Abordagens Da Neurociencia Sobre A Perce

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7th International Conference on

Digital Arts

José Bidarra, Teresa Eça, Mírian Tavares, Rosangella Leote,


Lucia Pimentel, Elizabeth Carvalho, Mauro Figueiredo (Eds.)

March 19–20, 2015


Óbidos, Portugal
c
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Published by Artech-International.

Proceedings of 7th International Conference on Digital Arts

Editors: José Bidarra, Teresa Eça, Mírian Tavares, Rosangella Leote, Lucia Pimentel, Elizabeth
Carvalho, Mauro Figueiredo

ISBN: 978-989-99370-0-0

Composition, pagination and graphical organization: José Inácio Rodrigues, Mauro Figueiredo

Cover design by Flatland


7th International Conference on Digital Arts – ARTECH 2015
J. Bidarra, T. Eça, M. Tavares, R. Leote, L. Pimentel, E. Carvalho, M. Figueiredo (Editors) 11

Abordagens da neurociência sobre a percepção da obra de arte


Rosangella Leote, Hosana Celeste Oliveira e Danilo Baraúna

Instituto de Artes, UNESP, São Paulo, SP, 01140-070, Brasil; Escola de Comunicações e Artes,
USP, São Paulo, SP, 05508-020, Brasil.

Resumo – Neste trabalho apresentamos o a finalidade deste artigo, a expressão “arte visual” –
resultado de uma investigação que mostra como o termo aplicado pelos neurocientistas – como sendo
problema da percepção da obra de arte é tratado pela
imagens da arte, de uma forma bem abrangente, e
neurociência. A fim de identificar e analisar os mais
relevantes trabalhos sobre o tema realizamos um acrescentamos também o cinema. Em um primeiro
levantamento de diferentes abordagens neurocientíficas levantamento, nos deparamos com autores como
que lidam, especificamente, com a percepção da obra de Vilayanur S. Ramachandran, Eric Kandel, Margareth
arte. Dentre o material pesquisado encontram-se modelos Livingstone e Semir Zeki, que apresentam diferentes
teóricos, assim como experimentos que investigam o nosso modelos teóricos neurocientíficos e afins.
envolvimento com obras de arte. Com isso, buscamos Complementamos nossa pesquisa consultando três
conhecer as reais contribuições da neurociência para o
estudo da percepção da obra de arte, tendo em vista repositórios online3 que hospedam artigos
ampliar nossas referências, para além das abordagens interdisciplinares que investigam o cérebro 4. Para
mais recorrentes, utilizadas por artistas e teóricos da arte. realizar a busca, utilizamos as seguintes palavras-chave,
Palavras-chave – arte e ciência, arte e restritas ao idioma inglês: “arte”, “artes visuais”,
neurociência, percepção visual e neurociência. “história da arte”, “imagens da arte”, “arte e percepção
visual”, “cinema”; não limitamos datas para levantar os
I. INTRODUÇÃO artigos. Como as bases sobre a Semiótica, a Gestalt e as
Como entender o problema da percepção da obra de Teorias dos Sistemas Complexos já havíamos obtido em
arte? Este tema tem sido investigado por diferentes nossos estudos anteriores, para a finalidade deste artigo
abordagens teóricas em áreas distintas, sem, entretanto, não adentraremos com ênfase nestas teorias. Mas
haver uma concepção em proximidade de consenso reforçamos que, até o momento, os autores que, com
entre elas. Longe de supor o fechamento da questão, mais clareza, nos trouxeram instrumentos para nossas
nossos estudos têm se dirigido para um enfoque que tem conclusões foram Maturana e Varela
sido menos aplicado no campo da arte, se bem que em (neurofenomenologia e complexidade), António
crescente agregação de estudiosos. Trata-se de tentar Damásio (neurociência), Vilayanur Ramachandran
compreender o fenômeno da percepção no campo da (neurociência) e Lúcia Santella (semiótica).
arte, a partir de um embasamento conceitual vindo da Comentamos, criticamente, o material pesquisado,
neurociência. Neste artigo, que mostra um estado inicial tecendo comparativos e observações entre o campo
de nossa pesquisa1, tratamos da percepção da obra de pesquisado e o da arte. Com estes procedimentos
arte de forma ampla, no sentido de apresentar pesquisas construímos uma hipótese adicional ao nosso projeto de
que indiquem como são investigados pela neurociência pesquisa. Ela aponta ser possível propor uma
os aspectos da primeira relação que o indivíduo mantém combinação de aplicação dos conceitos convencionais
com o objeto artístico. Em um primeiro momento, da nossa área com algumas contribuições da
procuramos compreender este panorama e verificar a neurociência, tanto para o nosso entendimento da arte
existência de contribuições da neurociência para os quanto, na via inversa, contribuir com a ciência para
estudos da arte. Em seguida, buscamos estabelecer uma maior clareza sobre nosso campo.
relações entre as abordagens mais recorrentes nestes O diferencial de nosso estudo com relação a outras
campos para, finalmente, avaliar méritos no uso das coletâneas, inclusive encontradas em sites de
mesmas no campo exclusivo da arte. compartilhamento de informações como o Wikipédia,
Através de uma revisão bibliográfica realizada na fase reside no fato de que, para além de apresentar alguns
inicial de nossa pesquisa e apresentada em artigo dos autores que tem tratado dessas questões, analisamos
anterior2, buscamos identificar modelos teóricos e criticamente essas teorias do ponto de vista de
experimentos da neurociência sobre a percepção da obra profissionais das artes, de modo a indicar as possíveis
de arte, mais particularmente a “arte visual”. Este relações de complementaridade entre as teorias da
recurso nos permitiu reduzir as variáveis para o exame neurociência e outras bases teóricas nas quais nosso
da questão. De modo a mantermo-nos coerentes com os grupo de pesquisa tem se debruçado ao longo dos anos,
exemplos que trazemos da neurociência, aceitamos, para como a semiótica e a teoria dos sistemas. Além disso,

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apresentamos e discutimos algumas experiências reais Quando fazemos estas observações não estamos
de laboratório que se propõe a estudar a percepção da descartando estas teorias. Pelo contrário, as entendemos
obra de arte a partir da neurociência, apontando algumas numa organização sistêmica, onde executam papéis
das fragilidades que compõem essas experiências e seus diferenciados, muitos em fricção, com plenas
modelos teóricos com relação ao objeto artístico. possibilidades de emergência, para ambos os campos de
conhecimento. Assim é que são as Teorias dos Sistemas
Complexos que têm nos auxiliado a compreender as
II. PERCEPÇÃO
zonas de transdução nos campos que enfocamos.
A. A Percepção e a fruição da obra Mas as perguntas que fazemos, e para as quais nem
estas teorias, nem as demais recorrentes no campo da
Como resultados recentes de nossa pesquisa,
arte usadas tanto por teóricos, quanto por artistas, têm
assumimos que o estudo da percepção da obra de arte
respostas, são a) como a percepção se dá dentro da
envolve, predominantemente, quatro sistemas: o objeto
mente e b) a neurociência tem a resposta para isto?
artístico, o artista, o sujeito que frui a obra e a relação
entre estes. B. A percepção e o realizador da obra
Consideramos que perceber é um fenômeno
Preferimos não nomear como artista o autor da obra,
composto de estados. Ao travar-se um estado inicial
pelos inúmeros enfoques e complicações que o termo
(sensação) de relação com a coisa percebida, já estamos
acarreta na arte contemporânea. Todavia, estamos
experimentando este fenômeno. Os demais estados de
falando da mesma pessoa, ou pessoas, que executam a
sentimento e conscientização precedem o juízo sobre o
obra artística, de qualquer natureza, o que, para nós,
fenômeno. Todavia, o juízo, em si, se refere a um novo
inclui a música, as artes performáticas e as
fenômeno perceptivo sobre o acontecimento da
hipermidiáticas. Tomamos como fato que a produção de
percepção recém ocorrida. Assim, pois, a infinita
uma obra artística (ou não) só se dá pela existência de
semiose, aí existente, se assenta, claramente, nos
processos perceptivos antes, durante e após a sua
processos biológicos.
execução. Estes processos são ajustados em camadas
A lógica semiótica, entretanto, deixa-nos com uma
imbricadas, de forma não linear e sem controle total
lacuna para o entendimento do fenômeno perceptivo,
daquele que executa a ação.
pois com ela, apenas, não conseguimos cercar a série de
Instruídos pelos estudos que fazemos do campo sobre
fenômenos subjacentes ao da percepção, desde que estes
a ação do fruidor/interator, como pela experiência do
são dirigidos, construídos e permitidos por processos
nosso fazer artístico em obras instalativas, performáticas
biológicos pouco conhecidos e altamente complexos em
e videográficas, sabemos que estes processos são
interação e transdução com os processos mentais ditos
idênticos para as duas partes, em sua essência
cognitivos.
perceptiva. Buscamos as especificidades de cada uma.
A situação é similar quando verificamos os modelos
Entendemos como certo que a memória é fundamental
de estudo sobre a percepção efetuados pela psicologia na resolução da percepção. É com ela que localizamos
da Gestalt. Esta, predominantemente aplicada no campo os depósitos pulverizados de informação que
artístico – além de em vários outros – contempla o apreendemos com o nosso “estar no mundo”,
exame sobre aquele que percebe sem, entretanto, ter respeitando-se toda a influência do “inconsciente
podido comprovar por instrumentos de aferição os genômico” (instruções do DNA) e do “inconsciente
estados mentais do percebedor relativos a este tipo de cognitivo” (ocorre abaixo da consciência), como propõe
evento. Antônio Damásio [1]. Este conjunto, mas não apenas,
A neuropsicologia tem avançado nestes aspectos de associado ao nosso estado bio/psico/físico/químico,
aferição de hipóteses com instrumentos tecnológicos. opera condições para que a percepção se dê, de forma
Ela parece trazer um vislumbre de modificações irrepetível, sobre cada micro/nano/pico instante
contundentes no modo de entender a arte. De qualquer vivenciado.
forma, ainda não encontramos pesquisas desta área Também estamos propondo aplicar uma expressão
sobre a percepção na especificidade que viemos não utilizada, até aqui, nestes campos de que tratamos
estudando, onde a multisensorialidade e a (arte e neurociência) que é “processos perceptivos”.
multimodalidade de estímulos residem em uma só obra, Convencionamos que “percepção” se aplicaria a um
como por exemplo, em uma instalação hipermidiática. evento que é construído a partir de processos
É possível dizer que o estudo da percepção pode ser subjacentes, os quais são os processos perceptivos. A
feito a partir de várias interpretações teóricas, todas com cada gesto realizado, no sentido de desenvolver a obra,
lógicas perfeitas no seu contexto. Por exemplo, tanto a há processos perceptivos que se concretam em variadas
psicologia da Gestalt, quanto a semiótica peirceana, são ênfases, e tipos. São eles que justificam e impulsionam
eficientes para tratar o evento perceptivo do ponto de cada novo passo no sentido de materializar a obra, seja
vista da ocorrência do fenômeno. ela plástica, sonora, performática, hipermidiática etc.
Localizamos a existência de diversos modelos de

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processos perceptivos relacionados à arte. Tais modelos pré-frontais (associadas a identidade do objeto, a
serão discutidos em etapa posterior de nosso trabalho de memória de trabalho e a atribuição de projeção afetiva a
pesquisa. um estímulo) ao processamento sensorial dos sistemas
visual, auditivo e somatossensorial. Seeley diz que isto
sugere que as respostas a questões sobre a projeção
III. NEUROESTÉTICA OU NEUROCIÊNCIA
semântica da obra de arte têm um papel regulativo no
COGNITIVA DA ARTE?
nível neurológico, ao determinar a qualidade estética de
As descobertas da neurociência das últimas décadas, nosso envolvimento com a obra [3].
assim como as investigações deste campo que envolvem Outras observações críticas sobre a neuroestética são
diretamente a obra de arte, têm se mostrado relevantes feitas por Bevil R. Conway e Alexander Rehding [4].
ao estudo da mente, da linguagem e da própria arte. Eles listam alguns pontos polêmicos deste campo e
Dentro da neurociência, a neuroestética se destaca por defendem que o envolvimento com obras de arte deve
conta da relação direta que mantém com o campo da ser investigado considerando-se a distinção entre beleza,
arte, tendo sido adotada, inclusive por vários artistas e arte e percepção, já que estes termos têm sido
outros pesquisadores da arte, como diretriz para o frequentemente confundidos com estética. Conway e
entendimento da percepção visual. Rehding lembram que a própria compreensão do que
Contudo, vínhamos identificando uma incoerência quer que seja estética tem um histórico complexo: os
importante sobre o uso do termo “neuroestética”, criado gregos a relacionavam com a percepção, Kant a beleza e
por Semir Zeki em 2002 [2]. Do nosso ponto de vista, o a arte; no século XIX a estética se transforma em
termo tanto distorce, quanto se esquiva da neurociência sinônimo de filosofia da arte – estas três conotações,
como fundamento do modelo teórico proposto por Zeki. segundo eles, são frequentemente confundidas nas
Em busca de subsídio para fundamentar nosso trabalho a propostas neuroestéticas.
respeito desta incoerência, deparamo-nos com William Ao conhecer as ressalvas que os autores mencionados
P. Seeley [3]. anteriormente fazem a neuroestética, fortalecemos a
Seeley observa o movimento crescente de estudos nossa interpretação sobre as dificuldades acarretadas por
filosóficos que se baseiam em pesquisas da este campo. Sabemos que esta confusão permeia,
neuropsicologia e da neurociência cognitiva. Neste igualmente, os estudos da arte. Assim, um estudioso de
movimento, se instaura um campo fértil que é outra área, que não a artística, também teria dificuldades
denominado por ele como “neurociência cognitiva da em navegar neste mar de conceitos. Quando tratamos de
arte” – uma subdivisão da estética empírica dedicada à estética, estamos falando de filosofia. A própria
aplicação de métodos neurocientíficos para estudar o epistemologia da área impede o uso de um termo
nosso envolvimento com obras de arte. Seeley faz uma (neuroestética) que desarma a sua base, pois a desloca
retrospectiva histórica que demonstra que estudos do seu campo. Neste sentido, sentimos contemplada a
semelhantes têm suas raízes na estética empírica da nossa linha de raciocínio pela crítica que Conway e
psicologia experimental e já estão presentes no livro On Rehding fazem a Zeki, entre outros, dizendo que os
experimental aesthetics (1871), de Gustav Fechner, um neuroestetas têm preferência por Kant, pois este filósofo
dos pioneiros da psicofísica. Ainda sob o ponto de vista oferece uma visão universal do belo (aquilo que
histórico, vale lembrar que, na década de setenta, desperta uma atitude de contemplação desinteressada)
Alexander Luria também buscou identificar as bases com muito apelo, uma vez que o belo parece conter uma
neurais da contemplação e da criação da obra de arte [2]. discreta base neural, segundo observam os dois autores.
Seeley argumenta ser mais apropriado falarmos de Conway e Rehding ainda apontam dois outros
uma neurociência cognitiva da arte, ao invés de problemas: o belo de Kant é muito criticado no campo
neuroestética. Segundo ele, o termo neuroestética reflete da arte, dado o pluralismo das experiências artísticas, e
uma visão ideológica bastante delicada, uma vez que a também por não existir consenso na literatura sobre o
estética não engloba questões ontológicas e semânticas que ele seja. De fato, parece-nos que Zeki não adentra
sobre a natureza da arte, e tão pouco nos instrumenta a estas questões. Esta diversidade de opiniões sobre o
investigar nosso envolvimento com a obra. Ele entende belo, para os autores, tem a ver com as diferentes
que a sua proposta é mais abrangente sobre a funções que ele ocupa dentro dos vários sistemas
problemática aí envolvida. Para defender este ponto de filosóficos, estando por vezes relacionados com a
vista, Seeley destaca que os modelos de atenção seletiva epistemologia ou a ética. A experiência do belo é
da neurociência demonstram que existe uma conexão frequentemente comovente, porém estar comovido nem
muito estreita entre o significado, a identidade, a sempre significa uma instância do belo; já as reações
projeção semântica, as características afetivas e emocionais sim [4].
perceptivas que atribuímos ao estímulo. Segundo ele, Postas estas questões, Conway e Rehding clamam que
para modelar os efeitos do estímulo, os cientistas a arte deve ser estudada no contexto da neurociência,
cognitivos usam redes atencionais que conectam áreas pensando-se como sinais sensoriais são processados

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pelo sistema nervoso para produzir comportamento, isto permitem alicerçar uma visão mais condizente com a
é, deve-se levar em conta os vários estágios de variedade de questões que emergem do estudo da arte.
processamento. Destacam que a arte não é a única a As abordagens da neurociência que apresentamos
provocar respostas estéticas e que outros experimentos, adiante não serão discutidas sob o ponto de vista da
que não aqueles realizados apenas com obras de arte, neuroestética, embora algumas delas tenham sido
mas que englobam manifestações estéticas, também apresentadas por seus autores sob esta nomenclatura.
devem ser levados em conta. Ou seja, é necessário que Assim como Seeley, preferimos pensar as abordagens
olhemos para outras pesquisas da neurociência que em suas relações com uma possível “neurociência
também poderiam informar a arte, como aquelas cognitiva da arte”, cujo modelo geral considera a obra
relacionadas a atenção, recompensa, aprendizado, de arte como uma classe de estímulos, que são
memória, emoção e tomada de decisão, pois elas intencionalmente desenhados para induzir a uma
parecem conter modelos mais completos que também variedade de respostas afetivas, emocionais, perceptivas
auxiliariam a entender as questões da arte. e cognitivas no leitor, espectador, observador ou ouvinte
Assim, novamente Conway e Rehding, contemplam [3]. Como Seeley aponta, a obra de arte, estudada sob
nossas observações anteriores que levaram ao início esta perspectiva, sugere que podemos modelar o nosso
desta parte de nossa pesquisa. De fato, antes de nos envolvimento com ela baseando-nos em um problema
deparar com o trabalho destes dois autores, criamos que de processamento de informação: como consumidores
não havia entre os neurocientistas aqueles que adquirem, representam e manipulam a informação
soubessem que há mais do que similaridades entre a arte contida na estrutura formal destes estímulos? A
e outros aspectos do sensível no mundo. neurociência cognitiva torna-se, então, uma ferramenta
É bem verdade que uma grande parte dos artistas que pode ser usada para modelar estes processos e
ainda vê a arte como que habitando um lugar especial do comportamentos; e seus modelos poderiam ser usados
fazer humano. Nós, entretanto, vemos o fazer do artista para avaliar a natureza de nosso envolvimento com a
como qualquer outro fazer, guardando, como em todos obra de arte em uma variedade de mídias.
os fazeres, diferenças que lhes são próprias, mas não
destacáveis em termos de valor; como qualquer
VI. ABORDAGENS NEUROCIENTÍFICAS DA
produção de conhecimento que o humano desenvolve,
PERCEPÇÃO DA OBRA DE ARTE
assim a arte deve ser avaliada.
Alkim Salah e Albert Salah [5] também fazem A partir daqui dispensamos o uso da expressão
observações a respeito da neuroestética. Dizem que é “neuroestética” pelas razões lançadas anteriormente.
importante lembrar que a avaliação dos juízos estéticos, Entretanto, aproveitamos dos resultados de algumas
através da neurociência, está confinada às experiências pesquisas trazidas pelos “neuroestétas”, já que
com estímulos visuais, e que se tem esquecido que esses encontramos em seus estudos sobre o sistema de
juízos existem em todos os domínios: “a sensação percepção visual dispositivos fundamentais para o
percebida por um pintor em frente a uma bela imagem é entendimento da percepção da obra de arte.
muito semelhante à sensação percebida por um A maior parte das abordagens neurocientíficas da
matemático ao ler uma equação elegante” [5]. Esta percepção da obra de arte se baseiam nos avanços
científicos sobre o “cérebro visual”, que tornam possível
observação, porém, chama uma discussão: tanto o
investigar as bases neurais da arte visual e da
matemático, quanto o artista, estariam examinando
experiência estética [6] [7]. A maioria destas abordagens
diferentes objetos sob o ponto de vista especializado de
constrói modelos teóricos fundamentados na observação
cada um dentro de sua área de conhecimento. Mas qual de indivíduos experienciando obras de arte e na
seria a impressão do leigo acerca da mesma equação, ou inspeção do mecanismo da visão. Esta forma de
da mesma obra artística? Ou, se pedíssemos para que abordagem é uma das mais populares. Acreditamos que
estes mesmos especialistas examinassem um a obra do este recorte tem a ver com o fato de que é no sistema
outro, o que resultaria? visual que estes têm o maior domínio, mas também,
Como estamos executando a pesquisa por etapas, e possivelmente, tem relação com a qualidade da cultura
esta é aquela onde examinamos, com maior atenção, o ocidental de ser fortemente organizada com atenção para
fruidor da obra, embora venhamos nos dirigindo a os estímulos visuais. Este aspecto nos interessa, pois
entender a percepção de uma forma que abranja tanto o estamos realizando uma parte da pesquisa de nosso
fazer, quanto o fruir a obra artística, concordamos com grupo (GIIP), dirigida a entender como, então, a
as observações de Seeley [3], Conway e Rehding [4] e percepção se dá em pessoas que possuem privação de
Salah e Salah [5] sobre a neuroestética, pois supomos certos sentidos, como outras necessidades especiais5.
que elas servem de diretrizes para uma revisão no A seguir, destacamos os estudos oriundos da
programa de pesquisas neurocientíficas sobre o nosso neurociência que foram levantados e que lidam com a
envolvimento com a obra de arte e, igualmente, percepção da obra de arte.

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A. Vilayanur S. Ramachandran propõem parece ser válido para um tipo específico de


arte, aquele que é baseado na contemplação, no prazer
Ramachandran e Hirstein [8] iniciam com a hipótese
visual (entretanto, esta questão ainda está em análise por
de que existem oito princípios6 que fundamentam o que
nós). Por este motivo são muito criticados; os críticos
chamamos de arte, isto é, leis que perpassam toda
enfatizam que Ramachandran e Hirstein constroem uma
experiência estética e que também estariam presentes
teoria puramente estética, e não sobre arte. Porém, a
nas obras de arte. A ideia de que a arte explora respeito disto, eles se defendem dizendo que as bordas
princípios não é algo novo, mas a novidade da proposta
entre a estética e a arte não são claramente definidas
de Ramachandran e Hirstein é que eles não são [10].
considerados ocorrências expontâneas, como na Gestalt,
Aqui ficamos confusos: o que seus críticos, e eles
mas baseados em um sinal, que é enviado para o sistema mesmos, estão traduzindo por estética? E, ainda,
límbico, que os reforçam. Este sinal (a rasa) seria, para
perguntamos se não seria mais adequado, ao invés de
os autores, a fonte da experiência estética. propor uma teoria biológica da estética, propor o estudo
Um dos mais importantes princípios que compõe o
da estética através da biologia?
modelo teórico de Ramachandran e Hirstein é o que
trata do conceito de rasa7, pois ele ajuda a esclarecer o B. Eric Kandel
que poderia ser a essência da arte. Ramachandran e
No livro The age of insight: the quest to understand
Hirstein destacam que o que os artistas fazem não é
the unconscious in art, mind, and brain [11], Kandel
apenas capturar a essência das coisas, mas também
parte de retratos produzidos por Gustav Klimt, Oskar
ampliá-las, com o objetivo de ativar, mais
Kokoschka e Egon Schiele pois, segundo ele, as obras
poderosamente, os mesmos mecanismos neurais que
destes artistas foram muito influenciadas pela medicina,
poderiam ser ativados pelo objeto original (aquele ao
biologia e psicanálise e seriam, portanto, fontes
qual se representa).
especiais de pesquisa. Kandel identifica instintos
Ramachandran e Hirstein estudam os oito princípios
inconscientes no trabalho destes três artistas, que seriam
baseando-os no funcionamento do sistema visual, sob o
representados nas expressões faciais e nos gestos
ponto de vista evolucionista. Estes princípios tanto
corporais dos retratos.
auxiliam o homem a classificar objetos em categorias –
As bases cognitivas, psicológicas e neurobiológicas
algo que seria vital para a sobrevivência (por exemplo, a
da percepção, da memória, da emoção, da criatividade e
classificação auxiliaria a discriminar predadores, plantas
da empatia, são apresentadas por Kandel para mapear
etc.) – quanto atuam como um conjunto de heurísticas
como estes atributos são importantes para a descrição do
que os artistas empregam, consciente ou
processo de percepção dos objetos artísticos. No modelo
inconscientemente, para ativar áreas visuais do cérebro.
de Kandel, o insight que acompanha o processo de
Basicamente, os dois neurocientistas constroem uma
percepção visual, assim como as respostas emocionais,
hipótese biológica de como estes princípios são
seriam os maiores responsáveis pela produção de novas
experienciados pelo homem.
linguagens na arte e novas expressões da criatividade
Embora várias críticas tenham sido feitas ao trabalho
artística. Embora esta não seja uma novidade para os
de Ramachandran e Hirstein, dentre elas as de
artistas, trazemos como exemplo Kandel para mostrar
Wheelwell [9] que focalizam a confusão existente no
que há concepções aproximadas do nosso contexto
emprego dos termos “excitação” e “beleza”, entre
nestes estudos do autor.
outros, os autores demonstram estar cientes das
limitações de suas propostas e fazem algumas C. Margareth Livingstone
observações que reforçam que ela é um ponto de
partida, que não se trata de uma teoria completa da arte, No livro Vision and art: The biology of seeing [7],
mas de uma teoria biológica da estética. Este é o ponto Livingstone investiga, a partir da biologia celular, as
que mais respeitamos, pois antevê a abrangência de seus relações entre a arte e o sistema visual. A autora explica
estudos para outras experiências e produções artísticas, como o cérebro opera para reconhecer e formar a
para além da visualidade. imagem, usando, para tanto, a hipótese dos fluxos
De acordo com os próprios neurocientistas, os oito ventral e dorsal de processamento da informação visual
princípios não falam de originalidade, que é a essência [12], responsáveis pelo processamento da cor e do
da arte, mas dizem respeito a quando a originalidade movimento, respectivamente, no cérebro. A autora
torna-se aparente, como ela emerge; os princípios demonstra como alguns artistas exploraram, de
também não explicam a evocatividade, mas ajudam a diferentes maneiras, esta capacidade de operação dual
compreender aspectos da arte visual, da estética e do do cérebro e, também, apresenta como a base de
design. Ramachandran e Hirstein estão de acordo que a funcionamento de alguns dispositivos eletrônicos, como
arte é idiossincrática, inefável e reforçam que o modelo a TV, se constrói no sentido de atender à maneira como
que propõem lança a hipótese de que a arte emerge de o sistema visual faz a leitura e o processamento das
pelo menos oito princípios, explorando-os de forma cores.
lúdica e deliberada, às vezes violando-os. Pelo modo
como o modelo dos autores é apresentado, o que eles

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16 R. Leote, H. Oliveira and D. Baraúna / Abordagens da neurociência sobre a percepção da obra de arte

D. Semir Zeki e colaboradores visual operam [13] [14], como por exemplo, a arte
cinética, pinturas que retratam o movimento ou
Assim como para Livingstone [7], a arte visual é
abstratas.
também para Zeki [13] e Kawabata e Zeki [15] uma
A proposta de Zeki e de seus colaboradores é
experiência estética que obedece leis do sistema visual construída considerando-se a conhecida hipótese dos
que deve ser estudada no contexto do conhecimento. fluxos de processamento de informação visual que
Estes autores não consideram os processos cognitivos e ocorrem nas áreas ventral e dorsal do cérebro, tal como
nem a imaginação que permeiam a experiência estética, a proposta por David Milner e Mervyn Goodale [12]. A
porque ainda teríamos poucos indícios neurocientíficos primeira área (ventral) é responsável pelo
a respeito disto, mas levam em conta apenas aspectos reconhecimento do objeto e mantém conexões com o
perceptivos da arte. Eles delineiam as fundações lobo temporal medial (responsável pela memória de
biológicas da estética a partir da premissa de que elas longo prazo) e o sistema límbico (encarregado das
obedecem a regras do cérebro. Entretanto, como isto emoções); esta área ventral sofre, portanto, influência de
ocorre, ainda não é muito claro em suas pesquisas. fatores extraretinianos e comporia a base para as
Zeki e seus colaboradores interligam achados operações cognitivas. Com relação a segunda área
neurocientíficos com Platão, Hegel, Kant e vários (dorsal), ela é responsável pelo processamento da
artistas, para delinear uma proposta que pode ser localização espacial do objeto e se baseia nos
aplicada tanto no âmbito da execução da obra de arte, comportamentos motores, tanto do corpo do sujeito,
quanto no de sua apreciação. quanto dos objetos no ambiente [12].
Zeki e Lamb [14] tomam como referência o O modelo neuroestético de Zeki e colaboradores [13]
funcionamento do córtex cerebral, que é chamado por [14] [15] lança a hipótese de que a estimulação
eles de “cérebro visual”, e entendido como um sistema, fisiológica de áreas visuais específicas, aquelas ligadas
para explicar esta área específica do córtex cerebral, ao processamento da cor, forma, movimento e
conhecida por V1, que seria a responsável pela profundidade, poderiam desencadear a experiência
estética; para eles, o artista possui a habilidade de criar
emergência da experiência estética, embora o resultado
efeitos estéticos capazes de estimular um número
desta experiência não se restrinja apenas a esta região.
limitado e específico de áreas no córtex cerebral.
Estes autores observam que não vemos apenas com os
Particularmente, a arte cinética seria um fértil terreno
olhos, o olho é somente um orgão de todo o sistema para investigar a relação entre a fisiologia da percepção
visual; esta consideração é importante porque nos leva a visual, a atividade cerebral e a experiência estética.
uma possibilidade de discutir a experiência visual de Porém, os autores problematizam a arte cinética apenas
modo mais abrangente, se tomarmos por base que não no que diz respeito ao movimento e a fisiologia do
vemos exclusivamente com os olhos, mas sim com o sistema visual responsável por ele [14].
córtex cerebral, que é o sistema envolvido no Em diferentes trabalhos os autores supracitados
processamento e interpretação da imagem. As muitas analisam obras de arte que são classificadas por eles
evidências, apontadas por Zeki [13], demonstram que a como cinéticas, embora muitas delas sejam pinturas.
retina do olho não é difusamente conectada a todo o Eles as estudam com ênfase na visualidade, deixando à
cérebro, ou a sua metade, e sim circunscrita ao córtex margem estímulos importantes como tatilidade,
cerebral (área V1) – o único lugar de entrada de sonoridade e dimensão. Eles consideram que a arte
radiação visual dentro do órgão que abriga a alma cinética é relevante para estudar o sistema visual porque
humana. ela é capaz de gerar movimento ilusionista, por meio de
Zeki e Lamb [14] elencam exemplos baseados em estratégias de estimulação fisiológicas mínimas do
síndromes de diferentes tipos de perdas visuais seletivas córtex (formas dinâmicas), que são capazes de ativar a
que permitem dizer, em partes, como ocorre o área V5 do cérebro (a do movimento).
processamento visual. Sabe-se que existem sistemas O “cérebro visual” para estes autores tem como
independentes, nos quais cor, forma, movimento e, função emergir a constância8, com a finalidade de obter
possivelmente, profundidade, são processados conhecimento sobre o mundo. A função geral da arte
separadamente, inclusive percorrem o cérebro com uma teria a mesma função do cérebro visual e lidaria com
pequena margem de diferença. Assim, o cérebro visual, uma constância duradoura, permamente, essencial,
além de modular, também é caracterizado por um presente nas características dos objetos e situações, que
conjunto de sistemas de processamento paralelos e uma permitem adquirir conhecimento sobre ele e sobre o
hierarquia temporal. Estas conclusões, como apontam os mundo. Ela permite conhecer, não apenas uma coisa
autores, permitem supor que exista uma modularidade e particular, mas ligá-la à outros tantos objetos, e assim
especialização funcional também na estética visual, já fornecer conhecimento sobre a extensa categoria da qual
que a arte se realiza, quer seja no âmbito da execução, este objeto faz parte. Neste processo, o artista precisa ser
quer seja no da apreciação, como produto do cérebro seletivo, assim como a visão, para produzir a obra, e
visual. Determinadas formas de arte permitiriam estudar investir nos atributos essenciais das coisas, descartando
como os sistemas de processamento de informação o que é supérfluo. Portanto, para eles, uma das funções

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da arte seria a de atuar como uma extensão da função do durante os experimentos nas pesquisas neurocientíficas,
cérebro visual [13]. de um modo geral, é demonstrado que a visualização de
No modelo de Zeki e colaboradores, ambos, o cérebro diferentes categorias de pinturas produz atividades em
e seus produtos (arte), têm a tarefa de capturar os diferentes áreas do cérebro, independentemente se as
objetos como eles são, sua essência. Mas como filtrar imagens forem belas ou feias. Em qualquer das
cada alteração de uma informação do mundo visual, que categorias da imagem, percebe-se um aumento de
é importante para representar o permanente, as atividades cerebrais perante aquelas classificadas como
características essenciais dos objetos? Neste ponto, Zeki “belas”, e uma diminuição das atividades perante as
baseia-se na filosofia da estética de Kant para refletir consideradas “feias”.
Podemos dizer que o método destes experimentos não
sobre isto, e elege a noção de perfeição que implica em
é eficiente, pois se fizéssemos testes idênticos,
imutabilidade [13].
enfocando imagens fotográficas, teatrais ou
Zeki [13] sustenta que artistas são também
cinematográficas, opondo, por exemplo, temas pacíficos
neurologistas, pois eles utilizam técnicas que são únicas ou violentos, teríamos resultados muito aproximados. O
e que formalizam características do sistema de que diferenciaria os resultados da visualização de obras
processamento perceptivo do cérebro. Segundo ele os de arte e como este método poderia dar conta de avaliar
artistas, por vezes, restringem ou alargam um dos as percepções de obras digitais ou hipermidiáticas,
sistemas (cor ou movimento), como na arte cinética, por incluindo o cinema interativo?
exemplo. Mas de acordo com Kawabata e Zeki [15] os
Em seus escritos sobre a teoria neuroestética, Zeki resultados obtidos com as medições de atividades do
[13] se baseia em vários artistas e faz correlações entre o cérebro respondem se há ativações em áreas cerebrais
funcionamento do sistema visual e algumas obras, que específicas no reconhecimento do “belo” e do “feio”: o
segundo ele são capazes de ilustrar como o cérebro reconhecimento de pinturas belas não mobiliza o
visual processa a informação. Neste ponto, porém, cérebro visual inteiro, mas apenas áreas relacionadas a
embora não contextualize seu trabalho sob a perspectiva percepção do estímulo específico a determinada
da neuroestética, e sim a partir da fisiologia do sistema categoria, o que demonstraria que a especialização
visual, nos parece que a pesquisa de Livingstone é muito funcional está na base do julgamento estético. Desse
mais ilustrativa ao explicar esta relação. Zeki cita o modo, o julgamento do belo e do feio estaria
poder psicológico das pinturas de Vermeer e condicionado ao processamento da imagem na área
Michelângelo, que dão conta de captar o olhar de específica relacionada ao tipo de imagem visualizada.
dentro, e demonstra como estes artistas servem de Apesar de serem identificadas em diferentes áreas
exemplo para o estudo da constância situacional do cerebrais, o reconhecimento do “belo” e do “feio”
sistema visual. O registro da noção de movimento por também tem regiões de atividade em comum como
mostram outros estudos [16] [17].
alguns artistas é, para Zeki, realmente intrigante,
Os experimentos permitiram que Zeki e seus
sobretudo os encontrados na arte cinética, pois ainda não
colaboradores elencassem diferentes tipos de ativação
sabemos muito sobre como ocorre a percepção de linhas
cerebral. Uma das ativações refere-se ao cortex motor,
e movimentos no cérebro, mas os artistas, porém, que sugere que a percepção visual de um estímulo,
materializam estes atributos com maestria. Os móbiles sobretudo de um estímulo emocionalmente carregado,
de Calder são considerados, por ele, grandes exemplos mobiliza o sistema motor, conferindo algumas ações
de como o estímulo das células na região V5 (região do corporais referentes ao reconhecimento do “belo” e do
cérebro na qual as células são seletivamente responsivas “feio”, o que acontece com muito mais força durante a
ao movimento e direção de movimento) do cérebro percepção do “feio”.
funcionam. Kawabata e Zeki [15] reconhecem que a pesquisa
Kawabata e Zeki [15] tratam a visão como a mais realizada não é suficiente para comprovar as condições
poderosa ferramenta de obtenção de conhecimento, de surgimento do reconhecimento do “belo” e do “feio”
porém alertam que ainda é um enigma como o cérebro e destacam que o próprio fMRI (functional magnetic
processa este conhecimento. Usando como referência resonance imaging) mostra-se limitado, na medida em
Platão, e principalmente Kant, a neuroestética de Zeki e que este apenas consegue mostrar as áreas ativadas
colaboradores também aborda as noções de beleza, durante o paradigma utilizado, o que não significa que
neutralidade e feiura, estudadas a partir de uma série de áreas não detectadas durante o processo não possam
experimentos nos quais a atividade cerebral do sujeito é influenciar na experiência. Além disso, ainda segundo
escaneada enquanto ele visualiza reproduções de os autores, seriam necessárias experiências futuras, que
pinturas de diferentes categorias (abstrata, natureza- considerassem outros tipos de linguagem artística, como
morta, paisagem ou retrato). Já no nosso entendimento, a música, poesia, teatro, literatura. Os autores declaram
estes experimentos são restritos a demonstrar quais são que não estão aptos a determinar o que constitui o
as áreas ativadas do cérebro quando se visualiza “belo” em termos neurais; a resposta pode estar
diferentes categorias de imagens consideradas “belas”, relacionada a ativação do sistema cerebral de
“neutras” ou “feias”. Sobre a atividade cerebral avaliada

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18 R. Leote, H. Oliveira and D. Baraúna / Abordagens da neurociência sobre a percepção da obra de arte

recompensas, o que abre espaço para estudos voltados a fim, um vídeo silencioso com cenas naturalísticas foi
identificar a definição dessa atividade cerebral e as exibido.
estruturas que estão implicadas no julgamento estético, Os resultados mostraram um aumento nas correntes
bem como a força dessas atividades estruturais. de sinal top-down, no córtice parietal-ocipital, durante o
Os estudos de Zeki e colaboradores não se preocupam processo de imaginação e formação de imagens mentais
em compreender o quanto as concepções de beleza são da viagem solicitada, o que torna este estudo pioneiro
condicionadas pelos contextos culturais e educacionais, em demonstrar como há uma inversão na direção
embora apontem para a existência e importância destes predominante, do fluxo do sinal cortical, durante a
fatores. Ainda que lancem a proposta inicial de formação da imagem mental, em comparação com a
compreender se o belo, neutro e feio emergem do objeto percepção de conteúdos diversos.
apreendido, ou do sujeito que percebe, a pesquisa destes Em “The neural time course of art perception: An
autores deixa muitas lacunas a respeito. ERP study on the processing of style versus content in
art” [20], os autores usam imagens de pinturas de Paul
E. Abordagens Neurocientíficas da percepção da obra Cézanne e Ernst Ludwig Kirchner (paisagens e pessoas)
de arte na prática de laboratório. para compreender qual a especificidade da percepção de
Em um trabalho anterior [18] realizamos um obras de arte, em relação à percepção de objetos e cenas
levantamento de pesquisas da neurociência/ convencionais. Os autores se perguntam como o estilo e
neuropsicologia que se apropriam de conteúdos o conteúdo das obras de arte poderiam influenciar o
artísticos para fazer ciência; nele identificamos que a aspecto diferenciado dessa percepção – isto posto no
arte aparece como tema central ou periférico e, muitas caso específico dos artistas escolhidos, como o estilo
vezes, é utilizada para estudar a percepção e a cognição caracteriza as obras Pós-Impressionista (Cézanne) e
humanas de um modo geral. Tais pesquisas usam Expressionista (Kirchner), e como o conteúdo
eletroencefalografia9 (EEG), ou ressonância magnética caracteriza o motivo pintado? No experimento, as
funcional10 (fMRI), para avaliar a atividade cerebral, imagens foram mostradas aos participantes que
lidam com tecnologias que rastreiam o olhar ou são deveriam identificar (por meio de respostas motoras das
desenvolvidas no contexto da arte-terapia; além de mãos) ora o estilo, ora o conteúdo, em instantes
imagens bidimensionais da arte, o cinema também é específicos conforme a orientação dos avaliadores.
utilizado nos experimentos. O cinema é pensado como Usando várias técnicas de medição (ERP-Event-related
“um espaço de experimentação científica eficaz, para potential, LRP-Lateralised Readiness Potential, Effect
pesquisas que estudam o cérebro e a cognição, ou se N20013), o estudo buscou identificar a diferença relativa
interessam pelos processos cerebrais que são evocados do tempo neural de percepção, processamento e
por estímulos audiovisuais complexos” [18]. A maioria reconhecimento entre o estilo e o conteúdo das obras de
das pesquisas baseadas no cinema usam monitoramento arte, a partir das reações motoras dos indivíduos – e
fisiológico, e/ou fMRI, em tempo real, quando o chega a conclusão de que o tempo de processamento e
indivíduo assiste a um filme. reconhecimento do conteúdo precede o do estilo.
Em um experimento que envolve o cinema, Boly et Para os estudiosos essa informação provavelmente
al. [19] investigaram o processo de formação de deve-se ao fato de que o conteúdo apresentado guarda
imagens mentais e o papel das conexões bottom-up e similaridades muito maiores com experiências visuais
top-down11 durante a percepção visual, a partir de uma cotidianas, enquanto que o estilo parece ser mais
análise de dados obtidos via eletroencefalograma de alta abstrato. Portanto, esse dado, segundo os autores,
densidade (hdEEG), usando o software NetStation12. corrobora as teorias empíricas a respeito da
Foi lançada, por eles, a hipótese de que durante a diferenciação na percepção de obras de arte, já que as
percepção visual as conexões de baixo para cima, de questões de estilo, potencialmente presentes nesses
áreas visuais primárias, para córtices de ordem superior, trabalhos, solicitam um tempo maior de processamento
seriam predominantes. O experimento consistiu na e exercício cerebral, por justamente não poderem ser
exposição de voluntários monitorados pelo hdEEG às facilmente relacionadas às experiências cotidianas, e
seguintes situações: a) a visualização de 6 filmes, de trazerem à tona não apenas um prazer estético, mas
aproximadamente 1 minuto cada, retirados do jogo de também um maior teor de demandas intelectuais.
computador The Sims 3; b) foi solicitado que os Tikka et al. [21], em “Enactive cinema paves way for
participantes, com os olhos fechados, reproduzissem, understanding complex real-time social interaction in
verbalmente, com o mínimo de detalhes possíveis, neuroimaging experiments”, investigam novas formas
informações referentes a cor, textura e movimentos de fazer cinema, a partir das técnicas presentes no
percebidos no filme; c) em seguida, os participantes trabalho de Hasson et al. [apud 21] sobre
tiveram que imaginar uma viagem, com uma bicicleta “Neurocinematics” – que são uma série de experiências
mágica, para um destino a sua escolha, sob a instrução desenvolvidas por este pesquisador, que se baseia na
de focar os detalhes da viagem e cenários imaginados, produção de imagens do cérebro (fMRI14) enquanto se
em dois momentos, um de de olho fechado, e outro de assiste à um filme, tendo como objetivo estudar o
olho aberto, com 5-6 minutos de duração cada; d) por comportamento do espectador conforme o conteúdo

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daquilo que ele vê. Tikka et al. [21] exploram as  Compartilhamos uma pesquisa em andamento, na
técnicas de Hasson et al [apud 21] e o cinema para qual nossa hipótese inicial, no projeto geral
pensarem um sistema interativo, que usa o cinema como (Interfaces Assistivas para as Artes), assumia que a
estímulo, para promover mudanças fisiológicas que neurociência suplantaria as epistemologias
ocorrem no corpo do participante, que também podem aplicadas no campo da arte e que estas estariam
alterar o curso de um dado conteúdo cinematogáfico do ultrapassadas. Quanto mais avançamos na pesquisa,
sistema interativo. mais nos aparecem aproximações, do que
distanciamentos, dos estudos da neurociência com a
fenomenologia, a Gestalt, a semiótica e a
V - DISCUSSÕES
complexidade. Assim, passamos a considerar uma
 Entender os modelos neurocientíficos não é tarefa modificação na mesma. Entendemos, ainda, que se
trivial, fazemos um trabalho de mediação, buscando faz necessário examinar a percepção aplicando a
clarear uma questão que, do nosso ponto de vista, neurociência, tanto para compreender o papel do
ainda não foi respondida nem pelos estudos da arte, artista no fazer, quanto da percepção que se faz da
nem pelos da neurociência, embora aceitemos que obra (inclusive a que o próprio artista faz em seu
esta última tem nos feito vislumbrar respostas processo de criação – o que carrega a avaliação).
competentes sobre como se dá a percepção no nível Porém, este enfoque deve ser amalgamado a
mental. aspectos das outras epistemologias.
 Este trabalho oferece instrumentos científicos para  Nos é claro que a abrangência do entendimento
analisar a obra de arte, trazendo aportes para os dois sobre a percepção, tanto no fazer, quanto no
campos principais do nosso enfoque: a arte e a experimentar a obra de arte, tem aspectos
neurociência. Entretanto, temos como definido que incognoscíveis, a partir do conhecimento
ainda precisamos discutir a percepção examinado a tecnológico e científico de que dispomos em nossa
neurofenomenologia, proposta por Francisco Varela; contemporaneidade. Todavia, ao galgar escalas de
o problema dos qualia (elemento primordial das compreensão se caminha no sentido da abrangência
experiências do indivíduo), em António Damásio e de entendimento sobre o fenômeno
também em Vilanayur Ramachandran; e o dos  Argumentamos ser possível delinear conceitos e
sentimentos, sensações e emoções conforme António metodologias originais, para o estudo dos aspectos
Damásio gerais da arte mas, até o momento, onde enfocamos
 Focar apenas o sistema visual parece deixar lacunas a percepção, elencamos, pelo menos três áreas
de averiguação muito sérias sobre a obra de arte, distintas: Neurociências, Semiótica e Teorias dos
pois a arte contemporânea não se assenta Sistemas Complexos. Entretanto, percebemos que
exclusivamente no visual. Além disso, há uma parte nenhum destes aportes, fornece uma compreensão
cultural e um foco atencional do processo de ver que efetiva sobre a mente que percebe. Mas a resposta
se modifica conforme culturas e especificidade do para isso, nem os neurocientistas têm, até o
indivíduo. momento.

VI – CONCLUSÕES PRELIMINARES AGRADECIMENTOS


Agradecemos aos integrantes e colaboradores do GIIP
 Concordamos com a maior parte das observações (Grupo Internacional e Interinstitucional de Pesquisa em
de Seeley [3], Conway e Rehding [4] e Salah e Convergências entre Arte Ciência e Tecnologia) e ao
Salah [5]. Elas servem de diretrizes para uma PPG em Artes do Instituto de Artes da Unesp; à
revisão no programa de pesquisas neurocientíficas FAPESP e ao CNPq pelas bolsas de pesquisa fornecidas
sobre o nosso envolvimento com a obra de arte e, aos membros do GIIP e à estes autores; à FAPESP pelo
da mesma forma, para o alargamento da nossa auxílio à viagem e participação no evento ARTECH.
compreensão da arte com aportes de outras áreas de
conhecimento.
 Temos uma amostragem suficiente para apresentar 1
Pesquisa: “A neurociência e a percepção: a
coincidências e discrepâncias nos casos de multisensorialidade e a multimodalidade”, sob a coordenação
aplicação e/ou apropriação dos temas e objetos da da Dra. Rosangella Leote, que mantém ligação com o problema
arte, incluindo os equívocos da ciência. Notamos geral do projeto temático “Interfaces assistivas para as artes:
um reducionismo significativo, tanto das medições, da difusão à inclusão”. Reúne vários pesquisadores, inclusive
quanto nas escolhas das obras para os experimentos do exterior.
(as obras utilizadas são sempre as consagradas) 2
Oliveira, H. C.; Baraúna, D.; Leote, R. Apropriações da arte
levando-nos a concluir que a grande dificuldade de pela ciência – Casos da neuropsicologia. In: Anais do 23°
entendimento da ciência sobre nossa área, e vice- Encontro Nacional da ANPAP. Ecossistemas Artísticos.
versa, se aninham na desinformação. Afonso Medeiros, Lucia Gouvêa Pimentel, Idanise Hamoy,

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20 R. Leote, H. Oliveira and D. Baraúna / Abordagens da neurociência sobre a percepção da obra de arte

Yacy-Ara Froner (Orgs.). 1. Ed. Belo Horizonte: [5] A. Salah, and A. Salah, “Technoscience art: a bridge
ANPAP/PPGARTES/ICA/UFMG, 2014. ISSN: 2175-8220 between neuroesthetics and art history?”, Review of
(PENCARD). ISSN: 2175-8212 (ONLINE). general psychology, vol. 12, no. 02, pp. 147-152, 2008,
3
(1) Neuroimaging: Den Haag: APA, 2008. Pg. 149.
http://www.journals.elsevier.com/neuroimage/; (2) [6] S. Zeki, Inner Vision: an exploration of art and the brain.
Neuropsicologia – A Neuropsychologia International Journal Oxford University Press, 2000.
in Behavioural and Cognitive Neuroscience: [7] M. Livingstone, Vision and art: the biology of seeing, New
http://www.journals.elsevier.com/neuropsychologia/; (3) York: HNA Ed, 2002.
Frontiers in HUMAN NEUROSCIENCE: [8] V. Ramachandram, and W. Hirstein, “The science of art a
http://www.frontiersin.org/human_neuroscience. neurological theory of esthetic experience”, Journal of
Consciouness Studies, no. 6, pp. 15-51, 1999.
4
Os resultados encontram-se no texto citado acima (nota 2). [9] D. Wheelwell, “Against the reduction of art to galvanic
5
Ver nota 1 - “Grupo internacional e Interinstitucional de skin response”, Journal of Consciousness Studies, vol. 7,
Pesquisa em Convergências entre Arte, Ciência e Tecnologia” no. 8-9, pp 37-42, 2000.
(GIIP) – Instituto de Artes, UNESP/SP (Brasil). [10] V. S. Ramachandran, “Sharpening up ‘The science of art:
6
A saber: (i) o efeito de mudança de pico, (ii) o agrupamento, an interview with Anthony Freeman’”, Journal
(iii) o isolamento/ alocação da atenção, (iv) o contraste, (v) a Consciousness Studies, vol. 8, no.1, pp. 9-29, 2011.
simetria, (vi) o ponto de vista genérico e percepção da lógica [11] E. R. Kandel, The age of insight: the quest to understand
Bayesiana, (vii) a resolução de problemas da percepção e (viii) the unconscious in art, mind and brain, from Vienna 1900
a metáfora, sendo que alguns destes princípios foram, to the present, Random House: New York, 2012.
inclusive, estudados pela Gestalt. [12] D. Milner, and M. Goodale, “Separate visual pathwaysfor
7Do sânscrito, significa a essência de algo capaz de evocar um
perception and action”, Trends Neurosci, no. 15, pp. 20-
humor específico no observador. 25, 1992.
8 Tem a incumbência de gerenciar os procedimentos contínuos [13] S. Zeki, “Art and the Brain”, Journal of Consciouness
do sistema visual e concretizar sua estabilidade funcional. Studies: controversies in science and the humanities –
9
Eletroencefalografia: técnicas de medição dos sinais elétricos Special feature on art and the brain, vol. 6, no. 6/7, 1999.
do cérebro, através do uso de eletrodos ou microelétrodos. [14]S. Zeki, and M.Lamb, “The Neurology of Kinect art, no.
10 Ressonância magnética funcional: técnica de escaneamento
117, pp. 607-636, 1994.
do cérebro que mede a atividade cerebral através da detecção [15] H. Kawabata. S. Zeki. “Neural correlates of beauty”. J.
de alterações no fluxo de sangue. Neurophysiol . 91. 1699-1705. 2004.
11 Empregados para definir o fluxo de informações no
[16] H. Kawasaki, O. Kaufman, H. Damasio, A. R. Damásio,
processamento sensorial. A abordagem bottom-up refere-se a M. Granner, H. Bakken. “Single-neuron responses to
processos cognitivos em que existem estímulos externos que emotional visual stimuli recorded in human ventral
provocam rápidas reações em quem percebe, foca-se em prefrontal cortex”, Nature Neuroscience, vol. 4, pp. 15-16,
detalhes, baseando-se principalmente em informações 2001.
sensoriais, existe uma progressão de elementos individuais [17] M. Shidara, and B. J. Richmond, “Anterior congulate:
para o todo e inclui o processo de percepção que precisa da single neuronal signals related to degree of reward
disponibilização de estímulos. Por outro lado a abordagem expectancy”, Science, vol. 296, no. 5.573, pp. 1709-1711,
top-down preocupa-se com os processos que possuem mais de Maio 2002.
um mecanismo de estímulo no qual buscamos um [18] X, Y, Z, “Omitido para avaliação cega”, Anais do 23º
direcionamento, portanto, mais complexo, encontra-se no Encontro de pesquisadores em artes plásticas, 1 ed, pp.
âmbito da semântica. 85-100, Belo Horizonte:
12 ANPAP/PPGARTES/ICA/UFMG, 2014.
Pacote de software para coleta de dados adquiridos durante
sessões de EEG ou ERP podendo executar várias operações [19] M. Boly, J. Y. Chang, B. L. Cheung, D. Dentico, J.
em seus dados em tempo real para visualização e análise das Guokas, G. Tonono, B. V. Veen. “Reversal of cortical
informações. information flow during visual imagery as compared to
13 Técnicas baseadas em métodos da eletroencefalografia visual perception, Neuroimage, no. 100, pp 237-243, 2014.
(EEG). [20] M. D. Augustin, B. de Franceschi, H. K. Fuchs, C. C.
14 Ressonância magética funcional. Carbon, F. Hutzler, “The neural time course of art
perception> an ERP study on the processing of style
versus content in art”, Neuropsychologia, no. 49, pp. 2071-
REFERÊNCIAS 2081. Grã-Bretanha: Elsevier, 2011.
[21] A. W. De Borst, M. Kaipainen, R. Pugliese, N. Ravaja, T.
[1] A. Damásio, E o cérebro criou o homem, São Paulo: Takala, P. Tikka, A. Valjamãe, “Enactive cinema paves
Companhia das letras, 2011. way for understanding complex real-time social interaction
[2] J. P. Changeaux, The good, the true, and the beautiful – a in neuroimaging experiments, Frontiers in Human
neuronal approach, EUA: Yale University Press, 2012. Neuroscience, Vol. 6, Frontier editorial: Suíça, 2012.
[3] W. P. Seeley, “What is the cognitive neuroscience of art …
and why should we care?”, American Society for
Aesthetics - Aesthetics on-line, 2011. Disponível em:
http://www.aestheticsonline.org/articles/index.php?articles
_id=53
[4] B. R. Conway, and A. Rehding, “Neuroaesthetics and the
trouble with beauty”, PLoS Biol, 2013.

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