Arte Paleocrista

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ARTE

PALEOCRISTÃ
Lenta maturação

A consagração do tabernáculo e
sacerdotes, sala de reunião da
sinagoga de Dura-Europos, c.250
A.C

Praça Romana na fronteira do


Império - junto ao rio Eufrates

Diversas religiões greco-orientais no Império Romano

No séc. I conjuntamente com o Cristianismo existia


Judaísmo, Mitraísmo,
Maniqueísmo, Gnosticismo, etc…
Expansão do cristianismo
Parte da rede de Catacumbas de Roma
– construção ao longo dos primeiros séculos

Local de cemitério e não de refúgio


Edito de Milão

313 d.c.

«Eu, Constantino Augusto, eu,


Licinius Augusto, decididos a
garantir o respeito e reverência
pela divindade, concedemos aos
cristãos e a todos os outros o
direito de seguir livremente
qualquer forma de culto que
pretendam, para que, qualquer
que seja a divindade nos céus,
ela nos seja favorável, assim
como a todos aqueles que
dependem da nossa autoridade».
Intenções de Constantino

Tornar Cristianismo religião oficial daí conceder


múltiplos privilégios imunidades militares e de cargos
oficiais isenção de impostos e direito de herança.

Constantino pretendia que o Imperador fosse o vigário de


Deus e, “com a ajuda de Deus, imitava Deus segurando o
leme de todas as coisas terrenas”.

“Todos podiam apreciar quanta fé em Deus se continha na sua


alma, só de ver como nas suas cunhagens no ouro, o seu
retrato estava concebido como uma imagem que dirigia o seu
olhar para o alto, desejando ardentemente a Deus na sua
oração”

O retrato era, de facto, inspirado na imagem de Alexandre


Magno.
Cristo – Sol
Vinha (Dionisos – Cristo)
O Bom Pastor – pintura mural (sec. II/III)
Catacumba de Priscila
Santa Maria degli Angeli, Roma

A forma basilical tornou-se norma para as


igrejas do Ocidente e já estava desenvolvida
nas termas de Diocleciano transformada
por Miguel Ângelo em 1563.
A Forma Basilical

A
2 2
C

1
B

BASÍLICA DE MAXÊNCIO
E CONSTANTINO, ROMA, 306-312
A - Projecção axonométrica da basílica
B - Corte transversal
C - Planta do conjunto
1 - Nave central
2 - Naves laterais
3 - Ábside
ESQUEMA DE BASÍLICA
PALEOCRISTÃ

Legenda

A – Nave central; B – Naves laterais;


C – Cátedra (sedes); D – Ábside;
E – Altar; F – Coro com cancelas;
G – Ambões; H – Transepto; I – Nartex;
J – Atrium; K – Corredores com colunas;
L – Fonte.
Igreja do Santo Sepulcro (Jerusalém)
c. 312 dC
Treveris

Antigo palácio imperial de Trier (Trèves,


Treveris), construído por Constantino c. 300
Igreja de Santa Constança, Roma

Terá sido um monumento funerário pagão.


Com as mudanças do tempo de Constantino
foi transformada em templo cristão.
A planta circular ou octogonal generalizou-se
na construção de martirium e baptistérios .
Planta do Mausoléu de Santa
Constança

A planta dos mausoléus (martiria) e dos baptistérios era


muito próxima.
Rotunda circular, com colunata a separar o espaço central.
Cobertura com abóbada de berço.
1 – vestíbulo
2 – Colateral
3 – Centro abobadado
Mausoléu de Santa Constança
interior
Baptistério de Ravena
(planta octogonal)
Baptistério de Ravena (sec. V , inicio) - Mosaico da
cúpula

A forma octogonal corresponde ao símbolo do 8,


número da Ressurreição, porque foi oito dias depois da
entrada em Jerusalém que Cristo se “levantou” do túmulo.
S. João de Latrão (actual)
S. João de Latrão - mosaico da cúpula

“Como suspira a corça


pelas águas corrente, assim
a minha alma suspira por ti,
ó Deus” Sal. 42, 1)

Os quatro rios do Paraíso


onde a corça vai beber
Igreja de S. Pedro ( 337 –350)
reconstituição

A capela do apóstolo era de ouro e mármores preciosos,


a abside estava decorada com mosaicos de ouro. O altar
estava coberto de prata e quatrocentas pedras
preciosas.
Legenda:
“A sede da justiça, a casa de fé, a sala da modéstia, assim é [a igreja]
que vedes, a morada de toda a piedade. Proclama a sua alegria e o seu
orgulho nos méritos do Pai e Filho, pois a ambos honra por igual como
seus fundadores”
Aula Palatina de Treveris (310)

Porta Nigra (Treveris), finais do séc. III


Aparelho formado por grandes blocos
de pedra torres semicirculares salientes
e vãos repartidos por colunas
embebidas. Primeiro edificação militar,
foi transformada em igreja com a
junção de uma abside.
S. Pedro, o Velho. Roma
consag. 326 (Constantino)
S. Lourenço, Milão ( sec. IV - finais)
Ornamentação
arquitectónica
(Capitéis)
Ornamentação
arquitectónica
(baixos relevos)
Vida quotidiana rural
A prosperidade da vida do Império
reflectia-se nas grandes
construções privadas, com
estrutura fortificada de grandes
torres nos ângulos, e rodeada por
edifícios de apoio ao proprietário e
ao seu quotidiano de combates e
caçadas.
Antes do século II
não havia
representações cristãs
a não ser
nas catacumbas
Catacumba de São Calisto
Catacumba de Santa Cecília

A escultura é uma cópia da que ali


foi colocada no século XVI
CRIPTA DOS PAPAS
É o lugar mais sagrado e importante das catacumbas,
chamado "o pequeno Vaticano“, porque aí foram
sepultados 9 papas e, provavelmente 8 dignitários da
Igreja do 3º século. Em 4 lápides, ao lado do nome do
pontífice há o título de "bispo", porque o Papa era
considerado o chefe da Igreja de Roma, e, em duas
lápides, há também a abreviatura grega "ΜΡΤ" (mártir).
Pequenos cubicula nas catacumbas
destinados a cerimónias funerárias
e manifestações de culto.
Catacumba de Domitilla
Um dédalo de corredores para receber
os restos mortais, primeiro dos romanos
pagãos e depois dos cristãos.
Catacumba de Domitilla

Sala do Bom Pastor


SIMBOLOGIA
CRISTÃ
MAIS
SIGNIFICATIVA
NOS TRÊS
PRIMEIROS
SÉCULOS
Desde a
Criação de Adão e Eva
até à
Ressurreição
os momentos mais
significativos
são representados
nas Catacumbas
com recurso a partes
do
Antigo Testamento
e do
Novo Testamento.
Na arte das catacumbas encontramos
as seguintes cenas do
Antigo Testamento:
Criação de Adão e Eva ( Gn. 1, 26-28; 2, 20-25)
Noé e o dilúvio (Gn. 8, 6-11)
Abraão e o sacrifício de Isaac (Gn. 22, 1-18)
Moisés e o Êxodo do Egipto (Ex. 14; 17, 1-7)
Daniel na cova dos leões (Dn. 6, 1-23)
Três jovens na fornalha (Dn. 3)
História de Jonas (Jn.)

Novo Testamento
Nascimento de Cristo
Adoração dos Magos
Virgem e o Menino
Baptismo de Cristo
Bodas de Caná
Cristo e a Samaritana
Cura do paralítico
Cura do cego
Ressurreição de Lázaro
Entrada em Jerusalém
Última Ceia
Negação de Pedro
Cristo perante Pilatos
Crucificação
Ressurreição
Representações
de
Cristo

A imagem cristológica
mais frequente é a do

Bom Pastor
O pastor
transportando aos
ombros uma ovelha
refere-se a uma
parábola
fundamental em que
Cristo se compara a
um pastor que
procura a ovelha
tresmalhada e se
alegra quando a
encontra e regressa
com ela aos ombros
(Lc. 15).
A imagem cristã
recupera a figura do
Moscóforo presente
na arte grega.
Figuras do AT
(Abraão, Moisés,
David, etc.,) também
eram pastores.
A figura do Bom Pastor é reutilizada a partir
da lenda do pastor Endimion por quem
Selene, a deusa da lua, se apaixonou (Selene
= Grega / Luna = Romana).

Sarcófago, Selene e Endimion. c. 210

Moscóforo, c. 560 a. C
Outras representações

O Bom Pastor.
Figura gravada numa pedra tumular
Bom Pastor
Catacumbas de Priscila, Roma, séc. III.
Esta alegoria bíblica foi colher a forma gráfica
no Moscóforo grego e segue a técnica da pintura
mural romana
Nesta lâmpada de óleo (azeite) há,
além do Bom Pastor, uma bordadura
com folhas de videira e uvas, símbolos
bíblicos referentes à cepa de que os
cristãos são o fruto (Jo. 15).
Cristo é também caracterizado como
“a luz do mundo” (Jo. 8, 12; 9, 5)
Bom Pastor,
na
Catacumba
de Calisto.
(Início do século
III)
O pote evoca
Cristo como
fonte de água
viva (Jo. 4, 10)

Bom Pastor
entre
duas árvores,
um salgueiro
e uma oliveira.
Outro símbolo frequente
nos três primeiros séculos é o

CRISMON

Monograma do nome de Cristo em


grego. Aparece no começo do séc. IV,
composto pela sobreposição das letras
X (khi) e P (ró).
Mais tarde foi acrescentado o α (alfa)
e o ω (omega) símbolos do poder de
Deus, começo e fim de todas as coisas.
Outras imagens do Crismón

Crismón rodeado
por uma coroa
de palma, que
evoca a salvação
e por dois rios
que evocam a
água viva (Jo. 4,
10; 7, 38; Ap. 21,
5).
Nesta cena, inscrita num túmulo de
finais do séc. IV, surge uma cruz sob o
crismón, rodeado por uma coroa de
palma, cursos de água viva e pombas.
Os soldados evocam os romanos
adormecidos na ressurreição de Cristo.
O ORANTE
(Homem de pé, a orar com as mãos levantadas)
é outra referência a Cristo

A posição de pé evoca a ressurreição,


a capacidade de avançar. A túnica
branca representa a pureza de Deus.
Nesta imagem, além do Orante,
vê-se uma pomba (o dom do Espírito)
que traz um ramo de palmeira (a vida
eterna)
O PEIXE
Símbolo clássico
nas primeiras
imagens cristãs,
recuperando
o seu significado
positivo na
cultura judaica.
Peixe escreve-se,
em grego,

Ichtus, (ιχθος
ιχθος)
ιχθος
o que permitiu
criar a sigla:

I - Iesus(Jesus)
ch - Christo
t - Theo (Deus)
u - Uios (filho)
s - Soter (salvador).
A ÂNCORA

Ilustração do versículo da Carta aos


Hebreus:
“Essa esperança está dentro de nós como
uma âncora da vida, uma âncora
segura e firme” (Hb. 6, 19)
A âncora está, nesta imagem,
completada pelo símbolo dos
peixes, como a acentuar o seu
significado
A POMBA
segura no bico ou nas patas um ramo
de oliveira, como na descrição de Noé (Gn. 8, 11).
A referência põe também em destaque o significado
do azeite de oliveira, que alumia as lâmpadas
(palavra de Deus), conserva os alimentos e alimenta.
Cristo é também comparado a uma oliveira (Ap. 11)
A FÉNIX

Símbolo de origem não bíblica.


Na mitologia clássica a Fénix
é a ave que renasce das cinzas.
É reutilizada na simbologia cristã
como uma alusão à ressurreição.
Moisés fazendo brotar a água do rochedo

Pintura do cemitério de Commodilla, Roma,


meados do século IV
Cristianização dos temas iconográficos
pagãos

Banquete ou ceia funerária, cerimónia


pagã adaptada ao ritual cristão
representado numa parede do cemitério
de Santi Pietro e Marcelino, finais do
século III
Bom Pastor
Catacumbas de Priscila, Roma, sec. III.
Esta alegoria bíblica foi colher a forma gráfica
no Moscóforo grego e segue a técnica da pintura
mural romana
Noé e a arca
Meados do século IV
Catacumba de Santos Pedro e Marcelino
Passagem do Mar Vermelho
Meados do século IV
Catacumba da Via Latina
Cenas da vida de Jonas
e retratos dos filhos
de Constantino
Taça de vidro dourado
de meados do século IV
encontrada em Colónia
A

BASÍLICA

CRISTÃ
A partir de 313
com o Édito de Milão
começa a construção de edifícios
basilicais, sobretudo em Roma e
na Palestina.
O culto era praticado,
anteriormente, em locais discretos
ou, eventualmente, em zonas de
sepultamento, como as
catacumbas, onde existem
testemunhos de decoração com
simbologia cristã.
BASÍLICAS CONSTANTINIANAS
(séc. IV)

Concentração do esforço artístico no interior e quase total


despojamento decorativo do exterior.

Forma de caixa da nave principal.

Cobertura de madeira, horizontal, apoiada em vigas, retirando às


colunas qualquer função estrutural.

Eventual persistência de frontões sobrepujando a fachada.

Profundidade dado pela orientação longitudinal e organização das


colunatas, compostas por colunas lisas, com capitéis jónicos ou
coríntios,

O equilíbrio da largura e da altura contribuem para orientar o


olhar do espectador para o lugar mais importante da basílica:
o altar.

Reduzida iluminação, proveniente de fenestrações abertas nas


paredes superiores sobre o intervalo das colunas, deixando as naves
laterais na penumbra.

Os elementos ópticos distinguem os dois tipos basilicais (cristão do


pagão) com o aproveitamento de uma luz difusa no interior e
utilização da painéis de alabastro e mármore sob e diante das
fenestrações. Implica uma desmaterialização da arquitectura.
Significado litúrgico das novas
formas arquitectónicas

A construção em profundidade, com o paralelismo das


naves laterais, e das fieiras de colunas tem por fim realçar o
altar, lugar da transubstanciação no sacramento da
Eucaristia, opondo-se aos templos romanos pagãos onde o
lugar da divindade inclui uma estátua.

Substituição do concreto por um elemento espiritual.

As basílicas são lugares de reunião de uma assembleia


que participa numa celebração eminentemente espiritual.

A iconografia dos frescos e mosaicos procura integrar o


significado sacramental e litúrgico do conjunto.

O transepto tem significado litúrgico permitindo a


aproximação às relíquias colocadas no altar e recuperando
o sentido do contacto directo dos fiéis com os sarcófagos,
tal como ocorri nas catacumbas.
Basílica romana (Ulpiana, séc. II d. C.) e basílica cristã (Santa
Sabina, 422-432)
A diferenciação dos objectivos.
Directriz humana do espaço cristão e função do edifício na
perspectiva romana
Basílica de Santa Sabina
a importância dos elementos ópticos
Planta da antiga basílica de S. João de Latrão
(consagrada em 324 pelo Papa Silvestre)
S. João de Latrão
( fresco em San Martino in Monte)
Modelo de planta universal

Planta de conjunto reconstituída da antiga Igreja


de São Pedro, Roma. Precedida por um atrium,
a basílica constantiniana era dividida em cinco naves
por quatro colunatas idênticas, com uma nave central
duas vezes mais larga do que as colaterais.
Um transepto monumental de braços salientes
precede a grande abside.
1 Atrium ladeado por pórticos; 2 Pia encimada
por um cimborium; 3 Pórtico-nártex; 4 Basílica de
cinco naves; 5 Pequena capela; 6 Transepto; 7 Abside
BASÍLICAS ORIENTAIS

Belém, Igreja da Natividade


( a negro, construção constantiniana)

Assemelham-se às basílicas ocidentais pelas cinco naves, mas


diferenciam-se pela ausência de transepto e modificação da abside,
frequentemente octogonal.
Basílica de S. Pedro de Roma (planta)

túmulo

Como a basílica de S. Pedro de Roma,


as monumentais basílicas de Constantino
caracterizavam-se por terem um átrio
e colunatas interiores.
Um lugar sagrado - o túmulo de um santo,
por exemplo - indica o ponto fundamental do templo.
Culto dos mortos

Túmulo da família Caetenni descoberta


sob a Basílica de S. Pedro
Sarcófago de Julius Achileus

Paraíso campestre no sarcófago de Julius


Achileus, treinador de gladiadores

A imagem da felicidade na “outra


vida” é tema e forma recuperada
pelos cristãos.
Rapto de Europa

A morte, considerada como separação violenta da alma do corpo,


era representada pelos romanos como uma cena de rapto.
Neste mosaico, o Rapto de Europa, encontrado numa cidade romana
em Inglaterra
Trabalhos de Hércules

A ressurreição para a vida eterna, como triunfo sobre a morte, era


representada por um dos trabalhos de Hércules. Neste baixo relevo,
a descida aos infernos para resgatar Alceste.
Culto das relíquias

Cripta da antiga basílica de S. Pedro com o altar da


época constantiniana e baldaquino característico da
igreja cristã primitiva (reconstituição).
O «edifício dentro do edifício».
Presume-se que as quatro coluna foram trazidas do
Templo de Salomão, em Jerusalém.

Baldaquino e colunas do templo de Salomão


Maiestas Augusti e Maiestas
Christi

A ornamentação reflecte o carácter militante e triunfal da


Igreja, com destaque para a zona do arco triunfal e coro.

As relíquias dos mártires, enterradas debaixo dos altares,


tornam-se objecto de grande veneração, equiparando-se,
em importância à própria liturgia.

O imperador Teodósio e seus filhos


Pantocrator no mosaico de Santa Pudenziana,
em Roma

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