Projeto Videira - Tony Payne & Collin Marshal
Projeto Videira - Tony Payne & Collin Marshal
Projeto Videira - Tony Payne & Collin Marshal
O Projeto Videira
define um modelo que é tanto radical quanto administrável para a igreja local.
Em vez de levar-me a sentir culpado ou deprimido, a leitura me revigorou e
refrescou minha paixão pelo ministério do evangelho ‘no chão de igreja’!”
— David Helm, pastor da Igreja da Santíssima Trindade
(Chicago/EUA)
“Certos autores conseguem dialogar com o leitor, antecipando suas dúvidas,
trazendo respostas claras e propostas práticas. Neste livro, o leitor encontrará
este tipo de diálogo construtivo, interessante e desafiador que valoriza a
Palavra de Deus e o caminho do discipulado. Vale destacar que não é uma
proposta pronta, mas um esboço que permitirá ao leitor interagir, adaptar à
sua realidade e aplicar com muita firmeza teológica. Projeto Videira mostra
sua intenção de formar discípulos de Cristo, a partir da exposição da Palavra
de Deus. Este livro é mais um bom exemplo da possibilidade de ter fidelidade
às Escrituras com a prática do discipulado.”
— Leonardo Sahium, pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea
(Rio de Janeiro/RJ)
“Aquilo que já era bom em A treliça e a videira fica ainda melhor em Projeto
Videira. Não me sinto apenas feliz, mas obrigado a recomendar a nova obra
de Marshall e Payne. Prático, o livro nos apresenta respostas e convicções
para todos que almejam excelência no discipulado.”
— Wilson Porte Jr, pastor da Igreja Batista Liberdade
(Araraquara/SP)
“O livro que você tem em mãos é a sequência que faltava. A treliça e a
videira, obra aclamada que antecede a esta, esboçou de forma esplêndida o
que Mark Dever chamou de “uma mudança crucial que é necessária à
maneira de pensar de muitos pastores”. Agora, em Projeto Videira, toda a
sabedoria pastoral, a enorme sensibilidade humana e a forma tão sensacional
de escrever de Colin Marshall e Tony Payne ressurgem — de um jeito ainda
mais prático; de fato, como um manual — para auxiliar pastores e igrejas no
cumprimento da Grande Comissão de Jesus: fazer discípulos. Enquanto no
primeiro livro nós fomos apresentados a ‘uma mentalidade de discipulado
que muda tudo’, neste nós aprenderemos a cultivar ‘uma cultura de
discipulado’ que dará forma ao ministério e à igreja. Sensacional!”
— Leandro B. Peixoto, pastor da Segunda Igreja Batista
(Goiânia/GO)
“A vocação da igreja é fazer discípulos, e para criar uma cultura de
discipulado é preciso mudar as convicções e as práticas que por vezes operam
como obstáculos à missão. Colin Marshall e Tony Payne apresentam
proposições e argumentos muito bem fundamentados na Palavra de Deus
como também oferecem preciosas diretrizes práticas para promover o
crescimento da igreja através do discipulado. Crescimento, uma metáfora
biológica, demanda tempo, envolve processo e exige paciência. O
crescimento vem de Deus, mas plantar e regar são responsabilidades
humanas. O discipulado é essencial para vida da igreja e esse livro nos ajuda
a entender e aplicar essa verdade.”
— Judiclay Santos, pastor da Igreja Batista do Jardim Botânico (Rio de
Janeiro/RJ)
“Em meio a tanta confusão e heresias que usam o discipulado de forma
equivocada, Colin Marshall e Tony Payne presenteiam a igreja com um guia
sólido e prático capaz de nos tomar pela mão e caminhar conosco na
importante tarefa de criar uma cultura de discipulado em nossa vida e em
nossas igrejas.”
— Filipe Niel, pastor da Igreja Batista Vida Nova
(Caldas Novas/GO)
Sumário
Agradecimentos
Preparando o Cenário
A grande questão
Mudando a cultura
Fase 1 | Aprofundando as Convicções
Introdução
Convicção 1: Por que fazer discípulos?
Convicção 2: O que é um discípulo?
Convicção 3: Como se faz um discípulo?
Convicção 4: Quem faz discípulos?
Convicção 5: Onde fazer discípulos?
Resumo
Fase 2 | Reformando sua Cultura pessoal
Reformando sua cultura pessoal
Fase 3 | Avaliaçãohonesta e Amorosa
Avaliação honesta e amorosa
Fase 4 | Inovar e Implementar
Introdução
Área de foco 1: tornar o domingo uma referência
Área de foco 2: criar caminhos que promovam o avanço
Área de Foco 3: Planejar para o crescimento
Área de foco 4: criar uma nova linguagem
Fase 5 | Manter o Ímpeto
Manter o ímpeto
Epílogo
Apêndices
Apêndice 1 | A treliça e a videira: o que você perdeu?
Apêndice 2 | Repensando pequenos grupos
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Recursos adicionais
Agradecimentos
Ao escrever um livro sua mente se concentra nisso. E escrever um livro sobre
como proceder como servos de Deus, na igreja e em nome de Cristo,
realmente faz com que foquemos mente e coração. Estamos sendo fiéis à
mente revelada de Deus?
Tony e eu não escrevemos Projeto videira em nossos escritórios. Os
últimos anos desde que A treliça e a videira1 foi publicado foram de
conversas contínuas sobre a vida cristã, a igreja e o ministério. Tem sido
desafiador, humilhante, às vezes agonizante e, sobretudo, exultante. Somos
extremamente gratos aos milhares de pastores e presbíteros que dialogaram
conosco em oficinas, conferências e seminários em todo o mundo.
Também queremos reconhecer pessoas específicas que investiram tempo e
reflexão nessa conversa.
Cerca de 40 pastores aceitaram meu convite para orientar seus ministérios
enquanto tentavam implantar os princípios de A treliça e a videira em suas
igrejas. Essa experiência de ver em primeira mão igrejas muito diferentes
lidando com novas formas de pensar e agir foi inestimável.
Uma dúzia de pastores analisou as primeiras versões do material e
ofereceu feedback detalhado e nos encorajou para continuar. Essa
contribuição aperfeiçoou nossa compreensão de ministério e moldou
significativamente o produto final.
Gary Bennetts, Stuart Holman e Greg Peisley passaram um ano inteiro
usando as primeiras versões deste material, não apenas em suas próprias
igrejas, mas também como mentores em igrejas vizinhas. Steve Lindemann
nos preparou para entender o processo de mudança cultural ao longo do
caminho. Eu sempre aguardava com expectativa as nossas reuniões mensais,
pois elas nos ajudaram a tornar a coisa toda mais utilizável (assim espero).
Phil Colgan e Gary Koo, pastores das igrejas locais onde Tony e eu
estamos envolvidos, nos encorajaram a ensinar e experimentar essas ideias,
porque eles são totalmente dirigidos pelas mesmas convicções. Nós
precisávamos desse espaço para trabalhar com pessoas e grupos enquanto
escrevíamos sobre o ministério. Obrigado, Phil e Gary!
Também somos muito gratos aos oito pastores que concordaram em ser
entrevistados sobre seus ministérios e permitir que trechos dessas conversas
fossem incluídos no livro.
Recentemente, Andrew Heard e Craig Tucker passaram horas lendo nosso
esboço e nos enviaram feedback detalhado. Eles têm vivido este projeto por
muitos anos como pastores cuja prática ministerial deriva de profunda
reflexão teológica. Eles continuarão sua crítica construtiva a este livro muito
depois de sua publicação, para benefício de todos nós. Dois outros amigos
merecem menção especial. Um de nossos jovens escritores teologicamente
afiados, Guan Un, trabalhou longa e proveitosamente sobre o tema do
discipulado para produzir artigos que moldassem o que você está prestes a
ler. E meu colega Craig Glassock está construindo a comunidade de apoio
online que será de grande benefício para todos os que embarcam neste
projeto. Sua paixão pelo discipulado não tem limites.
Também somos muito gratos à equipe da Matthias Media (especialmente a
editora-chefe, Emma Thornett), que não apenas trabalhou arduamente para
tornar este livro uma realidade, mas tem praticado seus princípios por quase
três décadas na publicação de recursos ministeriais para discipulado. De fato
(como você descobrirá), não conseguimos deixar de recomendar e elogiar os
recursos da Matthias Media em vários pontos ao longo do livro. Esses são
recursos que conhecemos e confiamos — esperamos que você não se
incomode com nosso entusiasmo e defesa da nossa casa.2
E o que posso dizer sobre o Tony? Simplesmente que o texto final é dele.
Alguém teve que transformar essa conversa de seis anos em um todo
coerente. Tinha que ser alguém que carrega essas convicções no sangue por
décadas e alguém que estuda e escreve sobre essas coisas desde sempre.
Quando lia o manuscrito de Tony, dizia a mim mesmo: “Sim, é exatamente
isso que queremos dizer, e o que, em nome de Deus, precisa ser dito a essa
hora”.
A Deus seja a glória!
Colin Marshall, fevereiro de 2016.
Colin Marshall e Tony Payne, A treliça e a videira: a mentalidade de discipulado que muda tudo (São José dos Campos: Fiel,
2016).
N. do E.: A maior parte desses recursos não foi traduzido do inglês. Contudo para aqueles que desejam aprofundar-se,
mantivemos as recomendações nas notas de rodapés.
Preparando o Cenário
A grande questão
Nós conversávamos boa parte do dia. Éramos cerca de sessenta na sala, de
muitas igrejas diferentes do meio-oeste dos Estados Unidos. Então um pastor
levantou e fez a pergunta que nos foi feita inúmeras vezes nos últimos seis
anos.
“Veja, eu li A treliça e a videira. Eu achei o livro ótimo. Expressou o que
sempre pensei e acreditei sobre o ministério cristão. Então, Deus os abençoe,
e obrigado por escrevê-lo.
Mas à medida que lia, também tive essa sensação estranha por dentro. Só
sei que o que realmente acontece em nossa igreja está muito distante da visão
do ministério de discipulado que vocês descrevem e no qual eu realmente
acredito. Não sei exatamente como ficamos tão longe disso. Mas o problema
é que realmente não sei por onde começar ou como obter progresso. É como
se todas as estruturas e ministérios existentes em nossa igreja fossem feitos
de concreto.
Então, aqui está meu problema básico: como eu posso mudar toda a
cultura de nossa igreja na direção do discipulado?”
Ele era batista, de uma igreja de tamanho médio em Chicago, mas poderia
ter sido um presbiteriano de Melbourne ou um anglicano evangélico da
Cidade do Cabo. Em conversas, e-mails, oficinas e conferências, já nos
fizeram alguma versão dessa pergunta mais vezes do que podemos nos
lembrar desde que A treliça e a videira se tornou um improvável best-seller
internacional.3
Eu digo improvável porque, para nós, A treliça e a videira era um livrinho
comum que consistia principalmente em ideias óbvias. Nós pensamos que ele
seria lido por um pequeno número de pessoas leais aqui na Austrália, e talvez
pudesse servir como uma declaração útil de princípios de ministério que
poderiam ser passados para a próxima geração.
No entanto, às vezes o óbvio é o que as pessoas mais precisam ouvir
(como quando a criança disse sobre o imperador: “Mas ele está nu!”). De
alguma forma, nossa reafirmação dos princípios bíblicos do “trabalho da
videira” e do ministério tocou pastores e líderes evangélicos de todo o
mundo.
Uma das consequências foi uma experiência imensamente rica pela qual
somos profundamente gratos a Deus. Ao longo dos últimos seis anos, falamos
em conferências e realizamos oficinas sobre A treliça e a videira em todo o
mundo. Tivemos a alegria de passar milhares de horas discutindo sobre
ministério com milhares de pastores e líderes leigos, de igrejas de diferentes
tamanhos, locais, denominações e culturas — da Cidade do Cabo a Chicago,
de Cingapura a Sydney, de Dublin a Dallas.
As pessoas iam a essas oficinas e conferências com todos os tipos de
perguntas e pensamentos sobre a filosofia ministerial apresentada em A
treliça e a videira. Três tipos de perguntas eram particularmente comuns:
• O que vocês realmente querem dizer com “discipulado” e “fazer
discípulos”? Vocês estão basicamente argumentando em favor de mais
trabalho individual ou em pequenos grupos? Ou estão falando de mais
evangelismo? Ou as duas coisas, ou nada disso?
• Onde a pregação se encaixa no que vocês estão dizendo? Sua ênfase em
“treinar discípulos” não leva a uma desvalorização do ministério de
pregação expositiva — que é algo que temos lutado tanto para defender e
fortalecer ao longo desta geração?
• Vocês não acabaram fazendo das “treliças” (isto é, as estruturas e
suportes do ministério) as vilãs da vida da igreja? É possível que vocês
tenham subestimado a importância sistêmica de como a vida da igreja é
estruturada e organizada? Priorizar o “trabalho da videira” sobre o
“trabalho de treliça” leva a um menosprezo das muitas pessoas que
passam tantas horas trabalhando fielmente na “treliça”?4
Fomos enormemente abençoados ao falar repetidamente sobre essas
questões com muitos irmãos e irmãs diferentes, como um ferro afiando outro
ferro. Nos capítulos que se seguem, esperamos que o fruto dessas conversas
seja visto em uma apresentação aprimorada e aprofundada dos princípios
essenciais do ministério, enunciados pela primeira vez em A treliça e a
videira.
No entanto, a principal razão por que as pessoas vieram falar conosco nos
últimos seis anos foi para lidar com o dilema levantado pelo pastor de
Chicago. Em muitas igrejas ao redor do mundo, há uma lacuna imensamente
insatisfatória entre o que esperamos que o evangelho produza ao frutificar
entre nós e o que realmente vemos dia a dia e domingo a domingo. Para
colocá-lo nos termos que defendemos em A treliça e a videira, ansiamos que
o “trabalho da videira” ao estilo da Grande Comissão seja a agenda normal e
a prioridade dentro de nossas igrejas. Ansiamos que todos os membros de
nossa congregação compreendam e vivam isso — orar e alcançar os que
estão ao seu redor para fazer novos discípulos, e nutrir, edificar e encorajar
uns aos outros à maturidade em Cristo.
E, no entanto, quando olhamos para a lacuna entre essa empolgante visão
bíblica e a realidade da vida da igreja, nossos corações às vezes desanimam.
Nossas congregações locais parecem tão complexas e tão presas aos hábitos e
modos atuais de fazer as coisas. As estruturas e “treliças” existentes em nossa
igreja quase parecem ter vida própria.
Elas absorvem, assimilam ou repelem nossas tentativas de reforma e
mudança. Talvez essa conversa de “trabalho de videira” e de todo discípulo
ser um fazedor de discípulos funcione em outro lugar (em um campus
universitário, talvez), mas não parece estar pegando aqui. E se formos
honestos sobre os números, não estamos vendo muito crescimento; e o pouco
crescimento que vemos é em grande parte o resultado de transferências, e não
de conversões.
Poderíamos multiplicar os exemplos, ou expor esse tipo de cenário mais
demoradamente, mas isso apenas inflamaria o sentimento de desconforto que
muitos pastores, presbíteros e membros de igreja já sentem. Quando
trabalhamos duro, mas não vemos crescimento, isso machuca. Isso nos leva
ao inquirir sobre a soberania de Deus (Por que ele não está dando o
crescimento?), a nos compararmos com os outros (O que há de errado
comigo? Por que outros estão indo tão bem?) e, muitas vezes, a adotar o
último programa ou modelo de ministério da moda, esperando finalmente
alcançar o sucesso e o crescimento.
Conversando e pensando constantemente sobre essas questões nos últimos
seis anos, nós nos convencemos da necessidade de responder à pergunta que
o pastor batista de Chicago fez em nome de quase todas as igrejas
evangélicas no mundo ocidental: Como podemos mudar toda a cultura de
nossa igreja na direção do discipulado?
Essa é a questão que Projeto Videira pretende responder.
Pode parecer contraintuitivo dizer isso, mas uma das razões pelas quais
estamos tão interessados em responder a essa questão é que sabemos muito
bem a enorme pressão que muitos pastores e membros de igreja estão
sofrendo. Para muitos leitores deste livro, seja você um líder leigo perspicaz
ou um pastor de tempo integral, cada semana é uma nova luta simplesmente
para não afundar na areia movediça. Sabemos disso não apenas pela nossa
própria experiência de vida no ministério nas equipes pastorais da igreja, mas
pelos últimos seis anos de oficinas e treinamento de pastores e equipes de
liderança da igreja. Temos conversado constantemente com pastores e líderes
leigos que estão lidando com situações cansativas e emocionalmente
desgastantes — tudo, desde doenças, tristezas e mágoas em suas próprias
famílias até conflitos relacionais, problemas de saúde mental e abuso sexual
na família da igreja. Nós nos encontramos esperando por aquele ano
“normal” livre de crises, no qual poderemos realmente fazer algum
planejamento e progredir, mas ele nunca chega.
Para aqueles de nós que se sentem assim, trabalhar em um projeto para
mudar toda a cultura de nossa igreja pode parecer completamente além de
nosso alcance. E para alguns de vocês, isso pode ser verdade. Pode não ser o
momento certo para começar. Você pode querer ler este livro e preparar
alguns planos para começar corretamente daqui a um ou dois anos.
No entanto, como discutiremos a seguir, fazer discípulos é na verdade
chamar as pessoas à fé e à esperança em Jesus Cristo em meio a esta presente
era perversa, com todas as suas pressões. Tornar-se uma igreja mais focada
em fazer discípulos é tornar-se uma comunidade que compreenda mais
claramente por que a vida é muitas vezes difícil e que recursos Deus nos deu
para crescer em fé, esperança e amor em meio à luta. Uma igreja
discipuladora é, na verdade, mais capaz de lidar com as crises e pressões da
vida diária.
Além disso, um dos principais pontos de pressão para muitos pastores e
equipes de liderança de igreja é que simplesmente há poucas mãos sendo
colocadas na obra. Nós não estamos treinando e mobilizando um número
suficiente de nossos membros para serem colaboradores na tarefa, e assim a
pressão sobre o pastor e os principais líderes continua implacável. Precisamos
construir uma equipe maior de discipuladores engajados e preparados para
trabalhar juntos, e esse é um dos principais resultados de Projeto Videira.
Em outras palavras, uma razão muito importante pela qual escrevemos O
projeto videira, e pela qual exortamos você a embarcar nele assim que puder,
é que sabemos como a vida e o ministério da igreja podem ser difíceis.
UM LIVRO INCOMUM
É uma grande questão que estamos procurando responder (como mudar a
cultura da igreja na direção do discipulado), e a tarefa é dificultada pelo fato
óbvio de que cada igreja precisa de sua própria resposta. Cada igreja está
em um ponto diferente do espectro, tem diferentes pontos fortes e fracos,
enfrenta diferentes obstáculos e, algo crucial, tem pessoas diferentes com as
quais Deus a abençoou. Alguns de vocês podem olhar para a sua igreja e ver
a necessidade de uma reforma radical; outros podem achar que estão indo na
direção certa, mas precisam de uma injeção de crescimento e mudança.
Alguns de vocês podem até estar prestes a plantar uma nova igreja, estando
em uma posição de moldar a cultura a partir do zero.
Ainda assim, apesar de nossos diferentes pontos de partida, o processo
essencial de mudança, as ferramentas de mudança e os resultados desejados
da mudança são comuns em todas as igrejas, porque têm suas raízes não
apenas na forma como grupos de pessoas (como igrejas) funcionam e
crescem, mas no caráter, propósito e atos de Deus para o seu povo.
É por isso que (de maneira um pouco incomum) chamamos este livro de
“projeto”. Não é um conjunto de respostas detalhadas ou prescrições vindas
de cima para resolver seus problemas. É um conjunto de processos,
ferramentas e orientações para você trabalhar com uma pequena equipe de
colegas que pensem como você — partindo de onde você estiver, com os
pontos fortes e fracos que tiver.
Isso significa que Projeto Videira não é um livro para ser apenas lido
como todos os outros livros sobre ministério que você compra em
conferências, lê e se sente um pouco entusiasmado por um tempo, mas que no
fim das contas vai morar na estante com todos os outros. É um projeto. Ele
descreve um processo para trabalho e discussão. É um livro que deve levar a
um plano e a ações ao longo do tempo.
É por isso que este é um livro que pode levar vários anos para ser
concluído — deixe-nos acrescentar logo, não porque seu conteúdo é muito
longo ou complexo, mas porque o processo que ele orienta não é uma
solução rápida. Crescimento e mudança na igreja, como todo crescimento e
mudança na vida cristã, leva tempo. É preciso implantação realista e
paciência. É passível de falsos começos e tropeços. Precisa de
monitoramento, revisões constantes e mudanças de direção para dar conta de
circunstâncias novas ou inesperadas. Ao longo do livro, em alguns pontos
regulares, você será solicitado a conversar a respeito, avaliar suas
circunstâncias atuais, elaborar planos, tomar atitudes, trabalhar em
miniprojetos e assim por diante. É um processo que levará meses e anos para
ser concluído. De fato, em alguns aspectos, este é um livro que você nunca
terminará. Nós fervorosamente esperamos que Projeto Videira não acabe
sendo apenas mais um daqueles livros de ministério que você folheia, pega
algumas observações interessantes, e depois deixa de lado.
Este também não é um livro que você conseguirá ler de maneira bem-
sucedida sozinho. A menos que você reúna um pequeno grupo de pessoas
piedosas e comprometidas para ler este livro e passar por este processo com
você, temos certeza de que ele não servirá de muita coisa para sua vida ou
para sua igreja. É claro, entendemos que, para decidir se você deseja reunir
um grupo de pessoas e participar do Projeto Videira juntos, você pode querer
primeiro ler o livro todo! Mas nosso ponto é simplesmente que, para que haja
qualquer crescimento ou mudança reais na cultura de sua igreja, você
precisará trabalhar tudo isso com uma equipe.5
A TRELIÇA CONTRA-ATACA
Ao conversarmos com muitos pastores nos últimos seis anos sobre suas
tentativas de colocar em prática uma filosofia de ministério de “treliça e
videira” ou de discipulado em suas igrejas, ficou claro para nós que “cultura”
é um problema subestimado. O que vimos mais frequentemente foram
pastores que buscavam inserir alguns novos programas ou iniciativas na
cultura existente — coisas como:
• pregar uma série de sermões sobre “fazer discípulos”;
• iniciar uma leitura bíblica em dupla com as pessoas;10
• adicionar “discipulado” às metas do ano;
• ser mais receptivo com os recém-chegados;
• ministrar um curso sobre como compartilhar a fé com os de fora.
O que geralmente acontece é que depois de seis ou doze meses tentando
injetar um ou mais desses novos elementos na vida da igreja, o entusiasmo
começa a diminuir, e o peso e força da cultura existente esmagam qualquer
progresso que tenha sido feito. É como tentar virar um transatlântico com um
remo. O pastor fica resmungando: “Esse negócio de ‘treliça e videira’ pode
funcionar bem em outro lugar, mas não está funcionando aqui. Talvez seja
hora de tentar outra coisa”.
E assim o ciclo continua. Um novo modelo ou ideia surgirá no ano que
vem, será feita a mesma tentativa de injetar algo novo, e a cultura dominante
a engolirá, vomitará e seguirá em frente, de maneira lenta e irresistível.
Para estender uma metáfora familiar aos limites de sua utilidade,
poderíamos dizer que a cultura predominante de uma igreja é feita de
elementos de “videira” e “treliça” — isto é, tanto da atividade convicta de
todo cristão que fala a Palavra de Deus para os outros em todos os níveis pelo
poder do Espírito (videira) quanto de todas as estruturas, programas e
comissões da sua vida congregacional (treliça). O que estamos dizendo sobre
“cultura” é que pouco adianta ensinar algumas novas convicções ou iniciar
alguns novos tipos de trabalho de videira, a menos que você também esteja
preparado para reformar e aperfeiçoar a treliça que a sustenta e lhe dá
estrutura e forma. Ambos devem ser feitos como parte de um pacote total.
Embora tenhamos afirmado isso em A treliça e a videira, não nos
importamos em admitir que a ênfase geral do livro pode ter mascarado sua
importância. Muitos leitores com quem conversamos tiveram a impressão de
que basicamente pensamos que “videira = boa” e “treliça = mal necessário”.
Isso certamente não é o que pensamos ou queríamos transmitir, e sem dúvida
a culpa é nossa.
As treliças do ministério não são as vilãs da vida da igreja. O que
queríamos afirmar em A treliça e a videira é que é muito possível, e de fato
muito comum, ter uma infinidade de programas, atividades e estruturas
administrativas — isto é, uma treliça grande, conservada e impressionante —
sem que haja realmente muito trabalho da videira — isto é, sem muitas
pessoas de fato falando e proclamando a mensagem da Bíblia em todos os
níveis na vida da igreja e no mundo.
Mas o problema não é que as treliças sejam inerentemente um obstáculo
ao trabalho da videira. É que muitas vezes elas não são projetadas e
executadas para facilitar e aperfeiçoar o trabalho da videira. Para usar o
discurso corporativo, elas não estão “alinhadas”. Elas simplesmente existem.
E, como temos discutido, elas geralmente carregam, expressam e reproduzem
uma cultura que resiste aos nossos esforços para gerar uma mudança real.
Uma treliça pode fortemente apoiar e permitir que o ministério de discipulado
aconteça; mas ela também pode trabalhar contra esse tipo de ministério que
cresce e floresce em seu meio.
Isso nos traz de volta à Grande Questão que este livro procura responder:
Como mudar a cultura de uma igreja na direção do discipulado? A
propósito, como agir na cultura de uma igreja para mudá-la em qualquer
direção?
A resposta é que você não consegue fazer isso.
Você não consegue mudar a cultura trabalhando na cultura, porque a
cultura é uma descrição do que vocês se tornaram. É uma forma de resumir a
maneira como vocês fazem as coisas, a rede multifacetada de crenças e
práticas tácitas, formais e informais, que compõe quem vocês são e como
vocês funcionam.
Você não pode trabalhar na “cultura”, como tal. Ela é o produto de anos e
décadas de práticas baseadas em ideias e ideias expressas na prática. O que
você pode trabalhar e mudar são os elementos que produzem cultura:
• as crenças e convicções profundamente arraigadas que impulsionam e
sustentam sua cultura (nem todas explicitamente expressas);
• as atividades, práticas e estruturas que expressam e incorporam essas
crenças em todos os níveis da vida da igreja.
Você pode trabalhar para gerar mudanças na maneira como as pessoas
pensam, e como essas convicções são praticadas em comportamento,
estruturas e hábitos — e com o tempo vai olhar para trás e dizer que gerou
uma nova “cultura”. Haverá um novo conjunto de crenças básicas e reações
típicas; um novo conjunto de hábitos e rituais; um novo conjunto de
comportamentos que serão vistos como normais e esperados; um novo
conjunto de estruturas e sistemas que sustentam esses novos
comportamentos; uma nova linguagem compartilhada; um novo conjunto de
memórias sobre as coisas que fizemos juntos, os sucessos e os fracassos.
Para ilustrar como é esse processo de mudança na prática, entrevistamos
vários pastores engajados nesse processo de mudança de cultura em diversos
contextos de ministérios.11 Você encontrará trechos dessas entrevistas
espalhados em pontos diferentes ao longo do livro .12
Contudo, neste momento, gostaríamos de contar a história de mudança
cultural de uma organização secular — um clube esportivo — porque ilustra
bem o tipo de processo sobre o qual falaremos.
•
No final de 2004, Jim foi nomeado treinador principal em um clube
semiprofissional de críquete13 em Sydney. As performances do clube
durante a temporada anterior foram bem abaixo das expectativas. Dois
anos depois da nomeação de Jim, eles haviam vencido vários torneios e
o campeonato de clubes. Esta é uma entrevista com Jim sobre como ele
começou a transformar a cultura do clube ao longo dos anos.
Qual era a situação do clube quando você começou?
Tínhamos excelentes instalações e equipamentos, um bom plantel de
jogadores e um pequeno núcleo de administradores e voluntários
compromissados. Eu também já comecei com o respeito dos jogadores,
porque havia recentemente tido sucesso como líder no clube. Nós
tínhamos praticamente o mesmo plantel e recursos da temporada
anterior, então ficou claro que outras coisas precisavam mudar para que
os resultados melhorassem nos anos seguintes. O desempenho dos
jogadores em campo era insatisfatório, mas também havia problemas
subjacentes que precisavam ser resolvidos. Expectativas e políticas
sobre o comprometimento e a seleção da equipe eram pontuais e
inconsistentes, e havia pouco ou nenhum desenvolvimento intencional
de liderança. Ao mesmo tempo, não estávamos fazendo quase nada para
melhorar nosso nível psicológico. É um consenso que o críquete é 90%
mental e 10% físico, então precisávamos fazer disso uma parte
inegociável de nossas sessões de treinamento.
Como você mudou as coisas?
O crucial para mim foi desenvolver uma cultura de trabalho em
equipe, em vez de individualismo. Se cada membro estivesse
comprometido com nossos objetivos, os resultados viriam.
Eu acreditava em quatro coisas importantes:
• Em primeiro lugar, os jogadores querem fazer parte de algo maior
que seu próprio desempenho. Como o beisebol, o críquete é um jogo
individual dentro de um jogo de equipe. Eu tive que mudar o
pensamento normal de que o valor da contribuição de um indivíduo
podia ser medido em pontuações ou estatísticas.
• Então eu estava convencido de que, uma vez que dedicam muito
tempo a treinos e jogos, os jogadores querem aproveitar essas
coisas, junto com o lado social do clube. Então a diversão precisava
ser um fator-chave em tudo o que fazíamos.
• Também me parece bastante óbvio que todos querem se sentir
valorizados. Então, o desafio era ajudar os jogadores a valorizar a
contribuição de todos os membros do clube, desde a moça da cantina
até o presidente do clube. Desenvolvemos uma lista de verificação
básica que os capitães checavam com os jogadores ao final de cada
partida. Um dos itens da lista perguntava se eles haviam agradecido a
algum voluntário do clube durante a semana anterior. Os jogadores
logo entenderam o recado sobre o que iríamos valorizar em nosso
clube.
• Por fim, convenci-me de que o melhor uso do meu tempo era
investir na liderança e desenvolver novos líderes. No críquete, o
capitão é quem toma as decisões e quem guia e dirige o resultado de
sua equipe no dia do jogo. Eu precisava me dedicar ao
desenvolvimento dos capitães da equipe (seis deles) e trabalhar com
eles para identificar alguns líderes em potencial que eles, por sua
vez, poderiam desenvolver.
Você definiu metas de desempenho?
Nós estabelecemos o alvo desafiador de vencer o campeonato de
clubes dentro de dois anos. Cada papel e descrição de trabalho no clube
estava ligado ao objetivo final. Também desenvolvemos uma filosofia
de “clube em primeiro, time em segundo, jogador em terceiro”. Em um
esporte coletivo, isso pode ser uma coisa sutil às vezes. Mas nos
certificamos de que a filosofia geral fosse reforçada naquilo que
fazíamos, e de que ela fosse visível em todo o clube.
Você fez mais alguma coisa para começar a mudar a cultura do
clube?
Fizemos muitas coisas. Uma que vem à mente foi a maneira como
tentamos mudar o pensamento do individualismo para o trabalho em
equipe. No esporte australiano, gostamos de falar sobre os “um por
cento” — as pequenas coisas que os membros da equipe fazem que
contribuem para a vitória. Eu senti que isso era um pouco clichê, então
peguei emprestado um velho ditado cristão. Adotamos a frase: “Se você
fosse preso por jogar em equipe, que provas seriam usadas contra
você?”. Todas as semanas, como parte de nossas reuniões de clube, os
jogadores precisavam se levantar e dizer: “Billy deve ser preso por
jogar em equipe porque foi visto fazendo isso ou aquilo”.
Começou bem devagar. Eu tive que dar muitos exemplos a eles, e até
mesmo pedir aos jogadores para que passassem a semana atentos a
pontos que pudessem compartilhar na reunião seguinte. Após um pouco
de resistência nos primeiros meses, os jogadores realmente pegaram o
jeito e começaram a perceber todas as pequenas coisas — até mesmo as
que eu nunca havia pensado — que fazem um ótimo jogador que
trabalho em equipe. Essas sessões semanais tornaram-se muito
divertidas, mas o mais importante é que elas reforçavam nossos padrões
e valores.
O investimento em nossos líderes realmente valeu a pena. Em um
clube esportivo, a cultura pode mudar muito rapidamente quando as
pessoas veem os líderes mudarem e adotarem um novo tom. O desafio é
reforçar continuamente os pontos que você quer ver, tanto sutil quanto
abertamente, para que com o tempo se tornem a cultura padrão.
•
Quanto tempo, esforço, pensamento, energia e suor, quantas lágrimas,
retrocessos, sucessos, fracassos, alegrias e tristezas você acha que serão
necessários para provocar esse tipo de mudança ampla e profunda em
qualquer organização — ainda mais, em uma cultura de igreja de longa data?
Não será um processo rápido — é por isso que este livro é parte de um
projeto de trabalho ao longo de anos, em vez de ser outro livro sobre
ministério para ser lido e colocado no lugar em sua estante com todos os
outros.
Isso exigirá mais tempo, esforço e dons que qualquer indivíduo possua —
e é por isso que este é um projeto que deve ser encarado com uma equipe de
cooperadores piedosos, comprometidos e com o coração no evangelho, que
podem encorajar e sustentar uns aos outros.
E é claro, é um trabalho que nenhum de nós é previamente competente
para fazer — é por isso que dependemos de Deus. Como o apóstolo Paulo,
nós dizemos com gratidão:
Não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se
partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos
habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito;
porque a letra mata, mas o espírito vivifica. (2Co 3.5-6)
UM PROCESSO DE MUDANÇA
Então, por onde começar?
Como Craig Hamilton aponta em seu livro Wisdom in Leadership, a
maioria dos ministros tem a tendência de começar em um destes dois lugares:
Geralmente parece que há duas maneiras de viver quando se trata de estar no
ministério cristão. Ou você é uma pessoa da Bíblia ou uma pessoa de liderança.
Você lê livros de teologia ou você lê livros de liderança. Você lê livros de Don
Carson e John Stott ou lê livros de Bill Hybels e John Maxwell.
E isso é um problema.
Sempre me pareceu um problema porque sou um cara da Bíblia. Sempre fui um
cara de doutrina. Vamos falar sobre modelos de expiação e pericorese, enipostático
e anipostático, a ordo salutis e todos os outros tipos de palavras em latim. Vamos
falar sobre pregação, textos, contextos e subtextos. Eu sempre fui e ainda sou esse
tipo de cara.
Contudo, como líder em diferentes contextos ao longo dos anos, observei que
quando grupos de pessoas se reúnem, funcionam de algumas maneiras previsíveis.
Eu sabia que era verdade que eu poderia liderar um grupo bem ou mal. E mesmo
que eu tivesse toda sorte de coisas incríveis e transformadoras para ensinar, e
mesmo que eu as explicasse da forma mais clara e persuasiva que eu pudesse,
ainda tinha que ajudar grupos de pessoas a organizar e realizar coisas.
Percebi que a escolha entre um ou outro era falsa — que toda essa conversa sobre
liderar pessoas não era necessariamente um pragmatismo incrédulo e distante de
Deus. Pelo contrário, tinha a ver com viver com sabedoria e amar o próximo. E
ambas as coisas estão na Bíblia e Deus parece pensar que são boas ideias. Assim,
concluí que, se eu realmente queria ser um cara da Bíblia, eu provavelmente
também precisava ser um cara de liderança, porque não se trata de um ou outro,
mas de um e o outro.14
Se você é um “cara da Bíblia”, provavelmente vai querer começar a mudar
sua cultura com as convicções teológicas e bíblicas que quer que seu povo
afirme, e é bem provável que nunca vá além disso. Se você é um “cara de
liderança”, provavelmente ficará ansioso por passar rapidamente pelas
questões teológicas, a fim de chegar logo detalhes práticos de análise
estratégica e planejamento.
O processo que estamos prestes a descrever trata enfaticamente de ambos.
As convicções e crenças teologicamente orientadas são vitais e fundacionais
— precisamos de tempo para explorá-las e aperfeiçoá-las e para vivê-las e
respirá-las. Mas as práticas, programas, atividades e estruturas que expressam
que dão forma e facilitam a vivência de nossas convicções são igualmente
vitais. Isso significa que o trabalho em longo prazo é necessário neste
momento. Queremos encorajá-lo a não desistir no meio dele — porque você
será tentado a fazê-lo.
O processo que estamos prestes a apresentar dificilmente pode ser
considerado revolucionário ou controverso. É um procedimento bastante
comum que qualquer organização pode aplicar para gerar mudanças
organizacionais ou culturais significativas. Ele possui cinco fases:
• Fase 1: Aprofundar suas convicções — mergulhe na Bíblia e em sua
teologia para esclarecer o que você crê a respeito de discipulado e
ministério.
• Fase 2: Reformar sua cultura pessoal — certifique-se de que suas
convicções tenham penetrado na cultura de sua própria vida; que você
está demonstrando suas convicções pela forma como você vive e ministra
aos outros.
• Fase 3: Avaliação amorosa e honesta — faça um exame cuidadoso de
tudo o que acontece em sua igreja para ver como ela está adequada com
suas convicções: em que áreas sua cultura reflete melhor suas convicções,
onde elas estão mais fracas e onde está o maior potencial de crescimento
e mudança?
• Fase 4: Inovar e implantar — defina o que você quer parar de fazer,
começar a fazer e continuar fazendo; planeje novos caminhos para o
discipulado e defina como implantá-los ao longo do tempo.
• Fase 5: Manter o ímpeto — monitore e analise como o projeto está
acontecendo; veja os obstáculos e descubra como superá-los; crie um
movimento e mantenha seu ímpeto.
Cada uma dessas fases levará algum tempo para ser concluída. De fato,
algumas (como a Fase 2), por definição, nunca serão concluídas.
Contudo, há uma lógica em como as fases se seguem e se baseiam umas
nas outras. Nós reforçamos o conselho para que você não passe rápido
demais por qualquer uma delas, mas gaste tempo para fazer o trabalho
refletida e cuidadosamente. Manobrar um transatlântico demanda grandes
quantidades de energia e tempo. Mas depois que você tiver gasto essa energia
e tempo e estabelecido uma nova direção (e um novo destino), o movimento
pode trabalhar a seu favor.
Diferentes igrejas e ministérios passarão por essas fases em ritmos
diferentes. Você precisará elaborar um plano adequado ao seu próprio
contexto (e, sem dúvida, modificar esse plano à medida que avança).
A proposta a seguir é o que nós consideramos como cerca de um padrão de
prazos para uma igreja “média” imaginária. Ela pressupõe que você se reúna
regularmente com seus colegas escolhidos para a “Equipe do Projeto Videira”
para uma reunião de duas horas e também marque algumas reuniões
prolongadas em diferentes momentos — por exemplo, no sábado de manhã
ou em um retiro de final de semana.
FASE CONTEÚDO TEMPO APROXIMADO
Lançamento
Lançar a equipe (de preferência, com uma refeição ou
e Reunião prolongada (com
preparação componente social), discutir “mudança da cultura”, refeição)
do cenário elaborar um plano para os encontros de equipe
DISCUSSÃO
1) Se vocês tivessem que resumir a cultura de sua igreja em um slogan de
duas ou três palavras, qual seria?
2) Tentem identificar os principais hábitos, atividades e tradições que
expressam e reforçam a cultura de sua igreja.
3) Das cinco fases do processo que estamos prestes a iniciar, qual vocês
consideram mais difícil? Por quê?
4) No processo que descrevemos, qual etapa de trabalho lhes trazem maior
expectativa?
O que, de fato, várias práticas e atividades realmente comunicam irá variar de acordo com o lugar, dependendo do que
poderíamos chamar de “vocabulário cultural predominante”. Portanto, não estamos dizendo que o pregador/pastor vestir
roupas normais e sentar-se na congregação é uma lei imutável, como a dos medos e persas! Mesmo assim, no ambiente social e
eclesiológico de Sydney nos anos 80, isso comunicava uma mensagem importante e poderosa.
Tg 1.22.
A palavra “cultura” não é fácil de definir. Na verdade, Raymond Williams classifica-a como “uma das duas ou três palavras mais
complicadas da língua inglesa” (Raymond Williams, Keywords [Londres: Flamingo, 1983], 87). Ela pode ser usada para
descrever as produções intelectuais ou artísticas de uma sociedade ou de um subgrupo dentro de uma sociedade (por exemplo,
“alta cultura”). Muitas vezes, é usada para se referir aos costumes, hábitos, normas, arranjos sociais e modo de vida de um
determinado grupo de pessoas, e os artefatos e produtos que eles produzem (por exemplo, “cultura francesa do século 21” ou
“a cultura corporativa da IBM”). Estamos usando-a aqui mais neste último sentido, para descrever “toda a maneira com
fazemos as coisas por aqui”.
Existe uma extensa literatura sobre “cultura” e seu lugar dentro das organizações, a maior parte dela do mundo da administração.
Um artigo de resumo útil é John Katzenbach e Ashley Harshak, “Stop blaming your culture”, Strategy + Business, vol. 62,
Primavera de 2011 (visto em 13 de dezembro de 2015): http://strategy-business.com/article/11108. Para uma perspectiva
diferente que oferece muitos pontos interessantes, ver To change the world: the irony tragedy and possibility of Christianity in
the late modern world de James D Hunter (Nova Iorque: OUP, 2010), especialmente o ensaio 1, “Cristianismo e transformação
do mundo”. Uma das percepções de Hunter é que as ideias, por si mesmas, raramente mudam uma cultura.
Veja mais informações sobre isso no livro: David Helm, One-to-one Bible reading: a simple guide for every Christian (Sydney:
Matthias Media, 2011).
Utilizamos nomes e detalhes fictícios para as pessoas e igrejas nessas histórias para proteger os envolvidos — tanto do orgulho de
serem consideradas como igrejas “bem-sucedidas”, quanto da tentação de mascarar a realidade (se eles soubessem que os
membros de suas igrejas ou seus amigos poderiam lê-las). Fora isso, deixamos os envolvidos falarem por si mesmos.
N. do E.: As versões completas das entrevistas podem ser encontradas em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira.
N. do E.: Jogo realizado em um campo gramado que se parece com o beisebol, criado na Inglaterra no século XVI.
Craig Hamilton, Wisdom in leadership: the how and why of leading the people you serve (Sydney: Matthias Media, 2015), 11.
Fase 1 | Aprofundando as Convicções
Introdução
Temos sugerido que gerar uma mudança efetiva e duradoura na cultura de
sua igreja envolverá tanto as convicções (ou teologia) que você defende e
ensina em espírito de oração, quanto as estruturas, hábitos, práticas,
programas e relacionamentos que expressam e apoiam essas convicções.
Ambos os aspectos são importantes e certamente estão ligados.
Convicções levarão a certas práticas; as práticas expressarão e serão baseadas
em certas convicções. E em conjunto, convicções e práticas geram uma
cultura — uma “maneira de fazer as coisas por aqui”.
Os dois principais problemas que quase toda cultura de igreja enfrenta são:
• falta de clareza compartilhada sobre as convicções básicas (ou seja, nem
todos têm uma compreensão clara e compartilhada de quem somos e do
que estamos tentando fazer juntos sob a orientação de Deus);
• falta de alinhamento entre convicções e prática (ou seja, muitas coisas
diferentes acontecem na igreja que não refletem mais nossas convicções,
se é que já refletiram; ou pior, que refletem e reforçam outras convicções
que nos são estranhas).
Caso você esteja preocupado com a possibilidade de começarmos a usar
linguagem de negócios neste momento, e logo estarmos falando sobre
intenção estratégica, alavancagem de ativos e indicadores de desempenho,
tudo o que estamos dizendo é que temos que trabalhar tanto com as nossas
crenças quanto com a nossa prática, tanto as nossas convicções quanto nossas
estruturas, se queremos ver uma mudança real. Não há muita controvérsia
nisso.
Não é nada radical dizer que um bom lugar para começar o processo é com
nossas convicções; com o coração e a alma; com o que realmente cremos.
Precisamos ter um alto grau de clareza compartilhada sobre o que
acreditamos, se desejamos realmente gerar uma mudança real para toda a
cultura que expressa e materializa essas crenças.
Sem gastar todo o tempo e espaço que seria preciso para defender isso
aqui, vamos partir do pressuposto de que a clareza que estamos procurando
deve ser buscada na Bíblia — e não através de um meio termo entre as várias
opiniões que venham a existir em nosso meio. Não estamos à procura de
clareza e concordância a qualquer custo. O que buscamos é uma
compreensão clara, aguçada e compartilhada da verdade das Escrituras sobre
a vida e o ministério cristão, para servir como base sólida e estrutura para
toda a cultura de nossa igreja.
CINCO CONVICÇÕES
As cinco convicções que estamos prestes a explorar capturam o que
consideramos ser o coração do discipulado bíblico, de fazer discípulos e do
ministério.
Talvez isso nem precisasse ser dito, mas não acreditamos nem por um
minuto que a nossa maneira de fazer isso é a única maneira de fazer isso. De
fato, um elemento essencial dessa primeira fase do processo é que você crie
sua própria maneira de expressar e comunicar as convicções profundas e
compartilhadas que devem impulsionar tudo que vocês farão. Tampouco
pensamos que paramos de aprender e crescer em nossa própria compreensão
desses assuntos. De muitas maneiras, as convicções que se seguem são uma
reafirmação (usando uma estrutura diferente) dos princípios do ministério
teologicamente orientado que articulamos em A treliça e a videira, refletindo
tudo o que aprendemos nos últimos seis anos de ampla discussão, leitura e
reflexão. Estamos ansiosos para que esse processo continue!
Dito isso, obviamente consideramos que as cinco convicções a seguir são
uma expressão verdadeira e útil do que a Bíblia diz sobre discipulado e
ministério. Como qualquer conjunto de princípios fundamentais, eles buscam
dizer tudo o que é necessário para ser uma base de ação conjunta. E cada
princípio se esforça para ser objetivo e completo em si mesmo (isto é, não
simplesmente repetir algum aspecto de um dos outros princípios).
As cinco convicções são construídas em torno de cinco questões-chave
relacionadas ao “discipulado” e a fazer discípulos, a saber:
• Por que fazer discípulos?
• O que é um discípulo?
• Como se faz um discípulo?
• Quem faz discípulos?
• Onde fazer discípulos?
Respondendo a cada uma dessas questões, bíblica e teologicamente, você
deve ser capaz de construir uma visão coerente do que é discipulado, e do que
isso significa para a sua igreja. (O capítulo de resumo e o diagrama ao final
das cinco convicções também deve ajudá-lo a fazer isso).
Vamos começar, então, com a pergunta do “porquê”.
Convicção 1: Por que fazer
discípulos?
Por que é importante fazer discípulos?15
Eu suponho que poderíamos responder a essa pergunta poupando algum
tempo simplesmente citando Mateus 28.19 e dizendo: “Porque Jesus nos
mandou”.
E isso é certamente verdade. Com toda a autoridade que possui como o
Senhor ressurreto do céu e da terra, Jesus realmente deu a seus discípulos a
tarefa de ir e fazer discípulos de todas as nações.
No entanto, em sua generosidade e gentileza para conosco, Deus fez mais
do que nos dar um simples comando (“Apenas vá, faça e pare de reclamar”).
Ele revelou muito, muito mais.
Ele nos mostrou por que “fazer discípulos” é tão importante e urgente. De
fato, ele nos confiou um segredo que explica a natureza e o destino de tudo
em nosso mundo, incluindo nós e nossas vidas, nossas igrejas e muito mais.
De muitas maneiras, a Bíblia é a história desse segredo sendo revelado.
Toda a primeira metade da Bíblia apresenta o problema e a promessa de uma
solução — mas uma solução que está oculta nas nuvens impenetráveis do
futuro. Os profetas e sábios do Antigo Testamento falaram deste futuro, e
ansiavam por conhecê-lo e vê-lo, mas não tiveram nada além de um
vislumbre ao longe.16
Este mistério que o Antigo Testamento tenta ansiosamente ver, o Novo
Testamento proclama como de forma aberta, às claras, no Senhor Jesus
Cristo. O eterno propósito de Deus para todo o seu mundo está agora
disponível para todos verem, tocarem e ouvirem:
O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos
próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao
Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos
testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi
manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros (1Jo
1.1-3).
Os apóstolos vão pelo mundo proclamando essa notícia extraordinária —
que a vida que estava com o Pai, que era desde o princípio, que traz a vida
eterna, agora foi “manifestada” na pessoa de Jesus.
Essa revelação do segredo de Deus é como o momento “Aha!” no final da
história de mistério, quando todas as pistas e peças do quebra-cabeça se
encaixam. Agora, finalmente, podemos ver qual era o plano o tempo todo.
Nesta primeira convicção, vamos explorar e esclarecer exatamente o que é
esse extraordinário plano de Deus — pois isso nos ajudará a compreender
mais clara e poderosamente por que “fazer discípulos” é algo de importância
tão urgente.
DISCUSSÃO
Aqui estão algumas sugestões para ajudá-lo a trabalhar o conteúdo desta
seção com uma equipe.
Para esta e cada uma das convicções seguintes:
• Antes de se reunir, cada membro da equipe deve ler o texto que expõe a
convicção, marcando-o no processo. Sublinhem as coisas que vocês
acham que são particularmente importantes; coloquem pontos de
interrogação ao lado de coisas que você não tem certeza de que estão
certas ou que você não entende completamente. Este é um livro que você
tem permissão para rabiscar.
• Quando vocês se reunirem, comece compartilhando seus rabiscos. O que
vocês acharam particularmente impressionante, útil ou desafiador? Onde
estavam seus pontos de interrogação?
• Analisem todas as sugestões de perguntas de discussão, passagens
bíblicas e atividades que considerarem úteis.
• Concluam cada discussão com oração.
1) Leiam pelo menos quatro das seguintes passagens (que mencionamos
acima):
Apocalipse 7.9-17;
Hebreus 12.18-24;
Tito 2.11-14;
Colossenses 1.13-20;
Efésios 1.1-14;
Romanos 8.
Em cada passagem, observem especialmente o que vocês podem aprender
sobre:
a) o fim para o qual Deus está direcionando tudo (incluindo nós);
b) o lugar de Jesus Cristo nos planos de Deus;
c) o significado da morte de Jesus para os planos de Deus;
d) o lugar da humanidade nos planos de Deus;
e) por que fazer discípulos é importante.
2) Por que vocês acham que muitas igrejas perdem a motivação e a urgência
de fazer mais discípulos de Jesus? (Como você descreveria sua própria
urgência para a tarefa? E a da sua igreja?)
3) Veja de quantas maneiras diferentes é possível concluir esta frase de forma
verdadeira:
Nós fazemos discípulos porque…
Talvez fosse mais lógico perguntar “o que é um discípulo?” antes de perguntarmos por que devemos fazê-los, mas por razões que
devem se tornar óbvias à medida que você lê, decidimos começar com a pergunta “por quê”. Chegaremos a “o quê” na nossa
segunda convicção.
1Pe 1.10-12.
Apenas resumiremos brevemente os principais pontos dessas passagens; em sua discussão (veja o guia no final desta convicção),
reserve um tempo para lê-las e explorá-las por si mesmo.
Ap 7.10.
Cl 1.13-14.
Gn 11.1-9.
At 17.26-27.
Rm 3.23-24.
Ef 5.8.
Ef 6.12. Observe também as palavras de Jesus em João 12.46: “Eu vim como luz para o mundo, a fim de que todo aquele que crê
em mim não permaneça nas trevas”. Veja também Colossenses 1.13.
Jo 12.46.
1Pe 2.4-5.
Mt 16.18.
Tentamos representar a tensão entre o “já” e o “ainda não” desta presente era maligna, “inserindo” o reino do Filho no “domínio
das trevas”. O domínio das trevas ainda existe, ainda que pessoas estejam sendo transferidas para o reino do Filho. Ele só será
finalmente destruído no último dia, quando a nova criação surgir.
Convicção 2: O que é um discípulo?
Discípulos, discipular, discipulado, fazer discípulos.
Essas palavras são tão consolidadas nas conversas sobre o ministério e a
vida da igreja que raramente paramos para considerar o que realmente
queremos dizer com elas.
Veja, por exemplo, essas citações recentes, nas quais “discipulado” e
“fazer discípulos” parecem significar uma série de coisas diferentes:
Enquanto ouvia o Dr. Hendricks falar, senti que o discipulado poderia ser algo que
eu poderia fazer, ao contrário de tipos mais públicos de ministério, porque não é
preciso pregar ou fazer nada público.29
O que aconteceria com a igreja de Jesus Cristo se a maioria daqueles que afirmam
seguir a Cristo tivessem sido conduzidos até a maturidade por meio de
relacionamentos íntimos e responsáveis, centrados no essencial da Palavra de
Deus? O resultado seriam discípulos com iniciativa e que se reproduzem.30
Discipulado tem tudo a ver com a viver a vida juntos, em vez de apenas uma
reunião estruturada por semana.31
Muitas igrejas têm usado vários tipos de pequenos grupos como parte de sua
estratégia de discipulado (grupos nos lares, grupos de vida, grupos de comunhão,
grupos comunitários, etc.).32
Marcos chama a Igreja a abandonar seus sonhos imperialistas, por um lado, e seu
não-envolvimento passivo, por outro, e tornar-se para o mundo o que Jesus foi para
o mundo. É isso que discipulado, seguir a Jesus, realmente significa.33
Precisamos de mais do mecanismo que Jesus usou para mudar o mundo, o
mecanismo que ele nos instrui a usar. Este mecanismo não criará igrejas perfeitas,
mas criará igrejas eficazes. É o discipulado relacional.34
Essas citações representam boa parte da conversa sobre “discipulado”
hoje, incluindo as muitas discussões que tivemos com pastores desde que A
treliça e a videira foi publicado. Ficamos com a impressão de que, embora
muitas pessoas usem a linguagem do discipulado e de fazer discípulos com
frequência, poucas pessoas estão realmente cientes do que querem dizer com
isso. Suas definições (às vezes implícitas) são frequentemente muito restritas
ou muito vagas sobre o que está envolvido.
De um modo geral, a maioria das pessoas presume que o discipulado é um
tipo de coisa pessoal, relacional e íntima; algo que acontece em nossas vidas
privadas ou em pequenos grupos, talvez em contraste com outros aspectos da
vida da igreja que são mais públicos ou programáticos. A maioria geralmente
compara “ser discípulo” com “seguir a Jesus”. E quase todos concordam que
o discipulado eficaz e a formação de discípulos são extremamente
importantes e são um (ou o) fator vital para rejuvenescer as igrejas e mudar o
mundo.
Mas por que “discípulo” é a categoria ou linguagem que devemos usar
para falar sobre essas coisas não é algo tão óbvio, menos ainda quando vemos
como o Novo Testamento usa a palavra (o que veremos abaixo).
É claro que o problema das palavras — como “discípulo” e “discipulado”
— é que elas mudam e se transformam com o tempo, à medida que as
usamos de maneiras diferentes e com referência a diferentes coisas no
mundo. Isso não é um problema; é apenas a realidade da linguagem como um
dom vivo e dinâmico de Deus.
Mas às vezes pode ser um problema quando tomamos uma palavra da
Bíblia — como “discípulo” — e a usamos com sentido diferente de como a
Bíblia a usa, ou para significar algo diferente do que a Bíblia quer dizer com
ela. É um problema não porque a precisão absoluta na linguagem seja uma
virtude em si, mas porque isso pode nos levar a perder as riquezas do que a
Bíblia está realmente dizendo com aquela palavra. Vemos uma palavra em
nossa língua na Bíblia (como “discípulo”), e o significado, as referências e os
sentidos de como usamos a palavra em nosso contexto vêm à nossa mente.
Nós naturalmente admitimos que é nesse sentido atual que a Bíblia está
falando neste momento, mas pode não ser. O autor bíblico pode ter um
conjunto um pouco diferente de ideias em mente e, assim, perdemos a força
ou as implicações do que está sendo dito. Pior, podemos interpretar mal o que
está sendo dito, e tratar com o peso de um imperativo bíblico algo de nossa
experiência atual na igreja que não é necessariamente o que a Bíblia está
falando.
Tudo isso significa que um passo vital para esclarecer nossas convicções
sobre discipulado e fazer discípulos é esclarecer o que queremos dizer com
esses termos importantes.
O QUE É UM DISCÍPULO?
Não há muita controvérsia ou dificuldade sobre o significado da palavra
traduzida como “discípulo” no Novo Testamento (a palavra grega mathétés).
Ela se refere basicamente a um aluno ou aprendiz, alguém que é orientado
por um professor para aprender com ele.35
Simplificando, um discípulo é um “aprendiz”; portanto, discipulado é
“aprendizado”.
Nós vemos isso claramente na maneira como os Evangelhos usam a
palavra. Um discípulo tem como objetivo aprender os caminhos, práticas e
sabedoria de seu professor:
O discípulo não está acima do seu mestre; todo aquele, porém, que for bem
instruído será como o seu mestre (Lc 6.40).
Disseram-lhe ele: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus
frequentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem (Lc
5.33).
Sejam os discípulos de João, dos fariseus ou de Jesus, o ponto básico é o
mesmo: os “aprendizes” têm relação com seu professor (ou professores),
cujos ensinamentos e modo de vida procuram aprender e adotar.
Certamente eles estão aprendendo conteúdo intelectual — uma maneira de
pensar e perceber o mundo, um conjunto de conhecimentos e compreensões.
Muitas vezes vemos Jesus ensinando aos seus “aprendizes” esse conteúdo
nos Evangelhos:
Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se
os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo: [...] (Mt 5:1-2).
Mas, no caso dos discípulos de Jesus, o resultado desse aprendizado não
era simplesmente o domínio de certo conjunto de conhecimento — o que nós
hoje associamos à aprendizagem acadêmica ou à sala de aula. O que os
“aprendizes” estavam aprendendo com Jesus era um modo de vida baseado
na compreensão de certas verdades sobre a realidade (como também faziam
os discípulos de João e dos fariseus, inclusive). O objetivo era que eles não
apenas soubessem o que o professor sabia, mas também que fossem como seu
professor, que andassem em seus caminhos. Eles não estavam aprendendo
uma matéria; eles estavam aprendendo uma pessoa, se podemos dizer dessa
maneira — seu conhecimento, sua sabedoria, todo o seu modo de vida.
Em parte, esse é o motivo pelo qual os “aprendizes” frequentemente
acompanhavam seus professores. Eles não somente escutavam as palavras do
professor, mas viam suas palavras em ação em sua vida, e buscavam aprender
esse modo de vida estando com ele constantemente. Segui-lo e estar com ele
era também o modo rotineiro de transmitir e assimilar o ensino. Vemos isso
nos Evangelhos, com os “aprendizes” frequentemente fazendo perguntas a
Jesus, apresentando-lhe dilemas e pedindo que ele esclareça e aprofunde seu
ensino público.
Talvez essa seja uma razão pela qual o conceito de “seguir alguém” passou
a dominar o pensamento da maioria das pessoas sobre o discipulado. Se
perguntadas sobre uma simples definição do que é um discípulo, muitas
pessoas responderiam: “Alguém que segue a Jesus”. Pelo que vimos até
agora, talvez seja mais correto dizer: “Alguém dedicado a aprender Jesus”.
Contudo, embora “discipulado” não seja idêntico a “seguir”, os dois estão
intimamente relacionados nos Evangelhos, por pelo menos duas razões.
A primeira está relacionada ao tipo de aprendizado com o qual os
“aprendizes” (ou seja, discípulos) estavam se comprometendo. Você
dificilmente poderia aprender com o Mestre, e adotar o estilo de vida que ele
ensinava e personificava, se não estivesse regularmente com ele —
assistindo, ouvindo, praticando, perguntando, e assim por diante. Jesus queria
que seus aprendizes andassem com ele e aprendessem a ser como ele.
Mas o significado de seguir Jesus é mais profundo do que isso nos
Evangelhos, em razão de quem Jesus era e para aonde seus seguidores o
estavam seguindo. Jesus repetidamente diz às pessoas que segui-lo é um
compromisso exclusivo, de vida ou morte. Acompanhá-lo significa deixar
tudo para trás, incluindo sua própria vida — como ele coloca tão claramente
no Evangelho de Lucas:
Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode
ser meu discípulo [aprendiz] (Lc 14.33).
“Aprender” Jesus — submeter-se ao seu ensinamento, andar em seus
caminhos — significará deixar para trás todas as suas lealdades e
compromissos atuais. Significará caminhar com ele a estrada para Jerusalém
e enfrentar a cruz que está esperando lá. Como Jesus deixa bem claro, salvar
nossa vida antiga não é uma opção; é apenas perdendo nossa vida que a
salvaremos.36 Ou, para usar as palavras de Paulo, apenas sendo crucificados
com Cristo poderemos ressurgir para uma nova vida nele.37
“Seguir” Jesus de acordo com os Evangelhos se parece muito com
arrependimento. É abandonar minha existência atual e seguir em uma nova
direção, para aprender uma nova vida de um novo Mestre, e para fazer parte
do novo reino que ele trará.
O APRENDIZ DESAPARECIDO?
Um dos mistérios curiosos no Novo Testamento é que parece não haver
“discípulos” depois do livro de Atos.
Ao longo dos Evangelhos e em Atos, o substantivo mathétés (“discípulo”
ou “aprendiz”) aparece frequentemente como uma descrição daqueles que se
devotaram a aprender de Cristo. Mas depois de uma menção final em Atos
21.16, a palavra desaparece abruptamente. Em todos os 22 livros restantes do
Novo Testamento, ninguém é descrito como “aprendiz” ou “discípulo”.
Isso é um pouco estranho, ainda mais porque Jesus disse especificamente
aos seus aprendizes (discípulos) para irem e fazerem mais aprendizes
(discípulos). E não é que eles tenham chegado a Atos 21 e desistido da tarefa.
É óbvio, pelas epístolas, que o que os apóstolos fizeram para formar
aprendizes em Atos (isto é, pregar o evangelho no poder do Espírito, batizar
pessoas em Cristo e ensiná-las a guardar todos os seus mandamentos) era o
que eles e todo o grupo apostólico continuaram a fazer em todos os lugares.
De fato, a forma verbal de “discípulos” — manthanó, “aprender” —
aparece com bastante frequência nas epístolas, em conexão com a verdade do
evangelho que os cristãos aprenderam e o estilo de vida ou ação que a
acompanha. Aqui está uma amostra:
Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em
desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles (Rm 16.17).
Porque todos podereis profetizar, um após outro, para todos aprenderem e serem
consolados (1Co 14.31).
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso
praticai; e o Deus da paz será convosco (Fp 4.9).
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação (Fp 4.11).
[...] Por causa da esperança que vos está preservada nos céus, da qual antes
ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que chegou até vós; [...] desde o dia
em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade; segundo fostes
instruídos por Epafras, nosso amado conservo [...] (Cl 1.5-7).
Os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com
avidez, cometerem toda sorte de impureza. Mas não foi assim que aprendestes a
Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a
verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do
velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos
renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado
segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade (Ef 4.19-24).
Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a
favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos (Tt 3.14).
Talvez os cristãos como “aprendizes” não tenham desaparecido do restante
do Novo Testamento, afinal de contas.
É notável como essas poucas citações breves se alinham com o que vemos
sobre “aprendizado” nos Evangelhos e em Atos. Isso claramente envolve
conteúdo — isto é, palavras sendo faladas e ensinadas, e então recebidas e
aprendidas. Mas também envolve aprender com as ações e exemplos de um
professor e procurar fazer o mesmo (como em Fp 4.9). Envolve aprender não
apenas informação, mas um modo de vida totalmente novo e arrependido —
matar o velho “eu” e, com uma mente renovada, embarcar em uma nova
existência (como em Ef 4.19-24).
E, é claro, ao olhar para essas poucas ocorrências da palavra “aprender”,
não examinamos a multiplicidade de outros termos e frases que transmitem
os mesmos conceitos — que a vida cristã é uma questão de entender e adotar
uma nova visão de realidade, uma nova verdade, uma nova palavra que foi
anunciada, proclamada, ensinada, praticada e passada adiante; e que também
é uma questão de responder a essa palavra libertadora em arrependimento e fé
contínuos que são vividos em todas as esferas de nossas vidas.
“Aprender Cristo” é uma realidade que o Novo Testamento afirma
repetida e poderosamente.
No entanto, vale a pena perguntar se o “aprendizado” diminuiu (ou mesmo
desapareceu) em muitas igrejas modernas. E com isto não queremos dizer
que há menos ministérios pessoais do que deveria haver, ou menos grupos
pequenos, ou que toda igreja deveria ter um “pastor de aprendizado”.
O que queremos dizer é que, pela nossa observação de igrejas e por nossas
conversas com pastores em todo o mundo, a cultura que existe em muitas
igrejas não é mais uma cultura de aprendizado transformador, se é que já foi
um dia. Todo o “modo como fazemos as coisas por aqui” não é focado no
aprendizado transformador por meio da Palavra de Deus no poder do Espírito
de Deus.
Você descreveria a cultura de sua igreja dessa maneira? Você descreveria
sua própria vida dessa maneira, a propósito? Que outras culturas e estruturas
parecem estar operando no lugar?
Falaremos mais sobre isso na Fase 3, ao avaliarmos nossa cultura atual em
relação às nossas convicções. Mas não vamos nos antecipar.
O que é um discípulo? Um pecador perdoado que está aprendendo Cristo
em arrependimento e fé.
Poderíamos acrescentar um pequeno detalhe ao nosso diagrama para
representar isso — um sinal de “A” (aprendiz) acima da pessoa que foi
transportada das trevas para o reino do Filho, e que agora continua esse
aprendizado transformador em todas as esferas da vida, especialmente na
“comunidade de aprendizado transformador” que chamamos de “igreja”.
Em outras palavras:
• Pela cruz de Cristo somos resgatados do domínio das trevas para o reino
do Filho e temos uma herança eternamente segura em Cristo que já é
nossa.
• Nossa “caminhada” diária é agora na luz e não na escuridão,
desenvolvendo dia a dia quem realmente somos (como cidadãos do reino
de Cristo). Estamos todos em diferentes pontos nessa caminhada e
precisamos continuar avançando para o que está adiante. O movimento é
sempre para avançar, por assim dizer. Os aprendizes de Cristo são
transformados à medida que crescem para a maturidade em Cristo.
• Aqueles que permanecem presos no domínio das trevas também estão em
pontos diferentes e têm problemas diferentes. Alguns estão “longe” e são
duros de coração; outros estão “mais próximos”, por estarem ouvindo e
considerando o evangelho de Cristo.
• Assim, o objetivo de toda forma de ministério cristão pode ser resumido
simplesmente em procurar ajudar a todos, onde quer que estejam, a
avançar um passo — a aproximar-se para ouvir o evangelho e ser retirado
do domínio da escuridão a fim de entrar no reino; e depois a avançar em
direção à maturidade em Cristo em todos os aspectos de suas vidas.
• Os meios pelos quais Deus faz as pessoas avançarem são: Proclamação,
Prece dependente do Espírito, Pessoas como seus cooperadores e
Perseverança, passo a passo.126
Isso tem implicações importantes para a metodologia pela qual as pessoas
se tornam aprendizes de Cristo e crescem como aprendizes de Cristo.
Para começar, ela é inevitável e continuamente pessoal. Cada um tem suas
próprias lutas. Cada pessoa vive em um lugar diferente, seja no domínio das
trevas ou no reino da luz. Assim como é importante afirmar a importância da
vida corporativa da igreja — estamos unidos em amor como um só corpo —
também é importante dizer que o corpo é composto de muitos membros
individualmente diferentes.
Esse é o risco constante de todas as abordagens sistêmicas ou
programáticas para o aprendizado de Cristo: simplificarmos o processo e
tratarmos todos os envolvidos nesse programa como se estivessem no mesmo
ponto, necessitando da mesma abordagem. Esse não é um motivo para
renunciar a todas as tentativas de nos organizarmos, projetar sistemas ou
executar programas; isso seria quase impossível, de qualquer maneira. De
fato, na Fase 4, usaremos tempo e energia consideráveis nos organizando.
Mas, ao fazer isso, este é um risco a ser gerenciado e amenizado. Nossos
programas e atividades devem funcionar para ajudar cada um a avançar a
partir do ponto em que está.
Pegando mais termos emprestados da educação, o aprendizado de Cristo é
um aprendizado diferenciado. Ele atende cada aprendiz individual onde está
e procura levá-lo adiante. Naturalmente, há muitas coisas que aprendemos
juntos e em que somos encorajados juntos (especialmente na igreja todos os
domingos), mas as implicações e aplicações pessoais dessas verdades
precisam ser discutidas e colocadas em oração com cada pessoa. Assim,
quando Fred se torna um aprendiz de Cristo, ele deve ter seu próprio tutor ou
tutores — uma ou mais pessoas que realmente conhecem Fred e suas lutas,
que distinguem quais ensinamentos Fred ainda não apreendeu, que caminham
com ele durante meses e anos, que o ajudam a permanecer forte, a continuar
progredindo na piedade e a continuar resistindo e avançando.
O pastor reformado Richard Baxter foi muito incisivo nisso. Ele insistia na
necessidade da “conferência pessoal” combinada com a pregação pública. Em
sua opinião, um pastor que não combinasse seus sermões com instrução
pessoal regular ou catequização de seu rebanho estava negligenciando um
dever vital.127
Podemos levar a afirmação de Baxter um pouco mais longe (à luz do que
vimos acima) e dizer que isso se conecta particularmente com o papel de todo
o povo de Deus em proclamar a Palavra de Deus aos outros. Nem todos
seremos pregadores públicos nos púlpitos nem evangelistas nas praças, mas
todos nós podemos ser “tutores privados” para a multidão de indivíduos
(cristãos e não-cristãos) que conhecemos e com quem convivemos todos os
dias — em nossa família, em nosso local de trabalho, em nossa vizinhança,
em pequenos grupos de discípulos cristãos e assim por diante.
Falaremos mais sobre a relação entre a pregação pública e o ministério da
Palavra de todo o povo de Deus nas duas convicções que se seguem, mas, por
enquanto, vamos apenas destacar um dos benefícios do aspecto libertador de
pensar dessa maneira sobre a natureza gradual e perseverante do crescimento
cristão (e, portanto, do ministério cristão).
Se o objetivo do ministério cristão pode ser visto simplesmente como
ajudar qualquer pessoa que conhecemos a avançar um passo (em direção a
Cristo ou à maturidade em Cristo), então esta é uma tarefa que todo e
qualquer cristão pode abraçar com confiança. Se convocarmos o membro
médio da igreja para se alistar como ministro do evangelho, discipulador ou
evangelista, então (correta ou incorretamente) muitos se sentirão bastante
tentados a correr na direção oposta. Mas e se, em vez disso, disséssemos o
seguinte: “Por que você não ora pela pessoa ao seu lado (onde quer que ela
esteja), e tenta, pela sua palavra e exemplo, incentivá-la a avançar um passo
— ainda que um pequeno passo?”.
Isso é muito mais concreto, imediato e realizável para a pessoa comum.
Com a confiança de que Deus irá trabalhar por meio de sua Palavra e seu
Espírito, mesmo que lenta e gradualmente ao longo do tempo, todos nós
podemos fazer a nossa parte para ajudar todos à nossa volta a dar um passo à
frente em direção a Cristo.
Mobilizar nossos esforços para treinar e preparar o maior número de
nossos membros para esse tipo de ministério é um passo fundamental para
criar uma nova cultura de aprendizado de Cristo em nosso meio.
DISCUSSÃO
1) Usamos os quatro Ps para resumir os meios que Deus nos dá para fazer
discípulos. Tentem criar uma maneira simples de comunicá-los. Por
exemplo, tentem criar uma sigla usando:
a) outras quatro iniciais iguais
b) alguma palavra conhecida
c) outra coisa que você puder inventar
2) Todos os diagramas são inadequados de alguma forma. Tentem encontrar
alguma maneira de melhorar ou ajustar o diagrama para que ele
comunique melhor a essência do ministério cristão:
SUPERANDO INIBIÇÕES
Pode haver mais “ministério da Palavra por todos os membros” acontecendo
em cantos e rincões de nossas congregações do que pensamos, e nos
regozijamos quando ouvimos sobre isso. No entanto, também é justo dizer
que a maioria das pessoas em nossas igrejas não vê o falar a Palavra em
oração a outra pessoa para seu crescimento como uma parte normal de sua
vida cristã. Simplesmente não faz parte da expectativa deles, ou de sua
“cultura pessoal” — e, portanto, não faz parte da cultura de sua igreja.
Quando há uma “maioria silenciosa” (por assim dizer) em uma congregação,
é difícil mudar “a maneira como fazemos as coisas por aqui” para incluir uma
proclamação ampla e variada da Palavra. Ao olhar ao redor as pessoas não
veem expectativa de que isso aconteça, e nenhum exemplo que possam
perceber e seguir.
Como já conversamos com muitos pastores sobre isso e de fato treinamos
muitos leigos para falar a Palavra, sabemos que o problema raramente é
teórico. Poucas pessoas rejeitam as convicções que temos descrito. Poucos
iriam negar que os cristãos cotidianamente têm o papel de falar a Palavra e,
dadas as evidências bíblicas, isso não é surpreendente.
As duas maiores barreiras são simplesmente relutância pessoal ou
constrangimento em falar, e sentimentos de inadequação e falta de confiança
em saber por onde começar. Vejamos brevemente como abordar esses dois
aspectos.
a) Tratando a motivação
Embora falar a Palavra de Deus seja uma atividade única e espiritual, é
como outras falas humanas, no sentido de que, quando algo é realmente
importante para nós, não conseguimos deixar de falar sobre isso para as
pessoas que amamos.
É por isso, essencialmente, que não falamos mais da Palavra de Deus para
as pessoas ao nosso redor. Não valorizamos a Palavra o suficiente, e não
amamos as pessoas o suficiente. É um problema do coração — nossos
corações não estão suficientemente incendiados pela maravilha das
misericórdias de Deus e da majestade de Jesus Cristo; e nossos corações não
estão suficientemente cheios de amor e compaixão por aqueles que nos
rodeiam.160
Então, aqui está uma pergunta, que (agora, se não antes) você deve ser
capaz de responder rapidamente: Como pode um coração humano sem amor
ser transformado?
Resposta: pelo poder da Palavra e do Espírito de Deus, ministrado por
meio da proclamação com perseverança e oração por seu povo! Precisamos
ensinar e orar para que os olhos do coração de nosso povo sejam iluminados
para conhecer a esperança a que ele nos chamou, as riquezas de sua gloriosa
herança nos santos e a suprema grandeza de seu poder em relação a nós que
cremos.161 E precisamos ensinar e orar para que o Senhor faça nosso povo
“crescer e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos”.162
Em outras palavras, aprender a valorizar as glórias da graça de Deus e
amar aqueles que nos rodeiam é simplesmente parte do crescimento de um
“aprendiz de Cristo”, e acontece como todo aprendizado de Cristo: por meio
de ensino com oração que acontecem de várias maneiras, das quais o sermão
dominical é o centro e o marco principal.
Na prática, isso pode significar pregar uma série (digamos) em 1 Pedro e
explicar a clássica doutrina reformada do “sacerdócio de todos os crentes” de
2.1-10. Em Cristo, todos somos membros de um “sacerdócio santo”, o que
significa não apenas que todos temos acesso a Deus por meio de Cristo, mas
que todos nós oferecemos sacrifícios espirituais a Deus nele (como fazem os
sacerdotes).163 E um desses serviços sacerdotais é a proclamação — “a fim de
proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz”.164
Ou podemos expor 1 Pedro 4.7-11 e ensinar que o amor uns pelos outros
deve nos levar ao serviço mútuo de todos os tipos, incluindo falar aos outros
de acordo com os “oráculos de Deus”.165
No entanto, o diagnóstico e tratamento do coração precisam acontecer
pessoal e individualmente, além de corporativamente. Dentro das várias
“treliças” menores do ministério da vida da igreja (em grupos e reuniões
pessoais e assim por diante), também precisaremos ensinar e orar por esse
objetivo.
b) Tratando a falta de confiança
Outro impedimento significativo a ser enfrentado e que gera inibição é a
sensação de inadequação ou falta de confiança que muitos cristãos sentem ao
falar com os outros. Podemos fazer duas coisas principais para resolver isso:
• A primeira é desviar a visão das pessoas das coisas assustadoras que elas
podem achar que você quer dizer com “ministério da Palavra” (por
exemplo, abordar estranhos e evangelizá-los, liderar um grupo de estudo
bíblico ou pregar um sermão) para onde elas poderiam começar com o
ministério da Palavra, ajudando alguém próximo a avançar um passo (por
exemplo, marido e mulher lendo a Bíblia juntos por 15 minutos uma vez
por semana). Precisamos continuar ensinando e exemplificando o fato de
que “falar a Palavra de Deus” acontece em uma multiplicidade de formas
e contextos, e que cada um de nós terá pontos fortes e oportunidades
particulares para fazê-lo.
• O segundo passo é aumentar a confiança das pessoas em ministérios
simples e variados por meio do ensino, exemplo, encorajamento e
treinamento (por exemplo, utilizando alguns cursos ou estruturas simples
de treinamento).166 Persuadir, ensinar e preparar os cristãos para falar em
espírito de oração a Palavra de Deus é semelhante a qualquer outra área
da vida e da piedade cristã em que “aprendemos Cristo”, é como aprender
a orar, a ter paciência ou estar contente. As pessoas estarão em pontos
diferentes e terão desafios diferentes. Alguns estarão muito para trás ou já
até desistiram; alguns terão começado; alguns estarão bem no caminho.
Como tudo o mais, é uma questão de ajudar cada um a avançar um passo
de onde está, por meio de ensino, instrução e oração paciente.
Daremos sugestões mais práticas sobre como progredir nessas áreas na
Fase 2 e na Fase 4. Mas antes de concluirmos, precisamos explorar a relação
entre os poucos e os muitos.
DISCUSSÃO
1) Olhem atentamente para o diagrama da Igreja Expositiva:
a) O que vocês gostam nele?
b) Onde vocês acham que ele poderia ser melhorado ou modificado?
c) Vocês acham que ele descreve sua igreja atualmente? Por que, ou por
que não?
2) Quais são as principais razões (em sua opinião) pelas quais muitas pessoas
em nossas igrejas não falam da Palavra a outras pessoas na igreja, em casa
ou na comunidade?
3) Analisem uma seleção dos seguintes textos (alguns dos quais são
mencionados acima):
1 Tessalonicenses 5.11-14
Hebreus 13.7-15
1 Pedro 2.9-12
1 Pedro 4.7-11
Tito 1.7-9; 2.1-10
Efésios 4.11-29
Colossenses 3.12-17
a) O que vocês aprendem em cada um sobre a natureza da proclamação da
Palavra e as diferentes formas que isso assume?
b) Que razões ou motivações são dadas para todos os aprendizes de Cristo
falarem a Palavra aos outros?
Isto posto, também é importante preservarmos o lugar único dos onze discípulos (ou “apóstolos”) nos propósitos de discipulado
de Deus. Foram eles que receberam em primeira instância a comissão para chamar todas as pessoas à obediência ao que Jesus
lhes ensinara. Pela providência de Deus, é na palavra escrita dos apóstolos que encontramos o ensinamento de Jesus. Esse
evangelho apostólico, consagrado nas Escrituras, é o nosso elo com a Palavra e a missão de Jesus. Nós nos tornamos discípulos
ouvindo e obedecendo ao ensinamento de Jesus, mediado a nós pelos apóstolos especialmente comissionados. Como
discipuladores, simplesmente repetimos o ensinamento dos apóstolos repetidas vezes.
“O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o
coração” (Lc 6.45).
Em seu catálogo do pecado humano em Romanos 3, Paulo cita os salmos: “A garganta deles é sepulcro aberto; com a língua,
urdem engano, veneno de víbora está nos seus lábios, a boca, eles a têm cheia de maldição e de amargura” (Rm 3.13-14).
1Co 12.3; Rm 10.9-10; Hb 13.15; Ef 6.18; 5.18-20.
Lionel Windsor, Gospel Speech: A Fresh Look Atos the Relationship between Every Christian and Evangelism (Sydney, Matthias
Media, 2015), 24. Windsor dedica atenção especial a Deuteronômio 32, Isaías 59 e Salmo 51 como exemplos desse
movimento ou padrão comum.
Por exemplo: Nm 11.25; 1Sm 10.10; 1Cr 12.18; 2Cr 24.20.
Nm 11.29.
At 2.11.
At 2.1-4; este fato nem sempre foi notado em meio ao debate sobre a natureza do falar em línguas. Todos receberem o espírito é
um nítido contraste com a experiência de Israel na era anterior ao Messias, quando o Espírito fora derramado somente sobre
profetas escolhidos e esparsamente em reis e outras figuras.
Isto é, Pedro explica o que está acontecendo no verso 11 mostrando que isto é o que o profeta Joel disse que aconteceria quando o
Espírito fosse derramado — que o povo de Deus profetizaria.
Este é o ponto culminante do sermão de Pedro: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito
Santo, derramou isto que vedes e ouvis. [...] Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós
crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At 2.33,36).
At 2.38-39.
At 8.4.
At 6.2-6.
At 8.4-6.
At 8.26-35.
At 8.35; cf. Atos 2.16, 25, 34.
Rm 1.11-12.
Rm 15.14.
1Co 14.26.
Ef 4.15-16. Também mais adiante no capítulo: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa
para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).
Cl 1.28.
Cl 3.16.
Cl 4.2-6.
1Ts 4.18.
1Ts 5.11.
1Ts 5.14.
Hb 3.13.
Hb 10.24-25.
Tito 1.10-11 e 3.9-11 oferecem dois desses muitos avisos.
Neste contexto, a palavra “proclamação” tem suas limitações. Ela conota um discurso ou anúncio formal preparado em algum
tipo de ambiente público. Algumas das formas variadas de falar a palavra que os cristãos praticam serão assim, mas não são
todas, e nem sequer a maioria.
Veja o adendo no final da Convicção 5 para mais a respeito do lar como uma esfera para o ministério.
Dietrich Bonhoeffer afirma desta maneira: “É inconcebível que as coisas que são da maior importância para cada indivíduo não
sejam faladas um para o outro. É anticristão privar conscientemente o outro do único serviço decisivo que podemos prestá-lo.
Se não conseguimos nos forçar a dizê-lo, temos que nos perguntar se não estamos ainda vendo nosso irmão revestido de sua
dignidade humana, que temos medo de tocar, esquecendo, portanto, a coisa mais importante: que ele também, não importa
quão velho ou honrado ou distinto seja, ainda é um homem como nós, um pecador desesperadamente necessitado da graça de
Deus. Ele tem as mesmas grandes necessidades que temos, e precisa de ajuda, encorajamento e perdão assim como nós” —
Life Together (Londres: SCM, 2015), 80-85 [edição em português: Vida em comunhão, 7ª ed. (São Leopoldo: Sinodal, 2009)].
Ef 1.18-19.
1Ts 3.12
1Pe 2.4-5.
1Pe 2.9.
1Pe 4.11. Às vezes usamos a doutrina dos dons para despreparar ao invés de preparar. Assim, lemos essa passagem como uma
justificativa para não falar, concluindo (talvez com alívio) que “tenho o dom de servir, não de falar”. Mas a lógica da passagem
é que o amor nos levará ao serviço de todos os tipos, incluindo o falar, e que o faremos “na força que Deus supre, para que, em
todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo”.
Para dar dois exemplos simples: (1) Você pode ter como objetivo ensinar ao maior número possível de casais como ler a Bíblia
juntos, usando o livro de David Helm, One-to-one Bible reading; (2) Você pode ter como objetivo ensinar ao maior número
possível de membros os elementos básicos do “ministério do banco” no domingo, usando um recurso como o livro de Colin
Marshall e Tony Payne, Six steps to loving your church (Sydney: Matthias Media, 2013).
Peter Adam, Speaking God’s words: A practical theology of preaching (Leicester: Intervarsity Press, 1996), 59. Em seu recente
livro sobre pregação, Timothy Keller concorda com a análise de Adam e classifica os diversos ministérios da palavra em três
níveis — com o sermão como “nível 1”, encorajamento e aconselhamento pessoal informal como “nível 3”, e uma forma
intermediária, semiformal do ministério (como liderar um estudo bíblico) como “nível 2”. Essa é uma taxonomia interessante e
potencialmente útil, se reconhecermos as fronteiras difusas que existem particularmente entre os níveis 2 e 3. Ver Timothy
Keller, Pregação: comunicando a fé na era do ceticismo (São Paulo: Nova Vida, 2017).
Claire Smith, Pauline communities as “scholastic communities”: a study of the vocabulary of “teaching” in 1 Corinthians, 1 and
2 Timothy and Titus. WUNT 2.335 (Tubingen: Mohr Siebeck, 2012), 386.
Convicção 5: Onde fazer discípulos?
Das nossas cinco convicções sobre fazer discípulos, esta última pode parecer
um pouco estranha, ou mesmo desnecessária. As outras quatro convicções
respondem perguntas obviamente importantes: por que devemos fazer
discípulos, o que é realmente um discípulo, como fazemos isso e quem faz o
trabalho.
No entanto, essa convicção final diz respeito ao campo no qual ocorre o
discipulado — o onde do recrutamento e ensino de “aprendizes” de Cristo.
Isso é mais importante do que podemos imaginar. Em nossa experiência,
uma das barreiras para uma cultura abrangente de discipulado em muitas
igrejas é a falta de compreensão sobre onde ele deve acontecer. Para muitas
igrejas, o discipulado possui dois locais principais.
Em primeiro lugar, o entendimento comum em muitas igrejas é que o
discipulado ocorre em um local privado. Fazer discípulos é geralmente visto
como um trabalho pessoal e íntimo. Acontece em reuniões individuais, em
cafés, em longas caminhadas quando falamos sobre nossas vidas cristãs, ou
talvez em pequenos grupos que se encontram nas casas das pessoas. Para
muitas pessoas, o “discipulado” é geralmente associado a passar tempo com
novos crentes para firmá-los nos fundamentos da fé. Assim, se queremos
melhorar o “discipulado” em nossa igreja, estamos normalmente pensando
em lugares ou contextos fora de nossa reunião dominical regular na igreja.
Novamente, há aqui uma suposição implícita — que precisa ser examinada e
questionada — sobre onde (ou seja, em quais contextos, locais, eventos e
atividades) o discipulado deve acontecer.
Em segundo lugar, quando se trata do desafio de “fazer discípulos de todas
as nações”, é muito comum que isso seja visto principalmente como um
empreendimento missionário que deveria estar ocorrendo “nas nações” —
isto é, em algum lugar em outro país. Para muitas igrejas, o compromisso da
Grande Comissão significa ter um orçamento para missões, apoiar agências
missionárias no exterior, orar por missionários e assim por diante. A
suposição muitas vezes implícita aqui é que as “nações” (isto é, as pessoas de
outros países) precisam ouvir o evangelho e se tornar discípulas de Jesus, mas
que por algum motivo nosso local — nossa rua, bairro ou comunidade — não
precisa de tanta atenção.
Então, onde o discipulado deve acontecer?
Mesmo que a resposta a essa pergunta esteja implícita em muitos aspectos
do que já vimos nas convicções anteriores, vale a pena reservar um tempo
para esclarecer e aprofundar nossa compreensão.
A IGREJA APRENDIZ
Simplificando, “aprender Cristo” acontece onde quer que a Palavra e o
Espírito de Deus estejam operando ao longo do tempo pelas pessoas —
porque é assim que acontece o aprendizado de Cristo (como vimos na
Convicção 3). Acontece no começo de nossa vida cristã quando somos
libertos das trevas para a luz e aprendemos os fundamentos da fé; continua a
acontecer enquanto crescemos e somos transformados rumo à maturidade em
Cristo.
Isso significa que o “discipulado” pode e deve acontecer em toda e
qualquer esfera de nossas vidas:
• Quando pregamos o evangelho e a Palavra de Deus para nós mesmos —
que é o que realmente fazemos quando, em espírito de oração, lemos e
meditamos sobre as Escrituras a sós;
• Quando nos reunimos com uma ou duas outras pessoas (formal ou
informalmente) e em oração falamos a Palavra de Deus uns aos outros —
quando lemos a Bíblia junto com nosso cônjuge ou filho, compartilhamos
(ou recebemos) uma palavra bíblica com um colega de trabalho ou
vizinho, ou conversamos com alguém no café depois da igreja e falamos
sobre a Palavra de Deus que ouvimos;
• Quando nos reunimos em um pequeno grupo para ler, estudar e falar a
Palavra da Bíblia uns com os outros e orar;
• Quando nos reunimos em um grupo maior para ouvir a Palavra de Deus
ensinada e explicada, e para responder a ela juntos em arrependimento e
fé (isto é, quando vamos à igreja).
Dito de outra maneira: se um discípulo é alguém que está passando por um
“aprendizado transformador” em Cristo, então uma igreja é uma comunidade
de aprendizado transformador em Jesus Cristo — um ajuntamento que Deus
convocou para que possamos aprender seu Filho. Tudo o que fazemos,
promovemos e facilitamos como uma comunidade de igreja — pessoalmente,
em duplas, em grupos ou todos juntos no domingo — deve ensinar e
representar Cristo, para que todos possam aprender Cristo.
Esta é uma visão muito maior e mais rica do que a tendência, tão comum
nas igrejas modernas, de departamentalizar o “discipulado” em uma área
especializada voltada principalmente às disciplinas pessoais ou à vida em
pequenos grupos. O grande plano de Deus é fazer discípulos de Cristo de
todas as nações por meio dos quatro Ps (Proclamação, Prece, Pessoas,
Perseverança), e é como parte do cumprimento deste plano que ele nos ajunta
em comunidades — nas igrejas (ou assembleias).
Deus em sua sabedoria nos uniu como igreja e nos deu uns aos outros —
não apenas porque nosso destino é precisamente este (estarmos juntos em
torno de Jesus Cristo em alegria, celebração e contemplação redimida), mas
porque precisamos uns dos outros. Deus nos dá uns aos outros como o meio
pelo qual ouvimos a Palavra de Cristo e aprendemos Cristo.
Dietrich Bonhoeffer é um desses teólogos que todos parecem querer citar e
chamar para perto de si. Não temos tais pretensões, nem queremos sugerir
que o que estamos dizendo tem mais ou menos chance de ser verdade porque
o citamos. Mas essa passagem de Vida em Comunhão expressa com clareza o
que estamos tentando dizer sobre a igreja ser uma comunidade cujo princípio
operacional é o falar e ouvir mútuo da Palavra:
Cristianismo significa comunhão através de Jesus Cristo e em Jesus Cristo.
Nenhuma comunidade cristã é mais ou menos que isso [...]
O que isso significa? [...]
Primeiro, o cristão é o homem que não mais busca sua salvação, sua libertação, sua
justificação em si mesmo, mas somente em Jesus Cristo [...] A morte e a vida do
cristão não são determinadas por seus próprios recursos; em vez disso, ele encontra
ambos somente na Palavra que vem a ele de fora, na Palavra de Deus para ele [...]
O cristão vive inteiramente pela verdade da Palavra de Deus em Jesus Cristo. Se
alguém lhe perguntar “onde está a sua salvação, a sua justiça?”, ele nunca pode
apontar para si mesmo. Ele aponta para a Palavra de Deus em Jesus Cristo, que lhe
assegura a salvação e a justiça. Ele está tão alerta quanto possível a esta Palavra.
Porque ele diariamente tem fome e sede de justiça, ele diariamente deseja a Palavra
redentora. E ela só pode vir de fora [...]
Mas Deus colocou esta Palavra na boca dos homens para que ela possa ser
comunicada a outros homens. Quando uma pessoa é atingida pela Palavra, ele a
fala para os outros. Deus quer que o procuremos e encontremos sua Palavra viva
no testemunho de um irmão, na boca de um homem. Portanto, um cristão precisa
de outro cristão que fale a Palavra de Deus para ele. Ele precisa dele sempre que
fica inseguro e desanimado, pois ele, por si mesmo não pode se ajudar sem faltar
com a verdade. Ele precisa de seu irmão como portador e proclamador da palavra
divina da salvação. Ele precisa de seu irmão somente por causa de Jesus Cristo. O
Cristo em seu coração é mais fraco que o Cristo na palavra de seu irmão; seu
próprio coração é inseguro, o de seu irmão é seguro.
E isso também esclarece o objetivo de toda a comunidade cristã: eles se encontram
como portadores da mensagem de salvação. Como tais, Deus permite que eles se
encontrem e lhes dá comunidade. Sua comunhão é fundada unicamente em Jesus
Cristo e nesta “justiça externa”. Tudo o que podemos dizer, portanto, é: a
comunidade dos cristãos surge apenas da mensagem bíblica e reformada da
justificação do homem apenas pela graça; apenas esta é a base do anseio dos
cristãos uns pelos outros.169
Sem dúvida, leitores diferentes chegarão a este livro com diferentes
eclesiologias e tradições, não apenas com respeito à política e ao governo,
mas também com relação a como a reunião dominical da igreja acontece
(como é chamada, como se desenrola, como é a música e assim por diante).
Dificilmente conseguiríamos abarcar todas essas questões, muito menos
chegar a um acordo sobre elas.
Entretanto, quaisquer que sejam nossas diferenças em eclesiologia,
tradição ou estilo de igreja, há um ponto fundamental com o qual todos
devemos concordar: a igreja, em todos os aspectos de sua vida, é uma
comunidade de aprendizado transformador em Cristo.
Se isso for verdade, então nossa reunião dominical deve ser a ocasião
principal, central e mais destacada na qual o “aprendizado de Cristo” ocorre,
e a partir da qual todos os outros aprendizados na comunidade recebem sua
direção e ímpeto. Se o aprendizado transformador está no centro de nossa
vida conjunta como povo de Deus, então ele deve estar no centro de nossas
reuniões regulares de domingo.
Ao dizer isso, não estamos de modo algum sugerindo que o culto
dominical deva ter o estilo e o ambiente de uma sala de aula! Não é esse tipo
de “aprendizagem” que está envolvido (como esperamos ter deixado claro na
Convicção 2). Sempre que ocorre o verdadeiro aprendizado em Cristo, o
próprio Deus está em ação — falando sua Palavra e inclinando nossos
corações para responder em obediência, fé, gratidão, amor e louvor. Não há
nada de desapaixonado ou meramente intelectual nesse tipo de aprendizado,
seja em nosso quarto enquanto lemos as Escrituras, em um pequeno grupo ou
em nossas reuniões dominicais. É um encontro vivo, relacional e
transformador com Deus por sua Palavra e espírito, quando ouvimos sua voz
e lhe respondemos alegremente.
O domingo não é apenas a principal ocasião em que aprendemos Cristo
uns com os outros — é também um dos impulsionadores mais poderosos de
toda a cultura da igreja. Se “a maneira como fazemos as coisas” no domingo
não comunica, exemplifica, expressa, promove e defende o “aprendizado de
Cristo”, então há pouca chance de que a cultura de nossa igreja mude de
maneira significativa.
Conversando com pastores nos últimos seis anos, essa tem sido uma
questão significativa — e, portanto, essa convicção é particularmente
importante. Você acredita que o domingo é uma plataforma para fazer
discípulos? Você entende que um de seus principais propósitos é ajudar todos
os presentes a “avançar um passo” por meio da proclamação da Palavra de
Deus em oração? E como isso aconteceria em seu próprio contexto? Já
tratamos disso na Convicção 4, ao falar sobre como um “púlpito expositivo”
ajuda a gerar uma “igreja expositiva”, e voltaremos a esse assunto nas Fases
3 e 4.
Mas primeiro precisamos pensar sobre o outro local-chave em que os
discípulos são feitos.
DISCUSSÃO
1) A discussão mais extensa da Bíblia sobre a dinâmica e os propósitos da
igreja se encontra em 1 Coríntios 12–14. Esta se tornou uma passagem
controversa nos últimos 50 anos, por causa dos debates sobre a natureza
do falar em línguas e da profecia. Sem gastar muito tempo nesses detalhes
controversos, leiam esses três capítulos e anotem o seguinte:
a) Quais são as principais metáforas ou imagens sobre a vida da igreja?
b) Quais são as principais marcas que devem caracterizar o que fazemos
quando nos reunimos?
c) Em que aspectos somos todos diferentes?
d) Em que aspectos estamos todos buscando a mesma coisa?
e) Como vocês acham que o capítulo 13 se relaciona com os capítulos 12 e
14? Tentem fazer um resumo de uma frase de cada capítulo, que explique
o argumento básico de toda a seção.
2) Como vocês pensam que é uma “comunidade de aprendizado” na prática?
Pensem em quantas maneiras diferentes puderem imaginar — formal e
informalmente — para que as pessoas ajudem outras a “avançar um passo”
como parte de sua comunidade eclesiástica.
3) Como Paulo lidou com o pensamento e o comportamento etnocêntrico,
tribal e egoísta em si mesmo e nas igrejas? Leiam e reflitam em 1
Coríntios 8–10 e Gálatas 2.
4) Pensem a respeito de cada subcultura ou comunidade com as quais vocês
estão em contato (individualmente ou como igreja):
a) Qual seu sucesso em buscar fazer “aprendizes” de Cristo nessas
comunidades?
b) Se pessoas de algumas dessas comunidades fossem à sua igreja, o que
as ajudaria ou atrapalharia em suas reuniões atuais?
5) Tentem encontrar algumas estatísticas sobre a composição étnica, religiosa
e socioeconômica da sua região.
a) Qual é a semelhança entre a membresia de sua igreja e a composição de
sua comunidade local?
b) Quais subculturas ou tipos de pessoas são de aproximação mais difícil
para os membros da sua igreja, em sua opinião? Por que isso é difícil
para eles?
c) Pensem em alguns membros da igreja que poderiam ter um papel
especial em alcançar subgrupos de sua comunidade — não apenas grupos
étnicos e religiosos, mas pessoas associadas por idade, trabalho,
deficiência, solidão, necessidade financeira, interesse cultural ou
esportivo, e assim por diante. (Não se sintam na obrigação de fazer nada
com essa informação ainda; voltaremos a tudo isso nas Fases 3 e 4.)
CONCLUSÃO
Como fazemos discípulos no lar? Por meio dos mesmos quatro Ps, como na
igreja e no mundo. Se pensarmos em nossos lares como “pequenas igrejas” e
as guiarmos desta maneira, diminuímos muito nossa chance de erro.
O puritano Richard Baxter é conhecido por sua missão de catequizar
famílias e recrutar os líderes dos lares como cooperadores no ministério:
Devemos ter um olhar especial sobre as famílias, para que elas estejam bem
ordenadas, e os deveres de cada relação desempenhados. [...] Se formos
negligentes nisso, colocaremos tudo a perder. O que faremos para reformar uma
congregação, se todo o trabalho for lançado apenas sobre nós, e se os chefes das
famílias negligenciam esse dever necessário, pelo qual eles são obrigados a nos
ajudar? Se algum bem for iniciado pelo ministério em qualquer alma, uma família
mundana, descuidada e sem oração provavelmente irá sufocá-lo ou impedi-lo; ao
passo que, se ao menos conseguisse fazer com que os governantes das famílias
cumprissem seus deveres, assumissem o trabalho onde você o deixou e o
ajudassem, quanto bem poderia ser feito! Suplico-lhe, portanto, que, se desejar a
reforma e o bem-estar de seu povo, faça tudo o que puder para promover a religião
familiar [...] Obtenha informações sobre como cada família é ordenada, para saber
como prosseguir em seus esforços para o bem deles. [...]
Você provavelmente não verá qualquer reforma geral, até que obtenha a reforma
da família. Alguma pequena religião pode haver, aqui e ali; mas enquanto estiver
confinada a indivíduos, e não for promovida em famílias, não prosperará, nem
prometerá muito aumento futuro.200
Em termos práticos, isso significa que, ao pensar sobre como vamos
ensinar, motivar, apoiar e preparar todo o nosso pessoal para serem
aprendizes de Cristo que ajudem os outros a aprenderem Cristo, não devemos
excluir a casa como um local-chave para que isso aconteça. Não devemos
limitar nosso pensamento às atividades da igreja e grupos de jovens, por um
lado, e atividades evangelísticas, por outro. O lar é como um elo onde a igreja
e o mundo se encontram. É tanto um local onde um frutífero “ministério dos
4Ps” pode acontecer — entre maridos e esposas, pais e filhos, e a família
estendida — quanto um pequeno bolsão do reino de Cristo, testemunhando às
ruas e bairros do efeito transformador do evangelho.
É claro que, como qualquer aspecto de nossas vidas e igrejas, nossos lares
estão longe de ser perfeitos. De fato, para alguns de nós, ver nossa família
reformada pelo evangelho parece uma esperança perdida. Nossa mais
profunda tristeza é que alguns membros da nossa família estão perdidos na
escuridão sem Cristo. “Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido?
Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”201 É exatamente isso: não
sabemos, mesmo quando edificamos nossa vida familiar no evangelho. Para
muitos de nós, o evangelho dividiu nossas famílias como Jesus disse que
aconteceria.202 Sofremos muito com isso, nos culpamos por “errar” de alguma
forma, e imploramos pela misericórdia de Deus em nosso lar fragmentado.
Mas a verdade permanece: se queremos uma cultura da igreja de
aprendizado transformador, nossos lares precisam refletir essa visão, e nossas
famílias precisam ser ensinadas, encorajadas e preparadas para abraçá-la. A
conexão entre fazer discípulos em casa e na igreja é muito próxima. Uma
alimentará a outra.
DISCUSSÃO
1) Que ambições para nossos filhos às vezes estão em desacordo com o
propósito do discipulado?
2) Como serão nossos lares se eles forem comunidades de aprendizado
transformador sobre o evangelho?
3) Como essa imagem se compara ao que eles são agora?
4) Como os programas de nossa igreja podem desenvolver o aprendizado no
lar, em vez de substituí-lo?
5) Como vocês acham que o ensino da Bíblia sobre o lar se aplica ao
fenômeno cada vez mais comum de pessoas solteiras que compartilham
uma casa?
6) Por que muitas vezes nos vemos mais envolvidos no discipulado fora de
casa do que dentro dela?
7) Como a nossa igreja poderia preparar os pais para fazerem seus lares
crescerem como comunidades discipuladoras? Quais são os obstáculos
para que isso seja alcançado?
8) Que hábitos regulares de leitura da Bíblia, oração e comunhão vocês
precisam reafirmar?
Bonhoeffer, Life Together, p. 11-12.
Mt 28.18-19.
Talvez possamos nos solidarizar com a lentidão dos discípulos, porque em algumas etapas de seu ministério no evangelho de
Mateus, Jesus envia os discípulos exclusivamente às “ovelhas perdidas da casa de Israel” (10.6). Mas essas ovelhas perdidas
rejeitam continuamente seu Messias e sofrem o juízo (12.39ss), e em seu lugar as nações são convidadas a participar do reino
(por exemplo, 15.21-28). Em muitos lugares, Mateus antecipa que as pessoas de outras nações devem ser incluídas no reino
(4.15-16; 8.5-13; 10.18; 13.38; 24.14). Esse movimento — dos discípulos enviados a Israel, da rejeição de Israel e da inclusão
de todas as nações — é, em si mesmo, uma figura em miniatura do todo da história da salvação.
Gn 12.1-3; 17.1-8; 22.15-18.
Êxodo 19.1-6 deixa claro que a razão pela qual Deus havia redimido Israel do Egito para ser sua própria possessão preciosa era
para que eles fossem um “reino de sacerdotes” (isto é, para mediar Deus às nações).
Is 49.6.
Mt 12.20-21.
Mt 20.18-19.
At 2.23.
Ef 6.12; veja a seção estendida na Convicção 1 sobre isso.
Ef 2.14-18.
1Pe 2.9.
Ef 2.12-13.
Lc 24.47.
At1.8.
At 10.28.
At 11.18.
At 15.9.
1Co 9.22-23.
Há uma questão substancial à espreita aqui que só podemos mencionar; a saber, o debate entre aqueles que dizem que a igreja
deve sair em missão para as culturas e comunidades ao nosso redor (a abordagem “missional”); e aqueles que tentam criar
reuniões da igreja que sejam atraentes para pessoas de fora (a igreja “atrativa”). Nós não pensamos que seja necessário
escolher entre uma das alternativas! As igrejas devem sempre encontrar maneiras de sair para as comunidades vizinhas com o
evangelho (em vez de esperar que elas venham até nós); mas devemos também conduzir nossas reuniões da igreja de tal
maneira que, se e quando pessoas de fora se juntarem a nós, tenham uma experiência acolhedora, acessível e inteligível, que os
aponte para o Cristo e o evangelho. Dito de outro modo: mesmo que a igreja seja a reunião dos salvos, por ser uma
comunidade moldada pelo evangelho, sempre terá um coração aberto aos perdidos, tanto para sair para o mundo quanto para
acolher curiosos e forasteiros em nossas reuniões. Vamos falar muito mais sobre tudo isso na Fase 4.
Ap 7.10.
1Co 16.19.
Rm 16.3-5.
Cl 4.15.
At 2.46; 5.42; 8.3; 20.20.
As duas principais passagens são Colossenses 3.18-4.1 e Efésios 5.22-6.9, mas veja também Tito 2.1-10 e 1 Pedro 2.13-3.7.
Cl 3.17.
Gl 3.28.
No primeiro caso, porque a Palavra de Deus não era “difamada” (v. 5); no outro, por ornar a “doutrina de Deus, nosso Salvador”
(v. 10).
1Tm 3.1-13; Tt 1.1-9.
Ef 6.1-4; cf. Dt 6.1-9.
Richard Baxter, The Reformed Pastor, 100-102 [edição em português: Manual pastoral de discipulado, 2ª ed. (São Paulo: Cultura
Cristã, 2015)].
1Co 7.16.
Mt 10.34-39.
Resumo
Antes de começarmos a aplicar as convicções recentemente aprofundadas às
nossas próprias vidas e a toda a cultura de nossa igreja, precisamos fazer uma
breve pausa para consolidação e resumo.
Vamos relembrar os pontos principais das cinco convicções e resumi-las
esquematicamente à medida que avançamos.
Aqui está outro pensamento que não abordamos na Convicção 3, mas que irá
ajudá-lo a levar essas ideias adiante nas fases seguintes.
Para pensar com mais clareza sobre os diferentes “lugares” que as pessoas
ocupam nesse espectro de avanço, poderíamos identificar quatro estágios
gerais pelos quais as pessoas passam em seu caminho para “avançar”:
• Algumas pessoas estão muito “distantes” de Cristo e do seu reino; eles
podem nunca ter conhecido ou falado com um cristão. Muitas vezes, a
primeira coisa de que precisam para avançar um passo é conhecer e se
envolver com um cristão.
• Outros conheceram e se envolveram com cristãos ou com o cristianismo
de alguma forma. O próximo passo para eles é ouvir o evangelho; isto é,
ser evangelizado.
• Para aqueles que responderam ao evangelho com fé e arrependimento,
seu próximo passo é estabelecer-se como cristão, criar raízes e começar a
crescer em piedade e semelhança de Cristo (uma “caminhada” que
continuará pelo resto de suas vidas).
• À medida que os cristãos se estabelecem e crescem em amor e
conhecimento, eles se tornarão cada vez mais preocupados não apenas em
avançar mais passos, mas em ajudar os outros a fazer o mesmo, como
puderem. Eles se equiparão para isso por meio de ensino, encorajamento,
treinamento e oração, e serão beneficiados por isso.
Sinta-se à vontade para criar sua própria maneira de resumir essa estrada
que a maioria das pessoas percorre, mas gostamos de usar esses quatro Es
como indicadores úteis para diferentes etapas da jornada: Envolver,
Evangelizar, Estabelecer e Equipar.203
Podemos adicioná-los ao nosso diagrama assim:
PROJETO
Agora é com vocês. É hora de juntar tudo que foi aprendido ao aprofundar
suas convicções, criando sua própria maneira de expressá-las.
Exercício 1: Escreva um manifesto
A partir do trabalho sobre as cinco convicções, escrevam um resumo do
que vocês acreditam sobre o discipulado e sobre como fazer discípulos.
Vocês podem querer usar nossos cinco títulos ou criar os seus. Vocês podem
querer usar (ou modificar) nosso diagrama para ilustrar seu resumo ou criar
um personalizado.
O que vocês querem expressar é o seu DNA teológico, ou sua visão do
ministério cristão. Não façam muitos subtítulos ou tópicos — a ideia é
escrever um documento curto e prático (com, digamos, não mais que 1000
palavras) que possa funcionar como um resumo direto do que vocês
acreditam e do que os motiva.
Sugerimos que uma pessoa na sua equipe do Projeto Videira fique
responsável por apresentar um primeiro esboço que os outros possam ajustar,
debater e melhorar.204
Exercício 2: Resumir
Após finalizar seu manifesto, tentem resumi-lo em uma declaração
sintética, simples e convincente que funcione e faça sentido para o seu
pessoal. Este não é necessariamente o lema da igreja a ser colocado em uma
placa, ou ser usado em um anúncio de jornal; esta é uma declaração interna
de missão ou propósito que lembre seus membros do que vocês estão
tratando como igreja.
Façam isso em uma frase, se possível. Evitem ideias vagas ou genéricas.
Não tentem fazer algo cativante ou esperto antes de ter certeza do que querem
dizer.
Exercício 3: Preparar uma reunião hipotética para comunicar a visão
aos seus membros
Como uma forma de esclarecer ainda mais suas convicções e como
comunicá-las, desenvolvam os Exercícios 1 e 2, elaborando o rascunho de
uma “reunião de visão” com toda a sua igreja — o conteúdo de uma reunião
especial em que apresentariam a toda a congregação as principais convicções
que servirão de base para seu avanço coletivo.
a) O que seria incluído nessa apresentação?
b) Quais passagens da Bíblia seriam lidas, explicadas ou discutidas?
c) Que ilustrações ou exemplos principais seriam usados?
d) A partir dessas convicções, como vocês convenceriam sua congregação
da necessidade de mudança?
e) Que perguntas vocês antecipariam?
f) O que eles receberiam para ler em casa, para uma discussão mais
profunda?
Revisitaremos este exercício na Fase 4, mas o esboço preparado agora será
muito útil não apenas para cristalizar suas convicções, mas para começar a
pensar em como vocês irão comunicá-las à congregação como um todo.
Utilizaremos essas quatro grandes categorias ou estágios mais tarde nas Fases 3 e 4, tanto para avaliar a cultura atual de nossa
igreja quanto para planejar a mudança. Nós achamos que você pode considerar estas etapas (ou outra versão delas que você
pode elaborar) como uma estrutura mental útil para pensar sobre os diferentes aspectos da cultura de sua igreja. Mas queremos
enfatizar, neste ponto, que elas são apenas isso — uma estrutura útil para pensar, não uma designação bíblica ou um conjunto
de rótulos fixos ou definitivos.
Talvez seja melhor que a pessoa a fazer esse esboço não seja o pastor titular da igreja — a menos que sua equipe esteja
suficientemente confortável para criticar o esboço, mesmo que seja escrito pelo pastor.
Fase 2 | Reformando sua Cultura
pessoal
Reformando sua cultura pessoal
A maioria dos processos de revisão estratégica ou planejamento, incluindo os
realizados pelas igrejas, passam direto por este passo que vamos apresentar.
Eles começam onde começamos: identificando e esclarecendo crenças
básicas, convicções, valores ou propósitos (ou como quiser chamá-los). Em
seguida, passam para como adequar a cultura organizacional a esses valores
ou propósitos. Onde estão os problemas ou obstáculos? O que precisamos
abordar, em que ordem? Onde exatamente queremos ir, e como podemos
chegar lá? E quais são as etapas de ação?
Todas essas questões são importantes e chegaremos à nossa própria versão
delas no devido tempo.
Mas primeiro queremos recomendar que você passe algum tempo em uma
parte do processo que muitas pessoas deixam de lado, e que você também
(suspeitamos) será tentado a pular.
Queremos que você tire algum tempo para reformar sua própria cultura
pessoal. “A maneira como você faz as coisas” é influenciado e moldado pelas
convicções que temos esclarecido? Sua própria cultura pessoal reflete as
convicções que você acabou de aprofundar e endossar?
Vamos desenvolver o que isso pode significar na prática a seguir, mas
primeiro devemos entender por que esse passo é tão vital.
Isso ocorre por dois motivos.
O primeiro segue da natureza das próprias convicções (de como as
exploramos, expusemos e refinamos na Fase 1). “Aprender Cristo” é
aprender não apenas conceitos e conteúdos, mas um modo de ser e viver no
mundo. Nunca é menos que conceitos e conteúdos, mas é necessariamente
mais. O objetivo para os aprendizes (ou “discípulos”) não é apenas conhecer
e lembrar os mandamentos de Cristo, mas guardar ou obedecer aos
mandamentos de Cristo, viver para Cristo e buscar ser como Cristo em cada
palavra e ação.205
Isso faz com que “aprender Cristo” seja mais parecido com aprender a
jogar golfe do que aprender a tabuada. É o tipo de conhecimento que deve ser
vivido e praticado, ou não será realmente aprendido.
Esta é uma das razões pelas quais Paulo insiste com Tito que qualquer
presbítero designado por ele deve ser alguém não apenas de boa doutrina,
mas de bom caráter e estilo de vida: porque se um presbítero não é assim, ele
não compreendeu o significado e importância da “palavra fiel” que lhe foi
confiada.206 Ele seria como um profissional de golfe que leu inúmeros guias
de instrução e assistiu incontáveis vídeos no YouTube, que se veste com as
roupas e conhece os jargões, mas que na verdade é péssimo no golfe. Até que
ele jogue e jogue bem, não faz sentido dizer que ele “aprendeu golfe”, muito
menos que é competente para ensinar a qualquer outra pessoa.
É assim que funciona o conhecimento da verdade em Cristo. Ela é
“segundo a piedade”, como Paulo diz a Tito.207 Tem um modo
correspondente de ação, comportamento, vida e caráter. Deve ser vivido para
ser aprendido de fato. Assim, um presbítero ou supervisor — alguém que está
procurando ajudar os outros a “aprender Cristo” — deve demonstrar por sua
própria vida que ele mesmo “aprendeu Cristo”.
Nossas próprias convicções são de natureza tal que esclarecer o que elas
são é apenas o primeiro passo para acreditar nelas, adotá-las e tomar posse
delas. Nós devemos vivê-las se queremos realmente aprendê-las.
Também devemos vivê-las se queremos ensiná-las a outras pessoas, e esta
é a segunda razão para nos certificarmos de que estamos vivendo nossas
convicções. Não podemos “fazer aprendizes” de Cristo, a menos que
mostremos por nossas vidas o que aprender Cristo significa.
O “aprendizado” cristão é o pacote completo. É mente e coração
transformados sendo trabalhados e vividos diariamente em todas as esferas da
vida. Ensinar este pacote significa não apenas fazer com que as pessoas
aprendam ideias, conhecimento e verdades do evangelho, mas também levá-
las a aprender um modo de vida. Isso envolve necessariamente exemplo e
imitação.
Este é um tema constante nos escritos de Paulo. Ele quer que os cristãos
aprendam seus caminhos e imitem sua vida:
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai;
e o Deus da paz será convosco. (Fp 4.9)
Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem
tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro, em tudo, ser
agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para
que sejam salvos. Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo. (1Co
10.32–11.1)
Ele quer que seus pupilos ministeriais, Timóteo e Tito, também aprendam
com ele e, por sua vez, sejam exemplos para o seu povo:
Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé,
longanimidade, amor, perseverança, as minhas perseguições e os meus
sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia, Icônio e Listra, — que variadas
perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor. (2Tm
3.10–11)
Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na
palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. (1Tm 4.12)
Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade,
reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja
envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito. (Tt 2.7–
8)
E ele quer que a cadeia de exemplo e imitação continue, com aqueles que
seguem o modelo de vida piedoso que Paulo lhes ensinou, por sua vez,
servindo como exemplos para os outros:
Irmãos, sede imitadores meus e observai os que andam segundo o modelo que
tendes em nós. (Fp 3.17)
Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder,
não caluniadoras, não escravizadas a muito vinho; sejam mestras do bem, a fim de
instruírem as jovens recém-casadas a amarem ao marido e a seus filhos, a serem
sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a
palavra de Deus não seja difamada. (Tt 2.3–5)
Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra,
posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo, de sorte que
vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia. (1Ts 1.6–7)
Isso se conecta com o que vimos na Fase 1 (Convicção 3) sobre como os
aprendizes aprendem. Acontece por meio da Palavra de Deus, anunciada em
oração, ao longo do tempo, na dependência do Espírito — por meio de e para
o povo distinto de Deus, seus santos. Os que fazem isso são aqueles cujas
vidas foram separadas por Deus para serem diferentes (ou seja, todos os
santos cristãos). E essas vidas distintas fazem parte do pacote de ensino.
Nossas vidas demonstram para outros aprendizes como é “guardar os
mandamentos de Jesus”.
Isso, naturalmente, faz com que a maioria de nós se sinta desconfortável e
despreparado. Nós estamos dolorosamente conscientes de nossos pecados e
fracassos, e de como estamos longe de guardar os mandamentos de Jesus.
Sentimos que nossas vidas são um ciclo constante de fracasso e perdão; de
busca pela santidade e arrependimento quando não conseguimos alcançá-lo.
Como podemos ser bons o suficiente para servir de modelo para os outros?
E, no entanto, este é precisamente o exemplo que devemos dar àqueles que
nos rodeiam; não de alguém que guarda todos os mandamentos de Jesus, pois
ninguém faz ou jamais fará isso (não deste lado da glória). O exemplo que
damos é de alguém que está aprendendo a guardar todos os mandamentos de
Jesus, que procura crescer, progredir, ser transformado e produzir o fruto do
Espírito. Em outras palavras, o exemplo que oferecemos é de alguém que,
pela Palavra e pelo Espírito de Deus, está avançando, um passo de cada vez
— não de alguém que já chegou à consumação celestial da maturidade cristã.
Isso é crítico para todo o processo de mudança cultural.
Se queremos ver uma mudança real na cultura de nossa igreja, precisamos
começar a ver uma mudança real na cultura de nossa própria vida cristã —
não apenas na forma como pensamos e nas convicções que temos, mas
também em como essas convicções são expressas e corporificadas em tudo
que fazemos: na estrutura e norma de nossas vidas, em nossos hábitos, fala,
comportamento, relacionamentos, atividades e prioridades; em todas as partes
que compõem “a maneira como fazemos as coisas”.
A cultura de uma igreja não mudará a menos que uma grande quantidade
de “aprendizes de Cristo” tenha adotado a visão de fazer a si e aos outros
avançarem, um passo de cada vez. Se você é parte de um pequeno grupo de
agentes de mudança que quer iniciar e liderar esse processo de mudança (ou
seja, se você é o tipo de pessoa a quem este livro é direcionado), então agora
é a hora de um autoexame sincero. Você não pode iniciar e liderar um
processo de mudança de cultura se a sua própria cultura pessoal também não
estiver preparada para a mudança.
Isso ocorre porque a mudança que você está propondo e liderando não é
uma mudança de programa, estrutura ou modelo. É fundamentalmente uma
transformação de vidas por Deus por meio de sua Palavra e Espírito. Nosso
propósito não é apresentar uma nova ideia, um novo ângulo ou uma nova
técnica organizacional para nossas igrejas; estamos levando a Palavra de
Deus, juntamente com o seu chamado ao arrependimento e a uma nova vida
em Cristo. E não podemos levar essa Palavra a outros sem que nós mesmos
respondamos a ela, isto é, sem resolutamente desaprender o falso
conhecimento e a vida que ora vivemos, e nos comprometer a “aprender
Cristo”.
Dito de outra forma, o que vocês estão fazendo juntos como equipe do
Projeto Videira (em todo o processo em que estamos envolvidos) é realmente
um protótipo da transformação cultural que vocês eventualmente querem ver
acontecer em toda a sua congregação. Vocês mesmos (como equipe)
precisam ser uma “comunidade de aprendizado transformador”.
Tudo isso é igualmente verdadeiro, é claro, para aqueles que estão
envolvidos na plantação de uma nova igreja (em vez da renovação de uma
igreja existente). Não há quase nada mais valioso para uma nova equipe de
plantação de igrejas do que “tomar posse” e pessoalmente viver a cultura que
você quer que seja a base de sua nova comunidade.
O ponto é bastante claro, e talvez não precise mais ser desenvolvido. Mas
como isso acontece na prática? Como podemos ser propagandas vivas das
convicções que queremos que toda a nossa igreja ou comunidade abrace?
Antes de analisarmos alguns exemplos práticos, sugestões e exercícios,
uma palavra de advertência é necessária. Sempre que um cristão (neste caso,
nós autores) diz a outro cristão (neste caso, você) como deve ser a obediência
ou a maturidade cristã, ou como ela deve ser vivida, ou quais passos práticos
devem ser dados para mostrar que você está de fato vivendo suas convicções,
um dos piores inimigos do cristianismo apura os ouvidos, lambe os lábios e
começa a farejar uma oportunidade.
Esse inimigo é o legalismo, a ideia de que a vida cristã pode ser codificada
em um conjunto de práticas ou regras, cuja execução constitui “obediência”.
Se a prática de nossas convicções pode ser definida em termos de certa
categoria de coisas que devemos fazer, então o legalista que se esconde
dentro de todos nós se levantará e dirá: “logo, se eu simplesmente fizer essas
coisas de uma forma que outras pessoas reconheçam como aceitável, então
estou bem. Demonstrei minha obediência e posso me sentir muito bem
comigo mesmo — diante dos outros e diante de Deus.”.
Então a advertência é a seguinte: ao considerar algumas sugestões práticas
para viver essas convicções, trate-as como apenas isso — sugestões, guias e
ideias que você pode usar enquanto trabalha debaixo da direção de Deus o
que significa viver suas convicções.
Como uma maneira prática de agrupar e descrever essas sugestões, vamos
usar nossa ilustração de fazermos a nós e aos outros avançar. Se vamos
examinar a nós mesmos, arrepender-nos e deixar claro para todos que nós
mesmos estamos procurando progredir como aprendizes de Cristo, em que
áreas e de que maneiras podemos fazê-lo?
SOBRE A FASE 3
Esta fase é uma consequência das duas anteriores:
• Na Fase 1, vocês investiram tempo para esclarecer suas convicções sobre
o “aprendizado” e sobre fazer discípulos. Vocês chegaram a uma opinião
comum sobre os propósitos, verdades e valores que todo ministério deve
refletir.
• Na Fase 2, vocês aprofundaram e abraçaram sua compreensão dessas
convicções, vivendo e servindo de modelo delas, reformando sua cultura
pessoal em função deles. Vocês começaram (ou continuaram) a
experimentar como essas convicções acontecem na prática.
Agora, na Fase 3, vocês usarão essas convicções para pesar o estado atual
das coisas em seu grupo, comunidade ou igreja. E para ser eficaz, essa
avaliação precisará olhar a vida da igreja de vários ângulos.
Por exemplo, precisaremos falar sobre pessoas. Se nossas convicções
dizem que o ministério cristão tem a ver com conduzir cada pessoa a
“avançar um passo”, então, para ter uma ideia de onde estamos, precisaremos
pensar onde todo o nosso pessoal está nessa jornada. Precisamos pensar se a
visão de “fazer aprendizes de todas as nações” é compreendida por nosso
pessoal (ou por muitos deles). Teremos que considerar como cada pessoa em
nossa comunidade pode avançar — o que eles precisam “aprender” em
seguida para se tornarem como Jesus?
Também precisaremos avaliar todas as diferentes atividades de ministério
que acontecem semanalmente; ou, dito de outra forma, as várias “treliças”
que temos para facilitar e aperfeiçoar o “trabalho da videira” de fazer cada
pessoa avançar por meio da Palavra e da oração.
Isso incluirá a avaliação de todos os aspectos de nossas reuniões
dominicais, porque (como observamos na Fase 1, Convicção 4) o domingo é
o horário nobre do discipulado. É o momento de referência para fazer
aprendizes de Cristo por meio da proclamação da Palavra de Deus em oração.
Ele dá o tom e ensina e reforça nossas convicções. Mais do que qualquer
outra atividade individual, o culto regular de domingo forma e molda a
cultura de toda a sua vida congregacional. É seu batimento cardíaco. Se o
domingo não está “alinhado” com suas convicções — se não está ensinando,
exemplificando e reforçando o que vocês essencialmente creem sobre o
ministério — então há pouca chance de que haja mudança cultural
significativa.
O objetivo é ter uma visão clara e realista de suas atividades, estruturas,
eventos e programas:
• Quais estão funcionando bem (ou seja, estão bem alinhados com suas
convicções), e devem ser defendidos e aprimorados?
• Quais têm potencial real, mediante algum trabalho?
• Quais atualmente não encarnam suas convicções e não parecem ter muito
potencial de mudança?
• Onde estão as lacunas: aquelas áreas nas quais vocês não estão fazendo
muito e novos programas, estruturas ou atividades podem ser
necessários?
O objetivo desta fase é descoberta, compreensão e clareza. Não é gerar
novas ideias ou soluções (este é o nosso próximo trabalho, na Fase 4). É
muito fácil, no meio da avaliação, pular direto ao que deveríamos fazer a
respeito. Tentem resistir a essa tentação! Pode ser útil ter um arquivo de
ideias ou um “estacionamento” para sugestões e novas ideias que surjam
durante a fase de avaliação — algum lugar para anotar a ideia ou solução
sugerida, para que vocês possam voltar a ela na Fase 4.
Como na maioria dos aspectos do Projeto Videira, os exercícios de
avaliação sugeridos abaixo são mais como um cardápio para escolher uma
comida do que um currículo que precisa ser seguido. Por favor, sintam-se à
vontade para modificá-los como melhor atender às suas circunstâncias e ao
tempo que você tem disponível. Tendo dito isso, nós recomendamos
fortemente que você faça alguma versão dos exercícios 1–4 como um mínimo
antes de resumir suas descobertas e passar para a Fase 4.
Mais duas dicas antes de começar:
• Façam uma gravação de áudio ou vídeo de todo o culto/reunião
dominical da sua igreja. Vocês farão uso disso em uma das avaliações
abaixo. Organize-o agora para que possam fazer essa avaliação quando
estiverem prontos.
• Se vocês estão no processo de plantação de igreja, então não terão que
gastar tanto tempo nesta fase (já que estão tentando estabelecer uma nova
cultura em vez de mudar uma existente). No entanto, sugerimos fazer,
pelo menos, os Exercícios 2 e 4.
RESUMO E CONCLUSÃO
Pensem nos vários exercícios de avaliação que vocês fizeram.
1) Como vocês caracterizariam ou resumiriam a cultura de sua igreja?
Tentem chegar a apenas uma ou duas palavras que melhor capturem o tipo
de igreja que vocês são. Não precisa ser com “C”, mas aqui estão alguns
exemplos:
• Igreja confusa (não brigamos um com o outro, mas não temos uma noção
clara de quem somos e do que estamos tentando fazer);
• Igreja conflituosa (existem filosofias de ministérios concorrentes que
disputam proeminência);
• Igreja confortável (sabemos quem somos, gostamos desse jeito e ficamos
felizes em continuar assim);
• Igreja congestionada (muitas pessoas comprometidas fazendo muitas
coisas, mas não vendo muitas pessoas se convertendo ou crescendo);
• Igreja cética (estamos um pouco cansados e desconfiados de novos
programas e modas);
• Igreja consumidora (nossa cultura é construída em função de
proporcionar uma experiência espiritual agradável para aqueles que
chegam);
• Igreja carinhosa (há um caloroso senso pessoal de cuidado um pelo outro,
mas não muitos “passos adiante”);
2) Analisem suas avaliações e tentem apontar três destaques para cada um
dos itens a seguir:
a) Quais são as três áreas ou ministérios dentro de sua igreja que têm mais
potencial (isto é, investindo nelas, seria mais provável gerar mudanças
para toda a cultura da igreja)?
b) Se fosse necessário reduzir ou encerrar três atividades, ministérios ou
programas, quais seriam?
c) Quais são os três principais obstáculos ou bloqueios em potencial que
têm mais chance de se colocar no caminho?
d) Quais são as três principais coisas que vocês gostariam de melhorar em
suas reuniões de domingo?
Fase 4 | Inovar e Implementar
Introdução
Talvez você estivesse impaciente para chegar a essa fase do processo, em que
você realmente faz alguns planos e os põe em prática. Esperamos e
confiamos que o trabalho vital que você realizou nas três primeiras fases
agora dará frutos em alguns planos concretos de mudança. Até agora, nós:
• Esclarecemos as principais convicções que queremos que impulsionem
toda a cultura de nossa igreja (Fase 1);
• Procuramos viver e respirar essas convicções na “cultura pessoal” de
nossas próprias vidas (Fase 2);
• Avaliamos nossa atual cultura ministerial e procuramos entender
exatamente onde ela se alinha ou não com as nossas convicções (Fase 3).
Agora chegamos ao que não receamos admitir ser a fase mais difícil e
desafiadora do processo.
Para nós, certamente foi a mais difícil de escrever. Foi um desafio decidir
o que incluir e o que deixar de fora — há tanta coisa que poderíamos dizer
sob cada seção. Também tivemos que trabalhar duro para tornar nossas
sugestões e conselhos gerais o suficiente para serem amplamente utilizáveis e
aplicáveis em diversos contextos ministeriais, mas também suficientemente
específicos para serem úteis para ajudá-lo a planejar uma mudança
significativa.
Esperamos ter alcançado o equilíbrio certo e pedimos perdão
antecipadamente onde não conseguimos. Nosso objetivo é dar uma ideia de
como na prática uma comunidade de aprendizado transformador pode ser em
todas as suas diferentes facetas — um gosto ou senso das possibilidades tão
diversas que existem para mudar a forma como a sua igreja pensa, fala e age,
de tal forma que uma nova cultura se desenvolve ao longo do tempo.
Também suspeitamos fortemente que esta será a fase mais difícil de
trabalhar para a sua equipe do Projeto Videira, por pelo menos quatro razões.
Em primeiro lugar, esta é a fase em que vocês inevitavelmente irão
incomodar algumas pessoas, porque esta é a fase em que você começa a
realmente mudar coisas — onde você inicia novas coisas, ajusta as existentes
e deixa de fazer outras. Não importa o cuidado, sensibilidade, amor e
consideração com que vocês administrem isso, algumas pessoas terão
sentimentos negativos. É uma parte inescapável da nossa natureza humana
caída. Quando você começa algo novo, algumas pessoas ficam desconfiadas,
resistentes ou céticas. Quando você ajusta ou atualiza algo que já existe,
algumas pessoas vão reclamar que preferiam do jeito que era (que é como se
faz há anos). E quando você para de fazer algo, algumas pessoas que estavam
particularmente envolvidas nesse ministério sofrerão seu fim.
Isso, obviamente, não é razão para desistir do processo de mudança.
Afinal, se vocês deixassem as coisas exatamente como eram, um grupo
diferente de pessoas reclamaria que nada muda e que não estamos indo a
lugar algum. Mas é uma razão para planejar cuidadosamente, de modo a
minimizar a desordem e decepção onde for possível, para trabalhar duro em
trazer todos juntos com vocês enquanto fazem as mudanças, e para orar muito
para que Deus derrame seu amor no coração de seu povo, para que estejam
mais preocupados com os outros do que consigo mesmos. (A propósito, vale
a pena fazer um esforço especial para trazer alguns de seus críticos
construtivos para dentro do grupo. Não é a coisa mais agradável do mundo,
mas uma oposição leal é um grande trunfo para se ter pensamento aguçado,
planos viáveis e, com o tempo, uma ampla adesão.)
Em segundo lugar, esta fase será difícil porque igrejas são complexas.
Planejar como fazer para que todas as diferentes partes da “máquina” da
igreja trabalhem juntas na direção de fazer discípulos é complicado; parece
que há tantas partes móveis! E quando adicionamos a isso o fato de que cada
uma dessas partes é um ser humano complexo, confuso, imprevisível e
pecador (incluindo nós, que estamos fazendo o planejamento), então o
processo se torna ainda mais desafiador. Isso exigirá quantidades
divinamente ministradas de persistência e consideração para elaborar um
plano que dê conta da entidade complexa que é a sua igreja. Ele precisará de
reservas divinamente ministradas de persistência, tolerância e bondade para
tratar todos os membros de sua comunidade como pessoas preciosas e não
apenas peões em seus grandes planos. E vocês precisarão continuar confiando
firmemente em Deus — que ele usará os planos e esforços vacilantes e
imperfeitos das pessoas, até mesmo de pessoas pecaminosas como nós, para
trabalhar seus propósitos surpreendentes.
Em terceiro lugar, esta fase será complicada porque o seu contexto e
situação irão moldar significativamente os seus planos. Estamos escrevendo
em um contexto socioeconômico razoável, portanto nossos exemplos e
histórias tendem a supor instalações adequadas de igrejas em sociedades
relativamente pacíficas, com condições econômicas que permitem que
pastores e equipes recebam salários apropriados e executem planos
estratégicos. Mas sabemos, por falar com os leitores de A treliça e a videira,
que alguns ministram na floresta amazônica, em favelas grandes cidades ou
nas cidades da Europa Oriental, e em muitos outros lugares. Acreditamos que
as convicções bíblicas da Fase 1 e a preparação das Fases 2 e 3 são aplicáveis
em todos os lugares, mas esta próxima fase de elaboração e implementação
de planos será muito moldada pelo seu contexto.
A quarta razão pela qual esta fase será difícil é porque a execução é
sempre difícil. Um corpo significativo de literatura sobre gestão tem sido
construído em torno deste fenômeno muito comum no planejamento
estratégico. A maioria das organizações (sejam empresas, escolas ou igrejas)
considera perfeitamente possível montar um plano estratégico sensato e
coerente para fazer progressos em seus objetivos. Mas segui-lo ao longo do
tempo e colocá-lo de fato em prática? Isso é muito mais difícil.216 É por isso
que tantos documentos de planejamento estratégico estão acumulando poeira
nas gavetas ao redor do mundo.
Isso é algo para se estar antecipadamente ciente e para levar em
consideração em seu planejamento. Não pensem em planos tão grandes,
ambiciosos e elevados, ou estarão se preparando para um fracasso rápido na
execução. Reconheçam que, como em toda reforma de casa, transformar
planos em realidade leva mais tempo, custa mais e é mais cheio de tropeços e
obstáculos do que imaginavam (É por isso que há uma Fase 5 em nosso
processo sugerido — é importante planejar como lidar com obstáculos e
fracassos inevitáveis e manter o ritmo).
Bem, se você ainda está disposto a continuar, vamos mergulhar.
Se você quer ver mudanças culturais significativas ao longo do tempo em
sua igreja ou ministério, precisará gerar e implementar planos significativos
em pelo menos quatro áreas principais:
1) Sua reunião principal (na maioria das igrejas, será o culto dominical) —
para que funcione melhor como a referência da cultura que vocês
desejam criar;
2) O resto da vida da sua igreja (todos os seus programas, ministérios,
grupos e atividades, incluindo a vida familiar de cada membro) — para
que eles forneçam caminhos claros e eficazes para “fazer as pessoas
avançarem”.
3) Seus planos de crescimento em longo prazo — para que vocês se
antecipem e se preparem para o crescimento que (se Deus quiser) seus
planos produzirão.
4) Sua comunicação e linguagem comum — para que uma nova maneira
de pensar e falar sobre discipulado e ministério se torne normal em sua
comunidade.
Nesta fase do Projeto Videira, vocês elaborarão um plano estratégico para
cada uma dessas quatro principais áreas. Depois de trabalhar nelas, poderão
decidir que outros planos são necessários e que não estão incluídos em nosso
processo.217 Não há problema algum nisso, mas essas quatro áreas são as
primeiras por onde começar.
Também é preciso reconhecer que essas quatro áreas principais se
sobrepõem e se interconectam. Por exemplo, o domingo servirá como um
ponto de encontro e uma fonte de vitalidade e direção espiritual para todos os
ministérios, grupos, atividades e programas em toda a vida da igreja. A
comunicação e a linguagem comum serão tão importantes nos pequenos
grupos e outros ministérios quanto no domingo. E os planos de crescimento
de longo prazo se relacionam com o domingo, com outros ministérios e com
a comunicação.
Isto significa que provavelmente não importa muito em que ordem as
quatro áreas serão trabalhadas, porque vocês terão que trabalhar com todas as
quatro e depois voltar e passar por elas novamente — para ver onde seus
vários planos estão se sobrepondo ou estão em conflito, para considerar quais
áreas e ações vocês desejam priorizar, e assim por diante. (Mas note: há
alguma lógica óbvia em pensar sobre linguagem e comunicação depois de ter
estabelecido sua visão, planos e prioridades nas outras áreas de foco.)
Em cada uma das quatro áreas, apresentaremos um espectro de ideias e
sugestões que mostram como suas convicções (Fase 1) podem ser expressas,
incorporadas e reforçadas para criar uma nova cultura na igreja. Em cada
caso, o processo será pensar sobre suas circunstâncias atuais (a partir da
avaliação na Fase 3), e elaborar um plano estratégico simples para gerar
mudanças em cada área, incluindo:
• Um pequeno conjunto de estratégias ou prioridades claramente
articuladas;
• Algumas metas simples, mensuráveis e realistas para essas prioridades;
• Um conjunto de ações para começar a seguir rumo a esses objetivos
(incluindo quem vai fazer, quando, com que recursos/custo).
Vamos colocar a mão na massa.
Para um bom resumo, ver Lawrence G. Hrebiniak, “Execution is the key” in Making strategy work: Leading effective execution
and change (Upper Saddle River: Wharton School Publishing/Pearson Education lnc., 2005), 1–29). Disponível on-line (em
inglês) em http://www.informit.com/articles/article.aspx?p=360437 (acessado em 21 ago. 2019).
Por exemplo, falamos brevemente sobre o lar na Área de Foco 2, mas você pode querer torná-la uma área de foco separada.
Área de foco 1: tornar o domingo uma
referência
Se vamos gerar mudança em “toda a maneira como fazemos as coisas por
aqui”, então precisamos pensar em nossa principal reunião semanal — por
duas razões óbvias.
A primeira é que nossos cultos ou reuniões principais da igreja são
ocasiões de destaque para aprender Cristo. Tocamos neste ponto já na Fase 1
(Convicção 4) — nossas reuniões dominicais não podem ser excluídas do
“onde” fazer aprendizes de Cristo, como frequentemente parece ocorrer na
vida da igreja. De fato, longe de serem excluídas, as ocasiões em que toda a
congregação se reúne são os momentos primários e essenciais em que o povo
de Deus é edificado em seu aprendizado de Cristo por meio da Palavra e do
Espírito de Deus.218 O que quer que aconteça no domingo, ou qualquer coisa
que esperamos alcançar ou fazer no domingo, se não estamos vendo o
“aprendizado transformador” ocorrendo por meio do falar e ensinar da Bíblia
em oração, então algo está errado em algum lugar.
A segunda razão pela qual temos que pensar cuidadosamente sobre o
domingo é que ele define o tom e a direção de tudo o que fazemos como
comunidade na igreja. O domingo é o ponto de encontro, a referência, o
coração — ou qualquer outra metáfora que você queira usar para descrever
esse evento regular que constitui, define e une uma comunidade de pessoas.
O domingo é onde nós somos mais “nós” como igreja — onde nosso caráter,
propósito e “cultura” como congregação são mais claramente expressos. É
onde comunicamos com mais frequência e com mais clareza aquilo que
pretendemos. Se quisermos que toda a cultura da igreja mude da maneira
como temos discutido, então o domingo também deve mudar. A “maneira
como fazemos as coisas” no domingo tem que ensinar, expressar, reforçar e
incorporar as convicções que temos sobre fazer discípulos.
Isso pode soar duro, mas se nossas reuniões de domingo não incorporarem
nossas convicções (se expressarem uma cultura diferente, baseada em
diferentes convicções subjacentes), e se não fizermos nada para resolver isso
(talvez por parecer muito difícil), realisticamente podemos desistir de fazer
qualquer progresso significativo na mudança de cultura em nossa
congregação. Introduzir uma nova ênfase no “aprendizado transformador de
Cristo” ou em “avançar um passo”, mas não fazer nada para expressar,
ensinar e representar isso no domingo, acabará como o experimento mental
que fizemos no início em “Mudando a cultura” — de tentar inserir a teologia
evangélica em uma cultura anglo-católica sem mudar nada no modo como o
culto dominical era realizado. O fracasso é quase certo.
Se quisermos progredir de verdade, nossas reuniões dominicais devem ser
momentos nos quais o “aprendizado transformador” se dá por meio da
Palavra de Deus e da oração, e o lugar onde toda a cultura que queremos
promover é exemplificada, expressa, defendida e propagada. Queremos que
nossas reuniões dominicais sejam momentos nos quais as pessoas
experimentam nossas convicções pela maneira que tudo é dito e feito, e pela
maneira que os membros as vivenciam e respiram. Queremos que um
visitante atencioso venha à igreja por algumas semanas e seja capaz de dizer:
“Eu entendo exatamente do que essas pessoas estão tratando” — com suas
percepções combinando com nossas convicções.
Agora, este é um dos pontos deste livro em que as tradições e culturas
existentes de nossos leitores serão mais diversificadas. Conversando sobre
“treliça e videira” com muitos pastores nos últimos seis anos, encontramos
grande concordância sobre nossas convicções evangélicas sobre ministério e
discipulado entre os batistas reformados e os batistas não-reformados, entre
gente de igrejas congregacionais, tradicionais presbiterianas, bíblicas
independentes, anglicanas ou episcopais, carismáticas reformadas e muito
mais.
Mas, curiosamente, apesar de um alto nível de concordância entre essas
tantas e diversas igrejas, quando se trata da maneira como “fazemos” o
domingo, há uma enorme variedade de práticas e estilos. Cada um de nós tem
uma linguagem, uma ordem na qual fazemos as coisas, um conjunto de
rituais e tradições, um estilo musical, um código de vestimenta, um clima.
Em alguns casos, essa cultura dominical só foi estabelecida nos últimos dez
ou quinze anos; em outros casos, remonta há séculos. Mas, em quase todos os
casos, para a maioria de nós e para a congregação, parece que sempre foi
assim.
Gostaríamos de sugerir que, seja a sua cultura dominical algo mais formal
e com as formas litúrgicas clássicas da Reforma, seja ela com um clima mais
moderno e evangélico mais informal, há muita coisa que você pode fazer para
fazer a cultura da reunião dominical avançar — para torná-la uma referência
do aprendizado transformador. Conforme apresentamos uma série de
sugestões e ideias para fazer isso (a seguir), confiamos que você saberá fazer
a “tradução cultural” para aplicá-las à sua própria situação.
Também confiamos que as ideias que reunimos serão tratadas como
sabedoria e não como lei. Queremos estimular o seu pensamento e dar a você
o benefício de nossos mais de sessenta anos somados de pensamento,
aprendizado e experiência na tentativa de construir culturas de discipulado.
Mas estamos bastante conscientes do quanto ainda temos que aprender com
os outros, quão limitada é a nossa compreensão humana finita das
complexidades da vida e do ministério, e como Deus maravilhosamente
concede dons a outras pessoas (incluindo aquelas na sua equipe do Projeto
Videira).
O plano para esta primeira área de foco é olhar para cada estágio amplo de
pessoas avançando como aprendizes de Cristo (Envolver, Evangelizar,
Estabelecer, Equipar),219 e pensar em como os domingos poderiam facilitar
esse movimento e servir de modelo de todo o processo para a congregação.
Trataremos de:
1) Envolver-se com descrentes no domingo
2) Evangelizar no domingo
3) Estabelecer no domingo
4) Equipar no domingo
5) Equipar para o domingo
6) Histórias sobre o domingo
Depois, passaremos algum tempo planejando como tornar o domingo uma
referência.
1) ENVOLVER-SE COM DESCRENTES NO
DOMINGO
Como é a experiência para alguém totalmente de fora da igreja comparecer às
suas reuniões de domingo? Estamos falando de um não-cristão que foi
convidado por um de seus membros, ou que simplesmente acaba de entrar —
alguém no extremo inicial do nosso espectro de “avanço”, que sabe
pouquíssimo sobre Cristo, igreja ou cristianismo.
Seu culto de domingo os envolve? É compreensível e acessível para eles?
Eles se sentem bem-vindos e considerados?
É bem possível “fazer” a igreja de uma maneira aberta, acolhedora e
acessível ao de fora, sem alterar os propósitos e atividades básicos de nossa
reunião, empobrecer o nível do conteúdo ou reduzir o número de atividades
espirituais importantes com as quais pessoas de fora talvez não estejam
familiarizadas (como a oração).
Ao dizer isso, não pretendemos nos aventurar no mundo da “igreja seeker-
sensitive”220 — isto é, uma reunião dominical como a que foi muito popular
nos anos 80 e 90, em que todo o culto é construído em função de ser
interessante ao visitante não-cristão, com um ambiente acolhedor e atraente,
uma mensagem prática, levemente bíblica e um convite para descobrir
mais.221 Estamos simplesmente sugerindo que podemos “fazer” igreja de uma
maneira que não seja incompreensível e embaraçosa para quem é de fora.
É como receber um convidado em sua casa para o jantar de Natal. Isso
geralmente acontece em nossa parte do mundo. Se há alguém na igreja que
não tem família com quem compartilhar o Natal, você o convida a se juntar à
sua família para passar o Natal. Ao fazer isso, porém, você não muda quem
vocês são ou o que sua família faz de nenhuma maneira significativa. Mas se
certifica de que seu convidado está sendo cuidado. Você o recebe
calorosamente e o apresenta a todos. Você explica o que está acontecendo em
diferentes momentos: por que o tio Fred sempre tem de se sentar naquela
cadeira, qual é o histórico de seus jogos ou rituais familiares, como jogar e
assim por diante. Você se dispõe para fazer com que seu hóspede se sinta em
casa e parte da família, mesmo que não seja a casa ou a família dele.
Assim também na igreja — pessoas de fora não fazem parte da nossa
família da igreja. Não deixamos de ser quem somos, ou de buscar os
propósitos de Deus, apenas porque temos convidados presentes. Mas damos
as boas-vindas aos nossos convidados, que, como os de fora em 1 Coríntios
14, aparecem e (se Deus quiser) passam a conhecer e adorar o Deus vivo em
nosso meio.222
Como já observamos,223 não há duas palavras de Deus, uma para os
descrentes e outra para os crentes. O evangelho de Cristo que salva é o
mesmo evangelho de Cristo que nos amadurece e nos transforma. Então,
outra maneira de fazer a pergunta é esta: a Palavra de Cristo é proclamada em
oração no domingo na igreja de uma maneira que seja acessível e
compreensível tanto para os crentes como para os descrentes?
Há inúmeras pequenas coisas que podemos fazer para que um estranho se
sinta acolhido e bem-vindo, em vez de confuso ou desconfortável:
• Mencione-os durante a reunião — por exemplo: “Se é sua primeira vez
conosco hoje, e especialmente se você é novo na igreja ou no
cristianismo, estamos muito felizes em tê-lo conosco. Sempre temos
visitantes aqui na igreja, incluindo pessoas que estão em todos os estágios
diferentes de relacionamento com Deus — é ótimo ter você conosco.”.
Naturalmente, a maneira como vocês fazem isso irá variar de acordo com
o tamanho de sua igreja e as normas da cultura ao seu redor.
• Dê pequenas explicações que sirvam para orientar os de fora sobre o que
está acontecendo — por exemplo: “Vamos ler a Bíblia juntos agora,
porque é onde Deus fala conosco. A passagem que vamos ler está em
João, capítulo 1. Você a encontrará na página 756 das Bíblias da
igreja.”224
• Esteja ciente de que os visitantes geralmente ouvem com muita atenção
nossos avisos ou anúncios. O que anunciamos e como anunciamos pode
ter um grande impacto sobre o que uma pessoa de fora pensa que estamos
fazendo e sobre como ela se sente em nosso meio. Nossos avisos
anunciam não apenas os eventos específicos, mas o tipo de comunidade
que somos, o que achamos importante e assim por diante.
• Pregue como se pessoas de fora estivessem presentes. Ao introduzir um
tópico ou aplicar uma verdade bíblica, presuma que alguns ouvintes não
são cristãos e envolva-os apropriadamente. Faça uma pausa para explicar
termos conforme avança. (Falaremos mais a seguir sobre a pregação aos
crentes e descrentes no mesmo sermão.)
• Evite piadas internas e atividades embaraçosas — isto é, aquelas com as
quais os cristãos podem estar acostumados ou toleram, mas com as quais
alguém de fora pode se envergonhar. (Um exemplo da nossa parte do
mundo: não cantem uma canção infantil e exijam que todos os adultos se
levantem e façam ações bobas.)
• Ofereça um próximo passo para os de fora — maneiras de descobrir
mais, oportunidades de ler a Bíblia com alguém, uma reunião ou evento
especialmente para novatos e assim por diante.
Se você quiser medir quão amigável ou envolvente sua igreja é para
pessoas de fora, uma forma simples é convidar um amigo para ir à igreja com
você, e ver como vão as coisas ao longo do culto. De repente, você notará
todas as coisas, pequenas e grandes, que são estranhas, embaraçosas ou
alienantes para o seu amigo, porque ele estará sentado bem ao seu lado.
(Claro que você também deve perguntar ao seu amigo o que ele notou).
Outro exercício interessante é visitar um contexto cultural diferente e ver
qual é a sensação. Não estamos necessariamente recomendando isso, mas
alguém que conhecemos uma vez levou um grupo de líderes de sua igreja até
o TAB local (que é uma casa de apostas australiana), para eles
experimentarem o que era ser um completo forasteiro. Este era um lugar em
que nenhum desses homens estivera antes, e foi uma experiência instrutiva.
Eles estavam vestidos de forma muito diferente de todos os outros. Eles não
sabiam onde ficar ou para onde olhar. Eles tentaram descobrir o que fazer
seguindo os sinais e imitando os caras parados, mas acharam difícil. E
quando eles finalmente foram fazer apostas, sentiram-se envergonhados e
totalmente deslocados.
Esta é a sensação da igreja para muitos de fora.
Se fizermos da igreja um lugar que seja amistoso, acolhedor e envolvente
para um não-cristão de fora — isto é, se conduzirmos nossas reuniões da
igreja na expectativa de que não-cristãos estejam lá — então enviamos uma
mensagem poderosa para todos os presentes. Comunicamos aos visitantes
que eles são muito bem-vindos, mas também comunicamos constantemente
aos nossos membros que a igreja é um bom lugar para convidar seus
vizinhos e amigos não-cristãos.
Como tudo nesta seção, isso também tem a ver com “equipar”. Se
quisermos que nossos membros convidem pessoas de fora para a igreja e que
sejam calorosos e acolhedores quando eles estiverem lá, precisamos pensar
em como ajudá-los a aprender a fazer isso. Parte de “fazer avançar” no
domingo está em direcionar a própria congregação para frente, para que eles
entendam e estejam preparados para se envolver com os recém-chegados.
(Voltaremos a isso adiante, em “Equipar para o domingo”.)
Tendo dito tudo isso sobre tornar a igreja tão acolhedora e acessível
quanto possível para os de fora, nosso objetivo não é remover o “fator de
estranheza” da igreja para os descrentes. Visitantes incrédulos ainda acharão
estranhos alguns aspectos de nossas reuniões. Alguns ficarão completamente
surpresos com o canto congregacional; alguns nunca se sentaram por 30
minutos para ouvir qualquer coisa parecida com um sermão antes em suas
vidas; outros acharão estranho todos nós inclinarmos nossas cabeças,
fecharmos nossos olhos e orarmos. Mas ainda faremos essas coisas, porque
elas são parte do aprendizado de Cristo. Nosso objetivo não é remover tudo
que possa ser incomum, estranho ou fora da experiência do visitante
descrente; caso contrário, não faria muito sentido eles aparecerem!
Em outras palavras, nunca deixaremos de ser distintamente cristãos e fazer
o que fazemos. Apenas tentaremos facilitar o máximo possível para alguém
de fora estar lá, “olhar para dentro” do que está acontecendo e ficar intrigado
e afetado (pela graça de Deus) o suficiente para querer voltar.
Discussão
1) Qual consideram ser a atitude de seus membros em relação a convidar
um amigo ou parente não-cristão para ir à igreja?
2) Quais elementos da reunião da sua igreja vocês classificariam como:
a) Confuso ou incompreensível para alguém de fora?
b) Embaraçoso para alguém de fora?
c) Acolhedor e amigável para alguém de fora?
d) Envolvente e relevante para alguém de fora?
3) Se vocês fossem fazer apenas três mudanças na reunião da igreja para
torná-la mais atraente para alguém de fora, quais seriam elas?
4) Se um incrédulo viesse à sua igreja em qualquer domingo, o que ele
concluiria sobre o que significa ser um “aprendiz de Cristo” a partir
coisas que vocês fazem juntos? Além do conteúdo do sermão, o que os
diferentes aspectos da reunião comunicariam a eles sobre o que vocês
acreditam?
2) EVANGELIZAR NO DOMINGO
Seu culto dominical é um lugar onde os visitantes não-cristãos ouvem o
evangelho?
Em certo sentido, há uma sequência natural de pensar em envolver pessoas
de fora para considerar se ou como podemos evangelizar essas pessoas que
vêm a nossas reuniões de domingo. E podemos dizer que é claro que o
domingo deveria ser um evento do evangelho e que a morte e ressurreição de
Jesus certamente devem ser proclamadas.
Mas, novamente, alguns de nós podem se sentir um pouco desconfortáveis
com isso. O culto de domingo não é primariamente um tempo para o culto
corporativo, ou para a edificação e o fortalecimento dos santos? Se o
domingo é para evangelismo, quando os santos são nutridos com alimento
sólido?
Historicamente, algumas igrejas têm refletido sua visão da relação entre a
igreja dominical e o evangelismo tendo dois cultos no domingo: o culto de
“adoração” da manhã e o culto “evangelístico” da noite.225
Em nossa opinião, isso separa coisas que Deus não separou: a saber, a
poderosa palavra do evangelho e a edificação da igreja. A igreja é certamente
a reunião do povo redimido de Deus ao redor do seu Senhor, a fim de ouvir
sua Palavra e responder a ele em arrependimento, fé, gratidão e louvor. Mas
se a Palavra que ouvimos e respondemos na igreja não está constantemente
exaltando Cristo, e voltando nossos olhos para ele como Salvador e Senhor,
então não é a Bíblia que está sendo pregada — porque o evangelho de Cristo
é a mensagem central e a chave para toda a Escritura. Ele é aquele a quem
todo o Antigo Testamento aguarda, e sobre o qual todo o Novo Testamento é
obcecado.
O cristianismo não tem duas mensagens, uma para o de fora e outra para o
de dentro. A palavra do evangelho que traz alguém à igreja é a mesma
palavra que o edifica na igreja.226 E quanto mais esta palavra edificar,
santificar e amadurecer uma congregação de crentes, mais eles estarão com
suas mentes voltadas para o evangelho. Phillip Jensen coloca assim:
Uma igreja edificada será santa, santificada e diferente do mundo, tendo membros
que sejam como Cristo no caráter e na vida. Tais membros estarão todos
comprometidos com a salvação da humanidade, pois esta foi a própria missão do
Cristo (1Tm 1.15). Um santo ajuntamento de pessoas, não comprometido com o
evangelismo mundial, não é santo, pois seus membros não são como Cristo.227
Talvez possamos dizer que, embora o objetivo principal ou foco do culto
dominical não seja “evangelismo” (isto é, a apresentação do evangelho a
pessoas não-cristãs), o culto dominical ainda deve ter uma dimensão ou
mentalidade evangelística. Ele recomendará a Cristo tanto para o crente como
para o descrente.
Várias consequências decorrem de uma falta de mentalidade evangelística
no domingo:
• Você terá dificuldades para criar uma “cultura” evangelística na
congregação se não houver consciência ou forma evangelística em suas
reuniões dominicais. O evangelismo se tornará um elemento extra em seu
programa, em vez de algo intrínseco à sua comunidade. O domingo
define o tom. Se o tom tiver uma forma evangelística, você estará
constantemente comunicando as verdades da Convicção 5 à congregação
— que todos estão presos neste “mundo tenebroso” e precisam
desesperadamente ouvir a verdade do evangelho.
• Tal como acontece com “envolver” (acima), se não houver uma
dimensão evangelística na igreja (e especialmente na pregação), então os
membros da congregação não levarão seus amigos não-cristãos à igreja
para ouvir a Palavra de Deus. Por outro lado, sempre que você prega
como se não-cristãos estivessem presentes, passa a mensagem muito clara
de que a igreja é um lugar para o qual você pode convidar seus amigos.
• Obviamente, se não houver conteúdo evangelístico nas reuniões de sua
igreja, então os não-cristãos que entrarem, e os frequentadores nominais
ou não-convertidos que estão em todas as igrejas, não ouvirão o
evangelho para serem salvos.
O que significa, em termos práticos, o culto dominical ter um tom
evangelístico? Isso significa pelo menos quatro coisas.
a) Pregar com uma mentalidade evangelística
Pregar evangelisticamente não significa inserir um esboço do evangelho
como Duas maneiras de viver em toda mensagem, ou terminar cada sermão
com um chamado ao altar. Em termos simples, isso significa pregar o
evangelho ensinando a Bíblia — porque a Bíblia é um livro evangelístico. Ela
constantemente aponta para a pessoa e obra de Cristo, e nos chama a nos
arrepender e colocar nossa fé nele. Phillip Jensen, um dos grandes expoentes
modernos desse tipo de pregação, sugere que a pregação evangelisticamente
pensada tem os seguintes elementos:
• Ela mostra ao ouvinte que o que está sendo dito vem da Bíblia, que está
sendo lida como qualquer outro texto é lido;
• Ela explica o significado de palavras e conceitos bíblicos em linguagem
comum;
• Ela explica as doutrinas fundamentais do evangelho conforme surgem da
passagem (ou servem como fundo necessário para a passagem): criação,
pecado, julgamento, expiação, ressurreição, glória;
• Ela localiza a mensagem da passagem na história do evangelho conforme
ela se desenrola por toda a Bíblia, chegando ao clímax com Jesus Cristo
— isto é, ela prega o aspecto do evangelho que está naquela passagem
(teologia bíblica);
• Ela mostra como a verdade da passagem confere sentido para o mundo;
• Ela desafia humilde e graciosamente as atuais hipóteses ou cosmovisões
alternativas que não conseguem explicar a realidade, com a expectativa
de que as pessoas que adotam essas visões estejam muito provavelmente
presentes (em outras palavras, evita falar em termos de “nós” contra
“eles”, o que faz com que os “eles”, que por acaso estejam presentes, se
sintam decididamente indesejados);
• Ela aplica o evangelho às circunstâncias reais da vida das pessoas (isso
recomenda o evangelho a crentes e descrentes, mostrando que o
evangelho, aplicado nessa área específica, é uma boa notícia);
• Ela chama a uma resposta ao evangelho em obediência, arrependimento e
fé (ou seja, prega para transformação);
• Ela afirma clara e inequivocamente a verdade de Deus centrada no
evangelho que vem da passagem, e aborda as maneiras pelas quais nossos
corações resistem a esta mensagem.228
Esta é uma receita para tornar cada sermão em algo que recomenda o
evangelho tanto para o crente como para o descrente.
Em outras palavras, queremos que os descrentes saiam da igreja pensando:
“Essas pessoas enfrentam as mesmas questões e problemas que eu, e se
envolvem com a Bíblia de uma maneira real e honesta. Não parece uma
fachada religiosa. Eu ainda não tenho certeza do que é verdade, mas gostaria
de continuar aprendendo sobre o que eles estão falando. Não me sinto tratado
como uma criança ou como um alienígena.”.
Naturalmente, algumas passagens da Bíblia e épocas do ano se prestam a
ser mais específica ou intencionalmente evangelísticas do que outras.
Aproveite esses momentos — por exemplo, deixe a congregação saber com
antecedência que os sermões nas próximas duas semanas serão
particularmente bons para trazer um convidado não-cristão. Porém, quanto
mais a congregação esperar que todos os domingos sejam um tempo em que
as pessoas não-cristãs sejam bem-vindas, consideradas e escutem o
evangelho, maiores serão as chances de aproveitarem essas oportunidades
especiais.
b) Contar histórias que mostram o evangelho em ação
A maioria das igrejas consegue encontrar alguma maneira apropriada para
o contexto em que os membros da congregação possam testemunhar do poder
da Palavra e do Espírito de Deus em suas vidas. Isso pode ser na forma do
clássico “testemunho” ou em uma breve entrevista. Pode relacionar-se com
um acontecimento ou tema específico; pode ser um relato de como o
evangelho age em um determinado ministério ou atividade que a igreja
realiza.
Qualquer forma que assuma, histórias regulares sobre o poder cotidiano do
evangelho transmitem mensagens poderosas e encorajamento — tanto para
crentes como para descrentes.
c) O testemunho pessoal dos membros da congregação
É claro que nem tudo que acontece na igreja acontece formalmente ou em
público. Conversas que acontecem antes e especialmente depois da reunião
têm um grande potencial para evangelismo. Um visitante não-cristão ou um
participante regular ou não-cristão provavelmente não procurará o pregador
depois do culto para falar mais sobre os efeitos de sua mensagem. Mas eles
estão sentados ao lado de alguém com quem essa conversa poderia facilmente
acontecer — se esse membro da congregação estiver pronto, disposto e
capacitado para ter a conversa.
Isso novamente tem a ver com “equipar”, e vamos falar sobre isso a
seguir.. Uma das principais maneiras pelas quais podemos trazer uma postura
ou mentalidade evangelística para nossas reuniões de domingo é ensinar,
treinar e preparar nossos membros para ter essa predisposição e saber como
colocá-la em prática de maneira simples e viável.
d) A forma do que é feito
Nós falamos acima sobre como “a maneira como fazemos as coisas”
comunica algo, tanto aos crentes quanto aos descrentes. Isso inclui como
estruturamos os diferentes elementos do culto, o que tradicionalmente
chamamos de “liturgia”. Sem querer elogiar qualquer forma ou ordem
particular de culto na igreja, nem entrar em debates sobre formalidade e
informalidade, recomendamos uma pausa para considerar o que a forma ou
“trajetória” da reunião de sua igreja comunica — porque ela comunicará algo,
mesmo que esse “algo” não tenha sido pensado.
A ordem na qual as coisas são feitas, e como esses diferentes elementos
são unidos, podem comunicar as verdades do evangelho de forma muito
poderosa — ainda mais porque acontece em um nível sutil, semana a semana.
Por exemplo, em algumas ordens de culto reformadas clássicas, há um
movimento partindo do reconhecimento ou confissão de pecado, para
garantia de salvação, para uma resposta de louvor e ação de graças, para a
audição da Palavra (leitura e sermão), que leva novamente a uma resposta de
oração e arrependimento. Este é apenas um exemplo de uma forma para o que
está acontecendo que, por si só, recomenda o evangelho ao crente e ao
descrente.
Discussão
1) Que aspectos da sua reunião dominical ou cultura possuem um tom
evangelístico? Qual destes vocês acham que têm potencial para ser
desenvolvido ou aperfeiçoado? Como?
2) Pensem em algumas ideias novas para tornar suas reuniões de domingo
mais evangelísticas.
3) Ao abordar a área de pregação com uma mentalidade evangelística,
vocês terão que discutir a qualidade da pregação em sua igreja. Falar
sobre isso na equipe do Projeto Videira pode ser um assunto delicado ou
desconfortável — supondo que o pastor provavelmente faça parte da
equipe. Talvez possamos todos concordar que não importa como o seu
pastor pregue (e sem dúvida ele é excelente!), sempre há espaço para
feedback e aperfeiçoamento.
Dito isso, desenvolvam um programa ou método para trabalhar
coletivamente como uma equipe a fim de aperfeiçoar esse aspecto da
pregação. Por exemplo: por um mês, vocês podem se revezar como o
“visitante não-cristão” designado por um domingo e ouvir o sermão
especificamente com ouvidos não-cristãos, anotando:
a) Conceitos ou ilustrações que se conectavam com você e faziam
sentido para alguém “de fora”, assim como elementos que não faziam
sentido (por exemplo, jargões, conceitos não explicados);
b) Áreas ou aspectos nos quais (como um “não-cristão”) você percebeu
que a mensagem se aplicava à sua vida ou à sua cosmovisão;
c) Aspectos da mensagem que você achou intrigantes ou atraentes como
um não-cristão, bem como aspectos que você pode ter achado
desnecessariamente ofensivos ou desconcertantes;
d) Aspectos da mensagem que desafiaram suas opiniões ou chamaram
ao arrependimento como um não-cristão.
Passem esse feedback para o pastor, que irá conferir e informar ao grupo
sobre algumas coisas que ele gostaria de melhorar em sua pregação. (E
depois orem juntos pelo pastor e descubram como fornecer um feedback
contínuo de uma maneira útil.)
4) O conteúdo das orações em suas reuniões dominicais convence alguém
de que vocês são um grupo de pessoas que desejam ver os perdidos
conhecerem a Cristo? Como seria possível melhorar nesta área?
3) ESTABELECER NO DOMINGO
Uma maneira de descrever o que está acontecendo ao nos reunimos no
domingo é perceber que Jesus está edificando sua igreja — que ele está
presente conosco para falar sua Palavra nutritiva, vivificante, e movendo
nossos corações para responder a ele pelo seu Espírito. Dizendo de outra
forma, um dos propósitos de Deus para o domingo é o aprendizado
transformador.229 Nos reunimos na presença de Deus para sermos ensinados e
edificados a fim de que possamos crescer até a maturidade em Cristo (esta é a
parte de “estabelecer” do espectro do crescimento).
Em nossa observação, a maioria das igrejas tem muito o que melhorar no
“aprendizado transformador” como parte intrínseca de sua cultura dominical.
Vamos analisar alguns exemplos de como podemos criar esse tipo de cultura
de “aprendizado de Cristo” no domingo.
a) Pregar para que haja aprendizado transformador
“Sermõezinhos criam cristãozinhos”, diz um velho ditado. Se quisermos
que nosso povo continue avançando passo a passo, os sermões precisam
instigá-los e incentivá-los a avançar. A pregação transformadora mergulha na
Palavra, desdobra e explica sua mensagem de maneira clara e convincente, e
aplica o desafio do evangelho de cada passagem aos corações, mentes e vidas
dos ouvintes.
Isso não significa de modo algum que a pregação deva ser acadêmica,
impenetrável e carregada de citações de comentários sobre o significado do
grego. Isso geralmente não promove o aprendizado! Mas isso significa que
nós abertamente tratamos o sermão como o ponto alto da reunião; como um
momento de engajamento sério e importante com a Palavra de Deus; como o
tempo em que todos nos sentamos juntos em torno da Palavra de Deus,
procurando ouvir, ler, considerar, aprender e digeri-la internamente.
A pregação é um assunto extenso demais para discutir adequadamente
aqui.230 Vamos apresentar apenas cinco breves apontamentos e sugestões:
• Pense em cada sermão como um exercício para ajudar as pessoas a
“avançar um passo”, para progredir em sua compreensão e obediência.
Quando as pessoas ouvem você (o pregador) expor a ideia principal da
passagem bíblica, de onde elas estão partindo (ou seja, qual é o problema,
dilema, questão ou pecado que a passagem aborda, e que provavelmente
forma sua introdução)? Aonde você quer levá-los (ou seja, qual é o novo
entendimento ou verdade que leva a um novo modo de vida ensinado pela
passagem)? E como você vai levá-los até lá (usando os principais pontos
da passagem para passar da introdução para a conclusão)?
• Use quaisquer técnicas pedagógicas ao seu alcance para ajudar seus
ouvintes a aprender e entender (ilustração, repetição, diagramas, esboços,
variação no andamento e assim por diante).231 Lembre-se: o resultado que
você procura não é apenas apresentar a mensagem bíblica; é fazer com
que seus ouvintes aprendam uma verdade que mudará suas vidas.
• Como pregador, continue sendo exemplo em sua própria determinação
para crescer e seguir adiante em Cristo. Sem fazer o sermão ser sobre
você (!), compartilhe de vez em quando como a passagem desafiou sua
vida, como ela mudou sua mente ou ensinou algo novo sobre Deus e seus
caminhos.
• Pense no sermão como parte de um processo de aprendizado em vez de
um evento isolado. Divulgue a passagem a ser pregada com antecedência;
dê oportunidades para as pessoas lerem e pensarem sobre a passagem
antes do domingo (por exemplo, algumas perguntas para reflexão pessoal
ou um estudo bíblico que pequenos grupos possam fazer com
antecedência). Crie a expectativa de que nos reunimos para aprender
dessa parte da Palavra de Deus. Da mesma forma, pense em maneiras de
prosseguir após o sermão; forneça alguns desafios ou perguntas de
reflexão para as pessoas ponderarem e orarem na segunda-feira de
manhã, ou em seus pequenos grupos durante a semana seguinte.
• Considere ter um momento de perguntas após o sermão. Algumas igrejas
fazem isso diretamente após o sermão, com uma oportunidade para a
congregação fazer perguntas, fazer comentários e assim por diante.
Outras igrejas fazem esse tipo de momento de perguntas com o pastor
depois que a reunião principal foi concluída. De qualquer maneira, pode
ser extremamente útil, ao permitir que o pregador esclareça ou reforce os
pontos que ele propôs e elucide os mal-entendidos. Porém, também muda
o tom e a expectativa do que está acontecendo: estamos juntos na igreja
para aprender com a Palavra de Deus, para continuar pensando,
perguntando e esclarecendo até entendermos e aprendermos. O pregador
expôs e explicou a Palavra, mas é a Palavra que possui verdadeira
autoridade e poder — e o pregador também está debaixo dela. Os
momentos de perguntas podem fazer uma mudança pequena, mas útil, na
“cultura de aprendizado” do domingo.
b) Escuta ativa em oração
Aprender é obviamente uma experiência de mão dupla. Podemos
incentivar e colaborar para que o domingo seja um momento de aprendizado
estimulando e ajudando a congregação a ser ouvintes e aprendizes ativos. Por
exemplo:
• Como mencionado acima, se a passagem for conhecida de antemão, e
houver uma expectativa de ler e refletir sobre ela com antecedência, os
membros da congregação chegarão mais pensativos para o sermão e com
expectativas sobre o que eles podem aprender.
• Pode ser útil distribuir esboços impressos do sermão a fim de que os
ouvintes possam ver a direção para aonde a exposição está indo, fazer
anotações, elaborar desafios e aplicações — não apenas para ajudar no
aprendizado e na memória, mas para servir como material para “digestão
interna” posterior e oração. Tomar notas pode ser útil para promover a
escuta e a aprendizagem ativas.
• Ouvir é uma atividade espiritual — “Vede, pois, como ouvis”, disse
Jesus.232 O tipo certo de audição é algo que pode ser aprendido e que
devemos ensinar e encorajar. Falamos de uma audição com
arrependimento e coração aberto, com atenção e perspicácia, oração e
humildade, e que se envolve com quem fala (em contato visual, ao
menos).233
c) Ensino mútuo e encorajamento
Se queremos criar uma cultura na qual todos nós somos aprendizes de
Cristo que buscam ajudar outros aprendizes a aprender, então o domingo tem
que ser um tempo em que praticamos e exemplificamos essa convicção. Se a
única pessoa que tem algum ministério da Palavra no domingo é o pastor,
enviamos uma mensagem completamente errada.
Há duas maneiras principais de promover e exemplificar um amplo
ministério mútuo da Palavra aos domingos:
• Em primeiro lugar, podemos encontrar formas dentro da estrutura da
reunião para os membros da congregação testemunharem e encorajarem a
congregação. Em uma igreja em que estávamos envolvidos, isso se
chamava “momento 14.26” — por causa de 1 Coríntios 14.26 — e
variava de semana para semana. Pode ser um breve testemunho sobre
uma lição que alguém aprendeu com a Palavra, ou como o evangelho
capacitou alguém a lidar com o sofrimento e a dificuldade, ou como se
tornou cristão. Pode ser uma breve entrevista sobre algum ministério da
Palavra em que um membro da congregação está envolvido, ou uma
história sobre como Deus respondeu suas orações congregacionais. Pode
ser uma breve reflexão por um membro piedoso e maduro da
congregação após o sermão sobre como a mensagem o desafiou ou
ensinou. Tudo isso precisa ser feito de maneira pensada e ordenada,234 e
geralmente com alguma preparação. Contudo, quanto mais esse tipo de
contribuição edificante dos membros da congregação se tornar parte de
sua cultura normal, mais espontânea ela poderá ser. (Na igreja de Colin,
agora até os homens estão começando a tomar coragem e dizer alguma
coisa!)
• Em segundo lugar, podemos incentivar e preparar nossos membros para
ver o domingo como um lugar para conversa e encorajamento mútuos em
torno da Palavra de Deus. Mais uma vez, falaremos mais sobre isso
adiante (em “Equipar para o domingo”), mas devemos chegar a um ponto
em que os membros venham no domingo com uma expectativa em oração
de que Deus os usará em conversas encorajadoras e baseadas na Palavra
— seja com visitantes e recém-chegados, ou com os membros regulares.
O horário nobre para isso geralmente é no café após o horário “formal”
da igreja, seja conversando sobre as principais lições ou questões do
sermão, ou sobre o que está acontecendo em nossas vidas e famílias, ou
sobre o que lemos na Bíblia durante a semana passada. Estes podem ser
breves momentos de encorajamento ou conversas mais longas que se
desdobram em discussões e orações durante a semana. O fator chave é a
nossa expectativa de que Deus nos use para ajudar uns aos outros dessa
maneira, e nossas orações para que ele abra nossas bocas para falar e
aproveitar as oportunidades que surgem.
d) Oração arrependida e responsiva
Em muitas igrejas evangélicas contemporâneas que visitamos, a oração
corporativa substancial praticamente desapareceu. Há 30 minutos de música,
30 minutos de mensagem, vários anúncios, promoções e entrevistas, itens
musicais e, claro, a realização do ofertório — mas parece que a única hora
que podemos dedicar à oração é uma petição curta e superficial quando a
reunião começa ou quando o sermão termina. Isso é surpreendente quando se
pensa a respeito, e diz muito sobre o que achamos que estamos fazendo
quando nos reunimos como povo de Deus.
A oração é fundamental para a vida cristã e para a vida da igreja, porque é
a linguagem da fé. A oração é a dependência verbalizada de Deus.235 Além
disso, nossas convicções nos dizem que o aprendizado transformador só
acontece quando o Espírito de Deus aplica soberanamente a Palavra de Deus
aos corações humanos. Devemos, portanto, depender constantemente de Deus
em oração para que ele faça isso pelo seu Espírito em nossas reuniões de
domingo. Essas convicções devem moldar nossas orações congregacionais.
Por exemplo:
• A tradição em algumas igrejas de orar preces prontas de confissão de
pecado, se bem realizadas, pode ser muito útil. Enquadra nossa audição
da Palavra com uma atitude de arrependimento e anseio — nós sabemos
como caímos, que somos indizivelmente gratos pela graça do evangelho,
e que queremos aprender, crescer e ser transformados pela Palavra de
Deus que estamos prestes a ouvir.
• Da mesma forma, é bom ter um tempo de oração após o sermão, quando
respondemos como congregação à mensagem e suplicamos a ajuda de
Deus para amolecer e transformar nossos corações teimosos. Trabalhe na
integração do conteúdo das orações e ações de graças com o tópico ou
tema sobre o qual o culto é elaborado.
• Assim como o tempo fora da reunião formal no domingo é útil para
encorajamento mútuo, conversa e ensino, também é uma excelente
oportunidade para orar uns pelos outros. Quando você está conversando
com alguém sobre alguma questão ou acontecimento em sua vida, ou
compartilhando algum encorajamento ou conversa sobre o sermão, por
que não concluir com uma breve oração juntos? Na verdade, essa também
é uma excelente maneira de iniciar uma conversa proveitosa: pergunte à
pessoa com quem você está conversando se há algo que gostaria que você
orasse por ela. Em nossa experiência, isso instantaneamente faz com que
a conversa saia da previsão do tempo e do futebol para as coisas que
realmente importam, e muitas vezes abre oportunidades para um
encorajamento mútuo significativo.
e) Música que ensina
Martinho Lutero, como de costume, captou a maravilha do dom divino da
música de forma mais memorável do que qualquer outra pessoa:
Uma pessoa que pensa um pouco e ainda assim não considera a música como uma
criação maravilhosa de Deus, deve ser realmente grosseira e não merece ser
chamada de ser humano; ele deveria ter permissão para ouvir apenas zurro de
burros e grunhido de porcos.236
Mesmo assim, o tema da música na igreja é também uma caixa de
marimbondos de Pandora (para extrair o máximo possível de duas
metáforas). Estamos relutantes em abrir demais a caixa, mas vamos fazer
apenas alguns comentários sobre como o canto pode fazer parte da cultura de
aprendizado de sua congregação.
Cantar é uma forma de fala com bastante carga emocional. Consiste em
palavras que — de uma maneira que não compreendemos completamente —
geram mais impacto do que palavras que são apenas faladas. Isso faz da fala
cantada uma maneira particularmente poderosa de construir uma cultura
transformadora de aprendizado em nossas reuniões dominicais, de pelo
menos três maneiras:
• Alguns aspectos do nosso canto têm a ver conosco. Cantar é uma forma
simples e poderosa de toda a congregação ensinar e encorajar uns aos
outros. Quando cantamos juntos, nos firmamos e declaramos uns aos
outros as maravilhosas obras e o caráter de Deus. Isso é realmente
“louvar”: declarar (geralmente com alegria e celebração) o que Deus fez,
quão maravilhoso é o caráter de Deus, quão grande, bom e magnífico é o
Senhor Jesus Cristo e seu evangelho.237 Isso significa, é claro, que
devemos escolher cuidadosamente as canções que realmente fazem isso
— nos quais os versos estão repletos de ensinamentos teológica e
biblicamente ricos sobre o que Deus fez em Jesus Cristo. Como tem sido
frequentemente observado, muitos pastores preparam e guardam
cuidadosamente os 25 minutos de ensino que acontecem do púlpito, sem
tomar conhecimento dos 25 minutos de ensino que acontecem por meio
das canções que cantamos.
• Não é apenas o conteúdo verídico das músicas que é encorajador e
transformador — é o fato de que posso ver você de pé, entusiasmado e
alegre, mostrando o quanto acredita naquilo que canta. Cantar é uma
forma de testemunho. É uma chance para todos nós dizermos: “Sim, aqui
estou! E é nisso que eu acredito.” Isso é encorajador, da mesma forma
que todo exemplo de vida é encorajador. Faz com que eu saiba que você
também crê nessas verdades, porque quando você abre seus pulmões e
canta com todo o seu coração, você me mostra que crê nelas. É por isso
que cantar com o coração é uma coisa tão edificante de se fazer na igreja
— tendo ou não uma boa voz, seja a música em particular do nosso gosto
musical ou não.
• Cantar também é uma maneira poderosa de responder a Deus e ao que
ele nos falou por meio da Palavra. No canto, podemos nos regozijar,
agradecer, orar e dizer a Deus quão digno, poderoso e maravilhoso ele é
(novamente, isso é “louvor” — a declaração das excelências de Deus).
Cantar nos dá a oportunidade de expressar as afeições que a Palavra de
Deus desperta em nós.238
f) Declarar credos e confissões históricas
Assim como cantar, recitar credos e afirmações confessionais históricas
coletivamente na igreja é ao mesmo tempo declaração e resposta. Estamos
falando as grandes verdades da fé uns aos outros e, ao mesmo tempo,
testemunhando uns aos outros sobre nossa crença nessas verdades. Como
uma característica regular de nossas reuniões, isso pode ser uma poderosa
experiência de “aprendizado” (especialmente se explicarmos seu significado
e o contexto em que foram escritos). Eles conectam o pequeno posto
avançado do reino de Deus que é a nossa igreja com a fé histórica que os
cristãos desde o princípio e em todos os lugares têm afirmado. Diz ao nosso
povo (e aos de fora) que não somos apenas uma pequena tribo de pessoas
estranhas, que se destacam como um espantalho num milharal. De fato,
somos um ramo de uma árvore viva, maciça e antiga, cujas raízes descem
profundamente.
Discussão
Há muito que abordar e pensar nesta seção. Discutam cada uma das áreas
que examinamos e anotem um aspecto que vocês estejam fazendo muito bem,
algo que já exista e que possa ser melhorado, e uma nova ideia que precisa
progredir:
a) Pregar para que haja aprendizado transformador
b) Escuta ativa em oração
c) Ensino mútuo e encorajamento
d) Oração arrependida e responsiva
e) Música que ensina
f) Declarar credos e confissões históricas
4) EQUIPAR NO DOMINGO
A cultura que estamos querendo construir é aquela em que todos os santos
pensem em se envolver no aprendizado transformador juntos como um
privilégio e alegria — para que todo o povo de Deus, cada um a seu modo,
persevere em proclamar a Palavra, com oração dependente do Espírito, a fim
de ajudar os outros a avançarem um passo (os quatro Ps).239
Podemos equipar nosso povo para essa proclamação em oração de muitas
maneiras e contextos, mas o domingo em si é o momento importante onde
essa preparação pode acontecer. Aqui estão três maneiras pelas quais isso
pode acontecer:
• Podemos pregar de maneira a equipar. Há uma maneira de apresentar um
sermão que faz o ouvinte pensar depois: “Uau, isso foi muito encorajador.
Mas eu não sei como ele conseguiu tirar essa mensagem da passagem. Eu
nunca conseguiria ler a Bíblia assim”. E há outra maneira de apresentar
um sermão em que o ouvinte pense: “Uau, isso foi muito encorajador.
Além disso, eu pude ver como sua mensagem veio diretamente do
conteúdo da Bíblia. Acho que conseguiria ler a Bíblia assim”. Se, como
pregadores, apresentamos o suficiente da base exegética de nossa
mensagem — o suficiente para mostrar como ela vem da própria
passagem, mas não para aborrecer nossa audiência com um comentário
detalhado em todos os versos — , com o tempo, prestamos um enorme
serviço para a leitura bíblica do nosso povo. Ensinamos a eles a ler a
Bíblia por si mesmos, mostrando-lhes todos os domingos como estamos
extraindo nossos sermões da Bíblia.
• Nossa pregação também pode equipar a congregação para ministrar a
Palavra uns aos outros por ser compartilhável — isto é, quando cada
sermão tem como parte de sua aplicação formas de compartilhar essa
Palavra com outra pessoa. Por meio da nossa pregação, podemos definir a
expectativa e a norma de que a Palavra não termina conosco; deve ser
compartilhada e transmitida. Você pode até ter um espaço em seu
esboço/boletim com “O que eu aprendi com o sermão de hoje”, e
encorajar todos a escreverem algo nesse espaço e conversar sobre isso
juntos depois, no café.
• Podemos programar momentos regulares curtos para “equipar” durante
nossa reunião de domingo; por exemplo, peça a alguém da congregação
que faça um breve relato sobre como está lendo a Bíblia em dupla com
outra pessoa, e quais são as lições e consequências encorajadoras
resultantes dessa experiência. Extraia durante a entrevista/testemunho
algumas lições simples sobre “como todos podemos ler a Bíblia uns com
os outros”. Isso será curto e tem certo limite de alcance, mas a repetição
regular desse tipo de testemunho mostra à congregação como todos
podemos nos envolver ajudando uns aos outros a aprender Cristo por
meio da Palavra.
Tudo o que fazemos no domingo molda a maneira como nosso povo se
envolve no ministério — incluindo líderes de grupos, professores da Escola
Dominical e assim por diante. Ele molda como eles leem e ensinam a Bíblia,
sua compreensão da verdade cristã, pelo que eles oram, como eles respondem
à Palavra de Deus — a direção de todos os carros de sua frota é definida pelo
carro-chefe, e esse carro-chefe é a sua principal reunião dominical.
etc.
Por conveniência, continuaremos nos referindo a essas reuniões de toda a congregação simplesmente como “domingo” ou “culto
dominical”, já que é o dia em que quase todos nós temos essas reuniões.
Essas são as quatro categorias amplas que apresentamos no resumo das convicções, ao final da Fase 1.
N. do T.: Termo específico do movimento; em português, algo como “sensível ao que busca”
No modelo seeker-sensitive conforme apresentado por Bill Hybels na Willow Creek Community Church, o domingo é realmente
um comício evangelístico para reunir pessoas de fora — a reunião “real” da igreja, com ensino bíblico mais profundo e tudo
mais, ocorre durante a semana à noite.
1Co 14.16-17, 23-25.
Na Fase 1 (Convicção 3).
Como com todas as coisas, isso deve ser feito de forma sensata. Você não quer que sua reunião morra uma morte de mil
explicações.
Esse foi realmente um precursor da abordagem seeker-sensitive da Willow Creek, que tinha o culto de “evangelismo” como o
evento principal nas manhãs de domingo, e a reunião de “louvor” ou “ensino” nas noites de quarta-feira.
Curiosamente, a palavra “edificar” (grego: oikodomeō) significa simplesmente “construir”. A forma como lemos este termo na
maioria das traduções parece implicar que edificar trata de alguém que já faz parte da igreja. Mas quando Cristo disse:
“edificarei (oikodomeō) minha igreja” (Mt 16.18), ele estava falando sobre todo o processo — de pregar o evangelho e ver as
pessoas entrarem na comunhão da igreja e crescerem até a maturidade. A igreja é construída pelo evangelho (cf. At 20.32; Rm
15.20-21; 1Co 3.9-11; 2Co 10.8, 13.10; Ef 2.19-22). Poderíamos dizer que as pessoas são “edificadas” na igreja da mesma
como são “edificadas” como igreja e que, em ambos os casos, é pela poderosa palavra de Cristo, por seu Espírito.
Phillip Jensen, “A igreja e a evangelização: o culto deve ser evangelístico?”, Voltemos ao Evangelho, 23 ago. 2019,
voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/a-igreja-e-a-evangelizacao-o-culto-deve-ser-evangelistico/.
Veja especialmente o capítulo 5 em Jensen e Grimmond, The archer and the arrow. Veja também Colin Marshall, “Preaching
with an evangelistic mindset”, in Let the word do the work, Peter G. Bolt, ed., (Camperdown: Australian Church Record,
2015), 75-84.
Veja a discussão na Fase 1, convicção 5, sobre a igreja ser um cenário para o discipulado.
Uma abordagem revigorante e muito prática da pregação como uma experiência de aprendizado pode ser encontrada em Gary
Millar e Phil Campbell, Saving Eutychus: how to preach God’s word and keep people awake (Sydney: Matthias Media, 2013).
Novamente, você encontrará algumas ótimas ideias em Saving Eutychus, de Millar e Campbell.
Lucas 8.18.
O livreto de Christopher Ash, Listen up!, é um excelente recurso para preparar a congregação para ser melhores ouvintes.
Christopher Ash, Listen up! A practical guide to listening to sermons (Londres: The Good Book Company, 2009).
1 Coríntios 14.33, 40.
Para uma expansão deste ponto, ver Phillip Jensen e Tony Payne, Prayer and the voice of God (Sydney: Matthias Media, 2006).
60-64.
Martinho Lutero, “Preface to Georg Rhau’s Symphoniae iucundae” (1538), trad. US Leupold, in Luther’s works, J. Pelikan e H.T.
Lehmann, eds., (Filadélfia: Fortress, 1965), 53:324.
Para saber mais sobre a natureza do louvor como “declarar ou anunciar como alguém é grande”, veja Tony Payne, “Confissões de
um viciado em louvor”, Voltemos ao Evangelho, 24 ago. 2019, voltemosaoevangelho.com/blog/2019/08/ confissoes-de-um-
viciado-em-louvor/.
Para uma excelente discussão recente de todas essas questões relacionadas ao canto congregacional, ver Philip Percival, Then
sings my soul: rediscovering God’s purposes for singing in church (Sydney, Matthias Media, 2015).
Veja a convicção 3 na Fase 1 para nossa discussão dos quatro Ps.
Por exemplo: Seus pequenos grupos podem ler o pequeno livreto de Christopher Ash, Listen Up! juntos (sobre como ser um
melhor ouvinte de sermões), falar sobre o conteúdo, orar sobre isso e encorajar uns aos outros a colocá-lo em prática. Um
grupo (ou vários grupos) poderia estudar Six steps to loving your church, um curso de seis sessões que trabalha o que todo
cristão poderia fazer antes, durante e depois da igreja a fim de ser um meio de encorajamento amoroso para aqueles ao redor
(isto é, fazendo o tipo de coisas que temos discutido em toda esta seção).
Uma grande igreja pentecostal em Sydney, famosa por seu ministério de música.
1 Coríntios 9.22.
N. do E.: A entrevista completa com Gabriel em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda:
todos serem evangelistas; leitura bíblica em duplas; evitar a cultura do consumidor onde tudo é empacotado e programado; e
treinamento de liderança.
N. do E.: A entrevista completa com Ricardo em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui seus pensamentos sobre: usar
momentos críticos para mudança; ajudar membros a convidar pessoas para a igreja; e moldar a cultura através dos principais
líderes.
N. do E.: A entrevista completa com Davi em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda a
incorporação do discipulado na cultura e nas estruturas de uma igreja.
Área de foco 2: criar caminhos que
promovam o avanço
No segundo exercício de avaliação da Fase 3, você fez o melhor que pôde
para ter um diagnóstico de todas as pessoas de sua congregação ou
comunidade — de onde eles estão em seu “aprendizado” de Cristo. A maioria
dos grupos com que fizemos este exercício descobriu ser uma experiência um
tanto impressionante. Tantas pessoas. Tantas necessidades ministeriais. Tão
poucos líderes ou pessoas equipadas para ajudar na tarefa.
Como vamos fazer todas essas pessoas avançarem, cada uma com suas
próprias necessidades e situações particulares na vida? Considerando que o
método básico são os quatro Ps do ministério (Proclamação, Prece, Pessoas,
Perseverança),246 então, falando de maneira prática, como esse “ministério
dos 4Ps” pode acontecer de uma forma que ajude a todos a dar passos adiante
de todos os diferentes lugares que ocupam no espectro? (E isso nem mesmo é
pensar no desafio ainda maior: todas aquelas pessoas em nossos bairros e
comunidades com as quais ainda não nos envolvemos ou evangelizamos.)
Parte da resposta, claro, é a área de foco que acabamos de ver. Nosso
principal encontro dominical deve funcionar para fazer as pessoas avançarem
de onde quer que estejam. Mas algumas coisas são difíceis (ou quase
impossíveis) de se fazer em uma grande reunião de grupo como a igreja.
Como vamos usar todos os outros aspectos da vida da igreja para levar as
pessoas a avançarem — isto é, todas as diferentes reuniões e interações,
sejam elas individuais, em pequenos grupos ou em grupos médios, seja em
eventos isolados ou estruturas regulares?
Agora, se por acaso se tratasse de uma igreja doméstica de 24 pessoas, a
resposta a essas perguntas poderia ser relativamente simples: “Há três de nós
que exercem alguma liderança aqui. Cada um se responsabiliza por sete
pessoas, trabalha com eles pessoal e individualmente para ajudar cada um a
avançar. Simples.”
Mas é claro que poucos de nós estão em situações tão descomplicadas
(lembre-se: as pequenas igrejas domésticas também têm todos os tipos de
complicações!).
Seu grupo não precisa ficar muito maior antes que algum tipo de sistema
ou estrutura se torne necessário para organizar, facilitar e apoiar o
crescimento de cada pessoa. Sem o que estamos chamando neste capítulo de
“caminhos”, o ministério 4Ps é muito difícil de sustentar e ampliar além das
pessoas que você pode influenciar e se relacionar pessoalmente. Quanto
maior for o seu grupo, ou mais ampla for a sua visão sobre o quanto você
quer crescer, mais reflexão, cuidado e trabalho árduo você terá para construir,
manter e mexer constantemente com a “arquitetura relacional” que conecta as
pessoas umas às outras no ministério 4Ps.
Em certo sentido, ser atencioso e proativo sobre como nossas estruturas de
ministério promovem o crescimento do evangelho é apenas uma boa
sabedoria prática, e não precisamos construir uma base teológica elaborada
para nossa maneira particular de fazê-lo. No entanto, fazer este trabalho de
fato concorda teologicamente com a nossa visão das igrejas como
“comunidades de aprendizado”. Deus nos colocou juntos porque somos
melhores juntos. Precisamos uns dos outros. O amor nos levará a descobrir
como podemos capacitar e facilitar o maior número possível de
relacionamentos de ministérios 4Ps — e é isso o que estamos fazendo quando
projetamos e implantamos estruturas, caminhos ou sistemas (ou como quiser
chamá-los).
Para colocar tudo isso nos termos familiares de nossa metáfora já bem
usada, se o ministério 4Ps é o “trabalho da videira” que impulsiona o
crescimento espiritual na vida das pessoas em todos os níveis, então projetar
estruturas ou caminhos é o “trabalho de treliça” vital que permite ao trabalho
da videira acontecer de forma ampla e profunda em toda a congregação e
além.
Quatro advertências finais antes de prosseguirmos:
• Em primeiro lugar, estabelecemos a linguagem dos caminhos para falar
sobre as estruturas ou sistemas a serem criados para tentar ajudar o maior
número possível de pessoas a avançarem. Nenhuma linguagem ou
metáfora é perfeita. “Caminho” não é ruim, porque evoca pessoas
andando em determinada direção, fazendo progresso, passando de um
marco para o próximo e assim por diante. Mas sinta-se livre para criar sua
própria linguagem e descrição.
• Em segundo lugar, tente evitar os dois extremos de atear fogo em tudo ou
de brincar enquanto Roma pega fogo. Em um extremo está a abordagem
que trata tudo da cultura atual e das estruturas do ministério como
incuravelmente doente, e quer desfazer tudo e começar de novo. Por mais
que isso possa ser tentador às vezes, quase sempre é um erro transformar
a cultura atual em sua inimiga — e é isso que acontecerá se tentar destruir
tudo e construir do zero. Por outro lado, é um desperdício de tempo de
todos fazer apenas alguns ajustes tímidos nas bordas, quando a cultura
está precisando de uma mudança profunda e duradoura. Na maioria dos
casos, a chave é encontrar os aspectos de sua cultura atual que refletem
suas convicções e têm potencial para crescimento — e eles foram
identificados na Fase 3 — e basear-se neles. Ajuste-os, reenergize-os,
coloque recursos neles — coloque os pontos fortes que a cultura atual tem
para trabalhar a seu favor na condução da mudança.
• Em terceiro lugar, vale a pena dizer (mesmo que seja óbvio) que há
sobreposição entre as quatro categorias ou etapas do nosso espectro
(Envolver, Evangelizar, Estabelecer, Equipar). Onde o envolvimento
com alguém para e a evangelização começa? Às vezes é claro; outras
vezes é mais difícil dizer. Em particular, onde está a fronteira entre
estabelecer e equipar? Estes dois estarão sempre se sobrepondo, porque
estabelecer é um processo vitalício que nunca termina, e equipar é um
aspecto e consequência de tornar-se mais maduro e estabelecido em
Cristo.
• Finalmente, lembre-se sempre de que nenhum sistema ou estrutura será
perfeito, ou abrangerá tudo o que Deus está fazendo à sua volta por meio
de seu povo. O ministério será confuso, porque as pessoas são confusas e
porque nós mesmos somos pessoas finitas e imperfeitas. Apesar de todos
os nossos melhores e mais cuidadosos esforços, alguns de nossos planos
não funcionarão. Não se ligue demais a eles nem os invista de muita
importância. Uma treliça não tem vida; é uma construção que pode ser
desmontada e remontada. Uma treliça também serve para apoiar a videira,
não para determinar exatamente onde todo o crescimento da videira irá
acontecer. Um ministério 4Ps realmente frutífero em geral acontecerá
informalmente ao lado e fora de suas estruturas. Às vezes, um ministério
ou pessoa se levantará e florescerá independentemente de toda a
organização cuidadosa que fizemos. Esteja pronto para lidar com isto, e
construir a partir disto, mesmo se não se encaixar muito bem com sua
estrutura. O importante é que as pessoas continuem crescendo como
aprendizes de Cristo, não que tenhamos bons e belos caminhos.
Basta, então, das palavras e advertências introdutórias. Vejamos cada uma
de nossas quatro etapas principais para fazer avançar, e pensemos em como
podemos projetar caminhos que ajudem as pessoas a avançarem por meio
delas.
As principais perguntas que precisaremos fazer em cada um dos tópicos a
seguir são:
• Que estruturas ou grupos ministeriais existentes podemos melhorar ou
que novas coisas precisamos iniciar para conduzir mais eficazmente o
ministério 4Ps nesta área?
• Qual é o próximo passo para as pessoas que foram ministradas em cada
fase? (Por exemplo, como alguém deixa de ser envolvido para ser
evangelizado? Ou de ser evangelizado para ser acompanhado e
estabelecido na fé?)
• Quem irá liderar esses ministérios ou grupos novos ou aprimorados? Que
tipo de preparação ou treinamento será necessário? Isso se tornará cada
vez mais urgente ou aparente à medida que avançarmos por
“Estabelecer”, “Evangelizar” e “Estabelecer”, a seguir. Quase certamente
você descobrirá que as ideias que você tem para progredir em cada área
não são correspondidas pelas pessoas que você tem disponível para
liderá-las ou executá-las. É disso que se trata a etapa “Equipar”!
• Por mais importantes que sejam as estruturas e a liderança, o conteúdo é
igualmente vital. O que realmente está sendo proclamado e ensinado em
nossos diferentes grupos e ministérios? É a Palavra bíblica de Cristo ou
alguma outra coisa?
• Estamos tratando de um único caminho, ou de vários? Vamos nos referir
principalmente a caminhos (plural) no material abaixo, em
reconhecimento de que normalmente são criados múltiplos caminhos ou
opções para as pessoas seguirem adiante. Contudo, em outro sentido, é
possível pensar nisso como uma grande rodovia integrada na qual seu
ministério ajuda as pessoas a viajarem de “envolver” até “equipar”, com
um número de “pistas” diferentes na estrada que são adequadas para
pessoas e circunstâncias diferentes.
Trabalharemos em cada uma das quatro etapas, oferecendo algumas ideias
e sugestões para refletir e discutir, e contando algumas histórias sobre como
as igrejas que conhecemos estão trabalhando nisso. Então, no final, você
precisará projetar seus próprios projetos de caminhos que integrem as quatro
etapas.
Melhorar
propaganda da
igreja na
comunidade local
(Vocês também podem achar útil mapear um plano de ação separadamente
como essa para áreas específicas de ministério dentro da congregação — por
exemplo, ministério de jovens, ministério de homens.)
O mapeamento de caminhos desta maneira irá gerar um conjunto de
prioridades e ações — isto é, coisas concretas que precisam ser realizadas
agora e nos próximos 12 a 18 meses. Ao listar essas possíveis prioridades e
ações:
• Realcem as principais prioridades na construção de seu caminho nos
próximos dois anos; o que é essencial e o que é desejável?
• Discriminem as ações que precisam ser tomadas, inclusive quando, por
quem, a que custo e assim por diante.
Quando chegarem aos detalhes do que tem que ser feito, vocês podem
muito bem perceber que o seu caminho é muito ambicioso, considerando de
onde estão começando.
A história de Barnabé
Barnabé tornou-se o ministro de uma igreja evangélica em uma
denominação tradicional há cerca de sete anos. A igreja está localizada nos
subúrbios e é frequentada por professores, gerentes, enfermeiros,
comerciantes e assim por diante.
Quando você chegou há sete anos, o que estava no seu coração para esta
igreja?
Eu queria fazer dela uma igreja voltada para fora. Esse foi o meu encargo
quando os nomeadores estavam conversando comigo e fiquei muito feliz em
aceitar isso. Para minha alegria, eles levaram isso a sério. Não estavam
apenas dizendo; estavam falando sério sobre mudança. Quando eu cheguei,
eles não faziam nenhum tipo de evento evangelístico há dez anos.
Eu queria que eles olhassem para fora a fim de conhecer pessoas, convidá-
las para programações, criar ideias, lugares, locais, atividades em sua casa
nas quais eles inicialmente pudessem conhecer pessoas e compartilhar o
evangelho com elas.
Queria que eles se vissem como uma equipe e trabalhassem juntos e
entendessem que nem todo mundo é um bom professor; alguns são bons em
convidar e alguns são realmente bons nos bastidores. Então, era necessário
valorizar os outros membros e seus dons, especialmente como parte do
empreendimento da igreja e da evangelização.
Onde você começou a definir a visão e a cultura?
O primeiro lugar para começar foi com o Conselho Paroquial. Eles eram o
grupo óbvio com quem conversar porque se encontravam regularmente, e as
pessoas que estavam nele participavam de grupos de estudos bíblicos; alguns
eram líderes. Havia apenas quatro grupos de estudos bíblicos.
O que você fez com o Conselho Paroquial para levá-los a pensar sobre
visão e cultura?
No primeiro encontro, mostrei-lhes o programa de discipulado ainda não
publicado de David Mansfield — bem, pelo menos minha versão
empobrecida dele. Ele dizia que as pessoas passam por diferentes estágios em
sua jornada para se tornarem cristãos maduros. Eles começam como
estranhos completos com quem precisamos nos envolver. Há muitas pessoas
que não conhecem nenhum cristão e nunca foram à igreja, por isso queremos
nos envolver com essas pessoas. Queremos evangelizar aqueles que
conhecemos e depois estabelecê-los na fé e equipá-los para ministrar.
Colossenses 1.28
“O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo
homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito
em Cristo”.
Colossenses 1.13-14
“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados.”}
Mostrei-lhes este diagrama e falei sobre isso no primeiro encontro. E eu
perguntei se eles achavam que nossa igreja era boa em todos esses quatro
estágios. Eles apenas balançaram a cabeça.
Eu disse: “Ok, pense em igrejas que vocês conhecem. Esqueçam a teologia
por um minuto. Vamos apenas debater: onde vocês encaixariam aquela
grande igreja carismática na nossa rua? Em que eles são bons?”.
Eles disseram: “Eles são muito bons em divulgação, eles têm uma grande
porta da frente, muitas pessoas os conhecem — então eu acho que eles são
bons no primeiro E (envolver).”
“Então, e aquela igreja na qual eles ouvem um sermão de duas horas sobre
alguma doutrina como a trindade? Onde vocês os colocariam?”
“Bem, eles são todos cristãos, têm um entendimento sólido, mas eles não
entenderam que deveriam estar equipados para o ministério de servir a outras
pessoas, então é meio que categoria quatro (‘equipar’), mas com falhas.”
Eu disse: “Onde você acha que nossa igreja e a igreja suburbana normal se
encaixam?”
Eles disseram: “Não sabemos. O que você acha?”.
Eu disse: “Estou convencido de que todos estão presos na zona três
(‘estabelecer’); eles se tornaram cristãos anos atrás, talvez quando jovens
adultos, e estão passando o tempo desde então. Nunca entenderam que a vida
cristã é sobre glorificar a Deus, servi-lo como puder, alcançar os perdidos e
continuar com o trabalho.”.
Então, depois de uma reunião, todos foram totalmente persuadidos e tudo
mudou?
Eles estavam totalmente persuadidos do problema que eu estava
identificando. Concordaram que a grande maioria das pessoas na igreja
estava presa no estágio três — que a maioria das pessoas não servia em
nenhuma dimensão. As pessoas na igreja provavelmente eram cristãs, mas
com um entendimento fraco.
Então, essa foi a nossa primeira reunião do Conselho Paroquial. Eu disse:
“O que quer que façamos, temos que tentar ser a igreja que é boa em fazer
todos os quatro! Nenhuma igreja jamais conseguiu, mas eu quero que nós
sejamos a igreja que chegue perto disso.”. Todos eles riram e disseram:
“Bem, isso parece certo”.
E assim, na próxima reunião do conselho paroquial, voltei e disse: “Aqui
está o meu plano. Existem quatro períodos no ano; vamos dedicar cada
período a um desses quatro estágios de evangelismo e crescimento.”.
Então você trabalhou “Envolver” no primeiro período, “Evangelizar” no
segundo período, “Estabelecer” no terceiro período e “Equipar” no quarto
período. Você ainda está fazendo isso agora, sete anos depois?
Sim. Eu acho que no primeiro ano eles estavam hesitantes — eles
pensaram: “Sim, é um plano, mas vamos ver se funciona”.
Foi um choque ter uma missão de três meses no segundo período. Isso
causou uma grande agitação entre os ministros locais. Quando eu lhes
mostrei o plano, eles disseram: “Isso é ridículo — você deveria estar
evangelizando o ano todo. Mas você está fazendo mais evangelismo do que
nós estamos fazendo!”.
Como você trabalhou com “Equipar”?
Em 2010, eu comecei algo chamado “Preparado para servir”. É “um ano
com Barnabé”. Eu peguei a ideia de Richard Coekin no Reino Unido; cada
líder teve que passar dois anos com ele em sua cozinha.
Então eu tirei pessoas, homens e mulheres, de seus grupos de estudo
bíblico para um ano de treinamento comigo.
Nós gastamos um período com doutrina (Deus, trindade, escritura,
humanidade, expiação, escatologia); um com serviço (usar nossos dons, o
ministério do banco, homens e mulheres na igreja, dinheiro, oração, leitura
bíblica); um com evangelismo (Duas maneiras de viver com anabolizantes);
e um sobre cristãos em crescimento (entender os 4Es, como ensinar a Bíblia,
visita domiciliar, ministério individual, e assim por diante).
É como um ano de estudo bíblico aprimorado comigo. O primeiro ano foi
com jovens adultos. Nos cinco anos desde que comecei, cerca de 56 pessoas
de todas as idades já fizeram isso.
Muitos de nosso pessoal acham o Duas maneiras de viver muito difícil,
então usamos 3Cs: Confessar, Crer, Comprometer. Eles acharam revigorante
ser capaz de explicar o evangelho em termos simples e lembrá-lo — até
mesmo os idosos conseguem fazê-lo.
Explicar o Es (eu chamo de “a roda”) no quarto período é o cerne de tudo.
A vida cristã é uma jornada e você nunca chega ao fim. Torne uma prioridade
continuar crescendo, continuar aprendendo, desafiando a si mesmo, tentando
coisas. Mas também entenda que pessoas diferentes que você encontra
estarão em diferentes estágios da roda, e que você pode ser útil em suas vidas
ajudando-as a dar o próximo passo de onde elas estão. Se você encontrar
alguém, conheça-o, envolva-se, convide-o para sua casa. Comece a colocar
Jesus na conversa com amigos que você já conhece.275
ADENDO: EQUIPAR OS PAIS PARA O
MINISTÉRIO NO LAR
Como observamos no final da Convicção 5 na Fase 1, a casa ou o lar é um
contexto ou local-chave para fazer discípulos — isto é, um lugar no qual a
Palavra é falada e tem seu poderoso efeito transformador em nossos
relacionamentos. Em certo sentido, poderíamos pensar no ministério em casa
como sendo um “caminho” próprio, com os membros da família envolvendo-
se uns com os outros, compartilhando o evangelho uns com os outros e
encorajando uns aos outros à maturidade em Cristo.
Mais da história da Virgínia
Aqui está outro trecho de nossa entrevista com Virgínia, em que ela
discute o que eles fizeram em sua igreja para equipar os pais para ajudar seus
filhos a avançarem em Cristo.
Você faz muito para equipar os pais para discipular seus filhos em casa?
Eu acho que é como exercício: achamos que estamos fazendo mais do que
realmente fazemos. Minha experiência é que os pais pensam que estão
fazendo muito mais do que realmente fazem. Eu pesquisei nossas crianças há
dois anos. Os pais pensam que estão lendo a Bíblia e orando com seus filhos
regularmente, mas, do ponto de vista das crianças, está acontecendo muito
menos e, em alguns casos, simplesmente não acontece.
Mas alguns dos nossos pais estão fazendo brilhantemente, e dá para
perceber. Pode-se perceber pela maneira como as crianças falam, as
perguntas que fazem, o jeito que elas oram... Dá para saber se elas estão
sendo bem discipuladas em casa.
Os líderes conseguem notar quais estão sendo ajudadas em casa?
Sim, é muito evidente. O sinal mais revelador é o modo como as crianças
oram.
Nossas crianças são encorajadas a orar em seus pequenos grupos toda
semana. Os menores de sete anos oram duas vezes — primeiro uma oração
repetida sobre o que aprenderam e depois sua própria oração. É quando eles
oram individualmente que você ouve a maturidade em suas orações. E você
pode ouvi-la desde muito cedo.
As mães são mais ativas que os pais?
Sim, a maioria das mães está conversando com seus filhos em casa.
Eu consigo me lembrar de um menino que estava sendo bem discipulado
por seu pai (o pai se tornou um cristão, mas sua esposa não). Lembro-me de
dizer ao menino: “Você ora com seu pai todas as noites, não é?”.
O menino parecia surpreso e perguntou: “Como você sabe?”. Eu respondi:
“Eu posso ouvir em suas orações”.
Ele parou de fazer orações centradas em si mesmo. Ele estava orando para
que Deus fosse glorificado em tudo. Os pais que oram com seus filhos têm
um grande impacto, principalmente nos meninos.
Como você espera que os pais leiam a Bíblia e orem com seus filhos?
Espero que os pais pensem intencionalmente em usar o tempo que têm e
aproveitar mais as oportunidades que têm. Então, não desperdice a viagem de
ida e volta para a escola, não perca a oportunidade durante o comercial da
televisão (fale sobre o que acabaram de ver)... Não desperdice o tempo de
banho...
Os pais pensam: “Eu não tenho tempo para ler a Bíblia e orar com meu
filho”.
Mas você pode usar o tempo do banho para recontar ou ler histórias das
Escrituras. Uma ótima rotina que encorajamos nossos pais a estabelecer com
seus filhos desde a infância é: Bíblia, banho, cama.
Acabamos de começar os planos de leitura bíblica para crianças de 3 a 11
anos. No primeiro domingo em que foram apresentados, uma mãe disse: “Eu
tenho sido tão convencida ultimamente sobre como tenho sido relapsa em ler
a Bíblia com meus filhos. Eu estava orando esta manhã para que Deus me
ajudasse a recomeçar este ano com meus filhos. Eu fui à igreja e meu filho
veio com este plano de leitura da Bíblia.”
É uma ideia muito simples, mas muito útil para as famílias. Esta mãe
estava muito animada que sua igreja tinha um plano para seu filho.
Os pais que têm sido regulares com esses planos de leitura da Bíblia agora
relatam que seus filhos se recusam a ir para a cama se a Bíblia não for lida.
Rotinas para as crianças são muito importantes e decisivas para o contínuo
discipulado delas. Geralmente leva-se um mês fazendo-o intencionalmente
algo todos os dias para que uma rotina como essa seja estabelecida na vida de
uma criança.
Veja a convicção 3 na Fase 1 para nossa discussão dos quatro Ps.
A crescente secularização da cultura ocidental moderna é um tópico enorme e complexo, e além do nosso escopo de discussão
aqui. Por exemplo, embora haja temas comuns, também há diferenças significativas entre as versões do secularismo operando
no Reino Unido, na França, nos Estados Unidos e na Austrália.
O livro Just walk across the room [Basta atravessar a sala], de Bill Hybels, tem algumas falhas e omissões, mas uma coisa que
comunica muito bem é a importância de os cristãos saírem de sua zona de conforto e realmente começarem a conversar e se
envolver com seus vizinhos não-cristãos; apenas atravessar a sala e iniciar uma conversa. Vale a pena garimpar algumas ideias
e ensinamentos deste livro nesta área. Veja Bill Hybels, Just walk across the room: simple steps pointing people to faith
(Grand Rapids: Zondervan, 2006).
N. do E.: A entrevista completa com Virgínia em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ela aborda:
sua visão para o ministério infantil e equipar líderes altamente motivados.
Em nossa opinião, dois dos melhores são Introducing God e Investigando o Cristianismo, mas há muitos cursos similares
disponíveis. Ambos são muito fiéis ao evangelho e bem produzidos, com a opção de usar conteúdo de vídeo. Introducing God
usa a estrutura de Duas Maneiras de Viver para orientar os participantes através da história do evangelho em toda a Bíblia ao
longo de sete sessões; Investigando o Cristianismo usa o evangelho de Marcos para apresentar as reivindicações de Cristo.
Muitos cristãos maduros em nossa parte do mundo foram equipados para usar o conjunto de estudos bíblicos de Just for Starters
como uma estrutura para o acompanhamento pessoal de novos cristãos. Veja Just for Starters, 3ª ed., (Sydney: Matthias
Media, 1996), e o recurso de treinamento relacionado Preparing Just for Starters, (Sydney: Matthias Media, 2004).
Para uma tentativa recente de reviver a instrução dos catecismos, veja o Catecismo Nova Cidade (São José dos Campos: Fiel,
2017).
O programa bastante eficaz Read, Mark, Learn de estudos bíblicos desenvolvido pela igreja St. Helen em Londres é um bom
exemplo. Veja: http://www.st-helens.org.uk/belong/midweek-bible-studies?ref=nav.
J. I. Packer e Gary Parrett, Grounded in the gospel: building believers the old-fashioned way (Grand Rapids: Baker Books, 2010),
15, 17 [edição em português: Firmados no evangelho: edificando crentes à moda antiga (São Paulo: Cultura Cristã, 2012)];
ênfase original. Não estamos convencidos de que o cristianismo de nossos países seja muito mais profundo!
N. do E.: Concierge é um termo comum nos hotéis franceses e se refere ao profissional responsável por atender aos que chegam
ao hotel, conduzindo-os aos lugares apropriados.
O recurso GTK: Get to know (Sydney: Matthias Media, 2013) é um exemplo de tal programa. É um curso flexível de quatro
semanas para ajudar os recém-chegados a conhecer o pastor, conhecer outras pessoas e conhecer o que a igreja representa (ou
seja, a Bíblia e o evangelho).
Romanos 5.3–5; Tg 1.2–4; 1 Pedro 1.6–7.
O novo livro de Sally Sims, Together through the storm: a practical guide to christian care (Sydney: Matthias Media, 2016)
procura fazer exatamente isso — isto é, prover alguma preparação para os cristãos no dia-a-dia do “cuidado pastoral” no
âmbito do ministério dos 4Ps.
Ao longo do que se segue, apontaremos para recursos úteis que podem ajudar a equipar. Quase todos esses recursos são da
Matthias Media, portanto, para fins de concisão, se for um recurso sobre o qual não nos referimos anteriormente neste livro,
incluiremos simplesmente o autor e a data de publicação, em vez dos detalhes de referência completos.
Muitas igrejas descobriram que este é um recurso muito útil nesta área: Tony Payne, The course of your life (Sydney: Matthias
Media, 2011).
Tony Payne e Simon Roberts, Six steps to reading your Bible (Sidney: Matthias Media, 2008) — curso em seis sessões.
Phillip Jensen e Tony Payne, Two ways to live: know and share the gospel (Sidney: Matthias Media, 2003) — curso de
treinamento; Simon Manchester e Simon Roberts, Six steps to talking about Jesus (Sidney: Matthias Media, 2006) — curso em
seis sessões; John Chapman, Know and tell the gospel, 4ª ed. (Sidney: Matthias Media, 2005).
Simon Roberts, So many questions: how to answer common questions about Crhristianity (Sidney: Matthias Media, 2008) —
curso de treinamento.
One-to-one Bible reading; You me and the Bible; Geoff Robson, The book of books: a short guide to reading the Bible (Sidney:
Matthias Media, 2015).
Just for starters; Preparing just for starters; e Gordon Cheng, Christian living for starters: seven foundational Bible studies
(Sidney: Matthias Media, 2007).
Colin Marshall e Tony Payne, Six steps to loving your church (Sidney: Matthias Media, 2014) — curso em seis sessões); How to
Walk Into Church.
Colin Marshall, Growth groups: a training course in how to lead small groups (Sidney: Matthias Media, 1995).
Stephanie Carmichael, Their God is so big: teaching sunday school to young children (Sidney: Matthias Media, 2000).
Alan Stewart, ed., No guts no glory: how to build a youth ministry that lasts, 2ª ed. (Sidney: Matthias Media, 2000).
John Chapman, Setting hearts on fire: a guide to giving evangelistic talks (Sidney: Matthias Media, 1999); The archer and the
arrow; Saving Eutychus.
Veja especialmente os capítulos 6 e 9 (usamos a palavra “treinar” em vez de “equipar” em A treliça e a videira, mas o conceito é
o mesmo).
Essa foi a origem de onde o material de treinamento de Growth groups para a liderança de pequenos grupos foi escrito.
N. do E.: A entrevista completa com Tiago em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda o
processo em que trabalhou para mudar a cultura ministerial de uma igreja evangélica tradicional.
Não temos muito a acrescentar aqui ao nosso tratamento deste assunto em A treliça e a videira. Veja especialmente o capítulo 10
sobre “pessoas que vale a pena observarmos” e o capítulo 11 sobre “aprendizado ministerial”. Para uma discussão mais
completa sobre o aprendizado ministerial, ver Colin Marshall, Passing the baton: a handbook for ministry apprenticeship
(Sidney, Matthias Media, 2007). O MTS (Ministry Training Strategy) é uma organização que procura multiplicar os obreiros
do evangelho por meio de estágios de ministério em todo o mundo. Para mais informações, visite http://mts.com.au.
N. do E.: A entrevista completa com Barnabé em conteudo.editorafiel.com.br/projetovideira inclui mais sobre como ele aborda
alguns dos obstáculos que enfrentou ao mudar a cultura da igreja.
Área de Foco 3: Planejar para o
crescimento
De muitas maneiras, o que estamos tentando fazer no Projeto Videira é
produzir crescimento: crescimento em pessoas e crescimento em números, à
medida que mais pessoas são envolvidas, evangelizadas e estabelecidas na
igreja de Deus por meio do ministério 4Ps que executamos como seus
colaboradores.
Isso leva a uma questão-chave que precisamos encarar agora neste ponto
do processo, porque moldará algumas decisões importantes ao longo do
caminho: E se der certo?
DISCUSSÃO E PLANOS
1) Onde estão as maiores necessidades e potencial de envolvimento e
evangelismo em sua comunidade ou contexto local? Com quais grupos de
pessoas vocês acham que poderiam se conectar e alcançar de maneira mais
eficaz?
2) Pensem em alguns números desafiadores, mas alcançáveis, para a sua
congregação em algumas dessas áreas:
a) O número de não-cristãos convertidos nos próximos cinco anos;
b) O número de frequentadores aos domingos na igreja nos próximos
cinco anos;
c) O número de congregações em sua rede;
d) o número de pequenos núcleos de aprendizes (isto é, pequenos grupos).
3) Quais seriam as implicações desses tipos de números para:
a) Suas instalações físicas e recursos?
b) A possibilidade de plantar novas comunidades ou igrejas para alcançar
seus objetivos?
4) Com essas metas maiores de crescimento em longo prazo em mente,
analise suas prioridades e planos para melhorar o domingo e seus
caminhos ministeriais:
a) O que seria mudado ou priorizado de forma diferente? Isso muda a
estrutura?
b) Como essas metas de crescimento afetam seus planos em cada estágio
do caminho — envolver, evangelizar, estabelecer, equipar?
c) O que está faltando?
5) Tendo revisado seus outros planos, volte para os números aproximados
discutidos na questão 2. Decidam alguns números sobre os quais desejam
orar, que consideram desafiadores, mas factíveis, e que servem para
finalizar e conduzir seus planos e ações nas outras áreas.
6) Agora voltem novamente em todos os seus planos e ações nas Áreas de
Foco 1 e 2 e finalizem as prioridades e ações a serem colocadas em
prática.279
É o que aconteceria se houvesse um crescimento numérico médio de cerca de 10% ao ano.
Nada disso nega a soberania de Deus na salvação e em todas as coisas. Não podemos forçar a mão de Deus, nem jamais pensar
que o ministério opera por meio de uma simples fórmula de causa e efeito. Entretanto, como já dissemos acima, o Deus
soberano usa meios criados e agentes humanos para fazer seu trabalho soberano. Em particular, ele escolheu usar os quatro Ps
como o meio pelo qual as pessoas chegam a Cristo e crescem em Cristo. Nesse sentido, os quatro Ps são a causa, já conversões
e crescimento em Cristo são os efeitos. Se os efeitos não estão acontecendo muito (isto é, as pessoas não estão sendo
convertidas ou crescendo), então é razoável parar e avaliar se estamos de fato usando fiel e energicamente os meios de Deus
(os quatro Ps). E, da mesma forma, também é razoável planejar e pensar de antemão sobre como podemos empregar os quatro
Ps de forma mais ampla e efetiva, para que possamos ver mais crescimento do evangelho.
O termo “grupo de crescimento” é simplesmente outra maneira de falar sobre um pequeno grupo de estudo bíblico — um grupo
distintamente cristão no qual os cristãos podem crescer, e que também é um catalisador para o crescimento do evangelho. Ver
Marshall, Growth Groups, p. 5–6.
As perguntas e sugestões de discussão acima são um guia preciso, porém breve, das etapas envolvidas no planejamento da
mudança e do crescimento. E para alguns de nossos leitores, eles serão tudo o que é necessário.
No entanto, de nossas conversas com muitos pastores, sabemos que Barnabé não está sozinho quando diz: “Eu não tenho
habilidade para planejar a partir de um objetivo”. Se você se encaixa nisso, então não se envergonhe de procurar ajuda e apoio.
Aqui estão três sugestões:
• Deus pode muito bem ter abençoado você com pessoas em sua igreja que tenham um alto grau de habilidade profissional
nessa área. Passe tempo com algumas dessas pessoas; ajude-as a crescer em convicção e ter um coração para o evangelho, e
use experiência e sabedoria delas em um planejamento eficaz.
• Adquira uma cópia de Wisdom in leadership de Craig Hamilton, se você ainda não tem. É o melhor compêndio em um único
volume que vimos de uma ajuda prática e sábia em uma grande variedade de questões ministeriais cotidianas, tudo dentro de
uma excelente estrutura teológica evangélico-reformada.
• Aproveite ao máximo a comunidade de suporte on-line no thevineproject.com para fazer perguntas e obter ideias e recursos
para o planejamento e a implementação eficazes do ministério.
Área de foco 4: criar uma nova
linguagem
A linguagem molda a cultura.
Se queremos mudar “a maneira como fazemos as coisas por aqui”,
precisamos mudar a linguagem que as pessoas usam e as categorias nas quais
as pessoas pensam sobre “a maneira como fazemos as coisas por aqui”.
Precisamos ensinar às nossas congregações uma nova maneira de falar —
uma que nosso povo possa entender e se relacionar, mas que sinalize e
comunique a direção para a qual estamos tentando ir.
Em outras palavras, é preciso elaborar um plano para comunicar de forma
compreensível a visão criada para se tornarem uma “comunidade de
aprendizado transformador”, ou para “fazer avançar”, ou quaisquer termos ou
descrições que tenham surgido.
Um pouco desse trabalho já foi feito na Fase 1 ao esclarecer suas
convicções e escrever algumas peças básicas de comunicação (por exemplo,
uma declaração simples, um manifesto, uma apresentação de visão).
Agora você está um pouco mais adiante na jornada. Você fez progressos
na elaboração de alguns planos. Você tem uma ideia melhor das principais
prioridades nas quais deseja trabalhar nos próximos anos, incluindo algumas
metas importantes para o crescimento do evangelho.
É hora de começar a comunicar tudo isso — as convicções e a nova
maneira de pensar sobre “aprender Cristo”, os caminhos para levar as pessoas
adiante (de envolver até equipar), os objetivos maiores de longo prazo que
você está sonhando e orando para alcançar, e assim por diante.
Vejamos como essa comunicação pode acontecer de forma explícita e
implícita.
COMUNICAÇÃO EXPLÍCITA
Seus olhos sempre reviram quando as pessoas começam a falar sobre visões,
missões, valores, propósitos, metas e prioridades estratégicas? Você se senta
em silêncio esperando que você não seja o único na sala que realmente não
entende a diferença entre todas essas palavras que soam tão importantes?
Nesse caso, ficará aliviado ao saber que não estamos prestes a entrar em uma
discussão teórica sobre terminologia de gerenciamento.
Mas se você quer mudar toda a cultura da sua igreja na direção que
estamos discutindo, então independentemente de rótulos ou termos que
queira usar, existem várias mensagens importantes que precisará comunicar
de forma explícita, memorizável e frequente. É preciso criar uma nova (ou
renovada) linguagem que se torne a maneira padrão e normal na qual vocês
falam como uma congregação sobre quem são, sobre o que estão tratando e o
que veem no seu futuro.
Em particular, é preciso criar uma comunicação clara que responda a
quatro perguntas-chave. Felizmente, tudo o que foi feito até este ponto deve
ajudar a responder a essas perguntas rapidamente:
a) Que tipo de igreja Deus quer que sejamos? (Isso geralmente é chamado
de “visão” e é guiado pelas convicções teológicas que aprofundamos na
Fase 1.)
b) Com a orientação de Deus, como vamos chegar a esse futuro? (Esses
são os meios ou estratégias gerais que usaremos e, novamente, resultam
de nossas convicções da Fase 1 sobre os quatro Ps do ministério, sobre
fazer avançar, e assim por diante.)
c) Quais são os nossos objetivos específicos para o crescimento nos
próximos (digamos) cinco anos? (Estes são os objetivos específicos para
o crescimento trabalhados há pouco na Área de Foco 3).
d) Quais são as nossas prioridades específicas ou planos para alcançar
esses objetivos? (Estas são as outras áreas de foco trabalhadas nesta fase
— ou seja, Tornar o domingo uma referência e criar caminhos — bem
como outros principais passos práticos necessários, como empregar
funcionários ou tomar decisões sobre propriedade.)
Suas respostas a (a) e (b) são sua maneira de expressar as convicções
teologicamente orientadas que devem moldar e mudar sua cultura. Juntas,
elas devem fornecer uma justificativa para praticamente tudo que é feito
como congregação. Sempre que alguém em sua congregação faz uma pausa
para se perguntar por que estamos fazendo X em vez de Y, a resposta que
deve aparecer em suas mentes é: “Ah, claro, sei por quê: porque Deus quer
que nos tornemos esse tipo de igreja, e a maneira como vamos chegar lá é
fazendo isso”.
Como é possível efetivamente comunicar suas respostas para (a) e (b)?
Aqui estão algumas ideias:
• Transforme suas respostas em declarações curtas, claras e memorizáveis
que possam ser repetidas sempre, nas várias formas e contextos possíveis.
Você pode até combinar suas respostas a (a) e (b) em uma mesma frase:
“com a graça de Deus, queremos nos tornar [esse tipo de igreja] fazendo
[isso]”.
• Tente fazer com que a maneira de expressá-las seja distinta e penetrante
(“Todos queremos aprender Cristo e ajudar os outros a aprender Cristo
envolvendo, evangelizando, estabelecendo e equipando”), em vez de
genérica (“Queremos dar a glória a Deus em todas as coisas, amando a
ele e às pessoas”). Busque sempre a clareza.
• Compartilhe esses resumos memorizáveis sempre que puder: em cada
pedaço de papel impresso, em todos os e-mails e em todas as páginas da
web, em marcadores e camisetas, em suas apresentações do PowerPoint
no domingo, em seu boletim informativo regular, como um prelúdio
constante para anúncios sobre o que está acontecendo e assim por diante.
Sua congregação deve chegar ao ponto em que eles sabem o que vem por
aí e terminem a frase para você.280
• Desdobre, explique e exponha regularmente suas respostas a (a) e (b) em
sermões, em “dias de visão” para toda a congregação, em reuniões com
líderes principais, em cursos de membros, em livretos e outros
documentos, em estudos bíblicos e de qualquer outra forma que
comunique e convença o seu povo sobre a verdade dessas convicções.
• Essas declarações curtas do tipo “visão” são direcionadas à sua
congregação e não necessariamente estarão em sua publicidade externa
sobre sua igreja na comunidade local. Não pense que é preciso criá-las de
modo que sejam atraentes para um não-cristão que vê a placa de sua
igreja ao passar de carro. Como você anuncia sua igreja para a
comunidade é uma questão separada.
Quando combina suas respostas a (a) e (b) (sua grande visão para o futuro
e como chegar lá), com suas respostas mais específicas a (c) e (d) (metas
específicas para o futuro e planos específicos para chegar lá), o que você
magicamente tem é um “plano estratégico”. Este documento deve ser
detalhado o suficiente para fornecer um roteiro para a maioria de suas
decisões e ações semanais e mensais, mas curto o suficiente para ser digerível
e utilizável. Um plano encadernado de 60 páginas ficará sem uso na gaveta
de alguém. Um PDF de 6 páginas, com boas tabelas e gráficos de resumo,
pode ser uma presença constante na área de trabalho e na mesa de discussão.
COMUNICAÇÃO IMPLÍCITA
Além de comunicar sua visão explicitamente (e muitas vezes), você também
quer que ela se torne uma nota constante — como o som de um diapasão —
que ressoa em sua vida congregacional. Aqui estão algumas ideias de como é
possível conseguir isso:
• Pense um pouco em mudar os nomes de alguns de seus ministérios ou
elementos em seu “caminho”, para que eles reflitam a visão que você
deseja comunicar.
• Ao planejar as orações públicas semanais na reunião principal de sua
igreja, use algumas das principais categorias, rótulos ou linguagem de sua
visão para moldar suas orações. Se os quatro Es fazem parte da sua
linguagem, por exemplo, é possível se concentrar em orar por envolver,
evangelizar, estabelecer e equipar os ministérios em diferentes semanas.
• Continue relacionando a pregação com aspectos da visão, quando a
passagem bíblica o conduzir a isso.
• Quando anunciar ou relatar eventos ou atividades da igreja, continue
usando a linguagem de sua visão para descrevê-los, para mostrar como
eles se encaixam no quadro maior do que vocês estão fazendo juntos.
• Compartilhe histórias de como as pessoas estão se tornando cristãs e
crescendo, como estão aprendendo a ser semelhantes a Cristo no dia-a-
dia, como estão sendo perseguidas por defenderem Cristo, e assim por
diante (veja a história de Gabriel abaixo como exemplo). Contar histórias
é talvez a forma mais importante de comunicação implícita. Seja em
depoimentos ou entrevistas durante o culto de domingo, em cartas de
notícias por e-mail, videoclipes ou outros documentos, há poucas coisas
mais poderosas do que ouvir pessoas reais falarem sobre como estão
começando a viver a cultura de discipulado que você quer ver crescer.
Mais da história de Gabriel
Gabriel lidera uma igreja anglicana evangélica em uma comunidade
multicultural com uma população em rápido crescimento.
Como você continua definindo a visão e a cultura que deseja?
Eu realmente reforço o princípio de que a visão se beneficia de histórias
que captam nossa visão e valores. Então, sempre que ouço uma história de
alguém testemunhando para outra pessoa, ou alguém fazendo um grande
chamado para Jesus, eu envio por e-mail ou entrevisto a pessoa na igreja.
Por exemplo, recentemente uma mulher me contou uma história sobre
fazer com que seu grupo de crescimento a cobrasse sobre visitar uma senhora
afegã em sua rua. As duas mulheres estão agora se reunindo regularmente
com seus respectivos maridos, tendo “conversas sobre Jesus”. É
simplesmente uma história adorável. Então (com a permissão dela) eu vou
enviar isso em um e-mail para todos. Na maioria das semanas, há histórias
sendo divulgadas.
E entrevistas pessoais — é apenas fazer com que as pessoas comuns falem
das oportunidades que elas têm. Nós usamos a frase “Tornar as pessoas
comuns em heróis”. Como pastor eles meio que esperam que eu evangelize,
você sabe — eu sou pago para isso, e eu fui para o seminário. Mas estou
sempre tentando encontrar aquela pessoa que não vai ser o caso clássico, para
trazê-la à frente e deixá-la contar sua história de evangelização.
Mais da história de Ricardo
Ricardo foi nomeado ministro de uma igreja denominacional em uma
grande cidade há alguns anos.
Que símbolos ou artefatos ajudaram a mudar a cultura?
Mudar o letreiro da igreja foi um grande momento. A igreja ficava num
grande quarteirão, e faz tempo venderam a metade da frente para um hotel
para pagar o prédio. Da estrada, tudo o que você pode ver da nossa igreja é
uma entrada de automóveis. Então havia essa enorme seta branca, com escrita
azul conservadora e a foto de uma família dos anos 70.
Alguém sugeriu que mudássemos a placa, aumentássemos nossa
visibilidade e fizéssemos algo divertido. Eu sugeri fazer algo verde e
brilhante. Dois presbíteros conservadores disseram: “Vamos pintar uma
grande seta verde”. Então eu me afastei e deixei os dois presbíteros pintarem
a placa. Se alguém me perguntasse sobre a placa, eu dizia: “Você terá que
perguntar a Breno e Isaque sobre isso!”.
Imediatamente as pessoas da comunidade começaram a falar sobre a
grande seta verde. Colocamos uma faixa no topo e tínhamos um novo site.
Essas mudanças nos deram visibilidade. Foi divertido.
Outra coisa importante foram as canções de natal. Nós costumávamos
cantar canções de natal todos os anos no prédio da igreja.
“Por que fazemos isso?”, eu perguntei.
“Porque é Natal.”
Eu sugeri convidarmos a comunidade. Então formamos uma equipe,
distribuímos convites nas caixas de correio, imprimimos e vestimos
camisetas verdes com o nosso slogan, e fizemos pinturas nos rostos. Era um
evento grande, e as pessoas estavam um pouco nervosas com isso. Mas ficou
lotado (cerca de quatrocentas pessoas vieram) e as pessoas vieram para o
nosso espaço. Foi louco. As crianças ficaram amontoadas na frente, algumas
delas se estranhando — e eu tentando separar essas crianças com meus pés
para impedi-las de brigarem, enquanto tocava Natal281 com meu violão.
Mas Deus honrou tudo isso, e a partir daí percebemos que tínhamos que
sair com as canções natalinas. Desde então, fazemos um culto de cantos ao ar
livre, conduzido da traseira de um caminhão estacionado em nossa garagem.
Também remodelamos o boletim da igreja e tornamos as coisas mais
profissionais. Trabalhamos em nosso site e em nossos audiovisuais. Não
queríamos que as pessoas ficassem envergonhadas se viessem.
Todas as semanas eu envio um e-mail que inclui notícias do boletim, além
de um pequeno artigo que escrevi — elogiando a congregação por ser
acolhedora para os recém-chegados e reforçando isso, ou respondendo ao
sermão. Tudo isso ajudou a remodelar a cultura — pequenas coisas que
juntas se tornam muito poderosas.
Veja o capítulo de Craig Hamilton “Seu povo deve ser capaz de ter uma boa impressão sobre você” em Wisdom in Leadership, p.
421-8. Sobre repetir a visão diversas vezes, ele diz: “é quando começo a ficar entediado com ela que provavelmente as pessoas
estão começando a se lembrar vagamente dela”. Seu capítulo sobre a natureza da visão também é muito útil; veja “O ponto é
clareza, não rótulos”, p. 337-44.
N. do E.: Charles Wesley, “Natal”, trad. Robert Hawkey Moreton, em Cantor Cristão, 10ª ed. (Rio de Janeiro: Casa Publicadora
Batista, 1995), hino nº 27.
Fase 5 | Manter o Ímpeto
Manter o ímpeto
Talvez você esteja pensando que a parte difícil acabou. Não há dúvida de que
a Fase 4 exige tempo e esforço — tanto pensar e repensar, tantas opções e
possibilidades, e tanto falar, falar, falar sobre o que vamos realmente fazer.
Contudo, como já notamos uma vez, o planejamento estratégico é, na
verdade, a parte fácil. É na execução que quase todos caem. O estágio
realmente desafiador de impulsionar qualquer mudança cultural profunda é,
na verdade, executar seus planos — de forma persistente, flexível e eficaz
durante o período considerável que será necessário para que qualquer
mudança real ocorra.
Esta fase final do Projeto Videira tem a ver com esse desafio. Nesta fase,
falaremos sobre os inevitáveis obstáculos, desafios e dificuldades que virão, e
planejaremos como manter o ímpeto não apenas para este ano, ou o seguinte,
mas por muitos anos no futuro. Vamos analisar cinco tópicos:
1) Entendendo os obstáculos
2) A pressão sobre os pastores
3) A pressão sobre o nosso povo
4) Liderança, equipe e governança
5) Habilidades práticas para manter o ímpeto
Ao fazer isso, estamos muito conscientes de que estamos cobrindo tópicos
que merecem capítulos ou livros inteiros para si.282 Nosso objetivo é dar os
contornos da paisagem e um mapa para percorrer o seu caminho nessa
jornada, mas depois apontar para onde podem ser encontradas direções e
orientações mais detalhadas.
1) ENTENDENDO OS OBSTÁCULOS
Mudar a “maneira como fazemos as coisas por aqui” nunca acontece de
maneira rápida ou fácil. Nossas linguagens compartilhadas, práticas, hábitos,
estruturas, atividades, tradições, sabedoria, símbolos, rituais e
relacionamentos foram estabelecidos ao longo de um considerável período de
tempo — às vezes séculos.
Cada cultura tem certo peso ou inércia, como um brinquedo do tipo joão-
bobo que você pode empurrar, mas que sempre se apruma e retorna à sua
antiga posição. Como já notamos mais de uma vez, mudar uma cultura requer
alguma persistência. Não é uma operação estratégica de ataque; é mais como
uma guerra terrestre prolongada na Ásia.
Mas há também a dificuldade inerente de implantar qualquer plano com
sucesso em nosso mundo, dadas as forças naturais do caos e da entropia. As
pessoas são falíveis; elas cometem erros ou deixam de cumprir suas
promessas. O mundo é complexo e não podemos considerar todas as
circunstâncias ou variáveis em nossos planos. O futuro é desconhecido para
nós e pode trazer uma mudança inesperada que destrói completamente nossos
planos.
Tudo isso é apenas o oceano em que navegamos. Qualquer tentativa de
“mudança de cultura” em qualquer organização em nosso mundo — seja uma
empresa, agência governamental ou escola — enfrentará esses ventos
desfavoráveis.
Mas à medida que procuramos gerar mudança cultural nas igrejas,
enfrentamos um obstáculo adicional no nível primário: o pecado. Suponho
que podemos dizer que a entropia e a frustração geral de fazer qualquer coisa
no mundo são resultado do pecado e da queda, mas na mudança da cultura da
igreja a presença do pecado é mais aguda. Isto porque o que estamos
procurando fazer é mover toda a cultura da igreja, e as pessoas que nela
habitam, na direção da piedade e maturidade em Cristo. Se nossas convicções
estiverem certas, o tipo de mudança de que estamos falando não é apenas um
realinhamento organizacional ou uma nova abordagem estratégica — é um
arrependimento em direção à semelhança com Cristo.
Em outras palavras, a razão fundamental pela qual as culturas das igrejas
não estão mais alinhadas com as convicções que esclarecemos na Fase 1 não
é histórica ou circunstancial; é espiritual. É falta de confiança na Palavra de
Deus, falta de dependência do Espírito de Deus, falta de amor cristão pelas
pessoas que nos rodeiam, falta de esperança no reino eterno de Cristo que é o
nosso verdadeiro lar, e assim por diante.
Essa é a razão básica pela qual a cultura da igreja e as pessoas nela
resistirão à mudança na direção da qual estamos falando. É a mesma razão
pela qual nossos corações resistem a essa mudança. Enquanto eu (Tony)
escrevo este parágrafo, estou olhando pela janela do meu escritório para o
meu vizinho não-cristão trabalhando em seu quintal. Há uma parte do meu
coração que está feliz por eu estar ocupado aqui na minha mesa escrevendo
sobre evangelismo e crescimento, porque é mais fácil do que estar lá fora
falando com ele sobre Cristo. E é assim que todos nós somos. Nossos
corações pecaminosos têm uma tendência a “retroceder”, mesmo quando a
Palavra e o Espírito de Deus nos impelem e nos levam a “avançar”.
A mudança cultural é ainda mais difícil do que uma guerra terrestre na
Ásia. É uma batalha espiritual contra forças que não podemos sequer
conquistar em nós mesmos, muito menos em nossa congregação — não com
nossos próprios recursos. Nós só podemos fazer isso com as armas que Deus
provê, como a armadura da verdade, justiça, evangelho, fé, salvação, Espírito,
Palavra e oração em Efésios 6.
Em particular, devemos continuar orando e dependendo que Deus maneje
a espada do seu Espírito no coração de seu povo.
Discussão
1) Revisem a lista de obstáculos ou dificuldades para a mudança
analisados na Fase 3, Exercício de Avaliação 7. Vocês mudariam sua
classificação agora sobre quais são os mais difíceis?
2) Vocês adicionariam algum outro obstáculo importante à lista (de
acordo com o planejamento feito na Fase 4)?
3) Olhando novamente para os obstáculos mais significativos identificados
agora:
a) Tentem reformular cada um como um problema espiritual, com uma
passagem da Bíblia que avisa sobre esse problema ou nos ordena a ser
diferente.
b) O que seria possível fazer para detectar e desarmar ou evitar cada um
desses obstáculos?
4) Aqui está uma lista diferente de obstáculos — uma lista de razões que
as igrejas deram, retrospectivamente, a respeito de por que seus esforços
para iniciar o crescimento e a mudança falharam.283 Quais destas têm
mais chances de comprometer seus próprios esforços para reformular a
cultura de sua igreja?
a) O projeto não foi realmente levado a Deus em oração; falamos sobre
orar, mas acabamos não orando muito.
b) Não conseguimos alistar um grupo central de líderes ou defensores
leigos apaixonados para ajudar a modelar e liderar a mudança.
c) Subestimamos o poder e a inércia da cultura existente.
d) Não fizemos o suficiente para promover um senso de urgência para as
mudanças.
e) Não demos às pessoas tempo e espaço suficientes para fazer a
transição emocional para algumas das novas estruturas e iniciativas
que introduzimos.
f) Compramos a solução pronta de outras pessoas. Tentamos “encaixar”
novos programas e estratégias no trabalho existente, em vez de
reconstruir a cultura a partir do zero.
g) Recuamos de algumas decisões importantes porque não queríamos
enfrentar as consequências ou constrangimentos de colocá-las em
prática.
h) Depois de um tempo, não conseguimos ver os benefícios das
mudanças, então voltamos ao status quo.
i) Nós realmente não demonstramos a nova cultura do ministério de tal
forma que as pessoas pudessem ver do que se tratava.
j) Não comunicamos eficazmente as razões da mudança e o que isso
significaria para alcançar mais pessoas com o evangelho.
k) Não estávamos dispostos a fazer mudanças em nossas estruturas
organizacionais para remover obstáculos à mudança.
l) Não conseguimos traduzir a visão em etapas de implantação
compreensíveis e realizáveis.
m) Tentamos fazer muitas coisas novas de uma só vez. O processo
morreu por causa de mil iniciativas.
n) Começamos o processo de mudança, mas perdemos o ímpeto. Não
tínhamos planos para nos mantermos em movimento.
2) A PRESSÃO SOBRE OS PASTORES
Em A treliça e a videira, escrevemos brevemente sobre as diferentes
maneiras pelas quais os pastores veem a si mesmos e seus papéis. Falamos
sobre o pastor como clérigo provedor de serviços, o pastor como CEO e o
pastor como treinador. Poderíamos acrescentar recentes apelos para que os
pastores sejam líderes missionais,284 líderes-pastores,285 e sabe-se lá o que
mais.
Nem tudo isso é passageiro (embora uma parte seja). Conversando
pessoalmente com muitas centenas de pastores, há um sentimento
generalizado de que as visões e expectativas tradicionais do papel do pastor
estão fora de moda, e já há algum tempo.
Uma alteração extremamente significativa está simplesmente na mudança
dos padrões de convívio social regular da igreja. Muitas de nossas tradições e
expectativas de ministério pastoral pertencem a uma época em que uma
proporção considerável da população frequentava a igreja regularmente.
Sobre a situação na Inglaterra, Derek Tidball escreve:
Nos dias anteriores às mudanças produzidas pela revolução industrial, parecia uma
abordagem adequada dividir a Inglaterra em várias paróquias e assegurar que, por
meio de um contingente adequado em cada local, as necessidades espirituais da
nação estariam bem atendidas. Isso, pelo menos, era a teoria! Em apoio, pode-se
afirmar que, qualquer que fosse a realidade da crença pessoal, a maioria das
pessoas seria encontrada na igreja e praticamente todos estavam dentro de sua
órbita. A revolução industrial impôs severas tensões ao sistema paroquial e
mudanças subsequentes na população tornaram-no ainda mais problemático, de tal
forma [...] que o sistema paroquial é agora totalmente inadequado.
Esta conclusão [...] não deve ser alcançada com base apenas nos estudos de gestão.
Mais significativamente, o sistema paroquial é inadequado porque é construído
sobre o pressuposto de que a nação é uma nação cristã, e tudo o que precisa
acontecer é as ovelhas serem cercadas. [...] Hoje, qualquer teologia pastoral, se
deseja ser adequada para atender as necessidades da igreja contemporânea, deve
levar em conta a situação missionária em que ela existe. [...] A teologia pastoral
deve preocupar-se não apenas com o cuidado das ovelhas existentes, mas com o
nascimento de mais ovelhas.286
Talvez a mudança mais cataclísmica tenha ocorrido no modo como muitas
igrejas abordam o evangelismo. Na era em que um grande número de
“cristãos” nominais vinha à igreja, havia trabalho missional mais do que
suficiente a ser feito simplesmente ao evangelizar os não-cristãos que vinham
à igreja ou levavam seus filhos à Escola Dominical toda semana. A ideia de
ter que sair para a comunidade, fazer contato com os incrédulos que estavam
lá fora e compartilhar o evangelho com eles — isso simplesmente não estava
na agenda. Não havia necessidade, e nem tempo, na verdade.
Este não é mais o caso em quase nenhum lugar do mundo ocidental (e já
não o é há décadas). Há alguns bolsões nos Estados Unidos onde ainda pode
ser assim, mas mesmo lá isso está mudando rapidamente.
No entanto, embora a paisagem tenha mudado drasticamente, muitas
igrejas ainda têm expectativas de ministério e do pastor que pertencem a esta
era passada. E muitos pastores têm conflitos com o papel que devem ter no
clima de permanente mudança e cada vez mais espiritualmente hostil que
habitam. Meu papel é proteger, guardar e alimentar as ovelhas? Ou é sair ao
mundo e encontrar a ovelha perdida?
Este é um assunto enorme. Por ora, esses breves pontos terão que bastar:
• Mais do que um novo modelo de ministério pastoral, precisamos de um
retorno à visão neotestamentária do ministério pastoral — pois esse era
um ministério conduzido na fornalha de uma cultura pagã amplamente
hostil.
• No Novo Testamento, não vemos nenhuma linha precisa e fixa traçada
entre o trabalho de pastores, presbíteros, supervisores ou evangelistas.
Todos empreendem ministérios da Palavra e oração, pregando e
ensinando o evangelho, publicamente e de casa em casa, para que as
pessoas fossem salvas.287
• As convicções que esclarecemos na Fase 1 sobre a natureza de todo o
ministério cristão mostram que o papel do pastor ou supervisor não é
diferente em essência do papel de todo cristão — fazer outros avançarem
por meio do ministério dos 4Ps, seja para os não-cristãos ainda em
“Envolver” ou cristãos maduros na ponta “Equipar” do espectro.
• O papel do pastor, sob essas convicções, é em grande parte ser um cristão
modelo. É servir de exemplo, líder, mobilizador, professor, guardião e
guia para toda a congregação, enquanto juntos procuram fazer avançar
uns aos outros e a todos ao seu redor.
• Se quisermos misturar a linguagem bíblica com nossas metáforas, o
pastor é um cuidador que está fazendo suas ovelhas avançarem — o que
significa que ele está constantemente ensinando, ajudando e equipando
suas ovelhas para voltar atrás e trazer outras consigo. Em outras palavras,
é uma falsa dicotomia dizer que precisamos de líderes de missão, não de
pastores. Os pastores que alimentam e guiam suas ovelhas de acordo com
as convicções que descrevemos acima terão um coração para os perdidos
e construirão e cultivarão igrejas evangelisticamente ativas e voltadas
para fora.
• O papel do pastor, então, não é essencialmente terapêutico — embora
este seja frequentemente um ponto de pressão para muitos pastores.
Espera-se que eles estejam lá na cabeceira do hospital, aconselhando os
de coração partido, consolando os enlutados. E, claro, os pastores podem
e devem assumir a liderança em prover esse tipo de amor e cuidado
àqueles que precisam. No entanto, como já observamos anteriormente,288
esse tipo de cuidado pastoral não é uma responsabilidade separada ou
alternativa, de alguma forma à parte de ser um aprendiz em Cristo que
procura fazer outros aprendizes. À medida que crescemos em amor e
semelhança com Cristo, nossos corações sairão por compaixão daqueles
em qualquer tristeza ou necessidade, e nós particularmente desejamos que
eles sejam encorajados a perseverar e colocar sua fé e esperança em
Cristo (pelo ministério da palavra de Deus em oração). O pastor lidera e
exemplifica este tipo de ministério de cuidado pastoral, mas ele não pode
fazer tudo, assim como ele não pode fazer todo o evangelismo ou todo o
envolvimento com pessoas de fora. Aqui também há um “caminho” a ser
pensado, e cooperadores a serem treinados.
Em outras palavras, a liderança pastoral floresce e é eficaz quando os
pastores estão constantemente buscando investir e empregar novos pastores e
cooperadores para servir ao seu lado, seja como voluntários, em tempo
parcial ou em tempo integral. Precisamos de mais pastores (não menos) que
possam ensinar a fé, nutrir a maturidade espiritual e assumir a
responsabilidade de liderar e equipar os santos em todos os aspectos da vida
cristã e do ministério 4Ps.
Discussão
1) Como vocês caracterizariam as principais expectativas que os membros
de sua congregação têm atualmente do pastor ou da equipe pastoral?
2) Quais dessas expectativas provavelmente serão obstáculos para seus
planos de mudança cultural? Como seria possível lidar com isso por
meio do ensino, comunicação e diálogo?
3) Uma maneira comum de o próprio pastor ser um obstáculo ou um
gargalo para o crescimento e para a mudança cultural está no
preenchimento de sua agenda. Se não houver tempo para o pastor, por
exemplo, estar intimamente envolvido em equipar novos “aprendizes
que ajudam outros aprendizes”, então é improvável que a mudança de
cultura levante voo.
É útil que os pastores façam uma auditoria cuidadosa de seu tempo. Onde
o tempo está sendo realmente gasto? O que poderia ser remarcado ou
delegado? Quais prioridades e alocações de tempo precisam mudar?
DISCUSSÃO
1) Como vocês classificariam os pequenos grupos em sua igreja? Alguns dos
sintomas preocupantes mencionados acima ressoam em vocês?
2) Anotem seus perfis de pequeno grupo “ideal” para sua igreja. O que vocês
gostariam de ver pequenos grupos se tornarem?
3) Quais são os principais passos para mover pequenos grupos em sua igreja
para o ideal, de onde eles estão agora?