Contos de Imaginação e Mistério

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MATERIAL DE APOIO AO PROFESSOR

CONTOS DE
IMAGINAÇÃO E
MISTÉRIO
Edgar Allan Poe
Ilustrações: Harry Clarke
Tradução: Cássio de Arantes Leite
Tradução e notas do prefácio: Daniel Knight

Temas: Ficção científica, mistério e fantasia.

Recomendação: Alunos do 8o e 9o anos do ensino


fundamental.
224 páginas

O AUTOR
Edgar Allan Poe é um dos principais escritores de língua inglesa. Notabilizou-se
sobretudo por seus contos, sendo considerado o inventor da narrativa curta como
a conhecemos. Foi também poeta – tendo composto o célebre poema “O corvo” –,
crítico literário e jornalista.
Nasceu em Boston, nos Estados Unidos, em 1809. Sua história pessoal foi marca-
da, ainda quando criança, pela morte da mãe e pelo abandono do pai. Foi acolhido
pelo casal Francis e John Allan, que viviam na Virgínia e que se responsabilizaram
por sua educação. Em 1826, frequentou a universidade durante um semestre, mas
passou mais tempo em bares do que na sala de aula. Após a morte da mãe adotiva,
desentendeu-se com o pai adotivo, rompendo totalmente a relação.
Enfrentou severas dificuldades financeiras por alguns anos, até que um prêmio
atribuído em 1833 a um de seus contos rendeu-lhe contatos e amizades nos meios
jornalísticos e literários. Tornou-se editor e colaborador de publicações. Em 1836,
casou-se com a sua prima Virgínia, de treze anos, que faleceu de tuberculose em
1847. Seus problemas com o álcool se agravaram depois disso. Morreu em 1849,
por causas não totalmente conhecidas, mas atribuídas ao alcoolismo.

O ILUSTRADOR
Harry Clarke foi o artista que melhor ilustrou a atmosfera fantástica dos contos
de Edgar Allan Poe. Filho de um artesão, estudou criação em vitrais em Dublin, na
Irlanda, onde nasceu, em 1889. Teve obras expostas no Museu do Louvre, em Paris,
e a partir dos 26 anos passou a trabalhar como ilustrador editorial. Ilustrou obras
de outros grandes escritores, como William Butler Yeats, Hans Christian Andersen,
Charles Perrault e Johann Wolfgang von Goethe.

O TRADUTOR
Com mais de trinta anos de experiência no mercado editorial, Cássio de Arantes
Leite traduziu dezenas de livros do inglês para o português. Entre os de ficção estão
obras de autores como Alice Munro, E. M. Forster, Karen Blixen e Will Self. Em
Contos de imaginação e mistério, sua cuidadosa tradução preserva o ritmo da escri-
ta original, oferecendo ao leitor uma oportunidade de aproximação com o estilo de
Edgar Allan Poe.

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O LIVRO
Contos de imaginação e mistério reúne algumas das mais conhecidas nar-
rativas de Edgar Allan Poe. As dez histórias são exemplos contundentes da
força da literatura do autor, considerado o criador do conto como o conce-
bemos hoje. A partir de situações diversas, que ilustram as diferentes verten-
tes temáticas da literatura de Poe, somos convidados a penetrar no universo
estranho, enigmático e envolvente de umas das mais consagradas obras da
literatura ocidental.
Trata-se, portanto, de um excelente recurso para que o jovem leitor tenha
contato com alguns conteúdos indispensáveis à matéria de literatura: além
de conhecer textos fundadores da cultura moderna, os alunos encontrarão
no livro uma importante fonte para o estudo de aspectos como a construção
do conto, as estratégias para manter o interesse do leitor, a importância da
imaginação e da fantasia. Por isso, a leitura pode ser aproveitada também
para a discussão sobre outros conteúdos, como as relações da literatura com
a psicologia e com outras artes.
Vale destacar, por fim, o valor gráfico do volume, que conta com ilustra-
ções do artista irlandês Harry Clarke. O trabalho foi inicialmente desenvol-
vido para uma edição de Contos de imaginação e mistério lançada na Ingla-
terra, em 1917 – publicação logo reconhecida como uma das joias bibliográ-
ficas da época.

OS CONTOS
Entre as características comuns dos textos incluídos no volume está a ca-
pacidade de sustentar a atenção do leitor, quase sempre mantido sob tensão
por força de uma literatura concentrada em causar
sensações e sentimentos. Para isso, o autor mantém
constantemente a atenção sobre aquilo que interessa:
não há desvios para ações ou personagens secundá-
rios; tudo está sempre relacionado à ação principal.
Nota-se, ainda, a maciça predominância do narra-
dor em primeira pessoa – a exceção está em apenas
uma história. Porém, longe de propor, como seria
próprio a seus contemporâneos, os românticos, via-
gens pela interioridade dessas personagens, as narra-
tivas de Poe externalizam pensamentos e sentimen-
tos, tornando-os vívidos para o leitor.
O primeiro conto, “O poço e o pêndulo”, apresenta
um narrador-protagonista em uma masmorra, à qual
fora condenado pela Inquisição. Ele aos poucos vai
tomando consciência da condição em que se encon-
tra, recordando o julgamento e, em meio à escuridão,
reconhecendo o ambiente do entorno. O título faz
referência à dupla ameaça de morte presente no am-
biente – uma que desce do teto, e a outra, que perma-

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nece embaixo. As tentativas da personagem em vencer os perigos conferem
à narrativa um ritmo tenso e acelerado.
Em “O gato preto”, um homem relata os estranhos acontecimentos que
lhe sucedem, relacionados à aparição de um gato. Desde o início somos aler-
tados para o caráter insólito dos eventos: confessando sua própria incom-
preensão, o narrador afirma não contar com a credulidade do leitor – “Meu
propósito imediato é expor diante do mundo, de modo direto, sucinto e sem
comentários, uma série de simples eventos domésticos”, afirma ele.
A incompreensão das próprias atitudes aparece também no conto se-
guinte, “Um coração denunciador”. Um homem relata o crime que come-
teu, contando ainda como acaba por se denunciar, de modo aparentemente
involuntário. A narração em primeira pessoa torna acentuado o efeito de
estranhamento, já que o fato de o protagonista desconhecer as suas próprias
motivações estimula no leitor o esforço para compreendê-las.
Em “Uma descida no Maelström” exibe-se de modo mais patente a eru-
dição do autor. Interessado por assuntos diversos e pela ciência, Poe propõe,
aqui, uma narrativa fantástica em torno de um fenômeno existente em uma
região da Noruega – a formação de um turbilhão de água a partir da con-
fluência de fortes correntes marítimas. Aproveitando-se do conhecimento
desse fenômeno, propõe uma trama que, no entanto, o extrapola, cativando
o leitor com um relato de fantasia e aventura.
Em “O barril de amontillado”, Montresor conta como se vingou de For-
tunato, amigo que traíra sua confiança e que é seduzido para uma cruel ar-
madilha sem qualquer desconfiança de que esteja sendo manipulado. Aqui,
a narração em primeira pessoa acentua o retrato da crueldade, dada a frieza
com que Montresor relata seus atos.
“A máscara da Morte Vermelha”, único dos contos narrados em terceira pes-
soa, retrata o isolamento de um príncipe e sua corte diante do avanço de uma
terrível epidemia. Trancados em uma construção fortificada, julgam-se imunes
à doença, que em poucos minutos leva à morte o contagiado. Trata-se
provavelmente do mais fantástico conto do conjunto, dado o desenla-
ce algo alegórico, que impede a decifração realista do enredo.
Uma atmosfera mais característica do romantismo surge em
“O encontro marcado”, em que o autor se revela mais próximo de
seus contemporâneos. O enredo sobre os melancólicos amantes,
o ambiente noturno, o predomínio do simbólico sobre o racio-
nal – esses elementos remetem para a literatura gótica, que
surge na Inglaterra no século XVIII e se consolida em
livros como Frankenstein, de Mary Shelley (1820).
Algo dessa atmosfera permanece em “A queda da
Casa de Usher”: o narrador é convidado por um amigo
de infância para passar uma temporada em sua casa. Trata-se de um convite
atendido em nome dos velhos tempos, pois, embora não se vejam há muitos
anos, ele intui, a partir da carta, que pode representar a cura para a melan-
colia do amigo. A convivência entre o par revela, porém, o seu engano – e a
atmosfera crescentemente sombria. A história de Roderick Usher é uma das
mais conhecidas e recriadas narrativas de Poe.
“Os assassinatos da Rue Morgue” é a primeira aparição de um dos mais
conhecidos detetives da literatura ocidental – Monsieur C. Auguste Dupin,

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e continuava a aumentar. Ficou mais alto — mais alto — mais
E mesmo assim os homens continuavam a conversar afavelmen-
sorriam. Era possível que não estivessem escutando? Deus Todo-
eroso! — não, não! Eles
um homem escutavam!
culto e observador,—queelessesuspeitavam! — eles
revela mais arguto do que qualquer
m! — estavam escarnecendo de meu horror! — isso foi o que
policial ou investigador treinado. Nesse conto, ele desvenda o estranho as-
sassinato
i então, e isso de penso
é o que uma mãe e suaMas
agora. filha;qualquer
no seguinte, “O era
coisa mistério de Marie Roget”,
melhor
decifra oQualquer
ue aquela agonia! crime que coisa
Poe recriou ficcionalmente
era mais tolerável do a partir
que de um caso ocorrido
aque-
à época, em Londres.
mbaria! Eu não podia suportar aqueles sorrisos de hipocrisia por
Os dez contos são representativos das principais linhas temáticas da obra
tempo! Senti que tinha
do autor: de gritar
a literatura ou morrer!
policial, da qual é — e então —
considerado outra as narrativas
o criador;
de possessão,
— escutai! mais quealto!
alto! mais demonstram seumais
mais alto! profundo
alto! conhecimento
— da alma huma-
na; os contos de imaginação ou fantásticos.
Patifes!”, urrei, “basta de dissimulações! Admito o que fiz! — arran-
tábuas! — aqui, aqui! — é o batimento de seu odioso coração!”
POE E A PSICOLOGIA
Poe viveu em uma época em que os estudos em psicologia eram
ainda incipientes. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, nasceria sete
anos após a sua morte, em 1856. Ainda assim, sua ficção revela um
conhecimento profundo da alma humana – dando testemunho, talvez,
mais de sua intuição do que propriamente de pesquisas.
O efeito de estranhamento produzido por suas narrativas é muitas
vezes resultado das intenções que as personagens manifestam sem se
dar conta delas. É o caso do narrador de “O coração denunciador”,
que atribui a um fator externo o impulso para a confissão – cujos moti-
vos provavelmente são apenas de sua consciência. Essa situação pode
ser identificada como o conceito que Freud define como “o estranho”,
isto é, as situações que mobilizam intensamente nossos sentimentos,
mas cujas causas não reconhecemos como nossas.
A literatura fantástica, aliás, tem relação profunda com a psicologia –
a tal ponto que um estudioso da literatura certa vez afirmou: a psica-
nálise substituiu a literatura fantástica. Para o filósofo e crítico literário
Tzvetan Todorov, a literatura fantástica se vale de seres e situações irre-
ais para fazer circular temas considerados tabus – associando o desejo
sexual ao diabo, por exemplo, ou condensando o sexo e a morte na
figura do vampiro. Na sua opinião, a ascensão da psicanálise, que
estuda os impulsos e desejos que preferimos esconder de nós mesmos,
faz com que não haja mais necessidade dessa literatura, acarretando
a falta de interesse do público. “Os temas da literatura fantástica se
tornaram, literalmente, os mesmos das investigações psicológicas dos
últimos cinquenta anos”, escreveu ele na década de 1970.
Na nomenclatura de Todorov, porém, nem sempre a literatura de
Poe pode ser considerada fantástica. Ao contrário do que normalmente
ocorre nesse gênero, as situações são quase sempre compreensíveis
por meio da realidade do leitor. Basta lembrar o exemplo de “A que-
da da Casa de Usher”: apesar da atmosfera sombria que culmina no
clímax, há no início do texto um09/12/14detalhe13:55
que aponta para a natureza
realista dos eventos. Ao ver-se diante da envelhecida casa do amigo,
antes mesmo de entrar, o narrador observa a “fissura quase impercep-
tível” em uma parede do edifício.

AFINAL, O QUE É CONTO?


Procurando a resposta para essa pergunta, Mário de Andrade certa vez res-
pondeu: “sempre será conto aquilo que seu autor batizou com o nome de conto”.
Não se trata de mero gracejo: o conto pode ser desde uma fábula que se conta às
crianças até uma narrativa mais longa como “O mistério de Marie Roget”.

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Há inúmeras definições possíveis, e o próprio Poe é responsável por
uma delas. Para ele, trata-se de uma narrativa a ser lida em um período
médio de 30 minutos a duas horas, orientada para causar determinado
efeito no leitor e, por isso mesmo, com trama extremamente concentrada
nesse efeito.
Segundo Julio Cortázar, Poe foi o primeiro a perceber que as diferenças
entre o conto e o romance não são apenas uma questão de tamanho. “Um
conto é uma verdadeira máquina literária de criar interesse”, afirma o es-
critor argentino, que compara os dois tipos de narrativa à fotografia e ao
cinema, respectivamente. Enquanto este se desenvolve ao longo do tempo,
aquela se deve limitar a um instante significativo. Outra de suas metáforas
para a comparação vem do boxe: no romance se ganha por pontos; no conto,
por nocaute.
Assim, para Poe e os escritores que se identificam com sua obra, o conto
se define sobretudo por sua intensidade: trata-se do resultado da relação
entre a extensão do texto e o efeito causado pela leitura. Ele deve dominar o
leitor, e sua leitura não admite interrupções – diferentemente de um roman-
ce, deve ser lido de uma só vez.
Em um curioso texto publicado em um jornal norte-americano, Poe faz
uma resenha de sua própria obra. Sem identificar-se, analisa o próprio tra-
balho, oferecendo valiosas palavras sobre sua concepção de literatura. Ele
defende a “perfeição da trama”, definida como aquela em que tudo está orga-
nizado, e da qual nada pode ser removido sem comprometer o todo.
Além disso, compara-se a seus colegas: “A maioria dos escritores pro-
curam primeiro um tema e escrevem para desenvolvê-lo. O que o sr. Poe
busca em primeiro lugar é um efeito novo, depois um tema. Isto é, um novo
arranjo de circunstâncias ou uma nova aplicação de tom com que possa de-
senvolver o seu efeito”.

ATIVIDADES
Dada a qualidade dos contos de Edgar Allan Poe e sua importância para
a literatura ocidental moderna, a leitura do livro pode ser aproveitada de
maneiras diversas com a turma. Indicamos quatro sugestões de atividades:

• Outras linguagens: exiba para a sala uma das muitas adaptações das
narrativas de Edgar Allan Poe para outras linguagens. Há inúmeras
opções de filmes, clássicos e comerciais, além de diversas animações
disponíveis no Youtube­ – você deve escolher de acordo com o que jul-
gar mais adequado para a faixa etária em questão. Em seguida, propo-
nha que os alunos, organizados em grupo, adaptem um dos contos do
livro para vídeo ou teatro, dependendo dos recursos disponíveis e ob-
servando se o efeito causado pelo texto é mantido em sua adaptação.
Cada grupo deverá escolher uma narrativa, e a apresentação deverá
ser feita para os demais colegas de sala. Essa atividade pode envolver
as disciplinas de artes e música, conforme o grau de complexidade
esperado do trabalho dos alunos.

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O ENCONTRO MA

• Mural de personagens: a respeito da literatura de Poe, o escritor ar-


gentino Jorge Luís Borges afirmou: “De um só conto seu, que data de corri para a otomana, e tentei despertar
Aturdido,
1841, ‘Os assassinatos da Rue Morgue’, provém todo o gêneropara
policial”.
que recebesse as alarmantes notícias. Mas seus mem
Essa frase pode ser estendida a narrativas contemporâneas rígidos
– em es-
— seus lábios, lívidos — seus olhos havia pou
cravados na morte. Recuei cambaleante na direção da m
pecial, os seriados norte-americanos – que apresentam personagens
com capacidade de observação tributária de Auguste Dupin, mãoisto
pousou
é, sobre um cálice rachado e enegrecido —
de toda a terrível verdade lampejou subitamente em m
um modo muito acurado de raciocinar e de analisar os fatos. Apro-
veitando a presença corrente de criações semelhantes no repertório
cultural dos alunos, peça que comparem o detetive de Poe com uma
personagem de sua escolha – incluindo Sherlock Holmes, como con-
cebido por Arthur Conan Doyle ou figurado em adaptações recentes;
Hercule Poirot, de Agatha Christie; e criações contemporâneas. Em
grupo, eles deverão listar características comuns e divergentes entre
as personagens, buscando compreender quais traços permanecem
cultivando a atenção do leitor e quais são adaptados às diferentes lin-
guagens e contextos. Ao final, a sala poderá preparar uma obra cole-
tiva – um mural na parede ou digital – apresentando esses diferentes
seres e suas linhagens.
• Produção textual: após a leitura e a discussão de alguns contos do
livro, proponha aos alunos a redação de uma breve narrativa, com
parâmetros similares aos adotados por Poe em “O poço e o pêndulo”:
em primeira pessoa, o narrador deve apresentar-se em uma situação
de perigo, esclarecendo aos poucos como chegou até ali e revelando
lentamente para o leitor a sua condição. O enredo deve ser concen-
trado na ação principal e planejado com vistas à criação do efeito
pretendido.
• Leitura: apresente aos alunos o poema “O corvo”, de Edgar Allan Poe.
Você pode selecionar os trechos que julgar mais adequados, fazendo a
leitura apenas de algumas estrofes e parafraseando as demais. A partir
de uma das boas traduções disponíveis, mostre como a sonoridade
contribui para a produção do sentido – exatamente como argumenta
o autor em “Filosofia da composição”. Se considerar cabível, resuma
para os alunos o conteúdo desse ensaio.

POE E BAUDELAIRE
Autor do prefácio de Contos de imaginação e mistério, Charles Baudelaire (1821 – 1867) foi um dos grandes
responsáveis pelo reconhecimento da obra de Edgar Allan Poe. Tendo lido o conto “O gato preto” em inglês, sentiu-se
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tão entusiasmado que dedicou cerca de quinze anos à tradução e à divulgação de sua obra na França.
Em cartas escritas à época, Baudelaire confessa um sentimento de familiaridade, como se o escritor inglês tivesse
dado forma a seus próprios pensamentos, embora vinte anos separassem a escrita da leitura da obra.
Os críticos explicam a afinidade em termos de concepção literária: o universo enigmático e sugestivo da obra
Poe é precursor do Simbolismo, movimento que tem no autor de As flores do mal um de seus expoentes. Além disso,
enquanto o francês é considerado o poeta moderno por excelência, o norte-americano valoriza a construção da
obra literária com intensidade e rigor característicos da literatura na modernidade, destoando de seus contemporâ-
neos, os românticos.
Esse aspecto de obra de Poe está sintetizado no clássico ensaio “Filosofia da composição”, no qual expõe como se
deu a construção do poema “O corvo”, considerado uma das obras-primas da literatura de língua inglesa.

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INDICAÇÕES DE LEITURA
• O corvo - gênese, referências e traduções do poema de Edgar Allan Poe,
Claudio Abramo (Hedra, 2011): reunião de diversas traduções do
poema, como de Fernando Pessoa e Machado de Assis, com estudo
comparando as soluções dos diferentes tradutores.
• Teoria do conto, Nádia Battella Gotlib (Ática, 2003): a autora apresen-
ta uma história do conto, trazendo algumas de suas definições pos-
síveis e apresentando os principais autores no gênero. Há capítulos
dedicados à literatura de Poe.
• Valise de cronópio, Julio Cortázar (Perspectiva, 2013): o livro reúne
ensaios do escritor argentino, dois dos quais interessam diretamente
– “Poe: o poeta, o narrador e o crítico” e “Alguns aspectos do conto”.
• Introdução à literatura fantástica, Tzvetan Todorov (Perspectiva,
2012): o autor estuda as características e os principais autores da lite-
ratura fantástica. Um dos autores centrais para os seus argumentos é
Edgar Allan Poe.
• A poética do conto: de Poe a Borges, um passeio pelo gênero, Charles
Kiefer (Leya, 2011): além de deter-se longamente no autor de Contos
de imaginação e mistério, o estudo traz a tradução da resenha que Poe
escreveu a respeito de sua própria obra – publicada no jornal Aristi-
dean, em Nova Iorque, em 1845.

ISBN
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Elaboração do Manual do Professor:


Luisa de Aguiar Destri (jornalista e
pesquisadora, doutora em Letras pela USP).

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