Produção Mais Limpa: A Sustentabilidade para A Construção Civil

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PRODUÇÃO MAIS LIMPA: A SUSTENTABILIDADE PARA A

CONSTRUÇÃO CIVIL

Sergio Luiz Braga França


Mestrado em Engenharia Civil
Universidade Federal Fluminense
[email protected]

Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas


Doutorado em Engenharia de Produção
Universidade Federal Fluminense
[email protected]

RESUMO

Com o passar dos anos, a evolução da consciência ambiental vem aprimorando as


práticas de gestão empresarial. Impulsionadas pela cobrança do governo e da sociedade, as
organizações estão se adaptando para buscar a sustentabilidade em seus negócios. A
proposta deste trabalho é apresentar e analisar a metodologia de Produção Mais Limpa na
Industria da Construção Civil. Este setor tem grande importância para o desenvolvimento
sustentável do País, empregando quase a metade da população brasileira, participando de
forma significativa no crescimento econômico nacional, porém agredindo de forma
insustentável o meio ambiente, através do consumo de recursos naturais e da emissão de
resíduos.
A metodologia Produção mais Limpa foi criada pela UNIDO/UNEP em 1989, e já
esta sendo disseminada através de diversos núcleos nacionais e internacionais. O conceito
da Produção mais Limpa é criar estratégias econômicas, ambientais e tecnológicas, de
forma integrada aos processos e produtos e aplicada de forma continua, com o objetivo de
aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através da não-geração,
minimização ou reciclagem de resíduos gerados no processo produtivo.
Por se tratar de práticas pró-ativas, a metodologia apresentada promove a inovação
nas práticas de gestão, em prol de benefícios tangíveis e intangíveis, alavancando maior
competitividade e lucratividade para as organizações.

Palavras-chave: Produção mais Limpa, Construção Civil, Desenvolvimento Sustentável.

1 INTRODUÇÃO

Em tempos de profundas preocupações com o meio ambiente, organizações de


diferentes setores industriais estão deixando de agir de forma reativa para agir de forma
pró-ativa com relação às questões ambientais. Diferentes metodologias de gestão ambiental
buscam sensibilizar diretores e níveis hierárquicos elevados dentro das organizações,
demonstrando a possibilidade de se obter lucro com o meio ambiente, entre elas a Produção
Mais Limpa, também conhecida pela sigla P+L.
O numero elevado de processos e produtos na Industria da Construção Civil, faz
com que esta seja um dos maiores setores econômicos na maioria dos paises, em especial
nos paises em desenvolvimento. No Brasil, estima-se que o construbusiness seja
responsável por cerca de 15% do PIB, empregando quase 50% dos trabalhadores e gerando
mais de 9 milhões de empregos diretos e indiretos (ENTAC´04).
A promoção da sustentabilidade nas práticas de gestão das construtoras se faz
necessário. A Construção Civil esta diretamente relacionada com o desenvolvimento
sustentável do país devido a sua importância na dimensão econômica, social e ambiental,
apresentando um papel dualístico: é um dos ramos de maior capilaridade nas atividades
sócio-economicas, mas contribui com uma importante parcela na deteriorização ambiental.
Dados Levantados nos EUA são válidos para os demais países industrializados e apontam
para os seguintes indicadores: utilização de 30% de matérias primas, 42% do consumo de
energia e 25% para o de água e 16% para o de terra, além do segmento também contribuir
para 40% da emissão de gases poluentes na atmosfera, 20% dos efluentes líquidos, 25% dos
sólidos e 13% de outras liberações. A cadeia produtiva do macro-complexo da construção
civil apresenta importantes impactos ambientais em todas as etapas. Toda sociedade
seriamente preocupada com o futuro das próximas gerações deve colocar o
aperfeiçoamento na gestão da Industria da Construção Civil como prioridade.
O desafio do desenvolvimento sustentável da sociedade exige, portanto, uma
construção sustentável. Avançar em direção à Construção Sustentável implica em criar uma
cultura de pesquisa e desenvolvimento continuo de inovações para a sustentabilidade do
ambiente construido.

1.1 O Problema

Verifica-se que as tecnologias de fim-de-tubo não mais respondem aos anseios da


sociedade na busca pelo desenvolvimento sustentável. Estratégias ambientais
convencionais que buscam atender às exigências ambientais legais deixam de serem vistas
como única alternativa para melhorar o desempenho ambiental, além de serem
extremamente onerosas para as empresas do ponto de vista econômico.
Oliveira Filho (2001) descreve que a solução tecnológica do tipo fim-de-tubo corre
atrás dos prejuízos ambientais causados por um sistema produtivo, remediando os seus
efeitos, mas sem combater as causas que os produziram. Ao contrário, as tecnologias de
P+L contemplam mudanças nos produtos e processos produtivos a fim de reduzir ou
eliminar todo tipo de rejeitos antes que eles sejam criados.
Conforme o CNTL (2000), a implantação de técnicas de P+L em processos
produtivos permite a obtenção de soluções que venham a contribuir para a solução
definitiva dos problemas ambientais, já que a prioridade da metodologia está baseada na
identificação de opções de não geração dos resíduos. É, portanto, um método preventivo da
poluição, que, além disso, leva à economia de água, de energia e de matérias-primas, com
aumento significativo de lucratividade e competitividade.
A diferença essencial está no fato de que a P+L não trata simplesmente do sintoma,
mas tenta atingir nas raízes do problema. Os quadros a seguir, apresentam as principais
diferenças entre as tecnologias de fim-de-tubo e a P+L.

Tecnologia de fim de tubo Produção mais limpa

Como se pode tratar os resíduos e as De onde vem os resíduos e emissões?


emissões existentes?

... pretende a re - ação. ... pretende a ação.

... geralmente leva a custos adicionais. ... pode ajudar a reduzir custos.

Os resíduos e as emissões são limitados Prevenção de resíduos e emissões na fonte;


através de filtros e unidades de tratamento;

Evita processos e materiais potencialmente


Soluções de fim-de-tubo; Tecnologia de tóxicos.
reparo; Estocagem de resíduos.

A proteção ambiental entra depois que os A proteção ambiental entra como uma parte
produtos e processos tenham sido integral do design do produto e da
desenvolvidos. engenharia de processo.
Os problemas ambientais são resolvidos a Tenta - se resolver os problemas ambientais
partir de um ponto de vista tecnológico. em todos os níveis / em todos os campos.
Proteção ambiental é um assunto para Proteção ambiental é tarefa de todos.
especialistas competentes.
... é trazida de fora. ... é uma inovação desenvolvida dentro da
empresa.

... aumenta o consumo de material e energia. ... reduz o consumo de material e energia.
Proteção ambiental surge para preenchimento Riscos reduzidos e transparência aumentada.
de prescrições legais.

... é o resultado de um paradigma de ... é uma abordagem que pretende criar


produção que data de um tempo em que os técnicas de produção para um
problemas ambientais não eram conhecidos. desenvolvimento sustentável
Fonte: CNTL (2000)

A PML não se baseia somente em tecnologia ou em inovação tecnológica. Ela


também se baseia na mudança na forma de gestão das empresas. Esta mudança é que
propicia a adoção de abordagens preventivas da poluição, conforme o quadro abaixo:

Comparação entre atitudes de controle da poluição e produção mais limpa

O enfoque do controle de poluição O enfoque da produção mais limpa

• Poluentes são controlados • Poluentes são evitados na


por filtros e métodos de origem, através de medidas
tratamento do lixo integradas

• O controle de poluição é • A prevenção da poluição é


avaliado depois do parte integrante do
desenvolvimento de desenvolvimento de produtos e
processos e produtos e processos
quando os problemas
aparecem

• Controles de poluição e • Poluição e rejeitos são


avanços ambientais são considerados recursos
sempre considerados fatores potenciais e podem ser
de custo pelas empresas transformados em produtos
úteis e sub-produtos desde que
não tóxicos

• Desafios para avanços • Desafios para avanços


ambientais devem ser ambientais deveriam ser de
administrados por peritos responsabilidade geral na
ambientais tais como empresa, inclusive de
especialistas em rejeitos trabalhadores, designers e
engenheiros de produto e de
processo

• Avanços ambientais serão • Avanços ambientais incluem


obtidos com técnicas e abordagens técnicas e não
tecnologia técnicas

• Medidas de avanços • Medidas de desenvolvimento


ambientais deveriam ambiental deveriam ser um
obedecer aos padrões processo de trabalho contínuo
definidos pelas autoridades visando a padrões elevados

• Qualidade é definida como • Qualidade total significa a


‘atender as necessidades dos produção de bens que atendam
usuários’ às necessidades dos usuários
e que tenham impactos
mínimos sobre a saúde e o
ambiente
Fonte: adaptado de Husingh Environmental Consultants Inc. 1994

Entretanto o CNTL (2000) descreve que a P+L não é apenas um tema ambiental e
econômico, mas também um tema social, pois considera que a redução da geração de
resíduos em um processo produtivo, muitas vezes, possibilita resolver problemas
relacionados à saúde e à segurança ocupacional dos trabalhadores. Desenvolver a P+L
minimiza estes riscos, na medida em que são identificados matérias-primas e insumos
menos tóxicos, contribuindo para a melhor qualidade do ambiente de trabalho.
Reduzir custos com a eliminação de desperdícios, desenvolver tecnologias limpas e
acessíveis do ponto de vista econômico e reciclar insumos são mais do que princípios de
gestão ambiental. Atualmente, representam condição de sobrevivência para as
organizações.

1.2 Justificativa
A grande maioria dos países, até poucas décadas atrás, considerava o meio ambiente
como um local de obtenção de matéria-prima e destinação de resíduos. Os resultados do
crescimento econômico a qualquer custo colocaram o Planeta Terra em uma posição
desprivilegiada com relação aos respectivos impactos ambientais decorrentes das atividades
produtivas.
Desta forma, verifica-se que, atualmente, as empresas têm presenciado o surgimento
de novos papéis que devem ser desempenhados como resultado das alterações, valores e
ideologias de nossa sociedade, entre elas, a crescente conscientização ambiental. Como
conseqüência, as organizações modernas, além das considerações econômicas produtivas,
começam a incluir nos seus planos de gestão questões de caráter social e ambiental, que
envolvem a redução dos níveis de poluição, melhoria nas condições de trabalho, melhoria
da imagem, entre outras.
Diante da situação exposta, surge a Produção Mais Limpa que, com sua
metodologia de aplicação, visa tornar acessível para empresas de pequeno, médio e grande
portes, de todos os setores industriais, formas de se obter a minimização de resíduos. Neste
sentido, o termo prevenção passa a ser o elemento chave da metodologia, pois considera
que se há uma menor geração de sobras no processo produtivos, conseqüentemente menos
resíduos existirão.
O impacto da demanda ambiental sobre a construção civil não pode ser
subestimado. KILBERT (1995) propôs seis princípios:

• Minimizar o consumo de recursos (Conservar);


• Maximizar a reutilização de recursos (Reuso);
• Usar recursos renováveis ou recicláveis (Renovar/Reciclar);
• Proteger o meio ambiente (Proteção da Natureza);
• Criar um ambiente saudável e não tóxico (Não Tóxico)
• Buscar a qualidade na criação do ambiente construído (Qualidade)

A criação de estratégias para a promoção da construção sustentável deve ser local.


Devido a diferentes climas, culturas, condições econômicas e ate mesmo na oferta de
recursos naturais, uma boa solução para determinada região pode não obter o mesmo
resultado em outra localidade. Segue abaixo estratégias que demonstram a responsabilidade
deste setor com o desenvolvimento sustentável:

• Proteger e valorizar os ecossistemas naturais como fontes de recursos;


• Escolher materiais de baixo impacto ambiental na extração, transporte e utilização;
• Usar produtos e materiais de maior vida útil;
• Poupar energia e água;
• Diminuir o consumo de materiais, reciclar e reutilizar materiais empregados;
• Prevenir a emissão de poluição na fonte e evitar a liberação de materiais perigosos no
ambiente;
• Melhorar as condições de saúde e segurança dos trabalhadores;
• Tornar a construção saudável, em seus aspectos térmicos, acústicos, de espaço,
iluminação, ventilação, umidade e outros aspectos de conforto;
• Maximizar a longevidade da obra e dos equipamentos;
• Minimizar a administrar o descarte de resíduos e lixo de maneira integrada nos projetos
de desenvolvimento urbano, criando condições ambientais satisfatórias para o homem e
o entorno;
• Criar espíritos comunitários, valorizando os fatores físicos, químicos, biológicos e
psicossociais;
• Garantir as oportunidades ambientais, levando em conta as gerações futuras.

1.3 Objetivo
Nas ultimas décadas, a humanidade desfrutou dos mais diversos bens e serviços,
devido aos avanços tecnológicos. Ao término da Conferência de Estocolmo (1972), a
opinião publica nacional e internacional interpretou a posição brasileira como um elogio à
poluição. “Brasil prega o desenvolvimento econômico a qualquer custo”, “Brasileiros
querem poluição” – berravam manchetes de jornais na Europa e nos Estados Unidos. A
distorção do que se defendera em Estocolmo não era toda injusta. (ALMEIDA, F. 2002).
De 1960 a 1990 a população mundial dobrou, a exploração do petróleo e da energia
multiplicou-se por 3, a numero de consumo de veículos multiplicou-se por 5 e o numero de
aparelhos celulares por 10 (IBGE,1998). Este crescimento ocorreu sem a preocupação
necessário com o meio ambiente e as questões sociais. Atualmente as empresas estão sendo
pressionadas pelos governos, pelas instituições financeiras e principalmente pela sociedade
para reverter o cenário apresentado pelo Clube de Roma em 1992, que demonstra uma
queda natural do crescimento populacional em aproximadamente 2045, devido aos custos
para equilibrar a saúde humana, a poluição, o acumulo do lixo urbano e industrial, a queda
na qualidade dos alimentos e principalmente a redução na oferta de recursos naturais – o
que comprometerá profundamente a qualidade de vida da humanidade.
A Produção Mais Limpa representa a alternativa ambiental proposta para o setor da
Industria da Construção Civil, como estratégia de atuação para a empresa interessada em
agir de maneira social e ambientalmente responsável. Pela significância do macro-
complexo da construção civil no setor econômico da grande maioria dos paises, os
princípios da sustentabilidade são importantes serem implementados em suas praticas de
gestão. É necessário que o uso de recursos devam ser eficientes e limitados às necessidades
humanas, garantindo a oportunidade de escolha para as futuras gerações.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA

2.1 Desenvolvimento Sustentável

A busca por um mundo mais equilibrado sob o ponto de vista social, ambiental e
econômico fez surgir à idéia de que, as questões ambientais, bem como as questões sociais
deveriam ser incorporadas aos princípios do crescimento econômico como a solução para a
manutenção da qualidade de vida.
Criada em 1983, por decisão da Assembléia Geral da Organização das Nações
Unidas, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) se
caracteriza pela importância no desenvolvimento de conceitos e propostas relacionados ao
desenvolvimento sustentável.
Segundo a CMMAD, também conhecida como Comissão Brundtland, "o
desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias
necessidades". Isto pode ser entendido como uma forma de otimizar o uso racional dos
recursos naturais e como uma garantia de conservação e do bem estar.
Em 1987, a Comissão Brundtland encerrou seus trabalhos através do relatório Our
Common Future (Nosso Futuro Comum). Neste relatório procurou-se formular os
princípios do desenvolvimento sustentável, recomendando os principais objetivos de
políticas derivados do conceito de desenvolvimento sustentável que seriam os seguintes:
retomar o crescimento como condição necessária para erradicar a pobreza; mudar a
qualidade do crescimento para torná-lo mais justo, eqüitativo e menos intensivo em
matérias-primas e energia; atender às necessidades humanas essenciais de emprego,
alimentação, energia, água e saneamento; manter um nível populacional sustentável;
conservar e melhorar a base dos recursos; reorientar a tecnologia e administrar os riscos, e
incluir o meio ambiente e a economia no processo decisório das políticas governamentais.
Referindo-se ao desempenho ambiental do setor industrial, o relatório ressalta que este
deverá produzir mais, utilizando menos recursos (BARBIERI, 1997).
Durante a década de 90, realiza-se no Brasil a Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92), mais precisamente no Rio de Janeiro. O
conceito de desenvolvimento sustentável e recomendações da Comissão Brundtland são
aprovados e incorporados a Agenda 21, Agenda de Compromisso para Ações Futuras,
consagrando as linhas mestras do relatório, principalmente a relação entre pobreza e
degradação ambiental.
A Agenda 21 visa pôr em prática as declarações firmadas na Conferência do Rio.
Propõe a redução da quantidade de energia e de material utilizados na produção de bens e
serviços, a disseminação de tecnologias ambientais e a promoção de pesquisas que visem o
desenvolvimento de novas fontes de energia e de recursos naturais renováveis, entre outros.
Após a Conferência realizada no Rio de Janeiro, o termo desenvolvimento
sustentável passou a estar presente em diversos discursos nas mais diversas dimensões, tais
como: política, social, ambiental, cultural e educacional. Isso fez com que diversos
segmentos da sociedade manifestassem suas posições a respeito das idéias que tinham e
ainda têm sobre o referido termo.

2.1.1 Desenvolvimento Sustentável como Vantagem Competitiva

Diante da necessidade de se estabelecer um convívio harmonioso entre os "atores"


envolvidos nesse cenário, as empresas têm buscado, através de seus processos, tornarem-se
mais competitivas, seja explorando de melhor forma que seus concorrentes a variável
ambiental, seja analisando de forma mais detalhada seus processos internos.
Kinlaw (1997) diz que dois pontos são fundamentais para que uma empresa seja
competitiva e ecológica: o primeiro é o quanto antes as organizações enxergarem a questão
ambiental como uma oportunidade competitiva, maior será sua probabilidade de sobreviver
e lucrar; e o segundo, é pela ênfase na questão ambiental como uma oportunidade de lucro
que poderemos controlar melhor os prejuízos que temos causado ao meio ambiente.
Algumas empresas têm demonstrado que é possível obter lucro e proteger o meio
ambiente. Para isso, Donaire (1995) diz que é preciso somente uma certa dose de
criatividade e condições internas que possam transformar restrições e ameaças ambientais
em oportunidades de negócio.
Quando se fala em sustentabilidade, não é surpreendente que o gerenciamento do
impacto econômico, ecológico e social tenha se tornado determinante, em alguns setores,
para a melhoria de sua competitividade. Atrelar à marca uma imagem ética e socialmente
responsável tem se tornado um fator estratégico de competitividade moderna (Lisboa,
2000). Essa tendência decorre da maior conscientização do consumidor e conseqüente
procura por produtos e práticas que gerem melhoria para o meio ambiente ou comunidade,
valorizando aspectos éticos ligados à cidadania.
Dessa forma, o investimento em Sustentabilidade deve ser visto como diferencial,
alavancando a competitividade no mercado e pré-estabelecendo que empresas com
consciência ambiental e social são pró-ativas, pois se antecipam às exigências do mercado e
investem em melhorias futuras tanto para o ambiente interno e o externo.

2.2 Produção Mais Limpa

A conceito PML foi definida pela UNIDO/UNEP, em 1989, como uma estratégia
econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos e aplicada de forma
contínua, com o objetivo de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e
energia, através da não-geração, minimização ou reciclagem de resíduos gerados em um
processo produtivo.
Define-se estratégias de PML como as abordagens preventivas aos processos e
produtos que permitam o progresso através dos objetivos de minimização do desperdício;
redução no uso de matérias-primas e energia; maximização da eficiência da energia e
minimização total dos impactos ambientais em todos os estágios da produção e do
consumo, através de mudanças no projeto, produção, distribuição, consumo e disposição
final dos produtos (Christie et al., 1995, p. 41). Segundo Berkel (1995), o conceito de PML
pode ser, simplesmente, minimizar ou eliminar resíduos e emissões nas suas fontes, ao
invés de tratá-los após sua geração.
O objetivo da Produção Mais Limpa é atender a necessidade dos produtos de forma
sustentável, isto é, usando com eficiência materiais e energias renováveis, não-nocivos,
conservando ao mesmo tempo a biodiversidade. Os sistemas de Produção Mais Limpa são
circulares e usam menor número de materiais, menos água e energia. Os recursos fluem
pelo ciclo de produção e consumo em ritmo mais lento. Em primeiro lugar, os princípios da
Produção Mais Limpa questionam a necessidade real do produto ou procuram outras
formas pelas quais essa necessidade poderia ser satisfeita ou reduzida.

2.2.1 Implementação da Produção mais Limpa

Com a P+L pode-se evitar a geração de passivos ambientais e de custos ambientais,


o que é de interesse da empresa; reduzir impactos ambientais, o que interessa aos órgãos
ambientais e à sociedade e principalmente, melhorar a qualidade dos produtos, da saúde e
da segurança dos trabalhadores.
Conforme Valle (1995, p.69), com a adoção de tecnologias limpas, os processos
produtivos utilizados na empresa devem passar por uma reavaliação e podem sofrer
modificações que resultem em:

1º - Eliminação do uso de matérias-primas e de insumos que contenham substâncias


perigosas;
2º - Otimização das reações químicas, tendo como resultado a minimização do uso de
matérias-primas e redução, no possível, da geração de resíduos;

3º - Segregação, na origem, dos resíduos perigosos e não perigosos;

4º - Eliminação de vazamentos e perdas no processo;

5º - Promoção e estímulo ao reaproveitamento e à reciclagem interna;

6º - Integração do processo produtivo em um ciclo que também inclua as alternativas para a


destruição dos resíduos e a maximização futura do reaproveitamento dos produtos

Primeiramente é preciso entender como é feita a P + L. A idéia básica é que se


realize Balanços de Massa e Energia para avaliação de processos e produtos. Com isso,
identificam-se oportunidades de melhoria que levam em conta aspectos técnicos,ambientais
e econômicos e depois são definidos e implantados indicadores para monitoramento das
modificações que forem estabelecidas.
O pensamento que deve permear todo aquele que busca implementar a P+L em seus
processos é que TODOS os resíduos gerados pela empresa foram adquiridos pelo preço de
matéria prima e neles foram gastos recursos, como energia e água, que poderiam ser
destinados apenas para a produção do produto.

Por exemplo:
• Um comprador de grãos com impurezas pagou por estas o mesmo preço dos grãos.
• Os cavacos gerados pela produção de peças metálicas têm o mesmo preço de chapas
ou barras de aço.

Tudo aquilo que entra na empresa como matéria prima sairá na forma de produto ou
de resíduos sólidos, efluentes líquidos ou emissões atmosféricas e estes devem ser tratados.
Então quanto menos resíduos menores serão os custos com tratamento.

O que faz a diferença é acrescentar aos custos ambientais de


tratamento o valor que você pagou pelas matérias-primas que,depois de
empregadas no processo produtivo, foram transformadas em resíduos.

A decisão de implementar a PML pode estar associada às características


empreendedoras dos gestores que identificam-na como geradora de novas oportunidades
para obter vantagem competitiva. Contudo, a implementação também pode estar
relacionada à conformidade com as regulamentações ambientais e à responsabilidade social
e ética da empresa (Christie et al., 1995).
2.2.2 Benefícios com a Implementação da PML

Considerando que a P+L foca-se na minimização de resíduos na fonte, Lora (2000)


descreve os benefícios decorrentes:
• o controle de resíduos na fonte leva à diminuição radical da quantidade.
Conseqüentemente, se reduz custo de produção devido à utilização mais eficiente das
matérias-primas e da energia, bem como custos de tratamento;
• a prevenção de resíduos, diferentemente do tratamento de resíduos, implica em
benefício econômico, tornando-a mais atrativa para as empresas;
• melhoria da imagem ambiental;
• maior facilidade em cumprir as novas leis e regulamentos ambientais, o que implica em
um novo segmento de mercado;

Para o IEL (2002), a P+L possibilita:


• obter ganhos financeiros pela otimização dos processos produtivos através da melhor
utilização da matéria-prima, água, energia e da não-geração de resíduos;
• adequar-se à legislação ambiental e colaborar para o bem-estar das comunidades local e
global;
• facilitar etapas na implantação do Sistema de Gestão Ambiental para certificação ISO
14001;
• aumentar a competitividade através da redução de custos de produção;
• utilizar o marketing ambiental para consolidar uma imagem positiva no mercado.
• reduzir o impacto ambiental pela reciclagem dos efluentes e resíduos;

Quando se pensa em resultados, imediatamente vem à mente a idéia de que são


necessários números e comprovações matemáticas e financeiras. Entretanto, esta é apenas
uma das faces da moeda. No presente trabalho, será apresentados os dois lados da moeda
chamada “resultados", quais sejam, o lado tangível, comprovável com números, e o lado
intangível, comprovável com observações de natureza qualitativa.
Conforme indicações da literatura pertinente (Berkel, 1995; Christie et al., 1995;
Fresner, s/d; Schmidheiny, 1992; UNIDO/UNEP, 1995a), resume-se, a seguir, através do
quadro a seguir, alguns dos possíveis resultados (tangíveis e intangíveis) que as empresas
que implementam a PML podem obter.

Resultados Tangíveis Resultados Intangíveis


1. geração de inovações tecnológicas de 1. desenvolvimento econômico mais
processo, produto e gerencial sustentado
2. benefícios advindos de vantagens 2. melhoria da qualidade ambiental do
comerciais (concessão de produto
financiamentos, obtenção de seguros
com taxas mais atrativas, facilidade para
tornar-se fornecedor de grandes empresas)
3. melhoria da competitividade (através da 3. melhoria da imagem pública da
redução de custos ou melhoria da empresa
eficiência)
4. redução de custos com matérias-primas, 4. aumento da eficiência ecológica
insumos e energia
5. ocorrência de melhorias econômicas de 5. melhoria das condições de
curto prazo trabalho dos empregados
6. novas oportunidades de negócios 6. aumento da motivação dos
empregados
7. minimização dos riscos no campo das 7. diversidade de benefícios para as
obrigações ambientais empresas bem como para toda
sociedade
8. redução dos encargos ambientais 8. indução do processo de inovação
causados pela atividade ambiental dentro das empresas

9. aumento da segurança dos


consumidores de produtos
Fontes: Adaptado de Berkel, 1995; Christie et al., 1995; Fresner, s/d; UNIDO/UNEP,
1995.

3 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

A ineficiência produtiva0 da construção civil resulta em prejuízos ambientais,


sociais e econômicos, os quais afetam diretamente a competitividade das organizações e a
qualidade de vida da humanidade. As estratégias voltadas para a redução de custos
produtivos tornam-se, portanto, questão fundamental. A otimização produtiva, ou seja, a
melhoria do processo construtivo é vista como uma estratégia de negócios.
A qualidade de uma obra como um todo é resultante do seu planejamento e
gerenciamento, da organização do canteiro de obras, das condições de higiene e segurança
do trabalho, da correta operacionalização dos processos administrativos, no controle de
recebimento e armazenamento de materiais e equipamentos e da qualidade na execução de
cada serviço específico do processo de produção.
Contudo, as melhorias voltadas para a gestão dos processos construtivos ainda anda
em passos lentos. Ao analisar a construção civil, percebe-se que a mesma difere muito da
industria de transformação, a partir da qual se desenvolveram os conceitos e metodologias
relativos a qualidade. Nos ultimos anos, vem sendo realizados grandes esforços no sentido
de introduzir a Qualidade Total na contrução. Porém ocorre que a construção possui
caracteristicas singulares que dificultam a aplicabilidade das teorias modernas de qualidade.
Merseguer, citado por Souza (1995), descreve algumas peculiaridades da construção, que
dificultam a transposição de conceito e ferramentas da qualidade no setor, são eles:

• a construção é uma industria nômade;


• cria produtos únicos e seriados;
• é uma industria muito tradicional, com grande inércia às alterações;
• o grau de precisão com que se trabalho é, em geral, muito menor do que em
outras industrias;
• a construção, de maneira geral, realiza trabalhos sob intempéries.

A industria da construção origina uma enorme corrente de resíduos derivados de


processos de demolição e construção, e usa e abusa de materiais renováveis e não
renováveis. A cadeia produtiva apresenta significativos impactos ambientais em todas as
etapas do seu processo: extração de materia-prima, produção de materiais, contrução, uso e
demolição (CEF, 2001). O desperdício também é uma das características marcantes do
setor e um dos indicadores dos custos de não-qualidade dentro das empresas.
Lerípio (2001) apresenta um estudo de entradas e saídas da industria da construção
civil, onde é possivel identificar os principais materiais utilizados e respectivos resíduos
gerados.

ENTRADAS PROCESSO SAÍDAS


Máquinas e implementos, madeira, 1. Serviços Aterro, aparas de madeira, restos de
telha, prego, cimento, areia, brita, Iniciais tijolos, restos de arame, pregos,
arame galvanizado, água, energia embalagens de papelão, serragem,
elétrica. ruído e vibrações.
Energia elétrica, água, brita, cimento, 2. Infraestrutura Água residuária, restos de arame e
areia, aço, arame recozido, madeira, aço, pó, terra, aparas de madeira,
pregos. embalagens de papelão e serragem,
vibrações e ruído.
Energia elétrica, água, madeira, pregos, 3. Água residuária, restos de arame e
papelão, escora metálica, cimento, Superestrutura aço, pó, serragem, aparas de madeira,
areia, brita, arame recozido, aço. embalagens de papelão, vibrações e
ruído.
Cimento, areia, impermeabilizante, tinta, 4. Água residuária, embalagens plásticas
carboplástico, mástique asfálitco, água Impermeabilização e de papelão, resíduos químicos
e (argamassa), vibrações e ruído.
energia elétrica.
Água, energia elétrica, cimento, cal, 5. Alvenaria Água residuária, restos de tijolos,
tijolo. embalagens plásticas e de papelão e
ruído.
Energia elétrica, madeira, pregos, 6. Cobertura Aparas de madeira, restos de tijolos,
estruturas serragem, aparas metálicas e ruído.
metálicas, telhas e parafusos.
Cimento, areia, cal, água,energia 7. Revestimento Água residuária, restos de azulejos,
elétrica e azulejos. embalagens plásticas e de papelão e
ruído.
Água, energia elétrica, madeira, 8. Esquadrias Água residuária, aparas de madeira,
parafusos, pregos, cimento, cal, areia e limalhas de ferro e ruído.
ferro.
Canalizações elétricas e fios. 9. Instalações Aparas de canalizações e aparas de
Elétricas Fios.

Água, energia elétrica, areia, cimento, 10. Instalações Embalagens plásticas e de papelão,
tijolo, brita, madeira, pregos, aço, arame Hidro-sanitárias pó, resíduos de argamassa, água
recozido, pasta lubrificante, adesivo residuária.
para PVC, tubo de PVC, massa para
calefação.
Brita, cimento, areia, cal, água, energia 11. Água residuária, restos de cerâmica e
Revestimento de madeira, embalagens plásticas e de
elétrica, cerâmica
pisos papelão, sobras de pedras naturais, pó
de madeira, resíduos de cola em
embalagens e ruído.
Vidro, cal, gesso e água. 12. Vidros Água residuária, resíduos de
argamassa, embalagens plásticas e
aparas e cacos de vidro.
Massa corrida, lixa, tinta látex, selador 13. Pintura Água residuária, embalagens plásticas
de base látex, tinta acrílica, tinta a óleo, e de papelão, vasilhames plásticos e
solvente, água, verniz e grafiatto de metal, gases, pó, embalagens de
metal.
Cimento, areia, brita, aço, água, energia 14. Serviços Água residuária, embalagens plásticas
elétrica, arame recozido, madeira, externos e de papelão, aparas de arame,
prego, cal, tijolo. resíduos de tijolos, aparas de madeira,
serragem e ruído.
Água, produtos químicos, sabão em pó, 15. Serviços Embalagens plásticas e de papelão,
Detergentes. finais de sobras de estopas e sobras de
acabamento esponjas de aço.

Água, plantas ornamentais, terra preta, 16. Paisagismo Terra preta restos de planta.
seixos rolados. e
jardinagem
Estudo de entradas e saídas da Indústria da Construção Civil
Fonte: Adaptado de Lerípio (2001)

Para a CEF (2001), entre os vários fatores que contribuem para a geração de
resíduos no setor, estão:

• definição e detalhamento insuficientes, em projetos de arquitetura, estrutura, fôrmas,


instalações, entre outros;
• qualidade inferior dos materiais e componentes de construção disponíveis no mercado;
• mão de obra não qualificado;
• ausência de procedimentos operacionais e mecanismos de controle de execução e
inspeção.

Furtado (1999) diz que a mudança do paradigma ambiental, assim como nos outros
setores industriais, também está sendo implantada pelo segmento da contrução civil.
A CEF (2001) descreve que nenhuma sociedade poderá atingir o desenvolvimento
sustentável sem que a construção civil, que lhe dá suporte, passe por profundas
transformações. Entre elas, a otimização produtiva, a melhoria na qualidade dos materiais
empregados e a melhoria na qualificação da mão de obra, são fundamentais.
Para a implementação da construção sustentável, o profissional de arquitetura,
design, o engenheiro e toda a alta direção da empresa deve estar comprometido com os
princípios do desenvolvimento sustentável, que aplicado na compreensão do ciclo da
construção civil, tem como objetivo minimizar no consumo dos recursos naturais, através
de planejamento, design e a construção, até a sua destruição final. É um processo holístico
visando reestruturar e promover a harmonia da natureza e o desenvolvimento das
construções, criando profissionais dignos e uma economia equilibrada.

A Industria da construção civil está entre os segmentos produtivos que causam


danos apreciáveis às condições ambientais (FURTADO, 2002), segue abaixo problemas
relacionadas a este setor:

• Impactos ambientais;
• Destruição ambiental, com efeitos sobre a biodiversidade;
• Aquecimento global;
• Destruição da camada de ozônio;
• Poluição transfronteiriça;
• Erosão do solo;
• Deteriorização de recursos aquáticos;
• Poluição Urbana;
• Poluição do solo, água da superfície e subterrânea;
• Consumo insustentável dos recursos naturais.

Recursos para a Mudança

• Normas técnicas;
• Responsabilidade continuada (Lei de Crimes Ambientais);
• Política de devolução garantida (Take Back);
• Acordos voluntários ou códigos de ética;
• Gestão empresarial de eco-management;
• Produção Mais Limpa.

Independente da opção, a empresa deverá refletir sobre a reinvidicação de


pesquisadores e profissionais, de agencias governamentais e não-governamentais
ambientalistas, que passaram a reclamar da necessidade de reorientação dos processos de
produção. Neste contexto, a Produção Mais Limpa representa a estratégia de escolha, para
os diferentes segmentos industriais, inclusive para o movimento denominado ecobuilding.

3.1 A Sustentabilidade na Construção Civil

Os profissionais deste setor em todo o mundo, estão sensível à necessidade de


inovar. Terminologias como ecobuilding, sustainable building, ecodesign, ecoarchitecture,
green building, environmental building e termos afins, expressão as iniciativas que visam
melhorar as relações entre o meio ambiente, a construção civil e o próprio ser humano nos
processos e produtos desta industria.
Arquitetos, engenheiros e designers preocupavam-se, no inicio, com a economia de
energia nas residências. Depois, coma melhoria na saúde e higiene dos moradores. Os
objetivos foram unificados e ampliados, passando a envolver – dentre outros: (FURTADO,
2002):

• Consumo inadequado de materiais naturais;


• Geração de produtos tóxicos e perigosos;
• Desperdício de materiais nas construções e demolições;
• Aspectos sociais e políticos amplos.

Segue abaixo alguns exemplos de insumos básicos para a industria da construção


civil, mas que devido a evolução da consciência sócio-ambiental dos profissionais do setor
e das partes interessadas, vem sendo adequado ou ate mesmo proibido para utilização na
construção:

• Amianto: proibição do uso nos paises desenvolvidos, no Brasil ainda é contestada;


• Tintas, solventes e outros produtos químicos, já estão sendo reavaliados;
• Matérias baseados em PVC e outros capazes de liberar toxinas durante a incineração:
contribui para a destruição da camada de ozônio, o efeito estufa e entre outros.
Campanhas nacionais e internacionais zelam pela redução ou proibição destes;
• Madeiras nobres: no Brasil, grupos ambientalistas criticam a uso na construção civil ,
sem o reaproveitamento.
• Descarte de pilhas e baterias na concretagem, já estão sendo reavaliados.

Estes são alguns dos exemplos que justificam a importância do ecobuilding.


.Atualmente, o conceito de sustentabilidade, que é a condição ou o estado que
permite a continuidade da existência da vida, promovendo a segurança, a saúde e a
qualidade, em harmonia com a natureza, a cultura e os valores locais, esta intrínseco no
modelo de gestão das grandes empresas.
Os profissionais da construção civil em todo o Mundo, estão se conscientizando da
real necessidade de mudança no modelo de gestão das suas atividades. O CIB
(International Council for Building Research and Documentatios) colocou entre suas
prioridades de pesquisa e desenvolvimento o desenvolvimento sustentável. A European
Construction Industry Federation possui agenda específica para o tema (Industry &
Enviromment, 1996). A Civil Engineering Research Foundation (CERF) entidade dedicada
a promover a modernização da construção civil dos Estados Unidos, realizou uma pesquisa
entre 1500 construtores, projetistas e pesquisadores de todo o mundo (BERNSTEIN,1996)
visando detectar quais as tendências consideradas fundamentais para o futuro do setor.
Nesta pesquisa a “questão ambiental” foi considerada a segunda mais importante tendência
para o futuro, ficando em primeiro lugar o aprimoramento da informática.
Ao mesmo tempo, também, verifica-se a melhoria da qualidade do produto, bem
como das condições de trabalho dos empregados. Isto reflete-se e/ou contribui para a
segurança dos consumidores dos produtos e dos trabalhadores (Berkel, 1995). A PML
oferece oportunidades para uma relação ambiental do tipo "ganha-ganha", onde a melhoria
ambiental pode andar junto com os benefícios econômicos (Berkel, 1995), gerando um
verdadeiro círculo virtuoso.

A Produção Mais Limpa é uma importante ferramenta para a implementação de


praticas ambientais responsáveis nos processos e produtos da construção civil.

Praticas da Produção Mais Limpa para Ecobuilding

• Utilização de materiais com maior eficiência e eficácia e aperfeiçoamento de projetos


para maximização da eficiência e eficácia energética e demais utilidades;
• Emprego de materiais duráveis, de maior qualidade, durabilidade, montagem,
desmontagem e fácil reparo e reutilização;
• Aproveitamento de materiais renováveis, procedentes e processados de maneira
sustentável, com baixo consumo energético e outros reciclados de maneira atóxica e
energia-eficiente;
• Instalação de facilidades para reciclagem local;
• Utilização de energia limpa e renovável e instalação de equipamentos e acessórios
inteligentes;
• Instalação de unidade de tratamento local de água servida e outros resíduos;
• Manejo adequado de materiais perigosos, para prevenção de resíduos e lixo;
• Atendimento das necessidades da comunidade em transportes e circulação menos
agressivo e sustentável, criando condições para caminhadas, bicicletas e transito
publico;
• Apoio aos produtores locais, artesãos e comerciantes;
• Gestão das fontes de materiais, alimentos, água e energia de modo compreensível e
controlável e transparência dos processos e ciclos de produção, consumo e manejo dos
resíduos;
• Promoção da qualidade do ambiente, quanto à diversidade biológica, fontes hídricas e
lençol freático;
• Aperfeiçoamento de plantas e ocupação de espaços mais eficientes;
• Simplificação da geometria das obras, para economia de utilidades e materiais;
• Integração do projeto construtivo à paisagem e às necessidades de aprimoramento das
condições ambientais ao entorno;
• Aperfeiçoamento do projeto de captura, armazenagem, distribuição e consumo de água,
envolvendo tubulações, equipamentos e acessórios;
• Otimização da iluminação natural no maior espaço possível;
• Desmontes e demolições que levem conta os princípios do ecobuilding.

A metodologia de P+L promove a busca de medidas pró-ativas pelo setor, pois


demonstra que o meio ambiente é uma oportunidade de negócios na medida em que
reduzindo desperdícios as empresas se tornam mais competitivas.
4 CONCLUSÃO

Os desafios de ecobuilding são grandes. O primeiro nível deriva da própria estrutura


de decisão de negócios da empresa que, mesmo valorizando a introdução de critérios de
qualidade de materiais e produtos, não reconhece a necessidade de adotar critérios de
qualidade ambiental e social.
A P+L objetiva fornecer diretrizes para a busca de soluções para os problemas
identificados na construção civil, pois possibilita sistematizar ações voltadas para a não
geração de resíduos. A minimização de resíduos na fonte, foco da P+L e do ecodesign,
deve ser a primeira alternativa a ser implementada no setor devido a sua ações preventiva,
bem como pela possibilidade de se reduzir custos de produção pela otimização no uso de
matéria-prima e insumos, fator determinante de competitividade no setor. (ARAUJO,
2002).
Devido ao seu enfoque preventivo, a metodologia P+L, possibilita a redução, na
fonte, dos resíduos gerados, medida esta que viabiliza as empresas do setor de construção
civil aumentarem sua competitividade através da racionalização dos processos e
conseqüentemente redução do impacto ambiental e custos produtivos.
Os estudos aplicados de P+L no setor da construção civil, possibilitam perceber
que a execução dos serviços é feita de acordo com as especificações do projeto. Sendo
assim, a elaboração de projetos detalhados é fator determinante para que se consiga
prevenir a geração de resíduos no setor de construção civil.
No entanto, sabe-se que a eliminação total dos resíduos é praticamente impossível.
Neste sentido, deve-se ressaltar a importância de se buscar formas de reaproveitamento
interno dos resíduos gerados, ou seja, a reutilização dos mesmos no próprio
empreendimento, assim como medidas que viabilizem a reciclagem externa dos resíduos.
Enfim, a P+L vem possibilitando agregar novos conhecimentos aos profissionais
ligados ao setor de construção civil, em especial, para engenheiros, técnicos em edificações
e arquitetos. Através desta mudança de paradigma proporcionada pela implementação da
P+L, os projetos que envolvem uma obra passaram a serem vistos por estes profissionais
como uma alternativa para prevenção dos resíduos.
A P+L não só possibilita alcançar benefícios ambientais, como também benefícios
econômicos, estes fundamentais para a viabilidade de práticas ambientalmente corretas.
Pode-se acrescentar, também, que são estas ligações que estão impulsionando todo o
processo de inovação da empresa, juntamente com a constante realização da melhoria
contínua em seus processos produtivos e gerenciais. Nesse sentido, contribuem de forma
significativa, as motivações, as expectativas, as características empreendedoras dos gestores
e a visão das novas oportunidades de negócios que eles possuem.
Isto significa que não basta investir em máquinas e equipamentos, em mudança de
processos e produtos. Faz-se necessário investir, também, nas técnicas gerenciais, em
planejamento e em treinamento, tendo em vista que quem gera as inovações nas empresas
são as pessoas, que com suas inteligências, idéias e criatividade, propiciam o diferencial
competitivo para as empresas. Elas é que geram as inovações, que por sua vez, geram
competitividade.
Os benefícios que a gestão ecoeficiente traz para as atividades empresariais já estão
sendo reconhecidos. Esses benefícios ocorrem na melhoria de sua imagem frente aos
clientes e no uso racional de recursos naturais e insumos nas atividades produtivas. A P+L
se insere nesse contexto como sendo uma alternativa viável no combate dos problemas
ambientais das empresas. O nicho de mercado para o ecobuilding começa a ser configurado.

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