Diretrizes IBAMA Capivaras e FMB
Diretrizes IBAMA Capivaras e FMB
Diretrizes IBAMA Capivaras e FMB
1. Introdução
O controle da capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) tem requerido o empenho do Ibama por tratar-se
de espécie potencialmente causadora de dano agrícola e hospedeira primária dos carrapatos Amblyomma
cajennense e Amblyomma dubitatum, transmissores da Febre Maculosa Brasileira (FMB).
As duas espécies de carrapatos são os principais vetores da doença nos municípios do Estado de São
Paulo mais afetados, localizados na região de Campinas e pertencentes às bacias hidrográficas dos rios
Piracicaba, Capivari e Jundiaí. Nestes municípios, percebe-se maior presença da capivara nas áreas urbanas,
embora nenhum estudo tenha esclarecido, ainda, se esta situação resulta de fato de um crescimento
populacional, ou de alterações no padrão de distribuição e abundância. Possivelmente as perturbações na
dinâmica populacional da espécie estão relacionadas às fortes pressões antrópicas que resultaram em
mudanças drásticas nas paisagens originais dessas bacias e no desaparecimento dos predadores naturais.
Quaisquer que sejam as razões para a maior ocorrência da capivara em áreas urbanas, esta situação
proporciona um aumento do grau de exposição das comunidades humanas à Febre Maculosa. Embora não
tenha sido totalmente esclarecido, ainda, se e como a capivara contribui para a manutenção da bactéria
Rickettsi rickettsii no ambiente, seu papel de hospedeiro primário dos vetores justifica, em algumas situações,
o desenvolvimento de medidas voltadas à redução dos seus níveis populacionais.
Durante os anos de 2005 e 2006, diversos encontros foram mantidos entre o Ibama SP e a Sucen de
Campinas para a definição de diretrizes de combate à Febre Maculosa. Nestas oportunidades, o Ibama
contribuiu esclarecendo os aspectos técnicos relacionados ao manejo da capivara.
Nos encontros, ressaltou-se a importância do tratamento inter-setorial e interinstitucional da Febre
Maculosa dada a multiplicidade de fatores que concorrem para a sua manifestação e, portanto, das
possibilidades de ação para a prevenção e o controle, todas igualmente importantes. Estas ações devem
englobar, além do controle da capivara:
• o controle sanitário dos outros hospedeiros com igual importância na difusão de carrapatos,
particularmente os eqüídeos e os canídeos;
• o aumento dos conhecimentos sobre os aspectos ainda não esclarecidos do ciclo da FMB.
A redução dos níveis populacionais da capivara deverá ser inserida, portanto, no contexto mais
amplo do combate à FMB, aliada a todas as outras medidas necessárias à prevenção e controle da doença.
As diretrizes ora propostas se pautam nas decisões tomadas na reunião realizada em 22/03/06 no
CAO - UMA do Ministério Público Estadual de São Paulo e incorporam o “Plano de ações para o controle
da Febre Maculosa Brasileira em áreas com presença de capivaras”, proposto pela Superintendência
Estadual de Controle de Endemias - SUCEN. As diretrizes apontam para ações diferenciadas nas áreas de
alerta e de risco da FMB, de maneira a atender às particularidades de cada situação e à legislação ambiental
que versa sobre o tema.
3. Diretrizes
3.1. Justificativas
• intensificação das ações de controle e fiscalização no que diz respeito às ocupações irregulares
das Áreas de Preservação Permanente dos corpos d’água.
• Fomento aos programas de restauração das matas ciliares. Neste sentido, destaca-se a
importância do “Projeto de Recuperação de Matas Ciliares”, elaborado pela Secretaria Estadual
do Meio Ambiente (SMA), em andamento desde o segundo semestre de 2005. O projeto prevê a
realização de pilotos em 15 micro-bacias de 5 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(UGRH), incluindo a UGRH Piracicaba/Capivari/Jundiaí, em que se localizam os municípios
mais afetados pela Febre Maculosa.
É importante salientar que, dada a participação da capivara no ciclo da FMB, as decisões a respeito
do manejo do habitat deverão ser tomadas ouvindo-se especialistas da área sanitária.
Naturalmente, grupos de capivaras raramente se encontram isolados, uma vez que, possivelmente,
derivam de grupos localizados em áreas próximas dos quais se dispersaram para formar novas famílias. A
dispersão e a colonização de novos ambientes são facilitadas pelo hábito de deslocar-se principalmente pelos
corpos d’água, os quais conectam os diversos fragmentos de habitats localizados na mesma micro-bacia.
Portanto, para a remoção total das capivaras, será necessário realizar adequações no ambiente, através de
barreiras físicas de maneira a impedir que haja re-introdução, quer seja pelas margens, quer seja pela água.
O isolamento das áreas para a realização do manejo da capivara poderá implicar na instalação de
cercas em Áreas de Preservação Permanente e grades em cursos d’água e, portanto, não poderá prescindir de
uma avaliação dos impactos que podem resultar deste tipo de intervenção. Dentre outros, destacamos:
• dificultar o escoamento da água, com provável impacto negativo sobre as áreas localizadas a
montante, aumentado os riscos de alagamentos principalmente nas épocas chuvosas;
Os animais retirados das áreas de risco deverão ser abatidos, não sendo recomendada nenhuma outra
destinação, como criadouros ou translocação. Esta conduta, recomendada pela Sucen e por especialistas da
área médico-veterinária, baseia-se no reconhecimento de que os tratamentos com carrapaticidas não são
eficazes a ponto de eliminar todos os carrapatos encontrados no hospedeiro. O abate visa impedir que
carrapatos eventualmente infectados sejam transportados de uma área a outra, contribuindo para a difusão da
Febre Maculosa para outras áreas do estado.
D. Monitoramento populacional
As diretrizes propostas no presente trabalho serão recomendadas aos órgãos municipais para que
sejam incorporadas em seus planos de controle da FMB. Nesta perspectiva, recomenda-se que as decisões
referentes às áreas de risco sejam tomadas no interior de grupos municipais inter-setorias convocados para
esta finalidade precípua.
Os grupos inter-setoriais poderão avaliar, entre outros, os seguintes aspectos:
• medidas para o controle dos carrapatos e manejo dos outros hospedeiros, conforme preconizado
pela SUCEN.
Competências quanto às pessoas físicas e/ou jurídicas que deverão executar as ações definidas.
4. Referências bibliográficas
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ROSSANA BORIONI
Analista Ambiental - Mat. SIAPE 1423508
Divisão de Fauna e Recursos Pesqueiros