Controle Da Dor em Cães e Gatos

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INFORMATIVO TÉCNICO VETNIL ANO 2019 • Nº 04

ESPECIALIDADESEM FOCO

CONTROLE DA
DOR EM CÃES
E GATOS

Profa. Titular Denise Tabacchi Fantoni


Departamento de Cirurgia
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia -
Universidade de São Paulo (USP)
ESPECIALIDADES EM FOCO CONTROLE DA DOR EM CÃES E GATOS
ÍNDICE
Introdução 04
Fisiopatologia da dor 06
Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) 07
Mecanismo de ação dos AINEs 07
Efeitos adversos 08
Principais AINEs utilizados na rotina clínica 08
Analgésicos não convencionais 09
Agentes opioides agonistas-antagonistas 11
Agentes opioides antagonistas 11
Considerações finais 12
Referências 13
ESPECIALIDADES EM FOCO CONTROLE DA DOR EM CÃES E GATOS

Introdução diabetes melito, lesão medular, compressão e lesão de nervos


periféricos, acidente vascular cerebral, entre outras.

Nos últimos anos o tratamento da dor em animais evoluiu A dor aguda se tratada de forma inadequada, pode evoluir
consideravelmente devido a vários fatores, entre eles o para a dor crônica, de difícil remissão em muitos casos e
aumento de informações publicadas acerca da fisiopatologia cujo tratamento além de ser longo requer o emprego de
da dor, seus efeitos adversos e modalidades terapêuticas, bem medicações especiais. A dor deve ser sempre tratada a despeito
como em decorrência da disponibilização de vários fármacos de sua origem, característica, tempo de duração, idade e condição/
no mercado nacional. estado de saúde do paciente. E para que o tratamento seja bem-
sucedido, a escolha dos fármacos analgésicos e adjuvantes deve
Quando o assunto é a dor, o primeiro aspecto a ser sempre ser realizada com base no grau e no tipo de dor que acomete
lembrado, é que a sua presença pode acarretar efeitos o paciente. A dor aguda é tratada preferencialmente com
sistêmicos importantes e indesejáveis, e com isso prejudicar os analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs)
a recuperação de um animal submetido a um procedimento associados ou não aos opioides dependendo do grau de
ALTERAÇÕES
cirúrgico, além DESECANDEADAS
de comprometer PELA DOR(Quadro 1).
o seu bem-estar dor. Já na dor crônica e/ou de origem neuropática deve-se
associar fármacos específicos como os anticolvulsivantes ou
Sistema Hipercoagulabilidade antidepressivos.
hematológico
A definição do grau de dor presente em cada situação,
Sistema Taquicardia, hipertensão como citado também é de fundamental importância para
cardiovascular se estabelecer a terapia mais adequada. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS) a escolha dos fármacos
Sistema infecção, pode ser orientada pela “escada de analgesia” que distribui a
Imune cortisol dor em três ou quatro degraus relacionados à sua intensidade.
Sistema Hiperglicemia, catabolismo proteico Assim, a dor leve deve ser tratada com os AINEs, a dor
endócrino aumentado moderada com AINEs e opioide fraco e a dor intensa com
AINEs e opioide forte (Figura 1). A dipirona também poderá ser
ESCADA ANALGÉSICA MODIFICADA O.M.S.
Esfeitos Alteração sono, alteração do humor, adicionada
DOR AGUDA a qualquer um destes degraus já que é capaz de
Centrais depressão incrementar a analgesia.

Sistema Esvaziamento Gástrico, Métodos


TORTURANTE 4
GI Peristalse invasivos

Quadro 1: Principais alterações ocasionadas pela dor nos diferentes AINE + opioide forte
INTENSA 3 terapia não farmacológica
sistemas e órgãos.
AINE + opioide fraco +
MODERADA 2 terapia não farmacológica
Existem várias formas de se classificar a dor, de acordo
por exemplo com sua origem ou mecanismo (nociceptiva LEVE 1 AINE +
terapia não
ou neuropática) ou ainda pelo tempo com o qual a dor se farmacológica AINE associado ou não a dipirona
manifesta.
Figura 1: Escada Analgésica da O.M.S.
De acordo com a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor
(SBED)1, levando-se em conta o aspecto temporal, a dor O importante é se ter em mente que o protocolo de analgesia
pode ser classificada em dor aguda, que é aquela associada deverá ser ajustado de acordo com a evolução da doença.
à lesão em tecidos ou órgãos, ocasionada por inflamação, Assim sendo, nos quadros de dor aguda, geralmente haverá
infecção e traumatismo ou outras causas e que se manifesta diminuição de sua intensidade à medida que o insulto
transitoriamente durante um período relativamente curto, de inflamatório vai se atenuando, ao passo que no caso de dor
minutos a algumas semanas. Em dor crônica, que geralmente crônica que advém de uma doença que tende a se agravar, a
está associada à doença crônica ou em consequência de dor poderá piorar. Por estas razões é necessário acompanhar
uma lesão já tratada, porém sem sucesso, e a qual pode se o tratamento com avaliações frequentes do estado de saúde
estender de vários meses a anos, citando como exemplos de cada paciente e avaliar as respostas à dor continuamente.
clássicos, a artrite e a dor oncológica. Além disso, há a dor
neuropática, que é aquela dor gerada por lesão ou disfunção Embora o diagnóstico da dor nos animais seja um desafio, há
do sistema somatossensorial, em seus elementos periféricos várias formas de avaliá-la de maneira correta para orientar a
(dor neuropática periférica) ou no sistema nervoso central escolha e adequação da terapia analgésica. Sem dúvida alguma,
(dor neuropática central), tendo como causas mais comuns: a precisar a magnitude da dor por meio de uma ferramenta de fácil

4
aplicação e que seja capaz de fornecer a informação desejada e na EAV, em uma linha de 10 cm, o avaliador marca o local que
de forma confiável é o que todos almejamos. Há várias escalas poderia corresponder ao grau de dor apresentado pelo animal.
multifatoriais propostas nas últimas duas décadas para avaliar Esta avaliação da dor deve ser realizada já no momento do
a dor em cães e gatos sendo as mais empregadas as escalas de primeiro atendimento do animal, anotada no prontuário e em
Glasgow modificada, Unesp-Botucatu, Melbourne e Colorado cada nova consulta ou reavaliação. Assim, um histórico do
sobretudo nos trabalhos científicos. quadro álgico bem como a resposta ao tratamento podem ser
analisados e readequados quando necessário.
Deve-se também partir da premissa que a escolha dos
Um aspecto crucial na avaliação da dor dos cães e gatos
fármacos analgésicos, deve partir de um princípio geral que
é a análise cuidadosa do paciente antes de qualquer
norteie inicialmente esta escolha, pois de outra forma, não
intervenção, pois como mencionado, a dor suscita alterações
seria factível selecionar um protocolo de analgesia para um
de comportamento e alguns animais podem ser muito
indivíduo que será submetido a um procedimento cirúrgico e
expressivos e demonstrar a dor ou desconforto de maneira
que não tem dor antes da cirurgia. Por este motivo, a OMS
muito evidente3. Alguns gatos com dor por exemplo, tendem
lançou o conceito da escada da analgesia, facilitando a escolha
a ficar com aspecto deprimido, com a cabeça baixa, olhos
inicial da terapia analgésica com base no grau de dor que
semicerrados como se estivessem sonolentos (Figura 2). Em
determinado estímulo cirúrgico ou lesão pode ocasionar.
recente estudo que analisou o comportamento de dor em
Também lembramos que muitas vezes o animal pode estar
gatos, os pesquisadores puderam identificar 26 sinais de dor
experimentado dor intolerável, porém expressando esta
nesta espécie, além dos descritos acima, a postura encurvada,
sensação de maneira sutil, pois afinal sentir uma sensação
a reação à palpação, esfregar-se menos, a dificuldade para
qualquer não é a mesma coisa de expressá-la, sendo este o
desafio de nós médicos veterinários de diagnosticar a dor. saltar entre tantos outros 4 .

Daí a importância de se diagnosticar ou quantificar a dor


utilizando uma abordagem multifatorial, onde vários
aspectos podem ser analisados conjuntamente. Nos quadros
de dor aguda, as alterações bruscas de comportamento, das
funções vitais, do apetite, da mobilidade, podem auxiliar
no diagnóstico da dor e de seu grau. Já na dor crônica, as
mudanças podem ir ocorrendo de forma mais tênue e tanto
o tutor quanto o médico veterinário devem estar atentos a
alguns aspectos para identificar os quadros mais sutis. No dia
a dia, uma escala que auxilia muito a escolha de medicamentos
analgésicos sobretudo para o manejo da dor pós-operatória
e seus ajustes é a escala proposta por Lascelles et al (1994)2 .
Nesta abordagem, avalia-se o paciente por meio da palpação
da ferida cirúrgica, ou do local lesionado, e pela resposta que
o animal demonstra, gradua-se o grau de dor, considerando-
se dor leve - 1, dor moderada - 2 e dor intensa - 3. (Quadro 2).

ESCORE CARACTERÍSTICA
Figura 2: Expressão facial de gato sugestiva de dor.
Analgesia completa, sem sinais de desconforto ou sem resposta à
0 pressão na ferida cirúrgica.
Os cães também podem modificar a expressão facial e o
1
Boa analgesia, sem sinais de desconforto com reação à pressão comportamento quando experimentam a dor. Porém, engana-
exercida na ferida cirúrgica.
se o profissional que espera que todos os animais com dor a
Moderada analgesia, com alguns sinais de desconforto que se tornam
2 amis evidentes com a pressão exercida na ferida cirúrgica.
manifestem por meio de reações descomunais, vocalização,
uivos, miados e movimentos corporais exagerados. Importante
Com sinais óbvios de desconforto, piorando com pressão exercida na
3 ferida cirúrgica. é ressaltar que não existe um comportamento patognomônico
de dor para todos os animais, há certamente, indivíduos,
Quadro 2: Escala de análise descritiva de Lascelles e colaboradores, 1994. raças e espécies que expressam a sensação dolorosa de
maneira mais veemente, porém uma gama de animais não irá
Outra opção é o emprego das escalas subjetivas como a escala expressá-la com a mesma intensidade (Figura 3a e 3b). De fato
numérica verbal (ENV) ou a escala análoga visual (EAV). Nestas há várias escalas para avaliação de dor nos animais baseadas
escalas o tutor ou avaliador confere uma nota à dor que poderá exclusivamente nas expressões faciais que podem auxiliar o
variar de zero a dez (0 = sem dor, 10 = a pior dor possível). Na médico veterinário na avaliação.
ENV se atribui um número à dor de acordo com esta pontuação

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ESPECIALIDADES EM FOCO CONTROLE DA DOR EM CÃES E GATOS

o estímulo poderá ascender ou não até o sistema nervoso


central e aí sim será interpretado como dor. No CDM, as
fibras nervosas (Aδ e C) farão sinapse com neurônios de
segunda ordem, e nesta sinapse encontram-se os receptores
ionotrópicos especializados
TERMINAL (AMPA E NK-1), que regulam o
PRÉ-SINÁPTICO
influxo de íons contribuindo ou não para a despolarização do
neurônio e avanço do estímulo doloroso (Figura 4).
K 5-HT3
GABAA μ
δ α2

Glutamato Glu
NK-1 5-HT2

SP SP
Figura 3a: Expressão facial de cão Figura 3b: Expressão facial de cão
sem dor antes de procedimento após o procedimento cirúrgico NK-1
AMPA NMDA
cirúrgico. sugerindo presença de dor e/ou μ δ NK
-1

desconforto. CI K δ CI

10
K+
K +
μ α2 K+ K +

S-TH
GABAA GABAA
Adn GABAA
Adn

Os tutores também podem ajudar muito a interpretar um


comportamento inusitado quando estamos com dúvida, TerminalPós-Sináptico
Terminal Pós-Sináptico
sobretudo porque o cão ou o gato fora de seu ambiente pode Neurônio de 2d ordem
apresentar comportamentos completamente diferentes do
normal e que não sejam necessariamente de dor. Para os Figura 4: Representação esquemática do terminal sináptico entre
animais com dor crônica, as escalas que avaliam a qualidade neurônio de primeira e segunda ordem.
de vida, especialmente quando analisadas pelo tutor auxiliam
na avaliação dos quadros dolorosos5. As principais substâncias liberadas na fenda sináptica e
responsáveis pela despolarização do neurônio de segunda
ordem são: o glutamato e o aspartato, sendo que a quantidade
Fisiopatologia da dor destes aminoácidos liberados na sinapse dependerá da
intensidade do estímulo doloroso. Outro receptor que se
encontra nesta sinapse, mas que em condições normais está
Quando ocorre o dano celular, os fosfolipídeos que compõem inativo é o receptor NMDA (ácido N-methyl-D- aspartato).
as membranas celulares são degradados pela ação da enzima Este receptor, entretanto, pode tornar-se ativo mediante
fosfolipase A2, presentes em leucócitos e plaquetas e a qual é um estímulo de grande magnitude ou estímulos contínuos,
ativada por substâncias pro-inflamatórias originadas a partir levando ou não a perpetuação da dor ou sua cronificação.
do tecido lesionado. Esta degradação dos fosfolipídeos levará
a produção de ácido araquidônico, que uma vez metabolizado Considerando este cenário, fica fácil entender que a
originará os leucotrienos, por ação da lipooxigenase e das intervenção terapêutica do processo doloroso poderá ocorrer
prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos por ação em vários níveis. Perifericamente por meio da inibição da
da ciclooxigenase (COX). As prostaglandinas geradas neste ativação do nociceptor ou do fenômeno de transdução;
processo, são os mediadores chave da sensibilização periférica alterando ou inibindo a condução do impulso doloroso dos
e central, ou seja, promovem o aumento da excitabilidade dos nociceptores até os neurônios de segunda ordem na medula;
nociceptores aferentes primários quanto as alterações do alterando a transmissão destes impulsos dolorosos quando
processamento central de estímulos sensoriais no sistema as fibras nervosas Aδ e C chegam no CDM; incrementando a
nervoso central, respectivamente6. modulação do estímulo que pode ocorrer na sinapse entre o
neurônio de primeira ordem e o de segunda ordem no CDM,
A dor ocasionada pela inflamação resulta basicamente desta como também no sistema ativador reticular, tálamo, sistema
sensibilização dos nociceptores, que nada mais são que as límbico e/ou no córtex cerebral (Figura 5).
terminações nervosas livres de neurônios sensitivos estando
localizados em vários locais do organismo. Os nociceptores
por sua vez serão capazes de gerar a despolarização elétrica
mediada por íons cálcio, a qual será conduzida pelos nervos
periféricos até chegar ao corno dorsal da medula (CDM). Na
medula, dependendo da magnitude do potencial de ação
gerado no nociceptor, bem como de processos inibitórios,

6
MECANISMO PERIFÉRICO DA DOR AGUDA

Mecanismo de ação dos AINEs


Percepção da dor

Os AINEs atuam mediante a inibição da síntese de


prostaglandinas (PG), pelo bloqueio da ação da enzima
CDM
ciclooxigenase (COX) perifericamente (Figura 6) ou no sistema
Modulação Medula espinal
nervoso central. Embora a COX tenha sido isolada em 1976, foi
apenas em 1991 que as suas duas isoformas (COX-1 e COX-2) foram
Ganglio da raiz dorsal identificadas propiciando, não apenas o melhor entendimento
do mecanismo de ação destes agentes, mas também a síntese
de fármacos mais modernos e voltados para o bloqueio mais
Transmissão
seletivo da inflamação. Anos depois, uma terceira enzima
(COX-3) foi identificada e a qual se imputou o possível
mecanismo de ação central da dipirona e do paracetamol.
INJÚRIA
Transdução TECIDUAL

FOSFOLIPASES
Receptores de frio, calor, mecanoreceptores e nociceptores

ÁCIDO
TRAUMAS FÍSICOS, QUÍMICOS E MECÂNICOS ARAQUIDÔNICO

ESTÍMULOS ESTÍMULOS
FISIOLÓGICOS INFLAMATÓRIOS
COX-1 COX-2
(CONSTITUTIVA) (INDUZIDA)

AINES CONVENCIONAIS

AINES PREFERENCIAIS/
SELETIVOS COX-2
Figura 5: Representação esquemática do mecanismo periférico da
dor aguda e os fenômenos de transdução, condução, transmissão,
PROSTAGLANDINAS
modulação e percepção.

EFEITOSHOMEOSTÁSICOS EFEITOS INFLAMATÓRIOS

Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) • Proteção Gástrica


• Homeostasia Renal
• Função Plaquetária
• Aumento da temperatura local
• Dor
• Rubor
• Edema

Os AINEs são provavelmente os fármacos mais prescritos no Figura 6: Representação esquemática da cascata do ácido
mundo para o tratamento da dor aguda e crônica tanto no araquidônico desencadeada por estímulo fisiológico ou inflamatório
homem como nos animais. Possuem efeito analgésico, anti- pela ação da COX 1 e COX 2 e originando a formação de prostaglandinas,
inflamatório e antipirético cuja intensidade varia de acordo prostaciclinas e tromboxanos.
com o agente. Atualmente são prescritos para uma gama
significativa de situações que geram a dor como aquela Todas as isoformas da COX possuem importantes ações
relacionada ao trauma, a dor pós-operatória, a osteoartrite, e fisiológicas, fato que explica a ocorrência de efeitos adversos
várias outras situações que podem desencadeá-la. quando as mesmas são bloqueadas pelos AINEs7. De fato,
a diminuição da síntese de prostaglandinas que resulta do
As vantagens destes agentes, além das já citadas ações anti- bloqueio da COX-1, está associada a irritação gástrica, lesão
inflamatória e analgésica, reside no fato de serem geralmente renal, enteropatia e aumento do tempo de sangramento. Por
bem absorvidos pela via oral, de administração diária, com boa outro lado, sabe-se que a síntese de COX-2 pode aumentar
aceitação pelos proprietários, e de fácil prescrição já que não em quase 20 vezes durante o insulto inflamatório, já que está
necessitam de receituário especial. A maioria deles também presente primariamente nas células envolvidas no processo
pode ser administrada pelas vias intravenosa, subcutânea e inflamatório como os macrófagos, monócitos e sinoviócitos,
intramuscular e dependendo do agente podem ser utilizados razão pela qual o bloqueio mais seletivo ou preferencial desta
por longos períodos. São administrados como agentes únicos isoforma, além de poupar a COX-1, é efetivo para diminuir a
para o tratamento da dor leve ou associados aos opioides inflamação e a dor devido a sensibilização dos nociceptores e
para o controle da dor de grau moderado a intenso, sendo causar menos efeitos adversos. Portanto, a priori, fármacos
extremamente eficazes para o tratamento da dor inflamatória. seletivos ou preferenciais COX-2 tendem a promover menos
efeitos adversos que aqueles que bloqueiam mais a COX-1.

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ESPECIALIDADES EM FOCO CONTROLE DA DOR EM CÃES E GATOS

Todavia, a COX-2 também é constitutiva sendo importante de comprometimento do órgão, às vezes, um mínimo estímulo
para a homeostasia da coagulação por exemplo, já que a PGI2 pode desencadear efeitos exacerbados. Face ao seu mecanismo
promove vasodilatação e inibição da agregação plaquetária, de ação e a despeito de se empregar os fármacos seletivos ou
contrabalançando o efeito do TBXA2 que promove a agregação preferenciais COX-2, os AINEs são contraindicados em algumas
plaquetária. situações tais como: animais com maior sensibilidade gástrica,
situações de baixo volume circulante como nos quadros
de insuficiência cardíaca congestiva, uso de diuréticos,
Efeitos adversos uso concomitante de outro AINE ou corticoides, gestação,
insuficiência renal, hepática, hipotensão e coagulopatias.

Os AINEs de maneira geral estão associados a efeitos adversos


gastrointestinais, sendo os mais comumente observados a Principais AINEs utilizados na rotina clínica
diarreia, êmese e irritação gástrica e nos casos mais graves
ulcerações, sangramento do trato gastrointestinal e até mesmo
óbito. Como mencionado, com os fármacos preferenciais · Meloxicam
COX-2 (meloxicam e carprofeno) e os seletivos (coxibes) estes
efeitos são de menor intensidade. Já em relação aos efeitos Fármaco cuja eficácia e segurança foi amplamente avaliada
renais, todas as classes de AINEs estão relacionadas aos tanto em cães quanto em gatos por meio de estudos que
efeitos deletérios da inibição da vasodilatação e da alteração avaliaram a eficácia em estudos clínicos de dor aguda e
do fluxo sanguíneo renal, portanto cuidado redobrado com crônica bem como a incidência de efeitos adversos renais e
a função renal é fundamental sobretudo nos animais idosos, gastrointestinais, sendo um AINE preferencial para a COX-2.
desidratados, com quadros que podem afetar a função renal
(sepse, choque) e com doença renal pré-existente. Embora O meloxicam é metabolizado por meio de vias oxidativas e não
a literatura ainda não trate deste assunto de maneira por glucoronidação o que especialmente para o gato é muito
mais detalhada, deve-se atentar também que hoje, com o apropriado. Além disso, demonstrou-se que seu emprego
incremento do uso de diuréticos e fármacos para controlar a em baixas doses para tratamento da doença articular
pressão arterial nos animais cardiopatas, a associação destes degenerativa, (0,02mg/kg) em gatos idosos mesmo com doença
medicamentos com os AINEs pode repercutir de maneira renal, não foi associado com piora da função renal, desde que
deletéria nos rins. Outro aspecto importantíssimo em relação o quadro clinico estivesse adequadamente controlado9. Neste
aos efeitos renais dos AINEs é que a insuficiência renal aguda estudo retrospectivo, a avaliação sequencial da creatinina ou
pós-operatória está intimamente ligada a ocorrência de de ultrassom renal não diferiu quando comparados os gatos
hipotensão perioperatória. Sendo assim, cuidados relativos controle daqueles com a doença renal. Outro achado positivo
à mensuração da pressão arterial, fluidoterapia intravenosa, deste estudo foi que se evidenciou progressão da doença
e anestesia adequada devem ser observados quando do uso renal nos animais que não receberam o meloxicam, ao passo
destes medicamentos no período peri-operatório. Por esta que aqueles tratados com o fármaco não demonstraram
razão, alguns profissionais não utilizam os AINEs de maneira esta evolução. Além disso, mostrou-se palatável para o
pré-operatória, deixando a sua administração apenas para os gato, bem aceito pelos proprietários e com baixa incidência
momentos que antecedem o término da cirurgia, quando a de efeitos adversos gastrointestinais 10. Por estas razões, este
pressão arterial está normal e não corre mais o risco de se medicamento é hoje provavelmente o AINE mais prescrito nesta
alterar por qualquer motivo ligado a anestesia em si, ou ao espécie.
procedimento cirúrgico. Ademais, a efetividade da analgesia
preemptiva com AINEs é matéria de controvérsia na literatura Promove analgesia adequada por até 24 horas em gatos 11
sendo que a maioria dos estudos publicados mais recentemente e no cão12. O mesmo estudo em gatos avaliou por até cinco
apresentam resultados negativos, diferentemente do que dias a função renal e hepática e não encontrou qualquer
evidenciado com o emprego de anestésicos locais, opioides efeito negativo do fármaco sobre estes parâmetros quando
administrados no neuro-eixo e até mesmo a cetamina8. administrado uma vez ao dia na dose de 0,05mg/kg após uma
primeira dose de 0,1mg/kg.
Em relação aos efeitos hepáticos dos AINEs, apesar de
relatos de hepatotoxicidade com o emprego de carprofeno O meloxicam parece ser particularmente interessante para ser
em cães tratados com este agente, a incidência de efeitos empregado nos quadros de osteoartrite, tanto em cães quanto
adversos é baixa nos animais. Com exceção, obviamente é nos gatos, por várias razões. Inicialmente por não alterar o
o uso do paracetamol no gato, que sabidamente é proibido metabolismo da cartilagem articular, fato demonstrado em
nesta espécie pois promove falência hepática fulminante. cães em estudo experimental in vitro13. Em ambas as espécies
É aconselhável, entretanto, ponderar o emprego dos AINEs se mostrou muito efetivo, sendo administrado por período
em animais com hepatopatias, visto que estes podem razoavelmente longo, sem haver aumento da incidência de
apresentar taxa de metabolização e de produção de fatores efeitos adversos.
de coagulação diminuída, e por se desconhecer ao certo o nível

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Nos gatos, os estudos relatam uma média de 4 a 5 semanas Quanto à ação analgésica e anti-inflamatória parece não
de tratamento continuado com adequada redução da dor, diferir dos demais agentes.
aumento da atividade noturna e sem verificar-se alterações
da função renal9,10,14 . Comparado ao rofenacoxibe, para o
tratamento da dor após procedimentos ortopédicos em gatos, · Coxibes (Firocoxibe, Mavacoxibe e Robenacoxibe)
mostrou-se igualmente eficaz 15.
O Firocoxibe foi recentemente introduzido no mercado
Também foi comparado ao mavacoxibe para o tratamento da nacional, e trata-se de um coxibe, ou seja, um fármaco seletivo
osteoartrite no cão, sendo administrado continuadamente por COX2. Está indicado para o tratamento da osteoartrite
um período de 12 semanas sendo que os efeitos adversos foram e controle da dor pós-operatória para tecidos moles e
de pequena monta e comparáveis entre os dois agentes 16. procedimentos ortopédicos 20. Possui biodisponibilidade oral de
38% quando administrada para cães em jejum, sendo relatada
baixa incidência de efeitos gastrointestinais com seu uso.
O Mavacoxibe é um coxibe com interessante característica
· Carprofeno farmacocinética, uma vez que seu intervalo de administração
pode variar de 15 dias para a primeira dose, até 30 dias nas
Amplamente utilizado em cães para o tratamento da dor e doses subsequentes. Por esta razão, seu uso está indicado
inflamação em decorrência da osteoartrite, bem como para o em quadros crônicos de dor, como é o caso dos quadros de
controle da dor pós-operatória. É rapidamente absorvido pela osteoartrite em que o tratamento deve ser por um período
via oral com biodisponibilidade oral de quase 90% e pico de longo e contínuo, sendo a incidência de efeitos adversos baixa
concentração plasmática em 1 a 3 horas após doses de 1 a 5 e a eficácia e segurança comparável à do carprofeno21 e do
mg/kg, respectivamente. meloxicam16. Já o Robenacoxibe é um fármaco bem absorvido
por via oral e pela via subcutânea com período de latência de 0,5
Em relação aos efeitos adversos gastrointestinais, em e 1 hora, respectivamente. Possui atividade anti-inflamatória,
um estudo realizado com 805 cães obteve incidência total analgésica e antipirética demonstrada em cães e gatos em
de 3% destes distúrbios, demonstrando ser um agente estudos clínicos e experimentais 15. Pode ser empregado para
bastante idôneo neste aspecto. Porém, houve a ocorrência de o tratamento da dor aguda pós-operatória bem como para a
hepatotoxicidade em 2 cães sem evidência de doença hepática osteoartrite apresentando eficácia comprovada15,22.
prévia17.
As doses e vias de administração dos principais AINEs empregados
no país estão descritas no Quadro 3.
· Cetoprofeno
O cetoprofeno é um potente anti-inflamatório e analgésico Analgésicos não convencionais
não poupador de COX 1. Sendo assim, deve ser empregado
para curtos períodos pois a incidência de efeitos adversos
gastrointestinais e renais é maior com este agente, havendo · Dipirona
inclusive relatos de maior sangramento já que diminui a
agregação plaquetária. Entretanto, seu emprego não está Fármaco analgésico e antipirético que por possuir ação anti-
associado a alterações da cartilagem articular, e em doses inflamatória quase que insignificante, não é considerada
mais baixas que as normalmente recomendadas também está um AINE típico. Entretanto, estudos publicados já na década
associado a menor incidência de efeitos adversos. passada, mostraram que a dipirona também possui efeito
bloqueador sobre as COX, porém sem promover os efeitos
gastrointestinais associados aos AINEs, fato que poderia
· Etodolaco estar associado ao seu pH que difere daquele dos outros
agentes. Também se aventa a possibilidade da dipirona
Embora esteja disponível no Brasil para uso no homem e assim como o paracetamol bloquearem a COX-3 apenas no
seja bem utilizado fora do país para cães, não se encontra SNC, o que explicaria a menor incidência de efeitos adversos.
disponível no mercado veterinário nacional, não sendo Entretanto, alguns profissionais acreditam que a dipirona
aprovado no exterior para uso nos felinos. Em relação aos poderia ser responsável pela ocorrência de anemia aplásica
efeitos adversos, a literatura apresenta alguns resultados e agranulocitose, porém a incidência destes distúrbios em
conflitantes com estudos mostrando baixa incidência de humanos é maior para o diclofenaco e o próprio paracetamol.
efeitos gastrointestinais, e outros a possibilidade de maior Zanuzzo et al (2015) 23 verificaram que a dipirona a despeito
ocorrência dos mesmos 17. Entretanto, em relação a função de alterar a agregação plaquetária, não alterou os tempos
renal, mostrou-se mais seguro que a nimesulida e que o de coagulação tampouco a formação do coágulo quando
cetoprofeno quando administrado por dez dias em cães 19. avaliado pela viscotromboelastografia. Outros mecanismos

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ESPECIALIDADES EM FOCO CONTROLE DA DOR EM CÃES E GATOS

de ação também poderiam ser imputados a dipirona tal como · Morfina


efeitos canabinoides e opiodergicos. O fato é que a dipirona
possui ação analgésica em cães e gatos podendo ser utilizada Protótipo dos agonistas opioides, promove excelente
para o controle da dor leve quando utilizada isoladamente ou da analgesia sendo empregada usualmente em doses de 0,1
dor moderada associada a outros AINEs e/ou opioides. Nos cães a 0,5 mg/kg preferencialmente pelas vias subcutânea e
pode ser administrada a intervalos de 6 a 8 horas, porém em intravenosa, embora a literatura mencione doses de até 1mg/
gatos, estudo de farmacocinética sugere que este intervalo kg para o cão28,29. Nos gatos as doses usuais variam de 0,1 a
pode ser maior sendo preferencial sua administração a cada 0,2 mg/kg. A administração pela via epidural é uma excelente
24 horas nesta espécie, corroborando resultados do estudo opção sendo que a analgesia com esta via pode chegar até 24
de Pereira (2017), no qual a analgesia em gatas submetidas a horas com a dose de 0,1mg/kg. É empregada especialmente
ovariohisterectomia na dose de 25mg/kg a cada 24 horas foi para o pós-operatório de cirurgias torácicas, abdominais
excelente. Estudo de Imagawa et al (2011) 24 demonstrou que a com grande manipulação, além de outros procedimentos que
dose de 25 mg/kg é bem efetiva nos cães. Quando associada podem causar dor intensa. Uma vantagem deste fármaco
aos AINEs e/ou opioides observa-se incremento importante é o fato de não alterar a frequência cardíaca e de ter uma
da analgesia, razão pela qual estas associações são tão duração de ação bem previsível, usualmente de 4 a 6 horas.
interessantes 25,26,27. Dificilmente irá causar algum grau de comprometimento
respiratório. Deve ser administrada 10 a 15 minutos antes
do término da cirurgia, desta maneira também se diminui
· Opioides a chance de náusea. O uso pré-operatório é corriqueiro no
país e no exterior, porém o fato da morfina causar êmese, a
Os fármacos opioides ainda são considerados os agentes despeito do uso de acepromazina e até mesmo do maropitan,
padrão ouro para o tratamento da dor sendo empregados em deveria desencorajar este hábito por alguns motivos. Primeiro
diferentes situações clínicas, em cães em gatos e havendo o risco de pneumonia por aspiração, depois porque o vômito
poucas restrições quanto ao seu emprego. Apesar de serem é uma sensação extremamente desagradável que não condiz
indicados para o tratamento da dor de grau moderado a com os objetivos de prover conforto e bem-estar ao paciente
intenso, podem e devem ser utilizados na dor leve quando há no período pré-operatório. Também a morfina pode ser
contraindicações para o uso dos AINEs. administrada em infusão contínua (0,2 mg.kg-1.h) tanto para
diminuir a concentração alveolar mínima do isofluorano30,
Quando administrados em doses adequadas, normalmente quanto para analgesia no pós-operatório.
promovem efeitos adversos de pequena magnitude que podem
facilmente ser controlados ou revertidos com antagonistas
específicos, ou com agentes como a ondosetrona para · Tramadol
reverter a náusea. A vantagem deste grupo é que existem
vários agentes no mercado, com diferentes apresentações e Análogo sintético da codeína, possui mecanismo de ação misto,
características tornando fácil a adequação de protocolos para com baixa afinidade por receptores µ, promovendo inibição da
cada situação específica. A desvantagem hoje está voltada ao recaptação de noradrenalina e serotonina, sendo considerado
maior risco de abuso destes medicamentos tanto por parte um opioide atípico. Por ser um opioide fraco, seu emprego
dos profissionais, quanto dos proprietários que tem acesso à não está associado a depressão respiratória, bradicardia, e
medicação. Uma outra preocupação diz respeito, ao fato de não hipotensão ou vômito31.
podermos alterar o nível de consciência do paciente quando há
sedação excessiva, o que poderia dificultar a avaliação do grau O tramadol é uma boa escolha para o tratamento da dor leve
de dor. a moderada em cães e gatos, aguda e crônica, tendo sido
empregado para diversos tipos de procedimentos cirúrgicos,
Podem ser classificados de acordo com a potência em fracos isoladamente ou associado a AINEs e dipirona quando
(butorfanol, tramadol e codeína) e fortes (morfina, metadona, necessita-se incremento da analgesia 25,26,32,33,34 .
fentanil e buprenorfina). Também são classificados de acordo
com a ação nos diferentes receptores em: agonistas (morfina, Geralmente a dose varia de 2 a 6 mg/kg, porém há relatos
meperidina, metadona, oxicodona), antagonistas (naloxona) do emprego de doses bem maiores. Um uso frequente do
ou agonistas/antagonista (nalbufina, nalorfina, butorfanol). tramadol é para a prescrição em casa, quando o animal já está
de alta, devido a ausência de efeitos adversos importantes.
Dos fármacos mais empregados para a dor pós-operatória
e crônica disponíveis no mercado nacional, pode-se citar a
morfina, metadona, tramadol, butorfanol e codeína. O fentanil, · Metadona
embora disponível é empregado em casos mais complexos de
dor intensa, eventualmente em protocolos de infusão contínua Opioide antigo conhecido há muitas décadas e utilizada
ou na apresentação transdérmica. inicialmente em pacientes vítimas de adição pelo uso de

10
morfina e meperidina. Possui importante ação analgésica em que se observa após infusão contínua, ou de doses repetidas
doses adequadas 33,35, se ligando ao receptor NMDA no SNC, de maneira bem efetiva, sendo essa sua principal vantagem.
podendo auxiliar na prevenção da sensibilização central e Além do mais promove analgesia para procedimentos de dor
no fenômeno do “Wind-up”. Porém pode causar bradicardia, moderada e também pode ser utilizada para antagonizar a
e depressão respiratória dose-dependente razão pela qual disforia observado com o uso de agentes opioides agonistas
a administração a animais idosos, cardiopatas, e de risco tais como a própria metadona e até mesmo em gatos.
deve ser criteriosa. Possui curto período de latência, o que Portanto, é recomendável que este fármaco esteja sempre
é uma grande vantagem deste fármaco e a duração de ação disponível quando do emprego dos opioides potentes, pois
pode variar de 1.5 a 6.5 horas 36. Doses repetidas podem além de reverter qualquer efeito indesejável promoverá
estar associadas a efeito cumulativo com aumento do risco analgesia, possuindo duração de ação de cerca de 6 a 8 horas.
de depressão. Entretanto, reduz a CAM de maneira mais As doses variam de 0,1mg/kg em gatos e 0,1 a 0,5 mg/kg em
importante que a morfina em cães 37. Por estas razões, seu cães, podendo ser utilizada pelas vias IV, SC e IM.
uso deve ser realizado mediante monitoramento contínuo do
paciente e exclusivamente em ambiente hospitalar. As doses
variam de 0,1 a 0,7mg/kg. · Buprenorfina
Como os demais representantes deste grupo, é um fármaco
Agentes opioides agonistas- agonista parcial do receptor µ, e antagonista no receptor
kappa. Pode apresentar efeito teto, ou seja, o aumento
antagonistas da dose não melhora a analgesia, sendo que a literatura
cita dificuldade na titulação de sua dose além de quando
administrada pela via intramuscular apresenta período
· Butorfanol de latência de quase uma hora. Portanto, recomenda-se
sua administração cerca de 45 minutos antes que o efeito
Opioide agonista-antagonista com o efeito agonista nos analgésico seja requerido. Não obstante, o fato de ser
receptores kappa, promovendo analgesia, e efeito antagonista amplamente utilizada no exterior especialmente nos gatos,
no receptor µ, podendo antagonizar parcialmente os efeitos por conta da baixa incidência de efeitos adversos como
depressores de agonistas µ, embora a magnitude deste efeito a depressão respiratória e cardiovascular, a necessidade
seja questionável. O butorfanol, apresenta período de latência de reajustes de dose ou de complementação da analgesia
de cerca de 15 minutos quando administrado pela via IM e curta com outros fármacos mesmo para procedimentos como a
duração de ação sendo de 3 a 4 para os cães e de 1 a 3 horas ovariohisterectomia, questionam esta popularidade. No Brasil
para os gatos. A dose empregada varia de 0,05 a 0,2mg/kg IV foi retirada do arsenal terapêutico, sendo encontrada apenas
ou 0,2-0,5mg/kg SC ou IM, em cães e 0,1 a 0,4 mg/kg em gatos. para emprego em adesivo transdérmico.
A ação analgésica deste fármaco é comparável ou até mesmo
inferior que a maioria dos AINEs, no entanto promove excelente
efeito sedativo, sendo esta sua principal vantagem além do Agentes opioides antagonistas
fato de não promover depressão significativa cardiovascular
e respiratória. A desvantagem do butorfanol, bem como dos
demais opioides que não são agonistas, como a buprenorfina · Naloxona
é o fato de possuir efeito “teto”, ou seja, a analgesia não é
dose-dependente e, portanto, alcançando-se um determinado A naloxona é o antagonista puro e de maneira geral é capaz de
ponto, a ação analgésica não é incrementada. Também, seu uso reverter a ação em todos os receptores, e pode ser utilizado no
na medicação pré-anestésica pode ser questionado uma vez caso de sobredose dos opioides anteriormente citados, para
que o efeito de agentes agonistas que possam ser necessários reversão dos efeitos adversos como bradicardia, depressão
como por exemplo um fármaco mais potente no trans ou no respiratória, sedação excessiva, ou excitação ou efeitos
pós-operatório, possa ser atenuado. Portanto, o butorfanol comportamentais. Sua dose é de 0,04 a 1,0mg/kg (SC, IM ou IV)
pode ser indicado nas situações nas quais a sedação seja um para cães ou gatos. A duração de ação é relativamente curta
fator determinante para a sua escolha, e nas quais a analgesia (cerca de 30 minutos), mas por se tratar de antagonista este
requerida seja leve e de curta duração. tempo pode ser insuficiente e ser necessária a reaplicação.
Aspecto a ser mencionado também é que a naloxona irá
antagonizar todas as ações dos opioides ou seja as indesejáveis
· Nalbufina bem como as desejáveis. No caso, a analgesia deverá ser
garantida de outras formas após a administração da naloxona.
Como o butorfanol, é agonista em receptor kappa e antagonista
em receptor µ, no entanto, é capaz de antagonizar o efeito
da depressão respiratória do fentanil e de sedação residual

11
ESPECIALIDADES EM FOCO CONTROLE DA DOR EM CÃES E GATOS

PROTOCOLOS DE ANALGESIA
· Adjuvantes
Não é o escopo deste informativo, porém vários fármacos
AINE Dipirona
adjuvantes podem ser utilizados para o tratamento da dor DOR LEVE
3 dias 3 dias
crônica e/ou de caráter neuropático em cães e gatos associados
ou não aos AINEs e opioides dependendo do grau de dor.
Usualmente nos quadros de dor leve, os adjuvantes podem DOR AINE Dipirona Opioide fraco
ser utilizados isoladamente sobretudo quando o caráter MODERADA 5 a 7 dias 5 a 7 dias 3 a 5 dias
neuropático foi comprovado. Nos quadros de dor intensa e
moderada, as associações com as outras classes de fármacos
DOR
são usualmente necessárias. Dos fármacos mais empregados INTENSA
AINE Dipirona Opioide forte Opioide fraco
7 a 10 dias 7 a 10 dias 1 a 3 dias + 3 a 7 dias
atualmente pode-se citar os antidepressivos tricíclicos como
a amitriptilina (1 a 2mg/kg SID ou BID) e a nortripitilina (1 a Figura 8: Protocolos de analgesia de acordo com a intensidade da
1,5 mg/kg SID), os anticonvulsivantes como a gabapentina (5
dor e os dias de administração dos diferentes fármacos.
a 10mg/kg SID/BID/TID) e a pré-gabalina (1 a 2mg/kg SID/BID),
e os fármacos antagonistas de receptores NMDA, tais como, a
cetamina e a amantadina. Por exemplo, um animal com fratura de fêmur, submetido
a osteossíntese poderá receber os opioides por 2 a 3 dias
Quando se observar melhora do quadro álgico, o desmame dos e os AINEs por um número superior de dias do que aquele
adjuvantes deve ser iniciado de forma muito lenta, geralmente submetido a uma cirurgia de tórax. Se for idoso, esta situação
com a diminuição gradativa da dose, administração em dias poderá ser invertida, e assim por diante.
intervalados, até que se comprove que o animal está bem
a despeito da mudança de posologia. Outro cuidado com Outro fato a ser levado em consideração, é que a dor nem
estes agentes é que no início da administração, mesmo que sempre é totalmente abolida especialmente nos quadros de
o fármaco possa ser administrado a cada 12 horas, pode ser dor crônica de caráter intenso, sendo que um decaimento em
iniciado com dose única, noturna, avaliando-se o grau de torno de 30% já pode ser considerado um bom resultado em
sedação e sonolência residuais. determinados casos.

O tratamento da dor não deve apenas se ater ao uso de


fármacos. Uma parte essencial da terapêutica diz respeito
Considerações finais ao tratamento fisioterápico, acupuntura, reabilitação física,
aos cuidados paliativos, cuidados gerais, bem como ao grau
de atenção dispensado pelos proprietários, fatores todos
O tratamento da dor para que seja bem-sucedido deve que muito podem influenciar a evolução do quadro de dor.
obedecer a alguns preceitos básicos. Inicialmente, como já Finalmente, o objetivo principal do controle da dor é melhorar
mencionado, deve ser multimodal, os fármacos devem ser a qualidade de vida de nossos pacientes, e assim todos os
escolhidos de acordo com o grau e tipo de dor, características esforços devem ser realizados.
do animal, com início imediato assim que diagnosticada,
devendo ser sempre tratada (Figura 7). Ajustes nas doses
dos fármacos devem ser realizados quando se observar a
progressão da doença acompanhada pelo retorno da dor
ou piora do quadro. Por outro lado, as doses deverão ser
diminuídas paulatinamente a partir da percepção que a lesão
está melhorando. Neste sentido
TRATAMENTO também,
MULTIMODAL o número de dias de
DA DOR
administração dos diferentes fármacos irá depender do tipo
de procedimento realizado, do grau e do tipo de dor (Figura 8).

ADJUVANTE AINE OPIOIDE

Escolha depende do grau e do tipo de dor


ASSOCIAÇÕES
Figura 7: Tratamento multimodal da dor

12
Quadro 3: Doses, vias de
FÁRMACO DOSE (MG/KG) VIA DE ADMINISTRAÇÃO INTERVALO
administração e intervalo
Cão: 2,2-4,4 mg/kg Cão: SID (dose de 4,4 mg/kg) e de administração dos
Carprofeno Gato: 4 mg/kg (dose única) IV, SC, IM, VO BID (dose de 2,2 mg/kg) principais AINEs e da
Gato: dose única
dipirona utilizados em cães
Cão e gato: SID
Cetoprofeno Cão e gato: 1-2 mg/kg IV, SC, IM, VO Obs: máximo 3 a 5 dias
e gatos no país (Adaptado
de Fantoni e Godoy et al.,
Dipirona Cão e gato: 25 mg/kg Cão: IV, SC, IM, VO Cão: BID, TID 2016) 38.
Gato: IV, IM, VO Gato: SID, BID

Cão: SID
Etodolaco Cão: 10-15mg/kg VO Obs: Não aprovado para uso
em gatos Abreviações: IV
Cão: SID (intravenoso); IM
Firocoxibe Cão: 5mg/kg VO Obs: Não aprovado para uso (intramuscular); SC
em gatos
(subcutâneo); VO (via oral);
Cão: SID
Flunixim meglumine Cão: 1-1,1mg/kg IV, IM, VO SID (a cada 24h); BID (a cada
Obs: máximo 5 dias.
Não aprovado para uso em gatos 12h); TID (a cada 8h); EDA
Cão: intervalo de 2 semanas (em dias alternados).
entre a 1ª e a 2ª dose,
Mavacoxibe Cão: 2 mg/kg VO seguida de administrações
mensais (máximo de 7
administrações) Não
aprovado para uso em gatos
Cão: 0,2 mg/kg (1º dia de
tratamento) e 0,1 mg/kg (dias Cão: SID
subsequentes) Gato: SID, EDA
Meloxicam Gato: 0,1 mg/kg (no 1º dia de IV, SC, IM, VO Obs: Para uso crônico titular a
tratamento) e 0,025-0,05 menor dose eficaz
mg/kg (dias subsequentes)

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14
15
Agosto/2019
Um novo momento,
um novo pensar,
uma nova marca.

Sabemos que o relacionamento da humanidade com os animais vem de longe.

Eles foram companheiros que sempre estiveram conosco,


lado a lado, ao longo da história.

Por todo esse tempo, o cuidado sempre esteve no centro dessa relação,

na base do que podemos oferecer, a partir de tudo o que conhecemos como


humanidade: a medicina, a ciência e a cultura.
Por isso acreditamos tanto no valor das parcerias - tutores, tratadores,

cuidadores, veterinários - que no dia a dia se estabelecem para fazer o


cuidado chegar aos animais.
Queremos entregar o melhor da medicina, da pesquisa e da ciência para nossos

parceiros que se dedicam incansavelmente a cuidar dos animais.


Porque quem cuida procura o melhor.

Parceira de quem cuida.

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