Vontade dominada
Copyright © 2009 Naor Pedroza
VINHA Editora
Editora associada à ASEC – Associação Brasileira de Editores Cristãos
Diretor geral Aluízio A. Silva
Diretor superintendente Naor Pedroza
Diretor executivo Marcelo Ladvocat
Gerente de marketing e vendas Sérgio Carneiro
Gerente de produção Messias Lino
DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou
parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a
autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos
Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 48 do
Código Penal.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2008
Vontade dominada
Vontade dominada
Categoria: Religião / Bíblia / Cristianismo
Copyright © 2009 Naor Pedroza
Todos os direitos reservados
1ª edição fevereiro de 2009
Edição Vinha Editora
Preparação dos originais Aline Monteiro
Revisão Kamila Damásio
Projeto Gráfico Michele Araújo
Diagramação Printmark Marketing Editorial
Capa Julio Carvalho
Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida
Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo Indicação
específica.
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Pedroza, Naor, 2009
Vontade dominada / Naor Pedroza. – Goiânia: VINHA Editora,
2009
ISBN: 978-5-7929-000-8
1: Religião 2: Bíblia 3: Cristianismo 4: Título
CDD : 200/220
Índice para catálogo sistemático:
1: Religião: Bíblia: Cristianismo 220/230
Editado e publicado no Brasil por:
VINHA Editora
Av T-7, 1361 Setor Bueno CEP: 74.210.260
Goiânia GO Brasil
Telefone: (62) 3534-8850
[email protected] Dedicatória:
A todos que, sendo constrangidos pelo
amor de Cristo, estão decididos a tomar a pró-
pria cruz, renunciando sua vontade, a fim de
que a vontade de Deus seja feita na Terra e o
Seu reino estabelecido entre nós!
Epígrafe
Porque eu desci do céu, não para fa-
zer a minha própria vontade, e sim
a vontade daquele que me enviou.
(Jo 6.38)
Sumário
A vontade da alma 15
Implicações 17
Liberdade e vontade 18
A condição do homem 23
A vontade de Deus e a vontade do homem 36
Mudança de paradigma 44
O caminho dos vencedores 52
Prefácio
No decorrer de nossa caminhada cristã, nos
dispomos a fazer muitas coisas para Deus. In-
serimo-nos rapidamente em Sua obra, e acre-
ditamos com isso estarmos agradando a Deus.
Contudo, podemos estar fazendo algo que não
O agrada, mesmo dentro de Sua obra. Por isso,
o ponto central da vida cristã está na união da
nossa vontade a vontade de Deus.
Este quarto volume da série Vida Plena de-
nuncia a nossa disposição em nos rendermos às
paixões da vontade, bem como as implicações
dessa rendição; explica a liberdade que nos foi
12 V i da P l e n a
concedida e como devemos usá-la. A condição
do homem é de total desobediência, pois traz
encerrado dentro de si e em sua carne a semen-
te de Adão. Por isso, nossa vontade deve se in-
clinar livremente à vontade de Deus.
Este volume é um convite a uma mudança
de foco e perspectiva, onde o autor nos leva a
repensar a forma como lidamos com nossa li-
berdade de escolha diante das opções da car-
ne. Assim, a necessidade de disciplina e sujei-
ção da vontade, unindo-a à vontade do Senhor
são apresentadas como um caminho que nos
leva à vitória em Cristo.
Agradecimentos
Ao doce Espírito Santo que nos tem guia-
do a toda verdade e a todos os irmãos que tem
cooperado para publicarmos verdades que edi-
ficam a Igreja do Senhor, levando-nos a uma vi-
da plena em Cristo.
A vontade da alma
A vontade é o coração das decisões, é o
centro de comando da nossa vida. Somos fruto
das nossas decisões, pois sabemos que o que
decidimos no passado está afetando nossa vida
agora, e o que decidirmos hoje, afetará nosso
futuro. Isso é estratégico, porque a vitória com-
pleta do Senhor em nossa vida passa por nos-
sa vontade e esta, por sua vez, deve estar uni-
da à vontade de Deus. Quando isso acontece,
somos imbatíveis, pois a Palavra do Senhor diz
que nenhum dos Seus planos pode ser frustra-
16 V i da P l e n a
do e que tudo o que Lhe pedirmos segundo a
Sua vontade, Ele nos dará.
A vontade nada mais é que uma força inte-
rior que todos nós temos e que nos dirige quan-
do tomamos decisões. É ela quem determina se
queremos ou não alguma coisa, quem nos leva
a escolher entre sim e não. Assim como o le-
me dirige um barco, a vontade nos conduz de
um lado para o outro, na direção que nos im-
pele a seguir. As emoções expressam nossos
sentimentos e a mente expõe o que estamos
pensando, mas a nossa vontade expressa aqui-
lo que queremos. É, portanto, algo fundamen-
tal em nossa vida.
Deus criou o homem e colocou nele uma
vontade que representa o seu “eu”, aquilo que
ele é e que conduz a sua vida. Então, podemos
dizer que a vontade do homem é o próprio ho-
mem expresso em suas ações, assim como a
vontade de Deus é o próprio Deus. Por isso, es-
se é um dos assuntos mais importantes na vida
cristã, pois, dependendo da forma como nossa
vontade reage à vontade de Deus, teremos su-
cesso ou fracasso.
V o n ta d e D o m i n a da 17
Implicações
Para conhecermos um pouco mais a respei-
to das implicações da vontade sobre nossa vi-
da, é preciso deixar claro que a verdadeira sal-
vação só existe quando a vontade do homem é
unida à vontade de Deus. É isto o que o Senhor
faz ao nos salvar: Ele traz de volta a nossa von-
tade para o centro da vontade dEle.
Podemos experimentar muitas coisas na vi-
da cristã, como alegria, conforto e paz; pode-
mos crer no Senhor e obter conhecimentos tre-
mendos por meio de Sua Palavra, livros e de-
mais coisas. Entretanto, se a nossa vontade não
estiver unida à do Senhor, tudo isso não passa-
rá de manifestação da alma, sem qualquer va-
lor no mundo espiritual.
Muitas pessoas baseiam sua vida somente
nos “calafrios”, nos “arrepios” que sentem, ou
no conhecimento detalhado da Palavra que pos-
suem. Nada disso, contudo, tem valor se a nos-
sa vontade não estiver unida à de Deus. O pon-
to central da vida cristã está na união da nos-
sa vontade a vontade de Deus. Essa é a única
18 V i da P l e n a
e verdadeira união, uma vez que o nosso espí-
rito já é um com o Espírito de Deus.
Liberdade e vontade
Como essa é uma área muito importante de
nossa vida, certamente satanás intenta conquis-
tá-la. Devemos resistir aos seus esforços.
Temos liberdade de escolha, ou seja, te-
mos uma vontade livre, podemos escolher o
que queremos. Ao contrário do que o mundo
diz, temos opção. Ele fala que somos escravos,
que não podemos fazer nada. Porém, quem é
livre? Um viciado em drogas, um alcoólatra,
uma pessoa que não consegue ficar sem ir a
uma boate senão fica oprimido, alguém que
não consegue deixar de usar drogas ou de be-
ber todos os dias? Claro que não! Esses são os
verdadeiros escravos.
Nós podemos escolher. Se quisermos usar
drogas, podemos usar. Mas, temos opção e po-
demos escolher servir só a Deus e não nos pren-
dermos a droga alguma. Escolhemos andar com
V o n ta d e D o m i n a da 19
o Senhor e nos alegrar nEle; tomamos a deci-
são e isso é liberdade de escolha. Somos livres
de verdade porque o Filho nos libertou, temos
opção, podemos escolher o caminho a seguir.
Portanto, o primeiro ponto que abordaremos é
o fato de que o homem foi feito livre para exer-
cer sua vontade.
Deus estabelece regras e parâmetros para
o homem, mas nunca o força ou obriga a tomar
determinada decisão, é o homem quem decide o
que vai fazer. Deus nos mostra o caminho pelo
qual devemos andar, mas nos deixa livres para
escolher andar por ele ou não, pois não domina
nossa vontade. Servir ao Senhor é uma decisão
pessoal, tomada em plena liberdade.
Quando criou o homem, o Senhor o instruiu
quanto ao que ele podia ou não fazer, deixando
claro as conseqüências de se fazer uma opção
errada: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem:
De toda árvore do jardim comerás livremente,
mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal não comerás; porque, no dia em que dela
comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17).
20 V i da P l e n a
Deus disse a Adão o que livremente po-
deria comer e o que não deveria comer para
que não morresse. O deixou livre, não o obri-
gou a nada; Ele proibiu, deu orientações, mas
nunca forçou o homem a obedecê-lo. No mo-
mento em que Adão ia comer do fruto proibi-
do, Deus não interferiu, pois havia lhe dado li-
vre arbítrio.
Se Deus não desse ao homem liberdade de
escolha, não haveria sentido em criá-lo, seria
o mesmo que criar para Si um boneco de fan-
toche. Porém, mesmo sabendo que o homem
poderia cair, Deus, por causa de Sua justiça e
retidão, o criou com liberdade de escolha. O
homem é, portanto, responsável por todos os
seus atos, por tudo o que faz; é ele quem de-
cide a própria vida, nada externo irá controlá-
lo se ele não permitir.
A queda do homem no pecado e a salvação
foram frutos de decisões tomadas. Adão deci-
diu desobedecer a Deus, e o homem caiu. Jesus
decidiu obedecer a Deus, e o homem foi salvo.
Quando decidimos andar sem Deus, vivemos
uma vida destruída. Mas, quando escolhemos
V o n ta d e D o m i n a da 21
andar com o Senhor, vivemos uma vida que va-
le a pena, provamos do melhor de Deus.
Se quisermos ser vencedores, é fundamen-
tal submetermos nossa vontade à de Deus, que
estejamos ligados a Ele. Muitas vezes, achamos
que o diabo é nosso maior inimigo, mas isso
não é verdade. Nosso ego é nosso maior ini-
migo. Ele é terrível, requer toda a atenção para
si e, se não decidirmos crucificá-lo para que a
vontade de Deus reine, nunca uniremos nossa
vontade à de Deus. Isso significa que devemos
renunciar à nossa própria vontade para que ela
se torne uma com a do Senhor. É por isso que
a salvação vem pela obediência.
Há duas forças, duas vontades distintas e
contrárias que regem o homem. Existe, de um
lado, a vontade de Deus, que é santa, perfeita
e poderosa; e, do outro, a vontade do diabo —
corrompida, perversa, enganadora, caída e con-
trária a Deus. A qual das duas vontades existen-
tes no universo o homem se unirá?
Nós estamos no meio delas, somos livres
para decidir à qual delas vamos nos unir. É
22 V i da P l e n a
impossível não optar por uma ou por outra,
pois quem não está unido a Deus, está sujeito
ao diabo. Não há um campo neutro.
Quando o homem optou por fazer algo con-
trário à vontade de Deus, caiu e, conseqüente-
mente, uniu-se à vontade do diabo. Eva, enga-
nada pela serpente, foi levada a sujeitar-se a ela.
Ao escolher o pecado, que é a vontade caída, a
vontade maligna, ficamos sujeitos a ela. Assim,
nossos atos, impulsos e decisões são tomados
sob essa influência. Tal vontade está no coração
do diabo, é a vontade da desobediência.
Por outro lado, quando decidimos nos unir
à vontade de Deus, somos influenciados e con-
duzidos por ela. Porém, ao contrário do diabo,
que é astuto e tenta nos seduzir para nos unir à
sua vontade, Deus não age enquanto não hou-
ver consentimento da nossa parte. Sem o nos-
so consentimento, Ele não irá operar em nos-
sa vida. Esse é um princípio fundamental, pois
determinará o rumo de nossa vida. Somente a
união da nossa vontade à vontade de Deus nos
faz buscar as coisas que são dEle, pois, como
já vimos, um coração que pende para o lado de
V o n ta d e D o m i n a da 23
Deus encontra vida e paz (Rm 8.6), mas aque-
le que pende para as coisas do mundo, encon-
tra morte e destruição. Isso é um fato.
Eu vivi no mundo e, um dia, minha vontade
escravizada escolheu o caminho do mundo. Já vi-
vi lá e sei qual é o resultado: feridas na alma, rejei-
ção, ciúmes, medo da traição, descrença no casa-
mento, desconfiança, amizades, prazeres momen-
tâneos, insegurança e tantas outras coisas. Mas,
quando escolhemos o caminho de Deus, descobri-
mos que o casamento vale a pena, encontramos
vida, paz e alegria permanente, de segunda a se-
gunda, pois é algo que flui dentro de nós.
Podemos escolher qual caminho queremos
seguir. Dominamos a vontade, tomamos deci-
sões e colhemos seus frutos. Mas, para que is-
so aconteça, precisamos tirar nosso “eu” de ce-
na e deixar que o Senhor prevaleça.
A condição do homem
Paulo disse com todas as letras aos roma-
nos que, não apenas eles, mas todos pecaram
24 V i da P l e n a
e, igualmente, todos carecem da glória de Deus
(Rm 3.23). Precisamos da misericórdia e do per-
dão do Senhor, pois todos nós nascemos caí-
dos, pecadores, com a nossa vontade unida à
do diabo, contrária a Deus. O velho homem é
assim por natureza e a Bíblia diz que “não há
justo, nem um sequer [...], não há quem busque
a Deus” (Rm 3.10,11).
Sem a nova vida de Deus em nós, tudo o
que fazemos não passa de fruto da vontade da
carne e não tem valor para o Senhor, pois Ele
não aceita o que provém do homem e de sua
vontade caída. Deus só aceita aquilo que proce-
de d’Ele mesmo. Sendo assim, tudo o que co-
meça em nós é defeituoso, pois é do velho ho-
mem e não agrada a Deus.
Nem mesmo a salvação provém da nos-
sa vontade! O homem não é salvo porque de-
cide, porque quer Jesus, mas porque Deus de-
seja salvá-lo:
Mas a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos
V o n ta d e D o m i n a da 25
filhos de Deus, a saber, aos que crê-
em no seu nome; os quais não nasce-
ram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem,
mas de Deus. (Jo 1.12,13)
É um grande equívoco achar que o ho-
mem pode escolher ser salvo. A Bíblia diz que,
se Deus não agir, se Ele não quiser, a salva-
ção não acontece, pois ela não nasce da vonta-
de humana; o homem não decide ser filho de
Deus, pois sua vontade está unida à do diabo.
Foi Deus quem o escolheu, decidiu salvá-lo e
o amou primeiro.
Há muitas pessoas em nosso meio que es-
tão apenas convencidas, mas ainda não se con-
verteram de fato. Certa vez, aconselhei uma mo-
ça que há muito tempo participava da igreja a
qual eu estava ministrando. Depois de ouvir a
pregação, ela veio dizer que estava incomoda-
da por não conseguir vencer o pecado da pros-
tituição com o namorado, também crente. Dei
a ela duas opções: terminar o namoro ou ca-
sar-se com o rapaz. Segundo ela, casar estava
26 V i da P l e n a
fora de cogitação, pois estavam sem dinheiro.
Por outro lado, terminar o namoro não ajuda-
ria em nada no seu caso, porque, mesmo que
rompesse com ele, acabaria caindo em peca-
do com outro.
Enquanto conversávamos, Deus me levou
a perguntá-la se ela ficava mal quando caía,
pois quem nasce de novo não vive no pecado.
A moça, então, me disse que não se arrepen-
dia, não sentia nada; continuava indo às reuni-
ões, orava e levava sua vida normalmente. En-
tão, de maneira bastante franca, lhe disse: “Mi-
nha querida, você só trocou de religião, precisa
nascer de novo, conhecer a Deus”.
Há muita diferença entre nascer de novo e
mudar de religião, passar para a “lei dos cren-
tes”. Se Deus não agir, não convencer o homem
do pecado, de nada adianta a pregação. Com
bons argumentos, podemos convencer qualquer
um a fazer muitas coisas, inclusive a mudar de
religião, mas nunca lhe daremos a salvação. Há
pessoas que já aceitaram Jesus diversas vezes,
mas nunca nasceram de novo, porque Deus não
moveu na vida delas. Somente o que parte de
V o n ta d e D o m i n a da 27
Deus tem valor. Esse é um princípio que rege-
rá toda a nossa vida cristã. Todas as coisas só
serão aceitas e terão valor se partirem de Deus
para o homem e nunca do homem para Deus
(Lc 11.32; Jo 6.39).
A vontade de Deus é “que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimen-
to da verdade” (1Tm 2.4). Em Apocalipse lemos
que quem quiser receber a água da vida, a re-
ceberá de graça (22.17). Nos versículos 12 e 13
do primeiro capítulo do evangelho de João, ci-
tados anteriormente, vimos que Deus deu, a to-
dos os que receberam e creram em Jesus, o po-
der de serem feitos Seus filhos. Através desses
textos bíblicos, vemos que tudo parte de Deus
e, dependendo da resposta do homem ao Seu
chamado, Ele age e o salva.
Quando o homem decide servir a Deus e
essa decisão parte apenas dele mesmo, cai na
religiosidade, isto é, faz muitas coisas para Deus,
mas o Senhor não está em nenhuma delas. Po-
demos fazer várias obras para Deus, como pre-
gar a Palavra, fazer missões, evangelizar, reali-
zar cultos, dar cursos, entre outras coisas boas
28 V i da P l e n a
e “espirituais”, mas se isso não for da vontade
dEle, será em vão e não terá valor algum. Deus
não aceita o que vem do nosso ego, do nosso
“eu”, mesmo as boas coisas que fazemos.
Precisamos estar sempre atentos à direção
que Deus quer que sigamos. Muitas vezes, isso já
está explícito em Sua Palavra; outras vezes, não.
Por exemplo: não precisamos orar para ajudar
um irmão que esteja passando por necessidade,
pois já está escrito, mas, para dar um carro em
oferta, é preciso esperar Deus mandar.
Lembro-me de um irmão muito genero-
so, com boas condições financeiras, que, cer-
ta vez, foi procurado por um homem dizendo
que Deus havia lhe falado que o irmão deve-
ria lhe dar uma oferta. Ele, então, respondeu:
“Deus ainda não falou comigo. Quando falar,
eu lhe procuro”. Esse era um irmão que seguia
a direção de Deus!
Não devemos fazer nada que o Senhor não
nos tenha mandado fazer. Esse é o nosso gran-
de engano: querer fazer algo para Deus. O Se-
nhor não está em busca de trabalhadores, mas
V o n ta d e D o m i n a da 29
de homens que se unam à Sua vontade e sim-
plesmente O obedeçam. Se Deus quisesse traba-
lhadores, ao criar o homem, não o teria coloca-
do num jardim, mas numa lavoura. Isso foi feito
para mostrar que Ele não está buscando obras,
mas o homem, sua vontade e seu coração.
Muitas pessoas correm de um lado para o
outro, se cansam, se desdobram, ficam enfa-
dadas, oprimidas e sobrecarregadas pelo tra-
balho, pois ele não está sendo feito por Deus.
Quando nós estamos realizando a obra, ela se
torna pesada, mas quando é Deus quem a está
fazendo, fica leve, pois o Senhor é poderoso e
nada é pesado para Ele.
Deus não olha aparência, não olha se al-
go é bom ou ruim, grande ou pequeno, impor-
tante ou não, imprescindível ou não, bonito ou
feio, caro ou barato. Apenas uma coisa impor-
ta: quem começou? Sua vontade ou a do ho-
mem? Deus olha a fonte de tudo o que é feito
para Ele, só isso tem valor. Não devemos fazer
nada porque fomos obrigados pelas circunstân-
cias ou pelas pessoas, ou porque simplesmente
temos que fazer, mas porque Deus mandou.
30 V i da P l e n a
Quando eu trabalhava secularmente, mui-
tas vezes desejei mudar de emprego, mesmo ga-
nhando dinheiro, pois havia épocas ruins, on-
de a pressão e a opressão eram grandes. Eu ia
para casa e orava, chorava, mas no dia seguin-
te voltava para o trabalho, pois o Espírito Santo
me lembrava de quem era a minha vida — eu
havia me entregado ao Senhor, portanto, per-
tencia a Ele; não podia decidir sozinho, deveria
perguntar qual era a vontade dEle. Então, en-
quanto Sua resposta foi negativa, decidi ficar.
Só saí quando Deus ordenou.
O importante não é a decisão que acha-
mos que devemos tomar, mas o que Deus quer,
pois Ele vai à frente. O Senhor tem planos pa-
ra nós. Muitas vezes, tomamos a decisão mais
lógica, a que nos parece mais óbvia e inteligen-
te no momento.
Somos livres para escolher qual vontade
queremos seguir, mas não podemos nos esque-
cer de que somos responsáveis por nossas deci-
sões independentes, pois Deus não tem compro-
misso com atos da alma, levados pela empolga-
ção, pelas circunstâncias ou pelo momento.
V o n ta d e D o m i n a da 31
Não devemos fazer promessas a Deus quan-
do estamos com um “arrepio nas costas”, quando
estamos caindo ou mesmo quando estamos mui-
to empolgados. Nesses momentos, o silêncio é a
melhor opção. Tomar decisões na alma é perigoso,
porque Deus não tem compromisso com isso.
O único motivo que deve nos levar a fazer
algo é a obediência a Deus. Se Ele mandar fa-
zer, fazemos; se não mandar, é melhor ficarmos
quietos e deixar que Ele conduza a nossa vida.
Deus quer nos levar a nos unirmos à Sua von-
tade e tudo o que fizermos cuja origem não es-
teja nEle, estará fadado ao fracasso.
O homem decidiu comer da árvore do conhe-
cimento do bem e do mal — a árvore da lógica —,
mas aquele que come da árvore da vida é dirigido
pelo Espírito e pergunta a Deus qual é a Sua vonta-
de. Todas as decisões que tomamos por nós mes-
mos, certamente darão em morte e fracasso.
Tive duas experiências nessa área, uma po-
sitiva e outra negativa. A primeira foi quando,
depois de uma discussão com minha esposa, de-
cidi vender um computador que tínhamos em
32 V i da P l e n a
casa. Então, orei por um comprador, anunciei
e logo apareceu um interessado — um homem
muito simpático, bem vestido, em um bom car-
ro, acompanhado de uma mulher. Negociamos
e ele resolveu ficar com o equipamento, mas
teria que pagar em cheque. Não gostei muito
da idéia, mas aceitei, pois poderia consultar a
situação financeira dele através do Serviço de
Proteção ao Crédito. Quando fui pegar a agen-
da para fazer a consulta, Deus ainda usou de
misericórdia comigo falando para eu não ven-
der. Mas, na hora, só pensei no quanto aque-
le computador era difícil de ser vendido e que
perderia a chance de fazer o negócio.
Estava tudo tão certo, que perigo poderia ha-
ver? Prevaleceu a minha vontade obstinada. E o
que aconteceu? O comprador fazia parte de uma
quadrilha que levou meu computador e muitas
outras coisas de várias pessoas na cidade. Nun-
ca mais o encontrei; orei e, pela primeira vez na
vida, até fiz campanha para reverter a situação,
mas Deus queria me ensinar que sou responsá-
vel pelos meus atos e, quando eles estão longe da
Sua vontade, certamente resultam em fracasso.
V o n ta d e D o m i n a da 33
Quando decidi vender o computador, eu comecei
tudo, não foi Deus quem me mandou vender.
A segunda experiência foi muito rica, pois
resultou de obediência à vontade do Senhor. Eu
ainda era bem novo na fé e estava vendendo um
carro. Apareceu um comprador que aceitou pa-
gar em dinheiro o preço que eu havia pedido.
Porém, Deus me falou para não vendê-lo. Não
entendi, pois era o preço que eu tinha pedido,
em dinheiro, não havia problema algum. Mas,
Deus disse “Não” por três vezes e eu, mesmo
sem saber a razão pela qual não deveria fazer
o negócio, comuniquei ao comprador que não
venderia mais o carro.
Ele começou a me pressionar, querendo sa-
ber o motivo, até que eu disse que havia sido
uma ordem de Deus e eu não iria discutir com
o Senhor. No dia seguinte, soube que havia tido
um aumento no valor do carro, informação que
o rapaz já tinha — e Deus também, menos eu.
Um dia depois, pude, então, vendê-lo por um
preço muito mais alto. Porque eu decidi, fora
da lógica, me unir à vontade de Deus, Ele me
livrou de ter um prejuízo sem saber.
34 V i da P l e n a
A queda do homem foi simplesmente a re-
belião da vontade: Adão decidiu não obedecer
a Deus, comeu da árvore e fez prevalecer seu
próprio desejo. Isto é a desobediência: fazer pre-
valecer a nossa vontade. Por causa dela, o pri-
meiro homem caiu, nos trazendo morte, doen-
ças e tantos problemas. Porém, através da obe-
diência de Jesus, que foi obediente até a mor-
te na cruz, recebemos a salvação.
Assim, por causa da desobediência de um
homem fomos condenados ao inferno, mas, pela
obediência de outro homem fomos salvos e hoje
podemos entrar no céu. Cristo é o caminho de
volta. Mas, se entrarmos pelo outro caminho,
cairemos e teremos problemas novamente.
Deus faz duas coisas através da salvação:
tira o homem de si e o inclui nEle mesmo. Sal-
va o homem para fora de si e para dentro dEle.
Corta nosso “eu” e nos une a Ele. Isto é a salva-
ção: o livramento do ego, o fim de nossa von-
tade própria. Quando Deus acaba com ela, po-
demos ser unidos a Ele e alcançamos a vitória.
Deus não falha, não erra, não corre riscos; Ele
é Senhor e Soberano. Quando nossa vontade
V o n ta d e D o m i n a da 35
estiver unida à dEle, seremos, então, vitoriosos
em tudo o que fizermos, pois tudo que parte
de Deus não poderá ser impedido por ninguém,
nem mesmo por demônios ou situação alguma.
Como Deus disse: “Agindo Eu, quem o impe-
dirá?” (Is 43.13).
Muitas vezes, somos impedidos porque o
que estamos fazendo começou em nós, não
em Deus, pois se houvesse começado nEle,
não haveria impedimentos. Quando começa-
mos algo em Deus, tudo o que se levanta con-
tra nós está se levantando contra o braço de
Deus, contra a Sua vontade. Assim, não pre-
cisamos ficar preocupados.
Lembro-me de uma ocasião em que meu
chefe começou a me pressionar e queria me de-
mitir. Então, eu disse que apenas quem havia
me colocado ali é que poderia me tirar. Ele não
entendeu, mas eu estava falando de Deus e es-
tava me dirigindo ao diabo, não a ele. Quando
Deus nos coloca em algum lugar, só ele pode
nos tirar de lá. Mas, quando fazemos as coisas
de maneira independente, temos problemas.
36 V i da P l e n a
A grandeza do homem crente não está no co-
nhecimento que tem ou em suas virtudes, mas no
quanto se perde. Quanto mais perdermos de nós
mesmos, maiores seremos, pois mais Deus aparece-
rá em nossa vida. O grande obstáculo para a união
entre a nossa vontade e a de Deus é nosso “eu”,
nosso ego, nossa vontade obstinada e caída.
A vontade é a “ponte” entre o espírito, onde
Deus mora, e a mente, que dirige nossas ações;
ela está no meio do caminho entre os dois. Sen-
do assim, se a nossa vontade não estiver unida à
de Deus, qualquer informação dada por Ele ao
nosso espírito não chegará à mente, pois, quan-
do encontrar a alma, se desviará para a vontade
própria. É por isso que muitos de nós não con-
seguem ser vitoriosos na vida cristã, pois temos
uma alma defeituosa e isso é muito sério.
A vontade de Deus e a
vontade do homem
Somos unidos a Deus na vida e na vonta-
de. A primeira é interna, pois quando o Espírito
V o n ta d e D o m i n a da 37
Santo nos tocou e nascemos de novo, nossa vida
foi unida à vida de Deus. É, portanto, uma ação
do Espírito. A segunda é externa, pois diz respei-
to à decisão que tomamos de unir nossa vontade
a de Deus. É, portanto, uma ação nossa.
Mas essa segunda união não é uma união
simples, porque nossa vontade está em desobe-
diência à vontade de Deus. Podemos ilustrar is-
so através do seguinte exemplo: o Espírito San-
to dentro de nós quer que oremos, mas a nossa
vontade quer comer, dormir, ou fazer qualquer
outra coisa, menos orar. Isso faz com que o con-
flito entre a carne e o espírito seja estabelecido.
Nesse momento, temos as seguintes opções: abrir
mão da nossa vontade e fazer a vontade de Deus,
ou simplesmente fazer o que queremos.
Em situações como essa, precisamos levar
nossa vontade para a cruz e escolher obedecer a
Deus. São atitudes externas que precisamos tomar.
Mas precisamos levantar e fazer acontecer.
Não adianta ficarmos esperando que um
anjo desça, bata com uma varinha em nossa
cabeça e tudo mude instantaneamente. Não é
38 V i da P l e n a
assim que acontece. Se não estivermos deter-
minados a servir a Deus e a fazer Sua vonta-
de, não conseguiremos. E quanto a isso, pode-
mos obedecer de duas formas: por obrigação
ou por prazer.
No primeiro caso, fazemos algo apenas por-
que somos servos de Deus e precisamos cum-
prir a Sua vontade. Não tem discussão, Ele nos
comprou e somos obrigados a obedecê-lO. Es-
sa obediência é apenas o cumprimento de uma
obrigação, como fez a mulher de Ló quando
Deus mandou que saíssem da cidade. Ela cum-
priu sua obrigação e seguiu seu marido, mas
seu coração queria ficar, por isso olhou para
trás, lamentando por deixar aquele lugar, e foi
transformada em uma estátua de sal. A obe-
diência sem amor vira um fardo e gera morte
em nossa vida.
Por outro lado, a obediência por prazer é
aquela que demonstramos quando entendemos
que o Senhor é nosso Pai, que Ele nos ama e
tem o melhor para nós; por isso, também por
amor, decidimos unir nossa vontade à dEle e fa-
zer o que Ele nos diz. Obedecemos por prazer
V o n ta d e D o m i n a da 39
quando nossa vontade está em harmonia com
a Palavra de Deus, pois ela nos mostra toda a
vontade do Senhor. Decidimos obedecer por-
que amamos o Senhor e confiamos no amor
dEle por nós. Essa obediência nos traz gozo,
bênçãos e alegria.
E o melhor disso tudo é que, quando esta-
mos ligados ao Senhor de uma maneira espon-
tânea, servir a Deus é bom. Porém, quando ser-
vimos a Ele só por medo ou obrigação, não con-
seguimos; não só é difícil, mas impossível. Ser-
vir espontaneamente traz prazer e alegria, mas
servir por obrigação traz peso e cansaço.
Mas, como isso funciona? Vou dar um
exemplo bem simples: eu tenho um filho ainda
pequeno e quero que ele se alimente bem todos
os dias na hora do almoço. Mas não é isso o que
ele quer. Na verdade, ele não quer comer nada
além de doces, balas, picolé etc. Contudo, por-
que eu o amo e sei que se ele não comer ficará
fraco, doente e poderá até morrer, explico que
a minha vontade é de vê-lo se alimentando pa-
ra o próprio bem, o que me deixará muito ale-
gre. Entretanto, ele continua querendo satisfazer
40 V i da P l e n a
suas vontades sem se importar com as con-
seqüências. Então, como pai amoroso que sou,
tenho de tomar algumas atitudes para quebran-
tar a vontade dele, a fim de que ele se alimente
de maneira saudável e cresça forte.
Hoje, ele pode até não entender o moti-
vo pelo qual estou agindo assim, mas quando
crescer e ficar forte, ele compreenderá que ti-
ve que trabalhar na vida dele para unir a sua
vontade à minha, para o seu próprio bem.
Deus também faz isso conosco. Muitas
vezes somos duros, não nos dobramos, en-
tão, o Senhor precisa nos quebrantar, mesmo
que isso doa, porque nos ama. Porém, sabe-
mos que essa não é a melhor maneira de obe-
decermos a Deus, ou seja, quase à força, não
é? Depois de um tempo, já entendemos co-
mo tudo funciona e não precisamos mais que
Deus nos convença de que a vontade dEle é o
melhor para nós.
Ele quer destruir a vontade de nossa alma,
mas não a capacidade de decidir. Deus não tem
prazer em nosso sofrimento, mas as vontades
V o n ta d e D o m i n a da 41
originais da nossa alma são conseqüências da
queda de Adão, do pecado; são contrárias a
Deus e nos causarão sérios problemas, danos
e prejuízos; nossa vida não será plena.
Somente a vontade de Deus é santa e per-
feita e, para que estejamos prontos para execu-
tá-la e sermos bem sucedidos, Ele precisa des-
truir as vontades da nossa alma. É por isso que
Deus opera em nós, para que a nossa vontade
se una à dEle. Não podemos nos esquecer de
que somos do Senhor, fomos salvos para ser-
vir a Deus, não a nós mesmos.
Temos que, espontaneamente, reconhecer
que a vontade dEle é o melhor para nós, pois
Ele nos ama e quer nos abençoar. Porém, mui-
tas vezes o que Deus quer não coincide com o
que nós queremos, ao menos, não naquele mo-
mento. Então, o que precisamos fazer é obe-
decer, confiar nEle e esperar. Se sabemos que
Deus nos ama, aceitamos tudo o que Ele nos
manda. Ainda que, a princípio, não entendamos
seus motivos, entenderemos depois.
42 V i da P l e n a
Porém Samuel disse: Tem, porven-
tura, o Senhor tanto prazer em holo-
caustos e sacrifícios quanto em que
se obedeça à sua palavra? Eis que o
obedecer é melhor do que o sacrifi-
car, e o atender, melhor do que a gor-
dura de carneiros. (1Sm 15.22)
Até agora, nós, nossa carne ou, muitas vezes,
o diabo, tem dominado e tomado as decisões. Po-
rém, chegou a hora de reconhecer que nosso do-
no é Deus. Somos espírito, possuímos uma alma
e moramos em um corpo. O Senhor Jesus, através
do nosso espírito, é o Senhor do nosso ser.
É no espírito que estamos unidos a Deus,
é de lá que as decisões precisam vir. Então,
quando não queremos ler a Bíblia, não quere-
mos orar ou nos reunir com os irmãos; quan-
do não queremos fazer a vontade de Deus, na
verdade, estamos permitindo o domínio da car-
ne sobre nosso espírito, pois o espírito sempre
quer fazer a vontade de Deus.
Muitas vezes, o domínio da vontade passa
pela disciplina. Não é porque decidimos atender
V o n ta d e D o m i n a da 43
a vontade de Deus que isso acontecerá automa-
ticamente. É preciso tomar uma atitude e co-
meçar a subjugar nossa carne. Quando não es-
tamos com vontade de ler a Bíblia, é porque
estamos doentes espiritualmente. Então, assim
como obrigamos uma criança doente a comer,
mesmo sem vontade, para que sare, devemos
nos forçar a alimentar da Palavra até que nos-
so espírito seja fortalecido.
Quando estivermos em plena saúde espi-
ritual, o apetite voltará e nossa vontade terá si-
do dominada. Muitos podem achar que isso é
apenas religiosidade, mas não é; é disciplina, é
atitude, é tomada de decisão.
Quando há uma união real entre a vontade
do homem e a de Deus, cessa toda a vontade
carnal, toda atitude que parte do homem, toda
atividade independente. Porém, quem não do-
minou a vontade não consegue discernir qual é
a verdade e se rende gratuitamente aos desejos
da carne. Por melhor que seja a oportunidade,
por mais espiritual que pareça, não podemos
agir se não for debaixo da direção de Deus.
44 V i da P l e n a
Mudança de paradigma
Uma das grandes dificuldades que enfren-
tamos para simplesmente crer e obedecer, é
acharmos que tudo deve ter explicação lógica.
Porém, a verdade é que a vida cristã não se ba-
seia na lógica, mas na obediência. Nossa men-
te não consegue compreender muitas coisas,
mas, a partir do momento em que nos unirmos
a Deus, não agiremos mais por impulso, nem
por nossa própria lógica. Ao invés disso, só to-
maremos decisões de acordo com a ordem de
Deus. Haverá uma mudança de centro, pois tu-
do terá início nEle e não mais em nós. Tudo de-
penderá do que Deus mandar.
Porém, para que isso aconteça, Deus deve
entrar em ação, pois, na teoria, tudo isso é mui-
to bonito e espiritual; porém, na prática, nos-
sa vontade é obstinada e não mudamos assim,
facilmente. Somos como Jacó, estamos sem-
pre lutando com Deus, mas Ele não desiste de
nós. Ele nos encontra no vale e trava uma lu-
ta conosco, pois quer nos salvar plenamente,
não só o espírito, mas também a vontade que,
V o n ta d e D o m i n a da 45
nessa passagem, é representada pela “coxa”.
Ela simboliza a força do homem, sua vontade
obstinada.
Jacó foi tocado na coxa pelo anjo e só assim
foi vencido. Do mesmo modo, para nos levar a
unir nossa vontade à dEle, Deus precisará tocar
em nossa coxa; e isso dói, é uma luta. Jacó lu-
tou com Deus e deixou de ser usurpador, men-
tiroso, malandro, esperto, e passou a ser Israel,
o homem que lutou com o Senhor e foi muda-
do. Depois disso, ele pôde dizer que encontrou
Deus e viu Sua face, por isso foi salvo.
Só depois que lutamos com Deus e somos
tocados por Ele em nossa coxa, em nossa von-
tade; só depois que Ele a esmaga e destrói, é
que podemos ver o Sol, avistar a vitória e andar
em um nível muito mais alto. Os problemas já
não nos atingem tanto, nossa vida não tem mais
tantos altos e baixos, pois é o braço de Deus e
a Sua vontade que prevalecem. E contra a von-
tade de Deus ninguém pode resistir em todos
os dias de nossa vida, pois tudo o que Deus nos
manda fazer, Ele mesmo realiza por nós.
46 V i da P l e n a
É muito comum nos confundirmos e não
sabermos discernir o que é da vontade de Deus.
Apesar de sermos salvos, não somos totalmen-
te obedientes, nossa vontade é terrível, por is-
so Deus usa as circunstâncias para revelar a
Sua vontade; Ele usa situações para nos mos-
trar aquilo que vem dEle. Muitas vezes, quan-
do isso acontece, achamos que tais circunstân-
cias vêm do diabo, porém, são oportunidades
que Deus cria para nos transformar, nos fazer
crescer, nos levar para cima.
Deus é Senhor sobre tudo e todos, Ele nos
ama e vai fazer prevalecer a Sua vontade, mes-
mo que, a princípio, fiquemos irados por não ter-
mos os nossos desejos atendidos. Nem sempre
somos tão “espirituais” quanto pensamos. Bas-
ta alguém nos dizer “Não!” ou contrariar nos-
sa vontade e já nos enfurecemos. Mas é Deus
quem está colocando situações assim à nossa
frente, não o diabo.
Deus nos levará até a cruz, pois é onde nos-
sa vontade deve estar. Às vezes, Ele pode per-
mitir que percamos saúde, fama, posições, tí-
tulos. Ele vai quebrando, moendo e destruindo
V o n ta d e D o m i n a da 47
nossa vontade humana, pois ela é a maior ini-
miga da vontade dEle. Mas, não age assim por-
que tem prazer no nosso sofrimento. Faz tudo
isso para nos provar, para que vejamos se re-
almente estamos agindo de acordo com a Sua
vontade ou com a nossa.
A Bíblia diz que já há um fogo ardendo
entre nós (Hb 1.7). É o fogo de Deus! Muitos
pedem o batismo do fogo, ou seja, o batismo
da destruição da vontade da alma, da vonta-
de caída, e ele virá, porque é necessário. Deus
quer nos mostrar que não fomos salvos pa-
ra nosso bel-prazer, para satisfazermos nos-
sas vontades; ao contrário, fomos chamados
para fazer a vontade dEle, pois ela é o melhor
para a nossa vida.
Às vezes, passamos por períodos em que
temos a sensação de que Deus nos abandonou.
Oramos, jejuamos e não sentimos nada. Pare-
ce que Ele saiu e não está nos ouvindo mais.
Já passei por épocas assim, onde a vida parece
um caminho longo e seco. Orava e jejuava, mas
não sentia nada. Deus havia tirado as emoções,
os sentimentos, os “arrepios” para me ensinar
48 V i da P l e n a
a andar pela fé, independentemente de sentir
alguma coisa ou não.
Antes de Deus ser nosso Salvador, Ele tem
que ser o nosso Senhor, nosso dono. Para que is-
so aconteça, devemos nos sujeitar à vontade dE-
le, submeter nossa vontade à dEle. Entretanto,
isso pode ser feito de duas formas. A primeira é
mantendo um relacionamento de servo e Senhor:
um servo obediente, que obedece em tudo ao seu
Senhor e, mesmo contrariado, faz o que lhe foi
ordenado porque sabe que é o que Seu Senhor
quer. Isso é bom, é válido, porém, há algo ainda
melhor, que é o relacionamento entre Pai e filho:
o pai pede algo e o filho faz por amor.
A obediência não é apenas fruto de uma
decisão, mas do amor. Não faço porque Deus
é meu dono, mas porque Ele é meu pai e te-
nho prazer em fazer Sua vontade. Deus quer
nos levar a um nível mais profundo de relacio-
namento com Ele, ao ponto de fazermos tudo
por amor, porque estamos unidos a Ele.
A destruição da vontade própria é algo mui-
to importante e somente a graça de Deus pode
V o n ta d e D o m i n a da 49
realizar essa obra em nossa vida. Paulo diz que
“o pendor da carne dá para a morte, mas o do
Espírito, para a vida e paz” (Rm 8.6). Cada vez
que pendemos para a vontade de Deus, temos
sucesso; mas, cada vez que pendemos para a
vontade da alma, da carne, nos deparamos com
a morte e temos problemas. A obediência a
Deus é o caminho para a vitória.
Mas, precisamos entender algo: Deus nun-
ca irá nos obedecer. A vontade dEle é soberana,
não a nossa. Há pessoas que invertem a posição
e começam a dar ordens a Deus: “Senhor, faça
isso!”, “Deus, faça aquilo!”, “Senhor, faça as-
sim!”. Mas, afinal, quem é o senhor aqui? Deus
jamais nos obedecerá, porque o que Ele quer é
nos unir à Sua vontade. Não importa quão no-
bre, importante ou até mesmo indispensável se-
ja o que queremos fazer, se não partir de Deus,
Ele não aceitará.
Temos que gravar um princípio em nossa
mente: o que realmente importa na vida cristã
é a vontade de Deus. De nada vale ser “espiri-
tual”, ser bonito, ter a chance de ganhar muitas
vidas, realizar grandes eventos ou apresentar os
50 V i da P l e n a
resultados que tais projetos poderão trazer. O
importante é saber se o que estamos sendo ou
fazendo foi o que Deus ordenou. Há pessoas
que até começam muitas coisas em Deus, mas
não sabem parar quando o Senhor manda. Mui-
tos pastores fracassam por isso.
No capítulo 8 do livro dos Atos dos Após-
tolos, lemos que Filipe estava em meio a um
grande mover de Deus e muitas pessoas esta-
vam sendo salvas através da sua pregação. Po-
rém, a despeito do avivamento que estava ocor-
rendo, Deus ordenou que ele se retirasse da ci-
dade e fosse para uma estrada deserta, levar a
Palavra a um eunuco (26,27). Se outra pessoa
estivesse em seu lugar, certamente questiona-
ria, afinal, o avivamento estava lá. Assim, como
Deus poderia querer que ele saísse justamente
naquele momento? Mas, Deus disse: “Pare!”.
Filipe obedeceu, falou sobre Jesus ao eunuco e
este foi salvo (30,38).
Muitas vezes, nos empolgamos com o que
está acontecendo e achamos que se pararmos,
tudo acabará, mas não é verdade. A obra só
acaba quando deixamos de obedecer a Deus.
V o n ta d e D o m i n a da 51
Precisamos saber começar e parar em Deus, sa-
ber qual é o prazo determinado por Ele.
Precisamos entender que a nossa alma é mui-
to forte e, quanto mais ela for esmagada, mais
união haverá entre a vontade de Deus e a nossa.
Nada impede mais a nossa união com Deus do
que nossa vontade própria, a energia da alma.
Devemos negar completamente a nós mes-
mos, desconsiderar tudo o que provém da nos-
sa vontade, de nossas próprias forças e dese-
jos, por mais simples que sejam. Se Deus não
quiser, não devemos fazer, pois, se insistirmos,
o resultado poderá ser trágico.
Temos que confiar em Deus em todas as
situações; a cada passo que formos dar, deve-
mos esperar por Seu tempo, Suas condições,
Sua força, sabedoria e justiça. Só devemos co-
meçar quando o Senhor falar “Comece!” e pa-
rar imediatamente quando Ele disser “Pare!”.
Em cada decisão que tivermos que tomar, por
menor que seja, devemos escutar Deus e obe-
decer à voz do Seu Espírito.
52 V i da P l e n a
O caminho dos vencedores
Existe apenas uma maneira de vivermos uma
vida de vencedores: passando pela porta estrei-
ta e pelo caminho apertado. A morte da vonta-
de não é simples. É um percurso doloroso, mas
deve ser trilhado por aqueles que reinarão e ex-
pressarão o Senhor. Se quisermos andar por ele,
a regra mais importante a seguir é não fazer pro-
visão para o ego, não alimentar a vontade pró-
pria, pois quanto mais a vontade humana for des-
truída, mais a vontade de Deus poderá imperar
e maior será o nosso sucesso, porque a vonta-
de de Deus jamais será frustrada.
Então, qual é a regra para que isso aconte-
ça? Matar nosso ego de fome, não alimentá-lo.
Ele quer atenção? Vamos voltar nossa atenção
a Deus. Ele quer ser alimentado e fazer o que
quiser? Então, façamos o que Deus manda em
Sua Palavra. Esse é o caminho de Deus, é o ca-
minho apertado, mas gera vida e vitória. Tomá-
lo, às vezes, pode significar quebrar certos hábi-
tos e nos levantar contra alguns desejos, o que
não é simples, mas é a vontade de Deus.
V o n ta d e D o m i n a da 53
Sabemos que poucas pessoas escolhem o
caminho da cruz, mas ele é o poder da salva-
ção para aqueles que crêem, é o caminho da
vitória para aqueles que serão arrebatados por
Jesus em Sua volta. É o caminho a ser trilhado
pelo homem ou a mulher de Deus que tomou
a decisão de se unir ao Senhor, seguir a Palavra
e ser fiel em todas as áreas. Alguém que deci-
diu não parar diante da preguiça e do desâni-
mo, mas se levantar e prosseguir.
É preciso tomar uma decisão. Se decidirmos
não pecar, teremos força em Deus para não pe-
car, para orar, contar com a ajuda dos irmãos,
confessar a Palavra e viver a liberdade para a
qual o Senhor nos libertou. Mas, se abrirmos
a porta para os demônios, lhes daremos legali-
dade e eles nos escravizarão.
Quando tomamos conhecimento da guerra
espiritual e dos princípios da Palavra de Deus,
sabemos que os demônios só agirão na vida da-
queles que permitirem seu acesso, que derem
espaço, através do pecado, para que eles en-
trem e os escravizem.
54 V i da P l e n a
Em Oséias 4.6 o Senhor diz: “O meu po-
vo está sendo destruído, porque lhe falta o co-
nhecimento”. No evangelho de Mateus, tam-
bém lemos que erramos por não conhecermos
a Palavra nem o poder de Deus (Mt 22.27). Se
não conhecemos a batalha espiritual na mente,
não sabemos quem somos em Cristo e não co-
nhecemos quem domina a vontade, então, so-
mos destruídos.
O diabo, porém, sempre tentará roubar e
governar nossa vida. Deus governa de dentro
para fora e o diabo, de fora para dentro.
Muitas vezes, achamos apenas que estamos
sem vontade de fazer algo para Deus, quando,
na verdade, é o diabo que está tentando do-
minar nossa vontade para nos prender. Por is-
so, quando não estivermos com vontade de fa-
zer algo que certamente agradaria a Deus, de-
vemos nos lembrar de que não precisamos ser
escravos do diabo. Podemos nos levantar e di-
zer: “Eu tomei a minha decisão, com vontade
ou sem vontade, já fiz minha escolha: eu vou
servir a Deus, eu vou buscar ao Senhor”.
V o n ta d e D o m i n a da 55
Deus não vai forçar a passagem, Ele espera
a nossa obediência. É uma escolha ativa, cons-
ciente e voluntária, ao contrário da escolha pe-
lo diabo, que é passiva, forçada e cativa.
Precisamos aprender a dominar nossa von-
tade e podemos contar com o Espírito de Deus
para nos ajudar. A partir do momento em que
decidirmos mudar de atitude e dominar a nos-
sa vontade, custe o que custar, o próprio Deus
nos ajudará.
É um caminho estreito, difícil de ser trilha-
do, mas é através dele que alcançaremos o ple-
no cumprimento da vontade de Deus para nós.
Não importa quão longo ou duro seja esse ca-
minho, ele é o caminho da vida, é o caminho
dos vencedores, decida-se hoje por ele e levante-
se para viver uma vida plena em Deus.