Psicologia Transpessoal
Psicologia Transpessoal
Psicologia Transpessoal
1 Introdução...................................................................................................................1
2 O estudo da espiritualidade nas ciências humanas..................................................2
3 O estudo da espiritualidade na Psicologia.................................................................6
3.1 William James......................................................................................................6
3.2 Sigmund Freud.....................................................................................................8
3.3 Carl Gustav Jung................................................................................................11
3.4 Viktor Frankl.......................................................................................................14
4 Estudos da espiritualidade na Psicologia Transpessoal..........................................18
4.1 Origens e delimitação do campo de estudos.....................................................18
4.2 Desenvolvimento teórico da espiritualidade......................................................21
4.2.1 Transcendência............................................................................................22
4.2.2 Consciência..................................................................................................23
4.2.3 Valores.........................................................................................................24
4.2.4 Experiências transpessoais.........................................................................25
4.2.5 Estados alterados de consciência (EAC).....................................................26
5. Perspectivas da espiritualidade na Psicologia........................................................27
Referências bibliográficas...........................................................................................29
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PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
1 INTRODUÇÃO
No final do século XVI e início do século XVII, houve o que foi chamada de
revolução científica. Nomes como Copérnico, Kepler e Galileu deram força para
essa reviravolta no mundo das idéias. A ciência emerge e intenta liberar-se de um
caldo [sic] onde se amalgamavam misticismo, hermetismo, astrologia e magia
(REALE, 1991). Quando ciência e religião se separam, distingue-se claramente duas
visões de mundo e duas concepções da realidade. Os cientistas tomam para si a
descrição verdadeira da realidade, de suas causas e explicações. E os religiosos
tomam a essência das coisas, representando para a humanidade o sentido último
das verdades que proclamam.
ELIADE (1970) registra que tanto na época dos caçadores nômades, como na
dos agricultores sedentários, há uma vivência de um cosmos sacralizado. O mundo
é vivido como algo carregado de valores e significados, assim: “... para o homem
religioso, o Cosmos ‘vive’ e ‘fala’. A própria vida do Cosmos é uma prova da sua
santidade, pois que ele foi criado pelos Deuses e os Deuses mostram-se aos
homens através da vida cósmica” (ELIADE, 1970, p. 173). Essa vivência parece
revelar uma experiência de integração do ser humano com a natureza e uma
disposição para conhecê-la. Provoca uma imagem de um ser humano humilde frente
a extraordinária criação do universo e dos seus mistérios.
A religião era considerada, por Freud, como uma fantasia coletiva e uma ilusão.
Freud fundamenta sua posição da seguinte forma: o indivíduo precisa viver em
comunidade, mas sente como um pesado fardo as exigências desta. O homem não
é naturalmente amante do trabalho e somente frente à coerção dos regulamentos,
pode se reconciliar com a civilização e sacrificar a satisfação das suas paixões
(impulsos agressivos e desejos sexuais). O homem, se pudesse, tomaria qualquer
mulher como objeto sexual, mataria o rival que o impedisse e levaria consigo os
pertences dos outros. Assim, que parece muito ingrato se sujeitar aos mandamentos
culturais, e, a religião, justamente auxilia esse controle, protegendo-o dos danos que
o ameaçam por parte da própria sociedade humana.
A religião é, para Freud, uma operação de fuga individual dos próprios recursos
(inclusive furtando-se à racionalidade) e a projeção da própria força para fora de si
mesmo, numa assistência divina personificada, num Deus-pai-homem-todo-
poderoso. Freud não examinou a relação estabelecida com outras religiões, como a
Budista onde há concentração da atenção nos próprios recursos e ausência da
tentativa de se nomear o Absoluto. Isso talvez revele o quão sucintamente
desenvolveu o tema e como sua análise tornou-se restrita e superficial. A posição
adotada pela psicanálise refere-se principalmente à doença e à involução, não
abarcando a complexidade do tema nos seus aspectos saudáveis e de
desenvolvimento pessoal que podem estar envolvidos no tema da religião. Relega a
religião a uma fase neurótica da humanidade e se isenta de explorar a fundo essa
área de experiências. FREUD (1987) não parecia estar ligado à sacralidade das
coisas, e não era uma postura incomum no seu tempo de “predomínio do
materialismo mecanicista, (onde) ruíra o mundo ‘superior’ do céu e da divindade. Em
seu lugar, buscava ele os deuses do mundo ‘inferior’ dos instintos” (SIEGMUND,
1971, p. 29), um grande feito para aqueles tempos de repressão sexual.
Jung (1875-1961) é um dos poucos psicólogos que é citado nas ciências das
religiões (como por RIES, 1995 e ELIADE, 1993) por ter proposto uma explicação
psicológica do fenômeno religioso calcada em uma ampla perspectiva e num
profundo conhecimento. Jung estudou mitologia, religião, símbolos, costumes e
crenças dos povos primitivos e, com seus colaboradores, realizou uma enorme
quantidade de trabalho acerca das representações arquetípicas nas religiões e mitos
(HALL e LINDZEY, 1984).
Jung não concordava com Freud no tocante ao conflito entre ciência e religião
e, em função desse posicionamento, foi visto como místico (HALL e LINDZEY,
1984). Ele afirmava que a psicologia tem muito a ver com a religião, pois uma de
suas tarefas é compreender o inconsciente e neste repousam as bases do espírito,
ou da psique.
Qualquer que seja a causa desse efeito do numinoso, constitui uma condição
do sujeito e tem estado ligada à uma causa externa ao indivíduo. Conforme JUNG
(1995) tem sido assim: o numinoso pode ser tanto a propriedade de um objeto
visível como o influxo de uma presença invisível que produzem modificações
especiais na consciência.
Apesar de propor tais definições, JUNG (1986) afirma que o espírito é, como a
psique, algo indeterminado e não acessível a definições, e sua essência não pode
ser apreendida. Isso se aplica também ao inconsciente, especialmente ao
inconsciente coletivo. “Na verdade, não se podem fazer afirmações a respeito do
que é indefinido, sem qualidades e totalmente incognoscível. É justamente por isso
que a psicologia ocidental não fala do espírito único, mas do inconsciente (...)” (id.,
ib., p.31).
realidade dada de modo imediato, através da experiência psíquica. Ele não duvidava
da existência extra-psíquica de Deus, mas ponderava que a Psicologia deveria se
restringir a seu objeto e não ultrapassar fronteiras para a metafísica ou profissões de
fé.
Sua vivência interior contagia seus escritos, o que torna a leitura de difícil
compreensão, para não dizer enigmática. Dessa forma, a sua contribuição talvez
não tenha sido explorada profundamente, e, atualmente, os psicólogos parecem
estar redescobrindo sua obra, num intento de aproveitá-la numa compreensão mais
integral e complexa do ser humano.
Apenas a pessoa religiosa assumiria o risco de perguntar o que vai para além
da consciência e buscaria a transcendência. Essa busca pode ser exemplificada
pela busca de um sentido para a vida, um valor maior que proporcione significado à
existência. Em contraposição, o homem a-religioso se deteria, antes do tempo, no
seu caminho pela busca de sentido. Ainda assim, no seu inconsciente sempre houve
uma tendência em direção a Deus, mas esta só se realizará na medida da decisão e
da responsabilidade conscientes da pessoa.
Frankl, assim como os autores anteriores, revela sua experiência vivida nos
campos de concentração como um substrato que o autoriza a integrar o espírito
como uma dimensão humana. Sua obra é vista com certa reserva pela maioria dos
psicólogos, assim como outras teorias do referencial humanista, por representar
uma visão demasiado otimista e saudável do ser humano.
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William JAMES (1997) relatou sua experiência com óxido nitroso, discutindo o
quanto as drogas podem estimular a consciência mística e se as experiências
religiosas estimuladas por drogas são autenticamente religiosas. Pode-se investigar,
inclusive, se uma das motivações do drogadicto não é justamente o prazer advindo
da alteração de consciência e em que medida ele pode abandonar o vício e alcançar
essa alteração de consciência através de outros meios, como a respiração
holotrópica e relaxamento, por exemplo.
4.2.1 Transcendência
Como diz WILBER (1991a), é como se nas profundezas do seu ser, o indivíduo
albergasse um ser transpessoal, um Eu que transcende sua individualidade e a
conecta com um mundo além do espaço/tempo convencionais. O próprio autor
considera que na cultura ocidental é difícil entender a possibilidade de ter algo que
transcende o individual, que está livre de problemas, tensões e angústias pessoais.
4.2.2 Consciência
consciência, nem uma patologia, “mas sim o único estado real da consciência, já
que os outros são essencialmente ilusões” (WILBER, 1980, p. 110). No nível
existencial (nível II), opera a dualidade e a consciência se transfere de uma
identidade cósmica com o todo para uma identidade pessoal com seu organismo; há
noção de separação e de descontinuidade entre o organismo e o meio ambiente.
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4.2.3 Valores
Embora essas experiências possam parecer ao leitor como esotéricas, elas são
comumente experimentadas. A ausência total de ditas experiências não é comum e
pode ser um indício de patologia individual ou social (WALSH e VAUGHAN, 1997).
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A clínica social também tem ampliado o trabalho através dos grupos de auto-
ajuda e abordagens holísticas que tem-se tornado populares. O forte ímpeto para
essa área decorrerá da inclusão de problemas religiosos e espirituais no DSM IV.
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