Políticas Públicas de Urbanismo em Angola
Políticas Públicas de Urbanismo em Angola
Políticas Públicas de Urbanismo em Angola
Tese de doutoramento em Sociologia – Cidades e Culturas Urbanas, orientada por Paulo Peixoto e apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
junho de 2018
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Paulo Soma
junho de 2018
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ii
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Ficha Técnica:
iii
iv
Epígrafe
Outro agradecimento especial vai para o Exmo. Dr. Bornito de Sousa Baltazar Diogo,
Ministro da Administração do Território da República de Angola, por nos ter dispensado
dos afazeres laborais para desta forma nos consagrarmos inteiramente à investigação.
À minha esposa e aos meus filhos, bem como aos meus pais e irmãos, pelo carinho e
dedicação que sempre manifestaram em todas as minhas decisões, ficam também
registados os meus muito singelos agradecimentos.
v
vi
Resumo
vii
viii
Abstract
One of the main contemporary concerns is the world’s population growth. Not so much the
growth itself but specifically the unbalanced pattern as it is occurring geographically
nowadays. This is also a major problem in Angola, given the level of the country’s
infrastructure. Combined with this growth, and with more burdensome effects than
population growth per se, there is an increase in the urban occupation rate, which is
reflected in an excessive concentration of people in areas that are too small or poorly
equipped to accommodate this demographical load, provoking and aggravating the
phenomenon of informal cities. In this context, several challenges are faced by States and
Governments, especially the Angolan Government. In particular, it is important to know
how the Angolan State (before and after independence) has responded, in a context of
incipient urbanisation, to the needs of housing and infrastructure resulting from an
enormous population growth and a strong concentration of populations in cities,
particularly in the capital of the country? What types of public policies have been adopted
to cope with the growth of the informal city? How to make cities livable and how to give
them a sense of sustainability? These are the starting concerns that guide this thesis.
Together, they form a research equation that seeks to ascertain the extent to which urban
public policies in Angola are being able to respond to the current urban problems of the
country and its cities, particularly its capital, Luanda.
The thesis is based on the argument that, in the transition from a planned economy to a
market economy, public urban planning policies in Angola confirm a lag in relation to
prevailing socioeconomic variables. It questions the effectiveness of public urban planning
policies in a scenario of lack of urban population growth control and, specifically, housing
policies, in a context of imported models displaced from the local reality. It postulates that
urban solutions concerning urban planning and housing policies are instruments of
hygienization aiming to combat strategically to the informal city.
ix
x
Lista de siglas
xi
MINUA - Ministério do Urbanismo e Ambiente
MINUH - Ministério do Urbanismo e Habitação de Angola
NCC - Centro Nacional de Aconselhamento
NUCED - Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento
O.G.E. - Orçamento Geral do Estado
OAA - Ordem dos Advogados de Angola
OAA - Ordem dos Arquitetos de Angola
ONG - Organização Não Governamental
OT - Ordenamento do Território
PDG - Plano Diretor Geral
PDM - Plano Diretor Municipal
PDU - Plano Diretor de Urbanização
PEGRD - Plano Estratégico de Gestão do Risco de Desastres
PE - Plano Especial
PER - Plano Especial de Recuperação ou Reconversão
PGU - Plano Geral de Urbanização
PIB - Produto Interno Bruto
PMOT - Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território
PND - O Plano Nacional de Desenvolvimento
PNDT -Plano Nacional de Desenvolvimento Territorial
PNH - Programa Nacional da Habitação
PNOT - Plano Nacional de Ordenamento do Território
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
PNUH - Programa Nacional de Urbanismo e Habitação
POE - Principais Opções Estratégicas
POOTN - Principais Opções de Ordenamento do Território Nacional
POUSO - Posto de Orientação Urbanística e Social
PPIOT - Planos Provinciais e Interprovinciais de Ordenamento do Território
PPOT - Planos Provinciais de Ordenamento do Território
PP - Plano de Pormenor
PPZOI - Plano Parcial de Zonas de Ocupação Imediata
PROVERE - Programas de valorização económica de recursos endógenos
PU - Plano Urbanístico
PZOI - Plano de Zonas para Ocupação Imediata
REOTN - Relatório do Estado do Ordenamento do Território Nacional
SAP - Serviço de Apoio a Proteção
SNPC - Serviço Nacional de Proteção Civil
xii
TIC - Tecnologia de Informação e Comunicação
UCLGA - União das Cidades e dos Governos Locais de África
ULHT - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia
xiii
xiv
ÍNDICE
Epígrafe ........................................................................................................................................ v
Agradecimentos ........................................................................................................................... v
Resumo ....................................................................................................................................... vii
Abstract ....................................................................................................................................... ix
Lista de siglas.............................................................................................................................. xi
Introdução.................................................................................................................................... 1
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas .......................................................... 7
1.1. Problematização...................................................................................................................... 7
1.2. Estado da arte ....................................................................................................................... 11
1.3. Metodologia (objetivos e hipóteses) .................................................................................... 18
1.3.1. Metodologia utilizada para a recolha e análise de notícias sobre questões urbanísticas
e habitacionais de Angola ........................................................................................................ 24
1.3.1.1. Nota prévia .............................................................................................................. 24
1.3.1.2. Fontes de recolha .................................................................................................... 24
1.4. Operacionalização da pesquisa ............................................................................................. 27
Capítulo II- As políticas públicas de urbanismo: do contexto geral ao caso específico de
Angola ........................................................................................................................................ 33
2.1. Uma argumentação sobre o título e a delimitação da presente tese .................................. 33
2.1.1. As políticas públicas e o urbanismo ............................................................................... 39
2.1.1.1. O urbanismo como política pública ........................................................................ 40
Capítulo III - Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
..................................................................................................................................................... 43
3.1. Sistematização e teorização do Urbanismo em Geral .......................................................... 43
3.2. O urbanismo angolano no estrangeiro (Portugal e instituições internacionais) .................. 53
3.2.1. Nota prévia ..................................................................................................................... 53
3.2.1.1. Debates académicos sobre o urbanismo e a habitação em Angola ....................... 53
3.2.1.2. Por parte de instituições internacionais ................................................................. 57
3.3. A sistematização e teorização do urbanismo em Angola (1975-2015)................................. 59
3.3.1. Por parte de instituições nacionais (angolanas) ............................................................ 60
Capítulo IV - As políticas públicas e a cidade informal......................................................... 63
4.1. Nota prévia ............................................................................................................................ 63
4.1.1. O surgimento das cidades informais no contexto geral e de Angola em particular ...... 65
xv
4.1.1.1. Caracterização da cidade informal .......................................................................... 73
4.1.1.2. A cidade informal no contexto de Angola: o caso de Luanda ................................. 77
4.2. As políticas públicas de enfrentamento da cidade informal no período colonial ................. 92
4.3. - Do paradigma de violência ao paradigma de brandura das políticas públicas de
enfrentamento da cidade informal em Angola ........................................................................ 96
4.3.1. Nota prévia ..................................................................................................................... 96
4.3.2. - Exemplos do Paradigma de violência das políticas públicas de enfrentamento da
cidade informal em Angola..................................................................................................... 103
4.3.2. - Outras formas de enfrentamento da cidade informal de Luanda ............................. 105
4.3.3.1 - A Experiência de enfrentamento da cidade informal em algumas cidades do
espaço lusófono.................................................................................................................. 111
4.3.3.2. - Apreciação geral do paradigma de violência das políticas públicas de
enfrentamento da cidade informal em Angola .................................................................. 117
4.3.4. - O paradigma de brandura das políticas públicas de enfrentamento da cidade informal
em Angola ............................................................................................................................... 118
4.3.5. - Apreciação geral do paradigma da brandura das políticas públicas de enfrentamento
da cidade informal .................................................................................................................. 122
Capítulo V - A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola ........ 127
5.1. As políticas públicas de planificação urbana no contexto colonial (da década de 40 a 70) em
Angola ......................................................................................................................................... 127
5.2. – As políticas públicas de planificação urbana na Angola Pós-Colonial (1975-2010).......... 133
5.3. - As políticas públicas e a divisão político-administrativa das cidades e as atribuições
urbanísticas a nível local (décadas de 60 e 70) .......................................................................... 136
5.4. - As políticas públicas no âmbito divisão político-administrativa das cidades e as atribuições
urbanísticas a nível local (1975-2015) ........................................................................................ 141
Capítulo VI - Organização política e administrativa do urbanismo em Angola ............... 167
6.1. - Organização Administrativa do Urbanismo de 1933 a 1974 ............................................. 167
6.2. Organização Administrativa do Urbanismo de 1975-2015 ................................................. 170
6.2.1. Organização política e Administrativa do Ordenamento do território e Urbanismo -
Atribuições e competências urbanísticas a nível central ....................................................... 173
6.2.2. Organização política e Administrativa do Ordenamento do território e Urbanismo a
nível local ................................................................................................................................ 185
6.2.3. Instrumentos de Ordenamento do Território .............................................................. 188
Capítulo VII - Políticas públicas de urbanismo no período 2000-2015 em Angola ........... 193
7.1. O crescimento da população em Angola e a sua concentração excessiva em Luanda como
uma das causas das políticas públicas de urbanismo em Angola .............................................. 193
xvi
7.2. As políticas públicas de urbanismo e habitação como profecia e promessa eleitoral ....... 194
7.3. Experiências internacionais e de Angola, em particular, sobre programas habitacionais de
um milhão de casas .................................................................................................................... 198
7.4. Análise do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação para o período de 2009-2012 202
7.4.1. O Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (2009-2012) como política pública e
enquanto expressão de intervenção do Estado no mercado imobiliário .............................. 202
7.3.2. Arquitetura financeira do Sistema Nacional de Urbanismo e Habitação .................... 209
7.4.3. Outras formas de realização do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação 2009-
2012........................................................................................................................................ 211
7.4.4. Apreciação geral (análise crítica) das medidas e opções de implementação do
Programa Nacional do Urbanismo e Habitação-PNUH .......................................................... 227
7.4.5. O planeamento urbano perante o Programa Nacional de Urbanismo e de Habitação230
7.4.6. O Problema de habitação à luz do PNUH ..................................................................... 236
7.4.7. Análise SWOT da implementação do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação
(2009-2012) ............................................................................................................................ 238
7.4.8. Os preços das habitações nas novas centralidades e o problema do endividamento ou
da poupança ........................................................................................................................... 239
7.4.9. O programa nacional do urbanismo e habitação e o quinquénio 2012-2017 ............. 242
Conclusão ................................................................................................................................. 245
Bibliografia .............................................................................................................................. 251
Anexos ...................................................................................................................................... 267
xvii
xviii
ÍNDICE DE QUADROS E FIGURAS
xix
Figura 2 – Distribuição da população residente, por província, 2014 .......................... 194
Quadro 30 – Objetivos do Programa do MPLA ........................................................... 197
Quadro 31 – A replicação do Programa “1 Milhão de casas” ...................................... 198
Figura 3 – Representantes das cidades vencedoras do prémio "Presidente José Eduardo dos
Santos" .......................................................................................................................... 201
Quadro 32 – Mapa resumo da população segundo estimativas e dados do censo de 2014204
Figura 4 – População Total de Angola (Projeção) ........................................................ 205
Quadro 33 – Radiografia do Setor do urbanismo e da habitação.................................. 205
Quadro 34 – Medidas a adotar no domínio do urbanismo e da habitação .................... 207
Quadro 35 – Medidas a adotar no domínio institucional e administrativo ................... 208
Quadro 36 – Organização e Funcionamento da CSPNUH ........................................... 208
Quadro 37 – Princípios de estruturação do PNUH ....................................................... 210
Quadro 38 – Investimentos públicos de Natureza Sectorial (Central) .......................... 211
Quadro 39 – Subprograma para a construção de 200 fogos pelos municípios (OGE) . 216
Quadro 40 – Investimentos privados (Urbanismo e Habitação) ................................... 223
Quadro 41 – Cidades/Urbanizações sem Planos Diretores (PDM): até 2012 ............... 231
Quadro 42 – Cidades/Urbanizações sem infraestruturas urbanísticas .......................... 231
Quadro 43 – A Planificação Urbana no período 2012-2015 ......................................... 232
Quadro 44 – População alojada e não alojada em 1970 e 2008 .................................... 237
Quadro 45 – Relação entre o crescimento populacional e a oferta de habitaçãoà luz do
programa 1 milhão de casas (2009-2012) ..................................................................... 237
Figura 5 – Desafios do PNUH ...................................................................................... 240
Quadro 48 – Preços dos apartamentos .......................................................................... 241
Quadro 49 – Salários médios em várias profissões....................................................... 241
Figura 6 – Print Screen da página da Imogestin ........................................................... 242
Quadro 50 – Objetivos do plano nacional de desenvolvimento.................................... 243
xx
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Introdução
Estas regras foram sendo paulatinamente transportadas para as várias latitudes do mundo
colonizado pelos romanos (sobretudo o mundo Ocidental) e foram incorporadas nos
costumes locais de construção e, paulatinamente, enriquecidas com as novas regras, em
vários burgos que foram surgindo sobretudo na Idade Média (que podemos considerar
como uma primeira fase do processo da civilização urbana).
1
Introdução
Com o fenómeno da expansão marítima europeia, sobretudo para a Ásia, África e América,
os órgãos das administrações coloniais, embora tardiamente, aperceberam-se que havia
toda uma necessidade de acomodar não somente os servidores públicos de topo como
também os respetivos funcionários. Construir moradias consideradas condignas,
exportando modelos urbanísticos e arquitetónicos desenvolvidos no Ocidente, levou ao
surgimento das vilas, colonatos e bairros, que mais tarde, em muitos casos, se tornariam
cidades. Trata-se, no caso, ab initio, de um urbanismo de segregação; isto é, reservado
apenas para determinados segmentos sociais, embora haja quem sustente, designadamente
no âmbito das abordagens marxistas, que o urbanismo foi sempre uma realidade
segregacionista, quer por via da política de classificação dicotómica dos solos em urbanos
e rurais, quer ainda por via da afetação funcional a vários fins, entre eles a agricultura,
atividades de lazer, de comércio, religiosos, e espaços públicos, etc.
2
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Em muitos países, sobretudo em Angola, que aqui nos ocupa, verificou-se uma estagnação
generalizada das políticas públicas de urbanismo e de habitação. Isso levou ao
agravamento não só das condições de vida das populações, que, no caso concreto, não
procuravam somente empregos, mas sobretudo condições de segurança devido às guerras.
Primeiro a colonial (guerra de libertação) e depois a pós-colonial (guerra civil que durou
mais de 30 anos, desde 1975 a 2002). Mas também devido às calamidades naturais
concorridas em algumas zonas do país.
Para fazer face aos problemas urbanos e ao crescimento da cidade informal, ambos
agravados pela concentração excessiva das populações em meios urbanos do litoral e
também pelo crescimento da população a nível mundial, os governos e os órgãos da
administração pública central e local aprovaram e implementaram não somente
instrumentos jurídicos relativos ao urbanismo e à habitação, mas afectaram também
recursos financeiros para a construção de novos bairros urbanos, de modo a melhorar as
condições de habitabilidade da cidade. Em vários casos tratou-se de operações
consolidadas no tempo, noutros casos de operações pontuais e limitadas e em outros, como
aconteceu recentemente em Luanda, de grandes operações urbanísticas e imobiliárias.
3
Introdução
Foram ações que em muitos países, sobretudo capitalistas, produziram os efeitos desejados
e tiveram consequências estáveis, ainda que não sem convulsões e perturbações sociais. E
que noutros países, sobretudo em países em desenvolvimento, não tiveram grandes
sucessos, quer devido à escassez de recursos financeiros para assegurar a sustentabilidade
das políticas públicas, quer por escassez de recursos humanos para a manutenção dos
equipamentos públicos, quer ainda devido à escassez de recursos naturais usados
recorrentemente como garante ou como moeda de troca na cooperação com outros países.
O acesso ao financiamento externo, no caso de Angola, marcou bastante o contexto de
indefinição e de consolidação das políticas públicas.
Neste sentido, surgiram não somente políticas públicas de urbanismo, como também de
habitação, que vieram a ser implementadas com o fim da guerra em 2002. Podemos, assim,
afirmar que até o ano de 2002 as iniciativas relativas ao fenómeno urbano eram tímidas ou
inexistentes, sendo a maior parte delas operações de construção cubana no período da
guerra civil, sobretudo em cidades como Luanda, Kwanza-Sul e Benguela, uma vez que a
maior parte dos recursos financeiros era reservada para a aquisição de material bélico.
Perante este quadro, e logo que se alcançou a paz efetiva, os órgãos da administração
central tiveram de encontrar formas de relançar a construção de novos bairros sociais, de
média e de alta renda, socorrendo-se, uma vez fracassada a operação da mesa de doadores,
ao financiamento externo chinês, sobretudo, e a acordos bilaterais com o Brasil, os quais
permitiram não só a construção de estradas e de pontes em todo país, numa primeira fase,
como motivaram a construção de bairros sociais e de novas centralidades na maior parte
das províncias, com destaque para Luanda. Acresce o recurso ao investimento privado
interno e externo, o qual se traduziu no surgimento de condomínios privados e de
cooperativas habitacionais. Este contexto, marcado pela voracidade da implementação das
políticas públicas, pela coexistência de modelos económicos e financeiros distintos e pela
importação de modelos culturais e urbanísticos diferenciados abriu caminho a um
urbanismo necessário, mas também, de certo modo, ilegível. Ou seja, esta tese sustenta
também que as políticas públicas de urbanismo em Angola no século XXI transportam e
4
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Para uma melhor prossecução dos objetivos preconizados por esta tese, e para lhe conferir
uma certa sistematicidade, dada a existência de um incomensurável acervo documental e
empírico, dividiu-se o estudo em 7 capítulos, os quais analisam o problema das políticas
públicas do urbanismo a partir de vários ângulos. Neste sentido, o capítulo I procede a um
enquadramento do tema e analisa as questões metodológicas do trabalho; o capítulo II
procura enquadrar as políticas públicas no contexto geral e no contexto específico
angolano; o capítulo III incide sobre as questões urbanísticas e de habitação em Angola,
em particular, mas também no espaço lusófono com o qual a realidade angolana mantém
afinidades culturais, legais e operacionais; o capítulo IV analisa e problematiza as políticas
públicas de enfrentamento da cidade informal em Angola e, lateralmente, no espaço
lusófono; o capítulo V recai sobre a planificação urbana no contexto colonial e pós-
5
Introdução
6
Políticas públicas de urbanismo em Angola
1.1. Problematização
Desde logo, urge ressaltar que o aumento da população mundial, gerando o fenómeno da
concentração excessiva das populações em espaços urbanos, pode encontrar a sua origem em
vários fatores. De entre eles, sem a preocupação de sermos exaustivos, podemos destacar os
vários investimentos feitos nas ciências aplicadas à vida, que propiciam benefícios em
termos de longevidade e de controlo de doenças, designadamente aquelas que, em países
pobres, fazem crescer muito a mortalidade infantil. Mas também, por exemplo, sendo este
muito relevante no caso angolano, os conflitos armados que provocam o fenómeno do
desalojamento e consequentemente a procura de segurança, sobretudo nas cidades que
pretensamente garantem mais condições. Acrescem as expetativas relativas às oportunidades
que as cidades propiciam, como já tivemos a oportunidade de o referir quando aludimos às
cidades como pólos de promessas civilizacionais. Entretanto, importa também afirmar que a
tendência do crescimento da população mundial não é generalizável, porquanto existem
países onde se verifica o contrário, como é o caso de alguns países da Europa, nos quais se
regista uma taxa de envelhecimento elevada se comparada com a escassez do número de
nascimentos.
7
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
Na verdade, embora Angola tenha estagnado durante quatro décadas devido às várias
guerras (de libertação, pós-independência), levadas a cabo pelos movimentos de
emancipação política (MPLA, UNITA e FNLA), que deslocaram compulsivamente
populações e mergulharam o país num campo de batalha, dilacerando vidas humanas, vilas,
aldeias e cidades, culminando com uma concentração populacional nas cidades do litoral , o
certo é que, paradoxalmente, o contingente demográfico tem aumentado vertiginosamente,
estando Angola entre os países do mundo com taxas de crescimento demográficas mais
elevadas 1 . Esta concentração, em vez de estimular a construção de novas cidades e a
expansão das já existentes, resultou num crescimento desordenado dos bairros informais,
designados musseques, principalmente na capital do país, cujas consequências são
verdadeiramente devastadoras em vários domínios, nomeadamente na saúde, educação e
qualidade de vida, e cuja superação levará muito mais tempo do que se possa pensar
(VENÂNCIO, 2015).
Na verdade, durante décadas, o Governo procurou investir sobretudo no material bélico e nos
efetivos militares, tendo restringido a administração apenas ao pagamento de salários e
pouco mais do que isso. Assim, tudo o que tinha a ver com planeamento urbano, e que era
necessário para a implantação de infraestruturas para habitações condignas, foi relegado para
último plano. Por sua vez, as administrações municipais preocupavam-se mais com a
distribuição ou venda dos terrenos aos particulares, e estes, por sua vez, construíram de
acordo com as possibilidades económicas que possuíam, para dar resposta à necessidade
vital de habitação em virtude de as famílias serem numerosas, como é característico da
demografia africana, e muito particularmente da angolana.
Perante o exposto, são várias as questões que se colocam aos órgãos de deliberação pública.
Que políticas públicas de urbanismo e de habitação deverão ser formuladas e executadas
pelos Governos (central e local) para dar resposta a este crescimento e concentração
populacional nas cidades? Como lidar com o fenómeno do despovoamento que se verifica
hoje no interior, sobretudo por parte dos jovens, apesar de a guerra ter terminado? Não se
trata de questões especificamente angolanas, nem de questões que tenham encontrado
1
Cada mulher angolana em idade fértil tem, em média, 6,2 filhos, o que constitui uma elevadíssima taxa de
natalidade (World Statistics Pocketbook | United Nations Statistics Division, 2017).
8
Políticas públicas de urbanismo em Angola
soluções fáceis e adequadas em outros lugares. Mas não deixam de ser, também, questões
angolanas, estando entre as prioridades das políticas públicas de urbanismo.
Note-se que as Constituições aprovadas desde que o país ascendeu à independência (1975)
nunca tiveram como prioridade nem o direito à habitação, nem o desenvolvimento de
políticas urbanísticas. Portanto, tirando as cidades, vilas e povoações deixadas pela
administração colonial, nada mais se fez desde então em termos de urbanismo e de
habitação, pelo menos até 2002, salvo raríssimas exceções e, as já referidas, tímidas
construções cubanas nas províncias de Luanda, Benguela e Kwanza Sul. Desde logo, aquilo
que poderíamos designar por um urbanismo de assomos - muito sensível a crises, como
aquela que derivou da guerra civil ou a que recentemente assolou o país devido à queda dos
preços do crude -, que ora se manifesta com auges de intervenção, ora desaparece
subitamente, é algo pouco propício ao desenvolvimento de políticas públicas sustentadas. No
caso de Angola esse urbanismo de assomos tem levado a uma proliferação e sobreposição de
diagnósticos, sendo que os mesmos raramente se concretizam de forma marcante no terreno.
Perante esta situação, várias têm sido as reações da Administração Pública (por via do poder
executivo) visando o enfrentamento da cidade informal. Umas vezes demolindo as casas,
desalojando sem criar previamente condições de realojamento; noutras situações
incentivando à autoconstrução dirigida aos particulares e também estimulando o setor
privado a investir na construção de bairros e condomínios; outras, ainda, aprovando leis
relativas ao ordenamento do território, urbanismo e habitação; incluindo mesmo a construção
em grande escala, por via da administração indireta do Estado, de habitações sociais
destinadas a uma classe média, baixa e alta, que é mais uma efabulação de mercado que uma
realidade estatística, numa política habitacional conhecida como “novas centralidades”. Estas
9
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
novas centralidades participam entre outras, das dinâmicas que poderíamos designar, com
inspiração em Nan Ellin (1997), por “urbanismo do medo”.
Como já referimos, estamos diante de objetivos que não têm sido fáceis de realizar, pois,
para além dos constrangimentos financeiros do Estado, acresce a necessidade de um
assinalável sacrifício por parte das populações. Estas, devido à sua condição de pobreza e
devido à informalidade do modo como enfrentam o quotidiano, são constantemente
desalojadas das suas habitações, para que, no lugar delas, sejam erguidos grandes
arranha-céus e imponentes condomínios, colocando-as numa situação de marginalização ou
exclusão social e funcional. Nesta perspetiva há um problema político e social que carece de
solução, no sentido de garantir que os desalojamentos não provoquem mais sofrimento entre
as populações carenciadas e para que massas populacionais numerosas não engrossem
extensas periferias urbanas e o mercado informal. Tanto mais que um modelo de
desenvolvimento urbano ancorado numa estreita relação entre sobrevivência financeira e
centralidade, num contexto de expansão vertiginosa da malha urbana, coloca os deslocados
numa permanente ameaça de deslocamento para fora dos eixos das oportunidades que se
apresentam na capital do país.
Por último, importa perguntar, em virtude dos rendimentos auferidos e das dificuldades de
acesso ao crédito, como colmatar o profundo hiato que existe entre os preços das casas e
apartamentos nas novas centralidades e bairros sociais e os rendimentos que as famílias
dispõem para aceder à habitação formal? O que fazer para que o cidadão que ganha um
salário mínimo possa aceder a essas edificações? 2 Obviamente, somente por via do
generalizado recurso ao crédito bancário. Mas nesta inusitada combinação entre um sistema
planificado e o uso de mecanismos da economia capitalista, há que lembrar que o crédito é
uma dívida e ela deverá ser paga com agravamentos (juros). Para os jovens com empregos
precários, como é próprio de uma economia em crise e de um padrão de empregabilidade
consolidado pelo capitalismo global, o quadro é mais dramático ainda. Assim, questiona-se
como impedir que a juventude e a população em geral não sejam remetidas para uma
deprimente condição de vida? Em suma, até que ponto a ausência de políticas públicas de
urbanismo e de habitação ao longo de várias décadas agravou ainda mais a vida das
populações? Até que ponto as soluções atuais se constituem como reais soluções para a o
acesso à habitação formal? De que forma os desafortunados poderão beneficiar delas sem ter
que suportar sacrifícios extremos e sem hipotecar irremediavelmente o seu futuro? Até que
ponto a pressão colocada sobre o setor bancário não põe em causa a sobrevivência do
sistema? Uma solução predominantemente orientada pelos valores e lógicas do mercado é
2
Ver no Quadro 48 os preços das casas nas centralidades.
10
Políticas públicas de urbanismo em Angola
11
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
Optamos por usar o conceito de políticas públicas pelo facto de o fenómeno urbano ser um
fenómeno que resulta primordialmente de uma ação ou opção voluntária de um ou de vários
órgãos da administração pública, dotado(s) de autoridade. Portanto, não é apenas uma ação
individual ou de origem familiar. Trata-se de uma opção do Estado que procura responder,
entre várias outras urgências, à necessidade de habitação, à regulamentação urbanística e à
disponibilização de equipamentos públicos que promovam os padrões de urbanidade e, desta
forma, a qualidade de vida. Assim acontece porque, nos cânones do urbanismo moderno - o
construir, o habitar e o circular - devem combinar-se para proporcionar elevados padrões de
urbanidade. Não sendo assim é a própria condição humana que é posta em causa (vide
preocupações dos higienistas, culturalistas e naturalistas), e é por essa razão que o Estado,
desde muito cedo, entendeu ser sua tarefa desenvolver políticas relativas ao urbanismo.
12
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Trata-se de uma perspetiva não isenta de crítica, obviamente. E uma das primeiras
inquietações é a de saber, desde já, se faz algum sentido relacionar as políticas públicas com
o urbanismo. Segundo Choay (2007), o urbanismo é essencialmente uma atividade destinada
aos técnicos; portanto, uma tarefa prática. Le Corbusier afirma que o “urbanista não é outra
coisa senão um arquiteto” e o urbanismo [moderno] deixa de se inserir numa visão global da
sociedade, visão pré-urbanista que esteve ancorada em opções políticas ao longo de toda a
sua história. Neste sentido, isto é, na visão de Le Corbusier, o urbanismo é totalmente
despolitizado. Trata-se de uma visão contra a qual manifestamos a nossa objeção, quer pelas
razões em cima expostas, como pelo facto de o urbanismo não escapar completamente à
dimensão do imaginário, cuja prova mais evidente são os modelos de urbanização (cultural,
progressista e naturalista) que refletem claramente opções políticas, ideológicas e
profissionais.
13
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
14
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Como se conclui a partir de uma breve análise das muitas obras em cima citadas, em termos
de produção científica a maior parte das publicações que têm sido realizadas até agora datam
da época colonial, mais precisamente das décadas de 30, 40, 50 e 60 do século XX. Muito
recentemente, foram publicadas as obras de Manuela da Fonte (2012) e de José Fernandes et
alli (2006), para citar apenas os que abordam o urbanismo e a arquitetura em Angola, de um
modo mais direto.
Fazendo uma breve análise crítica, podemos dizer que o tema das políticas públicas de
urbanismo em Angola tem sido tratado, até aqui, de forma muito fragmentada. Ou seja, os
vários autores abordam, por exemplo, aspetos muito particulares do urbanismo e da
habitação em Angola, como é o caso da história das cidades em Angola, da cultura, da
segurança, do problema da explosão urbana, do crescimento dos musseques, da economia
informal. Por outro lado, a complexa trama de agentes e organismos estatais configura um
inextricável quadro de tutela.
A independência do Brasil (1822) e a abolição do tráfico negreiro (ordenada em 1836) […] vibraram
um rude golpe na economia da colónia e na vida da cidade, referida por muitos como a «cidade mais
pobre do mundo» pelos aspetos de abandono e ruína que imperavam por toda a parte. (AMARAL,
1983a: 295).
Afigura-se extremamente prometedor o futuro da cidade de Luanda, já considerada – muito
justamente – a maior de toda a costa ocidental de África… O que lhe trará, porém, o mais franco e
rápido desenvolvimento será, sem dúvida – disso estamos certos , a exploração dos ricos jazigos de
petróleo descobertos em Benfica, Quiçama e nos subúrbios da cidade. Eles levarão à fixação de
milhares de empregados para os serviços de exploração, refinação e distribuição. Luanda continuará,
pois, no seu desenvolvimento crescente e terá papel cada vez mais importante na economia de
Angola (AAVV, 1959: 15).
Esta visão otimista é também partilhada por Pedro Folque, capitão de engenheiros, no seu
discurso proferido na inauguração das obras do abastecimento das águas de Luanda, em 2
de março de 1889, nestes termos:
15
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
E se o conforto e o bom gosto, que não custa dinheiro, presidirem às novas construções; e a
iniciativa pública, municipal e particular tomarem vigoroso impulso; então, senhores, Luanda não
será tão-somente o grande empório do comércio ocidental africano: não será só uma cidade
populosa, procurada por nacionais e estrangeiros para centro de operações comerciais, e Deus sabe,
como sede de quantas empresas exploradoras das riquezas abandonadas ou ainda hoje ignoradas da
Província de Angola e da África central; mas será também o sanitário, o repouso e recreio dos que
trabalham por toda essa costa e por todos esses sertões dentro (Folque, [1889], apud Lobo, 1967:
115).
Dos estudos mais antigos que importa ressaltar aqui, dadas as valiosas contribuições que
trazem ao projeto que pretendemos encetar, podemos mencionar Amaral (1984) e Lobo
(1967), que, embora não tenham tratado diretamente as políticas públicas do urbanismo em
Angola, elaboram já estudos seminais em relação à temática referida.
Sobre a expansão urbana, o autor sustenta que o surto das atividades urbanas iniciado por
volta de 1950 se tem mantido num ritmo acelerado, apenas afrouxado nos anos de 1957 a
1961, período de insegurança e apreensão, marcado pela descida das cotações dos produtos
agrícolas de exportação rendosa, como o café, sisal, algodão, e pela eclosão do terrorismo no
Norte de Angola, em março de 1961 (AMARAL, 1984: 103-106). O autor sustenta ainda que
a evolução urbana continua ligada à comercialização internacional de produtos agrícolas,
particularmente o café (AMARAL, 1984: 106).
16
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Dos estudos académicos mais recentes, destacam-se os de Kasack (1996), Augusto Trindade
(2000) e Maria da Fonte (2012). Kasack analisa o fragmento urbano musseques, olhando
para os problemas do desenvolvimento urbano (num contexto de guerra), apontando o
musseque como fonte de problemas sociais, económicos e de agitações políticas,
sublinhando, por essa razão, a importância do estudo dos mesmos nestes termos: “Não se
devia subestimar a importância dos musseques, porque é neles onde se nota claramente o
crescimento acelerado da capital de Angola”. Nesse âmbito, apresenta quatro questões, às
quais vai procurar responder; designadamente: 1) Quais os problemas que enfrentam os
habitantes? 2) Quais as possibilidades para os ultrapassar? 3) Quais os problemas
enfrentados pela cidade de Luanda e qual o papel desempenhado pelos musseques? 4) Que
premissas desenvolvimentistas têm sido apresentadas pelo Governo angolano e com que
impacte nos musseques? (KASACK, 1996: 65). Como se depreende destas perguntas, há já
uma clara incitação à necessidade de elaboração de políticas públicas de urbanismo e de
habitação. Mas uma pergunta mais geral, não despicienda na análise que fazemos, e de
âmbito territorial mais alargado, consiste em perguntar se a urbanização acelerada em
Angola tem contribuído para mitigar a pobreza ou se tem sido, sobretudo, um fator de
relocalização da pobreza? Não trazendo esta tese uma resposta a esta pergunta, aduzimos
argumentos que tendem a confirmar a segunda hipótese.
Por sua vez, Augusto Trindade, retomando algumas teses de Amaral, salienta sobretudo a
dimensão demográfica e histórica do fenómeno urbano, sem se referir às políticas públicas
neste domínio.
Maria da Fonte, aborda, com notória pertinência, o papel da administração pública colonial
na elaboração de políticas públicas de urbanismo em Angola, sublinhando a autora que:
17
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
Desde o início da época em estudo [anos 20 a 70 do séc. XX] o Estado tinha um papel tutelar nas
mais variadas áreas (e que viria a ser assumido com destaque até à independência) e partilhava-o
com a administração local (câmaras municipais, comissões urbanas, juntas locais ou postos
administrativos) e também com investidores privados e Igreja. O Estado atuava no ordenamento do
território, o que se traduzia na elaboração dos planos de urbanização e da obra de arquitetura (dos
equipamentos e de alguns tipos de habitação) e também do controlo e disciplina da ocupação do
território. A Administração local atuava mais ao nível das obras de arquitetura e na gestão urbana
das cidades. Aos privados, por seu lado, cabia a promoção arquitetónica do lote urbano, resultante
da planificação anterior. Portanto, cabiam ao Estado as grandes apostas, e aos privados a execução
da pequena obra, que acabava por assumir, também, um papel determinante, na imagem da cidade.
(Maria da FONTE, 2012: 253)
18
Políticas públicas de urbanismo em Angola
que o método conhecido é o que prevalece na área do direito e das ciências jurídicas,
evitamos fazer um estudo exaustivo, ancorado em múltiplas técnicas analíticas intensivas,
optando por evidenciar alguns aspetos que se nos afiguram pertinentes para a matéria em
análise.
Neste sentido, enveredaremos por um caminho que nos permitirá harmonizar uma
abordagem multifacetada e pluridisciplinar com o estudo diacrónico. Para tal,
socorrer-nos-emos do contributo de disciplinas fundamentais, como sejam o direito
administrativo, o direito do urbanismo, a demografia, a sociologia, a história e a geografia,
procedendo a uma análise de toda a legislação sobre o fenómeno do urbanismo e da
habitação em Angola.
Assim, além do método comparativo, radicado na análise dos factos sociais sobre o
urbanismo e a habitação, lançaremos também mão ao método jurídico, expondo as principais
opções políticas do legislador angolano no domínio urbanístico, recorrendo, por isso, a
instrumentos jurídicos, com os cânones dogmático-hermenêuticos consagrados, para deles
exaurirmos as principais orientações seguidas desde a década de 30 do séc. XX até 2015.
Este estudo, na esteira do pensamento holístico, incidirá, portanto, sobre três grandes focos: o
interpretativo (dos dados a serem recolhidos e da experiência vivida); etnográfico (que vai
19
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
3
Cfr. A entrevista à Organização Não Governamental angolana SOS HABITAT/DEVELOPMENT
WORKSHOP (D.W), na pessoa do seu Presidente, Sr. Rafael Morais, a qual aborda a questão das políticas
públicas de enfrentamento da cidade informal em províncias como Luanda, Cabinda e Huíla, destacando a
violência que os órgãos policiais e administrativos manifestaram nestas circunstâncias, violando direitos
fundamentais, tendo assim provocado reações não somente dos particulares lesados como também da
comunidade internacional e da Assembleia Nacional, bem como dos partidos da oposição individualmente
considerados (ver Anexo I, notícia 112). Convém também referir que foram feitos vários contactos com a
Organização Não Governamental Angolana OMUNGA, sedeada no Lobito, no sentido de se obter também
algumas informações sobre o fenómeno dos desalojamentos em Benguela. Porém esses contatos não foram
bem-sucedidos, porque, na altura, o Sr. Patrocínio, Presidente da Associação, tinha sofrido um atentado e um
assalto em sua casa, que culminou com a captura dos seus meios informáticos e outros bens, razão pela qual
não conseguiu responder às nossas perguntas, uma vez que se encontrava em estado de choque. Este exemplo
serve para demontrar que o campo, na realidade angolana, é ainda de muito difícil abordagem quando se
equaciona aplicar os métodos e as técnicas da sociologia, inclusive os mais comuns, como as entrevistas ou
os inquéritos por questionário (Cfr. KANDINGI, 2016).
4
O questionário aplicado ao Ministério da Administração do Território, sob a forma de formulário, sobre o
estado atual da planificação urbana em Angola, e os resultados deste inquérito, traduzidos nos mapas sobre a
planificação urbana em cada província, mormente sobre a implementação dos Planos Diretores Municipais-
PDM; Plano de Pormenor-PP; Planos de Urbanização-PU; Planos Sectoriais-PS; POOC-Plano de
ordenamento de orla costeira; etc. Este procedimento de caracterização da realidade revela a intensa atividade
de planificação urbana que se verifica nos últimos cinco anos em todas as províncias e municípios. O
Relatório do Estado sobre o Ordenamento do Território Nacional contém também informações adicionais e
relevantes para o estudo desta matéria.
5
Apesar de termos elaborado um procedimento (inquérito por questionário dirigido a residentes nas novas
centralidades) para a recolha de informação sobre várias dimensões (entre elas: as formas de aquisição dos
imóveis nas centralidades; perspetiva de continuidade ou permanência nos imóveis, ou não, em função dos
valores culturais, que de certa forma não se adequam ao padrão de vida em apartamentos ou em bairros
sociais; estratégias de aquisição de terrenos para construção futura de moradias; análise das relações de
vizinhança, de modo a caracterizar os modos de vida no bairro de residência por oposição ao bairro de
proveniência; análise da distância da residência em relação aos locais de trabalho, dado que estas
centralidades se situam muito longe dos empregos e obrigam a acordar às 3 ou 4 horas da manhã para se
evitar o trânsito), o acesso aos inquiridos revelou-se muito difícil (escassez de residentes; ausências
prolongadas da residência; indisponibilidade para participar no estudo; obrigatoriedade de permanecer muito
tempo no terreno sem certeza de vir a coletar um número mínimo aceitável de respostas) e o dispositivo não
foi concretizado.
20
Políticas públicas de urbanismo em Angola
21
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
22
Políticas públicas de urbanismo em Angola
6
As novas cidades (centralidades) têm privilegiado construções horizontais (prédios), instaurando, assim, um
modo de vida de condomínio que, por vezes, colide com os hábitos e cultura do povo angolano (a cultura de
assar o peixe ou a carne ao ar livre; a cultura de festejar até altas horas da noite; a cultura de viver os óbitos).
23
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
Para levar a cabo a realização desta tarefa, iniciámos, desde janeiro de 2013 até ao final do
terceiro trimestre de 2015 uma exaustiva recolha de notícias relativas ao urbanismo e à
habitação no contexto angolano, extraindo-se desta recolha dimensões relevantes para a
caracterização do objeto de estudo.
Como fonte de recolha das notícias foi utilizado um diversificado conjunto de sites e de
jornais online que a seguir se mencionam: Jornal de Angola, LAC (Luanda Antena
Comercial), Jornal O País, Angola Press-ANGOP, Rádio Eclésia, Angonotícias,VOA-Voz
da América, Club-k, Novo Jornal, Jornal Expansão, AfricaMonitor, Lusomonitor, RNA
24
Políticas públicas de urbanismo em Angola
A estratégia de recorrer aos jornais online não foi fortuita nem circunstancial, tendo
obedecido a critérios de cientificidade e de sistematicidade. A mesma justifica-se por se
tratar de um procedimento cada vez mais recorrente em pesquisas científicas, por permitir
contornar as dificuldades financeiras decorrentes da necessidade de deslocações constantes
a Luanda e pelo facto de, mesmo estando em Luanda, se tornar uma evidência que,
considerando os objetivos desta tese, seria útil recorrer a esta metodologia, uma vez que ela
nos permite aceder a informações que facilitam uma caracterização geral dos processos
observados. Por outro lado, a maior parte das fontes e das notícias só existem online e não
em papel, como é o caso do Club-K, a Voz da América-VOA; Angop-Agência de Notícias-
angolapress, angonotícias, da rádio Deusche Welle (DW e SOS-Habitat), da Lusomonitor,
Africamonitor, Makaangola, ou de vários conteúdos de fontes editadas em papel, mas que
publicam grande parte dos conteúdos apenas de forma digital.
25
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
empírica. Mas também, e sobretudo, porque foi nessa altura que os grandes projetos
urbanísticos começam a ser inaugurados e consequentemente é nesta altura que os
problemas já antigos dos bairros informais se voltam a colocar como obstáculos funcionais
e visuais ao desenvolvimento das novas urbanizações.
Quanto ao modo de pesquisa, optámos por realizar uma consulta quase diária. Este
procedimento permitiu uma ligação ao objeto de estudo que facilitou a identificação de
categorias analíticas, uma vez que facilitou a identificação das variações temáticas. As
categorias foram, pois, formadas em processo de pesquisa e não externamente a partir de
referenciais teóricos ou de projetos de investigação similares, aproximando-se dos
princípios da teoria ancorada. Posteriormente, numa análise mais recente dos conteúdos
recolhidos, pudemos constatar que várias notícias já não se encontram (nem em arquivo)
nos sites de onde foram extraídas, razão pela qual são colocadas em anexo (Anexo I). Esta
contingência releva também o valor heurístico da pesquisa efetuada, uma vez que a
precariedade e a efemeridade dos dados é, como sabemos, uma ameaça constante e séria à
investigação.
26
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Não foi, todavia, possível alcançar esse desiderato. Por um lado, porque uma primeira
abordagem mostrou que o processo seria muito demorado, atendendo às baixas taxas de
ocupação e de permanência nas habitações. Por outro lado, dada a resistência dos
moradores às abordagens sob a forma de entrevista ou inquérito. Uma vez que esta
abordagem pretendia ser complementar à análise dos programas de intervenção urbanística
e porque as notícias de imprensa recolhiam, elas próprias, depoimentos de moradores e de
gestores das centralidades que se aproximavam dos objetivos que pretendíamos preencher
através da concretização deste protocolo de observação, abdicámos da realização de
entrevistas.
27
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
implementação e impacte das políticas públicas, sobre o processo de realização dos planos
urbanísticos, bem como o seu grau de execução), quer às empresas promotoras de ofertas no
mercado urbanístico (com vista a recolher informações sobre os processos, sejam de
expropriação, de desalojamento ou de construção), quer ainda aos cidadãos (visando
identificar a sua condição, a modalidade ou tipo de renda escolhida para o pagamento da
casa, as dificuldades vividas no acesso às residências, o salário auferido em confronto com o
valor de aquisição/acesso às casas, procurando avaliar se a opção pela compra da casa é
definitiva ou não). Este quadro operacional, ainda que só parcialmente coberto pelas técnicas
de observação que pudemos usar, permite verificar até que ponto as políticas públicas sobre
a habitação e o urbanismo, em geral, têm surtido efeitos desejados ou indesejados ou em que
medida são mitigados. Finalmente, recorremos também a uma pesquisa de cariz
interpretativo, cujo fundamento é a relação dinâmica, que não pode ser traduzida em
números7, entre o mundo objetivo e a subjetividade dos indivíduos.
A análise documental das notícias vai sendo feita, com remissões concretas para as notícias
em anexo, ao longo da Tese.
7
Cfr. nota de rodapé 4.
28
Políticas públicas de urbanismo em Angola
29
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
30
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Auscultação de atores
privilegiados;
31
Capítulo I – Enquadramento e questões metodológicas
32
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Autores como William Dunn (1981) apontam mesmo o “Código de Hamurabi”8 como um
dos exemplos mais antigos de políticas públicas. E Oliveira Rocha sustenta que a própria
decisão dos guerreiros troianos de aceitar a entrada ou não do cavalo grego no interior das
suas muralhas é também uma política pública (ROCHA, 2010, 15, ss).
8
Devido à atenção que este código reserva aos órfãos, às viúvas, aos estrangeiros e aos mais vulneráveis.
9
Existem também vários entendimentos sobre o Estado Social. Um desses é de que o Estado Social é um
conjunto de instituições idealizadas de tal modo que se garanta a cada um o mínimo de condições para que
possa levar uma vida decente, dando assim resposta às emergências da pobreza, da doença, dos mais variados
problemas de que padecem os mais vulneráveis da sociedade (crianças, idosos, enfermos, pobres, etc); trata-
se de um Estado Social de amparo (assistencialista, ancorado no princípio da provisão pública dos bens
sociais). Além deste entendimento existe aquele que acentua não já problemas de índole anterior, mas de
natureza diferente, designadamente a ideia de que uma sociedade mais igual é melhor. De tal modo que o
Estado, para garantir esta igualdade, deverá procurar maximizar as oportunidades, devendo para o efeito criar
instituições e meios que garantam uma melhor educação, melhor saúde, fundando-se no princípio da
universalidade do direito de acesso as esses bens sociais, bem como às áreas sectoriais do Estado social,
através de políticas fiscais que concretizem o princípio da progressividade dos impostos e, desta forma,
garantir a execução das políticas redistributivas que reduzem ou condicionem a desigualdade de rendimentos
(Carmo e Barata 2014, 23 e ss). Mas é importante referir que o Estado social tem limitações ou crises que
resultam do facto de que cada vez mais aumentam as preocupações sociais e escasseiam os recursos
financeiros para as sustentar. Por isso mesmo, alguns autores, sobretudo da direita política, sustentam que a
causa da crise do Estado social é estrutura do próprio Estado, cada vez mais gordo e obeso, de tal modo que é
necessário diminuir drasticamente o seu papel na vida económica e social, adotando políticas liberais e não
33
Capítulo II - As políticas públicas de urbanismo: do contexto geral ao caso específico de Angola
acuidade, em vários domínios. Neste sentido, aponta-se como precursor do Estado Social o
Chanceler alemão Bismark (criticado por alguns por ter desenvolvido um modelo social
que marginaliza ou ignora a população que não participa no mercado de trabalho,
contrariamente ao modelo de Beveridge, que visa evitar a pobreza (ROCHA, 2010, 159), e
que foi desenvolvido logo depois da Segunda Guerra Mundial.
Com efeito, Bismark, influenciado pela escola solidarista da terceira república francesa e
pelo movimento Fabiano na Inglaterra10, vai introduzir na Alemanha os primeiros seguros
sociais [1883 - Seguro de doença; 1884 - Acidentes de trabalho; 1889 - Assistência na
velhice] (F. MERRIEN, R. PARCHET e A. KERNEN, 2005; ROCHA, 2010, 15 e ss).
Apesar de ter nascido na Europa, a problemática das políticas públicas vai ser largamente
debatida nos EUA. Sobretudo com os trabalhos dos filósofos William James e John
Dewey 11 , que vão defender uma filosofia pragmática que privilegia o cultivo de uma
ciência virada para as ciências sociais e que seja avaliada com base no seu contributo para
a melhoria da condição humana (ROCHA, 2010, 16). Tese esta que vai ser corroborada por
Merrien, que vai apelar para uma ciência social multidisciplinar capaz de enfrentar
problemas em todos os sentidos (ROCHA, 2010, 16).
É num contexto como esse que se vai desenvolver um conjunto de intervenções do Estado
nos vários domínios e com maior incidência no sector económico e social. Tais
intervenções e opções vão constituir objeto de uma ciência que se denomina “Policy
Science” (LASSWELL e LERNER, 1951), cujo objeto se reflete na análise do output
governamental; isto é, das políticas públicas como resultado de inputs (problemas) que, por
sua vez, devem ser analisados a partir de uma perspetiva multidisciplinar, contextualizada
e orientada para solução de problemas e traduzidas em instrumentos normativos e
valorativos.
intervencionistas (neoliberalismos). Mas tal desiderato não tem, na perspectiva de alguns autores, sido fácil
de se concretizar por várias razões. Por um lado, devido às exigências das instituições públicas democráticas,
as quais tendem a proteger o “status quo”, muitos atores não estão interessados em qualquer mudança. Outra
razão desta dificuldade de se adotar o modelo neoliberal está relacionada com os custos eleitorais, pois,
qualquer mudança em políticas sociais gera um sentimento de penalização dos políticos (partidos) em
períodos eleitorais, pois, nestas circunstâncias, por regra, a participação política aumenta quando existem
ameaças de mudança de políticas que afetam determinados grupos sociais (A. CAMPBELL, 2003; P.
PIERSON, 1996). Sobre a crise do Estado social ver também ALCOCK, PAYNE e SULIVAN, 2000).
10
Veja-se a primeira iniciativa de caráter social que teve lugar no Reino Unido com o “the Poor Law
Amendment Act” de 1834, a qual assentava sobre os seguintes princípios: todo o indivíduo apto a trabalhar
pode encontrar emprego de modo a assegurar uma vida decente à sua família; Os indivíduos aptos para o
trabalho, mas que se encontrem desempregados devem ter igual assistência e a assistência deverá ser de tal
modo que não ultrapasse o nível do trabalhador mais mal pago, afim de não o dissuadir de trabalhar
(ROCHA, 2010, 157).
11
Dewey desenvolveu o processo de inquérito, segundo o qual, o investigador começa pela definição do
problema, analisa as diferentes alternativas, ordena-as, avalia as consequências de cada uma delas, antes de
alcançar a alternativa que melhor resolve o problema (ROCHA, 2010, 16).
34
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Significa dizer que as políticas públicas refletem uma escolha predominantemente racional
que tem em conta não somente a relação entre os custos e os benefícios (análise
económica), como também a análise dos processos (processo político e processo
económico) e procedimentos (DELEON e OVERMAN, 1989), bem como a consideração
de elementos comportamentais (valores) de uma dada sociedade.
De tudo o que temos vindo a dizer, o que se entende então por políticas públicas? Desde
logo importa frisar que não é a “estrutura política”, as “eleições», os “partidos políticos” ou
os “comportamentos eleitorais” que interessam para as políticas públicas. Mas sim as
“Decisões políticas” que têm impacto na vida dos cidadãos, ou o resultado da atividade
governamental (ROCHA, 2010, 26).
Demarcado o âmbito das políticas públicas, podemos passar a várias definições. Uma das
mais clássicas é-nos oferecida por Dye (1975), segundo a qual “Public policy is whatever
goverments choose to do or not to do”.
Para Manuel Tamayo Sáez (1997, 281 e ss, apud João CAUPERS, 2002, 164) “uma
política pública é um conjunto de decisões e ações adotadas pelo governo para influir sobre
um determinado problema”. Já Ferreira do Amaral define políticas públicas como “uma
mobilização de recursos por parte das autoridades públicas destinada à realização de fins
previamente fixados” (1998, 211).
35
Capítulo II - As políticas públicas de urbanismo: do contexto geral ao caso específico de Angola
36
Políticas públicas de urbanismo em Angola
A progressiva perda da centralidade do Estado vai ser usada por alguns autores que
sustentam a transferência de significativa parte das preocupações do Estado social para a
lógica do mercado, entregando assim a provisão pública de alguns bens sociais à iniciativa
privada.
Se esta perspetiva de transferência de áreas sociais para a iniciativa privada tem tido
sucesso (não porque o serviço público seja pior do que o privado) em alguns países, a
verdade é que em tais países os mecanismos de controlo dos preços e os dispositivos
concorrenciais estão de tal forma desenvolvidos que não há grande espaço de manobra
para a especulação. Já em países frágeis, a entrega dessas áreas à iniciativa privada tem
dado lugar ao “sequestramento do Estado” pelo grande capital e consequentemente à
marginalização do Estado social.
Olhando para o contexto das políticas públicas de urbanismo em Angola, constata-se que o
Estado, apesar de reconhecer o direito à iniciativa livre do mercado, resultante do princípio
da coexistência dos setores público, privado e cooperativo (artº 92º da Constituição),
preferiu desenvolver ou construir novas centralidades e bairros sociais, ao lado de
condomínios de luxo cujos preços são proibitivos. Sem discutir agora o mérito ou não
dessas políticas, podemos dizer que, em relação ao urbanismo, o Executivo Angolano tem
vindo a utilizar uma política redistributiva, usando recursos do petróleo (não
menosprezando a dinâmica de endividando das futuras gerações devido à facilitação dos
mecanismos de crédito bancário) para o benefício das populações, em vez de entregar, pura
e simplesmente, esse dossier ao setor privado, cujo móbil é o lucro desenfreado, como
demonstram os preços das casas nos condomínios fechados e como sustentam as razões do
intervencionismo Estadual defendido por Keynes, conforme desenvolveremos mais
adiante.
Porém, devemos deixar claro aqui que não ignoramos que ainda que o urbanismo e a
habitação sejam reconhecidos como um dos quatro direitos sociais fundamentais, a sua
realização, diferentemente da saúde, educação, segurança social, tem-se revelado como o
pilar mais “frouxo” do Estado social (TORGERSEN, 1987; MALPASS, 2004). Sobretudo
porque a sua concretização apela inelutavelmente para o seu carácter transacionável, na
medida em que representa um potencial para a geração de mais-valias, uma vez que o uso e
37
Capítulo II - As políticas públicas de urbanismo: do contexto geral ao caso específico de Angola
Razão pela qual podemos concluir que as políticas públicas não são hoje apenas um palco
do Estado, em que os indivíduos e organizações apenas participam, mas sim um espaço
partilhado entre o Estado e outros atores, embora o Estado, em determinadas situações,
ainda conserve o seu ius imperii (poderes de autoridade). Este entendimento reflete-se
também no domínio do urbanismo em Angola, como se verá.
Uma das questões que se tem colocado em relação às políticas públicas é a sua
estruturação ou classificação. Neste sentido importa analisar quais as classificações que
têm sido avançadas, para mais tarde compreendermos o quadro das mesmas no contexto
deste trabalho.
A primeira classificação das políticas públicas foi elaborada por T. Lowi (1964), na base
de relações entre os seus intervenientes. Para o autor, estruturam-se em três grandes
grupos: 1- Distributivas; 2- Reguladoras e 3- Redistributivas. Enquanto as políticas
públicas distributivas são desenvolvidas pelo Estado e visam distribuir recursos e buscam o
seu financiamento nos impostos, as políticas reguladoras referem-se à produção de normas
que visam decifrar comportamentos, beneficiando uns em detrimento de outros; já as
políticas redistributivas, retiram recursos de uns para dar a outros (ROCHA, 2010, 155).
Outros autores, como Palumbo (1988), preferem segmentar as políticas públicas por áreas
como: Saúde, Pensões e Reformas, Justiça, Educação, Energia e Ambiente. Já um autor
como Guy Peters (1982) segmenta-as em política, económica, política de saúde, segurança
social, educação, energia e ambiente, e defesa. Por sua vez Thomas Dye (1972) prefere a
seguinte classificação: justiça, saúde e segurança social, educação, ambiente, política
económica e política fiscal. Heidenheimer, Heclo e Admams (1983) dividem-nas em:
política da educação, saúde, habitação, política económica, política fiscal, política urbana e
segurança social (apud ROCHA, 2010, 157).
38
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Com efeito, ao longo da história das organizações urbanas foi-se dando espaço para que a
administração, cujo significado remonta às expressões latinas ad ministrare (servir) e ad
manus trahere (manejar) - e neste sentido administrar “seria agir ao serviço de
determinados fins e com vista a realizar certos resultados”(Afonso QUEIRÓ, 1976, 6) -,
agisse ao serviço de fins urbanísticos, designadamente por via das políticas públicas, que
passam a ser instrumentos de orientação para um ordenamento mais racional das cidades
(AMARAL, 1971, p. 11); ou de uma forma mais ampla de disciplinar a ocupação, o uso e a
transformação dos solos para fins não exclusivamente urbanísticos, pois, na senda de Alves
Correia, “as questões urbanísticas dos nossos dias não se circunscrevem à cidade, sendo os
problemas que se verificam nesta e tudo o que ocorre no seu seio uma resultante de
fenómenos que têm lugar fora dela, no seu hinterland imediato e, em último termo, no
contexto geral do país” (CORREIA, 2008, 61).
Neste sentido, as políticas públicas de que temos vindo a falar incidirão sobre um conjunto
articulado de objetivos e de meios de natureza pública, com vista à ocupação, uso e
transformação racional do solo para fins urbanísticos e habitacionais em Angola.
39
Capítulo II - As políticas públicas de urbanismo: do contexto geral ao caso específico de Angola
artigo 165º, 1, alínea z), da Constituição de Angola, que inclui na reserva relativa de
competência legislativa da Assembleia Nacional a matéria respeitante às “bases do
ordenamento do território e do urbanismo”, tarefa esta que foi concretizada pela Lei
nº48/98 de 11 de agosto, Lei de bases da política de ordenamento do território e de
urbanismo bem como a Lei nº3/04, de 25 de junho, Lei do Ordenamento do Território e do
Urbanismo.
Quer seja considerado como “Facto Social”, enquanto “Técnica”, como “Ciência” ou
mesmo como “Política” (ALVES CORREIA, 2008, 25-62), o urbanismo é uma
manifestação das políticas públicas que incide sobre a ocupação e a transformação do solo.
40
Políticas públicas de urbanismo em Angola
41
Capítulo II - As políticas públicas de urbanismo: do contexto geral ao caso específico de Angola
42
Políticas públicas de urbanismo em Angola
12
Importa frisar que o termo Urbanisme surgiu antes da formação da associação e denominava a “a arte do
ajustamento humano ao território” e atribui-se ao engenheiro-arquitecto espanhol Lidefonso Cerdá que
tentara, em 1867, através da sua obra Teoria general de l´urbanización, dar um estatuto científico à criação
das cidades e seu ordenamento, in Choay, F.; MERLIN, P. Dictionaire de l´urbanisme et de
l´Amenangement, ADAGP, Paris, 1996, 816 apud Fonte, 2012, 43; Societé Française des Urbanistes, Où est
l´Urbanisme- en France et a l´Étranger, Léon Eyrolles Éditeur, Strasbourg, 1923, 5-25).
43
Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
13
Assim é porque o urbanismo suporta-se em conhecimentos de várias disciplinas, tais como a arquitetura, a
engenharia, a sociologia, a geologia, a história, a estatística, a ciência política, a ciência económica, a ciência
administrativa, a ecologia, a medicina, a antropologia e a sociologia, assumindo todas elas um papel
importante na formatação e no alcance do urbanismo. Fundamentalmente na elaboração dos planos
urbanísticos, pois é nessa etapa que é feita a recolha e compilação dos dados, ou seja a inventariação da
realidade existente, resultando daí análises estruturais e de tendências em relação ao processo de urbanização,
análise dos movimentos migratórios e concentração das populações em cidades. Essas ciências contribuem,
assim, na fase de elaboração dos planos, através da formulação de prognoses, construindo modelos e dando
origem a uma análise crítica da ideologia urbanística. Na execução dos planos é sobretudo importante a
contribuição da sociologia, tendo em vista a comprovação das prognoses dos planos (CORREIA, F. Alves,
Manual de Direito do Urbanismo,4ª ed. 2008., 58; N. SCHMIDT RELENBERG, Sociologia y Urbanismo,
trad. Esp.., IEAL, 1976, P.111-128; FONTE, 2012, 43; TRINDADE, J. Pereira, O Fenómeno Urbano na
África subsaariana, o caso de Luanda, 2000, 46-57). Uma outra disciplina importante para o urbanismo é a
história, a qual nos permite estudar o fenómeno da formação e evolução das cidades desde a antiguidade aos
nossos dias, permitindo assim uma taxonomia de: cidades da antiguidade (civilizações mesopotâmica,
egípcia, indostânica e creto-micénica); cidades do mundo clássico (civilizações grega, e romana); as cidades
islâmicas (civilização inspirada no Islão- séc. VIII a X, localizado num vasto território, que vai desde a zona
costeira mediterrânica do Golfo Pérsico ao Atlântico, atravessando uma parte expressiva da Península
Ibérica); cidades medievais (resultantes da efervescência do comércio e da indústria, desenvolvidas em
territórios inicialmente feudais, agrários e religiosas); cidades renascentistas (caraterizadas pelas alterações
no interior das áreas urbanas, como é o caso de Roma e Veneza); cidades de Barroco (que exprimem o
espírito do absolutismo monárquico, caraterizadas pela harmonia geométrica, recurso a artes visuais fundadas
nos princípios da linha reta, da perspetiva monumental e a uniformidade); as cidades industriais (resultantes
da revolução industrial da Europa e América, caracterizadas por um surto de crescimento desordenado,
desumano e seus efeitos negativos que provocaram o surgimentos de técnicas urbanísticas como zonamento,
alinhamento, cidades-jardins, regionalismo urbano, etc, para o estancamento ou suavização desses efeitos
nocivos a saúde urbana); cidades modernas (caracterizadas pela explosão de formas urbanas bem planeadas,
de forma global e convergentes, assentes na hierarquia das vias, na separação funcional dos usos do solo
urbano e na busca na harmonia entre a cidade e a natureza); cidades pós-modernas (caraterizadas como
cidades-móveis, assentes na mobilidade como essência das relações sociais e espaciais); cidades-território
(cidades intermináveis ou conurbações que se estendem e se dispersam por imensos territórios incluindo o
próprio campo); cidades-natureza (descontínuas e fragmentárias que se situam entre o campo e a cidade);
cidades policêntricas (onde emergem novas centralidades, unidas pelos centros de consumo, como
supermercados e outras grandes superfícies; cidades de escolhas pessoais (que permitem cada um escolher a
sua rede de sociabilidade), neste sentido cfr. CORREIA, F. Alves, 2008, 58-59. Do ponto de vista normativo,
o urbanismo é também constituído pela complexidade das suas fontes (conjuga normas gerais com as normas
locais), pela mobilidade das suas normas (devido à evolução dos problemas urbanos e ao ordenamento do
território) e possui uma natureza instrínsecamente discriminatória (porquanto destina o solo para fins
diferentes- habitação, agricultura, indústria, áreas de lazer, etc, (CORREIA, F. A., 2008, 70-71).
44
Políticas públicas de urbanismo em Angola
desenho como método de trabalho, cuja elaboração era antecedida de uma análise de
inquéritos (inventariação da realidade existente) antes de se definir a proposta e de se
intervir, tendo presente uma visão das diferentes escalas do território, partindo do geral
para o particular, da cidade para o bairro e, desta forma, compreender antes de intervir
(Fonte, 2012, 43).
A Escola francesa serve também como referência para os arquitetos portugueses que
levariam até ao mundo da África, da Ásia e da América lusófonas todos os mais
estruturantes princípios e técnicas do urbanismo moderno, dos quais importa referir autores
como Faria da Costa (o primeiro a estudar urbanismo em França), Cristino da Silva, João
Aguiar, Moreira da Silva, Simões de Carvalho, Vasco Vieira da Costa, Francisco da Silva
Dias, entre outros. Por esta via, Angola, designadamente Luanda, tornou-se alvo de uma
primeira vaga de importação de modelos urbanísticos. A segunda vaga chegaria já no
século XXI, ficando marcada pela importação de modelos urbanísticos orientais (chineses).
O urbanismo, para além de dispor de um acervo teórico muito vasto, tem sido, ao longo da
história, sobretudo da história moderna, também objeto de exposições em Feiras
Internacionais, umas vezes para exprimir as modernas técnicas de construção, da habitação
e potencialidades e outras vezes para exprimir o espírito nacionalista e as novas tendências
sobre a mesma.
Tem sido também, com particular relevância para os congressos CIAM (Congressos
Internacionais da Arquitetura Moderna) objeto de congressos internacionais, nacionais e
podemos mesmo dizer que tem vindo a ocupar as cátedras em Universidades, porque foca
preocupações fundamentais da vida em sociedade. Estes factos revelam a legitimação
teórica e empírica adquirida por esta área disciplinar.
A questão mais premente no âmbito desta tese está em saber de que modo África é olhada
no contexto de emergência e de desenvolvimento do urbanismo e que discussões são
suscitadas no âmbito dos eventos científicos que ocorreram nesse contexto. Importa referir,
na sequência do que dizíamos, e por terem particular relevância para o mundo colonizado
pelos europeus, entre outros14, os seguintes eventos (colóquios, congressos, exposições,
correntes de pensamento etc):
14
Várias Feiras foram realizadas tanto pela França, pelos Estados Unidos, pelo Brasil, como por Portugal. A
Exposição Internacional do do Rio de Janeiro, em 1922; a Exposição de Luanda, de 1922; a exposição
provincial de Nova Lisboa, em 1935. Em Espanha-Sevilha, em 1929; Exposição de Lisboa, de 1932;
Exposição do Porto, de 1934. Em França, para além das referidas, houve outras, como a de 1937, em
Portugal participou. Salientam-se também as Exposições de Nova Iorque e de S. Francisco, em 1939. Em
todas elas, Portugal participou sempre de forma ativa, quer para demonstrar as suas potencialidades nas
colónias, quer para exprimir os ideais nacionalistas do Estado Novo.
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Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
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Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
Tratava-se de um
procedimento muito
centralizado que saía do
governo da província, passava
pelo Ministro Marcelo Caetano
que o remetia ao diretor do
gabinete ou adjunto e deste ao
arquiteto autor (Fonte, 2012,
77)
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Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
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Políticas públicas de urbanismo em Angola
15
Curiosamente o programa da distribuição de lotes aos cidadãos para cada um construir, ficando o Estado
encarregue de garantir as condições básicas parece-nos assentar nesta visão pessimista da insolubilidade do
problema dos musseques e, na esteira de Maria da Fonte, questionámo-nos se não será esta forma de
promover a proliferação dos musseques? (Cfr. FONTE, 2012, 85).
51
Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
16
A visão de Norton de Matos sobre o urbanismo revela uma certa ambiguidade. Ora defende uma
assimilação e transformação dos negros em direção ao modus vivendi dos brancos - visando, desta forma,
contribuir para o progresso de África, apostando no povoamento branco, o que permitira um afastamento
gradual das populações locais “da selvajaria em que viviam” -, ora defendia uma separação entre negros e
brancos, evitando desta forma a miscigenação (Matos, Norton, Como pretendi povoar Angola, Boletim Geral
das Colónias, 1933, 54 apud FONTE, 2012, 25-26).
52
Políticas públicas de urbanismo em Angola
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Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
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Políticas públicas de urbanismo em Angola
ÁREA MEDIDAS
A necessidade de estabelecer um quadro jurídico global
e coerente sobre o urbanismo e o ordenamento do
território.
Adequação da legislação urbanística à atual Constituição
(2010) com especial destaque para a Lei n.º 17/10 de 29
de julho (Lei da Organização e do Funcionamento dos
Órgãos de Administração Local do Estado), alterado pela
Lei n.º 39/11, de 29 de dezembro; a qual deve também
ser harmonizada com a Lei n.º 11/11, que aprovou o
Sistema Nacional de Planeamento (v.g. Programa
Nacional de Ordenamento do Território em vez das
Principais Opções de Ordenamento Territorial Nacional);
Melhorar e reforçar os mecanismos de participação dos
cidadãos em matéria de planeamento territorial,
devendo-se esclarecer os mesmos sobre os vários
Quadro jurídico do procedimentos urbanísticos, sobretudo sobre a quem
urbanismo em Angola compete decidir esta ou aquela matéria e o que é
necessário;
A necessidade de se desenvolver a regulamentação de
algumas figuras jurídicas que se podem apresentar como
excelentes instrumentos (medidas preventivas e das
normas provisórias);
Criar um quadro regulamentar específico que acautele a
obrigação de prevenção, nos processos de planeamento,
dos riscos que podem resultar das atividades humanas de
natureza urbanística, como é o caso das derrocadas, de
cheias e inundações, etc.); e
A necessidade de se identificar condicionantes aos
processos de planeamento, que se encontram dispersas
por uma multiplicidade de diplomas, dificultando o seu
conhecimento sistematizado.
Surgem como resposta, por parte do executivo, para
enfrentar o problema do crescimento demográfico nas
cidades;
Trata-se de terrenos delimitados para fins de habitação,
Reservas fundiárias em nos quais não é permitida qualquer forma de ocupação
Angola ou uso, salvo a que seja exigida para sua própria
conservação ou gestão, tendo em vista a prossecução dos
fins para o qual foram constituídas (n.º5 do Art.º 27 da
LT);
Destacou-se também o fato de as mesmas se situarem
55
Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
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Políticas públicas de urbanismo em Angola
57
Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
Para além das conferências, devem registar-se os congressos que têm sido promovidos pelo
CIALP em matéria de Arquitetura e Urbanismo no mundo lusófono. Entre eles o CIHEL -
Congresso Internacional (da) Habitação no Espaço Lusófono, cujo 1.º CIHEL – Congresso
Internacional (da) Habitação no Espaço Lusófono decorreu de 22 a 24 de setembro de 2010
subordinado ao tema “Desenho e realização de bairros para populações com baixos
rendimentos”; visando promover a adesão e participação de entidades portuguesas e dos
países de língua portuguesa ligados à problemática da habitação de baixo custo, bem como
de escolas e associações profissionais, nomeadamente as de arquitetura.
Uma outra instituição internacional que se tem debruçado sobre os problemas urbanísticos
e de habitação, fundamentalmente as relacionadas com infraestruturas urbanas em África, e
de modo particular em Angola, é a União das Cidades dos Governos Locais de África
(UCLG-A), que realizou, de 29 a 30 de abril de 2015, na cidade de Luanda, o II Fórum de
Investimentos em Infraestruturas Urbanas em África, em coorganização com o Ministério
do Urbanismo e Habitação17 e a empresa internacional IC Events, subordinado ao tema
"Veja como Angola está a reconstruir as suas infra-estruturas urbanas", tendo contado
com uma participação de mais de 300 delegados vindos de 20 países africanos.
Pedro Pires salienta ainda, com bastante preocupação, o facto de que “o crescimento
acelerado das megacidades africanas tem acarretado problemas sociais sérios, com a
concentração da pobreza nos bairros de lata periféricos, podendo assim concorrer para o
aumento da precariedade social, da insegurança pública e da instabilidade política”. Por
17
Este II Fórum, segundo o Ministro do Urbanismo e Habitação de Angola-MINUHA, resulta da
participação de Angola na I edição deste evento, que teve lugar em abril de 2013, na África do Sul, onde o
MINUHA levou o "ambicioso" Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (Cfr. Entrevista a João Maria
da Silva, Ministro do MINUA - Angola in www.portalangop, 29 abril de 2015 | 18h21). [Ver notícia 086 do
Anexo I].
58
Políticas públicas de urbanismo em Angola
isso propõe que “o sistema da educação e a comunicação social [possam] ser parceiros
preciosos na elevação da vontade de participação e da responsabilização das sociedades no
processo de desenvolvimento e na superação dos problemas sociais existentes”. Argumenta
ainda, que “Nos processos de transformação social e comportamental, é indispensável
associar os interessados e fazer deles parceiros empenhados desde a conceção até a
materialização"(Cfr. Discurso de Pedro Pires in www.portalangop, 29 abril de 2015 |
18h21). [Ver notícia 085 do Anexo 1].
Neste II Fórum foram também abordados temas atuais, como o "Programa Nacional de
Urbanismo", "Infraestruturas em Angola", "Mecanismos de financiamento à habitação em
África" e “Planeamento Urbanístico em África".
Neste sentido, apenas com a paz de 2002, e no período de 2010-2015 se tem vindo a
realizar um infindável conjunto de encontros, debates e conferências sobre problemas
virados para as infraestruturas, o acesso a habitação, as construções informais, a
urbanização de Angola, a regulamentação urbanística e questões sobre a higiene e
financiamento das infraestruturas, bem como para o problema dos transportes e da
concentração das pessoas em zonas urbanas. Neste sentido, há ainda a salientar o grande
levantamento feito pelo Ministério do Urbanismo e Habitação sobre o Estado atual do
Ordenamento do Território Nacional em 2015 (março), onde se inclui a temática
urbanística (Vol. V, relatório I E II), e que ainda se encontra em discussão.
59
Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
A nível interno de Angola existe também a Ordem de Arquitetos de Angola, cujos jovens
quadros começam a dar os primeiros passos na década de 1980, com o primeiro grupo de
arquitetos que terminou a licenciatura nesta altura, embora a Ordem viesse a ser criada
apenas em 2004, já sob a pressão do surto do urbanismo chinês e brasileiro, tendo contado
na altura com a inscrição de 600 arquitetos, para todo o país, sendo 90% residentes em
Luanda, estando 10% espalhados pelo resto do país).
Esta Ordem18, que lida de mais perto com os problemas de habitação e sobretudo com o
urbanismo, tem reiteradamente realizado conferências nacionais e internacionais. A grande
preocupação da classe prende-se com o escasso envolvimento dos arquitetos nas obras de
reconstrução nacional, pois a maior parte dos contratos de conceção, 19 projeção e
construção de obras públicas de pequena, média e grande dimensão tem sido adjudicada à
Empresas e Consórcios Internacionais, sobretudo de países como Portugal, Brasil e China.
E, por isso, reivindica um maior envolvimento na construção nacional: “Queremos
participar mais na reconstrução do país" (MIGUEL, 2013). Curiosamente, mesmo para as
obras dos particulares, realizadas fora do âmbito de acordos estatais, os chineses levam
vantagem aos arquitetos angolanos aos arquitetos de outras nacionalidades.
Ora, uma das consequências desta baixa participação dos arquitetos angolanos é
exatamente a falta de incorporação dos valores e do conhecimentos sobre as condições
climáticas e do solo das áreas onde são erguidas as centralidades e os bairros sociais, bem
como a inadequada estrutura arquitetónica e estética que resulta dessa vicissitude20, dando
origem a realidades que em nada traduzem os valores e visões dos angolanos. Estas críticas
assemelham-se às já referidas no âmbito do urbanismo colonial, que era feito a partir de
ateliers de Lisboa para realidades tão longínquas como as de África.
É neste sentido que se pronuncia o bastonário dos arquitetos, queixando-se de que “os
arquitetos angolanos, principalmente os inscritos na Ordem, quase não têm encomendas
18
Importa referir que a Ordem dos arquitetos de Angola é filiada na União Internacional de Arquitetos desde
o primeiro mandato de António Gameiro, na União Africana de Arquitetos e no Conselho Internacional de
Arquitetos de Língua Portuguesa e assume a vice-presidência da União Africana de Arquitetos para região
sul.
19
Apesar desta reclamação ser legítima, também é verdade que o número de arquitetos que o país tem é ainda
reduzido, quando comparado com os padrões internacionais, os quais, segundo a União Internacional de
Arquitetos, fixa como padrão um arquiteto para cada dez mil pessoas. Em Angola a relação é de um para 33
mil, mas na capital, com aproximadamente seis milhões de pessoas, há um para 12 mil, o que é uma situação
inaceitável (Victor Leonel, 2013, entrevista exploratória realizada no âmbito da recolha empírica).
20
Veja-se, neste sentido, a praça ou mercado de Catete, terra onde nasceu Agostinho Neto, feito com um
estilo totalmente chinês, à semelhança de vários outros mercados, numa dessacralização total dos valores
daquelas localidades, e curiosamente sob o olhar das autoridades administrativas municipais e centrais.
60
Políticas públicas de urbanismo em Angola
públicas. Alguns abrem ateliers e por falta de encomendas têm de os fechar e arranjar
outro emprego”. Portanto, há falta de oportunidades para os arquitetos angolanos, pois
muitos dos trabalhos são feitos por gabinetes de empresas estrangeiras.
Neste sentido, sublinha o bastonário, as obras atuais, seja em Luanda seja no resto do país,
revelam uma clara falta de sensibilidade em relação à componente cultural angolana.
Critica, designadamente, o facto de muitas pessoas pensarem que a arquitetura é uma
indústria, quando, na verdade, essencialmente, é arte e cultura. Lamenta, por isso, que os
edifícios erguidos, vivendas e escritórios, não apresentem “motivos angolanos”.
Ainda dentro do país, importa referir que existem também instituições que têm vindo a
realizar conferências, debates e workshops sobre os temas mais atuais da arquitetura e do
urbanismo em Angola. Vários deles têm sido realizados por parte quer dos ministérios,
como o do Urbanismo e Habitação, (conferência sobre infraestruturas I, II); da Construção;
da Administração do Território (Feiras Municipais), quer ainda de institutos nacionais e
provinciais ligados ao urbanismo e habitação, aos quais acresce o relatório do Estado sobre
o Ordenamento do Território Nacional, o qual contempla temáticas do urbanismo e do
património das cidades (Volume V-I-II), realizado pelo Ministério do Urbanismo e
Habitação.
Entre ciclos e conferências realizadas em Angola por parte de Ministérios, importa também
referir o I ciclo de conferências internacionais, que contou com a participação de
arquitetos, geólogos, cartógrafos, ambientalistas, economistas e estudantes e cujo lema foi
“Desenvolvendo as cidades de amanhã”, que se iniciou de 24 a 27 de fevereiro de 2015,
em Luanda, sendo uma iniciativa do grupo empresarial Teixeira Duarte. Este evento
debruçou-se sobre temas como: a Requalificação, tendo sublinhado a necessidade de se
acautelar os interesses dos particulares nos processos de requalificação, bem como atender
às especificidades de cada município e de se adotar um programa de médio e longo prazo
para que os proprietários das áreas a requalificar possam ser suficientemente informados e
possam preparar-se para as mudanças necessárias.
61
Capítulo III – Abordagem das questões urbanísticas em Angola e no espaço lusófono africano
Esta relevância da habitação e das questões urbanas nas discussões públicas e na academia,
bem como a expressão crescente que tem vindo a adquirir na cena mediática, é reveladora
da emergência e da importância de políticas públicas de urbanismo.
21
O Instituto de Planeamento e Gestão Urbana de Luanda foi criado a 6 de fevereiro de 2007 para responder
às necessidades de regulação urbanística da província de Luanda, face aos problemas de sobrecarga
demográfica e o caos urbano provocados pela ausência de instrumentos de planeamentos e de gestão urbana.
62
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Trata-se de uma realidade que tem merecido várias abordagens. No caso presente,
pretende-se apenas compreender a lógica que a enquadra, o que implica, numa primeira
fase, assumir uma metodologia de confrontação com a cidade formal e vislumbrar nelas as
respetivas complexidades e cumplicidades.
Esta realidade, que se evidencia com maior incidência nos países subdesenvolvidos, ou do
chamado terceiro mundo, com destaque para África, surge também ligada ao fenómeno da
urbanização acelerada que se verifica neste continente, o que nos remete para uma reflexão
e crítica às políticas públicas que têm sido adotadas para fazer face ao crescimento
populacional.
Para abordarmos esta temática, afigura-se pertinente atentarmos à análise das diferenças
entre a cidade formal e a cidade informal; o que implica lançar mão ao método
comparativo.
Por outro lado, e porque se trata de um trabalho com vocação científica, adotar-se-á
também uma perspetiva crítica e reflexiva. Ou seja, saber qual é, em particular na realidade
63
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
estudada, a causa da cidade informal. E, mais do que isso, saber se entre a cidade formal e
a informal há um nexo de causalidade, ou se pelo contrário se verifica um fechamento e/ou
rotura entre os dois sistemas urbanos, já que ambas as situações se verificam em contextos
diferenciados.
Há, porém, uma questão metodológica difícil de resolver que tem a ver com a demarcação
entre a cidade formal e a informal, e se ela existe apenas no sentido sociológico (como um
facto social) ou ainda se existe no plano legal. A questão não é despicienda, sobretudo se
olharmos para o facto de que a cidade informal de Luanda, por exemplo, existe legalmente
e está refletida- refugiada no interior- da categoria de Bairro (v. g.: Bairro da Lixeira, do
Kalia-Wenda, Bairro do Huambo, Bairro do Chinguar), não havendo, portanto, uma clara
demarcação entre os dois campos.
Finalmente, importa referir que, em termos de literatura, há vários estudos sobre a cidade
informal que não se limitam apenas a olhar para África mas também para a Europa e para a
América22.
Neste sentido, nota-se que, na generalidade, prevalece uma visão negativista ou pessimista
sobre a cidade informal e nunca o contrário, como se ela não tivesse também aspetos
positivos enquanto resposta às necessidades básicas que as populações enfrentam,
22
No contexto geral: Choay (2007); Simmel (1971); Laguerre (1994); Lautier (1991); UN (2007); UN
(2006); PNUD (1999); Davies (2006); Forjaz (2005); Granotier (1980); Kapp e Silva (2012); Isabel Raposo
(2010); Commins (2011); Macharia, (1997). No contexto de Angola ou na lusofonia: Em Angola: Amaral
(1956; 1957; 1958); Batalha (1950; 1950; 1963); Cardoso (1950; 1951; 1967); Ferreira e Pinheiro (1959);
Santos (1967). Santos (1963; 1964; 1965); Nascimento (1952). Sequeira (2002); Boxer (1965); Carneiro
(1983); Sebastian Kasack (1994); Trindade (2000); Fonte (2012); Gomes Cardoso (2006); Guerra (2002);
Queiroz (1996); Rocha (2000); Lopes, Luanda informal? (2000); Vicente (1994); Domingos e Peralta (Orgs),
2013; Carrilho, Coelho e Palma (2014).
64
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Esta abordagem assume-se como uma tentativa de sistematização dos vários pontos de
vistas sobre a cidade informal em geral e de Angola (Luanda) em particular.
Antes de analisarmos a questão da cidade informal, consideramos ser importante fazer aqui
alguma breve reflexão que se traduz nas seguintes inquietações: existirá uma cidade
informal? Não será uma contradição chamar cidade informal a um conjunto de edificações
desordenadas? Qual o valor heurístico da designação quando a informalidade é a regra?
Será que o critério de contiguidade com a cidade (Urbe) a transforma também, de algum
modo, em cidade (informal) possuidora de um ethos urbano? A designação de cidade
informal traduzirá de per se um pré-conceito? A lógica de olhar para as construções
desordenadas a partir da grelha da cidade não será em si mesma redutora ou prejudicial
para o estudo destas formas de ocupação do território? (cfr. Fonte; 2012, 97-100).
Antes de passarmos à noção de cidade informal, importa fazer aqui alguma precisão
terminológica das palavras “cidade” e “informal”, bem como demonstrar a complexidade
inerente à sua interpretação.
A questão que se pode colocar sobre essa definição é saber se ela está ou não conectada
com o território, o que nos permitiria sair da noção de cidade para a noção de urbano. Com
efeito, decorre daquela aceção que a civitas (polis) é antes de mais um “coletivo de
cidadãos” a que Aristóteles chama “Synoikismus”, que é o “ viver em conjunto”, o que faz
65
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
1 - Um meio geográfico e social caracterizado por uma forte concentração populacional que cria
uma rede orgânica de troca de serviços (administrativos, comerciais, profissionais, educacionais e
culturais); 2 - tipo de vida e de hábitos socioculturais do meio urbano, por oposição ao campo; 3 -
Zona onde se concentram as mais importantes atividades administrativas, comerciais, e financeiras
de um aglomerado urbano.
Por sua vez, Simmel define a cidade pela negativa, considera-a como não sendo “uma
entidade espacial com consequências sociais, mas uma entidade sociológica formada
espacialmente (apud GIDDENS, 2013, 228).
Por sua vez Jary e Jary definem a cidade como “Um local central habitado, diferente da
vila ou aldeia pela sua maior dimensão e pelo número de atividades praticadas dentro das
23
A expressão “o homem é um ser vivo político” traduz o facto de todo o ser humano se inserir de modo
natural e radical na polis, a mais abrangente e superior forma de vida comunitária. Na ordem cronológica da
evolução das sociedades humanas, a experiência humana gregária começa por ser familiar (oikonomike) e
étnica (ethnike); mas estas formas de vida só atingem o seu fim natural e supremo na experiência em polis. O
termo político (politikon) dever ser tomado na estrita aceção de “cívico”, isto é “participante na vida da
cidade”, e não no sentido demasiado lato e fluído de “social” (Aristóteles, 1988, nota nº 10, op. cit.)
24
Jordi Borja, no seu livro La ciudad conquistada questiona-se se a cidade morreu ou não. Por um lado, diz
que “sim” e aponta como causa da morte a globalização. Mas antes já fora morta pela metropolização
(revolução industrial) e antes disso foi morta pela cidade barroca, que rompeu as cercas da cidade medieval.
Sempre que surgem mudanças históricas e se aceleram os processos expansivos do desenvolvimento
urbanístico é decretada a morte da cidade. Porém, ela reergue-se em cada dia, e tal como a vida humana
reclama pela criatividade para se adaptar às novas realidades ou constrói lugares ou ainda recupera os lugares
existentes (BORJA, 2003, 24).
66
Políticas públicas de urbanismo em Angola
A partir da definição de Jary e Jary, Giddens constrói a sua definição de cidade como
sendo a forma de povoamento relativamente grande onde se desenrolam várias atividades,
o que lhe permite tornar-se centro de poder em relação às áreas circundantes e a povoados
mais pequenos. E dá como exemplos as cidades de Londres, Nova Iorque e Tókio,
consideradas, por ele, como cidades globais na medida em que albergam as sedes das
grandes empresas transnacionais, bem como um grande número de serviços financeiros,
tecnológicos e de consultoria, que por essa razão estendem a sua influência para além das
suas fronteiras (GIDDENS, 2013, 223).
Por sua vez, Wirth, coloca a tónica da cidade a partir da sua influência. Neste sentido
sublinha que a cidade é não só cada vez mais o local de residência e de trabalho do homem
moderno, mas também o centro gerador e controlador da vida económica, política e
cultural que tem atraído as comunidades mais remotas do mundo para a sua órbita e
entretecido diversas áreas, pessoas e atividades num cosmos (1938, 342 apud GIDDENS,
2013, 233).
Já Lewis Mumford carateriza a cidade como sendo teatro na medida em que ela promove a
arte e é arte; cria o teatro e com ele teatraliza-se e torna-se performativa. Isto é, a cidade
passa a ser um teatro da ação social. Isto significa dizer que a cidade assume vários papéis
tal como sucede no teatro tout court, ela é um palco, o qual multiplica e diferencia espaços,
tornando-o drama mais intenso, em suma a cidade é persona (Mumford, 1937 apud
PEIXOTO, 2013)
As duas disposições tomam como relevo para a cidade o elemento legal; isto é, é a lei que
classifica um determinado aglomerado urbano como cidade e define a sua configuração e
organização, assim como o seu funcionamento. Também o elemento material, que se
67
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Como realidade sociológica e histórica, como atestam vários autores (cfr. J. VIET, 1960;
R. Gutman, 1963 apud CHOAY, 2007, 2), é com a sociedade industrial, resultante da
Revolução Industrial (Séc. XIX), que se dá a génese da cidade informal.
Trata-se de um paradoxo e de uma aporia, já que, afinal, a sociedade industrial é mãe não
só da ordem urbanística como também do caos urbanístico. Neste sentido, se, por um lado,
a sociedade industrial promove e fomenta a cidade formal, na medida em que coloca a
cidade como seu horizonte, estando na origem da produção de metrópoles 26 , de
25
Estabelecimentos comerciais pertencentes a cidadãos estrangeiros, maioritariamente senegalenses, e
eritreus, residentes em Angola.
26
Note-se que para Choay (2007, 1, 2), a metrópole existe desde a antiguidade; se não Nínive e Babilónia,
pelo menos Roma e Alexandria já colocavam para os seus habitantes certos problemas que vivemos hoje (cf.
J. CARCOPINO, La vie quotidienne à Rome, Hachette, Paris, 1939). Mas a metrópole na época era uma
exceção, um caso extraordinário. Poderíamos, pelo contrário, designar o século XX como a era das
metrópoles. Estas atingem números de população diante dos quais recuou a imaginação dos espíritos mais
audaciosos. David Hume não foi mais um dos ousados ao estimar, num ensaio, On the populousness of
Ancient Nations, que “pela experiência dos tempos passados e presentes, há uma espécie de impossibilidade
de que alguma cidade possa ultrapassar os 700 000 habitantes”. Em sua época, só William Petty se
aproximava da realidade, quando, em 1686, fixava em cinco milhões o número limite da população futura de
Londres. Em 1889, Júlio Verne previa cidades com dez milhões de habitantes, mas só para 2889.
68
Políticas públicas de urbanismo em Angola
conurbações (Patrick Geddes, 1915, apud CHOAY, 2007, 2), de grandes conjuntos
habitacionais (CHOAY, 2007, 1), por outro lado provoca o surgimento da cidade informal,
conectada à cidade formal.
Como explicar este paradoxo que provoca a cidade informal? Desde logo, urge notar que
do ponto de vista quantitativo, a revolução industrial é quase imediatamente seguida por
um impressionante crescimento demográfico das cidades, por uma drenagem dos campos
em benefício de um desenvolvimento urbano sem precedentes. O aparecimento e a
importância desse fenómeno seguem a ordem e o nível de industrialização dos países. A
Grã-Bretanha é o primeiro teatro desse movimento, sensível desde os recenseamentos de
1801. Na Europa, a França e a Alemanha seguem-se-lhe a partir dos anos 1830 (CHOAY,
2007, 3).
Podemos afirmar que estes assentamentos podem constituir-se como uma primeira
explicação para o surgimento das cidades informais. Independentemente do contexto,
mesmo onde a Revolução Industrial foi pouco mais que uma miragem, deslocações
maciças da população e um crescimento muito rápido da malha urbana são fenómenos
propulsores da cidade informal. Por isso, como segunda explicação, há que destacar o
aumento ou crescimento demográfico concentrado num mesmo espaço. Este fenómeno
revela o fracasso do paradigma da cidade formal relativamente à sua ambição de ordenação
dos aglomerados urbanos e as limitações relativas à intencionalidade dos poderes públicos,
como sucedeu em Angola, quando certos círculos oficiais coloniais defenderam a lógica da
separação urbana, como é o caso o então diretor do Gabinete de Urbanização do Ultramar,
João Aguiar (1947/48), o qual dizia que “a população negra serve a população branca logo,
deve estar perto mas nunca no mesmo espaço urbano”, o que terá obviamente contribuído
para o aumento dos bairros indígenas nos arredores das cidades (apud FONTE, 2012, 176).
69
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Finalmente, diga-se que a revolução industrial não é tudo para explicar a excessiva
concentração das pessoas nas cidades. Le Corbusier ressalta que a causa desta explosão e
da mudança abrupta da vida até então ritmada pelo passo do cavalo deve-se
fundamentalmente à intervenção súbita da velocidade na produção e no transporte das
pessoas e das coisas. Segundo o autor citado
Embora cada país seja um caso, a verdade é que existem casos que são comuns e outros
que são específicos de cada país; mas todos eles concorrem para o fenómeno da
concentração e do crescimento urbanos.
70
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Comparando a realidade europeia com a africana, por exemplo, podemos verificar que a
revolução industrial serve para explicar o fenómeno do crescimento urbano na Europa e na
América do Norte enquanto que em África nota-se que não há uma direta correlação entre
o desenvolvimento industrial e o crescimento urbano, tendo havido seguramente outros
fatores, como sejam o caso das guerras, da crise ambiental (o fenómeno da desertificação e
das secas cíclicas), das políticas coloniais relativas à mão de obra, a diminuição da taxa de
mortalidade, da permanência de altas taxas de fecundidade e natalidade típica de países em
desenvolvimento, as motivações económicas, socioculturais, as oportunidades que a cidade
oferece. Ainda assim, em alguns países africanos, destacando-se neles Luanda e Lagos, a
indústria do petróleo é propulsora de uma nova economia urbana que acaba por ter
traduções muito visíveis no urbanismo e na arquitetura das duas capitais, sendo na
atualidade realidades imbricadas com a economia simbólica do petróleo.
Neste sentido, podemos afirmar que embora, nos anos 1965 a 1980, o emprego industrial
possa ter sido atrativo e servido de pretexto para a migração em direção às cidades, a
verdade é que “a população urbana africana começa a aumentar regularmente antes mesmo
que o continente se engaje vivamente na economia industrial” (Kipré, 2010, 459).
Por outro lado, o crescimento urbano em África é mais acelerado do que o vivido nos
países ocidentais nas primeiras décadas da Revolução Industrial, conforme já vimos acima.
Este crescimento também não se traduz na melhoria de vida dos seus habitantes, ou seja,
trata-se de um crescimento urbano com um baixo índice de desenvolvimento humano,
como se pode constatar no caso de Lagos (Nigéria), que embora pertença ao grupo das 25
maiores cidades, contando mais de 11 milhões de habitantes, ocupando o 24º lugar,
enfrenta um índice baixo de desenvolvimento humano, contrastando com o crescimento
económico e urbano que a Nigéria representa, sendo “somente” o maior produtor de
petróleo em África e Lagos a sua capital económica.
27
Quanto aos problemas do desenvolvimento em África de modo especial, na esteira de Salvador Namburete,
Lopes Porto e de Luís Pedro Cunha, podemos notar os seguintes: a) o contínuo declínio dos preços dos
produtos de exportação e sua volatilidade, face ao qual a Conferência das Nações Unidas sobre o comércio e
desenvolvimento (NUCED) promoveu entre a década 60-80 programas de estabilização dos preços dos
produtos de base, celebrando acordos entre produtores e consumidores, os chamados «Acordos de Produtos
de Base» (Commodity Agreements), e a criação do Fundo Comum para produtos de base, com sede em
Amesterdão. Apesar destes esforços, no sentido de estabilização de produtos de base, a verdade é que muitos
destes programas acabaram por não produzir os efeitos desejados, desde logo por falta de interesse dos países
consumidores; b) Prevalece ainda a dificuldade de processamento dos seus produtos de base como forma de
acrescentar o valor e reduzir a dependência dos produtos primários na obtenção das suas receitas de
exportação; c) Verifica-se uma deslocação, por parte dos principais países industrializados, da exportação de
produtos de base tradicionais para os não tradicionais, tais como frutas, hortícolas, peixe e produtos do mar,
71
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Japão, na China e nos Emiratos Árabes, apesar de alguns avanços económicos registados
em Angola 28 , Nigéria, e África do Sul, mais por causa da contingente exploração do
petróleo e de outros recursos naturais).
os quais têm uma elasticidade de rendimento alta e estão sujeitos a baixas taxas de proteção nestes países.
Enquanto o comércio do café, cacau, chá, açúcar e derivados de fibras têxteis reduziu de 18% para 11% entre
1980/81 e 2000/2001, o comércio internacional de frutas e hortícolas aumentou em 15%, o de peixe e
produtos do mar em 12% e o das bebidas alcoólicas e não alcoólicas em 10%; d) há uma baixa produtividade
do trabalho. Esta tem um impacto grande na exportação e a mesma deve-se aos vários fatores, entre os mais
importantes destacam-se as condições salariais; tecnológicas; qualificação dos recursos humanos; valorização
dos produtos nos mercados internacionais; e a existência de um clima de insegurança que garanta celeridade
das comunicações e os processos de resposta em tempo útil das demandas dos países interessados; e) Os
países africanos dependem fortemente de um número limitado de produtos de base, como café, cacau, chá, o
petróleo que são facilmente afetados pelos choques da oferta e das condições climatéricas que têm estado
sujeitos tanto à volatilidade dos preços como ao seu declínio real desde a década 60; f) A margem de
competitividade proporcionada a muitos países africanos no âmbito do Acordo de Cotonou e outros similares
está a sofrer uma erosão acelerada devido à redução crescente das tarifas e de outros mecanismos de proteção
como o Acordo Multifibras (AMF) nos têxteis e confeções, cuja eliminação total teve lugar no dia 01/01/05
e, em contrapartida, os governos africanos enfrentam obrigações multilaterais cada vez mais pesadas; g) a
tendência geral de concentração das explorações agrícolas, pois, a maior parte dos países industrializados ao
adotarem estratégias de juntar tecnologia (que é sua) com aquisição de imensos territórios para agricultura
(em África ou na América Latina), colocam os pequenos produtores na marginalização e desta forma
aumentam a pobreza fomentando o êxodo rural e o crescimento urbano informal; daí que seria defensável
uma clara separação entre os detentores da tecnologia propriedade intelectual com os utilizadores finais desta
tecnologia; h) Quanto ao acesso aos serviços, o “Acordo sobre o comércio de serviços (GATS)” também
demonstra a supremacia das empresas de prestação de serviço dos países desenvolvidos, que desta forma não
só podem exportar como investir no estrangeiro, o que não acontece com as empresas africanas, fenómeno
este que é particularmente visível no desenvolvimento das políticas públicas de urbanismo em Angola; i) No
domínio do investimento, os países desenvolvidos (multinacionais) pretendem aumentar seus direitos no que
diz respeito ao acesso mais amplo aos mercados dos países em desenvolvimento. Neste sentido, os acordos
sobre investimento permitiriam às empresas estrangeiras entrar, investir, e operar no mercado dos países em
desenvolvimento com o mínimo de regulação possível, reclamando um tratamento especial, tal como são
tratadas as empresas nacionais; j) No domínio da concorrência, os países desenvolvidos querem que sejam
aprovadas leis, políticas competitivas que permitam um tratamento igual entre empresas estrangeiras e locais
emergentes; k) No domínio da transparência, os países desenvolvidos pretendem que haja transparência nos
concursos públicos (compras públicas) que permitiria assim a que empresas estrangeiras e nacionais
estivessem em mesmas condições de participação em concursos de fornecimento ao Estado (NAMBURETE,
2005; PORTO, 2009; CUNHA, 2008 e 2010).
28
Angola, durante 5 anos consecutivos beneficiou de um crescimento económico de 7% ao ano, mas ainda
assim tal crescimento económico não tem sido suficiente para melhorar significativamente o índice de
desenvolvimento humano.
29
Dados correspondentes ao censo populacional (o último até aqui) de 1970.
72
Políticas públicas de urbanismo em Angola
populações viram Luanda como destino e refúgio e de igual modo como terra para realizar
os sonhos de prosperidade, de elevação social e de proteção social. Com o advento da paz
(1992) a Capital conheceu também um aumento significativo da população, uma vez que
preenchia no imaginário a função de “cidade refúgio”.
Em que consistia esse tumor? Surgiram duas correntes para responder à pergunta.
Designadamente os que perfilhavam o sentimento humanitário, com o enfoque na higiene,
sendo, por isso, denominados higienistas; e a corrente dos polemistas, constituída por
pensadores e políticos.
É sob a influência deles que, nesse país, serão nomeadas as célebres Comissões Reais de
pesquisa sobre a higiene, cujos trabalhos, publicados sob forma de Relatórios ao
Parlamento, forneceram uma soma insubstituível de informações sobre as grandes cidades
dessa época e contribuíram para a criação da legislação inglesa do trabalho e da habitação
(CHOAY 2007, 5).
Por sua vez o grupo dos polemistas, constituído por pensadores políticos, entre eles Engels,
considerado como um dos fundadores da sociologia urbana (Choay, 2007, 5), procede a
uma análise minuciosa das condições em que vivem os trabalhadores. Engels, na sua obra
A situação da classe trabalhadora na Inglaterra 30 , adota assim uma metodologia de
abordagem que combina não só as próprias pesquisas, feitas por ele ao longo de meses a
fio nos Slums de Londres, Edimburgo, Glasgow, Manchester, mas também o recurso
sistemático e científico a todos os testemunhos disponíveis: relatórios de polícia, artigos de
30
[Primeira edição alemã, Leipzig, 1845.] Nessa obra, a condição do proletariado inglês é tomada como “tipo
ideal”, pelo fato de a Grã-Bretanha ter sido o primeiro palco da Revolução Industrial, ao mesmo tempo que o
lugar do nascimento do proletariado urbano. Entre as fontes de Engels, citamos particularmente o jornal of
Statistical Society of London e o Report to the Home Secretary from the Poor Law Commissioners on an
Enquiry into the Sanitary Conditions of the Labouring Classes of Great Britain, apresentado ao Parlamento
em 1842 (apud Choay, 2007, 6).
73
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
jornais, grandes obras, como também os relatórios das Comissões Reais, que Marx
utilizará vinte anos depois em O Capital (CHOAY, 2007, 5 ss).
Nesse grupo de pensadores políticos, os espíritos mais diversos, ou até opostos, Matthew
Arnold e Fourier, Proudhon e Carlyle, Engels e Ruskin, reúnem-se para denunciar a
higiene física deplorável das grandes cidades industriais: o habitat insalubre do
trabalhador, frequentemente comparado com covis; as grandes distâncias que separam o
local de trabalho do de habitação (“a metade dos operários do Strand já estão sendo
obrigados a caminhar duas milhas para chegar ao trabalho”, constata Marx), os lixões
fétidos amontoados e a ausência de jardins públicos nos bairros populares. A higiene moral
também é considerada: há contraste entre os bairros habitados pelas diferentes classes
sociais, chegando à segregação, fealdade e monotonia das construções “para o maior
número” (CHOAY, 2007, 6).
Do exposto podemos concluir que, embora não se aluda aqui diretamente ao termo “cidade
informal”, a verdade é que a expressão “nos Slums de Londres, Edimburgo, Glasgow,
Manchester”, “aglomerado informe”, “caos arquitectural”, “planless chaos”, “chaotic
disorganization of our towns”, “non-plan of the non-city” nos sugerem tratar-se daquilo
que denominamos de cidades informais. O que significa que, sobretudo desde a Revolução
Industrial, a cidade formal foi obrigada a conviver com a cidade informal e que, à época, a
31
Por essa razão Le Corbusier não vai hesitar em considerar estes autores de grandes urbanistas, embora não
usassem o lápis mas apenas o pensamento. Para além de Fourier e Considérant cita também Balzac e
Proudhon (Le Corbusier, 2008,12). Note-se que para Le Corbusier enquanto que o urbanista organiza espaços
arquitetónicos, fixa o lugar e o destino dos volumes de construção, liga todas as coisas no tempo e no espaço
por uma rede de circulação, o arquiteto ocupa-se de uma simples habitação e nesta, por exemplo, de uma
simples cozinha, também projeta volumes construtivos, cria espaços, decide a respeito de circulações. Mas na
fase do ato criador, o arquiteto e o urbanista são um só (Le Corbusier, 2008, 12).
74
Políticas públicas de urbanismo em Angola
dimensão do caos de cidades como Londres e Paris, nos devidos contextos, não se afasta
do caos atual de Luanda ou Lagos. Subsiste, por isso, a esperança do urbanista que acredita
que o caos pode ser ordenado, mesmo em contextos de difícil solução.
Olhando para outros contextos socioculturais, podemos dizer que as cidades informais
assumem fundamentalmente as seguintes designações: Bidonvilles (Paris, Nairobi)
Musseques ou muceques (Angola), Soweto (África do Sul), Bairros de lata (Portugal,
Angola) e Favelas (Brasil) Ghettos (EUA). Na língua portuguesa, é usada, por vezes, o
vocábulo “caniço” e na língua inglesa a designação “slum”.
Qual é a realidade nessas cidades informais? Para além dos trabalhos já referidos, Wa -
Githumo (1983), tendo como base o bairro de Mathare Valley, descreve de forma
expressiva a cidade informal (Bidonvilles) nestes termos:
Mathare Valley é o maior de todos os bidonvilles de Nairobi, representando à excelência o que são
estas citadelas da pobreza, do subdesenvolvimento e de todo o cortejo de sofrimentos humanos.
Barracas infestadas de ratos, cabanas, abrigos de fortuna de toda a sorte lá estão locadas ou ocupadas
pelos seus proprietários, nem sempre legais. Centenas de milhares de famílias lá habitam em
condições de superpopulação e insalubridade a desafiarem todas as normas (Wa-Githumo, 1983
apud KIPRÉ, 2010, 462).
Macharia (1997) identifica os traços principais das cidades informais do terceiro mundo da
seguinte forma: elevadas taxas de crescimento populacional, informalização,
sobreurbanização, estagnação económica, níveis elevados de desemprego e subemprego,
proliferação dos assentamentos informais não planeados, ausência e deficiência de
infraestruturas e equipamentos sociais, sistemas de transportes e comunicações
insuficientes, congestionamento do tráfego, níveis acentuados de poluição, ruralização dos
modos de vida suburbanos, etc.
O mesmo documento refere que perante a “ausência da mão do Estado” e o “cerco das
necessidades”, as populações criaram alternativas de sobrevivência, autoconstruindo
habitações e gerando novos bairros-musseques que cresceram ignorando os aspetos
75
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
São estas as características principais das cidades informais, as quais variam de intensidade
em cada cidade ou país, e em função da estruturação dos sistemas de gestão pública,
cultural e socioeconómica. Sociologicamente, para além de outras dimensões ligadas à
garantia das necessidades de sobrevivência, a informalidade mantém, frequentemente, uma
estreita relação com a centralidade e a mobilidade, enquanto dispositivos fundamentais do
acesso a atividades geradoras de recursos.
Com efeito, na Europa, a partir da Segunda Grande Guerra até aos anos sessenta e setenta,
verificou-se uma intensa atividade de construção e reconstrução das cidades destruídas
que, aliadas a novas ideias técnico-políticas, vieram a culminar com a destituição do
urbanismo formal (LAMAS, 2000, 297).
Esta passagem do urbanismo formal para a cidade moderna opera-se essencialmente pela
transformação da cidade moderna como modelo alternativo à cidade tradicional, quer ao
nível das escalas do edificado, das tipologias, quer da estrutura (e morfologia) da própria
cidade (Fonte, 2012, 48, ss.). Esta mudança torna-se evidente quando ao invés da cidade se
resguardar (se limitar) ao domínio privado e individual 33 , como sucedia com a cidade
formal, ela é vista agora como sendo um todo, que harmoniza as funções “habitar,
32
Trata-se de resultados de debates em Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM),
intensamente politizados com uma natural adesão às ideologias sociais hegemónicas da sociedade e da
cidade, cujas recomendações e conclusões culminaram com a adoção da Carta de Atenas em 1933. Os
trabalhos dos CIAM dividem-se em três fases e com componentes teóricas distintas: a primeira, entre 1928 e
1933, cujo enfoque são os problemas de habitação; a segunda opera-se entre 1933 a 1947, que assenta sobre a
problemática do planeamento urbano, e a última ocorre entre 1947 e 1959, tendo ultrapassado questões de
natureza física da cidade, em abstrato, virando-se para questões que se relacionam com os aspetos
emocionais e da perceção (Cfr. As funções vitais das chaves do Urbanismo - Carta de Atenas, 1933 in Le
Corbusier, 1977, 3ª ed., p.11).
33
Típico da Cidade-Jardim cujos responsáveis defendem que “cada um deve ter o seu pequeno jardim, a sua
casinha, a sua liberdade assegurada”. Mas acontece que, segundo Le Corbusier, esta perspetiva está errada
porque o círculo solar tem apenas 24 horas, o que é insuficiente para os “homens se realizarem e se
entreajudarem, se defenderem e economizarem os seus esforços. Se se dispersam, como é hoje o caso dos
loteamentos, é porque a cidade adoeceu, se tornou hostil, deixando de cumprir os seus deveres.” (Le
CORBUSIER, 2008, 10).
76
Políticas públicas de urbanismo em Angola
trabalhar, cultivar o corpo e o espírito e circular (Le CORBUSIER, 1977, 11). Ou seja,
relacionar a habitação com as demais atividades. Neste sentido, o urbanismo moderno, ao
romper com o quarteirão, provoca uma nova consciência sobre o modo de encarar a cidade,
pois agora a preocupação com a cidade não é somente devido aos problemas de foro
privado mas também de cariz social, a qual acentua a equidade entre habitação e as
atividades produtivas (FONTE, 2012, 50); bem como concilia os três materiais que são: o
ar puro, o sol e a verdura (Le CORBUSIER, 2008, 10; FONTE, 2012, 50).
É nesta nova visão que surge a Carta de Atenas (1933) cujo objeto de reflexão será o
planeamento urbano e a sua relação com os quatro grandes temas: trabalho, lazer,
circulação e habitação (Le CORBUSIER, 2008; FONTE, 2012, 51). Estas funções vitais
do “habitar a cidade” estruturam também elas, atualmente, as políticas públicas de
urbanismo em Angola.
77
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
34
Segundo Ilídio do Amaral, a Independência do Brasil (1822) e a abolição do tráfico negreiro (ordenada em
1836, todavia continuada até mais tarde), causaram um rude golpe na economia da colónia e na vida da
cidade, referida por muitos como a“ cidade mais pobre do mundo” pelos aspetos de abandono e ruína que
imperavam por toda a parte. Entretanto, tais acontecimentos explicam também a melhoria política de
ocupação e colonização do território, na fixação dos moradores em Luanda, no descobrimento de atividades
urbanas do comércio, do artesanato e dos serviços (Ilídio do AMARAL, 1983, 295, ss). Por sua vez Manuel
da Costa Lobo sustenta que, com o fim do tráfico de escravos ou tráfico negreiro, a cidade ficou em ruína,
abandonada de tal modo que o Governador-Geral, Caetano Alexandre de Almeida e Albuquerque, no
discurso que proferiu aos 30 de dezembro de 1876 dizia que na cidade de Luanda “os templos ou jazem
derrubados, ou impelem a uma próxima ruína. As fortalezas desmanteladas. Os edifícios do Estado onde
funcionam as repartições públicas, acanhadas, velhos, e pedindo área e renovação; os quartéis são infetos, as
prisões antros. Os tribunais quase que convidam a justiça a fugir deles. A iluminação pública ainda se
descansa na lua, que pelos serviços aceites pode bem nesta vasta capital considerar-se como uma entidade
municipal. Caminhos, só os que o pé do homem imprime no chão que é forçado a pisar. Salubrização e
higiene são epígrafes que não passam das primeiras linhas. A água potável é sonho e o desejo nunca
realizado de uma terra ardente e uma população sequiosa. Luanda era reputada como uma das mais
insalubres cidades da lendária Costa de África” (Manuel COSTA LOBO).
35
Após a 2º Guerra mundial, o café, produzido em Angola por grandes fazendas, torna-se o maior produto
angolano no mercado internacional, o que trouxe a Angola um conjunto de investimentos que permitiram um
desenvolvimento industrial, o crescimento da economia e a modernização de algumas cidades, como é o caso
de Luanda e de Carmona (atual província do Uíge), bem como a construção de portos em cidades costeiras
nomeadamente o de Luanda (entre 1942-1945) e o surgimento de uma rede de estradas e o aparecimento da
aviação comercial, com três linhas que asseguravam as ligações dentro da província de Angola: a do Norte,
entre Luanda, Cabinda e Ponta Negra; a do leste entre Lobito e Nova Lisboa; a do sul entre Luanda, Lobito e
Moçamedes, tendo aumentado gradualmente através de inúmeros aeródromos. Perante este quadro não tardou
o afluxo de gente para Angola e especialmente Luanda, vindos do exterior do país e do seu interior. Este
surto de desenvolvimento surge também como consequência, não somente de investimento de capitais
privados, como de medidas de fomento protagonizados pelas autoridades da metrópole, designadamente o
Primeiro Plano de Fomento, entre 1953 e 1958, o qual lançava as linhas de crédito para a criação de infra-
estruturas, portos, estradas, vias-férreas, construção; o Plano de Fomento de 1959 a 1964, que consagrava
3,5% do orçamento para investimentos sociais, fundamentalmente para o apoio aos colonos que integravam a
corrida do café; e o terceiro Plano de Fomento, de 1968 a 1973, o qual incide sobre as indústrias extrativas
transformadoras: têxteis, químicos, papel e borracha, e consequentemente a intensificação da colonização,
tanto por iniciativa individual, como institucional, como ainda através da criação de colonatos, especialmente
os da Cela (Kwanza Sul), Huila e Cunene. Para além do café, também estava valorizado, nessa altura, o sisal
(Lobito e Benguela), bem como a indústria pesqueira, principalmente em Moçâmedes - Atual Namibe - (Cfr.
FONTE, 2012, 30-35).
78
Políticas públicas de urbanismo em Angola
económicas; e mais recentemente pela entrada regular de contingentes militares, que, com
as suas famílias, aumentam a animação da cidade (Ilídio do AMARAL, 1968, 24).
Neste sentido não era de estranhar que a mesma viesse a ser considerada “… - muito
justamente - a maior de toda a Costa Ocidental de África (…). O que lhe trará, porém, o
mais franco e rápido desenvolvimento será, sem dúvida - disso estamos certos -, a
exploração dos ricos jazigos de petróleo descobertos em Benfica, Quiçama e nos subúrbios
da cidade. Eles levarão à fixação de milhares de empregados para os serviços de
exploração, refinação e distribuição. Luanda continuará pois, no seu desenvolvimento
crescente e terá um papel cada vez mais importante na economia de Angola” (AAVV,
Luanda Capital de Angola Província Portuguesa em África, 1959, 15).
Como já tivemos a oportunidade de dizer, uma das características das cidades, nos países
em via de desenvolvimento, mormente em África, e particularmente em Angola, é que a
larga maioria de habitações foi erguida sem obedecer a padrões urbanísticos; quer porque
os seus habitantes eram miseráveis, quer porque os órgãos administrativos não quiseram
ordenar, porque assim lhes convinha, ou ainda por razões de ordem financeira geral.
Esta situação agravou-se com o surgimento das guerras e secas que obrigaram as
populações a procurar a cidade para maior segurança e por outro para se dedicarem a
outras atividades. É deste modo que surgiram os bairros que em Luanda foram
denominados de muceques ou musseques, tendo começado com casas de palhas, depois de
pau-a-pique, a seguir de madeira, e evoluíram para casas de blocos de barro, depois para
blocos de cimento e de tijolo (MONTEIRO, 1973).
No que diz respeito a cidade de Luanda, importa referir que ela já não é apenas uma
cidade, é também uma das 18 Províncias36 de Angola (ex-colónia Portuguesa), com uma
área de 2257 km2, que representa 0,19% da superfície do território nacional, de clima
tropical semiárido e árido no litoral, e é a Capital da República de Angola. É também a
cidade mais antiga, de fundação europeia, no Ocidente da África, a Sul do Equador (Ilídio
do AMARAL, 1968, 24).
36
Angola é um país da costa ocidental de África, cujas fronteiras foram definidas no fim do século XIX
(1884 - Conferência de Berlim). Tem uma superfície de 1 246 700 km2, incluindo o enclave costeiro de
Cabinda (7270 km2), que se encontra separado do resto do país, por uma faixa de território de cerca de
cinquenta quilómetros. Tem 18 províncias, sendo elas: Bengo, Benguela, Bié, Cabinda, Cuando-Cubango,
Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Huila, Luanda, Lunda-Norte, Lunda-Sul, Malanje, Moxico, Namibe, Uíge e
Zaire. Desde 1961 até 1975 viveu uma guerra colonial, protagonizada entre o Governo Português contra os
três movimentos nacionais - MPLA, UNITA e FNLA).
79
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Manuel Costa Lobo, apresenta dois significados da expressão Loanda. Segundo o autor, o
1º Burgo de Paulo Dias de Novais, a qual Novais denominou S. Paulo de Loanda (Luanda
atualmente) é de origem Kimbundu37 e significa: 1- “Tributo”, alusão à condição de os
aborígenes prestarem ao rei do Congo vassalagem mediante o pagamento de imposto por
meio de Zimbo38, que era uma espécie de concha usada como moeda de troca (colhido na
37
Língua Bantu falada nos reinos de Ndongo, Ngola, Matamba e Cassanje, que corresponde às atuais
províncias de Luanda, Kwanza Norte, Malanje (Norte de Angola).
38
Os dados históricos demonstram que antes da chegada de Paulo Dias de Novais, os habitantes de reino de
Ngola (subreino do Reino do Congo) usavam como moeda os colares formados por rodelas de conchas de
caracóis e outras conchas, furadas no centro e enfiadas em fios de fibras têxteis, como instrumento de troca.
De entre estas conchas, uma se destacava, era o Zimbo, que passou a ser um instrumento importantíssimo nas
transações comerciais. Do ponto de vista etimológico a palavra Zimbo vem do Kimbundu– njimbu ou
lumache -, que é um búzio do tamanho de um bago de café, que se tornou uma moeda com um curso que se
estendia à costa ocidental africana. Tais búzios, apareciam em toda a costa de Angola, e os mais belos eram
os da ilha de Luanda. Para além do Zimbo, que depois veio a desvalorizar-se, surgiram outras moedas de
troca como “panos” (na aceção da época, a expressão pano significava pequenos pedaços de tecido, feitos à
base das fibras da palmeira-bordão, e tinham geralmente a dimensão de uma mabela. Esses panos tinham
duas proveniências: o Congo e o Luango, onde eram adquiridos pelos contratadores que os traziam para
Luanda, onde circulavam como mercadoria moeda. Os panos do Luango denominavam-se “libongos” e
dividiam-se em “bongos”, “sangos” e “infulas”, enquanto os do Congo, denominados “panos limpos”, se
repartiam, consoante o tamanho, em “cundis” e “meios cundis”. Ambos faziam curso em Luanda. Entretanto
diga-se que quer os panos do Congo (panos limpos) quer os Luango (libongos) só se tornavam moeda
enquanto tivessem sido timbrados pelo Senado da Câmara com a marca real “R”), o sal (vindo das minas de
Ndemba, na região de Quiçama e das salinas de Benguela) o cobre (de origem Lunda-Luchazes, servia para o
fabrico de manilhas, colares, ornatos, peças para a caça, e a cruzeta-forma de cruz), os escravos (comprados
também com os panos e vendidos para o exterior e por isso também tinham o valor de moeda e marfim
(tornou-se também como um meio de pagamento, incluindo para o pagamento de imposto à Fazenda Real, e
era também utilizado em transações como se se tratasse de dinheiro corrente. Este marfim provinha do
interior, principalmente nos sertões de Benguela, o marfim ocupou, durante largos anos, lugar de relevo no
quadro das exportações, chegando a constituir, juntamente com os escravos, a principal fonte de receita do
comércio com o exterior. Existiam antes dessas épocas outras moedas de proveniência exterior,
designadamente o “Cauris”, concha branca de rara beleza, cuja designação tem sido aplicada com frequência
por vários autores a outras conchas (nomeadamente ao Zimbo) e tornou-se moeda corrente em vários
continentes. Pescava-se em Zinzibar e Moçambique, na Ásia, na América e na Oceânia. A sua generalização
em Angola e no Congo teve lugar a partir do século XVI e foi consequência das relações comerciais dos
mercadores portugueses, que, por via marítima, o importavam do Oriente; as Contas e Missangas (cujas mais
divulgadas foram a “missangas grossa”, a “miúda” – também chamada “olho de rola”-, a “Maria II” –
pequena conta, encarnada na face exterior e branca no interior, com cerca de três milímetros de diâmetro -, a
“ Cassungo” – conta de bordado -, a “ almandrilha” – apipada ou riscada, de forma alongada e um centímetro
de comprimento -, e outras de menor importância, como a “missanga leite” e a “missanga azul celeste”. Ao
contrario das “fazendas”, que eram aceites como moeda em toda a parte, as “missangas” exerciam essa
função com carácter mais regional.
No Bailundo, por exemplo, circulava a “missanga preta”, que, no entanto, já não tinha “curso legal” no
vizinho Bié. Na Lunda era muito apreciada a “missanga branca”, grande, o que não acontecia no Sul. Como
exceção a esta regra, apenas se aponta a “Maria II”, que circulava praticamente em toda a África Austral; as
Fazendas (mercadorias como a “garrafa”, o “pano”, o “cortador”, a “peça” e a “espingarda”; a Macuta
(moeda semelhante à de cobre. Entre 1910 e 1962 o Estado colonial português emite o “Vasco da Gama”, o
“escudo”, as cédulas do Banco Nacional Ultramarino, as “ritas” e os “chamiços”, os “angolares” e por
último, em 1953, o “escudo” como unidade monetária. Com a proclamação da independência de Angola
80
Políticas públicas de urbanismo em Angola
ilha do Cabo ou ilha de Luanda); 2 - “Rede”, alusão à rede de pesca que a sua primitiva
população de pescadores utilizava.
Para Ilídio do Amaral o nome Luanda, vem de Loanda, que tem a sua origem numa rede de
pesca, instrumento de trabalho nas regiões ribeirinhas e do litoral, utilizada pelos naturais
de Luanda, os Maxiluandas (AMARAL, 1968).
Por sua vez Sandro Bettencourt defende que o topónimo Luanda provém do étimo Lu-
ndandu, donde o prefixo “Lu” que se refere à zona litoral, neste caso restinga e “ndandu”
em relação “a exploração dos zimbos”, búzios que eram colhidos na ilha de Luanda e que
circulavam como moeda. Esta palavra passou depois para “Lu-andu”39 na língua ambundu
e finalmente, devido à influência portuguesa, passou a feminino, Luanda uma vez que se
referia a uma ilha: Luanda.
Quanto à data da descoberta desta terra por Paulo Dias de Novais, neto de Bartolomeu
Dias, que viajara depois de 4 meses até chegar à ilha das Cabras - Ilha de Luanda - onde já
encontrou 40 portugueses40 e outros que viviam no sertão, enquanto reinava o Soba Ngola
(LOBO, 1967, 119; BETTENCOURT, 2011,10), Manuel Costa Lobo considera que foi no
ano de 1576 que se fundou a cidade. Segundo o autor, Paulo Novais pelo facto de não
achar “o logar acomodado para a capital da conquista” preferiu transferir-se da ilha das
Cabras - Ilha de Loanda - (onde atracara desde o dia 11 de fevereiro de 1575) para o
continente fronteiro com “as equipagens das suas caravelas, os setecentos homens 41 de
guerra da sua tropa e com a clerezia que o acompanhava” e neste local funda a vila de S.
(1975) introduziu-se, como sinal de soberania, a moeda Kwanza - notas e moedas metálicas (pela Lei
n.º69/76), cuja fração se denominou LWEI (Banco Nacional de Angola apud
http://www.revistalusofonia.pt/geral/artigo: Do Zimbo ao Kwanza, aos 5 de Fevereiro de 2015, 21:20).
39
Luandu também significa esteira em quimbundu (ambundu).
40
Diz-se que antes de Paulo Dias de Novais atracar a Ilha das Cabras já lá existiam 40 portugueses: “tiveram
os portugueses a alegria de topar entre a chusma de negros que acudira, embasbacada, a admirar tão luzido
cortejo, 40 compatriotas nossos que à Ilha de Luanda tinham vindo procurar asilo, fugidos das bárbaras
invasões jagas do Congo. Todos esses 40 portugueses, na afirmação de Ralph Delgado, eram ‘muito ricos’ -
e, naturalmente, traficavam no ‘resgate de peças’, no marfim, na cera e nas manilhas de prata e de cobre.
Nesta altura, os Ilhéus, dependiam do rei do Congo e a ilha era a sua ‘casa forte’ por ser lá onde se
encontrava o Zimbo, um búzio que circulava como moeda por todos os vastos sertões interiores, e ela estava
habitada por três mil negros, miseráveis e gentios, que por ali vagueavam quase nús, ‘cobertos somente pela
cinta e dois palmos abaixo com a entrecasca de uma grande árvore’. Andavam armados de arco e flecha e
usavam o cabelo rapado, com excepção de um pequeno tufo a meio da cabeça” (José de Almeida SANTOS,
1963, 16).
41
Segundo Sandro Bettencourt, a comitiva de Paulo Dias de Novais incluía alfaiates, pedreiros, sapateiros,
caboqueiros, um barbeiro e até um físico, com a qual funda a Vila de São Paulo sobre o morro de São
Miguel, onde, em 1634, mandaria erguer a imponente fortaleza com o mesmo nome (BETTENCOURT,
2011, 10-11).
81
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Paulo, cuja concessão de foral 42 lhe foi feita em 1605 43 e ascendeu à categoria de
município aos 15 de novembro de 1834, ao abrigo da Carta Constitucional e como
qualquer outra cidade acompanhou sempre, com pequenas alterações, o modelo vigente na
metrópole (LOBO, 1967, 25-26 ), e que até 1621 dispunha apenas de 400 vizinhos. Este
burgo de S. Paulo assentava sobre o outeiro em que hoje está o museu das forças armadas
(outrora forte de S. Miguel depois Museu de Angola), sendo o primeiro edifício a Igreja
que se dedicou a S. Sebastião e somente nos alvores do século XVII a cidade começa a se
delinear (LOBO, 1967, 120).
Para José Almeida Santos (1970), a data da instituição do município de Luanda não é fácil
de ser determinada, uma vez que “a falta de documentação da época torna difícil o
problema de saber quando foi instituído o Município de Luanda, as circunstâncias em que
foi fundada e as prerrogativas especiais que lhe foram atribuídas aquando da sua fixação”.
O autor cita Cadornega, na sua História Geral das Guerras Angolanas, 1680, na qual
consta que aquando da retirada para Massangano, em virtude da invasão holandesa “o
cartório que havia em Loanda se perdeo todo na entrada dos Flamengos em estes reinos
onde não podia deixar de haver muitas antigualhas (…)”. E mais adiante nesta obra explica
o modo como se perdeu o referido cartório:
(…) também chegarão neste sitio três soldados escapados das lanchas que pelo rio acima vinhao, e
derao notícia em como o inimigo, com alguma da sua guerra preta, tinhao degolado os doentes que
nas lanchas vinhao, e roubado as cousas de mais valor, e havião botado ao rio os cartórios dos
Tabelioens da cidade e os livros, e mais papeis do Senado da Câmara (José de Almeida Santos, 1963,
109).
Para Costa Lobo, Luanda foi fundada em 1576 e ganha foros de cidade no primeiro
Governo de Manuel Cerveira Pereira. Ainda segundo o autor, somente em novembro de
1834, ao abrigo da Carta Constitucional, a Administração municipal passou do Senado da
Câmara para a primeira Câmara Municipal (apud José de Almeida SANTOS, 1963, 109).
Já Ilídio do Amaral considera que Luanda foi fundada nos primórdios de 1576 por Paulo
Dias de Novais, em obediência às diretrizes de um plano geral de ocupação e colonização
de «terras novas» (AMARAL,1968).
42
Segundo a Portaria nº 483, de 18 de setembro de 1856, do Governador Geral da Província de Angola e suas
Dependências, a Jurisdição da Câmara de Luanda estendia-se, para além do Concelho da Cidade
propriamente dito, à Barra do Dande; Barra do Bengo, Libongo, Calumbo, Muxima, Alto-Dande, Novo-
Redondo (SANTOS, 1970, 33 e 359-60), Redondo, Icollo, Bengo e Zenza do Golungo.
43
Sandro Bettencourt considera também ser esta a data em que a vila, precisamente no governo de Manuel
Cerveira Pereira, adquire foros de cidade, passando a chamar-se São Paulo de Luanda (BETTENCOURT,
2011, 11).
82
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Quanto ao nome, de S. Paulo de Luanda (que data desde 1605, no governo de Manuel
Cerveira Pereira) manteve-se até 15 de agosto de 1648, data em que Salvador Correia de
Sá e Benevides (Governador do Rio de Janeiro, com patente de capitão-general de Angola)
reconquista a cidade das mãos dos holandeses44, “graças à galhardia dos seus mil duzentos
homens que rasgaram a costa em 12 naus”, que em homenagem à virgem, e por ser aquele
o dia da sua Assunção, rebatizou a cidade, que passou a chamar-se de S. Paulo da
Assunção de Luanda (LOBO, 1967, 26; BETTENCOURT, 2011, 11-12; Ilídio do
AMARAL, 1984).
Quanto ao desenvolvimento da cidade, este desponta a partir de 1603 a 1606. Nesta altura
governava Manuel Cerveira Pereira, a quem pertenceu “o prazer de ver a cidade de S.
Paulo, assim já intitulada, pelo considerável aumento dos seus edifícios e habitantes,
coberta de casas e estendida desde o morro de S. Miguel até fronteiro do Hospital de
Luanda” (LOBO, 1967, 121).
Com o fim do tráfico para o Brasil “deixou-se de vir a Angola como quem ia a uma feira, e
passou a haver população fixa na cidade, o que contribuiu para o surgimento dos
problemas próprios de grandes aglomerados urbanos, nomeadamente o relacionado com a
denominação das ruas (LOBO, 1967, 129), o surgimento dos musseques (matéria a
desenvolver mais adiante); falta de iluminação45; falta de água devido à insuficiência de
infraestruturas46; escassez de ruas na cidade47; progresso lento da construção de habitação;
falta de transportes48; aumento de quitandeiras na rua49.
44
Segundo Sandro Bettencourt, foi no dia 24 de Agosto de 1641 que as águas calmas da cidade de Luanda
foram perturbadas pela armada do almirante holandês Pedro Houtbeen que ao atacar a cidade, o povo foge
para o interior e permanece durante 7 anos.
45
A iluminação da cidade começa a ser feita a partir do Governo do Vice- Almirante António Manuel de
Noronha, em Abril de 1839, quando a Câmara de Luanda iniciou a iluminação da cidade usando azeite de
ginguba. Entretanto essa energia tinha muitas limitações e por isso em 1874 surgiu a primeira proposta, de
uma firma de Lisboa Avelar & Miranda para o fornecimento de iluminação a gás, proposta que a Câmara não
pôde então considerar por insuficiências de recursos. Assim, dois anos depois (1876) iniciou a iluminação a
petróleo, que com exceção dos anos de 1897 e 1900 em que se adotou a iluminação a gás, se manteve até ao
dia 18 de abril de 1938, data da inauguração da luz elétrica na cidade de Luanda (LOBO, 1967, 108; Elsa
Cochat SEQUEIRA, 2002, 8-9).
46
O problema de abastecimento de água em Luanda há muito vem preocupando as autoridades
administrativas. A primeira tentativa de solucionar o problema data desde 1645, durante a ocupação
holandesa, embora sem sucesso (queriam trazer água do Rio Quanza por um canal até Luanda). Seguiram-se
83
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
outras, com o Governador Tristão da Cunha (1666, sob égide do engº Ângelo de Sárrea Prado; Governador
D. António Álvares da Cunha (1753). Em 1869 os habitantes de Luanda foram convidados a criar uma
companhia por ações que serviria para abastecer a cidade com água do Bengo, mas as quantias subscritas
(55.150 $000- in Boletim oficial nº 8 de 29.02, 1869) não foram suficientes, pelo que mesmo depois da
outorga da licença (1874) tal empresa ficou sem efeito. Surgiram outras propostas de empresas (1885-1886) e
incluindo do próprio Governo da Província (1877), da Câmara (1880), tendo mesmo sido solicitado
autorização ao Ministro do Ultramar para levantamento de empréstimos de 900 e 500 contos respetivamente
destinados às obras de canalização de água do rio Bengo para Luanda; mas sob diferentes pretextos, estes
pedidos não foram considerados. Perante estes insucessos, em fevereiro de 1886, o Ministro Pinheiro Chagas,
veio a afirmar que “… Luanda continua hoje a morrer à sede entre dois rios, cujas águas podiam há muito
correr a jorras nas ruas da capital da província…” (LOBO, 1967, 31). Assim, como há trezentos anos atrás, a
população abasteceu-se dos chamados “Poços da Maianga”, descobertos por Salvador Correia, situados no
local que corresponde às traseiras do Hospital Josina Machel, conjuntamente com a água trazida do Bengo
em pipas transportadas por barcos. Como se depreende do exposto, a angústia não podia ser menor sobretudo
quanto aumentava cada vez mais a população da cidade e não podia também faltar a especulação dos preços
deste líquido precioso (LOBO, 1967, 32, 125). Finalmente, em 1877, depois dos trabalhos executados em
conformidade com o projeto do Diretor das Obras Públicas de Angola, Major Arnaldo de Novais Rebelo,
foram entregues, por empreitada geral, à Compagnie Génerale des Conduites d´Eaux de Liége, tendo sido
dadas por concluídos três anos depois, em 2 de março de 1889, e nesta data abertas as dufas, por 10 horas,
pelo Governador-Geral, Conselheiro Guilherme Augusto de Brito Capelo, terminando assim o calvário de
falta de água que durara 313 anos, desde a fundação da cidade em 1576 (LOBO, 1967, 35; Elsa Cochat
SEQUEIRA, 2002, 5-6). Por ocasião desta data, Pedro Folque, Capitão de Engenheiros, no seu discurso,
proferido na inauguração das obras de abastecimento das águas de Luanda, dizia que “(…). E se o conforto e
o bom gosto, que não custam dinheiro, presidirem às novas construções; e a iniciativa pública, municipal e
particular tomarem vigoroso impulso; então senhores, Luanda não será tão somente o grande empório do
comércio ocidental africano: não será só uma cidade populosa, procurada por nacionais e estrangeiros para
centro de operações comerciais, e Deus sabe, como sede de quantas empresas exploradoras das riquezas
abandonadas ou ainda hoje ignoradas da Província de Angola e da áfrica Central; mas será também o
santuário, o repouso e o recreio dos que trabalhem por toda essa costa e por todos esses sertões dentro
(Manuel da Costa LOBO, 1967, 115).
47
A primeira referência à construção na cidade, de uma artéria, que se localizava ao longo da praia desde a
Igreja de Nossa Senhora da Nazaré até à fortaleza do Penedo, data do Governo de D. Francisco Inocêncio de
Sousa Coutinho (1764-1772); as restantes vias de comunicação urbanas, pouco mais deviam ser do que
caminhos de pé posto (LOBO, 1967, 126).
48
Segundo Manuel Costa Lobo, nesta altura, a população de Luanda acumulava-se em dois pontos: à borda
do mar e no Bairro mais elevado, genericamente denominado por “Cidade Alta”. E para além das deficientes
ruas, na maioria constituídas por areias, havia também o hábito, longamente consentido, dos indígenas se
deitarem no leito das ruas (quer de dia, quer de noite), o que tornava mais difícil o trânsito na cidade. Estes
indígenas eram carregadores de “Machilas” uma espécie de “Tipóia”, que era então o meio de transporte, e
que durante séculos serviram para resolver o problema de viação da cidade, porque nesta altura não existia
em Luanda um ómnibus, um coupé, uma sege ao menos, um cavalo sequer, para alugar (LOBO, 1967, 71). A
indústria de aluguer de machilas desenvolveu-se de tal modo que o Presidente da Câmara Inocêncio Matoso,
em sessão de 6 de julho de 1876 estabeleceu os seguintes preços: 1- por cada caminho de machila da cidade
baixa para a alta, ida e volta, cobrava-se Rs 100; das 6 horas da manhã até às 12 horas da noite, Rs 360. Esse
negócio só começou a rarear no século XIX, quando as artérias da cidade passaram a ser calcetadas. Em
suma, a história dos meios de transportes em Luanda pode se resumir em: primeiro foram as Machilas, depois
Tipóias, ou em simultâneo com as machilas; seguiu-se o uso de tração de carros de bois, mais tarde surgiu a
“Companhia de viação de Luanda”, propriedade de Francisco Manuel Reinalles, que na data de 3 de
setembro de 1891, pôs a circular na cidade, de três em três horas um Carro Ripert - algo como um elétrico
com rodas puxado por mulas - (LOBO, 1967, 72; Elsa Cochat SEQUEIRA, 2002, 10). Quanto a regulação do
trânsito, o mesmo era feito por Empacaceiros, organização embrionária constituída de pretos descalços e
seminus que eram responsáveis pelo policiamento da cidade, que armados de longo pau, espetado a uma
baioneta, vestiam um pequeno saiote, e adornavam a cabeça com uma tira de couro de búfalo (npacaça),
cujas crinas longas e eriçadas lhes davam o aspeto de caçadores selvagens. Esta polícia, designada por
Companhia de Segurança Pública de Luanda, em virtude de ter deixado de satisfazer ao fim para que fora
destinada, foi, por Portaria real de 16 de novembro de 1872, remodelada, criando-se, praticamente, uma outra
84
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Apesar das suas excecionais condições pitorescas que a natureza prodigamente a dotou,
esta cidade, do ponto de vista urbanístico, vai atravessar um longo período (que vai do
século XVII ao século XIX) sem que tivesse sofrido alguma alteração digna de realce.
Somente depois deste período ocorrem as mais elevadas construções fundadas por
Salvador Correia, como é o caso do hospício de Santo António, destinado aos frades
Capuchinhos, entretanto demolido em 1868, até então sito no local onde está o jardim da
cidade alta, em frente ao Palácio do Governo (LOBO, 1967, 122, ss).
Nesta altura, as Ingombotas, a Maianga e o Alto das cruzes eram então considerados de
arrabaldes da cidade, onde à noite chegavam a passear leões, como consta de uma carta
para o Reino, datada de 8 de abril de 1767, na qual o Governador Sousa Coutinho narra
uma espera que mandou fazer a estas feras no curral dos frades do Carmo, que se situava
junto da antiga Lagoa do “Quinaxixe”, por detrás do então edifício dos serviços de
Agricultura, no largo dos lusíadas (LOBO, 1967, 126; Elsa Cochat SEQUEIRA, 2002, 1).
Entretanto, já no período que decorre de 1958 a 1967, foram construídos mais de 2200
edifícios e novas artérias, designadamente a “Avenida Marginal”, “Avenida dos
com feição europeia (LOBO, 1967, 81). Os problemas de congestionamento do trânsito são também tratados
por Ilídio do Amaral, já nesta época (AMARAL, 1983, 295; Elsa Cochat SEQUEIRA, 2002,12).
49
O problema das quitandeiras ou zungueiras (vendedores de rua), nesta altura, já preocupava as autoridades
camarárias, pois as quitandeiras circulavam, a um ritmo crescente, pela cidade, “gárrulas, indisciplinadas,
refratárias à licença camarária, pousando a quinda e armando o seu mercado onde mais lhes aprouvesse, por
largos, becos e praças (…)”. Mostrava-se, porém, de tão difícil solução que, já em outubro de 1849, o
Presidente, exasperado, havia remetido um bando de quitandeiras ao Chefe da Polícia “(…) para em
conformidade do Código de Posturas, serem obrigadas a tirar licenças e serem intimadas por V. S.ª para
d´hoje em diante não venderem pelas ruas e Praças, a não ser nas duas Quitandas Públicas” (José Almeida
SANTOS, 1970, 30, ss). Diga-se, em abono da verdade, que foram os comerciantes que pressionaram a
Câmara para assim decidir, porque as quitandeiras representavam uma concorrência e ameaça aos seus
negócios, de tal modo que queriam a todo custo forçar o Presidente da Câmara a limitar as licenças, o qual,
por sua vez, devido a delicadeza ou gravidade de tomar uma decisão de tal monta, preferiu remeter a proposta
ao Governador – Geral, o qual decidira contra a vontade dos senhores negociantes e propôs a abertura de dois
lugares que servissem de praças para a venda, permitindo assim que as “quitandeiras ai se concentrassem e só
depois castigar quem transgredisse essa medida. É assim que foi construída a ‘Praça Fechada’, para que nela
fossem recolhidas as Quitandeiras de peixe frito, azeite e mais quitandices, adubos e lenhas, que hora se
achão espalhadas em diversos pontos da Cidade” (apud José Almeida SANTOS, 1970, 31, ss). Tratava-se de
uma solução que também agradava à Câmara, porque sempre que necessitasse de alguns réditos facilmente
lhes poderia lançar o “Imposto de terrado”, o qual era periodicamente posto em arrematação em 25 reis “por
lugar e vendedor”, isto, em meados do ano de 1860, valor que ascenderia a 300 reis mensais a partir de julho
de 1860 (curiosamente até 2012, altura em que desenvolvemos a nossa tese de mestrado, esta taxa oscilava
entre 100 a 300 Kwanzas por dia, valor não muito distante de 1860. Cfr. SOMA, 2012, apêndice 2).
Entretanto, esta Praça Fechada não se efetivou, pelo menos naquela altura, tendo prevalecido o conceito já
antigo de “Quitandas Abertas” e, por conseguinte, não delimitadas por muros; como é o caso da “Quitanda
Grande” (mandada construir pelo Governador Luís da Mota Fêo Torres em 1816, e que se localizava entre o
Diário de Luanda, atual Edições Novembro, e o Comando da Polícia, a qual “era um excelente mercado de
fazendas de diversas qualidades, em que se contavam para cima de 100 pretas quitandeiras distribuídas em 30
a 40 barracas volantes que desapareciam ao pôr do sol e apareciam ao raiar da aurora” - Manuel da Costa
LOBO, 1967, 132) e a “Quitanda do Bungo” (José Almeida SANTOS, 1970, 32-33).
85
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
A palavra musseque (ou musseque) vem da língua Kimbundu, a língua tradicional falada
nos reinos de Ndongo, Matamba e Kassanje na Ngola pré-colonial, nos territórios que
compreendem as províncias de Luanda, Malange, Bengo, Kwanza Norte e Kwanza Sul
(uma parte), e do ponto etimológico a palavra designa um “terreno arenoso”, e em Luanda
foi utilizada para designar as “terras vermelhas do planalto”, sendo, por extensão, aplicada
aos aglomerados pobres que ai se instalaram e se desenvolvem progressivamente.
São descritos como bairros de miséria e de transição. Nascidos após a criação da cidade,
primeiro sob “a forma de quintais onde os traficantes de escravos acumulavam as suas
“peças” para exportação, depois como aglomerados de cubatas, situados nos coqueiros, no
Bungo, nas Ingombotas, nas Maiangas, habitadas por africanos escravos libertos”
(AMARAL, 1983, 298).
50
O bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário que,
saindo da sua casa, deseja deslocar-se por ele a pé. Por conseguinte, é o pedaço da cidade atravessado por um
limite, distinguindo o espaço privado do espaço público; e o que resulta de uma caminhada, da sucessão de
passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vinculo orgânico com a residência. (Certeau, 1994,
37)
51
Ilídio do Amaral, refere que Joaquim António de Carvalho e Menezes (nos seus dois livrinhos de 1834 e
1848) esclarece que “a população está dividida em duas freguesias: a Cidade Alta era a Sé Catedral (com a
invocação de Nossa Senhora da Conceição) (…) e a freguesia da Cidade Baixa denomina-se Nossa Senhora
dos Remédios” (Ilídio do AMARAL, 1984).
86
Políticas públicas de urbanismo em Angola
É curioso notar que estes “bairros de miséria”, os musseques, não eram apenas habitados
por negros, como também pelos imigrantes, grosso modo portugueses desafortunados e
ainda por mestiços, Santomenses e Cabo-verdianos também imigrados, que tinham assim o
musseque como sua habitação.
Apesar da construção de “novas centralidades”, e dos novos bairros sociais, como Zango I,
II, III, IV, Panguila, e outros, a cidade informal continua a crescer para os lados dos
Mulenvos (Cacuaco), pois, nem todos têm possibilidades de construir ou de comprar
habitações condignas em zonas mais centrais. Esses processos de expansão da malha
urbana intensificam os problemas das populações que recorrem ao fenómeno da economia
informal (cf. QUEIROZ,1996; GUERRA, 1994), emergindo os mercados informais em
localidades como Kilómetro 30, Asa Branca, Correios, Katiton, São Paulo, Panguila,
Prenda, Samba Pequena, Rocha Pinto, etc), que se constituem como fontes de
sobrevivência para a maior parte da população que aí reside.
A procura de meios de sobrevivência é também visível nas ruas da cidade formal, que por
essa razão se têm transformado em espaços de negócios informais por parte de
comerciantes ambulantes e de biscateiros (PAIS, 2003) e também de formas de
52
Por incrível que pareça, até nas novas centralidades e nos novos projetos urbanísticos – Condomínios - se
notam as fragilidades elencadas: falta de água, luz, de escolas, hospitais, zonas de lazer etc. (cf. Anexo I,
maxime notícias: 111 e 115).
87
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
sociabilidade informais (FRUGOLI, 2007), o que faz com que esses espaços se tornem
também em microterritorialidades, uma vez que de dia ficam completamente ocupadas
pelos vendedores ambulantes e que de noite ficam escuras e vazias, ou seja
desterritorializadas (FORTUNA, 2012).
Para além destes fatores que demonstram a atratividade da capital, Ilídio do Amaral refere-
se à existência de saldos positivos no comércio externo, em milhões de escudos, entre 1970
88
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Na mesma senda, Maria da Fonte explica que essa ‘explosão’ se deu porque nesta altura, e
sobretudo a partir da 2ª Guerra Mundial, Angola, em geral, e Luanda, em particular,
conhecem uma explosão na exploração do café, que lhe granjeia ocupar o novo lugar no
contexto do comércio internacional. À exploração do café seguiu-se o desenvolvimento
industrial e comercial, atraindo população branca e mestiça (FONTE, 2012, 31).
53 Segundo o Grupo Marktest, (28 outubro 2014), os Resultados Preliminares do Censo 2014, com
referência à data de 16 de maio de 2014, mostram que a população residente em Angola é de 24,3 milhões de
habitantes, sendo 11,8 milhões do sexo masculino (48%) e 12,5 milhões do sexo feminino (52%). A
província de Luanda é a mais populosa, com 6,5 milhões de residentes, o que corresponde a 27% do total do
país. Pelo contrário, a província do Bengo, com 351 579 habitantes, é a menos populosa do país. Angola tem
uma superfície de 1 252 145 quilómetros quadrados, com uma densidade populacional de 20 habitantes por
quilómetro quadrado, menos cinco vezes o observado em Portugal. A Lunda Norte é a província com maior
densidade populacional (105.7 habitantes por Km2) enquanto Cunene é a que regista uma densidade
populacional mais baixa (87.6 habitantes por Km2).Os dados divulgados pelo INE de Angola mostram ainda
que 62% da população reside em áreas urbanas. O mapa da Marktest apresenta a distribuição da população
residente por províncias (Grupo Marktest, 28 outubro 2014, em http://www.marktest.com, acessado em
07.02.2015, às 18:19).
89
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Trata-se de uma taxonomia com a qual discordamos em parte. Na verdade, se, por um lado,
é verdade que nem todos os musseques são iguais, por outro lado não é verdade que bairros
construídos respeitando regras urbanísticas, com infraestruturas urbanas e serviços
públicos, devam ser incorporados na categoria de “Musseques”, tal como pretende
demonstrar o estudo citado.
Em função dos critérios referidos pelo estudo, é assim possível divisarmos duas categorias
de musseques: Urbanos e Rurais; e 10 tipologias destes assentamentos, designadamente
(ver Quadro 7):
90
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Nº Tipologia Caraterísticas
Edifícios convencionais e habitados, mas
estado de deterioração avançado devido à
fraca manutenção;
Situados entre espaços urbanos até então
livres e agora ocupados com construções
precárias;
Localizados sobre edifícios antigos
1 Centro Urbano Antigo (construções feitas por cima dos tetos dos
prédios, acrescentando a altura e
maximizando espaços- ampliação vertical
das moradias);
Ampliação vertical das moradias,
acrescimento de quartos em edifícios
antigos, anexos, muros, sobretudo no setor
antigo da cidade de Luanda (Baixa da
cidade, Maculusso e Ingombota).
Casas projetadas segundo o modelo
convencional, de tipologias unifamiliares
Novos Subúrbios Urbanizados e multifamiliares, normalmente destinados
2 à classe média e alta, designadamente nos
e Condomínios fechados
arredores de Luanda, como é o caso de
Talatona, Morro Bento, Benfica, Viana,
Cacuaco e Camama.
Construídos no período colonial (há mais
de 40 anos), seguindo o modelo township
sul-africano, e pertencente às classes
trabalhadoras (negras e famílias brancas
pobres);
Projetados originalmente com
3 Bairros Populares arruamentos e usando a técnica de
alinhamento, em grande escala, mas com
infraestruturas de fraca qualidade que
rapidamente acabaram por se degenerar
(caso do Nelito Soares, Rangel, Terra
Nova, nas Bês, etc.);
Localizam-se nas proximidades dos
serviços e transportes.
Construções do pós-guerra civil, depois de
2002, ordenados com arruamentos e
4 Zonas de Habitação Social localizados em áreas de expansão urbana,
como é o caso de Panguila, Cacuaco,
Zango e Viana.
5 Área de Autoconstrução Construções unifamiliares, ordenadas e
planeadas em cooperação com as
91
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
(…). Que atendendo ao desordenado modo que se tem praticado na edificação de huma grande
quantidade de Senzalas no interior da cidade, e os graves prejuízos, que se podem seguir de
semelhantes Edifícios, além da deformidade e deturpação da mesma, já pelo modo e linhamentos
das ruas [a primeira referência à construção na cidade, de uma artéria- que se localizava ao longo da
92
Políticas públicas de urbanismo em Angola
praia desde a Igreja de Nº Srª da Nazaré até à atual fortaleza do penedo, data do Governo de D.
Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho (1764-1772); as restantes vias de comunicação urbanas,
pouco mais deviam ser do que caminhos de pé postos ( LOBO, 1967, 126)] dificultando assim o
bom serviço das mesmas, já pelos incêndios frequentes e ordinários (…). Daqui em diante se não
conceda mais licença para a reedificação das Senzalas arruinadas por qualquer princípio dentro da
cidade, como também se disfação as que estão contíguas a edifícios nobres pagando o domno destes
a metade do valor ao dono da Senzala demolida e a Câmara a outra metade (…) ( J. Almeida
SANTOS,1965, 81-91).
Para Almeida Santos, “Construções em transgressão” são aquelas que não obedecem quer
a princípios estéticos, quer às normas de sanidade, quer ainda aos preceitos urbanísticos. O
autor sustenta que este é já um problema “… de longos tempos [que vem] afligindo esta
nossa - quatro vezes - centenária cidade de S. Paulo de Assunção de Luanda”. E ressaltava
também a incapacidade da Câmara para combater ou impedir as transgressões (Almeida
SANTOS, 1965, 89).
Apesar dos problemas sobre transgressões datarem desde há muito tempo, somente a partir
de 1948 as autoridades administrativas camarárias começaram a encarar a sério a
necessidade de se resolver o problema do alojamento das classes africanas
economicamente débeis que habitavam os “musseques”.
Neste sentido é criada, a partir deste ano, a “Comissão Administrativa dos Bairros
Indígenas” (Diploma Legislativo nº 2097, de Luanda, de 17 de novembro de 1948), que
seria dotada de um fundo especial para acorrer aos encargos de construção das primeiras
moradias.
A esta Comissão juntar-se-iam outras, sendo que todas elas acabariam por ser fundidas em
1961 num único organismo, a “Comissão Administrativa do Fundo dos Bairros Populares
de Angola” (Diploma Legislativo nº 3117, de Luanda, de 12 de junho de 1961), com a
missão de fomento e de auxiliar a construção de habitações para as classes menos
abastadas (Relatório Anual de C.A. F. B. P. A, Luanda, 1963, p. 2 (polic.).
Tratava-se de uma tentativa notável face às necessidades mais urgentes de habitação para
uma massa elevada de famílias de rendimentos débeis embora demasiado ténue (I. Amaral,
1963, 117).
93
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Vasco Vieira da Costa vai propor duas cidades. Uma delas era a cidade colonial, que se
constituiria segundo princípios de Cidade-Satélite54, fazendo corresponder a cada núcleo
europeu um tampão verde que o afastaria dos vários núcleos constituídos por bairros
indígenas (uma outra cidade); sem, contudo, aumentar a distância entre elas, dado que a
população (negra) destes bairros estaria ao serviço da população branca. Seria assim uma
distância que fosse apenas a suficiente para que os mosquitos não passassem de um lado
para o outro, o que traduz uma visão claramente higienista e segregacionista do fazer
urbano das autoridades administrativas daquela época (FONTE, 2012, 57).
54
Neste sentido, importa sublinhar que a Câmara Municipal de Luanda havia já, por essa altura,
encomendado, sob a égide da organização dos planos gerais, o primeiro Plano de Urbanização para a cidade
de Luanda a Etienne de Gröer e a David Moreira da Silva, os quais idealizaram um Plano de Cidades -
Satélite à volta de Luanda, que seriam: 1- Congo (à beira mar), 2 - Foz do Cuanza (à beira mar), 3 - Malange,
4 - Calumbo e 5 - Congo. Este plano, que representa a primeira experiência do urbanismo português do
século XX nos trópicos, visava controlar o crescimento e o congestionamento que a cidade vinha sofrendo.
Seriam cidades com 50.000 habitantes cada uma, que separadas do núcleo urbano consolidado de Luanda,
por meio de um tampão rural entre elas, e ligadas por uma circular que lhes assegurava a comunicação viária
(Funda e Calumbo), a ligação por caminho de ferro-litoral e pela ferrovia de Malange, e ainda através da
estrada de Catete, servia como simples cidades dormitório. Porém, este plano não foi implementado devido à
falta de aval jurídico e fundamentalmente por falta de quadros técnicos da Câmara Municipal para o executar
(FONTE, 2012, 56; Isabel MARTINS, Luanda, a cidade e a arquitetura, Tese de Doutoramento pela FAUP-
Porto/Luanda, 2001, 265; Vasco Vieira COSTA, Luanda, Plano para a Cidade-Satélite nº3, Edições do curso
de Arquitetura da ESBAP, 1984, Porto, 46; CHISSOLA, 2015)
94
Políticas públicas de urbanismo em Angola
que aumentou o número desses bairros contra as quais a Câmaras Municipais não
tinham capacidade de reação. Em alguns casos, eram mesmo obrigadas a alterar os
projetos urbanísticos em fase de elaboração (AMARAL, 1963, 118);
d) O aumento da população, fruto da extinção do tráfico de escravos (em dezembro de
1836), “quando se deixou de vir a Angola como quem ia a uma feira”, fez com que
passasse a haver população fixa na cidade, emergindo, nessa altura, os problemas
próprios dos grandes aglomerados urbanos, designadamente o relacionado com a
denominação das ruas (AAVV, 1959, 129);
e) O problema de orientação das habitações e localização dos bairros indígenas (in
COSTA, 1984, 46; FONTE, 2012, 57);
f) O problema dos constrangimentos do clima, especialmente o calor, a humidade, as
chuvas e os insetos. Problemas esses que eram totalmente diferentes da metrópole
(FONTE, 2012, 61, ss)55.
Das Comissões Administrativas criadas, resultaram boas e más experiências, sobretudo
em Luanda, onde Bairros como S. Paulo e Cazenga beneficiaram destas medidas.
55
Estes problemas foram amplamente discutidos no Séc. XX, naquilo que se pode chamar por “Tentativas
científicas de adaptação aos trópicos”; isto é, experiências de natureza arquitetónica e urbanística que
ocorreram em África e em particular em Angola, visando a adaptação da cidade e arquitetura coloniais ao
clima tropical quente e húmido. Trata-se de um problema que já mereceu atenção por parte de S. M. a Rainha
D. Maria II, em 1843, onde, através de uma Portaria, orientara que a conceção de cidades e sua arquitetura
em território angolano, mais precisamente no Lobito, aquando da intenção de “mudança da cidade de S.
Filipe de Benguela para o Porto do Lobito, deveria ser feita a partir de bases científicas que levassem à
construção da “verdadeira cidade colonial”. Estabelecia-se entre outros, que: (…); 5º que é proibido levantar
qualquer edifício cujo sobrado ou pavimento térreo não esteja acima do terreno pelo menos quatro palmos,
sendo os muros abertos por modo que por baixo possa o ar circular livremente; (…); 7º que todos os novos
edifícios habitáveis sejam espaçosos, bem ventilados e de nunca menos de 16 palmos de pé direito em cada
pavimento in Portaria de 28 de março de 1843, in Batalha, 1950, 19 apud FONTE, 2012, 61)
95
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
funcionais, uma vez que eram “incompatíveis com o modo de via africano, que prefere o
ar livre para cozinhar peixe; conversar; para as crianças brincarem; lavar a roupa…( I.
AMARAL, 1968, 120).
96
Políticas públicas de urbanismo em Angola
(desde 1975 a 2002). Neste contexto, quase nenhuma ação de enfrentamento da cidade
informal foi levada a cabo até esta última data.
Porém, após a cessação dos conflitos (fevereiro de 2002) surgiu o despertar para a
especulação imobiliária e, consequentemente, assiste-se ao renascimento das políticas de
enfrentamento da cidade informal. Estas passam a desenvolver-se a uma escala nacional,
com maior destaque para as cidades capitais de cada uma das províncias.
Grosso modo, esse novo ímpeto fica marcado pelo relançamento do programa de
reconstrução nacional, que se iniciou com as obras de ligação do país por via terrestre, com
a asfaltagem de todas as estradas nacionais, o lançamento da construção de casas sociais e
de média renda, bem como o surgimento de condomínios privados.
Como era de esperar, essa concentração da população nas cidades capitais, aliada ao
crescimento demográfico, acelerou também o fenómeno dos bairros informais. Estes
confrontam-se agora com o problema da sua modernização. Sendo evidente a necessidade
de os órgãos administrativos adotarem políticas públicas de enfrentamento desta realidade.
97
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Uma vez que muitas dessas áreas onde se estão a implantar as novas centralidades, novos
bairros sociais e condomínio de média e alta renda, eram já de construção consolidada,
embora informal, as políticas públicas acabam por se concretizar num contexto de
conflituosidade. A mesma administração que aos olhos dos residentes não resolve os
problemas desses lugares e dos moradores, ao redistribuir terras aos camponeses para fins
agrícolas e ao desenvolver novos projetos imobiliários, é vista como o agente causador de
conflitos.
56
Para mais informações sobre conflitos de terra vide também Santos, Guilherme e Zacarias, Inácio (Org.s)
“Pesquisa sobre diferendos e conflitos de terras e as formas da sua resolução”, Luanda, 2010; Dispomível
em http://www.adraangola.org/wpcontent/uploads/2014/03/RELAT%C3%93RIO-DA-PESQUISA-S-
DIFERENDOS-E-CONFLITOS-DE-TERRAS, acessado em 24 de agosto de 2015.
98
Políticas públicas de urbanismo em Angola
57
Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas em Angola, Nota Informativa, “Desocupações
forçadas em Luanda.” Apud Relatório HWR e SOS, 2007, 74.
58
In Relatório HWR e SOS, 2007, 74.
59
Comunicado de imprensa do Relator Especial das Nações Unidas sobre Habitação Condigna enquanto
Componente doDireito a um Nível de Vida Adequado, “Human Rights Expert Expresses Serious Concern
About Persistent Practice of Forced Evictions in Angola” (“Perito de Direitos Humanos Manifesta Grave
Preocupação com a Persistente Prática das Desocupações Forçadas em Angola”), 30 de Março de 2006,
60
Amnistia Internacional, “Angola: Vidas em Ruínas,” AI Index: AFR 12/001/2007, 15 de Janeiro de 2007.
Apud Relatório HWR e SOS, 2007, 74
61
O Diretor Executivo da COHRE dirigiu uma carta aberta ao Presidente angolano a 10 de Abril de 2006,
denunciando as desocupações forçadas em Luanda e apelando à imediata adoção de medidas para assistir as
pessoas por elas afetadas. Uma outra carta havia sido previamente enviada ao Governo angolano em
Dezembro de 2005 (Apud Relatório HWR e SOS, 2007, 75)
62
Christian Aid, “Forced from their homes at gunpoint,” 12 de Outubro de 2006, http://www.christianaid.
org.uk/world/where/safrica/partners/0610soshabitat.htm (acedido a 25 de Fevereiro de 2007); “Christian Aid
partner in Angola moves into camp for homeless,” 16 de Agosto de 2006, http://www.christian-
aid.org.uk/news/stories/060816s3.htm,acedido a 26 de Março de 2007 (Apud Relatório HWR e SOS, 2007,
75)
63
in Relatório HWR e SOS, 2007, 76).
99
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
64
cfr. Carta ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos negando todos os factos
citados pelo Relator Especial das Nações Unidas sobre Habitação Condigna Acusava a ONU de má fé e de
pressões intoleráveis sobre o Governo (“Angola’s Permanent Mission denies rapporteur’s allegations,”
(“Missão Permanente de Angola nega alegações do relator”), comunicado de imprensa do Governo de
Angola, 1 de Abril de 2006,http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900SID/EGUA-
6NHMCR?OpenDocument&cc=ago&rc=1 (acedido a 5 de Março de 2007), apud Relatório HWR e SOS,
2007, 77
65
Petição dos moradores de Benfica à comissão de direitos humanos da Assembleia Nacional, datada de 25
de maio de 2002 e assinada por 24 indivíduos; entrevista telefónica da Human Rights Watch a Rafael Morais,
colaborador da SOS Habitat, 12 de junho de 2006, in Relatório da HWR e SOS, 2007, 85, NOTA 225.
66
Nas respostas que deu aos deputados, o então Primeiro Ministro (posteriormente Presidente da Assembleia
Nacional), sublinhou a necessidade de se distinguir três situações diferentes de demolições, designadamente:
(a) daqueles que ocupavam os terrenos legalmente e aos quais assistia o direito de indemnização (o que tem
sido e vai continuar a ser feito); (b) dos que ocupavam os terrenos ilegalmente e em relação aos quais não
havia nada a indemnizar; (c) e finalmente dos que ocupavam os terrenos de forma putativa, a pensar que
tinham comprado legalmente aos funcionários municipais corruptos que agiam sem competência ou poderes
para outorgar concessões de terrenos (cfr. Acta da alocução do Primeiro-Ministro Fernando dos Santos na
sessão de perguntas perante a Assembleia Nacional, não datada (cópia nos arquivos da Human Rights Watch)
apud Relatório da HWR e SOS, 2007, 77). Entretanto não se referiu que se tratava de situações oportunistas
de quem anarquicamente construía casebres com o intuito de exigir ao Governo alguma indemnização e
infelizmente não esclareceu onde terá andado a administração durante mais de 20, 15, 10, 5 anos em que as
pessoas foram construindo (fugidas da guerra ou não); e como justificar que em muitas dessas áreas foi a
própria administração a vender os terrenos? Mais grave do que isso foi o fato de ter admitido que muitas
dessas desocupações forçadas foram feitas com a cobertura expressamente dada ao recurso a empresas de
segurança privada durante as operações de despejo, particularmente a propósito do despejo realizado a 13 de
março de 2006 em Cambamba, que paradoxalmente as considera como “órgãos subsidiários da Polícia
Nacional”. E mais do que congratular-se com as denúncias das ONGg’s em relação a essas situações adotou
uma posição acusatória de que as mesmas instigam as populações. Como se depreende do exposto, para além
da ambiguidade da posição do governo, pelo menos até àquela altura, nota-se claramente que tais políticas de
enfrentamento da cidade informal não reservavam espaço de resolução pacífica desses conflitos e muito
menos estavam disponíveis para encontrar soluções de integração dos bairros informais no seio das suas
políticas de desenvolvimento urbano, cuja experiência doutros países demonstra que tal é possível, dado que
“o direito à cidade (…) só pode ser formulado como direito à vida urbana, transformada, renovada”
(LEFÈBVRE, 2009, 118), o que implica ter em conta a situação e os direitos dos moradores dos bairros
informais (Cfr. Acta da alocução do Primeiro-Ministro Fernando dos Santos na sessão de perguntas perante a
Assembleia Nacional, não datada (cópia nos arquivos da Human Rights Watch). Neste documento pode ler-
se que “As empresas de segurança pública são órgãos subsidiários da Polícia Nacional. Elas são
100
Políticas públicas de urbanismo em Angola
supervisionadas e controladas pelo Comando Geral da Polícia Nacional, através da sua Direção Nacional da
Ordem Pública. Devem informação ao Comando Geral e à Polícia Nacional, e são obrigadas a cooperar
sempre que solicitadas, por isso se a empresa de segurança VISGO atuou a pedido e em cooperação com a
polícia Nacional a sua atuação foi legal.”, apud Relatório da HWR e SOS, 2007, 77, notas 205 e 207.
67
Entrevista telefónica da Human Rights Watch a Rafael Morais, colaborador da SOS Habitat, 12 de junho
de 2006; Nota 114/CDH-5.1/02 da Comissão de direitos humanos, petições, reclamações e sugestões dos
cidadãos, dirigida ao governador da província de Luanda, datada de 17 de outubro de 2002 (cópia nos
arquivos da Human Rights Watch e SOS Habitat).
68
Como é o caso da comunicação datada de 28 de junho de 2005 e dirigida ao Procurador-Geral; notas
datadas de 26 e 30 de agosto de 2006 dirigidas ao comandante da esquadra policial no Projeto Nova Vida (in
Relatório da HWR e SOS, 2007, 83, nota 219); uma outra exposição datada de 13 de outubro de 2003,
dirigida ao Procurador-Geral pelos moradores de Talatona com cópia ao governador da província de Luanda.
69
Entrevista da Human Rights Watch ao Ministro Sita José, Luanda, 10 de agosto de 2006, in Relatório da
HWR e SOS, 2007, 80, nota 2016,
101
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Organizações Não-governamentais
Posicionamento
Angolanas e Ordem
Formularam cartas ao Presidente da
República, tendo este enviado, em abril de
2006, uma assessora para ouvir as
denúncias sobre as arbitrariedades
praticadas por agentes da Polícia
AJPD, NCC, Grémio ABC. Nacional, de administrações locais e
funcionários de empresas privadas.
Entretanto, não obtiveram nenhuma
posição oficial da Presidência da
República (Relatório da HWR e SOS,
2007, 85, nota 228)71.
Patrocínio judiciários em face das
Ordem dos Advogados de Angola. violações cometidas pela polícia contra as
vítimas dos desalojamentos (disparos que
70
disponível em http://www.gpl.gv.ao/index.aspx?shownews=3576675334&flag=despachos (acedido a 4 de
fevereiro de 2007 pela HWR e SOS, 2007, 78)
71
Cfr. Correspondência da Human Rights Watch com a AJPD via correio electrónico, Luanda, 12 de janeiro
de 2007, apud Relatório da HWR e SOS, 2007, 85, nota 228.
102
Políticas públicas de urbanismo em Angola
72
Compostos por camponeses estabelecidos na terra há muitos anos, famílias com baixos rendimentos da
cidade de Luanda, que se fixaram mais recentemente, e pessoas deslocadas que abandonaram as áreas rurais
devido à guerra e a más condições de vida. As habitações e terrenos eram geralmente adquiridos através de
transações informais ou de ocupação, pelo que os títulos de posse formais não existem.
73
Mbondo Chapé, Rio Seco, Talatona e Bem-Vindo são áreas sobretudo agrícolas onde, até este momento, se
registaram poucos despejos, mas que permanecem em risco – as autoridades locais suspenderam os planos de
despejo devido a queixas dos moradores, mas anunciaram que pretendem reclamar as terras ocupadas pelos
camponeses.
103
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Para além das medidas de enfrentamento da cidade informal que temos vindo a
tratar em relação a Luanda, importa recordar que várias têm sido as formas de
enfrentamento da cidade informal nesta cidade, e que muitas medidas já foram ensaiadas
desde o tempo colonial. Uma delas, já referida, foi o primeiro Plano de Urbanização
projetado por De Gröer e David Moreira em 1942, que, embora não tenha sido
implementado, serviu como base para estudos posteriores desenvolvidos pela Câmara
Municipal na década de 1950 (BETTENCOURT, 2011, 73).
104
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Período Medidas
74
Trata-se de uma proposta inspirada nos Programas de melhoramento das áreas suburbanas da África do
Sul.
75
Trata-se de um distrito que atualmente beneficia de requalificação e serve já de referência das políticas de
enfrentamento positivo da cidade informal, sobretudo pelas estratégias de realojamento que tem apresentado,
que se traduz da construção de edifícios (prédios) em áreas não ocupadas do interior do bairro, e neles
realojar as populações das áreas a requalificar, bem como o realojamento de pessoas que viviam em zonas de
risco da Boa Vista em zonas como Panguila e Zango (Ver Anexo I, maxime notícia 122).
105
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
76
O projeto Zango (I, II, III, IV) foi inicialmente concebido para 160 mil famílias, numa área de 1100
hectares, e nelas já foram construídas mais de 4000 moradas de tipo unifamiliar e mais tarde plurifamiliar.
Tem tem vindo a crescer de tal forma que poderá atingir Calumbo. Por sua vez, o Projeto Panguila, projetado
para 50 mil casas, apresenta já cerca de mais de 6000 casas e também acolheu o mercado de Roque Santeiro,
encerrado em setembro de 2010, até então considerado o maior mercado informal de África a céu aberto.
106
Políticas públicas de urbanismo em Angola
77
Este estudo é o mais recente sobre o desenvolvimento da cidade de Luanda (BETTENCOURT, 2011, 76).
107
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
108
Políticas públicas de urbanismo em Angola
78
Trata-se de um dos desalojamentos que muito comoveu o país, tendo mobilizado uma onda de críticas de
grupos da sociedade civil, igrejas, partidos políticos e motivou mesmo visitas de comissões parlamentares,
tendo o parlamento ordenado uma moratória sobre os despejos até ao final do ano. Por suas vez o Ministro da
Administração do Território, Bornito de Sousa, foi obrigado a pedir de desculpas ao público e às vítimas.
Apesar destes apelos, a verdade é que o governo provincial, liderado na altura pelo Engº. Isaac Maria dos
Anjos, viria mesmo, em setembro e outubro, a despejar mais 1500 famílias à força, desta vez do centro
urbano de Lubango.
109
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Para terminar, há duas notas que importa referir. No caso de Angola, para além das
situações ocorridas nas províncias de Luanda, Huila e Cabinda, outras, embora de menor
79
Cfr. in http://www.voaportugues.com/content/ong-pede-suspensao-das-demolicoes-de-casas-em-
cabinda/1825116.html, 07.01.2014 17:53, acessado aos 24 de Março de 2014
110
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Sem qualquer preocupação de exaustividade, o que daria origem a uma tarefa hercúlea e
insatisfatória, os exemplos que a seguir apresentaremos comportam medidas que nos
permitem caracterizar e compreender mais adequadamente as políticas de enfrentamento
levadas a cabo em Angola. Não apenas pela semelhança dos contextos, mas muito
particularmente por se tratar de casos que inspiram políticas públicas e programas
concretos de urbanismo e de habitação angolanas.
111
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
80
Os dados da UN-HABITAT (2001) sustentam que cerca de 37% da população urbana vive em favelas, o
que corresponde a 82% da população total. Essas ocupações informais apresentam uma morfologia
diferenciada, designadamente: favelas, loteamentos clandestinos (com alguma regularidade urbana por serem
lotes da prefeitura mas vendidos e negociados de forma ilegal), loteamentos irregulares e cortiços (com
predominância em S. Paulo). No caso de Rio de Janeiro, com cerca de 5,5 milhões de habitantes, um total de
1 milhão vive em favelas e outros 500 mil vivem em loteamentos irregulares ou clandestinos (Canavarros,
2010, apud BETTENCOURT, 2011, 15).
81
O Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro, Prefeitura do Rio de Janeiro (1993) define favela
como sendo “a área predominantemente habitacional, caraterizada por ocupação da terra por população de
baixa renda, precariedade da infraestrutura urbana e de serviços públicos, vias estreitas e de alinhamento
irregular, lotes de forma e tamanha irregulares e construções não licenciadas, em desconformidade com os
padrões legais.
82
Criado pela Perfeitura do Rio de Janeiro, coordenado pela Secretaria Municipal da Habitação, foi co-
financiado pelo BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento e permitiu a criação do Programa de
Urbanização de Assentamentos Populares, num alvo de 60 favelas e 8 loteamentos num prazo de 4 anos. Para
o efeito, não só foi investido em infraestruturas (300 milhões de USD, sendo 40% da prefeitura e 60% do
BID), como também se investiu mais 600 milhões de USD num projeto modelo de políticas públicas de
combate à pobreza e à exclusão social (JUNIOR, 2006; BETTENCOURT, 2011, 16)
112
Políticas públicas de urbanismo em Angola
83
Arquiteto que participou em muitos programas e um dos seus críticos. Nas suas palavras “Hoje, estão
muito maltratados e eu nem vou visitar. O poder público que as construiu não colocou nenhum tostão em sua
manutenção. A população da favela não tem meios económicos para sua manutenção. O dinheiro que têm é
para manter sua precária residência e para comer, obviamente. É função do poder público garantir que o bem
público seja bem conservado”(Urbanização de Favelas é Obra de Arte na “Documenta 12” (in
www.jauregui.arq.br, consultado em 27 de Agosto de 2015; Bettencourt, 2011, 19).
113
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
114
Políticas públicas de urbanismo em Angola
84
Nele participaram os Grupos de Apoio Técnico (GAT), Grupos de entidades públicas e privadas e
representantes dos moradores destes bairros.
85
Todos com situações específicas, em que o Bairro da Cova da Moura incide mais sobre o futuro do
território, o bairro do Lagarteiro na sua integração sócio urbanística na malha urbana da cidade e o Vale da
Amoreira no desenvolvimento e consolidação de dinâmicas precedentes de intervenção, visando a sua
integração e sustentabilidade (MAOTDR, 2006; Bettencourt, 2011, 30).
115
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
116
Políticas públicas de urbanismo em Angola
políticas públicas angolanas revelam, no plano de abordagem dos cidadão, uma incipiente
maturidade e uma grau de institucionalização do conflito que é tendencialmente muito
baixo.
É interessante verificar, a partir dos exemplos aqui retidos, que, quer a experiência
brasileira, quer a moçambicana, quer a portuguesa, nos mostram que o caminho de
enfrentamento da cidade informal pelas políticas públicas de urbanismo e habitação passa
pelo diálogo, pela participação e pela mobilização coordenada de sinergias entre os
moradores e os poderes públicos, visando a melhoria das condições sociais e económicas
da cidade informal, ainda que para o efeito sejam alteradas disposições legais que se tenha
de assumir a legalização da realidade informal como ponto de partida para concretizar
políticas públicas efetivas.
117
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Fruto das pressões internas e externas que vêm denunciando a violação de direitos
humanos e crimes contra os cidadãos indefesos que construíram as suas casas em áreas
sem urbanização, os órgãos da administração central e local passaram, recentemente, a
adotar políticas públicas de enfrentamento da cidade informal que podemos considerar
mais brandas. De entre elas, destacam-se as seguintes:
118
Políticas públicas de urbanismo em Angola
86
Apesar da bondade da medida, a prática revela que nem sempre têm sido claros os critérios utilizados para
a atribuição dos lotes. Por outro lado, regista-se uma perversidade não despicienda. Em grande parte, os lotes
distribuídos acabam por beneficiar aqueles que já têm acesso a terrenos, seja direta, seja indiretamente. Neste
último caso, muitos dos que ganham direito a um lote acabam por vender, uma vez que não dispõem de
condições financeiras para cumprir com os requisitos da construção. Na verdade, os parcos rendimentos e a
impossibilidade de acesso ao crédito, não possibilitam mais que a construção de uma casa de chapa, o que
fica aquém das obrigações decorrentes do acesso aos lotes por esta via. Nessa medida, interrogamo-nos sobre
a eficácia das políticas públicas para resolver os problemas dos mais necessitados, que não são poucos. se
essa medida de per se é suficiente e qual a sorte para aqueles que são desafortunados? (Ver Anexo I, notícia
113).
87
Na generalidade dos países que também enfrentam de forma premente o problema dos bairros informais,
das favelas, de ghettos etc, constata-se que uma das primeiras reações das autoridades administrativas e
policiais é o recurso a medidas de coação, designadamente remoções dos casebres e proibições de fixação
permanente. Apesar disso, tais soluções não se têm revelado eficazes, falhando ou demitindo-se em matéria
de combate ao problema na sua raíz; ou seja, o combate à pobreza. Sendo empreendidas ações que atentam
contra princípios fundamentais dos direitos humanos. Tal é o caso, por exemplo, do Brasil e do Chile, assim
como de outros países em desenvolvimento (AAVV, 2003; CANOTILHO, 2008).
119
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
trata de assumir opções que reconhecem o falhanço ou as limitações das políticas públicas
ancoradas nas estratégias de promoção direta da oferta de habitações por parte do estado
(modelo de inspiração chinesa traduzido em Angola com a criação de novas centralidades).
Essas opções, concretizadas através da implementação de mecanismos, mais ou menos
residuais, de apoio às famílias carenciadas, permitindo-lhes que elas adquirissem
habitações no mercado, alargou a base social daqueles que puderam passar a considerar a
possibilidade de aceder a uma habitação condigna.
Trata-se de uma estratégia que resultou durante algum tempo, à semelhança do que se
passou em outros contextos em que o crédito bancário fomentou o acesso à habitação.
Bastaria olhar para o crescimento do parque habitacional na Europa, e particularmente para
Portugal, onde foram erguidos cerca de 80.000 fogos por ano, em média, no período que
decorre de 1985 e 2005, e mais de 108 000 entre 1999 e 2002, e para o aumento do número
de alojamentos ocupados pelos proprietários (57% em 1981 e 72% em 2001- INE apud
Carmo e Barata 2014, 186). Obviamente que esta realidade está indelevelmente associada
ao aumento do endividamento por via de hipotecas imobiliárias. Ainda que em menor
dimensão, mas no limite do explorável, a realidade angolana relativa ao uso do crédito
bancário como forma de aceder a habitação própria não é muito diferente da portuguesa.
Essa estratégia, se, por um lado, permitiu o surgimento de novas urbanizações, com
estruturas arquitetónicas modernas - assegurando a valorização de zonas suburbanas
degradadas, ainda que tenha fomentado o crescimento progressivo do stock de fogos vagos
-, por outro lado, do ponto de vista social, teve implicações significativas. Traduziu-se, na
prática, numa baixa de rendimentos para um setor da sociedade habituado a viver das
rendas de imóveis e também na emergência de uma “nova classe” de endividados para a
vida, que consubstancial uma forma de relacionamento com os bancos que até aí
praticamente não existia em Angola.
120
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Finalmente há que destacar as reservas fundiárias, assim como a solução das casas
evolutivas (projeto de sites-and services). Neste último caso, as soluções de tipo evolutivo,
procura-se garantir o princípio do projeto aberto, que possibilita ampliações e
beneficiações progressivas em função das necessidades, seja ao nível do bairro, seja ao
nível do espaço habitacional relativo às condições globais das famílias (CANOTILHO,
2008, 53). Numa realidade marcada por grande flexibilidade, esta solução pretende
conferir maior plasticidade às políticas públicas de habitação. Deve também destacar-se
solução da autoconstrução dirigida, na medida em que, por essa via, se procura reagir à
expansão da cidade informal. Esta solução corresponde a uma política pública de
urbanismo e de habitação, uma vez que assenta na infraestruturação de novas zonas
destinadas à construção de habitações, onde são entregues lotes para que os proprietários
possam construir respeitando regras de urbanidade.
121
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
Para fechar este capítulo, são várias as apreciações que podem ser feitas em relação aos
referidos paradigmas de enfrentamento da cidade informal, bem como sobre a generalizada
carência de habitação. De entre as observações que nos parecem mais relevantes, podemos
destacar as seguintes:
a) A inércia da arquitetura, uma vez que nestas novas urbanizações se nota a
frouxidão ou a débil participação de arquitetos conceituados, quer nacionais, quer
internacionais, o que reduz o papel que os arquitetos tendem a assumir na
proposição de estratégias e modelos no campo da habitação88. Também não há
registo do envolvimento de gabinetes de engenharia nacional no desenvolvimento
das novas centralidades, nem mesmo da sua fiscalização, uma vez que para todas
elas foram utilizadas empresas chinesas. Este aspeto levanta o problema do
conhecimento que os engenheiros e arquitetos envolvidos têm em relação aos
particularismos locais, assim como em relação à gestão destas novas cidades. O
fenómeno é tão mais gravoso quanto a presumível retirada das empresas de gestão
no médio prazo, uma vez esgotadas as oportunidades de realização de mais-valias
através da venda de imóveis, concidirá com as crescentes necessidades de
manutenção dos imóveis e dos espaços públicos circundantes89. Note-se que essas
novas urbanizações são feitas através de contratos realizados entre empresas
chinesas e os poderes políticos centrais ou públicos responsáveis pelo urbanismo e
pela habitação (ROWE, 1995, 227). Na prática acabam por funcionar como
ficções urbanas em tudo semelhantes às que Paulo Peixoto (2015) referencia na
China contemporânea, representando a sua exportação tanto o climax da
especulação imobiliária quanto a marca do triunfo de um modelo que se
representa como triunfante e como dominante. Neste impasse deve ser também
discutida a questão da determinação do local de aprovisionamento da habitação,
assim como a sua relação com a autonomia arquitetónica e estética. Neste sentido,
é curial defender que a determinação dos locais de construção devia ser precedida
do estudo de soluções construtivas para cada área, bem como dos comportamentos
e das relações sociais dos habitantes, para dessa forma adequar a projeto
arquitetónico e urbanístico à realidade cultural, fomentando-se nesse percurso vias
88
Cfr. Anexo I, notícia 018, sobre as preocupações da Ordem dos Engenheiros de Angola e a Entrevista do
seu bastonário, onde se critica a falta de envolvimento de profissionais nacionais no desenvolvimento das
políticas de urbanismo e de habitação.
89
O desfasamento das soluções urbanísticas e habitacionais em relação à realidade local acarreta já custos de
manutenção elevadíssimos, que se agravarão com o passar do tempo. “O Kilamba [por exemplo] tem cerca
de um milhão de metros quadrados de área verde. O custo de manutenção de área verde chega a USD 1 ou
USD 0,75 por metro quadrado mês. Estamos a falar que precisaríamos de cerca de USD 1 milhão todos os
meses só para os jardins.” (Anexo I, notícia 111)
122
Políticas públicas de urbanismo em Angola
123
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
124
Políticas públicas de urbanismo em Angola
dos poderes públicos no sentido de os desalojar ou onerar tão cedo que se acha
conveniente;
j) A questão do aprovisionamento público das habitações, conforme demonstra a
experiência dos anos 1980 (perante o endividamento das economias dos países em
desenvolvimento) resvalou numa crise que obrigou o Banco Mundial e o FMI a
reduzir drasticamente os financiamentos, principalmente no domínio da
construção. Isso originou uma desmobilização da autoridade política
administrativa no prosseguimento de políticas públicas de habitação, fomentando,
em sua substituição, a emergência de agências privadas ou instituições não
governamentais regionais e locais, que se traduziu na introdução das políticas
neoliberais nos países em desenvolvimento (BURGESS, CARMONA e
KOLSTEE, 1997; CANOTILHO, 2008, 54). De uma forma breve,
presumivelmente, os projetos das novas centralidades, que ainda estão em curso,
estão fadados ao fracasso, quer em virtude do esgotamento das fontes de
financiamento, quer do já alto grau de endividamento de Angola em relação a
China;
k) Por fim, a questão da autoconstrução dirigida revela-se também insuficiente
enquanto política pública, seja pela sua dependência em relação à necessidade de
uma orientação projetual, que rareia, e que onera a intervenção, seja pela
ineficácia na garantia de um retorno financeiro, seja ainda pela impossibilidade
em se prever e acautelar futuros custos de manutenção (CANOTILHO, 2008, 54).
125
Capítulo IV – As políticas públicas e a Cidade Informal
126
Políticas públicas de urbanismo em Angola
O contexto urbanístico de Angola durante as três décadas e meia (40-75) que qui
analisamos carateriza-se por uma intensificação das atividades de planificação urbana em
todo o território de Angola, principalmente nas cidades com maior desenvolvimento
económico. Neste sentido, para além da elaboração das plantas das cidades, assiste-se à
elaboração de planos de urbanização nas diversas cidades, concelhos e distritos, conforme
se apresenta nos Quadros 16 a 19.
127
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
128
Políticas públicas de urbanismo em Angola
129
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
130
Políticas públicas de urbanismo em Angola
131
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
132
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Outra particularidade resulta do facto de que até a década de 40 quase nenhuma cidade ou
vila angolana apresentava um Plano Diretor (PDM). Por outro lado, curiosamente, mesmo
com o dealbar da guerra colonial (1961- início da luta armada) a planificação urbana
tornou-se intensa, incluindo nas zonas em que mais se verificaram tais acontecimentos,
como é o caso do Norte de Angola.
90
Frente Nacional de Libertação de Angola - FNLA.
91
Movimento Popular de Libertação de Angola - MPLA.
92
União Nacional para a Independência Total de Angola – UNITA.
133
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
pretendermos significar que na legislação93 que foi produzida posteriormente não tenham
sido acolhidas disposições, ainda que vagas, sobre questões urbanísticas.
De entre os vários diplomas que mais adiante serão analisados, importa referir o Dec-Lei
nº17/99 94 , que pela primeira vez, na história urbanística pós-colonial, faz referência ao
princípio do licenciamento da terra para vários fins, mormente para a autoconstrução
dirigida (al.s, do artº 2º); à necessidade de elaboração de planos diretores (de atividade e de
desenvolvimento económico-social dos Municípios (al. y, do artº 2º)95; à necessidade dos
municípios elaborarem o Projeto de Plano Diretor Municipal e submetê-lo a aprovação do
Governo da Província (al. e, do artº 30º). Isto para citar apenas as disposições que
contrariam o que o estudo sobre a “desconcentração e descentralização em Angola” (MAT
e ONU, 2007, 22) sustenta, na medida em que este documento se caracteriza pelo
“esquecimento do legislador dos aspetos institucionais de uma verdadeira gestão
municipal, nomeadamente o planeamento urbano, ordenamento do território, política de
solos (terras), expropriações por utilidade pública, licenciamento de obras de construção,
loteamentos, edificações urbanas, programação e gestão de investimento público, etc.
Não se trata, porém, de retirar o mérito do referido estudo, que preconiza, entre várias
realizações urbanísticas: a necessidade de elaboração e aprovação dos planos territoriais e
demais instrumentos do ordenamento do território das respetivas áreas de jurisdição, num
quadro de obediência às diretrizes do planeamento territorial; a intervenção do Estado no
mercado de terrenos urbanizáveis e a correção dos defeitos do funcionamento do livre
mercado dos solos (é curioso notar que apesar de a lei consagrar a titularidade originária do
solo ao Estado, muitos cidadãos, que ocuparam terras, passaram a vendê-las livremente,
relegando simplesmente tal disposição constitucional); a constituição de reservas
93
Lei Fundamental de 1975; Lei nº 1/76; Lei nº 20/77; Lei Constitucional de 1978; Lei 3-A/80; Lei
Constitucional de 1980; Lei 7/81; Lei 21/88; Lei Constitucional de 1991; Lei Constitucional de 1992;
Decreto Executivo 66/95; Decreto Executivo 8/98; Decreto Executivo 80/99; Decreto-Lei 17/99; A
Constituição de Angola; a Lei nº 3/04, de 25 de junho, Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo;
Lei nº 9/04, de 9 de novembro, Lei de Terras; Lei nº 14/05, de 7 de outubro, Lei do Património Cultural;
Decreto nº2/06, Regulamento Geral dos Planos Territoriais, Urbanísticos e Rurais; Decreto nº 80/06, de 30 de
outubro, Regulamento de Licenciamento das operações de loteamento, obras de urbanização e obras de
construção; Decreto nº 13/07, de 26 de fevereiro, Regulamento Geral das Edificações Urbanas; Decreto nº
58/07, de 13 de julho, Regulamento Geral de Concessão de terrenos; Lei nº 48/98, de 11 de agosto, Lei de
bases da política de ordenamento do território e de urbanismo; Decreto-Lei nº 2/07, Quadro das Atribuições,
Competência e Regime Jurídico de Organização e Funcionamento dos Governos Provinciais, das
Administrações Municipais e Comunais bem como a Lei nº 7/10, de 29 de julho, Lei da organização e do
funcionamento dos órgãos de administração local do Estado.
94
Curiosamente, é também em 1998 que é aprovada a lei de bases da política de ordenamento do território e
de urbanismo em Portugal (Lei nº 48/98, de 11 de agosto) bem como a aprovação do regime jurídico dos
instrumentos de gestão territorial (Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de setembro).
95
A questão que se pode colocar é de saber se os planos de desenvolvimento económico e social diferem dos
planos urbanísticos e de desenvolvimento territorial. (Cfr. Alves Correia, 2008).
134
Políticas públicas de urbanismo em Angola
135
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
O objetivo principal desta abordagem é estudar quais as principais classificações que foram
sendo adotadas nos vários contextos políticos, cujos reflexos são notórios no urbanismo,
uma vez que traduzem políticas e princípios relativos ao uso e ocupação do território.
Assim, na base daquele diploma, o então Ministro do Ultramar, Dr. António Augusto
Peixoto Correia, vai estabelecer, através do Decreto nº 45.374 o “Estatuto Político-
Administrativo da Província de Angola”.
Nestes termos, o território da Província de Angola passa a ter, para fins político-
administrativos, a seguinte divisão (Capítulo IV, artigo 54º): Distritos (conjunto de
concelhos); Concelhos (conjunto de freguesias, sendo as sedes dos grandes concelhos
divididas em bairros); Freguesias (sendo criados postos administrativos onde não fosse
possível criar freguesias); Postos administrativos ( que se dividem em regedorias e estas, se
a sua dimensão o justificar, em grupos de povoações).
Este mesmo diploma estabelece que o Governo da Província tem a competência de criar e
suprimir concelhos, bairros, circunscrições, freguesias e postos administrativos, e bem
assim fixar as respetivas designações, áreas e sedes, exceto se as alterações modificarem as
áreas dos distritos (nº 1, do artº 57º); o mesmo artigo estabelece também que “as
designações devem, quanto possível, basear-se na tradição histórica ou nas consagradas
pelos usos e costumes” (nº 2, do artº 57º).
Nota-se neste diploma que enquanto a competência para criar distritos é do Ministro do
Ultramar, a competência de criar e suprimir concelhos, bairros, circunscrições, freguesias e
136
Políticas públicas de urbanismo em Angola
postos administrativos, bem como a fixação das respetivas áreas e sedes, é do Governo da
Província, que terá como critério “o grau do desenvolvimento económico de cada região”.
E para a designação das respetivas áreas, o Governo da Província deve, tanto quanto
possível, basear-se na “tradição histórica” ou “nos usos e costumes”. Portanto, há aqui uma
certa compatibilização entre o princípio da centralização administrativa e o da
descentralização administrativa, o que já consubstancia um princípio básico das políticas
públicas de urbanismo.
Este facto merece algum destaque, uma vez que durante muito tempo vigorou o princípio
da centralização do poder (mormente com o governo de Sá da Bandeira). Essa
centralização acentuou-se sobretudo com a perda do Brasil (1822) e com a aprovação da
nova constituição política de 1822, que procedeu à unificação dos territórios africanos, até
então reduzidos a um papel de “reservatório de mão-de-obra escrava” e sujeitos a um
domínio pouco mais que nominal (CRUZ, 2006, 65).
A descentralização governativa96 de que temos vindo a falar começa em 1869 com o então
Ministro do Ultramar Luiz Augusto Botelho Saraiva, o qual passou a conceder maior
autonomia e poderes administrativos aos governadores. Para garantir esse objetivo, aboliu
os Governos-gerais e criou as Juntas Gerais de província, que, entre outras, tinham
atribuições consultivas e legislativas (CRUZ, 2006, 72).
Este movimento descentralizador veio a conhecer um outro avanço com o então Ministro e
Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, Júlio Marques de Vilhena, que
decretou pela primeira vez um “Código Administrativo das Províncias Ultramarinas”,
visando pôr termo ao “Código Administrativo da Metrópole de 1842”.
Este novo Código Administrativo tem como fundamento a necessidade de se imprimir uma
certa celeridade no tratamento dos assuntos das colónias (CRUZ, 2006, 72).
96
O princípio da descentralização reputa-se de grande relevância para as políticas públicas do urbanismo no
contexto angolano para compreender melhor a razão da estagnação da planificação urbana, pois, ao vigorar a
concentração (centralização) do poder administrativo retirou-se iniciativa dos municípios no sentido de
ordenar o crescimento das cidades, pois, tudo dependia do Poder Central que muito mais estava preocupado
com a guerra e controlo militar do território, como veremos mais adiante.
137
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
o qual vai instaurar, de 1926 a 1930, um sistema mais centralizado. Isto mesmo se pode
confirmar através da Carta Orgânica Colonial Portuguesa e na Reforma Administrativa de
1933.
Assim, enquanto vigorou esta forma de centralização, a legislação era uniforme para a
metrópole e os seus territórios ultramarinos. Com a descentralização posterior visa-se
considerar e explorar a especificidade de cada território, fomentando a natural necessidade
de uma legislação adequada a cada um. Por isso, Almeida Ribeiro, então Ministro das
colónias, em 1914, sustenta que:
A autonomia individualizou em todos os ramos, individualizou nas leis, dando a cada colónia leis
privativas; na administração, dotando cada território, nitidamente delimitado pelos territórios
vizinhos, com o seu organismo especial; nas relações com os indígenas, recusando aplicar a
amarelos o que era adequado a negros. Para ela, cada colónia é um mundo especial e distinto
(Ribeiro, 1914, 8).
97
O estudo da divisão político administrativa tem a sua razão de ser, na medida em que é sobre essas
entidades territoriais que vai recair a questão da planificação urbana e consequentemente das políticas
públicas de urbanismo.
138
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Quiculungo;
Concelho do Novo Redondo, Amboim,
Cuanza Sul Novo Redondo
Quibala, Seles e da Cela
Concelho de Malanje, Cacuso, Duque de
Bragança, circunscrição de Songo, do
Malanje Malanje
Bondo e Bângala, Cambo e Forte
República;
Concelho do Chitato, Saurimo,
Henrique de
Lunda circunscrição do Cassai-Sul, do Minungo e
Carvalho;
Camaxilo;
Concelho de Benguela, Lobito, Ganda,
Benguela Benguela
Balombo, do Cubal e Bocoio
Concelho do Huambo, Bailundo, Caala,
Huambo Nova Lisboa
Bela Vista e Vila Nova
Concelho do Bié, Andulo, Camacupa,
Bié Silva Porto Chinguar, Catabola e circunscrição do
Alto Cuanza
Concelho do Moxico, Dilolo,
Moxico Luso circunscrição do Alto Zambeze, dos
Bundas e dos Luchazes;
Concelho de Moçamedes, Bibala e Porto
Moçâmedes Moçamedes
Alexandre;
Concelho do Lubango, da Chibia, de
Quilengues, Caconda, Alto Cunene,
Huíla Sá da Bandeira Ganguelas, Baixo Cunene, Cuamato,
Capelongo, circunscrição dos Gambos e
do Curoca;
Concelho de Menongue, circunscrição do
Cuando-Cubango Serpa Pinto Cuito Cuanavale, Baixo Cubango e do
Cuando.
O que se pode depreender desta divisão territorial? Desde logo que a mesma foi presidida
pelo critério do “seu grau de desenvolvimento económico” (nº 3, artº 54º). Em segundo
lugar que o processo de planificação urbana antecedeu a divisão territorial de 1963, se
atendermos às datas da elaboração dos seguintes planos urbanísticos98:
98
Note-se que, antes da elaboração do plano urbanístico, primeiro, foram elaboradas as plantas das cidades,
sendo certo que o Plano urbanístico envolve mais elementos do que a planta da cidade ou planta de
pormenor. Neste sentido, surpreendem plantas como a da Cidade de S. Paulo de Luanda (1861); Planta de
Novo Redondo (anos 40); Planta da Cidade do Lobito e arredores (1925); Planta da Cidade de Moçâmedes
(anos 40); Planta da Vila Salazar (anos 40); Planta da Cidade do Huambo (1912); Planta da Cidade de Sá-da-
Bandeira (anos 40), etc.. Em vários casos, as plantas são mais antigas que os planos Diretores ou os planos
urbanísticos globais ou parciais (Cf. FONTE, 2012, 442-447). Isto revela bem quanto o planeamento se
circunscrevia às zonas urbanas, não contemplando uma perspectiva verdadeiramente territorial. Porém, em
alguns casos o Plano Geral de Urbanização antecede a planta. Este, em teoria, seria o melhor procedimento
em termos de planificação urbana: Primeiro conceber o Plano Geral e depois passar para a planta, inserindo-a
já num conjunto de elementos urbanísticos. Que esse, por regra, não tenha sido o princípio seguido em
139
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Este decreto refere-se às cidades (divididas em bairros e freguesias) para as quais se requer
que tenham um número de habitantes, um grau de urbanização, uma importância em
termos de atividades industriais e comerciais e um volume de receitas para que sejam
dignos de ascender a essa categoria.
O mesmo diploma estabelece também (artigo 17º), que as câmaras municipais, sem
prejuízo das competências conferidas a outros serviços, têm as seguintes atribuições: a) de
administração dos bens próprios do concelho; b) de fomento; c) de abastecimento público;
d) de cultura, educação e assistência; e) de salubridade pública; f) de policiamento.
De entre as atribuições referidas, importa salientar as alíneas c), j), k), l), m) do artigo 25º;
nos termos das quais: alínea c) compete às câmaras “elaborar o tombo da sua propriedade
urbana e o cadastro da sua propriedade rústica, delinear o plano geral e os planos parciais
de urbanização e expansão da cidade e promover o levantamento da planta topográfica
respetiva”; a alínea j) ordenar, precedendo vistoria, a demolição total ou parcial ou a
beneficiação das construções que ameaçam ruína ou ofereçam perigo para a saúde
pública…; alínea k) conceder licenças para edificações, reedificações ou quaisquer obras
em terrenos confinantes com as ruas ou outros lugares públicos sujeitos à jurisdição
municipal e aprovar os respetivos projetos na conformidade das leis e regulamentos
aplicáveis, de acordo com o plano geral, dando cota de nível e cedendo ou adquirindo por
venda, compra ou troca, independentemente de hasta pública, os terrenos necessários ao
alinhamento; alínea l) conceder licenças para habitação de edifícios construídos,
reconstruídos ou que tenham sofrido grande modificação, precedendo a verificação de
habitabilidade por peritos em construção e salubridade, com observância das disposições
legais e regulamentos aplicáveis; alínea m) embargar quaisquer obras, construções ou
edificações iniciadas pelos particulares sem licença ou com inobservância das condições
desta, dos regulamentos ou das posturas municipais.
Por sua vez o artigo 26º do mesmo diploma estabelece, na alínea g) que compete à câmara
“aprovar os planos parciais ou gerais de urbanização e expansão”.
Angola, diz algo sobre a lógica de inclusão e de exclusão inerente aos instrumentos urbanísticos primordiais
concretizados em Angola.
140
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Depreende-se do exposto nos artigos 17º, 25º e 26º que as atribuições com as políticas
públicas do urbanismo são das câmaras e, portanto, sobre os assuntos urbanísticos, elas têm
competências absolutas.
Destas disposições destaca-se o elemento urbano, que surge como critério de distinção
entre comunas [urbanas e rurais]. Por outro lado, salienta-se também o elemento numérico
como critério fundamental da delimitação de uma circunscrição urbana comunal.
141
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
De entre as disposições mais relevantes, destacam-se os artigos 13º (al. l) e 23º (nº 2, al. b).
Nos termos da alínea l), do artigo 13º, compete à Comissão Popular do Bairro “pronunciar-
se sobre a resolução de problemas de habitação, saúde pública, ensino, comunicações e
transporte, bem como todos os assuntos de interesse para a melhoria das condições de vida
das massas populares na área do respetivo bairro.
142
Políticas públicas de urbanismo em Angola
A primeira nota a fazer sobre este diploma é que introduz o princípio eletivo dos membros
das comissões, sendo eleitos para a Comissão Popular de Povoação um mínimo de cinco e
um máximo de dez membros, em sistema de votação direta e pública em Assembleia
Popular da Povoação devidamente convocada para o efeito. A Comissão de Bairro é
constituída por um mínimo de oito e um máximo de doze membros eleitos, por votação
direta e pública, em Assembleia Popular de Bairro devidamente convocada para o efeito. A
Comissão Comunal é constituída por quinze membros eleitos, por votação pública, pelas
Comissões Populares de base, em reunião plenária devidamente convocada para o efeito. O
mesmo se aplica à Comissão Municipal (artº21º a 27º) e à Comissão Provincial (artº 28º a
36º).
A quarta nota a destacar é de que a tomada de decisões sobre questões urbanas é da esfera
do órgão colegial, “a Comissão”, e nunca dos órgãos singulares, no caso os comissários
(comunal, municipal e provincial). Estes, contrariamente ao que sucede com os demais
membros (que são eleitos), são nomeados pelo Ministro da Administração Interna
(designadamente o comissário comunal e o municipal), sendo o comissário provincial
nomeado pelo Presidente do Conselho da Revolução; ou seja, à época da criação da Lei, o
Presidente da República e do Partido MPLA (Dr. António Agostinho Neto).
143
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Uma nota interessante deste artigo remete para a possibilidade que se abre, por via da Lei,
em se criar novas divisões territoriais. Concretamente, quando estabelece, no artigo 54º,
que “a lei determinará o número, denominação e limites das divisões territoriais”. Por sua
vez, o artº 54º reitera “o princípio do centralismo democrático”. Princípio este que, por
muito boas intenções, acaba por ser fragilizado pelas razões já aduzidas.
Embora o artigo 13º, do referido diploma, diga que “As competências do Comissário
Municipal no desempenho das suas funções são idênticas às dos Comissários Provinciais, a
nível do Município, salvo raras exceções, a verdade é que o Comissário Provincial vê os
seus poderes reforçados, sobretudo em matéria de questões urbanas.
Pela primeira vez, a Lei reconhece a importância do órgão provincial nas decisões a tomar
em matéria de problemas habitacionais e, fundamentalmente, na formulação de políticas
sobre a auto-construção de habitações. O que denota claramente um deslocamento de
competências urbanas que outrora eram somente do município e que a partir daqui serão
partilhados entre a comuna, o município e a província.
144
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Nota-se, curiosamente, que uma matéria que noutros diplomas era matéria de Lei, portanto,
da assembleia popular (cfr. artº 53º da Lei Constitucional da República Popular de Angola,
de 7 de fevereiro de 1978), passa agora para os poderes discricionários do comissário
provincial e do comissário municipal. É neste detalhe, aparentemente anódino, que se vai
consubstanciar a derrapagem das políticas públicas de urbanismo em Angola, dada a
qualidade dos comissários municipais, que se traduzia numa ausência generalizada de
conhecimentos em matéria de planificação urbana. Contingência que se agravou com a
inexistência de instrumentos jurídicos vinculativos da atividade urbanística.
99
No quadro do direito comparado, fazendo, por razões óbvias, comparar o angolanoao português, o
elemento “interesses locais” (artº235º, nº 2, CRP), apesar de ser reconhecido como tendo uma função de
valor principal (Pereira), de fundamento de existência das autarquias locais (F. AMARAL, 2006, 484); de
fundamento da autonomia local (OTERO, 2003, 751), é o que mais dificuldades levanta, sobretudo quanto à
sua definição.Com efeito, a expressão interesses locais surge como sendo uma cláusula geral reforçada ou
deduzida da garantia constitucional da autonomia local, como do princípio da subsidiariedade, os quais
pressupõem que os entes locais tenham uma capacidade geral para desempenhar todas as tarefas de
incidência local (ANDRADE, 1987, 21, nota 39; CANOTILHO e MOREIRA, 1993, 887). Olhando para o
constitucionalismo português, conclui-se, que a fórmula “interesses próprios das populações respetivas” não
encontra antecedentes. Porém, a Constituição de 1976 traz expressões como “interesses regionais” e
“interesse regional” (artºs 225º, nº2, al. v), e 227º, nº1, al. o), “interesse específico”(artºs 227º, nº 1, al. v), e
232º, nº2), bem como a “assuntos administrativos de interesse dos moradores (artº 265º, nº1, al. a). Por sua
vez, o artº 3º, nº 1, da Lei nº4/2000, de 24 de agosto, traz a expressão “relevante interesse local”; e o artº 8º,
da Lei nº 24/98, de 26 de maio, utiliza a expressão “relevante interesse nacional, regional ou local”. Já a
jurisprudência constitucional, sustenta que o poder autárquico funda-se na consideração e representação
aproximada de interesses, residindo justamente o espaço incompressível da autonomia local nos assuntos
próprios do círculo eleitoral (Acórdão nº 432/93;). Nestes, entende-se por interesses locais os “assuntos que
esgotem os seus efeitos no círculo local respetivo ou tarefas que se relacionem específica e diretamente com
uma certa comunidade local e esta possa realizar em autorresponsabilidade e autonomia” (Parecer nº 3/82, da
Comissão Constitucional (in Pareceres da CC, vol. 18, 151). Bem como “aquelas tarefas que têm a sua raíz
na comunidade local ou têm uma relação específica com a comunidade local e que por esta comunidade
podem ser tratadas de modo autónomo e com responsabilidade própria” (Acórdão nº 432/93). Significará isso
que as autarquias não podem, com legitimidade, atuar de forma concorrente com o Estado central ou
regional? Para além do que já foi dito quando abordámos os conceitos afins, vale a pena relevar que as
autarquias podem sim atuar em domínios do Estado central, pois existem espaços de intervenção comum
(Acórdão nº 548/97). Do exposto, pode-se concluir, a despeito de uma certa doutrina, sobretudo francesa, que
tende a negar a existência de interesses locais ou a possibilidade de o definir, que os “interesses locais” são
antes de tudo interesses da vida; ou seja, exigências da vida (Heck apud ENGISH, 1983, 368) que se
manifestam de variadas formas e que se refletem num dado contexto territorial, de ocupação humana
(relações sociais de pessoas concretas que mantêm relações de vizinhança ou de esforço comum dos
membros da comunidade - v.g os nºs. 3º, 4,º, 6º, 7º, 9º, 11º, 12º, 15º, do artº 253º, do Código Administrativo),
145
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
146
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Uma outra referência a destacar é o facto de, nos termos da alínea q), do nº 2, do artigo 51º,
da Lei em apreço, a competência de “dinamizar e apoiar a autoconstrução, de acordo com a
legislação em vigor” ser do Comissariado Provincial, Municipal (al. f do artº 71º) e
Comunal ( al. g do artº 82º). Neste caso, temos três órgãos coligais, atuando cada um a seu
nível, mas exercendo todos eles competências no domínio dos assuntos urbanos e
mormente na autoconstrução.
A grande preocupação que se coloca é de que os comissários, sendo a maior parte deles
militares, estavam mais preocupados com a guerra e com os aliados, com os quais
mantinham relações de natureza clientelar. Como o urbanismo e as suas políticas requerem
uma formação adequada, o desconhecimento e as parcas competências dos comissários
nesta área juntam-se à contingência assinalada no primeiro período deste parágrafo para
dar forma a um quadro pouco favorável ao desenvolvimento de políticas públicas de
urbanismo e de habitação.
147
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Pela primeira vez o Comissariado, enquanto órgão colegial, aparece como sendo garante da
preservação do património arquitetónico, o que constitui uma novidade na história do
urbanismo angolano atual, dado que traz à luz a preocupação pública em relação à
necessidade da preservação do património da comunidade. Ou seja, as políticas públicas de
urbanismo passam a considerar uma dimensão que, por regra, está associada a
preocupações que tendem a não ser prioritárias.
101
O comércio informal, que se realiza em inúmeros mercados informais, é sem sombra de dúvida uma das
manifestações concretas da cidade informal. Por isso, cabe aqui uma referência específica. Trata-se da fonte
148
Políticas públicas de urbanismo em Angola
h) (…)
i) “Dinamizar, acompanhar e apoiar a autoconstrução, de acordo com a legislação
em vigor”. O problema da autoconstrução foi sempre uma das políticas públicas
para o fomento a habitação. Porém, esta dinamização e apoio, durante muito
tempo, foram entendidos apenas no sentido de distribuição (venda) de lotes de
terrenos aos particulares. Não havia ainda uma consciência clara da administração
local de infraestruturar essas áreas. A consequência é de que cada um construiu da
sua maneira e em função das suas possibilidades;
j) “Promover a campanha de educação cívica da população”. Trata-se da primeira
referência que apela à educação cívica da população em relação aos modos de
vida na cidade. No plano sociológico, assinalamos aqui a tentativa de incorporar
na ideia de urbanismo a dimensão de “cultura urbana”. Trata-se de um grande
desafio face um fluxo de pessoas vindas do interior, fugidas da guerra, e que agora
devem adotar estilos de vida urbanos. Por isso, as campanhas cívicas têm a sua
utilidade para ‘purificar’ a mente do recém-chegado à cidade, que deve ser ungido
pela nova forma de vida e, dessa forma, tornar-se um cidadão (habitante de uma
cidade). Note-se que, durante muitos séculos, a cidade foi sendo um espaço
privilegiado de urbanidade, no sentido de que é nela que se torna possível o
encontro de culturas. É também neste sentido que se opera a associação entre
que alimenta a maior parte dos habitantes da cidade informal. E esta relevância é tal que não se
compreenderia o crescimento da cidade informal, no nosso contexto, sem o mercado informal. É uma tarefa
vã determinar se o mercado informal se expande com a cidade informal ou se é esta que se expande com
aquele. Sociologicamente é mais relevante abordar a cidade informal olhando as pessoas que lá vivem e
como vivem. Neste contexto específico, podemos empregar a palavra informal à luz da grelha económica.
Com efeito, a expressão informal, na senda de Queiroz (1996, 156), no contexto económico, remete-nos para
as práticas económicas realizadas fora do quadro oficial da economia. Este entendimento é também usado em
contextos económicos com níveis de organização administrativa e de desenvolvimento elevados, recorrendo-
se, frequentemente, à expressão “economia subterrânea”. Queiroz sustenta que “em Angola a expressão para
exprimir o fenómeno da informalidade é ‘mercado paralelo’, que por sua vez se reporta ao facto de ter havido
aglutinação entre o termo mercado, herdado da linguagem administrativa colonial portuguesa, que o
empregava para referir os mercados municipais oficiais de venda de produtos alimentares frescos e outros
produtos alimentares de amplo consumo, e o termo paralelo com referência ao mercado cambial que era
considerado ilegal, cujo exemplo era, até então, a experiência brasileira que serviu de inspiração para alguns
agentes económicos angolanos, permitindo assim o surgimento de um “mercado paralelo” de divisas
conjuntamente com um mercado oficial de divisas”.
Para compreender este fenómeno é necessário analisar as quatro fases por que passou a economia angolana
pós-independência, designadamente: a ETAPA I: Organização administrativa, empresarial do comércio,
aprovisionamento, distribuição e comercialização de bens (1975-1984); ETAPA II: Liberalização do
comércio e da prestação de serviços mercantis (1985-1995); ETAPA III: Criação de bases gerais e jurídico-
legais sobre reformas no setor do comércio (1996-2000); ETAPA IV: Novo posicionamento do Estado
(Ministério do Comércio) no setor do comércio (2001-2005). De entre as várias etapas, sublinha-se a
segunda, uma vez que ela se reveste de profundo significado para a abordagem que conduzimos, isto se
aceitarmos que é nela que se afirma de forma clara o fenómeno da informalidade do comércio. Nesta fase
assiste-se a(o): a) Abolição do monopólio estatal de aprovisionamento, importação, exportação,
comercialização de bens e serviços e gestão de hotéis, restaurantes e similares; b) Abolição do regime de
preços fixados e da margem de comercialização no setor do comércio e serviços, incluindo o ramo de
hotelaria, restaurantes e similares; (…); c) Surgimento do fenómeno “comércio informal” (CARDOSO,
2006).
149
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Já o artigo 20º estabelece que compete à Direção para as Águas, Obras e Construções
Locais: a) analisar arquitetonicamente os projetos de construções novas, de alterações,
150
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Finalmente, o artigo 21º, que remete para a Direção para os Mercados e Serviços
Funerários, à qual compete: a) controlar os mercados municipais, garantindo a limpeza e o
asseio dos mesmos (trata-te de uma questão digna de referência. Porém, a verdade é que o
problema do lixo à volta dos mercados tem sido uma preocupação constante das
autoridades municipais e provinciais e até mesmo centrais. Trata-se de um problema
complexo que tem merecido já muitas abordagens incluindo em fora de natureza política,
como é o caso do Conselho de Ministros); b) proceder à conferência das receitas dos
mercados102.
Sobre esta última função, importa salientar que os mercados municipais já há muito
deixaram de existir como tal, pois transbordaram para dimensões que vão para lá de um
mercado municipal nos termos concebidos inicialmente. Hoje os mercados ocupam
extensões que cobrem até às ruas e neste sentido a questão mais importante que se coloca é
de saber se estaremos perante um mercado formal (mercado municipal) ou se estaremos
perante um mercado informal? A verdade é que se formos pelo critério do pagamento dos
lugares ocupados (barracas), que normalmente são pagos por dia (variando de dimensão
para dimensão, havendo os mais pequenos ou outros maiores), então poderemos dizer que
o mercado municipal é formal. Mas se tivermos que olhar para o elemento de
licenciamento (a atividade comercial é por lei licenciada), então teremos que muitos, senão
mesmo a maior parte dos comerciantes, realizam a sua atividade de forma informal
(ilegal). Logo, estaremos diante de um mercado informal. Juntando-se a isso a questão do
modo como essa cobrança é feita. Tal cobrança é feita manualmente (um funcionário ou
102
Do estudo empírico exploratório que fizemos no mercado informal do quilómetro 30, os vendedores
referiram-se à exigência de pagamento de um valor que oscila entre 100 a 300 kz; em função dos metros
quadrados ocupados por comerciante. Ora, este pagamento aproxima-se mais a uma taxa, sendo que não
estão reunidos os pressupostos para ser cobrada uma taxa. Estamos perante uma fonte de receita cujo
enquadramento é considerado informal, logo ilegal (Soma, 2014).
151
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
vários, vão passando de barraca a barra a cobrar e a dar senhas de pagamento) e no final,
carregados de caixas ou sacos levam o valor para administração do mercado a fim de ser
contabilizado e enviado para a administração provincial onde este será canalizado para a
Conta Única do Tesouro, do Ministério das Finanças. Nesse processo, dado que o método
será declarativo (caberá à administração municipal declarar quanto arrecadou) subsistindo
sempre a dúvida, não só em relação à transparência, mas também à eventual corrupção dos
funcionários.
103
Nesta Lei Constitucional, a palavra Popular já não aparece, porque, com o acordo de Paz, os dois partidos
(MPLA e UNITA) acordaram em eliminar a palavra popular em todas as denominações relativas à República
de Angola.
152
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Como se depreende do exposto, pela primeira vez, a Administração Municipal passa a ter
uma dotação financeira com uma dupla proveniência (O.G.E. e Receitas Locais), cujo fim
é a realização de despesas com a concretização de obras de infraestruturas locais que
respondam às prioridades definidas pelos respetivos Governos Provinciais.
Não estamos a defender aqui a tese da compatibilização das prioridades dos Governos
Provinciais com as dos Municípios, até porque elas nem sempre coincidem. Mas o simples
facto de se reconhecer a entidade municipal como merecedora de um orçamento já
153
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
significa um passo muito relevante para a realização das políticas públicas, sobretudo no
domínio de infraestruturas urbanísticas.
Pela primeira vez, depois da independência, fala-se do licenciamento das terras para
diversos fins, incluindo a da construção e da autoconstrução dirigida. Particular destaque
deve ser dado ao nº2, do artº 2º que incide sobre a necessidade em elaborar e aprovar os
planos anuais de atividades e planos diretores do desenvolvimento económico-social dos
Municípios (al. y, do nº2, do artº 2º).
Ainda no âmbito deste diploma, diz-se claramente que, entre várias atribuições, compete à
Administração Municipal: a) “a elaboração do Projeto de Plano Diretor Municipal” e
(…) “submetê-lo a aprovação do Governo da Província”104 (al. e, do nº 2, do artº 30º).
Neste mesmo diploma, o Administrador Municipal passa a ter, entre outras, uma
competência urbanística que é de “aprovar os projetos de construção particular e fiscalizar
a sua execução.
104
O negritado é nosso.
154
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Quanto às Comunas, estipula o artigo 50º, do diploma em apreço, que, entre várias
atribuições da Administração da Comuna, consta a de dinamizar e realizar a limpeza,
saneamento das áreas populacionais; promover a reparação e manutenção de ruas e
passeios, a recolha de lixos, iluminação pública, sinalização rodoviária, toponímia e
cadastros; dinamizar a conservação, ampliação, manutenção dos parques, jardins, zonas
verdes e de recreio; promover a construção, manutenção e controlo dos mercados;
dinamizar, acompanhar e apoiar a autoconstrução dirigida e promover campanhas de
educação cívica à população (alíneas b, c, d, g, h e i. respetivamente).
155
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
156
Políticas públicas de urbanismo em Angola
democrático. Agora sim, afirmam-se com toda a pujança como verdadeiros pilares da
edificação da administração local do Estado.
Portanto, o que este Decreto-Lei nº 2/07 faz é determinar claramente que deve haver uma
demarcação clara entre o orçamento local e central, sendo que só assim se pode operar uma
verdadeira desconcentração e, dessa forma, garantir respostas adequadas às preocupações
locais, com maior incidência relativamente às preocupações de índole urbanística, que se
esperam possam ser resolvidas localmente.
Por fim, uma sexta alteração assinalável é o princípio da participação e colegialidade (al. f,
do artº 3º), nos termos da qual se procura incentivar os cidadãos (seja qual for a sua cor
partidária) na solução dos problemas locais, bem como aproximar os serviços públicos às
populações, de modo a garantir a celeridade, a desburocratização e a adequação das
decisões à realidade local. Já não é o centralismo democrático que rege as relações entre a
administração local e os organismos centrais, mas sim a participação e a colegialidade.
Numa expressão curta, a participação dos interessados.
157
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Nos termos das alíneas a), b), c), d), e) e f), do nº 2 (domínio do desenvolvimento urbano e
ordenamento do território), constituem competências do Governo Provincial, enquanto
órgão colegial, as seguintes: a) elaborar e aprovar a proposta do plano provincial de
ordenamento do território e remetê-lo ao órgão governamental que, a nível nacional,
superintende o ordenamento do território, para aprovação; b) elaborar e aprovar projetos
urbanísticos e respetivo loteamento para as áreas definidas para construção; c) promover,
apoiar e acompanhar o desenvolvimento de programas de autoconstrução dirigida e de
habitação social; d) ( …); e) autorizar a transmissão ou constituição de direitos fundiários
sobre terrenos urbanos, de acordo com os planos urbanísticos e com os loteamentos
aprovados.
A alínea c), do nº3 (domínio do desenvolvimento económico local), do artigo 11º, refere-se
à necessidade de “promover a instalação e a reativação da indústria para a produção de
materiais de construção.
Do diploma que acabamos de analisar, importa fazer uma breve apreciação, nos seguintes
termos:
a) Trata-se do diploma que pela primeira vez traça o quadro institucional das
políticas públicas de urbanismo em Angola, estabelecendo uma clara distinção
entre o urbanismo, o ordenamento do território bem como a separação entre
planos diretores, planos de desenvolvimento e planos urbanísticos,
b) separa claramente a competência de aprovação dos planos de desenvolvimento
social, económico e urbanístico da competência de elaboração; principalmente
porque separa a aprovação dos planos municipais de ordenamento do território
158
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Na verdade, quer olhando para o artigo 11º (competências do governo provincial), quer
para o artigo 44º (competências da administração municipal), não se vislumbra nenhuma
referência aos planos diretores. Apenas se refere a elaboração e aprovação de projetos
urbanísticos e o respetivo loteamento para áreas definidas para construção (al. b, do nº 2,
do artº 11º) e a elaboração do projeto de plano municipal de ordenamento do território,
salvaguardando-se a necessidade de o submeter ao Governo Provincial para aprovação (al.
a, do nº 2, do artº 44º). Portanto, não há referência aos planos urbanísticos (planos
diretores), mas apenas a projetos urbanísticos, de ordenamento do território e de
desenvolvimento105. Situação que, na senda de Gonçalves (2003), poderíamos caracterizar
como de “informalidade no ordenamento do território”.
Para responder à lacuna do Decreto-Lei nº 2/07, é necessário recorrer ao artigo 57º, da Lei
nº3/04, de 25 de junho (Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo), que classifica
os planos municipais (classificados em globais - Plano Diretor Municipal – e em parciais,
consoante abranjam o todo ou apenas parte da área do território do município, sendo que os
planos municipais parciais classificam-se em planos urbanísticos e planos de ordenamento
rural). E que determina que os planos de ordenamento do território e do urbanismo são
desenvolvidos pelos órgãos municipais de ordenamento do território, com o apoio técnico
dos órgãos técnicos provinciais e aprovados pelos governadores de província, nos termos
que são indicados nas alíneas a), b), c), d). Após a sua aprovação pelos governadores de
província são ratificados pelo Governo (artº 59º, da Lei nº3/04, de 25 de junho), visando
assegurar a sua conformidade com as principais opções de ordenamento do território e do
urbanismo e demais planos respetivos de escalão superior, bem como com as normas e
princípios legais aplicáveis.
Deduz-se destas disposições que o Decreto-Lei nº2/07, apesar de aprovado depois da Lei
nº3/04, não acolheu uma disposição tão importante como é essa da competência de
elaboração dos planos municipais (limitando-se a projetos urbanísticos). Por outro lado,
conclui-se também que esta tarefa é exclusiva dos municípios, sendo certo que depois da
sua elaboração são aprovados pelos governadores de província e pelo Ministro de tutela.
105
Para mais esclarecimentos sobre a diferença entre o urbanismo e o ordenamento do território vide Alves
CORREIA, 2008, 72-100; Fernanda Paula OLIVEIRA, 2012, 12-14.
159
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Aqui a lei não é muito clara sobre quem é o Ministro da Tutela. Se é o da Administração
do Território ou se é o do Planeamento Territorial (matéria que desenvolveremos mais
adiante): Sendo, finalmente, necessário obter a ratificação do Governo, ficando assim
garantida a executoriedade.
Porém, determina este mesmo diploma (do ordenamento do território e urbanismo) que o
Governo (Titular do Executivo) apresenta, de dois em dois anos, à Assembleia Nacional,
um relatório sobre o estado do ordenamento do território e do urbanismo, no qual deve ser
feito o balanço de execução das principais opções de ordenamento do território e do
urbanismo e análise das causas e graus da sua inexecução (nº1, do artº 63º, da Lei 3/04, de
25 de junho).
Nota-se aqui uma certa exigência em relação ao Titular do Executivo, uma vez que ele
“deve” prestar informações sobre o estado do ordenamento do território e do urbanismo,
evidenciando a relevância das matérias atinentes ao ordenamento do território e ao
urbanismo no contexto da administração angolana.
160
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Na esteira de Miguel Namara Barros, podemos dizer que a noção de “Projeto Urbanístico”
encerra uma certa ambiguidade. Na verdade, por um lado, acaba por integrar diversos
parâmetros que configuram o desenho urbano, desde a análise de elementos físicos às
componentes disciplinares e condicionantes, o programa (como premissa), os cenários de
transformação, que por sua vez equacionam diferentes opções quanto ao uso, às tipologias,
às volumetrias e alinhamentos. Por outro lado, pondera a sua operacionalidade em termos
de reparcelamento, da reconfiguração do cadastro, visando uma justa repartição de
benefícios e encargos, assentes numa coerência do conjunto, na relação com o meio
envolvente, e ainda definindo as malhas e traçados reguladores, o que lhe confere um grau
de pormenorização que se aproxima mais da fase de execução do que da definição de
diretrizes de natureza estratégica e genérica, como é o caso do PDM.
Há, assim, no “projecto urbano”, uma estratégia (FORN, 2005, 104), uma metodologia
comum próxima à arquitetura, que, por sua vez, se transpõe para outras escalas. Há
também nele um traço de operacionalidade (concretização de ações no terreno), um
objetivo de fazer mudanças substantivas, (re)desenhando infraestruturas públicas, numa
escala invulgar, contrariando as práticas imediatistas, seja em espaços urbanos como na
periferia (cidade alargada), e finalmente um traço qualitativo, que se consubstancia na
qualificação do espaço público (daí a sua aproximação à arquitetura).
Quanto aos planos urbanísticos, determina a atual lei que os planos urbanísticos são
aqueles cujo conteúdo essencial e especial é a definição de modelos de evolução da
ocupação humana [previsibilidade ou temporalidade] e da organização dos sistemas
urbanos. Designadamente pela classificação dos terrenos urbanos e definição dos
respetivos perímetros. Pela programação das redes viárias e de transportes dos
equipamentos coletivos, bem como a fixação, na escala adequada, dos parâmetros de
aproveitamento dos terrenos urbanos, de distribuição das atividades económicas e sociais,
de equipamentos e serviços públicos e privados, de carências habitacionais e ainda de
índices obrigatórios de zonas verdes, bem como de arborização das vias urbanas que
contribuam para uma melhor qualidade do ambiente urbano (artº 32º, da Lei nº 3/04, de 25
de junho - Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo): sendo importante sublinhar
161
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Ora, como isto não vem inscrito no Decreto-Lei 2/07, que se refere apenas a “Projetos
Urbanísticos”, obviamente, conforme já foi dito, este enquadramento legal presta-se a uma
grande ambiguidade.
Neste sentido, importa reforçar ainda que o Plano Diretor Municipal (PDM) é um
instrumento fundamental para o ordenamento e gestão das cidades, conforme estabelece o
artigo 31º, da Lei nº 3/04, de 25 de junho (Lei do Ordenamento do Território e do
Urbanismo). Nos termos desse mesmo artigo,
O Plano Diretor Municipal representa o tipo central e fundamental de planos globais municipais que,
contendo diretrizes de natureza estratégica e carácter genérico, representa o quadro global de
referência, podendo estabelecer a classificação dos terrenos rurais e dos terrenos urbanos de um
município, bem como elementos fundamentais da estrutura geral do território e que sirvam
designadamente de combate das assimetrias intra-municipais, entre a cidade e o campo, integrando
as opções de âmbito nacional e regional com incidência no território municipal.
Finalmente, ainda sobre o Decreto-Lei nº2/07, há também que referir que em relação à
Comuna não se vislumbra qualquer referência à sua participação na elaboração dos planos
urbanísticos, sendo-lhe reservada, entre as mais importantes tarefas urbanísticas, apenas
competências em termos de promover a construção, manutenção e controlo dos mercados
locais (al. a, do nº 2, artº 68º); controlar, acompanhar e apoiar a autoconstrução dirigida (al.
f, do nº 2, artº 68º); e assegurar a preservação dos edifícios, monumentos e sítios
classificados como património histórico nacional e local (al. c, do nº 3, do artº 68º).
Entretanto, o Decreto-Lei nº2/07 veio a ser revogado pela Lei nº 17/10, de 29 de julho.
Sem discutirmos aqui essa alteração da forma de ato, de Decreto Lei para Lei, importa
frisar que este mesmo diploma, quanto às políticas públicas de urbanismo, apresenta
algumas alterações de fundo que importa detalhar.
Para além dos princípios contidos no Decreto-Lei nº2/07, surgem agora os princípios da
constitucionalidade, da probidade administrativa, da simplificação administrativa e da
aproximação dos serviços às populações. Quanto ao princípio da constitucionalidade
162
Políticas públicas de urbanismo em Angola
podemos dizer que pela primeira vez as preocupações urbanísticas assumem um estatuto de
dignidade constitucional, o que significa dizer que estamos perante a “constituição do
urbanismo”, entendida como um conjunto de regras e princípios constitucionais
respeitantes ao urbanismo (CORREIA, 2008, 119, ss).
Tem sido prática recorrente ver os particulares a construir as suas habitações sem que para
o efeito tenham obtido, em tempo útil, a devida autorização para o licenciamento das
obras. Podemos arriscar, sem incorrermos em erros significativos, que cerca de 90% das
construções dos particulares foram erguidas sem o mínimo conhecimento das autoridades
administrativas.
Depreende-se que, mais uma vez, o Governo Provincial não aprova planos urbanísticos,
mas apenas elabora e aprova projetos urbanísticos. Mas pode autorizar a constituição e a
transmissão de direitos fundiários sobre terrenos rurais e urbanos (numa área igual ou
inferior a 1000 hectares - artº 68º, da Lei nº 9/04, de 9 de novembro, Lei de Terras).
163
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
Quem aprovará então os planos urbanísticos do município? Este diploma, apesar de datar
de 2010, não acolheu o disposto no artigo 57º da Lei 3/04, o qual confere aos órgãos
municipais a tarefa de elaborar os planos municipais de ordenamento do território e do
urbanismo, com o apoio técnico dos órgãos técnicos provinciais, correndo a aprovação por
conta dos governadores de província. Estranhamente, o diploma refere apenas que, no
domínio do desenvolvimento urbano e do ordenamento do território, compete à
administração municipal “elaborar o projeto de plano municipal de ordenamento do
território [uma vez que não faz referência ao urbanismo, entenderá que os dois querem
dizer a mesma coisa?] e submetê-lo ao Governo Provincial, para a aprovação” (al. a, do nº
2, do artº 45º).
Depois refere-se, na al. e), a competência de apreciar, analisar e decidir sobre os projetos
de construção unifamiliar e outros de pequena dimensão; licenciar terras para diversos fins,
nos termos da lei; bem como dinamizar, acompanhar e apoiar a autoconstrução dirigida (al.
f, do nº 2, do art.º 45º).
164
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Trata-se de uma abordagem que se nos afigura crucial. Desde logo porque, se na análise
anterior procuramos abordar as prerrogativas das políticas urbanísticas a nível local,
olhando fundamentalmente para os diplomas e regulamentos afins, agora pretendemos
conhecer as formas de articulação entre departamentos ministeriais e de que modo essas
formas manifestam continuidades e roturas em relação ao passado colonial. Esta análise é
importante para vislumbrarmos se há ou não de facto uma conflitualidade de atribuições ou
competências (positiva ou negativa) no seio destes organismos no que respeita ao
urbanismo.
165
Capítulo V – A Planificação Urbana no contexto colonial e pós-colonial em Angola
166
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Nesta década, como é sabido, Angola estava sujeita ao regime colonial português, sendo
considerada uma colónia e, mais tarde, uma Província do território ultramarino português.
As atividades que aí decorriam regiam-se por diplomas oriundos da metrópole, sem
prejuízo de determinados assuntos serem regulados pelo direito costumeiro das distintas
localidades de Angola.
Apesar de vários instrumentos sobre edificações urbanas datarem de há muitos anos, com
maior destaque para o ano de 1911, a verdade é que somente com o Decreto nº 26 180, de
7 de janeiro de 1936, 106 se começa a fazer uma referência sistemática ao problema da
urbanização das colónias.
106
Note-se que, desde 11 de novembro de 1911, o Governo Português foi aprovando instrumentos gerais de
obras públicas das colónias, bem como as respetivas inspeções dessas obras. Trata-se de instrumentos que
não só estabelecem regras de construção e de conservação de edifícios e monumentos públicos, incluindo a
elaboração, registo e expedição dos diplomas e a compilação dos elementos estatísticos e dos projetos de
regulamentos, como também decretos sobre a elaboração dos projetos, plantas, desenhos, orçamentos e
cadernos de encargos de novas construções ou quaisquer outros trabalhos relacionados com o serviço de
construção. Cabe igualmente destacar os pareceres sobre características arquitetónicas dos projetos de novos
edifícios apresentados por entidades religiosas, destinados a igrejas, capelas e estabelecimentos de ensino
religioso, bem como de reconstrução, ampliação ou restauro dos existentes (Cfr. Decreto de 11 de novembro
de 1911. Diário do Governo 274 (1911-11-23) 4603-4610 “Regulamento Geral das direções e inspeções das
obras públicas das colónias”; Portaria nº 245. Boletim oficial da Província de Angola 9 (1914-02-28) 187-
189, “Instruções regulamentares para a conservação e reparação dos edifícios públicos do Estado na
Província”; Decreto nº 695. Diário do Governo I Série. 128 (1914-07-29), que aprova o Regulamento
Orgânico da Direção das Obras Públicas da Província de Angola, etc. Isto significa que as preocupações para
com as políticas públicas de urbanismo datam apenas das últimas décadas? Claramente que não. Basta
constatar a existência de regulamentos sobre edificações desde 1911. O que significa que é no início do
século XX, que Portugal, agarrado ao desejo de manter o seu império ultramarino, e sob o receio da sua
perda, intensifica obras públicas nas colónias. Ainda assim, a planificação urbana como tal será apenas
concretizada a partir da década de 1940, como demonstram as plantas e esbocetos da época.
167
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
107
Para além da DGFC (serviço de carácter permanente) existiam também (por iniciativa da própria DGFC)
serviços de natureza eventual, constituídos por brigadas e missões técnicas de estudo, projecto e construção,
com funções específicas e duração limitada (Cfr. Decreto-Lei nº 33 265, de 24 de novembro de 1943;
Decreto-Lei nº 36 622, de 24 de novembro de 1947, e Portaria nº 16 833, de 13 de agosto de 1958, já no
âmbito da Direcção-Geral de Obras Públicas e Comunicações) virados para realização de estudos, projetos e
construção de aeródromos; bem como a Portaria nº 14 171, de 28 de novembro de 1952, focado para
problemas de natureza hidroagrícolas, hidroelétricas e de povoamento.
108
Além dessa, a DGFC tinha outras repartições: Repartição dos Serviços Geográficos, Geológicos e
Cadastrais; Repartição dos serviços Económicos; e Repartição dos Correios, Telégrafos e Eletricidade (Cfr.
GODINHO, 2011, 17, ss).
109
O Gabinete de Urbanização Colonial (GUC) é criado aos 6 de dezembro de 1944, por Marcelo Caetano,
no primeiro ano em que ocupa as funções de Ministro das Colónias (Cfr. Dec. 34 173, de 1944)
168
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Para o efeito, a DGOPC estruturou- se nas seguintes repartições e direções: Direção dos
Serviços de Urbanismo e Habitação; de Pontes e Estruturas; de Serviços Hidráulicos; de
Serviços de Transportes Terrestres e das Repartições dos serviços elétricos; dos Correios,
Telégrafos e Telefones.
169
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
110
Do Interior; da Informação; do Trabalho e Segurança Social; da Economia; do Planeamento e Finanças;
da Justiça; de Transportes e Comunicações; da Saúde e Assuntos Sociais; das Obras Públicas, Habitação e
Urbanismo; da Educação e Cultura; da Agricultura; e dos Recursos Naturais (Carmo VAZ, Angola rumo à
independência, O Governo de Transição, documentos e personalidades, Livrangol, 1975, 121, ss).
111
Cfr. Decreto nº 35-A, publicado no D. G nº 25-I Série de 1975/01/30.
170
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Essa forma de organização do urbanismo, que nos parece ser bastante tímida, ancorada na
formulação de instrumentos reguladores de infraestruturas e edifícios e monumentos,
prevaleceu durante quase três décadas (1975-2000).
112
Durante vários anos, a perspetiva urbana que se desenvolveu não foi além destes desideratos. Nas décadas
de oitenta e noventa foram construídas algumas moradias (maioritariamente prédios de três a quatro andares,
sem elevadores) para acolher dirigentes públicos e cidadãos estrangeiros (nomeadamente cooperantes:
professores e oficiais militares).
171
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
bem como o Código de Processo Civil- artº 964º, sobre a cessação do arrendamento; Assim
como as leis, do período pós independência, criadas na década de 1980 e 1990 (Código de
Família - Lei nº 1/88, de 20 de fevereiro; Lei nº 19/91, de 25/05, sobre a Venda do
Património Habitacional do Estado; Decreto nº 6/92, de 24 de janeiro, sobre litígios de
bens imóveis urbanos e rústicos e o Decreto Executivo nº 18/96, de 3 de maio, sobre a
atualização das rendas). Estas disposições legais, embora tratem de questões pontuais sobre
o urbanismo, constituem uma referência para o presente estudo, atendendo a que nos
permitem concluir que as preocupações com a organização administrativa do urbanismo
conheceram um certo retrocesso, ao ponto de se afirmar que “o planeamento territorial e as
questões urbanísticas em geral não mereceram, ao longo dos anos, um tratamento
sistemático e ordenado”. A legislação colonial deixou de ser aplicada e o poder instituído
não cuidou de forma aprofundada as matérias ligadas ao planeamento territorial,
ordenamento e outras matérias conexas, como, por exemplo, as de índole habitacional
(MAT e PNUD, 2007, Vol. II, 19).
Entretanto, será nos finais da década de 1990 que o quadro jurídico-legal sobre o
urbanismo conhece um salto qualitativo e quantitativo através da criação, primeiramente,
das Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo (Lei nº 48/98,
de 11 de agosto) e, posteriormente, da Lei de Bases do Ambiente (Lei nº5/98, de 19 de
junho). Diplomas que serão desenvolvidos na década de 2000, na sequência do já referido
Estudo sobre a Macroestrutura da Administração Local do Estado.
172
Políticas públicas de urbanismo em Angola
existentes no tempo colonial neste domínio. Foram também criadas condições para que se
efetivasse a organização administrativa do urbanismo.
173
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
174
Políticas públicas de urbanismo em Angola
d) Ministério do desenvolvimento
rural e agrícola (Quem? Se existe um
ministério da agricultura e
desenvolvimento rural?);
e) Ministro dos Transportes;
f) Ministro da Geologia e Minas;
g) Ministro dos Petróleos;
h) Ministro da energia e águas;
i) Ministro da hotelaria e turismo;
j) Ministro da administração do
território (artº 46º)
Atribuições
Órgãos
Gerais (artº 47º, da Lei nº 3/04, de 25 de junho)
Ministério da Colher, analisar e processar dados e informações relevantes
Administração do para o processo de ordenamento do território nacional,
Território organizando e gerindo o respetivo banco de dados;
Ministério do Preparar os cenários possíveis de evolução da ocupação e uso
Planeamento e do do espaço territorial com vista à elaboração das principais
Desenvolvimento opções estratégicas de ordenamento do território nacional;
Territorial Supervisionar o processo de elaboração dos diversos
Ministério da instrumentos de ordenamento territorial;
Construção Elaborar a proposta das principais opções do ordenamento do
Ministério do território nacional;
Urbanismo e Preparar as metodologias de abordagem da realidade
Habitação económica e social do país e a sua difusão em colaboração
Comissão com os restantes órgãos do sistema de planeamento;
Interministerial do Prestar apoio técnico em matéria do ordenamento do território
Ordenamento do e, de qualquer outro modo, cooperar com os órgãos
Território e do provinciais e municipais de planeamento económico e demais
Urbanismo departamentos da Administração Pública nas suas
Gabinete de competências específicas;
Reconstrução Assegurar a integração, coordenação ou compatibilização dos
Nacional diversos instrumentos e fontes implicadas na elaboração e
execução dos planos territoriais;
Prestar apoio técnico e consultivo e, de qualquer outro modo,
Comissão Nacional cooperar com os órgãos provinciais e municipais de
para a planeamento territorial, podendo, em regime transitório,
implementação do substituí-los nas suas funções técnicas, através de unidades
Programa de técnicas, suprindo falhas e limitações locais em recursos
Urbanismo e técnicos e humanos, nos termos regulamentares;
Habitação As demais competências previstas na lei e diplomas
regulamentares.
175
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
Atribuições
Órgãos
Específicas em matéria urbanística
Formular, coordenar, executar e avaliar a política do
Executivo relativa à Administração Local do Estado,
Administração Autárquica, organização e gestão territorial,
autoridades e comunidades tradicionais;
Elaborar e implementar normas sobre a divisão política e
administrativa, nomes geográficos dos Municípios do País
(Para o efeito foi criada, por Despacho nº 7/00, de 17 de
novembro, uma Comissão Técnica, sob coordenação do
Ministério da Administração do Território cujos resultados
ainda não são conhecidos). É importante dizer que a questão
da divisão política e administrativa do território está também
no cerne da desorganização urbana que se verifica um pouco
por todo o país, não se sabendo onde começa um bairro,
comuna, município e até mesmo província para desta forma
coordenar as ações de impacto territorial com maior destaque
para o urbanismo lato sensu;
Coordenar e assegurar a elaboração e execução dos planos de
desenvolvimento local e autárquico, em articulação com
outros departamentos;
Ministério da Participar na definição da política de confisco e desconfisco
Administração do de prédios urbanos e rústicos nos termos da lei;
Território (Decreto Promover a cooperação descentralizada e celebração de
Presidencial nº acordos de geminação entre municípios e cidades do País e do
247/12, de 11 de estrangeiro;
dezembro) Coordenar as ações com vista à organização do território e
dos aglomerados populacionais e ao desenvolvimento
administrativo, económico, social e cultural das províncias e
municípios (e o Ministério do Planeamento e do
desenvolvimento territorial, especialmente o Gabinete de
Política de População? E do urbanismo e da Habitação?);
Pronunciar-se sobre as propostas de reservas fundiárias, taxas
ou tarifas relativas às concessões fundiárias e outros direitos
afins propostos pelos órgãos da Administração Local do
Estado (Não seria esta, perguntamos, uma competência do
Ministério das Finanças?);
Acompanhar e propor medidas para uma melhor gestão
fundiária dos territórios sob jurisdição dos órgãos da
Administração Local do Estado, autarquias e instituições do
poder tradicional;
Elaborar estudos e propor alterações à divisão político-
administrativa do País (Não seria preferível, questionamo-
nos, deixar esta tarefa às províncias em cooperação com os
municípios, devendo o MAT prestar o devido auxílio técnico
e em áreas mais complexas em termos de acesso?)
176
Políticas públicas de urbanismo em Angola
177
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
178
Políticas públicas de urbanismo em Angola
179
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
180
Políticas públicas de urbanismo em Angola
181
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
182
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Os quadros 23, 24 e 25 revelam que as imensas tarefas a realizar no âmbito das políticas
públicas de urbanismo na Angola do pós-guerra foram complexas, não sendo verosímel
que um único organismo fosse capaz de tudo abarcar. Aliás, já Aristóteles perguntava
sobre “Que general de exército saberia comandar uma multidão excessiva? Que homem
seria capaz de se fazer aí ouvir…?” (ARISTÓTELES, 2000, 669). Por outro lado, existem
tarefas urbanísticas que muito bem poderiam ser atribuídas especificamente a este ou
àquele ministério, em vez de serem espalhadas por vários, ao ponto de se criar, em alguns
casos, situações de conflito de competências positivos (em que todos os ministérios ou
institutos querem intervir) e negativos ( em que ninguém se quer pronunciar, ficando por
fórmulas vagas de tipo “acompanhar”, “colaborar”).
O exemplo mais acabado desta conflitualidade está no artigo 46º, da Lei nº 3/04, de 25 de
junho, isto é, da Lei do Ordenamento do Território e do Urbanismo. Aí se diz que a
Comissão Interministerial do Ordenamento do território e do Urbanismo integrada pelos
Ministros do planeamento económico, obras públicas, desenvolvimento rural e agrícola,
dos transportes, geologia e minas, petróleos, energia e águas, hotelaria e turismo e
administração do território, é presidida pelo Ministério que tenha a seu cargo o
ordenamento do território e urbanismo. Ora, como se depreende do exposto, a tarefa do
ordenamento do território está acometida ao ministério do planeamento e desenvolvimento
territorial (abarca o planeamento territorial e o planeamento económico) enquanto que a
matéria do urbanismo está atribuída ao ministério do urbanismo e habitação.
Paradoxalmente não existe o ministério do ordenamento do território e do urbanismo.
Logo, as tarefas da Comissão Interministerial do Ordenamento do Território e do
Urbanismo ficam sem órgão dirigente e coordenador.
183
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
Do exposto, conclui-se que as preocupações de planeamento, qualquer que seja o seu nível,
tocam interesses que devem ser devidamente harmonizados para que sejam garantidas as
atribuições nesses níveis (nacional, interprovincial, intermunicipal e municipal ). O que
implica uma estruturação interna diferente da que vem estipulada nos vários instrumentos
referidos, sobretudo no que diz respeito à forma de funcionamento e até mesmo de
organização dos órgãos centrais da administração Estadual. Porque acontece, não raras
vezes, que os administradores municipais não são tidos nem achados na definição e
implementação dos planos sectoriais (já que não existem ainda planos diretores) e são
confrontados com projetos de responsabilidade central para os quais não possuem
nenhuma informação e que, além disso, colidem frequentemente com as regras de um débil
ordenamento do território local (Cfr. CEDOUA, 2006, 15).
Neste sentido, afigura-se urgente a revisão das leis ordinárias sobre o ordenamento do
território e do urbanismo, de forma a adequá-las à Constituição e, desse modo, garantir a
harmonização e a cadeia de comando a que estão sujeitas as leis, garantindo-se a devida
homenagem ao princípio da unidade do ordenamento jurídico.
184
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Órgão Atribuições
Provincial
Órgãos técnicos Orientar, coordenar e controlar as atividades de
provinciais (dirigidos ordenamento da respetiva área territorial (Princípio
pelo governador da da territorialidade das atribuições urbanísticas);
província. Integram as Elaborar, com base nas principais opções dos planos
direções provinciais, e demais orientações gerais, e com o apoio técnico
tendo competências central, as propostas de ordenamento do território e
urbanísticas. do urbanismo;
Subordinam-se Acompanhar e controlar a execução dos planos
tecnicamente à provinciais de ordenamento e zelar pela consecução
autoridade do Ministério das respetivas metas;
que tenha a seu cargo o Prestar, por si ou subsidiado pelo órgão central, apoio
ordenamento do técnico aos órgãos municipais de ordenamento do
território e urbanismo (o território;
qual não existe. Existem Cooperar com os órgãos provinciais de planeamento
dois ministérios nesta económico assegurando a integração e
área: MINUAH e compatibilização dos respetivos instrumentos de
MPDT). âmbito provincial.
Municipal
Nível local
(diferentemente do
legislador, entendemos Concretizar as principais opções de ordenamento do
que, quer o nível território, dos planos interprovinciais de ordenamento
provincial, quer o bem como as emanadas pelo órgão central e
municipal se enquadram provincial;
no nível local). Auxiliar os órgãos municipais de ordenamento do
Órgãos técnicos território na elaboração dos planos municipais e
municipais (dirigidos intermunicipais, devendo, se for necessário, solicitar
pelo administrador o apoio técnico dos órgãos técnicos provinciais.
municipal. Integram as
repartições municipais
com competências
urbanísticas).
113
Artº 49º/50º/57º, da Lei nº 3/04, de 25 de junho
185
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
Ministério
Instituto ou fundo Atribuições Conflitos
tutelar
Ministério do
Pessoa coletiva de
Instituto planeamento e
direito público que
Nacional do desenvolvimento
visa assegurar a
Ordenamento territorial ao qual
execução da política
do Território compete cuidar do
do ordenamento do
e ordenamento do território
Ministério território e
Desenvolvime e da execuções das
do planeamento
nto Urbano. principais opções neste
Urbanismo urbanístico.
domínio.
e Habitação
Ministério da
Pessoa coletiva de
Administração do
direito público que
Instituto Território o qual também
visa assegurar a
Geográfico e coordena e supervisiona
execução da política
Cadastral de a elaboração e produção
geográfica e cadastral.
Angola. dos dados cartográficos e
114
al. a), do nº 4, do artº 13º, da Lei nº3/04, de 25 de Junho
186
Políticas públicas de urbanismo em Angola
geodésicos no âmbito da
organização territorial e
da divisão política e
administrativa; trata de
promover estudos
geográficos e geodésicos,
ainda que no âmbito da
organização territorial e
da divisão política e
administrativa; participa
da criação e gestão de um
banco de dados de
informação geográfica do
País e coordena
Pode haver conflito com
a Comissão Nacional
para a Implementação do
Pessoa coletiva de Programa de Urbanismo
direito público que e Habitação que, entre
visa proceder à outras, também cuida de
Instituto implementação da aprovar os mecanismos e
Nacional de política do fomento, instrumentos que
Habitação promoção e alienação permitem a oferta de
em matéria de habitação social bem
habitação. como da sustentabilidade
económica, financeira e
fundiária do Programa de
Habitação Social.
Pessoa coletiva de
direito público criada
para financiar as
atividades de
Fundo de
promoção,
Fomento
urbanização,
Habitacional
construção e gestão
de habitação, em
especial as de carácter
social
187
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
Estrutura
Critérios de
classificação dos
Planos Territoriais
Instrumentos Âmbito (ordenação, ocupação e
uso de espaços
compreendidos no
território)
Normas, Princípios e Nacional
direitos fundamentais (LC); (Programa Razão do
Lei do Ordenamento do Nacional território (ver
Território e Urbanismo e Ordenamento do âmbito).
seu regulamento; Território
Lei de bases da política de (PNOT) e Plano Razão do objeto
ordenamento do território e Nacional de
de urbanismo, do ambiente Desenvolvimento Planos Especiais;
Lei de Terras; Territorial Sectoriais.
Lei do ambiente; (PNDT).
Planeamento Territorial e Planos Sectoriais Razão da
Urbanístico; (Ministérios) natureza dos
Lei Quadro do Planos Especiais espaços
Planeamento Económico; de Ordenamento Planos de
Lei Geral Mineira; do Território) ordenamento
Petróleos; rural;
Energia e águas; Planos
Lei que aprova as Opções Provincial Urbanísticos;
do Ordenamento do (Planos Plano Director
Território Nacional Provinciais e Municipal
(POOTN); Interprovinciais (PDM);
Principais Opções de Ordenamento Plano de
Estratégicas (POE); do Território Urbanizaçao
Diplomas que aprovam os (PPOT- PIOT) (PU);
planos territoriais e Regional Plano de
urbanísticos no âmbito Pormenor (PP);
provincial e municipal; Plano Especial.
Medidas preventivas Municipal
constantes dos planos (Planos
territoriais; Intermunicipais
Planos Territoriais; de Ordenamento
Operações de ordenamento; do Território
Órgãos de intervenção no Planos Municipais
ordenamento do território. de Ordenamento
do Território)
188
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Vimos que a planificação territorial em Angola ficou estagnada durante cerca de 40 anos.
Ao longo desses anos a população foi aumentando em número e a concentração nas
cidades capitais não parou de crescer. A consequência mais óbviae premente foi o
crescimento desordenado das cidades (dando origem a cidades largamente informais).
Situações que agora se confrontam com os ditames da lei de ordenamento do território e do
urbanismo, os quais prescrevem normas imperativas, sejam elas de âmbito nacional,
setorial, municipal ou especial.
189
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
Atento a este problema, o legislador angolano procurou estabelecer níveis de eficácia dos
planos territoriais, tendo em conta o critério dos interesses públicos subjacentes. Aos quais
acrescem outros, tanto doutrinais como legais, que nos permitem compreender melhor as
imbricações entre os planos nos níveis ou graus referidos.
De entre os critérios mais relevantes e centrais está o critério da eficácia jurídica ou dos
efeitos jurídicos dos planos, que, pela importância de que se reveste para se compreender
casos concretos como os de Cabinda, de Luanda ou da Huíla, requerem a sua explicitação.
Neste sentido, importa referir que existem planos urbanísticos que produzem efeitos
jurídicos ou vinculam os próprios sujeitos de direito público a quem são imputados os
planos (autoplanificação). Existem outros que vinculam outras entidades públicas, para
além daquelas que os elaboraram e aprovaram (heteroplanificação) e finalmente aqueles
que vinculam direta e imediatamente os particulares (planificação plurisubjectiva).
190
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Apesar desta classificação, que é útil para diferenciar situações, a verdade é que todos os
planos territoriais vinculam os sujeitos de direito público que os elaboram e os aprovam, de
acordo com a máxima “tu patere legem quam ispse fecisti”, o que significa que todos os
planos territoriais, sem exceção, são uma manifestação da autoplanificação e também da
heteroplanificação, pois também vinculam outras entidades públicas (Alves Correia, 2008,
383 e ss; Plano Urbanístico, s. d., 208; Fernanda P. Oliveira, 2012, 22, ss; 2003 (CJA, Nº
39), 24 e ss).
Resulta do exposto que nem todos os planos têm eficácia plurisubjectiva; isto é, nem todos
vinculam diretamente os particulares, na medida em que são essencialmente de natureza
estratégica e diretiva, como é o caso do Programa Nacional de Ordenamento do Território
(PNOT), dos Planos Sectoriais e dos Planos Especiais de Ordenamento do Território (que
inclui os planos de ordenamento de áreas protegidas, os planos de albufeiras de águas
públicas, os planos de ordenamento da orla costeira e os planos de ordenamento dos
estuários). Em contrapartida, apenas alguns produzem efeitos diretos e imediatos ou
vinculam direta e imediatamente os particulares. Neste âmbito situam-se os planos
municipais de ordenamento do território, pois aplicam-se globalmente ao município
enquanto um todo, disciplinando os vários usos do solo (rurais e urbanos) integrados na
área territorial municipal; isto é, tomam em consideração “todos os interesses que
confluem na sua área de intervenção e estabelecem métodos de harmonização entre os
referidos interesses quando em relação de conflito real ou potencial” (OLIVEIRA, 2012,
23).
Entre os dois níveis, os planos especiais assumem uma posição hierarquicamente superior
(posição do legislador português) aos planos municipais. Posição que não deixa de ser
contestada, quer porque os planos especiais são instrumentos de carácter meramente
sectorial (atentos aos fins que visam), são supletivos e transitórios (duram enquanto for
indispensável a tutela dos valores ou recursos naturais), quer porque os planos municipais
191
Capítulo VI – Organização política e administrativa do urbanismo em Angola
O exposto permite-nos distinguir quais os planos que lidam diretamente com os interesses
dos particulares, quais os que definem os modos de ocupação dos solos que servem de
referência para a prática de atos administrativos, como é o caso dos desalojamentos
verificados no caso concreto das medidas de enfrentamento da cidade informal, conforme
visto nesta Tese para as províncias de Luanda, Huíla e Cabinda.
Ora, essa situação teria sido evitada se existisse um plano municipal de ordenamento do
território, tipo plano urbanístico, o qual, em observância do princípio da hierarquia, da
articulação e da contracorrente, permitiria que as previsões dos planos setoriais fossem
integradas nos planos municipais de ordenamento do território. Dessa forma evitar-se-ia o
conflito entre os planos. Só nesta condição os planos sectoriais poderiam, indiretamente,
ser aplicados, ou seja, seriam “apenas oponíveis aos particulares se e quando forem
recebidos, em termos materiais, nos planos especiais e municipais de ordenamento do
território” (Alves CORREIA, 2008, 367).
192
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Angola tem uma superfície de 1 252 145 quilómetros quadrados, com uma densidade
populacional de 20 habitantes por quilómetro quadrado. A Lunda Norte surge como a
província com maior densidade populacional (105.7 habitantes por Km2) enquanto a
província do Cunene é a que regista uma densidade populacional mais baixa (87.6
habitantes por Km2).
Em termos de taxa de ocupação urbana, os dados que ao INE apresenta mostram que cerca
de 62% da população reside em áreas urbanas, o que significa que a maior parte da
população de Angola já vive nas cidades, havendo, neste sentido, razões suficientes para a
adoção de políticas públicas ativas em relação ao urbanismo e à habitação.
193
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Um dos grandes desafios que o Governo angolano veio a enfrentar após o longo conflito de
guerra - que conheceu várias etapas e vários atores (primeiro a guerra contra a colonização
-1961-1975: UPA, FNLA, MPLA e UNITA115; depois entre os movimentos de libertação
nacional - FNLA, UNITA e MPLA; e, finalmente, uma guerra entre o poder instituído
[MPLA] e a UNITA - guerra civil), que terminou com a assinatura do memorando do
Luena aos 4 de abril de 2002, após a morte de Jonas Savimbi, aos 22 de fevereiro de 2002 -
prende-se com as insuficiências das infraestruturas massivamente destruídas pela guerra
(estradas, pontes, barragens, vilas, cidades, aldeias, etc), com a escassez de habitações,
principalmente de habitação social e com a ausência de planeamento urbanístico.
Como tem sido prática no contexto internacional, em que os países saídos dos conflitos
militares são assistidos através de mecanismos de financiamento para a reconstrução
nacional, também o Executivo Angolano tentou, sem sucesso, apresentar, como tem sido
115
Movimentos e partidos políticos (sem estatuto jurídico, ou seja movimentos e partidos de facto e não de
jure devido a ausência de reconhecimento pelas leis coloniais. Situação que se manteve depois da
independência, até pelo menos 1992, altura em que se altera o regime monopartidário para o pluralismo
democrático e os partidos passam a ter um estatuto constitucional): UPA-União dos Povos de Angola depois
passou a denominar-se FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola); MPLA (Movimento de Libertação
Popular de Angola); UNITA (União Nacional para Independência Total de Angola).
194
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Importa referir que a materialização desses objetivos traduz uma das aspirações políticas
do Executivo Angolano, liderado pelo Eng. José Eduardo dos Santos e suportado pelo
MPLA, o qual inscreveu no seu Manifesto Eleitoral de 2008 um vasto e ambicioso
programa de urbanismo e habitação, denominado “Projeto de 1 Milhão de Casas”.
116
Cfr. A notícia “A União Europeia (UE) organizará a 25 de março, em Bruxelas, uma conferência
internacional para mobilização de fundos para o financiamento do desenvolvimento da Guiné-Bissau, após ao
longo período de guerra e de instabilidade interna (www.notícias.sapo.ao), serve como referência do que
temos vindo a dizer. Em Angola sucedeu o mesmo, depois de o Governo Angolano ter apresentado, em
Bruxelas o estudo global e detalhado sobre a necessidade de financiamento para a reconstrução. O mesmo
não só não foi aceite como não mereceu qualquer atenção (o autor desta Tese fez parte da elaboração deste
relatório, assumindo a responsabilidade relativa às províncias da Huíla, Namibe e Malanje, pelo Centro de
Estudos Estratégicos de Angola-C.E.E.A).
117
Trata-se apenas da primeira fase do relançamento das infraestruturas rodoviárias, objetivo que ainda segue
o seu curso, agora com prioridade para as vias municipais, intermunicipais.
195
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Quanto aos sujeitos desta política de habitação, o Projeto 1 Milhão de casas defende que o
problema da habitação em Angola não pode ser resolvido apenas pelo Estado, sendo assim
necessária a intervenção das sociedades imobiliárias, de cooperativas habitacionais, das
famílias (que se devem organizar para a autoconstrução) e de outras instituições, como é o
caso das instituições financeiras nacionais e internacionais, as quais interviriam não
somente na mobilização de poupanças como também na concessão de crédito bancário.
118
A questão da adaptação das técnicas de construção aos solos já foi discutida no tempo colonial, pois, já
naquela altura se criticava a imposição de modelos arquitetónicos e técnicas de construção ocidentais em
detrimento dos materiais locais e filosofias culturais africanos. Paradoxalmente, apesar desta perspetiva, a
verdade é que a maior parte, senão todas, das empresas que se encarregaram de construir as grandes
centralidades foram constituídas com o recurso à mão-de-obra chinesa, ao arrepio de toda a legislação laboral
e como se não bastasse foram replicados modelos arquitetónicos que não tiveram em conta as caraterísticas
do solo, os quais já se demonstram atualmente críticos e desadaptados, sobretudo em épocas de chuvas.
196
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Uma dez vencidas as eleições de 2008, pelo partido no poder, e como consequência deste
programa eleitoral acima exposto, brotaram as linhas de força de Governação do
Executivo, que passou a estabelecer, no domínio da habitação, “o programa nacional de
urbanismo e habitação para o período 2009-2012”, cujos objetivos eram: a) a
construção de 1 milhão de casas; b) o desenvolvimento de uma política do urbanismo e
habitação; c) a dinamização e qualificação do desenvolvimento do sistema urbano e do
parque habitacional, e desta forma c) garantir o Bem-Estar social da população e contribuir
para o desenvolvimento sustentável do País (PNUH-2009-2012, 16).
Para a concretização destes objetivos, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos
criou um Grupo de Trabalho cujas atribuições são as seguintes:
197
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Este grupo é coordenado pelo ministro do Urbanismo e Habitação, tendo como adjunto o
Diretor do Gabinete de Reconstrução Nacional. O grupo integra ainda os assessores
económicos do Presidente da República e do primeiro-ministro, representantes dos
ministérios do Planeamento, das Finanças, das Obras Públicas, da Administração do
Território e do Ambiente (in Angop, 4 de novembro de 2008).
198
Políticas públicas de urbanismo em Angola
zonas urbanas
(61,2%) e 19 milhões
e 434 mil em zonas
rurais (UN, 2009, 22)
Brasil (América do
Sul)
O Brasil lançou em 2009 o programa “Minha
Com uma população
Casa Minha Vida” e também estabeleceu como
estimada em 193
meta a construção de 1 milhão de casas.
milhões e 734 mil
Em termos de balanço, apesar dos êxitos
habitantes, residindo 2009
logrados com o Governo de Lula, ainda
166 milhões e 844 em
prevalece um vasto número de problemas de
zonas urbanas
habitação e de planeamento urbanístico, é acima
(86.1%) e 26 milhões
de tudo também um caso de tendencial sucesso.
e 889 mil em zonas
rurais (UN, 2009, 19)
O Sri Lanka
(Ásia)
População estimada O Sri Lanka desde que se tornou num país
em 20 milhões e 238 independente, em 1948, lançou por três vezes
mil, sendo que 2 um programa de construção de, no mínimo, 1
milhões e novecentos 1984-2011 milhão de casas: MHP (1984-89), MHP (1990-
e três vivem nas 95) e Jana Sevena (lançado em fevereiro de
cidades (14,3%) e 17 2011 para realojar populações afetadas por
milhões e trezentos e catástrofes naturais).
trinta e três vivem em
zonas rurais (UN,
2009, 22)
Angola Projeto Habitacional 1 milhão de casas.
Com uma população
(residente) estimada Trata-se de um projeto que se revelou à partida
em 24,3 milhões de bastante ambicioso, não só pelas metas muito
habitantes. apertadas (4 anos), como pelos problemas de
Destes, estima-se que financiamento (a maior parte do financiamento
cerca de 10 milhões e veio da China, como já foi dito). Beneficiou dos
661 vivem em zonas altos preços de venda do petróleo entre 2005-
urbanas (57.6%) e 7 2008-2012 2008. Devido à crise financeira e à baixa do
milhões e 836 em preço do petróleo, em particular, o conceito e o
zonas rurais (Cfr. UN, projeto de “1 milhão de casas” em Angola foi,
2009, 19), e com os em 2009 (abril), objeto de reformulação; as
atuais dados quais (1 milhão de casas) passaram a ser
estatísticos comprova- divididas em 115 mil casas a serem erguidas
se que 62% da pelo setor público; 120 mil casas a serem
população reside em erguidas pelo setor privado, enquanto 80 mil
áreas urbanas. ficariam a cargo de cooperativas. E o grosso das
199
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Fazendo uma apreciação geral dos resultados alcançados, e apesar dos problemas de
financiamento já referidos, podemos dizer que o programa de um milhão de casas
executadas (em execução) pelo governo de Angola, e outros projetos habitacionais em
curso, podem ser considerados como um caso de sucesso.
119
A autoconstrução dirigida obedece a procedimentos previamente traçados na Cartilha aprovada pelo
Ministério da Construção e Habitação e realiza-se nas reservas fundiárias. Nos termos da Cartilha de
orientação para aquisição de habitação social nas áreas de reserva fundiária o cidadão 1) manifesta o seu
interesse em participar do Programa dentro das modalidades existentes (Autoconstrução e Habitação pronta);
2) dirige-se ao órgão competente da Administração Municipal e/ou Governo Provincial para registar-se no
Programa com a escolha do tipo de casa; 3) apresenta a documentação pessoal necessária para a compra de
casa, no caso de habitação pronta e a documentação necessária para ter direito a modalidade de
autoconstrução; 4) a Administração Municipal e/ou o Governo Provincial aprecia a documentação e avalia se
o cidadão tem direito a participar ou não; 5) as condições de participação são: B.I ou Cédula Pessoal;
Comprovação do salário; Não ter beneficiado anteriormente de uma habitação do Governo; Não possuir casa
própria; estar enquadrado nas rendas do Programa de habitação; 6) Apreciado o processo, a Administração
Municipal e/ou o Governo Provincial insere o nome do interessado na lista, de acordo com as suas condições;
7) Administração Municipal e/ou o Governo Provincial convoca o beneficiário e o informa sobre as
condições do financiamento do Programa; 8) a Administração reserva-se, depois de inscrever e enquadrar o
cidadão no Programa, o direito de, para a modalidade de “Habitação Própria” e no caso de a demanda ser
maior, o direito de fazer a seleção (sorteio público); 9) Após a seleção o cidadão é chamado para assinar o
Termo de Adesão ao Projeto ou; 10) no caso de empreendimentos já concluídos, assinar o contrato de compra
do terreno/casa (no caso das casas em construção a assinatura é feita no ato da entrega da casa). O mesmo
procedimento será seguido no caso da Autoconstrução, designadamente a inscrição, convocação do
interessado (para apresentar a documentação pessoal e o projeto da casa que pretende construir, seguindo os
parâmetros previamente estabelecidos ou ainda optar pelas propostas de casas apresentadas pela
Administração Municipal/e ou Governo); 12) Uma vez aprovado o Projeto, a Administração Municipal e/ou
o Governo Provincial procede à demarcação da área, na presença do beneficiário e; 13) Seguidamente
notifica-o para a assinatura do contrato. Trata-se de uma modalidade que coloca duas alternativas ao
particular mas que deixa uma margem de discrionariedade muito larga para Administração Municipal e/ou o
Governo Provincial, dado que este, na presença de muitos pedidos, tem o direito de selecionar e olhar para a
condição financeira dos concorrentes.
200
Políticas públicas de urbanismo em Angola
do Urbanismo e Habitação, José Silva, de um trabalho que foi apresentado há cerca de dois
anos durante o primeiro Fórum Urbano que teve lugar na África do Sul, onde Angola
apresentou o Programa Nacional de Urbanismo e Habitação que o país está a desenvolver,
em relação ao qual houve reações muito positivas por parte da comunidade africana e não
só.
O "Prémio José Eduardo dos Santos", cujo lançamento ocorreu no dia 30 de abril de 2015,
durante o fórum sobre infraestruturas em África, e para o qual concorreram 9 cidades
africanas, foi instituído pelo comité executivo da União das Cidades dos Governos Locais
de África (UCLG África), numa das suas reuniões, em outubro de 2014, na cidade de
Joanesburgo (África do Sul) e terá uma periodicidade anual, dirigindo-se a vários países.
A primeira edição deste prémio, na categoria de grandes cidades, que distingue o melhor
gestor africano das cidades, foi vencida pela presidência da cidade de Accra (Gana),
seguida pelas cidades de Kinodoni (Tanzânia) e da Praia (Cabo Verde).
201
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Em termos monetários destaca-se o valor de 200 mil dólares para o primeira vencedora, na
categoria de grandes cidades. Na categoria de médias cidades, foi vencedora a cidade de
Kinadoni (Tanzânia), tendo sido agraciada com 100 mil dólares. Na categoria de pequenas
cidades venceu a cidade da Praia (Cabo Verde), que recebeu o prémio monetário de 50 mil
dólares americanos.
Como já dissemos atrás, o PNUH, tendo sido gerado no seio de uma estratégia eleitoral,
surge agora como uma política pública do Executivo angolano, e serve como promotor e
condutor da política geral de urbanismo e habitação, intervindo no mercado imobiliário,
não somente para a corrigir desigualdades ou imperfeições, como também para promover,
por si próprio, a oferta de habitação.
120
Aplicando as leis da procura e da oferta ao mercado angolano, constataremos que se, por um lado,
traduzem parte da verdade, por outro lado, o facto de os preços dos produtos, quase de todos os produtos,
nacionais e importados, estarem sempre a subir levanta a questão de saber se existirão outras leis mais para
explicar este quadro. Talvez a lei da especulação ou da falta de intervenção do Estado? Ou como escreve
Schimitt, “estaremos diante da autonomia das normas e das leis do económico a imporem-se com autoridade
incontestável como o caso de longe mais importante de uma esfera humana autónoma. Que produção e
consumo, formação de preços e mercado têm a sua esfera própria e não podem ser dirigidos nem pela ética
(…) muito menos pela política?” (Carl SMITT. op. cit. p. 99).
202
Políticas públicas de urbanismo em Angola
não exclui, de maneira nenhuma, a que no ato de compra (v. g. do imóvel para habitação) um dos
contraentes sofra um prejuízo, nem que um sistema de acordos mútuos finalmente se transforme num
sistema da pior exploração e opressão. Quando os exploradores e oprimidos numa tal situação
procuram defender-se, é óbvio que não o conseguirão com meios económicos. Que os detentores do
poder económico caracterizarão toda a tentativa de alteração “extra-económica” de sua posição de
poder com violência e crime e tentarão impedi-lo, isto também é óbvio. Deste modo, deixa de existir
aquela construção ideal de uma sociedade baseada na troca e nos acordos recíprocos e eo ipso pacífica
e justa. Assim, é necessário que o Estado intervenha nestas situações para proteger os menos fortes no
121
mercado” .
Em suma, das imperfeições do mercado e externalidades que não podem ser ultrapassadas
pela mão invisível, legitima-se então a intervenção do Estado. Isso mesmo verifica-se,
entre outras, quando:
a) Há especulação nos preços de bens julgados essenciais para uma existência
mínima da vida social que requerem a intervenção do Estado para sua limitação.
O mesmo acontece quando determinado bem escasseia; ou seja, quando está
aquém do nível de consumo, havendo necessidade de mais consumo, haverá
intervenção para que a produção satisfaça a demanda;
b) Numa outra perspectiva pode acontecer que a mão invisível provoque
concentrações exageradas levando ao desfavorecimento de regiões. Diante deste
quadro também é necessário que haja intervenção do Estado, pois é exigência do
ordenamento do território que assim seja em prol da realização do direito de
habitação e desenvolvimento que assiste as regiões desfavorecidas;
c) Pode ainda haver intervenção pública por razões de imperativos do
desenvolvimento sustentável e solidariedade intergeracional, visando garantir
consumo de um determinado bem não renovável como é o caso dos
hidrocarbonetos às novas e futuras gerações;
d) Além destas funções, afirmam Musgrave e Musgrave, (1989) “cabem também às
autoridades, nas economias de mercado, as funções de redistribuição (o mercado
não atende a situações de exclusão, carência e desigualdade) e de estabilização
(macro-económica)”.122
Demonstrada sumariamente a imperfeição do mercado, na perspectiva do livre jogo;
demonstradas as razões principais da necessidade de intervenção do Estado, podemos
agora questionar-nos sobre como o mesmo deve intervir no mercado da habitação em
Angola, começando por perguntar se deve ou não haver intervenção do Estado neste
domínio? A resposta, à luz do PNUH é inequivocamente afirmativa. Isto é, deve haver a
intervenção do Estado, não só no mercado imobiliário, como noutros domínios conexos.
Olhando para o Programa Nacional de Habitação, podemos analisar essa política pública
intervencionista, a qual apresenta como eixos fundamentais os seguintes: a) pretende ser
global ou nacional (ampla e transversal); b) visa instaurar um novo sistema urbano e criar
121
Cf. F. Sander apud Carl SCHMITT. op. cit., p. 104.
122
Musgrave e Musgrave apud Manuel Carlos Lopes PORTO, op. cit., p. 95.
203
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Vejamos então a base estatística da população sobre a qual assenta esta estratégia do
PNUH.
Com um desvio de erro que pode haver nas três perspetivas, podemos afirmar que há uma
clara tendência de aumento da população em Angola e uma cada vez mais crescente a
concentração das populações nas zonas urbanas em detrimento das zonas rurais o que
suscita inevitavelmente o problema das políticas públicas de habitação e do urbanismo em
Angola. No mesmo sentido vão as projeções da ONU (Figura 4), que apontam, com base
em estimativas realistas (nem pessimistas, nem otimistas), o ano de 2090 como o ano em
que Angola alcançará 100 milhões de habitantes.
204
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Figura 4 –
População
Total de
Angola
(Projeção)
123
123
“Estes gráfico mostra estimativas e projeções probabilísticas da população total para Angola. A projeção
populacional baseia-se nas projeções probabilísticas de fertilidade total e expetativa de vida ao nascer, com
base nas estimativas da Perspectiva de 2017 das Perspectivas da População Mundial. Essas projeções
probabilísticas de fertilidade total e expectativa de vida ao nascer foram realizadas com um Modelo
Hierárquico Bayesiano. As figuras mostram a mediana probabilística, e os intervalos de previsão de 80 e 95
por cento das projeções populacionais probabilísticas, bem como a variante (alta e baixa) (determinista) (+/-
0,5 filho) da Perspectiva de 2017 das Perspectivas da População Mundial.” (ONU - World Population
Prospects - Population Division)
205
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
124
Assim é porque as decisões fundamentais relativas ao urbanismo e habitação, bem como ao ordenamento
do território (planeamento, gestão urbanística e controlo das atividades de ocupação do território) deixaram
de ser privadas e passaram a ser acometidas à Administração. E é assim porque somente o Estado tem uma
visão de conjunto e uma reflexão global do ordenamento do espaço, o que não sucederia se esta tarefa fosse
deixada exclusivamente a cargo dos particulares ou ainda a partir de uma visão estritamente empresarial, ou
local (autarquias) (Cfr. Fernanda Paula OLIVEIRA, 2011,14, ss).
206
Políticas públicas de urbanismo em Angola
207
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
125
Significara isso que é o Estado que promove o licenciamento urbano e não os particulares? Se for assim, é
de esperar a inércia e o tempo que isso pode levar quando seria mais célere se fossem os proprietários ou as
construtoras a promover este licenciamento.
208
Políticas públicas de urbanismo em Angola
A nível Provincial
A Comissão Provincial de Supervisão do PNUH é presidida pelo Governador da
Província e integra:
Vice-Governador da Província (Coord. Adjunto);
Representante Provincial do Urbanismo e Habitação;
Representante Provincial das Obras Públicas;
Representante Provincial das Finanças;
Representante Provincial da Indústria;
Representante Provincial do Comércio;
Representante Provincial dos Transportes;
Representante Provincial do Ambiente;
Representante Provincial do Interior;
209
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
126
INH-Instituto Nacional da Habitação
127
FFH-Fundo de Fomento Habitacional.
128
PNH-Programa Nacional da Habitação.
210
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Para além da arquitetura financeira referida no ponto anterior, o Executivo angolano prevê
também um Programa de Investimentos Públicos a serem realizados no domínio do
urbanismo e habitação porque considera que o urbanismo e habitação também contribuem
para o PIB. Neste sentido, traçou, neste período, uma estratégia de realização de
investimentos públicos de natureza setorial (central) e local (municipal), bem como a
abertura ao mercado privado, designadamente:
Departamento 2009-2012
Projetos
Ministerial Total de Fogos
Programa de Reservas Fundiárias do 34.800
Ministério do
Estado, que se traduz na implementação de
Urbanismo
88 projetos de aquisição e demarcação de
e Habitação
terrenos como reservas fundiárias do
211
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
1.Programa de Urbanismo
212
Políticas públicas de urbanismo em Angola
2. Programa de Habitação
Habitação Social. 3 projetos de
conjuntos habitacionais para um total de
7.000 fogos sociais para alojar 42.000
pessoas (famílias sem poder aquisitivo e
desalojadas de áreas onde estejam a ser
executados projectos de interesse
público, em 3 capitais de províncias;
Habitação de mercado: 2 conjuntos
habitacionais para necessidades de
famílias e empresas, num total de 3.280
fogos de média renda, para alojar 19.680
pessoas (famílias desalojadas de
edifícios degradados e famílias sem
poder aquisitivo) em 2 capitais de
províncias.
1. Programa de Urbanismo 8.992
18 projetos urbanos (esquema diretor e
rede de infraestruturas urbanístico-rurais
e equipamentos sociais coletivos) em 18
províncias, para implementação de
projetos habitacionais de interesse social
no meio rural com perímetros irrigados.
213
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
2. Programa de Habitação
Construção de 138 projetos de conjuntos
habitacionais para a população rural, num
total de 65.500 fogos sociais de
autoconstrução dirigida para alojar 393.000
famílias de autoridades tradicionais,
agricultores, famílias camponesas
deslocadas e famílias camponesas
refugiadas e regressadas nas 18 províncias;
Construção de 308 projetos de conjuntos
habitacionais para a população rural, num
total de 151.930 fogos sociais de
autoconstrução dirigida para alojar 911.580
famílias de autoridades tradicionais,
agricultores, famílias camponesas
deslocadas e famílias camponesas
refugiadas e regressadas nas 18 províncias;
Construção de 190 projetos de conjuntos
habitacionais para a população rural, num
total de 47.288 fogos sociais de
autoconstrução dirigida para alojar 283.728
famílias de autoridades tradicionais,
agricultores, famílias camponesas
deslocadas e famílias camponesas
refugiadas e regressadas nas 18 províncias.
1. Programa de Urbanismo 54.500
o Implementação de 11 projetos urbanos
Gabinete de (plano diretor e rede de infraestruturas
Reconstrução urbanísticas e equipamentos coletivos) em
Nacional (atual Kilamba Kiaxi, Zango, Cacuaco, Km 44,
GOI) Capari, Cabinda, Dundo, Caxito, Dande,
Catete e Benguela necessários para
implantação de projetos habitacionais de
214
Políticas públicas de urbanismo em Angola
2. Programa de Habitação
o Construção de 27 projetos de conjuntos
habitacionais, num total de 54.400 fogos
sociais para alojar 327.000 famílias
(servidores do Estado, famílias sem poder
aquisitivo e também famílias desalojadas de
áreas onde ocorrem execução de projectos
de interesse público, nomeadamente:
Kilamba Kiaxi, Zango, Cacuaco, Km 44,
Capari, Cabinda, Dundo, Caxito, Dande,
Catete, Benguela, Huambo, Lubango,
Cuito, Malange, M´Banza Congo, Soyo,
Uíge, N´Dalatando, Sumbe, Luena, Lucapa,
Saurimo, Namibe, Menongue e Ondjiva
o Construção de 18 projetos de conjuntos
habitacionais, num total de 420.000 fogos
sociais para alojar 2.520.000 famílias sem
poder aquisitivo e desalojadas de áreas
onde estejam em execução projetos de
interesse público, em 18 capitais de
província
GRN AUTO-
CONSTRUÇÃO 420.000
DIRIGIDA
1. Programa de Urbanismo
Implementação de 3 projetos urbanos
Comissão de interligados (plano diretor, rede de
Desenv. infraestruturas urbanísticas e equipamentos
Futungo de sociais coletivos, desportivos e turísticos e
Belas áreas de lazer) em Luanda, para
implementação de projetos habitacionais de
mercado
TOTAL GERAL 798.490.000
Conforme foi referido, para além dos investimentos públicos no domínio do urbanismo e
habitação, há também uma outra questão relevante concernente à responsabilidade dos
215
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Municípios de todo o país em matéria de autoconstrução dirigida, uma vez que se viram
confrontados com o desiderato de, cada um deles, construísse, ao abrigo do Programa, 200
novos fogos 129 . A estes 200 fogos por município juntam-se as 110 mil casas da
responsabilidade da SONIP (Sonangol Imobiliária (atualmente IMOGESTIN, S.A) e da
KORA Angola, também em todos os municípios, (numa tipologia de casas isoladas e
geminadas) como a seguir se demonstra:
Total de
Nº fogos
fogos pela
Município/Reserva Subprograma
N/O Província SONIP
(Centralidade) 200 (por
e KORA
Município)
ANGOLA
1 1. Cabinda (A. Tchibodo) 2.000
2. Cacongo 200
3. Buco-Zau 200
Cabinda
4. Belize 200
Sub-total de fogos 600 2.000
Total de fogos para Cabinda 2.600
2 5. M´banza Congo (M. Congo 3.000
III)
6. Soyo (Soyo) 4.000
7. N´zeto (N´zeto) 200
8. Tomboko (Tomboko) 200
Zaire
9. Nóqui (Zona de Ntongui) 200
10. Cuimba (Vila do Cuimba) 200
Sub-total de fogos 800 7.000
Total de fogos para o Zaire 7.800
3 11. Uíge (Quilomoço) 4.500
12. Negage (Negage II) 2.500
Uíge
13. Songo (Zulo Mongo III) 200
14.Bembe (Aldeia Nova) 200
129
Este programa, apesar de ser nacional, não abrange municípios que já estão a beneficiar do subprograma
de 110 mil fogos a cargo da SONIP e da Kora-Angola (Cfr.Subprograma para a construção de 200 fogos por
município, 2010-2013, 49).
216
Políticas públicas de urbanismo em Angola
217
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
41-Libolo 200
42-Quibala 200
43-Mussende 200
44-Seles 200
45-Conda 200
46-Cassongue 200
47-Ebo 200
Sub-total de fogos 1.400 5.000
Total de fogos para o 6.400
Cuanza Sul
6 48-Malanje (Carreira de Tiro II) 6.000
49-Cacuso (Cassongue II) 200
50-Calandula 200
51-Cambundi-Catembo 200
52-Quela 200
53-Caombo 200
54-Massango 200
55-Lukembo 200
Malanje
56-Marimba (Marimba Nzenza) 200
57-Kunda-Dia-Baze 200
58-Quirima 200
59-Caculama 200
60-Cangadala 200
61-Kiwaba-N´Zozi 200
Sub-total de fogos 2.600 6.000
Total de fogos para o 8.600
Malanje
7 62-Chitato (Chitato I) 1000
Lunda
63-Lucapa 200
Norte
64-Cambulo 200
(9
65-Cuilo 200
municípios)
66-Caungula 200
218
Políticas públicas de urbanismo em Angola
67-Cuango 200
68-Lubalo (Lubalo I) 200
69-Capenda-Camulemba 200
70-Xá-Muteba (Xá Muteba I) 200
Sub-total de fogos 1.600 1000
Total de fogos para a Lunda 2.600
Norte
8 71-Saurimo (Saurimo I) 2.000
72-Muconda 200
Lunda Sul
73-Dala 200
(4
74-Cacolo 200
municípios)
Sub-total de fogos 600 2000
Total de fogos para a Lunda 2.600
Sul
9 75-Benguela (Graça Norte) 5.000
76-Baía Farta 2.000
77-Lobito 3.000
78-Cubal 200
Benguela 79-Ganda 200
(9 80-Balombo 200
municípios) 81-Bocoio 200
82-Caimbambo 200
83-Chongoroi 200
Sub-total de fogos 1200 10.000
Total de fogos para Benguela 11.200
10 84-Huambo (Losam. e Tchipipa) 5.000
85-Bailundo 3.000
Huambo 86-Caála 4.000
(11 87-Ekunha (Chipeio) 200
municípios) 88-Ucuma 200
89-Longonjo 200
90-Mungo (Cambuengo) 200
219
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
220
Políticas públicas de urbanismo em Angola
221
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
130
No subprograma da construção de 200 fogos Luanda não foi contemplada pelo facto de já beneficiar de
um conjunto de projetos habitacionais quer de baixa, média e alta renda.
222
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Joint-Venture de
Total de
N/O Empresas Chinesas e Projetos
fogos
Angolanas/Cooperativa
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 2
projetos de centralidades
urbanas e urbanizações (plano
diretor e rede de infraestruturas
urbanísticas e equipamentos
sociais coletivos) no Zango-
Viana, província de Luanda e na
CIF-XING PING
cidade de Benguela
HONG REAL STATE 10.000
1 2.Programa de Habitação
em parceria com a GNR
Construção de 2 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos médios, num total
de 10.000 fogos de média renda
para alojar 60.000 pessoas no
Zango-Viana (Luanda) e
Benguela.
1.Programa de Urbanismo
CITIC-XING PING Implementação de projetos de
2 HONG REAL STATE urbanismo de mercado: 3 60.000
em parceria com a GNR projetos de centralidades
urbanas e urbanizações (plano
131
Constata-se que, dos 165 municípios, 126 foram contemplados, num total de 25.000 fogos para uma
população estimada de 150.000 habitantes. Trata-se de uma projeção que ainda não é realista, tendo em conta
que foi feita sem uma visão exata sobre a população existente em cada município. Importa também referir
que a estimativa de reservas fundiárias varia ente 25-100 hectares, que perfaz uma densidade entre 150 a 200
Hab/Hec. (Subprograma de construção de 200 fogos, 2012, 4-22).
223
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
224
Políticas públicas de urbanismo em Angola
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 2
projetos de centralidades
urbanas e urbanizações (plano
diretor e rede de infraestruturas
urbanísticas e equipamentos
PAN-CHINA-XING
sociais coletivos) no Dande,
PING HONG REAL
5 província do Bengo 5.000
STATE em parceria com
2.Programa de Habitação
a GNR
Construção de 2 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos médios, num total
de 5.000 fogos de média renda
para alojar 30.000 pessoas no
Dande, província do Bengo.
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 2
projetos de centralidades
urbanas e urbanizações (plano
diretor e rede de infraestruturas
urbanísticas e equipamentos
PAN-CHINA-XING sociais coletivos) no Dundo,
PING HONG REAL província de Lunda Norte.
6 5.000
STATE em parceria com 2.Programa de Habitação
a GNR Construção de 2 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos médios, num total
de 5.000 fogos de média renda
para alojar 30.000 pessoas no
Dundo (Lunda-Norte).
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 2
projetos de centralidades
CENTURY urbanas e urbanizações (plano
HUAFENG-XING diretor e rede de infraestruturas
7 PING HONG REAL urbanísticas e equipamentos 5.000
STATE PING em sociais coletivos) no Soyo
parceria com a GNR (município), província do Zaire
2.Programa de Habitação
Construção de 2 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
225
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 25
projetos de urbanizações (plano
diretor e rede de infraestruturas
urbanísticas e equipamentos
sociais coletivos) em Luanda,
Benguela e Huambo.
8 ODEBRECHT 2.Programa de Habitação 4.023
Construção de 25 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos médios e altos, num
total de 4.023 fogos de média e
alta renda para alojar 24.138
pessoas em Luanda, Benguela e
Huambo.
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 0
projetos de centralidades
urbanas e urbanizações (plano
diretor e rede de infraestruturas
urbanísticas e equipamentos
PAN-CHINA-XING
sociais coletivos) na Boa Vista
PING HONG REAL
9 (Luanda)
STATE em parceria com
2.Programa de Habitação
a GNR
Construção de 0 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos médios, num total
de 0 fogos de média e alta renda
para alojar 0 pessoas na Boa
Vista (Luanda).
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
Empresas Nacionais- urbanismo de mercado: 0
Estrangeiras e o projetos de requalificação
10
Ministério do Urbanismo urbana (plano diretor e rede de
e Habitação infraestruturas urbanísticas e
equipamentos sociais coletivos)
em capitais de província
226
Políticas públicas de urbanismo em Angola
(renovação de bairros)
necessários para implementação
de conjuntos habitacionais
2.Programa de Habitação
Construção de 0 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos baixos, médios e
altos, num total de 0 fogos de
baixa, média e alta renda para
alojar 0 pessoas nas capitais de
província (no âmbito da
requalificação dos bairros).
1.Programa de Urbanismo
Implementação de projetos de
urbanismo de mercado: 22
projetos de urbanizações (plano
diretor e rede de infraestruturas
urbanísticas e equipamentos
sociais coletivos) em 12
províncias para implementação
COOPERATIVA
11 de conjuntos habitacionais 6.256
CAJUEIRO
2.Programa de Habitação
Construção de 22 projetos
habitacionais de mercado para
famílias e empresas de
rendimentos médios, num total
de 6. 265 fogos de média renda
para alojar 37 pessoas em 12
pessoas.
Total 130.279
Fonte: Programa Nacional de Urbanismo e Habitação 2009-2012, 86-88.
Nota: Alguns projetos estão a zero (zero projetos, zero pessoas) porque não avançaram para a concretização.
Neste sentido, e em termos gerais, podemos constatar que o Programa, para além de ser
bastante ambicioso, apresenta alguns pontos que merecem a nossa atenção,
designadamente:
227
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
a) Apesar das delimitações legais para cada um dos setores, a verdade é que pode
haver (e tem havido) conflitos de competências (positivos e negativos). Desde
logo, é visível alguma confusão na atribuição de tarefas, pois constata-se que nos
ministérios referidos todos têm competências urbanísticas, de construção, de
habitação, etc. Verifica-se, por exemplo, que um ministério trata da inventariação
dos forais, vários da construção de bairros, de urbanizações, de vilas, ao mesmo
tempo que caixas de previdência sociais e mutualidades de foro público
constroem habitações para os associados. Essa simultaneidade de funções coloca
problemas vários, sobretudo em termos de responsabilização e de elaboração de
políticas estruturantes, mas, fundamentalmente, na gestão quotidiana das próprias
urbanizações. A experiência de outros países pode ser recomendável, no sentido
de vir a ser criado um ministério das cidades (como sucede, por exemplo, no
Brasil), de modo a permitir uma supervisão mais coerente e consentânea em
matéria de gestão urbanística;
b) Não se explica qual foi a metodologia encontrada para o cálculo de beneficiários
para cada província, municípios e até comunas. Isso tem dado azo a suspeitas de
esquemas (fraudulentos) e especulações no momento da entrega das casas. Porque
se tem constatado que, na maior parte das vezes, não é o povo necessitado que
mais beneficia das habitações, mas os próprios dirigentes ou familiares de quem
tutela a distribuição desse bem essencial, ou, noutros casos, empresas que
compram um conjunto de lotes para mais tarde revender ou arrendar;
c) Na atribuição dessas tarefas não aparecem as unidades administrativas comunais,
bairros e povoações, mas apenas municípios, o que de certa forma ignora a
participação dos entes administrativos comunais, muita das vezes distanciados dos
municípios. Ou seja, quem melhor conhece a situação social e económica dos
potenciais beneficiários fica completamente à margem do projeto;
d) Há uma atribuição que é feita de cima para a base. Isto é, dos ministérios para os
municípios, sem ter havido estudos sobre solos e sobre os interesses locais
específicos, de modo a que possam ser considerados os valores culturais e
paisagísticos, o que pode suscitar um problema já vivido no urbanismo colonial
que é o problema dos planos e projetos urbanísticos estarem a ser feitos longe da
terra onde serão aplicados. Aliás, basta ver que o próprio Relatório sobre o Estado
do Ordenamento do Território Nacional que contempla a questão urbana e
patrimonial só foi concluído em 2015, e ainda em fase de discussão;
e) Não há um corpo de arquitetos, engenheiros e urbanistas identificados associados
a um projeto estruturante a nível nacional. Isso seria fundamental, quer em termos
de atribuição de responsabilidades e de garantia de acompanhamento dos projetos
por parte do Estado, mas também em termos de valorização dos quadros
nacionais, de modo a refletir o próprio orgulho das escolas de formação
angolanas. A única referência que se faz pode ser encontrada no subprograma de
construção de 200 fogos pelos municípios, quando se alude à necessidade de um
concurso público para a seleção de consultores que seriam contratados para a
elaboração dos projetos (2-6) e da seleção dos empreiteiros para adjudicação das
obras (7-12), bem como a seleção de empresas fiscalizadoras (12-16). Embora não
se diga se os consultores são nacionais ou estrangeiros e também não se faça
228
Políticas públicas de urbanismo em Angola
132
Cfr. wwwmakaangola, Angola Governo Chinês Investiga Corrupção em Angola, 6 de Agosto de 2015.
Acessado 19.08.2015:00:41.
229
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
m) Todos esses projetos têm sido executados num ambiente de secretismo, muito na
filosofia da expansão urbanística que acontece na China, e as pessoas só tomam
conhecimento quando já estão concluídos, sem terem tido a oportunidade de se
pronunciar sobre aspetos importantes do meio e da cultura, bem como das
melhores práticas para a execução de obras em áreas onde habitam há muitos
anos, onde conhecem os cursos das águas, o tipo de solo e as alterações
climáticas. Portanto, há aqui um défice muito grande na consideração e
valorização dos destinatários, o que nos parece deveras preocupante;
n) O facto de as empresas e cooperativas não pagarem pelos terrenos onde são
implementados projetos habitacionais, beneficiando de todas as infraestruturas à
custa do próprio Estado, levanta a questão de saber se o Estado terá apenas como
contrapartida as rendas ou impostos provenientes das vendas ou arrendamentos
dos frações ou residências, ou não. É que, parece óbvio, as empresas lucram muito
mais, uma fez que não assumem as externalidades, quando o estado garante toda a
infraestrutração e elas apenas constroem habitações que depois vendem a preços
proibitivos;
o) No setor da Habitação, apesar de haver intervenções e políticas públicas a nível
nacional, a maioria dos investimentos concentram-se em Luanda. Isso tem
acentuando o grau de concentração das populações na capital de Angola. Sucede
que muitos funcionários e empresários, mesmo trabalhando nas províncias,
preferem comprar uma casa ou apartamento nessas centralidades. Desta forma
marginalizam-se aqueles que apenas podem pagar faseadamente (PNH, 2013-
2017, 122)
p) Os prazos apresentados (2009-2012) para a execução de obras de urbanização e
construção de habitações levantaram, desde o início, várias suspeitas em relação à
qualidade das obras. Para além da construção em si, há todo um conjunto de
procedimentos e análises a fazer, designadamente: as atividades a montante da
cadeia de valor, como sejam a exploração de rochas ornamentais, pedras, areias,
revestimentos, cerâmica, cimento, cal, gesso e caulinos (o que em Angola é
particularmente relevante); bem como intervenções relacionadas com o
ordenamento do território, a gestão das águas residuais ou a urbanização da
cidade, acresce ainda a necessidade de pensar uma política pública de habitação
mais transversal e integrada, considerando-se a construção de habitação social,
incluindo “casas económicas” (Cfr. BAPTISTA, 1999), evolutivas, em regime de
autoconstrução, o que nos parece não ter sido devidamente programado.
230
Políticas públicas de urbanismo em Angola
estavam completamente desatualizadas, dado que esses planos datavam das décadas de
1960-1970.
Províncias/Localidades
Nº Tipo de carências
Luanda Outras Total
1 Províncias sem Planos Diretores de 1 17 18
Cidades Capitais
2 Municípios sem Planos Diretores 9 155 164
Fonte: Programa Nacional de Urbanismo e Habitação 2009-12
Províncias/Localidades
Nº Tipo de carências
Luanda Outras Total
1 Cidades com infraestruturas 1 17 18
urbanísticas deficitárias
2 Sedes Municipais com 9 155 164
infraestruturas urbanísticas
deficitárias
Fonte: Programa Nacional de Urbanismo e Habitação 2009-12
133
Para além dos planos diretores, planos de urbanização, e planos de pormenor, que aqui se apresentam,
também estão em curso os POR- Plano de Ordenamento rural; PE-Planos especiais; PS-Planos Sectoriais;
PPOT-Plano Provincial de Ordenamento do Território; PIMOT-Plano Intermunicipal de Ordenamento do
Território e os PDG-Plano Diretor Geral (Cfr. MAT, Relatório sobre o Estado atual dos Planos Territoriais)
231
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Cacongo X X X
Cabinda
Buco Zau X X X
Belize X X X
Mbanza Kongo X X X
Cuimba X X X
Nóqui X X X
Zaire
Soyo X X X
N´zeto X X X
Tomboco X X X
Uíge X X X X
Negage X X X
Cangola X X X
Puri X X X
Sanza Pombo X X X
Milunga X X X
Quimbele X X X
Buengas X X X
Uíge
N.Esperança
Quitexe X X X
Songo X X X
Bembe X X X
Mucaba X X X
Ambuíla X X X
Bungo X X X
Damba X X X
Maquela do X X X
Zombo
Dande (Sede X X X X
Caxito)
Ambriz X X X
Nambuamgg X X X
Bengo
Bula-Atumba X X X
Quibaxe X X X
Muxaluando N.A
134
Para facilitar a leitura do Quadro 43, deixamos aqui o significado das siglas usadas para identificar as
colunas: PDM- Plano Diretor Municipal; PU- Plano de Urbanização; PP- Plano de Pormenor; N.E (Não
existe); E.E (Em Execução); E.AP. (Em Aprovação); AP. (Aprovado); Extdo (Executado).
232
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Pango- X X X
Aluquém
Luanda X X X X
Belas X X
Cazenga X X X
Luanda Cacuaco X X X
Viana X X X
Icolo e X X X
Bengo
Quiçama X X X X
Cazengo X X X
Ambaca X X X
Banga X X X
Bolongongo X X X
Cambambe
Cuanza X X X
(Dondo)
Norte Golungo Alto X X X
Ngonguembo X X X
Lucala X X X
Quiculungo X X X
Samba Cajú X X X
Sumbe (Sede) X X X
Gabela (sede) X X X
Cassongue X X X
Waku-Kungo X X X
Conda X X X
Cuanza Ebo X X X
Sul Libolo (vila
X X X
Calulo)
Mussende X X X
Porto
X X X
Amboim
Quilenda X X X
Quibala X X X
Seles X X X
Cuito X X X X
Andulo X X X
Camacupa X X X
Catabola X X X
Bié Chinguar X X X
Chitembo X X X
Cuemba X X X
Cunhinga X X X
N´harea X X X
233
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Malanje X X X X
Cacuso X X X
Calandula X X X
Cambundi-
X X X
Catembo
Cangandala X X X
Quela X X X
Cahombo X X X
Malanje
Luquembo X X X
Caculama X X
Cunda-Diá-
X X X
Baze
Marimba X X X
Massango X X X
Quirima X X X
Kiwaba
X X X
N`Zogi
Lucapa X X X X
Chitato X X X X X
Cambulo X X X
Cuilo X X X
Lunda Caungula X X X
Norte Cuango X X X
Lubalo X X X
Chá-Muteba X X X X
Ngonguembo X X X
Capenda
X X X
Camulemba
Saurimo X X X X X
Lunda Cacolo X X X
Sul Dala X X X
Muconda X X X
Luena X X X X
Léua X X X
Luchazes X X X
Luacano X X X
Lumbala
X X X X
Nguimbo
Moxico
Lumeje
X X X
(vila da Cameia)
Camanongue X X X
Alto
Zambeze (vila X X X
Cazombo)
Luau X X X
Huambo X X X
Calima X X X
Huambo
Bailundo X X X
Cachiungo X X X
234
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Chicala-
X X
Choloanga
Caála X X X
Ecunha X X X
Londuimbali X X X X
Chinjenje X X X
Mungo X X X
Ucuma X X X
Longonjo X X X
Benguela X X X X
Lobito X X X
Catumbela X X X X
Bocoio X X X
Caimbambo X X X
Benguela
Cubal X X
Chongorói X X
Ganda X X X
Baía Farta X X X X
Balombo X X X
Namibe X X X
Bibala X X X
Namibe Virei X X X
Tômbwa X X X
Camucuio X X X
Lubango X X
Cacula X X X X
Quilengues X X X X
Caluquembe X X X
Caconda X X X X
Chibia X X X X
Chipindo X X X X
Huila
Cuvango X X X X
Gambos X X X X
Humpata X X X
Jamba X X X X
Chicomba X X X X
Matala X X X
Quipungo X X X
Ondjiva X X X X X
Cuvelai
(Comuna de X X X
Cunene Mukolongodjo
Ombabdja
X X X X
(Xangongo)
235
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Namacunde X X X
Curoca X X X
Cuanhama X X X
Cahama X X X
Menongue X X X X
Calai X X X
Cuangar X X X
Cuchi X X X
Cuando Dirico X
Cubango
Cuito
X X X
Cuanavale
Mavinga X X X
Nancova X X X
Rivungo X X X
Em face do exposto, muito pode ser dito. De qualquer modo, no essencial, podemos
parece-nos importante tecer duas considerações.
135
Sobre esta problemática, conferir, entre vários autores: Lage, L. (2001, 68-85); Morais, J. e Raposo, I.
(2005, 88-91); Oppenheimer, J. e Raposo, I. (2002); Oppenheimer, J. e Raposo, I. (2008); Raposo, I. e
Ribeiro, M. (2010); Raposo, I. e Salvador, C. (2007); Salvador, C. (2004); Louro, M. e Caçoila, S. (2007, 15-
22); Louro, M. e Oliveira, F. [orgs] (2009; Batty, M., Barros, J. e Aves Júnior, S. (2004); Bettencourt, A.
236
Políticas públicas de urbanismo em Angola
que o último senso antes do concluído em 2014, e ainda assim deficitário, foi realizado na
década de 1970. Acresce que a rápida concentração da população em cidades não
projetadas para um tão elevado número de habitantes, a que se juntam elevados níveis de
fertilidade, pode também ajudar a compreender e a enquadrar o fenómeno da carência de
habitações.
Vejamos então os quadros que retratam essa carência e qual foi a projeção do Governo
Angolano refletido no PNUH:
População alojada
População mal
Nº Anos População
Fogo Fogo alojada
digno s/dignidade
1 1970 5.673.046 285.000 1.120.000 4.970.000
2 2008 17.047.450 570.000 2.300.000 14.000.000
Fonte: Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (2009-2012, 12)
(2011); Gameiro, A. (2005); Human Rights Watch e SOS Habitat (2007); Jenkins, P., Robson, P. e Cain, A.
(2002); Neto, M. (2001); Africana Studia, nº16.
237
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
fogos e
incremento
da
população
(4)
Deficit
Habitacional
74.952 76. 451 77.980 79.540
Por
Desgaste (5)
Deficit
habitacional 631.951 644.590 657.482 670.632
latente (6)
Deficit por
Desgaste 706.903 721.041 735.462 750.172
Latente (7)
Necessidade
De
Construção 1.729.955 1.789.481 1.850.946 1.914.410
(Deficit
total) (8)
Legenda: 1. Incremento Populacional estimado em 3% /ano; 2) Incremento Habitacional estimado em
2%/ano; 3. Índice Médio de Ocupação Habitacional estimado (pessoas/hab); 49 Diferença (3-2); 5) Taxa de
desgaste (5,1% sobre as habitações existentes); 6) Taxa das Unidades Habitacionais sem serviços e
sobrelotadas (43%) (PNUH.2009-2012, 12-13).
Num contexto dos avultados problemas de carência de habitação, como os que temos vindo
a referir e a demonstrar, a implementação do PNUH não podia deixa de enfrentar e de ser
confrontada com desafios que o enquadram. Esses desafios podem ser resumidos, em
várias dimensões través de uma análise SWOT (Figura 5).
238
Políticas públicas de urbanismo em Angola
239
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
240
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Prestação
Tipo de Valor Prestação Tempo de
Do
Habitação da aquisição mensal amortização
condomínio
180.000.00 usd
(C.K)
85.000 (até ao
T5 5º andar na C.C) 125,90 usd 30 anos
90.000.00 usd
(até 9º andar na
C. C.)
60.000.00 usd
(até 5º andar na
C. Cacuaco)
T4 30 anos
70.000.00 usd
(até 9º andar na
C.C)
70.000.00 usd 300 dólares
T3A 78,69 usd 30 anos
(C.K) USA
90.000.00 usd
T3+1 88,13 usd 30 anos
(C.K)
Fonte: Decreto Executivo Conjunto nº 143/13 de 17 de Maio, rubricado pelos Ministérios do Urbanismo e
Construção e das Finanças, que vigora desde abril de 2013; Jornal O País17-06-2013 |C.K-Centralidade de
Kilamba; C.C-Centralidade de Cacuaco
241
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no quinquénio 2000-2015 em Angola
Fonte: Meusalario.org/Angola
Neste sentido, o executivo angolano, suportado pelo partido no poder, traçou, no seu
programa eleitoral de 2012, uma lógica de continuidade do programa habitacional e do
urbanismo e, mais do que isso, aprovou um Plano Nacional de desenvolvimento que
estabelece objetivos claros quanto ao programa que temos vindo a referir, e que se
consubstanciam no seguinte (Quadro 50):
242
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Domínio da habitação
Garantir o direito a uma habitação condigna para todos os cidadãos (agora
como um direito fundamental);
Garantir a oferta de habitações em condições especiais de preço e
financiamento para as camadas de menor poder aquisitivo;
Concluir, até ao ano 2014, o Programa de Urbanismo e Habitação em curso;
Disponibilizar terrenos infraestruturados e legalizados para o atendimento das
necessidades das famílias que pretendam construir casa própria em regime de
autoconstrução dirigida;
Promover o desenvolvimento sustentável do sistema urbano e do parque
habitacional, com o fim de garantir a elevação do bem-estar social e económico
da população mais carenciada;
Estabilizar o sistema de comercialização das construções de habitação social,
no quadro da recuperação do investimento e da auto-sustentabilidade financeira
e económica do Programa de Urbanismo e Habitação;
Dar continuidade ao desenvolvimento de novas centralidades;
Prosseguir o processo de requalificação das cidades;
Repovoar localidades com o desenvolvimento de aldeias rurais.
Fonte: Programa eleitoral do MPLA (2012)/Própria
243
Capítulo VII – Políticas públicas de urbanismo no período 2000-2015 em Angola
244
Políticas públicas de urbanismo em Angola
Conclusão
Esta Tese incide sobre as políticas públicas de urbanismo em Angola. Na margem dessas
políticas, pela centralidade que têm nas urgências dos cidadãos e na transformação recente
das cidades angolanas, analisa também as iniciativas desenvolvidas recentemente no
domínio da habitação. Procura elencar e escrutinar as políticas públicas que enfrentam um
fenómeno antigo e persistente (a cidade informal), desenvolvendo uma abordagem
diacrónica que procura contextualizar o problema e as soluções engendradas, recuando ao
período colonial. O problema de pesquisa é enquadrado em quatro dimensões: o seu
passado, designadamente o período colonial; a recente lógica de importação de modelos,
seja o urbanismo chinês, sejam programas de intervenção, modelos de gestão ou
legislação; a criação de organismos de natureza política e a forma como se relacionam; e a
moldura legal que enquadra o problema de pesquisa.
245
Conclusão
246
Políticas públicas de urbanismo em Angola
247
Conclusão
que procuram reativar políticas de planeamento que tinham ficado paradas durante a guerra
civil, concluindo que o afã legislativo estabelece um quadro tutelar ao qual falta alguma
racionalidade. O capítulo VI, assumindo a mesma perspetiva diacrónica dos precedentes,
recuando também ao período colonial, incide sobre a organização política e administrativa
do urbanismo em Angola. Esta análise permite-nos referenciar e situar no tempo as
questões prementes que se foram colocando aos governantes. A última década do século
XX e a primeira década do século XXI apresentam-se como fundamentais em matéria de
criação de instrumentos legais que, mais tarde, se vão operacionalizar através de programas
concretos e de instrumentos financeiros. Por fim, no capítulo VII são analisadas as
políticas públicas de urbanismo relativas ao período 2000-2015. O problema da habitação
surge, neste período, como uma questão relevante para enfrentar a cidade informal, mas
também como um desígnio nacional. O capítulo olha para programas emblemáticos deste
período, procurando fazer um primeiro balanço. Caracteriza o Programa Nacional de
Urbanismo e Habitação, assim como o seu contexto e incidências. Elenca também os
desafios que, percorrido o percurso das políticas públicas de urbanismo em Angola, se
apresentam ao país nos domínios do urbanismo e da habitação. Referencia o estado de
execução de instrumentos de planeamento em todas as províncias e municípios do país
para que se possa ter uma medida do hiato entre o formalismo da Lei e a sua concretização
prática.
248
Políticas públicas de urbanismo em Angola
O urbanismo angolano caracteriza-se por ser espasmódico. Com isto queremos dizer que
ele oscila repentinamente entre a inércia e a profusão. No período colonial fica patente a
ausência, por muito tempo, de preocupações que tivessem a ver com o urbanismo. Quando
existem, são locais e pontuais, dirigindo-se a partes da cidade de Luanda. Com o advento
da ditadura em Portugal e a ameaça de perda das colónias e do Império, o urbanismo
irrompe em Angola com uma fúria legislativa e, ainda que marginal e simbolicamente, sai
da capital para outras regiões do país. No perído pós-independência, durante um quarto de
século, com a guerra civil angolana, o urbanismo entra em letargia. Para, contudo, irromper
na cena pública e política, como a área privilegiada das políticas públicas, com a formação
dos primeiros governos eleitos. O caráter espasmódico está ainda ligado à particularidade
de as políticas públicas de urbanismo e de habitação em Angola dependerem
excessivamente do preço do petróleo no mercado mundial e da capacidade de
endividamento externo. Ora as políticas públicas em causa são afirmativas e insinuantes,
ora se retraem vergadas ao constrangimento da ausência de financiamentos. Este caráter
espasmódico, e muito particularmente o período de letargia dos últimos 25 anos do século
XX, é responsável pelas configurações urbanas atuais. Em concreto, a situação de
concentração populacional em Luanda e o difícil enfrentamento da cidade informal na
capital têm mais a ver com esse caráter espasmódico que propriamente com a adoção e
execução de políticas públicas de urbanismo.
O estado angolano tem vindo a acentuar o seu poder de regulação em matéria de políticas
públicas de urbanismo e de habitação. Fá-lo, por vezes, de forma autoritária, como no caso
dos desalojamentos forçados. Outras vezes de forma inconsistente, promovendo uma
política de uso do solo que não é devidamente fiscalizada, nem caucionada por estudos de
impacto. E também, por vezes, baseando-se em pressupostos de mercado que não só põem
249
Conclusão
Por fim, cabe registar a conclusão que, quer no setor do urbanismo, quer no setor da
habitação, subsistem desafios incomensuráveis a enfrentar. Começando por este último
setor, assinala-se uma deficit habitacional enorme e crecente. Mas também o desfasamento
entre uma oferta muito expressiva dirigida a grupos sociais estatisticamente diminutos e
uma oferta limitada para camadas sociais numerosas que dificilmente podem integrar
mecanismos de acesso a uma habitação condigna. Neste contexto, a cidade informal acaba
por ser uma solução incontornável, até porque assegura a centralidade de que muitos
angolanos necessitam para manter os seus modos de vida. No setor do urbanismo, não
obstante a profusão legislativa, conclui-se haver muita “letra morta” (não aplicada) nas leis
existentes. Isso acaba por fomentar uma expansão urbana desordenada, a proliferação de
edificações urbanas ilegais, um deficiente ordenamento dos solos, assim como um nítido
desfasamento entre dinâmicas de ocupação dos solos e disponibilização de redes
infraestruturais.
Com esta Tese, esperamos abrir caminho para pesquisas futuras. A racionalização do
sistema institucional e administrativo, num quadro de atribuição clara de competências
formalmente estabelecidas; o poder de regulação do estado, não só em matéria de polítcas
de financiamento, mas também de licenciamentos e de fiscalização; a capacidade de
ordenamento e a expansão de sistemas urbanos regionais capazes de conter o fenómeno de
concentração em Luanda; a redução de desigualdades sócio espaciais inter e intr-urbanas; o
acompanhamento da implementação regional dos instrumentos de planeamento urbano; o
estudo dos impactos ambientais das políticas públicas de urbanismo e de habitação, entre
várias outras, são questões para as quais esta Tese procura abrir caminho para reflexões
futuras.
250
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Anexo I
267
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Perigo iminente
De modo a melhor ilustrar o perigo que passam, a nossa interlocutora explicou que no período na noite o
desvio da via expresso para a centralidade de Cacuaco fica totalmente às escuras no princípio e que só depois
do seu utente percorrer metade da distância é que se depara com iluminação pública.
269
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Segundo ela, a parte iluminada é assegurada pelos geradores industrial do estaleiro da empresa chinesa
encarregue das obras e, após passar por esta zona, segue-se novamente uma área totalmente escora até o
interior da cidade.
Este cenário acabou por sofrer uma ligeira alteração, pelo facto de os chineses terem se encarregado de
transportar vários grupos de geradores, para determinados pontos da cidade, para manterem a iluminação
pública em pleno funcionamento.
“O que mais nos preocupa é que até agora não recebemos nenhuma explicação sobre a falta de água e de luz
eléctrica e nem soubemos de concreto onde devemos apresentar as nossas reclamações, tendo em conta que
aqui só existe uma loja da Sonip e as pessoas que ali funcionam se recusam a prestar qualquer informação”,
declarou.
A existência de contentores e postes de betão armado no meio da via, a estreitarem-na para evitar a
circulação de camiões no asfalto, é ainda descrita, pela estudante universitária, como sendo uma das coisas
que mais aumenta o perigo.
“Normalmente chego da escola às 21horas e para tentar inibir qualquer tentativa de assalto uso uma dinâmica
que considero ser incrível, pois coloca-me perante o dilema de acelerar de mais e arriscar embater nos dos
objectos postos no meio da estrada ou conduzir devagar correr o risco de ser assaltada”, desabafou.
Ela disse ainda que quase todos os finais de semana há pessoas que estão a mudar-se para lá, mas o número
de residentes seria bem maior caso estivesse resolvido o problema da distribuição de água e de energia
eléctrica.
Para colmatar a carência do precioso líquido, ela contou que acorrem a bocas-de-incêndio que estão a
escassos metros da loja da Sonip ou, de vez em quando, aos camiões da construtura chinesa destinados à rega
dos jardins. “Olha, se os senhores jornalistas tivessem chegado mais cedo poderiam nos encontrar a acarretar
água de um camião. Agora imaginem só uma coisa, se eu que vivo no rés-do-chão considero esta actividade
bastante penosa, imaginem o sofrimento daqueles que estão no quarto andar”, opinou.
Por outro lado, África dos Santos mostrou-se bastante preocupada com a ausência de uma administração na
centralidade, contrariamente ao que ocorre na Cidade do Kilamba, pelo facto de necessitar de realizar
algumas remodelações no interior do seu imóvel que está localizado no rés-do-chão de um dos edifícios,
como pintura do interior.
Na falta de quem autorize, a moradora optou por tomar algumas medidas de precaução, como gradeamento
dos acessos, para evitar que fique à mercê dos amigos do alheio, depois de ter sido informada pelos chineses
de que tem havido assaltos às residências.
270
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Embora não tenha a certeza do que se está a passar, de concreto, o nosso interlocutor disse que circula a
informação de que este atraso deve-se ao facto de a imobiliária não ter procedido, atempadamente, à entrega
da planta de instalação à Edel.
Diante desta situação, ele declarou que não viu outra solução a não ser prolongar por mais algum tempo a sua
permanência na casa que arrenda, o que o levou a alterar os seus planos e a gastar mais uma elevada soma
monetária com o pagamento de mais rendas.
“Estou a gastar desnecessariamente um dinheiro que não estava no plano e que se calhar estaria a juntar para
pagar a segunda parcela da renda resolúvel, cujo prazo final está marcado para 31 de Março próximo. Neste
momento, já estou a ser prejudicado por não desfrutar de todos os meses que paguei a renda resolúvel aqui”,
concluiu.
Na centralidade “Vida Tranquila”, localizada na comuna do Zango, os novos moradores deparam-se com o
problema da falta de água canalizada e, para suprir esta dificuldade, são frequentemente abastecidos por
camiões cisterna da construtora chinesa. De acordo com uma moradora, os camiões abastecem um prédio,
por dia, o que leva os habitantes a terem que reservar a maior quantidade deste precioso líquido possível. Por
esta razão, alguns moradores optaram por instalar, nas varandas dos edifícios, tanques de água de até cinco
mil litros e uma electro-bomba, independentemente do andar que ocupam.
271
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
272
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 003 Sonangol devia pedir desculpas pela desorganização na gestão das novas centralidades
20-06-2013 | Fonte: LAC
O presidente do conselho da administração da Sonangol deve pedir desculpas públicas pela desorganização
na gestão das novas centralidades do país, defendem analistas da
Luanda Antena Comercial, (LAC).
A política Alexandra Simeão considerou que a actual forma de
condução da comercialização de casas nas centralidades de
criminosa.
«É uma anarquia que já é criminosa, os responsáveis deviam ser
responsabilizados, então eu tenho uma organização que
comercializa um mega empreendimento e não sabe nesta altura
quantas casas vendeu, só demostra que é uma organização
desastrosa», disse.
Juntando a esta parte, Simeão fala das infra-estruturas em falta nas novas centralidades.
«Não tem água, não tem luz, na centralidade de Cacuaco não há iluminação pública, as estradas não estão
asfaltadas não há equipamentos sociais, isto já é uma calamidade, uma novela mexicana», acrescentou.
Por tudo isto a analista defende que o PCA da Sonangol deve pedir desculpas públicas.
«O senhor PCA da Sonangol, devia pedir desculpas pela desorganização, pedir desculpas às pessoas», disse.
A jornalista Suzana Mendes acrescenta que as novas centralidades só tem provocado dores de cabeça
principalmente aos jovens.
«Tem sido um problema de depressão social pra muitas pessoas, sobretudo aos jovens,» disse
A economista Laurinda Hoygard aplaude a iniciativa das novas centralidades, mas concorda que a
implementação falha.
«O projecto foi bem elaborado e planeado agora só são falhas atrás de falhas,» disse.
Já a jurista Ana Paula Godinho acredita que é necessário que se defendam os consumidores.
«Penso que estamos diante de um problema de protecção do consumidor,» afirmou.
273
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
No fontanário não existe uma regra taxativa sobre a quantidade de água que cada família deve levar para
casa, mas, por aquilo que já constitui norma, segundo as veteranas do processo de busca, ninguém efectua
duas viagens para levar água para beber.
“Se tiver de ir e voltar, na segunda vez vai levar água suja”, detalhou a senhora que ocupava o primeiro lugar
na fila, que estava de volta para adquirir o líquido inapropriado.
Até à hora sete, o centro de purificação, que também ficou conhecido como Projecto Água para Todos, pode
registar o depósito de mais de 300 recipientes, tanto na secção de água limpa, quanto na de água acastanhada.
274
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Rosa NGueve não possui bidons de 80 ou 100 litros, servindo-se por isso de três de 20 litros cada, o que a
obriga a fazer duas ou mais viagens para conseguir sentir-se à vontade em cada dia de trabalhos domésticos.
O fontanário regista com maior frequência a presença de crianças, muitas delas com idade compreendida
entre cinco a 10 anos, que aí se divertem brincando com a polémica água, não faltando vezes em que a levam
para a boca a fim de matar a sede.
Os moradores clamam por dias melhores, apelando, porém, a que a medida para facilitar a população não
passe pelo aumento de dias de beneficência, mas, sim, da recuperação do funcionamento dos mais de três
chafarizes construídos sistematicamente no bairro do Ramiro.
“Nós já não queremos tirar água aqui de Segunda-feira a Domingo, queremos que o Governo faça funcionar
os fontenários que colocou aqui na área”, reforçaram, acreditando que só deste jeito as tarefas domésticas e
outros fins se podiam ver minimizados. Para mostrar que a solicitação do género tinha razão de ser, os
residentes mostraram um chafariz erguido bem no centro de purificação, que também ficou inoperante. “Se
este que está aqui próximo do bombeamento de água não funciona, não é preciso falar de outros”,
calcularam, acrescentando que a necessidade era urgente.
275
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
276
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
A cidade cresce e as infra-estruturas também. Apesar de isso reflectir o desenvolvimento da capital, falta
alguma harmonia e equilíbrio. “Existe a oportunidade de não se cometerem os mesmos erros verificados em
algumas sociedades. Pode-se fazer diferente, dando um exemplo de integração e equilíbrio. As árvores são
fundamentais para propiciar qualidade de vida aos habitantes”, diz o presidente da JEA.
As principais vias de Luanda, as antigas e as novas, precisam dessa harmonia. Os casos mais gritantes são os
das avenidas Deolinda Rodrigues (Estrada de Catete), do cemitério da Santa Ana, a Viana, e da Estrada da
Mulemba, entre o Sambizanga e Cacuaco na zona da refinaria. “Ganharam-se estradas, mas perderam-se
árvores do tempo dos nossos bisavôs. O que é mais importante?”, interroga José Silva, acrescentando que
“temos consciência dos problemas que Luanda tem com o trânsito, mas, no caso de Cacuaco, há quem diga
que era possível avançar para outra solução em termos de alargamento da via, o que ia ajudar a manter as
árvores”. Luanda está “careca”. Parece haver alguma inércia e até uma espécie de aversão por árvores. “Falta
alguma sensibilidade a quem decide e faz a gestão da cidade, mas também de quem vive e usa a cidade, ou
seja, a responsabilidade é de todos”, refere o ecologista, para quem é incompreensível a insensibilidade em
relação a esta questão.
A necessidade de espaços para construção leva ao derrube de árvores. O líder da JEA diz não entender por
que razão é destruído um parque público com árvores frondosas e quase centenárias, como aconteceu na
Avenida Lénine, no Jardim em frente à escola Mutu ya Kevela, ex-Liceu Salvador Correia. No espaço, antes
conhecido por “Rampa do Liceu”, está uma placa a informar: “Reabilitação do Jardim e Construção de
Parque de Estacionamento”.
Mas, reabilitar é dar uma nova imagem, como é o caso do Jardim da Igreja da Sagrada Família (um bom
exemplo). No conhecido por Jardim do “Mutu”, restam apenas galhos e troncos de árvores. Foi tudo
destruído e as árvores deitadas por terra. Já lá vai quase um ano e a obra está parada. “A sociedade não foi
ouvida”, alertou José Silva. A zona verde de Alvalade está a ser reabilitada. Perdeu parte das suas árvores,
mas as derrubadas devem dar lugar a um largo com uma fonte. De acordo com o projecto, o verde vai
manter-se. “É possível haver um equilíbrio entre ambiente e crescimento, numa altura em que existe um
baixo nível de arborização”, refere.
Plantação de árvores
A nível de Luanda, a JEA deixou de ter programas concretos relacionados com a arborização. “Nesta fase,
não optamos muito pela plantação. Pode parecer um contra-censo, mas defendemos que as iniciativas de
plantação devem ser bem planeadas, com a integração das comunidades. Plantar só por plantar também não é
opção”, disse.
As plantas, enquanto seres vivos, precisam de alguma dedicação. Quando assim não acontece acabam por
morrer. “Ao plantar-se, por exemplo cem, nem todas crescem, mas se 70 ou 65 forem bem cuidadas já é
positivo”, disse José Silva, ao anunciar que a associação vai, em conjunto com dois departamentos do
Executivo, desenvolver um amplo programa de plantação de árvores a nível do país.
Sustentabilidade
Quando se fala em sustentabilidade e aquecimento global, não podemos esquecer que as árvores têm a função
de absorver o dióxido de carbono e libertar oxigénio.
José Silva diz que a cidade não é apenas feita com edifícios altos e vidrados, mas também com o verde, que
deve fazer parte desta modernidade, uma posição partilhada pelo paisagista Gonçalo dos Reis, adepto da
sustentabilidade das grandes cidades.
“Enquanto líder e cidadão quero sempre olhar para a cidade e vê-la crescer de forma harmoniosa e
equilibrada”, diz o presidente da JEA, José Silva, enquanto Gonçalo dos Reis defende uma cidade feita para
as famílias, capaz de proporcionar qualidade de vida, equilíbrio e bem-estar.
José Silva considera que as administrações locais devem ter este tipo de iniciativas, mas com programas
estruturados, orçamentos realísticos, áreas e espécies de árvores previamente identificadas.
277
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
278
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
279
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
280
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
282
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
283
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
que as áreas de realojamento se situam, muitas das vítimas de despejo perderam o emprego ou o rendimento
obtido através do comércio nos mercados urbanos. As infraestruturas e serviços básicos continuam a ser
insuficientes para satisfazer as necessidades de milhares de pessoas presas nas áreas de realojamento.
Um habitante do bairro Arco Iris contou à Human Rights Watch que uma comissão de moradores ligada ao
partido no poder tentou convencer os habitantes a abandonarem as suas casas rapidamente, sem quaisquer
garantias de assistência futura. “Queremos que as autoridades expliquem publicamente por que razão temos
de abandonar as nossas casas e se o local para onde querem que vamos tem condições para lá viver, antes de
concordarmos em sair,” disse.
Um ativista de direitos humanos local disse à Human Rights Watch, referindo-se à área de realojamento: “De
momento, não há lá nada além de arbustos e estradas de terra batida."
Habitantes e ativistas de direitos humanos contaram à Human Rights Watch que a comissão de moradores de
Arco Iris lhes disse recentemente que as demolições poderão vir a ser adiadas para além de 25 de agosto. No
entanto, as autoridades ainda não forneceram qualquer informação oficial aos habitantes sobre os seus planos
ou qualquer garantia de estarem a levar a cabo os procedimentos adequados.
Em outubro de 2010, a Human Rights Watch visitou as áreas de realojamento de Tchavola e Tchimiuka, para
as quais mais de 20 000 habitantes tinham sido forçados a mudar-se, de Lubango, na sequência da destruição
das suas casas. Muitas pessoas despejadas em setembro, incluindo idosos e crianças, continuavam a viver em
abrigos improvisados ou a céu aberto, libertando desesperadamente a área de arbustos e produzindo tijolos de
adobe para construir uma casa antes da chegada da estação das chuvas.
Agentes de segurança locais tentaram impedir uma investigadora da Human Rights Watch de falar com os
habitantes “sem autorização das autoridades”. Jornalistas locais também contaram terem sido intimidados
para não cobrir os despejos forçados e de relatar os problemas sociais, tais como o agravamento da pobreza
entre habitantes e agricultores causado pelos despejos.
Os despejos forçados de março de 2010, levados a cabo pelas autoridades e forças policiais da província de
Huíla, deslocaram 3000 famílias que viviam ao longo da linha ferroviária para a área de realojamento de
Tchavola, provocando uma emergência humanitária. Os despejos foram levados a cabo durante a estação das
chuvas, e milhares de pessoas - incluindo idosos e crianças vulneráveis - foram expostos à chuva sem recurso
a qualquer abrigo.
Na sequência de uma onda de críticas de grupos da sociedade civil e de visitas de comités parlamentares, o
parlamento ordenou uma moratória sobre os despejos até ao final do ano, e o Ministro da Administração do
Território, Bornito de Sousa, dirigiu um pedido de desculpas público às vítimas. Não obstante, em setembro e
outubro, as autoridades locais despejaram mais 1500 famílias à força do centro urbano de Lubango.
“As autoridades deviam prestar seriamente atenção à crise humanitária causada pelos despejos forçados
levados a cabo no passado, como forma de evitar causar mais sofrimento desnecessário às pessoas mais
vulneráveis,” defendeu Bekele."Impedir activistas de direitos humanos e jornalistas de seguir de perto os
despejos forçados apenas mostra que o governo tem algo a esconder."
A legislação angolana não garante protecção adequada contra os despejos forçados, nem prevê o direito a
alojamento adequado, afirmou a Human Rights Watch.Ao abrigo do direito internacional, o “despejo
forçado” é a remoção permanente ou temporária, e contra a sua vontade, de indivíduos, famílias e/ou
comunidades das suas casas e/ou terras por si ocupadas, sem a provisão de, ou acesso a, formas adequadas de
protecção legal ou de outra natureza.Os despejos forçados estão bem estabelecidos como uma violação
fundamental do direito internacional e são considerados uma violação flagrante da legislação em matéria de
direitos humanos.Os despejos forçados resultam na violação de diversos direitos protegidos por tratados de
que Angola é signatária, tais como o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP), o Pacto
Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais e a Carta Africana dos Direitos Humanos e
dos Povos.A ONU desenvolveu directrizes específicas para desalojamentos em concordância com o
desenvolvimento que os estados devem seguir quando estão a implementar projectos como o que o governo
angolano está a levar a cabo.
Desde o final da guerra civil em 2002, o governo de Angola tem vindo a levar a cabo despejos forçados
abusivos, por exemplo, na capital de Luanda. Em 2007, a Human Rights Watch publicou com a SOS Habitat
um relatório intitulado "Eles Partiram as Casas: Desocupações Forçadas e Insegurança da Posse da Terra para
os Pobres da Cidade de Luanda”, que documenta 18 despejos em massa em Luanda, levados a cabo entre
2002 e 2006, que também afectaram cerca de 20 000 pessoas, na totalidade.
284
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
285
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Falta de água
Além das reclamações das fissuras nos edifícios, os moradores queixam-se da falta de água há mais de dois
meses, por motivos que ninguém esclarece. Os moradores dizem que não foram informados das razões do
corte no fornecimento, nem pela Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL) nem pela Sonangol
Imobiliária e Propriedades (SONIP). Como alternativa, alguns moradores carregam bidões para enchê-los
fora da centralidade, em casa de familiares ou amigos. Outros pagam a alguém para acarretar água, que custa
entre 300 e 400 kwanzas cada bidão retirada de uma conduta que foi vandalizada na cidade, face à carência
do líquido na Centralidade de Cacuaco. A distância entre a conduta e o prédio do cliente determina o preço
de quem acarreta a água. Antes o fornecimento era feito no período da manhã das seis às dez horas e à tarde
das 16 às 18 horas.
Esta situação está a criar grandes constrangimentos e inibe muitas pessoas que adquiriram apartamentos na
Centralidade de Cacuaco a fazerem a mudança.
Um dos problemas das novas urbanizações prende-se com o facto de que aquando da construção das mesmas
não serem envolvidos outros sectores (princípio da coordenação interna) necessários para uma vida urbana.
Neste caso, a urbanização foi feita, incluindo escolas mas os ministérios competentes não foram tidos nem
achados para prepararem professores, materiais didacticos e a logística e orçamento necessário e incluindo a
própria administração municipal que não está preparada para dar resposta ao problema da água, luz e
saneamento básico. O mesmo se repete em todas as províncias e municípios. Recomeda-se pois que na altura
da concepção destes projectos urbanísticos seja observado o princípio da coordenação interna e externa dos
agentes com interesses nestas novas urbanizações (transportar p o texto principal).
286
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
287
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
288
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
289
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O Bloco Democrático exige ao Governo que não haja o emprego de forçar militares nesses processos, que
haja diálogo, que não haja qualquer tipo de violência e que se abra a porta para o diálogo com as populações.
Quais são os projectos para essas áreas? Os bairros ao redor da zona da Chicala foram destruídos e hoje
vemos que foi para criar vista para zonas de luxo com hoteis e empresas de petróleos e outros. Basta de
abuso!
Ficam os contactos da SOS Habitat: Rua da Comissão do Bairro Wenji Maka II, entrada do Colegio Amor e
Paz Municipio de Belas | Club-k. 21.01.2014.10:40
290
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Abel Chivukuvuku prometeu uma casa mais acutilante este ano depois de
semana passada ter ido ao bairro da Quissama para onde foram
transferidos populares, retirados das suas casas no Quilombo e colocados
em tendas, numa tenda estão a viver no mínimo treze pessoas.
"O grupo parlamentar da CASA-CE vai acionar a Assembleia Nacional porque esta tinha aprovada uma
resolução que dava sugestões ao governo como deve efetuar movimentações de cidadãos e o governo não
tem respeitado esta resolução da Assembleia Nacional", disse o lider da coligação.
Chivukuvuku assegura também que vai propor a deslocação de uma delegação parlamentar ao bairro da
Quissama.
"O nosso grupo parlamentar vai sugerir também que um grupo de deputados se desloque a Quissama, eles
são representantes do povo então é este povo que sofre que eles devem visitar e constatar", continuou.
Em relação à carta dirigida ao Presidente da República Chivukuvuku disse não ter obtido ainda nenhuma
resposta, mas promete que dentro de dias vai voltar a visitar a Quissama.
Por isso, diz que vai "esperar atá ao principio da próxima semana para ver se o presidente vai ou não ver as
condições dos cidadãos que estão na Quissama". E durante a próxima semana vai voltar lá para ver se houve
alguma alteração ou não.
291
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
292
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
293
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 018 "Edifícios recém-construídos terão de ir abaixo", adverte ex-Ministro das Obras Públicas
Luanda - O engenheiro civil Manuel Resende está a favor do estudo para a criação do plano directório de
Luanda que se iniciou recentemente e estima que a sua implementação vai obrigar à demolição de algumas
construções.
Fonte: Expansão
Luanda precisa urgentemente de ser ordenada, na
opinião de muitos especialistas. Qual é a sua?
A consideração que faço é que há duas Angolas. Uma
Angola-Luanda, que é a zona metropolitana, e depois
tem a outra Angola. No que se confina a Luanda, que
é praticamente uma cidade-Estado, nunca foi tratada
com a orientação técnica necessária que deveria ter
existido para aconselhar os nossos dirigentes a
tomarem as decisões correctas. Deixamo- nos
embalar por interesses, fundamentalmente
financeiros, sem se pensar na cidade e nos seus habitantes e, actualmente, estamos confrontados com
problemas com extrema dificuldade de serem resolvidos. Não temos vias de acesso que permitam o
escoamento normal do trânsito, não temos vias de acesso onde se possam instalar as redes técnicas de
esgotos, abastecimento de água e energia; não temos estacionamentos. Tudo isso foi ocasionado pelo excesso
de população e pela construção desmesurada de grandes edifícios. Nos mesmos 900 metros onde estava
implantada uma vivenda está um prédio de 20 andares. Como é que as pessoas vivem? Como circulam? Que
qualidade de vida têm? Estes aspectos foram todos descurados, e a grande responsabilidade é exactamente
dos técnicos que não tiveram capacidade e coragem de apontar o caminho aos dirigentes.
Mas é um problema de solução possível, de certeza. Qual é a saída?
Há saída, mas vai obrigar que haja algumas amputações, inclusive edifícios recém-construídos terão de ir
abaixo para poderem passar estas vias. Como é que se pode ter transportes colectivos nesta cidade? Para o
metropolitano pode haver duas ou três linhas na periferia, mas dentro da cidade não há hipótese alguma de
haver um metropolitano, nem sequer aéreo. Felizmente já estão a estudar o plano directório de Luanda, e
estes técnicos é que irão nos dizer o que deverá ser feito.
Mas não basta o plano, necessitaremos, depois, da vontade política. Acredita que haverá esta vontade?
Acredito que sim, porque não creio que haja alguém que não queira que Luanda seja uma cidade com
qualidade, porque, neste momento, não tem qualidade. Não há ninguém que viva aqui que tenha qualidade de
vida, e para que tal aconteça é preciso que haja o cumprimento deste plano.
Acredita que haverá, por exemplo coragem para destruir-se edifícios recém-construídos?
O que é preciso é responder a esta pergunta. O que é que nós queremos? Se queremos realmente Luanda
como uma cidade com qualidade de vida, terá de haver esta coragem. Tem havido coragem para destruir
bairros como a Chicala, por exemplo. Temos muitos exemplos de zonas onde as pessoas tiveram de ser
desalojadas. Essa atitude deve ser a mesma em relação ao que estiver a obstruir as necessidades básicas deste
plano directório.
Se o plano directório não estiver pronto nos próximos dois anos, e se Luanda continuar (como se
prevê) a crescer, que cidade teremos?
Sou de opinião de que, a partir do momento em que se decidir fazer um plano directório, se deveria
suspender novas construções, caso contrário, vamos aumentar os problemas e depois seria necessário fazer-se
outro plano directório. O que está em curso pode continuar, mas novas construções devem ser suspensas.
Foi ministro das Obras Públicas no primeiro Governo nacional depois da independência. Sente que
cometeu alguma falha que tenha contribuído para os problemas actuais da cidade de Luanda?
Quando estive no Governo, exactamente a seguir à independência, os problemas eram completamente
diferentes. Luanda estava despovoada. Via-se um carro de vez em quando. À medida que se foi avançando no
tempo, as populações da periferia começaram a entrar para a cidade e, nesta altura, deveria ter havido alguns
cuidados em termos disciplinares e de regulamentação como existiu, por exemplo, em Moçambique. Nós,
294
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
aqui, não tivemos. Nisso, posso considerar-me também responsável, embora, pessoalmente, tenha lutado
contra essa forma de evolução que se estava a assistir.
Os projectos das centralidades ao redor do centro da cidade não resolveriam o problema de Luanda?
Penso que o problema de Luanda tem de ser resolvido a partir do interior. Esse problema de cidade-Estado
tem de ser resolvido com Angola global. Sou contra o permanente investimento em Luanda, em detrimento
das zonas do interior, e esta é a minha opinião desde que entrei para o Governo. É evidente que é fácil dizer,
mas difícil concretizar, mas está a fazer-se alguma coisa, e dou como exemplo o que se fez no Huambo, há
meia dúzia de anos, o que está a ser feito em Malanje, o que se fez no Lubango e o que está a ser feito no
Soyo. São exemplos de como se pode criar condições muito melhores de vida lá do que aqui em Luanda,
cidade que, em termos de qualidade de vida, deve ser das piores do mundo, actualmente.
É fundador e sócio-gerente de uma empresa de projectos, consultoria e gestão. Está satisfeito com as
oportunidades e participação das empresas nacionais do género nas obras públicas?
Tenho de dizer que não, porque as empresas nacionais não são olhadas com o respeito e com a verdade que
contêm. São completamente ignoradas, postas de lado para dar oportunidades a empresas estrangeiras. Penso
que as empresas nacionais deveriam ser acarinhadas, consideradas, pelo menos, em pé de igualdade com as
estrangeiras, porque nem isso acontece. As empresas estrangeiras, e nem falo de empresas, mas sim pseudo-
empresas. De um indivíduo que vem com um computador e um telemóvel, hospeda-se em um hotel, arranja
uma fiscalização algures e faz uma fiscalização miserável; não paga impostos, nem está inscrito na ordem,
mas tira trabalho a empresas que criam postos de trabalho e formam o pessoal.
Não será culpa das empresas que não se fazem conhecer, não participam nos concursos ou não
apresentam as melhores propostas?
Como é que eu vou apresentar melhor proposta que uma empresa cujos engenheiros nem sequer existem?
Estão em Portugal, Espanha ou na China, e apenas vêm se a empresa ganhar o concurso e em condições
miseráveis. Nenhum dos engenheiros que tenho ganha menos de 5 mil USD, e os engenheiros que vêm de
Portugal, com a crise que há lá, fazem-no por 2500 USD, mas eu não vou buscar estes engenheiros, vou
buscar os nossos e pagar-lhes os 5 ou 6 mil USD, porque é isso que leva ao desenvolvimento.
Apesar destes problemas, é um sector aliciante. Há negócios, há lucros?
Falando pela minha empresa, há negócios. Temos trabalhos, devem-nos muito dinheiro, consegue-se
progredir, viver e desempenhar as funções a que nos propusemos, com muito trabalho, mas é possível.
Actualmente, fala-se muito de incumprimento na realização das obras por parte das empresas. Na
altura em que foi ministro, existiam situações do género?
Não, não tínhamos nem empresas. Andávamos à procurar de restos daquelas empresas que ficaram,
sobretudo portuguesas, que cá estavam para formar núcleos que pudessem desenvolver trabalhos. Criámos
estruturas dirigidas, fundamentalmente pelo Estado, através das delegações provinciais, mas antes das
provinciais, por falta de técnicos para criar uma estrutura em cada província, criámos, inicialmente, as
estruturas regionais com três ou quatro províncias.
Chamado, muitas vezes, como "o pai da engenharia", tem certamente uma opinião sobre as diversas
obras de engenharia e arquitectura feitas nos últimos anos no País, não tem?
É uma pergunta extremamente difícil, porque a minha opinião pode ser desagradável para muita gente. Há
obras com grande grandiosidade, qualidade, mas que não têm angolanidade. São imitações de coisas que
foram feitas lá fora e não têm nada que ver com o nosso clima e com a nossa forma de viver. Podia fazer-se
as mesmas coisas mas atendendo ao espírito de preservação da cultura angolana. Ao nível, por exemplo, da
arquitectura, como é que se destroem obras classificadas mundialmente para se fazer edifícios com fachadas
em vidro e alumínio que é uma tremendíssima asneira para climas como o nosso? Isso é para países que
precisam de captar o sol, que não é o nosso caso, nós precisamos de outras coisas que tínhamos mas que
estão a ser destruídas.
Pode dar um exemplo concreto?
A minha opinião é bastante crítica quando vejo, por exemplo, o que foi feito no actual Ministério das
Finanças, que era um edifício extraordinário, mas fecharam-no à boa maneira coreana, transformando- o
numa coisa horrível. A mesma coisa aconteceu no Palácio da Justiça.
295
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Participou e coordenou a construção de várias pontes. Se tivesse de fazer estas mesmas pontes, usaria
os mesmos argumentos técnicos?
Construi a primeira ponte do Keve, que é a ponte para a qual vim trabalhar; a ponte do Cunene, no
Changongo, uma ponte de 830 metros de comprimento; a ponte do Panguila; as pontes da estrada do Sumbe
para o Lobito, a ponte da Cahama, assim como quatro pontes na estrada Malanje- Saurimo. São algumas das
que fiz. A tecnologia avançou, hoje há métodos que, na altura, não existiam. Se tivesse de fazer actualmente,
com certeza, iria adoptar as tecnologias modernas que permitem melhores soluções e mais económicas, mas
sem entrar em loucuras como está a acontecer ao fazer-se pontes estaiadas ou atirantadas onde não é
necessário como é o caso da ponte da Catumbela.
Trata-se de uma ponte desnecessária para aquela zona, é isso que pretende dizer?
É completamente desnecessária e desaconselhada, porque são pontes com custos de manutenção
extremamente elevados, são para ser utilizadas em zonas que assim exigem que não é o caso. Poderia fazer-
se uma ponte normal, menos custosa e que exige menos com a manutenção, e é isso que deve ser
preocupação das pessoas, porque não basta a obra custar e acabou, a obra precisa de ser mantida, conservada
e observada.
E quando é podemos fazer pontes estaiadas?
Se tivemos um rio com 400 metros de leito, temos de criar uma solução que obriga a que haja poucos pontos
de apoio no terreno, então vamos para soluções dessas, mas, se tivemos um de 90 metros, não preciso de
recorrer a estas tecnologias que são bonitas, mas, na minha opinião, são desaconselháveis.
A recuperação dos caminhos- de-ferro é outro facto em Angola. Também tem registado situações
desaconselháveis?
Nos caminhos-de-ferro há também algumas coisas que, na minha opinião, não estão feitas com a qualidade
que deveria existir. Refiro-me concretamente ao caminho- -de-ferro de Benguela, que é estratégico, é um
caminho- -de-ferro que tem uma justificação, que é o transporte do minério da República Democrática do
Congo e da Zâmbia para o porto do Lobito, mas que não foi feito de forma a garantir a rentabilidade deste
transporte, quer em termos das pontes (tem 97 pontes desde o Lobito até ao Luau), assim como temos
limitações de cargas com vagões que não podem levar mais de 20 toneladas quando deveriam levar, no
mínimo, 22 para poder competir com os transportes de carga das minas da Zâmbia; temos também limitações
de velocidade muito grandes, e isso onera extremamente o transporte de minérios.
*César Silveira
296
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
nunca se desviou, muito pelo contrário, o local tornou-se na escassa amostra e no pulmão da vida cultural
luandense. Aliás, os membros do «Elinga» têm a perfeita noção de que estavam e estão a operar num lugar
que o Estado angolano teve o cuidado de crismar de «verdadeiro testemunho histórico do passado colonial»,
logo, sendo «parte integrante do património cultural do Povo Angolano, se impõe a tomada de medidas com
vista à conservação e preservação», conforme o Despacho de um então Secretário de Estado da Cultura,
datado de 31 de Agosto de 1981. Já que além de ser um prédio oitocentista (séc. XIX), lá funcionou nos anos
1940 o «Colégio das Beiras», por onde passaram ilustres figuras do nacionalismo angolano e da governação
do país. Fica claro que com o referido Despacho o edifício «Challet» obteve a classificação de monumento
histórico.
Pelo que, faz bastante espécie, constatar a existência do Decreto Executivo nº 154/12, de 30 de Abril
(reafirmado pelo Decreto Executivo nº 337/12, de 06 de Setembro), praticado pelo pelouro actual do
Ministério da Cultura, que desclassifica o edifício em causa, tudo porque, por um lado a história do lugar
acabou, é o que entendemos quando dizem que «as razões de natureza histórica que determinaram a
classificação do referido edifício já não subsistem» e por outro a monumentalidade emanada da história cede
a favor da monumentalidade emanada do cosmopolitismo arquitectónico vigente, pois há «necessidade de
implementar o Projecto Elipark e requalificar o conjunto arquitectónico localizado no Largo Matadi,
incluindo o edifício designado como Challet».
Só que, nós outros não apoiamos, nem a brincar, golpes brutais como este que se presta a ocorrer, por mais
que nos vendam a tese de que se trata de um imóvel em cujo processo de classificação como património
cultural e histórico houve descuido de aferição dos pressupostos a observar antes de desembocar na
classificação feita. E por mais que os promotores da iniciativa, que o nosso Estado sufragou, nos digam que a
bondade do edifício Elipark, nome do imóvel substituto, assenta no facto de vir a gerar um conjunto de
espaços comercial, de escritórios, de cultura, de lazer e de estacionamento, da mais alta estampa mundial. Se
é assim, que procurem outro lugar para corporizar a vossa desenfreada imaginação, em vez de brigarem com
valores da nossa angolanidade!
Porém, noutra banda, damos total apoio aos projectos imobiliários progressistas para Luanda e para o país,
que não acarretam o sacrifício nem o vilipêndio, baseado numa escolha a dedo/selectiva, de bens sociais ou
de edifícios afectos ao interesse público. E os exemplos de boas práticas, nesta matéria, estão mesmo aí à
mão: a reabilitação – restauração do palácio Dona Ana Joaquina; a manutenção – preservação dos palácios de
vidro e de ferro; o aparecimento da nova marginal de Luanda; a imagem renovada imprimida à antiga
marginal de Luanda; o emergir, em passos largos, da cadeia de edifícios na Broz Tito e a descer o eixo –
viário, que comportarão uma série de vantagens em hotelaria, serviços, lojas, lazer, jogos, etc, que muitos
procuram no exterior; a requalificação de bairros históricos, como Sambizanga, Rangel e Cazenga, visando a
melhoria da qualidade de vida; et, etc.
Enfim, a insistência no derrube, muito bem estudado, de parte significativa da arquitectura de Luanda, que
esbarra com um ideal do próprio Estado no sentido da preservação da Cidade Alta e da baixa antiga de
Luanda, por causa do valor histórico e simbológico, demonstra uma megalomania e vaidade ilimitadas. Daí,
então, o nosso conselho, se é que precisam, cataloguem de uma vez e por todas os locais e sítios históricos da
cidade, e em seus lugares façam os «qualquer coisa» Lounges ou «sei lá o quê» Clubs, inclusive,
transformem a saudosa Rua dos Mercadores numa gigantesca avenida, ao menos não terão mais de ouvir/ler
lamúrias e carpidos, igual a este, que só atrapalham a vossa impoluta vaidade e sanha incontida de
modernidade. Temos dito!
299
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 021 A Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL) está preocupada com o “desperdício de grandes
quantidades de água” na Cidade do Kilamba, o que pode levar à restrição no fornecimento se o
comportamento dos moradores não se alterar.
O alerta foi feito pelo presidente do conselho de administração da empresa pública, Leonídio Ceitas, quando
falava na quinta-feira no final de uma visita de campo às obras em curso nos
centros de captação, tratamento e distribuição de água.
O gestor da EPAL disse haver indícios de mau uso da água na Cidade do
Kilamba, por os moradores deixarem supostamente torneiras abertas.
Devido ao desperdício de grandes quantidades de água nesta centralidade,
salientou o gestor, estão a registar-se níveis mais altos de enchente no sistema
de tratamento de águas residuais do que o previsto para toda a população local.
Leonídio Ceitas garantiu melhorias significativas no abastecimento de água ao
município de Viana até ao mês de Dezembro, na sequência da entrada em
funcionamento, na quinta-feira, do Centro de Distribuição do Pólo Industrial de
Viana, que vai reforçar o abastecimento de água aos prédios do Zango e à Zona
Económica Especial (ZEE).
O arranque das bombas de água do centro foi feito pelo repórter do Jornal de
Angola, a pedido do presidente do conselho de administração da EPAL.
Na segunda fase, o centro vai transportar água para o Projecto Morar e a vila de Viana, informou Leonídio
Ceitas, que explicou haver uma terceira fase que vai abranger o Zango, depois da entrada em funcionamento
da Estação de Tratamento de Água do Calumbo.
“A nossa intenção é que esta estação possa produzir água suficiente para abastecer o Zango 24 horas ao dia,
pelo que pretendemos aumentar a sua capacidade com mais 400 litros por segundo, uma vez que também vai
abastecer o novo aeroporto internacional”, acrescentou o gestor da Empresa Pública de Água de Luanda.
Leonídio Ceitas anunciou a construção, no próximo ano, de um centro de formação destinado a pessoas
interessadas em trabalhar no ramo das águas, desde técnicos básicos a licenciados.
Durante a jornada de campo, de quase cinco horas, Leonídio Ceitas, acompanhado por membros da direcção
da empresa, percorreu parte da zona de Luanda sul e sudeste.
300
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Tenho o prazer de vos apresentar o Dr. Graciano Francisco Domingos, o novo Governador da Província de
Luanda. É uma pessoa com grande experiência administrativa, um profissional do ramo do Direito que, em
momentos difíceis, já governou interinamente esta província.
Conforme tinha prometido, hoje estou aqui para anunciar um conjunto de orientações e decisões com vista a
melhorar progressivamente a governação da Província de Luanda.
Embora tivéssemos conseguido obter melhorias em alguns aspectos, como a reabilitação e modernização de
infra-estruturas, a construção de edifícios e instalações para melhorar a prestação de alguns serviços públicos,
é evidente que existem muitos problemas por resolver e que criam muitas dificuldades.
No longo período de guerra que o país viveu, a cidade de Luanda era considerada lugar mais seguro e por
isso para aqui se deslocaram milhares e milhares de cidadãos à procura de abrigo e meios para sobreviver.
Com o fim do conflito armado, em 2002, o êxodo de outras províncias para Luanda continuou. Aumentou a
construção informal de bairros periféricos sem infra-estrutura mínima indispensável e sem condições de
habitabilidade e salubridade.
Nesses bairros passaram a faltar todos os serviços básicos, tais como o abastecimento de água potável e de
energia eléctrica, entre a falta de esgotos, de limpeza regular e recolha do lixo, a falta dos serviços de saúde,
de educação, etc.
Aumentaram assim os musseques que herdamos do tempo colonial. Aumentou também o desemprego, a
desorganização da cidade e a taxa de criminalidade. A província de Luanda e a cidade de Luanda em
particular, não estavam preparadas, porque não tinham infra-estruturas para acolher um fluxo tão grande de
pessoas.
De cerca de um milhão de pessoas, em 1991, Luanda passou a ter mais de cinco milhões, em 2002, e, hoje, já
tem mais de sete milhões de habitantes. Na realidade, a cidade de Luanda está a crescer muito rápido e os
seus problemas são cada vez maiores e mais complexos.
Nesta província quem dirige tem de estar a frente dos acontecimentos. Tem de estar completamente
disponível, ter grande capacidade e mesmo qualidades especiais para saber prever a situação da evolução,
saber orientar os subordinados e saber tomar medidas pertinentes.
301
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Por isso, decidimos fazer cessar a acumulação do cargo do governador provincial com o de primeiro
secretário do Comité Provincial do MPLA .
O nosso grande desafio é pôr a funcionar o aparelho da administração provincial e das administrações
municipais, em pleno, para superarmos o atraso em que nos encontramos e ajustar o passo da governação ao
crescimento da procura dos serviços públicos.
Precisamos de um esforço acima da média para podermos atender as necessidades básicas de toda a
sociedade, precisamos também de ordem e disciplina, em toda a província, para que cada um saiba o seu
lugar e papel e possa dar a sua contribuição.
Está em elaboração o Plano Director Geral Metropolitano de Luanda, que deverá ser implementado no
período de 2016 à 2030, e abrange todas as vertentes do desenvolvimento económico e social, o ordenamento
do território e a mobilidade na província de Luanda.
A elaboração deste importante documento será feita com base na consulta e concertação entre os organismos
públicos e privados e a sociedade civil.
Mas não vamos esperar pelo Plano Director Geral de Luanda para começar o processo de reestruturação da
Administração Local nesta Província.
O documento chegou-me e este processo começa agora com a implementação das medidas de carácter
normativo que, em conformidade com a Constituição da República, estabelecem uma maior desconcentração
administrativa dos poderes do Governo Provincial para a Administração Municipal, tornando assim quem
dirige e governa mais próximo dos problemas e do cidadão, e definindo a necessária coordenação provincial
e a articulação com a Estrutura Central.
Trata-se de optimizar a organização e o funcionamento do Governo da Província de Luanda, considerando
que esta é a mais povoada, a mais urbanizada e a que alberga a cidade capital do país.
No futuro a cidade capital poderá vir a ter um estatuto diferenciado, tal como tem Brasília, no Brasil, ou
Washington DC nos Estados Unidos da América.
Deste modo, para a Província de Luanda preconizamos um modêlo de desconcentração administrativa
profunda, através de uma delegação legal de competências que hoje são atribuídas ao Governo Provincial e
que passam para as Administrações Municipais, incluindo o caso específico do Município de Luanda.
O Ministro da Administração do Território e o Consultor Dr. Carlos Feijó explicarão depois mais
detalhadamente o que vai acontecer neste domínio da desconcentração administrativa.
Sublinho apenas que os Municípios de Luanda ficam equiparados as províncias, no sentido de que lhes serão
aplicáveis os procedimentos referentes ao regime financeiro e orçamental, podendo executar despesas até ao
mesmo limite definido por Lei para o Governador Provincial.
Contudo, o Governador Provincial continuará a ser o representante da Administração Central, em obediência
a estrutura definida na Constituição da República.
Com estas medidas, acrescidas dos instrumentos de trabalho de que dispomos, podemos, a curto e médio
prazo, atingir os seguintes objectivos:
Fortalecer a capacidade das Administrações Municipais de planificar e gerir melhor as zonas urbanas da sua
circunscrição e responder com efectividade as necessidades dos cidadãos;
Promover e gerir o desenvolvimento social e económico local e responder ao impacto de eventuais
ocorrências negativas naturais:
Contribuir para a melhoria da prestação de serviços públicos nos domínios da saúde, da educação, do
fornecimento de água e energia eléctrica, do saneamento básico e da gestão do lixo, da transformação do
mercado informal para o formal e do respeito pela ordem e a disciplina;
Promover a governação participativa através do diálogo e da participação dos cidadãos na resolução dos
problemas e no desenvolvimento do seu município;
A Administração Municipal deverá assim ter um Programa de Desenvolvimento, um Orçamento e um
Programa Municipal de Investimento Público, a partir de Janeiro de 2015. Para os últimos três meses deste
ano será aprovado e será executado um Programa Provincial especial de Impacto Social, além do Plano
provincial e do orçamento em curso.
302
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Em Outubro de 2014, o Executivo vai apreciar e aprovar um programa de expansão da rede viária e
ferroviária da Província de Luanda cuja execução começará imediatamente a seguir e vai permitir melhorar a
mobilidade significativamente, na zona sul, por exemplo, além da Avenida da Corimba, surgirão mais duas,
uma das quais será a marginal da Corimba, a qual vai ser uma avenida moderna com um metro de superfície
com mais de cinco quilómetros de praia a frente.
Este programa prevê também melhorar a acessibilidade da zona norte e do novo aeroporto internacional de
Luanda ao centro da cidade de Luanda. Etc
Por outro lado, uma atenção especial vai merecer a distribuição e a ocupação de terrenos urbanos ou para fins
agrícolas. Sugiro que seja realizado um seminário sobre este tema, aqui na Província de Luanda, em que,
além da auscultação e debate, os especialistas poderão falar sobre a Lei de Terras e sobre a Lei do
Ordenamento do Território e respectivos regulamentos, certamente.
Esperamos que com a adopção destas medidas consigamos resolver os problemas que identificamos na
província de Luanda
Queremos recordar que o Executivo deve uma resposta às Mulheres Rurais que, no seu último Fórum
Nacional, pediram esclarecimentos sobre várias irregularidades cometidas por responsáveis do Estado e sua
eventual responsabilização.
Penso que os casos concretos, já identificados, devem ser objecto de inquérito administrativo, a ser levado a
cabo pelas entidades competentes.
Minhas Senhoras
Meus Senhores
Caros convidados
O nosso dever é trabalhar para o povo; é trabalhar para satisfazer as necessidades crescentes do povo. Esta é a
orientação lapidar do programa de governação do MPLA proposto aos eleitores nas eleições gerais de 2012.
Temos, assim, obrigação de cumprí-la.
A terminar, eu quero reiterar as minhas felicitações ao senhor Governador de Luanda, ao senhor Presidente
da Comissão Administrativa de Luanda, aos Senhores Administradores Municipais pela nomeação e desejar à
todos que cumpram, com êxito, a missão que lhes foi confiada.
Muito obrigado
303
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Luanda - O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, afirmou hoje, segunda-feira, que com as
medidas acrescidas dos instrumentos de trabalho de que o Executivo dispõe para a província de Luanda pode-
se, à curto e médio prazos, atingir vários objectivos com vista a melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Fonte: Angop
O Chefe de Estado discursava na abertura da reunião de
trabalho realizada no Governo da Província de Luanda,
tendo apontado o fortalecimento da capacidade das
Administrações Municipais de planificar e gerir melhor as
zonas urbanas da sua circunscrição e responder com
efectividade as necessidades dos cidadãos.
Promover e gerir o desenvolvimento social e económico
local e responder ao impacto de eventuais ocorrências
negativas naturais; contribuir para a melhoria da prestação
de serviços públicos nos domínios da saúde, da educação, do fornecimento de água e energia eléctrica, do
saneamento básico e da gestão do lixo, da transformação do mercado informal para o formal e do respeito
pela ordem e a disciplina, foram outras das medidas apontadas pelo Titular do Poder Executivo.
José Eduardo dos Santos anunciou igualmente a promoção da governação participativa através da
participação dos cidadãos na resolução dos problemas e no desenvolvimento do seu município.
“A Administração Municipal deverá assim ter um Programa de Desenvolvimento, um Orçamento e um
Programa Municipal de Investimento Público, a partir de Janeiro de 2015”, revelou, acrescentando que para
os últimos três meses deste ano será aprovado e executado um Programa Provincial Especial de Impacto
Social, além do Plano Provincial e do Orçamento em curso.
Anunciou que, em Outubro próximo, o Executivo vai apreciar e aprovar um programa de expansão da rede
viária e ferroviária da Província de Luanda, cuja execução começará imediatamente, com vista a melhorar a
mobilidade, particularmente na zona sul.
O Presidente da República referiu que, além da Avenida da Corimba, surgirão mais duas, uma das quais a
marginal da Corimba, que se pretende uma avenida moderna, com uma maior superfície e mais de cinco
quilómetros de praia.
Realçou que este programa também visa melhorar a mobilidade da zona Norte e do novo Aeroporto
Internacional de Luanda ao centro da cidade de Luanda.
304
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
José Eduardo dos Santos salientou que nestes bairros passaram a faltar todos os serviços básicos, como o
abastecimento de água potável e de energia eléctrica, inexistência de sistemas de esgotos, limpeza e recolha
do lixo regulares, deficiente serviço de assistência médico-medicamentosa, de educação e ensino, entre
outros.
"Aumentaram os musseques, que herdamos do tempo colonial, assim como o desemprego, a desorganização
da cidade e a taxa de criminalidade", ressaltou ainda o Presidente José Eduardo dos Santos, salientando que a
província de Luanda e a sua cidade, em particular, "não estavam preparadas, porque não tinham infra-
estruturas para acolher um fluxo tão grande de pessoas".
Fez saber que, de cerca de um milhão de pessoas, em 1991, Luanda passou a ter mais de cinco milhões em
2002, e, hoje, já tem mais de sete milhões, frisando que "na realidade, a cidade capital está a crescer muito
rápido e os seus problemas são cada vez maiores e mais complexos".
Sugeriu que, nesta província, quem dirige tem de estar a frente dos acontecimentos, ter grande capacidade e
saber orientar os subordinados, além de tomar medidas pertinentes, oportunamente. "Por isso, decidimos
fazer cessar a acumulação do cargo do governador províncial com o de primeiro secretário do comité do
MPLA", justiticou.
305
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 024 UNITA revela que medidas anunciadas pelo PR violam a Constituição e não irão resolver os problemas
dos munícipes
Luanda - Texto da Posição da UNITA apresentada os jornalistas pelo seu Presidente, Isaías Samakuva, sobre
medidas de políticas para governar Luanda e Municípios.
Nos termos do artigo 214.º., “a autonomia local compreende o direito e a capacidade efectiva de as autarquias
locais gerirem e regulamentarem, nos termos da Constituição e da lei, sob sua responsabilidade e no interesse
das respectivas populações, os assuntos públicos locais”. E este direito, só pode ser exercido pelas autarquias
locais, e não pelos governos provinciais nem pelas administrações municipais.
As autarquias locais são entidades distintas da Administração Pública. São pessoas colectivas territoriais
AUTÓNOMAS, quer dizer, distintas do Estado. Elas correspondem ao conjunto de residentes em certas
circunscrições do território nacional e que asseguram a prossecução de interesses específicos resultantes da
vizinhança, mediante órgãos próprios representativos das respectivas populações.
Os assuntos específicos locais relativos ao saneamento básico, à gestão das redes públicas de água, à gestão
do lixo, à educação das crianças, à saúde, etc. não são da competência do poder executivo do Estado. São da
competência da Administração autónoma, que é constituída pelos cidadãos organizados em autarquias locais.
A inexistência da administração pública autónoma constitui uma inconstitucionalidade por omissão.
O Senhor Presidente da República, ao procurar resolver os problemas dos munícipes de Luanda no quadro
dos interesses da Administração central do Estado e não no quadro da administração pública autónoma, ou
seja, e não no quadro dos interesses específicos das pessoas residentes nos municípios, vem prejudicar e
protelar a criação efectiva das autarquias locais, ofendendo assim o princípio constitucional da autonomia
local.
Por outro lado, as medidas anunciadas para Luanda ofendem também o princípio democrático. Nos termos do
artigo 213º da Constituição, “a organização democrática do Estado ao nível local estrutura-se com base no
princípio da descentralização político-administrativa,...”, e não com base no princípio da desconcentração
administrativa.
Ora, as medidas anunciadas pelo Senhor Presidente da República visam a desconcentração dos serviços
públicos e não a sua descentralização efectiva, como manda a democracia.
"Diz-se que a atividade é descentralizada quando é exercida por pessoas distintas do Estado....Na
descentralização, o Estado actua indirectamente, pois o faz através de outras pessoas, seres juridicamente
distintos dele, (como as autarquias locais) ainda quando sejam criaturas suas” .
Importa recordar que a descentralização não se confunde com a desconcentração.
306
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Na desconcentração, as atribuições administrativas são outorgadas aos vários órgãos que compõem a
hierarquia, criando-se uma relação de coordenação e subordinação entre um e outros. Isso é feito com o
intuito de desafogar, ou seja, desconcentrar, tirar do centro um grande volume de atribuições para permitir o
seu mais adequado e racional desempenho.
Não é isto que a Constituição manda fazer. A Constituição manda-nos estabelecer os órgãos autónomos do
poder local, cujos titulares terão de ser eleitos pelo povo e responsabilizados perante o povo.
A autonomia local implica descentralização territorial, ou seja, a negação da centralização no Estado de todas
as tarefas político-administrativas. É bem sabido que a centralização implica a concentração do poder e assim
a negação da autonomia local. Está aqui presente a separação vertical dos poderes que é uma dimensão da
separação dos poderes muito cara à democracia. Ao lado da separação horizontal dos Poderes (Legislativo,
Executivo e Judicial) temos a separação vertical.
Povo angolano:
O Titular do Poder Executivo anunciou que “A Administração Municipal deverá assim ter um Programa de
Desenvolvimento, um Orçamento e um Programa Municipal de Investimento Público, a partir de Janeiro de
2015.”
Isto não chega. A Administração Municipal é um órgão dependente do Presidente da República, faz parte da
Administração central do Estado. A Constituição manda o senhor Presidente largar o poder municipal e
devolvê-lo aos cidadãos. Quem deve elaborar e aprovar os programas de desenvolvimento municipal são os
cidadãos de cada município, através dos seus representantes eleitos nos órgãos das autarquias locais, que não
dependem do Presidente da República.
Não deve haver mais administrações municipais dependentes do Titular do poder Executivo ou do
governador provincial. É preciso cumprir a constituição, concretizando o princípio da separação vertical de
poderes entre o Executivo central e os executivos de novos entes territorais que a Constituição manda a
Assembleia Nacional criar.
Ao chefe de cada um desses novos executivos, a Constituição chama de “Presidente da Autarquia”, no seu
artigo 220º. Sim, o Cazenga deve ter um presidente, Viana deve ter um Presidente, Cacuaco deve ter um
Presidente, Belas deve ter um Presidente. Estes presidentes não devem ser nomeados pelo Presidente da
República. Devem ser escolhidos pelos cidadãos de cada município em eleições livres, justas e transparentes.
Podem ser membros de partidos políticos ou candidatos independentes.
São estes presidentes, e seus colaboradores, que devem elaborar em primeira instância os programas de
investimentos públicos, os orçamentos e os planos de desenvolvimento dos municípios. E quem os aprova em
primeira instância são também órgãos autónomos, que não estão sob o controlo do Presidente da República.
São as assembleias municipais, compostas igualmente por representantes eleitos pelos cidadãos em eleições
livres, justas e transparentes.
E não se trata apenas de melhorar a Corimba, é preciso melhorar a qualidade de vida de todos os angolanos
ao mesmo tempo. Os planos para se fazerem mais duas ou três escolas na Corimba, duas ou três estradas
municipais no Libolo, mais duas ou três estações de tratamento de lixo no Luena, são decisões dos
respectivos governos municipais a serem aprovadas pelas respectivas Assembleias Municipais, não pelo
Titular do poder executivo.
Por outro lado, estas medidas chegam tarde. Devo referir que em Maio de 2010, depois de termos visitado
durante seis semanas dezenas de empreendimentos e instituições nas nove municipalidades de Luanda e
completado um diagnóstico preliminar, apresentamos ao Governo de Luanda, a “Contribuição da UNITA
Para a Gestão Sustentável de Luanda”.
O que dissemos naquela altura continua válido hoje:
• Luanda tornou-se ingovernável no quadro institucional actual. Luanda não tinha, e não tem um Plano
Director. Não tem fiscalização à altura. O próprio desordenamento de Luanda propicia construções
anárquicas e outros esquemas de sobrevivência. Passaram-se quatro anos, e o governo não foi capaz de
elaborar um Plano Director.
• O sistema de ensino, os sistemas de produção, a saúde, o sistema de recolha de lixo, o sistema de
distribuição de água e luz, as redes públicas, o sistema de circulação rodoviária, estão todos engarrafados.
307
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Passaram-se quatro anos, mudaram-se os governadores, mudaram-se os administradores. Mas o chefe dos
governadores, não foi capaz de resolver estes problemas.
• Dissemos na altura que as pessoas correm para Luanda, porque é em Luanda que se concentra a riqueza e se
apresentam maiores oportunidades de sobrevivência, exactamente porque as políticas do governo não
fomentam a criação de empregos nem de grandes oportunidades no interior do país. E Luanda já esgotou a
capacidade de oferta de empregos para a população economicamente activa que possui.
• Portanto, sejam quais forem as razões, a taxa actual de imigração e o ritmo de crescimento desordenado
ultrapassaram já a capacidade humana de gestão e a capacidade física dos equipamentos, em todos os
municípios de Luanda.
• Os efeitos da cidade periférica e ilegal também comprometem a gestão da cidade urbanizada, porquanto a
cidade periférica, (a) satura, sabota ou rebenta as redes públicas e os sistemas de fornecimento de serviços de
água, electricidade e saneamento; (b) acentua a exclusão social; (c) provoca o incremento dos
congestionamentos; (d) desvia recursos públicos; (e) promove o stress, o crime e a violência; e (f) acentua os
processos de segregação e de discriminação.
• Portanto, Luanda só será governável quando a nível macro se desenvolverem políticas eficazes e
consensuais para se estancar a imigração e o crescimento desordenado da capital .
Povo angolano:
Reiteramos aqui a posição da UNITA expressa em três pontos fundamentais:
1) Angola precisa de descentralizar o desenvolvimento para harmonizar o crescimento. A resolução dos
problemas de Luanda está intrinsecamente ligada à implementação consensual de medidas estruturais de
fundo para o reordenamento do território e para o repovoamento do país.
2) Enquanto Luanda não tiver um estatuto de responsabilidade político-administrativa autónomo, no quadro
da implementação das autarquias locais e um Plano Director vinculativo a ser respeitado pelos futuros
governos, Angola vai gastar muito dinheiro em vão.
3) Urge estabelecer, a nível do Parlamento, um Acordo político, através do qual, os representantes do povo
auscultem os cidadãos para se encontrarem medidas de política estruturais, inclusivas e consensuais, para
desacelerar o crescimento de Luanda e acelerar o crescimento harmonioso do interior do país.
Em 2010, propusemos alargar Luanda estendendo as suas fronteiras, para permitir a construção e gestão
descentralizada de novas redes viárias e ferroviárias, novos pólos industriais, novos parques e novas cidades
satélite, entre o Rio Logi, a Norte, e o Rio Longa, a Sul e a Província do Kwanza Norte, a Leste.
Propusemos para esta nova província de Luanda a consagração da Região Metropolitana de Luanda, um ente
territorial dotado de personalidade jurídica própria, a quem a República transfere competências políticas,
regulamentares e administrativas.
Um ano depois, o Executivo agarrou a proposta, copiou uma parte dela, mas não teve a coragem de
implementar a efectiva descentralização. Estendeu apenas as fronteiras da província, mas não conferiu
autonomia de gestão. Agora pretende dar outro meio passo. Quer apenas desconcentrar os serviços públicos e
transformar as administrações municipais em centros orçamentais, quando a Constituição manda criar “novos
entes territoriais”, distintos e autónomos do poder do Estado. A Constituição manda os cidadãos eleger
Presidentes Municipais para cada um deles governar o município. A eles devem ser atribuídas verbas
directamente pela Assembleia Nacional. Tais verbas devem ser geridas de forma autónoma e responsável. A
fatia da Cidade Alta deve diminuir e a fatia dos cidadãos deve aumentar. É isto o que a Constituição manda
fazer, criar um ambiente democrático descentralizado. Não é possível governar Luanda sob a dependência do
Poder executivo central. A gestão dos municípios de Luanda e de todos os outros municípios do país tem de
sair da alçada do poder executivo central. Deve passar para os cidadãos, sem mais demora.
Do nosso ponto de vista, a dimensão dos problemas de Luanda exige a criação de duas ou mais autarquias de
nível supra-municipal, com atribuições nos domínios da educação, saúde, energias, águas, equipamento rural
e urbano, património, cultura e ciência, transportes e comunicações, tempos livres e desportos, habitação,
acção social, protecção civil, ambiente e saneamento básico, defesa do consumidor e polícia municipal, como
estabelece a CRA nos seus artigos 218º e 219º.
308
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Angola precisa de organizar as suas autarquias locais e de eleger com urgência os três órgãos do poder
autárquico, que a Constituição prescreve no seu artigo 220º, que são as Assembleias Municipais, dotadas de
poderes deliberativos, os órgãos executivos colegiais e os Presidentes das Autarquias.
O tempo dos governadores e administradores nomeados por um só Partido, acabou. Angola precisa de
cumprir a sua própria Constituição para efectivar a descentralização. Já perdemos muito tempo. Precisamos
de substituir a Administração local, subordinada a um só homem, pelo Poder Local, que tem órgãos próprios,
representativos das respectivas populações e eleitos por elas.
Sem autarquias com órgãos eleitos pelo povo, com recursos financeiros próprios, e autonomia de gestão
administrativa, os problemas de Luanda e do país não serão resolvidos.
309
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 025 Reação ao discurso do PR: CASA-CE sugere implementação do poder local autárquico
Luanda - 1-A CASA-CE acompanhou atentamente o discurso proferido pelo Presidente da República, no dia
21 de Setembro de 2014, aquando da cerimónia de apresentação do novo governador da Província de Luanda.
Fonte: CASA-CE
2- A CASA-CE congratula-se por constatar que finalmente o
Presidente da República tomou conhecimento e começa a
preocupar-se com a situação precária da vida dos angolanos
residentes na cidade de Luanda, e particularmente dos residentes dos
bairros periurbanos, e novas áreas caóticas.
3- Anos a fio, Luanda, tal como grande parte do país, enfrenta,
graves problemas nos domínios do ordenamento e saneamento
urbano, nos domínios de prestação de serviços básicos ao cidadão,
tais como água, energia, educação, a recolha de lixo saúde e
emprego para os jovens.
4- Face a abertura do Presidente da República, para uma visão e abordagem mais realista dos problemas de
Luanda, a CASA-CE recomenda:
a) Tal como foi decidido separar a função de governador de Luanda, com a de responsável do partido no
poder na província, também deve ser estendida a todo o país esta incompatibilidade funcional.
Assim, todos os governadores e administradores em todo País, não acomulem funções administrativas
com funções partidárias. Estaremos a dar assim os primeiros passos no processo de despartidarização da
administração pública, apánagio importante dos regimes democráticos.
b) A vontade demonstrada pelo Presidente da República no sentido da desconcentração Administrativas e
Financeiras de Luanda, num contexto constitucional excessivamente concentrador, pode gerar a
inviabilização técnica do propósito inicial. Porém, mais do que desconcentrar é preferível apostarmos no
cumprimento das normas constitucionais e avançarmos decididamente na implementação do poder local
autárquico. Países africanos com piores condições financeiras, políticas, económicas, humanas e técnicas,
têm dado passos nesse desiderato. Angola deve evitar fazer parte dos piores.
c) A antecipação aos fenómenos Político, Económico, Financeiro e Social em qualquer Sociedade em vez de
reacção é uma atitude básica para qualquer filosofia de governação positiva. Assim, consideramos ser
inevitável a aprovação de um plano director geral para a província com vista a garantir coerência,
estruturação e enquadramento de todo o conjunto de acções governativas. É recomendável para tal fim, o
diálogo com a sociedade seja efectivo e não teatral. A valorização de todas as mais valias e competências
humanas devem sobrepor-se às tendências partidarizantes, para que o produto final reflicta os grandes
consensos e a melhor qualidade.
d)A CASA-CE congratula-se com a intenção admitida pelo titular do Poder Executivo de desenvolver acções
visando melhorar a circulação na cidade de Luanda. A CASA-CE considera que não será suficiente criar uma
nova marginal da Corimba acoplada com metro de superfície e uma via da Zona Norte. Luanda, exige um
vasto plano de multiplicação de vias rápidas interconectadas entre si; Luanda, exige um vasto plano de
multiplicação e melhoramento
dos transportes públicos, combinando linha de Metro de superfície inter-conectadas e autocarros públicos
com faixa de circulação exclusiva; Luanda, exige um vasto plano de construção de espaços de
estacionamento, utilizando os espaços de edifícios delapidados, combinados com a proibição de
estacionamento nas vias pré-determinadas nas zonas da cidade.
Só um plano holístico poderá dar resposta cabal aos grandes congestionamentos do tráfego que afectam de
forma negativa os níveis de produtividade na cidade de Luanda.
e) A qualidade de vida dos habitantes de uma grande metrópole como Luanda, está relacionada com a
quantidade e qualidade de equipamentos municipais (camarários), colocados a sua disposição. Luanda,
carece de espaços verdes e parques de lazer. Pelo que, o Executivo deve catalogar em todos os municípios,
espaços públicos ainda disponíveis (exemplo – ex-Praça da Estalagem ou ex-Roque Santeiro) para a
instalação de espaços verdes cuidados e parques de lazer.
310
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
f) A cidade de Luanda é hoje, nas palavras do Senhor Presidente, uma metrópole com mais de sete milhões
de habitantes. Providenciar serviços sociais básicos, tais como saneamento, em tempo seco, a limpeza das
grandes valas de drenagem, a recolha de resíduos sólidos, a regularização das estradas não asfaltadas e a
feitura das sanjas, o borrifar águas nas estradas nos meses de Agosto e Setembro, com vista a eliminar as
poeiras e, preparando-as para as chuvas, a água e a energia; não têm eficácia quando desenvolvidas de forma
de emergência permanente, realizada exclusivamente por empresas públicas gigantes. Por esta razão, é
recomendável que sejam feitos estudos apropriados para se aferir da possibilidade de tercerizar e
desconcentrar o aprovisionamento desses serviços à população.
g) Em todos os bairros de Luanda, incluindo os mais caóticos, é visível o nível de esforços desenvolvidos
pelos cidadãos na construção
dos seus imóveis residenciais. Para a devida valorização dessas acções, é crucial que todos os serviços que
contribuem para a valorização fiduciária desses esforços sejam disponibilizados, até, de forma tercerizada.
Para além das questões relativas à urgência da urbanização e do saneamento básico, pontuam com carácter
urgente a necessidade de reconhecimento e regularização dos direitos de superfície, de posse legal e registo
de titularidade dos imóveis.
h) Sempre que os imperativos de urbanização implicarem a demolição de residências dos cidadãos,
independentemente do seu nível, tal exercício deve ser executado respeitando os princípios do diálogo,
planificação participada, dignidade nas medidas adoptadas para evitar-se o desenraizamento das populações.
Esta não é recomendação exclusiva da CASA-CE, mas também, da Assembleia Nacional da República de
Angola.
5- O Conselho Presidencial da CASA-CE espera que esta contribuição patriótica e honesta seja assim
considerada para o bem de Angola e dos Angolanos.
Luanda, aos 25 de Setembro de 2014
311
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
312
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
313
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
314
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
315
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
316
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
CENTRALIDADE DO KILAMBA
FOTO: FRANCISCO MIÚDO
Uma fonte policial disse segunda-feira, à Angop, que deste
número oito estavam habitados, dois apresentaram documentos
falsos e seis sem qualquer documentação e os restantes ocupados
com alguns pertences, mas sem os ocupantes.
A acção iniciada na última quinta-feira abrangeu os edifícios “ W,
X, Z, U, T, G e A”.
O porta-voz da Sonip, Mateus Cristóvão, afirmou que a operação vai prosseguir até a retirada dos moradores
ilegais e vai estender-se para as Centralidades do Zango e Cacuaco.
No princípio do corrente ano, a Polícia Nacional deteve uma rede de trabalhadores da Sonip sob acusação de
terem forjado contratos e facilitado a ocupação ilegal de mais de 100 apartamentos na Centralidade do
Kilamba, cujos preços e modalidades implementadas não foram reveladas.
A Sonangol Imobiliária e Propriedades (Sonip) iniciou, em 2012, a venda de habitações nas centralidades do
Kilamba, Cacuaco, Capari, Km 44 e Zango (Condomínio Vida Pacífica).
As vendas foram processadas em Regime de Renda Resolúvel, com capital inicial e sem capital inicial, num
horizonte de 15 a 20 anos.
As habitações estiveram a disposição do público também em regime de arrendamento e de vendas a pronto
pagamento.
317
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
318
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
DECLARAÇÃO POLÍTICA
Na generalidade, o estado da Nação apresentado pelo Presidente da
República, representa inércia, dúvida e incerteza quanto ao futuro do
País. Representa também, pessimismo sobre o futuro económico e
ainda, resignação e falta de ambição no que tange à realidade social
dos Angolanos, porquanto:
1 - O Sr. Presidente da República, no seu entender, catalogou
algumas tarefas legais e organizativas conducentes à
institucionalização do poder local Autárquico, tendo assumido a
incapacidade do Executivo e da Assembleia Nacional realizarem
esta tarefa antes de 2017.
Numa altura em que no País existe em grande medida, consensos quanto à necessidade da realização dessas
eleições antes de 2017, e, esperava do Presidente, certeza e calendarização, o Presidente lançou um balde de
água fria sobre as expectativas e ansiedades dos angolanos, incerteza, mas sobretudo, recusa sob a capa de
realismo e pragmatismo em concretizá-la.
No presente processo, o que está em causa, não é a celeridade de execução como proferiu o Presidente da
República, mas a falta de vontade política, na medida em que esta matéria, encontra-se à consideração dos
poderes instituídos há anos, sem que fosse movida uma palha até ao presente momento, por inteira
responsabilidade do partido no poder. Por outro lado, esta matéria resulta de um pacto social, vertida na
Constituição, desde a segunda República.
A CASA-CE recomenda ao Executivo que oriente a comissão referida pelo Presidente, para o tratamento do
pacote autárquico, com o propósito de iniciar a preparação dos Diplomas legais, interagir com os vários
segmentos da sociedade, no sentido de se buscar os maiores consensos possíveis e antecipados, por forma a
materializar este desiderato.
A CASA-CE apela a todas as forças vivas da Nação, a desencadear um debate Nacional aberto, que possam
conduzir à realização de eleições autárquicas em 2016, enquanto pressuposto essencial dos estados
Democráticos de Direito.
2 - O contexto Internacional actual caracterizado por conflitos no Médio Oriente, pelo surgimento de
Tecnologias avançadas de outras formas de exploração petrolífera levou a um clima de volatilidade dos
Mercados e consequentemente, à queda significativa dos recursos disponíveis no País. Esta realidade leva-
nos à conclusão de que a estratégia da diversificação da economia adoptada pelo Executivo, não tem sido
executada com rigor e empenho necessários.
A CASA-CE recomenda a adopção de medidas sérias, que melhorem o ambiente dos negócios em Angola,
com o propósito de encorajar o Investimento Privado Angolano e Estrangeiro, nos Sectores não Petrolíferos
da Economia.
3 - O Presidente da República, admitiu no seu discurso, a existência de graves problemas sociais no País,
com uma população de cerca de vinte e quatro milhões de habitantes, dos quais 54% vive na pobreza
absoluta, isto é, com menos de dois dólares americanos por dia; milhares de crianças fora do sistema de
ensino; um terço da população analfabeta; elevado índice de mortalidade infantil (…); tudo isto num País
com imensos recursos financeiros. Fica assim provado que a insensibilidade e a aposta na estratégia do betão,
319
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
não está a surtir os efeitos desejados. É urgente a reformulação da estratégia de governação, que deve
combinar o betão com a pessoa humana.
4 - A CASA-CE aposta na qualidade do Processo de Ensino e Aprendizagem, privilegiando as disciplinas de
matemática e língua portuguesa, por forma a garantir melhor preparação dos alunos.
5 - A CASA-CE tomou boa nota da promessa reiterada pelo Presidente da República quanto à necessidade de
regularização dos subsídios dos antigos combatentes e Ex-militares do ELNA, FAPLA e FALA. A CASA-
CE espera que desta vez a promessa seja cumprida e justiça seja feita para com estes angolanos que tantos
sacrifícios consentiram por Angola.
6 - A CASA-CE lamenta que questões fundamentais da vida política nacional não tenham sido abordadas
pelo Presidente da República. Angola precisa de uma profunda reforma do ambiente político nacional, que
garanta na prática a liberdade individual, a igualdade de todos os angolanos, a abertura e isenção de todos os
órgãos de comunicação social. Estas reformas constituem-se em pressupostos essenciais para catapultar
Angola, para um futuro positivo e com características optimizadas, para a realização de todos os angolanos.
Luanda aos 16 de Outubro de 2014
320
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O CONSELHO PRESIDENCIAL
| 035 Uma outra forma de enfrentamento da cidade informal é a entrega, por parte do Governo de lotes para a
autoconstrução dirigida, tal é o caso do Governo entrega lotes para autoconstrução
Afonso Costa e João Upale | Namibe
17 de Outubro, 2014|Jornal de Angola
Fotografia: Benjamim Cândido
Um total de 5.776 lotes de terra destinados à autoconstrução dirigida
está a ser distribuído pelo Governo Provincial do Namibe à população
local, no âmbito do plano de urbanização da zona do Aeroporto
Welwitschia Mirabilis.
O governador Rui Falcão fez a entrega simbólica dos terrenos aos
primeiros oito beneficiário, inscritos nesta primeira fase, em acto
testemunhado por funcionários da Administração Municipal do Namibe e da Comissão de Ordenamento
Territorial e Gestão Urbana.
Nesta primeira fase, os lotes para residências postos à disposição da Administração Municipal do Namibe
pela comissão técnica vão ser distribuídos aos requerentes já registados.
O responsável da área técnica, António Francisco Tchivela, disse que já existe uma lista dos beneficiários,
que corresponde ao número de lotes disponíveis, o que vai facilitar o controlo do processo.
Os trabalhos tiveram início com o estudo do terreno e do mapa de urbanização, com uma área de 1.862
hectares, dos quais 1.113 hectares já executados na primeira fase, o que corresponde a 5.776 lotes.
António Tchivela referiu que, para já, estão disponíveis para habitação mais de cinco milhões e meio de
metros quadrados, 105.392 de zonas verdes e espaços públicos, 71.966 para equipamentos sociais e 54.728
de áreas de mercados.
Para as escolas, disse que estão reservados 10.521 metros quadrados, 71.190 para colégios, 37.202 para
hospitais e 14.981para postos médicos.
Para postos policiais existem 7.578 metros quadrados, ao passo que 192.012 se destinam à reserva do Estado.
Na segunda fase estão previstos mais 749 hectares, que correspondem a 3.695 lotes.
António Tchivela disse que esta fase reserva a execução da superfície residencial, com mais de três milhões e
meio de metros quadrados, 71.966 para equipamentos sociais, 35.218 de mercados, 74.404 para escolas e
34.259 para colégios. Estão igualmente reservados 11.483 para postos médicos, 11.537 aos serviços de
polícia, 71.966 para zonas verdes e espaços púbicos e 96.006 metros quadrados como reserva do Estado.
O administrador municipal do Namibe, José de Freitas, salientou que este processo de entrega de terrenos vai
ser contínuo e dentro de dias vão ser preparados novos processos para a segunda fase.
Pediu ainda aos beneficiários para procederem de acordo com a lei, contribuindo para a denúncia de casos de
venda ilegal de terrenos.
Os terrenos em distribuição são de mil metros quadrados, o que corresponde a 25 metros de largura e 40 de
comprimento. “Quem construir sem autorização ou não respeitar as regras impostas pelas autoridades, vai ter
a casa demolida”, advertiu, referindo que foi criada uma comissão para acompanhar o processo.
321
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
322
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
323
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Melhor investimento
José António da Conceição e Silva afirmou que, em consequência do rápido crescimento e desenvolvimento
urbano, nas próximas décadas, a população urbana vai dobrar em número, representando quase três quartos
da população do mundo.
O ministro José António da Conceição e Silva afirmou que o melhor investimento de uma cidade é cuidar e
educar o ser humano. Sublinhou que as cidades são compostas por pessoas e que precisam de mudar, para
que a vida nas cidades melhore. “Há quem defenda que os governos deviam investir mais dinheiro nas
cidades. É realista pensar que os problemas das cidades são solucionados aumentando os orçamentos”?,
questionou.
Acrescentou que não basta, por exemplo, investir na iluminação dos musseques, criando novos conjuntos
habitacionais de bairros de baixa renda, pois há o risco de se tornarem centros de delinquência, vandalismo e
desânimo generalizado. Segundo o ministro, para o alcance de uma cidade melhorada sem vandalismo,
droga, poluição e outras agressões urbanas, é necessária uma mudança drástica na forma de pensar e agir.
O ministro augurou que, deste modo, as cidades podem tornar-se motores do desenvolvimento económico e
espaços de liberdade, inovação e prosperidade.
Nações Unidas
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O representante das Nações Unidas para a Habitação, Mathis Spaliviero, falando à margem da conferência
‘’Liderando as transformações urbanas’’, organizada pelo Ministério do Urbanismo e Habitação, elogiou a
política habitacional do país.
“Angola tem uma liderança forte nesta política\", disse o diplomata que considera as cidades elementos
importantes para o desenvolvimento de um país, por serem o centro de concentração de pessoas e serviços,
de oportunidade de emprego e de rendimento.
O diplomata Mathis Spaliviero considera urgente a criação nos continentes de políticas e estratégias que
acompanhem o crescimento das cidades.
Durante a conferência, foi apresentado o programa de desenvolvimento urbano e habitacional das provinciais
de Benguela, Cunene e Lunda Sul, o Plano director municipal do município de Viana e o plano director
metropolitano de Luanda.
Domingo, 09 de Novembro 2014 00:35
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O Seminário Nacional sobre a Problemática da Ocupação de Terrenos, que hoje termina, trata-se de uma
iniciativa do Presidente da República para responder a uma situação de facto suscitada especialmente durante
o FÓRUM SOBRE A MULHER RURAL e anunciada durante a visita de trabalho ao Governo Provincial de
Luanda, relacionada com uma série de conflitos e reclamações sobre o acesso, uso e ocupação de terrenos a
que se tem assistido tanto no meio urbano como no rural.
Com efeito, assiste-se a um aumento da proliferação de zonas de musseques à volta das principais cidades de
Angola e os conflitos à volta de ocupações ilegais de terras. Tudo isso, é reflexo das consequências do
conflito armado que alavancou o êxodo rural, da inadaptação das estruturas de administração local à
crescente e exponencial demanda de habitação e de espaços para a construção habitacional, bem como da
necessidade de um ajustamento das políticas e dos instrumentos de gestão urbana de cidades, principalmente
das novas centralidades e da própria legislação sobre terras, em geral.
Com o alcance da paz e a aprovação das Leis de Terra e do Ordenamento do Território e do Urbanismo,
foram criadas as bases para os órgãos da Administração Local do Estado assumirem em toda a sua plenitude
as suas responsabilidades na gestão e defesa da propriedade fundiária, pública e privada.
Nesse sentido, a actualização da legislação vigente tendo em conta os diversos usos da terra, a reorganização
institucional das administrações municipais e das cidades, das áreas de cadastro e do ordenamento do
território, a clarificação das funções aos vários níveis, acompanhadas da responsabilização disciplinar, civil e
criminal dos funcionários públicos, agentes da Autoridade Pública e dos cidadãos envolvidos em práticas
ilícitas e, em geral, o exercício da Autoridade Pública, são tarefas prioritárias e de interesse nacional.
Por outro lado, a acção preventiva e repressiva de condutas ilícitas, através da implementação de acções de
fiscalização administrativa, da intervenção das forças policiais (e no futuro, também, da POLÍCIA
MUNICIPAL administrativa), do reforço do papel do Ministério Público e dos Tribunais e da autoridade no
seio dos órgãos militares e policiais em relação a eventuais casos de envolvimento de membros da
corporação, bem como do envolvimento das Autoridades Tradicionais e das Comissões de Moradores,
podem contribuir para a inversão do actual quadro de conflitos sobre a problemática de ocupação ilegal de
terrenos.
Mas não nos iludamos. Só a criação de condições de vida nos municípios e, em geral do interior do país, bem
como do desenvolvimento equilibrado do território nacional, podem limitar, impedir ou mesmo, reverter a
tendência da migração das populações e, em particular, dos jovens, das áreas rurais para a periferia das
Cidades e dos municípios do litoral.
As recomendações deste seminário basearam–se em análises de casos reais que têm ocorrido em quase todo o
país. Elas sublinham a importância da gestão da terra para o desenvolvimento económico e para vida das
populações, das instituições e das empresas, bem como a necessidade da aplicação das decisões políticas
sobre a forma de integração do desenvolvimento urbano e rural no âmbito das políticas de desenvolvimento
económico.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O debate vai continuar nas Províncias. Entretanto, alguns pontos críticos estão identificados. Só para citar
alguns:
- a necessidade de acesso a terrenos por parte dos cidadãos e das empresas que se confronta com uma
legislação que já necessita de ajustamentos, nomeadamente em relação a eventual criminalizarão de algumas
condutas ilícitas e de uma Administração pública local desburocratizada e procedimentos mais céleres;
- a necessidade de afirmação da Autoridade Pública na questão relacionada com a ocupação de terrenos
porque Democracia sem Autoridade vira Anarquia;
- a necessidade de criação de mecanismos de detecção de fraudes e de casos de burla e reincidência por parte
de cidadãos que até se colocam em situação de risco para obter sucessivos benefícios de casas;
- a necessidade da administração adiantar-se na oferta de espaços loteados e, se possível, infra-estruturais,
para construção, indústria, comércio e outros fins.
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Agradeço as Autoridades gestoras do Palácio da Justiça pela disponibilização deste Anfiteatro para o
acolhimento do presente Seminário.
Agradeço igualmente os serviços de Protocolo, Segurança e Ordem Pública, os Serviços médicos, o
Secretariado, os serviços provedores de refeições, os técnicos da Casa Civil e dos Ministérios da
Administração do Território, do Urbanismo e Habitação e da Justiça e dos Direitos Humanos, bem como
todos os serviços que de uma forma ou de outra, contribuíram para o êxito dos trabalhos.
Agradeço, por fim, os Palestrantes e Moderadores, bem como todos os participantes ao Seminário pelo
interesse manifestado em dar a sua contribuições a um complexo problema que a todos, afinal, preocupa, o
que ficou manifestado não apenas pelas intervenções feitas, como pela atenção prestada e, sobretudo, pela
lotação da sala para além da sua capacidade.
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Durante os trabalhos, foi suscitada a questão do formato adoptado para a organização e funcionamento do
Seminário, nomeadamente quanto à participação dos Senhores Administradores municipais em simultâneo
com os Governadores Provinciais.
Sobre o assunto, importa referir que a estrutura adoptada segue, no essencial, o formato dos vários órgãos de
concertação e inclusão social e ação participativa como, a título de exemplo, os Conselhos Provinciais de
Concertação e Auscultação Social que são presididos pelos Senhores Governadores Provinciais.
E tal como nesse órgão, também neste seminário, a participação dos Senhores Administradores Municipais
deve-se ao carácter da sua localização territorial mais próxima dos cidadãos e das comunidades e,
consequentemente, dos problemas dai decorrentes.
Com o devido respeito que me devem os Senhores Governadores Provinciais, devo clarificar que os
Administradores Municipais não são subordinados dos Governadores Provinciais. São seus colaboradores no
exercício da acção do Executivo, enquanto não são criadas as Autarquias locais, órgãos então não já do
Estado mas representativos e directamente eleitos pelos cidadãos e sujeitos a uma tutela directa do Executivo,
sem prejuízo da existência de mecanismos de articulação e coordenação institucional.
Aliás, o sentido de inclusão e concertação social tem sido sucessivamente defendido e praticado pelo Senhor
Presidente da Republica como o atestam os recentes Fóruns de Auscultação à juventude e à mulher rural.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O mesmo se diga quanto a importância e o papel central dos municípios na visão de desenvolvimento
sustentável e equilibrado do território nacional com a já célebre frase: "A vida faz-se nos municípios".
Assim, perante a questão aqui levantada e sobretudo nos termos em que o foi, é dada ao Senhor Governador
Provincial de Benguela a oportunidade de retratar-se perante esta Augusta Assembleia.
Não estando presente, devo contudo sublinhar que em sistemas democráticos existem outras formas de tratar
questões como a que suscitou, nomeadamente a resolução no âmbito dos competentes órgãos partidários,
incluídos os Congressos dos partidos ou a oferta da resignação ao titular do órgão que tenha designado para o
exercício de determinado cargo.
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Muito obrigado.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Solução urgente
Diante das dimensões preocupantes que o problema atingiu, de acordo com o ministro de Estado, é
necessário dar solução urgente à problemática da ocupação de terrenos, devido às graves implicações de
natureza social, económica, jurídica e política.
“A problemática da ocupação de terrenos situa-se actualmente no centro das preocupações do Estado, das
famílias, das empresas e dos cidadãos\", referiu Edeltrudes Costa, que pediu maior atenção às práticas das
administrações municipais e comunais, ao tratamento da falsificação de documentos, aos crimes violentos
por causa da usurpação de terrenos. O ministro de Estado alertou também para o aumento do número de
vítimas de roubo, de usurpação, de burla, das perdas de receitas do Estado provenientes da concessão de
terrenos e dos impostos prediais, além do crescimento anárquico e desordenado das cidades e das
dificuldades de controlo do crescimento urbano e da população urbana.
Edeltrudes Costa anunciou, para o próximo ano, a realização de seminários provinciais para auscultação dos
problemas específicos de cada província e identificação das causas reais subjacentes a este fenómeno.
O objectivo é assegurar uma ampla mobilização e participação de toda a sociedade na discussão e na tomada
de decisões relacionadas com a ocupação ilegal de terrenos. O seminário sobre a ocupação de terrenos
urbanos é uma orientação do Presidente da República, que pediu auscultação e debate para abordagem destas
questões e também referentes à Lei de Terras e ao Ordenamento do Território. O jurista Carlos Feijó, que fez
um diagnóstico da situação actual da ocupação de terrenos em Angola e o balanço dos dez anos de vigência
da Lei de Terras e do Ordenamento do Território, afirmou que o Sistema Penal Angolano, ainda que
desactualizado, criminaliza actos de “ocupação ilegal”.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Angop-Angola Agencia Press 01 Dezembro de 2014 | 12h48 - Actualizado em 01 Dezembro de 2014 | 17h54
Ocupação massiva de terrenos acentuada em cinco municípios da capital
Luanda - A ocupação massiva e ilegítima de terrenos na capital do país é acentuada nos municípios
periféricos de Cacuaco, Viana, Belas, Icolo e Bengo e Quissama, estando envolvidos nestes actos cidadãos
das diversas franjas sociais, afirmou nesta segunda-feira, o jurista angolano Carlos Feijó.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Corredores exclusivos
A situação preocupa o Executivo, que decidiu avançar com um sistema rápido de transportes públicos,
também conhecido por “BRT” e cuja conclusão está prevista para 2016. Esta solução passa pela criação de
corredores exclusivos para os táxis e autocarros.
O “BRT” é um sistema de alta capacidade de transporte sobre rodas, com viagens mais rápidas e funciona em
vários países do mundo, que procedem a adaptações de acordo com a realidade objectiva de cada um. São
vias exclusivas para circulação de transportes públicos e os passageiros ao entrarem numa estação de acesso
aos autocarros, tem já o bilhete nas mãos.
“As pessoas devem obter o bilhete antes de entrar na estação. Os bilhetes vão ser adquiridos em locais
assinalados, para facilitar o movimento rápido que se pretende na circulação dos autocarros”, explicou a
engenheira Laura Alfredo.
Com este sistema, “vamos dar resposta às necessidades na Centralidade do Kilamba, nos pólos habitacionais
de Camama e Viana. Vamos atender também a cidade universitária, porque criamos estações próximas, para
facilitar a deslocação dos estudantes”, concluiu o engenheiro Paulo Gaio. A par do “BRT”, existem projectos
para a construção de 410 quilómetros de vias principais e 621 quilómetros de vias secundárias, para permitir
maior fluidez ao trânsito na cidade. Para a realização das obras, é necessário remover as bombas de
combustíveis da Sapu e alguns armazéns localizados no percurso das vias. O Ministério da Construção já está
em contacto com o Ministério do Comércio para se encontrar uma solução. O “BRT” prevê a construção de
vias com duas faixas de rodagem para transportes rápidos de passageiros, passagens de nível superiores e
corredores de acesso a diferentes zonas da cidade, de modo a permitir o transporte de 45 mil passageiros por
hora e criar uma ligação entre o Sul e Norte da cidade.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
As vias a ser construídas estão divididas por lotes. O Lote 1 liga o Lar do Patriota à estrada do Golfe, com
passagem pela Rua Comandante Dangareux. O Lote 2 sai do Golfe, atravessa o bairro Catinton e chega à
Corimba. O Lote 3 vai de Camama a Viana, via Sapu, até à zona da Estalagem.
O início das obras do Lote 3 foi adiado devido às famílias que vivem no traçado da via e que aguardam por
realojamento nas zonas do Zango, Quiçama ou no Bengo. No âmbito do projecto de construção dirigida, o
Ministério da Construção tem contactos com o Ministério do Urbanismo e Habitação para aquisição de
terrenos nas reservas fundiárias do Estado, destinados à construção de habitações.
Para sensibilizar a população a colaborar no processo, estão previstas acções de informação e divulgação.
Estão envolvidos no projecto os ministérios da Construção, dos Transportes e da E-nergia e Águas.
O Ministério da Construção assume a responsabilidade de construir todas as infra-estruturas rodoviárias. O
Ministério dos Transportes tem a responsabilidade da construção das estações de acesso aos autocarros e do
posto central de comando, que vai dirigir as operações de circulação dos veículos longos.
O Ministério dos Transportes também faz a aquisição dos meios de transporte. O Ministério da Energia e
Águas vai garantir a prestação dos serviços de abastecimento.
Dezenas de autocarros
O ministro da Construção, Waldemar Pires, visitou as obras em curso, acompanhado do ministro dos
Transportes, Augusto Tomás, e do governador da província de Luanda, Graciano Domingos, engenheiros e
técnicos dos três sectores.
No final da visita, o ministro Augusto Tomás revelou que vão ser construídas 28 estações. E nos corredores
exclusivos para os transportes públicos vão circular 240 autocarros.
O ministro da Construção, Waldemar Pires Alexandre, garantiu que o projecto vai melhorar a mobilidade
rodoviária em Luanda, na medida em que, “com os transportes colectivos em funcionamento, o número de
veículos privados em circulação na cidade vai diminuir”. O levantamento topográfico, a investigação
geotécnica, a limpeza dos terrenos já foram efectuados. Neste momento as máquinas estão a fazer escavações
e terraplanagens.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
ultrapassar, aquelas questões normais de abordagem de situações contratuais com empreiteiros, mas que se
têm vindo a superar. Estamos a trabalhar também no sentido de procedermos à transferência ou realojamento
de algumas famílias que estão na área adjacente à primeira fase, para o Zango, onde tivemos que contratar
rapidamente a construção de algumas casas, para transferir estas famílias e impedir que a obra das infra-
estruturas pare, à espera que o novo centro da Rádio Nacional seja construído.
Angop - Quantas famílias estão abrangidas neste perímetro que referiu?
BS - Estamos a falar em cerca de 500 famílias.
Angop - O Gabinete tem tido problemas com os moradores na expropriação de suas residências abrangidas
pela requalificação?
BS - Não tem sido fácil, mas este é um processo ao qual já estamos habituados. Trazemos alguma
experiência também do programa de realojamento, onde estivemos na coordenação. Por exemplo, na
execução da macrodrenagem, os munícipes exageram na sua posição quando se trata do seu realojamento e
não têm a noção exacta do valor dos seus imóveis. Tentam extrapolar estes custos para valores astronómicos
e o Executivo tem tido alguma dificuldade em solucionar a questão. Mas tem havido sensibilidade,
flexibilidade de ambas as partes, no sentido de se encontrar um ponto comum de entendimento que permita
que a obra não pare. Tem que haver sensibilidade, compreensão, colaboração e sentido patriótico.
Angop - Qualquer munícipe pode visitar as obras que estão a decorrer quer no Cazenga quer no Sambizanga?
BS – Afirmativo.
Angop – Prevalece ainda a intenção de o processo ser inclusivo do tipo “bola de neve”, como o denominam?
BS - Sim. Exactamente. O que se pretende é que quando estas habitações estiverem construídas, a população
residente na área seja transferida para estas novas habitações, libertando a área onde elas saem, para se
iniciarem novas obras de infra-estruturas e construção de habitação social. Esse ciclo permanente é que nós
chamamos de “bola de neve”. É assim como programamos projecto e é assim como pretendemos concretizá-
lo.
Angop - Os munícipes continuam a participar do projecto dando opiniões?
BS - Sim. Nós temos permanentemente estado a trabalhar com a comunidade. Cada vez mais tentamos dar a
conhecer o gabinete, o nosso projecto e a forma como pretendemos realizar o mesmo, dar a perceber que este
projecto é nosso, de todos os angolanos, concebido desta forma. Penso que devemos estar todos juntos,
dando as nossas ideias e contribuições, o nosso saber, para que este projecto consiga no final transparecer
aquilo que nós mesmos somos e aquilo que nós queremos para o território.
Se queremos criar condições dignas para a população, que se adaptem à nossa forma de ser e estar, à nossa
cultura, hábitos e, sobretudo, à nossa perspectiva relativa ao posicionamento que queremos ter ao nível do
país, continente e outras nações, certamente que conseguiremos unir esforços no sentido de atingirmos esse
objectivo. A nossa linha de acção vai nessa direcção. Estamos, por exemplo, a promover a edição de um
jornal comunitário bimensal, programas em rádios, estamos a trabalhar com associações locais, escolas,
universidades, todo um trabalho de envolvência da comunidade no processo, para que ela perceba que todos
estamos com uma tarefa em mãos, que não cabe apenas ao Gabinete Técnico, mas sim a cada um de nós.
Angop - Os munícipes podem de alguma forma contribuir para a celeridade do projecto?
BS - Sim, podem ajudar, se tiverem sensatez na forma de negociar os seus respectivos realojamentos. Por
outro lado, predispondo-se a colaborar nos momentos em que as obras estão em curso, predispondo-se a
submeterem-se ao processo de reeducação, de reconversão mental e, para tal, é suficiente acompanhar o
projecto.
Mesmo na elaboração dos projectos e das prioridades, em termos de implantação de alguns equipamentos
sociais, a própria população terá uma palavra a dizer, sobre a prioridade na construção de um hospital, quartel
de bombeiros, escola ou um campo desportivo, fazendo com que a comunidade se sinta um elemento
importante e decisório na execução do projecto.
Angop - O plano é economicamente sustentável?
BS - Ainda não é economicamente sustentável. Queremos sim torná-lo economicamente sustentável.
Primeiro, temos que, ao conceber o plano, fazer com que os seus elementos de composição possam servir de
elementos atractivos e de alavancagem do projecto como tal.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Vou fazer referência, por exemplo, à estrutura verde do plano, que é uma estrutura ecológica que se expande
para todo território, a que nós, simbolicamente, atribuímos o nome de Welwitchia Mirabilis, porque
assemelha-se à nossa planta que se encontra no deserto do Namibe, e que, pelas suas características de
combate ao deserto, ela resiste e impõe-se como planta, como elemento verde.
É essa característica que quisemos implementar no território. Uma estrutura verde que queremos que se
implante em todo território do Cazenga, Rangel e Sambizanga, contrariando aquilo que é a realidade de hoje.
Esta estrutura, uma vez implementada, com os seus braços que interpenetram por todos os bairros, vai levar
junto com sigo uma série de elementos e equipamentos culturais, desportivos, até mesmo alguns serviços que
se adaptam a estas zonas, que têm funções compatíveis com as zonas verdes, espaços lúdicos e de lazer, que,
por si só, vão constituir um elemento com potencial grande ao nível de serviços e negócios que vai interessar
a uma série de produtores a investirem na zona.
Estes investimentos vão trazer consigo emprego e a envolvência da população. E não só o primeiro
investimento, como tal, serve de alavancagem, mas o desenvolvimento destes equipamentos sobre os quais é
feito o investimento, quer ao nível imobiliário habitacional, quer ao nível de serviços, permite a alavancagem
económica do projecto.
A nível do plano, as coisas estão definidas, a planta de uso do solo está definida com toda essa estratégia.
Agora, é preciso transformar esta estratégia em equações financeiras, modelos de implementação financeira,
que, uma vez aprovados, poderemos dizer que há uma estrutura económica e financeira definida, que confere
sustentabilidade para o projecto.
Angop - Não está atrasada a aprovação deste plano, uma vez já que já se inciou a execução do projecto como
tal?
BS - Se quer que lhe diga, Sua Excelência o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, já nos cobrou
a entrega do plano director na última reunião que tivemos. Nós estamos a desenvolver o plano desde finais de
Março do ano passado, estamos a concluir o regulamento, pensamos que no final desta semana, concluído
regulamento e o relatório final, estaremos em condições de encaminharmos o dossier às instâncias superiores,
para que ele possa ser aprovado e ratificado. Penso que deste semestre não passa.
Angop – Haverá alguma aproximação entre as zonas urbanizadas do Cazenga, Rangel e Sambizanga com as
novas centralidades?
BS - As novas centralidades estão a ser construídas num processo de desenvolvimento ou crescimento
urbano, e não como um processo de requalificação ou reconversão urbana. A própria velocidade de
construção é diferente, sem obstáculos físicos, e as centralidades estão a ser feitas com base em planos de
pormenor, escusando-se do plano director. Para nós, por exemplo, o nosso elemento de destaque é a malha
verde.
O processo de reconversão destes municípios obrigam-nos a respeitar uma série de condicionantes, como o
cone de aproximação do aeroporto e os edifícios que constituem património cultural.
Alguns arruamentos vão se manter e há áreas consolidadas que também se vão manter. É o caso, por
exemplo, da Comissão do Cazenga, que foi alvo de um processo de requalificação, onde não interessa fazer-
se reconversão.
O “sete e meio”, como tal, não tem habitação com qualidade, mas será possível se definirem os arruamentos,
becos locais a manterem-se na malha urbana, ainda que constituam apenas passeios, pedonais verdes,
preservando o passado histórico-cultural da localidade.
Angop - Houve inspiração em uma cidade estrangeira para a reconversão e requalificação destes municípios?
BS - Não. Foi pensado por nós. É sim resultado da contribuição de todos, daquele processo de consultas
públicas. A grande novidade que ela tem é a malha verde e devo dizer que a nossa estratégia assentou em
dois elementos fundamentais: a macrodrenagem e os eixos viários estruturantes.
A macrodrenagem foi considerada um elemento negativo e de constrangimento e os eixos estruturantes como
elementos positivos e de indução.
Angop - Quanto tempo vai durar a execução desse projecto?
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
BS - A primeira pedra foi lançada em 2010, mas a obra como tal começou em 2011. Vamos dizer que o
processo de reconversão urbana para Cazenga, Sambizanga e Rangel, num território de 54 quilómetros
quadrados, vai se executar num período de 15 a 20 anos.
Angop - Dos números obtidos, o projecto prevê contemplar aproximadamente 2,4 milhões de habitantes e
sabe-se que apenas o município do Cazenga conta com um número acima deste. Como se pensa equacionar
este caso?
BS - O Cazenga e o Sambizanga devem ter a volta de milhão e oitocentos mil habitantes, próximo dos dois
milhões. Temos que considerar este território, hoje, como um espaço de crescimento populacional e
habitacional, já não existe quase nada. Por outro lado, o índice de crescimento populacional não é igual ao
passado, juntando a esse factor a emigração interna, com o surgimento de bairros com melhores condições
em outros municípios.
À medida em que as cidades forem crescendo, e considerando que os planos directores podem ser
actualizados de três em três anos, se houver necessidade de dimensionar um número populacional maior nos
anos que estiverem em perspectiva, faz-se o ajuste no plano, para que possa acomodar e também deve-se
saber que a cidade vai crescer no seu todo e não apenas nos que estão agora abrangidos neste processo.
Angop - Haverá a necessidade de se desalojar e posteriormente realojar os moradores do Bairro Operário?
BS – Sim. O realojamento dos moradores do Bairro Operário será feito in-sito. As habitações que foram
construídas serão para os próprios moradores. Mas este projecto é também um dos que não está sob a
responsabilidade do Gabinete Técnico.
Angop - Qual é a diferença entre requalificação e reconversão urbana?
BS – Podemos dizer que quando estamos a falar de requalificação urbana, estamos a dizer que vamos dotar
um determinado espaço urbano de infra-estruturas complementares, ou seja, reforçar as infra-estruturas que
eventualmente esta área ainda não tenha, ou que tenha mas que as tenha em deficit.
O caso, por exemplo, do Mártires do Kifangondo, das Bês e Cês, no Rangel, Cassenda, etc, são áreas em que
o Executivo implantou novas infra-estruturas de rede viária, com passeios e asfalto, de drenagem pluvial e
águas residuais, abastecimento de água, energia e iluminação pública.
Mas estas áreas já eram espaços ordenados que tinham os seus respectivos arruamentos, habitações, mas que
faltava nestes espaços essas componentes infra-estruturais. Podemos dizer que a operação realizada nestes
bairros foi uma operação de requalificação dos bairros.
Quando estivermos a falar de reconversão urbana, estamos a dizer que vamos abdicar de tudo o que existe de
momento, num determinado espaço urbano, para construir algo novo. Isto pode acontecer num espaço ainda
que esteja ordenado, mas desde que ele venha ser removido por completo e venha a surgir algo
completamente novo e distinto, estamos a falar de reconversão urbana.
Angop – Inicialmente o projecto abrangia apenas o Sambizanga e o Cazenga mas agora está também incluso
o Rangel. Porquê?
BS – Ao nível do Rangel, estamos a intervir só no que diz respeito à elaboração do plano director. Para que
possamos fazer uma intervenção física no Rangel, terá que ser dada uma autorização, em documento legal e
oficial, o que ainda não aconteceu.
Até agora, a autorização que o gabinete recebeu foi para trabalhar no plano director, com a inserção do
Rangel, por razões muito óbvias; portanto, o Rangel está inserido entre o município do Cazenga e distrito
urbano do Sambizanga, que estão sob a responsabilidade do Gabinete Técnico e, naturalmente, para se
desenvolver um plano director destas duas áreas, não se podia esquecer desse elemento no meio das duas
áreas, sob pena de se criar um instrumento que é suposto fazer a gestão do processo de crescimento e
desenvolvimento do referido território, mas depois tenho uma descontinuidade a nível territorial.
Como era impossível realizar o plano director sem inserir o Rangel, partindo também do ponto de vista das
acessibilidades e das comunicações, as vias estruturantes que ligam os territórios do Sambizanga e do
Cazenga, entre si, passam necessariamente pelo Rangel e porque também o Rangel acaba por ser não só um
elo de ligação em termos de comunicação e mobilidade urbana para estes dois municípios como também para
o resto da cidade como tal.
349
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Quem quiser deslocar-se do centro da cidade para Viana tem de atravessar o Rangel, quem vem de Cacuaco
em direcção ao Kilamba-Kiaxi passa, necessariamente, pelo Rangel, enfim, o Rangel está mais ou menos
localizado ao centro. Por isso, não podia deixar de fazer parte deste plano director, sob pena de estarmos a
cometer um erro grave. Repito que nós apenas estamos a trabalhar sobre o Rangel no que diz respeito à
elaboração do plano director, mas para fazermos uma intervenção física sobre esse território, carecemos de
uma autorização prévia, legal e oficial.
350
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
351
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
352
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
353
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 059 Luanda - A Amnistia Internacional (AI) denunciou os despejos forçados, a repressão aos direitos de
liberdade de expressão e manifestação, os homicídios e o desaparecimento de pessoas em Angola no relatório
anual, hoje divulgado.
Fonte: Lusa
"Seria bom que se avançasse um pouco mais no respeito pelas
liberdades civis e também pelo direitos económicos, sociais e
culturais em Angola", disse à Lusa Vítor Nogueira, presidente
da direção da AI Portugal, lembrando ainda que é necessário
investigar com rigor e punir os culpados nos casos de mortes e
desaparecimentos que envolvem as forças de segurança
angolanas.
Segundo Vítor Nogueira, o relatório da AI descreve questões
relacionadas com os "despejos forçados, a repressão dos direitos
de liberdade de expressão e manifestação, o desaparecimento de pessoas, o uso excessivo da força pela
polícia e os homicídios realizados pelas forças de segurança".
De acordo com o documento da organização de defesa dos direitos humanos, em 2014 as autoridades
realizaram despejos forçados numa escala superior em relação aos anos anteriores.
"Pelo menos 4.000 famílias foram desalojadas pela força e as suas casas foram demolidas na província de
Luanda e setecentas destas famílias ficaram sem habitações adequadas. Houve informações sobre outros
desalojamentos forçados na província de Cabinda", indicou o relatório.
De acordo com a AI, "a polícia e as forças de segurança usaram a força ou a ameaça de força, assim como
detenções arbitrárias, para reprimir manifestações pacíficas em Angola".
Em várias ocasiões, a polícia deteve manifestantes para depois os espancar e abandonar a centenas de
quilómetros do lugar onde foram presos, segundo o relatório.
De acordo com o documento, a polícia e as forças de segurança continuam a gozar de impunidade por alguns
casos de homicídios, tendo cometido estes crimes em várias províncias, como Luanda, Malanje, Lunda Sul e
Lunda Norte.
Como exemplo, a organização refere que, em maio, agentes da polícia civil, vestidos à paisana e identificados
como elementos da 32.ª esquadra de polícia do distrito de Kilamba Kiaxi, em Luanda, mataram a tiro Manuel
Samuel Tiago, Damião Zua Neto (Dani) e Gosmo Pascoal Muhongo Quicassa (Smith), no bairro 28 de
Agosto.
Foi aberto um inquérito, mas não houve mais informações sobre o caso até o fim do ano passado, segundo a
AI.
Vítor Nogueira referiu que continuam a "decorrer processos por difamação" contra várias pessoas, como o
jornalista Rafael Marques, e as penas de prisão "podem ser pesadas".
A 19 de agosto, o jornalista Rafael Marques compareceu perante o Tribunal Provincial de Luanda por
acusações de difamação contra sete generais e a empresa Sociedade Mineira de Cuango, no caso relacionado
com o seu livro "Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola", publicado em Portugal.
Até ao final de 2014 não se havia fixado uma data para o julgamento, segundo a AI.
A organização lembrou ainda o caso do jovem Manuel Nito Alves, que foi julgado, a 14 de agosto, por
difamação contra o Presidente e foi absolvido por faltas de provas. As acusações apresentadas relacionam-se
com camisolas com inscrições consideradas ofensivas ao Presidente angolano, José Eduardo dos Santos.
Em 2014, a polícia espancou e prendeu jornalistas que informavam sobre as violações dos direitos humanos e
pelo menos dois foram presos por divulgar as atividades da polícia.
A organização lembrou ainda que, a 18 de novembro foi retomado no Tribunal Provincial de Luanda o
julgamento de oito agentes do Estado pelo sequestro, em maio de 2012, e posterior assassínio de Silva Alves
Kamulingue e Isaías Sebastião Cassule, caso que levou à organização de várias manifestações na capital
angolana, também reprimidas pela polícia.
354
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Em outubro, na Revisão Periódica Universal (RPU) do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas,
das 226 recomendações que foram sugeridas a Angola, o Governo aceitou 192 e decidiu submeter as 34
restantes a posterior consideração, "inclusive as relacionadas com a liberdade de expressão, reunião e
associação", referiu o relatório.
355
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
356
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 061 ANGOP. Angola agência Press: 10 Outubro de 2014 | 18h07 - Actualizado em 10 Outubro de 2014 |
18h06
Angola: Reservas fundiárias terão planos de ordenamento territorial
Luanda - O director do Instituto Nacional de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano,
Manuel Pimentel, anunciou hoje (sexta-feira), em Luanda, a elaboração de planos de ordenamento do
território e de urbanismo para sustentar a infra-estruturação das reservas fundiárias identificadas.
357
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 062 ANGOP. Angola agencia press:16 Janeiro de 2015 | 18h22 - Actualizado em 16 Janeiro de 2015 | 19h23
Angola: Ministro enaltece participação de privados no sector imobiliário
Luanda - O ministro do Urbanismo e Habitação, José António da Conceição, enalteceu hoje (sexta-feira),
em Luanda, o envolvimento do empresariado privado na diversificação do mercado imobiliário nacional.
358
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Em declarações à Angop, estas residências fazem parte da primeira fase do projecto, que contemplava 100
fogos para 2014, cifra não atingida por questões técnicas.
O administrador municipal revelou que a administração recebeu 78 pedidos para aquisição dos imóveis.
Dados preliminares do Recenseamento Geral da População e Habitação, realizado em Maio de 2014, indicam
que o município de Dala tem uma população estimada em 26 mil 753 habitantes.
Programa habitacional na visão dos partidos políticos: MPLA
Política habitacional do MPLA - Um milhão de casas nos próximos quatro anos
359
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Luanda - Jovens contactados pela VOA criticaram asperamente a política habitacional afirmando que os
vários projectos habitacionais levados a cabo pelo Governo devem ser revistos.
*Manuel José
Fonte: VOA
A VOA ouviu alguns estudantes universitários do curso de
arquitectura e outros jovens com formação média que chumbaram
todos os projectos habitacionais do Estado e deixaram algumas
propostas ao Executivo.
O estudante universitário Bruno Soares defendeu um programa de
construção de “casas sociais para que os jovens pagassem a longo
prazo”.
Soares disse também que sem o combate ao desemprego na juventude
será difícil resolver o problema habitacional.
Antes, disse, é preciso diminuir o nível de desemprego para que não haja problemas como o que vemos nos
recentes projectos habitacionais, como o Kilamba, em que o próprio Governo reclama que a população não
está a pagar".
Outra estudante de arquitectura, Dina Alfredo, alertou ao Governo para ter sempre em conta o destinatário
dos projectos habitacionais.
"Acho que o Governo devia analisar bem o tipo de projectos que faz, devia fazer de acordo com a condições
de de cada pessoa porque numa sociedade existem pessoas de diferentes estratos sociais: médio, baixo e
alto", disse.
A estudante afirmou que as “centralidades” construídas pelo Governo não têm tido sucesso.
"Esses programas habitacionais como Kilamba, Cacuaco que o Governo está a construir não servem para nós,
são para pessoas de renda alta porque eu não acredito que um indivíduo que mora no interior do Cazenga
tenha possibilidade de comprar uma casa nas centralidades", concluiu.
Já o técnico médio Dani Pinto reprova o projecto do Zango.
"Zango 3 por exemplo é um projecto que não tem escolas, não tem hospitais, isto não existe, uma pessoa sem
condições que adoeça à meia noite por exemplo vai acabar por morrer", criticou.
A segunda edição da Trienal de Arquitetura de Lisboa (TAL) decorreu entre Outubro de 2010 e Janeiro de
2011, sob o tema “Falemos de Casas”. Um dos programas em maior destaque foi o concurso e consequente
exposição “A House in Luanda: Patio and Pavillion”, mostrando 30 projetos selecionados entre 599
propostas oriundas de 44 países. Algumas reflexões sobre o evento talvez possam contribuir para clarificar a
relativamente escassa informação sobre as transformações urbanas que têm tido lugar na capital de Angola.
No dia 7 de Maio de 2008, o Jornal de Angola chamou “comediante” a Bob Geldof. Num discurso proferido
durante uma cimeira sobre desenvolvimento sustentável em Lisboa, o ativista dos direitos humanos
declarou:
A propriedade mais rica, as casas mais caras do mundo estão na linha de costa de Luanda. Mais caras do
que em Chelsea, mais caras do que no Central Park West: Luanda. (1)
360
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Mas dois anos depois, a 29 de Junho de 2010, uma conceituada empresa de consultoria publicou um relatório
sobre o custo de vida em numerosas cidades, que deu crédito ao infame insulto. (2) Para tal fenómeno
contribuíu a subida dramática dos preços de compra e arrendamento de imóveis em Luanda, desde o fim da
guerra civil (2002), decorrente do fosso significativo entre procura e oferta de habitação capaz de responder
ao fluxo de milhares de trabalhadores estrangeiros que chegam à cidade, para trabalhar nas indústrias de
extração de recursos naturais e de construção civil. A isto aliam-se a incapacidade de produção, transporte e
importação de materiais (o que encarece o preço de construção) e o “capitalismo selvagem” empreendido por
exclusivos grupos interessados em promover a especulação do mercado imobiliário. (3)
A corrente fase de reconstrução do país tem contribuído para acentuar um fenómeno de exclusão social, um
contraste flagrante entre os poucos que podem e os muitos que não podem ter acesso a uma habitação digna.
Por um lado, em Luanda-Sul, onde residem grande parte dos expatriados e dos oficiais angolanos, a
propagação de condomínios fechados tem dado origem a um estilo de vida suburbano (com Shopping
Centres e Business Parks). Por outro, os extensos bairros onde reside cerca de ¾ da população de Luanda,
denotam precárias condições de habitabilidade. Os musseques mais centrais têm sofrido os efeitos do “sobre-
desenvolvimento”, pois a subida do valor da terra obriga os mais pobres a deslocarem-se para zonas
periféricas da cidade.
Ao mesmo tempo, o perfil da Baixa de Luanda tem vindo a sofrer uma rápida e irremediável transformação.
Em 2008, o processo obteve a atenção da comunidade portuguesa, após a demolição do Mercado do Kinaxixe
(a obra-prima de Vasco Vieira da Costa, datada de 1952, que será substituída por um moderno centro
comercial). Imediatamente, ergueram-se vozes de revolta perante a postura do Estado Angolano, que vai
“apagando” o património edificado da cidade. No entanto, ironicamente, este importante testemunho do
modernismo tropical foi demolido por um promotor imobiliário português – um pormenor que tem escapado
à discussão sobre os contornos das transformações em curso. Com efeito, estima-se que 100 mil portugueses
residam atualmente em Angola, contribuindo para o desenvolvimento da sua indústria. Enquanto o Kinaxixe
era demolido, Eduardo Souto Moura especulava que “metade dos arquitetos portugueses tem projetos em
Angola”, referindo que a ex-colónia “está a salvar a arquitetura portuguesa”. (4)
361
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
respetivamente, enquanto 80 mil ficariam a cargo de cooperativas. O maior número de unidades habitacionais
a ser construídas ao abrigo do programa estariam reservadas à auto-construção dirigida (685 mil). Para tal, o
Governo revelou a intenção de disponibilizar terrenos e materiais de construção a baixos custos, bem como o
fornecimento de assistência técnica no processo de construção de infra-estruturas.
“A House in Luanda”
Pouco após a promessa das políticas urbanas angolanas, os organizadores da TAL viajaram até Luanda para
debater uma possível contribuição. No início do Verão (Europeu) de 2009, José Mateus (diretor executivo),
Delfim Sardo (curador geral) e Carrilho da Graça (curador do concurso/exposição “A House in Luanda: Patio
and Pavillion”), encontraram-se com o promotor da Trienal de Luanda, a Fundação Sindika Dokolo. (6) A
primeira reunião teve lugar na casa do seu vice-diretor, Fernando Alvim, onde a estratégia foi delineada. Dias
depois, o concurso seria anunciado publicamente na sede da Fundação, no edifício “Globo”, perto da baía de
Luanda.
Os organizadores asseguraram que as propostas selecionadas seriam reveladas às autoridades governamentais
e locais angolanas, bem como a promotores privados com perfil e disponibilidade para se envolverem na
realização do projeto. Prevendo-se que grande parte das casas serão erigidas por métodos de auto-construção
dirigida, há também grande expetativa para acompanhar o debate trazido pela Trienal na arena pública de
Angola.
O concurso procurava encontrar propostas para o desenho de um protótipo de uma casa de baixo custo,
dirigida a famílias carenciadas. Não estava definido um lugar específico – as únicas diretrizes referiam-se a
uma área de topografia plana, situada dentro dos limites de Luanda. O regulamento constata que
osmusseques denotam laivos de uma certa qualidade de vida, mas reclama a necessidade de se apresentarem
diferentes conceitos de bairro, modelos replicáveis de unidades familiares. Em conversa com Delfim Sardo,
Carrilho da Graça falou sobre a viagem a Luanda admitindo só ter visto “a ponta do icebergue”, ficando no
entanto com a impressão que, apesar dos problemas sociais, os mussequesdemostram uma grande vitalidade.
(7) Apesar desta constatação, alguns dos projetos premiados parecem apontar numa outra direção.
A proposta vencedora (coordenada por Pedro Sousa) apresenta um exercício refinado de combinação de
espaços exteriores e interiores, articulados ao longo de um corredor central contínuo. O tom vermelho e a
textura rugosa das paredes espessas de taipa apontam para o potencial do solo poder tornar-se material de
construção. Na verdade, este é um método ainda praticado em áreas rurais de Angola, mas em desuso nos
bairros da capital – aguardemos para ver como (e se) o projeto será implementado. O segundo prémio
(coordenado por Cristina Peres) e a menção honrosa (coordenada por Pablo Forero) apresentam os seus
projetos como uma alternativa crítica à validade dos musseques, procurando “competir” com a cidade
informal, o que parece ser um pressuposto difícil de alcançar no atual estado de desenvolvimento da cidade
de Luanda.
No balanço entre a adequação do projeto ao contexto versus a “assinatura” do autor, parece-nos pertinente
destacar a proposta intitulada “The Future Box”. Arne Pettersen e Ulrich Schifferdecker apresentaram algo
diferente de um objeto elegante e suas possibilidades exponenciais de agregação. A proposta consiste na
introdução de um simples melhoramento das casas existentes, ao invés de propor novas construções. O
mecanismo acrescenta dignidade e conforto à cidade, casa-a-casa, podendo alcançar um impacto imediato
após a sua implementação. Esta parece ser uma postura mais simpática socialmente, em contraponto à
tolerância perante os processos de desalojamento em massa das populações, característico do
desenvolvimento de Angola desde 2002, pós-guerra civil. O projeto denota a importância de se falar da
cidade ao falar-se de casas, o que relembra uma visão de Alison e Peter Smithson:
Nos subúrbios e musseques sobrevive a relação vital entre casa e rua, há crianças nas suas correrias (a rua
é comparativamente sossegada), as pessoas param e conversam, veículos desmantelados estão estacionados.
Nos jardins das traseiras há pombos e por aí em diante, e as lojas estão ao virar da esquina: tu conheces o
leiteiro, tu estás fora da tua casa na tua rua. (8)
“Patio and Pavillion”
Em 1956, a Whitechapel Gallery, em Londres, acolheu a exposição “This is Tomorrow”, comissariada por
Theo Crosby em colaboração com o Independent Group. O projeto envolvia doze equipas de arquitetos,
362
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
artistas, designers e críticos, a quem foi pedido que desenvolvessem ideias sobre “modos de vida modernos”.
Este conceito representava uma nova abordagem metodológica à prática artística enquanto processo
colaborativo.
“Patio and Pavillion” foi o contributo de Peter e Alison Smithson (arquitetos), Nigel Henderson (fotógrafo) e
Eduardo Paolozzi (artista). Os autores apresentaram uma interpretação artística e arquitetónica de um habitat
básico, um simples abrigo de madeira rodeado por uma série de objectos, ou “símbolos”, conotados com os
princípios fundamentais da condição humana.
A instalação situava-se no contexto da crise de construção do pós-II Guerra Mundial, uma altura propensa a
repensar a problemática da habitação. Enquanto jovens arquitetos desafiando o consenso modernista, Alison
e Peter Smithson começaram a gerar formas de pensamento baseadas na experiência de viajantes e
antropólogos no mundo colonial. Acreditavam que as culturas distantes e a “arquitetura sem arquitectos”
apontariam direções para a o processo de reconstrução, o que representou uma mudança decisiva no
paradigma moderno.
Mais de meio século depois, os papéis inverteram-se e a TAL adotou o título desta instalação. Mas “A House
in Luanda: Patio and Pavillion” aborda um contexto cultural, geográfico e político muito diferente, onde
talvez seja difícil aplicar a premissa de “This is Tomorrow”, pelo menos sem o envolvimento de uma
colaboração multidisciplinar e de práticas participatórias.
O testemunho de Ângela Mingas, a representante angolana no júri do concurso (juntamente com Álvaro Siza,
Carrilho da Graça, Barry Bergdoll e Fernando de Mello Franco), procurou relacionar o tema com o contexto
específico. Eis as suas palavras:
(...) Casa em Luanda é um polarizador do mundo familiar na sua mais ampla expressão. As relações
fundamentais da socialização começam e terminam nela. O nascer, crescer, e mesmo morrer acontecem
simbolicamente na casa e o seu entendimento parte do sabermos interpretar o ser Luandense, o ser
Angolano e até o ser Africano.
A casa hoje ainda preserva os lugares ancestrais que não se esgotam entre paredes ou sob tectos. Esta
entidade tão convencional que é o lugar das coisas, parte do homem e não do espaço. É algo feito por
“nós”.
Por essa razão e tantas outras, o fundamental para “nós” é sermos colectivos, e nada é mais “nós” do que
um pedaço de céu...
Paulo Moreira
Nasceu no Porto (1980) e licenciou-se pela FAUP (2005). Estudou na Accademia di Mendrisio (2002/03) e
estagiou com Herzog & de Meuron (2003/04). É mestre pela London Metropolitan University (2009), onde
realiza doutoramento desde 2010, com bolsa FCT.
Foi premiado pela Generalitat de Catalunya e Trienal de Arquitectura de Lisboa (2007). Recebeu o Prize for
Social Entrepreneurship (FASD 2009) e o Noel Hill Travel Award (American Institute of Architects 2009).
363
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
NOTAS
(1) Fonte: Jornal Agora de 12/7/2008. A cimeira foi organizada pelo jornal Expresso e pelo Banco Espírito
Santo.
(2) Mercer é líder mundial na prestação de serviços de consultoria,outsourcing e investimento. O Relatório
Anual sobre o Custo de Vida é um estudo de 214 cidades em todo o mundo, baseado numa lista de 200
categorias, incluindo transportes, comida, vestuário, bens de primeira necessidade, entretenimento e
habitação. Esta categoria, habitualmente a maior despesa para os expatriados, teve um papel fundamental na
determinação do 1º lugar de Luanda no ranking.
http://www.mercer.com/costoflivingpr#City_rankings
(3) O termo “capitalismo selvagem” foi introduzido em 2002 por Tony Hodges no livro “Angola: Do Afro-
Estalinismo ao Capitalismo Selvagem”
(4) Eduardo Souto Moura entrevistado por Ana Vaz Milheiro, noPúblico, 12/09/2008.
(5) O direito à habitação foi definitivamente consagrado em Fevereiro de 2010, na nova Constituição de
Angola (artigo 85).
(6) Sindika, um dos maiores colecionadores de arte Africana, nasceu em Kinshasa, República Democrática
do Congo, em 1972. É casado com a filha do Presidente de Angola, Isabel dos Santos.
(7) “Um Projecto Radical (uma entrevista com João Luís Carrilho da Graça por Delfim Sardo)”, em Falemos
de Casas: Concursos, Lisboa: Athena, 2010.
(8) Smithson, Peter and Alison, Ordinariness and Light: Urban Theories 1952-60 and Their Application in a
Building Project 1963-70, London: Faber and Faber, 1970, p. 43. Tradução livre do autor.
(9) Regulamento de “A House in Luanda: Patio and Pavillion”, Trienal de Arquitectura de Lisboa Parte II –
Enquadramento de Ângela Mingas.
(10) As fotografias seguintes que ilustram este artigo são da autoria de membros de uma família de Luanda.
As duas casas “geminadas” têm vindo a ser construídas desde 1986, num processo acompanhado pela
evolução do próprio bairro onde se situam, Chicala 2, entre a Praia do Bispo e a Fortaleza de S. Miguel.
Durante uma viagem de investigação a Angola realizada entre Setembro e Outubro de 2010, distribuí uma
série de máquinas fotográficas descartáveis e pedi aos membros da família para observarem o seuPatio and
Pavillion (um ou outro preferiu usar a sua ou a minha máquina digital). Os resultados permitem aprender
sobre o modo como os residentes (considerados como uma família “típica”) apropriam o seu espaço
doméstico. Acredita-se que este exercício permite interpretações sobre o ciclo do dia (e ciclo da vida) do
“Luandense, Angolano e Africano” (Mingas).
Nota final do autor: Este artigo foi escrito à luz do acordo ortográfico da Língua Portuguesa em vigor desde
Janeiro de 2009. A decisão, da responsabilidade do autor, visa contribuir para a facilitação do intercâmbio
cultural entre os países lusófonos, principal objetivo do referido acordo – o que, em última análise, não é
mais do que o concurso em discussão procurou fazer.
364
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
365
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
366
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Entupidos de lixo e cercados por águas paradas, os sobreviventes das cheias do Lobito que destruíram
119 habitações e enterraram pelo menos 70 vidas, na semana passada, exasperam esforços em busca de
uma bonança adiada. Num cemitério de construções anárquicas, o luto cumpre-se sem tempo para
chorar os mortos.
Do desaparecimento do local de culto à morte do pároco, subtraídos da vida pela força da chuva, o rosário
fúnebre conserva o ritmo torrencial de descarga das águas. «Dezassete óbitos. Só aqui foram 17. Dezassete
óbitos», remói o morador, ainda a digerir o balanço de perdas humanas, processadas sem tempo para
abrandar o sustento.
Afinal, percebe-se pelo ver se te avias dos sobreviventes, acompanhado pelo SOL no passado fim-de-semana,
que a urgência das necessidades não permite sequer uma pausa para enxugar as lágrimas.
«Perdemos praticamente todos os bens materiais. O que sobrou foram estas roupas, que conseguimos agarrar
porque ficaram a boiar», interpõe Sabina Falcão, embrenhada numa missão comunitária que se adivinha
interminável: a recuperação. «A água cobriu a nossa casa e a correnteza era tão forte que naquele momento
só pensava: morri, não há salvação».
No auge da tragédia, galgada sobre um colchão convertido em bote salva-vidas, Sabina agradece a trégua dos
céus. «Graças a Deus não houve energia».
A falta de luz, que na noite de quarta-feira 11 e na madrugada de dia 12 travou um vendaval de descargas
eléctricas de efeitos inimagináveis, junta-se agora a um pesado cúmulo de necessidades quotidianas.
Num desafio constante à existência humana, encravada numa paisagem de casebres construídos na fronteira
para derrocadas, a falta de cuidados básicos de higiene antecipa novas pragas, potenciadas entre lixeiras e
águas paradas.
Descalço sobre um charco que, mesmo atravancado de entulho, serve de recurso para soltar camadas de lama
da sua já cansada companheira de duas rodas, Francisco Samutaka enfrenta o risco para conservar os
rendimentos de kupapata.
A rotina insalubre, executada numa cadência de gestos mecânicos que transformam as águas em oficina de
lavagem, intercala-se com desabafos dramáticos: «Há uma família em que morreram todos. Pai, mãe, filhos».
Os relatos da desgraça, despejados pelo moto-taxista de forma caótica, prolongam-se nas ruínas de vida que
flutuam sobre as águas paradas. Entre os rastos de morte jaz, órfão de par, um sapato feminino de tom
vermelho-sangue, enquanto nacos de mobiliário se empilham com carcaças de electrodomésticos, louças
sanitárias e sucatas automóveis.
Num impressivo cemitério de construções reduzidas a pedras e lama, todos os sentidos parecem condenados
a cobrir-se de luto. «Não podemos tirar a culpa à natureza, como é óbvio, porque choveu muito e houve
vento. Mas também é evidente que esta calamidade expõe a falta de atenção pública às políticas sociais,
nomeadamente de habitação», defende José Patrocínio, coordenador da ONG Omunga.
À espera de um encontro com a administração local, para articular acções de apoio à população, o activista
lamenta que a sociedade civil permaneça arredada da intervenção pública. Pior ainda, acusa Patrocínio, «é
constatar que as vítimas nem sequer estão a ser envolvidas».
367
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O líder da Omunga interroga, numa mensagem divulgada já depois do encontro com o SOL: o que está por
detrás da catástrofe do Lobito? «É verdade que naqueles dias vimos algumas zonas inundadas, mas como
resultado das águas que desceram dos morros. Será que teria chovido mais aí do que na zona baixa [da
cidade]? De onde veio aquela água toda, e com tanta força para conseguir arrastar carros e contentores?».
Em busca de respostas, a Omunga exige a constituição de uma comissão de peritos para investigar os
acontecimentos que empurraram pelo menos 70 vidas para a morte.
250 homens nas buscas
Num território irremediavelmente abatido pela tragédia, o corrupio de carros, motos e peões confirma a
mórbida e clássica atracção popular pela desgraça. «Eu levo-vos lá. Venham atrás de mim».
A sinuosa subida do morro concretiza-se sob a direcção de Ferreira Baptista que, de visita aos bairros da
catástrofe - para ver de perto os estragos das chuvas que desabaram sobre o Lobito -, se oferece para guiar a
reportagem.
Curioso consumado e jornalista adiado - «faltou-me o dinheiro para a faculdade», conta o administrativo de
27 anos direcciona-nos para uma ravina com uma vista privilegiada da catástrofe.
Lá em baixo, a uma distância fatalmente vertiginosa, uma amálgama de materiais de construção torna o
caminho intransitável, ao mesmo tempo que atrai dezenas de olhares de comiseração.
Com a fé em forma de bíblias debaixo do braço, Juliana Afonso transporta a mensagem que, desde a
confirmação da tragédia, mobiliza populações de todo o país. «Estamos orando e vamos ajudar a angariar
roupas e bens alimentares», prega esta professora da instrução primária, que perdeu dois alunos, de oito e 10
anos, para as enxurradas. «Ainda por cima eram irmãos. Daquela família em que morreram seis».
As contas da fatalidade, demasiado negras para grandes pausas de consternação, agravam-se na voz do mais
velho Polassa.
«A pedra bateu no corpo do moço. Não havia maneira. A corrente atravessou estas casas todas até lá em
baixo. Fomos apanhar cadáveres no Campo do Buraco», relata o homem que, na indicação de outro morador,
acompanhou tudo desde o primeiro minuto.
«Saí de casa com a chuva», confirma Polassa, de volta à noite em que, à imagem de um bombeiro, garante ter
andado numa extenuante missão de socorro, em parceria com outros elementos da comunidade. «Recolhemos
32 cadáveres», precisa o salvador improvável, numa descrição desajustada dos relatórios oficiais.
«A maior parte dos corpos foram recuperados pelos serviços. Começámos logo às primeiras horas a recolhê-
los e a levá-los para a morgue, num trabalho conjunto com o piquete da Polícia», garante ao SOL José
Horácio da Silva, comandante provincial do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros.
Desde a infância marcado pela chuva, vilã noutra tragédia lobitanga de dimensões semelhantes, aí de 1972, o
responsável desmente a ideia de uma resposta tardia ou ineficaz. «Mobilizámos 250 homens para esta
campanha e estamos em acção deste o primeiro instante. Mas às vezes a população fala por emoção»,
sublinha o comandante, no momento destas palavras às voltas com uma maratona de diligências para
reassentar as populações desabrigadas.
Além da montagem de tendas, preparadas para acolher 120 famílias - a distribuir entre terrenos da Catumbela
e do Lobito -, a resposta das autoridades passa pela recuperação de edifícios, nomeadamente escolas, e pela
construção de novas habitações.
«Este acampamento vai ter por função o assentamento provisório, por um período não superior a quatro
meses. Por isso, as famílias vão receber imediatamente o seu lote de terreno para iniciarem uma construção
definitiva», calendariza o governador de Benguela, Isaac dos Anjos.
Numa visita de campo que percorreu vários focos de enxurrada, e passou revista às condições de
realojamento da população, o governante assumiu a responsabilidade do poder político na tragédia, sem
368
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
contudo deixar de apontar o dedo noutras direcções. «A culpa é nossa, enquanto administração, mas também
é dos cidadãos, que querem melhorias nas condições de vida junto dos centros urbanos, sem pagar por isso»,
critica, lembrando a dificuldade que existe em cobrar impostos.
Ainda assim, Isaac dos Anjos assume a «falência do sistema administrativo e operacional e a falta de
manutenção e limpeza dos canais», num diagnóstico de encargos partilhados apresentado no domingo, 15.
Num percurso mapeado pelos administradores municipais do Lobito e da Catumbela, respectivamente Amaro
Ricardo e Filomena Pascoal, e apoiado por uma equipa de directores provinciais - nomeadamente da Saúde,
Educação e Urbanismo -, o governador de Benguela tornou-se o alvo de uma avalanche de gritos de revolta.
«Se chover vai morrer mais gente aqui», projecta uma voz masculina, que engrossa um ruidoso coro de
protestos, transformado na banda sonora da passagem da comitiva provincial e municipal pelo Bairro Liro.
Por aqui, num depósito de lixo a céu aberto, a emergência de um reordenamento urbano - pronunciado por
uma encosta de casas empoleiradas além dos limites da natureza - disputa preocupações com uma ameaça de
saúde pública: a cólera, que espreita sob os charcos, inconscientemente ocupados por brincadeiras infantis
aquáticas.
«Vai morrer mais gente aqui», repete o mau prenúncio, apenas silenciado pelas súplicas de tecto que, noutro
ponto do Lobito, pelos labirintos do Bairro Novo, Bela Vista e Acongo, cercam a reportagem.
Adelina, Nito, Arnaldo, Gaudêncio, Domingos... todos imploram por um espaço no nosso bloco de notas,
vorazmente cobiçado. Como se a própria existência, por agora desabrigada de um tecto, pudesse ser salva
pelas páginas de um jornal.
369
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
370
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Na visão do governante, o que se verifica, mais do que essas inovações, é também o incumprimento daquilo
que está preconizado na Lei.
De qualquer forma, recordou, há recomendações no sentido de articular esses dois documentos ou diplomas,
quer a Lei do Ordenamento do Território e Urbanismo quer a Lei de terras, para existir um ajustamento do
ponto de vista constitucional e daquilo que são os desafios actuais "face a essa ocupação anárquica, face à
ocupação também ociosa de terras".
Auto-construção constitui 68 porcento do Programa de Habitação
01-04-2015 | Fonte: Angop
Sessenta e oito porcento do Programa Nacional de Urbanismo e Habitação (PNUH),
que visa minimizar a carência habitacional no país, assenta na auto-construção
dirigida, disse em Luanda o ministro do Urbanismo e Habitação, José António da
Conceição e Silva.
Segundo o ministro, este processo é acompanhado pelo poder público, isto é, pelas autoridades municipais,
para que fiquem em conformidade com o projectado.
Na sua óptica, o programa das reservas fundiárias consiste nisso. "Face à escassez de recursos financeiros, a
auto-construção dirigida ainda não tem a amplitude pretendida, mas que está a decorrer de forma gradual",
realçou.
Na opinião do ministro, ainda que não estejam todas as infra-estruturas, as reservas fundiárias, na sua
371
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
maioria, têm um plano de urbanização, onde se salvaguarda os corredores das infra-estruturas e o Estado não
precise fazer demolições e expropriação no futuro.
372
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
373
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Lisboa - O livro “Magnificent and Beggar Land: Angola Since the Civil War”, de Ricardo Soares de
Oliveira, está repleto de informação, apresenta até opiniões sinceras das esferas mais altas do partido no
poder. Por Lara Pawson.
Fonte: Esquerda
374
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
variedade de razões, o país reinventou-se”, afirmou Soares de Oliveira numa entrevista recente ao jornal
português Observador. “Queria perceber até que ponto isso [a reinvenção] realmente aconteceu ou se havia
continuidades em relação às estruturas de desigualdade e subdesenvolvimento que existiam, não só no
contexto da guerra civil, também no período colonial.”
Vista de uma determinada perspetiva, escreve o autor, “a última década parece pouco mais do que uma nova
configuração do papel perene de produtor de matérias-primas na periferia da economia mundial”. Embora
Angola tenha sido apelidada como a economia de mais rápido crescimento no mundo nos primeiros anos do
milénio, Soares de Oliveira vaticina que o mais “provável” é que essas taxas de crescimento “tenham
desaparecido para sempre”.
Mais a mais, o petróleo continua a representar cerca de 95 por cento do total de exportações do país com
poucos indícios de uma verdadeira diversificação estar realmente a acontecer. Mais pessimista ainda, “o
barril do petróleo é o único partido da oposição capaz de derrubar o MPLA”. Assim diz o amigo do autor,
Manuel Ennes Ferreira, economista que trabalha em Portugal mas cresceu em Angola. Estes factos e
sentimentos são familiares para observadores experientes de Angola. Porém, o diabo – e tomem-no tão
literalmente como quiserem – está realmente nos detalhes.
Se me dissessem que Soares de Oliveira entrevistou todas as pessoas que fizeram negócios em Angola nos
últimos 25 anos, eu acreditaria. Para ilustrar os seus argumentos, cita, entre uma miríade de outros, o dono de
uma fábrica de detergentes e arranja as estatísticas de um antigo fazedor de gelados que se meteu nos
diamantes. Descobre citações de todo o género de estrangeiros bajuladores – sejam eles diplomatas,
chamados consultores ou tipos intransigentes das finanças. Faz referência aos documentos do Departamento
de Estado dos EUA na Wikipédia para nos lembrar das alegações de que o Hezbollah usou empresas
angolanas como fachada para financiar as suas operações. Os exemplos que usa para ilustrar a velocidade da
transformação do país fazem esta leitora rir algumas vezes.
No capítulo “Oligarchic Capitalism, Angola-Style” (Capitalismo oligarca ao estilo angolano), Soares de
Oliveira convida-nos a imaginar um tempo em que as pessoas ainda assumiam que os negócios e a política
eram autónomos, pelo menos de nome. “Perante os últimos desenvolvimentos, é difícil transmitir”, escreve,
de maneira seca, “o frisson causado na sociedade de Luanda, no princípio dos anos 1990, notícia que a
mulher do presidente, Ana Paula dos Santos, era dona de uma sapataria e de um cabeleireiro.” Isto evoca a
ideia de um lugar quase adorável. Já não existe.
O sistema de financiamento paralelo da Sonangol
Partindo do paper inovador que escreveu sobre a empresa petrolífera nacional Sonangol, publicado em 2007,
Soares de Oliveira embrenha-nos ainda mais naquela que era (até ao mais recente crash petrolífero) a
segunda maior empresa africana e que, desde a independência, tem sido o coração que bombeia o coração do
MPLA.
Explica meticulosamente como opera o sistema de financiamento paralelo e como o Presidente José Eduardo
dos Santos aumentou o seu poder e reputação, não só em termos domésticos, como em todo o mundo.
Mostra-nos como os saltos impressionantes que o país deu – em termos do seu posicionamento internacional,
dos seus números macro-económicos e da remodelação arquitetural de Luanda – são, na sua essência,
produto da visão do MPLA.
“Este livro”, afirma, referindo-se à derrota da UNITA em 2002, “é sobre aquilo que os vencedores fizeram
com o seu poder: a Angola que imaginaram e a que tentaram dar vida.” É, e sempre foi, argumenta, uma
visão muito “modernista”. Neste aspeto, encontramos aqui uma falha naquilo que, em todos os outros
aspetos, é um grande livro.
Apesar de várias referências a “moderno” e “modernista”, Soares de Oliveira não define adequadamente o
que quer dizer – nem o MPLA, diga-se – com esses termos totalizadores. Aquilo que depreendo a partir do
livro é que são duplicados do “europeísmo” com uns toques de Emirados. Numa nota de pé de página, é
citada a definição de “alto modernismo” que James Scott escreveu em 1998; por outras palavras, a utilização
da ciência e da tecnologia para reordenar o mundo social e natural.
É claro que a modernidade euro-americana produziu um “reordenamento” muito específico do mundo através
da violência brutal, incluindo o comércio transatlântico de escravos, o colonialismo e a limpeza étnica, tanto
interna como externamente. De uma forma sangrenta e traumática é esta a história que liga Angola às
tradições perturbantes da Europa e ao seu dito iluminismo.
375
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Soares de Oliveira não ignora isto: o seu primeiro capítulo providencia um sumário útil dessa história e de
como esta se relaciona com a história específica do MPLA. Esta leitora, no entanto, gostaria que tivesse
considerado os debates teóricos que têm surgido em torno do conceito de modernidade e da ideia de
modernização, porventura, da particular perspetiva de alguns intelectuais negros.
Isto poderia abrir outra discussão crucial em torno do papel do público angolano em geral, os milhões que
ainda vivem numa horrível pobreza e cujo trabalho, vida e amores são, indiscutivelmente, aquilo que torna o
país tão magnífico.
Desde que acabei de ler este livro, uma ideia permanece arreigada no meu pensamento. Surgiu a determinada
altura no capítulo “The Spectacle of Reconstruction” (O espetáculo da reconstrução), quando a nossa atenção
está focada na versão luandense de Copacabana. Citando uma revista que descreve o projecto para a frente
oceânica, é-nos dito: “O futuro está a acontecer à vista de todos.”
Esta observação poética é inquietante. Ao olhar para Angola, muitas vezes sentimo-nos a olhar para o mundo
através de um microscópio. Esta terra magnífica e pedinte tem tudo o que nós temos – do consumismo
desbragado à sede cega pelo petróleo, passando pelo desprezo pelos pobres, por uma hierarquia racializada
estabelecida há muito tempo e por um crescente sentimento de frustração entre os jovens. O que quero dizer é
que, por mais excessivo que Angola seja, quanto mais nos aproximamos e de mais perto olhamos o país, mais
nítido se torna o nosso reflexo e aquilo que o futuro nos reserva a todos.
376
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
377
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
De acordo com o documento da Imogestin, as dívidas não se extinguiram por ainda não terem sido exigidos o
seu pagamento.
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
De acordo com Registro do levantamento do debate, o Presidente teria em Novembro de 2012, feito
pronunciamentos apontando que o seu ponto de vista era de que se não deveriam criar dificuldades ao acesso
as centralidades recém construídas. Como gesto demonstrativo da sua boa vontade, JES orientou a
diminuição dos preços das vendas dos apartamentos que estavam a ser comercializados. Fe-lo tendo em conta
a capacidade financeira dos populares, na sua maioria jovens.
Em meios do partido, entendem que o discurso do PCA da IMOGESTIN, é um instrumento que embaraça a
posição de JES, uma vez que a medida de Rui Cruz esta condenada a causar dificuldades aos moradores das
centralidades, uma vez que nem todos teriam capacidade financeira para pagar sete mil dólares de uma só
vez, para cobrir as rendas, correspondente a dois anos.
Dentro do partido, há o entendimento generalizado segundo a qual, se os moradores não pagaram as rendas
durante estes dois anos, não foi por vontade dos mesmos mas por uma alegada desorganização das empresas
imobiliárias responsáveis pela gestão comercial dos imóveis, nestas centralidades.
Miquelina Cristina, uma moradora da centralidade do Kilamba levantou o debate nas rede sociais criticando
a decisão do PCA da Imogestin, Rui Cruz. “Vizinhos este Senhor diz que teremos que pagar de uma vez os
dois anos. Agora eu me pergunto vamos pagar pela desorganização deles?” rematou questionando se “quem
não tiver o dinheiro de dois anos vai ser desalojados??”
A este propósito, o jurista angolano Esteves Hilario ao falar TV Zimbo, considerou de ilegal a atitude que a
IMOGESTIN pretende tomar, quanto ao pagamento de dois anos. Segundo o profissional, esta medida não
tem fundamento jurídico
379
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
380
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
processo. O mais importante é fazer o pagamento. No caso dos bordereaux falsos, a Imogestim deve
encaminhados as autoridades. Esta é a forma certa de actuar como uma instituição credível
381
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
SF- A actividade de resíduos é um serviço público que pode ser passado a uma concessionária. A
concessionária através de um concurso público ganha o direito de explorar a actividade, a obrigação de a
explorar nos termos em que o Estado tinha a obrigação de o fazer.
SF - As pessoas têm de ter as ruas limpas, todos os dias. A recolha de resíduos domésticos tem de ser feita
todos os dias. Os resíduos industriais não podem ser lançados para qualquer parte. Existem normas
constitucionais que desde logo seriam feridas se esta relação acabasse abruptamente. Eu não estou a dizer que
só as operadoras podem ser concessionárias. O Estado pode fazer o serviço de recolha e tratamento de
resíduos por administração directa.
JA - Luanda esteve duas semanas sem a recolha de lixo, de quem foi a responsabilidade?
SF - Luanda está numa situação excepcional. Para esta cidade foi aprovado pelo Titular do Poder Executivo
um regime de organização e funcionamento dos órgãos da administração local do Estado para a província. E
este regime, de facto, até devia conduzir a que a agência tivesse uma maior intervenção. Mas subsistem
lacunas do passado.
386
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
SF – O modelo de recolha de resíduos de Luanda ainda é o mesmo do passado e está em contradição com o
mais recente. O antigo modelo de 2004 diz que a Elisal é a concessionária geral do serviço de limpeza e
saneamento urbano de Luanda. É o que faz, sob orientação do Governo Provincial de Luanda. Ao nível da
Comissão Interministerial nomeada pelo Presidente da República para estudar estas questões da
Administração de Luanda, também esta problemática está a ser analisada.
SF – Neste momento não é coerente a agência interferir em algo que ainda não tem as regras primárias
resolvidas. Só após isso é que a agência pode entrar. Mas se estivéssemos numa situação normalizada, com
um contrato, tínhamos que apurar quem violou as regras estabelecidas nesse contrato. E fazer a arbitragem
que é na verdade uma forma de resolução de conflitos.
SF - Neste caso particular de Luanda, a agência embora tenha todas as prorrogativas de ordem autónoma,
estaria a desvirtuar a realidade, uma vez que o assunto está a ser tratado ao mais alto nível. Há uma
preocupação do Presidente da Republica em ver melhorada a situação dos resíduos em Luanda e no país em
geral, daí a criação destes organismos que visam reforçar o sistema em Angola.
SF - Neste momento isto está a um nível que só o Executivo pode determinar, porque os pagamentos não
deixaram de ser feitos porque as empresas estavam a operar mal. Algumas, se calhar, operavam mal. A
Elisal, em alguns casos, pode ter razão, mas está a actuar segundo regras passadas. A agência tem esta
prorrogativa, mas de facto é impraticável. É preciso ter também em conta que a agência ainda não está
completamente formada.
SF - Os problemas têm a ver com o sistema de financiamento desta actividade. É preciso encontrar soluções
sustentáveis para garantir que esta actividade funcione em contínuo. Porque o problema está aí. Sempre que
houver uma crise, notaremos reclamações que demonstram fragilidade. É preciso um mecanismo de
financiamento de sustentabilidade.
SF - Na minha opinião o principio tem de ser utilizador-pagador. Temos que criar um mecanismo que
permita que os consumidores, ao mesmo tempo geradores de resíduos, paguem o serviço. Mas é importante
que o sistema esteja perfeitamente afinado e delineado para que quem paga tenha de facto o beneficio do
serviço.
JA - Já existe algum estudo para que o sistema de recolha de resíduos tenha um financiamento sustentável?
SF - Já começámos a desenvolver pesquisas nesse sentido. Vão ser criadas autarquias e é num quadro deste
tipo que temos de pensar no financiamento. A própria autarquia recolhe estes fundos para que depois possa
manejá-los de forma a garantir o saneamento e a limpeza urbana.
387
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
SF – De alguma forma vai ter de ser assim. Ainda não conseguimos acertar entre os organismos envolvidos,
como será. Fala-se da inclusão dos custos na factura da água ou da energia. Pensámos ainda na questão do
serviço próprio de arrecadação das taxas a nível do município. Mas tem que se ver aquilo que melhor
funcionar e depois aplicar, de acordo com as necessidades.
SF - Estamos à procura de soluções. O sector dos resíduos envolve muitos agentes e diferenciados. Os
cidadãos devem nos próximos tempos comparticipar na recolha destes resíduos. Temos resíduos hospitalares,
industriais, domésticos. Todos estes têm de pagar. Termo-nos deparado com estradas destruídas pelo betão
das empresas de construção e o cidadão é que sofre com tudo isso. Temos que responsabilizar estas empresas
e obrigá-las a pagar por isso.
SF - A agência de Resíduos foi constituída há um ano, mas em termos de trabalho só funciona há oito meses.
Dependemos directamente do apoio do Ministério do Ambiente.
JA - O que já fizeram?
SF - Temos um espaço próprio, estamos agora a lutar por recurso financeiros. Temos ainda falta de pessoal
técnico. O Ministério do Ambiente ajudou-nos com alguns técnicos e esperamos nos próximos tempos
recrutar pessoal para preenchimento do quadro.
SF - O registo que estamos a fazer é algo que o Ministério do Ambiente já fazia. Agora é responsabilidade da
agência. Aos poucos vão sendo transferidas para nós, algumas tarefas. Existem pessoas ou instituições que
geram um volume anormal de resíduos e para estes casos a regulamentação prevê que deve haver um plano
de gestão aprovado pelo Ministério do Ambiente.
SF - Uma boa parte das empresas está registada. O registo está a ser desenvolvido em todo o país e para todas
as empresas. Neste momento estamos a preparar e já foi objecto de apreciação, um regulamento de
concessão. Ainda não é um produto acabado, mas está a ser posto à apreciação de todos os sectores
envolvidos.
SF - Para as empresas participarem nos concursos têm de ter a sua situação legal regularizada. Empresa com
regime de constituição publicado no Diário da República, seja ela em nome individual ou colectiva,
obrigações fiscais regularizadas, registo e licenciamento como operadora nesta área. Para dar um parecer
favorável e passar a licença, a agência precisa de verificar se elas têm as condições de estaleiros,
equipamento, pessoal, para poderem lançar-se num negócio destes, que é prestação de serviço público.
388
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
SF - Temos um único aterro situado nos Mulenvos e todos os outros são lixeiras a céu aberto, o que é um
atentado ao Ambiente e à saúde pública. Muitos encaram o ramo como um mero negócio. O que queremos é
que a partir de agora os contratos sejam longos, para não permitir as paralisações a que vamos assistindo. Os
contratos devem ser amortizados entre cinco a dez anos
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 081 13 Maio de 2015 | 16h07 - Actualizado em 13 Maio de 2015 | 16h07/Fonte: Angop (www.portalangop)
Cuando Cubango: Construídos mais de 400 fogos habitacionais
Menongue - Quatrocentas e 77 moradias construídas nos últimos dois anos na província do Cuando Cubango,
no âmbito dos 200 fogos por município, segundo um balanço do governo local a que Angop teve hoje
(quarta-feira) acesso.
390
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 082 09 Maio de 2015 | 16h25 - Actualizado em 09 Maio de 2015 | 16h25 Fonte: Angop (www.portalangop)
391
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 083 29 Abril de 2015 | 19h02 - Actualizado em 29 Abril de 2015 | 19h02 Fonte: Angop (www.portalangop)
Nove cidades africanas concorrem ao prémio "Presidente José Eduardo dos Santos"
Luanda - Nove cidades africanas concorrem à primeira edição do “Prémio José Eduardo dos Santos", que
distingue o melhor gestor africano das cidades, informou hoje, quarta-feira, nesta cidade, o ministro do
Urbanismo e Habitação, José Silva.
392
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 084 01 Maio de 2015 | 01h11 - Actualizado em 01 Maio de 2015 | 08h08 Fonte: Angop (www.portalangop)
Angola: Cidade de Accra vence primeira edição dos prémios José Eduardo dos Santos
Luanda - A cidade de Accra (Gana), venceu nesta quinta-feira, em Luanda, à primeira edição dos Prémios
"Presidente José Eduardo dos Santos", na categoria de grandes cidades, que distingue o melhor gestor
africano das cidades.
393
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 085 29 Abril de 2015 | 18h21 - Actualizado em 29 Abril de 2015 | 18h20 Fonte: Angop (www.portalangop)
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 086 29 Abril de 2015 | 18h03 - Actualizado em 29 Abril de 2015 | 18h03 Fonte: Angop (www.portalangop)
395
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 087 29 Abril de 2015 | 16h42 - Actualizado em 29 Abril de 2015 | 17h42 Fonte: Angop (www.portalangop)
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 088 01 Maio de 2015 | 01h57 - Actualizado em 01 Maio de 2015 | 01h56 Fonte: Angop (www.portalangop)
Angola: Prémio "Presidente José Eduardo dos Santos" é um incentivo - diz responsável
Luanda - O presidente da cidade da Praia (Cabo Verde), Ulisses Correia e Silva, afirmou nesta quinta-feira,
em Luanda, que o Prémio ?Presidente José Eduardo dos Santos" é um incentivo para que a África
desenvolva ainda mais o municipalismo, a competitividade e atractividade das suas cidades.
Em declarações à imprensa, Ulisses Correia e Silva referiu que o prémio conquistado é dedicado a todos os
cidadãos da cidade da Praia.
“A nossa tarefa é organiza-los, ter a parte institucional a funcionar para que eles possam ter melhor qualidade
de vida”, sublinhou.
A cidade da Praia (Cabo Verde) foi a vencedora na categoria de pequenas cidades e recebeu um prémio
monetário no valor de 50 mil dólares americanos.
Destacou o carácter inovador do prémio que associa o nome do Presidente da República de Angola, José
Eduardo dos Santos.
“O prémio é inovador, encorajador e toca no essencial no desenvolvimento dos países que são as cidades,
municípios e poder local”, declarou.
O "Prémio José Eduardo dos Santos" foi instituído pelo comité executivo da União das Cidades dos
Governos Locais de África (UCLG África), numa das suas reuniões, em Outubro de 2014, na cidade de
Joanesburgo (África do Sul).
397
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 088 02 Maio de 2015 | 01h14 - Actualizado em 02 Maio de 2015 | 01h14 Fonte: Angop (www.portalangop)
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 089 11 Maio de 2015 | 18h16 - Actualizado em 12 Maio de 2015 | 16h34 Fonte: Angop (www.portalangop)
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ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 090 08 Maio de 2015 | 01h06 - Actualizado em 08 Maio de 2015 | 01h06 Fonte: Angop (www.portalangop)
400
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 091 07 Maio de 2015 | 14h47 - Actualizado em 07 Maio de 2015 | 14h47/Fonte: Angop (www.portalangop)
Munícipes no Cuanhama com maior oferta de habitação social
Cuanhama - A oferta de moradias condignas no município de Cuanhama vai aumentar depois da conclusão
de 100, das 200 casas sociais previstas para a circunscrição - disse hoje, quinta-feira, em Ondjiva, o
administrador local, Gonçalves Namwey.
401
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
402
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O Governo Provincial da Lunda Sul distribuiu ontem, em Saurimo, 66 lotes de terreno à população, para a
autoconstrução dirigida, no âmbito do Programa de Ordenamento e Urbanização da Cidade.
A entrega simbólica dos lotes, situados nas imediações do bairro 4 de Fevereiro, numa área de mais de 1.881
metros quadrados, foi testemunhada pelos deputados do círculo provincial do MPLA e outros convidados.
O administrador municipal de Saurimo, Gregório Miasso, disse que na área preparada prevê-se também a
construção de armazéns para o comércio, escolas e outros serviços, além de espaços de lazer, e decorrem os
trabalhos para garantir o saneamento básico.
A governadora provincial da Lunda Sul, Cândida Narciso, garantiu que o Governo continua a envidar
esforços, com a ajuda das autoridades tradicionais, para a criação de condições para evitar as construções
anárquicas nas comunidades.
A governante reiterou, por outro lado, o apelo para os cidadãos cumprirem as regras de construção, a fim de
permitir a instalação de sistemas de abastecimento de água e de fornecimento de energia eléctrica.
403
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Fotografia: JAImagens
Condições técnicas, financeiras e humanas para a junção e
uniformização das aldeias e bairros periféricos da cidade de
Menongue estão a ser criadas pela Administração Municipal da
capital do Cuando Cubango, anunciou, ontem, o seu administrador.
Miguel Ndala Popular informou que vai haver realojamento das populações destas áreas , apoio de cesta
básica às famílias mais vulneráveis da região e reforço das actividades de fiscalização para evitar as
construções anárquicas e a ocupação ilegal de terrenos.
Para executar os projectos sociais, a Administração Municipal de Menongue gastou, durante o primeiro
semestre deste ano, 423.027.000,00 de kwanzas, que ajudaram a melhorar o modo de vida das comunidades
de Caiúndo, Missombo e Jamba Cueio.
A Administração arrecadou 14.570.827,00 de kwanzas, no primeiro semestre deste ano, provenientes do
pagamento de impostos, da emissão de atestados de residência, licenças de ocupação de terrenos, de
construção e de condução de velocípedes.
O município de Menongue, na província do Cuando Cubango, tem 41 postos de saúde, três centros médicos e
70 escolas com 74.580 alunos, insuficiente para atendender a demanda populacional.
404
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O Executivo cria as condições para atrair grandes investimentos na região e as informações recebidas no
terreno indicam que existe uma boa resposta de investidores, explicou o secretário de Estado do Urbanismo
“É desta forma que o Governo tem o retorno do investimento feito na infra-estruturação deste espaço."
A reserva fundiária do Catapa tem uma extensão de 100 hectares, divididos em lotes habitacionais para 3.230
famílias, áreas para a construção de indústrias, serviços e actividades comerciais.
“O programa de autoconstrução dirigida tem um grande peso no programa de Urbanismo e Habitação em
curso no país, pois, com estas reservas vamos permitir que mais jovens possam ter um terreno para
construção da sua casa, mas seguindo um padrão definido pelo Governo”, afirmou o secretário de Estado do
Urbanismo.
No Catapa já estão construídas 100 habitações para a juventude, que aguardam apenas a conclusão das infra-
estruturas integradas em curso no local, para a área ser habitável. O maior constrangimento constatado pelo
secretário de Estado tem a ver com o facto de alguns moradores ocuparem ilegalmente parcelas de terreno na
reserva fundiária, situação que está a ser solucionada pela Administração Municipal do Uíge, com vista a
garantir o andamento normal das obras.
No bairro Candombe Velho, o secretário de Estado do Urbanismo visitou as obras das redes de águas
residuais e fluviais, da energia eléctrica, asfaltagem das ruas, arranjo de passeios e urbanização e paisagismo.
Uma acção conjunta com a Administração Municipal do Uíge, para aproveitamento dos espaços livres
existentes no interior do bairro para melhorar a qualidade de vida dos residentes foi sugerida ao Governo
Provincial pelo secretário de Estado.
Centralidade do Quilomosso
Na companhia do governador provincial do Uíge, Paulo Pombolo, o secretário de Estado do Urbanismo
visitou obras da centralidade do Quilomosso, projecto habitacional com 1.010 habitações já concluídas, das
4.500 previstas.
No local, o secretário de Estado Nhanga de Assunção recebeu informações sobre os sistemas de
abastecimento de água potável, de tratamento das águas residuais e de produção e distribuição de energia
eléctrica e sobre os acessos viários.
O secretário de Estado do Urbanismo, Nhanga de Assunção, manifestou-se satisfeito com o estado das obras
e referiu a necessidade de maior atenção aos acessos à centralidade, tendo recomendado a definição de
espaços para a instalação dos serviços, áreas verdes e tratamento de resíduos sólidos.
405
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
A Cidade Horizonte Quilomosso integra prédios de quatro pisos com oito apartamentos cada, e moradias de
um e dois pisos.
No município de Dange Quitexe, na província do Uíge, o secretário de Estado, Nhanga de Assunção,
informou-se das obras de construção das 200 casas sociais em construção no âmbito do Programa Nacional
de Habitação.
406
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
407
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
408
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
"Os moradores deitam mesmo o lixo nos locais habituais, mas infelizmente por falta de recolha, verifica-se
essa situação de desolação, com grandes focos que estão a ocupar ruas e recintos para prática desportiva,
estradas e outros",disse.
Há cerca de cinco meses ou mais, que se regista com preocupação, um certo abrandamento na recolha do lixo
por parte das operadoras.
De acordo com dados das próprias operadoras e do Governo Provincial, para além do problema contratual e
do lançamento do novo modelo de recolha de lixo existem algumas limitações para manter a cidade limpa,
com destaque para os meios técnicos.
Outrossim, as operadoras tem dificuldades na aquisição de combustível, lubrificantes e peças sobressalentes,
o que reduz a sua capacdade de recolha de lixo na capital do país.
Apercebendo-se e preocupado com o lixo na província, o governador provincial de Luanda, Graciano
Domingos apelou a compreensão das operadoras no sentido destas prosseguiram com a recolha de lixo,
apesar da dívida existente, até a sua liquidação.
"Assumimos haver uma dívida com essas empresas e tudo está a ser feito para o respectivo pagamento",
afirmou o governador Graciano Domingos, quando falava à imprensa no final da 1ª sessão extraordinária do
Conselho de Ministros, realizada no dia 20 de Abril do corrente ano.
Nessa mesma altura, Graciano Domingos anunciou a entrada em funcionamento, a partir do mês de Agosto,
do novo modelo municipal de recolha de lixo.
Este anunciado modelo transfere para as administrações municipais, todas as responsabilidades de
contratação, controlo e pagamento das operadoras, antes sob tutela da Elisal.
409
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 098 Revitalização do município de Luanda vai muito além da reparação das vias
24-07-2015 | Fonte: Jornal de Angola
O trabalho de revitalização do município de Luanda vai muito
além da reparação das vias, construção de passeios, pintura de
lancis, traçados no pavimento, limpeza dos esgotos e o
melhoramento das valas para o escoamento das águas.
410
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
411
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
412
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
413
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
414
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
415
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
416
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
417
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
418
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
419
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
420
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
421
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
422
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Há quatro anos no cargo, responsável rebate críticas e anuncia nova taxa para ajudar a manter a
centralidade.
Por Waldney Oliveira (texto), Ampe Rogério e Carlos Domingos (fotos).
Taxa polémica
Conforme afirmou o presidente da Cidade do Kilamba, Joaquim Israel, a solução para os problemas,
segundo a administração, deve ser uma taxa de urbanização a ser implementada brevemente, mas a iniciativa
não é vista com bons olhos pelos moradores que têm expressado as suas opiniões a respeito.
O técnico de som Bruno Miguel, coordenador de um dos edifícios dos blocos G, condena a cobrança e afirma
ser uma tarefa da administração a gestão dos espaços públicos.
423
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
“Já temos muitas despesas para, além disso, ainda termos de tratar agora dos locais públicos, que é tarefa do
governo. Ele devia prover isso tudo. Se temos direitos e deveres depois da assinatura do contrato, o governo
também tem após receber o nosso dinheiro. Discordamos completamente dessa suposta taxa de urbanização”,
afirma.
Os moradores ficaram a saber da cobrança esta semana, quando a administração fez a entrega de novo
regulamento interno da centralidade, que, entre outras medidas, inclui a previsão da cobrança. Até mesmo
os coordenadores dos 710 edifícios da cidade estranharam o facto de ser lançado um novo documento sem
que tivessem sido ouvidos. Segundo alguns moradores ouvidos pela Rede Angola, houve no princípio do
ano uma reunião a respeito do novo regulamento, mas nenhuma decisão foi tomada a partir deste encontro, o
que fez com que a divulgação do documento apanhasse os moradores de surpresa.
“O que falta nesta cidade é uma maior aproximação entre a administração e os moradores. Como é possível
que se tenha feito um segundo regulamento interno sem que nós os coordenadores fôssemos tidos em
conta?”, lamenta Bruno Miguel.
Por seu lado, o gestor Júlio Sousa e Silva, morador do Kilamba há um ano, defende que a cobrança pode vir a
ser uma solução para os problemas do Kilamba, independentemente do preço que venha a ser cobrado.
Infra-estruturas em degradação
As reclamações dos moradores prendem-se ainda com as infra-estruturas. Vários imóveis apresentam
problemas de infiltração. O Rede Angola esteve no apartamento 14 do edifício X41 e constatou que o
esgoto proveniente do quarto de banho de serviço escorria um pouco por todos os compartimentos da casa.
“Estou há quatro dias com este problema. Já chamei os chineses que cobraram-me 30 mil kwanzas mas,
ainda assim, não conseguiram resolver a questão. Hoje tive que pedir dispensa no serviço para mais uma vez
tentar resolver. Não temos onde recorrer, porque a CITIC [construtora chinesa responsável pelo projecto]
afirma que já não tem nenhuma obrigatoriedade em relação à manutenção dos edifícios e esta é uma situação
que devia estar dentro da garantia do imóvel”, reclama o engenheiro Amílcar Quinga, que vive no Kilamba
há dois anos. Com isso, os moradores afirmam que a Cidade do Kilamba foi tomada por empreiteiros
chineses, que lucram com biscates a preços muitas vezes exorbitantes para pequenas reparações nos
apartamentos.
424
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Para Quinga, todo o esforço e investimento do projecto está a ser comprometido por
estes pormenores. Lamenta o facto de que, do ponto de vista jurídico-legal, não tenha
nenhuma salvaguarda no contrato, pelo facto de não ser ainda dono do imóvel, já que
paga renda resolúvel.
A inexistência de um sistema automático de rega dos jardins, nesta que é considerada
a cidade mais moderna do país, e muitas das vezes equiparada a outras no exterior,
também é motivo de preocupação dos moradores, uma vez que a administração faz a rega dos jardim
públicos com um camião cisterna.
“Desde que estou aqui a morar as coisas só tendem a piorar. Não sei se trata de negligência ou falta de
conhecimento. Os espaços verde estão a se transformar em zonas de capim, só para não mencionar outros
espaços públicos. O Kilamba já me fez lembrar Paris à noite, isso nos primeiros meses. Hoje o Kilamba à
noite é uma desgraça. Já não esperamos melhorias com esta administração no comando. Espero que a
próxima tenha um perfil diferente deste e seja nomeada por mérito”, afirma.
Para Amílcar, não há abertura nem vontade por parte da Administração quanto a uma maior participação dos
moradores na gestão da centralidade. “As únicas coisas que a administração observa são os carros mal
estacionados, por causa das multas, e agora a contribuição da taxa de urbanização. Se não houver
transparência na gestão, esta taxa vai criar um maior descontentamento”.
A segurança pública é também outra preocupação. Os moradores afirmam que já
houve mais ronda policial, mas nos últimos dias os riscos aumentaram, com relatos
recentes de assaltos a apartamentos.
425
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
nenhuma. Eu recebo pessoalmente os munícipes e temos ainda uma área de acção social que interage
directamente com a sociedade”, conclui.
Leia a entrevista completa ao presidente da Cidade do Kilamba, Joaquim Israel.
financeiros”
O balanço é positivo, pelo facto de termos ultrapassado algumas dificuldades que fomos vivendo ao longo
destes quatro anos. Aquando da inauguração da cidade, por exemplo, o sistema de tratamento e captação de
água potável não estava ainda em funcionamento e vivemos um período de dificuldade de água, mas hoje
conseguimos ultrapassá-lo. No fornecimento de energia eléctrica também tivemos alguma irregularidade.
Hoje, não temos esses problemas. A nível dos equipamentos sociais, fomos “abrindo-os” gradualmente.
Também vivemos problemas de falta de professores, mas foi ultrapassado. Não tivemos o centro de saúde na
altura certa. Foi aberto precisamente há um ano, numa fase em que já havia uma certa demanda da
população. A nível de gestão de resíduos tivemos fases difíceis. Felizmente, houve a possibilidade de
engajarmos também a população, que respondeu positivamente na preservação dos espaços verdes e de
alguns equipamentos. A população de uma maneira geral colaborou para o sucesso da nossa gestão.
Actualmente quais são as maiores preocupações da administração na manutenção e gestão do
Kilamba?
A nossa maior preocupação está relacionada com a falta de recursos financeiros suficientes para podermos
prestar uma gestão mais eficaz. O Kilamba não está dissociado da realidade do país. Também somos
afectados pelo contexto. Mas isso tem uma solução que parte da implementação dos serviços
municipalizados e da taxa municipal. O cidadão deve comparticipar com algum valor para a manutenção da
cidade, para a recolha dos resíduos sólidos, para a manutenção das áreas verdes. O que acontece é que não é
comum, para nós angolanos, comparticiparmos com alguma coisa nos nossos municípios. Habituámo-nos a
que seja o Estado a recolher o lixo que produzimos, a custo zero. Isto
tem que acabar. Mas no Kilamba estamos atentos a isso e já temos o
caminho bem andado para a implementação desta taxa.
Joaquim Israel afirma que o valor da taxa de urbanização ainda não está
definido
426
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Houve uma consulta prévia aos moradores para se definir esta taxa de urbanização?
Nesta fase já demos a conhecer aos moradores. Há um decreto que nos autoriza a cobrar. Estamos é a definir
um valor. Já remetemos a proposta ao Ministério das Finanças. Agora, caberá ao ministro decidir se o
governo vai subvencionar uma parte. No nosso entender, isso deve ser aplicado gradualmente porque, por ser
uma coisa nova, as pessoas devem ganhar antes esta cultura. A taxa será diferenciada pelas tipologias [dos
apartamentos]. Isto não é nada novo, em qualquer parte do mundo é aplicado.
Há moradores que afirmam que esta taxa já está incluída na parcela mensal das rendas, estipulada em
3 por cento do valor da mensalidade. Consta do contrato?
Não. É um equívoco. Isso é muito triste. Às vezes, recebemos moradores que nunca leram o contrato da casa.
Vêm reivindicar à administração uma coisa que não é da nossa responsabilidade. O acordado no processo de
comercialização foi uma taxa de juros de três por cento num modelo de renda resolúvel. É evidente que as
pessoas devem pagar juros quando compram um produto às prestações. Os indivíduos que estão a comprar os
imóveis por via do Fundo Habitacional, esses sim, pagam uma taxa ao Fundo que é descontada directamente
na renda, para a manutenção das áreas comuns dos edifícios. Não tem nada a ver com os serviços municipais.
Reconhece que existe alguma resistência por parte dos moradores em pagar a taxa de condomínio?
A taxa de urbanização é uma taxa paga ao Estado para poder prestar serviços. Esta vai ter que ser muito mais
fácil de executar, porque há a lei de execuções fiscais, as quais vão estar indexadas ao número de contribuinte
e já temos cá empresas a trabalhar para fazermos o registo do património todo, portanto o cidadão vai ter que
pagar os seus impostos.
“Quem não quer se enquadrar dentro da nossa cultura urbana então que procure o seu sítio, pois aqui
não é bem-vindo”.
Uma das maiores preocupações do moradores prende-se com o amontoado de lixo. Para quando a
implementação do novo modelo de gestão do lixo de Luanda?
O Kilamba não é diferente da realidade do resto da província. Nós respeitamos isso. Começou o novo modelo
a partir do dia 1 de Agosto, mas está numa fase de adaptação. A operadora ainda vai ter que se adaptar. Eu,
pessoalmente, já vi que ainda não estão a desempenhar o serviço que todos nós gostaríamos de ter. Até lá,
vamos ter que participar todos porque não podemos esperar que, com uma varinha mágica, vamos limpar
tudo. Estamos a trabalhar com a ELISAL [Empresa de Saneamento e Limpeza de Luanda]. Vamos ter que
nos engajar nos serviços de sensibilização e isto vai dar-nos a
possibilidade de entrar numa primeira fase com o projecto de pré-
selecção dos resíduos e acondicioná-los da melhor maneira. Antes, a
gestão do lixo era a nível provincial e nós éramos meramente
espectadores. Hoje, já somos fiscalizadores e, em alguns casos, somos
nós que pagamos. No caso da cidade do Kilamba, ainda não é a
administração quem paga, estamos num contrato em que dependemos do
município de Belas, do qual está encarregue a ELISAL.
A administração não consegue estar em todos os sítios. O cidadão deve se sentir parte da cidade e então
chamar a atenção do vizinho para o que é mais correcto. E hoje olhamos, por exemplo, para as redes sociais,
para o perfil de Facebook dos moradores da cidade do Kilamba, onde os comentários dos próprios
moradores dão conta de um comportamento menos bom. Então, quer dizer que há esta consciência já
formada de preservarmos o que está feito, de usufruirmos do que é bom. Quem não quer se enquadrar dentro
da nossa cultura urbana então que procure o seu sítio, aqui não é bem-vindo.
427
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
No que se refere à manutenção dos espaços públicos, observamos o maltrato das zonas verdes e a falta
de lâmpadas em alguns candeeiros e semáforos. Existe uma equipa especializada para esses serviços?
Evidentemente que estes serviços são por conta da administração. O nosso orçamento é limitado e as
necessidades são infinitas. Então, à luz do nosso orçamento, temos que priorizar alguns serviços. Verdade se
diga, temos tido o apoio do empreiteiro e isso é que nos ajuda a fazer a manutenção da iluminação pública e
dos semáforos. O cidadão reclama que está apagado mas não contribui e isso tem um custo altíssimo. A nível
dos espaços verdes, é evidente que temos que fazer algum esforço. Só para termos uma ideia, o Kilamba tem
cerca de um milhão de metros quadrados de área verde. O custo de manutenção de área verde chega a USD
1 ou USD 0,75 por metro quadrado mês. Estamos a falar que precisaríamos de
cerca de USD 1 milhão todos os meses só para os jardins.
Existem muitas reclamações sobre a prestação destes serviços, como há também casos de técnicos que,
em nome da CITIC, desenvolvem estes trabalhos individualmente. Há a possibilidade da
administração fiscalizar esta situação?
Talvez sim, mas o problema é o próprio cidadão, que é o culpado. Porque prefere pagar a esses funcionários e
não à CITIC, e só reclamam quando alguma coisa corre mal. Muitas vezes querem fazer as coisas a baixo
preço e acaba por sair caro.
428
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
“A gestão desta área também está sob nossa responsabilidade e quando se começa a falar de ‘KK5000′
cria-se segregação.”
Constatámos que os preços dos produtos básicos são mais elevados em relação aos praticados, por
exemplo, no centro da cidade. Existe um mecanismo de fiscalização desta prática?
À luz do novo estatuto orgânico do governo da província, isso passa a ser uma responsabilidade nossa. Só há
dias foi aprovado o nosso [novo] estatuto de administração da cidade do Kilamba, que contempla também
uma repartição de actividades económicas. Então, nós agora vamos começar a tratar desse assunto. Também
é preciso percebermos que existe uma lei de actividades económicas. Os empresários têm preços altos,
muitas vezes, pelos custos fixos que suportam. Uma das reclamações que ouvimos de alguns comerciantes é
que o valor das rendas das lojas é alto.
429
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
430
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O coordenador da SOS Habitat fala das acusações que a ONG foi alvo e as questões das demolições em
Angola.
Por Domingos Bento (Texto) Ampe Rogério (Foto).
As acusações feitas por estas figuras e outras que se insurgem contra o trabalho da SOS Habitat não são
verdadeiras. As nossa denúncias são feitas com base naquilo que nós constatamos no terreno. As pessoas,
quando nos procuram, já chegam com os seus direitos violados e nós, simplesmente, procuramos analisar o
assunto e levar para as mais altas estruturas do Estado. As autoridades deviam aproveitar estas denúncias
para apurarem a veracidade dos factos que relatamos, mas infelizmente isso não acontece. E quando nos
acusam dessa forma, não temos uma outra forma de interpretação que não seja calúnia e muita má-fé da parte
dessas duas figuras do governo.
431
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Mas vocês têm inserido as autoridades no trabalho que vão realizando dentro das comunidades?
Sempre nos mostramos abertos para trabalhar em parceria com os governos locais e central. Mas estes têm
vindo a mostrar-se desinteressados. Temos feitos constantes apelos às autoridades para visitarem as
comunidades afectadas pelas demolições para verem o quanto é pesado trabalhar com centenas de famílias ao
abandono, mas nunca nos deram ouvidos. Portanto, não temos nada a esconder porque fizemos um trabalho
de cidadania. E, muito brevemente, faremos um comunicado em torno de todos esses assuntos, porque agora
há uma onda de acusações contra a nossa organização. Mas se estão a pensar em nos parar, é melhor desistir,
vamos continuar a desenvolver as nossas actividades.
O ministro Bornito de Sousa disse também que a SOS Habitat tem promovido encontros
internacionais com o propósito de denegrir a imagem do Estado. É verdade?
Não. Aliás, não precisamos sujar a imagem de ninguém para desenvolver o nosso trabalho. Quanto aos
encontros que temos feito com as organizações internacionais, acontecem porque muitas delas, tal como a
União Europeia, têm responsabilidade para com os países africanos na área dos Direitos Humanos. A agora,
se eles também ficam omissos nestas questões devido aos interesses económicos, então ai já não é nosso
problema.
Mas essas organizações não têm dado a devida atenção nestas questões?
Infelizmente não prestam o devido tratamento. Portanto, sabe-se que os interesses económicos chegam a
falar mais alto, em muitos casos, que qualquer outro direito. E estamos num país muito cobiçado por causa
do petróleo, muitas destas organizações preferem ocultar a realidade das violações que se vão registando na
areia dos direitos humanos.
432
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
“Se estão a pensar em nos parar, é melhor desistirem, vamos continuar a desenvolver as nossas actividades”.
Mas vocês têm levado essas preocupações às entidades governativas ou ficam apenas pelos fóruns?
O nosso trabalho é diário. Todos os dias recebemos comunidades que procuram pelos nossos serviços e nós
levamos as preocupações junto das instâncias superiores de várias formas, como relatórios e encontros com
os governantes. Não estamos aqui para facilitar uns em detrimento dos outros. Somos a favor da justiça e
trabalhamos como mediadores entre a comunidade e o governo.
433
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
As administrações municipais e comunais deveriam funcionar como pontos de entrada nesse processo
de comunicação com as instituições, não?
Sim, deveriam, mas não é o que acontece. As próprias administrações também estão todas viciadas. Por
exemplo, há cartas de comunidades injustiçadas que dirigimos às administrações, mas que, no entanto, não
tiveram respostas. Não somos recebidos, nem ligam para nos informar do andamento do processo. A nível do
Governo Provincial a situação é ainda muito mais difícil. Pior quando esteve lá o senhor Bento Bento que,
para nós, foi dos piores governadores que Luanda já teve nesse processo de contacto e auscultação da
sociedade civil. Em tempos, escrevemos para o vice-presidente do MPLA, Roberto de Almeida, depois de já
termos esgotados o contacto com as instituições públicas, e mesmo assim não fomos recebidos, nem mesmo
depois de termos adiantado o assunto – que era sobre uma determinada comunidade que estava a ser
injustiçada. Portanto são sinais que indicam alguma ignorância sobre o nosso trabalho.
A construção destas centralidades poderá resolver a grande necessidade de habitação que o país
enfrenta?
Penso que não, porque a forma como são geridas essas centralidades e o modelo de acesso deixam-nos muito
inquietos. Há muitas inverdades e burocracias. A maioria dos angolanos não têm dinheiro para custear essas
centralidades, se tivermos em conta aquilo que é o salário básico nacional. Também fala-se muito das casas
evolutivas do Zango que não dispõem de qualidade condigna para o cidadão viver em paz. São apertadas e
muito pequenas, para além de estarem localizadas em zonas sem nenhum serviço social, como água, luz ou
infraestruturas de cuidados médicos…
434
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Coordenador da SOS Habitat diz que o Governo tem noção dos males causados pelas
demolições
Actualmente controlamos mais de 56 comunidades a nível nacional, cada comunidade tem um número
superior de 700 moradores. E o número vai aumentado, porque cada vez mais centenas de pessoas são
desabrigadas a custo de certos interesses.
“Há certas pessoas que são afiliadas ao partido no poder e aproveitam-se da sua condição financeira para
desapropriarem comunidades em áreas que lhes interessa”
435
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Este conjunto de situações acaba por manchar o país no que toca aos direitos humanos…
Sim, claro. É só olhar para os inúmeros relatórios internacionais que têm saído e que colocam Angola numa
posição deplorável em relação aos outros países. Acompanhamos há bem pouco tempo as declarações do
ministro da Justiça, em Genebra, a dizer que a situações dos direitos humanos em Angola é estável. Foi uma
pura mentira. O senhor ministro mentiu à comunidade internacional e isso não se faz porque todos sabemos a
quantas andamos no que toca à situação dos direitos humanos no país. Como é possível um Estado dizer que
respeita os direitos humanos, e deixa centenas de famílias sem-abrigo, na rua, quando temos centenas de
apartamentos nas centralidades e condomínios às moscas? Isso faz-se? Estamos num Estado onde só há
sistematicamente violações de direitos.
Em Outubro de 2013 foram impedidos de realizarem uma manifestação pacífica que visava saudar o
dia mundial da habitação. O que se passou ?
O que se passou foi uma vez mais a violação do direito das pessoas em se manifestarem, um direito que até
está plasmado na constituição do país. Para a referida manifestação havíamos convidado comunidades
desalojadas e o percurso solicitado era do supermercado Jumbo até ao 1º de Maio. Mas Bento Bento, na
altura governador de Luanda, disse que o trajecto estaria ocupado por uma passeata de motociclistas que não
veio a realiza-se…era só uma desculpa para nos barrar.
“Somos a favor da justiça e trabalhamos como mediadores entre a comunidade e o Governo”.
436
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Mas vocês cumpriram com todas a obrigações que este tipo de actividade necessita?
Naturalmente, até porque era uma marcha pacífica que visava saudar tão-somente o dia mundial da
habitação. Mas mesmo assim não nos permitiram e houve uma desmobilização geral que até envolveu o
Comité Central do MPLA. Na altura, acusaram-nos inclusive de sermos uma organização ligada à UNITA, e
que estávamos à procura de confusão. Tudo mentira, até porque só faziam parte do grupo a SOS Habitat,
grupos de camponeses e comunidades vitimas de demolições. Quer dizer, o Governo faz e desfaz, e os
cidadãos nada podem fazer? Nem mesmo se manifestarem contra as acções negativas?
Disse que o MPLA esteve envolvido nisso. De que forma, se até é um assunto que diz respeito ao
governo e à sociedade?
Esta coisa de partido-Estado trouxe um vício na cabeça das pessoas que está a prejudicar o país. Hoje em
dia, misturam os assuntos da administração pública com os do partido. Às tantas já não sabemos quando é
que se está a tratar das coisas do país ou quando é que se está a tratar as coisas do partido. É tudo uma
confusão e ingerências.
Este envolvimento do MPLA foi um caso isolado ou o partido tem interferido regularmente nas vossas
actividades e projectos?
Há uma constante interferência do partido nas questões que deveriam ser tratadas junto das administrações
do Estado, por isso é que às vezes temos dificuldades em levar a nossa mensagem às comunidades, porque
somos sempre boicotados e confundidos com partidos políticos. Portanto, é muito mau essa postura, porque
além de reivindicar, instruímos as comunidades em como elas devem agir para conseguirem um espaço ou
uma habitação. Fazemos também esse serviço de comunicar formas de prevenção contra eventuais
desalojamentos. Mas infelizmente o partido tem interferido porque pensa que somos opositores. Mas acho
que isso passa mais pelo medo que o partido tem das mudanças.
Quando há algum caso de demolição não são chamados a trabalharem com o Governo?
Infelizmente não. Deixam-nos atrás porque dizem que nós somos agitadores. Se o Governo nos chamasse,
enquanto sociedade civil, sempre que houvesse algum caso de demolição, penso que não teríamos tido tantas
reclamações. O que acontece é que se faz tudo de forma arbitrária, maltratam as populações e mandam calar
os que levantam a voz para criticar o que está errado. Há muito nepotismo, corrupção e ambição do Estado…
437
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Com esta relação difícil com o Governo, onde vão buscar financiamento para suportar as vossas
actividades?
Através de algumas instituições privadas apoiantes da nossa causa, são os nossos financiadores.
Um jornalista e um arquiteto holandeses estão a estudar no terreno diferentes projetos promovidos pela China
em África. Para já, acham duvidoso que a “importação” de modelos chineses, sem consideração pela
realidade africana, venha a ser bem sucedida. E apontam o bairro residencial de Kilamba, em Luanda, como
exemplo de construção “desligada da realidade”.
“Olhando para Leste: Urbanismo Chinês em África” é o resultado da pesquisa realizada desde 2013 por
Michiel Hulsof e Daan Roggeven, arquiteto. Além do ensaio, deu origem a uma exposição que está patente
em Nova Iorque. O objetivo é documentar as muitas mudanças trazidas pela urbanização à chinesa e afirmam
ser “duvidoso” que o modelo funcione.
“Basicamente, as realidades políticas e económicas na África e na
China são demasiado diferentes para uma abordagem simples de
`cortar e colar´", afirmam no ensaio. “Um dos exemplos mais
impressionantes” do envolvimento chinês em África, Kilamba é
um desses casos em que “o modelo urbano é copiado”. “Vemos
um claro desligar entre as condições locais e os modelos supervenientes”.
“Projeto residencial de grande escala para acomodar 500 mil pessoas, foi construído pelo China International
Trust and Investment Corporation. O complexo de desenho repetitivo é muito semelhante a únicas
habitacionais em construção em toda a China, desde Xiamen a Kashgar”, afirmam.
O gigantesco bairro de Kilamba tem sido sinónimo de problemas desde o início, que começaram com atrasos
na entrega das casas, denúncias de favoritismo nas transações e, mais recentemente, problemas na qualidade
da construção e no funcionamento das infraestruturas.
As empresas chinesas têm estado cada vez mais envolvidas em grandes projetos no continente, desde
autoestradas, a caminhos-de-ferro, criação de zonas económicas especiais e projetos residenciais em grande
escala. Os modelos são invariavelmente projetos já implementados na China, até ao pormenor dos materiais
utilizados (importados). O desenvolvimento e financiamento é assegurado pela China.
Os autores do estudo salientam ainda que a influência chinesa vai mesmo além do edificado. A televisão
chinesa CCTV está a transmitir em todo o continente, enquanto se multiplica o número de institutos
Confúcio, onde um número cada vez maior de estudantes aprende a língua chinesa.
A construção desenfreada em cidades como Luanda e Maputo tem levantado preocupações quanto à
preocupação do património edificado, sobretudo do tempo colonial, e à possibilidade de que estas cidades
venham a ficar “desfiguradas” num futuro próximo.
438
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
439
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
440
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Agosto 19, 2015 /Jornal O País, in www.opais.co.ao, acessado aos 21 de 08 de 2015, 00H48minutos
441
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
O PAÍS apurou a existência de famílias que não se mudaram para à Cidade do Kilamba por existirem mais de
duas pessoas a reclamar a titularidade dos mesmos imóveis. A Procuradora da República junto da Unidade de
Polícia desta cidade já ordenou a três indivíduos que abandonassem os bens que se assume terem adquirido
de forma ilícita
442
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Na relação nominal dos moradores do edifício X41, consta que o apartamento 32 pertence a um indivíduo
que responde pelo nome de Carlos Peixoto e que nunca pagou a taxa de condomínio.
Já no edifício X34, onde se encontram 12 dos 26 apartamentos, a nossa equipa de reportagem foi informada
por uma das filhas dos ocupantes da casa número 24, que são clientes do Fundo de Fomento a Habitação, por
intermédio do Ministério dos Transporte, onde o seu progenitor trabalha.
Passado 40 minutos, o suposto proprietário comunicou-nos, por telefone, que desconhecia a lista publicada
no único jornal diário e que o imóvel fora atribuído à sua esposa, que trabalha no Ministério acima
mencionado.
A moradora do apartamento 53 contou que o seu vizinho da porta 54 desapareceu depois de os técnicos da
Delta Imobiliária terem arrancado o portão que ali instalou. A existência de um selo verde com a barra de
código na porta, anuncia a todos aqueles que por ali circulam que os habitantes daquele imóvel terão sido
contabilizados pelos recenseadores do Censo 2014.
Contrariamente aos demais, a existência de vários vasos de plantas, todos com a terra húmida, ao redor da
porta 73, confirmam a ocupação do mesmo por uma família.
Contactada por O PAÍS, a proprietária de um dos imóveis do prédio U36, cujo nome se omite a pedido da
própria, revelou que conseguiu o imóvel por intermédio de uma senhora que dá pelo nome de Hirondina
Baião e que trabalha na Imobiliária.
Disse que conheceu a suposta comerciante do imóvel, por intermédio de uma colega de serviço, que também
adquiriu um apartamento na centralidade do Kilamba por esta via.
Contou que se encontrou com Hirondina Baião apenas duas vezes: a primeira foi para entregar a sua
documentação e o dinheiro (a comissão pela venda da propriedade) e, a segunda, para receber as chaves e
assinar a documentação que a confirmam como a dona da propriedade.
Ao ser surpreendida pelo anúncio, a nossa interlocutora contactou a senhora Hirondina Baião para pedir
explicações e exigir que resolva a sua situação, pelo facto de ter as suas coisas dentro da casa, apesar de ainda
não se ter mudado para lá.
Procuradora remete-se ao silêncio
A Procuradora da República Junto da Unidade de Polícia da Centralidade do Kilamba, Elizabete Irene
Figueiredo, recusou-se a prestar quaisquer declarações a O PAÍS sem autorização do seu superior
hierárquico, encontando-se o processo em segredo de justiça.
Explicou ainda que, depois dos anúncios publicados nos dias 29 e 30 de Julho, os supostos proprietários dos
imóveis serão novamente notificados (em obediência à Lei que estipula que o cidadão deve ser intimado duas
vezes) e caso não compareçam, irão à esquadra sob custódia da Polícia.
Em função dos comunicados, apenas três dos 26 supostos presumíveis ocupantes contactaram o seu gabinete
até Sexta-feira, 1, altura em que prestou informações à Rádio Luanda, sobre o processo.
Dois deles assumiram que recorreram a intermediários para adquirirem os apartamentos e o outro não se
faziam acompanhar dos devidos documentos.
“Nós recebemos uma queixa-crime da Sonip que relatava a ocupação ilegal de 26 apartamentos, pertencente
à sua reserva, que ainda não haviam sido distribuídos e foram ocupados ilegalmente”, esclareceu em
entrevista à Rádio.
A magistrada judicial, que presume que as pessoas tenham sido enganadas, disse ainda que apenas uma delas
se prontificou a abandonar o imóvel e que existem outros casos de queixas particulares.
O certo é que três pessoas já abandonaram os apartamentos que ocuparam ilegalmente e tendo-se efectuado a
entrega das chaves aos legítimos proprietários.
Apela aos supostos proprietários que se dirigem à Unidade do Kilamba com as fotocópias dos contratos para
tratarem do assunto e esclareceu que recorreram ao Jornal de Angola por a maioria dos imóveis se
encontrarem desabitados.
“As notificações por Lei são feitas duas vezes e, caso não comparecerem de livre e espontânea vontade, serão
trazidos a este gabinete sob custódia da Polícia”, alertou.
443
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
De referir que, em Junho último, o Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional anunciou a detenção
de sete supostos funcionários da Sonip que pertencem a uma rede que vendeu ilegalmente mais de cem
apartamentos nesta centralidade, sem precisar o valor que cobravam por habitação.
444
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
445
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
24 de Agosto, 2015
http://jornaldeangola.sapo.ao/regioes/malanje/lotes_de_terreno_foram_entregues_aos_desalojados
Centenas de famílias do município de Malanje beneficiaram de lotes de terreno no bairro do Mucasa de
Baixo, no âmbito do projecto de autoconstrução dirigida, revelou ontem o representante da Administração
Municipal.
Adão Soares salientou que os contemplados são antigos moradores que se encontravam em zonas de risco e
em locais não apropriados para residir.
Cada família recebeu um espaço de 15 por 20 metros, para permitir a construção das suas moradias.
O responsável assegurou ao Jornal de Angola que a entrega de terrenos às famílias desalojadas vai prosseguir
até ao final deste mês.
Outra área encontrada para alojar os cidadãos é o bairro da Quizanga, concebido para projectos de
autoconstrução, disse Adão Soares.
O representante da Administração Municipal de Malanje salientou que as autoridades vão continuar a envidar
esforços para garantir que menos pessoas estejam a viver em condições de riscos.
Além dos pontos acima referidos, a Administração vai fazer outros levantamentos para que se encontrem
terrenos que apresentem melhores condições para acomodar as famílias locais.
Adão Soares disse ser necessário a colaboração da população, que foi chamada a denunciar os cidadãos que
passam por funcionários da Administração e vendem ilegalmente terrenos
446
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
447
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Pereira Dinis |
12 de Janeiro, 2015
http://jornaldeangola.sapo.ao/reportagem/reservas_fundiarias_do_estado_invadidas_1, acessado aos 24 de
Agosto de 2015
Programa Nacional
448
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Mereceu atenção o exemplo de algumas províncias que, com os recursos disponíveis, têm conseguido
cumprir de forma satisfatória os programas dos 200 fogos por município e de auto-construção dirigida, o qual
deve ser seguido pelas regiões.
449
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
450
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
451
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
| 123 Lista elaborada pela consultora Mercer coloca a capital no topo da lista das mais dispendiosas para os
expatriados.
Por REDE ANGOLA/http://www.redeangola.info/luanda-continua-a-ser-a-cidade-mais-cara-do-
mundo/.29.08.2015 • 02h40
452
ANEXO I – Notícias do Observatório de imprensa
Luanda - Cerca de 300 casas foram demolidas na manha desta quarta-feira, 2, na zona do Zango 2,
alegadamente por ordens da deputada Welwistchia (Tchizé) dos Santos. Nem a administração municipal nem
o governo provincial de Luanda deslocaram-se ao local para averiguar a situação que, segundo algumas
fontes, pode também ter sido provocada pela intenção de transformar a área numa Zona Económica
Exclusiva.
*Coque Mukuta
136
http://club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=22080:deputada-tchize-dos-santos-
acusada-de-ter-ordenado-demolicao&catid=2:sociedade
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