Vitória Do Mearim Uma Sintese de Sua História
Vitória Do Mearim Uma Sintese de Sua História
Vitória Do Mearim Uma Sintese de Sua História
Vitória do Mearim é o município mais antigo de toda a região banhada pelo Rio Mearim e sua sede, pela altitude
privilegiada, foi o local onde o colonizador português venceu-lhe as águas revoltas do baixo curso, fato que, provavelmente,
deu origem ao topônimo.
As primeiras incursões pelo rio Mearim foram contemporâneas da própria colonização do Maranhão, nos séculos XVI
e XVII. Daquela época, avulta, hoje, a epopéia de Manoel Beckman (final dos anos 1600), dono do Engenho Vera Cruz,
vastíssima propriedade que abrangia grande parte do que depois seria o Município de Vitória do Mearim. A sede da
propriedade ficava, ao que tudo indica, no lugar Santa Cruz, hoje pertencente ao Município de Conceição do Lago Açu,
instalado em 1997, após desmembrar-se do de Vitória. Bequimão, como era conhecido, liderou uma revolta contra a
espoliação a que o Estado fora submetido, em detrimento dos interesses dos colonos, e, por isso, foi condenado à morte na
forca.
Em 1723, foi criada, por uma resolução régia de 18 de março, a Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Mearim,
sediada no povoado Ribeira do Mearim, tendo como primeiro vigário o padre e fidalgo da Casa Real Portuguesa José da
Cunha d’Eça, mentor da referida paróquia e instituidor de seu primeiro patrimônio. Existiam na região, também conhecida,
na época, como Ribeira do Mearim ou simplesmente Mearim, alguns engenhos, com poucas dezenas de pessoas, cada
um, além de uma provável residência de religiosos mercedários e outros moradores dispersos. Eram “quinhentas almas
privadas de sacramentos” a justificar a criação da freguesia.
Essa iniciativa foi o verdadeiro marco inicial da história de Vitória do Mearim. Por isso, entre as atuais cidades
maranhenses, Vitória é a 5ª povoação mais antiga, superada somente por São Luís, fundada em 1612; Alcântara, em 1648,
Icatu, em 1688; e Rosário, em 1716.
Na segunda metade do Século XVIII, já instituído e funcionando o Julgado do Mearim, com seu juiz ordinário,
escolhido anualmente, pela Câmara de São Luís, para exercer poderes administrativo e judicial, deu-se a transferência dos
moradores, do povoado Ribeira do Mearim, para o sítio onde surgiu a Vitória do Mearim de hoje. A mudança foi motivada
pelas inundações devastadoras do Mearim, que inviabilizaram o projeto inicial de povoamento. O antigo povoado passou a
ser chamado de Sítio Velho e, depois, apenas Sítio, nome pelo qual é até hoje conhecido. Fica no Município de Arari, este
criado em 1864, por desmembramento do de Vitória.
O Município (Vila do Mearim), desmembrado do território da Capital, São Luís, foi criado, juntamente com outros seis,
pela resolução de 19 de abril de 1833, do Conselho Geral da Província do Maranhão, haja vista preencher os requisitos
legais para isso, pois, dando 7 eleitores, tinha maior número de fogos do que os exigidos para a criação de qualquer vila,
como declarado pelos moradores, ao Governo, dois anos antes. A 7 de janeiro de 1834, deu-se a instalação da nova célula
político-administrativa, com a posse de sua primeira Câmara Municipal, cujo presidente e, por isso, chefe do governo local,
na condição de vereador mais votado, era Bernardo José Nogueira. Abrangia, praticamente, toda a extensão das terras
banhadas pelo Rio Mearim e aquelas da segunda metade do curso do Grajaú. Naquela época, existiam, na Província do
Maranhão, apenas treze municípios e somente o da Capital, São Luís, tinha sede com status de cidade. Os doze restantes
eram sediados em vilas: Vinhais, Paço do Lumiar, Alcântara, Viana, Guimarães, Itepecuru-mirim, Icatu, Caxias, Brejo,
Tutóia, Pastos Bons e São Bernardo.
Inicialmente, a Vila do Mearim foi termo judiciário das comarcas de Itapecuru (1833-1835) e Viana (1835-1872). O
primeiro juiz municipal e o primeiro promotor público, nomeados pelo Governo Provincial, em 1834, mediante proposta da
Câmara Municipal em listas tríplices, foram, respectivamente, os cidadãos João Duarte Dornelles e João Francisco Serejo.
De algum lugar do território da Vila do Mearim partiu, num dia do final de 1838, o piauiense Raimundo Gomes Vieira
Jutahy para atear o fogo que, durante três anos, incendiou o Maranhão na guerra civil que passou para a história com o
nome de Balaiada. Era ele vaqueiro do Pe. Inácio Mendes de Moraes e Silva, sacerdote que vivia, sem cargo eclesiástico,
cultivando fazendas às margens do Mearim, nos distritos de Vitória, Arari e Anajatuba. Também em seu território, aquela
guerra teve fim, no início de 1841, com a derrota, no lugar Calabouço, e a prisão, no lugar Salamantinha, do líder rebelde
remanescente, o negro quilombola Cosme Bento das Chagas.
Em 1872, foi criada a Comarca do Baixo Mearim, compreendendo os termos do Mearim, de Arari e de Anajatuba,
com sede no primeiro. Instalada no início do ano seguinte, o primeiro juiz de direito foi o Dr. Joaquim Rodrigues Seixas, e o
primeiro promotor público nomeado, o Dr. Pedro Jansen Ferreira, numa época de constante atuação de promotores
adjuntos, sendo o primeiro deles, no termo sede, Jacintho José da Costa, que assumiu em março de 1873.
Proclamada a República, a antiga Vila do Mearim era já conhecida como Vila do Baixo Mearim e Victória do Baixo
Mearim. No novo regime, o primeiro chefe da comuna (presidente do Conselho de Intendência) foi Francisco Manoel
Gomes (1890). Realizadas as primeiras eleições (1892), saíram eleitos, para intendente municipal, Lupércio Antonio Bogea
Sobrinho e, para subintendente, João Ignácio Fernandes, figurando Francisco Manoel Gomes como o vereador mais
votado.
Com a mudança da denominação do cargo de chefe da municipalidade, em 1919, o intendente Raymundo Francisco
Gomes passou à condição de prefeito municipal, mas o primeiro eleito para exercer tal cargo foi Ângelo Custódio de Mattos,
em 1922.
Naquele ano, chegou à Vila, assumindo a Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, o jovem Pe. Eliud Nunes Arouche,
que dedicou toda a sua vida ao povo vitoriense, servindo-o como pastor, educador e chefe político. Ao morrer, em 1969,
legou à comunidade que adotara o mais importante educandário do lugar, o Instituto Nossa Senhora de Nazaré, fundado
em 1923, e a aurora de uma nova era político-administrativa, já livre o Município do ranço obscurantista que o manteve
preso a práticas obsoletas até o início dos anos 1960, com raríssimas exceções, como a administração de Lourenço
Pereira Pinto (1951-1953), em que, além de outras iniciativas importantes, a cidade conheceu iluminação pública a energia
elétrica.
O trabalho do Cônego Eliud foi continuado por seu sucessor, Pe. Sergio Ielmetti, que celebrou, em 2004, 50 anos de
sacerdócio e 35 de paroquiato em Vitória do Mearim, onde suas obras, no campo religioso e social, são reconhecidas por
todos.
Ao longo de sua história, o povo vitoriense foi marcado pela atuação dos sacerdotes da Igreja Católica, sob a égide
da qual nasceu e vigorou. Deixaram sua marca na cidade, além dos já citados, os padres José Lourenço Bogea (vigário de
1835 a 1869), João Emiliano do Lago (de 1870 a 1885) e Arthur Macário Lopes Gonçalves (homônimo de um irmão de seu
pai, citado adiante), este um filho da terra que, embora não sendo pároco, muito contribuiu para o desenvolvimento local,
pois foi um benfeitor nas áreas de educação, saúde, sindicalismo e assistência social. São sacerdotes filhos da terra, entre
outros, mais recentes, os padres Flávio de Sousa Barros, pároco de Araioses-MA há mais de quarenta anos, e Osvaldo
Marinho Fernandes, de Santa Rita-MA, onde exerceu o cargo de prefeito municipal por dois mandatos, de 1997 a 2004.
Em 1923, a sede do Município fora elevada à condição de cidade, por lei estadual, que oficializou o nome de Vitória
do Baixo Mearim. Quinze anos depois, por determinação do interventor Paulo Ramos, receberia a denominação simplória
de Baixo Mearim, que muito desagradou aos seus filhos. Finalmente, em 1948, adveio o topônimo definitivo: Vitória do
Mearim.
As perdas territoriais tornaram-se uma constante na história vitoriense. As primeiras aconteceram em 1854, com a
cessão da maior parte do território que formou o município da Vila de Santa Maria de Anajatuba e de parte das terras que
formaram os municípios da Vila de Santa Cruz da Barra do Corda e da Vila de São Luiz Gonzaga do Alto Mearim. As
últimas ocorreram em 1997, quando foram instalados os municípios de Igarapé do Meio, Bela Vista do Maranhão e
Conceição do Lago Açu, constituídos integralmente com áreas que pertenciam a Vitória do Mearim.
Hoje, a velha cidade ribeirinha é um entroncamento rodoferroviário, o que, concomitantemente com determinados
benefícios do progresso, lhe trouxe a formação de bairros periféricos, habitados por pessoas de acentuada pobreza e com
escandalosa carência de serviços públicos, já deficientes mesmo para a população mais abastada. Como resultado desse
inchaço da cidade, veio a escalada da violência, que a todos tomou de surpresa, embora fenômeno comum nos centros
urbanos mais adiantados, roubando a tranqüilidade de outrora. Some-se a isso o clima hostil sob o qual vive grande parte
dos habitantes da zona rural, lavradores desprovidos do usufruto de serviços públicos os mais elementares e humilhados
pela ganância de latifundiários, nem sempre legítimos detentores da propriedade que reclamam como sua, e tem-se
pintado o quadro de graves problemas sociais que afligem a população de Vitória do Mearim. São problemas que exigem
solução sem demora, a desafiar a sensibilidade, a vontade política e a competência dos gestores públicos do Século XXI.
No que tange à história local, infelizmente, muito do que se difundiu nas últimas décadas está eivado de erros e omissões.
Fatos, datas, relações de causa e efeito, circunstâncias e até nomes próprios são erradamente mencionados em
determinadas publicações, como a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE, 1959).
Pesquisa criteriosa vem sendo empreendida, entretanto, na tentativa de restaurar a verdade histórica, recuando aos
primórdios da colonização do Rio Mearim e adentrando a história plurissecular do povo que às suas margens floresceu,
onde o pranto indígena gamela e o suor negro, sob a sinistra canção do chicote branco, irrigaram o solo propício para a
agricultura, que, até hoje, constitui sua atividade econômica preponderante.
Verdadeiro portal da Baixada Maranhense, onde se destacam os campos naturais inundáveis, banhado por dois
grandes rios, por isso que com terras férteis e água em abundância o ano inteiro, e muito próximo dos terminais portuários
da Ilha de São Luís, com os quais se comunica por vias rodoviária (BR-222 e BR-135) e ferroviária (estrada Serra de
Carajás—Ponta da Madeira), o Município é vocacionado (mas ainda não foi descoberto) para sediar empreendimentos
industriais, o agronegócio e o ecoturismo, sem esquecer a possibilidade de ações públicas para fomento do turismo
histórico-cultural, haja vista a riqueza de suas tradições (q.v. dados gerais sobre o Município no link próprio).
Além dos vultos históricos citados anteriormente e dos patronos das cadeiras de sua Seção na Academia Arariense-
Vitoriense de Letras, a história do Município de Vitória do Mearim registra o nascimento ou a atuação, em suas terras, das
seguintes personalidades do passado histórico local, estadual ou nacional:
a) Bernardo Pereira de Berredo e Castro, governador do Maranhão e fazendeiro na ribeira do Mearim (1º quartel do Século
XVIII);
b) Barão do Mearim (José Teodoro Correa de Azevedo Coutinho), fazendeiro e militar na região, filho de Alcântara (1ª
metade do Séc. XIX);
c) Barão de Itapari (José Joaquim Seguins de Oliveira), fazendeiro na Baixada Maranhense e no Mearim (final do Sec. XIX);
d) Coronel Manoel Lourenço Bogea, oficial da Guarda Nacional, chefe político na Vila do Mearim, e Manoel Bogea Duarte
do Vale, ambos deputados provinciais no Século XIX (décadas de 40 e 70, respectivamente);
e) Arthur Macário Lopes Gonçalves (vitoriense) e Leocádio Zeferino Bogea, deputados estaduais, representando o Baixo
Mearim, em fins do Século XIX;
f) Major Cutrim (Pedro Nunes Cutrim), oficial da Guarda Nacional, chefe político na Vila do Mearim e deputado estadual no
início do Século XX;
g) Antenor Américo Mourão Bogea, promotor público, deputado federal e jurista de escol (anos 1940 e 1950), e seu primo
Raimundo Rodrigues Bogea (Manduca Bogea), deputado estadual (anos 1950 e 1960), ambos filhos de Grajaú, mas com
raízes familiares em Vitória do Mearim, onde residiu o primeiro quando criança e onde os dois sempre tiveram grande
prestígio político;
h) Pedro Braga Filho, médico, alto funcionário público e deputado federal nas décadas de 1950 e 1960, que, embora filho
de Barra do Corda, associou seu nome à história de Vitória do Mearim após casar-se com uma das filhas de Antonio Nilo
da Costa, chefe político local com quem realizou exitosa parceira política;
i) Leocádio de Andrade Pessoa, Arthur Bezerra de Menezes Lira e Manoel Lopes da Cunha, juízes de direito da Comarca
do Baixo Mearim (entre 1875 e 1893) que chegaram a ser desembargadores do tribunal maranhense, tendo os dois últimos
sido presidentes da Corte e tendo o último exercido o cargo de governador do Estado;
j) Luiz Cortez Vieira da Silva (vitoriense), juiz de direito do Baixo Mearim (1946) que chegou a ser desembargador;
l) Theodoro Gonçalves Neto (vitoriense), promotor público, juiz de direito, procurador geral do estado e membro, como juiz
convocado, do Superior Tribunal de Justiça, no Amazonas, na 1ª metade do Séc. XX;
m) Urbano Santos da Costa Araújo, promotor público da Comarca do Baixo Mearim (1882) que foi governador do Estado do
Maranhão, senador da República e vice-presidente da República por duas vezes, chegando a assumir a Presidência por
um mês;
n) Benedito Ricardo Salazar, Ives Miguel Azar e José Joaquim Ramos Filgueiras, promotores públicos do Baixo Mearim (1ª
metade do Séc. XX) que chegaram a ser desembargadores do tribunal maranhense, tendo o último sido presidente da
Corte;
o) Arcelina Rodrigues Mochel, promotora pública (1940), que depois se destacou, no Rio de Janeiro, como líder feminista,
membro do comitê central do Partido Comunista Brasileiro e vereadora do Distrito Federal;
p) César Augusto Marques, médico de profissão, historiador por vocação, que, a serviço, esteve na Vila do Mearim por
duas vezes, nos anos 1860, ocasiões em que colheu preciosas informações sobre a história local, publicando-as
pioneiramente a partir de 1870; e
q) Manoel Correa do Lago e Dehork de Paula Gonçalves, generais do Exército Brasileiro (1ª metade do Sec. XX),
vitorienses que se radicaram, respectivamente, no Rio de Janeiro e Manaus.
*Washington Cantanhêde, Promotor de Justiça, autor dos livros “Vitória do Mearim dos primórdios à emancipação”(1998) e “Vitória do Mearim
da emancipação á era dos intendentes”(1999) e presidente da Academia Arariense-Vitoriense de Letras—AVL (2004-2006).