Perfil Comunicativo de Seus Filhos AUTISMO
Perfil Comunicativo de Seus Filhos AUTISMO
Perfil Comunicativo de Seus Filhos AUTISMO
Descritores RESUMO
Comunicação Objetivo: Analisar a percepção de cuidadores de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo quanto ao perfil
funcional da comunicação de seus filhos em três momentos, antes e após as orientações. Método: Cuidadores
Cuidadores
de 62 crianças com diagnóstico de TEA participaram deste estudo, divididos em três grupos de intervenções.
Transtorno do Espectro Autista Todas as intervenções incluíram um programa com cinco sessões de orientação mensais pré-estabelecidas para
Transtorno Autístico fornecer informações sobre o desenvolvimento da comunicação e incentivar atividades práticas de comunicação
na vida diária. No G1, os cuidadores receberam o programa de orientação em grupo e as crianças receberam
Terapia da Linguagem terapia fonoaudiológica individual. No G2, os cuidadores receberam as mesmas orientações do programa, mas
Família individualmente, e seus filhos receberam terapia individual. O G3, composto por cuidadores de crianças que
aguardavam atendimento fonoaudiológico em lista de espera, recebeu orientação em grupo. Todos os cuidadores
responderam ao Perfil de Comunicação Funcional-Checklist (PFC-C) em três momentos: marco zero, cinco
e oito meses. Resultados: No PFC-C os pais relataram aumento na ocorrência dos meios gestual, vocal e
verbal em todos os grupos, para expressar as funções comunicativas interpessoais, exceto no G2. Nas funções
comunicativas não interpessoais, houve diminuição da ocorrência do meio comunicativo gestual, aumento do
meio verbal, sem diferença estatística entre os grupos. Quanto ao meio vocal, não houve diferença ao longo do
tempo. Conclusão: As orientações de comunicação para cuidadores de crianças com TEA contribuíram para
a compreensão do processo comunicativo em diferentes situações, por meio da detecção de diferenças em sua
percepção quanto à funcionalidade da comunicação de seus filhos.
Keywords ABSTRACT
Communication Purpose: To analyze the perception of caregivers of children with Autism Spectrum Disorder regarding the functional
profile of their children’s communication in three moments, before and after the guidelines. Methods: Caregivers
Caregivers
of 62 children diagnosed with ASD (AUTISM SPECTRUM DISORDER) participated in this study, divided into
Autism Spectrum Disorder three groups of interventions. All interventions included a program with five pre-set monthly orientation sessions
Autistic Disorder to provide information on the development of communication and encourage practical communication activities in
daily life. In G1 (group 1), the caregivers received the group orientation program, and the children received individual
Language Therapy speech therapy. In G2 (group 2), caregivers received the same program orientations but individually, and their
Family children received different treatment. G3 (group 3), composed of caregivers of children waiting for speech-language
pathology on the waiting list, received group guidance. All caregivers answered the Functional Communication
Checklist (PFC-C) in three moments: zero, five and eight months. Results: In the PFC-C the parents reported an
increase in the occurrence of gestural, vocal and verbal means in all groups, to express interpersonal communicative
functions, except in G2. In non-interpersonal communicative functions, there was a decrease in the occurrence of
the gestural communicative environment, an increase in the verbal climate, with no statistical difference between
the groups. As for the vocal climate, there was no difference over time. Conclusion: Communication guidelines for
caregivers of children with ASD (AUTISM SPECTRUM DISORDER) (Autism Spectrum Disorder) contributed to
the understanding of the communicative process in different situations, by detecting differences in their perception
of the communication functionality of their children.
Endereço para correspondência: Trabalho realizado no Curso de Fonoaudiologia, Universidade de São Paulo – USP - São Paulo (SP), Brasil.
Juliana Izidro Balestro 1
Programa de Pós-graduação em Ciência da Reabilitação, Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e
Programa de Pós-graduação em Ciência Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – USP - São Paulo (SP), Brasil.
da Reabilitação, Departamento de 2
Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade
Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia de São Paulo - USP - São Paulo (SP), Brasil.
Ocupacional, Faculdade de Medicina,
Fonte de financiamento: Agência de Fomento Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Universidade de São Paulo – USP
– CAPES, processo nº 88881.131916/2016-01.
Rua Cipotânea, 51, Cidade Universitária,
São Paulo (SP), Brasil, CEP: 05360-160. Conflito de interesses: nada a declarar.
E-mail: [email protected]
Aceito em: Julho 01, 2018 Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite
uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o trabalho original seja corretamente citado.
Tabela 1. Modelos de Equações de Estimativas Generalizadas na análise dos efeitos das intervenções ao longo do tempo na percepção
dos cuidadores quanto aos meios comunicativos (gestual, vocal e verbal) usados para expressar funções comunicativas interpessoais e não
interpessoais de seus filhos
Qui-quadrado Valor P
Variáveis gl Valor P
de Wald Corrigido
Interpessoal
Gestual
Tempo 39,8 2 <0,000001 <0,000001
Intervenção 1,5 2 0,462361 1
Tempo*Intervenção 7,7 4 0,104414 0,626484
Vocal
Tempo 36,4 2 <0,000001 <0,000001
Intervenção 1,5 2 0,467065 1
Tempo*Intervenção 11,7 4 0,019399 0,116394
Verbal
Tempo 32,9 2 <0,000001 <0,000001
Intervenção 0,7 2 0,700892 1
Tempo*Intervenção 4,8 4 0,312452 1
Não interpessoal
Gestual
Tempo 14,5 2 0,000705 0,004230
Intervenção 5,6 2 0,061443 0,368658
Tempo*Intervenção 9,1 4 0,059810 0,358860
Vocal
Tempo 3,9 2 0,140263 0,841578
Intervenção 4,4 2 0,109048 0,654288
Tempo*Intervenção 10,4 4 0,034489 0,206934
Verbal
Tempo 13,3 2 0,001322 0,007932
Intervenção 3,2 2 0,201932 1
Tempo*Intervenção 6,5 4 0,163600 0,981600
Legenda: gl = graus de liberdade
Legenda: POCC = Programa de Orientação sobre Comunicação para Cuidadores; TTOfono = tratamento fonoaudiológico; n.s. = não significativo
Figura 2. Efeitos das intervenções ao longo do tempo quanto à percepção do uso de funções comunicativas não interpessoais, expressas pelos
diferentes meios comunicativos, pelos cuidadores As setas vermelhas sinalizam o post-hoc da variável “Tempo*Intervenção”, enquanto que a
barra cinza sinaliza o efeito da variável “Tempo”. *P ≤ 0,050; **P ≤ 0,010. Os dados estão expressos como média e intervalo de confiança de 95 %
meses. Nos outros dois grupos, G1 e G3 não foram percebidas uma forma alternativa de avaliação das frequências de ocorrências
mudanças estatisticamente significativas ao longo do tempo. de cada função comunicativa e sua forma de expressão(26).
Os cuidadores perceberam o aumento da ocorrência do meio Nesse estudo, o objetivo foi avaliar, na percepção dos
verbal quando comparado ao marco zero para os cinco meses e cuidadores, a funcionalidade comunicativa de seus filhos, através
isso não mudou aos oito meses, nos três grupos, sem diferença do PFC-Checklist. Isso foi determinado pois o objetivo era
estatística entre os mesmos. verificar as mudanças nas perspectivas de pais de crianças com
distúrbios do espectro do autismo, a respeito da comunicação
DISCUSSÃO de seus filhos, a partir de um conjunto de orientações dirigidas
a esse tema.
O instrumento escolhido para o presente estudo frequentemente Sabe-se que a utilização de procedimentos que possam
é empregado para complementar a avalição do Perfil Funcional avaliar a linguagem deve ser minuciosa e de preferência
da Comunicação das crianças com TEA. O PFC-Checklist tem bidimensional(27). A avaliação da competência comunicativa
sido utilizado essencialmente por terapeutas de linguagem como inclui uma compreensão clara dos contextos onde a criança usa
que essas crianças tenham uma evolução rápida em tão pouco 8. Wetherby AM, Prizant BM, editores. Autism spectrum disorders: a
developmental, transactional perspective. Baltimore: Paul Brookes Publishing
tempo, sugerindo que provavelmente os resultados dessa pesquisa Company; 2000.
estejam relacionados aos olhares dos cuidadores. Independente 9. Hage SRV, Pinheiro LAC. Desenvolvimento típico de linguagem e
das hipóteses levantadas, isso demonstra um efeito positivo nos a importância para a identificação de suas alterações na infância. In:
três grupos de intervenções, ao longo do tempo. Lamônica DAC, Britto DBO, editores. Tratado de linguagem: perspectivas
Assim como descrito por diversos autores(19,28) e comitê contemporâneas. Ribeirão Preto: Book Toy; 2017.
em pesquisa(21) sobre intervenções dirigidas às alterações de 10. Miilher LP. Habilidades conversacionais de crianças com transtornos do
espectro autístico [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade
linguagem, foi possível identificar progresso na percepção dos
de São Paulo; 2012.
cuidadores quanto ao desenvolvimento da linguagem em termos
11. Moore C. (2014). Joint attention: its origins and role in development. New
de flexibilidade nos usos dos meios e funções comunicativas York: Psychology Press. http://dx.doi.org/10.4324/9781315806617.
por todos os sujeitos da pesquisa. Esses progressos nas três 12. Dunn W, Cox J, Foster L, Mische-Laweson L, Tanquaray J. Impact of an
intervenções propostas demandam outros estudos que busquem integrated intervention on parental competence and children’s participation
investigar não apenas a iniciativa comunicativa percebida pelos with autism. Am J Occup Ther. 2012;36(5):520-8. http://dx.doi.org/10.5014/
cuidadores, mas também o contexto e as respostas dadas a elas, ajot.2012.004119. PMid:22917118.
além do desempenho efetivo das crianças e a relação entre esse 13. Adamson LB, Bakeman R, Deckner DF, Romski M. Joint engagement and
the emergence of language in children with autism and Down syndrome. J
desempenho e a percepção dos cuidadores. Autism Dev Disord. 2009;39(1):84-96. http://dx.doi.org/10.1007/s10803-
Cabe ressaltar que uma limitação a ser considerada no presente 008-0601-7. PMid:18581223.
estudo diz respeito aos intervalos de tempo. Na tentativa de 14. Sanini C, Sifuentes M, Bosa CA. Competência social e autismo: o papel
minimizar a perda de sujeitos optou-se por antecipar a segunda do contexto da brincadeira com pares. Psicol, Teor Pesqui. 2013;29(1):99-
reavaliação, adotando um intervalo de três meses ao invés de 105. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722013000100012.
cinco meses. 15. Prutting C, Kirchner D. Applied pragmatics. In: Gallagher T, Prutting C,
editores. Pragmatic assessment and intervention issues in language. San
Diego: College-Hill Press; 1983. p. 29-64.
CONCLUSÃO
16. Bottema-Beutel K, Yoder P, Hochman JM, Watson L. The role of
supported joint engagement and parent utterances in language and social
A hipótese desse estudo, de que seria possível produzir communication development in children with autism spectrum disorder.
mudanças positivas na perspectiva com que pais de crianças J Autism Dev Disord. 2014;44(9):2162-74. http://dx.doi.org/10.1007/
com TEA percebem a comunicação de seus filhos a partir de um s10803-014-2092-z. PMid:24658867.
Programa de Orientações sobre Comunicação para Cuidadores 17. Prizant BM. Uniquely human: a different way of seeing autism. Canada:
Simon & Schuster; 2015. Kindle edition.
(POCC) de crianças com TEA pode ser considerada confirmada
a partir da detecção de diferenças na percepção dos cuidadores 18. ASHA: American Speech-Language-Hearing Association. Scope of practice
in speech-language pathology: scope of practice [Internet]. Rockville:
a respeito da funcionalidade da comunicação de seus filhos. ASHA; 2016 [citado em 2017 Nov 23]. Available from: www.asha.org/
O fato de que resultados semelhantes foram obtidos a partir de policy
diferentes estratégias de apresentação e discussão dos temas 19. Adams C, Lockton E, Freed J, Gaile J, Earl G, McBean K, et al. The Social
parece indicar que elas podem se constituir em alternativas Communication Intervention Project: a randomized controlled trial of the
que podem ser aplicadas em diferentes contexto e a diferentes effectiveness of speech and language therapy for school-age children who
have pragmatic and social communication problems with or without autism
realidades. spectrum disorder. Int J Lang Commun Disord. 2012;47(3):233-44. http://
dx.doi.org/10.1111/j.1460-6984.2011.00146.x. PMid:22512510.
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