LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, V. 6
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, V. 6
LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, V. 6
Obras Selecionadas
Volume 6
Ética:
Fundamentação da htica Política
Governo - Guerra dos Camponeses
Guerra contra os Turcos - Paz Social
rc.1 < i~rni,s,sZoInferlurrrmli de Literaturii, fomiada pela Ib~ejaE~vati~élica
de ConfissZo
.- -.-
I . i i i c i i i i ~ ~ ~ ~ ~ ~Evangélica
~ T q r Luterana
e j a do Brasil:
- ; oF3\,u
",' Caixa Post;il
3001-970 Sáo Liopoldo - RS
14
7iadutore
Marti11 N . Dreher Helhsrto Michel
Ilson Kayser Ricnrdo W. h e t h
Wdlter O. Sçhlupp
,~~,mitrííi.io
Cottcórdia
Ilihlioln'ri Editor-geral
Sist I
Ilson Kayser
Apresentação............................................................................................................ 7
Iiiirodução Geral ...................................................................................................... 9
Fundamenta~au- introduções de Maríin N.Diehcr ........................................ 13
O Magnificiit traduzido e explicado
Tradução: Ilson Kayscr.................................................................................. 20
Da Auioiid;idc Secular, ;iti qiic ponto se lhe deve ohediência
liadução: Matiri N. Dirlin: .................................................................... 79
4x4
520
Apresentação
Em suas mZos está mais um volume de "Obras Selecionadas" de Martinho
Lutcro. A preocupação com a publicaçiio de obras de Lutero remonta a 1983, quando
se c o m i m o r a m os SíK) anos do nascimento d» refor~nador.Com alegria c satidáo
rcletnbruin«s « inicio desta longa camidxrda. E agora, ern 1996, ao recordarmos os
450 anos do falecimcnto de Lutero, podemos entregar « sexlo volume cio público de
fala portuguesa.
A apresenlaçZo do primeiro volume foi escrita em 1987 pclo pastor Ilson
Kayser, que cm 1992 foi norneado edilor-geral p;irii as "Obras de Lutero" e o
dcvocionjrio "Castclo Porte". Com o lançamenlo do volunic 6, o pastor Kayser
t-inali~ouas suas atividades corno editor. A ele munifestamos o iiosso agradecimento
pelo siu trabalho e enipeiiho, ao mesnio teinpo em que damos as boas-vindas ao seu
sucessor, pastor Darci Drehmcr, coin os votos de ric;is bênçâos ao "mergulhar"
novancnte iio estudo científico dc Lutero.
Um agradecimento especial ao nieu ex-profissor, pastor Dr. Joachiiii Fischer,
rcsponsivel por tod;is as iniroduçfies dos scis volumes de "Obras Selecionadas de
Lutero" at6 agora publicddas. De coração, dedicou-se i s diversas publicações de
escritos de L u m o no Brasil e há mais de 10 anos é presidente da CornissZo "'Obras
de Lulero". Em conjunto com u n a equipe de espc~ialistas,lez e fctz a história de
Lutero no Brasil. A ele e a todos os dcmais inlegraiites da Comissâo "Obras de
Lutero" e da O~missãointerluterana de Literatura, iiossa gratidão e nosso reçonhe-
ciiiiento pelo 11-abalhovoluntário e gratriito.
A publicação do voltiine 6 foi possível graças ao apoio financeiro da Igreja
Luterana Sín«d« Missouri nos Estadc~sUnidos e da Igreja Eva~gélicaLuterana na
Baviera e de sua Associação Marlinlio Lutero na Alemanha. Agradecimentos a eles
e a todos os que se enipeiiharim para que este voluine pudesse ser publicado.
1096 foi declarado "Aiio de Lutero" na Alemanlia. No Brasil, realizam-se,
neste ano, eleiç6es muiiicipais. Lcrnbrando estes dois fatos, a Comissão lnterluterana
de Litcritura da lgreja Evangélica de Confiss5c Lutcrana no Brasil e da Igreja
Evwgélica Luterana do Brasil, lança com alegria o volume 6 de "Obras d e Lutero",
contendo textos aliisivos à Ctica política de Luter«. Desejo que a leitura possa auxiliar
a redescobrir que a tarefa dos cristãos ao fazer política é "adrninisvar as coisas
públicas em favor de todos os cidadáos" c que "o amor ao próxiiiio usa a prhtic;~
polílica c ~ ~ i r instrumento
io para a sua concretizaçào", como cscreve o pastor presi-
dintc da E C L B I-luberto Kirchheun na sua " C w a Pastoral -Eleiçfies 19<)6". Q u i
scja um subsídio pnra uma contribuiçãc cristã luterana clara e eficiente nos runios d,i
política iio Brasil.
Introduçáo Geral
Nos escritos do presente v«lume encontramos os elementos bisicos da ética
política de Lutero. O porta-voz do eKtngelh« de Jçsus Cristo e reformador religioso
não podia deixar de ser, ao rnesrni>tcinpo, político. Ao ocupar-se com a questão da
salvação eleni;! das pessoas, jamais se esqueceu de perguntar tumbéiii por seu bem-
çsiar terreno. E verdade que são qiiesiões distinias. Mas riern na reflexão teológica
nem no dfa-%dia da vida das pessoas podem scr separddas uma da outra. Lutero
deixou claro que « inundo precisa nZo apenas dc pcssoiis aptas a pregarem o
Evangellio, rnas tainbétn de políticos, pess«;ts aptas a conduzirem os negócios do Estadoi.
No "cainpo I-eligiosi>",21 Reforma do século XVI foi umti "revolugão funda-
inenki", comi> observou Leonardo Boff, baseando-se ern 1-lege12. Tcve profundas
repercussões no campo s6cio-político. Em 1988, o 7- Congresso Intem~cionalde
Pesquisas ein Luter», realizado eni Oslo (Noruega), discutiu a teologia de Lutcro,
sigiiificativamente, com« "responsabilidade pelo mundo"'. Eni muitas oc;isicies, o
reii~miadornianifestou-se sobre questces sócio-políticas, ou seja, qiiistões referentes
i organizaçZo e adininistraq50 &aquilo que os ;uitigos romanos chamavam de i-es
publica, coisa púhlica, vida pública, Estado. Tinha ci~nsciênciade que a vida púhlica
6 urn jogo de interesses diferentes, muilas vezes divergentes ou até abeitameiite
conflitantes. Política, como ideal, é o processo ein que sc visa a assegurar uma vida
digna p'dra todas as pessmds e sua convivência ern sociedade, cm nleio a suas
diferenças, divergências e conilitos. Pma Lutero, política é o esfor~oracional pemia-
nente e pacienlc de est;ibelecer e preservar uina ordcm social conipatível corri os
valores do cristianismo. Suas inanifesi;ições s«bre queslcies sócio-p«liticas certamente
poderiam ser classificadas como "cxigências cristás de uma ordem p~lítica"~. Num
perspectiva escatológica, caraclenstica d i Ltitero, a finalidade última da política é
preservar e proteger o rnund« diante da ameaça do caos, o poder do Mal.
A ética cabc apresentar às pessoas, baseada em v;ilores inequívocos, perspecti-
vas e orientacões fundamentais nara seu aeir. ailidá-las a disiinauuem cnnc o Rem
w . 4 u
c o Mal, despertá-las e instrui-las para que perguntem pelo que 6 correto e respon-
sável, encorajá-las e foflalecê-Ias para a prãtica di>Bem, supemndci a resistêiicia do
comodismo5. Para Lutero, coino cristão, a ética baseia-se erii valores cristâos. Suas
l i i i l : ~:I iciilr~gi:~ clc Lutem. I;iinhiiii su;i éiic;i politira, decom de siia coiiipreen-
.I,, i . i ; ~ i i c ~ ~ l iilii
c ; ijuiiilicaçá« do ser 1iiiin;mo pccador pela grap? de Deus iiiediantc
. i 1,- ,\ t.iic;i política do rcfonn;idor esr5 inscparavelmente relacionada corri seu
, t , i i c VIIL, (11. Iiist6ria. Quem age na hist61-i;i. iios r através dos seres liumanos. C. D e i i ~ .
I .:..i ~ < ~ i i ~ . c da l ~ vrealidade
ão faz com que iierihuina instância humaii;i possa rcclamiir
11.81.' '.I :~iilriridadesobrrhiimana ou até, 1:iIvr~.divina. Militas vezes Lutsro focalizou
.i <~ii~.i.i;i<~ <I<r poclcr seculai. (~iolíiicoi.Confroiiiou u s e poder imaneriie coiii o puder
ii.111.L-t.iiil~.iitc d:i p;ilavr;i dc Deus. A pmlii disso, chegou ;ipcrguiit:u pelos h i i t r s
,I#,lii,<Iir ~ ~ o l i l i c Rctlriiu o. sobre situaçfieh ciii que se tor~ioiiiiccessdrio resislir a u m
INMI<.I ~~<,liiico que desrespeitou os limilçs i l e rua compelência. Defendeu a liberd~ide
(1,. <<iiisci2iicia:a auiondade secular, o Esta~hl.1150tein poder sobre as consci?ncias
<I:,!, (~Vh\,,~lS.
í ) <I:I~<I iiiiidaiiicririil da ética política <Ic Luter« i soa distinçiío (riào: separaçâil!)
<!,I\ ilois rcgimciitos de Deus. Essa "dr~otruiii" liheria as pessoa\ de fnlsis preocu-
11.1~1tc~ ~p:irii prática do ~ u i i o rali ~ > i i i i i i i o Vida
. cnsfi é, esscnci;iliiisnle. vida a
..\-i \ iyct iIo\ ~IIII.OF. Lutem entendeu i;iiiibéin a poliiica cr~rnoseridi) uiii servi$« que
# >!~i>vi.iii:iiiics
. prcstani aos governadus: ti$,> é uina oportunidade dc se eiinqiiecer ou
,I,. ..i, i I i ~ ~ l i i i i :dos
i r privilégios e prazercs do poder. Onde, poréii,. política e rcligiáo
, . . # < I iiii\iiil-:id;is, o rcsiiltado ser6 a ruína do convívio das pessoas.
~--
I0
fugiu do desafio nem do risco. Nesses casos concentrou-se na qiiestáo teohigica
subjacerite 30 conllito. 'Iainbém sobre qucstoes de ética política, Lutero cosiuniava
falw numa perspectiva pastrird. Scu objctivo foi a preservação ou restabelccinicrito
da paz social. Quis alertar, admoestar e orieritar governantes e governados (oii :is
piuies cnvolvid:is iiuiii conflito) quanto ao seu coriiproiiiisso para com n paL social.
De acordo com a convicção de Luleiu. somenic a paz assegura o coiivívio <Ias
pessoas rin sociçd:ide.
O projeto "Obras Selecionadas de Mxtinho Lutero" tem por objetivo colocw
textiis b5sicos do refonnador à disposiçao dr pessoas de língua portugucs;~.Pcnsa-
mos cm leitores e estudiosos no Brasil, bem como em Portugal, Angola, Moçambi-
que e outros países dç fala portuguesa. Entendcinos nosso trabalho como pirstaçáo
de serviço a todos e a todas que edáo intcressados/as em conhecer alravés de seus
próprios cscritos o pensador que era conternpor2neo (e,m parte) dc CrislóvZo Colom-
bo (14.51-1506), Vasco da Gama (1469.1524) e Pedro Alvarcs Cabral (1476[?]1520).
O picseute volumç, como todos os outsos. envolveu um hoin número de pessoas
e virias eiiiidades. Rua viahilizar e concreti~;iio projeto colaborain: as entidades
cloadocis (de irciirsos finaiiceuas) no exlcrior. a Igrej;i EvmgClica Luterana do Br:isii
(IELB), a 1grej;i Evangélica dç Confissiío Luteinii;i 110 Brasil (IECLB), a Coinissiii
Iiitcrluter;inii de Literatura (CIL) e scii tesoureiro Gcr:ildo Dracliciiberg, n Comissão
"Obfiis rlc Liitero" (COL), o editor-gcriil, tradutores, revis«res, sçcret,ii.i;is, as Edi-
toras Sinodal e Conc6rdia c o pessr>:il rla gráfica. Cada qual contribui cor11 siiii parte,
niiiii grande niutu;lo. O presciite voloine E h t o desse inutiráo.
.4 iidministraçáo do projeto como iiin todo cabe à Comissão Interluterma de
Literaliira. Ela é constitiiídn e rnlintida pela IELB c pela IECLB. Siío membros
titulares da CLL, atualmente, os pastores Dr. Ingc Wullhorst (presidcnte), Gerhard
Grasel. Joâo Aitur Miiller da Silva, Ms. Edson E. Streck, Paulo Wcirich e Carlos
Waltçr Winterle (secretirio). Os rneinhros sopleiites são os pastores Harald Mal-
schitzky e Vilson Scholz. O professor P. A11>2iicoE. G. F. Baeske, até o uúcio <Ic
1995 nieriibro supleiite da CIL, passoii, eiitreiiierites, a integrar a Comissáii "Ohras
dç Lutcro". Contamos coni sua colaboraçio a partu do próxinio voliime.
Os riieiiibros dcssa Conussá<i psepariuaiii « coiiteúdo do presente v<ilume, o11
icin, sclecionariim os escritos e c l ~ i b o r a mas introdiições e pwtc das notas de
iod;ipé. As traduções foram feitas por: »r. Ricmlo W. Rieth, Dr. M;iitui N. Dreher,
I'. Ilclhertc Micliel, Wdlter O. Scliliipp e P. Ilson Kayser. Na traduçáo dos textos
I;iiiiir>scontamos com a colaboração especial de Egbertus Ossew;imde. A elabor;i(..io
i l i i h iii,i:is de rodapé restantes, os traballios de revisi%,, n redii~ãoliiid e a prep;uu~So
(10s iiiilices couberam ao editor-gcr;il P. Ilson Kayser. A editoração foi assunuda pela
I:<lii<ii:i Sinodal. Eiii sua estrutura, « prcseiite volume continli;~obsçrvando o princi-
~ i i i iiiii~~duzido no volume anterior. O teiiia da Ctica cristã aparece desdobrado eiii
ilivcr~o\Iilocos que temlitizam chferçntes áieas da ética cristã. Neste volume tratli-si.
i.sl~~~~ilic;iiiieiite, da ética política. Cada bloco 6 ideiitificado por uin subiitulo c
;iiitçrc~li<loIvlr uma introduçL~mais ahraiigerite ao respectivo assunto. Cada texi<i
vciii. 11cw XKI vez, acompanhado de uma Introduçio mais resumida, pwd l o ~ ~ i l i ~ á - l i ~
riti \cii i.~iiicxtiiIiistórico.
As cii:i~iwshihli~isli>r;iin tr.iduzid;is dn vers;io ofigiiial <Ic Liitcro. Assiiii li~.;i
I'I~.~.VIV;ILI:I \II;I origiiiiili<lii<li. liiii ger;il. L~iicrocirii (Ic inciii6ri;i. ciiiii h;isc iio Icxii,
I . i i i i i c > i I : i ViiI,::ii:i, sciii, iio ciit;iiili,. ~~ii.i>ciil~;ir-sc
coiii ;i relirodiiq;ii, i.x;it:i iIi.%:i
II
vvrs:io. I'or isso, suas citaçiies podem divergir substancialinente do texto da Vulgata.
l i i i i c;isos de discrepâncias mais acentuadas, oferecernos o original da Vulgata em
iioiii de rodapE, para coiiferência. A memória o trai às vezcs na ideniificação do
i.;il~íiuloe até mesmo do livro bíblico. Nesses casos oferecemos, quando possível, a
i<fcrCiicia comgida, em colchetes. Quando Lutero cita um versículo, oferecemos a
iili.rEiicia no corpo do texto. A indicação dos versículos foi acrescentada pelo cditor,
pois ina época ainda não se corhecizi a divisão em versículos. Quando Lutero n k ~
iiiilica ondc se encontra a passagem citada, a referência veni em colcheies. No caso
ciii qiii Lutero iar uma alusã« a detenniaida passagem bíblica, a referência encon-
1i;i-se, na medida do possível, em nota de rodapé. Quanto à nuincra~aodos salmos,
ii~~l:i~~iossempre pela numeração oferecida na versZo dc J«io F e ~ e i r ade Alrniida.
As rckrêricias de icxtos extraídos de livros apócrlfos sáo numeradas confonnç ;i
ii;iiIi1~30 da Vulgata ao pofluguês pelo Pe. Mattos Soares, 4. cd., São Paulo, Paulirias,
I'll'l. OS antrop6n1mos das figuras hisióriças são, em geral, grafadas de acordo com
1 :i.lii<k,Dicionirio da Língua Portuguesa, v. rV (Histórico), organizado por H. Maia
(1'1 >livciia. São Paulo, Lisa - Livros Irradiaiites, 1970.
< )s textos f ~ ~ r atradu~id«s
m da Edi@o de Weimzu; sigla WA, com uiii~a$Zo
~.\',~iiii;il de outras versoes a que tivemos acesso. A indicaçZo exata da fonte de cada
it.\io C ;iiioiada na primcira inota de rodapé de cada escrito. O primeiro número indica
, . < . I I I ~ M0 C volume, o segundo a página, o terceiro a linha. Eventuais algarismos
i~~iii.iiios iiidicam o tomo. (Ex.: WA 30/11,329,21ss. significa: E d i ç k ~de Weiniar, v.
{ l i . i ~ i i i i >II, p. 329, lirhas 21ss.). A sigla WA Br indica um vol~imcda edição de
< . I I ~ ; Iilc~ Lutero; a sigla WA DB indica um volume da cdiçio da Bíblia Alemã; a
:.i,,I:i WA Tr indica um volume das conversas à niesa.
J o a c h h H. Fischer
Presidente da Comissão
"Obras de Lulcro"
Ilson Kayscr
Editor-Geral
Fundamentaçáo
da Ética Política
Fundamentaçáo
da Ética Política
INTRODUÇAO AO ASSUNTO
Dois escrilos de Lutçro são fuiidamentais para que se possa compreender o todo
de suas colocações sobrc a ética política. O primeiro dclcs, iniciado cm Wittenberg
15 e concluído no Wartburgo, em 1521, é "O Magnificat, traduzido c explicado". O
scgundo, datado dc 1523, é "Da Autoridade Sccular, até que ponto se lhe deve
obediência". Tainbém nesses dois escritos podc-se notar que as iormulaçócsteológi-
cas de Liitero são decorrência de sua descobc~lada justificação por graça e f6.
I I ('I. I>isciiiso</e1,utero crn Wonns, com a rcspeçiiva Introduçiri, neste volirmc p. 123-126.
Iiiiiil;iiiiçnoqúo dit Etica P~li1ir.a
I:III hiiii exposição acercli do Deus que de~ilibade seus triinos os poderosos e exalt;~
<,s Iiiiiiiildes quc nada sáo, Liitero fez desse csciit« iiiria das mais importantes fontes
II;II:I SIIZLcoinpreensão de História. Por outro Indo. a cxposiçZo iomsmite o clima do
i i t ~ r i i i ~ ~ iIiistiinco.
iti~ Ele se consola nas promessas do cãntico da mãe de Deus: "De
i!:ii;il inodo. nio deves somente pensar e falar da hiiiiiilhaçio, tens que entrar nela, s
<,si:iriiietidc nela, nZo podes contar com a ajuda de iiinguém, para que Deus possa
:i]:ir sozinlio".
Segundo Lutero, Deus age de duas maneiras na Histón;~:através das criaturas,
<Iriiii~cloque cada um possa ver onde há poder e onde há fraqueza, e de modo que
:.r 11cnx: Dciis iijuda ao mais forte. Há também um agir histí>ric« de Deus, cujo i n
itisliiiiiiciit~~ nZo nos é perceptível aos olhos: "por meio de seu braço". Aqui Deus
: i ~ ~ , citi i. iiculti~.Petmite que os maus se apresentem conio categoria grande e pode-
i<i\:i. "Subtrai delrs siia forçii e permite que se inflem apeiins com sua própria força.
I i ~ i si~ii~le ei1li.a a h q n liumana, a força de Deus se retira. Qiituido a bolha está bem
i t i i I i : i i 1 ; i c iodos pciistiin que triunfaram e venceram, e qutuido twihérii eles próprios is
~.,.i:~c) ~i:gurosde o tereiii Icvado a cabo. Dcus fura a bolha e tiido e.st:i acabado."
I\SII riao qucr dizcr quc Dcus clifiiiiiii poder para sempre, nem que destrói uriili
i , . / I I C W [<'das 11s triinos dos puderosos: "Nota. porini. que ela náo diz que ele iri
~lc.:.iiiiiios tronos, mas que dertuba deles os poderosos. Também não diz que deixa
<,,.Iiiiiiiil~lcslia humildade, mas que os exalta, pois enquanto a terra existir tem que 211
I i . i i , r ~ :iiiioi-idade. governo, poder e tronos". A História consiste de uma constante
I I < ~ : I <Ir poilcr, provocada pelo abuso dos que o detêm, inas também de uma
<<~ii\i:iiii<: ciiiTeção de iuino, fiuto da intevençáo de Deus.
1 :I. t,:I além disso, um segundo componente no desenrolar da História. Deus
"i:iiiiI~i:iiiiião destrói a razão, a sabedoria e o direito, pois, para que o mundo possa 2s
siilrsistir. h i qiie haver raáci, sabedoria e direitu". Por isso, em outra passagem do
A l ; i ~ i ~ i i l i i i Lutri-o ~r, acrescenta i teologia da História um;! 'boa instruçL1 no direito'.
Aclvrrci~:iiiic ;i piissibilidade de cada um fazcr o que qucr. caso estiver com a razáo,
11. I'", uii relnqáo ;io papa, mesmo qye este, desde miiitr~,i150 ouça ncin mostre
iIi.,;i:i<~ rlc iiiud;ii- srii coinp«rtaincnto. E ncccsshrio quc se distiiiga eiitre a confissão 30
, l i , ilirciiri e suti coiiseciir;ii). Sempre podemos reivindicar iiossos direitos, jamais,
l x w i ' a a ~ qticrcr impi-los a qualqucr cusio. Especialmente os goveniaiites devem ter
i..\ii r i ~ c<i~ti;i.
i qua~idoquerem ensanguerit;ir c1 iiiiitido crn virtudc de uma causa justa.
I:.<> i . i i ~ i l r : i ~ iv;ilc para a política de proteç5i1 :I scus scditos. Não podem agir de tal
t i i . i i i t i ~ . i (1111'. ;io Icvantureni a colher, quebrem o prato. Exemplo de bom govemante, 35
1 t . i t . i I i i i c - i o . C ( i rei Davi2, que soube fazcr visias prossas quando não conseguia
* .i..iil..ii . . < . t i i ~>~i.iiiilic;ir outros. N;i interpretayáu do ~Magniiicat,Lutero apresenta as
l i i i 1 i . i . l i ~ ~ . , . i i . i , . 1,:tr:t sii:r concepçáo de História, diirito e autoridade que vamos
s ~ 8 i i i i . i t ~l~~i.illi.icl;i ii<,scscritos que se seguirão nos aios posteriores ;i 1521.
'8 I Iiii.~liii,~~i~,.. (Ir liiiidainental unportância que se reconheçti que Lutero 40
q - ~ , ( l ti, t , ~ ..ii.i i ~ iiii,~i~ii~~i:i~;:ii~ i l r i Miig~rificataos govemantrs. Quando da excomunhão
$ 1 , I iii<.j~>. $ 8 , l i i , l ~ ~ , I. c l . i c t 1 : i t i I r i icii d;i Saxônia3, sohrinho do príncipe-leitor, colocou-se
à disposiçáo do excoiiiuiig:ido. O agnldecimenio de Lutero ao duque é a interpretri-
ção do Magniticat, coiifoniie podemos constatar no prefácio. Nele verificamos igual-
mente que, com o M;i$rliticiit, Lutero pretende orientar, admoestx e aiertar o duque
e a todos os govemantes, pois Deu\ quer incutir nas autoridades teiiior a ele, para
que náo confiem ern si, riias nele! Com isso Lutero faz crítica hn<iariiental ao uso
do poder. Ele não pode ter finalidade em si mesmo, senio será bestial. O poder só
existe como serviço em favor das pessoas que este« coniiadas ao que exerce poder.
Veja-se que sua exegese dos versos que falam sobre a derrubada dos poderosos é dcr
veres superior ao espaço dado a exaltação dos humildes.
1
I
C I I Is<.i:i : I ~ iiicili<loiin futuroy.
Fundamen?dçdn da Ética Política
O Magnificatl
traduzido e explicado
pelo Dr. Martinho Lutero, agostiniano
Martin N. Dreher a
311
Jesus
Ao Serenissimo e Ilustríssimo Príncipe e Senhor, Senhor João Frederiço,
I)iiquz du Saxonia, Landgrave da Turíngia e Margrave dc Meissen, mcu
( 'lciiientc Seiihor e Pdtrono, 35
iii;iiiiicstar por medo da autoridade. Por isso, 6 prrciri) que todos os superio-
res tciiiam :i Deus mais do que outras pessoas; visiii qiic nZo precisarii temer
Iioiriens, dcveni rcconhecer bem a ele e suas obras c. vivcr solícitos. como
<li/, S. Paulo eiii Rm 12.8: "Quem govcnin seja solíciii~".
Ora; ri20 ine o c o i ~ enada nas Escrituras que scrvisse inelhoi- para estc 1~~
t.:iso do que estc santo cântico da iiiiiito bendita iiiiic dc Dcus, que. sem
iliivida, todos os quc quiserem govcniai- bem e scr btiris seiiliorcs deveiii
:il)rcnder beiii e guardar lia iiieriiória. Pois nela. por certo, canta. de formit
liiiilíssima, o iemoi- dc Deus. que Senlior ele é, esp~cialmciiteq u i s siias
itli~isii:is classes supei-iorcs e hfcnoi-er. Que ouiro escute sua ;iinada que I.
' 111.1\. iiiii iIi>s qetr síbios <Ia íirécia ilo ser. V1 a.C., fit"so1o ç advogudo. Muitas de suas
iii:i\iiii;!\ Ii~iarnir;msmiliil;is i posiçiida<lepor Plulaco, DiGgcnzs, Laércio c oi~tros.Elas
l # i x ; i i i i ri>lçt:$daspor MLJLL4CI1, Fra~mi'Bla Philosophomi Gl;iecom,n, 1860.
(8 ( I M~,griilic:it- o CAnticu dc Maia - 6 cmtado rzgulame~ircrodos os <lias na ar:i$ão
<<-y~<'riici;i. rin toiii ai:iis d t o c em cui~ipa~rii tiiai.; lentc do quc o i salmos prcccdaiiçs.
I )iii:iiiic < i M!p!~iticala congesay3o fica dc pé.
/ l i i i s i i i i vcrs:i« :ileiná. Luteru baseou-sç no texto da LO/~,I:I. 111:tsc111 I l : t c l u j i i c i livre ç
v.iii;iil;!.;i i ; i I poiiio quç, ;ar> rcpriir o tesii- r i i , ilecorrci do ir:~lr:~lh<i.i, iiicsiiii, v i . i \ i i i i l i > pode
:q~,$rccrr cm vcrsic n~c~liIic:!~ki. Elc pr<\iric CII:~IIM :i :1te11y50 lptct < ) l:tl<>,
3. Pois contemplou a mim, sua humilde serva,
razão por que me diráo hem-aventurada filhos c fillios dos filhos para
scmprc.
I . Pois aquele qcic faz todas as cois~is.
fez grandes coisas eiii iiiim, e santo é seu nome.
5. E sua misericórdia vai de gerago erii geração
em todos que o temcnl.
6. Agc poderosamente coiii seu brac;o
e destrhi a todos qiie sâo orgulhosos rias intençóes de seus corações.
IO 7. Destitui os grandes seiilioi-e.s dc seu $ovcnio,
e eualci os que são iiiilos c nada.
X. Sacia os fiiinintos corii toda soite de beiis,
e deixa vazios os ricos.
4. Açolhc scu povo Israel, que lhe serve,
li depois de se haver Icmhrado de sua miscricórdia,
10. conio pronictcu a nossos p;iis;
Ahralio e seus de~criiclentesem eicmidadc.
20 Prefácio e Iiitroduçáo
Para entendermos este salto cântico dc l o ~ ~ v ocm r SLIH ordem, deve-sc
coiisidcrrir qiic a altamente louvada vii-gern Maiia fala de exper-iêiicia pr6pri;i.
na qutil ela foi iluminad;~e instruída pelo Espúito Santo. Pois iiuiguim é
capaz dc enicndcr corrctariieiite a Deus ou o palavra de Deus o não ser que
ii (I tenha do Espírito Santo; todavia, ninguém 0 pode ter do Espírito Saiito se
11ao o cxpcriiiicntai-, seritir ou perceber. Nessa experiênciii o Espírito Saiito
ensina corno eiii sua própria escola; fora dela nada se ensina além de
palavras que buscain a iiparência e conversa vazia. E cstc o caso da santa
virgem. Dcpois dc ter cxpeririientado em sua própria pessoa que Deus realiza
io nela coisas cão grandes, apesar de ter sido nada, insignificante, pobre e
desprezada, o Espírito Saito lhe ensina este rico conhecimento e sabedoria:
que Deus 2 um Senhor que iiâo faz outra coisa do que exaltar o que é
hunlildc, de humilhar o que é elevado, cm suma. dc qucbrar o qiic está feito
e de refazer o que está tluebrado.
Pois, cia inesma lor~iiacomo, no priricipio dc todas as criaturas, criou o
mundo do n:ida (ein razão do que se chama Criador Todo-Poderoso), assim
contiriua imuiável nessa iiianeira e agir: ai6 o fim do mundo todas as suas
ohras consistem em fazer idgo precioso, h«rir«so, bem-aventui-ido e vivo do
q ~ i ciiada é, do que. é insignificante, dcsprczado, miserável. morto; por «utli)
I I;iili>. wdu7.11.a niida, i< desprezado, iniserfivel e moribundo tiido o cliie é ;ilgo.
~ I I CC prcci«so, honroso. bcm-avcniurado, vivo. Nenhuma cri:iiura podc iigir
iIi.ss:i iii:iricirii: cla nâo 6 cnli:iL (Ic criar iilgo nada. 1;st;i c! :I riiz,io por cliiv
da Ética Políiiça
I~ii~i~laiiientaçáo
os ollios de Deus olham somente para a profundeza, jamais para o alto, como
diz Daniel 3.5S8: "Estás seniado acima dos querubins e olhas para a profun-
(Icza do abismo". E S1 138.6: "Deus é o mais excelso e olha para os
Iirimildes, e aos soberbos conhece de longe"; e ainda S1 113.5s.: "Onde há
u i i i I>cus como o nosso? seu trono está nas alturas, no entanto, atenta para 5
11shumildes no céu e na terra". Pois, visto que ele é o mais elevado e que
ii;i<la existe acima dele, ele náo pode olhar para além de si; também não pode
olhar para os lados, porque ninguém é semelhante a ele. Por isso há que
dirigir seu olhar nccessariameiite para si mesmo e para baixo; quanto mais
Ixiixo alguém está, tanto melhor ele o enxerga. IKI
i,sinr c tudo que é grande e elevado. E onde existem pessoas assim, todos se
:ij:rcgain a elas, a elas se acorre, a elas serve-se com prazer; todos querem
rsi;ir ali e ter paste em sua posição elevada. Não é sem razão que nas
I<sci-iiiiraspoucos reis e príncipes são descritos como honestos. Por outro
I:i(Io, iiinguém quer olhar para baixo, onde existe pobreza, ignomínia, misé- zl~
ii:i, desgraça e angústia; disso todo o mundo desvia o olhar. E onde existem
~:iispcssoas, todos se afastam, aí a gente as evita, repudia, abandona, e
iiiiiguOn se lembra de lhes ajudar, de as socorrer e trabalhar para que
i:iiiili6tn sejam algo. Dcsse modo, sáo obrigadas a permanecer na profundeza
c c111sua condição de humildade e desprezo. Aí não existe criador entre os u
Iic)iiiens que fosse capaz de fazer algo do nada, como S. Paulo ensina em
I<iii 12.16: "Prezados irmãos, não atenteis para as coisas elevadas, mas
siilicla~izai-voscom as humildes".
Por isso, essa maneira dc ver as coisas, de olhar para a profundeza, para
:I iiiisEria e desgraça, é exclusiva de Deus; ele está junto a todos que se 30
~.iicoiiirainna profundeza, como diz Pedro: "Resiste aos soberbos, aos hu-
iiiil~lcscoiicede sua gra~a"[l Pe 5.51. Dessa experiência básica flui agora o
. t i i i < i i ;i Ikus e seu louvor. Jamais alguém pode louvar a Deus sem que antes
o ;iiiic: (Iii mesma forma, ninguém pode amar a Deus se não conhece a Deus
iiiinlo in:iis amável e perfeito. E não o podemos conhecer desta forma 35
S /\r ii.iilii~iicsgrega e siriaca intcrcalan, dcpois de Dn 3.23, dois tcxtos: O Cântico de Ararias
(quc comspmde aos vv. 24-50 na Vulgata) e o Cântico dos três jovens (w.
ii:i l i i i ~ ~ ; i l l i ; i
'>I ')O Vulgata). A Biblia hebraica não conlCrn csses dois cânticos. Jç16nimo climia a
ii;~
:iii.iiq:ii> p;ira CSSI fato em sua traduç" da Bíblia para o latiin (cf Vulgata, ohsewaçócs
< I i ~ ~ilo s 23). Lulero cita coniomc a Vuigaia, c o versíciilo correspr>iirlc:I Dii 3.55 ii;i
> iv.
Vii1p~ii;i. CI. tli. Bíhlia cic JeeruiJlém.
senão por suas obras que são reveladas em nós c que sentimos e experimen-
tamos; quando, porém, experimentamos que ele é um Deus que olha para a
profundeza e que socorre somente os pobres, desprezados, miseráveis, des-
graçados, abandonados, e os que são absolutamente nada, ele se toma que-
s rido de todo o coração, o coração transborda de alegria, pula c salta por causa
da grande bem-qucrência que recebeu em Dcus. E aí então está presente o
Espíiito Santo; pois ele lios ensinou, num instante, este conhecimento e gozo
transbordante.
Por isso Deus impôs a todos 116s a morte e deu a seus lilhos e cristaos
io mais queridos a cruz de Cristo com inúmeros sofrimentos c necessidades,
sim, às vezes, inclusive, os deixa cair cin pecado, para que tenha que olhar
para bem fundo, possa ajudar a muitos, realizar muitas obras, revelar-se
como verdadeiro Criador e, com isso, tornar-se conhecido, amável e digno
de louvor. Infelizmente, porém, o mundo lhe resiste incessantemente nisto
1s com seus olhos que sempre estão voltados para o alto, e o atrapalha em seu
ver, obrar, socorrer, impedindo que seja conhecido, ainado e louvado, e o
priva de toda essa honra e, além disso, priva a si mesmo de sua alegria, gozo
e bem-aventurança. Assim também lançou seu próprio unigênito e mais
querido Filho Cristo para a profundeza de toda a desgraça e nele revelou, de
zo modo especialmente claro, o que pretende com tudo isso, com seu ver, obrar
e socorrer, qual é sua maneira de ser, seu conselho e vontade. Por isso
também Cristo, por ter experimeiltado isso cabalmciite, permanece pleno de
conhecimento, amor e louvor de Deus. Como diz o SI 21.6: "Tu o alegraste
com pura alcgria em tua presença", isso é, ele tc vê e te conhece. Também
27 o SI 44.[X?] diz que todos os santos não farão outra coisa do que louvar a
Dcus no céu, por ter olhado para eles em sua profunda humilhação e porque
ali mesmo se fez conhecido deles e se revelou amável e digno de louvor.
O mesmo faz aqui a doce mãe de Cristo, ensinando-nos, pelo exeinplo
de sua própria experi6ncia e por meio de palavras, como se deve conhecer,
amar e louvar a Deus. Pois aqui ela se gloria e louva a Deus com u n espírito
saltando de alegria, dizendo que cle havia posto o olhar ncla, sendo ela
humilde e nada; por isso deve-se pressupor que tivera pais pobres, despreza-
dos e humildes. E a fim de ilustrar isso para as pessoas simples: sem dúvida,
;is filhas dos sumos sacerdotes e conselheiros de Jerusalém eram mais ricas,
hclns, jovens e cultas, gozando da mais honrosa reputação aos olhos de todo
o p;iís, como hoje as T i a s dos reis, príncipes e pessoas abastadas; o mesnio
ocorria também em muitas outns cidades. Nem em Nazarí., sua cidade nai;il.
cl:~6 lilha dos altos dignalários, mas filha de um simples e pobre cidadão,
iiiio çozaiido de qualquer consideração ou apreço especial. Entre os vizinhos
I c siins fillias ela foi uma moça comum, que cuidava dos animais c <!os
;~l:i/crc.sdomésticos, sem dúvida, cm nada dikrente como o fiiz iiiii~ipol)r<,
iIi)iii~:slica(Ic ho.jc, quc tciii q ~ i chzcr o que sc lhe or<lcii;iliizcr iiii c:is;i.
iiiiicl;iiiii.iiiu@n da Éiic:i Pnlílicii
I'r~isassim protctizou 1s 11.1s.: "Do troiico de JessE nascerá um rebento.
t- 11' sii;i mk brotará iima flor sobi-e a qual rtpousuá o Espúito". O "tron-
( - < i " ou a "raiz" é a geração de Jessé ou Davi. es11ecific:tmente a virgem
R,I;irin. O "rehenio" ou a "flor" é Cristo. Agora. assim conio não é prová-
v < 4 . inuito ariirs uiacreditável, que de um tronco seco e de uma rair. podre 5
Irrolc uin ranio bonito e uma linda tlor, do mesiiio modo iiZo era de se
c.slxr:ir que a virgciii M*,a fosse inãe de scmelliantc filho. Pois creio que
,.I;i C cliamada de "iroiico" ou "raiz" náo soinciite por icr sidn mãe de
I o i i i i : i sobrenatural, cm virgiiidade intacta, corno, na \.erdade. é sobrenatiiral
i ~ i i c ' (Ic um tronco morto nasça um broto. Há iima scgiinda razáo. O tronco io
CIIIC. ii%i era dc se espcrar nem cra provivel que dela ainda pudesse surgir
I I I I I i i i coiii yandc honra. E juslamcnte q~i:iiido essa insignificância havia
.iiiii;viil~~ o iiuge, apareceu Cristo e nasceu do {ronco desprezado, da humilde
~ ~ ~ linociiilia.
iic O rcbenfo c a tlor brotam desta pessoa que a filha do
:.~.iili~~i Anis iiti C.iifis não tcri:iiii considerado digria de ser suei mais humilde 211
,,<.iv;\. Assim as coisas obradas por Deus acontecem lia proíuiideza, enquanto
.iiliiilo quc os homens vêem e rcalizam se dirige sonieiite pai-a o alto.
lista, pois, í- a razão de seu cântico de louvor; a este quercmos ouvir
~':il:ivrnpor pa1;ivi-a.
2'
c \ < l i i \ i v ; i (Ic lle~is.que não se pode ensinar com palavras, iniis que se pnde
iiiiiIi<.i.crsoinente por experiência própria. Neste sentido diz Davi no SI 1.3
I:.<.. i,l.X1: "I'rovai e vede como é doce o Dcus e Senhor; beni-aventurado o
I i i ~ i i i i i i iqiic nele confia". Davi pik em primeiro lugar o "provar", e somen-
li. c . i i i srgiindo lugar o "ver", porque isso não pode ser recniihccidii scm
<.\l~rriCiiciiic perc:epr;io própria. Isso, porém. ninguéin coiiscgiic :ilc:iii~ar
, 1 1 1 ~ . I I ; I O ~ o i ~ fc111
i e DCIIS(lc todo coraçáo qu;iiido .;e cncoiifr:! i i ; i ~~riifiiiiilc/:i
e na miséria. Por isso Davi acrescenta iinediatariieiitc: "Beiii-aventurado o
homcm que coafia erii Deus". Pois csse homem experirneiitiuá o agir de
Deus em seu interior e alcaiiyará, assim, aqucla doçura perceptível e, por
meio disso, toda a coiiiprccnsão e conhecimento.
Exainineiiios palavra após palavra. A primeira é: "mir~ia cilriia". A
Escritiira divide o hoiiieiii em três partes. Pois S. Paulo diz no último
capítulo de Tessaloniccnscs: "Detis, que é Deus da paz, vos santilique
inteiramente, para que t«do o vosso espírito, juntamente coin corpo c alma,
seja preseivado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" [I
Ts 5.231. AlSm disso, cada tiiiia dessas três partes, como tambfrii o homem
todo, se divide aiiida de outni foima e111 duas piries, denominados cspírito e
carne? EEa é uiiia divisso icgiiiido as qi~ilidades,não xgiindo a ii;itiircza:
cm ouiras palavras: ;i iiutiirzz;~se divide eiii três partes: cspíi-iio. alina e
corpo, que podem ser todas boas o11 iiiás. o que significa ser "espírito" ou
"canie" (do que não iremos Iklar agora).
A primeira paite' o espírito, é a parte mais elevadii, iiiius pmí'iinda e mais
nobre do ser huinaiio, qiie o capacita para compreender coisis incompreen-
síveis, eternas. Em resiiiiio. ele t: a msa onde habita a fé e a palavrci de Deus.
A respeiio disso diz o SI 51.10: "Scnlior~ci-ia no mais intinio ilc tncu ser uiii
espírito ceito", isso quer dizer, uma fé crsuida e reta. Invei-s:iiiiente, o SI
78.37 diz ;i respeito dos descrentes: "Seu c»raçZo tonão estava voltado para
Deus, e seu espírito nào se encontrava na Sé em Deus".
A alma é, segundo sua natureza, o mesmo espírito, no entanto em outra
função, ou seja, na funçào dc dar vida ao corpo e atuar por meio dele. Na
Escritura [o tcriiio "alina"] t. iisado com frcqu0iicia na acepçào de "\,idan;
pois o espírito pode, perfcitaniciilc. viver seiii o corpo, mas o corpo iiào pode
viver seiii o espírito. Ohserv;~iiiosque esta pane taintiém vive e atii;i seiii
ccssar durante o sono. Sua i'un~so1130t' a de perceber as coisas incoiiiyreeii-
síveis, mas aquilo que a razZo é capaz de reconhecer e mensurw. Pois a
rnrnão é a luz iiessa casa. e oride essa luz da razão riào for govsmada pelo
cspírito iluniiriado pcki f6. coiiio por uma luz superior, ela jtiiii~iispode estar
livrc dc erro, visto que 6 iiiedíocrc demais para tratar de assuntos divinos. A
1:scritur;i atiibui a essas du;is partes muitas qiialidudes, por exeiiiplo, sabedo-
,.i..i L.conhecimento. Ao espírito ati-ibui sabedoria, i alma, conhecui~ento.Mas
i;iiiih~iiiIhes atribui ódio, amor, desejo, horror e coisas semelh,mtes.
A lei-ceia parte é o corliii com seus membros. Suas obras se resuinem à
rxrcii$.io e iiplicação do que a alma reçonhccc c o espírito crê. Para excm-
'i Ailiii. ciiiiii>;illii~li.s,Lutem recorrc ,'i çi>iicep~ão tricotirmica da lialureza 1iuiii;uia. coristituí<l;i
c cspíl-ii<,;erii rciir csciiii>s.i i o cntinto, há passagens que iciidciii p:ir:i o idc'ia
:tliri:i
( l i . <.<BI~IC>.
ic ~ . c ) ~ ~ \ i i i u kIIP
~liiiiiiiiiiir;i,I;i ~ ~ i i i ~ l r c ,I,~c~,l:loi~. l i l "l:d6~kl i ~iá~-m:~li.riil.
1,undaniznlqão da Etica PolíTica
plificar isso com aEscntura: Moisés constniiu uma tenda com três repartiçóes"'.
A primeira se chamava "saiito dos santos"; ncla habitava Deus e não havia
iluiniiia~ão. A seguridlt se chaniavci o "santo"; nela se encoiitrava um
c~iidclahri> dc sete braços c [sete] Iâmpadiis. A tcrceini repartição se chamava
",itnn"; esse se encontrava a céu aberto, i luz do sol. Nessa imagem se 5
reflete uni cristão. Seu espírito é o "santo dos santos", a morada de Deus
na fé escura, sem luz; pois ela crê o que nâo vê, niío seiite nem compreende.
Suei alma é o "santo". Aí existem sete larnpadas, ou seja, capacidades de
toda sorte para compreender, distinguir, saber e reconhecer as coisas coipo-
rais e visíveis. Seu corpo é o "átrio": a este todos conhecem, de solte qiie io
se pode ver o que faz e coiiio vive.
Agora Paulo roga que Deiis, que é um Deus da paz, nos santifiiliie não
apenas eiii tima dessas partes, mas totalmente, por intciro, de modo que
s~jaiiisantos o espírito, alma e (3 corpo. Muiio poderia ser dito sobre o
iiiotivo dessa prece: eiii resumo: deixando de ser santo o cspúito. nada mais ( 5
6 m t o . Agora, a santidade do espíiito C a mais exposta a ataques e a qiie.
corre maior perigo; pois ela coiisistc cxclusivaincnte na simplcs pura ré, visto
que a ré 11i2o lida com coisas palpáveis. como já dissemos. Surgerii entiío
iilsos mestres c seduzem o cspúito. Um Uie propõc as obras. outro, métodos
como toinar-se justo. Sc o espírito riáo for preservado e não for sitiio, elc sc o:
desvia e Ihes segue, cai nas obrcts e métodos exieriores e achei qiic assim
alcaiiç~r8a justiçu. Logo a fé estli perdida e o espírito morto pcraritr Deus.
Daí surge toda sorte de seitas e ordens: uin se tornei carlux». outro
pé-descalyo": um quer conseguir a heni-aventuran~acoin jejiiiis, outro com
oraçórs; um corn esta obra e outro com aquela. No entanto, todas sáo obras 17
c ordciis de escollia própria, jaiilais ordenadas por Deus, inventadas exclusi-
uarnente por hoiilens! Ao lado delas, eles já 1130 dXo mais aicriçào à fé e
:i(ireiidem a coiiliar sempre rias obras, até chegarcm ao ponto de
i,si;irem t#o ciivolvidos iliic passam a discordar a respeito delas. Cada qual
iliicr yer o iiiel11,or e desprczt o ouiro, coino agora se gabam c i~ichamnossos x
iiliscrvxitesi2. E coiitrci esse tipo de sanlos por obras c mestres da piedade
i i . i i i iiiiiiios qiie pensaiii sobre ele e que o buscam por nicio 1I;i i-:iz;io oii
i~sl1~~~111:i~~íics; alCni disso, são riiiinerosos os quc o cii:ili~cciii ~.iiiii I':ilh;i
O Magnifioii
devoção c vonntadc. Ela diz, muito antes: "Miiiha alma o engraiidece", isso
qiier dizer, rod:i a muilia vida, todo o nieii ser, metis sentidos e mildias forças
Ihc atrihucrri grandes coisas, de niodo que ela esii como que euiasiada rielc
e se sente :irrcbaiatl:i para sua misericórdia e hoa vontade, como mostra I,
versículo seguiiitc. Algo senielhaiiír se dá coriosco: quando ;dguém nos faz
;ilgo especialinente bom, toda a nossa vida como qiie se move ein direção a
cle, e di~emos:"Oh, eu » aprecio muito!", o que significa piopriamente:
"Minha aliiia « enaltece". Quanio iiiais se maiiil'estará tal scriiirneiito vivo
qu;ui<lo perccbcm«s a tx>ridade de Drus que é inconierisuravelrnc~i~e grnntle
em suas obras. Todas as palavras e pensamentos nos parecerao insuficientrs.
r toda a vicl;~e a alma devein coniovei--sc, como sc tiido quisessc cantar coni
;iiegi-ia c dizcr o que vive riii iiós.
No eiit:into, aqui cxistem dois iipos de csliúitos tàlsoh. incapazes de
cantar o Mag~iificat<levidainente. Os primeiros são aqueles que iiL, loiivani
a Deus antcs que clc Ihcs laça :iIguni beneficio, como diz "Eles te
loiivam quando Ihes fazes bcrn" /SI40.181. Esses parecem li)u\r~rmuito ;i
Dcus. Visto, poréin, que jariiais cliiereiii sofrcr opi-essão c haixeza, iiunca
pciderão eupcrimentar o verdadeiro agir de Deus, e por isso t;uribém jamais
poderáo aiiinr c louvar a Deus como çoiivém. Hojc iodo o muntlo está cheio
desse tipo de servir e lou\,ar a Dcus coin canto. pregaç50, iiiúsica dc órgio.
pítàros, e o A.figiiificat E cantado rn;uavilh«s;iinciite. Ao niesiiio tempo,
porerii, é larncni5vel que usenios esic precioso czntico de iriodo inteirrirncnte
tlestiluído de vigor e sabibor. Pois c:iiitamos soiiirnte quando vamos berii:
quando, porgm, as coisas vão inal, ac:itxi-se o canto. Nada mais sc quer sabci.
de Deiis e pensamos que Deus iiáo pode nem quer realizar aiguina coisa eiii
iirís. Coin isso r) Mag~iifi~iir tambéin teiii que ficar excluído.
Os outros, que se dcsviam para o lado oposto. quc se gahnm de bericfi-
cios de Deus sem, no entanto, atribuí-los inteiramente à bondade de Deus -
esses sáo iiiais perigosos ainda. Elcs [próprios] tanihém querrili ter paric
iieles e qucrein ser Iionrados e adiiiirados por causa deles poi- ouiras pcssotis.
Conteni]>lamseiis graiides bcns que são obra de Dcus iieles, aganxii-se nclcs
e os coiisider;im como siia propriedrtdc, e sc tSrii ein conta de algo especi;il
cin comparação a outros que não possuem tais cciisas. Esta é, sein dúvid;i.
iiiiia posiçáo lisa e csçorregadia. Os tienefícios de Drus revelani 11 naturcz:i
ilos coi-;tç6ez: orgulliosos r autocniiiplacentes. Por isso é neccssjrio obseií8;ir
:i íiltimii pilaviiiiha: "Deus". Pois Muia nZo ~ I L'.Minha : aliiia engandeci
- ii si iriesma", ou "rne tem eiii alto apreço"; lampouco qucria qiic sc
lizcssc iniiiio caso dela. Muito antes. cla engrandece exclusivaiiientc a I>ciis:
:iirihiii tudo somentc a ele. Ela se despoja de tudo e devolve tuclo ;i Dciis. (10
11iia1o 1i;ivi;i iecchiilo. Einhora percebesse eiii si mcsma css;i iii~ciis:~ ohi-;~[li.
I>i.iis. sii;i iiiciitnlidailc coiiliiiii;~scii(lo t;11 que i150 sc coiisiilcroii rii;iior i10
i i i i i ~ I ; i i i i < . i i i ; i ~ Z da
o Etica Política
(IIIC. :i pcssoa mais humilde da terra. Sc o tivesse feito. tei-ia caído no inferno
1 ~ ~ I I I .I C ~ i f c r ~ ~ .
lil:i ~ c v csomcnte o seguinte peiisamento: se outra jovem tivesse sido
,~~iiii~iiiplnda por Deus coiii luis bcneficios. ela quereria alegrx-sc da mcsina
I o i i i i ; i c desejá-lo a ela tão bem quniito a si; ela, inclusivc, quereria conside- r
i . i i sc :i si inesina a úrúca iridigna dessa honra, c todas as demais, dignas. E
t:iiiiIi;iii sc teria confoimado se Deus lhe tivesse tirado esses beneficias e os
Iii~iivi~ssc dodo a uma outra diante de seus olhos. Dessa maneira ela não
.iiiir!:i,ii :i si absolutamente nada de tudo isso e relegou a Dcus seus bens
livi(.\ i. clcsernbaraçados. Ela não foi mais do que um alegre alberzue e uma 10
..,.i\,ii:il ;iiilitrioa desse Iióspcde. Por essi razão ficou com ludo p x a scmpre.
I.. i>\<) ~ U significa
C engrandecer a Deus, pcnsar grande soinente dele e
II.I{I i<~iviiiilic;ir nada para nós mesmos. Disso se pode deduzir quanto motivo
<.I;I i{.vi. 1p;ira cair e pecar, de maneira que o fato de Ler escapado da
. l i ioii:iii<.i;ic da presunqão não é milagre mcnor do que o fato de ter recebido ii
C,:.<-\ Iiriis. Nào perceks q~iimtoé mar2tvilhoso esse coração? Como m& de
I i#-ii..ll,. vI;i sc v6 c1cv;id;t acinia de todas as pessoas c, iião obstantc, pzrma-
1 8 t t 1. I:II>sirigcla e serena qiie por isso njio tciia considerado nenhuma
~ i i i ~ ~ i ~ . ~ ~ inferior
;iiI:i a si. Pobre gerite que somos! Quarido p«ssuiinos alguiis
I*.ii\. ;ilg~irnpodcr ou honra, sim, quando somos uin pouco mais bonitos do :II
lli)r isso Deus nos inantém na pobreza e na desgraça, porque não deixa-
iiic~siIc iiiarichar scus belos dons; não somos capazes de nos considerarmos >r
:I\ Iiichinas pessoas que éramos antes, iiias sempre dciuanios o &limo subir
Iiiiiic cin iodo iempo. Ela permite que Deus atue nela de acordo com sua
viiiii;iilc c náo tira para si mais do que um bom consolo, alegria e corifança
c.iii I >riis.A mcsma coisa deveríamos fazer também iiós. Isso seria cantar um o
v ~ ~ i ~ I ; ~hi'z~gniticaf.
il~~iro
I I I I . 13.11.
111 1i iiitil<n "M;ic dc Dcus", ou me\hor "Geiutora de Deus" (rlizorokm em grcga) foi
: i i i i l i i i i i l i , :i M;iri;i nci Cunçílio de Efeso, eni 4.51. Aqui Lutcm adota a dçsign;iqZo sem
iii:iiiixi.s ic>iri<?~s.
Suii <ipiiii.io pode ser verificiida em: ''D<is Cr>tii.íli<ir c <1;1 Igrcjii". In:
ill,i;i\,Y<,I<,<.i<,ii:i<l;i\, v . <,
3. p. UUI-LI??,cspcific:iincntc p. 3 6 7 s ~oll<k ;iii;ili~:i siirçirni'nlo
~ 1 . iiIi.liiii<:ii,< l i > iíliilo "Mlii. ilc I>ciis".
O Magnificat
Deus que nela se realizara. E, t i a verdade, ela procede na ordem corretal
chamarido a Deus de seu Senhor antes de chamá-lo de Salvador, e clianian-
do-o de Salvador antes de enumerar suas obras. Com isso nos ensiiia que
devemos amar e louvar a Deus em sua devida ordem e tal como ele é, e que,
de forma alguma. devemos procurar nele algo de nosso próprio interesse.
Ama e louva a Dcus exclusivaniente e do modo devido aquele que o louva
somente porque ele é bom e que nada coiisidero dénl de sua pura bondade,
e qur se regozija e alegra somente nela. Esta é uma maneira elevada, pura,
amável de amar e louvar, como convém a um espírito elevado e terno como
o dessa virgem.
Os que amam eni impureza e perversão, que buscam apenas o puro sozo
e buscam em Driis seus próprios interesses. esses n3o ;unaiii e 1ouv;un sua
excliisiva bondade, mas buscam seus próprios intcresses e querem saber
apenas até que ponto Deus é bom para eles, ou seja, em que medida Ihes
revela sua bondade de modo perceptível e os beneficia. Esses o têm eni alta
estima. são alegrcs, ç:~ntame louvam enquanto dura esse sentimento. Qii;in-
do. porém, Deiis se oculta c I-eijrao resplendor dc sua bondade, dcixaiido-os
no desamparo e na miséria, acaba-se tamlxin seu amar r louvar, não sendo
capazes de amar e louvar a bondade pura e imperceptível como ela se
encontra oculta em Deus. Com isso demonstram que scu espírito n-ao se
alegrou cm Deus seu Salvador, e que não existiu um verdadeiro a m u e
Ioirv;ir da pura bondade de Deiis. Demunstram mais priizcr na salvuç5o do
quc ni) Salvador, mais nos doiis do que no Doador, mais n;i crkatura d o que
em Deus. Pois não são capazes de permanecer iguais na abundância e na
carência, na riqueza e na pobreza. como diz S. Paulo: "Aprendi a poder ter
em abundância e a poder sofrer c d n c i a " [Fp -1.121.
A respcito disso diz o Salmo f49.18):"Eles te louvam enquanto Ihes
fiizes o bem", conio a dizer: eles têm em visia a si mesmos c não a ti; desde
que recebam de ti prazer e bens, tu mesmo não lhes interessas. Neste sentido
Cristo diz em Jo 6.26 àqueles que o procucivam: "Em verdade vos digo,
não ms procurais porqiie vistes siiuus, mas porqiie cornestes e vos famstes".
Xis espíritos iinpiiros e falsos mancham iodai as didivas de Deus e o
impedem dc ihes dar muito e tliie possa atua neles para a kem-aventurança.
Vou contar-lhes um belo exemplo disso: Certa vez uma mulher de bem teve
uma viseo. Três moqas estavam sentadas diante de um altar. Durante a niissa
saiu (10 :iltar um menino bonito e se acercou da primeira iiioça, mostrarido-
Ihc ;imabdidade. acariciou-a e lhe somii com graça. Depois se diiigiu a
scgiintla moça. Com ela não foi tão amável e também n5o a acariciou; no
criiiinto, levantou o véu dela e lhe somu com graça. A terceira não mostrou
i i i i i siii:il sequer de amabilidade. bateu-lhe no rosto, puxou-a pelos cabelos e
IIii. dcii cinpurrCxs. tratando-a grosseiramente. Depois correu rapidameiile
11i11;i $ 1 i i l ~ i i rc dr\;ipareccu.
I:iiriil:i~iiciii;içj,, iI:i E1ic;i I'i,líiic:i
- -.
Ilntão se iiiierpretou essa visão pala ;iquela mulher: a primeira mo(;a
iiyxcscnta os espíritos impuros e serisuais, aos quais Deus tem que fazer
iiiiiiios benefícios e f u e r mais a vont~idcdeles do qiie a sua; não qucreni ter
1;ilia de iiada, inas encontrar. a toda hora, consolo e prazer eni Dcus, scin se
~;itislj~eiziii cmn siia bondade. A segiiiida das inovas representa os espúitos
<~iiccomeyam a servir :i Deus c que, eiiitiura supcirtcrn ctL~iiiii;i carência,
.
;iiiicl;i não estzo totalmciite livi-cs do cgnísmo e do aiiior pr6prio. De vez e111
iliiantli~Dcus triii que ihi's laiiçar iiin olhar amoroso e fazE-10s sentir sua
Ix~iid;idc,para qiie também a p ~ n d a i i ia amar e louvar siia bondade pura. A
(ri-ccira das nloças, porém, a pobre cinderela, só conhece carência c inforiú- iii
iiio. N;io procura nenhum prnveito e se satisfaz coiii o fato de Deus scr bom,
:iiiicl;i qiic jamais 0 venha a scntii (o que, rio eriiniitri, é impossível). Elii
~ ~ i ~ n i i ~ i;ii einesnia.ce em qualquer ias«. iirna e louv;~a boiida<ledc Deus (12
iiic\iiiii fcirm'i quando <' perccpiivel conio q~iaridoC iinperceptivel [a bondiide
11,. 1)cusl. N%osc agari-a aos heiis, iliiando tais existeiii. i:iinbém não se ~ifcisin I $
i~iian(loeles fall;un. Esta é a verdadeira noiva qiie diz a Cristo: "Não qucm
o cliic C teu, quei-o a ti mesmo; não te aino mais quando vou bem, nem te
:iiiio iiicnos quando vou mal".
lisses espíritos cumprem o que esta escrito: "Não vos afasteis tlo reto e
<c.rii~ c;iiiiinho de Diiiis, nem p;ii-a a direita, nem para a csq~irrda" [Ts 30.31 1. ?i#
I w i vigiiifica que deveiii amcu- c I(iiivar a Dciis de iiiodo iiiiili~iince correin,
t - I I ; I I I buscar a si iiiesmos e scii prciprio proveilli. Davi tinlici tal espírito.
Ic.iido sido expulso dc Jeriisalém por seu filho Absaláo. e quando parecia qiic
~.si;iviirejeitado p x a seinpre, qiic nuiica mais sci-ia rei neiii iria gorar a graça
iIi, I>cus, ele disse: "Tde! se Deus ine quer, ele me recondiizirá u ela [a 25
--
pai; e se uni fdho serve ao pai apenas por caiisa rLi herança e dos belis.
;li*
cstc é, de fato, um filho odioso e merece que o pai o rejeite.
qiiçrerido ser dgo) diante do grande senhor, porque é tiielhor que te digani:
Scibe para cá, do que seres huiiulhado na presenqa do prúicipe" [Pv 25.6s.I.
( 'onio atribuir a essa virgem pura e honrada tal temeridade e arrogâmcia a
~>oiito de gloriar-se de suci humildade diante de Deus! Posto que a humildade
<. ;i vinude suprema, e ninguém a náo ser o m:iis arrogaiite se considera
Iiiitiiilde e se gloria da humildade. Soinente Deus conhece a humildade;
tiiriiMtii só ele a revela e julga, de modo que a pessoa nunca sabe rilenos da
Iiiitnildade do yiie quando ela é verdadeiramente hurnilde.
No uso [linguístico] da Escritura, "humihar" significa "rebaixar", "a-
i i i i l x " . Por isso, em muitas passagens da Escritura, os cristios são chamados
(Ic "pri~rpai,affljcii, hurniliriri" - "gente pobre, sem v~ilor,rejeitada",
iiuiio, por exemplo. no S1 116.10: "Tenho sido totalmenie anulado", ou
"rchiiixado". Assim, pois. humildade nada mais é. do que uiii estado ou uina
iitiitliqão de desprezo, insipSicância e baixeza como o são os pobres,
<I~iCntes, famintos. sedentos' presos, sofredores e moribundos, como acorite-
~ c i icom Jó em s ~ tribulação ~ i e com Davi quando foi expulso do reino, e
t , , i i i Cristo e todos os cristãos em suas aflições. Essiis sã« as profundezas a
t < y r i t odas quais dissemos acima que os olhos de Deus olham somente para
.I ~~rol'iir~deza, enquantci os olhos humanos oiham sornente para o dto, quer
,Ii/.i.i-. l>uscam somenie o estado e a condição vistosa, brilhante, pomposa. 37
10
O Magniiical
olhos repousam sobre ela constantemente, como diz no SI 32.8: "Meus olhos
estão sempre voltados p u a ti". Assim também diz S. Paulo em 1 Co 1.27s.:
"Deus escolhe a tudo que é louco perante o mundo, para envergonhar a tudo
que é sábio perante o mundo, e escolhe o que é fraco e incapaz, p m
5 e~ivergoiihara tudo que é forte e poderoso. Escolhe o que é iuda perante o
niuiido, para eiivergonhar a tudo que é algo perante o mundo". Com isso
transforma em loucura o mundo e toda a sua saòedona e capacidade.
Visto que é sua característica olhar para a profundeza, para as coisas
insignificantes, traduzi a palavra humilitas com "nulidade" ou "ser iiisigiii-
I ticante". Portanto, Maria quer dizer o seguinte: Deus contempiou a mini,
pobre, desprezada e insignificante moça. Ele poderia ter escuhido ricas,
importantes, nobres e poderosas minhas, filhas de príncipes e grandes senho-
res. Poderia muito bem Ler escolhido a filha de h á s ou Caifás, .que teriam
sido os principais do país. Lançou,.porém, seu olhar sobre inim por pura
1s bondade, e assim usou para esse fim uma moça humilde e desprezada.
Porque diante dele ningdrii deveria gloriar-se de ter sido digno disso. E
iaiiibéin eu Lenho que coní'essar que se trata de pura g r q a e bondade, e que
não Iiá mérito ou dignidadc nenhuma de ~iiinliaparte.
Acima j;í falamos siificientemente conio a doce virgem, com seu ser e
zu sua condição iiisignificante, mereceu a surpreendente honra de que Deus a
contemplou em sua imeiisa graça. Por isso não se gloria nem de sua di@-
dade nem de sua indignidade, mas somente do fato de Deus a ter contem-
plado, que é tão irnensaniente bondoso e de tamanha g r q a a ponto de ter
coiitemplado uma moça tão humilde de forma tão maravilhosa e honro~a.
i. Por isso lhe fazem injusti~aos que afu7iiam que ela não se teria gloriado de
sua vir~indadc,mas de sua humildade. Ela não se gloria nem de sua virgin-
dade nem de sua hiimildade, m a uiucamente da graciosa conteinplação
divina; por isso LI enfilse não está na palavrinha "humildade", riias na
~~iliavrinha "contemplou". Pois não é sua humildade que deve ser louvada,
t iiii~sa deferência por parte de Deus, como quando um príncipe estende a
iii.:i« a um mendigo: não se há de elogiar a nulidade do mendigo, mas a
iiiiscricórciia e a bondade do príncipe.
I'ara dissi~~aressa fals~topiiuáo r a fm dc sabennos diferenciar a verda-
clcii-:ihumildade da falsa, qiieremos fazer uma breve digressão e dizer algo
, solii-c :I huiiiildade. Pois muitos se enganam gravemente a respeito. Em nos-
5 , ) iilioiiia dciiorninamosde huriddadc o que S. Paulo chamade tapeinophrosync
c.111 gii.go2" c que eiii latim se reproduz por : f i e c r u vilitatis ou se1isu.s
Iiirririlirrrii rcrirrn, ou sela, uma inclinação ou uni sentiniento para as coisas
i7
iii\igni(icmtes c desprccadas. Agora, 116 iiiuitas pessoas que cme$:iiii a água
11:ii;io poço. Sáo pessoas que :ipuecem em roupas, posiyijes, gestos, lugares
i. ~>;il;ivras huinildcs, estáo c«nipenerrad;is disso e se ocup;un com isso. No
~~iii;iiii», pretendem coiii isso qiir os graiidcs, ~ricos,eruditos. smitus e inclu-
sive Dcus os corisidcrem gcnte que prercre ocupar-se corn coisas humildes. 5
I'ois se soubcsseni que ninguém liga pira essas coisas, eles desistiriam de tal
rxllcdientc. Essa é uma humildade artificial. Pois seu olho malicioso só vê a
r1,compcusa e o resiiltado da huniildade, e não as coisas insignificantes à
Ixirtc da recompensa e do resultado. Por isso, onde não há iecompeiisa e
ri,\iil!ado :i vista, a huiiiildade já era. Tais pessoas não podeni ser chmadas ie
iIc ;!/ti-c.ro.s vilirnrc, prssotis quc têrii vontade e coraçio para coiii as coisas
iiiii;iiilicantes, pois fazcm-no sonieritr com a bocii. ;i nino, a roiipa e o gesto.
Sc~ivoração, porém, aspira coiszis elevadas e gmdes: e peiisam alcançá-las
111vr I I I C ~ Odessa huniildade fdii;isiatla. Esse tipo se considera humilde e santo
; I si 111csmo. 1s
Os verdadeiros humildes não têin em mcilte o resultado da humildade,
iii:is olliam as coisas uisignificantes de cornçáo singelo, gostain de lidar com
t.I:i\ L, iamais ficam sabetido que s2o huiiiildes. Aqui a água jorra do poço, c
!mc.:.~(th. palavras. luaares, pessoas e roupas humildes s%ouma consequ&ici;i
11:11iii.i1. Por ouim Iado, evitam, seinpie que possível, .is coislis elevadas c IU
r'i:iiiiles. A respeito disso diz Davi iio SI 129 [sc. 131.1J: "Senhor. meu
coi;iq;iíi iião io orguihos« e meus o h s iião husc.;uam as coisas elcvadu'
iic". E em Jó 22.29 se I?.: "Qiicm si, hun~ilha,alc.uiç;~i-;íhonras, e quem
:ilriis:i o olhar será bein-avrii~iirado"~~. Assim acontece qiie a esses sobrc-
VC:III Iionra inespcradniiieiite, c siia cxaltilqfio aparcce quaiido inenos a cspe 2s
I ; I I I I . I'oque se saiisfireram eni tod:~singeleza corii sua coiidiqáo ínsigiiiti-
c.:iiiic c jamais buscaram a exaltaçào. Os falsos huinildes. porém, cstranliarii
L I I I ~ . SII;I Iionra c exaliaçáo custa tanto :i chegar, e sua Salsa anogância velada
II:IO sv s:itisSaz com sua coiidiç&ohumilde, mas, secretamente. só pensa em
> . i i l i i i iii:iis c inais. 30
que, ao mesmo tempo, niio querem ser desprezados por ninguém; evitam a
honra de tal maneira que, depois, sejam perseguidos por ela; evitam as coisas
elevadas para, depois, não obstante, buscá-las, a fm de serem elogiados e
sua causa não ser considerada a mais ínfima. Esta virgem, porém, fala
somente de sua baixeza, na qual gostou de viver c na qual permaneceu. 5
Jamais pensou em honra ou excelência, e também não teve consciência de
icr sido humilde. A humildade é algo tão tenro e precioso que ela não suporta
contemplar a si mesma. Contemplar está reservado exclusivamente ao olhar
divino, confonne diz o Salmo 113.6: "Ele contempla os humildes no céu e
l i a terra", pois quem pudesse contemplar sua própria humildade ptderia iu
jtilgx a si mesmo para a salvação, e o juízo de Deus já estaria acabado.
Snhendo que Deus salvará os humildes, deverá ficar na competência exclu-
siva dc Deus reconhecer e contemplá-la, e tem que ocultá-la de nós, colo-
~iiiclodiante de nossos olhos coisas insignificantes e exercitando-nos nelas.
('oiii cla nos esquecemos de ficarmos contemplando a nós mesmos. E para 15
isso que servem todos esses sofrimentos, morte e todas as espécies de
iiil0rfúnios na terra, com os quais estamos lutando e trabalhando para vazar
<!s oIIios maus.
Agora deduzimos claramente desta palavrinha "humildade" que a vir-
!,i.iii Maria era uma moça desprezada e insignificante, sem qualquer fama, 20
s<.iviiidoa Deus sem perceber que sua condição tão insignificante gozava de
i;io clcvado apreço perante Deus. Isso nos deve servir de coiisolo. Ainda que
Iiiiiiiil<lese desprezados, não devemos desesperar, como se Deus estivesse
i ~ t i l l ~conosco;) muito antes devemos esperar que ele é benigno conosco.
Noss;i úiiica preocupação deve ser o fato de não estamos suficientemente 25
ilisl~osiosa viver nessa humilhação, para que o olho falso não fique grande
~lriiinisc nos engane, buscando secretamente as coisas elevadas ou a auto-
<.oiiiplacência,o que sigdb a total ruína da humildade. De que serve aos
<.oii~lciiadosserem reprimidos até o mais baixo grau enquanto não estão
<lisposlosa aceitá-lo de bom grado? E que prejuízo terao todos os anjos ao 3u
si.1i.111;iiialtecidos ao máximo enquanto não se prendem a isso com prazer
i~ii1i:iiir>s(>l Em resumo: esse versículo nos ensina a reconhecermos a Deus
~oii~f;iiiiciitc, ao revelar que Deus olha para os humildes, para os despreza-
~ I i i s .I < iiioiihccc a Deus corretamente aquele que sabc que Deus alenta para
t t , . I~iiiiiililis,ioiiio dito acima, c desse conhecimento decom então amor e a
C < > i 1 1i:iiy;i ~ . i i i I>riis,de modo que o homem se entrega a ele de boa vontade
1. 111<. ,II)I~II,-L,..
:i I . A L ~ I I I ~ ~ Itlaqueles
O [homcns] no Evaii~rlliosegundo Mateus, cap. 20.11l S.]. ii
~ I I I L ' iiiiiiiiiiirara~ncontra o patrão, não porque Ihes fazia injustiça, mas porque
~ . ~ l i i i l ~ : i r ; iaos
~ n outros com o saliiio.
I li,,j~, cxisteni muitos que nao louvatu :i bondade de Deus porque coiis-
i ; i r ; i i i i ~ U 1130 C possueni ialito qii,mto S. Pcdro ou qualquer <iiitrodos santos,
o i i <.sic ori kiquele na terra. Alcgan~que, se também tivcsserii tanto. igual- VI
~
!
exíli<icm AvignonFrança, ~udcaisdescorirçntcs com seu sucessor, Urb;ilio VI, iiieger;u~i
Clçmcrire VI1 como convd-papa e eetoniardm corri ele a Avignon. O Coridio de Pixi
(abertura em mago dc 1409), foi c<invocndopor uin gupo dc cardeais para rcsolvei <i
cisma. Foram depostos os papas Gi~gónoXI1 de Rcima e Bcnedito XIII de Avignon c
elegeu-se um novo papa, Alexandre V, um imo depois sucedido por JoLi XXIII. Os palizis
drpr~stosnáo acataram a dccisáo e agora, riii vez de dois, a Igreja tiniia trZs papai. Eslii :i
i ~i1ii;iç;ioquc o Concilio de Constan~:~ tevr rliir. eiiíiiintar. JrrÃo XX?II tcve quc fugir iii,
C'oiic~lioi foi deposto, Gregório XLI iciiiincioii e Benedito XI11 foi dçprisio. Em siishiitiii~
yãi> a riidus cles foi clcito o papa Maltinho V. cri, 1417. O Concílio de Con,niiiuii;afoi i, LIILC
ci>iidçn~xi Jo3o Hiis fogueira; o dwreio S;,crosmcl;i deiimiu a primazi;i do ci~iicílir> ri>l>lr.
r > p ; i ~ , ,idéia essa que j.i vinha ;un;idurecciido h i Ici>ipoc foi posrci crn priiic:~qii;tri<lo<I;(
c<iiiv<ica<Zn<lu ciinçílio dc Pis:i.
liv. X, c:ili. S.
.!7 A p ~ \ l i ~ i l ~ <i~,ili.s.~~ic~s,
<i.
,4.l
I'ii~i~l:uneiilacão da Ética Política
[ Maria] reconhece como primeira obra de Deus [realizadaj nela o "con-
iciiiplar". Esta também é a obra maior, na qual se baseiam todas as deinais
i, (Li qual emanam. Pois, quando Deus volta seu rosto para algu61ii. para
coiiiemplá-lo, aí reina a pura Tara e a bem-aventurança, e todos os dons e
olii-as hão de seguir. Assiiii leiiios em Gn 4.4s. que Deus contemplou a Abel s
c sua oferta; a Caim, porém, e sua oferta náo contemploii. Daí as numerosas
preces 110 sdtério que Deus queira voltar para nós seu rosto, que não o
oculte, que o faça resplandecer sobre nós, etcZR.Que ela própi-ia considera
isso o mais importalte, ela o expressa ao dizer: "Por causa desse contemplar
j:ixações me considerarão bein-aventurada" [Lc 1.481. 10
Presta atenção Bs palavras! Ela não diz que irão falar muito bcm dela,
c.Iogiar sua virtude, exaltar sua virgindade ou humildade ou, quem sabe,
ciicoar um hino para exaltar seu feib. Pelo contrário, falarão somente do fato
(li, I>custer posto os olhos nela, e se d irá que ela é bem-aventurada por causa
ilisso. Isso significa dar a glóia a Deus da maneira como não pode haver is
iii;iis pura. Por isso aponta para o contemplar e diz: "&e enitn, e\ hoc..."
"l?is que de agora ein diante me dirão bem-aventurada, etc.", isto é, a
~~;iiiir do momento em que Deus contemplou minha nulidade serei decllirada
1ii.111--;iventurada. Com isso iiio se louva a ela, mas a graça de Deus para coin
c1;i. Siin, ela, inclusive. é desprezada e toma a si mesma desprezível ao ducr 20
( ~ i i i ' I>cus conteinplou su:i iiiilidade. Por essa razão, exalta sua bem-aveiitu-
i:iii$a aiites de narrar a%obras que Dcus realizou nela e atribui tudo inteira-
I I I C I I ~ Lno
' falo de Dcus ter contemplado sua nulidade.
Aprcndanios disso como honrar e servir-lhe devidmieiite. Como falar
c.l;i! Obseiva as palavras e elas te ensinarão a falar do srguuiie modo: "O 25
Iiciil-aventurada virgem e mãe de Deus! Foste tão insignificante e desprera-
LI:\. NZo obstante, Deus te contemplou de modo excessivanieiiie misericor-
(li(isoe rico, e realizou grandes coisas em ti. Não mereceste nenliuma delas,
i . ;i rica e superabundante graça de Deus em ti vai muito além de lodos os
ii~isineritos. Oh felicidade! Desde agora és bem-aventurada para sempre, tu, ia
iliic ;icliastc um Deus tão maravilhoso, etc." Não penses que lhe desagrada
i ~ i i v i rque se a considera indigna de tão grande graça. Pois, sem dúvida, não
i i i ~ ~ i i i iquando
u ela mesina confessou essa indignidade e nulidade quc Deus,
{li' niotlo algum, contemplou por causa de seu mérito, mas exclusivaiiiente
11or grii~a. 35
2~ ?r. LI 1.28.
311 E cixtiime velar a? imagens e os quadros durante a 6poc.l &A qu;iresm;i: ltimlfiiri os
rci:ihiili>s são fechados.
iI;i k:iica P~>lílic:i
I~itiiil;iiiicii1;~~;io
~
jii;iii<lc corisolo nos revelou Deus cm ti por ter contemplado tão misericor-
ilii~s;iiiicrilctua iridignidade c nulidade. Isso iios mostra que, de agora em
<li:ittic,;i tcu exemplo, também não desprezará a nós pobres homens nulos,
iii:is i(uc 110s contemplará com misericórdia.
Quc itchas' Pela grande graça que Ihes foi coiicedida imerecidamente, 7
I );\vi. S. Pcdro, S. Paulo, Sta. Mana Madalera c outros sáo exemplos para
i i ci)iisolo de todas as pessoas, para fortalecer a coiifiaiiça e a fé ein Deus.
Ai~isonXo seria, eutão, também a bem-aventurada miíe de Deus com prarer
i. iiiiscricordiosamente urn tal exemplo para o muiido? No enlailio, cla não
.1X
O MLagnific;i1
-
As " g a ~ d e sc<iisas" nada sâio s e n k o fato de Maria ler chegado a ser
a inâe de DeuG3. Nesia obra lhe forain dadas tantas e tão grandes obras que
iiinguéryi as pode compreender: pois é nisso que reside toda sua honra e bem-
averitur;uiqa, é esse o motivo pelo qual ela é urna pessoa singular dentre todo
5 o gênero liumano. Pois iuiiguéni se iguala a ela, porque ela tem cim filho
com o pai celeste, e que filho. Ela pr6pi-ia C incapaz dc descrever este
acontecimento por ser demasiadamente grande. Tem que limitar-se a que, em
seu fervor, irrompa e borbullie, dizendo que são grandes coisas que não se
podem csgotar nein mensurai- ein palavras. Por isso tcxla a sua honra foi
resuini<la em unia s6 palavra, a saber, qitan<iose lhe chama niãe de Deus.
Ningiiém pi>dedizer coisa iiiais sublime de1;i e a ela, ainda que tivesse tantas
línguas ronio existem Colhas e ervas, estrelas no céu e areia iio mar. Tmbéiii
é preciso meditar no coração o que significa ser inãe de Deus.
Ela tiunhem o atribui ititt'iramente à graça de Deus, náo a seu mérito.
!, Pois, embora tivesse sido sem pecado, essa graça era tão superior a tudo que.
de modo algum, ela em digna dela. Como poderia urna criatura ser digno de
ser a inãc de Deus'? ainda quc alguns escrilores tagarelei11 muito sobre sua
dignidade pai.;^ essa rnaternid~ide.No entanto. creio mais nela própria do que
neles. Ela diz que sua nulidade foi contemplada c que Deus n2o recoinpen-
.o soii coiii isso seu inérito, mas: "Ele me fez grandes coisas". Ele o fez por
iiiiciativa própila. sein mérito ~ i minha
e pane. Pois jamais ihe havia ocorrido
de se t o n m m3e de Deus. muito incnos se havia preparado ou disposto p m
tanto. Essa mensagem lhe veio de inodo inieiratnente itnprevisto, corno
escreve LIJGLS~'. Um niéiito. por&n, nâio esti despreparado para sua recom-
2.5 pensa, inas visa a recompensa c conla coin ela.
O fato, porém, de se cant;u no Regina coeli laetare": "...ao qual inerc-
ceste cmegzu" e eni outra p;issngem: "...ao qiial foste digna de carregar,
ctc." n;id;i prova. Pois as mesmas palavras se cantam n respeito da santa
cruzjfi,que cra Feita de mdrúci e nada podia merecer. E assim qiie isso dcve
-
33 Veia acini;i p. 32, n. 16.
?J Cf Lc 1.2L'.
15 AI palIvr&\ coiistiniein o coinqo de. 11111 hino latino do ser. E;n;: "Rainha do cru. alega-
te...", ci>n.<tanteda Liturgin das Hurns para o di;i dedicado a Maiia como raiiihu do idu,
22 dc agosto. O texto ~.omplcto:Keb.ina coeli laçruc, alleluia! Quia quçm meruisti portar?.
alleluia! rc,~uirexit,s i ~ ~ dixit,it ,dleliu:t. Ora pm ,iobis Deum, allrltu;~! Gaude e1 laetm
Virg" M.723.alleltiia! @ia s m r i t Dominur vere, iilkluia! - "Riinha do céu, dqn-te.
aleluia! Porque ailurle que merirsste c m e g x rio \,L'nee, aleliii;l! ressurgiu. como disse,
alleluitr! a Deus por nós, a i d ~ k ~ ! (Cf. " cill: L i k r Usii~lisMi7snr er Otljcu pro
L>r>iniiiici,~ci Fesfis. Desciée & Sucii, Pirisiis - Toniiici - Roniac - Nco Eboraci, 1960. p. 275.)
?O Ni> Missal Rornaio, 1" Doi~iiiigoda Quaresrii;j, kiar:i a Hom da \'6spera. consta o Ihiiio:
M.nilla h'rgj,s,)n)deunl: FuIgcf Tiii~.i\nii:vVsIeriuni,(>uiii vila morferrl pnilif, Et nlorrtr v;l;trr>
,>~,ciilU.- "O:; csisiidaircs do Ri'i scgttcin h frcnlc. Fulgç < i misMrii, do criiz. porque ;i
vi<l:iI B : ~ S V ~ I ,iiii,iic. i' wvvliiii ;i viil;, ;iii'avi.s il;, i~i<iilc".li mi i(u;in;i cslrok \i. I?:Aihir-
lxl;i
.I0
da
I~iiii<l;i~i~ctit:ic;io É1iL.a Política
scr ciiteridi<l«:para ser mãe de Deus, ela lililia que ser mulher. uma virgcrii,
( I c i iril>ode Jiidá, e crer na mensagem ayélicii. a fim de se prestar para tarito.
coii~oa Escritura fala a seli respeito". Assim como a mudeira não teve
iiciilium mérito ou dignidade exceio o de servir pala a c r u e dc tcr sido
,I~,siiiiadapara isso por Deus, assim tamhéin ela não tcvc outra dignidade
pcirii csui maternidade exccto a de se prestar e ser destinada para isso. para
qiic fosse somente graça e não se ioinassc mérito e não sc djminuísse a
i:rnya, o louvor e a honra de Dcus atribuiudo demais a ela. E preferível
;lcrrogar méritos de M a i a >a diminuú a graça de Dcus. Na verdade, não se
~~oclc derrogar-lhe méritos em demasia, visto que ela foi criada do nada,
.
coiiio todas as criaturas. Mas a graça de Deus é desmerecida com excessiva
I . l i: Ii idiitle; isso é perigoso e com isso mio se deinonstra amor a ela. E de Fato,
~xc~ciso comedimento, para não coinctcr eragero com os nomcs, chaniari-
< l < r :i dc raiiilia do céu. Isso está ccrto. Mas iiern por isso ela é um ídolo qlie
~~i<lc.sse coriceder algo ou ajudar a alguéiii. coiiio crêem alguns que clamam
iii;iis :i ela do que a Deus e iiela buscam refúgio. Ela nada dá, nicis somente
I >i.iis, como veremos logo ciii seguida.
O que époderoso. Com isso ela despoja todas as criaturas de iodo podcr
c, Iory~e os atribui somente a Deus. Ora, isso é uma grande audiícia e um
l:i;i~i~lc despojo por parle de uma iiiocinha tão jovem e insignificante: com
i i i i i i i scí palavra ela é capaz de tornar hacos a todos os poderosos, impotentes
;i ioilos os fories, loucos a todos os sábios, infames a todos os afamados e
;iii-it>iii exclusivatnente ao único Deus todo poder, toda ação, sabedoria c
I~,l<iri:i. Pois a cxpressáo ''o que é podcroso" signilica que náo há ningiiém
qiic L~qaalgo, mas somente Dcus realiz,a tiido em todas as coisas, como c i i ~
S. I';iiilo ern Ef 1.11, e as obras de todiis as criaturas são obras dc Dcus. E
i i ~ ~ sentido tc que também conlessamos rio Credo: "Creio cm Deus-Pai,
'lii<lo-podcroso". Ele é todo-poderoso, de iiiodo que. em todos e através de
ioilos c sobre todos reina exclusiva~nenteseu poder. Assuii IrimhEiii o canta
; i iii:ic de Samuel, Sta. Ana, eiii I Sm 2.9: "Ninguém tem podcr de fazer
; I I ~ 1x)rsuaI própria capacidade". E S. Paulo diz em 2 Co 3.5: "Não somos
~ . : i ~ > ; i ~ cpensarmos
sde alguma coisa de nós mcsmos, mas [tudo] de que
S O I I I I I ~capazes vem de Dcus". Este é um artigo muito elevado e que ciiccrra
i i i i i i i ; ~ cois:i; ele põe por terra toda arrogância e petulância, todo orgulho,
I:llii.i;i, Iils;i confiança e enaltcce somente a Deus; sim, ele indica a razão por
< I < .3 ,iwi ,.iliill:iiLi. r,rri;ir;i Regi7 pnryiiir;,, clci'1:i cli-qo stipidi tarn saiida iiiemhn (angere -
"Rt:~cli.ii.i~ < l i f i i i > sr: iliílgi<ln,oiiiada da piirli~irado Rei. escolhida do troiiço digno de tocar
ciii: 1,rlicr 1J.~[iid;.vhII.s.s;~ccr OiIicii pro ~ ~
I I . I .
i i i < i i i I ~ i < i \i : i i ~ , : i l , ~ a ~ l < i \ . ' '
S . i
(('I.
'liiiii,ici I
~ ~ ~c1 !I;,.<r;r.
575.1
- Nc<i Eh<hi>r:ici,1<1011. 13.
l ~ z i ~ I . ~
i
O Madica1
que se deve enaltecer somente a Deus: 6 qiie ele faz todas as coisas. Isso é
fácil de dizcr. inai difícil de crer e de aplicar iia vida. Pois pessoas que
pratic~misso ria vida são pacíficas, serenas, siiiiples; mda zurojiam a si e
sabcm muito bem que nada Ilies pertence, mas que tudo é de Deiis.
5 Portanto, com cssas palavras n santa mãe de Deus quer expressar o
seguinte: nada de todas cssas coisas e grandes bens é ineu, inas aquele que
é o único que faz todas as coisas e cujo podcr exclusivo atua em tudo, este
me fez estas grandcs coisas. Pois a k~alavra"podcroso" não significa aqui
um poder quiesceilte, como se diz que é poderoso um rei temporal, mesmo
iii quando descansa e nada faz; mas é uin poder ativo e uma atividade constan-
te, que está em moviineiito e atividade permanente. Pois Deus não descansa,
inas atua incessantemente, como diz Ciisto em Jo 5.17: "Meu Pai atua até
agora. e eu atuo também". Do mesmo riiodo diz Paulo ein El: 3.20: "Ele é
poderoso para fazer mais do que pedinios", isto é, ele seinprc faz mais do
15 quc pediiiios. Essa é sua maneira de ser, i assiiii que procede seu poder. Por
isso eu disse quc Mxia n5o qiier ser um ídolo. Ela nada faz. Dcus é que faz
todas as coisas. Devemos uivocií-Ia a fim de que, por anior dela. Deus
cmccda c faça o que pedinios. No inesmo sentido também se deveni uivocar
todos os demais saiitos, para que, riii todos os casos, a obra seja sempre
211 exclusiva de Deus.
Por isso ela acrescenta: "E santo é seu norne". ISSOsignifica: assim
como não me arrogo a obra, também não me arrogo o nome e a honra. Pois
a hoiva c o nome competem somente àquele quc realiza a obra. Não é justo
que utii t'ap a obra e outro leve o nome e receba a honra. Eu sou apenas a
5 oficina lia qual ele trabalha, inas nada coiitribuí para a obra. Por isso niri-
guém ILIC deve louvar nem dar-me a Iiorinc por me ter tornado a mãe de
Deus. deve-se honrar c louvar em iniiii a Deus e sua obra. Basta que as
pessoas sc iile~irrticomigo e me declarem beiii-nveii(urada porque Deus nie
iisou para fazer cm mim essas siias obras. Vê como ela atribui todas as coisus
$8 iiiteii-amente a Dcus. Não reclama para si nenhuma obra, ncnhiima honra,
iicnhuma glíiria. Compouta-se coiiio antcs, quando ainda não tinlia nada
dcssiis coisas, também não busca niiiis honra do que antcs. Não se vaiigloriu,
riao alardeia que sc tomou mãe de Deiis, não exige honra, mas vai e trabalha
iia casa como antes, ordenha as vacas, coziiiha, lava a Iouqa, varre e ocupa-
v, sc como urna empregada ou uma dona de casa deve ocupar-se com trabalhos
Ilcquetios e Uisignificmtes, coino se se importasse com esses dons e
~:l;iy;is extraordinários. Ela não é considerada mais entre as mulheres c
vi/iiilios tlo que antcs. Ela tampouco o clesejou, mas continuou sendo uiii;i
l ~ ~ l i i c.iiladR
i: no meio da massa das pessoas humildes. Oh, que cora@o
h i ~ i g ~cl ipiiiu! ~ que pessoa admirjvel! Que coisiis táo grandes se cscondciii
i i i i i i i ; i ;i1~~r211cin tzo humilde! Ouantas pcsswas eritiaKim em coniaio cor11 &i.
I . ~ I I I Y ( T S I ~ ~ I I I IC, O I I I C ~ ~ L IcI I I~CI>CI;IIII c0111 clii c LIIIC Iiilvei 11 iIcsprc/;ii-;i111c ; i
I iiriilanientaçiio da Ética Política
excelente texto e concorda com este cântico da mãe de Deus. Aqui vemos
igualmente que [Deus] divide em três paites tudo o que o mundo tem: em
sabedoria, poder e nqueza, e que quebra tudo isso, dizendo que niiiguém
(leve jactar-se dessas coisas, pois aí não se há de encontri-lo; tampouco ele
tem prazer nisso. E a isso contrapõe três uutra~partes: misericórdia, juízo, ia
justiça. E diz: neles estou presente, sim, eu faço tudo isso. Táo próximo
csiou, pois não o faço no céu, mas na terra; é aí que me encontro. Quem me
coiiliecc dessa forma, pode perleilamente confiar nisto e jactar-se. Pois se
1i;io é sábio, porém pobre de espírito, minha inisericórdia cstá com ele; se
11,íio for poderoso, ma,? oprimido, está ai meu juízo e o salvcirá. Se não for ii
rico, mas pobre e necessitado, tanto mais está com ele minha justiça.
Na sabedoria cle encerra a todos os bens espirituais e dons elevados, por
viiiisa dos quais uma pessoa pode ter complacência, fama c reputação, como
i i iiiostrará o versículo seguinte, quais sejam: inteligência, ruão, talento,
Ii;ihilidade, piedade, virtude, vida boa, em resumo, tudo que há na alma e 20
que se &una divino e espiritual. Por mais elevados que sejam esses dons,
iicirhum deles é Deus mesmo. Sob poder entende toda a autoridade, nobreza,
;iiiiigos, dignidade e honra, seja sobre hciis temporais ou cspúituais ou o
povo [temporal ou espisituail (embora ila Escritura não exista autoridade ou
podcr espiritual, mas tão-somelite serviço e submissZo), com todos os direi- 21
ii~s,liherdadcs, privilégios, ctc. que possa conter. A riqueza encerra a saúde,
11ii;i aparência, boa disposiçzo, força Císica e todas as boas coisas cxtcrilas
qiic podem ocorrer ao corpo. A isso se opõem três outras [categorias de
~~rssoas]: os pobres de espírito, os oprimidos e os necessitados fisicamente.
I':isscmos agora a estudar ordenadamente as seis obras c partes. 30
Ilic lite iiid»? Em qiic d;u.i;t isso'! Quero expresstu meu peiisamenio a respeito
(I? t'orm;i bcin breve. A nuroridade s~cularleiii o dever de proteger seus
hiidiii)~,como disse reileradas vews. E para isso qlie carrega a espada: para
iiiipor tenior aos que não se sujeitam a este ensinamento divino e deixem os
O Magnihc;ii
---
demais eiii paL e sossego. Nisto iaiiihéiii não procura seu pr6prio proveito,
mas o proveito da próxinino e a hoiii-;~dc Deus; seguramente prclèrhia o
sossego, dei~tiiidoa espada descansar, se Deus não o tivesse ordenado. para
reprimir os niiius. No cntanto, essa proteçâo não deve acoritecer às custas dc
um prejyízo aiiida maior e que se ajiiiite unia colher enqiimto se quebra umii
terina. E uma má proteçXo quando se põe em risco uma cidade inteira por
causa de uma pessoa. «LIquando se p»e ein jogo o país iiileini por cauiii de
um povoado oii iirn castelo. Excetua-sc o citso em que Deus o ordriic
expressainentc. como nos tempos pistados. Uiii assaltante assalta um cidu-
dão e tu te pões :i caiiiiiiho com uni cxército parti c:ist~gara injustiça e oneras
o povo uiieiro coiii irnpostos - quem causou o ninior prejuízo: o assaltailr
ou o príncipe'! Davi fez, niuitas vezes. vistas grossas quando njio podia
castigar sciii pt.cjjiiízo pazi outrus. Assini drvc proceder rl~ialqueriiiitoridade.
Por outro lado. Ininbém um cidttd.:o deve Fazer um sacrirício por amor
da cornuiiida~l~ c niío pode ipiercr cluc, por suii causa, i«dos os demais
sofram grande prejuízo. Neni iodiis as situaçaes s&«iguais. Ci-isto não per-
mitiu que se extirpasse o j ~ i o ; ' ~p:irii que juntamente com ele não fossr:
também cxlirpado o trigo. Caso se quisesse brigar por qualquer (ofensa [ii lei]
e não deixar escapar nada, jamais havcria paz e. riao obstante, reinaria a
corrupçao. Por isso o direito ou a injustiça jiiiiiais é riiz2o suficiente p;ir;i
castigir ou guerrcar indiscriininiidanienre, eriibor;~haja sobrados mi>ii\~»s
1wrii castigar com medida e sem prcjuizo pai-ii alguém i)ulro. Em iodos os
casos, ~ i i i sciitior
i ou iima autoridade terii que ter iri~iisein vist~io que 2 para
o bem de todo o povo do que aquilo que serve somente a uma parcela. Náci
se tornará rico o chefe de família que entrega o ganso porque se ihe ari.aiicou
uma pena. Essa, porém, nâo é a ocasijio para falar de guerras.
Assim se deve proceder igualmente nas coisas divinas, como, por exem-
plo, com a fé e o Evangelho, quc sio o s bens mais siiblimes; a csses
ninguém deve rciiiinçiar. Sc. porém, vEni acirscidos de dircito, favor, hoiuii
e adesão, isso se devc deixar na dependência de D t ~ i se deixá-lo erii siiiis
inãos. E preciso preocupar-se não com o co~iqiiist:~~ iiias com o coriressai', r:
suportar voluntariainente quaiido, por causa disso; se é injuriado, pcrseguido.
desterrado, quciniado ou assassinado de outnt forriia cluelqlier como injusto,
sedutor, herege, enganador, sacrílego. cic. Pois ai estiÍ presente ii iiiiscricór-
(lia. Pois pelo menos a fé e a verdade 1150 se lhe podem tirar, ainda cluc sc
llis tire a vida. cinihoni sejam poucos os qiie. neste caso, riuvejarn e coiiirteiii
loucuras para conquistar c vencer, com« é o caso rios bens e direitos ierTcnos:
pois também slto poucos os que o <:oiil'essam devidaniente e por convicyâci.
No entanto, esta pcssoa irá sofrer c lamentar-se por amor de outros, aos qiiiiis
Z oEiica I'olítica
I ~ i i i i d a n i c i i t ~ ~da
45 O tcmo hebraico kamaim aqui empregado, pode significar Canto "raios" como "chillcs".
1.iiliro seguiu a Vulgata: cornua in ~nanibuseius, quando o mais correto scria "r:iios",
c<iiiir>,aliás, consta da veisão da Biblia Alcmã (çf. WA DB llm, 107: Glcnlicn pinig<'it
vori sciiicn tkn<len- Raios saiiun dc \uas mãos). Cf. tainhém J.F. de Almci<l;ii Bíl>li;i
.lcr~~si~lCn~.
I i i : I I 1 v ; l A sr,ric :!jiiil;i :(os v;ilcnlcs.
I'uiidainentacZo da Ética Política
poder: venceu o pecado, a niorie, o mundo, o iiiferno, o diabo e todo o inal.
Neste sentido foram Fortes os mártires c vcnccram, e da inesma forma são
vencedores ainda hoje os sofredores e oprimidos. Por essa razâo diz Joel 2
Isc. 3.101: "Queni é fraco diga: sou forte", no entanto, tia Sé, sem que o sinta
até que chcguc ao fim.
Por sua vez Deus permite que a ouira categoria de pessoas se apresente
grande c poderosa. Subtrai delas sua força c permite que se inflem apenas
com sua própria força. Pois, onde entra forya humana, a força de Deus se
retira. Quando a bolha está bem iiicliada e todos pensam que hiuiSarain e
vciiccram e quando lainbém eles próprios estão seguros de o terem levado a 111
caho, Deus fura a bolha de água, como se nunca tivesse existido. Disso fala
o Salmo 73.16ss., onde o salmista se admira muito ao ver os maus tão ricos,
seguros e poderosos no inundo; por fim disse: "Não pude compreender essas
coisas até que penetrei nos mistérios de Deus e atinei com o rim deles.
Pcrccbi cntâo que haviam sido exaltados soincntc para seu próprio engano c 1s
que haviam sido humilhados justamente no que haviam sido eiialiecidos.
Como ficaram assolados de súbito, como desapareceram depressa, coino se
iiuiica tivessem existido, como se desfaz o sonho quando alguém acorda".
I: no Salnio 37.35s. sc lê: "Vi um homem ímpio, dto como um cedro no
ii~oiitcLíbano; apenas passei perto dele, e clc já havia desaparecido. Pcrgun- 20
ici pFr ele, mas já nâo existia iiiais nada dele".
E por Ialta de fé que não conscg~iiinosaguardar também um pouco, pois
ciitão vcnamos inuito bem que a misericórdia está com os tementes a Deus
com toda a seriedade e podei-. Nós descrentcs tatcmlos coin a mão à procura
da inisencórdia e do braço dc Deus, e quando não o podemos sentir, acha- 21
irios que cstamos perdidos e que os inimigos venceram; como se a Faça e
;I misericórdia dc Deus nos tivessem abandonado c seu braço estivesse
voltado contra nós. Isso acontece por desconhecermos a obra que lhe é
própi-ia. Por isso também não o conhecemos, nem sua misericórdia nem seu
hraço, pois ele tein que e quer ser conhecido na fé. Por isso, os sentidos e a 30
i.. . 7
.i~,iotêm que estar fechados. Se o olho nos escandaliza, deve ser mancacio
c lançado fora4'. Eis aqui duas obras de Deus opostas entre si; delas aprcn-
(Icii~osque a mente de Deus é tal que se mantéin longe dos sábios e
ciitendidos e que está próxima dos ingorantes e daqueles que têm que soíirer
injustiça. Isso toma a Deus digno de amor e louvor, e consola alma e corpo 3s
c todas as forças.
Observa agora as palavras: "Destrói4%s soberbos no desígnio de seu
l i ('I'. Mç 947.
I S I .iiiclo I:iI:i cni "ilculri~ir" ilil;uidu, na vcrdddc, n tenno é <liFp~.~xit - "<lisl>crs~i",conio,
ali:ís, I ~ : b c l t ~ ~ , ci )l l v ~ r s í c ~ O,
! l ~conrorn~c
~ consta ~IC~IIKI. TIIVCL sc ~ l c i x : ~ slcv:~r
s ~ ~ [prla hcrnc~
IIi:iii<:i iIi>scl<,is l i i l i i c , s ;ilciil:ii.h ~ i ! x l i i i i i i= "<lcrtriiii." c ,<?,sliriii.ri. "<lii[>i.in;ii".
O m~@icat
coração". A dcshuição acontece justamente (como dito acima) quando atin-
giram a inteligência máxima c estão cheios de sabedoria própria; então,
seguramente, a sabedoria de Deus nZo está presente. Como, porém, poderia
destruí-los melhor do que subtraindo-lhcs sua eterna sabedoria e permitindo
i que se encham dc sua sabedoria terrena, elemera e passageira? Mwia diz:
I
"os soberbos no desígnio de seu coração", o que significa: agrada-lhes sua
própria opinião, presunção e inteligência, inspiradas, não por Deus, mas por
seu coração, como sc fosse o mais correto, o melhor e inais sábio. Com isso
se Icvantain contra o temente a Deus, oprimem sua opinião e seu direito,
iu arruínam-no e o perseguem ao extremo, para qlic sua própria causa tenha
razão e persis~a;e conseguindo isso, gloriam-se e se enaltecem, coino o
fizeram os judeus contra Jesus; no entanto, iião percchcrain que com isso sua
causa estava sendo destriiída e que Cristo foi crialtccido a todas as honras.
Vemos, portanto, que cssc vcrsículo trata dos bens espirituais e como se
15 recouhcce nele o agir de Deus ein ambos os lados. [Ensinal quc devcmos ser
pobres de espíi-ito e sofrer injustiça, dar razão a nossos opositores. Afmal,
suas maquinações não irão longc, a promessa iiesse sentido C: fotle demais.
Elcs não escaparão do braço de Deus. Terão que descer, por mais que tenham
subido, se o cremos. Onde, porém, tilia essa fé, Dcus n2o realira essa obra.
xi Deixa as coisas corrcr c passa a atual- publicamente através das criaturas,
como dito acima. Essas, porém, não são as obras verdadeiras, atmvb das
quais se pode reconhecê-lo; pois h q a s [alheias) sc infiltrar1 na criatura e
não se trata exclusivainente de obras próprias dc Dcus. Essas devem ser tais
que ninguém coopera com clc, inas quc ele as realira sozinho; isso acontece
z quando nós nos tomamos impotentes e quatido somos oprimidos ein nossos
direitos ou em nossa mente, e quatido suporiamos o poder de Deus em nós;
cis aí obras sublimes.
Com que maestria ela atinge os falsos impostores! Não olha para suas
mãos nem em seus olhos, mas no coração quando diz: "os soberbos no
I desígnio de seu coração". Com isso se refcrc cm cspccial aos inimigos da
I verdade divina, como o foram os judeus contra Crislo e ainda o são. Pois
!
esses homens eruditos e santos não são soberbos em suas vcstimentas ou
gestos. Fazem muitas orações, jejuam bastantc, prcgatn e estudam muito,
tainb6m iczam missas; andam de cabeça humildemente inclinada e nâo
vestem roupas caras. Estão convictos de que não existe maior inimigo da
soberba, da injustica, hipocrisia do que clcs, c quc náo existe maior amigo
tla verdadc c dc Dcus do que eles. Como poderiam causar dano ? verdadc,
i
sciido pessoas tão santas, corretas e emditas'? Esta sua maneira de ser cria a
;ip;ii-ência e brilha, arrebatando a multidão. Oh, eles têm as melhores iiiteii-
I,, ~ k sinvocarn
, o querido Deus e têm pena do pobre Jesus por praticar tani;i
ii!iiisii~n c ser tâo soberbo, não tão piedoso como clcs. A respcito <Icsscsdiz
i c . 1 ~ ciii Mi 1 I . 10: "A siihcdorin dc Dcus 6 justific;id;i 110s scus l>iriprios
Iiiiiil;~iiicrita$ioda EUca Política
lillios", isso é, são mais justos e sábios do que eu mesmo, que sou a
s:ihc<l»riadivina. Não é certo o que eu faço, e sou ensinado por eles.
Essas são as pessoas mais venenosar e nocivas na terra. Essa é uma
;iliisinal soberba diabólica, contra a qual nada se pode [azer, pois eles niio
oiivcni; 1120 h e s diz respeito o que se diz e o aplicam aos pobres pecadores i
qiic iieccssiiain dessa inslruçiio. Eles não precisam disso. João os chama de
i-:i@ dc víboras em Lc 3.7, como também o faz Ciist04~.Esses são os
verdadeiros culpados, os que não temem a Deus e que servem apenas para
que Deus os disperse em sua soberba, porque ninguém persegue irais o
iliii.ito e a verdade do que eles, no entanto (como já disse), por amor de Deus I,,
i. i111 justiça. Por essa razão eles têm que ser os primeiros desse lado, etiire
iis 1ri.s inimigos de Deus, pois os ricos são os ùúmigos menores; os podero-
sos siio os maiores; no entanto, esses eruditos superam a tudo, eles é que
iiistigam os outros. Os ricos detroem a verdade entre eles niesmos; os
~ ~ t ~ ~ l c rao senxotam
os dos outros; os eruditos, porém, a extinguem por corn- is
l~lciiiem si mesma e introduzcm outra coisa: suas próprias presunções, para
L I I I CiiZo tenha chance de se rcerguer. Quanto a verdade em si é melhor que
Iioiiie~snos quais habita, tanto piores são os emditos do que os poderosos
C , iiciis. E com razão que Deus resiste especialmente a eles.
20
i ~ q i ~ r z aateerrorirar
c de modo mais liom'vel os iicos do que com a ameaça
<Ic quc Deus os deitlu-á vazios? Oh. que coisas Ião iricomeiisuravelmente
!:i-:incles estas duas: quando Deus eiiclie e quarido Dcus ithandona! Aí não h5
qucrn possa aconselhar nem ajudar. A pessoa humana se assusta quando
oiive quc seti pai se afasta ou seu senhor lhe retira seu favor, e nós grandes o
r ricos não nos assustamos ao ouvirnios que Deus rios rcchaça, sim. quarido
1130apenas nos rechaqa, mas, alim disso, airieaça destruir e hurnihar-nos e
iI~+,;ir-nos sem nada. Por outro lado, 6 uma alegria [quando se vê] quc o pai
c; I>»iidoso,que o senlim é clemenle, e há os que confiani iiisso a ponto de
\;icrilicareni coipo e bens. E ayiii tcrrios essa proniessa dc Deus, um tZo r
i~,i;iiidc consolo, e ri50 podemos hzer uso deles nem gozá-los, nem iipadecer
c tilcgrar-lios por eles.
I)el>ois de ter falado das obras que Deus realizou ncla e e111todos os
Ii<riiicns,ela volta ao começo e ao pririieiro pr~nto,encerraiido o Magni1ic:ii
C C ~ I ;II maior obra d t teclas as obras de Deus: a Iiiimanaçâo do Filho de Dciis.
I: confessa espontaneamente quc ela é uma ckada e serva de lodo mundo, ?r
coiifcssando que a obra realizada nela vem em benefício não somente dela,
iiiiis de todo o Israelu. No entanto, divide a Israel em duas partes e se refere
: i ~ ~ ~ i i i s h q uparte
e l a que serve a Deus. No entanto, niiigué~iiscrve a Deus a
I I ~ O scr aquele que deixa Deus ser Deus e que suas obras atuein nele. A isso
iiir rckri mais acuna. Lnfeiizmeiite se compreende e usa hoje a palavrinhii lu
"\crviço de Deus"55 numa acepção tão imprópria que quem a ouve não
~n~,iisii nessas obras [de Deus], mas no badalar dos sinos, na alvenaria e
iii:iilcir;imei~toda igrcja, iio incensiúio, no brillio das velas, na conversa na
i!'ii:iii, 110 ouro, seda; pedras prsciosai das sobrepelizes e estolas, rios cilices
dos fillios corporais, mas também lsracl, pai dos lillios espirituais. Isso
correbyoiide :to sentido da palavra "israel", pois ela sigiiifica "senhor dc
1 ) e ~ s " ~Estc ~ . é um nome muito sublime e santo e encerrii em si o grande
milagre de que. pela graça divina, um homcin chegou a tei- domínio sobre
I)cus, de modo que Deus faz o que o homem quer. Corilònne podemos IKI
vçrificar, por meio de Cristo a cristandade se uniu de tal foniia com Deus
corno uma noiva coin o noivo, de sorte que a noiva tcin direito e domínio
sohsc o corpo do noivo e sobrc tudo que ele possui. Tudo isso acoritcceu por
iiicio da fé; aí o hometn faz o que Deus qucr, e, por outra, Deus faz o que
( I Iioiiiem quer. Assim, pois, Israel é um homem dciformc e que tein poder 1s
ohii, Dcus, que, rrii Deus, com Deus c através de Deus, é scnhor capaz de
I ; i / ~ , i - todas as coisas.
Eis o que significa Israel, pois sani- sigiiifica senhor, príncipe, e1 signi-
I i<.:i Ileus. Juiit? aiiibos os elemeritos, de acordo com >ilíngua Iicbraica. e
li,i:is "israel". E uiii lsocl assim que Deus qucr. Por isso, leiid0 'lcó lutlido 211
c ( , i i i i i niljo e vencido. lhe dissc: "Teu nome será Israel; pois sc tcns ~loiiiiiiio
. . o I ~ I>eus. c também teds dorriíiiio sobre os homens" [Gn 32.281. Muito se
~vo~li.ii:i dizer sobrc isso, pois 1sr;it.l é uin sirigulw c piofiindo mistério.
'W I .iiii.ii> ilcrivn o nome "Israel" dc s:u = príncipe, senhor. r r1 = Drii\: i>n<>iiic"1sr;icl"
i.iziihiiii ~po,lcsci deriv:idu dc sw;h = lutar, e e1 = Deus, de iii;icicii;i i ~ u i ."l\r,~cI" viri:, ;I
h i , : ~ ~ i l i c ; i 'r' i , qiic luiii c i ~ i iDciir" (cí'. (;n 32.28: 15.10: Os 12.3).
Abraão. A proriiiissa de Deus a Abraão se encontra priiicipaliiiente em Gii
12.3 e 22.18: iiias taiiibEm é citada alhures em muitas passageiis e reza:
"Jurei por inirii riiesriio: erii tua descendencia serão benditas todas iis gcra-
çócs ou todos os povos da terra". S. Paulo e todos os profetas t&ii estas
5 palavriis cm alta conta, como é justo. Pois iiessas paliivras foi prcscrvado e
salvo Abi-aão junramciite com todos os seus desreiideiites, e tainbcm todos
116shaveremos que ser salvos nelas; porque iielas est6 c»ntido Cristo e está
seiido proinctido coino Salvador de todo o muiido. Este é o "seio de
Abi-aio" [Lc 16.221 no qual pcrnianeceram guardacios todijs os que foram
io salvos ariies do nasciinento de Cristo, e sem essas palavras ninguém foi
salvo, airida que tivesse í'eito todas as boas obras. Isso veremos em seguida.
Em primeiro lugar se deduz dcssiis palavras que, hr:i de Cristo, todo o
mundo sc encontra ein pecado, condenação e maldição juntamente com toda
a sua obra e saber. Pois quando Deus diz que não alguns, mas todos os povos
li hào de ser abençoados na descendência de Abraão, cntão n30 haverá bênção
em todos os povos sem essa descendência de Abraao. Que riecessidade tinha
Deus de pr«r~~cLcr bênção coin tanta seriedade e solene j~ir:imento se já
existia bênção c. riâo exçlusivarncntc maldição'? 0 s profeias Iinuiiram muitas
coisas dessas palavras c concluíram que todos os seres huriiarios são maus,
20 prcsunçoso~,~iientir«~o~. falsos, cegos, cin rcsuino, sem Deiis. de iiiodo que
não é @ande hoiuii ser chainado de ser humano nas Esci-ituras. Pois diaiite
de Deus essa designrvgio r i o vide mais cio que quando alguéiii é ctiariiado
dc niciiiiroso e desonesto perante o inuiido. O homeiii está tão coinpletamen-
te coi-roiripido pela queda de Adão que a iiiiddiqáo Uic é inata, sim, que
21 constitui sua natureza c sua essência.
E111 segundo lugar segue-se daí que cssa desceiidêiicia de Abraão não
podia nascer de hornein e niulher, pois esse riascimeiito é maldito c produz
exclusiviu~icntcfmto amaldiçoado, como acabamos de dizer. Para que nessa
descendêiicia de Abraão todo o mundo possa ser redimido dessa maldição e,
31 assim, bendita, como dizem as palavras c juramciitos de Deus, a descendêii-
cia há que ser primeiro bendita, não tocada nem marichada por cssa maldi-
ção, mas tem que ser bendição pura, cheia de graça e verdade. Por outro
lado, se Deus. que não pode mentir, promete e jura que há clc ser a descen-
dência natural de Abraão, isso é, um filho natural, de verdade, nascido dc
1 sua carne e de seu sangue, cntão essa descendência tem que ser um homerii
natural verdadeiro. da came e do sangue de Abraão. Aí então urna coisa se
contrapõe a outra: ser carne c sangue naturais de Abraão e, riâo obstluite, não
ser nascido iiaturalrneiite de homem e mulher. Por isso Deus usa a expressão
"
iua dcscendêiicia" t. riào :I palavra "teu filho", para que. eiii rodos 0s
. casos, fique claro e assegurado que h6 que ser sua carne e seu sangue iiatui-.il.
c01110 o L! ;i tiesccndi.iici;i. LJm filho nào precisa. iiecessai-iameiiie, Yei- i i i i i
lillio ii:ii~ii-;iI, coino E s:ihi~lo.C)iiciii ericoriinii-;í ;iqiii iiiii;i soliiçiio ~i;irii i~iic
I.'ilndanicnta\-ãodo Eticd Política
sejam verdadeiras as palavras e os juraiiieiitos de Deus, quando se contia-
pócm coisas táo contraditórias'!
Foi o pról~rioDeus que o fez, pois elc pode cumprir o que prometc.
cmbora nin~iiCnio eiitencla antes que suceda; pois sua p:davra e obra não
cxigern arguiiientos da razáo, iiins uma fé franca e sincera. Vê coino conci- r
liou estas duas coisas: por meio do Espírito Santo, sem a concoi-rciiciade um
hoiiieiii. suscitou para Abraão a descciidência, um filho natural de unia de
suas filhas, da imaculada virgein Maria. Aí não existe nascimento ii:ctural
iiein concepção sob a inaldiqiio que pudesse ter tocado essa descc.ndêiicia;
iiio obscinte, a desceiidência n.~turalde Abraão csiá presentc de foniia iáo ioiv
rcal como eiii todos os demais filhos de Abraáo. Essa é a abençoada desccn-
clSncia de Abfiião, na qual todo o mundo se liberta de sua nialdição. Pois
quem cr? nessa descendência, a invoca, confessa e permanece nela, a este
cstá perdoada ;i maldição e coiiferidu toda a bênção, confomic rezam as
~xilavrase os jiiramentos de Deus: "Em tiia descendência serio bcnditos i.
i(xlos os povos da terra" [Gn 1231. isto 6, tudo o que hií de ser Ixndito há
cliic ser beri<liiopor meio dessa di'sceiidência. e de nenhuin outro iiiodo. Eis
;iqiii a descendência de Abraão, nascida de nenhum de seus filhos - como
s~il>iinhame esperavam os judeus em todos os tempos , mas utiicanicnte
(Ic SI+( própria fiiha Maria. 20
E isso que a amada mãe dessa descendência quer dizer, ao afmw que
1)cus acolheu a Israel conformc sua promessa, dadli a Abraão, a ele r a toda
XII;I dcscend?iicia. Aí ela recoiilieceu que a proiiiessa se havia cumprido nela;
Ilor isso diz qiie agora está cuinprida e que ele acolheu [a Isruel], que sua
11;ilavrafoi lionrada pelo simples fato de se ter leinbrado de sua miseris6rdia. ?i
Aqui sc nos descortina a razáo do EvuigeUio porque toda a doutrina e
11ii1clamaç5o nele impele à fé erii Cristo e ao seio de Abraão. Pois onde não
~.si\tcessa fc, iiiio I i i outro recurso nem reiiiédio para apreender essa bendita
<Icsceridência.Na verdade, toda a Bíbiia depende desse juranieiiro, visto que
i < ~ ( I ;:ii Bíblia trata somente de Cris~o.Além do mais, constatamos que todos 311
11s 1i:iis do Antigo Testamento juiitarrientc com todos os santos profetas
1ivi.r;iiii a mesma fé e o mesmo Evangcllio que nós temos, como diz S. Paulo
<.i11I C'« 10.1~s.:pois todos pcniianecerm com fé fume nestc jiii'amento de
I k.iis c rio seio de Abraão, e assim forani salvos; apenas com a diferença de
i l i i i ' crcraiii i i ~ ifu~uraseniciite prometida, enquanto nós cremos na semente 35
'!'I N;i i : l > < ~ ; i .I.iiivn> ;linda ci>nsiderw;rr, ;i~i6stoloPiulo como autor d;i Epist#,l:i.iris Ilcliicus.
I : , <I<ii.; ;iiiiic <Ii.pi,is,iii~irl<iudc oliiiii:ii>.
71
O Mzignifiçat
No eiitanto, o fato de que posterioriiiente foi dada a lei aos judeus tião
corresponde a essa promessa; isso aconteccii para que, a luz da lei, reçonhc-
ccsseni tiinto iiichor sua natureza miildita e melassem com taiito maior
fervor e avidez ~ ~esia o r prometida desceiidência da Miiçâo. Com i3so tive-
raiii uma vantagem sobre os geritios de tudo o mundo. No eiitanto. perver-
terarii a vantagem e a transfonri:u.arn em desvantagem, propoiido-sr a cum-
piir a Ici por suas próprkas forças, ao inv6s de reconhcecerem, atiavçs dela,
sua carência e iiialdiç2o. Desse modo fecharam a porta para si riicsrnos, de
sorte que a descendência teve que passar de largo, no que ainda iiisistem,
Deus queira que não seja por muito tempo. Amém. Essa foi a luta de todos
os profetas com clcs [sc. com os judeus]. Pois os profetas compreenderam
perfeiiaiilente o seniirlo da lei: que nela se devesse reconhccer nossd natureza
aiixildiçoada e aprendesse a invocar a Cristo; por isso rejeitaraili todas as
boas obras c toda a vida dos judeus, porqiic iião caminliavain nesse seiiiido.
Assim, pois, [os judeus1 se enfureceraiii coiitra eles e os mataram, alegando
que estariam rcjeit;md» o ciilto. as boas obras c a vida boa, como fazeiii os
hipócritas e os desgraqados s:iritos de todos os tempos, que ri50 têm parte na
ga$:i. Muito se poderia dizer a respcito disso.
Quando, porem, ela [sc. Muna] diz: "a favor de sua desccridência em
eterriidade" [Lc 1.551, deve-se entender por "em eternidade" que esla graça
perdiirari com a descendência de Abraão (que são os judeus) desde aquele
tempo por todos os tempos, até o dia derrudeiro. Pois, ernbora a grande
massa [dos judeus] estivesse endurecida, sempre existem alguns enti*: eles,
por incnor que seja o iiúmcro, que se convertem a Cristo e crêem nele: pois
essa proiiiessa de Deus não mente: o que foi prometido a Abraão não dura
por uiii mo. nem por mil anos, irias pelos s6ciilosm, ou seja, de uma geração
para a outi:i; sem cessar. Por coiiseguuiie; n;i» deveríamos tratar oc judcus
com taiita aspereza: pois ainda cxisteni fiitiiros cristãos entre eles, e algiins
se convertem todos os dias. Ném do mais, somente eles, e não riós gentios,
tfm a promessa de que, em todos os tcmpos, haverá, enlre os descendentes
de Abi-irão, cristãos que reconhecerri a descendência bendita; nossa causa se
biiseia unicamente iia graqa, sem promessa de Deus, quem sahe como e
quando? h' Se vivêssemos cristãrneiilc c conseguíssemos converter- os israe-
lilas a Cristo com bondade, este seria, sem dúvida, o procedimento correto.
Queiii irá querer tomar-se crisGo ao obsemar que cristáos tratam as pessoas
de foniia tão pouco cristá? Assim não; estimados cristãos! Deve-se dizer-lhes
21 verdade com brandura; se não quiserem, deve-se deixá-los ir. Qunntos
00 O Icxii~laiiiio, na i,e.rsão da Vulgata, de Lc 1.55, rcza lileralmenre: sicur krtiiii\ c.91 ;,i1
~'.,!r<.srr<>,\tirisAhrahnrii er .<c-riiiiii riir.\ in saeculn - "como disse a riossos 1i:iii. ;I Ahr;iii<i
(11 I iiiri<i
~ ~ i ; i .sc'cul<i,".
r\i.i ~icn\:io<l<ri i i i ici-tiioh <li.I<iiil i
i
Fuiid~nieniuc$o da ~ 1 i c ; Pi,liilc;r
i
cristàos há que não se impoilam corri Cristo. iarnbém náo ouvcm sua palavni,
srrido piores que os gentios e judeus. Não obstimtc, nós os deixamos em paz,
ou ciitão, prostramo-nos a seus pés e os acioi-arrios quasc como a um ídolo.
Coni isso basta por ora c roganios a Uei~spor uma cornprecnsão adequada
(leste M;igniticat, para que iiáo hrilhe apeiias e fdc. mas arda e viva ein i
corpo e iilma. Que Cristo no-lo coriccda por iiitercessão e por causa dc siia
~iiiiadamãe Maria. Améin.
tipesar de saber quc Vossa Jovem Alieza Principesca tciii diariameutc boti
iii\lru@o e ailiiioeitação, iião posso ser oirusso eiii iniiili;c devida siibmissiio
r lidelidade. nrin i i ; ~ preocupaçáo dc minha coiisciêiici:~e recordaçjio iIc
Vt~isaAliera Priiicipcsc;~.Pois todos iiós esperamos que. cni tcinpos futuros,
I)c~is.ein sua graya e ventura, coloq~ieo governo da Saxonia nas 11150s de 15
\li~\snAltera Principcsca, o que serií Lirii;i giiiide e preciosa obra caso se sair
I ~ ~ ~ i c. i i .por outro liido. [uma obra] peii5osii iniserável, caso sc sair inal;
~lii..tcriins esperar e pedir pelo mclhor erii tockis iis coiszis: e. náo obstantel
I ~ . I I I ~ . C,I precaver-110s contra 0 pior. Vossa Alir7;i Priuicipcsca deve considcrar
(IIIC.. L Y I I tl~daa Escritura, jamais Drus maiidou elogiar a nciihuni rei ou zri
1 " ~ i i < ' r l rpagão, enquanto o mundo existiu, mas scinpre mandou repreendê-
I . Isso C um impressionante quadro de lemos para todas as autoridades.
1 1 1 1 1 1 1 i ~ ~i10 i i i povo de Israel, que era seu próprio povo, jamais encontrou uni
I<.II~iiiv;ivcle excelerite. Aléin do mais, nem mesino no povo de Judá, que
I i ~ i;r Ixirie pficipal de todo o gênero huriiano, pircioso e ruiiado por Deus ?i
vtliii. ii~rl~ ass coisas, poucos reis sSo elogiados, nSo iiiais que seis. E a peça
i i i ; i i \ [)rccinsa. o iiiais querido príncipe Davi, que iiio deixou niiiguém igiial
: I I I . I \ , ;i11 liido e depois dele no governo rcncno, que. cheio de temor de Deui
t . ~.iliciloi-i;i. orieiitoii e executou todas as suas uçõcs 11.1ordeiii de. Deus e não
11ui X'II pr6prio eniendimento - apesar de tudo, tanibém ele tropeçou io
.11,~1ii11:i~ vc/,cs, dc modo que tambérii a Escrihira, não pcidendo criticar seu
I \ < I i I<9. c.. i i ; i o ohsiarite, rendo que relaiai :i desgaça quc sobreveio ao povo
~VOI L .III...I (1,. I);ivi, cla não o atribuiu a Davi. iiini, deu a culpa ao povo,
~ I I , , C I I L I~~ I~ I C I. k.iis sc Iiavia irado coin o povo c por isso pennitiu que Davi,
( . . i ( I I ~ I I I I ~ I I:I. : I I I Ili~sse ~ , inovido pelo diabo a recensear o povo". Por causa zi
6Il'.'.tl Iivc-i.!rii i11ic. iiioricr da peste setenta mil homcns. Todas essas coisas
I 1, 10.. ~ ~ , I < . i ) rr i< ,I<.:;i:i Iiiriii;~para ainedroiitar as autoridades e mantê-las no
I I 1 ) . 1 1 . i I I I C . ~ I( : . II~{li~s
I I perigos que correm. Pois o griiiide patriinonio, ti
o i i t i i i i 11s ~ i i t . i .
$ 8 . , i i i i 1 * 1 i ~ . ~ ~ x l c r cti\ ,altii cstiriia, i110rn dos hijiiladores, que
jainais faltam a iirri sciilior. tudo isso assedia logo o coração dc um príncipe.
que então o levarii :I soberha, a se esquecer de Deus, a descorisiderar o povo
e o bem-estar comuml 3 volúpia, frivolidade, arrogância, ao 6cio c, em suma,
a toda solte de iiijustiçii e desinandos. que nenhuma fortiilczii ou cidade é
sitiada e atacad;~com taiit« ímpeto. Qiiem, pois, não se protege atrás desses
exemplos c nao kiz do tcinor de Deus iiin bom escudo r baluarte, conio
podcrá subsistir'! Pois quando uni senhor ou unia autoridade iiã« tem aiiior
a seu povo c apenas se preocupa com seu próprio beiii-estar e não coirio
melhorar as coiidições dc vida de scu povo, este já esti perdido. Exerce sua
autoridade apenas para a pcrdiçáo de sua alma, e dc nada lhe adiantará
instituir gaudes cclehraçõcs, coiiventr~s,altares, isso ou aquilo. Dcus exigirzá
prcstaçáo de contas de sul posiq5o c do exercício de scii cargo, e iiáo se
importará com quuliliier oulr;i cois:~.
Por isso, meu Clciiicnte Serilioi. c Pi-íiicipe, recoineiiilo V»ss;i Allez:i
Principesc;~o A~l+viiti~~:ii, erii cspccial os veisículos S c 6. onde se tem o seu
centro; rogo e exorio 3 Vossa Altez:~Principesca que, c111toda :i vida, nada
tema Lanto na tcri'i, iierii riiesmo o uifcrno, como aquilo qiie a riiúe de Deus
chama aqui dc "as iiiteiiçiies dc seu corac;ãoH [Lc 1.511. Este é 0 iiiaior, mais
próximo, mais poderoso. iiiais pernicioso inimigo de todos os Iioiiicns, acima
dc tudo, porém, das autoritlades, o que vale dizer, da raráo, do bom senso e
da boa opiniao d:i qual devcm fluir todos os conselhos e :<tosgovemainen-
tais. Vossa Alteza Priiicipesca não esc;crá pmtcgidii dele sc iiào o considera
cunstantenirrire suspeito e se não Uic segue no temor (Ic Deus. Nâo me retiro
somente 2 Vossa Alteza I?-incipesca, [nas a todos aqtieles quc súo seus
conselheiros. Nenhum deles devc ser desprezado, mas também náo se deve
coiSiar cm nenhum delcs. Eiitúo, qiie fazer'!
Vossa Alteza Principesca iiúo deve rclcgar a oração aos monges iieiii aos
sacerdotes, confoniie o muii cosliiiiie otiial de apoiar-se e confiar na oraç;lo
dc outros, relaxaiiclo :i oraçáo 11r6pria. Voss;~Alteza Princispesca deve tomar
uin àninio ir;irico e ;ilcgre, e vencer a timidez, fa1:~iidoconi Deiis no c<inqâo
<lu ein lugar secreto. atirarido-ltie desemharaçadamcrire 3s cliaires aos pés, e
cobrando-lhe as suas próprias ordenh, da scguinte maneira: V?' rneu Deus c
Pai, é tua obra e oileiii que cu iiasci neste estado e fui criado para governar.
Isso nuiguérn pode ncglu em absoluto c tu mesmo o reconheces. Seja cii
d i p o ou indigno; sou coi~iosou, conio tu oii qualquer pessoa o vê. Por isso
nic concede, meu Senhor e Pai, que possa presidir teu povo para teu louvor
c para seu bem. N,io pei-mitasque siga r i i d i ; i razão, mas sê hi iiiiiiharazão, cic.
Ncsse seritido, que tudo iicontsGa como Dcus quer. O quanto t:d oraq;io
c csia iiianeirii clc pensar lhe agraciam, ele pr6prio o iiiostrou eni SaloiiiZo.
LIUC tiui~bémorou desia Konna. oraçâo essa que traduzi e a anexei 1x11-a cl~ic
Voss;i Alíc/:i Priiicipcsca teiilin iim exemplo para este scrmão e cri[. iiiii;i
co~isoIo~l:~r:i
coiiI'i;i~i~:i
ii:~g~iv:iclc [)ciis, :i í i i i i de qiic ~ C I - I ~ I ; I I I C ~ ;IS
: ~ I IIII;IY
~I
<I;%Élicn Polilica
J~iind;uncnta~?it>
~~
Da Autoridade Secular,
até que ponto se lhe deve obediência.'
1523
,,I
INTKODITCÃO
Base p u a o cscrito sZo seiniões profrridos em Weiniar nos dias 19. 24, 25 e 26
de oiiluhro de 1522, iiiirii tor~lde sei\. Espccialiiiente no terceiro e qu~utosermão.
13 Lutero se proiiiiiiciriru a respeito do "reino de Deus e do poder secular". A ~déi;ide
preparar o testo j;i vinha de Iongii dati. inas a redação deveii-se 11 s»licitaçd(i do
pregador W«lfgarig Stein, pregador da coiie dc Weimu, e do diiquc Jodo Frcderico
da Sax6nia2. A rcdavdo foi iniciada em ineados de dezembro, seiido a dedicatória a
João Fredenco datada do "dia do ano novo de 1523", isso é, do Naval de 1522. Sua
a, publicação, poréni. deu-se em inarço de 1523, pois ii 21 de iriuryo o duque Jorge da
Ssx6riia3 apresentou qiieixa a seu respcito :i« príiiçipe-çleitoi. Joi:c da Saxônia
proibira, a 7 dç iio\~ciiihir~ dc 1522, compi;i i: vciida da ecli(.ao do Novo Testamento
preparada por Liitcro. Lutcro vai sç referir a esse fato eni nosso escrito. O escrito faz
ç gêncro liicririo designado de "liiscru(.óes para govema~itzs"(Fiirstensp~rgen.
p ~ r i do
,< Manin N. Drchci
I,,
i ..
,li..LrI.IIIIç,lIC.
I .Iii,::iio Ij;irliii<h>,1471-151<1.iliiqiic (gi>vci~i.tiirc)
da Saniiriia alki1iti;i ilcsilc 15lX).
I ii#i<l;!iiiciitaçâ<i
da Ética Poiítica
~-
I t i s . . ;iii,r\ iiiiies, cm 1520, Liiiçm csçrcvcla a carta ;ihcri;i "A Ncibrcza Ci-istZ de Nação
;\Ic.iii;~.Accica do Mcliiurmçntii do Estnn~eiitoCi-islir>" - c[. Obras Sclccioitndas, v. 2,
1 1 .!//340.
'> \iiiii.\i:i,io mantcvc um;, corriispoiid&icia assídua çi>m Agostinho, çnl2u bispo de IIipona, iio
.iii,, 412. sihic suas dúvidas tcolóçicm. No eiii;uiti>,scus problemas coin a coinpatibilidadc
~ 1 . i iI<,uirin;i dc Cristo da náo-resistência com ;ir Icis e os çoslunics do hstaclo foram
<li\i-iitiililsn;i correspond~nciacntw Agoiiiiilii~e Mzirceho,, pruç6nsi1l da Afnca, no mesmo
: i i i i i ile 412. MarccLinc iora indicado pelo imperador Iloniitio para prcsidii o sírioclo de 411,
i i i i i . iiiis um leiino no cisma dunatista. A ele A~ostiiihi> dcdicou os dois orimeim~livins <{c
r. .%~/i\i:is sâo, na temiinulogia dc Lutero, os Lci>l<igosescoláslicos cin geral que, coin scus
:i~~:iiitiiiiios rchuscados e aparcntcmcr~tevilidos, na rcaiidade náo çhcgani a ser conclusivo^.
: \ ~I\IL.SI:IO "mandamcnt~ OU c ~ ~ ~ s e l hLuma o " amplo espaço no coiifro~itnde Luicii> corn a
i,, ~ l < > j v i :cicoléilica.
i A distirição entre "inandamcnto" e "conscllio" vem clesdc Erl~~liano
i L . lli0 c;i. 220). quc debateu o assunto com base em 1 Cn 7. Tom& <li. Aquino (ça.
I ' > i1274) lainbéin distinguia eniiii "maiidamento" e "consclho" em temris dc obrigação
i . i i ~ > i : : ~ AfLmiavii-sc
>. que a iiova lei da lihcrclade crisli logo passou a acresççntir "conse-
IIi<i\" ;ti>< mandaiiicntos, o que a antigd lei da escravidão náo fe~. ESSCS"conselh~s
i.v;iiili<:licii~"dcstinavarii-se a capacitar a pessoa a alcançar mais rapidamcrite a beiu-
.ivi.iiliir;iiiç;ietcina por rneio da renúncia hs coisas do mundo, por meio cle pohreza, cariilsdc
c . iilii.,li?iiçiii. Os "conselhos cvmgElicos" não st: dçstinavani a toclos os cristáos, mas apcnai
:i iIi.i<.iiiiiii:aliis pessoas quç esliri cm condições dc ohseivá-los, comri dito cm Mt 1<).1?.21
i ' I . 'liiiii:i\ iIc Aquino, Sui~ia7 ~ ~ ~1.11. í ~;"i. . 4; 2.11, q. 184, ;li-1s. 3 c 7. oiirlc sc
l i[.~ 108,
. i l i ~ i i i : i que c"tcIo iki pcl-kiçáci C c<xiscgiiiilo ~iicllio~ ii;i viil;i nii>ri:islii;ir i i i , "rt:al<i
<.11!,:<01>:11" i10 <IL!C NO "isl:icli> i~.lipi<,\<i".
Da Autoncladt: Scçular, ate quc ponto se lhe deve obedirncia
pelo mundo todo, de modo que todos consideram essa doutrina de Cristo
apenas conselhos para os perfeitos, e não mandamentos obrigatórios para
todos os cristãos. Chegaram ao ponto de não só peimitirern que o perfeito
estado dos bispos, sim, o superpcrfeito estado do papa assumisse este estado
7 imperlèito da espada e da autoridade secular, mas conferiram-no a mais
ninguém na terra tão plenamente como à categoria dos bispos e do papa. O
diabo se apossou de tal maneira dos sofistas e das universidades que eles
próprios não mais percebem o que falam ou cnsinam.
Es~ero.
, , oorém.
. ensinar aos oríncines e à autoridade secular de tal ma-
iii neira que continuem sendo cristãos, e Cristo um Senhor, sem necessidade de,
por sua causa, transformar os mandamentos de Ciisto ein meros conselhos.
Quero fazer isso como humilde prestação de serviço à Vossa Magnificência
Princispesca e a todo aquele que disso precisar, para gl6ria e louvor de
Cristo, iiosso Senhor. Recomendo Vossa Magnificência Priiicispesca e toda
15 sua linhagem à Faça dc Deus que o aceite misericordiosamente. Ainém.
Wittenberg, no dia de Ano Novo de 1523.
Dc vossii Magniiicência Princispesca
submisso
20 Martinho Lutero
Anteriormente escrevi um livrinho à riobrcza alemã" mostrei qual é seu
ministério c função cristã. No entanto, é suficientemente conhecido o quanto
se importaram com o que escrevi. Por isso tenhc que concentrar meus
a esforços em outro sentido e escrever agora o que não devem fazer. Espero
que o acatem da mesma forma como acataram aquelc outro escrito, para que,
em todos os casos, continuem sendo príncipes e jamais venham a ser cris-
fios. Pois Deus, o onipotente, enlouqueceu os nossos príncipes, de sorte que
pensam poderem fazer e ordenar a seus súditos o que quiserem; e também
,,, os súditos sc enganam, quando mêem estarem obrigados a cumprir tudo isso
plenamente. Agora até coineçaram a ordenar ao povo que entreguem livrosy,
creiam e cumpram o que eles ordenam. Com isso atrevem-se inclusive a
sentar no trono de Deus e a dominar as consciências e a fé e, em seu cérebro
louco, a tratar o Espírito Santo como aluno. Mesmo assim exigem que não
se lhes diga isso e que ainda se os denomine de magnânimos senhores.
Escrevem e promulgam instrusões impressas, dizendo que o imperador
Iiollias d'água" que Uincaçam tuas-me o corpo e a teira. Queira Deus que
~~rrniaiieçam zangados para sempre e que iios ajude para quc náo morramos
11<1r causa de suas ameaças. Amém.
wc.tilor para que ninguém duvidc que ela existe no mundo por vontade r
iii<lriin@ode Deus. As palavras que a iuiidainentam são: Rm 13.12: "Toda
:iIiii:i csieja siibmissa a« poder e a autoridade; pois não há podcr que r i o seja
i l i . I>riis: onde quer que liaja poder ele foi ordeiiado por Deus. Qiiem, pois,
111 I i i i iI<.ii+x~i.~li.i:l c10 Edito de Wonns, n duque Jorge da Saxônia puhliçou, ein noveinhro de
I', ' ' ~ I I I I :1~,ti.I:iin;iç;i«
~ advertindo sciis súditos a respeito da proibiçdo anterior de comprar
m. 1k.i si,. l i v i t i \ (I<. I .iiicro. E bom lemhmi- quc Lutero havia publictdidi~reccnlcmenie o Novo
1, . ~ . i i i i , . i i i ( , ,.OI li~i,:ii;t ;alemá, i l u s t r h com desenhos grolescos do papa. O duque ordenou
.i i ~ l i i . i , . iIc ~ l i i i l ; l \ ;i\ ciiliias em troca do p r c p pago @o livro.
II I i , , i , , i ~ i , v i i .i Ii1:iii;i tkis "escamas" de Jó 41.15-17. E seu temo prcfcrido para designar
i ~ i t
X.!
Da Autoridade Seculiu. até oue ooiitu se lhe dcvr ohrAi8ncia
resistir. ao poder. resiste à ordenaçáo dc Deus. Quem, todavia, resiste i:
ordenação dc Dcus, este arai sobre si mesrrio a condenação". Idem 1 Pe
2.13s.: "Sede submissos a toda ordein humana, seja ao rei, conio o mais
iiobre, ou a seus procuradores que s5o por ele enviados para castigar os maus
c recompensar os piedosos".
O direito dcssa espada existiu desde o começo do mundo. Pois quando
Caiiii matou a Abel, teve tanto medo de que também o matassem que Deus
inclusive proibiu isso expressamente e tornou sem efcito a espada para que
ninguém o vicssc a matarl2. Não teria tido esse medo, caso nUo tivesse visto
e ouvido desde Adão que se deve inata os assassinos. Além disso, Deus
reintroduziu essa lei expressamente ap(ís O dilúvio e a confirmou ao dizer eiii
Gn 9.6: "Se alguém derramar saiiguc Iiiitiiano, o seu será, por sua vez.
dci~aiiiadopelo homem". Isso não pode ser compreendido no sentido de um
flageln ou ciistigo que havcria de cair sobre <I ;issassino da parte de Deus;
pois muitos assassinos continuam vivos por pagaerii fiança ou por serein
favorecidos c morrein sem a espada. DIZ-seaí a respeito do dircito da espada
que um assassirio é réu de inorlc c qiic pelo direito deve ser morto. Agora,
se a justi~afor impedida ou a espada é morosa, de sorte que o assassino vem
a fdcccr dc mortc natural, nem poi- isso a Escritura está errada ao dizer:
"Quem derramar sangue humano há quc se derramar seu sangue pelo ho-
meiii". Pois é culpa ou iniciativa do homem caso o direito ordenado por
Deus nZo for cumprido, da mesma forma como também são transgredidos
outros mandamentos de Deus.
No mais, tambéin foi confirmado pela lei de Moisés, Êx 21.14: "Queiii
niatar dguéin propositaimcntc, a esse arraicaias de meu altar, para que seja
moito". E ali se lê segunda vez: "Corpo por corpo, olho por olho, dente por
dente, pé por pé, mão por mão, Serida por Ièi-ida, galo por galo". Tmbéni
Cristo o c~rifiriiia~ qwando disse a Pedro no jarduii: "Quem tomar a espada,
pela espada morrcrá" [Mt 26.521, o que deve ser entendido no mesmo
sciiiido de Gn 9.6: "Quem dcn-aniiir sangue humano, etc." Com esta palavra
Vi-isto aponta, sem dúvida, para aquela passagem c com ela cita aqiielii
piiliivra e quer tê-la confhmada. Do incsmo modo ensinou tambérii JoUo
. . quando os soldados o perguntaram pelo que dcvcnam fazer, respon-
B..tiista;
deu: "A ninguém inaltrateis nem façais injustiça, e çontentai-vos com vosso
soldo" [Lc 3.141. Se a espada náo fossc uma instituiçâo divina, teria q ~ i c
or(lenltr-lhes quc sc distanciassem dela, pois sua f~nalidadeera a de Icvar o
11ovo :I perfeiçzo e de instmí-lo cristãmeiitc. Portanto, é certo e suficientc-
iiicriic csclarecido quc C da vontade de Deus que a espada e o direito sccular
s~:i;iiiiiisados para castigar os maus e proteger os piedosos.
Pundamcnta$ár>da Ética Política
Segundo. A isso conh-adiz vigorosamente a palavra que Cristo profere
em Mt 5.38~s.:"Ouvistes o que foi dito aos antepassados: olho por olho,
dente por dente. Eu, porém, vos digo que não se deve resistir a nenhum mal;
mas, se alguém te bater lia face direita, oferece-lhe também a outra; e se
alguém quer demandar contigo para tirar-te a túnica, deixa-lhe também a i
capa; e se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas, etc.".
Também Paulo diz em Rm 12.19: "Amados, nZo vos defendais a vós mes-
mos, mas dai lugar à ira de Deus, pois está escrito: A vingança é minha; eu
retribuirei, diz « Senhor". Também Mt 5.44: "Amai os vossos inimigos,
fazei o bem aos que vos odeiam". E I Pe 2. [se. 3.91: "Ninguém pague mal 111
com mal ou injúria com injúria, etc.". Sem dúvida, essas e outras palavras
semelhaiites são duras, como se iia nova aliança os crisifios nfio pudessem
ter espada temporal.
Eis o motivo por que tmibém os sofistas afirmam que com isso Cristo
tei-ia revogado a lei de Moisés e transbrmam esses mandamentos em "con- is
scihos" para os peilèitos e dividem a doutsi~iacristã e o estado cristZo em
dois. A utn denominam de estado peifeito. A esse adjudicam os mencioiia-
dos conselhos. Ao outro denominam o estado imperfeito. A esse adjudicam
os mandamentos. Fazem isso por iniciativa e arbítrio próprios e injuriosos,
seili qualquer base da Escritura. Não vêem que na mesma passagcm Cristo 211
ordena sua doutrùia com tanto rigor que não quer que o mínimo seja abolido,
c condena ao inlèrno os que não amam a seus inimigos". Por isso temos que
Iilar a respeito disso de outro niodo, no seguinte sentido: as palavras de
('risto permanecem válidas em geral para toda pessoa, seja ela perlèita ou
iiiiperteita. Pois perfeição ou imperfeiqão uZo tem base naquilo que se faz; zr
i;iinbém não cria nenhum estado externo especial entre os cristãos; mas tem
siin base no coração, na fé e no amor, de sorte que quem mais crê e ama,
cstc é perfeito, seja exteriormente homem ou mulher, príncipe ou camponês,
iiioiige ou leigo. Pois amor e fé não provocam separações ou diferenças
~~(criormente. 30
I l ('i: Mi 7.17-18.
I', AI "l~c>siillas"siio coleçóes de semióes expoiido as epístola5 e evangeihos dorniriicais e <Ii,s
ili;is lcriivos do ano litúlgico. A cliamada "Poitila do Watburgo" foi publicada a poilir. <li.
i,!;iy<> <tc 1522 cm líiigua latiiia. Quarito ao tenra "lei", cf. especialmelrie: Iiv;iirgc5i~iri
II A i s i r - WA 7,472~s..precisamente p. 476,ZXss.
118 ( ' I . I 'I',,, 1:).
l i ( ' I . li!,, i ? i .
1:uiidanieiii;iq;io<tiEtiça Política
Deus c«riibate a todos eles coiii a lei para que iiáo ousciri praticar exterior-
mente sua maldade por obras conforme scu wbilno. Além disso. S. Piiulo
iiiiida confei-e à lei outro ofício em Rm 7.7 e G1 2.16~s.: ela eiisu~aa
recoiiliecer o pecado, para que o ser humano se tomc humilde para a g r a p
c a fé em Cristo. E assim que também Cristo age aqui em Mt 5.39, ao 5
ciisinar que não se deve resistir ao mal. Com isso interpreta a lei c ensina
como uni verdadeiro crisiao deve e tem que ser, como ouviremos mais abaixo.
Quwfo. Ao reino do mundo ou sob a lei peitencerii todos os não-crisláos.
I'ois, visto que sáo poucos os crentes e somente a ininoiia age como cristãos,
li:«> resistinclo ao inal, oii nié nUo fazendo cla própria o inal, Deus criou para 10
IS I.iilci<i\e referc aos grupos anahatistas e outra.. çorrcntes espintiialistas, especialrneiiiç ;i.:
liili:i.al:ir por T>n~ás Miinliçr, que derivavam exigências poliri~isdo Evangelho. O i n < i v i ~
i i i i . i i i < i ciiltiiini>ii na Cuen;i <I<ir C'aniponeses já em 1525. C í . nmlc volumc os li.xl<i\ :I
8t.y".1lfl <I<> ;is\iicil<i, 1., 271-401
Da Autoridadç Sccular. ti16 quc poiil<ise lhe devs r>bedifncia
A uma tal pessoa sc teria que dizer: Sim, é certo que, por causa própria,
os cristáos não estãci sujeitos a nenhuma lei ou espada, nem delas necessitam.
Mas cuida c enche primeiro o mundo de verdadciros cristãos antes de
gonverná-lo cristã e evangelicamente. Isso, no entanto, Jamais conseguirás,
s pois o mundo e a massa do povo são c pcrmaneccm acristáos, mesmo que
todos tenham sido batizados c sejam chamados de cristãos. Os crisaos,
porEm, como sc costuma dizer, moram distantes um do outro. Por isso não
é possível que se estabeleça uin rcgime cristão geral para o mundo inteiro,
nem mesmo para um país ou uma grande multid2o de pessoas. Pois os maus
iii sempre superam os justos em núincro. Por isso, sc um país inteiro ou o
mundo se arriscasse a governar com o Evangelho, seria a mesma coisa que
se um pastor juniasse no mesmo cstál~ulolobos, leões, gaviões e ovelhas c
os deixasse coriviver livi-emente e dissesse: "Apascentai-vos e sede ,justos e
pacíficos iiiis com os outros; o cstábulo cstá aberto, tendes pasto em abun-
ii dância, não prccisais temer cães nem cacetes". As ovelhas ceriamente seriam
pacíficas e se deixariam apascentar c govcrriar pacificamente; mas não vive-
riam por muito tempo, e nenhum animal estaria a salvo do outro.
Por isso tein que se distinguir cuidadosaincnle esses dois regimes e
deixá-los vigorar: um que torna justo, o outro que garante a paz exterior c
211 combate as obras más. Sozinho nenhum dos dois basta no mundo. Pois sem
o regime espiritual de Cristo ninguém pode ser justificado perante Deus por
meio do regime secular. Pois o regime de Cristo nâo se estende sobre todos
os seres humanos, mas, em todos os tempos, os cristáos sáo o grupo menor
c encontram-se dispersas entre os acristãos. Onde, pois reinar somente o
25 regime secular ou a lei, aí pode haver somente hipocrisia, mesmo que fossem
os próprios mandamentos dc Deus. Pois sem o Espírito Santo no c»ra@o,
ninguém se torna verdadeiranientr Jiisto, faça tantas belas obras quantas
quiser. Onde, porém, o regime espiritual governa sozinho sobre terra e gente,
a í s e &arao
; rédeas soltas à inaltlade e se abrir& espaço a toda sorte de
patifarias. Porque o mundo em geral náo o pode aceitar c compreender.
Vês, pois, qual é o sentido das palavras de Cristo que citamos acima de
Mt 5.39, segundo as quais os ci-istzos nZo devem defender seus dircitos nem
ter em seu meio a espada temporal. Na verdade ele o diz somente a seus
arnados cristãos; eles também sáo os únicos que o accitain e agcin de acordo,
v. c iiao as transfonnarn em "conselhos", como os sofistas, mas, pelo Espírito,
rcccbcram no cora~Zouma natureza tal que não fazem mal a ninguém c
sokem, de bom grado, maldade de iodo o mundo. Agora, se o mundo inteiro
li~sschrinado de cristaos, todas essas palavras lhc diriam respeito e ele agiria
iIc :icei-do. Como, porEm, E formado de acristãos, essas palavras náo o
;iiiiigcin c ele não age de acordei; está sujeito ao outro regime, no qual sc
li~i-<;:iiii
c ccimpclem os cristáos exteriormente à paz e ao bem.
I'or css:i razão, Cristo I:iinh6rn rião iisoii espada c iaiiibéin iiZo iiistiiiiiii
da
I~i~iiikiiiiciitaço Etica Política
~i~~iiliuina em seu reinoL".Pois ele é um rei sobre eristáos e governa sem lei,
ziiiiiciite através de seu Espírito Santo. E, apesar de ter confirmado a espada,
it;to ,zl uso dela. Porque ela não serve para seu reino, onde só há justos. Foi
1"" esta razão que outrora Davi não pode construir o templo: havia derrama-
i10 iii~iitosangue e usado a espadazu. Não que tivesse cometido alguma s
iitiiistiça, mas não pôde ser um protótipo de Cristo que quer ter um reino
~~;icifico, sem espada. Essa missão coube a Salotnão, que signilica o Pacíficoz1,
11iic tinlia um reino de paz com o qual se podia indicar o verdadeiro reino de
1 ) de ~ Cristo, o verdadeiro Fredei-ico, o verdadeiro Salomito. O texto ainda
(liL:"Em toda a construção do templo nunca se ouviu instrumento de ferro" iii
I I I<s 6.71. Tudo isso para indicar que Cristo teria um povo livre, sem
l!ri'ss,fies e atropelos, sem lei e espada.
E isso que expressam os profetas no S1 110.3: "Teu povo serão os
vi~loiil;írios".E 1s 11.9: "Não matarão, nem farão dano em todo o meu santo
iii~~iitc". E 1s 2.4: "Converterão suas espadas em pás de arado e suas lanças l i
(.i11liices, e ninguém levantará uma espada contra o outro e se dará ao
1i:i11:1111o de lutar, etc." Quem quisesse estender esses e outsos versículos a
it~los1)s lugares onde é pronunciado o nome de Cristo, este estaria perver-
i<.ii,lir:i Escritura; eles se referem tão-somente aos verdadeiros cristãos: estes,
< o 1 1 1 cctleza, procedem desta foma entre si. 20
8')
FiiiiiI,uucntacão da Ética Políliça
Este é o segundo cnsinamento: é teii devcr seivir à espada c promovê-la dc
todas as forinas, seja com a vida, bens. Iioiua e alma. Pois trata-se de iiina
obra da qual não nccessiias. mas quc é cxiieiiianiente útil c necessária para
tcido o mundo e pura teu próximo. Por isso. ao veres que Ii;i f:ilta de carrasco.
agente po1ici;d. jiiiz, senhor ou príncipc c ie julgares apto, deverias ofercccr s
c candidaw-te, piira que, de foiiiizt iilguma, a autoridade tâo necessária sesa
~lebprerada,enSraquecida ou dcsiipareça. Pois o mundo não podc e 11311
consegue prescindi-Ia.
Motivo: Neste caso assumirias um serviço e uma funçio cornpleiamentc
alheia, quc não traii:i proveito para ti tiem para tua propriedade ou honra. iii
inns que é de provcito somente para o próximo e para outros. E não o farias
coiii a iriteiiçâo de te vingares oii de pagares mal por mal, mas para o hem
(Ic ieii próximo e para a preservayáo da segurança e paz para os outros. Pois
p : i ~ti iiicsmo ficas com o Evangelho e te citeiis a palavi-a de Cristo, soli-eiido
(ILI hoin griido a outra bofetada no rosto c entregando a capa com a vestc - I.
(Icsde quc aliiija a l i c tua própria causa. Assiin as duns coisas comhinani
iii.iravilhosarncntc: satisfazes ao rcino de Deus e ao rcino do rnundo, e n t e
i i~~iiiieiite e interioniiciiie, sofres mal c injiistiça e castigas iiial e itijlistiça ao
iiiL,\ino tcinpo, simultaiieanictitc não resisics ao mal e, nào obsiaiiie, Ihc
i~.hisics.Pois coin Lima cr~isavisiis a ti e o que E Icu, com a outra, leu 20
~liiixiinoc o que seu. Onde se trata de ti e do que é teu. aí agirás de acordo
i.oiii ( I Evangelho c sofrerás, como bom cristão, injustiças tio que tocu a tuii
Ilissoa; onde se trata do outro e do que é seu, aí agirás de acordo com o
;itiior e niio permitirás injustiça para teu próximo; c isso o Evangelho não
~m~ílic, muito antes, ordena-o em oiitia passagem. 3$
. I I I a ~~ u i i li,,:.. t ~ O cliic, pois, foi correto pai-a eles, E correio iamhCiii p;ii-;i
14~rhr. < ri..f.i<!,. I I V ~ , I C o [>i-iiicípio :i16 ( I Iiin &I n~iincl~i.
Pois :i Cpoc:i c o
I Da Auiori<ledc Scciilni-. até que ponto se Ihc
dcve okdi2nii;t
inodo cxterior de viver não faz diferença entsc os crislãos. Também n3o é
vrrdade qiie o Antigo Testamriito esteja abi>lid».de fosma que não o devês-
semos curriprir mais ou que esiivcsse eii-ando aquele que o cumpre, corno
uicorreram em erro S. JeriiniiiiG' e muitos outros. Muito antes, o Antigo
5 Testamento foi superado no senticio de que somos livres para curnpi-i-lo e
para deixá-lo, e que nào mais é iiecessário cumpri-lo sob pena de perder-sc
a alma, como foi outrora.
Pois i'iiulo alirina em I Co 7.19 e Ci1 h. 15 que nem o prepúcio iirm a
circuncisão tem algum valor, mas tão-soiiicnte uma nova criatura eni Cristo.
iii bso é, não 2 pecado ler u n ~prepúcio, corno pensavam os judeus; tainbém
não C pecado circuncidar-se, como pens:ivain os pagàos, mas ambas as coisas
são livres e boas, caso alyéin as fizer sem pensar que coiii isso seja jusli) r
venha a salv;ii-=se. O iiiesmo acontece coiii as demais p'artes do Aniiso
Tcstaiiiriiio: não é incoi~etoquando algiií-iii c) deixa de cumprir, e nào é
15 quando dgiiéiii o cumpre. Tudo isso é periniiido e born para cumprir ou
deixar de cumprir. Caso fossein úteis c necessários para a salvação do
pióximo, dcver-se-ia cumprir a iodos [os preccitos do ATJ. Pois todas as
pessoas têm o dever de fazer 0 qiic i- útil e necessário para o pr0xirii0, esteja
cscrito no Antigo ou Novo Testariieiito, seja algo judeu oii algo :eiltio. E
ashim que Paulo « ensina ein I Co L?. 13. Poii, o amor a ludo pesmeia r está
aciina de tudo c visa ao quc é útil e iiecessirio para os outros e não pcrzunta
se 4 vciho ou novo. Assirn também tens liberdade ein relaçào àqueles
cxenlplos do uso da espada: podes iiiiitá-10s e tainbém deixar de iinitá-10s.
Apenas, ao veres que teu pr6xiino o iiecessitii, o amor te constrange a f n ~ c r
3 o que iiomlalincnte te estaria 1ilxr;alo c que te seria desiiecessirio. No
entaiiio, 1i2o penses que coiii isso poderiiis ioriiar-te justo e obter a salvação,
como se ;u.r«gavani os judeus com basr eiii suas obras; isso deves deixar por
conta da E que te toma nova criatura sciii as obras.
E para priivá-lo tariib61ii a paitir do Novo Tcstamenio, João Batista é um
I fiiine ponto de referência, Lc 3.11, que, seni dúvida, teve qiie tes1eiiiunii;ir.
apontar e ensinar a Cristo. isso i, sua doutrina tevc que ser geiiiiin:unente
iieotcstameriiária c evangGlica, já que deveria conduzir a Cristo tini povo
justo e perfeito. E ele c o n f i a o oIício dos soldados, dizendo que devem
'I ,Al.iiit,. ,Ir Mngdcliuiço, foi o com;mdante da Icgião tchaia que, segundo alenda,
i.). ~ ~ , i i ~ ~ l i i < i
1 ?íI.iiicni ci>stumii cii;ir ;i níhli;i ilc iiicirifiria. Daí ilccoiriin dircrcnya.: ~ i o rIci-iiii,.; r ~ i s
rvli.riloçii~s. N o P~C<I.III<. 1 '1'1114.4 C<>III'1'1 1.155.
c : ~ , . i~\v*.ic>u
I 'iiiaI;uiiciitaçZa d;i Ética Política
iliic, p x a desempenharem bem esse srti ofício, têm que se abster da espada
si:cular e deixá-la para outros, quc não precisam pregar. Embora, como jli Toi
iliio, usá-la náo contradiz sua posição. Porque cada qual tem quc se dedicar
:i sua profissão c labor.
Por isso, embora Cristo não tivesse usado a cspada ncm ensinado nada s
:I respeito, basta que não a tenha proibido nein abolido, mas que a confimiou.
como é suficiente que não aboliu o estado iiiatrimonial, mas o conlirmoii,
:iiiida que 1150 ienlia tomado esposa ou eiisiii;ido algo a respeito. Pois ciii
lo<i;isas coisas t u h i que apresenta-se coni uma posição e obra que servisse
i.xprcssainciite apenas a sei1 reino. para que náo se acliasse motivo e exemplo I,*
l ~ ~ i erisiriar
r3 e crer que o reino dc Dciis não pode subsistir seiri iuati-iriiGnio
c espada, e semelhantes coisas exteriores, (porque os exemplos de Cristo sã«
ticccss;uirunciite nonnativos), enquanto. lia realidade, subsiste somente atra-
vCs da palavra de Deus e do Espírito. E cssc foi o verdadeiro ministério de
('risto c o teve que ser, como Rei supremo nesse reino. Agora, visto quc iiern ií
'0 I<sic icniii 6 discutido cni : Dcbatc Circular subrc Mt 19.21. C t p. 214-269 o lexlo nu
l > ~ s v n vrdumc.
li
' i ('I. :icitn:i p. 80, n. h c 7.
ccp. I : "Cri\li> "30 disse: 'Eii SOL! ;I phlirii cc>iiiiiiii'.
' S ('I. '1i.i-iiili;uii>. Ilc virginihus vcl~in<li,s,
O,:IS: 'I+) S C ~ :)I vcr<ki<ic"' (Mignc 1'1, 2,880).
!
I
Da Aiiiorid:i<lc Secular, atC que ponro se IIic deve obediiiricia
VCs aqui que Cristo não anukc a lei quando diz: "Ouvistes o que foi dito
aos antepassados: olho por olho. Eii, porém, vos digo: não resistais a nenhum
mal", etc. [Mt 5.38,s.l. Pelo contrário. interpreta o sentido da lei corno deve
ser compreendida. E como se dissesse: vós judeus perisais qiic é justo e bom
5 perante Dcus recuperru o que é vosso com justiqa, e recon-eis ao qiic disse
Moisfs: "Olho por olho", etc. IEx 21.25j. Eii, porbm, vos digo quc Afoisés
deu essa lei por causa dos miius, que náo pertcucerii ao reino de Deus, para
que náo se viiiguein a si mcsmos ou f a p m algo pior. mas quc, por esse
direito extenio. sejam coagidos a dcix;u- de coisas más, para que, eiii iodos
1 os casos, sejain submetidos 5 autoridade por uni direito e regune externo.
Vós. poiém. dcvcis conduzir-vos de liil maneira que não iicccssiteis de tal
direito nein o pr»ciircis. Pois. riiihoci a autoridade seculru- iiecessitc de tal
lei para julgar os iiicrédulos, e cii~horavós mesmos a possais usar 'ira julgar
a outros conlòrme ela incsrna. não dcveis iiivocá-Ia nem valer-vos dela em
IS çausii própria. Pois vós tendes o rciiio do céu, por isso dcveis deixa o rei110
da tcrra para nqiielc que vo-lo quer tirar.
Aqui vês que Cristo náo interprcta suas palavras no sciltido de aboli a
lei de Moisés ou proibir a espada scc~ilar.Pclo contrário, exime os scus [da
lei], i i ~ odevendo usar a mesma pai-a si próprios, mas deixá-la para os
21, incrédulos, aos qiiiiis podem servir incliisive com seu próprio direito ttiiquan-
10 rxislirciii 11%-crisi5ose pelo fatr~de 1i.b sc poder forçar a iiingutm a ser
cristão. Fica çlilo que as palavras apcnas se relèmn aos seus pelo Ijlo de
dizer depois que devem aiii;u os uiimigos c ser perieitos cuiiio seu Pai
celestial"'. Quein ama a seus iniriiigos e E perfeito, abaidona a lei' riá« tendo
?$ iic.cessidadedela para pedir olho por olho. Mas também não se opOe aos não-
crisiãos, que náo ainan a seus iniiiiigos e querem f u c r valer a lei: ele ajuda,
inclusive, para que tais leis atinjam os maus para que nâio façam coisas piores.
Assim, pois, (creio eu), a pa1;ivr;i de Cristo é consciitânea com as
ptssasens que institiicm a espada. O significado é o seguinte: Nenhum
t cristão dcve tomar c invocar a espada para si e siiii causa. Em favor de
outros. pi>rérii. pode e deve toiiibla e apelar a ela para que se iinpeqa a
maldaiie e se proteja a probidade. Nesse sentido o Seiihor diz na iiiesiiia
passageiii que iiiii cristão não deve jum. iiias iliie sua palavra seja "siiii. siin,
, e: por sua própria vontade ou prazer iim cristão não deve
rito, ~ Z O " ~ ) isto
t. j~i~u.. Quando, porém, a iircessidade, a conveniência, bem-iivciihuanqa e a
Iiorua de Dcus o exigem, deve jurar. Assim, a serviço do oulro usa 11
I jiir;iincnto proibido. da mesma ii~riiieiiacomo para o bem do outro faz uso
ile Ética Yolitir:i
I~iiiidnineiii;t~80
Segunda parte
Solli-c o alca~iced a autoridade seciilar
\ J , , U .~I I i ~ . , i : i i itt i parte
i ~ ~ pi'iiicipill deste serrnão. Teiido aprendido que a
III:II (1i.v~.existir na teira e como ela deve ser usada de 1i1;uieii-a
. n ~ l t l > ~ ~ i l . t ..!.i
ilt
(1 4 I ,,,, ~#,,I,,V,.,..
01,. 1 ' , , \ l , l q,,c c ,,,,I C$>,,I, c,,,,,: ,'El,, "cr<l:,<lc",,S ,ligo" c ;,s [,;,ss;,f:c,,s c,,,
'I". .i Ih.ii\ ,?"r
I'.liilt> i i l \ i X .i 1v\1c11111111,:1: 2 ( ' 1 1 11.1 I. ( i l 1.20.
Da Auioridadc Secular, até que ponto sc lhe deve obediência
cristã e para a felicidade, teiiios que aprender agora qual é o alcance de seu
braço e até oiidc se estende sua ni30. par? que não ultrapasse seus liniites e
interfira no reino e iio rcgime de Deus. E muito necessário saber isso. Pois
resulta cni dano insuportável e terrível quando se lhe abre espaço demais,
sendo também prejudicial limitá-la em demasia. Aqui castiga pouco, lá
castiga demais, embora fosse mais suportável que peque deste lado, castigan-
do muito pouco. Pois é seiiipre meUi»r deixar um l~atilccom vida do que
matar urn Iiomem justo, já que no mundo Iiá e tcm que haver piiiifrs,
enquanto há pouca gente de hern.
Antes de mais nada devemos anotar que os dois grupos de fiihos de
Adão, uin no reino de Deus sob Cristo, o outro no reino do mundo sob a
;iiitoridatlc (cuiiio dito acinia), têm dois tipos de lei. Pois todo reiiio deve ter
suas próprias Icis e direiios, e setri lei não pode existir reiiin ncm regiiiie
itlgiim, coiiio o ensina suficientemente a experiência diária. O regime secular
teiii leis qiie abrruigein apenas corpo e bens, e outras coisas exteriores na
terra. Pois sobre a alma Deus iião potlc nem quer deixar ninguém goveniar
;i iião ser soineiiie cle. Logo, onde a autoridade secular se atreve a inipor
uma lei :I alma, ai ela interfere no regime divino e somente seduz e corroiiipe
as almas. Vamos esclarecer isso de maneira tal que se tome palpável, para
que nossos arisiocratas, os príricipes e bispos, vejam quão insensatos sáo ao
pl-etendereni. com siias Icis e preceiios, forçar as pessoas a crerem desta ou
daquela muieua.
Quarido h e iinpõe tima lei hiiniana a almi. exigindo que creia isto ou
aquilo, coiiio o quer a referida pessoa, é certo que ali não estA a palavra de
Deus. Se não está presente a palavra de Deus, é.incerto sc Deus assiiii o
quer. Pois quando ele não o ordena, não podemos ter a certeza de que ihe
agrada. Pelo contrário: tem-se a cencza de que não agrada a Deus. Pois quer
que nossii fé se í'uiidariiente apenas c exclusivamente em sua palavra divina.
conio diz em Mt 16.18: "Sohre esta rocha quero ediíicar minha Igreja", e
Jo 10.27,5.: "Minhas ovelhas oiivem mùiha voz e ine conheceiii, riias de
modo nenhum ouvirão a voz do estranho, antes fiigirão dele". Disso se
conclui que com tal mandamento injiiiioso a autoridade secular impele as
almas à morte eterna. Pois obriga a crer conio coisa cesta e seguramente
agadável a Deus o que, na verdade. é inseguro e seguramente desagrada :i
Deus, porque não há palavra clara de Deus que o abone. Pois quem tem por
certo o que é incoi~etoe inseguro n e p ;I verdade, que é o próprio Deus, c
crê na nieiirua e no erro: tciii por ceno o que é incnrreto.
Por isso é o cúmulo da louciua quando ordeiiaii que se creia na Igreja.
lios pais da Igreja, nos concflios, niesmo quando não há palavra de Dcus.
São os apóstolos do diabo que ordenam tais coisas e não a Igreja. Pois a
Igrcja não pi-escrevenada se não está segura de que é piúavra de Deus; assim
ilii. S. l'cdr~: "Sc ;iIgiiCiii liil;i, fale de acordo coni a palavra de Deus" I I
Fulidamcntay5o da Ética Política
I'e 4.11]. EstZo longe de provar que as decisões dos concílios sejani palavra
de Deus. Muito mais iiisensato, porCm, é qiiaiido se diz que os reis e
pniicipes e a grande massa assim o crêj2. Por favor, não somos batizados eiii
nome de reis, príncipes ou da multidão, mas no nome de Cristo e do próprio
Dcus. Também não nos chamamos reis, príiicipes ou multidão; nós nos i
clianainos cristâos. N i u C m pode ou deve dar ordens à alina, a r i o ser que
s:iil>a iiiostrar-lhe o cariiinho do céu. Isso. porém, neiilium ser humano podc.
mas sninriite Deus. Ponanto' iius questoes que dize111respeito à heiii-aven-
turanp da alma, iiada deve ser erisiiiado ou aceito a nio scr a palavra de Deus.
Por outro lado, niesriio sendo iitsensatos grosseiros, têm que adinitir que IKI
não têm poder sobre as alritas. Pois nenhum ser humano pode matar uiiia
alnia ou rcssusciiá-Ia, coriduzi-la ao céu ou ao inferno. E, sc no-lo não
quiserem acreditar, Cristo o demonstra catcgoncamente, ao afirmar em Ma-
icus 10.28: "Não te.iiiais os que matani « corpo c quc depois nada mais têni
0 que f.izcr; teinei, antes, ;iquele qitc depois de haver matado o corpo tem o 15
i 2 Aqui enwam cm çlioqiic dois princípios bisicos. Luiçro usa o psirirípio sola Sc.liphua corix~
iiiiiirrirlade ein qucstócs de fé, e avim se opõe ao çrinccito d;i trailição reiii;uitc na Igreja.
O que se dcvc cntcndes por rr311i~aofoi dçfinido dc fomu clissica por Vicentc dc Lerinii
(4141: "Citólico é o que foi crido rili iiida partc, sempre e por iudos", cr~nccitoeire que.
~ii:iis t:iide. levou a prciinulgaçZ~,dos d<i.mias marianos da iiiiaciil:idi conceiçZn, por Pii,
IS. ciii X dc derenihro de 1854, e da ;iuunçio coq~oralde Mdnd. citi I" dc ~ioveri,hrnde
IOTO, por Pio XII. Viii?nv <IrLt.riii<i (m. iuitcs dc -1501. leúlusu fr>itic?s.preshiriro do
~iiii\icirode Irrino, silua<it>Iiiiflia illiti pcrtn de Nice. Adi,erb:úio da dourriria agosiini;ui;i
\ ~ i l i i ca graça e a prrdrstindç;i<l.cxpôs scils pensaiiienlus coi duis Conirnonitoria (Mriii<i~
ri:ii\, a respeiio do prinçipii~da tradição.
i i I~ilirigera a capiwl da Sax8nia albcrtina, goveniacla pelo hostil duque Jorge, o Barbudri
i lSo0-1519).Wiiienkrg era a capital da Salunia emrsiina ou Sax8ni:i Eleilor;il, giivei-ciiid;i
ç i i < i r c) S5hin (14x6-1525) simp.iiici>:! c;iiis:i <I;i l<cli,riri;i.
1 ~ 1 lop s í ~ ~ c i ~ ~ ~ c lE'icdiric<r,
I I 1 'I' h,Ii 15,14; I L O.?<).
I D;i Aiitoriil;idc Sçcuhr, ai? que p~mtose lhe deve obedi61icia
Além do iiiais, pode-se reconhecer essa verdade no seguinte: afinal,
I qualquer autoridade deve ou pode agir sonieiite onde consegue ver. reconhe-
I cer, julgar, opinar, niodificar ou mudar. Pois que juiz seria este que fosse
julgar às ccgas assuntos que náo ouve iiem vê'! Dizc-me, pois, coiiio pode
i um ser humano ver, conhccer, julgar, sentenciar ou mudar os corações? Isso
está resen~adoapenas a Deus, como diz o SI 7.9: "Deus sonda os corações
e os rins". Idem LSI 7.81: "O Senhor julga as pessoas". E em At 10 rsc.
1.24): "Deus conhece os coiações". E mais Jereiiiins 1 [sc. 17.9s.): "Mau
e inescrutavel é o coriiç3o Iiiirnmo; qucin o coiilicccr6? Eu, o Senhor, que
I esquadritiho corações e rins". Para cmitii- uiii juizo, um tribuii:il deve e teni
que estar absolutanieiite seguro e ter clareza do que se trata. No entanto, os
pensamentos e intciiç0t.s a ninguém sxo marii~cstos,a não ser a Deus. Por
isso é vâo r impossível ordenar a alguém ou forçá-lo a crer isto ou aquilo.
. . . é i~ccessáriooiiti-o método; a violênci;~nada ~ilcança.Fico pasmado
par'i, isso
is com os andes loucos. pois t«d«s cles atirin;uii: De occulti\ non iiidicai
ccclesiii, "a Igreja nâo julgn coisas ocultas"3s. Se, pois, o regune espiritual
da Tgrqja só governa as coisas notórias, como eiitáo se aventura o inseiisato
podcr secular a julgar e doininar uinn coisa tão ociilta, cspirilual e secreta
como a fé7
li, Neni disso, cada qual corre srii próprio risco quanto ao que ciC c tern
quc procurar para si niesrno uma inarieira de crer corrctainente. Assirn como
alguém outro não pode ir ao inferno ou ao céu em rneu lugar, tamponco pode
crcr ou deixar dc crer por mim. Náo me pode ahi-ir ou fechar o céu ou o
uferno, iiein é capaz de obrigar-me a crer oii descrer. Crer ou iião crer é
,% ussnnto da consciência de cada um e isso iião vciii em prejuízo da autoridade
seciilar. Por isso ela tmbeiii dcve contentar-se e ocupar-se corii seus iicgó-
cios c deixar quc cada uin creia isto ou aquilo, como puder r quiser, e não
coagir a ninguém. Pois a le é um ato livre. ao qual náo se pode forçar a
ninguém. Siin, é, inclusive, uma obra divina no Espírito. Não se pode nem
4, (XIIS;U que alguma aiitoridade cxterna possa impor ou cri5-Ia. Dai vein o
conhecido provérbio citado tambérii em Agos~iiilio'6: Não se pode nem se
dcve obrigar alguém à E.
As cegas e pobres pessoas náo vêcm como é vão e inútil o que sc
I J I - O ~Pois,
~ C ~por
. mais iigorosa que seja sua ordem e por niais qiie sc
:. iiiliircç;iin. iiada consegurni ~ I i t ndc coiiir>elir ;is pessoas a Ihes obcdecerciii
coin :i hoca e coiii a máo. O cor:içiio, porem, jamais consc~iiiráoobrigai.
i? A 1i;isi i' iii1i:j glosa ai> cjiiorie Enikscinl irripii, dist. XXXII. c. X1 nos Drcrcfi <;r-iii;uii.
~>;trk.11. <?n<lc s i 1:: I>r ri?an;tk,ctiisyoi<l<rnI<ysirniir. sLiLireIorianaulcni cofriiliir c1 iiial<,t
<,SI Ikii~ ~ ' N 6 sS L I I ~ T I(Ic
I C ~coisi~s
~ c s ~ ~l kt su, s < c ~ ~ I I I I ~ c c (cI ~.,(ti,I ~ tI;$scoiw
~ ~ r ~ u ~ i l ' ~n;!s
\,.~1<.1>,5''.
i l t / ' ~ ~ l ~ l11,
: \ l , ~ ~ \ l i ~ > l ~ ~i v~ ,. l , ; ~li!lc~.~> ~ ~ (Mirw~,
i ~ 18.4 ~;, 1'1, ,13,3IS).
Fun~l~mentaçáo
da Eriça Pciliric;~
ainda que se arrcbenieiii. É verdadeiro o que diz o provtrbio: "Pensanicntos
nZo pagam imposto". Por que, pois, insistem em obrigar as pessoas a ci-er
com o coraçáo, vendo que é impossível? Com isso forçam coin violência as
débeis consciências a mentir, negar e dizer algo diferente do que sentem no
coração e acarretam para si horríveis pecados alheios", pois todas as menti- s
ras c falsos testemunhos manifestados por tais c«iiisciéucias débeis recacni
s ~ h r eaquele que lhas amuica por coação. Sempre scrin inais Ecil dcixa qiie
scus súditos siinplcsmenie eririii. tamhém quando eiTniii [de fato], (10 que
forçá-los a inentir- e a dizer outra coisa do que. i@mem seu coraçâo. Tulihérn
não é justo querer coriibater um mal com outro pior. 11)
Queres saber por que Deus leva os priiicipes temporais a erra táo
horrivelmente? Pois eu to direi: Deus h e s perverteu os sentidos e quer
extelminá-los como exterminou os zuislocratas eclesiásticos. Pois meus incle-
mentes senhores, o papa e os bispos, deveriam ser bispos e pregar a palavra
de Deus. Ncssc ponto, porém. são omissix e converteram-se ein scnhorrs I 5
.;ec~ilarese governam coiii leis que conccmem soiiieníe ao corpo e aos bens.
Inverteram as coisai maravilhosninente. Deverian goveiniir interiormente as
;\[mas por meio da palavra divina. Mas governam extcnormerite ciistelos,
cicladcs, países e pessoas, c torturam as almas coin trucidações indizíveis. Da
iricsma maneira os seiiliores seculares deveriani governiu exterionneiiie o zii
11;iíse o povo. Isso, poréin, não fazem. Nada mais sabem fazer do que esfolar
c i-aspiu, cobrando uriposto sobre imposto, taxa sobre taxa, soltarido aqui um
iirso, ali um lobo. Além disso, iiao conhecem nem fidelidade nem vcr~lade.
c porim-se de uma maneira que até ladrões e baiididos considerziain
cxcessiva. Seu regime secular é tão decadente como o dos tiranos eclesiásti- 2s
cns. Por isso Deus tamkiii Ihes perverte a mente, de modo que procedein
de foinia absurda. iuvorando-se a exercer domínio esl~iritiictlsobre ns almas,
cii<[u.mto osoutros querem govemai. srculanrientc. Coiii isso cobrerii-se
iianquilmente de pecados alheios, do ódio de Deus e de todo o mundo. atc
~~crccerem junto com os bispos. padres e monges. uiii patife com » outro. 311
Ikpois dão a ciilpa de tudo ao Evangelho, e, ao invés de se confessmm,
11l:islèmam a Deus, dizendo que tudo isso é resultado de nossa pregação.
ilii;iiido, na verdade, é e sempre scrá o que mereceu sua perversa maldade!
i i > i i i i r procederam também os romanos quando foraiii d e s t n ~ í d o sAí
~ ~tens
. o
excedeis. Dais ordeiis onde nZo tendes nerii direito iiem poder, etc." Se, em
conseqüência. te tua os bens e castiga essa desobediência, beni-averiturado
serás! D i Taras a Deus por seres digno de sofrer pela piilavra e vontade
(livinas. Deixa este louco eshravejai-. Ele encontrari seu juiz. Pois c11 te digo:
caso iiâo te opuseres a ele e peniiilires que te tome a f i e os livros, 2"
,111 I )csdc o d c . i Il.especialmente cntrc os porias. 11 nome Lúçifcr tem sido airihuido ao diabo,
o iu~,j<irebelde, exl>ulso do céu, caído na tena. uma in1erpret;tção alegórica de 1s 14.12 nos
iri-mos de Lc 10.18.
41 O duque Jorge da Saônii era também rncirgave de Meisscti: na Baviúia governava o
<Iilquc Guilherme I V (14q.3-1550).ferrenho :idven{ío da Rcfornia; Br;iiidcrihiirg<i CRI
p ~ r n n d apelo du~luc.h,iiquini 1 (14x4-1535). nponcnlc jxtli~ru.dit I < v ~ ) ) ~ I I I ; I O . Nova)
, ,
Icsi;itiiciiti> cin 1íiig~i;iiiliiriã "cio ;i Iiiiiia rcii sciciiihr<r < l i 1512. (('I', ;iriiii;$iii,i:ir 0 c 10).
DJ Auinridadc Sc~uliir,até que por110 se Itie deve okdii.ricia
fonna algunia, percam seu bom nome, mas continuem sendo príncipes niiin-
danos. Por isso, não te espantes quando se enfureçeiii e e e m e t e m contra o
Evangellio que ncin loucos. Eles têm que honrar seu título e seu nome.
Devcs saber que, desde o início do mundo; príncipe sábio é ave rara, e
niais r m ainda uni príncipe honesto. Em geral são os maiores tolos e os
piores patifes da terra; por isso sempre tern que se esperar deles o pior e
pouca coisa boa, especidmente erii relação às coisas clivinas, que dizem
respeito à salvação da alma. Pois são carcereiros e carrascos &,Deus, e sua
ira divina usii-os para castigar os riiatis e inaiiter a paz extenia. E um grande
o Sciihor o nosso Deus. Por isso iiecessit? de tais carrascos e algozes iiohres.
ilustres e ricos, e quer ql- tciihain graiide ahundârici;~de i-iqueza, h o ~ ea
tcinor da parte de todos. E do agrado de sua vontade divina que chameriios
a seus carrascos de clemeiitíssimos senhores, caiamos a seus pés c fies
sejamos submissos enquanto nZo se excederem em seus cargos, querendo
i tnuisfomar~sede carrascos eni pastores. Quaiido um dia aparece um príncipe
decente. qiie scja sibio, honesto c cristio, estziiios diante de unia das grandes
maravilhas e diante do iixiis precioso sinal da graça divina >obre esse país.
Pois, em geriil, vale a sentença de Isaías 3.4: "Eii Ihes darei rrieninos por
príncipes e boquiabertos ser%(>seus senhores". E Oséias 13.11: "Eu te darei
2u rei na irti, e to tirarei novamcntc com furor". O inundo é demasiado mau e
n5o merece ter iiiuitos príncipes sibios e honestos. RXs precisan da cegonha4:.
Novamente objetas: O poder temporal nZo obriga a crer. Apenas impede
exteriorineiite que as pessoas sejam seduzidas por doutrina falsa. Haveria
outra mancua de resistir aos hereges? Resposta: isso é função dos bispos, i.
25 a eles que foi confenda essa tareli" e não aos príncipes. Pois a heresia
,jamais pode ser combatida com a [email protected] isso se precisa de outro
jeito. Isso não é briga ou qiiest5o que se resolvr cotn a eipada. Aqui a arma
6 a p;tl;tvra de Deus. Se essa iião tiver êxito, ceriaiiienie o poder secu1;ir
também não o terá, mesmo que inunde o mundo coni sangue. Heresia C
assunto espiritual que não se pode destniir com fen.0, m m queimar pelo
fogo, nem afogar em água. Para isso existe apenas a palavra de Deus; esta
o faz, como diz Paulo em 2 Co 10.4s.: "Nossas m a s não são carnais, mas
l-ioderosas cri1 Deus para destniu todo plano e tudo o que é altaneiro, que sc
volta contra [i conhecimento de Deus. e subordinamos todo o pensariieiito ao
5y serviço de Cristo".
Aliás, nada melhor para fortalecer a fé e a liei-esia do que combate-l;ts
com pim violência, sem a palavra de Deus. Pois é certo que tal poder i150
I ? I.iiicm icfctr-sc a uma f5hol:i de Esopo. Coiiw que as rZs tivçcirii por pi-irnciio rei iiiii
iir,cii.ii <1c iivorc, c o ridiciil;iri/.;ir;iin. EniZo seu deus Ihcs dcu uin:i ccg<irih;i por ~.ci.M<~i;il
(1;) t ( i ~ l G ~ 'IX
; ~ : o povo, lid o rci.
.i < ('I'.'1'1 l:J\%,
I iiii(l.li~ii.rii;ic"'>
da Eùca Politicd
,.t. ;ili<)iii cni causa justa e que ;ip< ~ . I I I I ,Ii Iiliicito, .I porque procede sem a
~~:il;iv~-~i de Deus e sabe apciitis I ~ . ~ O I;iI < lorça
. I bruta, como o fazem os
;iiiiiiiais irracionais. EniKiii i i i t h : i s , ~ i i i iterrenos ~ ~ ~ s não se pode agir com a
violência, sem que antcs ;I ii~iiisiic;~ tciiha sido comprovada em processo
jiidiciai. Quanto mciios i: ~v~ssívcl iigir com violência nessas coisas espir- í
tuais, sem direito iiciii ~);il;ivi;iiIc Deus. Vê que belos e sábios senhores são
esses! Querein extcrtiiiiiiir a heresia. Com seu procedimento, porém, usam
somente meios quc iobiislecetn o adversirio, tomando-se eles mesmos sus-
peitos e jusficando aqueles. Amigo, se quiseres exterminar a heresia, tens que
cnconbar o jeito certo. Antes dc mais nada, tens que arranca-ia do coraç2io i i ~
e afàslá-Ia raúicalmenle com o consentimento [das pessoas]. Com violência
não mudarás nada, pelo contrário, somente a fortalecerás. Que proveito terás
se fostdeceres a heresia nos coraçóes e a enfnqueceres apenas exteriormente
na língua, forçando [as pessoas1 a mentir? A palavra de Deus, porém,
ilumina os corações, e com isso toda a heresia e erro saem do coração por l i
si mesmos.
O profeta Isaias anunciou esta destniiçio da hcresia no capítulo 11.4:
"l'erirá a tema com a vara de sua boca, e com o sopro de seus lábios matará
i) [iervesso". Aí vês que, se quisemos exterminar ou converter o ímpio, isso
ii.15 que ser feito com a boca. Resumo dos resumos: tuis prí~icipese tiranos 20
ii;io sabem que combater a heresia significa lutar colma o diabo que tomou
~ ~ ~dos s scorações
c coiii seu engano, como diz Paulo ern EF 6.12: "Nossa
l111;i iizo 6 contra sangue e carne, mas contra a maldade espinlual, contra os
~~iiicipes que governain esta lreva", etc. Logo, enquanto 112io se expulsa e
; i l i i ~ : " ~ ~ i ;o ~ diabo dos coraçoes, isso E o mesmo que querer destiuir seus u
iii~ii~iiiiciitos com a espada ou fogo ou lutar contra um raio com uma palha.
l )r iiiilii isso Jó 41.18 deu itmplo testemunho, dizendo que o diabo tem o
I i . i i i j por palha c não teme nenhum poder na terra. Tatnbém a experiência o
c.iisiii:i. Mesmo que se queimem todos os judeus e hereges à força, iienlium
cli.l<.si. iicm será coiivencido nem convertido. 30
44 Ciii~ioriii per;il. tan1bt.m :iqiii Liitero cita çoiifoniie a Volyafn: Eliiiridir cunteiiiplorn u r i p i
I.i~nil;in~entaq?todn Ética P~iIRrcil
Quc são, pois. os s;icerdotes e bispos? Resposta: Seu regime não é de
;iutoridade ou poder, mas serviço e Função. Pois iiZo são supcnores e meltio-
rcs que outros c r i s t a o ~ ~Por ~ . isso não devem impor lei ou mandamento a
outros sem a vontade e consentimento delcs. Seu governo não é outra coisa
qiic pregar a palavra de Deus e com cla conduzir os cristr'10s e vencer a 5
Iicrcsia. Pois, como já disse, os cristáos ii2o podem scr goveriiudos a não ser
ci~iiia pd;ivra de Deos. E assini que diz Paulo em K m 10.17: "A fé vem 110
i~uvir,n oiivir? porém, vem pela p;ilnvra de Deus"". Aqiielcs. pois, que ri20
c i e m , não s,?, cristãosl nem pertencem ao reino dc Cristo, mas ao irino
scciiliu, para que sejani doniinados e governados pela espada c pelo regiriie tu
(.xi~,rior.Os cristãos fazem todo o bcm de per si, serri pressão, e se contentaiii
V I I I I ~;i palavra de Deus. Todavia, a respeito desse tema rscrevi mui10~~ c
1ii.iliiciitemente.
1
Terceira parte
Agiti-;ique sahcmos até onde se cstende a autoridade seciilar, é tempo de
cli/i.i como a dcve usar o príncipe, isso por aiiior daquclcs que quereiri ser
1'1 (iic'ilics c senhores crist5os c que tamhém desejair chegar à outra vida, que.
I M D I siiial, são muito poucos. O próprio Cristo descreve a índole dos príncipes
~~.iiil~or;iis cm Lc 2225. dizendo: "Os príiicipes seculares doiniiiam, e os que
~ i . i i i ;iiiioi-idade procedeni com violência". Pois, tendo nascido tiohres ou
i<.iiilo\ido eleitos, crtem ter o dirlfito de serem servidos e de govcmar corn
violi.iici;i. Agora, « que quiser ser príncipe cristão tem que, realmente,
iIi,.;isiir da idéia de qucrer governar e procedcr com viol8ncia. Pois maldita i5
i . <oii<lciiada C toda a vida que se vive c huscu em beneficio próprio. Malditas
ital;i.; ;i\ ohras não inspiradas pclo amor. Elas se inspiram no amor q~iairdo
ii:i<tsi. <Icix;iing u i a pelo prazer, proveilo. honra' comodidade e salvaçzo da
piail~~i;~ [lcssmi, mas quwido procuram, de todo o çoraqão, o proveito, honra
<, \:il\,:i<:<~o IIC outros. 111
I'oi isso i150 quero dizer riada aqui a rcspcito de assunios seculares e leis
I I I I I I I I I I ~ I'ois . isso é urn tema muito amplo c, além disso, já há livros
~ i i i i ~ l i ~t.111 a ~ ~iIciii;isi;i.
, E claro yiie, quando o príncipe iião é mais entendido
a l d , 4 l i 1 1 ' '.<.ii\ iiirisi:~.;c cluando sua sabedoria não passa do que se encontra
I I O ~I.i.\ , i t t . . ~iiiiilii.~)~, ccriamcnte govei-nai-5segundo o ditado de Pv 28.16: "O >,
i 1 . ~~i,l,il;i<:i,i
. , t I ~ i , .i c iiiiiiisiCrio ~iasi<iid çm: "Do C31iv~iroR2~hilt,niç»da Igreja".
it8 v . 2, 1,. 4111-418.
(,1?!.4', .V,,/,.< !08,!.t>/;,\,
i i \ , ii i,,.i<s #>iiii.ii. :i vi.lsno cI;i Vii1g;lt::il:i: Ergo lidm ix audito, aridilus nulcni pr-v e r l ~ i i l ~
~ 1 1 i i i
I I,,,,,,
111 I 1 1 , , t " I I , ~ , li,,,,, i1111:~"r "'lt:ui;u~l~~
CIC M:t~licd~cL U I C ~sohrc
C l,itwr,I:~lc('ris1.1".
1 4 8 i 1 l b r . 1 ~ . ~ ' ~ ~ / ~ ~ ~ ~ , v. t r 1,.. t '~J ~/ Y; , ~, ~c , (I
~ ~ ?, r~s~~ccliv~~~~~c~~l~.
D:, Aiitoridade Secular, aié que pnnto se Lhe deve obcdii.rici~
príncipe falto dii iiiieligência oprimirá inuito com injustiça". Pois por meho-
rcs e justas que sejam as leis, todas elas tfm uma reserva: não podem ser
aplicadas em situações imprevistas4'. Por isso um príncipe deve domúiar o
direito com a mesma firmeza com que coriduz a espada, e deve resolver com
critérios próprios onde e quando o direito deve ser aplicado com rigor c onde
abrandado. A sensatez deve, pois, sempre,governar o direito e permanecer a
lei máxima e o mestre dc iodo o direito. E o caso do pai de família: niesmo
cliie determine tempo e iiiedida de trabalho e ;ilinicrilação para seus serviçais
e lilhos, deve iiiaiiier essas disposições soh seu domínio. Teiii que poder
modificar ou rel~tsií-las,caso seu empregado adoeça, seja preso. se atrase,
seja enganado ou impedido de outra maneira, e não pode tratar os enfermos
com o mesmo rigor com que trata os sãos. Digo isso para que não sc pense
que é suficiente e digno de louvor observar o direito escrito e os juristas. E
nccessário algo mais.
Como deve proceder um príncipe se não é tão inteligente e tem que
aceitar a orientação de jiiristas e livros jurídicos'? Resposta: Por isso eii disse
cluc a condiçXo de príncipe é perigosa. Se ele próprio não tem inteligência
suficiente par21 dirigir seu direito e seus conselheiros, aí as coisas andam
conforme a sentenp de Salomão: "Ai da naqão que tem unia criança por
príncipe" [Ec 10.lhl. Também Salomão rcconlieceu isso. Por isso desesperou
de todo o direito que Moisés havia prescrito também para ele com o auxílio
de Deus, e também de todos os seus príncipes e conselheiros e dirigu-se ao
próprio Deus, pedindo um coração sábio parti governar o povos0. Liin prín-
cipe deve imitar esse exemplo, proceder com temor c não confiar nos livros
inortos, nem em cabcyas vivas, mas ater-se somente a Deus, oral- com
uisisttiicia por entendiineiito rcto - o que é nielhor que todos os livros e
mestres -, pxa govemar seus súditos com sabedoria. Por isso ri20 saberia
prescrcver ao ptíiicipe nenhuma lei. Quero upcnas instruir seu coração sobre
qual deve ser sua iiienialidade e disposição em todas as questões de direito,
nos conselhos, juízos e negócios. Onde proceder dessa maneira, certamente
Deus lhe concederá que possa levar a bom termo, de modo piedoso, todas
as questões jurídicas, conselhos e negócios.
Em primeiro l u g a ~deve
- ~ tomar em consideração seus súditos e coiiseguir
a correta disposição dr seu coração. Isso fará quando concentrar todos
os seus pensamentos iio intuito de ser-llies útil e proveitoso. Não deve
pensar: "A t c i ~ ae as pessoas são iiiirilias; farei o que me aguda", mas,
sim: "Pertenço a tena c às pessoas. Farei o que é bom e proveitoso para elas.
4'1 ('S. o provérbio: "A necessidade ndo conhece lei", iomado, possivelmente, <Ic 'Tr>in:is ,li.
Ailuiiii~,Sofnzi Ii-olii,nicn. 7,1, il. 96, t<it. h.
511 ('1: 1 Rs 1.12.
I~undamrntaçXoda Etica Pnlíticn
N.5o procurarei fazer ostentação e ser dominador, mas como proteger e
ilciendê-ias com boa paz". Fixará scus olhos ein Cristo e dirá: "Eis que
('risto. o príncipe supreino, veio e me seiviu; não procuroii poder, bcm e
Iionra ein mim, mas viu ininlia necessidade e fez tudo p m qiie eu tenha
~ioder. bem e 1ioiu.a por scu uitcmiédio. Por isso farei o mesmo. N5o s
~ir<ic.urarei meu intercssc eiii meus súditos, ma? o deles. Também eu Ihcs
scivirei assim em meu cargo. Quero proteger, ouvir e Gefeiidê-10s e goveriiar
iipcnas para que ienliain bcns e proveito, e iiào eu". E ascim, pois, qiie iiin
~)rii)cipc se desprender: de seu poder e u~iioridade.e cuidará das ncccssidades
clc sciis súditos e agiri como sc Lratassc de suas próprias necessidades. Pnis 11)
Ioi (lvssc modo que Cristo procedeu cni1osco. e cssas são as verdadeir;is
( d i i ; ~ . ; <[c amor crist2o.
Agora, porém, rctnicas: Quein, rritão, quererá ser príiicipe'? Com isso a
~~<~.,ii;;io de uIn príncipe seria a mais riiiserávcl sobre a terra. A função lhe
.i~:iii~.i;ii-i;i muito esforço, ir:ibaiho c desgosto. Oride ficariam os prazcrcs (5
, . < c iiliiii~siiic levariam a sério, mas apenas para o caso de quc houvessc
; i I ! , i i i i i q i ~ i;imbEni
: quisesse ser cristão e dcscjasse saber como se conduzir.
I'C>I\ (.siiiii plcnarnente corivicto dc quc a palavra de Deus irão se orientard
I I I I I I sv giiiai-A pclos príricipes; os príncipes é que devem orientar-se por cla.
Ii.ihi:i iiii. iiiostrar que iiZo ? uiipossível que um príncipe scj;i cristão, mesmo .i
~ I I I < . WII ",ia i:irci e dií'ícil. Pois si. cuidassem que setis bailes, caçadas e
ioiii~.iirs1150prtjiidicassem ;i seus súditos. e se: além disso, cxerccsscin seu
I : L I I c.iii ~ I ) ;irnor a eleb_ Deus não seria tão iigoroso a ponto de nZo Ihes
~ ~ ~ . i i i i i i Ii:iilcs,
ii- ca~adase torneios. Se, porém, de acordo com seu cargo,
~l~alic:issi.tii ciiiclados a scus súditos, certamente descobririam por si mesmos r i
iiii~i-icdoas vezes. Mesino assirn diirante sua vida Davi não inatou a Joabe,
iii;is recomendou isso 11 seu filho Saloini«s%Seiii dúvida, agiu dessa iiiaiieira
Ilibicliie não o podeiia ter. feito sem causar maior prejuízo e escândalo. Da
iiicsiiia fom rambérii o príncipe deve castigar os maus; caso contrário.
ilii~.lii.:i iim prato na icntativa de ajuntar uma colher. Por causa de uma cabeça 3"
c\(i<ico país c o povo ao perigo c enche o país de viúvas e órlãos. Por isso
II.IO (Icve dar ouvidos aos conselheiros e generais que o instigcun e provocam
:i I:i/ci- guerra, dizendo: Ali, por acaso vamos aguentar tais insultos e injus-
ii(:;i>'? .4quelc que arrisca o país por causa de um castelo é inuito mau cristão.
I';ii:i ser breve, aqui é preciso ater-se ao provérbio: "Qiieiii iiZo é capaz dc 35
l.i/ci vistas grossas iiãn pode governar". P«rtant«. seja esta ;I regra de um
1'1 iiici[ic: quando nXij piider castigar uma u?justi$~tsem provocar outra maior.
cli.ixi (Ic lado seu direito, por mais justo que seja. N5o deve ollw para seu
11iciluii1 prejuízo. iras para a injusti~aque outros terri q i c sofi.cr cm decor-
I --
Da Autoridade Secuku. até que poiito sc h c dcvc
rência de seu castigo. Pois que fizeram tantas niulhercs e crianças para serciii
i,lx.<lii.iii.i:i
h0 CC Mt 7.12; Lc 6.31.
01 < :L~/<I.Y,(1 Negro, duquc da Borgonha de 1467-1477, foi realmenfr eiivolvido iiuin c;isii
siiig~~lai- <Icsscs.Em scu 4" ScrinXo dc Wciinar, ponto de pxtida do prcieiitç tr;it;idr>,I.utciii
\i w l c x ;I clç ~iii~~ilcsiiiciilç
coiiii, " i ~ i i i ici" (WA 10/111. 3x4).
I'uiidanrentacão da Ética Poiítica
com o marido e lhe perguntou se o deveria fazer para conseguir sua liberda-
de. O homem queria a liberdade e salvar sua vida, e deu permissão à mulher.
Depois dc haver mantido relações com a mulher, o nobre mandou decapitar
o marido e entregou-o morto à mulher. Ela denunciou tudo ao duque Carlos.
Este citou o nobre e ordenou-llie casar-se com a mulher. Quando terminaram 5
iis bodas, mandou decapitar o homem e pôs a mulher sobre seus bens,
devolvendo-lhe a honra. Assim castigou a maldade dc maneira verdadeira-
mente pr'icipesca.
Vê, semelhante sentença nenhum papa, nenhum jurista e nenhum livro
lhe poderia ter dado; pelo contrário, ela surgiu da livre razão, superior a li]
todos os livros, de modo tão maravilhoso que todas as pessoas a têm que
iiprovar e 2ncontrarn a confirmação disso em si mesmas, no coração. Santo
Agostinho escreve algo semelhante em seu tratado sobre o Sermão do
Por isso o direito escrito deveria ficar sujeito à razão, pois surgiu dela, que
6 a fonte de todo o direito. Não se deveria ftizer a fonte depender dos 15
INTRODUÇAO AO ASSUNTO
Lutero se considerava evangelista, porta-voz do Evangelho de Jesus Cristo.
Sentiu-se competente, como discípulo da Bíblia, particularmente nas questões con-
cementes à f i cristã. Admitiu que era "inexperiente" em assuntos governamentais
("assuntos da corte") e desconhecia os bastidores ("as manhas e artifícios") da
política. Apesar disso, manifestou-se frequentemente sobre política em geral e sobre
questões políticas específicas, entre elas as relacionadai com a temática do governo.
Por quê'?
Num primeiro momento vejo dois motivos. A própria Bíblia fala de goveman-
tes, já que ela C um livro de história -da história do agir de Deus no mundo. Muitas
vezes Lutero foi expressamente consultado por govemantes e solicitado a dar seu
parecer, como teóloro, sobre questões políticas. E imporkmte dar-se conta de que o
reiornador desenvoiveu seu p&same& político tendo em mente quase sempre o
mundo em uue vivia: a Eurooa do século XVI uue se considerava cristã. Raras vezes
tomava em coiisidera<ikiapaíses e povos em que náo havia cristãos e cristãs. Ahor-
dou, pois, o tema "governo" como intérprete da Sagrada Escritura, como colabora-
dor e parceiro de diálogo de governantes cristãos e como pastor e conselheiro
teológico dos mesmos.
Lutero interpretou a história teologicamente. Na história agem seres humanos.
Mas quem, em última análise, conduz o curso da história é Deus. Ele é o Senhor da
história. Essa compreensão teológica da história leva a uma atitude crítica frente a
qualquer situação em que presunçzo, arrogância e atrevimento humanos tomam conta
da política. Para Lutero, os poderosos, via de regra, se esquecem de Deus. Não
deixam Deus ser Deus. Disso jamais pode resultar uma política que cumpre suas
funções autênticas.
No mundo chamado cristão, Deus age na história, segundo o pensamento de
Lutero, através de dois regimes (Regimente), o espiritual e o secular, representados
pelas respectivas autoridades. Jamais os dois regimes podem ser separados um do
outro. Mas tampouco podem ser confundidos e misturados um com o outro. Sempre
devem ser distinguidos com clareza e precisão. Apenas entre não-cri5tãos Lutero
admitiu a possibilidade de uma "existência própria" do regime secular "sem o reino
de Deus".
Frequentemente Lutero falou, em vez dos dois regimes, dos dois reinos, o
espiritual ou reino de Deus e o secular ou reino do mundo. Daí se costumava
caracterizar esta parte do seu pensamento político como "doutrina dos dois reinos".
Mas o termo "regime" corresponde melhor à dinâmica do processo histórico. O
termo "reino" sugere, antes, a idéia de algo estável, estático, estabelecido. Por isso
1)s teólogow historiadurçs picfci-ein falar, hoje, da teologia dos dois regimes de Deiis
ein Liiten,. Os termos "rcgiiiic" c "reino" se distingiieiii da seguinte maneira: Os
i-cinos de Deus e do inundo, respectivamente, são os âmbitos de atuação dos regimes
cspiri~uale secular de Deus.
A autoridade espirituiil, representante do rcgimc çspiritual dc Dcus, cabe o poder
da palavrii de Dcus. Sua incumbtncia E pregar esta palavra. Onde esta palavra eskí
sçiido pregada, há povo de Deus. Igreja. A autoridade ssciilar, representante do
rcgiine secular de Deus, cabe o poder político, simbolizado pela esp;ida. Sua incuin-
hCncia é possibilitar e garantir i) corivivi~~ das pessoas na s<iciedade beni como seu
Irni-esta terreno. Onde inl poder está sendo exercido, h i Estado.
Celx iiqui uma adverttiici;~.Não sc podc negar que a concepqão de Lutero reiilia
çoiitrihiiído para o surgiinento da conceituação modenia de Ib~ejae Estado a pai-iir
da época do iluminisnio. Neste se.ritido Lutero representou; dentro de seu tempo, a
iiiodemidade. No entanto, seus conceitos de Igreja e Estado, incluindo sua distinc;Zo
precisa, não são iguais à coiicepção moderna da separaçzo de Igreja e Estado. Na
compreensk) de Lutem, a atuac;áii da Igrcja c do Estado, respectivaniente, tein, na
~pr'itica,irs iiiesinos destiiiatárioh. No inundo cliarnddo cristão. todas as pessoas, em
icsç. sáii desririatirias &i pregac;ã« da palavra de Deus. As iiiesinas pessoas são
;iiiiigidas no ssii &:i-adia tambtin pela aiii;ição da autori<ladesecular.
No mundo chzunado crisião, as autoridades espirihld e secular, respectiv;uiieiite.
i?iii IaiiiMm incuinbências especificas uma em relação à outra. Isso se deve a« kito
iIc que no contexto do cristianisiiio europeu da época de Lurero tainbéin os gover-
ii;iiitci eram cristãos ou eram considerad«s como tais. Podiluii ser dcsafiadid»s a
:i\siiinirern con~cieutementeesta sud condiyxo. NXo tinhiiin apciias suas ruiiq7cs
~~olíiiças, como os goveinantes dç qualqucr país iião-cristão, mas tanibkrn deveres e
i:irclas çiiiii« cristãos. "Príncipch ci-istZos tementes a Deus" têm "que simultanea-
iiiciitç \ei-\ir a Deus e govcriiar o povo". Segundo Lutero. cabe à autoridade
c\l~iritual,çiii tais siluaçócs, lembrar os govemmtes de suas iricombências como
crihi2os. Estas coiisihtein. hasicanieiite, eiii governnr o pás tanihém "na palavra e no
ii.iviv» ile Deus". Os goveniuites que forem ~ristãos,deurin, u ~ m oqualqucr cristic
i. crist5. "buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sim justiça" (cf. Mt 6.33) c.
i o i i i i i governantes, "manter os súditos fiéis à palavra de Deus e aos pastores e
~,ii.l:;idores", bem como afaswr pcssoas que divulgarcin peiisameutos e doulriiias de
lc vrr.i~k,is. Ncsla ç « u c c ~ ã o ,o Estado exerce a função de protetor e colahorador da
Iivci;i. IJ:irii Lutero, em nenhum dos dois casos se trata de utii:i intromissão indcvida
<I:) I:isi;i iio Estado ou vice-versa. As autoridades espiritual i secular estHo unidas
IIO "\ri-viço fiel" que ambas devem I: autoridade divina ç<iiiilitii.
A izolngia dos dois regimes de Deus. no passa<l[i çhaniad:~dc "doutrina dos
c l i > i \ i.iiii>.s", não constilui algo nssini como a teoria luteraia de Estado e Igreja. Sua
Ii~i;iliil;iilcé, antes, antrop»liígic;i. Dcscreve e interpreta a ilialética da existência dos
< Iisi:i<rse das cristãs sob as coiidi~õesdadas nesta vida, ;iqiii, na terra.
I'çla f6, cristãos e cristas se relacionam com Dcus. Participam, já agora, de seu
iciiiii espiritual e celestial, o reino de liberdade, Iratcmidade, justiça e par.perfeitas
i. aci-rias. A« mesmo tempo relacionam-se, por seu agir, com o mundo. Este é
<ii;ii;iodc Dcus, mas nele, liberdd<le. katernidade, justiça e liar. sLi licqiicniciiicntç
~li.siisl~çil;id:is, abertamente conihnti<l:is ou ;ité tatilmente iipriiiiid;is 1x1s l i ~ r ~ ;(1~s..
is
i~iiiiv:i\.ciiiiii;íri;is :i vi<l;i. I>:ii iciiili:i :i ~ircc;ii-icd;alcdii cxisii.ii~i;iIiiiiii;iii;i. 1Icl;i
I IX
Lutero falou coni paiide iiianqueza. Chaiiiou o inundo de "coisa doente" e "um
verdadeiro hospital". Nciii por isso, porém, sugeriu a resignaçZo diante da política e
muito menos a retirada da mesma. E impossível fugir da política. Ela iiiarca sua
yrcsença na vida das pessoas, sempre. Frente a realidade humana prechia, constan-
s temente ameaçada pelo caos, Lutero destacou a importância da política em geral e
do governo em especial. O próprio Deus se opóe às forras desuutivas, a« caos.
Cornbate-as numa luta gigubesca através de seus dois regimes. Nesta perspectiva
escaiológica, política e goveriio são necessários justariientc para h p e d i r o caos, a
gucira de tod«s contra todos: "o inundo tem que ser governado, se nEo quisennos
io que os seres huiiianos se lrruisfonnerii em Ierds".
A disiinçáo cl;u-;i e precisa dos dois regiiies dc Deus é teologicniiieiite Funda-
iiienkl para Luter« na abordagem de questóes políticas. O reino do muiido, h b i t o
de atuaçHo do regimc secular dç Deus, é regido pela raZo. Por isso Lutes», apesar
de sua "inexperitncia" política, é perfeitamente c a p ; ~dc iazer observaçóes e co-
ii mentásios inuito perspicazes c inteligentes sobre a vida no mundo c, sobretudo, a
pritica política, c q a também de dar pareceres e fazer propostas concretas Fira esta
irsa. Disso dão testemunho os textos deste volume.
Para a melhor cc~mpreens;i<idas manifestaçíies de Lutero sobre a temlitica do
goveriio cabe lernhrzir uina circuiistância específica <te suii situação no si-culo XVI.
2 Lutero n,ío era súdito de um império colonial coino os de Pomigal oii dn Espanha.
Não viu as quest6es políticas na perspectiva de países cujos conquistadores navega-
vm pelos mares para ocupar e explorar Novos klundos. Residiu num dos muitos
tciritónos em que estava dividida a Alemanha, a S:ixonia eleitoral. Tratava-se de um
dos principais tcmtórios no contexto da Alemanha, mas muito pcqueno numa pers-
15 pectiva curopéia ou ultrainanna. Para Lutero, o govemo nZo era, como no Estado da
titiialidade, a cabeça de uriiri enorme estrulura político-administrativa, impessoal e
anotiirna. O Estado que Lutero conhecia era inuilo ~iiaissimples. O govemo se lhe
iiprcstiitava de forma pessail: era a pessoa do prúicipe ou da princesa goveriiatites
ou, eiii algutis ç;isos. o Cc~nsclho(C2mar;i) de uma cidade. Maior iiifluéncia sobie a
imagem que tinha dos govcmantes, exerceram alguns homens e alguiiias iiiulheres,
sovemantes das duas Sax6nias1. Entre os govcrnantes de sua Saxóiii~ieleitoral
gozava de sua estima sobretudo o príncipe-eleitor João, o Constante2, mais do que o
h â i o c antecessor deste, Fredciico 111, o Sábid. e o filho, JoZo Fredeiico I, o
Magnânimo4. Joáo confiou ;ias teólogos de Wittenberg um papel decisivo na procura
v por decisóes políticas correias. Os te6logos aniavam como parcçiros do príncipe em
I A SaUik'i foi dividida em 14x5 ciiire os dois filhos do priiicipc~rleitorFralçriço 11, Eriiuto
(144.1486, príniipz-eleitor dçsde 1464) ç i\1Mricn ou N k r t o (144315CK). govcrnantr
itcsili 1464, juiitameiite com Emesto). Governavwii; respccuvamentc, a parte rnicstina c
;ilhcrBria da SaxUnia. Deles ?c oiiginaram as linhas eniestin:i e dbertina da dinastia dc Wcilin.
2 IilhX-1512. dcsde 1486 co-iciienle u
de scu irmão luais vclho, Fredericn. o Sáhio (v. a iiolii
\cguiiitç), (Icsdc 1525 príncipc-clcilor.
i 1,103-1525, prínçip-eleitor dcsde 1486.
. I 15051554, príiicipi-çlciioi ili 1532 a 1547. Perdeu a dignickidç cliitnial na <;ucri-ii iIi
I : ~ ~ I I ; I I G B ~ c I v (lS46/47) l~z\r;to govc~~~;toic
da Sitxfir~ia~ ~ l t x ~ i iMaitrícic
na, (lS2l-l553, ~ L I L [ L I C
<li.c<li. I54Ii.
conversas particulares ou mediante caiia, pareceres e prédicas. Desta maneira toma-
rcmi-se também um fator importante na fomiaçS» da opiniâo pública quanto a
questòes políticas.
No que diz respeito aos govemantes, Lutero foi realista. Para ele, a grande
inaioria, ao longo da história, eram medíocres ou ruins. Apontou para seus erros e s
crimes, falhas e omissks. Costumava chamá-los de tiranos. Admitiu que também
houve - e há - governantes realmente bons, honestos, preocupados com o k m -
cstar do povo, cristãos. Mas são rdssimos, "caça rara no reino dos céus". Do ponto
de vista da fé, tais "homens milagrosos" sâo uma dádiva que só Deus pode dar, o
Senhor da hist6ria - "quando. onde e a quem ele quer". Dádiva de Deus sã« ~ i i
isiiibém os bons servidores que os govemantes tivereni. Didiva de Deus é, por fim,
nqiiilo que brota da açZo de bons govemantes e seividores: um governo boni e sadio
que piovidencia para o povo paz, segurança e felicidade. Nesta perspectiva teológica,
I.utero pode chamar o governo político até de "símbolo da verdadeira bem-aventu-
i-wiçrt" e "imitação ou máscara" do reino celestial de Deus - sem jamais se is
esquecer de que, na realidade, tais "símbolos" são exceçóes. Em outras palavras:
I .iitcro avaliou o mundo poiítico sempre com olhos críticos.
Os textos deste bloco mostraili várias facetas de Lutero quanto à temitica do
1,ovcriio. O primeiro dá a conhecer o teólogo, monge e professor universitário, nurii
iiii9iiiento particulameiiie decisivo da Refonna. Sozinho diante dai ninis altas auto- 20
iicl:iiles políticas do Sacro Inipério Komano-Geniiânico, na Assembléia Nacional
[ I )ii.i;i) de Woims (1521), Liitero enfrentou enorme pressão política e, baseado
iiiiicciiiiente na palavra de Deus, recusou-se a ceder e a se retrat;ir de sua pregasão
i.v:iiigtlica. Nos segundo e terceiro textos vemos Lutero como conselheiro teológico
<Ic p)vemanies em questôes políticas. No quinto texto aparece o professor universi- zi
i;íiiii que abordou uma importatite queslão política num debate acadêmico em nível
~.iciitílii.o.No quarto texto fala o fiel intérprete da Sagrada Escritura. Quanto no
u,iiiçúdo dos textos, destaca-se. iio piimeiro, terceiro e iliimto, o problema cios
Iiiiiiics do poder político em relaçâo a questões de fé. O terceiro e o quinto giram
i~\l~rcilicamente em tonio da questiio da legitimidade da resistência à autoridade 30
siilrrii~rcm casos de iminência de medidas violentas contra a pregação evangélica.
Nu sc,ciiiido texto Lutero expôs o p ~ c í p i o
em que se deve basear c) agir do governo.
No i~i~:irio desenvolveu sua imagem de um bom govemante crislão e de suas
iiii-iiiiiliiiici;is,atitudes e procedimentos.
31
J o a c h h H. Fisclier
Discuno de Lutero em Woms
- 4 . .
I Diciio B. Martuii Luthen coram Caesare Caro10 et piincipibus, Vo~rnaciefeni quinta JHRI
Miscricordia Do-. - WA 7,831,16-838.9. Tradução: Ilson Kayser.
2 As iiianileslaçóes oficiais da Cúria Romaria costumam scr citadas pelas primeiras palavi;ir
iIc scii texto latino. No caso da bula supracilada, as pdiivras são uma citaçáo da versáo I;iliii;i
ilii v. 22 do S;ilm<i74; sigiii1ii:;im: Livlmia-tc, Sciihoi [c defende a tua causal!
11 'li;t<luy;io:c'olx: ;s>l'r~iiiíliccI<~>iii;iiiii.
o refomador fosse ouvido antes de ser julgado. Por ocasião de sua eleiçáo, Caslos
V Iiavia se comprometido a não proscrevcr a ninguém sem ouvi-lo. Por urna carta
(1ç h de março de 1521 (provavelmente redatada) solicitou a prisçnça de Lutero em
Worins dentro de um prazo de 21 dias após o recebimento do coiivitc, soh a garantia
< l i iim salvo-conduto imperial. Lutero recebeu a carta ein Winenberg em 29 de s
iniru.ço. Em 2 de abril pastiu dali, numa carruagem. Chegou eni Wonns em 16 de
:ihril, pelas 10 horas da manhã, entusiasticaincnlc recebido pela multidâo.
No dia seguinte, 17 de abril, pelas 4 horas da tarde, Lutero coinpariceu perante
:I Asseinbléia Nacional. Como portii-voz do imperador atuou João von der Eck (ou:
Ilcken)" um fuiicionáno do arcebispo de Tréveris. Eck perguntou a Lutero, primii- iii
hiin autoria. Não quis precipitar-se num assunto tão importante. Foi-lhe concedido o
prazo de um dia.
Lutero preparou-se por escrito para a resposta que daria oralmenlc li» dia
seguinte. Existem ainda dois textos de sua pr6pria inâo: o fragniento de uin primciro
c~shoçode seu discurso, em alemão (WA 7,815), c a versZo latina do discurso, na 20
I N:icii<l<icm Tréveris, tomou-sç proiessi>id i Dircitn cm sua cidade natal, em 1506. Dcsdc
I'il?, ci:i iiticial do arcebispo. Faleceu em 1524.
' . \i.r;i i.1 m ge.ytae D M;uiini Lulhçri in Coiniliii Piincb~omVomatiae. 1521 = Au<lit.iiciac
Iciios 110 111. Maninho Lulero na Assembléia dos Prínciocs em Woms. 1521. - Oiltrii
I Discurso de Lutcro cm Wonns
Utna tradução iilernli d« texlo latino foi publicada em Erfurt (por isso chamada
de "tradu<iZ>de Erht"), Wittenberg, Leipzig e, numa versão em baixo-alemâo,
Halberst;uit. Outra tradução alemã foi feita por Jorge Espalatino (1484-1545), na
época secretário, conseiheko e pregador na corte de Frederico, o Sábio. Essa tradu-
r ção foi impressa, ou separadamente ou dentro de um relato sobre toda a audiência
de Lutero em Worms, em 17 edições, reimpiessócs ou coletâneas, publicadas eni
1 Estrasburgo, Hageiiau, Witieiiberg, Basiléia e Augsburgo, mais uma traduçlio para o
baixo-alcmão. Houve ainda traduções para as línglias tcheca e holandesa. Somente
no ano de 1521, o discurso de Lutero foi diviilgado em 33 edições, ao todo. Este
1 111 número elevado indica que os contempor,beos haviam percebido: aquela audiência
em Worms foi um momeiit« decisivo da histcíria.
Naquele momento delineava-sc a distinção clara entre Igreja e Estado, poder
espiritual e poder secular, I'&e polílica - a distinção, não a separação. Diante da
suprema instancia política do país, Lutero recusou-se a se retratar ein questões de fé
1s e teolr~gia.Apoiadc na consciência cristâ, enfrentou o poder político. Assim apontou
para os limites do poder político: este nlio tem nenhoma competêiicia em questões
de fé. Lutero demonstrou que não s i abandonam convicções de fé por causa de
pressões ou conveniêiicins politias. Mas sua posiçáo iião foi apolítica. Ao contrko;
justamente seti compromisso exclusivo com o Evangeliio teve o maior impacto
,, político. 9 an«s mais larde (1530). na Assembléia Nacional de Auguhurgo, os adeptos
c dcfcnsorcs da Reforma iniciada por L~iterocolocariam na frente de sua confissão
de fé, a C«nfissá» de Augsburgo, o leina: "'Tuinbém filarei dos tetis testemunhos na
presn~çacios reis, e iiáo rne envergoiiharei" (Salmo 119.46).
J«achim H. Fischer
25
i,,
JESUS.
Sereníssimo Senhor Imperador, Ilustríssimos Príncipes, Clementíssirnos
Senhores! E m obediência ao prazo qiie me fora fixado ontem noitc,
compareço pela misericórdia de Deus, suplicando que Vossa Sereníssima
'5 Majestade e Vossas Ilustríssimas Senhorias se dignem, assim espero, ouvir
com clctnência a esta causa da justiça e da verdade. E se por acaso, devido
a minha inexperiência, não tiver dado a alguém o devido título, ou, de alguiii
modo, pecar coiltra os costumes e maneiras palacianos, peço que me pcr-
duem benignamente. Pois náo sou homem habituado a cortes, mas aos retiros
tnonisticos. A rcspcito de mim mesmo nada posso dizer senzo que até itgorii
csçi-cvi e ensinei com mentalidade tão humilde que nada procurei senXo :i
~161-i;tde Deus e a siiicera instrução dos crentes e m Cristo.
Sei-criíssirrio lmpcrador, Ilustríssimos Príncipes! Quanto aos dois nriigos
qiic oiiieiii Vossa Slcrcriíssiin;il M!jcsladc inc aprcsciitou, oii s i ; \ , se coiili.sso
screm meus os livros mencionados e publicados em meu nome, e se insisto
ctn defender os mesmos ou se estou disposto a retratá-los, já dei minha
resposta pronta e clara com referência ao primeiro artigo, no qual continuo
persistindo e persistirei para todo o sempre: os livros são meus e foram
publicados em meu nome; a não ser que entrementes tivesse sido modificado s
iilgo pela astúcia ou sabedoria incompetente de meus opositores ou perver-
samente excluído. Pois não me confesso a nenhuma outra coisa senão àquilo
que for exclusivamente meu e de minha autoria, sem qualquer tentativa de
ititerpretação por quem quer que seja.
Como, porém, devo dar uma resposta ao segundo artigo, rogo a Vossa 111
S[ereníssima] Majestade e Vossas Senhorias se dignem atentar bem para o
ktto de meus livros n.20 serem todos do mesmo gênero.
Pois em vários deles tratei do valor da fé e dos costumes de forma tão
simples e evangélica, que também meus adversários têm que admitir que são
Citeis, inofensivos e de toda forma dignos de serem lidos pelos cristãos. 15
'Eimbém a bula7, embora no mais violenta e cmel, considera inofensivos
vil-iosde meus livros, ainda que os condene com uma sentença absolutameu-
ic contraditória. Por isso, se eu agora passasse a retratá-los, que outra coisa
isiiuia fazendo senão condenar, como único entre todos os mortais, a verda-
[lc que justamente amigos e inimigos confessam ao mesmo tempo, colocan- 211
ilo-ine eu sozinho em oposição à confissão concorde?
O outro gênero de meus livros são aqueles que investem contra o papado
i, os negócios dos papistas, bem como contra aqueles que devastaram o
iii~indocristão com suas doutrinas e péssimos cxeinplos ou outros vícios
t;ii]t« espirituais quanto corporais. Pois isso ninguém poderá negar nem u
iscotider, uma vez que a experiência de todos, bem como as queixas de
iiiiiitos são um testemunho de que pelas leis do papa e por doutrinas huma-
ii:is as consciências dos fiéis s2o miseravelmente enredadas, torturadas e
iii;iilirizadas. Também os bens e posses nesta outrora gloriosa Nação Alemã
Ii~r;iiiidevorados com incrível tirania, e ainda continuam sendo devorados 30
s(.iii li111e de modo revoltante. Isto que em seus próprios decretos e leis eles
iI<.tiiiiiiiiame prescrevem (como na distin. 9. e 25. q. 1. e 2,)"ue devem
1 (.iriisitierada~errôneas e condenáveis as leis e doutrinas do papa que
~ i Evangelho
~ ~ ~ i i I i ; i i - i : (i i~ ou a opUúáo dos santos pais. Se agora eu retratasse
i : i i i i l a ~ i i i o cstes, não estaia fazendo outra coisa senão defender o poder do 3s
I I I ; I I I O c nhrir não só as janelas, mas também as portas para tão grande
iiiil~icil;alc.e ela haveria de continuar a grassar de forma mais ampla e livre
i i . i r m 1 ~ c ~ ~ , (Ii. ~ . ~ , in i i i i < i i t i < r d < i . guc I>cus rnc ajude. Amém) sii sz enciinir;i cm c < i l c y k s
I ~ c , , . I ~ . u , , c ~ ~ r, \ c ~ t i <clc ~ s l,uIcr<~, Ai6 (1 csho(xj do ~liscurs,~,
<Ia n120 LI<> p~<'Il?!icl . ~ ~ i c r o ,
~ , ,> vi.~i:i<i iii:ii\
, ~ I . c~ t81.1 Iirrvc :i <irigiii;il, 1iii11;iiit<i.
5
Lutero a Câmara de Danzigl
Wittenberg, 5 (7?) de maio de 1525
I
INTRODUÇÁO
I0
Em 1525, o governo (Câniard ou Conselho) da cidadc de Danzigz dirigiu-se a
Lutero. pedindo que Ihes cnviasse um prcgador evang2lico. Penswam no pároco da
igreja niiitriz de Witlenberg, João Bugenhagenz. Mas a comunidade de W~ttenberg
não o libcrou. No lugar dele, Luter« mandou-llirs Migusl Hanlein4. Na carta que
i5 reproduzinios a seguir, recomendou-lhes o novo pregador. Aproveitou a oportunida-
de piua adverti-los contra os adeptos radicais da Reforma. aos quais caracterizou
como "espíritos entusiásticos". Nestc contexto abordou brevemente uma questiro de
importância ~~iiidamental p~raacompreensâoevangélica da tciiiática do governo secular.
Panindo da distinção entre os dois regimes (Rcg~nieiile)pelos quais Deus age
20 na histhias, Lutero at-mou que ass~~ntos profanos devem .;?.r resolvidos e regula-
inrntados pela autoridade secular (o govcrno civil). Ela é a ":iiitoiidade ordinária".
A ela cabe I;uiibi~iipiomover as altera$ões necessárias no ordein sóciu-poliiiça
existenre. Lutero teiiua que a ç k s espontâiieas do povo (do "honieiii coriiiiiii") pudessem
~ ~ ~~~- ~ . ~~~ ~ -~ ~-
u ..
2 Nwiic atual: Gdansk. A cidade periince hoje a P<ilótua.
3 loj,Por~uner(1485~1558).Natural dii Poinerânia, por isso :ilizlidado de Ponunrr ou Pomcr
(o Piiriicranul. Adenlo de Lutero desde muito ceda Foi rsnidar Teologia cm Wittenbe~i:c111
1521. pasraiidoa sc;pároco da igr+ matriz da cidade, em 1513. ç proiçssor da ~niversidadc
cm 1535. Intimo aniigo de Lutero, colaborou na traduçâo da Bíblia e loi seu conscIheIrr>c
coriiessor. Atuou, na prática, como bispo cvangélico, emhor;l sem ocupar fonnaheniile tal
cargo, ao promover a organiraç5r>da Igrcja EvangElica Luteraiit cm vdnas regii~sdo iioitç
da Alemanha (Braunschwcig 1528, Hainhurgo 1529, Liibeck 1531, Pomerâiiia 1534, Hol-
stein 1542. Rraunschwcig-Wolfenhüllcl 1543, I~Iiideshcini1544) e na Diriamaca (1537).
B!gcnhagcii é tiiinsiderado o criador da casa pastoral cvang6licu. pois ca~ou-sejaem 1522,
1rcs anos .1l11rS dc Lutero.
4 Miguçl Htrilri~i,que lambéni aparece nas fonies com o sobreiinme Miiris ou Meurer Natu~il
iIc Hairiicheii (Sns8iia), nioiigc cislcrciense quc aderiu à Rçfonna il<:sdr muito cedo. Si eili
1520 Lurero dirieiii-sc a elc por carta como Mchael MuBs. Ci,íreri.icn,serin Alizelli..
Aililiiii-iu o grau dr n~,y;ster(Meslrc) em Leipzig. Anieaçudo pela lnquisifo, transferiu-sc
['.".I Wille~ilxrgondc se lnahiculou em 1525. I'rofenu seu seniião dr ;ipresentnçáo cri1
I>:iii,ig n o ilia 4 <Ic ji~nliodc 1525 e já ein maio de 1526 abaidono" a ridiidr, si~h:I
(*.i-~i.gtii@i> <IçSigisrnundo 1, rci da Poi'olonii (1467-1418, rei desde 1506: o n M ~ rglã,-<linliir
i
tI:i I .iiii:iiii;i).visto qrie coiiskiva da lista dc proscritos d<i bispo de I*.\I;iii íi,i,nic 1piilocii.s:
Wl<icl;iwck).I'riiiicii:u~iciitç:issiciiiii~ o p;i;lora<locni R;i\leiili~irgc<Iclini\cinliikiiiclil Kiiiiigs
1x.i~.I<ili,<rilc i i i <Ic,,c~iil>lr> iIc 1537.
> 1 ' I . :I Illll<lllllv:i<l
:I (.\!C 111,1<0.
< ;c,virno
ii,\iiliar em anarquia. Ele foi democrático (por essim dizer) apenas no campo da fé
I
:to tifirniar a igualdade de todos e todas perante Deus em questoes de fé. No campo
<I:i política nâo existia o conceito de democracia segundo o qual todo o poder emwa
do povo e em seu nome é exercido.
Os "espíritos entusiásticos" afirmavam que a lei de Moisés (do Antigo Testa- s
iiiciito) vale, ao pé da letra, também para os cristãos. Ou entendiam o próprio
I lv;iiigçlh« como um conjunto de Icis para a vida da sociedade humana. Consequen-
i,.iiiciite concluíram que o mundo deveria ser g«vemad» segundo a lei de Moisks ou
scguiido o Evangelho, compreendido ao pé da letra. Lutero rejeitou tolalmenle esta
i.iiiiccpçZo. Numa folha anexa a sua caita fonnulou sua posição com prccisâo: "A io
1i.i cIc Moisés estj moita e totalmente invalidada, e, inclusive, foi dada apenas aos
jiiili~iis(...). O Evangelho, por sua vez, é lei espirilual, segundo a qual não se podc
i:ovi.riinr". Lutero chamava a lei cerimonial e civil do Antigo Testamento de "Có-
c l i j v ' ('ivil dos judeus", em analogia ao Código Civil da Saxônia, daí "der Juden
.S;,C~/~,\~~~i.vp;egeJ '. 1s
N:i liilha anexa à c m , Lutero cxemplificoii sua posição, significativamente,
i i i ~ i i i i i i~i~cstáo econômica, a dos emprCstimos a juros. Constatou, de saída, que "o
tii~lucdiiiilr> a juros é totalmente mti-evangélico". Mas nem por isso o governo civil
I ~ < I I I :il,olir ~ dç vez, pr~rdecreto, todo « sistema de juros. Não pode transformar o
c - i i i i r i , . i ; i i l < i cv:mgélico cm lei estatal. Tein que agir polilicamenlc, de acordo coin os 20
1~1itii11~os <I:i Içi natural, do "bom senso natural". Só a partir deste "niestrc e
c I i i ~ ~ i ~ i / 11c~lc " haver um governo bom e justo, seja nesia questáo dos juros ou em
t>iii~;i:; i~iicsiôesconcementes à vida n;i sociedade.
A iI;ii;i iiidicada na carta e na folha anexa apresenta dificuldades. Em 5 de maio
i..i.ii;i kii-I :intes do domingo Jubilate), Lulero ericontrava-se ainda numa viagem. 2s
I:iri111c~ico sc tem certeza sc conseguiu escrever o tcxto no domingo Jubilate, 7 de
~ii:iii,.i i i i i (lia após ler voltado da viagem. NZo há c«mo eliminar totalmente esta
<Iiivi<l:i.OS ol.iginais de Lutero provavelmente foram entregues, em 1526, ao rei
Sij'i~iiiiiiirlo,d;i Polônia, e se perderam. Existe uma cópia manuscrita e uma edição
iitil~ww:~. Nclas se baseia a repr«dução na edição de Weunar das obra de Lutero iii
Joachim H. Fischer
Iris e pi-bticas devein estar subordinadas ao bom scnso natural, que é seu
iiicstrc e direiii~.Caso, então, se queira acaba coiii as taxaqoes, não se pode
;iv:iii$cir e aboli-las todas de uma vez. Pois poderia ser que alguém ernpres-
i:issi. i i i i l flori~ispor três anos e não tomasse sequcr duzentos florins de juros;
c.ssi. scria prejudicado c seria unia privaçiio descabida, e o tomador de 211
c~iiilwCstirnoseria excessivamente beneficiado, sem qualqucr justificativa. Da
iii<~siii:itbrina também não se deve descontar os juros do capital. Para que
Ii;ivci-i;i eu de cedcr mil florins e deixar que fossem diminuídos crn ciiiqücnta
:i i.;iiI:i ano, como se eu fosse uma criança'? Antes eu pr-eferiria ficar com o
iliiiliciro e usar eu prcíprio cinqüenta florins do mesmo (1 cada ano! Tudo isso 2s
ii;io tctn cabimento e e tun Evangelho imposto. Pois o Evmgeiho certamente
~.iisiii;iahru mão voluntcii-iamente de todos os bens, liias quem me impõe
s~~iiiclliante prática está tí;uido o que é meu. Caso h ~ j aiiiiriiçiío de dar
~~iii;iiiiiiili;iinento justo h quesrão dos jiiros, pode-se fuê-lo dc duas maneh-as.
A ~ ~ i t i i r i ii.- ; ~regulamentá-los segundo as Icis liumanas, ou seja, que se ~~~
l ~ ; i j 7 , i i ~ . iviiico
ii Iloriiis para a utilização de ceiii durante um ano, assumindo
i i i i i ii5i.11 ~ ~ , l icinco ) s florins, isto é, mediante deiennhado pcnhor que corre
t <.i 10 i i i i i r : <.i)iiio I:ivouras, pastagens, açudes, casas, que, caso não rendam,
' ~ Ii Ic ~ i i t I : i i i i I M I I I C O c111um ano, também o juro se reduza na mesma medida,
t < t i i l c ~ ~ i i i( I~ - i I ~ ~ i i . i i i i i i i ; io direito natural. Isto deveria ser reconhecido pela 35
INTR~DUÇAO
A Assembléia Nacional de Woms (1521)2foi encemda em 25 de maio de 1521. is
No ilia seguinte foi expedido pelo iinpcrador Carlos V, com data de 8 de maio, um
"lii;iiidado" contra Lutero, o Edito de Woms. Como protetor da Igreja, o imperador
~>~<.Irii<lia executar, em nível secular, a excoinnnhão de Lutero, decretada pela Cúria
l<i,~ii:iii;iem 3 de janeiro de 1521, a fim de erradicar a heresia deste. O Edito ordenou
c ~ i i ' ' I .iiiero fosse detido por queni o encontrasse, e entregue ao imperador. Proibiu a zii
iIiviil~!;i$io e leitura (!) dos escritos de Lutero. Prescreveu a censura episcopal prévia
I ~ ; I ~ lo<l;is
;I as publicações referentes a questões de fé. Previu a q k s punitivas também
< < i r i i i ; i iis que aderissem a Lutero e o apoiassem. O Mito visava, pois, urna açáo
~ . o i l . i ~ i i i i ; <Ic
i Estado e Igreja, com base iia legislaqão mediev;il contra heresias.
I)iii:uite um decênio, aproximadamente, o Edito de Worms foi um dos mais zi
ItiilnIr1;intes instrumentos pelos qnais o imperador e os paitidirios da Igreja papal
ii.iil;iiriin acabar com a Refoma. Na prática, uma série de fatores impediu sua
;iltlic:i<;ão. Pelo antagonismo das forças envolvidas e a multiplicidade dc interesses
riii jogo, a história daqueles anos tomou-se um processo cheio de tensões, sobretudo
;111~is a Gucrra dos Camponeses (1524/25)3. Ambos os lados org;inizaram suas alian- 30
y;is político-militares. Em 1526, a I" Assembléia Nacional de Espira deixou aos
}:~~vunantes dos territórios alemães a responsiibilidade de executar ou nZo o Edito.
l is1;i dccisZo s i g ~ f i c a v a suspensão do Edito nos territórios evangélicos. Possibilitou
;I org:iiiização da Igreja Evangélica nos mesmos e a adesuo de outros territórios ao
iiioviiiicnto. 35
O lado católico não parou de pensar em medidas mais eficientes conh-a a
Ilcliiriiia. Nem excluiu uma ação militar para restawar a situação anterior. O lado
i~v:iiigdico,por sua vez, discutiu repetidas vezes a pergunta como deveria reagir a
1;iI ~I:ICIIIC. F~xleritimdefender-se também com meios militares, inclusive contra o
I Ilii l::it\iliI:i!: Ih~iti~ris M:,ilirii Lurlieii, ob dem Kaiser, so o ,jemmd mit Gewalr des
I~i.ir~~:,~liiriiiv Ii:,llr.ii ril*.,iicIi~.iiwolltr. mil Rechl Wider.stand gcschehen miige - WA Rr
'L''!X !(,I . O'' I \o. ' l i : ~ , l ~ ~MIIcr ~ ; ~ oO.
: ,Schl~~pp.
' I 'I i 8 I c i i r ~ ~ ~ l i i ;i<>~ . i <~ u~ i ! i i < ' i i i , t<:xio<IcstcIilrico, neslc voliliric, p. 121ss.
( 1 'I t,,. 1 ~ ~ 1 x I.I Vi I V , , I<.XIIIS IICSIC VOIIIIIIC. 11. 271~401.
Se C Pennitido Rcsisiir ao Imoerador
imperador? Houve até quem propusesse uma defesa ofensiva dos evangélicos, ou
seja, uma guera preventiva contra os católicos.
Lutero rejeitou terminantemente esta possibilidade como sendo rebeliao, com
conseqüências imprevisíveis para o país inteiro. Desaprovou até qualquer resistência
5 amada ao imperador. Para ele, o objetivo supremo dos evangélicos devia ser a
preservação da paz. Suas reflexões teológicas ein tomo desta questão constituem uma
paite importante de sua ética política.
Em 1529, a polarização das f o r ç a aumentou corisideravelmente. A 2' Assem-
bléia Nacional de Espira (inarço/abril) revogou a tolerância concedida aos evangéli-
i11 cos três anos antes. Revalidou o Edito de Woiins. A minoria evangélica protestou
corilia a dccisZo. Desic protesto (em latim: piotestati«) origina-se o nome de "pro-
testantes" para os partidinos da Reforma. Mas o protesto nâo afastou o perigo de
um contlito miliix. Ao contrário. O imoerador Carlos V veio novamente vara a
Alemanha, pela primeira vez dcsde a Ássembl6ia Nacional de Worms. ~ k t e n d i a
ii resolver tainbCin o conflito relieioso.
u ,
na Asseinhléia Nacional orevista nara o ano de
1530 na cidadc de Augsburgo. De novo os protestantes esiavam confrontados com o
problema da defesa militar contra o imperador. As opiniües dos teólogos divergiam.
Os políticos tampuuco tinham certeza. Em 27 de janeiro dc 1530, o príncipe-eleitor
da Saxonia, JoZo4, solicitou mais uma vez um parecer dos teólogos de WinenbergS.
lu Lutero consultou setis colaboradores e amigos Justo Jonash, João Bugenhagen7 e
Filipe Milanchthon8. Respondeu ao príncipc-eleitoi- ern 6 de março de 1530. Trata-
se, exprcssarncnte, de um parecer teológico, não plítico nem jurídico. Segundo
Lutero, o Novo Testamento proíbe a dcsobediencia ao imperador, mesmo se este
praticar injustiça: "o cristão deve (...) suportar a violEocia e a injustiça, particular-
:.i.i;i lirl c iiZo nos deixará, certamente também encontrará meios de nos
.11i111;1i r (Ir preservar sua palavra, como fez desde os primórdios da cristan-
c l . i a l ~ . i. ~wiiicil>;iltnente na época de Cristo e dos apóstolos. Por isso, para
i ~ i i i i i , C. ~ o l i r i - : i r11 carro tia frente dos bois quando se resiste à autoridade
. i l l l l l < l l l ) l 11:ii:i ~l<lI+i~dçr o Evangelho. Com certeza, é uma fé bem distorcida, an
I II:IO . i c i ~ ~ i l i i que:i Deus, sem nosso entendimento e poder, sem dúvida
t t ~ i i l i c . t C . ~ ~ I I I I ;iii:iii(:iras
IS de proteger c ajudar. Deus preservou o rei J e ~ o n i a s ' ~
C ~ I I , I I I ~ <.,.I<.~O l i i i i i ii;i palavra de Deus, mesmo por meio do seu inimigo, o
I I I I ~ I ~ I . I ~ I OcI:iI I!:iljili~iii;i; o mesmovale tambémparaoprofeta Jeremias, pois sua
V. M. P. E.13
submisso
Martinho Lutein
Salmo 101
Interpretado por Dr. Martinhu Lutero1
1534135
Prefácio
listc C um daqueles salinos qiic louvam a Deus r ihc agratlccein pi.Ii~
i.sI:i<lo secular, como o f u e m os Salnios 127, 128 e outros tantos. Juntamçiiic
~ o i i ioiitros salinos, este sempre foi cantado lias igrcjas pelos clérigos que
i i i i l i ; i i i i :I 1>rcicrx3ude scrciii o íiiiici>s;iiito c hciidito povo dç Deus c :i Igrci:i.
M;is não percebiam nem consideravam de forma algiiina que com esses
slilmos enalteciani com a boca de iiiodo tão elevado o mesmo estado yiie
clcs tratavam diariamente de forma humilhante e que calcavam aos pés. Se
tivessern compreendido esses salmos, creio que os teriam posto de lado e
i;imais os teriam caiitado. De tato, não faz sentido que essa gente sanla cante 5
iiiío obstante, recorrer às muitas coisas que ouvi e anotei de outros e valer-
iiic da História, para poder entender e interpretar as palavras do presente
\ ; i l i i i r i da maneira mais clara possível.
Mandamento. Por essa rario ele resiste com toda força aos soberbos, como
diz S. Pedro [ I Pe 5.3). Os filhos de Israel tinham a causa mais justa contra
os berijnininitas, como raras veres se ouviu (Jz 20.17ss.j. Não obstante, o
grupo bein maior foi dermtado duas vezes pelo gnrpo nienor dos injustos tão
severamente que perderam quarenta inil homens nas duas batalhas. Somente 5
sua causa é justa. Outi.os, porém, procc<iem de maneira riiuito pior ainda:
jiistificatii seu procedjmcnto com o fato de terem niais bens e poder. Deus
sciupre é esquecido. E por isso que as coisas estão corno estio. No entanto,
viiqumt<~ o pequerio rebanho de iiosso Senhor Deus, a Igreja, intercede pelos
i~,ise sciihores, eles ~isufruemdessa oração apesar de serem in<ligrios: não 15
I,i)bsc
< , assim, a situaqão seria tenível. Pois os filhos de Israel tambéin tiveram
t l i i ~ ,orar pela prosperidade de seu ininiigo, o rei da Babilônia, e seu reinoli,
:li< que vcio sua horinha na qual atonnentou e opruniu seus intercessores,
ii.iirlo com isso merecido 0 fim de seu reino. Assim iainbém estamos orando.
i.111iiossos dias, por nossos tiranos, até qiic tamhéiii eles mereFarn em nós,
11"' meio de assassuiatos e perseguições, sua mína, sem qualquer compaixão,
<~ii:indovier sua horinha. Amém.
Seja, pois, esta a primeira liç3o c cdvertrncia nestc salmo: uni príncipe
~ i i iscnhor dcve aprender e saber que criadagerii devota. seivos fiéis e um
I~oiiircgiine são dádivas de Deus, e que é um gnuide dom e seu tesouro mais 25
I X CS. Gn 34.25~s.;49.5-7.
I'> NXo foi possívcl vetüicar a ijiieni Lutcrn se reierc. Houve uês inipcrddores com o nome
de Prederico: Frr~iirico ~ ~ ~~ ~ I - Bailimiva
- - ~ 11122-1190. imnemtor desdc 1155). Frcderico 11
~~~ ~
ii:ii;irlo :i Aníbal como discípulo. Antes deveria ter tuado seu h;irrete diante
iIcIi c dito: Prezado scniior doiitor iia arte mai-cial! Pois Aiiihnl náo havia
i i l o criado pai-a ser aluno lia wte da gucrra, mas pcua que outros aprendes-
L.c.iii ilclc c fossem seus aliiiios. Ele fora criado por Deus mesmo para ser
iii~.sii-ciicsiii ;irte e não hr:i cducado e preparado para isso por outras 71)
2'1 Aiii7i:iI içvc uril imido. Asdnibd. rlerrotado pçlo exército romano cri? 210 a.C. c uiii;i
~ 207 a.C. No ~cguiidocombate, foi morto c sua c a k ç a jogada no ac;unp;i-
\<:giiriil:i v c riii
iitri,i<, clc Aiiílial. Luicro csti inicnssado em destacar a diícreiiça entre iim Iiomcni iiri1iii.i-
1 ii, ii>!ii<, como Aiiibal.
A~(lriilia1c iim çxlr.~<~idiii&io
I 0 ('I. I S ~ i i17.385.
modo, porque fora criado para ser um dos iiiilagrosos homens de Deus. Se
tivesse entrcgue o governo a oiitros e tivesse deixado dominar-se, decerto suil
sorte e sabedoria se teriam invertido e por causa de seus sábios coiiselheiros
poderia ter chegado ao ponto de tcr que quebrar uma tigela para ajuntar uma
colher. De modo semelhante lenios a respeiio de Augusto3', que quis delegar
o govenio a outros; iw entanto, ~ i i i e u<pieas coisas poderiam piorar, e fieoii
no Conselheiros sábios e pessoas inteligentes muitas vezes pro-
põem aos príncipes medidas que traiam grandes vantagens, mas niXo perce-
bem que atrás dess:i pequcna vantagem se escondem sete desvantagens. Eles
1 têm as iiielhores interições, mas 1130considrriun que Deiis tem pens:imentos
superiores aos deles, corno se ele tanibem tivesse qiie aprovar o que eles
consideram bom c proveitoso.
Ainda tenho que falar inais um pouco a seu respeito; pois ele foi meu
amado senhor e me deu o título de doutor3'. Em certa ocasião o Dr. Hennig
1 GodeThquis ensinar-llic a atlmiiústrar e disse: Magnuniiiio Senhor, por que
Vossa Excelêncki Principesca irianda fazer fogo com leiiha verde e não com
lenha seca? isso é um abs~udo.-Caro doutor, respondeu ele, o que em sua
casa é ;iconselhável ein minha casa é desaconselhável. Irma pessoa :issim ele
foi ein todas as coisas. Mas, agirido desse modo, ele encontrou e deisou atrás
31 de si iun grande número dc inacacos e palhaços. Pois muitos (conheci alguns
deles pcssoaltneiite, dos quais alguns ainda vivem). ao verem que esse
comportamento assentava bem ao duque Frcderico e que ihe granjeava fama,
resolveram seguir-lhe o exemplo e tainbcrn ilucriam passar por sábios; assim
come~ai-:uii a contr:itlizcr tudo qiie era proposto. E inesino quc fosse a
-7 sabedoria máxiiii:~~ nào adiniti~imque Iioiivesse algo dc bom e certo nisso.
E, procedendo dessa maneira, queriam ser duque Fredcrico. No entanto, eles
1120 haviam sido criados para serem duque Frederico, mas transformavam-se
a si mesinos em duque Frcderico e não passavam de F6rmios inúteis, que
. ah..iam inatraqucar e fuxicar bastante sobre a sabedoria. quando. na verdade.
5
iiiilhas. Que pode ser mais ridículo do que quando um macaco tenta realizar
Liiiia tarefa humana? Pode haver coisa mais tola do que quando um tolo quer
realizar a obra de um homem sábio? E como se o burro quisesse tocar a
1i;irpa e o porco quisesse fiar, porque suas patas são tão sutis e especialmente
Icitas para isso. Entre os gregos se diz: "Um macaco metido em vesles reais s
iiZo deixa de ser macaco"37.
Mas é assim que as coisas acontecem no mundo: onde Deus constrói
iiiila igrej,a, logo vem o diabo e constrói uma capela do lado, e até inúmeras
capelas. E o que está acontecendo aqui: sempre que Deus suscita um homem
cxti-aordinário, seja no estado eclesiástico ou no estado secular, imediatamen- tu
Iç o diabo também traz a público seus macacos e palhaços, que querem
iiiiitar a tudo. Mas tudo não passa de pura macaquice e palhaçada. Pois não
s:io as pessoas (diz a Escritura) por meio das quais Deus quer conceder
siicesso e prosperidade.
Esses infames e tolos nojentos, porém, têm só uma coisa em mente: 1s
:iili:iin que têm que imitar as honradas pessoas sábias e generosas, como se
< ~ i i iimitar ~ ~ r bastasse. Pessoas honestas, porém, não apenas simulam serem
s:il~i:isc ativas, mas o são de fato e agem de acordo. Conheci um desses. Ele
i:iiiiI~Emsabia fazer tudo. Quando se falava de guerra, ele tinha derrotado não
r i quaiitos híbais; quando se Sakava de justiça e sabedoria, ele tinha quinze 211
qiicrcrn ser doutor Lança. E quando consegue pôr a mão no poder, ele de
Iiiio imprime seu selo em tudo, de modo que se tem que reconhecer: Dr.
I .;iii+i passou por aqui. Pois quando a coisa é para valer e aparece o aperio,
l i ~ cvidcnte
i que essa espécie não presta para nada. O gato deixa cair a
I;iiiil~:idnc corre atrás do rato38e ambos desaparecem, o doutor e a lança, 30
,.ii.cio q ~ i cseja chamado de Dr. Lança. Ora, onde não tem nada dentro, dali
~ ; i i i i l ~ i i nada
ri sai.
0ii:iiido tais macacos e palhaços fazem suas palhaçadas em assuntos
iiii.iios iiiil~ortantesdo que a administração pública, isso pode ser admitido e
i<~lc.i:i~lo. Mas quando estão em jogo o país e o povo, reinos, principados e 35
tiiis pessoas são inestrcs por excelência e a prí>pria lei. As próprias leis
:itcstain que um imperador é a lei viva sobre a tcnii. Os macacos, porém,
[lcveriam aceitar conselho e advcrttncia, porque têm riecessidade disso. Isso,
~>oi"m,cles não querem; antes desejam ser igualmente v e r d a d c i i hoincris
iiiilagrosos e imitá-los em tudo. Pois o diabo os mont;i e tem as rédeas na
iiiiio. Embora tambáii os verdadeiros homens milagros«s 2.7 vezes caiam na
~prcsunçáoe se excediiiii na busca do sucesso. Ou cntio. quando vem sua
Iiorinha e Deus retira s u : ~ináo por causa de sua presunyZo e ingratidáo, eles
r:icm de tal maneira qiic iicnlium conselho nem raciocínio Ihes pode ajudar.
Aí cnrão têm que ir ;I riiíiia. como aconteceu com Anibal. Eles. porém, 15
11;ii;i vcr do quc é capaz. Pois não somos todos iguais. Se alguém é tão fraco
{ I I I C III:LI C 1na1 consegue caminhar, não,é vergonha para elc quando náo
titiiscgiic ncompanli;~~ uma pessoa forte. E justo que se deixe guiar e condu-
Salmo 101
ir ou que ande de hengiila, até que também atinja o alvo, se possível. e
louve o f m e que ihe comeu na dianteira a tão grande distância. Diz o ditado:
Quem não terii cal tem que construir com barro. Não obsiaiite está erguerido
a parcde a exeiiiplo diis paredes erguidas com argrutiassa. No entanto, o
5 serviço não tem a iiicsina qualidade. Como poderia unia pessoa doente
trabalhar e correr coiiio uma pessoa sadia sem prejudicar-se mais ainda ou
até causar sua morte'! Portanto. ~, se o Dr. Martinho não é cana/
,~ de cscrever
epístolas tão boas como a de S. Paulo aos Romanos, ou não sabe pregar tão
bein como Sto. Agostinho, é honroso que abra o livro e p e p uma esmola de
10 S. Paulo ou Sto. Agostinho'1% pregue seguindo o exemplo deles. Se nZo o
fizer tZo bem quanto eles iiein conscguc igualar-se a eles, a~iisidereque não
é S. Paulo nem Sto. Agostinlio, que estão longe em sua diaiiteirri cnquanto
ele tem que arrastar-se ait.:is tleles. E se Dr. Lanqa não atinge a sabedoria e
a inteligência do duquc Frcdcrico oii de Fabiano von Feilitzscli, coiivt'm que
1- vá c busque instrução ou estude os compêndios de &cito escritos pelos
expoentes dri siihcdoria para os menos dotados e riiais pobres de inteligéncia
p x a ensinamento e exemplo, para que rastejem atrás deles, visto que por
próprias forças não coiiseguem acompanhá-los neni correr como eles. Sc
Fórmio náo sabe gucncar tio bem quanto Aníbal, procuie a companhia de
21) Aníbal e aprenda dele tanto c1uanto sua natureza for capaz de aprender. O
que estivcr fora de seu alcance, deixe-o para Aníbal, tendo sempre ein mentc
que é Fómiio e i ~ ã oAníbal.
Justameiite isto é o diabo e a praga no mundo: somos difcre11tes em tudo
- na força física, no tanianho, na beleza, nas posses, de rosto, na cor, etc.
,l.i A,co~.siinlio(314~430),o ?:tis iiiipnrtmitr dos antigos pais (teólnpn?) da lgirjn oçirlenral (dç
kil:! 1oiiii;i). !i;iiiiral d;i Aliic:i do Noitr. convertido 30 crisii~nisino rin 3x7. hihpo <li:
Ilil~288:c. ti;i Aliic:i <I<> ciii 1'15, li1ul:ir em 3M).
Notic (i.<tii<liiilol.
155
justiça segundo a lei e a justiça segundo a natureza44.Eu quero denominá-
los de justiça sã e a justiça doente. Pois o que brota por força da natureza
isso se impõe ao natural, também sem lei, inclusive passa por cima de
qualquer lei. Quando, porém, a natureza está ausente e a9 coisas têm que ser
Ièitas por meio de leis, isso não passa de mendicância e remendagem. Não s
acontece mais do que aquilo que existe na natureza doente. Seria como se
eu quisesse estabelecer como regra geral que, numa refeição, se deve comer
dois cacetinhos e tomar um copo de vinho. Quando uma pessoa s i se senta
à mesa, irá devorar seis cacetinhos e provavelmente tomará uma jarra de
vinho ou até duas; assim ele faz mais do que a lei estipula. Quando, porém,
uma pessoa doeute se senta à mesa, irá comer meio cacetinho e tomar três
colheres de vinho. Cumpre essa lei somente na medida em que sua natureza
clocute o permite, ou então morrerá se tiver que obsewar essa lei. Aí é
iiielhor deixar que a pessoa sã coma e beba o que quiser e quanto quiser,
scin qualquer imposição legal. Para a pessoa doente, porém, estipulo uma 15
1)orção de acordo com suas condições, de mancira que não seja obrigada a
ij:iialar-se ao sadio.
Na verdade, o mundo é uma coisa doente; é um casaco de peles no qual
iiciii a pele nem os pêlos prestam. Os heróis sadios sZo raros, e Deus os
~.oiicedca alto preço; no entanto, o mundo tem que ser governado, se não 20
<.;ti-ccemde força e energia. Por isso temos que remendar e costurar, arranjar-
iios com as leis, enunciados e exemplos dos heróis registrados nos textos ou
livros. Assim temos que ser e continuar discípulos dos mestres mudos (ou
si:i;~,dos livros). No entanto, jamais o conseguiremos fazer tão bem quanto
t.si;i csciito ali; rastejamos atrás deles e nos agarramos a eles como em 30
I):iiicos ou bengalas. Além disso, seguimos aos conselhos dos melhores que
vivciii cin nosso meio, até que venha o tempo em que Deus providenciará
iiov;iiiicnte um herói sadio ou um homem milagroso, em cujas mãos tudo
;iii(I:i iiiçllior ou até melhor do que está escrito nos livros. Alguém que faz
i~iii~l;iii~:is ii;i lei ou a aplica de tal maneira que tudo começa a verdejar e 35
45 M;us uma vez Lulcro recorre a: Erasmo, Ada@ (p. 204,s.): Hçroum filii BOxae.
46 V. acima p. 148, n. 27 - Cíccro, excelentc orador, fracassou, no h, quando parliçilxiil
iitivamcnte, como lídcr, das disputas políticas em Roma; foi banido e assassinado.
47 Drm<isfcne (384-322 a.C.), lidcr politicri ateniense, participou ativamente da políticii ilc
ilclcsn contra a Macedônia. Foi perseguido pelos macedônios. Em Alenas foi env»lvi<l<i
iiiiiii processo por suborno e condenado à morte. P r a não ser dçtido e executado, suicidr>ii-sr.
.1X M:iico .lúnio Biuto (85-42 a.C., suicídio), lider político romano, participou ativaiiientc <I;i
ri>iispiiiiç3oconha Caio Júlio César (100/102-44 a.C.); foi um dos assassinos desiç. Si~ici~
iloil-sc qu;iiidii derrotado, com seu exército, pelo comandante militu nlmano M;iii.o Aoti,
iiici (cii. 82-31] i1.C.).
I I'. r , I c . I, 2 I . I.iilcri> cita ('icero, Dcmii~iinis,Bmro coiiio cxciiiplos
~~l:is~icc~s tlc SUCL lrsc.
I ;I>VCIIIII
planos inteligentes; tudo isso, porém, de nada adianta quando nâo é dado por
I)cus e por ele dirigido, antes tudo regredirá.
Isso basta por esta vez sobre o primeiro versículo desse salmo, no quai
Ih~vilouva c agradece a Deus por seu bom govemo e administração. Corn
isso confessa que náo ioo estabeleceu nem o manteve por meio de sua própria s
grxiide inteligência e de seus próprios sábios perisamentos, mas por meio da
cooperaçâo e diieçáo de Deus, que lhe inspirou tudo isso e o encorajou e
:ihençoou com sucesso e Selicidade. Como já disscmos acima, todos os
príi~cipese governantcs deveriam tirar daí a ligáo de que nâo é mérito seu
qii;uido conseguem governar bem, mas daquele que lhcs concedc tal succsso 111
c hênção. Devem aprcnder a não permitir que doutor Lança e mestre Sabi-
cliáo façam suas macaquices e palhaçadas com eles, mas a coniiar cm Deus
c rog~r-lhe que dirija e guie seus coraçócs a um govemo feliz. Devem rogar
i.spccialmcntc que jamais retire sua mão e que jamais permita que procedani
110ssabedoria própria e belos conselhos, ou que se aventurem presunçosa- 35
iiiciite a cmprecndcr algo que está acima de suas forças; pois isso não tem
i.iirisistência e o fim será abominável e insosso.
?O
Versículo 2
Procedo de modo cauteloso e sincero com nque1lt.s que me pcricncem, e
:!;o com fidelidade em minha casa.
Nesses três versículos sucessivos [v. 2-41 ele mostra como administrou 25
;il)cdotia que me capacita a governar meu reino e minha casa de modo tão
iii:ir:ivilhoso e bom e para tratar minha gente de forma tão honesta e correta.
I I i i i : ~ bênção e obra, etc. Aqui elc destaca duas coisas de que é capaz
~~<~so;ilrnente como homem milagroso.
O primeiro destaque: ele governa seu reino com cautela e honestidade e 35
c constatarem que isso é ccrto? Coiii cfcito, se isso ajridassc, cnt'ao certariirri-
tc terão superado longe a Davi nesses íiltimos dez anos, pois ele mesmo
,jaiiiliis 0 achou táo importante nem teve clareza sohre isso. O que falta aí é
cluc Deus não os escoiheu para serem tais homens milnposos e para que
Iizessem tais iidages por meio de sua palavra e seu serviço. Por isso os zi
iiiclui indiscriiuiiiadamenie dentro do grupo comum dos demais reis e prín-
cipes quc, como diz o Salmo 2, perseguem a Deus e seti Cristo, como
tiiiiibém o atesta Saiomão: "Considera as obras do Senhor! Ninguém pode
ciiiciidiir aquele a quem ele despreza" [Ec 7.131. Nem por isso, porém, estão
csriis;iilos. Se não possuem a graça para fazer milagres no serviso de Deus, i o
rlrs i?iri qilc fazcr omais que podcm, ou então ao menos não fazer oposição
i i i i 11~1-scgiii-lo. Que disse o papa Júlioz3? "Se nós inesmos não quisermos
svr (li.v~itos.;w1 iiiciios iião impeçamos outras pessoas de serem devotas".
' a r i i i cli.iio. I kivi c«iiicçou a cançãozinha em tom elevado ao cantar que
j : i i v ~ . i i i ; i i : i s;il~i;i t. ii-ii,[iicerisivelmente.Quem seria capaz de avaliar ou ima- 35
j 8 , i i i : i i C I I I : I I I I ; I ~(".i\ii.iici;i
clc teve que enfrentar por causa disso e quanto ódio
iq-vt. ~ I I I G .'. I I I N B I I : I I ' ! I'ois r~,rliiiiieiite.
não agradou a todas as pessoas iiiflueiites
'I ' i iiii i18 i i i ..I.!, I* ii..;i~iil<, liiv, g~;u,<lcs piiiir~rcsiki ip<ic;i,coiiio /Ilhi<lz~ l>iiicr(1471152X)
i t ~ t ~ l i i ii i c~ I iii.i\ 1 i.,<i;i<.h.o Vclliii (14721553). i> picifoi- (1:) I<cli,i-iii:i.
v I ~ .~I I I .t., # t . l b . ~ t . ; t o I , ; I ] > , ~l~ílio11 (1443 1513. p:q>:t ~lcsdc15113).
I l ' ~ ~ t ~I D,~ w
e ricas o fato de ter abolido toda a idolatria e escándalo. constrangendo a
todos ao único e puro culto a Deus. Sem dúvida, tambkrri eles enalteciam
seus velhos riiuizes coino os melhores e não cstavam dispostos a renunciar
aos costumes e priticas de seus antepassados ou a mudi-10s. Se rxistc um
povo no inundo que se afeirou com f~mezae pertinácia à idolaiiia, eritâo foi
o povo dc Davi, forilin os judeus. Na história de Davi também se pode
constatar que, em sccreto, muitas pessoas lhe eram cxtremameiite hostis.
Assiin yiie se apresenlava a oportunidade, ajiidar:uii deciditlamente a derru-
bar, expulsar, torturá-lo e infligir-lhe toda sorte de tunnentos. Não obstante,
cantou esta canção e arriscou tudo com Deus e siia palavra. Por isso podc
cantar coni hoiira, como exemplo para todos os reis: "JJrocedi com cautela
e com honestidade para com minha gente". Desse modo ele conserva a
melhor ordem, segundo o ensinaincnto de Cristo: "Buscai em primeiro lugar
o reino dc Deus e sua justiça, e assim todas as outras coisas vos serão
concedidas" [Mt 6.331. Isso, porém, exige um homerii que pode ousar e
empreendê-lo guiado e conduzido por Deus.
E ajo corri Mcli&de em miiihrl c;is;i.
Segundo: Alérn de govcinar seu reino dc modo tão divino, também
cducou sua casa r i a p;hvra de Deus, para não acontecer o que diz S. Paulo:
ensinar a ouiros ciiclulirito eu próprio me torno repreensível [ I C« 9.271. O
apóstolo orderia coiii inuitrt sevei-idade aos bispos, isso é, aos pastores e
pi-epdores, que, antes de mais nada, govenieiii hetn sua própria casa, que
teiihain esposa? castas e tácitas e filhos picdosos. vira niío acontecer que
escaiidalizem mais os ~ ~ i s t j ocom s sua vida doinéstica do que os aperfei-
ço;iiii coin a pregaqão. E conclui imediatamenie: "Como poderão governar
bcm ;I Igreja se governam mal sua própria casa?'' [I Tm 3.51. Também não
há outro jeito. Quem quer servir à Igreja com fidelidade e argüir o pecado,
ccrtaineiite não poderá tolcrar que sua casa, a mulher e os fiihos vivam de
iiiodo repreensível c irresponsável. Se, porém, pennite que sua casa viva na
indisciplina e a seu bel-prazer, seguramente não sc preocupará muito com a
Igrcja e corn os demais. E n t k ele já 1150 é mais pastor ou pregador, mas um
Ioho e cúmplice do diabo. Dá espaço ao diabo e o dcixn fazer o que quiser,
tanto em casa como na Igreja, como aliás procederam e ainda procedem o
papa, os bispos e pastores.
Se. porcaiiio. um rei ou um príncipe é capaz de tolcrar erri sua corte ou
ciii ciirgos púhlicos hlasfemadores e desprezadorcs ou uriiiiigos de sua pala-
vra c dc deixá-los levar uma vida perversa c escandalosa à voritiide piiblicti-
iiiciiic. ;i conictsi- violtiicia e iiijustiças contra CI povo, sein piiiiir e iriipcdi-
111soiitlc c corno puder - de que lhe adiaiitaria se intimasse cnergicamciitc
i> IIOVO c111 Iixlo o país a promover o culto u Deus e a honrur a cle c su;i
~ ~ ; ~ l ; i v r ('crl;~iiiciiic
;i! sc (liri a seu respeito: "MCilico. ajuda-ic a ti iiicsiiio"
11,~.,I.?<!.I < I I I ;~Ic~ii%i: "IoFio, c~~iclaic icu pr6prio i~iiriz". O povo ( l i iiiais
l(11
atenção a sua corte, scu pessoal c funcionários do que a suas orcieiis: seguem
mais ao exemplo de sua casa do que a suas ordens, e escusain-se a si
mesmos, comparando seu exeinplo com sua ordem. A-im acontece ilue pisa
e esmaga com os pés o que coiistrói com as mãos. E bom notar o que se
passou coin Davi neste pormenor. Os fidalgos da cone e fi~ricionáriosgostam i
de ser livres e gostariam de ser eles mesmos senhores no território, e tambéin
o sio on~leiião governar um Davi. E quando são obrigados a fazer o que
não g«st:iiii de fazer, eles sabem como ficar a espreita e esperar até que surja
sua chaiice. Eles têin utn jeito todo especial de camutliir iiiuito bem por
algum tempo scu olhar ambicioso c cnganador. Por longo tcriipo o traiçoeiro io
Aitofel foi 0 rnais íntimo e melhor conselheiro de Davi. Ao final, todavia,
ajudou amplainente a pisá-lo com os pés e pagou o preço a si mesmo,
enforcando-se por suas próprias mãos"'.
Um mal-grave de Meissen disse que um senhor nao precisu temer aqueles
que estão distantes, mas aqueles que lhe estáo mais próxiinos. pisando-lhe 1s
nos pés; pois csscs g o s t a ~ i mmuito mais de pisar também eni soa cabeça.
A verdade é u srgiiinte: quando Deus quer bem a um príncipe «li país, ele
lhe concede uin boiii Naamã ou José" para assisti-lo, por meio do qual todas
as coisas são beni sucedidas e prospcrm, corno m b é i n diz Siraquc [Eclo 10.S].
Mas se quer mal ;i uni príncipe, ele, inclusive, põe ao lado de iiin probo ai
Davi um Aitotel r lho preiide n seu calcanhar, capaz de siinulx tão bein
(como o diz a Exritur;~a rcspcito dc Aitofcls6)que parece que Deus f;il+ por
rrieio dele, enganando, inclusive, o piedoso Davi poi certo tempo. E tào
<lii'Ícil ircoiihecer e doniinar na corte os grandes iiiascar:idos do diabo que o
piijprio DCUStcm quc goveinar o senhor (para que as cois~istenham um bom 25
:iiidariierit«) contra todos os aduladores da cotte ou teiii que colocar a seu
lado um probo José que não irá abusar da confiançri do piíncipc. Caso
contrário, scgiiramcntc as coisas náo se desenvolverão serri prejuízo tanto
[xim O príncipe quanto para o povo.
Quem seria capaz de cnumcrar todas as artimanhas e inalícias do louvá- iil
vcl pessoal da corte e nos cargos públicos? E mesmo que se pudesse relatar
c dcscrcvC1-ias com toda a exatidzo, quc adiantana isso? Nem por isso eles
sc Io~ri:ii-i:iiiiriiclhores; pelo contririo, se tornariam ainda piores, como os
iiiclciis 1it)r I I I L . ~ ~ ilos
) hons sermões de Cristo. Pois scqucr um pah.^ ao ou um
ciiliicliio l~oiiriiiii. c;ipaz de corrigir u n empregado ou uma empregada mim, 35
i r l i s ~ j : II:III
~ , i o ~ i s i ~ ~transformar iic um pequeno patire eein pessoa lionesta.
I1i.Ii> ~ i ~ i i i i ~ i i i~ i~ ~I I, ; I I I \ ~quer
O castigar uin prejuízo, o patife Ilie frui dois
Salmo llil
prejuízos ainda iiiaiores, especialmente quando o regime é frouxo e relaxado.
Como, enfio, poderia uiii prhcipe ou senhor sozinho transfomiar táo grandes
e numerosos patifes eiii gente honesta em sua conc ou seu tessitório? Eiii
cspccial quando esses são tio livres e poderosos e ainda conseguem trdnçdr
tima Kiiiherin ou uma Kathe [comntelsí secreta coiitra seu senhor. Dai,
.~~~
eiiiBo., sc node dizer uue o mesmo está acorretitado a unia bela iovem Kaihc
de ferro. Um cloiio dc casa anda por aí a pé e muitas vezes tropeça num toco
ou iiiiiiia pedra, mas se levanta de novo, ainda que iiiaricatido um pouco. Um
príucipc e senhor, porém, é um grande patrão. Ele iiioiiia grandes e caros
garanhiies, quc querem encher a pança com o melhor pasto, querem ter o
busal livrc e as rédeas soltas; não toleram as esporas, querem andar de través
nas luas, escoicear, empurrar e morder; além disso, querem ser altamente
honrados e temidos sob o selim e ajaezarneiito de seu dono. Por fim, quando
são acometidos de mau huinor e vágado, depositam o senhor sobre o calça-
mento, de niodo que o país e o povo tenham algo para sc divertir e gozar às
cus&s delc'! Adestre e doinestique esses garanhõcs quem quiser, mas r i o
cu; e que o di;11>«esfole cssa cabeça de coelho; para cada caça. o respectivo
caçador.
PoiiUiito, podem ocorrer duas situações: Deus concede graça aos subor-
dinados, de iiicuieira qiic eles próprios estejam dispostos a ser probos Josés
e Naamãs, nos q u i s seli seiihor pode confiar; ou, então, Deus coiicede ao
senhor o espúito teiiiível, séiio e severo de um herói, um semi-Matias"' ou
seriiitirario, que não confia em ninguém. Se iião itcoiitecer uma dessas duas
sit~iaq6es.podc-se rernenclar e costurar quanto se quiser; pode-se praticar :i
paci?iic.ia e pensar quc Deus não está em casa c que retirou sua graça do
respectivo país, para castigar os pecados; pode-se pensar ainda que é melhor
este castigo do que outro pior, visto que as coisas njio podem ser diferentes,
como podemos venlicar em muitos exemplos nos Livros dos Reis. Que pôdc
Siiinuel hzer quando o rei Saul pennitiu que Doeguc e muitos outros o
induzissem a cometer grande p r e j ~ í z o ?Sob
~ o piedoso rei Zedequias, tam-
57 Aqui h i u ~ i jocoso
i trocadilho iiu utiguial. Kathcrin (Knlhui>ia) ou sunplesmcnte Kiilhc i.
i>lainie da es[iosa de Lutcm. Por sua vez, Kiithc soa como Kerre = cnrrcnte. Gniuiii.
I>ciii.viho \t,'irrrrhucli, v. 11, col. 276 e 634, registra nos dois casos o sigiiificada "coiis
~pil;iq;ii>'',";içorih secreto", coiisidcrmdo-o "e~tranho". Ciw, cr>rno prova; no priiniiii
i;i?i>.ju\lui>iciiir u presente trccho dc Luler".
5K l i i i i WA Tr II.258; Liitrro usa os mcsrnos tennos, em 1532, au irferir-\r n .I~J?o Frc-ricrii.~
1. c , M;igiiGiiriir> (l5l)i-1554). príncipe-eleitor da Saxónia de 1532-1547. Aqui pii>v:ivi.l
hém Jeremias teve que presenciar todas as barbaiidadcs que o pessoal da
corte praticava, até que Deus interveio com o castigoh'. Em geral, a maior
praga para os reis e príncipes (especialmente dos tementes a Deus) é o fato
de não apenas terem que tolerar patifes infiéis e falsos entre os maiores
senhores do tcmtório, mas quc, inclusive, são obrigados a investi-los em seus 5
cargos, como o fez Davi com Aitofel e Salomão coin Edcr-Escf12. Eles têm
nas grandes economias os mesmos problemas que os cidadãos enfrentam nas
pequenas economias, onde alguém tem que engajar urn ladrZo c patilè como
cinprcgado e uma meretriz e ladra como empregada.
Muitas vezes ouvi dizer a respeito do impcrador Fredenco 1II""ue sua ir)
administração não agradava aos príncipes do império. Queixavam-sc dc que
ele havia entregue o governo da coríc ao sopeiro. A isso teria respundido
ceita vez: Sim, com certera niio existe um entre eles que não tenha igual-
mente scu sopeiro. Deste e de muitos outros incidentes se pude deduzir que
certamente náo faltava sabedoria, inteligêncncia c podcr ao imperador Frederi 1s
co; no entanto, não lhe haviam sido dadas a coragem e a inspiração para agir.
Se tivesse sido um Matias, clc tcria jogado os servidores da sopa com os
servidores do desjejum e da janta num só rnorite e ainda assim tcria sido
hein-sucedido. Portanto, visto que não era o homem iiiilagroso que pudesse
Iizcr um casaco de pele novo, teve que remendar e costurar o mau casaco 211
<Icpele antigo o melhor quc podia, deixando as demais coisas correr, espe-
i-oiido que Deus as fizesse. Um pouco antes dele, o imperador SigismundoM
iiáo foi muito inclhor. Elc foi um honiein maravillioso, muito inteligente,
probo e capaz. Não lhe faltou iiiteligêricia e poder, mas não cstava à altura
rlos problemas de seu tempo, tanto em inteligência como em sorte. Por isso 2s
05 'li, ,iBiil irivilir 1iici;t.v Iciircsy~icMiricrv;~.Cíccro, Dc oliicii.~,I, 11, 110. - Q i i < ~iz:iIiii-i
l
;iri~Icl.ilc li~iitcn:ai iklcnlitiç;ida.
r i q : i i . iici,io I<.licif<.r
(i0 ('I'. .Ir 51.11.
( iovirno
competência; isso é, o que me pertence, etc. E com isso também se faz
referência a uma virtude milagrosa de Davi e que se chama: Cuida do que é
icu e do que te foi confiado. Pois exisie um vício generalizado e uma
ilcsvirtudc perniciosa cm todo o muildo, em todos os níveis; se ele se instala
na corte, também não serve para muito. Em grego ele se chama polyprag- 5
rizosyne - estar muito ocupado com coisas que não lios foram ordenadas, e
clcixar de lado as coisas que nos foram insistentemente ordenadas. Os latinos
dizem: sAbio lá íòla, tolo em Prefiro chamá-lo de "intromissão
iiidevida". Ela é um dos frutinhos do pecado original, c inerente. Todos
sc cansam rapidamente das coisas que Ihes são ordenadas e passam a úitro-
iiieter-se em coisas alheias que siinplcsmcntc deveriam deixar dc lado e não
Ilics dizem respeito, e querem ser entendidos e ativos em assuntos estranhos.
Sáo instáveis como o mercúrio. Ele não pára no lugar onde se quer colocá-
lo. Assim é cssa gente. São incapazes de fazcr o que deles se espera; mas o
e~iicse propúem a si mesmos, isso eles têrn que fizer. 1s
i )i:i. I I ; I I I Iiá maior mal no fato de dar bons conselhos a outros, se isso
i.:iiv~.i :I scii alcance. Na verdade, deve-se elogiar as pessoas que primeiro
c i i ~ i i ~ ~ i Ihciiii ~ i ~ seu
i próprio ofício e depois dão bons conselhos a outros,
<~sl~~~i;iliiiciitc onde isso é solicitado e há uma necessidade evidente. Mas o
Salmo 101
senhor Intrometido não cumpre seu próprio dever e o que lhe foi delegado
e, por scr exageradamente sábio, se ocupa com coisas alheias, onde não E
necessário e que não lhe foram incumbidas, ou então, de tão intrometido que
é, faz qualquer coisa que é de seu gosto. Oh, ele também é um hóspede útil
entre os cristãos quando se imiscui com clcs. Aí, então, ele ensina os pastores
a rezar ou a fazer algo mais fácil, quando eles deveriam estar estudando e
pregando. Ou, então, induzem os leigos às cerimônias exteriores, deixando
de lado a fE e o amor, como diz Cristo: "Pagam o dízimo da hortelã e do
endro c negligenciam os preceitos mais importantes da lei" [Mt 23.231. A
mesma coisa acontece numa economia doméstica quando empregados e
empregada? fazem o que Ihes parece bom, mas deixam de fazer o que Ihes
foi ordenado; não obstante, acham que agiram corretamente. São o verdadei-
ro orgulho de uma casa, um pessoal muito útil e charmoso. Aí me ocorre a
história do emprcgado e dos três sabiás. Ccrta vez seu patrão o mandou
procurar a vaca desgarrada. Ele, porém, se demorou tanto, que o patrão
correu procurá-lo. Quando chegou bem perto dele, pergunta ao empregado:
"Achaste a vaca?" "Não", disse o empregado, "mas achei algo melhor."
"Então, que achaste afinal?" Respondeu o empregado: "Três sabik". "E
onde os tens?" "Um delcs estou enxergando, o outro estou ouvindo, o terceuo
estou caçando", rctrucou o empregado. Acaso não é um empregado sábio e
laborioso? Sem dúvida, com um pcssoal desses um patrão só pode enriquecer.
Aí também se incluem aqueles dos quais se diz: erguem uma colher e
quebram um prato. Quando estão envolvidas grandes propriedades como nas
cortes de reis ou príncipes, causa forte impressão quando alguém coloca com
uma colher e tira com a concha. Quando conseguiram ganhar um f l o r h para
o rei, enchem os ouvidos de todo muiido e o exibem aos olhos de todos, a
fim de mostrar quanta sabedoria foi investida; no entanto, ninguém pergunta
pelos milhares de floriis que entrementes foram esbanjados. Em nenhum
lugar, porém, esse vício está mais presente do que entre os soldados. Quando
estão aí parados, boquiabertos, e não vigiam suas posições com a máxima
atenção, recebem uma boa tunda. Depois dizem: Isso eu não havia esperado!
Ninguém é capaz de descrever todos os exemplos dcsse patife que reina com
poder em toda parte onde senhores e patrões não cuidam pessoalmente da
adininistração.
Por isso Davi diz aqui: Preocupo-me com o que é meu e cuido dos que
me cercam. Outros reis também deveriam ser tio solícitos com seus súditos,
de maneira que, aventurando-me a scr sábio e ativo demais entre estranhos,
não venha a negligenciar cntrementes a mim mesmo e os meus. E Davi pode
muito bem agradecer por essa virtude, pois, com efeito, é uma coisa muito
hniiita c cspecial dádiva de Deus quando um homem valente e laborioso
ciiicki coin dedicação do que é seu e de fato lhe dá toda a atenção, ctri
csl)cci;il ir;i ~i;il;ivriitlc I)ciis, uão se deixando sctluzir por negócios cstrnnhos.
Governr~
Obediência é a coroa c glória dc toda vGtude; quando, porém, se imiscui a
intromissZo iridcvida, o mofo, ou, como diz Isaías, a chuva corrosiva Já a
estragou6! EniZ« as pessoas se tomiun nada mais do que porcaUi6es, ataba-
ihoados c trapalhóes, que negligenciniii iiiuitas coisas, iiiciipazcs de fizer
qualquer coisa por alguém por amor ou gratidão. Por isso S. Paulo instrui os 5
pregadores e bispos cm 2 Tin 2.4 que um servo de Cristo iião deve mcter-
se no regime secular, mas, como lainbém diz cm Rm 12.7, que um mestre
deve dedicar-se ao ensino, e qiie não se deixe desviar disso por outra coisa
ou algo melhor. Ele previii perfeitamente que, iio futuro, os bispos iriain
abandoiiar o ministLrio da prcgaçâo e busccu. o tcrreno. Quniido alguém pediu li>
a Cristo que ordenasse a seu irmão que rcpartisse com ele os bens, ele
respondeu: "Hoincm, quem ine instituiu juiz?" [Lc 12.141, como se quisesse
dizer: Não mc envolvas nesses assuntos, antes procura as pessoas que têin
essa incumbência. Eu sou preg-idor e a mim se me ordenou »tiira coisa.
li
Segue no Salino
NZo ~ n proponho c iniqüidade. Odeio o transgressor e n;íu o aiporto em
minha compinhia. 10
Até agora ele agradeceu a Dcus por lhe ter concedido a ,or;iqa de crcr
corretamente e de servir ;i Deus, tarito em seu reino quanto em sua casa; por
não ter intii~duzidonenhuma idolatria ou doutrina netii culto falsos, mas por
ter Iéito o que é bom e agradável a Deus. Aqui cnaltece c agradece a Deus
por lhe tcr dado também o outro dom que o capacitou a proteger-se do culto 2s
mau e falso e a rejeitá-lo, para, assim, poder permaneccr firme na boa c
verdadeira €6.Pois onde Deus uistitui sua palavr;i e seu serviço. 11 diabo não
descansii' mas ieiita desiruir ou, ao menos, inipedi-10s. Por isso iiáo basta
I:izcr iim boin começo e f u e r o bcrn, mas C preciso persistir c não deixar-
sc iifastar nein seduzir. Como d i Cristo: ~ "Quem perscverar até o fim, será 30
s;ilvo" [Mt 24.131. "Procurar conservar o que já existe não é menos viiluoso
1111 qiic ~oiistruí-lo''~~. O mesrno acontece também no estado secular: quem
II:IO \;il?c <lcl'ciider, não podcrá subsistir por niuito tempo. De que adianta
i ; iiiiiiiiis coisas e não consesiiu defender nem resguardar nada
t a u t i i ; ~ 1 1 iiiiiiiigi,? De niodo semelhante, de que adianta começar bem e 75
I i ~ ~ i i i ~ ~ ~ i Ii Ii IsL
i i.l ~ .iiiiiis elo CIUÇ C ~ I I I CpXo.
~ Pois ~ L I ~ C Cque,
C se çlcs iiâ(1
~ \ i ~ . i i ~ . : . < - i i iii . wiiio iria ii riiíii;~c cliic iiZo fic;ii-i;i h;irrotc ii:i c;is;i. I i i r isso.
para poder odiar e despedi tais serviçais úteis. um senhor ou um dono de
casa precisa de um coração de leão e tem lqiie scr um Iiomem milagroso ein
Deus, c a p a de a ~ i s c a seu
r irrino e sua casa, e que confia soriiente em Deus,
dizendo: Muito bem, antcs de tolerar o inimigo dc Deus em iiicu reino ou
3 eni minha casa, prefiro que tudo vá à breca, c deve pensar: Aquele que me
deu este reino ou esta cas;~,coin certeza poderá dar-me outro, o11 até mais.
Qiiwido Deus ordenou quc Al>i.:~7» sacrificasse a 1s;iqiie. o lillro prometido,
ele dcvc ter pensado que Deus iria ressiiscitar o riiehiiio Isaque dentre os
mortos (I-Ib 11.19).
1,) Pois no mundo, especialmente nas cortes, acontece que existem poucos
Naamãs c Josés, mas iiiuitos AitofCis e Zibas7'. Eles ageiii como disse aquele
abade, quando seus humildcs irmãos se inclinavam profundaiiiente diarite
dele: Na vcrdade, ligo o fazem em rcspeito a mim, mas têm o olhar fixo nas
cliaves em meu cinto. Nas cortes, muitos prestam serviços dessa forma e
fi prestam bons sewic;.»s.No entaiito, não por amor ao senhor, m;is visam as
cliaves. para poderem assaltar e dominá-lo, para que depois o senhor nâo os
possa odiar ou dcnùtir coni hou razão ou diseito. No eiitciiito. se o faz assirii
mesmo, aí o caleridáiio e o registro estão cheios de toda sorte de virtudes,
mais do que dias no aio, que eles praticarani iio reino e na casa. E coiiiec;am
7~ a atirar sujeira e csterco no senhor, cospe111 iiele, direiido: Arre! Quem ir2
querer seivir a uin patrão desses, no qual toda a fidelidade e todo o servi$«
estão perdidos? Dcpois compôcm versinhos c quadrinhas que escrevem nas
paredes: Prezado casaco, 1120 rasgue, scrvir a um senhor não compensa, etc.
Ou cntão: Tempo dc al?ririli'. etc.
25 Sel todavia, r i o o faz' tem que siiport;ir da pate deles essa inaldnde
contra Dcus e seus súditos, iião yodcndo responsabilizar-se. E ainda terá que
dizcr: Sim, mestrc Aitofel, tu 6s piedoso. Eles. porém, aidarn seti caminho
Livremente. como se tivesscm agido coiretariiente. E nem se inipoitaril de
sercrii patifes e apmvcitcidore~(embora o sail~ariic o sintam no coração) que
não apenas não nicreceram graça com seus atos niaus, mas que tambéiii
mereceram tão-somente desgraça com seus atos hons. Além disso, alegranl-
se em sccreto por tcrem engaiiado Cio bein o amado Davi, como o fez o
desgraçado Aitofcl. Na verdntle, um rei e serilior justo é uina pessoa iniser5-
vel, pelo qual é neceisáno or;u. Pois o que estava acima das f o r ~ a sde Davi'
iieiiliuin rei ou psíncipe peiise qiie saberá fazê-lo melhor (se quiser agrad;ir ;I
Deus).
Para 11111 rei do porte de Davi teria sido uma virtude simples «di:ir I I I I I
liiii, uin homem valente passar necessidade, desprezar, por fim, os sábios
i.riiiscllieiios e quem abandona a verdadeira fé", elc. [Eclo 26.25-27]7J. Se
c.ss:is coisas não estivessem acontecciiilo nas cortes. de onde Siraqiie terka
i i i ; i ~ l i i cssa iiiformaçâo oii corno o poderia icr dito? Essa 6 a obra dos piores
/:iiigi~csqiie vivem sobre a terra. A tínica coisa qiic sabem é Iicramelar ai
:isiiciiris e encher os ouvitlos dc um rei ou príncipe a ponto de se toinar surdo
II:II;Iseu fiel servo. Sào como os zangões, esses insetos imprestáveis e
;:liiiõcs; $30 incapazes de produzir nicl, mas devoriim a tudo o que as
oiilcir:is aI7eliiihas produzeiii. No entari!il. ;içitain as asas, zunem c ~iiriibem
i;iiiio o11 iiié riiais do que as queiitlas abelhas veidiideiias. 25
Assiin também diz o gentio Tertiicio (não, porktii, de sua própria cabeça,
iii;is baseado na palavra e no exemplo de grandes seriliores e pessoas sábias):
'oiii eleito, quem é tão hábil como tu, consegue facilmente atraii- sobre si
i<)il;i ;i honra que outras pessoas honestas granjearam ~uduamente". Ele diz
i ~ iriiiiicaiiieiite
) a respeito de um grosseiro grande tolo e zangão iiiiiiiido 10
(1,. iioiiic Traso, que 115o bervia p a a nada a nZo ser para com ele segura um
<liiliici1i1 iiterrar um fosso. Embora até mesino essa l i o i ~ ativesse sido grimde
<l*.i~i:iis I1:irn ele, fazia um alarde e uma bazófia tão grande como se fosse só
<-I(.c. ( I I I L ' 11%) poderia existir ninguém igiiaí a ele na terra. Mas é esse 0 curso
(1.1:. i-i)i\:is. c o inundo teiii que s u p o i ~ xgente dessa liua como uma verda- ir
4 I t . i i ; i ~~t.\lilCiicia dc abscessos, sífilis, kbrc e oiitras d e s g r d p ~diabólicas, se
(I filho desse mcsmo Joiada? entre o templo e o altar. Cristo se rel'ere a esse
kito ein Mt 23.35 e as Escrituras lamentam-no amarçameiite em 2 Cr 24.22:
"E o rei Joás não considerou os benefícios que Joiada, seu pai, lhe havia
I'ciro. e assassinou scu lilho". Inicialmeiite também Heiodes gostava de JoZo,
:ipreciava ou\,i-lo e fez riiuit;is coisas (coriio escrcvem os evoiigelhos7'). ul
I)cpois, porém, iiiandon decapiti-I« por causa de Herodias. Servidores cor-
i-ctos nem sempre poilem aprovas o que os senhores intentaiii frizcr e têm que
clesacoiisrlhá-los, espccialniaite coiitrn os transgressorcs, com» o fez Zaca-
rios. Além disso, a vrrcia<leé incômoda. e ningii61ii gosta de scr repreendido.
lfin transgressor e uiii saiitarrão patife, porém, não correin esse perigo, mas
~~iclem bajulai- e agradar. dizcr e Suer o que o povo gosta de ouvir.
Assim, com cfeiio, é iirn grande milage o que Davi destaca aqui: quc
i i i i i príiicipc chegue ao ponto de odiar os iransgressores ou os patifes cspiri-
iiiiiis e santos do diabo e a expiilsá-los de sua preseiiça, para, de fonria
i Salmo 101
algunia, coiitiiitiruem grudados riem uiiidos a ele, nem ainda continuarriii eiii
sua companhia. Pois scgurameiite alguns dos grandes prúicipes e senhores e
ailigos de Davi cantaram docemente eiii seus ouvidos. elogiararli :i este o ~ i
àquele, ora nosso primo, ora tiosso cunliado, iia esperança de tambirn traze-
i 10s para a corte e dc serem promovidos a altos cargos no governo, sem
perguntar se eram pessoas proba? ou nZo. As pessoas gostam de pendurar
essas condccoruq6t.s nos graiides senhorcs como pedras preciosas úteis no
rcuio, enquanto Deiis não Ilies concede o espírito de Davi para, :i exemplo
dele. sabcrcm evitar coiistantemente os falsos sen,idores de Deus. Até aqui,
1 pois, ele louvt~ua Dciis pur se ter preservado puro e pemianecido fume no
verd:ideiro culto e lia verdadeira palavra. e por ter maiilido também .$tia cotte
e seu pessoal iieste caminho, e por icr odiado constantemente c cvitlido
pcmianenterneiiic os falsos servidores.
Seguc agora o último versículo que vcrsa sobre sei1 regime espiritual.
Versículu 4
Longe de niitn um coraf2r1pervertido; n;io tolero o mau.
111 Agora ele sai de sua cone e percorse todo o território de seu reino,
passaido a hlas cspeci;diiientc dos falsos rneslrcs e sacerdotes idólatras que
iindaiii pelo país aqui e acolá. Pois as Escritiiias rcvc1.m que o própno
! Ivloisés riio ,oouemou tão bern. A idolatria ctrntinuou sob seu goveiiio. Em
At 7.43 Si«. EstEvio recrimina os judeus. citando o profeta A~nds'~, por
2s terem conduzido consigo no deserto o ídolo Rentã e por terem adorado rio
ídolo Baal-Peor na plm'cie de Moabe (Nm 25.3). E assim, sob todos os
juizes e profetas (por niais piedosos qiie tivessem sido), sempre existili
idolatria, ao merms cm secreto, de modo que tamb6ni iio reino de Davi nem
tudo foi limpo e santo. %davia, clc se empenhou e sempre procurou prevenir
para que ela não se difundisse livre e puhlicainente. Pois o diabo não d:i
tréguas ncm descuiisa. Por isso também o govenio espiritual com efeito niio
i pode dar tr6gu:is iiciii descansas, do contririo tiido est6 perdido. Pois aiiid:~
que vigie e trabalhe, 6 difícil e laborioso iiianter u paliivra de Deus pura. Quc
nhos a todo instante. Tudo tem que ser invertido, não Vnportando como Dcus
o faz. Assim também inverteu a palavra de Dcus no paraíso, quando Deus
disse a Adáo: "Se comeres da árvore, morrerás" [Gn 2.171. "Náo", disse o
diabo, "não morrerás se comeres da árvore, mas serás igual a Deus" [Gn
3.4,5]. Por essa razão, Cristo chama o diabo de pai da mentira7'. Tudo o que
Dcus (que é a Verdade) diz, ele invertc e transforma em mentira, como o
Fizeram dcpois todos os hercgcs, seus discípulos. O que Deus d i ~ eslá ,
errado; o que cles dizein, está certo. O mesmo fazem nossos senhores do
papado: o que Deus diz é heresia; o que eles dizem (ainda que saibam e
reconheçam que Saiam contra a pdavra de Deus) isso diz a Santa Igre,ja 1'
Cristã e o Espírito de Cristo, embora se saiba que é o diabo que Ilies ordena
Ialar assim. Esta é a pi-imeii-acaraclerística dos hcreges - "coraçáo perver-
so". Um coraçáo perverso evidentemente também terá uma palavra e unia
obra perversa. "Pois um homem inaii", diz Cristo em Mt 12.35, "tira coisas
mas de seu tesouro mau". 20
de Dcus, naturalmente t6m que ser semelhantes ao pai. Foi o que aconteceu
com Caim. Depois de ter abandonado a verdade c caído na mentira, logo se
tornou assassino; e como náo pôde cometê-lo em outra pessoa, teve quc
cometê-lo em seu próprio innâo [Gn 4.1-161. Se são incapazes de matar ou
1120 querem fazê-lo, nem por isso deixam de causar prejuízo, de pcrseguir e jil
dcsgrapr bens c honra. Pois chmm-se e sâo maus, isso é, pessoas invejo-
sas, venenosas e nocivas, que procuram prejudicar e fazer o mal dia e noite.
Sc não conseguem matar o corpo com as mãos nem contribuir para isso
;iconselhando e instigando a outros, não é por falta de vontade ou desejo. O
qttc mais lamentam E não poderem fazer inal suficiente. Por isso dizem 35
X.1 I t ~ i ivcrsíícs miis iiciligas da IracluçXo alemá da Bi?>lia,dc Luleru, o titulo do salnio l;il:i <I;$
.....
I U I 'Ir
~ I>evi, ;i i i s l x i l o i l ; ~rosa do testcinunhr>". Nii versXo innis riciiiic ciiiisi;i.
i,iiri> <li:
riii vcz <li. "ri,s;i <li> Icslc~iiiiiiliii", "lírio i10 ~cs~cii~uiilio"; :i cxpi-css;io iiidiiii :i iii<:lc>ili;i r l i i
s:iIiiiii. N;i i.l>u~."(li. 1 . i ~ l c ~II:III
o i c l i ~ l l ~I:li<i
: t V C ~ ~ I I I < : C ~hislilricoii
~ ~ C I I I (cxitlos.
>S
prunciro liirar 0 reino de Deus e sua jiistiça, e como mantcr os súditos fikis
i palavm de Deus e aos pastores e pregadores, não permitindo as h»rd;is
cisináticas e iiiaiis corafões pervertidos a sedu~iras almas e a matar e
perseguir os iiiocentes. Portinto. quem pode siga o exeniplo de Davi e h ç a
o riichor possível na medid:~ ern quc a graça de Deus lho coriceder. De 3
qlialqucr forma, ninguéin o fari coriio Davi. Ele simplesmente leili :i prima-
zia sobre todos os reis e príncipes. pois ele o fez bem ao extremo. Mas cada
qual pode, pelo menos, cuidar para iião juntar-se ao grupo dos reis e prínci-
pes :issassiiios, ou, como os chama o Salmo 2, dos inimigos de Deus e de
Cnslo, e para não colaborar com as hordas cismáticas iiciii Ihes dar motivo IIJ
mundo iriteiro igual a eles. Que seia. Este 6 seu ministério. Que o Iàçam.
Não meieceiii nada meihor. A ira de Deus os incita a levarcm esse ;issuilto
a iei-ino, mas dando a impress5o de que não qucreni toleiar luteranos, como
se tivessem a intenção séria dc niniiter sua própria doutriiiii papal e dc ciisiná-
Ia, quc Ihcs scria dez vezes mais iniolerável do que a de lute ri^. Mas deixr- 15
A Segunda Parte
desse salmo abrange os quatro versículos, como segue.
/o O que caluniri seu próximo, n cfve ri-iennino. N;ío gosto da pessoa de
purie ai.I.ogante r sobcrbo, etc. [v. 51
Até aqui Davi riiostrou com seu exemplo conio reis e príncipes prohs
devem se17,ir a Deus, para que, air:ivCs de sua ajuda e coopei-tiyão, scjam
promovidas a palavra e a honra dc Deiis r relrcados os espíi-itos enganosos.
1s Ele os levou B Igreja de modo apropri;ido c cristão, não para servirem a Deus
corno os hipócritas, com queima de velas e outras tolices, que apenas servem
para proporcioilar riquezas e honras temporais aos lalsos mestres, mas para
preservar a pura doutrina e a ordem divina ein verdadeira sincrridade e
espírito, para a salva$ão das almas. Agora. ele também se apreselita como
exemplo no regiriie secular, para mohtrar como um príncipe piedoso deve
agir entre o povo e os súditos, protegendo a cada um contra a violêiicia e
licenciosidade do outro, garantindo-lhe seus direitos e preservando-o neles, e
levwdo-os para a verdadeira câniiii-:I do conselho.
Graqas a Deus, todo o mundo sabe suficientemente como se deve distin-
!, guir esses dois regiines. Pois também a própria natureza da obra demonstfii
essa difcrcnça com clareza suficiente, ainda que não exista nenhiiin manda-
mento ou proibiçáo de Cristo a respeito. Pois vernos perlèitamente que Deus
distribui o governo secular ou os reinos entre os gentios do modo mais
espetacular e grandioso, do mesmo modo como põe o amado sol e a chuva
iguiilmente a seiviqo dos gentios, sem estabelecer entre eles a palavra dc
Deus nem o culto ;i ele, nem os i n s t ~«u i oiieiita por meio de profetils, como
11 k z em Jerusal&inentre seu povo. Não obstarite, cliaina esse regime secul~ir
dos gentios de ordem e criatura siin c permite que abusem dela B vontade da
pior malieira possível, do mesmo modo como permite que urri vilão o11
~pir~stitutas abusem de corpo c aima. Não obstantc, ele quer ser honrado
(conio é de fato) como criador, senhor e preservados desse corpo e dcssii
iiliiin. Disso se deve concluir que o regime secular é um regime distinto c
qiiv ~x>tie ter siia existência própria, scm o reino de Deus.
l i ) i - outro lado, vemos também que distingue seu reino espiritual dr iiio<lo
I:« preciso e claro do secular que dcixn sei1 próprio povo sofrer toda sorte
<Ic desgaça, miséria e pobreza na terra. E assim como não concede aos
rciiios íiiipios participação em seu reino, tampooco concede aos seus partici-
1paç3u iio reino dos gentios. Pois o irnpcradoi- de Roma certaiiiente jamais
icve qualquer palavra de Deus nem profeta, através do qual tivesse conse- s
g~iidosiia ascensão a um poder tão grande e tivesse sido preservado nele.
'Cirnbém São Pedro e São Paulo não tivcrani um palmo de solo próprio e
iicin uma palha eni Roma, pelos quais algum deles pudesse ter sustentado a
si niesmo, muito menos governar ou reinar. Contudo, ambos os reinos
cxistirarn siiiiultaneamentc em Roina, um goverriado pelo imperador NeroY4
coiiira Cristo, o outro governado por Cristo atraves cle seus apóstolos Pedro
<.I'nulo coiiti-a o diabo. E coiiio sinal de que Sáo Pcdro e Sáo Paulo nXo
,:i~vcrnar&ii no Iiiipt2rio Roinano, um deles foi crucifi~i<io c o outro decapi-
!:i~ltr.Ora, deixu-se criiciticar e decapitar uno 6 iiinugiir:tr ~ i i i iregime na
1i.i-i-:I.Por outro lado, como siiial de quc Net-u nSo governou no reiiio de ir
c 'iisio. mandou, como inimigo desse reiiio. cxecuiar os príncipes-cliefes
c Ih.\si, rcino, Sâo Pedro c SZ» Paulo, como se ti~sseiii inimigos do seu rcino secular.
;\ciinu desses eventos e tesiemurihos d:i lTist6ria está Cristo c diz: "Os
iiis (li~sgentios doiriinam sobrc eles. Vós, p»r6in, náo procedereis desse
iiiinlo" [Lc 22.25,26]. Ou seja: NZo penseis qiic vos quero transformar em 20
s<.iilioresseculares. Deixai aos gentios seu reginie. Ele diz mais: "As raposas
i<.iii scus covis, e os pássaros, ninhos. O Fillio do homem, porkm, nZo tem
i i i i i lugar onde ieclinar a cabeça" [Mt 8.201. Agora, imagina onde irá
iil~oiisaras mãos e os pés e todo o corpo? Afiiial, ele estava tleitado na
iii:ii~jcdoui'ae no colo c nos braqos de sua mãe, e também no barco sobre 25
i*.iiit~s \L, li~i;imc ela com eles, pois seiii covil ela nâo podc ficar. Eu, porém.
1x.i i i i:iiii'yo sein regime secular.
( '~~ii\i:i~~iciiiente tenho que inculcar, incuiir, martelar c meter nas cabeças
,.:..I ~ l i l i ~ i ~ ~dcsses i i ~ : i dois reinos, embora tivcsse sido escrito e dito tantas
vt./t.:. 111ii.t.Iicgu a ser entediante. Pois o asyueu-oso diabo tambérn não cessa 75
iiiiiis. Por ouiro lado, obseiva-sc que coisa pueril, ridíciila e ruuii é o dlrcito
i.;iiii,iiico. embora muitos honiens saritos e excelentes ti\,essem trabalhado
ii,.li.. ;i poiiio de os próprios juristas iifiriiiarern: "Uin piiro canoiusia é iiin
j:i:iiiili, ;isiiiisia"'"'. E, adiiiiiiimos, é ;I pura verdade. Pois licaram presos a
iiiiiii;is idéias alheias e pouco se preocuparam coin a sabedoria do muiido. 30
poi- demais elevadas que o povio louco as pudessc entender. e boas demais
p;un serem elogiadas por gentc imprestável. Isso ele aprendeu de seu profira
Hoinerof14 que se rekre a um sujriio ohsceno, de norne =rsites, que iiada
sabia fazer senso maldizer seu rei. Certos imperadores romanos tamheiii
scntcnciaram: N;i Roma livre deve haver línguas livres. Entre o povo de Irl
Isi-ael, porém, isso cra considerado pecado mortal, cr>iii»entrc muitos outros
povos gentios. Pois (7s judeus consideravam a calúnia bl;isfêinia de Deus c
por causa dela nialnvniii os vcrdadriros santos profettis. ciiihora, por cargo
iIc c~fícioe ordeiii diviiin, tanto rcis coilii) profcras iivisseiii que castigar,
<.ornop«deinos ler e111todos os profetas. Seu ofício de profeta dc nada Ihes 15
v;ilcu. Q~iai~do dcni~nciavamOS vícios e idolatrias dos reis. isso era consids-
iii<In blasfêitiia dc Ucus e do rei, c eram rriortos imedicctaincnte. Para isso
v;lliam-se do enunciado dc Moisés ein Ex 23 [sc. 23.2Xj: "Náo amaldiçoarás
o s clcuses iierii blaslemarás conlra a autoridade de tcu povo". Com esse
~.iiiiiiciadoe espada de Moisés foi demilnado iiiiiito saigue inocente, do 20
iiii.siiio modo como Iiojr o nome Igreja c ;iiitoiidade tambéiii < iitilizado para
iii;iIar c toriuriu muitos c#-istiíosinocenles.
O inundo 6 um carrapicho espiiihcnto. Para quUl<juerlado que se o vire.
<.I<. ;iponta seus espinhos. Antes de vir nosso Evarigelho, ninguém sabia
1,icg;ir sobre a autoridade (para dizer quZo boa institiiiçZ~iela é). Agora, que 2s
ii.iii sido elogiada e eiialtecida pelo Evangelho, ela quer elevar-se acima dc
I )1.11s c sua palavra. e nidenar o que s r dcve pregai- e crci-. Por outro lado,
< ~ I I : I se I I ~a [recriiiino.
I isso 6 considerado sediçzo. Quiise snii Icvado a dizer
c , L I I I L . (Iisse aquele pi-egador sobre esfolar coelhos: a cabeya é difícil de
~ . \ I I I ~ . I I (ickrindo-sc aos príncipes r $erilioics): "Qiie o diaho te csfole", 1'1
<lih,,i.1.I<..I'«is as coisas estão tomaiido seu curso. send<iquc nada mais fica
i i c i iiiiiio ccrto. A5 coisas vão ou p a a a direita. ou para a esquerda, n
<.ic.iiil~lo dos c:ivalos bravos e indomados.
( ) oiitro iipo de calúnia refere-se ao próximo, como diz e lamenta o
I L . \ I L ) . I'ois iidc Davi confessa abertameiite que havia desses patifes na cone 15
< I I I C . o l<'i~I;~r:i~i~. Do conti$rio, porque ii-ia falar contru elcs em temos tão
. I , . I N ' I $ ~ : . , :i p<iii~o de glorificar o fato de ter conseguido exterminar e111sua
g oiI<.c.ssc vício 1120 apenas como liriia viriude real, mas também como ~ i r i i
Snlmo 101
- -
inilagre divino? O que não existe iião se pode exterminar. Mes é possível
quc estivesse í'alando apenas de sua época e de sua curte. Hoje em dia,
porém, (graças a Deus!) esse tipo não existe mais lias cortes. Todos viraram
piedosos. E se existis.;en~,não obstante, não existirim1 (queira Deus!), como
5 um espírito faia atravbs de um tolo: Se eu o fiz, eu não o fiz, sc Deus quiser.
Nem eu, nem tu, neni meu irmão, nem meu cunhado. O desgraçado Nm-
guém foi quc o Ele pratica todas as maldades e, não ohstante, perma-
nece livre e impune de toda justiça e autoridade. Isso acontece em qualquer
governo, seja grande ou pequeno, com exceção no direito de mestre Joãon6
ou do diabo, se Deus o quiser cntregar em suas iráos. Esscs sempre encon-
tram (para minha supresii) o detestável Ninguém, como Suloinão prega e
adverte com liequência eni seus provérbios.
Os gentios conraiii uina ho,i ;inedota. Falain de uin deus estraiilio, de
nome Momo, que põc defeito eiii tiido. Daí seu nome Momo, o C n ~ i c o ~ ~ ~ .
ir Ele eiialiecc sobremaneira o que outi.«s deuses lizeram no ser humano. No
entanto, uina coisa havili sido esquecida, o que i. urri erro vergonhoso: não
havia sido feira iiiiia janela ou uma abertura no coraqão do ser humano, pela
qual sc pudesse observar o que as pcssoas têm em mente ou estão planejan-
do. Com isso se poderia ter evitado muita desgraya e cada qual poderia
20 precaver-se dos outros. Pois estaria escrito em sua tesla o que se passa em
seu coração, como se diz entre nós alemães. Nenhum inentiroso, impostor,
bajulador nem qualquct. Iíngua falsa poderia intentar, muito menos conseguir
qualquer coisa. Isso tudo, porkm, é a queixa da elevada razão de gente sábia
sobre os hipócritas e coraç6es ialsos e que não pode confoimar-se nem
25 entender por que Deus peniiiie, entre outras coisas, que sejamos torturados
na terra por gente falsa. Pois ela acredita que, se estivesse estado presente,
tena dado a Dcus o bom coiisellio de criar o ser humaiio corn unia janela
para o coração no lugar do i i m i l o esquerdo.
Pois sc riZo existissem Iíiiguas falsus nas cortes e nos governos, a espada
inuitas vezcs ficaiia ria bainha, ao passo que, caso c»riri.;ú.io, cla provoca
gande desgraça, dena~i~unento de sangue e morte, sem necessidade. Aí, então,
certamente também a justiça não permaneceria tão profuiidainente oculta nos
livros, mas surgiria conio o sol para todos os que, de outro rnodo, têm que
sofrcr injustiça. Pois é! Isso é um casaco no qual nem o couro nem os pêlos
35 prestam, como o mostrain todos os compêndios de História, com exceqão
daquilo que Deus faz de bom nela, remendando-a. De modo que não é sem
I0,i
Governo
iiiotivo que o pobre e impaciente Momo (fi~laiidoseguiido a came) anda
ii-ado, desejando que as coisas lòssem diferentes. Portanto, Davi deu um tiro
baslante ceiteiro e acertou o maior vício e mal da corte, como se soubesse
por experiência que líiiguas são riiíiis davastadoras do que espada e todas as
arinas, sejam mosquetes, lanças ou canhões, por destniidores que esses
sejaiii. Pois se desaparecessem as más línguas, não Iiaveria mais necessidade
de espada. Por isso Davi diz no Srdtério: "Suab Iúiguas são espadas c
lanfas" [SI 57.41. E nós al~riiiiesdizenios que uma pdavrri má E uina flecha,
ou eiitlio uma esioc;id;i que não sangra, etc.
Que mais poderia dizer a esse respeito? E uin assunto quc foge a iiieus
conhecimentos, pois jaiiiais vivi na corte nem estive no exército, c faço
questão de manter-me longe de ambos. No entaiito. pressuponho que aí as
coisas não são diferentes do que no reino de Cristo, no qual tcnho alguma
experiência c rio q ~ i das Liiiguas fiilsas riie causam (eu deveria dizer, a mcu
Sciilior Cristo) o maior prejuízo. Toiliei conheciiiierito de dois casos sobre o
icgiriie secular de pessoas já kilecidas c nas quais coiilio. Um ou dois casos
~~icseiiciei pessoalincntc. Se os outros (que desconlicqo) t:unbém são desse
iilxi ou aiiida pio]-es. quc Deus se c«iiipadec;a de todos os príiicipes e
iiycntcs, e tenho qiie elogiar (falando de acordo com a razáo coriio iim
siiitio) os que se mantiveram distantes, tornaiido-sc monges ou eremitas.
I'i~ispercebo que no regime scculw também existem heregcs e espíritos
scctários que não lutam e guei~eianicom a espada (pois para isso são
iii~~drosos demais!), mas com a língua.
Bem, iiBo quero nerri posso sabcr iiiais a esse respeito do que que [i
~ii~.loschni (esse é o termo Iiebi-aico) - o linguaiudo nu (coiiio se diz ein
;iIciii3«) R lavadeira - deve e Iiá de ser um gatinho iriuito mimoso, que sabe
I:iiiil>crna frente e ; ~ ~ ~ i u iatrás. h a r Pois tein que reunir em si necessariaiiiente
;i.: 11ii:is virtudes: s a l ~ lamber r muito bem e marihar ainda melhoi; coiiio o
pi~iprioDavi descreve seu Doeguc"? soube muito bein lamber o rei Saul e
11ifi.i-llic o que era de seu agrado, e maiihas o pobre Davi de modo 130
iIi~s;ivcrponh;idoque resultou no assassinato de mais de oitenta sacerdotes.
I ~ I I ~::iiiiilio
I desses precisa de duas pessoas: uma para lamber - essa é Saul;
< ~ i i i i ; i 1 1 x 1 ;iranhar - essa é Davi. Por fun, poi.éiii. Saul perece com seii
j ~ . i i i ~ i l i i r . c Ikvi permanece senhor, serri manhões. sein mordidas, sem ser
t l < . v c ~ i ; i < l <I'ois
~. Davi diz aqui: Eles têm que ser exteniiiri;idos. Se clc mente.
t,lt.:. a > I~I.;w;Io sLibcndo.
1 1, r:t.iiii~iscoiitaiii qiie, por fm, as mullieres ti-ansfomaram seu Hércu-
I,... 1 8 , I kivi <Iclcs)ein pctlliaço. Uma lhe colocoii o vEu c a outra lhe p6s lia
i i i . i a , :i i i a . ; i c :i lançadeira e, por causa de seu grande anior, teve que iiiir.
S h o 101
Pois é, há de se coiicliiir que esses grandes piíiicipes viram palhaços em seu
:unor pelas mullieres, como aconteceu com Davi e Bate-Seba119.No entanto.
náo acredito que ele tivesse iiado de fato. Os poetas e pessoas ajuizadas o
pintaram dessa forma e emhelezarani a história com palavras para mostrar
que, se nenhum oucro.portento tremendo pode abalar um príncipe ou homem
viilente, ainda que tivesse vencido iodos os ininugos ao derredor (como no
caso de Hércules). por Luii riso será capaz dc superar o diabo doméstico. o
uUnu50 caseiro. A gcntil serilioritri. 21 bela rainha Oiiif:ti, com seu belo rosto
e sua língua siiavc, põe um véu iio caro Ht'rcules e lhe ordena fiar. Lá está
o hedi vitorioso, qiic estrqalhou todos os leoes, prendeu o cão iiifemal,
denotou os centauros r lapitesiZ1',matou o dragão, e o que mais escrevem a
seu respeito. Lá está ele agora (digo) e depõe sua maça e toma na nião a
i-oca, enquanto sua bcla Omfal o ameaça com a vara se iiáo fiar direito.12'
Dessa mancki os poctas descn.ver:iiii a bela gatinha, ckuiiada "Adula-
$no", que pisi na boca dos príncipes e scnhores e ihes ordena fazer o qiie
ela deseja. No entanto, ela o faz de uma maneira Cri« graciosa e com palavras
tiio arriiiveis que leva o caro Hércules a pensar que ela é o anjo de Deus e
que ele próprio i120 P digno de possuir iiina iiioça tão formosa como Omfal.
Assim se torna seli obediente e subinisso escravo, no entanto, iiào sem
çrande prejuízo p;ua ailueles que ele, entrementes, deveria ter salvo, protegi-
do e socomdo corn sua maça contra os malvados patifes. NBo sei se já Iiouvc
ou ainda haverá um rei ou príncipe que iião tivesse sido ciiguiiado por essa
bcla moça c deixo que eles cuidei11 disso. No entanto, sei perfeitame~iteda
S q a d a Escritiira que nem o próprio Davi, o rei acima de todos os reis, ficou
, irnuiic a ela. Pois C suliciciitemente sabido o que seu próprio fiiho Absrilicio
k z com ele com uma beki tigiira c palavras gentis"?. Depois Ziba tambiiii
Ilie ensebou a hoca táo bem e lhe fez cóccgas nos ouvidix na hora certa ali.
i~uetirounovameiitr do pobre Mefibosete alguns bens que antes ihe havi:~
co~icedido,dando a iiictade deles à gatinha ZibatZ3.Assini Ziba unhou ecscs
hciis tle Mefibosete lainbendo o rei Davitz4.Não obstante. gloria-se iicstc
holrrio, afimimdo que extermina os caluniadores. E no fim dele queremos
pcdir-lhe sdtisf:ição por que ousa gloriar-se de algo que não fez nem possuiti.
Também me parece que os prolktas dos gentios não querem conceder a
iiciiliuni rei a honra de tcr sido imune aos engarios dessa bela esposa, visco
iricndigo e uma criança purulenta, que tem varíol:~e sarampo. Por isso é
prrciso que liele se tenha al2uns JosSs, Naamãs. Natãs e Zadoques jiistos,
que o maiiteiiliam vivo e em fi~ncionamerito, para rião sc muinar
ccimplct~iiiente~~~.Os demais são coiiio pústulas, úlcei-as, sífilis, epilepsia,
crisipela (como eles próprios se dcnoiiiinam rogaido pragas), que toniaiii 30
l .'i l liii ~xov&bioalcinão diz que quem 6 dc fato homçm na casa tem o dircilri dc corlar uma
toicinho oendurado "wranle a Dorta do iriremo" - auer direr. ti.+ hoct da Iacirzi.
11ii1;i <I<,
I.>li Nii oiigirini: den f i g nn der Tik brçla.$scri h a k n - & u s c por \,eiicid<i: cf. Gruiuii.
8, çol. 948.
I k ~ i i > c l i c cIVfirlerbrbuch. v.
~ . N m á : cf. acuii 11. 55 ç p.
Gn 41; 4 7 . 1 3 ~-
I!/ .Ii>ri.:cl: 119. - Na1:i: c i 2 Siii I?.l\\.
%:i<l<xiiic:cl. 2 Srn 15.24~s.:1 7 . 1 5 ~ ~ .
- - - -
1i:irsiga. 4 esse respeito Esopo çorita a história do sapo que se incha, qiiercn-
i10 ser do tarnoiilio do boi. Mas o sapinho jovem diz: Não, mríezinha! nem
i111cte arrebentes e despedaces. Davi. porérii. fala de arrogância séria, que
~)oilccausar prejuízo e t' comuni na corte, como a sabem praticdr as pessoas
~~o<lçrosas, ricas e grandes. E assini como acima n3o falou da calúnia e inveja 20
isliiritual, também aqui não se refere 2 arrogância espiritual, mas à arrog:m-
ri;( secular. pois anogância secular surge em ncgócios seculares aqui na tem.
Aisogância c inveja ocorrem no paraíso, entre os anjos de Deus. quando um
qiicr ser mais s;uito do que o outro, o que os leva a cair no abismo do
iiilcriio. Os falsos profetas e todos os espíritos faniticos Ihes seguem o 25
131 S<ilon(c*. M O - G ~ .559 a.C.), &nado legisladar de Atenas, cclebrado por sua 1nodédi;i c
h<iiiçstidadc.
1.32 Kcrcrincia a Dion1:~io I, o Vclha (ca. 430- 367 a.C.). o tirano dc Sirmusii.
I33 í'i,nlormc S W I ~ N O ,
Calipla, 30. eisc foi o lema do irnpcrador Cdígula (Caio Iúliu CCz;ii
. . 112 41 dC., i m ~ i a d o dcsde
c,,tLriii;iiiirn r 371) - Caio Suel6nio Trmquilo (ca. 7Ilk;i. IJO).
c\ciiior ir>mdio.;iiit<ii-iIç hiiigraíias <Ir:diversos imperadores e dc reprcscnr~mtesicn<riii:,-
1k1 lil~lilluritr < > ! ~ ~ i i n i t .
< ;nvcn>o
coiin-:i ódio. Por muitos anos a Itáliii. o iii;us iiobrc e agorit o mais miserável
país lia terra, nos iiiostrou com exemplos diiúios no que dá um regune desses.
Eiii terceiro lugar, onde o príncipe ariia e o território r i o ama - ah!,
esse 2 o regime de nosso próprio Senhor Deus. Pois lamenta em todos os
profetas que ama sua noiva, mas ela prefere ser meretriz. Por isso nosso 5
Scnlior Deus tem que passar por coniiido (como se diz lia Saxônia), no
entaiiro, por sinédoque, isso C, nem todas. Pois algumas forarn virgens
picdosas na le. Muitos excelentes unperaclores roiiiaiius tiveram regiines
desses e alguns deles foram assassiiiados inoceiitementc. Esse regime é o
melhor depois do primeiro. Pois nosso Seilhor Deus ainda saberá arranjar-se 10
quando sua noiva se torna uina meretriz, sendo que sete mil homens não
adoram a Raal, peniianecendo virgens puras'34.Por lini há de acontecer quc
uiii príncipe pi-r>hnpeimanccerá c aqueles que lhe sào liostis hão de perecer.
N;io ohstante. eiicoiiiriui súditos fiéis, que pcnnanecerri a seu lado. Não lia
iiecessidadc de citar exemplos pai-n isso. pois não se d i valor aos veilios c 1.
.!I X I
assim. Eu teria <tito que entrc os animais domésticos gatos e cavalos tem
fama de bichos peiigosos. e entre os selvagens, lobos e raposas. Mas ele5
têm experiência em nrgiicios de governo e podem falar a respeito com
conhecirncnto de causa. Pois é a necessidade que ensina a I'alar e agir a
s pessoa que, do contt-ário,nâo hiia nem saberia dizer ou fazer rlualquercoisa. Um
tirano quer ser livre coino uni aniinal selvagem e fazer o qiie Ilie agrada. Um
adulador não deseja ser livre. mas se aprescnla como o inais fiel súdito.
inteiramente dedicado ao seiviço. No ciitaiito, é mais livre que o tirano. Pois
ao tirano se pode recriminar e expressar o ódio publicamente, mas ao
1 adulador tem que se elogiar e Iionrar. O tirano faz tudo mal, o adulador faz
tudo bem. Por isso ineu Divi é (ia opinião de que se deve colocar o seiilior
Inveja e Adulador ein primeiro 1iig;ii.. como o mais refinado patife entre
todos. Foi igualmeiite o scnlior Iiivcjn qiie mandou o diabo ao paraíso, por-
qiie iiáo poderia haveriiiensugeiropioi.pu;i ;mstarAdão c Eva a toda aiiiiséi-ia.
15 Portanto, o :irnado Davi é (conio já liii dito) uiii eueiiiplo de que iim rei
não deve sei- orgullioso ricm an.ciginte ou tirânico p u a sii:i pessoa, e que,
além disso, não deve per-rnitir ao pessoal da corte qiic 5~jarntirânicos e
arrogantes em relação aos súditos. Quein é capaz de proccder desse modo,
louve e agradeça a Deus, sc ror cristão ou pessoa creiile e sabc que essas
1 elevadas virtudes são dádiva de Deos. Pois não basta qiie deixe de ser
orgulhoso e tirânico p;ua sua pessoa, qiiaiido pcnnite ao pessoal da corte ou
seus funcionários a tiutal-em seus súditos a seu bel-prazer. Tanibéni não deve
conliar em iiiiiguém como se 1120 Iòsse tir'iriico. O próprio Davi e tamb6tii
Salomão se queixam muito a respeito e não é de se esperar que, desde aquele
.i tempo, o mundo tivesse ficado mellior, conforme diz Salomâo em Ec 1.9:
"Assim coino as coisas roraiii iio pa~sado,elas acontecem ainda hojc; iiáo
há nada novo debaixo do sol". E eni demão: NZo há cargo tão insigiúficmli
qiie não fosse digno da Iòrca. Os oficias dos príncipes c dos funcioni~iosdo
Sovcmo S ~ Odivinos e legais; nomialmriite. porém, aqueles que os ociipmii
e usam si« do dialio. E se uni priricipc é cava rara no &(i. tanto mais o são
os funcionái.ios e o prssc~alda corte. A causa disso 2 a iialureza perverha c
corrupta, que iião suportii dias bons, ou seja, ela não é capaz de fazer uso
divino da honra, do poder e autoiidiide. Por mais insigiiiiicaiite que seja o
çargozinho, tomam uni c8vado quando nZo têm um palmo, r sernpre eles
v, iiiesinos querem ser Deus. quando deveriam ser servos de Deus.
Ao eiialtecer @mdcmente a autoridade no capítulo 13 da Epístola aos
I<oiiionos, Sio Paulo Ilie tributa a maior li»iira ao chamá-la de seiva de Dciis
[ v . 61. 110 coritriuio, quem a teria eiii tão alto aprevo (de cora@ e esp«rit;i-
iic:iiiiciiic) sc n5o fosse necessário considerá-la como seiva de Deus'! Onclc.
~ ~ i r C i i cln
i. prhpi-ia quer ser Deus e governar tiranicamente com Líicilcri".
Govçnio
pensando que tudo deve ser feito exclusivemente para seu próprio benefício,
ganância, sossego, pompa, que saiba também que no Cântico de M a i a está
escrito: "Ele derruba os poderosos do trono, e exalta os humildes" LLc
1.52]138,o que, ali&, aconteceu com todos os impésios e ainda acontece hoje
diariamente, com autoridades supcnores e inferiores, tanto com príncipes i
como funcionários. Pois é o refrão de nosso SENHOR Deus quc São Pedro
escreve em 1 Pe 3. [sc. 5.51: "Deus resiste aos soberbos". A isso cumpriu
ngorosamentc desde o princípio do mundo, destroçando muitos tiranos que
náo quiseram acreditar nisso, até que o experimentaram pessoalmente, como,
por exemplo, Faraó e Seriaqueribe, etc.13'. Assim também os gentios escre- lu
vem a respeito de seus gigantes que lutaram contra os deuses e amontoaram
uma montanha em cima da outra. E Siraque diz que o dilúvio sobreveio por
causa dos tiranos1"', como se pode deduzir facilmente de Moids, Gênesis
capítulo 6.5~s.
Scgue o sexto vcrsículo do Salrno,
que é o segundo versículo sobre o regime secular.
Meus olhos huscam ov tiéis nri te17ri, para que hribiteln em rniiiha
companhia; gosto de ter c1iado.s honestos. [v. 61 ?i1
a
I18 Cf. interpretação do cjiitico de Maria por Lutero, nestc volume, p. (4-66.
17<1Cf. Ex 14.26~s.; 2Rs 19.35s~.-Senaqueribc (assassiindo681 a.C.), rei da Assina (desdc 704).
140 Cf. Eclo 40.10.
1/11 JI>%I von Slaupitz (1469?-1524), monge da ordem dos eremiia? agostinianos, prior do
coiivcnto de Tübingen, doctor in Biblia, convucado por Fredçricri, o Sábio, para ser o
~~rilliiiro decano da Faculdade de Teologia de Wibenberg. No processso coma Lutero,
S1:iiipitz tenlou protegê-lo onde Ihc fosse possível, liberando-o, por exemplo, do voto de
olxilii.iicid. Comi> estivesse sob suspcita de hercsia, renunciou em 1520 ao cago de
vig:l'i<i-gcr;~l&i Congregaçáo AlçmR das Obsiivimtcs c se dirigiu ;I Salzhiirgo, distaiician-
<I<> sr ilc I.i~Crodcsdc cntRi>.
F r e d e r i c ~se
' ~ queixara
~ virias vezes dizendo que quanto mais tempo govcr-
nava menos condições tinha para govemar. Pois a7 pessoas se tomariam tão
estranhas que não sabia ein quem, &mal, poderia confiar. Para mim aquilo
foi uma afmaçÃo estranha, pois achava que um governo de um príncipe tão
grande e sábio não sofria nenhuma contestação nem tentações. No entanto,
julgando a partir de minha experiência na administração eclesiástica e a partir
da experiência comum de todos os administradores, penso que agora posso
cheirar o sentido dessas palavras de longe. Outros perceberão o gosto e o
artifício, ou seja, príncipes e senhores probos (pois os outros sempre têm
1 mais sorte do que justiça). Que Deus Ihes ajudc e tenha misericórdia deles. Amém.
A nZo ser que Davi tivcsse sido bem sucedido, como se gloria aqui,
porque fez um levantamento em todo o país, ficando atento em busca de
pessoas fiéis e probas onde quer que as pudesse encontrar, Sazendo uma
seleção sem qualquer acepção de pessoas, como também o faz Deus. Tam-
fi bém ele não distribui seus dons conforme a aparência das pessoas e faz do
menino-pastor Davi utn rei táo grande, sábio e abençoado, enquanto faz com
que Saul, o rei, se transhrme em tolo e em homem infeliz e frustrado. Isso
é verdade, e decerto as coisas têm que ser assim: as personalidades proeini-
nentes, como reis, príncipes, senhores, pessoas de alta ou baixa nobreza,
,fl devem igualmente ser sábias e probas cada qual em seu estado. Pois é por
isso que levam elevados títulos nobres, escudos e elmos acima de outros, e
têm poder secular, bens e honra, de modo quc deveriam govemar sozinhos.
No entanto, falta-lhes a mentalidade própria de nosso SENHOR Deus. Ele
nos considera a todos como um só bolo, um igual ao outro, e procede
conosco conforme sua vontade. Por isso, muitas vezes, concede a uma
pessoa nobre sabedoria e virtude como não as dá a três príncipes, e a um
cidadão como não as dá a scis nobres. Como Deus verdadeiro, quer ser livrc
e desembaraçado e não estar sujeito à criatura humana (como o expressa São
ainda que seja bela e excelente. Pois quem não desejaria quc
quanto mais alta fosse a posição de alguém por nascimento, tanto mais
elevada Sosse a sabedoria e a virtude? Isso, porém, não há de ser semprc
tissim. A culpa disso é de nosso Senhor Deus, não nossa. Ele, naturalmente,
poderia fazê-lo assim, nós não, por mais que o quiséssemos fazer. Pois o
Salmo 100.3 reza: "Ele é quem nos faz, e nós não fazemos a nós mesmos".
Conta-se a respeito do imperador MaximilianolMque seus senhores na
cortc se aborreciam quando recoma a seu secretário ou clérigo (como eles
sc expressam) para atos, mensagens e conselhos tão honrosos e imperiais.
lilc, pori.m, respondia queix;mdo-se dc que tinha que usar tis pessoas dispo-
níveis, visto que elas não estavam dispostas a fazê-lo nem se deixavam usru
I>:ira isso, etc. Sim, a honra, a dignidade, o poder e a posi<;ãoda corte eles
qlieriam usuli.uu. inas a fadiga c o trabalho da corte não quciinm tocar coiii
i i i i i dedo sequer. Ocupar-se com cartas, coin escrcver e ler iia chancelariti - 5
viiilio. Pois, como diz São P~tiilo,a orgia só produz gente devassa, selvagciti,
!:ri~sscini,displicente, insupoitdvel [Ef S . IR]. Pcssoas assim 11x0 são capctzcs
I\<. \c dedicarem a yualqiier coisa, mas iliiercm seguu eni frente impondo sua
. < - c . I I : I I I I . 1:Ic.s pr6pnos dizem: Vida na coite C vida de poi-co. Mas sempre é '7
I I I I I ; ~ I:i\iiiii:i ~[iiaiido entre lajs porcos sZo pisotcadas cssas excelentes pes-
. . < x i i . l i ~ x c j ~ i ípara ~ o o governo todo' tanto para o país como para os
li.il~ii:iiiii.~. se 21 juveiitude é ccirrompida.
N i i ~iii;iiit«.cada país terii qiie ter seu pi'Olino diabo - n Icííia o scii, ;i
I i ; i i i ~ ; i i>c u . Nosso diabo alcmão dcveri ser iim boi11 oilrc de viiilio, c 18'
difcrcnles. Unia eslá nas mãos do ser huinano e no desígnio de Deus, a ouira,
ira mZo e na graça de Dcus.
O sétimo versícolo 20
I47 ID,ii:i.> Münrrer (ca. 118V-1525), tc6logo alcmao com uma coricçpçái, kológica prnpria,
uin dos peiisadores iniiis originais s inais influriiics de seu tcnipo. Baseou sua fi. em
r~\~çlaç&s clirctw de Dcus e se diria iluminddo por uina luz inlerior, visiics e sonhos. Foi
líder dos camponeses da T u ~ g i na a Guerra dos Cniliponeses. Ern 15 de m:iio de 1525 foi
~lcriniadop i a s forçus dos pfi~cipesr iieç.il>itac<lorm L7 de maio. Elr pr6prio se dciivmi-
i "dointor do Espinto". Dcseiivulveu um, Icologia da rcvoIu~Zu.Tentou rcaliziu
i i i ~de
iiiiia uiopia dc uma s~icidadç ("rcirio") çm que se pratica a justiça divina. Procku~iouque
ia1 mila dcve ser aicariçada, sc necessC~o,pela farsa das armas, no camhatr aos "ateus"
i:iiiioridadcs que se ncgararn :i suas propostas) e mediaire aenticga do pudcr ao povo simples.
1.18 ('I:1>ii2.40.
1.10 N.i i p i r a . os Ixirlwiros 1;uiihéiii ernin "ciriirgiiics".
I (I I L I, 6 , 2 11, 5 , 7 - Sohw ('icem, v. ;icini:i 11. 148, ii. 27.
:>o0
porCm, que quero te.r eni minha casa, tenho que comprar de acordo coni a
fidelidade e a E grega, ou seja, tenho que pagar eiii dinheiro vivo"15'. Pois
bem. Agoi-a,por iirn loiigo tempo, 'sse povo infiel e fi~lsosofreu seu castigo
iras mãos do turco, que tambéni Ihes paga a vista. Depois dele, também a
Itália aprendeu que se pode dar a palavra c jurar o que se quiser, e depois
zombiu qiiaiido se Ilws cxige o ciiinprimciito. Por isso iaiiibém eles tt111 seti
castigo justo. Ambos, gicgos e italianos. se constitueiii em exeiiiplo p m o
Segundo Mandament? dc Deus, que diz: "Não ficará impune o qiie abusar
do nome de Deus" [Ex 20.71.
Neidiiima virtude granjeou tanta horira a nós aleinãrs e (coriio creio) nos
elevou a nível tão alto c nele 110smmtc.vc do que o fato de sermos coiiside-
riidos I'iéis. verdadeiros e coi~fiáveis,gente para a qual sini é sim, rião é não,
do quc testemuiiham iuiiitos fatos hislóricos e li\,ros. Não sci muito a respeito
das leis yue vigoraiii na cortc, nias liquei siihendo o quanto o duque Frede-
ricoiS2era avesso aos nieiitirosos. De seu innào duque J O Z V ~ ~ouvi ' certa vez
que elc teria tlito: "Pois berri. Llrn iiie tlissc isto, outro ine disse aquilo. Uiii
dos dois deve estar mentindo!" Isto eu sei coin ceitcza: tive que rir da
seriedaclc e ira desse príncipe honesto sobre a nientira. Antes dele muitos
outros príiicipes foiiun iguais :i ele. Nós alemaes aúida iciiios uma centelha
(que Deus no-ki preserve e aumente) dessa aiitiga viniidc. Aitida tenios ccita
vergoiiha e não gostamos de ser chamados de nientirosos. NXo zombamos
desse assuiito, a exemplo dos italianos c dos gregos, iiem o transfomamos
cm briiicadeira. Enibora o mau costume dos italianos e gregos se estivesse
disscmiii;tiido (que Deus tenha iiusericórdia!), ainda resta entre nós o fato de
que iiinguéin pode proferir ou ouvir urii irisulto mais skrio e hoilível do que
ber chaniado de nientiroso.
Penso (tomara que seja só um pensamento) que náo existe vício mais
pt'inicioso na tena do que meniir c revelar-se inliel. pois isso deitiói toda a
comunliào entre as pessoas. Pois iiientirii e uiiidelidade destroem, aiiles de
iiiais iiada, os corações. Uma vez separados os corasoes, as mãos também sc
separam. E se as mãos estão scpnsadas, que se pode fazer e realizar? Se
ncgociitiites não confiani uns nos outros, o mercado se iuruína. Se marido c
esposa iiao são fiéis um ao outro. ela sai pelos fundos. o marido sai pela
Ii.ciite. e ;is coisas se deseiirolam como disse algiiirii: Cuida, qucrida Elso.
cuida prua não airiquecemos. Se tu quebras jiirros, eu quebro panelas. Se
iiin burgomestre. príncipe ou rei não for fiel na lidermqa, a cidade há que
;irrliinar-sc. terras e povo se ui~iiinarâo. Por isso existe tanta separayZo
cscnndiilosa, lanta desavença e desgraça na Itiília. Pois onde não existe iii;iis
? I 17
(;OYC~I<)
li<iclidadc e fé, tambern o governo chegar5 ao fim. Que Cristo ajude :i nós
alcmãcs!
Se esse vício se faz presriite também na corte e nos cargos públicos,
como Davi confessa aqui, as coisas haverão iliie ir de acordo. Se caniponescs
e burgiicses engan'm. mentcni, ludibriam e espoliam um ao outio, isso ainda
inão é o pior dos diabos. porque niio t'azciii parir do governo. Quando, porém,
cssas coisas .\e iiist;ilam rios esc;rlõcs superiores, que prejudicaiii tc1i.a e
gente, isso é o próprio Belzebu. E o rluc fizeram o papa Júlio c depois dele
o papa Clemeiite com o imperador (como, alihs, muitos papas proccderam)l54.
E se p ~ c i p e sprocedem da iiiesma forrnn coilira outros e se, por fiiii,
(ùiiciot~iriospúblicos o11 gcnie da corte agem da niesiiia hrma eiii relação
aos súditos, aí entào se h e m niuilas prorric\sas, se gas;iritcni muitas coisas,
:icontecein promessas vagas. juramentos e perjuras, que as vigas começam a
estalar. E todos são ;imigos c imiãos. O papa Júlio tamb6.m mandoii dividir
I I Sacramento cm Ires pailes c fazcr umti aliaiiça eterna com o imperador 13
hl;i,~iiniilianoe coin o rci d;i França: "Assiiii cr~inoDciis Pai, Filho e Espírito
S:iiito são urri só Deus, lissiin seri firnie esta aliança". Logo depois, poréin,
\c verificou <que a carta esiiiva sclada corii husta. Pois o saiitíssimo padre se
iI~,sentendeiicom o Filho e o Espírito Saritoli5. Conta-se a respeito de um
.;iii$o. que estevc presente cri1 muitas ocasii>es em que se r:oncliiíram newó- F
2n
i.ios, corn proniessas e jur;iiiiciitos, seni, ci?iitudo, cuinprir c]uaiqiicr coisa:
"liu gostaria", disse ele "que um dia jorisseiiios não cirinl~ririnais ticnhuiii
jiii-ainento. Aí essas coisas tomarinin uni fim".
Bem, as coisas vão mal. diz Salom,io, quarido os anciiios inentciii, isso
C. os rcsentes elevados, honrosos e poderososlsh. Elogiam-sc os tiircos por- i5
iluc mantCin fidelidade e fé (psovavelrnentc é isso que os torna tZo podcro-
SOS). Se for verdade, que seja. Mas certamente verdade é o segiiinte: se tantas
~ ~ c ~ iin:iritivessem
o a s fidelidade e fé ou fosscm táo suiceras e coiifiiveis
ci~inoo esperariam de ouirus, Davi náo teria passado ianio tiabaiho com
Ilcssoas lhlsas e infiiis e coni inentisosos em sua coite. Admira que iium
I'. I .lrílio 11 (14;13151?i. plpi dexle 1703 - Cleninire 1'11 (1478-1534).ptpa desde 1 5 2
Nri cpoca. a Frtiriqa c ri diiinrii;i de H:ihshurgr> (Espadnli:i. Sacro Im@ri~>Roiuaiio-
(;cimiiico) lutavain pelo domínio sobie a Itiliu. Os estados italianos, inclusive o Estado
liclcsi6stico. tcntaram impcdir ~ a domínio
l abavis de nliançiis s~lcessivas,ora com um
I:ali>, 0x1 com n ouiro. Cr~nsyüetiteincnte, os papas ermi, às vezes, aliados dos impera-
iliircs, riutcis vezes seus :idver\ários.
1'5 I<rler+iicin r.~rckticn ao papa /i$,> 11, quç f e giierra
~ conlrtt o rci Lu& XII da Amya
i lilfi2 1515, rci deaJc 1498) e coiiira
n impcrarlur hfmirnitin>~i, I 114.59-1519,in>per~dor
<Icsilc ISOXi, depois (le tcr aderido. em lj(l9, i Liga de Canihrni. Iùmada por Luís c
Maxii~iili;i!ioem ISOX contra Vcncza. com sdesio rmiEm d i Fmi;iri<fi> II, i, <:il<ili<r!.<Ic
Afiifiu 11452-1516. rci da Sicíli:! IIJO41. dc C;ihrcla c I r 2 0 114741. <IcA ~ ; ! ~ L 11/17<1)
KI c
i l ? N ; i l x ~ l i11504.(1.
~
151, ('I. I', . 17.7.
po\.o tão santo c sob reis tXo piedosos e santos existissem também pessoas
falsas e mentirosas. Pois se não as tivesse tido em seu reino, por que iria
enaltecer tanto sua virtude régia referente a esse ponto'? Essa preocupação e
tsaballio provieram-llie em tiinç5o dos servidores fiéis e probos. Se foi essa
5 a situac;áo na corte de um rei tão excelente, entiio, certamente, iieiihum rei
ou príncipe enur nós gcntios considerará sua corte melhor ou mais santa.
Cada uni deveria rnandar pintar esse saliiio nas paredes.
oiivir qiie sejain chairi;idas de prostitiit;is (ainda que n sejam de fato), tam-
hCm reis e seiiliorcs náo gosiaiii de ouvir, o pessoul da corte menos airida,
qtic se os rcpi.eenda c recrimine coiiio iiijustos e perversos. porque isso
1p:irece tocar cm sua honra. Davi, porém, é direto, sem papas na língua,
procede de modo rude e coni a suficicnte imprudência, c não quer esconder 25
linda. Alím disso, elogia coiiin procedinicnto muito correto o ']to de recri-
iirinai- seu pessoal da corte de loima tio vergonhosa, destmiiiilo-os, iiiclusive.
Se ele conseguiu sucesso e náo roi considerado um tolo louco como todos
os demais profetas por pme de seus sabichócs, isso me parece um milagre.
C:cr:rtanientc ele o seiitiu. Pois naqucle tempo, c e m e n t e Aitofel, Joabe, 3'1
hclo regime e louvar a Deus por ele. Certamente o reginie do inlèliz Herodesnl
ou o dos geritios iia Crécia não @em ser coiisider.idos piores. Que dii-criios
;r esse respeito'? Proporiho que o recomendemos aos astutos senilores no
papado, qiie são capazes de harmonizar tudo que ensinam eni contradição a
si iiiesrnos nas leis. Por isso c!es riiesmos infitulari seu livro ile "Cuncor- 2s
. .
11>5 ('i'. 2 Sm 13.
('I.
li>i> 2 Sm 15.1-1X: 16.20-21;18.918.
1 1 9 1 ('1: 2 Snt 3.27: 20.10; 1 Rs 2.5.
11~8 ('I'. 2 Sm 15.12.
li,', I'ioviivelmcnk uma wniiptela dc Biui e a rcferèiicia dcvr scr ao Icvantc de Scb.4. filho
ilr Hicri ícf. 2 Si~i 20.1~s.).
I I11 ('1. 2 ~ m ' I 4 . 1 0 ~ .
I /I Ik.rc)des I, o Cirmdc (ça. 73-4 a.C.), govcmaiitc do Estailn ju<lcu (<lciibo do Iriifirio
I<i>inano),cf. Mt ?.lss.,lhi~.
11.1 lkcrii'la swe Cm~urdiadisconi'iurliin~cawinum (Uecrctos. ou seja. Concúidi;~[ O i i i c ~ r -
<I;uicia( dos câliones diaiordantrs), compil;~~jio de Icis ccleaiásticas fcil;i 1x10riii>rigi
i.;i~iial<liilcnseGraciano por volta de 1140, inuis tarde chiiin:ida sitiiplc~iriciiicIhl.ii.lii,ii
(;~11;;1,1; (Dccretc clc Graciaio); cor~.siiI~~i, ,IIII~:I \,crs3<) rcv;.st,l:,, :t lpr;,tx.ir;, p;ttI<, <I<)
iI,qlt~sl(itris C';lai<ir!ici (C<ii!ipil;!q%i, ilo I>iiitii>Clliii~iici,).ci>tic.litiili>~ p < nw3Il:t <Ir 15110.
Beni, quero deixar Davi erii paz e considerar (do que não há duvida) que
nessas dificuldades ele não necessita iiem de meii conselho e ajuda, nem o
de qualquer outra pessoa. Porque ele teiii um Deus tZo benigno, que o
considera tão niaravilhoso e elevado que faz proclamar etii toda parte que
i Davi é sei1 servo fiel, que cumpriu toda a sua vontade: uin Deus que nasceu
de sua descen&nci.a e que não se envcrgonlia nem dcspieza de se tornar fuho
desse rci. Que iiial faz que siniplesmente cremos (pai-a nZo chaniarmos a
Deus de incntiroso) que seu re,@ne foi o niais subliine, o melhor e inkis
benquisto perdite Driis, embora para nós seres huinanos (que não julgrue-
mos coin maior severidade do que o próprio Deus) parecesse o mais escan-
daloso? Se, no entanto, quisessc fazê-lo, certmente ainda poderia suportar
essas coisas coiitraditónas e dizer em resunio: o governo de Davi transcomeu
como ele o gloria. O fato, porétn, de se ter deparado com muitas desgraças,
isso ele teve que suportar, porque os goveniou k i n e com seriedade. Enibor~
fi tenha pecado, nSo defendeii o pecado, como Saul e outros reis; além disso,
deixou o pecado e o nlimdoiiou. Pois queiii quiser. ou tiver que governar
bem, liaverá que suportar 0 diabo como cornj~adre.Por isso dissemos acima
que um rei ou príncipe não pode castigar a nialclosa malícia secreta até que
Deus a ievcle. Basta que ele nZo deixe impunes os vícios revelados ou outros
vícios públicos.
Aqui quero encerrar. Espero ter realizado uin borii tsabdho. Considero
bom o trabalho se agradei a poucas pessoas e causei bastante desgosto a
muita gcrite. Isso deve ser como que um siiial seguro, assim conio a niar~je-
doura e as rraldas for;un iim sinal seguro para os pastores. Se, no entanto,
'- clc agrada a todos, ceriaiiiente o meu traballio que realizei é mau e vergo-
nhoso. Espero. porém, que não nie expus a esse risco. Se, no entanto, agradar
a todos (que Deus nie guarde disso!), que seja, eni noiiie de Deus, iim
trabalho perdido que niio serve n ninguém. Nu entanto, qualquer pesstyd quc
demonstra que ele rião lhe agrada, certainerite se seiitirá atingida e se sabcri
culpada. E exatamente com isso coiifcssa que é ou gostaria de ser um
dziquele que Davi descreve aqui, como diz Ciisto: "Scris coiidenado de tua
própria boca" [Lc 19.221. E os gentios, como Cíccro, Lainbém dizem: "Se
não é inencioiicido ninguém quando se recrimui;im os vícios. então, se
zilguéin se irritar por causa disso, esse >e trai a si niesino e se declara
c~ilpado"~~?. Que Cristo, nosso SEnhor, tcnha misericórdia de todos nós c
pcrmaneqa (em fé liime) nosso amado Salvador. A m M .
Debate Circular Sobre Mt 19.211 5
9 de maio de 1539
IN~RODIJCÁO
10
Na A.\sembléie Nacioiial de Augshiirgo, iis lutemos aprcseiitar;im, erii 75 de
jiinlii, de 1530, sua confissiio de fé, a Coiifissão de Aiigsburgo. Quatro cidades
evangélicas do sul da Alemanha entregar.im, em 9 de jullio. a Confissão Tetrapolita-
na. Anhas as conf~ssòes foram rejeitad:is jxla maioria catúlica, em i de agohio e 25
de outubro, respectivamente, mediante confutações elaboradas por teólogos romanos, 1s
a pedido do imperador Cnrlos V. Conio réplica dos luteraiios, Filipc Melanchtlion2
redigiu ;i Apologia da Coritissão de Aiigsburgo. A rçi<iluç;rofiii.11 da AshemblCia, de
I9 de novembro, revalidou novimcote o Edilo de Woniisi e exigiu a ristauraçZo da
;iiitiga situ:iç5o eclesi&tic;i. Caso os evarigéliç<isdesobedecesscm. poderi;, l~ivcriiina
;iy;io d i t a r do imperador coiiirii elo, e uni zrande número de processos perante o i(>
Sirpremo Tiibunal Iinperid.
De novo os evangélicos precisavam ocupar-sc com a quest5o da legitimidade &i
isist&icia aniiada contra o imperador. Agora. os juristas qiialiticararn iiin ataque do
iiiipcrador corno injustiça notória. Consequenteriientc, a resistência armada scria um
u s i i d e legítima defesa, prevista pelo direito imperial. Os teólogos. inclusive Lutero, ii
ic<lirani s tal iiiierpreta$áo político-j~iddica.E111 fins de 1530 e inícici de 1531. os
cv;ingé:élicos uniram-se nuiiia ;iliariça defensiva, a Aliansade Esmalcalde. Mas em
;iiiihos os lados hotive pessoas qiie se empenharani para evitar o pior. Em 73 de julho
clc 1572, os dois lados t-umxaiii a trigua de Nurnherg que vigocina a l i que um
ciiiirílio geral ou iima AssemblEia Nacional decidisse as questões controverlidas. Até si]
1.. . . proibida quslquer disputa annada por causa da religião.
. i Ir11
A s retlexõeh avançxan qiiando <i papa Paulo 111 (I468-1549. papa desde l.i34)
<.<iiiviiu~u, e m 2 de junho de 1536, um concílio para o ano de 15374. Na opiniáo dos
ii.ail<i,~ws dc Witteiiberg. o imperador romperia a trégua de Niiniixrg, se ;itacassc os
~ ~ v ; i i i ~ ~inilitmente. ~ ~ l i c i i ~ Seiia uma iiijustiça riotoria. Neste caso, o governo do 15
I N.i I i l i < i i i i iIç Weirnar (WA), o texio foi publicado sob <ititulo Die Zininilardispiil;ito üki
,(.i5 I<i,i.Iii des Widerslandc gegen dcn Kajsei (Marffi. 1Y,21) = O Debate Cicul:r snhr' r i
I ) i i t . ~ l , > tlc I<esislência ao Iiilperxior (hll 19.21). - WA 39íü.39-91. Tratlmi<lci<Ir, í~rigiii;il
I:iiiii<i~pwIl.<omI\-vsei- coin a c<il;tkmraçáudc Egbçno.s 0,ssewa;ude.
! 1'1 ;ii.iiii;in. 133. n. 8.
Drhatc Cirriilar Subre Mt 19.21
-- -
Outra vez um conflito m a d o oarecia iminente ein fins de 1538 e inicio de
1579. Lutcro se propôs abordar a qiieskio da re<istência ao imperador no debate
acadêmico previsto para abril dc 1539. Redigiu 70 teses. em Iúigua latina (WA 39/11,
39.1-432). Qiiando católicos e evangélicos firmaram ti Lrégua de F r a k h r t , ein I9
de abril. o debare foi adiado par8 9 de niiiio. Liiiero elaborou outras 21 teses quc
acrescentou às 70 primeiras e i i ~ squais aprofuridou s o b ~ t u d oum dos aspectos do
probleiria eiii pauta.
Lutero continiiou convicto dc que ao cristão iiZo é pcmitido opor-se à autorida-
de superior legítima quniido esta o persegirir por causa de sua fé. Mas numa guemi
io c~intraos evaigélicos, com a finalidade de acabar coni a prega$" do Evangelho, 0
irnper;iil»r iião scri;i tal ;iiiloridade constihiida p i ~ rDeiis. O verdadeiro tigente anti-
cvangéiicu neste combatc era o papa. O iniperador agiria apeiias coriio &euauxiii~i.
Lutero viii o ~iiipadonuma perspcctiva apocalípiica. Citou repetidas vezes trechos
hil~licospertiriente~.Para ele, o papa não era ;iurorida~lelegitima iiem lia Igreja iieni
15 iio Estado neiii ria "ridiiiinistraç.ío domestica" (tese 51 ). No debate, este aspecto se
destacou. A crítica às pretenhóes do papadn C tnmbém o iissunto priricipal das teses 71-91.
Corno o papa. o resl~oniável íiltimo pelo confliBi, n2o é autoridade legitima,
pode-sc e deve-se rcsistir a uin at;ique seu ou daqcieles que se c o l a m a sua
disposi$ão como supostos "dekns«rrs da Igreja", sejam elcs "príncipes, reis ou (1s
.V pr6priox i i i ~ p r i ~ l o r e i(fcses
" 66. 68 e 70). Tal ataque seria uina violência noióiia c
irijusta. Ncste caso, a resistência não seiia rebelião contra as "orclenanças de Deus",
mas legitima defesa. Lutero opuiriu que a resistêiicia era LI dever dos govcmantes dos
territórios ev;mgéliços. Mas eles precisariiun da ajuda dos cidadzos. Ao rnencionar o
papa, neste coiitexio, Lutero até podia pensar num movimento popiilar de resintència
,- dizendo (se re;ilniente disse o que os protoc«los r e g i s n ~ u m ) :"talvez seja atf
nccess.5rio que o povo intciro se Ilie opor~ha".
Di: modo algum, no enlimto, ti11 resistência seria urna espécie de cruzada «LI
guerra siinta. Só poderia ser empreendida por razões humanas, profanas, polítiç;i&
para cvitx a destnriçim lotal do convivi0 das pe.?soas nos ambientes pnlitico, ecnn0-
I mico e eclesiástico. O dueito dos cristiios à resistência vaie, para Lutero, $6 eiii
.situa@r) de real crnergência em que pretensões tot:ililitárins anieapni a sohreviuênciii
c salvecão das pcssoas.
As primeuas 70 leses de Lutero foram publicadar em Wittenberg, em abril (Ic
1539, e as 91 teses, em niaio, cin lalirn. As 70 teses forarn rehpressas uiiediatuneiitc
%. em Numberg. A teiniitica tomou-se iiltamcnte utual na época da Guerra de Esinal-
calde, quando Carlos V de fato atacou os evangelicos militmierite (1546147). Nesizi
siiuação, as teses de Lutero foram reeditadas: em latim em Frankfurt, Lubeck c
I{a!.ilt'i:i. erii aleniáo erii Wittenkrg c Nuriiberg. Igualniei~reforan repuhlicadar, cri!
scpanido e em alemão, as tescs refereriles à questão da legitimidade da resisiCnciii
(51.70) Do debate de 9 de maio de 1539 existern três protocolos manuscritos, ciii
I;itiin, ciim alguma!. frnscs erii itlenrão (WA 39/11,52,1-89,27). A seguir apreseiit;iiii~is
; i ir;i<lu~.;iodas tescs e dos protucolos em fomia de sinopse.
Joachm H. 1;isclici.
( ;IIVC"I~
As Teses
Debates a serem desenvolvidos circularmente
Mart. Lutero
i
3. Em caso contrário, t' iieccssáno dizer que tiido deve ser devolvido c
i-cstituido,como furto, roubo, bens injustos.
5. Isso é, dcves possriir o que é teu e náo bens alheios, ou (como diz
l';iiilo) cada qual trabalhc para ler o que dar ao iiccessitado".
Zii
X. Também é certo qiie Cristo não vcio para aibolir a lei da srgiinda
l;iliii:i, ma$, antes, para coiltirma-Ia6.
13. Pois, visto que comem, bebem, se vestem c têm oiide morar, ccria-
5 incnte não ve~iridemnem abandoriaiii hido, mas possuem todas essas coisas e
delas fazem uso.
18. Sini, eles têm que emigrar para um lugar onde não se vive, não se
come, não se bebe, não se usa vcstimeiita, não se tem lugar para morar, para
qire assim, de fato, possam abandonar tudo.
21. Cristo diz que se deve abandonai-e vender tudo por causa da primeira
tibua, ou por causa da c«rifissZo c da causa pública da f6.
22. Pois no que diz respeito à prirrieua tríbua, tem que se vender o campo
c iihandonar c renuiiciar a tudo para garantir e comprar o tesouro do reino
dos c6usX.
S I 'I. MI I.1:1,1.
1 ;ovcmo
23. Depois. porém, tens que abandonar prazerosamerite o que tens e
possuis com jirsti~apela seguiida tábua por causa da primeira tábua, isso é,
por causa da vida eicrna.
26. Se alguém náo prover o necessário para os scus loca do qiie diz
ichpcito 3 primeira tábua ou da conCissáo, csse neza a fé c é pior do que o
(lcserente.Pois Cristo diz: "Não separe o ho~nenios queDcus uniir" [Mt 19.61.
1'
27. Isso sigruíica que a pessoa que ahandoria os seus desse modo e
vciidc scus bens rião peca somente contra a segunda tábua, mas também
<.i~iiira
a primeira.
28. Por outro lado, quem, em relação a Dciis, 1120 disser a respeito de si ?o
iiicsrno, dos seus e de seus bens: "Náo vos coilhrço", esse n5o cumpre os
~irccçitosnerri da prirneu;i nem da segundri tábua.
29. Pois o que tem dc Deus e o que possui de modo justo scgundo o que
l~receituaa scgunda tábua ele o tem iiij~isian~ente,
segundo a primcira táboa. 27
coriira Deus.
40. Por isso n5.o coiiipcte a pessoas privativas, quaisquer que sejam.
estabelecei- preceitos relativos ii essa paz ou usar de algum poder ~>rivati\,o;
i! antes, deve-se recorrer à autoridade.
43. pois além do reino deste mundo não há outro rciiio superior que sc
oponha contra esse reino a favor de nós, a não ser aquele eterno reino de Dcus.
45. No cnianto, par ciiiisa dii priiiieir>i túbua não sc dcvc i-csistir :I
:iiitoi.i~l;iilcyuc I;iz o ili;il ([)<tisi130 podc tcr oiilro tiiotivo).
'10. Pois não temos outra autoridade que pudesse proibir o inal dessa
;iiiiori<l;idee sob cuja autoridade pudéssemos ou devêssemos resistir-lhe.
,17. Assim coiiio tcimbérn nio teiiios qualquer outra tábua ao lado da
:.~.r~iii~da
de acordo com a qual fnsse permitido ~ i g kcontra a primeira. 5
48. Pois assim conio a segunda tábua, tamháii a autoridade diz respeito
;i i.stti vida no mundo dado c coiistituído por Deus.
49. Por isso não nos compete, siin. se nos proíbe deshuir, por teineridnde 10
50. Mas é preciso dar Iiigar ii ira, c: n30 devenios deferider a nós nirhrnos
riii causa própria.
15
<lircitocivil, d ~ mesma
i fortna corno o Evangcho.
5f>. Elc é o monstro a respeito i10 qual Daiúrl afirma que se op»r,i ;i
deus. inclusive ao Dcus dos deusesq.
~(ii:iI<~<~c~
63. Também não [li motivo parii se preocupar se Lim juiz ou alguni
agricultor do povoado ordenar que se dcixe esse animal em paz ou até o defende.
67. Poi, ele n2o é bispo, liem herético, iieiii príncipe, ncni tirano, m:is
uina Irra que dcvasta ri tudo, como diz Dmiel".
68. Não imporia sc cle tem a seu serviço piíncipcs, reis ou os próprios
iriipcradorcs, encant~idospelo título da Igreja.
(;,~vi,"o
69. Aquele que está a serviço de um ladrão (qiialquer que seja) tem quc
icr consciência do perigo a que se expõe com sua iiiilitancia e airida com a
cteriia cundenaçiio.
71. Os papas iião tiveram condições de criar leis úteis para a Igreja e
piua a salvação dos crentes. 10
74. Por isso foi iiecessário que fossem totcilinente cegados por ariibi~io,
soherba, avareza e arrogância, riiatÉiia em que sempre primaram, como diz
S. Pedro. 20
icinente ti .ambição e avareza. Lsso tninbém nSo admira, pois s,?« ignorantes
< . I I ~irla<;áo a Deus.
70. É impossível. eiii segundo lugar, porque nada que fosse necessário
I X I ! : ~ ;i sai~'aç'd0se pode estal~leceraléni da Escritu~a,seja em assuntos de
li:, s,ja em assuntos de moral.
Debate Circular Sobre Mi 19.21
80. As cciisas, porém. que o imperctdor ou outro priricipe qualquer ordena
sobre esta vida, 1150dizem respeito a f i . nias $50 necessárias pai-;i este mundo.
82. Pois Cristo ordenou através dos apóstoli>s,o que também confirmou
I
por seu próprio exemplo sob Pilatos, que se devc obedecer às autoridades,
"1 como é sabido.
i 84. A esse luso-lobo L'eroz sequer ocorre que 11206 rei neiii governador
de rzinos insiiluídos por Deiis.
85. Não obstantc, despedaça, age e assalta ern reinos, governos e domi-
cílios alheios ciiino um urso-lobo.
88. Assiin ousou eliiiiinar o páíiio poder, terido dado licença aos filhos
contrair matrim6ruo contra ;i vontadc dos pais.
'11. Ein i-esunio, não existe na&+ nu ordem divuia ou humana que essi
.I I I 7C I ~ tivesse destruído.
r i i . i c I ; i Ixic,j;i e da Esnitu-
1 . 1 . I'~~il;~iitci, estaIia muito
.i, ~iii;i, l i > Estado oii da ad-
i~iiiiirir:i<;;icidom~stica.Por
,.\,,I r:l/.s,l I r n t k l l l 6 11os-
\ c , <Icvcr lutar contra esse
.
y.,(.\
i , iiil\, Lumo. nossos an-
1 1 s 1 c s lutaram con-
Drbatc Circular Sobre Mi 19 2 1
ira as \rquuid;irl% blas-
Ibnias dele.
1 arguniento
Cristo veio p a i nnu- Cristo veio anular o
lar c) pecado. A segiiiida wca~io.A segunda &/>i13
iiibiia LÍ o pecado. Logo L< o pec.:~<lo.Logo, efc.
I Cr1.910 veio p:ua iinu1.v a
.egunda labu>i.
A premissa] inenor .c Provo a [premissa]
i.r>inproiapelo ,7" cap. aos menor: Tudo que não pro-
(i;ílatas [sc. C;/ 3.121, on- cede da fé é pecado.
8 ii? é dito que a lei iião A lei não procede da
pr<xede da fi:, e aos Rrn ti. L i p é pecado e, por
/ 14.231: "O que não pro- "7hdo que não pro- ro~iseqüê~icia.
esráabolidi.
cede da fé é prcado". cede da l e ' ' [Rm 14.231.
Resposta
Ao afirmar nessa pas-
siigeni que ;I justip não
procede úa fé, Pauio con-
i r a p k e ,justiç;i,das obras
. ii luhtiça da (2. E a riicsma
c<iisaque a justiça por mé-
rito, que náo é apreendida
pela f i .
3%rgumento
N;id;i que prxede da Nenhum direi10 divi- Nada do que é </e/e;-
lei rliifina conflil;i com o 1x1 conflita com o nn/iil:.il. rei10 diiino çonflila corn ?ri
direito natmal. A proprie- A propriedade conflila coni a lei da natureza.
ílhde de h . s ronflil:~com o diieito na1umI. Logo n3r1 A j~r<~prierlade,
por~<ni.
o direi10 rlivino. Logo 1130 é de direito </iv?nO. coníiita crirn a Ici ii;tmd.
L: </edirei10 nziturai. Logo n& L: dr clireiro o a ~
Respondo: Nego a iural [sic!/.
Ipreiiiissa] riiencrr.
Proponente: Provo a
[premissa] menor: corno
coiista ein GEriesc [l.281,
:i coiilunháo dos bens é de
iliiiito divino, porque Deus
(li,, ç (irdeiia domi~iarso-
li^ t<idos os aiiimais na
ii.ii;i. ci>inotaiibérn sobrc
~X'ihL"i 110niw i outros,
,.it..A i I>ciisc,iou tudoco-
,,IO,O
I<rspondu: Ebsa afu- Resp.: E s a passagem
ii~;iy;ii, ii;icI;i muda nesta ou a f i n ç Z o foi dita an-
:iliiiii;i~;ici,porque ela se tes da qucda. oii
i<.Ii~c a>tempo antes da
i~lk".i:i<li: Adão. Sc 21 Wdtl-
ii.,:i iivehsc pemanccido
iiii.<ii-rilpt;l,a atimaçáo te-
Debatc Circular Sobre Mt 19.21
ria permanecido iiicomip-
rn ate hoje. Sendo, portan-
to, a natureza cornipta, 6
preciso iiiudar essa afirma-
5 ção.
joargumento
Xxf» arliielc que fnz 27. 7i~doaquele que
nido ~ ( J Isii;r própria deci- fiir lodns as coir;is por sei)
18, sZo, setri Icis. r 1u;lrio. O mbíujo 6 tir:uiu. Op'7p.l é,
papa fim tudo por slra pró- erc. Loço.
['riir dcciuão. Logo o papa
? rirmo. f> papa 11'CIO tein
oilein <Ialei nntiinil ou na
I Ici divina.
D. M. L.: Respondo
a [prernissal niiuor: O ti-
rano esii cm sua prbpria
ordetii. Não obstante, o pa-
o pateiii ccrta ordem, mas
essa o~deiiié contra a lei
da natitiii-eza.
Outro
Não se deve resistir à N i o sz deve resiv~r
;riirondade nein aos prín- às autorid;ides guemr.
cipes. Logo? iiunbéni n;io Lozo, nrtn ;to duque que
no papa, pois qunn resiste gue~reiiipclo papa.
;ia exército ou ao general, Resp.: IResistk] a es-
quelula c111f n v o r d o p p . . sas guerras é latrocínio.
Respondo: Ao gcne- Responde um opo-
i:iI nao se deve resistir se nente: Quero que fique cla-
condiizir uma guerra legi ro que são autoiidades que
iiiiia, do iiienn« modo, nem sc defendem. Laço' a es-
, :I(>pay" Poreiii, não é is- sas iião se deve resistir.
so que o geiieial faz. T m -
IMrn o papa não é a auto-
i ~<l;ule.
Outro
L I0
Debate Circiilar Sobre Mi 1Y.21
não se deve perguntar: Por ao inferno. iiinguém tem seguinte: Se o papa levar
que fazes isso?" Decretos o direito de perguntar por inúmeras almas ao infer-
iiiipiissimos semelhantes quE. no, na% se deve perguntar
são aqueles que dizem que por que ele faz isso. h-
i rodos os tribunais recebem da há outros decretos, co-
as diretrizesz2 e a aiitori- mo estes bem injuriosos:
dade d;i Igreja roinuia. No que todas as decisões do
iiiesmo sentido váo outros trono itevem aceitar o ve-
decretos, como, por exein- redito da sé roinanu: que
10 plo: que ele não pode scr Ele nâo pode ser jul- iicnhum concilio rio mun-
julgado por ninguém; quc gido por nenhuiii concílio do inteiro tem autoiidade
ii Sagrada Escritura rcce nein por qualquer ser hu- de julgií-10. Essa aiirna-
be :i autoridade dele, hlas- mano. ção é tão blasfema e exe-
lênua essa que é coiifir- A Sagrrida Escn- crável que é Iiomvel até
ir mada por aqueles grandes Lura recebe sua autoridade mesmo lê-la. Que a
asnos iliie afmtiiii que. a dele, e náo ele dela. E~critura'~recebe a auto-
1,mjii está acima dn Sn- rid:~dedele, e n^ao o coii-
qada Escnturu. e que. ele tdrio. E essa blasférniaafir-
b ~ p r i onão a recehe da mam esses grandes asnos
21, Igrcin. Temns que coiiiba- que dizcni que a Igreja es-
tcr os decrctos que qne- tá acima da Sagrada Es-
rcm que o papa tenha essa critura. Todas essas coisas
autoridade náo da Escritu- iião podem ser toleradas,
ra. mas que a Escritura a De- iieiii as devo confiniiar e
15 te ri li;^ dele. A csses devc- vemos cornbaier essas ter- por causa delas perecer no
mos resistir. PoRanto. e s riveis blasfêiiiins indivi- inferno. Devenios comba-
sa 6 a blasf8iiua milxima dualmente e em conjunto, tê-las, e se esse fosse i,
contra a qual devemos lu- porque é intolerável que a único jeito, eu me tomaia
tar uni por um e sozinhos alma devesse sucumbir no sedicioso. Não lhe basta
inclurivc por meio de unia inferno por causa das blas desiruir o corpo, as espo-
sediyZu. Se, port;itiio, pu- fZinias dele, coino se ele sas, osfllios, masquer ai]-
der promover uma sedição não estiveshe sujeito a leis. da que iuiniia alma pere-
sozinho, irei pmmov%la. Se nem o imperiidor nem ça. Visto, porim, que ele
Morrer eternamente, isso os reis o quiserem empreen- não é autoridade, então há
i.. 6 demais! Basta sofrer as der, então seia por uma de se mover uma ação po-
coisas corporais, mas des- ação popular. piiliic qualquer pessoa de-
ccr ao intenio, 3i cada qual ve niatli-lo de qualqiiei-jei-
tciii que resistir de corpo to, pois quer que eu rc-
c corn todas as suas forças nuncie a Deus em eterni-
I ;IO pal~i.que não se satis- dade.
r..+L. ~. o mo fato de eu pei-~
der ;is coisiis corporais. Se
nno forerii os imperadores
c geiierius. talvez seja até
necessálio que o povo in-
teiro se lhe oponha. Quem
irá julgar justo que eu scja
assassUi3do pelo papa, que
;ihiindolie o cônjuge. os fi-
lhos c os bens, que seja
ciiiidenado etenimente e
seja despachado ao infer-
no? Ai qualquer pessira de-
ve lutar corn suas foiyas e
com seu ciirpo. Njo! Ai,- Nio! Antes de abandonar i r
rev que penniiir que nii- ;r meir lkus. iria m ' . s ~ u
iili;i :ilrria vd p m ii infer- iudo que lenho; timrio r r r ~
no. ir;;~ 'arriscar tudo que nhom, poré~n,faz i.s.so.
tenho c promover um;S4
sedifào. Devemos, purtiui-
to. vingat essa blasfi.iiii;i
iridividualiiieritee sozinhos.
Assim o papa quer viver
sem lei, o quc nenhum ti-
rano faz, nem mesmo o
turco, que apeiiiis deseja o O tirano se apodcra
domínio sohre o corpo. O dos corpos, governa os Es- O
turco raniùrm C urjo-loboz5, tidos; o turco se preocupa huco usa o poder, princi-
[nas nirrior feroz. N;i ver- principlilrirentc com o do- p;iliiientr visando nossos
<I;idc, é ... 26 e 12111 seu mínio e o corpo. Ele terii heiis; iio enlato. ele esiá 3u
M:iomC, contudo i. gover- seu Maomé, ao qual estj sirjeito j, leis e é regido
iiiiilo por suas leis e go- siijeito, é goveinado porele; por .seus iiiaoiiieianos por
vciri~sobre o corpo. O ITa- meio de leis e escrinuas.
[':L, poré111. destrói p ~ c i - o papa, poréiii, assiiltl as Não a%im o papa. Ele pro-
~~i~liiierite as aimas, visa às :ilmas, quer que rios per- cura principalmente as ;iI- 35
:iliii:~s.Siriiplcsmente nos c:irn«s a vida eterna por mas, quer que nossa5 al-
<Iitci:ir~mciunosso Cristo cniis:i dele. Não quer su- nias se percam por caus:i
i. :I vida eterna, c quer di- jeiiiwse ao direito divino, dcle; visto que ele é seiii
xi-: "Nds não queremos natuml, civil. lei, di7,: Njlo e.sl.mos su-
i.\Iiii. sujeitos a leis, iierii O derradeiro c inau- jeitos nem àS lcis divinas, .,i>
.'I O Icxio latino vrrii rnirrrncado de fragincntos em 1íiigu:i alciiiZ. Rua dcsiacá-los, ;iprc\cli
i;$iaii>-10s
grifados.
?5 I .nicr<>
UVA aqui ti I I ~ ~ ~ 1iter.d
u ~ Z Vgrega: :,rk~~lyAo.s
( ~ 1 ' . ;,cim;t p. 221. r,. I1 I.
.'O A < I ~ Ic<n,tc,
. ;~lliiirrs.ii IrhIi~;iliic>i.iil;i I ; i i i i i i ; i i . itii ~i;iliivl;i< illi<tiii]>lil:ir.
Dchate Circular Sobre M1 19.21
ser regidos pelo direito di- dito monstro é tal que tan nem as naturais; todai as
vinoounaturaI".iii;~~qucr bCm o queres livre da lei coisas qiie me dizem res-
que tudo se faça de a c o r de Deus. peito estio no cscrínio de
do com o escrínio de seu nosso peito. Um monstro
5 peito. Isso é horrível, até desses ri50 se acha nestc
esse ponto despreza aDeus mundo, urn monstro que
e a Escritura. Todos os joe- não quer estar subordina-
lhos têm que sc dobrar do a Deus mas quer estar
diante desse monstro. Ja acima de Deus.
I mais houve monstro co-
mo esse. Os hereges são Os hereges são Os here-
pcadores no mais dto grau lobos c malvados, mas ape- ges também sjio malvados
e também são monstros e 113s tin parte, na medida e lobos, e se opóem par-
lobos que lutam contra 3 eiii que atacam a Escritu- cialmente 3s ESC.~IUI- ,IS.; os
I Escritura cm parte. Em rn. Estc. por$.in, náo aldca tiranos se opòeiii ali grnii-
aide de pailc pecam u m - paite da Escriiura, mas to- rlc paric as leis. Nio o b s ~
hém os tiranos. liias isso é da ela, e declara que a coii~ tluitc. continuam sendo au-
nada em compara<;' CIO cor11 denaçáo das almas por suas rorid;ictes. Esse homem se-
o pecado do papa. Pois cs- blasfêmias é justa. gum. poiúm, náo apenas
I tc não apenas está segum visa o uripério e a inter-
do poder imperial e da iri- venção rios assuntos do iin-
terven~ãodo imperador, 6 perador. Mas cogita m-
também adorado. Se des- bém arruiriar a todos, lon-
truísse a todos os scres hu- ge de ser louvado como
,. manos, seria louvado co- justo. De boa vontade que-
mo homem j~isto.Que so- remos deixar-lbc os cor-
framos fisicamente, ele nos pos, não, po~-é~ii, as almas.
aflige e queremos sacrifi- Ele, no entanto. sob o no-
car de boa vontade os bens; me de Cristo, ;irchata pa-
nãoqueremos, trxlavia, per- ra si as Ialiiias] )1uras, c
der também as almas que do mcsino niodo kurebal;~
r ) palra exize. O tirano ar- para si as aimas dos geii-
rchatii o corpo. 1113s d e k 3 tios. o que é o principal.
a alma; esse, poririi, to-
\. iriaiido o título de Cristo,
como vigjrio d e Cristo.
iisurpa para si esses
iliieitosZ7.Esse é o maior
iiinl no papa, primeiro por-
I LILICusurpa as ahnas, de- Não sa-
pois os c o r p s , e depois tisfeito com isso, vira lo- Depois [mebata] os cor-
iiiipRc leis rios côrijuges, bo c arrebata para si todos pos, os reinos, a admiiiis-
çtc., e diz: Nós temos in- os reinos e territórios. Tam- tração doméstica, cria e mu-
iituído essas leis. E extre- bém arrebata as almas, o da as leis que quiser, e diz:
mamente pestilento o que que é um mal intolerável, Na verdade, temos essas
e também usurpa toda a leis, mas está em nosso ar-
diz nos decretos: Nossas
ordem política: nós temos bítrio inudá-1% quando qui- s
sentenças, inclusive as in- sermos, e acrescenta, o que
a liberdade de mudar tu-
justas, devem ser rcspeita- do, inclusive nossas opi- é o mais pestilento de tu-
das e adoradas, isso é: Nós niões injustas devem ser do, que nossas decisões,
não estarnos sujeitos a leis, adoradas. Essas são blas- inclusive as iiijustas, de-
mas vivemos segundo nos- fêmias que a mente hu- vem ser respeitadas e a d o ia
so arbítrio. Ora, que é p a - mana não consegue com- radas. Assim não fala nem
iíi serisso?Quem seria ca- preender. Devemos admi- o herético nem o tirano.
paí:de suportar essas blas- tir isso? De fonna algu- Acaso devo ceder a i.v.su?
Icinias, ou seja, que se de- ma! h t e s devemos opor- De forma alguma. Se, po-
110s ao monstro. rém, o rei quer ajudar, de- 15
ve adorar sentenças injus-
vemos resislir com força
t;is'l Nós emitimos senten-
máxima. Essa é a defini-
c;;is injustas e, nZo obstan- çãc positiva do papa. Por-
tc. dcveis adorá-las. Quem tanto, antes de mais nada
~nnlcráceder neste ponto? é preciso saber que o papa 20
()iicm não se oporá, mui- é tal monstro, pelo fato de
10 antes, a esse monstro ser o senhor do orbe ter-
1xstilentissimo?Um mons- restre; se escolhesse para
tio desses não existe em si uma parte da terra, seria
toda a terra, porque deve tolerável. Em segundo lu- z í
csi;ii inuito acimade Deus. gar, ele não é tirano, por-
que o tirano está, em gran-
lividentemente existem
de paie, sujeito a leis; ele
i;iiiihém outros lobos. Mas é um monstro novo e sin-
~,sscsiiZo são tão seguros gular, porque, além da au- 30
c scvcros como esse lobo toridade, é tal que ousa go-
r l i ~ hesla. i
i;i,lr ~x)clçinosrenunciar ao
De boa von- vernar sobre nós.. aue.
. Dor
causa dele devemos pcr-
i < i i ~ ~IIILLS o , i alma de jeito der nossas almas quando
i i ~ ~ i i I i i i i i i14n
. resumo: es- diz: E prcciso obedecer à 37
,.:I\ i:io ;is hlasfêmias que nossa decisão, ainda que
i t i<ii:i<:ii~ Iiiiinano náo po- injusta. Isso não é outra
(li. ;i<.cii;ir.A d c f i ç ã o de- coisa do que dizer:
iiiiiiiv:~C esta: o papa é
i.,\ii. iiiiiiistro, porque é o
::iiila~i (Iii orbe terrestre.
Auiiii, definitivamente o
Il:lIxl c e""" '"'>""o, por-
iliir liiigc ser o detentor
CIO " I I I ~ I I O podçr do iniiii- O p;ipa E oin inonstro
Debate Circular Sobre Mt 19.21
do, ainda que seja blasfê- tal que sequer pode s y cha-
mia, porque não é autori- mado dc autoridade. E blas-
dade, iião tem o poder su- fê~niaquando diz que ele
premo, não é senhor do é o senhor dos senhores.
5 orbe terrestre (essa blasfê- Ele também não é tirano,
mia, porém, podia ser to- pois esse ainda e s sujei-
~
lerada em parte), nem ti- to, cm grande parte, à?leis.
rano, que, em grande par-
te, está sujeito às leis. Ele
iii é, sim, o urso-lobo, que se Esse, porém, é o diabo, pois
m o g a o direito de gover quer que sua blasfêmia ma-
nar sobre nós, para que, nifesta seja adorada fora coloco
por causa dele, percamos da lei, isso é: apresento-te diante de ti o reconhecido
as almas. Coloca diante de o diabo p a a que o adores. diabo para que o adores;
15 li o diabo e, apisar dc o Ele, porém, não se salis- se náo o fizeres, condena-
reconheceres, deves ado- faz em me matar, mas diz do estás. Que devo fazer?
rá-10, contudo. Se disse- ainda que a alma está con- Prefiro morrer; esse é um
res: não me agrada que se denada por sua ordem. monstro diferente do que
destrua o corpo, ele não Acaso devpria adorar o dia- o tirano; ele mantém o con-
!o se satisfaz a não ser que b«Y Não! E preferível mor- denado preso, inclusive de-
pcrcas a alma. Pois aíque- rer. Se devo defenderme, pois da morie. Isso é duro
ro defender-me. Eneiihum eu o f a i ~ iO
. papa é o dia- demais; portanto, se puder
inferno vai me segurar. bo. Se puder matar o dia- defender-me conú-d o pa-
Quer que adoremos ri blas- bo, por que não o faria, pa, quero fazê-lo, inclusi-
,\ fCmia porque diz: também inclusive wisc;mdo avida? ve de mão amada, por-
nossa blasfêmia é injusta. que seria a mesma coisa
Sim, que diabo ihes insu- que [resisti] ao diabo, pe-
flou isso! Em resumo: o lo fato de ter renunciado
papa é um monstro muito aos bens para não entre-
40 diferente do que o tirano. gar tudo.
Quero opor-me a ele de
lodas as formas, pois ele
iião é príncipe, não é au-
toridade, não é tirano, mas
o diabo que nos usurpa as
almas. De minha parte, se
puder, lutarei de espada,
sozinho, corpo a corpo com NZo deves pensar que o Consequente-
o diabo. O papa não é me- papa seja um ser humano; mente o papa não é sim-
RI homem, ma9 é uma mis; também seus adorddores di- ples homem, mas [também
rura de Deus e homem. E zem que ele não é apenas é] Deus. No entanto, aqiii
;issiin que os papistas, seus um ser humano, mas ho- Deus deve ser tomado por
;aliptos, o definem, e isso mem e Deus misturado. diabo, quando seus adula-
6 ci~rritoi virdadeiro. Um Aqui, porém, se toma Deus dores dizem: O papa é um
I ~Iciisinisto, sini, toinandci pilo diabo. Assim como misto de homem e Dcus;
i r <li;iln>
lair I>çiis, qiic 1x1' Cristo E Dcos inclirnadi~, aqui, porém Deus d i v i s i r
(iovcrno
causa disso nos ordena pa- a~simo papa é o diak entendidocomo diabo e ser
ra que destsua as almas. E encamado. humzmo. E assim como
assim como se diz: Cristo A respeito do papa si Cristo se encamou no ser
LI. DCUSc Cristo é Deus deve pensar de modo mui- humano, assun o papa é o
encarnado, assim o papa é to dierente do que a res- diabo encamado, porque é s
o diabo encarnado, porque peito do tirano, porquc ele 0 mticristo, este, porém,
se opóe a Deus. Pois, é procura atingir principal^ infernal, aquele, espiritual
necessário que o anticrislo menti as almas do mundc :celeste. Em vista da nc-
seja Deus, mas um deus inteiro, assim como o tur- zessidade de declarar isso,
infernal. Também é verda- co esiA atrás dos corpos jigo que não se deve di- ia
de que é esse o motivo do mundo inteiro. Eles são ler do papa outra coisa do
por que, nos tempos mais as duas bestas do tempo qui do tirano, pois exige
rccentes, os pseudoprofe- derradeiro, às quais dcvc alma c ioipo, com« o dia-
tas s i prendem a essa hes- seguir o dia derradeiro. b.
ta, como diz Pauloz8. Di-
go isso para que sintais de
outro modo a respeito do
[ ~ a ~edacrediteis
, que virá
i) dia derradeiro em que
perecerá a besta, o turco e
11 inonstro papa.
:.i, ri:io li5 iierhuma justi- iistorcem de várias manei- [ue é extremamente im-
v:,. r<iiilodoli6 aí certa or- -as o exemplo dos apósto- ~ortanteo debatc sobre a
i I < , ~ i icivil. Os nronges e os que destiiiavm suas ~ropriedadee porque to-
: ~ i s : i s ,porém, querem losses para o sustcnto dos los os monges repetem e
tilil<.i-c riierecer daí a vida ~nhres.Ali não sc visa à legam os exemplos doi 41,
8"rgmentu contra 2
7i>rias as coisas que
;ilii,i;ii~iou nos aiienam do
I,,'v:ifigclhodevem antes ser
;ilxirnlr~rinda.sdo que ob-
\,.r if:r~l;is.As iiquezas nos
-
:ilii.ri:iiii <k)EvanpeLho.Lo-
;:<,,,'I<'.
I<<*si>oii.:Isso nâo é
iI:is Hquezas, nem
~ ~ t q ~ r i < r
iros :ilii:ii;ini do Evange-
I I i < i , i~~)iii~~dizPaulo~',mas
i i i i s ; ~voiiiade iná; a culpa
ii:io ilivi ser airibuída às
iiilit~:~xs,IIIUS a nossos de-
si:ii>s viciosos.
Debate Ciicular Sobre Mt 19.21
9%rgnmento
A aiialogia que não A analogia que não
tem alguma razão justili- iem um argumento certo
cada não é comprobatória. ou a abonação da Escritu-
Vo.ssa analogia com o ur- ra, ou 'ainda os exemplos
so-lobo não têm r d o cer- da [&a, nadaprova. Vo.9-
ta. Logo, etc., nada prova. sa proposição é dessa es-
Resp.: Ela tem suara- pécie. Logo nada prova.
z%ona própria natureza das
coisas e no dircilo natural,
sim, tem uma razão exce-
lente no próprio direito pon-
tilicio.
D. M. L. responde: [M. L.]: O motivo de R. A analogia tem um
Essa anaiogia tem uma ra- comparação é ótimo. To- argumento excelente, que
záo excelente. Pois todos dos temos que acudir ao é muito forte, pois todos
os camponeses se juntam incêndio comum, mas t a m somos obrigados a acorrer
contra a besta urso-lobo, a bém lemos que lutar todos contra o papa, a exemplo
destsuidora das ovelhas. Se contra o urso-lobo; a de- dos agricultores,porque ele
I a besta for afastada e re- fesa é algo natural. é destruido; do Esiado e
peli+, tudo será permiti- da familia. E a consequên-
do. E uma defesa moito O pa- cia natural: se ela for ad-
forte. O papa E algo sem pa é um caso sem exem- mitidaedefendida,elades-
exemplo, um monstro. E plo; esse derradeiro mons trói tudo com o maior vi-
,* o monstro novo e derra- tro sc chama sem-lei, a n o gor. O papa é uma reali-
deiro, que vive sem lei, fo- mico. dade sem Cristo, é aquele
ra da Ici e acima da lei; monstro derradeiro, como
monstro sem lci, monstro o mundo jamais o gerou,
como o mundo não o pa- é o que Pedro chama de
riu igual. O tirano ainda anomos, isso é, sem lei3".
tem leis, as quais impediu O tirano ainda tem uma
[?I3'. Fogo debaixo dos pés, lei, como diz Dionisio31,;i
a espada sobre a cabeça. espada suspensa sobre a ca-
Mas o papa é adorado c»- beça do governador. O pa-
ino « mais forte nas blas- pa, porém, tem todo o di-
fctniiis. reito no escrinio do peito.
lO%argumento
A nenhuma autoda- Não se deve resistir a
</cyiic peca por ignorân- nenhuma auioridade quc
10 ciir ~c deve resistir. O in- peca porignorância. O im-
iwmd«1.pcca por ignorân- perador foi enfeitiçadopor
cia ao defenderopapa. Lo- ignorincia pelo papa para
go, etc. defendê-k). Logo, não se
deve mistir ao implildor.
Respundo [M. L.]: O R. O arguincnto tem
argumento é bom, mas Iiá [M. L.]: Se o i m p e algo de bom; visio que o i
uma diferençd. Quando o rador não sabe o que é a imperador desconhece a
imperador desconhece a Igre.ja, ele ainda é tolerá- Igreja, ele pode ser defen-
Igreja, isso é iim erro de- vel; se, porém, quer de- dido de algum modo; qum-
fensável e deve ser tolera- fender » lobo, isso é into- do, porém, quer ignorar [ a
do. Mas se defende o pa- lcrivcl e deve-se resistir. Igreja] e não ouvi-la, en- li>
pa, que C um lobo, isso tão se lhe deve fazer re-
náo pode ser lolera<lonem sistência, como a um juiz
suportado, mas, se iiie de- que defende a hesta de-
ve resistir. vastadora.
[iao] 1/07O papa deve ser
15
excomunga injustamcntc.
Assim, :issini, por exemplo. Fili- Assim procedeu Filipe, o
por exemplo, procedeu o pc, rei da França3j, lançou rei da Franç2'. Livre de
rei Filipe da Franca'" con- Bonifácio no cárcere onde seu juramento de fide-
i5 seguindo atravts do floren- inorreu. lidade?",resistiu, e fez bem.
14 O duque Jorge da Saxônia, apclidado "o Barbudo" ou "o Rico" (iiasc. 1471, duque desde
1500), excelente administrador dc scu tçmtório, eii&rgicoa(lversáno dc Liiteiri, çirnprome-
tido iiitcilamciiti: com o imperador c com Roma, fdecera a 17 de abril dc 1519. - A
Ç;ix<^irii;i l'rirn dividida erri dois territórios, cm 1485, a Sax6nia emeslina c a SaxCini:i
:illicciina, cntic iis irmãos Emesto e Alherto, da dinastia de Weliin. O duque Jorge govcc-
ci;iva ;i Saxiiciia alheilina.
35 Qii:iii<loRiinilaci,~VIII (1221/111-1301) foi pil-so cni h n a g ~ i(0810911303) por G~iilhcriiic
(11. N<ip:irci (1700/70-1.3111.<-l~;i~ic<:lcr <Ic Filipc IV, 0 Bclu (da França; 1268-1314). Sciiirrc
< ' < i l i u i r i ; i IIOII,:IIII> c II:IO l'Ic~w~~li~ic>l
ICL P ~ I ~ C dc
I tl.:iidor n<idçsficho dos ;iconiccinicriios.
i 0 No o t i j ~ , i t ~ ;t~,,,~;,;!io.
~l 1,. .C\. r,. 14.
('I, :&ci~at:~
(;<]verno
iiiio, guerrear contra o pa-
pa, vencendo e riiatando Foi uma autoridade legíti-
esse urso-lobo. E fcz bcm, E ele fez bem. Pois nL1 ma, matou esse urso-lobo,
por que não podia supor- era de sua obrigaçlio ad»- e se alguém fosse defen-
?.ir d acntcnça
. ~ injusta, não rrar sentenças sofridas in- der esse papa contra o rei, s
podia adorx o diabo. .Ia- justamente. esse tanihém deveria ser
1i13isfarei i . s ~ oconi esse aniquilado. Neste momen-
. ] ' I [ ,Assim tam-
nssnltuite to. pois. deprisitmios nos-
bém nós esperarrios quc is- sa espeianya nas autnrida-
so >icontecerL,se rcalinen- des Cuturas. Pois a autoii 10
iç for designada u n a au- dade é iiistiiuída. Se fo-
toridade particubamente rein tiranos, fazem márti-
para os cristâos, e ;iind;i res, tiias adorar o diabo é
se pergunta se esse Filipe algo que não se pode tole-
istii condenado ai>iiifciiin rar. E dcssc tipo sáo iodos 15
porquc maioii o papa Bo- ris )>ap;~\.Por isso os iiii-
iiilacio VIU, aiiidaque, na- perddores devem ser ad-
t~iralmente,à f o r p [?]. E vertidos a que resistam a
;ilim di.sso, e aíe.st2 o dia- ele de todos os modos, que
Ixílico, ele o fez sob o no- por causa disso sejain man- ai
iiic de Cristo. Estami~sde- Nós debatemos dados para o inferno. Aca-
I>;itendosobre o direito. De sobre o direito; de fato, vi- so csiainos perguntando
I;iin. todavia, nd.siiZo o p l - mos que n5o podemos er- cnii-ctalneiitc'? R. Porqur
~lcriiosfazer. Logo, proce- radic5-111.NZoobs(aiite, d e nem todos [ageni] injusta-
~ l c ucorretameiire ao agar- vemos resistir. NZo Coi o iiiznte, responderia que fa- ir
i-;iresse urso-lobo. e espe- dcvcr do rei da França di- ria hem que o papa fosse
r11 que nosso impei;id«r t'a- zcr [resigiadameiite] que reconduzido à ordem. O
r5 o mesino, pondo o p a foi excomungado injusta- papa quer destruir as al-
1x1 em órbita. E se Filipe mente, inas sua obrigação mas, querqueo rei daFran-
tivessedito: Souexcoiiiun- foi resistir a» pontífice, e ça diga: Eii sou instituido
,c;idoe condenado, logo se- fez k i n . por lei. Isso é o pior no
rvi coiiden:ido em ctcnii- papa, quc clc tudo E u
' náo
<l;i<lv.riefaro, rlr s a i a n i o eiii scu nome, ma? eiii iio-
v i o q1i2. iiiz de Cristo. Nenhuma au-
toridade legítima faz isso. ,,
12%rgumento
A sociedade dos após-
IO/<I.S l i ~ cr>nscnt;iiic;i
i com A sociednde d<~.sap<i\.-
:i li.; (/c Dcus. Houvc o rokr rui c~m,seni;íBcacom
i i ~irrr.~i.vo 1x1sociedade dos ;I Ici de DZUS;9 ,socieciil<lc .li]
:il~i\folosde ,150 pos.~uí- ~10.sapó.~tolosfoi ulii II.%O
I < . I I ~I>CII,S. L o g ~ .s lei de coniilm <I~I,Ybens. 1,rigo.
I)LYI~ i compartiUiar tiido
L'III c<>inuiii.
Kcspondo [M. L.]: A
< . ~ ~ i i i i i i i I[clç
i Z ~hciisl
~ rI;i SI>-
Dehare Circular Sobrc Mt 19.21
ciedade dos aplpóst~iloste- [M. L.]: A sociedade [M. L.] R. Isso é [uni
vc sua origem na c&di~- ou comunliZo dos ap6sIo- argiinientol fraco, porque
ilc. Tambéin não o nego, los procedeu da cdridiide, a sociedade dos apóstolos
visto uue é livre reter os não da fé. Nós deixaiiios não é uma idéia. mas fm-
1x11s ou entregá-los para livre que reúnain seus bens to da fé. E 116s não nega-
iiiii fun comum pai-ti a l i em comunh5o iiii não. Em mos, coiiio se não tivesse
iiiciit;u-opróximo, por cau- caso de necessidade. po- liada de boin nisso, que [a
sa h uaridade. Por exem- rc:ni;os bens não s5o ineus, pessoal é livre para ter seus
pio: se o próxiiiio precisa
ilc meu serviyo ou esti mor-
mas do piósimo necessi-
tado. Podes ter teus bens
. .
ur6uiios bens. Se seis de-
Ies c~ininseguis.semjuntar [o
rciido a ininha frente, e i i piriprios o11 podes toni6- suficienfe]piwa sustentar A-
fio rncus bens nlio r i o 10s comuns, como quiseres. guns pobres, isso seria lou-
iiieiis, rnas devem e i t a a vzívei e unia boa a@o. Sim,
,\ir:i disposição. E cliridiide é necess&io que, se o u-
8 , i~~iaiido dois ou niais cida- mão esiiver apeitado pela
dZos querem compxtilliar fcimc, que eu lhe ajude.
cnire si scus kiis. Quem q~i:uidonU~ise trata de iiiiin.
iri proihi-lo? Se r i k coii- mas do irmão necessitado.
sideras os k n s tcus por A própria comunhão pres-
t direito, como poderis tor- supóe a propriedade.
ixi-los comuns?
[13" Outro
Pessoas casadas 1120
p~iderric u i ~ i .(Ias ~ coi,vas Neni~uni cônjuge .se
periúirntes ao Sed~or".Os de~iicais coisas penirien-
rii~r~i.shr>,~ de Deus têm que tes ao Scnhor. Todos os
cuid;ir- (i;& coisas pc~linen- mini.stros deveni dedica-
1- a Driis. L<)@, os mi- se às coisas pertinentes nc]
iii.vlros de Deus n,7« dt,- Senhor. Logo nenhum mi-
18' ivrni estar ca.asado,s. nistro da Pa1ai.m deve e,+
Respondo: Paul11«re- tar casario.
~ ~ causa da fra-
C I ~ I I I L . I IDOI
C I U C L ~da cunie. çtc.
D. M. L.: Ele está di- LM. L.]: L Co 7.33s. R. [M. L.]: Paulo diz:
'. vidido. quer dizer, há me- "Quem esti casado estí "O que lem esposa esti
IIC).: cuidado com as coisas di~idido", dedica-se ao dividido" [l Co 7.33s.l.
~pcrtinciitrsa Deus; elr tem coiisorie, é verdade, no en- Ele. porém, não diz que
lilli<is,conjuge e cuidn das [aito, rito priiicipalriicnte. nLi se dedica às coisas per-
i.iii\;is pertinentes à adiiii- O marido se dedicli me- iiiientes ao Senhor, apena.;
I iii\lr;i(.;io doin6stica. rios [i causa de Deus]; não não o tàz integalrnente;
obstaire, dedica-se, etc. ele dedica-se menos. por-
que tem fillios e esposii.
No entanto, a dedicqZo quc
prcs1;i nlio é menos dcdi-
caç.5o ao Scnlioi. Logo náo
é pecado ler cslmsa.
14"
Outro
r i s o t i a Pedrcl: "Ap;~scent.r niirhas Cr~.sfst«
orden:! 3 Pcdro
"Apa.scrrilii minhas ovc- ovellins" [Jo 21.17/. De- qiir ipasccnre :r,s ~>veiha.~'~.
lhas " [Jo 21.171 Apascen- cretoi". Apasceiitliras o v e l l ~égo-
i~~
tnr signitica governar. Lo- verri:ir. Logo clc i rei p o !vi
g o Pedro e' rci E por cori- <iero.vo.
.seilu?ncin. o papa C ;iuri~-
ricladc.
Respon. D. M. L.: [M. L.]: Eles tiirccm R [M. L.] Esse texto
Cristo envia a todos os essa atiiinaçâo de rnodo ad- ds muito trabalho e os d e ir
;ipóstolos por igunl, qiiari inir,ivçl. Conclui-se daíqiic çretos fazem delc coisas
iI<i diz: "[de por t<id(i o soiiienlc Pcdri~é pastor'? niliiiii-:lvcis. heguiido tis
iiiiindo". eic. IML. 16. IS]. Será po%sívcl tal ceguei- quais soineiite Pedro pode
('ristil fdln ali eiri teriiii>s ra'? Pois ICiisIol elcgeo 12 apascentar as ovelhas. E
iiiiivcrsais e os faz pasio- apóstolos e lião envioli ape- de se iidinir;ir que sejamos ai
i-cs [ a t<ido>l.NZo apeii.is nas um :i todo o oihc icr- tdo ohcscados. Sc cliiis ape-
i21 de Yedro uin prstor, seslrc, ii;is Pedro, por iiiic, eni5o.
11~irquePrdro apasc>iitou o l?io extremaiiieiile çslul-
iiiii~~is que Paulo. E iini:i to Crislo k r doze apóst«-
vergonha e pecado quc ha- los? Náo iihstirite, enco- 25
rcrcmm <Ir.ser tão ...'ell inerida a lodos por igual:
alixr: Pe<lri~, ii[>asceiilan i i ~ Em Pedro ele sç diri- "lde a iodo o iiiiiiido" wc
iihiis o\.elhas, logo vós ou- ge a ir>iliis os pastores, a 16.1SI. Mas piurcc yiie is-
fiiisapóstolos sois ovcliias. todos que dcvcm apascen- so li50 resolve a yucstdo.
O quç ele diz aqui: Pcdro, tar. [A ordem] nZo di7. res- Ele iiZo disse: "Vai, Pç- iii
;il~isccntaiiiirhas ovelh~s. peitii soriirnte a Pcdni. iiias dro". mas disse a iodos
*.I?< i diz 3 lodiis ( ( L I ~e n ~ i
siniplesn~~i~teorcleiiou a io- i>!. discípulos; "lile ;i todo
ii:iiii a palavra de Drus. dos o çuidddo pelo pasto- o iiiiindo". E uma vergo-
I:li. siiiiplesmentc Ihes dií reio das ovelhas. Se Pedro nha que o entendamos do
:I iii~~iiiiiliénciadeapasçeii- é para ser o únic<i p:istor segiiiiite nlodo: sonlçnt? 35
i.ir :i\ ovelti:is. Pois qiic.rii das ovelhas, clç estj (ler- Pedro deve ser pastor. E
a(~~i.vc.i
,covcrrriir uma única dido. poir riio ciiiiipriu seu cnto que Pauli>trnbaiiiou
calh~lcm>rii ;ip"fiação. fein ofício, pois náo p6Jc pçi. mais do que os oiitros co-
.siilii.ic~itrque fazer; si: ti- correr todo o »rbe terrestre. mo dir4I. Assim. pois, diz
I i,.\sicyiiç prover o inundo respcilo a todos. n^ao s«- a1
Dchãte Circular Sohe Mt 19.21
iiiiciro, enr.it) csiana siiii~ iiientc n Pedro, porque ele
~jlc\nieiiieperdido. Pi,i,<.se ii:o pode pre8.u erii toda
tivesse que comer de ~iiiiii parte, ainda que se cxigis-
i.i~l;idc a outra, não per- se dele que perc«rrcsse o
ir~rruiao rnundo todo ri<,rii inundo inteiro. Por outro
crri riu1moi. Poris.so, Cri.+ Indo, coiidenuins [se al-
( ( I nàr, incumbiri ii Pcdro gin21n dissesse]: Se um rci
\<izinho<Ics.\atiirc/i. i. suficientc para o reino.
tanto mais o é para todo o
[1Sg] orbe tei~eshe.
Contra 4
N;i Epísiol;~aor Cw A priiiieii;~ribiiii náo A prin~eii;~1.76ua n i o
/<n,enssz. Paulo or(/r.n:i cnnllit;~con! 3 seguiicl~.L O c(iir/71ta CIII~I a segun<l.?.
I>nscur-;iscoisas cele.stiatii", t o . O qiie i~iiio.sem virm Pminto, as cc7isas que pos-
i qiie siki {icrlhente.~i pri- de da .scgiiiicta ttáhuii não sufinos erii vinude da se-
nicir;i tdbun. Logi, não .s21 deve s o nhandor~~<lo por gunda t:ibiianão derciii ser
:rssuriios (li, odrninis~açir) citlisir da prhriiii Iibus. nhmd(~nada.s]>i".causa da
r/r1int!st1~-3.qiic cc>nstariida prinieira.
.~;guiidaf;íhua. Logo, cori-
', lTi1:111i entre >.I 1
Respondo: Daíiizo se
scgue qiie 21 sçguridii lá-
Ihtia dcve ser oiiiitida.
D. R.1. L.: A lei supz- [R. M. L.]: A lei su- R. [M. L.] A lei su-
iior (lerroga n inferior, is- perior rzgul;i a inferior. perior refuta a uiferior. Tu-
si, E, ;i Ici iiiferior seiiipre Pois. oina vez negligcncia- do que está na piimeira t i -
ilcvc ceder ù superior. A da n scgunda tibua, deve- hua devc ser nbscrvado,
111iiiicira táhua 6 superior, se scrvir à prinicira. na ver- iiiesmo quandr] n segunda
iii;ih nerii por isso a se- dadc, nZc qlic neghgeiici:~?- tábua for negligençiad;~.
!~iiiirlaC dcitogada sc bcrii sc o m;uidciincnto n u s a náo porque 11 segunda fos-
LILI<. ii Iri iiikrir~rcede i caus:]. se mulada, mas porque da
\iipcrior. lugarpor causa da primeira.
[I@']
Outro Contra 1
Niii;lr~~ni pode orcl~,- São c~iririririo.~,
etc.
i~;ir.i.oi.s;is a>ritrjiiasriinul-
l.iri<iiiin~iiice e111 UIII ,só
~ii~ii~~I;iiii~~i~lo. Cii.sto o ~ d e -
i i i v i vi.ii<li.rc ;ih;iiidonarz?.
I i ,;,I v. ',i< . ~>rr~prieda<lc e
.ilriiah,iio. Nir~g~iCiii pode
.ilriiiik>ii;ii/;i/go/. se não
D. M. L.: Contrarie- R. [M. L.]: NZo é que
dade deve haver acerca do devesse ocorrer algo con-
mesmo assunto. Que Pe- Iraditóno com respcito à
dro C preto e João, brm- mcsrna coisa; aqui temos
co, i,s,soriZo é contrarieda- objetos diferentes, assim
de, conio riio é contradi- conio: Pedro é negro, João
são que o tkmo seja fiio e é branco. Isso não sZo coi-
LI &i~amoU1ada. sas contrárias. Se, 1111 eri-
l a t o , quisermos que Pedro
seja simultaneamente ne-
gio e braiico, então sim, etc.
[17q
Contra 16 Contra 1
Ibclo homcm se sus- O homem há de su.s- Todo ser humano se
lenta ou de hens próprios tencir-.se nece.s.sar&meiite susicrit;i ou de bens pró-
I I ~ Ide bzns coriiuiis. Por- de herispiriphs ou alheio,^. prios ou de alheios. Logo,
1;rilro; o falo de Crislo p-r- Logo, ,seo honieni r:reIite se Cristo proíbe 0.7 k i i s 20
iiiiru que ve lenha proprie- nio devepo~sulrbens prcj- próprios, é necessjrio us;u
</;i<k proik viver de bens prio.s, ele tcm que viver o alheio.
;r//ieios. do alheio.
R. [M. L.]: Convém- R. [M. L.]: T«da pes- R. [M. L.] Contudo,
110s comer e beber tanto soa tem a liberdade de co- esses bens, que iambém sã<] 25
dos beris comuns qunnto met- do que é seu. Toda- pr6pnos, si0 comuns. E a
iI<ib pr~jprios,pois, einbo- via, 6 riecesiário (lacuna) própria comonhão de bens
iajuniados ein comum, nãio quc, qii,uido vivem de hens implica propriedade, por-
ilcixein de ser pri>pnos até comuns, essa comunhãose- que o que comes e hebes
ccrti1 ponto. ja de caridade. será teu; por isso se trata
de um termo fictício e que
plira nada serve. i'duio fa-
la em comunhão porque
se compartilha com a ne-
cessidade dos irmãos nZo i5
por causa da justiça, mas
conio Fmto da fé.
[1uy
Outra .,o
1: 1~1"tido ao cri.s- É dever da aotorida- O cristZ~P?pode h-
f;io rir;r 0,s benefícios do de defendera.ju:tiça e coi- zer uso do beiiefízio da lei.
<liil.i/~~.
O direito, todavia, bir a injustiça. Epem'tido As 1ei.s concedem ;i defcsn.
Delute Circular Sobrr Mt I<).?!
permire que se drlkndarii que <e resista a» ~ I L ? ;m- Logo, pcniljte-se no cns-
iis pevsoas privrihvns ci711- pGe violência de !nodo i n ião fizer uso d;i defesa.
im 0,s superiores. Logo, o justo c o n ~base nunl d1ir1-
d~reitopemiiledefèndei.sr lo r~r~lorianze~~te iniust».usto. h-
contra 3 jnji~stijxdit auto- go. pemite-se ao cnstdo
ridade. que resista ao tiraio. O.$
juristzs ;idrnilem i.s.so, mas
;r pergunta é se 6 cristão
podc seguir de .sZ cons-
I,b ciC11c.i~ i opiniiio do.7 j11-
r;.<ias. (.'risto dis-2: "Njc,
épeimitid~~ iesislir no nid,
cede-lhe" /&ft 5.391.
[19" contra 21
Cristo proíbe a Pedro Cii.sto prr~ib<:n IJe<lru Cristo proíbe a Pedra
'
{Jrlxara m i a contra 0,s ser- xcorreràs arilias contra o*. n.s,iI' n n i s contra 0.s ser-
vos cfo.s l i r i ~ e u .Por
~ ~ con-
~. fzuiseiis ep~~ntíficc.s'"7L o vidores dos fxi,seusi". E
siguinlc, nem a nó,. épcr. go, nn;ío pennite recorrer às a í há uiii t e m o de c o m p -
mitido tomar as aiinns con- a m ; s contra o papa, ra@o. porque, sob o mar-
ir;? o papa. causa da .semelliança. to da igreja, eles per.segui-
r-ain a Cristo. Logo, nZo
no,s 6 permitido lusnr a--
ina.s] coiilra o p;ipa.
Respondo: Nega-se a
coriclusZo. E é urn racio-
cíiiio analógico. Assim co-
iiio procede o papa, pro-
ccdi;irn tanihéin os fanseus.
('risto defendeu-se de al-
piiiii rnodo até o inomento
1 ciii CIUC Iirivcria de morrer.
('iiiiviiilia quc Ci-isto rnor-
rchsc. pi'nluie iiaquele tem-
1 1 0 Ii:i\,ci-i;i<Icrcdiinir o gê-
,,,.r,, lliilll~ll1~~.
D. M. L.: Não há ne- R. [M. L.]: Aí iiZo R. Não há ahsoliira-
nliiinia semelhan~aentre o 1iá semehanyn nenhuma. mente nenhuma seme-
papa ç Caifás e Pilatos, p o r Caifiís era autoridade Icgí- 1hdnç.i entre Caifás e o
que u s e s eram autorida tinia, embora trniisfonna- papa, poirluc Caifás foi
dcs. O papa, porém. não é do eni iirmo. O papa riZo autondadc legítima. c m r
iiiitorid;ide, mas niiiiistso do tciii orderiaq50 divina. hora se tivesse transl'or~
diabo. possesso do diiiho. nicido ein tirano. O papa
Elle lobo transforma esse ii,io 2 riutoridade sob ne-
podes erii tirania p u a ar- nliurii asyrcto, porque nio
rchatar as alinas, seiii iie- tem ;i ordem rieiii de 10
iiliiim direito, sem nenho- Deus, iiem da lei iiahl~
iiia auti~ridade. ral, nciii de homens; ele
O unprrador Focas48trans- uiipeliu o impirador I:o-
mitiu ao ~1ap2.a. honraria tas a constituí-lo
qiie outros hispos teriam Assim mesmo [Foca] 15
merecido mais, mas ele iião lhe dcu autoridade,
trurisfmou essa honraria rrias a honra de bispo, da
eni tiiiiua. qual iihusou do inodo
r~iaihcelerado. Essa or-
dena~&, ele não n tem 211
dc iienhumd lei ou :iiito-
ridade hiimana, mas de
sua pr6pria autoridade e
de uma instituição dia-
S e Pcciro Pedro fez mal h6lica. Assim, já Pedro 21
i.rfir.ssse preseiite ein Ro- ao sacar da espiida c0nh.a i'xia bem se matasse o
ri~:r e o :ipunhrúa.s.sc, fariir a ;iutoridade de Caifás; no papa, iio entanto, neste
I ~ n l .porque o pipa nZu eiirarito, st eitivekxe ern Ro- riionieiito 1150 o podia.
ic.111 au~oricLide iisni de ina rieste riiorncnto e ma- porque debatemos apcn;is
l )ciis, nem da lei, rieiii do tasse o papa. Paria beiii. sohre o direito, de faro 21 11,
Iioiiicnr, mas esse l o h n F - coisa é muito ampla.
II;IY :irrogou-se ele mesmo
<.\\;i dignidade; ele n40 é
.iiiii~rirl;ide. Pois aque piiri-
L I :iriiiado de espada,
iii~.\iii<i scnclo de dois gu-
tiic.,. ii:io deverci sesistii!
.'r%. <l<.v<i ;alorar a injustiqa
<. vi.iii.l-:ii- <i próprio diabo
t < , I I I Z , i, vciiladeiro Deus.
.I); l,iii.:i\r imperador bizantino dc 602-610. A pxli<lo do p;ipa R<inilacio 111 (levcicii,, ;i
ii<ii,ciiihri>de M)7), proibiu ao p:tlriar~.;i dc <'a~isi;iirtinopl;i<iiiso <I<i lílillo clc ~i:illi:in.i
<.iiiitii.iiicii.Ncstzi <içasiAoicco!ilieceii <i
~iri!ii:iili,ih, 1x9~!.
Debiitc Circular Sohre MI 19.21
ao próprio duque Jorge", Se o duque JOI-ge4' Seria como se o du-
seja ao papa. E proinover uma guerra con- que promovesse
tra o eleitor em defesa do uina guerra não pelo pi-
pap:i. o eleitor se defende pa, inas sob o nome do
5 com razzo, se, na vcrd:i- papa. Se iiossos príncipes
dcl não for por causa do lhe oferecerem resi.\t.?iicia.
duquc, mas por causa do iião seriam condena<loi.
papa; e se o duque Jorge porqiliic neste momento n.?o
Davi diz: mentir ;i respciio dri pipa, fariam rcsisténcia ao du-
I "O mentiroso caia sollre o castigo cairá sohre sua que Jorgc. mas ;to papa.
rua ~ibe<;a"~'. O duque Ior- cahec;;i caso for morto.
ge, por exciiiplo, quis tor- Na verdade, 0 duijuc
nar-se papa e eleitor. Co- Jorgi não quis fazer guer-
mo a causa rijo erii ho- ra por causa do papa e do
ir iiesta, pretextou como cau- iinperador, uias para en- Porque, na verdade, nZo
51. que estuia defendendo pulsar nosso príncipe do quis defender o papa que
o uiiperador e o papdX2.O cleitorildo e p a a sucç<lcr- movia tiriia guerra coiiua
duqus Jorgr nao quis a d o h e . 6 s a foi o ctiiisa prin- 116s: o que ele queria nies-
raro papa, irias refomiá-10. cipal e decisiva. Tenho cer- mo em tomar-se eleitor da
?ti teza dissos2. Se, portanio, SaxOniilS2e destniu o nos-
morrer eni conseqiiêiicin so.
disso sob o pretexto de es-
tar defendendo o papa. a
mcniiia cairá sohre sua ca-
:, beça, como disse Davi 3
respeito do matador de
SaulS3.
Poitiuito. nosso príncipe e Poitanto, é pcmitido
todos riás devemos acor- LI I~OSSOpríncipe [oferecer
%ii rer e matas esse iiioiistro. resisténcia] para defendcr
P o m t o , todos tcmos que a si e aos seus, e to<los
resistir a esse monstro, pur- O duque Jorge nós deiemos ajudar e ma-
que má» estarenios resis- odiava » papa do fundo tar esse monstro, porque
Iindo apríncipcs nem a uma do corayáo, disso tenho cer- não est~i~emos resistindo
4 aiitondade tirana. Pois ele teza. nem à autoridade neni ;i
ni<i é autoridade legítima. um iuaiio. Eu sei que (1
porcll~eé uma invaião do pínciyx: Jorge odiava o p;i-
ii\~a<Io constituído por ho- pii do fundo do coraqiio.
mens. Sob o ii~anludo papa, p>-
rém, ele quis governa n2io
para adorar o diabo, ao qual
. .-
[2W] Outro
NZo se deve resistir 3
;rri~~>rilade. A pergunta P
\ i , ,r<. ~lcve rc.sistii- no tirn- Se o li~inogentioqut3-
11,) / I ( )r "lusa da doutrine r q i i ~ i i Cr S S ~e n . s i i l r n ~ i l t ~ ~
(li. 1 h.ii.\. r.r>inoiio w u em ~ por sua conla. pode-.se fa-
<lu<'o iiiil)~""~ior rim110 t?iz zcr resistênc~;i?
N', /V!.Y<~~II;~TO c.sponlan?:l-
rii<.riic.i i ; ; ~p<w ~ "utorni;i<le
,i<> />;i/,:!. , l l ~ l . ~ ~ l l l ~ i l l i c i 2 l t ; ~ ~ i i
p x ' j ~ r k-neste caso, iie-
vc-se fizer resistência?
R. [M. L.]: A esse K. [M. L.]: Sim, por- R. O argumento se di-
iii;iI se deve resistir. Nós que os príncipe<t?m a obri- rige contra o tirano. Se o
icmos a iibrigação de dei- g a @ ~de legar o Evange- imperador fosse Diocle r
xar para nohios descenden- lho aos pbsteros. Os príii- cimo5", se, por si121própria
IL.S essa doutrina e a Igreja cipes devciii resistir ao ti- iniciativa quiscsse opriniir
Ihc~iiconstituída. rano iio que diz respeito à ess.1 doutrina e nZo qui-
primeira tábua. O impera- sesse que fosse tolerada cm
dor ou Fernandos7 lia ver- seu país, pode-se Fazer r e iii
dade só visa nossas pus- sistEnçia? Esse argumento
sessões, no eiit;uito. sob o prova que se deve resisti.
pretexto do papa. Aqui lu-
ta igual coiii igual'x.
'>i, Ilit,ih,<-i;irii>,
imperador roiii:mo de 284 a 105 (rriiiínçia).Em 303 proibiu o crislkd~imo,i>
lcv<tuii um;, d i ~ npemeguiqXo aos cristãos.
<(i,?
> i I,Ci,,;iri<lr>I (1.503~156$), imdo ilo imfiic~idorCarlos V, aquidoqiiç da Austria (1511 i, rci
iI:i I%i>í.nii,ic ila Hungrin (1526), elcito Rri roiriano (1531). lugiutenentc dc Cirlos V ii;i
illrfii:iiilio <lul;iiiii a aiisEncia ilcsic: iinlxr;i<li,i ali6~a riiinci;i CIO iiiiiXo (1556).
'iX lissi. ~ ~ \ I x M IconIC~u
s ~ , J , ~sirri~ilt;iiic;iii1~111~
:I risliosla ao ~ii-oloci>lc
A, ;ir#iiliriilo ?I.
'i0 V. ;ii.ilii:i [i. 57.
Debatc Circular Sobre Mt 19.21
guntado se se deve resis-
tir-lhes por causa da dou-
hina, primeiro, porque nos-
sa conclusão diz que não
L227 lb,jeção se deve resistir ao supe-
O principe-eleitor 6 O p~cipe.ele;m, é "or que, embora sendo elei-
como unia pessoa privada como iima pe.ssr>ap~ivada tor, é Pessoa privada em
n n ielaçáo ao i~nperador. em relapTo ao iinperador reka~" ao não
Logoopruicipe-eleitorniio Logo, riáo se exige dele deve defend5r-se, que di-
o devedefender-secasooim- que se defenda contra o reis
a isso'? E isso que Os
perador fizer girem cr111- imnperador, porque C~istst« J""~~
Wd ele, porque Cii.$to diz: diz: "NZo é permitido ie-
"Náo re.si,stUii,aoinal, irias si,stir ao mal" / M t -5.391.
consel~ficoni ele".
I Dc~ilredois pecados
épreci,sofugir do niaisgra-
ve. Se ospiiíicipes náo de-
fenderem r1 mais grave, pe-
clun. Logo, devem defen-
der o pior.
.,
iisistir a Cristo coiilra a
~~iiiiciiti tábua. Pois náo é knderein a paltiviri contra derradeiro não acontecerá
i i iiiipciador que irá lutar :ssc derradeiro nionstm. que algum Diocleciano irá
<.oiili-unós,mas, sim, a au- lot;rr c«ntr;i nós, mas per-
tirridade papístiçd por cau- nianecer6 o papístico quc
\:i ilcsse prclcxto. Todos so- quer defender essas hor-
iiii~scristãos por igual, eu rendas blasfêmiiis do papa.
i. iii; e se eu dissesse: Tu 21
i.s cristáo, por isso uei ]na-
tili--te, quc havcr5.s depen-
.;:ri sobre isso:)
'is - as v&ils
. .mo Joslas ,7511 >L(. virgens
(IUC. scgiicni ao Cordeiro que seguem ao Corclcim
"'.
<li. 11i.11~' 0,s u,sados, (Ap 14.4). As pessoas ca-
/"""lii. ""I"" virgcns. Lo- sadas n;io sZo vkgens, jwr-
;,C, <.(ii!ji~~>c,sniiO seguem que as charna de c«ntanii i*
. i < 3 ( ;,i<h.iii)rie Deus. iiadozis. Logo a,s pessoas
casadas 11ão seguem ;io
Cordeiro.
I<.I M. I,.]: Aqui está [M. I,.]: No Apoca- R. Essa passagem fii-
,.t. 1 ; i I ; i i i i l i ~<kisvirgens
cs- ipse nXo se fala de vir- Ia dos Iioincns ri&>m u c o 1i1
itiiiiis, C essas virgens :mscopor;~is mas espin- la<l«s. Logo, rikrc-se :is
si.):iiciii i10 Cordeiro de .uais, quc seguem ao Cor- virgeris espiri1ii;iis. Port;1ii-.
I >ciis. isso C, elns siio p z - ieiro para onde quer que 111, n;i<ldsc coiicliii cnii1r;i
ii. i. lifio seguem às mere- :le foiAi, iiós, C cssiis virgciih ~ c ~ i i c i i i
Debate Circular Sobre Mt 19.21
frircs ou a sua doutrina. ao Cordeiro, isso é, são al-
riem a falsos profetas, nem mas puras no santo verbo
;idmitein qualquer mestre de Deus; elas não scguem
ou doutrina a não ser a às variadas doutrinas das
csse Cristo; isso é, quando meretrizes. Mas Cristo te-
as doutrinas poluídas hou- ria dito alguma coisa.
verem cessado na Igreja, isso C, cessarão as
Iiiiverá,almas puas na dou- douhinas sujas das mere-
trina. E a mesma coisa co- trizes, a fé dessa natureza
I rno se dissesse: Haveriuma ser6 custa, não ouvirio nem
Igrcja nii qual as virgens admitirao nada senão a ver-
serão purm na doutrina e dadeira, pura e sã doutrina.
na fé em Cristo, que se-
guem a csse Cordeiro pa-
ra onde ele for.
Agostinho entendeu Por outro liido, Agosti-
isso como dizendo rcspei- 11ho~~,o bom homem, en-
to 2s coisas corporais6z.Tal- tende:~ a passagem como
vez essa não seja a opi- referindo-se a virgens cor-
nião verdadeira. Pois, co- porais, o que, no entanto,
m« podem virgens poluir- não poderia; mas a piedo-
se com muihercs? sa santificação do homem
santo, ainda que não ver-
dadeira, mas (lacuna) scri
naquele tempo, pois que
as poluídas doutrinas das
meretrizes cessarão e se-
rão o motivo de as vir-
gens nada admitirem na
Igreja do que a verdadeira
e pura doutrina.
124" Outro
contra 33
5 XKICIaquele que ma- 7òda pessoa privada
/;i ririi sci- humano peca. que cometerhomicídio pe-
I.OI~CI. yir:ilqucrpessoapnr- ca. Logo, quem mala urn la-
1icril:ir i/rre maia em defe- drãupecu, porque João diz:
si1 />rií/>'"' peca. "Todo aquele que niatanão
10
tem a vida" [I .To 3.151.
O.' I A . ,r:iiti.l;i virg;.i,~il:iicc. 27 (I';itr<il. lat. 40, p. 410s.). - Ago.stinho (354.430). u,rnais
:i~iii~osp;~ir
i i i ~ l > < ~ i ; i i i iil<is
i, (Iriilo>gos)da Igreja ocidcntai (de laia latina), ?atural da Africu
<I<> Nctiii.. ci,~ivi.iiidi, ;ri crisii:iiiisiiic, çiri 3x7, hispo de Hiponu, ria M n L a do Nnrtc
I t r I i 1 ~ 1 l ; u (YIL
{')'i,
l < , ~ ~ t < l i ~~ ~( Il < {*)f~l.
R. [M. L.]: A autori- [M. L.]: O ladrão de- R. O ladrão só pode
dade ordena resisti à for- ve ser morto por ninguém ser morto pela autoridade.
ça injusta. Pois todo a q u e senão pelaautoridade. Por- Logo, toda pessoa que se
le que mata um ladrão na tanto, quem se defende defende na estrada exerce o
estrada, exerce o ofício da quando está viajando e o ofício da autoridade. Neste i
autoridade do príncipe, co- mata, executa o ofício da caso qualquer pessoa é pRn-
mo quando alguém matas- autoridade, pois, se a au- cipe e deve inatj-10, pois
se a Kohlhase6'. Terá pro- toridade estivesse presen- se o príncipe o tivesse [nas
cedido corretamente. te, faria o mesmo. mãos], certamente o ma-
taria. Por exemplo: se ...64 111
atacar alguém, se puder,
procede bem se matar o
ininnigo em nome do prín-
cipe, inclusive se for uma
pessoa privada. 1s
L259 Doutor JonasG5
Contra 24 Contra 1 e 24
Aos crjstáosnão éper- Fp 3.201e 1.271: "An-
mitido possuir bens pró- dai dignos do Evai~gelho,
prios, muito menos adnii- nossa niorada estáno céu". Paulo diz em Ef 3 [sc. 211
11ish.ar sua pxípria casa. Logo, não épennitido aos Fp 3.201 que nosso poli-
Isso se prova com Pau- cristiíos ter bens próprios, teuma, isso é, nossa mo-
lo aos Filipenses, cap. 3.20, proíissóes e propriedades, rada está no céu. Logo, o
ondc diz: "Politeuma, i s isso é, não devem e.siaro~.u- cristão não deve estar ocu-
so é, nossa morada está pados com assuntos fami- pado com a administração 2s
no céu". Segue-se daí que liares. da c a s ele
~ deve e s m p m -
devemos manter-nos afas- cupado c»m o céu. Parece
tados de qualquer envol- que isso thinbém fica pro-
vimento com bens exler- vado em M z o s 2 [sc.
110s e que não rios deve- 1.16ss.1, onde os apósto- 111
iiios ocupar com questões 10s são chamados depois
civis ou mundanas. Isso é de haverem abandonado os
coiilirmado por Marcos, R.@ "2ndo abando- barcos. Se ihes f a s e per-
GIII. 1.16ss., onde Sunão nado os barcos e tudo, Si- mitido fazer uso dos bens,
L. Aii<lr&seguem a Jesus mão e André seguinun a não teriam abandonado lu- ir
C lc.liois dc haverem aban- Cristo" [Mc 1.16ss.l. do e .seguido a Jesus.
~ I ~ N I ; I < I oludo.
l i i Irizio Koh1li.w. comerciante, tomou-se guerrilheiro que espalhava o terror principalmente na
S:iiiCiiia çleitora. Preso ardilosamente em B e r h , foi condenado e executado em 1540.
l r l A Iiicuoa deve ser preenchida com o nome "João Kohlhas" (cf. acima n. 63).
lfi . l i i s l i ~lonas (1493-1555). teólogo humanista, inicialmente ardoroso adepto de Erasinri.
Iksili 1520 intiuenciado por Lutero, passou a dedicar-se à teologia. Scus profuiidos conhc-
ciiiiciil<isjurídicos foram postos à disposição para formular diversas cr~nstituiçi~s cçlisiis-
licas. Foi tradutor de várias obras de Lutero e primeiro propugnador do inati-i~ii<inii> iIc
s:icciiloles. Esteve junto ao leito de iniiriç de Liiteir>,prtifcrindoaalocuçãr>liitichiii: ciii 1iislclx.ri.
li0 ('i>iiii> s i pode dedurir ik> prolocoli>A. inãi> s i trai;! dc rc.s,>iaisiorii10 Iin,lr,ocliiç, iii;is (Ir
i'n1i1"'>v:lç">.
LSX
Debate Circular Sobre Mt 19.21
R. IM. L.1: Há duas R. IM. L.1: O cristjo R. O cristão. como
hrças no ser humano, 3 vive COLIIO cristão na se- cristão, vive somente na
canie e o espírito, o ho- gunda táhua; somente fora primeira táhua e na mora-
mem carnal e o homem do reino dos céus ele é da do reino dos céus. Lo-
.. cspirih~al.Por isso deve de- cidadão deste mundo. go, nosso politeuma eslá
pender do homem espiri- somente iia primeira tábua,
Lual se püe sua vida a ser- isso é. no reino dos céus;
viço das coisas celesliais e fora da primeira táhua, po-
para que tenha siia mora- rém, ele é cidadão deste
I da nos céus. Pois o poli- Por- mundo enquanto vive. Por-
tciima celeste está na pri- tanto, teiii ambas as pá- tanto. o cristáo está sujei-
ineira táhua. tnas, uma como sujeito a to a Deus pela fk, e ao
Cristo pela fé, oulra corno imperador pelo corpo.
sujeito ao uiiperador pelo
coipo.
(37 A frase iião se encontn com esse tcor no Corpus iiiri.7 c;uiori,L.i Siii ciiriicú~l~i
orircsliiiii<lr
;i r. 4 X (Dccre!. Greg.)dc electionr., 1.6.
(iH ('I:Jitvcnal, S~íiimi.V1.223.
Debaie Circular Sobre Mt 19.21
tiiano faz. Scia o aue for Embora al-
o que escrevem os escn- gumas vezes os cardeais
iores e cwde:iis, elç n3o escrevessem coisas boas a
está sujeito [is leis], L' /,se/ respeito do papa. IIÓS di-
~.ssoacorilece [é um] aca- zemos o seguinte: Uma ga-
so, assim como uniii pili- Iinba c e s também acha urn
rhn cega rariil~macha iiiii de vez em yituido. O
grão <te ver em 1ju:uldo. próprio papa miiipe com
Isso se pode perceber no todos os concílios. o de
I Concílio de Constançah', C o n s t a n ~ a ~o~ ,de Rasi-
onde (r& hispos lhe escre- léia7"
sem. mas ele faz (I que
bem lhe ;!grada. Ele aTe-
benta todas as alinas e so-
I mcnte 16 a Escritura para
destruir a\ dmas. Ele tmi-
Elii se chwiia a si mesmo
de servo dos servos de
Deus. Da maneira, porém,
t como clc o C, isso se vê
iiin'ieiiamenre.Não ohs1;ui-
tc, por iiiais que lute o pa-
pa e dissolva as leis, Dcus
preservou o Evangellio.
20 I
deve serpreservado. A pm- experiência, porque os he-
pria experiência ensina que réticos não ousariam o que
essa monarquia foi útil pa- agora ousm contra homens
ra a Igreja. probos, depoi.7 de rejeita-
da a autoridade do papa. s
Respondo [M. L.]: R. [M. L.]: A mo- R. O regime e os pa-
Essc poder monárquico que narquia não foi útil para ;i pas não sáo úteis para pre-
o papa possui não é útil. pureza da doutrina. Pois a servar a unidade. Deus, po-
Deus, porém, preservou o desagrega e é destruidora rém, a preservou contra a
Evangelho apesar da relu-
tância do papa e apesar de
da doutrina; conwa a von-
tade dele, Deus preservou
resistência do papa, e pre-
servou de forma admiri-
,
dissolver todas as leis. Por- sua Igrejrelii sob essa tirania vel o texto do Evangelho,
tanto, se lhe deve resistir, e o que sobrou da sã dou- da absolvição e dos sacra-
pois é raptor dos corpos e trir~a.~~ mentos. Logo deve-se sim-
das almas, é um monstro plesmente resistir-lhe, por- ,,
útil a nenhum ser huma- que quer arruinar corpos e
no, mas deve ser moito por almas. Quem, poitanto, o
todos. defende, defende o usur-
pador de corpos e almas,
que, depois de arrancados ,,
todos os bens, lança as al-
inas ao inferno.
128" Outro contra 51
O papa abusa de seu
l~oder.Logo, ele tem d-
gum poder.
R.: E um poder igual
ao que tem o urso-lobo.
[29" Outro
Não se deve tomar as A espada niío foi en-
:iirii:is contra os manda- begue ao súdito. Logo não
riii.liti~,sde Deus. Tomar ar- pode usá-la pwd defe.sa.
iii:is contra o papa é con-
1i;Nio i111 mandamento de
I h.iis. Logo, etc.
K. [M. L.]: Ele pró-
~"io (lçline: é autoridade e
nl:i ciii vias de se tomar
1ii:iiio; sim, é mais que ti-
t:iiio aquele que impõe um
~~uclci- injusto e não em-
IK&Inenhum direito im-
~lçrkll.
Debate Circular Sobre Mt 19.21
R. Como dissemos
acima a respeito dos juris-
tas, a espada é dada ao
súdito contra o imperador
e pelo próprio imperador
no caso de violência in-
justa notória. Se eles en-
tregam a espada contra si
próprios, não quero defen-
dê-los. Se não o tivessem
esiabelecido desse modo,
não diríamos que seria cor-
O que o imperador reto. O que o imperador
estabelece esti estabeleci- doou, doado está. Se al-
do. Se ele distribuir tribu- guém oferece.$.se seus do-
Los, honrarias e diNdudes, tes reais, o que os recebe
fora! Se não o quer, que não comete injustiça. Se
os receba. E quem não iria ele os deu, vamos usá-los.
iiceitar quando se lhe dá. Portanto, não é pecado, pois
acontece pela vontade do
imperador. Se tivesse cons-
tituído outra coisa, a si-
tuação seria melhor. Que-
remos que esse terror per-
maneça sobre eles. Nós fa-
lamos o que é natural. Vis-
to, porém, que eles assim
o institukdm, instituímo-lo
nós também.
[3W] D. Cr~íciger~~
Sendo o papa bispo O papa é o bispo ro- O papa é bispo roma-
fofii;ino, ele é autoridade mano. Logo, é autodade, no. Lago, é verdadeira au-
i.i.lcsiií.stica. Logo, é ver- logo, também tem o direi- todade e, por consequên-
r lhi lc.ici auton'dade. Por to & c r i a ordens e leis cia, iem o direito de criar
c .oris~~tlutncia tem poder de juntamente com seus bis- leis que dizem respeito à
i,istifiiir leis eclesiásticas pos no que diz respeito à eutaxia, ou seja, à disci-
i<.,s/rit;uitesà disciplina. disciplina. plina eclesiástica.
131" Outro do
doutor Crúciger
As leis v;ilem por As leis valem por As leis valem por
aprova(rão. A Igrrjn tiit-ira aprtiva(ião. As 1ei.s dol>on- apruv~~gZo. A Ig-ja aceiia
1 3,s leis rio ponbfice. Logi7. rífie são aceitaspel:~Igrr- as leis do papa. h s o .
valem e sUr> aprovadas. ;:i. Logo, c.su;is leis valoii. R. O modo corno ii
Respondo [M. L.]: R. [M. L.]: Os livros Igreja aceila as leis do ptt-
São leis aceita, não, po- e os gemidos de muita gen- pa atestam os livros de mui-
rgin, pela Igreja verdadei Le hoa moshain de que mo- ta gente boa e o gemido
1'. ra. E verdade quc a Igreja do a Igreja aprova as leis. dos que clamam coisas iiie-
as accita, mas incoiiliveis Os que, no entanto, as apro- r i d v e i s . O povo as acei-
geriudos desses homens re- varzun, não o fizeram dc ta porque Ihes atirou uni
ve13111[como a Igreja acei- livre consciêiiciii nem fo- naco de carne. como diz
i;i as leis]. ram n Igreja. Daniel, cap. ?74. E Ihes da-
rá poder, e Ihcs dnr,? rsi-
nos, mas os reslantcs cla-
maram.
[32" Outro
Paulo proik a vingai- Pauloproik a vúlgan- Paulo p r o k a vingar-
$"". Resistir ao mal épar- (.;i. Resistir ao mal é p a f c çii [Rm I 2 191, mas resi,~.
lc d:i rZingm$a.Logo, P a u d:i vingança. Logo, nZo é /ir ;ia mal é parte da vui-
10 PI~JIIP resisli pdrliiitido resistir a« mal. giuip ou rim aspecto (</c-
Prova: Essa i ~ i n p - P:iuI» djZ: "Nán vos Ia). Logo, etc.
$,:I (1ti.sinferiores COII/IU (1,s vu~guej,su VOS nirsr1io.s'.
siiperiorc' 6 excluída pelo IRm 12.191. Se nenhum ci- R. [M. L.]: Visto ~ i i c ,
~x)<ier da autoridade. Dcs- dadão deve .ser ~iiolestarlo. na verdade, agora todos s50
.sc riiodo se dista a cniz, ficamos sein cruz; no e n çristâos, se todos deveiii
iirits a cruz nZo deve ser lnnto, a cruz IIZOdeve ser rcsistir ao mal, segue-se o
:iIDs/íid;i; se nenhum cida- tirada. afaslamerito da cmz. Queni
(130 podc moleslar-me, es- então quererá sofrer pr>r
~:i,i.~iio.s fi~rada cruz. Se, causa de Cristo? No en-
I<iil:ivi:i. a c m de Cii,st<i, taito. a cruz não deve sci
ii20 (11i.sr;irirr:(leve .serafas- afastada, é preciso que os
1;1rl:i, cii riic.srno tnrho que cristãos sofram por caiis;i
ri!,. it~lligii.,soíiiriiento. de Cristo. E verdade, iiiiii-
Governo
IR. M. L.l: A auto+ , R. IM. L.li É verda- , to sofrimento de cmz é ti-
dade'& podecorrigir tu- de, inuitai cmzes sáo afa- rado dos crentes por meio
do, por isso somos obri- fadas por boas autoridades, das autoridades, no que se
gados a sermos molesta- no entanto neni todas. Pois refere ao sofrimeiito exte-
dos algumtis vezes. rior. Pois não estou falan- 3
do das leiita(.òes de Sata-
ni?. Nio ohstanre, ela não
estií afastada de iodo; mui-
tas coisas acoiitecem por
causa das pcrlídias, qiie não 11)
podem sei- julgadas pelos
p ~ c i p c snem podcm ser
todas trazidas ;I Iiime ou
provadas. NZo se poilr h-
pedir tudo. Mas sonios 1s
obrigados a presenciar mui-
permanecem as rii:~ldedes ta.~coisas c sofrer, como
dos vizinhos, e. essas não as tentaçóes da carne, údio,
(:orno sc diz: Qucni tem podem ser proibidas. Mui- inveja. Qiiem qiii.seer im-
qiie Iirtiu sempre, jamais ras vezt.; trniin que sofrer pedir n ludo js.s<t. esse ai
ptdc cnibainhar a esp;ida. o que não devciia. Qurrii jamai.~"' deve einbainhar
A ;~iitoniiadenão pode en- qiiiser castigar snnpre, jti- sua e:pada; tamMin per-
r~~rgaroiiwlem todapule, ni;i~,spoderi cinbainhar ;i manece a cruz doiiiéstica.
< * I ~ I ct;rn7ki7?
> ri.% o lxn?. erp~da. NSo obsmiie, é verdade qiie
O nxlli nutigado. a cruz t' riutisada sob au- 27
diminuído por boas :luto- tondades prolias. Detis quer
cidades e isso é doiii de isso. Se, poréin. dá aiitori-
Deus. Sc tivennos autori- dades mis. teremos c m
&lides más, isso lambérii é ainda pior.
ira de Deus e de sua von- 31,
tade. e entâo aumentti a
CIllZ.
[33" Outro
' l i ~ tilo
k ~ de concupis- Todo ato de concupis- "
i-i,ra-;;i i: ~?c'c"ido.O inaEi- cência épecado. O ato con-
ii,<>,iii! I , ;i10 da concupis- jugal é uin ato d e concu-
,.,:,i, .I;!. 1,,>go, c1c. piscência. Logo, etc.
I). M. I,.: Os papis- [M. L.]: Os papistas R. [M. L.] Os papis-
!;i\ ioii\iilci-;un o matnmô- coiisidem o inairimôiuo tas chamam o matriniônio ''I
[3jP]Outro
O abuso não anula a O abuso não anula ;I
siibstiincia do fato. Vós, p- substância da coisa; vós.
rim, ;mi!lais a substiincia porém, anulais a sub.st;ui-
(k) fato por causa do abu- sia da coisa por caus;i i10
I .so. Logo, p m e d e i s inju.9- abuso. Lqo, p m r e i s c/i!c
fwnenfe. nZo quereis folen-10. PIO-
v o a [premissa i~inior]:;!<;.!~
baiscom opapadoporc;iii-
sa do abuso.
[M. L.]: Em essên- R. Em essênci;~oii
cia, o Ixipa 6 o seguinte: é visics a ~csl~cito do liiil);~
(iovemo
ir papa mudou o ofício e a um monstro e besta que que ele é a fera que esti
pr6pria snbstância. A subs- luta contra as leis divinas, acima ou é contra a lei
iHiicia do papa é a seguin- humanas e naturais. Não divina e a lei huinana e
te: o papa está fora, acima quer ser comandado por nc- tudo. Transfi~nnaIcis jus-
c contra a lei natural, divi- nhuma lei. Caso se ihe h- tas em injuslas, e suas in-
na e humana, faz tudo con- puser a lei, dirá: O impé- justas cni justas. Não es-
ronne sua vontade. Nisso, rio anglo não me peneli- tamos condenando o abu-
porém, pode-se entender o ce, por isso o deixo para so do papa, mas a subs-
essciicial. Pois se assim não seus reis. E puro acidente tância; se é necessário dis-
fosse, não diria: a mim pcr- que de vez em qu,ui<loh e solver u maWimÔnio, en- ,,,
lince o rcino Anglo, G j l i escapa uma ovelha. O {ir- táo C necessário que não
c«, (I episcopado de Wurz- so-lobo não consegue de- Lenha lei. Mas eu tenho o
hurgo. O urso-lobo tam- vorar ludo. poder sobre todos os rei-
%m não devorari ttrd«. Por m>sda Gália (lacuiia) e ou-
;icidente, ainda lhe c.sca- tros, diz ele. 1s
pari uma ovelha.
[3Sg]
O papado 6 uma ins- O papada é uma rea-
tili~i$ãoiiccc.ss&ia para a lidade nece.s.siria para a
/.cri.ja. Logo, opapado de- Igrej;~.Logo, devc serpre- 211
v<,ser preservado u~ Igrc- ,sew;ido. Provo o antece-
;;i. Provo a partir de dente coin Ciprinmo77que
( ' ~ p r i a n [que
o ~ ~ a l m a que diz que a here~ia'~exlste
c/c C necess&io/ por cau- na Igreja porque nem to-
.s;i (ia heresia78. dos obedecem a uin único 21
sumo .sacerdoie
Respondu [M. I,.]: O R. Cipriano não fala
11;ipa1à1 o contririo e não do pontífice romano, mas
[po<leser usado para 11bein dos bispos individualmen-
iiciii scrá usado. Cipriano te, porque é necessário que 311
ii:io se refere ao bispo ro- em cada Igreja haja um
III;IIIO, mas fala de cada sacerdote superior,para que
I I I I I ilos bispos. não ocorram cismas; todos
os bispos tiveram um a s -
tador ordin'&io e supreii~o. ii
Suponhamos que um fos-
se um papa bom, como o
(lacuna), ao qual comba-
tessem; é uma coisa muito
bonita ter uma cabeça des- ai,
sas na Igreja. Se a Igreja
Dehnie Circular Sobrc Mt 19.21
concordasse e pudSssena~s
ter um pipa ashim, en1,ío
também 116s iríamos coii-
Por favor, IM. L.]: Coiriopode cordar. Isso, poréni, é ir-
,. conlo pode tiini bispo go- r i a uni bispo percorrer o possível e iainbém náu é
vemni- sobre o mundo in- mundo inteiro?E isso iam- nccessjrio que uni só bis-
teiro:) Os nossos, porém, héni náo é iiecessjrio. Pois po governe todo o orbe,
tiZosão bisposiircesxírios, a Igreja iein uma cabefa porquc ;i Igsejja tem ape-
n%osOo esposos, mas de- invisível yuegovemaocur- nas uma caheça que go-
o vein serpretcndentes dc Pe- po de niodo invisívcl, e verna invisível e espiritual-
ri210pcíy. essa é Cristo. mentc, LI saber, Cristo. So-
mente Cristo é 11 esposo,
Fim. eles. porCni. são scrvos e
wnigos do esposo e mein-
bros da cabeça. Assim, nZo
pode acontecer que um bis-
po venlia a ser ;I cabeya
de todas as Igrejas. Um
bis{" tem triibalho siifiçien-
te numa única cidade se
quiser cuniprir seu ofício.
Se. no cntanto, isso pu-
desse acoiiicçer, yiie açon-
teça em nonie do Senhor.
Nós nZo faemos oposiçáo.
I Fim.
Guerra dos
Camponeses
A Guerra dos Camponeses
INTROI)UÇAO AO ASSUNTO
,o
1 - A Guerra dos Camponeses
A Guerra dos Camponeses na Alcmanhal ein 1525 roi o ponto alto d e toda uma
série dc rebelióes ocorridas na Europa durante o período que vai d o final da Idade
1s Mkdia até o século XVUi. Tais rzhcliões eiivolveram camponeses, artesãos, plebeus
e, c m alguiis casos, mineiros, cléi-igos e integrantes da baixa nobreza rural. Ocorre-
ram levantcs de çaniponescs em Flandres (1321-1323) na F r a n ~ a(1358), tia Ingla-
terra (1381-1388) e por ocasião das guerras hussitas na Boêinia d o séc. XV. No
mesmo século c no seguinte, a Alemailha serviu d e palco para a romaria anticlcrical
2U ao Flautista de Niklashausen (1476) c para o s movimentos de "Pobre C ~ n r a d o "e~
de Bund.schiih3. Após a radicaiiraçáo verificada entcc I524 e 1526, principalniente
dos príiiçipes foi que os múliiplos Içvantcs locais c rcgiorinis, antes rclativaincnte isolados,
x z i h ~ r a nse intciir:mdo. Ouanto ao temio "cainnoiicsis". nár~Iiá dúvida de aiiç çles tivcrain
a mais fiiile ahlaçiio ilurante o eveiitu, mns 6 sahido que iamErn religiosos, uriistas, artcsáos
c, em palie, nohrcs participaram da rcvolti. Quem deu meirir suporte h rckliZo fovam
burgueses e campoiieies. "Na Alcindnha" ou "alclcinã", por sua vez, nZo podem scr
~mmprecndi<losno scntido dç a rcbcliZo tw atingido todo o teirirário do Sacr<i Império
Romano-C;çrmânico. já quc teve como palco apenas uma pequena fiaçZo destc.
2 Originalmcnle Amicr Konrad iiu Amicr Kum, clçnoininqào pejorativa usdda por nobres e
patricius para dzsignar camponeses e intcgrantes de estratos urbanos inkriores. A exprrssao
foi adotada pcl<islideres da liga çaniponcsa que cm 1514 se vuliou contra a política hihutária
e intcrna do hxZo Ulrico de Würlie~mherg(1487-1550).
3 O tcimo designava originhcntc um calçado fcchado por meio de cordóes tançadris -
borxguim oii crlturno - c usado por cainpoiieies na Idade Média tardia, que os diie~cnçiava
.
dos cavaleiros da riobrcza., os uuais calcavam botas com CSDOI~S. Tomou-se simbolo da
oposiçZo organirada de cmponcsis e intcgrantes de estatos iníeriorcs da sociddde fcudal
lios s6culos XV e XVI. Os prin~ciroslevmtcs sob i>siinholo do Bund.s~.huhocorreram em
1479 na Nsácia contra os "&agnacs", mercenários estangciros quc atuavam na regiáo, e
em 1441 i m Schlingen, nas proxirniddes de Basiléia. Insurreiçócs do movimento Bmdschuli
deirun-se ainda em 1493 (Schlet&tadt), 1502 (Espira), 1513 (FreihurgoiBreisgau) e 1517 no
;ilio Keno, çiirncterirdiido-sc pçla coligaç5o do campesinato com cstratos urbanos e tciiilo cni
ciii solo alemão, derum-se até o século XVIII levantes camponeses na Auslna,
Hungria, Rança, Inglalerra e Rússia.
A Guerra dos Camponeses na Alcmaiiha iniciou ein junho de 1524 na margem
sudeste da Floresta Nega, pr6xiino i fronteira com a Suíça. Ein dezembro do
iiiesmo ano sucederrim-se lev,mtes na Suábia, sendo redigiclo em Memmingeii, em s
iiiarço de 1525, o principal escrito progamáhco do movimeiito, os Doze Aftigc~.$*,
que tiveram ampla divulgação. Nos meses de abril e maio de 1525 a rcbcliáo se
csteiideu rnpidameiite,sobre gande partc do sul da Aleinanha, atiiigindo ainda a
Vi-ancônia, Turíngia, Austria e S u í p ~ ,o que representava cerca dc um terço do
Icsritório europeu onde se falava alemáo. No centro da Alemanha a rebeliáo ocorreu iii
;I[> redor d;i cidade imperial de Mublhauscii com a participaçio de Tomás Muntzer.
liiiiihém Iiouve levante de mineirns no Erzgebirge e na Boêniia. No Tirol e na cidade
ilc Sal~burgoo moviinento teve a lidermya intelectual de Micliael Gaismair (ca.
14'10-1532), uin discípulo do i-cfonnador Ulrico Zwínglio (1484-1531), que preparou
:i começos de 1526 uina oidcin lemtonal prevendo reformas profundas coni base em 15
cxigências bíbliças. Essa iniciativa, no entaiito, veio tarde demais, valendo o mesmo
liara a rebeliáo ein Samland, no leste da Psússia, porque as tropas da Liga Suábia e
<Ic ~iiíiicipescoligados sufocaram os principais focos de rebelik entre maio e junho
<Ic 1525. O Icvante camponês na Turíiigia, justamente aquele que Lulero conheceu
iii:iis de peno, durou menos de um mês, entre meados de abril e meados de maio de 20
1525. A rcbcliáo iio T i o l chegou a termo em 1526.
Dcnlre os principais eventos da Guetra dos Camponeses no ano de 1525 podem
scr cnuineradas: a primeira vitória da Liga Siiábin sobre os rebeldes em Leipheim
(414). às margens do rio Danúbio; a assinatura do Acordo de Weingarten (1714) entre
(1 gciieral Jorge Tmchscss von Waldburg e os camponeses da região de Allgiiu, o que 25
hns Fnfz (m. ca. 1525) um i~rgaiiizadordesde 1502. Nos anos 1520, o temo Rundschuh cra
~'~iiicemente um sinônimo para "revolta". Vale lemhrar quc a 20 de abril de 1521 em
Wc,iiris, depois de o impcradur Cxlos Vter renovado ma intcnçZo de delender a fé católica
i.iiiiir,r Lurero, a prefeitura da cidade amanheceu pichada com as paiavras Rtmdscholi,
lli~~~<l,schlih, Bundschuh.
I 1 I iitiilo correlo t': Die gündliclien und rechle~iHaupb~rtikelallcr Baiienischaii und Hintcr-
i:iv\~,,i dii-geisliichen und weltlichcri Obi-igkeireii, von welchen sic .sicli bcschwçir vemeinen
iliiiiil:i~ncnldise Verdadeiros Artigus Principais de Todo Campcsiiiala c dos Vassalos sob ;is
hiili~iiiladesReligiosas e Seculares, Pela* Q u i s Se Crêem Sohrccaricgados.In: A. LAUBT::
I I. W. SEWFERT [ h g . ] , Flugschrifteri der Bauemkriegizeit, 2. Aufl., Bcrlui, 1978, p.
.!r> 34). 'Tratasc originalmente do cscrito prograináiico que reuniu as ilucixas das i$dii;is
~'iiiriciiasa Baitringcii, rio sul da Alcrnanha, a p a i r das quais formou-sc a inaior c in;iis
~>'xlci<isa inilicia de scklados. Acredita-sc quc seus autores teiilia~iisidu Scl>ii.sii.ioLor~cr
Iii;i\c. ca. 14901, r~fiçiidde peleiru c prcgadul- leigo, c CI~rii~o(>li Scl.li:tl~,~clci- (1472-1551j.
:iiiil>i>svivciirlr> cni Mcininiiigai, quc se Iiasc;u;m çni iu-iigi>s~ii-cvi:i~nciitc liiniii~lnili,~ c
i,iiiicid<>s da rcgizo do iiIi<i Kcno. li pc,s<ivcl q ~ i c;i ;iuli>ii;i <I<is;iitigi>s~ i o si~ii:iisI.i,i/i.r i.
Srl~:~~xllcr sc ic~spir:uuntenha sido (Ir l ~ ~ i l i ; IIol~r,,cicr ~ , ~ ; ~ r (1485 I12X). r~~I'~~ro~x~lor ~~<lic;tl,
1~~.1:acI<,i c. <IPs<Ic 1125. lítlcr <h, i i i < w i i i i i . i ~ l i t :t~li!l>:blisI:lI I : ~ I o ~ i ~ l i ~ l i (Icu I ~ Witlilrllul.
. i\1~,1<.
1 ) t o 1 1 ~ t ~ iblivit~tlc~~tc
rl1 \~.l<>rrs
IIIII:I ~ . o : l l i , i ( t l c11111. 11r1>:$11o'i
c L . : ~ ~ ~ ~ ~~Ol .C I ~I. L
l i ~Yd,<V> ~
s.
causa da chacima de famílias da nobreza local; a assinatura dos acordos de Milten-
hçrg, com representantes do arcebispado de Mogúncia (713, e de Renchen, na
Suábia (2515), cste último com base em exigência presentes nos Doze Artigos; a
hatalha de Frankenhausen, que inarcou o final da revolta na Turíngia (15/5), e a de
Zaheni, onde camponeses da Alsicia foram esmagados pelas tropas dos príncipes
lb1Si: a reiidicão dos rcbcldes em Muhlhausen (2515).
. .
Á Guerra 20s Camponeses deu-se a partir de um conjunto de elementos causais
oriundos das dimensões (1) econôinica. (2) social.,(,3 . .
) nolítica e (4) iurídico-religiosa
da rcalidadc de então. (c
Á dimensão &;nomica foi determinada por uma relativa
piora de condições para a empresa agrícola nas décadas anteriores a 1525. Essa piora
adveio de diversos tãtorcs, que se m;inifestarani diferenciadamente de região para
regi%, mas que estavatn relacion~idosentre si: elevado crescimento populacional;
inigraçáo intensiva; rcativação da instituição da servidão; limitação ao exercício de
privilégios garantidos As gerações aiitcriores; grande elevação da carga tributária. (2)
I, Na diierisâo social, ein decorrcncia, as unidades sociais da família e da aldeia
viraram núcleos em crise: a distjncia entre pobres e ricos se ampliou, isso aliado ao
crescimento numérico dos estratos inferiores no campo; iiecessidades básicas não
mais puderam ser atendidas, estabelecendo-se, por exemplo, a limitii$ão a casnmen-
tos e a suspensáo do direito de ir e vir; o raio de autoiiomia da aldeia foi restringido.
' (3) Na dimensão política, era grande a expectativa do campes~natono sentido de
participar mais nas decisões quanto à adminishriçáo territorial. O estamento mral
passou a ter represcnizqão nas respectivas assembltia de diversos territórios entre
Salzburgo, Alsicia, Tio1 e Palatiiiado justamcntc lias décadas anteriores a 1525. (4)
Os elementos causais da dimensão jurídico-rcligiosa. por fim, decorreram do fato de
,., a busca por legitimaçáo ser um dos principais pilares da sociedade feudal. O cam-
pesinato apresentou suas exigências e só o fez porque as podia fundamentar juridi-
camentc. Já que parii ele o direito imiigo permanecia em vigor, fazia-se necessária a
iiisuneição, a tim de combater as inovaçks pretendidas pelos senhores no plano
constitucional. A substituição do direito antigo pelo dixjto divind teve uma repcr-
cussão 1ibert;iri;i e permitiu que as necessidades dos camponeses fossem apresentadas
5 O direito antiro cra um cornus iurídico comorativu. reconhecido oor ambas as Dates no
i"iporiante se Se traiam de comprovar algum direito adquirido cm caio de disputa legal. J:i
no niovimento Rnnd.schuh - cf. acima nota 3 - houvera uma luta pela justiça divina, o
quc dc certa forma o aproxima bastante dos levantes cm tomo de 1525, quando se rcivindi-
coii < cumprimento
i do direito divino. O direito antigo só tinha validade local, mal tendo pia.
isso pdido ultrapassar as divisas dos feudos. A justiça divka ou direito divino no moviiniiil~~
Bi,raf.sch:liu/i,por sua vcz, nssaltou bastante um aspecto do direito antigo: este era hriin não
a~xr,asp,>rser aiitigo, mas era o bom direito antigo pois vinha de Deus. Era o direito qiir
corrcspondia à ordem da çriaç". Em contalo com o pensamento da Ref~irma,por sua vw.
i , ilimiio divino açahoii ;issilmiii<frium çardter de validade universal, dcixando dc vizir
xI~cnxwntl~irr;ili<l;iilçs c Cli<>r;is ii<>l;i<l;isc passaido a dixi- respeito a t<id;is;is quis1ín.s c ~ i
ioili,s 0 s I c n i p ~.%;I(>
~ I ~ I : , ~ vF,! Il-tlinvit SIIIIICII~C<IçIri~diçáoimtiga, rigistr;iila ni>s "I .ivi<is iIc
Guerra dos Camuoncscs
como exigências moralmente justificadas em d«cumentos como Dorc Artigos, por
exernplo.
Corn sua polêmica contra a Igreja papista c contra 21 exploração por Roma,
empreendida com especial vigor nos anos de 1520121, Lutero estremeceu as bases da
autoridade eclesiástica e desse modo fez balançar um dos pilares de sustentação da
sociedade de então. Sua pregação profética, porém, não se dirigiu apenas contra a io
Igreja, mas também contra a nobreza e os príncipes. Com maior intensidade desde
1520, ano em que publicou A Nobreza Cristã da Nil~2íí1AlemZ. ..h, tratou de questóes
políticas, jurídicas, econ6micas e finariceiras', chegando >LI> ponto de conclainar a
uma ampla seculaiização de bcns eclesiisticos8, que, se Icvada a caho, teria resultado
numa profunda reestruturação social. 15
Iglialrncnte na direção de urna reeslrulur~i@«social foram interpretadas não
apenas as inanifeslaçóes positivas de Lutero em relaçáo ao estmeiifo leigo e cam-
ponês, mas principalmente suas concepções a rcspeito da ética cristã' e sobre a
fundamen&çiçao da Igreja e da comunidade de fé no saccrd6cio geral de todos os
c r e n t c ~ ' ~Para
. a gente simples - e mesmo para alguns iiitcgr;intcs da intelectuali- ?ii
1510 condenava a cobrança de juros como usura nZo-crista, que promovera uma
pirscguição cmti-semita e incitziva o povo ao não-pagamento do dízimo e dos tributos
urbanos. Da mesma forma Jacó S l r a u s ~ 'prcgador
~, cin Eiscnacli, na Turíiigia, defen-
deu-se da acusação de causador da revolta por ter motivado o consclho da cidade a
confiscar paiiiin61iio eclesiástico e a expulsar da cidade clérigos, inongcs e freiras
rião-identificados com a Reforma iio fila1 de abril de 1525, tudo para anlecipar-sc e
ir ao encontro de interesses dos camponeses reklados.
I') 'li,i~i;i.~
Alüiifzcr ica. 1490-1525).çswdou iiw uriiveniilades dc Leiozie e FrankfurtIOdci-~
brasileira, influenciada prla obra de Ernsi BLOCH, Thoinas Mü~err:tc6logo &i revolução.
Rio dc Janeiro, I973 2 princip:%lmerite.pela dc Friedrich ENGELS, 4 . 7 Guems Campone-
sas na Alemanha. Sáo Paulo. 1977.
25 Veja acima p. 274, n. 4.
26 O reformador dc Zuriquc negou toda e qudquerrcspons~bilidadcpçla rebeliáo camponesa.
No entanto, certas en&encias fcim posicriomcnte por integrantes do movimento tinham
çswdo presentes nos escritos i41n g6LtIichci- unrl mcnschliclicr Gercclirigkeir (Sobre a Justiça
Divina e Humana - julhu de 1523. In: Corpus Retomatorum 89. 458-525) e Welche
Uisachc geben zu Aufiuhr (Qoc RazOes Irá p m a Rebelião - de~emhiude 1524. h:
Comus Refomatonim 90, 355-4691. onde Zwínelio defcndeu a suswnsio do dizimo
viiniicio. c i n- h~n crn
- iienhuin monicntu iiwssc amntad;i oaraa ~ ~ k l icomi
~~~ ã o alw~~u~tivad~ acão
27 Ca,spar Ifédio (1494~1552),cscrevili contra o d k h .
18 On<iBmnfcl,~(ca. 1488-1534),pregador, ~iiedicoe botâcico, conhecido de Lurero, Rxlst:idi
e Zwínglio. escrehcii li>m Pfdfemehnlen (Sobre o Di~irnodor Padreços, publicado cm
1523124 h : Fliigsihnlien ... p. 158-177). que contém 142 leses contra o dizimo eclesiástico.
;
~-
onde cscrevcir Ein iingew~linlicli~~r
Icicr>mumSceurida Cana Akria do Inimieo
reli ..., p. 99-IOX) cni 1524. ;ih<ir~l.irido
z u i t e r Scn<lbficí'desBauenifeinds an Kiusih;iri.s (Ur1i:i
" dos Camooneses a Karsthans. [ti: Flursclirit-
a desigualdade enne os csiamentoí. . obra coloca ;i
popt~t:u.ligur:i do c;iinlioiiCc K:ircltiiuis - pcrsonogern centr;il de um pantlcto surgidii cili
1521 ii<i ciriiio d;is ;iiriiqiic.s. tiiial;inierir;uid« as dciiúnci~isdo Iado c;uiili<rtii:scc~liici,
c.hi:i<Ii><Iru>i\:i\ts, Iiiqnziioc<,iu clc~t!ciilo~s dii prigaçio <hRcfoma.
I < ;ucrra dos Camponeses
surgiu com« porta-voz da calisd lulerana colitra o partido rdt6ildli~o-romano.~'
A quase
totididade dos escritos dc partidirios da Refoniia, que de uiii inodo ou oiitro teniati-
raram as exigtncias dos c'mponeses - iiiclusive os Dure Artigoosc os escritos de
Lutero editados aqui - clicgavam a opiiii&i>pública na foroia de panfleto.
3 - Os Escritos de Lutero
0 s escritos de Lutero sobre a Guerra dos Carnpoiieses de 1525 iia Alernanha
têni sido inter~retados;i ~ a r t i rdos mais difereiiics nontos de vista: coiii base no iii
desenvolviincrito da rebelizo camponesa e dos elementos preseiilcs nesses cscritos
c i ~ i çsuoostamcrite o teriam dctertninado:, ii n artir da infl~ignciado nensatneiito de
L
Lutero sobre cciias exigEncias dos cainpoiieses e <Ia inter:i$Zo c.nti<: Kzlòrni;~ e
nii~vimeotoc:imponês; a partir da imposiqão do estado tçrritorial 2 dc suas exigên-
cias, lanint« por meio de Lufero çomo por incio dos c;inipoiieses; a p;u-iir da ética ir
política de Lutero; ou, ainda, com base nas repercussões provocadas pclos escritos
L ~ refomador.
I Se o estudo das circunstâncias lias quais Lotero produziu sua lilera-
tura é fuiidainerital para uma cornpreeiisL1 eq~iilihradade1:i. então isso vale espçcial-
incnte para scus escritos 1111c lcmati7,ar;iin a rehelião caiiiponesa.
Nos Dozc A r l i p , OS rchelados náo si> tinham leito referência a Escritura como ?[i
iiicilind«r políiic«, tnas propi,s-se apenas :i fiila numa perspectiva pastoral. Lutero
i ' I\:,irtli:rii,s (I521 -Estiitshiirgo. Iii: Dir Mrtihrheilinuss niis Licht: Dialiigc iiiis der Zcit der
lii~i~~iinali~~n. R. Beiiringcr Ihrsg.1, Lçipzig. 1988, p. 85-11.3)foi provavclmciife o mais lido
,li. i<i<los csses panfletos, tendo sido protagokadu pclo honrei11coniurn, pela gente siiiiples.
I N W ifiicni não pcitence neni 2 nolireza clerical, ncm à seculm. "Karsthanr". litcralmeiite
"Ii,:iii (IHans) da Eiixadn (Karsl)", era uni termo dc conotqio negativa que designava i>
< : i i i i f ~ m erude.
s rcirógiadri e prosscir<i no um do dialeto aleniã,io falado na Silíva. N.i
~>:~nilct:!:rrncrític~a o partidários do papa. aquçlc qur é riinplçs e groscuu suigc coiiii,
.ill:iiCcii vUriioso a denuiicim os zihusos e a çonupçáo. - Martin Biicrr (1491-1551).
iiiciriti;iilor em Estrasburgo, foi provaveimçiite u autor de Neiikastliztri.~(O Ni,v<iKurslliiiiis
lisiiaiburgo, 1521. In: Die Walirheit..., p. 128-175) e deu. dcssa iriancirik. sc<liiCiiçi:iii
ii:t.jcti>ri;iilo "honiem coinuni".
i {('I: P/t,,mc/zriti~-r~ ,,., p. 31, 1-6 c 33, 34-34, 8 .
i 1 Vc.i;t ;ih;iixi>.p. i3lW) 10h~3l).
manifestou-se a rcspcito da questão central do direito cristão, dirigindo-se a ambos
11s grupos contraentes, príncipes e camponeses. A exemplo de outras ocaiióes, ele
disse palavras duras em relaçáo aos príncipes, acusando-os de serem os causadores
da rebelião. As reivindicaçfies dos camponeses, embora formuladas coin base em seu
., próprio interesse, foram consideradas justas e corretas, principalinente aquela em que
eles anseiam por ouvir o Evaiigelho. Certo seria que Dcus dernibasse do seu trono
queni, como os príncipes e senhores, sobrecarrega dc l o m a tão insupoitável ;i oulras
pessoas. Isso contudo não justificaria a opção dos caniponeses. Lutero não julgou os
caiiiponcses no direito de se autodenoiniiiarcin ~iiiiaassociaç"~crisiã, pois us'uiani
I o iiome de Deus para praticar a injustiça, voltai--se contsa a autoridade e tomai-se
juízes eni causa pr6pria. O direito dos cnstâos, porí.m, rezaria: nZo defender-se ou
vingar-se, inas siilinieler-se. No tuia1 (111 escrito, o reformador olha para os dois
grupos ein luta, situmdo-os nuni mesnio pl;ino. Ein ambos nada liaveria de cristão.
Poitanlo, quem quer que fosse deriiitiicllo na lula. esiaria perdido de corpo e alma.
A divulgqão desse escrito não provocou repercussão perceptível lios campone-
ses, unia vez que o nioviineiito chegava ao seti ponto de iiiáxiina escalaçZo, uma
situação em que os rcbclaclos dificilniente ahi-iriain seus ouvidos para o que Lutero
dissesse acerca do direiln cristão do suhinetimiiito. Ele o redigiu antes de uma
viagem ao norte da 'lusíngia, onde foi testeniunha ocular da luta. Procurou influenciar
o no sentido dc diiniriuir a tensao existente por meio da pregiiçâo direta aos que se
cnvolviatii 110 conflito, colocando para tal a própria vida em risco. Não teve sucesso,
;iti o dia em que, informado a respeito da morte do príncipe-clcilor, Fredenco, o
Sábio, retomou a Wittenherg. Acabou vendo no liacasso dc sua iniciativa na Turúigia
um sinal de que nesse rcduto, onde Muntzer agia, o espírilo do falso profeta se e u i a
pi-esente por todo lado e estimulava os ânimos dos rehelados.
Em meio a tal sihiação, Lutero dccidiu iiiandar reimprimir sua Exorlação 2 Paz:
Rc,~p\po\luao.9 Uoze Artigos (10 Canipesus~iatoda Suábia corri a incliisão de uni
suplemento intitula~l(loAdrndo: Contra as Ilonlas Salrendoras e Assassinas do\s
Carnpone.~e.~~~. Trata-se talvez do mais tãinosc c, via de regra, mais condenado de
40 todns os seus cscnlos relativos a essa qucsião. As circuiistâricias em que csse tcxtii
chcgou h opinião pública foram dccisivai. Enihora devesse ser um capítulo coinplc~
nieiitai, logo acabou sendo editado ein separado. Escrito nos primeiros dias de maio
de 1525, somente tornoii-sc conhccido depois que os camponeses ji thbani sido
derrotndos, quando os sciihores coinetiam atrocidadcs coin os prisioneiros quç julgii-
i, vain crn seus tribunais militiires. Tais circunstâiicias tornaram o panfleto inais cho-
cmic do que já era por causa de seu conteúdo. Lutero concentrou-se basicamente eiil
ckamar a que a autori+dc oprimisse a rebelião com todas as sua? forças, restahelc-
ccndo paz e ordem. A diferença do que dissera cm Exortação 2 P z . .., quaiido
irispiroii-se i m O s Doze Artigos, ele afirma, agora, que todo camponês ahaticlo
iii perdeu-se dc coipo e alina, pertencendo eternamente ao diabo. Quem, contu<lilo,
iiil~rrelutando lado a lado com a autoridade, este é um mirtir diante de Deus, caso
iivcr lutlido de boa consciência. Adendo: Contra as Herdas Saltca<ioras... foi escriti>
;i ~>:wtirdo que Lutem viu na Tuiíngia. Ele constatou ali a autoridade civil dc scii
~'r<ilxic tcrrii~írioresignada, vacilante c ciipitiil:indo ditmte da rebeliáo, e dirigiu a ela
~ i ; iiictisng~iii.~"
i Esia dcvcria dcfeiider a oiderii contra r1 caos, mesmo que estivesse
i.lici;i de culpa ou não tolerasse o Evangelho. Nada haveria de mais venenoso, d;uioso
c (IiahLílico do que alguém rebelado. Por mais duras que fossem suas palavras. a
iiiiciipio bksica de Lutero nio f«i a de coroar de glória o derramamento de sangue, s
iii:is, isso sim, i1 de exigir que a ordem divina f«sse preservada.
De igual modo, nos primeiros dias de maio de 1525, foi impresso em Wineii-
Iiiip o Acordo Entre a Louvável Liga da Suáhia e os Dois Grupaine~iiosc ;I
Al~ernblé~a de C7;tririiriponese.s de Bodensee r AlIg8u: Prefácio e ExortaçZo de Lu~ero".
li111seus cnmentúiios :io texto, escritos para sereiii sua última palavra ein relação à 10
(;iicira dos Canilioiicscs d r 1525 na Alemanhii, Liitrro ressaltou a imponincia de
~ I I I I ; soluçZa
~ pacífica c ncgociadn p;ua o conflito, saudand<i o acordo coriio uma
!?r;i$a especial de Deus numa ipoca selv:~geiiie terrível, c descjando quc i;uriEiri na
icgião csnw.il da Alemanha os cainpoiieseh agisseni rle maneira sensata a liiii de se
<:virar denaiiaiuento de sangue. O refoririador manifestou aqui novamcnie sua fé 15
iiicondicional de que em última instincia é Deus aquele que age por intermédio de
scu governo secular, a fim de preseivar a criaráo e as ordens por ele estabelecidas.
"Elc [Dcusl quer e quererá que suas palavras sejam cumpridas [Mt 26.52; Rm 13.21,
ifio prestando atençáo, se soinos camponeses i1u senhores, se nos chainamos de
iiiiiZos cristãos. ou ao tipo de pretexto que us;uiios c pelo que cada qmil pode se i r i
,~:uiar.Deus não se deixará zombar!"
L,utero desaprovou os abusos cometidos pelos priiicipes após sua vitóri:~.Logo
ilcpois da batalh:i de Frtiiikenhausen, dirigiu-se por iiieio de uni panfleto 3s autorida-
ilcs, pcdindo que ~ l a oroiiietessem exageros e fossrin cleiiientes em relaçao aos
L . X I I ~ ~ O I aprisi~nadoh.'~
I?WS Isso, coiiiudi~.iiko impediu que as posi~iiesdefendidas 25
c111seus panilzlos, cspcciaimcntc em Allcialo: Coil1r;i as Hllrdds Sa1teador;i.s ..., fos-
si:iii d~trariieiirecriticadas tanto por partidásios quanto por inimigos da Refornxi. Jogo
('<iclco, representando o lado romano, escreveu em tom polêmico um comeiit;uio
Ricarilo W. Rietii
-. -- ~~
No decorrer de t«do o texto, Lutcro ldliiu apcnas em Allstedt, lugar geogáfico, mas
1120 citou nonics. Ele se referiu sempre, isso sim, ao "espísito revoltoso", ou seja, a
4. delerminado coinportamento que iião precisava necess;inamente reduzir-se someiite
i: pessoa e i ohrn de Muntzer. Este, sem dúvida, era aquele que purd Luter« estava
ciri primeiro pl;uio no g u p o de manifestantes desse "espírito", rii;is o rcl'ormador
iarribéni poderia ter incluído sob "espísito revoltoso" gente conicr o j:i citado Hafcritz
c como os resp~~risii\,eis pelos tuinullos dc 1521122 em Wittenherg: os profetas de
iii Zwichou e Andre Roderistein de Karlstadt5.
I Dcdiçaióiia - p. 286,35-38
3 Introdu$io - p. 287.2-289.10
3.1 Perscguiyão à I'alavra na hist6rii1 da Igreja - p. 287.1-12
7.2 Perseguição i Palavra lia 6poca coiiteiiipor~iea- p. 2X7,13-289,10
3.2.1 Mediante a violtiicia - p. 287,13-2S
3.2.2 Mediante a falsa doutrina - p. 2S7.28-2X8,IO
3.2.3 Conteúdo da falsa doutrina - p. 288. I I-2X9,lO
(i I ~ i k çoin
i a Palavra e rechaqo à violência - p. 296.28-299,6
Ircrh.ric<i 111. < i Szíhio, duque, príiicipc-clcifoi d:i S;ixGiii;i (1463, 14x6-1525). cr;i <gover- i
11:~111r 1vr~Iori;il<lc1,ulcro c !!%ose O ~ I I O I I :a<> ~ I I ! ~ V ~ ! I I C I I I ~c k ~I<cl'~~~rt;~.
I .I<~ o Oi,isl:iril<',
~ i < ~ ,<Iiiiliic.prílicilir-clriic,i (I:, S:iriiiii;i (1408. 1525-151'2).i i i i i ; i i i <li. I ' ~ i l i . c i i . i > ,
,.iI*'a.<Ic.ii Ili.li>riii:i.
ii;i]"is h i i i l i i i c i i l l ' à l~rclili.iI~~i~li~il~ir:i~lii~niiiis~vciiil~i;!liv.uiiriili.iicii<~viitii~iil~iiI;i
Cirtt aos Prinçir>es da Saxonia sobre o Espírito Revoltoso
Graça e paz em Jesus Cristo; nosso Salvador.
A sina da sagrada palavra de Deus sempre é que, quando vingax, o diabo
se opõe a ela com todo seu poder. Em primeiro lugar com o punho e a
violência sacrílega. Quando isso iiZ« adianta, ele recorre ao discurso engano-
so; :iespíritos e doutrinas enganosos para qiie, não podendo sufocá-la a foi-ça,
c«tisiga suprimi-l;i com asiúcia e meiitiras. Assiin o fez no começo. Quando
o Evangelho apiueccii pela primeira vez no mundo, ele o atacoli violenta-
mente através dos judeus c gentios, derramou muito sangue e cobriu a
ci-istandadc de máriires. Qurirido isso náo quis adiantar, suscilou fiilsos pro-
l~ retas c espíritos enganosos r encheu o mundo de hereges e seitasy >ai&chegar
ao papa, que, com pura Iicrcsia e sectarismo (como convém ao de1~adell-oe
mais,poderos« anticristo), o lançou por ter+alU.
E isso que deverá aconteccr agora, para quc se veja bem que é realmente
a palavra de Deus, porque lhe acontece o que sempre já aconteceu. Aí o
1 papa, o imperador, reis e príncipes a atacam com violência, querendo repri-
mi-Ia à força, condenam, injuriam e perseguem-na sem tréguas e sem defesa,
como loucos. Mas a sentença e iiossa resistência há muito já Soram definidas
no Salmo 2.1s. e 4s.: "Por que sc cnfurecem os gentios, e os povos imngi-
riam coisas vás? Os reis da terra se lev:intam, c os príncipes conspiram coiitr;~
o Senhor e contra seu ungido. Ri-se ,aqiiele que habita nos céus; o Senhor
zomba deles. Em sua ira, a seu teriipu. Ilies I i i de filar, e com seu furor os
~ipavorará". E isso que. com certeza, também vai acontecer aos nossos
furiosos príncipes: elcs esk7c1 pedindo isso, pois nZo querem ver neiii ouvir.
Deus os cegou e cndiireceii, a fun de que insistam na oposição e S~acassem.
-7
Náo foi por falta de aviso.
Tudo isso o diabo vê e se dá conta de que essa fúria toda iiáo dá
resultado. Ele sente e nota qiie (como é próprio da palavra de Deus) quanto
mais ela é combatida, ianto mais ela se difunde e cresce. Por isso ele a ataca
tainbém com Iàlsos espíritos e seitas. Contra eles temos que nos defender e
ná? nos deixar cnganar. De fato, terá que ser como Paulo disse aos coríntios:
"E necessirio que haja seitas, para que também os aprovados sejam revela-
dos" [I Co 11.191. Assim, depois que foi expulso, o diabo vagou durante
um ou dois anos por lugares eiuios. ? procura
i de sossego, sem, no entaiilo,
X Ni, original: wennr auffgchi,i. Ç, quando hil>iaou cresce. Aparrnrementc Luirro expressr>ii~
c ;iipi iiispil~<lonunxi cornbina~áod a paiábola~do senicadur. c t Mr 133~8.18-23.c <I<)
,<tio,d'.Mi 13.14-30.
-
N;I Ir:idiçâr> da lei-ci;i
~ q ~ t ~ t:i~ <~rgiin~,i~$Xc~
l ~ z i
-
.. i\ciiic:i. hereec cra quem se oounlia à doulrinn. c scci:uio. uuciii sc
cclcsi5~tic:1.
I 0 liss;, divisiio d;i Iii\iiiri:i ccli,\i;i\ii<;icin très períodos - a mais diiundidii ti:i Cpc,i ~ I c
I.iiicii> j.i csi:iv;i IV~SC.~II<. (I:,? <d1rx1 <1ç Ag<istinho (154-430) i Bem;u-ílo <Ic <'l;ii;iv;il
(IO'JO llí!).
GUCIKI
dos Cmponcscs
enconti4-10" e se estabeleceu no principado de V. A. P., fez seu ninho em
Allstcdt c pretende lutar contra nós à sombra dc iiossa paz c prote~ão'~. Pois
o principado do duque Jorge, ainda que seja viziiiho, é muito boildoso c
afável Dar:] coin um esoírito tão destemido e insiioerivel (como eles se
corisidcrruii), druido-lhcs ensejo para porcm ali :I prova toda sua valentia e s
coragem. Por isso taiiihérn berra tão horrivelmente e se iliieix;~de que eshria
sofrcndo muito, ainda que, ali açorn, iiiiiguém o tivesse atacado, seja coiri
iiniilis, de boca ou de canela". Estio soiihruido sua grande cruz quc dizciii
carregar. Com tarita frivolidade e serli razão o diabo tem que mentir. Ele não
pode negar-se a si mesmo. 10
Para mim é uma satisfaçio toda cspcciiil quc não são os nossos que
iniciam uma pe1turbac;ão desse tipo. Eles própiios fazem questão de se
çloriarcm que não pertencem a nosso grupo, que nada aprenderam ou rece-
beram de nós; eles vêm do céu e ouvem o próprio Deus falar com eles, como
Tala com os anjos'" e acham uma coisa péssima que em Wittenberg se ensina 15
a f6, o amor c a cruz dc Cristo". "Você tein que ouvir a voz de Deus
11 CC MI 12.43. Luiero reldcioiis cssr iexio bíblica dkiaminie a M"nlzçi qiiç, dcpois d r
:ib:m<lonar s%içlaininlL. a Zwickii~i.cni abril dc 1521. quanrl<i çssa cidiidc da S;ixòtiia
ciiicstiiia eizi palco dc uiu Icvaiilc pi>piil:u. dirigiii+sc a Pr;iga. n;i BoEmiii, onde esteve erii
drzcinhro do mcsmo mo. Dcpois disso, pcianibulo~ipor diversas cidades da parte central
ilu impfiiu - N<iidhaosoi, Eifurt c Hallc ciitrc outras , scm poder fixar residência em
iiii~ihumadclas, ate cstabclccer-sc cin Allstedt clii 1523.
I2 Allstcdt. perto de Sangerhauseii e no norte da Turíngia. era iima pequena cidade onde
vi!,iani cerca de 120 faniílias por volta do ano de 1510. Ao seu redor havia 9 aldeias, ondç
residiam mais 262 famílias. Sua principal atividade rcoriârnica era a agricultura. Do poiilu
ilc vista gcopolítico, Allstedt estava nuriia siluação peculiar, pois era iiin enclave na Saxônia
;ilhcltiria, governada pelo duque Jorge, o Barbudo, um dos nohres mais hostis à causa dos
rcli>ilii;idoies.Para mais informaçóes sohre Allstedi e a 3tuaçSo de Münlzer ali, veja acima
.i iiiliiiiluçEo ao presente escrito, p. 284s., e abaixo a introdução ao escrito seguilite, p. 300s.
I i A iir,rii;i de Lutero não corresponde lotaline~ilei verdade. Em junho de 1524 o coiiselho e
.i ii>iiiii~iidade de Allstedt dirigiram uma carta ao cluqiie luâo. reclamaido dos consmiiirs
, i i ; i i l ~ e~ caiiiraças
~ de iu«rie pelos vi~iiilio~, que eram iiiiiiiig«s da przgação ~f<irinat6itiiria,
ii.l,~ciciiia<la por Miinl~ernaquela cidade. Drsdç 1123, i>coiiilr Eirirsic dç Mansleld (1479,
1.1X~1-15.31)r i>iliiqiie J<irgç, <iBarhudi, - d.acirn;, 13. I2 - iiii1i;un prciibido a scui
..iiilil<>ii ~ u cIiriliieiitiissem cult<i.;çni igrcj~sdc Allstcdt.
1.1 ~ I I ~i!rias
I â Melanchih«n e Luisio. h.lii!ilzcr ;iliicna quç çles niío ç u n h w ~ ~ a n~;~:LvI:I dc
1 ii.ii\, pois cada pçssoa devçria ser iiiiriiicki pil:i ~iliipri;~ Ix,ça de Deus. C f T. MUNTZER.
<III. i.;(.. rispeclivamente 380, 9. I6 (ou W4 i31 .3.105,23s.) e 3811, 16s.
I.\ liiii \cur cscritos dc 1524, Müntrcr divcrgi~icr~ilrss:mcnlcdo quc sc crisinava cm Willcn-
la.ic ;i ic\lxiir>dc i'&. N o iiniil d i Pir~lc.sl:irUi,~
< ~ < l c . iEriiictiing (Pii>tcsi;icEr> Okcccinicn-
l k i l . Mii~tlícisc disl2uici<iu ikis c ~ I I c c ~ ~(Ir ~KI ~llclil
~ ! , c dc I~(>lopos i~lil~lli~ilus
COIII I<o~nii.
( ' I . I ' . MIIN'I%I<R, o,>.ril., 240. 2:l.
Ciriii aos I'rú~cipes da Saiônia sobre o Espírito Revoltoso
I(> 11111 Von derri gedislifefc~iGlauhni ( A C E T C da~ F6 Invent,?da. cf. T. MUNTZER, >i!>. cit
l0s.J. Miiiit7rr escreve: "Aisim n jxscoa de\.? nbcrnrar a "iarieira como cofre ioh a iihin
ilc Ilciis". I lateriti tzmhéln e~isitioualgo semelhante ein Ei,i Ssrmoii Vnrn Fcst derlieiligen
(li-y Koirlg gqlrf<fjgf durc11.Sirnonerii Ilafeiitz zu Alstet (Semão da Festa dos Santos Três
I<i:is Magos, pregado por S. Hatefentz em All~tedt)em 1524.
1 ! ('i. Mi 25.14-30. a o:irihola do, talentos. texto aue Lutero einoreeou . " <ti!,ers%s wzer. Elc
i:ii~iliicntcria içstemunhiido o iiio de expressâo semelliante por Nicolau Slorcli - cf, abaixei
i , . 2 0 . ç1: WA TR 3, U X37b.
I X ( ' i i i i i ;I ~.nigciiçi;ide ouvir a piilavra viva de Deus ile sua própria . . boca. a Bíblia passa a scr
<.<>iiri<lçiaila ;ilgr>morlo. MÜ~;LL?~chamou ?len$.lo a isso repelida vexes - c[ p.ex. Pmgcr
M:iiiili..sl (M;milcsiu de Waga iii: 'r. W I Z E K , op. d., p. 501, 25-28) - v:llendo i>
iiii,srii<, 17:~ral~k~lçritz ein Ein S e ~ n ~ oVUIB n F S S ~der heiligen drey K a u g..., que. iliciusivc,
iicoki cxlwcssiij,, sznielhanie i <pie Luiçro rcprriduziu ile 1,irma çariçaiural.
1'1 1J i ccrii<is di Müntzcr e Haíerii~.a partir dos quais Liitero P z essç resumo - cl. acini;,
11. I5 c I0 - çsljo acentuadamriiie raraciericados por cssa içrilogia do solrimrnto: d qu;il
i . 1 ~:il~oni;icoi~i<i cino para çu3 miilisc.
'I1 1 I iIiipl<,icc<icihicimentr>e a ci>ridciiiiq.ii> da doutrina aris q u i s L ~ t e se r ~ refere dizcii~
ii.\l~ciii,:i scu cricontrn com Marcos Tlioma, cognorninzdo Stiihncr (m. ;ip& 1521). i.1~1
; i l , i i l . c i.<i111 Nici~l:iu Storch (m. ISLS) cni setembro de 1522 cm Wittenkrg, toiiil*:iii
i~<,iiliciiilosciiino "prnfctai dc Zwickiiin". Estrs - dos quais Miintrcr r c disluicioii.
\i.!:iiti<l<l ciiil;i dc 91711523 a Lulcrn (cf Wi\ BT 3,106.65-67) - juntamcntc coni Il;dci-11,
<. li:iilsi;iili, <;i<>t<id<isiridifcicnciadidamcntccompreendidos por Lutcm corno rcprcscnlcuiicc
< l i > "c\lilit<>rcv~lic>so".Rcsu1t;ido dos conflitos dc 1521 c 1522 cria Wittciik'rg fi>i:irri < i \
i.\<iiliis <Ic I.iiiclr> "Oiu, Sc!i~i<ícs da Quarcsrna Prcgdddos crn Witlctilxr~", 1522 (A<.lii
.Si~r,ii<irii. 11. M 1,iillici:~voii iliiii gcprcdigl /[i Willcnlzrg in der F~~slcii - i n v ~ ~ ~ ~ ~ , v i l ~ ~ , t ~
Kommos 13. Por isso V. A. P. não pode cochilar e vacilar nessa questao.
Ileus vai cobrá-lo e exigir prestação de contas sobre o uso permissionjrio c
;i seriedade da espada confiada. Nein perante o povo e o mundo scria
(Icsculpável que V. A. P. tolerasse e suporiassc punhos rebeldes e atrevidos.
Se, poréin, alegam (como, aliás, costumam fazer com belos discursos) 211
?.I Nos escritos de Miintzcr anteriores a essa carta - c[. a c h a p. 284, n. 3 a i o se verifica
seiiiclhante intençào cxposla por Lulero. Muntzcr, em Inciiddhsinia Apolugia e Rcsposia
<iii,ir;t a C m ~ ÚisIpidil
e C de Vida Mansa de Wittenberg..., sua réplica ao presente escrito
ilc 1,iiiero - c[. acima p. 285, n. 4 - rçíere-se a um escrito seu, hoje desapare~.ido,como
i,ri,v;ivcl fontç dessas susmitas. Ao uue tudo indica, aqui Lutem está ~revindoas consc-
ilii?iicias possíveis daquilo que estava ~ u r r e n d oem Ailsledt com base nas infomaçUes quc
viiihe recebendo de diversas fontes.
.!I Ilcl'ir~nciaàs atividades dos "proietas de Zwickau" cm 1522em Wittenberg. C f acima n. 20.
? I VI: Jo 18.36 c Ml 20.25.
24 Aqiii, Lutero agumenta pensando na deswiçãc da capela de Mallerbach a 241311524 (cf.
;i i,~troduçãoao presente escrito). Nos escritos de Munlzer disponíveis hojc não se enconwa
liiiiclamcntação para tal açáu violenta - cf. acima n. 21. Em çarla dc 22flll524 a scus
sçrihorcs tcriitoriais, que cogiidvam dii expulsXo dde Allstedt dos reSugi:idos de tçrritórios
Ii<isiisà Reforma, Müntmr çscrcvcii: "Sç u,ii ni<rvid<ipelo csp(rii<i<Ir 1)ciis. <Icv<iuliiiic-
irr-iiic ;t wis como iiicus ;úhitii>s,,;i I? <I<,\ rtisi;ios...", ç1: T. MIIN'I%I(II. <,I'. <.;i.417. 2')s.
C a a aos Príncipes da Saxônia sobrc o Esphito Revoltoso
gisse a Berlim, Dresden ou 1ngolstadt2' e ali ocupasse e destruísse conventos
e queimasse santos. Por outra, não tem cabimento o fato de se gabarem do
Espírito, pois nós temos a palavra de João de que primeiro se deve examinar
os espíritos se provêm de Dcus26. Este espírito ainda não foi provado; ele
investe com impetuosidade e subverte de acordo com seus caprichos. Se
fosse dos bons, ele se submeteria primeiro a exame e julgainento em humil-
dade, como o faz o Espírito de Cristoz7.
Isso seria um maravilhoso fnito do Espírito pelo qual se poderia exami-
ná-lo, se ele não se escondesse em e s c o n d e r i j ~ se ~temesse
~ a luz, mas viesse
1 encarar publicamente inimigos e opositores, ideniiíicando-se e respondendo
21 seu questionamento. Mas o espírito de Allstedt foge disso como o diabo
da cruz, e, mesmo assim, lá em seu ninho, usa da linguagem mais destemida,
como se estivesse possuído de três Espíritos Saritos, de modo que até essa
clescabida gabação revela de que espírito ele é. Pois em seu livro29ele se
oferece a enfrentar uma assembléia imparcial, mas não duas ou três pessoas
crn reservado para dar satisfa~ão,arriscando, assim, corpo e alma destemidamente.
Meu caro, quem é este corajoso e altivo Santo Espírito, que se limita a
si mesmo a ponto de não aceitar outro grêmio senZo uma assembléia impar-
cial? Ou seja, que não quer dar satisfa;áo a dois ou três em ambiente
reservado? Que espírito é este que tem inedo de dois ou três e não suporta
iiina assembl~éiaparcial? Pois eu lhe digo: ele está cheirando o assado! Em
Witlenberg, em meu convento, ele quebrou a cara urna ou duas vezes3"; por
isso tem horror dessa sopa e não quer comparecer, a não ser diante de seus
si:guidores, que dizem "amém" a suas palavras maraviihosas. Se eu (que
<.stoiit2o desamparado e não ouço vozes celestes) tivesse usado esse tipo de
'iMcciç%, a três ceulros hostis à Kzfoma: Dresdcn, residência do duquc Jorge, o Barbud<>
(cl: :iciina a introdução ao prcscnte escrito, p. 284-285 e p. 288, n. 12); Berlim, residênci:,
<li> príricipe-eleitor Joaquim 1 (1484, 1499-1535) dc Brandeinburgo; e a cidade universitári:~
I~igi>lstadt, onde atuava João Eck (1477-1532, cf. abaixo p. 292, n. 31)
,v3 1 'i'. I I , , 4. I.
' I I .iiicrc, linha desafiado Müntrer para um debate em Wittenberg sobre sua doutina em
ciii.:iil<,r<Ic 1521. Este declaroii-sc dispoto a isso somente depois de meio ano, na pane i i a l
< l i . \roi csçrilo P~ntesl;rtion oderErbictung (Protestação ou Oferzciinento, cf. T. M O N T E R ,
<ir.. [i.240, lu), após conversas que manteve com amigos de Lutero.
'li Ailtti I .iilcri) (listorce as exigência dc Müntzer, que se dispas a debater com clc (veja ;i
iiiii:i :xiiii;i), sol>a ç<indiçãode eles não se encoiilrarem num "çarito" (Winkci),ou sii;i.
i i i i Wiiii~iiliccgc iipçnas diante de uma assistência restitl.
" 1 V i . 1 ~:iiiiii:i ( i . 27 c 28.
111 I h i i Irii.ir;,<li~sirii;i Ar><k>giac Rc.sp,st~icontra a Canie I~isipida e dc Vida Mmci <li.
Il'irii.rilx.,:~: .... sii;i iEl>lic;i;to ~ii-csciilccsçrilo, Muntzer negoii veementemente cssa inli>irii;i~
i : t i ~ . :ili.1:mcli> C I U C iikmt~aisii.ii;i sc ciic:>iiir;ido com I.ulcro h i h ou 7 anos. Esic, por rii;i
vi.,, ii<>v:iiiii.~iii.~ i : i < rsi. ii.ll.ii.;i Miiiiixcr. ~m;is;i<is"pn>lbt;is i I i %wickuu"; cl: :ici~ii:i11. ?O.
Guerra dos Camooneses
argumento contra os papistas, como eles estariam festejando vitória e me
teriam tapado a boca!
Não posso me vangloriar nem desafiar com palavras tão elevadas; sou
um pobre e miserável homem e não úiiciei minba causa de maneira 6 0
Iormidável, antes o fiz com grande tremor e temor (como, aliás, Paulo 5
obras de Deus, nem do espírito de Allstedt. Além disso, tive que enfrentar
cm scparado um, dois, até três, c a qticm, onde c como clcs cntendiam. Meu
ticanbado e pobre espírito teve que ficar desprotegido como uma flor no
campo c não pôde determinar hora, pessoas, lugar c duração; tive que estar
pronto e à disposição de qualquer um para responder, como Pedro ensina32. 2-
31 I .utcro debateu com Eck em Lcipzig, no ano de 1519 (cf. Obras Selecionadas v. 1, p. 257ss.
"Debate e Deiesa do R. Marlinho Lutero Contra as Acusaçóes do R. E&", e p. 333ss.,
os "Comentários de Lutero sobre slias Teses Debatidas em Leipzig". Esse debale, promo-
viilu pzlo duquç Jorge, o Barbu<to (cl. iiçiina n. 12 ç 25) pemiiliu a Lulero deixar mais
rkiriis suas posiqões, pruiciph~~cntz qiianto ao pudcr do papa c dos cunçilios, havcndo cni
iIicc~rrEnciaum açirramcnto das cliíeren~asc n ~ cpaiíiddrius c inimigos da Reiorna. Em
Aiigsliiirgo, no ano dz 1518, Lutero apresentou-si perante u Icgado papal, çded Cajctano
( I,lhX, 1517-1534), lia época o mais rcnomadu tcólogo da Cúria. Eni Worms, no ano dc
1521. dcu-sc uma situa~ãosingular. Lutcro, quc j:i csrava su,jcito 2 cxcomunhZo cclcsijstica,
I<ii convocado a aprcsciitar-sc diantc do impci-ddor c cscuncntos iinpcrkais, rcunidos em
:issciiiblCia. Muita gcnte dcsaconsclliou o içfoimadoi- a ir a Woms, pois a nicsrno maidado
~ L I Ilic
C concedia salvo-conduto para a viagcni dc ida c volta siinultmcamcntc proibia seus
liviix c impunha a retratação como condição. IJma situapTo, de resto, muito semelhante i
<I<> pregador checo Joáo Hus, condenado e queimado durante o concílio de Constmça em
1415, apesar do salvo-conduto que possuía. Cf. neste volume "O Discurso de Lutero e111
W<rrnis", p. (121j123-126. O dito acerca de diabos e telhas de Wonns, um dos iriois
ci>iiliccidosde Lutero, já está plescntc iiuina carta sua a F~cdcrico,o S:ihi<i, dc 5/1/1522.
cl: WA Rr 2,455.51-55.
12, ('I'. I l'ç 3.15.
Cala itos Phciws da Saxônia sobre o Esoírito Revoliosii
E esse espírito, que se acha acima de nós como o sol está acima da terra,
que mal nos tem por vermes, exige para si somente juízes e examinadores
imparciais, amigáveis e confiáveis, c não quer enfrentar dois ou três ein
reservado, a fim de dar satisfação. Ele sentc algo que não gosta de sentir, c
acha que pode assustar-nos com sua grandiloquência. Pois entiio nós s6
podemos fazer o que Cristo nos concede. Se ele nos abandona, até o Farfalhar
de uina folha 110s assustai'. Se ele, porém, nos sustenta, esse espírito ainda
vai ver o que é falar grosso. Ofereço-me aqui a V. A. P. para, se preciso,
revelar o que aconteceu entre mim e esse espírito em meu e ~ c r i t ó r i oDisso
~~.
1 ' V. A. P. e o mundo todo poderá deduzir e compreender que esse espírito
certamente é um diabo mentiroso, e assim mesmo, um diabo incompetente.
. l i enfrentei diabo pior, e ainda os enfrento diariameiite. Perigosos não são
os espíritos que se ufanam e fizem grande alarde com palavras arrogantes,
c, sim, aqueles que futtivamentc se insinuam e provocam o estrago antes
iiiesmo de serem percebidos.
Tive que dizer essas coisas para que V. A.. ' i não tenha medo nem hesite
~li;irilcdesse espírito, c, com ordem severa, consiga que eles se abstenham
11:i violência e suspendam a dcstruição de conventos e igrejas e a queima de
s;iiit«s. Mas, se quiserem p6r à prova seu espírito, que o façam como convém
I':iLcr cssas coisas, que se submetam primeiro ao exame, seja perante nós ou
pcriiiite os papistas. Pois, graças a Deus, eles nos têm por inimigos piores do
11iicos papistas, embora se valham e gozem de nossas conquistas, casam" c
ilvscoiisidcram leis papais, coisas que eles não conquistaram e pelo que não
:i1 i-iscnratn seu próprio sangue. Pelo contrário, fui eu que tive que consegui-
l i ) coin riicu corpo e minha vida, colocados em risco até aqui. Eu é quc
~~oclcria iiie gabar, assim como Paulo teve que fzê-lo", se bem que isso sela
I I I I I ~ Ilhcsteira, e melhor seria que eu não o fizesse, se fosse possível em vi si;^
iIi,sscs cspíritos da mentira.
Sc alegarem de novo, como de costume, que seu espírito seria muito
,, ~iil~~i-ior, e nosso, modesto demais, de maneira que sua causa não pode sei-
<.iiiviiilidapor nós, eu respondo: São Pedro também sabia perfeitamente que
:.(.ti rspírito e o de todos os cristiios era superior ao dos gentios e judeus;
:IIIL.S;II disso determina que se esteja disponível e disposto a responder coiii
.il:iliiliil:i~lca qualquer um37.Cristo tarnbém sabia que seu espírito era supe-
i i I ' I . I v ?,(,.?O.
i I i itic.i<~ :,li: cciiáii si> iiriliu feito rcfçrêiicia ao enconlro çoin os "piofeias de Zwickziii" c i i i
i .iii.i\. Vi:i:i :icicii;i. 1'. 2x0, ii. 20.
I ' , :\ ii.Ii.ii,iii.i:i6 :ii>s s;içcnloiis <]UC GLSIITI,igriortuldu i,C X ~ ~ E I I Cdo ~ Bcelihaln. Münizii r;is;ilii
c i i r i i : i i . n ~ t l t > l t j clliimi~lit
i~ quem CVCuin lillio, iliii-;iiilc i>;iiii,
0líli:i von (;ÇCSIII,~<>111
ili. l i >i riii Allstcili.
i r , 1 'I ., i 'c, ll.IOh,.
i1 ('1 I I',, i.l'>b.
rior ao dos judeus; apesar disso foi condescendente, colocando-se a disposi-
qão, dizendo: "Quem dentre vós me convence de pcciido?" [Jo 8.461. E
diante de Aiiás: "Se falei mal. prova-o", etc [Jo 18.231. Eu também sei e
estou convencido, pela graça de Deus, que em nxitéria de Sagrada Escritura
sou inais douio do que os sofistas'" os papistas. Até aqui, porém, Deus, por 5
sua graça, rne preseivou dessa arrogância, e há de preservar-nle também no
futuro de me negar a dar satisfiição e deixar interpelar-mc pelo mais simples
jiideu. gentio ou quem quer que seja.
Por que. afinal, divulgaiii suas idéias por escrito3', uriia vez que uáo
qiierrni eiifrentar dois ou três, iiciii uma assenihléia parcial? Ou será que 111
acham que scus escritos só chcgain 'ai iiiãos de nssembléias imparciais e nZo
larnbém a dois ou très individualmente? Estou até suipi~soque se csquecem
tanto de seus princípios e querem agora crisinar o povo, tanto oralmente
como por escrito, uma vez quc alardeiam que cada qual deve ouvir a voz de
Deus pessoalmente; enquanto isso, zombam de nós por divulgamos a pala- 17
vrd de Deus de forma oral e escrita, que, conforme eles, é sem valor e
proveito. Eles julgam ter um ministério superior e mais precioso do que os
apóstolos, profetas e o próprio Cristo, que todos eiisinaram a palavra de Deus
de fotiiia oral e escrita, e nunca disseram algo da divina voz celeste que
deveríamos ouvir. Esse espúito faiitzsioso fica delirando de tal iiiodo que ele as
próprio 1120 percebe o que está dizendo.
Eu sei, no eiitruito. quc nós, os que temos e conheccmos o Evangelho.
cmbora sejamos pobres pecadores, temos o espírito ceno, ou, como diz
Paulo, "as priniícias do Espírito" [Rm 8.231, os prinieiros frutos do Espírito,
;linda que não tenhamos a plenitude do Espírito. Pois náo há outro senão esse 2s
mesmo Espúito que distribui seus dons niaravilhosamente. Afiuial. nós sabe-
mos o que sigmtica fé, amor e cruz. E não há coisa maior a conhecer nesse
iiiundo do que fé e amor. E por aí que podemos saber e avaliar que doutrina
C correta ou falsa, se está em concordância com a fé ou nio está. Portanto,
ii<isconheceiiios esse espírito da mentira e suas intenções: ele qum invalidar ~~~
:is l?scrituras e a palavra oral de Deus, extinguir os sacramentos do Batismo
<.(LI S'irita Ceia. Quer levar-nos a urn espírito no qual deveinos tentar a Deus
<.oiiinbras própria5 e livre vontade, e assumir suas obras, estabelecendo-lhe
i~l)~~riiiiiidade.
lugar e medida para agir conosco". Pois revelam tamanho
;iIrc:vimento em seus escritos a ponto de escreverem coin palavras impressas 15
i-oiitrn o Evangelho segundo Marcos, isso é, contra o último capítulo de
iiios (e não é prcciso saber isso por voz celeste ou espírito superior) que,
iiili:lizmente, nio fazemos tudo que deveríamos. De fato, S. Paulo é da
iil>iiiiiio,conforme G1 5.17, que jamais se fará tudo, porque aqui na terra
i.sl~iriioe carne vivem juntos e são opostos entre si. De modo que não
<.oiisl;itonenhum frcito especial do cspírito de Allstedt, a não ser aquele que
<liici-iisi~ra violêiicki e derrubar madeira e pedra; at6 aqui deixwaiii de
i~iostr;ir;imor, paz. paciência, bondade e benigiud;ide, para não vulgarizar
iIi~iii;iis11s frutos do Espírito. Mas, pela graça de Deus. posso mostrar muitos
I ~ i i i t > silo Espírito enne os nossos. Se fosse o caso de vangloiiar-se. eu até
pxteu. A iiiini náo incomoda também quc « espuito de Allsiedt seja tão
estéril, riicis o qiie incomoda é o Fato que mente e quer iiitroduzir uma nova
doutrina. Eu taiiibém teria pouco trabalho com os pitpistas, se ensinassem
correlameiite; sua vida desregrada não causaria muito prejuízo. Uma vez que
esse chega a escandalizar-se com nossa vida enferma, e julga tão insolente- 10
mente a doutri~ilipor causa da vida, ele já provou com suiiciCricia quem ele
é. Pois o Espírito dc Cristo não julga ninguém que ensina corretamente e
tolera, cairega e auxilia aqueles que ainda náo vivem corretamente, e náo
despreza o pobre pecador, como o faz esse espírito farisaico.
No que diz respeito 3. doutriiia deles, o tempo certamente o há de 15
68.12, e Cristo, uni piuicipe dos exércitos nos profetas4? Se o espíiilo dclc
lhi. genuíno, ent5o niío vai se ainedruiitar conosco e permanecerá. Sc, poréiii,
liir griiuíiio o nosso espírito, ele também 1130 terá iiiedo deles nem de
niiigiiérii. Deixeinos que os espíritos se eníirenterii e luteni. Se em tudo isso
;ilguns foreiii seduzidos. paciência; é o preço da giierrci. Ondc há luta e
batalha, alguns têm que tombar e cair feridos. Queiii. iio entanto, lutar
Iioncstameritr, será coroado.47
Entretanto, se quiserem fazer algo mais que esgrimar com a palavra, se
i~uiscrcmusar a violência, bater c quebrar, aí V. A. P. deve intervir, sejam
clcs ou nós, expulsá-los do temtório e dizer: "Estamos dispostos a tolerar e ~ ( 1
ol)scrvar quando vocês lutam com a palavra, a fim de que a doutrina correta
st:i:i presewada. Mas, nada de usar violêiicia; isso é nosso ofício; ou então,
s:ii:iiii de nosso temtório". Pois n$s, que lidamos com a palavra de Deus,
ti:!<)(Icvcmos usar violência física. E a luta espiritual que arranca os corações
c :is alinas do p0de.r do diabo. E já foi escrito por Daniel que o aiiticristo
4X <'f Dn 8.25. Lutcro j6 aiinnara anterio~meiilequc r i aiiticristo dewria scr destruído seiii
inlcwcn$50de má" humana. Vzja acima, p. ex.,seu csçrilo Uma Sincera Exortacão a Trilo\
r ~ rCTICIL~IUS ..., p. 474,l-11 e 478.36-479.19.
1') Vc,ia tail,Mn~acima p. 478,3h-479,19.
50 ( ~ i , i nI~iiseiiesss passagem, Münlier acusou Lutero de iazer hargdilia coin os bens c c l c ~
si:iriicos a sernii scciilanzados, cuja possc esvaia promeiendo aos senhorcs em troca LI?
:il>oii,;i sua causa. Ccrio é quc houve reprcsenlantes da nobreza favoriveis ao ;ivanç<i<I:i
Ili.li>nii~ cni seus tcn-iihios e movidos por cssz interesse, srn~lo,incliisive. dniiiiiciailni I X ~
irsi, ~>cli>pinprin Liiirro. Uni;%proposta su;i para :i sçculariza$áo ile k i i s eclesiúsiii.iis
i,iici>riil-:i+sc ciii E.vt:rruiu p;ir;i iiiiin Caixa Comunirána. In: Obrx Sclecion;iJa, \,,>I. 7.
' > I l ? ! ~U O M : ~ ~ g ~ ~ ~ ~~iccr r~~~ icql liveja~i ~ ~
~acinxt
n l c CJrii:~Sit~cersExortqLio <i XKIOS c,., ('r!,
I;,,Iv...~ 1,. 470,IOh>.
I . I(x'?l.24:34.14: 111. 7.5.
' > I1'1. 111i 11.7,
podemos imitar as obras de todos os santos. O fato de os judeus terem
destruído altares e ídolos se deve ao fato de, naqucle tempo, terem tido uma
ordem específica de Dcus, que em nosso tempo não temos. Quando Abraão
se dispôs a imolar seu filhos4, ele tinha ordem específica de Deus para isso,
iras cometeriam injustiça todos aqueles que, em analogia, hoje fossem imo- i
Iir seus filhos. A quesião não é imitar os feitos; do contrário, deveríamos
submeter-nos à circuncisão e cumprir todo o ritual dos judeus.
De fato, se fosse justilicado que nós cristão devêssemos invadir e des-
ti-uir igrejas como os judeus, a conseqüência seria que deveríamos matar
fisicamente todos os não-cristaos, tal como fora ordenado aos judeus matar io
OS cananeus e os amorreus, e isso com a mesma determinação com que
dcstruúam os ídolos". Desse jeito, o espírito de Mstedt nada mais teria a
fazer do que deiramar sangue e os que não ouvissem a voz celeste teriam
que ser todos aniquilados por ele, a fun de que n2o subsistissem escândalos
tio povo de Deus que, aliás, são maiores nos não-cristãos vivos do que nas 15
imagens de madeira e pedra. Ademais, essa foi ordem dada aos judeus em
siia qualidade de povo protegido pelos milagres de Deus e que sabidamente
crn o povo de Deus; mesmo assim, tudo isso foi executado pela autoridade
coiistituída e pelo poder legal, e n2o por uma horda separatista. Mas esse
cspírito ainda não provou por meio de algum milagre que ali há povo de 211
1 ) ~ ~Pors isso
. ~ se
~ constitui em gmpo amotúiadoS7,como se apenas ele fosse
11i)vode Deus, e age sem poder legal constituído por Deus, e sem apoio em
ordem divina, e ainda exige que se dê fé a seu espírito.
A elimùiação do escândalo há que acontecer pela prilavra de Deus, pois,
ainda que todos os sinais externos do escândalo fossem quebrados e afasta- zi
dos, isso de nada adiantaria se os corações não tiverem sido levados da
iti<xlc, agiu ao se dirigir aos camponeses, cf. abaixo p. 314.27-31. Mesmo reconhecendo as
i.sliiilnras e a ordem preestabçlecida, Lutero afimava a possibilidade de alternativas ex-
ii;a,irliniÚias a elas. Em sua leitura da Bíblin e da História identificou volta e meia a
Ilic.xnça de personagens prodigiosas, especialmente chamadas por Deus para a realização
<li.tarifas especificas: A pdair daí comprecnde sua exigência por sinais da partc daqueles
qiic comungavam do "espírito revoltoso". Em Incj@díssimaApologia e Resp.stl conira a
(:irni Inspnla e de Vida Mzwsa de Wiffenberg..., sua resposta ao presente escrito, Mihlzçr
'.i~iiicstouo desafio de Lutero citando Mt 12.38, cf. T, MLTNTZER, op. cit., p. 179, 8-12.
5.1 I'ii,~ívivilrercrência 2s tentativas de Miintzer de criar ligas de defesa em Allstcdt e outros
111ii:ircs.CI'. a introdu$Zo ao bloco Guem dos Camponeses, bçm comi>;is i~iir<xlu~ixs ;ti>
~>KWIIIC ç ç;io prhximci cscritci.
Caos aos Principçs da Swúni3 sobre o Es~iritoRevoli<hi>
submisso
Martinho Lutero.
liga formada pelos sinceros seguidores de Deus e que deveria toniai parte na
cxçcuçâo do jiiízo apocalíptici~vindouri). A 31 de julhi~alg~iiisde seus adcpii~smais 212
iiillucntes na cidadc foniin interroga<l»s c no dia scgiiinte elc pi6prio tcve que
i.i)inparci.erdiaiiilc da coite ein Weimar. Munizer nâo coiistguiu livrar-si: d;i acusaçâo
iIc agitador. Foram impostas mcdidiis no sentido de fechx a gr;ifica de Allstedl, que
iiiiprunia seus escritos, de proibir a prcgaç.ão subversiva ria cidade e de ilissolver a
lig;i. Ele reagiu escrevendo :io pnncipc-eleitor Frededcsico, o SAbio (1463, 1486-1525), 25
cçiisurando ns ~>;ilavras<Ic Liilrro ern C X IAberta ~ ao,<Priliciprs da Soxôrii:~.sohr-e o
Ii.,píriri~Revolloso' e rei\'ùidicando sei1 direito de pxgtir e publica. Do coiitrjrio, o
co~ifliioriti cristandade atingiria uma escda(.So tremeiidaincnte danosa. Além dissi),
cxigiu um colóquio público com Lutiro, rio qual seria deriionstrado que entre ambos
ii;ir> havia mais nenhuma a,ncordância qu.uito à i6 cristu." O tom de ameaça com o lu
1[1121 se dirigiu ao goveniiiiite, porém, snniente agravou mais ainda a condiçXo de
Miiiit7~r.NU inoite entre 7 e X dc iigosto ele ahuidonou Allsredt a i i dircc;Zo :I Müiilliaiisen.
A cidade de Mulilhausen tinha ria Ppoczi cerca de 7.501) habitaiiics. sendo coni
i\\,, iiiiui das maiores da regiáo central do império. Desdc i ) começo de 1.523 dois
<.x iii<i~igcs, Mateus Hisólido e Hcnrique Pfeiffer (m. 1525), tinham ali di\.ulgado as 3s
i<li:i:i\ dn Refonna c promovido uma forte crítica às instihiiçóes eclesiásticas fiéis a
I:oiii:i. í.)uaiido o conselho da cidade, integr:ido pela oligxqiiia local, quis reprimir
I I%, Scndb~icfan Bürgmcisrer, Raf uiid dic gnnze Geincinde <h Stadt Mühihausen - WA
15.218-240.Tradução: Walter 0. Schlupp.
I I';ir;i mais iiifomaçks sobre Münizer vcja aciirin a Intrridução iiu prescnte bloco. p. 278,l-30
c ;i Iiiir<dii@on Ca>t;~ ;lar Prúl':lpe.3 da SnxÔriia .<hrc o Espinio I<ci~olro,so. p. 28-1~285.
i Vci;i .!<iiii.i p. (.2XJ)286-?9q.
I I ' . MIINT/.EI<, Schrittc~~ Ciiiiitliçr Fr'r;iii,. li.il.), 0iiiçi\-
und Brick: k,iliri.Ii~.í~~iirnl:iu,sg;ihr
I o l i , I')hX. p. 430-412.
Carta Abcira a Miihlhaitscii
as atividades de Heiver. grupos de artes5os e coinerciantes da pequena e médiii
burgmsia colocaratii-se a seu hdo, tcncioriando, assim, assumir uma parcela dc
poder no coiiselho. Em conseclu2.ncia da i~bcliZoque se sucedeu, acaboti-se nego-
ciando o chamado "ieCesso", c u i ~ sprincipais deteminações erain: de qiie I~urgo-
incstres e conselho a i o poderiam iiifririgir a 1egisl;iqão rnunicil>:il; de que a c~posição
ohtcna o direito de est;ihclecer urii colegiado foimado por oito pessoas e que
paiíiciparia das drcisfies ao lado do conselho; dc que fixdr-se-ia um periodo, durante
o qud ;I iiiiiguém, imi ciilade, scria negtido o direito dc pregar 0 Evaiigelho na
perspectiva da Refi>riiia. Miiiitzcr fez LISO lia última prci~ogativacni iiiendos dc
I agosto de 1524, qumclo cheguu a Ir~lulillinusen.
Lutero logo foi uifiiiinado acerc:i do destiiio cIc Muritrer e, diirai~rruma viagem
pela regi%) da Tunngia. Ii-atou de escrcver C:iit:i Abem iros Burgomear~.~. Conselho
c toda a C'o~~iuiudiideda Cidade d ~ Mühlhau.scn
. a 21 de agosto, quando estava na
cidade de Weimar. Scu objetivo era o de ;ilçrlar a gente de Muhlhauseii acerca do
8 , perigo de acollier a Muirtrer. a qurin deicrcrçii coriio Iàlso profeta, que ;iiiseia por
derr;iiiimiento dc sangiie e icbclián. O f:ilo de ele c;iiididatar-sc ?i lutic;.lo de prcgador
seiii ter sidu propiiarncriic cha~ii;id<ia ocupii-Ia, scria pura Lutero motivo suficiente
que se suspeitasse de sua> intençfies. A pruiieiia edição de C a t a A k i t a 20.7 Burgo-
i~iestres... não indica local, nem rcsponsávcl pela iinpressão, sendo certo que não
Lenha sido feita em Witteiihçrg. Ainda cm 1.174 sucederaiii-se diversas edições,
drnire elas a dc João Liifl'l, cni Witicnberg. e ;i de Fredenr:) Peypus, eni Nümberg.
A ;idveriCncia de Liitero teve pouquíssiriia rc.isorijncia. O coriselho da cidade
limitoii->c a pedir irif<irnilicõessobre Miiiitzer jiinto à ci)rtç cin Weimai. Este, por sua
vez, dedicou-se intciisivamente a seu ministério desde a cliegada. Pediu ern c a t a de
,. 15 de agosto de 1524 aos amigos de Allstedt quç enviasseni os livros com sua
proposta de reforma Ijtúrgico, pois ;i gcnte de Miililhauseii. eiiibora considerada por
c k vagnrosii lia assimiliiyiío de siia prcgaçZ«. estaria ansios:i por recebe-la.' Muntzei-.
:;eguiid<iintegrantes do conselh~i,cr;i ohieto <Ic graride simp:itia pop~iku..Seus oposi-
roces roiiianistas resumisim 0 conteúdo dc sua p r e g a ~ i oe111 três idiias básicas: o
povo náo deveria obedecer a autoridade alguma, 11% precisarka pagar nenhum tipo
<Ictrihutoi e rendas, e deveria per.irgiiir e expu1s;ir iodos os clCrigos. Posterioimentc.
iio riiês de hctemhro, dcri-se uma nova crise politicn eiii Muhlhuusen. Depois dc
icrc~iitninsgredido detcnniiia~iiesdo "recessc)", ambos os burgomestrcs atiandon:i-
fiiiii a ciclade. ternciido o castiro <Ia oor)ulacão.
A . , Colii cerca de duzeiitos ~lirtidários.
Miiiit~cre Pfeiffer inarcbiram para fora da cidade, conduzindo a sua frcnte uinii
~.sli;icludesembainhada. shnholo do juízo, e uinn cmz ver mel li:^. símbolo das cruza-
<I:I,\. .4o voltarem. é prov;ivel que teiiliuni fundado a "liga eteiiia de Deiis". Qua~iti>
ii ~fiim\~at:i dc protesto, é ]~ossívelquc esta se tenha dado por causa da ilrcisão do
u<iiisclli~~ dc promover n ex[~uls.ocIc Muntzer e Pfeiffer. Esta concreti~ou-seiio di;i
L7 iIc scicinbro de 1574, quando anibos deixaram hluhlhausen, p;ir;i onde retorii;i-
ri:iiii .;oiiicnte no lüid ile fevereiro do m o seguinte, dcsta vez para viveiiciar os
<.l~i\iiilii)sdriun5ticos d;i Giierra dos C,iinponeses ii;i Turíngia.
Aos Iionoráveis e sábios senhores burgoniestres,
conselho e toda a comunidade da cidade de MuhlhausenL,
meus prezados senhores e bons amigos!
Graça e paz erii Cristo Jesus nosso Salvador. H«nc)ráveis, sábios e r
~~rez:id«ssenhorcb! Depois que se teve notícia de que alguCtn de nome
Mestre Tomás Muntzer7 prcteridc ir ler coiivosco eni vossa cidade. bons
tunigos mc pedii-aili que advertisse enrarecidamente no sr.niitlo de que evi-
I.',i ,<i\ eis
. os seus eiisiiiamentos (que ele inuito gaba como sendo oriundos do
i~iividose. vai atrús deles, é considerado filho eleito de Deus, e quem não lhes
cl;i oiividos, só pode ser ímpio, e quei-eiii matá-lo. Sobre o despaulério de sua
Martinho Lutero.
do Campesinato da Suábia'
1525
I 1~irri:iliniin:. z~iniFricdcri atd <Iic 7~611' Artiki~ldcr Baueni.schafi i11 Scliiriiben. - W:\
ISZVI-334. Tiadiiçõi>:fldkrro Micliel.
.' ()il;iiilu aos Doze Arligoos e ao liigar de Erort.ig.iu 2 P'v ... iii>conjunto dr escrilus de Lutero
ii,krcniçs 2 (,em 110s C:impoiicses, cl. :(cima a intrndus3o ai> bloco, p. 271-281.
i 1,1i1*. ~i4-l:u>cIiifio,i(1407-15í>0),hernmiscii c co-rcfomiadur cm Wittciilxrg, rscrcveu ila
iriirir;i c~iiinrenade jorho dc 1525 Eyi vchnlli Pl~ilippiiLI~~!:irichihonwidner <li" :irci<(rcl
(!i., Ir:i~a.i\cliafti (Escriici dc F. Mel~iichtlionccoiitra <is Anigos du Campesinato. In: R.
Siiil~l>crii-li, Mela~icl~lhoiis Wcrkr jn Au.vwahl Bd. 1, 1951. p. 190-214). originalmeiiie u m
~ > : i i i . n ,x,liictado
~ por I.uii V (1478, 1508- 1544). príncipe-rlcitor do Falatinado. Meianchihon,
8 1 i c r . ia ccn1lirçi;i Ex<iri3gCc.o-r> 3 P'u .., colocoii iiccnto5 dirricntes em sua rea~âoaos Lhize
\ili@c*rI<lciitiliç<iu o < 3 ~ l \ i de
! IJeiis c<ima dd .iuroridadç, rcsrdluo 130-\onicnrc os <Icvcrs<
< .i i>lii,cli<:riciados súdiios frriile à aiiionil~dc,e esUin<iiisohrcmariein o ilircitu ruinano,
i ~ ~ ~ ~quasç ~ t : scm
~ i içxccção
~ l ~ ~as çxig?nciris dos caniponcses a partir do diieito vigçiire. O
~ I I I V , ~ ~~fllvierizddo
. pçla IiarbUne, dcveri;i scr eclucad,~inediaitc riporusa pedagogia. A
. . i r v i i l ; i < ~iI;i ~lçha,çonsidcrada pur clc rni uiitri oca?iSi>roino inconcili3vel com o d ~ i ~ i l o
ii.iiiii:ii. ii;ii> seri;! r~jciiivcltio rasa iliis alt'iiiiics. que irriai~ilihrrdadcs exccssiviis c poiico*
< .i\iii:c~s. !\os pi-irici~iMclsiiclilho,i concluiiou a walir.ircm dercni,iiia<las rclurniab c a
\i.i<.iii ~.i>iiiedid<is. Esculiis deveriam scr criadas a hii de cvilar iclizliórs futur~s.oois ;i
~~ ~~ ~~ ~~
r~ ~~~~~~
,
I i 'i. :iciiiis I>. 270, ri. 30 c ehaixo p. 326, r i . 73.
.I<ri<i I,,,
11irii, (149~JL170).i~.l;>iiii;alor riil iI:i i\lciii:iiiIi;i. i ; i i i i l ~ 5 i i :i lx.<liil<i<li. I i l í ~V.
Exortaçâ<ià P ~ L
--
de autnrid;rdcs. Ele compreendeu a rebeliáo e os DOZPArtj~o.s - coiiio unia iiitrq>ela-
@c :I Rcíoma e reagiu guiado por 1x1periepçiío. D c ~ fomiii. a 4 possível cornlireen-
. aue Ex«rtal,ão :iPaz ... <imais detiilhado escrito de Lutcro referente I: Guerra
der Dor A
1 Introduçno - p. 306,iS-308,lI
1.1 Doze Artigo.$ e Escrituia Sagrada - p. 306,35-.307,h
1.2 Jiistiticativa do escrito - p. 307,7-22
1 .? Arneap~aos govern«s dc Deus e foineiilo ao diúlogo - p. 307.23-303.11
:iiii<iri<l.i<lc>,
.
. Ai111 Ii~vlin.1978.. n 132~1741.Blcriz aiiiimiu iiiii:i íiincào de i r h i i n , niue c:aniiiitirbrs e
Iiiiscaridi~o injximo de isciii;;io cin sua zuiiil~se,:,pesar do fonc elcmento patriaal
i~i~csi.111~ citi sria vis%>de sociedade. Dcpuis de &atardçtalhadamente da questáo da difei~iicia-
< . t i , ciiiii. i>s governos cspiriiual e secul& de Deus, clc crlnientou ponto por ponto e dc forira
l , . i I : i i i i ~ . i i l . i i>\Doic A n i ~ o r Procun
. dciia>iistrattanto ;! rrnhores conio a siidiloi auiiili>iiuç
, i>i,.:i,;A:.<iiii. 11. c,<, ' l i iiâo considcrii quc imáticns irnliarn provr>cailo ii Gucrr:i ilos
i ' , ~ L I I ~ X N I ~ . : . ~ \Sii;i
. ~ ~ . ~ c p ~ ~: ~% ~ o~~l~i Ii~s~ i SCL
r n i C<IIII
i i l ~ que
> s elc, dcpr~isdc sulir;id;i ;i
i < . I > i . I i : i ~ ~ ...i. i.i,Ii,i.:iwi. ;i,> I:iiI<i< l i > < iIcrii~t:idr>s. ;ir~iirniiiili> pi>\iciiiri:iineiitiiscor;ijoso\ i.i>~rit;i ;is
11i.i i . . i i . ~ u d i i i i . : i . $11 \i.ii i.i~vi,iii:iiili. i iii ii.l:i(.:ii>
;I clcr.
11I5
Guerra dos Cmoneses
2.1.1 Desmandos da nobrcza clerical e laica - p. 308,16-29
2.1.2 Rebelião como castigo divino - p. 308,30-309,21
2.1.3 Iscnção de culpa de parte da pregação evangélica - p. 309,22-310,25
2.2 Apelo à negociação - p. 310,26-311,4
2.3 Legitimidade dos Doze Artigos - p. 311,s-312,lO
5 Conçlusk~- p. 327,12-329,42
5.1 Deslegitirnação das rcivindicaç0cs - p. 327,15-328,lS
5.1.1 De senhores - p. 327,25-328,2
5.1.2 De camponeses - p. 328,3-15
5.2 Conseqüências da solução violenta ao conflito - p. 328,16-329,4
5.2.1 Perdição de corpo e alma - p. 328,16-29
5.2.2 Devastação da Alemanha - p. 328.10-329.4
5.3 Apelo à negociaçZo - p. 329,5-15
5.4 Postura pessoal do autor: desinçoml~atibilizs~e oraqão - p. 329,16-42
111
Riçardo W. Rieth
rr\, Pcl;is quais sc CrZcm S<ihre~.;irrcgadidr>s. In: LAUBE, A,; SEIFFEKT, H. W. [hrsg.l.
IJi,g~cl~"heridcr Baucmkn'cgszcit. 2. Aufl. Bcrlin, 1978, p. 26-34). Veja sobre essa org:i
iii/;iy;i~i e os Doze Artigos na introdução aos cscritos relativos à Guerra dos Cmponcscs.
1). 274.4-6 e p. 280,9-19.
i A iii:iipcin do texto dos Doze Artigos, seus autores fizeram referência a numerosas pass;i-
I:I'Y hihlicas.
! i ( 1 icoi ilisse ariigo é o seguinte: "12" E nossa decisão e opinião dctinitiva quc, se um i~ii
iii:iis :iriigr>s itqui çsiabelecidos náo estiverem de acordo com a palavra de Deus, conio
~ n . ~ ~ s , ~quç t ~ i isiiam,
)s os mesmos nos sejam denunciados como incovenientes me<liuntç;i
~ ) ; d ; i v i ; i <Ic Ilcus. Est;unos dispostos a desconsidzrá-10s se nos Cor demonslrado isso çoiii
.i~j:iiiiiciili>sdn Esçi-ihma", (Flu~shriften ..., p. 31, 2-6).
'1 I<~.li.rc sc :i<><Ii>curncnto Hxidlimg, OrdBiing imd ói.stroktion, so Iiirgenommen wordcn scNi
i,,,, ;i11~,,1Kollcri ~iridIfatifni dci Bauein, so .skh rusamrnen vepflichf h a k n - 1527
iA<;io. oirlcni c iiist~itçãocstabclccidas por todas as hardas c giupanientos de c;unp>nisrx
~ I I ~ L\I.. ~ o ~ n l > n > n ~rd~~ ~ l~arnt ~~~ i u n111:c nFI~fis~hriftc~~
t~). .., p. 12-34, o çstill~ioda uniXo <Ir
Mi.iiiiiiiii~!,<.~~. <,\i Allgiiii, ;issinaili>l x l i i s lídcics dos IrZs giupiuncntos de çainpooçscs il;i ;$ll:i
Sii:ilii:i ;i '//i11525 c ~pi>sici-ii,iiiic~iic piil>lic:iilr>cin divirsiis vcrsixs.
111 Nii i i i i j : i t i ; i l i;<HIi.: ii'icli i. iv<~lll dc l.iiicr<i ;iccrc;i iiisso. vri;i
ii.ic.11. 1':ir:i :i c<iiiil>~cciisãr>
.L< 9 1 t w 1 11. X 4 , i l 8'1. { I ; 1,. c l ' / , l l l '? c.I :~I>:tixu1,. 30'1.7-20.
dorninar, ambos os reinos seriam destruídos, de modo que náo prevaleceria
nem o regime secular, nem a palavra divina." Ocorreria uma destruição sem
lim em todo o território alemão. Por isso é necessário que se fale e discuta
abertamente o assunto, scm accpção dc pessoas. Por outro lado, é preciso
disposição para ouvir e permitir que as coisas nos sejarn ditas, para que 5
obstante, Deus vai continuar agindo e um dia vai convencer nossas cabeças duras.
Em primciro lugar, cabe dizer que devemos agradecer por essa traiçáo e
rebelião sobretudo a vocês, príncipes e scnhorcs, cin especial a vocês, bispos
cegos e clérigos e monges loucos, que continuam teimosos até hojc c não
param de csbravcjar c vociferar conira o santo Evangelho, ainda que saibam
que ele tem razão e náo pode ser contestado. Na administração pública vocês a'
outra coisa iião Pazem do que maliratar e explorar, para alimentar seu luxo c
sua arrogância, até que o pobre homcm do povo não queira nem possa mais
aguentar. Vocês estão com a espada no pescoço, apesar de acharem que cstão
firmes na sela c que conseguirá0 derrubá-los. Ainda verão que esse senti-
mento de segurança e obstinado atrevimento vai Ihes quebrar o pescoço. Eu 2s
:ivisei anteriormente inúmeras vczcs" que sc precavessem das palavras do
S~ilino104 [sc. 107.401: ejfundit cont'mptum super principes - "Elc lança
o desprezo sobre os príncipes"14. Vocês csião pedindo isso e querem levar
iiina na cabeça. Aí todo aviso e admoestaçZo sáo inúteis.
Pois eiltáo, como vocês são a causa dessa ira de Deus, ela certamcntc ~~~
Ilics sr~hrevirá,a náo ser que se emcndem cm tempo. Os sinais no céu e os
iiiil;igrcs na tcma" visam a vocês, senhores, e não h e s anunciam nada de
I I Nit icnio original wellrtich regimenl e Go(e)ltich wori, q u ç são usados como sinoninios,
i?slxdiv'mente, de "reino do mundu" ç ''reino dc Dcus".
I.> A Cpi~cada redação do presente escrito, Lutcro intcrprctou em diversas ocasióes Saiin
iiicomuns como simais dos tcmpos. Incluíam-sc aí notícias acerca de natimortos act'fiili~s
IxMs defomddus, relatos dc apariçács, no céu, do arco-íris 2 noite ou do sol 1ade;icio por
oiliro\ dois s6is. e pmfccias sohrc cnchentcs no rio Elha, que bnnlia a cidade de Wiliciilxrg.
C'S. WA Br 3,4262-23: 464,4 c n. 1; 508,28-31 e 509, 11. 8, krii como WA 'I'R 120,hs.
I 3 l i i i i »:i A~itoridadcScculnr; ate quc Ponto sc //ir Deve Ok<lic?n~.i;i.
V+ ;içilii;i 11. 105.4-27.
1'1 ('I'. 11,. li> 12.21.
15 ('I'. :ici~ii:i 11. 12.
bom. Nada de bom Ihes deverá acontccer. Boa parte da ira já se desencadeo~i
pelo fato de Deus ter enviado tantos falsos pregadores e profetaslb,para quc
primeiro, com heresias e blasfêinias, mereçamos plenamente o inferno e a
perdição eterna. Existe tambéni o outro lado: os camponeses estão formando
quadrilhas. Se Deus não interlèrir, movido por nossa penitência, isso só pode
levar ao desastrc, a ruína e devastação do territdrio alemão através de
tem'veis assassinatos e derramamento de sangue.
Convém que saibam, caros senhores, que Deus providencia as coisas dc
tal Soma que náo se pode, não se qucr, nem se deve tolerar indefídamente
1 sua prcpottncia. Vocês têm que mudar de mentalidade e dar espaço à palavra
de Deus. Se náo o fizereni de modo amigável e voluntário, terão que fazê-
10 sob a aqZo da violência e da destruiçáo. Se não o fizercin esses camponc-
ses, outros haverão de fazê-lo. Ainda que venham a matar todos, eles ainda
não estarão derrotados. Deus haverá de suscitar outros. Ele quer e vai
3. derrotj-10s. Não são os canipoiieses, senhores, que se levantam contra vocês,
C Deus mesmo, para vingar sua insânia. Alguns eiitre vocês se disseram
<lispostosa eiiipenhar gente e posses para extirpar a doutrina iuteranan. Que
ia1 sc tivcsscm sido seus próprios proletas e, a essa altura, possessões e gentc
ji estiverem comprometidas? NZo zombcin de Deus1" prezados senhores; os
judcus também disseram: "Não temos rei" [Jo 19.151; e a coisa ficou 150
séria que eles estão condenados a ficar sem rei por todos os tempos.
Para que caiam ainda mais em pecado e tenham que fracassar impiedo-
sLiriierite, alguns cstão começando a culpar o Evangelho, dizendo que esse é
o kuto de ininha doutrina". Pois bem, prezados senhores, vão dXamando;
;lilida náo querem saber o que ensinei e o que o Evangelho é. Todavia, está
1li;inte da poWa aquele que lho ensinará já, já, se não se cincndarcm. Coiiio
q11:ilquer um, tcráo qiic concordar que ensinei sem » inenor alarde e que Iutci
que ela venha a ter seu custo, a presewaçáo da paz lhes retribuirá dez vezes
ii~ais.Com um conflito poderio perder bens e vida. Por que querem expor-
se ao perigo, se de outra maneira ou com bondade poderiam produzir algo
inais útil?
Eles apresentaram doze artigos. Alguns delcs sáo táo justos e proceden-
ics que desmascaram a vocês perante Deus e o mundo e tornam verdadeira
:i palavra de Deus que diz: "Derramarão desprezo sobre os príncipes" [Sl
107.401. É verdade que quase todos visam seus interesses e suas vantagens;
rio entanto, não estão buscando seu próprio bem. Eu bem que teria outros
1 :li-tigos a formular contra vocês, perlinciltes a toda a Alemanha e seu regime,
corno fiz no livro endereçado à nobreza alemã", onde há causas maiores em
logo. Porém, já qiic vocês os lançaram ao vento2', terao que ouvir e aguentar
agora estes artigos interesseiros. Bem feito para vocês, que n.io queriam ouvir.
No primeiro artigozhexigem o direito de ouvir o Evangelho e de escolher
1. iim pastor. A esse vocês não podcrn negar c«m um pretexto qualquer, ainda
que aí estivessem misturados interesses próprios, visto que esse pastor deverá
ser mantido com o dízimoZ7,dinheiro esse que não Ihes pertence. Não
obstante, o sentido último do artigo é este: que se permita que o Evangelho
Ilies seja pregado. Contra isso nenhuma autoridade deve e pode opor-se.
.' Corn efeito, nenhuma autoridade tem o direito de impedir unia pessoa de
ciisinar e crer o que quiser. Basta que impeçaque se pregue rebelião e discórdia.
Os outros migos, que falam dos gavames físicos, tais como a taxaçáo
sobrc o espólio e tributosz" certamente também são procedentes e justos. A
.
(I1
Guerra CIOS Camponeses
autoridade não foi instituída para arrancar vantagens de seus súditos e explo-
rá-los, mas para procurai- seu bem-estar e o que é melhor pora eles. Afinal,
não se pode explorar e csfolar desse modo indefinidamente, De que adianta-
ria se a lavoura de um camponês produzisse tantos Llorins como talos e
grâos, se depois vem a autoridade c trib~itatanto mais [a produção], aumenta i
ainda inais seu luxo, e gasta tudo cm roupas, comilança, bebedeka c cons-
lruc;óes, como se dinheiro fosse palha? Anles seria preciso diminuir o luxo e
parar coin o desperdício, para quc sobrasse também alguma coisa para o
pobre. Certamente receberam maiores informaçoes através dos documentos
deles, onde api.eseiitain suas qucixas com suficiente clareza. 10
Ao campesinato
Até aqui, ineus amigos, iião ouvimnl outra coisa do que rilinha confissão 15
clc que, infelizmente, é pura verdade que os príncipes e senhores que impe-
clcin a pregação do Evangelho e exploram o povo de forrna insuportável,
iiicrcccm quc Dcus os dermbe de seus ti-onos2" coino gente que pecou
Zraveinente contra Deus e os homens. Eles não têm desculpa. Mesmo assim
prcciso cuidar para que promovam sua causa de boa consciência e com 211
iiiiiiiilo com eles. Ouçam, portanto, c accitcin, como, aliás, por várias vcrcs
sc ilispuscram'". Não quero furtar-me à tarefa de vos dar o conselho sinccir)
~ I U Cvos devo, ainda que alguns, já enveneiiados pelos espísitos ~iss;issiiios,
venhatn a odiar-me por isso c chrirnar-me de hipócrita"; não me imporiii
com isso. A inun basta quc consiga salvar da ameaya e ira divina alguns tlc
vocês que têm bom coração e são corretos. Aos ouiros temerei tanto menos
q u a ~ t omais mc desprezarcin. Njo haverão de prejudicar-me, afinal. Sei dc
iiin que é maior e iii:ris poderoso do que clcs. Através do Salmo 3.6 ele mc
cnsina: "Não teiiierci ainda que inil1i;ircs se lancem contra num". Minha
ohstinayã« Iiá dc aguentar a deles. diss« tenho cettezci.
Em psiiiieim lugar, caros ulii;ios. vocês usain o iioine dc Deus e se
denornuiam uiii inovimeiito ou uni grupameiiio cristão, e alegam quc dese-
1 ' jam decidir e agir dc acordo coin a lei divina3?. Pois bem, cntáo também
sabem que o noinc, a palavra e os títulos de Dcus não devcin ser invocados
cin vão e sem cabimci~to, coiilo dispoe o segmdo inaiidamcnto: "Não
tomarás o nonie do Senhor tcu Deus cni vá«" [Ex 20.71; c acrescenta: "O
Sciihor não lerá por inoccnte o quc toin;ir seu rioii~ccin v3o" [Ex 20.71.
', Aqui esti o resto com toda a ckireza e elc vale iaiito para vocês como para
todas as pessoas c, apesar dc sereiii iiumerosos, de estru.rin com a razão e do
terror que infundem, cle os ameaçci com sua irii tanto qiianto a nós outros
todos. Como bein sabem, ele é forte c poderoso o suficieiitc para castigá-los,
como ameaça aqui, sc usarem seu noiiic cm vão c descabidamente. Sc
nbusarcm do nomc de Deus, nenhunia sorie boa os espera, mas somente
ilcsgraça. Consideirin isso e sejam aiiiigavclniente advertidos. Para ele Ç
coisa Sicil acabar com ti~doscsses canipoiieses c kmi-los, ele que alògou o
inundo inteiro com o dilúviu r dcstruiu Sodoina a Iòg03'. Ele c um Deus
lodo-podcroso r temvcl.
Ein segundo lugar, é fácil provar que estão usando o nome de Deus eni
vao e dele abusam; não há dúvidli tanihérn que, por causa disso, no final, 1od;i
sorte dc desgraça os atingirá, a não ser que Dcus não exista. Pois cá eslá ;i
~);ilavrade Deus e diz através da boca dc Cristo: "Quein lalça mão d;i
rspada, i espada pci-rcerá" IMt 26.521. Isso só pode significar quc ninguéiii
dcvc ;tpeler para a viol&icia por iniciativa própria. Antcs, como diz S. Piiulo:
i1 N<i aciii anlerior, cin IiiciladLs.~iniaApologia c Respo.sta contra a <.'arnc e Vida M a i i . ~</L,
I.Viircnhcig - veja acima pp. 286285 -; Miiiitzcr chamara Lutern dc "bokilhj<i i~!lul;t.
<101-". que "se f n de hipbcf~tadiante de íiiipios bubdhócs [os príncipes]". CL T. MUN'I'~
XI1K. Sciiiriirii uiid fiirfe: kNtische Ge.<ariif:iusg:~k.Ilrsg. v. Cuntlirr Fraiz, Giitçrslc~li.
I'JíiX, pp. 721, 24 e 127, 23s.
i.' O Ilsi:iliiii> iki Uiii;io dc Mcniniingen - \,riu eciina p. 107, 11. L) - coiiicqa coei ;i\
l~:\l;ivl;ir: "I';ii,i Ikri~vorc huiirn do icido-podeiosu e eterno Deiis, riiediaiiic a irifçlrcssii<~ <Iii
s:iiiIin liv;iligi.lliii c ila iliviii;~p;ila\,ra, ~gu:ilineiitciiii presiriça <!:ijristiç;i c ilii dircitc ilivii~<i.
,( L I I I ~ Z I ~ c liga ~ , ~ i > l : t ioicix ..." ('V. i c ~ 2-5.
F I ~ t ~ s c l ~ r...i t 32, ~ A :tkwl:~qi<~ ;LU ,liwilu , l i v i n , ~
i . < i i i \ i i i i i i si. ccii liiiiicil>i<>~ i . i : i l . soliri. i~iial( ~ L I ~ Stodos
C 0 s ~ I ~ U ~ : L I I I C<!C
~ ~ci~~~,[li>r~csi.s
<~S
I i ; i v . : ~ : i i i i \ii;is ti.iviii<lii;iy<ii.\. V c i ; ~; i i.%sc icslicit<i..1, 275, i,. 5.
i i !'I. i<~sl".~liv;iiiii.~~~j. !;LI I i 1'1 ?I?.
(iiicira dus C~unpuiiesrs
"'lbdn alrna esteja sujeita à niiioridade erii teinor e Iioiira" [Rtn 13.1; cf.
11.71. Como é que vocês puderam passar simplesmente por cima dessas
~xllavrase disposições divinas, vocês que dizem seguir o direito divino34,
iiias, a« inesmo tcrnpo, lançain mão da espada e se rebela111contra a ciiiton-
ihde constituída pitr Deus? Achaiii. por acaso. que o jiiízo de S. Paulo ern r
I < i i i 13.2: "Aqiiele que resiste h ordenação de Deus trará sohrc si iiiesino a
condeii~rção" não irá atingi-los? Isso significa usar o nome de Deus em
váo", alegar a justiça de Deiis e, ao iiiesmo tempo, agir sob o manto desse
iioiiic contra o direito divirio. Cuidern-se, prezados seiihorcs. no firri as coisas
i120 ii-ào acabar como vocês imaginam. 10
Etii terceiro lugar, vocés alegani: "A autoridade é dcinasiadainente
perversa e insupoit~uel;r i o qiierem dcix;u-nos o Evangelho e nos opriniem
i,iii tei ir ias ia corii cributaçáo de nossas prcipriedadcs e nos arruíiiarn ein coipo
c tilina". Eu respondo: o fato de a ;iutoridade ser pcivsrsa e injustci nZo
~iistilicndcsordein c tumulti>.Pois castigar a maldade não compete a qual- 15
[ I i i i ' i uni, inas 21 autoridade secolar que detém o poder, como S. Paulo diz em
I ( i i i 12.4 e Pcdro em I Pc 3 [sc. 2. L], a f i a n d o qiic elii foi iiistitiiida para
,.:i%iipi~. os maus. Eiii consequí2iicia. existe a Ici natural e. iiiiiversal de que
iiiiigiiéni deve e podc ser seu próprio jiiiz nein deve ser seu próprio vingador.
I'ois 6 verdadeiro [o provérbio] qiie quem revida está errado. Mais aiiida: ?o
<IIICYIIlesponder com viol?rici;t provoca desaveii~a.O direito divino concorda
i.i~iiiisso, dizendo: "A mim iiie perieiicc :i vingaiça, a retribuição. diz o
Si.iilii)r" [Dt 32.351. Ora, vocês não podem nega- que sua rebcliáo se coiiduz
iIc i;iI iiianeirii que vocês se arvoram ein juízes, vingam-se a si mesiiios e
ii;ii~aceitam s o k r qualqucr injustiqn. Isso nâo contraria apenas o direito 25
ic.iii ~lc\.;c inodo." Do conbário, Deiis nio perinitirá qiie sua palavra e
~-
I I ".~:i :i<iiii;i 1,. 313,X~lOe n. 32.
i',1 ' 1 . I \ .!III.
i13 I im.,bIt L, ,h.iili> XIII Ihiivia te~ilognique ap1nv:irn ao prinripin ;iristoi&licnda ci]üid;i,le para
, . t ~ I i i i I, 8ii;ii i~itcs~'i"\n i u resalvívci~;i p& do dirçilo positivo. Lutem se coloc<i~i enire eles
ivc.i;i. 1). <,r.. Dc i,oti.s inonasficir, WA 8,662,ls.).Ao f n r uso da çqiiidadc, ;i Ixssoa sc
t I < c iili. I,O? U ~ I I : Lposi$í<~iiiterniedikia e justa c n t i ~
dois entlcinos. Lulero basc<iu sobre a
~ ~ i 1 ~ ~ 1 ~ 1 :;ii i Ik:i
I i . ii,iliit;iI. por exeiiiplo, u direito i'nicrgencial, pelo q u a l a auloridadc secul:ir
~>,uli.i V I ~ ii Igreja. ro~i,hatinilonel:i a corrupç3n e refoini;mdn-a. Fcz i > iiirsini,
1x1 I N L ~ C Isohrt.
,iiií~i,shiihri <luesl<icsccoii6iiiic;i>. pois çhliecialmeritc :,li o ilircilo luisiiivi> si.
: i i ~i.iiiiiir
c ~ i icl;iy;i,i
i,iiiiii:i i iis iciCililar práticas pii~çsliilalisl;~s. Vila Ohms Sclccion;,<l;a.v. 2. 1,.
1'111 I \ \ . c v. 5. 1,. 45R.I I-I<): 4hX,IX-:34.('1: i : i i i ~ I G i i i:iciiii;ip.107. i,. Illc ;ili:iixc,li. '171. 1 15.
i / V.IJ,!c i h ~ t ; ) 1,. ?cJU. I!. 50.
Exorta$iu :i P;,i
Vocês us:tni seu nome e se dizem uma assembl&ia ci-istãl", quando. tia
verdade, esião Iotige de tuclo. :igiiido e vivcrido Ião b;u.baraincnte contra seu
dircilo que 1120incrcccm sequer scrciii ehain;xlos dc gentios ou inrcos. Vocês
s,ío gente bem pior, poiiliie se revoltam e 1iii:iiii coiilra um direito ii;~tural,
que até eiitre os gentios C pacifico. 211
Vejam então, meus caros amigos, que espécie de pregadores vocès têm,
o quanto se importarn com as almas de vocês. Receio que sc misturaram a
vocês alguns profetas saiguhhrios que, através de vocês, querem torniu--se
scnliores do mundo, pelo que Iiá muito vêtn lutando, sem se imporiarem com
o fato de os estarem levando ri coinpronleter a vida. os bens, a honra c a ?i
I:IIIKI, mas no fim a desgraça cairá sobre vocês, disso ninguém tenha dúvida.
Ac<riiicccquc Dcus C justo c 11áo tolera isso. Por isso tcnham cuidado com
<.\\;i lil~erdade,para que, lugiiido da chuva, náo veiili:im a cair na água e, ria
iiti~~iiq;io dc conquistar a liberdade física, percam a vida. os bciis e aliiia
<.i<.iii;iiiiciire.A ira de Deus estú aí; é mellinr temê-la, é meu coiiscllio. O v,
~~p
repreendc a Pedro e oidena que guarde a espada, e mio quer admitir que essa
injustiça seja vingada ou impedida. Além disso, pronuncia uma sentença
mortal sobre ele, como de um assassino, quando diz: "Quem lança m3o da
espada, à espada perecerá" [Mt 26.521. Aqui precisamos entender que não
hasta que alguém nos faça injustiça, enquanto defendemos uma boa causa e ir
o direito está do nosso lado. E preciso também ter o direito e o poder
institiiído por Deus para usar a espada e castigar a injustiça. De rcsto, um
cristão deve aguentar essas coisas, mesmo quando qucrein privá-lo do Evan-
gciho. Ainda há outras maneiras dc se opor ao Evangcii~o,como veremos
mais adiantea. 211
Outro exemplo: Que faz o próprio Cristo quando lhe tiram a vida na cruz
e acabam coin seu ministério da prcgação, para a qual fora enviado pelo
prdprio Deus para o bem das almas?" Faz o quc diz S. Pedro: entregou tudo
iqucle que julga retamente e sofreu injustiça insuportá~el~~. Além disso,
ainda orou por seus perseguidores e disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não 25
sabem o que fazem" [Lc 23.341. Se fossem cristãos corretos, teriam que
procedcr de igual modo e seguir esse exemplo. Se não o fizerem, então
<fcsistam do nome de cristão e da invocação do direito crisiáo. Pois com
cçrleza não são cristãos, mas adversários de Cnsto, de seu direito, doutrina
icxcmplo. Entretanto, se o fizerem, em breve verão o milagre de Deus, que ~~~
o s socorrerá, como fez com Jesus Criyto, ao qual, depois de terminado o
sol'i-iiiicnto,vingou de tal forma que seu Evangelho, reino e poder, se fuma-
i ; i i i i c se unpuscram apesar de todos os inimigos. Da mesma forma também
socoi-ieria a vocês, dc maneira que seu Evangciho desabrocharta vigorosa-
iiii.iicc ciitre vocês, se antes cumprissem sua dose de sofrimentos, entregas- $5
si.iii :i causa a ele e esperassem por sua vingança. Agora, porém, quc vocês
\:I
Gucna dos Camooneser
A partir daí, agora é fácil responder a todos os artigos de vocês. Ainda
que todos estejam baseados no direito natural e sejam justos, vocès esquece-
ram, não obstante, o direito cristão. Porque não chegaram a eles neni os
estabeleceram com paciência e oração a Deus, como convém a gente cristã,
mar procederam com impaciência e violência, para arrancá-los da autoridade i
;i cssr eseiiiplo, para que possam orgulhar-se? Clamein a Deus como eles e
csperem até que ele mluide também a vocês uni Moisés que, com sinais e
tiiilagres, prove que foi eiiviado por Deus. Os fuhos de Israel não se rebela-
r;irii contra Faraó; eles tiuiibém não procuraram fazer justiça com as próprias
'l\ i 'l:';icima n.
j3.&307, 7.
',O No ii.xi« original lê-se kheUt Jen bqvyni maule, que literdmenle se traduz: "fica cuin a
li;il>:i ii;i boca". Pau-sc de um ditado rcunido por Lutem a sua colegZo: cf WA 51,650, i i '
I I í : hK25.
'1 1 I i(.c iiu prefácio: "Poltaito. o fundamenta de todos os xtigus dos çarnponcsçs aporiiii cio
\çiiitd<i de que o Evangcllio seja ouvido c se viva de acordu com ele [...I. Em scg~itiil~i
1iig;ii.. a conseqüência clara e pura é que os camponeses, os quis em seus arligos ;insci:irt~
IHII. essc Evaneelho
" como dourrina e vara a vida. não oodcm ser chamados dc insiihiinlii
~i;i<lose subversivos", Flugschnflen... 26, 17-19. 26-29.
58 Vr;a açinia p. 316,17-317.37.
5') "l<lc ll>cus],qui oiiviu os filh~isdc 1sr;icl a I I i i çI;itiiiu c o s lilxrii>iii k i ~i,;Li<I<, I;ii-;si. 1 1 ; i i v
~"'ilc ;airida hi>ji rcsgaiu <,r scii\''" I?iigsiliiilic!i ... 20, ? I .. 77. 2.
Exortação à Paz
máos, como vocês pretendem. Por isso tal exemplo vai diretamente contra
vocês e condena a vocês que querem invocá-lo, mas fazem exatamente o
contrário.
Também não confere a alegação de que estariam ensinando e vivendo de
,, acordo com o E ~ a n g e l h o .Não
~ há um artigo sequer que ensina alguma
passagem do Evangelho; tudo visa unicamente a liberdade pessoal e os bens,
todos falam de coisas terrenas e temporais: querem ter poder e bens sem
sofrer qualquer injustiça. Acontece que o Evangeho não se envolve com
assuntos seculares, mas faia da vida no mundo como sujeita a sofrimentos,
injustiça, cruz, paciência e desprendimento de bens e vida temporais. Como
poderia o Evangelho combinar com vocês, se procuram apenas fachadas para
seu movimento não-evangélico e acristão, sem se darem conta que com isso
zombam do santo Evangelho de Cristo, fazendo dele um pretexto? Portanto,
vocês têm que tomar uma atitude diferente no caso; ou desistem de tudo e
1 se submetem ao sofrimento de injustiça, se quiserem ser cristZos; ou, se
cluiserem continuar com o movimento, achem um nome diferente e não
pretendam ser chamados e considerados cristãos. Aqui não há meio termo
liem outra escolha.
Concordo que tenham razão naquele ponto em que dizem desejar o
Evangelhoh1,posto que é manifestação séria. E inaceitável que se feche o céu
para alguém e o mande à força para o interno. Isso é coisa que ninguém deve
aceitar; antes deve empenhar cem vezes a vida. Quem me nega o Evangelho
kcha o céu para mim, e me conduz à força para o inferno, uma vez que não
cxiste outro caminho ou meio para a salvação das almas do que o Evangelho.
I'orianto, isso é uma situação que não posso aceitar, ainda que me custe a
vida. Vejam, acaso o direito não está suficientemente comprovado? Disso,
porém, nZo decorre que eu devesse rebelar-me i força contra a autoridade
que pratica essa injustiça contra mim. Você dirá então: Como posso sofrer e
irão sofrê-lo ao mesmo tempo? A resposta é fácil nesse caso: Não é possívcl
ucgar o Evangelho a alguém. Não há poder no céu o u n a terra capaz disso.
l i ~ i so Evangelho é um ensinamento público, que corre livremente debaixo
do céu, preso a nenhum lugar, como aquela estrela que, caminhando no céu,
iiidicava aos magos do Oriente o nascimento de Cristoh2.
É verdade que os senhores podem barra o Evangelho em cidades, vilas
c povoados onde está o Evangelho ou existe um pregador. Mas você podc
(lcix;u essa cidade ou lugarejo, e procurar o Evangeho em outro lugar. Nâo
i. ~ ) r x i s oque, por causa do Evangelho, você conquiste e ocupe uma cidadc
OLI ti111 povoado. Deixe a cidade ao encargo de seu mandatário e siga ao Evan-
jr'llio. Assiin você tolera que lhe façam injustiça e o dcsterrein, ao mesmo
Guerra dos Camnoneses
tcmpo que não aceita que lhe tirem ou neguem o Evangelho. Veja, assim as
duas coisas harmonizam, tolerar e não tolerar. Do contrário, quando você
quer ficar com a cidade juntamente com o Evangelho, esti roubando do
senhor da cidade o que é dele e alega que é por causa do Evangelho. Meu
caro, o Evangelho não ensina tirar e roubar, ainda que o proprietário do bem s
estivesse agindo contra Deus e com injustiça, e dele se prevaleça em seu
prejuízo. O Evangelho nio precisa de espaço físico ou cidade para licar. Ele
quer e precisa ficar nos corações.
Cristo ensinou isso em Mt 10.23: "Quando os expulsarem de uma
cidade, fujam para outra". Ele não diz: "Se tentarem expulsá-los de uma li1
"A comunidade como um todo tem que ter o poder de escoíher e afastar
IIJJI ~~:íir>co"?~ Esse artigo está certo, se for usado de forma cristã, para o
< I I I V , 110 entanto, as passagens indicadas à margemMnada contribuem. Se as
~iii~l)i-icdades da paróquia pertence à autoridade constituída e não à comuni- i$
il;iclr, essa não pode ceder essas propriedades ao pároco que ela mesma
c~sc.ollieu,porque isso seria assalto e roubo. Se ela quiser ter um pároco, que
~~iiiiciro o peçam humildemente à autoridade constituída. Se não os atender,
( ' I . M i 10.23,
... p. 27, 20 - 28, 1.
1 'I. l~/~!g,schr~ficn
0 1 A <il~scrv:i~áo náo se encontra no preiácio, e, sim, numa glosa marginal ao Arl. 2". <:I:
~ ~ l ~ ~ ~ ~ . ~p.~28, ~ l4-7.
~r~licr~...
1,s ( ' I .I'" 3JI.
18'1 '(I;, \i. :i iíiiilo ( l i liiii<l;iiiiciii:i~;iii 1hihlic:i: SI 110.4; GIL14.20; Dt 18.1; 12.6; 25.4; M i IO!ls.
10 'I, /:I,,/! ,. '~l,!i/i,~!,
... 1,. ;'.H. I?. ?>I.
/ I [ ' I I (',,./.!.I ?,I.: l:.l i>.5H.: ( ' 1 i.?? I 'I',,, o.ls.;'l'l 2.0s.
(tueira dos Camponeses
pode tirá-lo do domínio de seu senhor. Um escravo pode muito bem ser
cristão e gozar de liberdade cristã, tal como um prisioneiro ou enfermo é
cristão, mas &o é livre. Esse artigo quer deixar todas as pessoas iguais e
fazer do reino espiriiual de Cristo um reino secular e exterior, coisa que é
impo~sível~~. Pois o reino secular não pode subsistir onde não houver desi- 5
gualdade das pessoas, de sorte que alguns são livres, outros estào presos, uns
são senhores, outros, subalternos, ctc. Como S. Paulo diz em GI 3.28 que em
Cristo senhor e escravo é a mesma coisa. Sobre isso meu senhor e amigo
Urbano Régio certamente escreveu o suficiente. Para maiores informações,
leiam seu livro7'. IO
cspólio, etc.I4 - tudo isso deixo para os juristas. Não cabe a mim, como
pregador, opinar e julgar no assunto. Cabe-me, isso sim, instruir as consciên-
cias no que diz respeito a assuntos concernenles a Deus e i fé cristã. Sobre
o direito imperial existem livros suficientes. Já disse mais acima7' que essas
~l~icstões não dizem respeito ao cnstiio; ele não liga para isso. Deixa que 2'1
iirube, tire, oprima, maltrate, esfole, devorc e delire quem quiser, pois o
cristão é um miíírtir nesta terra. Por isso o movimento deveria espontanea-
inente deixar em paz o nome dc cristão e agir como pessoas que desejam
direito natural e humano e não sob o nome dc pessoas que procuram o direito
cristão. Esse determina que em todas cssas coisas liquem quietos, sofram e 2
.
s6 clamem a Deus.
Vejam, caros senhores e amigos, essa é minha orientação que vocês me
\?O
solicitaram em outro d o c ~ m e n t o Por
~ ~ .favor, lembrem-se de sua disposição
de aceitar orientação através da E ~ c r i t u r aQuando
.~~ o presente escrito chegar
às mãos de vocês, não gritem logo: "Lutero está adulando os senhores,
falando contra o E~angelho!"~%iam primeiro e ponderem minha argumen-
tação a partir da Escritura, pois isso diz respeito a vocês. Estou escusado
perante Deus e o mundo. Conheço bem os falsos profetas entre vocês. Não
Ihes obedeçam, pois na verdade eles os estão seduzindo. Eles não pensam
nas consciências de vocês, mas querem transformá-los em gálatas7y.Querem
apenas usá-los para conquistar bens e honra, para depois serem condenados
1" eternamente, junto com vocês, para o inferno.
Conselho a ambos -
autoridade e campesinato
Portanto, prezados senhores, em nenhum dos lados há algo de cristão,
tampouco está em jogo uma causa cristã; ambos, senhores e camponeses,
estão tratando de justiça e injustiça profana e secular e de bens temporais.
Além disso, ambos os lados estão agindo contra Deus e estão sob sua ira,
como acabaram de ouvir. Por isso, pelo amor de Deus, ouçam e ponderem,
" e tratem dessas coisas como elas devem ser tratadas, isso é, com justiça e
i ~ ã ocom violência e luta, para não desencadearem um interminável derrama-
mento de sangue nos territórios alem2es. Posto que ambos os lados estão
crrados e ainda querem vingar e proteger-se a si mesmos, ambos os lados
vão se desgraça e Deus castigará um patife através do outro.
Vocês, senhores, têm contra si a Escritura e a História que relatam como
os tiranos foram castigados. Até os poctas pagãos escrevem que os tiranos
riiras vezes morrem de morte natural; geralmente são assassinados e morrem
cin meio a seu próprio sanguex0.Visto que não há dúvida de que governaram
(Ic modo tirânico e prepotente, que estão proibindo o Evangelho e oprimindo
" c esfolando o homem do povo, não há consolo nem esperança para vocês, a
11%) ser a perspectiva de perecerem, como já aconteceu a tantos de vocês.
Ohscrvcm como os reinos acabaram através da espada, por exemplo, a
Assíria, Pérsia, Judá, Roma e outros tantos, que no final tiveram o fim quc
iiilligiram a outros. Com isso Deus prova que é juiz sobre a terra e não deixa
~~
.i17
Giieza dni Camponeses -
impune qualquer ii~j~istiça. Por isso a coisa mais certa que cairá sobre a iiuca
de vocês é o mesmo jiiízo. seja agora ou mais tarde, se 1120 se eiiieridarem.
Vocês, campoiieses, tainhéi~itêm c0nh.a si a Bíblia c a experiêiicia da
Histíirka. Ela ensina que jamais uma rebelião terminou bem. Deus sempre
cuiiipi-iii rigorosamente csta palavra: "Todos os que. laiiqarii mão da espada,
h espada perecerão'' [Mt 26.521. Visto que conietern a iiijiistiça, julgando e
.
vingando a si mesinos e usando iiidignamente o noIrie de crisiiíos, certamente
també~iiestiio sob a ira de Deus. Ainda que venham a vericer c eliminar todo
o poder constituído. no fim hão de se devorar entre si coiiio bestas treslou-
cadas. Uma vez que não é o Espírito, mas carne e sangue que os governam, 111
Deus em breve suscitará um espírito maligno entre vocês, corno icz com os
de Siquém e com AbimclequeK1.Reparem como teimiiiaraiii as rebeliUes,
com« as de Coré, Absalão, Seba, Simri e outros", Em resumo, Deus é conira
ambos, tiranos e rebeldes, por isso os joga uns contra os ouh.os para que
ambos pereçam iniseravclrnente e se cumpra nos descrentes soa ii\i e seu juíro. 1s
O que mais deploro em tudo isso e o que mais lamento, i;into que, se
possível losse, daiia minha vida para resolver a queslão, é que. ern ambos
os lados acontecereo dois danos ù-reparáveis. Posto que neiihumn das partes
luta dc boa coiisciência, iiias pala perpetuar a injustiça, segue que quem for
morto estará eteriiarneiite perdido de corpo e alma, como pessoas quc iiior- 211
plaiios temveis. E Deus está irado conosco e ameaça soltar o dialm para que
jx~ssa refrescar seu ?%imoem nosso sangue e nossus almas. Cuideiii-se,
~psezatlossenhores, e sejam prudentes. Isso vaie para ambos os 1~1dos. Dc que
Ilics adianta destruíreiii-se propositadamente para sempre r ainda Ic3ir :ros
SI ('I'. 17 'J.23.
8 2 ('1: NIH lO..:I..35: 2 Snt lX!J..l~l; 2 Sub 20 21s.; I l<s l(n.lS\.
filhos e descriidcntes iim temtório ensangüentado, desolado e deshuído,
quando ainda liaveria tempo para achar solução melhor através da pcnitêiici:~
perante Deus, acordo ainigivcl e disposiçáo para sofrimento ein favor d~is
pessoas? Com discórdia e desavença mio vvli alcançar nada.
Por isso scria meu conselho sincero que se escolliesseni dentre a nohrezli
:ilguiis luargraves e senhores, e dentre as cidade;, aljiiiris conseíheiros par21
I ,,it,u, . c resolver as quest0es de forma amigável. E preciso que vocês, senha-
rcs, haiseiii uin pouco a teimosia obstinada, da qiial tenio que abdicar dc
qualqucr foma, mais cedo ou mais tarde, quercndo ou iiào, e cedan um
1 pouco erri sua tirania e opressão, p u a que o homem pobre também tenha
espaço e fôlego para viver. Por outro lado, que os camponeses tanlbém
;iceitem coiiselho no sentido de suprimirem alguns artigos que vêo longe c
alto demais. De modo que a questão, mesino que iião possa ser solucionada
de maneira cristã, possa scr tratada e equacionada de acordo com o direito e
tratados hum;mos.
Se não quiserem seguir esse coiiselho, o que Deus queira evitar, terei que
(Ieixar que cliczuem as vias de fato. Eu, poréin, estarei inocetiie do prejuízo
dc suas alina. vida e bens. Vocês inesmos terão quc assumir as coiiseqüên-
cias. Eu hes disse que ambos os lados estão cisados e que rstáo e111 luta
iiljiista. Vocês, seidiores. não lutam contra cristãos, pois cristãos iiào Ilies
ILizem nada, iiias sofi-e111tudo. EstXo lutando contra manifestos assaltantes r
(iroí'andores do nome de ciistáo. Os qiie morrerem nessa condição cstarão e j i
~,.rticicoiidcnados etemamenie. De outro Iricio, vocSs cartiponcses lambem iião
(,si>» Iiitarido contra cristãos, mas contra tiraiios e perseguidores de Deus c
' (Ias hoiiieris, e contra assassinos dos santos de Cristo. Os que morrereili
iicssa luta tainbém estarão condenados etcinamenle. Nesse sentido, amhas ;is
Ixiiies têrii seu juízo cesto da parte de Dcus. Disso tenho certeza. Façam, então,
o que qiiiserein, se náo quiserem obedecer pararesguardar sua alma e seu corpo.
De milha parte, eu e os meus pediremos a Dcus que f a p coin que :is
(liias partes cheguem a um acordo, promova entendimento ou evite misei-i-
cordiosa~~iente que as coisas aconteçam dc acordo com. as intenções dc
vocts, embora os tcisíveis sinais e milagres que aeonteccram nos últimos
iciiiposX3me assustem e me façam temer que a ira de Driis seja grandc
iIi.iii;iis, coiiio diz em Jeremias 15.1: "Ainda que Noé, Jó e Daniel se
$ .
~~iiscssciii diaite de mVn, eu não encontrana agrado nesse povo". Qucii-:i
I )1,11si~ucveiihai~3 temer sua ira e se emendem, para que a desgraça scjii
:icli:i(l:i c prolelada por bom tempo. Pois bem, eu os açonselliei pelo rliic
iiiiiili:i coiisci?iicia iiie ditou, de maneira cristã c fraternal. Qiieii.;~Dciis qiic
i h i o rciolv:i ;iigiiiiiii cois;~.Aiiiém.
Su;, ni;ilícin Ilie recai sobre sua c:ibe~:i,
L. SO/>IV O /~uililjov6rfice &SCC .SII:IiriiqiiL1;idr. [SI 7.101X"
Exortação a Paz:
Resposta aos Doze Artigos
do Campesinato da Suábia
1525
I Introduçâo - p. 331.40-332,13
1.1 Revelasão da falsa intenção dos caiiiponcses - p. 331,40-332,8
1.2 Objetivos do escrito - p. 332,X-13
I I I i , 1 I...,c I r I i l l l <i
<. lpclo iiiiperiidor, de maneira que quem pririieiro pode c quer exterminá-lo,
; I W ccrto c frcz bem. Pois sobre qualquer eleliierito que subverte a ordem
l~~il~lic.:i qualquer pessoa é tanto supremo juiz corno carrasco; é como se
Iioiivcssc uin piincípio de incêndio: quem primeiro conseguir apagá-lo é o
iiirIIioi-. RebeliZo não é um simples assassinato, mas, qual incêndio, põe em 75
(1s camponeses não têm razão nc.iiliuma, deve agir aqui com temor. Antes de
liido, deve colocar a qiiestão diarite de Deus e coiifessar que ceitamente
liLcinos por merecer isso. Deve considerar também que Deus talvez tenha
i.siirnulado o diabo para castigo geral da Alemanha. Depois disso! deve
\iil>licar humildemente por auxílio contra o diabo; pois aqui não estamos 2%
essas pessoas que foram forçadas a este pacto horrível e a merecer a conde-
nação. Na verdade, tais pessoas vivem num verdadeiro purgatório, ou até nas
amarras do inferno e do diabo.
Por isso, prezados senhores: Livrai aqui! Salvai aqui! Ajudai aqui! Com-
padecei-vos da pobre gente. Fira, golpeie, degole quem puder; se isso custar 10
;I vida, melhor para ti; uma morte mais bem-aventurada jamais poderás ter.
Estarás inorrendo em obediência e cumprimento da palavra de Deus, confor-
ine Rm 13.5s., e no serviço do amor para salvar teu próximo das cadeias do
inferno e do diabo. Por isso peço: quem puder, fuja dos camponeses como
do própilo diabo. Para os que não fogem, peço a Deus que os ilumine e i
converla. Aos que não podem ser convertidos, permita Deus que não tenham
sorte nem sucesso. Todo crisião piedoso diga aqui "amém". Pois a oração é
conveniente e boa, e agrada a Deus, tenho certeza. Se isso parecer duro
demais a alguém, então queira lembrar que insurreições sáo inadmissíveis e
que é preciso evitar a toda hora a destruição do mundo.
Posicionamento do Dr. Martinho Lutero
Sobre o Livrinho Contra os Camponeses
Assaltantes e Assassinosl,
no dia de Pentecostes do ano de 1525
I Wr-iitlwoiIri,ig I1 Maliri Liiilicrs ;iuf das Büchlçin widcr die riiuheriichen und rnijirl~~~iscln~i
II;III~.,~L WA 1711,zos-207.n , i ~ l ~ ~ u O. .TCI,II,~~.
~ íx úo i: ~
.> ( ' i i ~ t l ' t r i l I ) 1 ~ x 1 0:1111crior.
' Ii . .I.1.1,? '1 i. I ((i.<)
II
í ;iicm dos Camponeses
seu senhor quando este come perigo; quando, por exemplo, alguém invesiir
contra ele com uma espada, o servo não deve ficar esperando até que o
senhor o mande partir para a defesa e lutar, mas deve intervir espontanea-
iiientc e proteger o senhor, mesmo que assim ponha em risco sua vida. Pois,
coino cabe a um servo probo, cu tenho o dever de defender e salvar a cabeça 5
<I«meu senhor. Quando, poréin, se ataca náo a cabeça do meu senhor, mas
:ilgo como sua propriedade e bens, cntão devo aguardar e nâo lutiir, a não
ser que meu senhor o ordene, pois ele detém o poder.
Por isso cada qual tein o dever dc proteger o seu cabeça, a autoridade,
(laiido o seu apoio. Quein, pois, vê um desses rebeldes, deve tomar a espada 111
c inatá-lo para preservar sua autoridade, pois assim estará procedendo com-
tiiriiente e fazendo aquilo que lhe coinpcte, e quanto mais cedo melhor,
poiido ein jogo o pescoço e a vida para que se extinga esse hgo. Tudo isso
o próprio Cristo aprova e c o n f i a , no sentido de que iio mundo é preciso
scr assim para pi-eservar a autoridade, quando ele disse perante Pilatos: "O 1,
iiicu reino não é deste mundo; se meu reino Cosse deste mundo, meus servos
Iiiiariam para que eu nZo fosse entregue aos judeus" [Jo 18.361. E quem se
iiiiir a um rebelde desses, aprovando e recomendando suas intençfies, deve
soli-er a mesma pena.
Mas se dizem que adulo os príncipes e senliores4, que o digam, eu não 2'1
iiic importo! A mim como pregador nâo me compete lutar com a espada e
coiiibatcr a iniqüidade, mas ensinar a Palavra e usá-la, ela é minha espada.
Isio eu fiz até agora, exortando-os sempre no sentido de usarem o bom senso
iio trato coin seus súditos. Mas se não o fazem e os tratam injusta e
iii:idequadamente, lembre-se de que eles terão seu senhor e juiz. Essa cle-
iiiCiicia eles merecem, como também a demonstrei e continuo praticando, no
scriiido de sc admoestá-los primeirc e orientá-los de Coma amigável, para
qiic se abstenham de seu propósito maligno, inclusive ameaçando-os e mos-
ii;iii<io-lliessua salvação, finalinente, intercedendo fervorosameiite em seu
Iiivor jiiiito a Deus, como fizeinos. 3x1
'1 I MI ?0.52.
1 ' I Niii Iíi.??ss.
I ('<l,,l,l,, c > I c X I < > sc,:,,i,,1v
SEMINARIO COMCORDIA
<;~icira
dos Camponeses
Carta Aberta 5
INTRODUÇÃO
Os escritos de Lutero refercnles à Guerra dos Camponeses, embora de mínima
influEncia no descrirolar dos trigicos acontecimentos de maio de 1525 na Turhgia, ,,
seiviram para que o refonnador se tomasse alvo de duras críticas, seja da parte de
opositores, seja da paite de sinipdtizmtes da K e f ~ r m a .Quando ~ o levante ainda
çslwa sendo sufociido pelos príncipes, Jogo Ruhel (m. 1543), João l'hiu (m. 1526)
c Caspar Muller (m. 1536), inlcb?.mtes do círculo dç amigos dc Lutero em Mansfeld,
informarain-no ;i respeito das acusações c suspeitas 1evantad;is contra ele. Eni c- ,,,
de 26 de maio, Ruhel esçrcvia a Lulcro: "...pwa muitos de vossos sinipatizantes 6
csiraiiho que concordais que tiranos matem sem qualquer misericórdia, podendo
iomar-se mjrtires por isso. Em Leipzig diz-sc abertaniçnte que, porque o príncipe-
eleitor [Freedenco, » Sábio, prolctor de Lulero] n~oficu,querei\ salvar a prcípna pele
i. ;i<lulais o duque Jorge [o Bubudo, da Saxônia albertina - ferrenho inimigo da ,,
I<eforma], aprovando seu procediu~ento[de esmagar indiscriminadamente os campo-
iicsçs rebelados]. Quereis salvar u JJCIC.Eu, portin, rião quero emitir juízo a respeito
disso, mas o deixo a encxgo de vosso espírito ... 6 necessário que isso sela, com o
iciiipo, apagado e desculpado por vós, pois os inocentes devem pennaneçer s i m
coi~dena~áo"'.A 15 de julho, Lutero respondia :i Ruhel, Shur e Miiiier: "Caros ,,,
sciiliores, que a t a r i a provoquei com o livrinho contra os camponeses. Esqueççram-
\c ilc: ludo o que Deus fez a« mundo por meu intermédio. Agora, senhores, padrecos,
<:iiiilx~neses e t«dos estão contra mim c me ameaçam de morte"4.
('wlendo às pressões desses amigos, que queriam que se posicionasse publica-
r i i i ~ i i i . n respeito do que escrevera, Lutero proferiu iima prédica diante de sua ,
<~~iiiiiiiidade em Witteuberg no segundo dia de Pentecostes - 4 de junhi~-,
8 <~iiii.iiiaiido seus escritos. Sues palavras forain anotadas por Stephan Roth5 e poste-
1 Introduçáo - p. 342,l-344,2
8.. 1.1 Dedicatória - p. 342,l-3
1.2 Justificativa da publiça$ão - p. 342,s-17
1.3 Comportamento dos cdticos - p. 342,18-343.24
1.4 Cumplicidade na defesa dos rebeldes - p. 343,25-344.2
qiicr iim tem um espírito superior ao meu. E eu tenho que ser bem camal.
Oiiiscra Deus que tivessem um espírito superior. Eu me daria por satisfeito
c :i16 gostaria de ser camal, como diz Paulo a seus coríntios: "Já estais ricos,
;:icstois firtos; chegastes a reinar sem nós" [l Co 4.81. Receio, entretanto,
(liir iciili~imrealmente outro espírito, porque ainda não vejo nada de especial 10
i /\ti qint. ~ ~ , ~ ~ ~ se
I.IIIC~O r r . a uma carta rccebida de Caspar Muller, cujo contcúdi~L:
~ rcfcre
,;i
~ l c . ~ < > i i l i c . ~ ~ ~ l < qiiç
i. s i pcrdcu. Ele era chanccler dos condcs rlç Mansfcld c manlçvc
i i ~ . ~ i icom
~ ~ ~ v . i ~ - i i ~ ~ ci >~ i.i>iii;ito i ~ I.utcro. Vzja tambiin acima o intr<iduçZo;i issc cscriio.
!i I x i , i i , i ~ , ~I...~ >1 A<fcii<Io: <i,nln, :is Ilor<l;is.S;illc:i<lor:isr As.v;i.;iii;i.v <k,.s(:r,iyxirii.;cs. Vc,jc.i;i
10, i,,,.,, 1' ( 1 10)~11:i:iO.
Caila A k r t n a Respcitr~do Rigoroso Livrinho contra os Campr>nisc>
Evangelho. Pois nÃo têm a mínima idéia dele, apesar de falarem muito a seu
respeito. Pois, como saberiam o que é justiça celestial em Cristo segundo o
Evangelho, eles que ainda não sabem o que é justiça mundana sob a autori-
dade terrena de acordo com a lei? Gente desse tipo não merece ouvu uma
palavra nem ver qualquer obra através da qual pudessem corrigk-se; deve-
riam experimentar somerite escândalo, como aconteceu aos judeus em rela-
ção a Cristo, já que seu coração está tão cheio de maldade que não almejam
coisa melhor do que escândalos, para que Ihes aconteça o que consta do S1
18.27: "Com os perversos és perverso", e em Dt 32.21: "Eu os provocarei
a zelos com aquele que não é povo; com louca ilação os despertarei à ira".
Eram essas as minhas razões por que quis ficar quieto e deixar tranqüi-
lamente que atacassem e se escandalizassem, para que, de acordo com seu
mérito, obstinados e cegados no escândalo, se danassem todos quantos, de
tão ingratos, nada aprenderam, apesar dc o Evangelho ter sido proclamado
1, fartamente em toda parte e de ter raiado corno grande e brilhante luz; e
desprezam o tcmor de Deus a ponto de não considerarem mais nada evan-
gélico a não ser julgar e desconsiderar outros; a si mesmos atribuem um
espírito elevado e grande inteligência, e da doutrina da humildade só extsaem
arrogância, corno a aranha que nada suga da rosa senáo veneno. Mas V. S.
' 1 quer orientação, não para si mesma, e, sim, para calar a boca dessa gente
iriútil. Em minha opinião, está empreendendo um trabalho inútil, pois quem
pode fechar a boca de um tolo quando o coração está cheio de tolices? A
boca tem que falar do que está cheio o coração.' Não obstante, pois, quero
lhe prestar ncsta questáo mais um serviço, ainda que em vão.
Em primeiro lugar, deve-se admoestar aqueles que criticam meu livrinho
para que calem a boca e se cuidem, pois certamente também são rebeldes
etn seu coração, de modo que não o percebam, tendo que ir depois em busca
da própria cabeçaL0,como diz Salomão: "Teme ao Senhor, filho meu, e ;to
rei, e não te associes aos rcvoltosos. Porque repentinamente lhes sobrevirti
desgraça, e a ruína de ambos, quem a conhecerá?" Pv 24.21,22. Aí se vi.
que ambos, os revoltosos e os que a eles se associam, estão condenados, c
que Deus náo aceita que se faça pouco caso disso; pelo contrário, rei c
autoridade devem ser respeitados. Associam-se aos revoltosos todos aquelcs
quc osapóiam, fazem eco a suas queixas, justificam e se compadecem dc
quem Deus não se compadece, ma? quer vê-los punidos e minados. Pois
cluein assume a causa dos revoltosos dá a entender, dessa maneira, de modo
sulicientcmente claro, que, se tivesse espaço e tempo, também promoveria ;i
<Icsgraqa,como já havia decidido em seu coração. Por isso a autondadc dçvc
tipo de aluno. Quem não quer ouvir a palavra de Deus de boa vontade, terá
que ouvir o carrasco com o machado. Se alegam que nessa questão eu estaria
k~liandocom bondade e misericórdia, eu respondo: misericórdia por miseri-
córdia, estamos falando da palavra de Deus, que quer ver o rei respeitado e
os rebeldes minados, e nem por isso deixa de ser tão misericordioso como 1.5
nós somos.
Aqui não quero ouvir e saber de misericórdia, mas cuidar do que a
palavra de Deus exige. Por isso c o n f i o o que disse em meu livro, ainda
que todo o mundo se escandalize com isso. Que me importa se te desagrada,
lu ando agrada a Deus? Se ele quer a ira e não a misericórdia, que andas a 211
preocupar-te com misericórdia? Não foi assim que Saul cometeu pecado no
caso de Abimeleque com sua misericórdia, quando não deu espaço à ira de
Deus da qual fora incumbido?" Acaso Acabe não pecou em relação ao rei
<IaSíria, quando o deixou viver, contrariando a ordem de Deus?12Se quiseres
iiiisencórdia, então não te mistures com os rebeldes [Pv 24.211, mas respeita 2s
:I autoridade e pratica o bem. "Se fazes o mal, teme", diz Paulo, "a
:lutoridade não porta a espada em vão" [Rm 13.3,4].
Essa resposta deveria bastar para todos quantos se escandalizam com
iiicu livro e o desmerecem. Não é justo que se cale a boca quando se ouve
CIUC Deus o disse e o quer assim? Ou será que Deus está devendo explicações
:I c.ss:is boca inúteis por que ele quer que seja assim? A mim me parece que
I I piscar de um olho seria suficiente para calar todas as criaturas, quanto mais
i111:11ido ele fala. Pois aí está sua palavra: "Teme a Deus, filho meu, e ao rei,
~t.ii:io tua desgraça virá de repente", etc. [Pv 24.21s.l. Da mesma forma em
I ( I I I 11.2: "Os que resistem à ordem de Deus trarão sobre si mesmos '5
l i No icxlo r~riliiniil::iiich <I<.i,ilciillcl iwo kcrtzcn aii(lsreckcn. isso i.. nw;i uue a «ucsi;(o
iual" IRni 13.41. Queres praticar o mal e, mesmo assim, não sofrer castigo.
inas prote~er-tecoin a invocação da misericórdia? Pois sim, volta arnanhã,
que ainda por cima faremos uin bolo para ri. Quem não serba capaL disso?
Imagina se eu irrompesse na casa de algiiém, estuprasse mulher e filhas,
abrisse o bnú e levasse bens e dinheiro e, de espada em punho. dissesse: "Se 5
nào concordaips com isso, cu ie inato, pois és uin gentio". Mas se chegas-
sem «s eriipregados e ine instassem, ou se o juiz mandasse tlecapitar-me, eu
haveria dc gritai: "Ouçani. Cnsio ensina qiie sc deve usar de misericórdia e
1150 matar-me"! Que diríarrius a tal pcssoa?
E exatamente isso que estão fazendo agora meus campoiicses e seus IO
fizemos. e por crrado o que vocês fazcin". Querido, quem não haveria de
querer isso'? Se misericórdia for isso, entáo tcrcinos criado tima situação bem
nciva. ou seia. oiide náo há cspada, autoi-idade. justiqa, cailigo, GUI-ascoou
prisão. mas se deixa cada inalaiidro fazcr o que bem entende, e quando está
para ser castigado, vaiiios cantar: "Ora, sejiun misericordiosos como Cristo 20
ciisina". Isso vai ser uma boa ordem! Aí vês que intenqâo têm os que
condena111meu livniilio conio se ele negasse ioda a misericórctia. Ceitarnente
sâo bem cainpesiiios, rcbeldes e cães siuigiiinjrios, oii então cstio sendo
seduzidos por genle dessa esptcie, pois gostariam que iodos os desatinos
[içassem impliiies, e, sob 0 iiiniito da misericiitilia, são os mais impiedosos, 2,
iiiais cru& e perveisos do mundo. no cliie ities diz respeito.
Sim, dizem eles, iiós irão apoiarrios os ccirnpoueses. neiii nos opomos ao
castigo: mas parece-nos injusio que tu ensinas que não se deve ter iiiisei-icór-
<liir. coiii os pobres camponeses, pois dizes que devem ser extemiùiados sem
compaixão. Milha resposta: Se estás falando sério, então eu sou de ouro. 311
'liido isso sgo disfarces de tua. petiilância sanguiiiária, posto que, no íritimo,
I ) ~>iocedinieiito dos camponeses tc agrada. Oiidc é qiie eu ensinei alguma
vi./ i~iic1120 se deveria iis:u de alguma iuisericórdia com os camponeses'?
N;io está escrito tanibém naquele mesmo livrinho" que peço às autoridades
I I I I C rccebarn com bondade aqueles que se rendem? Por que não abres os 3.
irllios e lês isso tanihém? Então não tena sido necessário condenar meu
liviiiilio e escaiidalizar-se. Tu, porém, és táo venenoso que vês soniente um
l;i(lo, aquela parte. em que escrevo que convéni executar de pronto todos
inundo verii sobre eles, querem que contenha misericórdia, quer dizer, não
querem suportar o reino do mundo, nem iampouco aihitir o reino de Deus
para alguém. Que coisa niais errada poderia ser imaginada? Não é assim,
iiieiis amigos; se no reino do inundo se iiiereceu ira. eiit5o cahe su.jeit;u-se e
hofrer o castigo, ou se peca perdão hiiniildemente. Por sua vez, os que estão 17
iio reino de Deus devem ter misericórdia de todos e rezar por eles. Mas não
c;ibe impedir o direito e o trabalho do reino do mundo, mas ajudar a promovê-los.
Ainda que essa severidade e ira do reino do mundo pareçam uma coisa
criicl, elas n5o são, bem aiialisadas, a nieiior misericórdia divina. Raciocine
ida uin por si e depois ine dê uma conclusão: Sc eu tivesse niulher e filhos,
casa e cnipregados e beiis, e viesse uin assaltante ou assassino, me matasse
ciii minha casa, estuprasse mulher e filha, e levasse o que possuo, e ele
. . impune para poder fazê-lo mais iima vez sc quisesse, diga-me, quem,
.issc
iicsse caso, merece e precisa mais da misericórdia? Eu ou o assaltante
:issassino? Não há dúvida de que eu mereceria coinpaixio. Mas; como concre- 27
coinpadccc dclcs c, para que riáo Ihes acontega neiiliiim rnal, ela defende,
iiiorde, dá facadas. coita , . O~olpeia,mata, conio Uie orclcna Dcus, cuso scrvo
ela sabe que é nessas coisas. O ccistigo implacável iiifligido aos maus na»
acontece somente pelo intel-esse de penali~B-lose de rcdiiiiir seu atrcviiiienio
em seu próprio sangue, mas para que os piedosos seja112 protegidos e Uies 111
scjarii asseguradas paz e seguranp, coisa que, seni dúvida, 6 obra de gande
inisericóidia, amor e hoiidacle, posto que náo há coisa pior no mundo do que
Salta de paz e segurariça, opressáo, violZncia, injustiça, etc. Pois quem pode-
ria e gostaria tle viver se assim acontcccssc'! Por isso a ira e a severidade da
cspada são 130 iiccessfirias ao povo como conier e beber. ;1t6coino a própria vida. 1..
Sim, dizem eles, niio esi;iiiios liliuido dos caiiipoiicses Iciinosos, que iiáo
quereili se render, mas d;iqucles que foram vencidos e se entregaram. Com
csses se deveria usar de misericórdia e nZo agir tão cr~ielinente.Respondo:
!'elo visto, náo és nada justo, pois ficas í'alarido mal dc nicu livrinho, como
se eu estivesse falaido dos camponeses vencidos e rendidos, quando falo !(I
livros de acordo com teu capricho, qtial é o livro que vai resistir? Por isso,
coiiio já escrevi unia vez, repito: Que iUngiiC-m se compatleya dos campoiie-
c s Iciinosos, obstuiados e obcecados. que nãio se deixam dizer riada. mas,
h i i i i . liata, ferre, chiicuie t. chicoteie qiic'iii pode e coirio pode. como se faz
( I I I I I a c h o r r ~ sloucos; tudo isso p x a que se pratique misericórdia coiii "'
:i~lrr~.lcs cluc i'oran arninados, expulsos,ou seduzidos por tais camponeses.
19;ii:i( 1 1 1 ~sc preserve paz e segurança. E melhor quc se corte um membro
..t.iir iii~iiliii~iio cornpaixâo, do quc deixar qne o corpo iodo pereça coin a
1 , - I i i i . O I I iy~idcmiasindu2? Como 2 que isso te agrada'! Ainda sou um
1 ~i<.j,,;itliii ~~veriigélic«, que ensina clemêriçia c misericórdiri? Se niio te parecer,
I i Ii/,cr nada, pois és um saiguinário e assassiiio rebelde, um
. I I I I I I I I : I ~ ~ iI;iO ~ 1i;iiria com teus camponesei loucos, pois instigas sua rcbcldin.
h l i i i i i ; i i i i t;riiihém que os caniponçscs ainda náo tinliaiii matado ningiiciii
C x i a Akn:t a Rcspeiio do Rigoroso Liviinho coiiua os Campoiiesc\
quando se matou a eles. Meu caro, que se há de dizer? Que resposta bonita
6 essa de que ainda náo mataram ninguém! Qiier dizer, era preciso fazer o
qiic eles quisessem, não obstantc. ameaçassein matar quem iiio quisesse
;iconipanhá-tos, tornasseiii o poder que rião 6 de sua conipetênçia, se apode-
iiissem dos berisl casas e propriedades. Desse jeito, um Ilidráo e assassino
iião é assassirio quando, com aiiieaça de moite, ine tira o que bem entende.
Se, no entanto, tivessem feito o que amigavelmente se exigiu, não teriam
sido mortos. Coino náo quiseram, foi correto fazcr-lhes o que tcnam feito e
;iineaçavain fazer a todos quanlos iião aderiraiii. Além disso, siii inanifesta-
rncntc ladines revoltosos. infiéis, pri-J~iros.desobedieiites, bandidos. assassi-
nos e blasfetiiadorcs, de ~n«ci«que não h i (Iciitre eles quriii iiáo meresa
sofrer a moric dei vezes, seiii iieiihu~naconipaixio. Antes q~ierse ver com
o oiho maligiio31 apenas o casiigo e o quanto cle dói e não a culpa e o
cabimento, 0 inominável prejuízo c a conseqüência ruína. Poi.tanto, se o
i:nstigo dhi, (Icixa dc maldade, conio tatnbéni Paulo responde a rsse tipo de
gente ein Rm 13.3: "Qucres lu náo teiiicr :i espada? Rize o bein. Se fueres
o iiial, teme'
Em tercciro lugar, eles afirniam que os senhores abusam de sua espada
c matam com demasiada cmeldade, etc. Respondo eu: Que é que isso tem a
ver com meu livriiiho? Por que iiic imputas culpa allieia? Se abusam do
poder, rião foi de miiii quc o a1,rciideram; elec ainda acharão sua pule, poic
o suprcmo juiz, que alrttvt's deles esfii ciisti$.mdo os ciirnponeses atrevitlos.
iino se esqiicceu deles, neiii taiiipouço poderio escapar dele. Meu livrinho
iiZo diz o que os senhores merecem, inas o qiic os camponeses merecem e
como se deve castigá-los. Com isso eu não bajulei ninguém. Se houvcr
octisiiio e razão pai-a que eu o faya, eu tanibéni atacarei os príncipes c
.;ciiliores. pois. no que conçeine a incu miiiistéi-i» docente, ]>am inùn uni
priiiçipe valc tnrito quanto uiii çriinponEs. Na veiiade, eu já f i z o suficicrilc~
11;1r:i que tirio moil.am de aiiiores por mim, iiias isso não riie Lnipurta muito.
'ICiiho alguém que é maior do que todos eles, como diz S. João".
Sc tivessem seguido meu primeiro consclho3?, quando a rebelião comc-
~ 1 1 1 1 , e logo tivessein sacrificado alguns caiiipoiieses ou mesino cem, c
i.i~ri;~ii» siias cabeps, para que os outros se tivessem assustado^ e nâo
iivr\scm deixado que tomasseiii conta, ieri~iiiipreservado iiiuitos milhaics
~ I I C;(gora tiverani que inoil-er, e que, de outra forma, tenani ficado em casa.
Isso teria sido uma misericórdia necessária, com pouca ira, quando, agorii,
I:iL sc iiecessiúia tainanha scveridade para doininar tantos.
Guerra dos Camponesçu
Fez-se, porém, a vontade de Deus que tivéssemos que ensinar os dois
liidos. Primeiro os carnponeses. para que aprendessem o quiuito esiavarn bein
e que não quiseram suportar os bons ternpos e a pur, pua que, doravante,
iipreiidessem a agradecer a Deus quando têm que entregu uma vaca, para
que possam usufruir em paz da outra. Pois sempre é melhor possuir a metade i
: i i i i i r - ~ i . qiic desculpa é essa. se alguérii vcin e mata ieii pai e tua riiáe,
\~ii~Ii~iii:i iii;i r~iiillierc filha, queima tua casa, tira teu dinheiro e teus beiis, e
< I C . I IVL,III <I~X dizer que teve que fazê-lo, porque fora obrigado a isso.
l.)i~ciiiC qiic já ouviu que se possa obrigar alguém a fazer bem ou m;ù?
(jiit.i~i1111tlc i~lvipira vontade de alguém? Isso não tem cabimento! Coiiio i$
I)i/.cs então: Mcu Deus. quem teria pensado nisso? Eu tambCrii digo:
M i ~ Ii )ciis, q ~ i cculpii tcnho cu? Isnorãncia não é desculpa; iim cristão 11%)
deveria saber o que lhe cabe saber? Por que não se aprende'? Por que não se
inmtêm bons pregadores? Prefere-se a ignorância deliberadamente. O Evm-
gelho veio para a Alemanha, inuitos o perseguem, poucos o desejam, menos
ainda são os que o aceitam; e os que o aceitam são lerdos e negligentes,
peimitem que se fechem escolas, que paróquias e pontos de pregação sejam 5
clcla, mesmo que náo tenha sido obra dele, mas do vizinho, da mesma forma
como goza e aproveita o benefício da paz, segurança, bens, liberdade e
conlòrto da comunidade, ainda que não os tenha conquistado e produzido;
iIe sorte que cabe aprender com Jó e se consolar: "Temos iccebido o bem
de Deus, e uão recebelíamos também o inal?" [Jó 2.101. Tmtos dias felizes n
valem certamente uma hora ruim, e tantos anos bons compensam urn dia ou
tini Lino ruim. Durante muito tempo tivemos paz e dias bons, até ficarmos
atrevidos-e arrogantes; niio sabíamos valorizar paz e dias bons, e sequer
;igradecemos a Deus por tudo isso; é o que temos que aprender agora.
De lato, aconselho que dispensemos queixas e reclamações, e agradeça- ~~~
iiios :i Deus que, por sua misericórdia, niio veio desgraça maior sobre nós,
<-~iiiio o diabo a pretendia provocar através dos camponeses, como, aliás, fez
.Ii~ii~iiiins. Quando os judevs haviain sido deportados, presos e assassinados,
<.Ics i consolou e disse: "E gaya e bondade de Deus que não fomos morios
ioil~~s'' [Lm 3.221. Nós alemães somos bem piores que os judeus, mas ainda v,
ii:io hinos exilados e mortos como eles. Náo obstante, queremos ser os
~~riiiiciros a reclamar, ser impacientes e nos justificar, e não queremos pcr-
i i i i t i i - que uma parte seja morta, para que Deus fique ainda mais irado, nos
Caita Aberta a Rcs[izilo do Rigoroso Livrinho contra os Camponesis
clcixc ir à ruína, retire sua mào e nos entregue completamente ao diabo.
1;azemos o que costumam fazer os alemães loucos, que nada sabem de Deus
c falam dessas coisas como se não houvesse Deus que S z e quer isso.
Pretendendo nada soirer, todos querem ser cavaleiros, sentados em alrnofa-
das, fazendo o que bem entendem.
Pois se o intento do diabo tivesse prosperado nos camponeses e Deus
iião os tivesse barrado com a espada, em atenção às preces de cristáos
picdosos, terias visto que crn toda a Alemanha teria acontecido o que acon-
icce agora àqueles que são inassacrados e mortos, e até pior ainda; ringuém
1 icria ficado seguro em relação ao outro; qualquer um teria morto o outro,
qiieiniado sua casa e instalaçoes, estuprado mulher e filha, porque isso não
parliu de Deus e não havia ordem para isso; foi-a combimado eiitre eles que
iiinguém confiasse e acreditasse no outro. Eles destituíram um supeilor após
o outro, e seus superiores tinliam que se portar, não como gente decente, mas
como os mais dcvassos vagabundos queriam e mandavam; é que o diabo
tinha por propósito devastar a Alcrnanlia toda, porque dc outra Iònna não
poderia barrar o Evangelho. Quem sabe o que ainda vai acontecer se conti-
i ~ u m o reclamando
s desse modo e com nossa ingratidão? Deus pode muito
hein levar os camponeses de novo à loucura, ou então fazer surgir outra
coisa, de maneira que no fim fique pior do que está agora. A mim me parece
que foi uina boa e Sorte admoestação e ameaça; se a igiiorannos e não lhe
(lermos atençzo, se r120 temennos a Deus, teremos que ver o que vem aí.
Queira Deus que o acoiitecido não tenha sido uma brincadeira, à qual venha
seguir coisa realmenlc séria.
Por último, querem afirmar: Tu também ensinas rebelião, porque reco-
ineiidas que espanque e esfaqueie os rebeldes quem puder; cada qual seria
ambiis as coisas: supremo juiz e supremo carrasco. A isso respondo: Meu
l i v r i i o não foi escrito contra malScitores comuns, mas contra os rebeldes.
'Tcns que separar bem um rebelde de um assassino ou assaltante, ou de outro
~Iclinquente;pois um assassino ou delinqüente de outra ordem deixa de lado
seu superior e a autoridade e só ataca seus rnembros ou seus bens. Na
verdade, até leme a autoridade. Uma vcz que a autondade constituída per-
iiianece, ninguém deve atacar esse assassino, visto que a autoridade pode
~)iirii-lo.Pelo contníno, cabe esperar pelo veredito e pela ordem da instância
, sopeiior, à qual Deus cntregou a espada e a competência de penalizar. Um
rchclde, porém, ataca a própria autoridade e interierc na espada e no seu
i~l'ício,de modo que seu delito não tem comparação com o do assassino.
Aqui iiáo há por que esperar até que a autondade ordene e julgue; ela ncni
110~1c,por cstar presa c batida; por isso é preciso que socorra quem pudei-,
sciii ser ch:imado c iiiaiidado, c, como membro fiel, ajude e salvc a aulori-
(l:i(lc coiii csloc:i<lns. rliiiido golpes, iiiiitando e sc cmpenhaiido bas(nii1c ;i
I'z~vor({:I :~~i~ori~l:i<Iv,
(li1 vitl:~i. 110s l>ciis.
Tenho que ilustrar isso com um exemplo simples: Suponhamos que eu
hsse peáo de algum senhor e visse seu inimigo investindo contra ele de
cspada em punho. Eu poderia interferir, mas fico parado e deixo ineu patrão
scr morto vergonhosamente. Dize-me: Que diiam de mim, tanto Deus como
o inundo? Nâo diriam com razão que eu seria uin malfeitor inveterado e 5
traidor, e que certamente estaria mancumonado com o inimigo? Mas se eu
rc;igisse e me colocasse entre inimigo e patrão, arriscasse minha vida pelo
patráo e matasse o inimigo, não seria isso um ato correto e honroso, que seria
clogiado perante Deus e o mundo'? Ou então, se eu fosse morto nessa açâo,
que morte mais honrosa eu poderia ter'? Estaria morrendo em verdadeiro ~~~
serviço a Deus, no que diz respeito ao ato, e se houvesse fé ein tudo isso,
c11 seria um verdadeiro e santo mártir de Deus.
Se, porém, me quisesse desculpar e dizer que nada fiz porque esperava
que meu patráo me mandasse interferir, o que acarretaria a desculpa, senão
iiie acusar cm dobro e ine tomar digno da exeeraçáo de todos, como alguém 15
qiic ainda brinca diante de t m h a maldade'? Acaso Cristo náo elogiou essa
:iiiiude no Evangelho e não considerou coireto que os servos lutassem por
scus senhores, quando estava diante de Pilatos e disse: "Se meu reino fosse
iIc:sic mundo, meus ministros se einpenhai-iam por mim, para que não fosse
~,iiiregueaos judeus" [Jo 18.36]'! Aí vês que diante de Deus e do mundo é 211
i.orreio que servos lutem por scus senhores. Do contrário, que seria o poder
sccrilar'? Vê, o rebelde 6 um sujeito quc investe contra o superior e contra a
iiiitoi-idadeconstituícla de espada em punho. Neste caso, ninguém deve aguar-
(I:ir até que seu superior o chame, mas avançar sein ser chamado e Serir o
clcliiiqiientc quem primeiro puder, sein sc preocupar que possa estar come- 25
ii:io li5 crime na terra que a ele se compare. Outros delitos r i o atos isolados;
i<.lirliXoé o dilúvio de todos os crimes.
I < i i sou clérigo e sirvo ao ministério da Palavra. Mas, ainda que fosse
\(.i vo (lc um patráo turco e visse meu amo em perigo, eu haveria de esquecer
i i i i i i l i ; ~condição de clérigo e lutaria e bateria valentemente, enquanto pudesse
iiiixcr iim músculo. Se fosse moilo nessa luta, iria direto para o céu, pois
i<.l>~~liáo não merece julgamento ou misericórdia, aconteça onde quiser, seja
<.iiiicjudeus, turcos ou cristãos; ela já está julgada e condenada e entreguc I:
iiioric pela mão de qualquer um. Por isso aqui náo kd outra coisa a f u c r do
L I I I ~ .tiiiltiil. com rapidez e fazer justiça ao rebelde. Tamanho rigor iieiihurii ~~~
:iss;issiiio merece, pois o assassino comete uma maldade passívcl dc coiidc-
i~;i<:io,iri;is deixa a puniçâo ein vigor. O rcbcldc prctciitlc ui11;i iii;i1t1:1~1clivi-c
C u t i i\IierIa a Respeito <I<,Rigoroso Livrinho contra a r Camponcscr
c impune, e ataca a própria punição. Alem disso, eni nossos dias, cria uni:[
má lama para o Evangelho junto a seus inimigos, que atribuem essa rebeliáo
ao próprio Evangelho, escancarando a boca difamadora para detrataçáo3? Só
que náo estão desculpados e clcs bem sabem disso. A seu tempo, Cristo há
de Ihes cobri-lo.
Vê, entáo, se iiSo foi justo e correto o que escrevi eni meu livrinho,
di~eiidoque se ferisscrn sem misericórdia os rebeldes. Com isso, porém, não
ensinei que nno se usasse de misericórdia com os presos e com os que se
renderam, corno se mc acusa, ainda que meu livrinho o diga diferente. Assini
1 1 m b 6 m aqui náo quero ter dado respaldo aos tiranos, nem elogiado sua fúria,
pois estou ouvindo que alguns dos meus fidalguinhos estão procedendo de
maneira desmesuradamente cruel com essa pobrc gerlte e que estáo bem
atrevidos e arrogantes, como sc livcssciii vencido e estivessem seguros. Pois
brin. tais elementos 1120 procuram punir t. corrigir a rcbeliáo, iiias dão vaza0
1, a sua feroz riialdcide e satishzcin scu ódio, que talvez carregassem consigo
l i i um bom teiiipo, pensando que azara acharatii espaço e direito para tarito.
Ern especial, contrariam abertamente o Evangelho, querern reintroduzir con-
ventos e clausuras, e resguardar o podcr do papa, e misturar nossa causa com
a dos rebeldes3'. Eles, em breve, colherão o que cstão semeando4, pois
,' aquele que está lá em cima os vê e virá antes que se dêem conta. Vai
Ii.;%cassaro que pretciidcm, sei disso, coino fracassaram até agora.
Escrevi tainbéiii rio iiiesmo livrinho que agora cstanios viventio uma
cpoca estranlici, ein que se podc riicrcccr o céu com riicctaiiça e derramanieiito
de sangue4'. Vah.1-nos Dcus! Como Lutero pode descaractcrizar-se tanto, ele
,, quc ate cntão ensinara que se devia alcançar a graça e a bem-aventurança
apenas pela E, sem obras. Entretanto, aqui ele náo só aliibui bem-aventuran-
Ç;L às obras, mas tainbém à atrocidade de derrainamcnto de sangue; pois é,
o Keno pegou fi)goj2. Meu Dcus, como me dissecam, coino me espreitam,
c, inesmo assim, nio adianta. Pois espero que se ine conceda o uso correto
d;is palavras c cxpressóes, o que rião é próprio apenas do homem do povo,
iiins também <kis Escrituras. Não diz Cristo em Mateus 5.3,11: "Beiii-
civcnturados os pobres, porque deles é o reino dos céus'"! "Bcm-aventurados
sois quando vos perseguirem, porque é grande vosso galardão nos céus"'?
11.c 6.231. E em Mateus 25.34-40, onde recompensa a.;obras da caridade, c
oiitriis coisas mais? E ainda assim continua de pé que as obras nada valem
IIL.I-:II~~CDeus, mas apenas a fé. Como se deve entender isso, eu expliquei
Guerra dos Camooneses
inúmeras vezes, especialmente no sermão sobre a riqueza injusta4i. Quem
não quiser se contentar com isso, que vá e se incomode pelo resto da vida.
Se valorizei tanto a obra do derramamento de sangue, meu livrinho também
mostra que Falei da autoridade secular que é cristã e exerce seu ministério de
maneira cristã, especialrneute quando se vai a campo para enfrentar as hordas s
rebeldes. Se essa autoridade não fosse justa ao derramar sangue e exercer seu
ministério, então Samuel, Davi e Sansão também não teriam agido bem
quando puniram os malfeitores e derramdram sangue". Se não for correto
derramar esse sangue, então abramos mão da espada e sejamos iimãos livres
para fazer o que bein sc entende. Portanto, peço a todos com insistência que 10
queiram ler meu livrinho com atenção, e não apenas superlicialmente; então
verão que, como aliás convém a um pregador cristão, só instmí a autoridade
secular cristã e piedosa; repito e tomo a dizer que só escrevi para as
:tutoridades que pretendiam agir de maneira cristã, ou então, correta, para que
tis mesmas tivessein orientayio para suas consciências no presente caso, isso 15
c:il~richose suas maldades. Deixo que sejam conduzidos por seu mestre, o
(li:iho, para conduzi-los como quiser. Ouvi que em Muhlhausen um dos
"grandes" e importantes senhores chamou à sua presença a pobre muihcr de
'li)iiiás Muntzef15, agora viúva e grávida, caiu de joelhos e disse a ela: Deixe
( 1 1 1 ~ c ~ ite ... Gesto cavalheiresco e digno para com uma pobre mulher, .<(I
;il~:iiicloiiadae grávida! Que herói valente, que decerto vale por três nobres
<;iv:~liii-os! Que é que vou escrever para tais patifes e porcos? As Escrituras
< Ii:iiii:iiii cssc tipo de gente de bestas46, isso é, animais selvagens, como
I o l r i i > , i:iv;ilis, ursos, leões. Portanto, também eu não tenho a pretensão de
I O I I I ; ~ Icns j:~.tiic. Mesmo assim é preciso agüentá-los, se Deus quer castigar- v,
Acerca da Questão,
Se Também Militares Ocupam
uma Função Bem-Aventurada1
1526
INTRODUÇAO
iiiiliiai-es, sem contudo aprofundar sun discu~sZo.~ Dois aios depois, em Da Autori-
<l:iílc Scco1:u; até yue ponto se Ihc deve obediênci;i, Lutero desenvolveu algumas
i,!!,r;is relativas à guerra justa.! Quando os govcrnaiites de territ6rios que adotaram a
I<cíorriia negociavam uina coalizZo, clc escreveu ao coiidç Alberto de Mansfeld
(13x0-1560). desaconselliaiido a f«rmaçZo dc uma liga niilitar contra ;I autoridade ?\
iii~pei'al.~ Por fim,a violência da Guerra dos Camponeses de 1525 na Alemanha'
Icvou amplos setores da opinizo pública a refletirem sobre a legitimidade de uma
::iiçrrn civil, que futuramente poderia dar-se também entre defensores e inimigos da
I<cli)rine, caso fosse executado o Edito de Worms.
llin iiiterlocutor de Lutero nessa discussâo foi o oficial militar e mercenjno
Ahsn von KraniG,que veio ao sçii encontro preocup;ido com a pergunta, se também
I 111~h'riii.~.~l~~ule
iiiich ini seíigen Slmde sei, künnrii - WA 19,623-662. Traduqão: Uíiltcr O
,S<liIii/'/'.
M.i:i :aiiii;i p. 20-78, esp~ihneniep. 58,26s.
! M.l:t :ii.iiii:i .1, 79-119, cspccialnicnte p. 110,21-112,14.
I 1';iil.i <1c 111111525. In: WA Br 3,416s.
'3 K-l;i ;i ii,sl>citoa introdução geral a esse bloco, p. 271.283.
11 \ $ v i v i ~ Kiílrn
i (c*.1490-1528). Scii nome na verdade era Aschwin n/, sendo nalural ila
.iI<l<.!:! ilc Viamnic, cni Braunschwcig. Não scndo possível estabelecer-se na pequena prii-
1 8 , ih.il:iilc da faniília, mrnou-se comandante militar e mercenário. A serviço do duquc Car10.v
i #ir i;t.I<lcr~i p;rrticipou, ao lado de Fr;inci.sco I, rei de Fmça, da p e n a coiiira iis suíq<is.
.ili.al<is< h i i~iilicradorMaxirn~limoI, e da batalha de Marignano (1515). 1)iiianic a hai;illi;i
~ I c SitII;ii~(ISlO), lutoii contra seu prdprio senhor terrilorial, o duilut. f h i r i q i i i , r i .li,vc,,i
I I I X i J . 1.514 1542, IShXi, de Br;mnsçhweig-W«lSeiih(ilizl.Na gwir-i ci>riii-;i íir,ri;irii, II(I1XI.
l f l i 1524, 155')). rci &I lIi~ii~i~~;irc:~(1523). cslcvc Ii~lo~$~irnigo. Ors<lc I524 cslcvr
,,c~vip> l > ~ l ~ ~<~Iciior c i l ~ c<I:(
~ S;LXGI)~;I,
i ~ , ~ ~ o~ ,S;ll~io
l ~ ~(140.4. ~ ~ ~lS?S).
r i ~ l,lXi> ,
Se Também Militares Ocu~amFunção Rem-Aventui;i<l:i
os militares se eiicontram numa função bem-aventnrada, sendo-hes possível alcanç;ii
a salvação eterna. Assa von Kram era comandante de cavalaria da Saxônia eme5tiri;i
c enfrentou as milícias de camponeses na batalha de Frankenhausen, ocomda a 15
dc maio de 1525. Ouando cessaram os combates. tentou intervir como uma esoéciç
i de porla-voz dos derrolados, a fiin de aplacar a ira dos príncipes. Na qualidade de
oficial do exército, ele, que já se ocupara com as proposias da Refonna, buscou o
contato pessoal coin Lutero em meados de julho de 1525, quando da posse de JoZo,
o Constante (1468, 1525-1532), como novo prhcipe-eleitor da Saxônia. O reforma-
dor, que tinha em boa lenibrança o encontro com Assa von Kram7, demonstrou ein
ii divcrsas passagens de Acerc:! (ia Qui.stijO, Se Tinibéni M111t;ire.s.. estar escreveiido
inspirado pelo diálogo com esse interlocuio6, cmbora LI s i Icnhi limitado apenas
às perguntas por ele levantadas.
Lutero 1150 pôde atender imediatairiente a solicitação de uiria resposta por escrito
hs pcrguntas do milikir. Em janeiro de 1526, Assa von Kram teve nova oportunidade
i, de exortar Lutei*) a fim de que cuiiiprisse coin o prometido, quando ambos se
eiicoiitr~raiiiem Torgau, onde loram padi-iiihos de batismo de um fi!ho de Gabnel
Zwillingy. Ainda assiin, o refonnador tardou em coincçar a cscrcvcr. E provivel que
tenha preferido obseivar primeiro as tratativas relacioiiadas ?I forniação da Liga de
Gothflorgau, realizadas no mês de fevereiro. Essa liga teria por objetivo a dclcsa
contra at;iques de territórios hostis à Reforma, algo que com boa probabilidade
poderia ocorrer. pois o imperador Carlos V já sinalizara sua interição de promover a
cxccuçáo definitiva do Edito de Worms a partir da assembléia de Espua, progamada
para o mesmo ano de 1526.
Acerca da QueslZo, Se Bmb&n Mi1ila1c.s Ocupam nina F u n ~ Z oBe~il-Aventurri-
,. da teve sua redação concluída no filial do ano em Wittenberg, onde João Barih 0
imprimiu. Trata-se de um escrito extremaniente elucidativo e importante, pois cin
ineio à abordagem de questões de consciência daqueles que ocupam fimções niilita-
rcs, Lutcro também lançou uni clamor em favor da paz: "...Deus [...] quer paz e C
hostil àqueles que conieçam uma guerra, rompendo a paz.""' Além disso, aqui
irmsparccc coin clzircra meridiana o pi-incípio básico do seu pensamento acerca d ; ~
autoridade, do Estado c do direito. Esse princípio est2 comprometido com a "lei do
a n ~ o r " ' ~tanto nas grandes como nas pequeiias causas, c propõe uma aplicação d i ~
direito baseada no espírito da eqüidade, na atciiçZo h situaçTio concrctr ou emergencial12
de cada pessoa.
5 ('r)nclusão - p. 399,lS-401,7
5.1 CondemçZo da superstição e estímulo i oriição - p. 399,lS-400,ZS 25
5.2 Recomendação final - p. 400,26-401,7
Ricardo W. Rieth
<(>L
Se Tanihém Militares O c u o m Funçáo Bem-Aventur;irl;i
WittenbcrgI4, falastes comigo sobre a situação dos militares, em relação aos
quais estariam sendo aduzidos muitos pontos referentes à consciência. Na
ocasião vós e alguns outros me solicitaram a instrução pública escrita, visto
que há muito mais pessoas que se queixam dessa função e dessa instituição.
Alguns têm dúvidas, outros, entretanto, são tão temerários a ponto de não
mais se importarem com Deus, c lanqam ao vento a ambaslS, a alma e a
consciência. Sucede que eu mesmo já ouvi esses camaradas dizerem que, se
começasscrn a refletir sobre isso, não mais poderiam ú- à guerra. Como se
í'am guerra fosse uma coisa tão significativa, que se deveria esquecer a Deus
I e a alma quando houvcsse guerra, quando, na realidade, é justamente na
angústia e no perigo de morte que mais se deve pensar em Dcus e preocupar-
se com a alma. Para aconselhar as consciências fracas, desorientadas e em
dúvida, dentro de nossas possibilidades, bem como dar melhor informação
aos negligentes, assenti à vossa solicitação e prometi o presente opúsculo.
li Pois qucm combatc de consciência tranqüila c bem esclarecida, esse
também pode lutar bem, uma vcz que o seguinte não pode falhar: onde
houver boa consciência, há também grande coragem e coração valente.
Quando, porém, é valente o coração e intrépida a coragem, o punho é tanto
mais vigoroso, o cavalo e o cavaleiro são tanto mais forles, todos os em-
211 preendimentos têm tanto mais sucesso, todos os casos c coisas terminam com
tanto maior felicidade em vitória, vitórka essa que Deus, então, também dáI6.
Por outro lado, quando a consciência está tímida e insegura, também o
coração não conseguc ser valente como deveria. Pois consciências ruiiis
tomam as pessoas invariavelmente covardes e tímidas, como diz Moisés a
.'i seus judeus: "Se fores desobediente, Deus te dará um coração temeroso que,
se tc puseres a caminho contra teus inimigos, serás disperso por sete cami-
nhos e não terás sorte" [Dt 28.20,25]. Assim acontece que tanto o cavalo
como o cavaleiro sejam preguiçosos e incapazes, e nenhum empreendimento
tenha sucesso, c por fim será vencido. No que tange às consciências rudes c
11 perversas na tropa, entretanto, os chamados audaciosos e atrevidos, tudo vai
ao acaso, [não importando] se vencem ou perdem. Com esses animais
grosseiros se dá o mesmo que com aqueles que têm boa ou má consciência,
uma vez que fazem paitc do grupo. Por sua causa é que não há vitória. Pois
clcs são a casca e não o verdadeiro ceme da tropa. Envio-vos, portanto, esta
minha instrução, quanto Deus me concedeu, para que vós e outros quc
Em segundo lugat-, quero deixar claro que desta vez não estarei falando
iI;t<[uclajustiça que toma a pessoa justa perante Deus. Pois isso é eSetuado
\<iiiicntcpcia fé cm Jesus Ciisto, sem qualqucr obra e mérito nosso, conce-
iliilo e dado de presente por pura g r a p de Deus'"; isso já escrevi e ensinci
i.111muitas outras o~asiões.~" Ao invés, cstou falando aqui da justiça exterior, a)
rcnlizada nos ofícios e nas obras; ou seja, para que o diga bem clarainentc:
ir;iiii aqui da questão, se a Sé cristã, através da qual somos considerados
iiisios pcrantc Deus, podc tolcrar que eu scja um inilitar, vá ao combate, fira
i. riiate, pilhe e incendeie, como se faz com o inimigo numa guerra conforme
l i dircito dc guerra; ou se esta obra também é pecado ou in.justiça, pelos quais
1 r . 1 i < l c ! c 1>icsi,rv:sii P~V. Essa mcntalidadc corrcta dc qucm fa/- a gucrra L incoiiciK~velcom
c , . i i i c . ~ < , (1,. t.~>iiiliicccr com os despojos. Cf. Corpus i u n ~cnnonici lCorplC1, Dccr. 2" pars,
c .iii...i ' i C I , ~ I: . LIU. i can. 5: <lu. 5 czin. 14, 41, 47.
I!; i . . ~ , i . i i i : i l ~ t j , ~ i; 'ii i l i i ' a instituiçâo militar c ti justiça m M m C rctirzida da badiçáo canunica.
i I I N L G i k j , t i i r i i ; i ;i p:iriicipaçZo numa opcraço militar dcvc scmprc scr uma ordem superior.
1 'I 1 ' < a , ~ l: ( I )i.ir. 2" pars, causa 23, qu. I: q ~ i 5. can. 13s.
1'1 1 ' 1 I < , , , !..'.I: 11.0.
'ii \ i i . i . I'. I. '... < I c\criiii ilc I.iitcio citadi, acii~iii,ii. 17. Elç I~iliiu&i q~içslài,ciii c~~!ticiil.iri~~s
I I I I ~ I o < t, ~ I I ~ c ~~ l~ c Il ~~ ~priocipal~ncr~tc~ ~~ ~; c~ s ~ sc)l>rc1p:i~s;igco?cC,ts c~~í~iol;ts
11;$11li!~a\,
c[. WA
I ..'IH. i'?\: .I.?XI .X 17: 50.3.0 13: IX.4 20: 172.X I I : IX7,lc: 248.5 3.3:~llX.L~ ,II'l.IX:4.11i.1 11:
I i ~ 1 , Sl t i
Se Também Militares Ocunam Funcio Bem-Aventiirail;i
devo ter escrúpulos perante Deus, se um cristão não pode praticar nenhum
desses atos, mas somente fazer o bem, amar, não ferir e matar ninguém.
Chamo de ofício ou ato aquilo que, mesmo sendo divino e direito, pode
tomar-se mau e injusto, contanto que a pessoa seja injusta e má.
Terceiro: Também niio pretendo deter-me longamente no fato de a obra
e o ofício militar serem justos e divinos em si mesmos, uma vez que já
escrevi o suficiente sobre isto no opúsculo sobre a autoridade secularz1.
Sinto-me quase tentado a me gloriar de que, desde a época dos apóstolos, a
espada e a autoridade secular jamais foram tão claramente descritas c tão
1 magnilicamente exaltadas coino por meu intermédio, o quc também meus
inimigosz2precisam admitir. Coino recompensa recebi o prêmio de honra ao
mérito de minha doutrina ser repreendida e condenada por incitar à insurrei-
çáo e tender contra a autoridade2'; Deus seja louvado por isso. Como a
espada foi instituída por Deus para punir os maus, proteger os retos e garantir
1, a paz (Rm 13.lss.; 1 Pc 2.13ss.), está plena e suficientemente provado que
niatar e fazcr guerra bem como as conscquências da gueri-a e do direito de
guerra foram instituídos por Deus. Que E guerra senão punir injustiça e
inaldade.? Por que é quc se faz guerra, senão para alcançar paz e conseguir
obediência'?
Matar e roubar não parece ser obra do amor; por isso o ingênuo pensará
que não se trata de obra cristá ncin convém ser feito por urn cristão. Não
obstante, é, na vcrdadc, também uma obra do amor. E como o bom médico
que, quando o mal está muito avançado e violento, precisa amputar a mão,
o pé, a orelha ou extiipar o olho, para salvar o corpo; considerando o
', membro por elc ainputado, ele parece pessoa cmel e incompassível. Consi-
derando-se, porém, o corpo que cle quer salvar por este meio, constatar-se-á
que, na verdade, clc é uma pessoa capaz e leal, que pratica uma obra boa e
cristã (enquanto depender dclc). Assim também, quando considero como o
»Iício militar pune os maus, mata os injustos e provoca grande desolação,
parece tratar-se de obra nXo cristã e de todos os modos contrária ao amor cristao.
Se, porém, levo em considcraçáo que ele pi-otege os retos, mulher e
lilhos, casa e quinta, prcservando e guardando bens, honra e paz, constata-
se que se trata de obra valiosa e divina, e me dou conta de quc também este
amputa uma perna ou mão para que náo pereça o corpo inteiro. Pois tudo
', que existe no mundo sucumbiria na discórdia, caso não o impedisse a
espada, mantendo a paz. Por isso uma guerra dessas niio é outra coisa senao
Guerra dos Camponcscs
uina pequena e breve discórdia que impede uma discórdia eterna e incoineii-
suráyel, uma desgraça pequena que impede uma desgaça maior.
E verdade tudo aquilo que se escreve e diz acerca do grande mal que a
guerra r e p r e ~ e n t aDever-se-ia
.~ considerar também, entretanto, quanto maior
é aquele mal que é impedido com guerras. Claro, se as pessoas iossein retas 5
' I N.i Iiii.i:iiiii-:i dç çntZu havia aulores que defendiam idéirri pacifistas. Por cxcmplo, Erasn~o
( 1 , I:<~l<,iil;i(1466169-1536)publicara Querela Pacis em 1517, um cscnto cuja hadupio ao
. i I r i i i ; i i ~ I x ' i I.c« Jud (1482-1542) em 1521, iiiiitulada Ein klag des Frydcris (Um Clamor
I I Ihrsg. v. A. M. Hdas; U. Her~og,Zurique, I969), teve considertívcl rcpcrcussáo. ''
I i i,. :,li: "A gucira, pelo çuntrdno, é 120-somente um mar e no revolto de todos os males,
i i , i I i t \ i > < prc,ji~íz«s c toda desgraça, que CSLZU presentes na nalweza das coisas. Por causa
i 1 . i i:iii.iiii. ~ é florescente sç tonia mur~.ho;tudo que linha crescido e sido cnnslruído
i u ~ l rquc
i I i i i , i i i i i i c dcs;ih;i; tudo quc é beni ordenado decai e se arruína; tudo que é doce iica amurgo.
I . . I l'i,ii;iiiic>, prisia atcn~" I m E m Lu, guerreiro: as guerras, que por ordcm divina lovdni
: ~ I ~ I o v : I L I : ~ c . 1<11113111ils ~ Ç S S « B S IInp~msilianii de Dcus" Ip. 15, 231.
''I i '1. SI I 0 . 0 ~ Vqje . iambim o çscrii« B;i M>i~l;i<ic Cilivu. In: Ohra? Sclccionii<l:is,v. 4, li.
i I I ) 17 210, cspcc. 38-41. <iiidr cssi pciisiiincnlo 6 mais ;iprolil~iil;icli~.
.!O V<,i;t ari!!!;$ 1,. 3f4, 11. 17.
i irierra dos Cnniponeses
largar tudo.3' A isto S. Pedro e Paulo dão uma rcspostii suficientemente clara,
pois ambos preceituam também no Novo Testameiito que se obedeya à
i~irlcmhumaiia e aos maidos da ;iiitoridade secular.'.' E conforme r>iivirnos
ticiina, Sâo João Batista, como mesire cristão, instiuiii ci-istâmeiitc os sold~i-
dos, mesiiio assim deixaiido-os pernianecei- soldados, só que mio deviarii i
Iiuer abuso disto, cometcndo ir~.justiçaou violêiiciri a quem quer que seja,
inas que se deviam dar por satisSeiios com o seu soldo. Por isto taiiibém no
Novo Tcsranento 21 espud;i está coníinnada pela palavra e pela ordem de
rlcus. E os que dela fizcrem uso con'eto c lutareni ein ohediêiicia, com isto
i~iiiibémesiao scrvindo a Deus e obedecendo à sua pala~ra.'~ 10
crisià«s 1130 lutam, neiii têiii ;iiiiorida<lcsecular dehaixo de si. Seu regimeq6*
espiritual, e. no que tange o cspuito, não estão sujcitos a ningueiii, senão
:i ('risto. Não obstante, com seu corpo c com seus bens estão si!jeiios à
;iiiii~i-idiitlcsccular e têm a obrigação de obedecer B mesina. Sc, agora, a
ii l.i.i.,irt<t ;iiciimenta dc foirn~tscrnelhanie eiii E h inkl;i~ d m Fry<lem (veja acima p. i&, ti.
'.I i: "1 1, iiiclriis, quando gucrrc:u;uii. lorani chamados, eiii:idi>s. dirigidos e prnregidos por
1 l ~ . i i \ I... . I 0 5 cristjos, nn ciitanto, [...I quand" guerrcialri, s Z o iiii>vi<lus1x0-iuriirntepela
. i i i i I ~ i v , . i ~ >i, peia raiva. 0 C O I I S C ~ ~ C ~ inlziine.
TO qiie o? cxta\ia c iinpulsioiia, t. a g~nâiicia
iii,.;iu i:iv<.l. c qiiem os discipliiia E a cobi<:i. que jamais podc scr sari\Teii:i" (p. 28s).
i Vi.1:~. i < t i i i : i 11. 82.25-X?,5.
I
i 'I . 1 iirpl(: »cri-. 2" pais, causa 23 qu. 1 c:n. 4s.
< ,,, v.y xrimt p. 352. 11.34.
i r , i I . Mi 5. ri, Liiicin iiiilica ,Seci~lir.l.:~lL;L ~ I /71>111<>
~ r ueqcrito D:, .irtc~rid;a<li- C CL. / I r ch:vc
nn I???, veja acima. p.
~ili~~~Iii:r!i!;i,~p~~lilic;i<lo 79-114, cs~ci;iliiicntcXLl,lh~3l.Qiieiil<i ;to
I~~V.I~ICU\.I~II""L' <Iç LUICIO sollir O p:~citisi~~o
dos iu~ith:~ii\i,t\C VC~;, 11.
cspirii~i~li~ii~'i.
x i ~ . . ' S IS. ('I. 'Ilu~llCm:~c.ilita,li. 24 c 3 1
ir8.i 1 '<i111 < I i i i i i i i , "lcginii." ii:tilii,,-si: ;ailili I<<.,c~oIcIII.
autoridade seculiu exige que eles vão à luta, entZo devem e precisam lutai-
por obediência, não como cristãos, mas como membros e súditos obedientes
no que taiige o corpo e os bcns temporais. Por isso, ao lutarem, não o fazem
para si mesmos nem por voiitadc própria, mas ii serviço e em obediência h
autoridade a que estão sujeitos, confoiiiie escrcve S. Paulci a Tito: "Que se
sujeitiiiii (...) as auioridiides" [Tt 3.1 1. A este respeito auida podes ler no
opúsculo acerca da autoridade secular.
Este é o resuiiio ripido e rasteiro de tudo islo: o ofício da espada 6 em
si mesmo justo, constituindo uma oidem divina útil, a qual Dciis não quer
1 ver desprezada, mas temida, tiomada e obedecida, caso contrário não faltará
a vingança, conforme diz S. Paiilo em Rm 13.2. Isto porque ele estabeleceu
dois tipos de regiriic entre os seres liiiinmos: um esliii-ituul, através da
paliivra e sem a esp:tdli. por inteimédio do qual as pessoas se devcin tornar
piedosiis c justas, de tal forma que coni csia justiça elas alcancem a vida
1, eterna, sendo que essa justiça ele administra através da piilavra por ele dada
aos pregadores; o ou1i.o é iim regiriie sccular através da espada, para que
aqueles que não querem se iornar retos e justos para a vida etenia através da
palavra, não obtante sejam levados pelo regime secular a serem retos e justos
peiluite o mundo; essa justiça cle administra através da espada. Embora não
1 qucira cecompensar esta justiqa com a vida eterna, ele a desej:i mesmo assim,
para quc se mantenha a paz entre as pessoiis, sendo que cle a recompensa
coin heris temporais. Por este motivo di às autoridades taritos k n s , tanta
honra e poder, para que elas com boa ra7jo possuaiii estes privilégios eiii
relação aos outros, a fim de lhe senis admiiustsando esta justiça secular.
:* Assim o próprio Deus é o iundador, seiihor, ines1i.e' proinoior e rernuiierador
de ariihos os tipos de justiça, seja espiritiial ou corporal. Nisto nada há de
ordem ou poder huniano. inas trata-se de d g o puramente divuio.17
Visto que, no qiie tange o ofício e a função em si riiesmos, não há
qualquer dúvida de que se trata exclusivarnentc de algo justo e divino,
1 queremos nos ocupar agora das pessoas e do que é feito desta fun~ão.
Pois este é o ponto cmcial: saber corno e por quem deve ser usado estc
oficio. Aqui t;unbéin surge o probleriia de que, ao se procurar estabclecer
ccrliis regas e leis, aparecem tanlos casos e exceções que se toma muito
difícil ou até impossível formula- tudo exata c equitativamerite. Isto sucede
Lariibém com todas as leis, pois há casos que exigem uma exceção. E se não
sc pccmitir a exceção, seguindo cegamente a justiça do direito, esta seria a
inaior das injosliças. E como diz o pagZo Terêiicio: "A justiça niais rigorosi
.17 ( ' ~ , I I I ~ ' : < I V;ici~ti;i, I>.X4,:II XS, 4: X7.IX 30; 07.28-')4,J.
I I 'i 1. ( A . t i . l i .
C n maior iiijiistiça"". E Salomão, erii seu Eclesiastes4, também eiisiria que
iiio se deve ser demasia(lainentejusto, mas, ao invés, ocasiomilmente procu-
riir não ser sábio.
Para dar urn exeriiplo: Na recéni passada rebeliáo dos criiri~~oneses~~
constatou-se que alguns a acoinpaiiharam a contragosto, principaliiiente gen- s
ic abastada. Isto, porque a rebeliáo se dirigia tanto contra os ricos como
contra os soberanos. E de se supor que, baseado na equidade42, a rebelião
ii'To agradou a nenhum rico. Pois niuito bem, alguns tiveram que acoinpanhi-
Ia contra a vontade. Alguns também se deixaram obrigar, acreditando que
poderiam frear a multidáo louca e, eventualmente, impedi-la em suas inten- 1"
<;õt.smalignas com bom conselho, p x a que não praticassem tantos desiiian-
dos, para o bem das autoridades beiii como em prol dos scus próprios
ititeresses. Alguns também a acorripaiiluu~imcom autorizaçâo de seus supc-
riores. os quais consultarain primeiro. Assirii ainda pode ter havido outros
ciisos i&riticos. Pois iiinguém coniegue iiiiagiiii-10s todos, ncm prcvê-losna lei. 15
Muito bem, aí estA eiii?~oo direito a nos dizer: Todos os i-ebeldes são
culpados de morte. Na inultidáo insurgente hram enc»ntrad»s csses três
tipos de pessoas em flagrante. Qoe sc deve fazer com eles? Caso iiáo se fizer
iiiila exceção aqui, impondo o dircito severo e rígido, segundo o qiie ele reza
cxteriomente acerca do ato, esscs também precisam morrer como os outros 211
L~LIC,além do alo, apresentavam coraçáo e voiltade culpados, ao passo que
;yuelcs tinham corqXo úioce~itee boa vont?dc para com a autoridade; coino
iio caso de alguns dos nossos fidalg~inlios~~, os quais acreditavam poder
:irrebanhm algo para si particularinerite dos ricos, contanto que Ihes pudes-
ciii dizer: Tu estiveste no meio da rii~iliidão,é preciso acabar contigo. Assim 2s
praiiciirrun grande injustiça para coiii rriuita gente, derramaram sangue uio-
ccritr. fizeram viúvas e ófaos, além de lhes tirar a propriedade, e ainda assiin
sc corisiderarii da nobreza. Sim, claro, da iiobreza. Acontece que os excrs-
11ici1to.stambCm são da iiobreza e podem se jactar de provir do corpo do
iiohre, cmbora fedam e i130 teiiliarn qualquer serventia. Assim i:unb&in estes
~>ixlciiiser da nobreza. Nós aleináes sorrios aleriiães c pennrirircciiios aic-
ii~:ii:s,isto é, porcos e animais u-I-acionais.
1'1 Nii icxio original Das sinngcst recht ist das dergrossest vmchl, uma vzrsão alem3 pua
;i cxrircssão Surnnium jus. surnrna iniuiia. frcuüentemente citada riiir Lutcro e nrcrrnte nas
I0 ('I: Ec 8.17.
I I Siihrc cssi acontcçirnenl« e as wsicòcs <Ir1.utcm iia i>çasião.veia acinia 3 i ~ ~ l r o t l ~ ~IICI:~
<;Io
Por isso digo agora: nestes casos, coriio o exemplo dos três tipos de
pcssoas acima mericionados. o direito deve retroceder, prevalecendo em seu
Iiig~i- a eqüidade. Pois o direito declwn sccamente: A revolta merece a morte,
por constitui^. crimen lesae rn:ijestatis. por ser pecado contra a a u t ~ r i d a d e . ~
A eqiiidade, ciitrstanto, diz assun: Sim, prezada justiça, é assim cortio dizes.
Pode acontecer, eniremito, que duas pessmis pratiquem o mesmo ato, m;is
com coi-aqí>ese intenções distintos; como Jiidas, que beijou a Cristo Senhor
nti o que exteriomente é uma obra boa, scu coraqão, porém, estava
mal intencionado c atraiçoou seu Senhor através da obra boa, a qual, no
mais, Cristo e seus discípulos praticavaiti entre si dc bom coração&. Em
contrapartida. Pedro sc assentou a beira do Cogo com os servidores de Anás
c se aqiizceii junto com os ímpios, o que 1150e boriiJ7,ctc. Se vigorasse aqui
( I direito rigoroso, Judas tri-ia que ser uin hoiiicm piedoso, c Pedro, uni
velhaco. Eriiri'taiito, o coraçao de Judas era iiialvcido, o coração de Pedro ci-a
1 hom.4xPor isso aqui a eqüidade deve rcger o direito.
Portanto, aquelcs que estiveram com boas intcn~õesentrc os rrvoltosos,
iiio apenas sàci absolvidos pela erluidade, mas ainda são dignos de dupla
:21-;i~ir.
Pois são precisamente com» o picdoso Hiisai, o araquita, o qual se
,juiitoii ao Absalão rcvoltoso, fazendo-se iiiiii obediente, tanh6m por oidrin
dc IXivi, tudo isso com n intcnçio de ajudar a Davi c inipedir Absalzo,
conlòtme h ~ d oisto está muito bem descrito em 2 Sm 15.32-37; 16.16-19.
Exteriomente também Husai foi rebelde contra Davi, juntamente com Ab-
salao. Entretanto ele acabou merecendo paude elogio e glóriza eterna perante
Deus e todo riiundo. Se Davi tivesse maridado piinir o mesmo Husai como
.. rcvoltoso_ isto teria sido iim ato tâo I«uv:ívcl coiiio agora aquele praticado
por nossos piíncipes e fiddguinhos para coiii pessoas igualiiienie inocentes
c: ate berieriiéi-itas.
Esta virriide 011 sabedoria que sabc e deve dirigir e m e d i o direito
I-igoroso de acordo com os casos c que julga a mesma obra boa ou imá,
ilistiiiguindo riiire as intenções c os corações, chama-se em grego de epjri-
Ai,{. em latini, de equitas. Eu ;i cli;uiio de "eqiiidade". Pois, visto que o
'1.1 U . 'Xngler, em scu Der neu Leyen.~picgcI(Novo Espelho dos Leigos), publicado no mo dr
1514 em Eslrashurgo, traz a scguiiite deínição: 'Climeii le~emUiesiatjs é um criinc
colpi~soou urna calúnia de alguém çonlra a autorididc. iniperador, rei. pniicip ou riutro
<Içsiux senhoris e wnlra seus prii,ilCoios, segurariqa <iii comitiva. Ddse LmiErn por incici
<li. ti,iq;i<i. aju<la,conselho, inão xi~i:ida,ciilrexa :tu inimiga h dados sigilosos. hoslili<l;alv~
iiii iihrliiic~ conira ti aiiloridadr cm ulna cidade. [O ciilpurlo] deve sri- pcsailamcnic puliiiliv
ctu \LI:( I h o ~ ~ r c<>rpo,
a, vicia i lxttri1n6nic ~ 1 . ju5ri$'1
d ir?iperial".
.I? MI ?(i ..1<1.
.llt '1: I , < 7.15; I<,,, l(>,lf,: I (,,, I(,.?[l.
. I / ('I'.MI ' ? l ~ . l ~ ~ l ~ l 5 .
IS 1'1 I Siii l t i 7
<;iiera dos Camponeses
dircito precisa e deve ser fixado de forma simples, com palavras secas e
hreves, ele não pode englobar todas as situações casuais c impedimentos. Por
isso os juizes e senhores precisam ser prudentes e retos, medindo a eqüidade
com a razão e Fazendo o direito prevalecer ou rctroccder de acordo. E como
iim amo que prescreve à sua criadagem o que deve fazer neste ou naquele 5
dia. Aí está o direito: quem não o fizer ou cumprir sofrerá seu castigo.
Acontece que alguém pode adoecer ou ser impedido sem culpa própria. Aí
cessa o direito c seria um amo colérico aquele que quisesse punir seu servo
por causa desta omissão. Por isso todos os preceitos referenles ao ato preci-
sam e devem estar sujeitos à equidade como sua mestra, por causa das I ~ I
iiiúmeras, incertas e variadas situações fortuitas que podein surgir, e as quais
iiinguém pode descrever ou formular com antecedência.
De acordo com isto nós, agora, também dizemos do direi10 de guerra49
ou do emprego da função militar no que se refere às pessoas: a guerra podc
scr levada a efeito por três tipos de pessoas, ou seja, primeiro: uma pode 15
cstar lutando contra o seu par, isto é, nenhuma das duas pessoas está
comprometida ou subordúiada à outra, mesmo que uma delas não seja táo
grande, importante ou poderosa como a outra; segundo: quando um superior
kiz guerra a seu subordinado; terceiro: quando um subordinado luta contra
seu superior. Ocupemo-nos primeiramente do terceiro caso. Aqui vigora o 211
(lircito, quc diz: ninguém deve combatcr nem lular contra seu senhor supe-
rior; pois à autoridade se deve obediência, honra e temor, Rm 13.1;4. Pois
(~iicrngolpeia acima de si mesmo, caem-lhe as lascas nos E como
diz Salomão: "Quem atira pedras para o alto, elas lhe caem sobre a cabeça"
[l'v 26.271. Este é, em suma, o próprio direito que o próprio Deus instituiu 25
c que foi aceito pelos homens. Pois isto não se coaduna: ser obediente e
opor-se lutando, ser súdito e não querer suportar o senhor.
Uma vcz que dissemos, entretanto, que a equidade deve ser a mestra do
direito e, quando a situaçáo o exigir, dirigir o direito, impondo-o ou permi-
iiii(1o proceder contra o mesmo, pergunta-se, agora, se também pode ser iil
i.iliiii;iíivo, ou seja, se também pode surgir a situação em que se possa ser
iI<.solicdiente2 autoridade, combatê-la, destituí-la ou prendê-la, contrariando
t.sii. ilircilo. Pois em nós seres humanos existe um vício chamado fraus, dolo
t ~ i i iisiiicia; quando a mesma ouve quc a eqüidade está acima do direito,
i.ttiili)riiicfoi dito, ela fica completamente hostil ao direito, fica maquinando $5
(li:) c iioite como, a pretexto e sob aparência de equidade, ela se torne
iiiic,icssante e se faqa vender com a finalidade de anular o direito e para que
rI:i ~icahesendo a queridinha que o tivesse feito bem. Daí o refrão: ''1nvent~1
Se Também Miiitxes Ocupam Função Bem-Aventumki
lcgc, inventa cst fraus lcgis". Se aparccc uma lei, logo aparece também ;I
dona fraus.
Os gentios, como nada soubessem de Dcus, também não reconheceram
que o regime secular é ordem de Deus (pois o consideravam destino e ação
5 humanasjl); nele intervinham sem pestanejar e não somente achavam eqüi-
tativo mas também 1ouvável depor, matar c desterrar autoridades imprestá-
veis e malvadas. Por isso os gregos prometiam, com leis públicas, presentes
c preciosidades aos tiranicidas, isto é, aqueles que esfaqueassem ou matas-
sem um tirano.52 Os romanos seguiram esse exemplo amplamente em seu
1 impéno, assassinando eles mesmos praiicamente a maioria dos seus impera-
dores, tanto é quc neste mcsmo louvável impéno quase nenhum imperador
acabou sendo morto pelos inimigos [de hra]. Deixaram poucos deles morrer
na cana ou de morte natural. Da mesma forma os povos de Israel c Judá
também mataram e assassinaram alguns dos seus reis.j3
15 Estes excinplos, eiltretanto, não nos bastam, pois aqui não interessa o
que fizeram os pagãos ou judeus, mas o que é justo e eqüitativo, e isto niio
somente perante Deus no espírito, nias também dentro da ordem exterior
divina do regime secular. Pois se ainda hoje ou ainanhã um povo se levan-
tasse e depusesse ou matasse seu senhor, muito bem, estaria feito, os senho-
' 1 res tciiam que conlar com a possibilidade de que Deus assim o tivesse
disposto. Mas isto ainda não significa que se tivesse agido de forma justa c
eqüitativa. Até agora não deparei coin nenhum caso em que tivesse sido
eqüitativo, tampouco posso imaginar algum atualmente. Os camponeses rc-
voltosos alegavam que os senhores não queriam permitir a pregaçiio do
,, Evangelho e que eles estariam explorando o povo pobre, razão por que se
teria que d e d á - l o s . Mas a isto já tenho dado a resposta dc quc, mcsmo quc
os senhores pratiquem injustiça, não seria equitativo nem justo também
praticar a injustiça, ou seja, ser desobediente e destruir a ordem de Deus, ;I
qual não é nossa; ao invés, deve-se suportar a injustiças4. E quando iiiii
príncipe ou senhor não quer tolerar o Evangelho, procura-se, entZo, outro
piiricipado onde seja pregado, conforme diz Cristo: "Quando, porém, vos
perseguirem numa cidade, fugi para outra" [Mt 10.231.
Quando um príncipe, rei ou senhor ficasse louco, seria equitativo dep6-
10 e inantê-lo sob parida; pois agora não se pode mais considerá-lo um scr
clue o louco c o tirano não sáo casos ,iclênticos. Pois o louco não consegue
krzer nem tolerar nada de raciorial. E um caso perdido, urna vez que se
apagou a luz da razáo. Um tirano, entretanto, ainda faz muito; assim, por
cxeinplo, ele sabe quando está agindo injustamente, sendo quc consciência e
cogniçZo ainda estão prcscntcs nele, além da esperança de que ele possa li]
;I sofra por parte dos súditos. O povaréu não conhece limites e dentro de cada
i i i r i Iiá mais que cinco tiranos. E melhor sofrer injustiça de tim tirano, isto é,
iI:i ;iiiiondade, do que soíier injustiça dc inumcrávcis tiranos, isto é, do populacho.
Iliz-se que em tempos passados os suíços também assassinaram seus
''I 'I'. I ) i i 4.29,33. O uso da razão diferencia o ser humano dos minxiis. Por conscguintc, a
iI<.l~i.iiiicia ineiital cxçliii de rzsponsabilidade. Veja a respeito CorpIC, Decr., 2" pars, cauu;i
1'1. ilii I. cai,. 3.
'iii Vi>:i :iciina p. 99.20-28 c p. 102.10-21.
' i 1 7i.r vi,) Sulpício Gzrlba, inipcrador r o m m de 68 a 69, roi assassinado pela guarda preturii-
~ ~ i l d a r apenas
le fica ~iiaiore mais forte. Deve-se suportar que mullier e
fillios, corpo e bens de todo mundo estejam em perigo e caiam em desoma?
Quem fará qualquer coisa direita sob estas condições de vidal" Eu respondo:
A quem estou ensùiando, afinal, nâo és tu, que queres Sazer o que te agrada
e o que te der iia telha; vai atrás dos teus intentos e inata todos os teus 15
~cnliores.Vê Iá como tc sucederá. Ensino apenas àq~ielesque gostariam de
:%ir corrctameiite. A estes eu digo que não se pode fazer oposição à autori-
dade com violêilciii e i-ebelião, como o lizei-aili os romanos, gregos. suíços e
diiiamarqueses. Ao invis? existe outra maneira. Ein primeiro l u g a a seguin-
te: ao veres que a autoridade i'= tão pouco caso da salvação de sua própria 20
:iliiia a ponto de soltar sua fúria c praticar injustiças, que te imporlas que ela
iirruuie teus bens, teu corpo, tua mulher e teus filhos'! Pois à tua alma ela
inão pode causar prejuízo, prejudicando mais a si mesma do que a ti, uma
vcz que está condenando a sua própria alma, ein conseqüência do que
iniiibciii terão de se arruinar o corpo e os bens. Na0 achas que esta vingan~t ir
.,
~ i t:i suficiente'?
Segundo: Que faias se esta tua mesina autoridade estivesse em guerra,
ii:i ilual não somente teus bens, lua mulher e filhos, inas tu mesmo tanibkm
;ii.;ih:ii.ias destroçado, preso, queimado, morio por causa do teu seiilior'?
M;it;irias o teu senhor por causa disto? Quanta geiile excelente não perdeu o 211
ct>lt.iic.t~ c iiiina guerra perigosa que vitima muitos homens excelentes. hon-
i;itlt,s c. iiioceiites? Sini, uiii tirano malvado 6 iiiais suportável que uma Suerr;i
770
Se h b i i n Militares Ocupam Funçáo Bem-Avcniiil;al;i
maligna. Com isso terás que concordar, caso interrogares tua própria razão c
consciência. Acredito perfeitamente que gostarias de ter paz e dias bons. Quc
será, entretanto, se Deus os tirar de ti com guerra ou tiranos? Calcula c
escolhe, então, se preferes guerra ou tiranos. Pois mereceste a ambos e iens
i esta dívida para com Deus. Mas nós somos do tipo que quer ser malandro c
pcmmcccr em pecados. O castigo pelo pecado, entretanto, queremos evitai-,
ainda nos opondo e defendendo nosso pecado. Nisto teremos sucesso como
o cachorro que morde em espinhos.
Terceiro: A autoridade é miilvadal Muito bem, então temos aí Deus, que
1 tem fogo, Qua, ferro, pedra e inúmeras maneiras de matar. Quão rápido não
estraigiila clc um tirano? Ele realmente o faria. Mas nosso pecado não o
suporia. Pois assim diz ele em Jó 34.30: "Por causa do pecado do povo, ele
lãz uma canalha governar". Podemos ver perfeitamente que uma canalha
está no govenio. Mas o que ninguém quer ver E quc ele governa não por ser
$5 uma canalha. - Tão cego, perverso e louco está o mundo. Por esta razão
tanbé~nsuccdc coino aos camponeses na rebelião, que queriam punir o
pecado da autoridade como se eles mesmos fossem completamente puros e
urepreensíveis; por isso Deus lhes teve que mostrar a trave em seu olho, para
que se esquecessem do argueiro do outro".
Em quarto lugar, os tiranos correin o risco dc, ab-avés do desígnio de
Deus, seus súditos se insurgirem, como foi dito, e matá-los ou expulsá-los.
Aqui cstanos ensinando àqueles que querem agir corretamente, cujo número
é muito reduzido. Ao lado destes continua existindo a grande multidão dc
gentios, ítnpios c não-cristãos, os quais, caso Deus o determinar, resistem
,, injustamente à autoridade e causam desgraça, como tantas vezes o fizerani
os judeus, gregos e romanos. Por isso não podes licar te queixando de que,
através desta doutrina, os tiranos e as autoridades se sintam seguras eiii
praticar o mal. Não, é claro que não estão seguras. Está certo que ensinamos
no scntido de ficarem seguras, tanto faz se Deus os leva a praticar o bem ou
1 o mal. Mas nós não Ihes podemos dar ncm garantir essa segurança, pois n5o
podetnos Forçar as inassas a atender à nossa doutrina, se isto não for dado
pela graça de Deus. Podemos ensinar o que quisemos, o mundo nem por
isso deixa de Iazer o que quer. Deus precisa ajudar e nós precisamos ensin;ir
:iquclcs que de bom grado agiriam bem e corretamente, para o caso dc
cvçiitualmente poderem ajudar a conter as massas. Com a nossa doutrina os
siipcriores estão tão seguros como sem a nossa doutrina. Pois infelizmeiitc
; I C ~ I I ~ C Cque
C tua queixa é desnecessária, u n a vez que a maior parte do povo
iilio tios obedece, estando somente com Deus e nas mãos de Deus a prescr~
.: d;i autoridade, da mesma [orna como foi cxclusivaniente ele queiii ;I
v.,i$.io
( iiiçrra dos Cainponcses
ordenou. Isto kiinbém experimentainos na revolta dos camponeses. Por isso
ii"io te deixes levar ao engano de que a autoridade é má. A puni~àoe a
dcspiqa ihe estão mais ~ir6xirriasdo que poderias desejar, conCorme a
coiilissõo do tirano DionísiobY,dc que ele vivia como que com uma espada
<Icseiiihainhadapendendo sobre a sua cabec;a presa a um lio de seda, tendo 5
cicbaixo de si um fogo ardente e abrasador.
Quinto, Deus ainda tem outra forma de punir a autoridade para que nZo
icrihas a necessidade de te vingares tu mesmo. Ele pode invocar autoridade
cstrangeiu. como os godos conlra os romanos, os assírios coirtra Israel, c t ~ . ' ~ '
Assiin, por toda parte já há vingariça. puniçáo e perigos suticieiites ameaçan- 11)
(111 os tiranos e as autoridades. E Deus 1130 os deixa serem maus trniicliiila e
:ilcgremente. Ele os segiie tlc perto, siiii, cstií no scii rc<lorsegurando-os 1x10
11i.io c entre as esporas. Neste seritido, ainda se marlifesta o direito natural
~~iisiriado por Cristo em Mt 7.12: "Tudo quanto qucrcis qiic os homens vos
I':~r:;itii~ assim fazei-o vós tambéni a eles".71 Pois é claro que jamais um pai 15
kiinília gostaria de ser expulso. morto ou arruinado pelos seus por causa
i l i . i i i i i desmando seu, principalmerite se o i'izessem por petulante c violenta
iiiiciiitiva própria para se viiigar a si mesmos c serem juizes eles mesmos,
:.c.iii queixa prévia perante outra aiiioridade superior. Iguulinente injusto
iIi.vcria ser também que qualqucr síidito agisse coritra seu tiraio. ?i,
71 C1: (;e.sia Romnniviiin n. 53 (148), e<!.p. II. Ocirc~lclzy.reimpr. Hildriheim, 1963, p. 340.
V+ ianibini WA 51,255,IZs.
73 ('1. Aiistiiielrs, Rlirr~iiic;~
2, 20; .l<isero,Anriqiii1:irc.s 18, 174s; <?esl;, Romnrioi~ii~i
li. 51
i 156).
. Vcki
., taiiihéiii 551.755.13s.
7.1 l ~ . fi11>,,1;,c
~ ~ 44~ c ~70. ~ ~ ~ ,
7 5 lKrlci?iici;i ; i iiiii ii.ciirhii i i l i l i , ; i i i i i l):!ra lio,il:ir <>r~ i i i > v i i i i v i i l i > udc iiln c;ii,. pelo i ] t ~ : l l \i.
~u<.r~cli:i
iiiii l".cl:iv,i < l i . I I : # I ~.I \L.(# ~ > C . * \11111.
<I~ < I .1,111 \LI;!\
Il:lli:( ~pcli~its
C:IIO I,<II,\C.
quis e o sofreu até o fim7" Caso surgir uma guerra ou disputa contra o teu
siiperior. deixa f z e r guerra e disputas quem qiiisei-. P~iiscomo está dito: Se
Deus iiáo contivcr a multidão, nós é que nao o poderemos. Mas tu, que
ilucrcs proceder hem e manter tranqüila a tua coiisciêiicia, deixa de lado
:trmadiira e am1;i77 c não vás 2 luta contra teu seiihor c Ijrano. Antes suporla
tudo que te possa suceder. A multidão que o tizer, eiitrcku1to. haverá de
.
encontrar seu juiz.
Sim, dirás, como será se uiri rei ou senhor se compromete com seus
súditos, através de juramentos, a goveniar de acordo com artigos prcviamen-
tc Iòmulados, mas não os cumpre, teiido. por isso, a obrigação de largar o 111
!:~ivcino~~, etc.? Coiista que o rci da Franpi deve governar de acordo com os
parlitmeritos do seu reino, e que o rei da Duiamarca também é obrigado a
lirestar jurainento sobre artigos especiais7', etc. Aqui respondo o seguinte: é
i.qiiii:itivo e ótimo que a autoiidade govenic scguindo leis e as apliquc, em
vi./, de reinar de acordo coiii o arbítric próprio. Acrescento, porém, ainda, 15
iiilgarn, gritando: "Ora, significa isto, ao que entendo, que se deve ficar
i~iiicluilamenteadulando príncipes e senhores'? Ficas somente te curvando, a
pi<lir graça'! Estás com medo?"" etc. Tudo bcm, estas vespas eu deixo
11;is"ar de largo zumbindo. Quem puder que o faç'a melhor. Minha intenção
:igora não é de pregar aos príncipes e soberanos; penso também que aquela 2s
:i<liilaçãome traria graça muito r u h e que eles riáo se a l c g k a t n muito com
L.I;I, visto que ponho sua função em tão grande perigo, confoime se ouviu.
Isio Já afimiei suficientcmcntc em outras ocasiões, sendo, infelizmente, mais
i10 q ~ i ccei-to que a maior parte dos príncipes e senhores são tiranos ímpios
i. iiiiiiiigos de Deus, que perseguem o Evangelho"". AICm disso, Lenho 3"
nio, que a qualquer momento pode suceder ao corpo, à mulher, aos filhos,
cios bens c à honra. E se em determinada hora não sobrevirei11 dez inCoriunios
de uiiiii vez, sim, sc puderes viver tiniti liora sequer, deverias estar dizendo:
Ah. qtianta generosidade Deus me está denioristrando por não ter havido toda
sorte de iiif«itúiiio nesta hora: cotiio pode her islo'? Sob 0 <I<imíiiiodo diabo (7
cu não poderia ter sequer uma liora feli~,e assim por diaiitc. Assim ensina-
iiios aos nossos. Se queres, podes aiidas noutra; faze um paraíso p;u.:i ti, ao
1~11do ddiabo não tenha acesso, pmii que não precises contar coin a fúria de
i k n o algum. Nós ficareinos observ~iido.Ah, nós estamos passando bem
drniais, o desejo rios provoca, não coiiliecemos a bondade de Deiis, nem z~
iaiiipouco cremos quc Deus nos protege e qiie o diabo seja &o indigno. Só
queternos ser mcsmo uns patifes e r i o obtaiite somente receber coisas boas
de Deus.
Isso é quc queríamos dizer a respriio do primeiro poiiio, que náo se deve
lutar tiern disputar contra o superior. Eiiibora tenha sucedido muitas vczcs, ~5
c.iiicndido da sestiinte [orna: 11.30 quc seja justo começar lima guera confor-
iiic (lei-na telha de qualquer senhor iiialuco. Pois uma coisa quero dizer untes
(li. iiiciis nada: quem começa uma guerra, procede injustamente. E justo e
'I.' I<i,l;iç;iode simpatiiis i$ época, espccialmrriic usadas por supersticiosos n título de preven-
<:ai ciiiitra cems
docriqas: "Dança de S. Vito" [Vrilsf.mt7) ccoiiira uma es~2cirdc epilcpsia.
iil.uicl<i o xuiio patrono Vitu, um iiiinir da Cpucd do impcriidoi romano Dinilcci:un,. por
v<ili;i de 305; "Slo. Antão" contra a [xstc c 3 wisipçla, apelaridc iio eremita AntXo (11. c;,.
251). 11atco110 contra epidemias tanto eni geiitc cuiiio em animi~is- urna epidcilii:~ilc
~ . i i \ i l r l ; i , cliiuiiada "Febre dc Sio. Antão" (-i,ir<ii~iii.;l;.ueri, quc atiiuiu çspccial~riciilco
~ : i i l i >suíni>, Icvi>ii 21 priiiicir;t filiid;,yóo de iirnzi Ordcin dc Su>. AiitL, ia> 5i.c. XI 11,) si11 iI;i
I;I;II,<;C; "S. ()uici~~u''cor~tr;~ ~irlriic.l>:xtIi~i:!, I'LI~IÍ~ICLBIO c v:hríoI:t. i n v < t i ; t ~ ~ o
l t >l > ; n I r < ~ r lS.
t~
~ s o l i i> t~i >Il p~i >~~~. ,C~
l ) i i i i i i > i , . L I L I CI : ~ I v c ~ . I c ~ ~ l ~ itl~:t~lirio l I O i~~,lx.~itilo~.A,lrl:,ot~. 1>1>1 Y I > I I , I 11,. 1il1.
Se TinihCrii Miliims Ocupani Funçáo Bem-Avennicid;~
eqüitativo é que. por fun, seja derrotado e puiiido aquele que desembaiiiliou
a I2rniria por priineiro. Assim geralmente terii sucedido em ccidas as ocasiões:
pcrderain a guerra aqueles que a comcçarniii, e mui miiiicnte foram derro-
i;idos aqueles que tiveram qiic se defender. Isto porque a autoridade secular
ti50 Iòi estabclccida por Deus para romper a paz e começar guenns, mas para
que promova a paz e impeça os belicosos, confome o diz Paulo ein Rm
13.1' que o ofício da espada cstá eiii proteger e punir. proteger os rctos ia
paz e punir os maus com n guerra. E Deus, que não tolera injustiça, tiriiibém
faz com que os belicosos sejam cotnbatidos, conlòrme reza o provérbio:
1 "Jamais houve alguém tão mau que não tivesse encontrado outro ainda
pior". Neste sentido Deus também faz cantar a seu respeito no SI 68.30:
Di.s.si{~;itgcjiles qiiae bella volii~lt- 0 SENHOR dispersa os povos dcseiosos
de guem.
Toiiia ciiidado coin isto. ele não riienrc. E toma iiota que deves sahsr
1 ilisiinguu beni, b ~ m claramente entrc querei- e precisar, desejo e necessidade,
desejo de hrer guerra c disposição para lular; não dês ch~uiccà tentação,
;iiiida que scjas o imperador turco. Espera chegar a necessidade e a precisão,
sein desejo e voutade. Ainda ;tssuii terás o bastante quc làzer, e guerras
siificicnies a enfrentar, para que poss;is dizer e teu coração se possa irfnmr
dizriido: Ah. corno eu gostaria de ter par, sc meus viziiihos o quisessem.
Então te podercís dcfeiider de br~aconsciência. Pois aí está a palavra de Deus:
"Ele dispersa os desejosos de guerra" [SI 68.301. Observa os verdadeiros
guerreiros, que estiveram na luta. Eles nâo desembainham [a espada] &o
(leliress~i,não pruvocam, neni t t i i i ganas de bater. Mas quando silo obrigados
c se Ilies for ncccssário, cuida-te deles, pois nâo lutain dc brincadeira. Sua
ICinina está firme; mas se tê111 que puxá-la. ela não volta para a bainha serii
siiigue. Ern contraste, os loucos inscnsaios que primeiro fazem guerra eiii
lrcrisainciiio r coriieçam tão bcni devorarido o rnurido com palavras, sendo
i > \primeiros a tlesembainlini a espada, tambérii silo os priineiros a dai- no pL:
iiiciito. Por outro lado, quando estes mesmos reinos tomaram a iniciadva e
'J.1 l'icí1crii.o 1l1, o Sábio, duque, príncipe-eleiior da Saxônia (1463, 1486-1525) - veja
i:iiiil<iri acima p. 363, n. 14.
'I'> /\i ]?o\i~ócsdc Frc~lziicoquanto h questão do governo tutelar no Hessc, quando das
i~.v<ili:is ria cidade de ErSutl em 1509110, bem corno seus csfor$os por superar pacificamenie
.i\ ilivci~ênciasdc opinião com o duquc Jorge, o B~arbudo,da Saxônia - veja acima p.
súditos. riias por citusa de seus belos cabclos loiros. coriio se Deus o tivesse
Icito príncipe para gozar seti poder, seus bens e seu prestígio, ixlcs tendo scti
prucr C bascanrlo sua arrogància, alt'iii dc neles se fiar, este é um pagào.
sim, um tolo. Seria capaz dc inicia- iiiiin guerra pot- causa de uma noz oca.
svm se importar com nada senão aqtiilo qiie satisraça o seu capricho. Deus 2.5
:ii<. iioi;ir que scus súditos estão sendo atacados ou que a espada já está
i~.:iliiii.iiicem punho. Ele então luta o quanto puder e na medida em que ror
:.(.li ili.vcr e houvcr necessidade. Caso contsiúio, quem for táo covarde a 3.
<i*rstisiiiiiis insigndicaiites, seja ela um mero apito. Tudo isso, entretarito. não a
<.Ii.p,:i:i deixar Deus de mãos atadas como se ele não pudesse mandx fazer
jl,iic.ii-:i contra aqueles que iião nos deram motivação para isto, assim como
'300
Sc Tambéni Miliwres Ocupam Funçio Bcili~Aveniuradii
ordenou aos filhos de Israel lutar contra os canancusug. Pois Iiá motivo
suficiente para guerrear, ou seja, o mandamento de Deus. Eiiibora taiiibém
cste tipo de giiem nõo deva suceder sem temor e preocupaçrio. confoniie
Deus o demonstra erii Js 7.1-S1quando os filhos de Israel se sentiraiii seguros
iia cmpcinha contra os aítas, sendo, poréiii, dei-rotados. O mesmo tipo de
iieccssid;ide há, quando os súditos lutam por ordeiii da auiondade; pois Deus
ordeiia a obediéncia as autoridade^'^^, e seu niandnnieiito constitui uma
necessidade; isto, porém, também deve ser levado a cabo ein temor e hurnil-
dade. Sobie isto ainda falaremos abaixo.
A terceira questão é se o soberano pode ter razão eni fazer guerra contra
o subordincido. Acima ouvimos11sque os súditos deve111 ser obedientes e
também suporlar por parte dos seus tiranos; ou se,ja, quando as coisas andam
direito, a autoridade nada tem a ver com os súditos, senão no que tange a
administração do direito, dos tribunais e das sentenc;as. Quando, porém, se
1 rebelarem e se insurgirem, como o fizeram ultimamente os camponeses, é
justo e cabivcl combatê-los. Assiin também o príncipe deve proceder com a
sua iiobreza, c) imperador frente a seus príncipes, quando se rebelarem e
começarem a fazer guerra. Mas também isso deve ser fcito no ternos a Deus,
e ninguém se aferre ?I justiça, para que Deus não determine que. iiiesrno por
meio de injustiya, os soberanos sejam punidos por seus súditos. coriforme
ticonteceu muitas vezes segundo ouvimos acima. Isto porque ser justo e
praticar justiça não se coiidicioiiarii mutuamente, nem andam seinpre juntos;
suii, este jamais é o caso, a não ser que Deus o conceda. Por isso, embora
sqia cerio que os súditos permaneçam quietos, tiido suportem e não se
rebeleiii, esta atitude não está em mãos humanas. Pois Deus dispôs que a
pessoa siibordinada seja completamente um indivíduo por si só, tirando-lhe
:I espada e trancafiando a mesma. Caso, porém, se aniotiiiar e reunir adeptos
cm tomo de si, insurgindo-se com a espada na mão, ela se toma culpada do
,juízo e da iiione, perante Deus.
Por outro lado, o soberano foi instituído para ser pessoa pública, e não
somente para si mesma; ele deve ter a adesão dos súditos e conduzir a
cspada. Quando uin príncipe se dirige a um imperador como o seu superior,
cle não é mais príncipe, mas pessoa individual na obediência do imperador
como todas as outras, cada qual por si. Ao se dirigir, porém, a seus súditos
como súditos, ele é tantas pessoas quantas cabeças ele tiver a b & ~ ode si e
c111 a<lesão a ele. De fosma idêntica tamhém o imperador: ao se voltar para
I)eiis, ele não é iiiiperador, porém, pessoa individual como todas as nutras,
perante Deus; ao se voltar, porém, para os seus súditos, ele é imperador
tantas vezes quantos ele tiver abaixo de si. O mesmo vale para todas as
outras autoridades: ao se dirigirem a seu superior, não têm autoridade alguma
c estão despidas de toda autoridade. Ao se voltarem para baixo, estão
investidas de toda autoridade. Desta forma, em última análise, toda autorida- 5
de remonta a Deus, a quem ela pertence exclusivameiite. Pois é ele o
imperador, príncipe, conde, nobre, juiz e tudo mais, distribuindo estas Sun-
qõcs como ele quer em relação a seus súditos, anulando-as, em contrapafiida,
cm relação a si mesmo. Nenhuma pessoa individual deve levantar-sc contra
a coinunidade em geral nem procurar a adesão desta comunidade a si
niesma; pois se ela golpcar para o alLo, com certeza lhe cairão nos olhos os
estilhaço^'^'. Daí vês como sc opõem à ordem de Deus aqiicles que sc opõem
à autoridade, confonne o ensina S. Paulo em Rrn 13.2. E da mesma rorma
cle também fala em I Co 15.24: ele eliminará toda a autoridade quando ele
mesmo passar a governar e fazer tudo voltar para si mesmo. 1s
Até aqui os três itens acima. Agora vêm as perguntas. Nenhum rei ou
príncipe pode fazer guerra soziiho; ele precisa de gente que lhe sirva, assim
como ele não pode administrar a justic;a e o direito; para isto ele precisa de
conselheiros, juizes, juriscon%ultos,carcereii-os, carrascos e o que mais faz
parte do seu cxescício. Surgc, então, a pergunta se é correto que alguém i r 1
rcccba soldo ou (como chamam) remuneração por serviço prestado, ou paga,
a troco do qiial ele se compromete a prestar serviço militar para o príncipe,
~xidendoser convocado quando a ocasião o exigir, conlonne uso ora em
voga. Para respondê-lo, vamos fazer uma distinção entre estes servidores
niilitares. Em primeiro lugar, irata-se de súditos que de qualquer forma têm n
:i obrigação de apoiar seu superior, com o empenho do próprio corpo e dos
scus bens, e de obedecer à sua convocação, paiticulmente a nobreza e
aqueles que têm feudos da autoridade. Pois os bens que condes, senhores e
ciohres possuem foram outrora distribuídos e concedidos como feudos pelos
iriiiianos e seus imperadores, para que aqueles que os ocupassem pennane- $11
i.i.sscin constantemente ein armas e de prontidão, um com tantos cavalos e
Iiiiiiiciis, outro com tantos de acordo com a capacidade das propriedades.
I isi;is pr«pricdades constituíam seu soldo pelo qual estavam comprometiid
I'iii- isso também sc chamam de feudos e têm sobre si os ônus mencionados.
I(\iis Iicns o imperador permite herdar. Tudo isto é eqüitativo e está muito
1)i.iii iio Império Romano. O turco, por sua vez, ao que consta, nXo tolera
Iiiiilciros, nem pfincipados, condados, scnhoriqs, ou ièudos hereditiios. Ele
11s iiisiitui c concede quando e a quem quiser. E por isso que ele possui ouro
i. 11ii)liricdadesem quantidades incotnensuráveis, sendo, em suma, senlior (10
I I ; I ~ Y , OU iiielhor, um tirano.
Sc Também Militares Oçupain F~inçáoBsin-Aventur;iil;i
Poi- isso a nobreza não deve pensar que possui sua propriedade gratuitii-
mente, como se a iivcsse achado ou ganho no jogo. O 6nus que sobre ela
pesa, bem como o compromisso de vassalagem demonstram muito bem
donde e por que a possucm, ou seja, tein-na emprestada do imperador ou do
príncipe, não para nela viver no luxo e ostentação, mas com a finalidade de
cstar pronta para a luta, para defender o território c cuidar da paz.In Se,
agora, Iicam se jactando de como precisam criar cavalos e seivir a príncipes
e senhores enquanto outros vivcin em paz c tranquilidadc, eu direi: Meus
caros, sede agradecidos por isto. Vós tendes vosso soldo e vosso feudo, e
1 ' com isto esvais destiiiados para cste ofício, para o qual sois bem pagos.
Acaso, os outios não têm igualmente trabalho suticientc com sua pequcnina
propriedade, ou seríeis vós os úiiicos que tendes trabalho, quando, na reali-
dade, vossa função somente é cxercida exccpcionalmentc, ao passo que
outros precisam praticá-la diariamentc'? Se, porém, não tiveres a disposição
1 , para isso ou se isso te parecer muito pesado e injusto, então abandona tua
propriedade. Setn dúvida se acharão aqueles que de bom grado a aceitaráo,
c em troca iarão aquilo quc a lei exige.
Por isso os sábios resuiniram c dividiram toda obra humana em dois
tipos: agriculturani e militiazn, ou seja agricultura e atividade militar1ix,uma
divisão que sc dá naturalmente por si mesma. A agricultura deve alimentar,
a atividade militar dcve deleiidcr, sendo que aqueles quc estão no ofício
iiiilitar devem reccber sua rcnda e seu sustento daqucles que se encontram
na atividadc alimentar, para que possam exercer a defesa. Em contrapailida,
~i~lueles que se encontram na atividade alimentar devem receber proteção
kiqi~cles que estão na atividade militar para que os possam sustentar. O
iinperador ou príncipe do território deve cuidar dc ambos os ofícios e atentar
para que as pessoas que estão na atividade militar estejam armadas c alertas,
c aquelas na atividade alimentar se dcdiquem honestamente à melhoria do
sustento. Gente imprestável, entretanto, quc não serve ncm para a defesa neiii
Ipnra o sustento, mas apenas consome e anda ociosa e preguiçosa, ele não
~lcvctolerar, mas expulsar do país ou obrigá-la a trabalhar, como as abelhas
in;itam os zangões que não trabalham e ficam devorando o mel das outras
:iliclhas. Por isso Salomão, em seu E~lcsiastes"~, chama os rcis de constru-
iorcs qiic constroem o país, pois cste deve scr seu ofício. Deus, porém, nos
' !:i!;iida a n6s alcrnães, para que náo liqucrnos inteligentes tão ligciro para p6-
l i ) c111prática, de modo que ainda permaneçamos bons consumidorcs por
:iIj:iiiii tempo e deixemos quc sejain alimcnVadores e defensores aqueles quc
i i i i i voiii~idcpara isto ou que não o podem evitar.
Guerra dos Canipiiçsçs
Sáo João Batista confirma em Lc 3.14 que aqueles primeiros têni seu
soltlo e feudo com razão e procedem corretamente no servir a seus senhores,
ajudando-os na guerra conforme é sua obrigação. Quando os soldados lhe
perguntaram o que deveriam fazer, ele respondcu: "Contentai-vos com o
vosso soldo". Caso seu soldo fosse injusto ou seu ofício contrário a Deus. 5
ouira coisa senão derramu sangue, assassinar e causar toda sorte de sofri-
iiiento a seu próximo, conformc acontece na guerra.120 Devcm instruir sua
consciência de quc não exercem este ofício por petulância, prazer ou ódio,
mas que se trata de um ofício de Deus e que, perante seu príncipe e Deus,
tam a obrigação de exercr-lo. Visto que é um ofício direito, ordcnado por 1s
precisar e ter a obrigação de fazê-lo, com o que ele tem certeza de nisto estar
scrvindo a Deus, podendo dizer: Quem golpeia, mata e fere aqui, não sou
<.ti. iii;is Deus e meu príncipe, cujo servo são agora meu corpo e minha mão.
I510 G o que significa tambem a senhai2Ie o grito de guerra: Pelo imperador!
I'i.l:i Ikinça! Por Luneburg! Por Braun~chweig!'~~ Assim também clamaram .1
123 Geitz hel,~tio texto original, uiii temo que abrange tanto o sentido de "svmnto" coiiii,
r i de "gaiisiciaso". "Ganância" C um conceito limdamcntal na reflexào tcol6gic;i iIc
Luiero sobre teiiias econômicos. Veja, por exemplo, wus escritos Com6rcio c Usura. I i i :
0lir;is Selecionadas, v. 5. p. (374) 376428, esplcialmente p. 377 n. 11: c Ao* Pasr<ii<n.
1';ri;i que Pre~ueinConrra s l i ~ u r a ibid.,
, p. (446) 447493.
124 ('1: Mt 10.10: 1 Co<).14.
125 ('1: I*. IO.<). Pxii iiin;i ;ilwir<l:igcni rii;iis demorada dc "Mhoii" vcju Pr6diic.i~Suii:iii;ii,\
si>l>ii. MI 57,ici Ohriis Scli.rioii:iil:is, v. S. p. (429) 431-445, cspcçialrnrntc [i. 412 ri. 10.
I ? O W,ja ;\ciu~:n1). .300,24 20,
iiircin por isso ou te climimm de infiel, é melhor que Deus te elogie como
fiel e sinccro do que se o iiiiindo te elogiar como fiel c sincero. De que
atlianlaria se o mundo acliasse que fosses Salomão ou Moisés, cnqutuito
Deus te considerasse 130 iiiao coiiio Saul ou Ac;ibeJ2"?
A terceira questão é se um militar podc assumir compromisso dc servir 5
<'r7
Guerra dos C ~ D M C S C S
não fosse a vanglória. Pois esses guerreiros ambiciosos não acreditam que
Deus está junto na guerra e dá a vitória. Por isso também não temem a Deus
nem são bem dispostos, mas petulantes e insensatos, acabando afia1 por
serem derrotados.
Entretanto, os melhores camaradas são aqueles que, antes da batalha, se 5
m leviano em tão grave situação, quando está í'reute a frente com o perigo de
morte. Acontece que ninguém o faz quando luta sozinho com a morte. Mas
no grupo um estimula o outro, de modo que ninguém se importa com o que
o atinge, porque também atinge a muitos outros. Terrível para um coração de
cristão é, entretanto, imaginar e ouvir que naquela hora em que se tem diante is
ii-:ihalliare exercer algum ofício até que sejam requisitados, e assim ficam
~~cnlcndo seu tempo de tanta preguiça ou por causa do seu temperamento
~clv:igmm eude. Pois não podem apresentar a Deus consciência tranqüila,
i r i i Ix>a causa para suas andanças, mas somente têm uma vontade louca e
iciiieriii-ia de fazer guerra ou de levar uma vida livre c selvagem, condizente 35
: i < ] csiilo desta gente. Por fim uma boa parte deles só pode mesmo dar em
~i~;il:i~idros e ladrões.'3hOutra coisa seria se se dedicassem ao trabalho ou a
Isso basta por ora. Também quei-ia ter dito algo sobre a guerra com os
iiircos, m a ver que se nos tornara tão próxima, e alguns me acusaram de
icr desaconselhado a fazer guerra com o turcoiu. Há muito sci quc cu
i;iiribéin deveria ficar turco e que de nada mc adianta ter escrito tZo elara-
~iiciltcsobre o assunto. Além disso, já ensinei no opúsculo sohre a autoridade iii
scciilnr como se deve fazer guerra com seu par.14s Como, porém, o turco
volioii para casa e iiossos alemães não rnais se preocupam com ele, ainda
1.10 A c;iiiili;iiih;i ~nilit;rr iIc 1526 <lu su11Zo Solinijo ii, Kaiuni (1494195. 1520-1566). cqit,
~,oiiio;i110 li>iii viliiria ii;i hii1;ilha dç Mohacz a 29 de agosto, quando morreu o rci I.riiv
11 (151Ki. 1516-1520) il;, Iliiiigi-i:), çiicrrrou-se coin sua volta a Constat~Iin<ipla c i ~ i31 <Ic
~i<ivi.iril,ri,.Siiliw ;i pv":! c.oiii os IIIICOS, vide hliur scgiiir~tc.
1.1'1 V,,;, ;~C~IOI;\ ;I i o I r < > < l t ~ y ~ <p~t ~ ~ ~rscrito,
c o l c .1, ? f ~ l l - ? í ~ l .
Guerra contra
os Turcos
Guerra contra os Turcos
INTRODU<;A~AO ASSUNTO
I//
~pcssii:iviria para se encontrar com o rei. Solimão I1 havia confimiiido Joáo Zápolya
( 14x7-1540 = JoZo 1 da Miingria) como rei da Hungria e não aceitava Feiiiaiido. Os
~iicmbrosda embaixada de Ferriando, retidos em Vene7;i coiiio espiúes, só voltUrain
,.i11 1528. Por essa razZo, Feniaridc precisava da conferencia de Espira em 1529, que
. ,
.iassou. Diante da ameaça dos turcos, Carlos V convocou ;i Dicta de Augsburgo 1s
ciii 1530, para conseguir a aliansa COIU os príncipes luleranos, qiic fizeram magnífica
iI<:lèsiido Evangelho com a CoiiíissZo de Augsburgo. Em 1531 Fernando foi eleito
siicessor de Carlos V, mas s6 se tornou novo imperador do Sacro Inipbio Romano-
( ;i.riiiâiiico com a abdicação de Carlos V em 1556.
E111 1529 Viena conseguiu resistir ao sítio dos turcos. Onzc anos depois, em 2ii
15-10, quando Joáo Zipolya fiilcceii, Fernando novamente seiiiiii a ameaça turca.
'I'i~iliaque corifinnar o trono da Hiirigria, que o partido nacional queria dar ao filho
ilc .lo;io Z5polya, nascido 9 dias antes clc siia morte. Solimúo I1 s6 c n i i l ~ n ~ a vno
a
1ti~lt.ra quem reconhecia seu clomínio supreiiio. Como Fernando não estava disposto
11:ira esta solução, Soliriik I[ invadiu novarnentc Budapest, dizimou o exército de 23
: i iiovo sítio, como em 1529. Carlos V teria que auxiliar com tropas da Alemanha na
ilrksa de Viena. Por isso o eleitor pediu a Lutero que escrevesse iiin apelo à oração
c-i>iilr;i 11 turco. Diante do perigo uninentc, Lutero escreveu E ~ o f i q ã o OraçXo
<~isil,-i o s Turcos em 1541, cinco aiicis antes de sua morte. De iiovo os turcos se
ii.iii;ii;iiii. Lutero foi poupado dos Iii~irorssda guerra. Mas assim qiic Carlos \' ficou 15
l i v i r (10s turcos, iniciou a invaiáo dos territ6rios luteranos em 1546, logo após n
iil<viIc(Ir. Lutero, iniciando a Guerra de Esmalcalde'. Di;iiits do túmulo de Lulero ria
i!,
Muiros amigos haviam pedido 3 Lurero que escrevesse a re~priro<ia qiiestio do
turco. J i eiii 1525, em seu Lrataclo Acerca da Questão. Se Tmbé111kfilitill'esOcupam
liinn Fiin~;ioBern-sverilircr~iaL.Lutcrai diz qiie quer tratar a ajiiestLl. Mas a primeira
infomlação maiz, concreta veio numa cartii de 5 de qosto de 1528 a Nicolau
1l:iiisniam-', sei] amigo, piislvr ein Zwickau nesta :]>oca. Coiiie~oua escrever em i
oiitubrii de 1528, inas cin iiov;~ciirta a Haiismanil a 13 dc fevereirn de 15294, ixlata
c~uro ~ratadonZo apareceu porque se perderam as primeiras páginas do maniiscrito,
que Liitero leve que reescrever. A cdic;ãio de Da Guerrz contra 0.5 iiirco.~só saiu a
23 de ahiil de 1529.
Manim C. Warth ,,
15
A Sua Alteza, o Nobilíssimo Príncipe e Senhor,
senhor Filipe, Landgrave de Hesse, Conde de Katzenelbogen,
Zigenhain e Nida. meu Clemente Senlior.
Graça e par. em Cristo Jesus, nosso Senhor e Redentor! Ilustríssimo e 70
t , i i , < i ~ . 0 s quais incutem no povo quc não se deve neni sc pl-ecisa lutar contra
iiiici~s.Algiins iambéiii s;io tdo loucos, que ensinam yiie não convém a
iii.iiIiiiiii cristão conduzir a cspada secular ou governar. Além disso, como
I I O > S I ~ povo alemão é grosseiro e selvagem, sim. quase ii3eio diabo meio
Na bula em que iiic excomungou, <I papa Leáo Xs condenou entre outros
;uiig»s tanihém esse, onde eii tuiha dito: Lutar contra os turcos eqiiivale ;i
, o~>«r-sc a Deus, que com csta vara açoiiii iiosso pecado. Desse artigo podciii
tci-tirado sua opiriião os que dizem que e11 teria alertado coiitra e des;iciiri~
sclhado a combater os tiircos. Confesso abeitatiiente que esse artigo é iiicir r
5 I.i.âi, X (pap;i <1ç 1511 ;i16 1521). clcilo cardczil já ani 13 mos dc idade e papa ;i<i~ 17. O
:iiiii.c, ci1ilcii<lor<I<, rcti:isciiiii.iiii> i~ivolviiiscu pontitii,ido. Sob siu governo o iiiii!i<l;iiii>i~iii
iI:i iiíii;i I~:III:~I ;iliiil:iii gt:iii ~iiciii.iil~:~~~lc. Fc'iii clç que c'riiiriii ;i biil,i < l i cxo>iiiiliili5ii I:rrii,:<..
Iliviiiii<.< < ~ i i i t : Ii . i i i i l i , i l i ,li. i i i i i l i i ) (li. IF?íIl.
iiaqiicla Ipoca foi colocado e defendido por mim. E. se hoje as coisas no
tiiundo estivessem coino eiitao, eu qucreria e precisaria colocar e defender a
inesnia coisa. Não C, entretanto. eleganir que se esqucça como esiavani as
coisas no iiiiindo naquela época e quais eram minhas razões e motivos,
tnmtendo ininha palavra, mas puxando-a para uni outro coiitexto, «ride s
:iqueles inotivos c razGes não existeiii. Com uiiia aptidão dessas, queiii niio
podcria Pdzcr do Evangelho pura mentira ou preteiidcr que ele fosse contra
si próprio'! A situaçàu naqueles tempos era a seguinte: ninguém tinha erisi-
nado ou oiivido, tmipouco sabia algo a respeito &i autoridade secular: de
«ri<lc procederia, qual seria seu ofício ou obra, ou coino deveria servir a INI
~ltitiii-iiiuria iiiedida eiii que esiu se relàc aos cristãos e i conscièiicia. Narlli
i i i i I i ; i ainda cscrito a respeito da autoridade secular, de modo que os papistas
I I I ~ . riliicetideram como um hipócrita ligado aos príncipes. porque eu sá
i i . i i : i v ; i do estado espúiiual. sobre coiiio os cristaos devrri:rm ser, e 1150 do
. . c < i i I ; i r . I>;i mesma inmeira inc censuraiii agora dc subversivo, depois quc 1.
~- ~~ .-
i, i I i ' ~ ~ ~ ~1111.
I ' I . iic~li'vi,litiiii.i~Icxl<,:" I > : i A i i i i ~ i i i l ; ~ i l i ~ S i ~ c i i l ; ~ i . :11<11111>\~~ ~ . i l < ~ ~ ~ c ~ ~ l > ~ .~~) .l /~c iI . ~ ~ c i i ~ " .
que Cristo M a eni Mateus [5.39-411: iim cristão não deve reagir ao iiial, mas
tudo sofrcr, deixando levar e toiiiar a túruca depois da capa, api~sentando
tambérri a outra face, etc. Desses artigos o papa! suas faculdades e conventos
fizeram um conselho facultativo, que não seria ordenadg nem obrigatoria-
5 mente exigido a iim cristão. lnvci~eranassim a palavra de Cristo, ensinaram
falsnmente eni todo inundo e enganaram os cristãoi. Porque eles qiirnain scr
cristãos, sim, e os riielhores! e lutar contra os turcos, supoitando inal algum
e tampouco sofrendo violência ou injustiça, repliquei com esse dito de Cristo
que os cristãos não devem resistir ao mal, inas sofrer tiido c deixar que se
leve tudo en1bora7. Nisso fundamentei o artigo que o papa Leâo condenou,
sendo até prefeiível que ele o tenha feito, para que eu arrancasse a fachada
maliciosa da malaridragein roinana. Pois os papas janiiiis levaram a sério o
fato de querer lutar contra os turcos. inas precisavam da guerra turca como
uma caiTola, sob a qiial faziam siia mágica. e roub;iv;un com canas de
15 indulgência o dinheiro dos rcnitórios alemáes tantas vezes quantas quises-
sem, coino todo iiiundo bernsabia, mas agora esqueceu. Assim, coridenaram
meu iirtigo8 não porque alerta contra a guerra turca, mas porque rasga a capa
do mágico e desvia o dinheiro do caminho para Roma. Se quisessem seria-
meiite coiiibater os turcos. o papa e os cardeais teriam tanto rendimento com
20 pálios. anatasy e outras coisas não corisagradas que não precisaiam dessa
tortura e roubalhcisa nos territórios aleinâes. Se houvesse intençiio uiiânllne
de empreender uma guerra skria, eu teria podido reí'o~mulariiieu artigo bem
melhor e mais diferenciadamente. Assim tainbém não ine agradou o modo
como se Icva, agita e provoca cristâos e príncipes a atacar os turcos e ocupar
seu triritóno, sem que antes nos coirijaiiios e vivanos como verdadeiros
cristáos. @hos os artigos e especialmente um deles é razão suficiente para
desaconseihar toda e qualquer guerra. Pois isso é algo qiie não quero sugerir
a gentio ou turco algum, muito inenos a um cristão: que ataquem o11 come-
ceiii urna guerra (que nada mais é seiião aconseihar que se deramc salgue
3) ou se leve à mina), já qiie no tim das coiitas nenhuinri veiiiura ha nisso, tal
como cscrevi no livrinho sobre os soldados1u.Do mesmo modo, jamais dá
ccrto qu;uido um malandro deseja punir o outro sein antes querer comgir a
si próprio. Poréiri. o que mais iiie abalou nisso tudo foi que se pretendeu,
rnente. E contra seu nomc, pois nesse exército talvez não haja nem cinco
cristãos, ou esteja gente pior diante de Deus do quc os turcos, Lodos queren-
do, apesar disso, ostentar o nome de Cristo. Trata-se do maior de todos os
pecados, que turco algum pratica. Pois o nome de Cristo é usado em função
dc pecados, profanações, e é desonrado. Isso aconteceria especialmente se o 111
i~venturadoe não para matar genteI2YPois seu ofício é lidar com o Evangelho
c, através de seu espírito, liberiar o ser humano do pecado c da morte. Isso
nicsmo, levá-lo deste mundo para a vida eterna. Em João 6.15 ele fugiu e
iiáo quis deixar-se fazer rei. Diante de Pilatos deu a saber: "Meu reino não
6 deste mundo"[Jo 18.361. Também mandou Pcdro embainhar sua espada no 2s
jardim e disse: "Quein toma da espada, este deverá moirer pela espada" [Mt
26.521.
Náo digo isso por querer ensinar que no âmbito da autoridade secular
iGo possam estar cnstáos ou que um cristão não possa fazer uso da espada
c servir a Deus ligado à autoridade secular. Quisera Deus que todos eles 311
--
I1 ('I. Ml 5.3'). 12 ('1: Ji, 3.17
Da Gueira contra os Turcos
cada membro a sua obra, a fun de que não se imponha lima desordem, mas
tudo ande distinta e ordenadamente. Que desordem deve ser menos tolerada:
a de um cristão que ah'mdona seu ofício e assume para si outro ofício
secular, ou a de um bispo ou pastor que deixa seu ofício c assume o ofício
5 de príncipe ou juíz? Ou, por outro lado, a situação causada por um príncipe
que assume o ofício de bispo, deixando de lado seu ofício de príncipe, tal
como nessa vergonhosa desordem que gassa e goveina sobre todo o papado.
em contradiçáo com seus próprios c?iones e direito? Per~unte-sea experirn-
cia para saber como nos saímos bein até agora na guerra com os turcos,
10 tendo lutado enquanto cristãos e sob o nome de Cristo até finalmente perder
Rodes, quase toda a Hungria e muito do território alemão. E para que se
possa sentir e assimilar quc Deus riáo está conosco quando se trata de
l ~ ! t m o scontra os turcos, ele jamais incutiu na mente dos tiossos príncipes
o suficiente de iniciativa ou espúito para, ao menos uina vez, poderem tratar
15 com gravidade a respeito da guerrii com os turcos; mesmo que muitas ou
quase todas as assembléias têm sido convocadas por causa desse assunto. Eni
lugar algum há quem queira se aliar ou engajar, parecendo estar Deus a
ridicularizar nossas assembléias e permitir que o diabo as impeça e governe,
até que o turco na hora oportuna venha ceifar e m i n a r a Alemanha sem
esforço e oposição. Por que acontece isso? Sem dúvida, porque o meu arligo,
que o papa Leão condenou, permanece não-condenado e em vigor. E porque
os papistas o rejeitain deliberadamente sem a Escritura, o turco precisa
encarregar-se de confumá-lo pela violência e pela afáo. Se não quereiiios
aprender da Escritura, então o turco precisa ensinar-nos desembainhando a
2' espada, até experiinentarmos, mediante os prejuízos, que cristãos não devem
guerrear nem resistir ao mal. Aos tolos se catam os piolhos com bordão!I3
Quantas, pensas, foram as guerras com os turcos em que não tivemos
grandes perdas e nas q u i s estavam hispos e religiosos'? De que modo
lastimável o distinto rei Ladislau foi derrotado pelos turcos em Vama na
companhia de seus bispos, sendo que os próprios húngaros culparam o
cardeal Juliano. matando-o por issoI4. E agora, recentemente, o rei LuísL5
talvez teria tido mais sucesso, se não tivesse conduzido uma milícia de
padrecos ou (como se vangloriam) de cristãos contra os turcos. Se eu fosse
imperador, rei ou príncipe, exortaria meus bispos e padrecos a ficarem em
I.! Nimin muss man rriir Kulhen lausen, no origiti,~l.KoIk de.7 Narren = o bordjo do palhayci.
oiigiiialminte suti m a , depois sua insígnia ao lado do boné. O ditado significa api-oximii~
iI:iiiieiite: a caj:i qiiel i>tiaio devido.
I4 O c;ii.<lç;ilJoli;irii>('ciariiii (11L>4-1444) fora cnviado pelo papa Eiigênio IV p a a convclicci
i, rci iI;i I'i>lí>rii;i r iI;i 1liiiigri;i. I .;iilisl;iu 111. pim çmpreender uma. r i i i z d a contra i>s Iiircos.
N:i iIcs:irinn;~h;ii;illi:i <li. V.iiii:i itictilcii o cci c várirxs bispos. O curde;il Juliano 6 ;t~su.;sici:iili,
CLL liig:,.
I \ 1.iii.s 11. (ri(I;, Iri<iiii;i<.iI:i I liiiij:li;i. i i > i i i l u > i i,lul:iiilc ;i h;it;illi;i<IçMiiIi6cs. c m ;igoslci ilc 1520.
(i~iciracontra os Turcos
casa durante a campaiitia contra os turcos, orando. jcjuando, celebrando
ciilto, pregando e dando assistêiicia a pessoas pobres segundo seu ofício,
coino náo só a Escritura Sagada, mas também seu próprio direito canônico
cnsina e exige. Porém, se eles, apesar de tudo, quisessem. desobedientes a
Deus c a sei1 próprio direito, estar na guei1.a. eu os ensinaria pela força a r
guardarem seu ministério e. iiZo sujeitaria a mim nein meu exército à ira de
Deus e a todo perigo por caiisa de sua desobediência. Pois ter três diabos no
cxército seria nienos prejudicial p r a mim do qiie ter uni bispo dcsobediente
c revoltado, qiie se esquece do seu miivstéiio e se submete ao qiic ri20 é
oideriado. N5o pode haver sticesso algum com esse tipo de gente, que luta 111
hradiinilo cm ala voz: ''Eculzrin. Ecclesia - eis a Ipcj;i, eis a Igreja!", nSo
Iiouve inius sucesso alguni. Isso dizem os soldados talvez sem saber as
causas, pois ao papa (que quer ser um cristão. sim, quer ser o priricipal e
iiichor pregador crist5o) riáo compele conduzir urn cxército eclesiástico ou
clc cristãos, pois a Igreja náo deve lutar nem corribater com a espada. Ela teiii :o
ou~rosinimigos do que came e sangue, que se chamam de diabos malignos
c estZo no ar". Por isso ela taiiibém tem outras , m a s , espada e outras
guerras, corii as quais já se ocupa o suficieiite, não precisando imiscuir-se
iins guerras do imperador ou dos príncipes. A Escritura diz: Não há sucesso.
onde se é desobediente a Deus'8. ii
veja bem, é iini espírito que não pode ser derrotado coiii couraça, mosquete,
cavalos c hoiiiens. E a ira de Deus tlimhéin não se deixa aplacar com isso,
como csti escrilo no Salmo 33.17s. [sc. 147.10s.1: "O Senhor nào tem prazer
ria força do cavalo, taiiipouco se agiada da musculatiir;i de ningut'm. O
Senhor se iigrada dos que o temem e especiiii em sua inisrricórdia". h a s
r poder cristãos precisam fiizê-10.
Aqui prgiinias: Que111 são, então, 11.5 cristáos c onde se encontram'?
I<esposra: Eles sno poucos, inas, apesar disso, esiâo por todos os lados,
incsmo vivendo longe uns dos outros. tanto sob príncipes bons como maus.
Pois a cristandade precisa perrnaiiecer aié o final, como diz o atigo: "Creio 25
iiuina sarita Igreja cristá". Contudo, cles precisam ser ericoriirados. Os pas-
iores e prc~idoresdcvem, com o maioi- afiiico, exortar a cada um dentrc seu
110~0 à penitência e 3 oração. Devem ijzer penitEncnL.ia apontaiido para nossos
gr;irides e inconiáveis pecados e ingratidão, pelo que merecenios a ira e o
<lcsliivorde Deus, de niancira que ele. com justiça, iios coloca lias mãos do 311
ili;il>«e dos hircos. E, para quc essa prcgação pcnetre coiii mais forqa ainda.
l;iz-se iiccessário introdiizir exemplos e versículos da Escritura: do dilúvio.
iIc Sodoiiia e GoinorraZ2,dos f&os dc Israel c de como Deus castigou
1c.i-i-ívcle seguidamente o mundo, terra e gente, deixando bem claro que não
\t.ri;i surpreendente se lossemos punidos pior ainda, já que pecamos bem
rir;iis gravemente do que eles.
lissa luta deveras precisa sei iniciada [>ela penitência, e 116spr-ecisamos
iiicllioi-ru nosso scr, senão lutaremos em vZo, como diz o profeta Jeremias rio
c;iliítulo 18.7-11: "De moniento falo contra um povo e coiiti-a uin reino, para
Da Guerra contra os Turcms
que o arranque, destrua e dissipe. Se, contudo, tal povo, contra quem eu falo,
se arrepender de sua maldade, também eu devo me arrepender do mal que
pensei em praticar-lhe. Por outro lado: De momento falo de um povo e reino,
para que o plante e edifique. Se, contudo, ele pratica o mal diante dos meus
olhos e não ouvc ininha voz, devo arrepender-inc do bem que proineti fizer-
llie. Por isso dize aos de Jiidá e aos dc Jcrtisalém e fala: vede, eu preparo
uma desgraqa coiili;? vós e tenciono algo coiitra vós. Convsita-se cada um
de seu mau comportamento, endireitando-o e corrigindo-o", etc. Em verda-
de, é bom que nos deixemos dizer essa sentenya, pois Deus tenta algum inal
contra nós por causa de nossa maldade e, certamente, prepara os turcos
contra nós, coiiio também diz o Salmo 7.12s.: "Náo querendo o homem
convefier-se, atioii ele sua espad~i,rumou seu ai-co e mira, tendo colocado
iiele uma sela mortal", etc.
Nisso é preciso incluir também os versículos e exemplos da Escritura,
I
onde Deus se deixa interrogar sobre o quanto lhe agrada a correta penitência
c mclhora, quando ela ocorre iia fé e na confiança cm sua palavra, como nos
casos de Nínive, do rei Davi, Acabe, Manassés e semelhantes. no Antigo
'Testamento, bein como, no Novo Testamento, os de S. Pcdro, do iiidfeitor,
do piiblicniio no Evangelho. e assim por d i a i ~ t eBcm
~ ~ . sei qtie essa instrução
minha será ridícula para os eiuditos e santos, que não careceiii de penitência
alguma, pois a consideram coisa simples e coiiium, pcla qual já passaram há
iiiuito tempo. Apesar disso, nZo quis deixar de fazê-lo por amor de mim c
dos pobres pecadores como eu que, dia a dia, necessitamos altameiite de
iiinbos, da penitência e da exortação à penitência. Nós, porém, permanece-
iii«s indolentes e J'rouuos demais, sem ir tão longe como pensam ter ido
;iqueles rioventa e nove justosz4.
Depois de eles Lerem sido instruídos e admoestados a confessar seus
pecados c melhorar-se, deve-se exortar e apontar a oração com afinco, oração
lnl como agrada a Deus, conforme ele ordenou e prometeu acolher. Sim, que
iiiiiguém despreze sua oraçâo ou duvide dela, inas se esteja com fé fume,
sçgi~rodo seu atendimento, colmo Foi demonstrado em muitos livrinhos
~ii~ssos. Pois quem duvida ou ora ao acaso seria melhor que o deixasse,
1~)rquetal oração é mero tentar a Deus e só toma a coisa pior. Assim,
!:ost~u-ia também de desaconselhar a procissgo como um inútil costume
!:ciitio, pois é mais pompa e aparência do que uma oração. O mesmo digo
iiiiiihirn de rezar muitas missas e invocar os santos. Isso, no entiitito, podei.i;i
li-cizci-algum i-rsiiltado se duratiie as missas, vésperas ou depois da prédic:~
' i Níiiivc: rl: Iii 3.SlO; I1ii.i:<I: ? Siii 24.10: Acahc: cf. I Rs 21.27-29; Muiiissis: cl'. ? ( ' i
i (.I0 I i:S. I'cilx>: 1.1: Mi. 11.71: 1,) 11.15 I<):iiiallciloi: cf: I*. 23.40-47: piihlic:iia,: 1.1'. I .i
IS.IO 1.1.
'I I I., l i . / .
sc deixasse em especial a juventude cantar ou ler :i litania. Que cada um,
~icloinenos em seu íntimo e não em menor medida. dirija seu gemido a
('risto por graça, melhoramento de vida e auxfiio coiitra os turcos quando
csVá sozinlio e111 casa. Não me refiro a orações ni~iitolongas, mas a um
li-cqucntc c brcve geiiier com uma ou duas palavras: "Ai de nós, ajuda-nos, 5
qiicrido Deus Pai! Terii ruisericórdia de nós, querido Seniior Jesus Cristo",
oii palavras semelhantes.
Veja, tal pregação certamente atirigirá e encontrará cristãos. E haverá
crist.:ios que a acolherão e colocarão em pritica - não importa se nZo os
corihcccrcs. Aos tiranos e bispos tambénl se pode admoesta, para que io
ilcixeni de vociferar e perseguir a palavra de Deus e náo impeçam nossa
iii-:ic;ão. Se eles, contudo, não derem trégua, má» temos logo que abandonar
iiossa oração, mas ousadamctitc colocar as coisas aqsiin: ou usufruem eles de
iiossa oraçeo e se preservam conosco, ou então pagaremos poi- sua fúria e
iiiis iuruinaremos com eles. Pois eles são contraditórios e cegos a tal ponto IS
< I I I C ,se Deus conceder Exito contra os turcos, eles o atribuirão a sua santidade
C . crito, to, ~loriando-se por isso contra nós. Por outro I:ido, se a coisa for mal,
ii:io o atribuir50 a ninguém senão a nós, colocando-tios a culpa c desconsi-
~l<.r;iiido seu caráter vergonhoso, publicameiite pecaiiiitioso e maligrio, quc
<:lcs não só iiiaiiifestam, mas também defendem, não podeiido ensinar corre- ~ ( 1
i:iiiicnte iim úiiico xiigo sequer sobre como se deve orx. seiido, portanto,
la.111 piores do que os turcos. Pois bem. isso é preciso que se deixe ao juizo
( l i . Dcus.
Eiii tal exortação à oraçáo tambéni é pl-eciso incluir versículos e exem-
~iliisda Escritura, nos quais se percebe quão foite e pi,der«sa foi por vezes 25
:iilvci-iirque eles se cuidem, não provoquem a ira de Deus, por não quererem
or:ir, c iiâo recebam o veredito de Ezequiel 13.5. Pois lá Deus diz: "Não vos
~~osi~.iiiriastes 3 minha Frente e não vos colocastes coiiio muralhas para a casa
(1,. I.;i;icl, a fiii de estar na vanguarda da luta no dia do Senhor". E dc
I~/i~rliiicl 22.30s.: "Busquei dentre vós um homem que fosse muralha inter-
iii<.ili;iri;ic cshvessc contra mim, a favor da tcrra, puii qiic c11 não a arrui-
' 1 'I'iiigi,: cl: Tg 5.17; Eliseu: cf. 2 Rs 4.1-7; Davi: cf I Srii 24.10; SaIoii~Xo:cf. 1 Rs $.<i10:
A\;i: L.I. 2 <:r 14.11-12; Josafá: cf. 2 Cr 20.5-12: Isains: rio nriciii;il cr>list;i .Ics;ii;is: i i i i i ~ ; , ~
c.~li<i,c\ Izciii lersias,sendo possível que latero se rdeiiqsc ;i Joi;is, d.2 ('r 14.11-11 o i i
I<,:i\. rl. 1 ( ' 1 24.2; lii,cquias: d: 2 Rs 19.14- 1').
.'r, 1'1: ( i i i Iu.?2-32.
Da Guerra conira os Turcos
nasse. Mas a ninguém achei. Por isso despejei &a ira sobre eles e os
consumi no fogo de miiiha fúiia. E paguei-ihes o que mereceram, diz o
SENHOR".
Daqui se depreeiide bem que Dcus quer que nos oponhamos a siia
5 prípria ira e nos defendamos dela, eru-aivecendo-se impetuosamente quando
não o Eazcmos. Isso significa (coriio disse acima) tirar a vara da mão de
Deus. Aqui 1i:í de jcjuar quem quiser jejuar. Aqui há que qoelhii~se,curvar-
se e cair em terra, pois n coisa é séria. Pois o ajoelhar-se e curvar-se havido
até entáo em conventos e niosteiros nada teve de seriedade, tendo sido uma
11 verdadeira macaquice, coiiio ainda o é. Não exorio em vão a pastores e
pregadorcs, p c a que ensiiiciii e pratiquem tais coisas com o povo, pois bem
vejo que, na verdade, depeiide toialineritc do empenho dos pregadoi-es para
que o povo sc emende ou ore. Eilquanto Lutero for reprovado e difamado,
deixando-se de lado ao mesmo tempo penitência e oração, pouco será con-
1s seguido com a pregaçáo. Onde. porém, a palavra de Deus ressoa, isso iião
ocoi+e sem frutos. Eles, no eiitanto, precisam pregar como se prega aos
santos, entre os quais se desapreiideu totalmente a penitência e a fé e se
tagarela algo mais sublime.
A grande necessidade existente deve mover-nos a semelhante oraqáo
1 contra os turcos. Pois o turco (corrio dito) é um servo do diabo, que não s6
a111ina o teiritório c o povo coni a itspad:~(sobre isso vamos ouvir depois),
rnas taiiibéin devasta a E cristá e a iiosso airado Senhor Jesus Cristo. Não
é vcrdadeirc o elogio de alguns a seu governo por peimitii- a cada um que
creia no que quiser, ~luereiidoter apenus o doinínio secular. Pois. na verdade,
ele não deixa que os cristãos se reúnam ern público e ninguém pode. confes-
sar a C~.istoabertamente, iietii pregar ou ensinar contra Maomé. Que liber-
dade de fé é essa, otide náo se pode pregar ou confessar a Cristo, j i que
nossa saivaçáo reside riessa iiiesma ~ o ~ s s ácomo o , diz Paulo em Roiiianos
10.10: "Confessar com a boca toma bem-aventurado" e Cristo muito inci-
1 sivamente ordenou confessar e ensinar seu Eva~igelho~~?
Visto, pois, que a fé deve silenciar e esconder-se em meio a tal povo
grosseiro e selvagem, e sob tal governo forte e poderoso, como poderá ela,
ao final, manter-se ou peimanecer, se já é preciso muito esforço e trabalho
mesmo quando se a prega coin toda fidelidade e afinco? E justamente disso
que também se trata e prccisa tr:itz todos os que denire os cristãos enmaiil
iiri Turquia, se.ja aprisionados ou seja coriio for, raramente permanecem coino
i:iis. Sucumbem e se tomam todos urna coisa só: turcos. Pois eles careceiii
(10 páo vivo das alilias'% vêem a índole pemissivanieiite carnal dos turcos,
:i~.:ih:iiidopor se juiitar ;i eles. Como se pode desmiir de modo mais poderoso
(iurrr;, cunm os Turcos
L<) I.ulcm nunca cumpriu essc pr<~pbiio.Ein 1542 chcg<~iia suirs in;io\. iiiri:i vcrsL> <Ic iii;i
I ~ IoLi~
du A1cnr:io em latin~.No ! ~ l ~ ! v l l ~i ~I ~I O~ I ~ Kp:k~i
q~~;~licl:k~lc l lL~Iv;t~"il ~< ~~~ l ' ~ ~ l ; ~~ ~C > B~ v
i l - t ~ i Z i >I<içb;inli dc 13íK ( i 1 W:\ 71.771.I')h).
AlciilL," <I<,
.I:'.'
Da Guerra coma os 'litx~~'i
que Ilie resta em Cristo'? Aí tudo se vai: Pai, Filho, Espírito Santo, Batisiiir~.
Sacraiiicnto, Evangelho, fé e toda doutrina c pritica cristãs, nada in;iis
permaiiecendu ein lugar de Cristo, a n3o ser Maomé corn suas doutrinas
sotire as próprias obras e piincipalmente sobre a espada: este é o artig<:<i
priricipal da fé turca, no qual se reúnem num só riionte todo horror, todo
engano e todos os diabos.
Mais ainda, os discípulos da iii. turca que surgem no mundo seao tantos
corrio a neve que cai do céu. Pois a razão se agrada desmesuradamente da
opiiiião de que Cristo iiâo seja Deus -como também crêem os judeus -
1" e especialmente da obra de dominar, tisar a espada e assuinir o govemo do
iii~iiido.O diabo está por detrás disso. Tiata-se, portanto, de uma fé remen-
dada a p a i r da fé de judeus, ciistãos e gentios. Dos cristãos ieiii d a o
elevado louvor a Cristo, Mana, também aos apóstolos c outros santos niais.
Dos judeus têm eles o costume de iião Iwber vinho, jejuar em certas épocas
1 do aio, lavar-se como os nazireud0 e coiiier sciitados ao chão. Guiam-se dc
2icordo c«m tais obras saltas, assim corno parte dos ricissos iiionges, e têrri
esperança pela vida eterna iio dia derradeiro. E, apesar de t~ido.crêem na
iessurreição dos monos. que sZo o povo saito, o que poucos papistas créeiii.
Que coração cristão e piedoso deixará de se aterrorizar diante de t;il
iriinugo de Cristo? Porque, como veiiios, o turco não deixa Iicar artigo algiim
de nossa fé, exceto um único, o da ressurreição dos mortos. Ali não há
Cristo, Redentor, Salvador, Rei, remissa0 de pecados, graça ou Espírito
Santo. Que mais devo dizer? Tudo é devastado no artigo segundo o qual
Cristo seria inferior e menor do que M;iomé. Quem não preceriria estar inoiío
,, a viver sob tal govcino. tendo quc silenciar a rcspcito de seu Cristo e
precisiiiido ver e ouvir tal difaiiiac;ão r Iiorror contra ele? Ta1 artigo penetrii
t5o vi~~leiitaiiieiite, quando um teisitório P conquistado, que há queiii sc
submeta a ele mesmo voluntariameiite. Por isso, ore quem puder orar, a fim
de que tal horror não se toriie serhor sobre nós e não sejaiiios castigados
corn semelhante vara terrível da ira divina.
Em segundo lujiar, o Alcor3o do turco não somente ensina oii crê n;i
cliiiiinaçio da fé crista. mas tariihém de todo govemo secular. Poib seu
M;a>mé (coiiio foi dito) recoinetida que se reine com a espada, seialo ;I
espada a obra inais presente e distinta em seu AlcorZo. E, assim, o turco no
I~iiidonada é sei150 um verdadeiro assassino ou assaltante de esh-ada, cciiiio
t:iinb6m comprova a prática i vista de todos. Também Sto. Agostinho denoini-
ii;i oiitros reinos de. grande roubalheira." O Salmo 76.4 os chama dc "moiitcs
e roubo tia proporçáo como o turco o fez e ainda hoje Faz. Pois é ordeiiado
em sua lei como boa obra divina que eles assaltem, assassinem c sempre
mais devorem e armínern o que está a sua volta, como aliás o fazcm e acham
estarem servindo a Deus. Não se trata, portanto, de uma autoridade divina-
mente ordenada como outra para promover a paz, proteger os bons e punir
os tnaus, mas, como já dito, pura ira, vara e castigo de Deus contra o mundo
descrente. Essa mesma obra de assassinar e assaltar de qualquer maneira
agada muito bem ?I carne, pois ela quer dominar, submetendo o corpo e o
patrimônio de cada um. Tanto mais deve agradar, se a isso é acrescentado
um inandamento, como se Deus o quisesse bem e lhe aprouvcsse. Por isso 15
34 Deve tratar-se do Lúcio quz os arianos qucriam como bispo, çonfonne relata Ataiiiísi<i.
bispo dc Alexandria (cf Pawol. Graeca 26 cl. 822).
35 Agostinho (354-410), bispo de Hipirna. Cf. o rol dc pecados dos donatisias em siil " I "
Livro Contra Caiidencio", L?. 22 (Patrol. lat 43, cl. 720s.) -Don;r[irras: in<iviiiicz~ii>
surgido no séc. iV, no Nortc da Áh-iça, em tomo do bispo Donato. Caracterila~li-si~ x > i
um;, rígida disciplina çclesiá~tica,ncgdvzun a validade dos sacramciitos admiiiirti-;i<loh1101
sacir<l«ies"indignos", a reudmissáo de crislzo~ielapsos, a não sei p l u ribatismo. I'oi i h s i i
sXo c<ililiccidos1;iiiiMlii cc>iiiiiiui;ih;iiirl.is. i i s que hatizlun dc riovo.
'li,~ii;i,~Mii,ir/cr (r;i. I~1UO/~lI1525). !í<lvcc;iiisiiiitic<iil;i <;i~iiri~
.i(, ilos < ' ; i ~ i i l i c ~ ~ t c s r f l v i ~ I i .
I r i g i c ~c111111:ti<) dc 1525. V$,:, :iciiii:i 11. -78. 11. I').
iinii>siirslc v<,liii,icl.clw ICYC. IIIII II~\I'ccIII~
c.orislitiiída ;i estabelecer a par. e a justiça mediante seu ofício? "Pelos mitos
sc conhece a árvore" IMt 7.161: eu e os meus preservamos e ensinaiiios a
1);iz.O papa com os seus guerreia, mata, assalta não apenas a scus opositores,
iii;is queima, condena e perscgue também os inocentes, justos e fiéis à
doutrina verdadeira, como um autêntico mticristo. Pois ele o faz assentiido 5
iio templo de Deus como cabeça das Igrejas. coisa que o turco não Lu.
I'oi-éin, tal corno o papa é o anticnsto, assúii o turco e o diabo em pessoa.
('ontra ambos vai nossa oraçXo e a da cristandade: que eles desçam ;i»
iiilcrno c que tal ocoma já no dia dei-radeiro. 0 qiial (espero) n5o (Icmoraid.
Ein rcsunio, coriio já foi dito, oridc goveiii:i o espuito da mentira, ali ~~~
1;iiiibCiii esta o espírito do assassiiialo, quer esteja ele em uqSo, quer seja
iinpedido. Caso sefa impedido de agir, mesmo assim ele ri, se rejubila e
;ilcgrn coin ;i occ)rrência do assassiii;ito. ou ao menos está confoniie a ele,
pois o considera justo. Cristãos piedosos. porém, não se alegram coin assas-
siii;it« algum, nem mesmo com o infortúnio de scus inimigos. Entáo, já que 1s
I I Alcorão de Maomé C um grande e múltiplo espírito da rrieritiia, onde quase
ii:icI;i da verdade cristã permanece, como deixaria de seg~iir-see ocorrer que
i:iiiihém se tornasse um grande c potente assassino, tudo sob o aparência da
viwlade e justiça'! Assiiu como as mentiras destroem a ordem espiritual da
li: c da justiç:i. do tnesmo modo o assassui:iio destrói toda ordem secular
iii\iituída por Deus. Pois é impossível que. onde se pratica assassinato e
ioiilio, haja ~iriiaboa c admirivel ordem secular. Erii função da gucrra e
iii;ii:uiça, eles não conseguem valurizir c observar a paz, coiiio bem se
c.oiistat;i entre os povos guerreu-o,?. 'l?iiib&rn por isso os turcos iii» dáo
gr;iiide vdor a edificação e A agricultura. 2s
Em terceiro lugar, o Alcorão de Maomé desconsidera totalmeiite o
iii;iti-irnonio,de maneira que cada um pode permitir-se tomar tantas mullieres
i~ir:irilasquiser. Daí ser costume entre os turcos que um homem tenha dez,
viiilc mulheres. Este, por sua vez, abandona e vende a que quiser a quem
i~iiiscr,de riiodo que as muihercs são sobreilimeira desmoralizadas e despre- 311
/.;id:is ria Turquia, sendo compradas e vendidas coiilo ariiiiiais. Mesmo que
;rlj~,iirispoucos tulvez não façam uso dessa Ie.~islaçãolibertina, ela vigora r
l ~ u l cscr usada por quem quiser. Tal prática. contudo, não representa ueiii
(t~idcicprescnta riiatrimônio algum, porque iuriguSiii toma <lu tem uma
IIIIIIII<.I. com a iritenção de pe11ii;iiiecer eternamente ao lado dela conio uni 1.
De sua santidade tanihém Caz parte o Iàlo de tiZo tolerar imagens. Nisso
é niais santo do que nossos iconoclastas. Estes admitem e se agradam com
;is imageils sobre Ilorins, centavos, anéis e ornamentos. O turco, porén~,
cullha somente letras em suas moedas. Ele é até mesmo mu~itzeriano'~,pois
dcrmbn toda autoridade e não tolera hierarquia ;ilguina no estado secular - 15
ciiibura de outras maneiras. a saber: o que este faz com hipocrisia, o turco
cilcanqa com violência e espada. Em resumo, como já se disse: trata-se do
c;ildo de onde provém todo Iiorror e engano. Isso eu queria ter anunciado ao
priiiiciro homem, ou se,ja, ao ~ u p dos o cristãos, para que saiba e veja quão
.crande
, é. nesse caso, a necessidade de orar e que 6 pi-eciso, antes de tudo, .i
clcrrotar este Ali dos turcos, que é seu deus, o diabo, rcchaqando seu poder
c. divindade. Do coritr.;úio (como temo), a espada pouco conseguirá. Eqse
Iioiiiem não deve lutar corporalmente com o t~irco,como o papa e os seus
ciisiiiam, nem opor-se a ele pela força, mas recoihecer no turco a vara e a
i ~ de i Deus, às quais deve submeter-se, caso Deus castigar seu pecado, ou l~~
c, scu império, sendo ele responsável por dsfeiidf-los. como uma autoridade
cs1;ihelecida por Deus instituída. Desejo aqui, coiitudo, ressalvar que a niri-
p,ii;in quero incitar ou coiiclamar para lutar contra o turco, a não ser que seja
Da Guerra contra os Turcns
aplicado o primeiro niodo, acima citado: que se faça penitência e haja
reconciliação com Deus, etc. Se alguém qucr guerrear ignorando isso, que se
anisque. A mim nada iiuis cabe dizer, a não scr indicar a cada um seu ofício
c instruir sua consciência. Bem vejo que reis e príncipes se colocam tão tola
5 e frouxamente contra os turcos que tciho grande preocupação de que eles
desprezam a Deus c ao tiirco excessivamente, iião sabendo, talvez, quão
poderoso senhor ele é. Rci ou território algum, seja qual for, é suficiente para
resistir a ele sozinho, a não ser qiie Deus queira fazer iiiilagrcs. Por ora iiáo
posso imaginar alçiirii milagre ou graça extriiordiiirúia de Deus eiii relação à
1 Alemanha, se náo Iiouver mclhora e náo se honrar a palavra de Deus
diferentemente do que até agora.
Pois bem, sobre isso já se disse o suficicnte a quem qucr aceitá-lo.
Qucremos falar agora sobre o imperador. Primeiramente, qucm quiser guer-
rear contra o turco, faça-o sob o matidado, o estandarte e o nome do
1' iiiipcnidor. Pois deste modo cada um pode assc~tirar-scem sua consciêiicia
de que ele certamente mda em obediência à ordenação divina, poiqiie
siibenios que o imperador é iiosso verdadeiro soberaiio e. chefe. Quem lhe
obedcce em tal sitiia~ão,este também obedece a Deus. Queni, todavia, lhe
dcsobedecc, esse igualmente desobedece a Deus. Se morrer em obediência,
rnorre etn bom estado. Dc resto, caso tiver se arrependido e crer em Cristo,
será bem-aventurado. Essa parte (me parece) cada um deveria saber tiielhor
do que posso ensinar. Quisera Deus que elcs o soubessem tão bem quanto
pensam saber. Por isso mesmo queremos falar mais a respeito.
Em segurido lugar, retiielhante agir sob o cst:iiidarte do imperador c em
obedigncia a ele deve ser I-ctoe singelo. Que o impcrador nada busque, sei150
coin suigeleza a obra c a obrignçzo de seu ofício, protegendo a seus súditos.
E aqueles quc estão sob seu cstandarte tiiiiibcm busquem coiii siiigeleza ;i
obra e dever relativos a sua obediência. Essa singeleza, como deves com-
preendcr, significa que não se deve lutar contra o turco a partir das razões
coin as quais imperadores e príncipes até o momento foram estimulados a
lutar: obter grande honra fama e riqueza; aumentar seu território; saciar a ira
c a sede de vingaça c razões semelhantes. Pois liisso procura-se meramente
r) pi-oveito próprio c nao a justiça e a obediência. Daí também não ter havido
siicesso até o momento ciitre nós, seja ao lutar, seja ao deliberar a respciiii
cI;i luta coiitra o turco.
Por isso deve ser abandonado o mudo pelo qual até então se cstirnuloii
L, incitou o iiiiperador - intitulando-o cabeça da cristandade, guardião dos
ele deveria começar pelo papa, bispos e clérigos. Talvez nem deveria poupar
'i nós e a si próprio, pois há idolatria suficientemerite hom'vel em seu
iiripério, náo sendo por isso necessário combater os turcos. Há turcos, judeus,
gentios e acristãos demais em nosso meio, tanto no que se relère à doutrina
.. publicamente ensinada, quanto à vida corrupta e vergonhosa. Dcixa o
1:,i1sa, 10
turco crer e ensinar do jeito que quiser, assim como se deixa viver o papado
c «urros cristãos hlsos. A espada do imperador nada tem a ver com a E. Ela
está vinculada ao âmbito corporal, secular. Que Deus náo lique irado conos-
co por subvertetinos e coirfundimos sua ordem. Do contrário, também ele
sc torna subversivo e nos confunde coin toda desgraça, como está escrito: 15
"Para com os perversos te pervertes" LSI 18.261. Isso bem podemos peree-
Ibcr e assimilar com base no êxito obtido até o momento conb-a os turcos,
oude se provocou angústia e miséria coin as bulas, indulgências e tributos
i-clativos &s cruzadas. Agitaram-se os cristãos para que toma?sern da espada
i, lutassem contra os turcos, quando deveriam lutar com a Palavra e a oração 21
os pr6lxios súditos. Siin, porque vos ocupais coiii o caso Lutcro e deliberais
ciii noinr do diabo a respeito, se é permitido comer canie na quaresma, se
li-cir;is podein casar c coisas afins. Nada vos foi ordenado no sentido de
iriiiardes dessas qiicstTies c neiii Deus vos deu um niaiidamento sequer para
iiil. Enqiiarito isso, peimruiece negligenciado este sério c severo marid,mento ',
ilc Ileiis. pclo qual ele vos colocou como protetores sobre a pobre Alcmanha;
vos toni;iis assassinos. traidores e cáes sanguinários parira com vossos pr6-
111-i<,s hons, leais e obedientes súditos; os tleixais - isso iiiesino! os jogziis
11;i';i <Iciitroda garganta do turro, sendo csse o benefício deles por tcrciii
roI[x;i<losoti vossa pioteçâo e a vós oferecido seu corpo, dinheiro, bens c Iioni-n". 1'8
I I i i i hoiii causí<lico beiii percehcria :iqui o cliic eu, se l'ossc criiiliio 1x1
i~vt(íric:i.go<1;iri:i (lc ter ditc c o qiic iini Iegiido clcvcii;~~:iisiii;irL, rcss:iIt;ir I:
Da Guena contra os Tilrciis
-
assembléia imperial, se desse cabo fiel e lealmente de seu ofício.
Por isso disse acima que Calos ou o imperador deve ser aquele a 1ut:ir
contra o turco e sob cujo estandarte deve dar-se essa luta. "Ora", diz-se'
"isso é. tão simples que todo iiiundo já o sabe. Nada disso que Lutero ensina
3 é riovo, mas mera coisa empoeirada de tão velh;~". Pois é, meu caro, (i
imperador deveria, na verdade, ver-se com outros olhos que os de até agora.
Tu tariihéiii deverias olliar com outros olhos para seu estandate. Falo exata-
mente do niesmo iniperador e do mesnio estand:u.ie de que tu falas. 'Ri,
poréiii, não falas a parlir da visão dos mesmos ollios, pelos qiiais, por sua
lu vez. se dcve ver no estandarte o mandamento de Deus, que diz: proteje os
bons, pune os iwaus. Dize-me: quaiitos são os que podem ler semelhantes
palavras no estandarte do imperador o11 crer nelas corn seriedade? Não achas
que seriani aterrorizados pela própria corisciência, se olhassein para o estan-
darte de maneira a reconhecerem-se dtameiite culpados diante de Deus pela
1s protcção e ajuda negadas a seus leais súditos? Meu caro aiiiigo, uni estan-
darte náo é apenas pano de seda. Há letras impressas nele. Quem as ler
perderá o gosto pelo luxo e pelos banquetes.
A realidade, porém, hem o prova que ele foi visto apenas corno um pano
de seda até o momento. Do contrário, o impcrailor o teria clesfraldado há
2" bastante tcmpo, os príncipes o teriani seguido e o turco náo se teria tornado
tão poderoso. Mas conio os pniicipes citaram o estandarte do imperador da
hora para fora e fornm desobedientes qiiiinto ao uso da foi-ça, considerando-o
na prática um simples pano de seda, a coisa deu iiisso que agora se tem
diante dos olhos. Deus coiiccda que daqui para a freritc não sejamos tão
tardios. cu na rninhn exortação e os senhores com seu estandarte, vindo a
acontecer conosco o qiie aconteceu com os filhos de Israel que, a priiicípio,
náo queriam lutar contra os amorreus como Deus nrandara4z e depois, quan-
do clucriani frczê-10, foram derrotados, pois Deus não queria estar com eles.
Ninguém sc desespere pai. enqiiatito: quem faz penitência e age com cor-re-
$ao sempre encontra graça.
Em seguida, se imperador e príncipes estão cniiscientes de serem obii-
gados a essa proteçáo de seus súditos pelo mandamento de Deus, dever-se-
iit ;idmoestá-10s tanihém a não serem atrevirlos a ponto de empreende-lo por
(lcspeito oii confiando no próprio poder ou força militar. Há muitos príiicipes
loucos assuii. que dizem: "Quero fazê-lo. pois tenho pleiio direito". &o em
Sreiitc, eiisoberbeceni-se e prevalecetii-se elii fungão do seu poder. Ao final,
ptiiém, sentem o tei-ror na nuca. Pois, se náo sentissem seu poder, pouco
scriam movidos em direção ao direito, como ficou provado em outras situa-
. q~iaiso desconsideraraiii. Por isso não é suficiente que saibas quc
~ õ c s rias
i ;iiviiii ci>nuaas Turcos
--
I >i.iis te ordenou fazer isso ou aquilo: também deves fazê-lo coiii temor e
Iicii~iildade.A ninguém Deus ordena ou manda Iàzer algo por seu próprio
~(iiisclhoou força, mas ele também quer estar em cena e ser temido. Isso
iiicsino, ele quer fazê-lo através de nós e quer ser soliciiado, a fim de que
ii;io sejamos atrevidos e nos esquesamos de seu auxílio. como diz o sdtkio: 5
"O Serilior se agrada dos que o temem e espei-iun na sua miseiicórdia" [SI
147: 1 I]. Do contrário, estaríaiiios. ern verdade, pensaido poder fazê-lo sem
iicccssitar da ajuda de Deus e nos apropriando da vitória e da honra, que só
;i clc competem.
Por essa razão, um iinperador ou príncipe deve aprender bem a sentença 10
i10 saltério, no Saliiio 44.6-7: "NSo confio no meu ai-c». e minha espada nào
iiic aluda. mas tu nos salvas de nossos itiimigos e cobres de vergonha os que
iiiis odeiaiii". e tudo mais o quc diz esse salruo. E o Salnio 60.10-12:
"Sciihor Deus, Lu não sais coiii nosso exército? Dá-nos apoio na necessida-
(li.. pois a ajuda humana é inútil. Com Deus queremos fazer proezas, ele irá 15
imperador, reis e príncipes. Ele não confia nem acredita numa gente deser-
tara assim. Ele tem a disposiçáo necessária para fazê-lo e não carece desta
gente, como é o caso dos nossos príncipes. Tais coisas, digo eu, os pregado-
res e pastores precisam falar a esses desertores, exortando e intimidando-os
com diligência. Pois de igual modo esta é a verdade e há urgência ein f z ê - 1s
lo. Se, apesar disso, houver os que desprezam semehante exortação e não se
comovem com tudo isso, pois bem, ao diabo com eles, como S. Paulo e S.
Pedro tiveram que pennitir respectivamente no caso dos gregos e dos judeus.
Nada além disso aterrorizará os demais. Sim, eu gostaria que, quando se
desse a luta, nenhum dcsses estivesse ou permanecesse sob o estandarte do 20
imperador, mas todos juntos já estivessem entre os turcos: eles seriam der-
i-otados mais cedo ainda, e se tornariam mais prejudiciais do que úteis ao
turco durante a luta, caindo em desgaça tanto diante de Deus como diante
(10 diabo e do mundo e sendo certamente condenados ao inferno. Pois é bom
lutar contra gente má assim, que de forma tão explícita e certa recebe a a
irialdição de Deus e do mundo. Pode-se enconlrar algumas pessoas grossei-
ras, desesperadas e más. Porém, quem tem um pouco de juízo, sem dúvida
sc deixará converter e mover por tal exortação, a fim de não lançar sua alma
(lc maneira tão atrevida ao diabo no inferno, querendo muito mais lutar com
iiicl;is as suas forças sob o seu soberano e deixando-se por isso estrangular 311
11r10 turco.
'lii, no entanto, dizes: "Se o papa - a quem tu mesmo xingas de
iiiiiicristo juntamente com seus religiosos e partidários - é ião mau quanto
1 1 iiirco, então o turco é, por outro lado, tão bom quanto o papa, não é? Pois
i . 1 ~confessa os quatro evangelhos, os livros de Moisés e os dos profetas. Se
C p:im lutar contra o turco, então se deve do mesmo modo ou muito antes
Iiii:ii- contra o papa", etc. Resposta: Não posso ncgá-10. O turco considera os
qii;itro evangelhos quanto os profetas como divinos e corretos. Também
loiiva bastante a Cristo e sua mãe. Só que ele, do mesmo modo, crê que seu
M:airné está acima de Cristo e que Cristo nZo seria Deus, como foi dito 10
,I') I . i i l u i , si. rcl'crc :tililcli.s ~ii:iii<l;iiiiciil<~x iIc ('risto. cspccialiiic~itcd o Sciiiiár>do Molilc.
I<ii:iiiiI r : i i i s l i r ~ i i i : i i l ~c~ixi i "i<,iisi.lli,,s rv;i~ig~lic~~s". quci- <lizci. ctii iii:iii<l:i~lici,liisque o i ~ +
~ u ~ . ~ . i , ~ S: iL~ .t ~L~>SI.IV:II~O!,S
i ])o1 I k ~ l o ' io\ ui\ln<)s.111iih qur se C C X ~ ~ CIIIX.II:IS
III LIOS ' ' ~ ~ . l l i . i l < > \ ' '
1.24-27 a respeito do vergoiihoso vício das perversóes sexuais. i s quais Deus
ci~iitriidit«riamenteriamente os entrega porque perveiteram sua palavra. Tanto o papa-
do coiiio o t ~ ~ r csão o tão cegos e disparatados que ,ambos praticam de forma
(Icsavergoniiiidii as perversões sexuais como se fossem coisa honrada e
lo~ivável.E, porque não respeitam o estado niaiiimonial, é natural que se 5
dCcm entre eles soinente casamentos caninos. Quisera Deus que fossem
iipciias casamentos caninos! E ceito, entre eles só há núpcias italianas e
iioivas florentinas, einbora pensem agir corretamente. Ouço sucessivamente
coisas homveis a respeito da Turquia, como notória e gloriosa Sodoma, e
qiiiilquer um bem o sabe, se já viu um pouco de Roma c da terra dos io
iliilianos, com quc espécie de ira e inforlúnio Deus vinga e pune os casamen-
111silícitos. O ocoi-i-idoii Sodoina e Gomorra, que tempos airás se afundaram
c111 meio a fogo r enxofre"', deve ser visto como siiiiples brincadeira e
~ i ~ l ú dem i o coinparaçáo çoiii este horror. Também por isso siiito muito pelo
;r~vcmodo turco, que seria intolerável nos territhrios aleiiiãcs. li
EiiiAo. que devcmos fazer agora? Teiiios que luva tanto contra o papado
<.oiii«coiitra os turcos, porque um é tão piedoso quanto o outro'? Rcsposta:
( 'oiili-a quriii quer que scja, em ambos os casos sc agc coin justiça, pois
~~cciidos iguais dcvcm ter castigos iguais. Pois eu acho o seguinte: se também
11 11;ipaquiser, junto com os seus, atacar o império com a espada, tal como 20
ii iiirco o laz, critão deve ser tratado como o turco, como lhe aconteceu
liissem os heróis e mestres a ficar com a fama por causa da luta contra o
iurco. Não lhes retiro a fama. Se, porém, são derrotados em conseqüência
(iisso, então que a guardem para si. Por que não permanecem em humildade
sob o verdadeiro chefe e a autoridade constituída? A rebelião entre os
camponeses foi castigadS4. Caso também se castigasse a rebeliio entre os 2ii
Não digo essas coisas a fim de intimidar os reis e piúicipcs para que não
luteiii contra (1 turco, mas com o objetivo de exorti-l«s a que se preparem
sóbria e seiiainentc e não enfrentem a coisa assim de Iòiiiia tão infantil e
sonolenta. Pois eu gostaria de evilar, sempre que possível. inútil derrama-
iiiento de sangue c guerra perdidas. Essa preparação séria se ci'aria, se nossos i11
reis e príncipes tivessem suas prioridades tão ligadas umas às outras como
lium novelo que se enrola, se tanto cabeya como coração, taiit« mãos como
pés agissem em conjunto, assim que de uma poderosa multidão se fonnase
urn só corpo, que pudesse ser substituído em caso de batalha perdida. E que
não ocoira coino até o momento, onde reis e príncipes individuiilmentc vão 15
No entanto, que fazem nossos caros senhores? Eles consideram tudo isso
iiici-:i piada. A verdade é que o turco eslá prestes a nos agarrar pelo cangote,
iiii~siiioque não queira lançar-se contra nós já nesse ano. Ele, contudo, está
: l i ~~iiiriiiiicnteinciitc m a d o e pronto para nos atacar quando quiser, nós que
~~si:iiii~~s desarmados e despreparados. Enquanto isso, nossos príiicipes deli-
I ~ i . i : i i i i sobre o iiiodo de amaldi~oarLutero e o Evangelho: "Eis o turco!
Ai:ic:ir! Em freiite. viunos!" Exatamcntc como estáo fazendo nesse iiiesmo
iiii)iiiciii» em Espu-;i. L i o principal assunto tem a ver com coiricr carne e
~ ~ ' s c : i ~hein l o coiiio coiii iolices semelhantes". Que Deus vos dê o lionra,
'i1 i\ i i l ~ i i i i ; i < i<Ic 1.iiiçrii n%i c<irilcrc ccim r>s I;iii>s.Si>nic~iic ~Iclxiisi I < i n,i<iiii<i
<Ic Mckinclilli<iii
I . i i i i . ~ < i<ilrirvc iiiliiiiii;i(iic\ siiliic i i s iIi.l:illic\ <I:, ilici:i.
Da Guerra roii'ua os Turcos
govemantcs desleais de vossa pobre gente. Qual é o diabo que vos cham;~
com tanta insistEncia a tratiu- de assuntos do governo espiritual nào-ordenti-
dos a vós, que se referem a Dcos e à consciência'! E a tratar de modo iào
displicente e indolente dos assuntos que Deus vos ordenou e dizcrn respeito
5 ii vós e vossa pobre gente nessa hora de suprerna e iminente emergência,
impedindo com isso todos aqueles que são berii uitencionados e de boa
vontade ciariiim sua contribuição'?Pois bem, pesmanecei caiitando e ouvindo
missas ao Espírito Santo. Ele sc agrada muito disso e será muito clemenle
para corii desobedientes c insubordinados como vós, porque deixais de lado
1 1 o que ele vos ordenou e praiicais o yue ele vos proibiu. Sirii, tomara que o
cspísito maligiio vos ouça.
Com isso quero ter preservado minha consciênciasx, pois este livrinho
deve scr testemunha a meu respeito, em que medida e de que modo reco-
mendo a guerra contra os turcos. Se alguém quiser seguir outro caminho, por
1, mim que vá. Pooço me importa, se vier a vencer ou perder. Não vou usufruir
dc sua vitória e nem pagar por sua derrota, mas quero estar isento de todo
sangue inuiilmente derramado. Sei que, por causa desse livro. de modo
algum encontrarci no turco um senhor clemente, caso ele vier a parar em
suas mãos. Entretanto, quis mostrar a verdade a meus alemães, iia medida
1 em que dela esioii ciente. e com lealdade aconselhar e servir imito n gratos
como ingratos. Se isso ajuda, eiitào que ajude. Se nâo ajuda, entào que nosso
amado Senhor Jesus Ciisto ajude e desça do céu com o juizo fulal, derru-
Ihciiido a :iriibos, o turco e o papa, juntamelite cnrn todos os tiranos c únpios.
E nos livre de todos os pecados e dc todo mal. A M E M.
MWVn C. Warth
"A quem não aceita conselhos, não dá para ajudar." Nós, alemães, já
ouvimos há diversos anos a amada palavra de Deus, pela qual Deus, o Pai
clc toda misericórdia, nos iluininou e chamou dos atrozes horrores das trevas ,,
papislas e da idolatria a sua santa luz e reino.
No entanto, o modo agradecido e respeitoso como nós a temos acolhido
c considerado é suficientemente terrível para ser observado ainda no dia de
Iioje. Como se os pecados anteriores fossem poucos, quando (mesmo que
iiiconscientemente) enfurecíamos ao máximo a Deus com missas, purgatório, ,,,
c:iilto aos santos e outras obras e justiqa próprias, tendo preenchido todos os
(.;iiiios com tamanha idolatria, e com isso achávamos estar servindo a Deus
(Ic iiiodo especial. Assim, chegamos a nos superar e perseguimos a amada
I':il:ivra, que nos chama àpenitência por causa de tais horrores, e defendemos
<.oiiscicntee arbitrariamente semelhante idolatiia com fogo, água, corda, .,
i.sp:~cfn,maldição e blasfêmia. Não seria surpresa se Deus permitisse ou há
iiiiiito tivesse deixado que não apenas turcos, mas também diabos inundas-
siiii ;i Alemanha.
Como, pois, pode ele suportar isso por muito tempo? Ao fmal, isso sim,
i.lc prccisa pôr a salvo e proteger a verdade e a justiça, punindo o mal junto ,,,
<.o111os maus e venenosos blasfemos e tiranos. Do contrário, ele pereceria
Exortação à Oraçári Contra os Turcos
em sua divindade e, finalmente, por ninguém mais seria considerado Deus,
se cada um mais e mais pudesse fazer o que lhe apraz, desprezando a Deus
com sua palavra e mandamento de modo tão despreocupado e vergonhoso,
como se ele fosse um tolo ou uma inarionete e não se devesse levar a sério
,
5 suas ameaças ou ordenações. Por isso ele deve fazer com que obrigatoria-
mente se compreenda que isso não é brincadeira, mas algo muito sério.
Nós, além disso, que nos gabamos por causa da aceitação do Evangelho
e por causa da Palavra, cumprimos de nossa parte também o dito em
Romanos 4 [sc. 2.241: "O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por
10 vossa causa".
Pois, exceto alguns poucos que se mantêm fiéis e aceitam a palavra de
Deus com gratidão, a maioria é Cio ingrata, arbitrária, atrevida e se composta
exclusivamente como se Deus nos tivesse dado sua palavra, libertando-nos
do papado e de seu cativeiro diabólico, para podermos fazer livremente e
1s deixar de fazer o que nos apraz. Como se sua palavra tivesse que servir não
a sua honra e a nossa bem-aventurança, mas a nossa própria maldade. Isso,
porém, custou o sangue e a morte de seu amado Fiiho, Jesus Cristo, nosso
Senhor e Salvador, como deve ter sido suficientemente pregado a nós.
Se olho para o princípio de tudo, vejo que espécie irrecuperável de seitas
211 malignas e de heresia vieram à tona, tais como muntzerianos, zwinglianos,
anabatistas e muitos outros mais, tudo sob nome e pretexto do Evangelho.
Isso porque, libertos pelo Evangelho da excomuuhão e da tirania do papa,
acabaram por se tomar seguros para ensinar e fazer o que lhes aprouvesse,
o que sequer teriam podido sussurrar na época em que o papa era deus e senhor.
ES Depois veio o grande deus Mâmon, ou a ganância. O modo como ela
possuiu não somente a camponeses e burgueses, mas também de forma bem
grosseira a nobres, condes, príncipes e senhores, dificilmente tem similar em
todos os registros históricos. O nobre quer ter tudo que é do camponês e do
burguês. Sim, ele quer se tornar príncipe. O camponês, juntamente com o
'1' nobre, eleva os preqos do cereal, da cevada e de todo o resto, provocando
deliberadamente carestias, quando Deus, na verdade, deixou que crescesse o
suficiente. O burguês de igual modo explora através de seu ofício o que e
como quiser.
Sabe-se, além disso, com que desconsideração a eriadagem, servos e
fi servas, agem nas casas. De que maneira roubam e praticam a deslealdade e
todo tipo de maldade, sendo que todos os patrões se lastimam e clamam por
causa da criadagem.
Assim, também o roubo de um vizinho pelo outro é incomensurável. O
iricsino vale para os operhios ou artesãos. Como querem dar uma de senho-
1 i-cs'! J i cobram que chega e trabalham em que, do jeito que e se quisereiii.
li. sc arruínam c coiisoiiicni coni o material necessário, ninguém pode dixci-
cois:~~ I ~ L I I I I : I cou~r:tclcs.
<iiirrra contra os Turcos
Antes que eu tne esqueça, tamberii fdo dos juristas. Chegou-se corri a
j u s t i ~ iao ponto dc ninguéin mais envolver-se de bom grado numa disputa
jurídica, mesmo que tenha iiinit causa tão brilhanie e boa conio pode ser
claro o sol do meio-dia.
Nâo quero dissimular, nias dizer a verdade. Veja o Tribunal de Câmara 5
do império. Que espécie de prostituta dos diabos governa ali, numa instância
quc deveria ser como que uma jóia divina em meio aos territórios alemães,
liaquele que deveria ser o único corisolo para todos que sofrem iujustiqa. Veja
como os que estão em Goslar, Mindcn e outros pailicipam, apoiando o
desesperado patifc, Heurique, o Incendiário e Assassino2, em todas as mal- i«
&~des.Assim, de modo algum são juízes, também n2o podem defender
pcssoas no tribunal e, além disso, toriiam partido em causas referentes ao
Ev:uiselho ou à Igreja.
A Alemanha, portanto, está madura e repleta de todo tipo de pccados
coritra Dcus. Ela quer, além disso, justificar-sc e se opõe a Deus, o que 1 5
infelizmente em muito fez dc inim um verdadeiro profeta. pois eu disse
scguidas vezes que deveiiios ser castigados, ou pelo turco. oii por nós
próprios reciprocamente.
Acabei esquecendo a usura. Ah, essa mesma vive completaniente des-
preocupada e avança com tal fúria, como se ela própria fosse deus e senhor 20
cm todos os territórios. Ninguém pode ousar combatê-la. E porque escrevi
contra ela3, ridicularizaram-me os sanios usurários e disseram: "Esse Lutero
iiZo sabe o que é usura. Que fique lendo o Mateus e os Salmos dele!" Pois
Ihcin, sou um pregador de Cristo e se minha palavra é palavra de Deus. do
que não me resta dúvida, então o turco ou outro instrumento da ira dc Deus rr
ciisiiiariío a ti, maldita usura, que esse Lutero compreendeu e sabe muito beni
o que é a usura. Nisso eu aposto uni bom florim!
Mesino que essas atrocidades tivesseiii que ser suportadas por um pouco
iii:iis de tempo, chegou-se a uin ponto, a partir do qual iião se pode mais ir
:iili:inte. Certos fidalgos, cidades. sim, até mesmo cidadezinhas de liada junto 30
<YIIII aldeias começaram desde agora a querer se opor a seus pastores e
~)rcgidores,para que eles não repreendam do alto do púlpito seus pecados e
ví~.ios,ou querem botá-los a coi-rer e deixá-los morrer de fome. Aléiii disso,
\c. alguém pode roubá-los, se toina santo, pois, caso o denunciarem aos
Iiiii<:i«n&ios públicos, serão chamados de gananciosos insaciáveis. "Veja - s
(lixc.in eles - um pastor recebia outrora 30 florins e estava plenamente
s;iiisI'cito. Agora eles querem receber 90 e 100 florins." Que os funcioiiários
X N;inrri niiis,y mm mit K01bt.n lausen, no origiri.11. kólbcn des iV'wci~,liieralrnenle n b<irdXc
do p;~lli:i~oque, origindtnenie era a m a do hu50; dcpois passou a ser sua insígnia ao lado
iIu boné. O prov6rhio poderia significar algo coiiio "tratar a cada qual confonne rnecce".
0 Vci:iiio d:ii intellecium nudihii, no original. O tento da Vulgaw reza: et iiinruriiriiod~ird;t
vrx:!rio iniellecfiim dzibit audilui. Na DB 1534: "Denn allein die Strafc IcM autã W<irt
iiicrkiii - (Pois somcnle u castigo eiisilia dur atcriquo i Palavrd), com n(ri;l margiriiil: N:trrra
rnic Kolh<a1 I;iii,wn / rin<lXIIICnl;~cl,l1h>111111cKindvr
i i i r i , ~,,i~,:,,> ~~ (Aos Iolos ICIII ~ I I V sc
r;tl;tr ) ~ i t ~ l lcon, ~ o s I x ~ r c I Z o/ c v;ira kr,. C ~ ; ! I I < ; ~~<~ l x ~ l i c ~ ~ l c s ) .
a vara e ensinar a temer e orar a Deus, senão nos deteriorarnos totalrnciitc
erii meio a pecados e toda auto-suficiência, como aconteceu ate o momento.
Se agora quisermos permitir que nos ajudem e aconselhem, vamos,
entâo, Fizer penitência e corrigir as coisas más descritas acima. Os príncipes
5 e senhores devem fizer justiça no temtório, controlar a usura, combater a
ganância dos nobres, burgueses e caniponeses. Acima de tudo, devem honrar
a pal;ivrci de Deus, prover, proteger e promover ai escolas, igrejas e os que
as servem. Do mesIiio modo tâmbiiii os nobres, burgueses r caiiipoiieses
deveiii ser obedientes nesse ponto, deveni pioteger a disciplina e a Iioiiradez
"1 nas cidadcs e tios campos, nZo permitindo que artesãos, operários e criados
priitiqueni zubitrariedades gcuides assim, mas os casiigiiern cte tnodo deste-
mido. Em suma: tem-se o Calccismo AlemãoLu,em fornici suficientemente
transpareiite e clara. Cada uin heiii sabe (graças a Deus) aquilo que compete
a cada estado e indivíduo f u e r e deixar de fazer, algo que outrora infeliz-
15 mente não sabíamos e M a m o s com prazer. Se fizermos isso, Deus nos
cscutará e certamente ajudará, como todos os profetas e toda a Escritura nos
prometem.
Se' porém, não agirmos dessa maneira e não quisemos aceitar canse-
lhos, entiio não há maneira de recebennos ajuda. E será inútil iicai- berrando
que o turco é um tirano cruel, já qiie de nada ajuda a uma criança má
reclaiiiai. da vara dolorida, pois se ela fosse boa, então a vara iiZo seiia
dolorida, súii, sequer haveria vara. (Eni resumo) de nada adianta ser mau e
iião querer ser castigado, anibns as coisas precisam estar juntas uma a outra,
oii simultaneamente chegam ri tcriiio.
Vós pastores deveis pregar isso ao povo com diligência, se Deus talvez
quiser conceder a graça para que eles ouçam e se deixem aconselhar. Pode
ocoi~ercomo Deus diz a JeremiacMlcaso eles quiserem seguir o exemplo dos
iiiiiivitas, que titiliam o seu turco iiiuito rriais próxinio de si do que o nosso
turco está em relação a nós, pois restavam apenas quarenta dias até sua ruíma,
corifonne Jonas 2 [sç. 3.41. Subsistiram, porém, através de sua penitência e,
como se deixaram aconselhar, acaharitni recebendo ajuda.
M,.i&. ~.o i n o se
, as pessoas sáo obstiiiadas, c o mal as comeu t50 fuiido
i~iicnão se pode esperar peiiit2ncia alsuina (como diz Ezequiel de sua paiie1;i
(Ic cobre, que ficou tio enfenujada a ponto de ele. não poder esfregá-la ncrii
li~iipi-Ia,mas <pie precisoii sei- novamente clcrrctida e moldada pelo rei dc
Il:iliilin~ia'~)'! Que podemos 116soutros, que somos inocentes' iiuina sitiia$ão
111 1 ) :ii<r.kiii~
( Alcni%,ou (:!lccisrno Maior (WA 10/1,125-258) foi piihlic:i~locm 152'). ('I.
i) i i . \ i < > rrti v . 7.
Ol,riis Sclcci~iii;iil;,,s.
I 1 ( ' I I , .?h..~.
I ' i 'I i:, . > 1 1 1.1.
< :iicir;i coiitra os Turcos
iIcss:is? Coiifiar é o que se deve fazer aqui. tanto quanto Deus o queira. Llni
vizinho sofre junto com o incêndio no outm. Por isso temos que (corno
I<zcquiel e Dniuel o fizeram) aguentar fiimc e jiuito com nosso povo, reis,
sciiliorcs e igrejas, sacerdotes e profetas. Que faríamos, se. esiaiido em
.Icrusalém. tivéssemos que nos iiiiidar de nossa pátria e ir p u a R:ibel viver 7
siiti o grande tirano junto com os iiiesmos c amados santos, profet:is. reis c
rniiihas (assim como fizeram muitos outros santos e pessoas boas nliquela
epoca)? Não iríamos perder a Deus por isso, iiein bandcar-nos para o cliabo.
I'ois tarnbém Daniel e seus compmhciros encontraram a Deus mais ricanien-
tc em Bahel do que o tinham encontrado em Jerusalém. Pois Deus é onipo- fii
tciite ein toda parte e, como S. Pedro diz em Atos 10.35: "Quem tenie a
Ikus, oiide quer que esteja, ein todas as naçóes, este agrada bastante a
1)cus". Do contririo, todos os cristãos qiie agora vivem e morrem sob o
iiirco tcrinin que estar condenados. N~iquele dia eles seráo juizes sobi-e
iiqueles que ;igor;i os tomam coino esc;ihel» p u a os pésJ3. I5
Entretanto, porque niío sihemos que Dcus quer algo semelhante de nossa
~i~iric (já que nenhum Jereriii:is oii Ezcquiel temos, que por ordeiii de. Deus
cniiii-a vez nos chame ou mande que nos eiitrcguemos ao turco, coriio os
~iiileuspor mandamento de Deus tiveram que entrega-sc ao rei de Bahel),
coiiipctc a cada um de nós defendcr-se e fazer o que puder conlòinie sua 20
voc:iqão antiga c anterior, alé ser enti~adoa última «de. Pois não podemos
rciiunciar à nossa vocação de boa consciência, enquanto náo formos impeli-
ilos para longe dela pela força ou Deus no-lo exigir através dc profetus ou
siliais ~iiilagrososoutra vez.
Portniito, dividanos a coisa toda eiii dois grupos. Aos sanguinários e 25
i. i-rcr cin Deus, o qual nos chama a observar nossa vocação e a Fazer nossa
11;iiii..Elc também nos chana e ensina a orar, quando diz em Mateus 7.7:
''l'c.(li c ircebereis, buscai e achareis, balei e abrir-se-vos-á", cm Joio 16 [sc.
Il.I,l.I: "Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes em ineu iioiiic.
Enortaçáo à Oração Contra os Tumos
isso eii fiuci", c no Salmo 50.15: "hivoca-me na necessidade, eu quero ic
ajude-. Tii me agradecerás e glorificarás".
E beiii verdade que não somos Josué, que por meio de sua oração
ordenou ao sol a ficar piii-ado tio céu14. Também não somos Moisés, que
r iiiediante o orar de coraçâo dividiu o Mar Verrn~lho~~. De igual modo não
soiiios ELias, quc cspdhou fogo céii abaixo através de sua o r q 2 0 ' ~ .Nós,
podm, pelo menos pertencemos h inesina gente, a quein Deus recoriiendou
sua palavra, a qual lios faz pregar niediante seu Espírito. E verdade, justa-
mente por isso somos coino Moisés, Josué, Elias e todos os outros santos.
10 Pois temos a rnesina palavra e Espíiito de Deus que clcs tiveram. E nós
somos do mesmo grupo dc prcgadorcs. scrvidores e ministros de Deus, a quc
tainbéiii eles pertenceram. Mesino que tenham tido a presença de Deus de
inodo iiinis glorioso, não a tive~amde inodo superior c mclhor do que nós.
pois sua carne e sangue não eram melhores do que os nossos. Eles foraiii
1 seres Iiiiiii;iiios como nós e criaturas de Deus exatamente como nós soiiios.
Estou falando agora dc nós3 pohrcs pccadores, que pelo nierios amamos a
Cristo e buscamos seu reino, e ii5« dos papistas e falsos cristãos.
E Deus tem que (se é que posso falar assim) ouvir nossa oras20 tanto
quaito ouviu aquela. Pois somos iiiembros de sua Igreja, noiva de seu Filho
211 ani;ido, que ele não pode desprezar quando clama com sinceridade. Não é
gantle coisa para Deus realizar obras Jâo grandes e atC maiores através dc
nós do que as que fez através deles. E como temos visto e experimentado
até agora, quando ele nos tcm auxiliado podcrosa c maravilhosamente contra
o diabo do papa, que é algo maior do que o diabo do turco, bem mais do
que possamos imaginar ou acreditar. Pois ele fila em Joáo 16 [sc.14.12] d:i
scguinie iiianeira: "Ein vcrdadc, cm vcrdadc vos digo. Quein crê em iiiini
fará as obras qiie eu faço, e fará ainda iiiaioses, pois eu vou ao Pai, etc.".
Portanto, vainos nós, pregadores, fizer a nossa obrigação. Em primeiri1
lugar, vamos exoitar o povo a penitência, já que eles (caso o hirco avançar)
certamente morrer20 e terao qiie perder tudo miseravelmente: coipo, bens,
Iioiira, esposa, lilhos e, além disso (o que é pior), a alma. Pois é temvcl
niorrer em estado de impenitência, o que significa ser condenado eternameii-
tc. Por isso devemos censurar e repi.ccndcr de maneira incisiva os vícios c
pccados do alto do púlpito. Confonne diz Isaías 58.1: "Prega para valer, nho
1, p(iup:i, eleva tua voz como uma trombeta e anuncia a meu povo sua traiis-
grcssáo e à casa dc Jacó scu pccado, etc.". E S. Paulo em 2 Timóteo 4.2s.:
"I'rcga :i Palavra, insiste, quer seja «pcirtuno ou não, repreende, amc;iv;i,
i.xi~iioc»in toda paciência c cnsina. Pois haverá uin tempo cm quc i i ; i i ~
sii~x~t;ii.àri;i sX doutrina".
1iiicira coiirr;i uh Turcos
Caso houver certas prssoas que iiáo quiserem admitir semelliante re-
~ x c n s ã ocstas , podem, em nome de Deus, ficar fora da Igreja, ou, em nome
CIO diabo, sair dela. Quem iis está retendo? Elas, que não querem ouvir ;I
palavra de Dcos, de nada nos servem ou ajudam. Muito mais nos lirejudicani
liuma tal situaçáo de emergência. Coniudo, não podeinos silenciar a palavra s
tle Deus por causa delas. Qiic se váo para o diabo e morram como uin porco
ou como cachorros, sem sacr;unento e graca, sendo sepultados com os
animais. Pois se queremos tcr i i r i i Deus gracioso, tciiios de suporiar verda-
clciramentc que ele nos repreenda e censure como pecadores e palifcs malig-
tios e confessar, além disso, que ele age corretainentc quando nos ccrisora 1il
coniu pecadores e patifes iii;iligios. Como diz Davi: "Pequei p%i contigo,
ti fun de que sejas justo eni luas palavras" [SI 51.41. A verdade é que os
cristãos aiiiêiiticos ouveni com prazer que alguém os censure e repreenda
com a palavra de Deus. Esses, no entanto, que querem permanecer impunes.
cin rcalidadc estáo confessando que sáo autênticos patifes desesperados, que 15
com isso tanibém pecam contra o Espírito Sanlo por iiáo quererem sujeitar-
sc a que ele os repreenda mediaiiie seu rniiiislério da pregayáo. Ou então
ilccuúam ianio. cluc coiisidcrm iiossa preg;içGo e pal;ivra como iiossa. isto
C, como pilavra humana. iiiio querendo por isso siibmetcr-se a ela. Assúii,
rlecaírnm Iiri muito da i6 cristá, sendo vaido c nierecido quc. cm lugar de o:
pertencereiii a Deus, pertençm a Maomé, aos turcos, ao papa, bem como ao
diabo e sua máe. Amém! Amém! Pá quc eles assim o querem. Que não se
dcixe, porém. que estejam ein nosso exército. Ou. se sua presença for
ohrigatcitia, que em nenhuma circunstância depeii(1nnios de sua ajuda. Preo-
cupa-te c pede, porém, que Deus náo queira fazer-nos pagar pela iiialclade 25
iiiiiiiifo: "Escuta aqui, eii não te tenho no exército para que amddiçoes
Alcn:iiidre, mas para que lutes contra Alexandre!" Pode ser que algiiiis
E\orin$%i à Ora$& Contra <i>' l i t i i g i , ,
aceitem ser exortados e sig;un essa orientaçiío, primordialmente os que, ;ill:iii
disso, também pciisnm cm scr bem-aventiirndos. Nos outros nada há que os
leve a se tornarem meihores ou piores. Pois se depender de sua vontaclc.
coisa alguma começará a ser feita em relaçãci a semelhantes necessidades c
5 assuntos maiores. E Deus náo olhará para eles, mas para os outros. como diz
o Saliiio 33.18: "Os olho.; do Senhor olliam para os que o temem e aguar-
dam por sua bondade".
Assim lê-se na Hist6riii Romana que uiii imperador tinha um pniipo dc
cristãos entre outros gentios, que se ajoelhavam no campo e oravam (como
1 convém aos cristaos) antes da baealha. Repentinamente veio do céu urna
tempestade e derrotou os inirriigos. Esse griipo de soldados tomou-se para o
unpcrador (beiii coiiio para os gentios) iiiuito cxo, se.ndo cliamados dc
kerauriohiilos, isto é, trovcjadores, porque eram capazcs dc guerrear por
intermédio de ataques de irovão. Exatamente isso poderíamos fazer também
1. nós, se com seriedade lios corrigíssemos e orisscmos de coração. Pois tudo
o que Deus far. e dá a todo mundo, gentios e tiucos, maus e bons, tudo isso
ele làz por meio e por causa de seus amados tillios. isto é, eni favor dos
cristZos quc o tcmem, sc conlessatn pecadores. de boa voiitnde se deixam
repreeiider e, núo obstante. confiam nele de coraçjio, orani c uilercedem eiii
: todas as iiecessidades. Isso é certissimameritt: verdade.
Isso a respcito da primeira obra do nosso ministério da pregação. "Quem
tem ouvidos para ouvir, que ouça" [Mt 11.15]. Quem não tem, que fique
para tiás sem ouvidos. desorelhado, mouco e surdo. Precisamos prosseguir.
A segunda obra é aquela pela qual nós ein seguida nos voltamos a Deus em
2. corrcta oração. Pois são dois ofícios sacerdotais: voltar-se ao povo e eiisiná-
I« o que é correto e bom; e posteriomeiite voltiu-se a Deus e interceder para
que faqaiiios seiiielliante coisa e tanibéin possamos alcançw ?.rito e vitória.
Como diz I Samucl 12.23s.: "Longe dc iiiiiii que eu peque contra o Senhor,
ao deixar de orar por vós e de vos ensinar o caminho bom e certo. Temci
apenas ao Senhor e servi-o lealmente de todo coração". Aqui ouvimos scr
pecado conti-a Deus, se nós pregadores não eiisiriamos corretamente o povo
e intercedemos por ele. Também C pecado. prossegue Samucl. se o povo n3o
obedece iiem teme a Deus, qiie o ensinamediaiite iiosso ministério da pregiiçXo.
O povo deve ser sohreiiido exortado a tanibétii orar. Pois o Pai-Nossi, c
', todas as oraq6es são coriiuiis a todos os cristáos, scjain eles pregadores oii
ouvintes. Principalinente, pcirém, os piegadorei devem fazê-lo. por serem os
qiic dirigem a Palavra. devendo estar e ir ria vaiiguarda. Sobre como se dcvc
orar ensina-se ahundaiiternente eni muitos livro^'^. A saber, quc não sc ponliii
ciri dúvitla a oração. Qiietii quiser duvidar de que é ouvido por Dcus, L~LIL,
(lcixc tudo de lado e não se moleste com Deus ou com a oração. Pois ele
iiáo pode e não quer suportar que se duvide, ou seja, ele não pode e não quer
siiher de ser considerado e censurado como mentiroso ou desleal por nós.
Oiicm, porém, duvida, acaba fazeudo exatamente o mesmo que dizer: SE-
N I IOR Deus, eu não creio nisso, também não sei se é verdade a palavra em 5
q11c dizes: "Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes, isso eu farei"
1.10 14.12-141, e muitos outros versícul«s semelharites.
Por isso, penso do seguinte modo: se queres orar, ajoelha-te ou aprescn-
[:i-tc sem medo e acanhamento (contato que, como supraciiado, tenhas te
iccoiihecido um pecador e queiras corrigir-te) c conversa com Deus assim: 10
SliNHOR, Pai celestial. Eu peço e quero que isso seja infalível, pois devc c
111-ccisaser sim e aniéin, exatamentc isso e nada diferente, senao não quero
i~i.srnem ter orado. Não que eu tenha direito ou que seja digno disso. Bem
si:i c confcsso que não o mcreço. Mereci, isso sim, o fogo infernal e tua ira
iicrria por causa dc muitos e grandes pecados. Nesse momento, porém, sou 1s
i i i i i pouco obediente, já que me chamas c coages a orar em nome de teu
;iiii:ido Filho, iiosso Senhor Jesus Cristo. Baseado nessa certeza c esperança
iIc lua úisondávcl inisericórdia e nào em minha justiça2' ajoelho-me ou
:ilwscnto-ine diante de ti c oro por N. N., etc.
Por outro lado, também tem sido ensinado suficienteinetitc que nào se 20
ilcvc tentar a Dcus na oração, o11 seja, iiâo sc determina a ele tempo, medida,
:ilvo, modo ou pessoa; riein como, quando, onde c por intermédio do que
iIcv:i cle nos atender. Deve-se, i10 entanto, segredar tudo humildcinente a ele,
( I I I C por meio de sua divina e inescrutável sabedr~riaem tudo irá acertar por
ci~~iil>leto. Jamais se duvide (caso algo diferente se manifestar) que a oração 25
<.i1111 certeza foi ouvida. Como diz o ai1,jo Gabnel em Dailiel 9.23: "Quando
ci1iiicc;aste a orar, partiu a ordem, etc.". E foi atendido muito mais e melhor
1111 que Daniel havia pedido. Semeihantes coisas, digo eu, já ioram outrora
siiliciciitcmente ensinadas no Catecismo e de resto em muitos escritos. De-
v(.iii. por isso, ser aplicadas também coritra os turcos lia atual situação de 30
12 I'ir~v;ivelrnentedc acardu com as pitlnvras do SI 102.10: "Senhoi. não 110s Irales segutalo
os ri<issi>s pecado^", ctc.
.!I I?il:ivi:is ilo SI 79.8: "Sccihor, não te lernhres contra nó? dos pcçados dc nossos pais", çlc.
.>/I "Assisic-rirjs, 6 Deus Salvador iiusso", etc. - SI 79.9.
.>i ('I: WA 35, i i ' 27; 1liiii1.i < / O /'ovo </cDcir.~,Siri Leopoldo, Siiiodd, n" 291: 1lili:iiiii
I ,,l,~r:,r,<~,
l'<>rlo Alcgrc, ('oou'~~<Ii;~ ~ f '
!(> ('1'. WA '77, li' 131; /I;,n~,v(1,) I'<wo <I<,/ ) c t , , ~ , 185; Ili,~;ír;<~ li'443.
/~olcr;t~~,~,
( i u i i ri, c01,ir:1 o& TUTCOS
coiikssannos a ti. Driis Pii, o verdadeiro. úiticci Deu$, e a teu Fillio ;uniido,
iii~ssoSenhor Jesus Ciisln, c ;io Espírito Santo, iiin único, eterno Deus. Sim.
esse 6 o pecado qiic conieteiiios contra eles. Por outro, se te rei~egásscinos,
seriiunos deixados complcliiiiieiite eiii paz pelo diabo, pelo mundo, pelo papa
c pelo tiirco. Como diz teu amado Filho: "Se f6sseis do mundo, então o s
iiiiiiido arilaria o que é seu") etc. [Jo 15.191.
Agora, v.: isso, nosso Pai misericordioso e Juiz severo de nossos inimi-
gos. Pois eles são muito nirus teus do que nossos uiirtiigos. Quaiido rios
perseguem e golpciarn, aí eles perscgucrn e golpeiarii LI li próprio. Pois a
Eilavra, c o i t c ~ m eniís pregamos, cremos e coiii'essamos, S tiia e iiào nossa. 10
'liido t. obra do teu Espírito Santo em nós. O di;ibo não suporta seiiielhante
Saio, mas quer ser nosso deus em teu lugar e foiiirniar mentiras em nós em
lugar de tua palavra. O turco quer colocar seu Maomé no lugar de teu miado
Filho, Jesus Cristo. Isso porque o blasfema c diz que não é verdadeiro Deus,
que scu Maomé é superior c melhor do que ele. Agora, se é pecado coiisi- 15
saiitiíica teu nome. que clcs profanam. Fortalece leu reino, quc clcs dcsh-ociii
cin nós, e realiza tua vontade, que eles querem sufocar em nús. E iiàio
[ic'niiitas que te pisoteiein por causa de iiosso pecado aqueles que não o
ccrisiir:irii eni nós, mas qucrc.m eliminar em 116siiia saita palavra, nome e
ohi-:i. p m que náo sejas Deus nenhum c não teiihas iierihum povo qcie 2s
pregue ;i teli respeito. creia ciii ti c te confesse.
Veja heiii. scrnelhniites pensamentos ie s.io sugeridos pelas palavras do
I'cii-Nosso, se as c«ilsidri.ares correlamente: "Santificado seja teii iionie.
Vciiha teu reino. Seja feita tua vontade", etc. Por isso deves resumir também
csscs pensamiltos em teu Pai-Nosso. Da mesma foma, vemos como todos 1"
os profetas oram para que Deus os poupe, pecadores que são, por amor de
scii iioine, a fini de que os gentios (que querem eliminar o verdadeiro nome
<I<. I)ciis e não seus pecados) náo se vangloriem [pilrpntandol: "Onde eskí
vo.\so Deus?" [SI 79.101. Eles. isso sVn, se preocupiuri muito iiiais coni o
iir~iiicde Deus e y x a que os iniiiligos não extermineiri a palavra de Deus (o 1.
1 1 1 1 ~C rligno da iiiaior ira). do que com o próprio castigo por causa ile seus
~~<'c:i~li>s. Por causa disso confessam seus pecados e pedem por graça. a fim
iIc i(uc Deus e seu nome iiSo sejam eliminados por sua causci. Cuin isso
ii.iiii>vcin de si e direcionaiii a ira de Deus aos inimigos, aqueles qiic
Iii~siili~;iin seu povo iião por causa dos pecados dele, mas por causa dc Deus 1"
1)cus quiser. Mesmo quc dessa vez não obtenhamos na esfera temporal o que
!:ostaríamos, nossa oração é certamente ouvida e agradável [a Deus] (isso
116ssabemos) e trará obrigatoriaineiite uma conseqüência bem maior e me-
lhor do que aquilo que pedimos. Como diz S. Paulo em Elésios 3.20: "Ele
l;iL em medida excedente e superior além de tudo o quc pedinios ou com- 10
h<.ii iriiião Abisai: "Meu caro, espera u111 pouco, vamos ver o que cstá
~~ii~ilvicrrninad«, pois queremos agir de acordo", mas disse: "Luta contra
Aiiioiii. que eu lutarei contra os siros. Se os siros forem fortes demais para
i i i i i i i . cittlto vem em meu socorro. Se os de Amom forem fortes demais para
l i . i.ii ii-ci eni teu auxílio. Sê confiante, e que sejamos fortes por nosso povo 13
c . 11rl:is cidades de nosso Deus. O SENHOR, porém, faya o que lhe aprou-
v<.i" 12 Sin 10.lls.j.
Assim devemos nos guiar também em nossos ofícios, e não segundo a
Exuttaçào à Oraçào Contra <is Tùi-coh
predestinação, já que não temos palavra, luz nem ciência alguma a respeito
dela, devendo afastá-la da vista, do coração e de todos os sentidos e deixá-
la permanecer nas trevas e oculta ern mistério. Devemos fazer o que sabemos
e nos é ordenado por sua palavra e pela luz por ele apresentada. Aí, entâio,
5 a predestinação sc eiicontrará por si mesma e sem ser perscmtada, ela que
de resto não se deixa enconirar c, além disso, S u surgir epicuristasZ8,turcos,
pessoas atrevidas, tolas, estúpidas ou fracassadas, desesperadas e miseráveis.
O diabo monta sobre tais pessoas, que iiiiaginam serem elas próprias inteli-
gentes e sábias. Não vêcrn tratar-se aqui da maçã, com a qual Adão e Eva
lu juntamente com todos os seus descendentes devoraram a moite eterna. Eles
queriam conhecer, além do cliie Ihes fora ordenado, também o conselho
íntimc de Deus e a predestinação. Tentaram com isso a Deus e infringiram
seu smio mandamento.
Depois [de tratar] dessa nossa obra, dos que ocupam fun$õe.s clericais,
ii [digo] aos quc ocupam estados seculares: Refleti também sobre vossa própria
obra. Estai abertos ao que vos dizem e aconselham, ouvi a palavra de Deus
c orai conosco, Fazei justiça no território, castigai a usura e outros vícios
niais. Aplacai o indiçno e vergonhoso alcoolismo, a jogatina e o luxo. Buseai
também vós o Sacramento e não vos mostreis coiitririos a isso, corno alguns,
que o vêem como sc fosse veneno ou como se humilhar-se por causa disso
fosse uma vergonha para a Função. Se quisemos confessar a Palavra, preci-
samos também receber verdadeiramente o Sacramento, que C instituído para
a confissão (ou como o próprio Cristo diz) em memória. Do contrário tal
desprezo, pelo clual alguns até por muitos anos deixam de ir, não poderá
agradar a Deus, [denionstrando] que na verdade nem boa consciência e nem
seriedade para com a palavra de Deus estio presentes.
E, se investiides contra os turcos, então deveis estar seguros e sem a
inenor dúvida: nâo lutais contra canlc e sangue, isto é, contra seres humanos.
Do contrário, quero dar urna de profeta vosso, [dizendo] que um turco iri
'1 matar muitos cristãos. Estai seguros de quc lutais contra um grande exército
de diabos. Pois o exército do turco é, de fato, o exército do diabo. Por isso
não confieis em vossa lança, espada, mosqucte, poder ou número, pois os
diabos não se preocupam com isso. E bem como temos sido instruídos pcla
experiência at6 o momento, onde o turco meramente teve vitória e êxitu
5' contra nós e terá luturamente, se lut,umos como seres humanos contra sercs
liumanos. De igual modo, o papa e seus diabos não .puderam ser derrotados
soii a palavra de Deus, embora os imperadores Frederieo, Henrique, etc.
lilssem poderosos o suficiente. Ele tripudiou sobre todos, pois o diabo estnv:i
i i i i i i ~dclc.
~ Deveríamos aprender a cantar com o Salmo 44.7: "Não confio
iio iiieu arco, e minha espada não pode me ajudar", etc. Contra os diabos
precisamos ter anjos ao nosso lado, o que acontecerá se nos humilharmos,
orarnios e confiarmos na palavra de Deus.
Quando tivermos feito o que nos cabe, mando-nos ou defendendo-nos
coin a oraçâo, entâo dignmos com Joabez? Marchemos destemidos. Seja o 5
que Deus quiser, como ele predestúiou e como lhe agrada para a vida ou
para a morte. Quer ele permitir que sejamos castigados e derrotados, então
iiiommos e nos sujeitamos dentro de nossa voca$io, sob seu commdo c,
:ilém disso, por amor de seu nome, toinando-nos assim seus mártires. Afora
isso, temos a vantagem de, não obstante, nos tornamos, naquele dia, cteriia- 10
iiieiite juízes c senhores com Cristo e todos os anjos sobre o turco, o papa,
o mundo e todos os diabos. E que podeni fazer a nós, cristãos, o turco e
iodos os diabos'! Que i ~ a nos l poderá fazer'? Pois é, cle náo pode tirar-110s
iicm a vida e nem os restos inortais. Pois a vida já nos foi tirada muito tempo
tiiites, no piincípio do mundo, no paraíso, através do pecado de Adáo. Todos 15
11s qiie dele nascemos (o turco também, tanto quanto nós), perecemos e
iiiorretnos nesse [pccadoJ, confonue Roinanos 5.12. Em contrapartida, Cris-
t i l . riosso Salvador, há muito recriou e reconstituiu por meio de sua ressur-
i-cição a todos os que crêem nisso, quc a ele intercedem e por cle anseiam.
NZo, porém, os turcos c incrédulos, nem os diabos, que pemianecein na morte. 2u
O que ele bem pode fazer, é abreviar com a morte nosso tempo de
iiioi-tais, de maneira que sejamos sepultados mais cedo ainda, entremos em
clccomposiç~oe sejamos preparados para a ressurreição. Mais nada ele pode
iios fazer. E como o próprio Cristo nos consola em Mateus 10.28: "Não
iciiiiiis aquclcs que matam o corpo" e depois disso riada mais vos podem 25
I I I I ~ I I ~ : ; I O cíc nossa luta, morte e vida ncssa situação, isso é certamente verdade.
Exortacáo i Oracão Contra os liiic<i\
Por isso empreendemos uma guerra bendita por Deus" contra os turcos,
somos cristãos santos e morremos em bem-aventurança.
Também é bem possível que tudo esteja se cncamirihando rumo à deca-
dência do turco, arsim como do papa. Pois os dois reinos, o do papa e o do
5 turco, são os dois últimos fiagelos e a "cólera de Deus" ciiunciados pelo
Apocalipse [de Joáo 15.11, os "Falsos proletas" c a "besta", que juntos
precisam ser agarrados e lançados no "lago incandescente" [Ap 19.201. Pois
quanto aos reinos cxistentes no princípio, é inaudito que tenham exterminado
com o estado matriinonial assim t3o abominavelmente como o papa e o turco
iu o &em. O papa o proibiu e condenou coiiio impuro sob o simulacro da
castidade. O turco separa Iioinem c iiiulher um do outro, dando e vendendo
as muiheres como se fossem vacas ou bezerros. A respeito disso e de outras
coisas irais escrevi aquela vez na prédica ao c~ército'~. Em suma, isso nada
mais é senão destruir os regimes ecoiiômico, civil e eclesiástico em ambos,
15 no papado e na Turquia.
Por fim, que se faça, isso sim, com que as crianças aprendam o Catecis-
ino, 11fim dc saberem aigo da fé cristã no caso de serem sequestradas durante
a luta. Quem sabe o que Deus não pode operar por meio delas? Tainbém José
tinha dezcssetc aios, quando foi vendido no Egito". Ele, coniudo, tinha a
211 palavra de Deus, conhecia sua fé e, em conscquêilcia, converteu todo o
Egito. Assim também agiram Danicl e seus compaiiheiros na Babilônia. Do
incsmo modo, se as esposas sequestradas tiverem quc conviver na cania e à
mesa com outros homens na Turquia, que se resignem pacientemente e se
subinctam a semelhante situaqzo por ainor a Cristo. De modo algum se
25 desesperem por isso, achando estarem condenadas. A alma nada pode fazer
diante do que o inimigo faz no corpo. Quem é prisioiieiro, este é prisioneiro.
A palavra dc Deus e a fé permanecem em liberdade, assim como o próprio
Cristo também permanecc eiii liberdade. Isso os pregadores bem poderão
continuar ensinando e esclarecendo. Significa: "Maravilhosos, insondáveis,
$11 inesciutáveis são os seus caminhos" [Rm 11.331. E, como ele diz a Moisés:
"Não podes ver minha face, mas mc verás pelas costas" Fx 31.20 e 231.
I1 O conceitc d ç "gueira beii<lita" usado por Lutero n8o exprcssa uma Ici universal ou iiiii
princípio. Lutcrn apçiias o usa para resolver iun problema do coiitcxto do muinçntu. A
gucrn com os torçiis 6 bendiia porque Lutero entende quc, nicsino entrando na guerra q i ~ i :
n k quereinos, "somos cristXos santos e morremos em hcni-avcnturan~a",pois ~azeiiios;i
giicrr;i ' d e hria c«nsçit.nçia", <leSen<iendoo país sob o comando da pcsswa <Icsigxail;i p i ~ i ~
Ilciis para isso: Calos, r> governo da época. Como cristão a pcssoa luva çm unl~ão.
;irlcr>c~i<linicnto c fé. C<iini>ciitadZo ele entra na u euerra ao lado do uaovcino Taia diSiiiili.i
o ~ u i si~lacail~. Assiin a guçi-i-iiC "hen<lila".
i?lixisir i, icxiii Eirjiric Ilcvil>i<.ili.gi widc'r- ilie Türken, WA 1ll/11,1óIl-197,inas <idiiol-
i iii<lic:i
" I > ( <;I!C~V;I conlfit 05 'Ii~~cc!s''( v i ~ l clcxl<)~~111cri~~r).
Eu, poi.irii. iião gostaria iieiii uiii pouco de ter escrito 1i'( consolo, com
o qual Mogúricia, Henriquei4 e qiiantos forem os seus - os pérfidos,
traidores, assassirios, incendiários e iiialvados em meio ao desespero -
vicsscm a se conlòrtai.. Pois acho, e tnriihém tenho por verdade, que inuito
antes de aceitarem que iiossa doutrina, a palavra divina, iião 6 nossa e, sini, 5
igiiormdo nosso iiii.riio, sim, sciu d;u- arciiqZo a iiosso pccado, clc ir6 ajudar-
iios contra anibcis eis coiscts: contra 1;ini;mliit e traiçoeira incildade. bciii coino
cnntiii os :iteni;idos dialiiilicos dos I-leiiriqiies e Mogúncius, que sokenios r
airida tcmos qiic supoitar. Ao fiifiil. sç tios huiiiilliarmos, cIc Ihcs druá tias
c:ibeças a reconipcris;i que merecerli. Foi> ele tàz caiitnr a seu respeito: "Ele 211
l;iz justiça aos quc sofrem injúria" IS1 103.61 c "O SENHOR C justo" [SI
145.171. E assim como eles agora cantam: "Onde pois está vosso Deus?"
ISI 79.101 nós, cni resposta, um dia caniarcmos: "Ondc pois estão Mogún-
cici. Henrique, Jorgr'" e seus companheiros'?"
Do mesmo modo 1150 qiiero e 1:inibi'in iião posso ter consolndo nossos !5
qiic ;i ira dc Deiis ciivic o turco como torturador sobre iiós e também sobre
vlcs pr6prios. se n.in fizerein penitência. Pois é impossível qiie a Alemanlia
1.1 No tcxio 0iigh31 Lutcro cxplora ;i r i n a ciiirç Mçiiirz (Mogúiiciai e H&IL (Hçnriiliic),
iiisiciiiiindo 3 idcntifica$k c n t dois ~ g < ~ v c n i : ~ ~tcnitorkais
tcs dc siia i'.poc:i Ihustis à Hcforina.
< ' < i n i"Mogúricia" IAlriiitdMainz) Lutcro s i ~rifcrca Alhcrto dc B~iridciiliirigo (14901545.
;iri.chispo de Mngdehu~o/Halhcistadtc Mogiiiicia, príncilic~clcitoi-.c:irdcal dcsdc 1518.
(.hi:iiiti~ ti Ifc~iriqu?(tlciiirzi. c f acima nota 2.
l i Ijiici<ta, 7,312: Flzcte,e [icqueo sirpciris. .Arclicroiita niovctio. tio oiigiiial.
111 l i I"<>v;~YcI que L-urcrcl sc rcfica a Jorge, o Bniliiido, duquc du S:~~i>iiia (1471 151<)).i i i i i i i i p i
<li.il;ir;i<h, <1;iRcfi>riii:i c iiir>rtodois :uii>s :uitci d:t pulilic?çL> ~Icrlcchcriti,.
i 1 li;iiisli!ii;ic;ii, i10 I i . i i i i i > Iicl>l-iiri,ilc < ; ) I h.4. Il;iiliiziilc> c111Aliiiciil;~I<A r ri;, li1.11 ciiiii
"i,il::iiiii.r".A 1)li 1.514 l i , i r l i i , 11i1r" l i i . i i i i ~ \ " .
Exi.naçii R Ora$30 Coiiha o b Turi-i,\
subsisia. Tmbi-m é insuportável e indmissível que tal tirania, uhura, gaiiaii
cia e nxddade de nobres, burgiieses, camponeses e de todas as camatln\
sociais permaneçam e aumentem. No h das contas, o pobre não conserva
sequer um resto de pão velho e duro em c a a , preferindo ou acreditando dar
na mesma ser prisioneiro sob o turco e estar sob cristãos assim. A coisa
chega até mesmo a scr exagerada t. nãio há nenhuma melhora em visla. Além
disso, ridicularizam a palavra de Deiis e flagelam os que o servem.
A certczn, porém, reside ein Driis. que é Pai de iodu misericórdia, uiii
correto Juiz e, aliiii do mais, irado algoz de todos: diabos, turcos, Maorné,
10 papa. Mogúncia, Henrique todos os criminosos, e que por sua cordial giriça
nos leiii dado sua sanla e prcciosa palavra para conhecermos seu amado
Filho. E que essa Palavra, apexu de ludo e de tantos hlasfemadores, perse-
guidores, desprezadores e f a o s desesperacios do diabo, está sendo acolhida,
Iioiirada e louvada por tantas pessoas hi'iiévolas e escolhidas. làsnbém é
ir inagnífico qur por causa dela iião s;io poucas as pessoas que puseram e niiidn
pUem seu corpo e vida, riqueza e hi>iu;~ em risco. A fé c a c)roc;Ão de pessoas
assim irão e devci'io estourar o fuiido do barril e acabar com a brincadeira.
Coino diz Cristo cm Lucas 18.7s.: "Acreditais que Deus náo irá salvar seus
escolliidos. que a ele clamam dia e iioite'?Digo-vos que ele os salv;uá em breve".
2" Em suma, nós. cristãos, nãio temos que depositar confiança alguma em
riossa sabedoria ou poder (corno fazciri o turco, o papa, Mogúncia e o
iiiundo). Por outro lado, nada temos que iios faça ~IesarUmauou temer. Ao
final, o turco, o papa, Mogúncia e o mundo terão que fnzer o mesmo que
Judas fez. Nosso consolo, obstinaçso, soberba, atreviiiieiito. orgulho, osten-
a tação, segurança, vitória, vida, alegria. fama e honra estZo sentados nas
alturas, i direita de Deus, do Pai todo-poderoso. Enfrenta-o, diabo! Torce um
fio de cabelo dele! Ele se c h m a e continua sendo schcblúnini7R. A ele foi
dada a aiitori<lade sobre todas as coisas. Ele as fará e deverá fazer plenas.
coiiio as Sez do pnilcípio até o iiiomento, e como as fará desde agora até a
ctemidade. Aiiiém.
38 L,utcri, ciiii :i cnpris:iir Iiclii:iic:! <IrSI I l i 1 I c q u i aqui se refcre "ao que por ni'sssc :issciri:i
3 íli~cii;~CIO ScnI~<,r''.
Paz Social
Paz Social
INTRODU(;AO AO ASSUNTO
Como bem sabem os conhecedores do Calecismo Meiior, Lutero considerava a
plv uma das condições que "peitencem ar> sustento e às necessidades da vida",
raz&o pela qual a incluiu iio "pão nosso de cada dia", que Jesus 110s ensina a p e d i
na quarta petição do Pai-Nosso (LC, 1981, p. 374).
No Catecisnio Maior Lutero esclarece: "à vida não pertence apenas que o corpo
teiiha alimento, vestuirio e outras coisas necessárias, mas também que seja de
tranqüilidade e paz nosso relacionamento com as pessoas com as quais viven~ose
lidamos em diário comércio e trato e toda sorte de atividades; em suma, tudo o que
se refere às relaçiies domésticas e vizinliais, ou civis e políticas". Para que se tenha
tranqüilidade e paz, porém, precisa haver ordem social e bom governo. "Pois ainda
que hajamos recebido de Deus plenitude de todos os bens, todavia não podemos reter
nenhum deles, nem deles usar seguros e contentes, se ele não nos dá um governo
estável e de pai. Porque onde há discórdia, contenda e guerra, aí o pão cotidiano já
nos está subtraído ou pelo menos ohstaculado" (LC, 1981, p. 467).
Ao leitor contemporiineo poderá parecer ingênua a relação que aí se estabelece
entre a ordem social, o bom governo e a paz social. Eletivamente não perpassa a
obra de Lutero o eihos revolucionário dos séculos posteriores. Não obstante, é
preciso lembrar que ele csiá enraizado lia tradição clássica e, portanto, não concebe
a ordein social senão ein termos da justiça, que dá a cada um o que lhe é devido.
Não coiicebe o governo seilão como bom governo, que promova a justiça e assegure
o bem de todos. Confrontado com mau governo, faz uso do recurso que lhe C próprio
e, mediante a palavra, exorta à justiça e retidão. Não admite, iiem fomcnla a rebelião,
pois considera que algum governo, ainda quc mau, seja preferível à anarquia. Quan-
do náo há governo algum, a humanidade fica exposta à ferocidade imprevisível da
turba. Revolução política pode haver, sim, mas como ação de legítima defesa do
povo huniilde contra a tirania e arbítrio da autoridade; neste caso, porgm, ter8 que
ser conduzida por líderes responsiveis, que tenham o direito e encargo de defender
os cidadãos.
Governo boin, poifanto, será aquele que, à base do direito, fizer uso dos meios
adequados para cumprir as funções que lhe são próprias, abstendo-se de interferir em
questões que não sejam de sua competência. Em hipótese alguma pode@ a autorida-
de fazer uso da f q a para obrigar alguém a cicr o que não queira. A fé se pode
pcrsuadir mediante a palavra, que L. o incio pióprio para se atingir a consciência
diante de Deus. Lutero, portanto, iião admite a guerra de religião. Luta pela liberdade
e tolerância religiosa com base no direito universal e na ordem jurídica do Império.
Nada melhor que o próprio autor para esclarecer e justificar tais convicções.
I'iil)licam-se neste volume três obras que correspondem a situaçócsespecíficas em
<li:c;idasdistintas do século XVT.
Em 1521 Lutcro eiicontrav;i-se refugiado no Wartburgo. O movimento de refor-
iii;i çstava resvalando para o quebra-quebra, ao menos na cidade de Wittenberg.
I .iiiero lançou em campo uma sincera exortação a todos os cristãos a se precaverem 5
iIc coiivulsão social e rebeldia. A reforma, sustenta ele, havia começado e deveria
13rosscguirpela palavra tão-someiite. Adeinriis, toda e qualquer alteração no culto ou
ii;is práticas religiosas deveria resultar da caridade e pauta-se pelo respeito cons-
ciciicili dos sercs humanos.
Ein 1530, abrigado iio Cnburgo, Lutem se dekoiitava com os resultados da iii
:issiinblEia imperial em Augsburgo. Apesar da grande expectativa, o imperador
c ';irlos V não hiivia realizado o propósito, alegado na c«nvocação, de elètuar a
i.i~iii.iliaçãoentrc os adeptos da rifonna e os defensores da tradição. A proposição
CIOS príncipes e cidades ditos protestantes, desde então conhecida como Confissão de
Aiigshurgor, só pôde ser lida publicamcntc depois de perlinaz ação diploinática por is
p:~rIcdos signatários. A proposiçáo dos defensores do status rluo foi lida e apresen-
i;i<I;i rijo como documento de uma das partes d» litígio religioso, mas como palavra
i t p o s t a oficial do imperador, razáo por que passou a ser conliecida como Refuta-
<;:I<I iI:i Confissão de Augsburgo. As iiegociaçOes entre príncipes e teólogos indicados
1x11 :unhas as partes, apesar de prolongadas, náo cc~ndu~iram a bom terrno. No 20
<lisciirso de encerramento e despedida o porta-voz do iinperador deixou claro aos
I~lulcsl.mtesque h i v i m sido ouvidos e refutados e, po~lanto,devcriain renunciar à?
ri,li1i-inas, ou entá« sofrer as sunçfies previstas em assembléias anteriores, notadamen-
1,. :i cle Worms2. Os luleranos, como eram alcunhados, tentarain colocar lias mZos do
iiiipcrador uma apologia ou defesa da Confissão de Augsburgo, para demonstrar que, 25
:io coiitrário do que se havia alegado, a Coniissáo não estava refutada. O iinperador,
~njrCrii,instado pelo imiáo, o rei Fernando', recusou o documento. Só restava, pois,
:iits lu(cranos preparar-se para uma ofensiva militar por parte dos príncipes e cidades
IiCis :i tra<liçãoe ao papa.
t o i nesta circunstância que Lutero desembainhou sua única arma, a pena de 31,
i.scritor, para d v c r l u a todos os alemães cnnira a preteiisão imperial de rccomr à
iii~y;iilas armas para subjugar os protestmtes e forçá-los a retroceder ao culto e
~~ii~il:irle tradicionais. Ele já havia publicado, com a data de 6 de março dc 1530, Um
1 iirl.%'lho do Doutor Mzitinho Lutero sc &permitidorc.sisíir com rar;ío ao h e r a d o r
,r.i,k ri,s;ir de viol~riciacontra iilguim por causa do Evmgellid. Nesta nova admoes- $5
5 A P'u Religiosa
" dc Aurisbur~o,
- . de 25 dc sctcmbru (te 1555. foi uma teniaiiva ~rovisóriudc
superar, por meio dc unia solu$ão política intcrmcdijria, a perturhaçZo constilucional que sc
hwia instaiado pclr~cisma religioso, a16 o retorno à uiudade da f6. Para reslabelecei. I I
sussego e a ordcrn, criou-se para os adeptos da ConFissXo de Augsburgo uma lei ile exccçiiii.
ii;iocsi;mdo, porem, i~icluídosos refomiados (calvinistas e zwinglianos).
(i A I?i/ <i<: Virf;ili;i (IMX), que p6s um fim à Gucm dos %ta Anoi, gtalruitiii ;i t<i<losi,.
cv:iiigi:licor, IaniMni tiiis rcli>riii;iil<>s, ileiiriitivnrncntc a lihçrdede rcligicisa c ;I igii;~l<l;iilr<li.
<Ii~vit,>s,OSsfi~litos n~7nl i r , l ~ ; ~ u~>~ j a ;bi hohrig:tq.So dc i~c~~npzt~~h:ir
>L cnnfissZc <lcr~o~~~ir~itci<)~~;~l
<IOY s ~ ~ t l t c ~lcrriloci:$is.
rc~s
Paz Social
INTRODUÇAO
Lutero escreveu esta obra ein fins de 1521. Melquior Lntter a publicou em
Wittenberg no início de 1522 e a reimprimiu no ano seguinte. Adáo Pctri de Basiléia
e outros editores anônimos a reproduziram em virias paitcs da Alemanlia. li
A obra figura nas diversas edições sucessivas das obra de Lutero e está
Iraduzida para as principais línguas modernas.
JESUS.
Queira Deus dar graça e paz a todos os cristãos
que venham a ler ou ouvir esta carta. Amém.
Ncstcs últimos anos a bendita luz da verdade cristá, antes ofuscada pelo
p;rpa e seus asseclas, pa~soua brilliar novamente, pela graça de Deus e, por
iiicio dela, vieram à plena luz do dia e ruíram suas múltiplas, perniciosas e
virgoiihosas seduções e toda sorte de anomalia e tirania. Tudo indica que vá
1i:ivci- uma comoção, e que clérigos, monges, bispos e todo o clero sejam
;iss:issinados e expulsos, se não cuidarem de séria e sensível reforma; pois o V,
7 Litcralmciitc "l<iáo ilo hado". Em 1521 circulou um panilclo iluc descicve ii K~uxrli:~ri\
conio c m p n ê s cvangéiicoI i d d e e honeslo, disposlo a toma m n s conba seu inimigo, o lxtp:t.
3 Cf a mudança dc opiniZo a esse respcilu em sua carta de 7 de março dc 1522 a<ipiíricil,i.
cliitoi- da Sax8nia: WA Br 2.461 e 469. Cl. também a carta a Vcnccslau Liiiçk dc 1') ili.
nixço dc 1522, WA Br 2,479:
4 ('1: o lexto na Vulgata: i,t invniialw-iniqoiias eius ad odium ("de soric quc sua iriicliii<l;iili.
sc t o t i l n ~111ais
~ odiÓsa3'- Si 35.3).
5 ('1: i, icnio iia Vulgat:~: illic trrpid:ivciirni firiioii, ubi iion er;il liniorc ("ircriicriirii <Ir~ t i i . < l i i
oiiilç i i ; i ~Iisvia r i iluc ic~~icl-" SI 11.5).
0 (,I'. 111 28.2.3,
.1 (,I'. I 'I'!, 2.10.
l'io. Social
S I\l\iir;irri vjnos dcsses quaclros ern Wincnkrg. Um na entrada cçmitério, outro n:i
i.iiii:i<I;i norte da igrqiii paroquiai e figurava também no sinete da antiga igreja de Witteci-
I v i ~Os . artista sc inspiraram em Ap I . l h c 19.21 e não em 1s 11, como s u p k Lutem.
'1 I .iilcii> inicrpreta o quadrri a partir de Ia. 11.4. Por isso estranha ;i "vara ein flor". N;i
vcril;i<lç. iriif;i-si clc um lírio significarido inocência e pureza.
l i 1 ( ' < i l i i i , iiiliii, Liiiiro usa com Sreqüêricia Endcch~sf- o Cristo do fim, ;to iiivi's <li.
I s ;iiilicri?lo.
I I 1'I, :! 'I's 2.8.
Exoilaçáo nos Crisrhs para se Prcçavçrem dc Convulsão c Rcl~l<li:i
de Paulo: "Qiiando andarem dizendo paz, quando andarem seguros e dissc
rem: Nada há o que tcmer, eis que Uies sobrevirá repentinamente destruiçzo"
I1 Ts 5.31. Para que os papistas não se emendem e procurem misericórdia.
não lhes é dado acreditar nisso, mas dirão: O juízo final ainda está distante,
5 até que, no momentiito em que menos csperam, estejam todos amontoados nas
profundezas do braseiro infernal.
Como já disse, em vista dcsses textos tenho certeza que o papado e a
classe clencd n2o serâo destruídos por ato ou rebelião Iiumana, uma vez quc
sua maldade é t5o hornvel, que não há castigo adequado. a não ser a própria
10 ira divina, sem qualquer inieimediaç2o. Por isso, nunca me deixarei levar a
querer impedir aqueles quc ameaçani com punho e malho. Eu sei que não
vão alcaiiçar nada. Ainda que alguns sejam atingidos, nào ser50 atingidos
todos em geral. No passado já foram iiioilos mais padres, setil grande alarde
e rebcliZo. quando ainda se temia sua excoiiiiinhão c a ira de Deiis ainda não
i havia coiiieçado. Agora, porerii. clue começou, e não se tem mais riiedo
deles, cabe a eles temer gratuitamente, assim como até há pouco nos fizerani
temer desneccssariamcnte com suit Lãlsa excomui~hão,enquanto ainda se
deliciavam com nosso temor1z.
Mesmo quc as coisas não cheguem 3s vias dc fato. e eu não tenha
20 necessidade de qiiercr impedi-los, é preciso que eu insirua um pouco os
corações. Por enqiiinito não vou trata da autoridade civil e da nobreza, que
deveriam colaborar por dever dc sua autoridade legal. cada inaiidatátio em
seu território. Pois o que acontece :iiravés da autoridade constituída nzo ckvc
ser considerado reheliâo. Acontece. porém, que estão deixando as coisas
2- correr, um impede o outro, alguns até ajudam e justificam a causa do
anticristo. Mas Deus há de achá-los c retribuir-lhes de acordo com o uso que
fizeram de scu poder e autoridade para salvação ou desgraça de seus súditos
em corpo, bens c alma. O homem do ovo, no entanto, deve ser apaziguado
e rilertado para qiie se abstenha tanto de setis desejos como das palavras que
1 se aliiiham com rebelião, c r i o tome nenhuma iniciativa sem ordem dn
autoridade oii apoio do poder. A esta atitude deveni levar as seguintes
considerações:
Primeiro porque, como foi dito, as coisas não chegariío i s vias de fato.
É tudo pensamento e palavra vã o que a respeilo se fala e pensa. Pois, como
ouvimos, Deus mesmo quer impor o castigo aqui, posto qtie cles não merc-
ccm um castigo tão brando. Por outro lado, estamos vendo como os príncipes
c senhorcs estão ciii discórdia e não toinain nenhuma iniciativa para lcv;ii-
tivante essa causa. Todas essas coisas são determinadas e enviadas por Dc~is.
p:ira quc soiiieiiic ele castigasse e derramasse sua ira sobre cles, em boi-;^,
coiiro já roi dito, os príncipes e senhores não estivessem inocentados com
isso. Deveriam fazer sua parte e agir com a espada que carregam o quanto
~)iidcssem,para se anteciparem, na medida do possível, à ira divina e abran-
<(;I-Ia.Tal como Moisés agiu em Exodo 32.28, quando mandou executar três
i i i i l de sua gente, para desviar a ira de Deus do povo, e como as Escrituras s
i;irirbém relatam de Elias e de Finéias"; nXo que agora se devesse matar os
p:i(lces, coisa que não é necessária; apenas que se proíba e cofba a força o
quc estão fazendo à margem e contra o Evangeiho. Com palavras e decretos
sc pode atingi-los mais que suficiente, de modo que não haverá necessidade
(lc ação sangrenta. 10
Segundo: Ainda que uma rebeliáo fosse possível, e Deus quisesse casti-
gii-los tão benignamente, essa alternativa não leva a nada e não vai trazer as
iiiclhorias que com ela se pretendem. Acontece que rebelião não é racional
c geralmente penaliza mais os inoceirtes do que os culpados. Por isso nenhu-
ni;i rcbeliáo é justa, por mais justa que seja a causa. O resultado sempre 15
ci)sttima ser mais prejuízo do que melhoria, para que se cumpra o ditado:
"l>c mal para pior". Por isso foi instituída a autoridade c o governo, para
(liic castigue os maus c proteja os piedosos, evitando assim a rebdião, como
S. I'aulo diz em Romanos 13 e 1 Pedro 2.13,14. Quando, porém, se levanta
;I iiii-ha, essa não tem condições de realizar nem sustentar essa distinção entre 20
iiiii;i lasquinha em nossos olhos1b. Não querem que lhcs mostremos que
i~i~:ix nada de bom possuem. Mas se alguim de nós não é puro espírito e
:ii!jo, pretendem que toda a nossa causa seja injusta. Então se alegam, pulam
c cantam, como se tivessem conseguido vitória completa. Por isso temos que
ici- o máximo cuidado em não dar motivo para suas difamações, das quais 5
isiZo cheios a ponto de lransbordar; não por causa deles; afinal, eles têm que
Iiilar mal e dar vazão ao fel do qual o coração esti cheio1', ainda que o façam
coin mentiras, como vemos que o fazem, mas por causa do santo Evangelho,
para resguardá-lo de opróbrio e para que, na medida do possível, calemos
suas bocas (como ensina S. Pedro [I Pe 3.161), de modo que não nos possam
Iiiiiriilhar com nenhuma verdade, o quanto depende de nós. Acontece quc de
iiiicdiato transferem para a doutrina o que de mal possam falar de nossa
]:crite, de modo que a sagrada palavra de Deus tivesse quc aguentar nossa
vergonha, quando a ela devemos toda a nossa honra. Querem que sua
iloiitrina fique scm mácula, ainda quc só produzam coisas vergonhosas, essa 1s
i-;i$a nobre, polida e correta!
Você dirá: Que faremos, uma vez que as autoridades não querem agir'?
I)cvcmos ficar aguentando e com isso fortalecer sua impertinência? Nada
ilisso! Não faremos nem uma nem outra coisa. Há ti.& coisas que cabe fazer.
I'siineiro: você deve reconhecer seu pecado, que a rigorosa justiça de Deus 20
I ' i ~ iqiie razão o únpio te despreza e diz em seu íntimo: Não te irnporias? Tu,
111ii"iri, o tens visto, porque atentas ao trabalho e à dor, para que os possas
i < t i i i ; i i - cm tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu tens sido o defensor
C I, Grlao. Quebranta o braço do perverso e do malvado, esquadrinha-lhes a
iii;ilrl;iilc,e sua perversão não mais existirá". 31
l iiii ierceiro lugar: faça de sua boca um instrumento do espírito de Cristo,
i l i i i1ii:iI S. Paulo diz: "O Senhor Jesus o matará com o sopro de sua boca"
I.' 'I's 2.81. Estaremos fazendo isso se continuamos, como já iniciamos, a
iorii:ii- públicas as safadezas e trapaças do papa e dos papistas, seja pela
Exortação aos Cristjos para sc Precaverem de Conwlsdo e Rckl<li;i
palavra falada ou esc-ta, até que esteja desmascarado e desmoralizado pc-
rante o mundo todo. E preciso destruí-10 primeiro com argumentos; a b o a
de Cristo terá que fazê-lo; assim ele será mâTTmcado dos coraçóes das pessoas
e suas mentiras serão descobertas e desprezadas. Uma vez fora do coração,
i de modo que seu argumento não vingue mais, ele já está derrotado. Com isso
é possível prejudicá-lo mais do que com cem rebeliões. Coin violência nada
se tira dele; antes se reforça sua posição, como até agora aconteceu a
inuito~'~.Mas com a luz da verdade, quando o colocamos diante de Cristo,
e sua doutrina diante do Evangelho, ele desfalece e se acaba sem muito
i11 esforço e trabalho. Vejam minha ação. Não é que eu, sem um golpe de
espada, somente com a palavra, prejudiquei o papa, os bispos, clérigos e
monges mais do que todos os imperadores, reis e príncipes conseguiram com
todo o seu poder? Por que isso? Daniel já diz no capítulo 8.25: "Esse rei
será dcstmído sem a força de mãos huinauas". E S. Paulo: "Ele será
1s destmído pela boca de Cristo" 12 Ts 2.81. Acontece agora que eu e qualquer
um que divulga a palavra de Cristo pode orgulhar-se com toda razão de que
sua boca é a boca de Cristo. Eu estou convencido de que minha palavra não
é apenas minha, mas a de Cristo; logo, minha boca há de ser daquele cuja
p&vra proclama.
ui Por isso não há motivo para buscar uma convulsão corporal. Cristo já
iniciou com sua boca e ela ficará pesada demais para o papa; a essa vamos
seguir e dar continuidade. O que agora está acontecendo no mundo não é
obra nossa Não é possível que uma pessoa sozinha inicie e continue uma
causa desse gênero. A coisa chegou a esse ponto sem plano e conselho meu,
zj e também deverá chegar ao término sem meu conselho, de sorte que nem as
polias do inlemo podem impedi-la. E um outro que põe as coisa? em
movimento; a esse os papistas não enxergam e culpain a nós. Mas eles
haverão de descobri-10. O diabo por muito tempo temia por esses anos e
cheirou o assado de longe; evocou, inclusive, muita profecia contra isso, das
30 quais algumas se referem a mim", dc maneira que frequentemente me
admiro da safadeza dele. Por muitas vezes ele me quis ver morto. Agora quer
que aconteça uma comoção corporal, para que com ela seja evitada e desa-
creditada a rebelião espiritual. Mas, se Deus quiser, isso nXo vai lhe adiantar
'li I)cci>i;iiivi thulctas vativas ou placas quc sc afixavam nas p d c s das igrcjds pelo
i ~ i i l t i l i i i i i i i i i t <dc
i votos.
I! I\r:ri.iitii:ilirn, iiiciiihr<is dc ordens i~iendiciuiies estlicionados cii, ddcriniti~<losIioritos,
i.li;iiii:sl:ir "c:is:is tciiiii~i:iri;is",cri?~.id:!ilc.;c ~r>vi>:ido.:
oii<lc;i orilclii ri;ii> ~ii:iiitiiili;iço!ivcilii,v.
Ex<ow$& aos CisLios pwa se fiew\,ei-eni de Convulsáo c Rehel<ll:i
que certamente entenderiam a verdade se ela Ilies fosse dita. Isso não ensinei
:i ninguém, e S. Paulo o proibiu expressanieiite, Só o fazem sob o pretexii)
de saberem algo mais c serem considerados bons luteranos. Mas abusam do
Sagrado Evangelho para seu proveito. Com isso jamais se colocará o Evm-
i geho no coração das pessoas. Antes. você as choca e será responsabilizado
por tê-las desviado da verdade. Nào faça isso, seu tolo; escute e aceite! Em
priiiieiro lugar, peço omitir meu nome e não se c h m a r de luterano, mas
crist5o. Que é Lutero? A doutrina não é minha. Talipouco fui crucificado eni
favor de alguém. Ein 1 Co 3.4-5 Paulo iiáo quer que os cristáos se chanias-
1 sem dc paulinos ou p e t ~ o s mas
, cristáos. Que pretensão seria essa de um
iniserivel e fcdorento saco de vcnnes como eu se quisesse que os filhos de
Cristo fossem clxunad~spor seu clesastrado noriie? Que não seja assim,
amigo. Vamos extirpar as siglas partidárias e nos chamar de cristãos. dc
quem temos a doutri~ia.Os papistas apropriadamente têm nome de partido.
1 Jú que querem ser papistas, que sejam do papa, que é seu mestre. De minha
pmte. não sou nem quero ser mestre de ninguéni. Junto com a comunidade,
coiiiuiigo da única ii~vessaldootrina de Cristo, que é nosso Mestre exclusi-
vo' Mt 23.8.
Por outro lado: se quiser praticar o Evairgellio de Coma cristã. leve em
:c1 conta a pcssoa com que Ma. Há dois tipos: uns são empederriidos, náo
quercm ouvir c ainda tentam seduzir e envenenar outros com sua língua
mentirosa, tais como o papa, Eck, E m ~ e ralguns~ ~ , de nossos bispos, clérigos
t. monges. Com esses você nXo devc lidar, mas seguir a palavra de Cristo
eiii Mt 7.6: "Não deis aos cães o que t' santo, iiein lanccis ante os porcos as
2' vossas pérolas, para que tião as pisoteiem.,e os cács volteni vara vos dil;lce-
rar". Deixe que continuem c3es e porcos. E csforqo viio! Como diz Saloirião:
"Onde nào há ouvido, não convérii espldhar a irierisageniV (Eclo 32.6).
Quando, porém, vê que esses mesiiios trapaceiros estdo cncbeiicio ttambérn
outras pessoas de meritiras e veneno, então deve enfrentá-los e lutar contra
30 eles, tal como Paulo eiifrentou Elimas. At 13.10-11, com palavras duras, e
coino Jesus chama os f'miseus de "raça de víboras" [Mt 23.331. Isso vocS
deve fazer, não por causa deles, porque não darão ouvidos, mas por causa
daqueles que. estão sendo envenenados. Nesse sentido. S. Paulo detemiiiia n
Tito" para que reprecend~iiiiduramente tais 1inguiii.udos e sedutores de alincis.
Por oiitro latlo, h2 aquelcs que jamais tinli.un oii\,ido essas cois;rs L,
gostariam de aprendê-las, se lhes fosse e~isiriado;ou então, são tão fracos quc
iiãi, as entendem facilmente. Esses nZo deverii ser atropelados nem suiprccii-
ilirlos, inas ensinados ciinigável e calmamente. explicando causa e rnotiv~i.I;
sc iiáo o entendereili logo, cabe dar teinpo e ter paciência com eles. Disso
S. Paulo Iàla em Rin 15 [sc. 14.11: "Acolhei ao que é débil lia fé". Da
iiiesma fonna S. Pedro em 1 Pe 3.16: "Estai sempre preparados pai I-espoii-
(ler a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em v6s' f'ucii-
do-o, todavia, coin mansidZo e tenior". Aí vocé vê que é para explicai- com
iii;uisidào e ternor a Deus as bases da fé, sempre que alguém o deseja ou r
iiccessita. Se você quiscr impressionar essas pessoas coiii seti grande conhc-
cimeiito. rifirrriando peremptoriamente que não r c z m direito. que não têm
cabiierito o jqiuin, a missa, a abstinência de carne, ovos e Ieitc nas scxtas-
feiras, e não acompanhar uma explicação paciente c respeitosa do porquê,
uma pessoa ingênua não pode outra coisa do que achar você um homem
orgulhoso, preterisioso e sacrílego, coino aliás seria de fato, e cluc acha que
não se deve rezar, fazer o bein, que a missa é besfeira, c outras coisas mais,
eiigano c escândalo do c1wal você seria culpado. E por isso que julgam inal
c falam mal do Santo Evangelho e acham que você aprendeu coisas extraor-
dinjrias. De que Uie vale afligir o próximo c criar obstáculos ao Evangelho? 1s
VocE satisfaz sua iinpertinência, mas eles dizem: "Ora, eu vou ficar na
minha religião", c fccham seu coração para a verdade exata.
Se, porém, argunieiitcir com teiiior e mansidão (como S. Pedro eiisiiia) e
disscr: "Meu caro, Jeju:ir, comer ovos, carne, peixe sáo coisas das quais não
depende a salvação. Pode scr observado como pode não ser; soineiite a fé 20
s;ilva". Aliás, cabe dizer: "Ali a missa seria correta se realirada direiio",
cnao eles virikn, ouviriam c apreridei-iam « que você sabe. SC, poréiii, for
:icrevid« r prepotcnte, inostiando que sabe algo que ri* é do conhecimento
dclcs? voct procede como o C'ariseu no cvangelhol'j, daiido iiiostras da arro-
gância de s:il>er algo que clcs nZo conhecem; então valc p m você a assertiva 25
de S. Paulo em Rm 14.15: "Já não anda no caminho do :ciiior", desprezando
o próximo, ao qual deveria servir com temor e mansidao. Aiote um exem-
plo: se seu iimão cstivesse perigosamente amarrado por unia corda ao pes-
coço por seu uiiriiigv, e você, de raiva da corda e do inimigo, sc precipitasse
c111puxar a corda com força, ou quisesse cortá-la com a faca, provavelmente m
você sufocaria ou sangraria seu irmão, causando mais pre.juízo do que a
coida e o inimigo. Se quiser ajudar, faça o seguinte: ao inimigo pode castigar
i. golpcar duramente, mas com a corda terá quc lidar com cuidado e prccau-
~ ~
' I ('I. l i I X I I .
ExunaçCo aos Cristks pard se Precaverem dc Conwlsnu e Rebcl<li:i
motivo, de modo que. coin o tempo. as pessoas tainbém fiiluein livres.
Assim procedco S. PiiiiIn quando, a despeito da insistência ile todos os
judeus. não mandou til-cuncidar Tito, mas circuncidou Timó~eo'~.Veja, ;ts-
sim você tem que tratar os cachorros c os porcos diferentemente das pessoas,
5 os lobos c leões dierentcinente das ovelti:is liacas; c0111 os lobos não pode
scr d111.odemais; com as ovelhas fracas não pode ser cariiihoso demais. Não
cahc portar-nos dilerentemente do que se vivêsseiiios eiitrc os gentios, já que
viverrios critre os papistas. Na verdade, eles são su~~ergciitios;
por isso. como
diz S. Pedro'", devemos levar unia vida irrcpreeiisível entre os gentios, para
10 quc não possam falar de nós o qiie não tenha proccd~ncia,como tanto
gostariam. Eles adorani que você se vanglorie dessa doutrina e escandalize
os coniçóes dos fracos, para que possain difamá-la de todo como escandalosa
e perigosli. porque de outra maneira não consegueiii atuigi-Ia, tendo que
adriiitir. até, que é proccdenlc. Deiis permita que vivamos como ensinaii~os.
Ir e traisformemos as palavras em a ~ õ e s .Há muitos entre 116s que dizem:
"Senhor. Senlior" [Mt 7.211, e enaltecem a doutrina, mas a prática e a
obediência estáo difíceis. Por essa vez isso basta como nova advertênciaz7
contra iebeliáo e escândalo, para que a santa palavra de Deiis nzo seja por
nós desmcrecida. Ainéiii.
Lutero comp6s esta obra por volta de outubro de 1530. Abrigado no Coburgo,
ele recebia informações mais ou menos regulares do pnncipe-eleitor da Saxônia c
dos colcgas teólogos sobre as delibcraçõcs da assembléia e, pnrticulxincntc, sobre as ii
conversações amigáveis entre os representantes dos luteranos e dos tradicionalistas
cin Augsburgo. Oportun,mente recebia alguma visita, que lhe trazia "ai Últimas de
Augsburgo".
No dia 6 de agosto de 1530 o príncipe Filipc de Hesse, destacado líder dos
l~r(>testantcs c co-signatário da Conlissão de Augsburgo, havia ah;indonad« a assem- 20
I>ICiaimperial por questões ao incsmo tempo de seguranvi e conveiiiêiicia. Ele t i a
tidçrido ao acordo de proteçáo mútua de Zurique e náo queria estar por perto, se por
tiçaso o imperador o soubesse. Por outro, já nâo suportava mais as despesas de
Iiospedagem, que iam altas. Em fins de agosto o prínçipc cnviou a Lutero uma cópia
< l i , relatório que seus assessores Ibe haviam feito sobrc as negociaqões entre luteranos u
c católicos. Dizia-se preocupado com o and;uncnto das tratati~ts,e reiterou essa
pre(~çupa@oem vánas cartas trocadas com Lutero no mês de outuhr«. O relatório c
tis carias do príncipe, bem coni« as notícias esporádicas recebidas de Augsburgo
,mporcionaram tanto a molivação como a muniçzo para Lutero advertir os compatriotas.
A Adve~tênciafoi publicada em abril de 1531 por Hans Lufi em Wittenberg. iii
'linto ele como um editor anônimo em Estrasburgo a reimprimiram no mesmo ano,
ciii que tainhim surgiram pelo menos duas edições em baixo alemao, publicadas por
Mclquior Lotthcr e Hans Walther, ambas ein Magdeburgo.
Ein 1546 Hans Luft reeditou a obra, com um preficio de Filipe Mclanchthon,
i1;it;icto em 10 de juiho. Esta cdiçZo prefaciada foi republicada em Augsburgo, i5
10
4 80
Advcrtencin aos Estimados Alciii;irs
confiar em nossa doutrina, como se tivessem certeza que ninguém se levaii
tará contra eles, porque escrevemos rigorosamente contra o tumulto e ensi-
namos que sc deve tolerar inclusive a violência dos tiranos e não se defender.
Foi isso que ensinamos, é verdade, mas não sou capaz de produzir os
5 praticantes, visto que também praticam e respeitam muito pouco todos os
demais artigos de nossa doutrina. Se, pois, o povo também não observasse
nossa doutrina contra o tumulto, especialmente porque esta violência infame
c esta guerra maldosa orereceriam motivo tão insupollável, o diabo os
enganana maravilhosamente, e eles passaiam uma bela c ridícula vergonha.
l~ Sempre estou Saiando em sonho; eles, porém, cuidem para que o sonho nio
se transfonne ein realidade. A mim o sonho não prejudica. Caso se realizar
neles, o assunto é com eles.
Pois bem, quer a coisa vá para a guerra, quer para o tumulto, como disse
(caso realmente a jusla ira de Deus se retire, como tenho que temer), quero
15 ter testemunhado com o presente escrito, perante Deus e o mundo inteiro,
que nós, que somos xingados de luteranos, não aconselhamos nem concor-
damos com isso e nem demos motivo para tanto. Pelo contrário, oramos e
clainamos sempre e sem cessar por paz. E os próprios papistas sabem e têm
que conlèssar que até agora ensinamos paz e também a presewamos, e que
20 a desejamos ao extremo também na presente Assembléia. Portanto, se estou-
rar uma guerra ou um tumulto, náo se deve nem pode dizer: "Eis aí o
resultado da doutrina luterana", mas se haverá de dizer: "Esta é a doutrina
papista e seus frutos; eles não quiseram a paz para si nem quiseram tolerá-
Ia entre os outros". Pois até agora ensinamos e vivemos no silêncio, não
15 puxamos da espada, não queimamos, assassinamos, assaltamos a ninguém,
como eles o fizeram e continuam fazendo até agora; pelo contsáno, suporta-
mos seus assassínios e assaltos, sua fúria e raiva com a maior paciência.
Além disso, durante a presente Assembléia, quando os nossos soIkeram
toda sorte de ameaças, contestação, oposição, mofa e zombaria por parte dos
papistas, os nossos se humilharam sempre o mais possível, deixaram-sc
calcar aos pés e, não obstante, sempre pediram e imploraram paz, e se
ofereceram para tudo que agrada a Deus. E mesmo que os nossos íivessem
sido mendigos, ainda assim aquilo teria sido demais, que dizer quando se
trata de grandes príncipes e senhores de alto nível, de gente proba e honesta.
Creio até que urna confissão dessas, tanta humildade e paciência não liouvc
muitas vezes desde que existe o cristianismo, o que será minha maior
cspcrança no dia derradeiro. .Tudo isso, porém, de nada adianta. Tornis
Muntrer5 e os revoltosos não procederam desta forma, mas fizeram o qcic
~ -- .- .
81x7
l':l,. S<l&dl
~-
[Ic tudo, como também os papistas hoje não quiseram que seu escrito viesse
I luzh. Náo obstante, condenaram nossa doutrina. Disso falaremos mais
;il):iixo. Em resumo, ninguém nos pode culpar pela guerra ou por algum
iiiinulto, nem diante de Deus iiein diante dos homens.
Visto que, neste caso, nossa consciência esta inocente, pura e firme, 10
< . i ~ ~ u r natdos
o papistas há de ser culpada, suja e preocupada, vamos ení'ren-
i;ir as coisas com confiança e estar preparados para o que vier: seja guerra
o 1 1 iumulto, como a ira de Deus o decidir. Se resultar em tumulto, sem
iliivida rneu Deus c Senhor Jesus Cristo poderá salvar-me a mim c os meus,
<~iiiio salvou o caro Ló de Sodoma e como salvou a mim no último tuinulto 1s
qii:iiido, mais de uma vez, estive em perigo de corpo e vida7. Não obstante,
Ioi csia a recompensa que recebi dos miseráveis patifes, quero dizer, dos
~~:~l~isiiis.Se não quiser salvar-me, louvor e graça a ele. Já vivi o suficiente
C. i.i:i-i:unente mereci a morte e já comecei lealmente a vingar meu Senhor
Irsiis Cristo no papado; depois de minha moite é que eles passa60 a sentir zi~
I. I i i i i , l i . ;i>:i,riu ioi lida a Confùratio ppontiticia ein resposta à Confissáo de Au&vbuigo (cf
c, I V \ I < I t.iii I ;vil, <li Concórdia. Sào koooldo. Sinodal: Porto Alegre. Conciirdizi. 4. ed..
l.#u<Ii.
11.1i.i iii.~i.. s i i l ? :i cundi@o de aceitxen~scus temos, de não a íazerein circular, nem
11ns.x i w l t ii, !.ai ii>lvi;is. Mclançhíhun teve que basear sua Apologia (c[. o iexto cm: 1,im <I<:
i ;,i,, t 1 1 '1'1 104) ;i~xiinsem
,i~li.~. im«ta<;i>csfcitas durante a leitura, pois não tcve acçssi~:i,>
c1.x i i i i i ~ ~ i iVi<I<.
i, iIi.t;illics ali;iixo rio prriprio tento.
1 I ..*. ii.I<.ii. ;i i.xl~:ri?isi;i ~ U iC c ~ ctii in;ii<ide 1525, duraniç a <iucird di>s Camp<iiicscs.
(18, ~ w l \~ I rcgiZo
I W ,I * V I ; ~ C ; ~ I ~ I I > ; ~ ~ I L nC :I ~ ~<IS dç W,~t~~iiclcl c itlr:~v6s<ia Turíngici.
!i I t i l , c ,.i ii.v<.ii i.viI:i vw: 1'i.sli.s c,-i,i> vivciis. iiioriui.~ crr, na~r:?l~ur.jry>;i "Vivo cil ilii
I # # , \ 1 8 , ..I$ , t 1 1 < ? 1 1 < t vrci 1t1;i n ~ ~ r l~c ,~ ~ q(('I'. ~ ~WA ~ ' .~0/11~33~),
' . 8,. 3.)
Advcitência aos Estimados NemZcs
Pois é fácil calcular que aquele que matar ao doutor Lutero no tumulto
não poupará muitos dos clérigos. Assim partimos juntos - eles, em nome
de todos os diabos, para o inferno, eu, em nome de Deus, para o céu.
Ninguém mc pode Iàzer mal algum, isso o sei, tão pouco como desejo fazer
5 mal a alguém. No entanto, por pior que procedam, eu procederei pior ainda
com eles. Por mais duras que sejam suas cabeças, a minha será mais dura
ainda. E mesmo que não tivessem apenas a este imperador Carlos V' a seu
favor, mas também o rei turco, não me assustarão nem me amedrontarão. Eu
é que os assustarei c amedrontarei. Eles é que cederão a mim, pois eu não
ii' lhes cederei. Quero Ficar, eles que percçam; foram longe demais. Pois minha
vida há de scr seu carrasco, minha morte há dc ser seu diabo. E isso que
verão, e nada mais. Que riam à vontade.
Se, no entanto, o caso resultar em guerra, uma vez mais deverei sujeitar-
me juutamcntc com os meus e aguardar o que Deus intenta com isso, que
1s até agora nos assistiu fielmente e jamais nos abandonou. E também aqui
temos grande vantagem. Primeiro: se morrermos ou perecermos, isso nio faz
mal. Pois está escrito: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por
causa da justiça" LMt 5.101. O quc diz isso não rnente, disso estamos c e ~ o s .
Os próprios papistas sabem e c o n f e s ~ a m-
' ~ c que o diabo os recompense
20 se disserem algo diferente - que nossa doutrina nÃo coritraria a nenhum
artigo de fé nem à Sagrada Escritura, mas contradiz ao costume de sua Igreja
e às leis do papa. Por isso também não podem considerar-nos hereges, a não
ser que então tcnhain que chamar seu próprio corayáo e sua boca de menti-
rosos; pois ninguém que não ensina contrário a Sagrada Escritura ou aos
u artigos dc fé pode ser chamado de herege. Muito menos podem acusar-nos
de hereges ou combater-nos como tais, e até agora, como mentirosos contra
si mesmos, como assassinos e traidores, acusaram e queimaram, assassina-
ram e perseguiram como hereges o piedoso Leonardo KaiserlLe mais outras
pessoas honestas. Até hoje não se penitenciaram disso nem revelaram m e -
I pendunento, mas permanecem endurecidos neste desejo sanguinário e nesta
mentira. Quem irá temer tais guerreiros?
Em segundo lugar, sabemos que eles não podem comeyar esta guerra em
nome de Deus, também nâio podem orar nem invocar a ajuda de Deus. Nós
os desafiamos a todos em conjunto e em especial se ousarem dizer a Deus
iIc coração: Ajuda-nos, Deus, na guewa por causa destc assunto. Pois sua
coiisciência está por demais onerada, não apenas com mentiras, blasfêmias,
siiiigue, assassinatos e toda sorte de abominações, mas, além de tudo isso,
com um coração obstinado e impenitente c com pecados contra o Espírito
Siiiito. Por isso, visto que fazem guerra de iiiá consciência e por motivos 5
I>lasfcmos,taiiibém não terao sucesso nem salvação. Por essa razão quere:
iiios dar uma bPri$ío a eles neste iriietito e dizer: "Deus vos conceda sucesso
c vitória na medida ein que sais piedosos perante Deus e lia medida em que
liir justo vosso moiivo de iniciar uma guerra. Amém". Havereis de ter a
iiiesina sorte que nós alemães tivcmos quando comcçamos a romper a paz 10
contra São João Hus e guerreamos contra os boêmios12, e quando o papa
s;icriSicou no açougue também a iiós, quando tivemos que satisfazer scus
iI~.sciosconi nosso scmgiic e nossas caberus. e tivemos que lutai- contra a
vcrdade e a justiya, como também vós proccdeis agora. Isso para que o papi
possa rir consigo mesmo por ter provocado um banho de sangue tão diver 17
lido entre nós, ele, o santíssimo padre e o mais bondoso pastor de nossas
;ilinas. No entanto, Deus pode inuito bem suscitar um Judas Macabeu (ein-
Ixir-a eu e os meus estiv6ssemos aquietados e sofrêssemos), que venha dcs-
i i i i i r o Antíocon com seu exército e lhe ensine ai artes d;i guerra, como
i.iisiiiou a guerrear e mantcr a paz a nós por meio dos boêmios. 20
Portanto, também n?io quero comemorai- juntamente com os meus com
c~iii$òese preces :i Deus, a iim de que Ihcs dê um coração desepesado, tímido
i covarde, quando estiverem no campo de batalha, para que aqui e acolá se
;icusc a consciêiicia de alguém que diga: "Ai, ai, estou nuiiia guerra perigo-
sa: iiossa causa é itiá e estamos lutando contra Deus c sua palavra! Que será u
(li: iids? que fun tercmos?" E quando vem contra eles um macabcu, quc
li[i;im e se dispersem como paiba ao vento. Não achas que Deus ainda é
c;ipaz dc tais portelitos? Pois diz a scu povo: "Eu te darei iim coração
ilcs:inimado, de maneira que, quando marchares contra teu inimigo por um
r;iiiiinho, hatcris em retú-dda por setc caminhos, c qualquer banilho de uiiili ~~~
li~lli;i v6s assustxi" [Dt 28.25; Lv 26.361. Na verdade. i10 Mar Vermclhn
11.1 :i mcsma coisa com os egípcios eiidurecidos, que, sem dúvida, estavam
i:io ciiipedernidos como hoje estao os pipistas. Apesar disso, ira hora em que
:i coiisci;ncia os aciisou, disseram: "Ai, ai! fujamos, porquc Deus luta contra
iiiis!" [Ex 14.251. Quem náo sabe o que é fazer guerra de má consciência c
iiii.:iq,:io desanimado. que o experimente agora. Se os papistas hrem para a
I ' l .iiicii>se rcfcir Zis fiacmsadas teniaiivas fcirar com o intuito de estcmin;ir os hussiios
<Ii.l,oisilç Jiikii> Hiis tcr sido queimado como Iiercgc pelo Coiicili<ide ('oiisiiinç;i, i m 1415.
(' 1 ; ;aiftd:t 11. 14.
I i liatis M;ic:ilk.ii. <i IicrcÍi iiiilcii q ~ t cli<lcn>ii;i x\islC~ici;idos iiiilçiis ciii Ihh I00 ;i.('. c<iiili;i
o síd~tA ~ ~ i í o cl$íCu~c!s
<> c scw s ~ ~ ~ ~ s s ~ ~ r ~ ~ ~ .
Advcitência aos Estimados AlemZcs
guerra, ele o verá do mesmo modo como nossos antepassados o experimen-
(aram nos boêmios e em ZizkaI4 no mesmo caso. E nossa oração não será
feita em secreto, nós a faremos em público, de acordo com o Salmo 7: em
sua primeira bataha derrotou a todo o Israel, de maneira que sobre o campo
s de batalha ficaram mortos vinte mil homens com Absalão, abatidos por um
pequeno Pois ele tem mosquetes e pólvora suficiente, disso estou certo.
Em terceiro lugar: a mim, como pregador no ministério espiritual, não
compete fazer guerra e lutar, nem aconselhar a guera ou incitar a ela, pelo
conlráno, aconsckar a paz em vez de guerra, o que, aliás, fiz até agora com
10 o maior empenho, do que todo o mundo é minha testemunha. Nossos
adversários, porém, não querem a paz, mas a guerra. Se, pois, realmente
estourar uma guerra, quero deixar muiha pena descansar e silenciar, e não
me envolver mais tanto como o fiz no último tuin~lto'~. Quero deixar as
coisas correr, mesmo que não sobre nenhum bispo, nem padre, nem monge,
1s e eu próprio tenha que perecer com eles. Pois sua obstinação c arrogância
são por demais insuportáveis a Deus, e seu coração endurecido vai além de
todos os litnites. Foram suficientemente instados, advertidos e implorados
por paz, além de toda a medida. Eles, porém, querem forçá-lo por meio de
carne e sangue. Pois também eu quero porfizar com eles por meio do Espírito
20 e Deus, e quero tomar sobre mim não apenas um ou dois papistas, mas todo
o papado, até que o juiz celestial intervenha. Não quero nem posso amedron-
tar-me diante de tais miseráveis inimigos de Deus, sua teimosia é meu
orgulho, sua ira é meu sorriso. Não me podem tirar mais do que um saco
cheio de came doente. O que, porém, sou capaz de tirar ,deles, isso o verão
75 ein breve.
Além disso, se vier a guerra, do que Deus nos guarde!, não quero ter
recriminado nem permitirei que se recrimine como sedicioso o partido que
se opuser aos assassinos e sanguinolentos papistas; quero aceitar que o
chamem de delèsa própria e com isso quero remetê-los ao direito e aos
1 juristas. Pois no caso em que os assassinos e algozes querem guerrear c
matar a todo custo, certamente não é revolta opor-se a eles e defender-se.
Não que eu quisesse com isso estimular e encorajar alguém a esta defesa ou
até justificá-la, pois isso não é de minha competência, menos ainda de minha
alçada julgá-lo. Um cristão sabe muito bem o que deve fazer, dar a Deus o
que é de Deus, e a César o que é de CEsar", todavia, não a estes homeiis
Zizki, (1376.1424) roi o er,mdc comandante inililar dos hussitas: combateu vilorios:i-
14 .lo:i(>
I':&, Sociitl
- --
s;iiiguiriirios o que nâo é deles. Mas quero fazer uma distiiiçáo entre a revolta
c oiiiii)s atos. e não quero deixar a estes hi)nieiis ~anguiiiánoso pretexto de
~ioilcrcnigloriar-se de estarem guerreando colilra gente sediciosa e qiie
iiiili;~mtodit a autoridade para isso dc acordo coiii n lei secular e divina,
c-oiiio o gatinho gostaria de adornar e enfeitar-se. Além disso, náo quero que s
II<:SC sobre a corisciência destas pessoas o perigo e a prcocupaçâo como se
siin defesa fosse sediciosa. Pois isso é uma designação maldosa e pesada
dciiiais para este çaso. Isso se deverá chamar de outro coisa. Os juiistas se
iiic;u-regarão disso.
Nem tudo que os sanguinolentos consideram sedicioso o é realmente. io
I'i~iscom essa alimiaçáo qucrem 1Cchar a boca e imobilizar a mão de todo
iiiiiiido, para que niiigliérn possa repreendê-los com seimões, nem defender-
si: com o punho cci~ad<i c pai-a que eles possarii falar r reriliam livre açXo.
l'oriiinto. tachando-o de sedic;ão. querem assusiar e repreender todo mundo,
i. ;i si mesmos, porém, coiisolar c pôr em segurança. Nio, iiieu caiiiarada, é 17
25 O príiicipc-cleiror <Ia ipoça cra Joso, o Constante, Irmâo de Frçdcrico. o S:b 1' 10, i SCII
succssor dc 1525-153, pdllidirio da Reforma e seu hábil neg<iciador politico.
2fi E i ~maio i de 1528. Ono vo~iPack, oficial do duque Jorge da Saxónia, coriiiinicuii :i E'ililx.
<Ic Ilcs\c n r.\isiC-i~iadc iinia alianga de príncipes c bispos cat4licos. coni o piiip«hii<iiIc
:ai:ic:ii c <Ic\iriiir us siipoitcs d.i Rcfnnrin. Logo se <lescohriu que a hist<iri;i<Ic v<iii l';icI, 1.1.1
o s forjeilos. Luiçr<i. p<irCn,. c<iiiiinu<iuc<i~ivciii.icl<i
i i i t i lhignt c qiic s c ~ i sd < e u ~ ~ i c i i tci:un <I;,
rxi\lc,,ci;, ,I,> cO,,,]>I<,.
27 I1rvc 1,;,1;,r >c, ,Ic, 'lk,i;lclo ,Ir l<;,rc~~ll,,,:,,,l,~29 LI?,,,,,I,,> ,lc I i 2 0 , c,,irc , I ,>;,I,;,L, l':,rl<>\ v,
c~INI<. o i h ~ ~ ~ v \c ~ ~c <t ~l ~o ~r l > c o ~:In 1or11:~r
r l < ~ u~ ~ ~ c d i cripjrc,<;~~
kih p ~ r , !~ ~ ~ ~ ):L l Ii <nc ~~ i rI c) t~
a ~II~.I
.\Ii.iii.iiiIi:i.
l'.i, \iiiii;ll
~ -- .. .--
ili~rii~iics c santos pais? de quanto amor e verdade estãn inibuídos! Desta
li~i.iii;iveio a público a decisão secreta que sua santidade papista havia
iirgi)ci;tdo coni o imperador em Bolonha. Que bficadeua faiitástica teria
ii.riill;ido sc o uiiperador tivesse atacado n questao com aisassínio, de ~iconlo
< . i i i i i csíc çonseiho papisia e diabólico. Teria sido uriia Asseinbléia na qual 5
ir:v) ici-i;i sobrado sequer iiiiia unha de bispos e príncipes, ~'spec~almente iieste
ii.ir11xi perigoso, quani\o tudo esiavii em cbuliyjio e todo o mundo estava na
~.x[~clativa de uma Assembléia propícia, conio, aliás, o propõe e pretcnta a
i.i11ivocaç50,iiias que, irfelizniente, jamais se realizou desta fom~a.
AlguCin podciia argumentay que o imperador estava disposto a entrega 10
~ . ~ . \ :iliictks
i~ públicas. que haver50 de ser ensinadas e cunipridas entre eles?
St.. ii~ilavi:~,sc traia de d g o seni fundaiiiento e vago, por q ~ i cm a n d a m
1~iw~~l:iiii;ir no prinieiro desp:icho poi- meio do príncipe-eleitor de IIrandetibiir-
:,,c, <Iccrctaiampor cscriio que a Coi~íiss;íodos riossos foi refutada com a
I i i ~ i i i r i r i ie boiis ai-gument~s'?~~ Se isso Iòsse verdade e se sua própria razão 20
i.oiii Iioiiras eternas tais que também os advcrsjnos têm que confessar que
ii;io tviiiemos :i luz, mas que a buscamos c agiiadamos da iii;ineii'a mair livre
<.<<~iilnirilc possível. Por outro lado, cleisou a eles coni unia eterna ignoiiúi~
i;11 i~iicl u g i m da luz s a iemeram da h n n a mais vergonhosa, cortio as
<~iiiii:~s c os morcegos, sini, como o pai da mentira, e 1130 permitiram nem 35
iii1c.i-iiiiiin a rcsposta u sci~palavrório vago. podrc e ohscuro.
Vcja que bela atitude cristã esta de exigir que os nossos se comproine-
'i: I:iii ?2 iIc siicinhro de 1530, o eleiioi de Brmdrnburgo leu o vei.eilit<ido irnperadui dc quç
".i o l > i i i k i o i: conlissão do príncipe-elcitor da Saxônia c s?us ;~li;iili>s ... foi refutada
c
!cic~ii;c<kt U>IU hasc IIO Ev:ingeIlio e n;is Escrili~r;ts,com hot~s; t r ~ ~ ~ ~ ~ ~ c ~ ~ I ~~s''.
AdvertFncia aosEsiiniados Aleii,:i~.\
tessem a empenhar-se para que essa preciosa arte e bem fundamentad;~
sabedoria de sua ConfútaçZo não se tomasse conhecida, nem viesse a públi-
co. Até que poiito Deus cegou e desonrou os papistas que já não têm mais
juizo liem vergoiilia! Como seria possível - que dirá. justo - comprome-
ler-se a coiisenw em segredo um docunieilto desses que iria chegai- a tantas
niãos e que aiitei-ionnente fora lido perante o imperador? E se, depois, viesse
a público pelo ounu grupo, 116s levxíamos a culpa. Mas são esta a sabedoria
e as belas maqiiinações de que se tem que valer a r w i o írnpia, porque não
tolera a verdade e a luz. Alib. iião poderiari] achar saída melhor, para
poderc~iipemariecer lias trevas, e siia ConfufaqZo não viesse ù luz. Pois
bem, que penrianeça nas [I-evas ral qual está. e que pemiancqii também lias
erzrnas trevas infsmais; náo obstiinte, será julgada no dia den.adeiro, se náo
acoiitccer que venha I? clara luz já antes.
Sim, objetas tu, embora não tivessem entregue sua Confutação ou Con-
15 testa~.%~, esco1her;tni iima comiss3o e ordenaraili a alguns príncipes e douto-
res de arnbos os Lados a tratarem eiitre si a qucstâo amigavelrneiite. Lava e
cnihita-te, gatinho! teremos hóspedes2y.Coriio é bobo e rolo o coitado ho-
mzrn Cristo, totalmente incapaz de perceber essa malícia! A comissão real-
mente foi constituída, mas que se tratou nela? Absolutamente nada a respeito
20 de sua Confufação oii Res~~osta; esta permaneceu na escuridão, e a comissão
teve qiic ajudar a torcer as coisas de tal maneka que sua Codirt;içZo leviana
fosse retida sob alguin pretexto Iioiuoso e não viesse a público. Pois a
coniissão não h.atoii de sua Confutação, mas ocupou-se coiii iiossa Confissão
e negociou com os nossos o quanto estaríamos dispostos a retirar dela e
25 revoga ou, como eles o interpretam, até. que ponto estanamos dispostos a
uin eiitendimento com eles. Tudo foi planejado de tal maiieiia para que
pudessem berrar chcios de razao: "Vede, minha geiite, escuta, riiundo inteiro,
como são eiiipedeinidos e obstinados os luteraios! Em priiiieiro lugar: siia
Conti.s.são foi conrestada pela Escritura e argumentos bem fiindamentados:
311 em segundo lugar, negociamos com eles amigavelmente. Que mais se pode
fazer? Eles não querem ceder, quer sejam contestados, quer sejain instruídos
miiguvelmente".
Pois bem, riada podemos fazer contra essa gritaria mentirosa. Ela de
nada ihes adinntará, disso teiilio certcza. Deus já expôs a mcniua dessa sua
15 gl6ria vã. Pois quundo foi publicada a declaração final do pniicipe-eleitor dc
Brandcnburgo, dizendo que nossa CoBfissZo fora refutada com a Escritura e
boas razões, os nossos não o aceitaram nem silenciaram. Contestaram aber-
liiinciilc perantc o iiiiperador e testemunharmil qiie nossa Confissão nio
~ ~ i ; i v : rclùiadn,
i riias que estnvii fomiulada e fuiidamcntada de tal nianeirii
I';i/ Social
-~
qiic iieiii as portas infernais podem c]~ialquercoisa contra ela. Esta derrota
iivesiirii que engolir. Pois em alemão isso significa o seguinte: o que o
priiicipc-eleitor dc Brandcnburgo proclamoii erii sua dcclmção não C vcrda-
de, nias tnentira. Isso é certo, pois a bem fuiidamentada Confutação ainda
iráo veio á luz, talvez cstcja donnirido junto ao velho Danhauscr3" no monte 5
clc Vênus.
Está visto que querem conservar sua Confufação lona obscuridade e que
náo a prctcndcm publicar. Por isso sua aiegaçáo de que nossa ConfissZo teria
sid« refutada com a Escritura e bons argumentos não é somente uma desa-
vcrgoiihada iiientira pública, mas C a mentira do próprio diabo quando, além lu
clisso, se gloriam e mostram uma boa aparência, e ousam gritar que fomos
vencidos, irias que 11x0 nos queremos reiraiar. F;izeiii isso, apesar de sua
coiiscii.ncia os corivcncer podcrosanientc destas mcritu'is. Assirn fica cviden-
ic cm toda paite coriio recorreram ao pretexto, coiiio. ali&, procedem Lodus
tis que [Em maus iiitcntos. Rcmcndam-sc rniscravclmciitc c procurain roda i.
sai-lc de maquinações, para que, de foniia iilgiiina, seus maus intentos ve-
ii1i;iiii à luz. Em resumo, revela-se aqui qiir3desesperutlos de sua causa, a
i i l i i i i i ; ~coisa que esperaram foi que os nossos vicsscin c comparecessem. A
i;iI ponto confiaram cxclusivaincnte no poder e niio conlaram com nenhuma
vcdade ou luz. 20
O qu:into Iòi amigável seu intento com a coinissão se percebe facilmente
i10 único fato de que, entre outros artigos, ousaram exigir dos nossos que
riisiiiassem a respeito das duas espécies no Sacramento que nâo sei-ia errado,
iiias certo que também se oferecesse e recebesse apenas uma espécie3]. Se
116sconcord:isscmos, clcs, por sua vez, queriam concordar e admitir que
c:iisiiiiÍssem«s que se oferecessein e recebessem as duas espécies. Muito
:~iiiigávcl,iião c vcrdadc'? Quem iria cspcrar um ariior tio grande por parte
iI<:ss;i gente? Até o inornento perseguiram e torturiu.arii como hereges todos
;iqiiclcs que toriicivliin as duas espécies. Agora, poirii~,querem aceitá-lo
i.111iio~.orretoe cristão, desde que nós, eiii troca, ensinássemos que eles .:[I
iio li> 11015 no calcanhar. Aí então aparecerá o dinheiro que viemos dando ao
II:III:I lalr tantos anos para suas indulgências e negócios, a fim de fomar um
l i i i i ( l < ~~ s r a guelra com os turcos.
Isso basta por ora em desculpa do imperador. Agora queremos fazer a
:i~lv<~i-ii.ricia e mostrar as razões por que cada qual deve recuar e abster-se dc 5
i,l)r(lccer ao imperador nestc ponto e de guerrear contra nós. E repito o que
;:i disse acima: não qucro aconselhar nem incitar qualquer pessoa ii guerra.
I)cscjo do fundo do coração que se preserve a paz e que nenhum lado
coiiicce a guerra nem dê motivos para tanto. Pois quero prescrvar minha
coiisciência tranqüila e não desejo ser acusado, nein perante Dcus, nem io
perante os homens, pelo fato de alguém estar guerreando ou se defendendo
:I rncu conseil~oou por minha vonhde, cxceto aqueles quc têm essa ordem
c a autoridade para tanto (Rm 13). Se, porkin, o diabo tomou possc dos
~>;ipistasde tal forma que não querem nem podem prcsetvar a paz nem
siipottá-la, e têm a firme intenção de tàzer guerra ou provocá-la, isso recairá 15
50l1i.e a consciência deles. Tenho que deixá-lo acontecer, visto que minha
ii~sisienciade nada vaíc e niio pode ajudar.
A primeira razão para náo obedeceres ao imperador nesta questáo, indo
p;ir,i a guerra, é a seguinte: no Batismo juraste (tão bem quanto o próprio
iiiipcrador) que nZo irias perseguir nem combatcr o Evangelho. Agora, sabes 20
iiiiiito bem quc no presente caso o imperador está sendo incitado e enganado
l~i'lopapa a guerrcar contra o Evangelho de Cristo, visto que em Augsburgo
sr rcconheceu publicameiite que nossa doutrina é o verdadeiro Evangelho e
:I liscritura. A convocação do imperador ou de teu príncipe responderás:
(':ira imperador, amado príncipe, se cumprisses leu juramento feito no Ba- u
iisiiio, haverias de ser ineu querido senhor c eu te obedeceria na convocação
1I:ir:i a guerra, quando quisesses. Se, porém, não queres cumprir teu voto de
I<;iiisiiioe tua aliança cristã coin Cristo, mas persegui-lo, então te obedcça
i i i i i Inipaceiro em meu lugar. Por tua causa niio blasl~emareicontra Deus,
~~ciscguindo sua palavra e, desse modo, correndo e saltando contigo corajo- 311
s:iiiiciiic para o abismo do inferno.
lista primeira razão encerra cm si muita, outras grandes e hom'veis
i:i/i~cs.Pois quem luta e guerreia contra o Evangelho está lutando também
coi~ii-iDeus, contra Jesus Cristo, contra o Espírito Santo, contra o prccioso
!::iiij:iic: de Cristo, contra seu morrer, conhr a palavra de Deus, contra todos 35
C I S;liiigos de 15, contra todos os sacranlenios, contra toda doutrina dada por
iiiiio r i o Evangelho e confirmada e presewada por meio dele, como, por
i~ui~iiiplo, a respeito da autoridade c da paz e dos estados seculares; em
i<.siiiiio,contra todos os anjos e santos, contra céu e tcrra e todas as criaturas.
I >1115 ' , qiicm luta contra Deus está lutando contra tudo que é de Deus ou cluc 1"
IIii. diz rcspcito. Mas que fim tudo isso ainda levaria, tu haverás de ver. E o
c ~ i i i . il pior, esta luta estaria acontccendo em plena consciêiicia. Pois sc sabe
Advertência aos Estiinadidr~sAli.iii;i<.;
e se confessa que esta doutrina é o Evangelho. Os turcos e tártaros i i i i i
sabem que ela é a palavra de Deus. Por isso nenhum turco pode ser tão i-liiiii
como tu, mas tu hás de ser condenado dez vezes mais do que todos os turcos,
t h o s , gentios c judeus.
7 No entanto, é algo assustador teimos chegado ao ponto de a cristandaclc
necessitar dessa advertência, como se ela própria não soubesse o quanto C
abominável e horrendo lutar conscientemente contra Deus e sua palavra. Isso
é sinal de que entre os cristáos há menos cristãos e turcos muito piores do
que na Turquia ou até no infeino. Os verdadehs cristãos, porém, ainda yuc
111 sejam poucos, o sabem perfeitamente e não necessitam dessa advertência.
Quem necessita dela são os papistas que usam o nome e a aparência de
cristãos com toda a desonra e que, não obstante, são dez vezes piores que os
turcos. A esses é preciso admoestar. Se adiantar alguma coisa, está bem; se
não adiantar nada, nós cslamos desculpados e seu castigo será tanto maior.
15 Pois o turco não é insensato a ponto de lutar e bufar contra seu Maomé ou
seu Alcorão, como fazem estes diabos, os papistas, raivejando e bufando
contra seu próprio Evangelho que reconhecem como correto. Em compara-
ção a eles, os turcos são legítiunos santos, e cles, verdadeiros diabos.
A segunda rzãa Ainda que nossa doutrina não í'osse correta (quando
20 todos sabem que é o contrário), deveria desencorajar-te ao extremo o fato de
assumires, desta forma, todas as abominações cometidas no papado e que
ainda são cometidas, tomando-te partícipe e culpado delas. Essa razão encer-
ra em si inumeráveis abominações e toda sorte de maldade, pecado e dmo.
Em suma, é o abismo do inferno já aqui, com todos os pecados dos quais te
27 tornas partícipe se obedeceres ao imperador no presente caso. No entanto,
enumeremos e tragamos à lembrança algumas mais, para que não caiam no
esquecimento. Pois os papistas gostariam de mascarar-se e esconder essas
abominações debaixo do banco, sem penitência e meihoramenlo, até o teinpo
em que pudessem retomar e reinstituí-Ias.
311 Aqui irás tomar sobre ti em primeiro lugar toda a vida escandalosa que
levaram e airida levam. Pois não pensam em emendar-se, mas querem que
tu derrames teu sangue e arrisques a vida para que sua maldita vida escan-
dalosa seja protegida e fique preservada. E então recairá sobre tua nuca c
consciência todo o meretrício, adultério e impudicícia que foram e sào
3s praticados até hoje nos bispados e fundações. E teu coração terá a honra e ;i
glória de ter lutado pelos maiores e piores fomicadores e patifes que existe111
sobre a terra, a fm de confirmar sua vida de fornicadores e patifes c te toriiar
paiiícipe de tudo isso. Que bela glóiia será e que maravilhoso motivo para
ai-riscares a vida c servires a Deus! Pois não melhoram essa vida e nem s.io
1 ~ i l x ~ x e d i s s visto
o , ser impossível que tantos milhares de pessoas possaiii
vivcr ciii castidade, como cles imaginam.
AlCiii disso, ~ i i i i t l ;tcsi;is
~ qtic Iornai- sobre as tiias costas a casiidatlc ~ > ; ~ ~ i : i l
!';r, Suci:iL
c cardiiialícia, que é uma castidade especial enire a castidade clerical comum,
qiic em italiano se chama "buseron" - "coi~cubiio", ou seja, a castidade
sodomita ou gomorra. Deus teve que cegar e castigar seu inimigo e adversá-
rio, o papa c os cardeais, desta iorma, acima dos demais, para que nâio
1)cnnanecessern dignos de pecar com mulheres dc modo rialural, mas, de s
;icordo com o que merecem, desonrassem seu próprio corpo c suas pessoas.
AI6111 disso, tiveram as mentes tão pervertidas c cndurecidas que não consi-
dei-am isso pecado, mas brincam com essas coisas como se fossc um jogo
<Ic camas, com o ilu;ll pudessem divertir-se seni perigo. A cervejai foi bem
clnhorada, por isso cln cxpele todos os escândalos c vícios pela lennentagán
i. ~iclaespuma (como diz Judas [iio v. 1.11). Vai agora, e arriscri turi vida por
csscs concirbinos iinpciiitcntcs c di'savcrgoiiha<los quc ainda rieiii e Iir-iiicain
<.i)inesses pecados escandalosos.
NZo te eslou coiitando mentiras. Quein ji esteve em Roma sabe iriiiito
Irciii que infelizmente as coisas sho piores do quc dgu6m poderia expressar 1s
c. iiiiiiginar. Quando estava por encerrar o último Concílio Lateraneiise cin
I<i~iii:i. sob o papa Lcão3", dcfinira-sc, cntrc outros artigos, que se deveria
C - I ~ Yque a altiin é iinortal. Daí se depreendc quc para clcs a vida elcrna é
i i i i i ; ~pura zombaiia e esciimio. Coin isso coiifessam que parii eles é crenya
~'iil~liw que no fiitirro nào cxistc vida cicmci c ;tgorit querein ensinar isso 20
:ici:ivi.s <Ic urna hiila. O caso, porém, foi ainda iiiiiis bonito. Na mesma bula
1i:ivi;iiii deteirnuiado que nenhum cardeal dcvcria mniltcr tantos meninos de
I I I ; I / NO. papa Leão, porém, ni:iiido~i retirar a proposta, do coritr~íiotcria
c<rrii<loriiiirido com quc libcrtinisiiio e iinpudicícia o papa e os cardeais
~~r:ilicniii sodornia em Roma. Nâio quero nxzncionar o papa. No cntanto. visto 25
L I I I 11s ~ patifes não querem penitenciar-se, irias. inclusive, condenam o Evm-
!rcllio. hlasfernani contra a palavra de Deus c a desonram c sc mascaram, que
c.liiiic.iii, por sua vez, sua pi-@ria sujeira do modo mais escandaloso. Estc
v i < - i 1 1 C tZo comum ciltrc eles quc recentemente, inclusive, um papa pecou
; I I < . ;i iiioric ncste pecado c vício, c dc fato caiu morto no inesmo instante. 30
!\i c\i:i. ~);il';is.cardeais, papistas, senhores clericais, persegui mais a palavra
,I(. I )c.iis. ~lcfciideiagora vossa doutrina e vossa Igrcja!
Ni.iiliiiiii p;ip;i, r;iideal, bispo, doutor, padre, monge, freira recrimiiia
%-.:..I vi<I:i i~.;c;iii~lnlosa que está tno h vista de todos, antes riem. m:iscaram e
t.111, I I . I I I I ii:~.
c iiistigani reis, príncipi's. t i r i ~ i el gente a del'endererii tais patifes i
c a B I I I < < DI 1 1 0 vi<l:i. tcrra e genle e a preservli-los fielmente, a fim de qiic. csscs
11, 1 1 \ ' I s ~ i i ii I i i > ili. l .;iii;ii, realizou scss6cs ir>tcnncdi<íiiasdc 1512 a 1517 soh os'p;rpas Jiilici
I 1 I i ~ l l l1 . 7 1 0 i l.i.;i<i X (1513-1121). Na oiliiv;~cr\s;i<i dc 19 de iIç,,cirihro <1ç 1517, lini
I, I,,II;~
, J I I U ~ ! . ~ ~ I ,8 8~. 8 , ~ I ~ ~ ~ ~ .Rcg;r~?;oi.~
~ l o / i c i a i ~ ~ ~ ~ ~ r (Ia i ~ ; I~I ~ lI ; Ii, ~C Cl N~I I~C ;I~~ ~l çl o ~ ~ i clc,
~~io:~
;iIi.iiii. .i\,iiiii..i.i..i. ocit ;irisii,iCliciis qiic ; i l i ~ i i t ; i v : 8 i i iCIO" ;L :11r11;1 h i l r i l ; i i l ; ~ <: iii<,il:!i.
Adveiiiiicia aos Estimados Alci~i:ic\
vícios náo sejam penitenciaclos c nem emendados, mas Iòrtalecidos, aprov~i
dos e elogiados. Para isso deves agora arriscar corpo c vida, para que l u t l i ~
isso venha pesar em teus ombros e lua consciência. Gostaria de contar innis
exemplos dessa abominção, mas é vergonhoso demais. Tenio que o solo
5 alemão iria iremer. Se todavia aparecer um asno papista sem-vergonha para
protestar, quc venha e eu lho mostrarei. Se é que argüir e adveni serve para
a penitência, enláo estão suticienteiiiente advertidos. No entanto. isso não dá
em linda. Tudo isso agora se translòrinou ein louvável costume geral, quasc
coriiparrivel a uma grande vinude. quc 1150 tolera penitência, pelo coiiirário,
I o impei-ador e tu devem protegê-los iiisso e providenciar a fim de que esse
exemplo surja e se &istre taiiihéin ein outros países, coiiio liás ás, infelizmeii-
te. j.5 se pode observar etii aburidância.
Depois deves tomar sobre ti toda a avareza, rapinagerri e roubalheira de
todo o papado, as inconliveis soinas de dinheiro que arreciidaram falsa e
1s dolosamente com as indulgências. Acaso não é pura rapinagerii e roubalheira
escandalosa que perpassa toda a cristandade? Acaso o dinheiro incontável de
que se apropriaram por meio de seu purgatório tramado e inventado não C
pura rapinagem c ladroagem escaiidalosa pelo mundo inteiro? Acaso a in-
contive1 soma de dinheiro que coiiscguiram com missas usurárias e missas
21 de s;ici-ifício náo é um escandaloso assalto e roubo pelo inundo todo? O
incoiitivel dinheiro que ganharam coiii bi-eves de manteiga37,pereguiações,
serviço saiito e um seni-número de iiiveiições, acaso nZo C pura rapuiageiii
c roubalheira escandalosa pelo inundo intcuo? De otide « papa, os cardeais,
os bispos conseg~iiramprllicipctdos, reinos e como se roriiarain donos do
2s tiiiiiido inteiro? Náo é, por acaso, pura rapinagem e roubaltieira vergonhoso
ssrn limites? Que mais são eles senio os maiores salteadores e ladrões qiic
o mundo sustenta'?Por enquanto riinguém pensa em penitência ou devoluçâo.
sequer há ein suas veias suficiente saiigiie bom para exercerem um pouco
seu ministério, para ao tnenos poderem possuir esses bens coin uma pequeii:i
30 aparencia de honra. Pelo c«nirári«, coiidenam, blasfemam, perseguem o
nonie, a palavra e a obra de Deus. Pois bem. Deverás derender com tcii
sangue esses salteadores e ladrões. ti30 apenas p u a que possaiii continuiir
impeniteiites; mas ainda sejam lortalccidos a praticarem ludo isso cada vcl
mais. Vê, pois, que eiioiiiic ladrão e patife, salteador e traidor tc torrias c Cs
: quando fortaleces e dcfencles esses salteadores e ladrões coni teu sangue c
tuii vida. Pois tudo recairá sobre ti c scrás cúmplice deles.
Depois deverás assiunir todo o sangue que o papa dei~riiiiou,todos os
Iioinicídios e guerras que procovou, toda a miséria e sofrimerito que caiisoii
7 Ilic.w.,\ <li.rii;irilcig:i sáii r:irl:i\ <liiilieiro e ipie pcniiitkiiii a scii pai-i;rl<ii ciiiii<.i
4
I., i , i, : .
iiiiii\ iios < l i ; i \ ili. ,ii:iilrii.
:iililiiiii<l.!s ;i
i c )7
I';, , Scxial
no inuiido inteiro. Quem será capaz de enumerar todo o sangue, assassinatos
L, miséria que o papa provocou com os seus? Houve quem calculasse que
idcsde que o papado se sobrepôs ao império) foram mortas um milhZo e cem
i i i i l pessoas por causa do papa. Alguns calculam que foram mais'8. Como
quererás levar sobre tuas costas tantos assassinatos e sangue quando um s
iíiiico homicídio já é insuporiivel, e Cristo já condena Ò ódio no coraçáo ao
logo eterno (Mt 5.22)'? Que estarás fazendo se arriscas a vida por causa
dcsses assassinos'? Tomas-te cúmplice de tudo isso e ajudas a fortalecer e
justificar o papa, a fun de que possa continuar nesta prática eternamente e
cin segurança. Pois aí não existe penitência, sim, eles o consideram pura 10
virtude c honra, de sorte que é impossível esperar qualquer melhora, o que,
iiliás, também nao desejam. Tu, porém, deves ajudar a protegê-los para que
eles possam assassinar, derramar sangue e cobrir o mundo de miséria, inces-
santemente e sem qualquer impedimento, como o fizeram até agora e conti-
iiiiam fazcndo. Eis aí os santíssiinos pais, os santos cardeais, bispos, clérigos, 1s
qiic querem ser juízes do Evangelho e instruir e governar o mundo!.
Quero silenciar a respeito dos demais vícios que praticam com veneno,
ii-:ii$ãoe tudo que contribuiu para o ódio e a inveja. Quem seria capaz de
ilcscrever toda a vida escandalosa no papado? Dos pontos supracitados e dos
<,xcinplosdiáxios pode-se fazer uma idéia. Pois ele é o anticristo e por isso 20
Icni quc lutar contra Cristo com todas as forças. Daí segue-se que assim
1.111110 foi bela, maravilhosa, casta, disciplinada, santa, celestial e divina a
vida que Cristo viveu e ensinou, assim há de ser escandalosa, blasfema,
iii~lccente,maldita, infernal diabólica a que seu anticristo leva e ensina. Do
contrário, como poderia ser o adversário de Cristo ou o anticristo? Isso tudo
;iiiiilii seria tolerável se não o defendessem e não quisessem ter razão a todo
ciisio. Tudo isso, porém, é, por assim dizer, apenas brincadeira; passaremos
:igoi-a a denunciar a verdadeira borra e principais aboininações que deverá
:issiiinir quem protege o papa ou ajuda a preservar e fortalecê-lo em seu
i.sf;ido ou mentalidade impenitente, endurecido e destruidor da cristandade. 30
i1i.111 ;i todas e querem à força que sejam aceitas e consideradas corretas. Tudo
i><<> 1)csaria sobre ti e tua consciência e serias cúmplice e réu de todas essas
:iIx~iiiiria~ões, se entrasses na luta em sua defesa. Para dar alguns exemplos:
7<) l'iiigatório ciri um conccito muito comnte para Lutcro. Ele foi criticado por que ii C'otil'is
s%i de Aiig.shi~irgodcinarzi de assuniir um posicionamcnto claro a respciio. M i111 ~iic;iili>r
ili: 1510, elc pr<ipri<iprccnrhcii ;t I;içuiia crini seu WRicmir vom Fegcfcirn-" (Rcliitscào <I<>
I'~ir~::iiOi.io) WA ~ I l l l l l%O7
~ , .3cJ0.
,111 (' I .. AI, Vl.13.
oiidc Dcus iião tivesse protegido os seus de modo especial, deveriam ter
c;iído disetwiiente no abismo do inferno lia liora da morte, a exemplo dos
j~idcus c gentios. Seria como se alguém caísse de uma alta inonianha:
pcrisando que o caminho é seguro. pisa do lado, no ar e cairia no vale ou no
iii;ir. Que grandes assassinos de riliiias estcs! Até o juízo dcrradciro, neiihuin s
corrição humano jamais compreeiiderá a extensão do assassinato de almas
que cometeram com o purgatório. Muito menos ainda se poderá corripreen-
(lci-o Vmanho do dano e horrenda bkisfêmia que causarani com isso ~ i i fé i e
ria confiança em Cristo. Não obstante, nada de penithcia, nem a ititenção de
;icebar coin isso, mas exigem que tu os protejas nisso e ajudes a defendê-los. 111
Tunbém tens que tomar sobre ti todas as abominações e blasl'êtnias que
coineiemm e cometem diariamente no papado com a cara nussa, com coi~i-
pia c vciida, com iriúmcras práticas dcsonrosas do santo Sacratneiiio: saci-i-
1ic:iiii a Deus seu próprio Filho, como se eles fossem melhores e mais santos
i111 que o Fillio tle Deus; não uceiiam o Snci.;iiiierito como dádiva tle Deus 15
qiic se deve receber com n fé. mas tr;cnsformam-rio crn sacrifício e obra, coin
( i qual Iãzem expiação por si pr<ípi'iose por outros e adquire111 tuda sorte dc
,:i:iy;is c ajuda; fizeram urna iiiissa própria para cada um dos santos. sim,
iiii-lusive para cada caso e necessid;ide. Em todos os seus livros e doutrinas
i i ; i i ~ciiconiras uma letra a respcito da [é. Todos eles a f i a m e canlaiii que 20
:i iiiissa é um sacrifício e uma obra, cluando em nenhum artigo a fé deveria
sci iratada e exercitada coin tanto afinco como iia missa ou no Sacramento.
I'ois o próprio Cristo o instituiu para sua meinóiia, a fim de que aí se
;iiiiiiici;isse a ele, que ele fosse lembrado e se cresse nele. Ao iiivés disso
:iiiiiiici;uii seus sacrifícios e obras e, aléiii disso, os vendem do modo mais zi
i~.;c:iiirl;ilos».Apesar disso, não existe aí penitência, mas apenas maldade
~.ii~liiii.cida e desesperada para se defeiidei-eiii e protegerem por meio de teu
i.1~1)"i. Iii;i vida.
.I:[ scria abominação suficiente o grosseiia uso exterior quando os cléri-
ti;it;ivain o Sacramento coiii taiit:~leviandade nas missas pela? aliiias ou 30
ii:i\ Ic\i:is de inauguração de igrejas ou de patronos como se fosse um
~.,q~<'i:i<.iilo de ilusionismo. A c o n i m por causa de comilanças, bebedeisas e
~ l i i i l i ~ . i i ~lcpois
~~. se embebedavam, vomitavam, jogavam e brigavam - um
.iI,ii..ci ~~sc.;iii~l:iloso conhecido em todos os povoados. Não obstante, não se
~ ~ ~ ~ ~ i i i ~ ~ iiicm i ~ ~ i se
; i iemendam,
i i nem é reconhecido como pecado entre os 35
iiiI;iiiii.~~ ;isiios papísticos. No entanto, esse nada é em comparação ao belo
. i I , i i . . ~ , (1,. t ~ ~ i i . i ipwvertido
i e mudado o Sricramento e terem transformado o
:;.I, i.i~~i~.iiiii coiiium da fé em obra e sacrifício de determinadas pessoas,
t ~ > i i i t )1"" . ~.ui:iiiplo,dos clérigos. Isso é tão assustador que nem gosto de
l ~ i i ~ l ~ i ; i i>s ~~~:iis;iiiicntos poderiam me matar. A essa abominação acresce 4 0
t l l ~ ~~\ioiiil~.i;iiii
l c silciiciaram as pal;ivr;is do S;icrninenio e da fc ii ponto dc
< < { ~ I I I O 1;i i l i . . ~ . ) i:o tci- sol)rri~lo~iiii:i Ictr;i hcqucr, iicnhum ponto cri1 to<l«o
Adverlfncia aos Esiirnadoc Alcitl.ti-\
papado, ein todas as niissas e livros. Esse vício excede a todas as palavriis C.
pensaiiieiitos, iiinguéin pode argüir e recriiiiiiiar isso suficientemericc i . i i i
eternidade. Qualqucr outro vício tem seu demônio ou uma legião de dcini,
iiios que o cultuam; no entanto. crcio que a missa sacrifiçal seja a obi.;i
5 coiiiurn de todos os diabos, na qultl conjugam todas as miios, todo o coiisc~
Uio, pensamentos, maldade e toda a patifaria; for:un elcs que institiiíratn em1
aboiuinação e a prcservarain. Isso se deduz do fato de os diabretes de todii
o niuiido, em todos os caiitos. terem, como almas i'alccidas, pedido a iniss;~.
Jamais uma alrna pcditi ou perguntou por Cristo, todas pedem ;i riussa. Isso
tambt'm é um forte siiial de que ein neiihuriiii piute os diabos estão tão vivo\
como em suas niissas, escravizando do modo mais escandaloso coni tod;i
sorte de unpudicícia, ganâiicia, blasfii~uue lodos os vícios. E isso scr;i,
evidentciiiente, motivo da inaior e derr;~dciraira de Deus sobrc a terra antcs
do juizo linal. Pois 1120pode haver maior inotivo de irri. Aí tens a verdadeira
15 viiíiidc do yapado, pelo que deves gueri-ear e dcrr;unar teu salgue em favoi-
dos blasfemos endurecidos, asslissinos das almas e patifcs.
Aqui alguCm poderia objetar qiic estou envolvido deinais coin paiilès c
que nada mais sei fazer do quç rcilliar contra patifes. A isso rcspoiido em
priiiieuu lugar que essa recriminação ainda riio é nada em relação ? iiidirivcl
i
211 rnal<ladc. Acaso isso é ralhar quando chamo o diabo de assassino, patife,
traidor, blasfemo, menliroso? Para ele isso é como uma brisa. Pois que siio
os asnos papistas senão puros dcmônios em pessoa, que não conhecem
penitência, mas têm os corações etidiirccidos e que rimda defendem essa
blasfEtnia pública consciciitemenle e pedem proteçiio para ela do imperiidor
25 e dc ti'? Ora, podes raihar e dcilominur iiin burro papístico como quiseres oii
puderrs; isso para ele C gr;isii:u- ile garis». Ele é tão supeiior que csti miiiiii.
muito, rniiito ncirria de teu raihar. Chnina-o de papista, então acertaste c
disseste 117aisdo q ~ i eo 111undoé capaz de coiiiprccnder. Não há uisulto pivi.
O resto é como atacar uiii urso corn uina palJiit ou como se golpeasses uiiis
1 rocha com uma pena.
Respondo, em segundo lugar. qiie os cardeais Campégio e Sal~biirgo'~~
me advertiram e mandaram proceder dessa forma pelo fato de um deles tci
dito que preferiria dcixar-se dilacerar do quc peniiitir que se modificasse i ~ i i
eliiiiiiiasse a missa. E o ouh-o diz: Cléiigos não prcsram, e não se deve tciii:ii-
$5 rei'oiniá-10s. Esses dois contan entre os priilcipais, e como falum e ci-Cciii
tamhém fala e crê o papa juntamcnte coni todos os papistas. Visto que clcs
próprios dizem que sáo inlãmcs patifes e qiic querem coiitinuar seiido p;iii-
ks, ~ ~ r r k r i n ddeixar-se
o dilacerar do que desisiir das blasfêmias conh.;i l)~,iis,
cu Ilics riiria injustiça perante Deus e o inundo se os chamasse por < i i i i i i ~
iioinc que náo fossc sei1 prúprio, que eles mesmos escolheram. Se os cha-
iiiiisse de digníssimos, sluitos pais em Cristo, ninguém os reçonheceiia e trio
siihcriam de quem estou faiaido. Pois não conhecem esses nomes, miis são
c permanecem patiles e blasfenios endurecidos. Por isso meu xingat iião 6
xiiigar, mas é como chamar iiina hetrrraha de belerraba, uma maçã de nia~â. 5
iiina pera de pcra.
Depois, como queres suponar as abomináveis idolatrias'! Visto que não
sc satisf~eramern lio~iraros santos e louvar a Deus neles, mas transforma-
itirn-nos cm deuses, colocmm a nobre criatura, a mãe Maia' ein lugar de
Cristo e fizeram de Cristo um juiz e o pintaram para as miserjveis consciên- 10
cias como um tirano. de modo que toda a confiança foi tirada de Cristo e
transferida para Maia. Depois cada qual se desviou de Cristo e se voltou
1 x 1seu~ santo. Alguém pode negar isso? Acaso não é verdade'? Não o vimos
c cxpenmentamos tantas vezes, infelizmenle? Não estão aí especialmente os
livros dos miseráveis pés-descalços c dos monges predicante~~~, cheios des- 1s
s;is coisas como marialia. stellaria, rosaria, coronarid3 ou então simplesmenle
~1i:tholariae satanaria? Apesar disso, não há sinal de penitência ou de rrielho-
ia. mas querem impor sua \,«titade e defender tudo obstinadamentc, exigirido
I I siicrifício de corpo e vida para sua proteção.
Quero chamar a ateiic;âo para um delaíhe acontecido na Asseiribleia 20
Nacional de Augshurgo, prua que se possa ver a preciosa razão que eles têiii
Il:irii cssa santa idolatria. Quando a coriiissáo estava tratando do artigo da
iiivocayio dos saitos, o Dr. Eck citou a frase de Gil 38.16, onde Jacó diz a
i-cspcito de Efrauii c Mmassés: "Quc esles meninos seja111 rlianiados pelo
iiicu nome"4. Depois de muitas explicações do mestre Filipe, João Brenz" 2s
disse mais ou meiios o seguinte: Na Escritura não se encontra nada a respeito
1I:i iiivocação dos santos. Enião interveio o Dr. Cócleo6 a fim de contribuir
11;ii<i a solução, conio homem muito respeitado, e disse que no Antigo
'li~sl;itiicntonão se invocavam os santos porque naqueles lempos os santos
;iiiicl:i não cstavam no céu, rnas se encontravam na ante-sala do inferno. 30
Ncstc inomento meu clemente senhor, duque João Fredrico, duque da Saxô-
iii;i, cic., apertou o laço nos dois e disse ao Dr. Eck: "Aí tendes, Dr. Eck, a
ii.sl~i~sr;i à frase que citastes do Antigo Testamento". Vê como esião seguros
47 .lo:h, F a k r (vidc ti. 14) havii iornpiladu para u imperador conuadiçòr.~rios escnios dc
I.iiiclr>: Anlilogiu~irn,hoc c.?r conuadictionrinl A% Liitlicri I>nbyIonica,rx eiusdern ;~p»l;if:ic
I i l ~ ~~ cr Dr ~ J Ifiihri . cxccrpti,..
JS A I'.rl;i I: cclc1irad;i clii 2 dc kvcrcin>çrii çoineiiiuinyio i nl>rrseniaçi!i> dc Jçsiis ni>íciiipli>
i. iI:i In~r~lir;i(;i<> iki Virgciii M;ici;i. A Ics1.i ela ocasiai>p;ro conipr:i r ci>nr;igr;i@k>iIc vrl:is
I,;,,;, ,,s,, , I , l , ~ , , , l ~0 L,,,,,. ~'(~;,,,,IrIiíri;,''.
I).,; , I ,,<,,,,r
I:, Social
~wcgique Cristo é nosso Salvador, reagem corno loucos e insensatos. Quan-
ilo. porém, se pregava que uma vela ou utiia moedinha oferecida a Nossa
Scriliora pode salvar um patife e assassino impenitente sem Cristo, sem fé, e
;iI'ugeiitar todos os diabos, e quando se blasfeniava conira os sofrimentos de
('risto e os suprimia, aí, sim, todos os sermõcs eram bons e preciosos. Aí 5
iiio havia hereges. Mas está tudo explicado: clérigos jamais prestaram.
Como poderá tua consciência suportar o grande suplício, martírio e
violência que infligiram a todo mundo com sua confissão apavorante, com a
qiiril levaram tantas almas ao desespero e roubarani das pobres consciências
iodo o coiisolo cristão e iho negaram. Pois ocultaram e silenciaram de modo l i 1
i50 traidor r inriiicioso o poder da absolviç5o e a fé. e insistiram somente no
iiisuportável sacrifício e empreendimento impossível de eiiumerar os pecados
I, de arrepeiider-se. E a esse arrependimento e enuiiieraçZo, como nossa obra
~pr~ípria, pronietertiiii graça e bem-aventurança, reiiirteiido-nos de Cristo a
ii<is mesmos. Em resumo: tudo que erisiriam e fazem tem por objetivo 1s
ilcsvinr-nos de Cristo para sua e nossa obra. E por menor que seja a palavra
<.i11 siia doutrina e por insignificante que seja a obra, ela nega e blasfema a
i 'iisio e desonra a fé nele, e exige dos pobrcs coraqões coisas impossíveis,
Icvmido-os ao desespero. Pois era isso que cal>iaSazer ao verdadeiro anticiis-
IO: cluc, fazendo honra a seu nome, ensinasse e vivesse bastante em oposição 211
(.I(.11ii1.1 iii ( I U C fosse considerado pecado, isso Iiavcria de ser pecado. O que 3
,.I<.< l i i ~ . i i ; iqiic fosse considerado bem-aventurado, isso haveria de ser bem-
;ivi~iiiiiiii~lo. L>cssa Soma, tornou-se um senhor tem'vel sobre o iriundo intei-
! $ i . soliii. corpo, alma, bens, terras e gente, sobre o purgatGrio, S e m o ,
,li;il~~)s. i.i:ii, ;iijos, Deus e sobre tudo. Abria e fechava o céu e o inferno a
~ I I ~ I qi~i\cssc.
I I Tirava ou deixwa corpo, bens, hoiira, terras, reino, mulher, lii
Iilliirs. L.:I\;I,~pi-opi-icdadc,dinheiro e iudo a queiii i~iiiscssc.E que seria o
I I ii:io c~xislissco nhuso do poder d;is cli;ivrs?
~ ' . I ~ I ; I I ~si.
Adverrêncid aos Estimados Ali.iti.ii.,.
Fizeram tudo isso por pura prcpotência, sem terem o direito para taiifo.
por amor a seu ventre e domínio. E o que é pior, ainda abusaram do noiiic
de Deus da forma mais vergonhosa. Pois maquinaram todas essas abomiii:~
ções inauditas, seu bufar e raivejar sob o nome de Deus. E jamais cogitaraiii
5 de melhorar, mas, como duras bigornas, deixam que se os marreteie c
continuam firmes nesse propósito e ainda querem ver tudo defendido c
fortalecido por teu sangue. Nào admuana se céu ,e terra se fendessem c
ruíssem à vista de tal maldade S a n e e pettinaz. E um milagre que Deus
tolera por tanto tempo ess;i iiialdade incessante, essa pertinácia e desmmdos.
10 Creio até que, se o turco soubesse que está tão errado como os papistas
sabem que sao tio infames patifes, ele nào seria tão obstinado e não des:i-
fiana a seu deus tão atrevidiuncntc com sua maldadc. Pois creio que o turco
não diria: Nós turcos jamais pres1:uiios. como dizem nossos papistas: N6s
clérigos jamais prestamos. Isso só o diabo faz. Ele também sabe que é mau
5 c ainda quer deletider sua maldade. O papado làz a iiiesiiia coisa. Elc
reconhece essa sua aborniriável maldade e não quer que ela seja emendada.
mas confirmada e, além disso, defendida por teu corpo e sangue. Tens
vontade de lutar? Pois cá tens um motivo honesto [para lutar] pelas pessoas
mais santas e espirituais. No cntanto, lembra-te apenas da milésuna parte da
20 maldade da qual te tornarias cúmplice, e perderás a vontade de lutru e dirás:
Prefiro mandar esscs arquipatifes impenitentes para o fogo infernal no abis-
mo do inferno a mover uma palha por causa deles, que dirá arriscar corpo c
vida por cles.
Também terás que tomar sobre teus ombros e fortalecer a tem'veel mcii-.
= tuosa e escandalosa prestidigitaçáo do diabo que promoveram com as relí-
quias e peregrinações e B qiinl, de forma alguma, estão dispostos a pôr uiii
termo. Meu Deus, quanta nevc c chuva, sim, verdadeiros aguaceiros dc
mentiras e falácias caíram aqui! Qiiaiitns ossadas, roupas e utensílios o di;ihi>
apresentou como ossadas e utensílios de santos, com que seguranqa sc
acreditou erii todos os mentirosos! Que c o k a para as pere,@ações. E ;i
tudo isso o papa. os bispos, padres, monges codmai.aiii ou, ern todos os
casos, silenciaram a respeito, deixando as pessoas no engario e pemiiindo
que se Ihes arrancasse o dinliciro. Que tumulto causa sonirnte o novo
embuste em Tréveris coni o manto de Cri~to?~"ue feira proiiiovcu aí o
diabo no mundo inteiro e quao inumeráveis milagres falsos conseguiu vcii.
dcr! Que é tudo que se pode dizer a respeito? Se todas as fokas c o capiiii
Sosscm línguas, nem cntão seriam capazes de enumerar somente esta urri;i
p;itilaria. No entanto, temos que constatar que não o confessam nein dcsis..
I'.,, S,,c,:,l
~ i : c.iiriliança
i e esperança, deixaram seu Cristo, o Ev;uigelho e a fé em casa,
<..~ i o ioutro lado, desprezam sua condic;ão [de crislâos] e consideram tudo
<.1,iiiosendo nada. Os papistas, porém, não apenas náo se opuseram a essa
s<~lti~,'io das almas, a essa negação e desprezo de Cristo e da fé nele, mas se
;ili.l:r;ir;irn com isso e o recompensaram e fortaleceran com indulgências e 10
c ~ ~ i i i l i i / i i c ~ ias
i i alrnas dos peregrinos ao céu". Mas as coisas são tantas e
I : I I I I ; I ~ . i~iic6 iiiipossível falar e lembrar-se de todas elas. A isso se chama
.ii~~~~iiiri;irii~ in loco santo - aboininação no Iiigar santo. Foi assiiii que Cristo
~l~.iiirvcii (I papado com palavras simples, no entaiiiio. iricompreen~íveis'~.
( ' i ~ , i ique
~ o papado é uma ahoniiiiação não apenas por causa desses 20
I : i i i r > ~~crvcrsos, m;ts também por causa da impenitência, não qucrcndo cmen-
cI:ii r5s:is coisas, mas que sejam defendidas. Portanto, r i o peca somenle de
I ; i l i i coiiira si mesmo, iiias confirma esse pecado com imprnilência, isso é,
~ . I I I~I~I r c a d contra os o Espírito Santo, como não pode ser pior. Pois o próprio
i l i : i l > i ~riao pode pecar de forma pior. Eis aí os comparsas qtie querem julgar ii
coiiio
' , l i hl.it.. i<~iilicciili> ";mo santo" em que, por um decrçto especifico do papa, se podc
. i i l i l t t t ~ ~iiiiliil~Cciciu
t plcna pcla perçgrinação a Roma ou outros sannianos e pelo cumpri-
i t ~ci.cii,\ cxcrrícios religiosos, especilicados no decreto. O ano santo foi promulgado
i i ~ ~ i i <li.
1.1.1 1~1iiiii.ii;i vi.,, ciii 1300 pclo papa Bonifácio VIiI (12941303). Originalmente se havia
I W L ,..I" (11)t iiiicrhiicii, dc 1IW) mos. Mais tarde o inteivalii foi grailuiivamo~te reduzido parli
',li . J I ~ ~ I ,I. I iVl). 13 ( I 391)) c 25 (1470). A prática vigora ;i16 h q r .
8 1 I'iii iii .i..i.iii ( l i , ;inii dc juhilril dc 1500 niorreu uni grtmde nutiicru <li: pregiinos durante ;i
5 N.i I,l;i<lcMÇili:i sc c~i;ilwlvcri;i;I pi-:iric~de vestir os cndiveres iIc prssr>;is Ivipir t'<>iti
l b ; d ~ ~ ~ .(Ic
tk monges l'rcir;n\. Y ! ~ ~ I I I ~que
< > xssin~sc xqegur:t\,~un<I;$
saIvi~<fiu.
\ I ('1, ;t<.i~tc;t 1,. -1O(a, ( I . 28
:A >l'i~ri
c morrer. E há uma bela instrução das consciências de como ser cristão
<. i<.coiiliccera Cristo. Já agora se prega corretamente a respeito da fé e das
Iit;is i,l)ras. Em resumo: os artigos supramencionados vieram novamente à
lii/.. c pdpitos, altas e pia batismal reassumiram seus lugares, de sorte que,
jii:i(:;isa Deus, pode-se reconhecer novamente a Corma de uma igreja cristã.
'liiilo isso, porém, terás que ajudar a extiipar e exterminar se fores para a
t:iii.i.i.;i em favor do papa. Pois não querem tolerar nenhum dos artigos
<.iisiii;idos c instituídos por nós, mas (conforme se expressam) ter o direito
i I i posse, retomar as antigas possessões e não tolerar nenhuma renovaçào.
'li.riis que ajudar a queimar todos os livros alemães, o Novo Teslameiito, o
S;iIiCrio, o Livro de Orações, o Hinário e todas as coisas boas que escreve-
iiios, como elcs mesmos reconhecem. Terás que ajudar para que ninguém
;ipic~~<la os Dez Mandamentos, o Pai-Nosso, o Credo (pois assim era antes).
'li.i-:ísque ajudar para que ninguém aprenda algo sobre o Batismo, o Sacra-
iiii.iico, a fé, autoridade, matrimônio nem sobre o Evangelho. Terás quc
:iiii<l:ii- para que ninguém conheça a liberdade cristã. Terás que ajudar para
i ~ i i i .iiiiiguém ponha sua cofiança c esperança em Cristo. Pois tudo isso não
i.\isiiii antes e é pwa inovação.
'llimbém lerás que colaborar para que os filhos de nossos pastores e
~)wpidores,pobres órfaos abandonados, sejam condenados e desonrados
<.i)iiiobastardos. Terás que ajudar para que, ao invés de confiar em Cristo, se
t.i~iilicnovamente nas obras dos monges e dos clérigos e se comprem seus
iiiCi.it«s e capuzes na hora da morte. Terás que ajudar para que, em lugar do
iii;iirimônio, encham a cristandade com prostituição, adultério e outros escan-
(l;ilosos vícios contrários à natureza. Tcrás que ajudar a reinstituir o aborni-
ii:ivcl mercado das missas sacrificais. Terás que ajudar a defender toda a sua
:iv;ircza, rapinagem, roubalheira, com as quais conseguem seus bens. Que
iii:iis direi? Terás que ajudar a destruir a palavra de Cristo e todo seu reino e
ii.<:oiistruir o reino do diabo. Pois é isso que intentam esses patifes que
iiisistem nas antigas possessões. Eles são do contracristo ou anticristo. Por
isso ruiia sabem fazer do que aquilo que contraria a Cristo, especialmente
iii,sic. ;irrigo principal: que nosso coração não deve colocar seu consolo e
i-oiili;iiic;a em nossas obras, mas somente em Cristo, isso é: que somos
1il)i.i-i;i(iosdo pecado e justiíicados exclusivamente pela fé, como está escrito
< . i i i I<iii 10.10: "Crê-se com o coração e assim se é justificado".
A cste artigo (digo) eles simplesmente não querem tolerar. Assim nada
1111ilririosfazer. Pois faltando este artigo, tira-se a Igreja, e já não se pode
ii.sisiir ;i nenhum erro, porque sem esle artigo o Espírito Santo não quer nem
~ i < ~ cstarl c . conosco. Pois é ele que nos revela a Cristo. Por causa deste artigo
,i iii~iiido caiu tantas vezes em ruínas por meio do dilúvio, temporais, enchen-
ii.s. giicri-as e todas as pragas. Por causa deste artigo foram assassinados Abcl
i .ii)ilos os santos e por causa dele também têm que morrer todos os crislãos.
Advertcnçia aos Estimados Alriii;ii.r
Não obstante, pemianeceu e terá que permanecer, e o mundo terá 1111'.
perecer sempre por causa dele. Por isso tnmbCm teri que sofrer agora c si.1
dembado por causa deste artigo. E ainda que enlouqiieça, este artigo ficai-i
de pé e o mundo que vá para o abismo do inferno por cansa dele, améiii.
Pensa, pois, c considera. Se quiseres lutar contra Deus. contra sua plilavra c
tudo que diz respeito a Deus; se quiseres tornar sobre tuas costas todas as
aboiliiiiações do papado e todo o sangue iiioccnte derramado desde Abel; sc
quiseres ajudar a exterminar todas as coisiis boas que nos aconteceram por
meio do Evangelho e, por fim, destruir o reino de Cristo e construir o reino
do diabo - vê qual a vitória que alcançarás e com que consciência obedc-
cerás a convocu$Zo do imperador.
Se estás disposto a aceitar conselho, tens adverirncias suficientes para
não obedeceres ao imperador e a teu príncipe neste caso, como dizem os
apóstolos: "E preciso obedecer mais a Deus do que a hotnens" [At 5.291.
Se quiseres seguir iiieu conselho, está bem; se não, deixa estar, vai e luta
corajosamente. Cristo r i o terá medo de ti e (se Deus quiser) subsistira
perante ti. Se subsistir, arranjará luta suficiente para ti. Enquanto isso, que-
remos ficar aguardando quem superará o outro c levar'a a vitória.
E isso que quis dizer a meus estimados alemãcs para advertência. E,
20 como acima, tomo a afirmar qiie nâo quero incitar iiem estimular ;i ninguém
para a guerra, nem para o tumiilto, nem para a defesa, mas tão-somente para
a paz. Se, porém, o nosso diabo, os papistas, nâo querem preservar a paz e,
náo obst'mte, fossem declarar :i guerra com tais abomina$iies endtuecidas,
sem penitência, raivejando contra o Espírito Santo. e saíssem de cabeças
25 sangrando ou at6 perecessem. quero ter declarado publicamente que não fui
eu que o provoquei e que nâo dei motivo para isso. Eles o querem assim,
que seu sangue recaia sobre suas cabeças. Eu sou inocente e fiz
minha parte
com a maior fidelidade. Doravante deixo o juízo para aquele que quer, devc
e também pode julgar. Este náo se omiti18 ?em faihiui. A ele seja louvor c
3 honra, gratidáo e glória em eternidade. AMEM.
Exortação do Dr. Martinho
a Todos os Párocos a Oração pela Paz1 5
1539
~111'. :ic~-cdilx.A ira de Deus poderia estar-nos mais próxima do que pensa-
iiios. ~ ~ ~ l c ioi dturco
o tomar-nos de surpresa quando mais seguros estivésse-
iiio:. c.. Ii:il>itiiados ao berreiro como o camponês idos uivos] dos lobos,
\,i\.~.ii;iiiios ~lcspreocupadoscomo na época d o rei Luís3. Por isso considero
I Ircii.iliiiiii,!: :i,, :illc I%lircrrum Gehet fiir den Fiiafen. - WA 50,485487. Tradu~kn:Wdlrr
I J .>'c l,lt,~b,~.
Nti . i i i i t < l i ISi7 c, çxcl-citodc Fcmando I havia sofrido dura dcrrnta çonua os turcos, a mais
i,i.ivi. iIi.sili, :i iIi.ir<ii;i cni Mohács (1526 - vidc nota 3). Agora se tcinia um novo ataqui <Ir>s
i i u i i!,. i iiiit!:i Vicii:i.
i I ,ti,\ 11, i I ; i IIiiiil:ri;i c 13oêniia. foi dcrn~la<li> pelii sultXn SoIiinL>11, r> Grandc (1526). N a
l t t ~ , , : ~I , I1 ; ~ I ' c q ~ , c tsc
u ;~tr:ivc~szirurn ri<!.('OIII :i vilbria, os tllrcn5 tinl~:~~n
o c ; ~ ~ ~ iIivw
~ihu
ii.ii.t Vii,ii;i.
t i i ; i i i I ~ . i i si,l,~<.
que a melhor defesa doravante será amar-nos contra eles com oração, p;ii-:i
que Deus queira conduzir os acontecimentos misericordiosamente, afastarido
este açoite, c perdoando os nossos pecados que são grandes e numerosos,
para a glória do seu santo nome.
i Além disso, há muito que os papistas pretendiam provocar uma desgraçii
na Alemanha. Não conseguem abandonar essa idéia, raivejam cada vez mais
e bem que gostariam de tê-lo perpetrado no verão passado4, se Deus não o
tivesse evitado expressamente; e estão tão cegos que não levam em conta
que o início pode depender deles, mas não o cessar; ao invés, talvez tenham
10 que sucuinbir junto; pois não me preocupo (a nzo ser que Deus queira aplicar
excepcional tormento) com a i.calização de seu intcnto, porque para isso
ainda falta muito. Mas o que me preocupa é que eles poderiam tomar a
iniciativa c o nosso lado teria que se defender (o que, ali&, é sua obrigação
c o que também recomendo com a maior tranqüilidade: que não se tenha
15 escrúpulos de consciência nem tema essas questões malditas de f o m a algu-
ma, investindo contra eles como contra cães raivosos). Desta forma poderia
resultar uma guerra tal que não cessaria até que a Alemanha acabasse
totalmente arninada.
Mas, como de ambos os lados nossos pecados estão muito maduros,
20 grandes e formidáveis, do lado dc lá com meiitiras, blasfêmias contra Deus,
violência, matança, sanguinária perseguição de inocentes, ctc., já aqui com
ingratidão, desprezo da palavra divina, ganância e muita arbitrariedade, tenho
a grande preocupaçáo de que Deus, pelo abuso com que se dcsafia sua ira,
faça vir sobre nós um desses dois açoites, ou talvez ambos de uma vez.
25 Por isso vai a todos os párocos - com isto faço a minha parte - o
benevolente pedido de que admoestem lealmente a sua gente, empenhando-
se em dcscrever esses dois açoites, para que as pessoas tenham temor e se
apliquem mais na ré, pois não é brincadeira, e fico temvclmente preocupado
com nossos pecados; não gosto de bancar o profeta, pois geralmente costuma
30 acontecer aquilo que prenuncio.
Ein segundo lugar, peço que também queiram invocar e implorar a Deus
com toda a seriedade. Pois, sem dúvida, um dia a Alemanha ainda pagará a
Deus por suas tolices, pois o pecado não quer moderar-se, mas cresce e piora
cada vez mais. Rogo que implorem que sua graça paternal nos fustigue coni
35 outro açoite, seja a pestilência ou qualquer outra, de modo que os principa-
dos, estamentos e governos acabcm permanecendo, e que não nos surpreeii-
dam os turcos cm nossa segurança e sonolência; menos ainda que nós 110s
devoremos e destruamos reciprocamente pela fúna dos papistas. Deveras esiií
,1 l I ~ t iiliilio
i :I Ali:inça dc Nürnbirg contra <is çv;uig6licns, piir iriici;iiiv:i
ilr 153X h:ivi:$ si~igi<lo
CIO ihqxr:~~Ior.
521
I'sz Social
111:lisdo que na hora de imploramos. Pois o diabo não dorme, o turco não
perde a oportunidade, e os papistas não descansam. Não há esperança de que
cles mudcm sua sede de sangue, não Ihes í'alta a vontade, a raiva, nem
recursos, nem dinheiro. Para começar, nada Ihes falta, só que Deus não Ihes
concedeu coragem e f o r p suficientes. Caso contririo há muito que a Ale-
inanha teria se afogado em sangue, como no-lo ameaçaram o papa e os seus.
Como neste ponto não há recurso nem podcr humano para impedir esses
cães sanguinirios, sendo quc só Deus pode impedi-los, como ele fez até
agora, seja crcnte e ore quem puder, que Deus não afaste a sua mão e não
110s deixe agir segundo o mérito de nossos graves pecados de ambos os 111
lados. Os papistas não oram, e de tanta sede de sangue nem conseguetn oras,
iampouco enxergam sua completa perdição, nem conseguem vê-la, de tanta
cegueira, maldade, petulância e riqueza. Sejamos, pois, crentes e vigilantes e
oreinos nós que enxergamos e oramos pela gniça de Deus. Assim sabemos
qiic com certeza somos atendidos, como experimentamos até agora quão 15
grandes coisas nossa oração alcançou, só quc neuhum papista ímpio conse-
gue percebê-lo, confonne está escrito: "O ímpio é destruído, para que nZo
veja a glória de Deus", Amém.
PASSAGENS B~BLICAS
ANTIGO 'I'ESTAMENTO
Gênesis
Êxodu
2.Zh-27 3x6 n. 98
7.5 297 n. 52
12.6 375 11. 69
13.13 16') 11.7(J
18.1 325 ri. h9
4.4s. 20. l0ss lll.15
4.13~~. 20.16-18 391 n. 113
(i.4 25.4 325 n. h9
6.5~~.
(i12
.
7
7.1-24
9.6
62.4
NOVO TES'I'AMt~;Nl'O
Matcus
175.24
2.lss..lhss. 212 ii 171
Marcos
Juáu
IS.??..!\ 125,20
IX.21 294,3
IX. I0 XX 11. 1'): 290 n. 23;
i IS.l'l: 356.20: 3h7 n. 31;
414,25
18 \I,\. 84,38 243 n. 37
ILlI I 216 ii. 7: 477.40 396.23
395 ii. 111
296 n. 44
2 Coríntios
Efésios
Filipenses
2 Pedro
Colosseuses
1 João
Hebreus
Cristóvão, São 399 n. 138 Francisco I, da França 142 n. 10; 360 ii. r>.
Cniciger, Gaspar 263 ii. 73 386 n. 96; 386 li. 97; 405.28; 416 ii. l i )
Fredenco I da Dinaiiiarca 380 11. 79
Dâmaso (papa) 91 n. 23 Frederiço I Rarbar~uiva147 n. 19
Dmiel 67,8; 90,34; 463,21 Frederico 11 da Suonia 119 n. I
Dano I 3 7 5 n. 65 Frede~icoI1 (imperador) 147 li. 19
Davi 26,11; 26,39: 27.1: 36,31; 4h.6; 57.11; Frederiiço I11 (iinperador) 147 n. 19; 163 11.
59,12; 67,7: 7h,2hss.: 88.4; 90,32; 101.34 59; l M n. 63
105,32; 110,24; 140.21; 147,19; 149.8; 164,h: Fre<trrii.o, o Sâbio 7Y n. 2 ; 98 n. 33; 119 (I.
lh5,12 3; 122,13; 133 i i . 4; 150 n. 32; 202 11.
Dcbora 435,25 141; 207.14; 278 11. 23; 286 n. 6; 292 11.
Dcrnóslzncs 157,47 31; 3M) n. 6; 363 n. 14; 380 n. 78; 386.3:
Dcnner. Lienhard 277.16 412.22s.: 479 n 19
~~~ ~
Diocleçiano 254 ii. 56; 384 11. 92 Fredcri'co vón Holstcin 375 ri. 60
Dionisiu 1, o Velho 14<)n. 132; 378 n. 69 Friiz, Joss 274 n. 3
Dobrieck, Joáo 287 n. 39 Fmndskrg, Jorgç 416 n. 16
Doeguz 163,29; 173.2Y; 194,29; 435.27
Dbring, Ciistiaiiil 2S5,17 Giihriel (arcaiijo) 143.13: 456,26
Durer, Alhriclii 160 n. 52 G.~is~iiair, h5icli;irl 274,13
-.....- .
C;:alhn . . .n.. .i.7.
174
F L ~Joáo
, 122 21. 4; 177 n. 17; 291 n. 25; 292 Gere30 92 n. 24
n. 31; 477 n. 14; 481,22; 493 n. 21; 495.261: Gideão 435,25
512.23 %de, Heiinig 151 n. 36
Elias 67.32: 90.30; 453.6; 476,6 tiolias 149.8; 210,2
Eliiiias 481.30 Gordiano I11 374 i i . 57
Ernsci; ~erinirno477 ii. 14; 481,22
Epicuro 181 n. 87 Girsório W 43 n. 26
Eliirii6nides 189 n. 103 Guillicrnic TV da Bavirin 81 t i . 9; 102 ii. 41
Erarmo 152n. 37: 277 11. 15; 3h6 n. 24; 368 i i . .33 Ciuilhcmic de Nognrrl 241 n. 15
Ernesto das Sa*í>iiin 119 ii. I
Ernesto dc Manslcld 288 n. 13 Hiifcrie, Sirnoii 284,?5; 2S5,38; 289 n. 16
Esopo 103 n. 42; 190 11. 109; 198,16; 379 n. 74 Himariins 90,33
Espalaiino, Jorge 123.3; 284.34; 483 n. 27 Hiinleiii, Migucl 126,4ss.: 127 n. 4
Esrer 39,23 Hans Worst 153 n. 39
E?i.iirvio L75,24 Hausrnmn, Nicoluu 410.15
Eúdç 435.25 tlédio, Caspar 279 i i . 27
lleiirique 11, o Jovcrn 360 n. (i; 448 n. 2
E i i ~ e ~ TV
~ i o(papa) 415 t i . 14 I<e~lriqucTV 479 n. 18
Eva 3920
H6rculcs 194.37
Pdlxr, João 494 n. 24; 513 n. 47
FX~Ó 202. I n
Hemdias 174.31
i ~ 150 n. 51
F e i l i ~ z s c k ' k n b v<in
Fernando I (da Austriaj 254 ri. 57; 405,45; 470 Hisólido. Matcus '3Ml.33
~~~,
Cf u
- como merece-lu 1 3 5 . 1 3 ~ ~ .
f i resisreni;winJ1415,25;415.2ís.; 429,365s.
Cristimo
ii prciism de espada 8 5 . 4 ~ ~ l u t a contra o iurcr~418,8-422.18
sai poucos 86.9 -- ataca th. o pap;i~lo440,34ss.
( 'rcr Cristo 25.19; 26,1?: 36.32; 60,X
c:ida uni para si 99,20ss. - - n "rheiiio" 2b.4
;irsorito de conscPncia 99.24s. iiaiciiiienro sobrenatural Ih,')<s.
,,,i., . ilo nadu 23,35
.7
c.10 - - quis ler raiizãu 56.12
C 'ii;i<lageni447,34ss. - impr~isiiiçira ciuz 61.35
< 'ii:iilur 25.13 - ciialtecidi>63,ll
( 'li:il"~>,\ - - cuiiii<lo0;)pri>iiicssaa Ahnoo 73,7
I)cris age por iiicio dclus 01,17ss. - verdadçiiii Fccdcrico c S:ilom;ii~88,7
I>ciis dcslrói uma por outra 61.22 - nada ensiiioii scihrc a cspdciid;~94,5
nova c. 91,9 - seu iniiiisfi.ri<i94.14s.
- todo-poderoso 50.18-51,20
Debate de 1,fipaig 292 11. 31 - n%odescansa 51 ,I1
Dcc;xl&icia do regime secular I(K),25ss. - sua maneira de ser 5 l,l5
Missas Nobreza
- enfureciam a Deus 446,30 - se corrompe desde a mocidade 2W,22ss.
Preces 355,6ss.
Predestinação 460.16; 461.13
Predicantes 512.15 - sua posição 2 5 5 . 6 ~ ~ .
Pregação - seu destino 287,23
- enganosa tcm aparência bonita 169ss. - culpados de rebelião 308,16ss.
- de ira e misericórdia 344,3684. - instnimenliis da iid dç Deus 334,32ss.:
- ilr I ~ O U C Oefeito 352,25ss. 347.22
Piegadi?rcs - i-enrescnlante de Deus 313.12
- íttlsos .35,8;309,lss.
P ~ l r ~ t ó r446.30
io - servo dç Cristo não se tncte cvk 168.6s.
- ~1111 embuste 509.30-510.10 - or<lemç criatura de Deus I 8 3 . 3 1 ~ ~ .
Vontade
- de Deus 30,20
.
em benefício .nrónrio 106.25s~.
- escandalosa dos pipistas 503.30-507,12
- livre 60.19
- fi pode ser coagida 352,35ss.
- desregrada tolerada ZYh,Sss. Voz celeste 288.16-289,lss.; 298,13
- cristã 480,7 Voz de Deus 294.14~~.
- eterni 182.31: 506,18ss. Viilgata 91 n. 23
Vigdno de Cristo 233,36
Vinda dc Cristo 441.15: 474,31 Weingarten, Acordo de 282 n. 37
Vingador, ser seu próprio 314.19. Woms, Assembléia Nacional de 292 11. 31
Vingança 94,20; 265,25ss.
Vinho 205,lO Zelo, assassinato por 177,Y
Violação das consciências 100,3s. Zwickau, os profetas de 285.40; 289 n. 20;
Violência 291 n. 30; 293 n. 34; 298 n. 56
- seu uso 103,2X 104,lss. Zwinglims 447,20
c o m b a t e r v. com v. 111,14ss.; 135,30ss.