se a sentença de machucar.
antecedente tiver mais de uma interpretação, então a segunda também Outro teste para se distinguir ambiguidade é verificar se, a cada
terá as mesmas interpretações da sua antecedente. Por exemplo, au: lnnPr uma das possíveis interpretações de uma ambiguidade, estará associada uma
n,, c,; rede de sentidos específica. Essa relação semântica específica não pode ser
transferida de um sentido para o outro. Por exemplo, quebrar pode estar
associado a dois sentidos distintos: ao de estilhaçar, como em (la) e (lb), e
ao de descumprir, como em (lc). Vamos chamá-los de quebrar, e de quebrar2
•
Podemos associar a quebrar, várias palavras que façam parte de seu
campo semântico.
Por exemplo, vaso é uma palavra que tem como característica semântica
[ser quebrável]; portanto, vamos assumir que essa palavra faça parte do
campo semântico de quebrar,. Observe que, nas sentenças que se
constroem com quebrar e vaso, podemos substituir uPrhA nAr nlltrt)
68 Manual de Semântica
Tipos de ombiguidade (13) Eu estou indo para o banco, neste exato momento.
Temos, enrão, que a ambiguidade é, ger-almenre, um fenômeno semântico Em (13), temos um exemplo de ambiguidade lexical, ou seja, a dupla
que aparece quando uma simpb p.Uavrn ou um grupo de p.Uavr"' é mociado a interpre tação incide somente sobre o item lexical. Como já vimos, é o item
mais de lexical banco que torna a sentença ambígua. Entretanto, a ambiguidade lexical
um significado. Vejamos alguns exemplos 6:
pode ser gerada por dois tipos de fenômenos distintos: a homonímia e a
polissemia.
(9) Eu estou indo para o banco, neste exato momento.
(1O) Homens e mulheres competentes têm os melhores Homoní
empregos. (li) Todos os alunos comeram seis sanduíches. mia
(12) Eu não posso falar de chocolate.
A homonímia ocorre quando os sentidos da palavra ambígua não são
relacionados. Existem as palavras homógrafas ( 14), com sentidos totalmente
Vemoo que, pa;a cada um dos exemploo, h.i dua, ou mais inrerp<e<açõcr diferentes para a mesma grafia e o mesmo som; e as homófonas, com sentidos
di'fin ra,. Anr"' que eu mo"'""' poosiveis inre;p<e<açõe.s de (9) a (12), renre você totalmente diferentes para o mesmo som de grafias diferentes (15). Vejamos os
m"'mo achá-I.,. Em (9), é a p.Uavra banco que gera"' du., inre<p<eraçõe" ou eu exemplos:
mou indo pa,.uma imtituição financei,., ou '" e;tou ind,p.,ao =ento, como o
banco da P'"fa. Em (1O), (14) a. banco - instituição financeira8
-lugar em que se assenta
podemos enrendcr como homem e mu/hem•ão competente,, ou como ;á a.< b. manga -fruta
mulhcm'ifu
competentes. O que gera essa ambiguidade é a estrutura do sinragma nominal - parte do vestuário
(sN)/ ou (15)
sexta/cesta
'<ja, a nraxe da '<nrença. Em (I!), remos uma ambiguidade ger-ada pela
po,.,ibilidade de d rribuição entre o quanrificado;tod,,e o SN plur.,J uU
«ndukhes. ou remos que
cada aluno com,.uh, ou todo,o;alun,,junto; comn-am o; •ffl. fua é
Entretanto, essa divisão não é muito relevante. Por isso, para os nossos
conhecida como ambiguidade de "'copo. Na úlrima '<nrença, a ambiguidade é
estudos, consideraremos simplesmente a noção de homonímia.
gerada pelas po"íveí,
Podemos ainda observar que as variações de pronúncia apontam para o fato
implicaru,.,que podemos exrr-ai;dela, ou cu dete.ro chocofmc, ou cu adoro de
choco/are.&,
que nem todos os falantes possuem o mesmo grupo de homonímias. Por exemplo,
é a ambiguidade siruacion.,J, que "'á wudada no capírulo "Aros de f.Ua e
em um dialeto caipira, a palavra calma, pronunciada como carma, pode ser
implicaru;., conve"acionais". Sep.,ando somenre me úlrimo ripo de
homônima da palavra carma (castigo). O que não ocorreria em nosso dialeto.
ambiguidade, a siruacion.U,
Tente achar outros exemplos desses na nossa língua.
podemos diu; que, para idenrificar os aca.mamenros de "nrenç"'
ambígu.,,
remos de definir, exaramenre, em qu.,J "nrido a "n<ença e,rá '<ndo
inrcrp<erada.
Como vimoo nos exemploo anreriore,, a ambiguidade pode '<r gerada
po<vMios
'enômenos da língua, ou aré m"'mo de "u uso. TenrMei classificá-los, "guindo, Polissemia
de
1ma maneira geral, as ambiguidades mostradas na literatura semântica.
Existe uma diferença entre homonímia e polissemia
Entretanto, ao
tradicionalmente assumida pela literatura semântica, mais especificamente pela
Lexicologia. Todos os
conhecimentos históricos a respeito dos itens lexicais. Entretanto, você perceberá que
estabelecer se os itens são ou não relacionados não é tão trivial, e, por isso, a polissemia é
72 Manual de
um dos temas mais investigados na literatura linguística. Nem sempre há uma
Semântica
concordância entre os falantes se há a relação entre os itens em questão, ou mesmo a
recuperação histórica desses itens pode ser tão antiga que, na atualidade, mesmo se
dois fenômenos lidam com os vários sentidos para uma mesma palavra houvesse uma relação anterior, seriam palavras sem relação.
fonológica; entretanto, polissemia ocorre quando os possíveis sentidos da palavra A distinção homonímia/polissemia é de extrema relevância na descrição do
ambígua têm alguma relação entre si:9 léxico de uma língua. Palavras polissêmicas serão listadas como tendo uma mesma
entrada lexical, com algumas características diferentes; as palavras homônimas terão
(16) pé: pé de cadeira, pé de mesa, pé de fruta, pé de página duas (ou mais) entradas lexicais. Em muitos casos, a mesma palavra pode ser
etc. (17) rede: rede de deitar, rede elétrica, rede de considerada uma homonímia em relação a determinado sentido e ser polissêmica em
computadores etc. relação a outros. Observemos o item lexical pasta:
74 Manual de Semântica (36) AMaria comprou uma casa por/de/com cem mi l r,. ;. *--
Essas sentenças não têm duas interpretações, apenas não são especificadas.
Muito diferente das sentenças com preposições. O que ocorre é que preposições são
itens lexicais "leves", ou seja, podem ter vários sentidos, que só serão estabelecidos a
partir da composição com seu complemento e, às vezes, até mesmo em composição
com o verbo, 1 2 principalmente a preposição de, que pode se referir à origem (veio
de São Paulo), à qualidade (o burro do Paulo, casa de pedra), ao modo (veio de
cavalo), ao agente (o quadro da Maria), à posse (casa da Maria) etc. Mas repare
que, apesar de serem muitas possibilidades, só podem ser essas; não podem ser
outras, como companhia, afetado etc. Ao contrário do que afirma Kempson (1977), a
interpretação das preposiçÕes não é "intangível e indeterminada", pois as preposições
têm associadas a elas determinados sentidos, que devem estar listados no léxico. Veja
que não podemos colocar as preposições de uma maneira arbitrária; estas só se
encaixam em contextos em que existe uma compatibilidade semântica com alguns
dos sentidos que possam ter:
(35) A Maria veio de São Paulo. *com São Paulo/sobre São Paulo (a
preposição tem que ter o sentido de origem)
(39) O quadro da Maria é muito bonito. Ela é uma excelente pintora.
Portanto, a ambiguidade é gerada pela "levezà' do conteúdo
semântico, normalmente associada às preposições. Note que algumas
O contexto em (39) seleciona um único sentido para a sentença em (23): só
preposições são mais leves que outras; o de é um exemplo prototípico de
leveza de conteúdo, e a preposição podemos interpretar essa sentença como sendo a Maria a agente da ação de pintar
até é um exemplo prototípico de conteúdo mais pleno. Veja outros exemplos com o quadro.
preposições que têm mais de um sentido:
Outro caso: vagueza ou implicatura?
(37) O João fez a prova pela Maria. (40) Todo número é par ou ímpar.
(38) O deputado falou sobre o carro de bombeiros. (41) Você quer café ou leite?
Em (37), a preposição por pode ser interpretada tanto como em Em (40), temos o caso em que o ou só tem uma leitura exclusiva, ou seja, não
intenção da Maria como em lugar da Maria. Em (38), a preposição sobre pode há ambiguidade de interpretação: só pode ser uma coisa ou a outra. Mas, em (41),
ser interpretada tanto como em cima do carro de bombeiros como o assunto de temos uma leitura exclusiva e inclusiva: ou podemos entender que você escolherá
sua fala foi o carro de bombeiros. Assumo, pois, que sentenças envolvendo apenas uma
preposições que levam a duas ou mais interpretações são, em realidade, <W opçõ<', ou podomo• ontond« qu< você oswlhor.i "du».É pecfdtom<nt< poo•lvd
exemplos de ambiguidade lexical. Note que o contexto, nesse caso, não uma resposta como: "Eu quero os dois, café e leite". Para Kempson (1977: 128), esse
funciona como o especificador de algum dado não explícito, como no caso de exemplo trata de uma vagueza, não de ambiguidade. A aurora argumenta que "casos
vagueza, mas funciona como o selecionador do sentido desejado, em que o significado de um item envolve a disjunção de diferentes interpretações, é
um caso de vagueza". Nesse caso específico do ou, não conseguimos aplicar nenhum
como no caso de ambiguidade. Por exemplo: dos testes propostos anteriormente. Mas podemos perceber que o contexto seleciona
esses morfemas rendem a ser, sistematicamente, ambíguos entre um sentido inclusivo e outro
exclusivo.1 4 Portanto, parece-nos que temos um caso único nas línguas do que podemos chamar de
76 Manual de ambiguidade universal.
Semântica
Ambiguidade sintática
contexto. Parece-me, antes, que existem duas interpretações distintas e que uma
delas será escolhida, dependendo da entonação dada à sentença. 13 Repetindo o exemplo (lO) em (42), temos:
Chierchia (2003: 255) assume outra possibilidade para a ocorrência do ou
inclusivo/disjuntivo. Para o autor, o ou pode ser tratado como lexicalmente (42) Homens e mulheres competentes têm os melhores empregos.
ambíguo: ele pode tanto ter uma leitura exclusiva quanto inclusiva. Existe também
uma segunda possibilidade, a mais adotada na literatura, principalmente em Esse é um dos exemplos de ambiguidade gerada pela estrutura, no caso mais específico,
Pragmática, que consiste em associar ao ou apenas uma das leituras possíveis, gerada pela estrutura sintática: a ambiguidade sintática. Nesse tipo de arnbiguidade, não é
deixando a segunda por conta de uma inferência guiada pelo contexto, ou seja, uma necessário interpretar cada palavra individualmente como ambígua, mas se atribui a ambiguidade às
implicatura. Existem evidências empíricas em favor dessa segunda possibilidade. Se distintas estruturas sintáticas que originam as distintas interpretações: uma sequência de palavras
o ou fosse lexicalmente ambíguo, provavelmente encontraríamos uma língua em pode ser analisada (subdividida) em um grupo de palavras (chamado de sintagma) de vários
que essa ambiguidade não existiria. Provavelmente existiria uma língua em que modos. Em (42), o adjetivo competentes está modificando homens e mulheres ou simplesmente
haveria duas palavras para significar o ou exclusivo e o ou inclusivo. Como mulheres? Uma interpretação acarreta que ambos, homens e mulheres que são competentes, têm
acontece para outras palavras ambíguas. Por exemplo, a palavra cão do português os melhores empregos (43a); outra interpretação acarreta que as mulheres que são competentes e
é ambígua entre animal e parte de uma arma de fogo; para o inglês, existem duas os homens têm os melhores empregos (43b):
palavras distintas para esses objetos (dog e cock, respectivamente). Embora se
encontrem, em algumas línguas, mais de um morfema para exprimir a disjunção, (43) a. [Homens e mulheres] competentes têm os melhores empregos. b. [Homens] e
[mulheres comnPtPn•Pl .:.-- 1
L -
Ambiguidade e vagueza
77
veraneio.
(45) O magistrado julga as crianças carentes.
(46) O Cruzeiro ve nceu o São Paulo jogando em
casa. (47) Estou com vontade de comer chocolate de
novo.
Em (45), podemos entender que as crianças carentes são julgadas; ou temos que
o magistrado julga carentes as crianças. Alterando a ordem das palavras, em estruturas
com colchetes, remos:
78 Manual de Semântica
Ambiguidade e vagueza
Em (52), temos as seguintes interpretações: os alunos todos comeram um (63) todas as garotas--+ receberam um livro
total de seis sanduíches ou cada aluno comeu seis sanduíches. A ambiguidade dessa (único) (64) cada garota--+ recebeu um livro
sentença não deame de wn Item bica! amblguo; também não podemo, (diferente)
teotgani= a 'entença em duas estruturações possíveis. A ambiguidade de (52)
decorre de uma estrutura, mas não da estrutura sintática, e, sim, da estrutura Seguindo ainda a observação de Pagani (2009), podemos realçar que, na
semântica da sentença, que gera as duas interpretações: é a maneira de organizar verdade, os quantificadores não são os únicos tipos de expressão linguística que
a relação de distribuição entre as apresentam a am biguidade de escopo. Além deles, há uma série de outros
palavras que expressam uma quantificação que gera a ambiguidade. Ou temos uma operadores que, quando aparecem juntos na mesma sentença, apresentam também
intetptetação coletiva, em que a expt.,ão todo,ot alunot tem tomo akanee, ou C.topo, a ambiguidade de escopo.1 8
1
6 Vejamos um exemplo:
Ambiguidade por
correferência
A ambiguidade por correferência é um tipo de ambiguidade sistemática
que não tem sua origem nem nos itens lexicais, nem na organização sintática da
sentença e nem no escopo da sentença. A ambiguidade é gerada pelo fato de os
pronomes poderem ter diversos antecedentes:
Nesses exemplos, ou a própria Maria fez suas unhas, fez uma escova em seu
cabelo, fotografou alguma coisa e xerocou seu material, sendo a agente de todas essas
ações, ou alguém fez as unhas da Maria, fez uma escova na Maria, fotografou a Maria
(79) O Arlindo tirou os pés da mesa.
Ambiguidades múltiplas
As sentenças nem sempre apresentam ambiguidades de um único tipo. Os
vários
tipos explicitados anteriormente podem aparecer, concomitantemente, em uma
mesma
"n<enÇ•· À5 vem,"in«<p«u<mo' um i<em kxical de um• det«min•da
mmd<',
<e<emo' um• det«min•d• emum",;n,,üca;"in«<P'""mo' "'e m"mo
hem de oum m•nei", ""mo'oum ""um<' ,;ndüca. H,, n<'" wo,
um• runbiguidade
lexical e sintática:
Ambiguidade e vagueza 83
Em (79), se interpretarmos os pés como sendo um suporte da mesa, só poderemos (88) O ladrão roubou a casa do [José com a sua própria arma].
ter o sintagma os pés da mesa como complemento de tirar.
Veja que nem sempre que ocorre a ambiguidade por correferência tem
(82) O Arlindo tirou [os pés da mesa].
se também uma ambiguidade sintática. Alguns livros trazem a ambiguidade por
correferência como sendo sintática. Mas se pensarmos que a ambiguidade sintática é
Ou se interpretarmos os pés como sendo uma parte do corpo humano, eles só a possibilidade de reorganizar a sentença de várias maneiras, veremos que, em (67),
podem ser do Arlindo e, então, só podemos entender a sentença com a divisão do por exemplo, isso não é possível.
sintagma os pés da mesa em dois sintagmas distintos:20
Para concluir, quero esclarecer que, apesar de eu ter classificado os vários tipos
de ambiguidade, não é sempre tão fácil assim fazer essas distinções, como parecem
(83) O Arlindo; tirou [os pés) [da mesa].
sugerir os exemplos. Além disso, a análise dos exemplos mostrados não é exaustiva.
Com certeza, o leitor ainda encontrará outras interpretações possíveis para os
Outro exemplo dessa multiplicidade pode ser representado pelos exemplos de exemplos dados. Para esta introdução, entretanto, o relevante é mostrar alguns tipos
ambiguidade lexical com a preposição de. A cada interpretação a seguir, atribuídas de ambiguidade existentes na língua e despertar a curiosidade do leitor para um estudo
ao exemplo
atribuído (23), repetido aqui como (84), temos um distinto papel temático sendo
a Maria: mais aprofundado sobre o assunto.
Ambiguidade e vagueza 85
16)
O banco está quebrado.
17)
O Paulo e a Maria leram quinze livros. 5 Não confunda o uso do contexto para resolver questões semânticas, como a ambiguidade e a vagueza, como sendo
18) a própria ambiguidade ou a própria vagueza um fenômeno contextual.
A Natália sofria muito com aqueles cálculos. 6 A partir de sugestões de Pagani (2009), fi z algumas correções no exposto a seguir.
19)
O João não ajudou todos os meninos. 7 Relembrando, temos que sintagma nominal (sN) é um grupo de palavras que ocorre, preferencialmente, na
20) seguinte ordem no portugu ês: um determinante, um nome e um qualificado r. Somente o nome, o núcleo, tem a
26) " Repare que, nesse caso, também temos a ambiguidade do item lexical burro: com a ideia da posse relacionada ao
A Sônia recebeu o livro emprestado. t:Ú trata-se do burro a nimal; se temos a ideia de atribuição de qualidade relacionada ao de, temos o burro como
27) um adjetivo pejorativo.
Estando adiantado, o João não saiu àquela hora. 12 Sobre a questão de composição e léxico, ver Pustejovsky (I995).
28)
A Maria tem algumas provas. 13 O contexto, no caso, parece ser a prosódia, segundo conclusões de Lopes (2001).
29) A Maria fez as unhas. 14 Chierchia (2003: 604}, em nota, alude ao faro de que o contraste entreve/ e autdo latim é citado, às vezes, como
um possível caso de desa mbiguização do ou. Mas os faros são bastante controversos.
30) O cachorro do vizinho anda esquisito. l 5 A representação dada por colchetes visa facilitar a leitura dos iniciantes em Linguística. Essas representações poderiam
31) também ser dadas pelas estrutu ras arbóreas, bastante usadas em teorias gerativistas.
Indicações bibliográficas
Em po '""' C,,..,,, (2003, ap. 4), Pi,a <k Oli•cim (200I , ap. 2 'ap. 5) ' n,,; 'G<oldi (1987, ap. 4)
Em ioLJyi&on•sS(o1«97d7(,1c9a9p7. ,7a) pe .K3em1ps0o),nC(1h9i7,.7.;,,c;,ap.M8)c.Omodi.Ciott (I990, ttp. I ), HortO'H l<y (1983, ap. 3),
Notas
' C'"hierchia
"' · ·. n.' """'"•logr,''-"""'"'·,"'"'"""""",.,""""·N..,r,10,;=c""""" (2003).
Ver discussão so bre o assunto em Firrh (1957), Halliday (1966), Lyons (1963), Kempson (1977), Saeed (1997) e
Essa forma é uma adaptação das formas doso, so do, doso too do inglês, propostas por Kempson (1977).
Esse fenômeno, tratado por Rosch (1973, 1975) em sua teoria de protótipos e desenvolvido em termos lingufsticos
por Fillmore (1982) e Lakoff (1987), será visto no capftulo "Protótipos e metáforas" deste manual.