4 A Primeira Guerra Mundial Charge e Literatura
4 A Primeira Guerra Mundial Charge e Literatura
4 A Primeira Guerra Mundial Charge e Literatura
Materiais e recursos
Aulas expositivas.
Computadores com acesso à internet.
Projetor.
Barbante.
Papel sulfite.
Lápis.
Caneta esferográfica preta.
Desenvolvimento
Quantidade de aulas: 4.
Aulas 1 e 2
Ao iniciar esta sequência didática, fazer uma breve revisão sobre a Primeira Guerra Mundial,
verificando os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema. Destacar aspectos relacionados ao
contexto histórico, as razões que levaram ao início do conflito, os países envolvidos e as fases da
guerra.
Conversar com a turma a respeito das fontes históricas e sua importância para a construção do
conhecimento histórico. Explicar que as fontes são documentos que permitem interpretar e recontar
a história. Destacar que diferentes materiais podem ser utilizados como fontes, como: fotografias,
documentos, objetos, construções, livros, relatos orais, quadros, entre outros. Explicar aos alunos
que, durante esta sequência didática, eles analisarão duas fontes históricas: as charges e uma obra
literária.
Questionar a turma sobre a características da charge enquanto gênero textual e como ela se
diferencia de outros gêneros que também recorrem à combinação de desenhos e palavras, como o
cartum e as tiras de histórias em quadrinhos. Destacar que, segundo Paulo Ramos, jornalista,
pesquisador e professor de Língua Portuguesa da Universidade Federal de São Paulo, as charges
abordam, com humor, temas do noticiário, representando figuras de maneira caricata, recriando “o
fato de forma ficcional, estabelecendo com a notícia uma relação intertextual.”.
Ressaltar que, em sua definição de charge, Paulo Ramos usa a palavra “texto”, não apenas
para se referir aos aspectos verbais (palavras) de uma charge, mas também ao desenho, pois os
elementos visuais desse gênero textual carregam significados que devem ser “lidos” e interpretados.
Assim, é importante que os alunos se atentem tanto para as palavras das legendas ou dos balões
quanto para os aspectos visuais das charges. É preciso considerar ainda que muitas vezes elas
podem conter referências não apenas a personalidades políticas, mas também a outras dimensões da
cultura. Em charges sobre a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, é comum encontrarmos
referências a figuras da mitologia greco-romana, como Marte, o deus da guerra. A compreensão
dessas referências depende muito do repertório cultural do leitor.
Sugere-se o uso de charges porque, no caso das publicadas em periódicos brasileiros, elas
oferecem a oportunidade de conhecermos a perspectiva brasileira do conflito. As criações dos
chargistas brasileiros da época, como J. Carlos (1884-1950), nos ajudam a entender a percepção que
parte dos brasileiros (pelo menos os que acompanhavam os jornais e revistas da época) teve do
conflito e a repercussão da guerra no Brasil. Embora grande parte da população brasileira da época
não lesse jornais ou revistas, é preciso lembrar que a mídia impressa tinha naqueles tempos uma
importância muito maior do que hoje. Atualmente, apesar de continuar a ser uma fonte importante
de informação, a mídia impressa perdeu muito espaço para a televisão, para a internet, e mais
recentemente para as redes sociais. Entre os jornais e revistas da época, as charges ocupavam um
lugar especial: por causa do apelo visual, elas tornavam os periódicos mais atraentes ao público, o
que foi favorecido pelo desenvolvimento das técnicas de impressão gráfica.
Projetar algumas charges para os alunos. Sugerem-se os trabalhos de J. Carlos, tanto pela
grande quantidade de trabalhos que produziu quanto por sua relevância no tema. José Carlos de
Brito e Cunha produziu centenas de charges para várias publicações da imprensa carioca. No
tocante à Primeira Guerra Mundial, merecem destaque as charges criadas por ele para a revista
Careta, publicação satírica que circulou no Brasil entre 1908 e 1960. Comentar que apesar de
produzir suas charges no Rio de Janeiro e de acompanhar o conflito com base nas notícias
veiculadas em jornais do Brasil e do exterior, para muitos estudiosos J. Carlos tinha uma visão
muito aguçada dos fatos, captando o “espírito da época”.
Dois exemplos de charges produzidas pelo artista que podem ser destacados são: uma
publicada em 25 de setembro de 1915, ainda durante a Primeira Guerra Mundial, e outra publicada
em 13 de março de 1920, no intervalo entre as duas guerras mundiais. Na charge de 1915, um
coronel alemão interroga um soldado que lhe presta continência. O diálogo entre os dois é o
seguinte:
Coronel: “Há muitos mortos?”
Soldado: “Sim, meu coronel. Estão todos espalhados pelo campo de honra.”
Coronel: “E os vivos?”
Soldado: “Os vivos estão todos enterrados nas trincheiras.”
Explicar aos alunos que se trata de uma denúncia, feita de forma irônica, a dois horrores da
guerra: o número de soldados mortos e a guerra de trincheiras, que era também uma “guerra de
nervos”, na qual muitos soldados foram vítimas de doenças, fome e traumas psicológicos.
Comentar que a charge de 1920 chama a atenção ao abordar o ressentimento dos alemães aos
termos do Tratado de Versalhes. Acredita-se que J. Carlos teria antecipado a noção do
ressurgimento do nacionalismo alemão, que assumiria a forma de nazismo. Nessa charge de 1920,
dois senhores alemães conversam numa mesa de cervejaria; abaixo da imagem, a legenda: “Pelo
livro do General Ludendorf vê-se claramente que se Deus não tivesse errado tanto seríamos nós os
vitoriosos”.
Sugere-se que a parte expositiva seja desenvolvida em uma aula.
Selecionar previamente algumas charges sobre a Primeira Guerra Mundial (ver seção
Ampliação). Caso necessário, reforçar algumas informações históricas que contribuam para uma
maior compreensão das charges.
Solicitar a cada aluno que escolha uma das charges apresentadas e propor questões para
interpretação, como:
O que a charge mostra?
Quem aparece nela?
Onde e quando essa cena se passa?
A que fato ou episódio da Primeira Guerra Mundial ela se refere?
Que referências ou detalhes da charge o ajudaram a chegar a essa conclusão?
O que aparece escrito na charge? Onde? (legenda com falas, diálogos, títulos, citações ou
indicações com informações referentes a aspectos específicos da charge).
O que a charge critica ou ironiza?
Sugere-se que essa atividade ocupe uma terço da aula. Passado esse tempo, iniciar uma
correção comentada, solicitando que os alunos compartilhem suas respostas.
Retomar a explicação sobre a definição de charge e solicitar aos alunos que produzam uma
charge sobre o tema estudado. Sugere-se que os alunos utilizem folhas de papel sulfite, e lápis. Ao
final, poderão fazer o contorno do desenho e textos elaborados usando caneta esferográfica preta.
Aula 3
Orientar os alunos a montarem uma exposição com as charges produzidas na aula 2. Sugere-
se que ela seja feita com as produções penduradas em um varal de barbante na sala de aula. Esta
etapa deverá ser desenvolvida em um terço da aula.
Com a exposição organizada, pedir a cada aluno que comente sobre a charge que criou.
Perguntar sobre referências a aspectos ou episódios do conflito que serviram de inspiração para os
trabalhos. Se possível, fazer um registro fotográfico ou audiovisual da exposição para ser publicado
nas redes sociais da escola.
Aula 4
Nesta aula os alunos terão contato com outra fonte histórica: uma obra literária.
Ressalta-se que a diversidade de fontes históricas enriquece a aula e valoriza outros aspectos
da Primeira Guerra Mundial, que ultrapassam as esferas política e econômica. Nesse sentido, busca-
se explorar os aspectos ligados ao cotidiano, seja dos combatentes no front, seja de seus familiares
fora dos campos de batalha. Valorizar essas perspectivas auxilia na compreensão do impacto da
Primeira Guerra Mundial para essas pessoas e toda a humanidade.
O enfoque no cotidiano também contribui para aproximar os alunos do conteúdo estudado e
torná-lo mais interessante: eles tendem a perceber que a história é feita não apenas por
personalidades famosas, mas também pelas pessoas comuns. Cria-se, assim, uma empatia entre eles
e as pessoas que viveram há cerca de cem anos. Ao mesmo tempo, os alunos percebem que o
conteúdo estudado não se reduz a uma lista de datas e nomes de batalhas.
Dessa forma, sugere-se a leitura de algum trecho do livro Nada de novo no front. O romance
ficcional foi escrito pelo alemão Eric Maria Remarque (1898-1970), que serviu no exército de seu
país durante a Primeira Guerra Mundial. Ao trabalhar o trecho escolhido, fazer um breve resumo da
relação do autor com a guerra. Comentar que Eric Maria Remarque baseou-se em sua própria
experiência e na de outros combatentes para escrever o romance. A obra foi publicada pela primeira
vez em 1929 e é de cunho pacifista, razão pela qual exemplares do livro foram queimados em praça
pública na Alemanha durante a ditadura nazista. Em 1933, com a chegada de Hitler ao poder, o
escritor teve cassada sua cidadania alemã. Para fugir da perseguição política, Remarque exilou-se
na França, mudou-se depois para a Suíça, e, finalmente, estabeleceu-se nos Estados Unidos. A
seguir, sugere-se um trecho da obra que pode ser trabalhado em sala de aula:
Vemos homens ainda vivos que não têm mais a cabeça; vemos soldados que
tiveram os dois pés arrancados andarem tropeçando nos cotos lascados até o
próximo buraco; um cabo percorre dois quilômetros apoiando-se apenas nas
mãos, arrastando atrás de si os joelhos esmagados; outro, chega até o posto
de primeiros socorros e, por sobre as mãos que os seguram, saltam os seus
intestinos. Vemos homens sem boca, sem queixo, sem rosto; encontramos
um homem que, durante duas horas, aperta com os dentes a artéria de um
braço para não ficar exangue. O sol se põe, vem a noite, as granadas
assobiam e a vida chega ao fim.
REMARQUE, Erich Maria. Nada de novo no front. São Paulo: Círculo do Livro, 1975. p. 107.
Apesar de ficcional, a obra é verossímil, pois se baseia em experiências pessoais do próprio
autor, que testemunhou esses episódios. Com base em um trecho como o citado, pode-se chamar a
atenção dos alunos para o fato de que as baixas numa guerra não abrangem apenas aqueles que
morreram nos campos de batalha, mas também aqueles que se feriram, sobreviveram, mas voltaram
da frente de batalha mutilados ou desfigurados. Além dos que sofreram feridas físicas, há ainda os
que voltaram com “feridas psicológicas” ou sequelas do que hoje é chamado de “estresse pós-
traumático”.
Como possibilidade, pode-se promover uma discussão sobre a obrigatoriedade do serviço
militar. Explicar que o fato do alistamento militar ser obrigatório em um país, não significa que
todos os jovens em idade de serviço militar irão efetivamente prestá-lo. No Brasil, por exemplo, o
alistamento é obrigatório para rapazes de dezoito anos de idade, mas a maioria deles é dispensada
por excesso de contingente ou por outras razões, como problemas de saúde ou por ser o jovem
arrimo de família.
Comentar que as pessoas favoráveis à adoção do serviço militar voluntário consideram que
essa medida resultaria em um exército mais qualificado profissionalmente. Já os que defendem a
continuidade do alistamento obrigatório, alegam que caso o serviço militar se tornasse voluntário,
isso significaria mais impostos para o contribuinte, pois seria necessário que esse exército fosse
melhor remunerado. Por outro lado, como costuma ocorrer em tempos de guerra, nos países onde o
serviço militar é voluntário, pode haver pressões sociais para que todos se alistem (no próprio livro
de Remarque essa situação é descrita, pois o jovem que se recusasse a se alistar corria o risco de ser
marginalizado).
Após a discussão, propor aos alunos as questões a seguir.
1. Em sua opinião, o alistamento no serviço militar deve continuar obrigatório ou deveria se tornar
voluntário? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal. O objetivo da questão é incentivar a reflexão e o posicionamento do aluno a respeito da
obrigatoriedade do serviço militar. Avaliar se na argumentação, ele apresenta um posicionamento e justifica
suas ideias.
2. Uma situação como a descrita no trecho apresentado da obra de Remarque é verossímil, isto é,
poderia realmente ter acontecido? Justifique sua resposta.
Resposta: Sim, pois se baseia em experiências pessoais do autor, que testemunhou a situação.
3. Com base em seus conhecimentos sobre a Primeira Guerra Mundial, imagine-se no lugar de um
soldado ou do familiar de um soldado no campo de batalha e escreva uma carta a um destinatário
imaginário. Nessa carta devem constar data, local e informações históricas.
Resposta pessoal. Avaliar se o aluno escreveu o texto com base nas características do gênero textual
solicitado e se as informações presentes no texto são verossímeis.
A aula pode ser finalizada com os alunos lendo suas cartas para a turma.
Avaliação
Participação em sala de aula (assiduidade e interação).
Análise das charges.
Produção de charge sobre a Primeira Guerra Mundial.
Atividades propostas durante as aulas.
Carta sobre Primeira Guerra Mundial.
Para auxiliar na avaliação sugerem-se as fichas e as questões a seguir.
Ficha para o professor
Nome do(a) aluno(a):
________________________________________________________________________________________
1. Participou dos momentos de conversa propostos nas aulas? ( ) Sim. ( ) Não.
2. Por que as narrativas sobre a vida cotidiana durante a Primeira Guerra Mundial contribuem para
que se tenha uma visão mais completa desse acontecimento?
Resposta: Porque essas narrativas nos ajudam a compreender melhor a dimensão do que foi e representou a
Primeira Guerra Mundial no cotidiano das pessoas e quais foram seus impactos para a humanidade.
Ficha de autoavaliação
1. Participei ativamente das atividades propostas. ( ) Sim. ( ) Parcialmente. ( ) Não.
2. Respeitei os acordos estabelecidos. ( ) Sim. ( ) Parcialmente. ( ) Não.
3. Posicionei-me criticamente com base em ( ) Sim. ( ) Parcialmente. ( ) Não.
princípios éticos, democráticos, inclusivos,
sustentáveis e solidários.
Ampliação
BIBLIOTECA NACIONAL. Acervo digital de edições da revista Careta. Disponível em:
<http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_periodicos/careta/careta_anos.htm>. Acesso em: 14 nov.
2018.
KINCELER, Jeverson Maschio. A Primeira Guerra Mundial sob uma ótica brasileira: análise
das charges de J. Carlos publicadas no periódico Careta. Disponível em:
<http://universidadetuiuti.utp.br/historia/Tcc/rev_hist_11/pdf_hist_11/mono_7.pdf>. Acesso em: 13
nov. 2018.
LOREDANO, Cássio (Org.); DAPIEVE, Arthur. J. Carlos contra a guerra: as grandes
tragédias do século XX na visão de um caricaturista brasileiro. Rio de Janeiro: Casa da Palavra,
2000.
MEU FILHO Jack. Direção de Brian Kirk, 2007. Guerra. 93 min. Baseado na história do
tenente britânico John Kipling (1897-1915), que morreu na Batalha de Loos durante a Primeira
Guerra Mundial. John era filho do escritor Rudyard Kipling (1865-1936).
REMARQUE, Erich Maria. Nada de novo no front. Tradução: Helen Rumjanek. São Paulo:
Círculo do Livro, 1975.
ROMANZOTI, Natasha. Antes e depois: fotos mostram como essa mulher mudou a vida de
veteranos da Primeira Guerra Mundial ao “restaurar” seus rostos. Hypescience. 14 ago. 2018.
Disponível em: <https://hypescience.com/essa-escultora-mudou-a-vida-de-veteranos-da-primeira-
guerra-mundial-restaurando-seus-rostos/>. Acesso em: 15 nov. 2018. Notícia apresenta fotografias
sobre o trabalho de Anna Coleman Watts Ladd, escultora estadunidense radicada na França que
produziu próteses e máscaras para combatentes da Primeira Guerra Mundial desfigurados ou
mutilados por causa de ferimentos.