Manual Do Escotista Ramo Escoteiro
Manual Do Escotista Ramo Escoteiro
Manual Do Escotista Ramo Escoteiro
Escritório Nacional
Rua Coronel Dulcídio, 2107 - Bairro Água Verde
CEP 80250 100 - Curitiba - Paraná
Tel.: 41. 3353-4732
www.escoteiros.org.br
Índice
Página
Apresentação 5
mensagem da diretoria executiva nacional 6
como usar este manual 7
Capítulo 1
Os jovens de 11 a 14 anos 8
Conceitos básicos 10
As principais tarefas de desenvolvimento entre 11 e 14 anos 13
Um perfil geral segundo os diferentes aspectos da personalidade 18
Outros aspectos 21
Capítulo 2
O Marco Simbólico 26
Os símbolos 28
O gosto por explorar 32
O interesse pela conquista de um território 42
Pertencer a um grupo de amigos 48
A aplicação do Marco Simbólico 53
Capítulo 3
A Patrulha 57
Conceitos básicos 59
A Patrulha como grupo informal 62
A Patrulha como comunidade de aprendizagem 77
Capítulo 4
Os elementos do Método Escoteiro: a vida de grupo 89
Os elementos do Método Escoteiro 91
A vida de grupo 95
Capítulo 5
A Tropa Escoteira 99
Natureza da Tropa Escoteira 101
Estrutura da Tropa Escoteira 108
Identidade da Tropa Escoteira 114
Capítulo 6
Lei e Promessa 117
O projeto educativo do Movimento Escoteiro 119
A Lei Escoteira 121
Reflexões sobre a Lei Escoteira 127
A Promessa 137
Capítulo 7
O papel dos escotistas 145
Os escotistas 147
Os escotistas como educadores 160
Capítulo 8
As áreas de desenvolvimento 167
As dimensões da personalidade 169
Reflexões sobre as áreas de desenvolvimento 173
Capítulo 9
Os Objetivos Educativos e as Competências 190
Natureza dos Objetivos Educativos e as Competências 192
A proposta de Objetivos 197
As etapas de progressão 223
Capítulo 10
As atividades educativas 225
Objetivos, competências, atividades e experiências 227
Tipos de atividades 230
As atividades fixas 235
As atividades variáveis 247
As especialidades 254
Capítulo 11
Avaliação da progressão pessoal 259
O período introdutório 261
O acompanhamento da progressão pessoal 271
Conclusões da avaliação da progressão pessoal 277
Capítulo 12
O Ciclo de Programa 281
Conceitos gerais 283
Diagnóstico da Tropa 288
Proposta e seleção de atividades 294
Organização, planejamento e preparação de atividades 301
Desenvolvimento e avaliação das atividades 310
apresentação
O livro que o leitor tem em mãos é produto do trabalho conjunto de 15 associações
escoteiras latino-americanas, com o apoio dos Escritórios Escoteiros Interamericano, Europeu e
Mundial. Durante três anos, cerca de 50 pessoas trabalharam para aperfeiçoar seu conteúdo e sua
apresentação. É um exemplo de cooperação internacional e uma expressão coerente da experiência
de pessoas diferentes que atuam em ambientes variados.
O Manual foi escrito para ser aplicado, razão pela qual seus principais destinatários são os
escotistas do Ramo Escoteiro, que apoiam o desenvolvimento dos jovens ajudando-os a organizar
sua aventura. Esperamos que estas páginas lhes permitam encarar de uma forma nova o trabalho
que realizam, renovar seu compromisso, descobrir outras ideias e cumprir sua tarefa de forma cada
vez melhor. Quanto mais profundamente refletirmos sobre os valores que nos guiam e sobre o
método que aplicamos, mais sentido terão nossas vidas e nosso trabalho com os jovens.
Esperamos que o Manual também seja útil àqueles que, sem ser escotistas, se interessam
pelo Movimento ou desejam iniciar-se nas atividades escoteiras. Esses logo se darão conta de que o
livro tem uma visão bastante ampla, está escrito em um linguajar simples e reúne o que há de mais
valioso nas atuais orientações em educação.
Finalmente, como coordenador do grupo que elaborou o livro, agradeço a todos pela
participação, pela confiança e pela paciência.
GERARDO GONZÁLES E.
Diretor Regional
Oficina Scout Interamericana
Santiago,
Setembro de 2001
Mensagem da Diretoria
Executiva Nacional
Nos últimos dezesseis anos, a União dos Escoteiros do Brasil vem investindo na
atualização do seu Programa Educativo, buscando torná-lo, conceitualmente, o mais próximo
possível ao proposto por Baden-Powell, considerando a realidade do mundo em que vivemos, com
um conteúdo que desperte o interesse e produza experiências relevantes para contribuir para o
crescimento pessoal dos jovens.
Nesse importante processo, que começou com um estudo da então Comissão Nacional
de Programa de Jovens, somaram-se várias forças da UEB, com a participação efetiva do CAN –
Conselho de Administração Nacional, das Regiões Escoteiras, do Escritório Nacional e da nova
estrutura da área de Métodos Educativos, que criamos neste mandato.
Graças a este esforço conjunto, que esta Diretoria Executiva Nacional teve a satisfação de
coordenar, chegamos a um resultado totalmente positivo, lançando agora o Manual do Escotista
Ramo Escoteiro, que é uma publicação dirigida aos adultos que se dedicam a oferecer aos jovens
oportunidades de vivenciar atividades que lhes ajudem a conquistar novos territórios com seu grupo
de amigos, em uma atraente aventura, ampliando conhecimentos, desenvolvendo habilidades e,
principalmente, cultivando atitudes e valores que os tornarão pessoas melhores.
Mais uma vez, agradecemos a todos que contribuíram, de uma forma ou outra, para
alcançarmos este momento. Estamos certos de que este passo terá um importante reflexo no futuro
da União dos Escoteiros do Brasil, para torná-la cada vez melhor e com maior capacidade de
realizar a sua missão.
Sempre Alerta!
O esperado é que, desta forma, o leitor se familiarizará com o Manual e o consultará com
frequência, de acordo com suas necessidades e interesses.
1 Os
jovens de
11 A 14 ANOS
8
SUMÁRIO
CONCEITOS
BÁSICOS
• A adolescência é uma etapa de
crescimento e progresso pessoal
• A duração e as características da
adolescência dependem de cada
pessoa
• A puberdade marca o início da
adolescência
Outros aspectos
• Na primeira etapa da adolescência, é possível distinguir duas faixas etárias:
de 11 a 12 anos e de 13 a 14 anos
• Homens e mulheres são iguais e diferentes
• Educar na igualdade e na diferença
• Cada jovem é uma história e um projeto que não se repete
9
Conceitos
básicos
A ADOLESCÊNCIA É UMA ETAPA DE
CRESCIMENTO E PROGRESSO PESSOAL
De um modo geral, entendemos por adolescência o período de nossa vida
que se inicia com as mudanças biológicas da puberdade e termina com o ingresso no
mundo dos adultos.
Durante muito tempo, ela foi mencionada como uma etapa de “transição”, como uma simples
passagem para a etapa adulta, caracterizada por agitações e instabilidades. Apesar do adolescente com
perturbações não ser a regra geral, se aludia muito frequentemente à adolescência como um período
tormentoso de instabilidade emocional e se enfatizava demasiadamente a rebeldia juvenil.
Hoje, com maior conhecimento científico do processo vivido pelos jovens, se generalizou a
visão da adolescência como um período de forte crescimento e progresso pessoal, que compreende não
só aspectos puramente biológicos da puberdade, mas também aquelas mudanças mentais e sociais que
serão determinantes na formação da futura personalidade.
A adolescência não é um mal inevitável. É um período do ciclo da vida que tem sua
própria natureza, que se diferencia nitidamente da infância e da vida adulta, que apresenta enormes
possibilidades de desenvolvimento e que é importante vivê-Io. É tão rico em vivências que não pode ser
encarado como uma simples “passagem para”. Os jovens clamam por ser considerados como tal e não
como ex-crianças” ou “futuros adultos”.
A rebeldia que se atribui aos jovens, por exemplo, mais do que uma característica própria da
idade, é um conceito que se forma a partir da perspectiva do adulto, já que essa suposta rebeldia não é
mais do que a autoafirmação que o jovem faz de sua diferença, indispensável para a formação paulatina
de sua própria personalidade.
A DURAÇÃO E AS CARACTERÍSTICAS DA
ADOLESCÊNCIA DEPENDEM DE
CADA PESSOA
De um modo geral, a adolescência se inicia entre os 10 e os 13
anos e termina por volta dos 20. Seu início, sua duração e seu término são
muito variáveis, dependendo basicamente da natureza de cada pessoa, de
sua história pessoal e das características sociais e culturais do ambiente
em que vive.
A adolescência também não tem uma natureza fixa e imutável. Ela depende
das características de cada pessoa, da situação existente no seio da comunidade e,
sobretudo, do maior ou menor apoio dos recursos psicológicos e sociais com que os
jovens puderam contar em seu crescimento anterior. A qualidade de vida que se teve
durante a infância influencia notoriamente sobre a forma como se vive e termina a
adolescência.
A PUBERDADE
MARCA O INÍCIO DA ADOLESCÊNCIA
Não se pode fixar uma idade definida para o começo da puberdade,
da mesma forma como não se pode caracterizar, em termos absolutos,
esta primeira parte da adolescência. São grandes parcelas do organismo
e da personalidade que se modificam em idades diferentes e com ritmos
de crescimento distintos. Mais do que idades cronológicas, é preferível
levar em conta histórias pessoais de maturidade e desenvolvimento.
As estruturas
esqueléticas
e musculares
seguem um
padrão geral de
crescimento,
embora com
ritmos variáveis.
As mulheres se
adiantam um pouco
nesse crescimento,
mas por volta dos
15 anos os homens
as superam em altura
- na média. O crescimento
esquelético é fator que contribui
com o aumento do peso.
12
AS PRINCIPAIS TAREFAS
DE DESENVOLVIMENTO
ENTRE 11 E 15 ANOS
CONSTRUIR O
“ESQUEMA CORPORAL”
A transformação do corpo é a mais evidente modificação que os
jovens experimentam entre os 11 e os 15 anos. O esquema corporal, que
é a imagem interna que formamos do nosso próprio corpo, se vê alterado
por essa transformação.
13
AFIRMAR O
PAPEL SEXUAL As transformações corporais
estão associadas ao amadurecimento
sexual. Durante a infância, a sexualidade esteve presente quase como uma
brincadeira. Se expressava fundamentalmente na curiosidade e na autoestimulação.
Na adolescência, surgem os impulsos sexuais, os problemas do sexo e do amor se
tornam conscientes, e se produz um acúmulo de tensões provenientes das demandas
próprias do desenvolvimento sexual.
DESENVOLVER NOVAS
FORMAS DE PENSAR
Paralelamente, aflora neste período uma transformação intelectual que se
desenvolverá durante toda a adolescência. Novas formas de pensamento permitem
encontrar uma compreensão mais ampla e integradora de tudo o que ocorre. Cada
vez com mais estabilidade, o jovem desenvolve operações formais que caracterizam
a capacidade de generalização e de abstração. Pelo maior conhecimento que deriva
do treinamento e da experiência, os jovens demonstram capacidade para formar
juízos mais lógicos apoiados em raciocínios causais. Têm “uma maior efetividade
para compreender e coordenar ideias abstratas, para pensar em possibilidades, para
comprovar hipóteses, para pensar com antecipação, para pensar sobre o pensar e para
construir filosofias”.*
A criança de sete anos brinca com fogo sem refletir que isso pode dar origem a um incêndio.
Sua incapacidade de estabelecer relações de causa e efeito a impede de prever as consequências. O
jovem de 12 anos, capaz de estabelecer representações simbólicas, pode se antecipar a uma situação
que ainda não ocorreu na realidade e sabe que, diante de certas circunstâncias, é possível que “fogo se
desencadeie em um incêndio”, mesmo que, no momento em que estabelece essa relação, não haja fogo
por perto.
* Raising Teens: A Synthesis of research and a Foundation for Action. A. Rae Simpson, Ph. D., Center for Health Communication,
Harvard School of Public Health, Boston, 2001.
14
Se a bola com que um grupo de crianças de sete a nove anos está jogando na
rua escapa a seu controle e atravessa um cruzamento, elas vão tentar recuperá-Ia sem
perceber o risco que está envolvido no esforço. Jovens de 11 a 13 anos, nas mesmas
circunstâncias, possuem a capacidade de avaliar simultaneamente tempo e espaço,
distância e profundidade para, assim, apreciar os riscos envolvidos na recuperação da
bola. Tais habilidades são adquiridas progressivamente, razão pela qual não se pode
acreditar que, nessa faixa etária, os jovens estão em condições de medir todos os
riscos com que se podem defrontar.
Esses exemplos nos permitem entender que se passa o mesmo nos terrenos dos conceitos mais
abstratos e dos valores. É por isso que certas “respostas estratégicas” imprevistas dos adolescentes tendem
a desconcertar pais e professores. É como se, jogando de forma descontraída com o tenista do exemplo,
fôssemos surpreendidos por uma incrível “cortada”.
Os jovens dessa faixa etária não avançam para a vida adulta de uma forma linear, mas
reaparecem em sua caminhada impulsos e necessidades infantis que coexistem com a ânsia de se inserir
no mundo de uma forma nova. Isto exige tempo e paciência, especialmente da parte dos adultos, que
frequentemente estimulam soluções imediatistas e não procuram observar, em relação ao jovem, um
comportamento coerente. Ao mesmo tempo em que se diz “você não é mais uma criança”, também
se faz questão de lembrar que “você ainda não é um adulto”. Dessa maneira, fomentamos reações de
ansiedade e induzimos o jovem a buscar soluções adaptativas prematuras para resolver a tensão natural
do período. Mesmo assim, esta ansiedade cumpre um papel positivo ao promover a aprendizagem,
incrementar a capacidade de execução e aumentar o nível de aspirações.
Nossas próprias confusões e contradições como adultos se refletem em nosso pensamento e o jovem as
percebe, agora, com maior clareza do que durante a infância. Isso agrega um novo fator de incerteza
às inquietações que ele enfrenta em suas tentativas de interpretar e interagir com o mundo de forma
coerente. É por isso que os jovens têm a tendência de seguir aos adultos que se apresentam diante deles
com um sistema de valores definido.
15
APRENDER A COLOCAR-SE NO
LUGAR DO OUTRO E A CONSTRUIR
NORMAS CONSENSUAIS
Os adolescentes desenvolvem e aplicam progressivamente “um nível mais
complexo de visão em perspectiva que Ihes permite colocar-se no lugar do outro”*. A
empatia, esta nova e poderosa capacidade para compreender as relações humanas, os
auxilia a resolver problemas e conflitos em seus relacionamentos.
INICIAR A BUSCA
DA IDENTIDADE, A ABERTURA PARA
A SOCIEDADE MAIS PRÓXIMA E A
CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE VIDA
16
Este processo de elaboração da identidade vem durante a
adolescência e continua se estruturando nos anos que correspondem à
etapa do adulto jovem. Se manifesta fortemente seu desejo de não ser
considerado dependente e sim um indivíduo que, a partir da consciência
de si mesmo, é capaz de apresentar contribuições, diferenciadas e próprias,
à sua vida e à dos adultos.
17
UM PERFIL geral SEGUNDO
OS DIFERENTES
ASPECTOS
DA PERSONALIDADE
Ordenadas segundo as diversas áreas de desenvolvimento,
vamos apresentar, a seguir, algumas características gerais dos jovens
que se encontram nesta faixa etária. Muitas delas vão lhe parecer
familiares e recordarão jovens que são ou foram de sua Tropa.
UM CORPO NOVO
O corpo se renova a cada dia. Com ele, acontecem coisas que desconcertam,
que convidam à exploração, que o arrastam aos extremos dos seus próprios limites,
que revelam a beleza, que fazem surgir o pudor, que rompem as proporções, que
importam muito ou que importam muito pouco, que alegram, que entristecem, que
doem, que dão prazer e que são parte da caminhada para chegar a ser homem ou
mulher.
IDeIAS
EMERGENTES
O mundo também parece mudar e crescer. Aparecem os conceitos que já não
precisam se prender à realidade. As ideias têm vida própria, agora se combinam com
mais facilidade e dão fruto a novas ideias.
18
As perguntas, antes dirigidas ao mundo exterior, se concentram, agora, em
torno de si mesmo. Quem sou? Como sou? São questões que não serão respondidas
até que se passem alguns anos e que são o motor de um questionamento que se
espalha por tudo, especialmente pelo que antes se aceitava como uma verdade
indiscutível.
VaLORES
PRÓPRIOS
E o mundo do certo e do errado também é
objeto de dúvidas e de perguntas. Tudo se analisa,
se cria, se volta atrás e se reinicia a caminhada, se
modifica como se modificam as ideias e os conceitos.
Surge a capacidade de se colocar no lugar do outro e
imediatamente tudo pode ser questionado desde esse
“outro” ponto de vista, em um exercício que parece
não ter fim.
EMOÇÕES
CONTRADITÓRIAS
O mundo interior ganha força. As sensações, as emoções e os sentimentos se
sucedem uns aos outros, em ondas coincidentes e contraditórias, sempre intensas e
muito mais duráveis do que na etapa anterior. Os sentimentos inundam, transbordam,
desconcertam, se descontrolam e passam a ser um eixo central na vida dos jovens.
Seu conhecimento, sua condução e seu controle são tarefas desta etapa.
19
AMIGOS
PARA A VIDA
Nos amigos se confia, nos
amigos se crê, com os amigos se
descansa e com eles se recuperam
as forças. Os amigos são em menor
número do que antes, mas a amizade é
mais profunda. É um pequeno círculo
que permite crescer. Os amigos são
espelho e motor do desenvolvimento.
UMA FÉ PESSOAL
Viver a transição entre a fé das crianças (oferecida pela família como um dom
que ilumina a vida infantil) e a fé do adulto, pessoal (íntima e consequente nos seus
atos) também é um processo que se inicia nesta etapa e que só vai terminar depois
dela. Na maioria dos casos, muito depois dela.
20
OUTROS
aspectOs
NA PRIMEIRA ETAPA DA ADOLESCÊNCIA, É
POSSÍVEL DISTINGUIR DUAS FAIXAS
ETÁRIAS: DE 11 A 13 ANOS E DE 13 A 15 ANOS
O repentino amadurecimento sexual dos adolescentes, o acelerado
crescimento que o acompanha, as transformações mentais que se associam
às transformações biológicas e as consequentes demandas que a sociedade
apresenta aos jovens nos permitem distinguir duas faixas etárias, entre os
11 e os 15 anos.
No plano físico, devemos levar em conta que o chamado estirão puberal, que consiste na
acelerada taxa de aumento da estatura e peso que se segue ao amadurecimento sexual, ocorre em
momentos diferentes, considerando se o jovem é do sexo masculino ou do feminino, as condições sociais
em que ele vive, etc.
Nas meninas, em média, a aceleração do desenvolvimento físico começa entre os 10 e os 11
anos, atinge o máximo aos 12 anos e, nas proximidades dos 13, baixa rapidamente, até retomar às taxas
de desenvolvimento observadas antes do estirão, o que não impede que o crescimento lento e continuado
prossiga durante vários anos mais. No rapaz, por outro lado, a rápida aceleração do crescimento começa,
em média, pouco antes dos 13 anos, alcança seu ponto mais alto lá pelos 14 e, logo em seguida, volta
bruscamente às taxas anteriores ao estirão.
O fato de as moças alcançarem estatura e peso de adultas uns dois anos antes dos rapazes
alimenta a crença de que “as mulheres amadurecem mais depressa do que os homens”, o que é um erro,
pois devemos considerar que o amadurecimento é um processo que compreende toda a personalidade e
não apenas o desenvolvimento físico.
22
A origem fortemente “cultural” dessas diferenças se relaciona estreitamente
com certos estereótipos que prevalecem em nossa sociedade, pois, embora já se
tenha avançado muito em direção à igualdade de direitos para homens e mulheres,
sobretudo no plano teórico, ainda resistem, em muitos setores, estereótipos do que se
considera propriamente feminino ou masculino.
Este aspecto deve ser observado na formação das patrulhas, tanto no que se
refere à idade como ao sexo daqueles que as integram. Também é preciso prestar
atenção aos estereótipos, que tendem a se reforçar nos grupos formados por jovens
de um mesmo sexo (“Clube do Bolinha” ou “Clube da Luluzinha”). A aplicação
apropriada do Método Escoteiro permite compensar a tendência e manter o equilíbrio
entre os jovens. Mesmo nas sociedades mais abertas, como as escandinavas,
existe uma tendência a educar as moças em habilidades de relação, consenso e
negociação, enquanto a educação dos rapazes enfatiza as habilidades de competição,
confrontação e assertividade, o que contribui para a preservação dos estereótipos.
23
Na Tropa, devemos evitar ser condicionados por esses estereótipos e prevenir,
por exemplo, a tendência a só permitir que os rapazes desenvolvam atividades que
impliquem desafio e liderança, reservando para as moças as atividades mais passivas
e de prestação de serviços.
Por outro lado, o desejo de afirmar a igualdade entre os sexos não pode nos
fazer esquecer das diferenças que se apresentam e da natural complementaridade
entre o homem e a mulher. É por isso que dizemos que os jovens de um e outro sexo
são iguais e diferentes.
É evidente que nem todos os jovens são iguais e que nem todos se
defrontam com as mesmas demandas em seu ambiente. Um jovem de um setor
economicamente desfavorecido ou de um bairro segregado tem problemas
substancialmente diferentes daqueles com que se defronta um adolescente
economicamente privilegiado em um bairro socialmente ajustado. Um jovem de um
lar desfeito enfrenta desafios distintos de um jovem que vive com uma família unida
e protetora.
24
Todos os adolescentes compartilham certo número de experiências. Todos
passam pelas alterações físicas e psicológicas da puberdade. Todos enfrentam a
necessidade de estabelecer sua identidade e de traçar seu próprio caminho, como
membros independentes da sociedade. Mesmo assim, não existe uma identidade
a que possamos chamar “o adolescente” ou “o jovem de hoje”. Ainda mais se
buscarmos em referências eufóricas sobre “o futuro do país” ou em sombrias
análises sobre “o reflexo de todos os males de nossa sociedade”. Estas serão, sempre,
simplificações excessivas e enganosas.
Para saber como ele ou ela é pessoalmente, é fundamental observar as particularidades que
fazem única sua personalidade e que dependem de sua conformação orgânica, do lar em que nasceu,
da ordem que ocupa entre seus irmãos, da escola em que estuda, dos amigos com quem compartilha,
do meio em que vive, da forma como se desenvolveu sua vida - enfim, de sua história que não pode ser
repetida e de sua realidade individual.
Para obter essa informação de cada jovem que integra a Tropa - especialmente daqueles cujo
desenvolvimento você acompanha e avalia - não bastam livros, cursos nem manuais. É necessário dispor
de tempo para conviver com ele, conhecer seu ambiente, viver os mesmos momentos, ser testemunha
de suas reações, entender suas frustrações, escutar seu coração, desentranhar seus sonhos. Em suma:
descobrir a cada um como pessoa.
Esse esforço é sua primeira tarefa cujo sucesso dependerá da qualidade da relação que você estabelecer
com cada jovem. Uma relação educativa que pressupõe interesse, respeito e dedicação.
25
2O
Marco
SIMBÓLICO
26
sumário
Os símbolos
• O símbolo representa e educa.
• O Marco Simbólico dos Escoteiros:
Explorar novos territórios com um
grupo de amigos.
• O papel do Marco Simbólico:
* Incentiva a imaginação e
desenvolve a sensibilidade.
* Reforça o senso de pertencer a
uma comunidade que caminha
em busca de um propósito.
* Permite aos escotistas
apresentar os valores escoteiros de maneira atraente e ajuda
os jovens a se identificar com esses valores.
* Dá unidade às atividades desenvolvidas.
* Motiva e dá importância à conquista dos objetivos pessoais.
27
os
Símbolos
O SÍMBOLO
Um símbolo é uma imagem ou
figura que possui uma característica
REPRESENTA E EDUCA
que lhe permite representar uma realidade ou um conceito.
Por isso, existe, em qualquer símbolo, um significante e um significado.
O significante é a imagem perceptível de alguma coisa e o significado é
o conceito a que se refere esse significante.
28
Para que se produza essa transformação, são
necessárias algumas condições:
29
o papel do
marco simbólico O Marco Simbólico
se apresenta como um ambiente
de referência que reforça a vida em comum na patrulha e na Tropa,
contribuindo para dar coerência a tudo o que se faz.
30
Permite aos escotistas apresentar os valores escoteiros de
maneira atraente e ajuda os jovens a se identificar com
esses valores.
31
o gosto por
explorar
Descobrir
Diante dos portais do
novos mundos mundo adulto, onde existe tanto
a descobrir, inclusive a própria personalidade, a exploração e o desco-
brimento têm uma ressonância muito particular na vida dos jovens.
Assombrados diante das transformações de seu corpo, os jovens deixam para
trás, progressivamente, a segurança infantil adquirida no lar e respondem ao impulso
de encontrar novos posicionamentos que configurarão sua futura identidade, como
pessoas adultas, que podem ou não coincidir com as aspirações do projeto de vida
que seus pais imaginaram.
Assim como Marechal Rondom, de cujas aventuras se sentirão participantes, crescerão com
objetivos e viverão episódios que marcarão para sempre sua vida ainda jovem.
33
ampliar as Buscar novas pistas,
possibilidades físicas percorrer caminhos antes
ignorados, subir uma
colina, atravessar um barranco, descer o leito de um rio, passar a noite
sob as estrelas, preparar a própria comida, procurar abrigo e segurança:
atividades que permitem usar o corpo para conhecer o mundo, descobrir
as próprias possibilidades, provar as forças que estão surgindo,
adquirir novas certezas e ganhar confiança em si mesmo.
34
Também por esta necessidade de ampliar as possibilidades físicas, os
escoteiros privilegiam a vida ao ar livre. A exploração é, antes de tudo, movimentar-
se, agir, deslocar-se, viajar, buscar. Explorar vem do latim explorare, que significa fazer
um reconhecimento. E aventura tem sua origem em venire, que significa movimento
em direção a um lugar específico.
Para uma grande parcela dos jovens, cuja possibilidade de viver uma aventura
se resume à tela da televisão ou dos jogos eletrônicos, o exemplo dos exploradores
potencializa a capacidade de sonhar, abre novos horizontes, enriquece o mundo das
brincadeiras e se converte em realidade nas atividades e projetos, levando-os a agir, a
abandonar o imobilismo, a descobrir as possibilidades do próprio corpo.
35
AMPLIAR O CONHECIMENTO
E USAR A
ENGENHOSIDADE
Como vimos nos exemplos anteriores, explorar também põe
a prova a capacidade intelectual. É por isso que usamos a palavra
“explorar” como sinônimo de “pesquisar”.
Igualmente, a palavra inglesa scout, que traduzimos como
escoteiro, não significa apenas explorador, já que sua origem remonta
à palavra latina auscultare, que se refere a escutar, examinar e
esquadrinhar.
36
Em 1891, em Paris, quando tinha 18 anos de idade, Santos Dumont, precursor brasileiro da aviação,
pendurou um motor em uma árvore em plena praça pública, para verificar se o motor vibraria quando
suspenso. Como isso não aconteceu, instalou motores a gasolina em balões aerostáticos. Chegou
a construir 6 balões e 8 dirigíveis. Em 1906, em um avião fabricado por ele, denominado “14 Bis”,
percorreu 120 metros voando a uma altura de 6 metros. Foi o primeiro voo em que um aparelho mais
pesado que o ar alçou-se com sua própria força, voou e pousou. Ou seja: o avião tal como conhecemos
hoje.
37
encarar a vida
de uma forma diferente
Explorar não envolve apenas novas
terras, esforço físico e encontro com
a ciência. Também é adquirir novas
dimensões a partir das quais se pode
observar de maneira diferente os
fatos de sempre.
Após cada excursão ou acampamento,
os pais observam, surpresos, como seus
filhos voltam diferentes. Retomam das
novas terras um pouco mais autônomos,
mais capazes de estabelecer um diálogo; e
também transformados, encarando a vida de
forma diferente. Este novo modo de encarar
as coisas de sempre é tão importante que,
em sua extensa obra “À procura do tempo
perdido”, o escritor francês Marcel Proust
chega a afirmar que “a única e verdadeira
viagem de descobrimento não consiste em ir
a novos lugares, mas em vê-Ios com novos
olhos”.
38
comprometer-se
Embora pareça
desnecessário, é importante
com tudo o que se é
lembrar que explorar é
muito mais do que façanha para forçudos. A exploração física e mental
acarreta, paralelamente, o desenvolvimento do caráter, a expressão dos
afetos, a sensibilidade social e a busca espiritual.
39
Carlos J. Chagas foi um médico sanitarista, cientista e bacteriologista brasileiro, que
trabalhou como clínico e pesquisador. Atuante na saúde pública do Brasil, iniciou sua carreira no
combate à malária. Destacou-se ao descobrir o protozoário Trypanosoma cruzi (cujo nome foi uma
homenagem ao seu amigo Oswaldo Cruz) e a tripanossomíase americana, conhecida como doença
de Chagas. Ele foi o primeiro e o único cientista na história da medicina a descrever completamente
uma doença infecciosa: o patógeno, o vetor (Triatominae), os hospedeiros, as manifestações clínicas
e a epidemiologia. Também trabalhou no combate à leptospirose e às doenças venéreas, atualmente
denominadas doenças sexualmente transmitidas.
40
CONVERTER A EXPLORAÇÃO EM
UMA BUSCA PERMANENTE
Ballard, que descreve seu trabalho como antigas buscas legendárias, agrega que “o exploração
é parte do ser humano”. E conclui dizendo: “todos somos exploradores. Como alguém poderia passar sua
vida observando uma porta sem jamais abri-Ia?”
41
O INTERESSE
PELA CONQUISTA
DE UM TERRITÓRIO
Ganhar
espaços A exploração está estreitamente
ligada à aventura e está à busca de
novos territórios ou espaços, que sempre significam novas dimensões e
perspectivas para a vida.
Nas antigas expedições, com grande parte do mundo ainda por descobrir,
a exploração se confundia com a busca de novos territórios. É quase impossível
encontrar explorações que não estejam marcadas por este sinal.
42
A história está cheia de explorações como estas, em que se
consolidou, cada uma a sua maneira, o sonho de um homem ou
de um povo pela conquista de um novo território.
Melhorar
Graças à tenacidade de gerações de
o mundo exploradores, parece que não existe na
Terra um único lugar desconhecido ou por dar nome. Sabemos o que
existe nas profundezas dos oceanos e no cume das montanhas mais altas.
Os mapas registram a aridez dos desertos e os glaciares das mais frias
regiões polares. Nem a gravidade terrestre impediu que os exploradores
adentrassem o espaço sideral.
Quando os lugares mais distantes se tornaram familiares, mudou a
natureza das explorações. Agora, o desafio não se encontra em descobrir
terras desconhecidas, mas em compreender o planeta com seu clima e os
seres que o habitam.
Durante milhões de anos, os ecossistemas têm vivido em equilíbrio delicado.
A exploração, em si mesma, mal chega a alterá-Ios. Mas, quando os homens ocupam
regiões recém-descobertas, provocam alterações permanentes. As explorações de
outros tempos mostraram a nossos antepassados as maravilhas da Terra e nos legaram
o testemunho de seus relatos. É nosso dever preservar para as futuras gerações as
maravilhas ontem descobertas. Chegou, portanto, o tempo da exploração de novas
dimensões da vida em nosso planeta.
Os exploradores de territórios visitaram selvas tropicais remotas, mas os
cientistas de hoje ainda sabem muito pouco, por exemplo, acerca do manto de
folhagem com 30 metros de altura que se eleva do seu solo. A maioria das espécies
vegetais e animais que vivem ali ainda não receberam nomes e nem ao menos foram
identificadas. Mesmo assim, a exploração comercial destrói quase 150.000 km2 de
selva a cada ano.
Talvez pareça que resta pouco a descobrir na Amazônia, mas só recentemente
se iniciaram, com grande dificuldade, pesquisas científicas para estudar a reciclagem
da selva, seu solo e suas águas, a evolução do terreno e a vida dos insetos.
A Antártida já foi explorada e parece suficientemente conhecida, mas os
3,5 km de espessura de sua cobertura de gelo são um banco de dados que permite
pesquisar como se alteraram o clima e a atmosfera nos últimos 160.000 anos.
Já não representam novidade os satélites artificiais que hoje orbitam a
uma altura de 900 km da terra, mas eles nos enviam a cada minuto sinais que os
computadores convertem em fotografias de alta precisão, úteis para cartografar as
regiões mais remotas, para buscar recursos minerais e para detectar a poluição e as
pragas que atacam as colheitas.
A exploração dos desertos é muito antiga, e uma em cada oito pessoas vive
em zonas desérticas ou de baixo índice pluviométrico, mas seu estudo científico ainda
é bastante recente. Mais de um milhão de quilômetros quadrados de terra fértil se
transforma em deserto a cada cinco anos. Hoje, o desafio não é explorar esses novos
desertos, mas investigar formas de fazer reverter o processo de desertificação. Existem
várias formas de melhorar o mundo e a Irmã Dulce contribuiu bastante com isto.
43
A fragilidade de Irmã Dulce era apenas aparente. A miudinha freira, raro exemplo
de bondade e amor, foi arquiteta de uma das mais notáveis obras sociais do Brasil. Nascida
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, com 13 anos manifestou o desejo de entrar para o
convento. Na época, já inconformada com a pobreza, amparava miseráveis e carentes. Aos
18, recebeu o diploma de professora e entrou para a Congregação da Irmãs Missionárias da
Imaculada Conceição da Mãe de Deus, do Convento de São Cristóvão, em Sergipe. Com os
votos de profissão de fé, a já então Irmã Dulce, em homenagem à mãe, voltou a Salvador, onde
trabalhou como enfermeira voluntária e professora de Geografia. Sem vocação para lecionar,
dedicou-se ao trabalho social nas ruas. Começou prestando assistência à comunidade favelada
dos bairros de Alagados e de Itapagipe. Mais tarde, fundou a União Operária São Francisco,
primeiro movimento cristão operário de Salvador, e depois o Círculo Operário da Bahia, que
proporcionava atividades culturais e recreativas, além de uma escola de ofício. Criou, em 1939,
o Colégio Santo Antônio, instituição pública para os operários e seus filhos. No mesmo ano,
ocupando um barracão, passou a abrigar mendigos e doentes, levados depois ao Mercado do
Peixe, nos Arcos do Bonfim. Desalojados pelo prefeito da cidade, acolheu-os, com a permissão
da madre superiora, no galinheiro do Convento das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição,
transformado em 1960, com o apoio do governador do Estado, que cedeu um terreno, em
Albergue Santo Antônio, com 150 leitos (hoje o Hospital Santo Antônio). Inaugurou ainda um
asilo, o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, e um orfanato, o Centro Educacional Santo Antônio,
que abriga atualmente 300 crianças de 3 a 17 anos e oferece cursos profissionalizantes.
44
assumir a
Seja na proa de um aventura de crescer
barco viking, tentando avistar
novos territórios, ou diante da lente de um microscópio, buscando
decifrar os mistérios da célula, a exploração tem sido, ao longo dos
séculos, o fruto de um mesmo espírito de aventura. Sem aventura não há
novos territórios nem novas dimensões da vida.
Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, foi um sociólogo e ativista dos direitos
humanos brasileiro. Concebeu e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria
e pela Vida. Nasceu no norte de Minas Gerais e, junto com seus dois irmãos - o cartunista Henfil e o
músico Chico Mário, herdou da mãe a hemofilia, e desde a infância sofreu com outros problemas, como
a tuberculose. “Eu nasci para o desastre, porém com sorte” - costumava dizer. Concluiu seus estudos
universitários em Sociologia, no ano de 1962, passando a envolver-se com diversas causas sociais. O
projeto pelo qual se imortalizou foi, provavelmente, a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela
Vida, movimento em favor dos pobres e excluídos.
Para John Dewey, filósofo norte americano que influiu fortemente na educação moderna, a
prova da vida residia na aventura do crescimento. Em seu livro “Reconstrução da Filosofia”, Dewey
afirma que o objetivo da vida não é a perfeição como meta final, mas “o constante processo de
aperfeiçoamento, amadurecimento e refinamento”. Esse processo sempre será uma aventura e significará
explorar novos territórios, campos de ação e perspectivas.
45
DESCOBRIR A SI MESMO E
FORMAR A PRÓPRIA PERSONALIDADE
Este espírito de aventura, simbolizado na conquista de novos
territórios e dimensões, se manifestou no dinamismo dos jovens. E,
se não é manifestado, está latente. Para que aflore, é só uma questão
de motivação ou de modificação de certos fatores condicionantes,
geralmente próprios do meio ambiente.
Assim como os exploradores, os jovens dessa idade, rapazes ou moças,
orientam continuamente seu espírito de aventura na direção da conquista de um
território ou de uma dimensão diferente, como se o ato de construir um domínio
fosse um reflexo, uma projeção do desejo de descobrir a si mesmo e de construir sua
própria personalidade.
Sinais de conquista
de novos territórios
começam
a aparecer
espontaneamente
na vida familiar,
mais cedo ou mais
tarde, segundo o
critério educativo
dos pais. Ter uma
estante especial
para guardar
“suas” coisas,
dispor de uma
cópia da chave
de casa, não ser
interrompido
nem “espionado”
durante as reuniões
com seus amigos,
ter um horário mais flexível, contar,
se possível, com um quarto para seu uso exclusivo, passar a noite na casa de
um amigo e receber uma mesada, embora pareçam assuntos triviais, são fatos que
significam ultrapassar um antigo limite e ingressar em um “novo território”. São sinais
de autonomia ou, pelo menos, de reconhecimento de independência, que afirmam a
própria imagem e a personalidade.
O Método Escoteiro não só abre as fronteiras das novas terras, mas também cria um
novo significado para aquelas que os jovens conheciam até agora. Na medida em que se
cresce, estes novos territórios levarão a dimensões cada vez mais desafiantes. É “a aventura do
crescimento” de que falava Dewey.
47
pertencer
a um grupo
de amigos
OS AMIGOS AJUDAM A CONSTRUIR
NOSSA HISTóRIA PESSOAL
A amizade, um dos sentimentos e virtudes que experimentamos de maneira
mais contínua, é uma das muitas expressões do amor. Não se trata de amor erótico
nem amor familiar, da mesma forma como não é paixão. É amor sem qualquer outro
interesse, que se instala nas relações com algumas pessoas - não com todas, nem
sequer com muitas - em razão de certa identidade que com elas estabelecemos.
Afeto gratuito, que não é um dever, já que, como o amor, não pode ser
imposto. Afeto pessoal e sem inveja, recíproco, que é comunhão, fidelidade e que se
fortalece com o tempo.
48
Milton Nascimento é um cantor e compositor brasileiro, reconhecido mundialmente como
um dos mais influentes e talentosos cantores e compositores da Música Popular Brasileira. Também
conhecido pelo apelido de Bituca, nasceu no Rio de Janeiro, filho de Maria Nascimento, uma empregada
doméstica muito humilde, que foi mãe solteira. Tentou criar Milton, o registrou e o levou para a casa
dos patrões, mas foi demitida e viu que não poderia criá-lo tamanha miséria em que vivia. Sofrendo
muito, entregou o filho para um casal rico criar. Milton, então, foi adotado. Sua mãe adotiva, Líliam
Silva Campos, era professora de música. O pai adotivo, Josino Campos, era dono de uma estação de
rádio. Mudou-se para Três Pontas, em Minas Gerais, antes dos dois anos, e aos treze anos já cantava em
festas e bailes da cidade. Junto com amigos Lô Borges, Márcio Borges, Wagner Tiso, Flávio Venturini,
Beto Guedes, Fernando Brant, dentre outros, criou, na década de 1960, o chamado “Clube da Esquina”,
movimento responsável pela composição de alguns dos mais belos e aclamados sucessos da Música
Popular Brasileira. Até hoje, Milton encontra-se com seus amigos e recorre aos mesmos para suas novas
composições. Uma de suas mais conhecidas músicas é Canção da América, um canto em reverência aos
amigos e à importância de amizade para a vida humana.
49
ENTRE 11 E 14 ANOS, A amizade, embora construída
OS AMIGOS SÃO no cotidiano, adquire maior
UM MODELO relevância nos momentos críticos
da vida. Entre 11 e 15 anos,
quando as alterações físicas se fazem acompanhar de sentimentos
de insegurança, os amigos da mesma “turma” cumprem um papel
emocional e socializador fundamental. São uma audiência crucial para
confirmar sua imagem e obter a aceitação sexual e afetiva.
50
Em decorrência disso, os meios de comunicação social e as ruas se tornaram
um âmbito de reconhecida influência para os jovens. Pouco a pouco, se desenvolvem
interações cada vez mais frequentes com seus pares, em cuja companhia se sentem
mais à vontade e felizes.
Quatro jovens franceses irrequietos e inseparáveis – Marcel Ravidat, Georges Angelot, Jacques
Marsal e Simon Coencas, num dia de setembro de 1940, acompanhados do cachorro Robot, percorriam
como de costume o campo de Perirgord. Na planície de Montignac, entre arbustos e pinheiros,
perseguindo lebres e raposas, deram com uma cova na qual Robot desapareceu. Após seguir o cachorro
com cuidado e depois de alguns dias de investigação silenciosa, os rapazes descobriram que a aparente
cova era nada menos que uma caverna de 30 por 10 metros, rodeada de salas e grutas contíguas, cujas
paredes estavam completamente cobertas de pinturas pré-históricas de animais.
51
Os jovens haviam descoberto o que hoje se conhece como a Gruta de Lascaux, um dos maiores
tesouros paleolíticos do mundo. Com todo o sigilo, revelaram seu descobrimento a um antigo professor
da escola, que informou ao abade Breuil, conhecido por seus trabalhos sobre a pré-história. Durante
todo o tempo em que duraram as primeiras pesquisas, Marcel Ravidat e seus amigos distribuíram entre
si as tarefas de apoio, se alternavam para proteger da curiosidade danosa os trabalhos do abade Breuil, e
rapidamente estabeleceram códigos que os ajudavam a proteger o sigilo da empreitada.
O grupo natural de jovens é uma força que não se deve reprimir, mas
reconhecer e orientar, para que os ajude a construir sua personalidade. O sistema
de equipes do Movimento Escoteiro está inteiramente baseado nesta convicção,
principalmente durante essa fase da adolescência. A forma como funciona uma
patrulha escoteira será analisada em nosso próximo capítulo.
52
a aplicação do
Marco Simbólico
MANTER VIVO O
ESPÍRITO DE AVENTURA
O êxito sem igual que o Movimento Escoteiro tem obtido entre
os jovens, tanto hoje como em suas origens, se explica pelo fato de
convidá-Ios a realizar atividades que correspondem estreitamente a
esses três dinamismos essenciais: exploração, território e “patota”. Pode
ser que uma Tropa Escoteira não observe com muito rigor a aplicação
de todos os elementos do Método Escoteiro, como analisaremos
detalhadamente no capítulo 4, mas, se mantiver viva a resposta a esses
três dinamismos, o interesse dos jovens nunca diminuirá.
53
EVOCAR O HERÓI E
TRANSFERIR O SÍMBOLO
A evocação de diferentes
passagens da vida e
das aventuras de
exploradores e
pesquisadores,
homens e mulheres,
pode estar sempre
presente na Tropa e
nas patrulhas por meio
de diferentes atividades:
54
À evocação constante se segue, naturalmente, a transferência simbólica,
isto é, um processo de interiorização do valor que se depreende da conduta
do herói e uma reflexão sobre o impacto que este valor exerce na vida
pessoal e no comportamento. O símbolo cumpre, assim, seu papel educativo,
impulsionando o jovem a ser aquilo com que ele se identifica. Em outras
palavras, o significante leva ao significado.
Os escotistas devem permitir que este trânsito se produza, entre os jovens, com o mínimo
possível de interferências. A abordagem do exemplo do herói deve operar como uma experiência,
que depende de cada pessoa e sobre a qual não é possível intervir. Ao adulto corresponde o papel de
um educador, isto é, apenas revelar aquilo que aos jovens poderia passar despercebido e, em seguida,
avaliar o comportamento pessoal e discuti-Io com o próprio jovem, atuando quase como um espelho.
Voltaremos a tratar da avaliação da progressão pessoal no capítulo 11.
CONTAR É ENTRAR
NA MAGIA
A exploração do Marco Simbólico
pressupõe que os escotistas possuam a virtude
de “saber contar”, o que nem sempre é
muito valorizado. Se um educador possui
esta qualidade, pouco a aprecia; se
não possui, ninguém espera que ele a
desenvolva.
Para narrar bem, não é necessário ser um artista, nem poeta, nem contista, nem
humorista. A força do relato está em viver o que se diz, de modo que o relato brote do
interior, “saia de dentro”.
Para alcançar tal resultado, aquele que relata deve ser intimamente
rico, em pensamentos e em vivências, isto é, deve ter algo a dizer aos
demais. Isto se obtém sabendo observar, escutando aos demais, lendo,
experimentando, vivendo com intensidade. O bom contador de histórias
sabe descobrir os diversos tons de verde em uma paisagem, porque
enxerga além das simples aparências das coisas. Também deve emprestar
encanto e fluidez a suas palavras, porque os jovens são muito sensíveis à
graça.
55
Do texto de Gabriela Mistral e da experiência de bons contadores de histórias,
podemos extrair alguns conselhos para obter essas condições:
O relato deve ser direto, sem se perder em digressões. O bom relato “caminha
como uma flecha ao centro do alvo e não cansa o olho do menino ou do
homem”.
A descrição deve reduzir a imagens tudo o que seja possível em uma história,
deixando sem seu apoio “apenas aquilo que as imagens não possam traduzir”.
A linguagem a ser usada deve ter uma relação vigente com o meio ambiente
familiar aos jovens, de modo a evocar situações de seu cotidiano.
O narrador deverá educar sua voz até que consiga “falar com alguma doçura”,
porque quem escuta “agradece o presente de uma voz suave e que envolve o
assunto como se fosse uma seda”.
Narrar não é só modular palavras. A linguagem não verbal “fala” mais do que
a verbal. Por isso, o narrador procurará fazer com que seu rosto, suas mãos,
seus gestos e seus olhares - sem excessos, naturalmente - o ajudem a construir a
beleza da narração, porque os jovens gostam de ver “comovido e muito vivo o
semblante de quem conta”.
56
3 A
Patrulha
57
sumário
conceitos básicos
• O Sistema de Patrulhas é o eixo central
do Método no Ramo Escoteiro.
• A patrulha escoteira tem um caráter
duplo: formal e informal.
58
conceitos
básicos
O Sistema de Patrulhas
É O EIXO CENTRAL DO MÉTODO Ao falar dos três
NO RAMO ESCOTEIRO dinamismos juvenis
essenciais em que se
apoia o Marco Simbólico dos escoteiros, mencionamos, além do gosto por explorar
e do interesse pela conquista de novos territórios, o senso de pertencer a um grupo
informal de amigos.
Por um processo empírico de tentativa e erro, o fundador do Escotismo colocou em prática essa
ideia, durante sua carreira militar. Em 1899, sob o título “Aids to Scouting”, publicou uma coleção de
sugestões para a exploração militar; o livro também começou a ser utilizado de diferentes maneiras por
professores, auxiliando-os em seu trabalho com os jovens.
Técnica audaciosa para a época, que não tinha sido experimentada previamente por nenhuma
organização juvenil, o Sistema de Patrulhas foi testado em 1907 com jovens não-militares pelo próprio
Baden-Powell no primeiro “acampamento escoteiro”, realizado na ilha de Brownsea, Inglaterra. Pouco
depois, ele o desenvolveu no livro “Scouting for Boys” e, a partir de então, as patrulhas escoteiras
começaram a aparecer espontaneamente e se multiplicaram pelo mundo inteiro.
A PATRULHA ESCOTEIRA
TEM UM CARÁTER DUPLO: O Sistema de Patrulhas
é uma forma de organização
FORMAL E INFORMAL e aprendizagem, com base no
Método Escoteiro, pelo qual jovens amigos integram de forma livre e com
ânimo permanente, um pequeno grupo com identidade própria, a fim de
desfrutar de sua amizade, apoiar-se mutuamente em seu desenvolvimento
pessoal, comprometer-se em torno de um projeto comum e interagir com
outros grupos similares.
Os grupos formais são criados por decisão da autoridade da organização para levar a cabo
objetivos predefinidos pela mesma organização.
Ou seja, enquanto grupos formais são criados como meio para conseguir um fim, os grupos
informais são importantes por sua própria natureza e satisfazem à necessidade associativa do ser humano.
A patrulha escoteira é, antes de tudo, um grupo informal. Manter este seu caráter
original é a principal tarefa dos escotistas. “Do ponto de vista dos jovens, o Escotismo
os reúne em grupos, que
são sua organização
natural para jogos,
brincadeiras, aventuras
e travessuras”.
(Baden-Powell,
Guia do Chefe
Escoteiro, 1919).
60
Ao empregá-Ia como instrumento para alcançar propósitos educativos, o
Método Escoteiro a converteu em um “âmbito de aprendizagem”, o que lhe agregou
uma faceta formal.
Este caráter duplo abre, diante da patrulha, uma ampla perspectiva, uma
vez que, por um lado, a situa como um ponto de encontro e de integração entre as
aspirações e necessidades pessoais dos jovens e, pelo outro, as finalidades educativas
do Movimento Escoteiro.
Para extrair o
máximo proveito dessa
situação privilegiada, é
preciso que se entenda
que a patrulha cumprirá
melhor seu papel de
grupo formal na medida
em que mais se respeite
seu caráter de grupo
informal.
61
A PATRULHA
COMO GRUPO
INFORMAL
O Método Escoteiro
PRIVILEGIA O CARÁTER
Mesmo que não tenham tarefas específicas projetadas de INFORMAL DA
forma estruturada, os grupos informais atendem a muitas
de nossas necessidades psicológicas básicas, chegando ao
PATRULHA
ponto de se converterem em parte integrante dos diferentes
contextos em que se desenvolve nossa vida adulta.
Os grupos são, antes de tudo, um meio para satisfazer nossas necessidades de afiliação,
isto é, nossas necessidades de pertencer a grupos e de contar com amizade, apoio moral e afeto.
Estes grupos são muito mais determinantes entre os 11 e os 15 anos porque, iniciando
a adolescência, o jovem necessita ser parte de algo, se reconhecer e ser reconhecido. Quando o
jovem faz parte de uma patrulha sua vida e a vida dos outros se misturam: ele se preocupa com
seus amigos e, o mais importante, outros se preocupam com ele. Sua ausência será notada, sua
contribuição é apreciada.
A patrulha escoteira, não só por meio de sua vida interna, mas também pelos seus
símbolos, seus distintivos, suas tradições e outras manifestações externas, ajuda a sustentar a
identidade e a dignidade dos jovens.
Por meio do estilo próprio de sua patrulha, de suas atividades, de seus jogos e do diálogo
permanente que mantêm em seu interior, os jovens desenvolvem uma forma pessoal de participar
sem temores e de se integrar ao mundo.
62
É um meio pelo qual seus membros podem resolver seus problemas ou enfrentar certas
tarefas que devem ser realizadas. O grupo serve para recolher informação, escutar, ajudar alguém,
ter outras perspectivas, conhecer gente diferente e, no momento de decidir fazer alguma coisa,
distribuir as responsabilidades e apoiar os resultados nos talentos individuais.
O INGRESSO NA PATRULHA
É VOLUNTÁRIO
Este elemento é a própria essência de um grupo informal. O
fato de pertencer ou não a uma patrulha é um ato que depende da
escolha do jovem e de sua aceitação pelos demais integrantes. Os
jovens preferem conviver com pessoas de quem gostam, com as quais
se sentem à vontade, com amigos com quem tenham interesses comuns.
O escoteiro deve estar na patrulha onde se sente aceito e mais capaz de
atuar de maneira produtiva.
63
A LIVRE INTEGRAÇÃO
DETERMINA A FORMA DE INGRESSO
Em virtude do princípio de livre integração, quando se deseja
criar uma nova patrulha, ou quando se pretende iniciar uma Tropa
nova a partir de uma patrulha, o apropriado é identificar uma “turma”
ou grupo natural de amigos e convidá-Ia a aderir ao Escotismo,
transformando-se em uma patrulha escoteira. Aliás, este é o melhor
caminho para continuar crescendo.
Quando, por diferentes circunstâncias, uma patrulha tenha reduzido o número de seus membros
e seja necessário completá-Ia com novos integrantes, o normal é que os próprios jovens convidem a
outros amigos para que se juntem a eles.
Se os novos integrantes provém da Alcateia do mesmo Grupo Escoteiro, as patrulhas devem ser
avisadas previamente, de maneira que tenham a oportunidade de conhecer os futuros escoteiros, criando
vínculos pessoais, discutindo sua eventual entrada na patrulha e, conquistando, assim, o interesse do
candidato. Este é um processo de reconhecimento e negociação que se produz “entre os jovens”.
No caso do jovem que vem de fora do Grupo Escoteiro e que deseja ingressar na Tropa sem ter
vínculos de amizade com algum dos membros de uma das patrulhas, o recomendável é que os escotistas
sugiram ou propiciem caminhos para que estes vínculos se produzam. Esta circunstância ocorre quando
o jovem chega trazido por seus pais, por sugestão de um professor ou simplesmente por decisão própria
- seja pelo prestígio adquirido pela Tropa junto à comunidade local ou porque viu o que os escoteiros
fazem e quer ser um deles.
Felizmente, os jovens fazem amizade com uma certa rapidez, facilitando a integração. Em todo
caso, devem se reunir conjuntamente três condições: desejo do interessado, existência de um vínculo de
amizade e aceitação da patrulha.
64
A PATRULHA
Apesar de tudo o que se disse É UM GRUPO COESO
sobre a livre integração, a patrulha DE CARÁTER PERMANENTE
não é uma estrutura ocasional
projetada para a conquista de um objetivo imediato. É um grupo estável
com membros permanentes que, por meio da vivencia e da ação de seus
integrantes, constrói uma história, cria tradições e assume compromissos
comuns, transmitindo tudo isso, progressivamente, a cada um de seus novos
integrantes.
A estabilidade do grupo de amigos depende quase exclusivamente da
coesão que existe entre eles. A coesão é a força que faz com que os membros
do grupo permaneçam unidos, apesar das forças que possam vir a tentar
separá-los. É a coesão que leva os jovens a sentirem atraídos uns pelos outros
e orgulhosos de pertencer à patrulha.
Contribuem para a coesão do grupo o fato de serem coincidentes os
objetivos da patrulha e os de seus integrantes, a utilização - pelo Monitor - de
uma liderança participativa, o sucesso na realização das tarefas assumidas pela
patrulha, o desempenho de forma adequada dos papéis que foram distribuídos
internamente entre seus componentes, a atenção com que são consideradas
as opiniões de todos, o grau de atração das atividades desenvolvidas pela
patrulha, a constatação, pelos jovens, de que a patrulha os auxilia na
conquista de seus objetivos pessoais, manutenção da vigência do interesse que
une seus integrantes e outros fatores similares.
Guardam estreita relação com esta coesão alguns aspectos relevantes
das patrulhas: o número de integrantes, sua
idade, sua homogeneidade de interesses
e a escolha apropriada de
atividades e tarefas.
65
NÃO MENOS DO QUE 5
NEM MAIS DO QUE 8 INTEGRANTES
Não existe um “número ideal” de integrantes da patrulha, mas, a experiência
recomenda que tal número não seja inferior a 5 nem superior a 8. Dentro dessas
margens, o melhor número é aquele que tem o grupo de amigos ou aquele que
os próprios membros do grupo entendem ser o melhor. O pior ou o melhor
funcionamento de uma patrulha não depende do número de integrantes, mas de sua
coesão interna. É ela que deve determinar o número ideal de integrantes e ninguém é
mais capaz de decidir quanto a isso do que jovens que integram uma patrulha.
SEGUNDO A IDADE, AS
A patrulha vertical integra
jovens das diferentes idades PATRULHAS PODEM SER
atendidas pelo Ramo VERTICAIS OU HORIZONTAIS
Escoteiro e seus componentes
estão vivendo momentos diferentes de seu desenvolvimento. A heterogeneidade de
idades pode representar um obstáculo para que se produza, no interior da patrulha,
uma comunhão de interesses e para a realização de atividades adaptadas à idade
de cada um dos seus integrantes. Por outro lado, a diversidade de idades permite
o acompanhamento dos mais novos pelos mais velhos, que podem contribuir
com sua experiência para ajudar os menores a encarar desafios que talvez Ihes
parecessem de difícil superação. Esse acompanhamento
gera uma interação entre mostrar e seguir o exemplo,
facilitando a aprendizagem, ensinando a trabalhar em
equipe, contribuindo para o crescimento dos mais novos e
ampliando o senso de responsabilidade dos mais velhos.
66
Para resolver dificuldades como as que expusemos nos casos
anteriores, o único caminho é deixar que a própria patrulha resolva o
problema sem que os escotistas interfiram em sua coesão interna. No
exemplo da patrulha de jovens de 14 a 15 anos, um comentário dos
escotistas sobre a continuidade histórica da patrulha bastará para que
seus integrantes se sensibilizem e procurem, eles mesmos, a integração
progressiva de amigos mais novos.
NA PATRULHA, É NECESSÁRIA A
HOMOGENEIDADE DE INTERESSES
Como todo grupo de amigos, é natural que a patrulha tenha um
número variável de membros e que seja heterogênea quanto à idade
de seus integrantes. Uma certa homogeneidade de interesses e pontos
comuns na trajetória pessoal de seus integrantes, bem como o consenso
em torno dos valores básicos e dos objetivos que orientam sua atuação
em comum contribuirão, com certeza, para a coesão e a estabilidade da
patrulha. As diferenças nesses aspectos tornarão mais lenta ou difícil sua
efetividade e a comunicação entre seus integrantes.
Sendo amigos, é provável que esta
homogeneidade já exista ou possa ser criada muito
rapidamente, embora não possamos esquecer
que é muito comum o estabelecimento de
vínculos afetivos e de relações de amizade
com pessoas que são muito diferentes de
nós. Embora a trajetória pessoal de cada
jovem seja um dado que não pode ser
modificado, a identidade de interesses
e o consenso em torno de valores e
objetivos é algo que se pode adquirir
dentro da patrulha, durante o
processo de aprendizagem.
De qualquer modo, este
é um dado importante
que os escotistas e o
Monitor da patrulha
devem considerar em
seu trabalho com o
pequeno grupo.
67
ATIVIDADES E TAREFAS
A escolha das atividades
que a patrulha pretende DEVEM SER APROPRIADAS
realizar deve considerar os recursos materiais e humanos disponíveis,
e a distribuição de tarefas entre seus membros deve levar em conta
as habilidades e competências de cada jovem. Se as atividades não
são suficientemente desafiantes e se as tarefas são muito inferiores
à capacidade, vai faltar motivação. E se as atividades excedem a
capacidade da patrulha ou se as tarefas exigem mais do que os
jovens podem oferecer, vai se instalar uma sensação de frustração.
Qualquer uma dessas circunstâncias afetará a coesão do grupo e, em
consequência, sua estabilidade.
O equilíbrio entre atividades, tarefas e recursos disponíveis é parte da
aprendizagem da patrulha, que se interiorizará mediante o processo contínuo de
tentativa e erro. Não havendo progresso neste aspecto, é tarefa do escotista dar
apoio ao Monitor para que crie as condições que permitam à patrulha alcançar tal
equilíbrio.
68
O modelo de relação que existe entre as distintas posições constitui a
estrutura do pequeno grupo. Qualquer sugestão de estrutura proveniente do exterior,
seja decorrente da vontade dos escotistas, das “tradições” da Tropa ou de normas
institucionais, deve sempre respeitar esta realidade própria dos grupos informais e ser
suficientemente flexível para que cada patrulha possa utilizá-Ia ou adaptá-Ia à feição
de sua estrutura espontânea.
Quanto menos rígida é a estrutura formal proposta pela Tropa, mais protegido
se encontra o caráter de grupo informal da patrulha. E já sabemos que quanto mais
se protege a patrulha como grupo informal de amigos,
mais ela se torna capaz de cumprir a missão que lhe está
reservada pelo Método Escoteiro, como comunidade
de aprendizagem. A eficácia do Sistema de Patrulhas
depende muito de que os escotistas não se descuidem
deste aparente paradoxo.
A PATRULHA SÓ TEM
UMA ESTRUTURA FORMAL:
O CONSELHO DE PATRULHA
O Conselho de Patrulha funciona como uma instância formal de
tomada de decisões relevantes, e dele participam todos os integrantes da
patrulha, sob a presidência do Monitor. Suas reuniões podem acontecer
sempre que a patrulha considere necessário, sem que se converta, pela
excessiva frequência, na reunião habitual da patrulha - que tem uma
função bem mais operacional. As decisões tomadas no Conselho de
Patrulha devem ser registradas no livro da Patrulha.
69
Os assuntos analisados no Conselho de Patrulha
devem ser relevantes, tais como:
Eleição do Monitor e do
Submonitor da patrulha;
Monitor, que exerce a liderança Cozinheiro, que se preocupa com que a patrulha
principal, coordena a patrulha e prepare cada vez melhores refeições bem variadas;
a representa na Corte de Honra;
Enfermeiro, que mantém a caixa de primeiros
Submonitor, que substitui o socorros da patrulha e se preocupa com que todos
Monitor, faz equipe com ele conheçam as principais normas de segurança e
e também pode representar a primeiros socorros;
patrulha na Corte de Honra;
Animador, que conhece muitos jogos e sempre
Secretário, encarregado de tem um jogo oportuno para propor; também se
manter o Livro de Patrulha, encarrega das canções e de que sejam preparadas
anotar os acordos e lembrar boas representações artísticas;
a todos os membros seus
compromissos e prazos; Almoxarife, que cuida do material da patrulha
e distribui entre todos as tarefas exigidas pela
Tesoureiro, que administra os manutenção do equipamento;
recursos financeiros da patrulha;
Pode ainda haver outros cargos, que surgem
espontaneamente das necessidades de
organização da patrulha.
70
Os jovens
fazem periodicamente um rodízio entre esses cargos, avaliando-os e resdistribuindo
os de acordo com as atividades em desenvolvimento. Admite-se, contudo, que se o
Conselho de Patrulha assim o desejar, qualquer um possa ser reeleito para um dado
cargo, observado o cuidado para que não haja “acomodação”.
71
AS NORMAS IMPLÍCITAS Dos jovens
CRIAM A CULTURA INTERNA
DA PATRULHA
As normas de um grupo informal são os modelos de comportamento
que seus integrantes decidem compartilhar e que eles próprios consideram
importantes. Habitualmente são levados em conta, no momento de sua criação, os
aspectos mais significativos para os integrantes do grupo. Todos os grupos informais de
jovens contam com uma grande variedade de normas que se transmitem de maneira
verbal e que, em muitos casos, nem chegam a ser claramente definidas, mas são, de
alguma forma, conhecidas por todos os membros do grupo.
72
A IDENTIDADE ENTRE AS NORMAS DOS
GRUPOS INFORMAIS E A LEI ESCOTEIRA
Pesquisas científicas confirmam que, entre as normas
aceitas pelos grupos informais de jovens, mesmo nas quadrilhas de
delinquentes, estão as que fomentam a confiança mútua baseada na
verdade, a lealdade e o compromisso entre seus membros. É possível
observar a impressionante semelhança existente entre essas normas e os
valores contidos na Lei Escoteira.
E por que isso acontece? Porque a Lei Escoteira foi concebida pelo fundador
do Escotismo não só por inspiração dos princípios que regem o Movimento, mas
também atendendo às aspirações dos jovens. É por isso que a primeira proposta do
Método Escoteiro às patrulhas é que façam da Lei Escoteira a sua Lei e a considerem
entre suas normas fundamentais. A partir do momento em que os jovens aceitam
regular suas vidas pela Lei Escoteira, a patrulha começa a desempenhar seu duplo
papel de grupo de amigos e comunidade de aprendizagem.
Pode-se argumentar que esta espécie de introdução dos valores da Lei Escoteira entre as normas
de patrulha pressupõe uma intervenção na informalidade do pequeno grupo gerada na formalidade da
organização. Isso não deveria chamar a atenção, já que se trata de um Movimento Educativo. Entretanto,
a Lei Escoteira é de tal maneira coincidente com os sentimentos e aspirações dos jovens e com as normas
que reconhecem espontaneamente em seus grupos informais - como várias pesquisas já demonstraram
- que a intervenção é mínima, especialmente se comparada com os benefícios que traz ao colocar à
disposição um código elementar escrito que orienta a vida dos jovens. Tão importante como ter um
código é o fato de este código ser autoimposto, já que, em virtude disso, o jovem põe sua consciência
como mestre e juiz de sua vida. É a aceitação deste código que constitui a imensa vantagem comparativa
da patrulha com relação a qualquer outro grupo informal.
73
O MONITOR É ELEITO E A liderança interna da
patrulha é determinada pela
DESEMPENHA UM PAPEL posição que os próprios jovens
RELEVANTE atribuem uns aos outros. Por isso,
o Monitor da patrulha é (e não
pode ser de outra forma) eleito
pelos jovens. Para o Submonitor, além da eleição, há a possibilidade
de que seja escolhido diretamente pelo Monitor. A lógica é simples:
dar ao líder da patrulha a premissa de escolher seu “braço direito” é
tão justo quanto elegê-lo no Conselho de Patrulha. O Monitor e, se for
o caso, o Submonitor representam a patrulha na Corte de Honra.
Zela para que sejam atendidas Atua como mediador dos conflitos.
as necessidades dos seus
companheiros de patrulha. Se esforça para manter a coesão, que
ocorrem no pequeno grupo.
Dá consistência aos valores da
patrulha: o líder personifica os
valores, motivos e aspirações Baden-Powell destacou a relevância
dos demais jovens. do Monitor e assinalou que “o Monitor é
responsável pela eficiência e boa
apresentação de sua patrulha. Os
escoteiros da patrulha obedecem
a suas ordens não por medo
do castigo, como ocorre
com frequência na disciplina
militar, mas porque são uma
equipe que joga em conjunto
e que apoia seu Monitor para
maior honra e sucesso da
patrulha” (Baden-Powell,
Escotismo para Rapazes,
1908). Em outro dos seus
Iivros, ele definiu claramente
que “ ... a autoridade e a
responsabilidade repousam nas
mãos dos Monitores”. (Baden-
Powell, Guia do Chefe Escoteiro,
1919).
74
Em um artigo publicado anteriormente, dirigindo-se a escotistas, já havia
afirmado a mesma ideia: “Para obter os melhores resultados com o Sistema de
Patrulhas, vocês devem depositar verdadeira e completa responsabilidade nos
Monitores de patrulhas. Se apenas Ihes concede uma responsabilidade parcial, os
resultados também serão parciais.” (Baden-Powell, Headquarters Gazette, maio de
1914).
O Monitor não é um jovem encantador - o preferido dos escotistas - e também não é um sabe-
tudo. Na medida do que é possível esperar de alguém em sua idade, ele deve ter visão, objetivos claros,
capacidade de comunicação e vontade para trabalhar e cooperar, tanto na Corte de Honra - e com os
escotistas - como com seus companheiros de igual ou menor maturidade. Concentra sua atividade em
iniciar diálogos que fomentem e mantenham compromissos orientados para a cooperação nas ações
projetadas. Deve ser ao mesmo tempo aberto, animando o espírito comum, e forte de caráter, intervindo
para conseguir os objetivos que a patrulha propôs para si.
É preciso levar em conta que a liderança não é exercida apenas pelo Monitor
da patrulha. Outros integrantes, em função de suas atitudes, habilidades e da natureza
das atividades também exercem uma certa liderança, que varia de
intensidade segundo a situação.
O SENSO DE PERTENCER E OS
SÍMBOLOS DA PATRULHA
Os principais símbolos da identidade de uma patrulha são seu
nome, seu “canto” e o Livro da Patrulha.
O Livro da Patrulha é um livro mantido com certa qualidade artística e nele são registrados todos
os feitos e acontecimentos importantes da vida da patrulha e de seus membros. Guarda a história
da patrulha, que se sente orgulhosa de seu passado, quer fazer registrar seu presente e deseja
transmitir aos futuros integrantes as experiências vividas. É um livro privado, que se guarda em um
lugar especial e, somente se a patrulha o desejar, é mostrado a outras pessoas. A responsabilidade
de mantê-lo atualizado se atribui periodicamente a um membro da patrulha, mas todos podem
escrever nele.
Espontaneamente as patrulhas geram outros elementos simbólicos, tais como grito, lema,
bandeirola, hino, cores, código secreto, silvo de reconhecimento e muitos outros. Sem deixar de respeitar
as iniciativas dos jovens, os escotistas devem incentivar uma certa sobriedade e elegância das patrulhas,
buscando que seus símbolos não se sobrecarreguem de elementos artificiais que acabem por caracterizá-
Ias como grupos muito fechados ou infantis.
75
A PATRULHA É UM ESPAÇO PARA
COMPARTILHAR COM OS AMIGOS
Ao contemplar a análise da patrulha como um grupo informal,
devemos entender que a principal motivação dos jovens para pertencer
a ela é o desejo de estar com um grupo de amigos. Esta é sua principal
característica e perdê-Ia de vista pode arruinar o trabalho do escotista.
A patrulha é um lugar onde reina o afeto e, para ser real, o afeto deve ser
experimentado. Isto será reforçado na medida em que os escotistas tratarem os jovens
com afeto, criando na Tropa uma atmosfera propícia para a interação das patrulhas.
76
A PATRULHA COMO
COMUNIDADE DE
APRENDIZAGEM
No momento em que um jovem assume seu compromisso com
a Lei Escoteira a patrulha passa a ser para ele não apenas um grupo
de amigos, com os quais se diverte, mas também uma comunidade de
aprendizagem que o apoia em seu desenvolvimento pessoal e o convida
a se comprometer com um projeto comum.
ALTERAÇÃO NA CONDUTA
A aprendizagem que se alcança DE TODO o JOVEM E
na patrulha está destinada a APRENDIZAGEM ENTRE
produzir uma alteração na conduta,
em termos de conhecimentos TODOS os jovens
(saber), de habilidades (saber fazer) e de atitudes (saber ser). Não é só um acréscimo de
conhecimentos, como acontece na sala de aula ou em um grupo de estudo escolar, mas
um crescimento interior da pessoa em todos
os aspectos que formam sua personalidade:
corpo, inteligência, vontade, afetos,
sociabilidade e espiritual idade. É uma
aprendizagem de “todo” o jovem.
77
NA PATRULHA, SE É uma aprendizagem essencialmente
APRENDE ativa, em parte consciente e em
PELA AÇÃO parte inconsciente, que se realiza,
fundamentalmente, em três planos:
Por meio da vida em comum, compartilhando significados, aprendendo a
encarar e observar juntos as coisas que ocorrem, trocando seus sonhos, incorporando
os valores à conduta e conseguindo conceber e assumir compromisso com um
projeto que, em parte, é comum e, em parte, é individual. Este é o aspecto em que a
patrulha cumpre um papel de comunidade de vida fundamentada no afeto comum e
dentro do marco dos valores propostos pela Lei Escoteira.
78
A APRENDIZAGEM NA PATRULHA
PERMITE A RESPOSTA
NO MOMENTO preciso
Em todos esses aspectos a aprendizagem no interior da patrulha
promove que, ao invés de acumular existências de fatos e dados nas
mentes dos jovens até que seu uso seja necessário em um momento
posterior, todo o aprendizado seja posto em prática “imediatamente”.
NA PATRULHA, SE APRENDE
EM EQUIPE POR MEIO DA
Dissemos que a
aprendizagem na patrulha era SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES
em parte consciente e em parte
inconsciente. Isto acontece porque a aprendizagem em equipe, especialmente a que
se relaciona com as atividades, segue um ciclo que se repete constantemente e que
vai passando sucessivamente do mais concreto para o mais abstrato e do mais prático
para o mais teórico-reflexivo.
mais concreto
Ação
coordenada Reflexão
coletiva
Planejamento
Compreensão
conjunto em comum
mais abstrato
79
Por meio da reflexão coletiva, os membros da patrulha se convertem em
observadores de seus próprios atos e pensamentos. Geralmente, esta fase se
inicia com a avaliação de uma atividade: Como funcionou? O que pensávamos
e o que sentíamos quando estávamos fazendo? Que circunstâncias nos
afetaram? O que falhou? Agora, vemos as coisas de outra maneira? Saiu melhor
do que esperávamos? Por quê? É uma fase muito rica em opiniões divergentes,
em que se destacam os membros da patrulha que têm capacidade para ver as
coisas segundo ângulos diferentes e aqueles que sempre enxergam “chifre em
cabeça de cavalo”. É importante estimular esta maneira de pensar, embora
possa parecer, por vezes, absurda, porque ela é um passo importante para a
criatividade e a inovação.
80
A etapa em que se compartilha a compreensão de um problema e se planeja em
conjunto desenvolve nos jovens a capacidade de abstração, um dos requisitos para a formação
do conhecimento. Por sua vez, a ação coordenada e a reflexão coletiva desenvolvem a
capacidade para ser concreto, um importante componente da realização pessoal.
Os JOVENS
APRENDEM A APRENDER
Uma das vantagens desta aprendizagem cíclica é que os jovens a praticam
quase sem que se deem conta. Se, progressivamente, os escotistas da Tropa procuram
fazer com que os Monitores das patrulhas entendam que seu principal papel é manter
em movimento “a roda” da aprendizagem, esta forma de agir se tornará um modo
de vida para os jovens, tal como o método científico é um modo de vida para os que
trabalham com ciência.
Em um mundo em que muitas coisas não param de mudar, em que o que mais
se altera é a velocidade das mudanças, de pouco serve centrar a aprendizagem nos
conteúdos, pois o que se aprende hoje poderá ser obsoleto amanhã. Se, ao contrário,
a aprendizagem enfatiza os processos, está se aprendendo a aprender, a desaprender
e a reaprender, sabendo encontrar, ou produzir, os conteúdos no momento em que se
tornam necessários.
81
A APLICAÇÃO DO Método Escoteiro
CRIA NA PATRULHA UM “CAMPO DE
APRENDIZAGEM”
Um campo de aprendizagem é uma estrutura imaterial, mas real, que
atravessa, em todos os sentidos, uma Tropa Escoteira, influindo na conduta de todos
os seus integrantes e facilitando a aprendizagem. Sabemos, hoje, que isso existe, não
porque o possamos observar diretamente, mas porque sentimos seus efeitos.
82
Interesse manifestado pelo Informação circulando com fluidez;
desenvolvimento pessoal de cada
jovem; Sensação de desafio;
Todos os Monitores que preparam com dedicação um acampamento, que escolhem o lugar
apropriado, que distribuem as tarefas, que estimulam os esforços individuais dos membros da patrulha,
que organizam seu “canto” ao ar livre, que realizam atividades atrativas, que conseguem fazer com
que todos participem e opinem, que seguem com rigor uma programação e que criam muitas outras
condições além das aqui mencionadas, observam logo que “as coisas estão indo bem”, que os jovens
parecem transformados e que as conquistas começam a se acumular umas
após as outras. Sem que eles percebam ou sequer saibam que o ambiente
que surgiu destes esforços tem este nome, conseguiram criar um campo de
aprendizagem.
Uma das principais tarefas dos líderes - escotistas,
Monitores e Submonitores das patrulhas - é a criação e
manutenção de campos de aprendizagem. Sua existência
estimula a patrulha como comunidade que aprende. Sua
ausência deteriora o Sistema de Patrulhas ou as converte em meras
divisões administrativas da Tropa Escoteira.
A PATRULHA PROPORCIONA
A INTEGRAÇÃO DOS JOVENS À
COMUNIDADE PRÓXIMA
A pretexto de que os jovens estão “em período de formação”, muitas Tropas
se fecham e fecham suas patrulhas sobre si mesmas, olhando seu próprio umbigo.
Sem deixar de mencionar que tal período não existe - toda nossa vida é um enorme
período de formação, em que nunca deixamos de aprender, afirmamos que a
aprendizagem precisa se projetar para ser efetiva.
O primeiro âmbito de projeção de uma patrulha é sua comunidade próxima,
isto é, seu Grupo Escoteiro, a instituição patrocinadora, a escola, os companheiros,
a vizinhança, os pais e as famílias dos jovens. Sua abertura para esses ambientes
implica aprendizagem, já que sua interação com eles funciona como um “espelho”
que revela os avanços em seu desenvolvimento.
83
Além disso, o ambiente mais próximo
é uma esplêndida oportunidade para servir.
São muitas as organizações que operam na
comunidade mais próxima de qualquer Grupo
Escoteiro e nem chegam a saber para que
servem os escoteiros ou os consideram ótimos
para eles mesmos, mas muito pouco úteis
para os demais.
A patrulha TAMBÉM
SE INTERESSA PELA
COMUNIDADE
DISTANTE
A comunidade distante começa onde termina a comunidade
próxima. Assim, entendemos por comunidade distante a cidade, o
estado, o país e o mundo. Em termos puramente escoteiros, é a Região
Escoteira, a União dos Escoteiros do Brasil, a Organização Mundial do
Movimento Escoteiro.
85
A partir dos 13 ou 14 anos, dependendo da cultura ou da realidade de cada
jovem em particular, com maior ou menor prontidão, os jovens voltam a integrar seu
grupo de amigos jovens do sexo complementar, embora de um modo diferente do
que faziam na infância. Vencido o período de assombro diante das alterações físicas,
superada a vergonha, assumidas as mudanças, tem início o interesse pelo outro sexo,
quase sempre com emoções mescladas e difusas, como é natural.
Como o Ramo Escoteiro compreende as idades que vão dos 11 aos 15 anos e
existem boas razões para manter esse ciclo de desenvolvimento como primeira etapa
da adolescência, o dilema será maior ou menor conforme a patrulha seja horizontal
ou vertical no que se refere à idade de seus integrantes.
O dilema mais severo ocorrerá nas patrulhas verticais, onde se misturam em proporções
semelhantes jovens das duas faixas etárias, o que significa que, uma vez aberta a discussão
do assunto, é presumível que se verifique um empate entre as tendências pré e contra as duas
alternativas, ou talvez não, porque cada patrulha é uma realidade.
86
CRITÉRIOS PARA
A ADOÇÃO DA
Depois de apresentar todos os PATRULHA MISTA
argumentos sobre o assunto e de delimitar
as áreas em que o dilema pode se apresentar, recomendamos que a
Corte de Honra receba a orientação de manter uma política flexível,
aberta a todas as alternativas, evitando impor, “a priori”, uma
determinada doutrina. Isto significa que podem coexistir, numa
mesma Tropa Escoteira, patrulhas homogêneas femininas, homogêneas
masculinas e mistas, dependendo da composição natural do grupo
informal de amigos.
Como já assinalamos, isso também significa que uma patrulha não é homogênea ou mista para
sempre, porque tudo dependerá de sua evolução, das características de seus integrantes e das mudanças
que se produzam em sua composição.
Certamente, a existência de patrulhas mistas exige dos escotistas habilidades diferentes daquelas que
seriam necessárias se só existissem patrulhas homogêneas. Os estilos de animação variam, a equipe de
escotistas deve ser mista e é recomendável, embora não seja imprescindível, que o acompanhamento
da progressão pessoal seja feito por escotistas do mesmo sexo. Como esta política de abertura é parte
das normas da Tropa, seria conveniente submetê-Ia à aprovação da Assembleia de Tropa. Como insistia
Baden-Powell, “perguntem ao jovem”.
Mais ainda, a primeira vez que a possibilidade de patrulhas mistas é proposta em uma Tropa
homogênea, em uma Tropa mista com patrulhas homogêneas ou em um ambiente não habituado
ao estreito convívio entre jovens de sexos diferentes, é recomendável que o assunto seja analisado
em conjunto com os diferentes atores que intervêm em um Grupo Escoteiro: os pais, os escotistas, a
instituição patrocinadora e a Assembleia de Grupo.
Um debate prévio e apropriado sobre o tema informará adequadamente aos pais, permitirá uma
compreensão mais ampla das razões educativas, evitará mal entendidos e, dependendo da realidade
do ambiente e da flexibilidade dos atores, será obtida a decisão mais acertada,
que todos apoiarão mais adiante. Em todo caso, e sempre que seja possível, a
decisão deverá caber à Assembleia de Tropa.
87
Uma vez que se alcance um consenso em torno de uma política flexível, de
acordo com os critérios anteriores, recomendamos que, nos casos específicos que se
apresentem a partir desse ponto, seja observado o critério enunciado no princípio da
análise do tema, isto é, respeitar a composição natural que tenha ou que deseje ter o
grupo informal de amigos.
88
Os elementos
Método
4
do
Escoteiro:
A vida
de grupo
89
sumário
os elementos do
método escoteiro a vida de grupo
• O Método Escoteiro é • A vida de grupo é o
parte essencial do sistema resultado da aplicação do
educativo escoteiro. Método Escoteiro.
• Ele opera como um todo. • A vida de grupo determina a
• Primeiro, as pessoas: os permanência dos jovens.
jovens, os escotistas e a • A vida de grupo facilita a
qualidade da relação entre criação de um campo de
eles. aprendizagem.
• Segundo, o que as pessoas • A vida de grupo cria
querem alcançar: os Objetivos estilos de vida e forma a
Educativos e as atividades que consciência.
contribuem para atingi-Ios. • A intensidade da vida
• Terceiro, a maneira como de grupo depende dos
querem alcançá-Io: os escotistas.
demais elementos do Método
Escoteiro.
90
Os elementos do
método escoteiro
O MÉTODO ESCOTEIRO É PARTE ESSENCIAL
DO SISTEMA eDUCATIVO ESCOTEIRO
Os 5 pontos do Método Escoteiro são:
Lei e
promessa
Marco
Jogo Simbólico
Vida de
Atividades grupo Objetivos
Natureza Sistema de
Patrulhas
Serviço
Adultos
92
Isto representa:
A contribuição dos jovens à vida de grupo, seja individualmente, seja por meio
de suas patrulhas.
Isto significa:
93
TERCEIRO, A MANEIRA COMO QUEREM ALCANCÁ-LO:
OS DEMAIS ELEMENTOS DO MÉTODO ESCOTEIRO
No interior da figura, em um
círculo em contínuo movimento, Lei e
estão os outros elementos do
promessa
Método Escoteiro. Marco
Jogo Simbólico
Vida de
O Marco Simbólico, representado
na Tropa Escoteira pela aventura
grupo
de “Explorar novos territórios Natureza Sistema de
Patrulhas
em companhia de um grupo de
amigos”. Serviço
A vida dedicada ao serviço, estimulada pelo hábito das boas ações individuais
e integrada pelas atividades e projetos que aproximam os jovens daqueles que
mais necessitam, gerando uma disposição permanente para servir.
A educação por meio do jogo, que atrai os jovens, facilita sua integração com
os demais, permite o conhecimento de suas aptidões e motiva o interesse por
explorar, aventurar-se e descobrir.
94
a vida de grupo
A VIDA DE GRUPO É O RESULTADO
DA APLICAÇÃO DO MÉTODO ESCOTEIRO
Um importante resultado da aplicação integral do Método
Escoteiro é a criação, na Tropa Escoteira e nas patrulhas, de um ambiente
especial, uma atmosfera que denominamos como vida de grupo.
95
A VIDA DE GRUPO DETERMINA A
PERMANÊNCIA DOS JOVENS
É a vida de grupo que determina o fascínio que o Movimento
Escoteiro exerce sobre os jovens. É tão forte essa atmosfera que quem
ingressa na Tropa Escoteira logo percebe que está adentrando um
espaço diferente que vale a pena aproveitar. Esta percepção é essencial
para a permanência dos jovens. A riqueza da vida de grupo faz com
que eles coloquem sua participação no Movimento acima de qualquer
outra possibilidade. Se a vida de grupo é rica, todas as possibilidades do
Sistema de Patrulhas poderão ser exploradas, os jovens desenvolverão
poderosas identificações com a proposta e nunca Ihes passará pela
cabeça a ideia de abandonar a Tropa Escoteira.
96
O campo de aprendizagem permite aprender pela
vivência, sem aulas ou palestras, sem provas nem
memorizações, sem prêmios nem castigos, sem
autoritarismos, com a amável participação de
escotistas que “acompanham” o processo de
desenvolvimento.
97
A INTENSIDADE
DA VIDA DE GRUPO
DEPENDE DOS ESCOTISTAS
Já dissemos que a atmosfera que constitui a vida de grupo é alcançada
aplicando integralmente, na Tropa, o Método Escoteiro. Aplicar o Método e zelar
para que tal aplicação se oriente pela missão do Escotismo é uma tarefa que cabe aos
escotistas. Em consequência, a qualidade e a riqueza da vida de grupo dependem
deles. Esta é uma de suas principais responsabilidades.
98
5
A
Tropa
Escoteira
99
sumário
natureza
da tropa
escoteira
• A Tropa Escoteira é o respaldo
do Sistema de Patrulhas.
• A Tropa Escoteira é sentinela da
missão.
• A Tropa Escoteira é uma
comunidade que caminha
em direção a uma visão
compartilhada.
• A Tropa Escoteira é o espaço em
que as patrulhas interagem.
• A Tropa Escoteira é composta, idealmente, de 4 patrulhas e 32 jovens.
• Jovens de 11 a 14 anos, dependendo dos ritmos individuais de
desenvolvimento.
• As Tropas podem ser masculinas, femininas ou mistas.
100
natureza da
tropa escoteira
A TROPA ESCOTEIRA É O RESPALDO DO
Sistema de Patrulhas
O Método Escoteiro é um método de educação que confia nos jovens e
crê em sua autoeducação. No Ramo Escoteiro esta confiança se manifesta pela
aplicação do Sistema de Patrulhas, isto é, a adoção de um sistema que favorece
o dinamismo de grupos de amigos para que funcionem como comunidades de
aprendizagem.
Então, por que criar uma Seção, a Tropa Escoteira, em lugar de deixar
que as patrulhas atuem por sua própria conta?
Porque, para cumprir seu duplo papel - grupo de amigos e comunidade de
aprendizagem, uma patrulha precisa de um mínimo de organização que lhe dê
respaldo.
102
A TROPA ESCOTEIRA É UMA
cOMUNIDADE QUE CAMINHA
A visão, que
EM DIREÇÃO A UMA
responde à pergunta “para VISÃO COMPARTILHADA
onde vamos?”, é a imagem
que a Tropa Escoteira tem de seu próprio futuro. Normalmente, a visão
se concretiza em um ou vários objetivos anuais que, por proposta da
Tropa, aparecem no planejamento anual do Grupo Escoteiro a que ele
pertence.
Constitui uma proposta de visão algo como “este ano, vamos construir
nossos cantos de patrulha”, “nossa taxa de evasão vai se reduzir para 10%, no
máximo”, “vamos passar 20 noites em acampamento, sempre com programação
mais bem preparada”, “vamos participar de todas as atividades regionais e nacionais
incluídas no calendário”, “a instituição patrocinadora vai nos considerar seu melhor
investimento na área de educação”, “durante o ano nosso efetivo vai crescer em
50%”, “todas as patrulhas contarão com equipamento de acampamento completo”,
etc. Ou seja, as propostas dependerão do nível de desenvolvimento da Tropa, de suas
expectativas para o futuro e da ideia que seus integrantes fazem de sua capacidade
para transformá-las em realidade.
Para que seja eficaz, a visão deve ser compartilhada entre todos. Isto é, os
membros da Tropa, escotistas e jovens, a constroem em conjunto e, por isso mesmo,
se sentem comprometidos com ela.
103
A TROPA ESCOTEIRA
É O ESPAÇO EM QUE Quando falamos
AS PATRULHAS INTERAGEM da patrulha, dissemos
que ela interage com
outros grupos semelhantes. A Tropa Escoteira é o espaço em que
se desenvolve esta interação. Ela se realiza de maneira natural e
espontânea, por meio de todos os componentes da vida de grupo, mas
se acentua em algumas situações específicas:
Nas atividades variáveis comuns a toda a Tropa, seja porque todas as patrulhas
decidiram realizar a mesma atividade ao mesmo tempo, seja porque assumiram
tarefas específicas dentro de uma atividade que envolve a todas. As atividades da
Tropa devem ter uma frequência tal que não interfiram nas atividades de patrulha,
que são prioritárias;
Na Corte de Honra,
onde se conciliam os
interesses distintos
das patrulhas,
representadas por
seus Monitores
e, se for o caso,
Submonitores;
Na
Assembleia
de Tropa,
onde todos
os integrantes
das patrulhas
exercem o
direito de
opinar e
decidir.
104
Esta interação permite que as patrulhas:
As faixas etárias têm um caráter genérico e não de rígidos limites de idade, pois
cada jovem tem seu próprio ritmo de desenvolvimento, regulado pelos mais diversos
fatores. Por isso, o ingresso e a permanência do jovem em uma patrulha, assim como sua
passagem de uma etapa de progressão para a seguinte, dependerão muito mais de seu grau de
desenvolvimento do que de sua idade. E isto será avaliado, em cada caso, pelo próprio jovem,
com a ajuda da patrulha e do escotista que acompanha seu desenvolvimento.
Isto significa que não é pelo fato de ter completado 11 anos que o jovem está em condições de
ingressar numa patrulha. Pode ser que o ingresso se dê alguns meses antes, principalmente no caso das
meninas, que costumam entrar na puberdade com uma antecipação de um ou dois anos, quando em
comparação com os meninos. De qualquer modo, não se deve incorporar crianças com menos de 10
anos a uma patrulha, pois o tipo de atividades e o método utilizado não são adequados para crianças tão
novas. O ingresso também pode ser recomendado só depois dos 11 anos, em casos especiais de crianças
que mostram um ritmo mais lento de desenvolvimento.
Assim como a patrulha, a Tropa Escoteira também pode ser mista, integrada
por patrulhas mistas ou por patrulhas paralelas (só de meninos e só de meninas),
decisão que deverá depender da Assembleia de Tropa e do respectivo Grupo
Escoteiro, atendendo a seus antecedentes históricos, a suas opções educativas e às
características culturais da comunidade a que serve.
Alguns requisitos devem ser atendidos para que uma Tropa Escoteira
possa ser mista:
As patrulhas masculinas, femininas A Tropa deve educar na diferença, resgatando e
ou mistas devem ser consideradas ressaltando as diferentes possibilidades de ser homem e
em igualdade de condições, no que de ser mulher, de modo distinto;
se refere a direitos e deveres, sem
discriminações de nenhum tipo; A vida de grupo deve zelar pelo reconhecimento mútuo
entre os sexos, respeitando a natureza íntima de cada um;
Deve haver preocupação de evitar
que as atividades reforcem os A interação entre as patrulha deve promover a
estereótipos culturais existentes complementaridade entre os sexos;
na sociedade, diferenciando
entre atividades próprias para A equipe de escotista deve ser mista e é recomendável,
mulheres e outras reservadas aos embora não seja imprescindível, que o acompanhamento
homens. O processo de seleção da progressão pessoal seja feito por um escotista do
de atividades proposto no Ciclo mesmo sexo que o do jovem. Isto permite aos jovens
de Programa é o melhor antídoto observarem e aprender sobre a cooperação que pode
contra essa tendência, pois oferece existir em equipes de trabalho mistas e, ao mesmo tempo,
a cada patrulha a oportunidade de identificar-se com modelos de conduta relacionados ao
escolher com autonomia aquilo seu próprio sexo.
que deseja fazer;
107
estrutura da
tropa escoteira
ALÉM DAS PATRULHAS, EXISTEM NA
TROPA TRÊS INSTÂNCIAS
OU COMPONENTES
Estas instâncias são parte da Tropa Escoteira, como organização
que dá respaldo ao Sistema de Patrulhas, e não representam uma
estrutura de poder nem guardam entre si uma ordem hierárquica:
A Assembleia de Tropa
A Corte de Honra
A equipe de escotistas
Patrulha
Patrulha
orientação educativa, Equipe de Corte de operações e
apoio e avaliação escotistas Patrulha Honra capacitação
Patrulha
Assembleia
da Tropa
normas de convivência
e decisões sobre objetivos
e atividades da Tropa
108
A ASSEMBLEIA DE TROPA ESTABELECE NORMAS
DE CONVIVÊNCIA E DECIDE QUANTO AOS
OBJETIVOS E ATIVIDADES DA TROPA
A Assembleia é integrada por todos os jovens da Tropa, que nela
atuam individualmente e não como representantes de suas patrulhas. Ela se
reúne normalmente duas vezes em cada Ciclo de Programa ou quando as
circunstâncias o exigem. É presidida por um jovem eleito com esta finalidade
no momento de sua instalação. Os escotistas participam da Assembleia de
Tropa, orientando-a.
109
A CORTE DE HONRA COORDENA
AS atividades E PROMOVE
A CAPACITAÇÃO A Corte de Honra,
presidida por um dos seus
membros juvenis, é formada pelos Monitores das patrulhas, com ou sem a
participação dos Submonitores, e se reúne com a equipe de escotistas da
Tropa. As reuniões devem ocorrer pelo menos uma vez por mês.
1
Sim, patrulhas. Muito mais efetivo que atrair
110 jovens seria já atrair um grupo informal deles.
Como instância de aprendizagem,
suas principais funções críticas são as seguintes:
Refletir sobre a vivência da Lei e da Captar e orientar instrutores e
Promessa pelos membros da Tropa; examinadores de Especialidades que
atendam às opções feitas pelos jovens;
Capacitar Monitores e Submonitores
para o desempenho de suas Receber os novos integrantes da Tropa
funções. É preciso lembrar que os e organizar seu período introdutório;
escotistas atuam como mediadores
educativos, quase sempre por Determinar ações de reconhecimento
intermédio dos Monitores e ou de correção, sempre que se fizerem
Submonitores2; necessárias e apropriadas.
111
A EQUIPE DE ESCOTISTAS
FORNECE ORIENTAÇÃO
EDUCATIVA, APOIA E AVALIA
A equipe é constituída por um
escotista para cada patrulha que integra
a Tropa Escoteira. No caso de uma Tropa
com 4 patrulhas, que é o caso mais comum,
são necessários 4 escotistas, um dos quais
desempenhará o papel de Chefe da Seção,
sendo os demais seus Assistentes. A equipe se
reúne uma vez por semana, sob a coordenação
do Chefe da Seção.
Como equipe ou individualmente, os escotistas
atuam, de um modo geral, como mediadores educativos:
112
Um dos grandes problemas de todas as Tropas Escoteiras é contar com
um número suficiente de escotistas qualificados. Não os encontramos,
quase sempre, porque os procuramos em um círculo muito reduzido.
Sugerimos ampliar a busca a outros segmentos:
Amigos, companheiros e parentes dos membros da equipe de escotistas, motivados pelo exemplo
daquele que serve como traço de união entre eles e o Escotismo;
Antigos escotistas do Grupo que desejam retornar ao Movimento e que estejam dispostos a passar
por um período de atualização, para evitar a tendência a fazer as coisas “como se fazia no meu
tempo”, o que nem sempre é melhor;
Pais e parentes de membros juvenis, na maioria das vezes entusiasmados pelos resultados que
observam em seus filhos ou parentes mais novos;
Professores, psicopedagogos e outros profissionais do ensino que atuam nas escolas onde estudam
os jovens da Tropa;
Para ser escotista, uma pessoa não precisa ter sido membro juvenil no
Movimento. O processo de formação proporcionado pela UEB, a prática no
exercício da função e o apoio dos companheiros da equipe de escotistas
ajudam a obter os conhecimentos, a experiência e o desenvolvimento
pessoal necessários ao cumprimento dessa tarefa.
113
IDENTIdade da
tropa escoteira
A DESIGNAÇÃO
DOS JOVENS Os jovens deste Ramo são
“escoteiros” porque, em 1907, quando
se iniciou o Movimento, ele se destinava a jovens que eram chamados “escoteiros”3,
antes mesmo que o Movimento tomasse este nome.
A FLOR DE LIS
Este é um símbolo universal dos
escoteiros e tem origem nos mapas antigos, que
usavam a flor de lis na rosa dos ventos, para
indicar o norte. Nas palavras do próprio fundador,
ela representa “o bom caminho que todo escoteiro
há de seguir”.
3
Inicialmente, o Movimento Escoteiro era
114 dedicados apenas a jovens do sexo masculino.
o lenço
os distintivos
115
a saudação
A saudação se faz com a mão direita,
pondo-se o dedo polegar sobre o mínimo
e erguendo os demais dedos. Ao mesmo
tempo, a mão direita é levantada até a testa,
com a palma virada para a frente. No gesto,
deve-se evitar qualquer “marcialidade” que
possa resultar na atribuição de uma conotação
militar a algo que não passa de uma forma
simpática de saudar a outros membros de uma
fraternidade mundial.
uma cor
o livro de tropa
116
6 Lei
Promessa
e
117
sumário
O PROJETO EDUCATIVO DO
MOVIMENTO ESCOTEIRO
• O Movimento Escoteiro contribui para
a educação dos jovens por meio de um
sistema de valores. Os valores propostos
são um projeto para toda a vida de todos
que são escoteiros.
119
DESEJAMOS que os jovens QUE TENHAM SIDO ESCOTEIROS FAÇAM O SEU
MELHOR POSSÍVEL PARA SER:
Estes princípios
estão contidos na
Lei Escoteira, com
a qual os jovens
de 11 a 14 anos
se comprometem
por meio de sua
Promessa Escoteira.
120
a lei escoteira
A LEI É UM TEMA
CENTRAL NO INÍCIO
DA ADOLESCÊNCIA
Um dos grandes temas da primeira etapa da adolescência é o da Lei, isto é, a
formulação de uma atitude positiva e responsável diante das normas e da construção
de valores pessoais.
Em um primeiro momento - sobretudo devido à atitude inicial dos adultos, que se sentem
desconcertados diante da nova realidade dos jovens e “reagem” quase sempre com grande rigidez - o
adolescente entra em uma fase de indisciplina e questionamento da autoridade dos pais e dos adultos.
As normas facilmente aceitas durante a infância são, agora, desafiadas. É uma etapa necessária e decisiva
para chegar à autonomia. Mais do que confrontar esses desafios, nós, os educadores, devemos favorecê-
Ios e aprová-Ios. No Ramo Escoteiro, o Método dedica uma grande atenção a este assunto porque, se o
adolescente fracassa na construção de sua autonomia moral, as consequências podem ser dramáticas
para seu equilíbrio futuro.
Até os 2 ou 3 anos, a criança não tem nenhum sentido da norma. Utiliza seus brinquedos
segundo os caprichos de sua fantasia: joga-os em qualquer direção, os enterra ou abandona, para retomá-
Ios em seguida. Na fase pré-escolar, a criança brinca “em companhia” de outros, mas não brinca “com”
os outros, pois ainda não aparece o conceito de regra. Isto se percebe muito bem nos jardins de infância,
onde se pode observar crianças “brincando em conjunto”, mas não “brincando umas com as outras”.
A partir dos 5 ou 6 anos (e, até os 9 ou 10) as regras aparecem, mas são consideradas
“sagradas”, pois as crianças acreditam que elas foram elaboradas pelos adultos e que elas não podem
alterá-Ias ou substituí-Ias por outras. Nesta idade, com intensidade que varia na medida em que se cresce,
as crianças ainda estão demasiadamente preocupadas com seu desejo de afirmação e são incapazes de
se colocar no lugar dos outros, o que os impede de verdadeiramente aceitar uma norma. Elas imitam as
regras das crianças maiores, mas não chegam verdadeiramente a respeitá-Ias. Haverá sempre um jogador
que trapaceia, porque é muito forte o desejo de ganhar. Quando isso ocorre, a brincadeira se interrompe,
o jogo para, as crianças chegam a um novo acordo e o jogo recomeça, para ser interrompido um pouco
adiante, em razão de novas disputas.
121
A partir dos 7 ou 8 anos, as crianças começam a ser mais capazes de cooperar
em um grupo, repartindo responsabilidades para chegar a um objetivo comum, pois
começam a reconhecer uma lei. Com relação a ela, a aprendizagem consiste em
obedecê-Ia e pô-Ia em prática. É por isso que a Lei do Lobinho menciona o “ouvir
sempre os Velhos Lobos”. Mas, como ainda não há uma aceitação racional da
regra, não pode haver plena cooperação. É por isso que, na Alcateia, a Matilha se
destina, basicamente, a facilitar a organização e o controle do grupo, não chegando a
assumir o caráter de “comunidade de vida” que atribuímos às patrulhas e, com maior
intensidade, às equipes dos Ramos que atendem aos jovens de mais idade.
ATÉ OS 10 OU 11 ANOS,
Da regra do jogo
A MORAL É CONVENCIONAL se pode passar, facilmente,
às normas morais. Até os
7 ou 8 anos, as crianças não julgam os atos por seu valor intrínseco. Contentam em
rotulá-Ios a partir de normas culturais: “bom ou mau”, “com razão ou sem razão”.
Só por meio do proveito pessoal imediato se consegue que as crianças evitem o
castigo e se submetam à autoridade. Eles acreditam, por exemplo, que quanto mais
inverossímil, mais grave é uma mentira. Uma traquinagem é tanto maior quanto
mais grave é o dano material que ela provoca. A intenção não conta. O castigo é
considerado como expiatório: é preciso aplicar ao culpado uma pena que o faça
sentir a gravidade de sua falta.
122
O ACESSO À AUTONOMIA
MORAL SE INICIA ENTRE
A partir dos 10 ou 11 anos,
OS 10 E 11 ANOS ao mesmo tempo em que vai se
tornando capaz de raciocinar de
maneira lógica, a criança chega
pouco a pouco à etapa da autonomia moral. Capaz de avaliar as pessoas pelos seus
atos e de conhecer os traços íntimos de seu caráter, passa a perceber seus defeitos e
fragilidades e não tem mais uma cega confiança na autoridade. E logo começa a julgar
por si mesmo seus próprios atos e os dos outros.
Imposição
da
própria lei
Atitude
democrática
Toda lei é má
Rejeição
Conformismo, a qualquer
neuroses lei
Inadaptação,
delinquência,
anarquia
123
Os JOVENS APRENDEM
O VALOR DA NORMA
PELO EXEMPLO DOS SEUS MODELOS
E PELA EXPERIÊNCIA
DA RELAÇÃO COM SEUS PARES
A evolução não é como um fruto que cai da árvore em razão do próprio peso. Como mostra o
gráfico, são muitas as possibilidades de bloqueio ou desvio que podem impedir que o indivíduo chegue
realmente à autonomia moral e a uma concepção adulta da Lei. Certas pessoas, postas na situação de
educadores, acabam por agravar as dificuldades porque têm, elas próprias, um nível de maturidade
insuficiente em relação à lei. Como já dissemos, o autoritarismo e o controle excessivo podem tornar
uma pessoa abusivamente submetida a uma atitude de submissão infantil: “obedeço, sem discussão, a
qualquer lei e a qualquer autoridade”. Uma atitude de superproteção que reduza a interação social com
os pares, pode levar ao mesmo resultado.
124
A LEI ESCOTEIRA SE TORNA PESSOAL
COMO A NORMA: PELO EXEMPLO DOS
ESCOTISTAS, QUE DÃO TESTEMUNHO
DA LEI, E PELA EXPERIÊNCIA DA VIDA
DE GRUPO EXISTENTE NAS PATRULHAS
E NA TROPA
125
A Lei Escoteira é uma proposta e não uma imposição. Uma proposta
inteiramente positiva, não arbitrária, escrita em uma linguagem próxima à dos jovens
e respaldada em razões que nos convidam a adotá-Ia.
Por meio de sua Promessa Escoteira, cada jovem, no momento em que sente
preparado para fazer tal opção, assume compromisso com os valores propostos na
Lei e promete incorporá-Ios a sua vida.
O escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais do que a própria
vida.
O escoteiro é leal.
O escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e pratica
diariamente uma boa ação.
O escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros.
O escoteiro é cortês.
O escoteiro é bom para os animais e as plantas.
O escoteiro é obediente e disciplinado.
O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades.
O escoteiro é econômico e respeita o bem alheio.
O escoteiro é limpo de corpo e alma.
126
Relexões sobre
a lei escoteira
Analisaremos, a seguir, as propostas contidas na Lei
Escoteira, muito mais importantes do que o simples enunciado dos seus
artigos, o que pode ser de grande utilidade para:
ampliar sua compreensão sobre a Lei;
refletir sobre o impacto da Lei na vida pessoal do jovem; e
motivá-lo a encontrar palavras e imagens mais adequadas
para apresentá-la aos jovens de sua Tropa.
127
o escoteiro Ser leal. A lealdade – ou fidelidade,
que é mesma coisa – é a persistência em
é leal nossa fé naquilo que é importante. É viver
dentro do reconhecimento do permanente, do durável. É a perpetuação sem
fim do combate contra o esquecimento ou a transigência. Pela lealdade, nossa
consciência reconhece uma história como própria e nossa personalidade se faz
estável, firme e constante.
Não se trata de ser fiel a qualquer coisa: isso não seria lealdade, mas
rotina, inflexibilidade, evasão ou comodismo. A lealdade depende dos valores
a que se é fiel. A fidelidade à futilidade é uma futilidade a mais. Não se troca
de amigo como se muda de camisa e seria tão absurdo ser fiel a uma peça de
roupa como indesculpável não ser fiel aos amigos.
A lealdade não perdoa tudo: ser leal ao pior é pior que negá-lo. Os
criminosos se juram fidelidade mútua na cumplicidade de seu crime, mas sua
fidelidade no crime é criminosa, porque fidelidade ao mal é má fidelidade.
Ninguém diria, tampouco, que o ressentimento é uma virtude, ainda que a
pessoa ressentida seja fiel ao seu ódio.
A lealdade é a crença ativa na constância de nossos valores. É uma
consagração consciente, prática e completa a uma causa e, também, aos
vínculos estabelecidos com as pessoas, como depositários de valores comuns. É
a persistência em nossos atos transcedentais.
Para os escoteiros, as coisas dignas de fidelidade se expressam na síntese
de nossa Promessa: o amor a Deus, o serviço ao país, sua terra e sua gente; e
o esforço contínuo para viver os valores contidos na Lei Escoteira, tais como a
verdade, a solidariedade, a proteção à vida e à natureza, a alegria, a pureza de
coração.
Nessa fidelidade se fundamenta nossa identidade pessoal. Nós, os seres
humanos, mudamos constantemente e não somos sempre os mesmos, apesar da
lealdade que prometemos a nós mesmos, aos outros, ao mundo e a Deus.
Só na lealdade é possível estabelecer um plano de vida, projetando
nosso compromisso
presente como uma
forma de vida que
sempre será nossa.
128
O ESCOTEIRO ESTÁ SEMPRE ALERTA PARA
AJUDAR O PRÓXIMO E PRATICA
DIARIAMENTE UMA BOA AÇÃO
Servir ao próximo. Homens e mulheres somos, por nossa própria essência,
indivíduos em permanente interação com os outros. Nossa vida, de maneira diferente
e com diferentes níveis de profundidade, é constantemente transformada pela
presença de outros homens e mulheres, da mesma forma como nossos atos impactam
a vida de todos aqueles com quem convivemos.
Não acreditamos no
servilismo que humilha a quem dá e a
quem recebe, nem no menosprezo que
se disfarça de falsa compaixão. Cremos
no amor que nasce do respeito e que se
transforma em uma atitude permanente e
profunda de solidariedade, de estar com
os outros e de ser como eles. Estamos
convencidos de que tudo o que
fazemos em benefício dos demais
nos permite crescer espiritualmente
e ser mais completos, nos ajuda
a encarar a vida com esperança e
nos aproxima do mistério do ser,
verdadeiramente, humano.
Servimos porque
entendemos que, pelo serviço,
nos encontramos com o homem
e, quando nos encontramos com
o homem, nos aproximamos de
Deus.
129
O ESCOTEIRO É AMIGO DE
TODOS E IRMÃO DOS DEMAIS ESCOTEIROS
Compartilhar com todos. Servir ao próximo e compartilhar com todos são, de
certa forma, as duas faces de uma mesma moeda. Como podemos servir aos demais,
profunda e livremente, sem que sejamos amigos de todos? Como podemos ser amigos
de todos e irmãos dos demais escoteiros sem que esse encontro nos leve ao serviço e
à entrega generosa?
Quem compartilha descobre que nós todos temos algo a dizer, que nós todos
necessitamos de espaços por meio dos quais possamos nos manifestar, que todos
merecemos ser respeitados e apreciados. Quem é capaz de ser amigo de todos e
irmão dos demais escoteiros vive a tolerância, pratica a amizade e cultiva o amor.
130
O ESCOTEIRO É CORTÊS Ser amável. Em seu nível mais
modesto, a cortesia ou a amabilidade
designa a gentileza do comportamento, o respeito e a benevolência para com os
demais. Para os antigos gregos, isso era sinônimo de humanidade, em oposição à
barbárie.
Mas a cortesia também pode ser vista, em um contexto muito mais nobre,
como capacidade de acolher e aceitar o outro porque só se lhe deseja o bem. A
cortesia com os humildes se aproxima da generosidade; com os desafortunados, é
bondade; com os culpados, pode ser perdão e compreensão.
Ser cortês é ser amável de verdade, desde o interior, sem artifícios nem poses.
Nada mais falso do que uma cortesia “de mercado”, em que se é amável por
interesse próprio, pelo desejo de seduzir e encantar, pela sede do êxito. Amabilidade
em que não há cortesia, cortesia em que não há doçura, não é cortesia; é narcisismo
e vaidade. A amabilidade é um dom e não pode ser fingida como se fosse a arte da
conquista ou da adulação. A cortesia não tem nenhum valor quando simulada para
obter algum poder sobre os demais.
Enquanto a verdadeira
cortesia, a que o escoteiro pratica,
a que é amabilidade real, persiste
e transforma as pessoas, porque é
uma disposição profunda da alma, a
falsa cortesia pode ser pura forma,
aparência - e só aparência - de
virtude.
131
O ESCOTEIRO É BOM PARA
OS ANIMAIS E AS PLANTAS Por ser bom para os animais e
as plantas, o escoteiro protege a vida e
a natureza. A vida é um fenômeno extraordinário, surpreendente e único. É o espaço
e o tempo de nossos sonhos, nossas esperanças, nossas paixões e nossos esforços. A
vida é o começo de nossa história e nossa história é o encontro com a vida.
132
Para o escoteiro, ser obediente e disciplinado O ESCOTEIRO
significa se organizar e não fazer nada pela metade.
Normalmente, consideramos a capacidade de É OBEDIENTE E
organização como um valor menor, ligado à ordem, dISCIPLINADO
e presente, apenas, em pessoas muito especiais.
Segundo essa perspectiva, as promessas que jamais se realizam, os projetos que
nunca são concluídos e as palavras destituídas de responsabilidade são toleradas
com excessiva condescendência. Mas a afirmação de que o Movimento Escoteiro
“vai muito mais além” é um convite e um desafio a nossa capacidade de assumir
compromisso. Quando um escoteiro se compromete, ele age de acordo com o
compromisso assumido: cumpre o prometido, porque é digno de confiança, completa
o que começou a fazer porque valoriza o trabalho. Ele sabe que os compromissos
foram assumidos com pessoas que confiaram em sua palavra.
133
O ESCOTEIRO É ALEGRE E
SORRI NAS DIFICULDADES
A vida precisa ser enfrentada com alegria e boa disposição de espírito. Uma
criança normal, sadia, grita de felicidade quando terminam as aulas e se inicia um
novo período de sua jornada de cada dia. Ama a novidade, o imprevisto, a aventura.
Como quem morde uma maçã, encara a vida com apetite. É assim que vale a pena
viver a vida.
134
O ESCOTEIRO É ECONÔMICO E
RESPEITA O BEM ALHEIO
Não nos interessa a simples acumulação de bens, porque sabemos que não
bastam para assegurar a felicidade humana, mas, ainda assim, somos econômicos,
porque não nos deixamos levar pela sociedade de consumo, pois sabemos que a
verdade não reside em ter, mas em ser. Esforçamos-nos para ser cada dia melhores,
ajudando na construção de um mundo que dê abrigo às esperanças da humanidade e
que descubra as potencialidades de cada um de seus filhos.
135
O ESCOTEIRO É LIMPO DE CORPO E ALMA
Esta última proposição da Lei Escoteira, que se refere à integridade e à pureza
e que Baden-Powell acrescentou posteriormente a seu primeiro texto original, não
chega a acrescentar, por si mesma, nada de novo às proposições anteriores. Tem por
único objetivo examinar a retidão de espírito com que foram aceitas e são vivenciadas
todas as outras propostas.
Algo é puro quando se encontra livre de toda a mistura com outra coisa que
pudesse alterar ou adulterar sua natureza. Assim, a pureza, entendida como retidão
de coração ou de consciência, é o oposto das atitudes interesseiras, do egoísmo, da
cobiça, de tudo o que é sórdido e que poderia contaminar nossos pensamentos e
nossos atos.
137
PELA PROMESSA,
NOS COMPROMETEMOS
A FAZER O MELHOR DE NÓS MESMOS
A Promessa é um oferecimento voluntário e não um juramento.
Pela Promessa, o jovem assume livremente um compromisso, não
renuncia a nada e nem faz um voto de caráter militar ou religioso.
Pelo mesmo motivo, os escotistas devem demonstrar todo o seu bom critério
quando se referirem ao compromisso dos jovens. A evocação da Promessa deve
ser tão geral e tão clara quanto possível, sem ironias nem alusões dissimuladas,
muito menos empregando palavras ou gestos que façam pensar que se duvida da
honestidade do compromisso assumido. Não se deve fazer censuras individuais ou
coletivas de nenhuma espécie e se recomenda que o diálogo com um jovem sobre
aspectos que ele necessita superar seja sempre individual e de caráter privado.
Só se deve recorrer à evocação da Promessa efetuada como um apoio educativo, em momentos
em que existam no grupo a maior intimidade e um clima de abertura, trazendo à discussão pela
comunidade a lembrança dos valores que justificam sua razão de ser e com os quais todos tenham
assumido compromisso. Não é recomendável usar este recurso a qualquer pretexto, pois a banalização
pode reduzir sua força. Além disso, se os escotistas se sentem obrigados a fazê-Io com frequência, pode-
se estar diante de um sinal de que algo mais profundo está se passando no sistema, tanto que a cada
instante se torna necessário lembrar a todos o compromisso assumido.
NOSSO PRIMEIRO
Deus é uma
COMPROMISSO É COM DEUS presença constante na
existência cotidiana de uma Tropa Escoteira e espera-se que Ele também se encontre
no cerne das novas inquietações e dos projetos dos jovens.
É por isso que, assim como em qualquer outra atividade, Deus aparece na
Promessa de maneira natural e espontânea. Como assumir um
compromisso tão sério sem convidar a Deus como testemunha?
138
Mais ainda, a promessa contém o compromisso de intensificar a relação de
amizade com Deus. E por isso se promete, antes de tudo, cumprir os deveres para
com Deus. O amor é um presente que nos vem de Deus, é a maior das virtudes e nós,
escoteiros, acreditamos que está presente em tudo o que fazemos. Como não retribuir
a Deus este presente, respondendo da mesma maneira a Seu amor?
Quando um jovem diz que promete cumprir seus deveres para com Deus, não diz
que Deus é o único destinatário de seu
amor, mas que promete orientar sua
vida pelo amor: amor ao próximo, a
sua família, a seus amigos, à
Criação, a seu
país. O amor é
tudo. O amor
basta. Por isso,
aquele que ama
cresce como
pessoa e mais se
aproxima Dele.
Naturalmente, a
visão do amor a
Deus variará entre
os jovens, segundo
sua opção religiosa.
Mesmo assim, na
maioria das religiões,
o amor a Deus é
visto de maneira muito
próxima a que usamos
para apresentá-Io nos
parágrafos anteriores.
NOS
COMPROMETEMOS
COM NOSSO PAÍS E COM A PAZ
Um país é, antes de tudo, um território, um pedaço de terra que
nos viu nascer ou que nos acolheu em um momento de nossa vida, ou
pelo qual tivemos razões para optar. Por isso, cumprir nossos deveres
para com a Pátria é, em primeiro lugar, servir à terra em que vivemos,
ao espaço natural que ocupamos neste vasto mundo. Servir à Pátria é,
então, proteger a natureza, garantir a fertilidade do solo, manter puro
o ar e limpa a água, eliminar o lixo, não contaminar ou, em poucas
palavras, proteger o ambiente em que vivemos.
139
Um país também possui um determinado povo que, assim como nós, habita o
mesmo pedaço de terra. Como servir à terra sem ter um compromisso com sua gente?
Um país também
é uma herança
cultural, a forma
pela um povo
construiu a história
do pedaço de terra
que habita. Como
amar a terra e sua gente sem
amar as raízes culturais que
estão em nossa origem? Por
isso, servir à Pátria também
significa amar a música,
as tradições, o idioma e
os estilos culturais que
fazem parte de nossa
identidade. Significa
reconhecê-Ios, enaltecê-
Ios e deles sentir
orgulho.
140
Sempre existe o risco de que o orgulho pela Pátria seja entendido como
excludente, como um amor que encontra sua justificação na ficção infantil de que
“meu país é melhor” ou “minha raça é superior a todas as outras”. É possível ser fiel às
próprias raízes sem discriminar nem menosprezar a cultura de outros povos. Por isso,
a promessa subentende um compromisso de trabalhar pela paz. Trabalhar pela paz
significa abrir-se às realidades internacionais, valorizar a diversidade, compreender as
outras culturas e superar os preconceitos raciais ou nacionalistas.
Também é preciso dizer que viver a Lei Escoteira não é só uma promessa que
se faz para nossa juventude ou para enquanto estivermos ligados
ao Movimento Escoteiro. O
compromisso se faz para toda a
vida, no Movimento e fora dele,
para quando se é jovem e para que
se integre à nossa vida adulta. É o
que muitos antigos
escoteiros recordam
quando dizem “uma
vez escoteiro, sempre
escoteiro”.
141
FAZER A PROMESSA É
UM MOMENTO MUITO
IMPORTANTE NA VIDA
DO ESCOTEIRO
142
o lema recorda
a promessa
O lema dos escoteiros está estreitamente
ligado à Promessa:
sempre alerta!
É quase um grito, uma voz de alerta, uma evocação da
Promessa, pelo qual os jovens lembram a si mesmos que assumiram um
compromisso com a Lei Escoteira.
Não basta gritar o lema e repetir que se tem um compromisso. É preciso fazer
coisas que demonstrem que se está agindo de acordo com o compromisso e com o
lema.
Pode ser que essas boas ações diárias não sejam muito significativas do
ponto de vista do adulto. A verdade é que isso tem pouca importância. Este recurso
educativo não foi concebido para que os escoteiros resolvam complexos problemas
sociais, mas para manter neles uma permanente disposição para servir ao próximo.
Trata-se de combater a indiferença e de dar destaque à importância das outras
pessoas.
De início, pode parecer artificial ter que fazer todos os dias uma boa ação
em benefício do próximo. Isso também não tem grande importância, desde que esta
atividade, pouco a pouco, vá gerando uma atitude e, quando isto acontecer, o espírito
de serviço terá se convertido em uma manifestação espontânea do caráter do jovem,
inteiramente integrada à sua personalidade.
143
PELA ORAÇÃO,
O ESCOTEIRO PEDE
FORÇAS PARA CUMPRIR
SEU COMPROMISSO
Senhor,
ensina-nos a ser generosos,
a servir-Te como o mereces,
a dar sem medida,
a combater sem medo que nos firam,
a trabalhar sem descanso
e não buscar outra recompensa
que a de saber que fazemos Tua vontade.
Suas palavras denotam uma entrega total ao conceito do amor, que atravessa
todas as propostas da Lei e da Promessa e que pede a Deus a força necessária para
cumprir o prometido.
144
7
O papel
dos
escotistas
145
sumário
Os ESCOTISTAS Os ESCOTISTAS
COMO EDUCADORES
• Superam as perspectivas São necessários alguns requisitos
tradicionais sobre os líderes. básicos:
• Projetam a Tropa Escoteira. • Conhecer os jovens.
• São guardiães da missão. • Ter capacidade para estabelecer
• Administram a visão. relações empáticas.
• Os escotistas motivam. • Ter vontade de aprender e de crescer
• Geram compromissos. como pessoa.
• São educadores. • Saber conduzir e avaliar atividades.
• Saber apoiar outra pessoa em seu
desenvolvimento.
• Participar da comunidade.
• Trabalhar em equipe.
• Ter tempo.
• Saber perceber e controlar o risco.
146
Os
escotistas
SUPERAm AS PERSPECTIVAS
TRADICIONAIS SOBRE OS LÍDERES
Para que o Marco Simbólico, o Sistema de Patrulhas, a Vida em Equipe,
as Competências e os Objetivos, as Atividades, o Ciclo de Programa e os demais
assuntos apresentados neste Manual produzam os efeitos previstos, é necessário
contar com escotistas capazes de aplicá-Ios com criatividade e de dar vida a uma
Tropa Escoteira.
147
COMO SÃO OS LÍDERES DE QUE NECESSITAMOS?
Simplesmente, homens e mulheres de boa vontade, adultos e jovens
adultos, que possuem maturidade e equilíbrio pessoal, que gozam
de liberdade para inovar porque conhecem o Método Escoteiro, são
capazes de compartilhar um projeto para o futuro, sabem motivar e
gerar compromissos e estão conscientes de que são responsáveis pela
execução de uma tarefa educativa em benefício dos jovens, em cujo
desempenho eles se desenvolvem como pessoas.
Os ESCOTISTAS
PROJETAM A O que entendemos por
TROPA ESCOTEIRA “projetar” a Tropa Escoteira?
148
Um automóvel não teria sido bem projetado se, apesar de ter um bom
motor, a melhor transmissão e os assentos mais confortáveis, fosse impossível
de dirigir e de controlar em estradas molhadas. O projeto de uma Tropa tem por
objetivo assegurar que o Método Escoteiro funcione bem em pistas escorregadias;
ou, cheias de curvas; ou, com leito de terra; ou, com muito tráfego...
149
Projetar pressupõe elaborar e ajustar processos de aprendizagem para os Monitores das
patrulhas, adaptados à sua realidade, mediante os quais eles aprendam a abordar situações críticas
de forma produtiva. Se não for assim, os escotistas acabarão criando uma relação de dependência em
que eles próprios executarão tarefas que os jovens deveriam executar, como parte de seu processo de
aprendizagem. Cursos e manuais não podem elaborar este projeto, embora possam apoiá-Io com a
apresentação dos conteúdos necessários a sua formulação, pois os cursos e os manuais não conhecem
as necessidades particulares dos Monitores das patrulhas de uma determinada Tropa.
Para que tenham êxito as adaptações constantes que fazem parte do novo
projeto, reiteramos que deve ser completa a compreensão do Método Escoteiro.
Caso contrário, as adaptações facilmente se converterão em “desvios”. Por temerem
esses desvios, as “autoridades” escoteiras tendem, às vezes, a converter o Método
Escoteiro em um forte regulamento que detalha seus componentes e é rico em
indicações sobre o que se pode ou não se pode fazer, o que afugenta escotistas,
aborrece jovens e reduz a liberdade de projetar, convertendo a Tropa em uma
estrutura que logo se tornará obsoleta.
150
Os ESCOTISTAS SÃO
GUARDIÕES DA MISSÃO
Ao falar da Tropa Escoteira, dissemos que os jovens também se envolviam
na missão do Escotismo, mas não o faziam de maneira consciente, porque
os jovens não procuram o Movimento para que este os ajude a construir sua
personalidade. Eles chegam ao Movimento atraídos pela aventura de explorar
novos territórios em companhia de um grupo de amigos. Como essa aventura se
vive na atmosfera de uma Tropa Escoteira, a aprendizagem, que é propriamente a
missão do Escotismo, surge como consequência natural dessa atmosfera, isto é, da
vida de grupo.
Dizer que
a Tropa é
responsável pela
vida de grupo
corresponde
a dizer que os
escotistas são
os responsáveis,
pois, na estrutura
da Tropa,
são eles os
encarregados do
apoio educativo.
Nenhum outro
organismo da
Tropa poderia assumir essa tarefa. Por isso, dizemos que os escotistas
são guardiões da missão.
151
Os ESCOTISTAS
ADMINISTRAM A VISÃO
A visão, que se expressa nos objetivos anuais da Tropa, é a imagem que a
Tropa Escoteira tem de seu próprio futuro. Quando é compartilhada, se converte
em uma força de poder impressionante no coração de todos os membros da Tropa,
criando um vínculo que a preenche e dá coerência a tudo o que ela faz.
Na medida em que mais gente se junta ao processo, ou mudam os escotistas, mais “futuros
ideais” se agregam à visão e ela se torna menos nítida, o que pode gerar conflitos. Os escotistas e as
patrulhas se perguntam se a visão comum não pode ser modificada, se as visões particulares e das
patrulhas carecem de importância ou se os que não estão de acordo devem mudar sua perspectiva.
A brecha que se começa a perceber entre a visão e a realidade é outro fator limitativo. A
Corte de Honra começa a sentir um certo desalento diante da dificuldade de concretizar a visão, o
que obriga os escotistas a reforçar as capacidades individuais para sustentar sua adesão à visão.
A visão também pode “morrer” quando os escotistas se sentem assoberbados pela realidade
do “dia-a-dia” e a perdem de vista, o que os obriga a dedicar menos tempo aos assuntos rotineiros
para conversar um pouco mais sobre os projetos futuros.
152
Em qualquer destes casos, os escotistas funcionam como “administradores”
da visão, isto é, zelando para que ela se intensifique e enfrentando os fatores que
poderiam levá-Ia a vacilar. Se os escotistas se descuidam da visão, corre-se o risco
de que as patrulhas percam suas conexões recíprocas, de que se desencadeie
o proselitismo a favor de visões particulares ou que a ação adquira um caráter
rotineiro ou burocrático.
Para cumprir este papel de administradores da visão, os escotistas não podem abandonar
nunca a história do propósito, isto é, a explicação geral de por que se faz o que se faz, de como a
Tropa necessita evoluir e como essa evolução é parte de algo maior, de uma “história mais ampla”.
Os ESCOTISTAS
MOTIVAM Por meio de seu exemplo e dos
muitos diálogos que mantêm com os jovens,
os escotistas provocam suas condutas e os
contagiam com o entusiasmo pela conquista da visão compartilhada da Tropa
Escoteira, pela exploração de novos territórios, pelo fortalecimento das patrulhas,
pelo cumprimento da programação de atividades, pelo compromisso com seu
desenvolvimento pessoal e por tudo o que se faz na Tropa.
153
Um dos campos em que melhor se aplica a função motivadora dos
escotistas é na promoção de atividades. As atividades, sejam de patrulha ou
de Tropa, são idealizadas e propostas pelos jovens, mas é esperado que os
escotistas devam despertar sua imaginação, “soprar” ideias, sugerir iniciativas,
ajudar a manter o entusiasmo para que a atividade tenha a dose certa de atração,
aventura e emoção. Mas esta “provocação” deve ser feita de forma discreta,
sem que o escotista ocupe “a linha de frente”, deixando livres os espaços que
devem ser ocupados pelos jovens e reaparecendo quando sua presença torna
a ser necessária. Pouca utilidade terá para um escotista conhecer muito bem a
psicologia da idade e o Método Escoteiro, se não fortaleceu sua habilidade para
motivar atividades.
154
Para atuar como motivador, é preciso privilegiar as relações, ajudando sinceramente os
demais a compreender e descobrir por sua própria conta, deixando plena liberdade de opção. O
escotista mostra, revela, convida e facilita que os jovens descubram por si mesmos.
Para que esta relação seja genuína, deve estar livre de toda e qualquer intenção de impor.
Motivar sem controlar e sem fazer demagogia. Motivar sem manipular, sem introduzir na proposta
uma armadilha que impossibilite ao outro dizer não. Motivar sem adular, sem comemorar êxitos
inexistentes só com a intenção de obter adesões.
A imagem que se contrapõe de forma mais dramática ao que deve ser a motivação é a do
“Flautista de Hamelin”, que seduziu os ratos com sua música só para atraí-Ios para fora da cidade e
fazer com que se atirassem do barranco.
A ideia que, no nosso entendimento, melhor demonstra o que um escotista pode ser - como
motivador - foi descrita pelo poeta libanês Khalil Gibran, que, falando de pais e filhos, captura o
significado muito especial de responsabilidade sem possessividade:
O ESCOTISTA
GERA COMPROMISSOS
A motivação está no primeiro plano da ação
dos escotistas para com os jovens, mas tal ação seria
insuficiente caso se limitasse apenas à motivação. O objetivo da
motivação é fazer com que o jovem aprenda a optar livremente.
Outras opções são subjetivas e pessoais, como o momento em que fará sua
Promessa, que implicará um compromisso com a Lei Escoteira. Esta é uma opção
central dentro de sua participação no Movimento Escoteiro.
155
Na mesma linha, a existência de Competências e Objetivos Educativos
se converte em chamamento para que o jovem se desenvolva como pessoa.
Neste aspecto, o Método Escoteiro propõe aos jovens uma série de atividades
baseadas nos valores escoteiros e cobrindo todas as áreas de sua personalidade.
Frente a essa proposta, o jovem pode modificá-Ias ou ampliá-Ias, até que elas se
ajustem ao que ele quer fazer de si mesmo. Essa é uma opção que o jovem faz
mediante uma negociação com sua patrulha e com o escotista encarregado de seu
acompanhamento. Ali também se depara com opções operacionais, como as que se
referem à forma como realizará atividades que deseja, o que ocorre no âmbito de
sua patrulha e na Assembleia de Tropa. Analisaremos esta proposta em detalhe num
capítulo exclusivo.
Feita uma opção, o escotista faz com que os jovens passem da motivação
ao compromisso, ajudando-os a incorporar às suas vidas as opções que adotaram.
É preciso lembrar, ainda, que compromisso é uma palavra recíproca, que alude à instauração
de uma mutualidade na relação. A etimologia da palavra, “juntos a favor de uma missão”, refere-se
justamente a este aspecto. O escotista não é um “comprometedor” profissional que permanece à parte
do compromisso gerado. Ao contrário, quem convida alguém a assumir um compromisso está, ao
mesmo tempo, manifestando sua intenção de assumi-Io também. Aquele que compromete a alguém
assume o compromisso de “apadrinhar” aquele que dá sentido ao compromisso.
Se alguém pede a outra pessoa que manifeste sua adesão a uma visão, assume, neste exato
momento, o compromisso com essa visão. Quando se convida os jovens a se comprometerem
na realização de atividades que contribuam na conquista das Competências, se está assumindo o
compromisso de apoiá-los em seu desenvolvimento. Quando se pede responsabilidade com a tarefa,
se assume o compromisso de trabalhar em conjunto para sua realização. Compromisso dos jovens e
exemplo dos escotistas são uma coisa só.
O ESCOTISTA
É UM EDUCADOR Este é o aspecto mais
conhecido, central e evidente
do papel que desempenha um escotista, mas não é o único nem pode
ser dissociado dos papéis anteriores. O escotista age como educador,
como culminância do seu papel de projetista, guardião da missão,
administrador de uma visão, motivador e gerador de compromissos.
156
Não se pode aprender em
uma Tropa mal projetada,
onde a caminhada se
interrompe a cada passo
porque as coisas não
foram bem pensadas ou
bem feitas. Não há aprendizagem onde não há sentido
de missão nem o espaço educativo que resulta da vida
de grupo, isto é, a interação entre todos os elementos
do Método Escoteiro. Também não funciona o processo
educativo escoteiro se não existir uma visão compartilhada sobre o futuro que, todos
juntos, pretendem construir. Do mesmo modo, não há aprendizagem se os jovens não
estão motivados e não assumem um compromisso voluntário com seu processo de
desenvolvimento pessoal. Por isso, a função do escotista como educador é a ligação
entre todas as funções anteriores.
Por meio da tensão criativa que provoca nos jovens, o escotista mostra um
futuro e o torna possível. Nas próprias palavras de Martin Luther King, trata-se de
“dramatizar o assunto de forma que não mais possamos ignorá-Io”. Educar é dar
transcendência ao tema do desenvolvimento pessoal. Educar é mostrar futuros
possíveis, é acompanhar os jovens em sua caminhada em direção ao que podem
e desejam ser. É transmitir os valores necessários para chegar ao futuro, para
modificar a realidade atual.
Ao criar nos jovens esta tensão criativa, o escotista está semeando neles
a capacidade de alcançar por sua própria conta o futuro que desejam. Não
precisa empurrá-Ios, apressá-Ios nem pressioná-Ios em direção a esse futuro, basta
acompanhá-Ios. Neste sentido, o papel do escotista é transcender, fazendo com
que os jovens avancem como resultado das condições criadas, mas graças aos seus
próprios esforços.
158
Para educar pela antecipação e gerar uma tensão criativa entre realidade
atual e futuro, a equipe de escotistas não pode estar integrada unicamente por
escotistas jovens, com idades muito próximas à dos escoteiros. É necessário que,
na equipe, existam alguns adultos - ou jovens adultos - com experiência de vida
suficiente para Ihes permitir dar uma “espiada” ao que têm pela frente.
Por outro lado, uma equipe de escotistas integrada apenas por pessoas bem mais
velhas pode ser a causa de atividades com pouco dinamismo, além de dificultar a construção
de um relacionamento suficientemente horizontal com os jovens.
É recomendável, portanto, que a equipe de escotistas seja
um ponto de encontro entre pessoas de diferentes
gerações, harmonizando as diferentes
Competências que a tornam tão eficiente
quanto possível.
159
Os ESCOTISTAS
COMO EDUCADORES
SÃO NECESSÁRIOS
ALGUNS REQUISITOS BÁSICOS Para exercer suas
funções, os escotistas devem
possuir ou adquirir certos requisitos ou condições básicas de caráter educativo que
Ihes permitam desempenhar com proficiência seus múltiplos papéis:
administra
a visão
garante motiva
a missão
O PAPEL
DO ESCOTISTA
projeta gera
compromisso
educa
perceber
conhecer e controlar
os jovens o risco
estabelecer ter
relações tempo
empáticas
E SEUS
REQUISITOS
ter vontade de formar
aprender e crescer equipe
como pessoa
TER CAPACIDADE
PARA ESTABELECER
RELAÇÕES EMPÁTICAS
Entende-se por empatia a capacidade de “colocar-se no lugar do
outro”. Ou seja, ser capaz de reproduzir em si mesmo os sentimentos de outra
pessoa e, assim, compreendê-Ios e compreendê-Ia.
161
A empatia com os jovens também exige a capacidade de se
deslumbrar como eles, de se entusiasmar com seus projetos e de
“embarcar na aventura”, identificando-se e desfrutando do ambiente
de exploração e descobrimento com que contagiamos a atmosfera da
Tropa. É preciso ter esta capacidade para brincar e se manter adulto,
sem se confundir com os jovens: o escotista, mergulhado na aventura,
revela aos jovens o que eles não poderiam descobrir por sua própria
conta.
A empatia também exige a sabedoria de deixar que os jovens usem todo o
tempo de que necessitam para avançar. É preciso resistir à tendência à frustração,
ao fracasso e à agressividade, estando sempre disposto a recomeçar e a tentar
mais uma vez. Como já dissemos, é preciso saber desaparecer quando não se é
necessário e estar pronto para reaparecer no momento oportuno.
162
SABER CONDUZIR
E AVALIAR
ATIVIDADES
Quando nos referimos ao
escotista como motivador, dissemos
que ele deve promover a iniciativa
dos jovens para gerar atividades.
Também deve possuir habilidade
para conduzir atividades de jovens e
avaliá-Ias junto com eles. Isto exige
ainda capacidade de animação,
organização e análise.
Isto exige do escotista uma certa capacidade para ajudar os jovens em várias
tarefas, como desenvolver esforços constantes para desenvolver suas Competências,
saber admitir e reconhecer carências e avanços, ser tolerante
diante do fracasso e ter vontade de recomeçar, além de outras.
Em uma palavra, o escotista deve dispor de certas atitudes
e capacidades que o qualifiquem para ser reconhecido
e aceito pelo jovem como um interlocutor válido de seu
desenvolvimento pessoal. Como se pode perceber, mais uma
vez se manifesta a necessidade do desenvolvimento pessoal
do escotista.
163
PARTICIPAR DA COMUNIDADE
Quando falamos das patrulhas, destacamos que elas não podem aprender
no isolamento, razão pela qual o Método Escoteiro Ihes propõe que atuem
integradas à comunidade mais próxima e interessadas na comunidade mais
distante, este mundo globalizado em que hoje vivemos.
TRABALHAR EM EQUIPE
Uma equipe é um grupo em que a conduta e
o rendimento de uma pessoa são influenciados
pela conduta e pelo rendimento dos demais.
Quando duas ou mais pessoas unem seus
esforços, se produz sinergia, isto é, se
potencializa o rendimento, obtendo-se um resultado
superior à soma dos rendimentos individuais.
164
tEr tempo
As tarefas de um escotista, principalmente as que cabem a alguém que
é responsável por uma Tropa Escoteira ou que integra sua equipe de escotistas,
exigem tempo. Um tempo generoso, em quantidade e qualidade, que permita
alcançar o máximo de rendimento, sem ter a cabeça cheia de outras preocupações,
fazer as coisas pela metade, estar sempre atrasado ou fazer tudo às pressas, de
improviso ou precipitadamente.
SABER PERCEBER E
CONTROLAR O RISCO
Como todo empreendimento
humano, as atividades da Tropa
estão sujeitas a riscos, principalmente quando consideramos que
se trata de um sistema que funciona à base de confiança, que
promove a aprendizagem dos jovens facilitando o
exercício de sua liberdade.
165
Uma Tropa Escoteira deve ser um ambiente onde as
fronteiras sejam claramente fixadas, reduzindo ao mínimo
os riscos envolvidos. Para isso, cabe aos escotistas preparar
os jovens para que adquiram a capacidade de perceber
e controlar o risco, respeitando os limites de maneira
absoluta.
Baden-Powell dizia que o papel do escotista é
“procurar substituir o irmão mais velho, isto é, ver
as coisas pelo mesmo prisma que os jovens e conduzí-Ios
e guiá-Ios entusiasticamente pelo caminho adequado” (Baden-
Powell, Guia do Chefe Escoteiro, 1919).
É difícil encontrar uma imagem melhor do que a do “irmão mais velho”
para sintetizar o papel educativo de um escotista: motivador da aventura,
testemunha dos valores, companheiro no crescimento.
Um irmão mais velho vive aventuras com seus irmãos ou irmãs mais novos
sem deixar de ter a idade que tem, sem se infantilizar, com a admirável capacidade
de reduzir suas próprias forças para que o irmão mais novo possa desenvolver as
suas. Um irmão mais velho quer sempre o melhor para os mais novos e, por isso,
além de brincar, também orienta, protege e corrige sem castigar. E, a um irmão
mais velho que os mais novos admiram, com ele desejam explorar novas terras,
respeitam sua palavra e nele confiam para abrir seus corações.
Não podemos nos esquecer de que uma Tropa Escoteira não é um lugar
onde os jovens aprendam conteúdos, nem ali se qualifica sua aprendizagem; para
isso, eles vão à escola. Também não é um espaço em que recebam amor paternal
ou sejam maternalmente acariciados; esse é o papel de seu lar. Não se dá instrução
religiosa específica, pois para isso os jovens vão a sua igreja. Não é o lugar para o
desenvolvimento de habilidades físicas competitivas, pois não pretende substituir
os clubes ou as academias desportivas. Não é, tampouco, uma organização em que
se pratique uma disciplina rígida ou onde se aprenda a cumprir ordens; com esse
objetivo, os jovens procurariam uma organização militar.
Por isso, Baden-Powell insistia em que o papel de um escotista não é o de um professor, nem
o de pai ou mãe, nem o do sacerdote, o de um treinador desportivo nem, e muito menos, o de um
instrutor militar. É, simplesmente, o de “um irmão mais velho”.
É preciso que se alerte que a responsabilidade das pessoas que trabalham com jovens
não se limita a sua atitude educativa, mas também se estende à observância dos direitos e deveres
estabelecidos em lei.
Do ponto de vista legal, os jovens escoteiros são menores de idade; têm direitos
estabelecidos e regulamentados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e que devem ser
rigorosamente respeitados. Os que, por quaisquer circunstâncias, violarem esses direitos ou agirem
com imperícia, imprudência ou negligência, assumirão a responsabilidade por seus atos. Por isso, se
exige que os membros de uma equipe de escotistas sejam, todos, maiores de idade.
Esta importante consideração explica porque, antes de incorporar uma pessoa a uma
equipe de escotistas, os dirigentes procuram comprovar a saúde mental, a estabilidade emocional, a
idoneidade moral, a capacidade de controlar a agressividade, a ausência de tendências autoritárias e
o trato respeitoso e delicado para com as demais pessoas - especialmente para com os jovens - de um
candidato a escotista.
166
8
As
áreas de
desenvolvimento
167
sumário
AS DIMENSÕES DA PERSONALIDADE
• O Método Escoteiro propõe o desenvolvimento da
personalidade em todos os seus aspectos.
• As pessoas agem como um “todo indivisível”.
• O Marco Simbólico reforça o desenvolvimento de toda a
personalidade.
168
AS DIMENSÕES
DA PERSONALIDADE
O MÉTODO ESCOTEIRO PROPÕE O
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
EM TODOS OS SEUS ASPECTOS
Quando surge a puberdade, os jovens iniciam um longo caminho em busca
de seu projeto de vida, que só consolidarão depois de terminada a adolescência. Para
chegar até ele, terão que passar, pouco a pouco, da dependência infantil à autonomia
adulta, formar sua imagem de si mesmos e construir sua própria identidade.
Essas tarefas não dependem, apenas, de sua história pessoal e familiar, de suas
condições individuais e das circunstâncias de sua vida, mas também dos valores pelos
quais fazem sua opção. Por isso, o Movimento Escoteiro Ihes apresenta um conjunto
de saberes coesos e relevantes, que o jovem submete a sua livre escolha.
169
DIMEnsão da área de interesses educativos
PERSONAlidade desenvolvimento nesta idade
O corpo Físico Esquema corporal - afirmação
do papel sexual.
170
AS PESSOAS AGEM
COMO UM “TODO INDIVISÍVEL”
A consideração dessas diferentes áreas de desenvolvimento é uma perspectiva
educativa muito útil, pois permite:
Físico
Espiritual Intelectual
Social Caráter
Afetivo
171
O MARCO SIMBÓLICO REFORÇA O
DESENVOLVIMENTO DE TODA A PERSONALIDADE
Para motivar os jovens na realização de atividades e, por conseguinte,
na conquista de suas Competências e Objetivos Educativos, as áreas de
desenvolvimento se conectam com o Marco Simbólico. O símbolo, coincidente
com a etapa de busca e com o espírito aventureiro dos jovens de 11 a 14 anos,
consiste em explorar novos territórios com um grupo de amigos, razão pela
qual adquirem grande relevância os exemplos de vida de homens e mulheres
que abriram novas dimensões para a humanidade.
Recordemos que aos lobinhos, na faixa etária que ainda usa o pensamento mágico, as áreas de
desenvolvimento - com exceção de espiritualidade - são apresentadas utilizando personagens extraídos
precisamente de uma fantasia. Nessa fase, se usam fábulas, em que animais a quem atribuímos atitudes
humanas se apresentam às crianças como modelos de comportamento socialmente aceitos e valorizados,
convergentes com os Objetivos Educativos das respectivas áreas de crescimento. Esses mesmos
personagens, presentes nos relatos dos Guias que as crianças utilizam, propõem Objetivos Educativos em
cada uma das áreas de desenvolvimento.
Na fase que engloba o Ramo Escoteiro, quando os jovens começam a formar o pensamento
abstrato, modifica-se o conceito do símbolo, utilizando-se personagens reais e fatos concretos em que
foram protagonistas.
Nessa idade, já não existem símbolos exclusivos para cada área de desenvolvimento e os
exemplos, numerosos e variados, são homens e mulheres que efetivamente existiram, que partiram
um dia para o descobrimento de outras dimensões, em busca de novas terras, pesquisando fenômenos,
explorando o espaço e abrindo novas dimensões sociais, culturais ou espirituais. Homens e mulheres que
demonstraram o que comumente chamamos de “espírito escoteiro”.
172
REFLEXÕES SOBRE
AS ÁREAS DE
DESENVOLVIMENTO
O DESENVOLVIMENTO FÍSICO
Como o corpo cresce e funciona com base em leis próprias, é comum que
se pense que uma pessoa não pode influenciar os processos por que passa seu
organismo. Essa ideia só é verdade em parte, pois a cada dia a ciência reúne mais
e mais provas do muito que podemos fazer para proteger a vida, desenvolver nosso
corpo e zelar pela nossa saúde.
Entretanto, o que mais chamará sua atenção nesta idade são os aspectos
relacionados com as transformações de seu corpo a partir da puberdade. E, por isso,
deverão experimentar, entre outras aprendizagens:
Conhecedor do funcionamento do organismo humano, Ernest Shackleton, preso com sua expedição nos
gelos da Antártica durante 20 meses, conseguiu proteger-se e aos seus homens do escorbuto, preparando
guisado de pinguim e comendo vísceras frescas de animais recém abatidos, que lhes proporcionava a
vitamina C de que seus organismos necessitavam.
Annie S. Peck praticou montanhismo até os 82 anos e, quando tinha 59 conseguiu, na sexta tentativa,
alcançar o cume norte do Huascarán, no Peru. Seis tentativas com essa idade requerem uma intensa
preparação e controle do próprio corpo. Wilhelm Conrad Röntgen, cientista alemão que, em 1895,
descobriu o raio X, praticava constantemente o montanhismo. Cândido Mariano Rondon, o grande
explorador brasileiro, gostava da vida ao ar livre, de natação e de exercícios diários.
174
O DESENVOLVIMENTO
INTELECTUAL
O ser humano é algo mais que um corpo. É um corpo inteligente.
a falta de conhecimentos;
o apego a fórmulas antigas;
o medo de errar e de fracassar;
a incapacidade para a aventura;
o ambiente severo;
o conformismo; e
a censura sistemática.
175
Por isso, a vida de grupo na
Tropa Escoteira, o estabelecimento
de um campo de aprendizagem e
as atividades e projetos que os
jovens empreendem com
sua patrulha estimulam o interesse
por aprender, desenvolvem
a capacidade de se
aventurar, pensar e inovar,
e oferecem a oportunidade
de ensaiar soluções para os
problemas que enfrentam
quando se põem a fazer coisas.
A resposta não se fez esperar. Dois anos depois desta declaração oficial de morte
da ciência, em um modesto laboratório do Instituto de Física da Universidade de
Würzburg, Wilhelm Conrad Röntgen descobre os raios X. Um ano depois, quando os
raios X ainda usavam fraldas, Henri Becquerel anunciou ao mundo haver descoberto
radiações misteriosas nos sais de urânio. Dois anos depois, em 1898, o casal Pierre
e Marie Curie descobria o rádio e, enquanto isso, na Universidade de Zurich, Albert
Einstein preparava os famosos artigos publicados em 1905, que fixaram as bases da
teoria da relatividade.
É assim que citam Santiago Ramón y Cajal, o anatomista espanhol que propôs a teoria de que a ligação entre as
células nervosas se estabelece por contato e que demonstra que, partindo do cérebro, existem vias precisas de
condução, específica para cada estímulo nervoso. Quando criança, Ramón y Cajal conseguia os contos que lhe
interessavam da biblioteca de um vizinho, para o que devia realizar perigosas expedições sobre os telhados e
descer por uma estreita claraboia, enquanto seu pai, homem enérgico e de ambição insatisfeita, acreditava que
ele estava fechado em seu quarto, dedicado às traduções de latim e equações matemáticas.
176
Lewis e Clark, na expedição de 29 meses pelo rio Missouri, enfrentaram situações que os
obrigaram a ampliar a criatividade. Em uma ocasião, encontraram membros da tribo salish, que nunca
antes haviam visto homens brancos. Os índios usavam um idioma tão diferente e difícil que pareciam
ter algum defeito na língua. Para que pudessem se entender, estabeleceram uma extraordinária cadeia
idiomática: os salish falavam em salish a um menino shoshone que vivia entre eles. O menino traduzia
ao shoshone para Sacagawea, uma indígena que pouco antes havia se juntado à expedição. Esta
traduzia ao hidata para seu esposo francês que, por sua vez, traduzia ao francês para outro francês, o
qual traduzia do francês para o inglês, para Lewis, Clark e os demais membros da expedição. A resposta
seguia a mesma seqüência, no sentido inverso.
Quando, no século X, Erik, o Vermelho, partiu com sua família do litoral da Noruega, rumo
ao noroeste, levou consigo 3 corvos, porque “eles nos conduzirão ao nosso destino”, segundo disse. O
primeiro corvo foi solto ao amanhecer do primeiro dia de navegação, e voou imediatamente em direção
à terra de onde acabavam de sair. Erik deduziu que “ainda não navegamos o bastante”. No outro dia,
o segundo corvo foi liberado. Após algumas voltas ao redor do veleiro, também dirigiu seu voo para
as costas que haviam deixado há dois dias. Erik, muito seguro, deduziu que “já estamos na metade do
caminho”. Ao amanhecer do dia
seguinte libertou-se o terceiro
corvo, que tomou a mesma
direção do veleiro e se perdeu
no horizonte. Erik, com grande
satisfação, anunciou a sua família:
“estamos a ponto de chegar
a novas terras”, o que
efetivamente ocorreu
pouco depois, com
a descoberta da
Groelândia.
Alfred Hitchcock, o grande criador de filmes de suspense, para enfatizar o valor da criatividade,
dizia que “existe algo mais importante que a lógica: a imaginação”. Para desenvolver a criatividade, o
Método Escoteiro utiliza constantemente os recursos oferecidos pela imaginação, convidando os jovens a
ultrapassar o convencional, o habitualmente aceito, o simplesmente útil. Como disse Heitor Villa Lobos,
o genial músico brasileiro contemporâneo, “a música é tão útil como o pão e a água”. E o químico e
biólogo francês Louis Pasteur costumava dizer que é nosso dever ir a fundo, porque “deve-se esgotar
todas as combinações”.
177
O DESENVOLVIMENTO
DO CARÁTER
Além de inteligência, o ser humano possui
vontade. Uma e outra se complementam a tal
ponto que de pouco serviria a primeira, se não
se exercitasse a segunda. Enquanto a inteligência
lhe permite descobrir como o “mundo gira”, sua vontade o conduz na
direção do que considera bom.
178
Para a formação da consciência moral e do juízo crítico, a palavra e o
exemplo dos escotistas, que servem como modelos, como vimos anteriormente, são
fundamentais. Os jovens, contrariando a crença generalizada, estão sempre dispostos
a receber a orientação de adultos bem intencionados e preparados, mesmo que às
vezes pareça que não os escutam. Para isso, é preciso estar próximo a eles, ter com
eles algo em comum, merecer sua confiança e, naturalmente, fazer com que as
palavras se façam acompanhar do exemplo, pois, do contrário, valem muito pouco.
Albert Einstein, físico e matemático alemão que, em sua condição de judeu, conheceu a dureza
do exílio e que foi declarado pela revista Times, segundo pesquisas de opinião, como o personagem mais
importante do século XX, tinha na escola problemas de aprendizagem, especialmente em... matemática!
Quando precisou trabalhar, teve dificuldades em encontrar ocupação, já que os eruditos da Universidade
o achavam pouco inteligente. Por isso, seu primeiro trabalho consistia simplesmente em ordenar papéis,
porém isto não diminuiu sua vontade e lhe deu tempo para pensar e ir desenvolvendo suas teorias.
José Celestino Mutis, jovem médico sevilhano apaixonado pelas ciências naturais, que nos
deixou uma herança de mais de 24.000 lâminas de plantas americanas, foi enviado à América para que
autoridades não tivessem que escutar suas críticas sobre a forma como definhava a Academia Espanhola.
Teve que esperar 20 anos para que autorizassem sua Missão Botânica.
A adolescência de Charles
Darwin transcorreu sob
a vigilância de um pai
apreensivo, de uma irmã
dominadora e de um
ciumento irmão mais velho.
“Nunca serás nada” - lhe
dizia seu pai - “pois não
te ocupas de nada que
não sejam os animais”.
Na escola, sentia aversão
pelas aulas, pelas perguntas
de rotina e pelas respostas
padronizadas.
179
Quando, em1831, embarcou no Beagle, em uma exploração científica em direção à América
do Sul, seu pai se opôs porque essa viagem não era a melhor preparação para o púlpito. O comandante
do barco também se opunha, porque... não gostava da forma do nariz de Darwin.
O DESENVOLVIMENTO AFETIVO
180
diante da incerteza de como responder às crescentes demandas da
adolescência, é frequente o aparecimento da ansiedade e será necessário saber
coexistir com a tendência à solidão e ao hermetismo, fruto do espanto diante
das transformações sexuais que irrompem;
Os afetos estão sempre presentes em toda nossa vida, e se expressam, inclusive, nas condições
mais inacreditáveis. Em 1528, Alvar Núñez Cabeza de Vaca foi um dos 4 sobreviventes de uma
fracassada expedição à Florida, e esteve errante durante 8 anos pelas vastas regiões do Mississipi,
ganhando a confiança dos índios, fazendo-se de curandeiro, adaptando-se a seus costumes. Achava que
os povos aborígines eram mais cordiais que seus compatriotas.
Em seus relatos, conta que, ao naufragar na Flórida, estando ele e seus homens famintos,
lastimando-se e rogando a Deus por misericórdia, chegaram uns índios que, ao vê-los vítimas do
desastre, “se sentaram entre nós e com grande dor e compaixão começaram a chorar vigorosamente. Isto
durou mais de meia hora. Roguei aos índios que nos levassem a suas casas. No trajeto, providenciaram
fogueiras muito grandes a cada certo tempo, e em cada uma deles nos aqueciam”.
181
Ernest Shackleton, preso na Antártida com
sua expedição, sabia que o perigo maior era a
depressão de seus 27 homens e, por isso, se
dedicou a cada um deles pessoalmente. Ao
mais vaidoso, fazia com que se sentisse bem
consultando-o de forma reservada sobre
qualquer assunto importante. Àquele que
percebia que estava perdendo o interesse pela
vida, encomendava várias tarefas de rotina
que devia fazer todos os dias, e assim o
distraía, mantendo-o ocupado. A dois
companheiros que eram particularmente
solitários e vulneráveis, cedeu sua própria
barraca, para mantê-los juntos e protegidos.
Quando percebia que alguém sofria “mais
do que o normal”, pedia que preparasse no
fogareiro de querosene uma bebida quente para
todos. “Nunca deixava que
o homem soubesse que
isso se fazia por ele, pois
temia colocá-lo nervoso”,
anotou um tripulante em
seu diário.
No centro de todos os afetos, está o amor. Em todas suas manifestações, tem uma tal força que,
inclusive, nos leva a dar a vida por aqueles a quem amamos. Em 1645, quando Quito e outras cidades do
Equador foram castigadas por numerosas pestes e tremores, Mariana de Jesus Paredes y Flores, uma rica
jovem devotada à caridade aos pobres, ofereceu sua vida, durante uma celebração religiosa, em troca do
término das desgraças que afetavam seu povo.
Conta a história que, desde que Mariana fez seu oferecimento, cessaram os tremores e
desapareceu a peste. Em pouco tempo, não havia na cidade nem um só rastro de enfermidade e morte.
Mariana, em troca, ao sair do templo começou a sentir os sintomas da doença, sofreu terríveis dores
e morreu, ao término de dois meses. Não importa se este relato nos coloca na presença de um fato
milagroso; o que verdadeiramente importa é a disposição de uma pessoa de entregar seu destino e seu
tempo aos demais, inclusive oferecendo sua vida para salvar aqueles a quem ama.
182
Num plano puramente humano, é o amor pelos demais o sentimento que orienta toda a obra
criativa de Alexander Graham Bell, o escocês que, em 1876, inventou o telefone. Como sua esposa,
Mabel Hubbart, vitima de escarlatina, havia ficado surda desde jovem, Graham Bell se propôs a fazê-la
ouvir, para o que trabalhou em uma “membrana falante” que não deu o resultado previsto. Contudo,
ao fazer passar vibrações desta membrana através de um fio elétrico, era possível fazer vibrar outra
membrana distante, reproduzindo a voz. Havia nascido o telefone! Porém, Graham Bell não havia
alcançado seu objetivo, razão pela qual inventou um sistema de comunicação por sinais, e sua mulher
foi uma das primeiras que falou desse modo nos Estados Unidos.
Todos os inventos de Graham Bell - que inventou muitas outras coisas - responderam a uma
necessidade humana e não a uma compulsão por criar aparelhos. Motivado por uma tempestade que
impedia que os fios de telefone chegassem à costa, inventou o telégrafo sem fio. Desesperado diante de
uma menina que havia engolido um alfinete, em Nova Jersey, aprimorou um aparelho para identificar
metais no corpo humano. Pelo calor sufocante que passou quando a bordo de um submarino, criou
os princípios básicos do que hoje é o ar condicionado. Impressionado por dois náufragos que haviam
morrido de sede em uma embarcação, inventou um aparelho para destilar a água do mar e torná-la
apropriada para o consumo humano. A medicina e a odontologia estão repletas de equipamentos
elétricos pelos quais jamais cobrou um centavo, e os fez, segundo ele mesmo declarou, para “aliviar” a
humanidade.
Diante da busca do jovem adolescente por ser ele mesmo e por se integrar à
sociedade, a patrulha lhe oferece um espaço seguro onde pode aprender e
reaprender a vida com os demais;
■
Por meio de atividades e projetos, o jovem experimenta as atitudes de
integração, serviço e o valor da solidariedade. Aprende a exercer a democracia
e a reconhecer e respeitar a autoridade;
■
Por meio dos múltiplos processos de tomada de decisão que se passam na
patrulha e na Tropa, os jovens entendem o respeito pelos acordos assumidos
entre todos e assumem uma atitude de cooperação com aqueles que elege
como seus representantes;
183
■ A patrulha e a Tropa oferecem a oportunidade de ampliar o senso crítico próprio
da idade, mas também desenvolvem a capacidade e a responsabilidade de
construir regras comuns. A norma descoberta substitui a norma imposta, o que
leva à construção de uma disciplina interior que substitui a disciplina exterior.
■
A integração social, promovida pelo Método Escoteiro, aproxima os jovens
dos valores de sua gente e de seu país, contribuindo para que identifiquem e
apreciem as manifestações de sua cultura e tomem consciência da contribuição
que cada um pode dar para preservar e cuidar do meio ambiente;
■
Do mesmo modo, aprende-se a valorizar a paz como resultado da justiça entre
as pessoas e da compreensão entre as nações.
184
Aos 46 anos, Gandhi voltou à Índia, com o propósito de libertá-la da dominação inglesa. Suas
únicas armas foram a Satyagraha, ou “força da verdade”, e a desobediência civil pacífica, um dos mais
audaciosos e eficazes experimentos registrados pela história política.
Gandhi pregou o respeito para todas as classes e castas, já que não só queria ver a Índia livre
do domínio estrangeiro, como também das correntes que seus próprios compatriotas se haviam imposto.
Segundo Gopal Gokhale, um sábio hindu, “tinha um maravilhoso poder espiritual para converter os
homens medíocres que o rodeavam em heróis e mártires”.
Na mesma linha histórica de Gandhi, podemos considerar Nelson Mandela, o grande líder
sul-africano do século XX que, depois de longos anos encarcerado, conseguiu pôr fim à política de
segregação contra os negros em seu país. Mandela sonhava “com o dia em que todos se levantem e
compreendam que foram feitos para viver como irmãos”. Duzentos anos antes, Benjamin Franklin, que
incursionou por diferentes campos do conhecimento e foi um dos artífices da independência dos Estados
Unidos, afirmou que “nunca houve guerra boa nem paz ruim”.
Pouco antes de morrer, o inventor Alexander Graham Bell, de quem já falamos, confidenciou
a um jornalista: “eu creio ser o homem mais rico da Terra. Tenho duas filhas, nove netos e dezenove
bisnetos. São poucos os homens que têm uma sorte como a minha!” O jornalista questionou se o
dinheiro não o fazia feliz. “Nem a mim, nem a ninguém” - respondeu - “sem paz não pode haver
felicidade, por mais dinheiro que se tenha! Gosto de sentar meus bisnetos sobre os joelhos e lhes dizer:
se não podem fazer o bem, pelo menos não façam mal a ninguém, nem prejudiquem ninguém, pois é
somente aí que se encontra o segredo da felicidade futura...”
O DESENVOLVIMENTO
ESPIRITUAL Desde que toma consciência de si
mesmo, o ser humano busca respostas sobre a
origem, a natureza e o destino de sua vida. De onde venho? Quem sou?
Para onde vou?
185
Este fenômeno é parte do processo de questionamento da posição derivada
da família e se torna mais agudo com o aparecimento do pensamento causal e com
a confrontação entre o despertar da sexualidade e as respostas de sua fé. É uma
transição própria da passagem de uma fé recebida, infantil, para uma fé pessoal e
assumida, adulta.
Corria o ano de 1509 quando um soldado espanhol de 24 anos, que havia cursado a
Universidade de Sevilha, escutava em uma igreja de Santo Domingo a pregação do Padre
Montesinos. O sacerdote católico denunciava os conquistadores espanhóis, que queriam se
apoderar das terras descobertas com a esperança de encontrar ouro e fazer fortuna. Falava de
homens de violentas paixões, a quem não importava a própria vida e muito menos a vida alheia,
especialmente a daqueles a quem consideravam vencidos: os povos originários
da América, com quem não tinham piedade alguma. E eles
também eram filhos de Deus.
186
O soldado era Bartolomeu de las Casas, e não era muito diferente daqueles a quem o sacerdote
denunciava. Seu coração se perturbou e se comoveu de tal maneira que, posteriormente, decidiu tornar-
se religioso. Libertou seus escravos e dois anos depois, já sacerdote, se lançou à luta que duraria toda sua
vida: a defesa dos índios. Acompanhou sem descanso as expedições com o único objetivo de evitar os
abusos. Quase não há país da América Latina que não recorde sua passagem.
Sua fama se propagou e foi apelidado o “Padre dos Índios”. Escreveu cartas e livros que
comoveram os reis da Espanha, a quem visitou pessoalmente mais de 5 vezes, conseguindo a
promulgação de várias leis de proteção. Como as leis não se cumpriam rigorosamente, instruiu os
sacerdotes a que negassem a absolvição a quem não restituísse bens roubados e liberasse os escravos.
Como todo inovador social, foi acusado de traidor, louco, desvairado e charlatão, porém seu entusiasmo
sempre conseguiu o apoio do Rei da Espanha. Como aos 80 anos estava quase paralítico e não podia
voltar à América, seguiu escrevendo e denunciando excessos desde seu convento nos arredores de
Madri, onde morreu aos 92 anos.
Assim como o Padre Bartolomeu de las Casas lutou pelos índios no século XVI, a madre
Javouhey o fez pelas pessoas de etnia negra nas colônias francesas, na primeira metade do século XIX.
Foi uma mulher pioneira e construtora que abriu escolas e seminários, fundou hospitais, constituiu
povoações modelos, deu origem a uma congregação e viajou por todo o mundo. Com sua morte,
deixou 900 religiosas que continuaram sua obra. Seu objetivo era conseguir um tratamento igual para
todos, sem distinção de etnia. Coisa parecida fez Raimundo Lulio que, no século XIII, sendo católico, se
esforçou para dominar a língua árabe para poder se comunicar com os muçulmanos da Espanha e lhes
proporcionar vida mais digna nos territórios que estavam sendo reconquistados pelos cristãos.
187
Deus também se manifesta por meio dos diversos caminhos
que nos levam até Ele. Marco Polo, o grande explorador veneziano
do Século XIII, durante sua longa permanência na China, se admirou
diante da tolerância religiosa que encontrou. Cristãos, nestorianos,
confucionistas, judeus, budistas e taoístas viviam em paz e adoravam
a Deus a sua maneira, o que contrastava com as contínuas guerras
que ocorriam na Europa.
Os ESCOTISTAS PRECISAM
CONHECER VÁRIOS EXEMPLOS E
SABER QUANDO RECORRER A ELES
Em cada área de desenvolvimento, mencionamos exemplos
que nos serviram para tornar as ideias tangíveis. Esses mesmo relatos
poderão ser úteis para que você motive os jovens. Não são os únicos,
e você poderá encontrar muitos outros exemplos, histórias e casos.
Você poderá descobrir mais exemplos dando uma olhada nos Guias
destinados aos jovens, conversando com escotistas que já tenham
percorrido uma trajetória mais longa e explorando no âmbito da
União dos Escoteiros do Brasil, em boas bibliotecas, na internet ou em
publicações da Organização Mundial do Movimento Escoteiro.
188
AS CompetênciaS E OS OBJETIVOS
EDUCATIVOS SÃO AGRUPADOS
POR ÁREAS DE DESENVOLVIMENTO
Em todas as áreas de Desenvolvimentos, existem Objetivos
Educativos e as Competências; e para cada Competência, existe um
conjunto de atividades que vão contribuir com sua conquista.
189
9
Os
objetivos
educativos
e as competências
190
sumário
NATUREZA DOS OBJETIVOS
EDUCATIVOS e as
Competências
• O Movimento Escoteiro possui
Objetivos Educativos.
• Os objetivos constituem uma
proposta e não pretendem formar
modelos ideais de pessoas.
• O conjunto de objetivos
educacionais se refere a tudo
que os jovens fazem em todas as
dimensões de sua personalidade.
• Para avaliação dos jovens, os
objetivos foram transformados em
Competências.
a PROPOSTA DE OBJETIVOS
• Desenvolvimento físico • Desenvolvimento afetivo
• Desenvolvimento intelectual • Desenvolvimento social
• Desenvolvimento do caráter • Desenvolvimento espiritual
AS ETAPAS DE PROGRESSÃO
191
NATUREZA DOS
OBJETIVOS EDUCATIVOS
e as Competências
Então, os “objetivos finais” são o limite que o Movimento pode oferecer, mas
não são os últimos para os indivíduos: a pessoa, em um processo que se estende
durante toda a vida, nunca se completa. A existência de objetivos finais permite que
todos os Ramos do Movimento Escoteiro tenham objetivos intermediários coerentes
entre si e com os respectivos objetivos finais, dando unidade e articulação a todo o
processo de formação escoteira.
192
Os objetivos constituem uma
proposta e não pretendem
formar modelos ideais de
pessoas
Os valores escoteiros, apresentados na Lei Escoteira e no
projeto educativo do Movimento, percebem-se claramente no
conjunto de objetivos (e atividades) que se propõe aos jovens.
No entanto, este conjunto não pretende apresentar um modelo
“ideal” de pessoa ou de forma de ser. Não se trata de produzir seres idênticos
a partir de uma mesma “célula de valores”, já que cada jovem é uma pessoa única,
com diferentes necessidades, aspirações e capacidades.
193
Para avaliação dos jovens, os Objetivos
foram transformados em Competências
Por COMPETÊNCIA define-se a união de CONHECIMENTO, HABILIDADE e ATITUDE em
relação a algum tema específico. O aspecto educativo da Competência é que ela reúne não só o SABER
algo (Conhecimento), mas também o SABER FAZER (Habilidade) para aplicação do conhecimento
e, mais ainda, SABER SER (Atitude) em relação ao que sabe e faz, ou seja, uma conduta que revela à
incorporação de valores.
Assim, no Guia das Etapas Pistas e Trilha, constam 36 Conjuntos de Atividades, cada um com
uma quantidade de itens que devem ser oferecidos aos jovens que estão neste período. No Guia das
Etapas Rumo e Travessia, constam outros 36 Conjuntos de Atividades, um pouco mais complexas, já que
são destinadas aos jovens em uma fase de desenvolvimento mais adiantada.
• Competências: Originadas nos Objetivos Educativos, são os aspectos que orientam as definições de
atividades e que devem ser observados quando da avaliação da Progressão de cada jovem. Avaliar o
desenvolvimento não significa apenas verificar se o jovem executou as atividades propostas. Significa
avaliar se as atividades sugeridas e realizadas cumpriram seu papel, que é o de facilitar a incorporação
dos conhecimentos, habilidades e condutas expressas nas Competências. Se isto não aconteceu, uma
atividade pode ser substituída ou novas atividades devem ser propostas, até que a Competência tenha
sido alcançada;
• Outras ideias: As atividades podem ser modificadas ou substituídas. Deve-se ter em mente, quando
outras atividades são incorporadas ou algumas são substituídas, que isto acontece no intuito de
oferecermos ao jovem a possibilidade de, efetivamente, atingir uma Competência. Um jovem cadeirante
tem objetivos físicos a cumprir, que, obviamente, são diferentes do objetivo de um jovem que caminha
normalmente. Também é preciso considerar que os jovens têm atividades diversas as que realizam num
Grupo Escoteiro. Elas, necessariamente, têm de estar sob o escopo da avaliação da Progressão.
194
O CONJUNTO DE ATIVIDADES
NÃO é “CONTROLADO”
COMO PROVAS OU EXAMES
195
OS OBJETIVOS, AS COMPETÊNCIAS E AS
ATIVIDADES EDUCATIVAS TÊM UNIDADE
E OBSERVAM UMA SEQUÊNCIA
196
NO GUIA DO JOVEM, SERÃO ENCONTRADOS
APENAS OS CONJUNTOS DE ATIVIDADES.
CADA CONJUNTO RECEBE UM NÚMERO QUE o
RELACIONA COM AS CompetênciaS
E OBJETIVOS
PISTA E TRILHA
DESENVOLVIMENTO FÍSICO
Competências Atividades Sugeridas
197
• Manter hábitos de higiene
individual, demonstrar cuidado com
o traje ou uniforme escoteiro e utilizar
corretamente os distintivos e insígnias.
• Classificar o lixo em diferentes
categorias e saber como tratar os
diferentes tipos de resíduos de
acampamentos ou excursões utilizando
“engenhocas” para melhorar a higiene e
o conforto nos acampamentos.
3) Mantenho limpo e arrumado o
• Participar da manutenção do canto
ambiente em que faço minhas coisas, e
de patrulha, conhecer os materiais de
cuido da minha higiene e apresentação
sua patrulha e contribuir para a sua
pessoal.
conservação, organização e limpeza.
• Montar corretamente uma mochila
para um acampamento de 3 dias e
manter seu equipamento pessoal em
bom estado.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
198
• Organizar seu tempo utilizando uma
agenda ou instrumento similar.
• Realizar dentro do prazo as suas
tarefas escolares.
• Frequentar regularmente as atividades
5) Dedico ao estudo tempo suficiente, e e reuniões da sua patrulha e da Tropa.
uso meu tempo livre para participar de • Conhecer e praticar diversos tipos de
atividades recreativas e variadas. jogos e atividades recreativas.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO INTELETUAL
Competências Atividades sugeridas
199
• Explorar com sua patrulha ou Tropa
a comunidade onde vive, identificando
problemas e buscando soluções.
• Estimar altura e distâncias utilizando
8) Sei buscar informações que me distintos métodos.
ajudam a analisar problemas e encontrar • Ler um livro, e após a leitura,
soluções, procurando minhas próprias apresentar um resumo à patrulha.
leituras e relacionando com as coisas • Saber utilizar alguma técnica de
que me acontecem. previsão do tempo por indícios naturais.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
200
• Participar de um fogo de conselho e de
uma apresentação com sua patrulha.
• Construir, com sucata, um instrumento
musical.
• Conhecer e cantar algunas canções
11) Participo com entusiasmo das
e danças tradicionais do Movimento
atividades artísticas de minha Tropa.
Escoteiro e de sua Tropa, em especial o
Hino Alerta.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
201
DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER
Competências Atividades sugeridas
202
• Participar como animador em um
acampamento de sua patrulha.
• Conhecer histórias de pessoas que se
sobrepuseram em momentos difíceis
17) Procuro ser alegre, mesmo nos e relatar aos seus companheiros de
momentos difíceis, compartilho minha patrulha.
alegria com os outros respeitando a • _________________________________
todos. ___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO AFETIVO
Competências Atividades sugeridas
203
• Participar de um debate sobre um
filme ou um documentário com temática
ambiental ou social.
• Participar ativamente nas Assembleias
expressando sua opinião de forma
respeitosa.
20) Escuto a opinião dos outros e, se • Propor temas para debater em seu
não concordo, digo isso com respeito, Conselho de Patrulha.
mantendo ou não minha posição • Participar da avaliação de um
conforme minhas convicções. acampamento de Tropa.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
204
• Participar de uma cerimônia que
envolva pais, responsáveis ou irmãos.
• Participar de uma atividade de
sua patrulha junto aos seus pais,
responsáveis, irmãos...
23) Procuro participar com minha
• Pedir ajuda de seus pais ou familiares
família de atividades dentro e fora do
para capacitar sua patrulha em algum
Grupo Escoteiro.
tema de interesse (por exemplo: cozinha,
mecânica, pintura...).
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Competências Atividades sugeridas
205
• Participar ativamente de uma
Assembleia de Tropa, analisando as
normas de convivência, propondo
mudanças e melhorias.
• Estudar sobre a organização do
Escotismo Brasileiro e apresentar o
26) Colaboro na elaboração das normas
resultado para sua patrulha ou Tropa.
dos diferentes grupos que participo,
• Conhecer a Estrutura de um Grupo
cumprindo aquilo com em que me
Escoteiro.
comprometo.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
206
• Participar, junto com sua patrulha, de
uma comemoração típica de sua região.
• Participar de um Jantar Festivo
na Tropa, representando um Estado
diferente do seu.
• Pesquisar e colocar em prática alguns
29) Procuro conhecer a cultura do meu jogos e atividades típicas dos habitantes
país. da região onde vive.
• Participar de um evento cívico, com
sua patrulha ou Tropa.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
207
• Participar de um projeto ambiental
com sua patrulha ou Tropa e aplicar
as normas de acampamento de baixo
impacto em acampamentos e excursões.
32) Conheço os diferentes ecossistemas • Realizar levantamento de pegadas de
de meu país e me preocupo em animais de sua região.
participar de projetos ambientais. • Participar de uma excursão urbana
com motivo ecológico.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL
Competências Atividades sugeridas
208
• Participar da construção de um espaço
de reflexão em um acampamento de
Tropa.
• Orar utilizando uma oração própria da
Tropa ou de sua patrulha.
• Praticar a oração como forma de
35) Entendo a oração como forma de relacionar-se com Deus.
me relacionar com Deus e procuro • Organizar ou contribuir com um
fazê-la todos os dias. livreto de orações para a sua patrulha.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
209
RUMO E TRAVESSIA
DESENVOLVIMENTO FÍSICO
Competências Atividades Sugeridas
210
• Participar de uma atividade de
renovação do Canto de Patrulha (em
sede).
• Propor e executar uma atividade de
melhoria em algum local visitado pela
patrulha em acampamentos e manter
em ordem seu quarto e objetos pessoais.
• Demonstrar cuidado com seu traje ou
uniforme escoteiro e costurar os seus
3) Mantenho minhas coisas limpas e
distintivos e insígnias.
organizadas, cuido dos lugares que
• Montar corretamente uma mochila
visito e da minha apresentação pessoal.
para um acampamento de 5 dias e
manter o equipamentos de sua patrulha
em bom estado.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
211
• Organizar suas atividades em um
calendário semanal.
• Classificar suas atividades segundo um
critério de prioridades.
• Participar regularmente das atividades
5) Sei distribuir meu tempo para
e reuniões de sua patrulha, contribuindo
atividades de estudo, convivência
com idéias e sugestões para as
familiar, com amigos e sei escolher o
atividades.
que fazer no meu tempo livre.
• Desenvolver um passatempo ou
hobbie.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO INTELETUAL
Competências Atividades sugeridas
212
• Participar de, pelo menos, três Jogos
Democráticos da Tropa.
• Participar da avaliação de uma
atividade Regional.
• Explorar algum tema de seu interesse e
8) Posso analisar uma situação a
compartilho com sua Patrulha ou Tropa.
partir de diferentes pontos de vista
• Aplicar técnicas de medição de
estimulando meus amigos para que
distância ou altura em uma atividade de
façam o mesmo.
patrulha ou tropa.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
213
• Ser responsável por apresentar as
canções, durante o Fogo de Conselho de
um acampamento de Tropa.
• Organizar e participar um esquete de
um Fogo de Conselho da Tropa.
• Ensinar a outros escoteiros algumas
11) Manifesto meus interesses e
canções tradicionais do Movimento.
aptidões artísticas, contribuindo com o
• _________________________________
bom ambiente nas atividades.
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
214
• Desenhar um croqui de um lugar
de acampamento utilizando sinais
topográficos, e participar do projeto
e instalação das pioneirias de
acampamento, aplicando pelo menos os
seguintes nós e amarras: direito, volta do
fiel ou volta da ribeira, nó de escota, nó
em oito, volta redonda com dois cotes,
amarra quadrada e diagonal.
• Aplicar os conceitos básicos de
13) Melhoro minhas habilidades estruturas (cavaletes, encaixes,
manuais. ancoragens) nos projetos e montagem de
construções como pontes, balsas, etc.
• Confeccionar “Falcaças”, Nó “catau”,
Laís de guia, Cadeira de Bombeiro e
demonstrar os cuidados básicos com as
cordas.
• Construir e pernoitar em um abrigo
natural.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO DO CARÁTER
Competências Atividades sugeridas
215
• Desempenhar um cargo de patrulha
por pelo menos um Ciclo de Programa.
• Capacitar-se para desempenhar seu
cargo na patrulha.
15) Busco fazer as coisas bem feitas,
• Avaliar seu desempenho e de seus
superando minhas limitações para
amigos nos cargos de patrulha.
cumprir minhas responsabilidades.
• Participar de um festival de talentos na
tropa.
• _________________________________
___________________________________
216
DESENVOLVIMENTO AFETIVO
Competências Atividades sugeridas
217
• Auxiliar sua patrulha, Tropa ou Grupo
a ter um número equilibrado de meninas
e meninos.
• Ir com minha patrulha ao teatro ou
22) Entendo que homem e mulher
cinema com outros jovens de ambos os
se complementam e devem conviver
sexos.
respeitosamente.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Competências Atividades sugeridas
218
• Saber o que é a Constituição Brasileira,
conhecer os Símbolos Nacionais e saber
cantar o Hino Nacional.
25) Sei como funcionam os processos • Visitar a Câmara de Vereadores de seu
de tomada de decisão no meu país, município.
e manifesto com respeito minha • Saber as diferenças entre o poder
opinião sobre as pessoas que exercem Legislativo, Executivo e Judiciário.
autoridades. • _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
219
• Saber onde encontrar os principais
serviços públicos na sua cidade.
• Participar, com sua patrulha, de um
“Safári Fotográfico” em sua cidade.
28) Conheço minha cidade e sei • Identificar problemas da sua cidade e
onde encontrar os principais serviços propor soluções.
públicos. • _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
220
• Manter contato com um escoteiro de
outro país, por pelo menos um mês.
• Ajudar a organizar e participar
de um Jantar Festivo na sua Tropa,
31) Procuro conhecer como vivem as representando tipicamente outro país.
pessoas em outros países. • _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL
Competências Atividades sugeridas
221
• Realizar atividades de reflexão em
acampamento ou excursão com sua
Patrulha ou Tropa.
• Ajudar a projetar e construir, junto
com sua patrulha ou Tropa, um lugar
34) Encontro Deus na natureza, nas
para oração e reflexão no acampamento.
pessoas e nos acontecimentos, me
• Organizar com sua patrulha e sua
relacionando com Ele por meio da
família momentos de oração.
oração.
• _________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
222
as etapas de
progressão
São quatro as etapas de progressão, cujos nomes têm um sentido simbólico
que envolve o Marco Simbólico. A primeira fase de toda exploração é seguir as
pegadas, os rastros, indícios e sinais deixados pelas pessoas, pelos animais e pelos
fatos e que, mais ou menos ocultos entre as coisas de todos os dias, nos desafiam a
segui-Ias, partindo para a aventura de descobrir novos territórios. Tudo depende de
aprender a ver e observar.
Pistas Rumo
Trilha Travessia
223
Quando a TRILHA se abre sobre o vale e vemos mais clara nossa
rota, podemos recorrer à bússola, observar a rosa dos ventos e definir,
no plano do horizonte, a direção que seguiremos. Nosso caminho se
alarga e sabemos exatamente por onde vamos prosseguir para chegar ao
propósito que fixamos. Definimos um RUMO.
224
10
As
atividades
educativas
225
sumário
OBJETIVOS, Competências,
ATIVIDADES E EXPERIÊNCIAS
• Para conquistar objetivos e Competências,
realizamos atividades.
• Os jovens aprendem por meio das experiências
que vivem nas atividades.
• As experiências são pessoais.
• As atividades contribuem para a conquista das
Competências de maneira paulatina, sequencial
e cumulativa.
Tipos de atividades
• As atividades podem ser internas ou externas.
• A principal distinção é entre atividades fixas e variáveis.
• A programação equilibra atividades fixas e variáveis.
• As atividades variáveis podem ser de patrulha, de Tropa e projetos.
as atividades as atividades
fixas variáveis
• As atividades fixas criam o • As atividades variáveis devem ser
ambiente proposto pelo Método desafiantes, úteis, recompensantes e
Escoteiro. atraentes.
• As reuniões de patrulha. • As fichas de atividade ajudam a encontrar e
• A reunião de Tropa. a criar atividades.
• Acampamentos e excursões. • As atividades variáveis têm duração variada.
• Os jogos. • As atividades variáveis podem ser
• Histórias, casos, contos e relatos. sucessivas e simultâneas.
• O canto e a dança. • As atividades são coletivas ou,
• O Fogo de Conselho. excepcionalmente, individuais.
as especialidades
• As especialidades desenvolvem • As especialidades complementam a
aptidões inatas. progressão pessoal.
• A conquista de especialidade é • As especialidades fazem aumentar
voluntária, individual e apoiada por um a necessidade de atenção pessoal
instrutor. aos jovens.
• Os objetivos, ações e requisitos de uma • As especialidades se agrupam em
especialidade são flexíveis. ramos de conhecimento:
• As especialidades permitem explorar, - Ciência e Tecnologia
conhecer, fazer e servir. - Desportos
- Cultura
- Serviços
226 - Habilidades Escoteiras
OBJETIVOS,
COMPETÊNCIAS,
ATIVIDADES E EXPERIÊNCIAS
No Movimento Escoteiro, os PARA CONQUISTAR
jovens aprendem fazendo, pois tudo se
realiza sob a forma de atividades. OBJETIVOS,
REALIZAMOS
Nas patrulhas e na Tropa, os jovens são os
protagonistas das atividades. Eles as propõem e as ATIVIDADES
escolhem por si mesmos; também são eles que as preparam, desenvolvem e avaliam,
com o apoio dos escotistas.
Atividade Experiência
227
O que é verdadeiramente educativo é a experiência, pois é uma relação
pessoal do jovem com a realidade, o que lhe permite observar e analisar
seu comportamento e adquirir e praticar a conduta prevista nos objetivos
educacionais.
AS EXPERIÊNCIAS
SÃO PESSOAIS Dependendo de uma ampla
variedade de circunstâncias que,
de um modo geral, guardam relação com o jeito de ser de cada um, uma mesma
atividade pode gerar diferentes experiências nos jovens que dela participam.
Ao contrário, pode ser que uma atividade não seja avaliada como um sucesso
e, mesmo assim, tenha produzido em alguns ou em vários de seus participantes
experiências que contribuíram para a aquisição de condutas desejáveis.
Não basta realizar atividades nem que estas sejam um sucesso. É necessário
estar atento, além disso, às experiências pessoais que cada jovem obtém, o que
se faz por meio do acompanhamento de sua progressão pessoal.
AS ATIVIDADES CONTRIBUEM
PARA A CONQUISTA DAS
COMPETÊNCIAS DE MANEIRA
Entre as atividades e PAULATINA, SEQUENCIAL E
as Competências, não
existe relação direta
CUMULATIVA
e imediata, isto é, a realização de uma atividade não produz, automaticamente, a
conquista de uma determinada Competência e/ou objetivo.
228
Isto significa que, ao
término de uma atividade,
só ela em si mesma é que
pode ser avaliada.
As atividades que as
patrulhas e a Tropa
realizam contribuem
progressivamente para
que eles conquistem seus
objetivos pessoais por meio
das sucessivas experiências
que desencadeiam nos
jovens.
A avaliação da progressão
pessoal dos jovens só
será possível a cada certo
tempo. Ao avaliar objetivos
de desenvolvimento,
mede-se a maturidade. E a
maturidade só é atingida
através de um processo de
desenvolvimento paulatino,
sequencial e cumulativo.
229
Tipos de
atividades
AS ATIVIDADES PODEM SER
INTERNAS ou EXTERNAS
Quando destacamos os objetivos e Competências, tratamos que estes
consideram a totalidade da vida dos jovens, que compreendem um “sem número” de
atividades, muitas das quais não estão conectadas com a patrulha ou com a Tropa.
Isto permite distinguir entre atividades internas e externas.
230
as atividades fixas as atividades variáveis
• Utilizam uma mesma forma • Utilizam formas variadas e se
de se relacionarem com um referem a conteúdos mais diversos,
mesmo conteúdo. segundo as inquietações expressas
pelos jovens.
• Devem ser realizadas com
frequência, para criar o • Não se repetem continuadamente,
ambiente desejado pelo a não ser que os jovens desejem
Método Escoteiro. fazê-lo e depois de transcorrido
certo tempo.
• Contribuem de forma
genérica para a conquista das • Contribuem para a conquista de
Competências e de Objetivos determinadas Competências e
Educativos. Objetivos Educativos claramente
individualizados.
Atividades fixas são, por exemplo, as diferentes cerimônias que se realizam na
Tropa. Dependendo do motivo que comemoram, seu conteúdo é sempre semelhante;
sua realização frequente contribui para criar a atmosfera própria da vida de grupo
na Tropa e não estão orientadas para a conquista específica de um objetivo ou de
um grupo de Objetivos Educativos pelos jovens. Contudo, guardam relação com
vários aspectos de
sua personalidade
e contribuem, de
um modo geral,
para a conquista
de objetivos em
diferentes áreas de
desenvolvimento.
O que se disse
sobre as cerimônias
também é válido
para todas as
outras atividades
fixas realizadas
nas patrulhas e
na Tropa, como
as reuniões,
as excursões e
acampamentos,
a manutenção e
o melhoramento
do “canto” de
patrulha e da
sala da Tropa, os
jogos, as canções,
a animação do
Sistema de Patrulhas e tantas outras.
231
Atividades variáveis, por exemplo, poderiam ser a aprendizagem da técnica de
reciclagem de papel, a manutenção de um cultivo hidropônico, a montagem de um
teatro de marionetes para um centro infantil, a elaboração de um audiovisual, uma
reportagem fotográfica ou um acampamento volante em
diferentes setores rurais culturalmente interessantes.
■ desafiante;
■ útil;
■ recompensante;
■ atraente.
A PROGRAMAÇÃO
EQUILIBRA ATIVIDADES
FIXAS E VARIÁVEIS
Uma das chaves para enriquecer a vida de grupo
na Tropa é construir, com a participação ativa
dos jovens, uma programação que mantenha
um equilíbrio adequado entre os dois tipos de
atividades educativas.
232
as atividades fixas as atividades variáveis
233
AS ATIVIDADES VARIÁVEIS PODEM SER DE
PATRULHA, DE TROPA OU PROJETOS
As atividades de patrulha são aquelas que uma patrulha realiza sem ter,
necessariamente, relação com as outras patrulhas.
234
as atividades
fixas
AS ATIVIDADES FIXAS CRIAM O
AMBIENTE PROPOSTO PELO MÉTODO
ESCOTEIRO
Na prática, as atividades fixas são realizadas de uma maneira bastante
similar. Contudo, elas admitem variações em sua aplicação e é conveniente revisar
continuamente a forma como as fazemos, perguntando se não poderíamos melhorá-
Ias, introduzindo variações e, assim, evitar que se convertam em rotina, percam sua
atração para os jovens ou tenham reduzido seu valor educativo.
AS REUNIÕES DE
PATRULHA
Terminadas
as atividades -
e antes do encerramento
da reunião -, destina-se um certo
tempo ao cumprimento de tarefas rotineiras e
administrativas, como limpar a sala da Tropa,
atualizar o jornal mural ou pôr em dia os
registros e o pagamento de quotas.
O encerramento da reunião pode adotar uma fórmula semelhante à da abertura.
Isto não significa que, durante as reuniões da Tropa, cada um faça o que quer,
nem que os escotistas se eximam de supervisionar, dar seu apoio estimulante ou zelar
pela segurança. Na verdade, sua estrutura de encontros tem de ser flexível o suficiente
para se adaptar ao calendário de atividades aprovado por sua Assembleia para o Ciclo
de Programa que está se desenvolvendo; mas, rígida o suficiente para que seja uma
atividade fixa.
A reunião de Tropa nem sempre dura 2 ou 3 horas. De tempos em tempos - idealmente uma vez
a cada mês - a reunião pode durar um dia inteiro, coincidindo com uma atividade variável que
exija mais tempo.
Em algumas ocasiões - quando se realiza uma atividade variável de longa duração ou quando um
projeto está em andamento, por exemplo - quase todo o tempo disponível precisa ser dedicado a
avançar em tal atividade ou projeto.
Também por exigência das atividades em andamento, pode ser que a reunião não se realize
na sede, mas em contato com a natureza, em uma área próxima à sede ou em outra parte da
vizinhança ou da cidade, com as patrulhas atuando de forma autônoma ou com a Tropa atuando
em conjunto, sempre observando o calendário aprovado para o Ciclo de Programa.
Em qualquer caso, as reuniões de Tropa devem ser ativas, evitando longos intervalos ou reuniões
passivas, que levem os participantes a perder o interesse.
A Tropa não se reúne apenas no final de semana; também podem programar uma atividade para
um feriado. As Tropas patrocinadas por escolas devem evitar se reunir sempre no colégio, ao final
das aulas ou mesmo durante estas, dando a falsa impressão de que o Movimento é um dever
escolar ou mais uma matéria incluída no currículo.
237
acampamentos e excursões
O acampamento é a atividade fixa mais importante da programação
de atividades, pois o Método Escoteiro não é possível sem a Vida ao Ar
Livre.
238
Um acampamento não é a ampliação de uma reunião urbana da Tropa.
Também não deve ser sobrecarregado com uma programação muito apertada. Deve
oferecer oportunidade para o silêncio interior e para o contato com a natureza,
com tempo suficiente para observar, descansar e, até, ficar sem fazer nada. É uma
oportunidade para realmente viver.
239
Por esta razão, a escolha do lugar de acampamento é uma das condições
para seu êxito. Deve ser um lugar que ofereça espaços independentes e seguros, que
convide a descobrir, que torne possível viver a aventura, em meio a uma natureza rica
e variada, que estimule a exploração.
240
excursões
As excursões, por sua vez, são saídas de curta duração - 1 ou 2 dias - que,
no linguajar escoteiro, não chegam a ser consideradas como um “acampamento”
propriamente dito. Geralmente, são realizadas por patrulhas e em qualquer momento
do ano, conforme acordado no calendário do respectivo Ciclo de Programa.
* Realizam-se em um ambiente natural que renova a vivência do Marco Simbólico (“Explorar novos
territórios com um grupo de amigos”). Os jovens vivem aventuras que os põem em contato com
dimensões que eles antes desconheciam;
* Contribuem para que os jovens desenvolvam sua autonomia pessoal, exercendo responsabilidades
e superando dificuldades em um ambiente diferente do existente no seio da família ou em seu meio
habitual;
* Criam um ambiente especial que facilita a conquista dos objetivos pessoais de cada jovem, em todas as
áreas de desenvolvimento.
OBS: Nos acampamentos e nas excursões, não se realiza nenhuma atividade ou jogo
que, sob o pretexto de incentivar destrezas ou autocontrole, possa pôr em risco a
saúde ou a segurança dos jovens, ou gerar inibições ou temores entre eles.
Jogos
O jogo pode ser visto segundo duas
perspectivas:
A primeira considera o jogo como uma atitude. Sob este
ângulo, o jogo é uma disposição da vontade, um jeito de ser e de
fazer, um ponto de vista a partir do qual se pode observar e julgar os
fatos sem excessiva gravidade, com humor e otimismo, se deixando
surpreender pela vida.
Em segundo lugar, o jogo pode ser visto como uma atividade, um meio espontâneo de exploração
de si mesmo, dos demais e do mundo. Jogar implica experimentar, provar até onde se pode chegar,
aventurar, se esforçar, comemorar. Jogar com os outros inclui compartilhar, ajudar uns aos outros, se
organizar, saber ganhar e saber perder. Visto assim, o jogo é um fator de introdução à vida social, pois,
como no cotidiano, existem regras que todos devem respeitar.
241
Pelo jogo, os jovens aprendem que não
se pode ganhar sempre, que é necessário
se pôr no lugar do outro, governar seus
impulsos físicos, conter-se e dominar
a tendência a interpretar as regras
em proveito próprio. Os mais hábeis
compartilham com os que têm menos
habilidade e estes aprendem com
aqueles. O jogo permite que até
os menos hábeis se destaquem em
algum aspecto particular.
242
Existem muitos livros e outras publicações que contêm diferentes tipos de jogos
para jovens e que podem ser praticados pelos escoteiros: de interior e ao ar livre, curtos
e longos, de engenhosidade e de esforço físico, grandes jogos, jogos “de cidade” ou
jogos noturnos ao ar livre. Toda atividade pode ser adaptada ao Movimento Escoteiro,
desde que possa vivenciar o Método Escoteiro ao participar dela.
HISTÓRIAS,
CASOS,
CONTOS E Quando se lida com adolescentes, não
há um momento particular para se dedicar
RELATOS a “narrar”. Mas o desejo de aventurar, a
curiosidade, o prazer de mergulhar no desconhecido e misterioso estão presentes com
intensidade nos jovens de 11 a 14 anos. Sempre apreciarão um relato histórico, um
“caso”, uma lenda importante, principalmente se reforçam elementos que rondam sua
mente graças ao Marco Simbólico.
Os relatos são como o tempero na comida, percebido tanto por sua falta como pelo
excesso. Por isso, o melhor é estar atento às oportunidades oferecidas pela cotidiana
vida de grupo: ao começar ou encerrar uma reunião, antes de sair para uma excursão,
antes de ir dormir, numa noite de acampamento, no descanso no meio de uma longa
caminhada, durante uma viagem prolongada de ônibus ou de trem, entre outros.
243
Existem muitas oportunidades em que um amplo repertório de histórias, casos,
contos e episódios reais permitirão a um escotista hábil estimular a imaginação dos
jovens e Ihes apresentar valores por meio de exemplos, modelos sociais e situações
que devem ser imitadas ou evitadas.
244
Os cantos e as danças não precisam ser necessariamente “escoteiros”. O
folclore nacional e regional é rico em material ao qual sempre se pode recorrer. Os
próprios jovens, de maneira espontânea, costumam cantar canções populares que
expressam o que Ihes interessa e o que sentem. No convívio com eles, os escotistas
podem aportar orientações e sugestões que Ihes permitam valorizar a música e o
conteúdo desses temas.
A programação deve ser elaborada previamente, com a participação de todos os jovens e das
patrulhas, seguindo as orientações definidas pela Corte de Honra.
No desenvolvimento do Fogo de Conselho, cada jovem tem um papel a cumprir, seja nos detalhes
de organização do evento, na manutenção do ambiente em geral ou nos números artísticos
apresentados por sua patrulha.
Para convocar os participantes, acender a fogueira e dar início ao Fogo de Conselho, cada Tropa
costuma adotar um ritual próprio, o que faz aumentar o sabor, a tradição e o senso de pertencer
da cerimônia. Em algumas Tropas, esses rituais variam a cada Fogo de Conselho.
Como o ritmo do dia, que se inicia cheio de alegria e movimento para chegar ao repouso da
noite, é interessante que o ritmo do Fogo de Conselho vá da alegria expansiva ao recolhimento.
Por isso, as atividades mais expansivas aparecem no começo e as mais tranquilas ao final, até que
se encerre com um momento de reflexão e de oração.
Quando se realiza na cidade, os pais podem ser convidados, embora isso nem sempre seja
conveniente, pois a Tropa também necessita fazer suas comemorações de maneira privada.
O Fogo de Conselho pode ter um tema central, em torno do qual giram as diversas apresentações:
uma lenda, um fato histórico, uma retrospectiva dos fatos pitorescos ocorridos durante o
acampamento e muitos outros.
245
Como já destacamos, o Fogo de Conselho se realiza em uma ocasião especial
e obedece a um certo ritual. Por isso, quando se pretende, apenas, “curtir” um bom
momento com os companheiros, basta organizar uma conversa ao pé do fogo que
pode ser por patrulha ou envolver toda a Tropa. Na conversa ao pé do fogo, não há
exigências quanto ao ritmo e a fogueira pode ser substituída por um lampião; ela pode
servir, inclusive, como atividade preparatória para um Fogo de Conselho.
“(...) Frequentemente me pedem, os escotistas, não os jovens, para introduzir mais treinamento para
marcha e desfiles no programa dos escoteiros; mas, apesar de reconhecer seu valor disciplinar, depois de
34 anos de experiência militar, também vejo muito claramente seus defeitos. Brevemente, são:
(Extraído de Notas para Escotistas, anexo à 17ª edição britânica de Scouting for boys, 1935).
246
as atividades
variáveis
AS ATIVIDADES VARIÁVEIS
DEVEM SER DESAFIANTES, ÚTEIS,
RECOMPENSANTES E ATRAENTES
Já dissemos que as atividades variáveis podem cobrir os mais variados
assuntos, dependendo, fundamentalmente, dos interesses dos jovens e das
necessidades da comunidade em que a Tropa Escoteira atua. Os temas, ou grupos
de temas, que surgem com mais frequência entre as atividades variáveis das Tropas
Escoteiras são:
247
A única exigência consiste em que as atividades propostas sejam desafiantes,
úteis, recompensantes e atraentes.
Uma atividade que imponha um esforço abaixo das condições pessoais de um jovem
nada acrescentará a suas capacidades nem promoverá o desenvolvimento de novos
conhecimentos, atitudes e habilidades.
Que sejam úteis implica enfatizar que as atividades devem gerar experiências
que proporcionem uma aprendizagem efetiva.
Para ser considerada educativa, não basta que uma atividade seja espontânea,
divertida, repetitiva ou com muita ação. É preciso que se oriente para o
aperfeiçoamento do jovem, isto é, que ofereça a oportunidade de pôr em prática
alguma das condutas previstas em seus objetivos pessoais.
Que sejam atraentes significa que cada atividade deve despertar no jovem o
desejo de realizá-Ia, porque é de seu agrado, porque a considera original ou porque
se sente vinculado ao valor que está implícito nela.
248
Para facilitar seu manuseio, a ficha dá um nome à atividade e indica a área
de desenvolvimento onde se concentram, em sua maioria, as condutas para cujo
desenvolvimento a atividade pode contribuir.
Em seguida, se define o lugar onde é mais adequado desenvolver a atividade,
sua duração recomendada, o número de participantes, a forma de participação e o
material exigido para sua realização.
Também indica os objetivos propostos para a atividade e os principais
Objetivos Educativos para cuja conquista ela pode contribuir. A ficha ainda descreve
o desenvolvimento da atividade e apresenta algumas recomendações para sua melhor
aplicação.
Quando a atividade exige algum conhecimento técnico que normalmente não
está incorporado à bagagem do escotista, a ficha se faz acompanhar de um ou vários
anexos técnicos em que se resume toda a informação necessária, evitando a perda de
tempo consultando bibliografia ou pesquisando em outras fontes.
249
AS ATIVIDADES VARIÁVEIS
TÊM DURAÇÃO variada
É muito relativa a duração das atividades variáveis.
250
As atividades de curta duração, geralmente se desenvolvem durante uma
reunião de patrulha ou de Tropa. Por exemplo, uma atividade em que cada patrulha
produza um comercial de televisão promovendo um artigo da Lei e que o apresente
“ao vivo”, em uma grande tela simulada.
2
Todos os Monitores das patrulhas e os escotistas devem contar com
uma reserva de atividades necessárias. Algumas se apresentam sob a
forma de jogos ou se fazem acompanhar por uma música.
251
AS ATIVIDADES
VARIÁVEIS PODEM SER
SUCESSIVAS E SIMULTÂNEAS
A coexistência de atividades
variáveis simultâneas durante
um Ciclo de Programa dá
diversidade e continuidade
ao trabalho e é parte da
atração oferecida pela
vida de grupo na Tropa
Escoteira, onde “as coisas
estão sempre acontecendo”.
Isto reduz a possibilidade de
que os jovens se entediem
e não tenham em que
empregar seu tempo e
sua energia.
A única dificuldade
do sistema está na
maior atenção que os
escotistas e Monitores
das patrulhas devem
dedicar ao processo
de planejamento.
Por isso é tão
importante o Ciclo
de Programa.
252
ATIVIDADES SÃO COLETIVAS ou,
EXCEPCIONALMENTE, INDIVIDUAIS
Embora a obtenção de experiências e a conquista de Competências sejam
essencialmente individuais, as atividades fixas e variáveis são, em sua grande maioria,
coletivas e envolvem toda a patrulha ou a Tropa, em seu conjunto.
253
as especialidades
Uma especialidade é um AS ESPECIALIDADES
conhecimento ou habilidade
particular que se possui sobre um
DESENVOLVEM
determinado assunto. APTIDÕES INATAS
Para se chegar a ser um especialista, é necessário tempo, estudo e dedicação,
mas de algum ponto há que se começar, o que geralmente se faz graças a alguma
pessoa ou circunstância que nos estimulam em uma determinada direção.
Infelizmente, nem todos os jovens têm essa ocasião ou podem aproveitá-Ia. É comum
ouvir algumas pessoas dizerem que teriam gostado de ser ou fazer tal coisa, mas
nunca tiveram a oportunidade ou dispuseram das condições para tentá-Io.
A CONQUISTA DE
ESPECIALIDADE
É VOLUNTÁRIA,
INDIVIDUAL E
APOIADA POR UM
INSTRUTOR
Na Tropa Escoteira, o jovem
é incentivado a desenvolver e
conquistar especialidades, mas a
decisão de fazê-Io é inteiramente
voluntária. Acontece a mesma coisa
com a escolha do tema específico,
que é proposto pelos jovens de
acordo com seu interesse, podendo
ou não ser selecionado entre as que
constam no Guia de Especialidades.
254
A especialidade se desenvolve individualmente, em diferentes momentos,
num tempo adicional àquele destinado às reuniões habituais e em um período
muito variável, cuja duração, dependendo do assunto escolhido
e da profundidade com que o jovem decidiu abordá-Io, pode
oscilar entre 2 e 6 meses. Este período é independente do Ciclo de
Programa que a Tropa está desenvolvendo e não guarda nenhuma
relação com ele.
255
AS ESPECIALIDADES PERMITEM
EXPLORAR, CONHECER,
FAZER E SERVIR
Por meio de uma especialidade, um jovem explora um campo que lhe era, até
então, desconhecido, obtém informações sobre o assunto escolhido, faz coisas que se
relacionam com ele e se qualifica para servir aplicando a aprendizagem adquirida.
A avaliação será ainda melhor se o jovem, além de demonstrar que a especialidade lhe permite
fazer coisas, demonstrar como as coisas que faz constituem um serviço útil para outras pessoas: o
fotógrafo, ilustrando com seu trabalho uma exposição sobre a coleta do lixo no bairro onde vive, e a
bailarina, participando de uma apresentação artística em um asilo de idosos. Isto ajuda os adolescentes
a experimentar que se aprende para si e para os outros, o que contribui para sua integração social. O
distintivo de especialidade é testemunho permanente da atitude de serviço do especialista, no campo de
sua especialidade.
256
AS ESPECIALIDADES
COMPLEMENTAM A
PROGRESSÃO PESSOAL As Competências e os
Objetivos Educativos pessoais de
cada jovem representam um eixo central ao longo do
qual se desenvolve sua personalidade, enquanto as
especialidades operam como uma linha envolvente
que circula nesse eixo. Em qualquer ponto do
eixo em que se encontre o jovem, a especialidade
representa um aprofundamento, um esforço
adicional do jovem, que complementa e enriquece
seu processo educativo global.
Motivada por uma atividade que destacou o valor da vida vegetal, uma
jovem decidiu conquistar, por exemplo, uma especialidade ligada à
jardinagem. Ao adquirir habilidades próprias da especialidade escolhida,
a jovem estará progredindo no rumo das Competências de desenvolvimento
social relacionadas com a conservação do meio ambiente; mas a especialidade
também lhe exigirá uma dedicação que influenciará o desenvolvimento de seu
caráter; ao mesmo tempo a maior permanência ao ar livre será positiva para
seu desenvolvimento físico.
AS ESPECIALIDADES FAZEM
AUMENTAR A NECESSIDADE
DE ATENÇÃO PESSOAL
Para orientar a busca e o desenvolvimento de Aos jovens
uma especialidade, os escotistas necessitam conhecer
mais sobre os interesses, aptidões e possibilidades
de cada jovem, o que significa conviver com eles, escutá-Ios com mais frequência e
atenção do que o habitual e intensificar os contatos com sua família e com os adultos
que participam de sua educação. A proximidade de uma patrulha com o escotista
encarregado de acompanhar o desenvolvimento pessoal de seus integrantes será a
chave para ampliar o conhecimento sobre cada jovem.
Ao mesmo tempo, o fato de que uma boa parte dos escoteiros de uma Tropa
esteja desenvolvendo especialidades ampliará as exigências de acompanhamento
personalizado e a necessidade de tirar o máximo rendimento do tempo dos escotistas.
Tudo isso obriga a um planejamento adequado para funcionar.
257
AS ESPECIALIDADES SE AGRUPAM
EM RAMOS DE CONHECIMENTO
258
11 Avaliação
da
progressão
pessoal
259
sumário
o período
introdutório
• Os jovens chegam à Tropa por caminhos
diferentes.
• Quando o ingresso é individual, a
responsabilidade quanto ao Período
Introdutório é repartida entre a
patrulha e o escotista encarregado do
acompanhamento.
• Para os que chegam da Alcateia, também existe o Período Introdutório.
• No ingresso individual, a apresentação dos guias e atividades se realiza na patrulha.
• As decisões sobre as atividades são tomadas de comum acordo entre o jovem e
o escotista encarregado de seu acompanhamento.
• Quando ingressa uma nova patrulha, o Período Introdutório pode ter variações.
• Quando o ingresso é coletivo, o escotista que fará o acompanhamento é
responsável pela apresentação das atividades.
• O Período Introdutório se encerra com a Cerimônia de Integração.
O ACOMPANHAMENTO da
PROGRESSÃO PESSOAL
• A avaliação da progressão pessoal é desenvolvimento de, no máximo, 8
contínua e faz parte da vida da Tropa. jovens durante um ano.
• Acompanhar a progressão pessoal é • A avaliação do escotista reúne
acompanhar o desenvolvimento dos a avaliação de outros agentes
jovens. educativos.
• O desenvolvimento dos jovens se • A opinião do jovem é a mais
avalia pela observação. importante avaliação.
• Avaliar por observação exige tempo, • Os pares contribuem para a
paciência e dedicação. opinião do jovem sobre seu próprio
• Um escotista acompanha o progresso.
CONCLUSÕES DA AVALIAÇÃO DA
PROGRESSÃO PESSOAL
• A avaliação está concluída quando o • A mudança de etapa de
jovem e o escotista encarregado de progressão pode implicar a
seu acompanhamento chegam ao substituição do Guia.
consenso. • Corte de Honta entrega
distintivos, quando é o
260 caso.
o período
introdutório
A aplicação do sistema de Competências e objetivos e a avaliação da progressão
pessoal dos jovens se iniciam no instante em que eles ingressam na Tropa Escoteira, quando
eles começam a vivenciar as atividades que lhes darão oportunidades de se autodesenvolver.
O primeiro passo é um Período Introdutório, que começa com o ingresso do jovem
e termina com a Cerimônia de Integração e com a entrega do seu primeiro distintivo de
progressão. Este período deve ser pessoal vivido por cada jovem individualmente, e ele deverá
cumprir os seguintes itens:
261
Poderá chegar motivado pelos pais, por sugestão de um professor ou,
simplesmente, por sua própria decisão, em razão do prestígio do Grupo
Escoteiro junto à comunidade local, porque viu o que os escoteiros fazem e
quer ser um deles. Estas situações são parecidas com a anterior mas, neste caso,
é provável que o novo integrante não tenha amigos na Tropa nem nas patrulhas.
Poderá ser membro de um grupo informal de amigos que desejam ser escoteiros
e decidiu se juntar coletivamente a um Grupo Escoteiro. Neste caso, nasce uma
nova patrulha que carece de experiência escoteira.
1
Há diversas diretrizes locais (que variam de Grupo para Grupo) e outras
nacionais a respeito do ingresso de jovens no Movimento Escoteiro. Informe-se!
262
Integrar o jovem à patrulha.
Caso o Grupo tenha optado pelo “Acesso Direto”, determinar qual será o 1º Distintivo de
Progressão do Jovem e apresentar a ele o leque de atividades a que deverá se “entregar” para avançar
em sua progressão, considerando seu desenvolvimento atual. Caso o grupo opte pelo “Acesso Linear”,
o jovem iniciará sua caminhada, obrigatoriamente, pela etapa de PISTAS, e se apresentam como opções
todas as atividades previstas para o Ramo Escoteiro, independentemente do estágio de desenvolvimento
em que se encontre.
263
O QUE ACONTECE, DURANTE ESTE PERÍODO, SEGUNDO
O PONTO DE VISTA DO ESCOTISTA QUE ACOMPANHA O
DESENVOLVIMENTO DOS INTEGRANTES DA PATRULHA?
Estabelece relação de amizade com o recém-chegado e se Apoia o Monitor no processo de
apresenta à sua família, iniciando o relacionamento com integração do novato à patrulha e
os pais. no fornecimento de informações
sobre o sistema de atividades.
Procura conhecer o jovem tanto quanto seja possível,
observando seu comportamento e mantendo com ele Forma uma opinião pessoal
um contato frequente. Este conhecimento é ainda mais a respeito do nível de
necessário se o jovem não desenvolvimento do jovem, no
mantinha amizade prévia com que se refere à conquista das
nenhum dos integrantes da Competências.
patrulha ou da Tropa.
264
Atenção para um alerta: é preciso evitar a utilização de critérios numéricos
ou proporcionais para orientar o ingresso de jovens nas patrulhas. É fundamental
respeitar o caráter da patrulha como grupo informal de amigos, sem romper afinidades
naturais que existam entre os jovens, para que não se interfira perigosamente na
coesão interna das patrulhas.
NO INGRESSO INDIVIDUAL, A
APRESENTAÇÃO dos guias e
ATIVIDADES SE REALIZA NA PATRULHA
Por isso, a apresentação das atividades e o diálogo sobre eles não exige uma
palestra nem uma sessão formal. Ambos ocorrem com naturalidade e se realizam por
meio da observação e de uma sequência de perguntas, respostas e conversas que se
encadeiam entre si durante o Período Introdutório.
265
QUANDO INGRESSA UMA
NOVA PATRULHA, O PERíODO
INTRODUTÓRIO PODE
TER VARIAÇÕES
266
Também compreende a supervisão da progressiva interação da nova patrulha
com as demais. Monitores e Submonitores das outras patrulhas, criando um
ambiente de acolhida, desempenham um papel de especial relevância neste
aspecto.
Pouco a pouco, o escotista vai sendo substituído nessas tarefas pelo Monitor
que a nova patrulha escolherá em um determinado momento logo que assume a
função, este Monitor passa a receber uma formação mais intensa que os demais
jovens.
267
O PERÍODO INTRODUTÓRIO SE ENCERRA
COM A CERIMÔNIA DE INTEGRAÇÃO
Finalizados os itens definidos para o Período Introdutório e definido
o ponto da progressão onde cada jovem iniciará sua caminhada, está
concluído este momento.
• O Grupo o aceita, entregando-lhe o Lenço do Grupo e permitindo que ele ostente seu numeral
no seu traje/uniforme;
• O Movimento Escoteiro no Brasil o acolhe, pelo distintivo “Escoteiros do Brasil”, que passa a
estar visível a todos no novo traje/uniforme;
• O Movimento Escoteiro Mundial se alegra, pois mais um jovem passa a carregar o distintivo da
Organização Mundial do Movimento Escoteiro.
268
A partir deste momento, estão todos prontos a ajudá-lo em sua jornada e
aguardam, ansiosamente, o dia de sua Promessa Escoteira2.
■ A apresentação do quadro de registro de atividades que fica à vista de todos, na sala da Tropa.
Havendo este, que é opcional e que pode ser montado como um grande mapa de exploração, algumas
patrulhas ou Tropas conservam um registro visual da progressão de todos os seus membros.
É importante salientar que, mesmo quando vários jovens são integrados em uma mesma
cerimônia - o que é prática comum em alguns Grupos e que dá a Cerimônia um caráter de celebração
mais elaborada -, o momento da Integração é individual e deve ter alguma característica que o faça
pessoal.
2
O jovem pode fazer sua Promessa a qualquer momento depois do Período Introdutório. A única condição é que
deseje fazê-Ia e informe ao Conselho de Patrulha. Como se reitera neste Manual, a Promessa não está ligada a
nenhuma etapa de progressão e deve ser feita assim que solicitada.
269
Para efeitos de concessão dos distintivos de progressão, devem ser levados em
consideração os seguintes parâmetros:
- Para passar da Etapa de Pistas para Etapa de Trilha – realizar metade das atividades propostas para a fase
da pré-puberdade;
- Para passar da Etapa de Trilha para Etapa do Rumo – realizar a totalidade das atividades propostas para
a pré-puberdade;
- Para passar da Etapa do Rumo para Etapa da Travessia – realizar metade das atividades propostas para a
fase da puberdade;
- Uma vez na Etapa de Travessia e realizadas todas as atividades previstas, o jovem poderá conquistar o
Distintivo de Escoteiro Lis de Ouro.
270
o acompanhamento
da progressão
pessoal
A AVALIAÇÃO DA PROGRESSÃO PESSOAL
É CONTÍNUA E FAZ PARTE
DA VIDA DA TROPA
À medida em que se observa o desenrolar das atividades, é inevitável apreciar
a forma como os jovens se comportam e comprovar as mudanças que neles ocorrem.
Assim, a avaliação da progressão pessoal é um processo contínuo, um subsistema
dentro do sistema aplicado: integrado a todas as coisas que acontecem; transcorre
junto com elas.
ACOMPANHAR A PROGRESSÃO
PESSOAL É ACOMPANHAR O
DESENVOLVIMENTO DOs JOVENS
271
O DESENVOLVIMENTO
DOs JOVENS SE AVALIA
PELA OBSERVAÇÃO
Temos insistido em que atividades desenvolvidas
pelos jovens os aproximam da obtenção de condutas que
se referem a todos os aspectos de sua personalidade. Isto
significa que o desenvolvimento harmônico de um jovem
também é integrado por componentes subjetivos que
admitem um amplo juízo de valor.
272
AVALIAR POR OBSERVAÇÃO
Para avaliar por EXIGE TEMPO, PACIÊNCIA
observação é preciso ter tempo. Tempo
para conviver com os jovens e enriquecer os contatos, E DEDICAÇÃO
visitar a família, conhecer seus amigos, conversar com seus professores ou praticar
em sua companhia um desporto ou um hobby comum. Um tempo que nos permita
falar de tudo o que existe para falar, ouvir tudo o que se precisa ouvir, pensar no que
se deve dizer e dizer de forma respeitosa o que é justo e oportuno. Um tempo para
acompanhar, já que o processo é tão importante quanto seu resultado: não se trata
apenas de avaliar se uma Competência foi alcançada, mas também de saber como foi
alcançada ou por que não foi alcançada.
Também é preciso ter paciência. Para formar critérios válidos que enriqueçam
o apoio que se presta aos jovens, há que se ouvir com calma, observar sem pressa,
analisar com fundamentos e não desanimar facilmente nem buscar êxitos rápidos, que
são improváveis em educação.
Por último, avaliar por observação também exige dedicação. Aplicar uma
prova, um teste ou um exame são questões que dependem do manejo das respectivas
habilidades técnicas, mas acompanhar constantemente a um jovem em seu
desenvolvimento é uma questão de entrega voluntária e generosa.
UM ESCOTISTA ACOMPANHA O
DESENVOLVIMENTO DE, NO
MÁXIMO, 8 JOVENS DURANTE UM ANO
Por todas as razões anteriores, recomendamos que um escotista deve assumir
o acompanhamento de um máximo de 8 jovens. É muito pouco provável que consiga
fazer um trabalho efetivo se precisar acompanhar um número maior de jovens.
273
Se possível, os 8 jovens devem pertencer à mesma patrulha. Isto facilita o
trabalho do escotista, pois não precisará se envolver na vida de várias patrulhas para
acompanhar a progressão dos jovens. É preciso que o escotista saiba resistir à tentação
de se converter numa espécie de “Super-Monitor” da patrulha integrada pelos jovens a
quem acompanha.
Para que a interação entre o escotista e a família se desenvolva com fluidez, o escotista deve se
aproximar dela, conhecê-Ia e se dar a conhecer, criar vínculos e adentrar pouco a pouco o ambiente
familiar. A família não consentirá facilmente em conversar sobre seus filhos com uma pessoa em quem
não depositem confiança.
outros agentes
os professores educativos
Por conviverem com os jovens quase diariamente, os Neste caso, se encontram pessoas
professores e professoras da escola que o jovem frequenta tais como as autoridades da religião
podem fornecer informações importantes sobre seu praticada pelo jovem, os instrutores
comportamento. Para conseguir “acessá-las”, é necessário ou examinadores de especialidades,
que o escotista estabeleça alguma espécie de contato com os demais escotistas da Tropa e do
estes professores, principalmente se o Grupo Escoteiro não Grupo, amigos não escoteiros e
faz parte da comunidade escolar. Vale considerar também outras. Quando algum destes mantém
que alguns destes mestres e mestras conseguem mobilizar um contato permanente com o jovem
uma admiração tão profunda por partes dos jovens que ou exerce uma significativa influência
percebem coisas que, às vezes, nem a família consegue em sua educação e desenvolvimento,
perceber. Mas, estes mesmos educadores e educadoras a opinião dessas pessoas é
poderão demonstrar certa dificuldade em dividir estas importante. Todas essas opiniões
informações, pois a maioria não reconhece o papel são complementares e contribuem
educativo de uma pessoa que colabora voluntariamente e para que o escotista forme uma visão
que não é, necessariamente, um profissional da educação. mais ampla, mas não substituem, em
É preciso aprender a vencer esta possível resistência e ser nenhuma hipótese, o consenso entre
reconhecido como um interlocutor válido em matéria de o escotista e o jovem.
educação.
274
A OPINIÃO
DO JOVEM
É A MAIS
IMPORTANTE
AVALIAÇÃO
275
O Método Escoteiro se apoia nesta tendência natural do jovem e, a cada
certo tempo, aproveitando uma atividade ou em encontros de caráter mais pessoal,
o escotista encarregado de acompanhar a progressão convida o jovem a dar uma
olhada nas atividades e tarefas que se propôs realizar, confrontando-as com o que
foi efetivamente realizado até o momento e, deste diálogo, dos motivos de sucesso
ou fracasso, tentar extrair a opinião que ele tem de si mesmo. As conclusões que o
jovem extrair desse exercício podem ser discutidas com a patrulha ou com o próprio
escotista. Também pode ser útil registrá-Ias por escrito em seu Guia, o que lhe
permitirá observar avanços quando, mais adiante, repetir o mesmo exercício.
Por meio da vida interna da patrulha, o Método Escoteiro procura fazer com
que esta avaliação se manifeste como um apoio, tenha sua agressividade reduzida e
represente uma contribuição à aprendizagem.
276
CONCLUSÕES DA
AVALIAÇÃO DA
PROGRESSÃO
PESSOAL
A AVALIAÇÃO ESTÁ CONCLUÍDA QUANDO O
JOVEM E O ESCOTISTA ENCARREGADO
DE SEU ACOMPANHAMENTO CHEGAM
AO CONSENSO
Esta reunião é mais uma entre tantas ocasiões em que o escotista e o jovem se
encontram, o que facilitará o estabelecimento de um clima descontraído. Com esta
conversa, estará se encerrando, para esse jovem, o processo de avaliação durante o
Ciclo.
277
corte de honra
(ENTREGA DISTINTIVOS, QUANDO É O CASO)
PAIS
AVALIAÇÃO
PROFESSORES DOS PARES
AVALIAÇÃO DO AUTOAVALIAÇÃO
ESCOTISTA DO JOVEM (CONSELHO DE
CONSENSO PATRULHA)
SOBRE AS
ATIVIDADES
REALIZADAS
OUTROS
AGENTES
3
A Corte de Honra deve estabelecer as orientações gerais segundo as quais se fará a avaliação da progressão pessoal
dos jovens. No entanto, fixar critérios não significa reinventar as regras do sistema. O único objetivo desta validação é
dar uma certa padronização aos modos de agir e evitar possíveis disparidades que poderiam ocorrer entre os escotistas
responsáveis pelo acompanhamento e no interior das patrulhas. Por exemplo, como se avalia, efetivamente, se um
jovem “sabe utilizar alguma técnica de previsão do tempo por indícios naturais”? Fixados os critérios que demarcarão
as conclusões, os Monitores devem informá-los aos seus Conselhos de Patrulha, com o único propósito de alinhar o
entendimento e para que, a partir deles, os jovens confrontem este “marco regulatório” frente à avaliação inicial que
fizeram de si mesmos.
278
Contudo, existindo discrepância que a habilidade de negociação do escotista
não consiga eliminar, deve permanecer, sempre, a autoavaliação do jovem. É
preferível que o jovem se exceda na apreciação de suas conquistas num determinado
momento, para ser confrontado com a realidade no futuro, a se impor o ponto de vista
do escotista.
279
A MUDANÇA DE ETAPA DE
PROGRESSÃO PODE IMPLICAR
A SUBSTITUIÇÃO DO GUIA
280
12Ciclo
O
de
programa
281
sumário
conceitos gerais
• O Ciclo de Programa é a forma como se articulam as
atividades.
• Um Ciclo de Programa tem 4 fases sucessivas.
• Em um ano se realizam cerca de 3 Ciclos.
• O Ciclo de Programa é um instrumento educativo que
converte em sistema a consulta aos jovens.
DIAGNÓSTICO DA TROPA
• O diagnóstico é feito nos Conselhos de Patrulha e
na Corte de Honra.
• O diagnóstico das patrulhas é diferente do
diagnóstico da Corte de Honra.
• O diagnóstico tem um caráter geral.
• O diagnóstico se refere à vida de grupo, a objetivos e atividades e ao desempenho dos
escotistas.
• Concluído o diagnóstico, é fixada a ênfase para o Ciclo que se inicia.
• Uma vez fixada a ênfase, as atividades são pré-selecionadas.
UM Ciclo de Programa
As fases de um Ciclo de
TEM 4 FASES Programa se articulam umas
SUCESSIVAS 1
com as outras, de modo que cada uma
Conclusão da delas é a continuação natural da fase
avaliação pessoal, anterior e se prolonga na
diagnóstico da Tropa
e pré-seleção de fase seguinte.
atividades
A fase 4 ocupa a
4
Desenvolvimento
maior parte do
e avaliação de 2 tempo disponível
atividades e Proposta e de um Ciclo e as
acompanhamento da seleção de atividades fases 1,2 e 3 não
progressão pessoal implicam uma
interrupção nas
atividades para que a
3 Tropa se dedique
Organização, exclusivamente “a planejar”, Elas
planejamento e se desenvolvem como uma
preparação de atividade a mais, em uma sequência que
atividades representa uma continuidade, ligada
a tudo o que está acontecendo na Tropa.
283
EM UM ANO, SE REALIZAM
CERCA DE 3 CicloS
É variável a duração de um Ciclo de Programa,
podendo chegar a 3 ou 4 meses, o que significa que,
em um ano, podem ser
desenvolvidos cerca
de 3 Ciclos.
Contudo, é a Corte de
Honra que determina
a duração de cada Ciclo,
de acordo com sua
experiência, com a realidade
da Tropa e com o tipo de
atividades selecionadas pelos
jovens, sendo este último
fator o que mais
influencia a duração
de um Ciclo.
284
Além disso, a duração prevista pode ser alterada durante
seu transcurso, o que depende da flexibilidade do Ciclo: um Ciclo
que contenha muitas atividades de duração curta ou média é mais
flexível do que outro que contenha poucas atividades de longa
duração.
285
Desenvolvimento de um Ciclo de Programa
ESQUEMA
CONSELHO DE PATRULHA CORTE DE HONRA ASSEMBLEIA DE TROPA
• Análise da proposta.
• Decisão sobre as atividades
SEGUNDA FASE
da Patrulha.
• Preparação da proposta
Semana 2
de atividades da Tropa.
As patrulhas:
• Informam sobre
as atividades da patrulha.
• Propõem atividades de Tropa
A Assembleia:
• Toma conhecimento das
atividades da patrulha.
• Escolhe as atividades da Tropa.
TERCEIRA FASE
• Organização de todas as
Semana 3
atividades em um calendário.
• Aprovação do calendário.
QUARTA FASE
para o Ciclo
selos de reconhecimento.
• A Corte de Honra, quando é
o caso, entrega distintivos
de progressão. • Festa. Final de um ciclo.
Início de outro ciclo
286
O Ciclo de Programa É UM INSTRUMENTO
EDUCATIVO QUE CONVERTE EM SISTEMA
A CONSULTA AOS JOVENS
O Ciclo de Programa não é só uma maneira de organizar tudo o que acontece
na Tropa. Também é um instrumento educativo que permite praticar o tipo de
aprendizagem postulado pelo Método Escoteiro. Por seu intermédio, os jovens:
Pode ser que, inicialmente, esses diferentes “passos” pareçam uma tarefa
complexa, em comparação com o que as Tropas estão habituadas a fazer, mas se
trata, apenas, de uma sequência que ordena e dá nome ao que se deve fazer para
materializar a participação dos jovens.
Analisando o valor do Sistema de Patrulhas, Baden-Powell dizia que “Por esse meio, os próprios
escoteiros vêm a perceber, gradualmente, que são os responsáveis pelas ações da Tropa. A Tropa (e, aliás,
todo o Escotismo) consiste do Sistema de Patrulhas, um esforço verdadeiro de cooperação”. (Baden-
Powell, Guia do Chefe Escoteiro, 1919).
Para que haja “cooperação genuína”, é preciso investir certo tempo. Tempo para ver o que está
se passando, ouvir a todos e buscar a melhor maneira de fazê-Io. No mesmo livro citado anteriormente,
Baden-Powell recomendava: “Simplesmente escutando o que dizem, poderá adquirir uma noção
aproximadamente exata do caráter de cada jovem e poderá também escolher a maneira de atraí-Io e
interessá-Io”.
O Ciclo de Programa é um eficiente mecanismo para ouvir e para que os jovens aprendam a
incorporar essa conduta a seu jeito de ser. Ouvindo, aparecem novas ideias, e quando não existem novas
ideias, corre-se o risco de impor, nas atividades escoteiras, aquilo que pessoalmente você julgue que
deve ser apreciado (Baden-Powell, obra citada, 1919).
287
diagnóstico
da tropa
288
Diante de um
determinado diagnóstico da
Tropa, a ênfase que se deve dar ao Ciclo seguinte surge espontaneamente. Uma vez
definida a ênfase, há que se pensar em atividades que permitam alcançá-Ia; e, logo
depois de imaginar essas atividades, há que se pensar na forma de propô-Ias aos jovens.
Do ponto de vista da Corte de Honra, basta uma reunião bem conduzida: na conversa,
os passos se encadeiam e se sucedem uns aos outros de maneira absolutamente natural.
O DIAGNÓSTICO
Os diagnósticos das patrulhas
DAS PATRULHAS tenderão a se concentrar mais em cada
É DIFERENTE DO patrulha do que na Tropa, e se referirão
a temas mais próximos dos jovens, tais
DIAGNÓSTICO como atividades futuras, ambiente existente
DA CORTE DE HONRA na patrulha, relações entre eles, papéis
internos, avanços alcançados, problemas
que se arrastam e tarefas pendentes. Não é necessário que esses diagnósticos sigam
uma pauta elaborada previamente. A experiência indica que se pode obter melhor
resultado quando os jovens se expressam com liberdade, sem sujeitar suas opiniões a
nenhum tipo de esquema. Naturalmente, de suas avaliações surgirão inquietações que
fornecerão pistas valiosas sobre a forma como anda a Tropa.
O diagnóstico feito pela Corte de Honra reúne esses diagnósticos, mas tem, em
troca, um caráter pronunciadamente educativo, que se refere à aplicação do método,
ao desenvolvimento das atividades, à progressão dos jovens e ao desempenho dos
escotistas.
289
A diferença entre os dois diagnósticos é consequência do fato dos jovens
estarem muito mais interessados nas patrulhas, em organizar a aventura com seu
grupo de amigos, enquanto os resultados educativos devem ser uma preocupação da
Corte de Honra e da equipe de escotistas.
291
Exemplos de diagnóstico e da ênfase que lhe corresponde:
Diagnóstico ênfase
ANálise diagnóstico
292
Neste outro exemplo, menos descritivo que o anterior, a Tropa constatou que
vive “urbanizada” e se propôs a corrigir esta situação no próximo Ciclo. O fato de
um diagnóstico ser enxuto não lhe tira a validade. Poderia se tratar de uma Tropa
nova que limitou seu diagnóstico ao tema da vida em contato com a natureza.
Também poderia ser uma Tropa experiente que decidiu resumir os demais aspectos do
diagnóstico na frase “a Tropa vai bem”, concentrando-se no único tema que considera
deficiente.
As atividades devem ser coerentes com a ênfase fixada e contribuir para a conquista das
Competências em todas as áreas de desenvolvimento, mesmo quando a ênfase privilegia uma ou
várias áreas.
293
PROposta e
seleção de
atividades
A ênfase é apresentada às patrulhas com a proposta de atividades pré-
selecionadas pela Corte de Honra.
Só se divulga da ênfase aquela parte que diz respeito às atividades, pois não
há utilidade prática em comunicar a todos os jovens o que a Corte de Honra pensa
sobre a aplicação do Método ou sobre a forma como seu desenvolvimento pessoal
está sendo avaliado, por exemplo.
294
A
PROPOSTA
É ANALISADA
NOS CONSELHOS
dE PATRULHA
Uma vez formulada a proposta, se realiza uma nova rodada de reuniões dos
Conselhos de Patrulha. Os seguintes fatos se passam em tais reuniões:
a ASSEMBLeIA DE TROPA
SELECIONA AS ATIVIDADES
COMUNS A TODAS AS
PATRULHAS
Em uma Assembleia de Tropa, que marca o encerramento desta segunda fase,
acontecem os seguintes fatos:
Cada patrulha apresenta as atividades de patrulha que decidiu realizar,
incluindo a ordem de prioridade que estabeleceu para elas e a duração estimada
de cada uma.
295
OS Jogos Democráticos SÃO
UMA ATIVIDADE A MAIS E PERMITEM
QUE SE EXPRESSE A VONTADE DA MAIORIA
MUITAS ATIVIDADES
PODEM SER UTILIZADAS
COMO Jogo Democrático
O Jogo Democrático pode consistir em um debate parlamentar, um processo
eleitoral, uma defesa ante um tribunal, um leilão público, uma rodada de compras
em um mercado, um pregão da bolsa de valores, uma reunião ministerial ou qualquer
outra situação semelhante.
296
Jogos Democráticos
um dia de eleições
297
FORMA EM QUE VARIÁVEL QUE
SE APRESENTAM DETERMINA O
descrição
AS ATIVIDADES RESULTADO
PROPOSTAS
jogando na bolsa
Dispondo de um certo As ideias de atividades As ações que,
capital, os escoteiros se são ações negociadas a nas transações,
convertem em investidores preços diferentes. obtiverem lucro
que compram e vendem maior.
ações.
quem dá mais?
Um leilão em que as Quadros e objetos de arte
patrulhas, dotadas de um que são leiloados. Os objetos se priorizam
pequeno capital, compram por seu valor, segundo
o maior lance oferecido
e vendem.
para cada um deles.
reunião ministerial
O Presidente e seus As ideias de atividades se Os projetos que
Ministros de Estado convertem em projetos de receberem mais
analisam diversos projetos desenvolvimento para o votos dos Ministros
que formarão seu plano país (a Tropa Escoteira). (todos os escoteiros).
de governo.
298
FORMA EM QUE VARIÁVEL QUE
SE APRESENTAM DETERMINA O
descrição
AS ATIVIDADES RESULTADO
PROPOSTAS
um dia de feira
Culpado ou inocente?
A Tropa se converte em As ideais de atividades Número de votos
um Tribunal de Justiça. são submetidas a um pelo qual o Corpo de
julgamento onde advogados Jurados (a Assembleia
de defesa e promotores de Tropa) declarou uma
argumentam a favor e ideia inocente.
contra elas.
299
O RESULTADO DO Jogo democrático
DETERMINA AS ATIVIDADES DA TROpA
O Jogo Democrático em que a reunião da Assembleia de Tropa se converte
define as atividades que serão desenvolvidas durante o Ciclo de Programa, ordenadas
prioritariamente segundo as preferências manifestadas pelos jovens. Os escotistas
facilitam a dinâmica do Jogo, assumindo tarefas de apoio que variam segundo o
Jogo escolhido. Em nenhum caso, eles devem interferir para favorecer esta ou
aquela alternativa. Mesmo quando o resultado não constitua a melhor opção,
é preciso respeitar a decisão tomada pela Assembleia, dentro de limites
de segurança razoáveis. Se suas determinações forem ignoradas,
os jovens jamais adquirirão a experiência de arcar com as
consequências de suas próprias
decisões. Se, ao organizar as
atividades em um calendário,
tarefa que deve ser feita pela
Corte de Honra, for necessário adiar ou
acrescentar algumas atividades de Tropa, esta
definição exige uma nova manifestação da
Assembleia de Tropa, como se verá mais
adiante.
300
ORGANIZação,
planejamento e
preparação de
atividades
Nesta fase, as atividades de patrulha e as de Tropa que foram
selecionadas pela Assembleia são organizadas em um calendário para o
Ciclo de Programa.
AS ATIVIDADES SÃO
ORGANIZADAS EM UM CALENDÁRIO
Todas as atividades selecionadas, sejam de patrulha ou de Tropa, são dispostas
e articuladas em um calendário para o Ciclo de Programa.
301
Recomendações para a elaboração do calendário
São consideradas todas as atividades selecionadas, sejam de patrulha ou de Tropa. É provável
que a articulação de todas as atividades recomende adiar ou modificar algumas atividades
selecionadas, especialmente as de Tropa; neste caso, é preciso considerar as prioridades
estabelecidas no processo de seleção. As alterações devem ser aprovadas pela Assembleia de
Tropa.
Sem afetar a ênfase fixada, é conveniente incluir atividades que permitam aos jovens avançar em
todas as áreas de desenvolvimento.
Na medida do possível, se deve manter diversidade entre os temas a que se referem as atividades
e o equilíbrio entre atividades fixas e variáveis, e entre atividades de patrulha e de Tropa.
Para alcançar diversidade e equilíbrio, o que se pode perder durante o processo de seleção, a
Corte de Honra pode incorporar algumas atividades de Tropa que atendam a este propósito, desde
que não se altere substancialmente a seleção efetuada pelos jovens. Incorporar atividades de
patrulha, com esta mesma finalidade, demanda o prévio consentimento do respectivo Conselho
de Patrulha.
Em seguida, são localizadas as atividades variáveis, levando em conta que muitas delas são
realizadas de maneira simultânea e que, durante as atividades fixas (reuniões, acampamentos
etc.), se desenvolvem várias atividades variáveis. É recomendável programar, primeiro, as de
maior duração, pois as que demandam menos tempo podem ser mais facilmente ajustadas, ao
final.
Não é necessário incluir no calendário a variedade das atividades fixas de curta duração (jogos,
canções, relatos, danças e outras atividades espontâneas). Basta que a programação das reuniões
dos acampamentos e das atividades de longa e média duração seja construída com folga
suficiente para permitir que essas atividades fixas sejam intercaladas, quando for o caso.
O mesmo ocorre com as atividades de reforço e com as especialidades, cujo caráter individual
impede sua inclusão no calendário. Só é necessário prever tempos que permitam desenvolvê-Ias e
diferentes oportunidades.
É preciso planejar a execução de uma atividade e também considerar o tempo necessário para
seu planejamento e preparação. Na medida em que o equilíbrio entre as atividades o permita,
é recomendável programar para a segunda metade do Ciclo as atividades que demandam
maior preparação, ocupando a primeira metade com atividades de
planejamento mais simplificado.
APROVADO O CALENDÁRIO, AS
ATIVIDADES SÃO Planejadas
303
A elaboração dos planejamentos pode começar pelas atividades que se
realizarão no início do Ciclo, enquanto as que se desenvolverão mais adiante poderão
ser planejadas na medida em que se aproxima a data de sua realização, sem que a
tarefa seja deixada para o último minuto.
304
Exemplos de objetivos de atividades
Objetivos Objetivos
305
DEFINIDOS OS OBJETIVOS,
SÃO AJUSTADOS OS DEMAIS
ELEMENTOS DO Planejamento
Quanto tempo vai durar?
Admite variações?
Em qualquer caso, pode ser muito útil repassar um “roteiro” semelhante ao que
apresentamos a seguir:
306
roteiro
Embora a preparação de uma atividade
envolva vários escotistas, jovens e até
especialistas externos, sempre deve existir um
responsável pela atividade, a quem todos se Todos sabem quem dirige a
reportam. atividade?
Toda atividade, por mais atraente que seja, Como se motivará a atividade?
necessita de uma motivação que é necessário Quem o fará?
preparar. Que elementos serão usados?
Quem vai obtê-Ios ou prepará-
Ios?
307
Quase todas as atividades admitem variações, Foi preparado o material
seja em forma sucessiva ou simultânea. necessário para as diferentes
variações previstas?
308
Muitas atividades não implicam custos, Foi elaborado um orçamento para
mas outras, que têm maior duração ou a atividade?
que exigem muito material, como os Foram obtidos os recursos
acampamentos e algumas atividades necessários?
Foi designado o responsável pela
variáveis, exigem a reunião de recursos
administração desses recursos?
financeiros que devem ser administrados Foram fixadas as normas para a
de forma adequada. prestação de contas?
309
DESENVOLVIMENTO
E AVALIAÇÃO DAS
ATIVIDADES
Depois que a Tropa destinou tempo para tomar decisões e se
organizar, entra na fase central do Ciclo de Programa, que
ocupa a maior parte do tempo disponível.
310
A MOTIVAÇÃO DAS
ATIVIDADES SEMPRE É
NECESSÁRIA Mesmo que tenham sido
selecionadas pelos jovens, as atividades
sempre demandam motivação, pois os interesses dos jovens podem variar, e muito,
durante o tempo transcorrido entre o momento em que se fez a seleção e aquele em
que se inicia a atividade. É a motivação que determina o ímpeto com que os jovens se
entregam à ação e se comprometem
com os resultados da atividade.
A motivação não se faz, apenas, nos dias ou nos instantes que antecedem de
imediato o início de uma atividade, mas desde antes, de formas diferentes, criando
um ambiente de expectativa à espera do momento em que terá início sua realização.
Ela também é necessária durante a realização da atividade, reforçando a confiança e
o entusiasmo, que podem decair quando surgem dificuldades e o resultado começa a
se apresentar um pouco mais duvidoso do que inicialmente.
O DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES
DEVE PRODUZIR EMOÇÕES
A atividade deve ser uma festa para os jovens, estimulando-os a se
incorporarem à próxima atividade com entusiasmo redobrado. Se um jovem não
coloca as atividades escoteiras entre suas prioridades, elas dificilmente produzirão
experiências que cheguem a influenciar seu desenvolvimento e a conquista de suas
Competências.
311
Para resguardar este aspecto, é necessário considerar, entre outras,
as seguintes sugestões:
Todos os jovens devem ter alguma coisa interessante para fazer numa atividade.
Uma atividade tem atores, e não espectadores.
É preciso ter cuidado para não humilhar os que não alcançam os resultados
esperados, da mesma forma como
é preciso evitar que se sintam
marginalizados os que atuam
em ritmo um pouco mais lento
ou aqueles que a maioria
considera menos simpáticos.
312
OS RESPONSÁVEIS MANTêM
O RITMO DAS ATIVIDADES
As atividades se desenvolvem segundo um determinado “ritmo”. Os que estão
dirigindo a atividade - os escotistas, quando se trata de uma atividade de Tropa, e os
Monitores e Submonitores, quando é atividade de patrulha - são os responsáveis por
“manter o ritmo”.
Para entusiasmar, o responsável não precisa fazer barulho nem ocupar o centro das atenções. Ele
pode impulsionar a ação como se não estivesse presente, desaparecendo e reaparecendo a cada
vez que seja necessário.
O responsável não tem que resolver todos os problemas. É preciso evitar o excesso de instruções
ou recomendações, deixando que os participantes superem os obstáculos sem sua ajuda, criando
alternativas e inventando soluções próprias.
313
Nas atividades mais passivas, é recomendável intercalar canções, danças,
pequenos Jogos e outras atividades menores que impliquem movimento.
AS ATIVIDADES
DEVEM MINIMIZAR
O RISCO IMPLÍCITO
Todas as atividades têm riscos implícitos. É tarefa
dos responsáveis evitar que ocorram acidentes nas
atividades escoteiras.
314
Algumas recomendações, úteis em qualquer situação ou ambiente,
devem ser conhecidas e seguidas pelos responsáveis por qualquer atividade:
315
316
AS ATIVIDADES SÃO AVALIADAS
SEGUNDO O GRAU DE CUMPRIMENTO
DOS OBJETIVOS PREVIAMENTE
DETERMINADOS
Avaliar uma atividade é:
As atividades instantâneas cujos objetivos, até como consequência de seu caráter de surpresa, não
poderiam ter sido registrados com antecedência.
As atividades individuais de reforço, cujos objetivos prescindem de registro porque são sugestões
bastante específicas que faz, a um jovem, o escotista que acompanha e avalia sua progressão
pessoal.
As tarefas pessoais dentro de uma atividade comum, que representam apenas uma distribuição de
encargos.
As especialidades, em que os objetivos podem ou não ser registrados por escrito, dependendo do
critério do respectivo escotista e do instrutor ou examinador da especialidade, e do acordo que foi
feito com o jovem.
Devido a seu conteúdo quase sempre homogêneo e sua realização bastante padronizada,
as atividades fixas, por sua vez, não exigem o prévio registro de seus objetivos. É o caso das reuniões
semanais habituais, dos Jogos, das narrações, dos cantos, das danças, das cerimônias e de outras
atividades similares.
Contudo, algumas atividades fixas que se realizam com conteúdos diversos e que incorporam
atividades variáveis implicam o prévio registro de seus objetivos; é o caso, por exemplo, dos
acampamentos e das excursões.
317
AS ATIVIDADES SÃO A maneira de avaliar as atividades é
pela observação. Jovens, escotistas, pais e
AVALIADAS POR outras pessoas que participam da avaliação
OBSERVAÇÃO de uma atividade, a observam da maneira
como todos nós o fazemos: olham, ouvem,
experimentam, percebem, analisam, comparam e formam sua própria opinião. No
capítulo anterior, explicamos que desta mesma maneira se fazia quando se tratava
de avaliar a conquista dos objetivos pessoais dos jovens. É um bom costume anotar
algumas observações, para evitar que sejam esquecidas no momento em que se
reunirem os agentes da avaliação.
318
A avaliação durante o desenvolvimento determinará se é ou não necessário
introduzir correções ou reforços na atividade. Se nem todos os jovens estão
participando, deverá ser encontrada uma forma que assegure a participação de
todos; se não se observa muito interesse, é preciso encontrar fórmulas adicionais de
motivação; se está se prolongando demasiadamente, talvez seja conveniente abreviar
seu final; se está se desviando para interesses não previstos, é preciso fazê-Ia retomar
o caminho anterior ou, talvez, convertê-Ia em duas atividades paralelas.
Para que funcionem as retificações sugeridas pela avaliação durante o
desenvolvimento, os responsáveis pela atividade devem ter flexibilidade e capacidade
de reinventar.
Todas as atividades devem ser avaliadas depois de seu encerramento.
Evidentemente, as atividades mais breves merecerão uma avaliação tão breve
quanto elas.
As atividades de patrulha são avaliadas pelo Conselho de Patrulha e os
resultados da avaliação são apresentados à Corte de Honra pelo Monitor ou
Submonitor.
As atividades de Tropa são avaliadas, em primeiro lugar, pelas patrulhas e,
em seguida, pela Corte de Honra. A Assembleia de Tropa pode ser excepcionalmente
convocada para encerrar a avaliação de uma atividade que tenha sido muito
importante para todos, ou quando surge a necessidade de estabelecer ou alterar
normas gerais de convivência em razão de uma determinada atividade.
Os pais intervirão na avaliação na mesma medida em que participaram da
atividade ou com ela colaboraram. Também poderão ser chamados a intervir quando
houverem testemunhado o impacto de uma atividade sobre o comportamento de
seus filhos, o que ocorre quando os jovens realizaram em suas casas uma ou mais
fases de uma atividade, dando aos pais a oportunidade de observá-Ios em ação;
quando perceberam a forma como seus filhos de envolveram numa atividade de
longa duração; após o regresso de seus filhos de um longo acampamento; ou, ainda,
no início de um novo “ano escoteiro”, quando poderão apreciar em
conjunto as atividades desenvolvidas no ano anterior.
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Assim como a dos pais, a avaliação de outros agentes poderá ser útil quando,
de alguma forma, estiveram envolvidos na realização da atividade ou quando estão
em condições de avaliar seu impacto sobre o comportamento dos jovens. Este é o
caso, por exemplo, de um especialista que participou de uma atividade que tinha por
objetivo a aquisição de uma determinada habilidade, ou dos professores, quando a
atividade envolve a escola.
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informações da
edição original
elaboração ILustrações
de conteúdo e redação Mariano Ramos
Dominique Bénard, Alberto Dei Brutto,
Felipe Fantini, Loreto González, diagramação
Gerardo González, Gabriel Oldenburg, Maritza Pelz
Juan Palacios e Luiz César de Simas Horn Caterina Calderón
Para descrever o funcionamento da patrulha como grupo informal, foram tomados conceitos do psicólogo Edgar Schein
(Psicologia de Ia Organización, Prentice Hall Hispanoamericana, 3a edição, México, 1977). Algumas ideias sobre o
papel dos líderes, desenvolvimento de organizações e aprendizagem em equipe foram extraídas de La Quinta Disciplina
en Ia práctica, de Peter Senge e outros, 1a edição em espanhol, Granica, Barcelona, 1995. A roda da aprendizagem é
uma adaptação da taxonomia dos estilos de aprendizagem, de Oavid Kolb, e o conceito de campo de aprendizagem é
de Margaret J. Wheatley (El liderazgo y Ia nueva ciencia, Editorial Granica S. A., Barcelona, Espanha, 1994).
Algumas fotografias foram cedidas pela Asociación de Scouts Dominicanos ou tiradas durante o 19o°Jamboree Mundial
para o arquivo da 051 por fotógrafos amadores (Picarquín, Chile, 1998-1999). Todas as demais são obra de Jesús
Inostroza, incluindo as do 11o Jamboree Pan-americano (Foz do Iguaçu, Brasil, 2001).
Os selos escoteiros foram cedidos pelas associações escoteiras da Colômbia, Costa Rica, Equador, EI Salvador, Honduras
e Peru ou foram fotografados das coleções particulares dos Srs. Sergio Guim e Fernando Marchant.
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informações da
edição em português
coordenação dos trabalhos ILustrações
Marcelo Xaud Mariano Ramos
Theodomiro Rodrigues e Luiz Cesar de Simas Horn
Luiz César de Simas Horn Raphael Luis Klimavicius
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