Metodos e Tecnicas de Pesquisa em Historia

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 66

Dayse Lúcide Silva Santos

Métodos e Técnicas de
Pesquisa em História

1ª EDIÇÃO

Montes Claros/MG - 2015


Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

REITOR César Henrique de Queiroz Porto


João dos Reis Canela Cláudia Regina Santos de Almeida
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
VICE-REITORA Luciana Mendes Oliveira
Antônio Alvimar Souza Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Maria Aparecida Pereira Queiroz
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Maria Nadurce da Silva
Jânio Marques Dias Mariléia de Souza
Priscila Caires Santana Afonso
EDITORA UNIMONTES Zilmar Santos Cardoso
Conselho Consultivo
Antônio Alvimar Souza REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
César Henrique de Queiroz Porto Carla Roselma Athayde Moraes
Duarte Nuno Pessoa Vieira Waneuza Soares Eulálio
Fernando Lolas Stepke
Fernando Verdú Pascoal REVISÃO TÉCNICA
Hercílio Mertelli Júnior Karen Torres C. Lafetá de Almeida
Humberto Guido Káthia Silva Gomes
José Geraldo de Freitas Drumond Viviane Margareth Chaves Pereira Reis
Luis Jobim
Maisa Tavares de Souza Leite DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS
Manuel Sarmento Andréia Santos Dias
Maria Geralda Almeida Camilla Maria Silva Rodrigues
Rita de Cássia Silva Dionísio Sanzio Mendonça Henriques
Sílvio Fernando Guimarães Carvalho Wendell Brito Mineiro
Siomara Aparecida Silva
CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
CONSELHO EDITORIAL Camila Pereira Guimarães
Ângela Cristina Borges Joeli Teixeira Antunes
Arlete Ribeiro Nepomuceno Magda Lima de Oliveira
Betânia Maria Araújo Passos Zilmar Santos Cardoso
Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo

Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes


Ficha Catalográfica:

2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.

EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: [email protected] - Telefone: (38) 3229-8214
Ministro da educação Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Cid Gomes Unimontes
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Presidente Geral da CAPeS
Jorge Almeida Guimarães Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretor de educação a Distância da CAPeS
Jean Marc Georges Mutzig Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Governador do estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes
Mariléia de Souza
Secretário de estado de Ciência, Tecnologia e ensino Superior
Vicente Gamarano Chefe do Departamento de educação/Unimontes
Maria Cristina Freire Barbosa
Reitor da Universidade estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela Chefe do Departamento de educação Física/Unimontes
Rogério Othon Teixeira Alves
Vice-Reitor da Universidade estadual de Montes Claros -
Unimontes Chefe do Departamento de Filosofia/Unimontes
Antônio Alvimar Souza Alex Fabiano Correia Jardim

Pró-Reitor de ensino/Unimontes Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes


João Felício Rodrigues Neto Anete Marília Pereira

Diretor do Centro de educação a Distância/Unimontes Chefe do Departamento de História/Unimontes


Fernando Guilherme Veloso Queiroz Claudia de Jesus Maia

Coordenadora da UAB/Unimontes Chefe do Departamento de estágios e Práticas escolares


Maria Ângela lopes Dumont Macedo Cléa Márcia Pereira Câmara

Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas educacionais


Betânia Maria Araújo Passos Helena Murta Moraes Souto

Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes


Carlos Caixeta de Queiroz
Autora
Dayse Lúcide Silva Santos
Graduada em História/FAFIDIA/UEMG. Mestre em História pela Universidade Federal
de Minas Gerais – FAFICH/UFMG, Professora do Curso de História da UAB/Unimontes
e Professora Substituta do Curso de Humanidades da Universidade Federal dos Vales
do Jequitinhonha e Mucuri/UFVJM.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Como Fazer Pesquisa em História? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.2 Contando Histórias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

1.3 Método e Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.4 A Pesquisa Quantitativa e Qualitativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.5 Modalidades da Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1.6 Alguns Métodos e Técnicas Utilizados na História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.7 Fontes de Pesquisa em História: Noções de Documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Construção do Projeto de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.2 Apontamentos Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

2.3 Delimitação do Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

2.4 Especificação do Quadro Teórico-Conceitual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

2.5 Procedimentos Metodológicos e Fontes de Investigação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

2.6 Construindo seu Cronograma de Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

2.7 Cuidados com a Redação Científica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

2.8 Partes Constituintes do Projeto de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Apresentação
Prezado(a) Acadêmico(a),
O presente caderno de Métodos e Técnicas da Pesquisa em História é parte constituinte dos
materiais fundamentais da sua formação em História pela UAB/Unimontes.
Este material didático foi produzido, tendo em vista que o seu processo de formação como
pesquisador não se esgota apenas neste instante do curso. Por isso, esteja atento (a) à configu-
ração da matriz curricular do nosso curso, notadamente à disciplina Trabalho de Conclusão do
Curso (TCC), a qual você cursará a partir do 6º módulo.
Você deve estar se perguntando qual é o motivo de falar de uma disciplina que sequer foi
vista e que pertence ao sexto módulo. Podemos responder a você que as disciplinas do seu curso
estão todas interligadas e não seria diferente com Métodos e Técnicas de Pesquisa.

◄ Figura 1: Teremos nós


chegado ao ponto
de tudo o que temos
para dizer ter já sido
dito?
Fonte: Disponível
em <http://microma-
cropuzzle.blogspot.
com/2009_06_01_archi-
ve.html>. Acesso em 29
jan. 2010.

Neste momento procuraremos cultivar a semente da dúvida, da indagação, da curiosidade,


tal qual o modo como a pesquisa histórica vem se desenvolvendo na atualidade, ou seja, como
história-problema. Para tanto, na primeira unidade, vamos nos perguntar e buscar compreender
a questão: “Como fazer pesquisa em História?” Para responder a essa indagação elaboramos al-
guns tópicos para a primeira unidade, quais sejam:
1.1 Contando histórias
1.2 Método e metodologia
1.3 A pesquisa quantitativa e qualitativa
1.4 Modalidades da pesquisa
a) Pesquisa Descritiva
b) Pesquisa Documental
c) Pesquisa Bibliográfica

1.5 Alguns métodos e técnicas utilizados na História


a) As técnicas
b) Os métodos

1.6 Fontes de pesquisa em História: noções de documentos.

Considerando as metodologias, técnicas e fontes, para construirmos a História é importante


definirmos também o nosso projeto de pesquisa. Como bem faz um arquiteto (que não constrói
a sua casa antes de planejar, de saber quais instrumentos usar, os materiais, o espaço, as medi-

9
UAB/Unimontes - 4º Período

ções, etc.), nós, também, assim procederemos! Construiremos o nosso projeto de pesquisa em
História na segunda unidade. Para tanto, dividimos a segunda unidade nos seguintes tópicos:
2.1 Apontamentos gerais
2.2 Delimitação do tema
2.3 Especificação do quadro teórico
2.4 Procedimentos metodológicos e fontes de investigação
2.5 Construindo seu cronograma de atividades
2.6 Cuidados com a redação científica
2.7 Partes constituintes do projeto de pesquisa

Esses itens contribuirão para a construção de seu projeto. Revelarão escolhas, como a do fa-
moso historiador italiano Carlo Ginzburg que, em entrevista recente ao Jornal Folha de São Paulo
(2008), declarou:

Revendo minha vida, poderia me perguntar: quais foram as escolhas cruciais?


De certo modo, a vida é como um jogo de xadrez, em que as jogadas cruciais já
ocorreram bem antes do xeque-mate. Assim, quando seleciono um momento
em que penso ter feito uma escolha decisiva, é possível perceber que já havia
limitações, constrangimentos. Minha opção pela história ilustra bem o que quero
dizer. Quando era adolescente, queria me tornar romancista como minha mãe,
mas logo desisti ao perceber que seria um mau romancista. No entanto, meu
envolvimento com a arte da escrita é algo que ainda faz parte de mim. Diria que
é como um dique ou um fosso: quando se bloqueia a água, ela se desvia com
força para uma direção vizinha. Assim, minha paixão pela ficção se tornou parte
de minha paixão pela escrita da história (GINZBURG, 2008).

Assim como Ginzburg, você já encontrou resposta para seu interesse pela História? A curio-
sidade, a investigação, os detalhes, o desafio, o desvendar das tramas, etc. são aspectos que po-
dem compor a sua resposta. Certamente você elencará diversos outros. Ginzburg, por exemplo,
não conseguiria fazer outra coisa, senão produzir, pensar e sentir a história. Sabe como ele che-
gou a essa conclusão? “Desvendando os caminhos da pesquisa histórica” à luz de muito estudo e
de uma sólida formação. Algo semelhante à mensagem contida na figura.

Figura 2: Fim do ►
mundo.
Fonte: Disponível em
<http://micromacropu-
zzle.blogspot.com/200
9_06_01_archive.html>.
Acesso em 24 abril 2010.

Você se lembra de momentos de suas aulas em que os professores utilizaram a expressão:


“Preste atenção! Isto pode ajudá-lo em seu projeto de pesquisa.”? Certamente eles buscaram cha-
mar a sua atenção para que você entendesse:
• o modo como os historiadores fizeram suas pesquisas;
• as fontes que os historiadores utilizaram para entender a história num dado momento e lo-
cal;

10
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

• a maneira como as fontes foram abordadas; e


• as indagações que os mais diversos historiadores se propuseram a desvendar em suas pro-
duções.
Agora é a sua vez! Vamos desvendar os caminhos pelos quais muitos já passaram para en-
tender Clio? Sendo assim, resta desejar boas-vindas ao desafio da pesquisa histórica!

Bom estudo!
Dayse Lúcide Silva Santos

11
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Unidade 1
Como Fazer Pesquisa em
História?

1.1 Introdução
O conhecimento do passado consistirá, então, em sua interpretação e organização a partir
de problemas e através de conceitos. O resultado final é um passado que o presente tem neces-
sidade de conhecer. O tempo reconstruído da história-conhecimento está, e isto é explicitado, a
serviço do presente.

“Como fazer pesquisa em Historia” é praticamente o mesmo que se perguntar:


“como é que podemos produzir o conhecimento histórico?”. Esta unidade de es-
tudo se propõe a responder tal indagação evidenciando para você os desafios, as
técnicas e as metodologias que o historiador pode utilizar para “fabricar seu mel”.
(FEBVRE, apud REIS, 1994: 33)

Bom estudo!

1.2 Contando Histórias


A investigação em História requer um pressuposto básico: a dúvida/problema dentro de
uma dada cultura, pois a cultura é um conjunto de significados partilhados e construídos pelos
homens para explicar o mundo. A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da reali-
dade que se faz de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às palavras, às
coisas, às ações e aos atores sociais se apresentam de forma cifrada, portanto já um significado e
uma apreciação valorativa (PESAVENTO, 2004, p.15).
Sendo assim, você já observou que podemos problematizar tudo? Ao debruçarmos nosso
olhar sobre os problemas e levantarmos hipóteses verificáveis, entenderemos que a construção
da História é processual. Isso quer dizer que, assim como as Ciências, a História está em constru-
ção. E cabe ao historiador a tarefa de construir as interpretações e análises, mesmo que divergen-
tes, pois sempre construímos visões sobre o passado. Ora, então o historiador não fala a verdade
absoluta dos fatos?
Vamos nos lembrar de que, para pensarmos em verdade absoluta, teríamos que retornar ao
século XIX e participar de sua ânsia em contar a verdade absoluta dos acontecimentos. Atual-
mente isso mudou muito. Desde a Escola Histórica dos Annales (1929) que esse ideal absoluto
foi questionado. Hoje sabemos que a nossa produção, como pesquisadores de História, não tem
mais a pretensão de atingir a verdade absoluta, pois entendemos que a realidade social é, por
natureza, indescritível, imensurável e que as verdades são interpretações, que os olhares são di-
versos, e que o historiador é marcado pela subjetividade, mesmo agindo de modo a alcançar a
objetividade. Sendo assim, sabemos que, por meio de métodos históricos, podemos nos aproxi-
mar muito dessa realidade, mas não nutrimos o sonho/desejo de atingir a verdade dos fatos, pois
que esta é inatingível em sua essência.

13
UAB/Unimontes - 4º Período

Figura 3: Passeata ►
Fonte: Disponível
em <http://rogelio-
casado.blogspot.
com/2009_07_01_archi-
ve.html>. Acesso em 26
jan. 2010.

ATIVIDADE
Na figura 03 (retirada de um blog da internet), podemos perceber diversos aspectos de uma
Discuta no fórum a dada realidade. Um deles, por exemplo, são as formas de protestos dos trabalhadores que fazem
imagem constante na fi-
gura. Cada um de vocês uma “marcha” e a divulgam na internet. Chartier será o historiador que nos ajudará a pensar so-
interpretará a seu modo bre a relação do pesquisador e seu objeto de estudo cujos temas sejam dos dias atuais, pois
a mensagem da figura
03. Descubram quantos [...] o historiador do tempo presente é contemporâneo de seu objeto e, portanto,
olhares são possíveis partilha com aqueles cuja história ele narra as mesmas categorias essenciais, as
sobre ela. Esse será um mesmas referências fundamentais. Ele é, pois, o único que pode superar a des-
exercício de percepção/ continuidade fundamental que costuma existir entre o aparato intelectual, afeti-
impressão de uma dada vo e psíquico do historiador e o dos homens e mulheres cuja história ele escreve.
realidade sob muitos [...] Para o historiador do tempo presente, parece infinitamente menor a distância
olhares. entre a compreensão que ele tem de si mesmo e (CHARTIER, 1996, p. 216).

O desafio do historiador é grande e apaixonante! Enfrentar esse desafio é estar apaixona-


do pela existência humana, sob a lente histórica. Você, que aceitou tal provocação, deve estar
atento(a) às mais diversas formas de expressão sociocultural, pois que o “real” é complexo, sendo
que muitos papéis sociais são improvisados, e o processo histórico ultrapassa uma suposta racio-
nalidade em que, por vezes, o investigador insiste em atribuir uma única abordagem para os fe-
nômenos estudados. Existem tramas e estratégias surdas, implícitas, quase imperceptíveis. Os si-
nais, as pistas, devem ser algo a ativar a atenção e o “faro” do historiador para a sua investigação.
É também por esse motivo que a História atualmente não procura encontrar leis externas ao
homem, leis determinantes e que não podem ser controladas (exemplo disso são interpretações
que fez no passado com a aplicação da teoria marxista).
É mais profícuo para o conhecimento histórico pensar em pressões exercidas pelos próprios
homens e mulheres, pressões essas determinadas, mas não determinantes dos seus comporta-
mentos e ações em sociedade. Com esse entendimento, podemos compreender o fragmento da
poesia de Ferreira Gullar:

[...] a história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos
gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e
galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios,
nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa
matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto
não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta as
pessoas e as coisas que não têm voz (FERREIRA GOULLAR, 1930).

14
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

“O nosso canto” pode ir além. O historiador não mais se fartará de histórias de grandes ho-
mens presos em suas decisões de gabinete. É preciso “ir onde o povo está” e desvendar as mais
diversas formas histórico-culturais da expressão humana. Todavia, esteja sempre atento para não
cair em armadilhas da nossa racionalidade. A investigação histórica exige que o pesquisador se
afaste da noção de subordinação das dimensões do social, de visões dicotômicas da realidade so-
GLOSSÁRIO
cial, de hierarquização ou compartimentação do saber e das diversas dimensões da vida. Ainda, é
fundamental perceber que o processo histórico deve ser apreendido longe de olhares preconcei- Método Científico: um
instrumento utilizado
tuosos e com a capacidade de romper com a noção de linearidade, de progresso e evolução.
pela Ciência na sonda-
Desse modo, você, que construirá o seu projeto de pesquisa neste momento, poderá evi- gem da realidade, mas
denciar o sentido das ações, das omissões, das estratégias de homens, mulheres e as mais di- um instrumento for-
versas instituições, notadamente a ação dos atores sociais até pouco tempo não contemplados mado por um conjunto
pela História. As possibilidades de interpretação, de olhar, de sentir, de perceber, são múltiplas. de procedimentos,
mediante os quais os
Caberá a cada indivíduo/pesquisador lapidar o seu olhar para perceber a complexidade das di-
problemas científicos
mensões da vida. Sendo assim, a História não tem um sentido único, inevitável, linear. Antes, ao são formulados e as
contrário, ela possui sentidos múltiplos e multifacetados, dependendo da subjetividade de quem hipóteses científicas são
olha, o que olha, como olha e quando olha. examinadas (GALLIANO,
Agora é com você! Mas, como fazer a pesquisa histórica? Iniciemos na definição de método 1986, p. 32).
e metodologia.

1.3 Método e Metodologia


A figura 4 nos aponta algumas interrogações sobre o método científico. Podemos afirmar
que a figura trabalha a ideia do método para as ciências exatas. Entretanto, em outras áreas do
conhecimento é possível perceber o que ela aponta como “ponto alto”: um método para se che-
gar ao conhecimento.

◄ Figura 4: Charge
métodos científicos
Fonte: Disponível em
<http://lusodinos.
blogspot.com/2008/12/
mtodo-cientfico-vs-cria-
ATIVIDADE
cionista.html>. Acesso Analise a figura 4 sobre
em 24 abril 2010. O Método Científico e
discuta no fórum desta
disciplina:
“Quais são os diferentes
modos para chegarmos
ao conhecimento?”

Em nosso dia a dia, ouvimos constantemente os termos: método e metodologia. Quase


sempre pensamos que esses termos são equivalentes, certo? Vejamos a definição apresentada
pela professora Marilena Chauí:

A palavra método vem do grego methodos, composta de meta: através de, por
meio de, e de hodos: via, caminho. Usar um método é seguir regular e ordenada-
mente um caminho através do qual uma certa finalidade ou um certo objetivo é
alcançado. No caso do conhecimento, é o caminho ordenado que o pensamento
segue, por meio de um conjunto de regras e procedimentos racionais, com três
finalidades:
1. conduzir à descoberta de uma verdade até então desconhecida;
2. permitir a demonstração e a prova de uma verdade já conhecida;
3. permitir a verificação de conhecimentos para averiguar se são ou não verda-
deiros.
O método é, portanto, um instrumento racional para adquirir, demonstrar ou ve-
rificar conhecimentos. (CHAUÍ, 2000, p.199).

15
UAB/Unimontes - 4º Período

DICA Agora que esclarecemos a ideia de “método”, certamente devemos nos perguntar como é
que essa lógica se apresenta nas Ciências Humanas, área na qual está inserido o conhecimento
histórico.
Não podemos nos esquecer de que a História pretende compreender e interpretar o sentido
das ações humanas, bem como os seus diversos modos de expressão e representação expressos
na cultura, nos desejos, nos comportamentos, nas transformações históricas, enfim, em toda ex-
pressão, criação e invenção humana ao longo do tempo.
Ainda, é importante distinguir metodologia de método. Assim, podemos afirmar que a me-
todologia é o conjunto de procedimentos empregados na realização/execução de um estudo/
pesquisa. Sendo assim, o método é responsável pela cientificidade do trabalho do historiador no
ofício de desvendar e interpretar as complexas teias que constituem a História.
Podemos afirmar que os tipos de pesquisa, quanto a sua natureza, são: qualitativa e quan-
titativa. Já, quanto às modalidades da pesquisa em História, essa classificação pode ter a seguin-
Figura 5: Capa do Livro te especificação: pesquisa descritiva, pesquisa documental, pesquisa bibliográfica. Ainda, vale
Os Métodos da História destacar que o método utilizado na pesquisa histórica necessita das Ciências Sociais e Humanas
Fonte: Disponível em e pode ser denominado de: método de história oral, método indiciário, método de montagem,
<http://pesquisaecia.blo-
gspot.com/2008_05_01_ método de descrição densa, etc.
archive.html>. Acesso em
29 jan. 2010.

A obra “Os métodos da


História”, escrita por Ciro
Flamarion Cardoso e
1.4 A Pesquisa Quantitativa e
Qualitativa
Héctor Pérez Brignoli,
aborda a evolução recente
da ciência histórica a partir
do caminho percorrido
pela história linear dos
fatos singulares à história
das estruturas, as linhas de A classificação dos tipos de pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais requer o procedimento
força da evolução recente, de identificar a natureza de sua pesquisa. Logo, você deve pensar se fará uma abordagem quali-
a história quantificada e tativa ou quantitativa do objeto a ser analisado/estudado, ou ambas. De todo modo, deve ter em
suas correntes e a ciência
histórica no presente. Em mente sempre que há uma interpenetração nesses dois modos de pesquisar. Todavia, é preciso
seguida trata da evolução perguntar: o que significam esses termos? Que característica tem uma pesquisa histórica que se
recente a partir dos limites possa dizer que é qualitativa ou quantitativa?
da quantificação e da
econometria retrospectiva,
dos limites entre história Quadro 1: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa
econômica e história
total, os historiadores e as Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa
estruturas e a metodologia
e dependência cultural. Pressuposição básica A realidade é construída de A realidade é constituída de fenô-
Logo após versa sobre Mar- fatos objetivamente mensu- menos socialmente construídos.
xismo e história no século
XX, a partir da concepção
ráveis.
marxista da história, da dé-
cada de 20 até o momento Objetivo Determinar as causas dos Compreender melhor os fenôme-
presente, a influência do fatos nos.
marxismo no pensamento
histórico contemporâneo Abordagem Experimental. Observacional.
e em relação à história da
América Latina. Depois traz Papel do Pesquisador Tende a ser imparcial e neutro. Participante, não neutro.
a história social, os senti-
dos dessa expressão, os Análise dos dados Análise preponderantemente Análise subjetiva dos dados.
dados econômicos, estru- estatística dos dados
tura social e estratificação,
movimentos e lutas sociais Generalização Alto índice de generalização. Possibilidade de generalizar baixa
e as mentalidades coleti-
vas. Em seguida, o método ou nula.
comparativo na História,
a definição, importância Área das Ciências Mais comum nas Ciências Mais comum nas Ciências Sociais
e vantagens. Armadilhas Naturais. e Humanas.
e perigos na aplicação
do método, precauções Principal desvantagem Perda da informação qualita- Alta dependência da subjetivida-
necessárias, as formas e os tiva. de do pesquisador.
resultados da aplicação do
método comparativo. Fonte: APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da Ciência. São Paulo: Editora Pioneira Thomson, 2006, p. 61-2.
Fonte: Disponível em
<http://pesquisaecia. blo-
gspot.com/2008_05_01_ Em material organizado pela professora Marta Valentim, da Universidade Estadual de São
archive.html>. Acesso em Paulo (2008) podemos apreender que:
29/01/2010

16
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

o termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que
constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visí-
veis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível (CHIZZOTTI, DICA
2006). Em História, é comum
encontrarmos estudos
Vale ressaltar que: quantitativos na cha-
• A pesquisa qualitativa fornece uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais, mada História Demo-
gráfica.Vamos conhecer
apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social, visto que um trabalho histórico
foca fenômenos complexos e/ou fenômenos únicos. realizado segundo esse
• A pesquisa qualitativa pode ser aplicada em três diferentes situações: pressuposto? Acesso
• A evidência qualitativa substitui a simples informação estatística relacionada a épocas atuais o site: http://www.
e/ou passadas; cedeplar.ufmg br/pes-
quisas/td/TD%20310.
• A evidência qualitativa é usada para captar dados psicológicos que são reprimidos ou não pdf e retire o texto do
facilmente articulados, como atitudes, motivos, pressupostos, quadros de referência, etc.; pesquisador Dr. Mar-
• A evidência qualitativa foca, por meio da observação, indicadores do funcionamento de es- celo Magalhães Godoy
truturas e organizações complexas que são difíceis de mensurar quantitativamente (VALEN- (2007) O primado do
TIM, 2008). mercado interno: A
proeminência do espa-
ço canavieiro de Minas
Sobre a pesquisa quantitativa, destacamos que: Gerais no último século
• A pesquisa quantitativa supõe uma população de objetos de observação comparável entre de hegemonia das ativi-
si; dades agroaçucareiras
• A pesquisa quantitativa enfatiza os indicadores numéricos e percentuais sobre determinado tradicionais no Brasil.
Leia e debata com seus
fenômeno pesquisado; colegas o modo como o
• A pesquisa quantitativa apresenta gráficos e tabelas, comparativas ou não, sobre determina- autor analisou os dados
do objeto/fenômenos pesquisados. quantitativos.
• A pesquisa quantitativa pode ser aplicada juntamente com a pesquisa qualitativa. Fonte: Disponível em
<http://www.cedeplar.
ufmg .br/pesquisas/
Vejamos exemplos de textos que trabalharam o processo de pesquisa por meio de levanta- td/TD%2031 0.pdf.>.
mentos de dados trabalhados quantitativamente: Acesso 29/01/2010.

BOX 1
Exemplo de texto resultante de levantamentos quantitativos:

Minas Gerais foi durante o século XIX e início da centúria seguinte, o mais importante
espaço canavieiro do Brasil. Para a década de 1830, estima-se a existência em Minas Gerais
de quase que 4.150 unidades produtivas com transformação da cana-de-açúcar. Provavel-
mente, a soma de todos os engenhos do litoral nordestino, do norte fluminense e do planalto
paulista, as principais regiões produtoras de açúcar para mercados externos, não alcançava a
metade do número de engenhos mineiros. Para este mesmo período, estima-se que aproxi-
madamente 40% da força de trabalho escrava de Minas, mais de 85.000 cativos, era empre-
gada, sazonalmente, na fabricação de açúcar, rapadura e aguardente. É grande a probabili-
dade de que em nenhum outro espaço canavieiro, em qualquer período da história do Brasil
escravista, tenha sido empregado contingente desta magnitude. Ainda para a quarta década
do Oitocentos, estima-se que Minas produzia em torno de 33.200 toneladas de açúcar e rapa-
dura e mais de 22 milhões de litros de aguardente. As informações disponíveis indicam que
a produção paulista de açúcar não superava 8.500 toneladas e a de Pernambuco estava em
torno de 27.000. As exportações de açúcar da Bahia não perfaziam 30.000 toneladas, as do Rio
de Janeiro não alcançavam e Alagoas e Sergipe exportavam juntas menos de 6.000 toneladas
“(GODOY, 2004: 525-557).

Fonte: GODOY, Marcelo Magalhães. No país das minas de ouro a paisagem vertia engenhos de cana e casas de
negócio – Um estudo das atividades agroaçucareiras tradicionais mineiras, entre o Setecentos e o Novecentos, e do
complexo mercantil da província de Minas Gerais. São Paulo: FFLCH/USP, 2004. Tese de doutorado.

17
UAB/Unimontes - 4º Período

BOX 2
Exemplo de texto resultante de pesquisa qualitativa utilizando jornais.

Desde o século XVIII, a sociedade diamantinense vivenciava descaminhos que sobrepu-


javam a ordem normatizadora da Igreja e do Estado português. Práticas como o concubina-
to, ou a constituição de ampla descendência ilegítima eram comuns no então denominado
Arraial do Tejuco, fato notoriamente ilustrado pelo relacionamento vivido pela mulata Chica
da Silva e o contratador de diamantes (1). Ao longo desse período, mas principalmente no de-
correr do século XIX, por meio do projeto moralizador do Bispado de Diamantina, que a Igreja
preocupou-se em delimitar com mais clareza a formação moral e os papéis sociais que os côn-
juges deveriam cumprir na sociedade local. Tais papéis podem ser ilustrados nos conselhos
que o Bispo D. João Antônio dos Santos dava aos maridos:

1º Amar a esposa como Jesus Christo ama sua Igreja;


2º Respeitá-la como sua companheira;
3º Dirigi-la como lhe sendo sujeita;
4º Guardar-lhe todo amor e fidelidade;
5º Sustentá-la com decência;
6º Sofreá-la com paciência;
7º Ajudá-la com caridade;
8º Repreendê-la com benignidade;
9º Exortá-la ao bem com palavras, ainda mais com exemplo;
10º Não ofendê-la nem desonrá-la por fatos nem por palavras;
11º Não fazer, nem dizer coisas em presença dos filhos, ainda que pequenos, que lhes
posam servir de escândalo (2).
As obrigações que o Bispo listou para o marido indicavam que o papel ideal do homem
no seio da família deveria ser o de provedor do lar e de mando, sendo fiel à esposa e forne-
cendo o exemplo modelar a ser seguido pelos demais membros sob sua proteção.

Para a mulher, D. João também se preocupou em orientar sobre o seu papel na vivência
conjugal. Assim, elas deveriam:
1º Amar o marido;
2º Respeitá-lo como seu chefe;
3º Obedecer-lhe com afeto e prontidão;
4º Adverti-lo com discrição e prudência;
5º Responder-lhe com toda a mansidão;
6º Servi-lo com desvelo;
7º Calar quando o vir irritado;
8º Tolerar com paciência seus defeitos;
9º Não ter olhos, nem coração para outro;
10º Educar catolicamente os filhos;
11º Ser muito atenciosa e obediente para o sogro e sogra;
12º Benévola com os cunhados;
13º Prudente e mansa, paciente e carinhosa com toda a família.
Quando se observa o papel definido pelo Bispo para a esposa, em relação ao marido, res-
salta-se o papel de subordinação que cabia à mulher. Logo no parágrafo segundo, enquanto
cabia ao marido “respeitar a esposa como companheira”, o mesmo respeito era cobrado da
mulher, mas numa posição de sujeição, devido à condição de chefe do núcleo familiar ocu-
pado pelo marido. Foram também acrescidos mais dois pontos importantes em relação aos
deveres do marido: tratar bem o sogro, a sogra e ser benévola com os cunhados, subordinan-
do a mulher aos interesses do clã marital. Cabia à mulher o sustento ideológico e afetivo do
núcleo familiar, por meio de deveres que exigiam das mesmas: mansidão, recato, fidelidade,
prudência e subordinação. Em ambas as obrigações, o amor conjugal vem em primeiro lugar,
denunciando a parceria entre amor e convivência dos casais para construir um lar feliz. Mas ao
homem estava destinado o mando e a liderança do lar, à mulher, a obediência, a resignação e
o servilismo.

18
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Esse projeto moralizador implementado pelo clero diamantinense, desde a época do Bis-
po D. João Antônio dos Santos (1863), teve continuidade com o Arcebispo D. Joaquim Silvé-
rio de Souza (1905) e utilizou-se do argumento de que, em Diamantina, assistia-se à perigosa
“transição dos costumes”, com o intuito de diminuir as transgressões às normas instituídas. Tal
projeto deveria estender-se às comunidades que estavam sob os cuidados da Mitra de Dia-
mantina. Os Jornais e as Visitas Pastorais tornaram-se peças importantes nesse processo.

Fonte: Adaptado de: SANTOS, Dayse Lúcide. O padrão idealizado de família e de mulher em Diamantina e região.
UNIMONTES Científica, v. 5, p. 57-25, 2003.

Observe que a pesquisa que trabalha com dados quantitativos se preocupará em analisar
esses dados de modo a explicá-los, interpretá-los, tendo em vista o conhecimento histórico. No
primeiro exemplo, o autor precisou levantar dados quantitativos para proceder à sua análise e as
relações por ele realizadas. No segundo exemplo, de modo geral, ficou patente a análise do dis-
curso veiculado em jornais, os quais nada têm de “inocentes” e representam o modo de pensar
de uma dada instituição social.
Feita essa distinção, passemos adiante na discussão quanto às modalidades da pesquisa.

1.5 Modalidades da Pesquisa


A pesquisa histórica tem por objetivo trabalhar com dados, registros, documentos que fa-
çam parte da história construída pelos homens e mulheres em diversos tempos. O historiador se
ocupa da ação dos indivíduos, dos movimentos, das instituições, bem como de diversos eventos
da História ao longo do tempo. Nesse sentido, o seu trabalho deve ser guiado pela pesquisa.
Vejamos algumas de suas modalidades:

a) Pesquisa Descritiva

Nessa modalidade de pesquisa você irá observar, registrar, correlacionar e descrever fatos
ou fenômenos relativos a uma dada sociedade/realidade. Esse tipo de pesquisa é ideal para o
estudante que tem como problema aspectos da realidade social atual.
A grande característica dessa pesquisa é o procedimento de seleção de porções aleatórias
da população/sociedade estudada, objetivando alcançar conhecimentos empíricos da sociedade
atual. Sendo assim, em geral, não haverá a necessidade de você trabalhar com a totalidade da
sociedade objeto de sua análise, mas com porções desta.
Metodologicamente, é fundamental pensar alguns passos:
• 1º: Realizar busca na literatura sobre o seu tema, visando aprofundá-lo e/ou compreendê-lo
melhor;
• 2º: Levantar informações coletadas na realidade observada;
• 3º: Lançar mão de diversos instrumentos de coleta de dados, tais como questionários, ob-
servação, entrevista, registro fotográfico, etc.
• 4º: Explicitar as razões que levaram você a escolher uma dada sociedade para análise, logo, a
sua amostra para estudo deve ser relevante;
• 5º: Analisar os dados coletados à luz da literatura vigente, de modo a refletir sobre a socie-
dade, tecendo comparações, críticas e análises, aprofundando o seu problema de pesquisa.

As pesquisas em geral possuem técnicas diversas que nos fazem chegar até uma dada infor-
mação. Podemos destacar os questionários, a observação e a entrevista.
Por fim, podemos realizar os seguintes destaques para a pesquisa descritiva:
• observa, registra, correlaciona e descreve fatos ou fenômenos de uma determinada realida-
de sem manipulá-los.
• procura conhecer e entender as diversas situações e relações que ocorrem na vida social,
política, econômica e demais aspectos que ocorrem na sociedade.
• caracteriza-se pela seleção de amostras aleatórias de grandes ou pequenas populações su-
jeitas à pesquisa, visando obter conhecimentos empíricos atuais.
• O objetivo é trabalhar com dados relativos à atualidade, observando uma determinada rea-
lidade para explicar um determinado objeto e o(s) fenômeno(s) relacionados à problemática
da pesquisa.
19
UAB/Unimontes - 4º Período

b) Pesquisa Documental

Em geral, definimos a pesquisa documental como sendo aquela que utilizará documentos
que, para o historiador, constituem as fontes de seu estudo, as pistas e os indícios pelos quais
vai perseguir as respostas para suas indagações. Você já visitou arquivos municipais e estaduais,
igrejas, museus, sindicatos e bibliotecas públicas? Nesses locais, encontra-
mos diversos documentos que podem ser analisados. Tais documentos es-
tão inseridos em determinados contextos e fornecem informações sobre os
mesmos, sendo, portanto, de suma importância para o historiador.
Os mais diversos processos históricos vivenciados pela sociedade dei-
xaram pistas, traços, pegadas sobre as quais o historiador debruça-se para
compreender/interpretar uma sociedade em estudo, contextualizando-a,
problematizando-a.
Você deve estar se perguntando como proceder para efetivar uma pes-
quisa documental. Podemos destacar alguns passos fundamentais, a saber:
• 1º: identificação das fontes ligadas ao seu projeto de pesquisa;
• 2º: conhecimento, ao máximo, de informações referentes às fontes uti-
lizadas, desde sua procedência à fabricação, datação, enfim, dados mais ob-
▲ jetivos;
Figura 6: O historiador • 3º: seleção de documentos mediante levantamento anterior.
dispõe de certos meios • 4º: reflexão constante sobre os dados/informações que encontrar ao longo da pesquisa
científicos para alcançar guiado também pela literatura sobre a temática pesquisada.
conhecimentos e, além Diversos são os lugares de pesquisa onde o historiador pode “beber” para produzir o seu
disso, serve-se de certa “mel”. Vejamos.
sistematização, ou
seja, põe em ordem os
resultados obtidos pela BOX 3
pesquisa Fontes de pesquisa do Historiador
Fonte: Disponível em
<http://fscastro.blogspot.
com/2007/04/o-estudo- Arquivos do Poder Executivo, cuja documentação em geral é encontrada nos Arquivos
-histórico-começa-quan- Públicos Municipais, Estaduais ou no Arquivo Nacional. [...] Mais oportuno para estudos regio-
do-os.html>. Acesso em 27
jan. 2010.
nais são os Arquivos Municipais e Estaduais, primeiro passo para situar a documentação perti-
nente ao objeto de estudo.
Arquivos do Poder Legislativo, nos quais Atas e Registros guardam a legislação origi-
nal e debates em torno das aprovações ou não de leis [...]. Arquivos do Poder Judiciário, em
que Inventários e Testamentos são imprescindíveis para o conhecimento e dimensão do rol
de pertences e objetos que figuravam no cotidiano que se pretende recuperar. Arquivos Car-
toriais, nos quais Notas e Registro Civil dão conta de propriedades e respectivas descrições
físicas.
ATIVIDADES
Acervos institucionais, a exemplo dos antigos acervos dos Departamentos de Obras Pú-
Acesse o endereço da blicas, que guardam toda a sorte de plantas, mapas e projetos arquitetônicos do Governo do
Revista Brasileira de His-
tória e Ciências Sociais,
Estado ou do Município. Arquivos Eclesiásticos, responsáveis por registros paroquiais, pro-
Ano I - Número I - Julho cessos e correspondências da Igreja Católica, que ganham particular importância para o histo-
de 2009 riador do patrimônio (também, da família e outros), em especial para os bens da Colônia e do
http://www.rbhcs. Império. [...]
com/index_arquivos/ Arquivos privados, que reúnem documentos particulares de indivíduos e famílias, por
Page973.htm
Baixe o artigo intitula-
vezes alocados em Memoriais ou Fundações, e que facilitam enormemente o conhecimento
do: Pesquisa documen- de um personagem, de políticas de seu tempo e mesmo de uma época. É o caso da coleção
tal: pistas teóricas e de fotografias de Marc Ferrez, hoje de propriedade do Instituto Moreira Sales [...].
metodológicas Museus, que reúnem documentos pertinentes às suas temáticas, permitindo a visão con-
Leia atentamente o tex- textualizada e abrangente de determinados temas, assuntos e/ou objetos de estudos de inte-
to e discuta com o seu
professor a ideia central
resse patrimonial. [...]
do artigo no fórum de
discussão. Fonte: Adaptado de MARTINS, A.L. Uma Construção Permanente. In: PINSKY, C.B e LUCA, T.R. (orgs). O historiador e
suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p. 293-5.

Vale ainda lembrar que, para além dos lugares de pesquisa descritos, é obrigatória a refe-
rência a uma gama de documentos de que o historiador lança mão para construir a interpreta-
ção histórica. Sendo assim, os cartões postais, os diários íntimos, os livros de literatura, os filmes,
as fotografias em álbuns de família, cartas, anotações de memórias, caderno escolar, desenhos,

20
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

pinturas, músicas, poesias, projetos arquitetônicos, contos, casos, depoimentos, selos, notas, cari-
catura, técnica de construção de bens culturais, etc. são fontes que informam sobre os homens e
mulheres na experiência da vida. Vejamos um fragmento de texto acadêmico produzido a partir
da análise de jornais:

BOX 4
Texto acadêmico produzido através de fragmentos de jornais
As elites juiz-foranas buscaram adequar-se ao modelo de vida proposto pelas elites da
Corte, o Rio de Janeiro. A imprensa local noticiava com frequência os eventos relativos à boa
sociedade juiz-forana, destacando os laços que uniam as famílias mais prestigiadas da região.
O Pharol, por exemplo, cuidava em que as ocasiões especiais na vida dos membros das famí-
lias mais destacadas da cidade fossem divulgadas. Lindolpho de Assis, que substituiu Dupin à
frente do jornal em 1885, estabeleceu uma coluna intitulada Correio das Salas, onde eram no-
ticiados os aniversários dos líderes locais e de seus familiares. Antes dele Dupin já fazia ques-
tão de destacar os feitos dos filhos da elite, como quando se bacharelou “em sciencias sociaes
e juridicas o illustrado academico Sr. José Miranda Ribeiro” (Pharol, 18/11/1877); Lindolpho
louvou a aprovação, no segundo ano da Faculdade de Direito do Recife, do Sr. Luiz Penna, que
passava suas férias em Juiz de Fora (Pharol, 10/04/1886). Feitos mais singelos, como a doa-
ção de uma talha d’água para a escola do sexo masculino, feita pela “menina Almerinda Silva”,
filha de 10 anos de Alberto Henrique Corrêa e Silva, eram igualmente exaltados (Pharol, 20-
21/01/1887). No novo século republicano, a prática foi mantida: Consórcio // Realizou-se sáb-
bado, conforme noticiamos, o casamento do sr. dr. Oscar Vidal Barbosa Lage, digno vereador
pela cidade, com a gentil senhorita Maria Violeta Belfort de Arantes, dilecta filha do sr. coronel
Alexandre Belfort de Arantes, importante lavrador e capitalista neste município. // O acto civil
effectuou-se às 4 ½ horas da tarde na fazenda de Salvaterra, de propriedade do pae da noiva
e do sr. coronel João Gualberto de Carvalho. Presidiu a esse acto o 1º. juiz de paz da cidade, sr.
commendador Manoel José Pereira da Silva, servindo de escrivão o sr. Herculano Gopnçalves
da Silva. // Foram testemunhas por parte da noiva, o sr. coronel João Gualberto de Carvalho e
sua exma. sr.a Anália de Campos Carvalho, e por parte do noivo, o sr. dr. Carlos de Figueiredo
Rimes. [segue a descrição da festa]. (Jornal do Commercio, 09 /01/1906).

Os jornais publicavam também notícias de outras partes do mundo – a morte de Bar-


tolomeu Mitre, presidente da Argentina, por exemplo, foi evento muito destacado (Jornal do
Commércio, 20/01/1906). Durante a década de 1880, o principal jornal da cidade, O Pharol,
publicou textos literários e folhetins dos autores estrangeiros e brasileiros mais conceituados,
como Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant, Paul Féval, Gustave Le Bon, Alexandre Dumas;
Machado de Assis, Arthur Azevedo, Aluísio de Azevedo, Júlio Ribeiro. Estes folhetins apontam
para a existência de públicos leitores diferentes, em relação às notícias políticas.

Os anúncios publicados na imprensa de Juiz de Fora também sinalizavam a difusão de


hábitos e costumes modernos:
A elite juiz-forana encontra tais artigos em diversas lojas da cidade, anunciantes regula-
res no Pharol. Móveis austríacos e norte-americanos, massas italianas, gelo, livros europeus,
vinhos portugueses, cervejas fabricadas à moda alemã, roupas no melhor estilo, médicos da
Corte, dentistas ingleses, alfaiatarias que seguiam a moda européia, como a “Paris an America”,
relojoeiros, professores de francês, piano, música, alemão, “tachygrafia”, tudo que fosse neces-
sário a uma vida civilizada. Que o discurso da civilização estava presente, e que este vincu-
lava-se à imagem construída para a cidade fica claro no seguinte anúncio: “CONFEITARIA rua
Halfeld 10. Pontes Junior & Comp; attendendo a uma das mais palpitantes necessidades desta
florescente cidade, que com razão é denominada - sala de visitas da província de Minas -, aca-
bam de montar uma confeitaria[...]”. (GOODWIN Jr., 1996, p. 206)

21
UAB/Unimontes - 4º Período

Tais tentativas de demonstrar fausto e cultura exaltavam e valorizavam o enriquecimen-


to e a modernização da região. Além de centro cafeicultor desde a década de 1820, Juiz de
Fora foi também o pólo urbano de uma agricultura voltada para o abastecimento do mercado
regional. O capital gerado pelos negócios agrícolas produzia excedentes, aplicados principal-
mente através de empréstimos, na produção local – e mesmo na industrialização. Os traba-
lhos de Anderson Pires destacam a importância da “existência de um capital originado na ati-
vidade agroexportadora do município sendo aplicado na própria atividade agroexportadora”,
como prenúncio “de um circuito financeiro local relativamente delimitado e autônomo”, que
eventualmente possibilitou a constituição de instituições bancárias na praça de Juiz de Fora.

Fonte: GOODWIN Jr., James William. As Cidades de Papel: Imprensa, Progresso e Tradição. Diamantina e Juiz de Fora,
MG (1884-1914). Dissertação de Doutorado em História Social. Orientadora: Profa. Dra. Inez Garbuio Peralta. Programa
de Pós-Graduação em História Social. São Paulo, FFLCH/USP, 2007, p. 55-7 (mimeo).

c) Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica - ou o que comumente chamamos de pesquisa de referências - é


parte constituinte de todo e qualquer projeto de pesquisa. Ora, você já deve ter cansado de ouvir
a expressão: “Você não está inventando a roda! Faça o favor de ler o máximo sobre o tema que
escolheu”. Quando ouvimos esse tipo de frase devemos atentar para a questão de que o nosso
trabalho ainda carece de leituras sobre o tema em questão.

Sendo assim, o grande objetivo desse tipo de pesquisa é levantar informações (opiniões) as
mais diversas em livros, dissertações, teses, artigos, dossiês, relatórios, etc. sobre o tema e proble-
ma de pesquisa que você utilizará em seu projeto.
Você precisa ser perspicaz, atencioso (a), cuidadoso(a) em suas anotações sobre a literatura
consultada. Esse tipo de pesquisa requer sistematização, disciplina e capacidade de aprofundar
e correlacionar as diferentes opiniões sobre o tema em estudo. Ao proceder à leitura, grifos, re-
lacionar as obras lidas e proceder a anotações pessoais sobre um dado estudo, procure sempre
estabelecer as correntes teóricas e as concepções veiculadas nos estudos dos pesquisadores, as
suas posições, suas fontes, o método utilizado, assim como os autores em que eles se apoiam.
Alguns passos que contribuirão com o seu trabalho:
• 1º: Definir o tema e o problema de sua pesquisa;
• 2º: Identificar e selecionar a literatura pertinente à pesquisa;
• 3º: Identificar as contribuições do seu estudo para o campo científico da História;
• 4º: Delimitar com clareza o alvo da pesquisa, buscando evitar, desse modo, dúvidas e “des-
vios” da pesquisa desejada;
• 5º Ler, anotar, comparar todos os livros, artigos, teses, etc. selecionados. Analisar os argu-
mentos apresentados pelo autor e posicionar-se em sua pesquisa;
• 6º Defender sua argumentação com propriedade, ou seja, utilizar argumentos passíveis de
verificação e comprovação e/ou indícios fortes.

Exemplo de texto produzido com base em uma pesquisa bibliográfica

BOX 5
Texto produzido a partir de pesquisa bibliográfica
As fazendas primitivas, de caráter misto, lavoura de cereais e criação de gado, se destina-
vam a suprir os mercados locais. Conforme narrava o Marques do Lavradio, Vice-rei do Brasil,
no relatório de 1779, o verdadeiro sistema da Capitania era trabalharem uns nas lavras e des-
cobertos e outros nas roças, a fim de não faltarem os meios de subsistência.
Não praticamos, por isso, em Minas, no século do ouro, a monocultura. Mesmo depois,
com o advento do plantio do algodão, da cana, do fumo e finalmente do café, não tivemos fa-
zendas exclusivas de um desses produtos. Prevaleceu a tradição das fazendas mistas de agri-
cultura e pecuária, de acordo, aliás, com a mais moderna técnica agronômica.
Enganam-se, por conseguinte, os escritores que colocam a agricultura mineira no quadro
geral da estrutura agrária do Brasil com três caracteres fundamentais: grande propriedade,
monocultura e trabalho escravo(1).

22
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

A afirmação original de Daniel de Carvalho, em 1953, em seu artigo Formação Histórica


das Minas Gerais, foi de fato analisada, à luz de uma pesquisa documental mais robusta, so-
mente na década de 1980, com a publicação dos estudos sobre mineração, trabalho escra-
vo, indústria têxtil e demografia pelos historiadores MARTINS e LIBBY, seguidos de MARTINS e
PAIVA (2).
Esses estudos apontaram para a compreensão de Minas Gerais como uma Província que,
ao longo do século XIX, não pode ser caracterizada, exclusivamente, como uma economia mi-
neradora exportadora (3).
No primeiro quartel dos oitocentos, os dois maiores setores exportadores mineiros esta-
vam em crise – o aurífero e o diamantífero. A produção de ouro havia declinado de uma mé-
dia anual de 10.356 quilos entre 1736-51 para 1.883 quilos entre 1801-20. Os veios tinham se
esgotado e as tecnologias de mineração subterrânea eram pouco utilizadas pelos mineiros.
De um lado, algumas experiências primavam pela utilização de técnicas que visavam à extra-
ção rápida do minério sem um planejamento sistemático da escavação. O transporte do mi-
nério para superfície era rudimentar e as notícias sobre a inundação das galerias eram cons-
tantes. Por outro lado, os processos de refinamento ou redução, adotados na Capitania, no
início do século XIX, guardavam profunda defasagem tecnológica em relação às minerações
inglesas e norte-americanas do mesmo período, o que levava a uma redução do nível de pro-
dutividade e aproveitamento de matéria-prima.
A partir de 1820 começaram a se instalar em território mineiro as minerações inglesas,
que entre 1824 e 1834 já eram contadas em seis. Esses empreendimentos exigiam somas vul-
tosas de capitais para se instalar. Além dos equipamentos, boa parte importada da Europa, o
proprietário tinha que arcar com os custos da compra de escravos, montagem das instalações
e recrutamento, no exterior, de quadros técnico-administrativos especializados, geralmente
ingleses, visto a sua inexistência local. Não houve alternativa, senão recorrer-se ao capital es-
trangeiro para o financiamento.
Os investimentos na mineração subterrânea podem ser divididos em dois períodos. Um
primeiro até a década de 1850, que coincide com o fechamento da Imperial Brazilian Asso-
ciation (Gongo Soco) e outro, a partir de década de 1860, com a abertura de quatro novas
companhias inglesas. Com algumas exceções, essas companhias não foram lucrativas e tive-
ram vida breve, confirmando a tendência verificada no final do século XVIII de decadência dos
veios auríferos. Das companhias estrangeiras instaladas na Província na década de 1820 ape-
nas duas estavam em funcionamento na década de 1860, A National Brazilian Mining Asso-
ciation (Macaúbas e Cocais) e a Saint John Del Rey Mining Company (Morro Velho). A Imperial
Brazilian Association (Gongo Soco) foi satisfatoriamente lucrativa nos primeiros anos de fun-
cionamento da década de 1830. Entre os anos de 1829 e 1833 a produção anual ultrapassou
os 1.000 quilogramas de ouro, gerando dividendos para os acionistas. Nos anos 1855-56 sua
produção anual estava na casa dos 25 e 29 quilos, respectivamente, denunciando a franca de-
cadência da mina.

Fonte: Adaptado de FERNANDES, A.C. O Turíbulo e a Chaminé. Dissertação de Mestrado, Belo Horizonte, FAFICH/
UFMG, Julho/2005, p. 46-9.

1.6 Alguns Métodos e Técnicas


Utilizados na História
Para auxiliá-lo no processo de construção de seu trabalho de pesquisa, é importante con-
siderar que a técnica é um instrumento específico inserido num método. Entretanto, a pesquisa
em História tem exigido uma combinação de técnicas e métodos, visando dar conta de melhor
analisar a complexidade da realidade social. Na figura 07, observe que há a lógica da pesquisa.
Excluiremos apenas o item que lembra a experimentação, próprio das Ciências Exatas. Como
você sabe, as Ciências Humanas não lidam com experimentação, principalmente a História. De
todo jeito, esteja atento ao processo da observação, da construção da hipótese, do levantamento
de dados e da necessidade de sempre repensar o conhecimento obtido.

23
UAB/Unimontes - 4º Período

Figura 7: Método ►
Científico
Fonte: Disponível em
<http://www.esb.ucp.
pt/twt/pepino/MyFi-
les/MyAutoSiteFiles/
TrabalhoExperimen-
tal313788688/samorais/
Metodo_Cientifico.JPG>.
Acesso em 27 jan. 2010.

Sendo assim, a figura nos lembra o quanto é importante pensar livremente de modo crítico
e criativo, relacionando evidências e explicações, confrontando diferentes perspectivas de inter-
pretação científica. Para isso sugere-se que os estudos realizados devam ter por base a observa-
ção direta, utilizando todos os sentidos, a seleção de amostras, bem como a experimentação, e
é importante que, desde o início, você faça registros das suas observações, de forma a que você
construa um método de trabalho e de observação (ALMEIDA, 1998). Sempre deve haver planeja-
mento de investigação; devem-se proporcionar situações de aprendizagem centradas na resolu-
ção de problemas, com interpretação de dados, formulação de problemas e hipóteses, previsão e
avaliação de resultados.

a) Os métodos

Podemos destacar alguns caminhos muito utilizados na construção/interpretação da Histó-


ria atualmente. Como você já sabe, a História atua hoje de modo interdisciplinar, trabalhando na
fronteira com diversas disciplinas, como por exemplo, a Sociologia, a Antropologia, a Linguística,
entre outras. De acordo com o seu problema de pesquisa, suas indagações e as características de
suas fontes, você pode utilizar o método de descrição densa, indiciário ou montagem.
O historiador Carlo Ginzburg, em “O queijo e os vermes”, propõe o chamado paradigma indi-
ciário, comparando o trabalho do historiador a um detetive, considerando que o mesmo precisa
decifrar enigmas e dar a ver um enredo ou segredo. O que o move são as suspeitas e as pistas
que vai encontrando no processo da pesquisa. É preciso ir além do que é dito, do visto e do re-
presentado. O olhar volta-se para os detalhes e as nuances. Como o médico, o historiador bus-
ca os sintomas para compreender os sentidos. Como um crítico de arte, o historiador perscruta
além do primeiro plano que é visto e busca os detalhes para analisá-los em relação ao conjunto
(PESAVENTO, 2004).
Walter Benjamin imagina um caminho semelhante. Para definir o seu método, ele o deno-
minou como sendo o método de montagem. Assim, considera que é preciso percorrer os traços
e registros do passado para realizar com estes uma construção, ou melhor, um quebra-cabeça
que produzirá algum sentido, pois que as peças desse quebra-cabeça irão se articular compondo
e justapondo, “cruzando-se em todas as combinações possíveis, de modo a revelar analogias e
relações de significado. Ou então se combinam por contraste, a expor oposição ou discrepân-
cias.” Diante de tudo isso, algo será revelado, conexões serão desnudadas, explicações se ofere-
cem para a leitura do passado. É este o método da grelha ou de cruzamentos (PESAVENTO, 2004,
p.65).
Por fim, podemos ainda falar do trabalho “Interpretação das Culturas”, de Clifford Geertz,
onde o método de descrição densa é delineado. Nesse método a realidade observada é descrita
em seus mínimos detalhes e correlação de significados possíveis, explorando as fontes em seu
significado mais profundo. Utilizando esse método, não iremos apenas descrever densamente o

24
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

objeto, mas aprofundar a análise do mesmo, explorando todas as possibilidades interpretativas


que ele oferece, o que poderá ser dado por meio de um intenso cruzamento com outros elemen-
tos observáveis no contexto ou fora dele. Assim, de acordo com esse método, pode-se dizer que
a história seria uma ficção controlada (PESAVENTO, 2004).
Não se esqueça também de que a micro-história pode ser entendida como um método da
história, a qual é capaz de realizar recorte temático específico, relacionando-se sempre com um
assunto mais amplo. Dois autores vêm se destacando: Giovanni Levi e Carlo Ginzburg. No livro “O
Queijo e os Vermes”, de Ginzburg, veremos que o autor cria a possibilidade do conhecimento de
uma figura histórica popular (o moleiro), aspectos/contexto de sua época, tanto no campo cultu-
ral e social, como no econômico e político.

b) As técnicas

A História utiliza a técnica do estudo de campo, originário da Antropologia e incorporado à


História a partir da aproximação observada entre essas ciências. Você já ouviu dizer sobre a atitu-
de interdisciplinar, certo? Tecnicamente esse é um bom exemplo de tal atitude.
O estudo de campo tem a vantagem de contribuir para os estudos históricos em profundi-
dade. O termo “campo” é utilizado no sentido de que é o escopo da pesquisa e não apenas um lu-
gar geográfico. Tais estudos são marcados pela flexibilidade, exigindo reformulação, sempre que
necessária, dos pressupostos da pesquisa, dos objetivos e de suas hipóteses, ao longo da mesma.
Ao utilizar essa técnica, você terá que realizar a observação direta das atividades de uma dada
sociedade, buscando compreender as explicações, visões e sentidos que os diferentes testemu-
nhos dão aos fenômenos sócio-históricos. Você associará à sua observação outras técnicas, como
a gravação, filmagem, análise de documentos e de fotografias.

◄ Figura 8: Índios
botocudos, 1909
Fonte: Fotografia de Wal-
ter Carbe. Disponível em
<http://imagenshistoricas.
blogspot.com/2009/11/
indios-do-brasil.html>.
Acesso em 27 jan. 2010.

O pesquisador que lança mão do estudo de campo desloca-se pessoalmente para realizar o
trabalho, buscando-se aproximar da experiência direta da comunidade que estuda.
A partir das figuras, você pode imaginar que há a necessidade de o pesquisador se ocupar
em estudar os índios ou os quilombolas, por exemplo. O pesquisador terá que permanecer o má-
ximo de tempo possível junto à comunidade estudada, pois a imersão em tal realidade facilita a
apreensão e o entendimento de regras, costumes, escolhas, etc. que fazem parte da vida cotidia-
na de um dado grupo social em estudo. As análises são feitas a partir da observação no caderno
de campo, das gravações, entrevistas, etc.
Outra técnica de pesquisa muito utilizada nas investigações em geral e também na História
é o estudo de caso. Tal tipo de estudo individual permite aprofundar a compreensão sobre um
dado processo sócio- histórico. Em geral, o uso do estudo de caso serve para o pesquisador que
deseja realizar comparações, contextualizações e informações sobre um dado fenômeno. Tome-
mos um exemplo bem simples.

25
UAB/Unimontes - 4º Período

▲ Figura 10: Quilombola ►


Figura 9: Interior de Fonte: Disponível
Igreja Barroca em em <http://raizcul-
Diamantina turablog.wordpress.
com/2008/02/07/somos-
Fonte: Disponível em -quilombola/>. Acesso
<http://cineabertocida- em 27 jan. 2010.
desdigitais.blogspot.
com/>. Acesso em 25 jan.
2010.
Figura 11: Igreja Nossa ►
Senhora do Carmo, em
Ouro Preto, é um dos
símbolos do Barroco
do século XVIII
Fonte: Disponível em
<http://www.clickeduca-
cao.com.br/2006/enciclo/
encicloverb/0,5977,
POR-2718,00.html>. Aces-
so em 25 jan. 2010.

Hipoteticamente escolhemos como problema a análise das expressões barrocas da cidade


de Diamantina/MG. Após exaustivo estudo sobre o barroco e seus modos de expressão, nessa
cidade colonial, vamos comparar com as formas apresentadas do barroco mineiro na cidade de
Ouro Preto, quiçá no Brasil. Certamente teremos que realizar uma vasta revisão de bibliografia
para nos atualizarmos e informarmo-nos sobre os problemas e hipóteses que outros pesquisado-
res já levantaram sobre o tema (o barroco mineiro) de nossa pesquisa.
Utilizar esse procedimento na pesquisa justifica-se para explorar as diversas dimensões da
vida dos diferentes sujeitos sociais; preserva-se o caráter individual do objeto em estudo e tem-
se a capacidade de relacionar com o seu contexto de modo eficiente; facilita a formulação de
hipótese e/ou o desenvolvimento/teste de teorias científicas. É necessário ter grande cuidado e
rigor no planejamento, execução e coleta de dados propostos quando se faz um estudo de caso,
buscando evitar incorreções nas análises e puros acúmulos de dados difíceis ou impossíveis de
analisar e interpretar.
Você já ouviu falar (senão até chegou a executar) sobre algum estudo com base na história
oral? Trabalharemos agora com a técnica de história oral.
Tal técnica (por meio de entrevistas) constitui um procedimento verbal com propósito bem
definido, geralmente lançando mão de questionamentos prévios (os quais podem ser revistos no
momento da entrevista, segundo a criatividade do pesquisador). Vale lembrar que as entrevistas
devem ser gravadas e autorizadas pelos depoentes. Em caso da não aceitação da publicação do
nome da testemunha, o pesquisador deve criar um pseudônimo para a mesma.
Nessa técnica, o objetivo maior do pesquisador é compreender os significados atribuídos
pelos sujeitos a eventos, personagens, intenções, ideias, enfim, cada entrevistado é considerado
sujeito cultural que tem sua interpretação sobre o tema perguntado. Quanto mais diversificadas
forem as opiniões, maior a possibilidade de observar a complexidade da sociedade, objeto de es-
tudo. Por isso, é importante procurar atingir diversos segmentos da sociedade em tela.

26
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

As entrevistas podem ser estruturadas (relação fixa de perguntas), semiestruturadas (entre-


vista por pautas) ou não estruturadas (informal). Em História oral, a entrevista informal raramente ATIVIDADE
é utilizada, pois pode dificultar muito a análise acurada e de credibilidade dos resultados da pes- Analise as figuras e
quisa. procure responder às
Vale destacar que a História Oral e a História de Vida lançam mão da entrevista para buscar questões:
• quem produz uma
os dados a serem analisados pelo pesquisador. Na história oral, o pesquisador procura reconsti- linguagem, para
tuir, através dos sujeitos envolvidos, um período ou evento histórico. Na história de vida, o pes- quem produz,-
quisador está interessado na trajetória de vida dos entrevistados, com o objetivo de associá-la como a produz e
a situações presentes, em contextos sociais amplos, não sendo simples biografia etapista e cro- quem a domina.
nológica, mas análise acurada do contexto, das relações, das ações e impressões sobre os indiví- Debata sobre esse
assunto com os seus
duos de uma dada época. colegas e com o pro-
Após todas as situações descritas, falta ainda nos debruçarmos sobre as fontes da história. fessor, num chat criado
por este.

◄ Figura 12: Festejo


Popular
Fonte: Disponível
em <http://ecosdo-
telecoteco.blogspot.
com/2009_09_01_arc
hive.html>. Acesso 27 jan.
2010.

◄ Figura 13: Barco a vapor


Fonte: Disponível em
<http://4.bp.blogspot.
com/_lFbnGmCMKmI/
SB3FrIM MzyI/AAAAAAA-
AAC4/hz6msyfaLSU/S760/
pirapora_27.jpg>. Acesso
27 jan. 2010.

1.7 Fontes de Pesquisa em


História: Noções de Documento
Para esses historiadores [dos Annales] o acontecer histórico se faz a partir dos
homens. Daí o documento histórico se produzir com tudo o que, pertencendo
ao homem, depende do homem, exprime o homem, demonstra a presença, a
atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem. Nesse caso, ao documento
incorporam-se outros de natureza diversa, tais como objetos, signos, paisagens,
etc. (VIEIRA, PEIXOTO e KHOURY, 1995, p. 14-15).

Em todos os lugares, ocasiões e momentos históricos em que se possa perceber o modo


como os homens deram sentido a sua existência através de documentos, imagens ou quaisquer
“cacos” que apresentem pistas sobre tal sentido, é documento da História. Ferreira Gullar, em sua
poesia, lembra-nos de que “o canto não pode ser uma traição à vida”, assim como a História não
pode e nem deve deixar de buscar as pistas “dos seus” onde quer que ela esteja.

27
UAB/Unimontes - 4º Período

Nesse sentido, devemos entender o documento no seu sentido lato. Todas as manifestações
humanas tornam-se objeto do historiador que as busca por meio dos vestígios mais diversos: es-
critos, objetos, palavras, música, literatura, pintura, arquitetura, fotografia.
Entretanto, o documento não fala por si. Ele deve ser indagado pelo historiador. A intencio-
nalidade do historiador é vista num duplo sentido: a intenção do agente histórico presente no
documento histórico e a intenção do pesquisador ao escolher os documentos. O ponto de par-
tida da investigação passa do documento para o problema. Tudo isso para que possamos perce-
ber que a História é construída por homens reais, vivendo as relações mais diversas em todas as
dimensões do real.
É por isso que hoje utilizamos os mais diversos documentos que aqui procuramos categori-
zar do seguinte modo:
a) fontes documentais
b) fontes orais
c) fontes imagéticas

Exemplificando essa categorização, vejamos exemplos...

Exemplo 1. Fonte documental: Aqui, o pesquisador manipula documentos encerrados


em diversos arquivos públicos ou particulares, museus, universidades, centros de pesquisa, etc.
e produz seu texto final. Vejamos um exemplo de texto produzido a partir da análise de um pro-
cesso criminal.

BOX 6
Texto produzido a partir de análise de um processo criminal
Em junho de 1913, estando Álvaro, 24 anos, casado, lavrador, na casa do também lavra-
dor Vicente de Paula e Silva, numa festa de casamento da filha mais jovem de Vicente, assistiu
à tentativa de sua amante, Maria Eutália de Jesus, de ser chamada para dançar uma valsa com
Cândido Matias, 24 anos, lavrador, solteiro. Insatisfeito com a situação, Álvaro pegou a sua gar-
rucha e disparou em Eutália.(1) A prisão em flagrante foi realizada. Entretanto não foi possível
precisar o tempo que o réu permaneceu na cadeia, pois dez anos depois do ocorrido, o Ga-
binete de capturas da polícia recebeu o mandato de prisão para Álvaro. Após esse despacho
passaram-se mais quatro anos para que o processo fosse finalmente arquivado (1934). Tam-
bém não existem detalhes do caso, senão informações curtas e incompletas.
O fato que saltou aos olhos nesse caso foi uma carta que a vítima escreveu para o advo-
gado de defesa, procurando justificar a inocência do réu no processo. Assim,

Ilmo Sr Joaquim Elias Ribeiro.


Desejo ao Sr e a Exma família boa saúde e felicidade sabendo eu que V.Sa
é o advogado do Sr Álvaro de Aguiar que no mês passado estando muito
embriagado disparou em mim um tiro por estar com a cabeça emchada (sic),
pois que eu estava dançando com outro e eu tendo a elle muita amizade e
vendo que foi por loucura delle e estarmos justo para casar logo que elle ar-
ranje com a justiça [de] desfazer do casamento delle, eu peço ao Sr dizer o tiro
eu perdoou por não valer nada, por que sarei em menos de 15 dias e tenho a
elle arrependimento, eu quando soube o que tinha jeito, mas como não tive
de cama se não mais de cinco dias estou sã e espero se Deus quiser me casar
com elle [...] (grifo nosso).

Nesta carta de Maria Eutália de Jesus, percebe-se claramente alguns dos artifícios utiliza-
dos na tentativa de inocentar o amante e conseguir que ele fosse solto da cadeia. Ao afirmar
que o réu estava embriagado, Maria pretendia com isso atenuar ou justificar um ato impen-
sado de ofensa física grave praticado contra ela por parte de Álvaro. Tanto os homens quan-
to as mulheres utilizaram-se desse argumento obtendo relativo sucesso. Entretanto, as teste-
munhas do caso afirmaram que Álvaro nada tinha bebido naquela noite. Apesar do réu ser
casado, sobre a sua vida familiar, nenhum comentário foi anotado no processo. Ao que tudo
indica, era um casamento praticamente desfeito (talvez o caso de abandono do lar) ou pelo
menos assim desejava Maria Eutália1. Desta maneira, era preciso que o mesmo saísse da ca-
deia e resolvesse a sua separação judicial, para então poder viver maritalmente com a mesma.

28
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

A mulher, neste caso, preferiu utilizar-se de uma arma interessante: perdoar e dizer-se ar-
rependida por ter dançado com outro homem, fato que teria desagradado Álvaro. Almejava,
assim, convencer as pessoas que ele não estava errado, pois tentara defender a sua “amada”.
Percebe-se uma variação entre submissão e artimanha: uma arte de explorar condições favo-
ráveis para alcançar seus objetivos. Teria Eulália se amasiado com Álvaro? Indagação de difícil
resposta. O certo é que o réu não moveu nenhum processo de separação judicial, nem de nu-
lidade de casamento ou ainda de divórcio eclesiástico, contra a sua primeira mulher. A prática
mais comum (que poderia ter sido o caso de Álvaro) entre homens e mulheres era a de deixar
a esposa e filhos (caso houvessem) e constituir outra família à revelia das vias legais.

Fonte: SANTOS, Dayse Lúcide. Entre a Norma e o Desejo. Dissertação de Mestrado em História Social da Cultura.
Orientadora: Profª Drª Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, Outubro/2003, p.162-4.

No exemplo 2, você observou que o processo criminal foi analisado em seus discursos. Veja
que os dizeres da vítima, do réu, dos advogados, do juiz enfim, todos os testemunhos que figu-
ram num processo criminal articulam opiniões que são do interesse do pesquisador. Mesmo que
o processo criminal tenha como objetivo maior punir ou inocentar alguém, portanto possui uma
intencionalidade, ainda assim é uma fonte de pesquisa valiosíssima para o historiador.
É impossível ter certeza do que realmente aconteceu ao pesquisarmos em processos crimi-
nais, ainda que tenhamos o desfecho daquele “caso” analisado. Mas é possível utilizar essa fonte
documental, sabendo que as pessoas se expressam de modo a demonstrar suas representações,
suas intencionalidades, de acordo com o seu interesse, suas omissões, suas mentiras, suas verda-
des, etc.
Mesmo assim, essa fonte ainda é fundamental para estudarmos a sociedade, pois ali per-
cebemos os diferentes discursos, padrões de comportamento, noções sociais de certo e errado,
enfim, expressões e práticas sociais que apontam para escolhas de determinados segmentos so-
ciais sobre os diferentes modos de viver, punir, permitir, etc.
As fontes documentais são diversas e permitem uma gama de indagações, de cruzamentos
de informações. Permitem tantas indagações quanto a capacidade do historiador em questionar
a fonte para construir sua interpretação do passado histórico.
Os registros de batismo, nascimento, óbito, casamento fornecem muitos dados para o his-
toriador trabalhar. Vejamos o caso do registro civil de casamento quanto às informações que
podem ser trabalhadas a partir dessa fonte:

BOX 7
Informações fornecidas pelo registro civil de casamento:
• Data, local, nome dos cônjuges, filiação, idade, naturalidade, residência, profissão.
• Nome dos pais dos cônjuges, data de nascimento, profissão, domicílio e residência.
• Dados das testemunhas, como nome, idade, residência, assinatura a “rogo” da testemu-
nha (quando não sabem ler e escrever).
• Informações gerais sobre os filhos que, por acaso, tenham antes do casamento, nome,
idade dos mesmos; se viúvo, nome do cônjuge falecido.

Veja a transcrição de um documento de registro civil de casamento.

Ato de casamento de José Gonçalves da Cunha e Augusta da Silva Gomes

Aos dez de Agosto de mil novecentos e três nesta Cidade de Campinas, distrito de Santa
Cruz em a sala do Cartorio de Paz a rua Sacramento numero cinco as quatro horas da tarde
perante o Juiz de Casamento Dr João de Assis Lopes Marins comigo Escrivão e Official seu car-
go e satisfeitas as exigências legaes ao acto receberam-se em matrimonio segundo a regimen
cmmum os contraentes Jose Gonçalves da Cunha e Augusta da Silva Gomes, aquelle portugês
com 25 annos de idade, negociante e esta com vinte e dois annos brasileira, natural desta ci-
dade, ambos solteiros e reidentes neste districto de Paz, ambos filhos legítimos o primeiro de
Antônio Gonçalvez da cunha e de Maria Carolina Paes e a segunda de Antonio da Silva Gomes
e Maria das Dores Gomes, falecidos.

29
UAB/Unimontes - 4º Período

Testemunharam o prezente acto Antonio ferreira da cunham com cinqüenta e um annos


de idade, casado, negociante residente nesta districto e Sérgio Amaral Silva, com vinte e cinco
DICA annos de idade, solteiro, commerciante, residente em Sã Carlos do Pinhal. Em fimeza do que
Eu Manoel Carls Toled Leite Escrivã e Official lavrei este acto que vai PR todos assignads de-
O uso da carta de pois de lido e achado conforme.
cessão é fundamental.
Apresentamos a você
um modelo básico: Fonte: Adaptado de BASSANEZI, Maria Silvia. Os eventos vitais na reconstituição da História. In: In: PINSKY, C. B e
(local e data) Destina- LUCA, T.R. (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p.157-60.
tário,
Eu, (nome, estado Você observou que os dados existentes num registro civil de casamento nos permitem tra-
civil, documento de
balhar com quantificação. Você pode construir tabelas relacionando esses dados e “ler” as infor-
identidade, declaro
para os devidos fins que mações seriadas por você por meio de tabelas, de gráficos, etc., sempre atento à legislação, que
cedo os direitos autorais também vai se adaptando às práticas sociais de convivência.
de minha entrevista gra-
vada em (datas das en- Exemplo 2. Fontes orais: depoimentos
trevistas) para (nome do
Quando falamos em entrevistas, não podemos nos esquecer de que existem na História,
entrevistador) usá-las
integralmente ou em atualmente, pesquisadores que se ocupam em trabalhar com a chamada História Oral, que reúne
partes, sem restrições uma série de definições, procedimentos, tempos e modalidades importantes, a saber:
de prazos ou citações, • Definições: esta categoria trabalha com a memória, a qual pode ser compartilhada ou não
desde a presente data. por grupos sociais. Também o esquecimento, que pode ser voluntário ou involuntário, apre-
Abdicando de direi-
senta-se para o pesquisador com igual importância. O que emerge sempre de uma entrevis-
tos meus e de meus
descendentes quanto ta são versões dos fatos e/ou fenômenos, nunca uma verdade objetiva.
ao objeto dessa carta • Tempos diferentes: tempo da gravação, da confecção do documento escrito e da análise do
de cessão, subscrevo o material coletado.
presente. • Procedimentos - estabelecido o que será pesquisado por meio de um projeto de pesquisa,
Assinatura
você:
Fonte: MEIHY, J.C.S.B.
Manual de História Oral. • definirá o grupo de pessoas a serem entrevistadas (escolha pessoas de diferentes segmen-
2ed. São Paulo: Loyola, tos sociais, idades e sexo, buscando obter variedade de opiniões, visando alcançar maior
1996, p. 80. compreensão da complexidade da sociedade analisada);
• definirá as perguntas a serem realizadas no momento da entrevista, a qual deverá ser grava-
da (pode ocorrer que o depoente não aceite que a entrevista seja gravada, nesse caso, você
deve anotar as respostas);
• fará a transcrição da entrevista obtendo de seu depoente a autorização de uso do depoi-
mento em sua pesquisa (carta de cessão);
• utilizará pseudônimo para o entrevistado, caso o mesmo exija sigilo sobre o seu depoimento;
• providenciará cópia do depoimento cedido a você pelo entrevistado;
• procederá à análise das entrevistas em seu estudo.

Modalidades: história oral de vida, história oral temática e tradição oral (em geral, o seu ob-
jeto de pesquisa exigirá uma dessas modalidades). Vejamos o texto como exemplo dessas moda-
lidades:

BOX 8
Texto produzido a partir da história oral

MIGRAÇÃO: a migração, bem como a imigração, é um dos campos mais vastos que serve
tanto para história oral de vida como para temática e tradição oral.
Em se tratando de história oral de vida, o registro do trajeto do imigrante deve obedecer
também, no possível, ao critério cronológico, devendo considerar a vida pretérita da pessoa e
do grupo antes da saída do lugar de origem, a motivação para a viagem, o trânsito e a chega-
da ao lugar de destino, a adaptação e o desenvolvimento da integração como metas primor-
diais do registro.
No caso de estudos temáticos, deve-se considerar a busca de especificidades que se per-
dem na generalização. Se, por exemplo, como um ano de 1958, na situação do nordeste bra-
sileiro, como um ano de fundamental importância, e se quisermos relacionar essa onda imi-
gratória ao contexto nacional do governo JK, à ação dos padres que propunham a reforma
agrária, às ligas camponesas e a outros fatores que direta ou indiretamente estavam atuando
na época, teremos de fazer uma leitura atenta daquele tempo e proceder a um questionário
apurado, compatibilizando os fatos contextuais com os específicos de cada grupo.

30
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

A questão da migração e da imigração para trabalhos de tradição oral é interessante


porque podem se basear em referenciais míticos que sempre têm fundo heróico. Ulisses, por
exemplo, é permanente fonte de inspiração para a leitura das aventuras dos migrados. Como
se fossem semideuses de um cotidiano desgraçado, as vidas de comunidades podem ser
aproximadas pela equiparação do imitativo mínimo. Assim, por exemplo, como Ulisses dei-
xou sua mulher, Penélope, e saiu pelo mundo, os homens, na situação do nordeste brasileiro,
também muitas vezes vêm sós para o sul. Como essas outras situações podem ocorrer, como
a evocação de quixotes da modernidade industrial. A lenda da “mulher de branco”, presente
em algumas aldeias de Portugal, liga-se à prática da saída dos homens, desde os tempos co-
loniais, tanto para povoar as terras do reino, como mais recentemente, para a pesca, e, nesse
caso, o mito da mulher que ataca, à noite, os homens explicaria uma situação social.

Fonte: MEIHY, J.C.S.B. Manual de História Oral. 2.ed. São Paulo: Loyola, 1996, p. 56-7.

Destacamos para você uma situação voltada para as modalidades de história oral. Vale ana-
lisarmos uma entrevista, mesmo que de modo rápido, para que possamos destacar alguns cuida-
dos necessários com os depoimentos. Vejamos:

Exemplo de Cabeçalho para transcrição de Depoimentos

Dados do Entrevistador e do projeto:


Exemplo de Cabeçalho para transcrição de Depoimentos

Dados do Entrevistador e do projeto:


Nome: ___________________________________________Data: ________
Nome do Projeto: ________________________________________________
Dados do Depoente
1) Nome completo:_______________________________________________
2) Local e data de nascimento:_____________________________________
3) Endereço atual:
Rua ____________________________________nº ____________________
Bairro:___________________ Cidade: ________________Estado_________
Cep: _______________________ Telefone: ________________________.
4) Doc. de identidade: ______________________
5) Profissão atual:____________________________________________
Profissões anteriores:__________________________________________

BOX 9
Exemplo de uma transcrição de Depoimentos

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA


CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC)

Ficha Técnica
Tipo de entrevista: história de vida
Entrevistador(es): Ignez Cordeiro de Farias; Lucia Hippolito Levantamento de dados: Ig-
nez Cordeiro de Farias; Lucia Hippolito pesquisa e elaboração do roteiro: Ignez Cordeiro de
Farias; Lucia Hippolito
Conferência da transcrição: Ignez Cordeiro de Farias Técnico de gravação: Clodomir Oli-
veira Gomes Local: Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Data: 24/11/1983 a 13/02/1984 Duração: 20h 30min
Fitas cassete: 21
Páginas: 351

FRANCISCO TEIXEIRA
(depoimento, 1983/1984)

31
UAB/Unimontes - 4º Período

Entrevista realizada no contexto da pesquisa “Trajetória e desempenho das elites políti-


cas brasileiras”, parte integrante do projeto institucional do Programa de História Oral do CP-
DOC, em vigência desde sua criação em 1975.
Temas: Aeronáutica, Anticomunismo, Clube Militar, Conspirações, Eduardo Gomes, Esco-
la Naval, Forças Armadas, Francisco Teixeira, Golpe de 1964, Golpe de Estado, Governo Getúlio
Vargas (1951-1954), Governos Militares (1964-1985), Henrique Teixeira Lott, Integralismo, Ma-
rinha, Militares, Militares E Estado, Ministério da Aeronáutica, Nacionalismo, Repressão Políti-
ca, Segunda Guerra Mundial (1939- 1945).
L.H. - Brigadeiro, o senhor que é um militar de carreira e que ficou a sua vida profissional
inteira nas forças armadas é ao mesmo tempo uma pessoa que durante toda a sua carreira fez
política nas forças armadas. Como o senhor se vê na condição de militar inserido dentro da
política das forças armadas?
F.T. - Eu não fui propriamente um político, não fui, fui um militar preocupado com proble-
mas políticos. Acho até que me tornei mais político depois de 64, depois que larguei a vida
militar. Agora, como político hoje, ou como militar ontem, ou como militar político, hoje eu
penso que amadureci muito o meu pensamento sobre tudo o que ocorreu durante todo esse
trajeto da minha vida. Não sei se estou começando pelo fim, mas acho que isso é importante.
Eu acho hoje que o que faltou à nossa luta como militares políticos, o que faltou aos par-
tidos políticos, às forças políticas e sociais que atuaram durante esse período que acompanhei
como militar, mais graduado ou menos graduado, foi um projeto realmente democrático. Eu
penso que a nossa vida, no fundo, bem examinada, era muito ligada ao golpe militar. Nós, mi-
litares, éramos muito vítimas do fato de que num Estado como o brasileiro, com uma tradição
autoritária como ele tem, como ele teve, os conflitos sociais, os conflitos naturais existentes
dentro da sociedade civil, dentro do Estado, não eram resolvidos por mecanismos próprios da
sociedade civil e da democracia, eram resolvidos com o apelo às forças armadas para intervi-
rem.
L.H. - Com medidas de emergência, sempre?
F.T. - Sempre de emergência, para intervirem no sentido de uma ou de outra facção em
conflito. Daí essa idéia de golpismo que predominava em todos. Aquilo que parece que o ma-
rechal Castelo Branco chamava de “as vivandeiras que iam para as portas dos quartéis para ...”
Era o que realmente acontecia.
Eu penso que o serviço que nós podemos prestar hoje, com a experiência que tivemos
de uma luta em geral e quase sempre em defesa da legalidade existente, é alertar a sociedade
civil para o problema militar.
L.H. - O senhor acha que o militar, em essência, é mais legalista ou mais democrata?
F.T. - Eu não sou daqueles que admitem, que aceitam ou que proclamam que as forças
armadas são essencialmente democratas. Acho que não. As forças armadas também não são
legalistas. A tendência das forças armadas é defender a legalidade até por uma questão de
inércia, porque foram feitas para aquilo, para defender. A tendência seria essa. Mas num país
como o Brasil, que cresceu muito nos últimos anos, com esses conflitos sociais, mesmo antes
de 64, a tendência ao golpe era muito natural, porque havia um conflito dentro desse desen-
volvimento. Então eu penso que as forças armadas são extremamente sensíveis ao pensamen-
to predominante na sociedade civil, à opinião pública em geral. Porque o militar tem família, a
família tem civis, o militar lê jornais... Por mais que seja um homem enquadrado naquelas nor-
mas rígidas de disciplina e hierarquia, ele tem uma tendência a acompanhar o pensamento
predominante na sociedade civil. Veja, por exemplo, 64; não há com negarmos que o governo
do Jango estava isolado. Quer dizer, a opinião pública, sobretudo a classe média, a burguesia,
as classes dominantes, já tinham sido ganhas para a necessidade de acabar com o governo do
Jango, tanto que eu, por exemplo, que fui preso... vocês se recordam. Não sei se talvez fossem
muito meninas, a Revolução de 64, o golpe de 64 foi comemorado com papel picado em Co-
pacabana, no Centro...

Fonte: Adaptado de TEIXEIRA, Francisco. Francisco Teixeira (depoimento, 1983/1984). Rio de Janeiro, CPDOC, 1992.
351 p. dat. Disponível em <http://www.fgv.br/cpdoc/historiaoral/arq/Entrevista102.pdf>. Acesso em 27 abril 2010.

Você deve ter cuidados com essa fonte, pois todos os testemunhos, intencionalmente ou
não trazem a sua visão, sua interpretação dos fenômenos que vivenciou. Sendo assim, os de-
poimentos que você tiver em mãos são sempre interpretações que os sujeitos demonstram ter
sobre uma época em que viveram. Em nosso exemplo, que trata do período militar, precisamos

32
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

saber que outros testemunhos devem ser arrolados, pois senão teremos uma visão unilateral do
fenômeno, objeto de estudo numa dada pesquisa.
Procure sempre cruzar informações de diferentes fontes, construa uma rede de interpreta-
ção com informações cruzadas, enriquecidas pela sua capacidade de observação e percepção,
construindo a História a partir de questões de seu tempo.

Exemplo 3: Fonte Imagética: fotografia, pintura, desenho, etc

◄ Figura 14: Ladeira do


Ouvidor, 1860. São
Paulo. Autor/Fotógrafo:
Militão Augusto de
Azevedo
Fonte: Disponível em
<http://www.itaucultural.
org.br/AplicExternas/
enciclope
dia_IC/index.
cfm?fuseaction=a
rtistas_biografia&cd_
verbete=2804&cd_
item=2&cd_idio-
ma=28555>. Acesso em 27
abril 2010.

A fotografia de Militão de Azevedo (1837-1905) retrata a cidade de São Paulo em meados


do século XIX. Diversos historiadores vêm utilizando a obra de Azevedo para entender o modo
como os sujeitos sociais compreenderam e construíram a referida cidade. Para tanto, foram feitas DICA
análises da fotografia, tomando-a como fonte para a História. Visite o site Enciclopé-
Assim, a fotografia, como documento iconográfico, “responde” às indagações do pesquisa- dia Iau Cultural – Artes
dor, cuja leitura é carregada de subjetivismo, quanto ao seu conteúdo e nos remete a um dado Visuais segundo o link:
passado, permitindo a reconstrução/interpretação de vivências passadas. É preciso compreender Disponível em <http://
www.itaucultural.org.
que o conteúdo da imagem não é a realidade em si, é sempre representação de um momento
br/AplicExternas/en-
vivido e registrado pelo fotógrafo. Logo, essa imagem do passado é uma construção cultural feita ciclopedia_IC/index.
pelo olhar de um indivíduo, que funciona como uma espécie de filtro cultural e é carregada de cfm?fuseaction=ar-
intencionalidade. tistas_bras&cd_ver-
Quando você analisar uma fotografia, é necessário ter clareza de que essa fonte é perigosa bete=2804&cd_idio-
ma=28555>. Acesso em
e foi produzida com intencionalidade. Também, foi feita num dado momento histórico, e o fotó-
27 abril 2010.
grafo sofreu influências de sua época. Cabe a você, pesquisador, indagar: que contexto histórico Navegue pela exposição
foi esse? Quais as intencionalidades na produção das fotografias desse fotógrafo? Que imagem de fotografias de São
de cidade ele desejava demonstrar? A quem ou a qual segmento social essa imagem se dirigia? Paulo no século XIX.
Os interesses eram comerciais ou particulares? Enfim, as indagações são diversas e cada pesqui-
sador deve utilizar a sua criatividade e indagar cada vez mais as fontes para construir a história a
que se propõe pesquisar.
Todo documento deve ser questionado quanto à linguagem que veicula:
• quem produz uma linguagem?
• para quem produz?
• como a produz? e
• quem a domina?
Isso expressa uma questão fundamental para a história: as pessoas são sujeitos do proces-
so histórico. Sendo assim, a linguagem é parte constituinte da realidade social. Vejamos alguns
exemplos: cinema, música, charge, literatura, foto, pintura e outros estão carregados de propos-
tas, questionamentos, tensões, acomodações; os agentes, através das linguagens que lhe são
próprias, criticam, endossam, propõem, enfim, se rebelam e se submetem (VIEIRA, 1998, p.21).
Em qualquer documento que você utilizar em sua pesquisa deve estar sempre atento ao
modo como a linguagem foi produzida. Procure responder por que as coisas estão representa-
das de uma determinada maneira, antes de se perguntar sobre o que está representando.
Sendo assim, você dialogará constantemente com as evidências presentes no suporte ima-
gético, escrito ou oral. Os diferentes sujeitos sociais possuem diferentes formas de pensar o real e
nele intervir. Pensando e agindo assim, você entenderá que a história é campo de possibilidades
e de contradição.

33
UAB/Unimontes - 4º Período

Nossa próxima etapa é compreender os passos da pesquisa. Tal situação é melhor apreendi-
da através da construção do projeto de pesquisa. É isso que faremos na unidade seguinte.

Referências
ALMEIDA, A. M., Papel do trabalho experimental na Educação em Ciências, Revista Comuni-
car Ciência, Lisboa, Ano I, nº1, pag. 4-5, Outubro/ Dezembro, 1998. Disponível em <http://www.
esb.ucp.pt/twt4/motor/display_texto.asp?pagina=TrabalhoExperimental313788688&bd=pepi-
no>. Acesso em 27 jan. 2010.

APPOLINÁRIO, F. Dicionário de metodologia científica: um guia para a produção do conheci-


mento científico. São Paulo, Atlas, 2006.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

CHARTIER, R. A visão do historiador modernista. In: FERREIRA, M. e AMADO, J. (orgs.) Usos &
Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. Petrópolis: Vozes, 2006.


144p.

FERNANDES, A.C. O Turíbulo e a Chaminé. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, Julho/2005. Disserta-


ção de Mestrado.

GALLIANO, A. G. Método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, c1986. 200 p.

GINZBURG, C. O queijo e os vermes. São Paulo: Cia das Letras, 2008, 309p.

GODOY, Marcelo Magalhães. No país das minas de ouro a paisagem vertia engenhos de cana
e casas de negócio – Um estudo das atividades agroaçucareiras tradicionais mineiras, entre o
Setecentos e o Novecentos, e do complexo mercantil da província de Minas Gerais. São Paulo:
FFLCH/USP, 2004. Tese de doutorado.

GOODWIN Jr., James William. As Cidades de Papel: Imprensa, Progresso e Tradição. Diamantina
e Juiz de Fora, MG (1884-1914). Dissertação de Doutorado em História Social. Orientadora: Profa.
Dra. Inez Garbuio Peralta. Programa de Pós-Graduação em História Social. São Paulo, FFLCH/USP,
2007. (mimeo)

MARTINS, A.L. Uma Construção Permanente. In: PINSKY, C. B e LUCA,T.R. (orgs). O historiador e
suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p. 279- 308.

BASSANEZI, Maria Sílvia. Os eventos vitais na reconstituição da História. In: In: PINSKY, C. B e
LUCA, T.R. (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p.141-172.

MEIHY, J.C.S.B. Manual de História Oral. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1996.

PESAVENTO, S. J. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

REIS, J.C. A Escola dos Annales: a inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000, 200p.

SANTOS, Dayse Lúcide. O padrão idealizado de família e de mulher em Diamantina e região.


UNIMONTES Científica, v. 5, p. 57-25, 2003.

SANTOS, Dayse Lúcide. Entre a Norma e o Desejo. Dissertação de Mestrado em História So-
cial da Cultura. Orientadora: Profª Drª Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, Ou-
tubro/2003, p.162-4.

TEIXEIRA, Francisco. Francisco Teixeira (depoimento, 1983/1984). Rio de Janeiro, CPDOC, 1992.
351p. Disponível em <http://www.fgv.br/cpdoc/historiaoral/arq/Entrevista102.pdf>. Acesso em
27 abril 2010.

34
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

VALENTIM, M. L. P. (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em Ciência da Informação. São


Paulo: Polis, 2008. 176p. (Coleção Palavra-Chave, 16).

VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo e outros. A pesquisa em História. 4. ed. São Paulo: Ática, 1998.

35
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Unidade 2
Construção do Projeto de
Pesquisa

2.1 Introdução
Nosso desafio agora é maior. É chegado o momento de construirmos o nosso projeto de
pesquisa. Com este objetivo, subdividimos esta unidade em sete pontos, a nosso ver fundamen-
tais, que articulam os principais itens constituintes de um projeto.
Bom estudo!

◄ Figura 15: Páginas do


projeto de pesquisa
Fonte: Disponível em
<http://www.sni.org.br/
educadores/image002.
gif>. Acesso em 27 jan.
2010.

DICA
Procure conhecer sobre
a Pesquisa Social e
sua utilização como a
pesquisa-ação e pesqui-
sa-participantes como
técnica de pesquisa.
Estas técnicas caracte-
rizam-se pelo envolvi-
mento dos pesquisa-
dores e pesquisados no
processo de pesquisa.
Exemplo: Aulas de
música e dança como

2.2 Apontamentos Gerais estratégia para melhorar


a autoestima de um
grupo de pessoas em
situação de risco.
[...] Tendo achado um caminho que, na minha opinião, quem o seguir deverá
infalivelmente encontrar a ciência [...] julgava que [deveria] comunicar fielmente
ao público todo o pouco que eu descobrira e convidar os bons espíritos a que
procurassem ir além, contribuindo cada qual segundo sua inclinação e seu po-
der para as experiências que seria necessário fazer (DESCARTES, apud SALOMON,
2001).

Após termos feito as considerações sobre as fontes, os tipos de pesquisa e o seu papel como
pesquisador, vamos projetar a sua pesquisa. Sendo assim, o que tanto ouvimos durante o curso
faremos nesse instante: o projeto de pesquisa.
Vale destacar que o seu trabalho será original. Original? Mas isso não seria uma tese? Escla-
receremos, calma!
37
UAB/Unimontes - 4º Período

Originalidade, etimologicamente, significa “volta às fontes” (SALOMON, 2001, p.255). Nesse


sentido, não se exige total novidade num trabalho, mas um bom processo de reflexão sobre um
dado assunto. Sem a reflexão, o seu trabalho de pesquisa será um simples relatório de procedi-
mento de pesquisa ou mesmo compilação de obras alheias. Não será isso que faremos, certo?
Passemos, então, ao projeto de pesquisa.
O projeto nada mais é que o planejamento de sua pesquisa. Agora é chegada a hora de de-
finir caminhos para abordar a realidade, utilizando a lente da história para leitura deste mundo.
Você deve oferecer algumas respostas às perguntas, tais como: o que vou pesquisar? Por que vou
pesquisar? Para que pesquisar? E como farei a pesquisa? Quando a farei?

Figura 16: Fluxo do ►


projeto de pesquisa
Fonte: Disponível em
<http://www.propesq.
ufrn.br/img/ciclo_proje-
to_pesqui-sa.jpg>. Acesso
em 27 jan. 2010.

Sistematizando...
• “o que” vou pesquisar = objeto da pesquisa
• “por que” vou pesquisar = justificativa da pesquisa
• “para que” pesquisar = objetivos da pesquisa
• “como” pesquisar = metodologia da pesquisa
• “quando” pesquisar = cronograma da pesquisa

Pense sobre esses pontos. Tenha sempre em mãos o seu caderno de anotação, para que
você possa registrar as mais diversas ideias que forem surgindo ao longo dessa aula. O projeto
que você construirá não é uma “camisa de força”, todavia, você deve construí-lo com acuidade
para que ele seja o seu guia de planejamento o mais próximo possível do que você executará.
Vejamos agora os passos da pesquisa. Definiremos os pontos essenciais do projeto e, ao fi-
nal, forneceremos a você informações sobre as partes constituintes de um projeto de pesquisa.

38
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

2.3 Delimitação do Tema


Delimitar o seu tema de pesquisa é o mesmo que selecionar, com precisão, o seu campo de
investigação. Sendo assim, você procederá a uma escolha da área de conhecimento, selecionan-
do uma fração da realidade a ser pesquisada. É fundamental que o tema escolhido por você seja
de grande interesse de sua parte e sobre o qual você já tenha realizado algumas leituras. Mesmo
não sendo esta uma situação obrigatória, pense na escolha de seu tema como algo que você
possa vir a dar continuidade em seus estudos.

◄ Figura 17: Leitura,


instrumento para
delimitar o tema
Fonte: Disponível em
<http://api.ning.com/
files/BJz7BvuQ5yt-
TUkOkY1TvMWCM1DT-
bRBBB2Poz5CC8AG0_/
li8vro2.jpg>. Acesso em 27
jan. 2010.

ATIVIDADE
Poste no Fórum da dis-
ciplina: Delimitação de,
pelo menos, um tema
de pesquisa, relacio-
Você deve se perguntar: o que é um tema de pesquisa? nando a esse tema, o
Vamos pensar por meio de exemplos? problema e a hipótese.
Área: História Cultural Comente a delimitação
de tema feita pelos
Tema: Prostituição ou Migrações rural-urbanas; Trabalho e Greves; Festas Populares, etc. seus colegas, apresente
Feito isso, é fundamental delimitar a abrangência de seu tema. Ou seja, delimitá-lo de modo sugestões.
claro. Lembre-se de que, se você escolher um tema muito amplo, pode perder em profundidade. A intenção dessa
atividade é socializar/
Exemplo: circular, na turma,
diversas ideias. Quem
A condição de dos no interior de Minas nos anos 1980 sabe você não escolherá
trabalho e as trabalhadores Gerais alguma delas para o seu
trabalho?
ações grevistas têxteis
Objeto Sujeitos Dimensão do espacial, Dimensão do tempo, período
lócus da pesquisa de abrangência da pesquisa.

Você estudou a delimitação do tema na disciplina Metodologia Científica, lembra-se? Con-


sulte o seu material na Unidade 2 (tópico 2.1.1 Escolha do tema) e reveja como fazer tal escolha.
Você irá se deparar com dificuldades reais, as quais podem procurar minimizar desde já, e
o começo é a escolha do tema e sua delimitação. Você terá que especificar e demonstrar prefe-
rências. Especificar é focalizar, é abranger num relance determinado objeto ou lugar. Preferência
é atitude que envolve processos psicossociais, julgamento e poder de decisão, relacionando-se
com a subjetividade-objetividade do historiador (SALOMON, 2001, p. 272).
É comum ouvirmos de nossos professores que devemos escolher um tema que nos instigue,
que seja resistente aos reveses da pesquisa e da vida, enfim, que nos seduza, pois assim teremos
chances redobradas de nos dedicar à exigência da pesquisa. Sendo assim, esteja atento(a) às se-
guintes questões, ao escolher o seu tema:
39
UAB/Unimontes - 4º Período

• observe sempre os fenômenos e os fatos;


• reflita constantemente, pense sempre no possível tema;
• jamais desconsidere sua experiência pessoal;
• as descobertas também se dão no “estalo”, certamente após longa reflexão;
• reflita sobre as exigências do tema a ser escolhido: tempo, fontes e leituras;
• escolhido o tema, coloque mãos à obra rapidamente.

Vale ainda destacar, segundo Minayo (1999), que você precisa responder a si mesmo como
pesquisador, as seguintes questões:
• Ainda que seja “interessante”, o tema escolhido é adequado para mim?
• Tenho hoje possibilidades reais para executar tal estudo?
• Existem e/ou exigem-se recursos financeiros para o estudo?
• Há tempo suficiente para investigar tal questão?
Delimitado o tema, ou seja, sabendo sobre o que você vai estudar, agora temos que demar-
car qual é o nosso problema de pesquisa. Certamente você já vem pensando nisso. Afinal, qual é
o problema (ou a pergunta) que você quer responder em seu estudo? Lembre-se de que a ciên-
cia progride porque os homens e mulheres sempre lançam questionamentos sobre o mundo
que o cerca, buscando novos problemas e abordagens para interpretações da História.
Sendo assim, você pode elaborar seus problemas de pesquisa com base em questionamen-
tos, ou melhor, indagações em torno de um tema, de um fato (questão social). A isso chamamos
de problematização ou problema da pesquisa. Você pode lançar mão de interrogativos, tais
como: o quê? por quê? para quê? onde? quando? como? quais razões?
Segundo Salomon (2001, p. 284-5), podemos nos guiar pela seguinte orientação:

Quadro 2 - Formulação dos Problemas


Formular o problema espontaneamente em forma de dúvida e de maneira clara;
Tentar estabelecer um confronto e uma relação tendo em vista o contexto (embrião do
marco teórico de referência);
Transformar a formulação já obtida em perguntas claras;
Para cada pergunta, tentar um esboço de respostas, as quais serão suas formulações hi-
potéticas;
Tenha claro em mente que perguntas e respostas exigem conceitos, categorias, constru-
tos abstratos.

Fonte: Adaptado de SALOMON, (2001, p.284-5)

Concluindo: Os problemas são sentenças interrogativas e as hipóteses sentenças afirmati-


vas. A diferença entre os dois é que as hipóteses tendem a ser mais específicas que os problemas
para facilitar a verificação empírica.
Ressaltamos que, além do Problema de Pesquisa (as perguntas), você deve relacionar as
suas Hipóteses de Pesquisa. O que é isso? Podemos dizer que as hipóteses são tentativas iniciais
de resposta às perguntas elaboradas no seu projeto de pesquisa. Certamente você, ao levantar
as perguntas, também arriscará hipóteses, ou seja, tentativas de respostas às indagações. Mas
saiba que essas respostas são oferecidas em um projeto de pesquisa à luz de maior conhecimen-
to sobre o tema. Por isso, para construir as hipóteses de seu projeto, você deve conhecer cada
vez mais sobre o tema. Observe o esquema geral do que dissemos.

40
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Os objetivos de um projeto de pesquisa são também fundamentais. Em geral, eles são divi-
didos em Objetivos Gerais e Específicos.
O objetivo geral corresponde à meta ampla que você almeja alcançar ao término da investi-
gação. Os específicos são objetivos complementares necessários para alcançar o objetivo maior,
ou seja, o geral.
Objetivos são sempre expostos no projeto de pesquisa por meio de verbos, como no exemplo:
• analisar...
• discutir...
• refletir ...
• identificar...
• compreender...

BOX 10
OBJETIVO GERAL

No presente projeto de doutorado interessa-me estudar a sociedade diamantinense/MG


no período de 1902 a 1955, buscando, de um lado, compreender a maneira pela qual esta so-
ciedade de fortes raízes coloniais, marcada pela tradição e por uma formação histórica escra-
vista, conviveu com os ideais de modernização, utilizando como principal corpus documen-
tal a fotografia de Chichico Alkmim, o fotógrafo e seu olhar sobre a cidade. Ou seja, buscar
apreender como esta “aparente” contradição foi explicitada pelo clic do fotógrafo, e as possí-
veis apropriações e usos políticos desse olhar pela cidade, pelas instituições, pelas autorida-
des e pela população. Que indagações/problemas estão presentes e ausentes nas mesmas?
Investigar o processo pelo qual os habitantes da cidade de Diamantina idealizaram, vive-
ram, sentiram, representaram e deram a conhecer um lugar urbano capaz de expressar a coe-
xistência da tradição e das mudanças de seu tempo, também constitui objetivo do projeto. O
encantamento com a modernidade vivenciada na primeira metade do século XX permite-nos
refletir (sobre) e compreender os processos históricos vivenciados por esse lugar, tais como a
invenção de Diamantina como Patrimônio Nacional em 1938 e os rumos da cidade até 1955.

41
UAB/Unimontes - 4º Período

Buscando aprofundar no tema cidade e fotografia, elenco os objetivos específicos des-


sa pesquisa. Vejamos:
• Pesquisar a respeito do processo de profissionalização do fotógrafo Chichico Alkmim no
interior de Minas Gerais e suas conexões com centros urbanos, notadamente Belo Hori-
zonte, no contexto da difusão da fotografia no início do século XX;
• Refletir sobre os usos e funções que as imagens fotográficas tiveram na região interiora-
na do Estado mineiro, procurando perceber o olhar do fotógrafo sobre a cidade e a sua
época.
• Analisar a conformação urbana da cidade de Diamantina concebida por seus habitantes
e as relações estabelecidas com as modificações do tempo vivido por esta sociedade nas
cinco primeiras décadas do século XX;
• Compreender o processo que tornou a cidade Patrimônio Histórico Nacional em 1938 e
quais seus significados, através dos mais diversos documentos, notadamente as fotogra-
fias, no delineamento urbano e nos usos sociais que a população teve de tal lugar.
• Analisar qualitativa e quantitativamente o acervo de fotografias Chichico Alkmim, quan-
to as suas potencialidades de análise documental, relacionando-as com outras imagens
hoje disponíveis na Câmara Municipal de Diamantina e no IPHAN;
• Estudar o processo pelo qual a cidade vivenciou a tradição e a mudança, fartamente indi-
cadas nas imagens fotográficas e nas fontes arroladas neste projeto.

Fonte: SANTOS, Dayse Lúcide. Múltiplos Olhares. Projeto de Doutorado de Dayse Lúcide Silva Santos, 2009. (mimeo).

2.4 Especificação do Quadro


Teórico-Conceitual
A definição da base teórica e conceitual é condição de sustentação do seu projeto de pes-
quisa. É imprescindível a definição clara dos pressupostos teóricos, das categorias e conceitos a
serem utilizados, estabelecendo um diálogo entre a teoria e o problema a ser investigado. Mas o
que isso significa e como proceder?
Você já estudou em outros momentos do curso diversas definições, tais como: escravismo,
exploração, ideologia, representação, estranhamento, cultura, circularidade cultural... enfim, es-
tudou diversas categorias de análise e conceitos. Agora, você irá aplicar esses conhecimentos em
favor de seu problema de pesquisa.
Para tanto, é necessário você atentar para uma boa revisão de literatura. Podemos destacar
dois pontos fundamentais nesse processo de escrita de seu projeto de pesquisa.
O primeiro ponto é chamar sua atenção para as contribuições de uma boa revisão de lite-
ratura: você terá condições de aprofundar os seus conhecimentos sobre o tema escolhido; você
conhecerá melhor o que outros historiadores já produziram sobre o tema que você escolheu e
aprenderá com o que eles fizeram, ou seja, as questões que levantaram e o modo como respon-
deram às suas indagações. Ao fim, você situará o problema levantado à luz da produção histórica
sobre o tema de pesquisa ao qual você irá se dedicar.
O segundo ponto que destacamos para você é a necessidade de especificar um quadro teó-
rico-conceitual. Ou seja, quais autores/pesquisadores sustentam (ou mesmo guiam) o seu traba-
lho de pesquisa? O que eles dizem em relação ao tema que você escolheu? Com quais teorias
e conceitos essas pessoas trabalham e quais se aplicam a seus estudos e que influenciam a sua
pesquisa? Esse ponto é crucial. Optamos por relacionar um exemplo para clarificar o que deseja-
mos que você construa. Veja.
Suponhamos que você se ocupará do tema escravismo no Brasil. Seu marco temporal será
de 1850 a 1889, no atual sudeste brasileiro. Como você poderá se preparar para a escrita de tal
parte do projeto de pesquisa?
1º: Você deverá realizar um levantamento de textos (artigos, livros, etc.) sobre o tema esco-
lhido e proceder à leitura atenta e criteriosa dos mesmos. Como você já sabe o tipo de fonte que
utilizará, deve ler também trabalhos historiográficos que tenham utilizado as mesmas fontes ou
semelhantes para possibilitar a construção da História (interpretações).

42
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

2º: Ao fichar ou resumir os textos, esteja atento(a) ao modo como os diferentes historiadores
dialogam com outros historiadores. Será algo assim que você fará. Ou seja, você dialogará no seu
projeto com a literatura histórica sobre o seu tema de pesquisa. Falará das escolhas, conceitos e
pressupostos escolhidos pelos historiadores em diferentes trabalhos. Todavia, não se esqueça de GLOSSÁRIO
que o texto não deve ser solto, deve ser articulado com a sua proposta de pesquisa. Relato de Experiên-
3º: Ainda, procure selecionar informações como: quais conceitos o autor aplicou? O que cia: Estudo que revela
cada autor lido por você propõe como hipótese? Qual o espaço e o tempo estudado pelos dife- as ações do indivíduo
rentes historiadores que você leu? Por exemplo, um dado autor pode ter utilizado o conceito de como agente humano
e como participante da
circularidade cultural e representação (obs.: reveja os seu material da disciplina Teoria da História vida social. O informan-
Cultural e Social; Unidade 2) ao fazer as análises das telas do pintor e desenhista francês Jean te conta sua história,
-Batiste Debret (1768-1848) que, no século XIX, realizou diversas pinturas sobre o Brasil Imperial. e o pesquisador pode
Esteja atento para perceber o modo como analisaram as imagens para tecerem as suas interpre- desvendar os aspectos
tações. subjetivos da cultura e
da organização social,
Concluindo, para especificar o quadro teórico-conceitual, você deverá das instituições e dos
• ler diversos textos sobre a temática a ser desenvolvida; movimentos sociais.
• perceber os conceitos utilizados pelos diferentes historiadores e avaliar a aplicabilidade em Levantamento de ne-
seu estudo; cessidades: O pesqui-
• escrever o quadro teórico-conceitual, dialogando com a literatura histórica sobre a temática; sador coleta dados para
avaliar as necessidades
• Por tudo discutido até o momento, faz-se necessário entender outro item fundamental de de grupos, comunida-
seu projeto de pesquisa: os procedimentos metodológicos e fontes de investigação. Veja- des ou Organizações.
mos. Pesquisa quanti-quali-
tativa: Método que as-
socia análise estatística
à investigação dos sig-

2.5 Procedimentos nificados das relações


humanas, privilegiando
a melhor compreensão

Metodológicos e Fontes de
do tema a ser estuda-
do, facilitando assim a
interpretação dos dados

Investigação
obtidos.
Pesquisas Explora-
tórias: Trata-se de
pesquisas que geral-
mente proporcionam
O que denominamos comumente como procedimento metodológico num trabalho de pes- maior familiaridade
quisa é o mesmo que responder às indagações: como? com quê? com o problema, ou
A metodologia da sua pesquisa é um planejamento detalhado e sequencial de métodos e seja, tem o intuito de
torná-lo mais explícito.
técnicas científicas, as quais serão executadas ao longo do seu estudo de pesquisa. A consequên- Seu principal objetivo
cia de uma metodologia bem feita é condição para atingir os objetivos previstos com eficácia e é o aprimoramento de
confiabilidade nas informações e interpretações do pesquisador. ideias ou a descoberta
As fontes de investigação devem ser bem definidas. Você deve descrever as suas fontes, de intuições. Na maioria
informar onde elas estão localizadas e, substancialmente, explicitar a contribuição das mesmas dos casos, são pesquisas
que envolvem: levan-
para o projeto em questão. tamento bibliográfico,
Vamos organizar o “como desenvolver” nosso estudo por meio da análise de um exemplo. entrevista com pessoas
Vejamos então a metodologia do projeto “Múltiplos olhares: Fotografia e sociedade em Diaman- que tiveram experiên-
tina de 1902 a 1955”, de autoria de Dayse Lúcide. cias práticas com o
problema pesquisado
e análise de exemplos
BOX 11 que “estimulem a com-
Procedimentos Metodológicos e Fontes de Investigação preensão”.

a) Procedimentos Metodológicos
A metodologia a ser adotada neste trabalho será a da descrição indiciária, baseada em
Carlo Ginzburg, em que se observa que o historiador deve atentar para os pequenos indícios
a serem perseguidos, como as pegadas de um caçador, ou os sinais que despertam a imagi-
nação de um detetive, de modo a decifrar o enigma que é proposto por uma obra, utilizando
muito o “faro, o golpe de vista, a intuição”.(1)

43
UAB/Unimontes - 4º Período

O historiador é comparado a um detetive, vai sempre em busca de “pegadas”, de “vestí-


gios”. As evidências são vistas como significação, porém o historiador que adere a essa me-
todologia não entende a sociedade como transparente, e isso indica a necessidade de inter-
pretá-la. Assim, é ir além daquilo que é mostrado, do que é dito, aprofundando e lapidando o
olhar para os detalhes, para os elementos que, sob um olhar menos arguto e perspicaz, pas-
sariam despercebidos. Devem-se recolher os “cacos” do passado e dar sentido a eles, construir
uma rede para combinar, compor, cruzar, revelar o detalhe, dar relevância ao secundário e, as-
sim, atingir os sentidos partilhados pelos sujeitos de um outro tempo.
A metodologia que guiará o presente estudo, no que se refere ao estudo das fotografias,
será inspirada no trabalho proposto por Ana Maria Mauad de Souza Andrade. Sendo assim,
dois níveis podem ser identificados, a saber: a) nível interno à superfície do texto visual, ori-
ginado a partir das estruturas espaciais que constituem tal texto, de caráter não verbal; b) ní-
vel externo à superfície do texto visual, originado a partir de aproximações e inferências com
outros textos da mesma época, inclusive de natureza verbal; neste nível, podem-se descobrir
temas conhecidos e inferir informações implícitas. (2)
Será necessário proceder a uma seleção das imagens a serem trabalhadas entre os fun-
dos temáticos apresentados no Acervo Fotográfico. O tratamento direcionado às fontes ico-
nográficas será semelhante ao realizado por Eudes Campos(3), em que se observa o confron-
to/diálogo de diferentes documentos escritos com as imagens fotográficas.

b) Fontes de investigação
O processo de levantamento e de análise documental dos acervos necessários à execu-
ção deste projeto exigirá o estudo das fontes abaixo relacionadas, construindo um diálogo
entre mesmas. Vejamos.
O Acervo Fotográfico Chichico Alkmim é a principal fonte desse projeto de tese. Para
tanto, a pesquisa se baseará nos 5349 negativos em vidro da cidade de Diamantina. O Acervo
Fotográfico Chichico Alkmim foi doado por sua família à Faculdade de Filosofia e Letras – Fafi-
dia/Fevale em 1998/99 por ocasião da construção do Centro de Memória da FAFIDIA, em Dia-
mantina. O acervo de imagens do fotógrafo Chichico Alkmim é datado de, aproximadamente
1902 a 1955, sendo composto por imagens em negativos de vidros. Essas imagens retratam
diversos momentos da vida social na cidade e até mesmo na região no entorno de Diaman-
tina, sendo divididas – atualmente – nos seguintes fundos: montagem, arquitetura, grupo de
pessoas, mulher, paisagem, festa, criança, etc.
Os Jornais produzidos na cidade também serão analisados. Nesse caso, serão consulta-
dos os jornais do período de 1902 a 1955,buscando informações ligadas aos fotógrafos, à fo-
tografia, à cidade e à sociedade diamantinense nessa época. Utilizarei os jornais: “Pão de San-
to Antônio”, “A Estrela Polar”, “O Município”, “O Piruruca”, “Voz de Diamantina”, “A Idéia Nova”, “O
Norte”, “Diamantina”, “Voz do Norte” e “O Jequitinhonha”. Tais jornais fazem parte do acervo do
Arquivo da Biblioteca Antônio Torres/IPHAN, do Centro de Memória Cultural do Vale do Jequi-
tinhonha (atual sala dos acervos da Coordenação de Pesquisa da Fafidia) e o Museu do Pão de
Santo Antônio.
Vale ressaltar que, como as fotografias, o jornal também não é um espelho da realidade.
Segundo James William Goodwin Jr, o jornal “é um produto histórico, construído diretamente
pelas mãos e interesses de várias pessoas, como também pelas representações de poder, nem
sempre explicitadas, mas sempre atuantes, tencionando o tecido social”. Qualquer estudo
deve levar em consideração o caráter declarado da sua intencionalidade. (4)
Trata-se de uma vasta documentação, ainda muito pouco explorada pelos historiadores,
o que aumenta a responsabilidade do pesquisador. Resta colocar as mãos na “massa” e pro-
cessar a documentação, tarefa que será facilitada, pois boa parte dos jornais já está catalo-
gada por mim ou faz parte do material de pesquisa do Centro de Memória Cultural do Vale
do Jequitinhonha, da FAFIDIA/UEMG, especialmente de um projeto de Indexação dos jornais
diamantinenses do século XIX, financiado pela FAPEMIG e sob a coordenação do Prof. James
William Goodwin Jr., isso facilitará bastante a leitura dos jornais focada na busca de dados re-
levantes para o objeto dessa pesquisa.

Fonte: Texto adaptado do Projeto de Doutorado de Dayse Lúcide Silva Santos.

No exemplo, você pode observar que foram seguidos os seguintes passos na estruturação
do texto:

44
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

a. Metodologia adotada: autores que sustentam a metodologia escolhida como a mais ade-
quada ao estudo;
b. Postura do pesquisador. Observe como foi dito, o modo como o historiador irá agir quando
DICA
for realizar a pesquisa;
c. Como o pesquisador irá agir ao trabalhar com as fontes; Faça uma reflexão da
citação abaixo.
d. Descrição das fontes;
Fazer pesquisa é, de
e. Cuidados com as fontes a serem utilizadas. alguma forma, tecer
uma malha: sempre há a
Como você observou, o texto é simples. O que vai definir a construção da metodologia de possibilidade de tramar
seu trabalho e sua consequente aplicação com sucesso será a clareza que você deve ter sobre a novos fios com outras
cores e espessuras e,
pesquisa que fará. Outras orientações ainda são válidas para você ir pensando no modo como
assim, entrelaçar novos
poderá construir a metodologia do seu projeto. Tenha em mente o seguinte: pontos aos já urdidos.
1º: defina qual é o tipo de pesquisa que o seu trabalho exigirá. Todavia, ainda continua-
(Pesquisa qualitativa? Pesquisa quantitativa? Ambas? Será documental?) mos o trabalho de tecer
2º: defina os procedimentos técnicos de que você lançará mão em seu estudo. (Pesqui- a malha e, devagar,
ponto a ponto, vamos
sa bibliográfica? Levantamentos de textos e sua leitura? Fará estudo de campo? Fará estudo de
dando forma à urdi-
caso? Quais motivos você escolheu: pesquisa de campo ou de caso? Por que uma dada popula- dura. Isso porque, na
ção? caminhada investigati-
3º: defina o método pelo qual você irá caminhar, seguir. Qual será o seu método de va, descobrimos outros
abordagem e de procedimentos? (Método de abordagem: método de montagem? Método in- modos de operar com
os dados empíricos,
diciário? Método da História Oral? Micro-história? Método de procedimento: comparativo? Esta-
trabalhando-os tanto
tístico?). em relação ao objeto
4º: delimite o universo de sua pesquisa e explique o conjunto de fenômenos que você quanto à problemática
irá analisar. indagada. Construímos
5º: defina quando, como e onde você fará a coleta dos dados e quais os instrumentos um jeito próprio de ela-
borá-los, já que, seguin-
que utilizará. (Leitura de livros, revistas, jornais, sites; questionários, entrevistas, observação).
do o pensamento de
Pierre Bourdieu (1989,
Ficou fácil, não é mesmo? p.27), no que tange ao
Falta apenas lembrar a você que as fontes utilizadas pelo historiador são fundamentais. A fazer pesquisa, esta não
sua interpretação dos fatos será baseada nelas, sem, obviamente, repetir, em seu texto final, as é uma atividade que
“se produza de uma
informações já contidas nessas fontes, porém apresentando uma visão nova, contextualizada,
assentada”, mas que se
como todo pesquisador competente faz. Volte à Unidade 1 (fontes orais, documentais e imagéti- “realiza pouco a pouco,
cas) e reveja as fontes utilizadas pelo historiador. por retoques sucessivos
Após isso, concentre-se no tema e objeto de estudo definido em sua pesquisa. De quais fon- (DALPIAZ, 2006, p.1).
tes você lançará mão para realizar a sua pesquisa?
Construa um texto explicando as fontes que utilizará, onde elas se encontram, quais as
suas características e seu potencial de análise/contribuição para o tema que você desenvolve-
rá em sua pesquisa. Como no exemplo, você observou que foram utilizadas fotografias e jornais
para compreender a sociedade de Diamantina, na primeira metade do século XX.
Agora, faz-se necessário estabelecer quando você fará cada ação definida ao longo do pro-
jeto. Vamos ver, então, como estruturar o cronograma do nosso projeto de pesquisa?

2.6 Construindo seu Cronograma


de Atividades
O cronograma do projeto de pesquisa é apresentado no formato de quadro onde você es-
pecificará o tempo de cada ação exposta no projeto. Ou melhor, podemos dizer que você vai de-
marcar temporalmente a execução das principais ações da pesquisa do seu Trabalho de Conclu-
são de Curso (TCC).

45
UAB/Unimontes - 4º Período

Quadro 3: Cronograma do projeto de pesquisa


Demarcação temporal
Ações/plano
(pode ser por semestre/ ano)
Fase de levantamento de dados primários
Fase de leitura, fichamento e anotações de
livros, artigo, etc.
DICA
Conceito de narrador:
Delimitação do sumário provisório da
atribui-se o significa- monografia
do dado por Walter
Benjamin, no sentido de
Redação do capítulo 1
um sujeito que ocupa Redação do capítulo 2
esta posição no evento
da entrevista porque é Redação do capítulo 3
capaz de recompor o
tempo da experiência Introdução
(tempo vivido) pelo
fluxo narrativo do tem- Conclusão
po pensado (tempo da
memória) Revisão Metodológica
(DALPIAZ, 2006, p.6).
Revisão Ortográfica
Preparação para
Apresentação
Defesa (se houver)
Fonte: Própria do autor.

Obs: Sugerimos três capítulos para, posteriormente, você desenvolver a sua monografia. Isto
é uma sugestão. Sendo assim, caso você precisar de mais capítulos, acrescente-os.
Vale fazer algumas observações aos itens acima destacados. Sugerimos que você proceda a
constantes revisões das normas da ABNT, para evitar refacções. Assim, todas as vezes que utilizar
um livro, ou que fizer citações, anote todas as informações nos devidos lugares do texto, certo?
Ainda, você deve ter observado que sugerimos um “sumário provisório”, e este deve ser re-
feito sempre que julgar necessário, pois o seu trabalho está em construção e comporta ajustes.
Todavia, é fundamental ter demarcadas as partes de seu estudo, ou seja, a divisão dos capítulos,
esclarecendo o que será discutido no corpo do seu trabalho.
Procedendo desse modo, você deve ter observado que sugerimos a construção da Introdu-
ção e da Conclusão do trabalho após a escrita dos capítulos. Desse modo, acreditamos que have-
rá mais clareza para você sobre o trabalho a ser desenvolvido. Entretanto, existem pessoas que
optam em escrever a introdução do trabalho antes da escrita dos capítulos, acreditando em sua
capacidade de estruturação mental do que será definido mais adiante. É certamente mais difícil
esse caminho, por isso sugerimos a escrita desses itens após escrever os capítulos e, portanto,
situá-los desse modo em seu planejamento dentro do projeto de pesquisa.

2.7 Cuidados com a Redação


Científica
Para escrever o seu projeto, lembre-se que a escrita é um processo que aprimora o pensa-
mento de toda e qualquer pessoa. Exercite sempre. Todas as vezes que você lê e ficha ou resume
o texto de diferentes autores você terá maior capacidade de acessar o pensamento ordenado,
facilitando a construção do seu.
Todo processo de escrita, quer seja do seu projeto de pesquisa, quer da monografia em si,
exigirá de você dedicação, persistência. Pense que esse é um dos segredos para se construir um
bom texto.

46
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Observe a figura e pense sobre a metodologia da redação de um texto.


DICA
Se hoje vivemos a era
◄ Figura 18: Metodologia da informação e do
da Redação conhecimento, torna-se
Fonte: Disponível em inevitável a constatação
<http://www.prof2000.pt/ de que a escrita técnica
users/folhalcino/ideias/ terá forçosamente de se
comunica/redaccao.gif>. adaptar às exigências
Acesso em 24 jan. 2010. desses novos tempos,
em que os avanços
notáveis da informática
propiciaram a expansão
e a democratização do
conhecimento.

O esquema nos aponta para a necessidade de construir um texto lógico, estruturado e com
informações bem elaboradas, para que o leitor do seu trabalho não se perca “em idas e vindas”
desnecessárias.
Tenha sempre em mãos um “caderninho” para anotações de ideias, para que estas não sejam
esquecidas ou que se percam no desenvolvimento do pensamento e correria do dia a dia. Sendo
assim, coloque sempre prazos para você fazer as suas atividades de construção do seu projeto de DICA
pesquisa. Assim, você terá a ideia do “todo” de que precisa realizar. Se hoje vivemos a era
Todos os conceitos que utilizar, esclareça-os. Faça sempre citação dos trabalhos que usar, to- da informação e do
davia, não deixe de transparecer claramente a sua contribuição com o estudo que realiza. conhecimento, torna-se
Procure evitar construir textos em que a situação da charge da Mafalda possa ser percebida: inevitável a constatação
de que a escrita técnica
terá forçosamente de se
adaptar às exigências
desses novos tempos,
◄ Figura 19: Charge
em que os avanços
Quino
notáveis da informática
Fonte: Disponível em propiciaram a expansão
<http://www.gabriel-
e a democratização do
perisse.blogger.com.br/
estrangeirismo-1.JPG>. conhecimento.
Acesso em 31 jan. 2010.

47
UAB/Unimontes - 4º Período

Agora, passemos para a compreensão do trabalho que você, ao final da disciplina, construirá
para o seu professor: o projeto de pesquisa.

2.8 Partes Constituintes do


Projeto de Pesquisa
Agora que você já conhece os principais pontos constituintes de um projeto de pesquisa,
isto é, sabe quais informações precisa definir para construir um bom projeto, podemos finalmen-
te expor a você as partes constituintes de um:

48
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

49
UAB/Unimontes - 4º Período

50
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

51
UAB/Unimontes - 4º Período

52
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Após concluir a escrita do seu projeto de pesquisa, faça você mesmo uma rápida revisão de
sua estruturação e partes constituintes. Perceba a adequação dos itens a cada parte, enfim, ana-
lise se o seu trabalho se apresenta “redondinho”. Para tanto sugerimos alguns itens que podem
auxiliá-lo nessa revisão.

53
UAB/Unimontes - 4º Período

Quadro 4 - Pontos importantes para a revisão do Projeto de Pesquisa


1. A escolha do seu assunto revela:
DICA - relevância contemporânea?
Baixe a Resolução nº - relevância humana?
182 de 2008 que apro-
vou o Manual para Ela- 2. A formulação do seu problema e/ou hipótese demonstra que:
boração e Normatização - a especificação foi bem feita?
de Trabalhos Acadêmi-
cos da Unimontes: - os termos foram claros, precisos?
Disponível em <http:// - fez conceituações?
www.dcc.unimontes.br/ - há referências empíricas bem delimitadas?
sistemasdeinformacao/
resolucao182.pdf>. 3. A introdução realmente
Acesso em 17 jun. 2010.
- introduz que não conhece sobre o assunto, a ele?
- foi claro, objetivo?

4. Quanto ao trabalho como um todo:


ATIVIDADE - há repetições?
Identifique resultados - as partes integrantes do projeto estão “amarradas” umas às outras?
de pesquisas qualita-
tivas e verifique se a 5. A sua pesquisa bibliográfica foi
afirmação abaixo se
confirma. - suficiente para o tema que escolheu? Não sente necessidade de mais informações para
sustentar o seu projeto?
Um dos problemas da - atualizada?
pesquisa qualitativa é - usou a pesquisa bibliográfica de modo a demonstrar no texto, nas citações e notas ao
que os pesquisadores
projeto?
geralmente não apre-
sentam os processos
através dos quais as 6. Crítica bibliográfica
conclusões foram alcan- - fez implícita ou explicitamente a pesquisa bibliográfica?
çadas. O pesquisador - há critérios de seleção de textos? Quais?
deve tornar essas opera-
- há discernimento entre fonte e bibliografia?
ções claras para aqueles
que não participaram
da pesquisa, através de 7. O texto revela uso da documentação:
uma descrição explícita - há assimilação da documentação?
e sistemática de todos - há síntese?
os passos do processo,
- há interdependência da documentação?
desde a seleção e de-
finição dos problemas - há citações oportunas e completas?
até os resultados finais - há “finura” na extração dos documentos?
pelos quais as conclu-
sões foram alcançadas e 8. O desenvolvimento do projeto apresenta
fundamentadas.
- raciocínio lógico?
(GOLDENBERG, 1998
apud ZAGO, 2004, p. 9). - segurança nas explicações?
Poste seus achados no - soube demonstrar?
fórum de discussão. - soube evitar persuasão?
- prepara com habilidade as inferências?
- extrapola o contexto?

9. Quanto ao método e técnica, você


- definiu e justificou o uso?
- é adequado para abordar o problema?
- todas as fases da pesquisa são bem explicadas?
- as amostras são representativas e significativas?
- descreveu os instrumentos de pesquisa claramente?
- há relação entre a lógica de investigação e o problema proposto?

10. Redação e normas?


- é Clara?
- é Objetiva?
- é direta?
- segue as normas da ABNT: citações, notas de rodapé, bibliografia?

54
Fonte: Adaptado de diversas tabelas apresentadas por SALOMON (2001).
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Agora, é “arregaçar as mangas” e colocar “mãos à obra”! Boa sorte nessa produção. Conduza
seu estudo utilizando a lente da história, quiçá das Ciências Humanas e Sociais, para leitura deste
mundo. Encerraremos esta unidade lembrando a você, como assim fez Carlos Drummond Andra-
de (1998), na poesia A verdade.

BOX 12
A verdade

A porta da verdade estava aberta,


mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,


porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.


Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.


Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Fonte: Carlos Drumond Andrade (1998).

Referências
DALPIAZ, Saionara Goulart. A prática teórico-metodológica da história oral e a construção
da pesquisa com memórias. UNIrevista, vol. 1, n° 2. Abril/ 2006.

MINAYO, MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: HUCI-
TEC/ABRASCO. 1999.

SALOMON, D.V. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SANTOS, Dayse Lúcide. Múltiplos Olhares. Projeto de Doutorado de Dayse Lúcide Silva Santos,
2009. (mimeo)

ZAGO, N.; CARVALHO, M. P. e VILELA, R. A. T. (orgs.). Itinerários de pesquisa: perspectivas quali-


tativas em Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 135-179.

55
UAB/Unimontes - 4º Período

Vídeos sugeridos para debate

NARRADORES DE JAVÉ

Figura 20: Capa do ►


vídeo Narradores de
Javé
Fonte: Disponível em
<http://upload.wiki-
media.org/wikipedia/
pt/3/35/Narradores_de_
Jav%C3%A9.jpg.>. Acesso
em 31 jan. 2010.

Gênero: Comédia Duração: 100 minutos


Distribuição: Lumière e Riofilme
Direção: Eliane Caffé e Roteiro: Luiz Alberto de Abreu e Eliane Caffé
Produção: Vânia Catani e Bananeira Filmes Elenco: José Dumont (Antonio Biá); Matheus
Nachtergaele (Souza); Nélson Dantas (Vicentino) Rui Resende; Gero Camilo (Firmino); Luci Pereira
Nelson Xavier (Zaqueu); Jorge Humberto e Santos; Altair Lima (Galdério); Alessandro Azevedo (Da-
niel); Henrique (Cirilo); Maurício Tizumba (Samuel); Orlando Vieira (Gêmeo); Roger Avanzi (Outro).
Num lugarejo denominado Javé, tem-se o espaço onde o filme se desenrola. A construção
de uma hidrelétrica alterará a vida de todos naquele lugar, pois Javé será inundada pelas águas
dessa hidrelétrica. E agora? Qual é a história de Javé? Como contá-la? São importantes as entre-
vistas? Como elas funcionam no filme? Como os habitantes de Javé lidam com a sua memória?
Num misto de história tradicional e história nova, é possível perceber o sentido que as pes-
soas dão às suas vidas, aos acontecimentos, aos fatos, etc. Como a maioria dos moradores são
analfabetos, era preciso que alguém escrevesse aquela história. A história é narrada sob a pers-
pectiva de Zaqueu que nos guia durante todo o relato, agregando sua interpretação pessoal e
juízo de valores.

Figura 21: Cena do ►


filme Narradores de
Javé
Fonte: Disponível em
<http://www.adorocine-
ma.com/filmes/narrado-
res-de-jave/>. Acesso em
31 jan. 2010.

56
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

O engenhoso Biá, ex-carteiro da cidade, que se torna incumbido da missão de escrever o


relato do povo, torna-se especial e com alguns privilégios, não bem aproveitados, já que ele pos-
suía clara consciência da distância que separa a memória oral, do registro escrito. “Uma coisa é
fato acontecido, outra coisa é o fato escrito. O acontecido deve ser melhorado no escrito para
que o povo creia no acontecido” diz Biá.
“Sinto muito não poder estar presente, mas fui-me embora para não voltar. Deixei de escre-
ver por motivo de saúde física e mental. Quanto às histórias, é melhor que fiquem na boca das
pessoas, porque ninguém poderá contá-las bem no papel...” (Antônio Biá).

CÓDIGO DAVINCI
Título no Brasil: O Código Da Vinci País de Origem: EUA
Gênero: Suspense
Tempo de Duração: 152 minutos Ano de Lançamento: 2006 Estreia no Brasil: 19/05/2006
Site Oficial: http://www.ocodigodavinci.com.br
Estúdio/Distrib.: Buena Vista
Direção: Ron Howard

Sinopse

◄ Figura 22: Cena do


filme O Código da
Vinci.
Fonte: Disponível em
<http://www.interfilmes.
com/filme_15020_O.Codi-
go.Da.Vinci-(The.Da.Vinci.
Code).html>. Acesso em
30 jan. 2010.

O famoso simbologista e professor Robert Langdon (Tom Hanks) é convocado a compare-


cer ao Museu do Louvre uma certa noite, onde o curador foi assassinado, deixando para trás um
rastro de pistas e símbolos misteriosos. Com a própria vida em jogo e a ajuda da agente Sophie
Neveu (Audrey Tautou), criptóloga da polícia, Langdon descobre uma série de mensagens ator-
doantes ocultas nas obras de Leonardo da Vinci, que levam a uma sociedade secreta, cuja missão
é proteger um segredo secular que permanece guardado há 2.000 anos. O casal se lança numa
emocionante gincana pelas ruas de Paris, Londres e pela Escócia, coletando pistas, ao mesmo
tempo em que tenta, desesperadamente, decifrar o código que revelará segredos que podem
abalar os alicerces da civilização. (fonte: http://www.interfilmes.com/filme_15020_O.Codigo.Da.
Vinci-(The.Da.Vinci.Code).html)

◄ Figura 23: Santa Ceia de


Da Vinci
Fonte: Disponível em
<http://www.discountca-
tholicstore.com/images/
Art7B.jpg>. Acesso em 30
jan. 2010.

O filme é uma ficção muito interessante que nos lembra a incessante busca de informação.
Quanto às incorreções de conteúdo histórico... ora, é um filme! Tem liberdade de criação e inven-
ção! O debate em torno disso gerou livros, artigos e processos na justiça. Entretanto, assista ao
filme com o intuito de perceber, por meio de pistas, detalhes, o aprimoramento da nossa percep-
ção e montagem de um dado conhecimento.

Aproveite o filme! Bom cinema 57


História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Resumo
Chegamos ao final de nossa viagem pela busca de “o mundo de Clio”. Nesse instante, é im-
portante rever brevemente o que foi falado nas duas unidades desta disciplina.
Na unidade 1, Propomos a indagação de como fazer pesquisa em História. Para tanto, dis-
cutimos pontos importantes quanto ao papel do pesquisador, aos métodos e à metodologia que
este utiliza para conseguir fabricar o seu mel, de modo a buscar compreender o sentido da arte
de viver.
Falamos de diferentes tipos de pesquisa, as quais você precisa compreender para, então,
aplicar em seu estudo, isto é, definir qual caminho você trilhará, de modo a atingir os objetivos
que melhor responderão ao seu problema de pesquisa.
O modo como tratará as fontes é também ponto fundamental a destacarmos. O olhar que
você debruçará sobre os vestígios do passado, segundo o tema delimitado por você, dará o tom
do conhecimento histórico produzido em nossa época. Ainda, evidenciará o modo como enxer-
gamos o passado e com ele nos relacionamos, visando compreender o presente.
Na unidade 2, falamos bastante sobre a construção do projeto de pesquisa. Assim, a deli-
mitação do tema e a especificação do quadro teórico são aspectos fundamentais de seu projeto.
Soma-se a isso a metodologia do projeto que deve ser também clara, objetiva. Relacionando as
duas unidades, você perceberá que a primeira “fundamenta” a segunda.
Nesse sentido, os cuidados com a definição de seu cronograma de trabalho/pesquisa é fator
que dará a você melhor condição de mensurar o seu tempo e as atividades que lhe são funda-
mentais para desenvolver o projeto de pesquisa, base do trabalho de conclusão de curso.
Não deixe de participar dos fóruns, de visitar sites das universidades e assistir aos filmes su-
geridos. Essas ações ampliarão o seu olhar crítico, tão importante ao historiador.

59
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Referências
Básicas

APPOLINÁRIO, F. Metodologia da Ciência: Filosofia e Prática da Pesquisa. São Paulo: Pioneira


Thomson, 2006.

BASSANEZI, Maria Silvia. Os eventos vitais na reconstituição da História. In: In: PINSKY, C. B e
LUCA, T.R. (orgs). O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p.141-172.

CHARTIER, R. A visão do historiador modernista. In: FERREIRA, M. e AMADO, J. (orgs.) Usos & Abu-
sos da História Oral. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1996.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa Qualitativa em Ciências Humanas e Sociais. Petrópolis: Vozes, 2006.


144p.

GINZBURG, C. O queijo e os vermes. São Paulo: Cia das Letras, 2000, 309p.

LUCA, T. R. e PINSKY, C.B. (orgs) O historiador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009.

MEIHY, J.C.S.B. Manual de História Oral. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1996.

PESAVENTO, S. J. História e História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

VIEIRA, M. P. A. e outros. A pesquisa em História. 4. ed. São Paulo: Ática, 1998.

Complementares

ANDRADE, Carlos Drummond. A verdade. Disponível em <http://www.releituras.com/drum-


mond_bio.asp> Acesso em 02 mar. 2010.

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração


de trabalhos na graduação. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. 174 p.

BACELLAR, Carlos de Almeida Prado, SCOTT, Ana Silvia Volpi e BASSANEZI, Maria Silvia Casagran-
de Beozzo. Quarenta anos de demografia histórica. In: Revista Brasileira de Estudos Popula-
cionais. São Paulo, v.22, n.2, p.339*350, jan/dez 2005.

BARTH, Fredrik. O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contra
Capa Livraria, 2000.

BURKE, P (org). A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992, 355p.

CARDOSO, Ciro Flamarion & VAINFAS, Ronaldo (orgs). Domínios da História: Ensaios de Teoria e
Metodologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997.

CELLARD, A. A análise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epis-
temológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008.

DEMO, P. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987. 118 p.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S (Orgs). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e aborda-


gens. Porto Alegre: Bookman e Artmed, 2006.

FERNANDES, A.C. O Turíbulo e a Chaminé. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, Julho/2005. Disserta-


ção de Mestrado.

61
UAB/Unimontes - 4º Período

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais. São Paulo: Cia das Letras, 1989.

GODOY, Marcelo Magalhães. No país das minas de ouro a paisagem vertia engenhos de cana
e casas de negócio - Um estudo das atividades agroaçucareiras tradicionais mineiras, entre o
Setecentos e o Novecentos, e do complexo mercantil da província de Minas Gerais. São Paulo:
FFLCH/USP, 2004. Tese de doutorado.

GOODWIN Jr., James William. As Cidades de Papel: Imprensa, Progresso e Tradição. Diamantina
e Juiz de Fora, MG (1884-1914). Dissertação de Doutorado em História Social. Orientadora: Profa.
Dra. Inez Garbuio Peralta. Programa de Pós-Graduação em História Social. São Paulo, FFLCH/USP,
2007. (mimeo)

GRESSLER, Lori Alice. Introdução à pesquisa: projetos e relatórios. São Paulo: Loyola, 2003.

GUAZZELLI, C A B, et alli. Questões de teoria e metodologia da História. Porto Alegre: Univer-


sidade UFRGS, 2000.

GÜNTHER, H. Como elaborar um questionário. Brasília: UNB, 2003. (Série Planejamento de pes-
quisa nas Ciências Sociais, n.1)

JENKINS, K. A História Repensada. São Paulo: Contexto, 2000, 120p.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico: pro-
cedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e trabalhos científi-
cos. 5. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2001. 220 p.

LE GOFF, Jacques; LADURIE, Le Roy; DUBY, Georges et alli. A Nova História. Rio de Janeiro: Lugar
da História/Edições 70, 1991, 89p.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e exe-
cução de pesquisa, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpelação de
dados. 4. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 1999.

MARTINS, A. L. Uma Construção Permanente. In: PINSKY, C.B e LUCA, (orgs). O historiador e
suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p. 279- 308.

MUELLER, S. P. M. (Org.). Métodos para a pesquisa em Ciência da Informação. Brasília, Thesau-


rus, 2007. 190p. (Série Ciência da Informação e da Comunicação)

PAIVA, Eduardo. História e Imagens. Belo Horizonte: Autêntica, 2002, p.118.

PORTELLI, Alessandro. O massacre de Civitella Val di Chiana (Toscana, 29 de junho de 1944):


mito, política luto e senso comum. In: AMADO, Janaína & FERREIRA, Marieta de Moraes (coord).
3.ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000.

REIS, J. C. A Escola dos Annales: a inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000, 200p.

SALOMON, D.V. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

SANTOS, Dayse Lúcide. Entre a Norma e o Desejo. Dissertação de Mestrado em História Social
da Cultura. Orientadora: Profª Drª Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG, Outu-
bro/2003, p.162-4.

SANTOS, Dayse Lúcide. Múltiplos Olhares. Projeto de Doutorado de Dayse Lúcide Silva Santos,
2009. (mimeo)

SANTOS, Dayse Lúcide. O padrão idealizado de família e de mulher em Diamantina e região.


UNIMONTES Científica, v. 5, p. 57-25, 2003.

SCOTT, Ana S. Volpí & SCOTT, Dario. Cruzamento Nominativo de Fontes: desafios, problemas e
algumas reflexões para a utilização dos registros paroquiais. In: XV Encontro Nacional de Estudos
de População Caxambu-MG, setembro/2006. Disponível em <http://www.abep.nepo.unicamp.
br/encontro2006/docspdf/ABEP2006_480.pdf>. Acesso em 02 mar. 2010.

62
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2000.
279p.

SHARPE, Jim. A História vista de baixo. In: BURKE, Peter (org). A escrita da História: novas pers-
pectivas. São Paulo: UNESP, 1992, p. 39-62.

TEIXEIRA, Francisco. Francisco Teixeira (depoimento, 1983/1984). Rio de Janeiro, CPDO C, 1992.
351p. Disponível em <http://www.fgv.br/cpdoc/historiaoral/arq/Entrevista102.pdf.>. Acesso em
27 abril 2010.

THOMPSON, E. P. As peculiaridades dos Ingleses e outros artigos. São Paulo: Unicamp, 2001.

THOMPSON, E. P. Costumes em Comum: Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo:
Cia das Letras, 1998.

VALENTIM, M. L. P. (Org.). Métodos qualitativos de pesquisa em Ciência da Informação. São


Paulo: Polis, 2005. 176p. (Coleção Palavra-Chave, 16)

ZAGO, N.; CARVALHO, M. P. e VILELA, R. A. T. (orgs.). Itinerários de pesquisa: perspectivas quali-


tativas em Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 135-179.

Sugestão de sites

<http://www.sni.org.br/educadores/modelo_de_projeto_completo.asp>

<http://metodologiapa1.pbworks.com/>

<http://www.cultec.uerj.br/moodle/course/view.php?id=10>

<http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met05.htm>

63
História - Métodos e Técnicas de Pesquisa em História

Atividades de
Aprendizagem - AA
Nas Atividades de Aprendizagem (AA), você deverá escrever partes do projeto de pesquisa,
seguindo os seguintes passos:

• Indicação de uma área de interesse da História.


• Delimitação do tema.
• Realização de uma pesquisa de referência em bibliotecas e internet para melhor delimitar o
tema (utilize as regras da ABNT para construir as suas referências).
• Realização de uma pesquisa exploratória para verificar a existência de documentos ou fon-
tes orais para realização da pesquisa.
• Redação da introdução.
• Elaboração do problema de pesquisa.
• Redação da justificativa.
• Elaboração dos objetivos (geral e específicos).
• Revisão de literatura (pode ser item separado ou vir na introdução).
• Redação da metodologia e do cronograma de trabalho.

Veja bem, você escreverá o seu projeto de pesquisa e entregará ao seu professor formador
na data marcada para receber as AAs. Deverá encaminhar ao seu professor formador o projeto,
ou melhor, o seu pré-projeto de pesquisa. Siga as orientações desse material, e no que tange à
forma, veja especificamente o item “Partes constituintes do seu projeto de Pesquisa”.

Aproveite os espaços on line para discussão com o professor e com os seus colegas.

Bom Trabalho!!!

65

Você também pode gostar