Digestão Anaeróbica - Características Do Substrato, Principais Fontes e Etapas Da Produção de Biogás.

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FUNDAMENTOS DA DIGESTÃO

ANAERÓBIA DE SUBSTRATOS
AGROINDUSTRIAIS
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato,
Principais Fontes e Etapas da Produção de Biogás
Projeto “Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil)

Este documento está sob licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives


4.0 International License.
O GEF Biogás Brasil permite a citação deste material, desde que a fonte seja citada.
Contato: [email protected]

FICHA TÉCNICA
COMITÊ DIRETOR DO PROJETO Nome do produto:
Fundamentos da Digestão Anaeróbia de Substratos
Global Environment Facility Agroindustriais

Organização das Nações Unidas para o Componente Output e Outcome:


Desenvolvimento Industrial Componente 2.1.4

Ministério da Ciência, Tecnologia, Publicado pela entidade:


Inovações e Comunicações Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial - UNIDO
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento Entidades diretamente envolvidas:
Centro Internacional de Energias Renováveis
Ministério de Minas e Energia Biogás – CIBiogás
Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
Ministério do Meio Ambiente UTFPR

Centro Internacional de Energias Renováveis Autores e coautores:


Thiago Edwiges – UTFPR
Itaipu Binacional Ricardo Muller – UNIDO|CIBiogás
Daiana Gotardo Martinez – UNIDO|CIBiogás
PARCEIROS
Revisão Técnica:
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Leonardo Pereira Lins – CIBiogás
Pequenas Empresas
Coordenador:
Associação Brasileira de Biogás Felipe Souza Marques

Coordenação Pedagógica:
Iara Bethania Rial Rosa

Data da publicação:
Agosto, 2020.

Ficha catalográfica elaborada por:


APRESENTAÇÃO

O Projeto “Aplicações do Biogás na agrícola. Os benefícios se estendem tanto ao


Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil) produtor agrícola, que reduz os custos de sua
reúne o esforço coletivo de organismos atividade com o reaproveitamento de resíduos
internacionais, instituições privadas, entidades orgânicos, quanto ao desenvolvimento
setoriais e do Governo Federal em prol da econômico nacional, já que um setor produtivo
diversificação da geração de energia e de mais eficiente ganha competitividade frente à
combustível no Brasil. A iniciativa é concorrência internacional. Indústrias de
implementada pela Organização das Nações equipamentos e serviços, concessionárias de
Unidas para o Desenvolvimento Industrial energia e de gás, produtores rurais e
(UNIDO) e conta com o Ministério da Ciência, administrações municipais estão entre os
Tecnologia e Inovações (MCTI) como beneficiários do projeto, que conta com US
instituição líder no âmbito nacional. O objetivo $ 7,828,000 em investimentos diretos.
principal é reduzir a dependência nacional de
combustíveis fósseis através da produção de Com abordagem inicial na região Sul do Brasil
biogás e biometano, fortalecendo as cadeias e no Distrito Federal, a iniciativa pretende
de valor e de inovação tecnológica no setor. impactar todo o país. Entre seus resultados
previstos estão a compilação e a divulgação de
A conversão dos resíduos orgânicos dados completos e atualizados sobre o setor, a
provenientes da agroindústria e da fração oferta de serviços e recursos para capacitação
orgânica do lixo urbano, muitas vezes técnica e profissional, a criação de modelos de
descartados de forma insustentável, pode se negócio e de pacotes tecnológicos inovadores,
tornar um diferencial competitivo para a a produção de Unidades de Demonstração
economia brasileira, além de reduzir a emissão seguindo padrões internacionais, a
de gases de efeito estufa nocivos à camada de disponibilização de serviços financeiros
ozônio e ao meio ambiente. específicos para o setor, a ampliação da oferta
energética brasileira, e articulações
O biogás e o biometano podem ser utilizados estratégicas entre a alta gestão governamental
para a geração de energia elétrica, energia e entidades setoriais para a modernização da
térmica ou combustível renovável para regulamentação e das políticas públicas em
veículos, e seu processamento resulta em torno do tema, deixando um legado positivo
biofertilizantes de alta qualidade para uso para o país.
Fundamentos da Digestão Anaeróbia de
Substratos Agroindustriais

Aula 1 – Digestão Anaeróbica: Características do


Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Data da Publicação:

Agosto/2020
Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
2. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA........ 13
2.1. Etapa 1 (Hidrólise) ......................................................................................... 14
2.2. Etapa 2 (Acidogênese).................................................................................. 16
2.3. Etapa 3 (Acetogênese) ................................................................................. 17
2.4. Etapa 4 (Metanogênese) .............................................................................. 18
3. TIPOS DE SUBSTRATOS E DEGRADAÇÃO DOS COMPOSTOS
QUÍMICO .................................................................................................................. 19
3.1. Carboidratos................................................................................................... 20
3.2. Proteínas ........................................................................................................ 22
3.3. Lipídeos .......................................................................................................... 23
3.4. Lignocelulose ................................................................................................. 25
3.5. Principais Fontes de Biomassa no Setor Agroindustrial ............................ 26
3.5.1. Dejetos Animais ......................................................................................... 26
3.5.2. Abatedouros ............................................................................................... 30
3.5.3. Laticínios ..................................................................................................... 31
3.5.4. Cervejarias .................................................................................................. 33
4. CONCLUSÃO .................................................................................................... 34
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 35
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Lista de Figuras
Figura 1 - Principais etapas da degradação da matéria orgânica para a
produção de biogás. ................................................................................................ 14
Figura 2 - Representação esquemática da quebra de uma molécula de celulose
em moléculas de glicose a partir a enzima celulase produzida pela bactéria
celulomona................................................................................................................ 16
Figura 3 - Esquema da formação de sub-produtos oriundos do pré-tratamento
térmico a partir de biomassa lignocelulósica. Adaptado de Rabii et al. (2019). 19
Figura 4 - Exemplo de formação de um triglicerídeo a partir de três ácidos
graxos........................................................................................................................ 24
Figura 5 - Potencial de geração de biogás na pecuária paranaense. ................ 29
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Lista de Equações

Equação 1 ................................................................................................................. 17
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Lista de Quadros

Quadro 1 - Exemplos de reações da fase acetogênica. ...................................... 17


Quadro 2 - Principais monossacarídeos (açúcares simples) .............................. 21
Quadro 3 - Principais dissacarídeos ...................................................................... 21
Quadro 4 - Aminoácidos usualmente digeridos em um reator anaeróbio .......... 23
Quadro 5 - Exemplos de ácidos graxos de cadeia longa (mais de 12 unidades
de carbono) ............................................................................................................... 24
Quadro 6 - Teor de lignocelulose em diferentes substratos em base seca ....... 26
Quadro 7 - Composição química média de diferentes tipos de dejetos animais
................................................................................................................................... 27
Quadro 8 - Degradabilidade e pH dos dejetos animais........................................ 27
Quadro 9 - Potencial metanogênico de diferentes dejetos animais. ................... 28
Quadro 10 - Características físico-químicas de diferentes resíduos do processo
de abate .................................................................................................................... 30
Quadro 11 - Potencial metanogênico de diferentes resíduos do processo de
abate.......................................................................................................................... 31
Quadro 12 - Principais características físico-químicas do soro do leite ............. 32
Quadro 13 - Principais características físico-químicas do efluente de cervejarias
................................................................................................................................... 33
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Apresentação do Curso
Seja bem-vindo ao nosso Curso de Fundamentos da Digestão Anaeróbia de
Substratos Agroindustriais. Nosso objetivo é oferecer a você aluno, o conhecimento de
uma forma geral, a respeito das etapas da produção de biogás, as características da
degradação do substrato, parâmetros que influenciam diretamente na produção de
biogás e um panorama do setor com normativas especificas que fazem do biogás um
produto promissor para as energias renováveis em nosso país.
Diante disso, esse curso foi dividido em três aulas, sendo elas:

1ª Aula: Digestão anaeróbica: características do substrato, principais fontes


e etapas da produção de biogás;
2ª Aula: Parâmetros operacionais para produção de biogás e tipos de
reatores;
3ª Aula: Aspectos introdutórios sobre o setor energético e político.

Na primeira aula será apresentado ao aluno os conceitos das etapas para


produção de biogás, as características e os principais substratos que que possuem
potencial para produção de biogás.
Na segunda aula o aluno verá além dos conceitos de pré-tratamentos para os
substratos, os parâmetros internos e externos que influenciam diretamente na operação
dos reatores anaeróbicos e na produção de biogás, além dos tipos de reatores
existentes.
Na terceira aula será apesentado o panorama do setor de biogás, com
normativas, leis e resoluções que atualmente auxiliam no desenvolvimento do produto
biogás.
O curso proporcionará ao aluno conhecimentos específicos para que possa
apoiar e participar efetivamente na elaboração e implantação de projetos e plantas de
biogás.
Esperamos que você consiga se desenvolver ao máximo durante o curso. Bons
estudos e qualquer auxílio que necessite referente as dúvidas, nossa equipe estará à
disposição.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Desenvolvimento Proporcionado
Nesta aula será proporcionado o desenvolvimento de conhecimentos e
habilidades que poderão ser colocados em prática por você ao longo do curso e após a
finalização das atividades propostas:

COMPETÊNCIAS:
1. Conhecimento básico de digestão anaeróbica;
2. Identificação de processos e etapas para produção de biogás;
3. Noção de resíduos líquidos, sólidos e gasosos;
4. Identificação de atividades agroindustriais.

HABILIDADES:
1. Iniciativa;
2. Percepção.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com o cenário energético é tema constante em debates


especializados no cenário nacional e internacional. A dependência do petróleo, os
impactos ambientais causados pela queima dos combustíveis fósseis e a centralização
da produção são demandas que fazem com que novas alternativas energéticas sejam
desenvolvidas.
Aliada a questão energética, existem ainda problemas ambientais causados
pelo gerenciamento inadequado de resíduos orgânicos gerados na agricultura, pecuária
e nas agroindústrias, visto que estas são atividades de relevância no contexto
econômico do País, especialmente na região sul do Brasil. A falta de tratamento
adequado para a significativa quantidade de matéria orgânica gerada diariamente
nestas atividades contribui para o aumento da poluição, eutrofização de corpos hídricos
e emissão de gases de efeito estufa (GEE), especialmente o metano (CH 4) e o dióxido
de carbono (CO2).
A digestão anaeróbia vem sendo estudada e aplicada ao tratamento de
diversos tipos de resíduos orgânicos em todo o mundo. As principais vantagens deste
tratamento se concentram na baixa demanda por energia, menores requisitos de
nutrientes e menor geração de lodo quando comparado aos sistemas aeróbios. O
metano gerado pelo biogás pode ser aproveitamento como fonte de energia elétrica,
térmica ou ainda convertido em biometano para ser utilizado como gás veicular. Além
disso, o efluente final do processo (digestato) tem potencial para ser aproveitado como
biofertilizante em plantas de biogás alimentadas com a maioria dos tipos de resíduos
rurais e agroindustriais, permitindo a reciclagem de nutrientes a partir da incorporação
do solo.
Porém para se ter uma eficiência no sistema de tratamento, bem como
viabilidade econômica da planta de biogás, o planejamento e o conhecimento das
etapas de produção de biogás são de extrema importância.
O conhecimento técnico-científico do processo de digestão, das características
físico-químicas dos substratos, dos requisitos operacionais dos diferentes tipos de
reatores anaeróbios, bem como dos efeitos sinérgicos destes fatores é fundamenta para
a estabilidade do sistema ao longo do tempo, a maximização da produção de biogás e
a geração de renda a partir da comercialização de sub-produtos de qualidade.
As diversas atividades produtivas realizadas em propriedades rurais e
agroindústrias geram uma gama de resíduos orgânicos com características distintas,
que podem tanto inibir a atividade biológicas dos microrganismos envolvidos na
produção de biogás, como maximizar a eficiência da geração a partir da co-digestão, ou
seja, uma mistura de substratos com o objetivo de favorecer as reações bioquímicas
durante o processo.
As etapas envolvidas na produção de biogás, como ocorre a degradação dos
compostos químicos, além da identificação das principais fontes de biomassa do setor
agroindustrial, poderão ser vistos ao longo desta aula.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

2. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE DIGESTÃO ANAERÓBIA

A digestão anaeróbia (D.A.) é uma tecnologia de tratamento aplicada a uma


ampla variedade de substratos orgânicos. Estes substratos são, em sua maioria,
resíduos provenientes de processos produtivos tais como os dejetos da produção de
animais, efluentes líquidos e resíduos sólidos das agroindustriais e resíduos da
agricultura. Dependendo do contexto local e da legislação pertinente, podem ainda ser
aproveitadas as culturas energéticas, que são espécies vegetais cultivadas
especificamente para a geração de energia.

Atenção:

Neste material adotaremos o termo


‘substratos’ para toda fonte de matéria
orgânica aproveitada no processo de
digestão anaeróbia. A principal fonte de
substratos são os resíduos orgânicos.
Porém, como vimos acima, nem todo
substrato é um resíduo, como é o caso das
culturas energéticas.

O biogás é um subproduto gasoso resultante da D.A. destes substratos e é


composto por metano (CH4), dióxido de carbono (CO2) e uma série de outros
componentes em menores quantidades, como gás sulfídrico (H 2S), amônia (NH3),
umidade (H2O).

Para fixar:

Dentre os componentes gasosos, o metano (CH4) é o


mais atrativo pois pode ser aproveitado para a geração
de energia em substituição às fontes convencionais
(carvão, petróleo, gás natural) e em diferentes formas,
como elétrica, energia térmica e combustível utilizado
em veículos.

Além do biogás, um subproduto líquido também é gerado durante a D.A. que é


chamado de digestato. O digestato contém uma série de nutrientes que estavam
presentes nos substratos como nitrogênio, fósforo, potássio e uma série de outros
minerais que dependendo das suas condições (concentração dos nutrientes,

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

temperatura e ausência de organismos patogênicos por exemplo), podem ser


aproveitados como biofertilizante na agricultura. A reciclagem de nutrientes é mais uma
das vantagens da D.A.
O processo biológico de degradação da matéria orgânica presente nos
substratos em biogás é complexo, pois envolve uma série de microrganismos que
operam em sinergia dentro dos reatores e desempenham funções diferentes durante
cada etapa (Figura 1). Cada tipo de microrganismo requer condições ambientais
específicas como temperatura, pH, tempo, concentração de matéria orgânica e presenta
de nutrientes. De forma geral, as reações que ocorrem durante a D.A. podem ser
divididas em quatro etapas: hidrólise, acidogênese, acetogênse e metanogênese.

Figura 1 - Principais etapas da degradação da matéria orgânica para a produção de biogás.

Os compostos químicos produzidos em uma etapa são chamados de


metabólitos intermediários e são aproveitados como substrato pelos microrganismos
da etapa posterior.

2.1. Etapa 1 (Hidrólise)

A hidrólise (hidro = água e lysis = quebra) é a primeira etapa da D.A. Durante


esta etapa, os componentes químicos mais complexos (polímeros) presentes nos
substratos são degradados em meio aquoso e convertidos em moléculas menores
(monômeros), que são então consumidos durante as etapas posteriores.
A matéria orgânica é composta principalmente por carboidratos, proteínas e
lipídeos (as características de cada um deles serão discutidas no item 3 deste material).
Estes compostos químicos possuem elevado número de átomos de carbono em suas
moléculas e, por estarem na forma particulada, são insolúveis em água e não
conseguem ser consumidos de forma direta pelos microrganismos como fonte de
energia e de nutrientes durante o processo de D.A.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Durante a hidrólise os polímeros são convertidos em compostos menores por


meio de enzimas excretadas pelas bactérias hidrolíticas, ou seja, a degradação neste
estágio inicial ocorre fora das células dos microrganismos.

Para fixar:

Cada componente químico é degradado por uma exoenzima


específica:

celulose (substrato) → celulase (exoenzima) →


glicose (metabólito intermediário)

proteína (substrato) → proteinase (exoenzima) →


aminoácidos (metabólito intermediário)

lipídeos (substrato) → lipase (exoenzima) → ácidos graxos e


glicerol (metabólito intermediário)

Com poucos átomos de carbono em suas moléculas (monômeros) os


metabólitos intermediários gerados após a etapa de hidrólise tornam-se solúveis em
água, ou seja, conseguem passar pela parede celular e serem absorvidos pelos
microrganismos para serem sintetizados internamente.

Exemplo

Um exemplo de composto insolúvel que sofre


hidrólise em um reator anaeróbio é a celulose
(C6H10O5), principal componente da parede celular
dos vegetais, caracterizada como um carboidrato
insolúvel em água e constituído por diversas
unidades de glicose (C6H12O6) por meio de
ligações químicas.

Apesar de a glicose ser solúvel em água, a união


de diversas moléculas de glicose resulta em um
polímero insolúvel, a celulose.

Dentro de um reator anaeróbio a celulose é hidrolisada por meio da enzima


(celulase) liberada pelas bactérias hidrolíticas e que são capazes de quebrar as ligações
químicas entre as moléculas de glicose. Desta forma, a partir da hidrólise da celulose,
diversas moléculas de glicose, agora solúveis, são então liberadas, absorvidas por outro
grupo de bactérias e degradadas dentro da célula.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Figura 2 - Representação esquemática da quebra de uma molécula de celulose em moléculas


de glicose a partir a enzima celulase produzida pela bactéria celulomona.

O tempo de duração da hidrólise pode ser de poucas horas para os


carboidratos e alguns dias para as proteínas e lipídeos, ou seja, a produção de biogás
em um reator depende da concentração de cada tipo de macromolécula no substrato.

2.2. Etapa 2 (Acidogênese)

Os monômeros formados na etapa de hidrólise como os açúcares simples, os


aminoácidos e os ácidos graxos de cadeia curta encontra-se são solúveis em água e,
portanto, podem ser absorvidos por bactérias anaeróbias e facultativas por meio de
diversos processos fermentativos.
Ao final de etapa de acidogênese são gerados principalmente dióxido de
carbono (CO2), hidrogênio (H2), álcoois e ácidos orgânicos. Os compostos orgânicos
nitrogenados e compostos orgânicos sulfurados também são formados nesta etapa
devido à degradação de aminoácidos e proteínas.

Exemplo

Ácidos e álcoois gerados durante a acidogênese:


• Ácido fórmico (CH2O2)
• Ácido acético (C2H4O2)
• Ácido propiônico (C3H6O2)
• Ácido lático (C3H6O3)
• Etanol (C2H6O)
• Metanol (CH3OH)
• Propanol (C3H8O)

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

O ácido acético é um dos ácidos mais importantes durante esta etapa, pois este
é o principal ácido utilizado pelos microrganismos produtores de metano.

Definição

Os microrganismos produtores de metano são


tecnicamente chamados de Arqueas.
As arqueas se diferem das bactérias por serem
procariontes, ou seja, são organismos mais
primitivos e simples, sem núcleo celular definido.
As arqueas possuem a capacidade de sobreviver
em ambientes extremos de vida, como crateras de
vulcões e regiões extremamente salinas.

A concentração de íons de hidrogênio (H 2) formados como metabólitos


intermediários durante esta etapa afeta o tipo de produto formado nesta fase. Quanto
maior a pressão parcial do hidrogênio dentro do reator, menos compostos reduzidos,
como o ácido acético, por exemplo, serão formados. De forma geral, os compostos
formados nesta etapa dependem do tipo de substrato adicionado no reator e de suas
condições ambientais (temperatura e pH) além dos tipos de microrganismos presentes.

2.3. Etapa 3 (Acetogênese)

Nesta etapa, a maioria dos ácidos e álcoois, como o ácido butírico, ácido
propiônico e etanol, por exemplo, produzidos durante a acidogênese são degradados
em acetato, que pode ser utilizado como substrato para as arqueas metanogênicas. O
Quadro 1 apresenta algumas das reações de degradação que ocorrem durante a
acetogênese.

Quadro 1 - Exemplos de reações da fase acetogênica.


Substrato Reação

Ácido propiônico CH3(CH2)COOH + 2H2O → CH3COOH + CO2 + 3H2

Ácido butírico CH3(CH2)2COOH + 2H2O → 2CH3COOH + 2H2

Etanol CH3(CH2)OH+ H2O → CH3COOH+ 2H2

Além dos ácidos de cadeia curta, o CO 2 e o H2 formados durante a acidogênese


também podem ser convertidos em ácido acético ou metano (Equação 1).

Equação 1

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

2.4. Etapa 4 (Metanogênese)

A metanogênese é a última etapa do processo de degradação da matéria


orgânica. Nela o metano é formado principalmente a partir de acetato, CO 2 e H2 por
bactérias estritamente anaeróbias. Desta forma, todos os produtos da fermentação
devem ser convertidos em compostos que podem ser utilizados pelas metanogênicas.
As arqueas metanogênicas podem ser divididas em acetoclásticas e
hidrogenotróficas. As metanogênicas acetoclásticas utilizam o acetato como fonte de
substrato e de forma geral representam cerca de 70% do biogás produzido em um reator.
Já as metanogênicas hidrogenotróficas são um outro grupo importante de
microrganismos que atuam no processo de digestão anaeróbia, que utilizam o CO2 e o
H2 como substrato primário para a produção de metano.

Exemplo

Dois grupos conhecidos de metanogênicas


degradam o acetato: Methanosaeta e
Methanosarcina.

Por outro lado, existem diferentes grupos de


metanogênicas que utilizam H2 como substrato,
como as do gênero Methanobacterium,
Methanococcus, Methanogenium e
Methanobrevibacter.

O tempo de reprodução das archeas metanogênicas é maior do que o tempo


de reprodução dos microrganismos que atuam nas fases iniciais. As arqueas demoram
entre 1-12 dias para se dividirem em dois. A Methanosarcina, por exemplo, se multiplica
a cada 1 dia. Já Metanosaeta requer um tempo maior, entre 2 e 12 dias (podendo chegar
a 30 dias) para a multiplicação.

Atenção:

A taxa de crescimento das metanogênicas pode


estabelecer o limite de quão curto pode ser o
tempo em que o substrato permanece dentro do
reator.
Períodos inferiores a 12 dias podem resultar na
remoção destes organismos antes do tempo em
que eles levam para se reproduzirem.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Para que a digestão anaeróbia ocorra, a atividade biológica dos


microrganismos envolvidos nas etapas iniciais (hidrólise, acidogênese e acetogênese)
e na etapa de metanogênese deve ocorrer de forma equilibrada.
Se a etapa de metanogênese for inibida, os ácidos formados nas etapas
anteriores passam a acumular no reator, causando um processo de acidificação que
pode ser irreversível. Por outro lado, em caso de inibição da etapa de acidogênese, que
pode ser causada pela dificuldade de hidrólise de substratos de difícil degradação (Ex.:
bagaço de cana-de-açúcar e alguns resíduos da agricultura) a disponibilidade de
acetato para as metanogênicas diminui e, consequentemente, observa-se um acúmulo
de substrato dentro do reator e a redução na produção de metano. Para garantir um
equilíbrio entre estes diferentes grupos de microrganismos deve-se garantir as
condições ideais de parâmetros de operação do sistema como por exemplo a
temperatura, pH, agitação e carga de alimentação.
A Figura 3 apresenta um resumo do processo de degradação da matéria
orgânica durante as etapas da digestão anaeróbia.

Figura 3 - Esquema da formação de sub-produtos oriundos do pré-tratamento térmico a partir


de biomassa lignocelulósica. Adaptado de Rabii et al. (2019).

3. TIPOS DE SUBSTRATOS E DEGRADAÇÃO DOS COMPOSTOS


QUÍMICO

Como visto no Item 2, o equilíbrio da digestão anaeróbia quanto à atividade


biológica dos microrganismos em todas as quatro etapas (hidrólise, acidogênese,
acetogênse e metanogênese) e também da produção de biogás depende diretamente
da composição química dos substratos utilizados para a alimentação dos reatores.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Substratos com elevados teores de carboidratos (ex.: amido) podem favorecer


a etapa de hidrólise, mas também podem contribuir para a queda no pH do sistema,
acidificação do meio e limitação ou até a parada completa da etapa de metanogênese.
Por outro lado, substratos de grandes dimensões (ex. pedaços de frutas, frações de
órgãos animais provenientes do abate) e cadeias moleculares muito complexas podem
limitar a etapa de hidrólise e, consequentemente, afetar a produção de metabólitos
intermediários que são fonte de energia e nutrientes para a arqueas metanogênicas.

Para fixar:

A determinação de alguns parâmetros auxilia a tomada de


decisões quanto às melhores condições dos substratos para
garantir a eficiência do processo de D.A. São eles:
• tamanho da partícula (dimensão em cm)
• biodegradabilidade (alta, média, baixa)
• composição química (proteína, carboidrato, lipídeos)
• teor de matéria seca (sólidos totais)
• teor de matéria orgânica (sólidos voláteis)
• relação de nutrientes (carbono/nitrogênio)

Ao escolher o substrato mais adequado (ou a mistura de substratos), se


garante não apenas melhor controle do sistema de tratamento, mas também melhor
eficiência na bioconversão da matéria orgânica em energia e na produção de um
digestato de melhor qualidade.
Diversos materiais orgânicos podem ser aproveitados como substratos
potenciais para o aproveitamento energético a partir da D.A. No Brasil, as principais
fontes de matéria orgânica incluem dejetos animais, efluentes agroindustriais, resíduos
da agricultura, efluentes domésticos e resíduos sólidos urbanos.

3.1. Carboidratos

Os carboidratos são macromoléculas complexas (polímeros) formadas


principalmente por carbono, hidrogênio e oxigênio e são considerados os compostos
orgânicos de maior abundância na natureza. Estão presentes em grandes quantidades
na biomassa vegetal como frutas, grãos e palhadas. A classificação dos carboidratos
varia de acordo com o número de átomos de carbono em sua molécula:
• Monossacarídeos: são os açúcares mais simples, com 3 a 7 átomos de
carbono (Quadro 2). Os monossacarídeos são moléculas pequenas e
solúveis em água e dentro dos reatores são digeridos dentro das células
das bactérias. Os principais monossacarídeos na dieta humana são a
frutose e a glicose.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Quadro 2 - Principais monossacarídeos (açúcares simples)


Monossacarídeo Fórmula

Desoxirribose C5H10O5

Glicose C6H12O6

Galactose C6H12O6

Frutose C6H12O6

Ribose C5H10O5

Manose C6H12O6
OBS: alguns monossacarídeos possuem a mesma fórmula química (ex.: glicose e frutose), contudo, eles
se diferem quanto à sua estrutura.

• Dissacarídeos: os dissacarídeos são formados por 2 unidades de


monossacarídeos (Quadro 3). Os principais dissacarídeos em nossa
dieta são a lactose, açúcar presente em derivados do leite e a sucrose
(açúcar de mesa). Os dissacarídeos também são solúveis em água, mas
precisam ser convertidos monossacarídeos por meio de hidrólise para
serem degradados dentro das células das bactérias.

Quadro 3 - Principais dissacarídeos


Monossacarídeo Formação

Lactose Galactose + Glicose

Maltose Glicose + Glicose

Sucrose Glicose + Frutose

Celobiose Galactose + Galactose

• Polissacarídeos: são as maiores moléculas de carboidratos, formadas


pela união de pelo menos 10 monossacarídeos (polímeros). O amido
encontrado na batata, arroz e trigo é o maior polissacarídeos digestível
em nossa dieta. Os polissacarídeos são insolúveis em água e para que
sejam aproveitados pelos microrganismos necessitam passar pelo
processo de hidrólise. Alguns exemplos de polissacarídeos são:
o Agar;
o Amilopectina (forma o amido);
o Amilose (forma o amido);
o Celulose (presente na parede celular dos vegetais);
o Glicogênio (utilizado como reserva energética pelas células);
o Pectina (presente na parede celular dos vegetais).

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Dentro dos reatores os carboidratos são degradados por bactérias anaeróbias-


facultativas e anaeróbias. Os monossacarídeos são solúveis em água e são
rapidamente transportados para o interior das células das bactérias. Os dissacarídeos
também são solúveis em água, mas precisam ser hidrolisados para então serem
transportados para o interior das células bacterianas. Já os polissacarídeos são mais
complexos e insolúveis em água e por isso a degradação destes açúcares é mais lenta,
pois necessitam de várias etapas enzimáticas até serem transformados em
monossacarídeos solúveis.

Atenção:

A adição de grandes quantidades de mono e


dissacarídeos presentes em resíduos de frutas por
exemplo podem resultar na acidificação dos reatores
anaeróbios e morte das arqueas metanogênicas.
Como a etapa de metanogênese é mais lenta que a
hidrólise e a fermentação (acidogênese a
acetogênese), a rápida degradação destes compostos
leva à formação de ácidos orgânicos em uma
velocidade maior com que as metanogênicas
conseguem consumir, resultando em acúmulo de
ácidos dentro do reator.

3.2. Proteínas

As proteínas são compostos orgânicos nitrogenados presentes nas células


vivas e, portanto, uma fonte de alimento indispensável ao homem e aos animais. Assim
como os polissacarídeos, as proteínas são compostos complexos e de elevado peso
molecular. São formadas por carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio a partir de
ligações peptídicas de aproximadamente 20 tipos diferentes de aminoácidos e sua
composição pode variar.

Exemplo

Principais proteínas encontradas nos alimentos:

• Milho (zeina, maizina, globulina, proteose)


• Arroz (orizeina, globulina)
• Feijão (faseolina, fasilina)
• Leite (caseína, lactalbumina, globulina)
• Carne (miogenio, micalbumina, miosina,
hemoglobina)
• Ovos (ovovitelina, ovalbumina,
ovoqueratina)

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

A fração de proteína não digerida é eliminada pelo sistema digestivo


juntamente com as proteínas de origem microbiana e também das enzimas utilizadas
na digestão. As dejeções animais, como as dos suínos por exemplo, apresentam
elevados teores de proteínas (45-60% do nitrogênio consumido é excretado), o que faz
com este tipo de resíduos orgânico seja um atrativo para a utilização como substrato na
digestão anaeróbia.
As moléculas de proteínas não podem ser transportadas diretamente para o
interior das células das bactérias durante a degradação. Duas enzimas chamadas de
protease e peptidase (exoenzimas) são produzidas pelas bactérias hidrolíticas que
quebram as ligações peptídicas e permitem que os aminoácidos individuais sejam
transportados e degradados no interior das células bacterianas. Alguns exemplos de
aminoácidos digeridos em reatores anaeróbios são apresentados no Quadro 4.

Quadro 4 - Aminoácidos usualmente digeridos em um reator anaeróbio


Aminoácido Bactéria

Alanina Clostridium propionicium

Arginina Clostridium spp. e Streptococcus spp.

Glutamato Clostridium tetanomorphium

Glicina Peptostreptococcus micros

Lisina Clostridium sticklandii

Durante a etapa de acidogênese, a degradação dos aminoácidos resulta na


produção de ácidos orgânicos (ex.: ácido acético e ácido butírico), além da liberação de
amônia (NH3) por meio da quebra das ligações peptídicas.

4H2NCH2COOH + 2H2O → 4NH3 + 2CO2 + 3CH3COOH

Glicina Ácido
Amônia acético
(aminoácido)

3.3. Lipídeos

Os lipídeos são substratos ricos em energia e com elevado potencial para a


produção de biogás com alto teor de metano. Os lipídeos incluem as gorduras e os óleos
e são encontrados nos tecidos tanto das plantas quanto dos animais, sendo formados
a partir da ligação entre uma molécula de glicerol e três moléculas de ácidos graxos (de
cadeia longa), que juntos formam os triglicerídeos.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Figura 4 - Exemplo de formação de um triglicerídeo a partir de três ácidos graxos.

Existem aproximadamente 40 tipos de ácidos graxos, que são classificados em


saturados, insaturados e polinsaturados. Os ácidos saturados não possuem dupla
ligação entre as unidades de carbono. Os ácidos insaturados (ou monoinsaturados)
apresentam apenas uma dupla ligação, e, por fim, os polinsaturados apresentam duas
ou mais duplas ligações entre as unidades de carbono. Alguns dos ácidos graxos mais
comuns são apresentados no Quadro 5.

Quadro 5 - Exemplos de ácidos graxos de cadeia longa (mais de 12 unidades de carbono)


Duplas
Nome Fórmula Propriedade
ligações
Ácido láurico C12H24O2 saturado 0
Ácido mistírico C14H28O2 saturado 0
Ácido palmítico C16H32O2 Saturado 0
Ácido oleico C18H34O2 monoinsaturado 1
Ácido linoleico C18H32O2 polinsaturado 2
Ácido linolênico C18H30O2 polinsaturado 3

As gorduras animais (ex.: banha) e as gorduras e óleos vegetais (ex: azeite de


oliva e óleo de girassol) são as principais formas de lipídeos na natureza. A gordura
saturada é proveniente de derivados de carne bovina e leite. A gordura monoinsaturada
é derivada de frutas como abacate e óleos vegetais. Já a gordura poli-insaturada é
encontrada em peixes, soja e grãos em geral.
As gorduras e óleos são hidrolisados na primeira etapa da digestão anaeróbia
e transformados em ácidos graxos de cadeia longa. Durante a fase de fermentação
estes ácidos são convertidos em ácidos orgânicos voláteis (até 7 unidades de carbono)
que são então consumidos pelas bactérias acetogênicas e archeas metanogênicas.

24
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Atenção:

O alto teor de lipídeos presente no substrato


utilizado para a alimentação dos reatores
pode resultar em elevado volume de biogás.

Contudo, a acumulação de ácidos graxos


dentro do reator pode acarretar inibição do
sistema.

3.4. Lignocelulose

A biomassa lignocelulósica possui uma estrutura rígida e complexa, formada


principalmente por celulose, hemicelulose e lignina. Além disso, também fazem parte da
sua composição a água e pequenas quantidades de proteínas e minerais. A
lignocelulose representa aproximadamente 20% a 30% da massa seca da parede
celular dos vegetais.
A celulose é um polímero formado a partir de ligações de glicose. A
propriedades da celulose dependem do seu grau de polimerização, ou seja, do número
de unidades de glicose repetidas na molécula. Usualmente o grau de polimerização da
celulose é superior a 300, com valores médios entre 800 a 10.000. A fibras celulósicas
são cobertas por hemicelulose e lignina.
A hemicelulose é um composto de baixo peso molecular formado
principalmente por xilose. Os polímeros que formam a hemicelulose são, de forma geral,
facilmente hidrolisáveis. No entanto, a hemicelulose é responsável pela ligação entre as
moléculas de celulose e lignina, o que torna a estrutura muito mais rígida.
A lignina é um polímero formado por uma estrutura complexa de álcoois
aromáticos interligados. A estrutura da lignina em uma planta tem a função de promover
resistência aos ataques microbianos e ao estresse oxidativo. A limitação da digestão
anaeróbia da lignina ocorre pela toxicidade de seus componentes aos microrganismos
anaeróbios, pela barreira física da sua estrutura que impede o acesso das enzimas e
por este ser um composto hidrofóbico, ou seja, não absorve água, a ação das enzimas
torna-se ainda mais limitada.
As principais fontes de biomassa lignocelulósica para a produção de biogás
incluem palhas de milho, trigo, resíduos de grama e resíduos de cama utilizada para a
produção de aves. A proporção dos diferentes componentes de lignocelulose dos
substratos varia de acordo com o tipo de substrato e fase de formação. O Quadro 6
apresenta alguns exemplos deste tipo de biomassa.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Quadro 6 - Teor de lignocelulose em diferentes substratos em base seca


Hemicelulose
Substrato Celulose (%) Lignina (%)
(%)
Espiga de milho 45 35 15

Frutas e hortaliças 17 10 6

Gramíneas 35 45 20

Palha de trigo 30 50 15

Dejeto suíno 6 30 N.I.

Dejeto bovino 3 2 5

3.5. Principais Fontes de Biomassa no Setor Agroindustrial

3.5.1. Dejetos Animais

O Brasil possui destaque na produção pecuária, com plantel de aves da ordem


de 1 bilhão, mais de 200 milhões de bovinos e 38 milhões de suínos. Mesmo com a
diferença de peso entre cada espécie de animal (usualmente 2,5 kg para aves, 500 kg
para bovinos e 90 kg para suínos), a quantidade e as características dos dejetos
gerados pela produção (cerca de 1 milhão de t/d) requer especial atenção quanto ao
manejo adequado.
Contudo, os dejetos animais representam uma das fontes de biomassa mais
importantes para a produção de biogás (e também a que apresenta uma das melhores
relações custo-benefício), tanto pela sua quantidade, quanto pela disponibilidade de
nitrogênio, o que favorece a reprodução dos microrganismos. Além disso, a digestão
anaeróbia dos dejetos animais é usualmente favorecida pelo bom equilíbrio de
componentes orgânicos, ou seja, de carboidratos proteínas e lipídeos.
Em função das características fisiológicas de cada espécie de animal, bem
como seu tamanho e, ainda, às características da produção, como tipo de alimentação,
sistema de confinamento e frequência de lavagens, torna-se difícil estabelecer
indicadores específicos de produção de dejetos e produção de biogás. Valores médios
sobre a composição macromolecular de diferentes tipos de dejetos animais são
apresentados no Quadro 7.

26
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Quadro 7 - Composição química média de diferentes tipos de dejetos animais


Sólidos Sólidos
Proteína Lipídeo
Tipo de dejeto Totais Voláteis
(% ST1) (% ST)
(%) (%)

Dejeto bovino 8 80 9 3

Dejeto suíno 4 75 11 12

Dejeto aves 20 75 10 3

Fonte: Adaptado de ONUDI (2014).

O grau de bioconversão em que a fração orgânica presente no substrato é


degradado em um reator anaeróbio depende da origem do material. O teor de matéria
orgânica decomponível nas dejeções de bovinos, por exemplo, é de apenas 35% devido
à alta concentração de fibras (lignocelulose) presentes na ração. Para os dejetos suínos,
observam-se valores de degradação em torno de 50% e para os dejetos de aves valores
ainda mais elevados, da ordem de 65% são registrados. Isto ocorre porque quanto maior
o teor de nitrogênio presente no dejeto bruto, maior é o grau de biodegradabilidade do
resíduo (Quadro 8).

Quadro 8 - Degradabilidade e pH dos dejetos animais


Teor de amônio do
Grau de degradação
conteúdo total de
Tipo de dejeto das substâncias pH
nitrogênio do dejeto
orgânicas (%)
(%)

Dejeto suínos 54 70 7,7

Dejeto bovino de leite 37 58 7,8

Dejeto avícola 67 85 8,2


Fonte: Adaptado de Deublein (2008).

De acordo com o Quadro 8, pode-se observar que o teor de amônio nos dejetos
de aves representa 85% do teor total de nitrogênio, o que torna este tipo de dejeto
altamente biodegradável. Contudo, a alta concentração de amônia em um reator
anaeróbio pode inibir o processo de digestão anaeróbia. O potencial de produção de
biogás e metano de diferentes dejetos animais é apresentado no Quadro 9.

1
Devido às características fisiológicas e do sistema de produção de cada tipo de animal, os
teores de umidade dos dejetos podem variar entre 40% a 90% do peso fresco do resíduo.

27
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Quadro 9 - Potencial metanogênico de diferentes dejetos animais.

Geração de Produção de Produção de


Peso animal Produção de
Tipo de dejeto resíduos biogás metano
(kg) carne (kg)
(kg - %) (m³/t substrato) (m³/t substrato)

Dejeto suíno 70 38 (55%) 31 (45%) 28 17

Dejeto bovino 350 140 (40%) 210 (60%) 80 44

Dejeto de aves 2 1.12 (56%) 0.88 (44%) 140 90

Fonte: Adaptado de BMELV (2010) e Díaz (2015)

Além do teor de nitrogênio presente nos dejetos, a fração de lignocelulose


também deve ser observada. Quando presente em cama de aves por exemplo
(composta usualmente por maravalha ou casca de arroz) e aliada ao baixo teor de
umidade da mistura (dejetos + cama) trazem dificuldades quanto à bioconversão.
Visando aumentar a eficiência da bioconversão de um substrato com tais características,
deve-se buscar a adição de um outro substrato (co-digestão) para equilibrar o teor de
nitrogênio e umidade da mistura. De forma geral, o teor de matéria seca do substrato
utilizado para a alimentação em um reator deve estar abaixo de 2% a 12%, visando
garantir a funcionalidade dos equipamentos operacionais como bombas e agitadores.
A distribuição do potencial de biogás ao longo do território paranaense é
apresentada na Figura 5.

28
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Figura 5 - Potencial de geração de biogás na pecuária paranaense.

Fonte: SENAI-PR (2016).

Pode-se observar que as regiões oeste e sudoeste apresentam destaque


quanto ao potencial de geração de biogás na pecuária. A suinocultura e avicultura
representam a maior parcela deste potencial na região oeste, enquanto as regiões
sudeste e centro-oriental possuem destaque quanto à suinocultura.
Além dos dejetos, materiais indesejados e inerentes ao processo de produção
animal devido à alimentação e manutenção das propriedades podem ser observados na
mistura e, desta forma, inibir a digestão anaeróbia, como:

• Areia proveniente de elementos minerais presentes na ração animal;


• Serragem;
• Solo;
• Pelos, cerdas e penas;
• Cordas, fios, plásticos e pedras em gera.

Os dejetos líquidos dos suínos também podem ser responsáveis pela formação
de material sedimentado no fundo de reatores anaeróbios, devido à presença de areia
e de uma fração não digerida de vegetais como milho e outros grãos. Além disso, o
elevado teor de cobre e zinco oriundos de aditivos na ração pode ser considerado um

29
Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

fator limitante à bioconversão destes dejetos. De forma geral, ácidos orgânicos,


antibióticos, quimioterápicos, acidificantes, desinfetantes encontrados nas dejeções
podem inibir e até interromper o processo de digestão anaeróbia.

3.5.2. Abatedouros

A contribuição brasileira para a produção mundial de bovinos, suínos e aves


cresce anualmente, com produção esperada para atender 44.5% da demanda global
em 2020. De acordo com o IBGE, 7,5 milhões de bovinos e 10,5 milhões de suínos
foram abatidos apenas no primeiro trimestre de 2018 (Vilvert et al., 2020).
As características físico-químicas dos resíduos variam em função das
condições climáticas, tipo de alimentação, idade e peso do animal (Quadro 10).

Quadro 10 - Características físico-químicas de diferentes resíduos do processo de abate

Nitrogênio
ST SV Lipídeos Proteínas
Resíduo pH total
(%) (%) (%) (%)
(%)

Rumem bovino 6.1 14.9 89.4 2.2 N.I. N.I.

Sangue bovino 7.4 19.8 75.0 15.0 N.I. N.I.

Resíduos do abate de
N.I. 53.2 98.8 1.0 86.6 65.7
bovinos

Conteúdo estomacal de
N.I. 18.2 98.3 7.8 47.8 36.8
suínos

Resíduos do abate de
6.2 N.I. N.I. N.I. N.I. N.I.
suínos
Fonte: Adaptado de Díaz (2015). N.I.: não identificado.

Os resíduos de abatedouros englobam os efluentes líquidos e resíduos sólidos


provenientes do abate e processamento de produtos de origem animal. Estes resíduos
se caracterizam por serem ricos em energia (moléculas de proteínas e lipídeos) e,
portanto, são uma fonte potencial para a geração de biogás. De forma geral são gerados
principalmente os seguintes tipos de resíduos em abatedouros: esterco, urina, vômito,
sangue, vísceras não comestíveis, gorduras, aparas, pelos/penas e efluentes líquidos
de lavagem de caminhões.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Atenção:

Se por um lado os resíduos de abatedouros


apresentam elevado potencial de geração de
biogás em plantas de tratamento, por outro
lado, o alto teor de proteínas e lipídeos destes
substratos pode acarretar problemas durante
a digestão anaeróbia.

A digestão das moléculas de proteína, por exemplo, pode favorecer a formação


de amônia (NH3) e inibir a atividade biológica das arqueas metanogênicas. A baixa
degradabilidade dos lipídeos pode causar problemas operacionais como entupimento
de bombas, flotação de lodo e geração de odor.
Uma das alternativas aplicadas para solucionar este problema é a mistura dos
resíduos de abatedouros com outros resíduos para equilibrar a relação C/N e minimizar
a formação de amônia durante o tratamento. O potencial de produção de metano de
diferentes tipos de resíduos gerados em abatedouros é apresentado no Quadro 11.

Quadro 11 - Potencial metanogênico de diferentes resíduos do processo de abate.

Potencial
Temperatura de Condição de
Resíduo de abatedouro metanogênico
operação operação
(L / kg SV)

Fração sólida de abate de


55oC Mistura completa 410
bovinos

Fração sólida e líquida do


abate de bovino/suíno 35oC Batelada 274-302
(mistura)

Abate de suínos 35oC Batelada 460

35oC Batelada 580

Abate de aves

35oC Mistura completa 520-580

Fonte: Adaptado de Díaz (2015).

3.5.3. Laticínios

A indústria alimentícia se caracteriza pela geração de quantidades


significativas de resíduos com alto elevados teores de matéria orgânica facilmente
biodegradável. O Brasil é o quarto maior produtor mundial de leite e este ramo da
agroindústria está entre as quatro maiores commodities agrícolas produzidas no País.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Entre os principais produtos gerados pelos laticínios estão o leite pasteurizado,


leite UHT, leite em pó, iogurtes, queijos, requeijão, manteiga e doce de leite e são
formados principalmente pelo soro do leite e do queijo e, ainda, resíduos de leite
rejeitado para o processamento industrial devido a contaminações.
De forma geral, são gerados entre 3 a 5 litros de efluentes por cada quilograma
de produto. As características físico-químicas dos efluentes gerados pelos laticínios
varia em função do tipo de produto fabricado. Estes efluentes podem ser ricos em
gorduras, carboidrato (lactose) e proteínas. Para a produção de 1 kg queijo por exemplo,
estima-se a utilização de 10 kg de leite, resultando na geração de 9 kg de resíduos. As
principais características do soro do leite são apresentadas no Quadro 12.

Quadro 12 - Principais características físico-químicas do soro do leite


Parâmetro Valor

Sólidos totais 5,7%

Sólidos voláteis 95%

Proteína 1,4%

Carboidratos 3,6%

Lipídeos 0,2%

Lipídeos 0,2%
Fonte: Adaptado de Martínez-Ruano et al. (2019).

O soro do leite possui entre 10-15% da proteína 70-75% da lactose presente


no leite e , por este motivo, possui potencial para o aproveitamento energético a partir
do biogás, pois além da alta biodegradabilidade, o elevado teor de alcalinidade faz deste
um substrato importante para a co-digestão anaeróbia (Antonelli et al., 2015).
O soro do leite vem sendo utilizado como ingrediente funcionais tanto na
indústria alimentícia quanto farmacêutica. Porém, se não tratado adequadamente,
principalmente em países sem tecnologia ou demanda para estes subprodutos, este tipo
de resíduo pode representar uma fonte significativa de poluição hídrica. A demanda
química de oxigênio (DQO) deste tipo de resíduo pode chegar a 70.000 mg/L (Martínez-
Ruano et al., 2019).

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

Exemplo

Potencial Metanogênico do Soro do Leite

→ 168 – 174 L CH4 kg/SV (Antonelli et al., 2015)


→ 163 L CH4 kg/SV (Amon et al., 2007)
→ 149 -268 L CH4 kg/SV (Lehtomaki et al., 2007)

3.5.4. Cervejarias

O Brasil é o terceiro maior produtor de cervejas do mundo, com


aproximadamente 100 milhões de hectolitros anuais, atrás apenas da China com 381 e
os Estados Unidos com 215 milhões de hectolitros ao ano (Statistica, 2020).
A geração de efluentes líquidos é da ordem de 2 a 6 litros por cada litro de
cerveja produzido. A DQO deste tipo de efluente varia entre 2.000 a 6.000 mg/L e cerca
de 50 a 70% da matéria orgânica presente nos efluentes é biodegradável, o que torna
a digestão anaeróbia uma técnica de tratamento atrativa para este tipo de efluente.
Os principais componentes dos efluentes líquidos são os açúcares, etanol e
amido solúvel. A geração de metano a partir do lodo de cervejaria em reator tipo
batelada resultou em 306 L CH4 kg/VS (Agler et al., 2010).
O bagaço de malte é o principal subproduto sólido gerado nas cervejarias,
representar até 75% do total. Além disso, são gerados em menores quantidades o
bagaço de cevada, levedura e pó de malte. Parte destes subprodutos são incorporados
pela indústria alimentícia ou para a produção de ração. A principais características dos
efluentes líquidos gerados nas cervejarias são apresentadas no Quadro 13.

Quadro 13 - Principais características físico-químicas do efluente de cervejarias


Parâmetros Valor médio

Sólidos totais 1,2 mg/L

Sólidos voláteis 1,1 mg/L

Sólidos sedimentáveis 270 mg/L


Nitrogênio total 17,4 mg/L

Relação C/N 80
Fonte: Adaptado de Dos Santos et al. (2017).

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

4. CONCLUSÃO

A digestão anaeróbia é uma tecnologia aplicada ao tratamento de resíduos.


Além de degradar a matéria orgânica, reduzindo seu potencial poluidor, gera dois
produtos altamente consumíveis na atual situação energética e econômica. Trata-se do
biogás e do digestato. O biogás inserido na matriz energética torna-se uma opção para
geração de energia, elétrica, térmica e/ou veicular, e o digestato que dependendo de
suas características serve para enriquecimento de nutriente do solo.
Contudo, para um melhor aproveitamento desses produtos, conhecer suas
etapas e especificidades dos microrganismos torna-se necessário. Além também dos
tipos de substratos e como, em função dos seus compostos químicos, ocorrerá a
degradação dos materiais.
Outro importante ponto avaliado é a questão de conhecer as principais fontes
de biomassa do setor agroindustrial que estão disponíveis para produção do biogás. O
setor agroindustrial é importante para o desenvolvimento do país e em todas regiões
algum tipo de industrial está instalada. Ou seja, existe a possibilidade de produção de
biogás em todas regiões com diversos tipos de substratos.
Diante disso conclui-se a importância do uso da digestão anaeróbia, primeiro
para tratamento de resíduos e segundo como fonte de geração de dois produtos, o
biogás e o digestato.

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
Biogás

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Digestão Anaeróbica: Características do Substrato, Principais Fontes e Etapas da Produção de
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