Fichamento - As Regras Do Metodo Sociologico

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DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. 3ª. Ed.

São Paulo: Martins Fontes,


2007.

Capítulo I

O QUE É UM FATO SOCIAL?

“Antes de procurar qual método convém ao estudo dos fatos sociais, importa saber
quais fatos chamamos assim. ” [...]. Todo indivíduo come, bebe, dorme, raciocina, e a
sociedade tem como todo o interesse em que essas funções se exerçam regularmente. (P. 1).

“Quando desempenho minha tarefa de irmão, de marido ou cidadão, quando executo


os compromissos que assumi, eu cumpro os deveres que estão definidos, fora de mim e de
meus atos, no direito e nos costumes. [...]. Eis aí, portanto, maneiras de agir, de pensar e de se
sentir que apresentam essa notável propriedade de existirem foras das consciências
individuais. [...]...como também são dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude
da qual se impõe a ele, quer queira ou não. [...]...se tento violar as regras do direito, elas
reagem contra mim para impedir meu ato...”. (P. 1-2).

“Em se tratando de máximas puramente morais, a consciência pública reprime todo


ato que as ofenda através da vigilância que exerce sobre a conduta dos cidadãos e das penas
especiais que se dispõe. Em outros casos, a coerção é menos violenta, mas não deixa de
existir. [...]. Ainda que de fato, eu possa liberta-se dessas regras e viola-las como sucesso, isso
jamais ocorre sem que eu seja obrigado a lutar contra elas. [...] eis, portanto uma ordem de
fatos que apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, pensar e
de sentir, exteriores ao indivíduo que são dotadas de um poder de coerção em virtude do qual
esses fatos se impõe a ele. “. (P. 3)

“Esses fatos constituem, portanto, uma espécie nova, e é a eles que deve ser dada e
reservada a qualificação de sociais. [...]. Sendo hoje, incontestável, porém, que a maior parte
de nossas ideias e de nossas tendências não é elaborada por nós, mas nos vem de fora, elas só
podem penetrar em nós impondo-se; eis que tudo o que significa nossa definição. [...] mas
existem outros fatos que, sem apresentar essas formas cristalizadas, têm a mesma objetividade
e a mesma ascendência sobre o indivíduo. É o que chamamos de correntes sociais. [...].
Somos então vítimas de uma ilusão que nos faz crer que elaboramos, nós mesmos, o que se
impôs a nós de fora. ”. (P. 4).
“Aliás, pode-se confirmar por uma experiência a definição do fato social: basta
observar a maneira como são educadas as crianças. Quando se observam os fatos tais como
são e tais como sempre foram, salta aos olhos que toda educação consiste num esforço
contínuo para impor a criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria
chegado espontaneamente. [...]. Essa pressão de todos os instantes que sofre a criança é a
pressão mesma do meio social que tende a modelá-lo à sua imagem e do qual os pais e os
mestres não são senão os representantes e os intermediários. [...]. Assim não é sua
generalidade que pode servir para caracterizar os fenômenos sociológicos. Um Pensamento
que se encontra em todas as suas consciências particulares, um movimento que todos os
indivíduos repetem nem por isso são fatos sociais. ”. (P. 6).

“Mas, ainda que se deva, em parte, à nossa colaboração direta, o fato social é da
mesma natureza. Um sentimento coletivo que irrompe numa assembleia não exprime
simplesmente o que havia de comum entre todos os sentimentos individuais”. (P. 9).

“Um fato social se reconhece pelo poder de coerção externa que exerce ou é capaz de
exercer sobre os indivíduos; e a presença desse poder se reconhece, por sua vez, seja pela
existência de alguma sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a toda tentativa
individual de fazer-lhe violência. ”. (P. 10).

“A sociologia não pode desinteressar-se do que diz respeito ao substrato da vida


coletiva. No entanto, o número e a natureza das partes elementares de que compõe a
sociedade, a maneira como elas estão dispostas, o grau de coalescência a que chegaram, a
distribuição da população pela superfície do território, o número e a natureza das vias de
comunicação, formas das habilitações”. ( P. 11).

“Nossa definição compreenderá, portanto, todo o definido se dissermos: É fato social


toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao
mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas manifestações
individuais. ”. (P. 13).
Capítulo II

REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS

“A primeira regra e a mais fundamental é considerar os fatos sociais como coisas. ” [P.
15].

“No momento em que uma nova ordem de fenômenos torna-se objeto de ciência, eles
já se acham representados no espírito, não apenas por imagens sensíveis, mas por espécies de
conceitos grosseiros formados [...] O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a
respeito delas ideias, de acordo com as quais regula sua conduta. ” [P. 15].

“[...] Em vez de observar as coisas, de descrevê-las, de compará-las contentamo-nos


então em tomar consciência de nossas ideias, em analisa-las, em combina-las. Em vez de uma
ciência de realidades, não fazemos mais do que uma análise ideológica. [...]. Mas o fato só
intervém então secundariamente, a título de exemplos ou de provas confirmatórias; eles não
são o objeto da ciência. ” [P. 16].

“As noções que acabamos de mencionar são aquelas notiones vulgares ou


praenotiones que ele assinala na base de todas as ciências nas quais elas tomam o lugar dos
fatos. São os idola, fantasmas que nos desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas e que, no
entanto, tomamos como as coisas mesmas. E é por esse meio imaginário não oferecer ao
espírito nenhuma resistência que este, não se sentindo contido por nada, entrega-se a
ambições sem limite e julga possível construir, ou melhor, reconstruir o mundo com suas
forças apenas e ao sabor de seus desejos. ” [P. 18].

"Sentimos sua resistência quando buscamos libertar-nos delas. Ora, não podemos
deixar de considerar como real o que se opõe a nós. Tudo contribui, portanto, para que
vejamos nelas a verdadeira realidade social." [P. 19].

"Em toda ordem de pesquisas, com efeito, é somente quando a explicação dos fatos
está suficientemente avançada que é possível estabelecer que eles têm um objetivo qual é esse
objetivo" [P.25].
“...os fenômenos sociais são coisas e devem ser tratados como coisa [...] é trata-los na
qualidade de data que constituem o ponto de partida da ciência. [...]considerar fenômenos
sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os concebem; é preciso estudá-
los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós. ” (P.
28).

“...mesmo que eles não tivessem afinal todos os caracteres da coisa, deve-se primeiro
trata-los como se os tivessem. Essa regra aplica-se, portanto, à realidade social inteira, sem
que haja motivos para qualquer exceção. [...]. O caráter convencional de uma prática ou de
uma instituição jamais deve ser presumido. ” [P. 29].

“Mas a experiência de nossos predecessores nos mostrou que, para assegurar a


realização prática da verdade que acaba de ser estabelecida, não basta oferecer uma
demonstração teórica nem mesmo compenetrar-se dela [...] submeteremos a uma disciplina
rigorosa, cujas as regras principais, corolários de precedente, iremos formular.
[...]. É preciso descartar sistematicamente todas as promoções [...]. É preciso, portanto, que o
sociólogo, tanto no momento em que determina o objeto de suas pesquisas, como no curso de
suas demonstrações, proíba-se resolutamente o emprego daqueles conceitos que se formaram
fora da ciência e por necessidades que nada têm de cientifico. ” [P. 32-33].

“Toda investigação cientifica tem por objeto um grupo determinado de fenômenos que
correspondem a uma mesma definição. O primeiro procedimento do sociólogo deve ser,
portanto, definir as coisas de que ele trata, a fim de que se saiba e de que ele saiba bem o que
está em questão. [...] Além do mais, visto ser por essa definição que é constituído objeto
mesmo da ciência, este será uma coisa ou não, conforme a maneira pela qual essa definição
foi feita. Para que ela seja objetiva, é preciso evidentemente que exprima os fenômenos, não
em função de uma ideia do espírito, mas de propriedades que lhe são inerentes. ” [P. 35].

“Não possuímos nenhum outro critério que possa, mesmo parcialmente, suspender os
efeitos precedentes. Donde a seguinte: Jamais tomar por objeto de pesquisas senão um grupo
de fenômenos previamente definidos por certos caracteres exteriores que lhes são comuns, e
compreender na mesma pesquisa todos os que correspondem a essa definição. ” [P. 36].

“Ao proceder dessa maneira, o sociólogo, desde seu primeiro passo, toma
imediatamente contato com a realidade. Com efeito, o modo como os fatos são assim
classificados não depende dele, da propensão particular de seu espirito, mas da natureza das
coisas. ” [P. 37].

“...elas são o primeiro e indispensável elo da cadeia que a ciência irá desenrolar a
seguir no curso de suas explicações. [...]. Visto ser pela sensação que o exterior das coisas nos
é dado, pode-se, portanto, dizer, em resumo: a ciência, para ser objetiva, deve partir, não de
conceitos que se formaram sem ela, mas da sensação. É dos dados sensíveis que ela deve
tomar diretamente emprestados os elementos de suas definições iniciais. [...]. Mas a sensação
é facilmente subjetiva. Assim é de regra, nas ciências naturais, afastar os dados sensíveis que
correm o risco de ser demasiado pessoais ao observador, para reter exclusivamente os que
apresentam um suficiente grau de objetividade. ” [P.44]

“Pode-se estabelecer como princípio que os fatos sociais são tanto mais suscetíveis de ser
objetivamente representados quanto mais completamente separados dos fatos individuais que
os manifestam. [...]. De fato, uma sensação é tanto mais objetiva quanto maior a fixidez do
objeto ao qual ela se relaciona; pois a condição de toda objetividade é a existência de um
ponto de referência, constante e idêntico, ao qual a representação pode ser relacionada e que
permite eliminar tudo que ela tem de variável, portanto, de subjetivo. ” [P. 45].

“Quando, portanto, o sociólogo empreende a exploração de uma ordem qualquer de


fatos sociais, ele deve esforçar-se em considerá-los por um lado em que estes se apresentem
isolados de suas manifestações individuais. É em virtude desse princípio que estudamos a
solidariedade social em suas formas diversas e sua evolução através do sistema das regras
jurídicas que as exprimem. ” [P. 46].

“Para identificar os costumes, as crenças populares, recorreremos aos provérbios, aos


ditados que os exprimem. [..]. É preciso abordar o reino social pelos lados onde ele mais se
abre à investigação científica. Somente a seguir será possível levar mais adiante a pesquisa e,
por trabalhos de aproximação progressivos, cingir pouco a pouco essa realidade fugidia, da
qual o espírito humano talvez jamais possa se apoderar completamente. ” [P. 47].

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