Lendas e Contos Do Alto Minho
Lendas e Contos Do Alto Minho
Lendas e Contos Do Alto Minho
David Cruz 1
Lendas e tradições do A.M
Era uma vez uma jovem chamada Leonor, de rara beleza e dona de fartos haveres.
Órfã de pais, vivia com um tio, D. Bernardo, num pequeno lugar situado na Serra da Peneda, no
Norte português, junto às terras da Galiza.
D. Bernardo, também ele abastado, tinha a sobrinha em muita estima e desejava, para ela, um
casamento feliz mas tardio, para poder beneficiar, até ao fim da sua vida, que prometia ser longa,
pois o fidalgo era, em extremo, robusto e saudável, dos cuidados e carinhos de Leonor.
A jovem, porém, já se havia enamorado de um seu primo, D. Afonso, moço belo e inteligente, com
nobre solar na região.
Conhecia Leonor os propósitos egoístas de D. Bernardo.
Mas o coração negava-se-lhe a acatar-lhe decisão tão cruel.
E, não resistindo ao sentimento que nutria pelo primo, passou a encontrar-se com ele, no mais
rigoroso segredo.
Tinha uma cúmplice, em tais arrebatados encontros.
Era Marta, uma velha serviçal do tio, que, havendo-a criado de menina, tinha por fiel confidente.
Marta alegrava-se de poder apadrinhar o amor dos dois primos, que a enternecia.
Temendo, no entanto, que a criada, pela fraqueza da velhice, alguma ocasião caísse em revelar ao
amo aquela paixão proibida,
Leonor lembrou-se, gravemente, o mal que atingiria os três, se D. Bernardo soubesse da
desobediência da sobrinha.
Marta indignou-se.
A sua lealdade estava acima de qualquer suspeita.
E afirmou a Leonor:
- Minha ama: se alguma vez vos trair, ou for obrigada a trair-vos, que me transforme em pedra, como
essas dos cabeços, frias e rudes!
Um dia, D. Afonso esperou por Marta, no recato de um ermo, para lhe entregar uma carta dirigida a
Leonor, a rogar-lhe que fugisse com ele, numa noite próxima, libertando-a da tirania do tio.
E, na carta, indicava o lugar aprazado para o encontro dos dois fugitivos.
Ele levá-la-ia para o seu solar e lá casariam na capela que, como em todas as grandes moradias
fidalgas, se lhe avultava à ilharga, sempre florida e cuidada.
Marta recebeu a carta e regressou a casa.
Mas, de repente, saiu-lhe ao caminho, vindo do interior de uma mata, onde se entretinha a caçar, a
figura do amo.
Estranhou ele a presença da serva naquele local tão distante do solar.
E logo uma forte desconfiança lhe assaltou o espírito ao ver, na mão da velha criada, a carta secreta.
Com voz autoritária, exigiu que ela lha entregasse.
Marta procurou resistir àquela ordem que iria fazer a desgraça dos dois jovens e a sua própria.
Mas D. Bernardo teve artes de lha arrancar, lendo-a de seguida, com as feições transtornadas pela
revelação desse amor que ignorava.
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Devolvendo, calado, a carta ao terror de Marta, afastou-se num passo incerto.
Marta pasmou daquele silêncio, supondo, porém, que D. Bernardo, pela muita estima em que tinha
Leonor, aceitara, resignado, os sentimentos dos sobrinhos.
E correu a entregar a carta comprometedora à sua querida ama, ocultando-lhe, todavia, o encontro
com D. Bernardo e a sua estranha atitude.
Na noite combinada, Leonor, embuçada numa capa escura e comprida, escapou-se do solar do tio,
não sem um olhar húmido de saudade, para procurar os braços de D. Afonso e o desejado enlace.
Na sombra, umas sombras seguiam-na ao largo.
Procurando por todas as salas desertas do solar a presença de D. Bernardo e dos criados, Marta
compreendeu, por fim, que o amo não perdoara aos sobrinhos e se dispunha a castigá-los, numa
emboscada vingativa.
Correu, então, quanto podiam as suas pernas cansadas da idade, por desvios, por atalhos a avisar
Leonor e D. Afonso da cilada de D. Bernardo.
Chegou a tempo.Sem atenção, D. Afonso sentou Leonor na garupa do seu cavalo, e, num galope
alucinado, afastou-se da perseguição do tio e dos seus criados bem armados.
Ao olharem, porém, para trás, para agradecerem a Marta aquela prova de lealdade que lhes salvara a
vida e o amor, apenas distinguiram a rijeza de uma pedra, onde se esculpia a face rugosa da velha
criada: o seu nariz adunco, a saliência do queixo.
A jura de Marta havia-se cumprido.
Feita pedra, a velha parecia despedir-se de Leonor e de Afonso, a cavalgarem já longe, com os seus
olhos cegos, que um manto de musgo começava a cobrir, macio e piedoso.
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Lenda da Veiga da Matança
Era uma vez uma veiga a que chamam a Veiga da Matança, em terras de beleza e viço dos Arcos de
Valdevez.
O seu nome nasce da convicção popular de que, em 1143, aí se travou uma batalha sanguinária entre
as hostes de D. Afonso Henriques e as de seu primo, o Imperador e rei D. Afonso VII, de Leão.
O motivo da contenda residia na quebra do tratado de Tuy, em que o primeiro rei de Portugal
prometia vassalagem ao soberano vizinho.
Mas D. Afonso Henriques era um espírito rebelde, valente e determinado, disposto a fazer do
Condado Portucalense que exigira, pelas armas, a sua mãe D. Teresa, um país independente e
dilatado á custa das conquistas dos territórios da Moirama, a estenderem-se do Mondego ao reino
do Algarve.
Tivera, já, sob a proteção divina, uma batalha decisiva, nos Campos de Ourique, além-Tejo, contra
cinco reis moiros.
Como memória desta vitória e da milagrosa presença de Cristo, pois a lenda afirma o seu
aparecimento ao rei, encorajando-o à luta contra os infiéis, a bandeira de D. Afonso Henriques
passou a ostentar, em cinco quinas, as cinco chagas do Crucificado.
Sabendo da entrada do imperador pelo norte do país que estava a construir, com entusiasmo, o rei
português sobe aos Arcos, disposto a terçar armas pelos direitos do seu sonho patriótico. E foi
ocupar logo, para dar batalha, um lugar privilegiado, o alto Castelo de Santa Cruz, onde os seus
cavaleiros aguardaram, impacientes, o inimigo leonês.
Em piores condições encontrava-se D. Afonso VII, à frente das suas mesnadas.
Combater o primo, em tais apuros, era uma temeridade!
Então, sabiamente aconselhado, propôs a D. Afonso Henriques o encontro dos dois exércitos na
planura da veiga, não para a violência de uma batalha, mas apenas para a destreza de um torneio, ou
baforada, como então era chamado.
Assim, cada cavaleiro português desafiava um cavaleiro leonês, para um confronto singular.
E venceria quem mais inimigos houvessem derrubado.
D. Afonso Henriques aceitou o repto e, rodeado de bons e esforçados cavaleiros, experientes em
manejar a lança e a espada no corpo do contendor, saiu-se vencedor do bafordo, obrigando o
imperador a regressar aos seus domínios de além-Minho.
Pouco tardou que D. Afonso VII não assinasse um armistício com o primo português, aceitando-lhe,
diante de um alto dignitário da Igreja, o título de rei.
Graças ao acordo entre dois monarcas, a veiga arcuense assistiu, assim, não a uma carnificina, mas
quase a um espetáculo palaciano, embora temerário, que, noutras circunstâncias, poderia, até, ser
admirado por damas e donzéis, entre guiões de seda e ornamentos de festa. Mas a lenda
sobrepõe-se à História.
E, séculos atrás de séculos, o povo olha a pujança pacífica daquela extensa veiga cultivada, como
local fatídico de uma horrenda batalha, com a terra empapada em sangue, cavalos desventrados,
guerreiros agonizantes, segurando, ainda, na mão exangue, lanças, escudos, espadas, gemendo de
dor, suspirando de morte. Incólume, no meio desta hecatombe, empunhado a branca bandeira das
quinas, montando um cavalo banhado de espuma, mas de crinas agitadas ao vento da glória,
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qualquer pode imaginar o vulto espesso e nobre de D. Afonso Henriques, o rei-herói, anunciando,
naquela veiga, naquela matança, o Dia Primeiro de Portugal!
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Lenda do Juiz do Soajo
Era uma vez um homem chamado João Congosta que exercia as funções de juiz na vila do Soajo,
situada na aba da serra do mesmo nome, sobranceira ao Vale do Lima.
Isto passou-se há muitos e muitos anos, quando o Soajo era terra notável na defesa da fronteira com
a Espanha, com foral concedido por D. Manuel e pelourinho onde se executava a justiça.
João Congosta era homem inteligente e honesto, admirado pelo povo que lhe aprovava as sentenças,
quase sempre sobre pequenos delitos: o furto de um anho, por ocasião da Páscoa, ou de uns pés de
coives galegas pelos frios de Natal.
Mais sério, as sacholadas por via da mudança de um marco ou desvio de umas águas do regadio.
Mas, um dia, viu-se a braços com um crime grave, que pôs toda a vila em polvorosa: a morte violenta
de um lavrador soajeiro abastado, mandado assassinar por um fidalgo dos Arcos de Valdevez, que lhe
devia um grosso de moedas.
O caso levou seu tempo a resolver, com buscas e interrogatórios dos culpados, falsas juras de
inocência, provas forjadas, o diabo!
Todavia, João Congosta acabou por desdobrar a meada dos enredos e julgar, com saber e severidade,
condenando o fidalgo e os seus cúmplices à pena máxima.
O pior é que o principal criminoso tinha padrinhos na Corte, gente pronta a influenciar El-Rei contra a
sentença do juiz do Soajo, que descreviam como um pobre rústico, estúpido e ignorante.
Impressionado com tais palavras de mentira e de intriga, El-Rei remeteu o caso aos seus juízes que,
por sua vez, convocaram João Congosta para mais perfeitos esclarecimentos.
João Congosta era um homem simples e que apenas uma única vez saíra da sua vila, indo por dever
de profissão, até à vizinha Arcos, sede do seu julgado.
Recebeu, pois, com desagrado, aquela intimação para se deslocar à Corte.
Mas, embrulhado na sua inseparável capa de estamenha usada nas audiências, ala!
Até ao porto de Viana, onde embarcaria para Lisboa, pois a viajem por terra era demasiado morosa e
insegura.
Desembarcado no Terreiro do Paço, a Capital perturbou-o, com o seu ruído, com o seu movimento
de cavalos, bois, carroças e carruagens, gente de tantas raças, envergando os seus trajos tradicionais,
algum animal exótico, para pasmo popular, e em mercado vivo e colorido, soltando os seus pregões,
exibindo os seus produtos do campo e de além-mar.
Depressa se dirigiu ao Paço Real, magnífico na sua arquitetura, atravessou, com dificuldade, as
barreiras da soldadesca, dos lacaios e dos pajens, chegando, por fim, ao vasto salão, onde o
aguardavam os seus colegas da Corte, comodamente refastelados em solenes cadeirões de
magistrados.
João Congosta procurou o seu, para um descanso, mas, sobretudo, para a tranquilidade de melhor
ponderar e discutir.
Porém, todos eles se encontravam ocupados.
Os juízes da Corte não reconheciam, naquele labroste, vindo do cabo do mundo, sem modos nem
pensamento, o direito à dignidade de uma cátedra.
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O juiz do Soajo não hesitou.Tirou dos ombros a capa das audiências, dobrou-a bem dobrada, num
aumento conveniente de volume, pô-la no chão e sentou-se nela, ficando, assim, ao nível dos
colegas, e aguardou que o consultassem sobre os motivos e a justeza da sua sentença.
Com uma admiração que, pouco a pouco, se ia tornando maior e mais entusiástica, os juízes da Corte
viram que a sua própria experiência e sabedoria, e mesmo a manha com que obrigavam os réus a
contradições e confusões de espírito, nada valiam ante a limpidez de raciocínio, a agudeza dos
argumentos, o brilho da inteligência do parolo das serras, criado no convívio de gente boçal e entre
matagais selvagens.
Terminada a sessão, todos louvaram a sentença de morte dada aos três assassinos, louvando,
também, quem a proferira.
Levantou-se João Congosta e, com uma vénia, aproximou-se da porta de saída.
Então, um dos presentes advertiu-o que havia deixado, por esquecimento, a sua capa de audiências
no chão do salão.
Com voz bem alta e clara, ouvida por todos, João Congosta retorquiu, numa lição ao desprezo de que
fora vítima, ao entrar ali:
- O juiz de Soajo nunca levou consigo cadeira em que se sentou!
Reconhecendo a grosseria que haviam cometido, os juízes da Corte coraram e baixaram os olhos, de
vergonha.
João Congosta não quis ficar um instante mais em Lisboa.
Tomou o primeiro barco para Viana e não tardou a voltar a gozar a beleza da sua serra, a entregar-se
às obrigações do seu cargo, a receber o respeito e amizade dos seus conterrâneos.
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Lenda da Moira Encantada de Giela
Era uma vez um rei moiro, cujo nome se perdeu na memória dos tempos.
Viera d’além-mar, com outros reis e guerreiros da sua raça, levando de vencida o povo cristão até as
montanhas das Astúrias, onde este encontrou reduto e alcançou coragem para expulsar, por fim, o
invasor e o inimigo da fé.
O rei habitava um esplêndido palácio, rodeado de conforto e de riqueza, com os seus pátios
rendilhados e as suas fontes jorrando frescura, com os seus jardins aromáticos de flores, num lugar
altaneiro, chamado Giela, avistando a paz de um vale, por onde desliza, entre salgueirais, manso e
transparente, o rio Vez.
Tinha o monarca uma filha muito famosa, que mantinha encerrada nas salas e aposentos do seu
palácio, longe das vistas dos seus vizires e cavaleiros, reservando-a para um casamento com algum
califa vizinho que lhe aumentasse a fortuna e o território.
Não lhe permitia, mesmo, assomar a uma janela para contemplar a paisagem que as aias e os criados
lhe diziam ser maravilhosa.
Um dia, porém, a princesa conseguiu que a obediência e simpatia dos seus servos lhe ajaezassem um
dos cavalos do pai e, ao raiar de um dia calmo de Verão, cavalgou, livre, sozinha, até às margens do
Vez.
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É difícil de imaginar o seu contentamento e o seu encantamento!
Desmontando do veloz ginete e descalçando a delicadeza das suas babuchas bordadas a oiro,
mergulhou a perfeição dos pés morenos na claridade da corrente.
Súbito, ao erguer os olhos para a margem oposta, viu sair do bosque que a circundava um jovem
cavaleiro revestido de uma armadura prateada, montado num soberbo cavalo branco, de compridas
crinas oscilando à brisa matutina.
Era decerto um guerreiro cristão, perdido do seu exército.
Trazia na mão, coberta por um guante de ferro, um altivo pendão, desenrolando a heráldica de um
brasão, onde se enguia um castelo de oiro em fundo vermelho.
O cavalo branco curvou o pescoço elegante para beber, a largos haustos, a água límpida do rio.
Então, os olhos azuis do cavaleiro, como um céu muito puro, mergulharam nos olhos da princesa,
negros como as trevas da noite.
E dir-se-ia que uma flecha de amor atravessou, silvando, ambos os corações.
Nesse exato momento, surgiram, por detrás da princesa, duas dezenas de soldados moiros que,
respeitosamente, a convidaram a regressar ao palácio, onde o pai a esperava, numa preocupação.
Mas, vendo, na outra margem, o cavaleiro cristão, atravessaram o rio, com grande restolhar de água,
para lhe dar combate.
Ante o desespero da princesa, foi breve o entrechoque das armas, tão desigual!
Feridos pela espada do cavaleiro, alguns soldados ficaram por terra, sangrando e gemendo. Mas os
restantes, em altos brados, foram em perseguição do jovem inimigo, que se embrenhou na mata,
sem possibilidade de despedaçar, um por um, aquele numeroso grupo de infiéis.
Lamentando um amor tão cedo desaparecido, a princesa voltou aos braços do pai, jurando, no
entanto, jamais conceder a mão de esposa senão àquele cavaleiro dos olhos azuis que lhe arrebatara
o coração.
E, na esperança de o reencontrar, descia constantemente até ao Vez, e ali ficava carpindo-se, com os
olhos rasos de água, vendo-lhe as margens desertas.
Assim passaram anos.
Assim passaram séculos.
Mas, ainda hoje, na paisagem adormecida, há quem consiga adivinhar, junto à placidez do rio, um
vago vulto de mulher, com um leve véu ocultando-lhe a formosura do rosto, olhando fixamente o
escuro arvoredo da margem.
É a moira de Giela, aguardando que surja, do segredo da noite, um cavalo branco montado pelo
jovem cavaleiro de olhar azul, revestido de prata e trazendo, na mão, a heráldica de um pendão,
onde, em fundo vermelho, brilha um castelo de oiro.
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Lenda da Moura (Sabadim)
Lenda da Moura Reza uma velha lenda, a Lenda da Moura, que a poucos metros destes
penedos, chamados Penedos da Aguinadoira, havia o desaparecido Lugar da Lama, no alto
deste monte, a confinar com a Freguesia de Vascões. O lugar desapareceu em 1109. Um
enorme terramoto destruiu 12 fogos e tudo que ali havia. As pessoas daquela época
sobreviviam da caça e da lavoura. Coziam o pão numa telha de barro na lareira. Forno...?
nem se ouvia falar..., não existia!...Morava lá uma senhora muito generosa, que gostava de
ajudar os mais pobres. As pessoas todos os dias à noite mugiam o gado. Um dia por
semana, essa senhora, mandava a filha, rapariga dos seus 25 anos, levar um saco de milho
a moer ao moinho, que ficava junto ao ribeiro que nascia nesse lugar, chamado Rio do
Frango e incumbia a filha de, sempre que fosse ao moinho, levar um pedaço de pão da
telha e uma caneca de leite a uma pessoa mais desfavorecida que morava numa casinha,
já destruída, junto ao moinho. O itinerário da rapariga era sempre o mesmo. Ia por um
carreiro antigo que passava pelo meio destes penedos. Como sempre, desceu todo este
monte pôs o moinho a moer o milho e, entregou a caneca de leite e o pão ao pobre velho
que morava sozinho e desamparado. Voltou para casa, mas ao passar novamente no meio
dos dois penedos, surgiu uma menina toda vestida de branco que lhe pediu:
- Não me dás uma caneca de leite e um pedaço de pão quente que tenho fome!...
Resposta da rapariga:
- Dou. Mas, para isso tenho de pedir à minha mãe. Esperas aqui que eu vou a casa e volto
já.
E assim foi. A rapariga foi a casa, contou o sucedido à mãe, encheu novamente a caneca
de leite, partiu mais um pedaço de pão da telha e voltou aqui aos penedos. Só que quando
chegou a este local, procurou a menina por todo lado mas não a encontrou. Toda
entristecida voltou para casa, e quando se apressava para entrar novamente no carreiro
batido, surge a menina do lado direito deste penedo. E gritou:
- Estou aqui não me vês!...
A rapariga apreensiva reparou que a menina tinha na mão uma caneca com as mesmas
características da sua. Aproximou-se dela e disse:
- Olha, em troca do pão e do leite que de dás, vou-te dar esta caneca mas, recomendo-te
que não tires o pano de cima da dela até chegares a casa e a entregares à tua mãe.
A rapariga aceitou, mas a curiosidade era tanta que ela não resistiu, em ver o que estava
dentro da caneca, e ao chegar junto da Capela da Senhora do Loreto, hoje de Santo Amaro,
havia lá uma carvalheira enorme. Junto ao pé, existia a fonte do lugar. A rapariga sentou-se,
tirou o pano que cobria a caneca e reparou que o que levava dentro eram carvões negros.
Despejou a caneca na água e toda enfurecida pelo sucedido, correu para casa a contar à
mãe o que lhe tinha acontecido. Por sua vez, a mãe, achou diabólico e muito estranho o
caso que estava a acontecer à filha. Voltaram as duas novamente à fonte para se inteirarem
da verdade. E, ao chegarem à fonte, repararam que os carvões tinham desaparecido.
Existiam, isso sim, pequenos vestígios de ouro puro na água corrente. Foi aí que a mãe e a
filha se aperceberam que a menina tinha-lhes recompensado a caneca de leite e o pão da
telha, por barras de ouro. A partir desse dia os penedos ficaram conhecidos pelos Penedos
da Moura. Por muitos e longos anos as pessoas deixaram de cá passar. Tinham arrepio que
a Moura voltasse a aparecer.
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Lenda do Santo Lenho (Grade)
Segundo a lenda, na Veiga da Matança, batalha que opôs Afonso Henriques a seu primo
Afonso VII de Leão, foi encontrado uma relíquia sagrada, denominado Santo Lenho, que
segundo a fé cristã crê-se que seja um pedaço retirado da Cruz onde Cristo foi crucificado.
Esta relíquia encontra-se na freguesia de Grade, na Igreja Matriz, num sacrário com duas
portas fechado a sete chaves todas elas diferentes.
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