LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, V. 6

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MARTINHO LUTERO

Obras Selecionadas

Volume 6
Ética:
Fundamentação da htica Política
Governo - Guerra dos Camponeses
Guerra contra os Turcos - Paz Social
rc.1 < i~rni,s,sZoInferlurrrmli de Literaturii, fomiada pela Ib~ejaE~vati~élica
de ConfissZo
.- -.-
I . i i i c i i i i ~ ~ ~ ~ ~ ~Evangélica
~ T q r Luterana
e j a do Brasil:

- ; oF3\,u
",' Caixa Post;il
3001-970 Sáo Liopoldo - RS
14

Tel. (051) 592.1763


em ço-edi$ío com:

TORA SINODAL CONCÓRUIA EDITORA LTDA.


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Gerhard Grasel Paiilo Weirich


JKio A. Mullcr da Silva Ctirlos W. Winterle
Edsoii E. Streck iiigo Wiilthorst

Alhrecht Baeske Joachim 11. Fischer


Nestor L. J. Beçk Riclirdc W. Rieth
~ u - i i i iN. Drchcr Maitirn C. W.iith

7iadutore
Marti11 N . Dreher Helhsrto Michel
Ilson Kayser Ricnrdo W. h e t h
Wdlter O. Sçhlupp

,~~,mitrííi.io
Cottcórdia
Ilihlioln'ri Editor-geral
Sist I
Ilson Kayser
Apresentação............................................................................................................ 7
Iiiirodução Geral ...................................................................................................... 9
Fundamenta~au- introduções de Maríin N.Diehcr ........................................ 13
O Magnificiit traduzido e explicado
Tradução: Ilson Kayscr.................................................................................. 20
Da Auioiid;idc Secular, ;iti qiic ponto se lhe deve ohediência
liadução: Matiri N. Dirlin: .................................................................... 79

Governo - Iiitroduç6es de Joachini H. fisclier .............................................. 115


Discurso do Dr. M;~rliiilioLulcro Perante o Imperador C:irlos
e os Príncipes liri Assemblt'ia de Wornis
Traduçâo: Ilson K-:iyser 121
1,utero i Cârnara de Daiizig
TraduÇao: Wilter O. Schhipp ........................................................................ 127
Um Conselho do Doutor Matinho Lutero se é permitido resistir com razão ao
imperador se ele quer u
Tradução: Wdtçr O. Sc.h
Salmo 101 interprçtad~
Tradução: Il.\on Ka
Dcbate Circular sohre
TraduçZo: 11.~0nK q s e

Guerra dos Camponeses - 1ntroduc;Ciesde Ricardo W . Rirtil .......................... 271


Carta aos Pnnçilies da Sax6nia sobre o Espínto Revolt<>,s»
TraduçZo: Helhrito M~che 284
Cama Aberta aos Ru-gomestr
da Cidade de MuNbausen
Traduçáo: Wallcr O. .Tchlupp .................................................................... 300
tnoitaçL~à Paz: Resposta ao
'liadução: Hclberlo hizIii:hc 04
Adçndo: Contia as Horcllas Salteudoras e Assassinas dos Camponeses
'li-;idução: Hclbeilo hlii.hcl ............. .
........................................................O30
I'<~siciuiiaiiiciii<r do Dr. h~laitiiilioLutero Sohre o Livrinho Co11ti:i
<i\(';iiii~i~~ncx"\isaltaiilcs c i\ssitssin(~s

'li-;iiliiy;io:It.:rlfcr O. 911lril>p 3-17


i ';iii:b Alicrla ;i Kcspcito do Rigoroso Livrinho O~iitraos Camponeses
'li;~clo$Zo:Ilelbertu Michel ............................................................................ 340
Accrc;i da QoestZo, Se Também Militares Ocupain
IIIII;I l:uiifâo Bem-Aventurada
, ~
1r;iduçTio: Waller O. Schlupp ........................................................................ 360

( :tierra contra os Turcos - Introdufles: Matiin C Wo-lh.............................. 403


I>;iG~ierracontra os Turcos
'lladuçáo: Ricardo W. %eth ................................................................. 410
lixorilição 3 O r a ~ á oContra os Turcos
.Irxlução:
~
Ricardo W. Rieff~ .........................................................................4 6
1 ' : i ~ Social - Introduções: Nestor L. J. Beck .....................................................467
l lina Siiicera Exorta$Zo de M'ulinho Lutero a Todos os CnsGos
,I:N;I sc I'reçaverein dc ConvulsZo e Rebeldia
Helberto fonliche
'li-;i<luçZ(~: 472

4x4

520
Apresentação
Em suas mZos está mais um volume de "Obras Selecionadas" de Martinho
Lutcro. A preocupação com a publicaçiio de obras de Lutero remonta a 1983, quando
se c o m i m o r a m os SíK) anos do nascimento d» refor~nador.Com alegria c satidáo
rcletnbruin«s « inicio desta longa camidxrda. E agora, ern 1996, ao recordarmos os
450 anos do falecimcnto de Lutero, podemos entregar « sexlo volume cio público de
fala portuguesa.
A apresenlaçZo do primeiro volume foi escrita em 1987 pclo pastor Ilson
Kayser, que cm 1992 foi norneado edilor-geral p;irii as "Obras de Lutero" e o
dcvocionjrio "Castclo Porte". Com o lançamenlo do volunic 6, o pastor Kayser
t-inali~ouas suas atividades corno editor. A ele munifestamos o iiosso agradecimento
pelo siu trabalho e enipeiiho, ao mesnio teinpo em que damos as boas-vindas ao seu
sucessor, pastor Darci Drehmcr, coin os votos de ric;is bênçâos ao "mergulhar"
novancnte iio estudo científico dc Lutero.
Um agradecimento especial ao nieu ex-profissor, pastor Dr. Joachiiii Fischer,
rcsponsivel por tod;is as iniroduçfies dos scis volumes de "Obras Selecionadas de
Lutero" at6 agora publicddas. De coração, dedicou-se i s diversas publicações de
escritos de L u m o no Brasil e há mais de 10 anos é presidente da CornissZo "'Obras
de Lulero". Em conjunto com u n a equipe de espc~ialistas,lez e fctz a história de
Lutero no Brasil. A ele e a todos os dcmais inlegraiites da Comissâo "Obras de
Lutero" e da O~missãointerluterana de Literatura, iiossa gratidão e nosso reçonhe-
ciiiiento pelo 11-abalhovoluntário e gratriito.
A publicação do voltiine 6 foi possível graças ao apoio financeiro da Igreja
Luterana Sín«d« Missouri nos Estadc~sUnidos e da Igreja Eva~gélicaLuterana na
Baviera e de sua Associação Marlinlio Lutero na Alemanha. Agradecimentos a eles
e a todos os que se enipeiiharim para que este voluine pudesse ser publicado.
1096 foi declarado "Aiio de Lutero" na Alemanlia. No Brasil, realizam-se,
neste ano, eleiç6es muiiicipais. Lcrnbrando estes dois fatos, a Comissão lnterluterana
de Litcritura da lgreja Evangélica de Confiss5c Lutcrana no Brasil e da Igreja
Evwgélica Luterana do Brasil, lança com alegria o volume 6 de "Obras d e Lutero",
contendo textos aliisivos à Ctica política de Luter«. Desejo que a leitura possa auxiliar
a redescobrir que a tarefa dos cristãos ao fazer política é "adrninisvar as coisas
públicas em favor de todos os cidadáos" c que "o amor ao próxiiiio usa a prhtic;~
polílica c ~ ~ i r instrumento
io para a sua concretizaçào", como cscreve o pastor presi-
dintc da E C L B I-luberto Kirchheun na sua " C w a Pastoral -Eleiçfies 19<)6". Q u i
scja um subsídio pnra uma contribuiçãc cristã luterana clara e eficiente nos runios d,i
política iio Brasil.

SZi1 Lcopoldo, agosto de 1996 Pela


Coinissãc Iiiterlotcrana d i Litcrcilur:~
Irigo Wiilflii~rsl
I ' r r s i ~ l ~ ~<I;!i i I(~' ~~I I I I S S : ~ I~I I ~ ~ ~ I - I I I I C ~ ; I I(I?I ; I I ,iI,~i.iil~ir;~
7
SEMINARIO CONCORDin

Introduçáo Geral
Nos escritos do presente v«lume encontramos os elementos bisicos da ética
política de Lutero. O porta-voz do eKtngelh« de Jçsus Cristo e reformador religioso
não podia deixar de ser, ao rnesrni>tcinpo, político. Ao ocupar-se com a questão da
salvação eleni;! das pessoas, jamais se esqueceu de perguntar tumbéiii por seu bem-
çsiar terreno. E verdade que são qiiesiões distinias. Mas riern na reflexão teológica
nem no dfa-%dia da vida das pessoas podem scr separddas uma da outra. Lutero
deixou claro que « inundo precisa nZo apenas dc pcssoiis aptas a pregarem o
Evangellio, rnas tainbétn de políticos, pess«;ts aptas a conduzirem os negócios do Estadoi.
No "cainpo I-eligiosi>",21 Reforma do século XVI foi umti "revolugão funda-
inenki", comi> observou Leonardo Boff, baseando-se ern 1-lege12. Tcve profundas
repercussões no campo s6cio-político. Em 1988, o 7- Congresso Intem~cionalde
Pesquisas ein Luter», realizado eni Oslo (Noruega), discutiu a teologia de Lutcro,
sigiiificativamente, com« "responsabilidade pelo mundo"'. Eni muitas oc;isicies, o
reii~miadornianifestou-se sobre questces sócio-políticas, ou seja, qiiistões referentes
i organizaçZo e adininistraq50 &aquilo que os ;uitigos romanos chamavam de i-es
publica, coisa púhlica, vida pública, Estado. Tinha ci~nsciênciade que a vida púhlica
6 urn jogo de interesses diferentes, muilas vezes divergentes ou até abeitameiite
conflitantes. Política, como ideal, é o processo ein que sc visa a assegurar uma vida
digna p'dra todas as pessmds e sua convivência ern sociedade, cm nleio a suas
diferenças, divergências e conilitos. Pma Lutero, política é o esfor~oracional pemia-
nente e pacienlc de est;ibelecer e preservar uina ordcm social conipatível corri os
valores do cristianismo. Suas inanifesi;ições s«bre queslcies sócio-p«liticas certamente
poderiam ser classificadas como "cxigências cristás de uma ordem p~lítica"~. Num
perspectiva escatológica, caraclenstica d i Ltitero, a finalidade última da política é
preservar e proteger o rnund« diante da ameaça do caos, o poder do Mal.
A ética cabc apresentar às pessoas, baseada em v;ilores inequívocos, perspecti-
vas e orientacões fundamentais nara seu aeir. ailidá-las a disiinauuem cnnc o Rem
w . 4 u

c o Mal, despertá-las e instrui-las para que perguntem pelo que 6 correto e respon-
sável, encorajá-las e foflalecê-Ias para a prãtica di>Bem, supemndci a resistêiicia do
comodismo5. Para Lutero, coino cristão, a ética baseia-se erii valores cristâos. Suas

I Cf.. o. ex.. Obras Se1zcio11ada.s.


. A . 302-325 c 327-363
. v. 5., o.
2 BOFF, Inrinxclo. E n rgrqia sc fcr povo: eclcsiugEx~:a Igejit que n;~xcda fé do povo.
3. ed. Peirópolis, Vozes, 1986. p. 169.
3 Lutheriahi-huc11;Organ dcr inteniatiorialen Lutlicrfoi-sçliurig,Gottingen, 57:Y-286, 1990.
4 A cxorcssão foi ernnicst~dado título do dolocainerito ouc a IS%smbléili Geral da Confc-
reiici; Nacionul dos't3ispos do Brasil aprovou cin 1977. C[. COWERÊNCIANACIONAL
r>OS BISPOS DO BRASL. Exigê~iciascrirt,ís de unia ordcrn política. SZo Paulo, Paulinas,
l117X.(ducuiucntos da cnW, 10).
5 i 'I: o cris:iio ilç Micliiiçl Beiiitkii iiiiitulado (traduzido do iirieirial aleiiiZi>)
~ L , , "I':issan>s ciriis
i , iviiili>i:i>c;ii.;íicr C i i c i ~
dos Dez M;iiiilanienios cni nossa si>ciçdadc,Ii<~,je",
n;i ivisi;i :ilciii;i
1 >~iIwri,v.l>c~ M ~ ~ ~ ~ I ~P,u,ntwcr, ~ ~ , 34((~):I?-l7,
~ i ~ ~ ~ , íj i ui ~ ,~l~P)S.
.
i>iit.iii;ii~ii.s l ' i i i i ~ l ; i i i i ~ ~ i eiicontraiii-se
it~is reciiiiuclas nos D ~ M;iiidameiiios.
L O l)cc.:i
It>,,< D ii;ic:i ;i\ liii1i:is iiiestras dc uma éiic:i da :ilr?ndade. Vis;! à Iionra de Dcus c ; i<,
Iii.111 c\i:ii ~ I liiuln). i o "pr6ximo2', eiii lingua~eiiibíblica. Respeilii tanlo a altesidade
,li. I )riis coiiiii a do prí,xim«. D c tiícil coinprserisio. constitui a base para o conviviii
cI;i.: ~~css<i:is eiii socieclade. Quer possibtlitdr a r s a i i ~ i r $plena i~ <ia vkl:i humaiia e
<~iii-i,i:ii:iriis pcssoas 1;iu-a uiiin :ituayOo i-esponsAvcl, junraiiiente coiii os iiiitrns seres
I ~ i i r i i ; i i i i > sc ciii favor dos mesmos.
N o C;itccisino Miiior. Lutem destucuii essa iiiipiirt?mckasocial 5ingiil.ir <I<I
Decilogo:
OS Dez Mandaniçiiioi hem e inteiraiiieiile, deve eniciidrr a
i ~ u c i i ie~~Iciide
I:,\ci-iiura toda. de silite qiie pode acon%elhar,ajud;u, coiiioitas, julgar e decidir
c111 1i1d;is as cnisas e casos, tanto no piano cspirilual qiianlo no temporalh.
N:ic> foi por acaso que Lutero lariçou as bases da ética evangélica nii fom:i de
ii811.i<.y~liinção
deialtiada dos Dez Mandniiientos, no escrito "Das Roas Obras"',
< - i iI'i.'O.
~ li rios Catecisriios apreseiiioii os Dez Mandanientos conscientemente coiiio
~oliiii~.ii;i 1,:iric. A ética pretende viahilizar o corivivio das pessoas pnr.1 pi~ssil>ilir:u-
IIit .. .i i c~iili\xi~> ile sua ti, a orayáo. ;i cçlehi.i~iioo
i do Batismo. u conlis>âo de seus
1" C .I~I<>, :i c.clrhi.aç5o da Ccia do Seiilior (Eu~irisii;~).

l i i i l : ~:I iciilr~gi:~ clc Lutem. I;iinhiiii su;i éiic;i politira, decom de siia coiiipreen-
.I,, i . i ; ~ i i c ~ ~ l iilii
c ; ijuiiilicaçá« do ser 1iiiin;mo pccador pela grap? de Deus iiiediantc
. i 1,- ,\ t.iic;i política do rcfonn;idor esr5 inscparavelmente relacionada corri seu
, t , i i c VIIL, (11. Iiist6ria. Quem age na hist61-i;i. iios r através dos seres liumanos. C. D e i i ~ .
I .:..i ~ < ~ i i ~ . c da l ~ vrealidade
ão faz com que iierihuina instância humaii;i possa rcclamiir
11.81.' '.I :~iilriridadesobrrhiimana ou até, 1:iIvr~.divina. Militas vezes Lutsro focalizou
.i <~ii~.i.i;i<~ <I<r poclcr seculai. (~iolíiicoi.Confroiiiou u s e poder imaneriie coiii o puder
ii.111.L-t.iiil~.iitc d:i p;ilavr;i dc Deus. A pmlii disso, chegou ;ipcrguiit:u pelos h i i t r s
,I#,lii,<Iir ~ ~ o l i l i c Rctlriiu o. sobre situaçfieh ciii que se tor~ioiiiiccessdrio resislir a u m
INMI<.I ~~<,liiico que desrespeitou os limilçs i l e rua compelência. Defendeu a liberd~ide
(1,. <<iiisci2iicia:a auiondade secular, o Esta~hl.1150tein poder sobre as consci?ncias
<I:,!, (~Vh\,,~lS.
í ) <I:I~<I iiiiidaiiicririil da ética política <Ic Luter« i soa distinçiío (riào: separaçâil!)
<!,I\ ilois rcgimciitos de Deus. Essa "dr~otruiii" liheria as pessoa\ de fnlsis preocu-
11.1~1tc~ ~p:irii prática do ~ u i i o rali ~ > i i i i i i i o Vida
. cnsfi é, esscnci;iliiisnle. vida a
..\-i \ iyct iIo\ ~IIII.OF. Lutem entendeu i;iiiibéin a poliiica cr~rnoseridi) uiii servi$« que
# >!~i>vi.iii:iiiics
. prcstani aos governadus: ti$,> é uina oportunidade dc se eiinqiiecer ou
,I,. ..i, i I i ~ ~ l i i i i :dos
i r privilégios e prazercs do poder. Onde, poréii,. política e rcligiáo
, . . # < I iiii\iiil-:id;is, o rcsiiltado ser6 a ruína do convívio das pessoas.

i ,iiii.ri~ilcsciivolveu boa p x l ç de suas retlexóes &as lia irea política diante de


. i i i i : i ~ < i iiIc
~ \ coiiililo.
15s situações constiriicin u m eiamnc desafio para a teologia.
Nt.l:i:.. :I :iiiliiilicristã, via de regra, nilo é 6hi'i;i. Precisa ser priicui.ada com dedica(.ão
t ti~i,.ii:iiiiciii<i- Corre-se o risco de se ser crit~~:id« p11r anhos os lados. Lotero jaiti;iis

~--

i, I l i I ICI(í i. Ll;iiiiiilii>. C:;~lccisi~io


M,tior. In: Liir<, <li. ('orilrir<li;i: ;is ciiiili\\<ii,r iI:i lj,ii.,j:i
. l i I I I . 4. cd. Siio L.ii,pi>lilo, Siiinil;il; l ' i > ~ i i > A1i.g~. i'iiiii-i')iili:i. I'lLli.I"
l"'.l,ii.ii> I I. I'. ),'O.
; , ~2,
1 i I i l l , , : ~. V r ~ / ~ ~ ~ ~ , ~ ~ , ,v. l ; ~.1,v , I00 170.

I0
fugiu do desafio nem do risco. Nesses casos concentrou-se na qiiestáo teohigica
subjacerite 30 conllito. 'Iainbém sobre qucstoes de ética política, Lutero cosiuniava
falw numa perspectiva pastrird. Scu objctivo foi a preservação ou restabelccinicrito
da paz social. Quis alertar, admoestar e orieritar governantes e governados (oii :is
piuies cnvolvid:is iiuiii conflito) quanto ao seu coriiproiiiisso para com n paL social.
De acordo com a convicção de Luleiu. somenic a paz assegura o coiivívio <Ias
pessoas rin sociçd:ide.
O projeto "Obras Selecionadas de Mxtinho Lutero" tem por objetivo colocw
textiis b5sicos do refonnador à disposiçao dr pessoas de língua portugucs;~.Pcnsa-
mos cm leitores e estudiosos no Brasil, bem como em Portugal, Angola, Moçambi-
que e outros países dç fala portuguesa. Entendcinos nosso trabalho como pirstaçáo
de serviço a todos e a todas que edáo intcressados/as em conhecer alravés de seus
próprios cscritos o pensador que era conternpor2neo (e,m parte) dc CrislóvZo Colom-
bo (14.51-1506), Vasco da Gama (1469.1524) e Pedro Alvarcs Cabral (1476[?]1520).
O picseute volumç, como todos os outsos. envolveu um hoin número de pessoas
e virias eiiiidades. Rua viahilizar e concreti~;iio projeto colaborain: as entidades
cloadocis (de irciirsos finaiiceuas) no exlcrior. a Igrej;i EvmgClica Luterana do Br:isii
(IELB), a 1grej;i Evangélica dç Confissiío Luteinii;i 110 Brasil (IECLB), a Coinissiii
Iiitcrluter;inii de Literatura (CIL) e scii tesoureiro Gcr:ildo Dracliciiberg, n Comissão
"Obfiis rlc Liitero" (COL), o editor-gcriil, tradutores, revis«res, sçcret,ii.i;is, as Edi-
toras Sinodal e Conc6rdia c o pessr>:il rla gráfica. Cada qual contribui cor11 siiii parte,
niiiii grande niutu;lo. O presciite voloine E h t o desse inutiráo.
.4 iidministraçáo do projeto como iiin todo cabe à Comissão Interluterma de
Literaliira. Ela é constitiiídn e rnlintida pela IELB c pela IECLB. Siío membros
titulares da CLL, atualmente, os pastores Dr. Ingc Wullhorst (presidcnte), Gerhard
Grasel. Joâo Aitur Miiller da Silva, Ms. Edson E. Streck, Paulo Wcirich e Carlos
Waltçr Winterle (secretirio). Os rneinhros sopleiites são os pastores Harald Mal-
schitzky e Vilson Scholz. O professor P. A11>2iicoE. G. F. Baeske, até o uúcio <Ic
1995 nieriibro supleiite da CIL, passoii, eiitreiiierites, a integrar a Comissáii "Ohras
dç Lutcro". Contamos coni sua colaboraçio a partu do próxinio voliime.
Os riieiiibros dcssa Conussá<i psepariuaiii « coiiteúdo do presente v<ilume, o11
icin, sclecionariim os escritos e c l ~ i b o r a mas introdiições e pwtc das notas de
iod;ipé. As traduções foram feitas por: »r. Ricmlo W. Rieth, Dr. M;iitui N. Dreher,
I'. Ilclhertc Micliel, Wdlter O. Scliliipp e P. Ilson Kayser. Na traduçáo dos textos
I;iiiiir>scontamos com a colaboração especial de Egbertus Ossew;imde. A elabor;i(..io
i l i i h iii,i:is de rodapé restantes, os traballios de revisi%,, n redii~ãoliiid e a prep;uu~So
(10s iiiilices couberam ao editor-gcr;il P. Ilson Kayser. A editoração foi assunuda pela
I:<lii<ii:i Sinodal. Eiii sua estrutura, « prcseiite volume continli;~obsçrvando o princi-
~ i i i iiiii~~duzido no volume anterior. O teiiia da Ctica cristã aparece desdobrado eiii
ilivcr~o\Iilocos que temlitizam chferçntes áieas da ética cristã. Neste volume tratli-si.
i.sl~~~~ilic;iiiieiite, da ética política. Cada bloco 6 ideiitificado por uin subiitulo c
;iiitçrc~li<loIvlr uma introduçL~mais ahraiigerite ao respectivo assunto. Cada texi<i
vciii. 11cw XKI vez, acompanhado de uma Introduçio mais resumida, pwd l o ~ ~ i l i ~ á - l i ~
riti \cii i.~iiicxtiiIiistórico.
As cii:i~iwshihli~isli>r;iin tr.iduzid;is dn vers;io ofigiiial <Ic Liitcro. Assiiii li~.;i
I'I~.~.VIV;ILI:I \II;I origiiiiili<lii<li. liiii ger;il. L~iicrocirii (Ic inciii6ri;i. ciiiii h;isc iio Icxii,
I . i i i i i c > i I : i ViiI,::ii:i, sciii, iio ciit;iiili,. ~~ii.i>ciil~;ir-sc
coiii ;i relirodiiq;ii, i.x;it:i iIi.%:i
II
vvrs:io. I'or isso, suas citaçiies podem divergir substancialinente do texto da Vulgata.
l i i i i c;isos de discrepâncias mais acentuadas, oferecernos o original da Vulgata em
iioiii de rodapE, para coiiferência. A memória o trai às vezcs na ideniificação do
i.;il~íiuloe até mesmo do livro bíblico. Nesses casos oferecemos, quando possível, a
i<fcrCiicia comgida, em colchetes. Quando Lutero cita um versículo, oferecemos a
iili.rEiicia no corpo do texto. A indicação dos versículos foi acrescentada pelo cditor,
pois ina época ainda não se corhecizi a divisão em versículos. Quando Lutero n k ~
iiiilica ondc se encontra a passagem citada, a referência veni em colcheies. No caso
ciii qiii Lutero iar uma alusã« a detenniaida passagem bíblica, a referência encon-
1i;i-se, na medida do possível, em nota de rodapé. Quanto à nuincra~aodos salmos,
ii~~l:i~~iossempre pela numeração oferecida na versZo dc J«io F e ~ e i r ade Alrniida.
As rckrêricias de icxtos extraídos de livros apócrlfos sáo numeradas confonnç ;i
ii;iiIi1~30 da Vulgata ao pofluguês pelo Pe. Mattos Soares, 4. cd., São Paulo, Paulirias,
I'll'l. OS antrop6n1mos das figuras hisióriças são, em geral, grafadas de acordo com
1 :i.lii<k,Dicionirio da Língua Portuguesa, v. rV (Histórico), organizado por H. Maia
(1'1 >livciia. São Paulo, Lisa - Livros Irradiaiites, 1970.
< )s textos f ~ ~ r atradu~id«s
m da Edi@o de Weimzu; sigla WA, com uiii~a$Zo
~.\',~iiii;il de outras versoes a que tivemos acesso. A indicaçZo exata da fonte de cada
it.\io C ;iiioiada na primcira inota de rodapé de cada escrito. O primeiro número indica
, . < . I I I ~ M0 C volume, o segundo a página, o terceiro a linha. Eventuais algarismos
i~~iii.iiios iiidicam o tomo. (Ex.: WA 30/11,329,21ss. significa: E d i ç k ~de Weiniar, v.
{ l i . i ~ i i i i >II, p. 329, lirhas 21ss.). A sigla WA Br indica um vol~imcda edição de
< . I I ~ ; Iilc~ Lutero; a sigla WA DB indica um volume da cdiçio da Bíblia Alemã; a
:.i,,I:i WA Tr indica um volume das conversas à niesa.

' i t i i i o presente volume encerramos a publicaçáo de textos que abordam temas


<I;i i.iic:i çrisvi. Os escritos que comporZo o volurne 7 estzo voltados in<uspara dentro
C I O niiihito da Igreja. Ncles, Lutero irata dc estruiuras e eventos nos q~iaisse disen-
vitlvc c se maiiifestn publicamente a vida de fé dos cristáos e cristâs coino corpo de
('iisio: ;i própria congegação cristã, seu culto, seus olícios (Batismo e Ceia do
S<~iiliiii/liucarislia),seu canto c seu dinheiro, 0 ministério da pregação do Evangelho
i. :i ilisii-iiçZo de crislãs e cristãos nos aspectos fuiidamentais da fé. Os textos j
&foram
ii:i~lii/i~li~s. O voluinc encontra-se na fase da preparação.

J o a c h h H. Fischer
Presidente da Comissão
"Obras de Lulcro"
Ilson Kayscr
Editor-Geral
Fundamentaçáo
da Ética Política
Fundamentaçáo
da Ética Política

INTRODUÇAO AO ASSUNTO

Dois escrilos de Lutçro são fuiidamentais para que se possa compreender o todo
de suas colocações sobrc a ética política. O primeiro dclcs, iniciado cm Wittenberg
15 e concluído no Wartburgo, em 1521, é "O Magnificat, traduzido c explicado". O
scgundo, datado dc 1523, é "Da Autoridade Sccular, até que ponto se lhe deve
obediência". Tainbém nesses dois escritos podc-se notar que as iormulaçócsteológi-
cas de Liitero são decorrência de sua descobc~lada justificação por graça e f6.

20 1. Dui-ante o exílio no Wutburgo, Lutero dedicou-se H conclusão da intcrpreta-


ção do Magnificat, iniciado em Wittenbcrg, antes de sua convocaçZo para Worins'.
O cântico dc Mana serviu-lhe de consolo nos dias que precederam a Diela de Worms
e fòram-lhe conforto no Wartburgo. Importante era-lhe o testemunho a respeito da
liberdade da graça de Deus qui não observara os méritos, mas "a humildade de sua
as serva". Maria C, então, pai-a Lutero modelo de existência cristã no sentido da
justifi~içáosomente pela E, independcnlc das obras da Ici (Rm 3.24). Por isso o
escrito vai vefletir aspectos centrais da teologia e da &ica do reformador, entre os
quais devem ser mencionados seus conceitos do saçcrdócio de todos os crentes, seu
coiiccito de vocayáo/profissão e seu protesto contra o uso dos santos e das relíquias
30 na exploraqâo do povo, o que para ele é um abuso. Por ouuo lado, o escrito
redescobre uma imagem profundainente evangElica de Maria.
1 . I. Miuia é expressio de vida a partir do Espírito Santo. Em suas palavras, tem
o Espírito Santo como mestre. Dele aprende que Deus exalta os humildes e rebaixa
I os poderosos, abatc os presunçosos c ergue os infelizes. Ele é quem cria do nada,
3s valoriza os que nada são, olhando para hliixo, ao invés de olhar para cima. Deus age
contra todos os princípios humanos. E nisso revela sua liberdade para ser misericor-
dioso. Ncssc sentido, Mxia passa a ser cxemplo da gratuidade do agir de Deus.
1.2. Depois, Maria E, para Lotero, exemplo da graça de Deus. Por isso ele
apresenta a mãe dc Deus como siinples empi-egada, para cuja insigiiificância Deus
.!i, olhou. Ela nZo é o que é por mérito próprio, mas ein virtude da condescendência de
Deus. Em sua maneira de ser, desafia a todos a porem sua coiiiiança na graça de
Deus. E exemplo de fé e de cqperançn em Deus.
1.3. Em terceiro lugar, o canto de Maria é exemplo do agir de Deus na História.

I I ('I. I>isciiiso</e1,utero crn Wonns, com a rcspeçiiva Introduçiri, neste volirmc p. 123-126.
Iiiiiil;iiiiçnoqúo dit Etica P~li1ir.a
I:III hiiii exposição acercli do Deus que de~ilibade seus triinos os poderosos e exalt;~
<,s Iiiiiiiildes quc nada sáo, Liitero fez desse csciit« iiiria das mais importantes fontes
II;II:I SIIZLcoinpreensão de História. Por outro Indo. a cxposiçZo iomsmite o clima do
i i t ~ r i i i ~ ~ iIiistiinco.
iti~ Ele se consola nas promessas do cãntico da mãe de Deus: "De
i!:ii;il inodo. nio deves somente pensar e falar da hiiiiiilhaçio, tens que entrar nela, s
<,si:iriiietidc nela, nZo podes contar com a ajuda de iiinguém, para que Deus possa
:i]:ir sozinlio".
Segundo Lutero, Deus age de duas maneiras na Histón;~:através das criaturas,
<Iriiii~cloque cada um possa ver onde há poder e onde há fraqueza, e de modo que
:.r 11cnx: Dciis iijuda ao mais forte. Há também um agir histí>ric« de Deus, cujo i n
itisliiiiiiciit~~ nZo nos é perceptível aos olhos: "por meio de seu braço". Aqui Deus
: i ~ ~ , citi i. iiculti~.Petmite que os maus se apresentem conio categoria grande e pode-
i<i\:i. "Subtrai delrs siia forçii e permite que se inflem apeiins com sua própria força.
I i ~ i si~ii~le ei1li.a a h q n liumana, a força de Deus se retira. Qiituido a bolha está bem
i t i i I i : i i 1 ; i c iodos pciistiin que triunfaram e venceram, e qutuido twihérii eles próprios is
~.,.i:~c) ~i:gurosde o tereiii Icvado a cabo. Dcus fura a bolha e tiido e.st:i acabado."
I\SII riao qucr dizcr quc Dcus clifiiiiiii poder para sempre, nem que destrói uriili
i , . / I I C W [<'das 11s triinos dos puderosos: "Nota. porini. que ela náo diz que ele iri
~lc.:.iiiiiios tronos, mas que dertuba deles os poderosos. Também não diz que deixa
<,,.Iiiiiiiil~lcslia humildade, mas que os exalta, pois enquanto a terra existir tem que 211
I i . i i , r ~ :iiiioi-idade. governo, poder e tronos". A História consiste de uma constante
I I < ~ : I <Ir poilcr, provocada pelo abuso dos que o detêm, inas também de uma
<<~ii\i:iiii<: ciiiTeção de iuino, fiuto da intevençáo de Deus.
1 :I. t,:I além disso, um segundo componente no desenrolar da História. Deus
"i:iiiiI~i:iiiiião destrói a razão, a sabedoria e o direito, pois, para que o mundo possa 2s
siilrsistir. h i qiie haver raáci, sabedoria e direitu". Por isso, em outra passagem do
A l ; i ~ i ~ i i l i i i Lutri-o ~r, acrescenta i teologia da História um;! 'boa instruçL1 no direito'.
Aclvrrci~:iiiic ;i piissibilidade de cada um fazcr o que qucr. caso estiver com a razáo,
11. I'", uii relnqáo ;io papa, mesmo qye este, desde miiitr~,i150 ouça ncin mostre
iIi.,;i:i<~ rlc iiiud;ii- srii coinp«rtaincnto. E ncccsshrio quc se distiiiga eiitre a confissão 30
, l i , ilirciiri e suti coiiseciir;ii). Sempre podemos reivindicar iiossos direitos, jamais,
l x w i ' a a ~ qticrcr impi-los a qualqucr cusio. Especialmente os goveniaiites devem ter
i..\ii r i ~ c<i~ti;i.
i qua~idoquerem ensanguerit;ir c1 iiiiitido crn virtudc de uma causa justa.
I:.<> i . i i ~ i l r : i ~ iv;ilc para a política de proteç5i1 :I scus scditos. Não podem agir de tal
t i i . i i i t i ~ . i (1111'. ;io Icvantureni a colher, quebrem o prato. Exemplo de bom govemante, 35
1 t . i t . i I i i i c - i o . C ( i rei Davi2, que soube fazcr visias prossas quando não conseguia
* .i..iil..ii . . < . t i i ~>~i.iiiilic;ir outros. N;i interpretayáu do ~Magniiicat,Lutero apresenta as
l i i i 1 i . i . l i ~ ~ . , . i i . i , . 1,:tr:t sii:r concepçáo de História, diirito e autoridade que vamos
s ~ 8 i i i i . i t ~l~~i.illi.icl;i ii<,scscritos que se seguirão nos aios posteriores ;i 1521.
'8 I Iiii.~liii,~~i~,.. (Ir liiiidainental unportância que se reconheçti que Lutero 40
q - ~ , ( l ti, t , ~ ..ii.i i ~ iiii,~i~ii~~i:i~;:ii~ i l r i Miig~rificataos govemantrs. Quando da excomunhão
$ 1 , I iii<.j~>. $ 8 , l i i , l ~ ~ , I. c l . i c t 1 : i t i I r i icii d;i Saxônia3, sohrinho do príncipe-leitor, colocou-se
à disposiçáo do excoiiiuiig:ido. O agnldecimenio de Lutero ao duque é a interpretri-
ção do Magniticat, coiifoniie podemos constatar no prefácio. Nele verificamos igual-
mente que, com o M;i$rliticiit, Lutero pretende orientar, admoestx e aiertar o duque
e a todos os govemantes, pois Deu\ quer incutir nas autoridades teiiior a ele, para
que náo confiem ern si, riias nele! Com isso Lutero faz crítica hn<iariiental ao uso
do poder. Ele não pode ter finalidade em si mesmo, senio será bestial. O poder só
existe como serviço em favor das pessoas que este« coniiadas ao que exerce poder.
Veja-se que sua exegese dos versos que falam sobre a derrubada dos poderosos é dcr
veres superior ao espaço dado a exaltação dos humildes.

2. Antes de ser recolhido iio Wartburgo, Lutero já fizera afirmações a respeito


do poder político. Em sua opuuZo. o poder político não pode ser deduzido do
Evangelho e é difercnte dele. Mesino ~issim,o Evangelho admite o poder político e
o c o n h a . Após o retomo di1 W;abiirgo, poder-se-ia ter esperado rliie Liitcro
passasse a atacar o poder polílico, eiii r'uáo das experiências feitas com Carlos V.
Tal, pi&m, não aconteceu. Ein diversas pregaqks acentuou ii necessidade da espada
temporal para repelir o ind. Fez, iio entanto, uma restriçki iiiiiiro clara: a espada náo
pode ser usada erii qiiest0cs de Ié! Por isso é necessário que haja dois regimentos
[Reginientcl, duas foniias iie governo: o regimento [Regimenr] da Palavra para os
piedosos, e a espada para os inaus. Os pccados ocultos são cobertos corn rnisericór-
dia cristã, os pecados públicos srío castigados pela espada secular. Aos poucos, pois,
vai-se desenvolvendo a distinção entre os dois regimentos ein Lutero? Aos poucos
vai-se delineando tarnMm sua concepção de que o cristão desiste do uso do poder
em seu proveito, mas pode usar o podcr poiítico.
Em 1522, Lutero pregou sob= a F'rimeira Epístola de Pedro, chegando também
a I Pe 2.13-175. No sermão teve que falar a rcspeito da obediência à autoridade.
Afirma que tal obediência é exigência de Deus, pois quer que os maus sejam
castigados e os bons protegidos. Coiiio nem todas as pessoas são crentes, é iiecessá-
rio que haja autoridade para prcservar paz e vida. Os cristãos, porém, denionstram
ser cidadãos piedosos e obedientes. e. iiiesmo que sejam pacifistas e estejam ciispos-
tos a sofrer ao invés de revidar, seu p-oçedunento não elimina o poder da espada. A
espada é o oiiiro regimento de Deus que controla maus. Por amor ao próxiiiio, o
cristão tambérii aceita ser govemante e assumir um poder, do qii;il iião necessita.
Dessa riiizieii.a, Lutero cliega a fulrir de dois regimentos para os crentes e para os
descrentes, regidos pela Pdavra ou pela espada. Esses dois reguiieiitos não lutam
entre si, mas a espada 1130 pode intcrvir no ministério de Cristo. A liherdade cristã
permite que o cristão se siibnieta livremente à determinação do Estado. Tal postura
não deve ser entendida como servilismo, pois o cristão somentc obedece às determi-

4 Cf. WA 10jlU,175,24-32; 240,lO-16; 303,ll-23; WA 12,600.33-601,2. A distinrdo intrc os


dois regimciitos [Regimeiite]tem uma largauadição que remonta a Agostinho; Cf DLlCHROW.
I llirdi. Chisfenheil u d i~li-livrfi~~/u-i?,irrnp
Stuttgart, Emst Klen Verlag, 1970; r<:,<iirni<l;,
liiiciiç im: id. 0,s doic Rcinor; livo c Abuso dc um Concciio Eológico Liiii?;iiii,. Sai>
I .ri,lx~lilo,
Sini><lal,1087.
5 ('1: liA 12.327375.
Fiind;unentayZ<ida Ética Política -- ~~ ~.
nações que não atingem a consciêticii~".('i~so:I iii~l~~ridadc atingir a cotisciêilcia, o
csistão Ilic deve ncgar obcdiência. As ddcr~iiiii;i~<)cs Iiiiiiiiiiias não podem intervir nas
determiriaçõcs divinas.
Em duas pregaçóes, de 24 e 25 de outuhiri clc 1511. realizadas em Weimar, na
presença do duque João, Lutero partiu de Mt 1.2 c Ib/ ili]:irss<^,esa respeito do reino 5
cspuitual e do reino temporal de Cristo7. Desde ciiiliii. I.uIero usou a« lado da
expressão "dois regimentos" tamlXm a exprcssZo "ilois rcirios" ern sua ética
política. Imp«rtantc era-lhe, então, a diinenszo (li] iiiiiiiicii~ilii iciiio de Deus. Eni sua
leitura da Bfhlia, Lutero v6 que tio povo de Israel existiu o rcitro ternpornl. Jesus não
o eliminou, mas confioli-o a i ~ sgovcmluites temportiis. A Ici (111 rcitio de Cristo deve iii
ser escrita iios corações pelo Espíriti~Saitri. Isso evidciicia quc ;is leis plpais S ~ O
inconcili;iveis Ç<~IIIo reino de Deus. As boas obras do arrior ai, pi(,xirrio s<í podem
vir de Crista O íinico conteúdo da pregação C o reino de Cristo e o Evaiigelho. No
regimento de Cristo, a autoridade secular é desriecissána. -Já t i a segunda pregação,
Lutero busca esclarecer a rcal funçào da aut~~ridade secular. Em sua opiiiião, a miUor is
parte da huiiitiiiidadc encotiira-se sob o doinínio/rcgiment« do diaho. Por isso é
necessário que h;ij;i autoridade. Lutero iião diz como deve ser o governo da autori-
dade; isso é tarefa da fiirão. A ú ~ c acoisa que o preocupa é coiiio o anior ao
próximo pode ser exercitado no iiiinistéiio político. Lutem acentua que sacerdotes
não podeiii ~isaramas, mas devein estar prepaad«s para sofrer em virtude de sua i n
pregação. Segundo o Novo Testamçnto, todas as pessoas, tarnbém o clero, estão
sujeitas i autoridade secular. O bom prúicipc exercc seu ministério como serviço ao
próximo. Quando governa, não pode confiar cegamente em seus conselheiros, inas
confia desconfiarido. Necessita de visZo, justiça e humilde coiiliaiiça em Deus.
Atendendo pedido do duque .kfio, os pensamentos expressos nesses dois ser- 25
nlócs foram ampliados por Lutero em deiemhro de 1522, resultando tio tratado "Da
Autoridade Seculai., até que ponto sc lhe devi obediência". O livro parte de uma
quesláo que não fora soluciona(la pela teologia escolástica: Como se pode apresentar
a proposta cristá da rinúiicia i violêiicia e, ao mesmo tempo, exercer o ministério
político'? Al6in disso, tinha como contexto a proihiçio da comerciUlizaçLi da tradu- 30
yk1 do Novo Testamento, feita por ele mesmo, em Nunlherg, no Ducado da Saxônia
e iia Marca Brandciihurgo: Até onde vai o poder da autoridade? AI6 onde o súdito
lhe deve obediência'! Lutero fuiidatnctita o poder político e descrevi a posição do
cristão etn relação a ele. Para tanto situa os seres humanos no reino de Cristo e no
reino do mundo. Seu pressuposto é o que, rnais tarde, será designado de "doutrina ?i
dos dois reinos". Os cristãos periencem ao reino de Cristo, que não é deste mundo.
Eles não necessilam da esPidã temporal ncm de leis, pois sã;> guiados pelo Espírito
Santo. Suas acões sLio dctirminadas oelo ainor e nela disoosicão
leis divinas destinam-se aos inj~istosc têm a finalidade de levar
. , ao sofrimento. As
conhecimento do
pecado. A maior parte da huintinidadc pertence ao reiiici do mundo, no qual são ro
forçados a uma convivência pacífica por meio da espada. Assim, segundo Lutero,
cxistem dois regimentos ou maiiciriis de Deus governar: o espiritual e o tçmporal.
Através do espiritual, Deus toma tis pessoas justas; através do temporal, Dciih
mantéin os maus sob controle e preseiva ;i paz. Caso o mundo for governado aj>cii;i\
com o Evangelho, teremos o caos. Caso o mundo for governado apenas com :i
espada, jarnais teremos a verdadeira justiça. Por aiuszi do amor ao próximo, <>i
5 cristZos particip;uii taiito ativa qu;uiio p;issivamentc do reguiiento temporal. E l c ~
intervêm em favor dn paz e pdnicipam. iiicliisive, do podcr srciil;~..Lutero faz tiiilo
um edorqo para fugir de uiiin dupl:i nioral, coino se para os cristáos o Seriiiá~i(I<I
Monte só viilcse para a vida privada c náo para o cxerçício público do poder polític.ii.
A seguiida paiie do texto dcscreve os limiles da ;iutondadc, para que iiio
li1 intervenha no reino de Cristo. As leis içinporais se reslriiigeiii ao corpo e aos bciis.
náo podendo, de modo algum, atingir as alinas. Essas estão sujeitas apenas 3 palavr;i
de Deus, que ai conduz c nrienta. A nutoridadc náo tem podcr sobre as almas. A Ii.
é quesláo de coiisciência e nL> pode ser forçlrda. Em vistude da situação rcin;iiiic,
ein que senhoscs eclesiásticos intcrvêni eiii ;issuritos civis e etii qiie senhores tenipo
15 iiiis intewêin cni ;issiiiitos espirituais, Liitcir~exige c l a r ~disfint;lo, iião separa@>,
entrc os rsgiriieiilos. Em conscclLi?ricia, nZo vai admitir qiie a autoridade civil resolv;~
questões dc Iieresia. Heresia é da cninpetêiicia de bispos e só pode ser enfreiit:i<l;i
com a palnviii de Deus, iamais coiii a espada. Aqui Lutero roinpe com o dirciio
medieval e propala libcrdade de consciCiicia.
211 No final do escrito encoritrarn-se iiistruçoes para o governante que tanihCiii
queira scr crist.50. Lutero instrui-« para que núo se senha a unia cxecução ngidn (I;ii
leis. Deve fizer iiso de sua razáo e verific'ar a silii;i~âo,antes de aplicar a lei. kiss:~
snhedona para r) Soveriio deve ser pcdid~i;r Deus, em oi-ac;Zo. Piessiiposto para q u i ~ i i
iiucr ser roveinaritr: cri,stZo é :i concc~cào
L . , do Eoverno como seivico aos súdito\. 'li11
,. serviço ICYII seu exemplo cin Ci-isto. Por isso o excrcíçio ds p d e r goveriiameiir;d o i ; i
lig;i(lii ;i scrviy<ie diíiculdades, nada tendo a ver com pri\,ilegios e prazeres piiiic.i
I ~ ~ w c oDeve, s. :ilCin disso, precaver-sc ante os conselhos dos conselhein>s g«vciii:i
iiicntais. Há, tainbem, primeiras instruções coni respeito à guerra! Guerr;i si;
possível como .perna defensiva. O soldado crisEo está coinproinetido coiii rss:~
$ 8 gucrr;i; no entanto. quando souber que a guelra 6 injusta, deve ncgar obedirrici;~.I
scus superiores.
I
. .Ein razáo dc scii cnnteúflo, "Da Aiitoi-idadeSecular" é esciito fundameiikil I>:II:I
;i C l l C 3 polílicn dc Lutero. E o inienlo dc distinguir e dc n~l;rcionrircoii'2iarnciiic. I )
r c . i i i ~ i de Deus s o reino do iniirido 3 partir de sua teologia. Na artc de distiiigiiii r
:. ii.l:icioii;~rccri~,~intra-se a impor2ânci:i dessa doutrina. As diticuldades de seu uso r
:iI~iisoçiirgirani onde foi interpretada como separagiio dos dois reinos, dando :iutiiiii~
iiii:i :i,, ~~olítico, subtraindo-o ao governo de Deus (não da Igreja!). Sua iinpori2iici:i
icsiili. i i i i kito dc afirmar que o político Ijz paiie deste inundo e de haver acciitii;iiIi,
~ ~ coiisciência. Para o próprio Lutcro, o escrito significa nicdiil;~c~riii;I
:i 1 i l i i ~ i i I ; i i lde

1
I
C I I Is<.i:i : I ~ iiicili<loiin futuroy.
Fundamen?dçdn da Ética Política

O Magnificatl
traduzido e explicado
pelo Dr. Martinho Lutero, agostiniano

Lutero ocupou-se, iiiicialmente. com a intespretaçio do Magnifícâtno período is


de novembro de 1520 a março de 1521. A inipressão foi iniciada em meados de
março, no entarito, a viagem para a Dieta de Wosms intenornpeu t a l « ;i continuaçâo
d<i nimuscrito quanto a sua iinpressZo. A 31 de março, Lutero enviou as 1 2 s
priiieiras piiginas impressas e a dedicatbria, escrita cm 10 de março, ao duque JoZo
Fscdenco da Saxônia. Por volta de 20 de maio ali. 10 de junho, o rcformailor 211
conseguiu redigir o restante do texto. A iinpress50, no cntanto, s6 foi coiicluída ein
princípios de setembro. Eiii 1538, o texto foi ti-iduzido p;irii o inglês. A primeira
rdj~ãoem h g u a portuguesa diita de 1968.

Martin N. Dreher a

311

Jesus
Ao Serenissimo e Ilustríssimo Príncipe e Senhor, Senhor João Frederiço,
I)iiquz du Saxonia, Landgrave da Turíngia e Margrave dc Meissen, mcu
( 'lciiientc Seiihor e Pdtrono, 35

Ivosso] submisso capeláo


D. Mart. Lutero
Screníssimo e nustnssimo Príncipe, Clemente Senhor. Vossa Alteza Prin- a
cipcsca pode contar sempre com minhas humildes orações e sen~iços.
4 Clemente Senhor, reccbi submissamente a mensagem de Vossa Alteza
Principesca, quc mc veio às mãos recentemente2e com alegria me inteirei de
todo seu consolador conteúdo. Há tempo prometi e estou devendo à Vossa
Alteza Principesca uma explicação do Migmi5cat7.No entanto, os desastro-
s sos procedimentos de muitos advcrsirios sempre de novo me impediram [de
realirar] essa tarefa. Por isso me propus a responder igualmente à missiva de
Vossa Altcza Principesca com a remessa do presente livrinho. Pensei que
demorar mais seria uma vergonha e um descarainento, e que não haveria
como justificar novas desculpas, para não impedir que o jovial espírito de
10 Vossa Altera Principesca, inclinado ao amor pcla Escritura Divina, fosse
ainda mais inflamado e fortalecido nela por mais exercícios. Para isso desejo
a Vossa Altera Principesca a graça e a ajuda divina.
Isso é aliamcntc necessário porque da pessoa de tão importante príncipe
depende o bem-estar de muita gcilte, quando ele, subtraído a si mesmo, é
15 govemado pela graça de Deus; e, por outro lado, [dele depende] a desgraça
de muitos, quando ele lica rclcgado a si mesmo e não é governado pcla
graça. Pois, embora os corações de todas as pcssoris estejam na mão de Deus,
não é sem razão que se afirma exclusivamente a respeito dos príncipes: "O
coração do rei está nas mãos de Dcus; ele pode conduzi-lo para onde quer"
zn [Pv 21.11. Com isso Deus quer inculcar seu temor nos grandes senhores, para
que aprendam que não podem propor-se nada senão o que Deus Ihes inspira
especialmente. O agir de outras pessoas acarreta benefício ou prejuí~oso-
mente a elas mesinas ou a um círculo restrito de pcssoas. No entanto,
somente senhores foram instituídos para serem prejudiciais ou úteis para
2s outras pessoas, e tanto mais quanto maior seu domínio. Por essa razão, a
Escritura denomina príncipes piedosos e tementes a Deus de anjos de Deus,
e até mesmo dc deuses. Por outro lado, chama os príncipes perniciosos dc
leões, ladr0es e animais ferozes4, que o próprio Deus denomina de suas
quatro pragas ao enumerar a peste, carestia, guerra c animais ferozes.
Visto que o coração humano, camc e sangue por natureza, já é, por si
inesmo, iacilmente atrcvido, quanto mais quando lhe são concedidos poder,
hcns e honra, isso se constitui ein poderoso fator que o impele ainda mais :I
Icineridade e à falsa segurança, esquecendo-se de Dcus c desprezando scus

? I ) i . l w > i ~ dç publicada a bula de exçomunháo coi~traLutcro, o duque Joãri Frderic~i<LI


S;ixiicii:i ciiipcnhou-sc a favor de Lutco junto a seu tio, o príncipe-eleitor Frederiç<i.L.iiicni
iicc1*.1;i iciiia cúpia dessa çomspondênçia. Em 20 dc dereinbrr>de 1520 recebeu igu;ilriicrilc
:i ri'\11,1sl;i Iavririvcl do prínçip-eleilor.
I Rlk,!:,iilriiil C a pirincira pnlavra do câmtiço de Maria nt vcriio latina: Miig,iilic;ri ;iiii,ii:a iiii.:i
<li>iii<iii,tii = "Minha diua cn~~randççe o Senhor". Por isso. na liiira1iii;i c ~ i t i~iiilsic;i.< i
I:iiiirl:uiicntaçãu J;i Éiica I'ulíticn
~

súditos. E, tende espaço para Lizei- 17 iiinl iiiipiiiieiiiente, prossegue neste


sciitido e vira fera, seguindo apenas a scos pi<ípi-i«',desejos. De notiie é um
sciihor, mas por seu procedimento é uiii iiioiislrii. <I<, snne que o sáhiv Bias
icin ra~$<i ao dizer': "A~fagistsalusi~óriinosicii<lil~'- "O exercício do poder
icvela que tipo dc pessoa alguém é". Pois os sútlit<isiiio têin cora~etnde sc 5

iii;iiiiicstar por medo da autoridade. Por isso, 6 prrciri) que todos os superio-
res tciiiam :i Deus mais do que outras pessoas; visiii qiic nZo precisarii temer
Iioiriens, dcveni rcconhecer bem a ele e suas obras c. vivcr solícitos. como
<li/, S. Paulo eiii Rm 12.8: "Quem govcnin seja solíciii~".
Ora; ri20 ine o c o i ~ enada nas Escrituras que scrvisse inelhoi- para estc 1~~

t.:iso do que estc santo cântico da iiiiiito bendita iiiiic dc Dcus, que. sem
iliivida, todos os quc quiserem govcniai- bem e scr btiris seiiliorcs deveiii
:il)rcnder beiii e guardar lia iiieriiória. Pois nela. por certo, canta. de formit
liiiilíssima, o iemoi- dc Deus. que Senlior ele é, esp~cialmciiteq u i s siias
itli~isii:is classes supei-iorcs e hfcnoi-er. Que ouiro escute sua ;iinada que I.

i;iiitn lima canção mu11d;iiia. Um príncipe e senhor, porém, dá ouvidos a esta


i-:~sl;ivirgem que Ihc canta uin câritico espiritual, puro. salutar. TainhCrii não
I < . I I I iiiida de impr0prio o costume dc se cantar este ciiitico diariainciite. cin
i'~l;isas igrqias, tia ora@<' vespe~íiiiii. com iima nirlodia csperialineiite
.iol~.~lii;id:i. i diferença de outros Iiinos". :i>

Qiieka ess3 doce in3c de Deus coiiq~iislar-mco espírito capar. dr inter-


l1ii'i:ir dc foma proveitosa e prollinda esse cântico, para que dele Vossa
/\licz;i Pi-incipesca e todos nós possamos tirar uma coinprccnsZo pr.ovcitosa
i. i i i i i ~ ivida louvdvel, c p:u-a quc assún. tia vida eteniii, possanios Ioiivar e

~:itit:ircsse "bfa~~iifical"eicino. Que Deus nos ajucltr. h i é m . i<


(:oiii isso mc reconicntlo a Vossa Principesca Alteza, pedii<lo siibmissu-
iii~~iitc que acciie com benevolência nieu humilde tsabalho.
Wittenberg, 10 dc março de 1521.

I . Minlia alma enaltecc a Deus, o Seiihor;


.'. c ineu espírito se alegra riii Deus, meu S;ilvador.

' 111.1\. iiiii iIi>s qetr síbios <Ia íirécia ilo ser. V1 a.C., fit"so1o ç advogudo. Muitas de suas
iii:i\iiii;!\ Ii~iarnir;msmiliil;is i posiçiida<lepor Plulaco, DiGgcnzs, Laércio c oi~tros.Elas
l # i x ; i i i i ri>lçt:$daspor MLJLL4CI1, Fra~mi'Bla Philosophomi Gl;iecom,n, 1860.
(8 ( I M~,griilic:it- o CAnticu dc Maia - 6 cmtado rzgulame~ircrodos os <lias na ar:i$ão
<<-y~<'riici;i. rin toiii ai:iis d t o c em cui~ipa~rii tiiai.; lentc do quc o i salmos prcccdaiiçs.
I )iii:iiiic < i M!p!~iticala congesay3o fica dc pé.
/ l i i i s i i i i vcrs:i« :ileiná. Luteru baseou-sç no texto da LO/~,I:I. 111:tsc111 I l : t c l u j i i c i livre ç
v.iii;iil;!.;i i ; i I poiiio quç, ;ar> rcpriir o tesii- r i i , ilecorrci do ir:~lr:~lh<i.i, iiicsiiii, v i . i \ i i i i l i > pode
:q~,$rccrr cm vcrsic n~c~liIic:!~ki. Elc pr<\iric CII:~IIM :i :1te11y50 lptct < ) l:tl<>,
3. Pois contemplou a mim, sua humilde serva,
razão por que me diráo hem-aventurada filhos c fillios dos filhos para
scmprc.
I . Pois aquele qcic faz todas as cois~is.
fez grandes coisas eiii iiiim, e santo é seu nome.
5. E sua misericórdia vai de gerago erii geração
em todos que o temcnl.
6. Agc poderosamente coiii seu brac;o
e destrhi a todos qiie sâo orgulhosos rias intençóes de seus corações.
IO 7. Destitui os grandes seiilioi-e.s dc seu $ovcnio,
e eualci os que são iiiilos c nada.
X. Sacia os fiiinintos corii toda soite de beiis,
e deixa vazios os ricos.
4. Açolhc scu povo Israel, que lhe serve,
li depois de se haver Icmhrado de sua miscricórdia,
10. conio pronictcu a nossos p;iis;
Ahralio e seus de~criiclentesem eicmidadc.

20 Prefácio e Iiitroduçáo
Para entendermos este salto cântico dc l o ~ ~ v ocm r SLIH ordem, deve-sc
coiisidcrrir qiic a altamente louvada vii-gern Maiia fala de exper-iêiicia pr6pri;i.
na qutil ela foi iluminad;~e instruída pelo Espúito Santo. Pois iiuiguim é
capaz dc enicndcr corrctariieiite a Deus ou o palavra de Deus o não ser que
ii (I tenha do Espírito Santo; todavia, ninguém 0 pode ter do Espírito Saiito se
11ao o cxpcriiiicntai-, seritir ou perceber. Nessa experiênciii o Espírito Saiito
ensina corno eiii sua própria escola; fora dela nada se ensina além de
palavras que buscain a iiparência e conversa vazia. E cstc o caso da santa
virgem. Dcpois dc ter cxpeririientado em sua própria pessoa que Deus realiza
io nela coisas cão grandes, apesar de ter sido nada, insignificante, pobre e
desprezada, o Espírito Saito lhe ensina este rico conhecimento e sabedoria:
que Deus 2 um Senhor que iiâo faz outra coisa do que exaltar o que é
hunlildc, de humilhar o que é elevado, cm suma. dc qucbrar o qiic está feito
e de refazer o que está tluebrado.
Pois, cia inesma lor~iiacomo, no priricipio dc todas as criaturas, criou o
mundo do n:ida (ein razão do que se chama Criador Todo-Poderoso), assim
contiriua imuiável nessa iiianeira e agir: ai6 o fim do mundo todas as suas
ohras consistem em fazer idgo precioso, h«rir«so, bem-aventui-ido e vivo do
q ~ i ciiada é, do que. é insignificante, dcsprczado, miserável. morto; por «utli)
I I;iili>. wdu7.11.a niida, i< desprezado, iniserfivel e moribundo tiido o cliie é ;ilgo.
~ I I CC prcci«so, honroso. bcm-avcniurado, vivo. Nenhuma cri:iiura podc iigir
iIi.ss:i iii:iricirii: cla nâo 6 cnli:iL (Ic criar iilgo nada. 1;st;i c! :I riiz,io por cliiv
da Ética Políiiça
I~ii~i~laiiientaçáo
os ollios de Deus olham somente para a profundeza, jamais para o alto, como
diz Daniel 3.5S8: "Estás seniado acima dos querubins e olhas para a profun-
(Icza do abismo". E S1 138.6: "Deus é o mais excelso e olha para os
Iirimildes, e aos soberbos conhece de longe"; e ainda S1 113.5s.: "Onde há
u i i i I>cus como o nosso? seu trono está nas alturas, no entanto, atenta para 5

11shumildes no céu e na terra". Pois, visto que ele é o mais elevado e que
ii;i<la existe acima dele, ele náo pode olhar para além de si; também não pode
olhar para os lados, porque ninguém é semelhante a ele. Por isso há que
dirigir seu olhar nccessariameiite para si mesmo e para baixo; quanto mais
Ixiixo alguém está, tanto melhor ele o enxerga. IKI

Os olhos do mundo, porém, e os dos homens fazem o contrário: olham


soiiiente para cima c querem erguer-se a todo custo, como se lê em Pv 30.13:
" I I á rim povo cujos olhos estão dirigidos para o alto, e suas sobrancelhas
i,siZo voltadas para cima". Esta é nossa experiência diária: todos estão em
Iiiiscii de coisas acima deles, de honra, poder, riqueza, conhechentos, bcm- 15

i,sinr c tudo que é grande e elevado. E onde existem pessoas assim, todos se
:ij:rcgain a elas, a elas se acorre, a elas serve-se com prazer; todos querem
rsi;ir ali e ter paste em sua posição elevada. Não é sem razão que nas
I<sci-iiiiraspoucos reis e príncipes são descritos como honestos. Por outro
I:i(Io, iiinguém quer olhar para baixo, onde existe pobreza, ignomínia, misé- zl~
ii:i, desgraça e angústia; disso todo o mundo desvia o olhar. E onde existem
~:iispcssoas, todos se afastam, aí a gente as evita, repudia, abandona, e
iiiiiguOn se lembra de lhes ajudar, de as socorrer e trabalhar para que
i:iiiili6tn sejam algo. Dcsse modo, sáo obrigadas a permanecer na profundeza
c c111sua condição de humildade e desprezo. Aí não existe criador entre os u
Iic)iiiens que fosse capaz de fazer algo do nada, como S. Paulo ensina em
I<iii 12.16: "Prezados irmãos, não atenteis para as coisas elevadas, mas
siilicla~izai-voscom as humildes".
Por isso, essa maneira dc ver as coisas, de olhar para a profundeza, para
:I iiiisEria e desgraça, é exclusiva de Deus; ele está junto a todos que se 30

~.iicoiiirainna profundeza, como diz Pedro: "Resiste aos soberbos, aos hu-
iiiil~lcscoiicede sua gra~a"[l Pe 5.51. Dessa experiência básica flui agora o
. t i i i < i i ;i Ikus e seu louvor. Jamais alguém pode louvar a Deus sem que antes
o ;iiiic: (Iii mesma forma, ninguém pode amar a Deus se não conhece a Deus
iiiinlo in:iis amável e perfeito. E não o podemos conhecer desta forma 35

S /\r ii.iilii~iicsgrega e siriaca intcrcalan, dcpois de Dn 3.23, dois tcxtos: O Cântico de Ararias
(quc comspmde aos vv. 24-50 na Vulgata) e o Cântico dos três jovens (w.
ii:i l i i i ~ ~ ; i l l i ; i
'>I ')O Vulgata). A Biblia hebraica não conlCrn csses dois cânticos. Jç16nimo climia a
ii;~
:iii.iiq:ii> p;ira CSSI fato em sua traduç" da Bíblia para o latiin (cf Vulgata, ohsewaçócs
< I i ~ ~ilo s 23). Lulero cita coniomc a Vuigaia, c o versíciilo correspr>iirlc:I Dii 3.55 ii;i
> iv.
Vii1p~ii;i. CI. tli. Bíhlia cic JeeruiJlém.
senão por suas obras que são reveladas em nós c que sentimos e experimen-
tamos; quando, porém, experimentamos que ele é um Deus que olha para a
profundeza e que socorre somente os pobres, desprezados, miseráveis, des-
graçados, abandonados, e os que são absolutamente nada, ele se toma que-
s rido de todo o coração, o coração transborda de alegria, pula c salta por causa
da grande bem-qucrência que recebeu em Dcus. E aí então está presente o
Espíiito Santo; pois ele lios ensinou, num instante, este conhecimento e gozo
transbordante.
Por isso Deus impôs a todos 116s a morte e deu a seus lilhos e cristaos
io mais queridos a cruz de Cristo com inúmeros sofrimentos c necessidades,
sim, às vezes, inclusive, os deixa cair cin pecado, para que tenha que olhar
para bem fundo, possa ajudar a muitos, realizar muitas obras, revelar-se
como verdadeiro Criador e, com isso, tornar-se conhecido, amável e digno
de louvor. Infelizmente, porém, o mundo lhe resiste incessantemente nisto
1s com seus olhos que sempre estão voltados para o alto, e o atrapalha em seu
ver, obrar, socorrer, impedindo que seja conhecido, ainado e louvado, e o
priva de toda essa honra e, além disso, priva a si mesmo de sua alegria, gozo
e bem-aventurança. Assim também lançou seu próprio unigênito e mais
querido Filho Cristo para a profundeza de toda a desgraça e nele revelou, de
zo modo especialmente claro, o que pretende com tudo isso, com seu ver, obrar
e socorrer, qual é sua maneira de ser, seu conselho e vontade. Por isso
também Cristo, por ter experimeiltado isso cabalmciite, permanece pleno de
conhecimento, amor e louvor de Deus. Como diz o SI 21.6: "Tu o alegraste
com pura alcgria em tua presença", isso é, ele tc vê e te conhece. Também
27 o SI 44.[X?] diz que todos os santos não farão outra coisa do que louvar a
Dcus no céu, por ter olhado para eles em sua profunda humilhação e porque
ali mesmo se fez conhecido deles e se revelou amável e digno de louvor.
O mesmo faz aqui a doce mãe de Cristo, ensinando-nos, pelo exeinplo
de sua própria experi6ncia e por meio de palavras, como se deve conhecer,
amar e louvar a Deus. Pois aqui ela se gloria e louva a Deus com u n espírito
saltando de alegria, dizendo que cle havia posto o olhar ncla, sendo ela
humilde e nada; por isso deve-se pressupor que tivera pais pobres, despreza-
dos e humildes. E a fim de ilustrar isso para as pessoas simples: sem dúvida,
;is filhas dos sumos sacerdotes e conselheiros de Jerusalém eram mais ricas,
hclns, jovens e cultas, gozando da mais honrosa reputação aos olhos de todo
o p;iís, como hoje as T i a s dos reis, príncipes e pessoas abastadas; o mesnio
ocorria também em muitas outns cidades. Nem em Nazarí., sua cidade nai;il.
cl:~6 lilha dos altos dignalários, mas filha de um simples e pobre cidadão,
iiiio çozaiido de qualquer consideração ou apreço especial. Entre os vizinhos
I c siins fillias ela foi uma moça comum, que cuidava dos animais c <!os
;~l:i/crc.sdomésticos, sem dúvida, cm nada dikrente como o fiiz iiiii~ipol)r<,
iIi)iii~:slica(Ic ho.jc, quc tciii q ~ i chzcr o que sc lhe or<lcii;iliizcr iiii c:is;i.
iiiiicl;iiiii.iiiu@n da Éiic:i Pnlílicii
I'r~isassim protctizou 1s 11.1s.: "Do troiico de JessE nascerá um rebento.
t- 11' sii;i mk brotará iima flor sobi-e a qual rtpousuá o Espúito". O "tron-
( - < i " ou a "raiz" é a geração de Jessé ou Davi. es11ecific:tmente a virgem
R,I;irin. O "rehenio" ou a "flor" é Cristo. Agora. assim conio não é prová-
v < 4 . inuito ariirs uiacreditável, que de um tronco seco e de uma rair. podre 5

Irrolc uin ranio bonito e uma linda tlor, do mesiiio modo iiZo era de se
c.slxr:ir que a virgciii M*,a fosse inãe de scmelliantc filho. Pois creio que
,.I;i C cliamada de "iroiico" ou "raiz" náo soinciite por icr sidn mãe de
I o i i i i : i sobrenatural, cm virgiiidade intacta, corno, na \.erdade. é sobrenatiiral
i ~ i i c ' (Ic um tronco morto nasça um broto. Há iima scgiinda razáo. O tronco io

it.;iI c a estirpe de Davi, que outrora verdejou e floresceu em grande honra,


l ~ < ~ ~riqueza l i . r . e felicidiide, nos tempos de Davi e Saloiliáo, sein dúvida, Iòi
:iIjv>~,spcciuljá aiilrs do mundo; iio final, poréni, quaiido Ciisto haveria de
Iii. s;iceidotes haviiiiii usurpado essa honra e goveiiiaviun sc~~inlios. e 21
, .!.;:i r<..al de Davi, pobre c desprez,i<la. era caino uma tora riiorta. de soiie i5

CIIIC. ii%i era dc se espcrar nem cra provivel que dela ainda pudesse surgir
I I I I I i i i coiii yandc honra. E juslamcnte q~i:iiido essa insignificância havia
.iiiii;viil~~ o iiuge, apareceu Cristo e nasceu do {ronco desprezado, da humilde
~ ~ ~ linociiilia.
iic O rcbenfo c a tlor brotam desta pessoa que a filha do
:.~.iili~~i Anis iiti C.iifis não tcri:iiii considerado digria de ser suei mais humilde 211

,,<.iv;\. Assim as coisas obradas por Deus acontecem lia proíuiideza, enquanto
.iiliiilo quc os homens vêem e rcalizam se dirige sonieiite pai-a o alto.
lista, pois, í- a razão de seu cântico de louvor; a este quercmos ouvir
~':il:ivrnpor pa1;ivi-a.
2'

Miiiha alma enaltece a Deus, o Senhor. [Lc 1.161


Itst:i palavra nasce de uin ainor ardente e de uma iiiegria transbordante,
iio,. i1ii:iis sua aliiin c vidii se clevatn inteii-amentc de denhi, iio espúito. Por
i,:.,~ ii;iii diz: "Eu enalfeço a Deus", mas "rninlia alma", como se quisesse
~ i i / ~ .iiiiiilia i. vida coni todas as miiiliils f:ictildiicics se movc 110 amor de :a
I it.ii... <.i11 louvor e grande alegria, de modo q~ic,deixando de ser dona de
i i i i i i i iiirstiiii, sou antes elevada tlo que elevaiiilo-iiie a mim mcsina para o
I43ii!'trr (lc Dciis. Isso sucede a todos que são iilundados pela doçura de Dcus
c - ~ u b i sili Espírilo, de sorte que sentem mais do que conscguein expressar.
i'cti.. It~iiv:ira Deus iião E obra 11uiii;tna. E antes um alegre sofrer e obra 35

c \ < l i i \ i v ; i (Ic lle~is.que não se pode ensinar com palavras, iniis que se pnde
iiiiiIi<.i.crsoinente por experiência própria. Neste sentido diz Davi no SI 1.3
I:.<.. i,l.X1: "I'rovai e vede como é doce o Dcus e Senhor; beni-aventurado o
I i i ~ i i i i i i iqiic nele confia". Davi pik em primeiro lugar o "provar", e somen-
li. c . i i i srgiindo lugar o "ver", porque isso não pode ser recniihccidii scm
<.\l~rriCiiciiic perc:epr;io própria. Isso, porém. ninguéin coiiscgiic :ilc:iii~ar
, 1 1 1 ~ . I I ; I O ~ o i ~ fc111
i e DCIIS(lc todo coraçáo qu;iiido .;e cncoiifr:! i i ; i ~~riifiiiiilc/:i
e na miséria. Por isso Davi acrescenta iinediatariieiitc: "Beiii-aventurado o
homcm que coafia erii Deus". Pois csse homem experirneiitiuá o agir de
Deus em seu interior e alcaiiyará, assim, aqucla doçura perceptível e, por
meio disso, toda a coiiiprccnsão e conhecimento.
Exainineiiios palavra após palavra. A primeira é: "mir~ia cilriia". A
Escritiira divide o hoiiieiii em três partes. Pois S. Paulo diz no último
capítulo de Tessaloniccnscs: "Detis, que é Deus da paz, vos santilique
inteiramente, para que t«do o vosso espírito, juntamente coin corpo c alma,
seja preseivado irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" [I
Ts 5.231. AlSm disso, cada tiiiia dessas três partes, como tambfrii o homem
todo, se divide aiiida de outni foima e111 duas piries, denominados cspírito e
carne? EEa é uiiia divisso icgiiiido as qi~ilidades,não xgiindo a ii;itiircza:
cm ouiras palavras: ;i iiutiirzz;~se divide eiii três partes: cspíi-iio. alina e
corpo, que podem ser todas boas o11 iiiás. o que significa ser "espírito" ou
"canie" (do que não iremos Iklar agora).
A primeira paite' o espírito, é a parte mais elevadii, iiiius pmí'iinda e mais
nobre do ser huinaiio, qiie o capacita para compreender coisis incompreen-
síveis, eternas. Em resiiiiio. ele t: a msa onde habita a fé e a palavrci de Deus.
A respeiio disso diz o SI 51.10: "Scnlior~ci-ia no mais intinio ilc tncu ser uiii
espírito ceito", isso quer dizer, uma fé crsuida e reta. Invei-s:iiiiente, o SI
78.37 diz ;i respeito dos descrentes: "Seu c»raçZo tonão estava voltado para
Deus, e seu espírito nào se encontrava na Sé em Deus".
A alma é, segundo sua natureza, o mesmo espírito, no entanto em outra
função, ou seja, na funçào dc dar vida ao corpo e atuar por meio dele. Na
Escritura [o tcriiio "alina"] t. iisado com frcqu0iicia na acepçào de "\,idan;
pois o espírito pode, perfcitaniciilc. viver seiii o corpo, mas o corpo iiào pode
viver seiii o espírito. Ohserv;~iiiosque esta pane taintiém vive e atii;i seiii
ccssar durante o sono. Sua i'un~so1130t' a de perceber as coisas incoiiiyreeii-
síveis, mas aquilo que a razZo é capaz de reconhecer e mensurw. Pois a
rnrnão é a luz iiessa casa. e oride essa luz da razão riào for govsmada pelo
cspírito iluniiriado pcki f6. coiiio por uma luz superior, ela jtiiii~iispode estar
livrc dc erro, visto que 6 iiiedíocrc demais para tratar de assuntos divinos. A
1:scritur;i atiibui a essas du;is partes muitas qiialidudes, por exeiiiplo, sabedo-
,.i..i L.conhecimento. Ao espírito ati-ibui sabedoria, i alma, conhecui~ento.Mas
i;iiiih~iiiIhes atribui ódio, amor, desejo, horror e coisas semelh,mtes.
A lei-ceia parte é o corliii com seus membros. Suas obras se resuinem à
rxrcii$.io e iiplicação do que a alma reçonhccc c o espírito crê. Para excm-

'i Ailiii. ciiiiii>;illii~li.s,Lutem recorrc ,'i çi>iicep~ão tricotirmica da lialureza 1iuiii;uia. coristituí<l;i
c cspíl-ii<,;erii rciir csciiii>s.i i o cntinto, há passagens que iciidciii p:ir:i o idc'ia
:tliri:i
( l i . <.<BI~IC>.
ic ~ . c ) ~ ~ \ i i i u kIIP
~liiiiiiiiiiir;i,I;i ~ ~ i i i ~ l r c ,I,~c~,l:loi~. l i l "l:d6~kl i ~iá~-m:~li.riil.
1,undaniznlqão da Etica PolíTica
plificar isso com aEscntura: Moisés constniiu uma tenda com três repartiçóes"'.
A primeira se chamava "saiito dos santos"; ncla habitava Deus e não havia
iluiniiia~ão. A seguridlt se chaniavci o "santo"; nela se encoiitrava um
c~iidclahri> dc sete braços c [sete] Iâmpadiis. A tcrceini repartição se chamava
",itnn"; esse se encontrava a céu aberto, i luz do sol. Nessa imagem se 5
reflete uni cristão. Seu espírito é o "santo dos santos", a morada de Deus
na fé escura, sem luz; pois ela crê o que nâo vê, niío seiite nem compreende.
Suei alma é o "santo". Aí existem sete larnpadas, ou seja, capacidades de
toda sorte para compreender, distinguir, saber e reconhecer as coisas coipo-
rais e visíveis. Seu corpo é o "átrio": a este todos conhecem, de solte qiie io
se pode ver o que faz e coiiio vive.
Agora Paulo roga que Deiis, que é um Deus da paz, nos santifiiliie não
apenas eiii tima dessas partes, mas totalmente, por intciro, de modo que
s~jaiiisantos o espírito, alma e (3 corpo. Muiio poderia ser dito sobre o
iiiotivo dessa prece: eiii resumo: deixando de ser santo o cspúito. nada mais ( 5
6 m t o . Agora, a santidade do espíiito C a mais exposta a ataques e a qiie.
corre maior perigo; pois ela coiisistc cxclusivaincnte na simplcs pura ré, visto
que a ré 11i2o lida com coisas palpáveis. como já dissemos. Surgerii entiío
iilsos mestres c seduzem o cspúito. Um Uie propõc as obras. outro, métodos
como toinar-se justo. Sc o espírito riáo for preservado e não for sitiio, elc sc o:
desvia e Ihes segue, cai nas obrcts e métodos exieriores e achei qiic assim
alcaiiç~r8a justiçu. Logo a fé estli perdida e o espírito morto pcraritr Deus.
Daí surge toda sorte de seitas e ordens: uin se tornei carlux». outro
pé-descalyo": um quer conseguir a heni-aventuran~acoin jejiiiis, outro com
oraçórs; um corn esta obra e outro com aquela. No entanto, todas sáo obras 17
c ordciis de escollia própria, jaiilais ordenadas por Deus, inventadas exclusi-
uarnente por hoiilens! Ao lado delas, eles já 1130 dXo mais aicriçào à fé e
:i(ireiidem a coiiliar sempre rias obras, até chegarcm ao ponto de
i,si;irem t#o ciivolvidos iliic passam a discordar a respeito delas. Cada qual
iliicr yer o iiiel11,or e desprczt o ouiro, coino agora se gabam c i~ichamnossos x
iiliscrvxitesi2. E coiitrci esse tipo de sanlos por obras c mestres da piedade

I 0 ( ' 1 . Ex ?(<.3si.: 40.1~~.


I I Onltiis nioii5cricas da época. A urilein carru.xzi: urdrni de crcniii:+s, Iiindadn cm 1084 por
Ilri#ii<r dc ColGiua (m. 1101). no vali de La Chartleuw (em lalui~:Ciuihusia). peno de
(;r~.,iohIç,com hwe (,:i ii-pa de São Beriio. Cnractcrizava-se por uma vida pe~ucrricialmuito
hcvrin. em silêncio quase absoluto. - Pi~~dcscal~os: os iimuiciscanos que, scguindu o
ixcinplo dc Fraiicisco dc Assis, náo ~isavaniçdpdos, dc ;iL.ordo com Mt 10.10 e Mc 6.9.
I ? 1 )lisciv;mtcr: a l i refomisia dos fnricisçanos quc, ii<iscc. XIV, sc prupós a retomar :i
#~l>xw:mçi;i rigorord da r i p de Fiaiicisco dc Assis, e m oporiçáo ao5 cdrii'~nr~iais. qur.
1i;ivi;iiti iiiodir;idi> i>rigor da icgia. O movinicrilo pmiu do 1161i:i roh :I lidcianqi de I'aulo
<li. Tiiiici. ciii 130X. ispalh<rii~sc p l ; i E5p:mh;t e pela F,m~:i.iilc,ln(.atal<t l:ii~ilx:i~t< t r i i l <1;1
AIi,rii;iiiIi;~ iio iiiício <I<, \ic. XV.
I'iiiiil;ii)ienta?3o dn Ética Poiíllca -~--.

Em seguida verii a palavra ni;igriil~c;ri. que significa "eiigrandecer".


"ciialtecer" c "ter em alta estima", expressão quc se usa cin relação àquele
que podc. sabe e quer fazer muitas coisas graiidcs c b»;is, coiiio begue iicssc
c.5iiticci de louvor. Assiiii como a pdavra ~~i:i:_.~iilic;i! iiidicli conin que uiii
título de uni livro que í'ala a esse respeito, assiiir liiiiib6ni Maria indica ricssa i
pnkivra o assunto do qual irá falar ein seu cântico tlc louvor: dos grandes
Ikiio,~e tlas obras de Deus para fortalecer noss:i i?. consolar todos os
Iiiiiriildes e para inhiidir temor eiii iodos os graiides d;i tema. Dcvciiios
pcnnitir e reconhecer que esse c&itico de louvor serve para esse triplo uso e
~~-ovciio. Ela nâo o caiitou aperias para si. inas para tod«s nós, para quc o iu
i-ipctíssemos. No entanto. iião é possível alguém iiitimiclar-sc oii consolar-ie
11orcausa dessas gr;ii>cles obras de Deus quori~loi130 ciè qur Deus C capaz
I'tirer grandes obras: porém ixio somente isso. Tariihéin tein que crer que
I )ciis qucr fazê-las e que lhe agrada especialmente fazê-las. Também náo
11:isi;ique creias que ele as quer h ~ e em r outros, não, liorém, cin ti, excluin- is
# I < > ic dcssa obra divina; iissim proccdem os que 1130 tciiiein ;I Deus qu;indi>
, . i . x~iircin faltos, e que de>espe~uii <lesaleiiiadosquando se encontfiuii em aperto.
listas f~irrnasde 1'6 náo valem ii:ida e são iirteirarnente inoilas, scmclliari-
1i.s ; i Liina ilus5o gcrad;i por uma fribula. Antes deves colocar diiuite de teus
~illiiis.bem vacilar, sem duvidar. a \~ont;idede Deus para contigo, para que ai
i-i.i;is fiimeiiientc que ele i i i e quer 1';izer pandes coisas tainhéiii em ti. Ess;i
li: i; viva c ativa, perietra e ~ritiisiòtmatoda :i pessoa; cl:i te ohriga :i temer
ilii;iii<l«estás em alta, e n poderes estar coiisolado quando te eiicontras cni
1i:iix:i. E quanto mais alto te encontras, tlmto riiais deves temer: quarito mais
11l"iinido estás, tanto mais podes consolar-le, coisa de que iião é capaz 25

iii~iihumadaquelas outras formas de E.Que quererás fazer na hora da agonja


11:i iiiortc'! Ai iião d e v e crer apcrixs que ele podc c sahe socorier-te. visto
~ I I C tcin cliie aconlecirr uma uhra iridi~iveliircntegrande pai-:i seres sdvci &a
iiic~riceterna, para que sejas etcniarnente beni-aveiilurado e herdeiro tle
I liiis. Esi;i fC tudo pode, corno diz Ci-isto [Mc 9.231; somente ela tein 30

~t~ii.;i.;t2nci;i:ela tamhCiii chega a rxperimeritas as obras divinas c. assiin, o


. i i i i o i iIc Dciis. Desse riiodu cliegn ;io louvor s cân~icodi\,iiio, que o Iioinem
I X I I Sji~iiidcs :I coisas a iespeito dc Deus e o eiialtccc como 6 devido.
I'ois Ile~isnâo é enaltccido por nós cm sua riatiii-eza, visto que clc C
i ~ i i i i i ; i v i ~ lii~;is
. cm nosso rrcoiilicciiiicilto e peirepçâo, isio C, qiiandu o temos ii
,.i11;iIi:i c.\iiiii;i e peiisainos graride a seu respeito ciii relac;3o a siia boiidade
i. iai:iy;i. I'lii isso a santa mãe iiiío diz: "iiilldia voz" ou "niinha boca",
i ; i i i i l r i : i i r iiiio: "iiiinha razão" ou " M a vontade" ciialtece CJ Senhor. Pois
clc~~.s~ cxistciii
~s iiiuitos qiie louvam a Deus em alta voz, o prcyani coni
~~;il:ivi;is ~)icciosas,falaiii. discutcin, escrevem, pinlaiii muito sohic ele; exis- .!i,

i i . i i i iiiiiiios qiie pensaiii sobre ele e que o buscam por nicio 1I;i i-:iz;io oii
i~sl1~~~111:i~~íics; alCni disso, são riiiinerosos os quc o cii:ili~cciii ~.iiiii I':ilh;i
O Magnifioii
devoção c vonntadc. Ela diz, muito antes: "Miiiha alma o engraiidece", isso
qiier dizer, rod:i a muilia vida, todo o nieii ser, metis sentidos e mildias forças
Ihc atrihucrri grandes coisas, de niodo que ela esii como que euiasiada rielc
e se sente :irrcbaiatl:i para sua misericórdia e hoa vontade, como mostra I,
versículo seguiiitc. Algo senielhaiiír se dá coriosco: quando ;dguém nos faz
;ilgo especialinente bom, toda a nossa vida como qiie se move ein direção a
cle, e di~emos:"Oh, eu » aprecio muito!", o que significa piopriamente:
"Minha aliiia « enaltece". Quanio iiiais se maiiil'estará tal scriiirneiito vivo
qu;ui<lo perccbcm«s a tx>ridade de Drus que é inconierisuravelrnc~i~e grnntle
em suas obras. Todas as palavras e pensamentos nos parecerao insuficientrs.
r toda a vicl;~e a alma devein coniovei--sc, como sc tiido quisessc cantar coni
;iiegi-ia c dizcr o que vive riii iiós.
No eiit:into, aqui cxistem dois iipos de csliúitos tàlsoh. incapazes de
cantar o Mag~iificat<levidainente. Os primeiros são aqueles que iiL, loiivani
a Deus antcs que clc Ihcs laça :iIguni beneficio, como diz "Eles te
loiivam quando Ihes fazes bcrn" /SI40.181. Esses parecem li)u\r~rmuito ;i
Dcus. Visto, poréin, que jariiais cliiereiii sofrcr opi-essão c haixeza, iiunca
pciderão eupcrimentar o verdadeiro agir de Deus, e por isso t;uribém jamais
poderáo aiiinr c louvar a Deus como çoiivém. Hojc iodo o muntlo está cheio
desse tipo de servir e lou\,ar a Dcus coin canto. pregaç50, iiiúsica dc órgio.
pítàros, e o A.figiiificat E cantado rn;uavilh«s;iinciite. Ao niesiiio tempo,
porerii, é larncni5vel que usenios esic precioso czntico de iriodo inteirrirncnte
tlestiluído de vigor e sabibor. Pois c:iiitamos soiiirnte quando vamos berii:
quando, porgm, as coisas vão inal, ac:itxi-se o canto. Nada mais sc quer sabci.
de Deiis e pensamos que Deus iiáo pode nem quer realizar aiguina coisa eiii
iirís. Coin isso r) Mag~iifi~iir tambéin teiii que ficar excluído.
Os outros, que se dcsviam para o lado oposto. quc se gahnm de bericfi-
cios de Deus sem, no entanto, atribuí-los inteiramente à bondade de Deus -
esses sáo iiiais perigosos ainda. Elcs [próprios] tanihém querrili ter paric
iieles e qucrein ser Iionrados e adiiiirados por causa deles poi- ouiras pcssotis.
Conteni]>lamseiis graiides bcns que são obra de Dcus iieles, aganxii-se nclcs
e os coiisider;im como siia propriedrtdc, e sc tSrii ein conta de algo especi;il
cin comparação a outros que não possuem tais cciisas. Esta é, sein dúvid;i.
iiiiia posiçáo lisa e csçorregadia. Os tienefícios de Drus revelani 11 naturcz:i
ilos coi-;tç6ez: orgulliosos r autocniiiplacentes. Por isso é neccssjrio obseií8;ir
:i íiltimii pilaviiiiha: "Deus". Pois Muia nZo ~ I L'.Minha : aliiia engandeci
- ii si iriesma", ou "rne tem eiii alto apreço"; lampouco qucria qiic sc
lizcssc iniiiio caso dela. Muito antes. cla engrandece exclusivaiiientc a I>ciis:
:iirihiii tudo somentc a ele. Ela se despoja de tudo e devolve tuclo ;i Dciis. (10
11iia1o 1i;ivi;i iecchiilo. Einhora percebesse eiii si mcsma css;i iii~ciis:~ ohi-;~[li.
I>i.iis. sii;i iiiciitnlidailc coiiliiiii;~scii(lo t;11 que i150 sc coiisiilcroii rii;iior i10
i i i i i ~ I ; i i i i < . i i i ; i ~ Z da
o Etica Política
(IIIC. :i pcssoa mais humilde da terra. Sc o tivesse feito. tei-ia caído no inferno
1 ~ ~ I I I .I C ~ i f c r ~ ~ .
lil:i ~ c v csomcnte o seguinte peiisamento: se outra jovem tivesse sido
,~~iiii~iiiplnda por Deus coiii luis bcneficios. ela quereria alegrx-sc da mcsina
I o i i i i ; i c desejá-lo a ela tão bem quniito a si; ela, inclusivc, quereria conside- r
i . i i sc :i si inesina a úrúca iridigna dessa honra, c todas as demais, dignas. E
t:iiiiIi;iii sc teria confoimado se Deus lhe tivesse tirado esses beneficias e os
Iii~iivi~ssc dodo a uma outra diante de seus olhos. Dessa maneira ela não
.iiiir!:i,ii :i si absolutamente nada de tudo isso e relegou a Dcus seus bens
livi(.\ i. clcsernbaraçados. Ela não foi mais do que um alegre alberzue e uma 10

..,.i\,ii:il ;iiilitrioa desse Iióspcde. Por essi razão ficou com ludo p x a scmpre.
I.. i>\<) ~ U significa
C engrandecer a Deus, pcnsar grande soinente dele e
II.I{I i<~iviiiilic;ir nada para nós mesmos. Disso se pode deduzir quanto motivo
<.I;I i{.vi. 1p;ira cair e pecar, de maneira que o fato de Ler escapado da
. l i ioii:iii<.i;ic da presunqão não é milagre mcnor do que o fato de ter recebido ii
C,:.<-\ Iiriis. Nào perceks q~iimtoé mar2tvilhoso esse coração? Como m& de
I i#-ii..ll,. vI;i sc v6 c1cv;id;t acinia de todas as pessoas c, iião obstantc, pzrma-
1 8 t t 1. I:II>sirigcla e serena qiie por isso njio tciia considerado nenhuma
~ i i i ~ ~ i ~ . ~ ~ inferior
;iiI:i a si. Pobre gerite que somos! Quarido p«ssuiinos alguiis
I*.ii\. ;ilg~irnpodcr ou honra, sim, quando somos uin pouco mais bonitos do :II

~ I I I L . c~ii~rcis, n2o somos capazes de nos pomos cm pé de igualdade com uma


IV.\I>:~ innis huiiiilde c já não Irá mais lirriites nas exigziicias. Que faríamos
i.,. IivCssciiios bens grandes e sublimes'!

lli)r isso Deus nos inantém na pobreza e na desgraça, porque não deixa-
iiic~siIc iiiarichar scus belos dons; não somos capazes de nos considerarmos >r
:I\ Iiichinas pessoas que éramos antes, iiias sempre dciuanios o &limo subir

t . c ; i i i . coiifoniie os bens vêrn e vão. O coração clc Maria. porém, peniianece

Iiiiiic cin iodo iempo. Ela permite que Deus atue nela de acordo com sua
viiiii;iilc c náo tira para si mais do que um bom consolo, alegria e corifança
c.iii I >riis.A mcsma coisa deveríamos fazer também iiós. Isso seria cantar um o
v ~ ~ i ~ I ; ~hi'z~gniticaf.
il~~iro

iiieu espírito se alegra em Deus meu Salvador." [Liicas 1.471


"...c
.I:! lili dito o que é o "espírito": é ele que conipreende as coisas
iiiioiiil~-cciisíveispor meio da fé. Por isso também chama a Deus de seu 35

S;ilv:iili)r ou siia bem-avetihiraqa. Essa fé ela havia recebido da obra de

I I I I . 13.11.
111 1i iiitil<n "M;ic dc Dcus", ou me\hor "Geiutora de Deus" (rlizorokm em grcga) foi
: i i i i l i i i i i l i , :i M;iri;i nci Cunçílio de Efeso, eni 4.51. Aqui Lutcm adota a dçsign;iqZo sem
iii:iiiixi.s ic>iri<?~s.
Suii <ipiiii.io pode ser verificiida em: ''D<is Cr>tii.íli<ir c <1;1 Igrcjii". In:
ill,i;i\,Y<,I<,<.i<,ii:i<l;i\, v . <,
3. p. UUI-LI??,cspcific:iincntc p. 3 6 7 s ~oll<k ;iii;ili~:i siirçirni'nlo
~ 1 . iiIi.liiii<:ii,< l i > iíliilo "Mlii. ilc I>ciis".
O Magnificat
Deus que nela se realizara. E, t i a verdade, ela procede na ordem corretal
chamarido a Deus de seu Senhor antes de chamá-lo de Salvador, e clianian-
do-o de Salvador antes de enumerar suas obras. Com isso nos ensiiia que
devemos amar e louvar a Deus em sua devida ordem e tal como ele é, e que,
de forma alguma. devemos procurar nele algo de nosso próprio interesse.
Ama e louva a Dcus exclusivaniente e do modo devido aquele que o louva
somente porque ele é bom e que nada coiisidero dénl de sua pura bondade,
e qur se regozija e alegra somente nela. Esta é uma maneira elevada, pura,
amável de amar e louvar, como convém a um espírito elevado e terno como
o dessa virgem.
Os que amam eni impureza e perversão, que buscam apenas o puro sozo
e buscam em Driis seus próprios interesses. esses n3o ;unaiii e 1ouv;un sua
excliisiva bondade, mas buscam seus próprios intcresses e querem saber
apenas até que ponto Deus é bom para eles, ou seja, em que medida Ihes
revela sua bondade de modo perceptível e os beneficia. Esses o têm eni alta
estima. são alegrcs, ç:~ntame louvam enquanto dura esse sentimento. Qii;in-
do. porém, Deiis se oculta c I-eijrao resplendor dc sua bondade, dcixaiido-os
no desamparo e na miséria, acaba-se tamlxin seu amar r louvar, não sendo
capazes de amar e louvar a bondade pura e imperceptível como ela se
encontra oculta em Deus. Com isso demonstram que scu espírito n-ao se
alegrou cm Deus seu Salvador, e que não existiu um verdadeiro a m u e
Ioirv;ir da pura bondade de Deiis. Demunstram mais priizcr na salvuç5o do
quc ni) Salvador, mais nos doiis do que no Doador, mais n;i crkatura d o que
em Deus. Pois não são capazes de permanecer iguais na abundância e na
carência, na riqueza e na pobreza. como diz S. Paulo: "Aprendi a poder ter
em abundância e a poder sofrer c d n c i a " [Fp -1.121.
A respcito disso diz o Salmo f49.18):"Eles te louvam enquanto Ihes
fiizes o bem", conio a dizer: eles têm em visia a si mesmos c não a ti; desde
que recebam de ti prazer e bens, tu mesmo não lhes interessas. Neste sentido
Cristo diz em Jo 6.26 àqueles que o procucivam: "Em verdade vos digo,
não ms procurais porqiie vistes siiuus, mas porqiie cornestes e vos famstes".
Xis espíritos iinpiiros e falsos mancham iodai as didivas de Deus e o
impedem dc ihes dar muito e tliie possa atua neles para a kem-aventurança.
Vou contar-lhes um belo exemplo disso: Certa vez uma mulher de bem teve
uma viseo. Três moqas estavam sentadas diante de um altar. Durante a niissa
saiu (10 :iltar um menino bonito e se acercou da primeira iiioça, mostrarido-
Ihc ;imabdidade. acariciou-a e lhe somii com graça. Depois se diiigiu a
scgiintla moça. Com ela não foi tão amável e também n5o a acariciou; no
criiiinto, levantou o véu dela e lhe somu com graça. A terceira não mostrou
i i i i i siii:il sequer de amabilidade. bateu-lhe no rosto, puxou-a pelos cabelos e
IIii. dcii cinpurrCxs. tratando-a grosseiramente. Depois correu rapidameiile
11i11;i $ 1 i i l ~ i i rc dr\;ipareccu.
I:iiriil:i~iiciii;içj,, iI:i E1ic;i I'i,líiic:i
- -.
Ilntão se iiiierpretou essa visão pala ;iquela mulher: a primeira mo(;a
iiyxcscnta os espíritos impuros e serisuais, aos quais Deus tem que fazer
iiiiiiios benefícios e f u e r mais a vont~idcdeles do qiie a sua; não qucreni ter
1;ilia de iiada, inas encontrar. a toda hora, consolo e prazer eni Dcus, scin se
~;itislj~eiziii cmn siia bondade. A segiiiida das inovas representa os espúitos
<~iiccomeyam a servir :i Deus c que, eiiitiura supcirtcrn ctL~iiiii;i carência,
.
;iiiicl;i não estzo totalmciite livi-cs do cgnísmo e do aiiior pr6prio. De vez e111
iliiantli~Dcus triii que ihi's laiiçar iiin olhar amoroso e fazE-10s sentir sua
Ix~iid;idc,para qiie também a p ~ n d a i i ia amar e louvar siia bondade pura. A
(ri-ccira das nloças, porém, a pobre cinderela, só conhece carência c inforiú- iii
iiio. N;io procura nenhum prnveito e se satisfaz coiii o fato de Deus scr bom,
:iiiicl;i qiic jamais 0 venha a scntii (o que, rio eriiniitri, é impossível). Elii
~ ~ i ~ n i i ~ i;ii einesnia.ce em qualquer ias«. iirna e louv;~a boiida<ledc Deus (12
iiic\iiiii fcirm'i quando <' perccpiivel conio q~iaridoC iinperceptivel [a bondiide
11,. 1)cusl. N%osc agari-a aos heiis, iliiando tais existeiii. i:iinbém não se ~ifcisin I $
i~iian(loeles fall;un. Esta é a verdadeira noiva qiie diz a Cristo: "Não qucm
o cliic C teu, quei-o a ti mesmo; não te aino mais quando vou bem, nem te
:iiiio iiicnos quando vou mal".
lisses espíritos cumprem o que esta escrito: "Não vos afasteis tlo reto e
<c.rii~ c;iiiiinho de Diiiis, nem p;ii-a a direita, nem para a csq~irrda" [Ts 30.31 1. ?i#
I w i vigiiifica que deveiii amcu- c I(iiivar a Dciis de iiiodo iiiiili~iince correin,
t - I I ; I I I buscar a si iiiesmos e scii prciprio proveilli. Davi tinlici tal espírito.

Ic.iido sido expulso dc Jeriisalém por seu filho Absaláo. e quando parecia qiic
~.si;iviirejeitado p x a seinpre, qiic nuiica mais sci-ia rei neiii iria gorar a graça
iIi, I>cus, ele disse: "Tde! se Deus ine quer, ele me recondiizirá u ela [a 25

Ici-iisnléin]. Se, pnrém, disser: Nâo tc quero, também estou preparado" [2


Siii IS.35s.J. Oh, qiie espírito puro foi esse, que na necessidade extrema não
(li.ixoii de amar e louvar a boiidade de Deus e de lhe srigiiu. O mesmo
c.q)iiit<~ rcvela a inãe <lcDeus. Maria. Cerc;icla dos elcvndos e superabundan-
i < , IK.II.Y, ela liao sc agarra a ele?;. 1150 biiscn neles srci pi-oveito próprio, iiias
i ~ ~ c . \ c rseu v ~ espírito puro no amar e 1ouv:u. a pura bundade de Dcus. Esli
ili>li~fiiaa aceitar. de hwi vontade, caso Deus ihos quisesse tuar novaiiente,
~l<.ix;iii<lo-lhe um espírito pobre, desnudo e carente.
Agnni, quanto mais perigoso é ter que controlar-se na posse de riquezas,
:~r;iii~lcs honras oii poder clo que em pobreza, ignomínia r fraqueza; pois :i
i i ~ l i i C / : i . honra c pcder cnnstitiiern uni convite e iiiotivo p a o mal. Tulto
iii:iix ~,logiivelé o iii;iravillioso puro cspíi-ito de Maia, pois ela goza dc
lio~iir:is130 rxíraordináriiis e, ii30 i~hstante,não cede I: triitação, comporta-se
, - O I I I I I sc não o ciixergasse e pcrmcuicce iio caiiiinho da inesma foiniii e de
iiioil~rcorrcio. EI;i se prciide somente à bondade divina, que nâo vê nem i r 1
I I L . I . ( C ~ > Cc, rcriuiicia aos heris que percebe. Não teiii pnizcr nclcs iiciii hiisca
5i.11 ~~rcilirio ~~rnvcitn, dc iiiodo que. <Ic Iàlo, c;iiil:i n ~ n iiiisi:i v~~rcl:i~lcir;i
O Magiii1ir;ii
r~izáo:"Meu espírito se alegra em nieu Deus, meu Salvador". Em verdade.
isso é um espírito que se regozija e pula de alegria somente na fé. Ela não
está alegre por causa dos beiis, que cla percebia, mas por causa de Deus, que
ela não pcrcchia, bem como de sua salvaçáo, que reconliece somente na fé.
r Estes sáo os \,eidacleiros espúiios humildes, vazios, famiiiios e tementes a
Deus, dos quwis falarrriicis mais abaixo.
Disso podriiios recoiiheccr e julgar 0 qlianto o iiiuiido de Iiojc está clieio
de fàlsos pregadores e sanios, quc pregam ao pobre povo abundantemenie
sobre as boas ohr;is. Embora cxist;iin algiins que também pregam como
In realizar boas obras, a iiiaioria prega doutrinas e obras humiiiias que eles
pr6prios inveritararn e institiiírimi. Iiifelizmcntc. p r é m , os inelliiires dentre
eles aincl;i se cricontriun táo distaiiies <lu vcrdadeuo caminlio relo que sempre
levam o povo para a direit;i17. Pois ensinarri a fazer as buas ohras e a levar
uiiia vida decentc Mo por ainor a pura boiidarle de Deus, nias por causa do
I. proveito pniprio. Pois se niio existissem céu e iiiferno, e se a bondade de
Deus nâo Ihes pinmetcsse iienhuiii gozo, esqueçcriani sua hondade, sem
amar iiein honrá-la. Todos esses são aproveitadores c mcrcenái-ios, criados e
não filhos, forastciros e nào herdeiros. Rinsfoiriiain a si mesmos ein ídolos,
c esperaiii que Deiis os :tine e louve, c qiie Ihcs faça justctineiiie aquilo que
I eles devcriam fazer a Deiis. Náo têm espúiio, c Dcus não 6 seu Salvador;
seu salvador YLIsetis bens, coin os quais Deus tein que servir-llies como um
cri;idi>. Esses sZo os fiüios de 1sr;iel iio desci.to, qiic nSo se satisfazeiii com
o piio celcstial iio drseiío, inas que qiieiiam também comei-cnine,cebolas e aiho18.
I
Desgraçadaiiieiite todo o iiiiindo, todos os conventos, todas as igrejas
est;áo abarrotadas com tais pessoas, que viveiii segundo esse espírito falso,
i
,i

perverso e errôneo e que por cle se dcir~liilevar c impelir. Enaltecem tanto


as boas ohras que crêein gniihar o céu com elas, eiiquanto se deveria, antes
<Ic tudo, pregar e c<irilieccra pura bondlide dc Dcus. Pois deveríamos saber
I
1 (~iicDeus nos salva por piira b«ndadc, sciii qualquer mbsito por meio de
ohr:is. Assirii tainhém devenniiios fazer as obrxs sem hiisc;ir qu;ilquer recoiii-
lpciisa ou proveito, por amor da PLIM bondade <li:Deus, r liada descjar senão
siia coiiiplacfncia. N b clevcríamos aiid:u- preocupados coin a recoinpei1s;i.
lissii ccri;unente v u i por si, e seguirá sem iiosso esforço. Pois, sc bem que
hi:j;i iiiipossível quc a recompensa deixc de aparecer quando fiizemos o bcni
<Irc.spirito puro c sincero, sem buscar recompensa ou proveito, Deus nâo
(liici cssc espúito srrisiial c unpuro. Esse jamais scrá reconipeiisado. Assiiii
t i i i i i i ~iiiii lilli<iqiie serve ao pai de boa voiitadz. de graça. soriierite por niiior

--

I i I 'i I \ 1021. I.iilcio <lisiiriguc o "licc;ido ii c i l i ~ c r i l ~(as


" ohrtis "in;ír") i10 "l*.i.;ali, Ii
<I~~~.I!:I'' " I i i ~ d s " ~ i ~ ~ ~ ~ ~ ~c i ILiVas
(;I> <,l>r.~\ ~ li ~: ~~i c~i a l i vprOl>ria,
i l ~c ~lpor
c ~l'orqa
~ i vcm :~ l);tr,$
I , , , ,,'<,,I<, l l < ~ \ \ , > : l l ) .
i I!i 1'1 Niii I 1 .i 11.
da Ética P ~ l i i i ~ d
I~iiii~Linrnwcão

pai; e se uni fdho serve ao pai apenas por caiisa rLi herança e dos belis.
;li*
cstc é, de fato, um filho odioso e merece que o pai o rejeite.

"Pois contemplou a humildade de siia serva.


IJiir isso me considerarao bem-aventurada todas as geraçoes." [Lc 1.481
Alguris interpretaram a palavrinha hun~ilitiscomo se a virgem Maria
tivesse apontado para sua huiiiildade. gloriando-se dela. Daí que alguiis
17relados iambéni se clianiam de "humildes"'" o que está muito longe da
vcrdade. Pois peraiite Deiis ninguém pode gloriar-se de alguma coisa boa 10
sciii [cometer] pecado e ['xpor-se] à perdição. Diante dele devemos gloriw-
tios tão-somente de sua pura bondade e graça que ele demonstrou a nós
iiidisnos, para que em nós não exista nosso amor e louvor, mas somente [o
iiiiior e louvor] de Deiis. e que ele nos sustente, como ensina Saiomão 25:
"Náo apareças diante do rei com glória própria, ncrri fiques de pé (isto C, (5

qiiçrerido ser dgo) diante do grande senhor, porque é tiielhor que te digani:
Scibe para cá, do que seres huiiulhado na presenqa do prúicipe" [Pv 25.6s.I.
( 'onio atribuir a essa virgem pura e honrada tal temeridade e arrogâmcia a
~>oiito de gloriar-se de suci humildade diante de Deus! Posto que a humildade
<. ;i vinude suprema, e ninguém a náo ser o m:iis arrogaiite se considera
Iiiitiiilde e se gloria da humildade. Soinente Deus conhece a humildade;
tiiriiMtii só ele a revela e julga, de modo que a pessoa nunca sabe rilenos da
Iiiitnildade do yiie quando ela é verdadeiramente hurnilde.
No uso [linguístico] da Escritura, "humihar" significa "rebaixar", "a-
i i i i l x " . Por isso, em muitas passagens da Escritura, os cristios são chamados
(Ic "pri~rpai,affljcii, hurniliriri" - "gente pobre, sem v~ilor,rejeitada",
iiuiio, por exemplo. no S1 116.10: "Tenho sido totalmenie anulado", ou
"rchiiixado". Assim, pois. humildade nada mais é. do que uiii estado ou uina
iitiitliqão de desprezo, insipSicância e baixeza como o são os pobres,
<I~iCntes, famintos. sedentos' presos, sofredores e moribundos, como acorite-
~ c i icom Jó em s ~ tribulação ~ i e com Davi quando foi expulso do reino, e
t , , i i i Cristo e todos os cristãos em suas aflições. Essiis sã« as profundezas a
t < y r i t odas quais dissemos acima que os olhos de Deus olham somente para
.I ~~rol'iir~deza, enquantci os olhos humanos oiham sornente para o dto, quer
,Ii/.i.i-. l>uscam somenie o estado e a condição vistosa, brilhante, pomposa. 37

I'i>t isso, na Escrituru. Jentsalém 6 denoininada de lugar sobre o qual repou-


\ ; i i i i o s olhos de Deus. Isso quer dizer: a cristandade jitz na profundeza e é
iiisigniticante p e m t e o muiido; por isso Deus volta para ela seu okar e seus

I<J Al~;ii.iitementeLutero sc refere aos "humilhados" -uma ordem nri>ii:isiic;i~ciiitrirci:ildi


I<l;tilcMé<liii,h;uiicl;i ciii 1571

10
O Magniiical
olhos repousam sobre ela constantemente, como diz no SI 32.8: "Meus olhos
estão sempre voltados p u a ti". Assim também diz S. Paulo em 1 Co 1.27s.:
"Deus escolhe a tudo que é louco perante o mundo, para envergonhar a tudo
que é sábio perante o mundo, e escolhe o que é fraco e incapaz, p m
5 e~ivergoiihara tudo que é forte e poderoso. Escolhe o que é iuda perante o
niuiido, para eiivergonhar a tudo que é algo perante o mundo". Com isso
transforma em loucura o mundo e toda a sua saòedona e capacidade.
Visto que é sua característica olhar para a profundeza, para as coisas
insignificantes, traduzi a palavra humilitas com "nulidade" ou "ser iiisigiii-
I ticante". Portanto, Maria quer dizer o seguinte: Deus contempiou a mini,
pobre, desprezada e insignificante moça. Ele poderia ter escuhido ricas,
importantes, nobres e poderosas minhas, filhas de príncipes e grandes senho-
res. Poderia muito bem Ler escolhido a filha de h á s ou Caifás, .que teriam
sido os principais do país. Lançou,.porém, seu olhar sobre inim por pura
1s bondade, e assim usou para esse fim uma moça humilde e desprezada.
Porque diante dele ningdrii deveria gloriar-se de ter sido digno disso. E
iaiiibéin eu Lenho que coní'essar que se trata de pura g r q a e bondade, e que
não Iiá mérito ou dignidadc nenhuma de ~iiinliaparte.
Acima j;í falamos siificientemente conio a doce virgem, com seu ser e
zu sua condição iiisignificante, mereceu a surpreendente honra de que Deus a
contemplou em sua imeiisa graça. Por isso não se gloria nem de sua di@-
dade nem de sua indignidade, mas somente do fato de Deus a ter contem-
plado, que é tão irnensaniente bondoso e de tamanha g r q a a ponto de ter
coiitemplado uma moça tão humilde de forma tão maravilhosa e honro~a.
i. Por isso lhe fazem injusti~aos que afu7iiam que ela não se teria gloriado de
sua vir~indadc,mas de sua humildade. Ela não se gloria nem de sua virgin-
dade nem de sua hiimildade, m a uiucamente da graciosa conteinplação
divina; por isso LI enfilse não está na palavrinha "humildade", riias na
~~iliavrinha "contemplou". Pois não é sua humildade que deve ser louvada,
t iiii~sa deferência por parte de Deus, como quando um príncipe estende a
iii.:i« a um mendigo: não se há de elogiar a nulidade do mendigo, mas a
iiiiscricórciia e a bondade do príncipe.
I'ara dissi~~aressa fals~topiiuáo r a fm dc sabennos diferenciar a verda-
clcii-:ihumildade da falsa, qiieremos fazer uma breve digressão e dizer algo
, solii-c :I huiiiildade. Pois muitos se enganam gravemente a respeito. Em nos-
5 , ) iilioiiia dciiorninamosde huriddadc o que S. Paulo chamade tapeinophrosync
c.111 gii.go2" c que eiii latim se reproduz por : f i e c r u vilitatis ou se1isu.s
Iiirririlirrrii rcrirrn, ou sela, uma inclinação ou uni sentiniento para as coisas

' I 1I I I I . :2 C 2 . 2 ; 7.12, oiidc ;i Voig>~ia


scniprc tcin 1iiiriiilil;i.v i < > I i i ,
I C . ~ , I ~ clct
I ~ A~ O j:~c.gct I:,,Y~!IO/I/J~O,Y~,~C.
VICIIO

i7
iii\igni(icmtes c desprccadas. Agora, 116 iiiuitas pessoas que cme$:iiii a água
11:ii;io poço. Sáo pessoas que :ipuecem em roupas, posiyijes, gestos, lugares
i. ~>;il;ivras huinildcs, estáo c«nipenerrad;is disso e se ocup;un com isso. No
~~iii;iiii», pretendem coiii isso qiir os graiidcs, ~ricos,eruditos. smitus e inclu-
sive Dcus os corisidcrem gcnte que prercre ocupar-se corn coisas humildes. 5
I'ois se soubcsseni que ninguém liga pira essas coisas, eles desistiriam de tal
rxllcdientc. Essa é uma humildade artificial. Pois seu olho malicioso só vê a
r1,compcusa e o resiiltado da huniildade, e não as coisas insignificantes à
Ixirtc da recompensa e do resultado. Por isso, onde não há iecompeiisa e
ri,\iil!ado :i vista, a huiiiildade já era. Tais pessoas não podeni ser chmadas ie
iIc ;!/ti-c.ro.s vilirnrc, prssotis quc têrii vontade e coraçio para coiii as coisas
iiiii;iiilicantes, pois fazcm-no sonieritr com a bocii. ;i nino, a roiipa e o gesto.
Sc~ivoração, porém, aspira coiszis elevadas e gmdes: e peiisam alcançá-las
111vr I I I C ~ Odessa huniildade fdii;isiatla. Esse tipo se considera humilde e santo
; I si 111csmo. 1s
Os verdadeiros humildes não têin em mcilte o resultado da humildade,
iii:is olliam as coisas uisignificantes de cornçáo singelo, gostain de lidar com
t.I:i\ L, iamais ficam sabetido que s2o huiiiildes. Aqui a água jorra do poço, c
!mc.:.~(th. palavras. luaares, pessoas e roupas humildes s%ouma consequ&ici;i
11:11iii.i1. Por ouim Iado, evitam, seinpie que possível, .is coislis elevadas c IU
r'i:iiiiles. A respeito disso diz Davi iio SI 129 [sc. 131.1J: "Senhor. meu
coi;iq;iíi iião io orguihos« e meus o h s iião husc.;uam as coisas elcvadu'
iic". E em Jó 22.29 se I?.: "Qiicm si, hun~ilha,alc.uiç;~i-;íhonras, e quem
:ilriis:i o olhar será bein-avrii~iirado"~~. Assim acontece qiie a esses sobrc-
VC:III Iionra inespcradniiieiite, c siia cxaltilqfio aparcce quaiido inenos a cspe 2s
I ; I I I I . I'oque se saiisfireram eni tod:~singeleza corii sua coiidiqáo ínsigiiiti-
c.:iiiic c jamais buscaram a exaltaçào. Os falsos huinildes. porém, cstranliarii
L I I I ~ . SII;I Iionra c exaliaçáo custa tanto :i chegar, e sua Salsa anogância velada
II:IO sv s:itisSaz com sua coiidiç&ohumilde, mas, secretamente. só pensa em
> . i i l i i i iii:iis c inais. 30

I ' i ~ i isso. como jó disse, a verdadeira humildade jamais sabe que 6


1 1 i i i i i i 1 i 1 ~ ~I1<iis.
. sc o soiibesse, se toni;uia ;«-rngante ao coniciripliu~css:i bela
itiiicl<..I'i.Iii c~iniririo,cki se apega, de coraçáo, iiiente c todos os seiiiidos.
.I.. 1 c)I.;;I\ iii!.igiiific;mlcs; é a essas que tcm sempre eiii inente, são esses os
~ ~ ~ ~ i i ~ . , i 1 i 1i 1 ~' ocupam.
~ 1~a i ~ i i ~ E coino tem em vista a essas. i130 pode ver neiii 35
I<.(~tiiIi,.c.c.i:I si riiesina. Muito inenos ainda pode aperccher-se das coisas
~.l~~v;iil:is. l i ~ isso
r a honra e a exaltação hão de surprecndc-ia ocupada com
~ ~ ~ ~ i i ~ : i:illicios i i i ~ ' ià~ honra
i ~ ~ se á enaltaçáo. Assim diz Lucns 1.29 que Maria
O Magruticat
- -
estranhou a s;iiid:i$.?o do anjo e íicoii niaturaiido que. saudac;áo seria aqueln,
pois jamais :ihavia esperado. Se a sniidaçáo tivesse sido levada à fdha dc
C&is, esta iisu se teria preocupado eiii perguntar que,saudaçáo seria aquela;
ela a teria aceito imediatamente e peiisado: Correto! E assim que deve ser.
s Por outro lado. a falsa huinildade jmais se dá conta de que ela é
mogância (pois caso o soubesse, ein hrcvc se tornaria humilde ao contem-
plar esse horrível deleito). Pelo contr:ui«. ela está agarrada, de corayáo e
mente, c0111 iorlos os sentidos, às coisas elevadas; é ri essas que tem seiiipre
cm mente, sáo esses os pensamentos que a ocupam. Visto que é isso que
I ocupa sua mente. i150 pode enxergai- nem perceber a si mesma. Por isso a
honra iião Ihc sobrevérii de surpresa e inesper;idiirneníe, mas se depara coiii
idéias da mesma categoria; no ciikuito, a desonra e o rebaixamento Lhe
sohrevêin inesperadamcntc em meio n idéias toialmente diferentes.
Por isso dc nada adianta ensinar a humildade, colocando diatite dos olhos
15 [das pessws] coisas iiisigiiificaiitcs e desprezadas; inuersamentc, niiiguém se
toma arroganic porque se lhe coloc;i coisas elevadas diante dos olhos. Nào
sáo as imagens que devem ser ahstadas, inas o olhar; nesle mundo temos
que viver em meio a idéias elevadas e baixas. No entanto, coino diz Cristo,
o olho deve ser vazado22.Moisés não narra em Gn 3.7 que, depois da qiieda,
211 Adáo e Eva tivessem visto outras coisas do que antes. Ele diz quc sc Lhc
abriram os olhos. dç sorte que perceberani cliie estavam nus, embora tariihirri
cstivcsscm nus aiites, coiii a diteienca de iião o tcrcm percebido. A rdinlia
Ester trazia sobre a cabeça uma I-icn coroa. Ndio obstaiite, disse quc. ri seus
olhos, ela era uiii pano imundo23. Criin isso não se haviam afastado dela ;ts
25 imagens elevarias. Pelo contrjrio, coino poderosa rainha, estavam colocadas
diante dela em quantidade, e não se lhe apresentavam imagens baihas. No
entanto, sua maneira de ver as coisas era de humildade; coraçáo e mente não
se fixaram cm coisa elevadas. Por isso Deus fez rnilliges através dela.
Pofimto, nZo .o50 :is coisas que dcvciii ser trailsfomadas. iiias nós 8 qiic
devemos ser trniistivmados eni riicnte e espuiro. EiiIáo aprenderemos por 116s
mesmos a desprezar iras coisas e1ev:itlas e a eviti-las, c a apreciar as c«is;is
insigndicantcs e :i busci-Ias. Então a humildade é boa de fora a fora, íiiiiii,
cm todos os sentidos. Não obstaiite. jaiiiais tem consciência de si iiicsma. Aí
reina alegria c o coraqáo pemanece sempre o mesmo, por nxiis que sc
,. tr:iiislbrmeni ou apresentem as coisas, elevadas ou baixas, griuides ou pequenas.
Quanta arrogância se escondc sob 11s roupas, palavras c gestos humildes,
1111 que hoje o inundo cstá cheio. Desprezam-se n si mesmos, de tal iiianeir;~
da Eliça Política
I~i!iida~iiçi~la$&

que, ao mesmo tempo, niio querem ser desprezados por ninguém; evitam a
honra de tal maneira que, depois, sejam perseguidos por ela; evitam as coisas
elevadas para, depois, não obstante, buscá-las, a fm de serem elogiados e
sua causa não ser considerada a mais ínfima. Esta virgem, porém, fala
somente de sua baixeza, na qual gostou de viver c na qual permaneceu. 5
Jamais pensou em honra ou excelência, e também não teve consciência de
icr sido humilde. A humildade é algo tão tenro e precioso que ela não suporta
contemplar a si mesma. Contemplar está reservado exclusivamente ao olhar
divino, confonne diz o Salmo 113.6: "Ele contempla os humildes no céu e
l i a terra", pois quem pudesse contemplar sua própria humildade ptderia iu
jtilgx a si mesmo para a salvação, e o juízo de Deus já estaria acabado.
Snhendo que Deus salvará os humildes, deverá ficar na competência exclu-
siva dc Deus reconhecer e contemplá-la, e tem que ocultá-la de nós, colo-
~iiiclodiante de nossos olhos coisas insignificantes e exercitando-nos nelas.
('oiii cla nos esquecemos de ficarmos contemplando a nós mesmos. E para 15
isso que servem todos esses sofrimentos, morte e todas as espécies de
iiil0rfúnios na terra, com os quais estamos lutando e trabalhando para vazar
<!s oIIios maus.
Agora deduzimos claramente desta palavrinha "humildade" que a vir-
!,i.iii Maria era uma moça desprezada e insignificante, sem qualquer fama, 20
s<.iviiidoa Deus sem perceber que sua condição tão insignificante gozava de
i;io clcvado apreço perante Deus. Isso nos deve servir de coiisolo. Ainda que
Iiiiiiiil<lese desprezados, não devemos desesperar, como se Deus estivesse
i ~ t i l l ~conosco;) muito antes devemos esperar que ele é benigno conosco.
Noss;i úiiica preocupação deve ser o fato de não estamos suficientemente 25
ilisl~osiosa viver nessa humilhação, para que o olho falso não fique grande
~lriiinisc nos engane, buscando secretamente as coisas elevadas ou a auto-
<.oiiiplacência,o que sigdb a total ruína da humildade. De que serve aos
<.oii~lciiadosserem reprimidos até o mais baixo grau enquanto não estão
<lisposlosa aceitá-lo de bom grado? E que prejuízo terao todos os anjos ao 3u
si.1i.111;iiialtecidos ao máximo enquanto não se prendem a isso com prazer
i~ii1i:iiir>s(>l Em resumo: esse versículo nos ensina a reconhecermos a Deus
~oii~f;iiiiciitc, ao revelar que Deus olha para os humildes, para os despreza-
~ I i i s .I < iiioiihccc a Deus corretamente aquele que sabc que Deus alenta para
t t , . I~iiiiiililis,ioiiio dito acima, c desse conhecimento decom então amor e a
C < > i 1 1i:iiy;i ~ . i i i I>riis,de modo que o homem se entrega a ele de boa vontade

1. 111<. ,II)I~II,-L,..

r\ IC...IN.IIII ~lissiidiz Jeremids 9.23s.: "Ninguém se glorie de sua força,


I i c l i i c r / , i I ~ I I~ . . i l ~ t . i l < ~ i i ;(J~icin
i. quiser gloriar-se, glorie-se de conhecer e enten-
t1c.i i i i , . " /\,:.iiii i ; i i i ~ l i i . i i io eiisiiia S. Paulo em 2 Co 10.17: "Queni se gloria, 40
i , l t t i i ~,.c. I I C I Il~.iili~ri". Assiiir, pois, após ter louvado a Dcus scu Salvador,
q i 2 1 1 1 C . , . I I I I I I < B ~li~~.iiii~~ii~ss;i~lo c puro, scni ;ur-ogar-sc qii;ilqiicr ~ I Vsc.iis hcns,
OMagnific~i
tendo, assim, cantado devidamente sua bondade, a mãe de Deus passa a
louvar também, na ordem correta, suas obras e bens. Pois, como já foi dito,
a pessoa não deve agarrar-se aos bens de Deus nem apropriar-se deles, mas,
através deles, deve-se s u b i até ele, agarrar-se somente a ele e ter sua
s benevolência ein alto apreço. Depois também se deve louvá-lo em suas obras
nas quais nos rcvelou tal bondade para amar, confiar e louvar. Desse modo,
as obras não devem ser outra coisa senão um motivo múltiplo para amar e
louvar sua pura bondade que governa sobre nós.
Maria, porém, começa por si própria e canta os feitos de Deus nela. Com
io isso nos ensina duas lições. A primeira: Cada qual deve atentar para as coisas
que Deus faz com ele, mais do que para todas as obras que realiza com
outros. Pois a bem-aventurança de ninguém consistirá no que Deus realiza
em outros, mas no que realiza em ti; neste sentido Cristo responde em João,
no último capítulo, quando S. Pedro p-rguntou, referindo-se a S. João: "Que
ir há de fazer este?" Cristo lhe respondeu: "Que te importa isso? Ma? tu,
segue-me" [Jo 21.21s.1, dizendo com isso: as obras de João de nada te
servirão. Tu mesmo tens que pôr mãos à obra e esperar o que pretendo fazer
contigo. Justamente em nossos dias, porém, impera um abominável abuso no
mundo com a disíribuição e venda de boas obras. Alguns espíritos insolentes
20 querem ajudar a outras pessoas, especialmente às que vivem ou morrem sem
obrau de Deus próprias, como se elas mesmas tivessem boas obras sobrando,
enquanto S. Paulo diz claramente em 1 Co 3.8: "Cada um receberá a
recompensa de acordo com seu trabalho", portanto, sem dúvida, não pelo
trabalho de alguém outro.
25 Ainda seria tolerável se orassem por outras pessoas ou se apresentassem
suas obras a Dcus como intercessão. Como, porém, procedem com elas
como se tivessem algo a presentear, trata-se de empreendimento vergonhoso.
E o que é pior: passam suas obras adiante sem saberem eles próprios o que
elas valem perante Deus. Pois Deus não olha para as obras, mas para o
o cora~ãoe a fé, por meio da qual também age em nós. Com isso nem se
preocupam. Constroem somente sobre obras externas e com elas enganam a
si mesmos e a outros. Chegaram inclusive ao extremo de convencerem as
pessoas a vestirem hábitos de monges na hora da molte. Alegam que quem
morre nessa roupa santa tem indulgência de todos os pecados e será salvo.
Começam, pois, a conceder a bein-avcnturança às pessoas não apenas por
iiicio de obras esiranhas, mas também por roupas estranhas.
Sc não forem tomadas providências, creio que o mau espírito aindii
coiiduzirá as pessoas ao céu por meio de comida, moradia e enterro dc
coiivcnto. Que Deus me ajude! Um hábito de monge pode justificar c salvtir
islo sZo Ii-evas palpáveis! Para que ainda se precisa da fé? lòiueiiio-rios
io(los iiioiigcs ou iiiommos em hábitos de monge! Quanio tecido sc pi-cci-
s;iiiti soiiiciilc para os Iii'ihitos. Prcvinc-[c, prcviric-lc c«riir;i (ais lohos ciii ~ i c l ~ ,
I ~ i i i i i l ; i i i i c ~ i i ; i c L >ils Éliçii I1olítiç;i
-- -
iIc cciii-ciiii24. Eles te dilaceram e sediizciii. I ,ciiihr:~-le de que Deus i-e:iliza
5ii:i obi-n tainbém em ti, e apóia iuu s;ilv;i~ioii;is obras quc só Deus opei-a
i.111 l i , I: eiii iieiiliiima outra, a exeinplo dc b1:i:li-i. Se recorreres para isso ;i
iiiiciccssão de oulrus, está hcin. Todos dcvciii(is orar c fiizer :il,oo Liris pelos
<iiiir~s. Todavia, ninguém deve apoiar-sc crii <ilii-;isalheias, tiias rins obras r
~~rcilirias realizadas por Deus. ci<la qual dcvc i-cl~aini-çoin esrnero eni si
iiic,siiio e em Dcus, como sc ele e Detis estivcsscin soiiiilios no céu e ria lema
i. ci)iiio se Deus estivesse tratarido unicamciiic coiii clc; depois i:iriibém

~i~xlcrá observar as obras dos ouiros.


A segunda IjçZv qiie Maria nos ensina E a seguinte: cada qual queira scr iii
o ~~riiiiciro no louvor dc Deus e deve publicar as obras de Dcus realizadas
iii.Ic.. 1)cpois deverá louvar também a obra dc Deus realizada em outi-os.
;\..,.iiii I~,iiiosque Paulo e Baniabé anuriciaram aos apóstolos a obra quc Deus
Ii.ivi:i ri~;iliziitlopor intermédio delcs, e os ;ipóstolos, por sua vez, [a iuiuti-
i i . i i ; i i i i l :ias dctnais". Da mesma forma procederam depois da ressumiqáo )r
(1,. I 'iihlii. <luaiido Ihcs havia aparecido (L 24.34s.). Começa, cntão, uma
.il<.i,ii;i<. iiiii louvor comuiii a Deus, oiide cada qual exalta a pt.ac;:i do outrci
c . . i i ; i i , iilis~iinic,sua própria erii prinieiic lugar, ainda que seja iiiaior que a
< I < 8 c ~ i i i i o . lilc náo pretende ser o primeiro ou o maior no que diz reslieito aos
I*.ii\. iii;is iio louvar e anar a Deus. Pois basta-lhes Deus e sua pura boiidade, 20
iiisigiiificnnte que scja o dom. Tão singelo é seu coração. Os que
~~~ociii;iiii seu próprio benefício e os egoístas, porém, olham coin iiiveja
~lii;i~iilo ~>crcebem que não são os melhores c maiores quanto aos bens. Em
\,i./ ~ I L , Ioiivar, munniirain, porque se uêein igualados ou inferiores a outros,

:i I . A L ~ I I I ~ ~ Itlaqueles
O [homcns] no Evaii~rlliosegundo Mateus, cap. 20.11l S.]. ii
~ I I I L ' iiiiiiiiiiirara~ncontra o patrão, não porque Ihes fazia injustiça, mas porque
~ . ~ l i i i l ~ : i r ; iaos
~ n outros com o saliiio.
I li,,j~, cxisteni muitos que nao louvatu :i bondade de Deus porque coiis-
i ; i r ; i i i i ~ U 1130 C possueni ialito qii,mto S. Pcdro ou qualquer <iiitrodos santos,
o i i <.sic ori kiquele na terra. Alcgan~que, se também tivcsserii tanto. igual- VI

iiic.iiii~Ioiiviiriam e ainariain a Deus. Meiiosprezam as bênçáos que Deus


< I , - i i : i i i i i i i i sobre eles e que as não reconhecem, cotiio corpo, vida, razão,
I * I I , . , I i < ~ i i i ; i . alegria, aléin dos serviqos que Ihes presta o sol com todas as
L i i.iiiii.is. l i iiicsriio que possuíssem tcidos os bens de Maria, ainda assim não

I<.,~iiIii.t~<~ii;iiii :i Ilcus neles ncin o louvariam. E como Ciisto diz em Lucas s


l i ) I0 ' o i i i . i i i i . fiel no insignificante r no pouco, também é fiel no iml~or-
i.iii14 I I O iiiiiiio: c <liicin é infiel tio pouco, também é infiel no muito".
l'atti.ii~io.iii~.ii.<.i.i-:iiii que não se Ihes de o muito e o importanie, porque
0 1 8 ' . l u ~ . / . i i t i u iii~il:iiific:mte e o pouco. Se louvassem a Deus no pouco.

'I i i hli I I'i ? C'I: Ai 15.12.


O Magiiific;ii
iambí-iii reccberiam o importrvite ein ahuiidniicia. O motivo é o seguinte: eles
oihani p m cima e não para baixo. Se olliasscii~para baixo, veriam a muiios
que náo tèin scquer a tnetadc do que eles ri-iii! ni;is que, não obstante, estáo
satisleitos com Dcus e o Io~iviuii.
Uin passarinho canta c se alega com o qiic é capaz e não irckuna por
não sabcr falar. Um cão salta alegre c está satisfeito, embora náo tciihii rarâio.
Todos os animais se satisfazem Lccirii o que têm e sáo] e servem a Deus coin
amor e louvor. Somente o olho mau e egoísta do homem - este iião sc
satisfaz nunca. Mesmo assim, jamais se satisraz plenamente porque é cxtre-
mamente ingrato c arrogante. Pois quer sentar no primeiro lugar e ser o
melhor, náo quer dar a bonsa a Dcus, mas ser honrado por ele.
Conta-se que, na época do Concilio dc Constança26, dois cardeais que
cavitlgavam pelos campos vuam um pastor de ovelhas chorando. Uni dos
cardeais, iiin homcrn bondoso, náo quei-ia passar de largo sem consolar o
hoiiiein; dirigiii-se a clc e lhe pergunioii o qiie estava acontecendo. O pastor
cliorou copiosaiiiciiie e por nlgiim tempo se iiegou a dizê-lo. de modo que o
c:u-deal ficou preocupado. Por firii. o pasior aporiiou para ~ i r i is:ip« e disse:
"Choro porque Deus me c ~ i o ucoino çriaiui-a tão niaravilhosa, tiáo tão
ciesengoiiçado çoino o venne e poiilue não me dei conta disso e jainais lhe
dci graças e louvor por isso". O cardeal se scntiu tocado no íntiriio por
aquclas palavras a ponto de yair da mula. Foi preciso que o carregassein para
casa, enquanto exclamava: O Sto. Agostinho, com quanta razão disseste que
os indoutos sc levantam e se apodcram do céu cm nosso lugar, e nós, com
nossn emdiçáo, andamos em carne c Creio que este pastor não era
rico, nein bonito, nem poderoso. N30 ohstantc, meditou táo profundanieiiie
na bundade de Deus c por ela agradeceu que encontrou mais dentro de si do
que podia iiii:iginar.

i 26 Concí1;o de Con.stnr>ça, 1414-1414. litil ctinciuu <Ic reimns da Ipc.ja cariilic;~,coiivocado


pelo ~papz~ João XXLU, pressionado 1x10irripera<loiSigismundo da Alemanliii (1410-1437).
Objeiivo imediato: rrsolvcr o grande cisilia: dçpois de o papa Grcgório XI ter vulrado dr>

~
!
exíli<icm AvignonFrança, ~udcaisdescorirçntcs com seu sucessor, Urb;ilio VI, iiieger;u~i
Clçmcrire VI1 como convd-papa e eetoniardm corri ele a Avignon. O Coridio de Pixi
(abertura em mago dc 1409), foi c<invocndopor uin gupo dc cardeais para rcsolvei <i
cisma. Foram depostos os papas Gi~gónoXI1 de Rcima e Bcnedito XIII de Avignon c
elegeu-se um novo papa, Alexandre V, um imo depois sucedido por JoLi XXIII. Os palizis
drpr~stosnáo acataram a dccisáo e agora, riii vez de dois, a Igreja tiniia trZs papai. Eslii :i
i ~i1ii;iç;ioquc o Concilio de Constan~:~ tevr rliir. eiiíiiintar. JrrÃo XX?II tcve quc fugir iii,
C'oiic~lioi foi deposto, Gregório XLI iciiiincioii e Benedito XI11 foi dçprisio. Em siishiitiii~
yãi> a riidus cles foi clcito o papa Maltinho V. cri, 1417. O Concílio de Con,niiiuii;afoi i, LIILC
ci>iidçn~xi Jo3o Hiis fogueira; o dwreio S;,crosmcl;i deiimiu a primazi;i do ci~iicílir> ri>l>lr.
r > p ; i ~ , ,idéia essa que j.i vinha ;un;idurecciido h i Ici>ipoc foi posrci crn priiic:~qii;tri<lo<I;(
c<iiiv<ica<Zn<lu ciinçílio dc Pis:i.
liv. X, c:ili. S.
.!7 A p ~ \ l i ~ i l ~ <i~,ili.s.~~ic~s,
<i.

,4.l
I'ii~i~l:uneiilacão da Ética Política
[ Maria] reconhece como primeira obra de Deus [realizadaj nela o "con-
iciiiplar". Esta também é a obra maior, na qual se baseiam todas as deinais
i, (Li qual emanam. Pois, quando Deus volta seu rosto para algu61ii. para
coiiiemplá-lo, aí reina a pura Tara e a bem-aventurança, e todos os dons e
olii-as hão de seguir. Assiiii leiiios em Gn 4.4s. que Deus contemplou a Abel s
c sua oferta; a Caim, porém, e sua oferta náo contemploii. Daí as numerosas
preces 110 sdtério que Deus queira voltar para nós seu rosto, que não o
oculte, que o faça resplandecer sobre nós, etcZR.Que ela própi-ia considera
isso o mais importalte, ela o expressa ao dizer: "Por causa desse contemplar
j:ixações me considerarão bein-aventurada" [Lc 1.481. 10
Presta atenção Bs palavras! Ela não diz que irão falar muito bcm dela,
c.Iogiar sua virtude, exaltar sua virgindade ou humildade ou, quem sabe,
ciicoar um hino para exaltar seu feib. Pelo contrário, falarão somente do fato
(li, I>custer posto os olhos nela, e se d irá que ela é bem-aventurada por causa
ilisso. Isso significa dar a glóia a Deus da maneira como não pode haver is
iii;iis pura. Por isso aponta para o contemplar e diz: "&e enitn, e\ hoc..."
"l?is que de agora ein diante me dirão bem-aventurada, etc.", isto é, a
~~;iiiir do momento em que Deus contemplou minha nulidade serei decllirada
1ii.111--;iventurada. Com isso iiio se louva a ela, mas a graça de Deus para coin
c1;i. Siin, ela, inclusive. é desprezada e toma a si mesma desprezível ao ducr 20
( ~ i i i ' I>cus conteinplou su:i iiiilidade. Por essa razão, exalta sua bem-aveiitu-
i:iii$a aiites de narrar a%obras que Dcus realizou nela e atribui tudo inteira-
I I I C I I ~ Lno
' falo de Dcus ter contemplado sua nulidade.
Aprcndanios disso como honrar e servir-lhe devidmieiite. Como falar
c.l;i! Obseiva as palavras e elas te ensinarão a falar do srguuiie modo: "O 25
Iiciil-aventurada virgem e mãe de Deus! Foste tão insignificante e desprera-
LI:\. NZo obstante, Deus te contemplou de modo excessivanieiiie misericor-
(li(isoe rico, e realizou grandes coisas em ti. Não mereceste nenliuma delas,
i . ;i rica e superabundante graça de Deus em ti vai muito além de lodos os
ii~isineritos. Oh felicidade! Desde agora és bem-aventurada para sempre, tu, ia
iliic ;icliastc um Deus tão maravilhoso, etc." Não penses que lhe desagrada
i ~ i i v i rque se a considera indigna de tão grande graça. Pois, sem dúvida, não
i i i ~ ~ i i i iquando
u ela mesina confessou essa indignidade e nulidade quc Deus,
{li' niotlo algum, contemplou por causa de seu mérito, mas exclusivaiiiente
11or grii~a. 35

lil~iriao gosta de ouvir os charlatâes inúteis, que pregain e escrevem


iiiiiiio ;i i-cspeito de seu iiiéi-ito. Esses apenas querem provar com isso sim
!~1:1111Ic sohedol-ia própria e iiâo se apercebem que acabam totalmente coiii o
A4~i;!iiilicrri,pccham a mie de Deus de riientirosa e m i n i m i m a graça de
Deus. Pois q~t:mto mais dignidade e mérito se lhe atribui, tanto mais se
prejudica a gaça de Deus e se reduz a verdade do Magnificiit Também o
anjo somente LI saúda em nome da "gaça de DeusH->e [diz] que o Senhor
está com ela. Por isso seria bendita entre todas as mulheres. Por essa razão,
todos aqueles que, com insistência, lhe atribuem tanto louvor e honra, e Uie
iiiipõem tudo isso não estão longe de transfomiá-Ia em ídolo, como se ela
desejasse ser honrada e que se devesse esperar todo o bem dela. Isso ela
rejeita e quer que nela se honre a Deus e que. por meio dela, todos sejam
levados a confiar plenamente na g a ç a de Deus.
Portatito, quem quiser honrá-la devidamente náo devc contemplá-la de
forma isolada, mas deve vê-la diante de Deus e muito abaixo de Deus,
despojando-a de tudo e (como ela diz) contemplando sua nulidade. Então,
sim, ficarás maraviihado com a exuberante g a ç a de Deus que contempla,
recebe e ahençoa ricamente e com tão grande misericórdia uma pessoa tão
insignificante e nula. A contemplação de tudo isso há de comover-te a amar
e honrar a Deus por causa de tamanha graça, e deves sentu-te estimulado a
esperar tudo desse Deus que contempla com tamanha nusrricórdia pessoas
insignificantes, desprezadas, nulas, e nXo a,s despreza, plua quc, desse modo,
teu coração seja fortalecido em Deus na [é, no amor e na eskxrintnça. Em tua
opinião, haveria algo mais bonito para ela do que se tul por tiicio dela,
encontrasses a Deus e aprendesses nela a confiar e esperar em Deus -
embora sejas desprezado e reduzido a nada. onde quer que seja, na vida ou
lia morte? Ela não quer que venhas a ela, nias que, através dela, encontres a
Deiis. Por outro lado, deves aprender a temer todas as coisas elevadas a que
os homens aspiram, ao observares que sequer etn sua mae Deus encontrou
nem qiiis encontrar honra alguma.
Os iiicsrres, porém, que nos pintam uma virgem bem-aventurada, na qual
não se encontra nada de desprezado, mas somente grandeza e honra, nada
mais fazem do que contrapor-nos à mãe de Deus, em vez de contraporem a
virgem a Deus. Desse modo, nos tomam tímidos e desesperados e encobrem
a consoladora imagem da graça, como se velam as imagens na época da
quaresma'0. Pois desse modo já não temos mais nenhum exemplo que nos
servisse de consolo, e ela é alçada acima de todos os exemplos, enquanto ela
deveria e queria ser, com gosto, o mais nobre exemplo da graça de Deus para
estimular a todo mundo à confiança, ao amor e ao lou\lor na graça divina;
para que todos os corações aprendam a pensar de Deus de modo que possam
dizer, com toda conti~inça:O bem-aventurada virgem e in3e de Deus, que

2~ ?r. LI 1.28.
311 E cixtiime velar a? imagens e os quadros durante a 6poc.l &A qu;iresm;i: ltimlfiiri os
rci:ihiili>s são fechados.
iI;i k:iica P~>lílic:i
I~itiiil;iiiicii1;~~;io
~

jii;iii<lc corisolo nos revelou Deus cm ti por ter contemplado tão misericor-
ilii~s;iiiicrilctua iridignidade c nulidade. Isso iios mostra que, de agora em
<li:ittic,;i tcu exemplo, também não desprezará a nós pobres homens nulos,
iii:is i(uc 110s contemplará com misericórdia.
Quc itchas' Pela grande graça que Ihes foi coiicedida imerecidamente, 7
I );\vi. S. Pcdro, S. Paulo, Sta. Mana Madalera c outros sáo exemplos para
i i ci)iisolo de todas as pessoas, para fortalecer a coiifiaiiça e a fé ein Deus.
Ai~isonXo seria, eutão, também a bem-aventurada miíe de Deus com prarer
i. iiiiscricordiosamente urn tal exemplo para o muiido? No enlailio, cla não

i ) 11i1ilcser para os verbosos louvadores e os inúteis tagarelas que nXo in


iii<~sii-:tili, com basc neste versículo, como nela se unkarn a transbordante
ii<liii'/:i de Deus coiii sua absoluta pobreza, a honra de Deus com sua
i i i i l i i l ; i ~ l ~;i~ ,dignidade divina coni seu desprczo, a grandeza de Deus com sua
I ~ ~ . I I I I L ~ I I;LC Zboiidade
. divina com seu demérito. Disso resultaria prarer em
I J < . i i \ c ;iirior a ele ern toda confiaiça. Foi para esse fim que foram escritos 1s
:i viil:i os atos dela c de todos os santos. Agora, porém, sc ericontrani
IX~:.YO:IS~ L I nela Ç buscam auxílio c consolo corno em um Deus, de sorte que
! t . i i i t > i l i i ~em nossos dias, existe mais idohtna no mundo que nuiica. Isso
I ~ , I : , I ; I (lili- ora.
c c 1~iri
. .
a vcrsiío latina "on~nesgencrationes" por "filhos dos filhos", 20
<-iii1~oi;i sigiiifique, liteiahnente, "todas as geraçnçi>cs". Essa expressão, po-
i t . i i i . C Ixlr demais obscura, de modo que muitos fizeram grande csfos$o para
<.iiiviiilcrctn que sentido seria vcrdude que todas as gerações a cliamariani
(I<, I~ciii-avcnturada,visto que judeus, pagãos e inuitos maus aistiíos a insul-
i i i i i i ou, pelo menos, se negam a chamá-la de bcm-aventurada. Isso se devc 21
: i i ~ 1~110 de entenderem o tenno "geração" como a totalidade dos seres
1iiiiii;iiios. Na realidade, o significado é o seguirite: a sucessão das geraçõcs
11111. iixxiinenio nalural, onde um nasce depois do outro: o pai, o filho, o filho
C I O lillio e cada um dos membros subscquentes - cada um deles se chama
iIr "~?.c:ci-;t$Zo".Portanto, o que a virgem Maria quer dizer 2 o seguinte: seu 3,)
I o i i v i ~ t .115 de perdurar tie geração em geraçiío e que rião lhaverá época em
< l i i < ' II:III scja louvlida. Assiiii o mostra ao dizer: "Dcsde agora todas as
i,,t.i;iyo~~s", isso significa: começa agora e perdura por todas as gcraqões até
c),. Iillios tlos filhos.
liiiiihéni o termo [grego] "niakar.iocisin" sigiiitica mais que "dizer bem- i
:iv<~iiiiiiiicl:i"; significa "bem-aventurar", ou "tornar bcm-aventurada". Isso,
1~1~vI:ii11o, náo se deve resumir a palavras, genuflexUcs, iiiclma$iío da cabcça,
1 1 i : i i I I chapéu, f z e r imagens, construir igrejas - isso os maus também
I:i/i.iii; para isso se dcve cmpcnhar todas as forças e se precisa de uma
iiii~~~~iic1:idc absoluta. Isso acontece quando, por sua uulidacle c pclo miscn- 10
coiilii~socontemplar de Deus, o coraçiío é tomado (conforme dito acima) de
;ilv>:i-i:i c praLer em Deus por meio dela, e quando se diz c peiisa de todo
O Magnitiçai
coraçao: Ó bem-avcntur:ida virgein Maia! Esse "bem-aveiiturar" é a rna-
neira correta de honrá-la, coino já ouvirnos.

"Pois me fez grandes coisas


aquele que é poderoso, e santo é seu nome." [Lc 1.491
Aqui ela canta, de uma só vez, todas as obras que Deus fez nela, e nisso
observa uma seqüência coiivenieiite. No versículo anterioi- ela cantou o fato
de Deus a ter contemplado e a respeito de sua misericordiosa vontade pwa
coin ela, 0 que, aliás, é - como já foi dito - o inais importante e o
principal ein toda a gi-aya. Aqui ela fiila dc obras e dons. Pois, cm verdade,
Deus concede niuitos bens :I certas pessoas e as dota niaravilhosamente,
como Lúcilèr no céu". Ele lança seus dons à inultidZo. Ncin por isso ele a
contempla. Os bens são apenas presentes qiie duram por algtini tempo, mas
seu coiitemplar misericordioso é a herança que dura para seinpre, como diz
S. Paulo cin Rm 6.23: "A graça é a vida eterna". Nos bens ele dá o que lhe
pertence, na conleinplaçâo misericordiosa ele se doa a si rnesino; nos bens
recebe-se sua mão, iia misericordiosa conten~plaçâorecebe-se seu coração,
Espírito, sua mente e vontade. Por isso a bem-aventui-itda virgem atribui o
mais importaritc e primorciial à coiiteinplaçâio. Ela não diz priineiro: "Todas
as geraçõcs me dirâo bem-iiveriiurada porque ele ine fez g m d e s coisas", do
que trata o prescritc versículo. Ela diz primeiro: "porque contemplou a mim,
pessoa nula, e minha nulidade"; disso fala o versículo anterior. Onde há uma
vontade rnisericordiosa, aí iambéin há dons. No entanto, ii~versamente,onde
existem os dons ainda nâo existe, ~iccessai-iamenle,a vontade misericordiosa.
Por isso é corrcto que este versículo veiiha depois daquele. Em Gn 25.5s.
Icmos que Abraão deu presentes aos filhos de suas concubinas; no entanto,
a lsaquc, o filho legítimo da Icgítuiia patroa, deu toda a Iiei-aiiça. Assim
tainbém Deus não quer que seus verdadeiros filhos se consolem com seus
beirs e presentes, por maiores c niunerosos que scjain, quer espirituais, quer
materiais: muito antes, devem consolai'sc com sua graça e coin ele próprio,
sern, 110 entanto, desprezar os dons.
Ela tambéin niio eriuinera bens cspecíricos, mas resumc a todos numa scí
palavra, dizendo: "Ele rne fez grandcs coisas", isto é, tudo que ele fez em
rniin é grande. Com isso nos ensina: quanto maior a devoção no cspírilo,
ineiios palavras ela precisa para se expressar. Pois sente que nâo pode
cxpressá-lo em palavras, por inais quc o intente e queira. Por isso essas
poucas palavras do cspíriio sempre são tão grandes e profundas que niiigu6iii
ila
I~i~iitI.iciicrii;i$á~i
A-
giirii I'nlitica
i: c;ip;rL clc enteiidê-las, a nZo ser aquele que tenha, pelo menos em partc,
cssc incsmo espírito. Aos que, no eiitanto, não têm esse espírito, tais palavras
~~;iicccin insi-gnificantes, sem substiiicia e sem sabor-. enqiianto eles mesmos
~>it~i~iovem suas causas com grande verbosickide e muito alude. Asshi tam-
I)i.iii o cnsina Cristo em Mt 6.7: nào devemos usar muitas palavras quando
iir-;iiiios. Isso é próprio dos descrentes, que acham que serão ouvidos por
i.:iiisa de suas muitas palavras. E isso que tamGm acontece hoje em todas
;ts igrejas: muito kidalar de sinos, música, canto, algazaira e leitiira, temo,
~nvr-í'tii.muito poiico louvor a Deus. Pois ele quer ser honrado no espírito e
II:I vcrcladc, coino diz Jo 4.24.
S;iloinâo dir em Pv 27.11: "Quem louva a seu próximo com gr:rande
i:il:iiiii-io,já cedo de manhã, esse deve ser considerado difaniados", pois
~I~~slx'ii;i ;I suspeita de todo mundo de que está querendo encobrir uma causa
IIIIII\I;I. Scu cxcrssivo ardor somente piora as coisas. Quem, ao contr.irio,
~ i i I . i i i i : i sv~ipró~imoem alta voz, j i cedo de niiuitiã (isso é, que não 6
~u~.!,~~i-ic i ~ faz com afinco). esse deve ser considerado iim pnegcrista.
> \o
l ' t ~ t ~ 111:io
. se pensa que aquilo 1150 é verdade e que ele o faz por ódio e da
i i i . i 1 ~ 1 : i i 1 i ~c10 coraç.ío. Com isso piora sua própria simação e favorece a do
~no\iiiio.O rnesino acontece quando se acha que se pode louvar a Deus com
iiiiiii;is ~~;il;ivras, gritaia e imidos: ;ú nos cornportruiios como se ele estivesse
. . i i t t I ~r comi>se de nada soubesse. coino se o quiséssemos acordar e instruir.
S~.iia.lli;iiitckilso conceito a respeito de Deus contribui mais pua sua igno-
i ~ t i i i i ; i c dcsonrri do que para sua honra. A. situação é difereiite quando
;tI::ii1.111 i~~editci bem no fundo de seu coraçiio seus fcitos divinos e os
t-iiiiiciiilil;i com admiração e agradecimento. Esse prommpe em fervor e
!T.IIIL. iii:iis do qiie fala; as palavras fluem por si mesmas, sem seirm cogita-
(!:i\ tii.111 elaborados, de forma que com elas borbiillici o próprio espírito, e
e , t i i i i ~sc as pdavras iivessem vida, mãos e pés. sim, como se todo o corpo
i- i < i i I : t :i vida juntamente coni todos os metiibros quisessem Caiar. E a isso
< l i i i . si. cl~iiiia,cntLo, de louvar a Deus em espírito e verdade; Iiebse caso, as
~:il:ivi;iss.io fogo, luz e vida, como diz Davi no Salmo 119.140: "Senhor, o
I : i I . i i I I I I C . ~?rocc(li. de ti E de fogo"??. Ou então: "De meus lábios há de j o m
I :i i i " /SI 119.171], exaianienie como a igua quente traisborda e
L . . . I M I I I I . I ~ I I ~ ~ I I I Icrve,
)I> porque náo pode conter-sc niais por causa do calor
c l ~ . v . i c l o ii;t ~~;"icla. Assim sRo Imibém todas as palavras da bem-aventurada
\,tit*"tii iv'sic cintico. São poucas, e, não obstante, profundas e grandes. Etn
I < I I I I .'. I I S. Paulo denomina tais pessoas de spiritu fervente os de espírito
.it~li~i~iso c boi-hulh'mte, e ensina-nos a sermos semelhantes.

i.' Il i i i . i i r i.it;l L.i,ntir~mea Vulpata: I ~ n i l i u meloquiiinl Iiium velicnicrlkv - I,!!t p:lli~vrit


vi.,.iii<~!iiv~iicr~lil ;irclintc (SI 1lX.IJOt.

.1X
O MLagnific;i1
-
As " g a ~ d e sc<iisas" nada sâio s e n k o fato de Maria ler chegado a ser
a inâe de DeuG3. Nesia obra lhe forain dadas tantas e tão grandes obras que
iiinguéryi as pode compreender: pois é nisso que reside toda sua honra e bem-
averitur;uiqa, é esse o motivo pelo qual ela é urna pessoa singular dentre todo
5 o gênero liumano. Pois iuiiguéni se iguala a ela, porque ela tem cim filho
com o pai celeste, e que filho. Ela pr6pi-ia C incapaz dc descrever este
acontecimento por ser demasiadamente grande. Tem que limitar-se a que, em
seu fervor, irrompa e borbullie, dizendo que são grandes coisas que não se
podem csgotar nein mensurai- ein palavras. Por isso tcxla a sua honra foi
resuini<la em unia s6 palavra, a saber, qitan<iose lhe chama niãe de Deus.
Ningiiém pi>dedizer coisa iiiais sublime de1;i e a ela, ainda que tivesse tantas
línguas ronio existem Colhas e ervas, estrelas no céu e areia iio mar. Tmbéiii
é preciso meditar no coração o que significa ser inãe de Deus.
Ela tiunhem o atribui ititt'iramente à graça de Deus, náo a seu mérito.
!, Pois, embora tivesse sido sem pecado, essa graça era tão superior a tudo que.
de modo algum, ela em digna dela. Como poderia urna criatura ser digno de
ser a inãc de Deus'? ainda quc alguns escrilores tagarelei11 muito sobre sua
dignidade pai.;^ essa rnaternid~ide.No entanto. creio mais nela própria do que
neles. Ela diz que sua nulidade foi contemplada c que Deus n2o recoinpen-
.o soii coiii isso seu inérito, mas: "Ele me fez grandes coisas". Ele o fez por
iiiiciativa própila. sein mérito ~ i minha
e pane. Pois jamais ihe havia ocorrido
de se t o n m m3e de Deus. muito incnos se havia preparado ou disposto p m
tanto. Essa mensagem lhe veio de inodo inieiratnente itnprevisto, corno
escreve LIJGLS~'. Um niéiito. por&n, nâio esti despreparado para sua recom-
2.5 pensa, inas visa a recompensa c conla coin ela.
O fato, porém, de se cant;u no Regina coeli laetare": "...ao qual inerc-
ceste cmegzu" e eni outra p;issngem: "...ao qiial foste digna de carregar,
ctc." n;id;i prova. Pois as mesmas palavras se cantam n respeito da santa
cruzjfi,que cra Feita de mdrúci e nada podia merecer. E assim qiie isso dcve
-
33 Veia acini;i p. 32, n. 16.
?J Cf Lc 1.2L'.
15 AI palIvr&\ coiistiniein o coinqo de. 11111 hino latino do ser. E;n;: "Rainha do cru. alega-
te...", ci>n.<tanteda Liturgin das Hurns para o di;i dedicado a Maiia como raiiihu do idu,
22 dc agosto. O texto ~.omplcto:Keb.ina coeli laçruc, alleluia! Quia quçm meruisti portar?.
alleluia! rc,~uirexit,s i ~ ~ dixit,it ,dleliu:t. Ora pm ,iobis Deum, allrltu;~! Gaude e1 laetm
Virg" M.723.alleltiia! @ia s m r i t Dominur vere, iilkluia! - "Riinha do céu, dqn-te.
aleluia! Porque ailurle que merirsste c m e g x rio \,L'nee, aleliii;l! ressurgiu. como disse,
alleluitr! a Deus por nós, a i d ~ k ~ ! (Cf. " cill: L i k r Usii~lisMi7snr er Otljcu pro
L>r>iniiiici,~ci Fesfis. Desciée & Sucii, Pirisiis - Toniiici - Roniac - Nco Eboraci, 1960. p. 275.)
?O Ni> Missal Rornaio, 1" Doi~iiiigoda Quaresrii;j, kiar:i a Hom da \'6spera. consta o Ihiiio:
M.nilla h'rgj,s,)n)deunl: FuIgcf Tiii~.i\nii:vVsIeriuni,(>uiii vila morferrl pnilif, Et nlorrtr v;l;trr>
,>~,ciilU.- "O:; csisiidaircs do Ri'i scgttcin h frcnlc. Fulgç < i misMrii, do criiz. porque ;i
vi<l:iI B : ~ S V ~ I ,iiii,iic. i' wvvliiii ;i viil;, ;iii'avi.s il;, i~i<iilc".li mi i(u;in;i cslrok \i. I?:Aihir-
lxl;i

.I0
da
I~iiii<l;i~i~ctit:ic;io É1iL.a Política
scr ciiteridi<l«:para ser mãe de Deus, ela lililia que ser mulher. uma virgcrii,
( I c i iril>ode Jiidá, e crer na mensagem ayélicii. a fim de se prestar para tarito.
coii~oa Escritura fala a seli respeito". Assim como a mudeira não teve
iiciilium mérito ou dignidade exceio o de servir pala a c r u e dc tcr sido
,I~,siiiiadapara isso por Deus, assim tamhéin ela não tcvc outra dignidade
pcirii csui maternidade exccto a de se prestar e ser destinada para isso. para
qiic fosse somente graça e não se ioinassc mérito e não sc djminuísse a
i:rnya, o louvor e a honra de Dcus atribuiudo demais a ela. E preferível
;lcrrogar méritos de M a i a >a diminuú a graça de Dcus. Na verdade, não se
~~oclc derrogar-lhe méritos em demasia, visto que ela foi criada do nada,
.
coiiio todas as criaturas. Mas a graça de Deus é desmerecida com excessiva
I . l i: Ii idiitle; isso é perigoso e com isso mio se deinonstra amor a ela. E de Fato,
~xc~ciso comedimento, para não coinctcr eragero com os nomcs, chaniari-
< l < r :i dc raiiilia do céu. Isso está ccrto. Mas iiern por isso ela é um ídolo qlie
~~i<lc.sse coriceder algo ou ajudar a alguéiii. coiiio crêem alguns que clamam
iii;iis :i ela do que a Deus e iiela buscam refúgio. Ela nada dá, nicis somente
I >i.iis, como veremos logo ciii seguida.
O que époderoso. Com isso ela despoja todas as criaturas de iodo podcr
c, Iory~e os atribui somente a Deus. Ora, isso é uma grande audiícia e um
l:i;i~i~lc despojo por parle de uma iiiocinha tão jovem e insignificante: com
i i i i i i i scí palavra ela é capaz de tornar hacos a todos os poderosos, impotentes
;i ioilos os fories, loucos a todos os sábios, infames a todos os afamados e
;iii-it>iii exclusivatnente ao único Deus todo poder, toda ação, sabedoria c
I~,l<iri:i. Pois a cxpressáo ''o que é podcroso" signilica que náo há ningiiém
qiic L~qaalgo, mas somente Dcus realiz,a tiido em todas as coisas, como c i i ~
S. I';iiilo ern Ef 1.11, e as obras de todiis as criaturas são obras dc Dcus. E
i i ~ ~ sentido tc que também conlessamos rio Credo: "Creio cm Deus-Pai,
'lii<lo-podcroso". Ele é todo-poderoso, de iiiodo que. em todos e através de
ioilos c sobre todos reina exclusiva~nenteseu poder. Assuii IrimhEiii o canta
; i iii:ic de Samuel, Sta. Ana, eiii I Sm 2.9: "Ninguém tem podcr de fazer
; I I ~ 1x)rsuaI própria capacidade". E S. Paulo diz em 2 Co 3.5: "Não somos
~ . : i ~ > ; i ~ cpensarmos
sde alguma coisa de nós mcsmos, mas [tudo] de que
S O I I I I I ~capazes vem de Dcus". Este é um artigo muito elevado e que ciiccrra
i i i i i i i ; ~ cois:i; ele põe por terra toda arrogância e petulância, todo orgulho,
I:llii.i;i, Iils;i confiança e enaltcce somente a Deus; sim, ele indica a razão por

< I < .3 ,iwi ,.iliill:iiLi. r,rri;ir;i Regi7 pnryiiir;,, clci'1:i cli-qo stipidi tarn saiida iiiemhn (angere -
"Rt:~cli.ii.i~ < l i f i i i > sr: iliílgi<ln,oiiiada da piirli~irado Rei. escolhida do troiiço digno de tocar
ciii: 1,rlicr 1J.~[iid;.vhII.s.s;~ccr OiIicii pro ~ ~
I I . I .
i i i < i i i I ~ i < i \i : i i ~ , : i l , ~ a ~ l < i \ . ' '
S . i
(('I.
'liiiii,ici I
~ ~ ~c1 !I;,.<r;r.
575.1
- Nc<i Eh<hi>r:ici,1<1011. 13.
l ~ z i ~ I . ~
i
O Madica1
que se deve enaltecer somente a Deus: 6 qiie ele faz todas as coisas. Isso é
fácil de dizcr. inai difícil de crer e de aplicar iia vida. Pois pessoas que
pratic~misso ria vida são pacíficas, serenas, siiiiples; mda zurojiam a si e
sabcm muito bem que nada Ilies pertence, mas que tudo é de Deiis.
5 Portanto, com cssas palavras n santa mãe de Deus quer expressar o
seguinte: nada de todas cssas coisas e grandes bens é ineu, inas aquele que
é o único que faz todas as coisas e cujo podcr exclusivo atua em tudo, este
me fez estas grandcs coisas. Pois a k~alavra"podcroso" não significa aqui
um poder quiesceilte, como se diz que é poderoso um rei temporal, mesmo
iii quando descansa e nada faz; mas é uin poder ativo e uma atividade constan-
te, que está em moviineiito e atividade permanente. Pois Deus não descansa,
inas atua incessantemente, como diz Ciisto em Jo 5.17: "Meu Pai atua até
agora. e eu atuo também". Do mesmo riiodo diz Paulo ein El: 3.20: "Ele é
poderoso para fazer mais do que pedinios", isto é, ele seinprc faz mais do
15 quc pediiiios. Essa é sua maneira de ser, i assiiii que procede seu poder. Por
isso eu disse quc Mxia n5o qiier ser um ídolo. Ela nada faz. Dcus é que faz
todas as coisas. Devemos uivocií-Ia a fim de que, por anior dela. Deus
cmccda c faça o que pedinios. No inesmo sentido também se deveni uivocar
todos os demais saiitos, para que, riii todos os casos, a obra seja sempre
211 exclusiva de Deus.
Por isso ela acrescenta: "E santo é seu norne". ISSOsignifica: assim
como não me arrogo a obra, também não me arrogo o nome e a honra. Pois
a hoiva c o nome competem somente àquele quc realiza a obra. Não é justo
que utii t'ap a obra e outro leve o nome e receba a honra. Eu sou apenas a
5 oficina lia qual ele trabalha, inas nada coiitribuí para a obra. Por isso niri-
guém ILIC deve louvar nem dar-me a Iiorinc por me ter tornado a mãe de
Deus. deve-se honrar c louvar em iniiii a Deus e sua obra. Basta que as
pessoas sc iile~irrticomigo e me declarem beiii-nveii(urada porque Deus nie
iisou para fazer cm mim essas siias obras. Vê como ela atribui todas as coisus
$8 iiiteii-amente a Dcus. Não reclama para si nenhuma obra, ncnhiima honra,
iicnhuma glíiria. Compouta-se coiiio antcs, quando ainda não tinlia nada
dcssiis coisas, também não busca niiiis honra do que antcs. Não se vaiigloriu,
riao alardeia que sc tomou mãe de Deiis, não exige honra, mas vai e trabalha
iia casa como antes, ordenha as vacas, coziiiha, lava a Iouqa, varre e ocupa-
v, sc como urna empregada ou uma dona de casa deve ocupar-se com trabalhos
Ilcquetios e Uisignificmtes, coino se se importasse com esses dons e
~:l;iy;is extraordinários. Ela não é considerada mais entre as mulheres c
vi/iiilios tlo que antcs. Ela tampouco o clesejou, mas continuou sendo uiii;i
l ~ ~ l i i c.iiladR
i: no meio da massa das pessoas humildes. Oh, que cora@o
h i ~ i g ~cl ipiiiu! ~ que pessoa admirjvel! Que coisiis táo grandes se cscondciii
i i i i i i i ; i ;i1~~r211cin tzo humilde! Ouantas pcsswas eritiaKim em coniaio cor11 &i.
I . ~ I I I Y ( T S I ~ ~ I I I IC, O I I I C ~ ~ L IcI I I~CI>CI;IIII c0111 clii c LIIIC Iiilvei 11 iIcsprc/;ii-;i111c ; i
I iiriilanientaçiio da Ética Política

coiisidcraram uma pobre e simples cidadã comum e que se teriam assustado


(Icla se tivessem sabido essas coisas acerca dela.
1
E isso, portanto, o que significa: "Santo é seu nome". Pois "santo"
significa o que foi separado, consagrado a Dcus, o que não se deve tocar
iicm manchar, iras honrar. "Nome" signitica, por sua vez, boa reputação, i
í':iina, louvor e honra. De maneira que todos devem manter distância do
iioinc de Deus, @guém deve tocá-lo nem apropriar-se dele. A isso se refere
Iigurativamente Ex 30.25, onde Moisés prepara precioso e santo bálsamo por
ordem de Deus, proibindo rigorosamente que alguém ungisse com clc seu
corpo. Isso significa que ninguém deve usurpar o nome de Deus; pois io
significa profanar o nome de Dcus quando nos gloriamos e aceitamos honra,
oii q~iandocncontramos agrado em nós mesmos e quando nos gloriamos de
iiossas obras ou bens, como o faz o inurido que blasfema e propana o nome
clc Deus sein cessar. Pelo contrário, como as obras são exclusivas de Deus,
i;iiiihém o nome compete exclusivamente a elc, e todos os que santificam seu i i
iioiiie desta maneira e renunciam à honra e a glória, esses o honram de
v~~irl$de. Por essa raizao também sio santificados por isso, como está escrito
i ~ i iEx 30.29: o precioso bálsamo era tão santo que santificava tudo que
ii~c;iva.Isso quer dizer que o nome de Deus é honrado devidamente quando
i: s:iiitificado por nós e não nos arrogainos nenhuma obra, nenhuma glória, 211

iiciiliuma autocomplacência nisto. Então ele nos toca e nos santifica.


Por isso é preciso ficar atento, porque ncsta vida não podemos prescindir
dos bens de Deus, e por conseguinte, também não podemos viver sem nome
c Iroiua. Quando, pois, alguém nos elogia c nos conquista boa reputaçâo,
clcvemos tomar por exemplo a mãe de Deus e estar preparados para respon- 25
dcr scmpre com este versículo [sc. Lc 1.491. Devemos fazer uso correto da
I!oiira e do elogio e declarar publicamente ou, ao menos, cogitar no coração:
O Senhor Deus, é tua a obra que está sendo enaltecida e elogiada. Seja
ciiinbém teu o renome. Não fui eu que a realizei, mas tu que, em teu poder,
rcalizas todas as coisas, e santo é teu ilome. De modo que não se deve negar io
o louvor e a honra, como se fossem algo errado, ou então inenosprezá-10s.
coino se não tivessem valor. No entanto, não devemos considerá-los como
;iIgo demasiadamente nobre e precioso, mas atribuí-10s ao céu, ao qual
~)crkncem.E isso que ensina esse excelente versículo. Esta é a resposta
qi~andoalguém pergunta se, então, ninguém deve honrar o outro. S. Paulo 3s
ilix inclusive em Rm 12.10 que devemos empenhar-nos com afinco no
sriilido de cada qual antecipar-se ao oulro na questão da honra. No entanto,
iiiiifiiiém deve aceitar a honra como dada a ele e nem guardi-Ia para si, mas
ilcvciiros santificá-la e devolvê-la a Deus, ao qual ela pertence, juntamente
coiii lodos os bens e obras que são o motivo da honra. Pois ninguém há que 40
Ii,v;ir uma vida desonrosa. Ora, para viver honrosamente, há que havcr honra.
Assiin, poréin, como a vida honrosa é dom e obra de Deus, i;iiiiIiCiii o iioinc
seja exclusivamente dele, santo e incontaminado de autocomplacência. Isso
nós o pedimos no Pai-Nosso: "Santificado seja teu nome".

"E sua misericórdia dura de uma geração a outra,


para os que o temem." [Lc 1.501
Temos que acostumar-nos à Escritura que entende sob "gerações" a
seqüência da procriação ou do nascimento natural, ou scja, os tiascimentos
sucessivos de um ser humano do outro, como dito a c h a . Por isso a palavra
alemã Gescfdechter - "gerações" - não satisfaz. No entanto, náo me
ocorre outra melhor. Pois denominamos de "gerações" as parentelas e o
conjunto de parcritcs consangüíneos. Aqui, porém, há que ter o sentido da
sucessão natural do pai aos filhos dos filhos, chamando-se cada membro
dessa sucessão uma geração, de sortc que penso que não fica mal traduzi-lo
do seguinte modo: "E sua misericórida dura de filho para fiho, para aqueles
que o temem". Essa maneira de ialar é muito comum na Escritura, tendo
sua origem nas palavras de Dcus que ele diz no monte Sinai cm conexão
com o Primeiro Maritlamento a Moisés c todo o povo: "Eu sou teu Deus,
forte e zeloso, que castiga os pecados dos pais nos filhos até a terceira ou
quarta geração, aos que me odeiam, e sou misericordioso anmilhares de
gerações aos quc me a r a m e guardam mcus mandamentos" [Ex 20.5s.I.
Depois de haver ac.nbado de cantar acerca de si inesma e de seus bens
divinos, e tendo louvado a Deus, cla passa a fazer um passeio por todas as
obras de Deus que clc realiza em geral, em todas as pessoas, e também lhe
canta a respeito delas; ensina-nos a reconhecer devidamente as obras, o
caráter, a natureza e voiitade de Deus. Muitas pessoas e filósofos extrema-
rncnte inteligentes tainbém se ocuparam com isso, querendo saber quem é
Deus. Escrcveram muitos livros a respeito, um expondo esta opinião, outro
aquela. Todos, porém, ficaram na cegueira neste empreendimento e não
descobriram a visão verdadeira. E, na verdade, a maior coisa no céu e na
terra é conhecer verdadeiramente a Deus, se é que isso pode ser concedido
a alguém. A mãe de Deus o cnsina aqui muito bem, se alguém se dispõe a
entendê-la, como tainbém mais a c k a cnsina a mesma coisa em sua própria
pcssoa. Como, porém, conhccer melhor a Dcus do que em suas próprias
ohras? Qucm reconhece verdadeiramente suas obras, esse não pode errar no
conhecimento de sua natureza, vontade, de scu coração e mente. Por isso C
iiiiiii arte conhecer suas obras. Para melhor compreensão, ela enumera scis
ohrns divinas em seis classes de pessoas nos quatro versículos seguintcs.
<livi<liiid« o mundo em duas partes. Em cada lado há três obras e três classcs
(lc pessoas. Uma parte sempre está em contraposição à outra. Aí ela mostfii
o qiic I>cus faz ein ambas as partes e o retrata de tal maneira como iião pode
sii. ilr:il:ido iiiclhor.
lisi;i ilivis;io csii hciii li.ii;i c ciii oirlciii c se hiiscia cin divcrs;is p;iss;i-
.5 3
~
I,iiii<lament,?cÃoda Ética Política
,gciis da Escritura. Por exemplo, em Jr 9.23s., onde [Deus] diz: "Não se jacte
(1 sábio de sua sabedoria. Nenhum poderoso se jacte de seu poder. Nenhum
rico se jacte de sua nqueza, mas, quem quiser jactar-se, jacte-se de me
conhecer verdadeiramente e de saber que eu sou um Deus que faz misesicór-
(lia, juízo e justiça na terra. Isso é o que me agrada, diz Deus". Este é urn 5

excelente texto e concorda com este cântico da mãe de Deus. Aqui vemos
igualmente que [Deus] divide em três paites tudo o que o mundo tem: em
sabedoria, poder e nqueza, e que quebra tudo isso, dizendo que niiiguém
(leve jactar-se dessas coisas, pois aí não se há de encontri-lo; tampouco ele
tem prazer nisso. E a isso contrapõe três uutra~partes: misericórdia, juízo, ia
justiça. E diz: neles estou presente, sim, eu faço tudo isso. Táo próximo
csiou, pois não o faço no céu, mas na terra; é aí que me encontro. Quem me
coiiliecc dessa forma, pode perleilamente confiar nisto e jactar-se. Pois se
1i;io é sábio, porém pobre de espírito, minha inisericórdia cstá com ele; se
11,íio for poderoso, ma,? oprimido, está ai meu juízo e o salvcirá. Se não for ii

rico, mas pobre e necessitado, tanto mais está com ele minha justiça.
Na sabedoria cle encerra a todos os bens espirituais e dons elevados, por
viiiisa dos quais uma pessoa pode ter complacência, fama c reputação, como
i i iiiostrará o versículo seguinte, quais sejam: inteligência, ruão, talento,
Ii;ihilidade, piedade, virtude, vida boa, em resumo, tudo que há na alma e 20

que se &una divino e espiritual. Por mais elevados que sejam esses dons,
iicirhum deles é Deus mesmo. Sob poder entende toda a autoridade, nobreza,
;iiiiigos, dignidade e honra, seja sobre hciis temporais ou cspúituais ou o
povo [temporal ou espisituail (embora ila Escritura não exista autoridade ou
podcr espiritual, mas tão-somelite serviço e submissZo), com todos os direi- 21
ii~s,liherdadcs, privilégios, ctc. que possa conter. A riqueza encerra a saúde,
11ii;i aparência, boa disposiçzo, força Císica e todas as boas coisas cxtcrilas
qiic podem ocorrer ao corpo. A isso se opõem três outras [categorias de
~~rssoas]: os pobres de espírito, os oprimidos e os necessitados fisicamente.
I':isscmos agora a estudar ordenadamente as seis obras c partes. 30

A primeira obra de Deus: a misericórdia.


A respeito dela diz o presente versículo: "Sua misericórdia dura de filho
II:II:I lilho para aqueles que o temem". Maria começa com o mais elevado c 3s
iiiili(irt~uitc:com os bens espirituais interiores que fazem as pessoas mais
;iiropntes, orgulhosas e pertinazes da terra. Não existe homcin rico, não há
Iii)iiicin poderoso tão arrogante e audacioso como um tal presunçoso que
:~cli:ique tem razão, que ele é que entende das coisas, que se julga mais sábio
I I I I outros;
~ especialmente quaiido chega ao ponto de ter que ceder ou admitir no
q11c iiZo está com a razão, ele se toma tão insolente e revelo I;inl;i C:iI(:i de
triiioi- (Ic Deus que ousa jaclor-sc de iiâo poder ei+nr. i~iic1)ciis VSI' ;I i1 se11
I:ivor. os clc.iii;iis sZo (11) (liiilio; ;11rcvc-se:i iiivociir i),jiii/,i) (Ir I)i.iis i,, sc tivcr
autoridade e poder, arremete ceganiente, passa com a cabeça pela parede,
persegue' condena, blasfema, mata, expulsa e destrói a todos que se Ihc
opõem, e depois declara que o fez para serviço c honra de Deus. Tein tanta
certezi e está tão convencido de unia grande gratidão e recompensa perante
s Dcus que nem os anjos do céu têm unta certeza. Quanta arrogância! Quantas
vezes a Escritura se refere a essa classe de gente, que ameayas tem'veis
pronuncia contra clcs! No entanto, seritem-no menos do que a higoma do
ferrciro saite :IS marret;idus. Este C uiii assunto ainplo c vasio.
A respeito dessas pessoas diz Cristo cm Jo 16.2: "Viri a hora em que
io aqueles que vos mat;irein c expulsarem julgarúo prestar um grande serviço a
Deus". E o SI 10.5s. diz, referindo-se i mesma categoria de gente: "Ele
submete a todos os sciis adversários e diz: nenhum mal nie atingiri", como
a dizer: estou com a razão, e é holii 0 que faço; Deus me recoriipensará
ricaiiientc, ctc. Mo:ibe foi um povo dcsic tipo. A respeito dclc diz Jr 48.29s.
ii e 1s 16.6: "Ouvimos a rcspeito de Moabe. Ela E excessivamente soberba; sua
arrogância, seu orguiho, seu alreviinento, sua exaltaçúo c furor são maiores
que seu poder". Daí se pode deduzir que, em sua grande presunção, este tipo
de gente gostaria de fizer mais do que pode. Urii povo desses foram os
judeus ciii relação a Cristo c aos apdstob~s.ticutc dessa espécie foram os
211 amigos de S. Jó, que falaram coiitra clc com sabedoria excessiva e louvaram
c proclamaram a Dcus nos mais :iltos tons. Tais pessoas não mvcm, não
aceitam argumentos; 6 impossível admitir que não tenham razão ou que
possam ceder. Sai da Irente - auida que 0 mundo caia em ruínas! A
Escritura náo encontra palavras para reprecndcr semelhante multidão dc
25 perdidos. Ora a chama de áspide quc fecha os oiividos, pZi 1130 ouvir; ora
dc uiiicórnio inveiicível, ora de leão enfurecido, ora uma gi-aiidc rocha
irrcmovível, ora um dragão, e muito mais'H.
No entanto, em rienhuma parte estão retratados tão bem como em Jó
4 0 . 1 5 ~ e~ .41.1~s.;ali denomina essa gente de beherii»tP9. Beliciii3 designa
um só aiiimal, behci~iolhmuitos atiutiilis, ou se-ja, Lim povo que tem a
inteligtncia de uiii eiiimal e não permite que o Espúito de Deiis reine nele.
Ali Deus a descreve: tem olhos conio a aurora [Jó 41.181; pois sua inteligên-
cia não tem limites; sua pclc é tão dura que zomba quando acertada por tiros
ou golpes [vv. 26-28]. isto é, quando se Ihes dirige um sermão, eles se riem
5 dele, pois seu direito niio é impugnivel: depois: uma escama está grudada ii;i
oiitra que iienhiim veiitintio p d c pciietrar [vv. 16-17]; seu coraçúo (diz

: i X ('I: SI 58.4; SI 22.21; SI 7.2; Jr 5.3; SI 74.13.


.ii)Rclicriioth F u plural dç ix.hc~nacrn Iiehraiço: o ienno sigiiific:~''hipopótam<i'' qiiç ciii scii
i : i i i i ; i i i l i ~ ~rcprc'cnlx, p<ir ashitli dizcr. o inúlripl<i <Iruin ;ini~nal.Lotcro idcniilic;i < i kliciiiriili
(li. Iii 111.15-24c o i i i i?Icvl;ii.í < l i .lii 40.25ri. c 41.1ss. Elc tiplic;, :i < I c ~ c r i ~<Ir .ii~ :iiiihiis <i!,
xti!~>;ki\ i ~ c ! > l\ rC ~ L I G Lr ~2rr0~~1t11c.
I'undamenlacãii da Ética Piilítica
Deus) está tão endurecido como a bigorna de um fesreiro [v. 241. Isto é o
corpo do diabo; por isso também atribui tudo ao diabo nesta mesma passa-
gem. Em nossa época, mais do que ninguém, o papa com seus sequazes tem
sido um povo desses, e o foi por muito tempo. Eles também procedem dessa
maneira, e agora mais do que nunca. Não ouvem, não cedem; E inútil Salar, i
aconselhar, rogar, ameaçar, em resumo, nada mais adianta. Pois, nós cstamos
com a razão, e basta; diga - o contrário quem quiser, ainda que Sosse o mundo
inteiro.
Alguém poderá dizer: Mas como? não se deve defender o direito?
devemos rcnunciar à verdade? Não nos foi ordenado morrer por amor do io
direito e da verdade? Acaso os santos mártires não sofreram por causa do
Evangelho'?Não quis ter i-azZo 0 próprio Cristo'? Em todos os casos acontece
que, às vezes, tais pcssoas têm razão perante o público (e, como alardeiam,
perante Deus), e agem bem e sabiamentc. Respondo: Está na hora e urge
abris os olhos. Aqui está o nó da questão; importa, pois, quc se esteja bem is
instruído sobre o que é estar com a razão. E certo que se deve sofrer qualquer
coisa por amor da verdade e do direito e que não se deve negá-los, por mais
insignificante que seja o assunto. Pode, inclusive, ser que tenham razão. No
cntanto, arruínam o direito por náo executarcrn o direito confomle o dii-eito,
iião agem corn temor, não têin a Deus diante dos olhos. Acham que basta 211
cliie seja direito, devem e quercrn prosseguir por sua própria autoridade e
Icvx o jogo até o fim. Com isso transformam seu direito em injustiya,
ciiibora, cin princípio, fosse justo. O perigo, porérn, é inuito maior quando
:ipenas acham que é direito, mas não têm certeza, como ocorre nos elevados
assuntos que dizem respeito a Deus e sua justiça. Ern primeiro lugar, todavia, 21
clucremos falar do simples direito humano e dar um exemplo singelo e
coinpreensível.
Acaso não é verdade que dinheiro, bens, corpo, hoiua, mulher, filhos e
;iiiiigos, etc. tanlbém são coisas boas que o próprio Deus criou e deu? Sendo
iloiis de Deus e não tua propriedade, [suponhamos] que ele queira pôr-te à 3n
111ov;ipara ver se serias capaz de renunciar a eles por amor a ele, afersando-
I,. iiinis a ele do que a esscs seus bens; que ele te mandaria um inimigo que
o s iii-;issede ti todos ou em parte e te prejudicasse, ou então os perdesses por
iiioiit: c ruína, ou de outra forma. Crês que, neste caso, terias motivo justo
~ t ; i i ; i cshravejar, enfurecer-tc c para recuperá-los com violência e à força, ou i5
iii.:iics impaciente até recobrá-los? Alegarias que sáo coisas boas e criaturas
(li. Ocus que clc próprio fez, e que toda a Escritura considera boas essas
c.i~ixis;por isso estaiias disposto a cumprir a palavra de Deus e proteger esses
Iri.iis com o coipo e a vida e recuperá-los; ou então, ao menos, não estarias
ilisl>osíl«a renunciar a eles espontaneamente nem entregá-los resignadamen- ni,
ti.. Niio pareceria bonito? Se quisesses proceder bem neste caso, nXo devei-ias
iciii;ir passar com a c a b e ~ apela parede. Como então? Dcveri;is Icrricr ;i Ilciis
e dizer: Bem, querido Deus, são coisas boas e bens teus, como diz tua
própria palavra, a Escritura. Não sei, porém, se mos queres conceder. Se
soubesse que não são para mim, não teiltaia recobrar sequcr um cabelo. Se,
porém, soubesse que preferirias vê-los em meu poder do que no poder
5 daquele outro, quereria servir a lua vontade e recuperá-los coin o empenho
de corpo e bens. Como, poréin, i ~ ã osei nenhuma ncin outra e vendo [apenas]
o fato de que, no momento, permites que me sejam tirados, entrego a causa
a ti. Aguardo o que devo fazer e estou disposto a tê-los ou a prescindi deles.
Eis aí uma alina justa; ela teme a Deus, conta com a misericórdia, como
iri canta a mãe de Deus; a pailir daí se pode compreender por que, em teinpos
passados, Abraão, Davi e o povo de Israel lutaram e mataram muita-gente:
empreenderam [essas coisas] por vontade de Deus, temiam [a Deus] e não
lutavain por causa dos bens, mas porque Deus o esperava deles, como o
demonstram os relatos, indicando, em geral, a ordem prévia de Deus. Vê,
is aqui a verdade não é negada: averdade afirma que são coisas b o a e
criaturas de Deus. Mas a mesma verdade também diz e ensina que deves
renunciar a esses bens e estas disposto, a todo momento, a prescindir deles,
quando Deus assim o quer, e que deves prender-te somerite a Deus. A
verdade náo te obriga a recuperar os bens a« afumar que são bons. Tampou-
20 c0 te obriga a dizer que não são bons. Muito antes deves ter uma atitude
serena ein relação a eles e confessar que sio bons, e náo maus.
Da mesnia foima deve-se proceder também coin o direito e toda sorte
de bens da razão ou da sabedoria. O direito é uma coisa boa e dádiva de
Deus - quem iria duvidar disso'? A própria palavra de Deus a f m a que o
a direito é bom4' e jainais alguém deve admitir que suas causas boas e justas
sejam injustas ou más; antes deve morrer por isso c renunciar a tudo que não
E de Deus; pois isso significaria negar a Deus e sua palavra que diz que o
direito é bom e não mau. Acaso quererias gritar por causa disso, raivejar,
esbrave,jar e destriiir o mundo inteiro quando esse dircito te é tirado ou
iii suprimido? (Há os que proccdcm desse modo, os que clamam ao céu,
provocam toda sorte de miséria, destroem terras e povos, cohrem o mundo
com guerras e derramamento de sangue). Sabes acaso se Deus quer deixar-
te essa dádiva e esse direito? Ora, é propriedade dele e ele pode to tirar hoje
ou amanhã, dentro ou fora, por meio de inimigos e amigos e como quiser.
75 Ele quer experimentar-te se, por amor dele, também estás disposto a renun-
ciar ao direito, a não ter razão e sofrer injustiça, suportar a ignomínia por sua
causa e a te prenderes somente a ele. Se és temente a Deus c pensas: Senhor,
tudo E teu, não quero tê-lo a não ser que saiba que mo queres conceder; quc
se vá, seja o que for, contanto que tu sejas meu Deus - então se aplica esic

110 1'. cx.. SI 37.28; SI c14.1S.


I;uii<l;iiiicrii:i\.jo da Ética Pi>líiica
- -- --
vcrsículo: "E sua nuserichrdili está com ail~lelesL I " ~ < I temem", que iiad:i
iliierem Sazcr scin sua vorirnde. Vê, aí está curriprid3 :i palavra de Deus eni
iuiihos os casos: em pririieiro lugar, confessas cllie o ducito, tua razão. teu
conheciineilio, tua sabedoria e toda lua intenção sáo justos e bons, como o
diz a própria pahvra de Deus. Ern segundo lugar, prescincies desses bens s
voluiiiariameiite por amor de Deus, e aceitas ser tlestruído e injuriado inius-
tainciite pelo mundo, como o ensina igualinente a palavra de Deiis41. "Du:is
coisas sào boas ou justas: cordessar e conquisiar." Paci t i basta confessiu.
~ I I Ctens o bern e o direito; se ifio 0 1)uderes conquistar, cntrzgii isso a Deus.
A i i se ordenou coiifcssar; o coiiquisi;ir esllí izservado u Dcus. Se ele quiser
qiir tambéiii o conquisics, ele iiiesiii« o h r i oo ent5o to coluciii-i à disposi-
cá«, seni que te tivesscs kiiihrac[o, de iiianeira que o deverás pcgar iia inao
e conqiiistá-lo de uma foiiiin como jamais o terias iriiaginado ou desejado.
Se ele rião quiser, que te haste sua inisericósdia. Aiiida que te toineni a
vitóna do direito, nao te podem tomar o confesw. Vê, assiin teinos que rios >s
clisiariciilr, não dos bens dc Deus, mas do inau e privcrso apego a eles, dt:
modo qiir possamos reiiunciiir :i eles ou usá-los coin trariquilidade, para que.
em rodos os casos. nos apeguemos surnrnte a Deus. Isso dcveri:im saber
todix os príncipes e iiiitoi-iilades que não se satisfazem coiii o coiifcss~wdo
ili~eito,iras também quereni, cin toclos os casos. conyuist2-10 e vcnces. sem o:
[eini>rde Deus. Cobrein o inundo ~ l esangue e miséria, nchaiii qiic procedem
bem c coiii justiça, porque n caiisa é justii ou, ao menos, achaiii quc é justa.
Isso não é outra coisa i10 qiie o orgulhoso e presiiriq<is«Moahe, que declaia
c se considera digiio a si rlicsrno de possuir o iiobw r belo bein c dom de
[)eu5 ( o direito), quaiido, ira verdade, caso se conteinplasse bem na prescnqa z5
cle Deus. nâo é digno sequei de que a terra o suporte L' dc comer a c6dea c i i ~
1720, por causa de seus pecado,$. 011 ceglicira! Oh cegiicira! Quein é digno
;linda que seja da tneiior i:ri:iiiira de Dcus? Coiitudo, nZo apenas qiiei-emos
121-ac criaturas mais elevadns. o direito, a sabedoria e a sua tioma, inas ;iind;i
<~uescmos preservar e coiiquislá-Ias com luriuso dcis:unameiito de sangue e 30
toda sorte de desgraça. Del?ois v:iii~«se faremos oraçoes, jcjiiniiios, ouvinios
;i iiussa, fitnriamos igrejas com esta iiiciite sanguinina, furiosa e louca, de
o r t c que n5i1 dmiriuia se as pcdri~s;irrebentas.scni dianie de iiossos olhos.
Aqui surge uma cliiest3~ip~ralcla:NZo deveri ~ i r i iprhcipe proteger seu
~~'iís L' setil povo contra a uijusii~a?Deverá criimr os hi'iços e permitir que se ji

Ilic lite iiid»? Em qiic d;u.i;t isso'! Quero expresstu meu peiisamenio a respeito
(I? t'orm;i bcin breve. A nuroridade s~cularleiii o dever de proteger seus
hiidiii)~,como disse reileradas vews. E para isso qlie carrega a espada: para
iiiipor tenior aos que não se sujeitam a este ensinamento divino e deixem os
O Magnihc;ii
---
demais eiii paL e sossego. Nisto iaiiihéiii não procura seu pr6prio proveito,
mas o proveito da próxinino e a hoiii-;~dc Deus; seguramente prclèrhia o
sossego, dei~tiiidoa espada descansar, se Deus não o tivesse ordenado. para
reprimir os niiius. No cntanto, essa proteçâo não deve acoritecer às custas dc
um prejyízo aiiida maior e que se ajiiiite unia colher enqiimto se quebra umii
terina. E uma má proteçXo quando se põe em risco uma cidade inteira por
causa de uma pessoa. «LIquando se p»e ein jogo o país iiileini por cauiii de
um povoado oii iirn castelo. Excetua-sc o citso em que Deus o ordriic
expressainentc. como nos tempos pistados. Uiii assaltante assalta um cidu-
dão e tu te pões :i caiiiiiiho com uni cxército parti c:ist~gara injustiça e oneras
o povo uiieiro coiii irnpostos - quem causou o ninior prejuízo: o assaltailr
ou o príncipe'! Davi fez, niuitas vezes. vistas grossas quando njio podia
castigar sciii pt.cjjiiízo pazi outrus. Assini drvc proceder rl~ialqueriiiitoridade.
Por outro lado. Ininbém um cidttd.:o deve Fazer um sacrirício por amor
da cornuiiida~l~ c niío pode ipiercr cluc, por suii causa, i«dos os demais
sofram grande prejuízo. Neni iodiis as situaçaes s&«iguais. Ci-isto não per-
mitiu que se extirpasse o j ~ i o ; ' ~p:irii que juntamente com ele não fossr:
também cxlirpado o trigo. Caso se quisesse brigar por qualquer (ofensa [ii lei]
e não deixar escapar nada, jamais havcria paz e. riao obstante, reinaria a
corrupçao. Por isso o direito ou a injustiça jiiiiiais é riiz2o suficiente p;ir;i
castigir ou guerrcar indiscriininiidanienre, eriibor;~haja sobrados mi>ii\~»s
1wrii castigar com medida e sem prcjuizo pai-ii alguém i)ulro. Em iodos os
casos, ~ i i i sciitior
i ou iima autoridade terii que ter iri~iisein vist~io que 2 para
o bem de todo o povo do que aquilo que serve somente a uma parcela. Náci
se tornará rico o chefe de família que entrega o ganso porque se ihe ari.aiicou
uma pena. Essa, porém, nâo é a ocasijio para falar de guerras.
Assim se deve proceder igualmente nas coisas divinas, como, por exem-
plo, com a fé e o Evangelho, quc sio o s bens mais siiblimes; a csses
ninguém deve rciiiinçiar. Sc. porém, vEni acirscidos de dircito, favor, hoiuii
e adesão, isso se devc deixar na dependência de D t ~ i se deixá-lo erii siiiis
inãos. E preciso preocupar-se não com o co~iqiiist:~~ iiias com o coriressai', r:
suportar voluntariainente quaiido, por causa disso; se é injuriado, pcrseguido.
desterrado, quciniado ou assassinado de outnt forriia cluelqlier como injusto,
sedutor, herege, enganador, sacrílego. cic. Pois ai estiÍ presente ii iiiiscricór-
(lia. Pois pelo menos a fé e a verdade 1150 se lhe podem tirar, ainda cluc sc
llis tire a vida. cinihoni sejam poucos os qiie. neste caso, riuvejarn e coiiirteiii
loucuras para conquistar c vencer, com« é o caso rios bens e direitos ierTcnos:
pois também slto poucos os que o <:oiil'essam devidaniente e por convicyâci.
No entanto, esta pcssoa irá sofrer c lamentar-se por amor de outros, aos qiiiiis
Z oEiica I'olítica
I ~ i i i i d a n i c i i t ~ ~da

é colocado um empecilho para a salvação de suas alinas pela dcrota do


Evangelho. Sim, ele irá lamentar e esforçar-se mais pela proteção contra este
prejuízo da alrna (iio entanto, o fará Bs vistas de Deus) do que o fazem os
moatiitas por seus beiis e dueitos tenenos, como dito acitiia. Pois é algo
lamentável quando a palavra de Deus não vcnce e iiin conquista a vitória, c
ii'5o por causa do que confessa, mas por causa daqueles que, através disso,
deveriam ter sido prcservados. Por isso veinos tão grande sofrimento e
lamento nos profetas, em Cristo c nos apóstolos, por causa dc repressão da
piilwi-a de Deus, enibora cstivessein dispostos a sofrer qualquer injustiça e
dano: pois, neste caso, o motivo para a conquista é difereriie do que no caso iii

de todos os demais tieiis. No cntanto, iiiiigiiém deve proceder com violênciri


e preservar ou conquistar cste diiriio do Evangellio com I'úria e i11sens;itez.
Antes deve Iiumihar-sc perante Deos, como quem tcilvez não seja digno de
que se realize tamanho bem através dele, e encomendm tudo a sua misei.i-
córdia com preces e lamentos. 1s
Esta, pois, é a primeira obra de Deus: ser iniscricordioso para com todos
que estão disposios a renunciar espoiitaneamente a suas convic~ões,seu
direito. sua sabedoria c todos os bcns espuituais, e a peiliirmecerern pobies
dc espírito de livrc voniadc. Sfio esies os que verdadeiramente tciiiciii a
Deus: não se consideram dignos de coisa alyma, por menor quc scja, 20
dcliberadamente sc apresentam diaiite do mundo nus c desprovidos; no
entanto, os bens quc possuem eles os consideram corno algo que Ilies Soi
concedido exclusivaincnte por graça, sem nenhum mérito. e fazem uso delcs
c0111 louvor, gratidào e temor, como se fossem bens allieios; não buscam a
própii:~vontade, gozo, louvor nem horu':~~ inas somcnte os daquele ao qual 2s
pertencem; e IMaria] mostra o qiiiiiito Deus prefcre fazer misericórdia. sua
obra mais nobre. do que o c o n t r á n ~recorrer
~ à forqii. ao dizer que atliiela
obra dc Deus [sc. a de fazer misericórdia] não terá f u ~ ide filho para fillio,
para com os que temem a Deus, enquanto esta obra dura somente at6 a
tcrceira ou qiiarta geração4'; e no vcrsículo seguinte não se coloca nenhum 30

liiiiiie nem época, corno se evidencia i10 que segue.

A scgunda obra de Dciis: destruir a soberba espiritual.


"Exerceu poder com seu braço
e dispersa os soberbos nos desígnios de seu coraçdo." [Lc 1.51] ii

Ninguém deve confundu-se pelo fato de eu ter traduzido anteriormente@:


"Agc poderosamente" e aqui: "Exerceu poder". Faço isso para melhor
compreensão das palavras, que não cstão limitadas a nenhum tempo, mas
revelam claramente o modo de ser e a obra de Deus como sempre a fez,
sempre faz e sempre fará.Portanto, significa a mesma coisa se eu o dissessc
da seguinte maneira em alemão: Deus é um Senhor cujas obras se realizam
de tal maneira que dispersa poderosamente os soberbos e é misericordioso
para com os que o temcin. Na Escritura denomina-se "braço de Deus" seu
próprio poder com o qual age sem intermediação das criaturas. Isso acontece
silenciosanente e em secreto, de modo quc ninguém o percebe até que tenha
acontecido; de bS maneira que o poder ou o braço pode ser compreendido e
reconhecido somente pela fé, a ponto de Isaías 53.1 lamentar que tão poucos
crêem nesse braço, dizendo: "Quem crê em nossa pregação? Onde estão os
que conhecem o braço do Senhor?" Isso acontece - como se pode Ser na
continuação da mesma passagem - por que tudo isso se desenrola em
secrcto, sem qualquer aparência desse poder. Também Habacuque 3.4 diz
que Deus tem chifres em suas maos4', para indicar seu grande poder e, não
obstante, diz: "Ali está velado seu poder". Como é possível isso?
O caso C o seguinte: Quando Deus age por intermédio das criaturas,
percebe-se evidentemente onde há poder ou fraqueza. Daí se origina o
ditado: "Deus ajuda ao mais Quando, por exemplo, um príncipe
ganha a guerra, Deus derrotou os outros p r meio dele; se dguém é devorado
pelo lobo,ou sofre qualquer outro dano, isso se realizou por intermédio da
criatura. E dessa forma que Deuz faz ou destrói uma criatura por meio das
outras. Quem jaz por terra, jaz por terra; quem eslá de pé, está de pé.
Quando, porém, ele próprio age por meio de seu braço, a coisa é diferente;
neste caso as coisas estão destruídas antes que alguém se dê conta disso, e
ninguém o percebe. Estas obras elc realiza somente entre as duas categorias
de pessoas do muiido, os piedosos e os maus. Peimite que os piedosos sc
tomem impotentes e se,jam oprimidos, de modo que todos pensam que estão
acabados, que estão no fim. Justamente entêo, porém, está presente da
marieira mais poderosa, de forma tão oculta e secreta, que nem mesmo
aqueles que sofrem opressão o percebem, mas o crêem. Aí está presente o
pleno poder de Deus e todo seu braço. Pois onde o poder do homem chega
ao fim, apresenta-se o poder de Deus quando existe fé e quando [a fé] o
espera. Passada a opressáo, evidencia-se que forca estava oculta na fraqueza.
Assim Cristo estava impotente na c r u , e justamente ali demonstrou o maior

45 O tcmo hebraico kamaim aqui empregado, pode significar Canto "raios" como "chillcs".
1.iiliro seguiu a Vulgata: cornua in ~nanibuseius, quando o mais correto scria "r:iios",
c<iiiir>,aliás, consta da veisão da Biblia Alcmã (çf. WA DB llm, 107: Glcnlicn pinig<'it
vori sciiicn tkn<len- Raios saiiun dc \uas mãos). Cf. tainhém J.F. de Almci<l;ii Bíl>li;i
.lcr~~si~lCn~.
I i i : I I 1 v ; l A sr,ric :!jiiil;i :(os v;ilcnlcs.
I'uiidainentacZo da Ética Política
poder: venceu o pecado, a niorie, o mundo, o iiiferno, o diabo e todo o inal.
Neste sentido foram Fortes os mártires c vcnccram, e da inesma forma são
vencedores ainda hoje os sofredores e oprimidos. Por essa razâo diz Joel 2
Isc. 3.101: "Queni é fraco diga: sou forte", no entanto, tia Sé, sem que o sinta
até que chcguc ao fim.
Por sua vez Deus permite que a ouira categoria de pessoas se apresente
grande c poderosa. Subtrai delas sua força c permite que se inflem apenas
com sua própria força. Pois, onde entra forya humana, a força de Deus se
retira. Quando a bolha está bem iiicliada e todos pensam que hiuiSarain e
vciiccram e quando lainbém eles próprios estão seguros de o terem levado a 111
caho, Deus fura a bolha de água, como se nunca tivesse existido. Disso fala
o Salmo 73.16ss., onde o salmista se admira muito ao ver os maus tão ricos,
seguros e poderosos no inundo; por fim disse: "Não pude compreender essas
coisas até que penetrei nos mistérios de Deus e atinei com o rim deles.
Pcrccbi cntâo que haviam sido exaltados soincntc para seu próprio engano c 1s
que haviam sido humilhados justamente no que haviam sido eiialiecidos.
Como ficaram assolados de súbito, como desapareceram depressa, coino se
iiuiica tivessem existido, como se desfaz o sonho quando alguém acorda".
I: no Salnio 37.35s. sc lê: "Vi um homem ímpio, dto como um cedro no
ii~oiitcLíbano; apenas passei perto dele, e clc já havia desaparecido. Pcrgun- 20
ici pFr ele, mas já nâo existia iiiais nada dele".
E por Ialta de fé que não conscg~iiinosaguardar também um pouco, pois
ciitão vcnamos inuito bem que a misericórdia está com os tementes a Deus
com toda a seriedade e podei-. Nós descrentcs tatcmlos coin a mão à procura
da inisencórdia e do braço dc Deus, e quando não o podemos sentir, acha- 21
irios que cstamos perdidos e que os inimigos venceram; como se a Faça e
;I misericórdia dc Deus nos tivessem abandonado c seu braço estivesse
voltado contra nós. Isso acontece por desconhecermos a obra que lhe é
própi-ia. Por isso também não o conhecemos, nem sua misericórdia nem seu
hraço, pois ele tein que e quer ser conhecido na fé. Por isso, os sentidos e a 30
i.. . 7
.i~,iotêm que estar fechados. Se o olho nos escandaliza, deve ser mancacio
c lançado fora4'. Eis aqui duas obras de Deus opostas entre si; delas aprcn-
(Icii~osque a mente de Deus é tal que se mantéin longe dos sábios e
ciitendidos e que está próxima dos ingorantes e daqueles que têm que soíirer
injustiça. Isso toma a Deus digno de amor e louvor, e consola alma e corpo 3s
c todas as forças.
Observa agora as palavras: "Destrói4%s soberbos no desígnio de seu

l i ('I'. Mç 947.
I S I .iiiclo I:iI:i cni "ilculri~ir" ilil;uidu, na vcrdddc, n tenno é <liFp~.~xit - "<lisl>crs~i",conio,

ali:ís, I ~ : b c l t ~ ~ , ci )l l v ~ r s í c ~ O,
! l ~conrorn~c
~ consta ~IC~IIKI. TIIVCL sc ~ l c i x : ~ slcv:~r
s ~ ~ [prla hcrnc~
IIi:iii<:i iIi>scl<,is l i i l i i c , s ;ilciil:ii.h ~ i ! x l i i i i i i= "<lcrtriiii." c ,<?,sliriii.ri. "<lii[>i.in;ii".
O m~@icat
coração". A dcshuição acontece justamente (como dito acima) quando atin-
giram a inteligência máxima c estão cheios de sabedoria própria; então,
seguramente, a sabedoria de Deus nZo está presente. Como, porém, poderia
destruí-los melhor do que subtraindo-lhcs sua eterna sabedoria e permitindo
i que se encham dc sua sabedoria terrena, elemera e passageira? Mwia diz:
I
"os soberbos no desígnio de seu coração", o que significa: agrada-lhes sua
própria opinião, presunção e inteligência, inspiradas, não por Deus, mas por
seu coração, como sc fosse o mais correto, o melhor e inais sábio. Com isso
se Icvantain contra o temente a Deus, oprimem sua opinião e seu direito,
iu arruínam-no e o perseguem ao extremo, para qlic sua própria causa tenha
razão e persis~a;e conseguindo isso, gloriam-se e se enaltecem, coino o
fizeram os judeus contra Jesus; no entanto, iião percchcrain que com isso sua
causa estava sendo destriiída e que Cristo foi crialtccido a todas as honras.
Vemos, portanto, que cssc vcrsículo trata dos bens espirituais e como se
15 recouhcce nele o agir de Deus ein ambos os lados. [Ensinal quc devcmos ser
pobres de espíi-ito e sofrer injustiça, dar razão a nossos opositores. Afmal,
suas maquinações não irão longc, a promessa iiesse sentido C: fotle demais.
Elcs não escaparão do braço de Deus. Terão que descer, por mais que tenham
subido, se o cremos. Onde, porém, tilia essa fé, Dcus n2o realira essa obra.
xi Deixa as coisas corrcr c passa a atual- publicamente através das criaturas,
como dito acima. Essas, porém, não são as obras verdadeiras, atmvb das
quais se pode reconhecê-lo; pois h q a s [alheias) sc infiltrar1 na criatura e
não se trata exclusivainente de obras próprias dc Dcus. Essas devem ser tais
que ninguém coopera com clc, inas quc ele as realira sozinho; isso acontece
z quando nós nos tomamos impotentes e quatido somos oprimidos ein nossos
direitos ou em nossa mente, e quatido suporiamos o poder de Deus em nós;
cis aí obras sublimes.
Com que maestria ela atinge os falsos impostores! Não olha para suas
mãos nem em seus olhos, mas no coração quando diz: "os soberbos no
I desígnio de seu coração". Com isso se refcrc cm cspccial aos inimigos da
I verdade divina, como o foram os judeus contra Crislo e ainda o são. Pois
!
esses homens eruditos e santos não são soberbos em suas vcstimentas ou
gestos. Fazem muitas orações, jejuam bastantc, prcgatn e estudam muito,
tainb6m iczam missas; andam de cabeça humildemente inclinada e nâo
vestem roupas caras. Estão convictos de que não existe maior inimigo da
soberba, da injustica, hipocrisia do que clcs, c quc náo existe maior amigo
tla verdadc c dc Dcus do que eles. Como poderiam causar dano ? verdadc,
i
sciido pessoas tão santas, corretas e emditas'? Esta sua maneira de ser cria a
;ip;ii-ência e brilha, arrebatando a multidão. Oh, eles têm as melhores iiiteii-
I,, ~ k sinvocarn
, o querido Deus e têm pena do pobre Jesus por praticar tani;i
ii!iiisii~n c ser tâo soberbo, não tão piedoso como clcs. A respcito <Icsscsdiz
i c . 1 ~ ciii Mi 1 I . 10: "A siihcdorin dc Dcus 6 justific;id;i 110s scus l>iriprios
Iiiiiil;~iiicrita$ioda EUca Política
lillios", isso é, são mais justos e sábios do que eu mesmo, que sou a
s:ihc<l»riadivina. Não é certo o que eu faço, e sou ensinado por eles.
Essas são as pessoas mais venenosar e nocivas na terra. Essa é uma
;iliisinal soberba diabólica, contra a qual nada se pode [azer, pois eles niio
oiivcni; 1120 h e s diz respeito o que se diz e o aplicam aos pobres pecadores i
qiic iieccssiiain dessa inslruçiio. Eles não precisam disso. João os chama de
i-:i@ dc víboras em Lc 3.7, como também o faz Ciist04~.Esses são os
verdadeiros culpados, os que não temem a Deus e que servem apenas para
que Deus os disperse em sua soberba, porque ninguém persegue irais o
iliii.ito e a verdade do que eles, no entanto (como já disse), por amor de Deus I,,

i. i111 justiça. Por essa razão eles têm que ser os primeiros desse lado, etiire
iis 1ri.s inimigos de Deus, pois os ricos são os ùúmigos menores; os podero-
sos siio os maiores; no entanto, esses eruditos superam a tudo, eles é que
iiistigam os outros. Os ricos detroem a verdade entre eles niesmos; os
~ ~ t ~ ~ l c rao senxotam
os dos outros; os eruditos, porém, a extinguem por corn- is
l~lciiiem si mesma e introduzcm outra coisa: suas próprias presunções, para
L I I I CiiZo tenha chance de se rcerguer. Quanto a verdade em si é melhor que
Iioiiie~snos quais habita, tanto piores são os emditos do que os poderosos
C , iiciis. E com razão que Deus resiste especialmente a eles.

20

A terceira obra: a humilliação dos grandes


"Destituiu de seus tronos os poderosos." [Lc 1.521
lista obra e as subseqüentes são fáceis de entender a partir das duas
:iiiicriores. Pois [Deus] destrói os sábios e presunçosos em seus próprios zs
ilcsígiiios c intentos, nos quais confiam e com os quais tratam mgantemen-
li. iis tciiiciitcs a Deus, que têtn que sofrcr injustiça e cujos pensamentos e
i l i i i , i i i r i C u i que ser condenados, como ocorre, com maior freqüência, por
c;iiis;i iI:i 11ii1;ivra de Dcus. Da mesma forma, destrói os poderosos e grandes
c. ilc.siiiiii dc seu poder e autoridade em que confiam, exercendo sua ?o
. i ~ i ~ i ~ : : i i i i ~ coiitrni;i os iilferiores e os humildes piedosos, que têm que sofrer
, I ; i ~ n : i i i < . ~li.I(,s iI:irios, dores, morte e toda sorte de maldades. E assim como
C ~ ~ i , . c j l : i os i111,. lirccisain sofrer injustiça e desonra por causa de seu direito,
$1.1 ~ ~ . i , I : i i I i .i. iI:i I';ilavra, assim também consola aqueles que têm que sofrer
~ l . i i i o : . C.iii;il<.s.l i ii:i inedida em que consola a estes, aterroriza aqueles. Isso 3s
I I I ~ ~ C ~I N. B I ~ . I I(.III ~ I , iliic ser reconhecido e aguardado na fé. Pois não destrói os
I M K I C . I O Y O ~ i:iii i:tliiíl;iiiiente como o merecem; deixa-os por algum tempo, até
~ I I U !;i.ii. 1 1 1 ~ l i . i i.licgiic ao auge e ao exiremo. Então Deus não o sustenta; ele
i ; i i i i I i , ~ i i i i i ; i i ) ciiiiscpuc sustentar a si mesmo e assim se desvanece em si
0 MdgnIíicdl
mesmo sem qualquer banilho e estardalhaço. Então se erguem os oprirnidos,
igualmente sem estardalhaço, pois o poder de Deus está neles. Este subsiste
somente quando aquele desapareceu.
Nota, porém, que [Maria] não diz que ele irá destruir os tronos, mas que
s derruba deles os poderosos. Tmbém iião diz que deixa os humildes na
humildade, mas que os exalta. Pois cnquailto a terra existir tem que haver
autoridade, governo, poder c os tronos. Mas que abusem deles e os usem em
contradiçio a Deus, para infligir injustiça c violEiicia aos picdosos. c que
nisso encontrem prarer e disso se gabem, 1120 os usando com temoi- de Deus
iii para seu louvor c proteçiío da justiça - isso Deus n5o tolera por niuito
tempo. Assim vemos eni todos os coinpêndios de História c r i a [própiia]
experiêrici;i como enaltece um reirio c derruba o outro, como ergue urn
principado e reprime o outro, como aumerita um povo e destrói 0 outro.
Assim proccdcu com a Assíi-ia, Babilrinia, coin os pcrsass, gregos, coin
5 Roma, embora esses achavam que permaneceriam eteriiaiiiente em seus
tronos. Do rriesmo modo, taiiibém niío destrói a razão, a sabedoria c o
direito, pois, para que o mundo possa subsistir, há que haver raiiio, sabedoria
c dircito. Mas Idestróil a soberba e os sobci-bos, que usam estes [belos dons
de Deus] ein proveito próprio, gozam seus benefícios, não tcmcrn a Deus e
2U perseguem com eles os picdosos e o direito divino, abusando dessa forma
dos belos dons de Deus contra Deus.
Ora, nos assuntos divinos ocorre que os súbios e soberbos presunçosos
normalmente se associam aos poderosos, instigando a esses contra a verdade.
como está escrito no Salino 2.2: "Os reis da terra se ergueram, e os príncipes
?i conspiraram contra Deus e seu Urigido", elc. Assim o direito e a verdade

sempre têm que ter simultancainente contra si os sábios, poderosos e ricos,


ou seja, o mundo com sua força máxima c suprema. Por isso o Espírito Santo
os consola pela boca dessa mãe, para que nâo se enganem iiein se atemori-
rem: deixa-os ser sábios, poderosos e ricos. Isso não dura muilo. Supondo
I que os santos e eruditos, juntamente com os poderosos e senhores, c ainda
com os ricos, se colocassein não contra, mas a favor do direito e da verdade,
onde ficaria a injustiça'! Quem sofreria alguin mal? Isso não! Os eruditos,
santos, poderosos, grandes, ricos e o que há de melhor no mundo, têm que
lutar contra Deus e o direito, e ser propriedade do diabo. Como diz Hc 1.16:
5 "Seu alimento é delicado e selecionado", isto é, o espírito mau tem um
paladar apurado, prefcre devorar o melhor, o mais delicado, o mais selecio-
nado, como o urso o mel. Por isso os eruditos, os santos hipócritas, os
gr~uidcssenhores, os ricos sZo «s petiscos preferidos do diabo. Por outro
lado, o lixo do mundo, os pobres, humildes, símplices, pequenos, tlesprczii-
I dos -- n csscs Deus escollic, como diz S. Paulo em 1 Co 1.28, perrnitiii<lo
que ;I p;~rteiiiiiis huinilde teiilia qiic solrcr snh a parte elevada, p;iw qiie
si. rc~coiilicç:ic11111 ccitex:i qiic iioss;i s;ilv;içâo ir30 consistc 1x1 ohrii <Ic Iio
Fundamentacão da Ética Polílica
inens, mas exclusivamente no poder e nas obras de Deus, corno também o
diz S. Pauloso. Por isso se diz com razão: "Quanto majs instruído, mais
pervcrtido" - "Príncipe é ave rara no céu" - "Rico cá, pobre lá""'.
Porque os emditos não abandonam a arrogância de seu coraçáo, os poderosos
não renunciam à opressão, os ricos não desistem de seu prazer. E assim vão
as coisas.

A quaita obra: exaltação dos humildes


"E exaltou os que estão por baixo." [Lc 1.521
Quando digo "os que estão por baixo" isso iião significa simplesmente
"os humildes", mas penso em todos, aqueles que nada valem perante o
inundo e que são absolutarncnte nada. E exatamente csta a palavra que Maria
aplica a si mesma: "Contemplou a nulidade de sua serva" LLc 1.481. Sem
dúvida, porém, os que de coração são tão insignificantes e tiulos c não
;ispú.am a posições elevadas, esses cvidenternente também são humildes. O
"exaltar" nào deve ser entendido como se ele os coloca~scnos tronos e nas
posições daqueles que destituiu, tão pouco como coloca os tementes a Deus
lios lugares dos eruditos, ou seja, dos soberbos, quando se compadece deles;
antes ihes concede muito mais: exaltados em Deus e espiritualmente, são
irislituídos jiiízes sobre {sonos e poderes e sobre saber, aqui e lá. Pois sabem
iiiais do que todos os cruditos c poderosos. Coino isso acontece já foi dito
acima, quando falamos da primeira obra. Por isso não há nececessidade de
i-cpetição. Tudo isso foi dito para consolo dos sofredores e tenor dos tiranos,
sc acaso tivéssemos suficiente fé para acreditá-lo.

A quinta e sexta obra


"Saciou os famintos de bens,
e os ricos deixou vazios." [Lc 1.531
Como dito acima, "os que estão por baixo" não são a? pessoas de
:isl)ccto insignificante e desprezado, mas as que aceitam prazerosamente csta
~oiiilição,sobretudo quando são foi-çadas a ela por amor da palavra dc Deus
o i i c10 direito. Analogameiite tambéin os "fm'ntos" não podem scr aqueles
< ~ utCinc pouca ou nenhuma comida, mas os que sofrem provações esponta-
iiriiiiicnte, em especial quando são forçados a isso por outros com violência,
I I W amor da palavra de Dcus ou da verdade. Qucm é mais baixt), nulo,
iiicligciitc do que o diabo e os condenados, alkm dos quc são torturados por
causa de seus crimes, dos que morrem de fome, dos assassinados e todos os
que vivem em humilhação e carência contra sua vontade? Não obstante, isso
de nada Ihes aproveita, antes multiplica e aumenta sua miséria. Não é desses
que a mãe de Deus fala, mas daqueles que são um com Deus e Deus com
i eles, os que crêem e confiam nele.
Por outra, que impedimento constitui para os santos pais Abraão, Isaque
c Jacó o fato de terem sido ricos'? Que empecilho constitui para Davi seu
trono, para Daniel seu poder que possuiu na Babilõiiia? Que problema
constitui para todos o fato de terem ocupado altos cargos ou terem possuído
iu grandes i-iqueras,ou ainda os têm, sc seu coraçzo não está preso a eles, nem
procura neles seus próprios interesses? Salomão diz em Pv 16.2: "Deus, que
pesa os espúitos", quer dizer, não julga segundo as aparências e fonnas
exteriores, se são ricos, pobres, se estXo em posições elevadas ou baixas, mas
segundo o espírito, como se comportam nessas condições. Essas formas e
15 diferença nas pessoas e posiçócs têm que contu~uarna terra enquanto durar
esta vida. No entanto, o coração não deve agarrar-se a essas coisas nem fugir
delas. Não deve apegar-se ao elevado e rico, riem evitar o baixo e pobre.
Assim também o diz o S1 7.9,11: "Deus sonda o coração e os rins, por isso
E juiz justo". Os humanos, porém, julgam segundo a aparência; por isso
20 erram com freqüência.
A exemplo das obras supracitadas, também estas acontecem em secreto,
de sorte que ninguém as percebe até o fim. Uma pessoa rica não se dá conta
do quanto é vazia e miserável, a nâo ser que morra ou percça,de outra forma;
entãr) percebe que toda sua fortuna foi absolutamente nada. E como diz o SI
25 76.5: "Adonneccram (isso é, morreram), e todos os honleiis abastados se
deram conta de que não tinham nada ein suas mãos". Por outro lado, os
hmintos não sabem o quanto estzo saciados, até que se aproxima o fim;
então se deparam com a palavra de Crislo, em Lc 6.21: "Bem-aventurados
os famintos e sedentos, pois serão fartos", e com a consoladora promessa d:i
71 mXe de Deus: "Encheu de bens os famintos". Em todos os casos, não é
possível que Deus peiiniia que morra de fome física alguém que nele confia.
Antcs devcriam vir todos os anjos e alimentá-lo. Elias roi aiimentado pelos
corvos, e de um punhado de farinha alimentou-se ele e a viúva de Saepki
por longo tempoi2. Deus não pode abandoilar os que nele confiam. Por isso
5 diz Davi no S1 37.25: "Fui moço e envelheci, e jamais vi um justo abando-.
nado, nem seus filhos a mendigar pão". Quem, todavia, confiar no Senhor,
este é justo. Idem no S1 34.10: "Os ricos permanecem famintos e sedentos,
mas os que buscam o Senhor nXo têm carência de qualqucr bem". E a rnt
de Samuel, Sta. Ana, diz cin 1 Sm 2.5: "Os que antes estavam Sartos r
FundamenLyZo da Ética Política
saturados, tiveram que acampar-se para conseguirem pão, e os famintos
foram saciados".
A fastidiosa descrença, porem, sempre está a ab-apalliar, de sorte que
Deus não pode realizar essas obras em nós, e nós não as podemos cxperi-
riientar e reconhecer. Quereinos estar saciados e possuir o suficiente de tudo r
antes que se instale a fome e a carência, e prover-nos de víveres para a fome
e a carência futura, de maneira que já não lemos mais necessidade de Deus
e de suas obras. Que f6 é esta que confia em Deus enquanto sentes e sabes
que há reservas para o caso de dificuldade'! A descrença faz com que
vejamos a palavra de Dcus, a verdade, o direito serem derrotados, e nós iii
ficamos calados, não protestamos, na« comentamos o assunto, não o impe-
dimos, deixamos as coisas correr. Por quê? Temos medo que nos ataquenl
também c rios deixem ria pobreza, de maneira que então tenhamos que
morrer à muigua e viver humilhados para sempre. Isso significa amar os beris
icrrenos tiiais do que a Dcus c transformá-los em ídolos em lugar dele. C0111 l i
isso nos tornamos indignos de ouvii-e compreender esta consoladora promes-
s:i de Deus de que ele exaltii os huinildes, rebaixa os gandes, sacia os
obres, deixa vazios os ricos; por isso também nunca chegamos ao conheci-
iiicnto de suas obras, sem as quais nZo há bem-aventurança, e haveremos de
:ser condenados para sempre, conio diz o SI 28.5: "Eles não tém conheci- 211
iiii:nto das obras de Deus, também mio entendem a criaçâio de suas inaos.
I'or isso os destruirás e jamais os reedilicarás".
E isso é justo, porqiic não crêem nessas suas promessas, têm-no em
coiita de um Deus leviano e nientiroso, tião se atrevem a tomar nenhuma
iiiiciativa confiados em sua palavra, tão pouco apreço têm por sua verdade. 25
I l i i i todos os casos, é preciso p6r sua palavra à prova e arriscar algo com
1,:isc nela, pois ela [sc. Maria] não diz: "Encheu [de bens1 os saturados,
<,x;illouos grandes", mas: "encheu [de bens] os famintos", "exaltou os
Iiiiiiiildcs". Tens que ter expcrimeritado a carência em meio à fome e ter
\i.iiiido o que é fome e necessidade, de maneira que não haja provisão e 30
:iliid;i, liem tua pr6pi-ia, nem junto a outros, mas somente junto a Deus, para
C I I I L ' . (:i11 todos OS casos, a obra, impossível a todos os demais, seja exclusiva
(1,. I )<:iis.De igual modo, nZo deves somente pensar e falar de Iiumilhação,
i<.iisqiic entrar nela, estar metido nela, não poder contar com a ajuda de
~iiii;:iiCiii,para que Deus possa agir sozinho; ou entZo, no mínimo, ,deves a
,li..;cj:i-ln e nZo fugir dela, caso não se,ja possível chegar a ela de fato. E para
i.;si~ ~ I I C somos cristãos e temos o Evangelho, que o diabo e os homens não
:,iil~~~i.l:im, para que, por meio disso, cheguemos à carência e à humilhação,
c . 11:ii'n que, desse modo, também Deus possa realizar sua obra em nós.
1'11iiilci-;itu mesmo. Se ele quisesse saciar-te antes que tenhas Some, ou ~ i i
i.s:il~:ir-lc;iiites que tenhas sido humilhado, telia qiie compori~ii--sccoirio i i i i i
i-li;ii1;11;i~1 c iiiio poderia realizar o qiic promete. c siias 01)r:is i i i i i l : ~ iiiiiis
seriam do que iiina zombaria, eiiquantt~o SI 111.7 diz: "Siias obras são
vcrdade e seriedade". Se fosse agir logo iio comec;o de tua riecessidade c
Ii~imilhaçâo,ou socori-er quando a carência e a liumilhação é nlúzima, as
obras seriam dernasiadaiiiente pequcnas para 0 poder e a majestade de Deus,
5 das quais diz o SI 111.2: "Grandes sã« as obras do Senhor, sublimcs segundo
todos os seus desejos".
Vijamos agora o coiitrário: Se aniquilasse os grandes e ricos antes
mestiio dc se tornarem graiides e i-icos, cotno procederia? Eles têiii que
primeiro subir tanto c se torricu tio iicos que eles próprios c iodo o mundo
1 penscm e que no fiiiido dc fato seja assim que ninguém os pode denabar ou
se Ihes opor. Tem que se adquirir seguraiiqa e chcgar a dizer o que diz a
respcito deles e da Babilonin o [profeta1 Isaías: "Ouve tu, delicrida [senhoraj,
que te sentcs iâo segura e dizes em leu coração: Aqui estou e ninguém pode
qualquer coisa contra mim; estou convicta de que não serei viúva, nem
is ficaci sem filhos (isso i., sem poder e mimo). Pois bem, essas duas coisas
te sohrevir~onum sh dia. etc." [Is 47.Xs.l. Entio Deus pode realizar rieles
sua obrii. Assim pciniitiu que fiiraó sc levantasse sobre os iilhos de Israel e
os oprimisse, curiio o próprio Deus diz a scu respeito em Ex 9.16: "Foi para
isso que rc exaltei: para revclar em ti miiiha obra c para que senrissc para
20 meu louvor, até os coiifiiis da lema." A Bíblia esti repleta de exemplos nestc
sentido; pois ela nada ensina cxceto a obra e pdavra de Deus e rejeita a obra
c a palavra dos homens.
Vê que grande consolo: nâo uma pessoa huinana, rnas é o próprio Deus
que 1120somcnte dá qualcliier coisa ao faminto, nias os enche [de bens] c os
:25 sacia. Aléiii disso, ela (sc. Maria1 diz: "de beiis"; isso significa que esse,
"encher" há que sei inoferisivo, proveitoso c srilutx, para que beneficic
corpo e a h a com todas as forças. Isso, todavia, revela igualmeiiie que foranr
aiites despojados de todos os bens e que tinliaiii toda sorte de carência. Pois,
conio dito acima, dcve-se entender sob riqueza toda sorte de bens terrenos
3 pai-a a satisfayio do coipo, com o que tambén~a alrna se alegra. h a l o g a -
tneiite "foinc" significa aqui não apenas carência de comida, mas carênciii
de todos os bens terrenos. A pessoa humana pode prescindir de todas essas
coisas, cxccto da comida. razão por que quase todos os bens existem em
liin~iiodo alirncnto; ningiiéiii podc viver sem cotiiida, embora possa vivcr
c.. sciii roupiis, casa, duiliciro, bens e pessoas. Por isso a Escritura entendc aqui
sol-, hcns terrenos 0 que mais sc precisa e lisa e o que meiios se podc
iliyxiisq do mcsmo inodo chama os avarriiios e os cobiçosos de beiis
fci-rciios de "escravos do vcntre", e Paulo diz que seu deus é a hirrig;i5'.
('otiio 1x)dcria alguétn estimular de forma mais incisiva, consoladora à li)rric
da Ética
1~i~icil:iira.i~i~ão Potiticii
:I ~>obrczt voluiitiria do que essas excelentes palavras da inãe de Deus,
~~i~iiii:ilmdo quc Deus quer encher de bens os faniintos'? Qoein não sc seiite
<.\iiiiiuladopor essas palavras e elogio c honra da pobreza, esse é, sem
(liivicla, descrente e carente de conliança como um pagão.
1'01- outro lado, como se poderia rejeitar de modo mais categórico a 5

i ~ q i ~ r z aateerrorirar
c de modo mais liom'vel os iicos do que com a ameaça
<Ic quc Deus os deitlu-á vazios? Oh. que coisas Ião iricomeiisuravelmente
!:i-:incles estas duas: quando Deus eiiclie e quarido Dcus ithandona! Aí não h5
qucrn possa aconselhar nem ajudar. A pessoa humana se assusta quando
oiive quc seti pai se afasta ou seu senhor lhe retira seu favor, e nós grandes o
r ricos não nos assustamos ao ouvirnios que Deus rios rcchaça, sim. quarido
1130apenas nos rechaqa, mas, alim disso, airieaça destruir e hurnihar-nos e
iI~+,;ir-nos sem nada. Por outro lado, 6 uma alegria [quando se vê] quc o pai
c; I>»iidoso,que o senlim é clemenle, e há os que confiani iiisso a ponto de
\;icrilicareni coipo e bens. E ayiii tcrrios essa proniessa dc Deus, um tZo r
i~,i;iiidc consolo, e ri50 podemos hzer uso deles nem gozá-los, nem iipadecer
c tilcgrar-lios por eles.

"Ele acolheu a Israel, seu servo


depois de ter-se lembrado de sua misericórdia." [Lc 1.541 20

I)el>ois de ter falado das obras que Deus realizou ncla e e111todos os
Ii<riiicns,ela volta ao começo e ao pririieiro pr~nto,encerraiido o Magni1ic:ii
C C ~ I ;II maior obra d t teclas as obras de Deus: a Iiiimanaçâo do Filho de Dciis.
I: confessa espontaneamente quc ela é uma ckada e serva de lodo mundo, ?r
coiifcssando que a obra realizada nela vem em benefício não somente dela,
iiiiis de todo o Israelu. No entanto, divide a Israel em duas partes e se refere
: i ~ ~ ~ i i i s h q uparte
e l a que serve a Deus. No entanto, niiigué~iiscrve a Deus a
I I ~ O scr aquele que deixa Deus ser Deus e que suas obras atuein nele. A isso
iiir rckri mais acuna. Lnfeiizmeiite se compreende e usa hoje a palavrinhii lu
"\crviço de Deus"55 numa acepção tão imprópria que quem a ouve não
~n~,iisii nessas obras [de Deus], mas no badalar dos sinos, na alvenaria e
iii:iilcir;imei~toda igrcja, iio incensiúio, no brillio das velas, na conversa na
i!'ii:iii, 110 ouro, seda; pedras prsciosai das sobrepelizes e estolas, rios cilices

il em Iiiente apenas o povo dc Deus cio Antigo TesIaniento, mas também a


I .iiiclii iicZo tem
cii!,i;i~iikiiIi~ mino hcrdeira das promessas feitas a Israel. Em ambos os lados, porém,
i,xisictii clois Isrxl: um c,mril e outro cspvitual.
~ c lp. ~ l \c~ g i l i í i ~I i~ U~I IrO ''scrvi?~>
N o <,iig~n:ilí ~ r ~ l l c < r l i ~ rcjuc
',i prc\li~din;L DCIIS".' ' ~ L . I Y ~ < oLIC
I)i.iis" (l>lcsli:iih> iii>s Iiiiiiii.iis). a>lll<, 1 ; i i i i k i l i i > :ilii liliirgi<:i,,li, " i i 1 1 1 i i " .
c custódias, no órgão e nos quadros. na procissão e nas entradas soleness6e.
o que é o mais importante; o palavrório e o desfiar do rosário. A este ponto
se degenerou o serviço divino, coisas das quais Deus nada sabe. enquanto
nós não coiiliecemos outra coisa. Cantamos o hfagnificatdiariaiiienteS7em
i alta voz e cotii [na-avilhosa potiipa, liias silenciaiiios c;ida vez mais seu
verdadeiro tom e sriitido. No entanto, 0 texto permanece firme. Se não
eiisin.umos essas obras de Deus e não as aceit~rmos~ tambéin iião haverá
serviço de Deiis. não haverá Israel, graya, nusencórdia. n2o haverá Deus
ainda que nos Iriatemos de cantar e de fazer música nas igrejas e lhe doemos
iii todos os bens do mundo. Ele nada disso ordcnou; por isso, sem dúvida
alguma, nada disso lhe agrada.
Pois É eiii favor deste Israel que serve a Deus que veni a humaiiação de
Cristo, estc é seu pr6prio povo amado. por amor do qual se humanou, para
rediini-10 do poder do diabo, do pecado, da iiiorte, do intenio e para levá-lo
5 i justiça, à vida eterna e i betii-avsnturança. Este é o "acolher" do qual
Maria canta. coitio diz Paulo ein Tito 1 [sc. 2.141: "Cristo se entregou por
nós, a fim de puriiicar para si um povo para ser sua heraiça e propriedade".
E S. Pedro escreve em 1 Pe 2.9: "Vós sois o povo santo, o povo que o
próprio Deus adquiriu, uin sacerdócio rcal, etc.". Estes são os tesouros da
2 insondável misericói-dia divina, que não recebemos por mérito. mas exclusi-
vuiiienle por graça. Por isso ela [SC. Maria] diz: "Lembrou-se de sua mise-
ricórdia" e nâo: Lembrou-se de nosso mkito ou dignidade. Erainos necessi-
tados, mas totalmente indignos. Nisto, pois, consiste seu louvor e honra. e
diante disso tem que silenciar nossa jactância e kiresuiição. Ele iiada tem a
25 contempla qiie o tivesse comovido. a não ser o fato de ser misericordioso,
e a esta [rnisencórdia] queria toniar conliecida. Por que, no entanto, [Maria]
diz: "ele se lembrou de sua misericórdia" e iiZo "ele contemplou"? Porque
a tinha prometido, como diz o versículo seguinte [Lc 1.551. Ora, ele demorou
iliuito em concedê-la, de modo que parecia que a tivesse esquecido (como,
(o aliás, acontecc com todas as suas obras, como se nos tivessc esquecido).
Quando, poréni. apareceu, ficou patente que não a havia esquecido, mas que,
incessantemente, havia pensado eni cumpri-la.
No eiitanto, é verdade que a palavrinha "Israel" desipa apenas os
judeus e iião a nós gentios. No entanto, visto que eles não o quiseram, não
$5 ohstante escoheu alguns dentre eles para que se fuesse jus ao nome "Is-
rael", constituindo, doravante, um Israel espiritual. Isso ficou evidenciado

50. No oi-ixinal Kirchgiing. LitcrnLiiienie o temo signir~ca"ida a igrej~i".O contexto, p1ir6111.


ruiiirc :i cnirada solenc dos sarerdoies e seus assistenirs levando as insírnias saçir<l<$;iis
c os utçn.;?lioss;tgisdos para a rializa$,ío do ofício da missa.
77 ('C. cicin,;~p. 22, 13, 0.
eni Gn 32.25ss., quiiiido o santo patriarca Jacó lutou com o anjo e este Itie
paralisou a anca. Coiii isso se quis dizer que de agora em diante seus fillios
não mais deveriam gloriar-se de seu nascimento físico, coiiio o fazerii os
filhos dos judeus. Naquele iiioiiieiito também recebeu o nome, dcveiido, daí
por ili;uite. chamar-se Israel, como patriarca que i130 seria apenas Jacó, pai 5

dos fillios corporais, mas também lsracl, pai dos lillios espirituais. Isso
correbyoiide :to sentido da palavra "israel", pois ela sigiiifica "senhor dc
1 ) e ~ s " ~Estc ~ . é um nome muito sublime e santo e encerrii em si o grande
milagre de que. pela graça divina, um homcin chegou a tei- domínio sobre
I)cus, de modo que Deus faz o que o homem quer. Corilònne podemos IKI
vçrificar, por meio de Cristo a cristandade se uniu de tal foniia com Deus
corno uma noiva coin o noivo, de sorte que a noiva tcin direito e domínio
sohsc o corpo do noivo e sobrc tudo que ele possui. Tudo isso acoritcceu por
iiicio da fé; aí o hometn faz o que Deus qucr, e, por outra, Deus faz o que
( I Iioiiiem quer. Assim, pois, Israel é um homem dciformc e que tein poder 1s
ohii, Dcus, que, rrii Deus, com Deus c através de Deus, é scnhor capaz de
I ; i / ~ , i - todas as coisas.
Eis o que significa Israel, pois sani- sigiiifica senhor, príncipe, e1 signi-
I i<.:i Ileus. Juiit? aiiibos os elemeritos, de acordo com >ilíngua Iicbraica. e
li,i:is "israel". E uiii lsocl assim que Deus qucr. Por isso, leiid0 'lcó lutlido 211
c ( , i i i i i niljo e vencido. lhe dissc: "Teu nome será Israel; pois sc tcns ~loiiiiiiio
. . o I ~ I>eus. c também teds dorriíiiio sobre os homens" [Gn 32.281. Muito se
~vo~li.ii:i dizer sobrc isso, pois 1sr;it.l é uin sirigulw c piofiindo mistério.

"Como falou a nossos pais, Abraao


e sua descendência para sempre." [Lc 1.551
Aqui jaz por- terra todo o mkrito, toda a presunção, c está exaltada a pura
ll,i;iv;i e misericórdia de Deus; pois Deus n3o aceitou a Israel por causa de
s~.iisméritos, rnas por causa de sua própria promessa. Por pura graça o
Ibioiiicteu, por pura graça também o cumpriu. Por isso diz S. Paulo em G1
i.I 15. que, quatrocentos anos antes dc ter dado a lei a Moisés, Dciis se havia
t~)iiil~i'>rrictido coiii Abraao, para que, de forma alguma, alguém pudesse
!,,li,ii:ir-sc e dizer q ~ i ctivesse merecido essa graça e promessa por meio da
1h.i oii por meio de obras da lei. Essa mesma promessa a mâie de Dcus louva 35
iii;iltcce aqui aciiiia de todas as coisas e atribui essa obra da Iiuri~uiação
(I<. I)ciis unicamente às çraciosas, imerecidas promessas diviiias que fez ri

'W I .iiii.ii> ilcrivn o nome "Israel" dc s:u = príncipe, senhor. r r1 = Drii\: i>n<>iiic"1sr;icl"
i.iziihiiii ~po,lcsci deriv:idu dc sw;h = lutar, e e1 = Deus, de iii;icicii;i i ~ u i ."l\r,~cI" viri:, ;I
h i , : ~ ~ i l i c ; i 'r' i , qiic luiii c i ~ i iDciir" (cí'. (;n 32.28: 15.10: Os 12.3).
Abraão. A proriiiissa de Deus a Abraão se encontra priiicipaliiiente em Gii
12.3 e 22.18: iiias taiiibEm é citada alhures em muitas passageiis e reza:
"Jurei por inirii riiesriio: erii tua descendencia serão benditas todas iis gcra-
çócs ou todos os povos da terra". S. Paulo e todos os profetas t&ii estas
5 palavriis cm alta conta, como é justo. Pois iiessas paliivras foi prcscrvado e
salvo Abi-aão junramciite com todos os seus desreiideiites, e tainbcm todos
116shaveremos que ser salvos nelas; porque iielas est6 c»ntido Cristo e está
seiido proinctido coino Salvador de todo o muiido. Este é o "seio de
Abi-aio" [Lc 16.221 no qual pcrnianeceram guardacios todijs os que foram
io salvos ariies do nasciinento de Cristo, e sem essas palavras ninguém foi
salvo, airida que tivesse í'eito todas as boas obras. Isso veremos em seguida.
Em primeiro lugar se deduz dcssiis palavras que, hr:i de Cristo, todo o
mundo sc encontra ein pecado, condenação e maldição juntamente com toda
a sua obra e saber. Pois quando Deus diz que não alguns, mas todos os povos
li hào de ser abençoados na descendência de Abraão, cntão n30 haverá bênção
em todos os povos sem essa descendência de Abraao. Que riecessidade tinha
Deus de pr«r~~cLcr bênção coin tanta seriedade e solene j~ir:imento se já
existia bênção c. riâo exçlusivarncntc maldição'? 0 s profeias Iinuiiram muitas
coisas dessas palavras c concluíram que todos os seres huriiarios são maus,
20 prcsunçoso~,~iientir«~o~. falsos, cegos, cin rcsuino, sem Deiis. de iiiodo que
não é @ande hoiuii ser chainado de ser humano nas Esci-ituras. Pois diaiite
de Deus essa designrvgio r i o vide mais cio que quando alguéiii é ctiariiado
dc niciiiiroso e desonesto perante o inuiido. O homeiii está tão coinpletamen-
te coi-roiripido pela queda de Adão que a iiiiddiqáo Uic é inata, sim, que
21 constitui sua natureza c sua essência.
E111 segundo lugar segue-se daí que cssa desceiidêiicia de Abraão não
podia nascer de hornein e niulher, pois esse riascimeiito é maldito c produz
exclusiviu~icntcfmto amaldiçoado, como acabamos de dizer. Para que nessa
descendêiicia de Abraão todo o mundo possa ser redimido dessa maldição e,
31 assim, bendita, como dizem as palavras c juramciitos de Deus, a descendêii-
cia há que ser primeiro bendita, não tocada nem marichada por cssa maldi-
ção, mas tem que ser bendição pura, cheia de graça e verdade. Por outro
lado, se Deus. que não pode mentir, promete e jura que há clc ser a descen-
dência natural de Abraão, isso é, um filho natural, de verdade, nascido dc
1 sua carne e de seu sangue, cntão essa descendência tem que ser um homerii
natural verdadeiro. da came e do sangue de Abraão. Aí então urna coisa se
contrapõe a outra: ser carne c sangue naturais de Abraão e, riâo obstluite, não
ser nascido iiaturalrneiite de homem e mulher. Por isso Deus usa a expressão
"
iua dcscendêiicia" t. riào :I palavra "teu filho", para que. eiii rodos 0s
. casos, fique claro e assegurado que h6 que ser sua carne e seu sangue iiatui-.il.
c01110 o L! ;i tiesccndi.iici;i. LJm filho nào precisa. iiecessai-iameiiie, Yei- i i i i i
lillio ii:ii~ii-;iI, coino E s:ihi~lo.C)iiciii ericoriinii-;í ;iqiii iiiii;i soliiçiio ~i;irii i~iic
I.'ilndanicnta\-ãodo Eticd Política
sejam verdadeiras as palavras e os juraiiieiitos de Deus, quando se contia-
pócm coisas táo contraditórias'!
Foi o pról~rioDeus que o fez, pois elc pode cumprir o que prometc.
cmbora nin~iiCnio eiitencla antes que suceda; pois sua p:davra e obra não
cxigern arguiiientos da razáo, iiins uma fé franca e sincera. Vê coino conci- r
liou estas duas coisas: por meio do Espírito Santo, sem a concoi-rciiciade um
hoiiieiii. suscitou para Abraão a descciidência, um filho natural de unia de
suas filhas, da imaculada virgein Maria. Aí não existe nascimento ii:ctural
iiein concepção sob a inaldiqiio que pudesse ter tocado essa descc.ndêiicia;
iiio obscinte, a desceiidência n.~turalde Abraão csiá presentc de foniia iáo ioiv

rcal como eiii todos os demais filhos de Abraáo. Essa é a abençoada desccn-
clSncia de Abfiião, na qual todo o mundo se liberta de sua nialdição. Pois
quem cr? nessa descendência, a invoca, confessa e permanece nela, a este
cstá perdoada ;i maldição e coiiferidu toda a bênção, confomic rezam as
~xilavrase os jiiramentos de Deus: "Em tiia descendência serio bcnditos i.

i(xlos os povos da terra" [Gn 1231. isto 6, tudo o que hií de ser Ixndito há
cliic ser beri<liiopor meio dessa di'sceiidência. e de nenhuin outro iiiodo. Eis
;iqiii a descendência de Abraão, nascida de nenhum de seus filhos - como
s~il>iinhame esperavam os judeus em todos os tempos , mas utiicanicnte
(Ic SI+( própria fiiha Maria. 20
E isso que a amada mãe dessa descendência quer dizer, ao afmw que
1)cus acolheu a Israel conformc sua promessa, dadli a Abraão, a ele r a toda
XII;I dcscend?iicia. Aí ela recoiilieceu que a proiiiessa se havia cumprido nela;
Ilor isso diz qiie agora está cuinprida e que ele acolheu [a Isruel], que sua
11;ilavrafoi lionrada pelo simples fato de se ter leinbrado de sua miseris6rdia. ?i
Aqui sc nos descortina a razáo do EvuigeUio porque toda a doutrina e
11ii1clamaç5o nele impele à fé erii Cristo e ao seio de Abraão. Pois onde não
~.si\tcessa fc, iiiio I i i outro recurso nem reiiiédio para apreender essa bendita
<Icsceridência.Na verdade, toda a Bíbiia depende desse juranieiiro, visto que
i < ~ ( I ;:ii Bíblia trata somente de Cris~o.Além do mais, constatamos que todos 311
11s 1i:iis do Antigo Testamento juiitarrientc com todos os santos profetas
1ivi.r;iiii a mesma fé e o mesmo Evangcllio que nós temos, como diz S. Paulo
<.i11I C'« 10.1~s.:pois todos pcniianecerm com fé fume nestc jiii'amento de
I k.iis c rio seio de Abraão, e assim forani salvos; apenas com a diferença de
i l i i i ' crcraiii i i ~ ifu~uraseniciite prometida, enquanto nós cremos na semente 35

:il~;irccidac eiitsegue. Em tudo, porém, trata-se de uma só vcrdade da pro-


~iicssii,coiiio também Ltemosl uma só fé, uni s6 Espíiito, um só Cristo, tu11
s<i Sciilior [Ef 4.51, hoje como iiaqueles teinpos em eternidade, como diz S.
l ' ; i i i l i > cin Hb 13.859.

'!'I N;i i : l > < ~ ; i .I.iiivn> ;linda ci>nsiderw;rr, ;i~i6stoloPiulo como autor d;i Epist#,l:i.iris Ilcliicus.
I : , <I<ii.; ;iiiiic <Ii.pi,is,iii~irl<iudc oliiiii:ii>.

71
O Mzignifiçat
No eiitanto, o fato de que posterioriiiente foi dada a lei aos judeus tião
corresponde a essa promessa; isso aconteccii para que, a luz da lei, reçonhc-
ccsseni tiinto iiichor sua natureza miildita e melassem com taiito maior
fervor e avidez ~ ~esia o r prometida desceiidência da Miiçâo. Com i3so tive-
raiii uma vantagem sobre os geritios de tudo o mundo. No eiitanto. perver-
terarii a vantagem e a transfonri:u.arn em desvantagem, propoiido-sr a cum-
piir a Ici por suas próprkas forças, ao inv6s de reconhcecerem, atiavçs dela,
sua carência e iiialdiç2o. Desse modo fecharam a porta para si riicsrnos, de
sorte que a descendência teve que passar de largo, no que ainda iiisistem,
Deus queira que não seja por muito tempo. Amém. Essa foi a luta de todos
os profetas com clcs [sc. com os judeus]. Pois os profetas compreenderam
perfeiiaiilente o seniirlo da lei: que nela se devesse reconhccer nossd natureza
aiixildiçoada e aprendesse a invocar a Cristo; por isso rejeitaraili todas as
boas obras c toda a vida dos judeus, porqiic iião caminliavain nesse seiiiido.
Assim, pois, [os judeus1 se enfureceraiii coiitra eles e os mataram, alegando
que estariam rcjeit;md» o ciilto. as boas obras c a vida boa, como fazeiii os
hipócritas e os desgraqados s:iritos de todos os tempos, que ri50 têm parte na
ga$:i. Muito se poderia dizer a respcito disso.
Quando, porem, ela [sc. Muna] diz: "a favor de sua desccridência em
eterriidade" [Lc 1.551, deve-se entender por "em eternidade" que esla graça
perdiirari com a descendência de Abraão (que são os judeus) desde aquele
tempo por todos os tempos, até o dia derrudeiro. Pois, ernbora a grande
massa [dos judeus] estivesse endurecida, sempre existem alguns enti*: eles,
por incnor que seja o iiúmcro, que se convertem a Cristo e crêem nele: pois
essa proiiiessa de Deus não mente: o que foi prometido a Abraão não dura
por uiii mo. nem por mil anos, irias pelos s6ciilosm, ou seja, de uma geração
para a outi:i; sem cessar. Por coiiseguuiie; n;i» deveríamos tratar oc judcus
com taiita aspereza: pois ainda cxisteni fiitiiros cristãos entre eles, e algiins
se convertem todos os dias. Ném do mais, somente eles, e não riós gentios,
tfm a promessa de que, em todos os tcmpos, haverá, enlre os descendentes
de Abi-irão, cristãos que reconhecerri a descendência bendita; nossa causa se
biiseia unicamente iia graqa, sem promessa de Deus, quem sahe como e
quando? h' Se vivêssemos cristãrneiilc c conseguíssemos converter- os israe-
lilas a Cristo com bondade, este seria, sem dúvida, o procedimento correto.
Queiii irá querer tomar-se crisGo ao obsemar que cristáos tratam as pessoas
de foniia tão pouco cristá? Assim não; estimados cristãos! Deve-se dizer-lhes
21 verdade com brandura; se não quiserem, deve-se deixá-los ir. Qunntos

00 O Icxii~laiiiio, na i,e.rsão da Vulgata, de Lc 1.55, rcza lileralmenre: sicur krtiiii\ c.91 ;,i1
~'.,!r<.srr<>,\tirisAhrahnrii er .<c-riiiiii riir.\ in saeculn - "como disse a riossos 1i:iii. ;I Ahr;iii<i

l i. i i : i < I c ~ c i i i < l ~ i i pcl<is

(11 I iiiri<i
~ ~ i ; i .sc'cul<i,".
r\i.i ~icn\:io<l<ri i i i ici-tiioh <li.I<iiil i
i
Fuiid~nieniuc$o da ~ 1 i c ; Pi,liilc;r
i

cristàos há que não se impoilam corri Cristo. iarnbém náo ouvcm sua palavni,
srrido piores que os gentios e judeus. Não obstimtc, nós os deixamos em paz,
ou ciitão, prostramo-nos a seus pés e os acioi-arrios quasc como a um ídolo.
Coni isso basta por ora c roganios a Uei~spor uma cornprecnsão adequada
(leste M;igniticat, para que iiáo hrilhe apeiias e fdc. mas arda e viva ein i

corpo e iilma. Que Cristo no-lo coriccda por iiitercessão e por causa dc siia
~iiiiadamãe Maria. Améin.

Por liiii volto a diiigir-me a Vossa Alteza Priiiçipesca, clemeiite Senhor,


c peço a V«ssa Alteza Principesca que me perdoe miiiha ousadia. Pois. iii

tipesar de saber quc Vossa Jovem Alieza Principesca tciii diariameutc boti
iii\lru@o e ailiiioeitação, iião posso ser oirusso eiii iniiili;c devida siibmissiio
r lidelidade. nrin i i ; ~ preocupaçáo dc minha coiisciêiici:~e recordaçjio iIc
Vt~isaAliera Priiicipcsc;~.Pois todos iiós esperamos que. cni tcinpos futuros,
I)c~is.ein sua graya e ventura, coloq~ieo governo da Saxonia nas 11150s de 15

\li~\snAltera Principcsca, o que serií Lirii;i giiiide e preciosa obra caso se sair
I ~ ~ ~ i c. i i .por outro liido. [uma obra] peii5osii iniserável, caso sc sair inal;
~lii..tcriins esperar e pedir pelo mclhor erii tockis iis coiszis: e. náo obstantel
I ~ . I I I ~ . C,I precaver-110s contra 0 pior. Vossa Alir7;i Priuicipcsca deve considcrar
(IIIC.. L Y I I tl~daa Escritura, jamais Drus maiidou elogiar a nciihuni rei ou zri
1 " ~ i i < ' r l rpagão, enquanto o mundo existiu, mas scinpre mandou repreendê-
I . Isso C um impressionante quadro de lemos para todas as autoridades.
1 1 1 1 1 1 1 i ~ ~i10 i i i povo de Israel, que era seu próprio povo, jamais encontrou uni
I<.II~iiiv;ivcle excelerite. Aléin do mais, nem mesino no povo de Judá, que
I i ~ i;r Ixirie pficipal de todo o gênero huriiano, pircioso e ruiiado por Deus ?i

vtliii. ii~rl~ ass coisas, poucos reis sSo elogiados, nSo iiiais que seis. E a peça
i i i ; i i \ [)rccinsa. o iiiais querido príncipe Davi, que iiio deixou niiiguém igiial
: I I I . I \ , ;i11 liido e depois dele no governo rcncno, que. cheio de temor de Deui
t . ~.iliciloi-i;i. orieiitoii e executou todas as suas uçõcs 11.1ordeiii de. Deus e não
11ui X'II pr6prio eniendimento - apesar de tudo, tanibém ele tropeçou io
.11,~1ii11:i~ vc/,cs, dc modo que tambérii a Escrihira, não pcidendo criticar seu
I \ < I i I<9. c.. i i ; i o ohsiarite, rendo que relaiai :i desgaça quc sobreveio ao povo

~VOI L .III...I (1,. I);ivi, cla não o atribuiu a Davi. iiini, deu a culpa ao povo,
~ I I , , C I I L I~~ I~ I C I. k.iis sc Iiavia irado coin o povo c por isso pennitiu que Davi,
( . . i ( I I ~ I I I I ~ I I:I. : I I I Ili~sse ~ , inovido pelo diabo a recensear o povo". Por causa zi
6Il'.'.tl Iivc-i.!rii i11ic. iiioricr da peste setenta mil homcns. Todas essas coisas
I 1, 10.. ~ ~ , I < . i ) rr i< ,I<.:;i:i Iiiriii;~para ainedroiitar as autoridades e mantê-las no
I I 1 ) . 1 1 . i I I I C . ~ I( : . II~{li~s
I I perigos que correm. Pois o griiiide patriinonio, ti
o i i t i i i i 11s ~ i i t . i .
$ 8 . , i i i i 1 * 1 i ~ . ~ ~ x l c r cti\ ,altii cstiriia, i110rn dos hijiiladores, que
jainais faltam a iirri sciilior. tudo isso assedia logo o coração dc um príncipe.
que então o levarii :I soberha, a se esquecer de Deus, a descorisiderar o povo
e o bem-estar comuml 3 volúpia, frivolidade, arrogância, ao 6cio c, em suma,
a toda solte de iiijustiçii e desinandos. que nenhuma fortiilczii ou cidade é
sitiada e atacad;~com taiit« ímpeto. Qiiem, pois, não se protege atrás desses
exemplos c nao kiz do tcinor de Deus iiin bom escudo r baluarte, conio
podcrá subsistir'! Pois quando uni senhor ou unia autoridade iiã« tem aiiior
a seu povo c apenas se preocupa com seu próprio beiii-estar e não coirio
melhorar as coiidições dc vida de scu povo, este já esti perdido. Exerce sua
autoridade apenas para a pcrdiçáo de sua alma, e dc nada lhe adiantará
instituir gaudes cclehraçõcs, coiiventr~s,altares, isso ou aquilo. Dcus exigirzá
prcstaçáo de contas de sul posiq5o c do exercício de scii cargo, e iiáo se
importará com quuliliier oulr;i cois:~.
Por isso, meu Clciiicnte Serilioi. c Pi-íiicipe, recoineiiilo V»ss;i Allez:i
Principesc;~o A~l+viiti~~:ii, erii cspccial os veisículos S c 6. onde se tem o seu
centro; rogo e exorio 3 Vossa Altez:~Principesca que, c111toda :i vida, nada
tema Lanto na tcri'i, iierii riiesmo o uifcrno, como aquilo qiie a riiúe de Deus
chama aqui dc "as iiiteiiçiies dc seu corac;ãoH [Lc 1.511. Este é 0 iiiaior, mais
próximo, mais poderoso. iiiais pernicioso inimigo de todos os Iioiiicns, acima
dc tudo, porém, das autoritlades, o que vale dizer, da raráo, do bom senso e
da boa opiniao d:i qual devcm fluir todos os conselhos e :<tosgovemainen-
tais. Vossa Alteza Priiicipesca não esc;crá pmtcgidii dele sc iiào o considera
cunstantenirrire suspeito e se não Uic segue no temor (Ic Deus. Nâo me retiro
somente 2 Vossa Alteza I?-incipesca, [nas a todos aqtieles quc súo seus
conselheiros. Nenhum deles devc ser desprezado, mas também náo se deve
coiSiar cm nenhum delcs. Eiitúo, qiie fazer'!
Vossa Alteza Principesca iiúo deve rclcgar a oração aos monges iieiii aos
sacerdotes, confoniie o muii cosliiiiie otiial de apoiar-se e confiar na oraç;lo
dc outros, relaxaiiclo :i oraçáo 11r6pria. Voss;~Alteza Princispesca deve tomar
uin àninio ir;irico e ;ilcgre, e vencer a timidez, fa1:~iidoconi Deiis no c<inqâo
<lu ein lugar secreto. atirarido-ltie desemharaçadamcrire 3s cliaires aos pés, e
cobrando-lhe as suas próprias ordenh, da scguinte maneira: V?' rneu Deus c
Pai, é tua obra e oileiii que cu iiasci neste estado e fui criado para governar.
Isso nuiguérn pode ncglu em absoluto c tu mesmo o reconheces. Seja cii
d i p o ou indigno; sou coi~iosou, conio tu oii qualquer pessoa o vê. Por isso
nic concede, meu Senhor e Pai, que possa presidir teu povo para teu louvor
c para seu bem. N,io pei-mitasque siga r i i d i ; i razão, mas sê hi iiiiiiharazão, cic.
Ncsse seritido, que tudo iicontsGa como Dcus quer. O quanto t:d oraq;io
c csia iiianeirii clc pensar lhe agraciam, ele pr6prio o iiiostrou eni SaloiiiZo.
LIUC tiui~bémorou desia Konna. oraçâo essa que traduzi e a anexei 1x11-a cl~ic
Voss;i Alíc/:i Priiicipcsca teiilin iim exemplo para este scrmão e cri[. iiiii;i
co~isoIo~l:~r:i
coiiI'i;i~i~:i
ii:~g~iv:iclc [)ciis, :i í i i i i de qiic ~ C I - I ~ I ; I I I C ~ ;IS
: ~ I IIII;IY
~I
<I;%Élicn Polilica
J~iind;uncnta~?it>
~~

coisas: o temor de Deus e sua iniser'icór(li;i. c01110 caiitii o quinto versículo.


Com isso me encomendo a Vossa Alteza Priiicil>csca,que seja eiicomendada
:i Deus para um bom governo. Amém.

Coitio o rei Salumão dirige uina oi.syio priiicipesca a Deits,


um exemplo bom para todos os príncipes r seiihores.
de 1 Rs 3 . 5 ~ ~ .
Na cidade de GibeZo apareceu o Senhor a Salomgo de noite em sonho
i. 111~. disse: Pede-me o que queres que cu te dê. Então disse Salomão: Meu 10
I )VIIS. rcvelaste a meu pai Davi, teu servo, gande graça, porque andou diante
(11. li ciii verdade e justiça, e seu coração em cometo pwa contigo: e Uic
~~tiili.iisic a grande misericórdia de lhe tercs dado uin fiUio que agora está
~.t.iii:iiIocin seu troiio. como agora é iiotdrio.
A!:oi;i, pois. amado Deus c Seiihor, colocaste a iiim, teu servo, coino i5
i,.; i10 Iiigir dc meu pai Davi; e eu não passo de uni menino que não sabe
c < ~ I I I ( iiiirni-
I neiii sair'. Assim sou teu seivo no meio de teu povo escolhido,
'~iic'c. i i i i i povo ti70 graiicte que não pode ser' contado nem eiiumerado.
oiiiir:i\,pois, dar-me a m h . teii servo, um co~içãoatento (que aceita
t i t i i \ i . I I i i ~ c obedece). para que possa julgar e presidir teu povo, e [disceriiir] M
G B LIII,. i l Iioin c o qiie é inau; pois queiii scna capaz de julsar este teu p«vo,
i : i c i iiiiiiicroso e valeiite?
1'ss:is [>;rl;ivrltsagradaram a Deus por ler Sdoiii3o pedido tais coisas, e
l J C I I Y Ilic disse: Já que pedes isso, c não pedes vida loiiga3ri20 pedes riqucza,
ii:io ~cclcsa morte de teus adversários. iiiiis pedes conipriieiisão, para quc Y
lti.i1.~.l>;iscomo deves julgar, eis que faço o que pediste. Eis que te dou iim
i-i>i:ic:i<~ sáhio e coiiipreensivo, de soire que não houve ninguém semelliaiite
; i li ;iiiics (Ic ii neni Iiaverá dcpois de ti.
'I1iiiiIiCiii Ie dou as coisas quc não pediste: riqucras tio gandes e tanta
!~l<~ii:i ii)ii~o J;ini;iis Ii~iuvealguém scmelliaiite a ti entrc os reis erri todos os 30
I I . l i hi. ;iii(l;ircs em meus carnitilios para cuniprir meus estatutos e
lu*.<C I I U ~ <.oiiiu . :iii<louteu pai, taiiibém irei prolongar-te a vidil.
I Da A~i1iirid;idçSecular, até que puiitu se lhe deve okdiêiici:i

Da Autoridade Secular,
até que ponto se lhe deve obediência.'
1523
,,I

INTKODITCÃO

Base p u a o cscrito sZo seiniões profrridos em Weiniar nos dias 19. 24, 25 e 26
de oiiluhro de 1522, iiiirii tor~lde sei\. Espccialiiiente no terceiro e qu~utosermão.
13 Lutero se proiiiiiiciriru a respeito do "reino de Deus e do poder secular". A ~déi;ide
preparar o testo j;i vinha de Iongii dati. inas a redação deveii-se 11 s»licitaçd(i do
pregador W«lfgarig Stein, pregador da coiie dc Weimu, e do diiquc Jodo Frcderico
da Sax6nia2. A rcdavdo foi iniciada em ineados de dezembro, seiido a dedicatória a
João Fredenco datada do "dia do ano novo de 1523", isso é, do Naval de 1522. Sua
a, publicação, poréni. deu-se em inarço de 1523, pois ii 21 de iriuryo o duque Jorge da
Ssx6riia3 apresentou qiieixa a seu respcito :i« príiiçipe-çleitoi. Joi:c da Saxônia
proibira, a 7 dç iio\~ciiihir~ dc 1522, compi;i i: vciida da ecli(.ao do Novo Testamento
preparada por Liitcro. Lutcro vai sç referir a esse fato eni nosso escrito. O escrito faz
ç gêncro liicririo designado de "liiscru(.óes para govema~itzs"(Fiirstensp~rgen.
p ~ r i do
,< Manin N. Drchci

I,,

I A o seriiiio, ilustre, prí~icipcc sciilior, scnhor Jorio. duque da Sarôtiin,


landgrave d a Turíiigia e margrave d e Meissen, meu niagiiânimo senhor.

1 I V í i wellliclici- Obrj~kcit,wie weit ~ i a nifu C?hursm schiildip sn. - WA 11,245-280.


'liaduqão: M:utiii N D,rhr~.
2 .lcri~i.o Coiiswirc ilJhX~l53li.irmk dc Frcdeiicu. o Sábio, ao qual siiceileu no eleilor;iilo
cin 1525. h h n o s caç;". piliticaiiicntc qiic s c i ~innãu. Iui. não ubslwiç. hoineiu coi;ij<>\t<
c dc profiirid.~cotivicçáo evxigélica. F<iicic qucrn, na ausencia du piiiicipe-çkilor, icciisii~i
;i puhlico~ãoda hula contra Lutero. Foi ele qucin recomendou a srit inrváo que tidoiiissc :i
c;iiis;i do Rel'onna niaii abenanrente. Foi a ele que Lutero, escondido iio Wmthiirgo, in:itiili>ii
Il)lli;is ;ivulsas de suo Iraduçjo do Novo Testamento, para que o duque pudcssc Icr :i Bilili;~

i ..
,li..LrI.IIIIç,lIC.
I .Iii,::iio Ij;irliii<h>,1471-151<1.iliiqiic (gi>vci~i.tiirc)
da Saniiriia alki1iti;i ilcsilc 15lX).
I ii#i<l;!iiiciitaçâ<i
da Ética Poiítica
~-

(;~içae paz em Cristo. Novameritc4 a necessidade e o pedido de m u i t a s


11<.ssoiisc o n s l r a n g e m - m e , scrcno, ilustre príncipe, magnânimo senlior, a cs-
i.ivvct-, em primciro l u g a r a Vossa M a g n i f i c ê n c i a i'riucipesca, a respcito da
:iiiioridadc s e c u l a r e dc sua espada, de como deve ser usada cristâtnente e a t é
iltic p o n t o s e Ilic deve obediência. Pois- são movida pela palavra de Cristo, 5

<.i11 M ~ i i e u s5.39s.: "Não resistas ao m a l , mas sê c o t n p l a c e n t e com t e u


:iilvcrsUrio, e a queni te tirar a túnica, dcixa-lhe também a capa". E R i n
I?.. 1 % "A vingnnça é m i n h a , diz o S e n h o r , eu retribuirei". Com essas
~~:il;ivriis o príncipe Volusiano" atacou, outrora, a S a n t o A g o s t i n h o e acusou
:I iloutrina crista de p e n n i t u aos m a u s d e cornetcrem a maldade e q u e , de iii

iii:iiicirn a l g u m a , pudcssc coadunar-sc coin a espada secular.


Ila mcsma í'orina t a m b é m se escanddizmun com isso os soliscash nas
iiiiivcrsidades, visto q u e nZ« p o d i a m coadunar as duas coisas. Para de fòrma
:tl>iiitii;~ a c u s a r e m os príncipes d e pagâos, ensinaram que Cristo n ã o ordenara
i:iI ~ . o i s a ,mas q u e apenas o acoiiselhara aos pci-fcitos7. Assim C r i s t o t e v e que ii

11:iss;ir por mentiroso c nâo p 6 d e l e r r a z ã o , para, eiil t o d o s os casos, preservar


:i Iii~iinid o s príncipes. Pois os c e g o s , míscros sofistas riáo podiam exaltar os
~uiiii'ipcsscm r e b a i x a r e m a Cristo. Assim seu engano venenoso se alastrou

I t i s . . ;iii,r\ iiiiies, cm 1520, Liiiçm csçrcvcla a carta ;ihcri;i "A Ncibrcza Ci-istZ de Nação
;\Ic.iii;~.Accica do Mcliiurmçntii do Estnn~eiitoCi-islir>" - c[. Obras Sclccioitndas, v. 2,
1 1 .!//340.

'> \iiiii.\i:i,io mantcvc um;, corriispoiid&icia assídua çi>m Agostinho, çnl2u bispo de IIipona, iio
.iii,, 412. sihic suas dúvidas tcolóçicm. No eiii;uiti>,scus problemas coin a coinpatibilidadc
~ 1 . i iI<,uirin;i dc Cristo da náo-resistência com ;ir Icis e os çoslunics do hstaclo foram
<li\i-iitiililsn;i correspond~nciacntw Agoiiiiilii~e Mzirceho,, pruç6nsi1l da Afnca, no mesmo
: i i i i i ile 412. MarccLinc iora indicado pelo imperador Iloniitio para prcsidii o sírioclo de 411,
i i i i i . iiiis um leiino no cisma dunatista. A ele A~ostiiihi> dcdicou os dois orimeim~livins <{c

r. .%~/i\i:is sâo, na temiinulogia dc Lutero, os Lci>l<igosescoláslicos cin geral que, coin scus
:i~~:iiitiiiiios rchuscados e aparcntcmcr~tevilidos, na rcaiidade náo çhcgani a ser conclusivo^.
: \ ~I\IL.SI:IO "mandamcnt~ OU c ~ ~ ~ s e l hLuma o " amplo espaço no coiifro~itnde Luicii> corn a
i,, ~ l < > j v i :cicoléilica.
i A distirição entre "inandamcnto" e "conscllio" vem clesdc Erl~~liano
i L . lli0 c;i. 220). quc debateu o assunto com base em 1 Cn 7. Tom& <li. Aquino (ça.
I ' > i1274) lainbéin distinguia eniiii "maiidamento" e "consclho" em temris dc obrigação
i . i i ~ > i : : ~ AfLmiavii-sc
>. que a iiova lei da lihcrclade crisli logo passou a acresççntir "conse-
IIi<i\" ;ti>< mandaiiicntos, o que a antigd lei da escravidão náo fe~. ESSCS"conselh~s
i.v;iiili<:licii~"dcstinavarii-se a capacitar a pessoa a alcançar mais rapidamcrite a beiu-
.ivi.iiliir;iiiç;ietcina por rneio da renúncia hs coisas do mundo, por meio cle pohreza, cariilsdc
c . iilii.,li?iiçiii. Os "conselhos cvmgElicos" não st: dçstinavani a toclos os cristáos, mas apcnai
:i iIi.i<.iiiiiii:aliis pessoas quç esliri cm condições dc ohseivá-los, comri dito cm Mt 1<).1?.21
i ' I . 'liiiii:i\ iIc Aquino, Sui~ia7 ~ ~ ~1.11. í ~;"i. . 4; 2.11, q. 184, ;li-1s. 3 c 7. oiirlc sc
l i[.~ 108,
. i l i ~ i i i : i que c"tcIo iki pcl-kiçáci C c<xiscgiiiilo ~iicllio~ ii;i viil;i nii>ri:islii;ir i i i , "rt:al<i
<.11!,:<01>:11" i10 <IL!C NO "isl:icli> i~.lipi<,\<i".
Da Autoncladt: Scçular, ate quc ponto se lhe deve obedirncia
pelo mundo todo, de modo que todos consideram essa doutrina de Cristo
apenas conselhos para os perfeitos, e não mandamentos obrigatórios para
todos os cristãos. Chegaram ao ponto de não só peimitirern que o perfeito
estado dos bispos, sim, o superpcrfeito estado do papa assumisse este estado
7 imperlèito da espada e da autoridade secular, mas conferiram-no a mais
ninguém na terra tão plenamente como à categoria dos bispos e do papa. O
diabo se apossou de tal maneira dos sofistas e das universidades que eles
próprios não mais percebem o que falam ou cnsinam.
Es~ero.
, , oorém.
. ensinar aos oríncines e à autoridade secular de tal ma-
iii neira que continuem sendo cristãos, e Cristo um Senhor, sem necessidade de,
por sua causa, transformar os mandamentos de Ciisto ein meros conselhos.
Quero fazer isso como humilde prestação de serviço à Vossa Magnificência
Princispesca e a todo aquele que disso precisar, para gl6ria e louvor de
Cristo, iiosso Senhor. Recomendo Vossa Magnificência Priiicispesca e toda
15 sua linhagem à Faça dc Deus que o aceite misericordiosamente. Ainém.
Wittenberg, no dia de Ano Novo de 1523.
Dc vossii Magniiicência Princispesca
submisso
20 Martinho Lutero
Anteriormente escrevi um livrinho à riobrcza alemã" mostrei qual é seu
ministério c função cristã. No entanto, é suficientemente conhecido o quanto
se importaram com o que escrevi. Por isso tenhc que concentrar meus
a esforços em outro sentido e escrever agora o que não devem fazer. Espero
que o acatem da mesma forma como acataram aquelc outro escrito, para que,
em todos os casos, continuem sendo príncipes e jamais venham a ser cris-
fios. Pois Deus, o onipotente, enlouqueceu os nossos príncipes, de sorte que
pensam poderem fazer e ordenar a seus súditos o que quiserem; e também
,,, os súditos sc enganam, quando mêem estarem obrigados a cumprir tudo isso
plenamente. Agora até coineçaram a ordenar ao povo que entreguem livrosy,
creiam e cumpram o que eles ordenam. Com isso atrevem-se inclusive a
sentar no trono de Deus e a dominar as consciências e a fé e, em seu cérebro
louco, a tratar o Espírito Santo como aluno. Mesmo assim exigem que não
se lhes diga isso e que ainda se os denomine de magnânimos senhores.
Escrevem e promulgam instrusões impressas, dizendo que o imperador

X ( ' L ;içima p. RO, n. 4.


'i l i r i i o i ; i ~ i >dç 1522, o duque Guilherme iV da Bavjria proibira, num primeiro de uma diic
<li.<Icsn:icli<is rilieiosos. ;I lo<li>s os sçiis súditos a Icitura e discussão dos livros de I.uiiro.
Fiindanicrit:içãr~da Ética Política
o orderioul0 e que prctendem ser príiiciprs cristáos e obedientes, como se
levassem a coisa a sério e como não se pudesse iiotar a maganice atrás de
suas orelhas. Se, porém, o iiiipaador lhcs tirasse um castelo ou uiiia cidade,
ou lhcs ordenasse alguma oiitra injustiça, aí então veríamos os helns iiiolivos
que encontrariam para resistú ao iiiipcrador e para nâo precisare111ohcdccer-
lhe. Quando, porém, se trata de explorar o homem pobrc e de desafogar sua
s
i
peiuficia na palavra de Deus, chama-se isso de obediência ao mandnmento
imperial. Antigamente essas pessoas eram chamadas de patifes; agora tem
que se chamá-los de príncipes cristáos e obedicntcs, mas não admitem
alguém para um interrogatório ou para chamá-los à responsabilidade, por iii

iiirus que se insista. Para eles seria tot~lmenteinsuportável caso o imperador


oti alguém outro agisse coin cles dessli maneira! São esses os príncipes de
iiossos dias que govci~iamo império eiii terras alemãs. E por isso qiic as
coisas aiid;iin cm todos (1s territórios do jeito como podemos ver.
Coiiio, pois, a sanha dcsses loucos coiiiribui para o extermínio da S i (7

cristã, para a negação da piilavi-a de Deus c a blasfêmia da niajrslade divina,


ii;io posso nem quero sileiicix poi- mais tempo diante de mcus mesquinhos
sciihorcs c encolerizados inorgados. Tenho que resistir-lhes pelo iiieiios com
~);~l;ivras.Não temi seu ídolo, o papa, que ameaçava tomar-me a aliiia c o
i-i:ii. Por isso também tenho quc demonstrar que não tcmo suas escamas e 20

Iiollias d'água" que Uincaçam tuas-me o corpo e a teira. Queira Deus que
~~rrniaiieçam zangados para sempre e que iios ajude para quc náo morramos
11<1r causa de suas ameaças. Amém.

1!n1 primeiro lugar, temos que luiidainciltar bem o direito e a espada 2s

wc.tilor para que ninguém duvidc que ela existe no mundo por vontade r
iii<lriin@ode Deus. As palavras que a iuiidainentam são: Rm 13.12: "Toda
:iIiii:i csieja siibmissa a« poder e a autoridade; pois não há podcr que r i o seja
i l i . I>riis: onde quer que liaja poder ele foi ordeiiado por Deus. Qiiem, pois,

111 I i i i iI<.ii+x~i.~li.i:l c10 Edito de Wonns, n duque Jorge da Saxônia puhliçou, ein noveinhro de
I', ' ' ~ I I I I :1~,ti.I:iin;iç;i«
~ advertindo sciis súditos a respeito da proibiçdo anterior de comprar
m. 1k.i si,. l i v i t i \ (I<. I .iiicro. E bom lemhmi- quc Lutero havia publictdidi~reccnlcmenie o Novo
1, . ~ . i i i i , . i i i ( , ,.OI li~i,:ii;t ;alemá, i l u s t r h com desenhos grolescos do papa. O duque ordenou
.i i ~ l i i . i , . iIc ~ l i i i l ; l \ ;i\ ciiliias em troca do p r c p pago @o livro.
II I i , , i , , i ~ i , v i i .i Ii1:iii;i tkis "escamas" de Jó 41.15-17. E seu temo prcfcrido para designar
i ~ i t

, . I I I . ''l<ollias d ' á p ~ "(Wasserblasm,no origindl) C uma rcler2ticia


1 , I U O . ~ I ~ ~ i~.~~iic)
,(#) ~ . ~ I:iiiiic> hulla, quc sc roni:m a designação comuni para os (Ircretos
.mii, i ~ i . II.\II,~ A I>irll:i (liiçialnientc "holli;iM) tomou seu nome da placa de çhunibo ciiiii
q i . , i.iiii ,,i.I:iiIiv.<is iI<ii.iiniçiitnsoticinis ri:i Idade Mt'dia, uma placa circulai in;i liiriliii de
< i ;$iia. ('oni s:uc:isai<i. Liiiero dizia quc ;is hiilzih [p;i[~;li' ~i;i<i
i i i a i . , l ~ , . I i i . i ,I,. . t i l I i i i ~ i ; ~ i i < l ii;i

1 , ~ .,,,.~LcI LI,. I,C,III:LS tl.,t~.v;t. I I ~ ~:UIII<III


~ ' ~ ~ ~ ~ ~ V ~ ICVC I C ~ I C CIII mçnic Ap 12.15. ('I'. ~ ~ : ~ I : I I I I I ~ L -
I m , I I I I : 1 1' cI WA 8,712-71. LI? 1 5 2 .

X.!
Da Autoridade Seculiu. até oue ooiitu se lhe dcvr ohrAi8ncia
resistir. ao poder. resiste à ordenaçáo dc Deus. Quem, todavia, resiste i:
ordenação dc Dcus, este arai sobre si mesrrio a condenação". Idem 1 Pe
2.13s.: "Sede submissos a toda ordein humana, seja ao rei, conio o mais
iiobre, ou a seus procuradores que s5o por ele enviados para castigar os maus
c recompensar os piedosos".
O direito dcssa espada existiu desde o começo do mundo. Pois quando
Caiiii matou a Abel, teve tanto medo de que também o matassem que Deus
inclusive proibiu isso expressamente e tornou sem efcito a espada para que
ninguém o vicssc a matarl2. Não teria tido esse medo, caso nUo tivesse visto
e ouvido desde Adão que se deve inata os assassinos. Além disso, Deus
reintroduziu essa lei expressamente ap(ís O dilúvio e a confirmou ao dizer eiii
Gn 9.6: "Se alguém derramar saiiguc Iiiitiiano, o seu será, por sua vez.
dci~aiiiadopelo homem". Isso não pode ser compreendido no sentido de um
flageln ou ciistigo que havcria de cair sobre <I ;issassino da parte de Deus;
pois muitos assassinos continuam vivos por pagaerii fiança ou por serein
favorecidos c morrein sem a espada. DIZ-seaí a respeito do dircito da espada
que um assassirio é réu de inorlc c qiic pelo direito deve ser morto. Agora,
se a justi~afor impedida ou a espada é morosa, de sorte que o assassino vem
a fdcccr dc mortc natural, nem poi- isso a Escritura está errada ao dizer:
"Quem derramar sangue humano há quc se derramar seu sangue pelo ho-
meiii". Pois é culpa ou iniciativa do homem caso o direito ordenado por
Deus nZo for cumprido, da mesma forma como também são transgredidos
outros mandamentos de Deus.
No mais, tambéin foi confirmado pela lei de Moisés, Êx 21.14: "Queiii
niatar dguéin propositaimcntc, a esse arraicaias de meu altar, para que seja
moito". E ali se lê segunda vez: "Corpo por corpo, olho por olho, dente por
dente, pé por pé, mão por mão, Serida por Ièi-ida, galo por galo". Tmbéni
Cristo o c~rifiriiia~ qwando disse a Pedro no jarduii: "Quem tomar a espada,
pela espada morrcrá" [Mt 26.521, o que deve ser entendido no mesmo
sciiiido de Gn 9.6: "Quem dcn-aniiir sangue humano, etc." Com esta palavra
Vi-isto aponta, sem dúvida, para aquela passagem c com ela cita aqiielii
piiliivra e quer tê-la confhmada. Do incsmo modo ensinou tambérii JoUo
. . quando os soldados o perguntaram pelo que dcvcnam fazer, respon-
B..tiista;
deu: "A ninguém inaltrateis nem façais injustiça, e çontentai-vos com vosso
soldo" [Lc 3.141. Se a espada náo fossc uma instituiçâo divina, teria q ~ i c
or(lenltr-lhes quc sc distanciassem dela, pois sua f~nalidadeera a de Icvar o
11ovo :I perfeiçzo e de instmí-lo cristãmeiitc. Portanto, é certo e suficientc-
iiicriic csclarecido quc C da vontade de Deus que a espada e o direito sccular
s~:i;iiiiiisados para castigar os maus e proteger os piedosos.
Pundamcnta$ár>da Ética Política
Segundo. A isso conh-adiz vigorosamente a palavra que Cristo profere
em Mt 5.38~s.:"Ouvistes o que foi dito aos antepassados: olho por olho,
dente por dente. Eu, porém, vos digo que não se deve resistir a nenhum mal;
mas, se alguém te bater lia face direita, oferece-lhe também a outra; e se
alguém quer demandar contigo para tirar-te a túnica, deixa-lhe também a i
capa; e se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas, etc.".
Também Paulo diz em Rm 12.19: "Amados, nZo vos defendais a vós mes-
mos, mas dai lugar à ira de Deus, pois está escrito: A vingança é minha; eu
retribuirei, diz « Senhor". Também Mt 5.44: "Amai os vossos inimigos,
fazei o bem aos que vos odeiam". E I Pe 2. [se. 3.91: "Ninguém pague mal 111
com mal ou injúria com injúria, etc.". Sem dúvida, essas e outras palavras
semelhaiites são duras, como se iia nova aliança os crisifios nfio pudessem
ter espada temporal.
Eis o motivo por que tmibém os sofistas afirmam que com isso Cristo
tei-ia revogado a lei de Moisés e transbrmam esses mandamentos em "con- is
scihos" para os peilèitos e dividem a doutsi~iacristã e o estado cristZo em
dois. A utn denominam de estado peifeito. A esse adjudicam os mencioiia-
dos conselhos. Ao outro denominam o estado imperfeito. A esse adjudicam
os mandamentos. Fazem isso por iniciativa e arbítrio próprios e injuriosos,
seili qualquer base da Escritura. Não vêem que na mesma passagcm Cristo 211
ordena sua doutrùia com tanto rigor que não quer que o mínimo seja abolido,
c condena ao inlèrno os que não amam a seus inimigos". Por isso temos que
Iilar a respeito disso de outro niodo, no seguinte sentido: as palavras de
('risto permanecem válidas em geral para toda pessoa, seja ela perlèita ou
iiiiperteita. Pois perfeição ou imperfeiqão uZo tem base naquilo que se faz; zr
i;iinbém não cria nenhum estado externo especial entre os cristãos; mas tem
siin base no coração, na fé e no amor, de sorte que quem mais crê e ama,
cstc é perfeito, seja exteriormente homem ou mulher, príncipe ou camponês,
iiioiige ou leigo. Pois amor e fé não provocam separações ou diferenças
~~(criormente. 30

'lkrcciro. Aqui temos que dividir os filhos de Adão e todas as pessoas


c.111 clois grupos: uns pertencem ao reino de Deus, os outros, ao reino do
iiiiiiiiIo. Os que pertencem m reino de Deus são todos os que, como vcrda-
(li.ii;iiiiente crentes, estão em Cristo e sob Cristo. Pois Cristo é o Rei e
S~.iili(~r do reino de Deus, como afirma o Salmo 2.6 e toda a Escritura; e foi 3s
<.s;ii:iinentepara isso que ele veio: para dar início ao reino de Deus e erigi-
Io iio mundo. Por essa razão diz diante de Pilatos: "Meu reino não é do
iiiiiiido, mas quem é da verdade, este ouve minha voz" [Jo 18.36s.], referin-
1111-scconstantemente ao reino de Deus no Evangelho, dizendo: "Melhorai-
Da Autoridadidc Sccular, at6 quc ponto sc Ihc dcvc obediência
vos; o reino de Deus chegou" [Mt 4.171; idem: "Procurai em primeiro lugar
o reino de Deus e sua justiça"[Mt 6.331. Inclusive denomina o Evangelho
de Evangelho do reino de Deus porque ensina, governa e mantém o reino de Deus.
Ora, essas pessoas náo precisam de espada ou direito secular. E se todas
5 as pessoas Sossem cristãos autênticos, isto é, verdadeiros crentes, não seriam
necessários nem dc proveito príncipe, rei ou senhor, nem espada nem lei.
Pois para que Ihes serviriam? Eles têm no coraqão o Espírito Santo que os
ensina c efetua que não façam mal a ninguém, que amem a todos e que
sofram, de bom grado e alegremente, injustiças, sim, inclusive a morte da
iu parte de qualquer pessoa. Onde há apenas sofrer injustiça e hzer justiça, aí
não há espaço para briga, discórdia, juízo, juiz, castigo, Ici ou espada. Por
isso é iinpossível que a e s ~ a d ae a lei temporal encontrem algo a fizer entre
os cristZos; pois, por si mesmos, eles já fazcm muito mais do que toda a lei
e ensinamentos possam exigir, como diz Paulo em 1 Tin 1.9: "NZo se deu
i5 nenhuma lei para os justos, mas, sim, para os injustos".
Por quê? Poi-que o justo faz, por si mesmo, tudo e mais ainda do que o
exigido por todas as leis. Os injustos em contraposiqao nada fazem que seja
justo; por isso necessitam da lei que os ensina, obriga e pressiona para
agirem bem. Uma boa &ore nao necessita ncm de ensino nem de lei para
211 dar bons l i ~ u t ~mas
s ~ ~sua
; natureza làz com que, sem lei e ensino, produza
fruto, coiifonne sua iiritureza. Seria um homem louco que escrevcssc um
livro para a macieira, cheio de leis e normas, para que produza maças e nâio
espinhos. Pois a árvorc faz isso por natureza muito melhor do que o homem
o pode descrever e ordenar conl todos os livros. Assim t d 6 m todos os
. cristãos estão naturados de tal maneira pelo Espírito Santo que agem bem e
corretamente melhor do que se Ihes possa ensinar com todas as lcis; eles não
precisam para si de lei ou nortna.
A isso objctas: Por que então Dcus deu a todos os homens tantas leis e
por
., que também Cristo ordena ianias coisas no Evangelho? A respeito disso
$ 1 .I;[ cscrcvi muito lia postila e em outros lugaresi5. Aqui seja dito somente o
seguinte: Se Paulo diz que a lei foi dada por causa dos injustosL6,isso
sigiiifica que os não-cristãos são impedidos exteriormente de fazer o mal pela
iiiilx>siçáoda lei, como ainda vcrcmos. Visto, porém, que nenhum ser huma-
iio C cristão e justo por natureza, mas que todos são pecadores e maus",

I l ('i: Mi 7.17-18.
I', AI "l~c>siillas"siio coleçóes de semióes expoiido as epístola5 e evangeihos dorniriicais e <Ii,s
ili;is lcriivos do ano litúlgico. A cliamada "Poitila do Watburgo" foi publicada a poilir. <li.
i,!;iy<> <tc 1522 cm líiigua latiiia. Quarito ao tenra "lei", cf. especialmelrie: Iiv;iirgc5i~iri
II A i s i r - WA 7,472~s..precisamente p. 476,ZXss.
118 ( ' I . I 'I',,, 1:).
l i ( ' I . li!,, i ? i .
1:uiidanieiii;iq;io<tiEtiça Política
Deus c«riibate a todos eles coiii a lei para que iiáo ousciri praticar exterior-
mente sua maldade por obras conforme scu wbilno. Além disso. S. Piiulo
iiiiida confei-e à lei outro ofício em Rm 7.7 e G1 2.16~s.: ela eiisu~aa
recoiiliecer o pecado, para que o ser humano se tomc humilde para a g r a p
c a fé em Cristo. E assim que também Cristo age aqui em Mt 5.39, ao 5
ciisinar que não se deve resistir ao mal. Com isso interpreta a lei c ensina
como uni verdadeiro crisiao deve e tem que ser, como ouviremos mais abaixo.
Quwfo. Ao reino do mundo ou sob a lei peitencerii todos os não-crisláos.
I'ois, visto que sáo poucos os crentes e somente a ininoiia age como cristãos,
li:«> resistinclo ao inal, oii nié nUo fazendo cla própria o inal, Deus criou para 10

csscs. ao lado do estado crisião c do reino de Dros, outro rcgimc (Rrpi~iient)


c os submeteu i espada, a Iim de que, ainda que o queiram, nZo possam
~iraticarsua maldade e, caso a praticarem, não o possam f z c s sem temor e
ciii paz c felicidade. Do mcsino modo como se domina com correntes e
i.ordas iim animal feroz, para que não possa morder e dilacerar, como é s
11riÍprio de sua raça, mesmo qiie o quisesse; um aninral inanso e dócil, ao
c<iiitrario,ri50 precisa disso. E iiiofensivo inesmo sein correntes e peias.
I'ois se assiin iiã<i<iIosse, visto que t«<l« o mundo i I~LILIc cnire inil i
tlilícil encontrar tiin úiiico verdadeiro crist2c>, iim dcvorcvia o oiiti-o. dc
iii;iiirira que ninguém cstcuiii em condiç0es de icr inulher e filhos, tmb;illi;ir 20
1 ~ 1 0 sustento e servir a Deus; o inundo seria devastado. Por isso Deus
iiisiituiu os dois domínios: o espiritual que cria cristãos e pessoas justas
:iii;iv6s do Espírito Santo, e 0 temporal que combate os acristiios e maus,
11:ii-ci que mantenham paz cxicma e tenham quc scr cordatos contra suci
vi~iiiedc.E nesse sentido que S. Paulo interpreta a espada secular cin Rni 17
1.13, ao afiriiiar que cla não se destina para temer pel~isboas obias, mas
11il:isinis. E Pedro diz que foi dada para c ~ i s t i ~os i r maus [I Pe 2.141.
Sc agora alguém quisesse govcrnar o mundo segundo o Evangclho e
t.liiiiiii;ir toda a lei e a espida secular, argunieiitando que todos Soram
Ii:iiizados e são cristãos, entre os quais o Evangelho não quer que haja ncin zo
1i.i iicm espada, e tambéin não há necessidade - meu caro, adivinha o que
i.ssc inesmo cstaria fazendo'! Soltaria as cadcias e currentes dos aniinais
:.<.lv:i::ciis e maus para dilacer:ucm c morderem, e argumentaria que sc trata
,I). iii;ir:ivilliosos animaizinhos iiiaiisos e dóceis. Eu, ~ i o i t n o. sentiria muito
I ~ . i i i ciii miiilias fen<l;is.Assim os niaus abusariam da liberdade cristã sob o li
iii~iiiiodo nomc cristão, a patifaria correria solta e ainda diriam qiie são
cii\I:ios e que, por isso, não esiariam sujeitos a i~enhuinaIci e espada, como
[;I ixihlcin alguns loucos e desvai~ados'~.

IS I.iilci<i\e referc aos grupos anahatistas e outra.. çorrcntes espintiialistas, especialrneiiiç ;i.:
liili:i.al:ir por T>n~ás Miinliçr, que derivavam exigências poliri~isdo Evangelho. O i n < i v i ~
i i i i . i i i < i ciiltiiini>ii na Cuen;i <I<ir C'aniponeses já em 1525. C í . nmlc volumc os li.xl<i\ :I
8t.y".1lfl <I<> ;is\iicil<i, 1., 271-401
Da Autoridadç Sccular. ti16 quc poiil<ise lhe devs r>bedifncia
A uma tal pessoa sc teria que dizer: Sim, é certo que, por causa própria,
os cristáos não estãci sujeitos a nenhuma lei ou espada, nem delas necessitam.
Mas cuida c enche primeiro o mundo de verdadciros cristãos antes de
gonverná-lo cristã e evangelicamente. Isso, no entanto, Jamais conseguirás,
s pois o mundo e a massa do povo são c pcrmaneccm acristáos, mesmo que
todos tenham sido batizados c sejam chamados de cristãos. Os crisaos,
porEm, como sc costuma dizer, moram distantes um do outro. Por isso não
é possível que se estabeleça uin rcgime cristão geral para o mundo inteiro,
nem mesmo para um país ou uma grande multid2o de pessoas. Pois os maus
iii sempre superam os justos em núincro. Por isso, sc um país inteiro ou o
mundo se arriscasse a governar com o Evangelho, seria a mesma coisa que
se um pastor juniasse no mesmo cstál~ulolobos, leões, gaviões e ovelhas c
os deixasse coriviver livi-emente e dissesse: "Apascentai-vos e sede ,justos e
pacíficos iiiis com os outros; o cstábulo cstá aberto, tendes pasto em abun-
ii dância, não prccisais temer cães nem cacetes". As ovelhas ceriamente seriam
pacíficas e se deixariam apascentar c govcrriar pacificamente; mas não vive-
riam por muito tempo, e nenhum animal estaria a salvo do outro.
Por isso tein que se distinguir cuidadosaincnle esses dois regimes e
deixá-los vigorar: um que torna justo, o outro que garante a paz exterior c
211 combate as obras más. Sozinho nenhum dos dois basta no mundo. Pois sem
o regime espiritual de Cristo ninguém pode ser justificado perante Deus por
meio do regime secular. Pois o regime de Cristo nâo se estende sobre todos
os seres humanos, mas, em todos os tempos, os cristáos sáo o grupo menor
c encontram-se dispersas entre os acristãos. Onde, pois reinar somente o
25 regime secular ou a lei, aí pode haver somente hipocrisia, mesmo que fossem
os próprios mandamentos dc Deus. Pois sem o Espírito Santo no c»ra@o,
ninguém se torna verdadeiranientr Jiisto, faça tantas belas obras quantas
quiser. Onde, porém, o regime espiritual governa sozinho sobre terra e gente,
a í s e &arao
; rédeas soltas à inaltlade e se abrir& espaço a toda sorte de
patifarias. Porque o mundo em geral náo o pode aceitar c compreender.
Vês, pois, qual é o sentido das palavras de Cristo que citamos acima de
Mt 5.39, segundo as quais os ci-istzos nZo devem defender seus dircitos nem
ter em seu meio a espada temporal. Na verdade ele o diz somente a seus
arnados cristãos; eles também sáo os únicos que o accitain e agcin de acordo,
v. c iiao as transfonnarn em "conselhos", como os sofistas, mas, pelo Espírito,
rcccbcram no cora~Zouma natureza tal que não fazem mal a ninguém c
sokem, de bom grado, maldade de iodo o mundo. Agora, se o mundo inteiro
li~sschrinado de cristaos, todas essas palavras lhc diriam respeito e ele agiria
iIc :icei-do. Como, porEm, E formado de acristãos, essas palavras náo o
;iiiiigcin c ele não age de acordei; está sujeito ao outro regime, no qual sc
li~i-<;:iiii
c ccimpclem os cristáos exteriormente à paz e ao bem.
I'or css:i razão, Cristo I:iinh6rn rião iisoii espada c iaiiibéin iiZo iiistiiiiiii
da
I~i~iiikiiiiciitaço Etica Política
~i~~iiliuina em seu reinoL".Pois ele é um rei sobre eristáos e governa sem lei,
ziiiiiciite através de seu Espírito Santo. E, apesar de ter confirmado a espada,
it;to ,zl uso dela. Porque ela não serve para seu reino, onde só há justos. Foi
1"" esta razão que outrora Davi não pode construir o templo: havia derrama-
i10 iii~iitosangue e usado a espadazu. Não que tivesse cometido alguma s
iitiiistiça, mas não pôde ser um protótipo de Cristo que quer ter um reino
~~;icifico, sem espada. Essa missão coube a Salotnão, que signilica o Pacíficoz1,
11iic tinlia um reino de paz com o qual se podia indicar o verdadeiro reino de
1 ) de ~ Cristo, o verdadeiro Fredei-ico, o verdadeiro Salomito. O texto ainda
(liL:"Em toda a construção do templo nunca se ouviu instrumento de ferro" iii
I I I<s 6.71. Tudo isso para indicar que Cristo teria um povo livre, sem
l!ri'ss,fies e atropelos, sem lei e espada.
E isso que expressam os profetas no S1 110.3: "Teu povo serão os
vi~loiil;írios".E 1s 11.9: "Não matarão, nem farão dano em todo o meu santo
iii~~iitc". E 1s 2.4: "Converterão suas espadas em pás de arado e suas lanças l i
(.i11liices, e ninguém levantará uma espada contra o outro e se dará ao
1i:i11:1111o de lutar, etc." Quem quisesse estender esses e outsos versículos a
it~los1)s lugares onde é pronunciado o nome de Cristo, este estaria perver-
i<.ii,lir:i Escritura; eles se referem tão-somente aos verdadeiros cristãos: estes,
< o 1 1 1 cctleza, procedem desta foma entre si. 20

C)riirifo. Aqui objetas: Se os cristios não precisam da espada secular e da


1c.i. ~!orque então Paulo diz em Rm 13.1 a todos os cristãos: "Todas as almas
..<:i;iiii submissas ao poder e i autoridade"'? e S. Pedro: "Sede submissos a
i c i i I : i instituiçio humana, etc." [I Pe 2.131, conforme refel-ido acima? Kes-
1111st:i:Há pouco expliquei que entx si e para si próprios os cristãos não 2s
iivccssitam de lei e espada; pois para eles é dcsncccssiria e sem serventia.
Visto. porém, que o verdadeiro cristão não vive na terra para si próprio, mas
I':II;I o próximo, e lhe serve, faz também, por natureza de seu espírito, aquilo
~1111' II%O necessita, mas que é proveitoso e necessário para seu próximo.
Si.ii~loa espada de grande necessidade e serventia para o mundo todo, para in
L I I L ~ ' s-i;i mantida a paz, castigado o pecado e combatidos os maus, o ensiZio
,.c. iil)iiicte de bom grado ao regime da espada: paga itnpostos, honra a
:iiiii~riil:ale,auxilia e 1àL tudo o que pode e que é útil para a autoridade, a
I i i i i (li. qiie sejam preservados seu poder, homa e temor, embora nito neces-
:.iic. ili. ii;ida disso para si próprio. Pois visa ao que é útil e bom para outros, s
t . ~ t i i t i )ciisina Paulo em Ef 5.21.

1'1 1'I. MI 26.52s.; Jo 18.36.


'I1 ( 'I: L S", 7.5s.;.
I I ' I . I I<\ 5.17~~. - (1 ncirnc "Sal<anáii'' C dcrivaiiid<id<i tcrnio hil>i;iicr>.sli:ik,,ri = 1 7 : ~ ~ O .
i.<l~~iv;~ti.iii<:
;ilciiiZi>i. Frj<~lrkli = i-icu <lcp;ix. <'IIcrfinirno,
: Li1n.r <{i.Noriiiriil>ii,v 1li.h.iii.i.v:
.s;v<, p:,<..,l,r,q<.r;i" lMil!,f~c I'[, 23.843).
",Y;,I<,,r)o,,,l~:ic.il~<.i,,~,
Da Autoridddidc Scculai-, ati qqui ponlu se lhe deve obediência
Da mesma forma também faz todas as demais obras da caidade, das
quais não tem necessidade (pois não visita os docntes para curar-se com isso;
não alimenta a ninguéni porque ele próprio necessitasse de alimento). Do
mesmo modo não seive à autoridade porque necessitasse dela, mas porque
s os outros necessit'm dcla, para que sejam protegidos e os maus não se
tomein ainda mais malvados. Com isso não perde nada e tal semiço também
não ibe faz mal e, mesmo assim, prcsta um grande serviço ao mundo. Se não
o lizessc, não cstaria agindo como cristáo, e, aciina de tudo, estaia contra-
riando o amor; além disso, daia aos outros um mau exemplo que também
io não quereriam suporia a autoridade, embora fossem acristãos. Isso seria uma
vergonha para o Evangelho, como se ensinasse rcvolta c tomasse as pessoas
teimosas, que não querem ser úteis nem servir a iiinguéin, enquanto, em
realidade, torna o cristão um servo de todos22.Foi neste sentido que Cristo
deu o estiter em Mt 17.27, para náo oferecer motivo de escândalo, embora
i5 não tivesse tido necessidade disso.
Assim também podes depreerider das palavras de Cristo supracitadas de
Mt 5.39 que Cristo de fato ensina que os cristxos náo devem ter entre si
cspada sccular ou lei. Náo proíbe, porém, que se sirva e seja submisso aos
que possuem a espada temporal ou a lei. Pclo contrário, porque não a
20 necessitas e iião a dcvcs possuir, deves servir tanto mais aos que não
chegaram ao ponto a que tu chegaste e que ainda a necessitam. Mesmo que
iião tenhas necessidadc de que se castigue teu inimigo, teu próximo doente
prccisa disso; a este deves auxiliar para que tenha paz c sc combata seu
ii~imigo.Isso, porém, não pode acoiiteccr a não ser que se honre e tema o
2s poder e a autoridade. Cristo nZo diz: "Não servirás nem serás submisso à
autoridade", iras: "Nào resistas ao mal" [Mt 5.391. E como se quisesse
dizer: "Age de tal modo que tudo sofras, para que não tenhas necessidade
da autoridade para te auxiliar e servir, te seja útil e necessária; pelo contririo,
que tu lhe ajudes, lhe sirvas e Illc sejas útil e necessário. Quero que se.jas tão
O altaneiro e nobre quc náo venhas a necessitar dela; muito antcs, cla deve
necessitar de ti".
Sexlo. Agora perguntas se um cristáo também pode usar a espada secular
c castigar os maus, considerando-se que as palavras de Cristo: "Não resistas
ao mal'' s20 tão duras e claras que os solistas as tiveram que transformar em
"
V coiiselho". Resposta: Até agora ouvistc dois ensinamentos. Um que diz
que cntrc os cristàios náo pode haver espada; por isso não a podes usar sobre
c entre cristãos, que dela não ncccssitam. Portanto, tens que dirigir tua
pergunta ao outro gmpo dos náo-cristaos, se ali a poderias usar cristãmente.

.' 1. < 'I. "'li;ii;ali> ilr M;uiiiiia>1,utciosiihic;iI.ikid;iilc Cririii".In: Obr;i.~Sclc~ii~ri~rl~is,


v. 2, p. ,i.iSss.

8')
FiiiiiI,uucntacão da Ética Políliça
Este é o segundo cnsinamento: é teii devcr seivir à espada c promovê-la dc
todas as forinas, seja com a vida, bens. Iioiua e alma. Pois trata-se de iiina
obra da qual não nccessiias. mas quc é cxiieiiianiente útil c necessária para
tcido o mundo e pura teu próximo. Por isso. ao veres que Ii;i f:ilta de carrasco.
agente po1ici;d. jiiiz, senhor ou príncipc c ie julgares apto, deverias ofercccr s
c candidaw-te, piira que, de foiiiizt iilguma, a autoridade tâo necessária sesa
~lebprerada,enSraquecida ou dcsiipareça. Pois o mundo não podc e 11311
consegue prescindi-Ia.
Motivo: Neste caso assumirias um serviço e uma funçio cornpleiamentc
alheia, quc não traii:i proveito para ti tiem para tua propriedade ou honra. iii
inns que é de provcito somente para o próximo e para outros. E não o farias
coiii a iriteiiçâo de te vingares oii de pagares mal por mal, mas para o hem
(Ic ieii próximo e para a preservayáo da segurança e paz para os outros. Pois
p : i ~ti iiicsmo ficas com o Evangelho e te citeiis a palavi-a de Cristo, soli-eiido
(ILI hoin griido a outra bofetada no rosto c entregando a capa com a vestc - I.
(Icsde quc aliiija a l i c tua própria causa. Assiin as duns coisas comhinani
iii.iravilhosarncntc: satisfazes ao rcino de Deus e ao rcino do rnundo, e n t e
i i~~iiiieiite e interioniiciiie, sofres mal c injiistiça e castigas iiial e itijlistiça ao
iiiL,\ino tcinpo, simultaiieanictitc não resisics ao mal e, nào obsiaiiie, Ihc
i~.hisics.Pois coin Lima cr~isavisiis a ti e o que E Icu, com a outra, leu 20
~liiixiinoc o que seu. Onde se trata de ti e do que é teu. aí agirás de acordo
i.oiii ( I Evangelho c sofrerás, como bom cristão, injustiças tio que tocu a tuii
Ilissoa; onde se trata do outro e do que é seu, aí agirás de acordo com o
;itiior e niio permitirás injustiça para teu próximo; c isso o Evangelho não
~m~ílic, muito antes, ordena-o em oiitia passagem. 3$

Lksta inmcira usararii a espada lodos os santos ~Icsdeo iiiício do niuiido.


AiI;iii c seiis descendcntes. Foi assuii qiir Abraão a usou quaiido sal~ouo
\i)l>i-iiilioLó, vencendo os quatro reis. Gil 14.35. apesai- de ser uin hotiirin
~~~iiii~~lclan~ciitc cvangélico. Assim também Samuel, o saiito prcifeta. derrotou
{ I iri Ai.:i;iic, 1 Rs Lsc. 1 Stii 15.331 c Elias, os profctas de Baiil. 3 Rs [sc. ,o
I I:, IS.401. Da niestna inaieu:~Lisararri da espada Moisés, Josué. os filhos
I I,.i:ii.I. S;iiisio, Davi e todos os reis e príncipes do Aiiiio_oTestmcnto;
i.iii~l*.iiiI ,;iiii\.l c scus coriipanheiros Kinanias, Azirrias e Misacl 1x1 Bnbiô-
i i i . i . I ~ I < , I I IosC
I tio l:gito, etc.
:(i-. I K N ~ ~ I I I i.~ I : i i i C i i i quisesse argumentar que o Antigo Testamento foi a
. 1 1 ~ ~ 1 1c. ~ I I1 I N~ ' ~ II:IO v:ilc mais c que por isso não se poderia mais apresentar
1.81.< \ t . i i i l t l o ~ . :tos i.iislZos, eu respoiido: Não é assun. Pois S. Paulo diz eni
I I i i i " i ' o i i i ~ . i : i i i i o mesmo iii;u?jar espiritual e heberam a mesniri
18, l~i(1.i< . . I M H I I I . I I <I:(i<iclia, que 6 Cristo. como nós". Isso significa qiie
li,, i i i i i t i i i ~ . i i i i n I'\l~iiilo c ré em Cristo quc nós lemos e foram ci-isl.Zcis .I$$

. I I I a ~~ u i i li,,:.. t ~ O cliic, pois, foi correto pai-a eles, E correio iamhCiii p;ii-;i
14~rhr. < ri..f.i<!,. I I V ~ , I C o [>i-iiicípio :i16 ( I Iiin &I n~iincl~i.
Pois :i Cpoc:i c o
I Da Auiori<ledc Scciilni-. até que ponto se Ihc
dcve okdi2nii;t
inodo cxterior de viver não faz diferença entsc os crislãos. Também n3o é
vrrdade qiie o Antigo Testamriito esteja abi>lid».de fosma que não o devês-
semos curriprir mais ou que esiivcsse eii-ando aquele que o cumpre, corno
uicorreram em erro S. JeriiniiiiG' e muitos outros. Muito antes, o Antigo
5 Testamento foi superado no senticio de que somos livres para curnpi-i-lo e
para deixá-lo, e que nào mais é iiecessário cumpri-lo sob pena de perder-sc
a alma, como foi outrora.
Pois i'iiulo alirina em I Co 7.19 e Ci1 h. 15 que nem o prepúcio iirm a
circuncisão tem algum valor, mas tão-soiiicnte uma nova criatura eni Cristo.
iii bso é, não 2 pecado ler u n ~prepúcio, corno pensavam os judeus; tainbém
não C pecado circuncidar-se, como pens:ivain os pagàos, mas ambas as coisas
são livres e boas, caso alyéin as fizer sem pensar que coiii isso seja jusli) r
venha a salv;ii-=se. O iiiesmo acontece coiii as demais p'artes do Aniiso
Tcstaiiiriiio: não é incoi~etoquando algiií-iii c) deixa de cumprir, e nào é
15 quando dgiiéiii o cumpre. Tudo isso é periniiido e born para cumprir ou
deixar de cumprir. Caso fossein úteis c necessários para a salvação do
pióximo, dcver-se-ia cumprir a iodos [os preccitos do ATJ. Pois todas as
pessoas têm o dever de fazer 0 qiic i- útil e necessário para o pr0xirii0, esteja
cscrito no Antigo ou Novo Testariieiito, seja algo judeu oii algo :eiltio. E
ashim que Paulo « ensina ein I Co L?. 13. Poii, o amor a ludo pesmeia r está
aciina de tudo c visa ao quc é útil e iiecessirio para os outros e não pcrzunta
se 4 vciho ou novo. Assirn também tens liberdade ein relaçào àqueles
cxenlplos do uso da espada: podes iiiiitá-10s e tainbém deixar de iinitá-10s.
Apenas, ao veres que teu pr6xiino o iiecessitii, o amor te constrange a f n ~ c r
3 o que iiomlalincnte te estaria 1ilxr;alo c que te seria desiiecessirio. No
entaiiio, 1i2o penses que coiii isso poderiiis ioriiar-te justo e obter a salvação,
como se ;u.r«gavani os judeus com basr eiii suas obras; isso deves deixar por
conta da E que te toma nova criatura sciii as obras.
E para priivá-lo tariib61ii a paitir do Novo Tcstamenio, João Batista é um
I fiiine ponto de referência, Lc 3.11, que, seni dúvida, teve qiie tes1eiiiunii;ir.
apontar e ensinar a Cristo. isso i, sua doutrina tevc que ser geiiiiin:unente
iieotcstameriiária c evangGlica, já que deveria conduzir a Cristo tini povo
justo e perfeito. E ele c o n f i a o oIício dos soldados, dizendo que devem

73 .S. .ren7riiriio (347~420),cagiominxJido de "Doutor bíblico" por c:iilsa de Tuas pcsqo~s;isri<i


cuiiipo da Sagrada Escrilura. Como secrrláno do papa Dhaso, empreendeu a rcvis;io <I<,
I i h l o itnlo d.? Bíblia, trabalho qur. resulrou na versão que veio a sei denomindda :I Vu1~il;i.
('i,iiii> comcnt~idorbíhlico, cntiou rin choque cozi, .\gostinho por causa de sua intcrpiii;iG;ii,
ili. ( ; I 2.11-14. Influenciado fili>soficamente. Jcrfiiiinio crist'dizriu seu ponto dc visi;$ iii>\
<iciiiiiic~ l?iiiii,s "Cuniprir a i c-iimCiiias da Ici iiit, pode ser um 310 iiidifercnrc; < > t i li;) ili.
~ i .iii;iii.
i i>iiIi;i i1c scr hisii. %i ili,.cs qiie i. hoiii: rii iiisisio cm gifiriniir quc c<I:í crr:!cl!>
i I < ~ i i i i i i i i < r,l!;.\l.
~. Ili.lh. h.lik*,iii' 1'1,??.<Y'h).
coiiteiiiar-se com seu soldo. Caso tivesse sido acristáo usar a espada, deveria
tGlos cciisurado e admoestado a abaiidor~aremsoldo e espada, ou entáo iião
os teriri uistmído devidamente na fé crist3. De riiodo semelhante [procedeu]
tambéiii S. Pedro, quando pregou Cristo a Corliélio (At 10). Não lhe ordenou
que abaridonasse seu cargo, » que deveria ter feito, caso fosse um empecilho s
para a vida crise2 de Cornélio. Além disso já recebe o Espírito Santo antes
de ser batizado. S. Lucas também o louva como homem justo já antes da
pregação de S. Pedro, scin recriminá-lo por ser centurião de legionários e do
imperador pagão. O que o Espírito Santo tolerou em Comélio, sem o re-
pceendcr, isso também nós devemos tolerar. in
O mesino exemplo tanibém dá o oficial mouro Eunuco em At 8.26ss.,
ao qual o evaiigclista Filipe converteu e batizou, coiiseiitindo cm que pcnna-
IIecesse em seu cargo e retomasse para casa, emboi-a sem espada não pudesse
ilcscrnpenhar tZo importante ministério no govcmo du rciinha iia Mauritânia.
O mesmo se deu coni o pr«c6nsul dc Chipre, Paulo Sérgio em At 13.7ss., (5
:io qual Paulo conveiteu e, não o1)stccnte. consentiu que permanecesse no
<.;iigc> de proc6nsul cntre e sobre os gentios. Assim agiram também muitos
<;iiitosrii'htires: obedecendo aos imperadores pcigáos de Roma, foram para a
,!:iivmi sclb seu comando e cambém matararli. sem dúvida, pessoas para a
111:1iiutciic;3o da paz, como se escreve a respcito de S. Maurício, Acácio, >o
;iicác) e enuitos outros sob o imperador Juliano2.
Alem disso, eslá aí a clara e convincentc passagem de S. Paulo em Rm
l i . I , onde diz: "A autoridade é instituída por Dcus". Idem: "Não é sem
iiic~iivoque a auloridade traz a espada. Ela C servidora de Deus cin teu
Iii:iicficio, unia vingadora daquele que pratica o nial" [Rm 13.41. Por favor, 2s
1iiii1 scjas táo ,~l~evido a ponto de dizeres que um cristáo não pode dcscinpe-
1111:il- :i obra, ordeiii e criação do próprio Deus. Nesse caso também terias que
< l i / i r que iiiii cri,~iãot;unbém não pode comer e beber e se casar, pois essas
i ; i i i i I ~ C i i i550 ohiiis e ordetis de Dcus. Se, porém, são »br;i c ciiaqZo de Dcus,
..:no I>o:is. 1311boas que cada pessoa 3s pode usar cristãmeiitc e para sua :o

'I ,Al.iiit,. ,Ir Mngdcliuiço, foi o com;mdante da Icgião tchaia que, segundo alenda,
i.). ~ ~ , i i ~ ~ l i i < i

8 8.8 i,(imiiiiii<l.i i.\<liisiv;iinentcde crisijos, hh mil hainçns dc Tehas, norit: da Ahica.


I ~trrsi;uscwiço militar nuiiia guenu j u h t a , mas forani massacrados (ca.
i.ii.iiii ~ l i . . l , i t ~ . i i , : . ; i
'!i11 i,t,i A i iiiil~cnidorMaxirniniagr~Hcrcúlio (285-310) quando se recusaram a
smi<I,.iii
, , I , i , 4 i ( 8 i r ' . i i i l ,..ii.iil'icii>is divindades pagãs e a exicminai. os crisE<is. - Aciciu,
a ii<icxtrcito romanr>sdiado na Rácii. foi tonurado e decapitado em
~ ~ 1 i i r i rn. .t i ~l ~~ . i ~ l cii,
I : I .I i i i i l , . t i l i i > iiiipcrador Dioçleciano (284-305). Acácio passou a figurar enlri
t i14 ,i ;, .iiitili.iili>i<.\ v. 2, p. 12). - Gerck:
ii:ic ~necessidades"(cf. Obras Seleci~n~adar,
3 1, i, ,,i,!,, , c tili iiiii:i i~;kili@i poiico c<infiávcl,foi integiantr da IrgiZo tebana c leria xTiidri
, iii i i i i c i , , iiiii1.iiiit-iilv i < i i i i Maurício. O impccidor Jiiliaiii> (3bl-363) fci uni;i <Icriailciin
i, i i l i ~ i.i
, ,li il~,,i,l.ii ii iri\ii;iiii?iiio c <!c rcpdp;iiiil:ii-i>ilnptriir. Eiii sila <,rx<.ii.iiii
Cli<ic;i.
I i ~i i i\ii;i
i , , . irn ~ ~ ! i . i i i i i i i l< iii;~i<,i'i:i ,li. ciisl;ii,r.
Do Aiiiorid.idc Sccrilar, ai6 que ponio se Ihe deve iibeiiiiiici:~
satisfação, coriio P:iiilo afirma em 1 Tm 4.4: "Toda a criatura de Deus é boa
e nada é recusivel para os que crêem e reconhecenl a verdadem2'. Sob
"toda" a criatura de Deus não deves entender apenas coiiiida e bebida,
vestes e calçado, mas tanihém a autoridade e a submissão, proteçáo c castigo.
Resumindo: se S. Paulo afinna que a autoridade é servidora de Deus,
não devemos rcservá-Ia apcnas para o uso dos gentios, mas de lodos os seres
humanos. "Servidora de Deus" nada mais significa que: a autoridade é de
tal naturcza que sc pode servir a Deus através dela. Ora, seria acristao
afimar que há serviços para Deus que um cristão não pode oii não deve
realizar, uma vez que servir a Deus não compete a ninguém mais do que ao
cristiio. Certaineilte tainbéiii scria bom e necessário que iodos os príncipes
Sossein seios e bons ci.ist,i«s. Pois como serviço especial a Deus; a espada e
a autoridade eompctcm aos ciisiiios mais do que a qualquer outra pessoa
sobre a terra. Por isso deves ter a espada ou a autoridade na mcsriia estuna
coino o riiatririiônio. o trabalho na lavoura ou qiialqiier outro oíício igual-
mente instituído por Deus. Assim como um ser huiiiaiio podc servir a Deus
no matnin6ni0, lia Invoiira ou numa profissão para proveito do outro, e como
deveria servir quando se.ii próximo o necessita, do mesnio modo pode tam-
bém servir a Deus nri autoridade e lhe deve servir, quando a iiecessidade do
próximo o exige. Pois são servidores e oficiais de Dcus que cristigam o mal
e pmtegein o bem. Todavia, tambéin aí deve haver liberdade [de nÃo se
envolver], caso iião seja necessário, corno são livres o matrimônio e o
trabalho no campo, caso não sejam necessários.
Agora argumentas: Por que Cristo e os apóstolos não a exerceram?
Rcsposla: Dize-me, por que 1130casou ou não se tomou sapateiro oii ,alfaiatec?
Se uma profissão ou um ofício deixa de ser bom porque o próprio Cristo não
os exerceu, onde ficariam todas os profissões e ofícios com excc~Zodo
ministério da pregação, o íinico qiie desempenhou? Cristo exerceu seu nii-
nisiério e ofício; com isso iião rep~idioua profissão de outra pessoa. N3o
coube a ele usar a i-spada, pois cumpria-lhe desincurilhir-se tão-somente do
ministério que rege seu reino e que serve propriameiite ri seu reino. Em scii
reino, porém, não 6 rircessário que alguém seja casado. sapateiro, alfaiate,
lavrador, príncipe, c ~ m s c oou oficial da justiça, também r ~ i ocqie haja espada
ou direito secular, mas apenas a palavra e o Espírito de Deiis; esses gover-
nam os seus de dentro. Esse ministério ele o desempenhou no passado c
continua a desempenhá-lo: disiribui continuamente o Espírito e a palavra dç
Deus. E nesse ministéi-io lhe tiveram que seguir todos os apóstolos e Iídercs
cspirituiiis. Pois tem tanto a fazer com a espada espiritual, a palavra de Deus,

1 ?íI.iiicni ci>stumii cii;ir ;i níhli;i ilc iiicirifiria. Daí ilccoiriin dircrcnya.: ~ i o rIci-iiii,.; r ~ i s
rvli.riloçii~s. N o P~C<I.III<. 1 '1'1114.4 C<>III'1'1 1.155.
c : ~ , . i~\v*.ic>u
I 'iiiaI;uiiciitaçZa d;i Ética Política
iliic, p x a desempenharem bem esse srti ofício, têm que se abster da espada
si:cular e deixá-la para outros, quc não precisam pregar. Embora, como jli Toi
iliio, usá-la náo contradiz sua posição. Porque cada qual tem quc se dedicar
:i sua profissão c labor.
Por isso, embora Cristo não tivesse usado a cspada ncm ensinado nada s
:I respeito, basta que não a tenha proibido nein abolido, mas que a confimiou.
como é suficiente que não aboliu o estado iiiatrimonial, mas o conlirmoii,
:iiiida que 1150 ienlia tomado esposa ou eiisiii;ido algo a respeito. Pois ciii
lo<i;isas coisas t u h i que apresenta-se coni uma posição e obra que servisse
i.xprcssainciite apenas a sei1 reino. para que náo se acliasse motivo e exemplo I,*
l ~ ~ i erisiriar
r3 e crer que o reino dc Dciis não pode subsistir seiri iuati-iriiGnio
c espada, e semelhantes coisas exteriores, (porque os exemplos de Cristo sã«
ticccss;uirunciite nonnativos), enquanto. lia realidade, subsiste somente atra-
vCs da palavra de Deus e do Espírito. E cssc foi o verdadeiro ministério de
('risto c o teve que ser, como Rei supremo nesse reino. Agora, visto quc iiern ií

iodos os crist2os exercem o mesmo ofício (embora o possam exercer), é justo


que exerçani outra atividade exterior, com a qual tainbéi~ise pode scivir a Deus.
De tudo isso depreende-se qual seja a correta compreensão das palavras
ilc Cristo eiii Mt 5.39: "Não rcsistais 30 ni;il", e t ~ . ~Um " cristão deve ser
iIc ia1 natureza qiie sofra todo o mal e injiistiqii. n2o se vingando, lanibéiii 20
i i i i i ) procuraiido proteção para si perante i> li-ihiiiial, mas que n2o tcidin
iwcessidade neiiliuma de autoridade e direito secular para si inesmo. Para
ctiiiros. poréin, pode e deve pmciirar dzsforra, justiça, proteção e auxílio, c
i.oiii1-ibuU para isso com o que puder. . 4 l h disso, a autoridade Ilie deve
oICrccrr aiixílio e proteção, seja por itii<:iativa própria ou a pedido dc o~iiros, 2s
sciii que ele próprio acusc, solicite ou aprcscnte o motivo. Se ela náo o fizer,
i1 cristão se deixará esfolar e difamar, e ri20 resistirá ao mal, como direni as
~~;ilnvras de Cristo.
II podcs tcr a certeza de que esse ensinamento de Cristo não é apenas
i i i i i conselho para os perfeitos, como cscmccem e mentem nossos sofistas17. 30
111;isiim maiid.mento rigoroso e vaido para todos os ~nstáos.Deves saber
c111i' s;io geiitios sob nome cristão todos ailueles que se vingam o ! qiie
~l~.iii:iiid;irn e hrigaiii perante o tribunal por seus beiis e por sua honra. E isso
tia.\iiii>, é como te digo. E não dês ouvidos ao ~x>v« e ao que é costume
::~.i:il.I'ois há poucos cristãos na terra, disso não Lenhas dúvida. Aléin do 3s
iii:iis. :I palavra de Deus é algo diierenie do que é costume ir^^^.

'0 I<sic icniii 6 discutido cni : Dcbatc Circular subrc Mt 19.21. C t p. 214-269 o lexlo nu
l > ~ s v n vrdumc.
li
' i ('I. :icitn:i p. 80, n. h c 7.
ccp. I : "Cri\li> "30 disse: 'Eii SOL! ;I phlirii cc>iiiiiiii'.
' S ('I. '1i.i-iiili;uii>. Ilc virginihus vcl~in<li,s,
O,:IS: 'I+) S C ~ :)I vcr<ki<ic"' (Mignc 1'1, 2,880).
!
I
Da Aiiiorid:i<lc Secular, atC que ponro se IIic deve obediiiricia
VCs aqui que Cristo não anukc a lei quando diz: "Ouvistes o que foi dito
aos antepassados: olho por olho. Eii, porém, vos digo: não resistais a nenhum
mal", etc. [Mt 5.38,s.l. Pelo contrário. interpreta o sentido da lei corno deve
ser compreendida. E como se dissesse: vós judeus perisais qiic é justo e bom
5 perante Dcus recuperru o que é vosso com justiqa, e recon-eis ao qiic disse
Moisfs: "Olho por olho", etc. IEx 21.25j. Eii, porbm, vos digo quc Afoisés
deu essa lei por causa dos miius, que náo pertcucerii ao reino de Deus, para
que náo se viiiguein a si mcsmos ou f a p m algo pior. mas quc, por esse
direito extenio. sejam coagidos a dcix;u- de coisas más, para que, eiii iodos
1 os casos, sejain submetidos 5 autoridade por uni direito e regune externo.
Vós. poiém. dcvcis conduzir-vos de liil maneira que não iicccssiteis de tal
direito nein o pr»ciircis. Pois. riiihoci a autoridade seculru- iiecessitc de tal
lei para julgar os iiicrédulos, e cii~horavós mesmos a possais usar 'ira julgar
a outros conlòrme ela incsrna. não dcveis iiivocá-Ia nem valer-vos dela em
IS çausii própria. Pois vós tendes o rciiio do céu, por isso dcveis deixa o rei110
da tcrra para nqiielc que vo-lo quer tirar.
Aqui vês que Cristo náo interprcta suas palavras no sciltido de aboli a
lei de Moisés ou proibir a espada scc~ilar.Pclo contrário, exime os scus [da
lei], i i ~ odevendo usar a mesma pai-a si próprios, mas deixá-la para os
21, incrédulos, aos qiiiiis podem servir incliisive com seu próprio direito ttiiquan-
10 rxislirciii 11%-crisi5ose pelo fatr~de 1i.b sc poder forçar a iiingutm a ser
cristão. Fica çlilo que as palavras apcnas se relèmn aos seus pelo Ijlo de
dizer depois que devem aiii;u os uiimigos c ser perieitos cuiiio seu Pai
celestial"'. Quein ama a seus iniriiigos e E perfeito, abaidona a lei' riá« tendo
?$ iic.cessidadedela para pedir olho por olho. Mas também não se opOe aos não-
crisiãos, que náo ainan a seus iniiiiigos e querem f u c r valer a lei: ele ajuda,
inclusive, para que tais leis atinjam os maus para que nâio façam coisas piores.
Assim, pois, (creio eu), a pa1;ivr;i de Cristo é consciitânea com as
ptssasens que institiicm a espada. O significado é o seguinte: Nenhum
t cristão dcve tomar c invocar a espada para si e siiii causa. Em favor de
outros. pi>rérii. pode e deve toiiibla e apelar a ela para que se iinpeqa a
maldaiie e se proteja a probidade. Nesse sentido o Seiihor diz na iiiesiiia
passageiii que iiiii cristão não deve jum. iiias iliie sua palavra seja "siiii. siin,
, e: por sua própria vontade ou prazer iim cristão não deve
rito, ~ Z O " ~ ) isto
t. j~i~u.. Quando, porém, a iircessidade, a conveniência, bem-iivciihuanqa e a
Iiorua de Dcus o exigem, deve jurar. Assim, a serviço do oulro usa 11
I jiir;iincnto proibido. da mesma ii~riiieiiacomo para o bem do outro faz uso
ile Ética Yolitir:i
I~iiiidnineiii;t~80

da espada proibida. Nesse sentido, Cristo e Paulo j u m frequentei~iriiir?~


para toniarem seu tcstemunho e ensino útil e fidcdigiio para as pessoas.
corno também se pratica e pode praticar em acordos e contratos, etc. A esse
rcspcito diz o SI 63.11: "SZo louvados quando juram por scu iioine".
Agora continuas perguntando se também os oficiais d;t justiça, carrascos, i
jiiizes e advogados e os que sâo dessa irça podem ser cristãos e estar em
cstado de graça. Rcsp»st;r: Se a ;iutoiidade e a espada são scrviqos de Deus,
corno mostrado acima, deve ser seiviço de Deus tatiihém tudo quanto 2
ticccssário à autoridade pitra que p»ss:i usar a espada. Pois C necessiúio que
Ii;tj:t alguém que prenda os maus. os acuse, desole c mate, e proteja os bons,
os inocente. dcfentla e salvc.. Poninto, se iiáo o fazeiii para seus pr6prios
liiis, mas soiiiente dudain a exccutar 0 direito c a autoridadc, para que os
111a11s sejam coercidos. não correm pcngo e podem exercer o cargo como
i~tt;ilqueroutr;? pessoa exerce iim ofício p a a ganhar o pão. Pois, como j i lili
<liio.o ainor a<r próximo nào ollia para scus próprios uiieresses. tamb61iinZo 1 7
.iv;ili:i sr. a obra 2 grande ou pcqiieiia, mas apeiias pergunta pela utilidade r
iicccssidade qiie tern para o i ~ r ó x h oou para a coinunidade.
Perguntas: Conio assim? Nào poderia eii usar a espada em meu Savor e
~.iiifavor de minha causa, iiáo com a úitenção de deferider os próprios
iiiiiresses, mas para qiic o mal seja c;isti$ado? Resposta: Este milagre não C 211
iiiil~'ssível, no cntaiito. é sinçiilar e perigoso. Onde há p;uide riqueza de
I,.s{~ii-ilo, isso b e n ~pode actnttecer. Assini lemos a respeitct dc S:uisZo, em Jz
li. l I . onde diz: "Fiz a eles o que fizcrani a mim", ciiihoci em Pv 24.29 sc
ilic;i o contririo: "Não digas, como ele me k z a niiin, assim lhe farei
i;iiiihéin". E Pv 20.22: "Não digas: Vingar-me-ei do mal". Porque Sansisao is
Ii;tvi:i sido chaniado por Deus para combater os fdistcus e livrar os filhos de
Li-;icl.Embora tivesse procurado neles iim prctexio de intcresse pessoal, não
t t IL,/. para vingar-se a si iiiesmo ou buscar seus próprios uitercsses, mas para

\(,i v i r ;I outros e castigar os tilisieus. No enianio, ninguém poderi seçuir esse


i.\i~iiil~lo :i nào scr uni cristão verdadeiro c cheio do Espúito. Quando a meio
<III<'I ~vocc<lcr(ki mesma fotma, pretextará que não está buscando seus
1 ,i8 ,111 ios iiilcrrsscs, mas no fuiido a uitenção será falsa. Poitaiito, toma-te
~ ~ i i i i ~ il!tt;il
~ . i i ~;irSilinão, e entiio tnmbkm poderis procedcr coiiio ele.

Segunda parte
Solli-c o alca~iced a autoridade seciilar
\ J , , U .~I I i ~ . , i : i i itt i parte
i ~ ~ pi'iiicipill deste serrnão. Teiido aprendido que a
III:II (1i.v~.existir na teira e como ela deve ser usada de 1i1;uieii-a
. n ~ l t l > ~ ~ i l . t ..!.i
ilt

(1 4 I ,,,, ~#,,I,,V,.,..
01,. 1 ' , , \ l , l q,,c c ,,,,I C$>,,I, c,,,,,: ,'El,, "cr<l:,<lc",,S ,ligo" c ;,s [,;,ss;,f:c,,s c,,,
'I". .i Ih.ii\ ,?"r
I'.liilt> i i l \ i X .i 1v\1c11111111,:1: 2 ( ' 1 1 11.1 I. ( i l 1.20.
Da Auioridadc Secular, até que ponto sc lhe deve obediência
cristã e para a felicidade, teiiios que aprender agora qual é o alcance de seu
braço e até oiidc se estende sua ni30. par? que não ultrapasse seus liniites e
interfira no reino e iio rcgime de Deus. E muito necessário saber isso. Pois
resulta cni dano insuportável e terrível quando se lhe abre espaço demais,
sendo também prejudicial limitá-la em demasia. Aqui castiga pouco, lá
castiga demais, embora fosse mais suportável que peque deste lado, castigan-
do muito pouco. Pois é seiiipre meUi»r deixar um l~atilccom vida do que
matar urn Iiomem justo, já que no mundo Iiá e tcm que haver piiiifrs,
enquanto há pouca gente de hern.
Antes de mais nada devemos anotar que os dois grupos de fiihos de
Adão, uin no reino de Deus sob Cristo, o outro no reino do mundo sob a
;iiitoridatlc (cuiiio dito acinia), têm dois tipos de lei. Pois todo reiiio deve ter
suas próprias Icis e direiios, e setri lei não pode existir reiiin ncm regiiiie
itlgiim, coiiio o ensina suficientemente a experiência diária. O regime secular
teiii leis qiie abrruigein apenas corpo e bens, e outras coisas exteriores na
terra. Pois sobre a alma Deus iião potlc nem quer deixar ninguém goveniar
;i iião ser soineiiie cle. Logo, onde a autoridade secular se atreve a inipor
uma lei :I alma, ai ela interfere no regime divino e somente seduz e corroiiipe
as almas. Vamos esclarecer isso de maneira tal que se tome palpável, para
que nossos arisiocratas, os príricipes e bispos, vejam quão insensatos sáo ao
pl-etendereni. com siias Icis e preceiios, forçar as pessoas a crerem desta ou
daquela muieua.
Quarido h e iinpõe tima lei hiiniana a almi. exigindo que creia isto ou
aquilo, coiiio o quer a referida pessoa, é certo que ali não estA a palavra de
Deus. Se não está presente a palavra de Deus, é.incerto sc Deus assiiii o
quer. Pois quando ele não o ordena, não podemos ter a certeza de que ihe
agrada. Pelo contrário: tem-se a cencza de que não agrada a Deus. Pois quer
que nossii fé se í'uiidariiente apenas c exclusivamente em sua palavra divina.
conio diz em Mt 16.18: "Sohre esta rocha quero ediíicar minha Igreja", e
Jo 10.27,5.: "Minhas ovelhas oiivem mùiha voz e ine conheceiii, riias de
modo nenhum ouvirão a voz do estranho, antes fiigirão dele". Disso se
conclui que com tal mandamento injiiiioso a autoridade secular impele as
almas à morte eterna. Pois obriga a crer conio coisa cesta e seguramente
agadável a Deus o que, na verdade. é inseguro e seguramente desagrada :i
Deus, porque não há palavra clara de Deus que o abone. Pois quem tem por
certo o que é incoi~etoe inseguro n e p ;I verdade, que é o próprio Deus, c
crê na nieiirua e no erro: tciii por ceno o que é incnrreto.
Por isso é o cúmulo da louciua quando ordeiiaii que se creia na Igreja.
lios pais da Igreja, nos concflios, niesmo quando não há palavra de Dcus.
São os apóstolos do diabo que ordenam tais coisas e não a Igreja. Pois a
Igrcja não pi-escrevenada se não está segura de que é piúavra de Deus; assim
ilii. S. l'cdr~: "Sc ;iIgiiCiii liil;i, fale de acordo coni a palavra de Deus" I I
Fulidamcntay5o da Ética Política
I'e 4.11]. EstZo longe de provar que as decisões dos concílios sejani palavra
de Deus. Muito mais iiisensato, porCm, é qiiaiido se diz que os reis e
pniicipes e a grande massa assim o crêj2. Por favor, não somos batizados eiii
nome de reis, príncipes ou da multidão, mas no nome de Cristo e do próprio
Dcus. Também não nos chamamos reis, príiicipes ou multidão; nós nos i
clianainos cristâos. N i u C m pode ou deve dar ordens à alina, a r i o ser que
s:iil>a iiiostrar-lhe o cariiinho do céu. Isso. porém, neiilium ser humano podc.
mas sninriite Deus. Ponanto' iius questoes que dize111respeito à heiii-aven-
turanp da alma, iiada deve ser erisiiiado ou aceito a nio scr a palavra de Deus.
Por outro lado, niesriio sendo iitsensatos grosseiros, têm que adinitir que IKI
não têm poder sobre as alritas. Pois nenhum ser humano pode matar uiiia
alnia ou rcssusciiá-Ia, coriduzi-la ao céu ou ao inferno. E, sc no-lo não
quiserem acreditar, Cristo o demonstra catcgoncamente, ao afirmar em Ma-
icus 10.28: "Não te.iiiais os que matani « corpo c quc depois nada mais têni
0 que f.izcr; teinei, antes, ;iquele qitc depois de haver matado o corpo tem o 15

11odcr de condeiicu ao inlemo". Creio que aqui sc eviilencia com suficieiite


~.l;irezaqne a aliiia é colocada fora do alcance dos Iioiiicns e postu sob o
~nt<ler exclusivo de Deus. Dize-me agora: qual :i inteligência da cabeça que
i~rdciiaalgo para o que 1150 tem autoridade? Qucrii iiâo chamaria de louco
:il:iiém que ordenasse à lua que brillie quando Liprouver à referida pessoa? zii
Qiic Oonito seria sc os de Leipzig quisessem impor leis a 116sde Wittcnberg,
IILI, vicc-versa, nós de Wittcribcrg aos de Lt.ipzig"'! Certaiiiciitc se lhe d ~ a
Iiclihoro em sinal de agradecimento, para limp:uein o cérehro c se livrareni
i10 rcsíiriado. Nà» ohstantc, dc inoiiiento, nosso impciiidor e príncipes agcin
~lcssunxuicira e permitem qiie papa, bispos e sotist;is os induzan - uin a
cego coiidiirindo o oulro14 - a ordenar a seus súditos que creiam sem
~xilavrade Dcus coino bem h e s parccc. E, riiesiiio assini. quereiii ser cha-
iii;i<losde príncipes cristãos. Que Deus rios livrc!

i 2 Aqui enwam cm çlioqiic dois princípios bisicos. Luiçro usa o psirirípio sola Sc.liphua corix~
iiiiiirrirlade ein qucstócs de fé, e avim se opõe ao çrinccito d;i trailição reiii;uitc na Igreja.
O que se dcvc cntcndes por rr311i~aofoi dçfinido dc fomu clissica por Vicentc dc Lerinii
(4141: "Citólico é o que foi crido rili iiida partc, sempre e por iudos", cr~nccitoeire que.
~ii:iis t:iide. levou a prciinulgaçZ~,dos d<i.mias marianos da iiiiaciil:idi conceiçZn, por Pii,
IS. ciii X dc derenihro de 1854, e da ;iuunçio coq~oralde Mdnd. citi I" dc ~ioveri,hrnde
IOTO, por Pio XII. Viii?nv <IrLt.riii<i (m. iuitcs dc -1501. leúlusu fr>itic?s.preshiriro do
~iiii\icirode Irrino, silua<it>Iiiiflia illiti pcrtn de Nice. Adi,erb:úio da dourriria agosiini;ui;i
\ ~ i l i i ca graça e a prrdrstindç;i<l.cxpôs scils pensaiiienlus coi duis Conirnonitoria (Mriii<i~
ri:ii\, a respeiio do prinçipii~da tradição.
i i I~ilirigera a capiwl da Sax8nia albcrtina, goveniacla pelo hostil duque Jorge, o Barbudri
i lSo0-1519).Wiiienkrg era a capital da Salunia emrsiina ou Sax8ni:i Eleilor;il, giivei-ciiid;i
ç i i < i r c) S5hin (14x6-1525) simp.iiici>:! c;iiis:i <I;i l<cli,riri;i.
1 ~ 1 lop s í ~ ~ c i ~ ~ ~ c lE'icdiric<r,
I I 1 'I' h,Ii 15,14; I L O.?<).
I D;i Aiitoriil;idc Sçcuhr, ai? que p~mtose lhe deve obedi61icia
Além do iiiais, pode-se reconhecer essa verdade no seguinte: afinal,
I qualquer autoridade deve ou pode agir sonieiite onde consegue ver. reconhe-
I cer, julgar, opinar, niodificar ou mudar. Pois que juiz seria este que fosse
julgar às ccgas assuntos que náo ouve iiem vê'! Dizc-me, pois, coiiio pode
i um ser humano ver, conhccer, julgar, sentenciar ou mudar os corações? Isso
está resen~adoapenas a Deus, como diz o SI 7.9: "Deus sonda os corações
e os rins". Idem LSI 7.81: "O Senhor julga as pessoas". E em At 10 rsc.
1.24): "Deus conhece os coiações". E mais Jereiiiins 1 [sc. 17.9s.): "Mau
e inescrutavel é o coriiç3o Iiiirnmo; qucin o coiilicccr6? Eu, o Senhor, que
I esquadritiho corações e rins". Para cmitii- uiii juizo, um tribuii:il deve e teni
que estar absolutanieiite seguro e ter clareza do que se trata. No entanto, os
pensamentos e intciiç0t.s a ninguém sxo marii~cstos,a não ser a Deus. Por
isso é vâo r impossível ordenar a alguém ou forçá-lo a crer isto ou aquilo.
. . . é i~ccessáriooiiti-o método; a violênci;~nada ~ilcança.Fico pasmado
par'i, isso
is com os andes loucos. pois t«d«s cles atirin;uii: De occulti\ non iiidicai
ccclesiii, "a Igreja nâo julgn coisas ocultas"3s. Se, pois, o regune espiritual
da Tgrqja só governa as coisas notórias, como eiitáo se aventura o inseiisato
podcr secular a julgar e doininar uinn coisa tão ociilta, cspirilual e secreta
como a fé7
li, Neni disso, cada qual corre srii próprio risco quanto ao que ciC c tern
quc procurar para si niesrno uma inarieira de crer corrctainente. Assirn como
alguém outro não pode ir ao inferno ou ao céu em rneu lugar, tamponco pode
crcr ou deixar dc crer por mim. Náo me pode ahi-ir ou fechar o céu ou o
uferno, iiein é capaz de obrigar-me a crer oii descrer. Crer ou iião crer é
,% ussnnto da consciência de cada um e isso iião vciii em prejuízo da autoridade
seciilar. Por isso ela tmbeiii dcve contentar-se e ocupar-se corii seus iicgó-
cios c deixar quc cada uin creia isto ou aquilo, como puder r quiser, e não
coagir a ninguém. Pois a le é um ato livre. ao qual náo se pode forçar a
ninguém. Siin, é, inclusive, uma obra divina no Espírito. Não se pode nem
4, (XIIS;U que alguma aiitoridade cxterna possa impor ou cri5-Ia. Dai vein o
conhecido provérbio citado tambérii em Agos~iiilio'6: Não se pode nem se
dcve obrigar alguém à E.
As cegas e pobres pessoas náo vêcm como é vão e inútil o que sc
I J I - O ~Pois,
~ C ~por
. mais iigorosa que seja sua ordem e por niais qiie sc
:. iiiliircç;iin. iiada consegurni ~ I i t ndc coiiir>elir ;is pessoas a Ihes obcdecerciii
coin :i hoca e coiii a máo. O cor:içiio, porem, jamais consc~iiiráoobrigai.

i? A 1i;isi i' iii1i:j glosa ai> cjiiorie Enikscinl irripii, dist. XXXII. c. X1 nos Drcrcfi <;r-iii;uii.
~>;trk.11. <?n<lc s i 1:: I>r ri?an;tk,ctiisyoi<l<rnI<ysirniir. sLiLireIorianaulcni cofriiliir c1 iiial<,t
<,SI Ikii~ ~ ' N 6 sS L I I ~ T I(Ic
I C ~coisi~s
~ c s ~ ~l kt su, s < c ~ ~ I I I I ~ c c (cI ~.,(ti,I ~ tI;$scoiw
~ ~ r ~ u ~ i l ' ~n;!s
\,.~1<.1>,5''.
i l t / ' ~ ~ l ~ l11,
: \ l , ~ ~ \ l i ~ > l ~ ~i v~ ,. l , ; ~li!lc~.~> ~ ~ (Mirw~,
i ~ 18.4 ~;, 1'1, ,13,3IS).
Fun~l~mentaçáo
da Eriça Pciliric;~
ainda que se arrcbenieiii. É verdadeiro o que diz o provtrbio: "Pensanicntos
nZo pagam imposto". Por que, pois, insistem em obrigar as pessoas a ci-er
com o coraçáo, vendo que é impossível? Com isso forçam coin violência as
débeis consciências a mentir, negar e dizer algo diferente do que sentem no
coração e acarretam para si horríveis pecados alheios", pois todas as menti- s
ras c falsos testemunhos manifestados por tais c«iiisciéucias débeis recacni
s ~ h r eaquele que lhas amuica por coação. Sempre scrin inais Ecil dcixa qiie
scus súditos siinplcsmenie eririii. tamhém quando eiTniii [de fato], (10 que
forçá-los a inentir- e a dizer outra coisa do que. i@mem seu coraçâo. Tulihérn
não é justo querer coriibater um mal com outro pior. 11)
Queres saber por que Deus leva os priiicipes temporais a erra táo
horrivelmente? Pois eu to direi: Deus h e s perverteu os sentidos e quer
extelminá-los como exterminou os zuislocratas eclesiásticos. Pois meus incle-
mentes senhores, o papa e os bispos, deveriam ser bispos e pregar a palavra
de Deus. Ncssc ponto, porém. são omissix e converteram-se ein scnhorrs I 5
.;ec~ilarese governam coiii leis que conccmem soiiieníe ao corpo e aos bens.
Inverteram as coisai maravilhosninente. Deverian goveiniir interiormente as
;\[mas por meio da palavra divina. Mas governam extcnormerite ciistelos,
cicladcs, países e pessoas, c torturam as almas coin trucidações indizíveis. Da
iricsma maneira os seiiliores seculares deveriani governiu exterionneiiie o zii
11;iíse o povo. Isso, poréin, não fazem. Nada mais sabem fazer do que esfolar
c i-aspiu, cobrando uriposto sobre imposto, taxa sobre taxa, soltarido aqui um
iirso, ali um lobo. Além disso, iiao conhecem nem fidelidade nem vcr~lade.
c porim-se de uma maneira que até ladrões e baiididos considerziain
cxcessiva. Seu regime secular é tão decadente como o dos tiranos eclesiásti- 2s
cns. Por isso Deus tamkiii Ihes perverte a mente, de modo que procedein
de foinia absurda. iuvorando-se a exercer domínio esl~iritiictlsobre ns almas,
cii<[u.mto osoutros querem govemai. srculanrientc. Coiii isso cobrerii-se
iianquilmente de pecados alheios, do ódio de Deus e de todo o mundo. atc
~~crccerem junto com os bispos. padres e monges. uiii patife com » outro. 311
Ikpois dão a ciilpa de tudo ao Evangelho, e, ao invés de se confessmm,
11l:islèmam a Deus, dizendo que tudo isso é resultado de nossa pregação.
ilii;iiido, na verdade, é e sempre scrá o que mereceu sua perversa maldade!
i i > i i i i r procederam também os romanos quando foraiii d e s t n ~ í d o sAí
~ ~tens
. o

1 I liiiiie muitas outras classficaçõcs dv pecados, os ieólogos esrol&tiços distiiiyerii miilGni


ci<ivç "pecados alheir>s". O tcimo é derivado da tr;idu$ão <Ir 1 Tm 5.22 na versão &i
Vii1gari;ii.i: manm cito nçniini imposueb nrqur commur~ic3ve,isp2cc.d~zilierii.~- ""20 Ic
;i~~css"ç
a impor as mãos :i ninguém e náo te faças pamcipante de pecados alheios".
(X Roma foi tomada c saq~ieadapelos godos, cm 410, os gentios culparam os çisi%os
í)ii;iii<I<i
lrlo i1cs;istrc por iercrn ahaiidonddo os deusi,s ir>manos.Foi piux icrut;ir css:, :içiis;içii<iqiic
isçrcviii -1 Cii1;irlc < I c I><.~,.Y.
Ag<:<>stinli<i
nonta se Lhe deve olicdièricia
Da Autuiictade Seculiu. :i16 uue
decreto dc Deus coiiwa os &sandes palermas. Mas não háo de acreditar nisso,
para qiie esse grave decreto divino iião seja frustrado por seu arrependimcnto.
Agora objetas: Paulo disse ein Rrn 13.1 que toda a alma deve ser sujeita
ao poder e i autoridade; e Pedro diz que devemos ser sujeitos a toda a
instituição humana [ I Pc 2.131. Resposta: Aí me vens bem a propósito, pois
esses vcrsículos vêm a meli i'avor. São Paulo fala da aiitoridade e do poder
superior. Agora, awbaste dc ouvir que ninguém podc governar sobre a alma
a não ser Dcus. Poiianto, São Paulo náo pode falar de obediência a não ser
daquela que decorse do poder. Disso se dcpreeride que ele nZo tàla da fé,
como se o poder seciil:~tivesse a autoridade de governar a fé, mas, sini? dos
I ~ n exrcrnos,
s aos quais deve ordeiiar e goveniiu. na terra. Isso igualnienre
dcmonstrani coin toda clarczil suas palavras, quando limita o poder e a
obediêiicia, dizendo: "Pagai a cada um o que lhe 6 devido: 0 iributo a quem
se dcvc tributo, honra a quem se deve honra, respeito a quem se deve
rcspeito" [Rm 13.71. Obscrva ijiie a obeditiicia c o poder temporais se
reléreiii apenas exieriomeiitr a tributo, imposto, Iioiira e respeito. Aléin
disso, cliianiio afunia: "A autoridade n%occiste para temor quando sc faz o
bem, mas quando se 132 o mal" [Rm 13.31, liirliia-lhes ainda mais :i coinpe-
tência: cla está aí não para dominiu. a fé e a palavra de Dcus, mas a obra riiá.
?I, A isso se refere taiiibéin São Pedro qu,mdo tála tlc "úistiiuiçáo huiiiana"
[I Pe 2.131. Ora, a irislitiiição Iiumana não pode cstender-sc ao céu e sobre
a alma, mas somente sobre a terra, o convívio externo dos seres humanos,
oiide pessoas podem ver, rccoiihecer, julgar, opinar, castigar e salvar.
O próprio Cristo 1Cz ess:i distinção claratiiente e o resumiu brevemente
,. qiiaido diz em Mt 72.21: "Dai a César o que é de Cksar, e a Deus o que G
tle Deus". Sc o poder impcrial se estendesse ao reuio e poder de Deus e não
lijsse algo à parte, n2o os teria disting~iitlotlcssa maneira. Pois, como já
disse, a alina não esti sob o poder do impcradi~r.Ele não a pode instruir rietn
ctrndiizir, nem matar, iierii ressuscitar, nem ligar, nem desligar. neni julgcw.
1 iicin coridenar, nem mariter, riem deixar3'. Tudo isso devcria poder fazer, se
tivcsse autoridade sobre ela, para dar-lhe ordens c impor-lhe leis. Sobrc
corpo, bcns e honral porém, elc tem poder dc o fazer, pois isso é dc sua
i~i~iiipctêticia.
liido isso Davi já havia resumido em uma brevc e bela frase, ao dizer
, iio SI I I3 [sc. 115.16J: "O céu confiou-o ao Senhor do céu. mas a terra deii-:i
c.11. :ii)s lillios dos homens", o qiie quer dizer: sem dúvida, a pessoa humiinii
i~.vi.licii~iuiierde Dcus sobre o que está tia terra e perterice ao reiiio tcrrciio

1'1 I I\ ik~iiios"ligu" c "rlcsligar" s%<i t<iniados dc Mt Ih.l<)ç s i i-derem ao "p<iilci-


ili.ivi.~'. ,:iI.iciil<l;iilc ilc coiicc<lcci > ~*.rd;io ;ipós :i cr>iilissão ou (Ci150 cc>iiççdC--li>.('oiil'iii
IC~~M . I ISIr r~n ~: ; ! ~YOI>IV
' ' ( Ihn ! ~ I C ~ ; I I I I C ~(1;)I O l'rnil?nci;t'', 1)): 0 / 1 ~ , , 5, S c / ~ ~ c ~ r ~ v.
! ~ ;I~ ~ / ~ ~ , ~ ,
)I 1111 . I l ? .
Fondameniacão da Ética Poliiiça
e temporal. O qiie, por&m,se relacioiia com o céu e o i-eino eterno esta sob
a exclusiva autoridade do Senhor do céu. Moisés tarnb6m não esqueceu esse
fato. pois diz eiii Gn 1.26: "Disse Deus: Façamos homeiis que dominei11
sobre os animais na terra, sobre os peixes na @a, sobre os pássaros no ar".
Aí se atribui ao ser humano apenas o regime exteino. Ein resumo: é o que s
afirma São Pedro em A1 4 [sc. 5.291: "Deve-se obedecer mais a Deus do
que aos Iiomeiis". Com isso limita clciranieiite o poder secular. Pois, caso
iivéssemos <[ue curnpiu riido o que quer 21 autoridade secular. teria sido dito
erii vão: "Deve-se obedecer mais a Deus do que aos homens".
Se, pois, ieu príncipe ou seiilior ieiiiporal tc ordenar quc te coloques do iu
lado do papa, ou que creias isto ou aqliilo, ou se te ordenar entregar livros,
deves dizer-lhe: "Lúcifefl' não tem o direito de assentar-se ao lado de Deus.
Amado senhor, é meu dever obedecer-vos coin corpo c bens. Dai-me ordens
na medida de vosso poder tia terra, e ohedeccrei. Contudo, se me ordenais
crer e entregar livros, nâo obedecerei. Pois neste caso sais tirano e vos i.5

excedeis. Dais ordeiis onde nZo tendes nerii direito iiem poder, etc." Se, em
conseqüência. te tua os bens e castiga essa desobediência, beni-averiturado
serás! D i Taras a Deus por seres digno de sofrer pela piilavra e vontade
(livinas. Deixa este louco eshravejai-. Ele encontrari seu juiz. Pois c11 te digo:
caso iiâo te opuseres a ele e peniiilires que te tome a f i e os livros, 2"

ccrtameiite terás negado a Deus.


Para dar um exemplo: Em Meisseii, na Baviera, em Brandenburgo e
outros lugares, os tiranos publicaram um decreto scgundo o qual se deveria
ciitregar os Novos Testamentos nas repartiqões públicas41. Seus siidiios de-
vein proceder da seguinte forna: não devein eniregar nem unia folhinha, ii
ricnhuma letra sequer. sob pena de perderei11 a scdvação eterna. Pois quem o
I-iz, entrega a Cristo nas mãos de Heroiles, pois os príncipcs procedem como
os assa~sinosde Cristo, como Herodes. Por outro lado, devem tolerar que se
ordene revistar-llies as casas e levar livros e bens pela força. Ao mal não se
(lcve resistir, inas tolerá-lo. No entanto, iiâo se deve aprová-lo iiem colaborar 3"
1:om ele ou seguir e obedecer-lhe sequer com uiii passo ou corii um dedo.
I'ois tais tiranos se coinporíarn como devem compoiiar-se os príncipes deste
iiiiiiid«: sâo príncipes mundanos. O mundo, porém, é úiimigo de Deus. Por
isso iêin que fazer o qiie é contra Deus e agradável ao mundo, pain que, de

,111 I )csdc o d c . i Il.especialmente cntrc os porias. 11 nome Lúçifcr tem sido airihuido ao diabo,
o iu~,j<irebelde, exl>ulso do céu, caído na tena. uma in1erpret;tção alegórica de 1s 14.12 nos
iri-mos de Lc 10.18.
41 O duque Jorge da Saônii era também rncirgave de Meisscti: na Baviúia governava o
<Iilquc Guilherme I V (14q.3-1550).ferrenho :idven{ío da Rcfornia; Br;iiidcrihiirg<i CRI
p ~ r n n d apelo du~luc.h,iiquini 1 (14x4-1535). nponcnlc jxtli~ru.dit I < v ~ ) ) ~ I I I ; I O . Nova)
, ,
Icsi;itiiciiti> cin 1íiig~i;iiiliiriã "cio ;i Iiiiiia rcii sciciiihr<r < l i 1512. (('I', ;iriiii;$iii,i:ir 0 c 10).
DJ Auinridadc Sc~uliir,até que por110 se Itie deve okdii.ricia
fonna algunia, percam seu bom nome, mas continuem sendo príncipes niiin-
danos. Por isso, não te espantes quando se enfureçeiii e e e m e t e m contra o
Evangellio que ncin loucos. Eles têm que honrar seu título e seu nome.
Devcs saber que, desde o início do mundo; príncipe sábio é ave rara, e
niais r m ainda uni príncipe honesto. Em geral são os maiores tolos e os
piores patifes da terra; por isso sempre tern que se esperar deles o pior e
pouca coisa boa, especidmente erii relação às coisas clivinas, que dizem
respeito à salvação da alma. Pois são carcereiros e carrascos &,Deus, e sua
ira divina usii-os para castigar os riiatis e inaiiter a paz extenia. E um grande
o Sciihor o nosso Deus. Por isso iiecessit? de tais carrascos e algozes iiohres.
ilustres e ricos, e quer ql- tciihain graiide ahundârici;~de i-iqueza, h o ~ ea
tcinor da parte de todos. E do agrado de sua vontade divina que chameriios
a seus carrascos de clemeiitíssimos senhores, caiamos a seus pés c fies
sejamos submissos enquanto nZo se excederem em seus cargos, querendo
i tnuisfomar~sede carrascos eni pastores. Quaiido um dia aparece um príncipe
decente. qiie scja sibio, honesto c cristio, estziiios diante de unia das grandes
maravilhas e diante do iixiis precioso sinal da graça divina >obre esse país.
Pois, em geriil, vale a sentença de Isaías 3.4: "Eii Ihes darei rrieninos por
príncipes e boquiabertos ser%(>seus senhores". E Oséias 13.11: "Eu te darei
2u rei na irti, e to tirarei novamcntc com furor". O inundo é demasiado mau e
n5o merece ter iiiuitos príncipes sibios e honestos. RXs precisan da cegonha4:.
Novamente objetas: O poder temporal nZo obriga a crer. Apenas impede
exteriorineiite que as pessoas sejam seduzidas por doutrina falsa. Haveria
outra mancua de resistir aos hereges? Resposta: isso é função dos bispos, i.
25 a eles que foi confenda essa tareli" e não aos príncipes. Pois a heresia
,jamais pode ser combatida com a [email protected] isso se precisa de outro
jeito. Isso não é briga ou qiiest5o que se resolvr cotn a eipada. Aqui a arma
6 a p;tl;tvra de Deus. Se essa iião tiver êxito, ceriaiiienie o poder secu1;ir
também não o terá, mesmo que inunde o mundo coni sangue. Heresia C
assunto espiritual que não se pode destniir com fen.0, m m queimar pelo
fogo, nem afogar em água. Para isso existe apenas a palavra de Deus; esta
o faz, como diz Paulo em 2 Co 10.4s.: "Nossas m a s não são carnais, mas
l-ioderosas cri1 Deus para destniu todo plano e tudo o que é altaneiro, que sc
volta contra [i conhecimento de Deus. e subordinamos todo o pensariieiito ao
5y serviço de Cristo".
Aliás, nada melhor para fortalecer a fé e a liei-esia do que combate-l;ts
com pim violência, sem a palavra de Deus. Pois é certo que tal poder i150

I ? I.iiicm icfctr-sc a uma f5hol:i de Esopo. Coiiw que as rZs tivçcirii por pi-irnciio rei iiiii
iir,cii.ii <1c iivorc, c o ridiciil;iri/.;ir;iin. EniZo seu deus Ihcs dcu uin:i ccg<irih;i por ~.ci.M<~i;il
(1;) t ( i ~ l G ~ 'IX
; ~ : o povo, lid o rci.
.i < ('I'.'1'1 l:J\%,
I iiii(l.li~ii.rii;ic"'>
da Eùca Politicd
,.t. ;ili<)iii cni causa justa e que ;ip< ~ . I I I I ,Ii Iiliicito, .I porque procede sem a
~~:il;iv~-~i de Deus e sabe apciitis I ~ . ~ O I;iI < lorça
. I bruta, como o fazem os
;iiiiiiiais irracionais. EniKiii i i i t h : i s , ~ i i i iterrenos ~ ~ ~ s não se pode agir com a
violência, sem que antcs ;I ii~iiisiic;~ tciiha sido comprovada em processo
jiidiciai. Quanto mciios i: ~v~ssívcl iigir com violência nessas coisas espir- í
tuais, sem direito iiciii ~);il;ivi;iiIc Deus. Vê que belos e sábios senhores são
esses! Querein extcrtiiiiiiir a heresia. Com seu procedimento, porém, usam
somente meios quc iobiislecetn o adversirio, tomando-se eles mesmos sus-
peitos e jusficando aqueles. Amigo, se quiseres exterminar a heresia, tens que
cnconbar o jeito certo. Antes dc mais nada, tens que arranca-ia do coraç2io i i ~
e afàslá-Ia raúicalmenle com o consentimento [das pessoas]. Com violência
não mudarás nada, pelo contrário, somente a fortalecerás. Que proveito terás
se fostdeceres a heresia nos coraçóes e a enfnqueceres apenas exteriormente
na língua, forçando [as pessoas1 a mentir? A palavra de Deus, porém,
ilumina os corações, e com isso toda a heresia e erro saem do coração por l i
si mesmos.
O profeta Isaias anunciou esta destniiçio da hcresia no capítulo 11.4:
"l'erirá a tema com a vara de sua boca, e com o sopro de seus lábios matará
i) [iervesso". Aí vês que, se quisemos exterminar ou converter o ímpio, isso

ii.15 que ser feito com a boca. Resumo dos resumos: tuis prí~icipese tiranos 20
ii;io sabem que combater a heresia significa lutar colma o diabo que tomou
~ ~ ~dos s scorações
c coiii seu engano, como diz Paulo ern EF 6.12: "Nossa
l111;i iizo 6 contra sangue e carne, mas contra a maldade espinlual, contra os
~~iiicipes que governain esta lreva", etc. Logo, enquanto 112io se expulsa e
; i l i i ~ : " ~ ~ i ;o ~ diabo dos coraçoes, isso E o mesmo que querer destiuir seus u
iii~ii~iiiiciitos com a espada ou fogo ou lutar contra um raio com uma palha.
l )r iiiilii isso Jó 41.18 deu itmplo testemunho, dizendo que o diabo tem o
I i . i i i j por palha c não teme nenhum poder na terra. Tatnbém a experiência o
c.iisiii:i. Mesmo que se queimem todos os judeus e hereges à força, iienlium
cli.l<.si. iicm será coiivencido nem convertido. 30

No ciitaiito. um mundo como este precisa de tais príncipes, onde iienhu-


I I I : ~ 1 1 ; 1 i i i ' ciiiiipre a função que lhe cabe. Os bispos háo de abandonar a
~ ~ , i l . i v i :( li i . I )i.iis c iião governarão as almas com ela. Confiam esse dever aos
I ~ I I I I ,ilw.'. :x~~iil:ii~s. liara que esses o executem pela espada. Por outro lado,
o,,. i u n i t I)><.; ic.iiil>t>i'iis lião de tolcrar, ou praticarão eles mesmos, usura, 35

n ~ v i i l t) . ~ .i,li~l~~.i I I I i. o111i:is obras más, para depois mandarem os bispos castigar


* ,:..I.. G ~ ! I , . . I , . C I ~ I I II~il;isr. cxcotnunhão, invertendo, dessa fonna, maravilho-
..~iii, iii% i :i5 :S~I!\:IS goverwan-nas com ferro, e o corpo, com cartas,
I 1 1 ~ u I t tG ~ I I < w . . I I I I , I L . ~ ~ I LII.IIII)~I.;I~S
.S governam espiritualmente, e os prínci-
1" . a . ~ ~ I ~ I I I I . I I , i. .~ ~ i ~ i ~ ~ ~ i ;Quc i l i i outra
i ~ ~ i coisa
~ t i . tem o diabo a fizer na terra,
. c ii.ii?I . I / C I ] , . i i < , i. .,;il~:icit <li. srii povo'! São esses os nossos príncipes cristãos
( 1 1 1 , '1' 1' I I < ~ < . I .1,.I Ii.
I <Ii.\,iii;~iii o iiirco. De Sato, bons companheiros, nos ~[iiiiis
L>:I Auluiidadç Se~.ul:ir.até que ponto se lhe deve obediêricia
se pode confiar! Uma coisa conseguirão com essa inteligêiicia inaravilhosa:
quebrarao o pescoqo e lançarão o país e o povo em desgraça e miséria.
Quisera aconselhar com toda a lealdade a cssa gente desvairada para que
se cuidem de utii pequeno vcrsículo do Salino 107.10: "Derramou seu
5 desprczo sobre os príncipes"". Juro-vos por Deus! se csq~ieccrdesque este
pequeno versículo se cumprirá em vós, eslais perdidos, niesmo que cada um
seja poderoso como o turco. Vosso b u h c esbravejar de nada valerão. Isso
já começou cin grande parte. Pois há pouccis príncipes que não sejani
considerados loiicos ou patiies. Isso porq~iese comprovam como tais e o
Iioinem simples começa a compreender as coisas. O tlagcl<~dos príncipes
(que Deus denomuia de cc7ritempt[in1) se dirundc amplaiiientc entre povo
e o homem siniples, c temo que nâ» possa scr repriniido se os príncipes iiâo
sc conduzircin calno príncipes e rciniciarcm a governar com juízo e limpeza.
Nâo se toler;irá, iião se pode iicm sc quer t«lerar vossa 1ir;uiia e caprichos
15 por mais tcml~o.Queridos piíiicipes e senhoirs, observai isso. Deus náo o
tolcrará pcir mais tempo. O niutido J i é iiiais aquelc como quando
n5o
caçiveis e perscguícis as pessoas como luiiinais de caça. Por isso, deiuai
vossos crimes e violência e pensai ein proceder com justi~a.E dai à palavra
dc Deus o curso livre que lhe compete, tem que e devc ter, c que não
20 podereis impcdir. Sc há heresia, que seja superada coni a paiavra de Deus,
como convcm. Se, porém, dcse.mbainhiis por demais a espada, cuidai para
c veiiha alguiin e vos mande embainhá-Ia, e isso não em iioiiie de deu^.^'
~ l u iião
No eiitaiito, poderás arguinentir: Se i120 deve haver cspada secular entre
os cristãos, como govemi-los cxteiiormenie? Deve, pois, haver autoridade
25 também cnlre os crislãos. Resposta: Entre crislâus não deve nem pode haver
autoridade algiiina, pois cada qual está submisso ao outro, como diz Paulo
ein Rm 12 Lsc. Fp 2.71: "Cada <lua1considei-e o outro seu superior", e 1 Pe
5.5: "Sctle todos subniissos uns aos oittros". Isso é o qne tainbém Cristo
quer: "Quaiido f o ~ convidatlo
s para o casxnerito, toma o último lugar" -
I Lc 14.10. Entre os cristâos iião há superior a não ser o próprio Cristo. Que
autoridade pode haver quando lodos sZo iguais c têm o mesmo direito, poder.
bem e honra, e quando ningiiétn deseja ser siipenor, mas o subordinado do
oiitro? Entre pcssoas a s s h nZ» se pode iiistihiir autoridade ;tisuma, ainda
que sc c~iiiscsse,porquc sua natureza não suporta tcr superiores, visto qiie
ninguém quer e pode ser superior. Onde, porém, não houver gcnte dcsse tipo
ali também iiào há verdadeiros cristãos.

44 Ciii~ioriii per;il. tan1bt.m :iqiii Liitero cita çoiifoniie a Volyafn: Eliiiridir cunteiiiplorn u r i p i
I.i~nil;in~entaq?todn Ética P~iIRrcil
Quc são, pois. os s;icerdotes e bispos? Resposta: Seu regime não é de
;iutoridade ou poder, mas serviço e Função. Pois iiZo são supcnores e meltio-
rcs que outros c r i s t a o ~ ~Por ~ . isso não devem impor lei ou mandamento a
outros sem a vontade e consentimento delcs. Seu governo não é outra coisa
qiic pregar a palavra de Deus e com cla conduzir os cristr'10s e vencer a 5
Iicrcsia. Pois, como já disse, os cristáos ii2o podem scr goveriiudos a não ser
ci~iiia pd;ivra de Deos. E assini que diz Paulo em K m 10.17: "A fé vem 110
i~uvir,n oiivir? porém, vem pela p;ilnvra de Deus"". Aqiielcs. pois, que ri20
c i e m , não s,?, cristãosl nem pertencem ao reino dc Cristo, mas ao irino
scciiliu, para que sejani doniinados e governados pela espada c pelo regiriie tu
(.xi~,rior.Os cristãos fazem todo o bcm de per si, serri pressão, e se contentaiii
V I I I I ~;i palavra de Deus. Todavia, a respeito desse tema rscrevi mui10~~ c
1ii.iliiciitemente.

1
Terceira parte
Agiti-;ique sahcmos até onde se cstende a autoridade seciilar, é tempo de
cli/i.i como a dcve usar o príncipe, isso por aiiior daquclcs que quereiri ser
1'1 (iic'ilics c senhores crist5os c que tamhém desejair chegar à outra vida, que.
I M D I siiial, são muito poucos. O próprio Cristo descreve a índole dos príncipes
~~.iiil~or;iis cm Lc 2225. dizendo: "Os príiicipes seculares doiniiiam, e os que
~ i . i i i ;iiiioi-idade procedeni com violência". Pois, tendo nascido tiohres ou
i<.iiilo\ido eleitos, crtem ter o dirlfito de serem servidos e de govcmar corn
violi.iici;i. Agora, « que quiser ser príncipe cristão tem que, realmente,
iIi,.;isiir da idéia de qucrer governar e procedcr com viol8ncia. Pois maldita i5
i . <oii<lciiada C toda a vida que se vive c huscu em beneficio próprio. Malditas
ital;i.; ;i\ ohras não inspiradas pclo amor. Elas se inspiram no amor q~iairdo
ii:i<tsi. <Icix;iing u i a pelo prazer, proveilo. honra' comodidade e salvaçzo da
piail~~i;~ [lcssmi, mas quwido procuram, de todo o çoraqão, o proveito, honra
<, \:il\,:i<:<~o IIC outros. 111

I'oi isso i150 quero dizer riada aqui a rcspcito de assunios seculares e leis
I I I I I I I I I I ~ I'ois . isso é urn tema muito amplo c, além disso, já há livros
~ i i i i ~ l i ~t.111 a ~ ~iIciii;isi;i.
, E claro yiie, quando o príncipe iião é mais entendido
a l d , 4 l i 1 1 ' '.<.ii\ iiirisi:~.;c cluando sua sabedoria não passa do que se encontra
I I O ~I.i.\ , i t t . . ~iiiiilii.~)~, ccriamcnte govei-nai-5segundo o ditado de Pv 28.16: "O >,

i 1 . ~~i,l,il;i<:i,i
. , t I ~ i , .i c iiiiiiisiCrio ~iasi<iid çm: "Do C31iv~iroR2~hilt,niç»da Igreja".
it8 v . 2, 1,. 4111-418.
(,1?!.4', .V,,/,.< !08,!.t>/;,\,
i i \ , ii i,,.i<s #>iiii.ii. :i vi.lsno cI;i Vii1g;lt::il:i: Ergo lidm ix audito, aridilus nulcni pr-v e r l ~ i i l ~
~ 1 1 i i i

I I,,,,,,
111 I 1 1 , , t " I I , ~ , li,,,,, i1111:~"r "'lt:ui;u~l~~
CIC M:t~licd~cL U I C ~sohrc
C l,itwr,I:~lc('ris1.1".
1 4 8 i 1 l b r . 1 ~ . ~ ' ~ ~ / ~ ~ ~ ~ , v. t r 1,.. t '~J ~/ Y; , ~, ~c , (I
~ ~ ?, r~s~~ccliv~~~~~c~~l~.
D:, Aiitoridade Secular, aié que pnnto se Lhe deve obcdii.rici~
príncipe falto dii iiiieligência oprimirá inuito com injustiça". Pois por meho-
rcs e justas que sejam as leis, todas elas tfm uma reserva: não podem ser
aplicadas em situações imprevistas4'. Por isso um príncipe deve domúiar o
direito com a mesma firmeza com que coriduz a espada, e deve resolver com
critérios próprios onde e quando o direito deve ser aplicado com rigor c onde
abrandado. A sensatez deve, pois, sempre,governar o direito e permanecer a
lei máxima e o mestre dc iodo o direito. E o caso do pai de família: niesmo
cliie determine tempo e iiiedida de trabalho e ;ilinicrilação para seus serviçais
e lilhos, deve iiiaiiier essas disposições soh seu domínio. Teiii que poder
modificar ou rel~tsií-las,caso seu empregado adoeça, seja preso. se atrase,
seja enganado ou impedido de outra maneira, e não pode tratar os enfermos
com o mesmo rigor com que trata os sãos. Digo isso para que não sc pense
que é suficiente e digno de louvor observar o direito escrito e os juristas. E
nccessário algo mais.
Como deve proceder um príncipe se não é tão inteligente e tem que
aceitar a orientação de jiiristas e livros jurídicos'? Resposta: Por isso eii disse
cluc a condiçXo de príncipe é perigosa. Se ele próprio não tem inteligência
suficiente par21 dirigir seu direito e seus conselheiros, aí as coisas andam
conforme a sentenp de Salomão: "Ai da naqão que tem unia criança por
príncipe" [Ec 10.lhl. Também Salomão rcconlieceu isso. Por isso desesperou
de todo o direito que Moisés havia prescrito também para ele com o auxílio
de Deus, e também de todos os seus príncipes e conselheiros e dirigu-se ao
próprio Deus, pedindo um coração sábio parti governar o povos0. Liin prín-
cipe deve imitar esse exemplo, proceder com temor c não confiar nos livros
inortos, nem em cabcyas vivas, mas ater-se somente a Deus, oral- com
uisisttiicia por entendiineiito rcto - o que é nielhor que todos os livros e
mestres -, pxa govemar seus súditos com sabedoria. Por isso ri20 saberia
prescrcver ao ptíiicipe nenhuma lei. Quero upcnas instruir seu coração sobre
qual deve ser sua iiienialidade e disposição em todas as questões de direito,
nos conselhos, juízos e negócios. Onde proceder dessa maneira, certamente
Deus lhe concederá que possa levar a bom termo, de modo piedoso, todas
as questões jurídicas, conselhos e negócios.
Em primeiro l u g a ~deve
- ~ tomar em consideração seus súditos e coiiseguir
a correta disposição dr seu coração. Isso fará quando concentrar todos
os seus pensamentos iio intuito de ser-llies útil e proveitoso. Não deve
pensar: "A t c i ~ ae as pessoas são iiiirilias; farei o que me aguda", mas,
sim: "Pertenço a tena c às pessoas. Farei o que é bom e proveitoso para elas.

4'1 ('S. o provérbio: "A necessidade ndo conhece lei", iomado, possivelmente, <Ic 'Tr>in:is ,li.
Ailuiiii~,Sofnzi Ii-olii,nicn. 7,1, il. 96, t<it. h.
511 ('1: 1 Rs 1.12.
I~undamrntaçXoda Etica Pnlíticn
N.5o procurarei fazer ostentação e ser dominador, mas como proteger e
ilciendê-ias com boa paz". Fixará scus olhos ein Cristo e dirá: "Eis que
('risto. o príncipe supreino, veio e me seiviu; não procuroii poder, bcm e
Iionra ein mim, mas viu ininlia necessidade e fez tudo p m qiie eu tenha
~ioder. bem e 1ioiu.a por scu uitcmiédio. Por isso farei o mesmo. N5o s
~ir<ic.urarei meu intercssc eiii meus súditos, ma? o deles. Também eu Ihcs
scivirei assim em meu cargo. Quero proteger, ouvir e Gefeiidê-10s e goveriiar
iipcnas para que ienliain bcns e proveito, e iiào eu". E ascim, pois, qiie iiin
~)rii)cipc se desprender: de seu poder e u~iioridade.e cuidará das ncccssidades
clc sciis súditos e agiri como sc Lratassc de suas próprias necessidades. Pnis 11)

Ioi (lvssc modo que Cristo procedeu cni1osco. e cssas são as verdadeir;is
( d i i ; ~ . ; <[c amor crist2o.
Agora, porém, rctnicas: Quein, rritão, quererá ser príiicipe'? Com isso a
~~<~.,ii;;io de uIn príncipe seria a mais riiiserávcl sobre a terra. A função lhe
.i~:iii~.i;ii-i;i muito esforço, ir:ibaiho c desgosto. Oride ficariam os prazcrcs (5

1 1 1 ~ii<.ili~~scos, com bailcs, cli$:idas, torneios, jogos c oiiiros prazeres munda-


i i t ~ : . " \i isso respondo: No iiioiiiciiio não cstainos ensiriarido como deve viver

I I I I I ~~iiiii'il~c secular. mar como um príncipe \eciilar pode coiidiizir-se crisifi-


IIN.IIIG.~ I ; I K podcr L c h r p r ;io céu. Queiii é que 1130sabi. quc p ~ c i p Cc c;qi
~ . I I . I I I O (Gii'! Tambktii niii falo porque tivcssc a cspcrançii de que os príncipes :(I

, . < c iiliiii~siiic levariam a sério, mas apenas para o caso de quc houvessc
; i I ! , i i i i i q i ~ i;imbEni
: quisesse ser cristão e dcscjasse saber como se conduzir.
I'C>I\ (.siiiii plcnarnente corivicto dc quc a palavra de Deus irão se orientard
I I I I I I sv giiiai-A pclos príricipes; os príncipes é que devem orientar-se por cla.

Ii.ihi:i iiii. iiiostrar que iiZo ? uiipossível que um príncipe scj;i cristão, mesmo .i
~ I I I < . WII ",ia i:irci e dií'ícil. Pois si. cuidassem que setis bailes, caçadas e
ioiii~.iirs1150prtjiidicassem ;i seus súditos. e se: além disso, cxerccsscin seu
I : L I I c.iii ~ I ) ;irnor a eleb_ Deus não seria tão iigoroso a ponto de nZo Ihes
~ ~ ~ . i i i i i i Ii:iilcs,
ii- ca~adase torneios. Se, porém, de acordo com seu cargo,
~l~alic:issi.tii ciiiclados a scus súditos, certamente descobririam por si mesmos r i

8111,.i i i i i i i i i Ii:iil~.,c;iq;idci, toineio e jogos deveriam ser dcixados de lado.


I r i r \cy:i~iirlr~ Iii,g:ir: iiiii ptíilcipe dcvc prccaver-se dos grandes senhores.
,I. . . < . t i . . < * ~ i i ~ i ~ . l l i ~ . ci i coiicluzir-sc
o~. erii relayão a eles de 131 maneira que 115.0
(1. .Gt t i i . . i ~ l c - i ~ -i i i ~ i i l ~ i i <Ii.lc\.
i~i mas tariibéin não confic ciii nenhum a ponto de
.
I U ' ~1 1 , , . I I . I ~ 111;10.. ; i \ <Iccis?ics. Pois Deus não to1er;r iienhuma das duas i<

C . .1 I v I:iIoii 1"" meio de uma rn~I:i5~.Por isso não se deve


t I a . l / . l~i I I I I I , ~ I I ~ ~ I Il I u. ~ i ii~~i~~iiil'ic:iiitc qiie scj;i. Por outro lado, expulsoii do
8 8 I 1 1 . ' I l r v i isso ii;iii .;c pode coiiliar em pessoa alguma, por
I . I I . I I I I . I 8 i ~ ~ : ~ i iliic
~ < I sqj:~.
i ~ Dcvc-sc, porém; ouvir a todos e
Do Aiitoridadc Seiulx. a16 que poiito se lhe devc ok<libici;i
esperar para ver por meio de quem Deus quer falar e agir. Pois a maii~i-
inconveniência que existe nas cortes é quando um príncipe subordina sua
razão aos grudes senhores e hajuladores, (leixando ele próprio de governar.
Pois, quando uiii príncipe comete um erro ou faz uma loucura, isso não
prejudica apenas a uin hoinetn; o país c o povo inteiro têin que sofrer por
causa dessci loucura. Por isso um príncipe deve confiar eni seus poderosos e
deixá-los agir de tal modo que ainda possa ter as ipdeiis em suas mãos. Não
pode ernbalw-se em segurança e d o m u , mas inspecionar e viaj:ir pelo paí':
(como fez Josafá"), asscguraiido-se de conio se governa e julga. Assim ele
próprio descobrirá quc n8o se <leve confiar pleiiainente em tieiiliuma pehsoa.
Pois náo penses que iilgu6n outro irá pirocupar-se tanto contigo e coin teu
país como tu próprio, :i nGo ser que esteja cheio do Espínto e seja um bom
cristão. Um homem natural não o faz. Já que não sabes se é cristão ou quanto
tcmpo o será, não podes fisu-te nele com segurança.
E previnc-te, acima de tiido, contra os que dizem: Mas. meu Senhor.
Vossu Mercê não contia em i i i i i i i mais do que isso'? Quein quererá servir ii
Voss:i Mercê [a não ser eti]'? Este certanieiite não 6 siricero. Quer mandar rio
país e traiisforinar-te em paspahão. Se fosse um cristão corrcto e Iioiicsto,
ficaria contente por não coiifiares nele e te elogiaria e amaria pelo fato de o
controlares tão bem. Pois, como age de acoillo com a vontade de Deus, quer
e pode tolerar que sua iição se,ja conhecida por ti e por todos. como diz Cristo
em Jo 8 Isc. 3.211: "Quem pratica o hcm aproxitna-se da luz, para que suas
obras st$aiii inanifestas, porque feitas etii Deus". Esse, porém, quer cegar-tc
e agir na escuridão, ccinio diz Cristo na mesma passagem: "Quem pratica ii
riial evita a luz, a fiin de que suas obras não sejam castigadas" [Jo 3.201.
Por isso, cuidado com ele. E se ele murmurar, dize-lhe: Meu caro, não te
faço neiihuiii:~injiisiiça. Deus não quer que eu confie ein mim oii eiii
qualquer ouua pessoii. Brigli com ele por te haver criado apentis como
homeni. Embora, aiiida que fosses um ai;», tiimbérn não confiaria pleiictiiieri-
te em ti, pois também eni Lúcifer nZo se pode confiar. Pois se deve coiifj;ir
somente em Deus.
Que nenhum príncipe pense que terá melhor sorte que Davi, exemplo de
todos os pniicipes. Ele tinha um conselheiro de nome Aitofel; este era t2o
sihio que o texto diz que tudo que Aitofel dizi:i tulha o mesiiio valor qiic
pelgiintu. ao próprio Deus5*. Não obstante, caiu e chegou ao extremo (1c
querer trair, matar e eliiriiriar :i seu próprio senhor Davi. Naquela ocasião
Davi teve que aprender que não se deve coidiim em ninguém. Por que teria
Deus deixado acontecer e transcrever exemplo tão terrível? Ele o fez 1~ar:i
prevenir os príncipes e senliores contra a mais perigosa desgaça quc Ilics
1.iiiiil;iiiiint;ição <d;i Etica Política

l,,i<lcsuceder, a Furi de que não ponhani sua confilciiça em ninguém. É muito


I;iiiiciitavel quando nas cories governam aduladores. ou o príncipe se fia e111
oiiirrjs, sendo dominado por eles, deixando que cada um faça o quc quer.
Agora dizes: Se não devemos conliar em ninguém, coiiio se há de
::i>ucrn;lr um país e seus habitantes? 12esposta: Deves dar ordens e amscar, i
iiiiis n.7~ deves coniiùr e iiar-te em outros, a não ser em Deus solliente.
Niii.alnieiitr tens que confiar os cargos ii alguém e arriscar com ele, mas não
ilcvcs ter iriais confiança nele do quc em uma pessoa quc potlc fziar. Por
i\so tens que contiiiuar viginrido c. na« podes donriir. E o caso do car~occiro.
lilc confia nos cavalos c iiri carroça que dirige. Coritudo, não os deixa andar I,,

s i ~ ~ i i h oSegura s. as ~édease o relho na mào e não dorme. Recorda os antigos


~m~vcrbios que, scin díivida, são Smto da experiência e merecein confiança:
"O olho do amo ciigorda o cavalo". E: "As pegadas do alio adubam a
I , . I I ; ~ " . Jsso C. qiiando o próprio senhor nZo se ocupa coin :is coisas e c tia
<.i11 conselheiros c empregados, aí 21s coisas não andam Iieiii. Tmhém Deus f-

o L I I I C assim ~ e o deina acontecer. para quc os senhores scjnin obrigados, por


iit.<.~~ssidadc. n se ocuparem eles iiiestiios com seu cargo. assim como tam-
It,:iii c;ida pessoa Lcrii qiie se ocupar com siia profissão e toda criatura se
ci<lip;icc~msua tarefa. Caso contririo, os senhorcs se transformam ein porcos
!,oirl<lse pessoas inutcis que não seivem a ninguéiii. n nào ser a si próprios. 2,)
I:rn terceiro lugar, uin príncipe dcve ter [i cuidado de agir cori~tainente
i . t > i i i os infratores. Ncste ponto tem que ser iniiito prodenie e sábio, para
i;iiti:::u- sem prejuizo para os oiiiros. Novainente r130 coiiheyo exemplo
iiiclhor qiic Davi. Ele tinha uni capitão de nome Joabe que cometeu dois
i.riiiics gr~ivcs, traiçoehinente dois capi~Xes-'~.Por isso riierecia ;i 25

iiii~i-icdoas vezes. Mesino assirn diirante sua vida Davi não inatou a Joabe,
iii;is recomendou isso 11 seu filho Saloini«s%Seiii dúvida, agiu dessa iiiaiieira
Ilibicliie não o podeiia ter. feito sem causar maior prejuízo e escândalo. Da
iiicsiiia fom rambérii o príncipe deve castigar os maus; caso contrário.
ilii~.lii.:i iim prato na icntativa de ajuntar uma colher. Por causa de uma cabeça 3"
c\(i<ico país c o povo ao perigo c enche o país de viúvas e órlãos. Por isso
II.IO (Icve dar ouvidos aos conselheiros e generais que o instigcun e provocam
:i I:i/ci- guerra, dizendo: Ali, por acaso vamos aguentar tais insultos e injus-
ii(:;i>'? .4quelc que arrisca o país por causa de um castelo é inuito mau cristão.
I';ii:i ser breve, aqui é preciso ater-se ao provérbio: "Qiieiii iiZo é capaz dc 35

l.i/ci vistas grossas iiãn pode governar". P«rtant«. seja esta ;I regra de um
1'1 iiici[ic: quando nXij piider castigar uma u?justi$~tsem provocar outra maior.
cli.ixi (Ic lado seu direito, por mais justo que seja. N5o deve ollw para seu
11iciluii1 prejuízo. iras para a injusti~aque outros terri q i c sofi.cr cm decor-
I --
Da Autoridade Secuku. até que poiito sc h c dcvc
rência de seu castigo. Pois que fizeram tantas niulhercs e crianças para serciii
i,lx.<lii.iii.i:i

t r a n s f o r d a s ein viúvas e óríiios, somente pai-a que tu te possas vitigiu <I:


uma boca inútil ou de uma mso malvada que te ofendeu?
Agora retrucas: Será que um príncipe não dcve fazer guerras ou será que
5 seus súditos Ihc devem seguir na batalha'? Resposta: Trata-se de uma questão
niiiito complexa. Mas, pni-:r dizê-lo em poucas pdavras: para proceder cns-
tZiicnte, digo que iicnhum príncipe deve inici:~guerra contra seu superior,
0 rei. o imperador, ou quem iliici que scja seu senlior ieiidd. Se alguém quei-
tirar algo, quc o leve! Pois náu se dcve resistir a aiitoridade coin uioKncia,
I mas apcnas com o testzmiinho da verdade. Se o levar em conta, está bem;
caso contrário, não tens culpa e sofres iiijustiça por amor de Deus. Quando,
porém, o oponente é igual ou inferior a ti ou escí submisso a uina autoridade
estranha, deves olcrecer-lhe primeiro justiça ou paz, como 0 ensinou Moisés
aos iihos de Israel. Se cle nrí« o quiser, cuida de teu interesse e defende-te
is cixn violência contra violCncia, como Moisés o uidica magnificarnente em
Dt. 20.10~s.Neste caso, nao deves olhar para teus próprios interesses e como
pos;is ~;traiitiricu podcr, iii;is p;tra teus súditos, aos qciiiis deves prote<;Uoe
auxilio, para que essa obra seja feita em aiiior. Pois, visto que todo o teu pais
corre perigo, tens qiic correr o risco c, querii sabe, Deus te ajudará para que
m iiáo seja destruído tudo. E se náo puderes evitar que surjani algumas viúvas
e órlãos, tens que procurar evitar que náo se perca tudo e que restem sotiientc
viúvas c ófios.
Neste caso, os súditos estzo obrigados a obedecer e a arriscar corpo e
bens, pois cada qual tcin que arriscar seus bens r vida por amor do outro.
15 Eni scinelhante guerra é cristxo c uma obra de ainor trucidar e matar os
I iniinigos. assaltar e iiicendiar e f;mr tudo O que cau~udano, até que seja11
I vcncidos de acordo com as regras da guerra. (Somente devenios abster-nos
do pccado de violeirlar inulhcres e jovens). Obtida a vitória, deveriios ofere-
I
cer misericórciia e paz aos que se rendem c huriiilham. Neste caso, devemos
1 aplicar o prov6rbio: "Deus ajuda ao mais forre". Foi assim que agiu Abraão
cco vencer os quatro reis - Gn 14.14s~.Naquela ocasião sem dúvida matou
I :i muitos c não demonstrt>uinisericórdia até que os venceu. Esse caso deve
i sei- visto como missão de Deus para com cla varrer o país e expulsar os
I
j
p:iiifes malvados.
Mas como? Mesmo que urn príncipe náo tivesse razzo, seu povo, ainda
iissiin, estaria «hng:id« a h e seguir? Resposta: Não. Pois a pessoa tieiihuniu
corivém agir contra o direito, antes deveriios obedecer a Deus (que quer < I
1 clireiio) mais do que aos homenss7. E se os súditos iião soubercin se o
I príricipc está com a rarão? Resposta: Enquanto não o souberem e 1150 o
Fundamentação da Ética Política
conseguirem descobrir, mesmo com o maior empenho, podem seguir-lhe
sem pengoApara suas almas. Pois ein tal caso tem que aplicar-se a lei de
Moisés de Ex 21.13, onde escreve que um homicida que matou alguém por
ignorância ou involuntariamente deve ser absolvido pelo tribunal quando se
refugia numa cidade refúgios! Pois a parte que for derrotada, lenha razão ou s
não, terá que aceitar [a derrota] como castigo de Deus. Mas a parte que
combate e vence na mesma ignorância, deve considcrar a vilória como se
alguém houvesse caído do telhado e matasse um outro, entregando o assunto
rias maos de Deus. Pois para Deus nâo faz (Zerença tirar-te os bens e tua
vida por meio de um scnhor justo ou injusto. Es sua criatura e ele pode fazer in
contigo o que quer, desde que tua consciência esteja sem culpa. Assim o
próprio Deus desculpa o rei Abimeleque - Gn 20.6 - quando esse toma a
mulher de Abraão; não por ter razão, mas por não saber que era a mulher de
Abraão.
Em quarto lugar que, em si, deveria ser o primeiro e do qual já Manos is
ricima: um príncipe também deveria portar-se cristamente em relaçáo a Deus,
isso é, deve submeter-se a ele em total confiança e pedir-lhe sabedoria para
hcm govcmar, como o fcz Salomão". A respeito da fé c da confiança cin
I)cus, porém, já escrevi tanto que aqui nZo é necessário entrar mais a fundo
i i ~ iquestão. Por isso queremos deixá-la de lado por ora c terminar com a 211

conclusáo de que o príncipe deve dividir suas atenções em quatro scntidos:


I . em relação a Deus deve ter verdadeira confiança e [dirigir-se a ele em]
osação sincera; 2. em relaçáo aos súditos, deve agir com amor e serviço
cristão; 3. em relação a seus conselheiros e plenipotenciários, dcve manter-
se livre nas decisões e independente no discemimento; 4. em relação aos a
delinqüentes, deve mostrar seriedade c rigor moderado. Dessa maneira con-
Iiimará sua Sunção exterior e interiormente, agradando a Deus c às pessoas.
No critanto, deve estar preparado para muita inveja e sofrimento. Muito em
hieve a cruz pesará sobre um tal propósito.
Por fim, como apêndice, devo responder também iqueles que discutem ri
;i rcspeito da restituição, isso é, a respeito da devolução de bens indevida-
incntc apropriados. Pois isso é uma tarefa geral da espada secular. Muito se
cscreve a respeito e procura-se muito rigor exagerado. Pretendo expor tudo
iilsuinid:unentc c elimimarei de vez todas ai leis e prescrições rigorosas que
j;i li~i.;i~ri feitas a esse respeito. Não se pode encontrar nesta quesm lei mais 3s
stl:iir:i qiic ;itio riinor. Primeiro: quando se te apresenta uma questão em que
I I I I I (li.vi ~l~:volvcr ;ilg» rio outro, a coisa se resolverá imediatamente se os
dois Ii~rriiii.si\i;iris. I'ois nenhum negará ao outro o que é dele c também
iiiii~:iii.iii i.xiiz,ii;i sii;i ilcvolução. Se, porém, apenas um é cristão, a saber,
Da Autoridade Secular. até que ponto sr lhe deve obediência
aquele ao qud deve ser feita a restituiyáo, a questão novamente se resolverá
com facilidade. Pois este não reclmwá caso não lhe for restituído. O mesmo
ocorrerá se for cristão o que deve restituir. Ele fará a restituição. Contudo,
seja cristão ou rião-cristão, o julgamento a respeito da restituição deve ser o
s seguinte: se o devedor é pobre e não pode devolver, e o outro não é
iridigente, deves dru Livre curso à lei do amor e perdoar o devedor. Pois,
confoime a lei do ariior. também o outro está obrigado a perdoar e ainda a
restituir mais. sc for necessário. Se, porEm, o devedor não é pobre, obriga-o
21 devolver o quairto puder, seja o total, a metade, a terça ou a quarta paite,
III deixando-lhe, não obstante, o suticieiite para a moradia, alimentação e ves-
tulino para ele próprio, sua mulher e filhos. Pois terias a obrigação de dar-
lhe isso se o pudesses. Muito menos iho hás de tirar, já que não o necessita
c ele não o pode prescindir.
Se, porém ambos iião forem cristãos ou se um deles iião quiser deixar-
I se julgar peia lei do amor, podes mandá-los procurar outro juiz e dirás a este
quc estão agindo contra Deus e o direito natural, mesiiio que, de acordo com
a lei humana, obtenham o máxiino rigor. Pois a natul-eza ens'!na o mesmo
que também ensina o amor: que devo fazer o que quero que me façamm. Por
isso não posso explorar a ninguém dessa mancira, ainda que tenha todo o
20 direito, pois eu não gostaria de ser explorado dessa maneira. Porque assim
coiiio eu desejaria que o outro desistisse de seu direito sqhre mim num caso
desses, assim tambérii eu devo renunciar a iiieu direito. E assirii que se deve
proceder com iodo o bem injusto. seja secreto ou público, de modo quc
sempre prevaleçri o amor e o direito iiat~iral.Pois se julgas conforme o amor,
i arbitrar& e arranjirás todas as coisas facilmente sem livros jurídicos. Se,
porém, não observares a lei do amor e da natureza, jamais agirás de maneira
que agrades a Deus, mesino que tenhas devorado todas as obras jurídicas e
iodos os juristas; pelo contrário, esses apenas te confuiidirão tanto mais
quluito mais rcfleies sobre eles. Uma seiitença verdadeiramerite boa não pode
1 ser tirada de livros: deve provir de uina reflexão livir, como se não existisse
livro algum. Essas sentenças livres enianam do amor e do direito natural, do
que toda a razão está cheia. Dos livros somente provê111 sentenças inescru-
pulosas e incems. Disso quero dar um exemplo.
A respeito do duque Carlos da Borgonhah' conta-se a seguinte história:
5 Urn nobre prendeu seu inimigo. Veio então a mulher do prisioneiro para
lib~rti-lo.O nobre prorrieteu libertar o mruido caso ela se deitasse com ele.
A mulher cra honesla; não obstaiite queria liberku o marido. Ela foi falar

h0 CC Mt 7.12; Lc 6.31.
01 < :L~/<I.Y,(1 Negro, duquc da Borgonha de 1467-1477, foi realmenfr eiivolvido iiuin c;isii
siiig~~lai- <Icsscs.Em scu 4" ScrinXo dc Wciinar, ponto de pxtida do prcieiitç tr;it;idr>,I.utciii
\i w l c x ;I clç ~iii~~ilcsiiiciilç
coiiii, " i ~ i i i ici" (WA 10/111. 3x4).
I'uiidanrentacão da Ética Poiítica
com o marido e lhe perguntou se o deveria fazer para conseguir sua liberda-
de. O homem queria a liberdade e salvar sua vida, e deu permissão à mulher.
Depois dc haver mantido relações com a mulher, o nobre mandou decapitar
o marido e entregou-o morto à mulher. Ela denunciou tudo ao duque Carlos.
Este citou o nobre e ordenou-llie casar-se com a mulher. Quando terminaram 5

iis bodas, mandou decapitar o homem e pôs a mulher sobre seus bens,
devolvendo-lhe a honra. Assim castigou a maldade dc maneira verdadeira-
mente pr'icipesca.
Vê, semelhante sentença nenhum papa, nenhum jurista e nenhum livro
lhe poderia ter dado; pelo contrário, ela surgiu da livre razão, superior a li]

todos os livros, de modo tão maravilhoso que todas as pessoas a têm que
iiprovar e 2ncontrarn a confirmação disso em si mesmas, no coração. Santo
Agostinho escreve algo semelhante em seu tratado sobre o Sermão do
Por isso o direito escrito deveria ficar sujeito à razão, pois surgiu dela, que
6 a fonte de todo o direito. Não se deveria ftizer a fonte depender dos 15

:ii~oiozinhose aprisionar a razão com letras.

0.1 Al:"siiiila,, Dc scrriio,ic in riiivilc .sci.iiri<Biiii Mali/i;~ciiiii. liv.


<k>riiirii I. i.. 10.
Governo
5
Governo

INTRODUÇAO AO ASSUNTO
Lutero se considerava evangelista, porta-voz do Evangelho de Jesus Cristo.
Sentiu-se competente, como discípulo da Bíblia, particularmente nas questões con-
cementes à f i cristã. Admitiu que era "inexperiente" em assuntos governamentais
("assuntos da corte") e desconhecia os bastidores ("as manhas e artifícios") da
política. Apesar disso, manifestou-se frequentemente sobre política em geral e sobre
questões políticas específicas, entre elas as relacionadai com a temática do governo.
Por quê'?
Num primeiro momento vejo dois motivos. A própria Bíblia fala de goveman-
tes, já que ela C um livro de história -da história do agir de Deus no mundo. Muitas
vezes Lutero foi expressamente consultado por govemantes e solicitado a dar seu
parecer, como teóloro, sobre questões políticas. E imporkmte dar-se conta de que o
reiornador desenvoiveu seu p&same& político tendo em mente quase sempre o
mundo em uue vivia: a Eurooa do século XVI uue se considerava cristã. Raras vezes
tomava em coiisidera<ikiapaíses e povos em que náo havia cristãos e cristãs. Ahor-
dou, pois, o tema "governo" como intérprete da Sagrada Escritura, como colabora-
dor e parceiro de diálogo de governantes cristãos e como pastor e conselheiro
teológico dos mesmos.
Lutero interpretou a história teologicamente. Na história agem seres humanos.
Mas quem, em última análise, conduz o curso da história é Deus. Ele é o Senhor da
história. Essa compreensão teológica da história leva a uma atitude crítica frente a
qualquer situação em que presunçzo, arrogância e atrevimento humanos tomam conta
da política. Para Lutero, os poderosos, via de regra, se esquecem de Deus. Não
deixam Deus ser Deus. Disso jamais pode resultar uma política que cumpre suas
funções autênticas.
No mundo chamado cristão, Deus age na história, segundo o pensamento de
Lutero, através de dois regimes (Regimente), o espiritual e o secular, representados
pelas respectivas autoridades. Jamais os dois regimes podem ser separados um do
outro. Mas tampouco podem ser confundidos e misturados um com o outro. Sempre
devem ser distinguidos com clareza e precisão. Apenas entre não-cri5tãos Lutero
admitiu a possibilidade de uma "existência própria" do regime secular "sem o reino
de Deus".
Frequentemente Lutero falou, em vez dos dois regimes, dos dois reinos, o
espiritual ou reino de Deus e o secular ou reino do mundo. Daí se costumava
caracterizar esta parte do seu pensamento político como "doutrina dos dois reinos".
Mas o termo "regime" corresponde melhor à dinâmica do processo histórico. O
termo "reino" sugere, antes, a idéia de algo estável, estático, estabelecido. Por isso
1)s teólogow historiadurçs picfci-ein falar, hoje, da teologia dos dois regimes de Deiis
ein Liiten,. Os termos "rcgiiiic" c "reino" se distingiieiii da seguinte maneira: Os
i-cinos de Deus e do inundo, respectivamente, são os âmbitos de atuação dos regimes
cspiri~uale secular de Deus.
A autoridade espirituiil, representante do rcgimc çspiritual dc Dcus, cabe o poder
da palavrii de Dcus. Sua incumbtncia E pregar esta palavra. Onde esta palavra eskí
sçiido pregada, há povo de Deus. Igreja. A autoridade ssciilar, representante do
rcgiine secular de Deus, cabe o poder político, simbolizado pela esp;ida. Sua incuin-
hCncia é possibilitar e garantir i) corivivi~~ das pessoas na s<iciedade beni como seu
Irni-esta terreno. Onde inl poder está sendo exercido, h i Estado.
Celx iiqui uma adverttiici;~.Não sc podc negar que a concepqão de Lutero reiilia
çoiitrihiiído para o surgiinento da conceituação modenia de Ib~ejae Estado a pai-iir
da época do iluminisnio. Neste se.ritido Lutero representou; dentro de seu tempo, a
iiiodemidade. No entanto, seus conceitos de Igreja e Estado, incluindo sua distinc;Zo
precisa, não são iguais à coiicepção moderna da separaçzo de Igreja e Estado. Na
compreensk) de Lutem, a atuac;áii da Igrcja c do Estado, respectivaniente, tein, na
~pr'itica,irs iiiesinos destiiiatárioh. No inundo cliarnddo cristão. todas as pessoas, em
icsç. sáii desririatirias &i pregac;ã« da palavra de Deus. As iiiesinas pessoas são
;iiiiigidas no ssii &:i-adia tambtin pela aiii;ição da autori<ladesecular.
No mundo chzunado crisião, as autoridades espirihld e secular, respectiv;uiieiite.
i?iii IaiiiMm incuinbências especificas uma em relação à outra. Isso se deve a« kito
iIc que no contexto do cristianisiiio europeu da época de Lurero tainbéin os gover-
ii;iiitci eram cristãos ou eram considerad«s como tais. Podiluii ser dcsafiadid»s a
:i\siiinirern con~cieutementeesta sud condiyxo. NXo tinhiiin apciias suas ruiiq7cs
~~olíiiças, como os goveinantes dç qualqucr país iião-cristão, mas tanibkrn deveres e
i:irclas çiiiii« cristãos. "Príncipch ci-istZos tementes a Deus" têm "que simultanea-
iiiciitç \ei-\ir a Deus e govcriiar o povo". Segundo Lutero. cabe à autoridade
c\l~iritual,çiii tais siluaçócs, lembrar os govemmtes de suas iricombências como
crihi2os. Estas coiisihtein. hasicanieiite, eiii governnr o pás tanihém "na palavra e no
ii.iviv» ile Deus". Os goveniuites que forem ~ristãos,deurin, u ~ m oqualqucr cristic
i. crist5. "buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sim justiça" (cf. Mt 6.33) c.
i o i i i i i governantes, "manter os súditos fiéis à palavra de Deus e aos pastores e
~,ii.l:;idores", bem como afaswr pcssoas que divulgarcin peiisameutos e doulriiias de
lc vrr.i~k,is. Ncsla ç « u c c ~ ã o ,o Estado exerce a função de protetor e colahorador da
Iivci;i. IJ:irii Lutero, em nenhum dos dois casos se trata de utii:i intromissão indcvida
<I:) I:isi;i iio Estado ou vice-versa. As autoridades espiritual i secular estHo unidas
IIO "\ri-viço fiel" que ambas devem I: autoridade divina ç<iiiilitii.
A izolngia dos dois regimes de Deus. no passa<l[i çhaniad:~dc "doutrina dos
c l i > i \ i.iiii>.s", não constilui algo nssini como a teoria luteraia de Estado e Igreja. Sua
Ii~i;iliil;iilcé, antes, antrop»liígic;i. Dcscreve e interpreta a ilialética da existência dos
< Iisi:i<rse das cristãs sob as coiidi~õesdadas nesta vida, ;iqiii, na terra.
I'çla f6, cristãos e cristas se relacionam com Dcus. Participam, já agora, de seu
iciiiii espiritual e celestial, o reino de liberdade, Iratcmidade, justiça e par.perfeitas
i. aci-rias. A« mesmo tempo relacionam-se, por seu agir, com o mundo. Este é
<ii;ii;iodc Dcus, mas nele, liberdd<le. katernidade, justiça e liar. sLi licqiicniciiicntç
~li.siisl~çil;id:is, abertamente conihnti<l:is ou ;ité tatilmente iipriiiiid;is 1x1s l i ~ r ~ ;(1~s..
is
i~iiiiv:i\.ciiiiii;íri;is :i vi<l;i. I>:ii iciiili:i :i ~ircc;ii-icd;alcdii cxisii.ii~i;iIiiiiii;iii;i. 1Icl;i
I IX
Lutero falou coni paiide iiianqueza. Chaiiiou o inundo de "coisa doente" e "um
verdadeiro hospital". Nciii por isso, porém, sugeriu a resignaçZo diante da política e
muito menos a retirada da mesma. E impossível fugir da política. Ela iiiarca sua
yrcsença na vida das pessoas, sempre. Frente a realidade humana prechia, constan-
s temente ameaçada pelo caos, Lutero destacou a importância da política em geral e
do governo em especial. O próprio Deus se opóe às forras desuutivas, a« caos.
Cornbate-as numa luta gigubesca através de seus dois regimes. Nesta perspectiva
escaiológica, política e goveriio são necessários justariientc para h p e d i r o caos, a
gucira de tod«s contra todos: "o inundo tem que ser governado, se nEo quisennos
io que os seres huiiianos se lrruisfonnerii em Ierds".
A disiinçáo cl;u-;i e precisa dos dois regiiies dc Deus é teologicniiieiite Funda-
iiienkl para Luter« na abordagem de questóes políticas. O reino do muiido, h b i t o
de atuaçHo do regimc secular dç Deus, é regido pela raZo. Por isso Lutes», apesar
de sua "inexperitncia" política, é perfeitamente c a p ; ~dc iazer observaçóes e co-
ii mentásios inuito perspicazes c inteligentes sobre a vida no mundo c, sobretudo, a
pritica política, c q a também de dar pareceres e fazer propostas concretas Fira esta
irsa. Disso dão testemunho os textos deste volume.
Para a melhor cc~mpreens;i<idas manifestaçíies de Lutero sobre a temlitica do
goveriio cabe lernhrzir uina circuiistância específica <te suii situação no si-culo XVI.
2 Lutero n,ío era súdito de um império colonial coino os de Pomigal oii dn Espanha.
Não viu as quest6es políticas na perspectiva de países cujos conquistadores navega-
vm pelos mares para ocupar e explorar Novos klundos. Residiu num dos muitos
tciritónos em que estava dividida a Alemanha, a S:ixonia eleitoral. Tratava-se de um
dos principais tcmtórios no contexto da Alemanha, mas muito pcqueno numa pers-
15 pectiva curopéia ou ultrainanna. Para Lutero, o govemo nZo era, como no Estado da
titiialidade, a cabeça de uriiri enorme estrulura político-administrativa, impessoal e
anotiirna. O Estado que Lutero conhecia era inuilo ~iiaissimples. O govemo se lhe
iiprcstiitava de forma pessail: era a pessoa do prúicipe ou da princesa goveriiatites
ou, eiii algutis ç;isos. o Cc~nsclho(C2mar;i) de uma cidade. Maior iiifluéncia sobie a
imagem que tinha dos govcmantes, exerceram alguns homens e alguiiias iiiulheres,
sovemantes das duas Sax6nias1. Entre os govcrnantes de sua Saxóiii~ieleitoral
gozava de sua estima sobretudo o príncipe-eleitor João, o Constante2, mais do que o
h â i o c antecessor deste, Fredciico 111, o Sábid. e o filho, JoZo Fredeiico I, o
Magnânimo4. Joáo confiou ;ias teólogos de Wittenberg um papel decisivo na procura
v por decisóes políticas correias. Os te6logos aniavam como parcçiros do príncipe em

I A SaUik'i foi dividida em 14x5 ciiire os dois filhos do priiicipc~rleitorFralçriço 11, Eriiuto
(144.1486, príniipz-eleitor dçsde 1464) ç i\1Mricn ou N k r t o (144315CK). govcrnantr
itcsili 1464, juiitameiite com Emesto). Governavwii; respccuvamentc, a parte rnicstina c
;ilhcrBria da SaxUnia. Deles ?c oiiginaram as linhas eniestin:i e dbertina da dinastia dc Wcilin.
2 IilhX-1512. dcsde 1486 co-iciienle u
de scu irmão luais vclho, Fredericn. o Sáhio (v. a iiolii
\cguiiitç), (Icsdc 1525 príncipc-clcilor.
i 1,103-1525, prínçip-eleitor dcsde 1486.
. I 15051554, príiicipi-çlciioi ili 1532 a 1547. Perdeu a dignickidç cliitnial na <;ucri-ii iIi
I : ~ ~ I I ; I I G B ~ c I v (lS46/47) l~z\r;to govc~~~;toic
da Sitxfir~ia~ ~ l t x ~ i iMaitrícic
na, (lS2l-l553, ~ L I L [ L I C
<li.c<li. I54Ii.
conversas particulares ou mediante caiia, pareceres e prédicas. Desta maneira toma-
rcmi-se também um fator importante na fomiaçS» da opiniâo pública quanto a
questòes políticas.
No que diz respeito aos govemantes, Lutero foi realista. Para ele, a grande
inaioria, ao longo da história, eram medíocres ou ruins. Apontou para seus erros e s
crimes, falhas e omissks. Costumava chamá-los de tiranos. Admitiu que também
houve - e há - governantes realmente bons, honestos, preocupados com o k m -
cstar do povo, cristãos. Mas são rdssimos, "caça rara no reino dos céus". Do ponto
de vista da fé, tais "homens milagrosos" sâo uma dádiva que só Deus pode dar, o
Senhor da hist6ria - "quando. onde e a quem ele quer". Dádiva de Deus sã« ~ i i

isiiibém os bons servidores que os govemantes tivereni. Didiva de Deus é, por fim,
nqiiilo que brota da açZo de bons govemantes e seividores: um governo boni e sadio
que piovidencia para o povo paz, segurança e felicidade. Nesta perspectiva teológica,
I.utero pode chamar o governo político até de "símbolo da verdadeira bem-aventu-
i-wiçrt" e "imitação ou máscara" do reino celestial de Deus - sem jamais se is
esquecer de que, na realidade, tais "símbolos" são exceçóes. Em outras palavras:
I .iitcro avaliou o mundo poiítico sempre com olhos críticos.
Os textos deste bloco mostraili várias facetas de Lutero quanto à temitica do
1,ovcriio. O primeiro dá a conhecer o teólogo, monge e professor universitário, nurii
iiii9iiiento particulameiiie decisivo da Refonna. Sozinho diante dai ninis altas auto- 20
iicl:iiles políticas do Sacro Inipério Komano-Geniiânico, na Assembléia Nacional
[ I )ii.i;i) de Woims (1521), Liitero enfrentou enorme pressão política e, baseado
iiiiicciiiiente na palavra de Deus, recusou-se a ceder e a se retrat;ir de sua pregasão
i.v:iiigtlica. Nos segundo e terceiro textos vemos Lutero como conselheiro teológico
<Ic p)vemanies em questôes políticas. No quinto texto aparece o professor universi- zi
i;íiiii que abordou uma importatite queslão política num debate acadêmico em nível
~.iciitílii.o.No quarto texto fala o fiel intérprete da Sagrada Escritura. Quanto no
u,iiiçúdo dos textos, destaca-se. iio piimeiro, terceiro e iliimto, o problema cios
Iiiiiiics do poder político em relaçâo a questões de fé. O terceiro e o quinto giram
i~\l~rcilicamente em tonio da questiio da legitimidade da resistência à autoridade 30
siilrrii~rcm casos de iminência de medidas violentas contra a pregação evangélica.
Nu sc,ciiiido texto Lutero expôs o p ~ c í p i o
em que se deve basear c) agir do governo.
No i~i~:irio desenvolveu sua imagem de um bom govemante crislão e de suas
iiii-iiiiiliiiici;is,atitudes e procedimentos.
31
J o a c h h H. Fisclier
Discuno de Lutero em Woms

Discurso do Dr. Martinho Lutero


Perante o Imperador Carlos e os Príncipes
na Assembléia de Worms - Quinta-feira
depois de Misericordias Dominil
1521

IS O texto que apresentamos a seguir documenta o momento crucial da história da


Reforma no ano de 1521. Lutero compareceu diante dai mais alias autoridades do
Sacro império Romano-Gemânico (Alemanha). Exigiram-ihe que se retratasse quan-
to a suas convicções de fé e afimaqões teológica que'questionaram a 1grej.d e a
teologia medievais. Esperavam podcr acomodar, desta maneira, a situação religiosa,
20 política e social, preservando a ordem tradicional. Mas o monge e professor de
Wittenberg, fundamentado no evangelho de Jesus Cristo e preso em sua consciência
a palavra de Deus, teve a coragem evangélica de ihes dizer Não. O presente texto
traz as palavras quc proferiu naquela hora decisiva.
Em 15 de junho de 1520 fora cxpcdida, em Roma, a bula Exsurge domins.
2s Nela, o papa Leão X (1475-1521, papa desdc 1513) condenou como heréticos 41
enunciados teológicos de Lutero. Estabeleceu um prazo de 60 dias após a publicaçZo
da bula para que Lutero se retratasse. Caso contrário, ele e seus adeptos seriam
declarados hereges notórios e obstiiiados. Em 10 de outubro daquele ano, a bula
chegou a Wittenberg. Em 10 de dezembro, ou seja, no exato fmal do prazo estabe-
30 lecido, Lutero a queimou em público, iuntamente com alguns exemplares do Direito

- 4 . .

datada de 3 de janiko de 1521.


u .

Em outubro de 1520, o jovem imperador Carlos V (1500-1558), eleito em 28 dc


3s junho de 1519, veio pela primeira vez para a Alemanha. Participou da Assembléia
Nacii~nal(Dieta) do Império, aberta em 27 de janeiro de 1521 na cidade de Worms.
Paitid.210~da igreia
- < . .oaoal tentaram levá-lo a decretar a ~roscricãode Lutero. logo
após a excomunhão deste. Mas simpatizantes da causa da Reforma insistiram em que

I Diciio B. Martuii Luthen coram Caesare Caro10 et piincipibus, Vo~rnaciefeni quinta JHRI
Miscricordia Do-. - WA 7,831,16-838.9. Tradução: Ilson Kayser.
2 As iiianileslaçóes oficiais da Cúria Romaria costumam scr citadas pelas primeiras palavi;ir
iIc scii texto latino. No caso da bula supracilada, as pdiivras são uma citaçáo da versáo I;iliii;i
ilii v. 22 do S;ilm<i74; sigiii1ii:;im: Livlmia-tc, Sciihoi [c defende a tua causal!
11 'li;t<luy;io:c'olx: ;s>l'r~iiiíliccI<~>iii;iiiii.
o refomador fosse ouvido antes de ser julgado. Por ocasião de sua eleiçáo, Caslos
V Iiavia se comprometido a não proscrevcr a ninguém sem ouvi-lo. Por urna carta
(1ç h de março de 1521 (provavelmente redatada) solicitou a prisçnça de Lutero em
Worins dentro de um prazo de 21 dias após o recebimento do coiivitc, soh a garantia
< l i iim salvo-conduto imperial. Lutero recebeu a carta ein Winenberg em 29 de s
iniru.ço. Em 2 de abril pastiu dali, numa carruagem. Chegou eni Wonns em 16 de
:ihril, pelas 10 horas da manhã, entusiasticaincnlc recebido pela multidâo.
No dia seguinte, 17 de abril, pelas 4 horas da tarde, Lutero coinpariceu perante
:I Asseinbléia Nacional. Como portii-voz do imperador atuou João von der Eck (ou:
Ilcken)" um fuiicionáno do arcebispo de Tréveris. Eck perguntou a Lutero, primii- iii

i-;iinente em latim, depois em alemão, sc reconheci;^ como sendo de sua autoria os


20 livros que estavam empilhados nuin banco, e se confumava seu conteúdo tia
íiitega ou se havia assuntos em que queria rclratlir-se. A pedido de um funcionjrio
< l i Frcderico 111, o Sábio (1463-1525), pniicipc-çlçitor da SaxônLa, forani Mos os
lítulos. Lutero respondeu, primeirarilente eiri alenião, dcpois cm latim. Confimiou 15

hiin autoria. Não quis precipitar-se num assunto tão importante. Foi-lhe concedido o
prazo de um dia.
Lutero preparou-se por escrito para a resposta que daria oralmenlc li» dia
seguinte. Existem ainda dois textos de sua pr6pria inâo: o fragniento de uin primciro
c~shoçode seu discurso, em alemão (WA 7,815), c a versZo latina do discurso, na 20

iiiiçgra, como de tito o apresentou, depois, perante a Asscinbléia (WA 7,833.1-835,19).


Na quinta-feira, 18 de abril, a niidiência comcçou soinentc pelas 6 horas da
t;irdc, devido ao atniso no debate de oiitros assuntos da ordcni do dia. A sala foi
iliiiiiinada por iochas. O porta-voz imperial repetiu as duas perguntas do dia anterior.
I .iiiero proferiu o discurso que havia preparado, primeiramente em alemáo, dcpois 25
i , i i i 1;iiim. O porta-voz replicou dizendo, ciiirc outras c«isas, que nao se queria nem
si. [podia discutir com ele sobre questões de fé. Solicitou uma resposta breve e clara
ii ~icrguiitase cstava disposto a ieh.atlir-se ou não. Lutcro dcu, entao, sua breve
ii.sl>ost;t final. Posterioriiiente, ele mesmo acrescentou ao texto dç scu discurso,
iii~~riicitado, uni bsevíssitno rcsumo das palavras do porta-voz (WA 7,835,20-837.2) 3u
r sii;i própria i-esposia final (WA 7,838,l-9), tudo igualmente em latim.
T)di> o texto (discurso, resumo, resposkl final) foi virias vezes copiado c
I I I I I I ~ C Houve
S X ) . edições publicadas em Wittcnbcrg, Hagenau, Estrashurgo e Augs-
I ~ I I I ~ : ~ )O
. tcxto foi também reproduzido dentro de um relato diialhido sobre o
t ~ti~i~~:~rcci~ den eLuteso
i i t o na Asseinbléia, em latim, de autor náo idcntiliçado5, 3s
~>~~l>lii.;iilo ern Estrasburgo e Hagcnau. O núncio apostólico Jerônimo Aleandro
I IISU 1547) tanibém incluiu o texto do discurso dc Luicro no relato que redigiu em
1.11 iiii". c11111 base em anotaqões feitas pelo portavoz Jodo von der Eck.

I N:icii<l<icm Tréveris, tomou-sç proiessi>id i Dircitn cm sua cidade natal, em 1506. Dcsdc
I'il?, ci:i iiticial do arcebispo. Faleceu em 1524.
' . \i.r;i i.1 m ge.ytae D M;uiini Lulhçri in Coiniliii Piincb~omVomatiae. 1521 = Au<lit.iiciac
Iciios 110 111. Maninho Lulero na Assembléia dos Prínciocs em Woms. 1521. - Oiltrii
I Discurso de Lutcro cm Wonns
Utna tradução iilernli d« texlo latino foi publicada em Erfurt (por isso chamada
de "tradu<iZ>de Erht"), Wittenberg, Leipzig e, numa versão em baixo-alemâo,
Halberst;uit. Outra tradução alemã foi feita por Jorge Espalatino (1484-1545), na
época secretário, conseiheko e pregador na corte de Frederico, o Sábio. Essa tradu-
r ção foi impressa, ou separadamente ou dentro de um relato sobre toda a audiência
de Lutero em Worms, em 17 edições, reimpiessócs ou coletâneas, publicadas eni
1 Estrasburgo, Hageiiau, Witieiiberg, Basiléia e Augsburgo, mais uma traduçlio para o
baixo-alcmão. Houve ainda traduções para as línglias tcheca e holandesa. Somente
no ano de 1521, o discurso de Lutero foi diviilgado em 33 edições, ao todo. Este
1 111 número elevado indica que os contempor,beos haviam percebido: aquela audiência
em Worms foi um momeiit« decisivo da histcíria.
Naquele momento delineava-sc a distinção clara entre Igreja e Estado, poder
espiritual e poder secular, I'&e polílica - a distinção, não a separação. Diante da
suprema instancia política do país, Lutero recusou-se a se retratar ein questões de fé
1s e teolr~gia.Apoiadc na consciência cristâ, enfrentou o poder político. Assim apontou
para os limites do poder político: este nlio tem nenhoma competêiicia em questões
de fé. Lutero demonstrou que não s i abandonam convicções de fé por causa de
pressões ou conveniêiicins politias. Mas sua posiçáo iião foi apolítica. Ao contrko;
justamente seti compromisso exclusivo com o Evangeliio teve o maior impacto
,, político. 9 an«s mais larde (1530). na Assembléia Nacional de Auguhurgo, os adeptos
c dcfcnsorcs da Reforma iniciada por L~iterocolocariam na frente de sua confissão
de fé, a C«nfissá» de Augsburgo, o leina: "'Tuinbém filarei dos tetis testemunhos na
presn~çacios reis, e iiáo rne envergoiiharei" (Salmo 119.46).
J«achim H. Fischer
25

i,,
JESUS.
Sereníssimo Senhor Imperador, Ilustríssimos Príncipes, Clementíssirnos
Senhores! E m obediência ao prazo qiie me fora fixado ontem noitc,
compareço pela misericórdia de Deus, suplicando que Vossa Sereníssima
'5 Majestade e Vossas Ilustríssimas Senhorias se dignem, assim espero, ouvir
com clctnência a esta causa da justiça e da verdade. E se por acaso, devido
a minha inexperiência, não tiver dado a alguém o devido título, ou, de alguiii
modo, pecar coiltra os costumes e maneiras palacianos, peço que me pcr-
duem benignamente. Pois náo sou homem habituado a cortes, mas aos retiros
tnonisticos. A rcspcito de mim mesmo nada posso dizer senzo que até itgorii
csçi-cvi e ensinei com mentalidade tão humilde que nada procurei senXo :i
~161-i;tde Deus e a siiicera instrução dos crentes e m Cristo.
Sei-criíssirrio lmpcrador, Ilustríssimos Príncipes! Quanto aos dois nriigos
qiic oiiieiii Vossa Slcrcriíssiin;il M!jcsladc inc aprcsciitou, oii s i ; \ , se coiili.sso
screm meus os livros mencionados e publicados em meu nome, e se insisto
ctn defender os mesmos ou se estou disposto a retratá-los, já dei minha
resposta pronta e clara com referência ao primeiro artigo, no qual continuo
persistindo e persistirei para todo o sempre: os livros são meus e foram
publicados em meu nome; a não ser que entrementes tivesse sido modificado s
iilgo pela astúcia ou sabedoria incompetente de meus opositores ou perver-
samente excluído. Pois não me confesso a nenhuma outra coisa senão àquilo
que for exclusivamente meu e de minha autoria, sem qualquer tentativa de
ititerpretação por quem quer que seja.
Como, porém, devo dar uma resposta ao segundo artigo, rogo a Vossa 111
S[ereníssima] Majestade e Vossas Senhorias se dignem atentar bem para o
ktto de meus livros n.20 serem todos do mesmo gênero.
Pois em vários deles tratei do valor da fé e dos costumes de forma tão
simples e evangélica, que também meus adversários têm que admitir que são
Citeis, inofensivos e de toda forma dignos de serem lidos pelos cristãos. 15
'Eimbém a bula7, embora no mais violenta e cmel, considera inofensivos
vil-iosde meus livros, ainda que os condene com uma sentença absolutameu-
ic contraditória. Por isso, se eu agora passasse a retratá-los, que outra coisa
isiiuia fazendo senão condenar, como único entre todos os mortais, a verda-
[lc que justamente amigos e inimigos confessam ao mesmo tempo, colocan- 211
ilo-ine eu sozinho em oposição à confissão concorde?
O outro gênero de meus livros são aqueles que investem contra o papado
i, os negócios dos papistas, bem como contra aqueles que devastaram o
iii~indocristão com suas doutrinas e péssimos cxeinplos ou outros vícios
t;ii]t« espirituais quanto corporais. Pois isso ninguém poderá negar nem u
iscotider, uma vez que a experiência de todos, bem como as queixas de
iiiiiitos são um testemunho de que pelas leis do papa e por doutrinas huma-
ii:is as consciências dos fiéis s2o miseravelmente enredadas, torturadas e
iii;iilirizadas. Também os bens e posses nesta outrora gloriosa Nação Alemã
Ii~r;iiiidevorados com incrível tirania, e ainda continuam sendo devorados 30
s(.iii li111e de modo revoltante. Isto que em seus próprios decretos e leis eles
iI<.tiiiiiiiiame prescrevem (como na distin. 9. e 25. q. 1. e 2,)"ue devem
1 (.iriisitierada~errôneas e condenáveis as leis e doutrinas do papa que
~ i Evangelho
~ ~ ~ i i I i ; i i - i : (i i~ ou a opUúáo dos santos pais. Se agora eu retratasse
i : i i i i l a ~ i i i o cstes, não estaia fazendo outra coisa senão defender o poder do 3s
I I I ; I I I O c nhrir não só as janelas, mas também as portas para tão grande
iiiil~icil;alc.e ela haveria de continuar a grassar de forma mais ampla e livre

i I<i.lcisi à bula Exsorgc Domine (v. a IntroduçZo).


H I<clcii-se ao Decretam Gratiani; distinção M e questóes 1 e 2 da causa 25. O "Decreto de
(;i;ici;iia>" 6 a ciileçio da legislaçáo eclesiástiçn fcita pelo monge çamddulensc itali;in<i
(:i;i<-i;iia,por volta dc 1140.
Discurso de Lutero em Wonns

do que jamais ousou; e por meio do testemunho dessa minha retratação o


regime de sua mais descarada e impune malvadeza se tornaria totalmente
insuportável para o miserável povo. E, não obstante, seria confirmado e
corroborado, ainda mais caso se propalasse que isso foi feito por mim sob a
autoridade de Vossa S[ere~ssimiJMajestade de todo o Império Romano.
Meu Deus, que grande manto da maldade e da tirania eu sena!
O terceiro gênero é aquele em que escrevi contra diversas pessoas
privadas e pariiculares (como se diz), por exemplo, contra aquelas que se
empenham em defender a tirania romana e arruinar a piedade ensinada por
mim. Confesso que contra as mesmas fui mais violento do que convém à
prática religiosa e condição de cristão. Pois não me julgo um santo, tampou-
co estou debatendo sobre minha vida, e, sim, a respeito do ensinamento de
Cristo. A esses livros também não posso retratar, pois dessa minha retratação
resultaria que a tirania c a impiedade reinariam sob meu patrocínio e grassa-
riam no povo de Deus de maneira bem mais violenta do que jamais reinaram.
Como, porém, sou um ser humano, e não Deus, não posso sustentar
meus escritos por nenhum outro argumento senão por meio daquele com que
meu Seiihor Jesus Cristo em pessoa sustentou seu próprio eiisinamento: ao
ser interrogado perante h á s acerca de sua doutrina e levar uma bofetada do
guarda, ele disse: "Se falei mal, dá-mc icsteinunho do mal" [Jo 18.22,23].
Se o próprio Senhor, sabendo que não podia errar, não se recusou a ouvir
um testemunho contra seu ensinamento, nem mesmo do mais vil servidor,
quanto mais um refugo como eu, que não é capaz de outra coisa senão errar,
não havciia de desejar e esperar que alguém me desse testemunho contra
meu ensinamento? Por isso, pela misericórdia de Deus, rogo a Vossa Majes-
tade e Ilusinssimos Senhores e a todos os demais, tanto ao maior quanto ao
menor, que me dê, se possível, o testemunho, mostre o erro, convencendo-
me através de citações dos profetas ou dos evangelhos. Pois terei a maior
disposição de retralar qualquer erro, caso me convencerem, e serei o primeiro
a atirar mcus livros no fogo.
Disso tudo suponho ler ficado evidente que refleti bastante e ponderei
suficientcmente o risco, o perigo ou paixões e dissensões que surgiram no
mundo por causa dc minha doutrina, do que fui advertido ontem com muiva
seriedade e determinação. Na verdade, para mim o aspecto mais feliz em
tiido isso é observar que, por causa da palavra divina, surgem paixões e
dissensões. Pois este é o curso, a trajetória e o resultado da palavra divina,
como diz: "Eu não vim para enviar a paz, mas, sim, a espada. Pois vim
separar o homem de seu pai, eic." [Mt 10.34s.). Por isso devemos consider2ir
quão admirável e tem'vel é nosso Deus em seus desígnios, para que não
aconteça que o que se faz sob o pretexto de acabar com as paixões, quan<lo
coineçamos pela condenação da palavra de Deus, acabe antes procovando
u ~ i dilíivio
i dc nialcs insiiposkávcis. Além disso, haveremos de cuidar para qiic
1 ;<,v11110

o govcino desse excelerite jovem Calos (iio qual depositaiiios


griiiidc esperança depois de DEIIS)não venha a ser infeliz, inauspicioso. Com
iiiiiitos exemplos da Escrii~ira,de fara6, do rei da Babilônia c dos reis de
Isrircl, eu poderia inostrar que eles se airuinarain principalmente no tempo
c111que se esforçaram para pacifiirz c fortalecer seus reinos com os mais
sdhiris conseihos. Porque ele próprio é quem riparlha os espertos em sua
-
1n"pria :istúcia e que subveiie montes antes que se déeiii conta disso. Por-
i;iiiio, carcceriios do tfmor de Deus. Não digo isso porque iiieu t.nsiiiamenio
1111 iniiha adriioesta~ãofossem necessáricis a tão preclaras cabeças, inas
porqiie não pude privar minl~aAlemadia de nxcu serviço. Coiii isso me [o
~~iicornendo humildeiiiente i Vossa Majestade e a Vossas Senhorias, rogando
iliic iiZo pen~iiiamquz, pelas paixóes de meus opositores, eu vedia cair em
Voss;i desgraça sem razão.
Tenho dito. i5

I )iio isso, o porta-voz do imp61io disse em lom de repreensão qiir eu não


i c . i i : i (l;ido uma resposta adequada e que nlao me caberia discutir o que
o i i i i i ) i i i Iiavia sido condeiiado e deiiiido em concflios. Por isso se estaria
. .
L ~ mim uma resposta simples e sem comos: se que~iarctrawme
~ . \ i l : i i i ~ ilc ou iiZo.
2"
A isso respondi:
Visto que Vossa S(ereiÚssinia] Majestade e Vossas Senhorias exigem
i11it.i ~~.sl~<i"a simples, quero dá-la scni cornos e sem dentesQdo seguinte
i i i < ~ i I i i :A iiâo ser que seja convencido por testemuiihos das Escriiliriis ou por
;ii~:iiiiiciiioevidciite'0 (pois não acredito nem no papa iieni ncis concílios ti
~~xi.liisiv;iinerite. visto que é certo que os mesmos errarani muitas vezes e se
t.oii(r;~disserama si niesmos) - estou vencido pelas Escritur.is por mim
:iiliiLi~liise ininha consciência está presa nas palavras de Deus - iião posso
iiCiii qiicro retram-ine de nada, porque agir contra a coiisci6iicia nâo é
~i-iiilciiiciiein íntegro. 30

Que Deus me ajude. Amém."

"1 \>tni>h" c "dcntcs" sán rtcursos té~nicosnos debatcs a~adêmicoscscoliiicos. "Sem


c t,iiii,\ i. <roi <Içi~ies"sigriiriça. aqui: siim ressalvas, incondicioiialmente.
i'.i!.t I iiicii>. i > "arg~in~ento svidentc" da ra~%o h u n ~ m anXu é um segundo critério ~ I Olado
~ 1 . i. ; . i j , i . i < l ; i I(sc~.ilt!r:l, inai iiiii rrcirso auxiliar na argumentação com 01 "k~iemuniii>sdtis
i'.,, ,,I\,,,V<".
II i..i.i i ~ I i i i i i . i It.i,;i. cbi5 cscrila aii líiigw :ilerni dentro do texto latino, n o qual nos hasenriios:
I;,VII Ii,.lli ttiii: A , > I L YDas ~ . foi>icsnmis mitigas (e, por conieguintc, mais pr6xunas ai.
.i* , , , i i , . i i i i c i i i , t i . . i ~ , r r ii~ni;i ; ~ npicseni;, n versSn: 1cl1 kan riichi andar, hie stehe Ich, Giz
li.,lil ~ ~ i i i \.i r v > i . i N i o pohso dc outro inodo. cá estou, que Deus l i a :ijude. A r n h i . A
i, i < .,i i . . i.,i,liici<(;i (Ilic sfchc irh. ich kao nichi zmden, GOIfizllf riiir, h , c n = Cá estou,
i . . . i~

i i . i r m 1 ~ c ~ ~ , (Ii. ~ . ~ , in i i i i < i i t i < r d < i . guc I>cus rnc ajude. Amém) sii sz enciinir;i cm c < i l c y k s
I ~ c , , . I ~ . u , , c ~ ~ r, \ c ~ t i <clc ~ s l,uIcr<~, Ai6 (1 csho(xj do ~liscurs,~,
<Ia n120 LI<> p~<'Il?!icl . ~ ~ i c r o ,
~ , ,> vi.~i:i<i iii:ii\
, ~ I . c~ t81.1 Iirrvc :i <irigiii;il, 1iii11;iiit<i.
5
Lutero a Câmara de Danzigl
Wittenberg, 5 (7?) de maio de 1525
I

INTRODUÇÁO
I0
Em 1525, o governo (Câniard ou Conselho) da cidadc de Danzigz dirigiu-se a
Lutero. pedindo que Ihes cnviasse um prcgador evang2lico. Penswam no pároco da
igreja niiitriz de Witlenberg, João Bugenhagenz. Mas a comunidade de W~ttenberg
não o libcrou. No lugar dele, Luter« mandou-llirs Migusl Hanlein4. Na carta que
i5 reproduzinios a seguir, recomendou-lhes o novo pregador. Aproveitou a oportunida-
de piua adverti-los contra os adeptos radicais da Reforma. aos quais caracterizou
como "espíritos entusiásticos". Nestc contexto abordou brevemente uma questiro de
importância ~~iiidamental p~raacompreensâoevangélica da tciiiática do governo secular.
Panindo da distinção entre os dois regimes (Rcg~nieiile)pelos quais Deus age
20 na histhias, Lutero at-mou que ass~~ntos profanos devem .;?.r resolvidos e regula-
inrntados pela autoridade secular (o govcrno civil). Ela é a ":iiitoiidade ordinária".
A ela cabe I;uiibi~iipiomover as altera$ões necessárias no ordein sóciu-poliiiça
existenre. Lutero teiiua que a ç k s espontâiieas do povo (do "honieiii coriiiiiii") pudessem

~ ~ ~~~- ~ . ~~~ ~ -~ ~-
u ..
2 Nwiic atual: Gdansk. A cidade periince hoje a P<ilótua.
3 loj,Por~uner(1485~1558).Natural dii Poinerânia, por isso :ilizlidado de Ponunrr ou Pomcr
(o Piiriicranul. Adenlo de Lutero desde muito ceda Foi rsnidar Teologia cm Wittenbe~i:c111
1521. pasraiidoa sc;pároco da igr+ matriz da cidade, em 1513. ç proiçssor da ~niversidadc
cm 1535. Intimo aniigo de Lutero, colaborou na traduçâo da Bíblia e loi seu conscIheIrr>c
coriiessor. Atuou, na prática, como bispo cvangélico, emhor;l sem ocupar fonnaheniile tal
cargo, ao promover a organiraç5r>da Igrcja EvangElica Luteraiit cm vdnas regii~sdo iioitç
da Alemanha (Braunschwcig 1528, Hainhurgo 1529, Liibeck 1531, Pomerâiiia 1534, Hol-
stein 1542. Rraunschwcig-Wolfenhüllcl 1543, I~Iiideshcini1544) e na Diriamaca (1537).
B!gcnhagcii é tiiinsiderado o criador da casa pastoral cvang6licu. pois ca~ou-sejaem 1522,
1rcs anos .1l11rS dc Lutero.
4 Miguçl Htrilri~i,que lambéni aparece nas fonies com o sobreiinme Miiris ou Meurer Natu~il
iIc Hairiicheii (Sns8iia), nioiigc cislcrciense quc aderiu à Rçfonna il<:sdr muito cedo. Si eili
1520 Lurero dirieiii-sc a elc por carta como Mchael MuBs. Ci,íreri.icn,serin Alizelli..
Aililiiii-iu o grau dr n~,y;ster(Meslrc) em Leipzig. Anieaçudo pela lnquisifo, transferiu-sc
['.".I Wille~ilxrgondc se lnahiculou em 1525. I'rofenu seu seniião dr ;ipresentnçáo cri1
I>:iii,ig n o ilia 4 <Ic ji~nliodc 1525 e já ein maio de 1526 abaidono" a ridiidr, si~h:I
(*.i-~i.gtii@i> <IçSigisrnundo 1, rci da Poi'olonii (1467-1418, rei desde 1506: o n M ~ rglã,-<linliir
i
tI:i I .iiii:iiii;i).visto qrie coiiskiva da lista dc proscritos d<i bispo de I*.\I;iii íi,i,nic 1piilocii.s:
Wl<icl;iwck).I'riiiicii:u~iciitç:issiciiiii~ o p;i;lora<locni R;i\leiili~irgc<Iclini\cinliikiiiclil Kiiiiigs
1x.i~.I<ili,<rilc i i i <Ic,,c~iil>lr> iIc 1537.
> 1 ' I . :I Illll<lllllv:i<l
:I (.\!C 111,1<0.
< ;c,virno
ii,\iiliar em anarquia. Ele foi democrático (por essim dizer) apenas no campo da fé
I
:to tifirniar a igualdade de todos e todas perante Deus em questoes de fé. No campo
<I:i política nâo existia o conceito de democracia segundo o qual todo o poder emwa
do povo e em seu nome é exercido.
Os "espíritos entusiásticos" afirmavam que a lei de Moisés (do Antigo Testa- s
iiiciito) vale, ao pé da letra, também para os cristãos. Ou entendiam o próprio
I lv;iiigçlh« como um conjunto de Icis para a vida da sociedade humana. Consequen-
i,.iiiciite concluíram que o mundo deveria ser g«vemad» segundo a lei de Moisks ou
scguiido o Evangelho, compreendido ao pé da letra. Lutero rejeitou tolalmenle esta
i.iiiiccpçZo. Numa folha anexa a sua caita fonnulou sua posição com prccisâo: "A io
1i.i cIc Moisés estj moita e totalmente invalidada, e, inclusive, foi dada apenas aos
jiiili~iis(...). O Evangelho, por sua vez, é lei espirilual, segundo a qual não se podc
i:ovi.riinr". Lutero chamava a lei cerimonial e civil do Antigo Testamento de "Có-
c l i j v ' ('ivil dos judeus", em analogia ao Código Civil da Saxônia, daí "der Juden
.S;,C~/~,\~~~i.vp;egeJ '. 1s
N:i liilha anexa à c m , Lutero cxemplificoii sua posição, significativamente,
i i i ~ i i i i i i~i~cstáo econômica, a dos emprCstimos a juros. Constatou, de saída, que "o
tii~lucdiiiilr> a juros é totalmente mti-evangélico". Mas nem por isso o governo civil
I ~ < I I I :il,olir ~ dç vez, pr~rdecreto, todo « sistema de juros. Não pode transformar o
c - i i i i r i , . i ; i i l < i cv:mgélico cm lei estatal. Tein que agir polilicamenlc, de acordo coin os 20
1~1itii11~os <I:i Içi natural, do "bom senso natural". Só a partir deste "niestrc e
c I i i ~ ~ i ~ i / 11c~lc " haver um governo bom e justo, seja nesia questáo dos juros ou em
t>iii~;i:; i~iicsiôesconcementes à vida n;i sociedade.
A iI;ii;i iiidicada na carta e na folha anexa apresenta dificuldades. Em 5 de maio
i..i.ii;i kii-I :intes do domingo Jubilate), Lulero ericontrava-se ainda numa viagem. 2s
I:iri111c~ico sc tem certeza sc conseguiu escrever o tcxto no domingo Jubilate, 7 de
~ii:iii,.i i i i i (lia após ler voltado da viagem. NZo há c«mo eliminar totalmente esta
<Iiivi<l:i.OS ol.iginais de Lutero provavelmente foram entregues, em 1526, ao rei
Sij'i~iiiiiiirlo,d;i Polônia, e se perderam. Existe uma cópia manuscrita e uma edição
iitil~ww:~. Nclas se baseia a repr«dução na edição de Weunar das obra de Lutero iii

( WAi. 1x1ssua vez a base da traduç5o que s e y c .

Joachim H. Fischer

1I I r iiifrriii6dio de Cristo, nosso Salvador! Honoráveis,


,..I~!Io,. C, ~...iit~i.iil~t:. si~iiliiiiisc ;iinigos! Ante a solicitaçáo escrita dos senho- ,,
1, ,.. ~ i t i l ~ , . ~ ~ 111,. l i ~ .i.111
i i.iivi:ir Ilics um pregador adequado. Entretanto, não foi
~ D , ~ , , , . I V < ' I i , - ~ I c . I 1lii.r. ( I :x.iiIi<>i .Io;io Pommefl, mencionado e solicitado pelos
confundi-los. O regimc evangélico o pregador deve adnllriismr somente com
a boca. dekcmdo a cada qual sua vontade neste aspecto; quem o aceitar, que
u faça; queiii 1iBo quiser, deixe-o. Para dar uni exemplo: o empréstimo a
juros é totdn~enteanti-evangélico, uma vez qiie CI-istoensina: "Dai empres-
tado sem tomar de volta!" [Lc 6.351. Neste poiiio não se deve avançat. e s
:icabar com todo e qualquer desvio do Evangelho. Ninguém tampouco teria
iiutoridade para tal, urna vez que tal desvio deriva da ordem humana, a qual
S. Pedro nXo quer ver rompida. Muito antes, deve-se pregar essa matéria e
Ixigar os juros a quem de direito, não vindo ao caso se [os credores] queiram
cspontaneaincnte aceitar o Evangelho, desistindo da renda, ou não. Mais do io
qiLe isso r i o se pode insistir com eles. Isso porque o Evangelho exige
corações dispostos. uiipclidos pelo Espírito de Deus. Ao invés, deve-se
rocede der da seguinte f»rrria no que tange aos juros: na rncdida ein que forem
(.xccssivos, corrijarii-se as iionnas, a leis e os costumes respectivos segundo
< B Iiom senso, que se tem chariido de epieikeia", ou aequiias. Pois todas 21s 15

Iris e pi-bticas devein estar subordinadas ao bom scnso natural, que é seu
iiicstrc e direiii~.Caso, então, se queira acaba coiii as taxaqoes, não se pode
;iv:iii$cir e aboli-las todas de uma vez. Pois poderia ser que alguém ernpres-
i:issi. i i i i l flori~ispor três anos e não tomasse sequcr duzentos florins de juros;
c.ssi. scria prejudicado c seria unia privaçiio descabida, e o tomador de 211
c~iiilwCstirnoseria excessivamente beneficiado, sem qualqucr justificativa. Da
iii<~siii:itbrina também não se deve descontar os juros do capital. Para que
Ii;ivci-i;i eu de cedcr mil florins e deixar que fossem diminuídos crn ciiiqücnta
:i i.;iiI:i ano, como se eu fosse uma criança'? Antes eu pr-eferiria ficar com o
iliiiliciro e usar eu prcíprio cinqüenta florins do mesmo (1 cada ano! Tudo isso 2s
ii;io tctn cabimento e e tun Evangelho imposto. Pois o Evmgeiho certamente
~.iisiii;iahru mão voluntcii-iamente de todos os bens, liias quem me impõe
s~~iiiclliante prática está tí;uido o que é meu. Caso h ~ j aiiiiriiçiío de dar
~~iii;iiiiiiili;iinento justo h quesrão dos jiiros, pode-se fuê-lo dc duas maneh-as.
A ~ ~ i t i i r i ii.- ; ~regulamentá-los segundo as Icis liumanas, ou seja, que se ~~~
l ~ ; i j 7 , i i ~ . iviiico
ii Iloriiis para a utilização de ceiii durante um ano, assumindo
i i i i i ii5i.11 ~ ~ , l icinco ) s florins, isto é, mediante deiennhado pcnhor que corre
t <.i 10 i i i i i r : <.i)iiio I:ivouras, pastagens, açudes, casas, que, caso não rendam,
' ~ Ii Ic ~ i i t I : i i i i I M I I I C O c111um ano, também o juro se reduza na mesma medida,
t < t i i l c ~ ~ i i i( I~ - i I ~ ~ i i . i i i i i i i ; io direito natural. Isto deveria ser reconhecido pela 35

L ; . i i t - i . i \ ~ . l i ';iiii;ii:i i111 ~ o gente r sensata. A outra maneira é fazer distinção

'1 i i i a . iliiilt, , ,,~,,I,,~.i


. J I I . M C . < L. clil;is viies iiii Nr>v<iTcslaniçiii<i:Ai 1J.dc 2 Co 10.1 . Aliiicida
ii.iw11i ,m i, i t i i s t t i i i !\i 1x1, "rlciiii.iiçi;i", ;ii cxcnipl<t da Vii1g:ii:i. cliq~i:iril<i ;i tiíhli:t rlç
1, i i i i1, i i ~ 1"' I t i c " I ~ ~ ~ i ~ ~ r < i l i i i i iciri
:i": ? ('c,, Alirici<l:i iciti "lxiii~iiiil.alc", :i Vi!lc:il:, iis:i
iii.e.1, .,ir , .i 1 l i l i l i . i , l i - Ii.iii\.iIc.iii. "li<iiiil;i<lr". I .iiici<i iivi l i . i i i i < t ii:i ;iccli(;iii (li. IlilligAiii
I, .1r,,!.,.. i 118 1,111111 1 ~ ) 1 1 , 1 1 1 1 1 1 11<> \ ~ . t t l i < l c ) LI,. , ~ L ~ \ I L > . i h ~ ~ l ~ ~ l ~~ i. ~i t~ l~ . ~ i l i l > ~ , ~ c l c ~ .
Lucero i Chiam de Danrig
cntre pessoas e situa~óes,procedeiido da seguinte maneira com o consenti-
mento dos eiivolvidos: se o credor é uma pessoa de posses, tendo tido renda
por muito tempo. eiiiabular negociações no sentido de ela permitir que uma
parte do juro reccbido seja deduzida do principal; mas caso se trate de uma
i pessoa dc idade avan~adac sem posses, que não se lhe tire o sustento
transformando-a nuin mendigo, mas lhe conceda os juros enquanto viva em
sua condição humilde, conforme o ensina o amor e o bom senso natural.
Resumindo: para se proceder desta forma neste tocante não se pode prescre-
ver leis, mas tudo depende da pessoa em questão, a qual dcve ser suportada
lu segundo o amor, o boni senso c o discertiimento de pessoas ao invés de
arruiná-la, caso contrário reinaria iiljustiça por toda parle, caso se fosse tratá-
Ias com rigor. No mais. ceillunente seus pregadores ihes dar3o a devida
orientação. Wilteiihcrg. Data: Sexta-feiraanteriorao domingo dc Jubilate de 1525.
Um Conselho do Doutor Martinho Lutero
se é perniitido resistir com razão ao imperador
se ele quer usar de violência contra alguém
por causa do Evangelho.'
6 de março de 1530

INTR~DUÇAO
A Assembléia Nacional de Woms (1521)2foi encemda em 25 de maio de 1521. is
No ilia seguinte foi expedido pelo iinpcrador Carlos V, com data de 8 de maio, um
"lii;iiidado" contra Lutero, o Edito de Woms. Como protetor da Igreja, o imperador
~>~<.Irii<lia executar, em nível secular, a excoinnnhão de Lutero, decretada pela Cúria
l<i,~ii:iii;iem 3 de janeiro de 1521, a fim de erradicar a heresia deste. O Edito ordenou
c ~ i i ' ' I .iiiero fosse detido por queni o encontrasse, e entregue ao imperador. Proibiu a zii
iIiviil~!;i$io e leitura (!) dos escritos de Lutero. Prescreveu a censura episcopal prévia
I ~ ; I ~ lo<l;is
;I as publicações referentes a questões de fé. Previu a q k s punitivas também
< < i r i i i ; i iis que aderissem a Lutero e o apoiassem. O Mito visava, pois, urna açáo
~ . o i l . i ~ i i i i ; <Ic
i Estado e Igreja, com base iia legislaqão mediev;il contra heresias.
I)iii:uite um decênio, aproximadamente, o Edito de Worms foi um dos mais zi
ItiilnIr1;intes instrumentos pelos qnais o imperador e os paitidirios da Igreja papal
ii.iil;iiriin acabar com a Refoma. Na prática, uma série de fatores impediu sua
;iltlic:i<;ão. Pelo antagonismo das forças envolvidas e a multiplicidade dc interesses
riii jogo, a história daqueles anos tomou-se um processo cheio de tensões, sobretudo
;111~is a Gucrra dos Camponeses (1524/25)3. Ambos os lados org;inizaram suas alian- 30
y;is político-militares. Em 1526, a I" Assembléia Nacional de Espira deixou aos
}:~~vunantes dos territórios alemães a responsiibilidade de executar ou nZo o Edito.
l is1;i dccisZo s i g ~ f i c a v a suspensão do Edito nos territórios evangélicos. Possibilitou
;I org:iiiização da Igreja Evangélica nos mesmos e a adesuo de outros territórios ao
iiioviiiicnto. 35
O lado católico não parou de pensar em medidas mais eficientes conh-a a
Ilcliiriiia. Nem excluiu uma ação militar para restawar a situação anterior. O lado
i~v:iiigdico,por sua vez, discutiu repetidas vezes a pergunta como deveria reagir a
1;iI ~I:ICIIIC. F~xleritimdefender-se também com meios militares, inclusive contra o

I Ilii l::it\iliI:i!: Ih~iti~ris M:,ilirii Lurlieii, ob dem Kaiser, so o ,jemmd mit Gewalr des
I~i.ir~~:,~liiriiiv Ii:,llr.ii ril*.,iicIi~.iiwolltr. mil Rechl Wider.stand gcschehen miige - WA Rr
'L''!X !(,I . O'' I \o. ' l i : ~ , l ~ ~MIIcr ~ ; ~ oO.
: ,Schl~~pp.
' I 'I i 8 I c i i r ~ ~ ~ l i i ;i<>~ . i <~ u~ i ! i i < ' i i i , t<:xio<IcstcIilrico, neslc voliliric, p. 121ss.
( 1 'I t,,. 1 ~ ~ 1 x I.I Vi I V , , I<.XIIIS IICSIC VOIIIIIIC. 11. 271~401.
Se C Pennitido Rcsisiir ao Imoerador
imperador? Houve até quem propusesse uma defesa ofensiva dos evangélicos, ou
seja, uma guera preventiva contra os católicos.
Lutero rejeitou terminantemente esta possibilidade como sendo rebeliao, com
conseqüências imprevisíveis para o país inteiro. Desaprovou até qualquer resistência
5 amada ao imperador. Para ele, o objetivo supremo dos evangélicos devia ser a
preservação da paz. Suas reflexões teológicas ein tomo desta questão constituem uma
paite importante de sua ética política.
Em 1529, a polarização das f o r ç a aumentou corisideravelmente. A 2' Assem-
bléia Nacional de Espira (inarço/abril) revogou a tolerância concedida aos evangéli-
i11 cos três anos antes. Revalidou o Edito de Woiins. A minoria evangélica protestou
corilia a dccisZo. Desic protesto (em latim: piotestati«) origina-se o nome de "pro-
testantes" para os partidinos da Reforma. Mas o protesto nâo afastou o perigo de
um contlito miliix. Ao contrário. O imoerador Carlos V veio novamente vara a
Alemanha, pela primeira vez dcsde a Ássembl6ia Nacional de Worms. ~ k t e n d i a
ii resolver tainbCin o conflito relieioso.
u ,
na Asseinhléia Nacional orevista nara o ano de
1530 na cidadc de Augsburgo. De novo os protestantes esiavam confrontados com o
problema da defesa militar contra o imperador. As opiniües dos teólogos divergiam.
Os políticos tampuuco tinham certeza. Em 27 de janeiro dc 1530, o príncipe-eleitor
da Saxonia, JoZo4, solicitou mais uma vez um parecer dos teólogos de WinenbergS.
lu Lutero consultou setis colaboradores e amigos Justo Jonash, João Bugenhagen7 e
Filipe Milanchthon8. Respondeu ao príncipc-eleitoi- ern 6 de março de 1530. Trata-
se, exprcssarncnte, de um parecer teológico, não plítico nem jurídico. Segundo
Lutero, o Novo Testamento proíbe a dcsobediencia ao imperador, mesmo se este
praticar injustiça: "o cristão deve (...) suportar a violEocia e a injustiça, particular-

4 João (1468-1532), apelidado "o Con~tank", irn~áo,co-rcgentc (desdc 1486) e sucessor


(deide 1525) de Frederico iíI, o Sibio (1467-1525).
5 Carta do príncipe-cleitor a Lutcro: WA Br 5,223s.
h Justo Junm (1493-1555),jurista e tcólogo liumanista. Seus conhecimentos jurídicos fornin
muito iinporlantcs para a fomulaçáo de diversas constituifks eclesiásticas e paece~cs.
Introduziu a Reforma na cidadc de H d e (Saale), onde atuou como superintcndenle de 1541
a 1547. Foi destituído em conseqiiência das medidas recatolizantes após a derrota dos
prnteslantes na Guena de Esrnalcalde. Nos últimos anos de sua vida passou por vários lugares.
7 f i o Bugenhagen (1485-1558),natural da Pomerânia, por isso chamado também de Ponuncr
oil Pomcr (i> Pomcrano), adept de Lutero dcsde iniiito ccdo. Foi estudar Teologia cin
Wittenkre cm 1521. oussando a ser ~árocoda imeia matnz da cidadc, ein 1523, douir~rc111
I:.i..,!i., :.ii li::. :pr d:.w>i i i . 8 i i i i i , . r\i.l.l.l: :i11 1.35. l i i ' i t i i < .,itiip.' I. Lu::ri>, ..,ltl>.,r,8i.
I, i 11 i Iii,,i.>,I., Ili1ili.i . i.,, w i i :.ni.:lli. L, Ir., ..,liir.\.. r. '11.3 l i i / i u .I l ~ . l ~.I',l ~Iii1:rt
.~ .I., i1i.i
;ilcrn.io para o baixo-alcmão. É considerado o fundador da casa pastoral evangélica, . pois
c:is<iu.-sejá em 1522, três anos antes de Lutero. Autor dz diversas constituiçks eclesiástiç;is,
iiiclusivi na Diiianiaca (1537). Ci. acima p. 127, n. 3.
S I~i/i,iiMckaiclithon (1497-1560),hurnanista, desdc 1518 professor de Grego wa Univcrsiil;~~lc
<I<. Wiiicnlxi-g; lecio>?<iutamliéin 'iiologiia c mmniCrias afins. Foi um dos colitboradr~rcsiii;iis
iiilitti<,s rlc I.i~tcrn. I< o ;tutor da "Confissáo dc Au~shurei~" L , u , , . -
(1530) e de sua Amili>ci;i
(i.l:tlii,i:al;iciii 1510. iiiipnss;i pcl;i priincirii vçz cm fins de ;ihnl/iníciii dç ni;iio dc 15:11).
I,o(.i C.<IIIIIIII,,,L..V.
l i l : ~ l x > r < I:III~IX.III
>~t i! pl.in,cil-t IcoI~gi:~ sislç~niiiçiiliutctiitlit (I'c<li~áo: 1521:
iiiciite de sua autoridade superior". Resistência m a d a seria rebeliio e resu1l;iria cm
ciios p«lítico e enorme sofrimento e miséria ("tumulto e discórdia") para o povo.
1':ii.a detender, presesvar e divulgar o Evangeiho, jamais se pode nem sc deve confiar
ciii poderes políticos e militares, mas unicamente no poder de Dcus e de sua palavra.
O parecer de Lutero, bem como outro de Melanchihou sobre o mesmo assunto s
li,i-;iiuinicialmente guardados sob sigilo. O de Lutero foi publicado pela primeira vez
11clolado catí>iico,numa coletânea editada no inicio de 1531 em Dresden por Joáo
('iícleoy.Foi republicado em 1546, em Lcipzig, Numberg e Berlim, na época em que
conflito armado reahncnte eclodiu (Guerra de Esinalcalde, 1546/47), e, em data
iiio indicada, em Dresden. O original de Lutero foi reproduzido numa publicação de io
1802. Há diversas cópias em arquivos históricos da Alemanha. A seguir aprescnei-
iiios a traduçáo do texto da edição de Weimar (WA).
Joachim H. Fischer

( ;sac;a e paz cm Cristo! Sereníssimo, nustríssimo, Benevolente Senhor! ir>


'iiiii rclcrência 2 Vossa benévola solicitação pfin~ipesca'~ sobre a questão se
c . <.;il~ívcl defender-se contra Sua Majeslade, caso ela queira usar da violência
~ i i i i 1 1 ; ialguém por causa do Evangelho, etc., consultei e deliberei com meus
111v~;i<iossenhores e amigos Dr. Jonas, Joáo Pomer c mestre Filipc".
('oiistatamos que, segundo direito imperial ou secular, ceitas pessoas zi
iiilvcz poderiam concluir que num caso desses se podcria resistir a Sua
M;!icsladc, o únperador, particularmente pela razão dc que Sua Majestade, o
iiiipci'ador, se comprometeu e jurou a ninguém atacar pela força, mas deixar
rili toda a liberdade anterior, etc., como os juristas tratam, por exemplo, a
rcsl>cit» das reprcsáiias e da inconfidência. 3u
Mas, segundo a Escritura, de forma alguma convém quc alguém (quc
i~i~cir;i scr cristão) resista à sua autoridade superior, não vindo ao caso se csta
~)iuccdcjusta ou injushmente; o cristão dcve, muito antcs, suportar a violên-

(1479-1552),natural de Wendelstein (essa palavra


'1 .k>:ir, I><~lrricck significaalgo assim como
"iricli;~ riii dc caracol"), por isso chamado de Cócleo (Cochiau.~,da palavra latina
li,riri;i
c<x.lili.:r - I . Ilumanista e leólogo, amou em Nürnberg, Roma, Fra&ürt/Meno,
Mit>:iiiiii:,. Mi,ivscli c Rrcslm, onde faleceu. Como humanista, inicidlmente sirnpalizav;~
i i ~ iI i.itii.i<i. I Ji~lxtisiomou-se um de seus grdndes ailvcrs~os. Na Assernhléia Nacioixil dc
Aii~:.liiiij:i, (15 itl) :(iiiclou a icdigir a (bnlutagáo (cat6lica) da Cnnfissâi~dc Augshiirgo, CIOS
Iiiic-i;iiiav. ( V . i< I~~ix~Iiq;L<> i t úItiini>
~ tcnlo dcste bloco, p. 214s.).
l i 1 i 'I .i< i,,,;,1'. l.i.3. i,. 5 .
I1 i I .i, ,,i,;, I'. 13.3. c,. h, 7 c 8.
Sc é Permitido Resistir ao Imperador
cia e a injustiça, paiíiculmente da parte de sua autoridade superior. Pois
mesmo que Sua Majestade proceda injustamente e transgida sua obrigaçxo
e juramento, isto não anula sua autoridade imperial e a obediência de seus
súditos, enquanto o império c os príncipes-eleitores o considerarem impera-
s dor e nZo o destituírem. Afinal de contas, o imperador ou o príncipe que agir
contra todos os mandamentos de Deus não deixa de ser imperador e príncipe,
tendo para com Deus obrigaçáo e juramento muito mais elevados do que
para com as pessoas humanas. Se fosse permitido resistir à Majestade impe-
rial quando ela agisse injustamente, então se poderia fazer-lhe oposição todas
10 as vezes que ela proceder contra Deus; dcsta forma não restana, certamente,
autoridade nem obediência alguma no mundo, porque qualquer súdito pode-
ria alegar este pretexto de que sua autoridade superior estaria praticando
injustiça contra Deus.
Nisso os direitos seculares ou papais não levam em consideração que a
15 autoridade superior é ordenamento divino, r'uão por que eles talvez valori-
zem Lanto a obrigaçâo e o juramento, que raramente impedem e coíbem a
autoridade num caso desses. Mas como o imperador permanece imperador,
e o príncipe, príncipe, mesmo que transgrida iodos os mandamentos de Deus,
inclusive mesmo que seja um pagão, cntZo que o seja, ainda que não cumpra
seu juramento e sua obrigação, até que seja destituído ou deixe de ser
imperador. As palavras de Cristo devem permanecer fumes: "Dai a César o
que é de César" [Mt 22.211, e 1 Pe 2.17: "Respeitai o rei", pois devemos
sujeitar-nos com todo temor náo só aos senhores benignos e probos, mas
também aos malignos e pemersos. Ein resumo: o pecado nâo anula a auto-
n ridade nem a obediência, mas a puniçso as anula, isto é, se o império e os
príncipes-eleitores destituíssem unanimemente o imperador, de modo que
deixasse de sê-10. Caso contrário, enquanto ele permanecer impune e conti-
nuar imperador, ninguém deve negar-lhe obediência ou opor-se a ele. Pois
isto é rebelião, é começar o tuinulto e a discórdia.
1 1 Por isso de nada adiantam aqui esses preceitos jurídicos como vim vi
repellerc 11cet - é permitido combater a violência pela violência. Pois eles
não se aplicam contra a autoridade superior, não vigoram nem mesmo contra
iguais, cxceto quando o exige a dcfesa própria ou a proteção dos outros ou
dos súditos. Pois a isso se opõem também outros preceitos jurídicos: nin-
guém deve ser juiz em causa própria; ou: quem revida, está fora da lei. Os
súditos de todos os príncipes são também súditos do imperador, mais até quc
dos príncipes, e não tem cabimento que alguém queira defender à força os
súditos do imperador contra o imperador, seu senhor, assim como nZo
convém que o burgomestre de Torgau queira proteger à força os cidddzos
1 corilr;i o príncipe da Saxônia, etc., enquanto este for príucipe da Saxonia.
ri caso alguém alcg;isse que o imperador não aceitaria a apelavão, nçiii
csl;iri:i (lisposlo ;i coiicc(1cr ;i~idiCnciaiicsta questão c tratá-la dciitrc (I;!
ordern, [isso de nada adianta]. Eu parto do princípio de que Sua Majestade
Imperial acatará a apelação e mandará o assunto passar por uma audiência
dentro da ordem. Como ficaria então se fôssemos condenados mesmo assim
por vercdito injusto (como com certeza aconteceria)? Neste caso tal recurso
teria sido em vão, a não ser que apelássemos novamente e por toda a 5
eternidade. Pois o imperador sabe muito bem, e nós também o sabemos
peIfeitamcnte, que, se a questão fosse tratada, nós, com certeza, seríamos
condenados, por isso ele já nos considera condenados.
Que fazer então?
Devc-se fazer o seguiiltc: se Sua Majestade Imperial estiver contra nós,
que nenhum príncipe ou senhor nos proteja contra ela, mas deixe o país e o
povo abertos para o imperador, uma vez que são dele, e encomende a causa
;i Dcus. E ninguém deve pedir outra coisa do seu príncipe ou senhor. Cada
qual deve cntão responsabilizar-se por si próprio e preservar sua fé, ofcre-
cetido seu corpo e sua vida, e nâio colocar ein perigo também seu príncipc 1s
011 onerá-lo com pedido de proteção. Antes deve deixar o imperador fazer
c11111 os seus o que quiser, enquanto Iàr imperador.
Mas uma vez abertos ao imperador o país e o povo, se ele então ainda
i~iliscrforyar os príncipes a atacar seus súditos por causa do Evangelho,
~~i'iider, maear c cxpulsá-los, e os príncipes acreditam ou sabcm que assim 211
1 1 iiiil>cradorestá agindo injuslamente e contra Deus, então isso também afeta
sii:i [~iópnafé. Então não devem obedecer ao imperador, não devem concor-
iI;ir. colaborar e tomar-se cúmplices de tal crime, mas basta que deixem o
11:iísc o povo desprotcgidos e não impeçam o imperador, e devem dizer: se
11 iiiipcrador quer atormentar nossos súditos, enquanto também seus, que o a
,:i.$.i., em responsabilidade própria, não podemos impedi-lo; mas nós não
i~iicrcinoscolaborar nem concordamos, pois é preciso obedecer mais a Deus
i10 i~iic i s pessoas humanas.
I'oi- ora assumimos esta postura e assim encomendamos a causa a Dcus,
i t i ; i i i i I i ~ com toda a confiança e assumindo este risco mercê dele; ele então 30

:.i.i;i lirl c iiZo nos deixará, certamente também encontrará meios de nos
.11i111;1i r (Ir preservar sua palavra, como fez desde os primórdios da cristan-
c l . i a l ~ . i. ~wiiicil>;iltnente na época de Cristo e dos apóstolos. Por isso, para
i ~ i i i i i , C. ~ o l i r i - : i r11 carro tia frente dos bois quando se resiste à autoridade
. i l l l l l < l l l ) l 11:ii:i ~l<lI+i~dçr o Evangelho. Com certeza, é uma fé bem distorcida, an
I II:IO . i c i ~ ~ i l i i que:i Deus, sem nosso entendimento e poder, sem dúvida
t t ~ i i l i c . t C . ~ ~ I I I I ;iii:iii(:iras
IS de proteger c ajudar. Deus preservou o rei J e ~ o n i a s ' ~
C ~ I I , I I I ~ <.,.I<.~O l i i i i i ii;i palavra de Deus, mesmo por meio do seu inimigo, o
I I I I ~ I ~ I . I ~ I OcI:iI I!:iljili~iii;i; o mesmovale tambémparaoprofeta Jeremias, pois sua

I ' I, ctii~.t.., <IcJiiikí.


~ . i ~ i . i i ~ i i ~ i l c . l ~ r i~wiiiilliiric>iii
~~iiirii, ('I: 1 ('r3. 10; 2 Rc:>5.?7 i l l : I i S ? I1 (1
Se é Pcniiitido Resistir ao Immradui
sabedoria e seu poder não conhecem número nem fim. Isso ele nos quer
ensinar e fazer experimentar por meio desses grandes perigos, como ele até
aqui nos fez vcr e experimentar muitas vezes. Por isso diz em Isaías 30.15s.:
"se \,os deixardes estar em paz, sereis salvos; ficar no aquietado e csperar
r vos tomaria fortes. E vós não q~iisestes;antes dissestes: não, fugireriios sobre
cavalos. Por isso mesmo sereis fugilivos", etc.
Portanto também é preciso considerar o seguiiiie: se fosse legítimo
resistir assim ao iinpcrador, e se fosse cabível, teríamos que ir em frente e
cxpulsar o imperador para sermos imperadores nós prríprios. Pois o impera-
10 dor se defenderia, e não haveria como parar, até que uin lado sucumba, e é
d o Iado de lá quc csti o grande iiúinero. E mesmo que vencêssemos,
icnaiiios quc derrotar ainda aqueles quc nos tivesserii ajudado, pois iúnçuém
nos quereria por imperadores e rium caos destes cada qual quereria ser
imperador. Que indizível matança r calamidade resultaria, que um pnncipe
15 antes deveria perder três principados c mesmo estar três vezes morto, do que
ser a causa de senielhantc calamidade ou contribuir ou concordar com ela.
Pois como poderia uma consciência suporlá-lo? O diabo bem que gostaiia de
uni jogo desses, Deus queira yardar-lios disso e auxi1i;u.-nos clemcnte-
mente. Aniérii.
2,) Tudo isso daiiios a Vossa MercP Principesca coiiio rcsposta e aprsseiita-
mos submissos a vossa considerac;âo. Cristo nosso Scnlior dê a Vossa 1\/Iercê
Principesca vigor e sabedoria para fazer o que vos aprouver, Amém. 6 de
março de 1530.

V. M. P. E.13
submisso
Martinho Lutein
Salmo 101
Interpretado por Dr. Martinhu Lutero1
1534135

No entciider de Lutero, o Salmo 101 é um dos principais textos bíblicos refe-


rentes ao tema "governo". O reformad(ir ;itribuiu sua autoria ii Davi, rei de Judi e
Israel (2 Sm 2.4; 5.3,s). M i a que estc se apresentii, neste saliiio. conio governante ir
cxciiiplnr. Na versão 1iitcmi;i da Bíblia, o salino tem. até hoje, o título "Espelho para
sovemantei"?. Nd traduçáo portuguesa de João Ferreira de Alrnciila sst5 uititul;ido
"Moclelo dc iini hom rei". Uiiin e d i ~ i nbrasileira d;i Bíhli~i.de 1982. com tradu@o
efetuada sob os :iuspícios da Liga de Estudos Bíblicos, coloca o tíhilo "Propósitos
[Ic um bom príncipe". Segundo Lulcro. Davi mosira nesta cmçZo como um hom :u
~:i>vçmantedeve comportar-se e agir iio exercício de suas funçoes. O salmo tem ri
liiralidade de instruir "especialmente xs pcssoas em posiç0cs elevadas".
Ao interpretar 0 salmo, Lutero visa a governz~iitescrisláos. Na eueçese dos v .
2 ~ explic;]
3 ris uiciimEiicias que o go\'eniaritv cristzo tem. na i~ii;ilid;idede crisiki,
ciii relaq5o iio reino de Crisi« c Ii f6. Na exegrbc ikis v. 5 8 abonla ;I\ incuirihenci;i\ 25
que Uie cabcrii, tia qualidade dc goverriante. eiii iclaçiio ao reiiio i10 mundo e r10s
:issuntos profanos. O escrito é cxaclcriaido por hist»riadores de iiosso tcmpo conio
iiin;i das manifestii$<?esmais importzmtes e porideradas de Lutero sobre política.
Ein 16 de agosto de 1532 falecera o pnncipe-eleitor JoZo, o Constante, da
S;ixÔnia. Sucedeu-lhe no w g o o filho, JoZo Frederico 1, o Mtignâr~inio'. Lutero o 30
coilhecia havia anos. Dcdicara-lhe. eiii 1521. a explicação do hlrrpnitici~r,o cântico
IIL. Maria (Lc 1.4h~55)4.Recoiiheceu suas viitiides, sobrerudo sii:i cdpacidade de
ii:iliallio c seii engajaineiito pela pregação do Eviuigeho c pelo proteslaiitismo. Por
<iiiiro lado, iião ignorou alguns traços na personalidade do príncipe que não llie
:igradaram, priricipalmente sua tehosia e inclinaçZo aos prazcres da mesa. Viu corri 15
clareza as tentiiçnes e os perigos da vida na corte. Wvez tenha sido motivado a
clnbc)rar o presente texto nZ« apeiilis pela mudança de governo, mas tzuiibém pelas
ihservações que 1p6de fazer eni s~i:is vidtas a corte.
Lutero dcve Icr comeqado a sc ocupa corii a elabora$ão do texto já em 1533.
l i ~ i s t cainda um ktgiiiento de seu maniiscrito'. Pcla interpreta~áodo salmo quis a,

I I*.,- CI I'saliii durch D. Mar Llith. nlrsgeIc.$. - WA 51.200-26J. Traduqão: Uson K w o :


;ilciii;ii>:Re~?nren,~piegd
!l i l l i
i S<,hrv o\ doir príncipes cf. ;i Introdiiçãu ;to prrxiitc bloco <teescrit<is. ti. 110.
I i 'i. iicsic voluin~..I>. 20-78.
5 WA 5~I.05~1~1~7X. Al~unst r c c l ~ ~csi?c> o%oCII!F:L~.~III
~ s riscc~,lc~v, rx~c<Iiq;toi r > ~ ~ ) r ~ , s s : ~ .
mostra aos govetiiaites sua verdadeiri1 imagem como rium espellio. Pmvavelinentr
pretendeu d a , cic maneira indireta, aci novo piiiicipe alguma orientar20 para o
exercício de seu cargo. Destacou ai virtudes e os feitos dos bons govemantes.
Cridcou a corrupyiio que muitas vezes toma conta das pessoas que lidam com o
5 pcxler. Ilustroii suas colorações Iàrlmeiiir com exciiiplos coiiçretos tirados dos
antigos poetas e 1ustoi-i;idosesbiblicos e ~>inf;inos.Aproveitou-sc da sabedoria popu-
lar tnirismitida por provérliios. O escrito coriténi cni tomo dc 170. No f~iiidoexerci-
tou leitiira pop~il:u &i Bíblia. NZn identificou os criticados pelo nome nerii os
desacrcditou pnr ataques noniiii.iis diretos. Ma? certlunentz os contcinpr.?iieos r i i ~
I tcnderiim suas ;iliisões. kuece quc 3 coa(: não escondeu seu descolitentamenro.
Anugos e adeptos de Lutero elogiaram sua coragem e franqueza.
Liitero lerminoii a redaçâo do texto em 1534. O cscnto foi publicado no ano de
1535 eiii duas ediç6cs em Wittenberg ]>elatipogr;ifia de Joái> Lufft. A unpresszo
deve ter comerddo airida eiii 1534. P»i<a primeira edição indica lia follia de rosto o
I alio dc 1534, mas no tiiinl do texto o dc 1535.
Joachini H. Fischer

Quero c;int:u cic gaga c justiça, e louvar a ti, SENHOR.

-. Procedo de modo cauteloso e sincero coin ri~l~reles


ajo co111 fidc1id;ak cin miiilia cris;~.
que rnc p e m i c r n i , e

Não m e proponho iniqüidade. Odeio o h.msgressor e não o suporto em


minha companhi;~.
Longe de mim um coração pewertido; não tolero o mau.
O yiie caluiuii seu p r ó ~ i m ois ocultas, a esse eíimijio. NZo gosto d;i
1 pessoa de ares mrognntes e orguiiiosa.
Meiis o h o s bu.rcani os fiéis da temi, para que habite117 em d 1 ; i
coinpanhia; go.sro de ter cBridos hoiicsto.~.
NCo e m p r q o pessoas fizlsas eiii minha casa. 0s riieritirosos 1130 tfrii
charice comigo.
Cedo elimirio todos os ímpios na terra, para erradicar todos os maífeito-
IL.S da cidade d o SENHOR.

Prefácio
listc C um daqueles salinos qiic louvam a Deus r ihc agratlccein pi.Ii~
i.sI:i<lo secular, como o f u e m os Salnios 127, 128 e outros tantos. Juntamçiiic
~ o i i ioiitros salinos, este sempre foi cantado lias igrcjas pelos clérigos que
i i i i l i ; i i i i :I 1>rcicrx3ude scrciii o íiiiici>s;iiito c hciidito povo dç Deus c :i Igrci:i.
M;is não percebiam nem consideravam de forma algiiina que com esses
slilmos enalteciani com a boca de iiiodo tão elevado o mesmo estado yiie
clcs tratavam diariamente de forma humilhante e que calcavam aos pés. Se
tivessern compreendido esses salmos, creio que os teriam posto de lado e
i;imais os teriam caiitado. De tato, não faz sentido que essa gente sanla cante 5

c eiialteça publicameiitc na igreja o cst~dosecular que, em coinparação com


seu próprio estado, coiisideravam desprezível. Isso por uma única razão: elcs
próprios queriam ser os únicos donos do mundo e que todos os deriiais
scnhores se toniassem monges. E de falo conseguiram qiie a metade ou mais
&I metade das autoridades secularcs esqueceram seus deveres e se ocuparaili [i]

com a Igreja e coni missas, enquanto os clérigos abandoiiarain totalmente o


iiiinistério sacerdotal e se dedicaram 5 caça, a guerras e a outros aí'azercs
secularcs. Deus, porí-in, permitiu que esse salmo e outros semelharites fos-
\cin c.uitados por suas boca^ da mesina loriiia como Iálou a Balaâo por meio
do asrio, embora o estúpido prolèta nàio o eniendessc". is
Esse salmo. porCin, se dirige dirciamenic contra ;is Iiordas de fanáticos
iluc pretextam graiide santidade ao coiidenarem a admiriistração doméstica.
o estado matrimonial e os cslados superiores e inferiores na terra. Pois elc
iiistrui c conforta as pessoas que ocupam essas posições c têin que ocupá-
I;[.;:pede que nâo se retirem, abandon:indo tudo. Instrui especialmente as 2'1

Ix:%oas em posi~õeselevadas nas qu;iis se tem que maiicei. uma corte e


~ ~ s s o ;da i l corte. Por isso Davi, que era rei c teve que nicuiter uma corte,
uoloca a si nieirno como exemplo dc como um rei oii príncipe probo dc\,e
iKii;ir seu pessoal. Embora eu próprio seja inexperientc aii assuntos da corte
i. saiba muito pouco sobre as manhas e artifícios que prevalecem ali, quero, 2s

iiiío obstante, recorrer às muitas coisas que ouvi e anotei de outros e valer-
iiic da História, para poder entender e interpretar as palavras do presente
\ ; i l i i i r i da maneira mais clara possível.

0 1 i < x >cantar de graça e justiça, e cantar louvor a ti, SENHOR.


I ,iifio dc saída ele insirui os reis e príncipes a louvarein e agradecerem
.i I k ~ i sc
s liverein unia boa organizac;ão e seilios probos cni casa ou na corte. 31

I ):li ~li.v<:iiiiipvender e reconhecer que isso é uma dádiva especial de Deus e


I I : ~ , , I ' i i i i i ~ dc sua própria sabedoria e capacidade. Acontece que i10 iniiiido
i i i i i : ~ i i i . i i i i: inepto c desajeitado dciiiais. Cada qual acha que, se ele estivesse
I I * ~ir<>vcriio, f k k ris coisas de modo iriaraviihoso e não aceita nada do que

17 ( ' i . Niii 22.2Xss


outros fazem rio regime (Reginirnt). É igual ao criado ria comédia de Terèn-
cio que express:i o desejo: "Ah, eii me deveria ter roiuado rei!"'. Absalão
disse i s costas de seu pai Davi aos cidadãos de Israel: "Certamente tua causa
é justa; mas o rei não destacou a ninguém para te ouvir. Ah!Se eu tivesse
na mão o poder na terra e se todas as causas fossem hazidas a mim, que
jiistiça maravilhosa eii faria!" [2 Sm 15.2-41. Esses são os niestres sabichões.
que, de tão sábios, suo capazes de eml>ridar o cavalo pelo traseiro e que só
sabem criticai. e descoinpoi- ouiras pessoas. E quando conseguem apoderar-
se do pocler, tudo vai i ruína com ele>.E como diz o provérbio: O espectador
sempre sabe melhor como fazer as coisas. Acharti que, se eles tivessem o
bolão na mão, derrubariam 12 pinos, embora existam apenas 9 pinos na
cancha, até descobtirerii quc também existe a bando paralela à prancha.
Pessoas dessa espécie não louvanl liem agradeceiii a Deus; também não
admitem que isso seja dom de Deus oii qiie deveriam orar e invocar a Deus
por elc. Pelo contr5rio. sâo tão presunçosas qiie acham que sua razão e
sabedoi-ia são tão seguras que não podem errar. Quererri ter a honra e a glória
de saber goveniar melhor quc ouhos e fazer todas as coisas bem feitas, corno
se o bom velho [que se chama nosso Senhor Deus) tivesse que ficar sentado
ocioso sein ter nenhuma pariicipação cl~iandoas pessoas se propõem a
realizar um bom intento. Pois é justrtmente isso que ele faz. Faz vistas
possas e permite que os filhos dos honiens comecem a construir atrevida-
mente a torre de Babel e a acabem. Depois intemém, dispersa-os e destrói
tudo, de modo que ninguém mais entende o que o o~iti-odizx. Bem feito paia
eles! Pois excluem a Deiis de seus plnnos e, como Deus, quereni ser sufi-
cieiitementc sábios eles mesmos. quereiido p m si a honra que conipete
exclusivamente a Deus.
Quando ainda estive no convento, vi e ouvi muitas vezes pessoas sábias
e inteligentes fazendo planos e que os apresentavam de rnaneira tão impres-
sioi~ante,convinceiite e bonita que tive que pensar que seria impossível que
falhassem. De fato, dizia eu' isso [em pés e cabcçii. Sern dúvida, isso aí tem
vida. Eu o c«iisi<lc.rava tio seguro como se já estivesse concretizado e
palpável diante de nieus olhos. Qumdo, porém, começaram a pôr os plarios
em prática, tudo fracassou escandalosamente, e todo esse plano belo e vivo
se revelou mais fútil do que um sonho ou uma sombra. E tive que dizer:
Muito beni! Se isso foi um sonho, qiie o diabo se fie em planos belos e
Ix>iiic«s.Que grande verdade! Rido niii passa de aparència e ilusão quando
Ilciis ri30 cstá envolvido. Aí, então, compreeiidi 0 enunciado de Salorniío: "A

.I 'IkrCocii,. Phonnio, 1, 2, 20: O regem me e s c oportuil. É a e x c l t a f ã o [te um escravn. -


Akr (ca. 1411-159 a.C.). nnhiral dc Canagu, na Africa do Noric ( A k r = o
I'iíl>lii,X~~ri.ntir>
c likh,, ;iulor (lz comedias iia Kcinia antiga.
Aliic;iii<i). c%çr;ivi~,;i<l<i
8 ('I. (;,I ll.lss.
-

iriini pertenccrn ambos: o conselho e a :i$%>" (Pv 8.14)". E S. Paulo eiii I


Co 3.7: "Quem planta não é nada, queiii rega também não; é Deus quc tkí
o crcscimcnto". Os filhos dos homens, porém, não acreditam nisso atk que
o aprendam por experiência. Quando fazem p l q s , acham que tambéin se
concretizarão. Como poderia falhar? dizem eles. E tão certo como sete mais 5
i i s são dez. Matcmatiçamente isso é verd:~de.De acordo coin os números e
;I conta. sete mais três são exatamente dcz; aí não há erro e o plano csci
i-cdirado. Fisicamente, porém, irii aq2o e lia execuqio. Deus pode fuiidii os
scie partes numa s6 e fazer de sctc uiii; ou eirião, pode dividir três em triiiia.
liiiião, de fato, ji 1150 são mais exatamente os dez que eram anterioimeiite
i l t l pr<1;eto.
Siipoiiho que na corte acontece a mesma coisa. Pois nunca estive na
coi-lc e tarnhém não tenho o desejo de estar Iá. Que Deus ine y a r d e disso
1;iiiiti6iiiiio futuro. Isso se pode dcduzu hcilmeiite dos exeriiplos. O papa
( 'lciiiciitc c o rei da Flaii~dc«nsiderav;im o iiiipcra<lor inieir~iiieiiteseguro 1s
I I : I ciitrada da cidadc de Pávia; n3o podiam falhar. Eles tainbéin haviaiii
i-;ilciiladoque sete mais três são dez"'. Elcs haveriam de descobrir em que
tliii-iii scu plano. Como se enganaram os shhios vcncziaiios coni seus pliuios
\c):iinis coritra o imperador Maximiliunoi1!Quantas vezes os papisias eri-a-
I ; I I I I iicsses últiinos doze anosi2com scus plniios maravilliosos e cerros coritra 20

luteranos! Todiis os compêndios de Histórici cstzo cheios de exemplos


ili-\\c.;; e os que viveni lia cortc podcrão eiicoiiirai- tliariuriente suficientes
i.\ciiiplos dessa espécie entre toclos os iris c príncipes. Ali estí seritiido o rei
oii o pkicipc, sábio e inteligente a suii própria vista, e tcrn todos os lios iia
iiiIio. A ele se ajunta um jurista ou juiisconsulto com seus livros; iicles 25
ciicoiitra a lci registrada com suEiciêricin, certa e clara, de modo que não
~~iiclc haver engano. Depois aparecc uni camarada muito importante, cuja
~.;ilic$aé pequena clemais para sua grande intcligência e sabedoria; clc
ciicoritrii tudo táo scglisaiiieiiie fundamentado e ancorado na Ici natural que
I I iiiiiiido inteiro nZo podc dcrrub.i-10. Por lim, toçaiii os sinos para cliunrar 30

11 povo, c o sili» inaior tambéin ressoa coiii estrondo, isso é, um bispo,


~)scl:idtiou teólogo, que se promoveu a si iiiesnici ou que rcnha sido proniu~
vitlo tlc ouira foiina. Este traz a palavra dc Deus e a Sagrada Escritura. Aí, cntão,
~

' I <!iii,iii liil:i E a Sahcdol-iri (= DEUS).


Iii < i 1525. o rei
1 . ~ 1I c ~ v i ~ w i idç Fnnciqco Ida Franca (1494-1547, l i drsdc 1515). ao qual o
.
i>;il>:i
, t 'lc.iiiciilc V I 1 114711-1534, oais desde 1523) vinha au~ii:tiiilo sencrarncnte contra o
. A . ~ ~

i i t i l r r : ~ i l < l i C:ulo,s V (15130-1558, imperador dc 1519-1556). lili <lurmcntc batida pelu


i.ri:irilo i~iipçi-inlc pxso eiri Pávia.
I I i 1, vciirzi;uir>s Ii:iviatri tentado deinover Ma.~irni/imol(1459-1519, iiiipcraiior <Ics<lc1493)
i l i . ir :I I<<~iii;ipara ser çoroaclo imperador <li> Sacri? loipi.i-i<iR<ioiari<i-<;crni:ii~ic<>,iii;ih iião
c ,t~~st~~~,~~ict~,,.
I ' 1 ' c t i i i r i i i si, i l i i , ~ ; s i i < i \ ilc~ilç;i Acsci~ihlCi:i N:i<-ii>ii:il ilc Wiin~is(1121 1. iriiilo riti iiii.tiii. < I U L .
~n I > ~ < . I\C<A I~~ I I<l:tiit
\ I c ~ l5.'.3.
o próprio diabo tem que se rctiiat e deixar as coisas como estâo: corretas,
justas, boas e, inclusive, divinas. Ali estio eles' os quatro pilares do império
ou do principado, capazes, incliisive, de carrega- o céu, se Deus o designasse
a sua sabedoria.
Nenhuiii dcles dirige urii suspiro ao céu c busca consellio e açao junto a
Dcus. Ou são gente tio únpia que sua consciência não peiinite oração ou
invocaçao, ou eslao tão ccrtos e seguros de sua sabedoria e causa. que o
csqueceiii desprezivelinente, como se iiáo tivessem necessidade disso: ou,
eiitão, est;io ;~c»stiiinadosa plane.iar eiiipedeinidos em sua descrença. Entre-
mentes ii«sso Senhor Dcus rem que fic:ir ocioso lá cm cima c náo pncic
imter-se nos planos dessa çriitc slihia. Enqlianto isso, biite um papo com seu
aii,jo Gabriel e diz: Dize-me. coinpiiiheuo, qiie está essa gerite sihia fazendo
ciii sua sala de reuniõcs que não lios deixain participar de suas deliberações?
Provavelmente querem coiistriiir novamciite a toirc de Babel. Prezado Ga-
hriel, dcsce ali 15 e leva contigo a Isaías, e li. para eles uma liqão secreta
ah-avés da janela, dizendo: "Mesiiio enxergando, tiada vereis; mesmo ouviii-
do, nada escutareis; mesriio tendo coração seiisato, nada cntendereis" [Is
6.9s.I. "Forjai projetos, e eles serão frustrados. Deliberai entre vós, iiias nada
subsistirií. Porque ambas as coisas nie petieucem: o conselho c a cição" [Is
8.10; Pv 8.141. E1 facturii esi jfii. Assi111 é que. deve ser.
Aqui gi)stariias de argumeiiiar: Acaso 1151)se deve fazer o qiie é certo, o
que eosir~aa rcvdo, o que agrada a Deus? Para que no,$sewein as leis? Para
que a razáo? Que afia1 eiisiiiais ví,s leólogcih:' Acaso tudo c vâo'? Rcspostci:
Aqui nâio coiidenamos a lei, n razão sadia ou a Sagnada Escritura, mas o
iiiiserável acréscimo e imuiidícic. nossa temeridadc - o Sato de não em-
precndcrm«s id plano e direito coiii temor de Deus e com oração humilde e
sincera, como se fosse suíicicnte ter um direito ou uma boa causa e a
iiilenção de p6r essc plano cm açGo rapidamente por nossa própria capacida-
dc. Isso 6 drsprczar a Deus e buscar a glória para si mcsnio como o homein
que é capaz de fazê-lo. Isso 6 contrirrio ao Primeiro Mandamento. Por isso
esse iicrEscimo transforma a maior justiça na maior injustica, a ii~lúsbela
r a ~ â olia iiiaior tolice, e a Sagrada Escritura no maior engano. Pois onde o
I'rimeiro Mniid;imento não está preseiite c não ilumina, tambéiii os derii;lis
i150 darão luz sulicientr e só resta uina comprceiisão emônea.
I'or isso há que sc diz21 O begiiinte: Náo basta simplesiiieiite a mais bela
lci c ;i inelhor causa e que teu plaiio esteja ahsolutamente ceito. Na verdadc.
< I I I ; I I I I O inais bela tua Ici e quanto melhor tua causa tanto mcrios atrevido
clc.v~,sscr c tanto mcnos ufanar-te delas; antes deves temer tanto iiiais a Deus
L I L I ' goslii de envergonhar a mais bela lei c de derrubar as melhores causas,
I I I H c:iiis;i (10 atrcviinei~tode confiares nelas e de ie ufanares delas. Corn i.;w
vs1i:i~;istii<Ioc iiicitas a irci de Dcus contra ii; pois ele é iriiiiiigo <I;i arrogiii-
c.i:i i, i111 :11rcviiiiciilo cluc lhe iisiii-p:iin :i honra c sc opficin no 1'1-iiiicin)
~ -

Mandamento. Por essa rario ele resiste com toda força aos soberbos, como
diz S. Pedro [ I Pe 5.3). Os filhos de Israel tinham a causa mais justa contra
os berijnininitas, como raras veres se ouviu (Jz 20.17ss.j. Não obstante, o
grupo bein maior foi dermtado duas vezes pelo gnrpo nienor dos injustos tão
severamente que perderam quarenta inil homens nas duas batalhas. Somente 5

ria terceira vez aprenderam a renunciar a sua presunção e a invocm a Deus


por coiiseiho e ajuda. Eiiião venceram iiovamente e se Ihes fez justiça.
No eiit;uito, esta é e continua seiido a prática nas cones de I E ~ S e
príncilies como também nas classes inferiores: iia rrielhor das hipóteses,
cinpreeii<lemtudo por presunção, justificando seu procedimento, dizendo que "1

sua causa é justa. Outi.os, porém, procc<iem de maneira riiuito pior ainda:
jiistificatii seu procedjmcnto com o fato de terem niais bens e poder. Deus
sciupre é esquecido. E por isso que as coisas estão corno estio. No entanto,
viiqumt<~ o pequerio rebanho de iiosso Senhor Deus, a Igreja, intercede pelos
i~,ise sciihores, eles ~isufruemdessa oração apesar de serem in<ligrios: não 15

I,i)bsc
< , assim, a situaqão seria tenível. Pois os filhos de Israel tambéin tiveram
t l i i ~ ,orar pela prosperidade de seu ininiigo, o rei da Babilônia, e seu reinoli,
:li< que vcio sua horinha na qual atonnentou e opruniu seus intercessores,
ii.iirlo com isso merecido 0 fim de seu reino. Assim iainbém estamos orando.
i.111iiossos dias, por nossos tiranos, até qiic tamhéiii eles mereFarn em nós,
11"' meio de assassuiatos e perseguições, sua mína, sem qualquer compaixão,
<~ii:indovier sua horinha. Amém.
Seja, pois, esta a primeira liç3o c cdvertrncia nestc salmo: uni príncipe
~ i i iscnhor dcve aprender e saber que criadagerii devota. seivos fiéis e um
I~oiiircgiine são dádivas de Deus, e que é um gnuide dom e seu tesouro mais 25

~~iccioso se tiver uma. duas ou três pessoas de confiança na corte ou em


iIcicriiii~ddoscargos (c isso já é muito). Agradeça a Deus por isso, acrescen-
i;iii(lo ;i prece de que ihs preserve esse tesoum e lho aunierite. Pois o mundo
i: 1111r ~lcinnismau, f d ~ o e infiel, como diz Davi: "Todos os seres Iiiimanos
r.:i<i llilsos" (SI 116.11j. Isso é verdade especi'aimente ria coite, onde todos. ?o
c n i i I I I I : I ~ ~ 'iutlos, não buscam o bem-estar do p ~ c i p e mas . apenas como
. I ~ I I I ~ ~scL .eCengordarem-se ~ I ~ ~ ~ I I I a si mesmos. e que o príncipe se arranje
C # I I I I < I I > ~ I I \ quiser. Um príncipe não enxerga o coração das pessoas, e por
I.:.O 1 q . i i i i l i i i ' guveiiiar no escuro, visto que rem que governar e administrar
i c u i i i. :iii;ivi:s ilc pcssoas que ele nZo coiiliece e cuja mentalidade ignora. E "
c ~ B I I I I , i i i i i . ~c;iirii;igcrii que viaja dc noite c procura seu caminho por instinto,
tliic. i i i i i i i . i s vclcs não sabe em que direção ir. Pensa ir riuma clireçio, mas
.n . i l x i i i i i l o ~ciii outra, tomba, arrebenta o laço, as rodas e tudo. Pois Cristo
,li/ "t.hi1.111 ;iii<I;i iio escuro não sabe para onde vai" [Jo 12.351. No reino
Salmo 101
de Cnsto, porérii, a? coisas não são assim Ele conhece os corações de todos,
e quem quiser ser infiel a ele engana-se a si mesmo e não prejudica a seu
Senhor. Pelo coiitrário, o Senhor pode iiicliisive transfunnar a maldade de
seu servo em seu própiio proveito e para o melhor. Isso não é possível no
reginie seciilar, «ride os coraçõcs pei'iii:meccm ociili~~s.
Quando, porém, o salmo fala de graça c justiça, ele não se refere à graça
e justiça de Deus, mas à gaya e justiça que um príncipe pratica para com
sua criadagem e seus súditos. Pois essa riiaiieira de falar i,unbém é cosiumei-
ra na cone. Aí tambgrn >e diz que iirn príncipe ou senhor é gracioso, oii que
1 deriionstra grande graça a esse ou àquele, etc. Justisii é quase a mesma coisa
que punição, como também é costume dizer na cone: Quem fazer justiça.
Ou eiitiio: Qiie escolhes, graça ou jiistiqa? Pois quando os príncipes oferecem
justiça, tua cabeça esid por iini fio. Pois aqui Davi taiiibém fala de graça e
justiça à muda da corte ou dos príncipes, ou seja. benefício para os retos e
1: punição para os maus. Um príncipe ou um senhor (em que fazer uso de
ambos. Se reina somentc a graça c o príncipe se deixa ordenliu por todo
niiiiido e permite que clualquer urn lhe hara na boca, se ele não pune ncrn se
enfurece, logo não somente a corte, mas todo o país cstrirá cheio de patifes;
toda a disciplina e honra se acahirão. Por outro lado. onde só existein ou
2" existeiii fíiria e castigo eiii demasia, ;i coisa v k i em tirania e a pessoas
Iioiicstas pedem até o f6lego diante do pavor e da aisiedade constantes.
A mcsnia coisa dizem também os gentios com base na experiência
diária: sumrilrirn jus - u justiça ináxiiiia é a injustiça máxima, da mesma
b i m a como se poderá dizer, por outro lodo, a respeito da graça: piiiii graça
é a maior dehgraça. E 0 caso do pai que nâo pode fazer coisa menos paternal
a seu filho do que poupar a vara e deixar que a criança tenha sua vontade.
Pois com esse amor cshípido ele acaba criando um filho para o carrasco que.
depois, terá que "criá-lo"'? dc outra iiiaiieua, ou seja corri a corda para a
forca. A moderaçiio é boa cm todas as coisas. Praticá-la corretamente é uma
arte. para isso precisa-se da gaça de Deus. Visto. poiérii, que, nesse caso. é
~lifícilacertar na mosc:]. tem que se chegar o mais próximo possível. E isso
acoiitece quando se fiiz prevalecer a grasa sobre o direito. Tanhém Davi
nieiiciona primeiro a graça e só depois a justiça. Pois onde nào há jeito de
acei-tar a medida áurea, é melhor e mais seguro que falte neste lado do que
m5
ii;iqiicle, ou seja. é ineihoi graça deniais do que puniç5o demais. Em caso de
g r q a excessiva, pode-se voltar atrás iiovariiente e reduzir a medida; mas coni
;i punição nâo se pode mais voltar atrris, especialniente quando ela atinge o
corpo e a vida ou algum membro.
-

Timhém é iinpossível punir todo 0 iixd iia tcrra, especialmente os vícios


si.~,rctose riialiciosos, conforme o provérbio: Quem quiscsse castigar todo o
i i i i i l , jaiii;us podcria cinbainhar a espada. E os gaiiios dizem: Si quofies etc.
Sc Dciis quisesse inteivir com trovões e icl%npagos todas as vezes que
os serei liuiiianos pecarem, em brevc n i o ierin relâmpagos e irovões cluc
c l i ~ g a Basta ~ ~ . que sc castigueiii os delitos públicos e delibel-;idos. Se Deus
c~iicrpunir os delitos ocultos, cle o revelará. Pois nada lica impune, seja
secreto ou patente. Podemos observar diariamente de quc modo singular os
iii:illèitores secrctos, como IadrUes, assassinos, elc.. por fm cacm nas mâos
do carrasco por nieio do juízo e do castigo de De.tis. além do castigo que ele
iiicsmo irnpóc por meio de igiia. fogo, pesiilèiicia, etc. E q1131idoum prhcipc
oii scnhor denioiistra com seriedatle que nZo iostli disposto a tulerar qualquer
iIi.littr público. e qiiarido se cnipenha nesse sentido, terii:iiido cumpri-lo, é
Iicil prevcnii. niiiitos atos de maldade, cmbora tenha cliic tolcrx os delitos
..t.<.ictos' até que o propiio Deui, os castigue ou lhos entregue erii suas maos
I I : I I ; I c;i<iie_ó-10s. 'Lriibém podc acoiitecei- clue iiZ« sc pode puriir um dclito
~ ~ i l > l iiiiiciijalamenle,
co em especial não de iiii>doprecipitailo. A respeito dc
I hivi sc I6 ein 2 Sm 3.27s. [e 20.10] que ele ii,io puniu eiii seu tempo de
viil:i :i seli pi-imo Joabe, seu capitão do exército, cmbora esse tivesse coine-
i i i l i r dois graves delitos (como o próprio Davi o acusa, mddi<;oando-o por
i\vnl: Iiavia asiassiriado traiçoeiriuiiente a Ahner c Amasa, ambos mmcliais
(1,. L-;iiiipoc mais justos do quc clc. Deixou-o em seu posto c sua horua, mas
~ ~ 1 1 1 ~ ~ i iac >seu i i filho Salomãc> que o punisse inais iarde (1 Rs 2.5s.)Ih. De
iiii~loscmelhtinte, Jacó nZo puiiiu seu k-fio Kúhcni7. Soinente o amaldiçoou
,. < I clcsl>ojouda gl6ria da priinogcnitura na hora da niorlc, ou seja, da coroa
c i10 saccrclócio. Pois pode-se dar o caso cm que não podes puris um patife
iiiii.<li:il;iinciiieserii qtindc prejuizo e risco para os outros. Pois o objetivo de
i t x I ; i :i pilniyão deve w r , em ídtinia málise. intimidar e corrigir os outros
i t o i i i i i ( i cnsiniini S. Pcdro e S. Paulo) e conlnbuir para a p,u c scguranq

i I : i 11cs~";is retas. Rm 13.4; 1 Pe 3 [sc. 2.141.


N;io C ~x)ssiveldeterminar ou pcrcrher aiiteçipadamcnte quando existc
c,:.,. ~ ~ i ~ ioii ~ i ~ O próprio Deus tem que inspirar o príncipc ou senhor
i l ilario.
I B . I I . I qiic. i.~~iisi(lcrc, de acordo caril sua habilidtide suprema, onde. quando e
.I 4111" ~b.iiili.~ I I I L YOU tem que c i d i x o acertu de coiiias. Pois se Davi tlvcsse
I U I I I I L I < I; i .I*i;il~c iiiicdiatamente, iluando seu reiiiadi~ainda não cstava h a d o
a ~ i i c . . Ioi:i, iIi~lx)is, foi dividido pela revolta dc scu lilho Absalâo, provavel-
i i i < i i i ~ .ic.ii:i I;iii~ndotodo o país na inquietação e confusão e privado a si
mesmo do reuio. E se Jacó tivesse punido seu fiiho Rúben imedialamente,
enquanto cra migrnrite e vivia entre scus inimigos, provavelinente teria
provocado uma grande desgaça para si próprio. Jacó tatubéiii estava muito
irritado porque seus r i o s Levi e Simeão haviam derrotado Siquém e por
5 íim também aiiialdiçoa a ambos1! Em Siena, lia Itália, ouvi 0 seguinte
iestemonho a rcspeito do ii~iperadorFrederic»Iy: Api-endemos muitas ináxi-
mas de vosso imperador, especialmente esta: Qui nescit dis.~iaiulare,nescil
imperare - quem não sabe lcchar um olho ou fazer que não ouviu, esse iião
pode governar. Pois queriam tê-lo visto passar com a cabeça pela parcde e
vingar-sc com o prejuízo deles.
Em resumo. é preciso fiizer uina distinção. Deus tem doi!, tipos de
pessoas ii;i terra ein todas as categorias sociais. Algumas têm unia estrela
especial perante Deus; a e s i s ele ~irdprioiristr~iie dcspería conio ele o5 quer
tcr. S ~ Cessas
I as pessoas que vão dc vento eiii popa na terra e que têiii o que
se clmna sorte e si~cesso.Tudo que elas crripreendem prospera; c ainda que
o mundo inteiro sc Ilies oponha, ser6 Icvado a bom teniio. seiii uiipediincnto.
Pois Deus, quc o p6e ciii seu coração e estimula sua inieligêiicia e coragem,
também iho coloca nas in.Si>s,para que se realize e seja levado a bom termo.
Essc foi o caso de Saisão, Davi, Joiada2" e outros. 0casioii;iliiieiite não
1" suscita pcssolis com essa iliialificaç20 apenas dentre seu próprio povo, mas
também deiitre os ímpios c gentios, c náo soiiicnte das classes da nobreza,
inas tambéin das classes burguesas, cainpoiicsas e prolissionais. No império
persa suscitou o rei CiroZ1,na Grécia, o príncipe Temí~tocles~~ e Alexandre
Magno2i, dentre os romanos, A i i g ~ s t oV ~ ~e s, p a s i ~ i o e~k~., Tambéni na Síria
2. esb?beleccu todo o hcm-estar c toda a prospcridade por meio de uni único
homem chaiiiado Naamã (2Ks 5. I). A ritis pessoas não clictrno de pessoas
eduçadas oii criadas para taiito. iriris ~iríncipcse senhores criados por Deus e
por elc orientados.
Essas pcssoas são táo hábeis que iião iiecessitam dc muita inshuçâo e
livros para Uns iiioslm o que devem fazer. Antes iiicsnio que dguém Ihes

I X CS. Gn 34.25~s.;49.5-7.
I'> NXo foi possívcl vetüicar a ijiieni Lutcrn se reierc. Houve uês inipcrddores com o nome
de Prederico: Frr~iirico ~ ~ ~~ ~ I - Bailimiva
- - ~ 11122-1190. imnemtor desdc 1155). Frcderico 11
~~~ ~

(1194-1260, inipcrador desdc 1220) e ~redcriçoIII (141i-1493, Vopetador &sdc 1452).


20 ('1. Jz 13~s.;I Sim 16ss.; 2 Cr 2 3 . 1 ~ ~ .
LI (';,r> 11. o G m d e jriiolto 529 a.C.), Iiemuiiu avoltadus judeus do cativeiro hahilônico (cf Ed 1s.).
?? 7C,iiiv/<iclc. (ca. 525 ai< depois d< 460 a.C.), lícler poiítico de Atenas. ùcpois exil'ido; fugiii
~ p f i L:~ iI'Cisiii (465). onde lalcçcii.
? I i\lc~r:i,i<i,rh.l;ixr~o(Alexmdrc 111) 13%-321 a.C.), rei da Md~.edUnia(desdc 336): esp:rndiu
\i.ii <I<ioiíiiii> iiib ;i Ásia Mcii<ii.PCisiii r Egito.
',1 (':ii<, .liilio ('Csit~. Oli~vi:t~~u . < ~;,.C.-i4
A C J ~ I I (63 O d.C.), inipcradr>r ion1mn (dcsdi. 27 :i.C.).
'5 I ' i l o I~l;ivi<iVi..~~lci.~i;iii~i('1 7'1). i!ltl".tit,l<)r IOI,\;L<IO (<IcNIc 60).
ciisine o que fazer, eles já o fizeram. A única coisa que precisam é a instrução
<Iap;ilavra de Deus para Ilies ensinar a atribuir seu sucesso e griuidcs M o s
;i Deus e a dar a honra àquele do qual o receberam, e a não louvarem e
glc~i-ificxeiiia si mesmos. Sem a palavrci de Deiis eles não o faráo neni
saberão cortiu fazê-lo. Por essa iazão, ~ u a vezes s eles levani i i r i i Eiin feliz, i
coiiio o atcstaiii todos os registros histúricos. Assim, por excinplo, 0 valciiie
guerreiro AníbdZ6não aprendcu de niiiguém como combater os romanos e
clçrrotá-los tão terrivelmenle. Pois tinha o verd;ideiro mestre e a Escritura no
coraç,?« e laziii ;is coisas mesrno antes que alguéiii Ilicis pudessç 6iisinar; agia
iiicliisive. coniia o consclho e os eiisiniimentos dc todos os ouiros sibios. ,,,
Cito aqui Lirn excmplo a cliic se refere Cíccro2'. Quando Aníbal fugiu e
111- curou auxílio junto ao poderoso Aritíoco contra os ror na no^'^, fizeram-llie
iiiiin rccepção gloriosa. Naquela ocasigo cncoiitrava-se ali um afamatlo filó-
solo de riome Ffirriiio. Aniíoco o intimou a dar a Anílial uma cli;iiice de ouvi-
10. I:í>imio deiiioiistrou sua anc c discursou por lioras sobre gueirci c coiiian- ,$
iI;iiiies. expondo como csses deveriam agir e o qiie se esperava de iim bom
r,,iici-rciro.etc. Enquanto todos os demais elogiavam e adniii'nv;im iniiiio esse
ili<<.iirs«.Aiiiíoco perguntoii a Anííal o que achava. Aníhal irhpondeu: Na
v<.iil;iilc,já vi iiiiiitos tolos ciii minliii vida, mas Jamais vi uin iolo do qiiilatc
,l<.ssc1I:órmio. Cicero elogia essa resposla e diz: Ele estava ccno. Por muito
2"
I C . I I I I I I I Aníbal havia combatido os romanos, que haviam dominado o inundo
iiiii.ii-o. c os havia derrotado iniiitos vezes. E agoi-a veni Fónnio. qiie jamais
I ~ ; i \ . i i ivi si^ um enkrcito ou unia aiiii;~, e quer ensiiiar a Anih:il ii aite da gtienci.
/\c]ui, iiatusalmentc, o iiirstre nào eslá I: iilturci de tal discípulo. Mcsino
1111'. Fórinio tivcsse sido uni excelente e experimentado conhecedor da arte
< [ ; i giic,rra c mesmo que fosse considerado mestre nessa arte, mio deveria ter i'

ii:ii;irlo :i Aníbal como discípulo. Antes deveria ter tuado seu h;irrete diante
iIcIi c dito: Prezado scniior doiitor iia arte mai-cial! Pois Aiiihnl náo havia
i i l o criado pai-a ser aluno lia wte da gucrra, mas pcua que outros aprendes-
L.c.iii ilclc c fossem seus aliiiios. Ele fora criado por Deus mesmo para ser
iii~.sii-ciicsiii ;irte e não hr:i cducado e preparado para isso por outras 71)

~ ' i . n o : i1 ~0) conti'irio, aconieceria o que diz o adigio: O ovo instrui a


l~:iliiili:i,o ~x'ici>é mestre de Deus, Fhmio prcpara Aníbal. Não obsiante, o
i i ~ i i i i ~ siiiil)ti:
l t ~ csiá cheio dc F(írmios em todas as classes. A rsscs eu deno-

,r, \irrI~ili.'l//.if,IX.? a. C.), cstadisla c comandante iuilitar de M a g o (África do Norte),


i, C ii várias bitahas na Itália.
c,,. t < > i i i ; i i i i i \ eiii
'I i 'i, , i c , , 11. IX, 75 e 19; 79. - M.irço Túlii, <.'íccr<~
I > ( .cr:i~ii<., (100-43 a.C.. assassinad«i.
C 1.imIi.i.i. i,i.iiIiti ,. Iili>si>ii>
roi>i;ini,.
' I I ' . I . : i i i l > ; t l liigiii p;ir;i i! Síriii, oiidc pcril1;inrccii 1i;i çoriç do ici ,liiiiivr.o 111. r i
i.,.,,ir/r I . ' I.' IX'I ;i.('.,rri <Ics<lc223). Qii;iiiiPi Koniti çrigiii x i ; i c\ifii~lic.i<r.liigiil I I : K ~ :I
, i i i i i i l i i ii.i I'iri,;;i< 1 iki Ri1ílii;i. c i i i d i c r siiiri<l<iii1 i ; i ~iiá<i*vi. rnli:iilil:al<i [,:u:i (3' ri>iti;iil<a.
inino "mestre sabe-tudo", aquele homem inf;une, danoso, que sabe tudo
melhor e, não obstante, não é o que pretexta ser. E se tivessem sido coloca-
dos no lugar dele cem outros que tivessem a força, a coragem, o povo, a
ciência, o armamento de Aiuíal e mais ainda, não obstante eles não teiiani
5 sido capazes dc fazer o que Aiiíbal fez - neiii em conjiinto, nem individud-
niente. Semelhantemente, ninguém ern Cartago, nem mesmo seu irmão", foi
capaz de fazê-lo, nem antes, nem depois.
Quando D;ivi se dispôs para matar a Golias, eles iambéin queriam
ensiná-lo; vestii-ain-lhe uma couraqa e o annaraiiil". Sim, senlior. Mas Davi
lu não conseguiu carregar essa annaclura. Ele ruiha outro niestre em mente. e
abateu a Golim mesmo antes de ficarem sabetido como iria fazê-lo. Pois ele
não era qualquer aprendiz, educado iiessa a*, mas um inestre criado para
isso por Deus. A mesma coisa aconteceu com Naamã. Ainda que o rei da
Súia tivesse colocado no lugar dele um homem sete vezes mais sábio e
15 Iiabilidoso do qiie Naainã. não teria sido capaz de administrar a Súia táo bem
por meio de um Iioiiiem tlesses. Pois nem a Síria nern o rei haviani educado
a Na,unâ; coiifonne a Esciitiira, Deus proporcionou sucesso e prosperidade
2 Síria por rneio de Naami. Por meio de uni outro rião o teria reito. coiiio,
akis, não está escrito a respeito de nenhum outro. Se aqui também tivesse
211 aparecido um Fórmio com a intenção de ensinar a Naamã como administrar
e governar a Súia, ele se teria saído tão beni como se saiu aquele outro
Fóm~iocom Aiiíbal. Por isso se diz eiii alemão: "Este não é o lion~ein".Ou
ainda: "O patrão não está erii caia". Casa e estabelecimento, terra e proprie-
dades estão sempre i mão. Mas os herdeiros e patrões não são todos iguais.
O que um conquistou, o sucessor o põe a perder. Depois outro sucessor o
reconqiiista, se Deus o quiser conceder.
Isso podemos obseivar nos acoritecimentos e nas expeiiências cotidiana';.
Pais deixam a seiis herdeiros graiides propriedades, terra e pessod, tudo em
perfeita ordem e bem cuiciado. Também os herdeiros dedicaii grande esforço
x8 e trabalho para preservar ou até meihorar a propriedade, trabalhando, inclu-
sive, mais do que seus pais. Apesar disso, a propiiedade d e f i a e se dete-
riora em suas inãos e todo seu trabalho e preocupação é inútil. Eu mesmo ouvi
muitas vezes pais dizerem a respeito de seus herdeiros: Ah, nosso filho não
0 h á . Por que não? A caya, o estabelecimento. a terra e a her;uiqa - tudo
', C igual, e ele é trabalhador e ativo. Pois não. Mas o chefe da casa já n,7o C
iiiais o mesmo. Com o pairão muda a casa. Novus rex, nova lex - outro

2'1 Aiii7i:iI içvc uril imido. Asdnibd. rlerrotado pçlo exército romano cri? 210 a.C. c uiii;i
~ 207 a.C. No ~cguiidocombate, foi morto c sua c a k ç a jogada no ac;unp;i-
\<:giiriil:i v c riii
iitri,i<, clc Aiiílial. Luicro csti inicnssado em destacar a diícreiiça entre iim Iiomcni iiri1iii.i-
1 ii, ii>!ii<, como Aiiibal.
A~(lriilia1c iim çxlr.~<~idiii&io
I 0 ('I. I S ~ i i17.385.
modo, porque fora criado para ser um dos iiiilagrosos homens de Deus. Se
tivesse entrcgue o governo a oiitros e tivesse deixado dominar-se, decerto suil
sorte e sabedoria se teriam invertido e por causa de seus sábios coiiselheiros
poderia ter chegado ao ponto de tcr que quebrar uma tigela para ajuntar uma
colher. De modo semelhante lenios a respeiio de Augusto3', que quis delegar
o govenio a outros; iw entanto, ~ i i i e u<pieas coisas poderiam piorar, e fieoii
no Conselheiros sábios e pessoas inteligentes muitas vezes pro-
põem aos príncipes medidas que traiam grandes vantagens, mas niXo perce-
bem que atrás dess:i pequcna vantagem se escondem sete desvantagens. Eles
1 têm as iiielhores interições, mas 1130considrriun que Deiis tem pens:imentos
superiores aos deles, corno se ele tanibem tivesse qiie aprovar o que eles
consideram bom c proveitoso.
Ainda tenho que falar inais um pouco a seu respeito; pois ele foi meu
amado senhor e me deu o título de doutor3'. Em certa ocasião o Dr. Hennig
1 GodeThquis ensinar-llic a atlmiiústrar e disse: Magnuniiiio Senhor, por que
Vossa Excelêncki Principesca irianda fazer fogo com leiiha verde e não com
lenha seca? isso é um abs~udo.-Caro doutor, respondeu ele, o que em sua
casa é ;iconselhável ein minha casa é desaconselhável. Irma pessoa :issim ele
foi ein todas as coisas. Mas, agirido desse modo, ele encontrou e deisou atrás
31 de si iun grande número dc inacacos e palhaços. Pois muitos (conheci alguns
deles pcssoaltneiite, dos quais alguns ainda vivem). ao verem que esse
comportamento assentava bem ao duque Frcderico e que ihe granjeava fama,
resolveram seguir-lhe o exemplo e tainbcrn ilucriam passar por sábios; assim
come~ai-:uii a contr:itlizcr tudo qiie era proposto. E inesino quc fosse a
-7 sabedoria máxiiii:~~ nào adiniti~imque Iioiivesse algo dc bom e certo nisso.
E, procedendo dessa maneira, queriam ser duque Fredcrico. No entanto, eles
1120 haviam sido criados para serem duque Frederico, mas transformavam-se
a si mesinos em duque Frcderico e não passavam de F6rmios inúteis, que
. ah..iam inatraqucar e fuxicar bastante sobre a sabedoria. quando. na verdade.
5

não liaviam sido criados nem educados p x a a sabedoria. E a mesma coisa


que acontece com os hipácritas, que se fazem justos a si mesmos através de
boas ohras, quando, na verdade, a pessoa iem que primeiro ser justificada
para dcpois fazer boas obras. Que e n c e n a ~ kridícula foi cssa! Os girizos em
seus pescoços e ein suas oreihas soara111 t i l i alto que puderam ser ouvidos a

31 C'I: nciiiia p. 147. n 21.


14 Siieriitiin,Clctaviu&28. -Caia Siirt<2nioTranquila( C ~ L7&w 140). cscriior i histixi~dnr~urnanc>.
35 O príricipc-cleitor pagou as despesas de doi~toraiiientode Lutei", que adquiri11 o título dc
iIniii<ircm 1512.
i 0 1kiiiii.g [<>i,Ilcriniitx) <;iidc (m. 15?1), prnfcssor dc Direito n.i Univcrsidadc de Erlliti,
<li.~>oi\c i i i Witicrilwr; 1 ISIF)), c ;irrl,\si>r jorídico <lo príncipe-elcit<ir.
(;i>vimc>

iiiilhas. Que pode ser mais ridículo do que quando um macaco tenta realizar
Liiiia tarefa humana? Pode haver coisa mais tola do que quando um tolo quer
realizar a obra de um homem sábio? E como se o burro quisesse tocar a
1i;irpa e o porco quisesse fiar, porque suas patas são tão sutis e especialmente
Icitas para isso. Entre os gregos se diz: "Um macaco metido em vesles reais s
iiZo deixa de ser macaco"37.
Mas é assim que as coisas acontecem no mundo: onde Deus constrói
iiiila igrej,a, logo vem o diabo e constrói uma capela do lado, e até inúmeras
capelas. E o que está acontecendo aqui: sempre que Deus suscita um homem
cxti-aordinário, seja no estado eclesiástico ou no estado secular, imediatamen- tu
Iç o diabo também traz a público seus macacos e palhaços, que querem
iiiiitar a tudo. Mas tudo não passa de pura macaquice e palhaçada. Pois não
s:io as pessoas (diz a Escritura) por meio das quais Deus quer conceder
siicesso e prosperidade.
Esses infames e tolos nojentos, porém, têm só uma coisa em mente: 1s
:iili:iin que têm que imitar as honradas pessoas sábias e generosas, como se
< ~ i i iimitar ~ ~ r bastasse. Pessoas honestas, porém, não apenas simulam serem
s:il~i:isc ativas, mas o são de fato e agem de acordo. Conheci um desses. Ele
i:iiiiI~Emsabia fazer tudo. Quando se falava de guerra, ele tinha derrotado não
r i quaiitos híbais; quando se Sakava de justiça e sabedoria, ele tinha quinze 211

S:iloiiic>csna boca; no coração, porém, trazia um enxame de tolos; ninguém


ri;i ii~ida,elc era tudo. Por isso nós o chamávamos de Dr. Lança, pois era
i i i i i iiobre e cavaleiro. Sua geração se mulliplicou exageradamente, de modo
qiic tiojc existem muitos doutores Lança. Encontramo-los nâo somente nas
cai-ics de reis e príncipes, mas também nas cidades e no interior todos 27

qiicrcrn ser doutor Lança. E quando consegue pôr a mão no poder, ele de
Iiiio imprime seu selo em tudo, de modo que se tem que reconhecer: Dr.
I .;iii+i passou por aqui. Pois quando a coisa é para valer e aparece o aperio,
l i ~ cvidcnte
i que essa espécie não presta para nada. O gato deixa cair a
I;iiiil~:idnc corre atrás do rato38e ambos desaparecem, o doutor e a lança, 30

,.ii.cio q ~ i cseja chamado de Dr. Lança. Ora, onde não tem nada dentro, dali
~ ; i i i i l ~ i i nada
ri sai.
0ii:iiido tais macacos e palhaços fazem suas palhaçadas em assuntos
iiii.iios iiiil~ortantesdo que a administração pública, isso pode ser admitido e
i<~lc.i:i~lo. Mas quando estão em jogo o país e o povo, reinos, principados e 35

i1 < ' t i . i i l i i s i . g ~ ~ ~ <Erasmo,


hi: Adagia, p. 231: pithekos ho pithekos, km chrysea eche ymholn.
I<i:i\~iiii. ~ x , rsu;i vez, cita o escritor grego Luciano (ca. 120-ca. 180).- Desiderio Em.~mo
<li. I<<ilcirlG(1469-1536). representam mais famoso do huinanisrno crisi20 dc sua 6poc;i.
L I L I < . visitvil :I X I I ~ Y ~ Çda ZO espiritualidade cristâ (católica).
i K I i i I < . i o irlcrc-si a uma çoiihçcida tBhiiiu: Veiiils tinha um giiiii trcin;~ilop;ii;i scgi~i;ii-llir;i
I h t ~ ~ ~ No ~ l ; ~ . ccilit VCL, :KI p r c c k r :i prcsc!I~adc IMTI G~Io, c> galo clcixcn! c:~ir;t
~ ~ CIII:UIIO,
l ; ~ ~ 11iua ~ ~,I,) k K$Io.
~ ~ :alriís
~ ~ correr ~ ( I ~ K ~ S U I OA<l:tgi;t,
, 1,. 231).
semelhantes questões grandes e importantes, tanto ein tempo de guerra
quanto em tempo de paz, e daí aparece alguém que quer meter-se a Aníbal
ou Naamã, quando não passa de um Fórmio ou de um João L i n g i i i ~ a ~ ~ ,
aventurando-se a realizar abras para as quais não é homem suficiente, pois
5 não foi criado Lpor Deus] para isso, aí então está metido o tinhoso diabo para
causar toda sorte de miséria e desastre.
Atualmente está se começando a enaltecer a lei natural e a razão natural
como fontes de toda a lei escrita. Isso é correto e o enaltecimento é justifi-
cado. Mas o erro consiste no fato de cada qual pensar trazer a lei natural em
10 sua cabeça. Claro, se fosses Naamã, Augusto, duque Frederico, Fabiano von
Feilitzsch, eu o admitina. Como, porém, queres explicar o fato de não seres
nenhum deles? Se duque Frederico colocasse suas próprias palavras em tua
boca e metesse seus próprios pensamentos em teu coração, ainda assim não
te tomarias outra pessoa; continuarias sendo Fórmio ou João Lingüiça como
1s antes, e não terias sucesso nem prosperidade. Os próprios gentios são obn-
gados pela experiência a escrever: "Duas pessoas realizam a mesma tarefa;
não obstante, se diz que uma está procedendo corretamente enquanto a outra
procede Pois isso depende da pessoa. Se Deus quer que uma pessoa
tenha sucesso, então ela terá sucesso, embora seja tão estúpida como o Claus
211 Palhaço4'. Se ele não for a pessoa ou o homem, não terá sucesso, mesmo que
tivesse nove Saiomôes na cabeça e quinze Sansões no coraçZo.
Se a lei e a razão natural cstivcssem em todas as cabeças que se
assemelham a cabeças humanas, os tolos, as crianças e as niuiheres seriam
tão capazes para govemar c guesrear como Davi, Augusto e Aníbai. Neste
27 caso, os Fórmios seriam tão bons quanto os Aníbais. Então, nahiraimente,
todas as pessoas deveriam ser consideradas iguais e ninguém poderia gover-
nar sobre ninguém. Que bagunça e desordem daia isso! Deus, porém, criou
as coisas de tal maneira que os seres humanos sejam diferentes entre si, e
,que um governe sobre o outro e um obedeça ao outro. Duas pessoas podem cantar
in juntas (isso é: ambas podem louvar a Deus por igual), mas não podem falar
(isso é., govemar) ao mesmo tempo. Lm tem que falar, o outro, ouvir. Por essa
razão se encontram muitos grandes e valentes tolos naturais entre aqueles
que presumem ter a lei natural e a razão natural e se gloriam disso. Pois a
nobre gema chamada lei e razão natural é coisa rara entre os f&os dos homens.

39 Hiu~sWorit, h veres também Ifans Wurst ou contraído em uma só palavra Hanswumt,


cxpressáo ainda em uso hoje para designar uma pessoa desengonçada e de comportamento
tolo (Cf Cfirnm, Deutsches WU~eibbuch,verbete Hms Worsf).
40 f l u o cum idem faciunl, s a e p ut passe.$ dicere: ~Hoclicet impune facere huic, illi non limf'
'l'irinçio, Adelplii, V, 3, 37. - Sobre Terêncio, cf. acima n. 7.
41 < %iiis N;iri; nu original, o huho da çoiie dos príncipes da Ssxôiiia. Lutcro usa o nome para
iIi,sig~~ar <iIx,ho i>p;illi;içii çni gir;d. sin6nimtr de Iiiáo Lingüiça - Ifans M>mf.O C/:III.Y
N;,rr l~isl~Íricc>l ~ i ~ v ik~lcciclo
it crn 1515.
Isso é o que basta por ora a respeito desses hoineiis inila~ososjunta-
iiiciite com seus macacos ou inilagrosos homens do diabo. Os iiiilagrnsos
Iii~ineiisde Dcus. os Davis e Aníbais são de tal nanireza que não necessitam
iicrn do teu nern do meu conselho ein seu governo; eles têm um mestre
iiicllior, que os criou e os dirige. Como, aliás, diz AristOteles ein sua Polílicd2: 5

tiiis pessoas são inestrcs por excelência e a prí>pria lei. As próprias leis
:itcstain que um imperador é a lei viva sobre a tcnii. Os macacos, porém,
[lcveriam aceitar conselho e advcrttncia, porque têm riecessidade disso. Isso,
~>oi"m,cles não querem; antes desejam ser igualmente v e r d a d c i i hoincris
iiiilagrosos e imitá-los em tudo. Pois o diabo os mont;i e tem as rédeas na
iiiiio. Embora tambáii os verdadeiros homens milagros«s 2.7 vezes caiam na
~prcsunçáoe se excediiiii na busca do sucesso. Ou cntio. quando vem sua
Iiorinha e Deus retira s u : ~ináo por causa de sua presunyZo e ingratidáo, eles
r:icm de tal maneira qiic iicnlium conselho nem raciocínio Ihes pode ajudar.
Aí cnrão têm que ir ;I riiíiia. como aconteceu com Anibal. Eles. porém, 15

sciiiciri-iio perlritamcntc, c scu coração os adveite c1:iramente quiindo a sorte


c.i>iiicçaa se rcvcster ou quando se excedei.;uri coiri a presunção. Volteino-
110s.pois, aos oiitius, aos que não são gentc miliigosi c não são conduzidos
110r Deus dessii inaiieira.
Aqui surge ii pergunta: Acaso náo se deve aprciider nada dos grandes e 2il

>:il>iosnem seguir-lhes » exemplo? Por que então somos confrontados com


~.sscsexemplos, como tarnbéin o fizem as Escrituras no estado espiritual,
i.olocaiido diante de nós a Cristo e seus santos como cxcmplo? Resposta:
Ali! se todos pudessem Iàzer isso! E claro que se deve seguir os bons
i.xciiiplos cm todas as posiçUes, mas de tal modo qiic não nos tomemos 25

iii:ic;icos e comaanios inacaquices. Pois o macaco quer iiiiitar e seguir todas


:is coisas. Mas acontece-llie o que está escrito no Livro dos Sábios. Quando
viii iiin agricultor rachando uni gandc tronco, imediatamente também foi.
sriiioii-sc sohrc o tronco à maneira de montar um cavalo e conicçou a rachar
,i tronco coni 0 rnachado. Como, porém estava sciii sunga, seus testículos >c1

i ; i í i : i i i i na ieiida; e esqueceu dc introduzir uma cuniia na fenda. Quando tirou


o iii;icli:ido, irnprensou e esmagou os testículos, ricaiido casirado ou cunuco
II;II:I o resto da vida. No entanto, havia scgiiido o exemplo do agricultor. A
iiii.\iii;i coisa acontece com todos os seguidores inoportunos como este.
A rcgra é: Se alguém quer seguir a um outro, examine-se a si mesmo l5

11;ii;i vcr do quc é capaz. Pois não somos todos iguais. Se alguém é tão fraco
{ I I I C III:LI C 1na1 consegue caminhar, não,é vergonha para elc quando náo
titiiscgiic ncompanli;~~ uma pessoa forte. E justo que se deixe guiar e condu-
Salmo 101
ir ou que ande de hengiila, até que também atinja o alvo, se possível. e
louve o f m e que ihe comeu na dianteira a tão grande distância. Diz o ditado:
Quem não terii cal tem que construir com barro. Não obsiaiite está erguerido
a parcde a exeiiiplo diis paredes erguidas com argrutiassa. No entanto, o
5 serviço não tem a iiicsina qualidade. Como poderia unia pessoa doente
trabalhar e correr coiiio uma pessoa sadia sem prejudicar-se mais ainda ou
até causar sua morte'! Portanto. ~, se o Dr. Martinho não é cana/
,~ de cscrever
epístolas tão boas como a de S. Paulo aos Romanos, ou não sabe pregar tão
bein como Sto. Agostinho, é honroso que abra o livro e p e p uma esmola de
10 S. Paulo ou Sto. Agostinho'1% pregue seguindo o exemplo deles. Se nZo o
fizer tZo bem quanto eles iiein conscguc igualar-se a eles, a~iisidereque não
é S. Paulo nem Sto. Agostinlio, que estão longe em sua diaiiteirri cnquanto
ele tem que arrastar-se ait.:is tleles. E se Dr. Lanqa não atinge a sabedoria e
a inteligência do duquc Frcdcrico oii de Fabiano von Feilitzscli, coiivt'm que
1- vá c busque instrução ou estude os compêndios de &cito escritos pelos
expoentes dri siihcdoria para os menos dotados e riiais pobres de inteligéncia
p x a ensinamento e exemplo, para que rastejem atrás deles, visto que por
próprias forças não coiiseguem acompanhá-los neni correr como eles. Sc
Fórmio náo sabe gucncar tio bem quanto Aníbal, procuie a companhia de
21) Aníbal e aprenda dele tanto c1uanto sua natureza for capaz de aprender. O
que estivcr fora de seu alcance, deixe-o para Aníbal, tendo sempre ein mentc
que é Fómiio e i ~ ã oAníbal.
Justameiite isto é o diabo e a praga no mundo: somos difcre11tes em tudo
- na força física, no tanianho, na beleza, nas posses, de rosto, na cor, etc.

21 Mas na sabedoria e no siicesso, nos quais nos distinguimos inais um do


outro, queremos scr todos iguais. E o que é ainda pior: neste poiito cada qual
quer ser superior ao outro, p;uiic&mente Dr. Lança e iiicstre Fórmio.
Esses, inclusive, ousam uisti-iiir os verdadeir«s homens milagl-osos e coiisi-
derá-los tolos. Ninsiiém consegue f z c r nada correto para. esses infames tolos
c sabichoes, conio tliz Salomão: "Um tolo se considera mais sábio do que
sete sábios lcgislndoirs" [Pv 26.161. Este é o veneno do pecado original
coiigênito e a rnorgid~iria maçã, por meio da qual o diabo rios tomou sábios
e iguais a Deus. E por isso que tolos nZo querem ser tolos, e o Dr. Lança
pretende ser o maior doutor e mestre Sabichão, o maior mestse na terra. SZo
1.7
csscs os que governam no mundo. Deus nos castiga com gc~itcdcssa espécie.
O gentio Platão também cscizve que existem duas espécies de justiça: a

,l.i A,co~.siinlio(314~430),o ?:tis iiiipnrtmitr dos antigos pais (teólnpn?) da lgirjn oçirlenral (dç
kil:! 1oiiii;i). !i;iiiiral d;i Aliic:i do Noitr. convertido 30 crisii~nisino rin 3x7. hihpo <li:
Ilil~288:c. ti;i Aliic:i <I<> ciii 1'15, li1ul:ir em 3M).
Notic (i.<tii<liiilol.

155
justiça segundo a lei e a justiça segundo a natureza44.Eu quero denominá-
los de justiça sã e a justiça doente. Pois o que brota por força da natureza
isso se impõe ao natural, também sem lei, inclusive passa por cima de
qualquer lei. Quando, porém, a natureza está ausente e a9 coisas têm que ser
Ièitas por meio de leis, isso não passa de mendicância e remendagem. Não s
acontece mais do que aquilo que existe na natureza doente. Seria como se
eu quisesse estabelecer como regra geral que, numa refeição, se deve comer
dois cacetinhos e tomar um copo de vinho. Quando uma pessoa s i se senta
à mesa, irá devorar seis cacetinhos e provavelmente tomará uma jarra de
vinho ou até duas; assim ele faz mais do que a lei estipula. Quando, porém,
uma pessoa doeute se senta à mesa, irá comer meio cacetinho e tomar três
colheres de vinho. Cumpre essa lei somente na medida em que sua natureza
clocute o permite, ou então morrerá se tiver que obsewar essa lei. Aí é
iiielhor deixar que a pessoa sã coma e beba o que quiser e quanto quiser,
scin qualquer imposição legal. Para a pessoa doente, porém, estipulo uma 15

1)orção de acordo com suas condições, de mancira que não seja obrigada a
ij:iialar-se ao sadio.
Na verdade, o mundo é uma coisa doente; é um casaco de peles no qual
iiciii a pele nem os pêlos prestam. Os heróis sadios sZo raros, e Deus os
~.oiicedca alto preço; no entanto, o mundo tem que ser governado, se não 20

i~iiiscrmosque os seres humanos se transformem em feras. Por isso, em


I:~.~.;II, as coisas continuam mera remendagem e mendicância no mundo; é
i i i i i verdadeiro hospital, no qual príncipes e senhores e todos os governantes
i i i i i carência tanto de sabedoria quanto de coragem, ou seja: falta-hes
siiccsso e orientação divina - da mesma maneira como as pessoas doentes 25

<.;ti-ccemde força e energia. Por isso temos que remendar e costurar, arranjar-
iios com as leis, enunciados e exemplos dos heróis registrados nos textos ou
livros. Assim temos que ser e continuar discípulos dos mestres mudos (ou
si:i;~,dos livros). No entanto, jamais o conseguiremos fazer tão bem quanto
t.si;i csciito ali; rastejamos atrás deles e nos agarramos a eles como em 30

I):iiicos ou bengalas. Além disso, seguimos aos conselhos dos melhores que
vivciii cin nosso meio, até que venha o tempo em que Deus providenciará
iiov;iiiicnte um herói sadio ou um homem milagroso, em cujas mãos tudo
;iii(I:i iiiçllior ou até melhor do que está escrito nos livros. Alguém que faz
i~iii~l;iii~:is ii;i lei ou a aplica de tal maneira que tudo começa a verdejar e 35

Iloi-csccr riii p;iL, disciplina, segurança e puniyio, enfim o que se pode


, I i : i i i i : i i - ilc. >:i~vci-rios;idio. Alguém que, além disso, é temido, honrado e
amado no mais d t o grau em vida e que, depois de morrer, é exaltado
eternamente. Se, porém, uma pessoa doente ou inferior quisesse imitá-lo, ser
igual a ele ou até melhor, sem dúvida, Deus enviou essa pessoa como praga
para o mundo, como também escrcvem os gentios: "Os filhos dos heróis são
5 pura pragan4'.
Pois que utilidade tem a grande e elevada sabedoria e a melhor e mais
cordial boa vontade ou intenção se tudo isso não corresponde aos pensamen-
tos que Deus dirige e aos quais concede sucesso? Tudo não passa de desa-
certos e opiniões v%, são inclusive nocivos e destrutivos. Por isso está muito
10 correto o ditado: Os estudados, os desacertados. Idem: Um sábio não comete
tolices pequenas. Todos os registros históricos, inclusive os dos gentios,
atestam que pessoas sábias e bem intenciondas ariuinaram terras e povos.
Isso, naturalmente, se refere rios que se consideram sibios a si mesmos e aos
goveinantcs doentes, que não fonirn dirigidos por Deus e aos quais não
15 concedeu sucesso, mas que, não ohstante, queriam sê-10. 0 peso do governo
estava acirra de suas forças, não foram capazes de suportá-lo nem de levá-
lo a bom termo. Foram esmagados por ele e pereceram como Cícero",
Dcmóstenes4', etc., todos, sern dúvida, homens extraordinariamente
sábios e inteligentes, que, de fato, poderiam scr considerados uma luz na lei
21) c na razão ioatural; no fim, por&m,tiveram que entoar o miserável lamento:
"Isso eu não teria imagiiiado""'. Sim, s~rihor.As boas intenções muitas
vezes acabam cm choro. Para resumir: E um grande dom quando Deus
concede um homcm milagroso ao qual ele mesino dirige. Essa pessoa pode
levar o título honorífico de rei, príncipe e scnhor, seja cle mesmo um senhor,
como Davi e Augusto, ou um conselheiro na corte como Naamã da Síria.
Por isso Salomão diz em Eclesiastes [9.11]: "Para correr não importa ser-
rápido, para guerrear o decisivo não é a força, para angariar riquezas não
basta ser sábio; saber fazer tudo bem-feito não garante aprovaçio; todas as
coisas dependem do tempo e da sorte". Isso é apenas outra maneira de dizer:
1 Alguém pode ser sábio, pode ser muito inteligente, pode ter belas idéias e

45 M;us uma vez Lulcro recorre a: Erasmo, Ada@ (p. 204,s.): Hçroum filii BOxae.
46 V. acima p. 148, n. 27 - Cíccro, excelentc orador, fracassou, no h, quando parliçilxiil
iitivamcnte, como lídcr, das disputas políticas em Roma; foi banido e assassinado.
47 Drm<isfcne (384-322 a.C.), lidcr politicri ateniense, participou ativamente da políticii ilc
ilclcsn contra a Macedônia. Foi perseguido pelos macedônios. Em Alenas foi env»lvi<l<i
iiiiiii processo por suborno e condenado à morte. P r a não ser dçtido e executado, suicidr>ii-sr.
.1X M:iico .lúnio Biuto (85-42 a.C., suicídio), lider político romano, participou ativaiiientc <I;i
ri>iispiiiiç3oconha Caio Júlio César (100/102-44 a.C.); foi um dos assassinos desiç. Si~ici~
iloil-sc qu;iiidii derrotado, com seu exército, pelo comandante militu nlmano M;iii.o Aoti,
iiici (cii. 82-31] i1.C.).
I I'. r , I c . I, 2 I . I.iilcri> cita ('icero, Dcmii~iinis,Bmro coiiio cxciiiplos
~~l:is~icc~s tlc SUCL lrsc.
I ;I>VCIIIII

planos inteligentes; tudo isso, porém, de nada adianta quando nâo é dado por
I)cus e por ele dirigido, antes tudo regredirá.
Isso basta por esta vez sobre o primeiro versículo desse salmo, no quai
Ih~vilouva c agradece a Deus por seu bom govemo e administração. Corn
isso confessa que náo ioo estabeleceu nem o manteve por meio de sua própria s
grxiide inteligência e de seus próprios sábios perisamentos, mas por meio da
cooperaçâo e diieçáo de Deus, que lhe inspirou tudo isso e o encorajou e
:ihençoou com sucesso e Selicidade. Como já disscmos acima, todos os
príi~cipese governantcs deveriam tirar daí a ligáo de que nâo é mérito seu
qii;uido conseguem governar bem, mas daquele que lhcs concedc tal succsso 111

c hênção. Devem aprcnder a não permitir que doutor Lança e mestre Sabi-
cliáo façam suas macaquices e palhaçadas com eles, mas a coniiar cm Deus
c rog~r-lhe que dirija e guie seus coraçócs a um govemo feliz. Devem rogar
i.spccialmcntc que jamais retire sua mão e que jamais permita que procedani
110ssabedoria própria e belos conselhos, ou que se aventurem presunçosa- 35

iiiciite a cmprecndcr algo que está acima de suas forças; pois isso não tem
i.iirisistência e o fim será abominável e insosso.

?O

Versículo 2
Procedo de modo cauteloso e sincero com nque1lt.s que me pcricncem, e
:!;o com fidelidade em minha casa.
Nesses três versículos sucessivos [v. 2-41 ele mostra como administrou 25

c governou seu reino em assuntos espirituais, ou seja, na palavra e 110 serviço


clc Deus. Os outros quatro versíeulos [v. 5-81 mostram como governou em
iissuntos sccularcs. Este é todo o salmo. Diz em primeiro lugar: "Procedo de
iiiodo c?uteloso e honesto com o meu pessoal e ajo com fidelidade em minha
.
c . i. 5 , i * . ~E como se quisesse dizer: O Senhor, náo é minha inteligência ou lu

;il)cdotia que me capacita a governar meu reino e minha casa de modo tão
iii:ir:ivilhoso e bom e para tratar minha gente de forma tão honesta e correta.
I I i i i : ~ bênção e obra, etc. Aqui elc destaca duas coisas de que é capaz
~~<~so;ilrnente como homem milagroso.
O primeiro destaque: ele governa seu reino com cautela e honestidade e 35

t i iii:iiité~ii na palavra de Deus. Pois também lemos em 2 Samuel [6.2ss.] com


i ~ i i c 'scricdade e com quanta dedicaçâo restabeleceu o culto a Deus c resgatou
:i :II.C;I. "Pois na época de Saul", diz ele [I Cr 13.31, "r120 perguntávamos
11i.l:i arca nem a procurávamos." Com isso quis dizer: Sob o reiriado de Saul
, I iiilto :i Dcus havia caído no esquecimento e a arca estava abandonada no ,111

111i.Agoia, porém, ele a resgata e congrega todo o Israel ao rcdc~rdcla. Elc


I : i i i i l ~ i . i i i quei-ia ter coiistruí(lo o Iciiiplo. Isso, porCrn, Dcus or(iciio~i:I scii
Salmo 101
fihoSn. Náo obstante, institui muitos ofícios divinos e compõe salmos e
música instrumental para o louvor de Deus. Em resumo, ele também se
gloria a si mesino alhures no Saltério: "Deus fala em seu santuário" [SI
60.6; 108.71, isso é: em meu reino eu tenho a verdadcira c pura palavra de
Dcus e a doutrina isrepreensível e reta. Náo instituo ou mantenho idolatria,
facções c divisões ou qualquer ouira doutrina falsa.
E isso que tem em mente quando diz: "Proccdo dc modo cauteloso e
honcsto com ineu pessoal". "Cauteloso" significa de acordo com a palavra
de Deus. Pois esta palavra também sc encoiitra em outro salmo: "Agora, 6
reis, sede sábios" [SI 2.101, isso é, aceitai orientaçáo, ouvi a palavra de Dcus,
e assim scrcis abençoados c fclizcs ein vosso governo. O mesmo diz aqui:
"Procedo de modo cauteloso", isso é, deixo guiar-ine pela palavra de Deus,
por isso incu governo é sábio e bem sucedido. "Honesto", porém, significa
de modo irrepreensível e puro, ou seja: não permito que sc introduza qual-
quer crença ou artigo falso. Pois é isto que significa o telino thamim: sem
falha, scm mácula, puro, limpo, náo hlsiíicado. Este é, sem dúvida, um
ponto que se deve enaltccer como cxcinplo para todos os reis, príncipes e
senhores como um verdadeiro milagre, ao qual devem seguir quanto estiver
ria possibilidadc dc cada nin. Pois iinitar a Davi neste ponto ou fazê-lo 60
bem quanto ele o fez, isso nZo é para reis c scnhorcs ordinários; isso é
assunto para homens milagrosos, aos quais ele o coloca na mente e no
coração, a fim de que o empreendam com seriedade e também o realizem.
Pois essa seriedade e capacidade dc execução náo sáo incrcntcs à razão nem
?I lei natural. Todos os reis e príncipes que seguem a natureza e a suprema
sabedoria, têm que tornar-se iiiimigos de Deus e perseguir sua palavra, como
diz o Salmo 2.1: "Por que sc cnfureccm os gentios e os reis se levantam
contra « Senhor e seu Cristo?" Todos os anais de todos os reinos demons-
tram a mesma coisa, de inodo que inclusive no reiiio de Judá apenas cerca
de três reis são considerados justos e bons. Davi é o único a ser colocado
diante de todos como exemplo". Todos os demais governaram com idolatria
c í'alsos profetas e perseguiram os verdadeiros profetas, mataram-nos c
conderiaram a palavra dc Deus.
Por isso não admira que reis, príncipcs c senhores mundanos sejam
initnigos de Deus e persigam sua palavra. Essa é sua natureza, nascerani
assim; é uina característica natural e inata da razão inata, de modo que ela

50 ('1: 2 Srii 7.lss., espe~ialmenlev. 13.


51 N i ~ r i i ; i pridiçu sobre Ex 18.19-22, pniierida ein 20 de agosto dc 1525, Lutero diz: "Riç;i-
itic ;i lisiii dos príncipes e govenrantes que tcinem a Dcus mais quc ao hrinicin. Qoantiis
vi^? :icli;i <IUC ciisicm'? Eii pridesia cscrever os n<inics dc todos clcs num único dcd<i. o i i .
i.i,iili,iliii. sc ciisiuni:i dixcr, liiidcl-ia cscrcvci- i>s niinics dc lodi>sos príncilics ~cii>s
~ i i i i i i;iiicl
<li,siiivli." WA XVI. 150.?K.32.
Governo
não possui a graça rierii a inteligência para pensar ou agir de outrci rriodo.
Por isso o Salmo 2 pinta seus elmos e escudos com essa cor e os cliarna de
inimigos de Deus c de seu Cristo. Observando o mundo, constatamos qiie
acontece exatamente o qiie está escrito no salmo. Se, porém, existeni entre
os reis. príncipes e nobres alguiis que se preocupam seriaineiite - sim, 3
seiiainmte, digo eu! - com Dcus c sua palavra. a csscs dcvcs considerar
milagrosos lioriieiis de Deus e caga rara no reino dos céiis. Pois não agem
desse modo eiii virtude de sua razão ou elevada sabedoria. iiias Deus comove
seus coraçoes e os dirige de modo especial, de maneira quc iiào rcsisiam a
Deus do mesmo i~iodocomo outros reis e senhores, mas promovam sua 10
palavra na medidii em que Deus lho concede e Ihes ajuda.
Pois se a razão ou a elevada inteligência bastasse p m essa obra mila-
grosa, há muito os rcis, príncipes e scnhores nos territórios demães já tcriam
tomado uma atitude diferente ein relação a palavra de Deus. Pois não Falta a
grande inteligência. A palavra dc Dcus está scndo ofcrccida dc modo tão i5
iúcido e claro em prspção, canto, fala, escrita e pintiiras2, que eles têm quc
admitir que é a verdadeira paliivra de Deus. A única coisa que poderii dizer
contra é que não foi ii1ici:itiva deles nem determinado ein alguni concílio.
Por isso, agora náo o chimi'uii dc hcrcsia mas dc riovidadc c impropriedade.
De que lhes vale agorii siili graride inteligência? De que Ihes adiant'i 5'1,. hLICIII -. 211

c constatarem que isso é ccrto? Coiii cfcito, se isso ajridassc, cnt'ao certariirri-
tc terão superado longe a Davi nesses íiltimos dez anos, pois ele mesmo
,jaiiiliis 0 achou táo importante nem teve clareza sohre isso. O que falta aí é
cluc Deus não os escoiheu para serem tais homens milnposos e para que
Iizessem tais iidages por meio de sua palavra e seu serviço. Por isso os zi
iiiclui indiscriiuiiiadamenie dentro do grupo comum dos demais reis e prín-
cipes quc, como diz o Salmo 2, perseguem a Deus e seti Cristo, como
tiiiiibém o atesta Saiomão: "Considera as obras do Senhor! Ninguém pode
ciiiciidiir aquele a quem ele despreza" [Ec 7.131. Nem por isso, porém, estão
csriis;iilos. Se não possuem a graça para fazer milagres no serviso de Deus, i o
rlrs i?iri qilc fazcr omais que podcm, ou então ao menos não fazer oposição
i i i i 11~1-scgiii-lo. Que disse o papa Júlioz3? "Se nós inesmos não quisermos
svr (li.v~itos.;w1 iiiciios iião impeçamos outras pessoas de serem devotas".
' a r i i i cli.iio. I kivi c«iiicçou a cançãozinha em tom elevado ao cantar que
j : i i v ~ . i i i ; i i : i s;il~i;i t. ii-ii,[iicerisivelmente.Quem seria capaz de avaliar ou ima- 35
j 8 , i i i : i i C I I I : I I I I ; I ~(".i\ii.iici;i
clc teve que enfrentar por causa disso e quanto ódio
iq-vt. ~ I I I G .'. I I I N B I I : I I ' ! I'ois r~,rliiiiieiite.
não agradou a todas as pessoas iiiflueiites

'I ' i iiii i18 i i i ..I.!, I* ii..;i~iil<, liiv, g~;u,<lcs piiiir~rcsiki ip<ic;i,coiiio /Ilhi<lz~ l>iiicr(1471152X)
i t ~ t ~ l i i ii i c~ I iii.i\ 1 i.,<i;i<.h.o Vclliii (14721553). i> picifoi- (1:) I<cli,i-iii:i.
v I ~ .~I I I .t., # t . l b . ~ t . ; t o I , ; I ] > , ~l~ílio11 (1443 1513. p:q>:t ~lcsdc15113).
I l ' ~ ~ t ~I D,~ w
e ricas o fato de ter abolido toda a idolatria e escándalo. constrangendo a
todos ao único e puro culto a Deus. Sem dúvida, tambkrri eles enalteciam
seus velhos riiuizes coino os melhores e não cstavam dispostos a renunciar
aos costumes e priticas de seus antepassados ou a mudi-10s. Se rxistc um
povo no inundo que se afeirou com f~mezae pertinácia à idolaiiia, eritâo foi
o povo dc Davi, forilin os judeus. Na história de Davi também se pode
constatar que, em sccreto, muitas pessoas lhe eram cxtremameiite hostis.
Assiin yiie se apresenlava a oportunidade, ajiidar:uii deciditlamente a derru-
bar, expulsar, torturá-lo e infligir-lhe toda sorte de tunnentos. Não obstante,
cantou esta canção e arriscou tudo com Deus e siia palavra. Por isso podc
cantar coni hoiira, como exemplo para todos os reis: "JJrocedi com cautela
e com honestidade para com minha gente". Desse modo ele conserva a
melhor ordem, segundo o ensinaincnto de Cristo: "Buscai em primeiro lugar
o reino dc Deus e sua justiça, e assim todas as outras coisas vos serão
concedidas" [Mt 6.331. Isso, porém, exige um homerii que pode ousar e
empreendê-lo guiado e conduzido por Deus.
E ajo corri Mcli&de em miiihrl c;is;i.
Segundo: Alérn de govcinar seu reino dc modo tão divino, também
cducou sua casa r i a p;hvra de Deus, para não acontecer o que diz S. Paulo:
ensinar a ouiros ciiclulirito eu próprio me torno repreensível [ I C« 9.271. O
apóstolo orderia coiii inuitrt sevei-idade aos bispos, isso é, aos pastores e
pi-epdores, que, antes de mais nada, govenieiii hetn sua própria casa, que
teiihain esposa? castas e tácitas e filhos picdosos. vira niío acontecer que
escaiidalizem mais os ~ ~ i s t j ocom s sua vida doinéstica do que os aperfei-
ço;iiii coin a pregaqão. E conclui imediatamenie: "Como poderão governar
bcm ;I Igreja se governam mal sua própria casa?'' [I Tm 3.51. Também não
há outro jeito. Quem quer servir à Igreja com fidelidade e argüir o pecado,
ccrtaineiite não poderá tolcrar que sua casa, a mulher e os fiihos vivam de
iiiodo repreensível c irresponsável. Se, porém, pennite que sua casa viva na
indisciplina e a seu bel-prazer, seguramente não sc preocupará muito com a
Igrcja e corn os demais. E n t k ele já 1150 é mais pastor ou pregador, mas um
Ioho e cúmplice do diabo. Dá espaço ao diabo e o dcixn fazer o que quiser,
tanto em casa como na Igreja, como aliás procederam e ainda procedem o
papa, os bispos e pastores.
Se. porcaiiio. um rei ou um príncipe é capaz de tolcrar erri sua corte ou
ciii ciirgos púhlicos hlasfemadores e desprezadorcs ou uriiiiigos de sua pala-
vra c dc deixá-los levar uma vida perversa c escandalosa à voritiide piiblicti-
iiiciiic. ;i conictsi- violtiicia e iiijustiças contra CI povo, sein piiiiir e iriipcdi-
111soiitlc c corno puder - de que lhe adiaiitaria se intimasse cnergicamciitc
i> IIOVO c111 Iixlo o país a promover o culto u Deus e a honrur a cle c su;i

~ ~ ; ~ l ; i v r ('crl;~iiiciiic
;i! sc (liri a seu respeito: "MCilico. ajuda-ic a ti iiicsiiio"
11,~.,I.?<!.I < I I I ;~Ic~ii%i: "IoFio, c~~iclaic icu pr6prio i~iiriz". O povo ( l i iiiais

l(11
atenção a sua corte, scu pessoal c funcionários do que a suas orcieiis: seguem
mais ao exemplo de sua casa do que a suas ordens, e escusain-se a si
mesmos, comparando seu exeinplo com sua ordem. A-im acontece ilue pisa
e esmaga com os pés o que coiistrói com as mãos. E bom notar o que se
passou coin Davi neste pormenor. Os fidalgos da cone e fi~ricionáriosgostam i
de ser livres e gostariam de ser eles mesmos senhores no território, e tambéin
o sio on~leiião governar um Davi. E quando são obrigados a fazer o que
não g«st:iiii de fazer, eles sabem como ficar a espreita e esperar até que surja
sua chaiice. Eles têin utn jeito todo especial de camutliir iiiuito bem por
algum tempo scu olhar ambicioso c cnganador. Por longo tcriipo o traiçoeiro io
Aitofel foi 0 rnais íntimo e melhor conselheiro de Davi. Ao final, todavia,
ajudou amplainente a pisá-lo com os pés e pagou o preço a si mesmo,
enforcando-se por suas próprias mãos"'.
Um mal-grave de Meissen disse que um senhor nao precisu temer aqueles
que estão distantes, mas aqueles que lhe estáo mais próxiinos. pisando-lhe 1s
nos pés; pois csscs g o s t a ~ i mmuito mais de pisar também eni soa cabeça.
A verdade é u srgiiinte: quando Deus quer bem a um príncipe «li país, ele
lhe concede uin boiii Naamã ou José" para assisti-lo, por meio do qual todas
as coisas são beni sucedidas e prospcrm, corno m b é i n diz Siraquc [Eclo 10.S].
Mas se quer mal ;i uni príncipe, ele, inclusive, põe ao lado de iiin probo ai
Davi um Aitotel r lho preiide n seu calcanhar, capaz de siinulx tão bein
(como o diz a Exritur;~a rcspcito dc Aitofcls6)que parece que Deus f;il+ por
rrieio dele, enganando, inclusive, o piedoso Davi poi certo tempo. E tào
<lii'Ícil ircoiihecer e doniinar na corte os grandes iiiascar:idos do diabo que o
piijprio DCUStcm quc goveinar o senhor (para que as cois~istenham um bom 25
:iiidariierit«) contra todos os aduladores da cotte ou teiii que colocar a seu
lado um probo José que não irá abusar da confiançri do piíncipc. Caso
contrário, scgiiramcntc as coisas náo se desenvolverão serri prejuízo tanto
[xim O príncipe quanto para o povo.
Quem seria capaz de cnumcrar todas as artimanhas e inalícias do louvá- iil
vcl pessoal da corte e nos cargos públicos? E mesmo que se pudesse relatar
c dcscrcvC1-ias com toda a exatidzo, quc adiantana isso? Nem por isso eles
sc Io~ri:ii-i:iiiiriiclhores; pelo contririo, se tornariam ainda piores, como os
iiiclciis 1it)r I I I L . ~ ~ ilos
) hons sermões de Cristo. Pois scqucr um pah.^ ao ou um
ciiliicliio l~oiiriiiii. c;ipaz de corrigir u n empregado ou uma empregada mim, 35
i r l i s ~ j : II:III
~ , i o ~ i s i ~ ~transformar iic um pequeno patire eein pessoa lionesta.
I1i.Ii> ~ i ~ i i i i ~ i i i~ i~ ~I I, ; I I I \ ~quer
O castigar uin prejuízo, o patife Ilie frui dois
Salmo llil
prejuízos ainda iiiaiores, especialmente quando o regime é frouxo e relaxado.
Como, enfio, poderia uiii prhcipe ou senhor sozinho transfomiar táo grandes
e numerosos patifes eiii gente honesta em sua conc ou seu tessitório? Eiii
cspccial quando esses são tio livres e poderosos e ainda conseguem trdnçdr
tima Kiiiherin ou uma Kathe [comntelsí secreta coiitra seu senhor. Dai,
.~~~
eiiiBo., sc node dizer uue o mesmo está acorretitado a unia bela iovem Kaihc
de ferro. Um cloiio dc casa anda por aí a pé e muitas vezes tropeça num toco
ou iiiiiiia pedra, mas se levanta de novo, ainda que iiiaricatido um pouco. Um
príucipc e senhor, porém, é um grande patrão. Ele iiioiiia grandes e caros
garanhiies, quc querem encher a pança com o melhor pasto, querem ter o
busal livrc e as rédeas soltas; não toleram as esporas, querem andar de través
nas luas, escoicear, empurrar e morder; além disso, querem ser altamente
honrados e temidos sob o selim e ajaezarneiito de seu dono. Por fim, quando
são acometidos de mau huinor e vágado, depositam o senhor sobre o calça-
mento, de niodo que o país e o povo tenham algo para sc divertir e gozar às
cus&s delc'! Adestre e doinestique esses garanhõcs quem quiser, mas r i o
cu; e que o di;11>«esfole cssa cabeça de coelho; para cada caça. o respectivo
caçador.
PoiiUiito, podem ocorrer duas situações: Deus concede graça aos subor-
dinados, de iiicuieira qiic eles próprios estejam dispostos a ser probos Josés
e Naamãs, nos q u i s seli seiihor pode confiar; ou, então, Deus coiicede ao
senhor o espúito teiiiível, séiio e severo de um herói, um semi-Matias"' ou
seriiitirario, que não confia em ninguém. Se iião itcoiitecer uma dessas duas
sit~iaq6es.podc-se rernenclar e costurar quanto se quiser; pode-se praticar :i
paci?iic.ia e pensar quc Deus não está em casa c que retirou sua graça do
respectivo país, para castigar os pecados; pode-se pensar ainda que é melhor
este castigo do que outro pior, visto que as coisas njio podem ser diferentes,
como podemos venlicar em muitos exemplos nos Livros dos Reis. Que pôdc
Siiinuel hzer quando o rei Saul pennitiu que Doeguc e muitos outros o
induzissem a cometer grande p r e j ~ í z o ?Sob
~ o piedoso rei Zedequias, tam-

57 Aqui h i u ~ i jocoso
i trocadilho iiu utiguial. Kathcrin (Knlhui>ia) ou sunplesmcnte Kiilhc i.
i>lainie da es[iosa de Lutcm. Por sua vez, Kiithc soa como Kerre = cnrrcnte. Gniuiii.
I>ciii.viho \t,'irrrrhucli, v. 11, col. 276 e 634, registra nos dois casos o sigiiificada "coiis
~pil;iq;ii>'',";içorih secreto", coiisidcrmdo-o "e~tranho". Ciw, cr>rno prova; no priiniiii
i;i?i>.ju\lui>iciiir u presente trccho dc Luler".
5K l i i i i WA Tr II.258; Liitrro usa os mcsrnos tennos, em 1532, au irferir-\r n .I~J?o Frc-ricrii.~
1. c , M;igiiGiiriir> (l5l)i-1554). príncipe-eleitor da Saxónia de 1532-1547. Aqui pii>v:ivi.l
hém Jeremias teve que presenciar todas as barbaiidadcs que o pessoal da
corte praticava, até que Deus interveio com o castigoh'. Em geral, a maior
praga para os reis e príncipes (especialmente dos tementes a Deus) é o fato
de não apenas terem que tolerar patifes infiéis e falsos entre os maiores
senhores do tcmtório, mas quc, inclusive, são obrigados a investi-los em seus 5

cargos, como o fez Davi com Aitofel e Salomão coin Edcr-Escf12. Eles têm
nas grandes economias os mesmos problemas que os cidadãos enfrentam nas
pequenas economias, onde alguém tem que engajar urn ladrZo c patilè como
cinprcgado e uma meretriz e ladra como empregada.
Muitas vezes ouvi dizer a respeito do impcrador Fredenco 1II""ue sua ir)
administração não agradava aos príncipes do império. Queixavam-sc dc que
ele havia entregue o governo da coríc ao sopeiro. A isso teria respundido
ceita vez: Sim, com certera niio existe um entre eles que não tenha igual-
mente scu sopeiro. Deste e de muitos outros incidentes se pude deduzir que
certamente náo faltava sabedoria, inteligêncncia c podcr ao imperador Frederi 1s
co; no entanto, não lhe haviam sido dadas a coragem e a inspiração para agir.
Se tivesse sido um Matias, clc tcria jogado os servidores da sopa com os
servidores do desjejum e da janta num só rnorite e ainda assim tcria sido
hein-sucedido. Portanto, visto que não era o homem iiiilagroso que pudesse
Iizcr um casaco de pele novo, teve que remendar e costurar o mau casaco 211

<Icpele antigo o melhor quc podia, deixando as demais coisas correr, espe-
i-oiido que Deus as fizesse. Um pouco antes dele, o imperador SigismundoM
iiáo foi muito inclhor. Elc foi um honiein maravillioso, muito inteligente,
probo e capaz. Não lhe faltou iiiteligêricia e poder, mas não cstava à altura
rlos problemas de seu tempo, tanto em inteligência como em sorte. Por isso 2s

diz Salomão em Pv 16.1s.: "O homem toma o propósito em seu coração; no


ciitanto, somente o Serihor concede o que a Iíngua devc falar. Cada qual
considera seus caminlios limpos; mas sometite o Senhor purifica o coraçZo".
Estes e outros enunciados semelhantes são grandes, cxcclcntcs c verdadeiros
(litos régios contra os sabichees e atrevidinhos. 30
O propósito é bom, diz ele, e o caminho está limpo, certo e preciosa
iiicnte bom. Entio, mãos à obra, porque nos parece tio bom. Sim, diz ele,
i.oiri cfcito tudo está perfeitamente planejado e seria ótimo se tudo corrcssc
iIc acordo. No entanto, pcimanccc o fato de que Deus também tem que estar

01 ('1: Ji 28; 34; 39.1-10; 52.1-30; 2 Ks,24.18-25.22.


<i1A rilerençia a Eder-Escr E obscura. E possívcl quc Lutero tivcssc em mcntc 1 CI 18 e 1'1,
que fala da vitória dc Davi sohrc Hadadcrcr, rci dc Zohá. No critanto, náo há ncliiiriiiia
coiii~la~áocom SdornZo
0.3 I<ic<lciicoill (cf. acima n. 59) foi impcrador do Saciii I~npi.i-i<i
l<<ini:iii,>-<;cr~n:i~~ic,,
ii;~
iiiiriiiçia de Lutem.
iiniicnidor do S ~ C K I111F:t.io
( v i Sigi,~~iiiiii<k>, > I<~>~II:~III>-<;CI.I~I~I,~CC> ,1111 \ilu~l<>
im,l<,s (h. I . ~ ~ I < . W I
I I.K>X-1417.i~iipcr;id<ii-
dcsilc 1119.3).
presente, não somente para ensinar a língua como ela deve instruir c acon-
sclhar, mas também para mostrar como o coração e a mente devem atacar a
questão com segurança e ânimo, para que seja bem-sucedida. Se ele não
estiver presente, o caminho maravilhoso e claro e o bom propósito de nada
5 vaiem, e também não saberás falar corretamente a respeito com a língua,
nem opinar adequadamente com o coração. O bclo caminho andará de
caranguejo, e o maravilhoso conselho se transformará em vergonhosa tolice
e ruína prejudicial, tanto do senhor quanto dos súditos. E isso que mcrecem,
pois qucrem fazcr coisas para as cluais Deus não os criou, querem pular
111 quando sequer conseguem andar; querem tirar dinheiro de uma sacola vazia
c (aplicar) outros truques scinelhantes.
Assim, as maravilhas que Davi canta a I-espeitoda administração divina
devem ser consideradas um milagre que Deus lhe concedeu para que o
rcaíizasse acima de sua grande inteligência e capacidade. Isso deve servir de
15 exemplo a ser seguido por todos os outros senhores, cada qual conforme sua
capacidade - c que ninguém tenha a presunçiio de fazê-lo melhor do que
Davi neni tente cantar esse hino em tom mais alto. Seguramente ficará rouco
e estragará tudo mesmo antes da quinta nota. Os alemães têm um provérbio
que d i que
~ serão acometidos do mal-&i-qucda aqueles que querem fazer as
211 coisas melhor do que podem. El facturn est ita - de fato é isso que
acontece: caem miseravelmente quando vão além de suas capacidades e são
acomctidos de um verdadeiro mal-da-queda, de maneira que seria melhor
para eles saltarem dois degraus do que levar uma queda dessas. Os gentios
dizem: "Jamais f a ~ anem intente fazer algo conti.irio à vontade de Mincr-
5 va". E mais: "Ninguém conseguirá empreender com sucesso o que a natu-
reza lhe Deixa o que não és capaz de erguer. Pois sabem por
expcnência que jamais surgiu um homem de grandes feitos ou um homem
milagroso súle afflatlr, isso é, sem especial inspiraçiio de Deus, embora
sempre tivessem existido homens coretos, muito sábios c de grande inteli-
1 gência. Tanbém Jeremias escreve quc Deus suscitou e instigou o espírito dos
medos e persas contra a Babi16niahh.
A expressão: "com os que me pertencem" tem o seguinte teor em
hcbraico: ~nathaithabo eJai. Certamente os rabinos rigorosos não iriam
aprovar minha traduçâo um tanto livre para a língua alemã. No entanto, a
1' mim interessa mais a comprccnsão corrcta do que a lctra contenciosa deles.
[ligo isso para que não pensem que o fiz por ignorância ou desconhecimento.
Davi quer dizer: o que é de minha competência, ou enquanto é de minha

05 'li, ,iBiil irivilir 1iici;t.v Iciircsy~icMiricrv;~.Cíccro, Dc oliicii.~,I, 11, 110. - Q i i < ~iz:iIiii-i
l
;iri~Icl.ilc li~iitcn:ai iklcnlitiç;ida.
r i q : i i . iici,io I<.licif<.r
(i0 ('I'. .Ir 51.11.
( iovirno
competência; isso é, o que me pertence, etc. E com isso também se faz
referência a uma virtude milagrosa de Davi e que se chama: Cuida do que é
icu e do que te foi confiado. Pois exisie um vício generalizado e uma
ilcsvirtudc perniciosa cm todo o muildo, em todos os níveis; se ele se instala
na corte, também não serve para muito. Em grego ele se chama polyprag- 5

rizosyne - estar muito ocupado com coisas que não lios foram ordenadas, e
clcixar de lado as coisas que nos foram insistentemente ordenadas. Os latinos
dizem: sAbio lá íòla, tolo em Prefiro chamá-lo de "intromissão
iiidevida". Ela é um dos frutinhos do pecado original, c inerente. Todos
sc cansam rapidamente das coisas que Ihes são ordenadas e passam a úitro-
iiieter-se em coisas alheias que siinplcsmcntc deveriam deixar dc lado e não
Ilics dizem respeito, e querem ser entendidos e ativos em assuntos estranhos.
Sáo instáveis como o mercúrio. Ele não pára no lugar onde se quer colocá-
lo. Assim é cssa gente. São incapazes de fazcr o que deles se espera; mas o
e~iicse propúem a si mesmos, isso eles têrn que fizer. 1s

Para corncçar ria ponta: o papa, os bispos e todo o aparelho papal


(li,vei-iamdedicar-se ao Evangelho e às almas. No entanto, têm o intame
~ ~ : i i i l iàs
. costas, de modo que, em vez disso, têm qve exercer o governo
s<.ciilar,travar guerras, procurar riquezas temporais. E isso que gostam de
I;i/cr e o fazem com sabedoria. Por outro lado, reis seculares deveriam 2u
iIr(licar-sc aos negócios govcmamentais; no entanto, ao invés, têm que estar
ii:i igi-eja, ouvir a missa, e ser totalmente espirituais. Agora, por exemplo, se
ii11ii)ineteinnos assuntos do Evangelho, profbein o que Dcus ordenou, como
:ic:oiiicce com as duas espécies no Sacramento, com a liberdade cristã, com
ii iiz;itrim6nio, seguindo o exemplo do papa. A grande inlluência dessa u
vii-liiclc também se evidencia em geral nas Assembléias Nacionais. Aí as
q~icsitOesessenciais sZo adiadas, vetadas e muitas vezes simplesmente omiti-
iI;is. Portanto, se não houver um Davi ou uin homem milagroso governando
i i ; i coric, certamente acontecerá que mestre Intrometido se revele muito sábio
c. li~i11i:imuito o que fazer onde não recebeu nenhuma ordem. O que, porém, 30

I I i i . lili ordenado lhe é repugnante e asqueiroso. Simplesmente não tem


coii(liyiic.stlc executa-lo. Apenas serve para confundir a todos os demais com
,.II:I iii:ic~sii-ia. Ora não se agrada da cozinha, ora da adega; ora está inconfor-
i II ; I l~i ) cai i i ;I cli:mcelaria, ora com a câmara do conselho. Entrementes deixa
(1,. ii.:iliz;ii- ;is Suuções que lhe competem, e nada está sendo feito. 31

i )i:i. I I ; I I I Iiá maior mal no fato de dar bons conselhos a outros, se isso
i.:iiv~.i :I scii alcance. Na verdade, deve-se elogiar as pessoas que primeiro
c i i ~ i i ~ ~ i Ihciiii ~ i ~ seu
i próprio ofício e depois dão bons conselhos a outros,
<~sl~~~i;iliiiciitc onde isso é solicitado e há uma necessidade evidente. Mas o
Salmo 101
senhor Intrometido não cumpre seu próprio dever e o que lhe foi delegado
e, por scr exageradamente sábio, se ocupa com coisas alheias, onde não E
necessário e que não lhe foram incumbidas, ou então, de tão intrometido que
é, faz qualquer coisa que é de seu gosto. Oh, ele também é um hóspede útil
entre os cristãos quando se imiscui com clcs. Aí, então, ele ensina os pastores
a rezar ou a fazer algo mais fácil, quando eles deveriam estar estudando e
pregando. Ou, então, induzem os leigos às cerimônias exteriores, deixando
de lado a fE e o amor, como diz Cristo: "Pagam o dízimo da hortelã e do
endro c negligenciam os preceitos mais importantes da lei" [Mt 23.231. A
mesma coisa acontece numa economia doméstica quando empregados e
empregada? fazem o que Ihes parece bom, mas deixam de fazer o que Ihes
foi ordenado; não obstante, acham que agiram corretamente. São o verdadei-
ro orgulho de uma casa, um pessoal muito útil e charmoso. Aí me ocorre a
história do emprcgado e dos três sabiás. Ccrta vez seu patrão o mandou
procurar a vaca desgarrada. Ele, porém, se demorou tanto, que o patrão
correu procurá-lo. Quando chegou bem perto dele, pergunta ao empregado:
"Achaste a vaca?" "Não", disse o empregado, "mas achei algo melhor."
"Então, que achaste afinal?" Respondeu o empregado: "Três sabik". "E
onde os tens?" "Um delcs estou enxergando, o outro estou ouvindo, o terceuo
estou caçando", rctrucou o empregado. Acaso não é um empregado sábio e
laborioso? Sem dúvida, com um pcssoal desses um patrão só pode enriquecer.
Aí também se incluem aqueles dos quais se diz: erguem uma colher e
quebram um prato. Quando estão envolvidas grandes propriedades como nas
cortes de reis ou príncipes, causa forte impressão quando alguém coloca com
uma colher e tira com a concha. Quando conseguiram ganhar um f l o r h para
o rei, enchem os ouvidos de todo muiido e o exibem aos olhos de todos, a
fim de mostrar quanta sabedoria foi investida; no entanto, ninguém pergunta
pelos milhares de floriis que entrementes foram esbanjados. Em nenhum
lugar, porém, esse vício está mais presente do que entre os soldados. Quando
estão aí parados, boquiabertos, e não vigiam suas posições com a máxima
atenção, recebem uma boa tunda. Depois dizem: Isso eu não havia esperado!
Ninguém é capaz de descrever todos os exemplos dcsse patife que reina com
poder em toda parte onde senhores e patrões não cuidam pessoalmente da
adininistração.
Por isso Davi diz aqui: Preocupo-me com o que é meu e cuido dos que
me cercam. Outros reis também deveriam ser tio solícitos com seus súditos,
de maneira que, aventurando-me a scr sábio e ativo demais entre estranhos,
não venha a negligenciar cntrementes a mim mesmo e os meus. E Davi pode
muito bem agradecer por essa virtude, pois, com efeito, é uma coisa muito
hniiita c cspecial dádiva de Deus quando um homem valente e laborioso
ciiicki coin dedicação do que é seu e de fato lhe dá toda a atenção, ctri
csl)cci;il ir;i ~i;il;ivriitlc I)ciis, uão se deixando sctluzir por negócios cstrnnhos.
Governr~
Obediência é a coroa c glória dc toda vGtude; quando, porém, se imiscui a
intromissZo iridcvida, o mofo, ou, como diz Isaías, a chuva corrosiva Já a
estragou6! EniZ« as pessoas se tomiun nada mais do que porcaUi6es, ataba-
ihoados c trapalhóes, que negligenciniii iiiuitas coisas, iiiciipazcs de fizer
qualquer coisa por alguém por amor ou gratidão. Por isso S. Paulo instrui os 5

pregadores e bispos cm 2 Tin 2.4 que um servo de Cristo iião deve mcter-
se no regime secular, mas, como lainbém diz cm Rm 12.7, que um mestre
deve dedicar-se ao ensino, e qiie não se deixe desviar disso por outra coisa
ou algo melhor. Ele previii perfeitamente que, iio futuro, os bispos iriain
abandoiiar o ministLrio da prcgaçâo e busccu. o tcrreno. Quniido alguém pediu li>

a Cristo que ordenasse a seu irmão que rcpartisse com ele os bens, ele
respondeu: "Hoincm, quem ine instituiu juiz?" [Lc 12.141, como se quisesse
dizer: Não mc envolvas nesses assuntos, antes procura as pessoas que têin
essa incumbência. Eu sou preg-idor e a mim se me ordenou »tiira coisa.
li

Segue no Salino
NZo ~ n proponho c iniqüidade. Odeio o transgressor e n;íu o aiporto em
minha compinhia. 10

Até agora ele agradeceu a Dcus por lhe ter concedido a ,or;iqa de crcr
corretamente e de servir ;i Deus, tarito em seu reino quanto em sua casa; por
não ter intii~duzidonenhuma idolatria ou doutrina netii culto falsos, mas por
ter Iéito o que é bom e agradável a Deus. Aqui cnaltece c agradece a Deus
por lhe tcr dado também o outro dom que o capacitou a proteger-se do culto 2s
mau e falso e a rejeitá-lo, para, assim, poder permaneccr firme na boa c
verdadeira €6.Pois onde Deus uistitui sua palavr;i e seu serviço. 11 diabo não
descansii' mas ieiita desiruir ou, ao menos, inipedi-10s. Por isso iiáo basta
I:izcr iim boin começo e f u e r o bcrn, mas C preciso persistir c não deixar-
sc iifastar nein seduzir. Como d i Cristo: ~ "Quem perscverar até o fim, será 30

s;ilvo" [Mt 24.131. "Procurar conservar o que já existe não é menos viiluoso
1111 qiic ~oiistruí-lo''~~. O mesrno acontece também no estado secular: quem
II:IO \;il?c <lcl'ciider, não podcrá subsistir por niuito tempo. De que adianta
i ; iiiiiiiiis coisas e não consesiiu defender nem resguardar nada
t a u t i i ; ~ 1 1 iiiiiiiigi,? De niodo semelhante, de que adianta começar bem e 75

ic.i.c.l~~ :I ~~iiliivra de Deus, a fé e o serviço, quando não se é capaz dc


Ik,isi,vi~i:iriicles nem de defendê-los contra o diabo, mas nos dcixarnos
:il:isi:ii~clclcs por qualquer vento, como S. Paulo escreve ein Eí' 4.14s.:

19s N;! vriikiilc. I.iilcro paieçi relei-ii-sc :i Pv 28.3.


('I., Oví<lio, :\r< A,,~;t,,di,11, L3
No,, r ~ ~ i r c,.,!, , ~vir10.s q,i;u~~</uucrcporl;i lt~cri,IIO cwigi~~al.
S<iI,ii. Oviilii> ri: ;ii.i!li;i 11. Ilh. o. !S.
Salmci li11

"Cresçamos e loilaleçaino-nos cm Cristo, para não sermos levados por


quulquer vento de doutrina, como crianças".
Agora, portanto, diz: "Não rne proponho iniqüidade". "íniquidadc" -
cin hebraico está cscrito: "h10 ou coisa de Belial". Alguns entendem "Bc-
lial" como noiiie do diabo. Na Escritura se lê coin f'reqiiêricia "os filhos ilc
Beli~l"~'). isso é, os patifes rnalvados. gerite ruim, que náo obedecem nein ;I
Deus nciii aos hoinens. Creio que S. Paulo, ao derioininar o anticristo clc
amomos, "o iníquo" em 2 Ts 2.8, teve em mente o tenno "Belial". Pois
"Belial", corno dizem os hebreus, significa ah.sque jugo, alguém que nLi
10 quer sujeitar-se, a cxernplo do anticristo, que sc exalta e coloca a si mesmo
aciina de tudo que se chama Dcus, rtc. O diabo faz a mesma coisa. Por isso
tem cabimento que neste ponto Divi agradeça a Deus por se ter preservado
de todo Bclial e por não se ter deixado desviar liem seduzir de sua fé retu c
de scu bom pincediriiciiio que levou sob a pal~tvrade Deus. Coin efeito. C
17 uma graiidr coisa permanecer tirrrie no caminho reto conira todas as sinajio-
gas de Satanis, esc:mdalos, descniiiinhos, superstição e doutrinas falsas. Pois
a doutrina falsa e a pregação engaiiosa sempre têm a aparência mais bonita,
a maior adesiio dos poderosos, sábios, ricos e santos sobre a terra. Por outro
lado, o carninlio dos justos é desprezado e ri20 encontra adeptos, antes C
:c chamado de heresia e doutrina do diabo.:Somente Belial é o diabo mais
bonito, capaz de se fazer passar por aiijo da luz e de translòrmar a palavr;~
de Deus em trevas rios corações dos sercs hum;mos.
Nos salriios de Davi se percebe claramente o cliiuiiio ele se precaveu L.
adveitiu a oiitros, por exemplo, rio SI 1.1: "Bern-aveiiturado o holnein qiic
25 não anda no caminho dos íinpios", etc. Com esse iiltciito compôs especi~il-
mcnte o Salmo 118, que 6 lido na primeira, terceira, sexta e nona hora ii:is
instituições c conventos. E como se quisesse dizer: é uina grande coisa si.
alguém possui LII-cta doutrina de Deus e pode ouvir sua palavra. Mas é cois;~
iguiilmente gratide sc alguém consegue permanecer nela e preservá-la purii L'
direitinho contra Belial e seus servidores, que sempn: se opõem a ela. coiii<r
nos advcrte S. Pedro: "Scde srjtir-ios c vigilantes; pois o adversário, o di:ilio.
:tiida ao derrctlor como leão que ruge procurando a quem possa devorar. A
cste resisti com fé firme" [l Pe 5.8s.I. Aqui ouves que não basta a fC 1Ic
Icitc, que apenas está começando a servir a Deus, mas que é preciso uniti IC
$5 linnc que possa resistir a Belial e suas maliciosas rnaquiiiações. Sein dúvirhi,
Davi cnconiroii, rio início dc seu reuio, muitos extravios c abusos cnlrc scii
~iovo,que se ha\iaiii instalado até entao sob Saul e que hnviaiii permancciilo:
I ):ivi tcvc niiiita diliculdade com cles e entientou iimpla r.esistênci:i; pois !I<>
S;iltCrio laiiiciita-sc com frequêiicia e de fonna deplorável dos Iãlsos iiicsiii.~.
< ;o\,erno
Pois (como já disse). Bclial não seduz as pesswas do caminho reto apenas
110s meio da grande e inaravilhosa aparência da mentira e com a figura
desprezada e miserável da verdade. Ele afasta dele também por meio do
poder dos tiranos, onde corpo, bens c honra corrciii constante perigo e
sempre estão presentes cruz 2 sofrimento, ódio e perseguição. Enquanto isso. r
os falsos santos vivciii eiii total liberdade, scguranyn e felicidade, como os
;ii-iind«s filhos. Além disso, boiis amigos e parentes iniiibém têm iiilluência
coiii seus conselhos sinceros e boas intençóes ao lado do exeiiiplo da grande
iriassa dos poderosos. ricos, sábios no inuiido. Estão envolvidos tariihciii a
Itaqueza de nossa própria carne e o ve.llio Adâo. de iriodo que seriipre é io I
ciifícil c amargo pcrmniiecer firme e perseverar até o fun. Por isso o Espírito
Saiito tein tanto serviço. c»nsohdo os seus, conio, por exemplo, iio Salnio
77.14 e 31.24: "Tende bom ânimo e sede corajosos todos vós que espcrais
i i i ~Senhor". E Siraque diz: "Filho amado, se quiueres servir a Deus, prepara
1i.11 coraçiio para as tentaçfies, sê firme e nZo te deixes seduzir nem cspan 15

i:ii". ctc. [Eclo 2.1,2].


I
O fato de ele próprio ter pcnnanecido iiio firnie e perseverante iiu pslavra
(. i i i i serviço de Deus, resistindo a toda soac de tropeços, e de se ter iii:uitido
liiiil~oem face de tanta sujeira do diabo e dos hniidos sectjrios, é um grande
iiiiliigre. Maior ainda, porem, é o fato de gloriiu-sc eni seguida de odiar os 20
ii;iiisgrcssoirs. Isso significa: nâo permiiiieço firnie na palavra de Deus e ern
irli scrvic;o apenas para i i i i i i i e minha pessoa; inas assini que percebo que
;iIgiiéiii de minha criadagem ou dos de minha casa transgride os iiiaiidamen-
111sele Deus ou age de inodo diferente do que ele ordenou, sou seu inimigo.
I: li~io que aconteceu de iato. Ele teve muitos hoineiis excelentes, que no 25
iii:iis ele amava e estimava coiiio homens úteis e nercssirios ein sua casa c
icii iicirio. Pois acontece que niuitas vezes os ímpios reccberaiii de Dcos dons
L. Ii;il)iliclatles inuito niais bonitos e nobres para assuntos seculares, dos quais

i i i i o ?c pode prcscindii- tia casa ou no govenio. Coniparados com eles, os


<i~.iii<~s sciluer chegam ;i ser alunos. Aitofel f«i uni deles; na época, ele i0
~ . I I ~ I L . I ; I Y : Ic111inuito a todos os doutos e sábios no reino de Davi, a ponto de
,:ii.i.: ~ ) i v ~ ~ < ~ s I : ino ~ cconselho
itas sereni consideradas (como diz o texto -
I ' Siii 10.' 111 como conselhos do próprio Deus. No entanto. no coraçio era
n i i ~ i; i i ~ l ~ ~ i i ~ti-aidor : i i i l ~ ,c esprrtaiháo, e posteriomieiite também o foi dc fato,
4 Ic 1 1 I,)t I, v i l i i c . I kivi !expulso a seu coiiselho) a ningu6iii teme mais do que a fi

I . 8 . t b i : i I.iiiiir;i i:lc, dizendo: "O Senhor, transfomin o coiiseho de Aitofel


v i i i I $ ~ i i < i i i . i " I.! Srii 15.311.
I ' . i i . i <*Ii:iii. (Icspcdu, por amor dc Deus, pessoas úteis, sábias e c~ipazes
t t s i t <-.:..I\. ~ ~ <liir(;I%CIII tantas coisas hoas no reino e na casa e quc presturarii
i . i i i i ~ v . ~ . ~ ~ i v iii:is i~i~ qiic,
s . núo ohslluite, sXo íinpios ~>utií'cs, isso exige uni 10

I i ~ ~ i i i ~ ~ ~ i Ii Ii IsL
i i.l ~ .iiiiiis elo CIUÇ C ~ I I I CpXo.
~ Pois ~ L I ~ C Cque,
C se çlcs iiâ(1
~ \ i ~ . i i ~ . : . < - i i iii . wiiio iria ii riiíii;~c cliic iiZo fic;ii-i;i h;irrotc ii:i c;is;i. I i i r isso.
para poder odiar e despedi tais serviçais úteis. um senhor ou um dono de
casa precisa de um coração de leão e tem lqiie scr um Iiomem milagroso ein
Deus, c a p a de a ~ i s c a seu
r irrino e sua casa, e que confia soriiente em Deus,
dizendo: Muito bem, antcs de tolerar o inimigo dc Deus em iiicu reino ou
3 eni minha casa, prefiro que tudo vá à breca, c deve pensar: Aquele que me
deu este reino ou esta cas;~,coin certeza poderá dar-me outro, o11 até mais.
Qiiwido Deus ordenou quc Al>i.:~7» sacrificasse a 1s;iqiie. o lillro prometido,
ele dcvc ter pensado que Deus iria ressiiscitar o riiehiiio Isaque dentre os
mortos (I-Ib 11.19).
1,) Pois no mundo, especialmente nas cortes, acontece que existem poucos
Naamãs c Josés, mas iiiuitos AitofCis e Zibas7'. Eles ageiii como disse aquele
abade, quando seus humildcs irmãos se inclinavam profundaiiiente diarite
dele: Na vcrdade, ligo o fazem em rcspeito a mim, mas têm o olhar fixo nas
cliaves em meu cinto. Nas cortes, muitos prestam serviços dessa forma e
fi prestam bons sewic;.»s.No entaiito, não por amor ao senhor, m;is visam as
cliaves. para poderem assaltar e dominá-lo, para que depois o senhor nâo os
possa odiar ou dcnùtir coni hou razão ou diseito. No eiitciiito. se o faz assirii
mesmo, aí o caleridáiio e o registro estão cheios de toda sorte de virtudes,
mais do que dias no aio, que eles praticarani iio reino e na casa. E coiiiec;am
7~ a atirar sujeira e csterco no senhor, cospe111 iiele, direiido: Arre! Quem ir2
querer seivir a uin patrão desses, no qual toda a fidelidade e todo o servi$«
estão perdidos? Dcpois compôcm versinhos c quadrinhas que escrevem nas
paredes: Prezado casaco, 1120 rasgue, scrvir a um senhor não compensa, etc.
Ou cntão: Tempo dc al?ririli'. etc.
25 Sel todavia, r i o o faz' tem que siiport;ir da pate deles essa inaldnde
contra Dcus e seus súditos, iião yodcndo responsabilizar-se. E ainda terá que
dizcr: Sim, mestrc Aitofel, tu 6s piedoso. Eles. porém, aidarn seti caminho
Livremente. como se tivesscm agido coiretariiente. E nem se inipoitaril de
sercrii patifes e apmvcitcidore~(embora o sail~ariic o sintam no coração) que
não apenas não nicreceram graça com seus atos niaus, mas que tambéiii
mereceram tão-somente desgraça com seus atos hons. Além disso, alegranl-
se em sccreto por tcrem engaiiado Cio bein o amado Davi, como o fez o
desgraçado Aitofcl. Na verdntle, um rei e serilior justo é uina pessoa iniser5-
vel, pelo qual é neceisáno or;u. Pois o que estava acima das f o r ~ a sde Davi'
iieiiliuin rei ou psíncipe peiise qiie saberá fazê-lo melhor (se quiser agrad;ir ;I
Deus).
Para 11111 rei do porte de Davi teria sido uma virtude simples «di:ir I I I I I

71 ('f 2 Siii 16.


71 Nii Aliiii;inli;i, ciii abril. i>ii,inpo é riiuitiis vczer inslável. Diií "teinpo de ;ihi-il" cxliii,rr:i
;i iiICia <Iri ~ ~ s i i ~ h i l i ~ k ~ l c .
campiiês de Tccoa ou de Gil@; mas odiar os senhores em Jerusaléin e em
sua cone de Sião, isso C pedir demais. até mesmo para c) próprio B;ivi. Ele,
porém. c algo mais clo que o Davi de Bclém: cle é u i i i herói e Iioinem
milagroso. que se UiipVe e deixa reinar a Deus, seu Scnhor; ainda quc
perdesse cem Aitoféis, prefere ficar com seu Senhor Deus, o Todo-poderoso, 5
capaz de criar e conceder muitos, muitos reinos, dos quais, com ceiteza, não
tiicreçnia nenhum se tolcrasse seus patifes malvados. ainda que os erguesse
:to céu coiii siias próprias rii30s.
Aiiida 1iá outra przítica cscaiidalosa comuii rio mundo e rins cortes.
Muilo homem exceleiite presta boni serviço e coiii fidelidade, e depois 6 1"

:ibai~donadomiseravelnientc e, inclusive, expulso. E em seu lugnr entra uni


cspertalháo que depois p0e a perder tud« o que o primeiro coiiquistou,
qiiando não é capar. sequer de tirar um i:~chon-odcbaiso do fogão. A respeito
ilisso Jesus Siraque cscreve um cnimciado podcmso, iio capíiulo 27: "Hi
IIU:LS coisas que me aborrecem e a terceira me deixa coni raiva: deixar, por 15

liiii, uin homem valente passar necessidade, desprezar, por fim, os sábios
i.riiiscllieiios e quem abandona a verdadeira fé", elc. [Eclo 26.25-27]7J. Se
c.ss:is coisas não estivessem acontecciiilo nas cortes. de onde Siraqiie terka
i i i ; i ~ l i i cssa iiiformaçâo oii corno o poderia icr dito? Essa 6 a obra dos piores
/:iiigi~csqiie vivem sobre a terra. A tínica coisa qiic sabem é Iicramelar ai
:isiiciiris e encher os ouvitlos dc um rei ou príncipe a ponto de se toinar surdo
II:II;Iseu fiel servo. Sào como os zangões, esses insetos imprestáveis e
;:liiiõcs; $30 incapazes de produzir nicl, mas devoriim a tudo o que as
oiilcir:is aI7eliiihas produzeiii. No entari!il. ;içitain as asas, zunem c ~iiriibem
i;iiiio o11 iiié riiais do que as queiitlas abelhas veidiideiias. 25

Assiin também diz o gentio Tertiicio (não, porktii, de sua própria cabeça,
iii;is baseado na palavra e no exemplo de grandes seriliores e pessoas sábias):
'oiii eleito, quem é tão hábil como tu, consegue facilmente atraii- sobre si
i<)il;i ;i honra que outras pessoas honestas granjearam ~uduamente". Ele diz
i ~ iriiiiicaiiieiite
) a respeito de um grosseiro grande tolo e zangão iiiiiiiido 10

(1,. iioiiic Traso, que 115o bervia p a a nada a nZo ser para com ele segura um
<liiliici1i1 iiterrar um fosso. Embora até mesino essa l i o i ~ ativesse sido grimde
<l*.i~i:iis I1:irn ele, fazia um alarde e uma bazófia tão grande como se fosse só
<-I(.c. ( I I I L ' 11%) poderia existir ninguém igiiaí a ele na terra. Mas é esse 0 curso
(1.1:. i-i)i\:is. c o inundo teiii que s u p o i ~ xgente dessa liua como uma verda- ir
4 I t . i i ; i ~~t.\lilCiicia dc abscessos, sífilis, kbrc e oiitras d e s g r d p ~diabólicas, se

I i i '1. .' S i i i 11.': 15.12.


!I N.i iiiiiiii.i:i;ii, <I<isi i v r < i ;iiii>ciifos ~ ndr>iiimo\ ;i çoniarcrn dc :ici,r<l<i com tl~711;~S;,~'r:~<iíi.
l,.<lm<<~,\ L ~ , I ? ~ L I I ~4.~ , cd., 1977, I ! : K I ~ I ~ Z O h.fi110s So:~rcs.
I ' ; ~ ~ ~ I I I I ; Si<>
1 , 'li.i<.ii<iii. I.iiii!idiii.$. li ri li;^ diX1 Sciliic 'lbiciii-i<,. VI: :ii.ioi;i li. 141. i,. 7.
sulmo I 0 1
o próprio Deus não assuinir o governo misericordiosnmente até que venha ;i
hora de pòi- um rim nisto tiido. Porque Deus ainda é o !uiz no muiido. como
( 3 diz o Salnio 58.11; c o que nio for justo scnipre ir5 perecer atl: o dia
derradeiro, quando tudo, então, há de chegar ao firii de uma só vez e para
sempre. Eiitremcntes tcinos que supoi7ar que o pioltio se engorde ria sarna c
ande de pernas-de-piiii sobre o velho pelego.
Onde, porém, existein reis e senhores iiiipios qiie, de acorclo com o
Salmo 2, sio ;idvcrsirios de Dcus c dc sei1 Cristo, ai rcrás uma bela confu-
são. Niriguérn é mais hein-vindo e riielhor na corte do que os tmnsgressores
11 a respeito dos quais Salomáo diz; cni Provéi-bios 29.12: "Se uin ssiihor gosta
de. mentir, todos os seiis servidoi-es serio iiiipi«s". Pois senhores ímpios
precis:iiii ter e qlierem ter servidores dessa espécie e esses, por sua vez.
prcfererii comr e associ,u-se a tais sciihorcs, pma cixiqucccrem c ;rjudarem
a exptilsar <tuaté assassitiar as pessoas Iioiiestas. Saloiiiáo chama de "inen-
r tira" iciiiiio sempre <]iiand« o iernio c enipresado ria EscriLup) a idolatria,
o culto fiilso, a doutrina falsa, conio diz o Salnio 4.2: "0 h<iinens, at6
quando iiiinha horira terá que sofrer vexame? Corno estais agarrados à
I vaidade e gostais de recorrer à mentira!" O tenno "transgressor" neste
salmo significa tainbEni "cibaridonai. ;i Dcus" assiiii como iimii mulher
."I ab;tnd«nu o marido. Oséikis 5.2: "Ahateni iiicriio e defratrd:irri". isso 6,
praticaiii grande idolairia e coin isso seduzem as pessoas a se desviarem d«
culto verdadeiro ou a cometerem traiisgressão contra ele. Isso tarnbéin fica
evidente em todos os pnifetas. Quaiido uin rei ii)r;i idhlatra, aí a coisa se
inultiplico~ie se encoiiirufiun pnrifcs suriciciitcs quc scrviram muito bem ao
7*
rei r que expulsar'irn da corte e <I«país as Iiessoas telas. No ternpo de Acabç
isso chegou ao ponio de não aparecer em público iirnhum profeta verdadeiro
no país, enquanto oitocentos dos outros erain sustentados regaladamente pela
rainha Jezabel em público, coiiici se pode ler em 2 Reis [sc. I Rs 18.191.
Assim, por exeiiiplo, o rei Saiil Leve a Doegue e seus asseclas, que ajuduiiiii
u afligir a Davi c seus scgoidorcs coin roda sonc dc sofrimeritos. E esic
querido frutinho, c) Doegue, serviu ;L seu senboi- com tanta ficielidade quc
chegou a assassinar oitenta e cuico sacerdotes e exterminou toda a populaq2o
da citl:ide de Nohe coiii mulheres, crianças, aiiirn;iis e tudo que havia nela ( I
Sin 22.18.19), seni qualquer iiiolivo. Suas vítimas erain totalmcrite inocentes.
Siniplesmeiite porque o sacerdote havia dado de comer a Davi em sua
tlificuldndc c lhe havia anuriciado a palavra iie Dcus [l Siii 22.9s.,l?ss.J. Poir
cstava coiivicto de que Saul ainda ariiava a Davi coriio iiiltes; no erit;into, eisc
:i111 de caridade foi coiisiderndo rebelião contra o i-ri. etc.
A rncu ver, tlimbtm cm nossos dias se poderia descobrir cxcriiplos
1, siilicieiiics dc como as pessoas se eiifiirecem contra ;ipalavra de Dcus 11:is
t.ii1-ics i. ciii110 proiiizcin c forralcccirr a ii1ol;itria c a iiiciitira. Aí os li-;iiisprch
viri.> i?iir iiitiiio que I;i/ci c i.st30 iiiicii:iinciite oc.~rpatl<is coiii ;I [iciscg,riiq:i<b
Guvrnio
c matança dos probos. A culpa dos probos é o fato de liuscarem c ouvuem
:i palavra de Deus ou de aspirarem às obras e inatiirns tle Deus (como o
inatrimônio, por exemplo) ou sua ordem e sacramentos. De nada Ilies vale
scrcm obedientes e servirem na maior tranqüilidade e de bom grado. Mas
esses sanguinjnos, os doeguitas, sabem pei-feitamente que esse procedimento 5

agrada a seus senhores e que isso Ihes pode granjear um bispa~lo,prebendas,


dinheiro c Iioiiia. Por isso têin prazrr cm derrama saigiir inocente c eiii
perseguir os smtos de Deus c iiieinhros de Cristo, pnrs preservarem sua
iiieiitira e transgi-essão ?I forp. Davi queixa-se disso ciii iiiiiitos salmos,
cspeciirlmentc no décimo segiiiido [v. 81: "Todo lugar riii que pessoas 11'

devassas dessa espécie siio exaltadas sc eiichefit de ímpios". Mas deixemos


isso de lado. E assiiii qiic tCni que acontecer a?coisis e haverão de acoiitccer
oiitle Deus náo dá a srii Davi a pa$a de odiar os Waiisgirssores i:m sua corte,
ccirno dito acima.
Davi diz c111 terceiro lugar: "NSo o suporto em iiiinhii companhia". O 15
hebraico o expi-essa assim: "Ele nào pode ficar unido a iiiiin", i seinclhança
do que se 18 em Cn 2.24: "O hoinern se unirá a sua riiiilher". Com isso
expressa que não apenas odcia os &tnsgressorcs, inas que os odeia penna-
iientemeiite, não permitindo, de modo algum, que se unani »LIse agarem a
cle. Pois os Wansgressores c falsos saritos sabem impor-si: aos senhores e 20
priricipes com maesiria. Sabem eiicohrir sua malícia Vão heiii coiii palavras
Iioiiitas que são capucs, inclusive. dc ciigaiiar um Davi eleito. De acorclo
coin as Escrituras7". Jois foi uin excrlente rei eiiqu;iiit« viveu o sacerdoic
Joiada. Depois da iiiorie de Joiadii, ele mudou taiiio (sem dúvida sob a
inlluência desses siniin oii iransgressores) que mandou assassinar a Zacarias, 2.5

(I filho desse mcsmo Joiada? entre o templo e o altar. Cristo se rel'ere a esse
kito ein Mt 23.35 e as Escrituras lamentam-no amarçameiite em 2 Cr 24.22:
"E o rei Joás não considerou os benefícios que Joiada, seu pai, lhe havia
I'ciro. e assassinou scu lilho". Inicialmeiite também Heiodes gostava de JoZo,
:ipreciava ou\,i-lo e fez riiuit;is coisas (coriio escrcvem os evoiigelhos7'). ul
I)cpois, porém, iiiandon decapiti-I« por causa de Herodias. Servidores cor-
i-ctos nem sempre poilem aprovas o que os senhores intentaiii frizcr e têm que
clesacoiisrlhá-los, espccialniaite coiitrn os transgressorcs, com» o fez Zaca-
rios. Além disso, a vrrcia<leé incômoda. e ningii61ii gosta de scr repreendido.
lfin transgressor e uiii saiitarrão patife, porém, não correin esse perigo, mas
~~iclem bajulai- e agradar. dizcr e Suer o que o povo gosta de ouvir.
Assim, com cfeiio, é iirn grande milage o que Davi destaca aqui: quc
i i i i i príiicipc chegue ao ponto de odiar os iransgressores ou os patifes cspiri-
iiiiiis e santos do diabo e a expiilsá-los de sua preseiiça, para, de fonria
i Salmo 101
algunia, coiitiiitiruem grudados riem uiiidos a ele, nem ainda continuarriii eiii
sua companhia. Pois scgurameiite alguns dos grandes prúicipes e senhores e
ailigos de Davi cantaram docemente eiii seus ouvidos. elogiararli :i este o ~ i
àquele, ora nosso primo, ora tiosso cunliado, iia esperança de tambirn traze-
i 10s para a corte e dc serem promovidos a altos cargos no governo, sem
perguntar se eram pessoas proba? ou nZo. As pessoas gostam de pendurar
essas condccoruq6t.s nos graiides senhorcs como pedras preciosas úteis no
rcuio, enquanto Deiis não Ilies concede o espírito de Davi para, :i exemplo
dele. sabcrcm evitar coiistantemente os falsos sen,idores de Deus. Até aqui,
1 pois, ele louvt~ua Dciis pur se ter preservado puro e pemianecido fume no
verd:ideiro culto e lia verdadeira palavra. e por ter maiilido também .$tia cotte
e seu pessoal iieste caminho, e por icr odiado constantemente c cvitlido
pcmianenterneiiic os falsos servidores.
Seguc agora o último versículo que vcrsa sobre sei1 regime espiritual.

Versículu 4
Longe de niitn um coraf2r1pervertido; n;io tolero o mau.
111 Agora ele sai de sua cone e percorse todo o território de seu reino,
passaido a hlas cspeci;diiientc dos falsos rneslrcs e sacerdotes idólatras que
iindaiii pelo país aqui e acolá. Pois as Escritiiias rcvc1.m que o própno
! Ivloisés riio ,oouemou tão bern. A idolatria ctrntinuou sob seu goveiiio. Em
At 7.43 Si«. EstEvio recrimina os judeus. citando o profeta A~nds'~, por
2s terem conduzido consigo no deserto o ídolo Rentã e por terem adorado rio
ídolo Baal-Peor na plm'cie de Moabe (Nm 25.3). E assim, sob todos os
juizes e profetas (por niais piedosos qiie tivessem sido), sempre existili
idolatria, ao merms cm secreto, de modo que tamb6ni iio reino de Davi nem
tudo foi limpo e santo. %davia, clc se empenhou e sempre procurou prevenir
para que ela não se difundisse livre e puhlicainente. Pois o diabo não d:i
tréguas ncm descuiisa. Por isso também o govenio espiritual com efeito niio
i pode dar tr6gu:is iiciii descansas, do contririo tiido est6 perdido. Pois aiiid:~
que vigie e trabalhe, 6 difícil e laborioso iiianter u paliivra de Deus pura. Quc

i dirá q~i;uiciose tlormc e ronca ein scgw~ui~:i. como, infelizinentc, aconteceu


tio papado. petiiiitindo que se instalasse iudo que o diabo quis. Agora qiic sc
iiistalnu. nàlo se deixa expulsar niais nem esri disposto a ceder um palmo secluci-.
Portanto, teinos rieste versículo umn Iireve c exceleiitc descriçào &i
di~ilioe de sua igreja: ele tein um comção perverso c é malicioso. l l i i i
coi.;i$âo pcrverso é o que denoininamos de liercsia e doutrina falsa; pois
pemcrtem a palavra de Dcus e seu semiço. Invertem a palavra de Deus e a
aperfeiçoam. Por exemplo: quando Deus ordena quc devemos confiar so-
mente em sua graça e náo em nós mesmos ou em seres humanos, conforme
diz: "Eu sou teu Deus, náo teris outros deuses" [Ex 20.2,31, eles nos
ensinam a confiar ein nossa própria obra. Instituem e ensinam novos c m i - 5

nhos a todo instante. Tudo tem que ser invertido, não Vnportando como Dcus
o faz. Assim também inverteu a palavra de Dcus no paraíso, quando Deus
disse a Adáo: "Se comeres da árvore, morrerás" [Gn 2.171. "Náo", disse o
diabo, "não morrerás se comeres da árvore, mas serás igual a Deus" [Gn
3.4,5]. Por essa razão, Cristo chama o diabo de pai da mentira7'. Tudo o que
Dcus (que é a Verdade) diz, ele invertc e transforma em mentira, como o
Fizeram dcpois todos os hercgcs, seus discípulos. O que Deus d i ~ eslá ,
errado; o que cles dizein, está certo. O mesmo fazem nossos senhores do
papado: o que Deus diz é heresia; o que eles dizem (ainda que saibam e
reconheçam que Saiam contra a pdavra de Deus) isso diz a Santa Igre,ja 1'

Cristã e o Espírito de Cristo, embora se saiba que é o diabo que Ilies ordena
Ialar assim. Esta é a pi-imeii-acaraclerística dos hcreges - "coraçáo perver-
so". Um coraçáo perverso evidentemente também terá uma palavra e unia
obra perversa. "Pois um homem inaii", diz Cristo em Mt 12.35, "tira coisas
mas de seu tesouro mau". 20

Denominam-se "rnás" as pessoas nocivas, assassinas, sanguinárias; por-


que depois que um idólatra matou a palavra dc Dcus nos coraçóes por meio
de mentira e idolatrka, rnuito menos poderá deixar vivcr as pessoas, por causa
de sua inveja e ódio. Por isso Cristo chama o diabo de menliroso e assassino.
Os lilhos de scmelhanle pai, os falsos mestres e mentirosos contra a prilavra 25

de Dcus, naturalmente t6m que ser semelhantes ao pai. Foi o que aconteceu
com Caim. Depois de ter abandonado a verdade c caído na mentira, logo se
tornou assassino; e como náo pôde cometê-lo em outra pessoa, teve quc
cometê-lo em seu próprio innâo [Gn 4.1-161. Se são incapazes de matar ou
1120 querem fazê-lo, nem por isso deixam de causar prejuízo, de pcrseguir e jil

dcsgrapr bens c honra. Pois chmm-se e sâo maus, isso é, pessoas invejo-
sas, venenosas e nocivas, que procuram prejudicar e fazer o mal dia e noite.
Sc não conseguem matar o corpo com as mãos nem contribuir para isso
;iconselhando e instigando a outros, não é por falta de vontade ou desejo. O
qttc mais lamentam E não poderem fazer inal suficiente. Por isso dizem 35

Snloiiiá(io e 1saíasXuque seus pés sZo velozes em derramar sangue. Doutrina


I;ils:i c assassinato sáo inseparáveis, como o testemunha toda a Escritura, a
I iisi6i-iii c n cxl>criCticiadiária. O diaho deseja vcr o ser humano totalmente
iiioilo. ; i :iIiii;i 110r 1nciio da mentira, o corpo por meio do assassinato. Por

I C i1 'I I i i !i I I X O ('I'.I'" I.](>


c Is 50.7.
isso, quando comete o primeiro assassinato, logo se lança ao segundo. E
onde aponta a cabeça da cobra, logo aparecerá também o rabo e quer estar
dentro completamente.
Essas mcntiras e assassinatos vêm a ser o próprio diabo, visto que são
piores do que a mentira e o homicídio de Caitn, que não teve nenhum
pretexto para sua maldade, pois era um simples tralanle e sua maldade é pura
maldade. Ele fez o que fez nnã como serviço a Deus mas por raiva e
vingança. Os hipócriras, porérn, os verdadeiros mentirosos e assassinos,
transformam-no etn culto e o fazem por zelo pela honra de Deus e pela
salvaçáo das almas, como Cristo diz em Jo 16.2: "Eles vos bdniráo (isso é,
condenaGo vossa verdade como blasfêmia e sedução das alinas, para preser-
varem sua mentira, isso é, a honra e a glória de Deus, e para presemarem a
saivaçáo das alinas), e quein vos matar julgarA com isso estar prestando um
serviço a Deus". Pois com isso querem evitar que todo o povo seja castigado
por Deus, conforine o santo e divino conselho dado pelo seiihor Caifis: "E
melhor matar um só homem do quc levar todo o povo à destruição" [Jo
11.501.Este é uin conselho sábio e precioso e tein tremenda aceitação no mundo.
Eles excedem em muito seu patriarca Caim e sào duplamente mentirosos
e assassinos. A primeira mentira E o fato de se terem afastado da verdade e
de não possuírem a palavra de Deus; a segunda E que quercm que sua
mentira seja tida por verdade e por palavra de Deus e que, além disso,
prestaram grande serviço a Deus por coi~deriaremc blasfemarem a verdade.
Sim, são mentirosos e assassinos sete vezes; pois abandonam a verdade e se
prendem à mentira. Dcpois qucrein que se tome a mentira por verdade, e a
vcrdadc, por mentira e a defendem. Por fim, condcnain c blasiemam a
verdade como palavra do diabo e exaltam sua mentira como palavra de
Deus. Portanto, transformam o diabo em Deus e Deus em diabo; colocam o
inferno iio céu e o céu no inferno. O primeiro assassinato é matar as pessoas;
o segundo, considerar csse assassinato como preservação e crPação da vida e
preslac;ão de serviço a Dcus. Acham justo que nenhum herege (como eles o
chamam) merece viver e que é seu dcvcr não deixá-los viver, Condenam a
todos aquelcs quc consideram esse assassinato assassinato e maldade, insis-
iiiido ein que seja considerado bcncfício e salvação da vida.
Onde, porém, iremos enquadrar os mcntirosos e assassinos, os nobres
~~ipistiis? Eles são três vezes piores do que os outros, porque suas mentiras
c scus :issassúlios náo têm a pretensão de ser serviço a Deus. Sabem que suas
iiiciitiriis são mentiras contra a palavra de Deus, c que scu assassínio é
:iss:issíiiio, e náo serviço a Dcus. Aqui não há qualquer folhinha de ignorân-
cia que ospudesse cobrir como cobre os outros. Não obstante, não é mentira
c, ;iss;issiiiio simples, como a mentira e o assassínio de Caim, porquc làhri-
~ . : I I I I piil.ii si 11ics111os
I I I I I ~ :~~;irEnciii
I iliiifiçiill, violentando suas conscii.iicias.
I'riicc~~Ic.iiicoirio sc ( 1 ~Li;iro ~liiiscssciri(lizcr: Snhciiios pet-Scitmiiciiir q ~ i c
nossas mentiras são mentiras contra Deus e sua palavra e que não temos
I-;izãonem motivo para pretender proclamá-las como verdade. Não obstante,
lazemos questão de envolver nisso o nome de Deus e prohá-lo com
violência, deliberadamente, eoiiscienlemcnte. Fazemos questão de criar e
preservar a impressão de que nossas mentiras são palavra de Deus e de ter
0 diabo por Deus e a Deus por diabo. Quem náo quer aecitar isso, que mona,
e, cr>ntudo,considere essa iniquidade e assassínio palavra de Deus c salvação
da vida, embora nós mesmos saibamos quc é assassínio e iniquidade e que
sob nenhum pretexto pode ser imaginado ou considerado como serviço a
Ileus. Esses são os derradeiros c defuútivos mentirosos e assassinos; eles
;icabarão no terceiro e inais profundo infcmo. Por isso não se pode cibr
tienhuin e:cemplo ou versíeulo a seu respeito. Eles têm a supremacia e não
cxiste nada c o i n p v e l a eles. O único lugar para eles é o reino do aiiticristo,
que há de ser uma abominação indizível. Pois como seres humanos poderiam
toinar-se piores quando o próprio diabo não pode ser mais iníquo e malvado?
Antes do fim do mundo, porém, e até o dia derradeiro o diabo precisa de tais
s;irit«s para compelii-em a Ciisto a instalar o juízo derradeiro qimto antes.
Voltando a Davi: para ele teria sido suficiente para a virtude real que
iivcsse permanecido inocente de toda mentira e asslissínio, que não Ihc
pcscisse na consciêricia qualquer mentira e introdução de idolatrias, e quc não
Iiissc culpado de qualquer assassinato ou sangue inocente. Assim sendo,
i.oiisidcremos também como boa dádiva de Deus quaiido alguém, especial-
iiicritc um príncipe, pode, de boa consciência, sentir-se livre; quando não
v;i~isnunenhum engano nem seduziu qualquer alina e quando nenhum hoini-
cíclio ou qualquer gota de sangue inocente lhe pesa na consciência. Porque
i~iclusiveno povo de Deus existiram poucos reis e príncipes desses. Todos
os demais permaneceram no gmpo dos reis ordinários que o Espírito Santo
considera inimigos de Deus e de seu Cristo no Salmo 2. Com essas palavras
os condena claramente como mentirosos e assassinos contra a verdade e o
serviço dc Deus, contando-os entre o hom'vel grupo dos sanguinários e
s;iiitos do diabo, sobre os quais cairá todo o sangue inocente derramado
~lcstleo princípio do mundo, desde o primeiro sangue do santo Abel até ao
s:iiig~icdo último santox'.
O cstimado Davi, porém, é tâo talenloso e um herói tão raro e extraor-
(liii:irio qiic ele não apenas é inoccnte de toda mentira e assassínio que
;ii.i)iiivcviioii poderiam ter acontecido em seu reino, mas também se opue a
~iiili~s i.sscs IIICIIII~<)SOSe assassinos; não quer tolerá-los e se empenha com
iial;i ; i sii;~li)r$;i para que retrocedam. Que multidão de falsos mestres, de
i~lol:iii:is,(li. Iicrcgcs teve que expulsar ou tapar-lhes a hoca, não Ihes permi-
Salmo 101
tindo que se mexessem ou manifcstassern. Por outro lado, deu espaço e
liberdade a todos os mestres probos, fiéis e verdadeiros, garantindo-lhes paz,
segurança, proteçio e sustento. Além disso, providenciou, promoveu, concla-
mou, ordenou e decretou em toda paie que se pregasse a palavra de Deus
em pureza c retidão e se servisse a Deus de modo legítimo. Isso se pode
verificar ein 1 Cr 15. Ele pessoalmente institui, organiza e prepara o culto
com muito cuidado, compõe salmos para Ihes servirem de modelo como
deveriam ensinar e louvar a Deus e estimula c contrata muitos outros a
comporem salmos para a mesina finalidade. Não, diz o estimado Davi, não
"1 irei tolerar em rneu rcino os mentirosos e carrascos dc almas, nem os
satiçuin:uios c assassinos. Eles não irão seduzir rneu povo desse modo e não
irão assassinar e perseguir dessa maneira os fiéis sacerdotes e mestres. Eles
terão que rctirar-se! Não os tolerarei! Para que os verdadeiros mestres pos-
sarn louvar meu Deus em segurança, liberdade e com alegria e pregar ao
1.7 povo de maneira proveitosa c salutar.
Que reino maravilhoso e amável Iòi este cm que a palavra de Deus
recebeu também, uma vez, um rei justo c fiel! Aí tudo funcionou de modo
maravilhoso, tudo verdejou c floresceu em toda sabedoria e virtude, visto que
a palavra de Dcus não pode deixar de produzir frutos da virtude. Por isso
também foi nesta época que surgiu estc nobrc livro, o Saitério, como jamais
houve nem havia surgido igual entre o povo. Com efeito, naquele penodo
houve mais pessoas bem instruídas nas Escrituras do que jamais antes e
depois naquele povo. Jamais outra universidade será igual à de Davi, seja de
riível superior ou inferior. "Qual o regente", diz Siraque, "tal seus funcio-
,, nkios. Qual o conselho, tal os cidadãos" [Eclo 10.21. Pois onde o próprio
rei ataca os problemas e faz a frente, as coisas deverão correr bem. Mas
corno s8o raros esses reis e como é breve a duração de sua obra! Isso o
mostra, infelizmente, o excrnplo de seu filho Salomão. No começo ele
iilelhora c implementa a obra de seu pai de maneira maravilhosa. Depois,
porém, já com mais idade, permite que as mulheres façam dele gato c sapato
c dedica-lhes templos e culto de ídolos. Por isso também não pôde cantar até
o fim essc salmo régio, como seu pai, que compôs mais dois salmos nos
cluais exalta esse grande dom e agradece a Deus por ele. No Salmo 60
dcscreve seu reino corno "jóia de rosas de porque "Deus fala em
scu sanhláT1o" [v. 61, ou seja, a palavra de Dcus imperava em seu rcino.
A í está, o objetivo foi alcançado. Aqui Davi se colocou como exeinplo
c iirodelo para todos os reis e príncipes justos, mostrando como buscar erii

X.1 I t ~ i ivcrsíícs miis iiciligas da IracluçXo alemá da Bi?>lia,dc Luleru, o titulo do salnio l;il:i <I;$
.....
I U I 'Ir
~ I>evi, ;i i i s l x i l o i l ; ~rosa do testcinunhr>". Nii versXo innis riciiiic ciiiisi;i.
i,iiri> <li:
riii vcz <li. "ri,s;i <li> Icslc~iiiiiiliii", "lírio i10 ~cs~cii~uiilio"; :i cxpi-css;io iiidiiii :i iii<:lc>ili;i r l i i
s:iIiiiii. N;i i.l>u~."(li. 1 . i ~ l c ~II:III
o i c l i ~ l l ~I:li<i
: t V C ~ ~ I I I < : C ~hislilricoii
~ ~ C I I I (cxitlos.
>S
prunciro liirar 0 reino de Deus e sua jiistiça, e como mantcr os súditos fikis
i palavm de Deus e aos pastores e pregadores, não permitindo as h»rd;is
cisináticas e iiiaiis corafões pervertidos a sedu~iras almas e a matar e
perseguir os iiiocentes. Portinto. quem pode siga o exeniplo de Davi e h ç a
o riichor possível na medid:~ ern quc a graça de Deus lho coriceder. De 3

qlialqucr forma, ninguéin o fari coriio Davi. Ele simplesmente leili :i prima-
zia sobre todos os reis e príncipes. pois ele o fez bem ao extremo. Mas cada
qual pode, pelo menos, cuidar para iião juntar-se ao grupo dos reis e prínci-
pes :issassiiios, ou, como os chama o Salmo 2, dos inimigos de Deus e de
Cnslo, e para não colaborar com as hordas cismáticas iiciii Ihes dar motivo IIJ

para seduzir as almas e derramar o sangue inocente dos mcstres e cristiios


justos. Depois, ainda terá incômodo c irabaho suficiente c«m a prcservaqão
dos pscfadores e da pdzavra de Deus eiii seu território, cspecialmentc c111
iiossos teiiipos, quando as pessoas são tio Iiorrivelmente ingrat;is e drsde-
nhosas e o diabo raiveja sobrrmancira, deinoiistrando que pretendc 1cv;ir as 15

pessoas a uiiia eniaiicipação total. livres de qualquer pi-ega~âoc doutrina.


Pois, visto que agora se dcsiiiiibara<;aram da coaçáo papal e de seiis
iiiúiiieros embuslcs, pensam que taiiibém estão emancipadas e livirs de toda
:i obeditncia e serviço a Deus. Querem, iiiclusive, livrar-se de toda lei e
i)rclein secular, c o diabo as instiga ;i uma rebelião espiritual c secular- contra zo
I Iciis c os homens. Os que mais procuram, sim, os quc usam essa libcrtaição
i l i i papa mais do que qualquer outra pessoa são os que qucrcin subjugar os
oiiiros com violtncia ao papa, como bispos, príncipes, canônicos, nobres.
1'11ih todos eles náo dão uma palha pela doutrina papal. Quereni essa liher-
<I:i(lcsoinente para se oporcm ao papa, porque ele está, agora, atneaçando oii 2s

i~xcoiiiiiiigandoos bispos e príncipes, coiiio já o fazia antes. Elcs devei-i;iiii


IOIII;I~-SC sete vezes lutcranos contra ele c iiiiportuni-lo um pouco m;iis do
rliic o fez Lutcro. E isso que acabarão firzeiido, conforme profetiza Apocci-
lil~sc 17.16. Outras pcssoas. os luleranos, que conquistauii essa lihcrdade
[liir alto prcço, devem ficar sob a coerção do papa e suas mentir:is publica- lu
iiiciiie reconhecidas, ou entáo, iiioner e ser cxpulsas. Isso sigiitica: nós
ici.ciiios que ser as abelhas trabaiiiadoras, que fazem o mel, eles, porim, os
lvcgiiiyosos zangoes, querem devorar o mel.
Isso eu digo como advertência a todo aqucle que o quer aceitar, porque
iiiilo e quase todos querem ser livres e desprezam a palavra de Deus. Pois 35

<.iiirciis lig~irasdo aiiticristo~3encontra-se uma antiga profecia que diz quc


i10 I'iiii. i~li;iiid«o embuste do anticnsto cstiver descoberto, a humanidade se
i i t i i i ; i i ; i x.lvngein e bruta, apostatanrlo de toda fé e dizendo que já nsi, exisrc
mais Deiis' e que passará a viver em totd arbítrio, a seu bel-prazer, et~.~.'.
Essas iultigas figuras com efeito ine coiiioveiii profundamente e acerta1111x1
mosca. Pois liso ter Deus significa não acreditcu- iiein nisto nem naquilo, mas
estar livrc dc toda a doutrina e pregação íèita em nome de Deiis. Pois a Deus
5 se pode ter somente por nieio da Palavra e da fé. Por isso S. Paulo diz que
aritigameiite os gentios viveram sriii Deus, embora o mundo estivesse cheio
de dcuscs". Mas iião tinham palavra e Le de Deus. Ele vambém diz que o
anticristo u á exalw-se, náo sobre Deus (pois isso é irnpossívcl), inas supra
dictiiin et cul/urn Dei, isso é, sobre a palavra e culto de Deusxh.
Esses epicureusx' e desprezadores dc Deus alastram-se, agora, publica-
mente tainbém na Alemaiiha da mesma forma como aconteceu anterioniiente
na Itilic~.Infclizmcntc isso pode Ievw a uma dominação italiana tanto na
esfera seciilar como na esfera espiritual. Essa rnciltalidadc foi trazida para c6
pelos coiics~ospapais e mercenArios, da iiitiiieira como o viram e aprende-
5 ram eiii Koinii e na Itália. Com o rcgiiiic italiaiio também virão as pragas e
desgraqas italianas. Isso sei-i 0 fim da Alemanha, que se passará a chamar
clc "já era". Certa vez coiiversei com uin excelente homeiii - por que niio
riiericionar seu nome? - o Pdecido senhor Assa von Kratn. Ele iiie pergun-
iou se soldados, sendo crentes, poclcrn aceitar soldo de boa conscitricia. Eu
1 lhc rcspondi por escritoxx. Entre outras coisas (nZo sei por que) foram
mencionados tennos como a "graiidc usura" que sc chama "vei~da"~',
termos e prática que até entáo me eram desconhecidos. "Como?" disse eu,
"scrií quc essas pessoas não têm consciência que teme o juízo de Deiis e o
inferno?" "Pois é", dissc ele. "Eles dizcrn: Você acha que ainda existe
,,, outro Iioinem dentro deste homem?" Esse frase me traspassou o coração, por
que 11ao pressupunha nem suspcitava que se pudesse Salar de modo 120
descarado e frívolo na Alemanha. Queira Deus que não existam niuitos
dcsscs criire a iiobreza e poucos entre os coiiipoiiese.~.

8 4 \, prot'ccia a quc Lurero se refere deve ser 2 Ts 2.3.


xs ('i. 2.12.
Xf, 2 Ts 2.1.
87 Scgiiidores da douwina que o idósósuiu g c g u Epiçwo (341-ça. 270 a.C.) iniciou em Ateiias.
O rpicurismo a~118nliço icleiiliiiça o suprem<>bem com u prazer quc deve ser encontiitdr>ii:i
~pi.iiic:i da virtude e na çullura do espúiiu. Muitas veres o epiçuiismo foi c cst5 scrido
ciiriiuridido. cvoneamente, com o hed(x~isino.par,> o qual o simples prazer iiidividii;tl c
iriii.ili:ili> i. o único valor da moilil.
SS A\.\;, rcri Kr;irii ("I. 1528). coiiianilaniç du cxirciin da S i ô n i a , a cuio pcdidc L.iiIctit
, , W ~ C V C [o ~ l~ikl:~lo: ACCI~C?! <li! Que.jt50 ,?c XunL?,n ~ 1 ; l ; f ~Oci!p;un ~s lkv!,
",TI:, bif11~5c~
~ içnli* iirsic v<,liinic. p. 3h2~4OI.
~ / ;o
A i ~ ~ ~ r t ~ u t : t cl:
S'l < 'I. ncty:t<~,I? l,~ric!~> :k L,\\<, ~ I < > I ? I C ! I I ~ I I I W 1 ~ x 1 ~CIO
~ sbloco ''Eu>~Io~II~:L''
c111( J l t , . t ,
,v,~l<.<.;<t,,:,</;,.\, v. S. I,. \(,%,.
Pois esses camaradas não deriiorarão cm mina amplariieiite o caro
Evangelho e pc(ovocarão rapidmcnte as trevas finais. das quais Cristo diz:
"Achiis que, quando vier o Filho do homem, cle encoiitrd fé?"ILc 18.81.
Taiito ele quanto Paulo dizeiii que o dia derradeiro virá nii hora mais escura
da noite'". Para isso contribuem com toda a força e a todo vapor os absolu- i
tamentc livresy1e arrogantes nobres, bispos, cardeais e çaii6nicos. Abando-
riam muitas paróquias, deixam-nas vagas e as devastam, para que o povão
se tome estúpido, selvagem e pagão o mais rápido possível, nada ouça e
aprenda a respeito de Deus e da salvação das almas, tomando-se evidente
que epicuros piedosos são eles mesriios e como querem toniiu. cpicureu o iu

mundo iriteiro igual a eles. Que seia. Este 6 seu ministério. Que o Iàçam.
Não meieceiii nada meihor. A ira de Deus os incita a levarcm esse ;issuilto
a iei-ino, mas dando a impress5o de que não qucreni toleiar luteranos, como
se tivessem a intenção séria dc niniiter sua própria doutriiiii papal e dc ciisiná-
Ia, quc Ihcs scria dez vezes mais iniolerável do que a de lute ri^. Mas deixr- 15

os seguir em frente no caminho q ~ i cencetaram. Que andem pelo caminho


que escolheratn.
Visto que essa mentalidade terrível e totalmcnte papal, isso é, epicuréia
c italiana, está se alastrando, socon'ri quem pudei- socorrer, e tenha compai-
xão da pobre juventude, nossos queridos descendentes, coriio também de 2u
todos os seletos filhos de Deus que :iuidii scrão acrescentados e cltie sequer
iiasceram. Tainbtiin eles ~Icvcrnchegar ao Batismo e a Cristo por riieio dc
iiosso serviço c assistênci;~.Piii.:~isso somos chanindos e justamente por
çausa deles vivemos. Do coiitririo, nossa fé nos bastariii pi~ranós mesmos,
uZo u~iportandoquando fôssenios morrer. E ai sobre todus os ais se náo 2s
fizemos caso desse serviço e vocaçâo! Deus o rcquererá de nós e exigirá
prcstaçio de contas das almas de todos os descendentes que por nós forem
iicgligericiadas. Por isso repito: quem puder, seja um Davi e siga seu exem-
1110 na ~iicdidado possível, e\peci:ilmcnte os príncipes e srnliores, que
wccbcrarii poder e bens sulicicntcs para isso da parie de Deus. E ele retn- ri
Iiiiirá muito rriais. centuplicadas vezes. e, ~ilémdisso, dará a vida ctcrna, como
1'ii)inete tio geiierosamente9'. E se não puder ser feito mais. que pei.riiarirçam
;to iiieiios as escolas e os púlpitos (que de qualquer Iòrtnn iiiio scrão exccs-
siv~iiiieiitemuitos), visto que existem tantas instituições de caridade, conven-
tos c fcudos. A profecia suprarnencionada certamente se cumprirá. Queira 35
I>cusque, antes que se cumpra, sejamos consideradas pessoas que sc opuse-
i-:iin a ela c ensinaram contra ela, e que, juntamcntc com todos os que nos
sZo queridos, possaiiios partir numa horinlm ,?a e que com Ló sejainos
rediunidos da condenada Sodoma e Gomoii.aq3. Arném.
Isso a respeito da primeira paite desse salmo.

A Segunda Parte
desse salmo abrange os quatro versículos, como segue.
/o O que caluniri seu próximo, n cfve ri-iennino. N;ío gosto da pessoa de
purie ai.I.ogante r sobcrbo, etc. [v. 51
Até aqui Davi riiostrou com seu exemplo conio reis e príncipes prohs
devem se17,ir a Deus, para que, air:ivCs de sua ajuda e coopei-tiyão, scjam
promovidas a palavra e a honra dc Deiis r relrcados os espíi-itos enganosos.
1s Ele os levou B Igreja de modo apropri;ido c cristão, não para servirem a Deus
corno os hipócritas, com queima de velas e outras tolices, que apenas servem
para proporcioilar riquezas e honras temporais aos lalsos mestres, mas para
preservar a pura doutrina e a ordem divina ein verdadeira sincrridade e
espírito, para a salva$ão das almas. Agora. ele também se apreselita como
exemplo no regiriie secular, para mohtrar como um príncipe piedoso deve
agir entre o povo e os súditos, protegendo a cada um contra a violêiicia e
licenciosidade do outro, garantindo-lhe seus direitos e preservando-o neles, e
levwdo-os para a verdadeira câniiii-:I do conselho.
Graqas a Deus, todo o mundo sabe suficientemente como se deve distin-
!, guir esses dois regiines. Pois também a própria natureza da obra demonstfii
essa difcrcnça com clareza suficiente, ainda que não exista nenhiiin manda-
mento ou proibiçáo de Cristo a respeito. Pois vernos perlèitamente que Deus
distribui o governo secular ou os reinos entre os gentios do modo mais
espetacular e grandioso, do mesmo modo como põe o amado sol e a chuva
iguiilmente a seiviqo dos gentios, sem estabelecer entre eles a palavra dc
Deus nem o culto ;i ele, nem os i n s t ~«u i oiieiita por meio de profetils, como
11 k z em Jerusal&inentre seu povo. Não obstarite, cliaina esse regime secul~ir
dos gentios de ordem e criatura siin c permite que abusem dela B vontade da
pior malieira possível, do mesmo modo como permite que urri vilão o11
~pir~stitutas abusem de corpo c aima. Não obstantc, ele quer ser honrado
(conio é de fato) como criador, senhor e preservados desse corpo e dcssii
iiliiin. Disso se deve concluir que o regime secular é um regime distinto c
qiiv ~x>tie ter siia existência própria, scm o reino de Deus.
l i ) i - outro lado, vemos também que distingue seu reino espiritual dr iiio<lo
I:« preciso e claro do secular que dcixn sei1 próprio povo sofrer toda sorte
<Ic desgaça, miséria e pobreza na terra. E assim como não concede aos
rciiios íiiipios participação em seu reino, tampooco concede aos seus partici-
1paç3u iio reino dos gentios. Pois o irnpcradoi- de Roma certaiiiente jamais
icve qualquer palavra de Deus nem profeta, através do qual tivesse conse- s
g~iidosiia ascensão a um poder tão grande e tivesse sido preservado nele.
'Cirnbém São Pedro e São Paulo não tivcrani um palmo de solo próprio e
iicin uma palha eni Roma, pelos quais algum deles pudesse ter sustentado a
si niesmo, muito menos governar ou reinar. Contudo, ambos os reinos
cxistirarn siiiiultaneamentc em Roina, um goverriado pelo imperador NeroY4
coiiira Cristo, o outro governado por Cristo atraves cle seus apóstolos Pedro
<.I'nulo coiiti-a o diabo. E coiiio sinal de que Sáo Pcdro e Sáo Paulo nXo
,:i~vcrnar&ii no Iiiipt2rio Roinano, um deles foi crucifi~i<io c o outro decapi-
!:i~ltr.Ora, deixu-se criiciticar e decapitar uno 6 iiinugiir:tr ~ i i i iregime na
1i.i-i-:I.Por outro lado, como siiial de quc Net-u nSo governou no reiiio de ir
c 'iisio. mandou, como inimigo desse reiiio. cxecuiar os príncipes-cliefes
c Ih.\si, rcino, Sâo Pedro c SZ» Paulo, como se ti~sseiii inimigos do seu rcino secular.
;\ciinu desses eventos e tesiemurihos d:i lTist6ria está Cristo c diz: "Os
iiis (li~sgentios doiriinam sobrc eles. Vós, p»r6in, náo procedereis desse
iiiinlo" [Lc 22.25,26]. Ou seja: NZo penseis qiic vos quero transformar em 20

s<.iilioresseculares. Deixai aos gentios seu reginie. Ele diz mais: "As raposas
i<.iii scus covis, e os pássaros, ninhos. O Fillio do homem, porkm, nZo tem
i i i i i lugar onde ieclinar a cabeça" [Mt 8.201. Agora, imagina onde irá
iil~oiisaras mãos e os pés e todo o corpo? Afiiial, ele estava tleitado na
iii:ii~jcdoui'ae no colo c nos braqos de sua mãe, e também no barco sobre 25

i i i i i inivesseiroUs.O sentido, porém, é o seguintc: Meu reino não consiste ein


i.si:ir iiti ~i.rr:i. repousar, comer, beber, vestiise (eiiibora as necessidades do
< . U I I K I iicccssiteiii dessas coisas por uma oii duas horas. coiiio um hóspede),
iii:is ilc algo difcrcnte. que perdura quando tudo isso deisrc de existir. No
~.iii:iiiii~, o covil é o rcino da I-tiposa. Njio tendo mais a esse, todos os seus i,)

i*.iiit~s \L, li~i;imc ela com eles, pois seiii covil ela nâo podc ficar. Eu, porém.
1x.i i i i:iiii'yo sein regime secular.
( '~~ii\i:i~~iciiiente tenho que inculcar, incuiir, martelar c meter nas cabeças
,.:..I ~ l i l i ~ i ~ ~dcsses i i ~ : i dois reinos, embora tivcsse sido escrito e dito tantas
vt./t.:. 111ii.t.Iicgu a ser entediante. Pois o asyueu-oso diabo tambérn não cessa 75

(1,. c i i / i i i l i ; i i . c iiiisturar esses dois reinos Iiunia só panela. Os senhores secu-


lares sempre qiiereiii ser iiiestres de Cristo em nomc do diabo e ensinS-li)
como deve governar sua Içrcja c seu rcgiine espiritual. Analogumente os
falsos clérigos e espíi-itoscismáticos querem ensinar e instruir constantemeii-
te como se deve organifiu » regime secular, não, porim, em nome de Deus.
5 Desse modo, o diabo náo anda ocioso em ambas as esferas e tetii inuito que
fazer. Quc Deus o impeça, amém, se nós o merecemos!
Ora, [poderás objetar], neste salmo Davi faz exataniente aquilo a que tua
interpretação sc refere: mistura o regime espiiltual e o regime secular e quer
ter anibos. Com efeito, aqui devo ter dado tapas ein meu próprio rosto, e
estou sendo enredado e relutido com minhas próprias palavras, especilhen-
te se os pcrspicazcs antilo~istiis se lançarem sobre esse livro. Eles me
pegarka~npelo rabo coino a Liiria enguia e saberiam como dcsmascarx todo
o nieu tedioso discurso. Pois hiriii. Se o santíssimo padre, « papa, corii os
seus náo me quer ser clemente neiii riie ajudar a sair desses apuros, ajiide-
1s me o amado Seiilior Jesiis Crisio, do qual são inimigos c ao qiinl perseguem!
Quanto a isso digo: lodo senso comum e, inclusive, uiiia criança de sete anos
haverá que dizcr que d:1i- ordens e obedecer são coisas distintas, coino
íambém governar e servir sáo coisas dilèreritcs. Porque urna delas se chama
autoridade, a outra podeiiios cliarnar de subordi~iação~~Tsso esti suiiciente-
:i] mente claro e, além disso. é linguagem clara. Agora ternos quc admitir que
Deus nosso Senhor seja a única autoridade sobre tudo que é criado, e em
relaçio a ele todos nós soinos (se não por beiii, seri por mal) totalrnentc
subordinados. Graças a Dcus, não há outro jeito. Pois ele próprio diz no
Salmo 68.4 que seu nome é Senlior. E no Credo as crianças o chatiiam de
71 Deus e Pai todo-poderoho.
Se, pois, por força dc scu oficio, um pregador disser a reis e priiicipes c
ao mundo inteiro: "Agradecei e teriiei a Deus e cumpri scus mandainentos".
ele não se intromete na autori~ladc secular, mas serve e é (ibedierite ii
autoridade superior. Assim, todo o regiriie espiritual nada mais é do que uiii
1 serviço pi-estado à kiiitoridade divina. Por essa r z á o sZo chamados de servos
de Deus e miiiislros de Ciisto na Escritura. Com efeito; t;imhCiii S. Paulo II
denomina de serviyo à Igreja e a iodos os povosy7.Assiiii. sc Davi ou uiii
príncipe ensina ou ordciia tcmcr a Dcus e ouvir sua palavra, ele n%oé senhoi-
da Palavra, mas scrvidor e obediente, e não está se intrometeiido na autori-
1% dade espiritual ou divina, iiias permanece um humilde subordinado c servidor
fiel. Pois em relação a Deus c no scrviço dc sua autoridade tudo deve scr
igual c misturado, seja espiritual ou secular, tanto o papa quanto o imperador.
i;i,vern«
o seiihor como o seivo. .4c]~iiiião h5 distuiçáo iiem acepçáo de pessoa.
I'crante Deus uiii é tão bom quanto o oiiiro. Pois ele é Deus úriico, Senhor
igual de todos, taiito para um quanto para o outro. Por isso todos devem estar
lia mesma ohediEncia e mistiirados eiitre si como num bolo. e cada qual deve
ajudar o outro a ser obedieiite. Por isso não pode ocorrer tuiiiiilio no serviço
ou na submissão a Deus, neiii no regime espiritual, nem no secular. Pois,
iiiclusive no mundo a revolta não provéin de obediência ou serviço, mas da
;jiiibiçáo dc governar e dominar.
Confusão c rrustufii de regime secular r' espiritual, poréni, ocoiitecem
quarido os elevados cspú-iios presurl<;osos qiierrni niudu c corrigir o dirciio
civil de foiliia aiiiciritária c domix~d«ra. quando eles náo têin nenhuma
ordem nem autoridade para isso, ilcin de Deus neiii de homeiis. O mesmo
:icontccc quando príticipcs c senhores cspiiituais ou seculares querem modi-
Iicar ou comgir de maneira autoritária e dilatoria1 a palavra de Deus, quc-
iciido cles pr(iprios ordenar o que se deve eiisitxu ou pregar, aiiidn que isso
llics seja proibido tão bem como ao mais iiisi~iiilicantemcndigo. Pois isso
~igiiificaque eles mesiiios qiicrcin ser Deus. iiZo quereiii srrvir iieiii ser
iilx>i-duiadosii palavra dc Deiis; :mtcs, a exeinplo de Lúcikrvx.qucreiii sei.
i::ii:iis a Deus, sirii, supcriorcs a Deus. Assiin querem furtar-se h subordina-
~:;i11 a Deus c iniroineter-se na autoridade <Ic Deus, para, fiiialmente, sc
<.~~locarcrn acinia delc. Por isso toda a dcsavença e queixa sobre n confusáo
<li. rcgirne espiritu:il c. secular provéin da autoridade e não da subordinação.
1, oii . . cada qiial quer produzii- e cn;u algo iiovo, inas ningueiii qucr servir e
i~lic(iccer,taiito em assuntos divinos como ciii seculares. Tudo isso provém
i111 ilcsgraçado pecado oi-igirial, uma praga uiata, uin veneno iiiiplantado
iIc.stlc a origeni e da desceiiclência paterna de Adáo, quando o diabo o
iiilkctou e ,eiiveii?n«ii com a pakivrn que Ilics dirigiu: "Sercis corno Deus"
I<i i i 3.51. E essa iIie.;ma divindade maldita que leva a inistunu riiclo.
I I i i i 1i;iir5oi>u;idministrador não pode tolerar, como, dc l i i i ~ é ~intolerii-
\,(.I. 11iic scus subordinados quciram ser sirnulianeamente empregados e se-
i i l i o i i . \ ri11 sua casa e que ele Ihes ordene ou proíba uma coisa e eles ousem
l.i/,.i i i i i iii:iiid;ir oulra coisa. Que seria de nina administração dessas? Para
C I I I:is C .i,uis:i.; Liconreçaiii de fcinna adequada. um empregado coi~etodeve
< I i / c . i :i11 iiiiiio: Meu aiiii~o.sabes que nossu pntrio quer c ordetioii isso e
. i t l i i i l < i . S<:i;iiiio.;. pois, obedieiitcs c cada qiid faça siia paire. Essc cmpregado
111.1<~.ii:iiii~~iii~~ iii;i« se intromete com isso iia autoridade de sei1 patrão, inas
111,- i<.iv<, licliiicrile e ajuda ao patrâo a coriscwar sua autoridade e a obdiên-
t i ; i ,I<. \i.iis sciviçais, da mesma como procedeu José para com o
I : I I : I < , i10 ligiii~c Davi para com seu inimigo Saiil"". E todo o muiido terá que
~ ~ ~ i i i ~ oque i enipregido iicii, é senlior. mas o mais suhordiiiiitlo e ficl
r i l ; icssc

'iiii'l I \ II.I.I.i'I.~~:17. ii. i1 'V0 1 ' 1 . i ; , , Jl,j7~\:, 47.1 {<S.; I S I , ) !l;!f~.l\~.


I00
servitlor. Poitaiiio, se Davi aqui se inuscui (como poderia parecer a iim santo
louco) rio regime divino oii çspiritual, dizeiido aos scus: Deves proceder da
maneira como Deus ordenoil. aí elc náo é senlior. riias uni fiel servidor dc
seu Deus, cu.ja Iioma e seniiorio perseguc humildeiiicnte.
5 Se, porém, tivesse dito: Minha gente, nosso Deus ordenou isto e aquilo,
como sabeis. Eu, porém, nZo concordo coin isso. Como vosso rei r senhor
secular. ao qual deveis obediêiicia com corpo e bens. ordeno-vos proceder
de outra fornici - isso, coni eleitii, poderia ler sido cliaiiiado de mistura de
rcginie espiritiial c secular, ou de I-egiiiiedivino e humaiio, como se faz em
11' riossos dias (dcsgraçadaiiicnte e que Dcus nos o ~ i ~ ae! )como o fez tiunhém
r) nobre Antíoco e scus siriiilms em iempos passados. A respeito disso foi
escrito histantc ein tempos i(lo~"~'. Quem o percebe, pcrceba-o. Queiii 1120,
qiie <I deixe. De qualquer iiio(lo. Deus 1150admitirá cssa mistura, como, aliis,
jamais o admitiu atc agora. Pois bem, é iiielhor parar por aqui. Cliega desse
1s assunto!
Reionieiiios a Davi em seu governo seciilar. Neste salmo ouvinios falar
igualnieiite de iiiuitas excelenics virtiides priiicipesias qiic ele praticou. Pois
nesta parte riso exliiie conio se deve sci-vir a Deus ((i exeiiiplo da primeira
parte), iiias como incentivoti o povo a observiu o direito, cada qual em
u: relação cio próximo. Pois coitio o regime ou o ofício espiritual tem o dever
de dirigir o povo para cima, eiii direção a Deiis, para f u e r o bem e ser salvo,
assim o regime secular deve govcnim 0 povo cá emh;iixo c providencix que
corpo, bens, hoiu.a, inulher, filhus, casa, benfeitorias c todos os beiis fiquem
em paz c sejuranp e que las pessoas] sejam ielizcs na terra. Pois Deus quci-
25 que o regiine secular seja um sítiibolo da verdadeira beiii-civenturança, seme-
lhante ;i seu rcuic, celestial, coniij iiinci imiiação ou iii<scua; nele tambéni
d e i ~ aseus grandes santos per-corrcr seu carnirili~~ iirn mellior do que outro.
mas Davi o melhor de todos.
De fato, Deus subordinou e sujeitou o regime secular ?I razão, porqiic
1 não dcve governar a salvação rias almas nem bens eternos, mas tão-somcnic
bens físicos e icmporais, que Deus sujcita iio ser huma~io(Gn 2.8~s.).Por
essa raí3»; riacbcla se ensina no Evangellio a respeito dc corrio deve scr
adniinistrado c governado, exceto qiie ordeiia que se deve honrá-lo e r i o Ihc
resistir. Por isso os gentios podeni fdar e ensinar muito heiii a respeito dcssc
assuiito (como, n;i verdade. fizeram). E p m dizer a vcrdade, eles srin hcni
inais hsbeis nesses iiegócios do qiie os cristáos, coino, ;iliás, diz o pi-(iprio
Crisio: ''Os fillios deste muiido são mais sábios do que os filhos da luz'' I l .c

I I H I Algiiiw idciitific:uii n Antíocii : ! q ~ iiiencionado ~i com Anuí>ci>111. o Grniidc, qiic ;sc>lli~~ii


Aiiil,:il uii scu cxílio IcS. ;icim;i li. 28). O conicxi<>.purém. ciigcic 1mL;ii-;r dc Aiil,i>i.i, l l
I j i r l l i r i i ~O i i . I f A :i.('..rci iIc\ilc 1751. i:iij;i oposiçári :i<> ,juil;ii\tii<i ~csullorii10 Irv;iiili. iIii\
~~,:,<>,lx,,s.
c i,?,IAr,r,
16.81. E S. Paulo diz em I Co 2. [sc. 1.26ss.l que náo foram chainados
muitos sábios, iiohres. poderosos. Deus escolheii as coisiis loucas,
fracas, desprezadas, etc. Todos os dias experiiiicnlamos o quanto os filhos do
inundr~são inais rápidos, astutos, sátiios e ágeis do que nós mansos, ingê-
nuos, corrrplaceiiies, simplóri~isczirneir~ise. ovellius. Se Deus náo rios assis- i

tisse e 115~)~iraiisfomasszsua alia sabedoria em I«ucui-;i,há muito eles já


tcriain levado o curso das coisas a um desfecho hein diferente, inesino aiites
de perccbennos o que está acontecendo. Pois Ucus é uin senhor generoso e
rico. que. Iluiya ouro2p~cta,riquezas. <Iiiiiiiniosc reinos eni graiicle quantidade
'.
rias iilios dos eeiirios. conio sc fosse onllia c arria. Da mrsrria foimit distribui io
cntrc eles grande iiiteligêiicia, sabed;>ria,conheciinentos lingiiísticos c elo-
qüência. dc suste quc seus ninildos cristãos parecem meras ciian$:is. tolos e
iiiciitligos ein coinp;traç5o coin eles.
E por que fazer iaiitas palavras'? O direito imperial, segundo o qual o
Iiiipério Roninno é govetnado ainda hqje e o s e ~aié í ao dia derradeiro, nadii 15
iiiiiis t2 do (liic hahednria pagi. estabt.lecido e insiituido pelos ininanos aiites
iiicsiiio de Roiiin ter ouvido alguma coisa a respeito dc crisiUos ou do próprio
I )i.iis. Creio, inclusive, que. se todos os jui-istas fossem cozidos niim só holo
i. ir~<los os horiiais sábios Sossciii iiiisi~radosiiiitiia úiiica Ixbirki. irão apeniis
iIi.ix:iriarii todas as qiiestòcs c controvérsias scni soluqio, rrias tainhirn se- iu
i i i i i i i incapazes dc se expressarem e pensarcm t;io bem a respeito. Pois essas
(iiwoas rinhaiii quc tcr cxperi2ncia eiii questões dc relcr2iicia e ser conhc-
~.iiIorcsda iiientalidade de niuita gente. Além disso, cratn dotados de giaiide
iiiicli:~Eiici:ic capacidade dc raciocínio. Em resuiiio: as pessoas qiie iivevam
I:iI s;ihedori;i eiii assuntos de regime seciilar viveram unia vez e riáo viverão 25

iiiiiis. Por ouiro lado, obseiva-sc que coisa pueril, ridíciila e ruuii é o dlrcito
i.;iiii,iiico. embora muitos honiens saritos e excelentes ti\,essem trabalhado
ii,.li.. ;i poiiio de os próprios juristas iifiriiiarern: "Uin piiro canoiusia é iiin
j:i:iiiili, ;isiiiisia"'"'. E, adiiiiiiimos, é ;I pura verdade. Pois licaram presos a
iiiiiii;is idéias alheias e pouco se preocuparam coin a sabedoria do muiido. 30

I'oii;iii~o.queni quiser instruir-se e itdquirii- conheciiiieiitos ein assuntos


I ~ . : ~ ~ I Ihccii\;u,
\V quc leia livros e escritos gcrilios. Eles, coiii efciici~o
~ l . i l ~ o i ; i i ; i i i ic ilcscrcvrram de forma muilo bonita e abrangcnte, tanto em
. i I i ~ i.:iiii~s
i coiiiti ein figuras, com ensinamcnlos e exemplos. Deles surgiram
i . i i i i I ~ i ~ i i :i.;
i ;iiiiigas leis imperiiiis. Estou coiiveiicido de que Deus <leu e "
lu,.it.i \ ' O I I ixsc livros geritios poéticos c de História2conii, os de Homero,
Vii1:ilio. I )ciiii,stciies, Cícero, LívioinL,e depois os excelentes antigos juristas
~ -
(.'ishtm
, ,'
corno tamhtítn deii oiilros bens ten~poraisaos gentios e atcus c os
preservou em todos os tcriipos), para que lamh6.in os pagãos e ateus tivesseiii
seus profelas, apóstolos, teólogos e pregadores para o regime secular. Nesse
sentidr~também S. Paulo chama o poeta cretrnse EpimênidcsLU3dc "scu
r pmfeta" (Tt 1.12). e Mateus c1i;iriiii os tr2s santos reis de "rriagos" [Mt 2.11,
porque eram os sacerdotes. proietas ou mestres dos áral~es.Assim Homero,
Platão. Asistólcles, Cícero, UlpianoXL', etc., fora111 para eles o que Moisés,
Elias, ls:cías, etc.. foram para o povo de Deus. E seus imperadores. reis,
príncipes, coiuo Alcxaii<lre.Augustoi(I5,etc., Soraiii seus Davis c Salorr~ios.
IIN Pois do modo conio os espirituais c santos profetas e reis ensinaram c
governaram o povo coui o fito de alclinyareni o reino de Dcus e de perma-
necerem nele, assini os profetas e rei5 seculares. pagãos e Liteus ensiriarain e
govcniwam o povo para 111-escrvar0 rciiio secular. Pois. \,isto que Deus quis
colocar nas mãos dos gentios ou da razão 0 governo teniporal, também teve
15 que providenciar que houvesse pessoas quc o piidessem preservar com sabe-
doria e coragem, dispostas c aptas p:w isso, do mesmo modo conio, em
todos os tempos. tcvc qiic dar a seu liovo ver~indciros,piiros e fiéis mestres,
aptos a governar sua Igreja cristã c a Ititar contra o diabo. Nessas duns esieras
foi produzida toda sorte dc livros, leis e ensinamentos, que nos ficaram
preser\.ados atC Iioje. Os geritios, poi seii la(lo, possuem seus livros pagãos,
c, dc iiossa pane, nós crist20s possiiírnos os livros &I Sagrada Escritura.
Aqueles ensinam a villu~ie,Icis c sabedorka com respeito a bciis, horua
temporais e paz nii tcrra; esses ensh:itn a í'é e boas obras com visitis à vida
cicina rio rcino celestial.
2- Como se pvileria rc~ratarmcllior urn príncipe ou utu rei na tema do que
como os gentios retrataram seu FIércules"'"? Que mais sc poderia esperar de
um príncipe secular do qiie se r c ~ i z i s s cas iiiesmas ohras que Hérculcs
i-ealizoii i)u segiiisse seti rxciiiplo? E verdatle que esses feitos tamhéiri vêiii
acoiiipanhados dc pecados e vícios. No entanto. scria isso de admirar eniir
os gctitios, que inclusive os santos de Dcus, corno Davi. etc., tropeçaram'!
Mas no exercício do govcnio pemiariecerain excelentes Iieróis. Quc h i tlc
errado cuin A1cx;iiidre h'l;ig~ioe seti pai FilipcK":> Que h i de enado com
Augiisto, Traja11o"'~e seiiielhanles, qiiando se buscam exemplos ~iobrcspara
o griveino secular'! Setn falar agora de outros livros, como se poderia escrevci-

103 Poiia, saccrdotc c iniiagrcirci grcgo, de Cretn, 110 s6c. VI a.C.


10.4 l%ii.io (427-347 a.C.), filiisrifo grego eni Atenas, uin doi maiores da mtigüidadc (ao 1;iiIo
<li. \cii <lisçípulo Aristótclc~j.- Drirnicio Ulpi;Ui<i (ci. 170-22s. assassin;al<B. iui-isi:i
ii>iii;uii>. Sr>brcA~i~ti>telcs v. acima li. 1'3. i i . 42.
IO\ V . .iciiii;i li. 147. n. 21 c 2.1.
I00 l l i . i i (I;, iiiil<iliigt;i prcg;i, liixir>sr> por su;i l i i i a .
~ 7 3 0 :L,<'., ~ ~ ~ ~ ~ 1c.i
101 l , i / i / x , l l , ( r : 3x2 ~ s<k,~s Mi~ccdG~~i;,
i ~ ~ i ~(dcs<lc l ~ ~3SIj.
).
IIIX M ~ I C I. lI[>io C I 'It;tj;!,,o ( Y 4 1171. i ~ ~ ~ p c r ; r<>!t~:mo
~ ~ l c ~ c~ c l ~ ~ ')SI.
\dc~
i i i i i livro melhor sobre a sabedoria pagã do riiiuido do que o difiiridido,
siiiiples livro incaiiil de Esopol"O?Pois porque é lido pelas crianças e por ser
150 viilgar, não se lhe dá ateii<;áo.E há gente que jaiiiais entendeu uma única
Iabula dessc livro, rnas se considera quatro vezes doiitorilfl.
Aqui, porém, E preciso lembrar mais uma veL, como já o fiz acima, que r
os sábios do mundo oii regentes do mundo não ssáo iodos iguais. Assim como
Ihvi a seu i e m p e eiii seu re~iiiicfoi unia excec;ã« eiirre ouiros s~.~itos de
Drus, piua exeinplo de iodos os 1-eise príncipes probos. i)niesmo se dá aqui.
Embora todos us gentios fosscni geiitios por igual, c imios fossem sercs
litiriiarios e racionais por igiial, alguns deles tiveratii que se destaca riitre 10
cles. pessoas que faziam as coisas da melhor iiiaiieira antes e acima de
iiutros. aos quais os demais iiáo consçgiiiam igualar-se; apenas conseguiarli
iiiiitá-10s e remenda o casaco rasgado da mellior maneira possível, coiiio,
:ili.is. esiá acontecendo ainda hoje e coirio iiáo podc ser diFereiite. Pois da
iiicsina foniia como em seu s;mto povo Deus náo f;rz t i todos proletas i7u 1 5
<;íhiiispcii- igual riem concede a iodos o mesmo grau de capacidade, assini
i:iiiibEin entre os gentios não fez as pedras preciosas I;io comuns como os
c-;i\cahos rias cstrad:is. Somente raras vczcs Ihes deu um herói excelente,
c-<iiii».alias, ainda o Paz 1io.je. Pois até hoje aindi iiâo surgiu ninguém quc se
i::ii;tlassc a Alexandre ou Holncro, ninguém que se igualasse a Virgílio ou 20
.liigusto, de imodo qiie tamb&m doravaiitc continua sendo iitii milagre de
I)iiis ciiire os cegos geiitios quando forairi oii realizaram algo esiraoidinário.
I'or isso iainhhn nesse salnio o caro amado Davi iiáo alribui seu segiiiie
i,c.iilar a sua r u a o ou a seu poder, iiiiis agradece e Ioiivii u Deus por ele.
I'ois para demonstrar uma 150 rilevai1;i virtude de nobrcza (seja Davi ou :?
I [ ci~ules),
:.. prccisa-se do impulso de Dcris. Os gentios, que iiáo podiam saber
iIc oiide vinha essa difcreii<;aentre os príncipes. dciiomiiiaram-na de fnrtii118,
..\(i~.ic", e transfontiluarii-lia cin uma deusa. A cssa presiram as iiiais
~iililiiiicshonraias, eiii especial os mais sábios e p<i<ler«s«ssenhores de
I : ~ ~ i i i ; i . Os mais sábios eiitre eles, como Cícerolli, por exemplo, afiliam qiie 4
,.c. ii:ii;i <Ic uma inspiraçâo diviia, e concluem que jaiiiais alguém se tomoii
i i i i i !:r;iiiilc Iiomeiu por forças própri;ts, mas por uma especial e inisteriosa

lti', / ~ e r , ? ~:wgo. ~ . de <,iigcinhí~a.atilor de Itíbulss, vivrir provavcln~ciiterio dc. V1 a.C. SLMS


1.il1iil.i.. \ t i liiim traiisri~ri~las na verráo puètica quc < porra
i grego Blbrio, de origçrri
i.oiii.iii:i. Ilics dcu no fw.ù do s6c. U d C . na Asia.
i l i 1 I I i a r . i i i i c i":! ~>cniianência em Coburgu. riii 1530, cnquanto eni Auesburgo estava srtido
ii.ii;id:i :i causa lulerma pcrdnte :i Assci~iblfiaNacional, Lutrru iiiiciou uma irdiiç%odas
l : i I i ~ i l ; i \ <1çEsopo p a a a língua alcmá, projeto que, inSel?zmriite, iiái> hi cxccutaclo. Nri
i>ic.l;íi.ii,I: obra projetada, Liitero expressa a alta eslima quç tcin pcliih l'ihulas <liEsop<i.
N;i á i >Visitad<ircs"
~ ' l i i ~ i i i i ~;tos dc 1528 (ci: a lenti, c1110hiii.s ,S~~Iccii~ri:i<l;is.
v. 7). I.iilcn>
d:is
iiiili,ii;i < ~ [ I C sci:ini liikis citiii i t s ;iliiiii,s d;is c1:isscs siil>ciii,il,\.
I I I V . ;ii.iiii:i 1). 148. i i . 27.
insuflação ou irispiraç5o dos dcuses. Eles percebiam perfeitaniente como era
estranho que uma pessoa tinlia mais sucesso que a outra. AIguini que não
possuía a meiade, neni mesmo iiin sétimo da capacidade intelectiial, [orça e
poder do que muitos ouiros, é capar de realizar algo que os outros facilrnerite
poderiam ier fcito melhor, rnas que com totla a sua sabedoria não tinhaiii
tiem idéia onde começar ou como proceder, como aconteceu com Demóste-
' ~ . é o qiie diz também o provérbio demão: "O que tiver
nes c C í ~ e r o ~Isso
I nxus soric leva a noiva p;u-i1 casa".
Esse impiilso <livino lein que estar prcseiite de iiianeiiii espccial iio
I to r-cgirne secular rio qual governa Davi, isto Z , pnricipes crislãos tenienies a
!i Deus, tendo que servir siriiultaneamcnte a Deus e governas o povo. Pois o
diabo é muito mais hostil a esscs do que aos gentios, seus sudiios, por causa
1 de Deus e sua palavra, como diz Deus a respeito de Jerusalém em Ezequiel
I 4 [sc. 5.51: "Eis aí Jeriisaléni. Eu a coloquei em meio aos gentios". Como
i 1% se quisesse dizer: Ela está ccrcada exclusiv;iinente por inimigos e pelo
PI-6priodiaho por ininha causa. Eles Ihe invejai-50 até mesmo o fure10 dos
porcos e ;i vida, que diri i i i i i iegimc real Iivrc e hoiii no iiiundo. Por isso o
próprio Dcus leve que proteger o reúio de seu povo constaniemcnte com seu
próprio poder c portentos, c preservá-lo iiierainentc com homeiis rriilagrosos
211 que escolhia e susciinva para isso (como o ensina a Bíblia). Pois, eiiibora o
diaho tarnbéni fosse inimigo c adversásio do regime sccular dos gentios, ele
odeia de modo iiiuito inais hori-ivel o regime dos santos de Deus na terra.
Contra esse cle usou, c111todos os tempos. os reinos e o poder dos gentios.
corno licli evidente em todos os gentios ao redor de Jerusalém. E disso não
desistirá jamais, até o dia derradeiro, quando, finalmente, terá que por um
temio nisso.
Assiin canta o I-ci Davi a irspcitu da primeira
virrude rio reino seciilar.

O que calui~i~i seu próxirno às ocultas, a esse clirnúio. [v. Sal


Aqui percebes que agora ele não está agindo em relação a Deus, mas
ollia para baixo e ocupa-se coiii seu próximo. qiier dizer, coiiio rei seciilar,
qiicr praticar jiisliqa tambkiii eiih-e as peçoas. Na corte existeiii duas f»i~n;is
cIe calúrua: uma que diz respeito ao próprio lei ou ao príricipe, quando sc
Iila mal dele, se « iiialdi ou hlasfeiila, como os laiisquenetes costumaiii
:~iiieldiçoarseu seiilior. Não é disso que Davi está falando (a meu ver). Os
gui'ios tomaram atitudes bcin diferentes a esse respeito. Deles cada quiil
~ x ~toinsi.
l c os exemplos que lhe parecerem melhor. Os ptíncipes magiiâniiiios

I I.' ('I. ; i i i l i i : l (i. 148. ii. 27: .1, 157. ii. 46 r 47


geralmente dcspr~zai:tm I;i c;llíinki]. Excmplo disso foi 0 g.l;indeAlcxaiidre.
Qu:irido Ilie contaram que o povo f2ilava 11iaI dele, nZo tomou rienhuiti:~
:[titude a rcspeito, t:tmbi.m não se irou, iiias disse: "Cabe ;io rei fazer o beiii
c ouvir ~ i i c t l " ~ ' AS ~ . coisas acontecem regianieiite quando fazemos o bem e
;is pessoas falairi mal a respeito. Como se quisesse dizer: Virtudes reais rio i

poi- demais elevadas que o povio louco as pudessc entender. e boas demais
p;un serem elogiadas por gentc imprestável. Isso ele aprendeu de seu profira
Hoinerof14 que se rekre a um sujriio ohsceno, de norne =rsites, que iiada
sabia fazer senso maldizer seu rei. Certos imperadores romanos tamheiii
scntcnciaram: N;i Roma livre deve haver línguas livres. Entre o povo de Irl

Isi-ael, porém, isso cra considerado pecado mortal, cr>iii»entrc muitos outros
povos gentios. Pois (7s judeus consideravam a calúnia bl;isfêinia de Deus c
por causa dela nialnvniii os vcrdadriros santos profettis. ciiihora, por cargo
iIc c~fícioe ordeiii diviiin, tanto rcis coilii) profcras iivisseiii que castigar,
<.ornop«deinos ler e111todos os profetas. Seu ofício de profeta dc nada Ihes 15

v;ilcu. Q~iai~do dcni~nciavamOS vícios e idolatrias dos reis. isso era consids-
iii<In blasfêitiia dc Ucus e do rei, c eram rriortos imedicctaincnte. Para isso
v;lliam-se do enunciado dc Moisés ein Ex 23 [sc. 23.2Xj: "Náo amaldiçoarás
o s clcuses iierii blaslemarás conlra a autoridade de tcu povo". Com esse
~.iiiiiiciadoe espada de Moisés foi demilnado iiiiiito saigue inocente, do 20
iiii.siiio modo como Iiojr o nome Igreja c ;iiitoiidade tambéiii < iitilizado para
iii;iIar c toriuriu muitos c#-istiíosinocenles.
O inundo 6 um carrapicho espiiihcnto. Para quUl<juerlado que se o vire.
<.I<. ;iponta seus espinhos. Antes de vir nosso Evarigelho, ninguém sabia
1,icg;ir sobre a autoridade (para dizer quZo boa institiiiçZ~iela é). Agora, que 2s

ii.iii sido elogiada e eiialtecida pelo Evangelho, ela quer elevar-se acima dc
I )1.11s c sua palavra. e nidenar o que s r dcve pregai- e crci-. Por outro lado,
< ~ I I : I se I I ~a [recriiiino.
I isso 6 considerado sediçzo. Quiise snii Icvado a dizer
c , L I I I L . (Iisse aquele pi-egador sobre esfolar coelhos: a cabeya é difícil de
~ . \ I I I ~ . I I (ickrindo-sc aos príncipes r $erilioics): "Qiie o diaho te csfole", 1'1

<lih,,i.1.I<..I'«is as coisas estão tomaiido seu curso. send<iquc nada mais fica
i i c i iiiiiio ccrto. A5 coisas vão ou p a a a direita. ou para a esquerda, n
<.ic.iiil~lo dos c:ivalos bravos e indomados.
( ) oiitro iipo de calúnia refere-se ao próximo, como diz e lamenta o
I L . \ I L ) . I'ois iidc Davi confessa abertameiite que havia desses patifes na cone 15

< I I I C . o l<'i~I;~r:i~i~. Do conti$rio, porque ii-ia falar contru elcs em temos tão
. I , . I N ' I $ ~ : . , :i p<iii~o de glorificar o fato de ter conseguido exterminar e111sua
g oiI<.c.ssc vício 1120 apenas como liriia viriude real, mas também como ~ i r i i
Snlmo 101
- -
inilagre divino? O que não existe iião se pode exterminar. Mes é possível
quc estivesse í'alando apenas de sua época e de sua curte. Hoje em dia,
porém, (graças a Deus!) esse tipo não existe mais lias cortes. Todos viraram
piedosos. E se existis.;en~,não obstante, não existirim1 (queira Deus!), como
5 um espírito faia atravbs de um tolo: Se eu o fiz, eu não o fiz, sc Deus quiser.
Nem eu, nem tu, neni meu irmão, nem meu cunhado. O desgraçado Nm-
guém foi quc o Ele pratica todas as maldades e, não ohstante, perma-
nece livre e impune de toda justiça e autoridade. Isso acontece em qualquer
governo, seja grande ou pequeno, com exceção no direito de mestre Joãon6
ou do diabo, se Deus o quiser cntregar em suas iráos. Esscs sempre encon-
tram (para minha supresii) o detestável Ninguém, como Suloinão prega e
adverte com liequência eni seus provérbios.
Os gentios conraiii uina ho,i ;inedota. Falain de uin deus estraiilio, de
nome Momo, que põc defeito eiii tiido. Daí seu nome Momo, o C n ~ i c o ~ ~ ~ .
ir Ele eiialiecc sobremaneira o que outi.«s deuses lizeram no ser humano. No
entanto, uina coisa havili sido esquecida, o que i. urri erro vergonhoso: não
havia sido feira iiiiia janela ou uma abertura no coraqão do ser humano, pela
qual sc pudesse observar o que as pcssoas têm em mente ou estão planejan-
do. Com isso se poderia ter evitado muita desgraya e cada qual poderia
20 precaver-se dos outros. Pois estaria escrito em sua tesla o que se passa em
seu coração, como se diz entre nós alemães. Nenhum inentiroso, impostor,
bajulador nem qualquct. Iíngua falsa poderia intentar, muito menos conseguir
qualquer coisa. Isso tudo, porkm, é a queixa da elevada razão de gente sábia
sobre os hipócritas e coraç6es ialsos e que não pode confoimar-se nem
25 entender por que Deus peniiiie, entre outras coisas, que sejamos torturados
na terra por gente falsa. Pois ela acredita que, se estivesse estado presente,
tena dado a Dcus o bom coiisellio de criar o ser humaiio corn unia janela
para o coração no lugar do i i m i l o esquerdo.
Pois sc riZo existissem Iíiiguas falsus nas cortes e nos governos, a espada
inuitas vezcs ficaiia ria bainha, ao passo que, caso c»riri.;ú.io, cla provoca
gande desgraça, dena~i~unento de sangue e morte, sem necessidade. Aí, então,
certamente também a justiça não permaneceria tão profuiidainente oculta nos
livros, mas surgiria conio o sol para todos os que, de outro rnodo, têm que
sofrcr injustiça. Pois é! Isso é um casaco no qual nem o couro nem os pêlos
35 prestam, como o mostrain todos os compêndios de História, com exceqão
daquilo que Deus faz de bom nela, remendando-a. De modo que não é sem

115 A ;liiçd<iiarznionia e Iloincrn. Dioite de PoMemo, Odisscu se considera oi~1j.s- nada.


I lh Mci,vtcr Il;lris, no original.
117 M<iiiirn.crii Ercgo, ci>iii<>~>visi>iiilir;i~%i> de "recrimina~ão". A n;uativa que si. x p c
i.iiii~1;i i.~ii:I.iici;iibi,. I l ~ ~ , i i i i ~ r , ~ i i r?O.
ri. - I.iir.i;i,lo (ca. 120-çii. IXO). iscriti~rgrcgcv dc
o ~ i l , ,stti;,.
c~~~

I0,i
Governo
iiiotivo que o pobre e impaciente Momo (fi~laiidoseguiido a came) anda
ii-ado, desejando que as coisas lòssem diferentes. Portanto, Davi deu um tiro
baslante ceiteiro e acertou o maior vício e mal da corte, como se soubesse
por experiência que líiiguas são riiíiis davastadoras do que espada e todas as
arinas, sejam mosquetes, lanças ou canhões, por destniidores que esses
sejaiii. Pois se desaparecessem as más línguas, não Iiaveria mais necessidade
de espada. Por isso Davi diz no Srdtério: "Suab Iúiguas são espadas c
lanfas" [SI 57.41. E nós al~riiiiesdizenios que uma pdavrri má E uina flecha,
ou eiitlio uma esioc;id;i que não sangra, etc.
Que mais poderia dizer a esse respeito? E uin assunto quc foge a iiieus
conhecimentos, pois jaiiiais vivi na corte nem estive no exército, c faço
questão de manter-me longe de ambos. No entaiito. pressuponho que aí as
coisas não são diferentes do que no reino de Cristo, no qual tcnho alguma
experiência c rio q ~ i das Liiiguas fiilsas riie causam (eu deveria dizer, a mcu
Sciilior Cristo) o maior prejuízo. Toiliei conheciiiierito de dois casos sobre o
icgiriie secular de pessoas já kilecidas c nas quais coiilio. Um ou dois casos
~~icseiiciei pessoalincntc. Se os outros (que desconlicqo) t:unbém são desse
iilxi ou aiiida pio]-es. quc Deus se c«iiipadec;a de todos os príiicipes e
iiycntcs, e tenho qiie elogiar (falando de acordo com a razáo coriio iim
siiitio) os que se mantiveram distantes, tornaiido-sc monges ou eremitas.
I'i~ispercebo que no regime scculw também existem heregcs e espíritos
scctários que não lutam e guei~eianicom a espada (pois para isso são
iii~~drosos demais!), mas com a língua.
Bem, iiBo quero nerri posso sabcr iiiais a esse respeito do que que [i
~ii~.loschni (esse é o termo Iiebi-aico) - o linguaiudo nu (coiiio se diz ein
;iIciii3«) R lavadeira - deve e Iiá de ser um gatinho iriuito mimoso, que sabe
I:iiiil>crna frente e ; ~ ~ ~ i u iatrás. h a r Pois tein que reunir em si necessariaiiiente
;i.: 11ii:is virtudes: s a l ~ lamber r muito bem e marihar ainda melhoi; coiiio o
pi~iprioDavi descreve seu Doeguc"? soube muito bein lamber o rei Saul e
11ifi.i-llic o que era de seu agrado, e maiihas o pobre Davi de modo 130
iIi~s;ivcrponh;idoque resultou no assassinato de mais de oitenta sacerdotes.
I ~ I I ~::iiiiilio
I desses precisa de duas pessoas: uma para lamber - essa é Saul;
< ~ i i i i ; i 1 1 x 1 ;iranhar - essa é Davi. Por fun, poi.éiii. Saul perece com seii
j ~ . i i i ~ i l i i r . c Ikvi permanece senhor, serri manhões. sein mordidas, sem ser
t l < . v c ~ i ; i < l <I'ois
~. Davi diz aqui: Eles têm que ser exteniiiri;idos. Se clc mente.
t,lt.:. a > I~I.;w;Io sLibcndo.
1 1, r:t.iiii~iscoiitaiii qiie, por fm, as mullieres ti-ansfomaram seu Hércu-
I,... 1 8 , I kivi <Iclcs)ein pctlliaço. Uma lhe colocoii o vEu c a outra lhe p6s lia
i i i . i a , :i i i a . ; i c :i lançadeira e, por causa de seu grande anior, teve que iiiir.
S h o 101
Pois é, há de se coiicliiir que esses grandes piíiicipes viram palhaços em seu
:unor pelas mullieres, como aconteceu com Davi e Bate-Seba119.No entanto.
náo acredito que ele tivesse iiado de fato. Os poetas e pessoas ajuizadas o
pintaram dessa forma e emhelezarani a história com palavras para mostrar
que, se nenhum oucro.portento tremendo pode abalar um príncipe ou homem
viilente, ainda que tivesse vencido iodos os ininugos ao derredor (como no
caso de Hércules). por Luii riso será capaz dc superar o diabo doméstico. o
uUnu50 caseiro. A gcntil serilioritri. 21 bela rainha Oiiif:ti, com seu belo rosto
e sua língua siiavc, põe um véu iio caro Ht'rcules e lhe ordena fiar. Lá está
o hedi vitorioso, qiic estrqalhou todos os leoes, prendeu o cão iiifemal,
denotou os centauros r lapitesiZ1',matou o dragão, e o que mais escrevem a
seu respeito. Lá está ele agora (digo) e depõe sua maça e toma na nião a
i-oca, enquanto sua bcla Omfal o ameaça com a vara se iiáo fiar direito.12'
Dessa mancki os poctas descn.ver:iiii a bela gatinha, ckuiiada "Adula-
$no", que pisi na boca dos príncipes e scnhores e ihes ordena fazer o qiie
ela deseja. No entanto, ela o faz de uma maneira Cri« graciosa e com palavras
tiio arriiiveis que leva o caro Hércules a pensar que ela é o anjo de Deus e
que ele próprio i120 P digno de possuir iiina iiioça tão formosa como Omfal.
Assim se torna seli obediente e subinisso escravo, no entanto, iiào sem
çrande prejuízo p;ua ailueles que ele, entrementes, deveria ter salvo, protegi-
do e socomdo corn sua maça contra os malvados patifes. NBo sei se já Iiouvc
ou ainda haverá um rei ou príncipe que iião tivesse sido ciiguiiado por essa
bcla moça c deixo que eles cuidei11 disso. No entanto, sei perfeitame~iteda
S q a d a Escritiira que nem o próprio Davi, o rei acima de todos os reis, ficou
, irnuiic a ela. Pois C suliciciitemente sabido o que seu próprio fiiho Absrilicio
k z com ele com uma beki tigiira c palavras gentis"?. Depois Ziba tambiiii
Ilie ensebou a hoca táo bem e lhe fez cóccgas nos ouvidix na hora certa ali.
i~uetirounovameiitr do pobre Mefibosete alguns bens que antes ihe havi:~
co~icedido,dando a iiictade deles à gatinha ZibatZ3.Assini Ziba unhou ecscs
hciis tle Mefibosete lainbendo o rei Davitz4.Não obstante. gloria-se iicstc
holrrio, afimimdo que extermina os caluniadores. E no fim dele queremos
pcdir-lhe sdtisf:ição por que ousa gloriar-se de algo que não fez nem possuiti.
Também me parece que os prolktas dos gentios não querem conceder a
iiciiliuni rei a honra de tcr sido imune aos engarios dessa bela esposa, visco

11'1 (.I. 2 srii II.


I ?liI.:y~iii.s,ggiiiliu Phico g r g o que, de aconlo com a leiida, derrotou u cenfauro.
I?.! ('i>iill>i-iiicu Ictida, Hércules cometeu iim assassinato. Foi punido com 3 mos de cscnivi
sci-viiidc a Omial, rainha da Lídia.
<I;ii>.
I??L Si,, 1 5 . 1 ~ ~ .
I > \ ('1. 2 Siii I11.24~s.
!!.I ('1: ;! SI,, lO.Ib&.
qiic descrevem a Hircules. o príncipe niais exceleiite entre os gentios, coliio
algiiém que, por fm, tem que fiar. Coin isso quiseram dizer: O que Hércules
não conseguiu, tampouco vós outros phicipes conseguires. O quc ele iiÃo
conseguiu superar, tambéiii vós o sofrereis. Ele foi obrigado a fiar. Também
vbs sereis envolvidos eiii fiações. E como pocleria ser diferente'! Quciii quiser r
govemai- tem que confiiu em pessoas. Do contrário, que poderia fazer em
seu govcmo? No entanto, quem confia, seguramente já foi enganado, como
dizem os alcmães: O senhor Conkança tc leva o çlivalo. E os hebrcus dizem:
"Todos os tiomciis são falsos" (Salmo 116.11). Pois é evi~lciiteque nenhum
coiteseo ou sewiyal desonesio ou prejudicial diri as piores coisas a re.speito io
<Icsi mesmo ou se expor2 k vcrgonliti. Seria uin graiide tolo. Pelo coiitrário.
A gatinha tem que embclezir e enfeita-se para os hóspedes quc tcretnos. Por
isso essa noiva ter6 que perniimecer e permanecerá por algum tempo na corte
c eiii todos os governos. tanto altos como baixos.
E~crevernque certo mugrave de Meisscn teria dito que um príncipe nZo 8s
deve temer os inimigos distantes, mas aqueles que ihe acoiilpanharn os
passos de peno. Pois esses são os qiie gostariani de pisar~iiictaiubéiii na
cabeça. Ele foi uiii honiem singular e iiào quis tolerar (ao que pacce) essa
iioiva cm sua çortc. Eu lhe concedo a sabedoria c a gl6ria. Ao mesmo tcinpo,
porém, tenio que nZo cortou as mantas de toicinho do lado das portas do 20

infcmo12je que dcixou a tr;tnca na porta12h.Não entendo niicln dessas coisas.


No entanto. penso que queiii ~iussuiuin c;isicco de pcles esburlicido náo será
capaz de remendar todos os buracos. inuito iilenos dc prcvenu todos os
novos buracos. A verdade e esta: quando o corpo eslá doerite. Iião que surgir
iomhtm pústulas. pus c outras secreções. Ora, o governo e uma capa de 2s

iricndigo e uma criança purulenta, que tem varíol:~e sarampo. Por isso é
prrciso que liele se tenha al2uns JosSs, Naamãs. Natãs e Zadoques jiistos,
que o maiiteiiliam vivo e em fi~ncionamerito, para rião sc muinar
ccimplct~iiiente~~~.Os demais são coiiio pústulas, úlcei-as, sífilis, epilepsia,
crisipela (como eles próprios se dcnoiiiinam rogaido pragas), que toniaiii 30

ixsc corpo dociiie, como Ziba, Aitofel e seme1h;uitcs.


Vucin, todavia, seria capaz de Mar o suficicnle a respcito desse iiid e
~~iqiiií/,o?
Os gentios escrcveram muitos livriis sobre o teiiia. especialmerite
blah o lema C: Que o diabo te arraiiquc a pele! E iim iiial
I'liii;i~cii~~~.

l .'i l liii ~xov&bioalcinão diz que quem 6 dc fato homçm na casa tem o dircilri dc corlar uma
toicinho oendurado "wranle a Dorta do iriremo" - auer direr. ti.+ hoct da Iacirzi.
11ii1;i <I<,
I.>li Nii oiigirini: den f i g nn der Tik brçla.$scri h a k n - & u s c por \,eiicid<i: cf. Gruiuii.
8, çol. 948.
I k ~ i i > c l i c cIVfirlerbrbuch. v.
~ . N m á : cf. acuii 11. 55 ç p.
Gn 41; 4 7 . 1 3 ~-
I!/ .Ii>ri.:cl: 119. - Na1:i: c i 2 Siii I?.l\\.
%:i<l<xiiic:cl. 2 Srn 15.24~s.:1 7 . 1 5 ~ ~ .
- - - -

inescrutável, com o qual o reino do mundo é castigado como um cachorro


com seu açoiteiz9,talvez para não se tornar arrogante e presunqoso demais.
Não ohstunte, Davi se gloria de ter feito sua parte nesse ponto e que o
extirpou aiiiplamente. Se um príncipe se deixa ordeiiliar deliberadamente de
5 tiiodo tão desavei;roilhado, qu.mdo poderia niiiito bcm preveni-lo, isso seria
um jogo de cartas perverso. no qual ouro seriilire seria tmnfo e jamais copas.
Aí, certarilente, eu perderia todos os meus bens, e talvez, uicliisive, seria
apunhalado. Já é demais que um príncipe tenha que deixar-se ordenhar
sccretamentc, e perniitir que lhe seja roubado o leite sem poder evitá-lo. Por
I isso Davi deve ier agredido c provocado muitos griuides senhores corri essa
viriude. Pois que glória seria, se tivesse eliminado um tratador de vaca7 ou
um la\~rador'?No entanto, exteniuiiar c:iluniadores reais e principescos, que
ocuparri cargos governaiiieiilais, não apenas lia corte, mas taiiih6m no interior
- 4 a isso que denomim a virtude de uni Davi e exemplo de coragem
15 principesca, um imp~ilsoespecial de Deus, como dissemos muitas vezes.
Nesse vício tamliérri se deve incluir o tiolgazão e ariiável fidalgo chama-
d» Coração-Inveja. Traidor, e toda u árvore coiii todas as suas rainificações
e frutos. Davi 1150 quer falar da uiveja espiritual ou evangélica, que nenhum
rei riem príncipe secular é capaz de reeoriliecer, condenar ou punir. Por isso
descreve e define Coração-Invcja por seu fnito exterior, pelo qual se pode
reconhecê-lo, o que se denomina calúnia. Pois Cora~ão-InvejariZ« pode pôr
em prática sua artiinaiiba na cortc setii mtcs 'spalliai. calítnia e arardiar e
oprimir o iiioceiitr. Pois tem que dar a iinpress30 de não ser Cornção-Inveja,
mas bom ainigo e amante da justiça, e que o inocente, que levou os ara-
2% nhões, tem o que merece. Além disso, tem que saber fmgu que isso lhe causa
muita pena. Como diz Siraque (Eclo 12.15-19): ''O inimigo diz palavras
bonitas. tem muita pena de ti e é gentil; inclusive S capaz de chorar. No
coração, porem, planeja como empurcm-te para a cova. E x tiver umti
chance, não consegue lartar-se com teu sangue". Se alguém pretende preju-
dicar-te, elc será o primeiro a se apresentar, pretensamente pard ajudar-te;
depois cle te abate covardemeiite. Então abana a cabeça e ri à socapri. zomba
de ti e f i z @ande palavreado. Ah. que texto Iiorroroso esse. No eiitanto.
muitos e uicontáveis cxerriplos, dos quais taiiihém os livros do5 geiitios estio
cheios, riiostrain o quanto isto é verdadeiro. Por isso Davi ataca esse vício
1, como o primeiro e o pior, que governa de modo mais poderoso nos gover-
nos, conforme a quadrinha: Coração-Inveja, egoísmo, conselho jovem des-
truíram Jerusalém, Tróia e Rorna. Por ora, porém, isso basla quanto a essli
1~1ricdo salmo. Coniplementamente se poderá ler mais a respeito em outii~s
livros. Pois todos os povos gentios gritam tão alto contra esse diabo doinés.
Lico como a Escritura.

Segue a segunda \irtude


Nrlo gosto d'? pessoir de ares arogantes e orguülosa. [v. SI
Qual a função dessa virtude lia corte? Ou, por outra: Como pode instalar-
se iia corte esse vício insuportável. levando o rei Davi a exclamar que lhe é
intolerável que alguéiir seja orgullioso e arrogante? Ora, onde irais poderia ai
desenvolver-sc essa ervinlia a n;ío str nos govri-nos. oiide há graiide poder,
Iioiua, bens e iiiiiizade'? Sem dúvida, às vezes tainbéin um mendigo pode ser
orguhoso c arrogante. Disso, porém, ninguém tem medo. Pelo contrário,
todos se riem dele, dizendo: Altivez miserável. O diabo a usa p u a limpar a
Iiiiiida. E por mais que ela aperte, liada podesi fazer. pois iiZo teni nada na 15

1i:irsiga. 4 esse respeito Esopo çorita a história do sapo que se incha, qiiercn-
i10 ser do tarnoiilio do boi. Mas o sapinho jovem diz: Não, mríezinha! nem
i111cte arrebentes e despedaces. Davi. porérii. fala de arrogância séria, que
~)oilccausar prejuízo e t' comuni na corte, como a sabem praticdr as pessoas
~~o<lçrosas, ricas e grandes. E assini como acima n3o falou da calúnia e inveja 20
isliiritual, também aqui não se refere 2 arrogância espiritual, mas à arrog:m-
ri;( secular. pois anogância secular surge em ncgócios seculares aqui na tem.
Aisogância c inveja ocorrem no paraíso, entre os anjos de Deus. quando um
qiicr ser mais s;uito do que o outro, o que os leva a cair no abismo do
iiilcriio. Os falsos profetas e todos os espíritos faniticos Ihes seguem o 25

i:ni.inpl» nas igrejas e entre os fiUios de Deus.


Ilcsumindo, plua, finalmente, chegarmos ao Tun desse salmo: orgulho ou
:iiiopiricia cortesã iião é orgulho caiiipoiiês - orgulho de roupas, jóias, estar
IIOI. ciiiia, ostzntaçáo e deiliais coisas fúteis desse tipo, embora, hoje em dia,
i.fi:is coisas também estejam em voga entre príncipes, senhores, nobreza e 311

l ~ i i i ~ : i ~ ~ ' Já x s .ninguém mais sabe o quanto gostaria de estar acima do outro.


I>:VI.[ ~ ~ r C i iéi , mera arrogância camponesa e exemplo ou alegoria. Pois os
g . i \ , : i l < t ~ 1;iiiihéiii seiitem essa espécie de arrogincia e percebem seu adorno e

I i c n i i i ; ~ . 1:. w I I i i . quiseniios dar imia denominação polida, então seria arrogh-


t i:i 01,. .Io;io-Niiiguém, e não a arrogância de uin príncipe, nem mogância 45

~II-,WKII <, ~:ovcrniunental.Em grego se chama o orgulho e a arrogância da


i i s i ~ ilc . fyl:iiiiiis, em alemiio é "selvagem"iJn. Assim um rei, príncipe ou
~.~.iiIii~i 111)(1cii-;!i:ir Lima roupa de cor cinza, sem qualquer ostentação arrogan-
i < -<I<. itiiio, sedas e púrpura. No exercício do governo, porém. tomira seu
vizinho ou seus súditos coni violência, despeito e opressão e toda sorte de
infortúnios pela única razão de se comprazer em tiranizar. preferindo ser
temido a ser ;unado. Eiiquanio rriiia paz no ten-ilório, talvez isso seja possí-
vel. Quando, porim, irrompe uiiia guerra. ele tcrá que temer tantos tiranos
quantos cavalarianos e iiiercenários possui, e ainda por ciiiia tem que pagar-
Ilies dinheiro. Assim as coisas se compensam: porque eiri tempos de paz é
tirano e arrecada dinheiro, em tempos de guerra tem que pagar com seu
dinheiro meros tiranos que Ilie pesain na nuca.
Davi, porkni, está falando da arrogâiicio governariiental contra os súdi-
tos. Ele nãio aperias se gloria de ele próprio nâo ter sido ;inogatite contra seus
súditos (o que, com etèito, é unia sublime virtude real), inas também de iião
o ter pcrmiiido ao pcssoal da corre. Que o iiniie quem puder! A í está um
excniplo suticieiiicmenie elevado. Pois, possuir poder' honra, riquezas, do-
mínio c náo tomar conhecimento deles, ou não deixx-se arrasta para a
1 arrogância coritra seus súditos. isso não é «bra da simples razZo ou de mera
iiatureza humana. Aí se precisa da virtude dc urn Hércules ou Davi inspuada
por Deiis. Cada qual pode inforiiiar-se pessoalinente a respeito dessa Iiiunil-
dade de Davi nos livros de Sainucl. Aí sua humildade é. com efeito, desciita
dc modo excelente como milagre de Deus, mostrando seu comportamento
. amistoso com seu povo inclusive ria guerra. não somente na paz.
O soveriio seciilar é igii~lil adminstração de uni lar ou do estado
iiiairimonial, oiide se enconirarri quatro situaq0es distintas: prinieiro, ambos,
marido e esposa. se aniniii: segundo, anhos se odeian: terceiro, o inniido
ama a muUiw e ela o odeia: qiiario, a esposa ama o mxido e ele a odeia. E
fácil entender qual das siiuações é a melhor e qual a pior. Portanto, quando
num país patrão e empregado se amam c siio bcm intencionados um eni
relaqão ao outro, esses ceriainente i-esistir* a seus inimigos. E se não foreni
poderosos, eles poderão tomu-se poderosos, como está esciito a respeito dc
Sólon c da cidade de Ate~ias'~'. Ali se confronra humildade com humildtrde
e elas se abraqam amigavelmente. Onde. porém, príncipe e temtóno sc
odeiam niutamente, como se 16 a respeito da Sicília, aí uni príncipe se. torna
uiii pobre mestrr-escola, coiiio aconteceu a Diom'sioi3?.Pois aí se confrontii
mogCmcia corii arrogância, coino escrevem os historiadores latinos a respeito
de um imperador que dissc. "Que odeiem, coiitanto que teiiinin"133, ódio

131 S<ilon(c*. M O - G ~ .559 a.C.), &nado legisladar de Atenas, cclebrado por sua 1nodédi;i c
h<iiiçstidadc.
1.32 Kcrcrincia a Dion1:~io I, o Vclha (ca. 430- 367 a.C.). o tirano dc Sirmusii.
I33 í'i,nlormc S W I ~ N O ,
Calipla, 30. eisc foi o lema do irnpcrador Cdígula (Caio Iúliu CCz;ii
. . 112 41 dC., i m ~ i a d o dcsde
c,,tLriii;iiiirn r 371) - Caio Suel6nio Trmquilo (ca. 7Ilk;i. IJO).
c\ciiior ir>mdio.;iiit<ii-iIç hiiigraíias <Ir:diversos imperadores e dc reprcscnr~mtesicn<riii:,-
1k1 lil~lilluritr < > ! ~ ~ i i n i t .
< ;nvcn>o
coiin-:i ódio. Por muitos anos a Itáliii. o iii;us iiobrc e agorit o mais miserável
país lia terra, nos iiiostrou com exemplos diiúios no que dá um regune desses.
Eiii terceiro lugar, onde o príncipe ariia e o território r i o ama - ah!,
esse 2 o regime de nosso próprio Senhor Deus. Pois lamenta em todos os
profetas que ama sua noiva, mas ela prefere ser meretriz. Por isso nosso 5

Scnlior Deus tem que passar por coniiido (como se diz lia Saxônia), no
entaiiro, por sinédoque, isso C, nem todas. Pois algumas forarn virgens
picdosas na le. Muitos excelentes unperaclores roiiiaiius tiveram regiines
desses e alguns deles foram assassiiiados inoceiitementc. Esse regime é o
melhor depois do primeiro. Pois nosso Seilhor Deus ainda saberá arranjar-se 10

quando sua noiva se torna uina meretriz, sendo que sete mil homens não
adoram a Raal, peniianecendo virgens puras'34.Por lini há de acontecer quc
uiii príncipe pi-r>hnpeimanccerá c aqueles que lhe sào liostis hão de perecer.
N;io ohstante. eiicoiiiriui súditos fiéis, que pcnnanecerri a seu lado. Não lia
iiecessidadc de citar exemplos pai-n isso. pois não se d i valor aos veilios c 1.

esrraiitios, e aos dc nossos dias não se clã crédito.


Qimta possibilidade: o senhor tersitorial 6 inau e falso, e as pessoas sáo
Iioiiestas e fiéis. Ali, esse é o louvável regiiiie que os filhos de Deus têm que
tolcm. Não devem apenas tolerar seu tiraio. rncis inclusive orar por elc e
desejar e iazer-lhe rodo bem. Um senhor assini foi o imperador Julianoi35. o:
Tciido aprendido que os cristaos deveni sofrer injustiças, tirou-lhes os bens
<lizciido de modo zoriikteiro e irónico: "Vosso Cristo nâo vos ordenou
sofrer?" Na Babilónia, os caldeus lizeram a mesina coisa com o pohre
piedoso povo judcu preso (conforme diz o Salmo 137): "Amigos, cantai-nos
Liin hinoziiilio de Sião!" A inesrna nogâiicia e orgullio usam hoje os 25

papistas, especialmente os bispos, praticando sua ~onibariae insolência com


scus mais dedicados e fiéis súditos. Eles tarnbéni Ihes 01-deiiam iiivocar seu
('i-isto e o Evcingelho. porque sabem que o povo irá supoitar sua arrogância.
l i não se dcixani coiiiover pela ira e viiigmça de Deus que sobreveio
iiiic(liallimeiite a Juliano e aos caldeus. :O

Os gentios cscrcvem (pois, coriio já disse. no regune secular se deve


.ii.iit;ir seus livros, suas máximas e sua satiedoriii) que certa vez se perguntou
:ICI hiihio BiasIih, um dos sábios da Grécia (isso é, ele foi um profela gentio
c.iiii.ii~lidonas coisas seculares), qual seria o pior dos animais domésticos e
< I I I : I ~ 11 pior entre os animais selvagens. Resposta: Entre os arllmais domésti- ~q

11 pior é o adulador. Entre os selvageiis, o tirano. Eu não teria respondido

I ( I ('1: 1 Rç 19.18, citado crn Rm 11.4.


115 1'l;ivio CKijdio Juliano (331-363, co-imperador desde 360. inipmdur dcsdc 361). ch;iinadido
"Apiislitla". com boa fonnaçio tlosótica, adeptn do ncupkitonisiiio, rcvi>gou os 11rivill'-
p,ii,r ci,iiccdidr>s aos cristios prir sciis a!ileccssorcs.
I f j ; ; ! \ ( 1 i'rj~-,~~~.
~ c\lxlisl:t grego, c ~ ~ n s i ~ I c ~
c ~x; tc~~l o~11c ~ ~ 11111 < I c h "scir \;ihi<x
i ~ ~ lj~slc>.
,I;, (;r;vi;,'' ,,r \c<. VI i,.(,.

.!I X I
assim. Eu teria <tito que entrc os animais domésticos gatos e cavalos tem
fama de bichos peiigosos. e entre os selvagens, lobos e raposas. Mas ele5
têm experiência em nrgiicios de governo e podem falar a respeito com
conhecirncnto de causa. Pois é a necessidade que ensina a I'alar e agir a
s pessoa que, do contt-ário,nâo hiia nem saberia dizer ou fazer rlualquercoisa. Um
tirano quer ser livre coino uni aniinal selvagem e fazer o qiie Ilie agrada. Um
adulador não deseja ser livre. mas se aprescnla como o inais fiel súdito.
inteiramente dedicado ao seiviço. No ciitaiito, é mais livre que o tirano. Pois
ao tirano se pode recriminar e expressar o ódio publicamente, mas ao
1 adulador tem que se elogiar e Iionrar. O tirano faz tudo mal, o adulador faz
tudo bem. Por isso ineu Divi é (ia opinião de que se deve colocar o seiilior
Inveja e Adulador ein primeiro 1iig;ii.. como o mais refinado patife entre
todos. Foi igualmeiite o scnlior Iiivcjn qiie mandou o diabo ao paraíso, por-
qiie iiáo poderia haveriiiensugeiropioi.pu;i ;mstarAdão c Eva a toda aiiiiséi-ia.
15 Portanto, o :irnado Davi é (conio já liii dito) uiii eueiiiplo de que iim rei
não deve sei- orgullioso ricm an.ciginte ou tirânico p u a sii:i pessoa, e que,
além disso, não deve per-rnitir ao pessoal da corte qiic 5~jarntirânicos e
arrogantes em relação aos súditos. Quein é capaz de proccder desse modo,
louve e agradeça a Deus, sc ror cristão ou pessoa creiile e sabc que essas
1 elevadas virtudes são dádiva de Deos. Pois não basta qiie deixe de ser
orgulhoso e tirânico p;ua sua pessoa, qiiaiido pcnnite ao pessoal da corte ou
seus funcionários a tiutal-em seus súditos a seu bel-prazer. Tanibéni não deve
conliar em iiiiiguém como se 1120 Iòsse tir'iriico. O próprio Davi e tamb6tii
Salomão se queixam muito a respeito e não é de se esperar que, desde aquele
.i tempo, o mundo tivesse ficado mellior, conforme diz Salomâo em Ec 1.9:
"Assim coino as coisas roraiii iio pa~sado,elas acontecem ainda hojc; iiáo
há nada novo debaixo do sol". E eni demão: NZo há cargo tão insigiúficmli
qiie não fosse digno da Iòrca. Os oficias dos príncipes c dos funcioni~iosdo
Sovcmo S ~ Odivinos e legais; nomialmriite. porém, aqueles que os ociipmii
e usam si« do dialio. E se uni priricipc é cava rara no &(i. tanto mais o são
os funcionái.ios e o prssc~alda corte. A causa disso 2 a iialureza perverha c
corrupta, que iião suportii dias bons, ou seja, ela não é capaz de fazer uso
divino da honra, do poder e autoiidiide. Por mais insigiiiiicaiite que seja o
çargozinho, tomam uni c8vado quando nZo têm um palmo, r sernpre eles
v, iiiesinos querem ser Deus. quando deveriam ser servos de Deus.
Ao eiialtecer @mdcmente a autoridade no capítulo 13 da Epístola aos
I<oiiionos, Sio Paulo Ilie tributa a maior li»iira ao chamá-la de seiva de Dciis
[ v . 61. 110 coritriuio, quem a teria eiii tão alto aprevo (de cora@ e esp«rit;i-
iic:iiiiciiic) sc n5o fosse necessário considerá-la como seiva de Deus'! Onclc.
~ ~ i r C i i cln
i. prhpi-ia quer ser Deus e governar tiranicamente com Líicilcri".
Govçnio
pensando que tudo deve ser feito exclusivemente para seu próprio benefício,
ganância, sossego, pompa, que saiba também que no Cântico de M a i a está
escrito: "Ele derruba os poderosos do trono, e exalta os humildes" LLc
1.52]138,o que, ali&, aconteceu com todos os impésios e ainda acontece hoje
diariamente, com autoridades supcnores e inferiores, tanto com príncipes i
como funcionários. Pois é o refrão de nosso SENHOR Deus quc São Pedro
escreve em 1 Pe 3. [sc. 5.51: "Deus resiste aos soberbos". A isso cumpriu
ngorosamentc desde o princípio do mundo, destroçando muitos tiranos que
náo quiseram acreditar nisso, até que o experimentaram pessoalmente, como,
por exemplo, Faraó e Seriaqueribe, etc.13'. Assim também os gentios escre- lu
vem a respeito de seus gigantes que lutaram contra os deuses e amontoaram
uma montanha em cima da outra. E Siraque diz que o dilúvio sobreveio por
causa dos tiranos1"', como se pode deduzir facilmente de Moids, Gênesis
capítulo 6.5~s.
Scgue o sexto vcrsículo do Salrno,
que é o segundo versículo sobre o regime secular.

Meus olhos huscam ov tiéis nri te17ri, para que hribiteln em rniiiha
companhia; gosto de ter c1iado.s honestos. [v. 61 ?i1

Meu prczado Davi, se tiveste e preservaste tal escolha e opç-ao em teu


país, então seguramente nZo deverias ser chamado apenas um autêntico
príncipe-elcitor mas também rei-eleitor. No entanto, me adniira de onde
liraste outros, especialmente como diz o texto, fiéis e probos, se exterminaste
de forma tão radical todos os caluniadores, traidores, invejosos, arrogantes e 17
tiranos. Porque em outros reinos e também entre nós na Alemanha (pelo
menos várias vezes) as coisas acontecem pesfeitamente conforme o Evange-
lho, como Cristo diz cm Mateus 12.43-45: "Quando um demônio sai,apa-
rccem em seu lugar sete demônios ainda piores; e quanto mais tempo
dcinorar, pior fica". Assim contam, por exemplo, as histórias e fábulas a 30
respeito de uma viúva que orou por seu tirano, para que não morresse tão
dcpressa, e a respeito do mendigo que ralhou muito aqueles quc lhe espm-
iavam as moscas de suas feridas. Ouvi o doutor StaupitzI4' dizer que o duque

a
I18 Cf. interpretação do cjiitico de Maria por Lutero, nestc volume, p. (4-66.
17<1Cf. Ex 14.26~s.; 2Rs 19.35s~.-Senaqueribc (assassiindo681 a.C.), rei da Assina (desdc 704).
140 Cf. Eclo 40.10.
1/11 JI>%I von Slaupitz (1469?-1524), monge da ordem dos eremiia? agostinianos, prior do
coiivcnto de Tübingen, doctor in Biblia, convucado por Fredçricri, o Sábio, para ser o
~~rilliiiro decano da Faculdade de Teologia de Wibenberg. No processso coma Lutero,
S1:iiipitz tenlou protegê-lo onde Ihc fosse possível, liberando-o, por exemplo, do voto de
olxilii.iicid. Comi> estivesse sob suspcita de hercsia, renunciou em 1520 ao cago de
vig:l'i<i-gcr;~l&i Congregaçáo AlçmR das Obsiivimtcs c se dirigiu ;I Salzhiirgo, distaiician-
<I<> sr ilc I.i~Crodcsdc cntRi>.
F r e d e r i c ~se
' ~ queixara
~ virias vezes dizendo que quanto mais tempo govcr-
nava menos condições tinha para govemar. Pois a7 pessoas se tomariam tão
estranhas que não sabia ein quem, &mal, poderia confiar. Para mim aquilo
foi uma afmaçÃo estranha, pois achava que um governo de um príncipe tão
grande e sábio não sofria nenhuma contestação nem tentações. No entanto,
julgando a partir de minha experiência na administração eclesiástica e a partir
da experiência comum de todos os administradores, penso que agora posso
cheirar o sentido dessas palavras de longe. Outros perceberão o gosto e o
artifício, ou seja, príncipes e senhores probos (pois os outros sempre têm
1 mais sorte do que justiça). Que Deus Ihes ajudc e tenha misericórdia deles. Amém.
A nZo ser que Davi tivcsse sido bem sucedido, como se gloria aqui,
porque fez um levantamento em todo o país, ficando atento em busca de
pessoas fiéis e probas onde quer que as pudesse encontrar, Sazendo uma
seleção sem qualquer acepção de pessoas, como também o faz Deus. Tam-
fi bém ele não distribui seus dons conforme a aparência das pessoas e faz do
menino-pastor Davi utn rei táo grande, sábio e abençoado, enquanto faz com
que Saul, o rei, se transhrme em tolo e em homem infeliz e frustrado. Isso
é verdade, e decerto as coisas têm que ser assim: as personalidades proeini-
nentes, como reis, príncipes, senhores, pessoas de alta ou baixa nobreza,
,fl devem igualmente ser sábias e probas cada qual em seu estado. Pois é por
isso que levam elevados títulos nobres, escudos e elmos acima de outros, e
têm poder secular, bens e honra, de modo quc deveriam govemar sozinhos.
No entanto, falta-lhes a mentalidade própria de nosso SENHOR Deus. Ele
nos considera a todos como um só bolo, um igual ao outro, e procede
conosco conforme sua vontade. Por isso, muitas vezes, concede a uma
pessoa nobre sabedoria e virtude como não as dá a três príncipes, e a um
cidadão como não as dá a scis nobres. Como Deus verdadeiro, quer ser livrc
e desembaraçado e não estar sujeito à criatura humana (como o expressa São
ainda que seja bela e excelente. Pois quem não desejaria quc
quanto mais alta fosse a posição de alguém por nascimento, tanto mais
elevada Sosse a sabedoria e a virtude? Isso, porém, não há de ser semprc
tissim. A culpa disso é de nosso Senhor Deus, não nossa. Ele, naturalmente,
poderia fazê-lo assim, nós não, por mais que o quiséssemos fazer. Pois o
Salmo 100.3 reza: "Ele é quem nos faz, e nós não fazemos a nós mesmos".
Conta-se a respeito do imperador MaximilianolMque seus senhores na
cortc se aborreciam quando recoma a seu secretário ou clérigo (como eles
sc expressam) para atos, mensagens e conselhos tão honrosos e imperiais.
lilc, pori.m, respondia queix;mdo-se dc que tinha que usar tis pessoas dispo-
níveis, visto que elas não estavam dispostas a fazê-lo nem se deixavam usru
I>:ira isso, etc. Sim, a honra, a dignidade, o poder e a posi<;ãoda corte eles
qlieriam usuli.uu. inas a fadiga c o trabalho da corte não quciinm tocar coiii
i i i i i dedo sequer. Ocupar-se com cartas, coin escrcver e ler iia chancelariti - 5

isso é tarefa de secretário. 'Daballiar em negócios do Estado, conselhos e


iiicnsagens 6 tarefa servil, sequer digna de um camponês, mas servic;~cle
Ih~irro.Estb certo. Mas uma cortc iião pode dispensar tais burros. Ou o
pr6prio prí~icipetcni que Tazei. o trabalho, ou algiiém teni que realizti-lo por
clc. Os govenios não querem ver as pessoas deitadas ein sopis, descansando,
oti sentadas atris da lareira como uni prcgtiiçoso, sonolento c30 de c a p . Eles
cxigem servi~o.Assim. a necessidade obrigou a Maxiiidkuio a proceder
c01110 Davi. Fcz uni levantaiiiento para ver onde conseguir pessoas que se
dispusessem a trabalhar coni afinco e fidelidade e que lhe pudessein ajudar
:i carregar a responsabilidade pelo governo, fossein eles nobres, secreiásios, 15

clCrigc~s.ou <iutra coisa qual~\uer.Pois 6 ficil ser corcel ou boca <hcorte;


iixis scr uni burro da corte significa fadiga e trabalho, desgosto e dissabor.
1411-outro lado, se não existissem os burros da corie, os corcéis e as bocas
i l t i corte não comcriam c beberiam com tanta ahundância. e não andariam
1;11i ociosos, dedicando-se tio jogo.
Também podc ser que Mrinimilian» não pescebcu apenas sua má vonia-
(li.. mas <liic, alétri disso, eram iiicompctentcs. Pois a nobrcza da corie e
i;iiiihérn alliures se corroiiipe desde a mocidade coiii orgias, jogos e arrog'k-
i.iti caiiiponcsa, etc.. Cnsceiii sem disciplin;~,desenfrciidos, inexpenentes, de
iiio<loque daí não surgem muitas pessoas aptas, especialmente nos países do 25

viiilio. Pois, como diz São P~tiilo,a orgia só produz gente devassa, selvagciti,
!:ri~sscini,displicente, insupoitdvel [Ef S . IR]. Pcssoas assim 11x0 são capctzcs
I\<. \c dedicarem a yualqiier coisa, mas iliiercm seguu eni frente impondo sua

~ i i l i c ~eosein consideraqio, como se governar fosse algo tão fácil coiiio a


iii!:i;i. I'. assim tomafio as coisas boas riiins, e as ruins, antes piores do que 30

iii~~lliiii\i-Ias. Muitas vezes constatei com pesar quantos elementos exceleiites,


I*.iii i.i~iisiitiií~ios física e espiritualmente havia entre a nobrcza jovem, como
l~<.l:i~ ;iiv<)scsiove~is.E porque não havia iim jardineiro p:u'a educá-los e.
c iiit1:ii i1i.li.s. h r m revolvidos por ~ I > I C O Se abaiidonados em seu viço e

. < - c . I I : I I I I . 1:Ic.s pr6pnos dizem: Vida na coite C vida de poi-co. Mas sempre é '7

I I I I I ; ~ I:i\iiiii:i ~[iiaiido entre lajs porcos sZo pisotcadas cssas excelentes pes-
. . < x i i . l i ~ x c j ~ i ípara ~ o o governo todo' tanto para o país como para os
li.il~ii:iiiii.~. se 21 juveiitude é ccirrompida.
N i i ~iii;iiit«.cada país terii qiie ter seu pi'Olino diabo - n Icííia o scii, ;i
I i ; i i i ~ ; i i>c u . Nosso diabo alcmão dcveri ser iim boi11 oilrc de viiilio, c 18'

<lc.vi.rticli;iiiiar-se Bebedeira. porque 6 tão scdcnlo c sccl~iiosi> qiic iião pode


. I ii~licsc:td~i ncm mesmo coiii 1011t1 cssii gr:iii<lc qii:iiiii~lti<lcilc viiilio c
cerveja. E essa eterna sede e a praga alemá permanecerá (temo eu) até o dia
derradeiro. Pregadores a combateram com a palavra de Deus, senhores com
proibiçaes, alguiis dos nobres fazendo acordos cntre si. Mas continuaram e
ainda coiiruiuarn diariariictite gandes e horríveis prejuízos, escândalos, ass~is-
5 siiiaios e t«d;i sorte de desgraça que acontecem ein c o ~ ro aliiia diante de
nossos olhos e que simplesnicntc nos dcveriain afastar [da bebedeira]. No
entanto, ela continua sendo uin ídolo todo-poderoso entre nós alemães e atua
como o mar e ;I hidropisia. O mm janiais enche com toda a água que deságua
nclc; a hidropisia sc toma cada vez niais sedenta e acentuada roi11 a bebe-
1 deira. Sicaque diz que <I vinho foi criado para alegriir o ser huiiiaiin e
foilalccer 3 vi<iaI4' (como tanihEni diz o Salnio 104.15). No entanto, a
bebedeira nos torna loucos e tolos, e com ela nos serve a moite e toda sorte
de epidemias e pecados. Ora, aqui náo é o momento nem o espaço para falar
do porciilo ídolo Bchcdcira. Por S i ele taiiibém recompensa seus fiéis
1s adc~racloreshoiiestameiite. de niodo que veiihain a seiiti-lo.IR"
Volrciiios a Davi, que qucr ser uiii rei-eleitor entre sua gente e escolher
os que sâo c;ipaes e os que náo sáo. Isso, poréiii, 1oi o procediinento e o
direito do povo de Israel. Procediam dessa riiancir~também na escolha das
esposas, c militas vezes o rei escoihia a fiiha de um cidadão. Os turcos
tamhéin praticam esta hrma de escolha e scleçáo cin seu rcino. No entanto,
iiZo qucro nem posso acoiisclhar qiie tini rei ou príncipe proceda dessa foma
ll<?je' 3 n;io sei que » i~npefiidoi.reis e príncipes com todo o iiiip6rio
adeiissem. AnLes que isso aconteça, quercnios ver o suprcriio SEnhor dc
todos os senhores vindo das riuvens lá em cima e partir com ele. Enquanto
!i isso o governo, o casaco arruinado, permaneça um governo ao acaso, e
quer-emos deixar (seni rnisturar as personalidades) que Deus escolliri os que
quer selecionar e dest;icar-. Seiiielhaiitemeiite, tambéiii nao gostaria que se
iiuslurassem oii inodiiicasscm ias Icis imperiiús, eiiibora senhores, súditos,
juízes e juristas lixo apenas vivain conWiriando-as, mas tatnbéin abuserii
delas despreocupadamente. Pois também os gentios dizem que uma mudança
no regime e nas leis não se faz sem grande derramamento de sangue, corno
o testeinunham todos os compêndios de História. Antes de se instalar um
iiovo regime para o iiiipério na Aleni:iriha, ela estaiia três vezes devastada.
Por isso n3o sunpalY~ocom u mestre Sabich5o quc qucr coin,+ as Icis
,, scciilares, oti com todos ac~tielesqiie o querem fazer meltior. Enibora pense.
:is vcLes, que os governos e ,;uristas bem que iyalmcntc precisariam de um

1.15 ('I'. liclr\ .?1.34: 40.20.


IIi, N;i cisir <I<> l>riiiçip-eleiior<Ia Sax<iiii;iirequentrinenir houve hanipicirr n i qo:~is ~ sc
Ixlici Ii.isl:iiiic. O ~iiiiiçip-cli:iiorJiiZo. o C<iii~lniiie,
ii>\iiirii:iiz;i ieiitar;! cni r % , iiiilicrlii :i
l~:~clii.il~:~r;i<i
<Irscii lilliii que <li'l~ois i, succilcii ~.:lrgoem 1512 ci>rivi J<i;ic, lic<lciiri, I.
i) M;i::ii:iiiiili<i (v,l,ii. p;ii i, l i l l i u cl: l i t l i < i i l i i q X , , ;a, ~ircsiiiivcsciili,).
< i<iveilio
I,iitcro. Teiiio, porém, que v20 rcceber um M ~ i i t z c r ' ~
Pois
~ . Deiis não consi-
dcra o regime secular igual a seu próprio etcmo regime eclesiástico. Por isso
iiáo posso nem quero esperar que recebam um Lutero. Visto que não li&
csprrança de uin regiiiie diferente no Inipério Roinano, coiiio tainbéiii o
~ , é aconselliável fazer mudanças. Que remende e
prenuncia D a ~ i i e l ' ~n3o s
costure nele quem for capar, cnqu:~ntovivemos, reprima o abuso e :iplique
curativos e emplaslros nas pústulas. Se. poiin, se ext'uparem as pústulas
iinpiedosameiite, ninguém sentir; a dor e o prejuízo mais do que csses
harbeirosI4" sábios que preferem extirpar a úlcera ao invés de curá-la. Pois
bem, 2 possível que a Alemanha eslcja madura, e temo, nierccedora de iiin 10
c;istigo firme. Que Dciis ienlia iiiisericórclio de nós! Sei perleitamciite que eu
(graqus a Deus!) não soti Muntzer. Se alguéni o souber Fazer iiielhor, a essc
rendo meii pobre Pai-Nosso de coração. Sc ao menos também pudesse
c«locx o aii~énino final. Pois tenho dito reileradas vezes (quem, todaviti. iria
L.ier em iniiii anrcs de o cxperirnciitar?) qlic iiiud;tr e tnellioi-ar são cois;ts 15

difcrcnles. Unia eslá nas mãos do ser huinano e no desígnio de Deus, a ouira,
ira mZo e na graça de Dcus.

O sétimo versícolo 20

NZo emprcgo pe.s.so;i.s lalsas an rniriti:, casa. 0 s rna~tircisc~s


nâo têili
i.li;~~ice co~i~igo. [v. 71
Há um lainento gcral em lodas as camadas sociais e níveis de vida sobre
I I C S S ~ ~falsas
S e mentirosos, coi~oniieo prov2rbio: Já não há mais fidelidade u
iicm fé. Ou eniL): Boas palavras, riada ati'5s delas. E ainda: O que é brwco,
C cliamado de preto. Os mtigos romanos criticaram esse vício nos gregos,
como diz o próprio Cícero: "Recoiilieço que os gregos são gente instiuída,
siihia. :u7ística, capaz e eloqüente. no entanto. o povo rião dá vaiar a fideli-
1l;idc e t'é"i3". E antes de Cícero, Plau~odiz iio mesnio sentido: "Compiliei- 30
ro, nXo terei que pagar por água, ar, terra e céu. Todas as demais coisas,

I47 ID,ii:i.> Münrrer (ca. 118V-1525), tc6logo alcmao com uma coricçpçái, kológica prnpria,
uin dos peiisadores iniiis originais s inais influriiics de seu tcnipo. Baseou sua fi. em
r~\~çlaç&s clirctw de Dcus e se diria iluminddo por uina luz inlerior, visiics e sonhos. Foi
líder dos camponeses da T u ~ g i na a Guerra dos Cniliponeses. Ern 15 de m:iio de 1525 foi
~lcriniadop i a s forçus dos pfi~cipesr iieç.il>itac<lorm L7 de maio. Elr pr6prio se dciivmi-
i "dointor do Espinto". Dcseiivulveu um, Icologia da rcvoIu~Zu.Tentou rcaliziu
i i i ~de
iiiiia uiopia dc uma s~icidadç ("rcirio") çm que se pratica a justiça divina. Procku~iouque
ia1 mila dcve ser aicariçada, sc necessC~o,pela farsa das armas, no camhatr aos "ateus"
i:iiiioridadcs que se ncgararn :i suas propostas) e mediaire aenticga do pudcr ao povo simples.
1.18 ('I:1>ii2.40.
1.10 N.i i p i r a . os Ixirlwiros 1;uiihéiii ernin "ciriirgiiics".
I (I I L I, 6 , 2 11, 5 , 7 - Sohw ('icem, v. ;icini:i 11. 148, ii. 27.

:>o0
porCm, que quero te.r eni minha casa, tenho que comprar de acordo coni a
fidelidade e a E grega, ou seja, tenho que pagar eiii dinheiro vivo"15'. Pois
bem. Agoi-a,por iirn loiigo tempo, 'sse povo infiel e fi~lsosofreu seu castigo
iras mãos do turco, que tambéni Ihes paga a vista. Depois dele, também a
Itália aprendeu que se pode dar a palavra c jurar o que se quiser, e depois
zombiu qiiaiido se Ilws cxige o ciiinprimciito. Por isso iaiiibém eles tt111 seti
castigo justo. Ambos, gicgos e italianos. se constitueiii em exeiiiplo p m o
Segundo Mandament? dc Deus, que diz: "Não ficará impune o qiie abusar
do nome de Deus" [Ex 20.71.
Neidiiima virtude granjeou tanta horira a nós aleinãrs e (coriio creio) nos
elevou a nível tão alto c nele 110smmtc.vc do que o fato de sermos coiiside-
riidos I'iéis. verdadeiros e coi~fiáveis,gente para a qual sini é sim, rião é não,
do quc testemuiiham iuiiitos fatos hislóricos e li\,ros. Não sci muito a respeito
das leis yue vigoraiii na cortc, nias liquei siihendo o quanto o duque Frede-
ricoiS2era avesso aos nieiitirosos. De seu innào duque J O Z V ~ ~ouvi ' certa vez
que elc teria tlito: "Pois berri. Llrn iiie tlissc isto, outro ine disse aquilo. Uiii
dos dois deve estar mentindo!" Isto eu sei coin ceitcza: tive que rir da
seriedaclc e ira desse príncipe honesto sobre a nientira. Antes dele muitos
outros príiicipes foiiun iguais :i ele. Nós alemaes aúida iciiios uma centelha
(que Deus no-ki preserve e aumente) dessa aiitiga viniidc. Aitida tenios ccita
vergoiiha e não gostamos de ser chamados de nientirosos. NXo zombamos
desse assuiito, a exemplo dos italianos c dos gregos, iiem o transfomamos
cm briiicadeira. Enibora o mau costume dos italianos e gregos se estivesse
disscmiii;tiido (que Deus tenha iiusericórdia!), ainda resta entre nós o fato de
que iiinguéin pode proferir ou ouvir urii irisulto mais skrio e hoilível do que
ber chaniado de nientiroso.
Penso (tomara que seja só um pensamento) que náo existe vício mais
pt'inicioso na tena do que meniir c revelar-se inliel. pois isso deitiói toda a
comunliào entre as pessoas. Pois iiientirii e uiiidelidade destroem, aiiles de
iiiais iiada, os corações. Uma vez separados os corasoes, as mãos também sc
separam. E se as mãos estão scpnsadas, que se pode fazer e realizar? Se
ncgociitiites não confiani uns nos outros, o mercado se iuruína. Se marido c
esposa iiao são fiéis um ao outro. ela sai pelos fundos. o marido sai pela
Ii.ciite. e ;is coisas se deseiirolam como disse algiiirii: Cuida, qucrida Elso.
cuida prua não airiquecemos. Se tu quebras jiirros, eu quebro panelas. Se
iiin burgomestre. príncipe ou rei não for fiel na lidermqa, a cidade há que
;irrliinar-sc. terras e povo se ui~iiinarâo. Por isso existe tanta separayZo
cscnndiilosa, lanta desavença e desgraça na Itiília. Pois onde não existe iii;iis

l i l I'l;iili<rAsiil;~<;i.1. 13,4í>r.-l'iii>Mjici<i Pl~ri1ro(c;i.?54IX4a.C.),aubrdçc~~iiiédi;c;,!~ii1i:~o~~.


I 5 > V. :iiiiii:i11. 1511, ii. 32.
15 I V . ;t l r ~ i r ~ 1 ~ 1 ~ yl; ~ t,~v ~ c~\ ~~, #! i~k >
1,.l ,~l:3U,
~ L, :! l ~ ~ i r ~;!o ~~oi ~ J),l ~I lc),11. 2.
~ ~~ ~l ur c~ shloc#>,

? I 17
(;OYC~I<)

li<iclidadc e fé, tambern o governo chegar5 ao fim. Que Cristo ajude :i nós
alcmãcs!
Se esse vício se faz presriite também na corte e nos cargos públicos,
como Davi confessa aqui, as coisas haverão iliie ir de acordo. Se caniponescs
e burgiicses engan'm. mentcni, ludibriam e espoliam um ao outio, isso ainda
inão é o pior dos diabos. porque niio t'azciii parir do governo. Quando, porém,
cssas coisas .\e iiist;ilam rios esc;rlõcs superiores, que prejudicaiii tc1i.a e
gente, isso é o próprio Belzebu. E o rluc fizeram o papa Júlio c depois dele
o papa Clemeiite com o imperador (como, alihs, muitos papas proccderam)l54.
E se p ~ c i p e sprocedem da iiiesma forrnn coilira outros e se, por fiiii,
(ùiiciot~iriospúblicos o11 gcnie da corte agem da niesiiia hrma eiii relação
aos súditos, aí entào se h e m niuilas prorric\sas, se gas;iritcni muitas coisas,
:icontecein promessas vagas. juramentos e perjuras, que as vigas começam a
estalar. E todos são ;imigos c imiãos. O papa Júlio tamb6.m mandoii dividir
I I Sacramento cm Ires pailes c fazcr umti aliaiiça eterna com o imperador 13

hl;i,~iiniilianoe coin o rci d;i França: "Assiiii cr~inoDciis Pai, Filho e Espírito
S:iiito são urri só Deus, lissiin seri firnie esta aliança". Logo depois, poréin,
\c verificou <que a carta esiiiva sclada corii husta. Pois o saiitíssimo padre se
iI~,sentendeiicom o Filho e o Espírito Saritoli5. Conta-se a respeito de um
.;iii$o. que estevc presente cri1 muitas ocasii>es em que se r:oncliiíram newó- F
2n
i.ios, corn proniessas e jur;iiiiciitos, seni, ci?iitudo, cuinprir c]uaiqiicr coisa:
"liu gostaria", disse ele "que um dia jorisseiiios não cirinl~ririnais ticnhuiii
jiii-ainento. Aí essas coisas tomarinin uni fim".
Bem, as coisas vão mal. diz Salom,io, quarido os anciiios inentciii, isso
C. os rcsentes elevados, honrosos e poderososlsh. Elogiam-sc os tiircos por- i5
iluc mantCin fidelidade e fé (psovavelrnentc é isso que os torna tZo podcro-
SOS). Se for verdade, que seja. Mas certamente verdade é o segiiinte: se tantas
~ ~ c ~ iin:iritivessem
o a s fidelidade e fé ou fosscm táo suiceras e coiifiiveis
ci~inoo esperariam de ouirus, Davi náo teria passado ianio tiabaiho com
Ilcssoas lhlsas e infiiis e coni inentisosos em sua coite. Admira que iium

I'. I .lrílio 11 (14;13151?i. plpi dexle 1703 - Cleninire 1'11 (1478-1534).ptpa desde 1 5 2
Nri cpoca. a Frtiriqa c ri diiinrii;i de H:ihshurgr> (Espadnli:i. Sacro Im@ri~>Roiuaiio-
(;cimiiico) lutavain pelo domínio sobie a Itiliu. Os estados italianos, inclusive o Estado
liclcsi6stico. tcntaram impcdir ~ a domínio
l abavis de nliançiis s~lcessivas,ora com um
I:ali>, 0x1 com n ouiro. Cr~nsyüetiteincnte, os papas ermi, às vezes, aliados dos impera-
iliircs, riutcis vezes seus :idver\ários.
1'5 I<rler+iicin r.~rckticn ao papa /i$,> 11, quç f e giierra
~ conlrtt o rci Lu& XII da Amya
i lilfi2 1515, rci deaJc 1498) e coiiira
n impcrarlur hfmirnitin>~i, I 114.59-1519,in>per~dor
<Icsilc ISOXi, depois (le tcr aderido. em lj(l9, i Liga de Canihrni. Iùmada por Luís c
Maxii~iili;i!ioem ISOX contra Vcncza. com sdesio rmiEm d i Fmi;iri<fi> II, i, <:il<ili<r!.<Ic
Afiifiu 11452-1516. rci da Sicíli:! IIJO41. dc C;ihrcla c I r 2 0 114741. <IcA ~ ; ! ~ L 11/17<1)
KI c
i l ? N ; i l x ~ l i11504.(1.
~
151, ('I. I', . 17.7.
po\.o tão santo c sob reis tXo piedosos e santos existissem também pessoas
falsas e mentirosas. Pois se não as tivesse tido em seu reino, por que iria
enaltecer tanto sua virtude régia referente a esse ponto'? Essa preocupação e
tsaballio provieram-llie em tiinç5o dos servidores fiéis e probos. Se foi essa
5 a situac;áo na corte de um rei tão excelente, entiio, certamente, iieiihum rei
ou príncipe enur nós gcntios considerará sua corte melhor ou mais santa.
Cada uni deveria rnandar pintar esse saliiio nas paredes.

O oitavo e ÚItiino versículo


Cedo elimliio io(ios os úiipios na temi. pzu-;i erradicar to<losos malfeito-
res da cidade do Scnhor. [v. 81
Isso significa: não posso molar todos os vícios, mas este é o resuino
deles: N3o tolerarei ncnhum. Ele mencionou alguns deles, como S. Paulo
ciiunicra alguiiiar obras da carne eiii Gl S. IYss., diziiido: "Esses e semelhan-
t?s não possuirio o reino de Dcus". De riiodo semelliiuite também Davi
eiiiimera alguns: tsansgressores. malvados, perversos, caluniadorcs, tiranos
orgulhosos e anogaiites. inentirosos fnlsos. Depois diz: ein resunio, todos,
todos, t<xlosos ímpios, etc. Extcnnino todos os malfeitores. Isso significa:
n3o tolero ímpios no regune espiritual nem tsansg-essores iio reginie secular.
Pois ele também podeiia ter cnuiiierndo ;I avuezti, lisura, Iiiito. roubo,
loitura, assassiiiato, orgia, incastidade e seriielhanies, que tanibérn não cos-
turiiam ser rasos entre a nobreza jovem. E quem jamius conseguiu, o11
I -7
poderia coiiseguir, destacas toda a maldade, tima a lima, niiin livro, que dii,
n u i i i salino? Visto quc se pode o b s e tamhéni ~ ~ em nossos dias (sem falar
(10s tcrnpos antigos) que sempre se faz uina Ici depois da outra, iim estatuto
Icg;il depois do oiiho. u i i i ~ordem depois da outra. uin:i iiianeira depois da
< i i i t i a para conihriter esses vícios; e (coiiio diz Salomão) e iim fazer livro5
1 scin fim"'. Para ele livros não significam papcl e tinta,mas ensinamento c
11rdrnanç:i~que s5o institiiídas sciiipse novas no niundo e que, não obstante,
(lilicilmcntc são cficientes para coibir oii reprimir.
No entanto, acaso não é aboilcccdor por paite de Davi o fato de nos
ii:iiirninar a tod«s na t c i ~ ade modo tâo ver~onliosoe publicamente e dc
<.;iiil;ir a nosso respeito dessa forma eiii todas as igrejas? Pois diz quase sii
cois;is i-uins sobre todos os estados: reis não são probos, príiicipes não são
[wolx~s.scnhorcs c nobres não rã« probos. cidadãos não são probos, preg:i-
não são probos. É assim que nos trata a todos iiessc salirio,
, I o i i . \ c ~>il,Scius
ii;i<, Ii;i ii;icla tlc hoin c i ~ninguém,
i e diz sec;imente que sc encontra iia contiii-
gência de erradica e exteriiiinar mestres maus e rcgentes falsos. Mas auida
dcvem restai- ~tlgunsreis. príncipes, seiihores, cidadãos. ciunponeses, empre-
gados, eii~prega&~s dcceiitss, tanibém pregadores, pastores. Ou entáo acoin-
panhernos a Davi para onde quer que queira ir, visto que ele próprio é rei e
profeta. Mas o conselho de iiosso SEnhor Deus é o melhor ao inteiilar 5

rr;msforin;u céii e tcrra em moniuio e criai i i i i i oiiiro niundo, uni inundo


novo. pois este mundo não presta; li6 demais patifes e de menos pessoas
justas. As coisas não ir50 ncin podem continuar desse jeito de modo algum,
como tanibém o Pai-Nosso rio-lo eiisiiia a orar. Pois se as coisas aidasseiii
de modo correto c pudessem andar de modo coi-i.eto nu tei-i.a, não teria Iiavido ~~~
necessidade de ensinu-nos a orar: "Venha o teu reino, se.ja feita a tua
vontade" [Mt 6.101. Pois os grandes e sibios reis e príncipes poderiain tê-lo
Icito por seu piróprio poder, se a naturczn tivesse sido capaz disso. Pois, scm
dúvida, eles sc enil~eriharamao máximo.
Se um profct? ou pregador escrcvesse tào violentameiite a respeito ou 15

contra falsos inestres e maus governantes, certamente seria considerado se-


ilicioso e, portanto, corideiiado. Agora. porém. trata-se de lim rei e C ele
iiicsiiio que o faz. Ele poderia ter poupado a honra, calado e engolidi, cenas
i:oisas. como, sein dúvida, 0 fizerem muitos reis e príncipes c como prova-
vclineiite o Sazeiii ainda hoje. Pois, assim como as muiheres iião gostam de 20

oiivir qiie sejain chairi;idas de prostitiit;is (ainda que n sejam de fato), tam-
hCm reis e seiiliorcs náo gosiaiii de ouvir, o pessoul da corte menos airida,
qtic se os rcpi.eenda c recrimine coiiio iiijustos e perversos. porque isso
1p:irece tocar cm sua honra. Davi, porém, é direto, sem papas na língua,
procede de modo rude e coni a suficicnte imprudência, c não quer esconder 25

linda. Alím disso, elogia coiiin procedinicnto muito correto o ']to de recri-
iirinai- seu pessoal da corte de loima tio vergonhosa, destmiiiilo-os, iiiclusive.
Se ele conseguiu sucesso e náo roi considerado um tolo louco como todos
os demais profetas por pme de seus sabichócs, isso me parece um milagre.
C:cr:rtanientc ele o seiitiu. Pois naqucle tempo, c e m e n t e Aitofel, Joabe, 3'1

Abi~ai'5~ e outros dentre seus príncipes e nobres e oficiais da corte tmipouco


;idinitiani lerem agido injustametite, mas pretcndiam quc todo scu agir fosse
considerado loiivávcl e honesto, como aconteceu em outros reinos e eiitrc
116salcniáes c continua aconteccndo. Ninguém comete injustiças, todos agerii
corirt:unente. Eu prbprio ouvi certa vez da boca de uin desses grandes se-
iiliores que nciiliuin ser humaiio na terra é ou jamais fbi hostil ao Evaiigeiho.
I'or isso Davi 1130 deverá ter sido apenas um herói valente coni o punho, inas

158 Ailoli.1: v. aciin:i n. 54. - Joabe: ~ . f 2


. Srn 1.12ss..24ss.;3.22~s.:
IO.hsr.: 12.20~s.;13.20:
I l<r L.5.2Xss.; 11.15s.; 1 Cr 11.6. - .4lii.~.ii cf. 1 S m Zh.hsv.: 2 S i i ~1.30; IIi.IIl,IJ:
l(t.cl,..: Ix.2~s.:1~1.21~5.;
21.l5s5.; ?7.185.
também um horiicm sem papas na líiigua. Sem dúvida, o verdadeiro Davi é
aquele que esirnçalhou o iirso, estraiigulou o leso e golpeou a G o l i a P . imita-o.
Ele tambétii sc 01-guliiade realizar esses portentos cedo. Cedo aqui náo
significa cedo no dia, mas cedo no governo. Isso quer dizer que erradicou
esses vícios em tenipo, antes de chegarem ao calor da metcide do dia ou do
meio-dia Pois quando sc permite que um vicio se instale ou se tome hábito,
não há nuis remédio. Sêneca diz: "Não há remédio para o lugar eiii que o
quc era considerado vício se toma ~ostume"'6~.Quaiido vícios se tomam
hibito, isso é o fi.E o poeta Ovídioi6' diz milito bem: "Principiis obsta",
coinbate o iiinl logo nu começo, pois uiiia vez uislalado, a ajuda vem Tarde.
Mas no jogo, n melhor coisa é passar por alto (dizem). Aí se precisa de um
Davi, alguém corajoso e perspicaz. Sim, ele h i que ser especialmente ilumi-
nado rara pcrcel>t.rn hora iiiaiinal, para reconhecer o vício assim que começa
a surgir c para acabar imediatamente coni os ovos da hicharLa no ninho, antes
1 que o sol do nieio-dia os transforme em larvas. Do coiitririo, se perderem a
piimeira hora do dia. os negócios se avolumam antes de o perceberem, de
modo que (como se estivesseiii dc m h atada>) iião podeni veiicê-10s.
Teiii quc se vergar a zÚ-vore cnquaiiio é nova, diz o prov6rbio. Depois de
velha, náo se deixa mais vergar e quebrará. Dize-me, quem esti disposto
' 1 hoje a combater a usura e a bebcdeira lia Alemanha? Se tivessem combatido
a idolatria em tempo no papado, certrimentc o Evangelho teria permanecido
piiro. Eiii nossos dias tambzrn se instalam virtudes italiaiias na Alemanha
(especialmente nos círculos govemmienlais). Ninguém o percebe, iunyém
se ihe opõe. Depois, por&m,quando não o quisermos mais tolerar e gosta-
', iíamos de vê-lo combatido. as larvas estarão sentadas em todas as folhas e
teiemos que recoiihecer: dormimos demais. Meu caro doutor Staupitz'"
costumava dizer: Qiiando Deus quer castigar alguém, ele primeiro o toinci
cego, para que nào vcja oiicie começam seus perigos e prejuízos. Também no
Evangelho segundo Mateus, cap. 11.24ss., esti escrito que, enquanto as
pcssoas dormiau (e isso sigiufica ter 0 s olhos bem fechados e nada ver nem
perceber), veio o inimigo. Quando o joio, cipós ou iiiqos estavam crescidos,
só então viram o prejuízo que havia sido causado enquanto donniam. Quan-
do, então, se dispuseram a arrancá-lo. disse Jesus: Tarde demais. Pois irão
;ii.r:uic;u junto corii ele tamhéni o triz«. Deixem-no cresce] até a colheita. Por
'' isso meu pequeno Davi iião deve ter sido um espertalhàu qualq~ier(conio sc
diz) para reconhecer tZo rapidamente os grandes espenalhões. Que rei des-

15') ('I: I Sm 17.74-36,41ss.


I rio 1kci.i rmir<iiiIr~cus.irbi, qiiac vitia fiicriin~,rnorr<.tiunf, no origiiial (Epi,sio~kc,IV. 10.
fi.2). 1 ,úçi<vAIICLI.S?,IL.C<I Ir. (CX. 4 a.C~h5d.C., siiicídio), pulíiico. Iil<isotbc p*i;i niiti;iii<i.
liil Oviiliii, Kcri,cili;i :iriii,iic. '>I.-S<ihre Ovídio ç f ticiiiva p. 140. ii. 15.
I(>.> ('I'. :,i,,,,:,I'. LI)?. I,. 1.11.
confiado deve ter sido ele; com quanto cuidado devc ler considerado todas
as palavras e todos os atos rle sua corte, pcnnancceiido assiin mesiiio u m
senhor nlisericordioso, humilde, amável e corisolador.
Amigo' aqui no final querernos questionar esse rei arrogante e jactancio-
so por que razão elc podc ufana-se ião maravilh»sw~ieiitedc seu governo, 5

como se em seu tempo jamais se houvesse turvado ~]iiaiyuer&a. E111


primeiro lugar é preciso observar como foi miserável e Iastiinável o início de
seu reinado, quaido teve que viver na insegnranp por tanto tempo sob
SaulI6'. E depois da morte de Srtul, qtiantas coisas teve que remcndar antes
de ser confirmado como rei. Depois ele mesmo caiu ein adultério, assassina-
to e grande pecado conwa Dcusl". Diú resuliou conio castigo o tito de seu
Iilho Amnom eiigravidar sua prúlxia innã Tamar. seiido ele assassinado por
seu irmão Absal20'~~. Depois o mesmo Absalão desterrou a Davi, scii pai, e
violeiiiou todas as suas mulheres. E, conforriie mereceu, nlorreu apunhalado
homvelmei~tc.~"Joabe, seu general de canpo, apunhalou traiçoeiramente 1s
dois dos iiielhores amigos e c o n ~ e i h e i r o sAilofel.
. ~ ~ ~ scu secrciário, e todo o
Israel separaram-se dele e se colocaram conii-a cle.'"V~«r lirn o levante roi
Sicri'" lhe deu muito trabaiho. sem Mar da pestilência com a quai Deus
castigou scu pecado170. E quem sabe qii~mt;isdes&~açasmais elc teve que
>tiportar e que não e s t k registrad'as? Amado Davi, podes vir e gloriar teu 20

hclo regime e louvar a Deus por ele. Certamente o reginie do inlèliz Herodesnl
ou o dos geritios iia Crécia não @em ser coiisider.idos piores. Que dii-criios
;r esse respeito'? Proporiho que o recomendemos aos astutos senilores no
papado, qiie são capazes de harmonizar tudo que ensinam eni contradição a
si iiiesrnos nas leis. Por isso c!es riiesmos infitulari seu livro ile "Cuncor- 2s

dâiicia das Discordân~ias'"~~. E realmente uin titulo pertinente.

. .
11>5 ('i'. 2 Sm 13.
('I.
li>i> 2 Sm 15.1-1X: 16.20-21;18.918.
1 1 9 1 ('1: 2 Snt 3.27: 20.10; 1 Rs 2.5.
11~8 ('I'. 2 Sm 15.12.
li,', I'ioviivelmcnk uma wniiptela dc Biui e a rcferèiicia dcvr scr ao Icvantc de Scb.4. filho
ilr Hicri ícf. 2 Si~i 20.1~s.).
I I11 ('1. 2 ~ m ' I 4 . 1 0 ~ .
I /I Ik.rc)des I, o Cirmdc (ça. 73-4 a.C.), govcmaiitc do Estailn ju<lcu (<lciibo do Iriifirio
I<i>inano),cf. Mt ?.lss.,lhi~.
11.1 lkcrii'la swe Cm~urdiadisconi'iurliin~cawinum (Uecrctos. ou seja. Concúidi;~[ O i i i c ~ r -
<I;uicia( dos câliones diaiordantrs), compil;~~jio de Icis ccleaiásticas fcil;i 1x10riii>rigi
i.;i~iial<liilcnseGraciano por volta de 1140, inuis tarde chiiin:ida sitiiplc~iriciiicIhl.ii.lii,ii
(;~11;;1,1; (Dccretc clc Graciaio); cor~.siiI~~i, ,IIII~:I \,crs3<) rcv;.st,l:,, :t lpr;,tx.ir;, p;ttI<, <I<)
iI,qlt~sl(itris C';lai<ir!ici (C<ii!ipil;!q%i, ilo I>iiitii>Clliii~iici,).ci>tic.litiili>~ p < nw3Il:t <Ir 15110.
Beni, quero deixar Davi erii paz e considerar (do que não há duvida) que
nessas dificuldades ele não necessita iiem de meii conselho e ajuda, nem o
de qualquer outra pessoa. Porque ele teiii um Deus tZo benigno, que o
considera tão niaravilhoso e elevado que faz proclamar etii toda parte que
i Davi é sei1 servo fiel, que cumpriu toda a sua vontade: uin Deus que nasceu
de sua descen&nci.a e que não se envcrgonlia nem dcspieza de se tornar fuho
desse rci. Que iiial faz que siniplesmente cremos (pai-a nZo chaniarmos a
Deus de incntiroso) que seu re,@ne foi o niais subliine, o melhor e inkis
benquisto perdite Driis, embora para nós seres huinanos (que não julgrue-
mos coin maior severidade do que o próprio Deus) parecesse o mais escan-
daloso? Se, no entanto, quisessc fazê-lo, certmente ainda poderia suportar
essas coisas coiitraditónas e dizer em resunio: o governo de Davi transcomeu
como ele o gloria. O fato, porétn, de se ter deparado com muitas desgraças,
isso ele teve que suportar, porque os goveniou k i n e com seriedade. Enibor~
fi tenha pecado, nSo defendeii o pecado, como Saul e outros reis; além disso,
deixou o pecado e o nlimdoiiou. Pois queiii quiser. ou tiver que governar
bem, liaverá que suportar 0 diabo como cornj~adre.Por isso dissemos acima
que um rei ou príncipe não pode castigar a nialclosa malícia secreta até que
Deus a ievcle. Basta que ele nZo deixe impunes os vícios revelados ou outros
vícios públicos.
Aqui quero encerrar. Espero ter realizado uin borii tsabdho. Considero
bom o trabalho se agradei a poucas pessoas e causei bastante desgosto a
muita gcrite. Isso deve ser como que um siiial seguro, assim conio a niar~je-
doura e as rraldas for;un iim sinal seguro para os pastores. Se, no entanto,
'- clc agrada a todos, ceriaiiiente o meu traballio que realizei é mau e vergo-
nhoso. Espero. porém, que não nie expus a esse risco. Se, no entanto, agradar
a todos (que Deus nie guarde disso!), que seja, eni noiiie de Deus, iim
trabalho perdido que niio serve n ninguém. Nu entanto, qualquer pesstyd quc
demonstra que ele rião lhe agrada, certainerite se seiitirá atingida e se sabcri
culpada. E exatamente com isso coiifcssa que é ou gostaria de ser um
dziquele que Davi descreve aqui, como diz Ciisto: "Scris coiidenado de tua
própria boca" [Lc 19.221. E os gentios, como Cíccro, Lainbém dizem: "Se
não é inencioiicido ninguém quando se recrimui;im os vícios. então, se
zilguéin se irritar por causa disso, esse >e trai a si niesino e se declara
c~ilpado"~~?. Que Cristo, nosso SEnhor, tcnha misericórdia de todos nós c
pcrmaneqa (em fé liime) nosso amado Salvador. A m M .
Debate Circular Sobre Mt 19.211 5
9 de maio de 1539

IN~RODIJCÁO
10
Na A.\sembléie Nacioiial de Augshiirgo, iis lutemos aprcseiitar;im, erii 75 de
jiinlii, de 1530, sua confissiio de fé, a Coiifissão de Aiigsburgo. Quatro cidades
evangélicas do sul da Alemanha entregar.im, em 9 de jullio. a Confissão Tetrapolita-
na. Anhas as conf~ssòes foram rejeitad:is jxla maioria catúlica, em i de agohio e 25
de outubro, respectivamente, mediante confutações elaboradas por teólogos romanos, 1s
a pedido do imperador Cnrlos V. Conio réplica dos luteraiios, Filipc Melanchtlion2
redigiu ;i Apologia da Coritissão de Aiigsburgo. A rçi<iluç;rofiii.11 da AshemblCia, de
I9 de novembro, revalidou novimcote o Edilo de Woniisi e exigiu a ristauraçZo da
;iiitiga situ:iç5o eclesi&tic;i. Caso os evarigéliç<isdesobedecesscm. poderi;, l~ivcriiina
;iy;io d i t a r do imperador coiiirii elo, e uni zrande número de processos perante o i(>
Sirpremo Tiibunal Iinperid.
De novo os evangélicos precisavam ocupar-sc com a quest5o da legitimidade &i
isist&icia aniiada contra o imperador. Agora. os juristas qiialiticararn iiin ataque do
iiiipcrador corno injustiça notória. Consequenteriientc, a resistência armada scria um
u s i i d e legítima defesa, prevista pelo direito imperial. Os teólogos. inclusive Lutero, ii
ic<lirani s tal iiiierpreta$áo político-j~iddica.E111 fins de 1530 e inícici de 1531. os
cv;ingé:élicos uniram-se nuiiia ;iliariça defensiva, a Aliansade Esmalcalde. Mas em
;iiiihos os lados hotive pessoas qiie se empenharani para evitar o pior. Em 73 de julho
clc 1572, os dois lados t-umxaiii a trigua de Nurnherg que vigocina a l i que um
ciiiirílio geral ou iima AssemblEia Nacional decidisse as questões controverlidas. Até si]
1.. . . proibida quslquer disputa annada por causa da religião.
. i Ir11

A s retlexõeh avançxan qiiando <i papa Paulo 111 (I468-1549. papa desde l.i34)
<.<iiiviiu~u, e m 2 de junho de 1536, um concílio para o ano de 15374. Na opiniáo dos
ii.ail<i,~ws dc Witteiiberg. o imperador romperia a trégua de Niiniixrg, se ;itacassc os
~ ~ v ; i i i ~ ~inilitmente. ~ ~ l i c i i ~ Seiia uma iiijustiça riotoria. Neste caso, o governo do 15

i<.iiiit~rio;it;icado teria o dever de proteger ativamentç a religião evangélica da


1 i < ~ l ~ i l : i < ; i i , . Si.ri;i uiii ato de legitiiiia deleso.

I N.i I i l i < i i i i iIç Weirnar (WA), o texio foi publicado sob <ititulo Die Zininilardispiil;ito üki
,(.i5 I<i,i.Iii des Widerslandc gegen dcn Kajsei (Marffi. 1Y,21) = O Debate Cicul:r snhr' r i
I ) i i t . ~ l , > tlc I<esislência ao Iiilperxior (hll 19.21). - WA 39íü.39-91. Tratlmi<lci<Ir, í~rigiii;il
I:iiiii<i~pwIl.<omI\-vsei- coin a c<il;tkmraçáudc Egbçno.s 0,ssewa;ude.
! 1'1 ;ii.iiii;in. 133. n. 8.
Drhatc Cirriilar Subre Mt 19.21
-- -
Outra vez um conflito m a d o oarecia iminente ein fins de 1538 e inicio de
1579. Lutcro se propôs abordar a qiieskio da re<istência ao imperador no debate
acadêmico previsto para abril dc 1539. Redigiu 70 teses. em Iúigua latina (WA 39/11,
39.1-432). Qiiando católicos e evangélicos firmaram ti Lrégua de F r a k h r t , ein I9
de abril. o debare foi adiado par8 9 de niiiio. Liiiero elaborou outras 21 teses quc
acrescentou às 70 primeiras e i i ~ squais aprofuridou s o b ~ t u d oum dos aspectos do
probleiria eiii pauta.
Lutero continiiou convicto dc que ao cristão iiZo é pcmitido opor-se à autorida-
de superior legítima quniido esta o persegirir por causa de sua fé. Mas numa guemi
io c~intraos evaigélicos, com a finalidade de acabar coni a prega$" do Evangelho, 0
irnper;iil»r iião scri;i tal ;iiiloridade constihiida p i ~ rDeiis. O verdadeiro tigente anti-
cvangéiicu neste combatc era o papa. O iniperador agiria apeiias coriio &euauxiii~i.
Lutero viii o ~iiipadonuma perspcctiva apocalípiica. Citou repetidas vezes trechos
hil~licospertiriente~.Para ele, o papa não era ;iurorida~lelegitima iiem lia Igreja iieni
15 iio Estado neiii ria "ridiiiinistraç.ío domestica" (tese 51 ). No debate, este aspecto se
destacou. A crítica às pretenhóes do papadn C tnmbém o iissunto priricipal das teses 71-91.
Corno o papa. o resl~oniável íiltimo pelo confliBi, n2o é autoridade legitima,
pode-sc e deve-se rcsistir a uin at;ique seu ou daqcieles que se c o l a m a sua
disposi$ão como supostos "dekns«rrs da Igreja", sejam elcs "príncipes, reis ou (1s
.V pr6priox i i i ~ p r i ~ l o r e i(fcses
" 66. 68 e 70). Tal ataque seria uina violência noióiia c
irijusta. Ncste caso, a resistência não seiia rebelião contra as "orclenanças de Deus",
mas legitima defesa. Lutero opuiriu que a resistêiicia era LI dever dos govcmantes dos
territórios ev;mgéliços. Mas eles precisariiun da ajuda dos cidadzos. Ao rnencionar o
papa, neste coiitexio, Lutero até podia pensar num movimento popiilar de resintència
,- dizendo (se re;ilniente disse o que os protoc«los r e g i s n ~ u m ) :"talvez seja atf
nccess.5rio que o povo intciro se Ilie opor~ha".
Di: modo algum, no enlimto, ti11 resistência seria urna espécie de cruzada «LI
guerra siinta. Só poderia ser empreendida por razões humanas, profanas, polítiç;i&
para cvitx a destnriçim lotal do convivi0 das pe.?soas nos ambientes pnlitico, ecnn0-
I mico e eclesiástico. O dueito dos cristiios à resistência vaie, para Lutero, $6 eiii
.situa@r) de real crnergência em que pretensões tot:ililitárins anieapni a sohreviuênciii
c salvecão das pcssoas.
As primeuas 70 leses de Lutero foram publicadar em Wittenberg, em abril (Ic
1539, e as 91 teses, em niaio, cin lalirn. As 70 teses forarn rehpressas uiiediatuneiitc
%. em Numberg. A teiniitica tomou-se iiltamcnte utual na época da Guerra de Esinal-
calde, quando Carlos V de fato atacou os evangelicos militmierite (1546147). Nesizi
siiuação, as teses de Lutero foram reeditadas: em latim em Frankfurt, Lubeck c
I{a!.ilt'i:i. erii aleniáo erii Wittenkrg c Nuriiberg. Igualniei~reforan repuhlicadar, cri!
scpanido e em alemão, as tescs refereriles à questão da legitimidade da resisiCnciii
(51.70) Do debate de 9 de maio de 1539 existern três protocolos manuscritos, ciii
I;itiin, ciim alguma!. frnscs erii itlenrão (WA 39/11,52,1-89,27). A seguir apreseiit;iiii~is
; i ir;i<lu~.;iodas tescs e dos protucolos em fomia de sinopse.
Joachm H. 1;isclici.
( ;IIVC"I~

As Teses
Debates a serem desenvolvidos circularmente
Mart. Lutero
i

I . Ao mesmo tempo que nos ensina a vender e abandonar tudo, o Senhor


peiinite. sim, ordena adquinr e possuir tudo.

2. Pois iião podes vendcr ou abandonar a não ser o que adquiriste e


lx>ssiiístecom justiça. 10

3. Em caso contrário, t' iieccssáno dizer que tiido deve ser devolvido c
i-cstituido,como furto, roubo, bens injustos.

4. É evidente que a scgurida tábua preceitua adquirir e possuir tudo, 15

i oiiquanto diz: Não furtes.

5. Isso é, dcves possriir o que é teu e náo bens alheios, ou (como diz
l';iiilo) cada qual trabalhc para ler o que dar ao iiccessitado".
Zii

6. O próprio Paulo adquiriu seu sustento com o trabalho de suas máos e


I ) I I S L I ~ L I o que era seu.

7. Portanto, se proíbe os adultérios, obriga cada qual a ter sua própria


ispusa, coriio diz Paulo: "Cada qual tenha a sua própria Icsposa]" [l Co 7.21. '5

X. Também é certo qiie Cristo não vcio para aibolir a lei da srgiinda
l;iliii:i, ma$, antes, para coiltirma-Ia6.

O. Além do mais também confiima, por toda parte, a autoridade e o 'o


iliiiito doEstado, inclusiveperantcPilatos, dizendo: "Ele te foi dado decima"'.

10. Portanto é pensamento Iierético dos monges ao al-marem que não


..<.11<1(lc
oliedecer ao Evangelho de Cristo scm desprezar a segunda tábua.
1101iiicio do celibato c da pobreza. 15

I I E também é uma grande hipocrisia c meiitira o pretexto de terem


\,i.ii~li(loc rcnunciado a tudo.
Dçbatc Circular Sobre Ml 19 LI
12. Pois eles têm que viver ou de doações da parte de outros ou do que
é adquirido por eles mesmos, como o comprovam os fatos e a experiência.

13. Pois, visto que comem, bebem, se vestem c têm oiide morar, ccria-
5 incnte não ve~iridemnem abandoriaiii hido, mas possuem todas essas coisas e
delas fazem uso.

14. Essa é uma invenção muito bonita: vivem ociosos e despreocupados


às custas de bens alheios! E o que comiimentc se chama possuir, para eles é
a mesma coisa que pobreza ou abandonar tudo.

15. Isso sigiilica abandonar dc bom grado os beris próprios módicos e


uicertos e receber em troca bens alieios cm abundância e garantidos.
15 16. Cristo, porcm, diz que se deve vender e abandonar todos os bens
próprios, quanto mais todas as coisas alheias e comuns.

17. Portanto, se quiscrem abandonx c vcnder tudo no seiitido monástico,


eles têm que eiiiigrar deste inuiido.
I0

18. Sini, eles têm que emigrar para um lugar onde não se vive, não se
come, não se bebe, não se usa vcstimeiita, não se tem lugar para morar, para
qire assim, de fato, possam abandonar tudo.

19. Pois a vida, ou o fato de viveres. comeres, bcbcrcs. ie vestires, de


teres lugar [pEt morar], o tempo e coisas sc~rielh~muiies
de que fazes uso -
tudo isso tc perterice pelo uso.

20. Se, porém, nâo tc pei-tencem, és ladrão ou bandido, pois devoras os


1" bens alheios e os usiirpas corno se fossem teus.

21. Cristo diz que se deve abandonai-e vender tudo por causa da primeira
tibua, ou por causa da c«rifissZo c da causa pública da f6.

22. Pois no que diz respeito à prirrieua tríbua, tem que se vender o campo
c iihandonar c renuiiciar a tudo para garantir e comprar o tesouro do reino
dos c6usX.

S I 'I. MI I.1:1,1.
1 ;ovcmo
23. Depois. porém, tens que abandonar prazerosamerite o que tens e
possuis com jirsti~apela seguiida tábua por causa da primeira tábua, isso é,
por causa da vida eicrna.

24. Fora do que diz respeito à primeira tábua ou da coritissão, deve-se 5

procurar conseguir todas as coisas, conservar, defender e adtiiinistrá-hs,

25. Pois trnios o dever de obedecer à seguiida tábua, isso C, preservar,


;iliiiientar,proteger c adrninisircu r) corpo c esta vida de acordo cuiii o direito
divino e iianiral. 10

26. Se alguém náo prover o necessário para os scus loca do qiie diz
ichpcito 3 primeira tábua ou da conCissáo, csse neza a fé c é pior do que o
(lcserente.Pois Cristo diz: "Não separe o ho~nenios queDcus uniir" [Mt 19.61.
1'

27. Isso sigruíica que a pessoa que ahandoria os seus desse modo e
vciidc scus bens rião peca somente contra a segunda tábua, mas também
<.i~iiira
a primeira.

28. Por outro lado, quem, em relação a Dciis, 1120 disser a respeito de si ?o
iiicsrno, dos seus e de seus bens: "Náo vos coilhrço", esse n5o cumpre os
~irccçitosnerri da prirneu;i nem da segundri tábua.

29. Pois o que tem dc Deus e o que possui de modo justo scgundo o que
l~receituaa scgunda tábua ele o tem iiij~isian~ente,
segundo a primcira táboa. 27

coriira Deus.

31). Fora do que diz respeito 5 confissáo, o crisi50 é cid;idX» deste


iriiiiitlo, que deve l'azer e supoltar o que é pcdprio de sua cidadania tle acordo
i.<irii;i scgiiiida tábua. VI

il. Se tigora um assitltaiite ou ladrão quer cometer alguma violêncici


~ciiiir:ii i oii roubar-te porque és cristão, aí deves resistir ao mal' se quiseres
, . V I i i i r i j~i~)l>o
cid;idào decie miindo.

L'.. I ' i ~ i h . assim como a própria autoridade, da qual tu és niembro, resiste,


;I.:~IIII i;iriiliCiir te ordena resistir por hrça da segunda tiíbua, à qual 6s
~ ~ I I I I ~ ~ , ;:II ~ohcclcccr.
I(v

i \. A\siiii t;iiiibém, se uni Iailráo quiser ;iss;issin:ir-tc n;i cstr;itln por


< .iri\;i (li. 'ri\io. dcvcs <Irl'cri<lcr-lc,inclusive. se li)r riecc\s.iri<i.rii;it;i-10.
Debate Circular Sobre Mt 19.21
34. Porque sabes que a aiitoridade ordenou que se deve resistir ao ladráil
e defender setis cidadãos, cst& obedecendo, por esse gesto, tanto à piimeii-s
quanto i seguiida lábua.

35. Tunbém não importa se invoca a Ctisto, isso é, a primeira tábua,


visto quc é certo que procura matlu-te não por causa de Cristo, mas por causa
de teus bens.

36. Sc, porem. a autoridade, seja ela profaiia ou má crist,?. te perseguir


"8 por caiisa de Cristo, tudo dcve ser abaiidoii>ido,vendido e posto a perder.

37. Pois a autoridade náo é um ladrâo ou assaltaiitc que rouba o corpo,


a esposa, os filhos e bens privados, mas delènde todas essas coisas contra os
assaltantes e Iadroes.
:8

38. Por essa m ã o , as autoridades, sejam elas profi~ti~is


ou impias, iiáo
sâo contra nós, mas estio de nosso lado c a nosso favor em yuestóes
pertinentes à segunda tábua.

39. Em resunio, qualquer que seja a autoridade, sempi-e e ein todas as


partes preçeitiia preservar a pia ciiíre os súditos. qualquer que seja siia religião.

40. Por isso n5.o coiiipcte a pessoas privativas, quaisquer que sejam.
estabelecei- preceitos relativos ii essa paz ou usar de algum poder ~>rivati\,o;
i! antes, deve-se recorrer à autoridade.

41. Aléni do mais, as autoridades ímpias qucrem que se reconheça quc


agem da foniia como agem por causa da religião, isso é, por ciiusa (Iii
primeira tibua.

42. Se não quiserem buscar meihor informação a esse respeito, cá está


o ensinamcnio de Cristo: Vai, vende, abandona, cede, eilh'ega tudo, iiiclusive
il própria vida;

43. pois além do reino deste mundo não há outro rciiio superior que sc
oponha contra esse reino a favor de nós, a não ser aquele eterno reino de Dcus.

44. Portanto, quando a autoridade proíbe o mal, devemos obedecer e nau


iolerú-10, mas resistir ao mal eiii virtude da segunda tábua.

45. No cnianto, par ciiiisa dii priiiieir>i túbua não sc dcvc i-csistir :I
:iiitoi.i~l;iilcyuc I;iz o ili;il ([)<tisi130 podc tcr oiilro tiiotivo).
'10. Pois não temos outra autoridade que pudesse proibir o inal dessa
;iiiiori<l;idee sob cuja autoridade pudéssemos ou devêssemos resistir-lhe.

,17. Assim coiiio tcimbérn nio teiiios qualquer outra tábua ao lado da
:.~.r~iii~da
de acordo com a qual fnsse permitido ~ i g kcontra a primeira. 5

48. Pois assim conio a segunda tábua, tamháii a autoridade diz respeito
;i i.stti vida no mundo dado c coiistituído por Deus.

49. Por isso não nos compete, siin. se nos proíbe deshuir, por teineridnde 10

l>iiipria,a autoridade c ;i ordem púl>lica instituídas por Deiis.

50. Mas é preciso dar Iiigar ii ira, c: n30 devenios deferider a nós nirhrnos
riii causa própria.
15

51. É evidente que o papa n5o é autorid;ide, neni cçlesiástic;i, nem


I N diiic:i e neni da admuustraçáo doiiiéstica.

52. Pois Deus ordenou trEs instâncias coiitr:~o diabo: a attuiiiiistração


<IoiiiEstica,a política e a eclesiástica. 211

51. Prova de que elc não é autoridade eclesiástica é o fato de condenar


(I liv:ingelho e de o coiiculcar por ~iieiode suas hlasfênuas no direito caiióiiico.

54. Provri de que ele náo C autnidade poliíica é o fito de sujeitar a si n 25

<lircitocivil, d ~ mesma
i fortna corno o Evangcho.

55. Prova de que não é autoridade da adininisnação doméstica é o Cato


clc 111-oihiriiúpcias e avidaconjugal ;~qucmquiser, e não somente aos sacerdotes.
30

5f>. Elc é o monstro a respeito i10 qual Daiúrl afirma que se op»r,i ;i
deus. inclusive ao Dcus dos deusesq.
~(ii:iI<~<~c~

57. c ao qual Paulo, seyiiitlo as palavras cie Daniel, dcnoriiino de


iiiiiiiigi~dc Deus, homem do pecado, f i o da perdi$ol". 15
Drbnle Cjrc~iluSobre M1 I').2l
58. Nossos alemâes chamam de urso-lobo o que os gregos teriam chn-
mado de arktolykoni1,se por acaso o tivcssem conhecido.

59. Esse animal é um ]»h« qualq~ier;mas, quando possesso pclo diabo,


s dilacera tudo e escapa de todos os cavdores e de todas as 'umas.

60. Pai1 siihjugi-lo é necessário quc acorriun de todos os povoados c


cidades, um a uiii, todos os ho~iiens,mesmo que isso sisvii somente para
afugenti-lo.

61. E ai 1130 se dcvc ficar esperando por unia scnten<;ajudicial ou pela


autoridade de um çoriçílio, mas cotisicicrur a calamidade e a neccssidadc do
iiioiilcnto.
15 62. Pois se ;ilguém for fcrido por esse monstro durante a perseguição
para matá-lo, essa pcrscgiiição não Ilie deve causar peso de coiisciência, mas
deve peiurcnciur-se por nB» lê-lo matado.

63. Também não [li motivo parii se preocupar se Lim juiz ou alguni
agricultor do povoado ordenar que se dcixe esse animal em paz ou até o defende.

64. Pois o juiz e o agricultor têm a obrigaçzo de. conhecer a 1iaturez;i


dcssc nionstro e antes devcriam persegui-lo niais do quc os próprios perse-
guidores.
'i

65. Pois se o juiz e o agricultor Iorein mortos pelos perseguidores dcssc


irionstro em tamanlio t~irnulto,não se Ihss causa nenhuma uijustiça.

66. Assini tamlXiii, $e o papa prolnover uma guerra, devc.-sc resistir-Lhe


como se fosse uiii monsiro fuioso c possesso, ou uiii vcrdadriro urso-lobo.

67. Poi, ele n2o é bispo, liem herético, iieiii príncipe, ncni tirano, m:is
uina Irra que dcvasta ri tudo, como diz Dmiel".

68. Não imporia sc cle tem a seu serviço piíncipcs, reis ou os próprios
iriipcradorcs, encant~idospelo título da Igreja.
(;,~vi,"o
69. Aquele que está a serviço de um ladrão (qiialquer que seja) tem quc
icr consciência do perigo a que se expõe com sua iiiilitancia e airida com a
cteriia cundenaçiio.

70. Também o fato de se jactarem de serem defensores da Igreja não 5

salva os reis, príncipes. nem os imperadores, pois é sua obrigação saber o


que é a Igrcja.I7

71. Os papas iião tiveram condições de criar leis úteis para a Igreja e
piua a salvação dos crentes. 10

72. Eiii p~imeuolugar, porqiic fora111e são pessoas tolaliiiente ifnorantes


c iiegiigentes nas Esciituras, o que aiestanl seus decretos e epístolas.

73. De todo corpo da lei papística e de todas a. suas epístolas não é 15

~iossívelaprender o qiie é a Igreja. fé. palavra e rnandameiito de. Deus.

74. Por isso foi iiecessário que fossem totcilinente cegados por ariibi~io,
soherba, avareza e arrogância, riiatÉiia em que sempre primaram, como diz
S. Pedro. 20

75. Uni juiz preso à cupiciez c outms afetos dcpravatlob ~iecessariamente


julga~ácumo um cego julga a respeito de cores.

76. Os próprios juristas confessam que os decretos papais cheiram for- 2s

icinente ti .ambição e avareza. Lsso tninbém nSo admira, pois s,?« ignorantes
< . I I ~irla<;áo a Deus.

77. Também confessam que um canonista puro é verdadeiro asinistii.


I:ssc 6 iim dito inteiramenle verdadeiro. i0

78. Não há decreta1 que r i o asrogasse para si, de modo hon-ivelmente


I>l:islciii».no comcço. no meio e iio fun, o duiiiínio da Igrcja e, por coiise-
<liiiiici;i,o domínio de todas as coisas.
35

70. É impossível. eiii segundo lugar, porque nada que fosse necessário
I X I ! : ~ ;i sai~'aç'd0se pode estal~leceraléni da Escritu~a,seja em assuntos de
li:, s,ja em assuntos de moral.
Debate Circular Sobre Mi 19.21
80. As cciisas, porém. que o imperctdor ou outro priricipe qualquer ordena
sobre esta vida, 1150dizem respeito a f i . nias $50 necessárias pai-;i este mundo.

81. Em terceiro lugar é impossível pelo seguinte: os papas nZo têm


,- nenhum direito de criar leis, nem eclcsihticas, nern civis, neni para a
adnuiustiaçáo doméstica.

82. Pois Cristo ordenou através dos apóstoli>s,o que também confirmou

I
por seu próprio exemplo sob Pilatos, que se devc obedecer às autoridades,
"1 como é sabido.

83. Enqii;into todas ;is igrejas priiiiilivas, os bispos c fiéis respeitaram


rssa ordem, somente o papa ousou, coiiio único, calei-la aos pés.

i 84. A esse luso-lobo L'eroz sequer ocorre que 11206 rei neiii governador
de rzinos insiiluídos por Deiis.

85. Não obstantc, despedaça, age e assalta ern reinos, governos e domi-
cílios alheios ciiino um urso-lobo.

Y6. Assiiii oiisou depor reis. liberar os súditos da obediência e juramento


de lidelidiide'4 (con~rariaiidoa Paulo Riii 13) e a perliirbar tudo.

87. Assim ousou sujeitar a si mesmo as Saiitus Escriliiras e interpretá-las


"7
a seu hel-prazer e extinguir a Igreja.

88. Assiin ousou eliiiiinar o páíiio poder, terido dado licença aos filhos
contrair matrim6ruo contra ;i vontadc dos pais.

89. De modo semelhante, em oposiçZo a Paulo, [ousou] pernutir que


;ili:iiidonassem os pais para Uigressar no coiivento, inclusive. quando deve-
ri;ini assistir 0s p:iis na iiiorte. não soineiitc aos próximos.

90. De modo semelhante liberou noivos e noivas desnoivados igualmen-


11. por sua própria justiça (aliiis, injustiça) a se toinareni religiosos.

'11. Ein i-esunio, não existe na&+ nu ordem divuia ou humana que essi
.I I I 7C I ~ tivesse destruído.

14 N:ici liri r i ~ i \ U <Ikric<,


i )',r, < v\lcn!,<t I i o r t $ ; i ~ i < r Em
. :ui:ilo>gi;i ao tenrr, porluguéh "11011bct,ii+
l : t . ~ > ~ '(cIcri\,~clt>
' ris) Ii;n~c?,\ /n~,,;,g<9 = ' ' p n > n ! ~ ~ sclc % ~t i d c l i ~ ~ do
~ d \,;iss:ilu
r a SCU %cnI~,r''
( A . II. <li.ll~il.iii~1;i 1i.i-icii:i). c>1>1;iiiii~s ~ ' c i i ",iiii.;niiwlili> <lc 1i~leliil;iili".
O Debate

Debate do Debate de Liitero Debate do reverendo


Dr. Martinho Lutero realizado em Dr. Martinho Lutero i

realizado no ano de 9 de maio de 1539. que se deve resistir ao


1539, dia 9 de maio.15 Sobre a propriedade papa e suas forças
Wittenberg e sobre a necessidade militares que fazem
de erradicar 0 papa. guerra contra nós por to
Ao c ~ ~ i i nque
a r se de-
ve vender e nbiindo~iartli-
causa do Evangelho.
1io o Senhor pn-icnde, etc. Realizado em
Wittenberg, no ano de
1529'6 em 9 de junho, is
antes do almoço.
Prefácio
Timainos 3 iiiiciiltiva Instituímos o debate
IIC &bater sobir o aitigo sobre as trts instâncias, pa-
cl;i ;iuioridadc ou do Estzi- rii adquirirmos mnior cer-
ilo, da Igreja c <ia adriii- teza sobre seu verdadeiro
i i i \ t r q L ~doméstica, y x a sciiiido
i~iic,talvez tanibém mire
iii~ssosp'isleros, pudessc re-
iii;uiescer 3 idéia dc certa
ilisiiiipio dessos ordenan-
qzis dc Deus. vislo que, na
vciil;ide; foi investido o
iii;iii~resforyo na distinção
ilcsscs iissuiilos, não apc-
ti:is 1"" nds, inas tiimb4m
I I I W IIIISS(IS antepassados.
l i<q~'isii p ; i p provocou e ndo sejam mais
, . :iiliiiiiiivcl confusão confundidas doravante, c»-
t i t i : . I C I I I I R I S I I K ~ ~icccntes,
S mo foi feito pelo papa, de
. i i i . q i ~ rv~iliiii ct~iiseguiu modo a tornar-se, por fim,
( I I I C L!,. ~ I ~ ~ C I I V ~ I V C S esse
SZ soberanr~acima da Sagra-
I i i ~ i r i v i , l~ i ~ ~ ~ l c r c se o i ele
llo da Escritura,
Debate Circular Sohn- Mt 19.21
tivesse sido colocado aci- 1
ma de lodos os podcres.
como diz Paulo17: uni po- como diz Paulo".
der que se eleva aciina de Pois jamais se lei1 ti irs-
iodo Deiis c contra todo peito de alguém coisas
Deus. contra o culto a Deus iguais a cssas a respeito
c acinxi dc toda doutrina do papa.
verd;ideii.;i. A respeito de
nenhuiii rei se Iéem coisas
I como a respeito desse
monstro. Qiieremos ohser-
var a WadiçZo que esta es-
cola sempre ciiltivou e de-
bater circularmente o que
15 Cristo diz em Mateus
j19.21j: "Vai, e vende o
quç tens". Náo se pode,
porém, tratar de todos es-
scs assuntos nuiii íuuco de-
?ii bate. Pois cssa questzo ge-
rou muitas dificuldacies na
Igreja, por exemplo a per- Igualmente gerou
gunia se o podcr piihlico uiiia enorme confusáo na
cicve administrar o culto a Igreja a pcrguntaseele t;m-
?' Deus. ou ;i pçrgunta se, de bém é auiondade política
faro; se deve vender toi!as em santa vocaçUo.
as cois;is. Essas questúes
gerararli aquele infinito
ca~isdas inuineráveis or- Foi a
$0 dcns rnoiiisticas cm des- partir daí que surgiram Lan-
rcspeito à ~irdcmque há tos monges e sacerdotes e
ern Cristo, surgindo e mul- se multiplicaram novas or-
tiplicaiido-se sempre novas dens, depois de cxtinto a
ordens substituindo ai an- orcicm do Espírito Santo
5 tigas, inclusive entre côn- cm todos esscs estados.
juges crentes. Assim, o di-
ho sempre criou Lima or-
dem política iiova. uma
Igreja nova. uma adniiis-
ai) trac;áo dcimésiica nova, f11-
ra &i Sagrada Escrinira. Por
Cuvemo
isso. agora, é vosso dever Por isso realmente se de-
discemirdiIigiiteme.ii~een- ve distinguir cuidadosa-
tre as ordenanças, para que mente entre ordens divi-
s~ibaisuuais são humanas nas e humanas.
e quais sZo divinas. Coo-
sidero ordens humaiias as Chamei de
que não possiiein o iestc- ordens dos homens as que
muidio de Deus. Se bein siirgem apenas de idéio hu-
que o poder pí~búcoe a mana, que suigem sem pa-
administração doriiestica lavra de Deus. como se po-
inmbém sejam ordens hu- de aprender ckuamente da
manas, contudo têm o tes- prcseiite matéria.
temunho de Deiis. Outras
ordens Iiiiintinas 110s gera-
ram a rataztuiti papa. Esse
gênero de ordens huma-
1121snão se eiicoiitra na Es-
critura. Grande apar2iicia Pois a
de hipocrisia tem, por hipocrisia moiiásiica e pa-
exemplo, a ordciii iiionis- píatica tem muita aparêii-
rica, coiitni a qual nos a n n - cia talsa,
pele lutar, porque lainbziii
esse é um assiiiito sem fiiii.
ou seja, siias blasfêmias.
No entanto, senipre ... cla-
iiiam. escrevem blasferiiu- visto que ainda
do contra nós qiie o papa hoje cliuiiam, escrevem que
csti acima da Escritura, =i- o papa está acima das Es-
iiia da Igreja, acima dos crituras. Se estiver ;icima
ci>tiiílios..., acima dos n-is das Escrituras, decerto es-
c :iciiiiu de todas ai auto- tá igualmente acima do di-
iicl;idcs cunstituídas. Nós, reiio. Esse podn- iiós não
~ ~ < ~ i C náo i i i . estainos niais poderiios tolerar, antes o
tli\lio\ios a adoraressc po- argiiixeriios o quanto pu-
i l . ! . ~.oili<, o papa foi ado- dermos.
i . i c l o :i16 :igorn, porque diz
C I I I I V O ~mil"ii>papaestáaci-

r i i . i c I ; i Ixic,j;i e da Esnitu-
1 . 1 . I'~~il;~iitci, estaIia muito
.i, ~iii;i, l i > Estado oii da ad-
i~iiiiirir:i<;;icidom~stica.Por
,.\,,I r:l/.s,l I r n t k l l l 6 11os-
\ c , <Icvcr lutar contra esse
.
y.,(.\
i , iiil\, Lumo. nossos an-
1 1 s 1 c s lutaram con-
Drbatc Circular Sobre Mi 19 2 1
ira as \rquuid;irl% blas-
Ibnias dele.

1 arguniento
Cristo veio p a i nnu- Cristo veio anular o
lar c) pecado. A segiiiida wca~io.A segunda &/>i13
iiibiia LÍ o pecado. Logo L< o pec.:~<lo.Logo, efc.
I Cr1.910 veio p:ua iinu1.v a
.egunda labu>i.
A premissa] inenor .c Provo a [premissa]
i.r>inproiapelo ,7" cap. aos menor: Tudo que não pro-
(i;ílatas [sc. C;/ 3.121, on- cede da fé é pecado.
8 ii? é dito que a lei iião A lei não procede da
pr<xede da fi:, e aos Rrn ti. L i p é pecado e, por
/ 14.231: "O que não pro- "7hdo que não pro- ro~iseqüê~icia.
esráabolidi.
cede da fé é prcado". cede da l e ' ' [Rm 14.231.

Resposta
Ao afirmar nessa pas-
siigeni que ;I justip não
procede úa fé, Pauio con-
i r a p k e ,justiç;i,das obras
. ii luhtiça da (2. E a riicsma
c<iisaque a justiça por mé-
rito, que náo é apreendida
pela f i .

I). M. LJY:Isso é um Resp. o Dr. Lutero:


;iigu~~~ento sorístico; é a ' Isso e um argumento si>-
iiicsina coisa ... que dizer: fistico. que conhibui nie-
6, olho, o oiivido não p~«- nos paa u assunto do qut
<.c<lida fé. Logo o olho a afirniação: os olhos trio
IIO sir humano é pecado. procedem da fé. Logo os
lilc Lila aqui somente do olhos são pecado. Paulo fii-
i.i~rii$â<i humaiio. Paulo fa- [R."] Aqui Paulo fa- la da justiça da fé.
I:I <I;i jiistiça da fé. la da justiça da fé.
Todo aquele que preceitua Todo aqiirle que pre- %da pess»a que cxi-
a igualdade acaba com a ceitua n iguaidade abole a ge a igu;ildade das coi.~a.s
propriedade das coisas. propriedade. Paiilo, porém, acaba coni a pmpricdnde.
Paulo ordena que haja prcc'ihia a igualdadez'. h- Wulo ordeli:i a igodd;ide. '
igu,?lrade2'. Logo acaba ~ o eic.
, Lílgo.
com a propriedade.
Respondo à Lpremis- Respondo: Paulo nào
sal menor: Paiilo iiio pre- prescreve 3 igualdade 11;ih ,
ceitua a igu;ild;ide niin coi- questixs civis, mus 11;s coi-
sas exteriores ou civis, mas sas espiriruais, tio seriiido
nas coisas espirituais, paru de havcr caridade iiiútua.
que lodo cristào ajiide ao E tambéiii, que sejamos
ouuo, e p a i que s<i;aiiios iguais no culto. 15
iguais no culto u Deus.

3%rgumento
N;id;i que prxede da Nenhum direi10 divi- Nada do que é </e/e;-
lei rliifina conflil;i com o 1x1 conflita com o nn/iil:.il. rei10 diiino çonflila corn ?ri
direito natmal. A proprie- A propriedade conflila coni a lei da natureza.
ílhde de h . s ronflil:~com o diieito na1umI. Logo n3r1 A j~r<~prierlade,
por~<ni.
o direi10 rlivino. Logo 1130 é de direito </iv?nO. coníiita crirn a Ici ii;tmd.
L: </edirei10 nziturai. Logo n& L: dr clireiro o a ~
Respondo: Nego a iural [sic!/.
Ipreiiiissa] riiencrr.
Proponente: Provo a
[premissa] menor: corno
coiista ein GEriesc [l.281,
:i coiilunháo dos bens é de
iliiiito divino, porque Deus
(li,, ç (irdeiia domi~iarso-
li^ t<idos os aiiimais na
ii.ii;i. ci>inotaiibérn sobrc
~X'ihL"i 110niw i outros,
,.it..A i I>ciisc,iou tudoco-
,,IO,O
I<rspondu: Ebsa afu- Resp.: E s a passagem
ii~;iy;ii, ii;icI;i muda nesta ou a f i n ç Z o foi dita an-
:iliiiii;i~;ici,porque ela se tes da qucda. oii
i<.Ii~c a>tempo antes da
i~lk".i:i<li: Adão. Sc 21 Wdtl-
ii.,:i iivehsc pemanccido
iiii.<ii-rilpt;l,a atimaçáo te-
Debatc Circular Sobre Mt 19.21
ria permanecido iiicomip-
rn ate hoje. Sendo, portan-
to, a natureza cornipta, 6
preciso iiiudar essa afirma-
5 ção.

joargumento
Xxf» arliielc que fnz 27. 7i~doaquele que
nido ~ ( J Isii;r própria deci- fiir lodns as coir;is por sei)
18, sZo, setri Icis. r 1u;lrio. O mbíujo 6 tir:uiu. Op'7p.l é,
papa fim tudo por slra pró- erc. Loço.
['riir dcciuão. Logo o papa
? rirmo. f> papa 11'CIO tein
oilein <Ialei nntiinil ou na
I Ici divina.
D. M. L.: Respondo
a [prernissal niiuor: O ti-
rano esii cm sua prbpria
ordetii. Não obstante, o pa-
o pateiii ccrta ordem, mas
essa o~deiiié contra a lei
da natitiii-eza.

Outro
Não se deve resistir à N i o sz deve resiv~r
;riirondade nein aos prín- às autorid;ides guemr.
cipes. Logo? iiunbéni n;io Lozo, nrtn ;to duque que
no papa, pois qunn resiste gue~reiiipclo papa.
;ia exército ou ao general, Resp.: IResistk] a es-
quelula c111f n v o r d o p p . . sas guerras é latrocínio.
Respondo: Ao gcne- Responde um opo-
i:iI nao se deve resistir se nente: Quero que fique cla-
condiizir uma guerra legi ro que são autoiidades que
iiiiia, do iiienn« modo, nem sc defendem. Laço' a es-
, :I(>pay" Poreiii, não é is- sas iião se deve resistir.
so que o geiieial faz. T m -
IMrn o papa não é a auto-
i ~<l;ule.

Outro

Resp. I,utrn,: (':isi~


v i resistir :io papa, eritjo se deva resistir ao papa,
se deve resisti a iodos. Os entáo se deve resistir a to-
imperadorer r generais tin- dos que se defendem. No
gem apenas est.uem defen- entanto. o imperador e os
cleiido o papa. Na verda- p ~ c i p e sfiiiger~iesi%em
cic, poréiii, náo é isso que se defendendo, mas não C
acoiitece. E o papa quer isso que estão fazendo.
que lhe seja submissa to-
<Iaalma. inclusivceiii ques-
t«es tot;~lmenteilegítiinds.
Digo, porém, que não sc
lhe deve «I>ediência, por-
que não 2 autoridade kgí-
tinia. Sim, atc quer despa-
char-me para o infenio e
;i« fogo. A dcfiniçáo do o
1x1~" h seguinte: o pipa [M. L.]: O p a p ~visa papa, por6m, visa As al-
i: ;iquele qtie reivindica iu- positivariieiitc hs almas de itias de todo o gPiieiri hii-
ikih as abni~s,positivamen- todo o gênero humano, maio. para que sqjaiii sub-
ic iriclusive de todo o g ê qucr, zmtes de riiais nada, missas a suas blasfêmias e
iicrc humano. Isso quer di- que toda alma esteja su- que váo ao inferno por cau-
/ci-: que toda alma seja sub- jeita a suas blasfêmias c sa delc.
iiiissa c su~eitaa suas blas- que vá 30 inferno por cau-
l?iiiias, c que por causa sa dele. Ele diz: Todo
<Iclcas diii:ia váo à breci aquele que nZo ohedrcer
Qtiem dzsrja que por cau- ao papa blasfemador, seja
sa do papa rodos os seres condenado e deve ser nior-
Iiuinanos vão ao inleiiio, to. Aí é preciso que cada
;i cssc se tem que mata. qual e todos em conjuiito
Aí todos r cada qual indi- Aqui é iiccem'irio se opoiiliiun. inclusive por
vi<lualrnriiletemos que cn- opor-se a todos os seris mi- uma sediçio, se n i o hou-
I;ihorar, também, se for o litantes inclusive por meio ver outro jeito. Pois quem
<.:iso,por meio de uma se- de uma sedição, porque não de vós quer ser condena-
tli<;iii. por causa dessa ti- devemos tolerar a coiide- do por causa do pap~'?E
i:ii~i:i.I'ois quem quer ser naçfio & alma. quem i~iiereriaobedecerao
% <,iaIrii:iilr> elemamentepor pior dos homens, que não
t :ii~s:iilc um lioinem es- tem nenliurna autoridade?
I I I I I ~ ~ I ' ! O imperador Tenho o Ao iinperador se deve obe-
I ~ . I I I ;i ;iriloi-idade de coii- dever de pôr à disposi$Zo diência. pois ele teni di-
~Ivii;ir< I coipo. O papa, po- do imperador a vida, nXo, reito sobre ineu corpo; o
i<:iii, ii5o se satisfaz com pokiii. u alma. papa. porém, náo se salis-
isso, iii;is quer fechar-me faz com o corpo, mas exi-
:i ln~rtiido ciu depois da ge também a alm;i, qucr
riiiirlc, ~xicaque vá ao iii- fechar-nie o céu, iiiclu?ivc
I r i i i ~ .I'ois diz nos dccili- Decreto. Ora. se o pa- depois (1;r nrortc. p;ir;i qiic
ios: "Sc i) papa l e v a ao pa, por dircito cIe p i i ~ l ~ r i ecu
~ v;i ;ir) inl'crno. I'oi.: o
iiill.riiii iiiumcriviis alniz?, d;idc (fi~ciirci).Icviir ;iliii;is Içor iIr sciis ~lrrn.li,si.

L I0
Debate Circiilar Sobre Mi 1Y.21
não se deve perguntar: Por ao inferno. iiinguém tem seguinte: Se o papa levar
que fazes isso?" Decretos o direito de perguntar por inúmeras almas ao infer-
iiiipiissimos semelhantes quE. no, na% se deve perguntar
são aqueles que dizem que por que ele faz isso. h-
i rodos os tribunais recebem da há outros decretos, co-
as diretrizesz2 e a aiitori- mo estes bem injuriosos:
dade d;i Igreja roinuia. No que todas as decisões do
iiiesmo sentido váo outros trono itevem aceitar o ve-
decretos, como, por exein- redito da sé roinanu: que
10 plo: que ele não pode scr Ele nâo pode ser jul- iicnhum concilio rio mun-
julgado por ninguém; quc gido por nenhuiii concílio do inteiro tem autoiidade
ii Sagrada Escritura rcce nein por qualquer ser hu- de julgií-10. Essa aiirna-
be :i autoridade dele, hlas- mano. ção é tão blasfema e exe-
lênua essa que é coiifir- A Sagrrida Escn- crável que é Iiomvel até
ir mada por aqueles grandes Lura recebe sua autoridade mesmo lê-la. Que a
asnos iliie afmtiiii que. a dele, e náo ele dela. E~critura'~recebe a auto-
1,mjii está acima dn Sn- rid:~dedele, e n^ao o coii-
qada Escnturu. e que. ele tdrio. E essa blasférniaafir-
b ~ p r i onão a recehe da mam esses grandes asnos
21, Igrcin. Temns que coiiiba- que dizcni que a Igreja es-
tcr os decrctos que qne- tá acima da Sagrada Es-
rcm que o papa tenha essa critura. Todas essas coisas
autoridade náo da Escritu- iião podem ser toleradas,
ra. mas que a Escritura a De- iieiii as devo confiniiar e
15 te ri li;^ dele. A csses devc- vemos cornbaier essas ter- por causa delas perecer no
mos resistir. PoRanto. e s riveis blasfêiiiins indivi- inferno. Devenios comba-
sa 6 a blasf8iiua milxima dualmente e em conjunto, tê-las, e se esse fosse i,
contra a qual devemos lu- porque é intolerável que a único jeito, eu me tomaia
tar uni por um e sozinhos alma devesse sucumbir no sedicioso. Não lhe basta
inclurivc por meio de unia inferno por causa das blas desiruir o corpo, as espo-
sediyZu. Se, port;itiio, pu- fZinias dele, coino se ele sas, osfllios, masquer ai]-
der promover uma sedição não estiveshe sujeito a leis. da que iuiniia alma pere-
sozinho, irei pmmov%la. Se nem o imperiidor nem ça. Visto, porim, que ele
Morrer eternamente, isso os reis o quiserem empreen- não é autoridade, então há
i.. 6 demais! Basta sofrer as der, então seia por uma de se mover uma ação po-
coisas corporais, mas des- ação popular. piiliic qualquer pessoa de-
ccr ao intenio, 3i cada qual ve niatli-lo de qualqiiei-jei-
tciii que resistir de corpo to, pois quer que eu rc-
c corn todas as suas forças nuncie a Deus em eterni-
I ;IO pal~i.que não se satis- dade.
r..+L. ~. o mo fato de eu pei-~
der ;is coisiis corporais. Se
nno forerii os imperadores
c geiierius. talvez seja até
necessálio que o povo in-
teiro se lhe oponha. Quem
irá julgar justo que eu scja
assassUi3do pelo papa, que
;ihiindolie o cônjuge. os fi-
lhos c os bens, que seja
ciiiidenado etenimente e
seja despachado ao infer-
no? Ai qualquer pessira de-
ve lutar corn suas foiyas e
com seu ciirpo. Njo! Ai,- Nio! Antes de abandonar i r
rev que penniiir que nii- ;r meir lkus. iria m ' . s ~ u
iili;i :ilrria vd p m ii infer- iudo que lenho; timrio r r r ~
no. ir;;~ 'arriscar tudo que nhom, poré~n,faz i.s.so.
tenho c promover um;S4
sedifào. Devemos, purtiui-
to. vingat essa blasfi.iiii;i
iridividualiiieritee sozinhos.
Assim o papa quer viver
sem lei, o quc nenhum ti-
rano faz, nem mesmo o
turco, que apeiiiis deseja o O tirano se apodcra
domínio sohre o corpo. O dos corpos, governa os Es- O
turco raniùrm C urjo-loboz5, tidos; o turco se preocupa huco usa o poder, princi-
[nas nirrior feroz. N;i ver- principlilrirentc com o do- p;iliiientr visando nossos
<I;idc, é ... 26 e 12111 seu mínio e o corpo. Ele terii heiis; iio enlato. ele esiá 3u
M:iomC, contudo i. gover- seu Maomé, ao qual estj sirjeito j, leis e é regido
iiiiilo por suas leis e go- siijeito, é goveinado porele; por .seus iiiaoiiieianos por
vciri~sobre o corpo. O ITa- meio de leis e escrinuas.
[':L, poré111. destrói p ~ c i - o papa, poréiii, assiiltl as Não a%im o papa. Ele pro-
~~i~liiierite as aimas, visa às :ilmas, quer que rios per- cura principalmente as ;iI- 35
:iliii:~s.Siriiplcsmente nos c:irn«s a vida eterna por mas, quer que nossa5 al-
<Iitci:ir~mciunosso Cristo cniis:i dele. Não quer su- nias se percam por caus:i
i. :I vida eterna, c quer di- jeiiiwse ao direito divino, dcle; visto que ele é seiii
xi-: "Nds não queremos natuml, civil. lei, di7,: Njlo e.sl.mos su-
i.\Iiii. sujeitos a leis, iierii O derradeiro c inau- jeitos nem àS lcis divinas, .,i>

.'I O Icxio latino vrrii rnirrrncado de fragincntos em 1íiigu:i alciiiZ. Rua dcsiacá-los, ;iprc\cli
i;$iaii>-10s
grifados.
?5 I .nicr<>
UVA aqui ti I I ~ ~ ~ 1iter.d
u ~ Z Vgrega: :,rk~~lyAo.s
( ~ 1 ' . ;,cim;t p. 221. r,. I1 I.
.'O A < I ~ Ic<n,tc,
. ;~lliiirrs.ii IrhIi~;iliic>i.iil;i I ; i i i i i i ; i i . itii ~i;iliivl;i< illi<tiii]>lil:ir.
Dchate Circular Sobre M1 19.21
ser regidos pelo direito di- dito monstro é tal que tan nem as naturais; todai as
vinoounaturaI".iii;~~qucr bCm o queres livre da lei coisas qiie me dizem res-
que tudo se faça de a c o r de Deus. peito estio no cscrínio de
do com o escrínio de seu nosso peito. Um monstro
5 peito. Isso é horrível, até desses ri50 se acha nestc
esse ponto despreza aDeus mundo, urn monstro que
e a Escritura. Todos os joe- não quer estar subordina-
lhos têm que sc dobrar do a Deus mas quer estar
diante desse monstro. Ja acima de Deus.
I mais houve monstro co-
mo esse. Os hereges são Os hereges são Os here-
pcadores no mais dto grau lobos c malvados, mas ape- ges também sjio malvados
e também são monstros e 113s tin parte, na medida e lobos, e se opóem par-
lobos que lutam contra 3 eiii que atacam a Escritu- cialmente 3s ESC.~IUI- ,IS.; os
I Escritura cm parte. Em rn. Estc. por$.in, náo aldca tiranos se opòeiii ali grnii-
aide de pailc pecam u m - paite da Escriiura, mas to- rlc paric as leis. Nio o b s ~
hém os tiranos. liias isso é da ela, e declara que a coii~ tluitc. continuam sendo au-
nada em compara<;' CIO cor11 denaçáo das almas por suas rorid;ictes. Esse homem se-
o pecado do papa. Pois cs- blasfêmias é justa. gum. poiúm, náo apenas
I tc não apenas está segum visa o uripério e a inter-
do poder imperial e da iri- venção rios assuntos do iin-
terven~ãodo imperador, 6 perador. Mas cogita m-
também adorado. Se des- bém arruiriar a todos, lon-
truísse a todos os scres hu- ge de ser louvado como
,. manos, seria louvado co- justo. De boa vontade que-
mo homem j~isto.Que so- remos deixar-lbc os cor-
framos fisicamente, ele nos pos, não, po~-é~ii, as almas.
aflige e queremos sacrifi- Ele, no entanto. sob o no-
car de boa vontade os bens; me de Cristo, ;irchata pa-
nãoqueremos, trxlavia, per- ra si as Ialiiias] )1uras, c
der também as almas que do mcsino niodo kurebal;~
r ) palra exize. O tirano ar- para si as aimas dos geii-
rchatii o corpo. 1113s d e k 3 tios. o que é o principal.
a alma; esse, poririi, to-
\. iriaiido o título de Cristo,
como vigjrio d e Cristo.
iisurpa para si esses
iliieitosZ7.Esse é o maior
iiinl no papa, primeiro por-
I LILICusurpa as ahnas, de- Não sa-
pois os c o r p s , e depois tisfeito com isso, vira lo- Depois [mebata] os cor-
iiiipRc leis rios côrijuges, bo c arrebata para si todos pos, os reinos, a admiiiis-
çtc., e diz: Nós temos in- os reinos e territórios. Tam- tração doméstica, cria e mu-
iituído essas leis. E extre- bém arrebata as almas, o da as leis que quiser, e diz:
mamente pestilento o que que é um mal intolerável, Na verdade, temos essas
e também usurpa toda a leis, mas está em nosso ar-
diz nos decretos: Nossas
ordem política: nós temos bítrio inudá-1% quando qui- s
sentenças, inclusive as in- sermos, e acrescenta, o que
a liberdade de mudar tu-
justas, devem ser rcspeita- do, inclusive nossas opi- é o mais pestilento de tu-
das e adoradas, isso é: Nós niões injustas devem ser do, que nossas decisões,
não estarnos sujeitos a leis, adoradas. Essas são blas- inclusive as iiijustas, de-
mas vivemos segundo nos- fêmias que a mente hu- vem ser respeitadas e a d o ia
so arbítrio. Ora, que é p a - mana não consegue com- radas. Assim não fala nem
iíi serisso?Quem seria ca- preender. Devemos admi- o herético nem o tirano.
paí:de suportar essas blas- tir isso? De fonna algu- Acaso devo ceder a i.v.su?
Icinias, ou seja, que se de- ma! h t e s devemos opor- De forma alguma. Se, po-
110s ao monstro. rém, o rei quer ajudar, de- 15
ve adorar sentenças injus-
vemos resislir com força
t;is'l Nós emitimos senten-
máxima. Essa é a defini-
c;;is injustas e, nZo obstan- çãc positiva do papa. Por-
tc. dcveis adorá-las. Quem tanto, antes de mais nada
~nnlcráceder neste ponto? é preciso saber que o papa 20
()iicm não se oporá, mui- é tal monstro, pelo fato de
10 antes, a esse monstro ser o senhor do orbe ter-
1xstilentissimo?Um mons- restre; se escolhesse para
tio desses não existe em si uma parte da terra, seria
toda a terra, porque deve tolerável. Em segundo lu- z í
csi;ii inuito acimade Deus. gar, ele não é tirano, por-
que o tirano está, em gran-
lividentemente existem
de paie, sujeito a leis; ele
i;iiiihém outros lobos. Mas é um monstro novo e sin-
~,sscsiiZo são tão seguros gular, porque, além da au- 30
c scvcros como esse lobo toridade, é tal que ousa go-
r l i ~ hesla. i
i;i,lr ~x)clçinosrenunciar ao
De boa von- vernar sobre nós.. aue.
. Dor
causa dele devemos pcr-
i < i i ~ ~IIILLS o , i alma de jeito der nossas almas quando
i i ~ ~ i i I i i i i i i14n
. resumo: es- diz: E prcciso obedecer à 37
,.:I\ i:io ;is hlasfêmias que nossa decisão, ainda que
i t i<ii:i<:ii~ Iiiiinano náo po- injusta. Isso não é outra
(li. ;i<.cii;ir.A d c f i ç ã o de- coisa do que dizer:
iiiiiiiv:~C esta: o papa é
i.,\ii. iiiiiiistro, porque é o
::iiila~i (Iii orbe terrestre.
Auiiii, definitivamente o
Il:lIxl c e""" '"'>""o, por-
iliir liiigc ser o detentor
CIO " I I I ~ I I O podçr do iniiii- O p;ipa E oin inonstro
Debate Circular Sobre Mt 19.21
do, ainda que seja blasfê- tal que sequer pode s y cha-
mia, porque não é autori- mado dc autoridade. E blas-
dade, iião tem o poder su- fê~niaquando diz que ele
premo, não é senhor do é o senhor dos senhores.
5 orbe terrestre (essa blasfê- Ele também não é tirano,
mia, porém, podia ser to- pois esse ainda e s sujei-
~
lerada em parte), nem ti- to, cm grande parte, à?leis.
rano, que, em grande par-
te, está sujeito às leis. Ele
iii é, sim, o urso-lobo, que se Esse, porém, é o diabo, pois
m o g a o direito de gover quer que sua blasfêmia ma-
nar sobre nós, para que, nifesta seja adorada fora coloco
por causa dele, percamos da lei, isso é: apresento-te diante de ti o reconhecido
as almas. Coloca diante de o diabo p a a que o adores. diabo para que o adores;
15 li o diabo e, apisar dc o Ele, porém, não se salis- se náo o fizeres, condena-
reconheceres, deves ado- faz em me matar, mas diz do estás. Que devo fazer?
rá-10, contudo. Se disse- ainda que a alma está con- Prefiro morrer; esse é um
res: não me agrada que se denada por sua ordem. monstro diferente do que
destrua o corpo, ele não Acaso devpria adorar o dia- o tirano; ele mantém o con-
!o se satisfaz a não ser que b«Y Não! E preferível mor- denado preso, inclusive de-
pcrcas a alma. Pois aíque- rer. Se devo defenderme, pois da morie. Isso é duro
ro defender-me. Eneiihum eu o f a i ~ iO
. papa é o dia- demais; portanto, se puder
inferno vai me segurar. bo. Se puder matar o dia- defender-me conú-d o pa-
Quer que adoremos ri blas- bo, por que não o faria, pa, quero fazê-lo, inclusi-
,\ fCmia porque diz: também inclusive wisc;mdo avida? ve de mão amada, por-
nossa blasfêmia é injusta. que seria a mesma coisa
Sim, que diabo ihes insu- que [resisti] ao diabo, pe-
flou isso! Em resumo: o lo fato de ter renunciado
papa é um monstro muito aos bens para não entre-
40 diferente do que o tirano. gar tudo.
Quero opor-me a ele de
lodas as formas, pois ele
iião é príncipe, não é au-
toridade, não é tirano, mas
o diabo que nos usurpa as
almas. De minha parte, se
puder, lutarei de espada,
sozinho, corpo a corpo com NZo deves pensar que o Consequente-
o diabo. O papa não é me- papa seja um ser humano; mente o papa não é sim-
RI homem, ma9 é uma mis; também seus adorddores di- ples homem, mas [também
rura de Deus e homem. E zem que ele não é apenas é] Deus. No entanto, aqiii
;issiin que os papistas, seus um ser humano, mas ho- Deus deve ser tomado por
;aliptos, o definem, e isso mem e Deus misturado. diabo, quando seus adula-
6 ci~rritoi virdadeiro. Um Aqui, porém, se toma Deus dores dizem: O papa é um
I ~Iciisinisto, sini, toinandci pilo diabo. Assim como misto de homem e Dcus;
i r <li;iln>
lair I>çiis, qiic 1x1' Cristo E Dcos inclirnadi~, aqui, porém Deus d i v i s i r
(iovcrno
causa disso nos ordena pa- a~simo papa é o diak entendidocomo diabo e ser
ra que destsua as almas. E encamado. humzmo. E assim como
assim como se diz: Cristo A respeito do papa si Cristo se encamou no ser
LI. DCUSc Cristo é Deus deve pensar de modo mui- humano, assun o papa é o
encarnado, assim o papa é to dierente do que a res- diabo encamado, porque é s
o diabo encarnado, porque peito do tirano, porquc ele 0 mticristo, este, porém,
se opóe a Deus. Pois, é procura atingir principal^ infernal, aquele, espiritual
necessário que o anticrislo menti as almas do mundc :celeste. Em vista da nc-
seja Deus, mas um deus inteiro, assim como o tur- zessidade de declarar isso,
infernal. Também é verda- co esiA atrás dos corpos jigo que não se deve di- ia
de que é esse o motivo do mundo inteiro. Eles são ler do papa outra coisa do
por que, nos tempos mais as duas bestas do tempo qui do tirano, pois exige
rccentes, os pseudoprofe- derradeiro, às quais dcvc alma c ioipo, com« o dia-
tas s i prendem a essa hes- seguir o dia derradeiro. b.
ta, como diz Pauloz8. Di-
go isso para que sintais de
outro modo a respeito do
[ ~ a ~edacrediteis
, que virá
i) dia derradeiro em que
perecerá a besta, o turco e
11 inonstro papa.

Ter seus próprios ~ I I S Er kn.s próprios é a


2 p«ssuir o ~ u oe prata. Os ncsma coisa yue possuir zs
cri.stZos têni seus própiios m o e dinheuo. Aos criu-
h.11.s. Logo, etc. ZO,Y,p o d n , lláo é pemi-
Respondo: Os cristãos idopossuir ouro. Logo, ao.$
~ x ~ d ipossuir
m «uro e pra- zistâos, etc.
!;i. inas dc tal mancira que i,,

ili,t:iin respeito à primeira


l:íl)ll:l.
I). M. L.: Os apósto- Do próprio R. W b é m esse é um
I k v \ :IIicc;idavain k n s pmra [M. L.1: Essa é uma irgumento útil para acom-
;~liiii~~iii;lr os pobres, e nis- Jergunta útil. Os monges rrccnsão do assunto, por- 35

:.i, ri:io li5 iierhuma justi- iistorcem de várias manei- [ue é extremamente im-
v:,. r<iiilodoli6 aí certa or- -as o exemplo dos apósto- ~ortanteo debatc sobre a
i I < , ~ i icivil. Os nronges e os que destiiiavm suas ~ropriedadee porque to-
: ~ i s : i s ,porém, querem losses para o sustcnto dos los os monges repetem e
tilil<.i-c riierecer daí a vida ~nhres.Ali não sc visa à legam os exemplos doi 41,

~ . I ~ I I I>;I I ; I .mesma fonna ustiça, mas uma comunhão póstolos em Jerusalém,At


;i<liiclcsi ~ u 11i" comparti- le bens social; todos os . [v. 32ss.1, dizendo que
I I i : i i i i icus Ixns com ou- nonges, porém,juntameu- 50 possuíram proprieda-
iriis. iii;is, iirclusivc, dcvo- e com o papa, cliarnam c , E vós siinpri o~ivistcs
Debate Circular Sobre Mt 19.21
ram os bens alheios, esses isso de propncdade, como que esse exemplo quer ex-
abandonam sua pobreza e se a pobreza fosse mere- pressar que juntavam os
avançam nos bcns alheios, cedora do reino dos cCus. bens porque eram pobrcs.
banqueteiam-se às custas Tarnbi.m o exemplo dos Ali não está em jogo a jus-
de outros, vivem de doa- apóstolos iião deve ser m u tiça, mas é apenas uma co-
ções de príncipes e reis. dado, porque nZo come- inunhZo de bens e de ca-
Aqueles, porém, qiie a j u n rain bens aibeios, mas seus ndadc civil e social; no en-
tain para disso viver, co- próprios. Os monges, po- tanto, todos os inonges jun-
mo muitos coiiventos que rém, devoram bens alheios iamente com o papa cha-
to trabalhavam e coiiquista- e nZo seus próprios, não mam de coinum o que tor-
vam scu sustento com o vivem do quc é seu, mas na a pobreza merecedora
trabalho de suas mãos c das doações cIc reis. Falta do rciiio dos céus; em tro-
que produziram seu e x í o (crino de comparagio. Os ca da abdicaçZo quercm ob-
guo sustento por longo tra- apóstolos juntam tudo num ter a vida eterna. Eles pró-
', balho, juntaram tudo e dis- bolo c vivem do coinum. prios, porém, nZo compar-
so vivcram. Isso reflele um O exemplo dos após- tilham com os pobres; re-
pouco o exemplo dos após- tolos deve ser entendido iiunciam corajosamente à
tolos. Eles querem ser po- assim: nele eslá ausente a propricdade e passam a vi-
bres e viver às custas de idi.ia da justiça e também ver do trabalho alheio e
' hcns alheios c aiiida m e náo csG« envolvidos hens alimentam-se de trabalhos
rccerjustiça. Janãohámais alheios na comunhão. Sc não pequcnos. Isso não é
monastérios ein quc exis- Ihes tir,umos ;i idéia da jus- convento, onde se diz: Nós
tam monges que repartem tira e da pxticip:içâo p r ó vivemos do que é nosso,
seus bens com oiitros; eles pria, nenhum inonasténo quando, na verdade, vivem
,', prbpnos vivcm de bens subsistirá. dos bens dos reis. Entre
alhçios. os apóslo1~1.snão foi as-
sim. Portanto, afasta-se do
conceito de justiça e da
constituição da Igreja.. Na
verdade, no tempo dos
apóslolos existiram poucos
conveiitos que restabelece-
ram um pouco o exemplo
dos apóstolos, onde nZo es-
teve presente c) conceito de
justiça ncm se renunciou
à propriedade, mas tive-
ram seus bens em comum
com outros.
6"1" argumento
[contra 231
Nenliume lei que é Nenhuma lei cqu;p;i-
lyiiipiir-rdir a outríi d i lu- rada a outia .sob,stitui a c.s-
g;ir ;! mt;r lei. A scgiinda sa. A segunda tzíhnn é eyiii-
1.. /;~IIII;I6 cquip;ir;~<I~i 2 pr;- p;imda 2 pi~nc,ir;r.L.og(~;i
i~rc.ir;rI;;/III;I.I,o,gc~IIZO111r ,scgii~i(i~i
/;íhii;~IIZ(I,siil>,s~;-
(1;; 1iig;rr. 111i;I pri17i<!ir;i.
Resposta: Ela é equi-
parada se procede daquela.
D. M. L. repete.
Todas as leis inferiores Todas as leis inferio- R. lbdas ai leis infe-
,vZoiguais às leis supenoreres. re.s são iguais às supcrjo- rjores são iguais às supe-
Logo não deve ceder. Res- res. Logo nenhuma deve no^, Portanto, nenhuma
pondo: No sentido inais dar lugcíir a outra. R.: En- lei cede [A outral. R. Não
gcnuíiio são iguais. Entre tre si não são iguais. obstante, é verdadeiro
si, poréni, não são iguais. quando se diz: a geral é ,o
derrogada pela especial. No
sentido mais geral são
iguais, no especial, porém,
são desiguais, porque exis-
tc a lei inferior c a superior. ,
~"[xI argumento
contra 23
O mandamento divi-
fio deve ser observado. So-
lk:r por parte dos ímpios
/rorcausa de Cristo é mm-
<I;inientodivino. Logo, so-
liU~.por causa dc Cristo
<k:vcser preservado.
Respondo: Na medi-
<I;i em que diz respeito à
ci~idissâopública de Cristo.

8"rgmentu contra 2
7i>rias as coisas que
;ilii,i;ii~iou nos aiienam do
I,,'v:ifigclhodevem antes ser
;ilxirnlr~rinda.sdo que ob-
\,.r if:r~l;is.As iiquezas nos
-
:ilii.ri:iiii <k)EvanpeLho.Lo-
;:<,,,'I<'.
I<<*si>oii.:Isso nâo é
iI:is Hquezas, nem
~ ~ t q ~ r i < r
iros :ilii:ii;ini do Evange-
I I i < i , i~~)iii~~dizPaulo~',mas
i i i i s ; ~voiiiade iná; a culpa
ii:io ilivi ser airibuída às
iiilit~:~xs,IIIUS a nossos de-
si:ii>s viciosos.
Debate Ciicular Sobre Mt 19.21
9%rgnmento
A aiialogia que não A analogia que não
tem alguma razão justili- iem um argumento certo
cada não é comprobatória. ou a abonação da Escritu-
Vo.ssa analogia com o ur- ra, ou 'ainda os exemplos
so-lobo não têm r d o cer- da [&a, nadaprova. Vo.9-
ta. Logo, etc., nada prova. sa proposição é dessa es-
Resp.: Ela tem suara- pécie. Logo nada prova.
z%ona própria natureza das
coisas e no dircilo natural,
sim, tem uma razão exce-
lente no próprio direito pon-
tilicio.
D. M. L. responde: [M. L.]: O motivo de R. A analogia tem um
Essa anaiogia tem uma ra- comparação é ótimo. To- argumento excelente, que
záo excelente. Pois todos dos temos que acudir ao é muito forte, pois todos
os camponeses se juntam incêndio comum, mas t a m somos obrigados a acorrer
contra a besta urso-lobo, a bém lemos que lutar todos contra o papa, a exemplo
destsuidora das ovelhas. Se contra o urso-lobo; a de- dos agricultores,porque ele
I a besta for afastada e re- fesa é algo natural. é destruido; do Esiado e
peli+, tudo será permiti- da familia. E a consequên-
do. E uma defesa moito O pa- cia natural: se ela for ad-
forte. O papa E algo sem pa é um caso sem exem- mitidaedefendida,elades-
exemplo, um monstro. E plo; esse derradeiro mons trói tudo com o maior vi-
,* o monstro novo e derra- tro sc chama sem-lei, a n o gor. O papa é uma reali-
deiro, que vive sem lei, fo- mico. dade sem Cristo, é aquele
ra da Ici e acima da lei; monstro derradeiro, como
monstro sem lci, monstro o mundo jamais o gerou,
como o mundo não o pa- é o que Pedro chama de
riu igual. O tirano ainda anomos, isso é, sem lei3".
tem leis, as quais impediu O tirano ainda tem uma
[?I3'. Fogo debaixo dos pés, lei, como diz Dionisio31,;i
a espada sobre a cabeça. espada suspensa sobre a ca-
Mas o papa é adorado c»- beça do governador. O pa-
ino « mais forte nas blas- pa, porém, tem todo o di-
fctniiis. reito no escrinio do peito.
lO%argumento
A nenhuma autoda- Não se deve resistir a
</cyiic peca por ignorân- nenhuma auioridade quc
10 ciir ~c deve resistir. O in- peca porignorância. O im-
iwmd«1.pcca por ignorân- perador foi enfeitiçadopor
cia ao defenderopapa. Lo- ignorincia pelo papa para
go, etc. defendê-k). Logo, não se
deve mistir ao implildor.
Respundo [M. L.]: O R. O arguincnto tem
argumento é bom, mas Iiá [M. L.]: Se o i m p e algo de bom; visio que o i
uma diferençd. Quando o rador não sabe o que é a imperador desconhece a
imperador desconhece a Igre.ja, ele ainda é tolerá- Igreja, ele pode ser defen-
Igreja, isso é iim erro de- vel; se, porém, quer de- dido de algum modo; qum-
fensável e deve ser tolera- fender » lobo, isso é into- do, porém, quer ignorar [ a
do. Mas se defende o pa- lcrivcl e deve-se resistir. Igreja] e não ouvi-la, en- li>
pa, que C um lobo, isso tão se lhe deve fazer re-
náo pode ser lolera<lonem sistência, como a um juiz
suportado, mas, se iiie de- que defende a hesta de-
ve resistir. vastadora.
[iao] 1/07O papa deve ser
15

O papa dcve ser d c . ~ dcsrruído coin o Espiíito


ii.uído coin o espírito da de Cristo. I'ortitnto, iiãope-
boca, logo não pela espa- I;[ evpad;~.
dg3. H. Iss« é, se nos em-
R. [M. L.]: Admiti- pciihannos Lodosjuntos, es- "'
do, pois dizcinos que ele sa bestadesaparccerá. N#o
escapa; pois durará até o obstante, deve-se resistir-
iim do mundo; não ohs- Ihe, e os reis e prúicipes
tante, deve-se fazer-lhe re- devem ser admoestados a
sistêncki, como também ao que lhe resistm. No en-
imperador c aos príncipes tanto, temos que nos jun-
que o (lefendem, não por tar porque nZo temos piín-
causa do imperador, mas cipes que nos pudessem
por causa desse monstro. ajudar ;i reprimi-lo e a de-
70
fender-nos. Por isso, não
nos defendemos por causa
do imperador, ao qual se
deve obediência, mas por
causa desse monstro que
li
quer ser defendido.
I l%rgumento
Ii,~/;u.
sentado no tein- Eltar sentado n o tem-
/'/(i iIc Deus significa ser plo de Deus significa scr
;irilo,i<l;i<leeclesiástica. O auiori~ladc.Opapa c,sl;i,sei~- ,,,
lxi/~:icsI;í seritado no tcm- tado n o templo de Dcus.
/ J / I I </i:Deus. Logo, efc. Logo, o p;%p;té ;iutori(la<lc
Respondo [M. L.]: eclesi;í.stic;i.
('iiiisiguir um local não faz H. Cristo aiiiiln IcsscI
Dcbatc Circular Sobre Mt 19.21
a autoridade. E Cristo anu- arguinentu, dizendo: Ele ali
la esse argumento quaiido está, mas não deveria es-
diz: "Quando virdes a abo- tar. Logo, não se deve ado-
ininaçâo situada no lugar rklo; ele está sentado no
i onde não deve estar" [Mc templo de Deus como se
l3.141. Já dc mirilia parte, fosse Deus, não como
espero, pela graça de Deus, Deus. Nós nâo temos prín-
que 0 imper>id»r não irá cipes. Espero, porém, que
defender o papa por mais rio futuro o imperador não
io ieinpo, visto que o duque [M. I,.]: O príncipe procure defender o papa,
Jorge já é fale~ido'~. Por- hilecido rc~.cntcniente~nãoassim como o duque
tanto, não creio que o im- quis defender o urso-lobo, JorgS4 nZo defendia o pa-
perador irá defender um pa- nias reforrná-10. Por isso pa, inas quis rcconduzi-lo
pa injusto, que diz: Nc- quis primeiro exterminar- a [scusl limites e ordem,
15 nhuma Ici acima de nós! nos, para depois recondu- quis refonni-10 e não opn-
Tampouco creio que os zir-nos à ordcin do papa. ini-10. Assiin, n i o espero
príncipes estar20 dispostos Assim iarnikm [o50 quis1 que o imperador irá de-
a lhe ceder, ainda que se- que o imperador fosse de- fmdcr essa decisão injus-
jam excomungados. fender o papa, nçni os dc- ta, porque as decisoes do
i" mais príricipcs, [nas quc o papa devem ser adoradas,
rclorinassern. Pois não su- hclusive, as emitidas iii-
portaram sua excomunhão; justamcntc. E supondo que,
sc o imperador fosse fazê-
10, ele deve ser admoesta-
do a que nZo o faça, ç que
nenhum rei defenda essa
fera sem Ici -pois o pró-
prio imperador não defen-
de a excoinuirhão injusta
- e que n2o ceda ao que

excomunga injustamcntc.
Assim, :issini, por exemplo. Fili- Assim procedeu Filipe, o
por exemplo, procedeu o pc, rei da França3j, lançou rei da Franç2'. Livre de
rei Filipe da Franca'" con- Bonifácio no cárcere onde seu juramento de fide-
i5 seguindo atravts do floren- inorreu. lidade?",resistiu, e fez bem.

14 O duque Jorge da Saxônia, apclidado "o Barbudo" ou "o Rico" (iiasc. 1471, duque desde
1500), excelente administrador dc scu tçmtório, eii&rgicoa(lversáno dc Liiteiri, çirnprome-
tido iiitcilamciiti: com o imperador c com Roma, fdecera a 17 de abril dc 1519. - A
Ç;ix<^irii;i l'rirn dividida erri dois territórios, cm 1485, a Sax6nia emeslina c a SaxCini:i
:illicciina, cntic iis irmãos Emesto e Alherto, da dinastia de Weliin. O duque Jorge govcc-
ci;iva ;i Saxiiciia alheilina.
35 Qii:iii<loRiinilaci,~VIII (1221/111-1301) foi pil-so cni h n a g ~ i(0810911303) por G~iilhcriiic
(11. N<ip:irci (1700/70-1.3111.<-l~;i~ic<:lcr <Ic Filipc IV, 0 Bclu (da França; 1268-1314). Sciiirrc
< ' < i l i u i r i ; i IIOII,:IIII> c II:IO l'Ic~w~~li~ic>l
ICL P ~ I ~ C dc
I tl.:iidor n<idçsficho dos ;iconiccinicriios.
i 0 No o t i j ~ , i t ~ ;t~,,,~;,;!io.
~l 1,. .C\. r,. 14.
('I, :&ci~at:~
(;<]verno
iiiio, guerrear contra o pa-
pa, vencendo e riiatando Foi uma autoridade legíti-
esse urso-lobo. E fcz bcm, E ele fez bem. Pois nL1 ma, matou esse urso-lobo,
por que não podia supor- era de sua obrigaçlio ad»- e se alguém fosse defen-
?.ir d acntcnça
. ~ injusta, não rrar sentenças sofridas in- der esse papa contra o rei, s
podia adorx o diabo. .Ia- justamente. esse tanihém deveria ser
1i13isfarei i . s ~ oconi esse aniquilado. Neste momen-
. ] ' I [ ,Assim tam-
nssnltuite to. pois. deprisitmios nos-
bém nós esperarrios quc is- sa espeianya nas autnrida-
so >icontecerL,se rcalinen- des Cuturas. Pois a autoii 10
iç for designada u n a au- dade é iiistiiuída. Se fo-
toridade particubamente rein tiranos, fazem márti-
para os cristâos, e ;iind;i res, tiias adorar o diabo é
se pergunta se esse Filipe algo que não se pode tole-
istii condenado ai>iiifciiin rar. E dcssc tipo sáo iodos 15
porquc maioii o papa Bo- ris )>ap;~\.Por isso os iiii-
iiilacio VIU, aiiidaque, na- perddores devem ser ad-
t~iralmente,à f o r p [?]. E vertidos a que resistam a
;ilim di.sso, e aíe.st2 o dia- ele de todos os modos, que
Ixílico, ele o fez sob o no- por causa disso sejain man- ai
iiic de Cristo. Estami~sde- Nós debatemos dados para o inferno. Aca-
I>;itendosobre o direito. De sobre o direito; de fato, vi- so csiainos perguntando
I;iin. todavia, nd.siiZo o p l - mos que n5o podemos er- cnii-ctalneiitc'? R. Porqur
~lcriiosfazer. Logo, proce- radic5-111.NZoobs(aiite, d e nem todos [ageni] injusta-
~ l c ucorretameiire ao agar- vemos resistir. NZo Coi o iiiznte, responderia que fa- ir
i-;iresse urso-lobo. e espe- dcvcr do rei da França di- ria hem que o papa fosse
r11 que nosso impei;id«r t'a- zcr [resigiadameiite] que reconduzido à ordem. O
r5 o mesino, pondo o p a foi excomungado injusta- papa quer destruir as al-
1x1 em órbita. E se Filipe mente, inas sua obrigação mas, querqueo rei daFran-
tivessedito: Souexcoiiiun- foi resistir a» pontífice, e ça diga: Eii sou instituido
,c;idoe condenado, logo se- fez k i n . por lei. Isso é o pior no
rvi coiiden:ido em ctcnii- papa, quc clc tudo E u
' náo
<l;i<lv.riefaro, rlr s a i a n i o eiii scu nome, ma? eiii iio-
v i o q1i2. iiiz de Cristo. Nenhuma au-
toridade legítima faz isso. ,,
12%rgumento
A sociedade dos após-
IO/<I.S l i ~ cr>nscnt;iiic;i
i com A sociednde d<~.sap<i\.-
:i li.; (/c Dcus. Houvc o rokr rui c~m,seni;íBcacom
i i ~irrr.~i.vo 1x1sociedade dos ;I Ici de DZUS;9 ,socieciil<lc .li]
:il~i\folosde ,150 pos.~uí- ~10.sapó.~tolosfoi ulii II.%O
I < . I I ~I>CII,S. L o g ~ .s lei de coniilm <I~I,Ybens. 1,rigo.
I)LYI~ i compartiUiar tiido
L'III c<>inuiii.
Kcspondo [M. L.]: A
< . ~ ~ i i i i i i i I[clç
i Z ~hciisl
~ rI;i SI>-
Dehare Circular Sobrc Mt 19.21
ciedade dos aplpóst~iloste- [M. L.]: A sociedade [M. L.] R. Isso é [uni
vc sua origem na c&di~- ou comunliZo dos ap6sIo- argiinientol fraco, porque
ilc. Tambéin não o nego, los procedeu da cdridiide, a sociedade dos apóstolos
visto uue é livre reter os não da fé. Nós deixaiiios não é uma idéia. mas fm-
1x11s ou entregá-los para livre que reúnain seus bens to da fé. E 116s não nega-
iiiii fun comum pai-ti a l i em comunh5o iiii não. Em mos, coiiio se não tivesse
iiiciit;u-opróximo, por cau- caso de necessidade. po- liada de boin nisso, que [a
sa h uaridade. Por exem- rc:ni;os bens não s5o ineus, pessoal é livre para ter seus
pio: se o próxiiiio precisa
ilc meu serviyo ou esti mor-
mas do piósimo necessi-
tado. Podes ter teus bens
. .
ur6uiios bens. Se seis de-
Ies c~ininseguis.semjuntar [o
rciido a ininha frente, e i i piriprios o11 podes toni6- suficienfe]piwa sustentar A-
fio rncus bens nlio r i o 10s comuns, como quiseres. guns pobres, isso seria lou-
iiieiis, rnas devem e i t a a vzívei e unia boa a@o. Sim,
,\ir:i disposição. E cliridiide é necess&io que, se o u-
8 , i~~iaiido dois ou niais cida- mão esiiver apeitado pela
dZos querem compxtilliar fcimc, que eu lhe ajude.
cnire si scus kiis. Quem q~i:uidonU~ise trata de iiiiin.
iri proihi-lo? Se r i k coii- mas do irmão necessitado.
sideras os k n s tcus por A própria comunhão pres-
t direito, como poderis tor- supóe a propriedade.
ixi-los comuns?
[13" Outro
Pessoas casadas 1120
p~iderric u i ~ i .(Ias ~ coi,vas Neni~uni cônjuge .se
periúirntes ao Sed~or".Os de~iicais coisas penirien-
rii~r~i.shr>,~ de Deus têm que tes ao Scnhor. Todos os
cuid;ir- (i;& coisas pc~linen- mini.stros deveni dedica-
1- a Driis. L<)@, os mi- se às coisas pertinentes nc]
iii.vlros de Deus n,7« dt,- Senhor. Logo nenhum mi-
18' ivrni estar ca.asado,s. nistro da Pa1ai.m deve e,+
Respondo: Paul11«re- tar casario.
~ ~ causa da fra-
C I ~ I I I L . I IDOI
C I U C L ~da cunie. çtc.
D. M. L.: Ele está di- LM. L.]: L Co 7.33s. R. [M. L.]: Paulo diz:
'. vidido. quer dizer, há me- "Quem esti casado estí "O que lem esposa esti
IIC).: cuidado com as coisas di~idido", dedica-se ao dividido" [l Co 7.33s.l.
~pcrtinciitrsa Deus; elr tem coiisorie, é verdade, no en- Ele. porém, não diz que
lilli<is,conjuge e cuidn das [aito, rito priiicipalriicnte. nLi se dedica às coisas per-
i.iii\;is pertinentes à adiiii- O marido se dedicli me- iiiientes ao Senhor, apena.;
I iii\lr;i(.;io doin6stica. rios [i causa de Deus]; não não o tàz integalrnente;
obstaire, dedica-se, etc. ele dedica-se menos. por-
que tem fillios e esposii.
No entanto, a dedicqZo quc
prcs1;i nlio é menos dcdi-
caç.5o ao Scnlioi. Logo náo
é pecado ler cslmsa.

14"
Outro
r i s o t i a Pedrcl: "Ap;~scent.r niirhas Cr~.sfst«
orden:! 3 Pcdro
"Apa.scrrilii minhas ovc- ovellins" [Jo 21.17/. De- qiir ipasccnre :r,s ~>veiha.~'~.
lhas " [Jo 21.171 Apascen- cretoi". Apasceiitliras o v e l l ~égo-
i~~
tnr signitica governar. Lo- verri:ir. Logo clc i rei p o !vi
g o Pedro e' rci E por cori- <iero.vo.
.seilu?ncin. o papa C ;iuri~-
ricladc.
Respon. D. M. L.: [M. L.]: Eles tiirccm R [M. L.] Esse texto
Cristo envia a todos os essa atiiinaçâo de rnodo ad- ds muito trabalho e os d e ir
;ipóstolos por igunl, qiiari inir,ivçl. Conclui-se daíqiic çretos fazem delc coisas
iI<i diz: "[de por t<id(i o soiiienlc Pcdri~é pastor'? niliiiii-:lvcis. heguiido tis
iiiiindo". eic. IML. 16. IS]. Será po%sívcl tal ceguei- quais soineiite Pedro pode
('ristil fdln ali eiri teriiii>s ra'? Pois ICiisIol elcgeo 12 apascentar as ovelhas. E
iiiiivcrsais e os faz pasio- apóstolos e lião envioli ape- de se iidinir;ir que sejamos ai
i-cs [ a t<ido>l.NZo apeii.is nas um :i todo o oihc icr- tdo ohcscados. Sc cliiis ape-
i21 de Yedro uin prstor, seslrc, ii;is Pedro, por iiiic, eni5o.
11~irquePrdro apasc>iitou o l?io extremaiiieiile çslul-
iiiii~~is que Paulo. E iini:i to Crislo k r doze apóst«-
vergonha e pecado quc ha- los? Náo iihstirite, enco- 25
rcrcmm <Ir.ser tão ...'ell inerida a lodos por igual:
alixr: Pe<lri~, ii[>asceiilan i i ~ Em Pedro ele sç diri- "lde a iodo o iiiiiiido" wc
iihiis o\.elhas, logo vós ou- ge a ir>iliis os pastores, a 16.1SI. Mas piurcc yiie is-
fiiisapóstolos sois ovcliias. todos que dcvcm apascen- so li50 resolve a yucstdo.
O quç ele diz aqui: Pcdro, tar. [A ordem] nZo di7. res- Ele iiZo disse: "Vai, Pç- iii
;il~isccntaiiiirhas ovelh~s. peitii soriirnte a Pcdni. iiias dro". mas disse a iodos
*.I?< i diz 3 lodiis ( ( L I ~e n ~ i
siniplesn~~i~teorcleiiou a io- i>!. discípulos; "lile ;i todo
ii:iiii a palavra de Drus. dos o çuidddo pelo pasto- o iiiiindo". E uma vergo-
I:li. siiiiplesmentc Ihes dií reio das ovelhas. Se Pedro nha que o entendamos do
:I iii~~iiiiiliénciadeapasçeii- é para ser o únic<i p:istor segiiiiite nlodo: sonlçnt? 35
i.ir :i\ ovelti:is. Pois qiic.rii das ovelhas, clç estj (ler- Pedro deve ser pastor. E
a(~~i.vc.i
,covcrrriir uma única dido. poir riio ciiiiipriu seu cnto que Pauli>trnbaiiiou
calh~lcm>rii ;ip"fiação. fein ofício, pois náo p6Jc pçi. mais do que os oiitros co-
.siilii.ic~itrque fazer; si: ti- correr todo o »rbe terrestre. mo dir4I. Assim. pois, diz
I i,.\sicyiiç prover o inundo respcilo a todos. n^ao s«- a1
Dchãte Circular Sohe Mt 19.21
iiiiciro, enr.it) csiana siiii~ iiientc n Pedro, porque ele
~jlc\nieiiieperdido. Pi,i,<.se ii:o pode pre8.u erii toda
tivesse que comer de ~iiiiii parte, ainda que se cxigis-
i.i~l;idc a outra, não per- se dele que perc«rrcsse o
ir~rruiao rnundo todo ri<,rii inundo inteiro. Por outro
crri riu1moi. Poris.so, Cri.+ Indo, coiidenuins [se al-
( ( I nàr, incumbiri ii Pcdro gin21n dissesse]: Se um rci
\<izinho<Ics.\atiirc/i. i. suficientc para o reino.
tanto mais o é para todo o
[1Sg] orbe tei~eshe.
Contra 4
N;i Epísiol;~aor Cw A priiiieii;~ribiiii náo A prin~eii;~1.76ua n i o
/<n,enssz. Paulo or(/r.n:i cnnllit;~con! 3 seguiicl~.L O c(iir/71ta CIII~I a segun<l.?.
I>nscur-;iscoisas cele.stiatii", t o . O qiie i~iiio.sem virm Pminto, as cc7isas que pos-
i qiie siki {icrlhente.~i pri- de da .scgiiiicta ttáhuii não sufinos erii vinude da se-
nicir;i tdbun. Logi, não .s21 deve s o nhandor~~<lo por gunda t:ibiianão derciii ser
:rssuriios (li, odrninis~açir) citlisir da prhriiii Iibus. nhmd(~nada.s]>i".causa da
r/r1int!st1~-3.qiic cc>nstariida prinieira.
.~;guiidaf;íhua. Logo, cori-
', lTi1:111i entre >.I 1
Respondo: Daíiizo se
scgue qiie 21 sçguridii lá-
Ihtia dcve ser oiiiitida.
D. R.1. L.: A lei supz- [R. M. L.]: A lei su- R. [M. L.] A lei su-
iior (lerroga n inferior, is- perior rzgul;i a inferior. perior refuta a uiferior. Tu-
si, E, ;i Ici iiiferior seiiipre Pois. oina vez negligcncia- do que está na piimeira t i -
ilcvc ceder ù superior. A da n scgunda tibua, deve- hua devc ser nbscrvado,
111iiiicira táhua 6 superior, se scrvir à prinicira. na ver- iiiesmo quandr] n segunda
iii;ih nerii por isso a se- dadc, nZc qlic neghgeiici:~?- tábua for negligençiad;~.
!~iiiirlaC dcitogada sc bcrii sc o m;uidciincnto n u s a náo porque 11 segunda fos-
LILI<. ii Iri iiikrir~rcede i caus:]. se mulada, mas porque da
\iipcrior. lugarpor causa da primeira.
[I@']
Outro Contra 1
Niii;lr~~ni pode orcl~,- São c~iririririo.~,
etc.
i~;ir.i.oi.s;is a>ritrjiiasriinul-
l.iri<iiiin~iiice e111 UIII ,só
~ii~ii~~I;iiii~~i~lo. Cii.sto o ~ d e -
i i i v i vi.ii<li.rc ;ih;iiidonarz?.
I i ,;,I v. ',i< . ~>rr~prieda<lc e
.ilriiah,iio. Nir~g~iCiii pode
.ilriiiik>ii;ii/;i/go/. se não
D. M. L.: Contrarie- R. [M. L.]: NZo é que
dade deve haver acerca do devesse ocorrer algo con-
mesmo assunto. Que Pe- Iraditóno com respcito à
dro C preto e João, brm- mcsrna coisa; aqui temos
co, i,s,soriZo é contrarieda- objetos diferentes, assim
de, conio riio é contradi- conio: Pedro é negro, João
são que o tkmo seja fiio e é branco. Isso não sZo coi-
LI &i~amoU1ada. sas contrárias. Se, 1111 eri-
l a t o , quisermos que Pedro
seja simultaneamente ne-
gio e braiico, então sim, etc.

[17q
Contra 16 Contra 1
Ibclo homcm se sus- O homem há de su.s- Todo ser humano se
lenta ou de hens próprios tencir-.se nece.s.sar&meiite susicrit;i ou de bens pró-
I I ~ Ide bzns coriiuiis. Por- de herispiriphs ou alheio,^. prios ou de alheios. Logo,
1;rilro; o falo de Crislo p-r- Logo, ,seo honieni r:reIite se Cristo proíbe 0.7 k i i s 20
iiiiru que ve lenha proprie- nio devepo~sulrbens prcj- próprios, é necessjrio us;u
</;i<k proik viver de bens prio.s, ele tcm que viver o alheio.
;r//ieios. do alheio.
R. [M. L.]: Convém- R. [M. L.]: T«da pes- R. [M. L.] Contudo,
110s comer e beber tanto soa tem a liberdade de co- esses bens, que iambém sã<] 25

dos beris comuns qunnto met- do que é seu. Toda- pr6pnos, si0 comuns. E a
iI<ib pr~jprios,pois, einbo- via, 6 riecesiário (lacuna) própria comonhão de bens
iajuniados ein comum, nãio quc, qii,uido vivem de hens implica propriedade, por-
ilcixein de ser pri>pnos até comuns, essa comunhãose- que o que comes e hebes
ccrti1 ponto. ja de caridade. será teu; por isso se trata
de um termo fictício e que
plira nada serve. i'duio fa-
la em comunhão porque
se compartilha com a ne-
cessidade dos irmãos nZo i5
por causa da justiça, mas
conio Fmto da fé.

[1uy
Outra .,o
1: 1~1"tido ao cri.s- É dever da aotorida- O cristZ~P?pode h-
f;io rir;r 0,s benefícios do de defendera.ju:tiça e coi- zer uso do beiiefízio da lei.
<liil.i/~~.
O direito, todavia, bir a injustiça. Epem'tido As 1ei.s concedem ;i defcsn.
Delute Circular Sobrr Mt I<).?!
permire que se drlkndarii que <e resista a» ~ I L ? ;m- Logo, pcniljte-se no cns-
iis pevsoas privrihvns ci711- pGe violência de !nodo i n ião fizer uso d;i defesa.
im 0,s superiores. Logo, o justo c o n ~base nunl d1ir1-
d~reitopemiiledefèndei.sr lo r~r~lorianze~~te iniust».usto. h-
contra 3 jnji~stijxdit auto- go. pemite-se ao cnstdo
ridade. que resista ao tiraio. O.$
juristzs ;idrnilem i.s.so, mas
;r pergunta é se 6 cristão
podc seguir de .sZ cons-
I,b ciC11c.i~ i opiniiio do.7 j11-
r;.<ias. (.'risto dis-2: "Njc,
épeimitid~~ iesislir no nid,
cede-lhe" /&ft 5.391.

R. D. M. L.: É per- R. [M. L.] 0 ugu-


iriitido $c as pcssoas supe- inento pergunta 3 respeito
riores iiáo sio autoridades; da autoridade, se ela deve
iieste caso, o direito per- ser preservada. As Icis psr-
iriitç .I defcsa coiitra o po- niitein defeiider-sc coriir;i
' 8 der injusto, isso é, contra o poder iniusto. mas isso
;i tirania. Logo, é pcrrniti- 1130se aplica i ;iiitoridade.
do resistir ao tirano qiie Qualquer pessoa qiie lera,
impõc um poder injusto. defende os justos, é uma
boa causa, çortio diz Pau-
lo, [é1 defeiisor contra a
injustiça4" Se, porém, pro-
cedeu ~nule causa injusti-
ça, logo se torna iiraio. A
esta altura cabe o arguirieli-
to: 2 pcmutido resisar ao
tirano, logo, t a n k n i ao iin-
petador em caso de injus-
tiça notória. Que respon-
Os juristas pemiiterii isso dercmos a isso? Segundc
V, ;i nutoridiide, mas nZo é os juristas o argumento E
pcnnitido aos teólogos. vilido. Cenos teólogos, p»-
r6m, perguntam se os cns-
tãos e crentes podeni se-
guir à opiiuão dos juiisti~h
I,, de sã çonscjênria. Se elc
se transfoniiou ein 1ir;iiio
e usa violencia notóriii, I'-
I ca evidente que épenniiidii
Isso fica atestado pclo se- resistir. Nesse sentido tç-
guinte nobre excinplo: mos o mais belo eximplo
A d r i a n ~apresentou
~~ a es- eni Trajaiiolb que estendeu
pada a certo príiicipe, seu a espada a uni governa-
general, e disse: Vai e go- dor, dizendo: "Vai e go-
verna a província i f~vx vem3 a província c defen-
uso desta espada. E se for de-a coiitra u violência in-
iieccssário usij-Ia, inclusi- justa; e se eu cometer al-
ve contra niim, usa-a com guina falta, [usa-a] também
cordgçm se cu cometer in- co~itramiin". Noiivel pa-
iustiqa. Isso certamente E lavra essa dç uin horncm
u r i i ixeinplo noiável de uni gçntio, e ela c~~iiserilc
com
Iiomem gçntio. os juristas que aprovam a
defcsa, inclusivç contra a
autoridade que sc transfor-
ini~uciii tirano. Agora, po-
rtin, fica a dúvida se o
cristã« também pode. Em
No cntanto, lê-se n« Evan- Mateus 5 Cristo diz:
,!?clli<i:"Não resistuis ao "Náo resistais ao mal; se
iii;iI" [Mt 5.391. Sc, por- :ilgu6m te bater numa fa-
i:iiiii~,a autoridade mine- ce, oferece-lhe também a
Icr uin nial conlra o iira- outra". Que está sendo di-
iio. iião se deve resistir. to ali:) Acaso 6 pemlitido'?
I );i iiiesmafonna se lê: "Se O texlo é claro: não é pçr-
:iI~uéinte der unia bofeta- niitido, e se a autoridade
(I;I, cic." [Mt 5.391. se converieu em tirano, ela
M. L. Explicaç'áo: Se [fi pennilido] se a au- causa o iiiiil. Cristo diz:
;I :iiiloridadc ordena e tios toridade nos persegue por "Vai e deixa tudo". Já ou-
~ ~ i r s c " gnnâ c por causa da causa da primeira tábui. viste~que, sc a autoridade
~wiiiicira tábua, mas nos Se, lodavia, não for por nos perseguir por causa da
11rcssiona por inveja, ele çaiisa da primeira tihua, primeira táhua, oprimindo
i i ; i i i ii ordeiia por causa dii mas se :i autoridade, tal- seus cidadáos por alguma
~ u i i i i i i i ;tábua.
~ Aí se está vez, persçguir 0 cidadzo inveja, a isso se chama de
,.<.ci~li, ~~rcssionado por po- por inveja, apele para a ins- injustiça, aí çsti soinenic
c1c.i iiiiiislo e não se pode tância superior se Liver; se a segunda tábui. Acaso se
i<.,.i:.iiisc 1120 se tiver po- f i o tiver nenhuma instân pergunta então se é per-
c l c i ~ >;iiiii~i-icladesuperi~rr,
II cia supcrior - contra o nlitido resistir? Se, porém,
.i ~ i . i < i i l i i ç ['?i- con-
srr dever nãn há xmédio. Co~i- nZo tcm u n a autoridade su-
I,;! < l c v <IIZO~ há r e m - tra 0 fato nâo há defcsa, perior ou uin igiial, então
d1i8. i 'i,iilr:i :i injustiça há mas contra o direitu há de- que o laça, se iiZo for for-
iIi.Ii.s;i. ci~iitino fato não fesa. Se não pudçr defen- çado a ouvir. Contra o dc-
i Iki riii~siii:~ li~niia;neste caso deraesposa, os filhos, devo ver nâo h5 rcniédio. J:i

I i i N;i vi.iil:i<lç. ciilii <,


tis fonles rcl;iciriii.liri cslc cpis6<li<, iiiilici-iiI<iric,iii:ici,i 'li:(i:iiici ('IX l li).
II;I<>cont ACI~~~IIX!
(117-138). cl'. (1 proioc<tI<> (',
Debatc Circular Sobre Mt 19.21
se deve buscar o auxílio aconseh.u-nie bem, cori- nâo sc discute mais sohre
ou da autoridade ou de vi- trao dever iiáo há remédio. o direito, porque estamos
ziiihos, p x a resistir. diante de um fato. Por ou-
tro lado, tainhém dcvo de-
ferider a esposa, os filhos
e os empregados contra um
juiz injusto. Se, porém, náo
o puder, dcvo suportá-lo,
porque oáo oihá remédio con-
tra o dever. Enquanlo is-
so, apcnas se deve procu-
rar a defesa ou de algum
superior ou de um igual,
para que faça resisl6ncia.

Os qiie pre.stan culto


n Deus IIZO pec;un. Mas
o*. quc resiste~iià autr~ri-
rlade por c;iuszi [Ia pr.ji~ici-
r;r lihua ~~i-est,liiiculto a
I1eu.s. Logo, n,lo pcczrrn.

[19" contra 21
Cristo proíbe a Pedro Cii.sto prr~ib<:n IJe<lru Cristo proíbe a Pedra
'
{Jrlxara m i a contra 0,s ser- xcorreràs arilias contra o*. n.s,iI' n n i s contra 0.s ser-
vos cfo.s l i r i ~ e u .Por
~ ~ con-
~. fzuiseiis ep~~ntíficc.s'"7L o vidores dos fxi,seusi". E
siguinlc, nem a nó,. épcr. go, nn;ío pennite recorrer às a í há uiii t e m o de c o m p -
mitido tomar as aiinns con- a m ; s contra o papa, ra@o. porque, sob o mar-
ir;? o papa. causa da .semelliança. to da igreja, eles per.segui-
r-ain a Cristo. Logo, nZo
no,s 6 permitido lusnr a--
ina.s] coiilra o p;ipa.
Respondo: Nega-se a
coriclusZo. E é urn racio-
cíiiio analógico. Assim co-
iiio procede o papa, pro-
ccdi;irn tanihéin os fanseus.
('risto defendeu-se de al-
piiiii rnodo até o inomento
1 ciii CIUC Iirivcria de morrer.
('iiiiviiilia quc Ci-isto rnor-
rchsc. pi'nluie iiaquele tem-
1 1 0 Ii:i\,ci-i;i<Icrcdiinir o gê-
,,,.r,, lliilll~ll1~~.
D. M. L.: Não há ne- R. [M. L.]: Aí iiZo R. Não há ahsoliira-
nliiinia semelhan~aentre o 1iá semehanyn nenhuma. mente nenhuma seme-
papa ç Caifás e Pilatos, p o r Caifiís era autoridade Icgí- 1hdnç.i entre Caifás e o
que u s e s eram autorida tinia, embora trniisfonna- papa, poirluc Caifás foi
dcs. O papa, porém. não é do eni iirmo. O papa riZo autondadc legítima. c m r
iiiitorid;ide, mas niiiiistso do tciii orderiaq50 divina. hora se tivesse transl'or~
diabo. possesso do diiiho. nicido ein tirano. O papa
Elle lobo transforma esse ii,io 2 riutoridade sob ne-
podes erii tirania p u a ar- nliurii asyrcto, porque nio
rchatar as alinas, seiii iie- tem ;i ordem rieiii de 10
iiliiim direito, sem nenho- Deus, iiem da lei iiahl~
iiia auti~ridade. ral, nciii de homens; ele
O unprrador Focas48trans- uiipeliu o impirador I:o-
mitiu ao ~1ap2.a. honraria tas a constituí-lo
qiie outros hispos teriam Assim mesmo [Foca] 15
merecido mais, mas ele iião lhe dcu autoridade,
trurisfmou essa honraria rrias a honra de bispo, da
eni tiiiiua. qual iihusou do inodo
r~iaihcelerado. Essa or-
dena~&, ele não n tem 211
dc iienhumd lei ou :iiito-
ridade hiimana, mas de
sua pr6pria autoridade e
de uma instituição dia-
S e Pcciro Pedro fez mal h6lica. Assim, já Pedro 21
i.rfir.ssse preseiite ein Ro- ao sacar da espiida c0nh.a i'xia bem se matasse o
ri~:r e o :ipunhrúa.s.sc, fariir a ;iutoridade de Caifás; no papa, iio entanto, neste
I ~ n l .porque o pipa nZu eiirarito, st eitivekxe ern Ro- riionieiito 1150 o podia.
ic.111 au~oricLide iisni de ina rieste riiorncnto e ma- porque debatemos apcn;is
l )ciis, nem da lei, rieiii do tasse o papa. Paria beiii. sohre o direito, de faro 21 11,
Iioiiicnr, mas esse l o h n F - coisa é muito ampla.
II;IY :irrogou-se ele mesmo
<.\\;i dignidade; ele n40 é
.iiiii~rirl;ide. Pois aque piiri-
L I :iriiiado de espada,
iii~.\iii<i scnclo de dois gu-
tiic.,. ii:io deverci sesistii!
.'r%. <l<.v<i ;alorar a injustiqa
<. vi.iii.l-:ii- <i próprio diabo
t < , I I I Z , i, vciiladeiro Deus.

:ii . i ~iiào i resistiria? Seja

.I); l,iii.:i\r imperador bizantino dc 602-610. A pxli<lo do p;ipa R<inilacio 111 (levcicii,, ;i
ii<ii,ciiihri>de M)7), proibiu ao p:tlriar~.;i dc <'a~isi;iirtinopl;i<iiiso <I<i lílillo clc ~i:illi:in.i
<.iiiitii.iiicii.Ncstzi <içasiAoicco!ilieceii <i
~iri!ii:iili,ih, 1x9~!.
Debiitc Circular Sohre MI 19.21
ao próprio duque Jorge", Se o duque JOI-ge4' Seria como se o du-
seja ao papa. E proinover uma guerra con- que promovesse
tra o eleitor em defesa do uina guerra não pelo pi-
pap:i. o eleitor se defende pa, inas sob o nome do
5 com razzo, se, na vcrd:i- papa. Se iiossos príncipes
dcl não for por causa do lhe oferecerem resi.\t.?iicia.
duquc, mas por causa do iião seriam condena<loi.
papa; e se o duque Jorge porqiliic neste momento n.?o
Davi diz: mentir ;i respciio dri pipa, fariam rcsisténcia ao du-
I "O mentiroso caia sollre o castigo cairá sohre sua que Jorgc. mas ;to papa.
rua ~ibe<;a"~'. O duque Ior- cahec;;i caso for morto.
ge, por exciiiplo, quis tor- Na verdade, 0 duijuc
nar-se papa e eleitor. Co- Jorgi não quis fazer guer-
mo a causa rijo erii ho- ra por causa do papa e do
ir iiesta, pretextou como cau- iinperador, uias para en- Porque, na verdade, nZo
51. que estuia defendendo pulsar nosso príncipe do quis defender o papa que
o uiiperador e o papdX2.O cleitorildo e p a a sucç<lcr- movia tiriia guerra coiiua
duqus Jorgr nao quis a d o h e . 6 s a foi o ctiiisa prin- 116s: o que ele queria nies-
raro papa, irias refomiá-10. cipal e decisiva. Tenho cer- mo em tomar-se eleitor da
?ti teza dissos2. Se, portanio, SaxOniilS2e destniu o nos-
morrer eni conseqiiêiicin so.
disso sob o pretexto de es-
tar defendendo o papa. a
mcniiia cairá sohre sua ca-
:, beça, como disse Davi 3
respeito do matador de
SaulS3.
Poitiuito. nosso príncipe e Poitanto, é pcmitido
todos riás devemos acor- LI I~OSSOpríncipe [oferecer
%ii rer e matas esse iiioiistro. resisténcia] para defendcr
P o m t o , todos tcmos que a si e aos seus, e to<los
resistir a esse monstro, pur- O duque Jorge nós deiemos ajudar e ma-
que má» estarenios resis- odiava » papa do fundo tar esse monstro, porque
Iindo apríncipcs nem a uma do corayáo, disso tenho cer- não est~i~emos resistindo
4 aiitondade tirana. Pois ele teza. nem à autoridade neni ;i
ni<i é autoridade legítima. um iuaiio. Eu sei que (1
porcll~eé uma invaião do pínciyx: Jorge odiava o p;i-
ii\~a<Io constituído por ho- pii do fundo do coraqiio.
mens. Sob o ii~anludo papa, p>-
rém, ele quis governa n2io
para adorar o diabo, ao qual
. .-

;I') V. iiciiixi p. 241, n. 14.


51 ' l i i l v c ~Liitcin tivcsse pii~s;i<l<i
çiii 2 Srn 1.16.
? I(ss:i siispcit;i clç I.ulçri,. ii;i vclil;iilc. nX<r linli;i luiidluncnto nenhuin.
~l('l'.2S,,,I,lO,
( ;ovcniu
ele adorava, mas porque
aspir~vaao Lítulo de elei-
ior. Por isso, devemos ofe-
icccr-lhe resisiência indi-
vidoalmente e iodos em
conjunto, pois náo nos es-
tiii-cini~sopondo neni à au-
loricinde nem a uni lir,mo,
piJrilor todo o tirano p i u ~
cura ;ilguiii Esta110 consti- ,,,
tliído, ou porque soiiierite
iio Estado pertenci toda a
( 1 pap~i.pr>réin,iiáo é lia- iiiitoridiide. 0 ~ Y ~ Y ~ I6~ ~ S L I
<I;# diss~i.Mas iiivrnla pa- [>;idadisso; invenia para si
rti si uiiia autoridade con- uiii:i iiuioridadide fora do ,
1x1 o orhr terrestre, fura iniindo, porque ari2ita pa-
ilo reuio de Deus, ou seja, ra o inferno. Por ihso, io-
iliiruir as ;iliiias, inipelir dos iievem fzçr-llic resis-
.i:; :ilina.s ao iníenio por sua ii.iici;i. Nós debnteinos so-
<:iii.;.i. NZo estamos deha- hre <i<lircito3~ U L . I I I te111 o 2,,
ii.ii<lr>;i respeito do diici- Ilrio, que 1Iie acoriresa erii
i i i . 1iiiasI a respeito do ia- iioinç do Senhor. Beiii. 6
i i i ; se r i piidcrrnos fnzri: isso ilue ilizeni as Icis, i,s-
i;icrrrno-loliris 1ncsnio.spa- s o irdriritiniox; quçreiiios
i:, cc~riic.ivar a paz. debater suhic isso para ter-
ror do\ que, inclusive, agem
cr~iili-;isuas próprias leis.
.Sr o rjvesserii e.stahelcci-
do difrrr~ire.quç ii5o se
Não deve resistir i iiiju\tic;;ii i o ,,,
i ~ i i ~ " ~ ' nabolir i < i > o direito Nós aceitamr~sos d i lória. noi.s o i h i o s ~kfr11-
~ 1 i . l ~iiias~ . queremosal~ori- reiros do imp6iio enós t e ó dei: Visto, porém, que i6i
I;rr Ilros o que é cmo, o11 logos teinos quc adniitir- isso que ordenaram. niidzi
\<.,;i: 1)cvc-sc: p a g a a Cé- Ihes: sc nssún o Uisfitiií- inai, rrsta que: Dai :i CC-
:..ir i , qur t: de C6s.u [Mt
' ' ' I I. .Sc, cle assim r> c.s-
r i i ~ ~ que
i. o curripcun. Se
estabeleceram que si:dcve
siu. o que é dc Cisar [MI
22.211.
,,
~ . i l i ~ l ~ ~yiir i ~ c ~t:unl$rn
rr. 0 resistir :i<, inipcrador eni
~ i i i i i ~ I'i>ir~ ; i . hein! Em 110- caso de iiiiiisii<;anot~íria,
i,!'.(10 Sriihoi; L: prec~so que 0 çiiiiiprani.
< Y!III/I,~I ( 1 jur;unnit~~iioun- Se iiii nisirn que <ir-.cIiik- ,,,
I"'K,</<M: AI leis dzrrri e 1ec1, queremos rii:uit?-los
i ~ i . l i i corretiinientc~ r ~ 110 tern~r,cm noine do Se-
i l r ~i.c <Ic~,c re.si,s/Irao h- iihor, dizendo: Se .&sim , . . 11
1x'c~1<1r iio ciiso de violi- fize.strs. nr.sin~o lcn~les:se
~II<:I ;!o?Iiirk. Herii que g~is- 3 . 1ei.s ti>,c,sc~i> r>i;tr;rs. ~n<íc
i:iii:iiiiih I inlõrniú-lu>, 1:.I 1.,III:IIIIO,Y
: dikrc~~k!; (1irí;i-
I)!:!, I I C I O o I > I ~ C I ~ I ~ I S , lpor- inioh I I I K I I ; N I C ~ ~ C ~ I I I I I I ~ I ~ I
Uchntc Circular Sobrç Mt 19.21
que, se assim « rsriihele- oferecer resistCncia. Con-
cestes, cunipri-o. Que di- clui-se, portimio, que sede-
reinos llós teólogos a ies- Nós. p o ve okrecer resisiéncia ao
pçito' Dizemos: Tambéin rém, iiáo o adinitimos. Mari irnpcrador em caso de in-
s soiiios peritos rio direito. dizemos: Se as.siin o mta- justiça notória c estamos
-\ssini como o cstabe1ece.s bclcce.ste.s, asshpeiinnne- ?e acordo com os juristas.
Ii:s, as.sirn o tendc.~.Se ti- ceiá Se as 1ci.s fi~.sseniou- E vcrd;ide.
i~C,s.soi.sestabelecido ouri-i rr;is, fala~í;~rno,s de oiitro
coisa. ti:ríei.s oiitrii coi.sa. iiiodr).
No direiio [email protected] Einbor;i fosse outra Em quçstiies
réni, as coisas sáo 11erii di- coisa resistir :i« uiiperador particulares a cois;i é dite-
Irçiites. Pois se » doii« do que a ouira pcssoa q u a l rciiic do que erii questões
<li: çssa quer ferir ou iri;i- quer, coino, por çxrrnplo, públicas. Os príricipes tem
1x0empregado, e, por o u 0 pai de família; os juris- a espada. E n l k direin os
, Rolado, for Irido pelo s e r tas admitem ao emprega- juristas: Se algum patráo
vo a ponto dc rnorrcr, dei- do a ~ I c l s açoiitra o p a qucr matar o eiiiprçgado,
xaiiios a cargo dos pcritos trio por lei ria1ur;il. Se iiia e o empregado, iiio tendo
i10 direito se deve ser ab- tiir » patráo. o cmpregndo clinnce de cscapar. matar
solvido. Pois isso i:tinbém scrs absolvido. « patrão, enião n se1i.o de-
, nús a<linitimos que a de- ve ...'-'. Isso tiui~hémad-
fesa é direito iuitirral, r corri miti~nos.EsLuiios dizendo
is.~ocoiicordamos. No sii- ;i respeito de iiosso mons-
taiito, luternos conira esse tso que ele náo 6 essa au-
iiionstro que quer scr con- toridade que deve estar aci-
... ~lcnadopor questões celcs- ma do direito; e se está.
tiais e pelo esçrínio do pei- entâo deve scr umii inven-
to. Visto que não se pode çao do diabo. Poil;uito. sc
IXGK contra o ii;mi~,tam- CIUU conduzir-nos ao iii-.
t<m nào (se pode peau] ícna), ele deve ser mono.
,,, coiitrii esse rnonsiro. Ele inclusive por ii@o popii-
(lçvc sçr morto. lar, por que 6 ...".

[2W] Outro
NZo se deve resistir 3
;rri~~>rilade. A pergunta P
\ i , ,r<. ~lcve rc.sistii- no tirn- Se o li~inogentioqut3-
11,) / I ( )r "lusa da doutrine r q i i ~ i i Cr S S ~e n . s i i l r n ~ i l t ~ ~
(li. 1 h.ii.\. r.r>inoiio w u em ~ por sua conla. pode-.se fa-
<lu<'o iiiil)~""~ior rim110 t?iz zcr resistênc~;i?
N', /V!.Y<~~II;~TO c.sponlan?:l-
rii<.riic.i i ; ; ~p<w ~ "utorni;i<le
,i<> />;i/,:!. , l l ~ l . ~ ~ l l l ~ i l l i c i 2 l t ; ~ ~ i i
p x ' j ~ r k-neste caso, iie-
vc-se fizer resistência?
R. [M. L.]: A esse K. [M. L.]: Sim, por- R. O argumento se di-
iii;iI se deve resistir. Nós que os príncipe<t?m a obri- rige contra o tirano. Se o
icmos a iibrigação de dei- g a @ ~de legar o Evange- imperador fosse Diocle r
xar para nohios descenden- lho aos pbsteros. Os príii- cimo5", se, por si121própria
IL.S essa doutrina e a Igreja cipes devciii resistir ao ti- iniciativa quiscsse opriniir
Ihc~iiconstituída. rano iio que diz respeito à ess.1 doutrina e nZo qui-
primeira tábua. O impera- sesse que fosse tolerada cm
dor ou Fernandos7 lia ver- seu país, pode-se Fazer r e iii
dade só visa nossas pus- sistEnçia? Esse argumento
sessões, no eiit;uito. sob o prova que se deve resisti.
pretexto do papa. Aqui lu-
ta igual coiii igual'x.

C)udquer pcsson ser- Por outro lado, nossas pro-


I i. :! (?isto pur meio do posiçGes dizem que nZi) se
1x1~'. i18 bebida e oii&>i.s n>i- deve rcsislir e o provam. :o
\;I\. »;I rnesma ti~i~iinor porque toda pessoa. Iantu
/ ~ ~ ~ i ~ i i l ~ c s sae Cn\to rven~ o sudiio quanto os pruici-
I ~ >111cio I da espada r ca- pcs, deve propagar a Igre-
i~:!ki,s. Cristo, poréni diz: ja e servir a Cristo com
"N;loresisr;ris ao 1nai"[M1 todas as suas fòr~as;por 21
i.i')/. Logo, nZo se lhc de- essa r;wHo também deveni
vi. rc.si.sfir. resistir ao tirano. Cristo, po-
K. LM. L.]: Cristo rém diz: "NZ(i rcsisrais".
~!r<,ílica vingança priva- Não fala de injusti~ario-
iI:i. O imperador e outros tóiia. Emhoraainda n2o se- 111
sciiivllraiites visam a nos- ja esse o caso, debatcm,
siis I~OSSCS.Querem ser se- todavia, sobre o direito.
iilii>ri,s.Sohrc esse asuii- Que seja O imperador e
l i > ili~vciiiconsultar os pe- Femaiidos9 lutam sob esse
t i l c , , . ~ . I I Iilircito. Não obs- título do papa buscando 1.

i.ii11c. <Icvc-se resistir no seus prbprioi intersssa; por


, . I . , < # C I I I qtlc a p u ~ z a da isso existe a luta pela pos-
i l i t 1 1 1 1 i i i ; i ci-istli estiver en- se entre iguais. Visto, po-
Viilv~~l:~. rém, quc está sendo per-

'>i, Ilit,ih,<-i;irii>,
imperador roiii:mo de 284 a 105 (rriiiínçia).Em 303 proibiu o crislkd~imo,i>
lcv<tuii um;, d i ~ npemeguiqXo aos cristãos.
<(i,?
> i I,Ci,,;iri<lr>I (1.503~156$), imdo ilo imfiic~idorCarlos V, aquidoqiiç da Austria (1511 i, rci
iI:i I%i>í.nii,ic ila Hungrin (1526), elcito Rri roiriano (1531). lugiutenentc dc Cirlos V ii;i
illrfii:iiilio <lul;iiiii a aiisEncia ilcsic: iinlxr;i<li,i ali6~a riiinci;i CIO iiiiiXo (1556).
'iX lissi. ~ ~ \ I x M IconIC~u
s ~ , J , ~sirri~ilt;iiic;iii1~111~
:I risliosla ao ~ii-oloci>lc
A, ;ir#iiliriilo ?I.
'i0 V. ;ii.ilii:i [i. 57.
Debatc Circular Sobre Mt 19.21
guntado se se deve resis-
tir-lhes por causa da dou-
hina, primeiro, porque nos-
sa conclusão diz que não
L227 lb,jeção se deve resistir ao supe-
O principe-eleitor 6 O p~cipe.ele;m, é "or que, embora sendo elei-
como unia pessoa privada como iima pe.ssr>ap~ivada tor, é Pessoa privada em
n n ielaçáo ao i~nperador. em relapTo ao iinperador reka~" ao não
Logoopruicipe-eleitorniio Logo, riáo se exige dele deve defend5r-se, que di-
o devedefender-secasooim- que se defenda contra o reis
a isso'? E isso que Os
perador fizer girem cr111- imnperador, porque C~istst« J""~~
Wd ele, porque Cii.$to diz: diz: "NZo é permitido ie-
"Náo re.si,stUii,aoinal, irias si,stir ao mal" / M t -5.391.
consel~ficoni ele".
I Dc~ilredois pecados
épreci,sofugir do niaisgra-
ve. Se ospiiíicipes náo de-
fenderem r1 mais grave, pe-
clun. Logo, devem defen-
der o pior.

R. [M. L.]: Nós teó- Nós


logos não o aconsellian- teólogos, porém, não o
mos, mas direinos que c a aconselhariamos, mas di-
da qual deve fazer o que ríamos que o principe o
R. [M. L.]: Nós atir- diz Ciisto: "Não resistais deve suportas, de acordo
mamos que quilqucr pes- ao mal". Esse conselho, coin a máxima: Não resis-
soa deve fazer 11 que çs(i porém, não tem çahimenlo tais à autoridade. Visto, po-
ver a seu alcance; a nós, por enquant«, porque ain- rém, que isso ;linda não
'11 porbm, por não sofremos da não 6 exemplo em uso. está acontecendo, que ain-
Ilais ameaças] da parte do Os juristas dizem: da não começamos a falas
imperador, falta o fato, por do iinperador, essc conse-
mais que aquilo que o im- lho não tem cabimento,
pirador fa/. seja feito por Visto que os eleitores são porque o imperador não o
1, causa do papa. O princi- membros do imperador, fará, a iião ser por causa
~pc-clcitornão é pessoa p n eles f z e m paite do imnpé- do papa.
v;ida, mas os sctc cleitores no. Logo, podem fazer re-
s$Zo iguais ao imperador, sistência.
s:io partes constituintes do
iiiil>i'ador.O imperador é Permitimos que uma mão
:I i.;ilicç;i, eles são metn batana outra porque as leis
Iiir~s,cir. 141is fazem paile assim o estabelecem. Se, Cristo fala prop~.meiiiç
IIO i i i i l ~ k i ( l ,logo tainbém poréni, o imperador Diocle dos gentios. Se Dioclccin-
s;io I';II-ic r111 iiiipcradrrr. Eii ç i ~ n o (quisesse
~ inatas o no dissesse: Scgurainciilc
<;<ivemu
i;iinbéin sou um rlcoio, pois yvernador por causa da tu és cristáo, por isso te
se uni dedo quer p e r l i ~ m Ialavra de Deus, que deve matarei, por caus;i dessa
o olho, o outro o Impedi- àzer'? Que ccd;i e náo re- fé, isso deve ser supoita-
15.A mesma coisa aco~i- ;ista. Nossos príncipçs, po- do. Esse argumento resol-
tece na constituiçáo do im- em, não são gentios, mas ve muitas questões, por-
pCiio. Hoje, as autorida- odos sonios cristãos de que nossos príiicipes não
des são pessoas cristás c gual modo e devemos re- sáo geiitios, inas devein
nk) gentias. têm o mesmo ;istir ao tirtmo no que diz culto a Deus por igual; eu
dever para, juntamente com .espeito i primcir;~tábua. somente sou parte do im-
o iinperador, coibir as blas- Te, porém, se co11ilo11l:u- perador e sou constrangi- ,,
Icinias com a espada. Ca- gual conn igual, aí e~iláo do a dchnder o Deus su-
da qual deve pôr-se a scr- lucm ganhaganha, mas es- premo. C;iso se nd111ite a
viço do combate is blas- ;c LI é 0 caso, conno se opinião dos juristas, todo
Icinias contra Cristo, mas iossas autoridades fbssem cristáo deve servir a Deus
cssc caso náo é imiriente. :eiitias; no ciitnnto, sáo e propugiiar a primeirti tá- ,,
Nem cspcm que vá ocor- :ristãs. l'ortanto, defcndc- hua, quem quer que seja o
ivr ino fuhu.o o caso de clc nos q ~ i cnossos príncipes chclc, o imperador ou al-
rgeni c«rret;inieiite se de- guém outro. Antes do dia

.,
iisistir a Cristo coiilra a
~~iiiiciiti tábua. Pois náo é knderein a paltiviri contra derradeiro não acontecerá
i i iiiipciador que irá lutar :ssc derradeiro nionstm. que algum Diocleciano irá
<.oiili-unós,mas, sim, a au- lot;rr c«ntr;i nós, mas per-
tirridade papístiçd por cau- nianecer6 o papístico quc
\:i ilcsse prclcxto. Todos so- quer defender essas hor-
iiii~scristãos por igual, eu rendas blasfêmiiis do papa.
i. iii; e se eu dissesse: Tu 21
i.s cristáo, por isso uei ]na-
tili--te, quc havcr5.s depen-
.;:ri sobre isso:)

123" Contra 7 ill

'is - as v&ils
. .mo Joslas ,7511 >L(. virgens
(IUC. scgiicni ao Cordeiro que seguem ao Corclcim
"'.
<li. 11i.11~' 0,s u,sados, (Ap 14.4). As pessoas ca-
/"""lii. ""I"" virgcns. Lo- sadas n;io sZo vkgens, jwr-
;,C, <.(ii!ji~~>c,sniiO seguem que as charna de c«ntanii i*
. i < 3 ( ;,i<h.iii)rie Deus. iiadozis. Logo a,s pessoas
casadas 11ão seguem ;io
Cordeiro.
I<.I M. I,.]: Aqui está [M. I,.]: No Apoca- R. Essa passagem fii-
,.t. 1 ; i I ; i i i i l i ~<kisvirgens
cs- ipse nXo se fala de vir- Ia dos Iioincns ri&>m u c o 1i1
itiiiiis, C essas virgens :mscopor;~is mas espin- la<l«s. Logo, rikrc-se :is
si.):iiciii i10 Cordeiro de .uais, quc seguem ao Cor- virgeris espiri1ii;iis. Port;1ii-.
I >ciis. isso C, elns siio p z - ieiro para onde quer que 111, n;i<ldsc coiicliii cnii1r;i
ii. i. lifio seguem às mere- :le foiAi, iiós, C cssiis virgciih ~ c ~ i i c i i i
Debate Circular Sobre Mt 19.21
frircs ou a sua doutrina. ao Cordeiro, isso é, são al-
riem a falsos profetas, nem mas puras no santo verbo
;idmitein qualquer mestre de Deus; elas não scguem
ou doutrina a não ser a às variadas doutrinas das
csse Cristo; isso é, quando meretrizes. Mas Cristo te-
as doutrinas poluídas hou- ria dito alguma coisa.
verem cessado na Igreja, isso C, cessarão as
Iiiiverá,almas puas na dou- douhinas sujas das mere-
trina. E a mesma coisa co- trizes, a fé dessa natureza
I rno se dissesse: Haveriuma ser6 custa, não ouvirio nem
Igrcja nii qual as virgens admitirao nada senão a ver-
serão purm na doutrina e dadeira, pura e sã doutrina.
na fé em Cristo, que se-
guem a csse Cordeiro pa-
ra onde ele for.
Agostinho entendeu Por outro liido, Agosti-
isso como dizendo rcspei- 11ho~~,o bom homem, en-
to 2s coisas corporais6z.Tal- tende:~ a passagem como
vez essa não seja a opi- referindo-se a virgens cor-
nião verdadeira. Pois, co- porais, o que, no entanto,
m« podem virgens poluir- não poderia; mas a piedo-
se com muihercs? sa santificação do homem
santo, ainda que não ver-
dadeira, mas (lacuna) scri
naquele tempo, pois que
as poluídas doutrinas das
meretrizes cessarão e se-
rão o motivo de as vir-
gens nada admitirem na
Igreja do que a verdadeira
e pura doutrina.

124" Outro
contra 33
5 XKICIaquele que ma- 7òda pessoa privada
/;i ririi sci- humano peca. que cometerhomicídio pe-
I.OI~CI. yir:ilqucrpessoapnr- ca. Logo, quem mala urn la-
1icril:ir i/rre maia em defe- drãupecu, porque João diz:
si1 />rií/>'"' peca. "Todo aquele que niatanão
10
tem a vida" [I .To 3.151.

O.' I A . ,r:iiti.l;i virg;.i,~il:iicc. 27 (I';itr<il. lat. 40, p. 410s.). - Ago.stinho (354.430). u,rnais
:i~iii~osp;~ir
i i i ~ l > < ~ i ; i i i iil<is
i, (Iriilo>gos)da Igreja ocidcntai (de laia latina), ?atural da Africu
<I<> Nctiii.. ci,~ivi.iiidi, ;ri crisii:iiiisiiic, çiri 3x7, hispo de Hiponu, ria M n L a do Nnrtc
I t r I i 1 ~ 1 l ; u (YIL
{')'i,
l < , ~ ~ t < l i ~~ ~( Il < {*)f~l.
R. [M. L.]: A autori- [M. L.]: O ladrão de- R. O ladrão só pode
dade ordena resisti à for- ve ser morto por ninguém ser morto pela autoridade.
ça injusta. Pois todo a q u e senão pelaautoridade. Por- Logo, toda pessoa que se
le que mata um ladrão na tanto, quem se defende defende na estrada exerce o
estrada, exerce o ofício da quando está viajando e o ofício da autoridade. Neste i
autoridade do príncipe, co- mata, executa o ofício da caso qualquer pessoa é pRn-
mo quando alguém matas- autoridade, pois, se a au- cipe e deve inatj-10, pois
se a Kohlhase6'. Terá pro- toridade estivesse presen- se o príncipe o tivesse [nas
cedido corretamente. te, faria o mesmo. mãos], certamente o ma-
taria. Por exemplo: se ...64 111
atacar alguém, se puder,
procede bem se matar o
ininnigo em nome do prín-
cipe, inclusive se for uma
pessoa privada. 1s
L259 Doutor JonasG5
Contra 24 Contra 1 e 24
Aos crjstáosnão éper- Fp 3.201e 1.271: "An-
mitido possuir bens pró- dai dignos do Evai~gelho,
prios, muito menos adnii- nossa niorada estáno céu". Paulo diz em Ef 3 [sc. 211
11ish.ar sua pxípria casa. Logo, não épennitido aos Fp 3.201 que nosso poli-
Isso se prova com Pau- cristiíos ter bens próprios, teuma, isso é, nossa mo-
lo aos Filipenses, cap. 3.20, proíissóes e propriedades, rada está no céu. Logo, o
ondc diz: "Politeuma, i s isso é, não devem e.siaro~.u- cristão não deve estar ocu-
so é, nossa morada está pados com assuntos fami- pado com a administração 2s
no céu". Segue-se daí que liares. da c a s ele
~ deve e s m p m -
devemos manter-nos afas- cupado c»m o céu. Parece
tados de qualquer envol- que isso thinbém fica pro-
vimento com bens exler- vado em M z o s 2 [sc.
110s e que não rios deve- 1.16ss.1, onde os apósto- 111
iiios ocupar com questões 10s são chamados depois
civis ou mundanas. Isso é de haverem abandonado os
coiilirmado por Marcos, R.@ "2ndo abando- barcos. Se ihes f a s e per-
GIII. 1.16ss., onde Sunão nado os barcos e tudo, Si- mitido fazer uso dos bens,
L. Aii<lr&seguem a Jesus mão e André seguinun a não teriam abandonado lu- ir
C lc.liois dc haverem aban- Cristo" [Mc 1.16ss.l. do e .seguido a Jesus.
~ I ~ N I ; I < I oludo.
l i i Irizio Koh1li.w. comerciante, tomou-se guerrilheiro que espalhava o terror principalmente na
S:iiiCiiia çleitora. Preso ardilosamente em B e r h , foi condenado e executado em 1540.
l r l A Iiicuoa deve ser preenchida com o nome "João Kohlhas" (cf. acima n. 63).
lfi . l i i s l i ~lonas (1493-1555). teólogo humanista, inicialmente ardoroso adepto de Erasinri.
Iksili 1520 intiuenciado por Lutero, passou a dedicar-se à teologia. Scus profuiidos conhc-
ciiiiciil<isjurídicos foram postos à disposição para formular diversas cr~nstituiçi~s cçlisiis-
licas. Foi tradutor de várias obras de Lutero e primeiro propugnador do inati-i~ii<inii> iIc
s:icciiloles. Esteve junto ao leito de iniiriç de Liiteir>,prtifcrindoaalocuçãr>liitichiii: ciii 1iislclx.ri.
li0 ('i>iiii> s i pode dedurir ik> prolocoli>A. inãi> s i trai;! dc rc.s,>iaisiorii10 Iin,lr,ocliiç, iii;is (Ir
i'n1i1"'>v:lç">.
LSX
Debate Circular Sobre Mt 19.21
R. IM. L.1: Há duas R. IM. L.1: O cristjo R. O cristão. como
hrças no ser humano, 3 vive COLIIO cristão na se- cristão, vive somente na
canie e o espírito, o ho- gunda táhua; somente fora primeira táhua e na mora-
mem carnal e o homem do reino dos céus ele é da do reino dos céus. Lo-
.. cspirih~al.Por isso deve de- cidadão deste mundo. go, nosso politeuma eslá
pender do homem espiri- somente iia primeira tábua,
Lual se püe sua vida a ser- isso é. no reino dos céus;
viço das coisas celesliais e fora da primeira táhua, po-
para que tenha siia mora- rém, ele é cidadão deste
I da nos céus. Pois o poli- Por- mundo enquanto vive. Por-
tciima celeste está na pri- tanto, teiii ambas as pá- tanto. o cristáo está sujei-
ineira táhua. tnas, uma como sujeito a to a Deus pela fk, e ao
Cristo pela fé, oulra corno imperador pelo corpo.
sujeito ao uiiperador pelo
coipo.

[26" Outro de Jonas


No liindo, opapa,
enfio. sena um inonsfro
t ~.ornpleto,que calca as lei.?
aos pés e que qiierestwsu-
jeito às leis de modo no-
vo; no entanto, wn parte
~1geinaé tal. a nùo serpes-
,. .soalmente. Vós, porém, Sa- W.s fiaeis do papa um
zcis do pap? urna fera táo monstro, o que, na ver&-
mo~~shuosa como jamais de, ele não é. Pois pessoas
foi v»to nem oiivkio. Es- inais sen,saw.c.queintegniii
ci-iture.smais sensalos, po- o corpo do papa, escrevem
I rkn, inclusive cardeais, es- que ele esti sujeito aos con-
cievem que o papa está cílios, e que também está
sujeito às leis e aos concí- subordúiado a direitos e
1io.s. Portanto, vós. que o Iris.
de.scieveis de fonna rjo
v. Inonshuosu, Ilie f z e i s in-
.jusriça.
R. [M. L.]: Nós pro- R. [M. L.]:
vanius, a paifir do Direito
C:uiGnico, que o papa é
isso mesmo e que é uma
l'crs que quer perscrutar os
cscríiiios do peito. Julga Estamos fiamdo do COTO
~ i i i i h ao piipa a cxemplo do papa. não queremos ter
ilc Cristo: "Da tua hoça, urn papa pessoal. Pois es-
i ctc." [Ir 1'1.221. Dccrct»: crevcm o seguinte: Ne-
N ~ i i I i i i r i isíiiixlo csi5 ;iciiii;i iiliiiiii sínodo pode julg;u
Guvcmo
do Certo é que o o papa. Ele também quer
hoiiiem que quer levar inii- que suas opini0es injustas
mera\ alriias ao inferno e sejarii adoradas, qiie todas
quer que todas as leis s e tis 10s sejam consideradas
jam iniustas, náo está su- injustas diante rle sua von-
jeito 3s leis; prcteude que tade, que suas Izis injustas
todas as leis sejam injus- sejam consideradas justas
tas e recusa a sinta dou- e que as justas sejam con-
tnna e o juízo da Sagrada hideradas injustas. Assim
Escriluw. Portanto, o pa- recusa o juízo da Sagrada
pa E an6mico, porque n i o Escritura, das leis civis e
apena:. se coloca aciinii de do direito iiaturai. Purtan-
toda\ as kis, mas cmMri!. to. dcveriris drfinir o p a ~
confonne suav~~nlade, aci- po como sem-lei. Se al-
ma da Sagrada Escritura; guém cila alguma coisa da
quer que todas as leis se- Escritura, ele o julg:! e con-
jUm Calsai. dena coriio heretiço. Por
quê? "Porque coi~traianu-
nba vontade.'' Assim, por
exemplo. condena como
heresia o Sacraiiieiito eiii
ambas ai espécies.
O imperador
não faz isso - p i s a com
seus pCs taiiiliém as leis
da divuia Majestade, an-
tes deseja ter justiça. A or-
dem (10 papa, poréin, é a
seguinte: "Assim o que- "As-
n), assini o ordeno, a von- sim o quero, asqim orde-
kide em vez da razão"hR. no, a vontade acima da
Ele .simplesr~ientecoloca- raráo""". Eis a definiçáo
se fnra da lei. O turco n5o (10 papa.
calca seu Maomé aos pés, O papa é um monstro
:iiites o venera reverente- porqiie quer estar livre de
iilçnte. I I I : ~apenas aquele toda Ici. por assini dizer,
iirso-lobo e arklulh-o.?. Se Eor;i da lei, qiiuido inclu-
<~riiscri~io.? f a a r do papa, sive os anjos estZo sob a
/c.iiios que fidar da ano- lei de Deus. Os papas quc-
iiiia. porque niis, corno ale- bram [as leis?].
!iiZe.s grossrim. vivenios
sçin lei. o que sequer um

(37 A frase iião se encontn com esse tcor no Corpus iiiri.7 c;uiori,L.i Siii ciiriicú~l~i
orircsliiiii<lr
;i r. 4 X (Dccre!. Greg.)dc electionr., 1.6.
(iH ('I:Jitvcnal, S~íiimi.V1.223.
Debaie Circular Sobre Mt 19.21
tiiano faz. Scia o aue for Embora al-
o que escrevem os escn- gumas vezes os cardeais
iores e cwde:iis, elç n3o escrevessem coisas boas a
está sujeito [is leis], L' /,se/ respeito do papa. IIÓS di-
~.ssoacorilece [é um] aca- zemos o seguinte: Uma ga-
so, assim como uniii pili- Iinba c e s também acha urn
rhn cega rariil~macha iiiii de vez em yituido. O
grão <te ver em 1ju:uldo. próprio papa miiipe com
Isso se pode perceber no todos os concílios. o de
I Concílio de Constançah', C o n s t a n ~ a ~o~ ,de Rasi-
onde (r& hispos lhe escre- léia7"
sem. mas ele faz (I que
bem lhe ;!grada. Ele aTe-
benta todas as alinas e so-
I mcnte 16 a Escritura para
destruir a\ dmas. Ele tmi-
Elii se chwiia a si mesmo
de servo dos servos de
Deus. Da maneira, porém,
t como clc o C, isso se vê
iiin'ieiiamenre.Não ohs1;ui-
tc, por iiiais que lute o pa-
pa e dissolva as leis, Dcus
preservou o Evangellio.

Depois toma for-


ça todos os episcopados,
avança nas coisas públi-
cas. Assim, não somcnte
é seni lei. mas ainda rom-
pe com toda iih leis. to-
dos os direilos. Ponanto,
ele é o diabo enc.mado.
Logo. deve-se resistir-lhe.

[27" <Outro de .lonas


O poder que verri em O poder que conbi- A constiruição7' </:i
l>cnefício da doutrina deve bui para a conservação da Igreja que é iítil para con-
.;cr prescrv;id» na I p j a . doiiti-inzi pura deve serpre- servar a um'dade deve si,
"' O p;';ipaé u n ~
p~>derútilpsi;l servado 11.1 l g e j i . O I"- pre.sen,ada. O q i m e (10
;i <i<iuliii~;i.
Logo, rle deve <!<,r <lupapa foi irr.stituído papa é úhl rie,y,se .smiti(k~.
\.c ~rcscmsdo na Igre;:#. cor11 essa finalidade. Logo Logo, etc. Provo i.xs~>)xl;i
~

1i'J1414 131X. 1)ci'cziilcii < i c<,iiçili:ii-isliio: o papa cst:; ~iibord~iilo ao c<incílii>gçc;il.


/O 1.1.11 11.1'): iI<:lc!~~lco. crioir, o l'i?rti.ilio <Ic ('<tiist;uiq:i. o concili;in.\na>.
'11 No ~ ~ ~ ~C ' ~ 1 ~ 8 Il i . 1~ L ~ o I;N)\o i ~ r g u a ~ ~ c 26
~ p;!r:~lcl:#\
0 1 :I< n l uc~28.

20 I
deve serpreservado. A pm- experiência, porque os he-
pria experiência ensina que réticos não ousariam o que
essa monarquia foi útil pa- agora ousm contra homens
ra a Igreja. probos, depoi.7 de rejeita-
da a autoridade do papa. s
Respondo [M. L.]: R. [M. L.]: A mo- R. O regime e os pa-
Essc poder monárquico que narquia não foi útil para ;i pas não sáo úteis para pre-
o papa possui não é útil. pureza da doutrina. Pois a servar a unidade. Deus, po-
Deus, porém, preservou o desagrega e é destruidora rém, a preservou contra a
Evangelho apesar da relu-
tância do papa e apesar de
da doutrina; conwa a von-
tade dele, Deus preservou
resistência do papa, e pre-
servou de forma admiri-
,
dissolver todas as leis. Por- sua Igrejrelii sob essa tirania vel o texto do Evangelho,
tanto, se lhe deve resistir, e o que sobrou da sã dou- da absolvição e dos sacra-
pois é raptor dos corpos e trir~a.~~ mentos. Logo deve-se sim-
das almas, é um monstro plesmente resistir-lhe, por- ,,
útil a nenhum ser huma- que quer arruinar corpos e
no, mas deve ser moito por almas. Quem, poitanto, o
todos. defende, defende o usur-
pador de corpos e almas,
que, depois de arrancados ,,
todos os bens, lança as al-
inas ao inferno.
128" Outro contra 51
O papa abusa de seu
l~oder.Logo, ele tem d-
gum poder.
R.: E um poder igual
ao que tem o urso-lobo.

[29" Outro
Não se deve tomar as A espada niío foi en-
:iirii:is contra os manda- begue ao súdito. Logo não
riii.liti~,sde Deus. Tomar ar- pode usá-la pwd defe.sa.
iii:is contra o papa é con-
1i;Nio i111 mandamento de
I h.iis. Logo, etc.
K. [M. L.]: Ele pró-
~"io (lçline: é autoridade e
nl:i ciii vias de se tomar
1ii:iiio; sim, é mais que ti-
t:iiio aquele que impõe um
~~uclci- injusto e não em-
IK&Inenhum direito im-
~lçrkll.
Debate Circular Sobre Mt 19.21
R. Como dissemos
acima a respeito dos juris-
tas, a espada é dada ao
súdito contra o imperador
e pelo próprio imperador
no caso de violência in-
justa notória. Se eles en-
tregam a espada contra si
próprios, não quero defen-
dê-los. Se não o tivessem
esiabelecido desse modo,
não diríamos que seria cor-
O que o imperador reto. O que o imperador
estabelece esti estabeleci- doou, doado está. Se al-
do. Se ele distribuir tribu- guém oferece.$.se seus do-
Los, honrarias e diNdudes, tes reais, o que os recebe
fora! Se não o quer, que não comete injustiça. Se
os receba. E quem não iria ele os deu, vamos usá-los.
iiceitar quando se lhe dá. Portanto, não é pecado, pois
acontece pela vontade do
imperador. Se tivesse cons-
tituído outra coisa, a si-
tuação seria melhor. Que-
remos que esse terror per-
maneça sobre eles. Nós fa-
lamos o que é natural. Vis-
to, porém, que eles assim
o institukdm, instituímo-lo
nós também.

[3W] D. Cr~íciger~~
Sendo o papa bispo O papa é o bispo ro- O papa é bispo roma-
fofii;ino, ele é autoridade mano. Logo, é autodade, no. Lago, é verdadeira au-
i.i.lcsiií.stica. Logo, é ver- logo, também tem o direi- todade e, por consequên-
r lhi lc.ici auton'dade. Por to & c r i a ordens e leis cia, iem o direito de criar
c .oris~~tlutncia tem poder de juntamente com seus bis- leis que dizem respeito à
i,istifiiir leis eclesiásticas pos no que diz respeito à eutaxia, ou seja, à disci-
i<.,s/rit;uitesà disciplina. disciplina. plina eclesiástica.

i l i >i,vp:uCriícigw (1504-1548). estudou em Leipzig e em Wittenberg. Em 1525 iomou-sc


~uc'~::aliri. çni Magdeburgo c a p& de 1528 é pregador e professor em Wittenbirg.
I';iiiirip>iiclii çqiiipc dn tradu~kj>da Ríhlia e foi líder da inuodução da Reforma cm hipzig.
Sc~iipiipriscniç cin iiioiiiciitos dcçisivos da Kefnrma, palicipou, em 1540141, juntaiiiçiili
i i , ~ i iMrl:iiirliilii>ii,ilc t i s calíxliiios religiosos (com os ciilóliç«s) ein Il;igenaii, Wi,riiis r
l<;tiisl~m:$
(I<cgr~lsh~~r):).
Debate Cir~xlarSobre Mt 19.21
conua as própnai, isso i.
pior do que o tirano. Por
que fazeis distinção entre
papa e bispo?

131" Outro do
doutor Crúciger
As leis v;ilem por As leis valem por As leis valem por
aprova(rão. A Igrrjn tiit-ira aprtiva(ião. As 1ei.s dol>on- apruv~~gZo. A Ig-ja aceiia
1 3,s leis rio ponbfice. Logi7. rífie são aceitaspel:~Igrr- as leis do papa. h s o .
valem e sUr> aprovadas. ;:i. Logo, c.su;is leis valoii. R. O modo corno ii
Respondo [M. L.]: R. [M. L.]: Os livros Igreja aceila as leis do ptt-
São leis aceita, não, po- e os gemidos de muita gen- pa atestam os livros de mui-
rgin, pela Igreja verdadei Le hoa moshain de que mo- ta gente boa e o gemido
1'. ra. E verdade quc a Igreja do a Igreja aprova as leis. dos que clamam coisas iiie-
as accita, mas incoiiliveis Os que, no entanto, as apro- r i d v e i s . O povo as acei-
geriudos desses homens re- varzun, não o fizeram dc ta porque Ihes atirou uni
ve13111[como a Igreja acei- livre consciêiiciii nem fo- naco de carne. como diz
i;i as leis]. ram n Igreja. Daniel, cap. ?74. E Ihes da-
rá poder, e Ihcs dnr,? rsi-
nos, mas os reslantcs cla-
maram.

[32" Outro
Paulo proik a vingai- Pauloproik a vúlgan- Paulo p r o k a vingar-
$"". Resistir ao mal épar- (.;i. Resistir ao mal é p a f c çii [Rm I 2 191, mas resi,~.
lc d:i rZingm$a.Logo, P a u d:i vingança. Logo, nZo é /ir ;ia mal é parte da vui-
10 PI~JIIP resisli pdrliiitido resistir a« mal. giuip ou rim aspecto (</c-
Prova: Essa i ~ i n p - P:iuI» djZ: "Nán vos Ia). Logo, etc.
$,:I (1ti.sinferiores COII/IU (1,s vu~guej,su VOS nirsr1io.s'.
siiperiorc' 6 excluída pelo IRm 12.191. Se nenhum ci- R. [M. L.]: Visto ~ i i c ,
~x)<ier da autoridade. Dcs- dadão deve .ser ~iiolestarlo. na verdade, agora todos s50
.sc riiodo se dista a cniz, ficamos sein cruz; no e n çristâos, se todos deveiii
iirits a cruz nZo deve ser lnnto, a cruz IIZOdeve ser rcsistir ao mal, segue-se o
:iIDs/íid;i; se nenhum cida- tirada. afaslamerito da cmz. Queni
(130 podc moleslar-me, es- então quererá sofrer pr>r
~:i,i.~iio.s fi~rada cruz. Se, causa de Cristo? No en-
I<iil:ivi:i. a c m de Cii,st<i, taito. a cruz não deve sci
ii20 (11i.sr;irirr:(leve .serafas- afastada, é preciso que os
1;1rl:i, cii riic.srno tnrho que cristãos sofram por caiis;i
ri!,. it~lligii.,soíiiriiento. de Cristo. E verdade, iiiiii-
Governo
IR. M. L.l: A auto+ , R. IM. L.li É verda- , to sofrimento de cmz é ti-
dade'& podecorrigir tu- de, inuitai cmzes sáo afa- rado dos crentes por meio
do, por isso somos obri- fadas por boas autoridades, das autoridades, no que se
gados a sermos molesta- no entanto neni todas. Pois refere ao sofrimeiito exte-
dos algumtis vezes. rior. Pois não estou falan- 3
do das leiita(.òes de Sata-
ni?. Nio ohstanre, ela não
estií afastada de iodo; mui-
tas coisas acoiitecem por
causa das pcrlídias, qiie não 11)
podem sei- julgadas pelos
p ~ c i p c snem podcm ser
todas trazidas ;I Iiime ou
provadas. NZo se poilr h-
pedir tudo. Mas sonios 1s
obrigados a presenciar mui-
permanecem as rii:~ldedes ta.~coisas c sofrer, como
dos vizinhos, e. essas não as tentaçóes da carne, údio,
(:orno sc diz: Qucni tem podem ser proibidas. Mui- inveja. Qiiem qiii.seer im-
qiie Iirtiu sempre, jamais ras vezt.; trniin que sofrer pedir n ludo js.s<t. esse ai
ptdc cnibainhar a esp;ida. o que não devciia. Qurrii jamai.~"' deve einbainhar
A ;~iitoniiadenão pode en- qiiiser castigar snnpre, jti- sua e:pada; tamMin per-
r~~rgaroiiwlem todapule, ni;i~,spoderi cinbainhar ;i manece a cruz doiiiéstica.
< * I ~ I ct;rn7ki7?
> ri.% o lxn?. erp~da. NSo obsmiie, é verdade qiie
O nxlli nutigado. a cruz t' riutisada sob au- 27
diminuído por boas :luto- tondades prolias. Detis quer
cidades e isso é doiii de isso. Se, poréin. dá aiitori-
Deus. Sc tivennos autori- dades mis. teremos c m
&lides más, isso lambérii é ainda pior.
ira de Deus e de sua von- 31,
tade. e entâo aumentti a
CIllZ.

[33" Outro
' l i ~ tilo
k ~ de concupis- Todo ato de concupis- "
i-i,ra-;;i i: ~?c'c"ido.O inaEi- cência épecado. O ato con-
ii,<>,iii! I , ;i10 da concupis- jugal é uin ato d e concu-
,.,:,i, .I;!. 1,,>go, c1c. piscência. Logo, etc.
I). M. I,.: Os papis- [M. L.]: Os papistas R. [M. L.] Os papis-
!;i\ ioii\iilci-;un o matnmô- coiisidem o inairimôiuo tas chamam o matriniônio ''I

i i 1 4 ) iiiiiti iiiiiindície. no en- uma iiiiundície. Eu gosla- dc imundície. Eu gosltuia


i : i t i i < i c,ii gostaria de slikr na muito de saber por qiié. muito de h a k r por quS.
I K U q11c razâo. Pois o côn- Se essa uiiiio é iniundí-
Dehntr Circular Sobre MI 19.21
juge e sua parceira são uma cie, entâo é uma iinundi-
sú carne; imundície se cha- cie divina. Quem, todavia.
ma aquelti união fora do diz que Deus ordenou uma
matrimônio. não, porém, a imundície, deve Lrafiu--,~eda
união divina. que é orde- O casamento iião pode ser concuspiscência. E entre-
rwdi por Deiis. A pergiin- uma imuiidicie porque é tarito, é verdade. Ma\ c1;i
[:i :igor:i é. qual das con- ordenado por D r i i Evi- é perdoada por causa da
cupiscêiicia\ é a pior: aque- deiitciiieiite existe a coii- fmnlidade da uliião cun-ju-
li1 que existe no niatrimô- cupiscênciti. No entanto. a gal. Mas no celibato ela é
1 3 nio, que iião ardr, mas so- concupisc6iiciadelesnoce- mais imunda, mais torpe e
fre lima concupiscência libato é muito mais fedo- mais ardente do que a que
moderada. ou a ouha, fora renki. imunda, torpe e ar- existe na uniao conjugal.
do inatrimõiiio, enire os pa- dcnic do que a que existe Pois se quiserem falar de
pistas, que arde dia e noi- no iii;it!im61uo. iiliiindície, deveriam d o m -
, te pior do qiie ;i qile cxiste 11;ii sua hoca blasfema, por-
tio rii~rruii6niu.P e ~ otani- que toda a ordenança de
bém que mobtrciii que ela Dciis é pura. Deveriam di-
6 c h i a d a de imundície, zer: Nossa concupiscêncin,
visto que também o celi- seja de dia, seja durante o
!i) bato dcles é imundo. Pau- sono da noite, no celibato
lo diz: "Todas as coisas O casaiieiito é pure- é imundície. A união con-
são puras p;u-aos puros" za, porque é uma união di- jugal, ria verdade, é I>W-
[Tt 1.151. Pois Dcus miti- vina: dl:iii disso 6 uma pu- zn em ~omparaçãoao ce-
eou [a concupi.wCiicia] p- reza purificada por Cristo. libato. E pdpAvel que Deu\
-, io i;ito de os ter criado ho- mitigou o pecado da con-
mcm e niulher: iião obs- cupiscência por rileio des-
tante, pouem, esse urso-lo- sa iiistituição, pois criou
bo o charna de imundície, Embora esteja presentc o homem e mulherpara quc
o que Deus chama de cas- pecado, é blasfêmia cha- estejm juntos. E o umo-
tidade ele chama de polui- má-10 de imundície; assim lobo que fala assim. O quc
$50. .só pmir falar iirn urso-lo Deus ctiama de santidade,
bo. A ele clirnpete desuuir ele o cliniiia de poluição.
todas as uhras de Deus.

[3jP]Outro
O abuso não anula a O abuso não anula ;I
siibstiincia do fato. Vós, p- substância da coisa; vós.
rim, ;mi!lais a substiincia porém, anulais a sub.st;ui-
(k) fato por causa do abu- sia da coisa por caus;i i10
I .so. Logo, p m e d e i s inju.9- abuso. Lqo, p m r e i s c/i!c
fwnenfe. nZo quereis folen-10. PIO-
v o a [premissa i~inior]:;!<;.!~
baiscom opapadoporc;iii-
sa do abuso.
[M. L.]: Em essên- R. Em essênci;~oii
cia, o Ixipa 6 o seguinte: é visics a ~csl~cito do liiil);~
(iovemo
ir papa mudou o ofício e a um monstro e besta que que ele é a fera que esti
pr6pria snbstância. A subs- luta contra as leis divinas, acima ou é contra a lei
iHiicia do papa é a seguin- humanas e naturais. Não divina e a lei huinana e
te: o papa está fora, acima quer ser comandado por nc- tudo. Transfi~nnaIcis jus-
c contra a lei natural, divi- nhuma lei. Caso se ihe h- tas em injuslas, e suas in-
na e humana, faz tudo con- puser a lei, dirá: O impé- justas cni justas. Não es-
ronne sua vontade. Nisso, rio anglo não me peneli- tamos condenando o abu-
porém, pode-se entender o ce, por isso o deixo para so do papa, mas a subs-
essciicial. Pois se assim não seus reis. E puro acidente tância; se é necessário dis-
fosse, não diria: a mim pcr- que de vez em qu,ui<loh e solver u maWimÔnio, en- ,,,
lince o rcino Anglo, G j l i escapa uma ovelha. O {ir- táo C necessário que não
c«, (I episcopado de Wurz- so-lobo não consegue de- Lenha lei. Mas eu tenho o
hurgo. O urso-lobo tam- vorar ludo. poder sobre todos os rei-
%m não devorari ttrd«. Por m>sda Gália (lacuiia) e ou-
;icidente, ainda lhe c.sca- tros, diz ele. 1s
pari uma ovelha.
[3Sg]
O papado 6 uma ins- O papada é uma rea-
tili~i$ãoiiccc.ss&ia para a lidade nece.s.siria para a
/.cri.ja. Logo, opapado de- Igrej;~.Logo, devc serpre- 211
v<,ser preservado u~ Igrc- ,sew;ido. Provo o antece-
;;i. Provo a partir de dente coin Ciprinmo77que
( ' ~ p r i a n [que
o ~ ~ a l m a que diz que a here~ia'~exlste
c/c C necess&io/ por cau- na Igreja porque nem to-
.s;i (ia heresia78. dos obedecem a uin único 21

sumo .sacerdoie
Respondu [M. I,.]: O R. Cipriano não fala
11;ipa1à1 o contririo e não do pontífice romano, mas
[po<leser usado para 11bein dos bispos individualmen-
iiciii scrá usado. Cipriano te, porque é necessário que 311
ii:io se refere ao bispo ro- em cada Igreja haja um
III;IIIO, mas fala de cada sacerdote superior,para que
I I I I I ilos bispos. não ocorram cismas; todos
os bispos tiveram um a s -
tador ordin'&io e supreii~o. ii
Suponhamos que um fos-
se um papa bom, como o
(lacuna), ao qual comba-
tessem; é uma coisa muito
bonita ter uma cabeça des- ai,
sas na Igreja. Se a Igreja
Dehnie Circular Sobrc Mt 19.21
concordasse e pudSssena~s
ter um pipa ashim, en1,ío
também 116s iríamos coii-
Por favor, IM. L.]: Coiriopode cordar. Isso, poréni, é ir-
,. conlo pode tiini bispo go- r i a uni bispo percorrer o possível e iainbém náu é
vemni- sobre o mundo in- mundo inteiro?E isso iam- nccessjrio que uni só bis-
teiro:) Os nossos, porém, héni náo é iiecessjrio. Pois po governe todo o orbe,
tiZosão bisposiircesxírios, a Igreja iein uma cabefa porquc ;i Igsejja tem ape-
n%osOo esposos, mas de- invisível yuegovemaocur- nas uma caheça que go-
o vein serpretcndentes dc Pe- po de niodo invisívcl, e verna invisível e espiritual-
ri210pcíy. essa é Cristo. mentc, LI saber, Cristo. So-
mente Cristo é 11 esposo,
Fim. eles. porCni. são scrvos e
wnigos do esposo e mein-
bros da cabeça. Assim, nZo
pode acontecer que um bis-
po venlia a ser ;I cabeya
de todas as Igrejas. Um
bis{" tem triibalho siifiçien-
te numa única cidade se
quiser cuniprir seu ofício.
Se. no cntanto, isso pu-
desse acoiiicçer, yiie açon-
teça em nonie do Senhor.
Nós nZo faemos oposiçáo.

I Fim.
Guerra dos
Camponeses
A Guerra dos Camponeses
INTROI)UÇAO AO ASSUNTO
,o
1 - A Guerra dos Camponeses
A Guerra dos Camponeses na Alcmanhal ein 1525 roi o ponto alto d e toda uma
série dc rebelióes ocorridas na Europa durante o período que vai d o final da Idade
1s Mkdia até o século XVUi. Tais rzhcliões eiivolveram camponeses, artesãos, plebeus
e, c m alguiis casos, mineiros, cléi-igos e integrantes da baixa nobreza rural. Ocorre-
ram levantcs de çaniponescs em Flandres (1321-1323) na F r a n ~ a(1358), tia Ingla-
terra (1381-1388) e por ocasião das guerras hussitas na Boêinia d o séc. XV. No
mesmo século c no seguinte, a Alemailha serviu d e palco para a romaria anticlcrical
2U ao Flautista de Niklashausen (1476) c para o s movimentos de "Pobre C ~ n r a d o "e~
de Bund.schiih3. Após a radicaiiraçáo verificada entcc I524 e 1526, principalniente

I A dcsigriaçXc "Guerrzi dos Cãmponcscs na Alcmmha" (Der den~schcRai~eriikieg),rle uso


corrznte ira litçr;ilura especializada, somente podç ser cniliregadii com as devidas rcss:ùvas.
Quanto ao termo "guerra", nicsrno qucii esteja piçsentc cni 1525, sáo k m mais ~iumcruias
as liintçs aue falain cm revolta (Aufr~ihr)r>uinsuircicáo íErnDümnc), dando a entendcr uue

dos príiiçipes foi que os múliiplos Içvantcs locais c rcgiorinis, antes rclativaincnte isolados,
x z i h ~ r a nse intciir:mdo. Ouanto ao temio "cainnoiicsis". nár~Iiá dúvida de aiiç çles tivcrain
a mais fiiile ahlaçiio ilurante o eveiitu, mns 6 sahido que iamErn religiosos, uriistas, artcsáos
c, em palie, nohrcs participaram da rcvolti. Quem deu meirir suporte h rckliZo fovam
burgueses e campoiieies. "Na Alcindnha" ou "alclcinã", por sua vez, nZo podem scr
~mmprecndi<losno scntido dç a rcbcliZo tw atingido todo o teirirário do Sacr<i Império
Romano-C;çrmânico. já quc teve como palco apenas uma pequena fiaçZo destc.
2 Originalmcnle Amicr Konrad iiu Amicr Kum, clçnoininqào pejorativa usdda por nobres e
patricius para dzsignar camponeses e intcgrantes de estratos urbanos inkriores. A exprrssao
foi adotada pcl<islideres da liga çaniponcsa que cm 1514 se vuliou contra a política hihutária
e intcrna do hxZo Ulrico de Würlie~mherg(1487-1550).
3 O tcimo designava originhcntc um calçado fcchado por meio de cordóes tançadris -
borxguim oii crlturno - c usado por cainpoiieies na Idade Média tardia, que os diie~cnçiava
.
dos cavaleiros da riobrcza., os uuais calcavam botas com CSDOI~S. Tomou-se simbolo da
oposiçZo organirada de cmponcsis e intcgrantes de estatos iníeriorcs da sociddde fcudal
lios s6culos XV e XVI. Os prin~ciroslevmtcs sob i>siinholo do Bund.s~.huhocorreram em
1479 na Nsácia contra os "&agnacs", mercenários estangciros quc atuavam na regiáo, e
em 1441 i m Schlingen, nas proxirniddes de Basiléia. Insurreiçócs do movimento Bmdschuli
deirun-se ainda em 1493 (Schlet&tadt), 1502 (Espira), 1513 (FreihurgoiBreisgau) e 1517 no
;ilio Keno, çiirncterirdiido-sc pçla coligaç5o do campesinato com cstratos urbanos e tciiilo cni
ciii solo alemão, derum-se até o século XVIII levantes camponeses na Auslna,
Hungria, Rança, Inglalerra e Rússia.
A Guerra dos Camponeses na Alcmaiiha iniciou ein junho de 1524 na margem
sudeste da Floresta Nega, pr6xiino i fronteira com a Suíça. Ein dezembro do
iiiesmo ano sucederrim-se lev,mtes na Suábia, sendo redigiclo em Memmingeii, em s
iiiarço de 1525, o principal escrito progamáhco do movimeiito, os Doze Aftigc~.$*,
que tiveram ampla divulgação. Nos meses de abril e maio de 1525 a rcbcliáo se
csteiideu rnpidameiite,sobre gande partc do sul da Aleinanha, atiiigindo ainda a
Vi-ancônia, Turíngia, Austria e S u í p ~ ,o que representava cerca dc um terço do
Icsritório europeu onde se falava alemáo. No centro da Alemanha a rebeliáo ocorreu iii
;I[> redor d;i cidade imperial de Mublhauscii com a participaçio de Tomás Muntzer.
liiiiihém Iiouve levante de mineirns no Erzgebirge e na Boêniia. No Tirol e na cidade
ilc Sal~burgoo moviinento teve a lidermya intelectual de Micliael Gaismair (ca.
14'10-1532), uin discípulo do i-cfonnador Ulrico Zwínglio (1484-1531), que preparou
:i começos de 1526 uina oidcin lemtonal prevendo reformas profundas coni base em 15

cxigências bíbliças. Essa iniciativa, no entaiito, veio tarde demais, valendo o mesmo
liara a rebeliáo ein Samland, no leste da Psússia, porque as tropas da Liga Suábia e
<Ic ~iiíiicipescoligados sufocaram os principais focos de rebelik entre maio e junho
<Ic 1525. O Icvante camponês na Turíiigia, justamente aquele que Lulero conheceu
iii:iis de peno, durou menos de um mês, entre meados de abril e meados de maio de 20
1525. A rcbcliáo iio T i o l chegou a termo em 1526.
Dcnlre os principais eventos da Guetra dos Camponeses no ano de 1525 podem
scr cnuineradas: a primeira vitória da Liga Siiábin sobre os rebeldes em Leipheim
(414). às margens do rio Danúbio; a assinatura do Acordo de Weingarten (1714) entre
(1 gciieral Jorge Tmchscss von Waldburg e os camponeses da região de Allgiiu, o que 25

<Icsiiiobilizouuma das mais fortes milícias dos rebeldes; a ocupação de Weinsbcrg,


li;\ liancônia (1614), que marcou o início de uma série de vitórias dos rebcldcs, mas
siiiiultaiieamcntc inaculou a imagem dos camponeses diante da opiniáo pública por

hns Fnfz (m. ca. 1525) um i~rgaiiizadordesde 1502. Nos anos 1520, o temo Rundschuh cra
~'~iiicemente um sinônimo para "revolta". Vale lemhrar quc a 20 de abril de 1521 em
Wc,iiris, depois de o impcradur Cxlos Vter renovado ma intcnçZo de delender a fé católica
i.iiiiir,r Lurero, a prefeitura da cidade amanheceu pichada com as paiavras Rtmdscholi,
lli~~~<l,schlih, Bundschuh.
I 1 I iitiilo correlo t': Die gündliclien und rechle~iHaupb~rtikelallcr Baiienischaii und Hintcr-
i:iv\~,,i dii-geisliichen und weltlichcri Obi-igkeireii, von welchen sic .sicli bcschwçir vemeinen
iliiiiil:i~ncnldise Verdadeiros Artigus Principais de Todo Campcsiiiala c dos Vassalos sob ;is
hiili~iiiladesReligiosas e Seculares, Pela* Q u i s Se Crêem Sohrccaricgados.In: A. LAUBT::
I I. W. SEWFERT [ h g . ] , Flugschrifteri der Bauemkriegizeit, 2. Aufl., Bcrlui, 1978, p.
.!r> 34). 'Tratasc originalmente do cscrito prograináiico que reuniu as ilucixas das i$dii;is
~'iiiriciiasa Baitringcii, rio sul da Alcrnanha, a p a i r das quais formou-sc a inaior c in;iis
~>'xlci<isa inilicia de scklados. Acredita-sc quc seus autores teiilia~iisidu Scl>ii.sii.ioLor~cr
Iii;i\c. ca. 14901, r~fiçiidde peleiru c prcgadul- leigo, c CI~rii~o(>li Scl.li:tl~,~clci- (1472-1551j.
:iiiil>i>svivciirlr> cni Mcininiiigai, quc se Iiasc;u;m çni iu-iigi>s~ii-cvi:i~nciitc liiniii~lnili,~ c
i,iiiicid<>s da rcgizo do iiIi<i Kcno. li pc,s<ivcl q ~ i c;i ;iuli>ii;i <I<is;iitigi>s~ i o si~ii:iisI.i,i/i.r i.
Srl~:~~xllcr sc ic~spir:uuntenha sido (Ir l ~ ~ i l i ; IIol~r,,cicr ~ , ~ ; ~ r (1485 I12X). r~~I'~~ro~x~lor ~~<lic;tl,
1~~.1:acI<,i c. <IPs<Ic 1125. lítlcr <h, i i i < w i i i i i . i ~ l i t :t~li!l>:blisI:lI I : ~ I o ~ i ~ l i ~ l i (Icu I ~ Witlilrllul.
. i\1~,1<.

1 ) t o 1 1 ~ t ~ iblivit~tlc~~tc
rl1 \~.l<>rrs
IIIII:I ~ . o : l l i , i ( t l c11111. 11r1>:$11o'i
c L . : ~ ~ ~ ~ ~~Ol .C I ~I. L
l i ~Yd,<V> ~
s.
causa da chacima de famílias da nobreza local; a assinatura dos acordos de Milten-
hçrg, com representantes do arcebispado de Mogúncia (713, e de Renchen, na
Suábia (2515), cste último com base em exigência presentes nos Doze Artigos; a
hatalha de Frankenhausen, que inarcou o final da revolta na Turíngia (15/5), e a de
Zaheni, onde camponeses da Alsicia foram esmagados pelas tropas dos príncipes
lb1Si: a reiidicão dos rcbcldes em Muhlhausen (2515).
. .
Á Guerra 20s Camponeses deu-se a partir de um conjunto de elementos causais
oriundos das dimensões (1) econôinica. (2) social.,(,3 . .
) nolítica e (4) iurídico-religiosa
da rcalidadc de então. (c
Á dimensão &;nomica foi determinada por uma relativa
piora de condições para a empresa agrícola nas décadas anteriores a 1525. Essa piora
adveio de diversos tãtorcs, que se m;inifestarani diferenciadamente de região para
regi%, mas que estavatn relacion~idosentre si: elevado crescimento populacional;
inigraçáo intensiva; rcativação da instituição da servidão; limitação ao exercício de
privilégios garantidos As gerações aiitcriores; grande elevação da carga tributária. (2)
I, Na diierisâo social, ein decorrcncia, as unidades sociais da família e da aldeia
viraram núcleos em crise: a distjncia entre pobres e ricos se ampliou, isso aliado ao
crescimento numérico dos estratos inferiores no campo; iiecessidades básicas não
mais puderam ser atendidas, estabelecendo-se, por exemplo, a limitii$ão a casnmen-
tos e a suspensáo do direito de ir e vir; o raio de autoiiomia da aldeia foi restringido.
' (3) Na dimensão política, era grande a expectativa do campes~natono sentido de
participar mais nas decisões quanto à adminishriçáo territorial. O estamento mral
passou a ter represcnizqão nas respectivas assembltia de diversos territórios entre
Salzburgo, Alsicia, Tio1 e Palatiiiado justamcntc lias décadas anteriores a 1525. (4)
Os elementos causais da dimensão jurídico-rcligiosa. por fim, decorreram do fato de
,., a busca por legitimaçáo ser um dos principais pilares da sociedade feudal. O cam-
pesinato apresentou suas exigências e só o fez porque as podia fundamentar juridi-
camentc. Já que parii ele o direito imiigo permanecia em vigor, fazia-se necessária a
iiisuneição, a tim de combater as inovaçks pretendidas pelos senhores no plano
constitucional. A substituição do direito antigo pelo dixjto divind teve uma repcr-
cussão 1ibert;iri;i e permitiu que as necessidades dos camponeses fossem apresentadas

5 O direito antiro cra um cornus iurídico comorativu. reconhecido oor ambas as Dates no

i"iporiante se Se traiam de comprovar algum direito adquirido cm caio de disputa legal. J:i
no niovimento Rnnd.schuh - cf. acima nota 3 - houvera uma luta pela justiça divina, o
quc dc certa forma o aproxima bastante dos levantes cm tomo de 1525, quando se rcivindi-
coii < cumprimento
i do direito divino. O direito antigo só tinha validade local, mal tendo pia.
isso pdido ultrapassar as divisas dos feudos. A justiça divka ou direito divino no moviiniiil~~
Bi,raf.sch:liu/i,por sua vcz, nssaltou bastante um aspecto do direito antigo: este era hriin não
a~xr,asp,>rser aiitigo, mas era o bom direito antigo pois vinha de Deus. Era o direito qiir
corrcspondia à ordem da çriaç". Em contalo com o pensamento da Ref~irma,por sua vw.
i , ilimiio divino açahoii ;issilmiii<frium çardter de validade universal, dcixando dc vizir
xI~cnxwntl~irr;ili<l;iilçs c Cli<>r;is ii<>l;i<l;isc passaido a dixi- respeito a t<id;is;is quis1ín.s c ~ i
ioili,s 0 s I c n i p ~.%;I(>
~ I ~ I : , ~ vF,! Il-tlinvit SIIIIICII~C<IçIri~diçáoimtiga, rigistr;iila ni>s "I .ivi<is iIc
Guerra dos Camuoncscs
como exigências moralmente justificadas em d«cumentos como Dorc Artigos, por
exernplo.

2 - A Reforma e a Guerra dos Camponeses 5

Corn sua polêmica contra a Igreja papista c contra 21 exploração por Roma,
empreendida com especial vigor nos anos de 1520121, Lutero estremeceu as bases da
autoridade eclesiástica e desse modo fez balançar um dos pilares de sustentação da
sociedade de então. Sua pregação profética, porém, não se dirigiu apenas contra a io
Igreja, mas também contra a nobreza e os príncipes. Com maior intensidade desde
1520, ano em que publicou A Nobreza Cristã da Nil~2íí1AlemZ. ..h, tratou de questóes
políticas, jurídicas, econ6micas e finariceiras', chegando >LI> ponto de conclainar a
uma ampla seculaiização de bcns eclesiisticos8, que, se Icvada a caho, teria resultado
numa profunda reestruturação social. 15
Iglialrncnte na direção de urna reeslrulur~i@«social foram interpretadas não
apenas as inanifeslaçóes positivas de Lutero em relaçáo ao estmeiifo leigo e cam-
ponês, mas principalmente suas concepções a rcspeito da ética cristã' e sobre a
fundamen&çiçao da Igreja e da comunidade de fé no saccrd6cio geral de todos os
c r e n t c ~ ' ~Para
. a gente simples - e mesmo para alguns iiitcgr;intcs da intelectuali- ?ii

dade -, o refomlador estaria pleiteando por um desmonte da ordem vigente na


Igreja, atrav6s do q u d toda forma de hierarquia seria abolida. Muitos ignoraram que
para ele a divis<Zoda s«ciedade em estamentos deveria pemanecer inalter2ida e que
o meU1oramento do Est& crista0 dar-se-ia mais apropriadm~e~~te pela intcrvençZo
da autoridade consliluí<la.Aparentemente tiveram maior ressonância no meio popular 23
palavras como: "Se [os papas, c;uúeais, bispos e todos os d«ut«s], entretanto, iião o
fazem [i.&.,htat;ir em concílios das reformas eclesiásticas ncccssárias], o povo c a
espada secular G que devem arir rieste sentido..."" Sua repercussZo nio pode ser
~nknos~rezada. ~ u i e r o porém,
, em 1521 tinha se miullfestado expressamenie contra
. .
toda e analauer intr»dução forcada das Drouostas da Refoma. o aue rcilcr~~u
A .

rejeitou a maneira asbitrári;~como alguns de seus companheiros agiram no início de


uuando
A
?II

1522 cm Wittenberg.12 Apesar de sustentar, airida em maio de 1523, que numa


situaçZu emergericid não seria obrigatório respeitar o direito vigente, havendo um
ilimito divino pelo qual poder-se-ia dcstituir ou evitar a falsa autoridade eclesiástica",

li i 'I. Ohms Sclccionadas, v. 2, p. 279-340.


I ('I, p. cx., o escrito Da Auturiditdc Secular, até que ponto .se Ihc devi ohecliZnciii dc 1521,
;~ciniap. 79-114 e Co~ni~cio io U.~ura.h: Obras Selecionitdas, v. 5, p. 376-428.
S ('I:Estaf~itoP'araUma Caixa Comunirána. In:Obras Selecionadas, v. 7.
'1 ('I'., p. ex., Das Boas Ohfii.~c Patado de Maulinho Luicm sohn. r; Lih~r~/:~<li: <ii.siX 11,:
Oliliis Selecionadas, v. 2, rcspcctivan~enrep. 100-170 c 436-460,
I0 (:I'., p. ex., Do Cativeiro Bahil6nico da Tgr$ja. 1": Ohias Sclcci<in;id~s.v. 2. p. 341-424.
I I A Nohrcza CnstZ d;* NavZo AlcriiZ... Iri: 0hr;ls Sçlçci<i~i;i<l:is, v. 2, ri. ?')O.
...~ichii.volii~iic.1,. 1172 48 i.
I L ('I: WA Rr2,249,12eoçsç1it<iSiiici:i I!iivi;l~.i<,:, 'li~li>.vr.:í'ri,si;i<w
I.! ('I'. WA II. 408 c 411s~.
Introdução
ele não titubeou em considerar egoísta - e não exigida por uma situação emcrgen-
cial - a motivação de Francisco von SickinrenJ4 - e Uirico von Huttent5 ern suas
investidas contra representantes do governo eclesiástico. Reforçando sua posição.
Lutero condenou com vieinênçia as acóes marentemente inofensivas atribuídas ao
pregador Tomás Münlzer no m o de 6 2 4 em Allstedt. Isso ele fez ein Catfa aos
1+1icipes da Saxônia sobre o Espírito Revoltoso e Carta Aberta aos Burgomeslrcs,
Consellio e toda n Cor~iirnidudeda Cidade de MüI~Illliausen.'~
A parlir do acima cxposlo em rela~ãoao período quc vai de 1522 a 1525,
percebe-se quc os pariidjnos da Refonna dividiram-sc justamcnlc na questão çon-
cernente ao uso ou não da força em favor do Evcmgelho. André Boderistein, alcu-
nhado de Karlstadt, nome de sua cidade iratal, que de resto negou energicamente uma
eventual responsabi1id;ide pela Guerra dos Camporieses. foi urn dos que primeiro
difiriu de Lutero nesse ponlo. Ele ter parie da intelectualidade que fomentou uma
itilcrvcncão radical a Tiin dc oroinovcr rcfor~nas.'~Ouando irromneu a retdião.
~ a r l s t a kestava refugiado em'~<oternburgo/rauber,n ò sul da Alemanha, ondc se
-
I

envolveu com o nreeador


, Lienhard Denner.. viileo "lloutor 'Teuschlein". . uue desde L

1510 condenava a cobrança de juros como usura nZo-crista, que promovera uma
pirscguição cmti-semita e incitziva o povo ao não-pagamento do dízimo e dos tributos
urbanos. Da mesma forma Jacó S l r a u s ~ 'prcgador
~, cin Eiscnacli, na Turíiigia, defen-
deu-se da acusação de causador da revolta por ter motivado o consclho da cidade a
confiscar paiiiin61iio eclesiástico e a expulsar da cidade clérigos, inongcs e freiras
rião-identificados com a Reforma iio fila1 de abril de 1525, tudo para anlecipar-sc e
ir ao encontro de interesses dos camponeses reklados.

I4 Fr;iliii\c<, vm SiLkilgb.ni (1481-1523), çavalcirc imperinl, lídir nicicen<~ioe oficial dc


campo dos imperadadr>resMaxiinilimu 1 c Cx1o.s V C<iligadocom cavaleiros da Suábia c
<IaI<eiijnia,vr>n Siçkingen alacr>uem 1522 < teriitririr~
i dri aicehispri de Trier com o <ihjetivi,
de ampliar sua árca de influencia. Deriatado, acabou moircndo cm scu castclo sitiado.
I5 IJlrico von IIutlcn 11488-1523). descendente dc f a d a de cavaleiros e oocta ligado ;a,
ri e \ ~ i ! i . i i i i : i i i i i i . i i ~ \ t . i ii. .\l:rii.ii.i.. \iiii IIiitt:ii p i h l i . . i ~ ;..ri1 h, . l ~ . i i t i c .!C\ p.ri: <I.,.
,,, ,,,,, I ',,,7~, I: 11. l~t..,,* I IIV.I~,. I : ~ ~ , ~ I OI,~~
~ ~ I ..~,,,I,,II
.: \',,,,,I,,H, I : I ~ 1 7 , ,I%,,. l , ~ . , , ~
apoiou l ~ t e r oem sua luta contra Roma; integrou a rebelião armada de von Sickingen
cf. nota acima -, fugindo apús a derrota para a Suíça, onde foi acoibido por Ulrico
Zwiilglio depois dc Erasmo dc Rotadá tcr-lhe negado asilo.
I h Cf abaixo respectivamente p. (284) 286-299 e p. (300) 302-303.
17 An(ir6 Bodensleii~alcunhado de Karlsr;i<ir(1480-1541) estudou Teolu%a em Erfuil e ColC-
nia. Desde 1505 Ioi proiessor na Universidaclc dc Witlçnkrg, onde era decano qu;uiilc
Lulcro obteve o gau de doutor crn Teologia em 1512. Em 1516 tornou-sç doutor em Dircitc
lpcki Uiuversidadt: de Siera. Em 1519, juiiidmçiite com Lutem, cnirentuu João Eck rio
<Ich;iiidç Leiprig. Dcsdi L521122 passou a dcfciidcr propostas mais radicais para a I<diir
iii:i. iii<itivopclo qual acabou scndo cxpulso dc Wittcnbcrg. Diwlgou tais propostas eulx
ci;tli~icniiim sius cscritus: Vai abtohiing der bildei- (Accrcs da EliminasZo das 1ni;igcns
1522) c Oh iiim gc~zinclifdrni, und de.s crg.einü.ssm dci- scwaclini vnschoric,i soll. iii
,s;n.lir,i so go1fi.s wilIc~iirngcljc (Sc E Prcciso Agir com Vagar c Poupar aos Friicris o
li\r:ici<l:iloii;is Ciiiis;is Ilcl;iiiv;is :i Voiiladi Divina - 1524).
IS .I;,<.i, S1i;iiivs (14XO/X5 (:i.lS.i.3). ii:itii1-,iI <Ic BasilEiii, Suíyt, cx-i~i<ingi iloiniciii.:itii>r. ii;i
i:~~tc:b. I)ICI::IIIOI ~ ~ ~ i1 l1 1 11111 ~ < I I I ~ \ I < l, i ~ i o o
. fiv~.vl:1111~ (14hX. 15251512).(1:) S:IX~>I,~:I.
Outro que logo se atistou <iasposiqóes dc Lutero foi Toiiids Muritzeriq.Ele quis
Icv;ir adiante - na forma de uma "refonna iiiipoitaiite, insupcrAvel e futura" - o
que coiii Liilcia se tinha iniciado, mas por culpa deste clicgara à estagnario. Muiitzer
içntou guiliai- os boêmios pura sua causa, o que iiOo conseguiu. Em scguida, apre-
sentou sua proposta aos príncipes da Saxôiua emestiiia: estes, juotiimente com a liga s
(10s elcitos, deveriam coinpletar a sangrenta tarefa da puniiça$&) escatológica da
Igreja mediante a e l i a ç â o dos í m p i o ~ . ?A~ liga proposta por Miintzer seria
lundada apenas em funqão do Evangelho, como defesa einergencial e insirumento
para aterrorizar os ímpios. Ela nada teria a ver com as "criaturas", isto é, com
interesses materiais tais como a libertação da seividão o11 de t~ibutos.~' Em conso- iii
riância com essa posição, Muntzcr escreveu Uma Severa Caria Circul'v a Seus
Ainados Lm,ios erii Stolherg para que Evitem a Rebelião Despropo.sitadzP e sugeriu
ao príncipe-eleitor da Szxônia, Frederico, o Sábio (1463, 1486-1525). ein agosto de
1524, um "modo ciivuio pelo qual se deveria enfrentar uiii;i i'ulura rebeliáo"z3. Ele
era um prtifcta apocalíptico preocupiido cin anunciar <ijuizo de Deus e sua proposta ir
original t i a muito pouco a ver com a dos campcinches rebelados. Da inesiiia forma,
os síinbiilos com os quais ele sc lançou i bcttiillia apocaliptica cm 1525 -estandarte
do ai-co-íris, cruz e espada - diieriiim coinpletaiiirntc do símbolo de luta dos
camponeses - o Buinlschuh. Por outro lado, 0 eiicoiitro de Muotrer com os
camponeses deu-se numa circunstância especial. Dçpois que os príncipes da Saxônia 111
criicstina iiegartim scu apoio à causa de Munlzer coiitra os impios, iniciou-se a
rebclião campoiiesa no sudoeste da Alemanha. Após visitar a regiâo do conflito,
Muntzer reconheceu nos rcbelados os iiistrumentos pcira a concretira~iude seu
pro.jeto escatológico e fez-se participantç do inovimeiito ira Fase de maior radicaliza-
@o da luia, fase esta relativamente breve e restrita geograficamente à região d;i is
'liiríngia. Por sua postura entusiasta e frontalmente oposti aos refonnadores em
Wiitenberg, Muntzer acabou repercutindo na História supostamente como grande
i:\poiisivel c priiicipal líder intelectual dos camponeses rcbeliidos. Quem iiiaugurou
rssa linha de interpretii~5cda imagem de Muntzer foi just;uiiente Lutero, que o fez
iIc iii<idoespecial rio escrito M v e l História e Jirizo de Deus Solire 7iirni.s Müntze?. i,

I') 'li,i~i;i.~
Alüiifzcr ica. 1490-1525).çswdou iiw uriiveniilades dc Leiozie e FrankfurtIOdci-~

iii~>viiiieiilo dn Refnma. Em 1520, por sugestão de ~ i s c i opassou . a atuar como pregador


ciii Xwickau. onde estcve em contato com Nicolau S t i ~ r him. 1525), pre~adormistico-
~~\~r~iiiii;ilista. Para mais detalhes biogiificus de Muntrer wj;i abaixo p. 284s. ç 300s.
'i i i 'I'. ..\ri.slegung des UfitcmchiedsDaniclir... [Fikstenpredigt, 13/7/15241(Intcrpreiação do 2"
,., i 1 u i i t I i > cle Daniel... [Predita aos Mcipzs, 13/7/1524]).In: T. MUNTZER, Schriiteii und
liiirli.: kiiiische Gesamtausgabe. Hrsg. v. Gunther Franr, Guiersloh, 1968, p. 242-261.
' I ('I: (';ici;i de Müiiizer a João Zeiss, 25/7/1524. In: MÜNTZEK. op. el., p. 421-421.
L! ('1'. Fiii e,n.rief sendebricff an seine licben bmder zu Stolberx, UnfugIiclioi au/lirii- i r i
iiici<lc~i. In: MUNTZER, op. cit, p. 22-24.
!( ('I. ('trrLi dc Munizer a Fredcrico, o Sábio, 3/8/1524. In: MUN'TZER. i~p.cil., 11. 431,:14.
!.I Iiiiii. \cli<çckli~.hcC;rscliichte und Gehht Goite.5 über 7hoiii:ir hliini~ci: Iri: WA IX,
1(~7-174.Tal intçiprelaçáo. i ~ i cculw;~Miinv~erç<imoo giaiidc Iiir!it<iriiili.lcilii;il, c<iliiii
c ; t < ~ q . ~ lc o rdirigc~~ic C~LICIKL Y . C<),IKI ttiíclcu C C ~ I I <~l o; v~cvcrtl't> ,)
ck~sC ~ ~ ~ > ~ ~ I C cS Cli%,
:iiil;i~i>iiisn~i> cnislciiic illlrc clr i. I.lilili>. i. :i ~ I I Cinxiis li,lii lii:iii:iili>:i l i i ~ i i , i i i , i : i ; i l i ; i
htmdução
Além dos rcformadores já citados, houve diversos outros a quem se :imbuíram
iiifluências sohrc o idchio dos camponeses. Entre rnuitus, destacaram-se: Baltasar
HubmaierZ5,Ulrico Zwúiglio2~C~iisparHédio", Olto BiiiiifelsL" Veiiceslau LinckzY,
Llrbano R é g i ~ 'e~Joáo Locher". Ao lado desses tiveram grandc influência muitos
Ic6logos menos conhecidos e inúmeros pregadores itinerantes, Icigos e outros que se
~listanciavainexpressamente do çlero. Os representantes mais radicais da Refoma
loram bem mais além do que seus mestres e manifestaram e m siias prédicas posi-
cionamentos exlremamente awaeutes a população insatisfeita, que legitinraram e m
muito suas exigências materiais e ,jurídicas.
A vinculacdo entre o riçiisaniento da Reforma e as reivindicações camponesas
foi tematizada principalmente em determinada categoria literiria, provavehnentc a
a u i mais floresceu na énoça <+a Rcfonna: a dos ~anfletos(Flurschr~fte111.
, Os ~anfle-
tos da época da Reforma trouxeciin à lilerahmi alemã um novo heriii. o "ho~iiem
comum" (der gemeine Mann). iiiuitas vezes represenlado por um cilriipolii's, que

brasileira, influenciada prla obra de Ernsi BLOCH, Thoinas Mü~err:tc6logo &i revolução.
Rio dc Janeiro, I973 2 princip:%lmerite.pela dc Friedrich ENGELS, 4 . 7 Guems Campone-
sas na Alemanha. Sáo Paulo. 1977.
25 Veja acima p. 274, n. 4.
26 O reformador dc Zuriquc negou toda e qudquerrcspons~bilidadcpçla rebeliáo camponesa.
No entanto, certas en&encias fcim posicriomcnte por integrantes do movimento tinham
çswdo presentes nos escritos i41n g6LtIichci- unrl mcnschliclicr Gercclirigkeir (Sobre a Justiça
Divina e Humana - julhu de 1523. In: Corpus Retomatorum 89. 458-525) e Welche
Uisachc geben zu Aufiuhr (Qoc RazOes Irá p m a Rebelião - de~emhiude 1524. h:
Comus Refomatonim 90, 355-4691. onde Zwínelio defcndeu a suswnsio do dizimo
viiniicio. c i n- h~n crn
- iienhuin monicntu iiwssc amntad;i oaraa ~ ~ k l icomi
~~~ ã o alw~~u~tivad~ acão
27 Ca,spar Ifédio (1494~1552),cscrevili contra o d k h .
18 On<iBmnfcl,~(ca. 1488-1534),pregador, ~iiedicoe botâcico, conhecido de Lurero, Rxlst:idi
e Zwínglio. escrehcii li>m Pfdfemehnlen (Sobre o Di~irnodor Padreços, publicado cm
1523124 h : Fliigsihnlien ... p. 158-177). que contém 142 leses contra o dizimo eclesiástico.
;

29 Venccslau Linck (14Xi~1547),vigdno-gcral da ordem dos agostirii,mos-eremifxs e teólogo


luteranu, escrevcu 0 h die Gei~rlichenauch schiildig sind, Zins zi, g c k n (Tem Também os
Religiosos Obrigação dz Pagar o Dúimo'?, de 1524. Jn: Flugsclinlten..., p. 149-147),
combatendo a iscnçáo qur os religiosos tinham dc @ibutos seculares.
10 Urbano Régio (1489-1541). inicialmente cra partidjrio de Zwinglio. Foi pregador na cidade
de Augsburgo. R6gio escrcveu entre íevcreiro e abril de 1525 Von leybaygcnschafi d d c r
kiiechth;d.. (Sobre Vassalaeem ou Servidk)... h: Flugschriflen - ..... .D. 242-260).. Veia
" tam-
I e ~ nabaixo p. 326, 11. 73.
i l .Ii>;iril.<*.lii~i-i~iic:,. 1521/2li. sohrciirinie verdadeiro era Rott; foi pregador em Zwiçkari,

~-
onde cscrevcir Ein iingew~linlicli~~r
Icicr>mumSceurida Cana Akria do Inimieo
reli ..., p. 99-IOX) cni 1524. ;ih<ir~l.irido
z u i t e r Scn<lbficí'desBauenifeinds an Kiusih;iri.s (Ur1i:i
" dos Camooneses a Karsthans. [ti: Flursclirit-
a desigualdade enne os csiamentoí. . obra coloca ;i
popt~t:u.ligur:i do c;iinlioiiCc K:ircltiiuis - pcrsonogern centr;il de um pantlcto surgidii cili
1521 ii<i ciriiio d;is ;iiriiqiic.s. tiiial;inierir;uid« as dciiúnci~isdo Iado c;uiili<rtii:scc~liici,
c.hi:i<Ii><Iru>i\:i\ts, Iiiqnziioc<,iu clc~t!ciilo~s dii prigaçio <hRcfoma.
I < ;ucrra dos Camponeses
surgiu com« porta-voz da calisd lulerana colitra o partido rdt6ildli~o-romano.~'
A quase
totididade dos escritos dc partidirios da Refoniia, que de uiii inodo ou oiitro teniati-
raram as exigtncias dos c'mponeses - iiiclusive os Dure Artigoosc os escritos de
Lutero editados aqui - clicgavam a opiiii&i>pública na foroia de panfleto.

3 - Os Escritos de Lutero
0 s escritos de Lutero sobre a Guerra dos Carnpoiieses de 1525 iia Alernanha
têni sido inter~retados;i ~ a r t i rdos mais difereiiics nontos de vista: coiii base no iii
desenvolviincrito da rebelizo camponesa e dos elementos preseiilcs nesses cscritos
c i ~ i çsuoostamcrite o teriam dctertninado:, ii n artir da infl~ignciado nensatneiito de
L

Lutero sobre cciias exigEncias dos cainpoiieses e <Ia inter:i$Zo c.nti<: Kzlòrni;~ e
nii~vimeotoc:imponês; a partir da imposiqão do estado tçrritorial 2 dc suas exigên-
cias, lanint« por meio de Lufero çomo por incio dos c;inipoiieses; a p;u-iir da ética ir
política de Lutero; ou, ainda, com base nas repercussões provocadas pclos escritos
L ~ refomador.
I Se o estudo das circunstâncias lias quais Lotero produziu sua lilera-
tura é fuiidainerital para uma cornpreeiisL1 eq~iilihradade1:i. então isso vale espçcial-
incnte para scus escritos 1111c lcmati7,ar;iin a rehelião caiiiponesa.
Nos Dozc A r l i p , OS rchelados náo si> tinham leito referência a Escritura como ?[i

fuiidaineiito de suas reiviiidica$í,es, nias lanibém se haviam niosh.ado dispostos a


vollar atiás nos pontos ein quc çstivessein crrados, contanto que tal fosse demoiis-
rrndo coin it Escritura. No tiiial do escrit«. aprcsenrtarnni uma lisru de eventuais
iiibes, fcirmada por riomcs de reprexntantes da auti~richde'ivil e de refoiiiiadures.
i ~ u eestariaiii em condi$i,cs de decidir c ~ i nbase no direito divino" O iionic de 25
I.~iten~ eiicabc$a essa lista. Isso indica quç os Doze h r i p foram cscritos coin o
iiituito de obter a aprovaçáo do reformador h iniciativa camponesa.
Lutcro reli~iualravés de sua Exo~t;i@:ãoà Paz: Re.~poslaau.s Doze .4rtigo.s do
< >riripesin;il<idn SiiábiP. Assiiii coint~fizer.? antcric~nnerire.clc exortoii :i que se
t~vi1:issereheliiio e insiiirciyZo, n i o assiiiiiiiido o papcl ptoposro de jiib, nem o de ,f)

iiicilind«r políiic«, tnas propi,s-se apenas :i fiila numa perspectiva pastoral. Lutero

i ' I\:,irtli:rii,s (I521 -Estiitshiirgo. Iii: Dir Mrtihrheilinuss niis Licht: Dialiigc iiiis der Zcit der
lii~i~~iinali~~n. R. Beiiringcr Ihrsg.1, Lçipzig. 1988, p. 85-11.3)foi provavclmciife o mais lido
,li. i<i<los csses panfletos, tendo sido protagokadu pclo honrei11coniurn, pela gente siiiiples.
I N W ifiicni não pcitence neni 2 nolireza clerical, ncm à seculm. "Karsthanr". litcralmeiite
"Ii,:iii (IHans) da Eiixadn (Karsl)", era uni termo dc conotqio negativa que designava i>
< : i i i i f ~ m erude.
s rcirógiadri e prosscir<i no um do dialeto aleniã,io falado na Silíva. N.i
~>:~nilct:!:rrncrític~a o partidários do papa. aquçlc qur é riinplçs e groscuu suigc coiiii,
.ill:iiCcii vUriioso a denuiicim os zihusos e a çonupçáo. - Martin Biicrr (1491-1551).
iiiciriti;iilor em Estrasburgo, foi provaveimçiite u autor de Neiikastliztri.~(O Ni,v<iKurslliiiiis
lisiiaiburgo, 1521. In: Die Walirheit..., p. 128-175) e deu. dcssa iriancirik. sc<liiCiiçi:iii
ii:t.jcti>ri;iilo "honiem coinuni".
i {('I: P/t,,mc/zriti~-r~ ,,., p. 31, 1-6 c 33, 34-34, 8 .
i 1 Vc.i;t ;ih;iixi>.p. i3lW) 10h~3l).
manifestou-se a rcspcito da questão central do direito cristão, dirigindo-se a ambos
11s grupos contraentes, príncipes e camponeses. A exemplo de outras ocaiióes, ele
disse palavras duras em relaçáo aos príncipes, acusando-os de serem os causadores
da rebelião. As reivindicaçfies dos camponeses, embora formuladas coin base em seu
., próprio interesse, foram consideradas justas e corretas, principalinente aquela em que
eles anseiam por ouvir o Evaiigelho. Certo seria que Dcus dernibasse do seu trono
queni, como os príncipes e senhores, sobrecarrega dc l o m a tão insupoitável ;i oulras
pessoas. Isso contudo não justificaria a opção dos caniponeses. Lutero não julgou os
caiiiponcses no direito de se autodenoiniiiarcin ~iiiiaassociaç"~crisiã, pois us'uiani
I o iiome de Deus para praticar a injustiça, voltai--se contsa a autoridade e tomai-se
juízes eni causa pr6pria. O direito dos cnstâos, porí.m, rezaria: nZo defender-se ou
vingar-se, inas siilinieler-se. No tuia1 (111 escrito, o reformador olha para os dois
grupos ein luta, situmdo-os nuni mesnio pl;ino. Ein ambos nada liaveria de cristão.
Poitanlo, quem quer que fosse deriiitiicllo na lula. esiaria perdido de corpo e alma.
A divulgqão desse escrito não provocou repercussão perceptível lios campone-
ses, unia vez que o nioviineiito chegava ao seti ponto de iiiáxiina escalaçZo, uma
situação em que os rcbclaclos dificilniente ahi-iriain seus ouvidos para o que Lutero
dissesse acerca do direiln cristão do suhinetimiiito. Ele o redigiu antes de uma
viagem ao norte da 'lusíngia, onde foi testeniunha ocular da luta. Procurou influenciar
o no sentido dc diiniriuir a tensao existente por meio da pregiiçâo direta aos que se
cnvolviatii 110 conflito, colocando para tal a própria vida em risco. Não teve sucesso,
;iti o dia em que, informado a respeito da morte do príncipe-clcilor, Fredenco, o
Sábio, retomou a Wittenherg. Acabou vendo no liacasso dc sua iniciativa na Turúigia
um sinal de que nesse rcduto, onde Muntzer agia, o espírilo do falso profeta se e u i a
pi-esente por todo lado e estimulava os ânimos dos rehelados.
Em meio a tal sihiação, Lutero dccidiu iiiandar reimprimir sua Exorlação 2 Paz:
Rc,~p\po\luao.9 Uoze Artigos (10 Canipesus~iatoda Suábia corri a incliisão de uni
suplemento intitula~l(loAdrndo: Contra as Ilonlas Salrendoras e Assassinas do\s
Carnpone.~e.~~~. Trata-se talvez do mais tãinosc c, via de regra, mais condenado de
40 todns os seus cscnlos relativos a essa qucsião. As circuiistâricias em que csse tcxtii
chcgou h opinião pública foram dccisivai. Enihora devesse ser um capítulo coinplc~
nieiitai, logo acabou sendo editado ein separado. Escrito nos primeiros dias de maio
de 1525, somente tornoii-sc conhccido depois que os camponeses ji thbani sido
derrotndos, quando os sciihores coinetiam atrocidadcs coin os prisioneiros quç julgii-
i, vain crn seus tribunais militiires. Tais circunstâiicias tornaram o panfleto inais cho-
cmic do que já era por causa de seu conteúdo. Lutero concentrou-se basicamente eiil
ckamar a que a autori+dc oprimisse a rebelião com todas as sua? forças, restahelc-
ccndo paz e ordem. A diferença do que dissera cm Exortação 2 P z . .., quaiido
irispiroii-se i m O s Doze Artigos, ele afirma, agora, que todo camponês ahaticlo
iii perdeu-se dc coipo e alina, pertencendo eternamente ao diabo. Quem, contu<lilo,
iiil~rrelutando lado a lado com a autoridade, este é um mirtir diante de Deus, caso
iivcr lutlido de boa consciência. Adendo: Contra as Herdas Saltca<ioras... foi escriti>
;i ~>:wtirdo que Lutem viu na Tuiíngia. Ele constatou ali a autoridade civil dc scii
~'r<ilxic tcrrii~írioresignada, vacilante c ciipitiil:indo ditmte da rebeliáo, e dirigiu a ela
~ i ; iiictisng~iii.~"
i Esia dcvcria dcfeiider a oiderii contra r1 caos, mesmo que estivesse
i.lici;i de culpa ou não tolerasse o Evangelho. Nada haveria de mais venenoso, d;uioso
c (IiahLílico do que alguém rebelado. Por mais duras que fossem suas palavras. a
iiiiciipio bksica de Lutero nio f«i a de coroar de glória o derramamento de sangue, s
iii:is, isso sim, i1 de exigir que a ordem divina f«sse preservada.
De igual modo, nos primeiros dias de maio de 1525, foi impresso em Wineii-
Iiiip o Acordo Entre a Louvável Liga da Suáhia e os Dois Grupaine~iiosc ;I
Al~ernblé~a de C7;tririiriponese.s de Bodensee r AlIg8u: Prefácio e ExortaçZo de Lu~ero".
li111seus cnmentúiios :io texto, escritos para sereiii sua última palavra ein relação à 10
(;iicira dos Canilioiicscs d r 1525 na Alemanhii, Liitrro ressaltou a imponincia de
~ I I I I ; soluçZa
~ pacífica c ncgociadn p;ua o conflito, saudand<i o acordo coriio uma
!?r;i$a especial de Deus numa ipoca selv:~geiiie terrível, c descjando quc i;uriEiri na
icgião csnw.il da Alemanha os cainpoiieseh agisseni rle maneira sensata a liiii de se
<:virar denaiiaiuento de sangue. O refoririador manifestou aqui novamcnie sua fé 15
iiicondicional de que em última instincia é Deus aquele que age por intermédio de
scu governo secular, a fim de preseivar a criaráo e as ordens por ele estabelecidas.
"Elc [Dcusl quer e quererá que suas palavras sejam cumpridas [Mt 26.52; Rm 13.21,
ifio prestando atençáo, se soinos camponeses i1u senhores, se nos chainamos de
iiiiiZos cristãos. ou ao tipo de pretexto que us;uiios c pelo que cada qmil pode se i r i
,~:uiar.Deus não se deixará zombar!"
L,utero desaprovou os abusos cometidos pelos priiicipes após sua vitóri:~.Logo
ilcpois da batalh:i de Frtiiikenhausen, dirigiu-se por iiieio de uni panfleto 3s autorida-
ilcs, pcdindo que ~ l a oroiiietessem exageros e fossrin cleiiientes em relaçao aos
L . X I I ~ ~ O I aprisi~nadoh.'~
I?WS Isso, coiiiudi~.iiko impediu que as posi~iiesdefendidas 25
c111seus panilzlos, cspcciaimcntc em Allcialo: Coil1r;i as Hllrdds Sa1teador;i.s ..., fos-
si:iii d~trariieiirecriticadas tanto por partidásios quanto por inimigos da Refornxi. Jogo
('<iclco, representando o lado romano, escreveu em tom polêmico um comeiit;uio

ir) ( ' I . WA TR 5.657 ( ~ 2 9 ) .


i 1 \i,rrr;ig ~wiiclii-lidcrn ICihLichen Biind zu Schwaben und ~ F I Izwei Haufen unrl Ver'nniii-
iiiii;: ikr Biiiicni i . i > ~ iBixfensee
~ und iWgau. Lurhers I.t>ireiirimd Vemahnung, 1525. In:
\V,4 lS..l36-343. O Acordo de Weingaien, iralado a 17 e assinado a 22 dc :ibril de 1525,
~~t.ittiiiiii I I cticcnarncnto do contlito ria regia da Alta Suábia. Os camponeses coniprotiie-
l r r i l l l l ~ l l <i1 pennitir quc um tribunal pait'uio decidisse a respeito de suas exigzncias, a
~l<~~liioliil~xiic scu gnipmento, a voltar a tolera seus senhores e a continuar pag:m<iu OS
i i ~ l ~ i i i <ar6 i s que o tribunal chegasse a uma decisào. Jorge Euchess von Wd<lborg,ccuriizin~
ikiiiic <Ictropas da Liga da Suábia, comprometeu-se a não punir os reklados e a deixar que
lii.:isscrn coni suas amas. O acordo foi lun lance eshat6gico da Liga da Suábia, que ilessa
i~i;ilicil;idcsmohilizoii uma das principais forças camponesas e liberou suas trupas piir;i <i
<iviiih:itc sios rebelados em outras regiões. Esse detalhe era <lesconhecidu por Lilicii>.
,[i1:i1i<Ii> c<liti>uc prefaciou o texto.
iH ( ' I . <r,i;í cit:iilc, Frrívcl Histdnil cJliim </cI)L.ti.s ,Sohn, B>r>i;í,s Miiiitiir lii: WA IX. 371. 10\*.
;cerca daquele escrito, que foi p~iblicadoem alemio e latim.3' Cócleo não só repetiu
;i ;icusaçk~de que Lutero seria o iiieiitor iniclectual da rebeliáo, mas afirmou também
que ele scna responsável pela derrota dos camponeses por sua hipocrisia e falsidade,
já quc primeiro tçi'se-ia colocado a favor deles, baldeando-se depois p x a o lado dos
príncipes. Muito mais dolorosos p x a Lutcro, poréiii. foram os juizo5 negativos
vindos da parte de seus amigos c colaboradores. Entrc os párocos de hlagdeburgo,
segundo inlonnaç6es de Niç«lau voii Aiiisdorf, teriam ocorrido discussões nas quais
o refr~riniidorfoi tacliado de "adulador de príncipe^".^ De Zwickau e Mansfeld
vierani relatos semelhiinics. ressalr;uirl» ;i pEssima opiniáo reinanic eiihe a gente
sirnpleh e ;I iiitelechi:ilidade a seu respeito por caiis;i do que escreveu. As riiesinas
pcssons i ~ u vo c»locarniii n par disso prrs~ioiinr;iiiiLutern para que novnnieiite sc
~iiluiifestahheem rela@o ;.i: inisi$ões assumidas durniite a rebelijio. Ele correspondeu
a essa expectativa por riieiil <ic uiiiu prkdica, realizada ein Wirteriherg a 4 de junho
de I525 e posterionnentc publicada sob o título Posicioiiamenr<i do Dr Marlinho
1; Liitrru Sobrr o Livriirho Cmtra CJ.Y Cmporie,qcs Ascal1;uifes e A.s.<asciios.., e do
escriio C.ma Abem :i Reipeito do Rig<or«,$oLiv~ifihoConira os Ce?rnponeses.l'
Cerca de Lim ano depoisl as consciCnci~5ainda estav'un sob o fotts impacto da
escala$Zo e brutalidade vividas na guerra civil. A pedido, Lutero redigiu Acerca da
Quesi.ir>, Se TamDém os Militares Ocirpiun uma Fioição Bem-Aventuindd2, onde
refletiu sobre o tema da legitimidade d;i guerra.

Ricarilo W. Rietii

por ir; nascido em ~cnddsieiri,I ~ r á . a~ ~chwabach.


o ~ r ; u i c d n i a .linha como verdd-
(Iciro sohrciioine Dnhneck. inizgro~lc> tnuvinicntu Iiumanisu e destacou~seçonio teúrico dii
iniúsica Foi influenciadido pelo h u ~ i ~ u u b iWliihaldo
a Pirckhc-hir, dc Niinikrg. Desde 1520
~xirsoua ter contatos estreitos corii 3 Cúna Romana. Em 1521 tentou ckniaver Lutero dc
siia posição durante a Dirw de Worius, vindo a tomar-sc depois um dos rnais ferrenhos
iqa,sitores do retonnadrir. Seus comeiilános polêmicos acerca dos cscritos r sua biogralia
ilri reiornador (1529) influenciaram grmdeincnte o modo dc os católico-romniios verem LI
1.11Icroaté n século XIX.
40 ('I'. WI\ Rr 3.511,517s. c 528.
41 Vcj;i ;il>;iixo,p. 317.33') i' (340) 142~159.
42 Vc,,j;~;~I>;tixo,!>. (3f70) ~ltil,
Carta aos Príncipes da Saxonia
sobre o Espírito Revoltosui
1524

A Rcf«rin;i foi. ilcsdi seus ~riinúrdios.iini inoviment« inarc~dopor diferentes


c-<~ncepqões c posturas da parte de seus prot:ifo~iistus.Justaineiite por isso chegoli-se
~ . i i i ccrais rnorncntos ;i iuilneoriisino:.
u
insliiiciiiveis. O relaci~~iamieritodc Luíero e li
'li~iiiisMuiitzer talvcz se ja o exniplo niais eloiluciiie disso, apesar do [muco ieinpo
LI,. coiivivEnçla que liver:itn2.
No ano de 1523. qiiarido Muntzer tniiiiiu-se pregador da Ig~ejaddc SZo João em
Allstedt, já era coriliecid« conio crítico &,I R d i i m a proposla por Luteio. Este. por
Aiia ver, taiiibtrn j i estava consciente iiçssa época da pn~í'unda diversCiicia de i11
~x~siçí,çs existentes ciiirc ele r Miinlzir, coiisidci-and« iiieviíável uni :tcerto L% corit;is
< , i i r Wiitcnherg. MuiiC/cr riegoii-se a s:itislãzrr lal çxigência. Eni brcve ele coiisrguir;~
~.\iciidersua iiifliiénci;i sobre! iiililta giiiite lia pequena cidade de All>tcdt. s«hre Jaio
Y<.i:.s(m. 1525). icsporisivcl pelo castelu e iliieseritante lucal do prúicipe icnit«rial,
,:cil>rl:Siinnii H;ifciitz (m. 1541j, seu ~'111rgid nu funçào de pl.cgidnr. e passilra a ~ U U U 25
siiiil>aíir;iiites de ;il:rii das fioiiiciras temitoriais do enclavc \;r\iii-eriies1ino. Ele se
i<>iii;irapopii1:u por siiiis prédicas caiivanles c pela refonria lilúi-pr;i qiie iiiiroduziu.
A Rcliirm;i etii iUlslrdt iic;ihou assumindo urna d u ~ l atensão: eiii irl;tc.iio aos lidcris
iI:i Reforma çm Witteiibcrg e ein relaçáo à nobreza ainda fiel a lioii1a, que govenmva
icsiiiiirios viriiihos - incliiindo-se aí o duque Jorge. (i Barbutlo, d;i S o ~ i >(1471, ~i
I'ili0-1539), ernpedcniido iiiiinigo da Rctuniia.
1)csde 1521, Lutem triitxa por repelidas vezes infl~ieiiciarde toniii indireta a
Miitii/ci-, sei~uido-septird tal de aiiiips. Em novçml>i-o,JUROLmg íca. 1487-1548)
c - I t i 1 1 ito provavelineiitc Jorge Espalatiiio (1484-1545) estivera~iiem Allstedt pai-;i
cI~;ili,j~:ir cilin ele. Etii conseqüência, Miiiitzer publicou dois esctitos3, :itr;ivés dos 1.
~1ii;iis:ti-;iliou se distanciaiido, por primeira vez em público e ainda inodcitidamente,
iii~~vii~ieiiiodn Refoiliia dc Winenberg. Tgunlinente sem sucesso, foi ;i empresa
(1%.Iiisii, Ioii;is (14Y3-1555)3qiie no início dc 1524 foi ao encontro de Miiritzer para
iciii:ii ~<.ci~locá-lo hub a iiiflu&iiiia lcoliígica <Ic Lutero. No dia 24 dc ni>u<odaquele

i I i ~ iIir;<,l';i,i </!c Furslcn LU S:ic/isrri ri>ii </ciri ;ruf?ühreii,sclicn (i<-isr - WA 11,?10-211


l i , ~ * l > ~/ /~ ~; /~ /~X~, :hlichel.
I~~
' de Müntrcr cf. liiin>diicái>;io Assuiii~>.
iIi> I W I S : " I I P I I I ~
:\<<.ii;i 11. 27s.
~ l ' r ~ ~ l c so ul aO~l ~ ~
i l ~ ~ , rEr/~rc~Iung
1 / ' , ~ ~ 1 ~ ~ , s l ; , c~t/cr r c~c i ~ n cc~ W1r1
~ l ~d~ c)
, ,~ ~ ~ ~ ~ / l(;/:,,,/XY,
c~/~l~~l~~r
IAccrc:~<Ia I ? 111vrr~I,~l;!). i),: 'I'. MljNVLlil<. . S < ~ l ~ r i /~~,1~11~ricIi~:
ic~, A r l l i ~ ~~ ~~l , ~~ ~~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ I .
1 ;iiiillii.i I:I:III,,(1.11 i. (;iilcr~I~~I~. I'JOS, 11. 215 !lll li217 ?>4.
Caia aos Priiicioes da Saxônia nbre o Esuínto Revoitoso
;iiio, um pequerio g i p o de m«radorcs de Ailstedt incendiou a vizuiha capela de
Mallerbacli, uriia est:i$ki de romeiros perlcnccnte ao convento de freiras cistercienses
de Niundnrf. Qii.iiido estas acusaram os incelidiários diaiite do goveriio imperial,
Muntrer e seus :i~lcptosc~ilocararn-seao Iado dos culpados, coiiseguiiido nhstnculi-
zar por senianas sL13 pllniçXo. J i nesta <icasiiio, mostrani-se dispostos n resistir
;itivoiiieiiiç por inicio da força. A 13 de jullio. cedo pela mtinhu, Munizer deve tcr
;ipreseiitado ao <loque Joâo, o Constaiite (1468. 1525-1537). ao d~iquec pnncipe-
Iierdeiro J G o Frederic~i,o Mignâniino (1503, 1532-1547. 1554) e, talvez, i comitiva
que ns ;icoiiipanhuvu, sua ftiinosa prCdicd sobre o segundo capítulo de Ddniel. Lutero
toinoii coiiliçcimciito do conteúclo desta prédica soniente iin fiiial de julho. A notícia,
por6m, de qiie Muntzer hayia pregado diante dos dois diiqucs dzi Saxôiiia emestina,
chegou a t e s disso até ele. E inuito pr(~vávclque esta, juiitdrneiite com as informações
sobre a disposiçXo do pregador de AllslcdL de fazer uso da força, tenha rnotivado
Lutero a opor-se p u b l i c m n t c a Müntzer e a lembrar os senhores territoriais quanto
i , ;i sua rcspoiisabilidade pela manutenção da paz e da ordeni. E111 meados de julho de
1524, ele já Linha redigido C;irf;i n o s Príncipes da Szix6riin sobre o E.9pírilo Kevolloso.
A primeira ediqão foi impressa por Lucas Ci-anach, o Velho, e Cnstiano Donng em
Wittenherg. Muritier logo tçve oportunidadc de ler o escrito de Lutero e entre final
de ;yostci e coiiieço de ssdcinbro de 1524, quando j:i hdiisferira residsncia de Allstedt
'ti p u a a çidadç inipciiiil de Mühlhaiisen, resporidia com sua úicirn~i;ssir~i:iApologia e
Rc.5po.5La conln 3 Canis InsIpida e de Vida M;in,w de Witlenkr? ...".
Ao fazer unia ahor~iagemhistórico-teológica da situa@« e :i« exigir que a
;iuioridade revid~issei violCiici:i mediante o uso da forya, Luiero defuliu eiii luihas
g e i i s a posição sohse a questão <Li rcsislEnci:~çiii nomc do Evaiigelho, que assuiliina
.. uiii :iii<, d ~ p o i spor ocasiáo da Guerra dos Caiiipoiieses. Ele escreveu fortemente
iiit1iieiici;idii pela avaliaçáo que fez da situaçâo, pela qiial seiia tarde demais para um
dcbatc icológico coiii Muntzer, pois já se atingisa o poiito em que este converteria
sçu disciiiro em ações violeiitas. Seii objetivo, portanto. foi ;ilenar 11s governantcs a
respeito da .ameaça representada por gente como Muiitr.er. Assim, Lutero, neste
I cscnto. náo checou oromiamente a confrontar-se no ulanri ti~ilóricoconi seu vcnsa-

-. -- ~~

No decorrer de t«do o texto, Lutcro ldliiu apcnas em Allstedt, lugar geogáfico, mas
1120 citou nonics. Ele se referiu sempre, isso sim, ao "espísito revoltoso", ou seja, a
4. delerminado coinportamento que iião precisava necess;inamente reduzir-se someiite
i: pessoa e i ohrn de Muntzer. Este, sem dúvida, era aquele que purd Luter« estava
ciri primeiro pl;uio no g u p o de manifestantes desse "espírito", rii;is o rcl'ormador
iarribéni poderia ter incluído sob "espísito revoltoso" gente conicr o j:i citado Hafcritz
c como os resp~~risii\,eis pelos tuinullos dc 1521122 em Wittenherg: os profetas de
iii Zwichou e Andre Roderistein de Karlstadt5.

I Ilcn.linnin;ichlr ,Schufucdc und Aniworí widcr d:as giirtii,.s~,sioiiilebendr Flei.?ch LU Wil


.... Ihid., p. 321-343.
ii.iili<?g
S Si>l>ici>i > i i > i i i < l i >ciii Wilic~ilx'ip.vcji ;,cima "Unin Siiicir:i Ennrla$Xn a 'li>dos i i s ('ris-
~:ii,\...".iiisic voliiiiic 1). 472,181.
0 s rnntcúdos dz Carta ao,s Piúicips da .'h~6niri sobre o Espírito Revil/to.so
podeni ser distribuídos na seguinte estrutura:

I Dcdiçaióiia - p. 286,35-38

3 Introdu$io - p. 287.2-289.10
3.1 Perscguiyão à I'alavra na hist6rii1 da Igreja - p. 287.1-12
7.2 Perseguição i Palavra lia 6poca coiiteiiipor~iea- p. 2X7,13-289,10
3.2.1 Mediante a violtiicia - p. 287,13-2S
3.2.2 Mediante a falsa doutrina - p. 2S7.28-2X8,IO
3.2.3 Conteúdo da falsa doutrina - p. 288. I I-2X9,lO

4 Atitondadc e rcpressiio ao "espírito rev«lt«s»" - p. 289,ll-290,19


4.1 Intençâo da carta - p. 289,13-290,X
4.2 Responsabilidade da auioridadc - p. 290.9-1')

5 "Espíiito revoltoso" vcrsus espírito do Evangelh~- p. 290,20-296,27


5.1 Ohjzhvo do "espírito revoltoso": violêiiciii - p. 290,20-291,7
5.2 Exuiie dos espíritos - p. 291,s-291,lS
5.2.1 Fiiga do "espírito revoltns~i" ao cxume - y. 201.11-292,2
5.2.7 Passagelii do espírilo do Evangelho pelo exiiiic - p. 292,3-16
5.2.3 lènior do "espírito rcvoltoo" pelo exame - p. 293,l-15
5.3 Repressão i violEncia do "espuito revoltos«" - p. 293,16-294,s
5.4 Exame da d~~utrina - p. 294,Y-105-4

5.5 Exame das obras - p. 295,s-296,27

(i I ~ i k çoin
i a Palavra e rechaqo à violência - p. 296.28-299,6

'I Apclo fmd - p. 299,7-13


Ricardo W. Rieth
3,)

Sii-ciiíssiiiios, ilustríssimos Príncipes e Senhores. Seiilior Frederico" Prín-


LIIN' Iilcitoi. d o Imp6rio Romano, e João', Duquc da Sax6iiia. Landgavc da
liiiiiigi;~c Luiidgrave d e Meissen. mcus Magnânimos Seiiliorcs.

Ircrh.ric<i 111. < i Szíhio, duque, príiicipc-clcifoi d:i S;ixGiii;i (1463, 14x6-1525). cr;i <gover- i
11:~111r 1vr~Iori;il<lc1,ulcro c !!%ose O ~ I I O I I :a<> ~ I I ! ~ V ~ ! I I C I I I ~c k ~I<cl'~~~rt;~.
I .I<~ o Oi,isl:iril<',
~ i < ~ ,<Iiiiliic.prílicilir-clriic,i (I:, S:iriiiii;i (1408. 1525-151'2).i i i i i ; i i i <li. I ' ~ i l i . c i i . i > ,
,.iI*'a.<Ic.ii Ili.li>riii:i.
ii;i]"is h i i i l i i i c i i l l ' à l~rclili.iI~~i~li~il~ir:i~lii~niiiis~vciiil~i;!liv.uiiriili.iicii<~viitii~iil~iiI;i
Cirtt aos Prinçir>es da Saxonia sobre o Espírito Revoltoso
Graça e paz em Jesus Cristo; nosso Salvador.
A sina da sagrada palavra de Deus sempre é que, quando vingax, o diabo
se opõe a ela com todo seu poder. Em primeiro lugar com o punho e a
violência sacrílega. Quando isso iiZ« adianta, ele recorre ao discurso engano-
so; :iespíritos e doutrinas enganosos para qiie, não podendo sufocá-la a foi-ça,
c«tisiga suprimi-l;i com asiúcia e meiitiras. Assiin o fez no começo. Quando
o Evangelho apiueccii pela primeira vez no mundo, ele o atacoli violenta-
mente através dos judeus c gentios, derramou muito sangue e cobriu a
ci-istandadc de máriires. Qurirido isso náo quis adiantar, suscilou fiilsos pro-
l~ retas c espíritos enganosos r encheu o mundo de hereges e seitasy >ai&chegar
ao papa, que, com pura Iicrcsia e sectarismo (como convém ao de1~adell-oe
mais,poderos« anticristo), o lançou por ter+alU.
E isso que deverá aconteccr agora, para quc se veja bem que é realmente
a palavra de Deus, porque lhe acontece o que sempre já aconteceu. Aí o
1 papa, o imperador, reis e príncipes a atacam com violência, querendo repri-
mi-Ia à força, condenam, injuriam e perseguem-na sem tréguas e sem defesa,
como loucos. Mas a sentença e iiossa resistência há muito já Soram definidas
no Salmo 2.1s. e 4s.: "Por que sc cnfurecem os gentios, e os povos imngi-
riam coisas vás? Os reis da terra se lev:intam, c os príncipes conspiram coiitr;~
o Senhor e contra seu ungido. Ri-se ,aqiiele que habita nos céus; o Senhor
zomba deles. Em sua ira, a seu teriipu. Ilies I i i de filar, e com seu furor os
~ipavorará". E isso que. com certeza, também vai acontecer aos nossos
furiosos príncipes: elcs esk7c1 pedindo isso, pois nZo querem ver neiii ouvir.
Deus os cegou e cndiireceii, a fun de que insistam na oposição e S~acassem.
-7
Náo foi por falta de aviso.
Tudo isso o diabo vê e se dá conta de que essa fúria toda iiáo dá
resultado. Ele sente e nota qiie (como é próprio da palavra de Deus) quanto
mais ela é combatida, ianto mais ela se difunde e cresce. Por isso ele a ataca
tainbém com Iàlsos espíritos e seitas. Contra eles temos que nos defender e
ná? nos deixar cnganar. De fato, terá que ser como Paulo disse aos coríntios:
"E necessirio que haja seitas, para que também os aprovados sejam revela-
dos" [I Co 11.191. Assim, depois que foi expulso, o diabo vagou durante
um ou dois anos por lugares eiuios. ? procura
i de sossego, sem, no entaiilo,

X Ni, original: wennr auffgchi,i. Ç, quando hil>iaou cresce. Aparrnrementc Luirro expressr>ii~
c ;iipi iiispil~<lonunxi cornbina~áod a paiábola~do senicadur. c t Mr 133~8.18-23.c <I<)
,<tio,d'.Mi 13.14-30.
-
N;I Ir:idiçâr> da lei-ci;i
~ q ~ t ~ t:i~ <~rgiin~,i~$Xc~
l ~ z i
-
.. i\ciiic:i. hereec cra quem se oounlia à doulrinn. c scci:uio. uuciii sc
cclcsi5~tic:1.
I 0 liss;, divisiio d;i Iii\iiiri:i ccli,\i;i\ii<;icin très períodos - a mais diiundidii ti:i Cpc,i ~ I c
I.iiicii> j.i csi:iv;i IV~SC.~II<. (I:,? <d1rx1 <1ç Ag<istinho (154-430) i Bem;u-ílo <Ic <'l;ii;iv;il
(IO'JO llí!).
GUCIKI
dos Cmponcscs
enconti4-10" e se estabeleceu no principado de V. A. P., fez seu ninho em
Allstcdt c pretende lutar contra nós à sombra dc iiossa paz c prote~ão'~. Pois
o principado do duque Jorge, ainda que seja viziiiho, é muito boildoso c
afável Dar:] coin um esoírito tão destemido e insiioerivel (como eles se
corisidcrruii), druido-lhcs ensejo para porcm ali :I prova toda sua valentia e s
coragem. Por isso taiiihérn berra tão horrivelmente e se iliieix;~de que eshria
sofrcndo muito, ainda que, ali açorn, iiiiiguém o tivesse atacado, seja coiri
iiniilis, de boca ou de canela". Estio soiihruido sua grande cruz quc dizciii
carregar. Com tarita frivolidade e serli razão o diabo tem que mentir. Ele não
pode negar-se a si mesmo. 10

Para mim é uma satisfaçio toda cspcciiil quc não são os nossos que
iniciam uma pe1turbac;ão desse tipo. Eles própiios fazem questão de se
çloriarcm que não pertencem a nosso grupo, que nada aprenderam ou rece-
beram de nós; eles vêm do céu e ouvem o próprio Deus falar com eles, como
Tala com os anjos'" e acham uma coisa péssima que em Wittenberg se ensina 15

a f6, o amor c a cruz dc Cristo". "Você tein que ouvir a voz de Deus

11 CC MI 12.43. Luiero reldcioiis cssr iexio bíblica dkiaminie a M"nlzçi qiiç, dcpois d r
:ib:m<lonar s%içlaininlL. a Zwickii~i.cni abril dc 1521. quanrl<i çssa cidiidc da S;ixòtiia
ciiicstiiia eizi palco dc uiu Icvaiilc pi>piil:u. dirigiii+sc a Pr;iga. n;i BoEmiii, onde esteve erii
drzcinhro do mcsmo mo. Dcpois disso, pcianibulo~ipor diversas cidades da parte central
ilu impfiiu - N<iidhaosoi, Eifurt c Hallc ciitrc outras , scm poder fixar residência em
iiii~ihumadclas, ate cstabclccer-sc cin Allstedt clii 1523.
I2 Allstcdt. perto de Sangerhauseii e no norte da Turíngia. era iima pequena cidade onde
vi!,iani cerca de 120 faniílias por volta do ano de 1510. Ao seu redor havia 9 aldeias, ondç
residiam mais 262 famílias. Sua principal atividade rcoriârnica era a agricultura. Do poiilu
ilc vista gcopolítico, Allstedt estava nuriia siluação peculiar, pois era iiin enclave na Saxônia
;ilhcltiria, governada pelo duque Jorge, o Barbudo, um dos nohres mais hostis à causa dos
rcli>ilii;idoies.Para mais informaçóes sohre Allstedi e a 3tuaçSo de Münlzer ali, veja acima
.i iiiliiiiluçEo ao presente escrito, p. 284s., e abaixo a introdução ao escrito seguilite, p. 300s.
I i A iir,rii;i de Lutero não corresponde lotaline~ilei verdade. Em junho de 1524 o coiiselho e
.i ii>iiiii~iidade de Allstedt dirigiram uma carta ao cluqiie luâo. reclamaido dos consmiiirs
, i i ; i i l ~ e~ caiiiraças
~ de iu«rie pelos vi~iiilio~, que eram iiiiiiiig«s da przgação ~f<irinat6itiiria,
ii.l,~ciciiia<la por Miinl~ernaquela cidade. Drsdç 1123, i>coiiilr Eirirsic dç Mansleld (1479,
1.1X~1-15.31)r i>iliiqiie J<irgç, <iBarhudi, - d.acirn;, 13. I2 - iiii1i;un prciibido a scui
..iiilil<>ii ~ u cIiriliieiitiissem cult<i.;çni igrcj~sdc Allstcdt.
1.1 ~ I I ~i!rias
I â Melanchih«n e Luisio. h.lii!ilzcr ;iliicna quç çles niío ç u n h w ~ ~ a n~;~:LvI:I dc
1 ii.ii\, pois cada pçssoa devçria ser iiiiriiicki pil:i ~iliipri;~ Ix,ça de Deus. C f T. MUNTZER.
<III. i.;(.. rispeclivamente 380, 9. I6 (ou W4 i31 .3.105,23s.) e 3811, 16s.
I.\ liiii \cur cscritos dc 1524, Müntrcr divcrgi~icr~ilrss:mcnlcdo quc sc crisinava cm Willcn-
la.ic ;i ic\lxiir>dc i'&. N o iiniil d i Pir~lc.sl:irUi,~
< ~ < l c . iEriiictiing (Pii>tcsi;icEr> Okcccinicn-
l k i l . Mii~tlícisc disl2uici<iu ikis c ~ I I c c ~ ~(Ir ~KI ~llclil
~ ! , c dc I~(>lopos i~lil~lli~ilus
COIII I<o~nii.
( ' I . I ' . MIIN'I%I<R, o,>.ril., 240. 2:l.
Ciriii aos I'rú~cipes da Saiônia sobre o Espírito Revoltoso

pessoalmente", dizem e l e s , "soiirerL6em você a obra de Dcus e s c n t i r o peso


(10 tulcnto quc lhe foi confiado". As Escrituras não i n t e r e s s a m . A Bíblia é
I)csleira, Bíblia, B u b e l , Babei"'" e t c . Se disséssemos tais coisas d e l e s , a ciuz
c. o sofrimento deles ( c r e i o eu) seria111 mais valiosos do que os de C r i s t o , e
i;iiiibérn os teriam em maior apreço: a esse p o n t o o pobre espírito gostaria
ilc s o f r e r e se v a n g l o r i a r com sua cruz1". N ã o o b s t a n t e , não quercm tolerar
( I I I C se duvide Liri1 p o u c o sí, e q u e s t i o n e essa sua v o z celeste e obra de Deus.
( l u c r e m simplesiiieiite Sor~ara que se a c r e d i t e iiisso. Assitii. nts. o m o m e n t o
i;iiiiais li ou ouvi a rcspcito de um "Espírito S a n t o " ( s e ele o fosse!) t ã o
1 ai-ii>gantee orgulhoso.
A g o r a , porém, não teiiios l i e m t e m p o nem espaço para discutir sua
iloiiti-ina, quc no passado já abordei e analisei por duas vezes2". Se for preciso
;i16 posso e quero analisá-la de novo, pela graça de D e u s . Escrevi esla carta
;I V. A. P. t ã o - s o m e n t e porque ouvi e também deduzi de sua publicação que
1 , k,sse espírito n á o i r á c o n t e n t x - s e com palavras, mas p r e t e n d e u s a r a força e
sc opor à a u t o r i d a d e com viol?ncia, c organizar para t a n t o uma verdadeira

I(> 11111 Von derri gedislifefc~iGlauhni ( A C E T C da~ F6 Invent,?da. cf. T. MUNTZER, >i!>. cit
l0s.J. Miiiit7rr escreve: "Aisim n jxscoa de\.? nbcrnrar a "iarieira como cofre ioh a iihin
ilc Ilciis". I lateriti tzmhéln e~isitioualgo semelhante ein Ei,i Ssrmoii Vnrn Fcst derlieiligen
(li-y Koirlg gqlrf<fjgf durc11.Sirnonerii Ilafeiitz zu Alstet (Semão da Festa dos Santos Três
I<i:is Magos, pregado por S. Hatefentz em All~tedt)em 1524.
1 ! ('i. Mi 25.14-30. a o:irihola do, talentos. texto aue Lutero einoreeou . " <ti!,ers%s wzer. Elc
i:ii~iliicntcria içstemunhiido o iiio de expressâo semelliante por Nicolau Slorcli - cf, abaixei
i , . 2 0 . ç1: WA TR 3, U X37b.
I X ( ' i i i i i ;I ~.nigciiçi;ide ouvir a piilavra viva de Deus ile sua própria . . boca. a Bíblia passa a scr
<.<>iiri<lçiaila ;ilgr>morlo. MÜ~;LL?~chamou ?len$.lo a isso repelida vexes - c[ p.ex. Pmgcr
M:iiiili..sl (M;milcsiu de Waga iii: 'r. W I Z E K , op. d., p. 501, 25-28) - v:llendo i>
iiii,srii<, 17:~ral~k~lçritz ein Ein S e ~ n ~ oVUIB n F S S ~der heiligen drey K a u g..., que. iliciusivc,
iicoki cxlwcssiij,, sznielhanie i <pie Luiçro rcprriduziu ile 1,irma çariçaiural.
1'1 1J i ccrii<is di Müntzcr e Haíerii~.a partir dos quais Liitero P z essç resumo - cl. acini;,
11. I5 c I0 - çsljo acentuadamriiie raraciericados por cssa içrilogia do solrimrnto: d qu;il
i . 1 ~:il~oni;icoi~i<i cino para çu3 miilisc.
'I1 1 I iIiipl<,icc<icihicimentr>e a ci>ridciiiiq.ii> da doutrina aris q u i s L ~ t e se r ~ refere dizcii~
ii.\l~ciii,:i scu cricontrn com Marcos Tlioma, cognorninzdo Stiihncr (m. ;ip& 1521). i.1~1
; i l , i i l . c i.<i111 Nici~l:iu Storch (m. ISLS) cni setembro de 1522 cm Wittenkrg, toiiil*:iii
i~<,iiliciiilosciiino "prnfctai dc Zwickiiin". Estrs - dos quais Miintrcr r c disluicioii.
\i.!:iiti<l<l ciiil;i dc 91711523 a Lulcrn (cf Wi\ BT 3,106.65-67) - juntamcntc coni Il;dci-11,
<. li:iilsi;iili, <;i<>t<id<isiridifcicnciadidamcntccompreendidos por Lutcm corno rcprcscnlcuiicc
< l i > "c\lilit<>rcv~lic>so".Rcsu1t;ido dos conflitos dc 1521 c 1522 cria Wittciik'rg fi>i:irri < i \

i.\<iiliis <Ic I.iiiclr> "Oiu, Sc!i~i<ícs da Quarcsrna Prcgdddos crn Witlctilxr~", 1522 (A<.lii
.Si~r,ii<irii. 11. M 1,iillici:~voii iliiii gcprcdigl /[i Willcnlzrg in der F~~slcii - i n v ~ ~ ~ ~ ~ , v i l ~ ~ , t ~

<Ii;:ii.iiJ.WA IO/lll,lL(tl. c. !i<>i.\iiil<i "l>c Ariihds as Esptcics do Saci:rnicril~~".li?? (Viiii


l x ~ i l~; ~l ~~. ~ idcs ~ ! l.S;~kr:tnk.~!i.,
l WA lO/il,l 1-41. c "(JITI;~Sincera 17.sor~;~v:~~t
,!, o~~/ut,cn), ;!
'I;MI<~A í ' r i ~ l : ~ ~ ~< I~, ,1,., . .I'"!' , . l K I.
Gucira dos Camponeses
rebeliãoz1.Aqui o diabo revela sua safadeza, mostrando até demais. Que será
que esse espírito inventaria se conseguisse a adesão do populacho? Já havia
ouvido desse mesmo espírito aqui em Wittenberg que são da opinião de que
6 preciso resolver essa questão com a espada22.Pensei, então, que pretendiam
assumir o controle da autoridade secular, a fun de se tomarem eles mesmos 5

senhores do mundo, apesar de Cristo ter rejeitado tal propósito perante


Pilatos, dizendo que seu reino não é deste mundo, e apesar de ter ensinado
também a seus discípulos a não se porlarcm como príncipes do mundo2'.
Ainda que eu saiba que V. A. P. saberá agir melhor nesta questão do
que eu poderia aconseihar, mi&a condição de súdito me obriga a fazer li]

também minha parte e pedir e a l e m a V. A. P. respeitosamente para que


leve essa questzo a sério, e que, por dever e obrigação de autoridade consti-
tuída, coíba essa tolice e se antecipe 21 rebelião. Pois V. A. P. sabe perfeita-
mente que seu poder c autoridade secular lhe foram confiados por Deus a
fim de preservar a paz e castigar os pciíurbadores, como Paulo ensina em 1s

Kommos 13. Por isso V. A. P. não pode cochilar e vacilar nessa questao.
Ileus vai cobrá-lo e exigir prestação de contas sobre o uso permissionjrio c
;i seriedade da espada confiada. Nein perante o povo e o mundo scria
(Icsculpável que V. A. P. tolerasse e suporiassc punhos rebeldes e atrevidos.
Se, poréin, alegam (como, aliás, costumam fazer com belos discursos) 211

qiie o Espírito os estaria constrangendo a pôr isso ein prática e usar a


violência, eu respondo o seguinte: Primeiro, deve ser urn espírito mau, que
1150 pode provar seus argumentos a não ser com demolição de igrejas e
conventos e a cremação de santosz4.Isso é coisa que só os piores patifes do
inundo poderiam fizer, especiahnente onde se sei~tissem seguros e não 15

ciicontrassem resistência. Eu preferiria que esse espírito de Allstedt se din-

?.I Nos escritos de Miintzcr anteriores a essa carta - c[. a c h a p. 284, n. 3 a i o se verifica
seiiiclhante intençào cxposla por Lulero. Muntzcr, em Inciiddhsinia Apolugia e Rcsposia
<iii,ir;t a C m ~ ÚisIpidil
e C de Vida Mansa de Wittenberg..., sua réplica ao presente escrito
ilc 1,iiiero - c[. acima p. 285, n. 4 - rçíere-se a um escrito seu, hoje desapare~.ido,como
i,ri,v;ivcl fontç dessas susmitas. Ao uue tudo indica, aqui Lutem está ~revindoas consc-
ilii?iicias possíveis daquilo que estava ~ u r r e n d oem Ailsledt com base nas infomaçUes quc
viiihe recebendo de diversas fontes.
.!I Ilcl'ir~nciaàs atividades dos "proietas de Zwickau" cm 1522em Wittenberg. C f acima n. 20.
? I VI: Jo 18.36 c Ml 20.25.
24 Aqiii, Lutero agumenta pensando na deswiçãc da capela de Mallerbach a 241311524 (cf.
;i i,~troduçãoao presente escrito). Nos escritos de Munlzer disponíveis hojc não se enconwa
liiiiclamcntação para tal açáu violenta - cf. acima n. 21. Em çarla dc 22flll524 a scus
sçrihorcs tcriitoriais, que cogiidvam dii expulsXo dde Allstedt dos reSugi:idos de tçrritórios
Ii<isiisà Reforma, Müntmr çscrcvcii: "Sç u,ii ni<rvid<ipelo csp(rii<i<Ir 1)ciis. <Icv<iuliiiic-
irr-iiic ;t wis como iiicus ;úhitii>s,,;i I? <I<,\ rtisi;ios...", ç1: T. MIIN'I%I(II. <,I'. <.;i.417. 2')s.
C a a aos Príncipes da Saxônia sobrc o Esphito Revoltoso
gisse a Berlim, Dresden ou 1ngolstadt2' e ali ocupasse e destruísse conventos
e queimasse santos. Por outra, não tem cabimento o fato de se gabarem do
Espírito, pois nós temos a palavra de João de que primeiro se deve examinar
os espíritos se provêm de Dcus26. Este espírito ainda não foi provado; ele
investe com impetuosidade e subverte de acordo com seus caprichos. Se
fosse dos bons, ele se submeteria primeiro a exame e julgainento em humil-
dade, como o faz o Espírito de Cristoz7.
Isso seria um maravilhoso fnito do Espírito pelo qual se poderia exami-
ná-lo, se ele não se escondesse em e s c o n d e r i j ~ se ~temesse
~ a luz, mas viesse
1 encarar publicamente inimigos e opositores, ideniiíicando-se e respondendo
21 seu questionamento. Mas o espírito de Allstedt foge disso como o diabo
da cruz, e, mesmo assim, lá em seu ninho, usa da linguagem mais destemida,
como se estivesse possuído de três Espíritos Saritos, de modo que até essa
clescabida gabação revela de que espírito ele é. Pois em seu livro29ele se
oferece a enfrentar uma assembléia imparcial, mas não duas ou três pessoas
crn reservado para dar satisfa~ão,arriscando, assim, corpo e alma destemidamente.
Meu caro, quem é este corajoso e altivo Santo Espírito, que se limita a
si mesmo a ponto de não aceitar outro grêmio senZo uma assembléia impar-
cial? Ou seja, que não quer dar satisfa;áo a dois ou três em ambiente
reservado? Que espírito é este que tem inedo de dois ou três e não suporta
iiina assembl~éiaparcial? Pois eu lhe digo: ele está cheirando o assado! Em
Witlenberg, em meu convento, ele quebrou a cara urna ou duas vezes3"; por
isso tem horror dessa sopa e não quer comparecer, a não ser diante de seus
si:guidores, que dizem "amém" a suas palavras maraviihosas. Se eu (que
<.stoiit2o desamparado e não ouço vozes celestes) tivesse usado esse tipo de

'iMcciç%, a três ceulros hostis à Kzfoma: Dresdcn, residência do duquc Jorge, o Barbud<>
(cl: :iciina a introdução ao prcscnte escrito, p. 284-285 e p. 288, n. 12); Berlim, residênci:,
<li> príricipe-eleitor Joaquim 1 (1484, 1499-1535) dc Brandeinburgo; e a cidade universitári:~
I~igi>lstadt, onde atuava João Eck (1477-1532, cf. abaixo p. 292, n. 31)
,v3 1 'i'. I I , , 4. I.
' I I .iiicrc, linha desafiado Müntrer para um debate em Wittenberg sobre sua doutina em
ciii.:iil<,r<Ic 1521. Este declaroii-sc dispoto a isso somente depois de meio ano, na pane i i a l
< l i . \roi csçrilo P~ntesl;rtion oderErbictung (Protestação ou Oferzciinento, cf. T. M O N T E R ,
<ir.. [i.240, lu), após conversas que manteve com amigos de Lutero.
'li Ailtti I .iilcri) (listorce as exigência dc Müntzer, que se dispas a debater com clc (veja ;i
iiiii:i :xiiii;i), sol>a ç<indiçãode eles não se encoiilrarem num "çarito" (Winkci),ou sii;i.
i i i i Wiiii~iiliccgc iipçnas diante de uma assistência restitl.
" 1 V i . 1 ~:iiiiii:i ( i . 27 c 28.
111 I h i i Irii.ir;,<li~sirii;i Ar><k>giac Rc.sp,st~icontra a Canie I~isipida e dc Vida Mmci <li.
Il'irii.rilx.,:~: .... sii;i iEl>lic;i;to ~ii-csciilccsçrilo, Muntzer negoii veementemente cssa inli>irii;i~
i : t i ~ . :ili.1:mcli> C I U C iikmt~aisii.ii;i sc ciic:>iiir;ido com I.ulcro h i h ou 7 anos. Esic, por rii;i
vi.,, ii<>v:iiiii.~iii.~ i : i < rsi. ii.ll.ii.;i Miiiiixcr. ~m;is;i<is"pn>lbt;is i I i %wickuu"; cl: :ici~ii:i11. ?O.
Guerra dos Camooneses
argumento contra os papistas, como eles estariam festejando vitória e me
teriam tapado a boca!
Não posso me vangloriar nem desafiar com palavras tão elevadas; sou
um pobre e miserável homem e não úiiciei minba causa de maneira 6 0
Iormidável, antes o fiz com grande tremor e temor (como, aliás, Paulo 5

também confessa de si em 1 Co 3 [sc. 2.31, ele que deveria poder gabar-se


de voz celeste). Com que humildade ataquei o papa no começo, como
implorava e pedia, coino comprovam meus primeiros escritos. Mesino nessa
pobreza de espírito eu fiz o que esse fanfamão i o d a nem tentou, antes temeu
e evitou até aqui de maneira cavaleiresca e varonil, e ainda se gaba dessa 11~

esquiva como sendo uma atitude nobre e de elevado espírito.


Pois, eu estive em Leipzig para um debate diante da mais perigosa
assembléia. Compareci a Augsburgo sem salvo-conduto perante meu mais
ilustre inimigo. Em Worms compareci diante do imperadoi-e todo o império,
sabendo de antemão que havia111 anulado o salvo-conduto, e que tramavam 1s
intrigas e astúcias estranhas e furiosas contra mim.31Por mais fiaco e pobre
que eu tivesse sido na oportunidade, ilo incu coração as coisas estavam da
seguinte maneira: ainda que tivesse sabido haver tantos diabos me visando
quantas telhas há nos telhados de Worms, assim mesmo eu teria cavalgado
para lá, e isso apesar dc não ter ouvido vozes celestes nem dos talentos c 211

obras de Deus, nem do espírito de Allstedt. Além disso, tive que enfrentar
cm scparado um, dois, até três, c a qticm, onde c como clcs cntendiam. Meu
ticanbado e pobre espírito teve que ficar desprotegido como uma flor no
campo c não pôde determinar hora, pessoas, lugar c duração; tive que estar
pronto e à disposição de qualquer um para responder, como Pedro ensina32. 2-

31 I .utcro debateu com Eck em Lcipzig, no ano de 1519 (cf. Obras Selecionadas v. 1, p. 257ss.
"Debate e Deiesa do R. Marlinho Lutero Contra as Acusaçóes do R. E&", e p. 333ss.,
os "Comentários de Lutero sobre slias Teses Debatidas em Leipzig". Esse debale, promo-
viilu pzlo duquç Jorge, o Barbu<to (cl. iiçiina n. 12 ç 25) pemiiliu a Lulero deixar mais
rkiriis suas posiqões, pruiciph~~cntz qiianto ao pudcr do papa c dos cunçilios, havcndo cni
iIicc~rrEnciaum açirramcnto das cliíeren~asc n ~ cpaiíiddrius c inimigos da Reiorna. Em
Aiigsliiirgo, no ano dz 1518, Lutero apresentou-si perante u Icgado papal, çded Cajctano
( I,lhX, 1517-1534), lia época o mais rcnomadu tcólogo da Cúria. Eni Worms, no ano dc
1521. dcu-sc uma situa~ãosingular. Lutcro, quc j:i csrava su,jcito 2 cxcomunhZo cclcsijstica,
I<ii convocado a aprcsciitar-sc diantc do impci-ddor c cscuncntos iinpcrkais, rcunidos em
:issciiiblCia. Muita gcnte dcsaconsclliou o içfoimadoi- a ir a Woms, pois a nicsrno maidado
~ L I Ilic
C concedia salvo-conduto para a viagcni dc ida c volta siinultmcamcntc proibia seus
liviix c impunha a retratação como condição. IJma situapTo, de resto, muito semelhante i
<I<> pregador checo Joáo Hus, condenado e queimado durante o concílio de Constmça em
1415, apesar do salvo-conduto que possuía. Cf. neste volume "O Discurso de Lutero e111
W<rrnis", p. (121j123-126. O dito acerca de diabos e telhas de Wonns, um dos iriois
ci>iiliccidosde Lutero, já está plescntc iiuina carta sua a F~cdcrico,o S:ihi<i, dc 5/1/1522.
cl: WA Rr 2,455.51-55.
12, ('I'. I l'ç 3.15.
Cala itos Phciws da Saxônia sobre o Esoírito Revoliosii
E esse espírito, que se acha acima de nós como o sol está acima da terra,
que mal nos tem por vermes, exige para si somente juízes e examinadores
imparciais, amigáveis e confiáveis, c não quer enfrentar dois ou três ein
reservado, a fim de dar satisfação. Ele sentc algo que não gosta de sentir, c
acha que pode assustar-nos com sua grandiloquência. Pois entiio nós s6
podemos fazer o que Cristo nos concede. Se ele nos abandona, até o Farfalhar
de uina folha 110s assustai'. Se ele, porém, nos sustenta, esse espírito ainda
vai ver o que é falar grosso. Ofereço-me aqui a V. A. P. para, se preciso,
revelar o que aconteceu entre mim e esse espírito em meu e ~ c r i t ó r i oDisso
~~.
1 ' V. A. P. e o mundo todo poderá deduzir e compreender que esse espírito
certamente é um diabo mentiroso, e assim mesmo, um diabo incompetente.
. l i enfrentei diabo pior, e ainda os enfrento diariameiite. Perigosos não são
os espíritos que se ufanam e fizem grande alarde com palavras arrogantes,
c, sim, aqueles que futtivamentc se insinuam e provocam o estrago antes
iiiesmo de serem percebidos.
Tive que dizer essas coisas para que V. A.. ' i não tenha medo nem hesite
~li;irilcdesse espírito, c, com ordem severa, consiga que eles se abstenham
11:i violência e suspendam a dcstruição de conventos e igrejas e a queima de
s;iiit«s. Mas, se quiserem p6r à prova seu espírito, que o façam como convém
I':iLcr cssas coisas, que se submetam primeiro ao exame, seja perante nós ou
pcriiiite os papistas. Pois, graças a Deus, eles nos têm por inimigos piores do
11iicos papistas, embora se valham e gozem de nossas conquistas, casam" c
ilvscoiisidcram leis papais, coisas que eles não conquistaram e pelo que não
:i1 i-iscnratn seu próprio sangue. Pelo contrário, fui eu que tive que consegui-
l i ) coin riicu corpo e minha vida, colocados em risco até aqui. Eu é quc
~~oclcria iiie gabar, assim como Paulo teve que fzê-lo", se bem que isso sela
I I I I I ~ Ilhcsteira, e melhor seria que eu não o fizesse, se fosse possível em vi si;^
iIi,sscs cspíritos da mentira.
Sc alegarem de novo, como de costume, que seu espírito seria muito
,, ~iil~~i-ior, e nosso, modesto demais, de maneira que sua causa não pode sei-
<.iiiviiilidapor nós, eu respondo: São Pedro também sabia perfeitamente que
:.(.ti rspírito e o de todos os cristiios era superior ao dos gentios e judeus;
:IIIL.S;II disso determina que se esteja disponível e disposto a responder coiii
.il:iliiliil:i~lca qualquer um37.Cristo tarnbém sabia que seu espírito era supe-

i i I ' I . I v ?,(,.?O.
i I i itic.i<~ :,li: cciiáii si> iiriliu feito rcfçrêiicia ao enconlro çoin os "piofeias de Zwickziii" c i i i
i .iii.i\. Vi:i:i :icicii;i. 1'. 2x0, ii. 20.
I ' , :\ ii.Ii.ii,iii.i:i6 :ii>s s;içcnloiis <]UC GLSIITI,igriortuldu i,C X ~ ~ E I I Cdo ~ Bcelihaln. Münizii r;is;ilii
c i i r i i : i i . n ~ t l t > l t j clliimi~lit
i~ quem CVCuin lillio, iliii-;iiilc i>;iiii,
0líli:i von (;ÇCSIII,~<>111
ili. l i >i riii Allstcili.
i r , 1 'I ., i 'c, ll.IOh,.
i1 ('1 I I',, i.l'>b.
rior ao dos judeus; apesar disso foi condescendente, colocando-se a disposi-
qão, dizendo: "Quem dentre vós me convence de pcciido?" [Jo 8.461. E
diante de Aiiás: "Se falei mal. prova-o", etc [Jo 18.231. Eu também sei e
estou convencido, pela graça de Deus, que em nxitéria de Sagrada Escritura
sou inais douio do que os sofistas'" os papistas. Até aqui, porém, Deus, por 5
sua graça, rne preseivou dessa arrogância, e há de preservar-nle também no
futuro de me negar a dar satisfiição e deixar interpelar-mc pelo mais simples
jiideu. gentio ou quem quer que seja.
Por que. afinal, divulgaiii suas idéias por escrito3', uriia vez que uáo
qiierrni eiifrentar dois ou três, iiciii uma assenihléia parcial? Ou será que 111
acham que scus escritos só chcgain 'ai iiiãos de nssembléias imparciais e nZo
larnbém a dois ou très individualmente? Estou até suipi~soque se csquecem
tanto de seus princípios e querem agora crisinar o povo, tanto oralmente
como por escrito, uma vez quc alardeiam que cada qual deve ouvir a voz de
Deus pessoalmente; enquanto isso, zombam de nós por divulgamos a pala- 17
vrd de Deus de forma oral e escrita, que, conforme eles, é sem valor e
proveito. Eles julgam ter um ministério superior e mais precioso do que os
apóstolos, profetas e o próprio Cristo, que todos eiisinaram a palavra de Deus
de fotiiia oral e escrita, e nunca disseram algo da divina voz celeste que
deveríamos ouvir. Esse espúito faiitzsioso fica delirando de tal iiiodo que ele as
próprio 1120 percebe o que está dizendo.
Eu sei, no eiitruito. quc nós, os que temos e conheccmos o Evangelho.
cmbora sejamos pobres pecadores, temos o espírito ceno, ou, como diz
Paulo, "as priniícias do Espírito" [Rm 8.231, os prinieiros frutos do Espírito,
;linda que não tenhamos a plenitude do Espírito. Pois náo há outro senão esse 2s
mesmo Espúito que distribui seus dons niaravilhosamente. Afiuial. nós sabe-
mos o que sigmtica fé, amor e cruz. E não há coisa maior a conhecer nesse
iiiundo do que fé e amor. E por aí que podemos saber e avaliar que doutrina
C correta ou falsa, se está em concordância com a fé ou nio está. Portanto,
ii<isconheceiiios esse espírito da mentira e suas intenções: ele qum invalidar ~~~
:is l?scrituras e a palavra oral de Deus, extinguir os sacramentos do Batismo
<.(LI S'irita Ceia. Quer levar-nos a urn espírito no qual deveinos tentar a Deus
<.oiiinbras própria5 e livre vontade, e assumir suas obras, estabelecendo-lhe
i~l)~~riiiiiidade.
lugar e medida para agir conosco". Pois revelam tamanho
;iIrc:vimento em seus escritos a ponto de escreverem coin palavras impressas 15
i-oiitrn o Evangelho segundo Marcos, isso é, contra o último capítulo de

IS Na lingii~gemde Lutero, os sotisisl~são os teólogos cscoláslicos crn geral.


3') Accrca dos escritos aos quais Lulero se rcfere, cf. acirra p. 277, n. 15 c Ih.
10 I .iifcro tira conseqül.ncias da lornia ci>iii<iMüiiwr coinprçendc ;irivcl:q%i c ;i I%,q u i ii%r
~xxlctiisrr cncontrtidas nos esciili,~<lcsic.
Carta aos P ~ c i p e da
s Saxdiu:l sobre o E~íritoRevoltoso
Mtircos, çonio se S. Marcos tivesse escrito coisas emdas sobre o Batismo4I.
('oino não podeiii fechar a boca de S. J«ão como a de Marcos: "Quem iião
ii:iscer da água e do Espírito" [Jo 3.51, interpretam a palavra "água" sei 15
i : i ~ i que sentido e siiiiplesmente repiidiam o Batisiiio físico na água42.
Visto, porém, que o Espírito não fica sem fmtos, e o deles é táo superior
:v) nosso, eu gostuia muito de saber se ele também produz melhores fmtos
i10 que o nosso. Pela Ibgica, deve produzir ouiros e melhores frutos do que
( I nosso, porque é nielhor e superior. N6s ensinamos e confessamos que o
lispírito que pregaiiios e proclamamos traz os frutos a que S. Paulo se refere
, r111 G1 5.22, tais coiiio: amor, alegria, paz, pacièiicia. bondade, fidelidade.

i~i:iiisidio,domínio próprio. E, como diz. em Rm 8.13, o Espírito mortifica


os leitos do corpo, e crucifica com Cristo o velho Adão com todas as suas
11:iixòes e cc>iicupiscêncilis[GI 5.241. Em resumo. os frutos do nosso Espírito
\:o o cuinprhcnio dos Dez Mandamentos. Deusarte, o esphilo de Allsiedt,
qiic coiisidera o nosso corno nada, deve produzir algo melhor do que amor,
I, paz, paciência, etc. (ainda que em 1 Co 13.13 Paulo cite o amor como
li-i110 supremo), c deve fazer coisa bem melhor do que aquilo que Deus
i~i.<lenou.Eu bem que gostaria de saber o que existe nesse sentido, já que
s:iOcrnos que o Espírito conquistado por Cristo nos é dado tão-somente para
<.iiinprira vontade de Deus, como Paulo escreve em Rm 8.4.
Se, porém, alegam que nós não vivemos de acordo com o que ensinamos
<. qiie não temos esse Espírito que traz todos esses fmtos, eu aceitaria esse
;irgiiiiieiito. pois nisso poder-se-ia evidenciar de forma mais palpável que não
i. iii11 bom espírito o que se manifesta através deles. Nós também coiifessa-

iiios (e não é prcciso saber isso por voz celeste ou espírito superior) que,
iiili:lizmente, nio fazemos tudo que deveríamos. De fato, S. Paulo é da
iil>iiiiiio,conforme G1 5.17, que jamais se fará tudo, porque aqui na terra
i.sl~iriioe carne vivem juntos e são opostos entre si. De modo que não
<.oiisl;itonenhum frcito especial do cspírito de Allstedt, a não ser aquele que
<liici-iisi~ra violêiicki e derrubar madeira e pedra; at6 aqui deixwaiii de
i~iostr;ir;imor, paz. paciência, bondade e benigiud;ide, para não vulgarizar
iIi~iii;iis11s frutos do Espírito. Mas, pela graça de Deus. posso mostrar muitos
I ~ i i i t > silo Espírito enne os nossos. Se fosse o caso de vangloiiar-se. eu até

I I . Mc l h . 1 5 ~ .Lutrro faz referência aqui a uma nota m a r p a l presente no escrito Ein


S i . l , i , o i , Vrm F c ~dei- f heiligen dmy Konk ... de Hafrria, onde os textos bíblicos de Aios
lu. l<rii 2.11-16, E1 2.17-19 e CI 3.11 são citados para documentar que a fé é dada a todas
:i\ Iw\s<i,i\ cli;untdas p<a Dciis i vida eterna e não somente às que são batizada oii sç
< . I I ; ~ I I I ; u ~ ~ <Iccrisi5s.
I! I i i I < . i < i :il;ic;i ;i iiiicr[in:l;iy:i<i il~icMiinlcr P u de lo 3.5 em Prcitcstation oder Erhicfurig
(I'ii>ii~ri:iy:a,< > t i O I c i . < i t t i i . i i l i > ) . iii: 'I'. MIINTZER. Schlifii:ii undBricfc: hritische (;csanil~
;u,,\)::~la~. l ~ i l i l i \ < l <ItX M (;ci~tllnt.~ ILJfiX, 11.T28, 12-229. 13.
I;I;~cIT,, (~iilcrslol~,
contraporia a todos os Iiutos do espírito de Allstedt somente ininha pessoa,
que é a menor e mais pec;tminosa, por mais que critiquem minha vida.J3
Náo é fruto do Espíi-ito Siuito criticar a doutrina de alguém por causa de
sua vida faltosa. Pois o Espú-ito Santo repreende doutrina falsa e tolera os
fracos na fé e na vida, como Paulo ensina eiii Rrn 13.lss. e 15.1. e em toda 5

pxteu. A iiiini náo incomoda também quc « espuito de Allsiedt seja tão
estéril, riicis o qiie incomoda é o Fato que mente e quer iiitroduzir uma nova
doutrina. Eu taiiibém teria pouco trabalho com os pitpistas, se ensinassem
correlameiite; sua vida desregrada não causaria muito prejuízo. Uma vez que
esse chega a escandalizar-se com nossa vida enferma, e julga tão insolente- 10

mente a doutri~ilipor causa da vida, ele já provou com suiiciCricia quem ele
é. Pois o Espírito dc Cristo não julga ninguém que ensina corretamente e
tolera, cairega e auxilia aqueles que ainda náo vivem corretamente, e náo
despreza o pobre pecador, como o faz esse espírito farisaico.
No que diz respeito 3. doutriiia deles, o tempo certamente o há de 15

inostrar. O que importa agora, Clementíssimo Senhor, é que V. A. P. não se


oponha ao ministério da palavra. Deve-se deixá-los pregar coiifiaiiteinenle e
à vontade, tudo quanto podem e conlra quem quiserem. Pois, coiiio já disse,
6 preciso haver seitas e ;I pnlavra de Deus tem que estar em guei-ra e luta.45
I'or essa razão, até os evaigelistas são chamados de "ialange" ii» Salino 211

68.12, e Cristo, uni piuicipe dos exércitos nos profetas4? Se o espíiilo dclc
lhi. genuíno, ent5o niío vai se ainedruiitar conosco e permanecerá. Sc, poréiii,
liir griiuíiio o nosso espírito, ele também 1130 terá iiiedo deles nem de
niiigiiérii. Deixeinos que os espíritos se eníirenterii e luteni. Se em tudo isso
;ilguns foreiii seduzidos. paciência; é o preço da giierrci. Ondc há luta e
batalha, alguns têm que tombar e cair feridos. Queiii. iio entanto, lutar
Iioncstameritr, será coroado.47
Entretanto, se quiserem fazer algo mais que esgrimar com a palavra, se
i~uiscrcmusar a violência, bater c quebrar, aí V. A. P. deve intervir, sejam
clcs ou nós, expulsá-los do temtório e dizer: "Estamos dispostos a tolerar e ~ ( 1

ol)scrvar quando vocês lutam com a palavra, a fim de que a doutrina correta
st:i:i presewada. Mas, nada de usar violêiicia; isso é nosso ofício; ou então,
s:ii:iiii de nosso temtório". Pois n$s, que lidamos com a palavra de Deus,
ti:!<)(Icvcmos usar violência física. E a luta espiritual que arranca os corações
c :is alinas do p0de.r do diabo. E já foi escrito por Daniel que o aiiticristo

11 C'I: acima p. 277. n. 15 e Ih.


.1:1 CI: I Ca q.22: GI 6.1, etc.
45 CI'. I Co l l , i 4 .
,I6 ('I'I\ 5.14 Mil 5.1; MI 2.6: Hh 2.10.
,I7 (,I'. 2 'I'", 2.5.
Calta aos Príncipes da Sm6ni:i sobre o Espírito Revoltosii
deve scr desiiuido sem o uso das m ã o ~ . ~ V s a í a11.4
s também diz que Cristo
lutará em scu rriiio com o espírito de sua boca e com a vai-a de seus I á b i o ~ . ~ "
Nosso ministério C. pregar e tolerar, não usar violência e lotiu. Assun como
Cristo e seus upósiolos não quebraram tcmplos, nem destruíraii iiiiageiis.
riias conquistaram os coraçõcs com 3 ~;~I:ivrade Deus. Os templos c as
irna~$iiscaíram depois por si.
E dessa maneira que também nós tcinos que proceder: primeiro, tcmos
que afiistar os corações dos conventos e das ordens espirituais. Feito isso, e
quando ieinplos e conventos estiverem abandonados, deixemos que os se-
I nhores temitoriais f a q m com eles o que bem cntendere1n.5~Que é que nos
interessa iiiadeira ou pcdra, se os cora$ões já não estjio mais presos a elas'?
Vejam caino eu procedo. Jainais toquci uma pcdra ou derrubei e queimei
convcntos; apesar disso, em muitos lugares há conventos se esvaziando,
inclusive nos territórios daqueles príncipes que sâo contra o Evangelho. Se
1. eu tivesse atacado com violência, como esses profetas, os corações teriam
continuado prisioneiros em toda parte, e cu só leria desiruído muros c
inadeira e uiii que outro lugar. Quem tena tido proveito disso? Pode ser que
com isso se possri conseguii- glória c Iionra; mas a salvação das almas
certamente nZo se consegue assim. Alguns até acham qiie infligi maior
prejuízo ao papa sem yiialquer violência do que um poderoso rei o poderia
f ~ z e r . Como
~' esscs pi-ofetris querem fazer algo de especial e inelhor, apesar
de nâo o podcrcm, eles iicgtigenci~ama salvaqâo das almas e atacam pedra e
rtiadeira. Essa é para ser a nova e maraviiiiosa obra desse alto espírito!
Sc. iio entanto, quiseiem alegar que nas Icis de Moisb está ordenado aos
-, judeus que quebrassem todos os ídolos e cxtei~iiiriassertitodos os altares dos
falsos dciises5?, cu respondo: eles próprios sabem riiuito bem que, desde o
principio, Deus realizou as mais diferentes obras atravis de dilerentes santos.
por meio da mesma i6 c da mesma palavra. A Epístoki aos Hebreus tambéiii
cxplica isso e diz que dcvemos seguir a fé desses s,mtos." Afmal, nâo

4X <'f Dn 8.25. Lutcro j6 aiinnara anterio~meiilequc r i aiiticristo dewria scr destruído seiii
inlcwcn$50de má" humana. Vzja acima, p. ex.,seu csçrilo Uma Sincera Exortacão a Trilo\
r ~ rCTICIL~IUS ..., p. 474,l-11 e 478.36-479.19.
1') Vc,ia tail,Mn~acima p. 478,3h-479,19.
50 ( ~ i , i nI~iiseiiesss passagem, Münlier acusou Lutero de iazer hargdilia coin os bens c c l c ~
si:iriicos a sernii scciilanzados, cuja possc esvaia promeiendo aos senhorcs em troca LI?
:il>oii,;i sua causa. Ccrio é quc houve reprcsenlantes da nobreza favoriveis ao ;ivanç<i<I:i
Ili.li>nii~ cni seus tcn-iihios e movidos por cssz interesse, srn~lo,incliisive. dniiiiiciailni I X ~
irsi, ~>cli>pinprin Liiirro. Uni;%proposta su;i para :i sçculariza$áo ile k i i s eclesiúsiii.iis
i,iici>riil-:i+sc ciii E.vt:rruiu p;ir;i iiiiin Caixa Comunirána. In: Obrx Sclecion;iJa, \,,>I. 7.
' > I l ? ! ~U O M : ~ ~ g ~ ~ ~ ~~iccr r~~~ icql liveja~i ~ ~
~acinxt
n l c CJrii:~Sit~cersExortqLio <i XKIOS c,., ('r!,
I;,,Iv...~ 1,. 470,IOh>.
I . I(x'?l.24:34.14: 111. 7.5.
' > I1'1. 111i 11.7,
podemos imitar as obras de todos os santos. O fato de os judeus terem
destruído altares e ídolos se deve ao fato de, naqucle tempo, terem tido uma
ordem específica de Dcus, que em nosso tempo não temos. Quando Abraão
se dispôs a imolar seu filhos4, ele tinha ordem específica de Deus para isso,
iras cometeriam injustiça todos aqueles que, em analogia, hoje fossem imo- i
Iir seus filhos. A quesião não é imitar os feitos; do contrário, deveríamos
submeter-nos à circuncisão e cumprir todo o ritual dos judeus.
De fato, se fosse justilicado que nós cristão devêssemos invadir e des-
ti-uir igrejas como os judeus, a conseqüência seria que deveríamos matar
fisicamente todos os não-cristaos, tal como fora ordenado aos judeus matar io
OS cananeus e os amorreus, e isso com a mesma determinação com que
dcstruúam os ídolos". Desse jeito, o espírito de Mstedt nada mais teria a
fazer do que deiramar sangue e os que não ouvissem a voz celeste teriam
que ser todos aniquilados por ele, a fun de que n2o subsistissem escândalos
tio povo de Deus que, aliás, são maiores nos não-cristãos vivos do que nas 15

imagens de madeira e pedra. Ademais, essa foi ordem dada aos judeus em
siia qualidade de povo protegido pelos milagres de Deus e que sabidamente
crn o povo de Deus; mesmo assim, tudo isso foi executado pela autoridade
coiistituída e pelo poder legal, e n2o por uma horda separatista. Mas esse
cspírito ainda não provou por meio de algum milagre que ali há povo de 211
1 ) ~ ~Pors isso
. ~ se
~ constitui em gmpo amotúiadoS7,como se apenas ele fosse
11i)vode Deus, e age sem poder legal constituído por Deus, e sem apoio em
ordem divina, e ainda exige que se dê fé a seu espírito.
A elimùiação do escândalo há que acontecer pela prilavra de Deus, pois,
ainda que todos os sinais externos do escândalo fossem quebrados e afasta- zi
dos, isso de nada adiantaria se os corações não tiverem sido levados da

55 ('I:, 17. cx.,Ê;23.23 e 33.2.


',li l ( r i i scii encontro com os "profetas dc Zwickau", cm 1522, Lutero havia ressaltado a
i~ri,ii.cici;ide milames e sinais oara ouem ensina novas doutrinas. Cf. WA Br 2.493.24s.
, . Em
( :!;r;! A k ~ t a aos Etugc~mes&, ~ o i s e l h oe roda a ~omunidadc'daCidade dc ~iihlhausen]
i . 1 ~c, Ikz iiovamente, dcsta vez em rclaçáo a Müntzer, veja abaixo p. 303,15-18. Do mesmo

iti<xlc, agiu ao se dirigir aos camponeses, cf. abaixo p. 314.27-31. Mesmo reconhecendo as
i.sliiilnras e a ordem preestabçlecida, Lutero afimava a possibilidade de alternativas ex-
ii;a,irliniÚias a elas. Em sua leitura da Bíblin e da História identificou volta e meia a
Ilic.xnça de personagens prodigiosas, especialmente chamadas por Deus para a realização
<li.tarifas especificas: A pdair daí comprecnde sua exigência por sinais da partc daqueles
qiic comungavam do "espírito revoltoso". Em Incj@díssimaApologia e Resp.stl conira a
(:irni Inspnla e de Vida Mzwsa de Wiffenberg..., sua resposta ao presente escrito, Mihlzçr
'.i~iiicstouo desafio de Lutero citando Mt 12.38, cf. T, MLTNTZER, op. cit., p. 179, 8-12.
5.1 I'ii,~ívivilrercrência 2s tentativas de Miintzer de criar ligas de defesa em Allstcdt e outros
111ii:ircs.CI'. a introdu$Zo ao bloco Guem dos Camponeses, bçm comi>;is i~iir<xlu~ixs ;ti>
~>KWIIIC ç ç;io prhximci cscritci.
Caos aos Principçs da Swúni3 sobre o Es~iritoRevoli<hi>

crendice para a verdadeira fé. Pois um coração incrédulo sempre encontrar5


novo escândalo, como aconteceu entre os judeus, quando erigiram dez ídolos
riu lugar daquele uin que haviam d e n . u h a d ~ No
~ ~ .Novo Testamento tem quc
ser ~isado,por isso, o recurso certo, a fim de afastar o diabo e o escândalo,
a saber, a palavra de Deus, e com ela conquistar os corações; cntao o diaho,
seu poder e sua glória cairão por si.
Dessa vez vou parar por aqui, pedindo que V. A. P. encare corn toda a
seriedade essa violência e Fanatismo, para que, nessas questões, só se use a
palavra de Deus, como convérn a çristSos, e seja suprimido o motivo da
i.eheliáo. ao qual o senhor Orn~e.<i~ estií inais do que inclinado. Não são
cnstêos aqueles que, além da palavra, querem usar a violência e que não
estão dispostos a sofrer Ludo, ainda que se digan~possuídos de dez Espíritos
Santos. A misericórdia de Dcus qneina fortalecer e guardarv. A. P. eternamente.

submisso
Martinho Lutero.

SX I 'I: kx 12 c 1.v 25.


3') N<!1~x10origint~l/lt/cr/r/ o ~ ~ I ~ I c , ,scjit, ~ , a I~:ISSX ignaa, o p p u l ~ ~ c h i7c.j~
o . W n k m xciutit
11. ~l70.20,< ? ? I ~ oC l c , r ! t ~ >C l~~d~r,,i,Io
por "t~~+.t''.
<;ucrra dos Caiiiponeses

Carta Aberta '


aos Burgomestres, Conselho e toda a Comunidade
da Cidade de MuhIhausenL

A situ;iqio do Iç6li)go. pregador e r&rniador lòni5s Muntzer ciii Nlstedt


111iaura-secrttrc;i inas <Iii;is úItirtt:is srm;in:is de iiiiiio dc 1524.- O -governo da Saxôiiia 13
crnestina Luneiava coni ;I cxpiilsão doi refugiados oriiiriilos de tcrritÓno\ vizinhos,
onde náo se aderira h Reioriiia, a11 uue , Miintrer se conlrai~«s .
. oregaiido ;i resoeilo do
direito de resistência e da necessidade de fundar uma liga dos eleitos, ou seja, uma
L.

liga formada pelos sinceros seguidores de Deus e que deveria toniai parte na
cxçcuçâo do jiiízo apocalíptici~vindouri). A 31 de julhi~alg~iiisde seus adcpii~smais 212
iiillucntes na cidadc foniin interroga<l»s c no dia scgiiinte elc pi6prio tcve que
i.i)inparci.erdiaiiilc da coite ein Weimar. Munizer nâo coiistguiu livrar-si: d;i acusaçâo
iIc agitador. Foram impostas mcdidiis no sentido de fechx a gr;ifica de Allstedl, que
iiiiprunia seus escritos, de proibir a prcgaç.ão subversiva ria cidade e de ilissolver a
lig;i. Ele reagiu escrevendo :io pnncipc-eleitor Frededcsico, o SAbio (1463, 1486-1525), 25
cçiisurando ns ~>;ilavras<Ic Liilrro ern C X IAberta ~ ao,<Priliciprs da Soxôrii:~.sohr-e o
Ii.,píriri~Revolloso' e rei\'ùidicando sei1 direito de pxgtir e publica. Do coiitrjrio, o
co~ifliioriti cristandade atingiria uma escda(.So tremeiidaincnte danosa. Além dissi),
cxigiu um colóquio público com Lutiro, rio qual seria deriionstrado que entre ambos
ii;ir> havia mais nenhuma a,ncordância qu.uito à i6 cristu." O tom de ameaça com o lu
1[1121 se dirigiu ao goveniiiiite, porém, snniente agravou mais ainda a condiçXo de
Miiiit7~r.NU inoite entre 7 e X dc iigosto ele ahuidonou Allsredt a i i dircc;Zo :I Müiilliaiisen.
A cidade de Mulilhausen tinha ria Ppoczi cerca de 7.501) habitaiiics. sendo coni
i\\,, iiiiui das maiores da regiáo central do império. Desdc i ) começo de 1.523 dois
<.x iii<i~igcs, Mateus Hisólido e Hcnrique Pfeiffer (m. 1525), tinham ali di\.ulgado as 3s
i<li:i:i\ dn Refonna c promovido uma forte crítica às instihiiçóes eclesiásticas fiéis a
I:oiii:i. í.)uaiido o conselho da cidade, integr:ido pela oligxqiiia local, quis reprimir

I I%, Scndb~icfan Bürgmcisrer, Raf uiid dic gnnze Geincinde <h Stadt Mühihausen - WA
15.218-240.Tradução: Walter 0. Schlupp.
I I';ir;i mais iiifomaçks sobre Münizer vcja aciirin a Intrridução iiu prescnte bloco. p. 278,l-30
c ;i Iiiir<dii@on Ca>t;~ ;lar Prúl':lpe.3 da SnxÔriia .<hrc o Espinio I<ci~olro,so. p. 28-1~285.
i Vci;i .!<iiii.i p. (.2XJ)286-?9q.
I I ' . MIINT/.EI<, Schrittc~~ Ciiiiitliçr Fr'r;iii,. li.il.), 0iiiçi\-
und Brick: k,iliri.Ii~.í~~iirnl:iu,sg;ihr
I o l i , I')hX. p. 430-412.
Carta Abcira a Miihlhaitscii
as atividades de Heiver. grupos de artes5os e coinerciantes da pequena e médiii
burgmsia colocaratii-se a seu hdo, tcncioriando, assim, assumir uma parcela dc
poder no coiiselho. Em conseclu2.ncia da i~bcliZoque se sucedeu, acaboti-se nego-
ciando o chamado "ieCesso", c u i ~ sprincipais deteminações erain: de qiie I~urgo-
incstres e conselho a i o poderiam iiifririgir a 1egisl;iqão rnunicil>:il; de que a c~posição
ohtcna o direito de est;ihclecer urii colegiado foimado por oito pessoas e que
paiíiciparia das drcisfies ao lado do conselho; dc que fixdr-se-ia um periodo, durante
o qud ;I iiiiiguém, imi ciilade, scria negtido o direito dc pregar 0 Evaiigelho na
perspectiva da Refi>riiia. Miiiitzcr fez LISO lia última prci~ogativacni iiiendos dc
I agosto de 1524, qumclo cheguu a Ir~lulillinusen.
Lutero logo foi uifiiiinado acerc:i do destiiio cIc Muritrer e, diirai~rruma viagem
pela regi%) da Tunngia. Ii-atou de escrcver C:iit:i Abem iros Burgomear~.~. Conselho
c toda a C'o~~iuiudiideda Cidade d ~ Mühlhau.scn
. a 21 de agosto, quando estava na
cidade de Weimar. Scu objetivo era o de ;ilçrlar a gente de Muhlhauseii acerca do
8 , perigo de acollier a Muirtrer. a qurin deicrcrçii coriio Iàlso profeta, que ;iiiseia por
derr;iiiimiento dc sangiie e icbclián. O f:ilo de ele c;iiididatar-sc ?i lutic;.lo de prcgador
seiii ter sidu propiiarncriic cha~ii;id<ia ocupii-Ia, scria pura Lutero motivo suficiente
que se suspeitasse de sua> intençfies. A pruiieiia edição de C a t a A k i t a 20.7 Burgo-
i~iestres... não indica local, nem rcsponsávcl pela iinpressão, sendo certo que não
Lenha sido feita em Witteiihçrg. Ainda cm 1.174 sucederaiii-se diversas edições,
drnire elas a dc João Liifl'l, cni Witicnberg. e ;i de Fredenr:) Peypus, eni Nümberg.
A ;idveriCncia de Liitero teve pouquíssiriia rc.isorijncia. O coriselho da cidade
limitoii->c a pedir irif<irnilicõessobre Miiiitzer jiinto à ci)rtç cin Weimai. Este, por sua
vez, dedicou-se intciisivamente a seu ministério desde a cliegada. Pediu ern c a t a de
,. 15 de agosto de 1524 aos amigos de Allstedt quç enviasseni os livros com sua
proposta de reforma Ijtúrgico, pois ;i gcnte de Miililhauseii. eiiibora considerada por
c k vagnrosii lia assimiliiyiío de siia prcgaçZ«. estaria ansios:i por recebe-la.' Muntzei-.
:;eguiid<iintegrantes do conselh~i,cr;i ohieto <Ic graride simp:itia pop~iku..Seus oposi-
roces roiiianistas resumisim 0 conteúdo dc sua p r e g a ~ i oe111 três idiias básicas: o
povo náo deveria obedecer a autoridade alguma, 11% precisarka pagar nenhum tipo
<Ictrihutoi e rendas, e deveria per.irgiiir e expu1s;ir iodos os clCrigos. Posterioimentc.
iio riiês de hctemhro, dcri-se uma nova crise politicn eiii Muhlhuusen. Depois dc
icrc~iitninsgredido detcnniiia~iiesdo "recessc)", ambos os burgomestrcs atiandon:i-
fiiiii a ciclade. ternciido o castiro <Ia oor)ulacão.
A . , Colii cerca de duzeiitos ~lirtidários.
Miiiit~cre Pfeiffer inarcbiram para fora da cidade, conduzindo a sua frcnte uinii
~.sli;icludesembainhada. shnholo do juízo, e uinn cmz ver mel li:^. símbolo das cruza-
<I:I,\. .4o voltarem. é prov;ivel que teiiliuni fundado a "liga eteiiia de Deiis". Qua~iti>
ii ~fiim\~at:i dc protesto, é ]~ossívelquc esta se tenha dado por causa da ilrcisão do
u<iiisclli~~ dc promover n ex[~uls.ocIc Muntzer e Pfeiffer. Esta concreti~ou-seiio di;i
L7 iIc scicinbro de 1574, quando anibos deixaram hluhlhausen, p;ir;i onde retorii;i-
ri:iiii .;oiiicnte no lüid ile fevereiro do m o seguinte, dcsta vez para viveiiciar os
<.l~i\iiilii)sdriun5ticos d;i Giierra dos C,iinponeses ii;i Turíngia.
Aos Iionoráveis e sábios senhores burgoniestres,
conselho e toda a comunidade da cidade de MuhlhausenL,
meus prezados senhores e bons amigos!
Graça e paz erii Cristo Jesus nosso Salvador. H«nc)ráveis, sábios e r
~~rez:id«ssenhorcb! Depois que se teve notícia de que alguCtn de nome
Mestre Tomás Muntzer7 prcteridc ir ler coiivosco eni vossa cidade. bons
tunigos mc pedii-aili que advertisse enrarecidamente no sr.niitlo de que evi-
I.',i ,<i\ eis
. os seus eiisiiiamentos (que ele inuito gaba como sendo oriundos do

Espírito de Cristo); como a isso me exortam a lealdade e obriga~ãocristás,


mio me quero omitir nesse sentido para o vosso bem. Inclusive, estivemos
inuito dispostos e iriclinados a procurá-los pessoalmente enquanto estive pelo
interior do tcritório. Porém, meu traballto na tipografia em Wittenberg8 r i o
til? deixa mais tempo iieiii espaço. Poi- ihsci vos peqo que vos ciiidcis muito
bcm dcssc f~tlsnespírito de priifet;~que anda trajado como ovelha e pol-
clcniso é um lobo voi.uY.Pois em rnuitiis lugares, psimcipaliiicnie em Zwickaii
agora em AUstedi. rle demonstrou intiiio bem de que esptcie de árvore ele
6,pois não dá outros frutos senão morte, rcvolta e der'amamento de sangue;
lili nesse sentido que clc prcgou, escreveu e cantou abertamcntc cm Allstedt.
O Espírito Salto nãu fica tàzendo muita gabação, inas realiza muitas coisas :,I
,:r;aidi«sas antcs dc gnliiir-se. Ora. esse esliii-ito ficou três aios se gabando a
i i i i l , insurgiii-se e até agim nzo pr,iticou a inenor a$%)nrm demonstroii um
í~iiicofiuto, a iião scr seu desejo de iiiiitanp, como podcis ser bem infomiu-
110s tanto de Zwickeu como dc Allsled~.'~' Alétn disso, ele só envia vagabun-
cios que Deus não enviou (pois &?o conseguem comprová-lo) nem foram :r
v<icacionadospor pessoas humanas, mas vêm por iniciativa própria e não
c,iiii'ntn pela porta. Por isso também fazciii como diz Cristo a seu respeito em
.Io 10.8: "Todos quantos vieram antes de mim são ladròes e salteadores e
:i~s.issuios". Além disso, ninguém consegue hzer com que eles saiam a luz
i I i > ili;i e assomaiii responsabilidade seiiiÍo entre os da sua laia. Quem lhes d6 21,

i~iividose. vai atrús deles, é considerado filho eleito de Deus, e quem não lhes
cl;i oiividos, só pode ser ímpio, e quei-eiii matá-lo. Sobre o despaulério de sua

li I\ !<\peito dc Mühüiausen, ci. acima a inkudri(io 30 presente escrilo.


i S<iliir a hqict6n.i de TornSs Munlzer, veja <' ititiaduçZo ao bloco de escritos acerca da
"(iucna dos Camponrsrs". p. 278,l-30. ;I iiitiodu$3o rio escrito niiteni>r. p. 154-285, e ;i
i!ilrixiução ao presente escrito.
S l i ~>xiv&vel que Lutrro st refrd à t m f a dr rcvicão das prova griiica' da traduçao de partc
iI:i liihlia - livros de Jó alé Cantares - ciii língua alcmã, que seria editada naquele ano,
:lli:iii dc várits outras publica~0escom as qi~aisclc sc ocupava simiilraneaineiile.
'J <'r. Ml 7.15~.18.
I0 Vi,i;i ;içiiii;i. p. 290 ii 21 c n. 24.
Can~Ahem a Mühlliauhcii
cloutrina haveria inuito a dizer, iiias isso logo ficari evidente. Se, porém, este
iiieu pronuncPunento não vos persuadir, fazei o seguinte: adiai a questáo por
um tempo até quc tenhais uma idéia mais exata de que gente é essa. Pois a
coisa começou e 1130 ficará oçiilta por rnuito tempo. Minhas iiitenções pani
convosco siio boas (sabe Deiis) c beni que gostaria de poiipar-vos do peiigo
c prejuízo, se Dcus quisesse; disso espero que vós próprios me deis boni
icsternunho. Afmal. posso gabar-ine cni Cristo de que coiii inlliha doutrina e
iiieu consellio jamais causei iieiii prucurei o mal a niiiguéin. como pretciide
esse espírito. Ai? invés, confortei e +dei a todos, de iiiodo que não há razio
plausível para drsprezar este meu ciiiiselho. Mns se o despreza-des, acataii~lo
r! profeta, e daí vos surgir iiifoitúnio, não icnho culpa do vosso prejuízo, pois
vos adverti de modo cristão e amigável. Se o honorável conselho convoci-
lo a sua preseiiça, ou também pcrante toda a comuniaadr (o que também se
riode fazer), e pergiiiitar-lhe quem o sriviou ou chaniou para pregar: o
1ii)iiorável coiisrlho E que jamais o fez. Se elc cntZo disscr que Deiis e seu
Expírito o teiimn enviado, coiiio »s apósiolos, krzei-i> prová-lo com sinais e
~widígios;caso contrário, proibi-o de pregar. Pois qualdo Deus quer alterar
:i lõnna da ordem, cle sempre o faz acompanhado de prodígios." Eu jamais
preguei nem pretendi pregar a niio ser quando solicitado e chamado por
~ ~ c s s o Então
as não posso me gabar de que Deus me teria enviado diretamen-
IC do céu, da mmcirii como eles ageni e iuidaiii por aí, unia vez que ninguéni
iis eiivia nem coiivida (corno escreve Jcreinias"): por isso ianihtm nada de
Iiiiin realizaiii. Deus vos conceda sua g r q a de i-econlieccr fielmeiite soa
voiilade divina c I-ealizá-Ia,Airiém. Weimar, no Doiningo da Assunção de Maria,

Martinho Lutero.

I I Vivl:~:ii.ioi:i li. ?IX. ii. 50.


I.' ( ' I . l i ? l . L I .
Exortação a Paz:
Resposta aos Doze Artigos i

do Campesinato da Suábia'
1525

Em Euo~t;lçZo Par: Rc.spo.~t;inos DCIZ~ Ari<qo.s cio Carnp~ii~iiito dri Siizihia,


I .iitcro niaiiifcstoii-se c n i relaqiio ao dociiinento quc retiniu as prIiicip;iis reI\~iiidica-
qi;es de uma p;u-te dos caiiipoiieses rclxlailus2. Ele ociilinii-se coiii nr exigêircias dos 15
ciinporizscs não soiiiciite pçlo fato de Ler sido Iciiihrado por eles como algiiGrn que
11o'leria dai-um parçcer confiável acerca das prcrr<igativas do direito divino. /\o que
i i i i l i i indica. sua rnoti\;içâo deu-se bein ni~iispor causa do coiitt~údodos Dozc
~Alrips,ou seja, rspccialiiieiilc porque sciis :iurorcs IrgItimarimi ii que exigiaiii com
. i I!sçriiura Sagiiida. Lutem sentiu-se cuiiipclido ;I pi)sirIonx-se eiii i-;izão do uso da >,,
I:scrilur;i como meio di: Içgitimaçki e por causa da defesa qui: se fazia d e urii direito
cliviiio insliirado iios priiicípios dii Rdorrna.
Nessc sznticlo, Lutero difereiicioii-se di: oulros rcfoim~~li>res, como Filipe
Mcl;iiirlithoii3. Urh:ino Késioi ç Jiião Brçnl', que cscrevcram a respcito por eiicargo

I 1~irri:iliniin:. z~iniFricdcri atd <Iic 7~611' Artiki~ldcr Baueni.schafi i11 Scliiriiben. - W:\
ISZVI-334. Tiadiiçõi>:fldkrro Micliel.
.' ()il;iiilu aos Doze Arligoos e ao liigar de Erort.ig.iu 2 P'v ... iii>conjunto dr escrilus de Lutero
ii,krcniçs 2 (,em 110s C:impoiicses, cl. :(cima a intrndus3o ai> bloco, p. 271-281.
i 1,1i1*. ~i4-l:u>cIiifio,i(1407-15í>0),hernmiscii c co-rcfomiadur cm Wittciilxrg, rscrcveu ila
iriirir;i c~iiinrenade jorho dc 1525 Eyi vchnlli Pl~ilippiiLI~~!:irichihonwidner <li" :irci<(rcl
(!i., Ir:i~a.i\cliafti (Escriici dc F. Mel~iichtlionccoiitra <is Anigos du Campesinato. In: R.
Siiil~l>crii-li, Mela~icl~lhoiis Wcrkr jn Au.vwahl Bd. 1, 1951. p. 190-214). originalmeiiie u m
~ > : i i i . n ,x,liictado
~ por I.uii V (1478, 1508- 1544). príncipe-rlcitor do Falatinado. Meianchihon,
8 1 i c r . ia ccn1lirçi;i Ex<iri3gCc.o-r> 3 P'u .., colocoii iiccnto5 dirricntes em sua rea~âoaos Lhize
\ili@c*rI<lciitiliç<iu o < 3 ~ l \ i de
! IJeiis c<ima dd .iuroridadç, rcsrdluo 130-\onicnrc os <Icvcrs<
< .i i>lii,cli<:riciados súdiios frriile à aiiionil~dc,e esUin<iiisohrcmariein o ilircitu ruinano,
i ~ ~ ~ ~quasç ~ t : scm
~ i içxccção
~ l ~ ~as çxig?nciris dos caniponcses a partir do diieito vigçiire. O
~ I I I V , ~ ~~fllvierizddo
. pçla IiarbUne, dcveri;i scr eclucad,~inediaitc riporusa pedagogia. A
. . i r v i i l ; i < ~iI;i ~lçha,çonsidcrada pur clc rni uiitri oca?iSi>roino inconcili3vel com o d ~ i ~ i l o
ii.iiiii:ii. ii;ii> seri;! r~jciiivcltio rasa iliis alt'iiiiics. que irriai~ilihrrdadcs exccssiviis c poiico*
< .i\iii:c~s. !\os pi-irici~iMclsiiclilho,i concluiiou a walir.ircm dercni,iiia<las rclurniab c a
\i.i<.iii ~.i>iiiedid<is. Esculiis deveriam scr criadas a hii de cvilar iclizliórs futur~s.oois ;i
~~ ~~ ~~ ~~

r~ ~~~~~~

,
I i 'i. :iciiiis I>. 270, ri. 30 c ehaixo p. 326, r i . 73.
.I<ri<i I,,,
11irii, (149~JL170).i~.l;>iiii;alor riil iI:i i\lciii:iiiIi;i. i ; i i i i l ~ 5 i i :i lx.<liil<i<li. I i l í ~V.
Exortaçâ<ià P ~ L
--
de autnrid;rdcs. Ele compreendeu a rebeliáo e os DOZPArtj~o.s - coiiio unia iiitrq>ela-
@c :I Rcíoma e reagiu guiado por 1x1periepçiío. D c ~ fomiii. a 4 possível cornlireen-
. aue Ex«rtal,ão :iPaz ... <imais detiilhado escrito de Lutcro referente I: Guerra
der Dor A

dos Camponeses, nZo representa uma tomada de posi<.%nquanto ao acontccimento


como uiii todo, riias unicamente uma reflexâo ;i respeito da rliiestão teológicti aí
envolvida, ;ti> passo quc outros coniimnentes - conio o soci;il c i~m'dico, inir
exemplo - perni:iiiccr.rani à r i i q e i n e iiZo foram dihcutidos com profiindid:aIc.
Nio se sabc uuaiido Lutcro tornou c«nheciniento dos Doze Ani~7o.s.Eiitre I6 de v

abril e 6 de maio de 1525 elc esteve viajando em co1np:inhia de Melanchtlion e João


izgícolti (1392194-1566)pcla regi.%»dti Turuigia. Etn Eislcben, siia cidade natal, seria
dedicada a 110\~2escoln latuia. eveiifo para o qual Corani coiividadob pelo conde
Alberio c% Mansfeld (14x0-15hOj. E provável q ~ i ea viagem se tenha prolongad<i por
três scni~uias.just;imciite porque nas ú1tim;is sciiiaiias de ahril irromperani levantes
dc rebelndos na Turíngia. Partindo de Eislebeii, Luten) visitou diversos lugares,
I. pregou e irritou por iiieio do contato direto çolabnrar na contenç5o d;i violência. A
rediiçso de E10113(-iio :I Piz... deve ter-se dado nos pririiciros dias da viagem, aiwndo
a rcbe~iãoainda ikio Iiavia coriicqado. Ao que parece, o reforiiiadordesc&il~ccia
detallics a resneito das lutas no sul da A1em;inha. ~ o i ainda
s coiihiderava ser uossível
unia soliiçZo pp;itic;i para o priihlenia. Luteru recebeu rorrespoii<lêiicia do [lia 9 de
maio. onde sici pedidos eseiuplms iiiipress<is do escrito, o que indica que este,
depois de redigido. foi iniediatnmente levado à girjfica. A primeira ediçZci foi produ-
zida na gráfica dc JosZ Klug ciii Winenbçrg.
O coiiteúdo de Erorlação a Par: Re.spoita aos Doizc Arrigc~.sdo Can~pesinatiida
Su:íhiii l>oilc ser distribuído lia segiiintc estnihii-a:

1 Introduçno - p. 306,iS-308,lI
1.1 Doze Artigo.$ e Escrituia Sagrada - p. 306,35-.307,h
1.2 Jiistiticativa do escrito - p. 307,7-22
1 .? Arneap~aos govern«s dc Deus e foineiilo ao diúlogo - p. 307.23-303.11

$ 8 2 I'alavra a príncipes e sçnhores - li. 308,14-312.10


L. I Responsabilidade pela reheliiio - 11. 308.10-310.25

</cIj:ilircri ~c.slikc.und for Ewmgciischc dargcgekne Zw?il~ilrlicul(Corisclho e Parecer do


Sr. .li,%> Rrcriz s o h OS ~ ~Do7e Artigos EsIabC1~~idos pelo? Camponeses e AprcsenLulos como
I~v;iiipilii<,r.171: 1-AUHE. A,: SEIFFEKT. H. W. Ihrsg.]. I;lyrchi,fieii iI?rRaucrnkr;e~szeit.

:iiii<iri<l.i<lc>,
.
. Ai111 Ii~vlin.1978.. n 132~1741.Blcriz aiiiimiu iiiii:i íiincào de i r h i i n , niue c:aniiiitirbrs e
Iiiiscaridi~o injximo de isciii;;io cin sua zuiiil~se,:,pesar do fonc elcmento patriaal
i~i~csi.111~ citi sria vis%>de sociedade. Dcpuis de &atardçtalhadamente da questáo da difei~iicia-
< . t i , ciiiii. i>s governos cspiriiual e secul& de Deus, clc crlnientou ponto por ponto e dc forira
l , . i I : i i i i ~ . i i l . i i>\Doic A n i ~ o r Procun
. dciia>iistrattanto ;! rrnhores conio a siidiloi auiiili>iiuç

, i>i,.:i,;A:.<iiii. 11. c,<, ' l i iiâo considcrii quc imáticns irnliarn provr>cailo ii Gucrr:i ilos
i ' , ~ L I I ~ X N I ~ . : . ~ \Sii;i
. ~ ~ . ~ c p ~ ~: ~% ~ o~~l~i Ii~s~ i SCL
r n i C<IIII
i i l ~ que
> s elc, dcpr~isdc sulir;id;i ;i
i < . I > i . I i : i ~ ~ ...i. i.i,Ii,i.:iwi. ;i,> I:iiI<i< l i > < iIcrii~t:idr>s. ;ir~iirniiiili> pi>\iciiiri:iineiitiiscor;ijoso\ i.i>~rit;i ;is
11i.i i . . i i . ~ u d i i i i . : i . $11 \i.ii i.i~vi,iii:iiili. i iii ii.l:i(.:ii>
;I clcr.

11I5
Guerra dos Cmoneses
2.1.1 Desmandos da nobrcza clerical e laica - p. 308,16-29
2.1.2 Rebelião como castigo divino - p. 308,30-309,21
2.1.3 Iscnção de culpa de parte da pregação evangélica - p. 309,22-310,25
2.2 Apelo à negociação - p. 310,26-311,4
2.3 Legitimidade dos Doze Artigos - p. 311,s-312,lO

3 Palavra ;i« campesinato - p. 312,lS-321,39


3.1 Iiicompatibilidade entrc rebelião e salvação - p. 312,15-313,7
3.2 Negação de caráter divino ou cristão ao movimento - p. 313,8-24
3.3 Sujeição à autoridade instituída por Deus - p. 313,25-314,10
3.4 Fundamentação da autoridade - p. 314.11-320,2
3.4.1 No direito natural - p. 314,27-316.36
3.4.2 No direito cristão ou evangélico - p. 316.37-320.2
3.5 Rcmissã« dos antagonismos ao direito natural - p. 320,3-321,39

4 Anáiise dos Doze M g o s - p. 322,l-327.10


4.1 Prefiçio: relação entre camponeses e Evangelho - p. 322,17-324,28
4.2 1'' Artigo: escr~lhade p;Ú(~c«- p. 324,30-325,6
4.3 2" Artigo: desiinação do dizimo - p. 325,8-24
4.4 3"rtigo: abolição da escravidão - p. 325,26-326,IO
4.5 Artigos restantes - p. 326,12-326,26
4.6 Camponeses e falsos profetas - p. 326,27-327,10

5 Conçlusk~- p. 327,12-329,42
5.1 Deslegitirnação das rcivindicaç0cs - p. 327,15-328,lS
5.1.1 De senhores - p. 327,25-328,2
5.1.2 De camponeses - p. 328,3-15
5.2 Conseqüências da solução violenta ao conflito - p. 328,16-329,4
5.2.1 Perdição de corpo e alma - p. 328,16-29
5.2.2 Devastação da Alemanha - p. 328.10-329.4
5.3 Apelo à negociaçZo - p. 329,5-15
5.4 Postura pessoal do autor: desinçoml~atibilizs~e oraqão - p. 329,16-42
111

Riçardo W. Rieth

O campesinato que agora se amotinou na Suábia apresentou doze artigosh "


sol,i-c seus insuporiávcis gravamcs contra as autoridades, fundamentaram-nos

li Rçlirênçia à "Uniáo Cristá" de çamponcses do gmpamento dc Baltnng, Bodensee e de


Allgiiu, çujas reivindicações foram reunidas no escrito programdtico Dic giüridliclzcrrri iirirl
rcch1i.n Haupfiutikel iillcr Booem.scliaft m d Hinfasa.~.~ni der gci,sfliclicn urid wclrliclioi
Ohiigkcifkcitcn, v011 welclicn sic .sich hc.schwcit vcrrncincn (Fundmcntuis c Vciilnilcixis Aili..
gosl'rilicip:iis dc Todo (':unpcsinaii> c diis Uisinlcis s<ih as Autoriilailw Ilcligii>s;isc Sccii1:i
com algumas citações biblicas7 e os publicaram em forma impressa. O quc
inais me agrada neles é que no artigo doze8 sc prontificam a aceitar, de boni
grado, melhor informação, caso houver carência e necessidade, e de sc
(Icixarcm instniir, desde que isso aconteça através de citações bíblica claras,
evidentes e incontestáveis. Aliás, é justo e correto que a consciência de
ninguém seja ensinada e instruída além ou diferente do que com a palavra divina.
Se isso for sua opinião séria e sincera - como, aliás, nio me cabe
entendê-lo diferente, uma vez que vêm a público corn esses artigos, sem
tcrnerem a opinião geral - , ainda há furidamentada esperança de que tudo
irh acabar bem. Quanto a mim, que também sou considerado como um dos
que nestes tempos interpreta a palavra de Deus aqui na terra, mormente
porque no segundo documento me citam e invocam nominalmente9, tenho
inirto mais ânimo e disposição de dar a público minha instrução. Eu o faço
iiuiii espírito amigável e cristão, como dever do amor fraternal, para que, se
1. csse caso resultar em infortúnio ou desasire, isso não seja aíribuído e impu-
i:i<lo a mim perante Deus e o mundo por ter silenciado. Essa oferta, porém,
soiiiente fizeram para pretexto e aparência, como, sem dúvida, há alguns
ilcssa espécie entre eles; pois não me parece possível que tamanha multidão
sc componha somente de bons cristiios e gente de boas intenções. Certamente
,ci-iiiideparte deles deve estar abusando das boas intenções dos restantes para
sciis próprios caprichos e na busca de suas vantagens. Isso, evidentemente,
ii5o vai ter sucesso e, se acontecer, será para prejuízo seu e etema desgraça.
Essa questão E muito importante e capciosa, porque diz respeito ao reino
(li. I>eus e ao reino do m ~ n d o . Se
' ~ essa rebelião se espalhasse e chegasse a

rr\, Pcl;is quais sc CrZcm S<ihre~.;irrcgadidr>s. In: LAUBE, A,; SEIFFEKT, H. W. [hrsg.l.
IJi,g~cl~"heridcr Baucmkn'cgszcit. 2. Aufl. Bcrlin, 1978, p. 26-34). Veja sobre essa org:i
iii/;iy;i~i e os Doze Artigos na introdução aos cscritos relativos à Guerra dos Cmponcscs.
1). 274.4-6 e p. 280,9-19.
i A iii:iipcin do texto dos Doze Artigos, seus autores fizeram referência a numerosas pass;i-
I:I'Y hihlicas.
! i ( 1 icoi ilisse ariigo é o seguinte: "12" E nossa decisão e opinião dctinitiva quc, se um i~ii
iii:iis :iriigr>s itqui çsiabelecidos náo estiverem de acordo com a palavra de Deus, conio
~ n . ~ ~ s , ~quç t ~ i isiiam,
)s os mesmos nos sejam denunciados como incovenientes me<liuntç;i
~ ) ; d ; i v i ; i <Ic Ilcus. Est;unos dispostos a desconsidzrá-10s se nos Cor demonslrado isso çoiii
.i~j:iiiiiciili>sdn Esçi-ihma", (Flu~shriften ..., p. 31, 2-6).
'1 I<~.li.rc sc :i<><Ii>curncnto Hxidlimg, OrdBiing imd ói.stroktion, so Iiirgenommen wordcn scNi
i,,,, ;i11~,,1Kollcri ~iridIfatifni dci Bauein, so .skh rusamrnen vepflichf h a k n - 1527
iA<;io. oirlcni c iiist~itçãocstabclccidas por todas as hardas c giupanientos de c;unp>nisrx
~ I I ~ L\I.. ~ o ~ n l > n > n ~rd~~ ~ l~arnt ~~~ i u n111:c nFI~fis~hriftc~~
t~). .., p. 12-34, o çstill~ioda uniXo <Ir
Mi.iiiiiiiii~!,<.~~. <,\i Allgiiii, ;issinaili>l x l i i s lídcics dos IrZs giupiuncntos de çainpooçscs il;i ;$ll:i
Sii:ilii:i ;i '//i11525 c ~pi>sici-ii,iiiic~iic piil>lic:iilr>cin divirsiis vcrsixs.
111 Nii i i i i j : i t i ; i l i;<HIi.: ii'icli i. iv<~lll dc l.iiicr<i ;iccrc;i iiisso. vri;i
ii.ic.11. 1':ir:i :i c<iiiil>~cciisãr>
.L< 9 1 t w 1 11. X 4 , i l 8'1. { I ; 1,. c l ' / , l l l '? c.I :~I>:tixu1,. 30'1.7-20.
dorninar, ambos os reinos seriam destruídos, de modo que náo prevaleceria
nem o regime secular, nem a palavra divina." Ocorreria uma destruição sem
lim em todo o território alemão. Por isso é necessário que se fale e discuta
abertamente o assunto, scm accpção dc pessoas. Por outro lado, é preciso
disposição para ouvir e permitir que as coisas nos sejarn ditas, para que 5

nossos corações não continuem empedeinidos e os ouvidos, surdos, como


tem acontecido até aqui; do contrário, a ira dc Deus seguiri seu caminho
com força total. Pois todos esses sinais horríveis que foram vistos no firma-
rnento e na terraIz prenunciam uin grandc desastre e significativas mudanças
nos teirit0rios alemães, ainda que estejamos ligando pouco para isso. Não 1~~

obstante, Deus vai continuar agindo e um dia vai convencer nossas cabeças duras.

Aos Príncipes e Senhores


li

Em primciro lugar, cabe dizer que devemos agradecer por essa traiçáo e
rebelião sobretudo a vocês, príncipes e scnhorcs, cin especial a vocês, bispos
cegos e clérigos e monges loucos, que continuam teimosos até hojc c não
param de csbravcjar c vociferar conira o santo Evangelho, ainda que saibam
que ele tem razão e náo pode ser contestado. Na administração pública vocês a'
outra coisa iião Pazem do que maliratar e explorar, para alimentar seu luxo c
sua arrogância, até que o pobre homcm do povo não queira nem possa mais
aguentar. Vocês estão com a espada no pescoço, apesar de acharem que cstão
firmes na sela c que conseguirá0 derrubá-los. Ainda verão que esse senti-
mento de segurança e obstinado atrevimento vai Ihes quebrar o pescoço. Eu 2s
:ivisei anteriormente inúmeras vczcs" que sc precavessem das palavras do
S~ilino104 [sc. 107.401: ejfundit cont'mptum super principes - "Elc lança
o desprezo sobre os príncipes"14. Vocês csião pedindo isso e querem levar
iiina na cabeça. Aí todo aviso e admoestaçZo sáo inúteis.
Pois eiltáo, como vocês são a causa dessa ira de Deus, ela certamcntc ~~~
Ilics sr~hrevirá,a náo ser que se emcndem cm tempo. Os sinais no céu e os
iiiil;igrcs na tcma" visam a vocês, senhores, e não h e s anunciam nada de

I I Nit icnio original wellrtich regimenl e Go(e)ltich wori, q u ç são usados como sinoninios,
i?slxdiv'mente, de "reino do mundu" ç ''reino dc Dcus".
I.> A Cpi~cada redação do presente escrito, Lutcro intcrprctou em diversas ocasióes Saiin
iiicomuns como simais dos tcmpos. Incluíam-sc aí notícias acerca de natimortos act'fiili~s
IxMs defomddus, relatos dc apariçács, no céu, do arco-íris 2 noite ou do sol 1ade;icio por
oiliro\ dois s6is. e pmfccias sohrc cnchentcs no rio Elha, que bnnlia a cidade de Wiliciilxrg.
C'S. WA Br 3,4262-23: 464,4 c n. 1; 508,28-31 e 509, 11. 8, krii como WA 'I'R 120,hs.
I 3 l i i i i »:i A~itoridadcScculnr; ate quc Ponto sc //ir Deve Ok<lic?n~.i;i.
V+ ;içilii;i 11. 105.4-27.
1'1 ('I'. 11,. li> 12.21.
15 ('I'. :ici~ii:i 11. 12.
bom. Nada de bom Ihes deverá acontccer. Boa parte da ira já se desencadeo~i
pelo fato de Deus ter enviado tantos falsos pregadores e profetaslb,para quc
primeiro, com heresias e blasfêinias, mereçamos plenamente o inferno e a
perdição eterna. Existe tambéni o outro lado: os camponeses estão formando
quadrilhas. Se Deus não interlèrir, movido por nossa penitência, isso só pode
levar ao desastrc, a ruína e devastação do territdrio alemão através de
tem'veis assassinatos e derramamento de sangue.
Convém que saibam, caros senhores, que Deus providencia as coisas dc
tal Soma que náo se pode, não se qucr, nem se deve tolerar indefídamente
1 sua prcpottncia. Vocês têm que mudar de mentalidade e dar espaço à palavra
de Deus. Se náo o fizereni de modo amigável e voluntário, terão que fazê-
10 sob a aqZo da violência e da destruiçáo. Se não o fizercin esses camponc-
ses, outros haverão de fazê-lo. Ainda que venham a matar todos, eles ainda
não estarão derrotados. Deus haverá de suscitar outros. Ele quer e vai
3. derrotj-10s. Não são os canipoiieses, senhores, que se levantam contra vocês,
C Deus mesmo, para vingar sua insânia. Alguns eiitre vocês se disseram
<lispostosa eiiipenhar gente e posses para extirpar a doutrina iuteranan. Que
ia1 sc tivcsscm sido seus próprios proletas e, a essa altura, possessões e gentc
ji estiverem comprometidas? NZo zombcin de Deus1" prezados senhores; os
judcus também disseram: "Não temos rei" [Jo 19.151; e a coisa ficou 150
séria que eles estão condenados a ficar sem rei por todos os tempos.
Para que caiam ainda mais em pecado e tenham que fracassar impiedo-
sLiriierite, alguns cstão começando a culpar o Evangelho, dizendo que esse é
o kuto de ininha doutrina". Pois bem, prezados senhores, vão dXamando;
;lilida náo querem saber o que ensinei e o que o Evangelho é. Todavia, está
1li;inte da poWa aquele que lho ensinará já, já, se não se cincndarcm. Coiiio
q11:ilquer um, tcráo qiic concordar que ensinei sem » inenor alarde e que Iutci

Miitil~crcnconlmva-'e iiuvamçnle em Mühlhauscn, f,ircndo sua pregação. Vcja nci111;i 11.


.'/7.X-270.~): p. 285s.; p. 289, i,. 20 ç p. 340s.
I / 1:rkii.iiçia ao rluriiie Jor~e, - O B x b ~ ~ ddao , Sax6nia. riuc . ~roniulroii
. - um dccrcto a 10/2115??
< i > i i i i ; i I .iilerc e seu' seguidores, em que çumu piú~cipecristão coinpromctcu-sc u p ~ i t i i c<Ic ~
..iiiilir;ii- i>corpo i <i piilriiii6niu para impedir quc scus ohedientcs súditos fosscrii iiiilx,i~
i i i i i : i < I o \ lpor i<li.ias acrislãs. V$ii tiunMni acima p. 2X4.1X-31; 2x8, n. 12; 292, 11.71.
1s 1'1. ( ; I 0.7.
1'1 1 i : i i : i si. ilc iiliia :iciisayâi>ciil-mitc lia Elirica, prnveiiieiite de círculos Iiosri à Rek>iiii;i. Vi.i:i
.iiiiii:i 1,. LH-.L/-283.5. AtC ~iicstiioos :iuli>lcs do, Doze Artigo,s poiçii~li;iruiii-\c cc,iill:i !:i1
. i I i i i i i : i < ; ~ > i i < i i.<,ciii.<<>d<,csciili>: "11s ~ i i i l i l < >;uilici-irt,í<i\
h agofi~,que ii;juri;i!li liv:iiip.lliii
I X U I ,ALIU c I i > < ; i i i q ~ i ~ s i i i ; i i <i ii. i i i i i d i > . cli/ciali,<l~trr s x ' \ scxia~itiis liiiios i10 ii<iv<icv:iii~clli<i
.."
1 q . I l ~ T ~ ~ ~ ~ , ~ ~ ~'/I./ A ~ ~~ ~~ l ~i ~~ ~~ ~~~ ~. .~ , ~? ~o ,~ ' ~~ ~ ~ ~ r , ~ 1 ~ ~ 1 ~ i l , ~ ~ l c ~ ~ ~
Exorta@io à P:iL

que ela venha a ter seu custo, a presewaçáo da paz lhes retribuirá dez vezes
ii~ais.Com um conflito poderio perder bens e vida. Por que querem expor-
se ao perigo, se de outra maneira ou com bondade poderiam produzir algo
inais útil?
Eles apresentaram doze artigos. Alguns delcs sáo táo justos e proceden-
ics que desmascaram a vocês perante Deus e o mundo e tornam verdadeira
:i palavra de Deus que diz: "Derramarão desprezo sobre os príncipes" [Sl
107.401. É verdade que quase todos visam seus interesses e suas vantagens;
rio entanto, não estão buscando seu próprio bem. Eu bem que teria outros
1 :li-tigos a formular contra vocês, perlinciltes a toda a Alemanha e seu regime,
corno fiz no livro endereçado à nobreza alemã", onde há causas maiores em
logo. Porém, já qiic vocês os lançaram ao vento2', terao que ouvir e aguentar
agora estes artigos interesseiros. Bem feito para vocês, que n.io queriam ouvir.
No primeiro artigozhexigem o direito de ouvir o Evangelho e de escolher
1. iim pastor. A esse vocês não podcrn negar c«m um pretexto qualquer, ainda
que aí estivessem misturados interesses próprios, visto que esse pastor deverá
ser mantido com o dízimoZ7,dinheiro esse que não Ihes pertence. Não
obstante, o sentido último do artigo é este: que se permita que o Evangelho
Ilies seja pregado. Contra isso nenhuma autoridade deve e pode opor-se.
.' Corn efeito, nenhuma autoridade tem o direito de impedir unia pessoa de
ciisinar e crer o que quiser. Basta que impeçaque se pregue rebelião e discórdia.
Os outros migos, que falam dos gavames físicos, tais como a taxaçáo
sobrc o espólio e tributosz" certamente também são procedentes e justos. A
.

24 A Nobreza Cristã da NaçZa AleinZ, acerca da Mcihoria do Esiamento Cristão. h: Ohriis


Srlecionâd;ls, v. 2, p. (277) 279-340.
25 Istn i., "fizeram pouco caso delcs [os artigos escritos por Luterol". Nu texto original tem-
se yhi- diz habl ynn den wind ge.~chlag.cii,expressão idiomática baseatla no latim clássico
veiitis ira<leri.de Horácio em Cannina 1, 26, 2s.
L0 Sçu teor é o seguinte: "Em priinciro lugar, é nosso humilde paiido r desejo, também a
viiniadc c opiiiiZo de todos nós quc, dovavantc, qucremos ter podcr c autorirlade, que a
rconizo dc toda a comunidade possa ela mcsma esçuher e eleger um pdstoi-. E quç tenha
;i ;iutoridadc para dzpô-lo novamente, caso conipoitar-sç inconvenientemente. Esse paslcii'
clcito devc prcgar-ntis i>Evangelho pura e claranicntc, sem qualquer acréscimo dc homens,
iliiuirina c mandmciilo. (...)". No segundo artigo eles se prontiticam a ptgar o díziinr>,
iiirlcmido no Antigc Testamento, mas se reservam o direito de administrá-lo clcs mesmns,
iis:rndo-o para o sustento do pastor e para socorro aos pobres. (Cf. Flug.Ychih..., p.
27.6-11.20-28.11.
."I O camponeses nZo tem <dirzito i de reter o dízimo nem dc dispor dele, pois trata-sc dc
iiiliiltução cstatal.
8' 'li;ii;i-ç <Ic uma trihuta~iíoda herança, mencionada no 11" Art. do campesinalo. N<i tcxiri
:ilciiiZi~.Içihl21ll C aulf .sclxe. No primeiro cayo, trata-se dc uma tributação dc hcratic:i.
i.Ii;iiii;i<Li < l i 7ixlli1lliio I I" Ailigo (L.T. Flu6~chrifi .., p. 30. 29-41), em que se rcivin<lic;isii;i
:ila>liyZo.I';ir,l rliic <,i.1i:iw1i1i.s clc itrii sçivo de gleha falccido tivcsscm direilo ;i hçrmiç:i iIc
sii;i ~xolrii.il;i<lc ~x'ss<,;il. ilcvi.~i;iltii.iiiicp;ir aii sclihor urna ~iarccl;idçstn ;i iítiilo ilç irihiii~,.
I:, ~ ~ ~ I lx~clc ' I ' ,%si p~, ~~ i I iI'~'A
~u t ~~I ~ ~ ~ ~ I '~l>rc%cci~io''
:~x:i'', nu "in~lx~slo".

(I1
Guerra CIOS Camponeses
autoridade não foi instituída para arrancar vantagens de seus súditos e explo-
rá-los, mas para procurai- seu bem-estar e o que é melhor pora eles. Afinal,
não se pode explorar e csfolar desse modo indefinidamente, De que adianta-
ria se a lavoura de um camponês produzisse tantos Llorins como talos e
grâos, se depois vem a autoridade c trib~itatanto mais [a produção], aumenta i
ainda inais seu luxo, e gasta tudo cm roupas, comilança, bebedeka c cons-
lruc;óes, como se dinheiro fosse palha? Anles seria preciso diminuir o luxo e
parar coin o desperdício, para quc sobrasse também alguma coisa para o
pobre. Certamente receberam maiores informaçoes através dos documentos
deles, onde api.eseiitain suas qucixas com suficiente clareza. 10

Ao campesinato

Até aqui, ineus amigos, iião ouvimnl outra coisa do que rilinha confissão 15

clc que, infelizmente, é pura verdade que os príncipes e senhores que impe-
clcin a pregação do Evangelho e exploram o povo de forrna insuportável,
iiicrcccm quc Dcus os dermbe de seus ti-onos2" coino gente que pecou
Zraveinente contra Deus e os homens. Eles não têm desculpa. Mesmo assim
prcciso cuidar para que promovam sua causa de boa consciência e com 211

jiisliça. Pois, se tiverem boa consciência, lerão a consoladora vantagem de


quc Dcus os assistirá c lcvará [ a causal a bom termo. E inesmo que, por
i~lgurntempo, fiquem derrotados ou venham a sofrer a morte pela causa, no
liin a vitdria será sua e suas aliiias serZo salvas e estaráo ila companhia de
lodos os santos. Sc, porém, sua consciêi~cianZo for limpa e tranqüila, serão jt

clcrrotados. E ainda que, temporariamcntc, vcnlian a vcriccr c matar todos


os príncipes, perecerão, no firial, ein corpo e alma para sempre. Com, essa
1l11csião não se bi-inca. Estão em jogo corpo e alma para a eteniidade. E isso
qiic rriais tcm quc ser lcvado em conta e analisado com a maior seriedade.
N;io sc trata apenas de olhar para o poderio de vocês e a iiijustiça deles, nias ~~~
111. vcrilicar se a causa é justa c se a consciência está trauquila.

I'or isso peço amigável e fraternalmente, prezados senhoxs e irinãos,


~ I I < .I).cwsein bem no que irao fazer e não dêem ouvidos a qualquer espírito
c . ~~i<~g;alor, logo agora que o maldito diabo megirncntou muitas hordus dc
iii:iiis espíritos e assassinos sob o nome do Evangelho e está enchendo o v,

iiiiiiiilo com eles. Ouçam, portanto, c accitcin, como, aliás, por várias vcrcs
sc ilispuscram'". Não quero furtar-me à tarefa de vos dar o conselho sinccir)
~ I U Cvos devo, ainda que alguns, já enveneiiados pelos espísitos ~iss;issiiios,
venhatn a odiar-me por isso c chrirnar-me de hipócrita"; não me imporiii
com isso. A inun basta quc consiga salvar da ameaya e ira divina alguns tlc
vocês que têm bom coração e são corretos. Aos ouiros temerei tanto menos
q u a ~ t omais mc desprezarcin. Njo haverão de prejudicar-me, afinal. Sei dc
iiin que é maior e iii:ris poderoso do que clcs. Através do Salmo 3.6 ele mc
cnsina: "Não teiiierci ainda que inil1i;ircs se lancem contra num". Minha
ohstinayã« Iiá dc aguentar a deles. diss« tenho cettezci.
Em psiiiieim lugar, caros ulii;ios. vocês usain o iioine dc Deus e se
denornuiam uiii inovimeiito ou uni grupameiiio cristão, e alegam quc dese-
1 ' jam decidir e agir dc acordo coin a lei divina3?. Pois bem, cntáo também
sabem que o noinc, a palavra e os títulos de Dcus não devcin ser invocados
cin vão e sem cabimci~to, coiilo dispoe o segmdo inaiidamcnto: "Não
tomarás o nonie do Senhor tcu Deus cni vá«" [Ex 20.71; c acrescenta: "O
Sciihor não lerá por inoccnte o quc toin;ir seu rioii~ccin v3o" [Ex 20.71.
', Aqui esti o resto com toda a ckireza e elc vale iaiito para vocês como para
todas as pessoas c, apesar dc sereiii iiumerosos, de estru.rin com a razão e do
terror que infundem, cle os ameaçci com sua irii tanto qiianto a nós outros
todos. Como bein sabem, ele é forte c poderoso o suficieiitc para castigá-los,
como ameaça aqui, sc usarem seu noiiic cm vão c descabidamente. Sc
nbusarcm do nomc de Deus, nenhunia sorie boa os espera, mas somente
ilcsgraça. Consideirin isso e sejam aiiiigavclniente advertidos. Para ele Ç
coisa Sicil acabar com ti~doscsses canipoiieses c kmi-los, ele que alògou o
inundo inteiro com o dilúviu r dcstruiu Sodoina a Iòg03'. Ele c um Deus
lodo-podcroso r temvcl.
Ein segundo lugar, é fácil provar que estão usando o nome de Deus eni
vao e dele abusam; não há dúvidli tanihérn que, por causa disso, no final, 1od;i
sorte dc desgraça os atingirá, a não ser que Dcus não exista. Pois cá eslá ;i
~);ilavrade Deus e diz através da boca dc Cristo: "Quein lalça mão d;i
rspada, i espada pci-rcerá" IMt 26.521. Isso só pode significar quc ninguéiii
dcvc ;tpeler para a viol&icia por iniciativa própria. Antcs, como diz S. Piiulo:

i1 N<i aciii anlerior, cin IiiciladLs.~iniaApologia c Respo.sta contra a <.'arnc e Vida M a i i . ~</L,
I.Viircnhcig - veja acima pp. 286285 -; Miiiitzcr chamara Lutern dc "bokilhj<i i~!lul;t.
<101-". que "se f n de hipbcf~tadiante de íiiipios bubdhócs [os príncipes]". CL T. MUN'I'~
XI1K. Sciiiriirii uiid fiirfe: kNtische Ge.<ariif:iusg:~k.Ilrsg. v. Cuntlirr Fraiz, Giitçrslc~li.
I'JíiX, pp. 721, 24 e 127, 23s.
i.' O Ilsi:iliiii> iki Uiii;io dc Mcniniingen - \,riu eciina p. 107, 11. L) - coiiicqa coei ;i\
l~:\l;ivl;ir: "I';ii,i Ikri~vorc huiirn do icido-podeiosu e eterno Deiis, riiediaiiic a irifçlrcssii<~ <Iii

s:iiiIin liv;iligi.lliii c ila iliviii;~p;ila\,ra, ~gu:ilineiitciiii presiriça <!:ijristiç;i c ilii dircitc ilivii~<i.
,( L I I I ~ Z I ~ c liga ~ , ~ i > l : t ioicix ..." ('V. i c ~ 2-5.
F I ~ t ~ s c l ~ r...i t 32, ~ A :tkwl:~qi<~ ;LU ,liwilu , l i v i n , ~
i . < i i i \ i i i i i i si. ccii liiiiicil>i<>~ i . i : i l . soliri. i~iial( ~ L I ~ Stodos
C 0 s ~ I ~ U ~ : L I I I C<!C
~ ~ci~~~,[li>r~csi.s
<~S
I i ; i v . : ~ : i i i i \ii;is ti.iviii<lii;iy<ii.\. V c i ; ~; i i.%sc icslicit<i..1, 275, i,. 5.
i i !'I. i<~sl".~liv;iiiii.~~~j. !;LI I i 1'1 ?I?.
(iiicira dus C~unpuiiesrs
"'lbdn alrna esteja sujeita à niiioridade erii teinor e Iioiira" [Rtn 13.1; cf.
11.71. Como é que vocês puderam passar simplesmente por cima dessas
~xllavrase disposições divinas, vocês que dizem seguir o direito divino34,
iiias, a« inesmo tcrnpo, lançain mão da espada e se rebela111contra a ciiiton-
ihde constituída pitr Deus? Achaiii. por acaso. que o jiiízo de S. Paulo ern r
I < i i i 13.2: "Aqiiele que resiste h ordenação de Deus trará sohrc si iiiesino a
condeii~rção" não irá atingi-los? Isso significa usar o nome de Deus em
váo", alegar a justiça de Deiis e, ao iiiesmo tempo, agir sob o manto desse
iioiiic contra o direito divirio. Cuidern-se, prezados seiihorcs. no firri as coisas
i120 ii-ào acabar como vocês imaginam. 10
Etii terceiro lugar, vocés alegani: "A autoridade é dcinasiadainente
perversa e insupoit~uel;r i o qiierem dcix;u-nos o Evangelho e nos opriniem
i,iii tei ir ias ia corii cributaçáo de nossas prcipriedadcs e nos arruíiiarn ein coipo
c tilina". Eu respondo: o fato de a ;iutoridade ser pcivsrsa e injustci nZo
~iistilicndcsordein c tumulti>.Pois castigar a maldade não compete a qual- 15

[ I i i i ' i uni, inas 21 autoridade secolar que detém o poder, como S. Paulo diz em
I ( i i i 12.4 e Pcdro em I Pc 3 [sc. 2. L], a f i a n d o qiic elii foi iiistitiiida para
,.:i%iipi~. os maus. Eiii consequí2iicia. existe a Ici natural e. iiiiiversal de que
iiiiigiiéni deve e podc ser seu próprio jiiiz nein deve ser seu próprio vingador.
I'ois 6 verdadeiro [o provérbio] qiie quem revida está errado. Mais aiiida: ?o
<IIICYIIlesponder com viol?rici;t provoca desaveii~a.O direito divino concorda
i.i~iiiisso, dizendo: "A mim iiie perieiicc :i vingaiça, a retribuição. diz o
Si.iilii)r" [Dt 32.351. Ora, vocês não podem nega- que sua rebcliáo se coiiduz
iIc i;iI iiianeirii que vocês se arvoram ein juízes, vingam-se a si mesiiios e
ii;ii~aceitam s o k r qualqucr injustiqn. Isso nâo contraria apenas o direito 25

cristiio e o Evangellio, mas tainbém o direito natural e toda a ccluidade'h.


Sc qiiisereiii vencer ein seu propijsito, apesar de terem contra si tarito o
<lii?.iiodiviiio do Aiitigit Testaniento c o direito cristão do Novo Testariieiito
~ I I I X I I U o direito natural, deverão inveiitar uma iiova ordem cspecial de Deus,
<i~iiliiiii;idacom sinais e milagres, que Ilies dê mandato c poder de proccde- -,I

ic.iii ~lc\.;c inodo." Do conbário, Deiis nio perinitirá qiie sua palavra e
~-
I I ".~:i :i<iiii;i 1,. 313,X~lOe n. 32.
i',1 ' 1 . I \ .!III.
i13 I im.,bIt L, ,h.iili> XIII Ihiivia te~ilognique ap1nv:irn ao prinripin ;iristoi&licnda ci]üid;i,le para
, . t ~ I i i i I, 8ii;ii i~itcs~'i"\n i u resalvívci~;i p& do dirçilo positivo. Lutem se coloc<i~i enire eles
ivc.i;i. 1). <,r.. Dc i,oti.s inonasficir, WA 8,662,ls.).Ao f n r uso da çqiiidadc, ;i Ixssoa sc
t I < c iili. I,O? U ~ I I : Lposi$í<~iiiterniedikia e justa c n t i ~
dois entlcinos. Lulero basc<iu sobre a
~ ~ i 1 ~ ~ 1 ~ 1 :;ii i Ik:i
I i . ii,iliit;iI. por exeiiiplo, u direito i'nicrgencial, pelo q u a l a auloridadc secul:ir
~>,uli.i V I ~ ii Igreja. ro~i,hatinilonel:i a corrupç3n e refoini;mdn-a. Fcz i > iiirsini,
1x1 I N L ~ C Isohrt.
,iiií~i,shiihri <luesl<icsccoii6iiiic;i>. pois çhliecialmeritc :,li o ilircilo luisiiivi> si.
: i i ~i.iiiiiir
c ~ i icl;iy;i,i
i,iiiiii:i i iis iciCililar práticas pii~çsliilalisl;~s. Vila Ohms Sclccion;,<l;a.v. 2. 1,.
1'111 I \ \ . c v. 5. 1,. 45R.I I-I<): 4hX,IX-:34.('1: i : i i i ~ I G i i i:iciiii;ip.107. i,. Illc ;ili:iixc,li. '171. 1 15.
i / V.IJ,!c i h ~ t ; ) 1,. ?cJU. I!. 50.
Exorta$iu :i P;,i

ordenança sejam quebradas pela violência de vocès. Visto. porém, que sc


gloriam do direito divino, inas agem contra ele, Deus os abandonará e.
castigará terrivelmente, e os condenará para sempre, como pessoas que
desonram seu nome, conforme dito aci~na'~. Pois iiqui se aplica a vocês a
;
palavra de Cristo em Mt 7.3: VocEs erwergam o argueiro rio olho dri autori-
dade superior, iras não vêem a trave rio próprio olho. Ou então, de acordo
com a pdavra de S. Paulo em Rm 3.8: "Iremos praticar males para que
iciiham beiis? A coiiden;iqáo ilesscs é jiist;i". E verdade que as autondudes
cometerti injustiqus. hmarido o EvaiigeUio e oprimindo a vocês quanto aos
1" bens temporais. Injustiça maior, porém, cometem vocês ao n;iO apenas resis-
tirem à piilavra de Deus, iiias também a pisoteiani. interferindo no exercício
tlç seu poder e direito, colocmdri-se, iriclusive, aciina dcle. Estio tirando o
direito e o podcr da autoridade constitiiída, na verdade tudo o que d a tem.
Pois ela iica com quê, sc pcrdeu o poder'!
Eu os convoco e deixo a decisão com vocês: Qual é o pior assaltante:
aquele qiic tira do outro gaiide pafle de seus beiis. deixaiido-lhe, porém,
algumas coisas, oii aquele q ~ i etira tudo qiie o outro tem, atE o pr0prio corpo?
A autoridade Ilies Lira injustatiierite seus bens; isso E um aspecto. Por sua vez,
vocês tii-sin dela o poder, no que consiste tudo que possui, corpo e vida. Por
1 isso vocês sáo assdtu1ites muito piores do que eles. e pretendem coisa pior
do que as quc as autoridades fizcrarii. Pois bem, dizerii vocês, estrtrnos
dispostos a deixar-lhes a vida e bens sulicientes. Acredite isso quem quiser,
nias não eu. Quein envercdou por tanta injustiça ;i ponto de assenhorear-sc
ciúninosamerite do poder. o k i i i maior e essencial, iião hesit2u.á em pôr a
' rniio no outro berii menor, que esti rissociado ao primeiro. "Se o lobo c
ciipaz dc comer uina ovellia inteira, tambéin pode comer-ihe as orelhas" [diz
o ditado]. Ainda que fossein tio hons a ponto de Uies deixarem a vida e bens
suficientes, E roubo dernais e urna injustipi quc voc5s se apodereni do
nielhor, qual seja. o podcr. arvorando-se ein scnliores sobre eles. Deus há de
tê-los como os assaltantes maiores.
VocSs não sXo capazcs de avaliar o que isso significa? Se seu procedi-
iiicnto fosse jusio. cada cjii~dse tornaria juiz do outro, e nào sobraria iiem
poder, nein autoridade, orderri ou direito no rnurido, mas sorncnte assrissinato
c dcrraniamento de sangue. Pois, tão logo alguém verificasse estar sofreiido
t,
injiistiça, reagiria jiilgando e castigando o outro. Se isso está errado e não
[KI<IC szr t<ileracf«por parte de nerùium indivídoo, eotzo iambém náo p«dc
scr aceito como conduta de lima turba ou de uma multidão. Por outra, se fi)r
proccdciite como direito de uma turba ou multidão, enião não há arguinento
dirciio p;iia negá-lo ao indivíduo. Pois ein ambos os casos. o iiiotivo 1. 0
(iuçi-ra dos Cainpcinesçs
.~

mesmci: a inj~isti~a. Que rariaiii se em seu movimeiito surgisse o desatino de


c;id;i qual se opor ao o i i ~ oc clc próprio sc vuigassc cm qucrii o ol'endeu'!
AL;ISOvio tolerar isso? NBo diriam que tal pessoa deve deixar o julsunento
e a viiigança pala aqucles que investiram ncssa fuiição? Como C que querem
subsistir perante Deus e o inuiido, uma vez que se julgam e se vingani a si i

inesmos em seus ofensores. inclusive na autoridade que Deus instituiu'?


Ati agora só fdci no direito universal, divuio c natural, que até os
genti«s, turcos e judeus têm que respeitar, para qiie haja paz e ordem rio
mundo. Se cuinprissem tudo isso. aitida não eslari:iin lãzendo mais ou coisa
iiielhor do qiic os gciitios e os tlircos. Pois o fato de alguém riZo sc arvorar I,,

eiii Jitiz e vingador em c;iltsa pr~ipi-ia,deixatido essa tarefit pia a autoridade


constiiuida, ainda não toi-iia niiiguém um crisi,íio. Cedo ou tarde é preciso
fazê-lo, queira ou não. Coino vocês afrontam esse direito, podem pei-ccber
também claramente que sâo piores que os gentios e turcos, que dirá chama-
rem-se de cristãos. Eritretaiito. que acliarn que Cristo vai dizer de tudo isso? 15

Vocês us:tni seu nome e se dizem uma assembl&ia ci-istãl", quando. tia
verdade, esião Iotige de tuclo. :igiiido e vivcrido Ião b;u.baraincnte contra seu
dircilo que 1120incrcccm sequer scrciii ehain;xlos dc gentios ou inrcos. Vocês
s,ío gente bem pior, poiiliie se revoltam e 1iii:iiii coiilra um direito ii;~tural,
que até eiitre os gentios C pacifico. 211

Vejam então, meus caros amigos, que espécie de pregadores vocès têm,
o quanto se importarn com as almas de vocês. Receio que sc misturaram a
vocês alguns profetas saiguhhrios que, através de vocês, querem torniu--se
scnliores do mundo, pelo que Iiá muito vêtn lutando, sem se imporiarem com
o fato de os estarem levando ri coinpronleter a vida. os bens, a honra c a ?i

;iliiia, teiiiporária e eternametite. Se quiseretii respeitar a lei de Deus, coriio


;ilci~rrn,pois bem, façaiii-rio, aí está ela. Dcus diz: "A m i n inc pcrtence a
viiigtinqa, a retribuição" [Dt 32.351. E ainda: "Sejam submissos a seus
sciiliorcs, iião somciite aos bons, rnas tambérn aos perversos" 11 Pe 2.181.
Sc o fizerein, tudo bem; se não o fizei-em, poderio até provocar um desca- 3,l

I:IIIKI, mas no fim a desgraça cairá sobre vocês, disso ninguém tenha dúvida.
Ac<riiicccquc Dcus C justo c 11áo tolera isso. Por isso tcnham cuidado com
<.\\;i lil~erdade,para que, lugiiido da chuva, náo veiili:im a cair na água e, ria
iiti~~iiq;io dc conquistar a liberdade física, percam a vida. os bciis e aliiia
<.i<.iii;iiiiciire.A ira de Deus estú aí; é mellinr temê-la, é meu coiiscllio. O v,

<li;ilii) Ilics eiiviou tãlsos proietas; cuidem-se deles.


hilctixiis, queremos [alar também do dieiio cristão c evangélico, que
i i i t i i i. coiiipromisso dos gentios, como o anterior. Pois, se vocês se dize111
<.iihi;aisc gostain de ouvir que sejam cliamados assim c tidos por tais, hão
de aceitar certamente que se chame a atenção de vocês para seu direito.
l:ntão escutem seu direito, queridos cristãos. Assim Sala seu SENHOR su-
premo, Cristo, por cujo nome estão se chamando, de acordo com Mt 6. [sc.
5.39-411: "Não resistam ao mal. Se alguém o obrigar a andar uma milha, vá
com ele duas; e ao que lhe tirar a túnica, deixe-lhe também a capa; a
qualquer que o ferir a face direita, volte-lhe também a outra". Estão ouvindo
isso, comunidades cristãs? Como podem suas pretensões harmonizar com
esses dispositivos legais? Vocês não querem tolerar que se Ihes faça qualquer
mal e injustiça; querem ser livres e alvo somente de coisas boas e de causas
I justas. Mas Cristo diz que não se deve resistir a nenhum mal e in.justiça, mas
scmpre ceder, sofrer e permitir que sejamos despojados de nossos bens. Se
iião quiserem tolerar isso, então eliminem também o nome de cristão e
gabem-se de algum outro, mais consentâneo com scu modo de proceder, ou
então o próprio Cristo vai at~ancarseu nomc de vocês, e isso será duro
1 demais para vocEs.
No mesmo sentido se manifesta também S. Paulo em Rm 12.19: "Não
se vingucm a si mesmos, amados, mas dêem lugar à ira de Deus". Por outro
lado, ele elogia os corhtios por aceitarem o sofrimento quando alguém Ihes
bate ou rouba, 2 Co 11.20. Em I Co 6.1-8, por sua vez, ele os repreende por
brigarem pelas bencsses e não quererem sofrer por algo. Nosso Duque Jesus
Cristo diz em Mt 7 [sc. 5.441 que devemos desejar o bem para aqueles que
nos ofendem, orar por nossos perseguidores, amar os inimigos e fazer o bem
para nossos algozes. Eis aí nossos d i i t o s cristãos, caros amigos. Agora
podetn perccber o quanto os falsos profetas os desviaram, e ainda chamam
vocês de cristãos, apesar dc os terem transformado em gente pior que os
gentios. Pois dessas passagens até uma criança depreende que o direito do
cristão é não resistir à injustiça, nem lançar mão da espada, não se defendcr.
iião se vingar, mas entregar vida e bens, para que roube quem quiser, já quc
110sbasta nosso SENHOR, que náo nos abandonará, conforme promete~i"~'.
Soi?cr e sofrer! Cruz e cruz! - esse é o direito dos cristãos e nenhum outro.
Agora, porém, que estão lutando pelos bens temporais e não querem enhegnr
:i capa além da túnica4', antes procuram reavê-la, quando é que estarZo
dispnstos a morrer, a entregar a vida, amar os inimigos e fazer-lhes o bem?".'
Ai dos cristáos imprestáveis! Caros irmãos, os cristãos não existem em t?io
gi-ande número quc tantos se possam juntar num só grupo. O cristão é uiii;i
;ivc riira.4"uisera Deus que a maioria de nós fossc gentios probos e bons.
qiic rcspcitassem a lei natural. Da lei cristã nem vou falar.

~~p

I I . IIIi 11.5. 4 1 CS. Mt 5.40. 42 ('I: Mi 5:l.l.


I i No ~ r i j , , i ~ ), ;s~ l~ ~ I ~wn)!<.I,
~ ; ~~~~~I~~c! r~ c C! Y
c x~~ ~~r ccs~ sr;~r;~
ZI ~K~wI; sc, ~ r c ~ ~ i i c ~ ~<IS;KI;!
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~~cnlc
;i~ili>ivs I:iiiiic,h: I Iiir.ii.ii, I.Y<.rriii,r~<.,v .'. 2. 30). .Iiivci,:il i,S;ilii,-i< O, 105) c Ri-isliiii (/(il;i;:i:i.>.
I. .'I i. Vi:i:i I:IIIIIH.TI~ iaci11b:8 11. 111L5.
Quero relatar-lhes também alguns exemplos da lei cristã, para que pos-
sam ver para onde os profetas loucos os conduzirain. Reparem em S. Pedro
no Horto [das Oliveiras], quando quis defender seu SENHOR Jesus Cristo
com a espada, cortando a orelha de Malco". Diga-me quem puder: Pedro
não tinha muita razão no caso? Não foi uma injustiça insuportável que s
queriam privar a Cristo não só dos bens, mas da própria vida? E inais: náo
tiraram apenas os bcns e a vida de Cristo; além disso, oprimiram totalmente
o Evangelho, pelo qual deveriam scr salvos45,privando-se com isso do reino
dos céus. Tmanha injustiça vocês não sofreram, caros amigos. Reparcm, no
cntanto, no que Cnsto faz c cnsina aqui. Por maior que fosse a injustiça, ele 10

repreendc a Pedro e oidena que guarde a espada, e mio quer admitir que essa
injustiça seja vingada ou impedida. Além disso, pronuncia uma sentença
mortal sobre ele, como de um assassino, quando diz: "Quem lança m3o da
espada, à espada perecerá" [Mt 26.521. Aqui precisamos entender que não
hasta que alguém nos faça injustiça, enquanto defendemos uma boa causa e ir
o direito está do nosso lado. E preciso também ter o direito e o poder
institiiído por Deus para usar a espada e castigar a injustiça. De rcsto, um
cristão deve aguentar essas coisas, mesmo quando qucrein privá-lo do Evan-
gciho. Ainda há outras maneiras dc se opor ao Evangcii~o,como veremos
mais adiantea. 211
Outro exemplo: Que faz o próprio Cristo quando lhe tiram a vida na cruz
e acabam coin seu ministério da prcgação, para a qual fora enviado pelo
prdprio Deus para o bem das almas?" Faz o quc diz S. Pedro: entregou tudo
iqucle que julga retamente e sofreu injustiça insuportá~el~~. Além disso,
ainda orou por seus perseguidores e disse: "Pai, perdoa-lhes, porque não 25

sabem o que fazem" [Lc 23.341. Se fossem cristãos corretos, teriam que
procedcr de igual modo e seguir esse exemplo. Se não o fizerem, então
<fcsistam do nome de cristão e da invocação do direito crisiáo. Pois com
cçrleza não são cristãos, mas adversários de Cnsto, de seu direito, doutrina
icxcmplo. Entretanto, se o fizerem, em breve verão o milagre de Deus, que ~~~
o s socorrerá, como fez com Jesus Criyto, ao qual, depois de terminado o
sol'i-iiiicnto,vingou de tal forma que seu Evangelho, reino e poder, se fuma-
i ; i i i i c se unpuscram apesar de todos os inimigos. Da mesma forma também
socoi-ieria a vocês, dc maneira que seu Evangciho desabrocharta vigorosa-
iiii.iicc ciitre vocês, se antes cumprissem sua dose de sofrimentos, entregas- $5

si.iii :i causa a ele e esperassem por sua vingança. Agora, porém, quc vocês

.I4 ('I: LL 22.50; Jo 18.10.


.15 ('1. Kin 1.16.
X I f i Vj:i :iliaixo p. 323.19-324,8

,I7 ('1: 1s 61.1; Lc 4.18.


.IX ('1: I I'c 2.21~5.
inesnios inteivêm e não aceitani suportar, querendo coiiquistar as coisas c
coiisewá-Ias à força. impedem sua vingança e vão conseguir que r i o Ihcs
i'icará nem o Evangelho nem o poder.
É preciso que eu mc considere um exemplo vivo nestes tempos. O papa
c o imperador me afligiram e investiram furiosos contra minha pessoa. Ora,
como consegui que, quanto maior a fúria do papa c do imperador, niais o
incu Evangelho se alastrasse? Jamais puxei urna espada ou desejei vingança.
NZo desencadeei nenhunii~rebelião nem qualiliier i n o t h , pelo contrário,
ajudei n defender o quanto pude o poder da autoridade constituída e o
i-cspeito devido a ela, inclusive da que perscgiie a mim e meu Evar~geiho~~.
[)essa maneira confiei tudo a Deus e me fiei decididamente em sua iiião. Por
isso cle, apesar do papa e dc todos os tiranos, não somente ine preservou a
vida, o que muitos coilsideram, e coin muita razão, um grandc milagre, como
eu mesmo tenho que admitir, mas pemitiu ainda que meu Evangelho se
1 alastrasse mais e mais. Agora vêm vocês e interferem no que estou fazendo,
quei-eiii ajudar ao Evangrllio5", mas náo enxet-gam que dessa maneira o
iinpedciil c oprimem ao ni&~uno.
Digo tudo isso, meus caros aiiugos. para alertá-10s sinceramente. Nesse
ciiso devem deixa de se chamarem dc cristãos e de glonarcin-se de estarem
.88 coin o direito cnstio. Pois, por mais razão que possam ter, a nenhum cristão
cabe apclar à lei e usar as m a s , mas sofrer injustiça e aguentar maldades.
Não tem como intcrpretar diferente a passagem de I Co 6.5s. Vocês mes-
mos confcssain no Prefácio que "todos quantos crtem em Cristo são pessoas
;imúveis, pacíficas, pacientes e conciliadoras"". Na prática, porém, estio
inostl-iiiidocão-somente impaciência, discórdia, hriga e violência, desmeiiiiii-
do soa própria palavra. A nóo ser que queiram chamcu de pacientes soineiiic
;iqueles que não qucrern sofrer alguma maldade, mas apenas justiça e benc-
I'ícios. Essa sena unia beleza de paciência que até o patife pode praticar,
quanto mais uma pessoa de fé em Cristo. Por isso repito: Não questiono os
1 iiiti-itos da causa de vocEs. Como, porém, querem impô-la e não aceita111
sofi-er alguma injustiça, façam ou deixem de fizer o que Deus Ihes permitc.
Mas o nome de cristão deixem de fora e não façam dele pretexto parii
ciicohi-ir sua iniciativa uiipaciente, hostil e acristã; não quero admitii- c
coiiccder-llics esse nome; farei tudo para arrancá-lo de vocês através rlc
()i-cgiic;'áoe publicaç6es. enquanto correr uma gota de sangue em incu corp).

,I') V<:i;i :icioia 1,. 310, n. 20.


50 V<:i;i ;~cirii:i p. 313, ii. 32.
51 N < i l~cc:l;icii>:ias ILm. Ailipor s i IE: "Ein priniçiru l u g ; ~ .o Evungclhi> nâo i. nioiivci l p i ~ g a
ii.vi,ll;i i. iii!iiiili<i. visto qoc C ~ I I ~[x1I:kvr" M d i CIrisIo, II Mcs~iiisproriiilirli>, P S I S Y ~ ~ CSS;! LIIII.
ii:iiI:i i.ii\iii;i \i.i~;i<i:ioii,i. I>.W. ~ ~ : ~ c i i . i i i - ic; i li:iicrcii<l;iilc, {lc iii;iiiiir;i qilc lrxlirs r , i ~ o cii?i.iii
I ~ . W t ' 1 i h 1 0 s r lcvr~~;t!\)
; ~ t ~ m v ~ ,lt;~c.Ífit.<>s,
i\, ~ ~ ~ ~L, c c~ ~i ~ c~ I ~ I~~ ~~llso'~'g, s ~c l ~~ r ~ / l20,
; tVI', ~ ~I(,\,
!~...,
( iiicrra dos Camponeses
Pois não tcráo sucesso. O máximo que poderão conseguir é a ruína de corpo
c alma.
Não pretendo, com isso, justificar ou defender as autoridades na prática
das insuportáveis iiijustiças que vocês sofrem. Admito que são injustas e que
praticam temvel injustiça. O que eu quero é o seguinte: se ambas as partes
não quiserem aceitar oncntação e, o que Deus i1Zo permita, vierem a cnfren-
t;u-sc em luta armada, quc nenhuma das partes use o nome de cristão. Aí,
entáo, acontece o que costuma acontecer no mundo quando um povo luta
contra outro, como diz o adágio: Deus castiga um patife através do outro.
Eni caso de conflito, o que Deus queira evitar, quero vocês tais quais são
classificados c chamados. Que as autoridades saibam que não estáo lutando
contra cristãos, mas contra gentios, e que vocês próprios saibam que náo
cstão enfrentando as aut»ridades como cristãos, mas como gentios. Pois
cristeos não lutam em seu próprio benefício com a espada ou o inosqucião,
mas coin a cruz e sofrimentos, assim como seu Duque Cristo não usa a
espada, mas est5 pendurado na cruz. Por isso mesmo, sua vit6ria não consiste
crn vencer, governar e exercer poder, mas na submissão e fraqueza, como
diz S. Paulo cin 2 Co 10.4: "As amas de nossa milícia não são corporais,
c, sim, poderosas em Deus". E ainda: "Poder se aperfeiçoa na fraqueza" 12
Co 12.91.
Scu título e nome serão e haverão dc ser o seguinte gente que luta
porque não quer sofrer ncnliuma injustiça e mal, conlòrme o diieitci natural.
Ksse é o nome que devem adotar, e deixar o nome de Cristo em paz. Pois
isso corresponde ã obra de vocês e é assim que estão procedendo. Se não
quiserem assumi-la, mas presewar o nome de cristãos, então tenho que
iresu um ir que se estão voltando contra mim, devendo, porlanto, considerá-los
como inimigos quc querem restringir ou impedir o Evangelho, c isso mais
<I«que o papa e imperadores o fizeram até aqui. Porque estão agindo contra
o próprio Evangelho sob o signo do Evangelho. Por outro lado, não quero
esconder o que farei no caso. Vou entregar essa causa a Deus, arriscarei o
~ ~ s c t i $com o , a graça de Deus, c me fiarei tranqüilamente nele, como fiz até
:icliii contra papa e imperador; e quero orar por vocês, para que ele os ilumine
i. I>:irrc seu movimento, para que não tenha sucesso. Pois estou vendo
~~rlbiiomente que o diabo, que até agora não conseguiu eliminar-me através
i10 ~p;t~i;t, agora quer destruir e devorar-me através dos profetas saiiguiiiários
i. ;iss:issinos e dos espíritos rebeldes que há entre vocês. Pois bem, que mc
[lcvorc! Ele vai ficar com a barriga bem estufada, disso estou certo. E vocês,
iiicsiiio que vençam, não terá« muito proveito. Mas peço huniildc c ;uiiig;i-
vcliiicrite que reflitam de imediato e se portem dc tal maneira que css:i
coiilianya c oração a Deus não sejam necessárias.
Ainda quc seja apenus tini pohrc lio~iicinpccadoi; sci c csioii coiivciici(l<i
C I I I C , iio lxwenlc cnso, <IclCiicIo o qiic C. corrcto qii;tri~loIiiio l i ~ , l ( ~I I O I I I C ~
"cristão" e peço que não seja ultrajado. Estou certo também de que minha
oraçzo a Deus foi ouvida e será aceita, pois ele próprio nos ordenou a orar
desse modo no Pai-Nosso, onde dizemos: "Santificado seja o teu nome2'[Mt
(i.91, e proibiu rio segundo maidxnento que se profanasse seu nome [cf. Ex
20.71. Por isso, peço que iiáo desprezem essa miriha oraçtto e a de todos que
comigo orani' porque será extremamente poderosa conira vocês e chamar6
Deus contra vocês, corno diz S. Tiago: "Muito pode a súplica do justo, se
Iòr persistente" [Tg 5.161, como foi o caso na oração de EliasS2. Temos
também promessas animadoras de Deus no sentido de que nos ouvirá,
coiiforme Jo 14.14: "E tudo quaiito pedirem erri meu nome, isso farei". E
cm 1 Jo 5.14: "Se pedinnos alguma coisa conforme sua vontade, ele 110s
ouve". Essa coniiança c certeza no coração vocês não podeiii ter, porque sua
consciência e a Escritura os convencem de que sua intenção é pagá e n2o
crista, e que, sob o nome do Evangelho, agem contra o Evangelho e para
1 vergonha do norile de cristão. Sei que, nessa questto, ninguém cle vocês orou
a Deus nem o invocou cima única vez sequer. Nein podenani. Nesse caso,
vocês não ousam levantar os oihos a ele5', irias ameaçani desafiadoramente
com o punho que cerraram por impaciência e intolerância3coisa que não
acabará bem para vocês.
Se fossem cristãos, eles deixariam de ameaçar com punho e espada e se
apegariam ao Pai-Nosso e levariam sua causa i presença de Deus, dizendo:
"Faça-se a hxa vontade", e ainda: "Livra-nos do mal, amém" [Mt 6.10.13),
como no Saltério, onde os verdadei*os santos trazem sua aflição peraiite
Deus, procurando nele seu auxílio; eles desistem de defender-se a si mesmos
c de resistir ao mal. Esse tipo de oração ihes teria ajudado bem mais em sua
:ií'lição do que se o mundo estivesse em suas mãos. Também teriam cons-
citricia limpa e a consoladora esperança de que seriam ouvidos. como rezam
suas promissões em i Tm 4.10: "Ele é o Salvador de todos os homens,
especialmente dos fiéis". E no Salmo 50.15: "Invoque-me no dia da angús-
tia; eu ihe ajudarei". E Saimo 91. 15: "Ele me invocou na aiigústia, por isso
Ilie ajudarei". Vejam, esta é a maneira legitimamente cristã de alguém livrar-
sc de desgraça e mal, ou seja, aguentar e invocar a Deus. Corno não fazem
iierii uma nem outra, não invocam nem aguentaml mas trata11 de se ajudar
:i si mestiios com força própria, fazendo-se deus e salvador de si mesmos, o
Aliíssimo não é nem será seu Deus e Salvador. Se Deus qiiiser, podem até
conseguir algo como gentios e difamadores de Deus, e nós oramos por isso.
Mas isso apenas servirá para a desgraça temporal e eterna de vocês. Contudo,
coinn cristáos e evangélicos, NO conseguirão nada. Nisso apostaria mil vezes
iiicu pescoço.

52 ('I. 1 I<s IX.:lh1X,41 46: 'I'!: 517%. 53 Ci. I ç 18.13

\:I
Gucna dos Camooneser
A partir daí, agora é fácil responder a todos os artigos de vocês. Ainda
que todos estejam baseados no direito natural e sejam justos, vocès esquece-
ram, não obstante, o direito cristão. Porque não chegaram a eles neni os
estabeleceram com paciência e oração a Deus, como convém a gente cristã,
mar procederam com impaciência e violência, para arrancá-los da autoridade i

constituída e impô-los à força, coisa que é contra o direito territonal e a


cquidades4 natural. A pessoa que redigiu os artigos de vocês náo é gente
honesta e proba, pois anotou à niargem muitas passagens da Bíblia", nas
quais se baseariani os tais artigos. No entanto, trabalha com meias verdadess6
e omite determinados textos, para dar ares de justiça a sua malícia e ao 111

iiiovimento de vocês, e para seduzir e instigá-los, arrastando-os ao perigo.


Pois as passagens indicadas, quando se as lê atentamente, pouco têm a ver
com o movimento de vocês; pelo contrário, ou seja, ensinam que se deve
viver e agir de modo cristão. Deve ser um homem sectário esse que, através
de vocès, somente quer se aproveitar de vocês para dar vazão a sua revolki 15

contra o Evangelho. Queira Deus impedi-lo e guardá-los dele.


Primeiramente, no Preficio vocês são amáveis e proclamam que não
querem ser rebeldes, escusando-se, inclusive, porque querem viver de acordo
com o Evangelho5'. No entanto, sua própria boca e ação os desmenteni. Pois
ztdrnitem a foimação de quadrilhas e de rebelião. e querem encobrir tudo isso 111

coiii o Evangelho. Mais acimasx,ouviram que o Evangelho ensina os cristáos


a sofrer e tolerar a injustiça e clamar a Deus em todas as adversidades.
I3nwe.tant0, vocês não queitm sofrer, mas, qual gentios, submeter autori-
dades à vontade e impaciêiicia de vocês. Citam os filhos de Israel como
cxeiiiplo de que Deus ouviu seu clamor e os libertou". Por que não sc atêiii 29

;i cssr eseiiiplo, para que possam orgulhar-se? Clamein a Deus como eles e
csperem até que ele mluide também a vocês uni Moisés que, com sinais e
tiiilagres, prove que foi eiiviado por Deus. Os fuhos de Israel não se rebela-
r;irii contra Faraó; eles tiuiibém não procuraram fazer justiça com as próprias

'l\ i 'l:';icima n.
j3.&307, 7.
',O No ii.xi« original lê-se kheUt Jen bqvyni maule, que literdmenle se traduz: "fica cuin a
li;il>:i ii;i boca". Pau-sc de um ditado rcunido por Lutem a sua colegZo: cf WA 51,650, i i '
I I í : hK25.
'1 1 I i(.c iiu prefácio: "Poltaito. o fundamenta de todos os xtigus dos çarnponcsçs aporiiii cio
\çiiitd<i de que o Evangcllio seja ouvido c se viva de acordu com ele [...I. Em scg~itiil~i
1iig;ii.. a conseqüência clara e pura é que os camponeses, os quis em seus arligos ;insci:irt~
IHII. essc Evaneelho
" como dourrina e vara a vida. não oodcm ser chamados dc insiihiinlii
~i;i<lose subversivos", Flugschnflen... 26, 17-19. 26-29.
58 Vr;a açinia p. 316,17-317.37.
5') "l<lc ll>cus],qui oiiviu os filh~isdc 1sr;icl a I I i i çI;itiiiu c o s lilxrii>iii k i ~i,;Li<I<, I;ii-;si. 1 1 ; i i v
~"'ilc ;airida hi>ji rcsgaiu <,r scii\''" I?iigsiliiilic!i ... 20, ? I .. 77. 2.
Exortação à Paz
máos, como vocês pretendem. Por isso tal exemplo vai diretamente contra
vocês e condena a vocês que querem invocá-lo, mas fazem exatamente o
contrário.
Também não confere a alegação de que estariam ensinando e vivendo de
,, acordo com o E ~ a n g e l h o .Não
~ há um artigo sequer que ensina alguma
passagem do Evangelho; tudo visa unicamente a liberdade pessoal e os bens,
todos falam de coisas terrenas e temporais: querem ter poder e bens sem
sofrer qualquer injustiça. Acontece que o Evangeho não se envolve com
assuntos seculares, mas faia da vida no mundo como sujeita a sofrimentos,
injustiça, cruz, paciência e desprendimento de bens e vida temporais. Como
poderia o Evangelho combinar com vocês, se procuram apenas fachadas para
seu movimento não-evangélico e acristão, sem se darem conta que com isso
zombam do santo Evangelho de Cristo, fazendo dele um pretexto? Portanto,
vocês têm que tomar uma atitude diferente no caso; ou desistem de tudo e
1 se submetem ao sofrimento de injustiça, se quiserem ser cristZos; ou, se
cluiserem continuar com o movimento, achem um nome diferente e não
pretendam ser chamados e considerados cristãos. Aqui não há meio termo
liem outra escolha.
Concordo que tenham razão naquele ponto em que dizem desejar o
Evangelhoh1,posto que é manifestação séria. E inaceitável que se feche o céu
para alguém e o mande à força para o interno. Isso é coisa que ninguém deve
aceitar; antes deve empenhar cem vezes a vida. Quem me nega o Evangelho
kcha o céu para mim, e me conduz à força para o inferno, uma vez que não
cxiste outro caminho ou meio para a salvação das almas do que o Evangelho.
I'orianto, isso é uma situação que não posso aceitar, ainda que me custe a
vida. Vejam, acaso o direito não está suficientemente comprovado? Disso,
porém, nZo decorre que eu devesse rebelar-me i força contra a autoridade
que pratica essa injustiça contra mim. Você dirá então: Como posso sofrer e
irão sofrê-lo ao mesmo tempo? A resposta é fácil nesse caso: Não é possívcl
ucgar o Evangelho a alguém. Não há poder no céu o u n a terra capaz disso.
l i ~ i so Evangelho é um ensinamento público, que corre livremente debaixo
do céu, preso a nenhum lugar, como aquela estrela que, caminhando no céu,
iiidicava aos magos do Oriente o nascimento de Cristoh2.
É verdade que os senhores podem barra o Evangelho em cidades, vilas
c povoados onde está o Evangelho ou existe um pregador. Mas você podc
(lcix;u essa cidade ou lugarejo, e procurar o Evangeho em outro lugar. Nâo
i. ~ ) r x i s oque, por causa do Evangelho, você conquiste e ocupe uma cidadc
OLI ti111 povoado. Deixe a cidade ao encargo de seu mandatário e siga ao Evan-
jr'llio. Assiin você tolera que lhe façam injustiça e o dcsterrein, ao mesmo
Guerra dos Camnoneses
tcmpo que não aceita que lhe tirem ou neguem o Evangelho. Veja, assim as
duas coisas harmonizam, tolerar e não tolerar. Do contrário, quando você
quer ficar com a cidade juntamente com o Evangelho, esti roubando do
senhor da cidade o que é dele e alega que é por causa do Evangelho. Meu
caro, o Evangelho não ensina tirar e roubar, ainda que o proprietário do bem s
estivesse agindo contra Deus e com injustiça, e dele se prevaleça em seu
prejuízo. O Evangelho nio precisa de espaço físico ou cidade para licar. Ele
quer e precisa ficar nos corações.
Cristo ensinou isso em Mt 10.23: "Quando os expulsarem de uma
cidade, fujam para outra". Ele não diz: "Se tentarem expulsá-los de uma li1

cidade, permaneçam lá e assumam o controle dela para o bem do Evangelho,


e rebelem-se contra os senhores da cidade", como agora se quer fazer e
ensinar. Diz, pelo contrário: "Fujam, fujam sempre para outra cidade, até
que o Filho do homem venha. Pois eu lbes digo que não chegarão ao fun
com todas as cidades até. que o Fiího do homem venha". Tmbém em Mt i
23.34 diz que os gentios irão expulsar seus evangelistas de uma cidade para
outra. Paulo também diz em 1 Co 4.11: "Não temos lugar de permanência".
Se acontecer, então, que um cristão tem que retirar-se de um lugar para outro
por causa do Evangelho, saindo de onde está e abandonando o que possuía,
ou vive na incerteza ou na expectativa de que a qualquer hora isso pode 211

ticontecer, então lhe está acontecendo o que convém acontecer a um cristão.


I'ois, pelo fato de não aceitar que se lhe tome e proíba o Evangelho, ele
lolera que se lhe tome e proíba cidades, vilas, bens e tudo quanto é e possui.
Corno fica aqui o movimento de vocês, que ocupam cidades e povoados e
os mantêm sob domínio, quando não lhes pertencem, e não querem tolerar 25

cluc se as negue a vocês ou recupere; vocês é que as tomam e negam a seus


sciihores por natureza! Que cristãos são esses que, em nome do Evangelho,
sç tomam assaltantes, ladrões e safados, e depois dizem que são evangélicos?

Quanto ao primeiro artigo .,I,

"A comunidade como um todo tem que ter o poder de escoíher e afastar
IIJJI ~~:íir>co"?~ Esse artigo está certo, se for usado de forma cristã, para o
< I I I V , 110 entanto, as passagens indicadas à margemMnada contribuem. Se as
~iii~l)i-icdades da paróquia pertence à autoridade constituída e não à comuni- i$

il;iclr, essa não pode ceder essas propriedades ao pároco que ela mesma
c~sc.ollieu,porque isso seria assalto e roubo. Se ela quiser ter um pároco, que
~~iiiiciro o peçam humildemente à autoridade constituída. Se não os atender,

0' <'I: I;lu&~chrifien ... p. 27, 6-19.


tvl <'il;i-ri a iíiulii dc fundarncni;iyáo híhliç;~:I Tiii 1.1-7; '1'1 1.6-c): AI 14.?:1.
escolham seu próprio pároco e sustentem-no com recursos próprios. A auto-
ridade fique com seu palrimonio, ou então consigam-no dela por via leg;il.
Se, no entanto, a autoridade nâio quiser tolcrar tal pároco escohido e susten-
iado por conta própria, deixe-se que fuja p q outra cidade, e quem quiser,
que fuja com ele, como Cristo o ensinah5.E isso que significa escolher c
manter pároco próprio de modo cristão e evangélico.

Quanto ao segundo artigo


"O dízimo deve ser usado para o scistento do pastor e dospobres; o resto
. ~ artigo é ladroeira
ser2 reiido parri as neçessidridcs do leiniórb", e t ~Esse
e assalto público. Aí vocês querem apoderar-sc do dízimo que não pertence
;I vocês, mas à autoridadc, c fazer com ele o que bem entendem. Assim não
dá, meus amigos; isso significa dcstituir completamerite as autoridades. No
1 Prefácio67 vocês se comprometem a nâio tirar nada de ninguém. Se quiserem
dar e fazer caridade, façam-na com seus próprios recursos, como diz o
Sábio". Pois através de lsaías Deus diz: "Odeio a oferta que vem de bens
roubados" [ls 61.81. Vocês hlam neste artigo como se já fossem senhores
d o terriiório, como se já tivessem requisitado todos os bens das autoridades,
riáo quiscssem mais ser súditos de ninguém e não pagar tributos. Por aí se
ciitende o que pretendem. Prczados senhores, deixem disso, por favor; vocês
iiZo vão levar isso a bom termo. Dc nada k c s adiantam as passagens biblicas
clue seu pregador mentiroso e falso profeta rabiscou à margem.6y Pelo con-
i~írio,elas sZo contra vocês.

Quanto ao terceiro artigo


"NZo pode mais haver rcgijne de escravidZo, porque Cristo nos liberioli
:i iodos. ' v O Que é isso? Isso significa transformar a liberdade cristã em coisa
iiici-arncntc camal. Acaso Abraão, outros patriarcas c profetas não tivera111
mci-iivos? Leiam S. Paulo71para saber o que ele diz dos servos que na época
ri-;iiii iodos escravos. Por isso esse artigo conilita diretamente com o Evaii-
:r.llio c é ladro, porque sugere que cada qual, fazendo-se doi10 de seu coq>o,

( ' I . M i 10.23,
... p. 27, 20 - 28, 1.
1 'I. l~/~!g,schr~ficn
0 1 A <il~scrv:i~áo náo se encontra no preiácio, e, sim, numa glosa marginal ao Arl. 2". <:I:
~ ~ l ~ ~ ~ ~ . ~p.~28, ~ l4-7.
~r~licr~...
1,s ( ' I .I'" 3JI.
18'1 '(I;, \i. :i iíiiilo ( l i liiii<l;iiiiciii:i~;iii 1hihlic:i: SI 110.4; GIL14.20; Dt 18.1; 12.6; 25.4; M i IO!ls.
10 'I, /:I,,/! ,. '~l,!i/i,~!,
... 1,. ;'.H. I?. ?>I.
/ I [ ' I I (',,./.!.I ?,I.: l:.l i>.5H.: ( ' 1 i.?? I 'I',,, o.ls.;'l'l 2.0s.
(tueira dos Camponeses
pode tirá-lo do domínio de seu senhor. Um escravo pode muito bem ser
cristão e gozar de liberdade cristã, tal como um prisioneiro ou enfermo é
cristão, mas &o é livre. Esse artigo quer deixar todas as pessoas iguais e
fazer do reino espiriiual de Cristo um reino secular e exterior, coisa que é
impo~sível~~. Pois o reino secular não pode subsistir onde não houver desi- 5

gualdade das pessoas, de sorte que alguns são livres, outros estào presos, uns
são senhores, outros, subalternos, ctc. Como S. Paulo diz em GI 3.28 que em
Cristo senhor e escravo é a mesma coisa. Sobre isso meu senhor e amigo
Urbano Régio certamente escreveu o suficiente. Para maiores informações,
leiam seu livro7'. IO

Referente aos demais artigos


Os outros artigos referentes à liberdade de caça, aves, peixes, madeira,
floresta, serviços, impostos sobre consumo, tributos, vendas, taxação de 15

cspólio, etc.I4 - tudo isso deixo para os juristas. Não cabe a mim, como
pregador, opinar e julgar no assunto. Cabe-me, isso sim, instruir as consciên-
cias no que diz respeito a assuntos concernenles a Deus e i fé cristã. Sobre
o direito imperial existem livros suficientes. Já disse mais acima7' que essas
~l~icstões não dizem respeito ao cnstiio; ele não liga para isso. Deixa que 2'1

iirube, tire, oprima, maltrate, esfole, devorc e delire quem quiser, pois o
cristão é um miíírtir nesta terra. Por isso o movimento deveria espontanea-
inente deixar em paz o nome dc cristão e agir como pessoas que desejam
direito natural e humano e não sob o nome dc pessoas que procuram o direito
cristão. Esse determina que em todas cssas coisas liquem quietos, sofram e 2
.

s6 clamem a Deus.
Vejam, caros senhores e amigos, essa é minha orientação que vocês me

I! Vi:i:i acima p. 307, especialmente n. 10.


I i I<i.kr?iiçia ao escrito Von leybaygenschafl oddcr knechth;iit, wie sich Hmen vnd aygcn
Iciii í'liiisiliih halten sollend, B e ~ c h rauss gottlichhrii Rechten - 1.52.5 (Sobre Vdssaiageiii
i~ Sclvidâo, como Senhores c Vassalos Devem Pr~riar-seCristámente: Rclatu a Pmir i10
1 )iiccio Divino - 1525. In: F1iigscMlen..., p. 242-260), originalmente uma prCdiça reali-
,;i<l;irio dia I9 de fevereiro do mesmo ano de publicação, onde Régio discutiu a questáo,
\c iini crisiao também poderia possuir servos, scm, conrudo, questionar a seividáu em si.
lilc i;i~iibémredigiu, a pcdido do conselho da cidadc de Memmingcn, um paeçer rel;iliv<,
iis cxigi-ncias dos camponiscs, no qual postulou o ~xonhecimentoincondicional da ;iiiii>ri
iI;iilc c rrprovou a rebeliáo. Mesmo assim, suas manifesiações primamm pcla s<ihriçil;~<lç,
i,l!jciividade e sensibilidade quanto à questão smial, o que fez com quc s i ciiliiciissr ;a,
I:i<loiliis c;imp«neses e advertisse a autoridade, lemhrandi~seus deveres. ('f. t;uiil<i~i ;iciiii;i
1). 27Y, 11. 10.
'14 Vtj;i ;iciiiia p. 311,22-312,lO.
'i5 Vi:i;i ;iciiii:i p 310,37-317.37.

\?O
solicitaram em outro d o c ~ m e n t o Por
~ ~ .favor, lembrem-se de sua disposição
de aceitar orientação através da E ~ c r i t u r aQuando
.~~ o presente escrito chegar
às mãos de vocês, não gritem logo: "Lutero está adulando os senhores,
falando contra o E~angelho!"~%iam primeiro e ponderem minha argumen-
tação a partir da Escritura, pois isso diz respeito a vocês. Estou escusado
perante Deus e o mundo. Conheço bem os falsos profetas entre vocês. Não
Ihes obedeçam, pois na verdade eles os estão seduzindo. Eles não pensam
nas consciências de vocês, mas querem transformá-los em gálatas7y.Querem
apenas usá-los para conquistar bens e honra, para depois serem condenados
1" eternamente, junto com vocês, para o inferno.

Conselho a ambos -
autoridade e campesinato
Portanto, prezados senhores, em nenhum dos lados há algo de cristão,
tampouco está em jogo uma causa cristã; ambos, senhores e camponeses,
estão tratando de justiça e injustiça profana e secular e de bens temporais.
Além disso, ambos os lados estão agindo contra Deus e estão sob sua ira,
como acabaram de ouvir. Por isso, pelo amor de Deus, ouçam e ponderem,
" e tratem dessas coisas como elas devem ser tratadas, isso é, com justiça e
i ~ ã ocom violência e luta, para não desencadearem um interminável derrama-
mento de sangue nos territórios alem2es. Posto que ambos os lados estão
crrados e ainda querem vingar e proteger-se a si mesmos, ambos os lados
vão se desgraça e Deus castigará um patife através do outro.
Vocês, senhores, têm contra si a Escritura e a História que relatam como
os tiranos foram castigados. Até os poctas pagãos escrevem que os tiranos
riiras vezes morrem de morte natural; geralmente são assassinados e morrem
cin meio a seu próprio sanguex0.Visto que não há dúvida de que governaram
(Ic modo tirânico e prepotente, que estão proibindo o Evangelho e oprimindo
" c esfolando o homem do povo, não há consolo nem esperança para vocês, a
11%) ser a perspectiva de perecerem, como já aconteceu a tantos de vocês.
Ohscrvcm como os reinos acabaram através da espada, por exemplo, a
Assíria, Pérsia, Judá, Roma e outros tantos, que no final tiveram o fim quc
iiilligiram a outros. Com isso Deus prova que é juiz sobre a terra e não deixa
~~

'10 ('I'. acima p. 307, n. 9.


17 ('I'. acima p. 307, n'. 8.
/li ('I'. :icilii;i li. 112.12-313,7 e n. 31.
1') I'cssi,:is i l u i uma vez aceitaram o puro Evangcho e que agora retomam 2 siiiiaçEi ;uitii.i<ir.
I % ~.i h.i . i r i i l i s;ilv;iç;i<i
) por ohr;is &I lei. Cf. GI 3.1
K O ('I'. l o v c ~ ~.S;!lir;,c ~ l , 10, 1125:
,\I ::i,ii<,!iri,! ('<.,r,>-ir siti,, iii?</c r.1 .s<i,z,q,<i>ii'l>oir<.i.
Ilr~si~~ii~lri~il i.<,,yr,,i r.1 .\i<.<,,
r!a,irr, li,iii!i>ii.

.i17
Giieza dni Camponeses -
impune qualquer ii~j~istiça. Por isso a coisa mais certa que cairá sobre a iiuca
de vocês é o mesmo jiiízo. seja agora ou mais tarde, se 1120 se eiiieridarem.
Vocês, campoiieses, tainhéi~itêm c0nh.a si a Bíblia c a experiêiicia da
Histíirka. Ela ensina que jamais uma rebelião terminou bem. Deus sempre
cuiiipi-iii rigorosamente csta palavra: "Todos os que. laiiqarii mão da espada,
h espada perecerão'' [Mt 26.521. Visto que conietern a iiijiistiça, julgando e
.
vingando a si mesinos e usando iiidignamente o noIrie de crisiiíos, certamente
també~iiestiio sob a ira de Deus. Ainda que venham a vericer c eliminar todo
o poder constituído. no fim hão de se devorar entre si coiiio bestas treslou-
cadas. Uma vez que não é o Espírito, mas carne e sangue que os governam, 111

Deus em breve suscitará um espírito maligno entre vocês, corno icz com os
de Siquém e com AbimclequeK1.Reparem como teimiiiaraiii as rebeliUes,
com« as de Coré, Absalão, Seba, Simri e outros", Em resumo, Deus é conira
ambos, tiranos e rebeldes, por isso os joga uns contra os ouh.os para que
ambos pereçam iniseravclrnente e se cumpra nos descrentes soa ii\i e seu juíro. 1s
O que mais deploro em tudo isso e o que mais lamento, i;into que, se
possível losse, daiia minha vida para resolver a queslão, é que. ern ambos
os lados acontecereo dois danos ù-reparáveis. Posto que neiihumn das partes
luta dc boa coiisciência, iiias pala perpetuar a injustiça, segue que quem for
morto estará eteriiarneiite perdido de corpo e alma, como pessoas quc iiior- 211

rciam em seus pecados, seiii nri-epeiidimento e graça, na ira de Deus. Aí iiio


h5 como ajudar. Pois os .wiilior~s11ave1.ãode lutar para contiimar e perpetuar
sua timiia, a perseguição ao Evdngclho e a irijusia esplorr~çãodos pobres,
ou eiitáo, auxiliar seus pares a se frmar e dotiiiiiar. Isso é terrível injustiça
e wiia afroiita a Dcus. Quem for achado nisso, estaia perdido eternamente. 25

Por outro Lido, os camponeses haverão de lutar para dett.ii<lersua rebelião e


abuso do ri0iiie de cristaos, posto que ambas as coisas siío cl:iramente contra
Dcus. Qucrii morrer com essa postura tambéin estará perdido etemamente.
Aí também 1130 tem cura.
O outro prejuízo será que a Alemanha será devastada; oiidc esse d e m - ~~~
iiiainento dc sangue começar,,dificilmente haverá uni fim, a não ser que
iiiites se tenha destruído tudo. E fácil começar um conílito, mas não está em
nossas mãos parir quando quisermos. Que foi que ihes fizera111 todas essas
criaiiças, mulheres e idosos inocentes que vocês loucos arrasiin ao perigo,
pura cobrir r) ter~itói-iode sangue, saque, viúvas e ófi»s'! Ora, o diabo tem 1..

plaiios temveis. E Deus está irado conosco e ameaça soltar o dialm para que
jx~ssa refrescar seu ?%imoem nosso sangue e nossus almas. Cuideiii-se,
~psezatlossenhores, e sejam prudentes. Isso vaie para ambos os 1~1dos. Dc que
Ilics adianta destruíreiii-se propositadamente para sempre r ainda Ic3ir :ros

SI ('I'. 17 'J.23.
8 2 ('1: NIH lO..:I..35: 2 Snt lX!J..l~l; 2 Sub 20 21s.; I l<s l(n.lS\.
filhos e descriidcntes iim temtório ensangüentado, desolado e deshuído,
quando ainda liaveria tempo para achar solução melhor através da pcnitêiici:~
perante Deus, acordo ainigivcl e disposiçáo para sofrimento ein favor d~is
pessoas? Com discórdia e desavença mio vvli alcançar nada.
Por isso scria meu conselho sincero que se escolliesseni dentre a nohrezli
:ilguiis luargraves e senhores, e dentre as cidade;, aljiiiris conseíheiros par21
I ,,it,u, . c resolver as quest0es de forma amigável. E preciso que vocês, senha-

rcs, haiseiii uin pouco a teimosia obstinada, da qiial tenio que abdicar dc
qualqucr foma, mais cedo ou mais tarde, quercndo ou iiào, e cedan um
1 pouco erri sua tirania e opressão, p u a que o homem pobre também tenha
espaço e fôlego para viver. Por outro lado, que os camponeses tanlbém
;iceitem coiiselho no sentido de suprimirem alguns artigos que vêo longe c
alto demais. De modo que a questão, mesino que iião possa ser solucionada
de maneira cristã, possa scr tratada e equacionada de acordo com o direito e
tratados hum;mos.
Se não quiserem seguir esse coiiselho, o que Deus queira evitar, terei que
(Ieixar que cliczuem as vias de fato. Eu, poréin, estarei inocetiie do prejuízo
dc suas alina. vida e bens. Vocês inesmos terão quc assumir as coiiseqüên-
cias. Eu hes disse que ambos os lados estão cisados e que rstáo e111 luta
iiljiista. Vocês, seidiores. não lutam contra cristãos, pois cristãos iiào Ilies
ILizem nada, iiias sofi-e111tudo. EstXo lutando contra manifestos assaltantes r
(iroí'andores do nome de ciistáo. Os qiie morrerem nessa condição cstarão e j i
~,.rticicoiidcnados etemamenie. De outro Iricio, vocSs cartiponcses lambem iião
(,si>» Iiitarido contra cristãos, mas contra tiraiios e perseguidores de Deus c
' (Ias hoiiieris, e contra assassinos dos santos de Cristo. Os que morrereili
iicssa luta tainbém estarão condenados etcinamenle. Nesse sentido, amhas ;is
Ixiiies têrii seu juízo cesto da parte de Dcus. Disso tenho certeza. Façam, então,
o que qiiiserein, se náo quiserem obedecer pararesguardar sua alma e seu corpo.
De milha parte, eu e os meus pediremos a Dcus que f a p coin que :is
(liias partes cheguem a um acordo, promova entendimento ou evite misei-i-
cordiosa~~iente que as coisas aconteçam dc acordo com. as intenções dc
vocts, embora os tcisíveis sinais e milagres que aeonteccram nos últimos
iciiiposX3me assustem e me façam temer que a ira de Driis seja grandc
iIi.iii;iis, coiiio diz em Jeremias 15.1: "Ainda que Noé, Jó e Daniel se
$ .
~~iiscssciii diaite de mVn, eu não encontrana agrado nesse povo". Qucii-:i
I )1,11si~ucveiihai~3 temer sua ira e se emendem, para que a desgraça scjii
:icli:i(l:i c prolelada por bom tempo. Pois bem, eu os açonselliei pelo rliic
iiiiiili:i coiisci?iicia iiie ditou, de maneira cristã c fraternal. Qiieii.;~Dciis qiic
i h i o rciolv:i ;iigiiiiiii cois;~.Aiiiém.
Su;, ni;ilícin Ilie recai sobre sua c:ibe~:i,
L. SO/>IV O /~uililjov6rfice &SCC .SII:IiriiqiiL1;idr. [SI 7.101X"
Exortação a Paz:
Resposta aos Doze Artigos
do Campesinato da Suábia
1525

Adendo: Contra as Hordas


Salteadoras e Assassinas dos Camponeses'
1525 17

Logo ap6s concluir a redac;Z« de Exr>rla~.;n> à Paz: Respu.sr;l ;>r).sDorr &ti,.os 20


(h>Can~pr.s;naIod;i SuShi;~'. tios primeiros dias do ano de 1525, cluranlc siiii vingeni
~pclaTuringia, Lutem coiiieçoii n cscrcvcr-lhe uin suplemento intitulado Aderido:
i~iitiri;is Flonlas Snlic;rdoriis r A.s.sa.s,sina.sdo.7 C;tmponc.sc.s. A cssa altura. ele estava
si: dzfuintando com i~i~iitcci~iieiitos que alteraram gravemeiitc sua percepçZo anterior
(I,, riioviiiirnto cmipoiiês, quc nuin prirneir11 ri~oriieti~o fora i~iuldildapelos Doze ?r
. \ i r i ~ u s ' .Seii engajainento pcss<ial in loco para evitar n catAstrofe. iii:intendo contatos
i. 11reg.irido aos partidos em conflito no norte da Turíngia. hct\,ia sido infrutífero. No
c~~iiieço de ii~aio,Luiero escreveu ao chanceler Jazo Ruliel. de Mansfeld, relatando
siia cxperiSncia negativa! Comparando essa casta, seu vocabiilirio e sua cslrutura,
r~iiiiAderido: Coniiri as I-lordas Salleado~fse A.s.sa.s.sinas..., idetiafica-se iiela uma XI
csl'kic de e s h g o c10 escrito. Ao dirigir-se a Riihel, Lutero queria cori\,encê-lo acerca
iI:i iicccssidade e da legitimidade de enfrentas os camponeses rebelados faendo uso
iI:i liirça. Da niesma forma, este era o objclivo de seu suplemento à Exortaçdo à
I:II ... Além dc ter testemunhado a escaiada da violência quando de sua csYadia na
l i t i iiil:i;i. Lutem iicste momento também fora informado do fracasso das negociaç6es 3%
ii<> si11d;i Alemanha, bem como da tentativa dos rebeldes de imporem suas exigên-
L 1x1, 111'1;i força. Coiii isso concluiu que as propostas dos Doze A~tigose o pedido de
..CII\;iiiiorcs no seiitido de serem corretamente uistnúdos a respeiio da Escritura Sa-

> I 'i: ;iciriia içxto c iiltrnluçáo r10 escrito ~iterior.


i I)ii:irii<, ;ii>sDoze Arrjpus
t i < > i.<ti~,iiiiit<i doi
-
e ao lueai- dc Aderido: Cunriil ;i.< Iiord.~?Sd~c,<ioiii.s
c A.o:i.~siici.s...
escnlos <Ie Lutcir~ icfereiites à Ci~icnndos C;inipi,ric\c\.
cl'. ;icitii;i ; i
i hluç(r. p. 280.9-2X3.?0.
I i 1 i i i n i l i i ~ ~ k;I<)
. I t ';i,i;i ;i 4 c i ~ ii <Icm;ti<i<Ic 1525 :I 1. Rii1ii.l (01. 1543). i11 W,% I4i .i..l'/'i . I X ? .
Contra as Hordas Sal1eador;rs e Ass~ssiii;is
r a d a e do direito diviiio. iiòo eram sérios. Por manifeshrein uma faissi inieii~ão.11s
~)roiagi>nisiasda rekliCo teiiani se colocailo iio mesmo pl~uioque Tonihs Muiitzer.
O tcxto foi editado pruiinr:unziite por José Klug, em Winenberg. poucos ditis
<Icpois do retorno de Lutero à çiclade. sendo qiie no <lia 10 de maio já Iiavia
c s ~ i i i p l m sirnpresssos a disposição. Na capa da pruiieuu edição, o título vçio
;icoiii~iuúiadodas palavras: "Salmo 7 [cf. v. 161: Será ;itirisido por sua própria
iiialici:~.E sobre ele mesmn cairá sua m;ildade".

O çniiteúdo de Adendo: Corirci :is Hoilas Sidre~idoraçe A.sszi.~~sin;r


dos Carripo-
!leses pode ser distribiiicio na seguinte estrutura:

I Introduçâo - p. 331.40-332,13
1.1 Revelasão da falsa intenção dos caiiiponcses - p. 331,40-332,8
1.2 Objetivos do escrito - p. 332,X-13

7 Triplo pecado dos caniponeses - p. 332.14-334,6


2.1 DzsoMieiicia à autoridade - p. 332,1626
2.2 RebeliZo - p. 332,27-333,6
2.3 Abuso do Evaigellio - p. 333,7-374,6

3 Iniiruç.7o ?I aiitorid:alc - p. 334.7-336.8


1.1 Nece~sidtidedc uiteivznçZo pela autoridade - p. 134.7-19
3.2 Cornpoitaiiieiitii d:i ;iiiioridade cristZ - p. 334,20-335,35
3.2.1 Arrependuiieiilo diariir do jiiízn divino - p. 334.20-31
32.7 Consciência da outorgaçzo divina da furi$Zo - p. 334,32-335.5
X . 3 Oraçán do governante - p. 335.6-22
7.2.4 Martírio e salvaç;io pelo dei~anituiientod t sniigoe - p. 335.23-35
3.3 Clziii?iicia para coagidos por çariiponeses - p. 135.36-33h.Y

4 Exoitiiç5o final - p. 336,9-20


Ricxdo W. Ricili

Contra os Camponeses Assaltantes

No livriiilio ;interior5 nZo pude condenar os cainpoiieses, porqiic iriosti-;I-


vi1111os inelhores e ninis justos propósitosh. TmbCin Cristo ordcnn qiic ii3<i

I I I i , 1 I...,c I r I i l l l <i

18~<'\~'7!1<' .\&'ii<[<i. '&i:#i.!ilil*:iii.i< tiil;i :i iiilio<liiç;i<i


;i i . 1 ~ . i.\ciiui.
r, Vi.1.i .,<,,,,.i 1'. ill'l,,i. 8
se deve condenar, coilfomic Mt 7.1. Antes, porém, de iiic dar conta, eles
p"ssar"m à violência e, esquecendo seus propósitos, assaltam e esbravejaii,
comporti~iido-secomo cachoiros loucos. Disso se pode deduzir sua intenção
[alsa, e que foi pui-a mentira o que, em noriie do Evangelho7, apresentaram
nos Doze Artigos" Em resumo, é pura coisa do diabo o que estão fazendo. r
Quem manda eiii Muhlhausen é o diabo-chel~e,quc não promove outra coisa
do que assalto, assassinato e derramamento de sangue, conforme as palavras
de Cristo: Ele é um assassino desde o princípioy. Já quc esses camponeses e
gentc miserável se deixam seduzir e agem diferente daquilo que haviam
falado, vou ter que, ein priinciro lugar, escrever dilèreiite deles c mostrar-
Ihes seu pecado, coi11o Deus ordenou a Isaía~e Ezequiclln,para que, posven-
Lura, alguns caiani erii si; em segundo lugar, tenho qiir iiistruir a consciência
da autoridade secular para saber que atitude tomar no caso.
Esses camponeses se toi-riam triplamente culpados pcraiile Deus e peran-
tc os hoiiieiis, pelo que iiierecc~-ama morte inúliiplas vezcs, taiiio do corpo 15

coiiio da ;iliiia. Priinciro, porque juraraiii lidclidadc c reverência a suas


;lutorid;ides3hciii como submissão c obcdi&iciii. coriio Deus o ordeiia quando
diz: "Dai :i César o que é dc César" [Lc 20.251. e eni Rin 13: "Todo homem
csteja sujeito i s autoridades superiores", etc. Coiiio iicgam essa obediência
<Icb l m a intencional e atrevida e se opõem a seus senhores, eles comprome- 21

tcrarn corpo e :ilina, como coslumam fazer os palilès c os safados infiéis,


iiienlirosos, pcrjuros e desobedientes; pelo quc tambén~Paulo sentencia sobre
clcs em Km 13.2: "Aquele que se opõe à autoridade, resiste à ordenação de
Deus; e os quc rcsistern trarão sobre si mesmos condciiaçào". Essa palavra,
por fim, também iitiiigirú os camponeses, pois Deus cliiei- que haja lidelidade 25
c cuinprirnento do devcr.
O segundo pccado é que promovem rehclião, assaltaiii e saqueiam es-
<~;iiidalosamentecoiivriiios e castclos que nZo Ilies pertencem' pelo que,
c<iiii»iiotónos assaltantes e assassiiios. J6 iiiereccm a morte duas vezes erti
~ . o i ~c) oalina. Se houver provas, qualquer rcbclde já está pruscrilo por Deus 111

<. lpclo iiiiperiidor, de maneira que quem pririieiro pode c quer exterminá-lo,
; I W ccrto c frcz bem. Pois sobre qualquer eleliierito que subverte a ordem
l~~il~lic.:i qualquer pessoa é tanto supremo juiz corno carrasco; é como se
Iioiivcssc uin piincípio de incêndio: quem primeiro conseguir apagá-lo é o
iiirIIioi-. RebeliZo não é um simples assassinato, mas, qual incêndio, põe em 75

iIi:iiiins e devasta um país. A rebelião tem por conseqüência um tenitóiio

I Vc.i;i acima p. 107, n. 7: 322, n. 57.


X ( ' o r i l i i i i iicirna a iiiiroduçjn ao bloco de csciitos sobri- a Ciiierra do, T;iiiipi>ncsis. p. 273-281.
'i ('I: .I<> 8.44. 1lclciiici;i u T. Miiiivcr, vcja a rcu rcspcilo ;icini;i. p. L77.8-17<1.<); 284-285
i. ii. 5; (.141)1342~351).
IO('1. I\ 58.1; I;, .i.l7~2l.
Contra as Hordas Saltcadoras e Assassiii;is
cobcrto de homicídio e dermiiainento de sangue, faz viúvas e 6fi:os c
destrói nido, como a maior das desgraças. Nesse casol portanto, quem puder
deve esmagar. iiilitlu e sangrar, sigilosa ou publicaiiiente. e estar lembrado
de que não pode ha\,er coisa mais venenosa, prejudicial e diabólica do que
' uma pessoa rebelada; é como se tivesses que matar um cachorro raivoso; se
não o eliminares, ele elimina a ti e um território inteiro contigo.
O terceiro pecado é que acobertam esse terrível e horripilante pecado
com o Evangelho, dizendo-se irmãos cristáosl'; eles aceitam juramentos de
fidelidade e reverências, e obrigam as pessoas a acompanharem essas barba-
ridadcs, com o que se toinain os maiores blasfemadores e strcrílegos de seu
santo nome, louvando e scrvindo ao diabo sob as aparências do Evangelho,
pelo que merecem dez vezes a morte em corpo c alma,pois iiiinca ouvi falar
de pecado mais abominivel. Penso até que o diabo tem o presseii@ento de
que o dia ,final está chegando. por ter iniciado coisa tão inédita. E como se
dissessc: E a última lopoi~~iiiidade], por isso hi que scr o pior. Ele quer
revolver o fuiido da sopai2 e até quebrar o fuiido da panela". Que Deus o
impeça! Veja aí que p ~ c i p epoderoso é o diabo e coiiio tem o mundo nas
mãos, podendo jogar com ele a ponto de poder seduzir, cegar, tornar obsti-
nados e rebeldes tantos inilhares de camponeses, podendo fazer com eles o
que seu ódio mais furibundo deseja.
De nada adianta também os camponeses alegarem que, de acordo com
Gn 1 e 2, todas as coisas teriam sido criadas livres e comuns'4, e que todos
recebemos o mesmo Batismo". Acontece que no Novo Testamento Moisés
não prevalece. Ali está nosso Mestre Jesus Cristo que nos submeteu de corpo
e alma ao imperador e ao direito sccular, quando diz: "Dai a César o que é
de César" [Lc 20.251. No rnesmo sentido consta em Rm 12 [sc. 13.11: "Todo
homem esteja sujeito as aiitoridades superiores". E Pedro: "Sujeit7i-vos a
ioda instituição humana" [I Pe 2.131. Cabe-nos acatar essa doutiuia. como,
aliás, o Pai do céu ordena quando diz: "Este é meu Filho amado ... a ele
ouvi" [Mt 17.51. O Batismo não liberta corpo e beris, mas as almas. Nem
tampouco o Evangelho estabelece a comunhão dos bens, salvo para aqueles
que queiram praticá-la espontaneamente, como o fizeram os apóstolos e

I I Veja acima p. 313, n. 32.


12 No texto original está a expressão d e grundsuppe ~ ( e ) n n expressão , que significa " f m r
r> pior", "chcgar a pior d& situaçOes'!
13 No texto original tem-se dcn hoden g;ir aussiossen, expressão que significa "levar algo a
tcmo vir>lcntUmente".
I4 Iili:i;i ilifciididanos artigos 2" c 4". cf. ITugschriiien... (veja acimap. 106. ti. h) 28.9s.; 29,s-7.
15 Nos <I<iciinicrili>s <Iccnmpoiicscs rrhelados, as exigência raramente sio fiiiidamentidas n o
i . - ;isri~nli,.cr;itri i.:iiiipi>iliscs dc Rotemburgo/mukr.Em g e ~ i l .e rri\,iridic;içXii
1 1 t r al>i,li<;ii, $I;,xiviil5o cki p,Ii.I>;i1h;isr:ivii-\c ii;i rc<len$5oc rcsgiilc dc Ii>d;is as pcssr>;is ~xlo
l t ~ ~ ~ i <5); u~ )~ ~ g~lc~t;~nn~:n~l~t
t(s, I N N ris^,^ cro~..Cl'. I ~ / I I ~ . ~ ~ / ~ ~ ~ /li.I C28,
I I .l4-l(1.
...
discípulos em At 4.33ss., e qiie, por sinal, nio exigiram a comuriliáo nos
liens de Pilatos e Herodes, conio nossos camponeses transtorniidos vocife-
mas a praticararri com seus próprios bens. Nossos camp«iieseh. porém,
querem estabelecer a comunhão de bens dos outros e resguardar os seus. Que
Iielos cristãos sZo estes! Acho até que não sobrou um só diabo l i rio inferno;
todos incorporaram nos camponeses. Os desatinos rio demais e sem medida.
Uma vez que os camponeses se fazem inimigos tanto de Deus quanto
dos homens, e jA mereceni a morte em corpo e aima por muita5 razões. não
;issuinein nem cultivani dircito idgum, ficando só rios desatinos. tenho que
iiistmir aqui a autoridade secular coiiio proceder no caso coiii boa consciéii- 10

cia. Primeiro: se unia auioridnde quiser e puder combater e czistigar esses


camponeses, seni recorrer ao direito e à equidadcl6 mediante a oferta de
clcrnanda judicial prévia, não o quero impedir, mesmo que não tolere o
I;vangelho. Ela tem plenos direitos para isso, posto que os camponeses não
Iiiiam mais pelo Evangelho, mas se tornaram abeitamente assassuios infiéis. i.

il~~si~hedientes. perjuros e rebeldes, assaltantes e blasfemadores. Até ;i autori;


oI:iiIç pagã iriii direito, até o dever, de penalizar e castigar esses patifes. E
11;iiii isso que ela administra a espada e é servidora de Deus sobre aqueles
c~iicpraticam o rnal. conforme Rrn 13.4.
A autoridade, p«r&m,que 6 crista, que zipóiii o Evangelho, coiltra a qual 21

(1s camponeses não têm razão nc.iiliuma, deve agir aqui com temor. Antes de
liido, deve colocar a qiiestão diarite de Deus e coiifessar que ceitamente
liLcinos por merecer isso. Deve considerar também que Deus talvez tenha
i.siirnulado o diabo para castigo geral da Alemanha. Depois disso! deve
\iil>licar humildemente por auxílio contra o diabo; pois aqui não estamos 2%

Iiil:i~ldiiapenas contra salgue e carne, mas contra tiialfeitores espirituais nos


:iwsi~!,que deve111ser atacados com a oraqão. Com o coração orientado de
1.11 iiiaiicira para Deus, deixando reinar sua vontadel se ele nos quer como
111 iiii.il>c.sc seiihores, ou não. cabe ainda, de sobejo, dispor-se ii iiegociar com
os i.;iiiipoiicses como de direito e em igualdade, ainda que não o mereyam. "8

I )<.l~ois. sc isso não adianta, deve-se recorrer à espada sem demora.


I I i i i ~iiíiicipee senhor deve ponderar, neste caso, que ele é representante
,I,. I )c.iis i. iiisiriiiiiento de sua ira. conforme Rni 13.4, e que lhe foi coiifiada
.n c , . ~ ~ : i < I ; i11;ii;i ~l~iiiiínio de tais patifes, e, se não castigar, defender e cuiiiprir
iii.iii~I;iio,i.si:ii:i peçarldo contra Deus do mcsmo modo como quando '.,
.il~~ii~.iii, ; I I I 1111;il ;i espada náo foi conliada, comete um assassinato. Pois,
~tii<l*. ~w~lt.ii:i i.:istig:ir c. não o faz, ainda que por morie e derrgiiamento (ic
...I I I I : I I ~ . . ioiii:i .;c ciilpado de todo assassinato e maldade que esses vil6cs
Conbd as Hordas Saiteadoras e Assassin~s
cometem. Estana agindo como alguém que, deliberadanieiite. faculta a esses
I>andidos porem em pritica suas más intenções. ao relaxar seu miuidato
divino, quc bein poderia e deveria ter cuinpndo, nias rião o fez. Por isso, não
Irá por que hesitar aqui. Não caberri também pacirncia e misericórdia. Aqiii
6 hora de espada e de ira, e não hora de misericórdia.
Por isso a autoridade constituída pode agir aqui de boa consciência e
iiitervir eiiqucmto puder mover setis niúsculos; pois aqui está clxo que os
camponeses IPin inás inlen~õese pleiteiam causa injusta; o camponZs que for
mono nessas circiiiist2ncias, está perdido de corpo e alrnii e pertence ao
diabo eiiiinamente. Mas a autoridadc constituída esii de consciência liiiipa e
defende boa causa, de modo que se pode dirigir a Deus de coração tranqüilo
nestes tei-iiios: "Senhor. tu me constituíste por príncipe ou senhor, coisa que
não posso por ein dúvida: deste-me o poder da espadri sobre os malfeitores.
conforme Ri11 13.4. Essa é tua palavra, e ela não meiite. @r isso teiilio que
1. exercer essa função, sob pena de desmerecer tua graça. E fato iiotório que,
diante de ti como também diante do mundo, esses caiilponeses mereceram
sofrer a iiiorte e ine foram entregues para que eu execute a pena. Se quiseres
que eii seja morto por eles, quc seja destituído como autoridade e pereça.
seja feira a hia vontade. Hei de morrcr e perecer rio ciimprimento de nia
1 divina ordcm e palavra; serei tido como quem obedeceu a teu rriandamerito
e foi fiel n seu mandato. Por isso quero castigar e golpear enquanto meu
sangue pulsar em minhas veias. Confio em teu juízo e proteção."
Dessarte pode acontecer que quem for morto a serviço da autoridade seja
um verdadeiro mártir periuite Deus, posto que lute deiiiro desse espírito. Pois
estd agindo de acordo com a palavra de Deus e em sua ohediêiicia. Por outro
lado, quem sucuinbe do lado dos cainpoiieses, irá para o fogo eterno. Ele usa
a espada contra a palavra e ;i obedicncia a Deus, e é parceiro do diabo. E
ainda qiie os camponeses veric;am (que Deus nos livre disso) - pois todas
as coisas s5o possíveis ;i Deus. e nós iião sabemos se ele, como prenúncio
do juízo linal, não queira, eventualmente, deshuir toda :i autoridade através
do diabo. e tomar o mundo um aios -, morrem e perecem de sã consciência
os que foreiii encontrados no exercício do ofício da espada. Perdem o reino
do inundo piua o diabo. mas recebem, em seu lugar, o reino eterno. Tempos
curiosos sZo estes que vivemos, de inodo que um príncipe pode merecer o
$.
c6u coiii derramamento de salgue, assun como outros através da oraqão.
Por fun, mais unia coisa que deve preocupar as autoridades. Os canipo-
iicscs ir20 se contenta11 em ser do diabo; eles coageni e obrigam muita gente
piedosa a participareni a contragosto do pacto diabólico, e tomam essas
~)cs?;'>as cúinplices de toda sua maldade e culpa; pois. quem cede a eles, coni
1 clcs t;iinl)6ni vai ao infenio e é ciilpado de toda a malvadeza que praticani.
:iiri~l;i que o irrihâm que fazer dcvido à fraqueza de fé, que não Ihes perniiic
i-csislii. I lili cristiio <lcvci-i;ipreferir ccni vezes a rrioric niites dc se dohr:ii- k s
(iuerra dos Camponeses
intenções dos camponeses. Muitos mártires poderiam surgir agora, devido
:tos camponeses sanguinários e profetas assassinos. As autoridades só deve-
I-iamcompadecer-se desses cativos entre os camponeses. E, se outro motivo
rião tivesse para usar a espada de boa consciência conlra os camponeses,
empenhando até a vida e os bens, já seria suficiente este: ajudar e salvar 7

essas pessoas que foram forçadas a este pacto horrível e a merecer a conde-
nação. Na verdade, tais pessoas vivem num verdadeiro purgatório, ou até nas
amarras do inferno e do diabo.
Por isso, prezados senhores: Livrai aqui! Salvai aqui! Ajudai aqui! Com-
padecei-vos da pobre gente. Fira, golpeie, degole quem puder; se isso custar 10

;I vida, melhor para ti; uma morte mais bem-aventurada jamais poderás ter.
Estarás inorrendo em obediência e cumprimento da palavra de Deus, confor-
ine Rm 13.5s., e no serviço do amor para salvar teu próximo das cadeias do
inferno e do diabo. Por isso peço: quem puder, fuja dos camponeses como
do própilo diabo. Para os que não fogem, peço a Deus que os ilumine e i

converla. Aos que não podem ser convertidos, permita Deus que não tenham
sorte nem sucesso. Todo crisião piedoso diga aqui "amém". Pois a oração é
conveniente e boa, e agrada a Deus, tenho certeza. Se isso parecer duro
demais a alguém, então queira lembrar que insurreições sáo inadmissíveis e
que é preciso evitar a toda hora a destruição do mundo.
Posicionamento do Dr. Martinho Lutero
Sobre o Livrinho Contra os Camponeses
Assaltantes e Assassinosl,
no dia de Pentecostes do ano de 1525

(Cf. abaixo a introdução ao escrito Carfa Aberta a Respeito do Rigoroso Li&


nho Contra os Carnpone.se.s, p. 340s )

Alguns tagarelas inúteis comentam muito negativamente meu escrito


conlra os camponeses2 pela razão de eu aconselhar e fustigá-los e
iiratá-10s' à vontade para acabar com eles. Além disso, também há muitos
coraçoes probos que tCm dúvidas a este respeito, uma vez que anteriormente
cu sempre ensinei que se deve tcr misericórdia e amor para com amigos e
iiiiinigos, com base na Escritura, e agora aprovo e mando praticar a matança.
A estes dois lados dou a seguinte resposta breve.
O assassino foge da espada e evita o poder, deixa-o intocado e é muito
probo se comparado ao rebelde. O rebelde, entretanto, quer a cabeça do
poder c a espada, para dela abusar, contrariando a instituição e ordem de
1)eus; além disso, ele traz consigo não só um, mas cem mil assassinos. Um
rchclde não é um assassino, nem é táo probo quanto um assassino. Pois um
:issallantc ou assassino ataca apenas uma parte, não a cabeça, reconhece a
;tiiioridade e a evita para não ser castigado. O rebelde arremete contra ;i
c;ibcça e quer suprimir a autoridade. Quantas tem'veis infâmias mais não
' ocorreiii numa rebelião! Chegam a ser inuineráveis!
Quando a rebelião ataca a cabeça e a autoridade, os súditos têm n
ol>rig;iç.iode apoiar seu mandatário. Pois todo servo tem o dever de proteger

I Wr-iitlwoiIri,ig I1 Maliri Liiilicrs ;iuf das Büchlçin widcr die riiuheriichen und rnijirl~~~iscln~i
II;III~.,~L WA 1711,zos-207.n , i ~ l ~ ~ u O. .TCI,II,~~.
~ íx úo i: ~
.> ( ' i i ~ t l ' t r i l I ) 1 ~ x 1 0:1111crior.
' Ii . .I.1.1,? '1 i. I ((i.<)
II
í ;iicm dos Camponeses
seu senhor quando este come perigo; quando, por exemplo, alguém invesiir
contra ele com uma espada, o servo não deve ficar esperando até que o
senhor o mande partir para a defesa e lutar, mas deve intervir espontanea-
iiientc e proteger o senhor, mesmo que assim ponha em risco sua vida. Pois,
coino cabe a um servo probo, cu tenho o dever de defender e salvar a cabeça 5

<I«meu senhor. Quando, poréin, se ataca náo a cabeça do meu senhor, mas
:ilgo como sua propriedade e bens, cntão devo aguardar e nâo lutiir, a não
ser que meu senhor o ordene, pois ele detém o poder.
Por isso cada qual tein o dever dc proteger o seu cabeça, a autoridade,
(laiido o seu apoio. Quein, pois, vê um desses rebeldes, deve tomar a espada 111

c inatá-lo para preservar sua autoridade, pois assim estará procedendo com-
tiiriiente e fazendo aquilo que lhe coinpcte, e quanto mais cedo melhor,
poiido ein jogo o pescoço e a vida para que se extinga esse hgo. Tudo isso
o próprio Cristo aprova e c o n f i a , no sentido de que iio mundo é preciso
scr assim para pi-eservar a autoridade, quando ele disse perante Pilatos: "O 1,

iiicu reino não é deste mundo; se meu reino Cosse deste mundo, meus servos
Iiiiariam para que eu nZo fosse entregue aos judeus" [Jo 18.361. E quem se
iiiiir a um rebelde desses, aprovando e recomendando suas intençfies, deve
soli-er a mesma pena.
Mas se dizem que adulo os príncipes e senliores4, que o digam, eu não 2'1

iiic importo! A mim como pregador nâo me compete lutar com a espada e
coiiibatcr a iniqüidade, mas ensinar a Palavra e usá-la, ela é minha espada.
Isio eu fiz até agora, exortando-os sempre no sentido de usarem o bom senso
iio trato coin seus súditos. Mas se não o fazem e os tratam injusta e
iii:idequadamente, lembre-se de que eles terão seu senhor e juiz. Essa cle-
iiiCiicia eles merecem, como também a demonstrei e continuo praticando, no
scriiido de sc admoestá-los primeirc e orientá-los de Coma amigável, para
qiic se abstenham de seu propósito maligno, inclusive ameaçando-os e mos-
ii;iii<io-lliessua salvação, finalinente, intercedendo fervorosameiite em seu
Iiivor jiiiito a Deus, como fizeinos. 3x1

Aqueles, entretanto, que náo querem reconhecer e aceitar tal clemência,


iii:is iiisisiem em seu intento insensato e maluco, desses temos que largar
i i i i i i ~ , deixando-os na inclemência; afinal, vamos deixar que eles devastem,
11il;iiiicine mutilem o mundo inteiro em sua fúria? Observa tu mesmo se isso
i i . i i i cabiinento!
Se [tais medida] lhe parecem excessivas e muito duras, então cale :i
1roc:i. Eu aqui tenho que dar Corça às consciências e justificar aqueles quc
1iif;iiii pela autoridade e a têm sob sua guarda, no sentido de que tSin plciio
(liiciio para tal. Pois esses patifes rebeldes estão condenados perante I)cus c
Posicii>namentosohre o Livrinho Contra os Camponcscs
o mundo, proscritos pelo imperador. Mais não posso fazer, pois só tenho a
boca e a pena. Não obstante, meus jovens fidalgos, que deveriam pregar o
Evangelho, não têm mais o que fazer do que,botar lenha no fogo e levar (1
povo miserável a perder o corpo e a alma! E muito simples: Quem põe a
mão na espada, morrerá i espadas, pois ela não ihes foi outorgada; portanto,
[ a brochura] saia publicada do mesmo jeito que a escrevi.
Isto seja dito para a insirnção e o discernimento daqueles que têm bom
coração; nXo me irnporto muito com os espertinhos que me querem ensinar
primeiro como devo escrever. Diante deles, certamente não sucumbirei,
1 embora não lute com a espada contra eies. Eu conheço outra maneira, mais
forte, ektiva e certa de enfrentá-los. E a mesma de que Moisés e Arão
Iizerarn uso, qual seja, orando para que a terra se abrisse e engolisse seus
inimigos, etch
Mais orientação suhre este assunto encontraris num livrinho e~pecial.~

'1 I MI ?0.52.
1 ' I Niii Iíi.??ss.
I ('<l,,l,l,, c > I c X I < > sc,:,,i,,1v
SEMINARIO COMCORDIA
<;~icira
dos Camponeses

Carta Aberta 5

a Respeito do Rigoroso Livrinho


Contra os Camponeses1
1525 Io

INTRODUÇÃO
Os escritos de Lutero refercnles à Guerra dos Camponeses, embora de mínima
influEncia no descrirolar dos trigicos acontecimentos de maio de 1525 na Turhgia, ,,
seiviram para que o refonnador se tomasse alvo de duras críticas, seja da parte de
opositores, seja da paite de sinipdtizmtes da K e f ~ r m a .Quando ~ o levante ainda
çslwa sendo sufociido pelos príncipes, Jogo Ruhel (m. 1543), João l'hiu (m. 1526)
c Caspar Muller (m. 1536), inlcb?.mtes do círculo dç amigos dc Lutero em Mansfeld,
informarain-no ;i respeito das acusações c suspeitas 1evantad;is contra ele. Eni c- ,,,
de 26 de maio, Ruhel esçrcvia a Lulcro: "...pwa muitos de vossos sinipatizantes 6
csiraiiho que concordais que tiranos matem sem qualquer misericórdia, podendo
iomar-se mjrtires por isso. Em Leipzig diz-sc abertaniçnte que, porque o príncipe-
eleitor [Freedenco, » Sábio, prolctor de Lulero] n~oficu,querei\ salvar a prcípna pele
i. ;i<lulais o duque Jorge [o Bubudo, da Saxônia albertina - ferrenho inimigo da ,,
I<eforma], aprovando seu procediu~ento[de esmagar indiscriminadamente os campo-
iicsçs rebelados]. Quereis salvar u JJCIC.Eu, portin, rião quero emitir juízo a respeito
disso, mas o deixo a encxgo de vosso espírito ... 6 necessário que isso sela, com o
iciiipo, apagado e desculpado por vós, pois os inocentes devem pennaneçer s i m
coi~dena~áo"'.A 15 de julho, Lutero respondia :i Ruhel, Shur e Miiiier: "Caros ,,,
sciiliores, que a t a r i a provoquei com o livrinho contra os camponeses. Esqueççram-
\c ilc: ludo o que Deus fez a« mundo por meu intermédio. Agora, senhores, padrecos,
<:iiiilx~neses e t«dos estão contra mim c me ameaçam de morte"4.
('wlendo às pressões desses amigos, que queriam que se posicionasse publica-
r i i i ~ i i i . n respeito do que escrevera, Lutero proferiu iima prédica diante de sua ,
<~~iiiiiiiidade em Witteuberg no segundo dia de Pentecostes - 4 de junhi~-,
8 <~iiii.iiiaiido seus escritos. Sues palavras forain anotadas por Stephan Roth5 e poste-

I l i i r Scndbnçl von dcrzi haiten Büchleui widcr d e Bauem - WA 18,184-401. Tttadi1~2<1:


I li~llxrfoMichel.
.> ('1: ;,cima a introdução geral ao bloco sobre a Gucm dos Camponeses, p. 282.22-281,22.
i WA HI 1.511.64-70.72-74. O destaauc é nosso.
.I WA Hr 3:531:4-7.
.'I ldL)2-1546, b M m denominado Rufo, <ledacou-secomo humaniala e pcdag<>go.Atc' 1517
I i i i ioitoi da cscola do conselho dc Zwickaii, sua cidade nntzil. Dcsclc ciiiãi>, torrioiisc
~':iliiil;iiioc ci>labo~iidor
dii Refonna. Cr~n~piioucom hase eni piilic;is ciic~ii~gi;ilial;~v clc
I.ibirir o Scrriioii;úio de VuZio (WA 1011l,2,211-441. 442-440) c o ,Sciiiii<n~i;írkiIr,,ri 1)i:is
li.\li",>,S(WA 21).
Carta Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho contra os Camponescs
riormente publicadas sob o título Posicionamento do Dr. MMartnho Lutero Sobre o
Livrinho Contra os Camponeses Assaltantes e Assassinos, no dia de Pentecostes do
ano de 1525".
Depois de nova troca de correspondência e de uma conversa por ocasião da festa
.. de seu casamento com Catarina von Bora, no dia 17 de junho, para a qual os três
amigos de Mansfeld haviam sido convidados, Lutero resolveu dar satisfação para um
público mais amplo quanto a suas manifestações durante a Guerra dos Camponeses.
Acabou fazendo-o logo em seguida por meio da Carta Aberta a Respeito do Rigoroso
Livrinho Coiifra os Camponzses, dedicada ao amigo Capar Muller e impressa em
I julho de 1525 por Miguel Lotter em Wittenberg.

Os conteúdos do escrito podem ser distribuídos na seguinte estrutura:

1 Introduçáo - p. 342,l-344,2
8.. 1.1 Dedicatória - p. 342,l-3
1.2 Justificativa da publiça$ão - p. 342,s-17
1.3 Comportamento dos cdticos - p. 342,18-343.24
1.4 Cumplicidade na defesa dos rebeldes - p. 343,25-344.2

2 Questão da misericórdia para com os rebeldes - p. 344.3-350,15


2.1 Misericórdia na Escritura - p. 344,12-347,6
2.2 Misericórdia no reino de Deus e no reino do mundo - p. 347,7-350,15

3 Resposta a argumentos dos cnticos - p. 350,16-359.8


3.1 Quanto à clem6ncia em relação aos rendidos - p. 350,16-37
3.2 Quanto aos iniciadores da matança - v. 351,l-17
3.3 Quanto à crueldade dos senhores - p. 351,18-352,20
3.4 Quanto à existência de gente justa entre os rebeldes - p. 352,21-355,24
3.5 Quanto à recomendação de repressão violenta dos rebeldes -p. 355.25-357.21
3.6 Quanto à compreensão do derramamento de sangue como meio de salvação -~
p. 357,22-3598
4 Recomendações f i s - p. 359,9-19
Ricardo W. Rieth
(iucrra dos Camooneses
Ao honrado e circunspecto Caspar Muller
chanceler em Mansfeld, meu bom amigo,
graça e paz em Cristo!
Meu honrado e circunspecto amigo! Tive que responder a vosso escrito7 s
titravés de matéria impressa, porque o questionamento e as queixas sobre
ineu livrinho contra os camponesesx revoltados são demais, como sendo
ticristão e excessivamente duro. Na verdade, eu me havia proposto fechar os
ouvidos e deixar estes corações ingratos, que só procuram motivo para se
escandalizarem comigo, nesse escândaio, para que nele se aslixiassem. Em
especial porque não aprenderam dos meus livros o sutlcientc para poderem
c quererem rcconhecer coino procedente um juízo tão grosseiro, mim e
tcrreno. Isso me faz lembrar a palavra de Cristo em Jo 3.12: "Se tratando de
coisas terrenas não me credes, como crereis se vos falar das celestiais?" E
iluando os discípulos disseram: "Sabes que os fariseus, ouvindo tiia palavra, 15

sc escandalizaram?" ele respondeu: "Deixai-os; são cegos, guias de cegos"


Mt 15.12,14.
Elcs gritam e proclamam: Eis aí o espírito de Lutero! Ele ensina a
iIi,rramar sangue sem nenhuma comiseração. O diabo deve estar falando
:iir:ivés dele! Se eu não estivesse acostumado a ser julgado e condenado, isso a,
i:ilvcz me tocaria. Mas não sei de nenhum orgulho maior em mim do que
siisientar meus atos e minha doutriiia, e me deixar cmcificar. Parece que
iiiiiguém vale nada, a menos que possa criticar a Lutero. Lulero é símbolo e
iilvo de toda contestação. Cada qual tem que testar-se nele, para ver se
coiisegue colher seus louros e conquistar uma medalha. Nesses casos, qual- 25

qiicr iim tem um espírito superior ao meu. E eu tenho que ser bem camal.
Oiiiscra Deus que tivessem um espírito superior. Eu me daria por satisfeito
c :i16 gostaria de ser camal, como diz Paulo a seus coríntios: "Já estais ricos,
;:icstois firtos; chegastes a reinar sem nós" [l Co 4.81. Receio, entretanto,
(liir iciili~imrealmente outro espírito, porque ainda não vejo nada de especial 10

< I I I Ccoiisigtrn, a não ser que estejam caindo no pecado e no ridículo.


lilis iião percebem que estão sc quebrando a cara com tal juízo e que
r : . i i i o i<.v~,l:iiido as intenções de seu coração com essa contestação, como em
I 11, ; l i ?. i 4 Siineão diz a respeito de Cristo. Dizem eles que notam que tipo
<I<. < . : . l r ~ i i i i i i.11 Icriho. De minha parte noto como aprenderam e entenderam o 4%

i /\ti qint. ~ ~ , ~ ~ ~ se
I.IIIC~O r r . a uma carta rccebida de Caspar Muller, cujo contcúdi~L:
~ rcfcre
,;i
~ l c . ~ < > i i l i c . ~ ~ ~ l < qiiç
i. s i pcrdcu. Ele era chanccler dos condcs rlç Mansfcld c manlçvc
i i ~ . ~ i icom
~ ~ ~ v . i ~ - i i ~ ~ ci >~ i.i>iii;ito i ~ I.utcro. Vzja tambiin acima o intr<iduçZo;i issc cscriio.
!i I x i , i i , i ~ , ~I...~ >1 A<fcii<Io: <i,nln, :is Ilor<l;is.S;illc:i<lor:isr As.v;i.;iii;i.v <k,.s(:r,iyxirii.;cs. Vc,jc.i;i
10, i,,,.,, 1' ( 1 10)~11:i:iO.
Caila A k r t n a Respcitr~do Rigoroso Livrinho contra os Campr>nisc>
Evangelho. Pois nÃo têm a mínima idéia dele, apesar de falarem muito a seu
respeito. Pois, como saberiam o que é justiça celestial em Cristo segundo o
Evangelho, eles que ainda não sabem o que é justiça mundana sob a autori-
dade terrena de acordo com a lei? Gente desse tipo não merece ouvu uma
palavra nem ver qualquer obra através da qual pudessem corrigk-se; deve-
riam experimentar somerite escândalo, como aconteceu aos judeus em rela-
ção a Cristo, já que seu coração está tão cheio de maldade que não almejam
coisa melhor do que escândalos, para que Ihes aconteça o que consta do S1
18.27: "Com os perversos és perverso", e em Dt 32.21: "Eu os provocarei
a zelos com aquele que não é povo; com louca ilação os despertarei à ira".
Eram essas as minhas razões por que quis ficar quieto e deixar tranqüi-
lamente que atacassem e se escandalizassem, para que, de acordo com seu
mérito, obstinados e cegados no escândalo, se danassem todos quantos, de
tão ingratos, nada aprenderam, apesar dc o Evangelho ter sido proclamado
1, fartamente em toda parte e de ter raiado corno grande e brilhante luz; e
desprezam o tcmor de Deus a ponto de não considerarem mais nada evan-
gélico a não ser julgar e desconsiderar outros; a si mesmos atribuem um
espírito elevado e grande inteligência, e da doutrina da humildade só extsaem
arrogância, corno a aranha que nada suga da rosa senáo veneno. Mas V. S.
' 1 quer orientação, não para si mesma, e, sim, para calar a boca dessa gente
iriútil. Em minha opinião, está empreendendo um trabalho inútil, pois quem
pode fechar a boca de um tolo quando o coração está cheio de tolices? A
boca tem que falar do que está cheio o coração.' Não obstante, pois, quero
lhe prestar ncsta questáo mais um serviço, ainda que em vão.
Em primeiro lugar, deve-se admoestar aqueles que criticam meu livrinho
para que calem a boca e se cuidem, pois certamente também são rebeldes
etn seu coração, de modo que não o percebam, tendo que ir depois em busca
da própria cabeçaL0,como diz Salomão: "Teme ao Senhor, filho meu, e ;to
rei, e não te associes aos rcvoltosos. Porque repentinamente lhes sobrevirti
desgraça, e a ruína de ambos, quem a conhecerá?" Pv 24.21,22. Aí se vi.
que ambos, os revoltosos e os que a eles se associam, estão condenados, c
que Deus náo aceita que se faça pouco caso disso; pelo contrário, rei c
autoridade devem ser respeitados. Associam-se aos revoltosos todos aquelcs
quc osapóiam, fazem eco a suas queixas, justificam e se compadecem dc
quem Deus não se compadece, ma? quer vê-los punidos e minados. Pois
cluein assume a causa dos revoltosos dá a entender, dessa maneira, de modo
sulicientcmente claro, que, se tivesse espaço e tempo, também promoveria ;i
<Icsgraqa,como já havia decidido em seu coração. Por isso a autondadc dçvc

0 ('I: Mi 12.3.1; Lc 0.45.


I0 No i r x i o i,ligiii;il: Ii.y~i<l<~r<lciii kr,pl'l<:Iiyn wcggclicii, isso 6, para ipc n.io p i ç ; i n i ;i c;ilxo;i,
I B : L ! ~ qur I I ~ Cxi:irii
B i.rvi.iil;iili~s.
(iiierra dos Camponeses
dar-lhes uma na cabeça, para que aprendam a calar a boca e notem que a
siluação está ficando séria.
Se essa resposta Ihes parece demasiadamente cruel, se sustentam que
isso seria um discurso violento e uma forma de calar a boca à força, eu Ihes
digo que é isso mesmo: um rebelde não merece que se,lhe responda com s
argumento racional, pois de qualquer forma não o aceita. E preciso responder
com o punho a tais pessoas, até que lhes corra sangue pelo nariz. Os
camponeses também não quiseram ouvir nada, não aceitaram que se lhes
dissesse algo. Então roi preciso abrir-lhes os ouvidos a bala de mosquete, que
Ihes fizessem voar a cabeça pelos ares. Uma vara m i m é adequada para esse 111

tipo de aluno. Quem não quer ouvir a palavra de Deus de boa vontade, terá
que ouvir o carrasco com o machado. Se alegam que nessa questão eu estaria
k~liandocom bondade e misericórdia, eu respondo: misericórdia por miseri-
córdia, estamos falando da palavra de Deus, que quer ver o rei respeitado e
os rebeldes minados, e nem por isso deixa de ser tão misericordioso como 1.5

nós somos.
Aqui não quero ouvir e saber de misericórdia, mas cuidar do que a
palavra de Deus exige. Por isso c o n f i o o que disse em meu livro, ainda
que todo o mundo se escandalize com isso. Que me importa se te desagrada,
lu ando agrada a Deus? Se ele quer a ira e não a misericórdia, que andas a 211

preocupar-te com misericórdia? Não foi assim que Saul cometeu pecado no
caso de Abimeleque com sua misericórdia, quando não deu espaço à ira de
Deus da qual fora incumbido?" Acaso Acabe não pecou em relação ao rei
<IaSíria, quando o deixou viver, contrariando a ordem de Deus?12Se quiseres
iiiisencórdia, então não te mistures com os rebeldes [Pv 24.211, mas respeita 2s

:I autoridade e pratica o bem. "Se fazes o mal, teme", diz Paulo, "a
:lutoridade não porta a espada em vão" [Rm 13.3,4].
Essa resposta deveria bastar para todos quantos se escandalizam com
iiicu livro e o desmerecem. Não é justo que se cale a boca quando se ouve
CIUC Deus o disse e o quer assim? Ou será que Deus está devendo explicações
:I c.ss:is boca inúteis por que ele quer que seja assim? A mim me parece que
I I piscar de um olho seria suficiente para calar todas as criaturas, quanto mais
i111:11ido ele fala. Pois aí está sua palavra: "Teme a Deus, filho meu, e ao rei,
~t.ii:io tua desgraça virá de repente", etc. [Pv 24.21s.l. Da mesma forma em
I ( I I I 11.2: "Os que resistem à ordem de Deus trarão sobre si mesmos '5

<-iiiiilciiação".Por que é que Paulo também não foi misericordioso aqui? Se


111iiscnnospregar a palavra de Deus, também temos que pregar aquela que
Iwcga a ira, tão bem quanto aquela que proclama misericórdia. Temos que
I':ilnr do inferno tal como falamos do céu, as duas coisas: sobre a palavra
Cana Aberta a Respeito do Rigoroso Livrinho contra os Cainponescs
misericordiosa de Deus e sobre a palavra má, e ajudar a exigir juízo e obra,
no sentido de que os maus sejam castigados e os justos, protegidos.
Para que, porém, o bom Deus possa subsistir perante tais juízos, e seu
juízo seja considerado justo e correto, iremos defender sua palavra diante
dessas bocas atrevidas e mostrar a causa da vontade de Deus, para que
acendamos duas velas, inclusive para o próprio diaboI3. Eles me censuram
porque Cristo ensinou: "Sede misericordiosos, como também é misericor-
dioso vosso Pai" [Lc 6.361. Ou então: "Misericórdia quero, e não holocaus-
tos" [Mt 9.131; e ainda: "O Filho do homem não veio para destmir, mas
1 % para salvar as almas" [Lc 9.561, e coisas semelhantes. Eles acham que estão
certos. Lutero deveria ter ensinado a fim de que se tivesse tido misericórdia
com os camponeses. Ao invés disso, ele ensina que se deve matá-los. Que
te parece isso? Vamos ver se Lutero conscgue se safar dessa; acho que agora
ine pegaram. Pois então, agradeço a meus queridos mestres. Pois se esses
1 elevados espíritos não mo tivessem ensinado, como poderia sabê-lo? Como
poderia eu saber que Deus exige misericórdia, quando eu, mais do que os
outros em mil anos, falei e escrevi sobre misericórdia?
O próprio diabo está metido nessa pele; ele gostaria de praticar o mal,
se pudesse. Por isso provoca e tenta até os corações bons e piedosos com
essas coisas, para que não vejam o quanto é preto, querendo mquiar-se sob
os méritos da misericórdia. Mas isso não vai lhe adiantar nada. Meus queri-
dos, vocês que invocam tão bem a misericórdia, agora que os camponeses
sáo derrotados, por que náo invocaram a misericórdia quando os camponeses
estavam em fúria, destruíam, roubavam, incendiavam e saqueavam, a ponto
,, de ser homvel de seu ouvir? Por que não usaram de misericórdia com os
príncipes e senhores que queriam exterminar? Aí não havia ninguém que
falasse em misericórdia! Estava tudo certo; a misericórdia era ignorada e nâo
cxistia. Justiça, justiça, justiça! isso é o que valia e se impunha. Agora que
estão sendo derrotados e a pedra que lançaram ao céu ihes cai sobre a própria
cabeça14, querem que ninguém fale de justiça, mas de misericórdia.
Ainda assim são tão mentecaptos que acham que não se notaria a
saladera. Pelo contrário, a gente te vê perfeitamente, seu diabo preto e
~iojento.Tu nunca invocas seriamente a misericórdia porque a amas, senão a
lerias invocado contra os camponeses. Agora temes por tua pele e, sob a
r, :iparência e em nome da misericórdia, queres escapar do chicote e do castigo
de Deus. Nada disso, companheiro! Vais ter que sofrer e morrer sem nenhu-
iiia misericórdia. Diz S. Paulo: "Se fizeres o mal, teme; porque não é seiii
iiiotivo que a autoridade traz a espada, e, sim, para castigar o que pratica o

l i No icxlo r~riliiniil::iiich <I<.i,ilciillcl iwo kcrtzcn aii(lsreckcn. isso i.. nw;i uue a «ucsi;(o
iual" IRni 13.41. Queres praticar o mal e, mesmo assim, não sofrer castigo.
inas prote~er-tecoin a invocação da misericórdia? Pois sim, volta arnanhã,
que ainda por cima faremos uin bolo para ri. Quem não serba capaL disso?
Imagina se eu irrompesse na casa de algiiém, estuprasse mulher e filhas,
abrisse o bnú e levasse bens e dinheiro e, de espada em punho. dissesse: "Se 5

nào concordaips com isso, cu ie inato, pois és uin gentio". Mas se chegas-
sem «s eriipregados e ine instassem, ou se o juiz mandasse tlecapitar-me, eu
haveria dc gritai: "Ouçani. Cnsio ensina qiie sc deve usar de misericórdia e
1150 matar-me"! Que diríarrius a tal pcssoa?
E exatamente isso que estão fazendo agora meus campoiicses e seus IO

defensores. Agora que praticaram todo tipo de desatino com os senhores,


qual assaltaiites. ladrões, ass:isiri«s e safados. é para se canta uina cantiga
de. misericórdia e dizer: "Scjam rnisericoidiosos como ensino Cristo, e
dcixein-rios praticar os desatiiios que o diaho nos eusiiia. Fqain-nos o betii
e deixem que firçainos o pior a vocês. Aceirem como certo e correto o que 13

fizemos. e por crrado o que vocês fazcin". Querido, quem não haveria de
querer isso'? Se misericórdia for isso, entáo tcrcinos criado tima situação bem
nciva. ou seia. oiide náo há cspada, autoi-idade. justiqa, cailigo, GUI-ascoou
prisão. mas se deixa cada inalaiidro fazcr o que bem entende, e quando está
para ser castigado, vaiiios cantar: "Ora, sejiun misericordiosos como Cristo 20

ciisina". Isso vai ser uma boa ordem! Aí vês que intenqâo têm os que
condena111meu livniilio conio se ele negasse ioda a misericórctia. Ceitarnente
sâo bem cainpesiiios, rcbeldes e cães siuigiiinjrios, oii então cstio sendo
seduzidos por genle dessa esptcie, pois gostariam que iodos os desatinos
[içassem impliiies, e, sob 0 iiiniito da misericiitilia, são os mais impiedosos, 2,
iiiais cru& e perveisos do mundo. no cliie ities diz respeito.
Sim, dizem eles, iiós irão apoiarrios os ccirnpoueses. neiii nos opomos ao
castigo: mas parece-nos injusio que tu ensinas que não se deve ter iiiisei-icór-
<liir. coiii os pobres camponeses, pois dizes que devem ser extemiùiados sem
compaixão. Milha resposta: Se estás falando sério, então eu sou de ouro. 311

'liido isso sgo disfarces de tua. petiilância sanguiiiária, posto que, no íritimo,
I ) ~>iocedinieiito dos camponeses tc agrada. Oiidc é qiie eu ensinei alguma
vi./ i~iic1120 se deveria iis:u de alguma iuisericórdia com os camponeses'?
N;io está escrito tanibém naquele mesmo livrinho" que peço às autoridades
I I I I C rccebarn com bondade aqueles que se rendem? Por que não abres os 3.

irllios e lês isso tanihém? Então não tena sido necessário condenar meu
liviiiilio e escaiidalizar-se. Tu, porém, és táo venenoso que vês soniente um
l;i(lo, aquela parte. em que escrevo que convéni executar de pronto todos

I V%/:(:icirria p. 134.24-30. Td recomendii~iioaparece çuni mais çlarc;l:i t.m'E;ne ,schicckl;cltc


(;~~.~iliidrieii,af C;crichl Cdies iihhr 73orna.~~ I U I I(liri-ívrl
OL.~ Ilisi~iriaç Jui,,i> iIc I)ciis
Sohic 'li>iiiir Miinrxr, WA 18.1íi7-374. cspccialrnciilc 174,Iti-18).
C m Abrri;i a Rrspito do Rigoroao Liwinhu contra os Co~iipr>ncscr
aqueles que não se entregani riem querem csc~itarl~. e deixas de Lado aquelti
eiii que cscrevo que se deve usiu de misericórdia com aqiieles que se
rendem. Vê-se por aí que és uma aranha que suga veneno até da rosa. e que
não é verdade que discordas dos camponeses ou que amas a misericórdia.
., Preferes uma iiidvadeza livre e impune, e qiic n autoridade seciilar acabe;
iiias não o consegiiir5s.
Isso seja dito a esse': ciies sariguinirios ;icristãos 2 iiiipiedosos, que
invocam as passagens biblicas sobre misericórdia com a i'malidade de fazer
prevalecer os vícios e a fdta de piedade no inundo, de acordo coin sua
petulâiicia. Aos outros, aos que foraiii sediizidos por aqueles ou que de
qualquer maneira estão ião despreparados que não podem conciliar meu
livrinho com as piiavras de Cristo. seja dito isto: H6 dois tipos de reino; um
é o reuio cte Deiis, outro o reino do iiiuiido, corno escrevi timtas vezesi7, a
ponto dc nie aclniirar quc isso ainda nZo tenlia sido aprcndido e assiinilado.
Pois. quem souber distinguir comtamente esses dois reinos, não vai se
escandalizar com meu livrinho e ouvirá de maneira adequada as passagens
refereiites à mjsericórdia. O reuio de Deus é um reino da graça r da niiseri-
córdia, e 11x0 i i i i i reino de ira r castigo, pois iicle abundaiii o perd.'io, a
dedicação3 ailia-, seivir, fazer o bem, tcr paz e alttgna, etc. O reuio do
mundo, porCiii, é um reino da ira e severidade. pois nele se castiga, repreen-
de, julga, condena, para dobriir os inaiis e protegcr os justos. Por isso possui
c usa também a espada1<e uni príncipc ou senhor representa a ira de Deiis,
ou a vara de Deus, confotine 1s 14.5.
Portanto, as passagens que tratam da misriicórdia são peiíineiites ao
,, i-eino rle Deus r aos cristXos, nZo ao reino do iniindo, pois um c1ist3o nãu
deve ser apenas misericordioso, mas tariibén? sofrer muitas coisas, com«
assalt, incêndio, assassiii>ito.diabo r inferno, rin vez de iiçoiw, miitar ou ir
à desforra com alguém. E que o reino do mundo, que ouira coisa não é do
que iiistsumenlo da ira de Deus com os mausI9 e um verdadeiro precursor do
inferno e da nioite eterna, iiáo tcm a tuefd. de exercer misericórdia, mas dc
ser severo, sério e irado em sua função e obra. Pois seti instninienro na« C
um rosirio ou uma florzinha de aiiior, mas tima espada desembainhada. Um;)
cspada, no entanto, é um sínibolo da ira, da severidade e do castigo, e não
visa a ninguém senão aos maus. Para eles é que ela olha, para os castigar c
', iiinriter nos Iuiiites e na paz, visando a proteçã? e salvapio dos piedosos. Por
isso Deus estabelece na lei de Moisés e em Exodo 21.14. onde implanla ;i
cspacla e diz: "Tirarás o assassino até mesmo do meu altar", e não tc
cnmpadecerás dele. E a Epístola aos Hebreus úiforma2Qque quem se opõe à
Ici tinha que morrer sem qualquer miseiicórdia. Coni isso está provado que
:i autotidade seciilar não pode nem deve usar de miseiicórdia em sua própria
função. eiiibora possa siispendbla por inisericórdia.
Se alguém quisesse misturar os dois reinos, como o fzein os falsos a

espíritos sectários, ele colocaria ira no reino de Deus c misericórdia no do


mundo; isso seria o mcsiiio que colocar o diabo no céu e Deus no inferno.
risses campesinos bem que gostariam de fazer ambas as coisas. Atitcs quc-
riaio usar a espada como irniãos cristãos, lutar pelo Evaiigelho2'. maiando a
outros, onde deveriam scr pacientes e iiiisericordiosos. Agora que o reino do IK]

inundo verii sobre eles, querem que contenha misericórdia, quer dizer, não
querem suportar o reino do mundo, nem iampouco aihitir o reino de Deus
para alguém. Que coisa niais errada poderia ser imaginada? Não é assim,
iiieiis amigos; se no reino do inundo se iiiereceu ira. eiit5o cahe su.jeit;u-se e
hofrer o castigo, ou se peca perdão hiiniildemente. Por sua vez, os que estão 17

iio reino de Deus devem ter misericórdia de todos e rezar por eles. Mas não
c;ibe impedir o direito e o trabalho do reino do mundo, mas ajudar a promovê-los.
Ainda que essa severidade e ira do reino do mundo pareçam uma coisa
criicl, elas n5o são, bem aiialisadas, a nieiior misericórdia divina. Raciocine
ida uin por si e depois ine dê uma conclusão: Sc eu tivesse niulher e filhos,
casa e cnipregados e beiis, e viesse uin assaltante ou assassino, me matasse
ciii minha casa, estuprasse mulher e filha, e levasse o que possuo, e ele
. . impune para poder fazê-lo mais iima vez sc quisesse, diga-me, quem,
.issc
iicsse caso, merece e precisa mais da misericórdia? Eu ou o assaltante
:issassino? Não há dúvida de que eu mereceria coinpaixio. Mas; como concre- 27

iizx essa iiùsericórdia para comigo, minha pobre e niiserável muUier e f f i a ,


scrn reprimir esse malandro, proteger-me e assegurar os meus direitos; ou,
ciiiã(>,se ele não se deixa emendar e continua [a praticar atos dessa natureza],
q ~ i cse ihe f a ~ justiça,
a isto é, que seja penalizado, a fim de que deixe o
c.iiiiic? Que curiosa misericórdia seria essa que se aplicasse ao assaltante e
;iss:issirio e mc abandoriasse como roul>ado,desomado e assassinado por ele?
Iisse tipo de misericórdia, que age e impera no governo secular, esses
iIi.k~iisorescampesinos não enxergam. Só arregalam os olhos e ficam boquia-
Iii.iios diante da ira e da severidade. dizendo que estamos bajulnndo os
iii:iiii~s.p ~ c i p e es senhores". ensinando-lhes a caqtigar os maus, quando são 13

vczcs piores do que os malandros assassinos e os camponeses malvados;


(.Ir.: pr6priosss" assassinos sanguinirios de coraçáo rebelde, a porito de nio
si. coinpadecerem nem um pouco daqueles que foram dominados pelos

!<Ii '(: I Ichrciis 10.28.


'I Vi.p ;icii~i;i p. 317, n. 32; 322. 11. 57.
I.' Vi:i;i ;icitii;i p. 311. ri. 31 c ;i iiilirxlucZu ;i,>Iircrciilc cscriir>,17. 140s
Carta A k n a a Res~eiiodo Ki~orosoLivrinho contra os Camnuneses
camponeses, roubados, desonrados e compelidos a tudo qiie é injusto. Pois
se o plano dos camponeses tivesse avançado. nenhum homem honesto teria estado
seguro diante deles; quem iivesse um centavo a mais leria sofrido coiii eles,
como, riliis, já tinliaiii começado; só que não [cria ficado apenas nisso. Na
seqüência, rnulher e fillios teriam soiiido toda sorte de vexame, e teriam se
matado entre si, de maneira que não teiia havido paz e seguranqaem parte alguma.
Onde já se viu algo mais mal-educado do que uma turba louca dc ccunpone-
ses, quando estão reicstelados e satisfciios e adquirem pcxicr, como Saloiiião
já diz em Prov6rhio~30.21,22 que o niuiido iiào suporta esse iipo de gente.
C o ~ nesse tipo de getite querem que sc tenha misericórdia, que se deixe
que abuseiii do coivo, da vida, da mulher, filho, honra e beris de quaiquer
iim, sein qucilquer castigo, deixando que c>s inocentes sucumbam vergotiho-
sanerite sob cis nossas vistas sem qualquer niiseriçórdia, ajuda e consolo.
Ouço de rontrr corifiável que se ofcreceu aos caniponcses de Bambcrg mais
1, do quc pcduam, desde quc ficasserii em paz, nias eles não quiserani.?W
iriargrave C a s i m i r ~proriieteu
~~ rios seus que aquilo quc outros conqyistaam
com lula c rebeliáo Jhes seria dado de graça, o que nZo aciiluitou. E sabido
que os camponeses da Francônia2hada pretendiam, senão roubar, iiicendiar,
quebrar e desiriiir por pura inaldade. Dos camponeses da Tuiíngia sci por
experiência pr6priaLhque. quanto niais se ;idmocsrav~ie ensinava, tanto iiiais
teimosos, orgulliosos e loiicos Cicaviuii, e em toda parte se poitavam tão
recalcitrantes e obstinados, como se quisessem ser niortos sem compaixáo,
resistindo coin esc;'mio i irrt de Deus. Por isto, ugot-.i Ihes acontece o que
diz o SI 109.17: "Elcs náo qiiiseram a gi-;iya; tanto iiiais clci se rifasta deles".

21 No início de abril de 1525, depois cle l o q a s ncgociaçõei conduzidas pclo bispo de


B a m k i ~chegou-se
, a um arordo com os camponescs, scgi~iiduo qual Fuas reivindicaç6es
scri:lni revi si;^ por unia coiiiissiía rcprt.seniatl;l por i'lcs. pel:i çidnle de Bamlxig c pelo
hispci. As auioridxles, incliisi\,c. çoncederam uma anistia. Algumas semanas dcpois, us
caniponexs romperam n trégua que inna!*a desde o acordo e a violêiicia irrnrnlxii iiova~
mente. O tcxtri do cleçirro do bispo VJki~muid von Rediwiw (1.522-15561 rem data dc
13/5/1515. Cf. Fiu~oc1ir;íir.n ... (veja ncim:i p 306, n. 6).
24 M q a v e Casirriirn <li. Brm<irnburgo (1-181-1527) eci admuiistr;idor do principado da
Franchnia naquela ocasiári. Luleio se refere 3 deciszo da assembléia territuria1 de ihsbach,
aiiiinciadu a 28/4/1525.
25 As Iiilrraiiças dos ramponesrs do vale dn rio Ncrkar e do Odenwald. p. cn.. Iiiiiaam
rcstabclecrtr a ordem eiim <is ciiniponeses sob condiqòc, qiir iam ao enconao da niaioria
., ,i\. iiiviiidiça<;&s,
:. ' inas os carrip<inçst.srepudiaram s u a lidci:uiç;is. Tmbém é posivel quc
Lotcro cst-ja pensado nos íicontccimçnios de Weinsherg, oiidc os camponeses vitori<isi>s
iiilgaiiun c cxccuiaram o conde Luís vr>n Helíeiistein e os seus com suas lanças; vcja :i
ms]xiii>I>. 274,26~275.1.
' 0 l.iiicii, visirnu iii c;impiinc\c\ <I:\Tiringi;i. n;i cura Je Weimar. rioi comcyus de inaio. Ali
\i, c<iiivciicciidc qiic i n Z 0 iri;iiii <iiivi-lo.('mn h;cse nessa experi&r:iici:i rscrevcu "Adcn<lo:

('oLIII:~ :h lIuc<kis % ~ l i c ~ ~ ~ l ~ vv,i;i


~~:~ ~ . , , "1,. : (330).?;1-336. Cf. I Z U I I ~:!cmia
:~cinn! ~ ~ I I 1,.
:?xo:) 282.7 v 3 4 0 ~ .
Giiiirti dos Camp<ineses
Por isso a Escritura tem olhos bons e aguçados e aprecia a espada secular
acertadamente, como aquela que, por grande misericórdia, tem que ser cruel
e praticar ira e severidade para o beni. Assim também Piiulo e Pedro dizem
que ela é servidora de Deus para vinganga. ira e castigo sobre os maus, e
para proteção, louvor e honra sobre os justos". Elii obseiva os jostos e se 3

coinpadccc dclcs c, para que riáo Ihes acontega neiiliiim rnal, ela defende,
iiiorde, dá facadas. coita , . O~olpeia,mata, conio Uie orclcna Dcus, cuso scrvo
ela sabe que é nessas coisas. O ccistigo implacável iiifligido aos maus na»
acontece somente pelo intel-esse de penali~B-lose de rcdiiiiir seu atrcviiiienio
em seu próprio sangue, mas para que os piedosos seja112 protegidos e Uies 111

scjarii asseguradas paz e seguranp, coisa que, seni dúvida, 6 obra de gande
inisericóidia, amor e hoiidacle, posto que náo há coisa pior no mundo do que
Salta de paz e segurariça, opressáo, violZncia, injustiça, etc. Pois quem pode-
ria e gostaria tle viver se assim acontcccssc'! Por isso a ira e a severidade da
cspada são 130 iiccessfirias ao povo como conier e beber. ;1t6coino a própria vida. 1..

Sim, dizem eles, niio esi;iiiios liliuido dos caiiipoiicses Iciinosos, que iiáo
quereili se render, mas d;iqucles que foram vencidos e se entregaram. Com
csses se deveria usar de misericórdia e nZo agir tão cr~ielinente.Respondo:
!'elo visto, náo és nada justo, pois ficas í'alarido mal dc nicu livrinho, como
se eu estivesse falaido dos camponeses vencidos e rendidos, quando falo !(I

claramente daqueles que primeirc se teiita convencer aiiiigavelmentc, mas


qiiz 1i.;io qi~erein'~.Todas as nluihas pcilavrcis se dirigem contra ccimponeses
iciiirosos, cnipcdcmidos, ohstinadi,~e obcecados, que i130 querem eiisersar
iicm ouvir, por iiiais que se queira explicá-lo, e tu dizes que eu ensino tnatnr
iiiipicdosanicntc os pobres camponeses presos. Se queres ler e interpretar os ?\

livros de acordo com teu capricho, qtial é o livro que vai resistir? Por isso,
coiiio já escrevi unia vez, repito: Que iUngiiC-m se compatleya dos campoiie-
c s Iciinosos, obstuiados e obcecados. que nãio se deixam dizer riada. mas,
h i i i i . liata, ferre, chiicuie t. chicoteie qiic'iii pode e coirio pode. como se faz
( I I I I I a c h o r r ~ sloucos; tudo isso p x a que se pratique misericórdia coiii "'
:i~lrr~.lcs cluc i'oran arninados, expulsos,ou seduzidos por tais camponeses.
19;ii:i( 1 1 1 ~sc preserve paz e segurança. E melhor quc se corte um membro
..t.iir iii~iiliii~iio cornpaixâo, do quc deixar qne o corpo iodo pereça coin a
1 , - I i i i . O I I iy~idcmiasindu2? Como 2 que isso te agrada'! Ainda sou um
1 ~i<.j,,;itliii ~~veriigélic«, que ensina clemêriçia c misericórdiri? Se niio te parecer,
I i Ii/,cr nada, pois és um saiguinário e assassiiio rebelde, um
. I I I I I I I I : I ~ ~ iI;iO ~ 1i;iiria com teus camponesei loucos, pois instigas sua rcbcldin.
h l i i i i i ; i i i i t;riiihém que os caniponçscs ainda náo tinliaiii matado ningiiciii
C x i a Akn:t a Rcspeiio do Rigoroso Liviinho coiiua os Campoiiesc\

quando se matou a eles. Meu caro, que se há de dizer? Que resposta bonita
6 essa de que ainda náo mataram ninguém! Qiier dizer, era preciso fazer o
qiic eles quisessem, não obstantc. ameaçassein matar quem iiio quisesse
;iconipanhá-tos, tornasseiii o poder que rião 6 de sua conipetênçia, se apode-
iiissem dos berisl casas e propriedades. Desse jeito, um Ilidráo e assassino
iião é assassirio quando, com aiiieaça de moite, ine tira o que bem entende.
Se, no entanto, tivessem feito o que amigavelmente se exigiu, não teriam
sido mortos. Coino náo quiseram, foi correto fazcr-lhes o que tcnam feito e
;iineaçavain fazer a todos quanlos iião aderiraiii. Além disso, siii inanifesta-
rncntc ladines revoltosos. infiéis, pri-J~iros.desobedieiites, bandidos. assassi-
nos e blasfetiiadorcs, de ~n«ci«que não h i (Iciitre eles quriii iiáo meresa
sofrer a moric dei vezes, seiii iieiihu~naconipaixio. Antes q~ierse ver com
o oiho maligiio31 apenas o casiigo e o quanto cle dói e não a culpa e o
cabimento, 0 inominável prejuízo c a conseqüência ruína. Poi.tanto, se o
i:nstigo dhi, (Icixa dc maldade, conio tatnbéni Paulo responde a rsse tipo de
gente ein Rm 13.3: "Qucres lu náo teiiicr :i espada? Rize o bein. Se fueres
o iiial, teme'
Em tercciro lugar, eles afirniam que os senhores abusam de sua espada
c matam com demasiada cmeldade, etc. Respondo eu: Que é que isso tem a
ver com meu livriiiho? Por que iiic imputas culpa allieia? Se abusam do
poder, rião foi de miiii quc o a1,rciideram; elec ainda acharão sua pule, poic
o suprcmo juiz, que alrttvt's deles esfii ciisti$.mdo os ciirnponeses atrevitlos.
iino se esqiicceu deles, neiii taiiipouço poderio escapar dele. Meu livrinho
iiZo diz o que os senhores merecem, inas o qiic os camponeses merecem e
como se deve castigá-los. Com isso eu não bajulei ninguém. Se houvcr
octisiiio e razão pai-a que eu o faya, eu tanibéni atacarei os príncipes c
.;ciiliores. pois. no que conçeine a incu miiiistéi-i» docente, ]>am inùn uni
priiiçipe valc tnrito quanto uiii çriinponEs. Na veiiade, eu já f i z o suficicrilc~
11;1r:i que tirio moil.am de aiiiores por mim, iiias isso não riie Lnipurta muito.
'ICiiho alguém que é maior do que todos eles, como diz S. João".
Sc tivessem seguido meu primeiro consclho3?, quando a rebelião comc-
~ 1 1 1 1 , e logo tivessein sacrificado alguns caiiipoiieses ou mesino cem, c
i.i~ri;~ii» siias cabeps, para que os outros se tivessem assustado^ e nâo
iivr\scm deixado que tomasseiii conta, ieri~iiiipreservado iiiuitos milhaics
~ I I C;(gora tiverani que inoil-er, e que, de outra forma, tenani ficado em casa.
Isso teria sido uma misericórdia necessária, com pouca ira, quando, agorii,
I:iL sc iiecessiúia tainanha scveridade para doininar tantos.
Guerra dos Camponesçu
Fez-se, porém, a vontade de Deus que tivéssemos que ensinar os dois
liidos. Primeiro os carnponeses. para que aprendessem o quiuito esiavarn bein
e que não quiseram suportar os bons ternpos e a pur, pua que, doravante,
iipreiidessem a agradecer a Deus quando têm que entregu uma vaca, para
que possam usufruir em paz da outra. Pois sempre é melhor possuir a metade i

dos bcns em paz e segurança, do que ter ou perder toda a propriedade,


coiistaritemcnte sob a ameaça de ladrões c assrissinos. 0%camponeses iiáo
s;il>i;un que coisn preciosa sáo piiz e segurança, quaido cada iiiii pode
desfriitar de sua comida e bebida em alegria e seguranp, nein agradeceram
ii Deus por isso. Ele teve que lhes ensuiiu isso de tal maneira que Ihes
passasse a ousadia. Aos senhores também foi proveitoso descobrir o que
existe atrás do populacho e att onde se pode confiar nele, para que doravantc
;iprciidessem a governar direito. distribuir ;I terra e vigiar as estradas. Dc fato,
jii nãc havia iiiais governo riem ordem. Estava tudo parado e abaridonado, de
maneira que não havia mais temor e respeito do povo; cada qual praticiinien- 1s

ic fazia o que hciii queria. Ninguém queria contribuir; queriam apenas


I):iiiqueteiu-se, beber, vestir-sc c viver ociosos, corno se todos fossem senlio-
rcs. O b u m tcm que sentir a v;ua e o povo quer ser governado com mXo de
Ici-ro". Deus sabia disso muito beiii; por isso pòs na mâo da autoridade urna
i,sl)ada, e não um rabo de r n p o ~ n ' ~ . 211
Náo é só nisso que cxagerani; dizem quc leria havido muita gente justa
t.iiii-c os camponeses, que entrar;irii nisso inoceiiteinente c hram forçados a
ihso. A esses esiariU aconteceiido irijiistiça pcrante Deus. ao serem excciita-
dils dessa inaneir;~.Respondo: Falam dessas coisas como se jiimais tivessem
oiivido a palavra de Deus: por isso íariihérii tenho que responder aqui como 25
:i ~~cssoiis que ainda são crianças ou genlius, já que nada se conseguiti com
~.s:;;igciite com miiitos livros e pregações. Ern primeiro Iiigar, afmiio que não
:ii~~iilcce injustiça àqueles que foram forçatlos pelos ciimponcses. Nào há
i,iisi:ío eritre eles' c nâo entrwain inocentemente nisso, como alegam. Pode
:i!<:p:Ii'<:cer que Uies acontece uijiistiça, mas lia i-ealidade não é assim. Caro "1

: i i i i i r - ~ i . qiic desculpa é essa. se alguérii vcin e mata ieii pai e tua riiáe,
\~ii~Ii~iii:i iii;i r~iiillierc filha, queima tua casa, tira teu dinheiro e teus beiis, e
< I C . I IVL,III <I~X dizer que teve que fazê-lo, porque fora obrigado a isso.
l.)i~ciiiC qiic já ouviu que se possa obrigar alguém a fazer bem ou m;ù?
(jiit.i~i1111tlc i~lvipira vontade de alguém? Isso não tem cabimento! Coiiio i$

i i . 1 ~ 3 iviii c-:iliiiii~:rit<i ;ilegu: Eu tsriho qiie fazer injustiça e sou obr-igido a


I.i/i. 11,. I<i.iicgai;i Cristo e a palavra de Deus é grande pecado e muitos si«
~ c i ; i ~ ~ .;ii iisso. l ~ ~ sAchas que com isso estão desculpados? Da mesma Iòl-ma,

i i 1 'I I.< l ~ ~ ~ , ; i 33.25,


vii~~~~
i I Ns, Irrtlisaliw;iiil/. iiii \ci;b. 1130i i i ~rcciirso
l i . \ I i i iiii):iii;il i qt~cp ~ > ~ \ i l ~;il>rli;is
# l i i i ~i t i i i i i s i i p < i
itiiiiIi.i.iiIiii..i.iii ri~~i\r<liii.iii.i:,.
iiiclii.:i,,.
C* Akrta a Kespliiu <I« R i g i i ~ < i xLivrinho
i contra os Caniponcsc\
Iàzer rebelião, desacatar a aotoridade, ser infiel e comcter perjúrio, roubar e
incendiar é grande injustiqii e alyiis caniponeses foram coagidos a isso. Mas
<Ic que Ilies di'mta isso:' Por que se d e i x m n coagir! Sim, dizein eles,
aiiiea$aram-me de morte e de rne iirar os beris. Bonito, meu caro, para salvar
a vida e os bens. queres transgredir o mandaniento de Deus, matar-me.
estuprar iiiinha mulher e Iilha; que peiism que Deus e eu achamos disso?
Aceitarias que eu agisse assim coiiiigo? Se tivesses sido coagido de tal forma
quc os carnponescs te tivessem aniari-ado pés e niZos e te Icvado ;I f o r ~ acom
eles. e te tivesses del'endido coiii a boca c os repreeendido, testemunharido o
1 ' que ia c111 teu c»r;içâo, no seiitido de que não querias proceder assim, ~ieiii
concordavas coiii essas coisas, então merccerias todo respeito, por estares
coagido de corpo, mas soheraiio iio que diz respeito à vontade. Mas já que
calaste. nâo os reprccndeste, acoiiil~anhasteo @tipo e não inaiiifestaste teu
repildio. i150 :idi;inta inais; esperasie dcinais para só agora declarar nia
uicorformidade; pois dever-ias teincr c respeitar o mandanieiiio de Deus iiiais
do que os homeris", mesmo que tivesses que arriscar prcjuízo e morte. Ele
não te teria abandonado, mas socoirido. auxiliado e salvo tielmentc. Portan-
to, assun como são condenados os que negaraiii ii Deus. ainda que sob
coa9o. iambérii aqiieles cainpoiieses que sc tleixaram compelir iião sáo
1 iiiocentados.
Se desculpas valessem, nâo se deveria castigar nenhum pccado ou vício,
1x)i.s onde é que h5 um pccado para o qual o diabo, ;i carne e o mundo iião
cinpurram e obrigam direiamcnte? Não achas que, as vczes, urii desejo
pecntninoso arrasta com tarito ardor e fúria para o adultério, que poderia ser
., considerado conç5o niaior do que coiiipelir iim caiiiponês à rebeldia? Afinal,
rlucrn c que dotiiinii seu cor;iqii«'! Quciii e ciipaz de resistir ao diabo e i:
c:iriic? Nem do ilienor pecado somos capazes de nos defender, posto que as
I'sct-ituras alirmam que sornos prisioiieiros do diabo'h coriio se ele fosse o
iiosso príncipe e nosso Deus. de inodo que tenios que fazer o quc ele quer
i. iiispir;~.como frcqüeiitemeiiie proviuii certas ocorrências hom'veis deve ri;^
1101 isho ficar iiiipune e ser curreto'! Nada diss<r. Cabe invocar o auxilio de
I)ctis c resistir ao pecado e ao quc é errado; se com isso moiTeres ou sofreres,
iiicllior para ti c bem-aventurada tua alma perante Deus, e perante o mundo
II;IS iii~iisaltas hoiiras. Se cederes e seguires. hás de morrer também, mas
: c.i>iii clcsonra pcrante Deus e o muiido. porquc te deixaste coagir para o erro.
1 )c tiiodo que seria melhor c(iie iiiorrcsses honrosa e hem-aveiituradamente
11;ii:i o louvor de Deus, do que tcr que morrer no opróbrio, para teu cnstiso
L, soliriiiiciilo.

I)i/.cs então: Mcu Deus. quem teria pensado nisso? Eu tambCrii digo:
M i ~ Ii )ciis, q ~ i cculpii tcnho cu? Isnorãncia não é desculpa; iim cristão 11%)
deveria saber o que lhe cabe saber? Por que não se aprende'? Por que não se
inmtêm bons pregadores? Prefere-se a ignorância deliberadamente. O Evm-
gelho veio para a Alemanha, inuitos o perseguem, poucos o desejam, menos
ainda são os que o aceitam; e os que o aceitam são lerdos e negligentes,
peimitem que se fechem escolas, que paróquias e pontos de pregação sejam 5

suprimidos. Ninguém se lembra que é preciso conservá-los e educar o povo;


por toda parte fazem dc conta que nos arrependemos de ter aprendido algo
e que preleriríamos nada saber. Surpreende, então, que Deus também nos
atribula e, mais uma vez, nos deixa ver uma mostra do castigo pelo desprezo
de seu Evangelho, pecado ein que todos temos culpa, ainda que alguns de 111

iiós não sejam culpados de rebelião? Certamente, mereceríamos coisa pior,


para quc ele nos alem e nos toque para a escola, a fim de nos toinarmos
vivos e inteligenles.
Como se haverá de proceder em caso de guerra, para a qual tanto o
inocente como o culpado tem que situaçiio que, ao que nos parece, afeta 15

principalmente os inocentes, produzindo viúvas e oifaos? Isso são pragas que


lios ioram enviadas por Deus e de alguma forma talyez bem merecidas, que
iemos que sofrer juntos se quisennos viver juntos. E como se diz: Vizinho
sofre junto quando há incêndio na casa ao lado". Quem quiser viver em
coinunidadc tem que arcar também corn os encargos, perigos e pre,juízo 20

clcla, mesmo que náo tenha sido obra dele, mas do vizinho, da mesma forma
como goza e aproveita o benefício da paz, segurança, bens, liberdade e
conlòrto da comunidade, ainda que não os tenha conquistado e produzido;
iIe sorte que cabe aprender com Jó e se consolar: "Temos iccebido o bem
de Deus, e uão recebelíamos também o inal?" [Jó 2.101. Tmtos dias felizes n
valem certamente uma hora ruim, e tantos anos bons compensam urn dia ou
tini Lino ruim. Durante muito tempo tivemos paz e dias bons, até ficarmos
atrevidos-e arrogantes; niio sabíamos valorizar paz e dias bons, e sequer
;igradecemos a Deus por tudo isso; é o que temos que aprender agora.
De lato, aconselho que dispensemos queixas e reclamações, e agradeça- ~~~
iiios :i Deus que, por sua misericórdia, niio veio desgraça maior sobre nós,
<-~iiiio o diabo a pretendia provocar através dos camponeses, como, aliás, fez
.Ii~ii~iiiins. Quando os judevs haviain sido deportados, presos e assassinados,
<.Ics i consolou e disse: "E gaya e bondade de Deus que não fomos morios
ioil~~s'' [Lm 3.221. Nós alemães somos bem piores que os judeus, mas ainda v,

ii:io hinos exilados e mortos como eles. Náo obstante, queremos ser os
~~riiiiciros a reclamar, ser impacientes e nos justificar, e não queremos pcr-
i i i i t i i - que uma parte seja morta, para que Deus fique ainda mais irado, nos
Caita Aberta a Rcs[izilo do Rigoroso Livrinho contra os Camponesis
clcixc ir à ruína, retire sua mào e nos entregue completamente ao diabo.
1;azemos o que costumam fazer os alemães loucos, que nada sabem de Deus
c falam dessas coisas como se não houvesse Deus que S z e quer isso.
Pretendendo nada soirer, todos querem ser cavaleiros, sentados em alrnofa-
das, fazendo o que bem entendem.
Pois se o intento do diabo tivesse prosperado nos camponeses e Deus
iião os tivesse barrado com a espada, em atenção às preces de cristáos
picdosos, terias visto que crn toda a Alemanha teria acontecido o que acon-
icce agora àqueles que são inassacrados e mortos, e até pior ainda; ringuém
1 icria ficado seguro em relação ao outro; qualquer um teria morto o outro,
qiieiniado sua casa e instalaçoes, estuprado mulher e filha, porque isso não
parliu de Deus e não havia ordem para isso; foi-a combimado eiitre eles que
iiinguém confiasse e acreditasse no outro. Eles destituíram um supeilor após
o outro, e seus superiores tinliam que se portar, não como gente decente, mas
como os mais dcvassos vagabundos queriam e mandavam; é que o diabo
tinha por propósito devastar a Alcrnanlia toda, porque dc outra Iònna não
poderia barrar o Evangelho. Quem sabe o que ainda vai acontecer se conti-
i ~ u m o reclamando
s desse modo e com nossa ingratidão? Deus pode muito
hein levar os camponeses de novo à loucura, ou então fazer surgir outra
coisa, de maneira que no fim fique pior do que está agora. A mim me parece
que foi uina boa e Sorte admoestação e ameaça; se a igiiorannos e não lhe
(lermos atençzo, se r120 temennos a Deus, teremos que ver o que vem aí.
Queira Deus que o acoiitecido não tenha sido uma brincadeira, à qual venha
seguir coisa realmenlc séria.
Por último, querem afirmar: Tu também ensinas rebelião, porque reco-
ineiidas que espanque e esfaqueie os rebeldes quem puder; cada qual seria
ambiis as coisas: supremo juiz e supremo carrasco. A isso respondo: Meu
l i v r i i o não foi escrito contra malScitores comuns, mas contra os rebeldes.
'Tcns que separar bem um rebelde de um assassino ou assaltante, ou de outro
~Iclinquente;pois um assassino ou delinqüente de outra ordem deixa de lado
seu superior e a autoridade e só ataca seus rnembros ou seus bens. Na
verdade, até leme a autoridade. Uma vcz que a autondade constituída per-
iiianece, ninguém deve atacar esse assassino, visto que a autoridade pode
~)iirii-lo.Pelo contníno, cabe esperar pelo veredito e pela ordem da instância
, sopeiior, à qual Deus cntregou a espada e a competência de penalizar. Um
rchclde, porém, ataca a própria autoridade e interierc na espada e no seu
i~l'ício,de modo que seu delito não tem comparação com o do assassino.
Aqui iiáo há por que esperar até que a autondade ordene e julgue; ela ncni
110~1c,por cstar presa c batida; por isso é preciso que socorra quem pudei-,
sciii ser ch:imado c iiiaiidado, c, como membro fiel, ajude e salvc a aulori-
(l:i(lc coiii csloc:i<lns. rliiiido golpes, iiiiitando e sc cmpenhaiido bas(nii1c ;i
I'z~vor({:I :~~i~ori~l:i<Iv,
(li1 vitl:~i. 110s l>ciis.
Tenho que ilustrar isso com um exemplo simples: Suponhamos que eu
hsse peáo de algum senhor e visse seu inimigo investindo contra ele de
cspada em punho. Eu poderia interferir, mas fico parado e deixo ineu patrão
scr morto vergonhosamente. Dize-me: Que diiam de mim, tanto Deus como
o inundo? Nâo diriam com razão que eu seria uin malfeitor inveterado e 5
traidor, e que certamente estaria mancumonado com o inimigo? Mas se eu
rc;igisse e me colocasse entre inimigo e patrão, arriscasse minha vida pelo
patráo e matasse o inimigo, não seria isso um ato correto e honroso, que seria
clogiado perante Deus e o mundo'? Ou então, se eu fosse morto nessa açâo,
que morte mais honrosa eu poderia ter'? Estaria morrendo em verdadeiro ~~~
serviço a Deus, no que diz respeito ao ato, e se houvesse fé ein tudo isso,
c11 seria um verdadeiro e santo mártir de Deus.
Se, porém, me quisesse desculpar e dizer que nada fiz porque esperava
que meu patráo me mandasse interferir, o que acarretaria a desculpa, senão
iiie acusar cm dobro e ine tomar digno da exeeraçáo de todos, como alguém 15

qiic ainda brinca diante de t m h a maldade'? Acaso Cristo náo elogiou essa
:iiiiude no Evangelho e não considerou coireto que os servos lutassem por
scus senhores, quando estava diante de Pilatos e disse: "Se meu reino fosse
iIc:sic mundo, meus ministros se einpenhai-iam por mim, para que não fosse
~,iiiregueaos judeus" [Jo 18.36]'! Aí vês que diante de Deus e do mundo é 211
i.orreio que servos lutem por scus senhores. Do contrário, que seria o poder
sccrilar'? Vê, o rebelde 6 um sujeito quc investe contra o superior e contra a
iiiitoi-idadeconstituícla de espada em punho. Neste caso, ninguém deve aguar-
(I:ir até que seu superior o chame, mas avançar sein ser chamado e Serir o
clcliiiqiientc quem primeiro puder, sein sc preocupar que possa estar come- 25

iciido um assassinato; pois está barrando um assassino-rnór, que pretende


:iss;issinar a naçzo toda. Mais ainda: se ele não estocar e matar, mas deixar
~ ~ ise i cmate seu superior, ele próprio se toma um assassino-mór. Pois pode
r ~lcvesaber que, uma vez que seu senhor estiver sofrendo e estiver impedi-
do, clc é o senhor, juiz e carrasco no caso, pois rebeldia não é briieadeira e '11

ii:io li5 crime na terra que a ele se compare. Outros delitos r i o atos isolados;
i<.lirliXoé o dilúvio de todos os crimes.
I < i i sou clérigo e sirvo ao ministério da Palavra. Mas, ainda que fosse
\(.i vo (lc um patráo turco e visse meu amo em perigo, eu haveria de esquecer
i i i i i i l i ; ~condição de clérigo e lutaria e bateria valentemente, enquanto pudesse
iiiixcr iim músculo. Se fosse moilo nessa luta, iria direto para o céu, pois
i<.l>~~liáo não merece julgamento ou misericórdia, aconteça onde quiser, seja
<.iiiicjudeus, turcos ou cristãos; ela já está julgada e condenada e entreguc I:
iiioric pela mão de qualquer um. Por isso aqui náo kd outra coisa a f u c r do
L I I I ~ .tiiiltiil. com rapidez e fazer justiça ao rebelde. Tamanho rigor iieiihurii ~~~
:iss;issiiio merece, pois o assassino comete uma maldade passívcl dc coiidc-
i~;i<:io,iri;is deixa a puniçâo ein vigor. O rcbcldc prctciitlc ui11;i iii;i1t1:1~1clivi-c
C u t i i\IierIa a Respeito <I<,Rigoroso Livrinho contra a r Camponcscr
c impune, e ataca a própria punição. Alem disso, eni nossos dias, cria uni:[
má lama para o Evangelho junto a seus inimigos, que atribuem essa rebeliáo
ao próprio Evangelho, escancarando a boca difamadora para detrataçáo3? Só
que náo estão desculpados e clcs bem sabem disso. A seu tempo, Cristo há
de Ihes cobri-lo.
Vê, entáo, se iiSo foi justo e correto o que escrevi eni meu livrinho,
di~eiidoque se ferisscrn sem misericórdia os rebeldes. Com isso, porém, não
ensinei que nno se usasse de misericórdia com os presos e com os que se
renderam, corno se mc acusa, ainda que meu livrinho o diga diferente. Assini
1 1 m b 6 m aqui náo quero ter dado respaldo aos tiranos, nem elogiado sua fúria,
pois estou ouvindo que alguns dos meus fidalguinhos estão procedendo de
maneira desmesuradamente cruel com essa pobrc gerlte e que estáo bem
atrevidos e arrogantes, como sc livcssciii vencido e estivessem seguros. Pois
brin. tais elementos 1120 procuram punir t. corrigir a rcbeliáo, iiias dão vaza0
1, a sua feroz riialdcide e satishzcin scu ódio, que talvez carregassem consigo
l i i um bom teiiipo, pensando que azara acharatii espaço e direito para tarito.
Ern especial, contrariam abertamente o Evangelho, querern reintroduzir con-
ventos e clausuras, e resguardar o podcr do papa, e misturar nossa causa com
a dos rebeldes3'. Eles, em breve, colherão o que cstão semeando4, pois
,' aquele que está lá em cima os vê e virá antes que se dêem conta. Vai
Ii.;%cassaro que pretciidcm, sei disso, coino fracassaram até agora.
Escrevi tainbéiii rio iiiesmo livrinho que agora cstanios viventio uma
cpoca estranlici, ein que se podc riicrcccr o céu com riicctaiiça e derramanieiito
de sangue4'. Vah.1-nos Dcus! Como Lutero pode descaractcrizar-se tanto, ele
,, quc ate cntão ensinara que se devia alcançar a graça e a bem-aventurança
apenas pela E, sem obras. Entretanto, aqui ele náo só aliibui bem-aventuran-
Ç;L às obras, mas tainbém à atrocidade de derrainamcnto de sangue; pois é,
o Keno pegou fi)goj2. Meu Dcus, como me dissecam, coino me espreitam,
c, inesmo assim, nio adianta. Pois espero que se ine conceda o uso correto
d;is palavras c cxpressóes, o que rião é próprio apenas do homem do povo,
iiins também <kis Escrituras. Não diz Cristo em Mateus 5.3,11: "Beiii-
civcnturados os pobres, porque deles é o reino dos céus'"! "Bcm-aventurados
sois quando vos perseguirem, porque é grande vosso galardão nos céus"'?
11.c 6.231. E em Mateus 25.34-40, onde recompensa a.;obras da caridade, c
oiitriis coisas mais? E ainda assim continua de pé que as obras nada valem
IIL.I-:II~~CDeus, mas apenas a fé. Como se deve entender isso, eu expliquei
Guerra dos Camooneses
inúmeras vezes, especialmente no sermão sobre a riqueza injusta4i. Quem
não quiser se contentar com isso, que vá e se incomode pelo resto da vida.
Se valorizei tanto a obra do derramamento de sangue, meu livrinho também
mostra que Falei da autoridade secular que é cristã e exerce seu ministério de
maneira cristã, especialrneute quando se vai a campo para enfrentar as hordas s
rebeldes. Se essa autoridade não fosse justa ao derramar sangue e exercer seu
ministério, então Samuel, Davi e Sansão também não teriam agido bem
quando puniram os malfeitores e derramdram sangue". Se não for correto
derramar esse sangue, então abramos mão da espada e sejamos iimãos livres
para fazer o que bein sc entende. Portanto, peço a todos com insistência que 10

queiram ler meu livrinho com atenção, e não apenas superlicialmente; então
verão que, como aliás convém a um pregador cristão, só instmí a autoridade
secular cristã e piedosa; repito e tomo a dizer que só escrevi para as
:tutoridades que pretendiam agir de maneira cristã, ou então, correta, para que
tis mesmas tivessein orientayio para suas consciências no presente caso, isso 15

C. que atacassem sem demora o bando de rebeldes, não importando se


;itiiigissem culpados ou inocentes; e mesmo que atingissem inocentes, que
ti50 se culpassem, mas prestassem o serviço devido a Deus; depois, porem,
qiitindo tivessem vencido, que usassem de misericórdia não só com os
inocentes, como estio fazendo, mas também com os culpados. 2~1

Os tiranos furiosos, intempestivos e desmiolados, porém, que nem de-


pois da batalha estão fartos de sangue e que em toda sua vida tiao pergunta-
ritin muito por Cristo, a esses eu não pretendia ensinar, pois para esses
clcmentos sanguinários não imporia se matam culpados ou inocentes, se
agrada a Deus ou ao diabo. Eles só conhecem a espada para satisfazer seus 25

c:il~richose suas maldades. Deixo que sejam conduzidos por seu mestre, o
(li:iho, para conduzi-los como quiser. Ouvi que em Muhlhausen um dos
"grandes" e importantes senhores chamou à sua presença a pobre muihcr de
'li)iiiás Muntzef15, agora viúva e grávida, caiu de joelhos e disse a ela: Deixe
( 1 1 1 ~ c ~ ite ... Gesto cavalheiresco e digno para com uma pobre mulher, .<(I

;il~:iiicloiiadae grávida! Que herói valente, que decerto vale por três nobres
<;iv:~liii-os! Que é que vou escrever para tais patifes e porcos? As Escrituras
< Ii:iiii:iiii cssc tipo de gente de bestas46, isso é, animais selvagens, como
I o l r i i > , i:iv;ilis, ursos, leões. Portanto, também eu não tenho a pretensão de
I O I I I ; ~ Icns j:~.tiic. Mesmo assim é preciso agüentá-los, se Deus quer castigar- v,

i ~ i i ! > iiii;ivis (lclcs. Eu receava por ambas as coisas; se os camponeses se

I i i 'I WA 111/111. 273-292, espec. 277ss.


II i I I Srii I i i Y s . ; 2 Sm 1.15s.; 4.9-12: Pz 15.15s
1'1 \',VI,> ,A<
< U I ;I).
, 203, 11. 35.
Cxla Abena a Rcspeilr~do Rigoroso Livrinhc contra os Campoiicscs
tomassem senhores, o diabo se tornaria abade; mas, se tais liranos se tomds-
sem senhores, a mãe do diabo se tomana abadessa. Por isso visava as duas
coisas: acalmar os camponeses e orientar as autoridades piedosas. Como os
camponeses não quiseram ouvir, levaram a deles; mas esses também não
., querem ouvir; pois bem, eles igualmente receberão seu Iroco. Seria uma
vergonha se tivessem sido mortos pelos camponeses. Isso teria sido um rabo
de raposa4'; fogo do inferno, tremor e rangcr de dentes no inferno serão seu
quinhão eterno, se não fizerem penitência.
Era isso, meu senhor e amigo4x,que quis responder a vosso escrito.
1 Espero ter feito o bastante; entretanto, se alguém não cstiver satisfeito com
isso, que seja um sábio e inteligente, piedoso c santo em nome de Deus, e
me deixe ser um palhaço e pecador. Eu bem que gostaria que me deixassem
em paz; pois, de qualquer forma, não vão me derrotar. Há de ser tido como
correto o que ensino e escrevo, ainda que o mundo rebente com isso.
1.. Querem bancar os teimosos? Pois eu também bancarei o teimoso, e veremos
quem terá razão no fun. Deus vos guarde, e dizei ao C o n r a d ~que
~ ~trate de
agir corretamente e se deite na cama certa. Também o impressor deverá
evitá-lo daqui para frente e não mais vos repreender [chamando-vos] de
~ h a n c e l e r Amém.
~~.

47 Istti F, Leria sido muito pouco. Veja t m M m acima p. 352, n. 34.


4X Chspar Müiier, veja açiina p. 342, n. 7.
'1') Não i: possível estabclcçer a que ou a quem Lulero se repoita. O escrivão do conde rlc
M:uisreld chamava-se D. Komado (cf. WA BT 4,120,10). Por O U ~ Olado, u "pobre Coiir:i-
do" liii urna autodesignagáo genérica dos camponeses da rebelião de Wüiltembcrg, cni
1514 (cl: acima Introdução ao Assunto, n. 2). Portanto, pode ser que Lutcru esiivessc d;inilo
t i n i icca<l<iliiial aos camponeses. Mais provável, porém, é que se trate dc uma joçosi<liiilc
ciiilc I.iiicrr> ç Müller, u>mi>al%s r> F a cqniinuação da frase.
'i0 N;io sc li<i<lipici.is;ir ;i r.iz;ii>clcssa fmsi. E possível quc Müller Lenha reclmad<i iI;i gioli;i
I I I I s c , íís~ii<'lcr;iii invés dc Cz:.uilzlei-- n;i prova gi.ílic;i iI;i
l c csi.rili,. i.vi.iilii;ili~iciilc
~ " i i i i i . i i ; i ~ p x ~ <li> cn:iiiiiii;id;i por clc.
(iucri-a dos Canponcscs

Acerca da Questão,
Se Também Militares Ocupam
uma Função Bem-Aventurada1
1526

INTRODUÇAO

Eiii Acerca da Questão, Se Zm16nn Militares Ocupxn uma Fuilçtio Bem-


Avcritur:ida, Luter« se preocupou com a pergunta pela legitimidade da guerra e com ~í
ccrios probleinas de cniisciêiiciii vividos por militiues. Contudo, já antes de 1526,
quando esse escrito foi piiblicado, tiiihii sido lçvado a rifleiir a respeito. Em O
Miignificat, Iiriduzido c cxplica<ir>(1521), ao Iralar da coinpetência e das tarefiis da
:iiiioridade secular, ele cliegou a t o c a lios temas da guena jusia, ou dos meios
i~~~ropriados para se impor direitos legítimos, e da licitude de sc rccomcr a «pcrac;«es iii

iiiiliiai-es, sem contudo aprofundar sun discu~sZo.~ Dois aios depois, em Da Autori-
<l:iílc Scco1:u; até yue ponto se Ihc deve obediênci;i, Lutero desenvolveu algumas
i,!!,r;is relativas à guerra justa.! Quando os govcrnaiites de territ6rios que adotaram a
I<cíorriia negociavam uina coalizZo, clc escreveu ao coiidç Alberto de Mansfeld
(13x0-1560). desaconselliaiido a f«rmaçZo dc uma liga niilitar contra ;I autoridade ?\
iii~pei'al.~ Por fim,a violência da Guerra dos Camponeses de 1525 na Alemanha'
Icvou amplos setores da opinizo pública a refletirem sobre a legitimidade de uma
::iiçrrn civil, que futuramente poderia dar-se também entre defensores e inimigos da
I<cli)rine, caso fosse executado o Edito de Worms.
llin iiiterlocutor de Lutero nessa discussâo foi o oficial militar e mercenjno
Ahsn von KraniG,que veio ao sçii encontro preocup;ido com a pergunta, se também

I 111~h'riii.~.~l~~ule
iiiich ini seíigen Slmde sei, künnrii - WA 19,623-662. Traduqão: Uíiltcr O

,S<liIii/'/'.
M.i:i :aiiii;i p. 20-78, esp~ihneniep. 58,26s.
! M.l:t :ii.iiii:i .1, 79-119, cspccialnicnte p. 110,21-112,14.
I 1';iil.i <1c 111111525. In: WA Br 3,416s.
'3 K-l;i ;i ii,sl>citoa introdução geral a esse bloco, p. 271.283.
11 \ $ v i v i ~ Kiílrn
i (c*.1490-1528). Scii nome na verdade era Aschwin n/, sendo nalural ila
.iI<l<.!:! ilc Viamnic, cni Braunschwcig. Não scndo possível estabelecer-se na pequena prii-
1 8 , ih.il:iilc da faniília, mrnou-se comandante militar e mercenário. A serviço do duquc Car10.v

i #ir i;t.I<lcr~i p;rrticipou, ao lado de Fr;inci.sco I, rei de Fmça, da p e n a coiiira iis suíq<is.
.ili.al<is< h i i~iilicradorMaxirn~limoI, e da batalha de Marignano (1515). 1)iiianic a hai;illi;i
~ I c SitII;ii~(ISlO), lutoii contra seu prdprio senhor terrilorial, o duilut. f h i r i q i i i , r i .li,vc,,i
I I I X i J . 1.514 1542, IShXi, de Br;mnsçhweig-W«lSeiih(ilizl.Na gwir-i ci>riii-;i íir,ri;irii, II(I1XI.
l f l i 1524, 155')). rci &I lIi~ii~i~~;irc:~(1523). cslcvc Ii~lo~$~irnigo. Ors<lc I524 cslcvr
,,c~vip> l > ~ l ~ ~<~Iciior c i l ~ c<I:(
~ S;LXGI)~;I,
i ~ , ~ ~ o~ ,S;ll~io
l ~ ~(140.4. ~ ~ ~lS?S).
r i ~ l,lXi> ,
Se Também Militares Ocu~amFunção Rem-Aventui;i<l:i
os militares se eiicontram numa função bem-aventnrada, sendo-hes possível alcanç;ii
a salvação eterna. Assa von Kram era comandante de cavalaria da Saxônia eme5tiri;i
c enfrentou as milícias de camponeses na batalha de Frankenhausen, ocomda a 15
dc maio de 1525. Ouando cessaram os combates. tentou intervir como uma esoéciç
i de porla-voz dos derrolados, a fiin de aplacar a ira dos príncipes. Na qualidade de
oficial do exército, ele, que já se ocupara com as proposias da Refonna, buscou o
contato pessoal coin Lutero em meados de julho de 1525, quando da posse de JoZo,
o Constante (1468, 1525-1532), como novo prhcipe-eleitor da Saxônia. O reforma-
dor, que tinha em boa lenibrança o encontro com Assa von Kram7, demonstrou ein
ii divcrsas passagens de Acerc:! (ia Qui.stijO, Se Tinibéni M111t;ire.s.. estar escreveiido
inspirado pelo diálogo com esse interlocuio6, cmbora LI s i Icnhi limitado apenas
às perguntas por ele levantadas.
Lutero 1150 pôde atender imediatairiente a solicitação de uiria resposta por escrito
hs pcrguntas do milikir. Em janeiro de 1526, Assa von Kram teve nova oportunidade
i, de exortar Lutei*) a fim de que cuiiiprisse coin o prometido, quando ambos se
eiicoiitr~raiiiem Torgau, onde loram padi-iiihos de batismo de um fi!ho de Gabnel
Zwillingy. Ainda assiin, o refonnador tardou em coincçar a cscrcvcr. E provivel que
tenha preferido obseivar primeiro as tratativas relacioiiadas ?I forniação da Liga de
Gothflorgau, realizadas no mês de fevereiro. Essa liga teria por objetivo a dclcsa
contra at;iques de territórios hostis à Reforma, algo que com boa probabilidade
poderia ocorrer. pois o imperador Carlos V já sinalizara sua interição de promover a
cxccuçáo definitiva do Edito de Worms a partir da assembléia de Espua, progamada
para o mesmo ano de 1526.
Acerca da QueslZo, Se Bmb&n Mi1ila1c.s Ocupam nina F u n ~ Z oBe~il-Aventurri-
,. da teve sua redação concluída no filial do ano em Wittenberg, onde João Barih 0
imprimiu. Trata-se de um escrito extremaniente elucidativo e importante, pois cin
ineio à abordagem de questões de consciência daqueles que ocupam fimções niilita-
rcs, Lutcro também lançou uni clamor em favor da paz: "...Deus [...] quer paz e C
hostil àqueles que conieçam uma guerra, rompendo a paz.""' Além disso, aqui
irmsparccc coin clzircra meridiana o pi-incípio básico do seu pensamento acerca d ; ~
autoridade, do Estado c do direito. Esse princípio est2 comprometido com a "lei do
a n ~ o r " ' ~tanto nas grandes como nas pequeiias causas, c propõe uma aplicação d i ~
direito baseada no espírito da eqüidade, na atciiçZo h situaçTio concrctr ou emergencial12
de cada pessoa.

Os conteúdos de Acerca da Questão, S e Tanbém W t a r e s Ocupam unia Funç;nl


Ile11i-Avcnturad:~podem ser distribuídos na seguinte estrutura:

7 (:f WA 51,236,26-30 e WA TR 5,36,21-24.


8 (:f. p. 375,4s.; 376.7; 379,13; 383,36. Outras pmvávcis rçfcr?iiçias a v. Krain. Cf ;ih;iix<i
t i . 774.29-775.1: . , 391.27-29.
, , 380.25s.: .
'J 'liiiiih6ni çhsiii;iilo I>ídimo (ca. 1487-1558). Agostinimri-e~initaç n i Wittcnkrg, lídcr iI:i
I<i.li>riii;i ali c i i i 1521122, ilel>i>is eni Eilciihiiigr>c Torgaii.
pregxI<l<ir
111 V<,,i;(~ 1 1 ~ ~11.~ .3X(>,ls.
ixo
1 1 Vri;, :tl):~ixc> 1,. .S~)f~,2Os.
!I Vi.i;i ;ali:iixi, li. 171.1\s.
<;iicrra dos
..
Camponeses
I Iiitrodução - p. 362-3@,2
I. I Dedicatbria - p. 362,34-37
1.2 Circunstância da redação e motivaçâo da obra - p. 362,40-363,34

2 Legitimidade da função militar - p. 364,3-369,27 5


2.1 Distinção entre fun<;ãoe pessoa - p. 301,3-15
2.2 DistinçZo entre justiça pela fé em Cristo e justiça exterior - p. 364,16-365,4
2.3 Instituiçáo divina da função militar - p. 365.5-366,17
2.4 Nccessidade da função militar apesar do seu abuso - p. 366,lX-369,7
2.5 Rcsumo parcial - p. 369,X-369,27
111
3 Uso da funçáo militar - p. 369,2R392,15
3.1 Direito de guerra e eqüidade - p. 369,28-372,12
3.2 Três casos de emprego da funçXo militar - p. 372,13-392,15
3.2.1 Pelo subordinado çontia seu supcnor - p. 372,20-384,29
3.2.2 Guemi entrc pires - p. 3X4,29-391,9
3.2.3 Pclo supcnor contra seu subordinado - p. 391.10-392,lS

I 0uati.o qucstõcs de consciência - p. 392.16-399.14


'1. I Quanto à licitude de receber soldo - p. 392,16-395.12
,1.2 Quanto a participação em guerra injusta - p. 395,13-396,4
4.3 Quanto ao serviço a inais de um seiihor - p. 396,s-397,4 211

,t.4 Quanto B motivação a função ~nilitarpela ambição e pela ganância - p.


397,s-399,14

5 ('r)nclusão - p. 399,lS-401,7
5.1 CondemçZo da superstição e estímulo i oriição - p. 399,lS-400,ZS 25
5.2 Recomendação final - p. 400,26-401,7

Ricardo W. Rieth

Ao respeitável e destemido Assa von Kram.


Cavaleiro, etc.
meu beningo senhor e amigo,
Martinho Lutero.
( ii;i(;;i c paz e m Cristo1" respeitável, destemido e prezado senhor c ,,,,
:iiiiixo! I<ccciilcmente, quando da última investidura do príncipe-clciior cm
--

I I ('I., <.,,l,C I<,,, I.?


,>,,1r:,s ~p~,ss~lgclls. i ( , o 1.3.

<(>L
Se Tanihém Militares O c u o m Funçáo Bem-Aventur;irl;i
WittenbcrgI4, falastes comigo sobre a situação dos militares, em relação aos
quais estariam sendo aduzidos muitos pontos referentes à consciência. Na
ocasião vós e alguns outros me solicitaram a instrução pública escrita, visto
que há muito mais pessoas que se queixam dessa função e dessa instituição.
Alguns têm dúvidas, outros, entretanto, são tão temerários a ponto de não
mais se importarem com Deus, c lanqam ao vento a ambaslS, a alma e a
consciência. Sucede que eu mesmo já ouvi esses camaradas dizerem que, se
começasscrn a refletir sobre isso, não mais poderiam ú- à guerra. Como se
í'am guerra fosse uma coisa tão significativa, que se deveria esquecer a Deus
I e a alma quando houvcsse guerra, quando, na realidade, é justamente na
angústia e no perigo de morte que mais se deve pensar em Dcus e preocupar-
se com a alma. Para aconselhar as consciências fracas, desorientadas e em
dúvida, dentro de nossas possibilidades, bem como dar melhor informação
aos negligentes, assenti à vossa solicitação e prometi o presente opúsculo.
li Pois qucm combatc de consciência tranqüila c bem esclarecida, esse
também pode lutar bem, uma vcz que o seguinte não pode falhar: onde
houver boa consciência, há também grande coragem e coração valente.
Quando, porém, é valente o coração e intrépida a coragem, o punho é tanto
mais vigoroso, o cavalo e o cavaleiro são tanto mais forles, todos os em-
211 preendimentos têm tanto mais sucesso, todos os casos c coisas terminam com
tanto maior felicidade em vitória, vitórka essa que Deus, então, também dáI6.
Por outro lado, quando a consciência está tímida e insegura, também o
coração não conseguc ser valente como deveria. Pois consciências ruiiis
tomam as pessoas invariavelmente covardes e tímidas, como diz Moisés a
.'i seus judeus: "Se fores desobediente, Deus te dará um coração temeroso que,
se tc puseres a caminho contra teus inimigos, serás disperso por sete cami-
nhos e não terás sorte" [Dt 28.20,25]. Assim acontece que tanto o cavalo
como o cavaleiro sejam preguiçosos e incapazes, e nenhum empreendimento
tenha sucesso, c por fim será vencido. No que tange às consciências rudes c
11 perversas na tropa, entretanto, os chamados audaciosos e atrevidos, tudo vai
ao acaso, [não importando] se vencem ou perdem. Com esses animais
grosseiros se dá o mesmo que com aqueles que têm boa ou má consciência,
uma vez que fazem paitc do grupo. Por sua causa é que não há vitória. Pois
clcs são a casca e não o verdadeiro ceme da tropa. Envio-vos, portanto, esta
minha instrução, quanto Deus me concedeu, para que vós e outros quc

14 f;!LiICljco, O Sdbio, fdeççu em 5 de maio de 1525, em meio à Guerra dos Cmponcscs.


Scu succssor roi João, o Constante (1468.1532). irmão mais moço de Fiedcricci, iiili
ilcçidido arti ti dá rio da Rcfoma. Foi por ocasiao da posse dessc iiovo príncipe-cliii<ir riii
Willcfihcrg q i i i Lutero se cnc<riiti-oucom Assa vnn Kram, um dos çiimandantes do pl-íiicilii..
Vc,i:i I;II~IEIII :i inIrocl~~$?to
:i<>prcsciilc cscrito.
I5 Nii irni,, oripi1i:il yri </cri iv;riil scl,hlici,, isto c', "mcn<isprczando", "liviiiilo lx>iicoc;isi,".
l ( > ( ' l ' . l'"?.lL3I,
Guerra dos Camponeses
gostariam de fazer guerra saibam munir e instruir-se, para não per+rem o
Pavor de Deus e a vida eterna. A graça de Deus scja coilvosco, AMEM.
Em primeiro lugar, deve-se fazer distinção entre ofício e pessoa, ou obra
c autor. Pois um ofício ou uma obra pode perfeitamente ser boa em si
inesma, mas que, não obstante, é má e injusta, se a pessoa ou o autor não 5

Sor bom e justo, ou se praticá-la de forma injusta1? O ofício de juiz é valioso


e divino, seja ele o juiz que pronuncia a sentença ou o juiz executor, também
chamado de carrasco. Mas quando for exercido por alguém que nZo está
cricmegadoi8 disso ou, tendo o encargo, julga conl'orme o dinheiro e os
favores, esse já nZo é mais nem justo nem bom. O estado matriinonial 1~~

também é precioso e divino, nâo obstante encontram-se nele muitos velhacos


c patifes. O mesino se dá com a função, ofício ou taefa militar. Em si
inesma ela é justa e divina. Deve-se cuidar, no entanto, para que também a
11cssoaquc cxercc essa função tenha essas qualidades e se,ja proba, confoime
ouvii-emos. li

Em segundo lugat-, quero deixar claro que desta vez não estarei falando
iI;t<[uclajustiça que toma a pessoa justa perante Deus. Pois isso é eSetuado
\<iiiicntcpcia fé cm Jesus Ciisto, sem qualqucr obra e mérito nosso, conce-
iliilo e dado de presente por pura g r a p de Deus'"; isso já escrevi e ensinci
i.111muitas outras o~asiões.~" Ao invés, cstou falando aqui da justiça exterior, a)
rcnlizada nos ofícios e nas obras; ou seja, para que o diga bem clarainentc:
ir;iiii aqui da questão, se a Sé cristã, através da qual somos considerados
iiisios pcrantc Deus, podc tolcrar que eu scja um inilitar, vá ao combate, fira
i. riiate, pilhe e incendeie, como se faz com o inimigo numa guerra conforme
l i dircito dc guerra; ou se esta obra também é pecado ou in.justiça, pelos quais

l i lisq:~<listinçXoentre oSício e p.sFoa está intiinnineiite ligada ao conceito de guerra justa


iiiiiiiiliiiido por Gmcimo lia tradição jurídica e que por fim seiviu de base p x a comprem
<Iri:i eiiçria no h b i i o do clireiio dos oovos. A resoonsabilidade cb rniliwr - em anak>eia u
i i t i t i :i ;iy;io clo jub e seus auxíiiats (em relaçâu aos quais Luteru já se maniCçslara em 1519
iiii Si.i,i,Co ,s~~l>rt: as lliias E.sp6cie.s <li. hi,sli(;i, ç f Obras Seiecir>nadas,v. I , p. (241)
',I '.IX. <:y~.248) d e p e n d e de Satures objetivos ç subjeiivus. Assim, ele nZo pude agir
. . i - j , t ~ ~ > f l :ii i ~ni>lxia vontade, inas alua em operaçiies dç guerra submetido a sçu superior. Do
i i i c . . i i i i i i i i i > i I i > , uma guena sii piidc ser iniciada com os i>hjctivos de rcstdklcccr o dircito

1 r . 1 i < l c ! c 1>icsi,rv:sii P~V. Essa mcntalidadc corrcta dc qucm fa/- a gucrra L incoiiciK~velcom
c , . i i i c . ~ < , (1,. t.~>iiiliicccr com os despojos. Cf. Corpus i u n ~cnnonici lCorplC1, Dccr. 2" pars,
c .iii...i ' i C I , ~ I: . LIU. i can. 5: <lu. 5 czin. 14, 41, 47.
I!; i . . ~ , i . i i i : i l ~ t j , ~ i; 'ii i l i i ' a instituiçâo militar c ti justiça m M m C rctirzida da badiçáo canunica.
i I I N L G i k j , t i i r i i ; i ;i p:iriicipaçZo numa opcraço militar dcvc scmprc scr uma ordem superior.
1 'I 1 ' < a , ~ l: ( I )i.ir. 2" pars, causa 23, qu. I: q ~ i 5. can. 13s.
1'1 1 ' 1 I < , , , !..'.I: 11.0.
'ii \ i i . i . I'. I. '... < I c\criiii ilc I.iitcio citadi, acii~iii,ii. 17. Elç I~iliiu&i q~içslài,ciii c~~!ticiil.iri~~s
I I I I ~ I o < t, ~ I I ~ c ~~ l~ c Il ~~ ~priocipal~ncr~tc~ ~~ ~; c~ s ~ sc)l>rc1p:i~s;igco?cC,ts c~~í~iol;ts
11;$11li!~a\,
c[. WA
I ..'IH. i'?\: .I.?XI .X 17: 50.3.0 13: IX.4 20: 172.X I I : IX7,lc: 248.5 3.3:~llX.L~ ,II'l.IX:4.11i.1 11:
I i ~ 1 , Sl t i
Se Também Militares Ocunam Funcio Bem-Aventiirail;i
devo ter escrúpulos perante Deus, se um cristão não pode praticar nenhum
desses atos, mas somente fazer o bem, amar, não ferir e matar ninguém.
Chamo de ofício ou ato aquilo que, mesmo sendo divino e direito, pode
tomar-se mau e injusto, contanto que a pessoa seja injusta e má.
Terceiro: Também niio pretendo deter-me longamente no fato de a obra
e o ofício militar serem justos e divinos em si mesmos, uma vez que já
escrevi o suficiente sobre isto no opúsculo sobre a autoridade secularz1.
Sinto-me quase tentado a me gloriar de que, desde a época dos apóstolos, a
espada e a autoridade secular jamais foram tão claramente descritas c tão
1 magnilicamente exaltadas coino por meu intermédio, o quc também meus
inimigosz2precisam admitir. Coino recompensa recebi o prêmio de honra ao
mérito de minha doutrina ser repreendida e condenada por incitar à insurrei-
çáo e tender contra a autoridade2'; Deus seja louvado por isso. Como a
espada foi instituída por Deus para punir os maus, proteger os retos e garantir
1, a paz (Rm 13.lss.; 1 Pc 2.13ss.), está plena e suficientemente provado que
niatar e fazcr guerra bem como as conscquências da gueri-a e do direito de
guerra foram instituídos por Deus. Que E guerra senão punir injustiça e
inaldade.? Por que é quc se faz guerra, senão para alcançar paz e conseguir
obediência'?
Matar e roubar não parece ser obra do amor; por isso o ingênuo pensará
que não se trata de obra cristá ncin convém ser feito por urn cristão. Não
obstante, é, na vcrdadc, também uma obra do amor. E como o bom médico
que, quando o mal está muito avançado e violento, precisa amputar a mão,
o pé, a orelha ou extiipar o olho, para salvar o corpo; considerando o
', membro por elc ainputado, ele parece pessoa cmel e incompassível. Consi-
derando-se, porém, o corpo que cle quer salvar por este meio, constatar-se-á
que, na verdade, clc é uma pessoa capaz e leal, que pratica uma obra boa e
cristã (enquanto depender dclc). Assim também, quando considero como o
»Iício militar pune os maus, mata os injustos e provoca grande desolação,
parece tratar-se de obra nXo cristã e de todos os modos contrária ao amor cristao.
Se, porém, levo em considcraçáo que ele pi-otege os retos, mulher e
lilhos, casa e quinta, prcservando e guardando bens, honra e paz, constata-
se que se trata de obra valiosa e divina, e me dou conta de quc também este
amputa uma perna ou mão para que náo pereça o corpo inteiro. Pois tudo
', que existe no mundo sucumbiria na discórdia, caso não o impedisse a
espada, mantendo a paz. Por isso uma guerra dessas niio é outra coisa senao
Guerra dos Camponcscs
uina pequena e breve discórdia que impede uma discórdia eterna e incoineii-
suráyel, uma desgraça pequena que impede uma desgaça maior.
E verdade tudo aquilo que se escreve e diz acerca do grande mal que a
guerra r e p r e ~ e n t aDever-se-ia
.~ considerar também, entretanto, quanto maior
é aquele mal que é impedido com guerras. Claro, se as pessoas iossein retas 5

e de boni grado mantivessem a paz, a guerra seria a maior calamidade sobre


:I terra. Que achas, entretanto, do fato de o mundo ser ruim, de as pessoas
1120 quererem manter a paz, não quererem deixar de pilhar, roubar, matar,
violar mulheres c crianças, tirar os bens e a honra'? E esta discórdia geral do
mundo inteiro, pela qual não restaria nenhum ser humano, quc precisa ser 111

evitada por iiitermédio da discórdia menor chamada de guerra ou de espada.


E por isso que Deus também dá i espada esta honra elevada de dcriominá-
Ia de sua ordem própria, e não qucr que se diga ou pense que foram seres
humanos que a inventai-am ou instituíram. Pois a mão que coiiduz esta
cspada e mata lambém não é mais mào humana, mas a mão de Dcus, e náo 1s

C ;i pessoa humana, mas Deus qiie está enforcando, rodando, decapitando,


csli-angulando e guerreando. Tudo isso E obra sua c juízo seu.?'
Em suma: O que se deve olhar no ofício militar náo é o fato de matar,
iiiccridiar, ferir, conquistar, etc. Pois quem t'az isto é o estreito olhar de
(:viariça ingênua que nâo enxerga outra coisa senão que o médico está 211

i . ~ i ~ u ~forad o a mão ou serraiido a pcma; enxerga, mas não se dá conta de


lliic a finalidade é salvar o corpo hteiro. Da mesma Iòrma se deve olhar o
ol'ício nulitar ou da espada coin olhos de homem, enxergando a razão por
qiic ele mata c age de forma tão cmel. Assiin ficará provado por si mesmo
( 1 1 1 ~se trata de ofício em si divino e tão necessário e útil para o mundo como 2s

i ) comer e o beber, mais do que outra obra.'O fato, entretanto, de alguns


;ihiisarcin desse ofício, matando e ferindo sem necessidade, somente para
s:iiiskizer seus caprichoszh,é culpa não do ofício, mas da pessoa. Pois onde
i.\f;i o ofício, a obra ou qualquer coisa que seja, tão boa que não seja que
311

' I N.i Iiii.i:iiiii-:i dç çntZu havia aulores que defendiam idéirri pacifistas. Por cxcmplo, Erasn~o
( 1 , I:<~l<,iil;i(1466169-1536)publicara Querela Pacis em 1517, um cscnto cuja hadupio ao
. i I r i i i ; i i ~ I x ' i I.c« Jud (1482-1542) em 1521, iiiiitulada Ein klag des Frydcris (Um Clamor
I I Ihrsg. v. A. M. Hdas; U. Her~og,Zurique, I969), teve considertívcl rcpcrcussáo. ''
I i i,. :,li: "A gucira, pelo çuntrdno, é 120-somente um mar e no revolto de todos os males,
i i , i I i t \ i > < prc,ji~íz«s c toda desgraça, que CSLZU presentes na nalweza das coisas. Por causa
i 1 . i i:iii.iiii. ~ é florescente sç tonia mur~.ho;tudo que linha crescido e sido cnnslruído
i u ~ l rquc
i I i i i , i i i i i i c dcs;ih;i; tudo quc é beni ordenado decai e se arruína; tudo que é doce iica amurgo.
I . . I l'i,ii;iiiic>, prisia atcn~" I m E m Lu, guerreiro: as guerras, que por ordcm divina lovdni
: ~ I ~ I o v : I L I : ~ c . 1<11113111ils ~ Ç S S « B S IInp~msilianii de Dcus" Ip. 15, 231.
''I i '1. SI I 0 . 0 ~ Vqje . iambim o çscrii« B;i M>i~l;i<ic Cilivu. In: Ohra? Sclccionii<l:is,v. 4, li.
i I I ) 17 210, cspcc. 38-41. <iiidr cssi pciisiiincnlo 6 mais ;iprolil~iil;icli~.
.!O V<,i;t ari!!!;$ 1,. 3f4, 11. 17.
i irierra dos Cnniponeses

largar tudo.3' A isto S. Pedro e Paulo dão uma rcspostii suficientemente clara,
pois ambos preceituam também no Novo Testameiito que se obedeya à
i~irlcmhumaiia e aos maidos da ;iiitoridade secular.'.' E conforme r>iivirnos
ticiina, Sâo João Batista, como mesire cristão, instiuiii ci-istâmeiitc os sold~i-
dos, mesiiio assim deixaiido-os pernianecei- soldados, só que mio deviarii i
Iiuer abuso disto, cometcndo ir~.justiçaou violêiiciri a quem quer que seja,
inas que se deviam dar por satisSeiios com o seu soldo. Por isto taiiibém no
Novo Tcsranento 21 espud;i está coníinnada pela palavra e pela ordem de
rlcus. E os que dela fizcrem uso con'eto c lutareni ein ohediêiicia, com isto
i~iiiibémesiao scrvindo a Deus e obedecendo à sua pala~ra.'~ 10

Lrnagiriu lu iiiesino: Caso se adiiiitisse qiic a guelra fosse injusta ein si


iiicsma, coiiconiitanterneiite t'irnbém ienaiiios qiie :idrnitii. oulros pontos,
corisidcrando-os injustos. Pois, ciiso a espada Iòssii a l ~ oinjusto ;iii Iiitai-, ela
i;iiiibém sei-ia ir!jusi;i ao puiúr os rnallcitorcs ou ao rnaiiter a paz. Eiii suma'
i<i(l;isas suas obras lei-iain quc ser irijustas. Pois o qiic E a verdadeird guerra, 17

sciii« a punição dos malfeitores e a tnanutcnçáo da paz'? A punisào de uin


l;idi-:«, assassiiro ou adúltero é puiiiçáo de uma grandc multidão de nialfei-
it11i.sde unia scí vez, os qoais causar iim mal dc diiiiriisiies equiv~ileniesà
iiiiiliidk~.Se iigoni urna s6 obiii da cspadii for ho;~e direiia, iotlas clas são
Iii~isc díscitris. Ela t: riiesrno uina espada, nào uin rabo de n i p ~ s a " ~e, é ?i]

i.li;iiriada de ira de Dcus em Kiii 13.4.


Coshiinam apresentai- o conlra-argumento de que os cristãos nZ» têm
iii<lciiide Iiitar, e que excmplos não basiam, porque têm um eiisiiiaiueiito de
'i-isto segiiiido o qual nii> tlevein rcsistú ;to mal, nias suportar iutlo: ;i isto
1;i rcpliq~ieio sulicieiiie no opúsculo sobre a autondadc ~ccular'~. E claro qiie 27

crisià«s 1130 lutam, neiii têiii ;iiiiorida<lcsecular dehaixo de si. Seu regimeq6*
espiritual, e. no que tange o cspuito, não estão sujcitos a ningueiii, senão
:i ('risto. Não obstante, com seu corpo c com seus bens estão si!jeiios à
;iiiii~i-idiitlcsccular e têm a obrigação de obedecer B mesina. Sc, agora, a

ii l.i.i.,irt<t ;iiciimenta dc foirn~tscrnelhanie eiii E h inkl;i~ d m Fry<lem (veja acima p. i&, ti.
'.I i: "1 1, iiiclriis, quando gucrrc:u;uii. lorani chamados, eiii:idi>s. dirigidos e prnregidos por
1 l ~ . i i \ I... . I 0 5 cristjos, nn ciitanto, [...I quand" guerrcialri, s Z o iiii>vi<lus1x0-iuriirntepela
. i i i i I ~ i v , . i ~ >i, peia raiva. 0 C O I I S C ~ ~ C ~ inlziine.
TO qiie o? cxta\ia c iinpulsioiia, t. a g~nâiicia
iii,.;iu i:iv<.l. c qiiem os discipliiia E a cobi<:i. que jamais podc scr sari\Teii:i" (p. 28s).
i Vi.1:~. i < t i i i : i 11. 82.25-X?,5.
I
i 'I . 1 iirpl(: »cri-. 2" pais, causa 23 qu. 1 c:n. 4s.
< ,,, v.y xrimt p. 352. 11.34.
i r , i I . Mi 5. ri, Liiicin iiiilica ,Seci~lir.l.:~lL;L ~ I /71>111<>
~ r ueqcrito D:, .irtc~rid;a<li- C CL. / I r ch:vc
nn I???, veja acima. p.
~ili~~~Iii:r!i!;i,~p~~lilic;i<lo 79-114, cs~ci;iliiicntcXLl,lh~3l.Qiieiil<i ;to
I~~V.I~ICU\.I~II""L' <Iç LUICIO sollir O p:~citisi~~o
dos iu~ith:~ii\i,t\C VC~;, 11.
cspirii~i~li~ii~'i.
x i ~ . . ' S IS. ('I. 'Ilu~llCm:~c.ilita,li. 24 c 3 1
ir8.i 1 '<i111 < I i i i i i i i , "lcginii." ii:tilii,,-si: ;ailili I<<.,c~oIcIII.
autoridade seculiu exige que eles vão à luta, entZo devem e precisam lutai-
por obediência, não como cristãos, mas como membros e súditos obedientes
no que taiige o corpo e os bcns temporais. Por isso, ao lutarem, não o fazem
para si mesmos nem por voiitadc própria, mas ii serviço e em obediência h
autoridade a que estão sujeitos, confoiiiie escrcve S. Paulci a Tito: "Que se
sujeitiiiii (...) as auioridiides" [Tt 3.1 1. A este respeito auida podes ler no
opúsculo acerca da autoridade secular.
Este é o resuiiio ripido e rasteiro de tudo islo: o ofício da espada 6 em
si mesmo justo, constituindo uma oidem divina útil, a qual Dciis não quer
1 ver desprezada, mas temida, tiomada e obedecida, caso contrário não faltará
a vingança, conforme diz S. Paiilo em Rm 13.2. Isto porque ele estabeleceu
dois tipos de regiriic entre os seres liiiinmos: um esliii-ituul, através da
paliivra e sem a esp:tdli. por inteimédio do qual as pessoas se devcin tornar
piedosiis c justas, de tal forma que coni csia justiça elas alcancem a vida
1, eterna, sendo que essa justiça ele administra através da piilavra por ele dada
aos pregadores; o ou1i.o é iim regiriie sccular através da espada, para que
aqueles que não querem se iornar retos e justos para a vida etenia através da
palavra, não obtante sejam levados pelo regime secular a serem retos e justos
peiluite o mundo; essa justiça cle administra através da espada. Embora não
1 qucira cecompensar esta justiqa com a vida eterna, ele a desej:i mesmo assim,
para quc se mantenha a paz entre as pessoiis, sendo que cle a recompensa
coin heris temporais. Por este motivo di às autoridades taritos k n s , tanta
honra e poder, para que elas com boa ra7jo possuaiii estes privilégios eiii
relação aos outros, a fim de lhe senis admiiustsando esta justiça secular.
:* Assim o próprio Deus é o iundador, seiihor, ines1i.e' proinoior e rernuiierador
de ariihos os tipos de justiça, seja espiritiial ou corporal. Nisto nada há de
ordem ou poder huniano. inas trata-se de d g o puramente divuio.17
Visto que, no qiie tange o ofício e a função em si riiesmos, não há
qualquer dúvida de que se trata exclusivarnentc de algo justo e divino,
1 queremos nos ocupar agora das pessoas e do que é feito desta fun~ão.
Pois este é o ponto cmcial: saber corno e por quem deve ser usado estc
oficio. Aqui t;unbéin surge o probleriia de que, ao se procurar estabclecer
ccrliis regas e leis, aparecem tanlos casos e exceções que se toma muito
difícil ou até impossível formula- tudo exata c equitativamerite. Isto sucede
Lariibém com todas as leis, pois há casos que exigem uma exceção. E se não
sc pccmitir a exceção, seguindo cegamente a justiça do direito, esta seria a
inaior das injosliças. E como diz o pagZo Terêiicio: "A justiça niais rigorosi

.17 ( ' ~ , I I I ~ ' : < I V;ici~ti;i, I>.X4,:II XS, 4: X7.IX 30; 07.28-')4,J.
I I 'i 1. ( A . t i . l i .
C n maior iiijiistiça"". E Salomão, erii seu Eclesiastes4, também eiisiria que
iiio se deve ser demasia(lainentejusto, mas, ao invés, ocasiomilmente procu-
riir não ser sábio.
Para dar urn exeriiplo: Na recéni passada rebeliáo dos criiri~~oneses~~
constatou-se que alguns a acoinpaiiharam a contragosto, principaliiiente gen- s
ic abastada. Isto, porque a rebeliáo se dirigia tanto contra os ricos como
contra os soberanos. E de se supor que, baseado na equidade42, a rebelião
ii'To agradou a nenhum rico. Pois niuito bem, alguns tiveram que acoinpanhi-
Ia contra a vontade. Alguns também se deixaram obrigar, acreditando que
poderiam frear a multidáo louca e, eventualmente, impedi-la em suas inten- 1"
<;õt.smalignas com bom conselho, p x a que não praticassem tantos desiiian-
dos, para o bem das autoridades beiii como em prol dos scus próprios
ititeresses. Alguns também a acorripaiiluu~imcom autorizaçâo de seus supc-
riores. os quais consultarain primeiro. Assirii ainda pode ter havido outros
ciisos i&riticos. Pois iiinguém coniegue iiiiagiiii-10s todos, ncm prcvê-losna lei. 15
Muito bem, aí estA eiii?~oo direito a nos dizer: Todos os i-ebeldes são
culpados de morte. Na inultidáo insurgente hram enc»ntrad»s csses três
tipos de pessoas em flagrante. Qoe sc deve fazer com eles? Caso iiáo se fizer
iiiila exceção aqui, impondo o dircito severo e rígido, segundo o qiie ele reza
cxteriomente acerca do ato, esscs também precisam morrer como os outros 211
L~LIC,além do alo, apresentavam coraçáo e voiltade culpados, ao passo que
;yuelcs tinham corqXo úioce~itee boa vont?dc para com a autoridade; coino
iio caso de alguns dos nossos fidalg~inlios~~, os quais acreditavam poder
:irrebanhm algo para si particularinerite dos ricos, contanto que Ihes pudes-
ciii dizer: Tu estiveste no meio da rii~iliidão,é preciso acabar contigo. Assim 2s
praiiciirrun grande injustiça para coiii rriuita gente, derramaram sangue uio-
ccritr. fizeram viúvas e ófaos, além de lhes tirar a propriedade, e ainda assiin
sc corisiderarii da nobreza. Sim, claro, da iiobreza. Acontece que os excrs-
11ici1to.stambCm são da iiobreza e podem se jactar de provir do corpo do
iiohre, cmbora fedam e i130 teiiliarn qualquer serventia. Assim i:unb&in estes
~>ixlciiiser da nobreza. Nós aleináes sorrios aleriiães c pennrirircciiios aic-
ii~:ii:s,isto é, porcos e animais u-I-acionais.

1'1 Nii icxio original Das sinngcst recht ist das dergrossest vmchl, uma vzrsão alem3 pua
;i cxrircssão Surnnium jus. surnrna iniuiia. frcuüentemente citada riiir Lutcro e nrcrrnte nas

I0 ('I: Ec 8.17.
I I Siihrc cssi acontcçirnenl« e as wsicòcs <Ir1.utcm iia i>çasião.veia acinia 3 i ~ ~ l r o t l ~ ~IICI:~
<;Io
Por isso digo agora: nestes casos, coriio o exemplo dos três tipos de
pcssoas acima mericionados. o direito deve retroceder, prevalecendo em seu
Iiig~i- a eqüidade. Pois o direito declwn sccamente: A revolta merece a morte,
por constitui^. crimen lesae rn:ijestatis. por ser pecado contra a a u t ~ r i d a d e . ~
A eqiiidade, ciitrstanto, diz assun: Sim, prezada justiça, é assim cortio dizes.
Pode acontecer, eniremito, que duas pessmis pratiquem o mesmo ato, m;is
com coi-aqí>ese intenções distintos; como Jiidas, que beijou a Cristo Senhor
nti o que exteriomente é uma obra boa, scu coraqão, porém, estava
mal intencionado c atraiçoou seu Senhor através da obra boa, a qual, no
mais, Cristo e seus discípulos praticavaiti entre si dc bom coração&. Em
contrapartida. Pedro sc assentou a beira do Cogo com os servidores de Anás
c se aqiizceii junto com os ímpios, o que 1150e boriiJ7,ctc. Se vigorasse aqui
( I direito rigoroso, Judas tri-ia que ser uin hoiiicm piedoso, c Pedro, uni
velhaco. Eriiri'taiito, o coraçao de Judas era iiialvcido, o coração de Pedro ci-a
1 hom.4xPor isso aqui a eqüidade deve rcger o direito.
Portanto, aquelcs que estiveram com boas intcn~õesentrc os rrvoltosos,
iiio apenas sàci absolvidos pela erluidade, mas ainda são dignos de dupla
:21-;i~ir.
Pois são precisamente com» o picdoso Hiisai, o araquita, o qual se
,juiitoii ao Absalão rcvoltoso, fazendo-se iiiiii obediente, tanh6m por oidrin
dc IXivi, tudo isso com n intcnçio de ajudar a Davi c inipedir Absalzo,
conlòtme h ~ d oisto está muito bem descrito em 2 Sm 15.32-37; 16.16-19.
Exteriomente também Husai foi rebelde contra Davi, juntamente com Ab-
salao. Entretanto ele acabou merecendo paude elogio e glóriza eterna perante
Deus e todo riiundo. Se Davi tivesse maridado piinir o mesmo Husai como
.. rcvoltoso_ isto teria sido iim ato tâo I«uv:ívcl coiiio agora aquele praticado
por nossos piíncipes e fiddguinhos para coiii pessoas igualiiienie inocentes
c: ate berieriiéi-itas.
Esta virriide 011 sabedoria que sabc e deve dirigir e m e d i o direito
I-igoroso de acordo com os casos c que julga a mesma obra boa ou imá,
ilistiiiguindo riiire as intenções c os corações, chama-se em grego de epjri-
Ai,{. em latini, de equitas. Eu ;i cli;uiio de "eqiiidade". Pois, visto que o

'1.1 U . 'Xngler, em scu Der neu Leyen.~picgcI(Novo Espelho dos Leigos), publicado no mo dr
1514 em Eslrashurgo, traz a scguiiite deínição: 'Climeii le~emUiesiatjs é um criinc
colpi~soou urna calúnia de alguém çonlra a autorididc. iniperador, rei. pniicip ou riutro
<Içsiux senhoris e wnlra seus prii,ilCoios, segurariqa <iii comitiva. Ddse LmiErn por incici
<li. ti,iq;i<i. aju<la,conselho, inão xi~i:ida,ciilrexa :tu inimiga h dados sigilosos. hoslili<l;alv~
iiii iihrliiic~ conira ti aiiloridadr cm ulna cidade. [O ciilpurlo] deve sri- pcsailamcnic puliiiliv
ctu \LI:( I h o ~ ~ r c<>rpo,
a, vicia i lxttri1n6nic ~ 1 . ju5ri$'1
d ir?iperial".
.I? MI ?(i ..1<1.
.llt '1: I , < 7.15; I<,,, l(>,lf,: I (,,, I(,.?[l.
. I / ('I'.MI ' ? l ~ . l ~ ~ l ~ l 5 .
IS 1'1 I Siii l t i 7
<;iiera dos Camponeses
dircito precisa e deve ser fixado de forma simples, com palavras secas e
hreves, ele não pode englobar todas as situações casuais c impedimentos. Por
isso os juizes e senhores precisam ser prudentes e retos, medindo a eqüidade
com a razão e Fazendo o direito prevalecer ou rctroccder de acordo. E como
iim amo que prescreve à sua criadagem o que deve fazer neste ou naquele 5
dia. Aí está o direito: quem não o fizer ou cumprir sofrerá seu castigo.
Acontece que alguém pode adoecer ou ser impedido sem culpa própria. Aí
cessa o direito c seria um amo colérico aquele que quisesse punir seu servo
por causa desta omissão. Por isso todos os preceitos referenles ao ato preci-
sam e devem estar sujeitos à equidade como sua mestra, por causa das I ~ I
iiiúmeras, incertas e variadas situações fortuitas que podein surgir, e as quais
iiinguém pode descrever ou formular com antecedência.
De acordo com isto nós, agora, também dizemos do direi10 de guerra49
ou do emprego da função militar no que se refere às pessoas: a guerra podc
scr levada a efeito por três tipos de pessoas, ou seja, primeiro: uma pode 15
cstar lutando contra o seu par, isto é, nenhuma das duas pessoas está
comprometida ou subordúiada à outra, mesmo que uma delas não seja táo
grande, importante ou poderosa como a outra; segundo: quando um superior
kiz guerra a seu subordinado; terceiro: quando um subordinado luta contra
seu superior. Ocupemo-nos primeiramente do terceiro caso. Aqui vigora o 211
(lircito, quc diz: ninguém deve combatcr nem lular contra seu senhor supe-
rior; pois à autoridade se deve obediência, honra e temor, Rm 13.1;4. Pois
(~iicrngolpeia acima de si mesmo, caem-lhe as lascas nos E como
diz Salomão: "Quem atira pedras para o alto, elas lhe caem sobre a cabeça"
[l'v 26.271. Este é, em suma, o próprio direito que o próprio Deus instituiu 25
c que foi aceito pelos homens. Pois isto não se coaduna: ser obediente e
opor-se lutando, ser súdito e não querer suportar o senhor.
Uma vcz que dissemos, entretanto, que a equidade deve ser a mestra do
direito e, quando a situaçáo o exigir, dirigir o direito, impondo-o ou permi-
iiii(1o proceder contra o mesmo, pergunta-se, agora, se também pode ser iil
i.iliiii;iíivo, ou seja, se também pode surgir a situação em que se possa ser
iI<.solicdiente2 autoridade, combatê-la, destituí-la ou prendê-la, contrariando
t.sii. ilircilo. Pois em nós seres humanos existe um vício chamado fraus, dolo
t ~ i i iisiiicia; quando a mesma ouve quc a eqüidade está acima do direito,
i.ttiili)riiicfoi dito, ela fica completamente hostil ao direito, fica maquinando $5
(li:) c iioite como, a pretexto e sob aparência de equidade, ela se torne
iiiic,icssante e se faqa vender com a finalidade de anular o direito e para que
rI:i ~icahesendo a queridinha que o tivesse feito bem. Daí o refrão: ''1nvent~1
Se Também Miiitxes Ocupam Função Bem-Aventumki
lcgc, inventa cst fraus lcgis". Se aparccc uma lei, logo aparece também ;I
dona fraus.
Os gentios, como nada soubessem de Dcus, também não reconheceram
que o regime secular é ordem de Deus (pois o consideravam destino e ação
5 humanasjl); nele intervinham sem pestanejar e não somente achavam eqüi-
tativo mas também 1ouvável depor, matar c desterrar autoridades imprestá-
veis e malvadas. Por isso os gregos prometiam, com leis públicas, presentes
c preciosidades aos tiranicidas, isto é, aqueles que esfaqueassem ou matas-
sem um tirano.52 Os romanos seguiram esse exemplo amplamente em seu
1 impéno, assassinando eles mesmos praiicamente a maioria dos seus impera-
dores, tanto é quc neste mcsmo louvável impéno quase nenhum imperador
acabou sendo morto pelos inimigos [de hra]. Deixaram poucos deles morrer
na cana ou de morte natural. Da mesma forma os povos de Israel c Judá
também mataram e assassinaram alguns dos seus reis.j3
15 Estes excinplos, eiltretanto, não nos bastam, pois aqui não interessa o
que fizeram os pagãos ou judeus, mas o que é justo e eqüitativo, e isto niio
somente perante Deus no espírito, nias também dentro da ordem exterior
divina do regime secular. Pois se ainda hoje ou ainanhã um povo se levan-
tasse e depusesse ou matasse seu senhor, muito bem, estaria feito, os senho-
' 1 res tciiam que conlar com a possibilidade de que Deus assim o tivesse
disposto. Mas isto ainda não significa que se tivesse agido de forma justa c
eqüitativa. Até agora não deparei coin nenhum caso em que tivesse sido
eqüitativo, tampouco posso imaginar algum atualmente. Os camponeses rc-
voltosos alegavam que os senhores não queriam permitir a pregaçiio do
,, Evangelho e que eles estariam explorando o povo pobre, razão por que se
teria que d e d á - l o s . Mas a isto já tenho dado a resposta dc quc, mcsmo quc
os senhores pratiquem injustiça, não seria equitativo nem justo também
praticar a injustiça, ou seja, ser desobediente e destruir a ordem de Deus, ;I
qual não é nossa; ao invés, deve-se suportar a injustiças4. E quando iiiii
príncipe ou senhor não quer tolerar o Evangelho, procura-se, entZo, outro
piiricipado onde seja pregado, conforme diz Cristo: "Quando, porém, vos
perseguirem numa cidade, fugi para outra" [Mt 10.231.
Quando um príncipe, rei ou senhor ficasse louco, seria equitativo dep6-
10 e inantê-lo sob parida; pois agora não se pode mais considerá-lo um scr

51 ('1:. 11. cx., Arirlóreles, Poiific~i3, 9.


i.! lii~iAiii~;ir. iú ;inics rlii 6noç;i de Súlun (650-558 a. C.). iiraiius haviam sido haiii<li>s. <,
1ii;iiiicíilio cr;i c<iiisidrr;irlo iiiciis iiobri dcntrc as atos dc ciddania, c os 1ir;uiicid:is c scii-
tli.iccii<lciiic~crititi lhi>iii;iilov c rcc<iiiipciis;idos.
'1 i ('I'..ciiiic <>iiir:isI>:ISS:I~CIK I I<\1527i.; 2 Ils 12.21s.; 2 <'i 24.25s.
'7 I V,,,;, ;acict~:i 1,. 312.15 i 1 I , 1'1 <, l?l>,l.l20.
Iiumano, uma vez que se foi a razão." Então, dirás, um tirano hrioso
iiaturalmente estará louco ou deve scr considerado pior que uma pessoa
iiisana. Pois ele causa inal muito maior, e t ~ . 'A~ resposta, neste caso, é um
i;irito difícil, pois este argumento parece ser de gande segurança e tende a
impor-se com base na cquidadc. Não obstante, manifesto minha opinião de 5

clue o louco c o tirano não sáo casos ,iclênticos. Pois o louco não consegue
krzer nem tolerar nada de raciorial. E um caso perdido, urna vez que se
apagou a luz da razáo. Um tirano, entretanto, ainda faz muito; assim, por
cxeinplo, ele sabe quando está agindo injustamente, sendo quc consciência e
cogniçZo ainda estão prcscntcs nele, além da esperança de que ele possa li]

i~iclhorar,aceitç conselhos, aprenda e aja de acordo. Nada disso 6 possível


:v) louco, o qual é corno uma tosa ou pedra. Ademais ainda se apresenta no
liirido uma conseqüência com exemplo pernicioso: caso se considerar equi-
iiiiivo assassinar ou exilar tiranos, cstc prcccdcnte abrirá alas a uma arbitra-
iictktdc gcrd dc se difamar como tiranos aqueles que não o são, sendo 1s
i;iiiihérn estes assassinados coiiforme dcr na telha do populacho. Isto nos
~Iciiioristramuito bem a história de lioma, ao longo da qual niataram algum
Iioiii imperador pela simples raráo de ele não ser do seu agrado nem realizar
;i sua vontade, deixando-os ser scnhorcs c passando por scu palhaço. Assim
\iiccdcu a Galba, Pcrtinax, Gordiano, Alexandre"' e outros mais. Não se deve 20
iI<.ixaro populacho apitar dcrnais, senão elc eridoidece. Tirar-lhe dez cevados
i . iiiais eqüitativo que ceder-lhe uni palmo ou mesino uni dedo apenas num
c:iso destes. E é melhor que os tiranos lhe f a p m ccm vczcs injustiça quc
clcixi-10s fazer injustiça ao tirano uma única vez. Se é que a injustiça precisa
scr sofridai8, é preferível sofrê-la por parte das autoridades a que a autoridade 25

;I sofra por parte dos súditos. O povaréu não conhece limites e dentro de cada
i i i r i Iiá mais que cinco tiranos. E melhor sofrer injustiça de tim tirano, isto é,
iI:i ;iiiiondade, do que soíier injustiça dc inumcrávcis tiranos, isto é, do populacho.
Iliz-se que em tempos passados os suíços também assassinaram seus

''I 'I'. I ) i i 4.29,33. O uso da razão diferencia o ser humano dos minxiis. Por conscguintc, a
iI<.l~i.iiiicia ineiital cxçliii de rzsponsabilidade. Veja a respeito CorpIC, Decr., 2" pars, cauu;i
1'1. ilii I. cai,. 3.
'iii Vi>:i :iciina p. 99.20-28 c p. 102.10-21.
' i 1 7i.r vi,) Sulpício Gzrlba, inipcrador r o m m de 68 a 69, roi assassinado pela guarda preturii-

que fcr o rncsmo com Y Hilvio Pciuriax,iinperndor rumanu em 193. M. AniiTnio


ii;i.
(;oi<li:uio 111, imperador roiiiano dc 244 a 249, era bastiu~tt.popular e foi assdssiiiiiilr~por
lilipc Aiahs, quc o succdcu tio podcr dc 244 a 249. M Aiirilio Scvcro Alcx;m<hc.
iiiil~cr:'d«rroiixuio dc 222 ti 215, ficou famoso por seu rigor itico e ;iuslcrirkidc. tcndo sid<\
;iw:issifi:iili> "<ir soldad<is amrfiiixidus sob a li~lcriu~ça dc M;inirnino Tlriíin. iiiiiiri-;iili>r
< l i 215 a 238, quc [iirwicihii dc linh;igcin c;inip<iiics;i.
ii>iii;iii<i
',S i 'I'. M1. 5.3X.41: I ('<i 0.7.
Se Também Militares Ocupam Fun~ZcBem-Aventur;iil;i
senhores e sc libertaram a si mesmos5', ctc. Recentemente os dinamarquesçs
expulsaram seu rei.#' Em ambos os casos se alega que a causa teria sido a
insuportável tirania que os súditos estariam sofrendo e assim por diante.
Dcclarci acima6', entretanto, quc não estou h-atando aqui daquilo que fazem
5 ou fizeram os pagãos ou do que seria comparável a estes exemplos e casos,
mas trato aqui daquilo que se deve e pode fazer de consciência tranqüila para
que se tenha certeza e segurança dc que este procedimento em si mesino não
seja injusto perante Deus. Pois sei muito bem e li iião poucas histórias de
como muitas vezcs os súditos mataram ou expulsaram suas autoridades,
li] coino o fizeram os judeus, grcgos e roinanos. E Deus o deixou passar c
permitiu que, não obstante, crescessem e progredissem. Mas em última
análise a coisa sempre acabou na sarjcta. Isso porque por fim os judeus
foram oprimidos e aniquilados pclos assúiosh2;os gregos, pelo rei Filipeh3,e
os romanos, através dos godos e lombardos". Os suíços na realidade também
15 pagaram caro até agora, com muito sangue, e ainda continuam pagando; é
l'ácil deduzir em que resultará. Os dinamarqueses também a i i a não yassa-
ram por tudo. Não enxergo, entretanto, regiinc mais constante que aquele em
que a autoridade é respeitada, coino no caso dos persash5,tártaros e outros
povos, os quais não só rcsistuam aos romanos ou a qualquer outra potência,
' mas aniquilaram os romanos e muitos outros países.
Meu argumento c minha inotivaçio em tudo isto é o lato dc Dcus dizer:
"A mim me pertence a vingança; eii retribuirei" [Dt 32.35; Rm 12.191. Da
mesina forma: "Não julgucis" [Mt 7.11. Além disso, iio Antigo Testamento
é proibido comAmuitorigor e freqüência que ainda sc amaldiçoe ou fale mal
' da autoridade, Ex 22.28: "Não amaldiçoarás o príncipe do teu povo". E ein

59 Os tciritói-ios ligados à CoiiTuIera$õ-o Helvélica, crijos primórdios rcrnontlm à última


dfcada do s6c. XIII, foram prugrçssivamenie alcan~iu~do sua autonomia diirantc os dois
sfculos posteriores, giiando cnfrcntdi-am por rzplidas v e m o poderio milita da dinastia
dos Ilahshurgo, da Austria. Ao quc paicçc, Lutçro se baseia aqui no relato de certa fontc
documental - posteriorni$nte considerada não fidcdigia , que vincula o assassinato do
rei Alhertc I, duque da Austria, c111 1308, às lutas emmcipalórias dos três cantócs dc
Schwyz, Uri e Unterwalden contra os Habsburgo.
hO Em 1523, CriFrimo U, que desde 1513 governava os trEs rcinos csçdndinavos, teve que
abiuidonar a Dinamarca, expulso pelos dirimarqueses aliados à cidadc ha~szátiça iIç
L ü l ~ ç kque, insalisfçilos com sua alitude vacilante ein rela~ãoà Reforma, haviain afcrccido
< lroiin
i a seu tio, Fi-~.derim von Holstein. Lirtero teve um encontro pcssoal com Cristiwn
c pi-cgou cm sua prçseiiça.
01 Vqi;i ticima p. lfu1,12-365.11) ç 373,15-18.
02 <'L 2 Rs 17.1-6.
03 F;Iipc 11, xi da Maccdiiiiizi (3Sh-336 a.C.).
(4 O s lo~rih;ilili>s pciictr;ir:il!i i ~ i 5x6 i !ar iiiirtç da Itália e os g o d o coiiquistriciin Ri>~ii:isiili i)
i:ii,ii;i,i<1ii <1c Al.iii<,~I c,,, 4111.
115 l J ; ! , i <I,~ rei 1xrs:t clc SL.? ;L . l X O :b.('.. lcvc jy:indc k i t o crn sua puIí1ic;i cxp;~o\ic~~~i~ta,~ & . I Y
: t < : t l x t ~ ~~ o l ' c c )~
~ ,~
~ :~
I C~I ~<l C
I~
< A. I~
I L > I : ~ VI I ~ SI I I I A Y con1r:t (;rCcit~.
Guerra dos Canipunres

1 Tm 2.1s. Paulo ensiiia os cristãos a rogar pellis autoridades, etc. Tniiibém


Salomão sempre está eiisinandoh" em seus Provérbios e em Eclesiastcs a
obedecer e sujeitar-se ao rei. Ninguém pode nega que, quando os súditos se
opiiem às autoridades, eles estáo se vingando a si mesmos, hzendo-se de
juizes a si mesmos. Isto não só contraria a ordein e o mandamento de Deus,
o qual quer o jufzo e a vuigança ele próprio, mas também todo direito e
equid~denatural, confoime se diz: "Ninguém deve ser seu próprio juiz"; e
por outra: "Quem devolve o golpe. não procede con.etariiente".
A essas alturas talvez dirás: "Sim. coiiio se noderá tolerar tiido dos
iiraiios? Tu Ihcs coiicedes demais, e através de Semelhante doutriiia sua 111

~ ~ i l d a r apenas
le fica ~iiaiore mais forte. Deve-se suportar que mullier e
fillios, corpo e bens de todo mundo estejam em perigo e caiam em desoma?
Quem fará qualquer coisa direita sob estas condições de vidal" Eu respondo:
A quem estou ensùiando, afinal, nâo és tu, que queres Sazer o que te agrada
e o que te der iia telha; vai atrás dos teus intentos e inata todos os teus 15
~cnliores.Vê Iá como tc sucederá. Ensino apenas àq~ielesque gostariam de
:%ir corrctameiite. A estes eu digo que não se pode fazer oposição à autori-
dade com violêilciii e i-ebelião, como o lizei-aili os romanos, gregos. suíços e
diiiamarqueses. Ao invis? existe outra maneira. Ein primeiro l u g a a seguin-
te: ao veres que a autoridade i'= tão pouco caso da salvação de sua própria 20

:iliiia a ponto de soltar sua fúria c praticar injustiças, que te imporlas que ela
iirruuie teus bens, teu corpo, tua mulher e teus filhos'! Pois à tua alma ela
inão pode causar prejuízo, prejudicando mais a si mesma do que a ti, uma
vcz que está condenando a sua própria alma, ein conseqüência do que
iniiibciii terão de se arruinar o corpo e os bens. Na0 achas que esta vingan~t ir
.,
~ i t:i suficiente'?
Segundo: Que faias se esta tua mesina autoridade estivesse em guerra,
ii:i ilual não somente teus bens, lua mulher e filhos, inas tu mesmo tanibkm
;ii.;ih:ii.ias destroçado, preso, queimado, morio por causa do teu seiilior'?
M;it;irias o teu senhor por causa disto? Quanta geiile excelente não perdeu o 211

iiiilxl:idoi- Maximilianoh7em guerras durante toda a sua vida! Não obstmtc,


ii;i<I:isc Ilie fez. E caso ele os tivesse assassinado tiranicamente, naturalmente
~;iiii:iissc tçria ouvido algo mais terrível. Muito hcm, mesmo [não1 sendo
<...i<. o <.:iso,ele não deixa de ser o motivo de terem sido mortos. Pois foram
:i~.i:i\\iii;i(lospor causa de sua vontade. Qual c a dikreriça entre um lirano 15

ct>lt.iic.t~ c iiiina guerra perigosa que vitima muitos homens excelentes. hon-
i;itlt,s c. iiioceiites? Sini, uiii tirano malvado 6 iiiais suportável que uma Suerr;i

iiii I'" 21.21; FL 10.20.


li/ i\l.i\iiiiili;rii<> 1 (1459-1519), eslcvc :i ficiitc do Sacro IinpCrir> R<iiii:irii>-<;cri~i?~iic<, ilcilc
~ ; I S111ui1:~sgucrr~tsdc ~ L I Cp;irlicipot~, c w w c g ~ t icor~~oli,l;u
! . l i ) \ . l ' , ~ ~n~cio ~~ jx)biy;$<~
Ili-!,i,iiii,liic;i < L i i;is;i CIOS Ikilisliiiip~.

770
Se h b i i n Militares Ocupam Funçáo Bem-Avcniiil;al;i
maligna. Com isso terás que concordar, caso interrogares tua própria razão c
consciência. Acredito perfeitamente que gostarias de ter paz e dias bons. Quc
será, entretanto, se Deus os tirar de ti com guerra ou tiranos? Calcula c
escolhe, então, se preferes guerra ou tiranos. Pois mereceste a ambos e iens
i esta dívida para com Deus. Mas nós somos do tipo que quer ser malandro c
pcmmcccr em pecados. O castigo pelo pecado, entretanto, queremos evitai-,
ainda nos opondo e defendendo nosso pecado. Nisto teremos sucesso como
o cachorro que morde em espinhos.
Terceiro: A autoridade é miilvadal Muito bem, então temos aí Deus, que
1 tem fogo, Qua, ferro, pedra e inúmeras maneiras de matar. Quão rápido não
estraigiila clc um tirano? Ele realmente o faria. Mas nosso pecado não o
suporia. Pois assim diz ele em Jó 34.30: "Por causa do pecado do povo, ele
lãz uma canalha governar". Podemos ver perfeitamente que uma canalha
está no govenio. Mas o que ninguém quer ver E quc ele governa não por ser
$5 uma canalha. - Tão cego, perverso e louco está o mundo. Por esta razão
tanbé~nsuccdc coino aos camponeses na rebelião, que queriam punir o
pecado da autoridade como se eles mesmos fossem completamente puros e
urepreensíveis; por isso Deus lhes teve que mostrar a trave em seu olho, para
que se esquecessem do argueiro do outro".
Em quarto lugar, os tiranos correin o risco dc, ab-avés do desígnio de
Deus, seus súditos se insurgirem, como foi dito, e matá-los ou expulsá-los.
Aqui cstanos ensinando àqueles que querem agir corretamente, cujo número
é muito reduzido. Ao lado destes continua existindo a grande multidão dc
gentios, ítnpios c não-cristãos, os quais, caso Deus o determinar, resistem
,, injustamente à autoridade e causam desgraça, como tantas vezes o fizerani
os judeus, gregos e romanos. Por isso não podes licar te queixando de que,
através desta doutrina, os tiranos e as autoridades se sintam seguras eiii
praticar o mal. Não, é claro que não estão seguras. Está certo que ensinamos
no scntido de ficarem seguras, tanto faz se Deus os leva a praticar o bem ou
1 o mal. Mas nós não Ihes podemos dar ncm garantir essa segurança, pois n5o
podetnos Forçar as inassas a atender à nossa doutrina, se isto não for dado
pela graça de Deus. Podemos ensinar o que quisemos, o mundo nem por
isso deixa de Iazer o que quer. Deus precisa ajudar e nós precisamos ensin;ir
:iquclcs que de bom grado agiriam bem e corretamente, para o caso dc
cvçiitualmente poderem ajudar a conter as massas. Com a nossa doutrina os
siipcriores estão tão seguros como sem a nossa doutrina. Pois infelizmeiitc
; I C ~ I I ~ C Cque
C tua queixa é desnecessária, u n a vez que a maior parte do povo
iilio tios obedece, estando somente com Deus e nas mãos de Deus a prescr~
.: d;i autoridade, da mesma [orna como foi cxclusivaniente ele queiii ;I
v.,i$.io
( iiiçrra dos Cainponcses
ordenou. Isto kiinbém experimentainos na revolta dos camponeses. Por isso
ii"io te deixes levar ao engano de que a autoridade é má. A puni~àoe a
dcspiqa ihe estão mais ~ir6xirriasdo que poderias desejar, conCorme a
coiilissõo do tirano DionísiobY,dc que ele vivia como que com uma espada
<Icseiiihainhadapendendo sobre a sua cabec;a presa a um lio de seda, tendo 5
cicbaixo de si um fogo ardente e abrasador.
Quinto, Deus ainda tem outra forma de punir a autoridade para que nZo
icrihas a necessidade de te vingares tu mesmo. Ele pode invocar autoridade
cstrangeiu. como os godos conlra os romanos, os assírios coirtra Israel, c t ~ . ' ~ '
Assiin, por toda parte já há vingariça. puniçáo e perigos suticieiites ameaçan- 11)
(111 os tiranos e as autoridades. E Deus 1130 os deixa serem maus trniicliiila e
:ilcgremente. Ele os segiie tlc perto, siiii, cstií no scii rc<lorsegurando-os 1x10
11i.io c entre as esporas. Neste seritido, ainda se marlifesta o direito natural
~~iisiriado por Cristo em Mt 7.12: "Tudo quanto qucrcis qiic os homens vos
I':~r:;itii~ assim fazei-o vós tambéni a eles".71 Pois é claro que jamais um pai 15
kiinília gostaria de ser expulso. morto ou arruinado pelos seus por causa
i l i . i i i i i desmando seu, principalmerite se o i'izessem por petulante c violenta
iiiiciiitiva própria para se viiigar a si mesmos c serem juizes eles mesmos,
:.c.iii queixa prévia perante outra aiiioridade superior. Iguulinente injusto
iIi.vcria ser também que qualqucr síidito agisse coritra seu tiraio. ?i,

Neste sentido, preciso dar um o u dois exemplos fáceis de se giiardar e


t i i i : i ohservaqão de grande proveito. L$-se iicerca rle uma viúva que esiava
:I 01;ir ciicarccidamentc ciii f;ivor de seu tuano, que Deus o deixasse viver
iiiiiiio tempo, etc. Ouvindo isto, o tirano ficou surpreendido. pois sahia muito
I~ciiiq ~ i clhe Iizera grande mal c qiie cra estranha esta oraçio: pois a oração '2
1.0111~1111pelos tiranos nZo costunili ser deste estilo. Perguntou-lhe por que
(ri-;iv;i assim em seu favor. Ela respondeu: Eu possuía dez vacas quando teu

'íi~,ii>,lii,~i.i,l:uiaeV,21. Diuiiísiu Ií405~3(>7 a.C.), tlrmuio de Slraçiis:i.


li1 ( ' I . ;iciiii;i ,I. h2 C Cd.
I1 I # i t c . i c > ;issiiiiiiu :i tiadicáo tcnninológica rliic idciitificava a Ici natural cuiii :j icgia áurca
i h11 /.I.?: L*. h.31). iiias náo 8s cnnfundili uin:j çoiii :j aiiun. A rcgci Aurca 1120 sci-ia a
1"r r 1 1 i q t i < r iinia Ici cspiritudl, pois cl;i iildcna iiina ubi;i cxtcma c talii:l a própria pcssua como
i i t c < l i c l : i <Ic scii comportamento. Cristo. no ciitanto, a tcria intcqicct:ido cspiritu;ilmente,
iiiJi, : i # i i l < i ;i.. pcssox cristás com<, dcvciiain usá-la. Assiin, para Lurcro, a regra áurea
r i , i i i ~ ~ ~ c . < . i i < l i , espiritualmente
l:~ siria a focma do niandamcnto do amor 30 pnixinio, prcscnte
8i.i 1 k.i i i ; i i i i i ; i I . iluc pertenceria ao reino de Cristo no âmhito da niiturcza corrnnipida. Ela
,i.ii.i i i i i i i i < i 11i:iis do que uma regra para ordcnar o hcm-cstar social, a stihci, scria lei

i ~ . ~ ~ w ~ i C\ ~ I. Li Il W I I ~ O t~fi~rnaçáo sobre a pessoa interior, não idcntificAvc1 pcla iiváo humaiia,


181.i.. 1 . 1 8 , .i,iiiciile pela co!npreens<To naqcida da f6. Sohre o assunto cf: IIOLL, Kari.
ii.~.rii,iiii.lii~ Ariliiirzc zm Kirclier~~c.~cl~irl~~il, v. 1, Tuhilige~i,1932. h. cd.. p. 266, 11. I ;
I I1 '1 'I< I,.] .. IOII:!!IIICY. 1,cx cl~arir;,lÍ~: C;JW , j u r ~ ~ l Í ~~J~l~r:s!~cl~u~~g
~cl~c i;Irr <I;!\ I<ccl?l;r) clcr
l l ~ c ~ o ~l Ic ~~ J~ Il~,~i~~Tl~Il i~~ ~ Miioclicn,
~x. It>S2.17.67: S<:lIl<EY,l l ~ i r ~ ~ . ~ l l(;,~lrl~vtv
o r s ~ . l<c,gcl
I I l l I I l i ~ lI .: ' I l l i l l l i h l i i i , v , I i l i . 1 , 711.
i I i//. 1'1.
S r Tmbém Milii;ui, 0ctip:1iii Função Bem~Avciiiiii;iil;i
av(i vivia: elc me toiiiou duas. Então roguei contra ele, para que niorressc i.
:eu pai se tornassc serilior. Qurindo isto acoriteceu, teu pu me toiiioti trèh
Mais uiiia vez orci para quc hi te tomasses senhor c ele riiorTesse.
Agora me tiraste quatro vacas; por isso agora rogo em favor de ti. Pois tem«
que aquele quc vier depois de ti nie tirc a última vaca junto com todo o resto
que 1 ~ 0 s s u o- . ~ ~Assim os letrados tambérn ainda conheccm uma Sábula de
um incndigo que tinha muit:is feridas, cheias de inoscas que o picavam e
siigav:ini. Achcgou-se-lhc tinia pessoa conipssivn que lhe quis ajudar e
cspantou dele t»d:is as moscas. Elc, ~ m r i m rcclamou
, e dis.u: Oia. que estás
Iàzcndo'! Estas moscas estavain praticamente clieias e satistèiias, e eu n;io
iiiiiis me preocupava tiiliito c<imelas. Agora as inoscas Samintas tomar5o sei1
lugar c vão nie atoniieiitiir iiiuito m i ~ i s . ~ ~
Entendes cstas fábulas? Trocar as aiitoricladcs c corrigir as aiitoridades
são duas coisas tão distantes uma da outw como céu e terra. Ti-ocar pode ser
1 lacil. Corrigi-Lis é difícil c perigoso. Por quê? Isto n2o depende da nossa
vontade nem está no nosso alcance, inas depeiide iiriicamente da vontade e
da ni3o de Deus. A popul;iqii eilloucluecida náo se preocupa muito cm coiiio
melhorar as coisas; qtier apenas que mudeni. Se piorarem, jb qiicrem trocar
dc novo. Assim ganliaiii vespas em troca de moscas, e por úItim<i. rnnrim-
boiidos em lugar das vespas. E como outrora os sapos não queriam o tronco
por senhor, ganharam eiii troca a cegonha7< iqiie Ilies dava bicadas na cahcça
e os devorava. O povo erilouquccido é uni caso iii;ildito e perdido, que
Nngiiéiii coiiscguc governar seriãu os lirmos. Eles são o porrcte atado ao
pescoço do cr~ctiorro.~~ Sc Iiouvessc iiiniirira mcUii)r de governá-los, Dciis
,- tamheiii teria estabelccido oiitra 01-dem sobre eles, qiie não a espriila e os
tiranos. A espada mostra milito bem que tipo dc gente ela icin debaixo de
si: tudo canalhas iiivcteradas, sempre que tivcrem uma chance.
Por isso dou o coriseiiio de que todo aqiiele que de consciência ti-:iiiquila
qiiiscr coniportar-se c agu corretamente iieslc sentido, que se dê por satisfeito
coiii as autoridades seculares e não aatntc contra clas, considerando que a
autoridade sccu1;ir tiao pode causar prejuízo 3 aliiia, como é o caso corri os
hlsos mestres espiritu;iis. E segue nesle ponto ;IL> reto Davi, que sofreu tniii;i
violêncici por parte do rci Saul coiiio jamais poderás sofrer, e iião quis.
enti'etaiito, itteritar contra seti rci, mesriio qtic tivesse repetidas oportunidadrh:
:. ao invés' ele o dcùtou nas iiiáos de Deus. zibsteve-se entliiaiiio Deus ;issim o

71 C1: (;e.sia Romnniviiin n. 53 (148), e<!.p. II. Ocirc~lclzy.reimpr. Hildriheim, 1963, p. 340.
V+ ianibini WA 51,255,IZs.
73 ('1. Aiistiiielrs, Rlirr~iiic;~
2, 20; .l<isero,Anriqiii1:irc.s 18, 174s; <?esl;, Romnrioi~ii~i
li. 51
i 156).
. Vcki
., taiiihéiii 551.755.13s.
7.1 l ~ . fi11>,,1;,c
~ ~ 44~ c ~70. ~ ~ ~ ,
7 5 lKrlci?iici;i ; i iiiii ii.ciirhii i i l i l i , ; i i i i i l):!ra lio,il:ir <>r~ i i i > v i i i i v i i l i > udc iiln c;ii,. pelo i ] t ~ : l l \i.
~u<.r~cli:i
iiiii l".cl:iv,i < l i . I I : # I ~.I \L.(# ~ > C . * \11111.
<I~ < I .1,111 \LI;!\
Il:lli:( ~pcli~its
C:IIO I,<II,\C.
quis e o sofreu até o fim7" Caso surgir uma guerra ou disputa contra o teu
siiperior. deixa f z e r guerra e disputas quem qiiisei-. P~iiscomo está dito: Se
Deus iiáo contivcr a multidão, nós é que nao o poderemos. Mas tu, que
ilucrcs proceder hem e manter tranqüila a tua coiisciêiicia, deixa de lado
:trmadiira e am1;i77 c não vás 2 luta contra teu seiihor c Ijrano. Antes suporla
tudo que te possa suceder. A multidão que o tizer, eiitrcku1to. haverá de
.
encontrar seu juiz.
Sim, dirás, como será se uiri rei ou senhor se compromete com seus
súditos, através de juramentos, a goveniar de acordo com artigos prcviamen-
tc Iòmulados, mas não os cumpre, teiido. por isso, a obrigação de largar o 111

!:~ivcino~~, etc.? Coiista que o rci da Franpi deve governar de acordo com os
parlitmeritos do seu reino, e que o rei da Duiamarca também é obrigado a
lirestar jurainento sobre artigos especiais7', etc. Aqui respondo o seguinte: é
i.qiiii:itivo e ótimo que a autoiidade govenic scguindo leis e as apliquc, em
vi./, de reinar de acordo coiii o arbítric próprio. Acrescento, porém, ainda, 15

I I I I C . iirii rci não somente se çompromctc a obsemar artigos ou o direito do


11:ii\,iiias o próprio Deus também lhe ordena a scr reto e ele mesmo ta1nbí.m
I!ii>inctesê-10. Muito bem, e se agora um rei dcsscs nZo observa nenhum
~l~.\hch poilto% nem o direito de Dcus, ncin o direito de seu país? Deverias
i i i :ilcritm coiitm ele por isso, para julgá-lo e toiiiw vingança contra cle? ?o
Oiiciii it. iiiaiidou? Scna necessário que outra aotoridadc intciviesse entre
v i % quc iiitci~ogassea ambos e condenasse o culpado." Caso contrário iião
~.sc:iparásà sentença de Deus, 113 qii:il ele diz: "Minha é a vingança": c
:iiii<l;i:"Náo julgueis", Mt 7.1.
Como isto Loca o exemplo do rei da Diiiamarca, expulso pelos cidadãos 23

<I<.I .ulicck e das cidades litorâneas em colnlioração com os dinamarqueses*',

10 ('i: I Srii 24.1-7; 26.612.


I I N<,Ii.11~~original hwli~chorid welir, cxprcssio que desigiia a toialidadc do armamento de
iiiii giiçrleiro.
li; I .iiii.ii, pciisa nu decreto capit~ilar(U!IhU-apiiidatioii),isto 4 urna concessio feits por um
;I sua
,~cni.ii~:iiiic asscmhl6ia cletiva e que deveria sei- assumida por cle oii por seu sucessor
i i c t itc>iii,. Assirii, por cxemplo, F~denco,o Sibio, pi-íiicipc-eleitor da Saxônia, baseixi
i i i i i i l i , :ii,ii.ciic iiilni dccrcto capirular sua apeIa$ão p m cliir Liitcro se apresentasse diante do
iiii~x-~.t(Iiti (':irlo~.~Vem 1521 durante a Asscmhlfia dc \Vonii~.apesar de o mongz agixti-
i i i . t t w ~.ii.iiiii;i i ú cstur sujeito à çxçomuiihão (cf. acima 11. 292, ri. 31 e p. (121)121-126).
1'1 i i , . . i , r i , s , 1. li, ila Dinamarca de 1523 a 1533, foi d>rig:ido a prestarjurainenlu de p i i ~ i c ~ i o
\ rnt>hn:za,
s u , , ~ I I I ~ > I L > (I;,
: . t i i 1 , l i i < i i i , :t ~i.sl\ii.ticianie<lievai- do L I U Lutcro ~ sc distancia aqui - ~ i i comu l Içgal, \<,h
,I, 1% iiiiiii.i<I;i\ i<3ii<ll$íics.a ;i$I~i iinil:itrr.ii c<ilitr:ixovcrnaiites tir5riicos.
' : i 8 i 8 , i i i i i t i . ( i 0 ( ' o 1 1 1 " ~ i d ~ i d eI s~ I O ~ ? U I C ~- S " 110 texto original Seecre<lir- Lutcni I;"
i i i ~ . i i i .i.. ri<l;ii!rh iki Liga H,uisc:iiica. Náii ficn clam aqiii. o que ele está qiiirciidi, cli7i.i-
, t i i t . i # ( < i l i < c i . I: r<,rl,, que shbk d:i bmt;ilid:idc coiii que ( i r r l , d n o 11 1ciil;ii;1 pir?ccv:ir ;i
i i i i i ~ l . i ~ l tlti..
< ii?s i.\t;iil<,\ csc;iiiiliii;ivos, i>iluc / ' I C<IIII ~ I I C~ ~ ~ i ~ t ~C
I ,X
i sC
\ çC~.rrc:t
~ I ~(11,~ Ll l XI i.
ii,iIiii. ..iii.i<i,. I X I V o':~\i:i<i ilii kiiiii>sii "11:iciIi<, (Ir. S;iiiyiir <li. Iisl~~i.<,liiii~" ccii IS?O. I);,
Sc Tmbiin Miurares Ocupm Funçán Bem-Aventuradti
quero apresentar também minha reação a este respeito, em considera$ío
àqueles que talvez tenham coiisciêiicia pesada neste ponto, e para a evcntua-
lidade de alguns refletirem e o reconhecerem melhor. Muito bem, suponha-
mos que a situa~ãoseja a scguintc: o rei é injusto perante Dcus e o mundo.
sendo que o direito csrá totulmente do lado dos dinamarqueses e dos cida-
d7ao& . dc Lubcck. Isro é uma coisa. Além desta, auida há outra: os dinamar-
queses e os de Liihcck procederam como juizes e superiores do rei, punindo
c viligando esta injustiça Coiu isto arrogaram-se o julgamento e a viiigaiiqa.
Aqui surge a questão e o prohlcina dc consciência. Quando o assunto chesar
1 ' perante Deus, cle náo pergiintiiri se o rei é injusto ou se eles são justos. Pois
esta questão é evidente. O qiic clc vai perguntar é 0 seguinte: "Senhores da
Dinamarca e de Lubcck: queni vos deu a ordem de levar a cabo a vinglmça
c a punição? Acaso eu vos ordenei, ou o imperador, ou algum superior'?
Apresentai os documentos selados c provai-o". Se co~iseguircmfazê-lo, ter-
se-ão saído bem. Caso contrário, Deus pronunciará a seguinte sentença: V6s
rebeldes, ladrões de Deus, que poiides as mãos em meu ofício e sacnlega-
mente vos arrogais a vingança divúia, sois culpados lesae inaicstatis divina$',
isto é, pecastcs contra a majestade divina e praticastes delito contra ela. Pois
são duas coisas distintas, o ser injusto c o punir a injustiça, jus e1 executio
jiii-is, justitia et ad~ninistrntiojustiti;r$'. Ter i;lzão e não ter razão é comum :I
todos. Mas atribuir e dar razão ou i130 cabe iquclc quc é senhor sobre justiça
c uijustic;a, o qual 6 exclusivamente Dcus que tiianda a outotidade Cazê-10, a
não ser que tenha a ceiiezci de ter reçehido um mandato iicstc seritido, de
Deus ou de sua servrc. ;i autoridade.
Se assim fosse que todo aquclc que tivesse razão pudesse puiii ele
mesmo aquele que não tem m i o , em que daria isso no mundo? Sucederia
quc o scwo fustigaria o senhor. a criada a dona de casa, filhos os pais e o
aluno 0 professor. Que ordedciii mais perfeita daria isto! Que necessidade
havcria dc juízes e autoridades seculares instituídas por Deus? Os dinamcir-
1 queses e os cidadaos de Luheck reflitam elcs mesmos se acham eqüitativo
que sua csiadagem, seus cidadãos c súditos se oponham contra eles sempre
quc Ihes for feita injustiça Por que não fazem ao outro aquilo que quereni
pcrdoados eles mesmos, conl'ome o e~isinainCristoPae a lei natural'! Esiá
cci-to que os cidadãos de Lubcck e outras cidades se poderiam desculpa.,
'. ~lizciidoque não são súditos do rei. mas que, como injmigo, teriam lidado

clc ri30 ipt~orxv>~


iiii.~ii;il i j i n i a O upec10 econ6mico. que tinha uni sigriiíic:id<i niiirc:uilr
13;ii;i :i[iiiriicipa~áod:~s cidadcs Ii:uiseálicas, priicipalmente Lübeck, na drposi$ão do i c i .
S ? lixlmss%>criada cni ;iri;ilogi:i ;i ~.,i,riçn /ar.we rnaiesraljs. Veja acima n. 41.
S I "lliwili, ç cxçcliçúi>ilii iliii.ii<i. iii%ii\.;i ila justiça", ou seja, a crcco(.;io <Iii
c ;i<li~iiiiislraçXo
h t 1ig;~Iihao plcoo c ~ c r c i c fdo
~ I i ~ v i cskí ~ > lp~xlcr.
S I 'I'. I 7 . V i I . 1 I X . i!. ' 7 1 .
( ;licrra dos Campoiieses
corn o inimigo, de igual para igual. Os pobres dinamarqueses, entretanto,
agiram contra a sua autoridade, sem a ordem de Deus. E os cidadãos de
Lubeck aconselharam e contribuíram neste sentido, lançando sobre si mes-
1110specados alheios, imiscuindo-se e aliando-se com a desobediência rebel-
de contra ambas as majestades, a divina c a real. Não quero mencionar que i
tarnbérn estão desprezalido a ordem do únperad~r.~'
Falo deste caso a título de excrnplo, porque estarnos tratando e cnsinando
qiic a pessoa subordinada nZo todeve opor-se a que está acima dela. Pois este
caso do rei expulso é digno de atenção. Presta-se muito beni como advertên-
cia para todos, para que este exemplo sirva de liçXo, e que aqueles que o
perpetraram scjam tocados em sua consciência c alguns deles corrijam e
(lcsistam desta fillt;~,antes que venha Deus e se vingue de seus ladrões e
iiii~~iigos.Não que todos eles vZo ligar para isto. Pois, corno disse, a grande
iii:iioria nZo liga para a palavra de Deus. E um pelotão perdidoM"[ue somente
sc apronta para a ira e o castigo de Deus. Coritcnto-rnc com que alguns o 15
Icvcin a sério e não se associem ao ato dos dinamarqueses c dos de Lubeck,
c. i.;iso estiverem associados, que se desliguem c não scjam achados cúmpli-
i.rs iIc pecados alheios. Pois todos nós temos pecados próprios mais que o
I);islnnte.
Neste ponto terei que segurar a barra agora e fica ouvindo os que rnc 20

iiilgarn, gritando: "Ora, significa isto, ao que entendo, que se deve ficar
i~iiicluilamenteadulando príncipes e senhores'? Ficas somente te curvando, a
pi<lir graça'! Estás com medo?"" etc. Tudo bcm, estas vespas eu deixo
11;is"ar de largo zumbindo. Quem puder que o faç'a melhor. Minha intenção
:igora não é de pregar aos príncipes e soberanos; penso também que aquela 2s
:i<liilaçãome traria graça muito r u h e que eles riáo se a l c g k a t n muito com
L.I;I, visto que ponho sua função em tão grande perigo, confoime se ouviu.
Isio Já afimiei suficientcmcntc em outras ocasiões, sendo, infelizmente, mais
i10 q ~ i ccei-to que a maior parte dos príncipes e senhores são tiranos ímpios
i. iiiiiiiigos de Deus, que perseguem o Evangelho"". AICm disso, Lenho 3"

!<> Vi-I:, :ii,iiii:i p. 371, n. 44.


!i11 i 1 "lx.l<ii;i<> pcrdido" - verlomer hauife no Iexto original - rcprcscntava ccrcn de uma
i l i - i iiii.i ~>:tric <I« tola1 <Ia iropa, sendo lomiírdu por soldad~svol~ntiriosOLI es~olhidos
i i i c ~ 1 i : i i i l i . virici,~.Esse peloiáo, a l h de abrir a luta, atacava o inimigo pclos flanco~ e pela
i m i : i i : i ~ : i i i I : i . A ;,$do separa& ein relaçdo à grandc tropa fazia com que tivesse grande
i i i t I i i ~ . i i i i : i iic, rcsrilia~iofura1 da investida militar.
:iI I i i i i - i i i l i i i :iciis:id<i por diierciitcs giupr~sdc "adulador de príncipes", especialmenie por
..i.ii ~ ~ c t ~ ~ n t i < , i i :iin c ~ ~ l ~ ~oaos campi~ncscsrchclados. Cf acima p. 282,22-281,IO; 313
i i i irclii~."
ii. \ I <.1,. \,10~:341.
!<!iVi-I:,. I N ~ ~ ' x r t ~ ~ p:ilgii~ii:is
li>. S<~cril;ir,
1p:tss":'pciir <Ic/):I Aiifoii<i;~<lc ..., ;a.iiii;i 1,. X1.76-82.14
i I I X I , I I I0.3.??.
Sc Tariibérn hlclii:itrs Ocupam FunçSo Bcm-A\,entur,t<la
-
iiiclementcs8%enhores e fidalgos. Isso, poréiii, não me importa muito. O que
cstou tentando ensinar c que cada qual por si iiiesrno saiba proceder iiestc
ponto e nesta obra frente à personalidade que é superiora sua e faça aquilo
quc Deus lhe manda, deixando que os soberalios cuidem de si mesmos e
andein conro~mebem entendem. Deus não esquecerá os tiranos c os supe-
siores. Ele também está sulicicntemcnte i altura deles, como sempre já o foi
tlesdc o começo do mundo.
No mais, não quem que este meu artigo seja eiiieiidido somente pelos
camponeses, coriio se estes unicaincnte fc~sseinos subordinados, e a riohreza
"8 iiâo. Este náo é o caso. Na realidade, aquilo quc estou dizendo a respeito da
pessoa subordinada deve atingir tanto os canipoiieses, como os cidadãos, a
nobreza, os senhores, os condes e príncipes. Pois todos estes também têm
superiores e são subordinados de outro. E assim como se decepa a cabeça de
um camponês revoltoso, dcvc-se decapitar tambCm uin nobre, conde ou
1, príncipe amotinado, uni corii<io outro, dc modo que riiiiguém seja injustiqci-
do. Acredito que o imperador Maxirniliano poderiii contar algum caso de
príiicipcs e nobres desolicdiei~tese sediciosos que gostuicun de se ter juntado
c conspirado. E a iiohreza, quantas vezes ji se queixou, aiiialdiqoou e
procurou conluiar-se pctra resisiir aos príncipes? A nobreza da Frcuic6nia,
,fl para não falar de outras. tem Fama de não hzer muito caso do imperador
nsin dos seus bisposyu.Esses fidalguinhosyl rião se podem chaiiar de sedi-
ciosos ou revoltosos, embora o sc.jain. O camponês é que precisa sofrer, ele
tem que pagar. Eu teria que estar muito enganado se não foi assini que, por
intciinédio dos camponeses insurretos, Deus puniii a nobreza e os senhores
insiirretos, um patife ;itr;ivés do outro, porque Maxiniiliano teve que suportã-
los sein poder puni-los, einhoi-;i, enquanto viveu, tivrsse sido quem segurou
a eclosáo [de unia rrvolt:i]. Faço uma aposta cie que, se iião tivesse oconido
ct rebelião dos camponeses, teria havido urna rebelião entre a nobreza contra
os pnncipcs c talvez contra o imperador. Tâo cniica era a situaqio na
Alemanha! Mas, agora qiie os camponeses caírarii nessa, somente eles estão
dcne_gidos, a nobreza c os princípes escaparam bonito, lavam as mãos, estào
nuiiia boa e nada fizeram de mau. Mas isto nâo engana a Deus. Com isso
clc Ilics deu uma advenência para que com este exemplo aprendam a obe-
ilccei- também i autoridade colocada acima dcles. Seja esta minha adulaçzo
Irciiit. ;i»s príncipes c senhores.
"ir'. .IS .'igora: "Deve-se tolerar semel1~iiitecoisa por parte de uru soheraiio:

Si) I .iitcr<,iir>iiixacscirvcndr> vii;iic</igc h c m..., ncgiiçaii da expressáo de tl;itimcnto Giiciligci-


IIi.ii ('lci~icciicSciiii<ii- lici~iiçiiiçmirilcutiliz;ida para dirigir-se a :iutoridndcs.
')li li~li~ii.iii.i;i;to Ii.v;iiiic l i i l i i : i c l i > Ixti voii Sickiri:.cri, no i l ~ ~ parliciparani
al iii>hlcs caviilciiii.;
iIi, iiiil>Eriii. V+ :i rcslxiio ;icirii;i, ri. 277. 11. 1.1.
iI;i I'r,iticiiiii:i. :iIi:iii <li. i i i i i i : i \ ~i.~>icvi.s
I I . , I 1 . DO. l i . .I t.
<;iirrra<liw Ca~iip<iiicsçs
que elc. seja uni malvado que muuia 0 país c o povo'?" E para faLu :i
linguiigerii da nobreza: "Diabo, Danc;a de S. Vito, Peste, Sanio Antãc~~ S.
Q~irino!'~Eu sou da nobreza, quem vai perniitir que o tirano traga a
perdição tão vergonhosaiieiitc sobre ;r minha mulher, nieus fillios, meu
corpo e meus bens. rtc.?" Respoiido: Ouve: nada estou ciisiiiciiido a ti, 5

coiitiiiua, és inteligente o bastalite. por inim não há ncccssidade. Nada me


cosia menos do que ficar-te ouvindo a cantar este refrâo. Aos outros que
gostariam dc ficar de consciência limpa, dizemos o seguinie: Deiis nos
lançou no mundo sob o domínio do diabo, de inodo que não temos um
paraíso aqui, mas precisamos estar preparados para todo e qualquer infortú- 111

nio, que a qualquer momento pode suceder ao corpo, à mulher, aos filhos,
cios bens c à honra. E se em determinada hora não sobrevirei11 dez inCoriunios
de uiiiii vez, sim, sc puderes viver tiniti liora sequer, deverias estar dizendo:
Ah. qtianta generosidade Deus me está denioristrando por não ter havido toda
sorte de iiif«itúiiio nesta hora: cotiio pode her islo'? Sob 0 <I<imíiiiodo diabo (7

cu não poderia ter sequer uma liora feli~,e assim por diaiitc. Assim ensina-
iiios aos nossos. Se queres, podes aiidas noutra; faze um paraíso p;u.:i ti, ao
1~11do ddiabo não tenha acesso, pmii que não precises contar coin a fúria de
i k n o algum. Nós ficareinos observ~iido.Ah, nós estamos passando bem
drniais, o desejo rios provoca, não coiiliecemos a bondade de Deiis, nem z~
iaiiipouco cremos quc Deus nos protege e qiie o diabo seja &o indigno. Só
queternos ser mcsmo uns patifes e r i o obtaiite somente receber coisas boas
de Deus.
Isso é quc queríamos dizer a respriio do primeiro poiiio, que náo se deve
lutar tiern disputar contra o superior. Eiiibora tenha sucedido muitas vczcs, ~5

havendo diariamente o perigo de ocorrerl assim como também ocorrem todos


os otitros vícios e injustiças quando Deus o dispõe e não o impede. rni
íiltima análise iião lunciona e não deixa de se vingar. mesmo que tcnhmi
o r l c por algum tempo. Quereinos vo1t;u.-iios agora para ni]url;i oiitra que$-
i;i[i: se é lícito que alguém lute e dispute contra o seu par. Isto qiiero que seja <c1

c.iiicndido da sestiinte [orna: 11.30 quc seja justo começar lima guera confor-
iiic (lei-na telha de qualquer senhor iiialuco. Pois uma coisa quero dizer untes
(li. iiiciis nada: quem começa uma guerra, procede injustamente. E justo e

'I.' I<i,l;iç;iode simpatiiis i$ época, espccialmrriic usadas por supersticiosos n título de preven-
<:ai ciiiitra cems
docriqas: "Dança de S. Vito" [Vrilsf.mt7) ccoiiira uma es~2cirdc epilcpsia.
iil.uicl<i o xuiio patrono Vitu, um iiiinir da Cpucd do impcriidoi romano Dinilcci:un,. por
v<ili;i de 305; "Slo. Antão" contra a [xstc c 3 wisipçla, apelaridc iio eremita AntXo (11. c;,.
251). 11atco110 contra epidemias tanto eni geiitc cuiiio em animi~is- urna epidcilii:~ilc
~ . i i \ i l r l ; i , cliiuiiada "Febre dc Sio. Antão" (-i,ir<ii~iii.;l;.ueri, quc atiiuiu çspccial~riciilco
~ : i i l i >suíni>, Icvi>ii 21 priiiicir;t filiid;,yóo de iirnzi Ordcin dc Su>. AiitL, ia> 5i.c. XI 11,) si11 iI;i
I;I;II,<;C; "S. ()uici~~u''cor~tr;~ ~irlriic.l>:xtIi~i:!, I'LI~IÍ~ICLBIO c v:hríoI:t. i n v < t i ; t ~ ~ o
l t >l > ; n I r < ~ r lS.
t~
~ s o l i i> t~i >Il p~i >~~~. ,C~
l ) i i i i i i > i , . L I L I CI : ~ I v c ~ . I c ~ ~ l ~ itl~:t~lirio l I O i~~,lx.~itilo~.A,lrl:,ot~. 1>1>1 Y I > I I , I 11,. 1il1.
Se TinihCrii Miliims Ocupani Funçáo Bem-Avennicid;~
eqüitativo é que. por fun, seja derrotado e puiiido aquele que desembaiiiliou
a I2rniria por priineiro. Assim geralmente terii sucedido em ccidas as ocasiões:
pcrderain a guerra aqueles que a comcçarniii, e mui miiiicnte foram derro-
i;idos aqueles que tiveram qiic se defender. Isto porque a autoridade secular
ti50 Iòi estabclccida por Deus para romper a paz e começar guenns, mas para
que promova a paz e impeça os belicosos, confome o diz Paulo ein Rm
13.1' que o ofício da espada cstá eiii proteger e punir. proteger os rctos ia
paz e punir os maus com n guerra. E Deus, que não tolera injustiça, tiriiibém
faz com que os belicosos sejam cotnbatidos, conlòrme reza o provérbio:
1 "Jamais houve alguém tão mau que não tivesse encontrado outro ainda
pior". Neste sentido Deus também faz cantar a seu respeito no SI 68.30:
Di.s.si{~;itgcjiles qiiae bella volii~lt- 0 SENHOR dispersa os povos dcseiosos
de guem.
Toiiia ciiidado coin isto. ele não riienrc. E toma iiota que deves sahsr
1 ilisiinguu beni, b ~ m claramente entrc querei- e precisar, desejo e necessidade,
desejo de hrer guerra c disposição para lular; não dês ch~uiccà tentação,
;iiiida que scjas o imperador turco. Espera chegar a necessidade e a precisão,
sein desejo e voutade. Ainda ;tssuii terás o bastante quc làzer, e guerras
siificicnies a enfrentar, para que poss;is dizer e teu coração se possa irfnmr
dizriido: Ah. corno eu gostaria de ter par, sc meus viziiihos o quisessem.
Então te podercís dcfeiider de br~aconsciência. Pois aí está a palavra de Deus:
"Ele dispersa os desejosos de guerra" [SI 68.301. Observa os verdadeiros
guerreiros, que estiveram na luta. Eles nâo desembainham [a espada] &o
(leliress~i,não pruvocam, neni t t i i i ganas de bater. Mas quando silo obrigados
c se Ilies for ncccssário, cuida-te deles, pois nâo lutain dc brincadeira. Sua
ICinina está firme; mas se tê111 que puxá-la. ela não volta para a bainha serii
siiigue. Ern contraste, os loucos inscnsaios que primeiro fazem guerra eiii
lrcrisainciiio r coriieçam tão bcni devorarido o rnurido com palavras, sendo
i > \primeiros a tlesembainlini a espada, tambérii silo os priineiros a dai- no pL:

c ;i i-ccolher u liilliia. Os roniiinos, este iinponrnte império, í'iieraiii pratic;i-


iiiciiic ;I iiiaior paite de suas coiiqiiistas ao serem obrigados a eiih-ar em
1:11iii;i. Isto é, todo mundo queria prender-se a eles e medir-se com eles, dc
siriti qiic tiveram que se defender; Acabaram distribuindo golpes à voiiladc.
Aiiíh:il, o piihcipe procedente da Africa, Ihes fez muito mal, chegando qunsc
:I ;iiiiquilá-los"'. Mas que devo dizer? Ele havia iniciado, ele também teve
< l i t i II:IKIV. A coragetn (vinda de Deiis) ficou com os rorlianos, mcsiiio
~ I I I : I I I < I O ~ic~li;iiii.
Mas onde permunccc a coragem, a ação também se rcgiic

I X I .!.i 'i. ~$II<.I:II


' i l . \ ~ l c l l . l l (?.I'/ <Ic('.111.1~<'<1. c111 2I1J :$,C.:t <<MI<JLIISI:\ (Ic Si~j'tu\l<<.
c<)n\:111<1<111
,,I,,, <\L,<.,,,
l<,~\8,:, :,I,;,,.,. $ 3 ,\,,I, ;,
,lr\~,,<il,t,~l>\,2' (;,,crv,i l',i,,,c,,. I:.,,,
20: ,,.(',, l'8M
tli~Ii~~l.ii1#~ 1>,'1,, i',iiiiii> ,i,,,,;,,,,, i i,, 7,,,,,,,.
< iiicira dos Camponeses
com certeza. Pois é Deus que a realiza; ele quer par e é hostil àqueles que
coineçam uma guerra, rompendo a paz.
Preciso lembrar aqui o duque Fredeiico da SaxÔniaN, príncipe-eleitor, a
iiiulo de exemplo. Isto porque seria pena se as palavras de um príncipe tão
iiiiçligente tivessem que morrcr com seu corpo. Ao sofrer diversas desleal- 5
1l:ides por parte dos seus vizinhos" e de outros, tendo tanto motivo para
<:urrarem guerra que algum ouiro príncipe assanliado e belicoso Leria entrado
riii guerra dez vezes, ele, não obstante, deixou sua espada na bainha, reagiu
scrnpre com palavras benignas e lèz de conta que tinha muito medo e estava
qii;ise fugindo, deixando os outros patear e cscoicear. E ficava parado diante 10
llclcs. Ao ser indagado por que se deixava dar coices desta maneira, ele
i-isliondeii: Não quero ser aquele a começar; mas sc eu tiver que c n h z em
::iici-ra, ver& que a conclusão da inesma estará comigo. Assim ele peimane-
i.rii incólume, embora muitos cães lhe arreganhassem os dentes. Ele via quc
,sr ii-:itava de tolos e conseguia perdoá-los. Se o rei da F r a n ~ anão tivesse 1s
c-iiiiicçado a luta contra o imperador Carlos, ele não tena sido derrotado e
I I I < ' X )de forma tão verg«nho~a.'~ Também agora, qiiando os venezianas e
v:ili~csse opõem ao imperador (embora este scja inimigo meu, não é assim
~{iir cu aprecie a in,justiça) e começam a guerra, peço a Deus que no fim eles
i:iiiiliém acabem sendo os primeiros a desistiry7,deixando de pé a verdade de ai
C I I I C"Dcus dispersa os desejosos de guerra" [Sl 68.301.
Tudo isto é confirmado por Dcus através de excclentes exernplos da
Itsci-itura. Por esta razão é que ele mandou seu povo fazer primeiro uma
i~lkriade paz aos reinos dos amorreus e dos cananeusgX,e náo quis que seu
I N I V O começasse com a luta, de modo que se c o n f i a s s e este seu ensina- 21

iiiciito. Por outro lado, quando estes mesmos reinos tomaram a iniciadva e

'J.1 l'icí1crii.o 1l1, o Sábio, duque, príncipe-eleiior da Saxônia (1463, 1486-1525) - veja
i:iiiil<iri acima p. 363, n. 14.
'I'> /\i ]?o\i~ócsdc Frc~lziicoquanto h questão do governo tutelar no Hessc, quando das
i~.v<ili:is ria cidade de ErSutl em 1509110, bem corno seus csfor$os por superar pacificamenie
.i\ ilivci~ênciasdc opinião com o duquc Jorge, o B~arbudo,da Saxônia - veja acima p.

.'XH. i,. 12 c 13; 291, n. 25 -deram-lhe a faina de amante da paz.


'118 ".I;# :ii.iiiia p. 360, n. 6. Frilnci,sco I foi preso após a dcrtota esmagadora de 241211525 em
i . ti hatalha foi descrita em h ê s pantletos, publicados no mesmo ano , que
i~.lw\i.iil<>u o fim da primeira guerra contra C;ulos V. Para reçupemr a liberdade, teve que
;ii.i.ii:ii cxigEncias humilhai~tes,impostas pela Paz de Madri em fevereiro de 1526.
'1 1 I<ilciiicia h Liga Smta, formada a 22/5/1526 ein Cognac por Fmcisco I, rei da Fraiiça,
lxlii 1p;ipu Clcmcnle VII, e por representantes de Florença, Vencia e MilZo. Em 1527, I<<iili:i
Iiti ii,iri;iiI;i pelas b.opas imperiais. O teimo "valões" corresponde ao texto original Wllcii,
1ril:ivr;i qiiç no idioma demão de então designava os habitantes de Roma c dc trri-it<ilios
i~itviitiil;iiiiis,ondc sc Pdlava italiano. Lutcro, porem, podc c s t x se reSçriii<h>i.<>iii ii tciiiio
Se Também Miliiares Ocuoam Funcáo Bem-Aventurada
obrigaram o povo de Deus a se defender, acabaram destroçados todos. Ah
sim, a defesa é uma causa justa para lutar. Por isso também todos os corpos
de direito aprovam que a legítima defesa não pode ser punida. E quem mata
outra pessoa em legítima defesa, é inocente perante todo mundo.99 Em
contrapartida, quando os ffios de Israel quiseram derrotar os cananeus sem
necessidade, acabaram derrotados eles mesmos, Nm 14.45. E quando José e
Azarias quiseram lutar e conquistar glórias, foram derrotados, 1 Macabeus
5.55-60. Arnazias, rei de Judá, também quis fazer guei-ra por capricho contra
o rei de Israel. Quanto à sua sorte, leia em 2 Rs 14.8-15. Igualmente o rei
1 Acabe investiu contra os súios em Ramote; foi, porém, derrotado, perdendo
a vida, 1 Rs 22.2-4,34s. Os efraimitas queriam devorar a Jefté e perderam
42 mil homens.lw E assim por diante verificarás que quase todos que come-
çaram a guerra, acabaram perdendo. O santo rei Josias teve que morrer por
ter cmpreendido urna guerra contra o rei do EgitoIo1,confmando a verdade
1 do aforismo: "O Senhor dispersa os desejosos de guerra" [Sl 68.301. Por
isso os meus coriterrâneos, o povo do HartzlU2,têm um provérbio: "Pois
verdadeiramente ouvi: quem golpeia recebe o golpe de volta". E por que
isto? Porque Deus rege poderosamente o mundo e nào deixa a injustiça
impune. Quem pratica injustiça e não se 'arrepende liem dá a seu próximo
1 satisfação alguma, recebe seu castigo de Deus, tão certo como ele vive.
Penso quc o MuntrerLU3 com os seus camponeses também teria que reconhecê-lo.
Portanto, o primeúo ponto a ser considerado nesse assunto é: guerrear
iiZo é certo, ainda que seja entre iguais, a não ser que a razZo e a consciência
levein a pessoa a dizer: meu vizinho rne força e me obriga a fazer guerra;
,. preferiria evitá-lo, para que a guerra não seja simplesmente guerra, mas
possa ser chamada dc proteção compulsória e legítima defesa. Pois é preciso
distinguir entre as guerras: algumas são empreendidas por capricho e por
vontade própria, antes que outro esteja atacando; outras, porém, são impostas
por necessidade e coação, depois de outro ter atacado primeiro. Aquela
poderia ser chamada de belicosidade, esta, de guerra necessária. A primeira
é do diabo, Deus não ihe dê sorte. A segunda é um acidente humano, Deus
veuha em seu socorro. Ouvi, portanto, prerados senhores: evitai a guerra o
quanto puderdes, a não ser que sejais obrigados a defender e proteger,
quando o ofício a vós incumbido vos obriga a guerrear. Aceitai-a então e dai-
v, lhe os golpes, sede homens e comprovai vossas m a s . Então não adianta

'10 Vcja acima p. 364, n. 17.


I I U I rl'.I,. 12.1-6,
101 ('1: 2 Ks 21.20; 2 Cr 3.5.20-24.
<I:!Alcm:rnhii Ceiitral. reeiiio ondc se localiza Miuisfeld.
1í1) 1 I ; i i r ~ .sisiciii;i iiio~il;i~ilii>si> içrirt
Guerra dos Camponeses
lutar ein pensaniciitos. A realidade já será bastante séria. Pois papa-ferrosl"
raivosos, obstinados e orgulhosos ficarão com os dentes táo gastos que nem
inaiiteiga fresca conseguiráo morder.
A razão é a seguinte: todo senhor e príncipe teni a obrigação de proteger
os se~ise de garantir-lhes a paz. Este é seu ofício. liara isto ele tem a espada, r
Um 13.4. Nisso também deve depositar sua confiança: no conhccimcnto dc
que esta obra é justa perante Deus c por ele encomendada. Pois agora 1180
estou ensinando o que cristáos devein frrzer. Vosso rcgime riada tein a ver
com nós cristâios. Somos, porérn, vossos servidores e dizemos o que vos cabe
I n ~ e rperante Deus em vosso regime. Uni crisiâo é uma pessoa para si
iiieFma, ele crê para si mesmo e no mais prua ninguém. O senhor e príncipe,
eiitretanlo, não é uma pessoa para si mesina, mas existe em função dos
oiiiros, para servir-ihes, isto é, para proteger c defendê-los. Niío obstante,
seria bom se, além disso, cle fosse cristão e cresse ein Deus; assim prova-
velmente seria feliz. Ser ci-istáo, porém, nzo é próprio de príncipes, razão por 15

que existem muito poucos príncipes cristãos: coiilòrine se diz: "Príncipe é


ca<;:i rara no céu"L"5. Ainda que não sejam cristãos, dcvem agir correta e
bc~Ifiuejiimente,segundo a ordem exterior dc Dcus: é isto que ele quer deles.
Quando, porém, um scnlior ou príncipe riã« :issome este seu ofício e
incuiribcncia. alimentando a presunção de não ser prúicipc em função de seus 2"

súditos. riias por citusa de seus belos cabclos loiros. coriio se Deus o tivesse
Icito príncipe para gozar seti poder, seus bens e seu prestígio, ixlcs tendo scti
prucr C bascanrlo sua arrogància, alt'iii dc neles se fiar, este é um pagào.
sim, um tolo. Seria capaz dc inicia- iiiiin guerra pot- causa de uma noz oca.
svm se importar com nada senão aqtiilo qiie satisraça o seu capricho. Deus 2.5

( 1 impede com o fato de outros tambbn tcrem punhos e de o outro lado do


iiiorn> também ser habitado, de maneira que uma espada manttm a outra
ilciriro da bainha. Um príncipe sensato, ciitrctauto, não tem em vista seu
~)v'ilxiointeresse. Basta-lhe se seus súditos Ilie são obedientes, se scus inuni-
~ : C I H I Uvizinhos ficam provocando insolentes e o ameaçam, ele pensa: "Tolos 30

S<.III(ISCfalam mais do que sábios"; "Num saco cabem muitas palavras"; e


" ( I \ili.iicio é uma resposta eloqüente". Por isso ele não se importa muito,

:ii<. iioi;ir que scus súditos estão sendo atacados ou que a espada já está
i~.:iliiii.iiicem punho. Ele então luta o quanto puder e na medida em que ror
:.(.li ili.vcr e houvcr necessidade. Caso contsiúio, quem for táo covarde a 3.

I N I I I I L I (Ic querer captar todas as palavras, proctu-lui<l«pretextos, este certa-


iii<.iii<.cskí querendo pegar o vento com a capa. Que sossego ou provcito,
II<II<.III, clc obte~í,que ele mesmo o confcssc, e o saberás.
Se Tamhém Militares Oçupiuii Função Bem-Aventur;al;i
Seja este o primeiro ponto dcsia questão. O segundo também precisa scr
muito bcm obseivado. Ainda que estejas certo e seguro de não estarcs
começando a gucrra, mas de seres forc;ado ao combate, precisa?, não obstzui-
te, temer a Deus e tê-lo diante dos ollios, e não reagir da seguinte fomia:
s h . estou scndo obrigado, lenlio hcxi razão para fazer guerra. Não te fies
~ s r para o te lançares \einernriamente [à luta\. E verdade; lcns bons motivos
para entrar riii guerra e tc defender. Isto não sigiutica. entrstanlo' que já
telhas de Deiis a gar~uitinde quc sairás vitorioso. Sini; essa presunçáo Sara
justamente coin que acabcs perdetido, embora tivesses justa causa para
11 guerrear. Isto porque Deus não tolera orgulho nem presunção, a 1120 ser n;i
pessoa quc o teriie e se huiuilha perarite ele.'" Ele aprecia que não se tenha
medo de pessoas humanas e do diabox1', que se seja ousado e rebelde,
corajoso e inllexível com aqueles quc coiiieçam sem ter r a i o . Mas que com
isso venceríamos conio se dependesse dc 116s e estivesse dentro da nossa
1 capacidade, isso jamais. Ao iiiví-S. Deus quer ser teiiiido e quer ouvu esta
canção vinda do coração: "Sciihor Limado, Deus meu, estás vendo que sou
obrigado a entrar em guerra, eiiibora preferisse não o fazer. Mas não mc fio
na justa causa, e, sim, cm iua graça c. misericórdia, pois sei que, caso contar
apenas com a justa causa c nela coiitidr. coin boa razão me deixarás na mão.
porque tne fio erii mcu direito, e iiao exclusivamenie em tiizi simples graça
c Iienignidade".
Escuta o que dizern nestc caso os gcnrios, ccimo os gregos e romanos.
que nada sahi;uii dc Deiis e do teinor de Deus. Acredit;tv;rn que erani çlcs
que estavani lutando c veiicendo. Muiias experiências eni que uiii povo
grande e bem ,umado hi derrotado por uin número reduzido de soldados mal
equipados fizeram com que aprendessem e também que pensasseni al~erta-
incnte que nada é mais peiigoso na guerra do que estar seguro e presuiiçoso,
tirzirido daí a conclusão de que jainais se deve renunciar a vantagem algiima.
por menor quc ela szja. Da mesma fonria. não se deve negligeiiciar nenhuinn
guarda. vigilância ou cuidado, por merior que seja. E como se fosse neces-
sirio pesar todos os pontos com a balança de precisiio. Nenhum presunçoso
<: descuidado serve para a guerra senão para causar prejuízo. A expressão
i~onpulassem ("eu não tinha pciisado nisso") eles a têin como a palavra
iiiais indigna na boca de um soldado.10xIsso porque indica &atar-se de iirii
Iioiiicin seguro de si, presunçoso e negligcnte, que, em um momento, coni
I I I I I passo e uina palavra apenas pode cairar prejuízo maior do que dez delcs
~~ii<lcsscm rcpzmir. Em seguida ele diri: "Eu, de fato, nâo hiivia pciis;i<lii
Guelra dos Camponeses
nisso". O príncipc Aníbal derrotou terrivelmente os romanos enqiiaiiio eraiii
presunqosos e seguios eiii relar;ão a e1e.l" E assim há inúmeros casos deste
tipo, visíveis tambéiii diarianierite.
Acontece que os gentios o experimentaram e ensinaram, sem, cntretaiito,
coiihecer razão e motivo para isso, a r i o ser quiuido davam a culpa à sortelJ", i
da qiial, nnturalii~ente,tinham muito medo. A causa e 0 iiiotivo, entretanto,
é, como eil disse"', i, fato de que Deus em todos csscs casos e nh.avés deles
todos quer inanii'estar seu dcscjo de ser temido também nestas qiiestõe.?, que
clc não pode nein deve tolerar presunção, desprezo, temeridade nem segu-
rança, até que ;iprendamos a receber dc suas mãos tudo que clueiramos ou io
devamos ter, por pura Faça e misericórdia. Trata-se, portanto, de algo muito
curioso: um soldirdo, mesmo tendo justa causa, deve scr ao mesino tempo
corajoso e temeroso. Como haverá de lutar se está temeroso? Se, porém,
lutar sem estar temeroso, o perigo será grande. Deve, entretanto, proceder da
seguinte maneira: perante Deus ele dcvc ser temente, medroso e humilde, 1s
deixando a qucstio ern suas mios para que a resolva não segundo o nosso
direito, mas segundo a siia bondade e graça1I2,para que primeiro se coriquiste
:i Deus com um corasão humilde e temente. Frente às pessoas se deve ser
c~irajoso,livre e ohstiiiado, uma vez que não estio com a razáo: dcvc-se,
~ ~ ~ i t a nderrotá-las
to, de espúito obstinado e confiado. E por que iiio liave- iu
i-ítimos de pôr em pzitica frente ao nosso Deus aquilo que os romanos. os
iii:iiores militares sobre a fau,da terra, faziam com o seu ídolo, a sorte, a
cli~:il tenúani. sendo que, se n:o o fizessem, estariaiii coinbaiendo com
gi-ande i-isco oii seriam até severamente derrotados'?
Concluhos, portanto, acerca desta questão: a guerra coiitra seu par deve n
scr uma guerra imposta, levada a efeito no temor a Deus. imposta ela é,
ciitrctanto, quaido o inimigo ou vizinho ataca e toma a iniciativa, de nada
:icliantando que se faça uma oferta em termos de direito, de uma investigação
oii de um acordo, tolerando toda sorte de sujeira e palavras maldosas,
~~cnloando-as; ao invés, o outro quer impor sua vontade a todo pano. Pois 30
sciiil>rcparto da premissa de que estou pregando para aqueles que gostaiam
(Ir ;i~:ir corretamente perante Deus. Quanto àqueles que não querem oferecer
i i i . i i i iiccitar o direito, nada tenho a ver com eles. Temor a Deus é que não
\(. c-iiiiliçna causa justa mas seja cuidadoso, diligente e pmdente mesmo nas

<i*rstisiiiiiis insigndicaiites, seja ela um mero apito. Tudo isso, entretarito. não a
<.Ii.p,:i:i deixar Deus de mãos atadas como se ele não pudesse mandx fazer
jl,iic.ii-:i contra aqueles que iião nos deram motivação para isto, assim como

Iir) Wi:i ;irirna p. 385, o. 93.


I li1 'I: 81X.ci0, B ~onsolarlonephilosophin~2, 2.
1 1 1 Vi..i:i ;iriiiia. p. 385.14-386.2.
I I L ('I: I>,, V.18.

'300
Sc Tambéni Miliwres Ocupam Funçio Bcili~Aveniuradii
ordenou aos filhos de Israel lutar contra os canancusug. Pois Iiá motivo
suficiente para guerrear, ou seja, o mandamento de Deus. Eiiibora taiiibém
cste tipo de giiem nõo deva suceder sem temor e preocupaçrio. confoniie
Deus o demonstra erii Js 7.1-S1quando os filhos de Israel se sentiraiii seguros
iia cmpcinha contra os aítas, sendo, poréiii, dei-rotados. O mesmo tipo de
iieccssid;ide há, quando os súditos lutam por ordeiii da auiondade; pois Deus
ordeiia a obediéncia as autoridade^'^^, e seu niandnnieiito constitui uma
necessidade; isto, porém, também deve ser levado a cabo ein temor e hurnil-
dade. Sobie isto ainda falaremos abaixo.
A terceira questão é se o soberano pode ter razão eni fazer guerra contra
o subordincido. Acima ouvimos11sque os súditos deve111 ser obedientes e
também suporlar por parte dos seus tiranos; ou se,ja, quando as coisas andam
direito, a autoridade nada tem a ver com os súditos, senão no que tange a
administração do direito, dos tribunais e das sentenc;as. Quando, porém, se
1 rebelarem e se insurgirem, como o fizeram ultimamente os camponeses, é
justo e cabivcl combatê-los. Assiin também o príncipe deve proceder com a
sua iiobreza, c) imperador frente a seus príncipes, quando se rebelarem e
começarem a fazer guerra. Mas também isso deve ser fcito no ternos a Deus,
e ninguém se aferre ?I justiça, para que Deus não determine que. iiiesrno por
meio de injustiya, os soberanos sejam punidos por seus súditos. coriforme
ticonteceu muitas vezes segundo ouvimos acima. Isto porque ser justo e
praticar justiça não se coiidicioiiarii mutuamente, nem andam seinpre juntos;
suii, este jamais é o caso, a não ser que Deus o conceda. Por isso, embora
sqia cerio que os súditos permaneçam quietos, tiido suportem e não se
rebeleiii, esta atitude não está em mãos humanas. Pois Deus dispôs que a
pessoa siibordinada seja completamente um indivíduo por si só, tirando-lhe
:I espada e trancafiando a mesma. Caso, porém, se aniotiiiar e reunir adeptos
cm tomo de si, insurgindo-se com a espada na mão, ela se toma culpada do
,juízo e da iiione, perante Deus.
Por outro lado, o soberano foi instituído para ser pessoa pública, e não
somente para si mesma; ele deve ter a adesão dos súditos e conduzir a
cspada. Quando uin príncipe se dirige a um imperador como o seu superior,
cle não é mais príncipe, mas pessoa individual na obediência do imperador
como todas as outras, cada qual por si. Ao se dirigir, porém, a seus súditos
como súditos, ele é tantas pessoas quantas cabeças ele tiver a b & ~ ode si e
c111 a<lesão a ele. De fosma idêntica tamhém o imperador: ao se voltar para
I)eiis, ele não é iiiiperador, porém, pessoa individual como todas as nutras,
perante Deus; ao se voltar, porém, para os seus súditos, ele é imperador
tantas vezes quantos ele tiver abaixo de si. O mesmo vale para todas as
outras autoridades: ao se dirigirem a seu superior, não têm autoridade alguma
c estão despidas de toda autoridade. Ao se voltarem para baixo, estão
investidas de toda autoridade. Desta forma, em última análise, toda autorida- 5
de remonta a Deus, a quem ela pertence exclusivameiite. Pois é ele o
imperador, príncipe, conde, nobre, juiz e tudo mais, distribuindo estas Sun-
qõcs como ele quer em relação a seus súditos, anulando-as, em contrapafiida,
cm relação a si mesmo. Nenhuma pessoa individual deve levantar-sc contra
a coinunidade em geral nem procurar a adesão desta comunidade a si
niesma; pois se ela golpcar para o alLo, com certeza lhe cairão nos olhos os
estilhaço^'^'. Daí vês como sc opõem à ordem de Deus aqiicles que sc opõem
à autoridade, confonne o ensina S. Paulo em Rrn 13.2. E da mesma rorma
cle também fala em I Co 15.24: ele eliminará toda a autoridade quando ele
mesmo passar a governar e fazer tudo voltar para si mesmo. 1s

Até aqui os três itens acima. Agora vêm as perguntas. Nenhum rei ou
príncipe pode fazer guerra soziiho; ele precisa de gente que lhe sirva, assim
como ele não pode administrar a justic;a e o direito; para isto ele precisa de
conselheiros, juizes, juriscon%ultos,carcereii-os, carrascos e o que mais faz
parte do seu cxescício. Surgc, então, a pergunta se é correto que alguém i r 1
rcccba soldo ou (como chamam) remuneração por serviço prestado, ou paga,
a troco do qiial ele se compromete a prestar serviço militar para o príncipe,
~xidendoser convocado quando a ocasião o exigir, conlonne uso ora em
voga. Para respondê-lo, vamos fazer uma distinção entre estes servidores
niilitares. Em primeiro lugar, irata-se de súditos que de qualquer forma têm n
:i obrigação de apoiar seu superior, com o empenho do próprio corpo e dos
scus bens, e de obedecer à sua convocação, paiticulmente a nobreza e
aqueles que têm feudos da autoridade. Pois os bens que condes, senhores e
ciohres possuem foram outrora distribuídos e concedidos como feudos pelos
iriiiianos e seus imperadores, para que aqueles que os ocupassem pennane- $11
i.i.sscin constantemente ein armas e de prontidão, um com tantos cavalos e
Iiiiiiiciis, outro com tantos de acordo com a capacidade das propriedades.
I isi;is pr«pricdades constituíam seu soldo pelo qual estavam comprometiid
I'iii- isso também sc chamam de feudos e têm sobre si os ônus mencionados.
I(\iis Iicns o imperador permite herdar. Tudo isto é eqüitativo e está muito
1)i.iii iio Império Romano. O turco, por sua vez, ao que consta, nXo tolera
Iiiiilciros, nem pfincipados, condados, scnhoriqs, ou ièudos hereditiios. Ele
11s iiisiitui c concede quando e a quem quiser. E por isso que ele possui ouro
i. 11ii)liricdadesem quantidades incotnensuráveis, sendo, em suma, senlior (10
I I ; I ~ Y , OU iiielhor, um tirano.
Sc Também Militares Oçupain F~inçáoBsin-Aventur;iil;i
Poi- isso a nobreza não deve pensar que possui sua propriedade gratuitii-
mente, como se a iivcsse achado ou ganho no jogo. O 6nus que sobre ela
pesa, bem como o compromisso de vassalagem demonstram muito bem
donde e por que a possucm, ou seja, tein-na emprestada do imperador ou do
príncipe, não para nela viver no luxo e ostentação, mas com a finalidade de
cstar pronta para a luta, para defender o território c cuidar da paz.In Se,
agora, Iicam se jactando de como precisam criar cavalos e seivir a príncipes
e senhores enquanto outros vivcin em paz c tranquilidadc, eu direi: Meus
caros, sede agradecidos por isto. Vós tendes vosso soldo e vosso feudo, e
1 ' com isto esvais destiiiados para cste ofício, para o qual sois bem pagos.
Acaso, os outios não têm igualmente trabalho suticientc com sua pequcnina
propriedade, ou seríeis vós os úiiicos que tendes trabalho, quando, na reali-
dade, vossa função somente é cxercida exccpcionalmentc, ao passo que
outros precisam praticá-la diariamentc'? Se, porém, não tiveres a disposição
1 , para isso ou se isso te parecer muito pesado e injusto, então abandona tua
propriedade. Setn dúvida se acharão aqueles que de bom grado a aceitaráo,
c em troca iarão aquilo quc a lei exige.
Por isso os sábios resuiniram c dividiram toda obra humana em dois
tipos: agriculturani e militiazn, ou seja agricultura e atividade militar1ix,uma
divisão que sc dá naturalmente por si mesma. A agricultura deve alimentar,
a atividade militar dcve deleiidcr, sendo que aqueles quc estão no ofício
iiiilitar devem reccber sua rcnda e seu sustento daqucles que se encontram
na atividadc alimentar, para que possam exercer a defesa. Em contrapailida,
~i~lueles que se encontram na atividade alimentar devem receber proteção
kiqi~cles que estão na atividade militar para que os possam sustentar. O
iinperador ou príncipe do território deve cuidar dc ambos os ofícios e atentar
para que as pessoas que estão na atividade militar estejam armadas c alertas,
c aquelas na atividade alimentar se dcdiquem honestamente à melhoria do
sustento. Gente imprestável, entretanto, quc não serve ncm para a defesa neiii
Ipnra o sustento, mas apenas consome e anda ociosa e preguiçosa, ele não
~lcvctolerar, mas expulsar do país ou obrigá-la a trabalhar, como as abelhas
in;itam os zangões que não trabalham e ficam devorando o mel das outras
:iliclhas. Por isso Salomão, em seu E~lcsiastes"~, chama os rcis de constru-
iorcs qiic constroem o país, pois cste deve scr seu ofício. Deus, porém, nos
' !:i!;iida a n6s alcrnães, para que náo liqucrnos inteligentes tão ligciro para p6-
l i ) c111prática, de modo que ainda permaneçamos bons consumidorcs por
:iIj:iiiii tempo e deixemos quc sejain alimcnVadores e defensores aqueles quc
i i i i i voiii~idcpara isto ou que não o podem evitar.
Guerra dos Canipiiçsçs
Sáo João Batista confirma em Lc 3.14 que aqueles primeiros têni seu
soltlo e feudo com razão e procedem corretamente no servir a seus senhores,
ajudando-os na guerra conforme é sua obrigação. Quando os soldados lhe
perguntaram o que deveriam fazer, ele respondcu: "Contentai-vos com o
vosso soldo". Caso seu soldo fosse injusto ou seu ofício contrário a Deus. 5

ele rião precisaria tê-lo deixado assim, permitindo-o e confirmando-o, mas os


teria censurado e afastado desta atividade em sua qualidade de mestre divino
e cristão. Com isto esiá da& a resposta àqucles que, por temor de consciên-
cia (embora raro iiesta classe de gente, atiialiiieiite), alegam que seria arris-
cado assumir seinelliaiite fun<;âopor causa dc beiis materiais, a qual nZo seria 111

ouira coisa senão derramu sangue, assassinar e causar toda sorte de sofri-
iiiento a seu próximo, conformc acontece na guerra.120 Devcm instruir sua
consciência de quc não exercem este ofício por petulância, prazer ou ódio,
mas que se trata de um ofício de Deus e que, perante seu príncipe e Deus,
tam a obrigação de exercr-lo. Visto que é um ofício direito, ordcnado por 1s

Dcus, cabe-lhe seu soldo e recompensa, conforme diz Cristo em Mt 10.10:


"Digiio é o trabalhaclor de seu salário".
E verdade quc se alsuém serve na giicrra coin o sentimento e atitude de
não buscar nem peiisar cm outra coisa senão iia ;iquisiqião de bens, sendo os
bens materiais sua única motivação, de modo cliie nao Ihc agrada quando há 211

paz e ele lamenta iião Iiaver guerra - este, iiaturalmente, se desvia do


caminho e é do diabo, mesmo quando vai ao conibate por obediência e por
convocação do seu senhor. Isto porque de uma boa obra uma obra má
pv! si mesmo, além de iião se importar muito em servir por obediência e
obrigação, mas buscar apenas seu próprio interesse.. Por isso ele não tcni ?r
coiiscitricia tranqüila que piidesse dizer: "Muito bem. por mim eu ficaria em
casa; coriio, porém. meu senhor me quer e exige minha pieseiiça, vou, então,
em nome de Deus, sabendo que com isso estou servindo a Deus; e giinharei
ineu soldo ou tomarei o que me for dado coiiio compensação". Pois iim
iiiilitar deve ter consigo e dentro de si a consciência e o consolo de ele ~~1

precisar e ter a obrigação de fazê-lo, com o que ele tem certeza de nisto estar
scrvindo a Deus, podendo dizer: Quem golpeia, mata e fere aqui, não sou
<.ti. iii;is Deus e meu príncipe, cujo servo são agora meu corpo e minha mão.
I510 G o que significa tambem a senhai2Ie o grito de guerra: Pelo imperador!
I'i.l:i Ikinça! Por Luneburg! Por Braun~chweig!'~~ Assim também clamaram .1

iis ,jiiclcuscontra os midianitas em Jz 7.20: "Espada pelo Seidior e por Gideão!"

1.>0Vi,i;i :icilii;i p. 766, n. 24.


1 ? 1 I.ii,vri,,gri,> icxio iiriginal. O tçrino dcsigna o sinal de i<leniificaq.i« dos solrlatlus çntic si.
I '.' I<<.li.li.ori:, :ias sinh«ris c icrritiisi<is:,os quais Assa v«ii Kuin prislou sirviqii iiiilitiu. Vii.i
:,<,,,I,:, 1,. ~ 0 0I,,. í,,
Ocupam F u n ~ ã oBeni-AvenNrarl;~
SI Também Miliiiircs
Uni gananciosoi2' desses acaba estragaido todas as oiicras boas obras.
Mas quctri prega por causa de bens mateliais está perdido. Não obstantc,
Cristo diz que um pregador se deve sustentar com o Evangelho.lX Fazer algo
em troca de bcm material não é mau. Pois renda, soldo e salário também são
5 bcns materiais. Caso contrário, ninguém poderia trabalhar nem fazer qual-
quer coisa para se sustentar, pois tiido é feito em fiinção de bens materias.
Entretarito, ser ganancioso de bens materiais, assim como fazer destes uni
.~ 1 2é direito
~ 2 ~ ~, jamais 5 cin qualquer í'iiiição, ofício e obra. Abandona ;I
ganância e outras intenções malignas, que fazer gucrra não será pecado;
111 toma, por isso, teu soldo e o quc te for dado. Neste sentido a f m e i acimaI2'
que a obra em si mesma E direita e divina. Mas quando há algo de errado
com a pessoa. ou faz mau uso das coisas, tambiin a obra deixa de ser direita.
Unia segunda quesiiío: Como seiia se o meu Senlior não tivesse rzBo
cm entrar em gucrra? Resposia: Sc souberes com certeza que ele não estií
15 com a razão, então deves temer e obedecer a Deus mais que a pessoas
humanas, Atos 5.29, não devendo servir nem ir ?I guerra; pois então não
poderás ler boa consciência perante Deus. hlas - dirás- nieu senhor me
obriga, toma, tira-me a vida, não me dá meii dinheiro, nem soldo, nem
rccompensa; além disso eu seria desprezado. envergonhado diaice do mundo
," como covardc, sim, coiiio iiiiiel que abandona seu senhor na hora do aperto,
etc. Resposta: Isto precisas arriscar e, pelo amor de Deus, deixa ir-se o que
se for. Ele te poderá devolvê-lo cem vezes mais, confomie promete no
Evangelho: "E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou
pai, ou mie (ou mulher), oii filhos, ou campos, por causa do meu nome,
,, receberá muitas vezes mais" [Mt 19.291, etc. Pois com este perigo também
se dcve contar em todas as outras obras rias quais a autoridade obriga :i
praticar irijustiça. Mas corrio Deus quer que se deixe pai e mãe por sua causa,
é preciso, naturalmente, deixar também seu senhor por sua causa, e assim
por diante. Caso, porém, não souberes ou não puderes descobrir se teu
senhor não tem razão, não deves debilitar a obediência certa por causa dc
,justiça inccrtn. mas, segundo o estilo do amor. podes esperar do teu senhor
o que há de melhor. Pois "o amor tudo crê" e "não se ressente do mal",
I Co 13.7.5. Assim estás seguro e procedes bem perante Deus. Caso te ultre-

123 Geitz hel,~tio texto original, uiii temo que abrange tanto o sentido de "svmnto" coiiii,
r i de "gaiisiciaso". "Ganância" C um conceito limdamcntal na reflexào tcol6gic;i iIc
Luiero sobre teiiias econômicos. Veja, por exemplo, wus escritos Com6rcio c Usura. I i i :
0lir;is Selecionadas, v. 5. p. (374) 376428, esplcialmente p. 377 n. 11: c Ao* Pasr<ii<n.
1';ri;i que Pre~ueinConrra s l i ~ u r a ibid.,
, p. (446) 447493.
124 ('1: Mt 10.10: 1 Co<).14.
125 ('1: I*. IO.<). Pxii iiin;i ;ilwir<l:igcni rii;iis demorada dc "Mhoii" vcju Pr6diic.i~Suii:iii;ii,\
si>l>ii. MI 57,ici Ohriis Scli.rioii:iil:is, v. S. p. (429) 431-445, cspcçialrnrntc [i. 412 ri. 10.
I ? O W,ja ;\ciu~:n1). .300,24 20,
iiircin por isso ou te climimm de infiel, é melhor que Deus te elogie como
fiel e sinccro do que se o iiiiindo te elogiar como fiel c sincero. De que
atlianlaria se o mundo acliasse que fosses Salomão ou Moisés, cnqutuito
Deus te considerasse 130 iiiao coiiio Saul ou Ac;ibeJ2"?
A terceira questão é se um militar podc assumir compromisso dc servir 5

;I iiiais qiie ( i r i i senhor, tomando rernuneraçáo por serviço prestado dc cada


um. Resposta: Disse acimal2"ue a ganância é injusta, tarito faz se no ofício
bom ou iiiau. O trabalho no campo, naturalmente, é uin dos tiieiiiorcs ofícios;
nem por isso uiii camponês ganancioso deixa de ser injusto c coiidenado para
Dcus. O mesnio vale aqui: receber soldo é justo e eqüitativo. e scrvir pelo IO

rnesino também é justo. A ganância, entretanto, náo é justa, :linda que o


soldo de um ano nào somasse um ducado. Por outro lado: cobrar e ganhar
paga é justo em si mesmo, seja de um, dois, três ou quaritos seniiores forem,
contanto que não se prive o senhor hcrcditário e príncipe do território daquilo
qlic lhe cabe e se sirva a outros com seu consentimento e Favcir. E como um 1s
Ihom artesão quc pode vender sua habilidade a quem quiscr, rlesi;~forma,
~prcstandoservi~o,coiitcuito que nâo vá contra sua autoridade e sii;i comuni-
cl:ide em gcral; assini, visto quc um soldado recebeu de Dcus a habilidade dc
Iii~erguerru, ele podc scrvir com ela corno sua arte e seu ofício a quem
qiiiscr, cobrando pari1 isso scu salário como que para seu trahiilho. Pois csta 211

C também uma prolissão que eiiicuin da lei do Se alguém iiecessita


[lc mim e ine procura, posso colocar-iiie a su;i disposição, para isso cobrando
o que me cabc ou o que me for dado. Pois assirii diz S. Paulo em I Co 9.7:
"Quaii J:itiiais vai à gucrra a sua própria custa'?", aprovatido. desta forma,
cstc dircito. Quando um prhcipc necessita do súdito dc ouiro e o procura 2s
pira o comhiite, cstc poderá perfeitamente scrvir-lhe e torim piga em troca,
coiitanto quc seu próprio príncipe tenha conhecimento disto e esteja de acordo.
Que será, eiitrctanto, se os príncipes c senhores fizerem gueiTa um contra
o outro e eu estiver comprometido com ambos, preferindo, entretanto, scrvir
Iiqiiclc que não estivesse com razão, uma vez quc me tivesse proporcionado
iii:iis Iàvores ou bens que aquele quc tivesse razão, uma vcz que gozo de
iii<.iios vantagens juiito a este'? Neste caso, a resposta é simples e imediata:
<liii.ito(isto é, o que estiver no agrado de Deus) deve tcr preferência sobrc
I~.iis.corpo, honraias. amizades, favorcs e vantagens. Aqui náo deve ser
Ii.v:i<liicin consideraç3o pcssoa alguma, senão unicamente Deus. Tu~ibém
; i i l i t i ;c (leve suportar iiiais uma vez pela causa de Deus o fato dc a geiite ser
c-i~iisi~lci.:ido ingrato ou acabar desprezado; pois aqui Iiá excelente ji~stifiça-
y;io. oii seja Deus e n direito. os quais não toleram que sc sima ao iii;iis
Se 'hnbéin Militares Ocupani F u n ~ á uBem-Aveniuiii<l:i
cslimado c sc abandone o mcilos apreciado. Embora o velho Adio"" nZo
goste de ouvi-lo. assini precisa ser, caso se queira estar no direiio. Pois contra
Deus não se pode lutar.rii Qucm, todavia, luta contra o direito; esti lutando
contra Deus, o qual da. ordena e administra todo o direito.
Quaria pergunta: Que se diri, entretanto, d:iquele que iião guerreia so-
nieiitc por causa de hcns materiais, mas tmihiiii pcla ~ l ó r i atemporal dc ser
liomeni t3o importante e gozar de prestígio? Rrsposia: Arnbição [por glórias]
c gaiiâiicia por dinheiro, anibas são ganânciaii2,uriia tão errada como a outra.
E queiii guerreia coni este vício, conquista para si 0 iiifenio. Pois devemos
dar e drix:ir a glória exclusivamcntc com Dcus, contciitruido-nos com o soldo
e o alimeii~o.Por isso é pagáo e nio cristão 0 uso de se exuriar a tropa antes
da batalha da seguinte hrnia: "Meus caros camaradas, caros servidores, sedc
valcntcs e confiantes! Hoje queremos, se Deus quiser, reunir glórias e rique-
zas!" Ao invés, a exortaçã» deveria ser do seguinte modo: "Caros camara-
(5 das, cstamos aqui rcunidos a serviço do dever e da obediência a nosso
príncipe, conlõi-me a obrigação que temos segundo a vontade c a ordem de
Deus dc ajudar a nosso seiihor com corpo e bens, emhora perante Deus
sejamos táo riiise~iveispecadores como nossos inimigos. Enirei:mlo, como
sabemos ou liso ieiiios ouiro conhecimento, scnZo quc nosso pniicipe está
'1 com a razzo iicsta cliiestâ». estamos certos e seguros de que cor11 este serviço
e esta ohedioricia t.st:iiu«s scrvindo ao próprio Dcus. Assiiri. cada qunl s d a
valente e dcstemido, e iiáo deixe de pensai-que o seu punlio seja 0 ~>uiili« de
Deus. r a lanya, a l a n p de Deus, e grite de cor:i$ão e de boca: 'Por Deus c
pclo iiiipcrador!' Sc Dciis 110s dcr a vitória, seus devem ser o louvor e a
, gl6ri;i. e ri%onossos, pois ele a alcança através de nós pobres pccadorcs. Os
cspdlios. poréin, c o soldo aceitaremos como dados a nós sem que o mere-
Gamos, por sua generosidade e graça divinas, agracieceiido-lhe de coração.
Deus o ioiiie nas m%osagora c vamos lá com muita disposiçio!"
Náo há dúvida de que, quando se procura a glórir~de Deus e a deixa
para ele, como é equitativ« e justo e também deve ser, a glória em si mesma
virá mais do que se a pudesse buscar, uma vez que Deus o prometeu em 1
Sm 2.30: "Aos que me honram, honrarei. Porém, os que me desprezam,
sesão desmei-ecidos". Assiin ele, naturalmente, náo deixari de cumprir sua
promessd: ele iem quc honniar aqucles que o honram. Uiii dos maiores
v. pecados é procur;ir a própria glória, pois não consiitui outra coisa senão
cr-imcl?Icsae ii~?jrstntisdivinaer": um assalto à majestade divina. Por isso
ilcixa os outros j;ictiirriii-se e procurarein a glória! Fica tu calado e ohedientc,
c~uc:I tua glória viri. J i se pcrdcu alguma luta que, no mais, teria sido pilho.

I i 0 ('I'. Il!tl 6.6.


l ( 1 ('I. AI 5 V J .
l i 2 N < I icxki iiripiii:il: Ila,i!r,ir/ ~ i i i l ~ : ~ ~;\r l lIxy<lc.v i r ~ Cl:
~ i ~ ~ íicil,. ;iciiii;i li. .lLl?. 11. 124.
I ( I V<.i:i :iiiiii,i 1). 171. ii. ,1.1 i. l i . (SI. ii. XL.

<'r7
Guerra dos C ~ D M C S C S
não fosse a vanglória. Pois esses guerreiros ambiciosos não acreditam que
Deus está junto na guerra e dá a vitória. Por isso também não temem a Deus
nem são bem dispostos, mas petulantes e insensatos, acabando afia1 por
serem derrotados.
Entretanto, os melhores camaradas são aqueles que, antes da batalha, se 5

estimulam e se deixam estimular pela louvável lembrança de sua bem-


amada, permitindo que se Ihes diga: "Eia, agora cada um pense em sua
amada". Declaro aqui que, se não tivesse ouvido por parte de dois homens
dignos de crédito c experimentados nestas coisas, que isto de fato acontece,
cu jamais teria acreditado que o coração humano pudesse ser tão esquecido IKI

m leviano em tão grave situação, quando está í'reute a frente com o perigo de
morte. Acontece que ninguém o faz quando luta sozinho com a morte. Mas
no grupo um estimula o outro, de modo que ninguém se importa com o que
o atinge, porque também atinge a muitos outros. Terrível para um coração de
cristão é, entretanto, imaginar e ouvir que naquela hora em que se tem diante is

dos olhos o juízo dc Deus e o perigo de mofie, primeiro se busca estímulo


e consolo em amor catnal. Isto porque aqueles que forem trespassados ou
acabarem morrendo neste estado, estão, naturahnente, despachando suas
almas sem demora direto para o inferiio. Sim, dizem eles, se eu fosse levar
cm consideração o iní'emo, jamais poderia ir para a guerra. Isto é mais 21
terrível ainda - ignorar de propósito a Deus e seu juízo, nada querendo dele
saber, pensar ncm ouvir. Por esta iiizão, grande parte dos militares esíá nas
garras do diabo, sendo que alguns estáo (ão tomados de demônios que não
sabem demonstrar melhor sua valentia do que falando com desprezo de Deus
c do seu juízo, como se por isso fossem verdadeiros papa-f~rrosl3~ que se 21
atievein a imprecar, jurar pela paixxo dc N. Senhor, amaldiçoar e desafiar a
Deus no céu. São um pelotão perdido12s,e vêm a ser a palha, como em todas
tis outras Iùnções, nas quais também há muita palha e pouco grão.
Daí se conclui que estão em maus lençóis com Deus aqueles mercená-
I-iosque vagueiam pelos países à procura de guerra, quando bem poderiam 71)

ii-:ihalliare exercer algum ofício até que sejam requisitados, e assim ficam
~~cnlcndo seu tempo de tanta preguiça ou por causa do seu temperamento
~clv:igmm eude. Pois não podem apresentar a Deus consciência tranqüila,
i r i i Ix>a causa para suas andanças, mas somente têm uma vontade louca e
iciiieriii-ia de fazer guerra ou de levar uma vida livre c selvagem, condizente 35

: i < ] csiilo desta gente. Por fim uma boa parte deles só pode mesmo dar em
~i~;il:i~idros e ladrões.'3hOutra coisa seria se se dedicassem ao trabalho ou a

IV1 V$i iiciina p. 388, n. 104.


1 15 Vc:i:i iicima p. 382, n. 86.
I 10 I .iitciii s i ali;i aos críticris da liheldadc cr~nçeiliil;~ aos Iws~luiiictcs,clialii:ida Rii.sl:iiil; pi.l;i
q t ~ : t I c.vic,~po<li;~n,dcciciir i n ~ l i v i ~ l ~ ~onclc
~ ~ lc~sc~h
~ ~ quc I~O clc p~csl;~r
c ~ ~C <l Ic~ B I ; ~ I go,~t:(ri:~n,
1iiili1;ii'.
si~ivi<i>
algum ofício, ganhando seu pão como Deus ordenou e impôs a todos os
seres humanos137,até que o príncipe terrritorial os convocasse para si mesmo
ou Ihes permitisse servir a algum outro príncipe; neste caso poderiam pôr-se
a caminho de consciência tranquila, pois saberiam que com isto estariam
prestando um favor a seu superior; caso contrário, não poderiam ter esta
consciência tranqüila. Afinal, isto deve constituir consolo e alegria para todo
mundo, sim, uma inotivação muito forte para amar e respeitar a autoridade:
o fato de Deus o todo-poderoso nos proporcionar a imensa graça de nos
colocar a autoridade como sinal exterior de sua vontade, de modo que
tenhamos certera de estar agindo corretamente e agradando a sua vontade
divina scinpre que aginnos em conformidade com a vontade e o agrado da
autoridade. Pois a csta ele viiiculou sua vontade ao dizer: "Dai a César o
que é de César" [Mt 22.211. E Rm 13.1: "Cada qual esteja sujeito às
autoridades superiores."
Por fim, também os soldados têm muita superstição no combate: um se
encomenda a S. Jorge, o outro a S. C r i ~ t ó v ã o ~um~ ~a, esle, outro àquele
santo. Uns sabein conjurar Serro e pedras de arcabuz. Outros sabem benzer
cavalo e cavaleiro. Uns portam consigo o Evangellio de S. João13' ou alguma
coisa em que se Fiam. Todos estes cstão em situação perigosa, pois não crêem
' 1 em Deus, mas, ao invés, iiicoi~emem pecado contra Deus com sua supers-
lição e crença equivocada; caso morrerem, s6 podem estar perdidos. Em vez
disso, deveriam agir de seguinte forma: quando estiver iminente a baíaiha e
tiver sido ieita a admoestação que relatei acima14",cada qual deve encomen-
dar-sc humildemente à graça de Deus e comportar-se neste ponto como um
cristão. Pois ila admoestação acima somciite está apresentada a forma segun-
do a qual se deve praticar de boa consciência a obra cxterna de guerra.
Como, porém, nenhuma boa obra é salvifica em si rnesma141, depois dessa
exomção cadaqual deve falar para si próprio iio coraçZo ou a viva voz o seguinte:
"Pai Celestial, cá estou eu, segundo a tua voiltade divina, nesta obra
cxlerior c neste serviço prestado a meu superior, conforme o dever que tenho
cin primeiro lugar perante ti bem como ao mesmo superior, segundo a tua
vontade. Agradeço por tua graça e misericórdia de me teres colocado nesta
ohrii, na certeza de ela nZo ser pecado, mas justa, uma obediência que agrada
:i tua vontade. Como, porém, sei e aprendi através da tua palavra cheia dc

I ( 7 ('I: í;n 3.19: I Ts 4.11; 2 Ts 3.10.


I.{# S. .lorgç çrd vçneiado copo patmno protctor dos cavaleiros, lansquenetes, aiinçiri>sr
(:,I ~i~wciiçs
. <IciIiosqueLes. A dcvoç;io a S. Cristóvão i~corriamespecialmenteos c;ivalcili>s.
I I 0 ( ) pnili>g<idii h;uigclho <lc J r > k ((1.1-14),parte iiiiegrante do c%i<incrlii miss:,, cr:i, ,,:i
I w i ~:iliicr
i iI;i 6p~:lLIC l,111rro. IIS:K~<I c111~ónnulasi riiuais dc magia.
l,lO \'c, i;~ ;bri!>t;t, 1,. 307,IZ~?.X,
LI1 ( ' I . I<,,, .+.'?H:(;I 2.10.
< iuçna doi Camponeses
p ç a que nenhuma das nossas boas obras pode ajudas, e que ninguém pode
ser salvo como soldado, senáo unicamente como cristão, dc modo algum
quero me fiar nesta minha obediência c obra, mas colocá-la em livre serviço
à tua vontade. E creio dc corayZo que exclusivamente o sangue inocente do
leu ainado Filho, meu Senhor Jesus Cristo, redime e salva, sangue este que 5

clc por mim derramou em obediência i tua misericordiosa vontade.'" 21sto


permaneço, nisto vivo e morro, sohre esta base luto c tudo coloco. Airado
Senhor, Deus e Pai, conserva c fortalece em mim esta fé em teu espírito,
Amém". Se ein seguida quiseres enunciar o Crcdo [Apostólicol e o Pai-
Nosso, podes fazê-lo e contentar-tc com isso. Coin isso entrega corpo e alma 10

em suas mãos.'"' E desembainha a espada e dá-lhe os golpes, em nome de Deus.


Se houvesse muitos desses soldridos no exircito, meu caro, quem lu
aclias que Ihes l a i a alguma coisa? Devorariam o mundo scm um único golpe
de espada. Sim, sc houvesse nove ou dez dcstcs numa tropa, ou mesmo três
ou quatro que o pudessem pronunciar do fundo do cor;içáo, eu os preferiria 15

:I todos os arcabuzcs, lanças, cavalos e armaduras, e deixana vir o turco com


iodo o seu poderio. Pois fé crislâ não é ncilhurna brincadeira ou insigniticân-
cia, mas como Cristo diz no Evangelho: "Ela tudo pode" [Mc 9.231. Entre-
kiiito, meu caro, onde cstáo aqueles que assim crêcin c conseguem fazê-lo?
'rodavia, mesmo que a maioria não o Faça, precisamos ensiná-lo e sabê-lo ein
consideração iqucles que o fai-áo, por menor que seja o seu númcro. Pois "a
palavra de Deus náo sairá ein vgo", diz 1s 55.11. Afinal, ela leva alguns para
Ileus. Os outros, que desprezam este ensinamento benéfico para a sua
salvação, terão scu juiz, perante o qual se responsabilizaráo. De nossa parte
csiamos desculpados e fizcmos o que está ao nosso alcance. )i

Isso basta por ora. Também quei-ia ter dito algo sobre a guerra com os
iiircos, m a ver que se nos tornara tão próxima, e alguns me acusaram de
icr desaconselhado a fazer guerra com o turcoiu. Há muito sci quc cu
i;iiribéin deveria ficar turco e que de nada mc adianta ter escrito tZo elara-
~iiciltcsobre o assunto. Além disso, já ensinei no opúsculo sohre a autoridade iii

scciilnr como se deve fazer guerra com seu par.14s Como, porém, o turco
volioii para casa e iiossos alemães não rnais se preocupam com ele, ainda

I I.' ('I. Rin 3. 24s.


I I j ('I'. SI 31.6 L*: 23.46.
I 1.1 i 1s IUIC<IS O C I I ~ Xa~Hungia em 1526 c irmcaçavani invadir a Áustria e a Alemanha. O
iinpçr;idor Cxlos V náo pôde colocar cm prilica o que primeirmenle piaiiejasa para ;i
Assc~iibl~ia dc Espird - veja acima uibodoç8<> ao procnir csçiiir> pois precisava < k i
iilxiio inilitar dc icrritGrios que tdmnr ;iilcrido i Rcfomia, a fiin ilc fizir liiriic i: ;inic;iy:t
1 i i ~ ; i . l';iiii iis posiiçi>cs ilç Lulçro ;rnlcrioic~;I 1526 ;iccrc;i <I;,li.sisli.nciii coiili-;i 0 s I i ~ i i i i s .
<.I'. WA 1,575.35-3'): h,/llX,1441~),?7:
7.140.I')s.;443.Ss.: 15,241-278; I<J.í~M.?L~I;
.lO/ll.LJ.is.
1.1- Vi:i;i :iciiii:i 1,. 111.1122.
Se TanErn Militares O c u p m FunçZo Berii-Avenlur;i<l;i
náo é ocasiáo de se escrever a csle respeito1*. Esta orieiitaçáo, prezado
senhor Assa. eu deveria ter elaborado há muito. Foi, porém, adiada por tanto
tempo pela razão de nos temos casado neste ínterim, pela graça de Deus.147
Desculpai-me esta demora, pois eu mesmo não entendo como pôde demorar
5 tanto. Espero. entretanto, que r150 tenha sido uina demora infnitífera, mas
que tenha seivido tanto mais pru~iapninorar o assunto. Com isto vos enco-
mendo a Deus.

1.10 A c;iiiili;iiih;i ~nilit;rr iIc 1526 <lu su11Zo Solinijo ii, Kaiuni (1494195. 1520-1566). cqit,
~,oiiio;i110 li>iii viliiria ii;i hii1;ilha dç Mohacz a 29 de agosto, quando morreu o rci I.riiv
11 (151Ki. 1516-1520) il;, Iliiiigi-i:), çiicrrrou-se coin sua volta a Constat~Iin<ipla c i ~ i31 <Ic
~i<ivi.iril,ri,.Siiliw ;i pv":! c.oiii os IIIICOS, vide hliur scgiiir~tc.
1.1'1 V,,;, ;~C~IOI;\ ;I i o I r < > < l t ~ y ~ <p~t ~ ~ ~rscrito,
c o l c .1, ? f ~ l l - ? í ~ l .
Guerra contra
os Turcos
Guerra contra os Turcos

INTRODU<;A~AO ASSUNTO
I//

A invasão do Sacio Império Romano-Gennânico pelos turcos era uma ameaça


que existia anles de Lutcro. Desde o tempo das cruzadas podia-se esperar um revide
dos islâmicos que coilheceram na Terra Sanla a l o r p e a fraqueza dos exércitos
europeus organizados com a bênção da Igreja cristá da época. Com a promessa de
I ' glóiias eternas especiais aos que inorressem em combate, os i s l h i c o s conseguiram
organizar exércitos agressivos que levaram não soiiiente o domínio político, inas
especialmente a doutrina dç Maoin6 a todas as terras conquistadas. Os turcos otoma-
iios, que aderiram ao isla~nismo,expmdiratn seu domínio e abriram o caminho para
a Europa quando conquistaram Consiantinopla cm 1451. Até o final do século XV,
'I
os países halçânicos até o Danúbio estavam em seu poder. No oriente próximo
conquistarain 21 Pérsia (Irâ) e a Sina.
No século XVI, o século da Reforma, a ameaça de invasão dos países ao noiTe
do Danúbio ficou mais evidente. Selim I, 1) Cruel (1467-1520, sultão desde 1512),
conquistou o Egito em 1517, o ano das 95 Teses de Lutero, e foi nomeado califa, o
'
que lhe impunha o sagrado dever de promover guerra e vitória para Alá. Quando
I;ilcccu, em 1520, esperava-se a paz. Mas scu filho Solimâc 11, o Magnífico (ca.
1494-1566). que parecia ser uin fraco, contiriuou as terríveis guerras de conquista.
Apoiado por Fnincisco I da França (1494.1547, rei desde 1515), alacou o reino de
I,iiis I1 da Hungria (1506-1526, rei desde 1521). Ein 1520 caiu Belgrado, eni 1521
"' coiiquistou a ilha de Rodes, e em 1526 derrotou os húngaros em Mohács, onde
iiiorrcu Luís TI. Depois de incendiar a capital Budapest (naquele tempo chamada
Olcn ou Buda), S o h ã o II voltou para Corislantinopla. Parecia um sinal de paz, mas
clr foi apenas reaparelbar o seu exército.
Já cin 1518 e 1522 haviam surgido escritos que coiivocavam cruzadas conha os
', ilois grandes males o« império: a ameaça do turco e os qiie ameaçavam a unidkide
iI:i 1.6, isto é, Lutero c seus scguidores. Outros convocavam para urria submissão ao
iiiici~,pois louvava-se a boa admiiusira$ão deles nos países conquistados. As vozes
:I Ilivor c contra eram confusas. como era confusa a situa$Zo política e religiosa.
t ':irlris V (1500- 1558, iinperador desde 1519) havia condenado Lutcro em Woms eiii
,', I\:!I, iii;is iião podia agir c0nh.a ele, porque precisava do apoio dos príncipes d;i
S:ikiiiii;i ii;r clcfcsa cviiitual contra o turco. Na primeira Dieta de Espira, eiii 1526, os
l u tiii.il)cs li~vol.iíveisi liefonna conscguirm uma paz que antecipava parcialiiiciiic (i
iiir.il~i<ii10 ii~iusrcgio ecius rcligio, cslabelecido formalmente na Paz de Atigs1)ii~ii.
c t i i 1555. Sigiiilic;ivn iluc c;irl;i cst;i<lodo império 1inh;~ulibcrdadc de icr c dckiiili.i
' ..i~.i ii,iivicq5ii rcligios;~.O ;ii<liiiiliiiliicI'criian<lo d;i Auslria (1501-ISM), Iicrdcirc~
ili,; iIoliiliii<r\ilirs I l;il>sliiir):~~.iiiii;ii, i10 iiiil>ci-icli>r
C;irlos V, 1130 ci)iicor~l;iv;i~.oiii
( iiiiii-a
-
çoiibn os Turcos
i\so. Em 1526 havia sido feito rei da Boémia e da Hungiia. Conseguiu uma nova
<lit.tapara Espira em 1529 para decidir a questão do tnrco que estava diante de Viena
c n questão da heresia luteraria no império, que, segundo ele, ria a causa do castigo
<I< Ileus através do turco. Os príncipes luteranos protestarani (daí o nome de "pro-
tcstantes"), pois a proposta de Fernando era uma ameaça para o Evangelho. Lutero 5

rcspondcu à questáo em seu livro Da Guerra contra os Turcos em 1529.


Na realidade, Femando participou na precipitação dos acontecimentos que colo-
c;ir;un os turcos diante de Vienti duas vezes. Em 1526, quando se tornou rei da
I3oi.inia e da Hungna, enviou uma embaixada a Constanimopla, oferecendo "paz e
Ihi);i viziiihança". Como resposta recebeii a notícia duvidosa dc que o M;ignífico em til

~pcssii:iviria para se encontrar com o rei. Solimão I1 havia confimiiido Joáo Zápolya
( 14x7-1540 = JoZo 1 da Miingria) como rei da Hungria e não aceitava Feiiiaiido. Os
~iicmbrosda embaixada de Ferriando, retidos em Vene7;i coiiio espiúes, só voltUrain
,.i11 1528. Por essa razZo, Feniaridc precisava da conferencia de Espira em 1529, que
. ,
.iassou. Diante da ameaça dos turcos, Carlos V convocou ;i Dicta de Augsburgo 1s

ciii 1530, para conseguir a aliansa COIU os príncipes luleranos, qiic fizeram magnífica
iI<:lèsiido Evangelho com a CoiiíissZo de Augsburgo. Em 1531 Fernando foi eleito
siicessor de Carlos V, mas s6 se tornou novo imperador do Sacro Inipbio Romano-
( ;i.riiiâiiico com a abdicação de Carlos V em 1556.
E111 1529 Viena conseguiu resistir ao sítio dos turcos. Onzc anos depois, em 2ii

15-10, quando Joáo Zipolya fiilcceii, Fernando novamente seiiiiii a ameaça turca.
'I'i~iliaque corifinnar o trono da Hiirigria, que o partido nacional queria dar ao filho
ilc .lo;io Z5polya, nascido 9 dias antes clc siia morte. Solimúo I1 s6 c n i i l ~ n ~ a vno
a
1ti~lt.ra quem reconhecia seu clomínio supreiiio. Como Fernando não estava disposto
11:ira esta solução, Soliriik I[ invadiu novarnentc Budapest, dizimou o exército de 23

I~ciiimdoque ocupava a cidade e trmsfomou a igreja em iiiesqiiitii. Assim, em 1541,


os turcos estavam novamente diantc de Viena. Contavam corii o apoio do rei da
.. quc fez uma alianya ccirii SoLVnL) I1 e enviou sua f r o ~para
.inça, i ajudar os turcos
i10 Meditcnâneo.
O eleitor Joáo Frederico da Sax6nia temia que agora Viena nZo poderia resistir 30

: i iiovo sítio, como em 1529. Carlos V teria que auxiliar com tropas da Alemanha na
ilrksa de Viena. Por isso o eleitor pediu a Lutero que escrevesse iiin apelo à oração
c-i>iilr;i 11 turco. Diante do perigo uninentc, Lutero escreveu E ~ o f i q ã o OraçXo
<~isil,-i o s Turcos em 1541, cinco aiicis antes de sua morte. De iiovo os turcos se
ii.iii;ii;iiii. Lutero foi poupado dos Iii~irorssda guerra. Mas assim qiic Carlos \' ficou 15

l i v i r (10s turcos, iniciou a invaiáo dos territ6rios luteranos em 1546, logo após n
iil<viIc(Ir. Lutero, iniciando a Guerra de Esmalcalde'. Di;iiits do túmulo de Lulero ria

I l ik.lii,is d<iresultado pouco satisfaiúrio da Assembléia Nacional dc Augsburgo (1510), as


<c>iicsluteranas se viram obrig:~<laza revisar seus iratados de &:Inça. Dc 26 a 11 dc
<Ii./ç~iil>rr> de 1530 deliberaram eni Esmalcalde sohre uma liga de defesa. O rc?,iiliiidndcssas
iIclik~.r;içíiçsfoi a "Liga de Esnidcdde" c a aprovaçzo dos "Artigos dc Esrn;ilc;il<lc" (cr.
I C X I O cin Livro de Concórdia.São Leopoldo, Sinodal, Poiio Alegre, Ci>iiciir<Iiii, 4. erl. 1<)<13.
1,. 105-341). A Liga dc Esmalcelde mantcvc r i eq~iilihrii~ político~rclipii~sc por iini Ik,iig<r
1x.1 iixlo c gariintiu a divulga@<> p:icilic;i da Rci<innii. No cnlaiilir. tctirixr ~r,lílic:isiiilirii;is
~ ~ ~ c ~l i~~I ~
I ~ , v : ~ I : I ~ >:i SCU c ~ I I ' I ; I ~ ~ I I c c ~\CII,~O. ~~: ~, l ~ ~
~Icrrok~Itt
~ c n t c , mo C O C I I I ~ ~ I ~~ ~I L~ I~I ~ : I <:onk
< I ~ V ;as
I t ~ ~ p i~>qwri;tis
h !I;$ <;urrr;! l ~ v ~ ~ ~ ; t~ l54(~/47).
l ~ ~ l r l r
Inucdu(..ii>
igreja do castelo de Wittenberg, quando foi uistado a desenterrar os ossos, queiriiú-
los e lançar as cirizas aos quarro ventos, Carlos V honrou a sepultura de Liitero.
dizendo: "Eu náo fiço guerra contra pessoas falecidas".
A questão dos turcos foi abordada muilas vezes por Lutero. Em 1518, na
s explicaçZo da tese 5 das 95 Teses2, Lutero argumenta que « papa não pode dispensar
de penas que Deus impõe quando usa certos sofrimentos ou penas como um cbama-
do ao arrependimento. Assim os preparativos do papa Leão X (1475-1521, papa
desde 1513) em 1517 de coiivocar uma cruzada contrii o turco foram interpretados
por Lutero como unia afronta contra Deus, pois lut;u contra o turco serka "lutar
I contra Deus. que diz qiie, alravés da vara, visitl nossas iniqüidades porque nós não
;is visitamos". No início ile seu tratado Da Guena coriim os Turcos, Lutero refere-
se a esse episcídio. pois o papa Leúo X o condena, como outros o coiideiiarm e o
iizerain respoiis.íve1 pela derrota dos Iiúngaros em Mohács, em 1526.
Lutero, rio eritiinto, sustenla sua posiçáo por duas ruíies: primeiro, a cniz:i&i
15 proposta pelo papa era c<im«que uma "cartola r1iíi,oican para fazer dinheiro; seguri-
do, os cristZos ná» devem atacar ou começar uma guena. Não existe a possibilidade
de um "exército cristão". Ademais, o cristáo deve estar pronto a sofrer e a não
resistir ao mal. Claro, há que definir "ofício" c "vocação", que derterminam o
espaço iiidividual. Há pessoas encarregadas da defesa do país, e 0 papa e a Igreja
o não têm esse "ofício". E a "vocação" do imperador, do governo civil. Um não deve
se apropriar do ofício do outro. Como os "cristáos iiSr> devem guerrear" como
cristãos, mas como cidod3»s, é, segundo Lutero, necessh-io "fugir do estandarte de
iim bispo, mas achega-se ao estandnrte do imperador Carlos ou de um príncipe"
[J~I-a "g~ierre;ir com rita consciêiicia".
Lutero diz eiii seu tratado que « turco era "vara de Deus e servo do diabo".
Mesmo que o iurco esteja errado, pois não deferide seu pais, mas busca outros
territórios, deve haver um manda<lode Deus para fazer guerra contra ele. Só existeni
dois autorizados p:ira isso: o Cristiano e o Carlos. O Cristiano, como figura do
cristáo, deve orar para "tirar a vara de Deus do turco". Através da oração, do
I arrependimento e da rniidança de vida, o cristão i r a a vara das mãos de Deus e,
assim, dcixa o turco sobre seus próprios pés, já náo como agente de Deus para
castigar o mal da noss;i sociedade. Assim, o cristão é iima muralha contra Deus, a
lãvor da terra, como Lutcro entende a partu de Ezequicl 22.30. E aí a coisa é séria
e precisa de "jejuar. ajcelliar, curvar, cair em terra", pois, "como o papa é o
', :inlicristo, assim o turco 6 o diabo em pcssoa". A ele o rristáo deve opor-se
cnclusivamente "com penidncia. choro e oração".
Mas ao Carlos. o imperador ou goveino. "coriipete lutar contra o turco". pois
1)s príncipes deveni defender o país e seus súditos. Sem querer "incitar ou conclariiar
~ ; I K Ilutiir contra (1 ti~rco", Lutero quer lembrar a "Calos" que é necessário lev;ir ;i
sCrio "o inandameiito, a permissão e o direito de D e u " que Deus mesmo concedcii
;io governo. Se o turco atacou os súditos do imperador, o ofício deste, dado por Deus,
i. r i (Ic defender seus súditos. No final, Lutero quer ser bem claro quanto aos
ol!jcIivos desta g[ierr;i. Diz que recomenda a guerra contrii os turcos apenas na medid;i
e no modo de conseguir que recuem. Lutero accila também a derrota, que pode
indicar até o iminente fm do mundo.
O conteúdo do h-atado Exortaçáo à Oração contra os ?ùrcos de 1541 é seme-
lhante ao tratado de 1529. A 3 de agosto de 1523, Lutero comenta numa carta ao
eleitor Joaquim TI de Brandenburgo (1505-1571, príncipe-eleitor desde 1535)3 que s
na« podia simplesmente dizer que o turco estava errado e "n6s" certos. Por isso não
orava por vitbriq mas por uma luta no temor de Deus, coin confianç;i em sua graça.
A um soldado que lhe pediu conselho escreveu que se mependessc, aceitando o
castigo de Deus, e que usasse o Crcdo e o Pai-Nosso, para então "cortar o seu
caminho coin a espada" na guerra. IO
Ern Exoitapi<áoLutero vê iim futuro negro c difícil. A Alemailha est;iv;i niadura
e I-cpletade todo tipo de pecados contra Dçus, cheia de sçilas, do deus Mâmon4, de
injustiça e,usura. Há um aumento geral dos preços, mas não querem pagar mais aos
pastores. E preciso [azer limpeza, mas, diz Lutero, nZo se deve dcixar que o turco
faça essa limpeza. E preciso fazer penitência, fazer justiça, combater a ganância; is
;iplac,u o alcoolismo, a iogatina, o luxo; honrar a palavra de Deus, participar do
Sacramento; proinover escol~isc i g r e j a Os ninivitas tinham 40 dias para sc mepen-
derem, e se salvaram. Os alemács têm o Catecismo em alemão'.
E preciso orar sein deteriiiinar a Deus como e qulmcio deve nos atender. No
culto deve-se ler os Salmos 79 e 20, para entáo acrescentar sua oraqáo particular. 20
Não se pnde proceder como os epicuristas, que dizem estar tudo determinado e quç
não adianta fazer nada. Está deterninado, sim, diz Lutero, mas nZo o sabemos e por
isso C riecessjrio agir. O exército turco é, de fato, o exército do diabo. E contra os
(liabibos precisamos lcr anjos do nosso lado, o que acontecerá se nos humilhamios,
~ ~ r a m i oe sconfiarmos na palavra de Deus. 23
Já perdemos nossa vida dcsde A d k , mas Cristo a rccriou e reconstituiu. O turco
nada pode f z c r se estamos com Cristo, diz Lutero, pois apenas pode abreviar nosso
Icmpo de mortais. Ele entende que esta guerra C uma guerra bendita por Deus,
porque lutariam para preservar a palavra de Dcus e as Igrejas, cspeciaimentc para a
:iinacia juventude e a descendência. Lutero recoinenda que se ensine o Catecismo às iii

crianças, pois seqiiestradas podem divulgar a fé. Se as mulheres ficlircm prisioneiras


c iivereiii quc ficar na cama com os turcos, Luter« entende que a palavra de Deus c
;I I? peniianeceni em Iibcrdade. Diz que para o pobre, na redidade, dá iio mesmo
. o turco ou sob crisfios desalmados, que sufocam o pobre na Alçmanha.
.i1 . hob
Assiiii, ele acha, "C impossível que a Nemanha subsista".
Mas ainda há tempo para mependimcnto. Deus pode conceder mais do que
]x~climiios.Diz Lutero que, sç perderem, terão o Juím Final, onde tan1bí.m o turco i
o ~i:il':ichçgaráo ao fun. Embora aceilc que o turco possa fizer uma administraçiio

i ('I: WA RT V1,143 (nc' 19.50).


.I I .iiii.ir, lclcri-si com freqüência ao "dcus Mjinoii", adotandr~como gcimciciisiiio<iv<>c:iliill<i
, i IL 16.9, siguin<l<i
~:ii'go r ~ c ~ r i x > r i ; idc a Vulgal;~.Intero ciiiprep o lcrniii cio siriii<l<,<li.
''clvms di~~l~ciro", o di1111eirnCOIIKI íclolo. Veia a c i ~ ~I>.
~395.
a 11. 125.
'i V<.,;!i,.; Ii.rlo< <I<> <';iiccisi~iii
Mciioi- c <';iiccisiiii, M;iiiii- ciii Ol>r;i\ Si.liri<,ri;i.s.v. 'i.
razoável do país, Lutero adv,erte espccialmeiite contra destruição da religião cristâ L.
do malrimônio pilo turco. E necessário ir ?I batalha com ordção, por chamado dc
Deus e sua ordein, p x a viver ou morrer, com boa consciência.
Da Guerra contra os Turcos'

i!,
Muiros amigos haviam pedido 3 Lurero que escrevesse a re~priro<ia qiiestio do
turco. J i eiii 1525, em seu Lrataclo Acerca da Questão. Se Tmbé111kfilitill'esOcupam
liinn Fiin~;ioBern-sverilircr~iaL.Lutcrai diz qiie quer tratar a ajiiestLl. Mas a primeira
infomlação maiz, concreta veio numa cartii de 5 de qosto de 1528 a Nicolau
1l:iiisniam-', sei] amigo, piislvr ein Zwickau nesta :]>oca. Coiiie~oua escrever em i
oiitubrii de 1528, inas cin iiov;~ciirta a Haiismanil a 13 dc fevereirn de 15294, ixlata
c~uro ~ratadonZo apareceu porque se perderam as primeiras páginas do maniiscrito,
que Liitero leve que reescrever. A cdic;ãio de Da Guerrz contra 0.5 iiirco.~só saiu a
23 de ahiil de 1529.
Manim C. Warth ,,

15
A Sua Alteza, o Nobilíssimo Príncipe e Senhor,
senhor Filipe, Landgrave de Hesse, Conde de Katzenelbogen,
Zigenhain e Nida. meu Clemente Senlior.
Graça e par. em Cristo Jesus, nosso Senhor e Redentor! Ilustríssimo e 70

ii<~liilíssimo Piíncipe, clemente Senhor! Há bem cùico anos ;tigumas pessoas


iiic ~icdirarnpara cscrever sobre a guerra com os turcos e p;ra exoitar e
iiicciiiivar nosso povo a ela. E agora, iiiesmo porque o turco se aproxuna de
iios. i;iiiibérii meus amigos me pressioiim a fazê-lo, especiahtterite porque
Ii:i ccit~ispregadores ùiopomnos entre nós alcmães (como infelizmente 15

t , i i , < i ~ . 0 s quais incutem no povo quc não se deve neni sc pl-ecisa lutar contra
iiiici~s.Algiins iambéiii s;io tdo loucos, que ensinam yiie não convém a
iii.iiIiiiiii cristão conduzir a cspada secular ou governar. Além disso, como
I I O > S I ~ povo alemão é grosseiro e selvagem, sim. quase ii3eio diabo meio

I l i i r l i Kiicgc widcr die Tiirken - WA .30/lI, 107-148.Tracliição: Ric;udo \V. Rictli


.' ( ' 1 . :I<.IIII~Ip. (1(>0)362-401.
i ( I W.4 Iii 4.511 (Nr. 1701).
I I. W I I i 5.17,. (Nr. 1181 I
Da Guerra coma os l i i l i i r \
huiiiniio, idgiins tamhéiii anseiaiii pela chegada e pelo governo dos turcos.
Lutero leva a culpa por esse engano e inaldii<ledo povo, que são cliniiiados
de "fmto do iiieu evaigeiho", assim corno i;iiiibém tenho que levar a culp:!
pela revolta e por lodo nial que acontece eiii todo mundo agora, mesino bem
5 sabendo eles qiie não é assim. Contudo, eles se colocam contra Deus c sua
palavra, como se não soubessem que as coisas sáo diferentes, e buscam
razoes para difamar o Espírito Santo e a verdade publicamente conhecida. ;i
fini de que beni inereqani o iiifemo e jamais obtenham arrependimento L.
perdáo de heus pecados. Por isso sc faz necessário que cu escreva sobre essc
1 assunto. tambéni por rriinha própria causci r pela do Evangelho. para nos
desculpar: não junto iios difamadores (que ri30 s5o hons o suficierite eiii
re1ac;ão a iiiiiii, para que eu queii-n com uma palavra me desculpar diante
delcs). Pois o Evangelho deve feder eiitre cles e ser "um cheiro de morte
para a morte" [2 Co 2.161 (como eles inei-ecem coin sua difamiiçáo dclibe-
5 iada), mas para que as coiisciências inoceiiics 1180 sigam sendo engaiiadas
por essas inás línguas e levantem suspeitii de iiiiiii ou de meu ensino, ou
sejam sediizidas a acreditar que não se precisa liitar coiitra os turcos. Achei
quc seria boin cditai. este livrinho sob c) iioriie de Vossa Alteza, por ser o de
um famoso e poderoso príncipe, a fim de que ele tcnha melhor reconhsci-
:" riiento e seja lido mais diligentemente. Assini, se chegasse a ocasião de tratar
ri respeito de uma uivestida contra os turcos. os príncipes e senhores teriliiii
uma lembrança corriurii. Pois eii qircro indicar riele alguns pontos sobre os
quriis bein s e poderá refletir e pelos yuais conviri se empeiiliar. Com isso
recoincndo Vossa Alteza a nosso misericordioso Deus ein sua patemd greç:i
e bciievolência, prra que ele a proteja de todo eiigaiio e malícia do diabo c
bein-avciituradnmente a iliiiiiine e foflaleçn para governar! Amém! A 9 dc
outubro de 1528.
A Vossa Alteza
solícito
Martinho Lutero.

Na bula em que iiic excomungou, <I papa Leáo Xs condenou entre outros
;uiig»s tanihém esse, onde eii tuiha dito: Lutar contra os turcos eqiiivale ;i
, o~>«r-sc a Deus, que com csta vara açoiiii iiosso pecado. Desse artigo podciii
tci-tirado sua opiriião os que dizem que e11 teria alertado coiitra e des;iciiri~
sclhado a combater os tiircos. Confesso abeitatiiente que esse artigo é iiicir r

5 I.i.âi, X (pap;i <1ç 1511 ;i16 1521). clcilo cardczil já ani 13 mos dc idade e papa ;i<i~ 17. O
:iiiii.c, ci1ilcii<lor<I<, rcti:isciiiii.iiii> i~ivolviiiscu pontitii,ido. Sob siu governo o iiiii!i<l;iiii>i~iii
iI:i iiíii;i I~:III:~I ;iliiil:iii gt:iii ~iiciii.iil~:~~~lc. Fc'iii clç que c'riiiriii ;i biil,i < l i cxo>iiiiliili5ii I:rrii,:<..
Iliviiiii<.< < ~ i i i t : Ii . i i i i l i , i l i ,li. i i i i i l i i ) (li. IF?íIl.
iiaqiicla Ipoca foi colocado e defendido por mim. E. se hoje as coisas no
tiiundo estivessem coino eiitao, eu qucreria e precisaria colocar e defender a
inesnia coisa. Não C, entretanto. eleganir que se esqucça como esiavani as
coisas no iiiiindo naquela época e quais eram minhas razões e motivos,
tnmtendo ininha palavra, mas puxando-a para uni outro coiitexto, «ride s
:iqueles inotivos c razGes não existeiii. Com uiiia aptidão dessas, queiii niio
podcria Pdzcr do Evangelho pura mentira ou preteiidcr que ele fosse contra
si próprio'! A situaçàu naqueles tempos era a seguinte: ninguém tinha erisi-
nado ou oiivido, tmipouco sabia algo a respeito &i autoridade secular: de
«ri<lc procederia, qual seria seu ofício ou obra, ou coino deveria servir a INI

Deus. Os niais erudiios denh-e todos (não quero citá-los) consideravain a


;lutoridade secular algo geritio, humano, não-divino, como se seu integrante
estivesse rium estado perigoso ?i salvação. Padrecos c moiigcs ;u~eb,mhararn
c coi~vencerarncom isso a reis c ~~iíncipes de tal niodo que esies assuniuan
outras obras para servir a Deus, tais conio ouvir c iiiaiidar rezar missas, orar, 15

ctc. Em suma: príiicipes e senhores (por mais dedicadamente piedosos que


fossem) consideravain seu estado e ofício como se nada fosse, coino neiihoin
hcrviqo n Deus, tendo-se tornado verda<leirospadreros e monges, iiiesino não
iisando tonsuias o11 capuças. Sc quisessem servir a Deus. entáo tinham que
ir i:,igrejas. %dos os senhoics que vivcram naquela épocii e o experimen- 2"
i;ii-aili precisam dar-rtic testemunho disso. Pois mcu mais clciiieiiie senhor.
cliique Freder-ico. de berii-avcnturaka Iembmiiça, ficou tão contente qiinndo
licl:r pi-iineira vez escrevi a I-cspcito da autorickide secular*' que mandou
copi:ir e encadernar rium voluiiie especial o livrinho, teiido-lhe grande apre-
I:O, pois kunbém ele podia ver qual a importância de seu ofício diante de
I)cus. Naquela época. o papa e os clérigos eram tiido eiii tiiclo, sobre tudo r
1'or tudo. coino um Deus no inundo. A autoridadr secular permanecia lias
iriv~is,oprimida e desconhecida. O papa, não obstante, queria ser cnstáo,
iiii~ininentecom sua multidão, e pretendia que se guerreasse corn os turcos.
I:ii iiic abstive de trata daqiiclei duis :utigos, pois iiie <Iedicava então à 111

~ltitiii-iiiuria iiiedida eiii que esiu se relàc aos cristãos e i conscièiicia. Narlli
i i i i I i ; i ainda cscrito a respeito da autoridade secular, de modo que os papistas
I I I ~ . riliicetideram como um hipócrita ligado aos príncipes. porque eu sá
i i . i i : i v ; i do estado espúiiual. sobre coiiio os cristaos devrri:rm ser, e 1150 do
. . c < i i I ; i r . I>;i mesma inmeira inc censuraiii agora dc subversivo, depois quc 1.

~.:><-ic.vi i;io distinta e proveitosarncnte a respeito da autoridade secular, conio


nt.iiliiiiii inchtre 1) fcz desde ;i +oca dos ap6stolos (excluindo. talvez, SLO.
,liiii\iiiiho). Disso posso me vangloriar dc boa consciciicia e coni o testcmu-
i i I i * i i10 iiirindo. Deiiii'e os artigos da doutrina cristã, porém, tratei tainb6in rlo

~- ~~ .-

i, i I i ' ~ ~ ~ ~1111.
I ' I . iic~li'vi,litiiii.i~Icxl<,:" I > : i A i i i i ~ i i i l ; ~ i l i ~ S i ~ c i i l ; ~ i . :11<11111>\~~ ~ . i l < ~ ~ ~ c ~ ~ l > ~ .~~) .l /~c iI . ~ ~ c i i ~ " .
que Cristo M a eni Mateus [5.39-411: iim cristão não deve reagir ao iiial, mas
tudo sofrcr, deixando levar e toiiiar a túruca depois da capa, api~sentando
tambérri a outra face, etc. Desses artigos o papa! suas faculdades e conventos
fizeram um conselho facultativo, que não seria ordenadg nem obrigatoria-
5 mente exigido a iim cristão. lnvci~eranassim a palavra de Cristo, ensinaram
falsnmente eni todo inundo e enganaram os cristãoi. Porque eles qiirnain scr
cristãos, sim, e os riielhores! e lutar contra os turcos, supoitando inal algum
e tampouco sofrendo violência ou injustiça, repliquei com esse dito de Cristo
que os cristãos não devem resistir ao mal, inas sofrer tiido c deixar que se
leve tudo en1bora7. Nisso fundamentei o artigo que o papa Leâo condenou,
sendo até prefeiível que ele o tenha feito, para que eu arrancasse a fachada
maliciosa da malaridragein roinana. Pois os papas janiiiis levaram a sério o
fato de querer lutar contra os turcos. inas precisavam da guerra turca como
uma caiTola, sob a qiial faziam siia mágica. e roub;iv;un com canas de
15 indulgência o dinheiro dos rcnitórios alemáes tantas vezes quantas quises-
sem, coino todo iiiundo bernsabia, mas agora esqueceu. Assim, coridenaram
meu iirtigo8 não porque alerta contra a guerra turca, mas porque rasga a capa
do mágico e desvia o dinheiro do caminho para Roma. Se quisessem seria-
meiite coiiibater os turcos. o papa e os cardeais teriam tanto rendimento com
20 pálios. anatasy e outras coisas não corisagradas que não precisaiam dessa
tortura e roubalhcisa nos territórios aleinâes. Se houvesse intençiio uiiânllne
de empreender uma guerra skria, eu teria podido reí'o~mulariiieu artigo bem
melhor e mais diferenciadamente. Assim tainbém não ine agradou o modo
como se Icva, agita e provoca cristâos e príncipes a atacar os turcos e ocupar
seu triritóno, sem que antes nos coirijaiiios e vivanos como verdadeiros
cristáos. @hos os artigos e especialmente um deles é razão suficiente para
desaconseihar toda e qualquer guerra. Pois isso é algo qiie não quero sugerir
a gentio ou turco algum, muito inenos a um cristão: que ataquem o11 come-
ceiii urna guerra (que nada mais é seiião aconseihar que se deramc salgue
3) ou se leve à mina), já qiie no tim das coiitas nenhuinri veiiiura ha nisso, tal
como cscrevi no livrinho sobre os soldados1u.Do mesmo modo, jamais dá
ccrto qu;uido um malandro deseja punir o outro sein antes querer comgir a
si próprio. Poréiri. o que mais iiie abalou nisso tudo foi que se pretendeu,

7 Cf. Obrcis Sclccionad~, v. 5. p. 199. 471.


8 i.uiero se refcre a sua afnnaçjo na cxplic:qZo ida 5Vdns 95 Teses. eni Obras Selccionad:~.~.
v. I. p. 69s.Cf. ih. a Iniro<tu&ic ao pyreTenre hluco. p. 407,lJss.
c) P;ilio: 'l'iiii de l i hraica, orn:ida de m z r s pretas, coiicedida pelo papa aos airicliispos. N;I
Epocii, i>s pilios erani çoncedidr~sa alto preço. Originalmente o pálio era confecçionadr~<I;!
,.-.i p.I\ i>vclh;is cri;iil;is i i ; p;i\i;igctis
~ ilo Valicano. -Anafas: Imposlo pago ù SE Aposti>iiç;i.
c<,ir~.qn~ii<lcriic ; qul' r c c c h i x ~knefício
i ii.iiiI:i (lc iiiii ;iiiii. ~ x l i i h ~ i,"c:qo cclcsi:i.;liço.
I 0 1'1'. Nc\ic v i i l i i i i c i>icxii,"Si.'liiiiilx.iiihlili1;ircr (Xiil>:uiiui>v~ p. Jíio
Fiin~Ui~H~iii~i\vciiitir;iil.i".
ensinou e incentivou a lutar contra os turcos sob o nome "cristão", como se
iiosso povo tivesse que denominar-se de "exército cristão" contra os turcos,
que seriam os inimigos de Cristo. Isso vai diretamente contra a doutrina e o
nome de Cristo. E contra a doutrina, pois elc diz que os cristãos não devem
resistir ?o mal'l, nem lutar ou brigar, nem vingar-se ou demandar juridica- 5

rnente. E contra seu nomc, pois nesse exército talvez não haja nem cinco
cristãos, ou esteja gente pior diante de Deus do quc os turcos, Lodos queren-
do, apesar disso, ostentar o nome de Cristo. Trata-se do maior de todos os
pecados, que turco algum pratica. Pois o nome de Cristo é usado em função
dc pecados, profanações, e é desonrado. Isso aconteceria especialmente se o 111

papa e os bispos estivessem na yerra. Eles profanariam e desonruiam ao


extremo o nome de Cristo, já que são chamados a lutar contra o diabo
mediante a palavra de Deus c a oração. Estariam deixando de lado vocação
c ministério, querendo combater carne e sangue com a espada, o que não só
não Ihes é ordenado, mas também proibido. Ah, quão exultantc Cristo me 1s

receberia no juízo final, se eu, comprometido com o ofício espiritual (deven-


do pregar e exercer a cura d'almas), o tivesse abandonado paa, em lugar
disso, empenhar-me etn favor da gueiTa e da espada secular. E como poderia
ocorrer a Cristo que ele ou os seus empunhassem a espada, guerreassem e
inatassem os corpos, se ele se gloria de ter vindo para fazer o mundo bem- 20

i~venturadoe não para matar genteI2YPois seu ofício é lidar com o Evangelho
c, através de seu espírito, liberiar o ser humano do pecado c da morte. Isso
nicsmo, levá-lo deste mundo para a vida eterna. Em João 6.15 ele fugiu e
iiáo quis deixar-se fazer rei. Diante de Pilatos deu a saber: "Meu reino não
6 deste mundo"[Jo 18.361. Também mandou Pcdro embainhar sua espada no 2s
jardim e disse: "Quein toma da espada, este deverá moirer pela espada" [Mt
26.521.
Náo digo isso por querer ensinar que no âmbito da autoridade secular
iGo possam estar cnstáos ou que um cristão não possa fazer uso da espada
c servir a Deus ligado à autoridade secular. Quisera Deus que todos eles 311

li>,sserncnstáos ou não houvesse príncipe que não fosse. cristão. As coisas


csiiiriam melhores do que agora e o turco não seria tão poderoso. Eu, porém,
qticro, em verdade, distinguir e diferenciar ofício e vocação, a fm de que
cada qual perceba para que foi chamado por Deus e exerça esse mesmo
ofício tiel e cordialmente: para o serviço, discipulado e satisfação de Deus 35

(como cscrevi abundantemente em outros lugares, especialmente nos livri-


iihos sobre os soldados e sobre a autoridade secular). Assim, pois, também
I'iiiilo não quer admitir em Rrn 12.4; 1 Co 1 2 . 2 7 ~ que
~ . um se aproprie do
alicio do outro na Igreja, onde deve haver unicamente cristãos, mas admoesta

--
I1 ('I. Ml 5.3'). 12 ('1: Ji, 3.17
Da Gueira contra os Turcos
cada membro a sua obra, a fun de que não se imponha lima desordem, mas
tudo ande distinta e ordenadamente. Que desordem deve ser menos tolerada:
a de um cristão que ah'mdona seu ofício e assume para si outro ofício
secular, ou a de um bispo ou pastor que deixa seu ofício c assume o ofício
5 de príncipe ou juíz? Ou, por outro lado, a situação causada por um príncipe
que assume o ofício de bispo, deixando de lado seu ofício de príncipe, tal
como nessa vergonhosa desordem que gassa e goveina sobre todo o papado.
em contradiçáo com seus próprios c?iones e direito? Per~unte-sea experirn-
cia para saber como nos saímos bein até agora na guerra com os turcos,
10 tendo lutado enquanto cristãos e sob o nome de Cristo até finalmente perder
Rodes, quase toda a Hungria e muito do território alemão. E para que se
possa sentir e assimilar quc Deus riáo está conosco quando se trata de
l ~ ! t m o scontra os turcos, ele jamais incutiu na mente dos tiossos príncipes
o suficiente de iniciativa ou espúito para, ao menos uina vez, poderem tratar
15 com gravidade a respeito da guerrii com os turcos; mesmo que muitas ou
quase todas as assembléias têm sido convocadas por causa desse assunto. Eni
lugar algum há quem queira se aliar ou engajar, parecendo estar Deus a
ridicularizar nossas assembléias e permitir que o diabo as impeça e governe,
até que o turco na hora oportuna venha ceifar e m i n a r a Alemanha sem
esforço e oposição. Por que acontece isso? Sem dúvida, porque o meu arligo,
que o papa Leão condenou, permanece não-condenado e em vigor. E porque
os papistas o rejeitain deliberadamente sem a Escritura, o turco precisa
encarregar-se de confumá-lo pela violência e pela afáo. Se não quereiiios
aprender da Escritura, então o turco precisa ensinar-nos desembainhando a
2' espada, até experiinentarmos, mediante os prejuízos, que cristãos não devem
guerrear nem resistir ao mal. Aos tolos se catam os piolhos com bordão!I3
Quantas, pensas, foram as guerras com os turcos em que não tivemos
grandes perdas e nas q u i s estavam hispos e religiosos'? De que modo
lastimável o distinto rei Ladislau foi derrotado pelos turcos em Vama na
companhia de seus bispos, sendo que os próprios húngaros culparam o
cardeal Juliano. matando-o por issoI4. E agora, recentemente, o rei LuísL5
talvez teria tido mais sucesso, se não tivesse conduzido uma milícia de
padrecos ou (como se vangloriam) de cristãos contra os turcos. Se eu fosse
imperador, rei ou príncipe, exortaria meus bispos e padrecos a ficarem em

I.! Nimin muss man rriir Kulhen lausen, no origiti,~l.KoIk de.7 Narren = o bordjo do palhayci.
oiigiiialminte suti m a , depois sua insígnia ao lado do boné. O ditado significa api-oximii~
iI:iiiieiite: a caj:i qiiel i>tiaio devido.
I4 O c;ii.<lç;ilJoli;irii>('ciariiii (11L>4-1444) fora cnviado pelo papa Eiigênio IV p a a convclicci
i, rci iI;i I'i>lí>rii;i r iI;i 1liiiigri;i. I .;iilisl;iu 111. pim çmpreender uma. r i i i z d a contra i>s Iiircos.

N:i iIcs:irinn;~h;ii;illi:i <li. V.iiii:i itictilcii o cci c várirxs bispos. O curde;il Juliano 6 ;t~su.;sici:iili,
CLL liig:,.
I \ 1.iii.s 11. (ri(I;, Iri<iiii;i<.iI:i I liiiij:li;i. i i > i i i l u > i i,lul:iiilc ;i h;it;illi;i<IçMiiIi6cs. c m ;igoslci ilc 1520.
(i~iciracontra os Turcos
casa durante a campaiitia contra os turcos, orando. jcjuando, celebrando
ciilto, pregando e dando assistêiicia a pessoas pobres segundo seu ofício,
coino náo só a Escritura Sagada, mas também seu próprio direito canônico
cnsina e exige. Porém, se eles, apesar de tudo, quisessem. desobedientes a
Deus c a sei1 próprio direito, estar na guei1.a. eu os ensinaria pela força a r
guardarem seu ministério e. iiZo sujeitaria a mim nein meu exército à ira de
Deus e a todo perigo por caiisa de sua desobediência. Pois ter três diabos no
cxército seria nienos prejudicial p r a mim do qiie ter uni bispo dcsobediente
c revoltado, qiie se esquece do seu miivstéiio e se submete ao qiic ri20 é
oideriado. N5o pode haver sticesso algum com esse tipo de gente, que luta 111

contra Deus e contra suas prciprias leis.


Já ouvi a opinião de soldados ilustres, para quem toda a desgraça do rei
da Fransa, quando foi derrotado c aprisionado pelo imperador próximo a
Piiviai6teka advindo do fato de ele lcr junto a si o povo do papa ou (como
se gabam) da lgi-eja. Depois cliie este teria entrado em seu acnmpamento i

hradiinilo cm ala voz: ''Eculzrin. Ecclesia - eis a Ipcj;i, eis a Igreja!", nSo
Iiouve inius sucesso alguni. Isso dizem os soldados talvez sem saber as
causas, pois ao papa (que quer ser um cristão. sim, quer ser o priricipal e
iiichor pregador crist5o) riáo compele conduzir urn cxército eclesiástico ou
clc cristãos, pois a Igreja náo deve lutar nem corribater com a espada. Ela teiii :o
ou~rosinimigos do que came e sangue, que se chamam de diabos malignos
c estZo no ar". Por isso ela taiiibém tem outras , m a s , espada e outras
guerras, corii as quais já se ocupa o suficieiite, não precisando imiscuir-se
iins guerras do imperador ou dos príncipes. A Escritura diz: Não há sucesso.
onde se é desobediente a Deus'8. ii

Poi- sua vez, se eu fosse soldado e visse no caiiipo de batalha um


estandarte religioso. de cruzada ou rnesino tini cmciCv<o, Iligiri;t como se
~.stivessesendo perseguido pelo diabo. E ai6 se, coin permissio tiivina, se
:ilc;tnçasse unia vitória, eu ria participaria do despojo e da alegria. Mesiiio
< I inaligno e belicoso papa Jt'ilioLy,que era quase um seini-diabo, não teve 111

siiccsso. Ao final, teve que chamar o imperador Maxirniliano e deixar que o


iiicsino assumisse o comando na guerra, embora Júlio tivesse niais dinheiro,
:~iiii:ise soldados. Tambéiil acho que o papa suhseiluente, Cleiiientezo, por

11, cra o lugx da dcirntii ile Frxicisco J d:i Fianqa,


I';kvi:i. iinlign Ticinu, capiwl da Lo~iit.;<rclia,
:ili;i<l<i~ l Liga a de Cogiic do papo Cknicnte W, qlir se haviam urudo com os Wncips
ii:ili;in<is contra a Iizgenio~iiiieipanhula e alçniã de cirlos V. Foram derrob.idos pelo
vxircilo dç Jorge Fmndskr: em 1525, que queria erifnri1w o papa, mas adoeceu uiiçs <Iç
cxCrcilo saqucar Rorna cm 6 dc maio de 1527 (Ci. Ws DBG Lr.xicon 111, 71:
Kiirhlic11e.sHaridlrukon I, 775; J.14 KURTZ, Lehrburli 'ler Kirchengeichichtc 11, 1x2.)
II ( 'I', ES 6.12.
IX ('I:I Srii tI.15.
1'1 .l,;li~~ 11, jp:tp:t (Ic I503 !SI?.
.!I) i %.i,ii,,ilc VI/. II:,II~ 1' " 152 1- 1534.
Da Guerra conha os Turco\
pouco não teve êxito e111swas guerras, que quase era considerado um deus
dii guerra, até que perdeu Roma e todos os bens por ter poucos soldados e,
além disso, mal-armados. Conclui-se que Cristo quer ensiná-los a compreen-
der rncu artigo, de que cristàos não devem guerrear. O artigo condenado quer
3'
revancbe, pois se refere aos cristãos e não quer ser condenado, mas conside-
rado reto e verdadeiro, mesino que eles nâo se conveiiam ou creiam nele até
fic;u-eiii cada vez mais endiirecidos e impenitentes, descambarem e se arrui-
narem. Para isso <ligoamCm. Ainém!
Verdade é que, por terem poder e bens teiiiporais, cles devem conceder
"1 r colocar isso I? disposiçào de imperador, reis ou príncipes, assim como
compete a outros conceder e dispor de bens seculares. Sim, esses bens
eclesiásticos (como eles os chamam) devem especialmente e antes do que
hens de outro tipo servir e auxi1i.a ria proteçào dos necessitados e para o bem
dc classes mais hurnildes. Eles são dados para isso c não para que um bispo
11 esqueça seu ministério, usaido-os para guerrear e lutar. Se o estandarte do
imperador Carlos ou de uni pi-íticipe se achar no campo de batalha, entáo
cada tini aiide destemido e alege ao seu lado por lhe tcr prestado juramento
- como seri explicado iiiais adiante. Se, corit~ido~ o estandarte de urii bispo,
crudcal ou papa estiver preseiite, aí fuja e diga: "Eu bra, nada tenho ri ver
' com isso! Se se tratasse de um livro de orações ou da Escritura Sagrada
pregada na Igreja, atC que eu iria acorrer!" etc.
Antes, porém, que eu exorte ou motive a lutar contra os turcos, ouça-me,
pelo amor de Deus! Quero ensinar-lhe anles de tudo a guerrear com reta
consciêiicia. Pois, por mais que quisesse (dando espiiço ao [velho] Adão)
ficar qiiicto e assistir como o turco revida e se viiiga em meu lugar dos
liranos (rliie perseguem o Evaiigellio e me causam todo mal), nZo quero hzê-
10, mas quero s e i ~ i rir 'ambos, amigos e iriiiiiigos. para que meu sol tamhém
nasça sobre bons e rii;ius e chova sobre agradecidos c ingatoszl.
Em primeiro lugar, porque C certo que o turco não tem direito «LI
u8 iiinnclado algum para dar início a enfrentamento e atacar os territórios que
li;\« lhe pertencem, sendo sua guerra, na verdade, pura injíuia e roubalheira
~iircivésdas quais Deus pune o mundo: como ele, de resto, às vezes castiga
["'r meio de maus elementos e volta e meia tambéin por meio de pessoas
ho;is. Pois ele não luta por necessidade ou para proteger seu território,
' iii;iiiicnd« a paz, coino faz urna ciiitondade comta, tiias está em busca de
oiiiii~sicri-ilórios. que nada lhe Iá~etiiou fizeram, para roubar e danificar,
co~iiouin pirata ou assaltante dc cstrada. Ele é vara de Deus e seivo clo
<li;ilio,nào Iiá dúvida algiirna.
I < i i i scg~iiidulugar, C preciso saber quem deve ser o homem a guerrc:ir
(;oirrn contra r)& Turco\
.-
contra os turcos. para que o mesmo esteja consciente de ter mandado de
Deus, aja com justiça, e não se precipiie nessa empreitada com o objetivo de
vingar-se, oii então teiiha uma causa ou intenção louca. Isso para que ele,
matando ou sendo morto, seja encontrado em estado de bcin-aventurança e
ofício divino. Os hoinens para isso são dois. devendo tanihéiii ser apenas 5

dois: um se chama Cristiano, o outro C;irl»s. Cristiano devc ser o primeiro.


juntaiiiente com seu exército.
Visto que o iiirco é vara uadu de nosso Senhor Dcus e servo raivoso do
diabo, é preciso atites de tudo derrotar o próprio diabo, seu scnhor, e tirar a
vara da mão de Deus, para que o turco se encontre entregue à própria solte, 111

apenas na dependência de suas forças, sem o iiiixílio do diabo e a mão de


Dcus. Ora, isso dcvc fzzer o senlior Crisiiano, oii seja, o grupo dos piedosos,
santos 2 C:UOS crist3os. Essas são as pc.ssoas que estão nriiiadas para esia
guei-i.a e srihem conio lidar com ela. Pois se kintes de tudo iião for derrotado
o deus dos iurcos (que é o diabo). náo será tã« licil derroix o turco. O diabo, 17

veja bem, é iini espírito que não pode ser derrotado coiii couraça, mosquete,
cavalos c hoiiiens. E a ira de Deus tlimhéin não se deixa aplacar com isso,
como csti escrilo no Salmo 33.17s. [sc. 147.10s.1: "O Senhor nào tem prazer
ria força do cavalo, taiiipouco se agiada da musculatiir;i de ningut'm. O
Senhor se iigrada dos que o temem e especiiii em sua inisrricórdia". h a s
r poder cristãos precisam fiizê-10.
Aqui prgiinias: Que111 são, então, 11.5 cristáos c onde se encontram'?
I<esposra: Eles sno poucos, inas, apesar disso, esiâo por todos os lados,
incsmo vivendo longe uns dos outros. tanto sob príncipes bons como maus.
Pois a cristandade precisa perrnaiiecer aié o final, como diz o atigo: "Creio 25

iiuina sarita Igreja cristá". Contudo, cles precisam ser ericoriirados. Os pas-
iores e prc~idoresdcvem, com o maioi- afiiico, exortar a cada um dentrc seu
110~0 à penitência e 3 oração. Devem ijzer penitEncnL.ia apontaiido para nossos
gr;irides e inconiáveis pecados e ingratidão, pelo que merecenios a ira e o
<lcsliivorde Deus, de niancira que ele. com justiça, iios coloca lias mãos do 311

ili;il>«e dos hircos. E, para quc essa prcgação pcnetre coiii mais forqa ainda.
l;iz-se iiccessário introdiizir exemplos e versículos da Escritura: do dilúvio.
iIc Sodoiiia e GoinorraZ2,dos f&os dc Israel c de como Deus castigou
1c.i-i-ívcle seguidamente o mundo, terra e gente, deixando bem claro que não
\t.ri;i surpreendente se lossemos punidos pior ainda, já que pecamos bem
rir;iis gravemente do que eles.
lissa luta deveras precisa sei iniciada [>ela penitência, e 116spr-ecisamos
iiicllioi-ru nosso scr, senão lutaremos em vZo, como diz o profeta Jeremias rio
c;iliítulo 18.7-11: "De moniento falo contra um povo e coiiti-a uin reino, para
Da Guerra contra os Turcms
que o arranque, destrua e dissipe. Se, contudo, tal povo, contra quem eu falo,
se arrepender de sua maldade, também eu devo me arrepender do mal que
pensei em praticar-lhe. Por outro lado: De momento falo de um povo e reino,
para que o plante e edifique. Se, contudo, ele pratica o mal diante dos meus
olhos e não ouvc ininha voz, devo arrepender-inc do bem que proineti fizer-
llie. Por isso dize aos de Jiidá e aos dc Jcrtisalém e fala: vede, eu preparo
uma desgraqa coiili;? vós e tenciono algo coiitra vós. Convsita-se cada um
de seu mau comportamento, endireitando-o e corrigindo-o", etc. Em verda-
de, é bom que nos deixemos dizer essa sentenya, pois Deus tenta algum inal
contra nós por causa de nossa maldade e, certamente, prepara os turcos
contra nós, coiiio também diz o Salmo 7.12s.: "Náo querendo o homem
convefier-se, atioii ele sua espad~i,rumou seu ai-co e mira, tendo colocado
iiele uma sela mortal", etc.
Nisso é preciso incluir também os versículos e exemplos da Escritura,
I
onde Deus se deixa interrogar sobre o quanto lhe agrada a correta penitência
c mclhora, quando ela ocorre iia fé e na confiança cm sua palavra, como nos
casos de Nínive, do rei Davi, Acabe, Manassés e semelhantes. no Antigo
'Testamento, bein como, no Novo Testamento, os de S. Pcdro, do iiidfeitor,
do piiblicniio no Evangelho. e assim por d i a i ~ t eBcm
~ ~ . sei qtie essa instrução
minha será ridícula para os eiuditos e santos, que não careceiii de penitência
alguma, pois a consideram coisa simples e coiiium, pcla qual já passaram há
iiiuito tempo. Apesar disso, nZo quis deixar de fazê-lo por amor de mim c
dos pobres pecadores como eu que, dia a dia, necessitamos altameiite de
iiinbos, da penitência e da exortação à penitência. Nós, porém, permanece-
iii«s indolentes e J'rouuos demais, sem ir tão longe como pensam ter ido
;iqueles rioventa e nove justosz4.
Depois de eles Lerem sido instruídos e admoestados a confessar seus
pecados c melhorar-se, deve-se exortar e apontar a oração com afinco, oração
lnl como agrada a Deus, conforme ele ordenou e prometeu acolher. Sim, que
iiiiiguém despreze sua oraçâo ou duvide dela, inas se esteja com fé fume,
sçgi~rodo seu atendimento, colmo Foi demonstrado em muitos livrinhos
~ii~ssos. Pois quem duvida ou ora ao acaso seria melhor que o deixasse,
1~)rquetal oração é mero tentar a Deus e só toma a coisa pior. Assim,
!:ost~u-ia também de desaconselhar a procissgo como um inútil costume
!:ciitio, pois é mais pompa e aparência do que uma oração. O mesmo digo
iiiiiihirn de rezar muitas missas e invocar os santos. Isso, no entiitito, podei.i;i
li-cizci-algum i-rsiiltado se duratiie as missas, vésperas ou depois da prédic:~

' i Níiiivc: rl: Iii 3.SlO; I1ii.i:<I: ? Siii 24.10: Acahc: cf. I Rs 21.27-29; Muiiissis: cl'. ? ( ' i
i (.I0 I i:S. I'cilx>: 1.1: Mi. 11.71: 1,) 11.15 I<):iiiallciloi: cf: I*. 23.40-47: piihlic:iia,: 1.1'. I .i
IS.IO 1.1.
'I I I., l i . / .
sc deixasse em especial a juventude cantar ou ler :i litania. Que cada um,
~icloinenos em seu íntimo e não em menor medida. dirija seu gemido a
('risto por graça, melhoramento de vida e auxfiio coiitra os turcos quando
csVá sozinlio e111 casa. Não me refiro a orações ni~iitolongas, mas a um
li-cqucntc c brcve geiiier com uma ou duas palavras: "Ai de nós, ajuda-nos, 5

qiicrido Deus Pai! Terii ruisericórdia de nós, querido Seniior Jesus Cristo",
oii palavras semelhantes.
Veja, tal pregação certamente atirigirá e encontrará cristãos. E haverá
crist.:ios que a acolherão e colocarão em pritica - não importa se nZo os
corihcccrcs. Aos tiranos e bispos tambénl se pode admoesta, para que io
ilcixeni de vociferar e perseguir a palavra de Deus e náo impeçam nossa
iii-:ic;ão. Se eles, contudo, não derem trégua, má» temos logo que abandonar
iiossa oração, mas ousadamctitc colocar as coisas aqsiin: ou usufruem eles de
iiossa oraçeo e se preservam conosco, ou então pagaremos poi- sua fúria e
iiiis iuruinaremos com eles. Pois eles são contraditórios e cegos a tal ponto IS

< I I I C ,se Deus conceder Exito contra os turcos, eles o atribuirão a sua santidade
C . crito, to, ~loriando-se por isso contra nós. Por outro I:ido, se a coisa for mal,
ii:io o atribuir50 a ninguém senão a nós, colocando-tios a culpa c desconsi-
~l<.r;iiido seu caráter vergonhoso, publicameiite pecaiiiitioso e maligrio, quc
<:lcs não só iiiaiiifestam, mas também defendem, não podeiido ensinar corre- ~ ( 1

i:iiiicnte iim úiiico xiigo sequer sobre como se deve orx. seiido, portanto,
la.111 piores do que os turcos. Pois bem. isso é preciso que se deixe ao juizo
( l i . Dcus.
Eiii tal exortação à oraçáo tambéni é pl-eciso incluir versículos e exem-
~iliisda Escritura, nos quais se percebe quão foite e pi,der«sa foi por vezes 25

:i oriiçio dc uma pessoa. Como a dc Elias, elogiada por S. Tiago. Também


; i llc Eliseu e de outros profetas, do rei Davi, S~ilomão,Asa, Josafi, Isaías,
I</,cquias.e t ~ . ~Idem,
' como Deus prometeu a Abraáo poupar Sodoma e
;oiiiorra em favor de cinco justos2" etc. Pois a oração de um justo muito
11irlc (diz S. Tiago em sua epístola, 5.16), se é persistente. Aqui se deve 11)

:iilvci-iirque eles se cuidem, não provoquem a ira de Deus, por não quererem
or:ir, c iiâo recebam o veredito de Ezequiel 13.5. Pois lá Deus diz: "Não vos
~~osi~.iiiriastes 3 minha Frente e não vos colocastes coiiio muralhas para a casa
(1,. I.;i;icl, a fiii de estar na vanguarda da luta no dia do Senhor". E dc
I~/i~rliiicl 22.30s.: "Busquei dentre vós um homem que fosse muralha inter-
iii<.ili;iri;ic cshvessc contra mim, a favor da tcrra, puii qiic c11 não a arrui-

' 1 'I'iiigi,: cl: Tg 5.17; Eliseu: cf. 2 Rs 4.1-7; Davi: cf I Srii 24.10; SaIoii~Xo:cf. 1 Rs $.<i10:
A\;i: L.I. 2 <:r 14.11-12; Josafá: cf. 2 Cr 20.5-12: Isains: rio nriciii;il cr>list;i .Ics;ii;is: i i i i i ~ ; , ~
c.~li<i,c\ Izciii lersias,sendo possível que latero se rdeiiqsc ;i Joi;is, d.2 ('r 14.11-11 o i i
I<,:i\. rl. 1 ( ' 1 24.2; lii,cquias: d: 2 Rs 19.14- 1').
.'r, 1'1: ( i i i Iu.?2-32.
Da Guerra conira os Turcos
nasse. Mas a ninguém achei. Por isso despejei &a ira sobre eles e os
consumi no fogo de miiiha fúiia. E paguei-ihes o que mereceram, diz o
SENHOR".
Daqui se depreeiide bem que Dcus quer que nos oponhamos a siia
5 prípria ira e nos defendamos dela, eru-aivecendo-se impetuosamente quando
não o Eazcmos. Isso significa (coriio disse acima) tirar a vara da mão de
Deus. Aqui 1i:í de jcjuar quem quiser jejuar. Aqui há que qoelhii~se,curvar-
se e cair em terra, pois n coisa é séria. Pois o ajoelhar-se e curvar-se havido
até entáo em conventos e niosteiros nada teve de seriedade, tendo sido uma
11 verdadeira macaquice, coiiio ainda o é. Não exorio em vão a pastores e
pregadorcs, p c a que ensiiiciii e pratiquem tais coisas com o povo, pois bem
vejo que, na verdade, depeiide toialineritc do empenho dos pregadoi-es para
que o povo sc emende ou ore. Eilquanto Lutero for reprovado e difamado,
deixando-se de lado ao mesmo tempo penitência e oração, pouco será con-
1s seguido com a pregaçáo. Onde. porém, a palavra de Deus ressoa, isso iião
ocoi+e sem frutos. Eles, no eiitanto, precisam pregar como se prega aos
santos, entre os quais se desapreiideu totalmente a penitência e a fé e se
tagarela algo mais sublime.
A grande necessidade existente deve mover-nos a semelhante oraqáo
1 contra os turcos. Pois o turco (corrio dito) é um servo do diabo, que não s6
a111ina o teiritório c o povo coni a itspad:~(sobre isso vamos ouvir depois),
rnas taiiibéin devasta a E cristá e a iiosso airado Senhor Jesus Cristo. Não
é vcrdadeirc o elogio de alguns a seu governo por peimitii- a cada um que
creia no que quiser, ~luereiidoter apenus o doinínio secular. Pois. na verdade,
ele não deixa que os cristãos se reúnam ern público e ninguém pode. confes-
sar a C~.istoabertamente, iietii pregar ou ensinar contra Maomé. Que liber-
dade de fé é essa, otide náo se pode pregar ou confessar a Cristo, j i que
nossa saivaçáo reside riessa iiiesma ~ o ~ s s ácomo o , diz Paulo em Roiiianos
10.10: "Confessar com a boca toma bem-aventurado" e Cristo muito inci-
1 sivamente ordenou confessar e ensinar seu Eva~igelho~~?
Visto, pois, que a fé deve silenciar e esconder-se em meio a tal povo
grosseiro e selvagem, e sob tal governo forte e poderoso, como poderá ela,
ao final, manter-se ou peimanecer, se já é preciso muito esforço e trabalho
mesmo quando se a prega coin toda fidelidade e afinco? E justamente disso
que também se trata e prccisa tr:itz todos os que denire os cristãos enmaiil
iiri Turquia, se.ja aprisionados ou seja coriio for, raramente permanecem coino
i:iis. Sucumbem e se tomam todos urna coisa só: turcos. Pois eles careceiii
(10 páo vivo das alilias'% vêem a índole pemissivanieiite carnal dos turcos,
:i~.:ih:iiidopor se juiitar ;i eles. Como se pode desmiir de modo mais poderoso
(iurrr;, cunm os Turcos

a Cristo do que com esses dois elenieiitos, a saber, a violência e a malícia'?


Com violêiicia se combate a pregação c a Palavra. Com inalícia põem-se dia
após dia maus e perigosos exemplos diarite dos ollios, atraindo-se a eles. Para
iião perdermos a Cristo, nosso Scniior, sua palavra e a fé3 tcnios que inter-
ceder contra os turcos como fazeriios contra outros inimigos de nossa bem- 5
;iveiiturança e bem-estar, coino klzcnios contra o próprio diaho.
E aqui se deve dcmonsirar L pessoas toda a vida grosseira c a índole
coiii que o turco se conduz, para que sintam melhor aitida a necessidade de
orar. Em verdade. já me aborreci seguidamenle e ainda me aborreço, pois
nem nossos grandes senhores e nem iiossos eruditos se esforçaram para que lu
nos dois regimes, espiritual e secular, iivéssemos conhecimento sobre a vida
dos hircos, que agora estão láo próxiiiios de nós. Diz-se que elcs também
têin conventos e inosteiros. Alguns iiiveiilnram até mesmo iiientiras dcsco-
iiiiinais a respeito dos tiircos, a fim de uiiiitar a nós alemães cniilra eles. Mas
as meiitiras iiaii;i podem. SZo coidiccirlas verdades deriiais. Quero contar ;i 15
meus caros cristãcis algiiiis casos cliie sei com certeza quc sào verdade, para
que eles sejam ianto mais triovidos e estimulados a orar coiil afinco e
seriedade contra o inimigo de Cristo, seu Scnhor.
Tenho algumas partes do Alcorâo dc Maomé, que em alemão poderia ser
churnado de livro dc pregação ou doutrina, assim coino o do papa se chama
decretal. Se tiver teinpo. devo traduzi-lo2",pata que cada uiii ve,ia o quanto
é imprestável e aboiiiuiável. PiUneirameiite, ele louva bastarite a Cristo e
Maria, como os íinicos sem pecado. Só que ele não o corisidera mais do que
um santo profeta, como Jeremias ou Jonas. Nega que ele é F i o de Deus e
verdadeiro Deus. Além disso, não sustenta que Cristo é o Salvadoi- do n
mundo, iiioito por nossos pecados, mas que em seu tempo ele teria prcgcido
c cumprido seu miiiistério até ao fim, coiiio ilualquer profeta. A si meaiio,
coiitudo, ele elogia. eleva em alta medida e 1oiiv;i: de como rena conversado
~~11111 Deus e com os aiijos, de coriio o miindo lhe teria sido recotiiendado,
(lcliois que o rilliiistério de Jesus xcabara como uni profeta para tr'uer o.\
\~,iisà [é, forçarido-os ou castigiiiido-os com a espada se não o q~iisessem.
I I:i inuito louvor :i espada ali dentro. Daí considerarem os iurcos seli Maomé
<,iii iiiuito mais alta e maior medida do que Cristo. Pois o niinisténo de Cristo
ici-ia chegado a termo, ao passo que o de Maomé estaria ainda em vigor. A
pirtir disso, cada uin pode bem observar que Maomé é uin destmidor de 15
('visto, nosso Senhor, e seu reino. Pois a quem nega que Cristo é Filho de
I)cus e moneu por iiós, que agora aiiida vive e governa à direita de Deiis,

L<) I.ulcm nunca cumpriu essc pr<~pbiio.Ein 1542 chcg<~iia suirs in;io\. iiiri:i vcrsL> <Ic iii;i
I ~ IoLi~
du A1cnr:io em latin~.No ! ~ l ~ ! v l l ~i ~I ~I O~ I ~ Kp:k~i
q~~;~licl:k~lc l lL~Iv;t~"il ~< ~~~ l ' ~ ~ l ; ~~ ~C > B~ v
i l - t ~ i Z i >I<içb;inli dc 13íK ( i 1 W:\ 71.771.I')h).
AlciilL," <I<,

.I:'.'
Da Guerra coma os 'litx~~'i
que Ilie resta em Cristo'? Aí tudo se vai: Pai, Filho, Espírito Santo, Batisiiir~.
Sacraiiicnto, Evangelho, fé e toda doutrina c pritica cristãs, nada in;iis
permaiiecendu ein lugar de Cristo, a n3o ser Maomé corn suas doutrinas
sotire as próprias obras e piincipalmente sobre a espada: este é o artig<:<i
priricipal da fé turca, no qual se reúnem num só riionte todo horror, todo
engano e todos os diabos.
Mais ainda, os discípulos da iii. turca que surgem no mundo seao tantos
corrio a neve que cai do céu. Pois a razão se agrada desmesuradamente da
opiiiião de que Cristo iiâo seja Deus -como também crêem os judeus -
1" e especialmente da obra de dominar, tisar a espada e assuinir o govemo do
iii~iiido.O diabo está por detrás disso. Tiata-se, portanto, de uma fé remen-
dada a p a i r da fé de judeus, ciistãos e gentios. Dos cristãos ieiii d a o
elevado louvor a Cristo, Mana, também aos apóstolos c outros santos niais.
Dos judeus têm eles o costume de iião Iwber vinho, jejuar em certas épocas
1 do aio, lavar-se como os nazireud0 e coiiier sciitados ao chão. Guiam-se dc
2icordo c«m tais obras saltas, assim corno parte dos ricissos iiionges, e têrri
esperança pela vida eterna iio dia derradeiro. E, apesar de t~ido.crêem na
iessurreição dos monos. que sZo o povo saito, o que poucos papistas créeiii.
Que coração cristão e piedoso deixará de se aterrorizar diante de t;il
iriinugo de Cristo? Porque, como veiiios, o turco não deixa Iicar artigo algiim
de nossa fé, exceto um único, o da ressurreição dos mortos. Ali não há
Cristo, Redentor, Salvador, Rei, remissa0 de pecados, graça ou Espírito
Santo. Que mais devo dizer? Tudo é devastado no artigo segundo o qual
Cristo seria inferior e menor do que M;iomé. Quem não preceriria estar inoiío
,, a viver sob tal govcino. tendo quc silenciar a rcspcito de seu Cristo e
precisiiiido ver e ouvir tal difaiiiac;ão r Iiorror contra ele? Ta1 artigo penetrii
t5o vi~~leiitaiiieiite, quando um teisitório P conquistado, que há queiii sc
submeta a ele mesmo voluntariameiite. Por isso, ore quem puder orar, a fim
de que tal horror não se toriie serhor sobre nós e não sejaiiios castigados
corn semelhante vara terrível da ira divina.
Em segundo lujiar, o Alcor3o do turco não somente ensina oii crê n;i
cliiiiinaçio da fé crista. mas tariihém de todo govemo secular. Poib seu
M;a>mé (coiiio foi dito) recoinetida que se reine com a espada, seialo ;I
espada a obra inais presente e distinta em seu AlcorZo. E, assim, o turco no
I~iiidonada é sei150 um verdadeiro assassino ou assaltante de esh-ada, cciiiio
t:iinb6m comprova a prática i vista de todos. Também Sto. Agostinho denoini-
ii;i oiitros reinos de. grande roubalheira." O Salmo 76.4 os chama dc "moiitcs

111 1'1. Nii! 0.1 .?I.


11 /li.<.ivii;ir<.i/(.;,IV. .I. O.
~issaitantes"~~, porque muito raramente um irnpéiio foi erguido sem roubo,
viol8ncia e injustiça, ou então foi no &mo muitas vezes com pura injustiça
usurpado e ocupado por gente má. Em Gn 10.9, a Escritura também chama
o primeiro príncipe sobre a terra, Nimrode, de caçador poderoso. Nenhum,
contudo, jamais se levantou e tomou-se tão poderoso por meio de assassinato 5

e roubo tia proporçáo como o turco o fez e ainda hoje Faz. Pois é ordeiiado
em sua lei como boa obra divina que eles assaltem, assassinem c sempre
mais devorem e armínern o que está a sua volta, como aliás o fazcm e acham
estarem servindo a Deus. Não se trata, portanto, de uma autoridade divina-
mente ordenada como outra para promover a paz, proteger os bons e punir
os tnaus, mas, como já dito, pura ira, vara e castigo de Deus contra o mundo
descrente. Essa mesma obra de assassinar e assaltar de qualquer maneira
agada muito bem ?I carne, pois ela quer dominar, submetendo o corpo e o
patrimônio de cada um. Tanto mais deve agradar, se a isso é acrescentado
um inandamento, como se Deus o quisesse bem e lhe aprouvcsse. Por isso 15

entre os turcos são corisiderados os mell~oresaqueles que se empenham para


ampliar o império turco e cada vez mais roubatn c assassinam a sua volta.
Este artigo deve seguir ao primeiia. Pois Cristo diz em Jo 8.44 que o
diabo é um incntiroso e assassino: com mentira ele mata as almas, com
assassinato, o corpo. Se vence com a mentira, não fica festejando e aguar 211

dando, rnas prossegue com o assassinato. Do mesmo modo, depois de


Maomé, possuído pelo espírito da mentira e pelo diabo, ter assassinado as
alrnas com seu Alcorão c haver destruido a fé dos cristãos, teve que prosse-
guir, tomar da espada e atacar o corpo para assassiriá-10. Assim, a fé turca
trio avançou tanto por causa de pregaçiio e milagres, mas pela espada e 2s

prática do assassinato, tendo, em verdade, sucesso por causa da ira de Deus.


Isso para que (visto que todo mundo tem o desejo de tomar da espada,
ass:iltar e assassinar) uma vez viesse um que saciasse o desejo de assassinar
i: ~issallar.
Em geral, todos os espíritos sectários, quando possuídos pelo espírito da 111

iiicntira e seduzidos a se afastar da fé verdadeira, não deixaram de partir,


depois da mentira, também para o assassinato e lançaram mão da espada,
c~iiiiosinal verdadeiro de que eram filhos do pai de toda mentira e do
;issassinato. Assim, lemos como os arianos" se tomaram assassinos, como

32 Ilma exprcssZo obscura. Almeida e Vulgata uadurem "montes ctemos", a Bíblia di


Jciusalém prcfere "montes dc despojos". WA DB 1514 traz, como aqui, Raullcllcrgi. cirii
;i rioia marginal: "Isso são os gandcs impérios e principados como Assina, R2ihilorii:i c
I(giio. qiiç subjugaram a;si os países por meio de luta, usurpando-os dcssa irmeira pai:$ si".
i 4 Aii;irio>s: sigui<li>icsdc Ario (256.336) quç <lesciicadeouum iiioviininio dç ;iiiipl;~s1prq1<r
<IK.S; I X I S ~ C B I I I C ~ ~suii
C <I<>~~trii!ii 11cgiwaa divin<lii<lcd<i I.r>gi>s.çoiisidcr;~~i<l<,~i,
i i i ~ i ; i cri:iiiir;i
do !';!i. A cIo111ri11:ihi c~~~t~lco:i~l:t lprl<n ('oucílio (Ic Nictia, CIU X 5 , I lcn~vcs a o ~ : r c ~ ~ l a ~
~w~xy~:'ii<irr C ~nl~~ilibs t ~ ~ > r (Ir
l c s:11111>0s11s I:ltI<)s.
Da Gucrra contra os liircw,
tambéin um dos maiores bispos de Alcxaudria, chamado Lúcio34,expulsoii
os ortodoxos da cidade, subiu no navio e empunhou com a própria mão uiii:i
espada desembainhada até que todos os ortodoxos embarcassem e fosscni
embora. Muitos outros assassinatos eles, os meigos e santos bispos, cometc-
5 ram, já há cerca de doze séculos.
De igual modo, que tipo de assassinos foram os donatistas3ka época dc
Sto. Agostinho, também há cerca de onze séculos, demonstra o próprio santo
padre sobejamente em seus escritos. De modo tão sccular se impuseram os
clí.ngos! Em outras palavras: eles eram bispos de nome e fachada entre os
in cristãos. Porém, porque caíram da verdade, sendo submissos ao espírito da
mentira, tiveram que completar sua missão, tornando-se lobos e assassinos.
Quc buscou Muntzer'" agora em nossa época, senão tornar-se um novo
imperador turco'? Ele estava possuído pelo espírito da mentira, por isso nada
riiais havia que pudesse impedi-lo. Ele teve que tomar parle também na outra
obra do diabo, tomar da cspada, matar c roubar, movido pelo espírito do
assassinato, e acabou provocando tamanha revolta e miséria.
E que devo dizer do mais santo de todos os padres, o papa? Não é assinl
que, desde que ele e seus bispos se tomaram senhores seculares e abdicaram
do Evangelho em função de sua própria doutrina humana por causa do
espírito da mentira, somente praticaram assassinato até este momento'? Lê a
Histósia desde aquela época e verás que o psiucipal negócio de papas e
bispos foi incitar imperadores, reis, príncipes, territisrio e povo uns contra os
outros; além disso, tainbém guerrear e ajuda a matar e derramar sangue. Por
quê'? Porque o espírito da mentira, depois de ter tornado seus discípulos eiii
2s mestres da mentira e aliciadores, nada faz a não ser tomá-los incansavelmeii-
te também assassiiios, assaltantes c cães sanguinários. Pois quem ordenou
empunhar a espada, gueuear, provocar e incitar à matança e guerra aos quc
deveriam tomar conta da pregação c da oração?
Chamam a mim e aos meus de subversivos. Ansiei eu, porventura,
10 alguma vez pela espada ou incitei a ela e não ensinei e sustentei muito inais
a paz e a obediencia, exceto quando insb-uí e exoslei a autoridade secul:ir

34 Deve tratar-se do Lúcio quz os arianos qucriam como bispo, çonfonne relata Ataiiiísi<i.
bispo dc Alexandria (cf Pawol. Graeca 26 cl. 822).
35 Agostinho (354-410), bispo de Hipirna. Cf. o rol dc pecados dos donatisias em siil " I "
Livro Contra Caiidencio", L?. 22 (Patrol. lat 43, cl. 720s.) -Don;r[irras: in<iviiiicz~ii>
surgido no séc. iV, no Nortc da Áh-iça, em tomo do bispo Donato. Caracterila~li-si~ x > i
um;, rígida disciplina çclesiá~tica,ncgdvzun a validade dos sacramciitos admiiiirti-;i<loh1101
sacir<l«ies"indignos", a reudmissáo de crislzo~ielapsos, a não sei p l u ribatismo. I'oi i h s i i
sXo c<ililiccidos1;iiiiMlii cc>iiiiiiui;ih;iiirl.is. i i s que hatizlun dc riovo.
'li,~ii;i,~Mii,ir/cr (r;i. I~1UO/~lI1525). !í<lvcc;iiisiiiitic<iil;i <;i~iiri~
.i(, ilos < ' ; i ~ i i l i c ~ ~ t c s r f l v i ~ I i .
I r i g i c ~c111111:ti<) dc 1525. V$,:, :iciiii:i 11. -78. 11. I').
iinii>siirslc v<,liii,icl.clw ICYC. IIIII II~\I'ccIII~
c.orislitiiída ;i estabelecer a par. e a justiça mediante seu ofício? "Pelos mitos
sc conhece a árvore" IMt 7.161: eu e os meus preservamos e ensinaiiios a
1);iz.O papa com os seus guerreia, mata, assalta não apenas a scus opositores,
iii;is queima, condena e perscgue também os inocentes, justos e fiéis à
doutrina verdadeira, como um autêntico mticristo. Pois ele o faz assentiido 5

iio templo de Deus como cabeça das Igrejas. coisa que o turco não Lu.
I'oi-éin, tal corno o papa é o anticnsto, assúii o turco e o diabo em pessoa.
('ontra ambos vai nossa oraçXo e a da cristandade: que eles desçam ;i»
iiilcrno c que tal ocoma já no dia dei-radeiro. 0 qiial (espero) n5o (Icmoraid.
Ein rcsunio, coriio já foi dito, oridc goveiii:i o espuito da mentira, ali ~~~
1;iiiibCiii esta o espírito do assassiiialo, quer esteja ele em uqSo, quer seja
iinpedido. Caso sefa impedido de agir, mesmo assim ele ri, se rejubila e
;ilcgrn coin ;i occ)rrência do assassiii;ito. ou ao menos está confoniie a ele,
pois o considera justo. Cristãos piedosos. porém, não se alegram coin assas-
siii;it« algum, nem mesmo com o infortúnio de scus inimigos. Entáo, já que 1s
I I Alcorão de Maomé C um grande e múltiplo espírito da rrieritiia, onde quase
ii:icI;i da verdade cristã permanece, como deixaria de seg~iir-see ocorrer que
i:iiiihém se tornasse um grande c potente assassino, tudo sob o aparência da
viwlade e justiça'! Assiiu como as mentiras destroem a ordem espiritual da
li: c da justiç:i. do tnesmo modo o assassui:iio destrói toda ordem secular
iii\iituída por Deus. Pois é impossível que. onde se pratica assassinato e
ioiilio, haja ~iriiaboa c admirivel ordem secular. Erii função da gucrra e
iii;ii:uiça, eles não conseguem valurizir c observar a paz, coiiio bem se
c.oiistat;i entre os povos guerreu-o,?. 'l?iiib&rn por isso os turcos iii» dáo
gr;iiide vdor a edificação e A agricultura. 2s
Em terceiro lugar, o Alcorão de Maomé desconsidera totalmeiite o
iii;iti-irnonio,de maneira que cada um pode permitir-se tomar tantas mullieres
i~ir:irilasquiser. Daí ser costume entre os turcos que um homem tenha dez,
viiilc mulheres. Este, por sua vez, abandona e vende a que quiser a quem
i~iiiscr,de riiodo que as muihercs são sobreilimeira desmoralizadas e despre- 311

/.;id:is ria Turquia, sendo compradas e vendidas coiilo ariiiiiais. Mesmo que
;rlj~,iirispoucos tulvez não façam uso dessa Ie.~islaçãolibertina, ela vigora r
l ~ u l cscr usada por quem quiser. Tal prática. contudo, não representa ueiii
(t~idcicprescnta riiatrimônio algum, porque iuriguSiii toma <lu tem uma
IIIIIIII<.I. com a iritenção de pe11ii;iiiecer eternamente ao lado dela conio uni 1.

L I I I I N ) , i:»iiToirne diz a palavra de Deus em (;n 3 [sc. Gn 2.24): "Uiiir-se-á


o Iiiiiiiciii a sua mulher e serão os dois um só corpo". O matrimôiiio dos
iiiici~s:isscmelha-se ein muito a vida casta dc soldados com suas prostiliit;is.
J:i qiic cles sáo soldados, precisam comportar-se como soldados. Marte e
Viiiiis, dizem os poetas, querem estar junto^'^. 1(1
Da Giieira çniiird us -
litrcih
De ini~inentoqueria falar sobre esses três pontos, dos quais tenho ccrtezrc
qiic lazem parte dos turcos. Não quero ressaltar o que mais ouvi. porque nao
posso e s t a seguro a respeito. Supoiiha, agora, haver alguns cristãos entre os
turcos. Suponha terem eles seus próprios monges. Suponha serem alguns
deles leigos honrados. Que pode haver de bom no governo, 110 comporta-
mento c na índole dos turcos, se, de acordo com seu Alcorão, esses três
artigos - sobre mentira, assassinato e negaçZo do matrimônio - iinperam
livreiiieiite entre eles? Se todo e qiialc~iierque está em seu meio deve
.-.
silenci .u . .i. iupeito da verdade crista, iião podendo advertir riem coriiçu tais
artigos, mas sendo obrigado a assisiir e (coriio temo) aceder em silêiicio?
Que prisão pode ser mais Iiorrível, perigosa e terrível do que n vida sob um
govcnio assim? A mentira destrói (como dito) o estado espirihid, o assassi-
iiato. o eslado secular, a negrcpTo do matrimônio, o estado niaii-uiionial. Se
liras do mundo verarn Religionerii. v n i u n Poliíian, vcram oecoiiorniam -
isto é, a verdadeira ordem espiritual, a verdadeira autoridade secular e a
verdadeira disciplina doméstica -, que permanece no mundo a não ser
meramente carne, niundo e diabo, uma vida dos bons companheiros que
frequeiitam os prostíbulos?
Dizem, no entanto, que os turcos sno leais e amigáveis entre si. empe-
nhando-se por dizer a verdade uns aos outros. Isso quero acreditar de bom
grado e :idiiiito que possuem ainda mais viitudes boas e distintas. Ninguém
é tão mau que nada tenha de bom. Por vezcs, de resto, uma mulher da vida
se compona melhor do quc dez honradas malronas em coi~jiiiito.Igualmente
o diabo quer ter uma fachada de belo arijo, um anjo da luz, utilizmido-se para
isso também de algumas obras coiiio obras da luz. Assassinos e assaltantes
são inuito mais confkáveis e amigiíveis entre si do quc os vizinhos uns com
os outi-os: sini, bem mais até do que muitos cristãos. Pois se o diabo mantém
estes três artigos: mentira, assassinato e nega~ãodo matrimônio como ver-
dadeiras rochas e pedras de alicerce do inferno, bem pode ele supoiíar e até
cooperar para que sobre elas se construam o amor camal e a fidelidade (os
quais riada mais são do que palha e feno) corno valiosas pedras prrciosas.
Bem sabe ele que, ao finaí, nada disso subsiste depois de passar pelo f o ~ o . ~ ~
Ein contrapartida, assim também elc. estando presentes fé, autoridade e
malrimôiuo v ~ r ~ ~ d e i ropõe-se
os, para que aiilor c fidelidade brilhem pouco
c também pouco sejam detiioiistr:idos, de marieira que 0 fundniriento igual-
iiieiite seja desonrado e desprezado.
Além disso tudo, quando os h~rcosvão à batalha, sua senha e brado de
gucrra é somente "Alá, Má"! Por céus e terra ecoa seu grito. AIá, porém,
sigi~ilicaDeus em árabe, sendo unia coimptcla do hebraico "Eloah". Isso
porque cles têm ensinado em seu Alcorão que sempre devem louvar coni
(iiicira
--
coiitia os xircoi
csias palavras: "Não há cleus a não ser Deus". Eis aqui as legítimas garras
do diabo. Que sisnifica dizer: "Não há deus algurn a não ser Deus" setii,
contudo, diferenciar uin deus de outro'? Tmbém o diabo é um deus, a quem
clcs honram com essa palavra, não resta dúvida. Tal qual bi-adam os soldados
do papa "Igreja, Igreja"! - sim, só que lia verdade é Igreja do diabo. s
Quanto a isso, iicho que o A l i dos turcos age mais na guerra do que eles
~>rr>prios: ele Ihes dá coragem e astúcia, conduz sua cspada e punho, seus
ccivalos e soldados. Que pensas agora do povo santo que pode evocar a Deus
cluraiite a luta, se ele. cipcsar disso, aniquila a Cristo e toda palavra e obra de
Ikus, tal como se ouviti? 10

De sua santidade tanihém Caz parte o Iàlo de tiZo tolerar imagens. Nisso
é niais santo do que nossos iconoclastas. Estes admitem e se agradam com
;is imageils sobre Ilorins, centavos, anéis e ornamentos. O turco, porén~,
cullha somente letras em suas moedas. Ele é até mesmo mu~itzeriano'~,pois
dcrmbn toda autoridade e não tolera hierarquia ;ilguina no estado secular - 15

príncipes. condes, senhores, nobres e outros na ordcm feiidal -, mas é único


senhor sobre tudo em seu território. concedendo apeiicis soldos e nenhum
Iieiii ou autoridade. Elc tlttiibém é papista, pois se crê santo e beni-avsritiiia
do por meio de obras. E iiXo considerir pecado descriiir a Cristo, devastar a
ciut«ridade e eliminar o iniitrimônio, três coisas quc também o papa pratica, 211

ciiibura de outras maneiras. a saber: o que este faz com hipocrisia, o turco
cilcanqa com violência e espada. Em resumo, como já se disse: trata-se do
c;ildo de onde provém todo Iiorror e engano. Isso eu queria ter anunciado ao
priiiiciro homem, ou se,ja, ao ~ u p dos o cristãos, para que saiba e veja quão
.crande
, é. nesse caso, a necessidade de orar e que 6 pi-eciso, antes de tudo, .i

clcrrotar este Ali dos turcos, que é seu deus, o diabo, rcchaqando seu poder
c. divindade. Do coritr.;úio (como temo), a espada pouco conseguirá. Eqse
Iioiiiem não deve lutar corporalmente com o t~irco,como o papa e os seus
ciisiiiam, nem opor-se a ele pela força, mas recoihecer no turco a vara e a
i ~ de i Deus, às quais deve submeter-se, caso Deus castigar seu pecado, ou l~~

iis qiiai,s deve enfrentar e afugentar exclusivamente com penitência, choro e


or;i$Zi>.Quem desprcza esse conselho, bem, que continue a desprezar: quero
;i\sistir o prejuízo que pretende causar ao turco.
O segundo homem, ao qual competc lutar contra o turco, é o imperados
( ' ; ~ r I o s(ou
~ ~quem
~ quer que seja unprradorj, pois o turco agride seus súditos 1,.

c, scu império, sendo ele responsável por dsfeiidf-los. como uma autoridade
cs1;ihelecida por Deus instituída. Desejo aqui, coiitudo, ressalvar que a niri-
p,ii;in quero incitar ou coiiclamar para lutar contra o turco, a não ser que seja
Da Guerra contra os Turcns
aplicado o primeiro niodo, acima citado: que se faça penitência e haja
reconciliação com Deus, etc. Se alguém qucr guerrear ignorando isso, que se
anisque. A mim nada iiuis cabe dizer, a não scr indicar a cada um seu ofício
c instruir sua consciência. Bem vejo que reis e príncipes se colocam tão tola
5 e frouxamente contra os turcos que tciho grande preocupação de que eles
desprezam a Deus c ao tiirco excessivamente, iião sabendo, talvez, quão
poderoso senhor ele é. Rci ou território algum, seja qual for, é suficiente para
resistir a ele sozinho, a não ser qiie Deus queira fazer iiiilagrcs. Por ora iiáo
posso imaginar alçiirii milagre ou graça extriiordiiirúia de Deus eiii relação à
1 Alemanha, se náo Iiouver mclhora e náo se honrar a palavra de Deus
diferentemente do que até agora.
Pois bem, sobre isso já se disse o suficicnte a quem qucr aceitá-lo.
Qucremos falar agora sobre o imperador. Primeiramente, qucm quiser guer-
rear contra o turco, faça-o sob o matidado, o estandarte e o nome do
1' iiiipcnidor. Pois deste modo cada um pode assc~tirar-scem sua consciêiicia
de que ele certamente mda em obediência à ordenação divina, poiqiie
siibenios que o imperador é iiosso verdadeiro soberaiio e. chefe. Quem lhe
obedcce em tal sitiia~ão,este também obedece a Deus. Queni, todavia, lhe
dcsobedecc, esse igualmente desobedece a Deus. Se morrer em obediência,
rnorre etn bom estado. Dc resto, caso tiver se arrependido e crer em Cristo,
será bem-aventurado. Essa parte (me parece) cada um deveria saber tiielhor
do que posso ensinar. Quisera Deus que elcs o soubessem tão bem quanto
pensam saber. Por isso mesmo queremos falar mais a respeito.
Em segurido lugar, retiielhante agir sob o cst:iiidarte do imperador c em
obedigncia a ele deve ser I-ctoe singelo. Que o impcrador nada busque, sei150
coin suigeleza a obra c a obrignçzo de seu ofício, protegendo a seus súditos.
E aqueles quc estão sob seu cstandarte tiiiiibcm busquem coiii siiigeleza ;i
obra e dever relativos a sua obediência. Essa singeleza, como deves com-
preendcr, significa que não se deve lutar contra o turco a partir das razões
coin as quais imperadores e príncipes até o momento foram estimulados a
lutar: obter grande honra fama e riqueza; aumentar seu território; saciar a ira
c a sede de vingaça c razões semelhantes. Pois liisso procura-se meramente
r) pi-oveito próprio c nao a justiça e a obediência. Daí também não ter havido
siicesso até o momento ciitre nós, seja ao lutar, seja ao deliberar a respciiii
cI;i luta coiitra o turco.
Por isso deve ser abandonado o mudo pelo qual até então se cstirnuloii
L, incitou o iiiiperador - intitulando-o cabeça da cristandade, guardião dos

igscjas c protetor da fé - c os príncipes i luta contra os turcos, para eliiniii;ir


siia crcriqa. Fundamentavam, assim, o estímulo e exortaçáo na m;ildodc c
iI~.~~xv:i~.Zo iiior;iI do turco. Negativo! Pois o imperador não C chclic cI;i
c10 I',v;iiigellio ou dn E. A Igrcja e a E iicccs~ii;iiii
iiist;iiiil:i~lciiciii gii;ir~li;i~i
(li. i,iiir~~sprotrti~i-csi10 IIII'. iiiip~~r:~(Iiirc 1.~1s.
ESSCSSXO, cin SCLI ciiiijiii~li).0~
~>iores inimigos da cristandade e da fé, como diz o Salmo 2.2 e reclama a
Igi-cja por todos os lados. Com tal estímulo e exortação só se piora tudo e
provoca ainda mais a ira de Deus, porque desse modo se lanqa mão de sua
Iioiira e obra, atribuindo-as às pessoas, o que E uma idolatria e blasfêmia.
Mesmo poi-que, se é para o imperador exterminar os infiéis e acnstZos, 5

ele deveria começar pelo papa, bispos e clérigos. Talvez nem deveria poupar
'i nós e a si próprio, pois há idolatria suficientemerite hom'vel em seu
iiripério, náo sendo por isso necessário combater os turcos. Há turcos, judeus,
gentios e acristãos demais em nosso meio, tanto no que se relère à doutrina
.. publicamente ensinada, quanto à vida corrupta e vergonhosa. Dcixa o
1:,i1sa, 10

turco crer e ensinar do jeito que quiser, assim como se deixa viver o papado
c «urros cristãos hlsos. A espada do imperador nada tem a ver com a E. Ela
está vinculada ao âmbito corporal, secular. Que Deus náo lique irado conos-
co por subvertetinos e coirfundimos sua ordem. Do contrário, também ele
sc torna subversivo e nos confunde coin toda desgraça, como está escrito: 15

"Para com os perversos te pervertes" LSI 18.261. Isso bem podemos peree-
Ibcr e assimilar com base no êxito obtido até o momento conb-a os turcos,
oude se provocou angústia e miséria coin as bulas, indulgências e tributos
i-clativos &s cruzadas. Agitaram-se os cristãos para que toma?sern da espada
i, lutassem contra os turcos, quando deveriam lutar com a Palavra e a oração 21

(.onira o diabo e a incredulidade.


Pois bem, eis como as coisas dcvein ser: imperador e príncipes devem
sci- exortados quanto a seu ofício e ao dever a que estão obrigados, para que
sc preocupem coin diligência e seriedade em manter seus súditos em paz e
protegidos contra o turco, sejam eles cristãos ou não, embora fosse muito 25

Ix~inse fossem cristãos. Como, porEni, é e permanece incerto se eles são


cristãos, o certo é que eles são imperador e príncipes, isto E, têm mandado
<IcDeus e são responsáveis pela proteção de seus súditos. Deve-se deixar de
I:ido o incerto e contar com o que é certo, ensinando-os diligentemente pela
~ x c ~ a y ãcoexorta~ãobem como fustigando suas consciências ao máximo,
1':ira que vejam como estão comprometidos em não deixarem seus súditos se
;li-I-uiriaremtão tragicamente e como praticam grande e sério pecado, se
(Icsconsideram seu ofício e não se col«cam com todas as suas forças em
;iiixílio e conselho ao lado de quem deve viver com seu corpo e patrimonio
sob sua proteçáo e a quem estão ligados por juramento e concessk).
Chego a pensar (tanto quanto percebo o que se faz em nossas assem-
I1l6i;is imperiais) que nem eles próprios, imperador e príncipes, acreditam que
s;io imperador ou príncipes. Pois assumem uma tal postura, como se dcpen-
llcissc do seu berieplácito e boa vontade terem de salvar e proteger ou não
sciis súditos frente à violência do turco. E os príncipes também n7 ' 0 sc
1 11'

11r<:ociip:uneiii nada e tatnpouco refletem sobre o fato de que são nltameiiic


ii~sl>oiisávcis c dcvedorcs, diaiitc (Ic Dcus, (Ie coloareni-se de corpo c nliiiii,
leal e prestativamente ao lado do imperador nessa situaçXo. Cada qual deixa
a coisa rolar como se nada tivesse a ver com ela, como se não possuísse
niaiidado, ilcm fosse pressionado pela riecessidade, e se comporta como se
Uie fosse falcullativo agir ou deixar de a g i . Do mesmo modo o homem do
5 povo: se tcin uni filho dotado, 1150 se considera na obrigação diante de Deus
c do mundo a colocá-lo lia escola e deixá-lo estudar na universidade. Todo
inundo pensa ter ;I liberdade de educar seu filho seguiido a sua vontade. e
que a palavra e a ordem dc Dcus se dane. Pois é, assim procedem os
niembros dos conselhos nas cidades e quase todas as outras autoridades
1" tariihém, ou seja, deixam que escolas sc fechem corno sc estivessem descom-
proiiictidos ein tela$%»a elas c tivesserii peiinissão para isso. Ninguém pensa
que Deus ordenou scri:imente e iliiei. quc as crianças dotadas sejam ediic;idas
para seu louvor e sua obra, o que não pode ocorrer scin as escolas. Em
contrapartida, quando sc trata da subsistência materkal, cada um tem muita
15 pressa com seus filhos, como sc Dcus e a cristandade não necessitassem de
pastores, pregadores c curas-d'dma, e a autoridade secular de chailceleres.
coiiselheiros e escrivies. Ou a pena cotitinua imperatriz. ou Dcus nos mos-
Lfiuri algo diferente.
Dessa mesiiia fonna agem imperador, reis c príncipes: não obsei~ariique
," o mandamento de Deus os obriga ;i proteger seus súditos. Deve estar a seu
livre arbítrio se eles o Suem, quando uma vez isso Ihes dá na telha ou ju1g:un
a ocasião apropriada. Então, meus caros, vamos todos Cazer isto. Que nin-
giiém olhe para o que lhe é ordenado, Deus lhe manda ou dele exige, mas
deixemos todo nosso agir e ofício ao ç:ipricho de nossa livie vontade. Desse
nindo Deus nos concedei-:í a ventura c a p(;a de sermos ritoniientados tanto
aqui, nesse teiiipo, pelo turco, ccimo lá, ctcmaiiierite, pelo diabo. Ao que
parece, é para vir dc Roma um tagarela iiiútil (um legiido cu quis dizer) para
exortar e estimular as cortes do império contra os turcos, anunciando quão
grandes prejuízos « inimigo da fé cristã teria causado. O imperador, por sua
1 vez, como tutor das Igrejas e guardião da fé, deveria agir em relaçao a isso,
ctc. Como sc eles própiios fossein amigos da fé crista. Digo a ele.
~porérri:quem te enviou te preparou uma hrla sacanagem, tagarela impotente!4i
Niida consegues com isso, sugerindo que o inipefiidor raça uma boa obra
crisiã como sc esta não Sossc ordeiiada e sua realizciç'So fosse Salcultativa.
', I>csse modo, colocando-se tudo a criiéiio dc sua boa vontadc, não se atinge
sua cotisciência e ele tampouco é lembrado da obrigatoriedade de seu ofício
t~lilciiadopor Deus.
Eis coiiio um legado deve tratar coin as cortes iiiiperiais durantc :I
(;uçrrn contra os Tur~.os
:issembléia: deve ressaltar o mandiido de Deiis. fazer dele uma necessidade
iiiadiávcl e dizer: "Caros seiiliores, imperador e priiicipes! Se qiiereis ser
iiriperador r piíncipes, eritão agi como imperador e príncipes. senâo o hlrco
vos ensinará a sê-lo pela ira e desgraça de Deus. A Alemanha ou o império
vos forain dados e recomendados por Deus, a fim de os protegcrdes. gover- 5

iiarcles. acoiiselhardes c auxiliardes. Estais obrigados a faze-10, do coiitrjno


vossas ciliiias estão sujeitas à perda da beiii-aventuranp, da divin;i benevo-
Iêiicia e graça. Ora, beiii se vê que eiii riada levais a sei-io ou crcdes nisso,
considri-ando vosso ofício uma piada ou biincadeira, como se f o ~ s cuma
:ilcgoria iIc carnaval. Pois deixais qiie vossos súditos (qiie Deus vos reco- 1"

rnendoii) sejam atormentados cle forma I:istiinável, srqiicstrados, desoiirados,


sacluead«s. mortos e vcrididos pelo turco. Nâo penseis qiie Deus vos ordenou
esse ofício e concedeu dinheiro c pessoas. para deixar a vosso arbítrio
cumpi-Ia e executá-la. Ele cobriiiá de vossas mãos todos os síidiios que
:ihandoiinsics. en<~uaiito permaneccsies 150 vcrgoiihosiiineiitc daiiyando, han- 15

queteaiido, ostentando c jogaiido. Se acreditásseis seiiamente que rostes


investidos e ordenados por Deus para serdcs iinperador e príncipes, cntâo
:ihandonaríeis por uni nioniento os bariquctes, a rivrdidacle pelos altos esca-
\fies e a ostenta$ão inutil, :i fim de deliberar coin lealdade sohre o rriodo dc
Iiizer jus a vosso oficio e a ordenação de Deus, c de rcdiinir vossa consciêri-
cia de lodo derraniiiiiienio de sangue e núséria infligidos pelo turco aos
vossos súditos. Pois, coino pode Deus ou um coração piedoso pensar de
iiiodo dilt.i.cnte a vosso respeito. scniio que sois ein verdade iniinigos de
vossos súditos, que tendes com o tiirco uniu ;diari$a secreta, oii qiie no
iiiíiiiriio não vos coiisiderais imperador oii príncipes, riias meras honccas e 25

iiiarionetcs, com as qii:iis as criaiiças brincari? De resto, seria impossível que


vossas consciências vos deixassem ein paz e não discutisseis e deliberásseis
;i respeito dessas coisas pclo menos uma vez de maneira diferente dri usual
:ti< agora. se se1i:imente vos consider;ísseis soberano< investidos por Deus.
Nisso vedes que viís inesiiios vos fucis iricessantemeiitc de turcos pura com $1

os pr6lxios súditos. Siin, porque vos ocupais coiii o caso Lutcro e deliberais
ciii noinr do diabo a respeito, se é permitido comer canie na quaresma, se
li-cir;is podein casar c coisas afins. Nada vos foi ordenado no sentido de
iriiiardes dessas qiicstTies c neiii Deus vos deu um niaiidamento sequer para
iiil. Enqiiarito isso, peimruiece negligenciado este sério c severo marid,mento ',
ilc Ileiis. pclo qual ele vos colocou como protetores sobre a pobre Alcmanha;
vos toni;iis assassinos. traidores e cáes sanguinários parira com vossos pr6-
111-i<,s hons, leais e obedientes súditos; os tleixais - isso iiiesino! os jogziis
11;i';i <Iciitroda garganta do turro, sendo csse o benefício deles por tcrciii
roI[x;i<losoti vossa pioteçâo e a vós oferecido seu corpo, dinheiro, bens c Iioni-n". 1'8

I I i i i hoiii causí<lico beiii percehcria :iqui o cliic eu, se l'ossc criiiliio 1x1
i~vt(íric:i.go<1;iri:i (lc ter ditc c o qiic iini Iegiido clcvcii;~~:iisiii;irL, rcss:iIt;ir I:
Da Guena contra os Tilrciis
-
assembléia imperial, se desse cabo fiel e lealmente de seu ofício.
Por isso disse acima que Calos ou o imperador deve ser aquele a 1ut:ir
contra o turco e sob cujo estandarte deve dar-se essa luta. "Ora", diz-se'
"isso é. tão simples que todo iiiundo já o sabe. Nada disso que Lutero ensina
3 é riovo, mas mera coisa empoeirada de tão velh;~". Pois é, meu caro, (i
imperador deveria, na verdade, ver-se com outros olhos que os de até agora.
Tu tariihéiii deverias olliar com outros olhos para seu estandate. Falo exata-
mente do niesmo iniperador e do mesnio estand:u.ie de que tu falas. 'Ri,
poréiii, não falas a parlir da visão dos mesmos ollios, pelos qiiais, por sua
lu vez. se dcve ver no estandarte o mandamento de Deus, que diz: proteje os
bons, pune os iwaus. Dize-me: quaiitos são os que podem ler semelhantes
palavras no estandarte do imperador o11 crer nelas corn seriedade? Não achas
que seriani aterrorizados pela própria corisciência, se olhassein para o estan-
darte de maneira a reconhecerem-se dtameiite culpados diante de Deus pela
1s protcção e ajuda negadas a seus leais súditos? Meu caro aiiiigo, uni estan-
darte náo é apenas pano de seda. Há letras impressas nele. Quem as ler
perderá o gosto pelo luxo e pelos banquetes.
A realidade, porém, hem o prova que ele foi visto apenas corno um pano
de seda até o momento. Do contrário, o impcrailor o teria clesfraldado há
2" bastante tcmpo, os príncipes o teriani seguido e o turco náo se teria tornado
tão poderoso. Mas conio os pniicipes citaram o estandarte do imperador da
hora para fora e fornm desobedientes qiiiinto ao uso da foi-ça, considerando-o
na prática um simples pano de seda, a coisa deu iiisso que agora se tem
diante dos olhos. Deus coiiccda que daqui para a freritc não sejamos tão
tardios. cu na rninhn exortação e os senhores com seu estandarte, vindo a
acontecer conosco o qiie aconteceu com os filhos de Israel que, a priiicípio,
náo queriam lutar contra os amorreus como Deus nrandara4z e depois, quan-
do clucriani frczê-10, foram derrotados, pois Deus não queria estar com eles.
Ninguém sc desespere pai. enqiiatito: quem faz penitência e age com cor-re-
$ao sempre encontra graça.
Em seguida, se imperador e príncipes estão cniiscientes de serem obii-
gados a essa proteçáo de seus súditos pelo mandamento de Deus, dever-se-
iit ;idmoestá-10s tanihém a não serem atrevirlos a ponto de empreende-lo por
(lcspeito oii confiando no próprio poder ou força militar. Há muitos príiicipes
loucos assuii. que dizem: "Quero fazê-lo. pois tenho pleiio direito". &o em
Sreiitc, eiisoberbeceni-se e prevalecetii-se elii fungão do seu poder. Ao final,
ptiiém, sentem o tei-ror na nuca. Pois, se náo sentissem seu poder, pouco
scriam movidos em direção ao direito, como ficou provado em outras situa-
. q~iaiso desconsideraraiii. Por isso não é suficiente que saibas quc
~ õ c s rias
i ;iiviiii ci>nuaas Turcos
--

I >i.iis te ordenou fazer isso ou aquilo: também deves fazê-lo coiii temor e
Iicii~iildade.A ninguém Deus ordena ou manda Iàzer algo por seu próprio
~(iiisclhoou força, mas ele também quer estar em cena e ser temido. Isso
iiicsino, ele quer fazê-lo através de nós e quer ser soliciiado, a fim de que
ii;io sejamos atrevidos e nos esquesamos de seu auxílio. como diz o sdtkio: 5

"O Serilior se agrada dos que o temem e espei-iun na sua miseiicórdia" [SI
147: 1 I]. Do contrário, estaríaiiios. ern verdade, pensaido poder fazê-lo sem
iicccssitar da ajuda de Deus e nos apropriando da vitória e da honra, que só
;i clc competem.
Por essa razão, um iinperador ou príncipe deve aprender bem a sentença 10

i10 saltério, no Saliiio 44.6-7: "NSo confio no meu ai-c». e minha espada nào
iiic aluda. mas tu nos salvas de nossos itiimigos e cobres de vergonha os que
iiiis odeiaiii". e tudo mais o quc diz esse salruo. E o Salnio 60.10-12:
"Sciihor Deus, Lu não sais coiii nosso exército? Dá-nos apoio na necessida-
(li.. pois a ajuda humana é inútil. Com Deus queremos fazer proezas, ele irá 15

~isoicariiossos inimigos", etc. Muitos reis e grandes príiicipes, quc levaram


;I sGiio o riiatidaiiiento, a permisJao e o direito de Deus, fizera11 verdadeiros

i.\si.s e outros versos seinclhanies com seus próprios exemplos desde o


~~iiiicipio atC o dia de Iinjç. imperador e príiicipe não podem, portanto, fizer
<li.li.spiada. Lê o exemplo aprnpriado de Juízes 20.18-25, onde consta que 20

os lilhos de Israel foram derrotados duas vezes pelos benjaminitas, apesar de


I)iiis tê-los chamado à luta e ser a mais justa sua causa. Seu despeito e
;iiwviinento os derrubou, como o próprio texto diz: "Coniiantes em sua
1ii:iviira e númer~"~3.A verdade é a seguinte: deve-se ter tanto quanto
~~o\sívrl cavalos, soldados, annas r hido mais necessário para a luta, a fun !'
<lc L ~ U CDeus não scja tentado. Quando, porérii. ji se terii tudo isso. ninguém
ilcvc tiimar-se aiTogaiite. esquecendo ou despreznndo a Deus. Pois esti
i.sciiiii: "Toda vitória vem do céu" 11 Macabeiis 3.191.
Sc ambos estão presentes - o mandamento da parte de Deus e a
Iiiiiiiiltladc da nossa -, então não há perigo ou iiecessidadc, contanto que 3"

isso se refira ao outro homem, ao iinperador. Assim somos suficienteincnte


I<r~i<.s (~:~i-ii[enfrentar] o mundo todo; êxito e salvayão iiecessruiamente estão
~ti<.\<'iiIcs. Caso não houver êsito, então há, por certo, carência dc um dos
,Itni\: I I L I não sc luta em obediPncia ao mandameiito di\liiio, mas com atrevi-
i i i i . i i ~ i i . ou o primeiro soldadol o cristão, não acompanhrc com sua oração. E s'
; i i ( i i i tiao se precisa exortar a que ri50 se busque honraria ou despojo na luta,
~ ~ t qiicin i b luta com Iiumildade e ein obediêricin i wdenação divina, priistui-
$ I t v ;ipciins em seu ofício de, sem segundas inteiiçfies, prover com segiwiiqa
- Da Guerra coma os Turcos
c proteção a seu súdito, acabará esquecendo a honraria e o despojo. Pois,
sem as procurarl elas virão mais ricas e gloriosas do que ele poderia desejar.
A essa altusa alguém dia Onde serão encoritrados tais soldados piedo-
sos, que terão um comportamento assim'! Resposta: é certo que o Evangelho
é pouco pregado e crido eni todo mundo. A cristandlide, iio entanto, apesar
de tudo, ainda crê e permaiiccc. Também nZo escrevo essa instrução com a
esperança de que seja aceita por todos. A maioria vai rir r debochar de mún.
A mim basta poder iiistruir corretamente alguns príncipes e súditos coiii esse
livro, mesmo que eles sejam minoria (quanto a isso sou impotente). Náo
1" obstiante, haverú vitória e. êxito ein inedida suficicnte. Quisera Deus qiie eu
titingisse coin essa instrução o imperador ou aquele que. sob seu nome e
ordem deverá ir à guerra. Eii teria maior esperança. Já aconteceu mais de
unia vez, sim, é comum acontecer que Deus concede êxito e redenção a todo
um lerritório c reino por meio de um único homeiii. De igual modo, em
1' cotitraparíida, iun mau elemeiiio na corte tamMiii pode levar todo um terri-
t6rio :itotal desgraça e miséiia. corno diz Momão em Eclesiastes 9.18: "Um
único patifc provoca grandes prejuízos".
Assim lenios a respeito de Naamã, gcncral do rei da Suia, por iiieio de
qiiem Deus concedeu a todo território êxito e felicidade, 2 Rs 5.1. Também
1 através do santo José deu ele grande felicidade ao reino do Egito44e, em 2
Reis 3.14, Eliseu fala a Joi-ão, rei de Israel: "Náo te consideraria, se Josafá,
rei de Jii<Iá,não estivesse presente". Desse modo precisou o ímpio rei de
Israel e Edoiii, que de resto chegariam na mais completa necessidade h ruína,
ser auxiliado por um único homem devoto. E no livro dos Juízes bem se
:, pode ver o que Deus fez de ùoin através de Eúdc, Gideão, Débora, Sansãoa
e OLI~SOSiiidivíduos semeihantcs :i eles, embora o povo 1130fosse digno disso.
Em conirapartida, qiião grandes prejuízos causoii Doegue. quando esteve lia
cone do rei Sdul - I Siii 22.18 -, c instigou AbsalZo contra seu pai Davi
com ajuda e orientação de Aitofel - 2 Sin 15 [sc. 16.20-17.231.
Digo essas coisas pai-;i que não nos assustemos nem sejamos de um
modo ou outro influenciados pelo fato de a grande maioria que luta sob o
estandarte do imperador ser descrente ou de tnotivação acristê. Sempre de
iiovo deve-se lenibrar que iiin Abraão sozinho muito pode, Gn 14.4 e 17.4
[sc. 18.24-331, Assim, tambeni 6 certo qiie entre os turcos, que são o exército
,, do <Gabo.núizuém há que seja cristão ou Lenha um coração humilde e reto.
Em 1 Sni 14.6, o piedoso Jôna~asdisse [a seii escudeiro]: "Para Deus não é
difícil dar a vitória através dc muitos ou ;rtiavés de poucos", e os dois
pn>moverainentre os filisteus urna grande matança, o que Saul com todo seu
Da Guerra contra os Turccth
tranqüila, mas seti coração lhe falará e advertirá o tempo todo do seguinic
inodo: Olha aqui, tu foste iiesleal, voltaste as costas à obediêiicio devido :i
teu soberano e usurpaste o direito e a autoridade que ele tinha ein rela~âo;i
ti. Agora nenhum pecado pode mais ser perdoado, o que fòi roubado deve
5 ser devolvido. Como, porém, queres devolvê-lo a teu senhor, se estás sob o
turco e não podes devolvê-lo? Assiin sei-5 de duas uma: ou terás que esfor-
vaite e trah:hu o teinpo todo para voltx do turco a teu soberario, ou
seiitir5s permarienteiiiciite arrependiinento, sofriimento e descorifciito na cons-
ciência - queira Deus que nào sucedam desespero e iiiorit. eterna! -
io porque te colocaste seiii necessidade e de livre vontade sob o turco, contra
tcu juramento e dever. Teiis que ficar coiii o corpo do lado de l i . enquanto
com o coração c a coiisçiSncia anseias pelo lado de cá.E aí, que ganhaste?
Por que não ficas logo do lado de cá?
Em segundo lugar, essas pessoas dcsleais, deselioras e perjuras praticam,
15 alérii de tudo isso, um pecado inais terrível airida, ou seja, tomam-se parti-
cipantes de todo terror c rii;ildade dos turcos. Pois quem se coloca volunta-
riamente sob os turcos, torna-se ele mesmo seu coiiipanheiro e cúmplice de
todos os seus crimes. Ora, j.i ouvimos aciiiia que tipo de Iioinein é o turco.
n saber, um destruidor, inimigo e hlasfenlador de nosso Senhor, Jesiis Cristo.
21' que ao invés do Evangelho e da fé pnifess:~seu desprezível Maoiné e toda
iiientira; que, além disso, devasta toda autoridade secular, toda disciplin;~
doméstica ou rnatiimonial e cuja ação militar nada é senão verdadeiro ins-
tnimento diabólico para o assassínio e derramamalto de saiigue. Veja bem.
queiii sc coloca :I« lado do turco toma-se necessariamente participarite dessa\
2'. terríveis atrocidades. Sohi-e sua cabeça recairá toco assassiriato praticado c
todo saiigue que o turco ji dcrrarnou, hem como todas as meiitircis e irnorn
lidades coin as quais elc destruiu o reino de Cristo e aliciou as iiliiias. J;i i.
desgraça suficiente que alguém seja obrigado pela [orça e contra siia voni;alr
a viver sob semelhante cão sanguinário e diabo, vendo e ouvindo tal horror.
como fez e suportou o justo L6 em Sodoma, conforme escreve S. Pedr(rtH.
N5o há necessidade de buscnr ou desejar voluntaianente algo assini.
Siin, é muito mais preferível morrer duas vezes na guerra, esiaido ciii
obedisncia ao próprio soberano, do que ter de scr submetido pela foi-$:i ;i
seiiielliurites Sodoma c Gomoi-i-a. muito menos qiie uma pessoa ~iieclos;i
pudesse desejar entrar voluntwi~iiicrite].'i, etn desobediência. coiiira o iii;iii-
dnmcnto de Deus e o próprio dever. Isso sisnificaria não só fazer-se cúiiipli
ct: de toda inaldadc do turco e do diabo, iiias também fortalecer e proiiiov?
Ioh, assini conio Judas não apenas se fez cúmplice dii iiialdadc dos Jii<lciis
contra Cristo, tiias raiiiherii os fortaleceu e ajudou, tendo iigido iiiiiis ~ici-iii
1' cios:imciltc do que I'ilii(os. como Cristo testirica em Joáo 17 Isc. 10.11 1.
Guerra contra os Tucos
Em terceiro lugar, os pregadores também devem convencer essas pes-
soas do seguinte: mesmo que se tenham baldeado para o lado do turco, em
nada melhoraram com isso sua situação. Em muito serão frustradas sua
esperança e previsões. Pois o turco costuma não deixar os que são ou têm
alguma coisa onde moram, mas os assenta muito longc, em um outro s
território, onde são vendidos e precisam viver em servidão. Como dizem os
ditados: "Foge da chuva, mas cai na água" e "Salva um prato, mas quebra
uma tigela". A coisa vai de mal a pior. E o que acontece não deixa de ser
justo, pois o turco é um autêntico guerreiro que, para conquistar e manter a
ambos, território e povo, sabe lidar com eles diferentemente do que nosso lu

imperador, reis e príncipes. Ele não confia nem acredita numa gente deser-
tara assim. Ele tem a disposiçáo necessária para fazê-lo e não carece desta
gente, como é o caso dos nossos príncipes. Tais coisas, digo eu, os pregado-
res e pastores precisam falar a esses desertores, exortando e intimidando-os
com diligência. Pois de igual modo esta é a verdade e há urgência ein f z ê - 1s

lo. Se, apesar disso, houver os que desprezam semehante exortação e não se
comovem com tudo isso, pois bem, ao diabo com eles, como S. Paulo e S.
Pedro tiveram que pennitir respectivamente no caso dos gregos e dos judeus.
Nada além disso aterrorizará os demais. Sim, eu gostaria que, quando se
desse a luta, nenhum dcsses estivesse ou permanecesse sob o estandarte do 20

imperador, mas todos juntos já estivessem entre os turcos: eles seriam der-
i-otados mais cedo ainda, e se tornariam mais prejudiciais do que úteis ao
turco durante a luta, caindo em desgaça tanto diante de Deus como diante
(10 diabo e do mundo e sendo certamente condenados ao inferno. Pois é bom
lutar contra gente má assim, que de forma tão explícita e certa recebe a a
irialdição de Deus e do mundo. Pode-se enconlrar algumas pessoas grossei-
ras, desesperadas e más. Porém, quem tem um pouco de juízo, sem dúvida
sc deixará converter e mover por tal exortação, a fim de não lançar sua alma
(lc maneira tão atrevida ao diabo no inferno, querendo muito mais lutar com
iiicl;is as suas forças sob o seu soberano e deixando-se por isso estrangular 311

11r10 turco.
'lii, no entanto, dizes: "Se o papa - a quem tu mesmo xingas de
iiiiiicristo juntamente com seus religiosos e partidários - é ião mau quanto
1 1 iiirco, então o turco é, por outro lado, tão bom quanto o papa, não é? Pois
i . 1 ~confessa os quatro evangelhos, os livros de Moisés e os dos profetas. Se
C p:im lutar contra o turco, então se deve do mesmo modo ou muito antes
Iiii:ii- contra o papa", etc. Resposta: Não posso ncgá-10. O turco considera os
qii;itro evangelhos quanto os profetas como divinos e corretos. Também
loiiva bastante a Cristo e sua mãe. Só que ele, do mesmo modo, crê que seu
M:airné está acima de Cristo e que Cristo nZo seria Deus, como foi dito 10

;iciiiia. N6s cristãos igualmente reconhecemos o Antigo Tcstiiiiiento coiiio


c.scriiiira divina. Como agora, porém, j6 roi cumprido c. coiili)riiic (li;. S.
Pedro ein Atos dos Apóstolos 15.10s., sem a graça de Deus é uugo] por
demais pesado, ele está suspenso pelo Evangelho, assim que nao mais
permanecemos presos a cle. Exatamente assim age Maomé em relação no
Evangelho. Ele até concorda que o Evangelho seja correto, mas teria h i
5 muito tempo deixado de vigorar, sendo pesado demais para ser seguido,
especialmente nas partes ondc Cristo ensina que se deve abandonar tudo por
causa dele, que Deus deve ser amado de todo coração e coisas assim. Por
isso Deus teria sido obrigado a promulgar uma outra, uma nova lei, que não
seria tão pesada e o mundo teria coiidições de seguir. Essa lei seria 0
1il Alcorão. Se alguém, todavia, pergunta por que ele não faz algum sinal
milagroso para c o n f i i a r tal nova lei, ele diz: Isso é desnecessário e vão,
pois as pessoas já tiveram antes muitos sinais milagrosos, quando surgiram
as leis de Moisés e o Evangelho, e mesino assim não creram. Por isso seu
Alcorão não necessitaria de ser confirmado por inúteis sinais milagrosos, mas
15 com a espada, que convence melhor do que elcs. E assim também foi e ainda
continua sendo: ao invés de sinais milagrosos, é a espada que direciona tudo
entre os turcos.
Em contrapartida, o papa não é muito mais piedoso e se assemelha
sobremedida a Maomé, pois ele também adora da boca para Sora os evange-
21) lhos e toda a Escritura Sagrada. Contudo, sustenta que ninguém, a menos
que queira, é obrigado a respeitar muitas parles ali dentro. Estas são justa-
mente as mesmas que os turcos c Maomé consideram pesadas demais c
impraticáveis, como as de Mt 5.[20-441, interpretadas e transformadas em
consiliii, isto é, ~ o n s e i h o sconioime
~~, têm ensinado de f o m a desavergonha-
5 da até o momento Paris juntamente com outras escolas superiores, fundações
c convcntos. Por isso também ele não goveina com o Evangelho ou com ;I
palavra de Deus, mas produziu de igual modo uma nova lei e um Alcorão.
ou sqa, sua decretal, c impõe a mesma com a excomunhão da mesma
maneira como o turco impõe o Alcorão coin a espada. Ele também denomiiin
"1 a excomunháo de sua espada espiritual, o quc somente a palavra de Deus 6
e apenas dela pode ser dito, conforme Efésios 6.17. Sempre que pode, dc
igual modo, ele faz uso da espada secular não em menor medida [do quc 0
iurco] ou pelo menos conclama ouiros a isso, provocando e estimulando-os.
Tcnho plena confiança cm que, se pudesse conduzir a espada secular fXo
$, poderosamente quanto o turco, como de resto tem tentado diversas vezes, o
1xtpa provavelmente teria menos benevolência.
Dcus tamb6m imprime a ambos os mesmos infortúnios e os acomctc <Ic
ccgiicira, de maneira que Ihes sucede como diz S. Paulo em Romaiios

,I') I . i i l u i , si. rcl'crc :tililcli.s ~ii:iii<l;iiiiciil<~x iIc ('risto. cspccialiiic~itcd o Sciiiiár>do Molilc.
I<ii:iiiiI r : i i i s l i r ~ i i i : i i l ~c~ixi i "i<,iisi.lli,,s rv;i~ig~lic~~s". quci- <lizci. ctii iii:iii<l:i~lici,liisque o i ~ +
~ u ~ . ~ . i , ~ S: iL~ .t ~L~>SI.IV:II~O!,S
i ])o1 I k ~ l o ' io\ ui\ln<)s.111iih qur se C C X ~ ~ CIIIX.II:IS
III LIOS ' ' ~ ~ . l l i . i l < > \ ' '
1.24-27 a respeito do vergoiihoso vício das perversóes sexuais. i s quais Deus
ci~iitriidit«riamenteriamente os entrega porque perveiteram sua palavra. Tanto o papa-
do coiiio o t ~ ~ r csão o tão cegos e disparatados que ,ambos praticam de forma
(Icsavergoniiiidii as perversões sexuais como se fossem coisa honrada e
lo~ivável.E, porque não respeitam o estado niaiiimonial, é natural que se 5

dCcm entre eles soinente casamentos caninos. Quisera Deus que fossem
iipciias casamentos caninos! E ceito, entre eles só há núpcias italianas e
iioivas florentinas, einbora pensem agir corretamente. Ouço sucessivamente
coisas homveis a respeito da Turquia, como notória e gloriosa Sodoma, e
qiiiilquer um bem o sabe, se já viu um pouco de Roma c da terra dos io
iliilianos, com quc espécie de ira e inforlúnio Deus vinga e pune os casamen-
111silícitos. O ocoi-i-idoii Sodoina e Gomorra, que tempos airás se afundaram
c111 meio a fogo r enxofre"', deve ser visto como siiiiples brincadeira e
~ i ~ l ú dem i o coinparaçáo çoiii este horror. Também por isso siiito muito pelo
;r~vcmodo turco, que seria intolerável nos territhrios aleiiiãcs. li

EiiiAo. que devcmos fazer agora? Teiiios que luva tanto contra o papado
<.oiii«coiitra os turcos, porque um é tão piedoso quanto o outro'? Rcsposta:
( 'oiili-a quriii quer que scja, em ambos os casos sc agc coin justiça, pois
~~cciidos iguais dcvcm ter castigos iguais. Pois eu acho o seguinte: se também
11 11;ipaquiser, junto com os seus, atacar o império com a espada, tal como 20
ii iiirco o laz, critão deve ser tratado como o turco, como lhe aconteceu

i<.cciitcmente diante de Pavia por incio do exército do imperador Cai-los'l.


l iis aí presente o veredito de Deus: "Quein toma da espada deverá morrer
pcln espada" LMt 26.521. Não aconselho a lutar contra o turco ou o papa por
c;iiisa de sua fé e vida falsas, mas por causa da matança e destruição que 2s

~~oiiiovem. A vantagciii em relaçzo ao papado, porém. é que ele ainda não


iissiiiiiiu a espada coiiio o tiuco, do contrário com certeza já se teria atrevido
:i s1il)ineter todo miiiido :i si, levando-o u coisa algunia que iiáo fosse crer
< . I I I scii Alcorão (isto é, em suas decretais). Pois ele respeita e coiihece o
I<v;iiigcllioou a fé cristã em medida tão reduzida quanto o turco, embora use
I ) ii:iiiiii (cliie ele próprio não cxercita) como pretexto de uma p n d e santi-
,l:i,li. Iiirc;i. Os papistas, portanto, bem merecem a fuma de serem iguais ao
1 i i i i . 1 1 . i;i que são contra Cristo, etc.
Iliiiietanto, contra o papado e por causa de seti cngano e mau caráter
iIi~s1)(~rlou-se o primeiro soldado, o senhor Cnstiano. Ele o ataca desteinida- "
iii<.iiii. ~ w mcio r da oração e da palavra de Deus. Acertou o papado em cheio,
(I(. iiiirdo que o seiiiem e se enfurecem. Enfurecer-se, porém, em nada ajuda
os ~~:il)isias: o macliitdo já está posto ao pé da árvore, que deve ser arraicada
~l<.s~li, :i fiiíz, se n.?« der outro frutd2. Pelo que vejo, eles em nada pensain
con-igir-se, mas quanto mais passa o tempo mais se tomam obstinados.
Querem passar coiii a cebeça pela parede c se gibaiii: "Seja tudo ou nada!
Seja bispo ou arigó! ". E cu os considero teo bons :i ponto de imaginar que,
antes de se corrigiieiii ou abandonarem sua índole ver,uoiihosa (que eles
5 próprios e todo mundo declaram ser imprcstável e intolerável'), entregar-se-
ão a seu companheiro e irmão, o santo turco. Pois beiii. que nosso Pai
celestial ouça logo também sua própria oração, aquela em que dizem: "Seja
tudo ou nada! Seja bispo ou arigO! Amém." Assim o querem: Amém! Que
aconteça e sc realize corno Deus quiser.
10 A seguir perguntas: Como pode o imperador Carlos lutar hoje em dia
contra o turco, se tem contra si tamanho impedimento e traição da parte de
reis, príncipes, venczianos e quase de todo inundo? Rcspos~?: "O que al-
guém não consegue levani;~..isso ele deve deixar deitado". Se náo podemos
avançar, então devemos nos deixar aconselhar e auxiliar por iiosso Senhor
1; Jesus Cristo' através de sua vinda, que 1150 pode estar distante. Pois o inundo
chegou ao í'iiri. O Irripério Romano quase está rio fim, está esfacelado e na
mesma situação e111 que esteve o reino dos judeus. Quarido o nascimento de
Cristo estava próxinio, os judeus já não tinhain quase riiai.; liada de seu reino.
Este estava chegando ao final com Herodcs. E isso que iiiiagino também
211 agora: visto que o Império Romano já quase passou, a vinda de Cristo deve
estar à poda e o turco deve ser a despedida dc semelhante reino, uma espécie
de suplemento após o Império Romano. Do mesmo modo como Herodes e
os judeus se hostiliravani, também turcos e papado são hostis entre si, mas
mesmo assim se mantêm jiiiitos contra Cristo e seu reino.
>i Contudo, o imperador deve fazer pelos seus tudo o que puder contra o
turco. Mesmo não podcndo controlar totalineiite semelhante hoi-i-os, deve
esforçar-se o máximo possível iio sentido de defender e resistir. a fim de
proteger e salvar seus súditos. O iinperador deve ser impelido ti essa defesa
r i o só por caosa da obrigação, ofício e iiiandarnento divino aos quais está
sujeito, não só por causa do governo acristão e selvagerii (sobre o qual falou-
se acima) a ser iritrcduzido pelo turco no território, mas tmibérn por causa
da desgraça c da miséria que ocorrem aos súditos. Eles. serii dúvida, sabem
bem mclhor do quc eu como o turco os trata cmelmentr. quando destcrra
prisioneiros coino se faz com um anhal: arrasta, puxa e toca tudo o que
r, pode ser levado; o que, porém, não pode ser levado, ele faz passar pela Saca,
scja jovem ou velho, etc. Por tudo isso e por outras razões iguais, os
príncipes e todo o imp6rio deveriam, com justiça, ser impelidos à misericói.
diii, pua que esquecessem por um momento ou deixasscm de lado scus
pi"psios problemas e rixas. e unanimemente socorressem com t«d;i serictl:iilc
O.Y iriisciávcis. Isso para que iiZ« aconteça exatamente como no caso dc O)iis-
tantinopla e da Grécias< onde de igual modo por tanto tempo ralharam uns
com os outros e se preocuparam com os próprios probleinas até quc o turco
os dominou a todos, ial como já esteve bastante pr6ximo de fazer em relação
a nós exatamente na mesma situação. Se, porém, n'ão é para ser, c nossa vida
impenitente nos toma indignos de toda graça, conselho e consolo, então 5

temos que entregar os pontos e suportar a sujeição ao diabo. Mesmo assim


permanecem indesculpáveis os que aqui deveriam ter ajudado e não o fizeram.
Quero com isso, no enlanto, ter dito e atcstado com bastante clmza que
náo foi por acaso que dei o nome do imperador Carlos ao homem que deve
guerrear contra o turco. Outros reis, príncipes ou superiores que desprezam, io
são insubmissos ou não querem ser obedientes ao imperador Carlos, deixo-
os a sua própria sorte. Eles nada devem fazer com base em meu conselho
ou exortação. Escrevi aqui ao imperador Carlos e aos seus, c nada tenho a
vcr com os outros. Pois conheço bem a vaidade de certos reis e príncipes, os
quais gostariam que o imperador Carlos não existisse e que eles próprios 15

liissem os heróis e mestres a ficar com a fama por causa da luta contra o
iurco. Não lhes retiro a fama. Se, porém, são derrotados em conseqüência
(iisso, então que a guardem para si. Por que não permanecem em humildade
sob o verdadeiro chefe e a autoridade constituída? A rebelião entre os
camponeses foi castigadS4. Caso também se castigasse a rebeliio entre os 2ii

príncipes e senhores, muito poucos, acredito eu, permaneceriam príncipes e


senhores. Pois bem, queira Deus que o turco não se torne o carrasco a
cxecutar tal castigo. Amém.
Finalmente, quero ter aconselhado de modo bem amigável e leal para o
c:iso de se querer lutar contra o turco. Armemo-nos e integremo-nos nessa 2s
cinpresa sem menosprezar o turco, colocando-nos - como nós alemães
costumamos fazer - no campo de batalha com vinte ou trinta mil soldados.
li, incsino que nos seja concedida a sorte de vencemos, não temos força de
wsi:i-va alguma. Sentamo-nos novamente e ficamos bebendo até que a situa-
y:io sc torne novamente emergencial. Sou inapto para ensinar essa parte, e ~~1

i.lcs pr6prios em verdade o sabem melhor, ou antes deveriam sabê-lo. Porque


v ~ . i o .i10 cntanto, que estão se colocando de forma tão infantil em relação a
isso. i~l)i.ig»-mea pensar que os príncipes e nossos alemães ignoram e não
; i < i i . ( l i i ; i i i i rio poder e na força do turco, ou que não haveria prontidão alguma
~'iirii 111i:ircontra os turcos. Talvez seria o caso de, como o papa que, até 15

:II:'II:I, sol) o pretexto de guerra turca e indulgência, roubou o dinheiro dos

'1 iili çonquisladu


1 ( '<iii\i;~~iii~ic)pi;i pelos turcos em maio de 1453. Depois de Muraci I jh icr
;iii;ivi.\\;iil<> os iiionlcs h;ilçânicos e çhegirlo i Bdciii em 1361, Miir;rl I1 conrlui\i<>ii.ciii
I ~ I L i O . I ) I'clc>poiics<i. I2in 1458-61, Mrilaminiirl I1 ci>rnplcir>ii;i cr>nqiiisl;i ilii <;r<ciii. Iiiiiis~
l i t i i t i : i i i i l i i :i ccii proviiici:i 11ilc;i.
',.i ( ' I . ; t c . i ~ , c ; ! 1,. 430, I). 47.
Da Guerra contra os Turci,\
territórios alemães, quererem também eles agora nos fazer de bobos c111
função do dinheiro, seguindo o exemplo papal.
Por isso meu conselho para que o armamento previsto não seja tão
reduzido e nossos pobres alemães não sejam abatidos num matadouro. Caso
s não se quiser por em prática uma resistência adcquada e honesta, que inclua
forças de reserva, então será muito melhor sequer começar a luta, deixando
o turco de antemão e sem inútil derramamento de sangue incorporar a si o
povo e o tcrritório, os quais ele, com uma batalha fácil assim e com derra-
mamento de sangue, do mesmo jeito iria ganhar, tal como aconteceu na
io Hungria com o rei Luís. Pois guerrear contra o turco não é como guerrear
contra o rei da França, venczianos ou o papa. Ele é outro tipo de soldado e
tem povo e dinheiro em abundância. Ele derrotou o por duas vezes
seguidas c isso exigiu gente. Meu caro amigo, seu povo está o tempo todo
em m a s , de modo que pode reunir rapidamente cerca de trezentos ou
15 quatrocentos mil soldados. Se fossem abatidos cem mil homens seus, ele
logo estaria de volta com outros tantos, tendo, portanto, forças de reserva.
Por isso, ir a seu encontro com cinqüenta ou sessenta mil soldados nada
significa, se não houver outro tanto ou mais de reserva na retaguqda. Conta
pois, meu caro, os territórios que possui: ele tem toda a Grécia, Asia, Súia,
J Egito, Arábia, etc. Isso é tanto território que supera mesmo o conjunto de
Espanha, França, inglaterra, Alemanha, Itália, Boêmia, Hungria, Polônia e
Dinamarca, o que ainda náo se igualaria a seus territórios. Além disso, está
no comando de todos e recebe efetiva c pronta obediência. E, como já disse,
estão em permanente e máxima prontidão e fazendo exercícios de guerra,
!, assim que ele pode enviar forças de reserva a duas, três, quatro grandes
batalhas sucessivas, como provou no caso do sultão. Esse Gogue e Magogue5"
é de outra majestade sc comparado a nossos reis e príncipes.
Digo semelhantes coisa, pois me preocupo que mcus alemães não as
saibam ou não acreditem nelas. Talvez pensam que só eles são poderosos o
suficiente e consideram o turco como um senhor como o rei da França ou
de outro território, a quem querem resistir com facilidade. Eu, porém, quero
verdadeiramente estar isento de culpa c não sujeito a que o sangue respingue
minha língua c pena, caso um rei ou príncipe se puser sozinho contra o turco.
I'ois isso significa tentar a Deus, quando alguém com poder diminuto sc
r, coloca contra um rei mais poderoso, como também Cristo demonstra no
Evangelho segundo Lucas [14.31]. Especialmente porque nossos reis não
cstâo tão equipados para que se possa esperar um milagre divino atravk
clclcs. O rei da Boêmia C, no momento, um príncipe poderoso. Dcus, IIO
cnianto, é favorável a que ele não enfrente o turco sozinho, inas lenlia o
iirrperador Carlos coiiro coin.mdante e forças de reserva poderosíssúiias. Pois
Ixin, a quem não acredita nisso, deixo que aprenda da experiência. Coiiheço
hcm o poder que o turco tein, a não ser qiie historiadores, geógrafos e a
cxl~rriêiiciadiária mintam para mim, algo que. estoii ceito, iiiio estão Szzendo. 5

Não digo essas coisas a fim de intimidar os reis e piúicipcs para que não
luteiii contra (1 turco, mas com o objetivo de exorti-l«s a que se preparem
sóbria e seiiainentc e não enfrentem a coisa assim de Iòiiiia tão infantil e
sonolenta. Pois eu gostaria de evilar, sempre que possível. inútil derrama-
iiiento de sangue c guerra perdidas. Essa preparação séria se ci'aria, se nossos i11

reis e príncipes tivessem suas prioridades tão ligadas umas às outras como
lium novelo que se enrola, se tanto cabeya como coração, taiit« mãos como
pés agissem em conjunto, assim que de uma poderosa multidão se fonnase
urn só corpo, que pudesse ser substituído em caso de batalha perdida. E que
não ocoira coino até o momento, onde reis e príncipes individuiilmentc vão 15

para cima do turco. ontem o rei da Hungria, hoje o rei da Polonio. m a n h ã


o rei da Boêinin, ate que este os devore uni após o outro e nada se alcance
com isso, exceio que riosso povo seja traído, levado ao abate no iiintadowo
c que se derrame saiigiie inutilmente.
Pois se nossos reis e príiicipes se apoiassein e ajudassem uniuiiiireiiiente zil

i: sc, além disso, os cristaos ciiirssetn por eles, eu esiari:~confiniiic c teria


iiraior esperança de que o lurco abandonaria sua fúria e enconiiai-ia iio
iiiiperador Carlos alguém a sua altura. Do coritrário. caso as coisas Iòrem e
pcniliuiecererii como agora, quando ninguém está de acorclo corii o outro, sendo
Ical a ele. quando cada um quer ser o único soldado ou vai ao campo de 2s
lulalha corii uma milícia de mendigos, sou obrigado n deixar que Lal acon-
icça. Por certo também quero, de bom grado, ajudar a orar. Essii oraqão, porém,
scri fraca, já quc no caso só posso ter pouca fé de que siiii ouvida, porque
sc: assume de modo tão infantil, atrevido e descuidado coisas importantes
:issiin,que sei que Deus é tentado e não pode se agradar nem um pouco com isso. 3"

No entanto, que fazem nossos caros senhores? Eles consideram tudo isso
iiici-:i piada. A verdade é que o turco eslá prestes a nos agarrar pelo cangote,
iiii~siiioque não queira lançar-se contra nós já nesse ano. Ele, contudo, está
: l i ~~iiiriiiiicnteinciitc m a d o e pronto para nos atacar quando quiser, nós que
~~si:iiii~~s desarmados e despreparados. Enquanto isso, nossos príiicipes deli-
I ~ i . i : i i i i sobre o iiiodo de amaldi~oarLutero e o Evangelho: "Eis o turco!
Ai:ic:ir! Em freiite. viunos!" Exatamcntc como estáo fazendo nesse iiiesmo
iiii)iiiciii» em Espu-;i. L i o principal assunto tem a ver com coiricr carne e
~ ~ ' s c : i ~hein l o coiiio coiii iolices semelhantes". Que Deus vos dê o lionra,

'i1 i\ i i l ~ i i i i ; i < i<Ic 1.iiiçrii n%i c<irilcrc ccim r>s I;iii>s.Si>nic~iic ~Iclxiisi I < i n,i<iiii<i
<Ic Mckinclilli<iii
I . i i i i . ~ < i<ilrirvc iiiliiiiii;i(iic\ siiliic i i s iIi.l:illic\ <I:, ilici:i.
Da Guerra roii'ua os Turcos
govemantcs desleais de vossa pobre gente. Qual é o diabo que vos cham;~
com tanta insistEncia a tratiu- de assuntos do governo espiritual nào-ordenti-
dos a vós, que se referem a Dcos e à consciência'! E a tratar de modo iào
displicente e indolente dos assuntos que Deus vos ordenou e dizcrn respeito
5 ii vós e vossa pobre gente nessa hora de suprerna e iminente emergência,
impedindo com isso todos aqueles que são berii uitencionados e de boa
vontade ciariiim sua contribuição'?Pois bem, pesmanecei caiitando e ouvindo
missas ao Espírito Santo. Ele sc agrada muito disso e será muito clemenle
para corii desobedientes c insubordinados como vós, porque deixais de lado
1 1 o que ele vos ordenou e praiicais o yue ele vos proibiu. Sirii, tomara que o
cspísito maligiio vos ouça.
Com isso quero ter preservado minha consciênciasx, pois este livrinho
deve scr testemunha a meu respeito, em que medida e de que modo reco-
mendo a guerra contra os turcos. Se alguém quiser seguir outro caminho, por
1, mim que vá. Pooço me importa, se vier a vencer ou perder. Não vou usufruir
dc sua vitória e nem pagar por sua derrota, mas quero estar isento de todo
sangue inuiilmente derramado. Sei que, por causa desse livro. de modo
algum encontrarci no turco um senhor clemente, caso ele vier a parar em
suas mãos. Entretanto, quis mostrar a verdade a meus alemães, iia medida
1 em que dela esioii ciente. e com lealdade aconselhar e servir imito n gratos
como ingratos. Se isso ajuda, eiitào que ajude. Se nâo ajuda, entào que nosso
amado Senhor Jesus Ciisto ajude e desça do céu com o juizo fulal, derru-
Ihciiido a :iriibos, o turco e o papa, juntamelite cnrn todos os tiranos c únpios.
E nos livre de todos os pecados e dc todo mal. A M E M.

',H ( ' I . l;7 \.li]; . l . i ~ l


I berra contra os Turcos

Exortação a Oração Contra os Turcos1


i
1541

Lutero redigiu a Exortação à Oiação Contra os Twco.~por solicitaçâo do princi-


."
pe-eleitor Jogo Fredenco, o Magnânimo, da Saxônia. O manuscrito original ainda
esta preservado na Universidade de Heidelberg. Em 1541 saiu como panfleto, com
7 çdições no mesmo ano, e duas ediçócs no ano seguinte. Em 1542 também foi
abreviado e publicado junto com ouhos itens. Foi traduzido para o laiim em 1546 e
dcpois incorporado à coleçâo das obras de Lutero. is

MWVn C. Warth

"A quem não aceita conselhos, não dá para ajudar." Nós, alemães, já
ouvimos há diversos anos a amada palavra de Deus, pela qual Deus, o Pai
clc toda misericórdia, nos iluininou e chamou dos atrozes horrores das trevas ,,
papislas e da idolatria a sua santa luz e reino.
No entanto, o modo agradecido e respeitoso como nós a temos acolhido
c considerado é suficientemente terrível para ser observado ainda no dia de
Iioje. Como se os pecados anteriores fossem poucos, quando (mesmo que
iiiconscientemente) enfurecíamos ao máximo a Deus com missas, purgatório, ,,,
c:iilto aos santos e outras obras e justiqa próprias, tendo preenchido todos os
(.;iiiios com tamanha idolatria, e com isso achávamos estar servindo a Deus
(Ic iiiodo especial. Assim, chegamos a nos superar e perseguimos a amada
I':il:ivra, que nos chama àpenitência por causa de tais horrores, e defendemos
<.oiiscicntee arbitrariamente semelhante idolatiia com fogo, água, corda, .,
i.sp:~cfn,maldição e blasfêmia. Não seria surpresa se Deus permitisse ou há
iiiiiito tivesse deixado que não apenas turcos, mas também diabos inundas-
siiii ;i Alemanha.
Como, pois, pode ele suportar isso por muito tempo? Ao fmal, isso sim,
i.lc prccisa pôr a salvo e proteger a verdade e a justiça, punindo o mal junto ,,,
<.o111os maus e venenosos blasfemos e tiranos. Do contrário, ele pereceria
Exortação à Oraçári Contra os Turcos
em sua divindade e, finalmente, por ninguém mais seria considerado Deus,
se cada um mais e mais pudesse fazer o que lhe apraz, desprezando a Deus
com sua palavra e mandamento de modo tão despreocupado e vergonhoso,
como se ele fosse um tolo ou uma inarionete e não se devesse levar a sério
,
5 suas ameaças ou ordenações. Por isso ele deve fazer com que obrigatoria-
mente se compreenda que isso não é brincadeira, mas algo muito sério.
Nós, além disso, que nos gabamos por causa da aceitação do Evangelho
e por causa da Palavra, cumprimos de nossa parte também o dito em
Romanos 4 [sc. 2.241: "O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por
10 vossa causa".
Pois, exceto alguns poucos que se mantêm fiéis e aceitam a palavra de
Deus com gratidão, a maioria é Cio ingrata, arbitrária, atrevida e se composta
exclusivamente como se Deus nos tivesse dado sua palavra, libertando-nos
do papado e de seu cativeiro diabólico, para podermos fazer livremente e
1s deixar de fazer o que nos apraz. Como se sua palavra tivesse que servir não
a sua honra e a nossa bem-aventurança, mas a nossa própria maldade. Isso,
porém, custou o sangue e a morte de seu amado Fiiho, Jesus Cristo, nosso
Senhor e Salvador, como deve ter sido suficientemente pregado a nós.
Se olho para o princípio de tudo, vejo que espécie irrecuperável de seitas
211 malignas e de heresia vieram à tona, tais como muntzerianos, zwinglianos,
anabatistas e muitos outros mais, tudo sob nome e pretexto do Evangelho.
Isso porque, libertos pelo Evangelho da excomuuhão e da tirania do papa,
acabaram por se tomar seguros para ensinar e fazer o que lhes aprouvesse,
o que sequer teriam podido sussurrar na época em que o papa era deus e senhor.
ES Depois veio o grande deus Mâmon, ou a ganância. O modo como ela
possuiu não somente a camponeses e burgueses, mas também de forma bem
grosseira a nobres, condes, príncipes e senhores, dificilmente tem similar em
todos os registros históricos. O nobre quer ter tudo que é do camponês e do
burguês. Sim, ele quer se tornar príncipe. O camponês, juntamente com o
'1' nobre, eleva os preqos do cereal, da cevada e de todo o resto, provocando
deliberadamente carestias, quando Deus, na verdade, deixou que crescesse o
suficiente. O burguês de igual modo explora através de seu ofício o que e
como quiser.
Sabe-se, além disso, com que desconsideração a eriadagem, servos e
fi servas, agem nas casas. De que maneira roubam e praticam a deslealdade e
todo tipo de maldade, sendo que todos os patrões se lastimam e clamam por
causa da criadagem.
Assim, também o roubo de um vizinho pelo outro é incomensurável. O
iricsino vale para os operhios ou artesãos. Como querem dar uma de senho-
1 i-cs'! J i cobram que chega e trabalham em que, do jeito que e se quisereiii.
li. sc arruínam c coiisoiiicni coni o material necessário, ninguém pode dixci-
cois:~~ I ~ L I I I I : I cou~r:tclcs.
<iiirrra contra os Turcos
Antes que eu tne esqueça, tamberii fdo dos juristas. Chegou-se corri a
j u s t i ~ iao ponto dc ninguéin mais envolver-se de bom grado numa disputa
jurídica, mesmo que tenha iiinit causa tão brilhanie e boa conio pode ser
claro o sol do meio-dia.
Nâo quero dissimular, nias dizer a verdade. Veja o Tribunal de Câmara 5
do império. Que espécie de prostituta dos diabos governa ali, numa instância
quc deveria ser como que uma jóia divina em meio aos territórios alemães,
liaquele que deveria ser o único corisolo para todos que sofrem iujustiqa. Veja
como os que estão em Goslar, Mindcn e outros pailicipam, apoiando o
desesperado patifc, Heurique, o Incendiário e Assassino2, em todas as mal- i«
&~des.Assim, de modo algum são juízes, também n2o podem defender
pcssoas no tribunal e, além disso, toriiam partido em causas referentes ao
Ev:uiselho ou à Igreja.
A Alemanha, portanto, está madura e repleta de todo tipo de pccados
coritra Dcus. Ela quer, além disso, justificar-sc e se opõe a Deus, o que 1 5
infelizmente em muito fez dc inim um verdadeiro profeta. pois eu disse
scguidas vezes que deveiiios ser castigados, ou pelo turco. oii por nós
próprios reciprocamente.
Acabei esquecendo a usura. Ah, essa mesma vive completaniente des-
preocupada e avança com tal fúria, como se ela própria fosse deus e senhor 20
cm todos os territórios. Ninguém pode ousar combatê-la. E porque escrevi
contra ela3, ridicularizaram-me os sanios usurários e disseram: "Esse Lutero
iiZo sabe o que é usura. Que fique lendo o Mateus e os Salmos dele!" Pois
Ihcin, sou um pregador de Cristo e se minha palavra é palavra de Deus. do
que não me resta dúvida, então o turco ou outro instrumento da ira dc Deus rr
ciisiiiariío a ti, maldita usura, que esse Lutero compreendeu e sabe muito beni
o que é a usura. Nisso eu aposto uni bom florim!
Mesino que essas atrocidades tivesseiii que ser suportadas por um pouco
iii:iis de tempo, chegou-se a uin ponto, a partir do qual iião se pode mais ir
:iili:inte. Certos fidalgos, cidades. sim, até mesmo cidadezinhas de liada junto 30
<YIIII aldeias começaram desde agora a querer se opor a seus pastores e
~)rcgidores,para que eles não repreendam do alto do púlpito seus pecados e
ví~.ios,ou querem botá-los a coi-rer e deixá-los morrer de fome. Aléiii disso,
\c. alguém pode roubá-los, se toina santo, pois, caso o denunciarem aos
Iiiii<:i«n&ios públicos, serão chamados de gananciosos insaciáveis. "Veja - s
(lixc.in eles - um pastor recebia outrora 30 florins e estava plenamente
s;iiisI'cito. Agora eles querem receber 90 e 100 florins." Que os funcioiiários

.! Ili.ii~iquc 11. o Jovem (1489.1568). duque dc Brduiischweig-Wolfenbillel dc 1414-1542


tmhérn pejorativmc~itcdc IMmr - paltiap, lol<i.
I riiclo 'r cli~~iilutu
II. O . I i , s , u. 5. p. 3(>5494.
púbiicos, porém' sejam gananciosos, larápios, ladrões e desleais para coiii
seus senliores. isso é santidade cristã.
Do mesmo inodo, ninguéiii se lembra que quem outrora se tiiaiitinh;~
coiii 30 florins mal pode agora subsistir com 100. Por quê? Um alqueire de
5 ccre~dvalia dois, três vinténs4; uma quuuena de ovoss custava três centavos,
e assim por diante com todos os produtos. Agora, o cereal deve estar videndo
nove' dez, onze, doze vinténs e uma quinzena de ovos custa dezoito centa-
vos. E ainda por cima dizem: "Os padrecos são gananciosos", depois de
terem elevado os preços no mercado e extorquido do pobre homem 60
10 florins. Este é tachado dc ganancioso por receber 90 florins, dos quais eles
ihe extorquem 60. Que bela justiça! Logo tu, uma pança gananciosa dessas,
não és ganancioso, mas justamente aqucle que é dcsfolado por tua ganáncia,
esse sim' deve ser chamado de ganancioso. Se esse for o jeito de derrotar o
turco, provocando previamente de todas as inaiieiras a ira de Deus, não
17 podcinos icr êxito algum por causa dc semchmtc c uiaudita atrocidade e maldade.
Está bem! Que impohliicia tem afinal um padreco'? O turco, eiii contra-
pailida, não deixa de ser turco e o diabo não deixa de ser diabo. Disso podes
estar cesto. Se os padrecos, que são seividores de Deus e pregadores. deixa-
reiii de existir, não serás mais senhor, camponês nem burguês (crislão). Se
~~~ não rcspeitarcs ncm honrares o Livro e os mestres (que sZo, isso sim,
servidores de Deus, aos quais quem despreza acaba por desprezar a Deus,
que os enviou), tua espada e escudo serão menos do que papel e penas. A
esse respeito logo te convencerás e serás convencido.
Soii, em verdade, uma espécie de profeta e estou desgostoso por isso.
3 Preferiria mais que tudo fosse mentira (coriio Miquéias também desejouh).
Preguei segiiidamenle contra a ganância e as elevações arbitrárias de preço
e disse: "Acumulai, acumulai, acumulai, caros camponeses, burgueses e
nobres! Acuriiulai confiantemente e cobrai caiu que chega! O Lrmão Veit7
virá c encontrará o quc cstais acumulando. Pois não conservareis o que dc
modo t2o arbitrário cstais gd~liuiciosanientereunindo, ou seja, o que ftutius
c roiib;iis. Estais acumulando tudo isso para alguém outro, que em retrihuiç5o
vos airavcssará com a espada ou pelo nicnos vos aplicará uma surra daquc-
I;is, para depois rir de vossa cara. Isso porque o fuitais dos pobres e neces-
sit:idos, cujo clamor ecoa no céu e não deixa a Deus em paz até que ele os
v' csciiic e castigue a vós, gananciosos. Como diz Habacuque 3 [sc. 2.61: "Ai
(kaliiclc que acumula o que é alheio".
ciit~rraOS
1 ;iii-~i;i Turcos
- -
Erii resumo, as coisas estão e aridaiii em muito como antes do dilúvio,
coiií'oniic diz Gênesis 6.12: "Deus viu a terra e eis que estava corroinpida.
I'ois toda carne tinha corrompido seu caininho na terra". De minha parte
cslou certo que, se o mundo não se corrigir, mas progredir sempre mais dessa
iiiuneira em todo tipo de m~ldades,então dar-se-á a última ruptura. Em 5
scrrieihante situação, nenhum consolo ou esperança tenho, senáo de que o dia
clci-radeiro eslá à porta. Exagera-se por deiiiais, de modo que Dcus rião o
~~oderá rolem por mais tempo.
A cssa aliui~idizes: Que, pois, devemos fazer'? Devemos nos riesesperw~
cI~.ixarque as coisas sigam seu mnio c que o hirco faça uma limpeza in
coiiipleta seni nenhuina oposiçc?o c coiitra-ataque? Não, de jeito rienlium!
NZo teiilio mandado algum para acoiiselhar nessa direção. Desacorisellio em
cspecinl ;I que se desanime ou desespeir. Pois assim como Deus iiio pode
siipoitar a injúria atrevida e a maldade. das quais falei acima, do nicsmo
iiiodo não quer ele tzmbém que se desailime ou chegue ao desespero. Ele 1s
i~uci.que se siga o caminho do meio e não que se tome o dcsvio à direita ou
Ii esquerda. Conforme diz o Sdtério: "Deus se compraz naqueles que o
ii:inem e contiarn em sua bondade" [Sl 147.111. Por outso lado, sem dúvida
:ilguma, ele est;í irado e se desagrada daqucles que desprezam ou não teniein
:I clc e sua palavra e daqueles que não confiiiiii. inas duvidam e desanirnani. n
I'orianto. ainda há esperan-a. Basta 1iavc1- zgente que queira ouvir e
ilcixar-se acuiiselliar, ou seja, que se comece (como foi dito h5 pouco) a
icriicr a Deus e confiar em sua horidade. Se isso aconteces, saheriios iiiuito
I)eiii que nem turco e nem diabo poder50 fazer-nos mal alguni. Pois "se
Ilcus estlí conosco, quem será contra 116s" [Rm 8.31]? Quem, todavia. quer a
c pode levar as pessoas a um tal temor de Deus? Os santos profetas jmiais,
o11 iio mínimo muito pouco, o conseguiram em ineio ao povo de Israel, até
que veio o rei de Babilônia. Este os ensiiiou, pois não deixou pedra sobre
pcdra, ests~iigularidoou sequestrando tudo. e devastando o Lemtório. Aí eles
;ipiciiderani a temer e interceder a Deus. Aos tolos se caiam os piolhos coiii 3ii
I~orrlZo!~. Coiiio diz Isaías 28.19: "O temoi. triz a compreensão do que se
r<.iii oi~vido"~.
Assim, o turco também é nosso mestre-esc«la e precisa nos castigar coni

X N;inrri niiis,y mm mit K01bt.n lausen, no origiri.11. kólbcn des iV'wci~,liieralrnenle n b<irdXc
do p;~lli:i~oque, origindtnenie era a m a do hu50; dcpois passou a ser sua insígnia ao lado
iIu boné. O prov6rhio poderia significar algo coiiio "tratar a cada qual confonne rnecce".
0 Vci:iiio d:ii intellecium nudihii, no original. O tento da Vulgaw reza: et iiinruriiriiod~ird;t
vrx:!rio iniellecfiim dzibit audilui. Na DB 1534: "Denn allein die Strafc IcM autã W<irt
iiicrkiii - (Pois somcnle u castigo eiisilia dur atcriquo i Palavrd), com n(ri;l margiriiil: N:trrra
rnic Kolh<a1 I;iii,wn / rin<lXIIICnl;~cl,l1h>111111cKindvr
i i i r i , ~,,i~,:,,> ~~ (Aos Iolos ICIII ~ I I V sc
r;tl;tr ) ~ i t ~ l lcon, ~ o s I x ~ r c I Z o/ c v;ira kr,. C ~ ; ! I I < ; ~~<~ l x ~ l i c ~ ~ l c s ) .
a vara e ensinar a temer e orar a Deus, senão nos deteriorarnos totalrnciitc
erii meio a pecados e toda auto-suficiência, como aconteceu ate o momento.
Se agora quisermos permitir que nos ajudem e aconselhem, vamos,
entâo, Fizer penitência e corrigir as coisas más descritas acima. Os príncipes
5 e senhores devem fizer justiça no temtório, controlar a usura, combater a
ganância dos nobres, burgueses e caniponeses. Acima de tudo, devem honrar
a pal;ivrci de Deus, prover, proteger e promover ai escolas, igrejas e os que
as servem. Do mesIiio modo tâmbiiii os nobres, burgueses r caiiipoiieses
deveiii ser obedientes nesse ponto, deveni pioteger a disciplina e a Iioiiradez
"1 nas cidadcs e tios campos, nZo permitindo que artesãos, operários e criados
priitiqueni zubitrariedades gcuides assim, mas os casiigiiern cte tnodo deste-
mido. Em suma: tem-se o Calccismo AlemãoLu,em fornici suficientemente
transpareiite e clara. Cada uin heiii sabe (graças a Deus) aquilo que compete
a cada estado e indivíduo f u e r e deixar de fazer, algo que outrora infeliz-
15 mente não sabíamos e M a m o s com prazer. Se fizermos isso, Deus nos
cscutará e certamente ajudará, como todos os profetas e toda a Escritura nos
prometem.
Se' porém, não agirmos dessa maneira e não quisemos aceitar canse-
lhos, entiio não há maneira de recebennos ajuda. E será inútil iicai- berrando
que o turco é um tirano cruel, já qiie de nada ajuda a uma criança má
reclaiiiai. da vara dolorida, pois se ela fosse boa, então a vara iiZo seiia
dolorida, súii, sequer haveria vara. (Eni resumo) de nada adianta ser mau e
iião querer ser castigado, anibns as coisas precisam estar juntas uma a outra,
oii simultaneamente chegam ri tcriiio.
Vós pastores deveis pregar isso ao povo com diligência, se Deus talvez
quiser conceder a graça para que eles ouçam e se deixem aconselhar. Pode
ocoi~ercomo Deus diz a JeremiacMlcaso eles quiserem seguir o exemplo dos
iiiiiivitas, que titiliam o seu turco iiiuito rriais próxinio de si do que o nosso
turco está em relação a nós, pois restavam apenas quarenta dias até sua ruíma,
corifonne Jonas 2 [sç. 3.41. Subsistiram, porém, através de sua penitência e,
como se deixaram aconselhar, acaharitni recebendo ajuda.
M,.i&. ~.o i n o se
, as pessoas sáo obstiiiadas, c o mal as comeu t50 fuiido
i~iicnão se pode esperar peiiit2ncia alsuina (como diz Ezequiel de sua paiie1;i
(Ic cobre, que ficou tio enfenujada a ponto de ele. não poder esfregá-la ncrii
li~iipi-Ia,mas <pie precisoii sei- novamente clcrrctida e moldada pelo rei dc
Il:iliilin~ia'~)'! Que podemos 116soutros, que somos inocentes' iiuina sitiia$ão

111 1 ) :ii<r.kiii~
( Alcni%,ou (:!lccisrno Maior (WA 10/1,125-258) foi piihlic:i~locm 152'). ('I.
i) i i . \ i < > rrti v . 7.
Ol,riis Sclcci~iii;iil;,,s.
I 1 ( ' I I , .?h..~.
I ' i 'I i:, . > 1 1 1.1.
< :iicir;i coiitra os Turcos
iIcss:is? Coiifiar é o que se deve fazer aqui. tanto quanto Deus o queira. Llni
vizinho sofre junto com o incêndio no outm. Por isso temos que (corno
I<zcquiel e Dniuel o fizeram) aguentar fiimc e jiuito com nosso povo, reis,
sciiliorcs e igrejas, sacerdotes e profetas. Que faríamos, se. esiaiido em
.Icrusalém. tivéssemos que nos iiiiidar de nossa pátria e ir p u a R:ibel viver 7

siiti o grande tirano junto com os iiiesmos c amados santos, profet:is. reis c
rniiihas (assim como fizeram muitos outros santos e pessoas boas nliquela
epoca)? Não iríamos perder a Deus por isso, iiein bandcar-nos para o cliabo.
I'ois tarnbém Daniel e seus compmhciros encontraram a Deus mais ricanien-
tc em Bahel do que o tinham encontrado em Jerusalém. Pois Deus é onipo- fii

tciite ein toda parte e, como S. Pedro diz em Atos 10.35: "Quem tenie a
Ikus, oiide quer que esteja, ein todas as naçóes, este agrada bastante a
1)cus". Do contririo, todos os cristãos qiie agora vivem e morrem sob o
iiirco tcrinin que estar condenados. N~iquele dia eles seráo juizes sobi-e
iiqueles que ;igor;i os tomam coino esc;ihel» p u a os pésJ3. I5

Entretanto, porque niío sihemos que Dcus quer algo semelhante de nossa
~i~iric (já que nenhum Jereriii:is oii Ezcquiel temos, que por ordeiii de. Deus
cniiii-a vez nos chame ou mande que nos eiitrcguemos ao turco, coriio os
~iiileuspor mandamento de Deus tiveram que entrega-sc ao rei de Bahel),
coiiipctc a cada um de nós defendcr-se e fazer o que puder conlòinie sua 20

voc:iqão antiga c anterior, alé ser enti~adoa última «de. Pois não podemos
rciiunciar à nossa vocação de boa consciência, enquanto náo formos impeli-
ilos para longe dela pela força ou Deus no-lo exigir através dc profetus ou
siliais ~iiilagrososoutra vez.
Portniito, dividanos a coisa toda eiii dois grupos. Aos sanguinários e 25

I~l;istèiiiospupistas exortamos a que p;irem dc blasfemar o nome de Deus e


\c ;irinein de outra forma contra a ki de Deus. As pessoas ingratus e
iiiiildosas exorklinos a que se comiam, hoiirein n palavi-a de Deus c interçe-
iI:iiii a Deus. Se não houver Zxito com esse primeiro grupo, irias eles nos
Icviiicin coiisigo ao castigo, eritio qiie nós, a saber, o outro grupo. a minoria,
II:I<I desertemos de Deus por isso. E difícil ter de carregar aqueles pecados e
[i<.ilir;i Dcus que ele não queira d e ~ ~ que a r paguemos pelos mesnios (pois
t.lcs estao no meio de nós e nós cnvoltos em meio a eles, assim que «ti eles
iisiili-uein dc nossa oração, ou nós pagamos pelos seus pecados). No entanto,
11<r iii;iis difícil que seja, náo ficamos por isso menos responsáveis por honra li

i. i-rcr cin Deus, o qual nos chama a observar nossa vocação e a Fazer nossa

11;iiii..Elc também nos chana e ensina a orar, quando diz em Mateus 7.7:
''l'c.(li c ircebereis, buscai e achareis, balei e abrir-se-vos-á", cm Joio 16 [sc.
Il.I,l.I: "Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes em ineu iioiiic.
Enortaçáo à Oração Contra os Tumos
isso eii fiuci", c no Salmo 50.15: "hivoca-me na necessidade, eu quero ic
ajude-. Tii me agradecerás e glorificarás".
E beiii verdade que não somos Josué, que por meio de sua oração
ordenou ao sol a ficar piii-ado tio céu14. Também não somos Moisés, que
r iiiediante o orar de coraçâo dividiu o Mar Verrn~lho~~. De igual modo não
soiiios ELias, quc cspdhou fogo céii abaixo através de sua o r q 2 0 ' ~ .Nós,
podm, pelo menos pertencemos h inesina gente, a quein Deus recoriiendou
sua palavra, a qual lios faz pregar niediante seu Espírito. E verdade, justa-
mente por isso somos coino Moisés, Josué, Elias e todos os outros santos.
10 Pois temos a rnesina palavra e Espíiito de Deus que clcs tiveram. E nós
somos do mesmo grupo dc prcgadorcs. scrvidores e ministros de Deus, a quc
tainbéiii eles pertenceram. Mesino que tenham tido a presença de Deus de
inodo iiinis glorioso, não a tive~amde inodo superior c mclhor do que nós.
pois sua carne e sangue não eram melhores do que os nossos. Eles foraiii
1 seres Iiiiiii;iiios como nós e criaturas de Deus exatamente como nós soiiios.
Estou falando agora dc nós3 pohrcs pccadores, que pelo nierios amamos a
Cristo e buscamos seu reino, e ii5« dos papistas e falsos cristãos.
E Deus tem que (se é que posso falar assim) ouvir nossa oras20 tanto
quaito ouviu aquela. Pois somos iiiembros de sua Igreja, noiva de seu Filho
211 ani;ido, que ele não pode desprezar quando clama com sinceridade. Não é
gantle coisa para Deus realizar obras Jâo grandes e atC maiores através dc
nós do que as que fez através deles. E como temos visto e experimentado
até agora, quando ele nos tcm auxiliado podcrosa c maravilhosamente contra
o diabo do papa, que é algo maior do que o diabo do turco, bem mais do
que possamos imaginar ou acreditar. Pois ele fila em Joáo 16 [sc.14.12] d:i
scguinie iiianeira: "Ein vcrdadc, cm vcrdadc vos digo. Quein crê em iiiini
fará as obras qiie eu faço, e fará ainda iiiaioses, pois eu vou ao Pai, etc.".
Portanto, vainos nós, pregadores, fizer a nossa obrigação. Em primeiri1
lugar, vamos exoitar o povo a penitência, já que eles (caso o hirco avançar)
certamente morrer20 e terao qiie perder tudo miseravelmente: coipo, bens,
Iioiira, esposa, lilhos e, além disso (o que é pior), a alma. Pois é temvcl
niorrer em estado de impenitência, o que significa ser condenado eternameii-
tc. Por isso devemos censurar e repi.ccndcr de maneira incisiva os vícios c
pccados do alto do púlpito. Confonne diz Isaías 58.1: "Prega para valer, nho
1, p(iup:i, eleva tua voz como uma trombeta e anuncia a meu povo sua traiis-
grcssáo e à casa dc Jacó scu pccado, etc.". E S. Paulo em 2 Timóteo 4.2s.:
"I'rcga :i Palavra, insiste, quer seja «pcirtuno ou não, repreende, amc;iv;i,
i.xi~iioc»in toda paciência c cnsina. Pois haverá uin tempo cm quc i i ; i i ~
sii~x~t;ii.àri;i sX doutrina".
1iiicira coiirr;i uh Turcos
Caso houver certas prssoas que iiáo quiserem admitir semelliante re-
~ x c n s ã ocstas , podem, em nome de Deus, ficar fora da Igreja, ou, em nome
CIO diabo, sair dela. Quem iis está retendo? Elas, que não querem ouvir ;I
palavra de Dcos, de nada nos servem ou ajudam. Muito mais nos lirejudicani
liuma tal situaçáo de emergência. Coniudo, não podeinos silenciar a palavra s
tle Deus por causa delas. Qiic se váo para o diabo e morram como uin porco
ou como cachorros, sem sacr;unento e graca, sendo sepultados com os
animais. Pois se queremos tcr i i r i i Deus gracioso, tciiios de suporiar verda-
clciramentc que ele nos repreenda e censure como pecadores e palifcs malig-
tios e confessar, além disso, que ele age corretainentc quando nos ccrisora 1il

coniu pecadores e patifes iii;iligios. Como diz Davi: "Pequei p%i contigo,
ti fun de que sejas justo eni luas palavras" [SI 51.41. A verdade é que os
cristãos aiiiêiiticos ouveni com prazer que alguém os censure e repreenda
com a palavra de Deus. Esses, no entanto, que querem permanecer impunes.
cin rcalidadc estáo confessando que sáo autênticos patifes desesperados, que 15

com isso tanibém pecam contra o Espírito Sanlo por iiáo quererem sujeitar-
sc a que ele os repreenda mediaiiie seu rniiiislério da pregayáo. Ou então
ilccuúam ianio. cluc coiisidcrm iiossa preg;içGo e pal;ivra como iiossa. isto
C, como pilavra humana. iiiio querendo por isso siibmetcr-se a ela. Assúii,
rlecaírnm Iiri muito da i6 cristá, sendo vaido c nierecido quc. cm lugar de o:
pertencereiii a Deus, pertençm a Maomé, aos turcos, ao papa, bem como ao
diabo e sua máe. Amém! Amém! Pá quc eles assim o querem. Que não se
dcixe, porém. que estejam ein nosso exército. Ou. se sua presença for
ohrigatcitia, que em nenhuma circunstância depeii(1nnios de sua ajuda. Preo-
cupa-te c pede, porém, que Deus náo queira fazer-nos pagar pela iiialclade 25

<Iclcs,porque riao gostaiiios que ele>,como inimigos de Deus. desprezam sua


~xil;ivra,da qual desejamos receber ajuda.
Especialmente os capelaes militares devem cxoiiar, pedir, implorar, aniea-
$;ir e prometer aos soldados com dureza - tambéiii ao selvagem, grosseiro
r hruto Im2o VeitL7,que tudii sabe a respeito de torturas, ferimentos, sífilis, 311

~xsiilênciiis,S. Valentim, Sio. AiitOnio, S. Quu-úio. etc.Ix - a fiiii de que


;il~;iri<loiiem tais vícios e para isso orem o Pai-Nosso e o Credo. Pois eles
(l~~vcni sliher que não lutanios contra carne e sangue, irias coiitra o diabo no
iiili.iii<;"'. O turco, mesmo sendo aiiialdiçoado e difamado. permanece imba-
iivcI. E coiiio diz arliiele çapitb a uin s«ldado, peiito em amaldiçoar o '5

iiiiiiiifo: "Escuta aqui, eii não te tenho no exército para que amddiçoes
Alcn:iiidre, mas para que lutes contra Alexandre!" Pode ser que algiiiis
E\orin$%i à Ora$& Contra <i>' l i t i i g i , ,
aceitem ser exortados e sig;un essa orientaçiío, primordialmente os que, ;ill:iii
disso, também pciisnm cm scr bem-aventiirndos. Nos outros nada há que os
leve a se tornarem meihores ou piores. Pois se depender de sua vontaclc.
coisa alguma começará a ser feita em relaçãci a semelhantes necessidades c
5 assuntos maiores. E Deus náo olhará para eles, mas para os outros. como diz
o Saliiio 33.18: "Os olho.; do Senhor olliam para os que o temem e aguar-
dam por sua bondade".
Assim lê-se na Hist6riii Romana que uiii imperador tinha um pniipo dc
cristãos entre outros gentios, que se ajoelhavam no campo e oravam (como
1 convém aos cristaos) antes da baealha. Repentinamente veio do céu urna
tempestade e derrotou os inirriigos. Esse griipo de soldados tomou-se para o
unpcrador (beiii coiiio para os gentios) iiiuito cxo, se.ndo cliamados dc
kerauriohiilos, isto é, trovcjadores, porque eram capazcs dc guerrear por
intermédio de ataques de irovão. Exatamente isso poderíamos fazer também
1. nós, se com seriedade lios corrigíssemos e orisscmos de coração. Pois tudo
o que Deus far. e dá a todo mundo, gentios e tiucos, maus e bons, tudo isso
ele làz por meio e por causa de seus amados tillios. isto é, eni favor dos
cristZos quc o tcmem, sc conlessatn pecadores. de boa voiitnde se deixam
repreeiider e, núo obstante. confiam nele de coraçjio, orani c uilercedem eiii
: todas as iiecessidades. Isso é certissimameritt: verdade.
Isso a respcito da primeira obra do nosso ministério da pregação. "Quem
tem ouvidos para ouvir, que ouça" [Mt 11.15]. Quem não tem, que fique
para tiás sem ouvidos. desorelhado, mouco e surdo. Precisamos prosseguir.
A segunda obra é aquela pela qual nós ein seguida nos voltamos a Deus em
2. corrcta oração. Pois são dois ofícios sacerdotais: voltar-se ao povo e eiisiná-
I« o que é correto e bom; e posteriomeiite voltiu-se a Deus e interceder para
que faqaiiios seiiielliante coisa e tanibéin possamos alcançw ?.rito e vitória.
Como diz I Samucl 12.23s.: "Longe dc iiiiiii que eu peque contra o Senhor,
ao deixar de orar por vós e de vos ensinar o caminho bom e certo. Temci
apenas ao Senhor e servi-o lealmente de todo coração". Aqui ouvimos scr
pecado conti-a Deus, se nós pregadores não eiisiriamos corretamente o povo
e intercedemos por ele. Também C pecado. prossegue Samucl. se o povo n3o
obedece iiem teme a Deus, qiie o ensinamediaiite iiosso ministério da pregiiçXo.
O povo deve ser sohreiiido exortado a tanibétii orar. Pois o Pai-Nossi, c
', todas as oraq6es são coriiuiis a todos os cristáos, scjain eles pregadores oii
ouvintes. Principalinente, pcirém, os piegadorei devem fazê-lo. por serem os
qiic dirigem a Palavra. devendo estar e ir ria vaiiguarda. Sobre como se dcvc
orar ensina-se ahundaiiternente eni muitos livro^'^. A saber, quc não sc ponliii
ciri dúvitla a oração. Qiietii quiser duvidar de que é ouvido por Dcus, L~LIL,
(lcixc tudo de lado e não se moleste com Deus ou com a oração. Pois ele
iiáo pode e não quer suportar que se duvide, ou seja, ele não pode e não quer
siiher de ser considerado e censurado como mentiroso ou desleal por nós.
Oiicm, porém, duvida, acaba fazeudo exatamente o mesmo que dizer: SE-
N I IOR Deus, eu não creio nisso, também não sei se é verdade a palavra em 5

q11c dizes: "Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes, isso eu farei"
1.10 14.12-141, e muitos outros versícul«s semelharites.
Por isso, penso do seguinte modo: se queres orar, ajoelha-te ou aprescn-
[:i-tc sem medo e acanhamento (contato que, como supraciiado, tenhas te
iccoiihecido um pecador e queiras corrigir-te) c conversa com Deus assim: 10

SliNHOR, Pai celestial. Eu peço e quero que isso seja infalível, pois devc c
111-ccisaser sim e aniéin, exatamentc isso e nada diferente, senao não quero
i~i.srnem ter orado. Não que eu tenha direito ou que seja digno disso. Bem
si:i c confcsso que não o mcreço. Mereci, isso sim, o fogo infernal e tua ira
iicrria por causa dc muitos e grandes pecados. Nesse momento, porém, sou 1s
i i i i i pouco obediente, já que me chamas c coages a orar em nome de teu
;iiii:ido Filho, iiosso Senhor Jesus Cristo. Baseado nessa certeza c esperança
iIc lua úisondávcl inisericórdia e nào em minha justiça2' ajoelho-me ou
:ilwscnto-ine diante de ti c oro por N. N., etc.
Por outro lado, também tem sido ensinado suficienteinetitc que nào se 20

ilcvc tentar a Dcus na oração, o11 seja, iiâo sc determina a ele tempo, medida,
:ilvo, modo ou pessoa; riein como, quando, onde c por intermédio do que
iIcv:i cle nos atender. Deve-se, i10 entanto, segredar tudo humildcinente a ele,
( I I I C por meio de sua divina e inescrutável sabedr~riaem tudo irá acertar por
ci~~iil>leto. Jamais se duvide (caso algo diferente se manifestar) que a oração 25
<.i1111 certeza foi ouvida. Como diz o ai1,jo Gabnel em Dailiel 9.23: "Quando
ci1iiicc;aste a orar, partiu a ordem, etc.". E foi atendido muito mais e melhor
1111 que Daniel havia pedido. Semeihantes coisas, digo eu, já ioram outrora
siiliciciitcmente ensinadas no Catecismo e de resto em muitos escritos. De-
v(.iii. por isso, ser aplicadas também coritra os turcos lia atual situação de 30

<.iiici-gCiiçia,orando cada qual de sua própria parte.


I~iiiretaiito,para que o povo seja estimulado à devoção e prepai-a$ão por
iii<.ii~~ I c orações públicas nas igrejaas agradar-me-ia, caso isso agradasse
i : i i i i I i i i i i :i pastores e igrejas, que nos dias festivos (de manhã, à tarde, ou
i . i i i : i i i :ilicriiadamente) fosse cantado após a prédica, responsivamente com o $5

~ { i i i ~ 11 . Salmo 79, como é costume.


I >cpoisdisso, que um menino de voz bem afinada se apresente diante do
~~iill)iio ciri seu coro e cante em solo a ailtífona ou súplica: Domiiie, non
Exortação à Oração Contra os Tuli.<ts
secund[1m2~.Após o mesmo, um outro menino cante a outra súplica: Doiiii-
ne, ne rnerni11eris2~. Em seguida, todo o coro cante de joelhos: Adiuva nov.
Deuha4, exatamente como se cantava durante a Quaresma nos tempos do
papado. Tudo isso soa e aparcnta ser bastaiite devoto, etc. E o texto c«mbin;i
i bem com o assunto da resistência contra os turcos, se for conduzido de
coração nesse sentido.
Após isso (se quiser), a comunidade pode cantar: "A par nos queiras
c o ~ i c c d c r "ou
~ ~O Pai-Nosso em alemão26.
Pode-se altcmar o Salmo 79 com o 20, qnc intercede pelas autoridades
111 e pelos que estão sofrendo no campo de batalha.
Se, porém, tal canto for muito longo para depois da prédica, poder-se-ia
cantar tudo eiil lugar do intróito ou mesmo durante a comunhão. Quanto à
oraqão pública, tais cerirnôiiias (ao lado da litania) são suficientes nessa
situaçào de emergência. Se, no entanto, alguém por si própi-io quiscr orar em
15 especial tias igrejas ou em casa, e não conhecer palavra ou modo melhor,
então que tome o Pai-Nosso e, confonne lhe aprouvcr, anime sua devoção
com palavras como estas ou semelliantes a elas:
Pai celcstial, bem temos merecido que tu nos repreendas. Repreende a
nós mesmos, porkm, segundo a tua graça e não segundo a tua ira. Para 116s
I é melhor que se nos dê o castigo por tuas inãos do que por inãos humanas
ou do inimigo. Como Davi também pediu: "Pois tua misericórdia é grande.
Temos pecado contra ti e não guardamcis teus mandamentos", etc. [SI 51.1-61.
Tu, entretanto, sabes, Deus Pai todo-poderoso, que nós não pecamos contra
o diabo, o papa e os turcos, que elcs não têm direito nem podcr algum para
35 nos punir. Apesar disso, tu podes e tens autoridade para fazer uso deles como
tua vara irada contra nós, que pecamos contra ti e merecemos toda desgraça.
Sim, amado Deus, Pai celestial, rienhum pecado cometemos contra eles para
que tivesscrn o direito de nos punir, mas seu desejo era muito mais que n6s
juntamente com elcs pec8ssemos da forma mais atroz contra ti. Pois eles não
perguntam se te desobedecemos, blasfemamos, praticamos todo tipo de ido-
latria (como eles fazem), nos envolvemos com doutrina c fé falsas, mentkas,
adultério, imoralidade, assassinato, furto, rouhalheira, magia c todo 0 mal
que fizemos contra ti. Eles não perguntaram por isso.
Eis, porém, nosso pecado contra eles: o fato de pregarmos, crermos c

12 I'ir~v;ivelrnentedc acardu com as pitlnvras do SI 102.10: "Senhoi. não 110s Irales segutalo
os ri<issi>s pecado^", ctc.
.!I I?il:ivi:is ilo SI 79.8: "Sccihor, não te lernhres contra nó? dos pcçados dc nossos pais", çlc.
.>/I "Assisic-rirjs, 6 Deus Salvador iiusso", etc. - SI 79.9.
.>i ('I: WA 35, i i ' 27; 1liiii1.i < / O /'ovo </cDcir.~,Siri Leopoldo, Siiiodd, n" 291: 1lili:iiiii
I ,,l,~r:,r,<~,
l'<>rlo Alcgrc, ('oou'~~<Ii;~ ~ f '
!(> ('1'. WA '77, li' 131; /I;,n~,v(1,) I'<wo <I<,/ ) c t , , ~ , 185; Ili,~;ír;<~ li'443.
/~olcr;t~~,~,
( i u i i ri, c01,ir:1 o& TUTCOS

coiikssannos a ti. Driis Pii, o verdadeiro. úiticci Deu$, e a teu Fillio ;uniido,
iii~ssoSenhor Jesus Ciisln, c ;io Espírito Santo, iiin único, eterno Deus. Sim.
esse 6 o pecado qiic conieteiiios contra eles. Por outro, se te rei~egásscinos,
seriiunos deixados complcliiiiieiite eiii paz pelo diabo, pelo mundo, pelo papa
c pelo tiirco. Como diz teu amado Filho: "Se f6sseis do mundo, então o s
iiiiiiido arilaria o que é seu") etc. [Jo 15.191.
Agora, v.: isso, nosso Pai misericordioso e Juiz severo de nossos inimi-
gos. Pois eles são muito nirus teus do que nossos uiirtiigos. Quaiido rios
perseguem e golpciarn, aí eles perscgucrn e golpeiarii LI li próprio. Pois a
Eilavra, c o i t c ~ m eniís pregamos, cremos e coiii'essamos, S tiia e iiào nossa. 10

'liido t. obra do teu Espírito Santo em nós. O di;ibo não suporta seiiielhante
Saio, mas quer ser nosso deus em teu lugar e foiiirniar mentiras em nós em
lugar de tua palavra. O turco quer colocar seu Maomé no lugar de teu miado
Filho, Jesus Cristo. Isso porque o blasfema c diz que não é verdadeiro Deus,
que scu Maomé é superior c melhor do que ele. Agora, se é pecado coiisi- 15

clermrios. conSessarmos e adoramos a ti, o Pai, teci Fiiho e o Espíi-ito Sarito,


como o verdadeiro e único Driis, ciitáo tu mesmo 6s o pecadoi-. Lu que
provocas isso eiii nós, que nos chamas e nos queres ter. Poitlntt>, odeiam,
golpe~arne casiigaiii ;i li mesmo, se nos odcinrii, golpeiam e cosiig;iiii por
cciiisn de scmeih;uites coisas. Por isso desperta, querido SENHOR Deus, r 20

saiitiíica teu nome. que clcs profanam. Fortalece leu reino, quc clcs dcsh-ociii
cin nós, e realiza tua vontade, que eles querem sufocar em nús. E iiàio
[ic'niiitas que te pisoteiein por causa de iiosso pecado aqueles que não o
ccrisiir:irii eni nós, mas qucrc.m eliminar em 116siiia saita palavra, nome e
ohi-:i. p m que náo sejas Deus nenhum c não teiihas iierihum povo qcie 2s
pregue ;i teli respeito. creia ciii ti c te confesse.
Veja heiii. scrnelhniites pensamentos ie s.io sugeridos pelas palavras do
I'cii-Nosso, se as c«ilsidri.ares correlamente: "Santificado seja teii iionie.
Vciiha teu reino. Seja feita tua vontade", etc. Por isso deves resumir também
csscs pensamiltos em teu Pai-Nosso. Da mesma foma, vemos como todos 1"

os profetas oram para que Deus os poupe, pecadores que são, por amor de
scii iioine, a fini de que os gentios (que querem eliminar o verdadeiro nome
<I<. I)ciis e não seus pecados) náo se vangloriem [pilrpntandol: "Onde eskí
vo.\so Deus?" [SI 79.101. Eles. isso sVn, se preocupiuri muito iiiais coni o
iir~iiicde Deus e y x a que os iniiiligos não extermineiri a palavra de Deus (o 1.

1 1 1 1 ~C rligno da iiiaior ira). do que com o próprio castigo por causa ile seus
~~<'c:i~li>s. Por causa disso confessam seus pecados e pedem por graça. a fim
iIc i(uc Deus e seu nome iiSo sejam eliminados por sua causci. Cuin isso
ii.iiii>vcin de si e direcionaiii a ira de Deus aos inimigos, aqueles qiic
Iii~siili~;iin seu povo iião por causa dos pecados dele, mas por causa dc Deus 1"

~ I I I Cia11 c111 meio a clc scu nome, palavra e iriiio.


Or.i<Gcs dcssc Lipo ç scrriclhanics a essa Iizcni. coiiio j:í li)i <liLo.i i i ~ I < i \
Exoriação à OraqXo Coiitra o s 'liirvi,.;
os profetas, coiiio vSs cm Isaías, Jeremias c no Saltério. Eles confrssaiii sciis
pecados a Deiis o tempo todo, mas contra seus inimigos eiialteceiii ;i si
próprios como inoceiiies, suii, corno bons, justos e santos, não por caiis:~rlc
sul1 obra ou pecado,,mas por terem, atloritrem. intercederem e confcssaleiii
5 o verdadeiro Deus. E Deus que opera isso neles, toiiliu~do-se,a~sim,por si
mesirio obrigaloriameiite um pecador diante do diabo. dos turcos, do papa,
do riitiiido c da canie, sendo injusto e deixando-se coridenar, blasfemar c
caqiigiti. A isso ele precisa soker (ou, muito antes. sofrer a contragosto),
como diz S. Paulo ein Romanos 2.24: "O nome de Deus é blasfemado poi-
li1 vossa causa entre os gentios". Assim, se quisermos ser povo de Deus, santo
e justo, temos que [evitarl que cle sofra por causa de nós, ou ele nos
castigará terrivelmente e pennitirá que nós mesmos tenhamos que sofrer. E
assim, como não queremos considcri-lo um Deus a quem obedecemos, do
incsmo modo ele náo nos considerará seu povo, a quem desejaria salvar e auxiliar.
I< Isso se diga a respeito do que nós, que estamos no ministério espiritual,
deven~ose podcmos. Scguidamentc eu mesmo sou acometido de temor quc
poderia levar-iiie a duvidar de nossa oraçao, pois nosso pecado e maldade
são b~andesdeiiiais. o delírio impenitente dos papistas e u uiptidâo de
nossa parte são exagerados. Também sou duramentc tocado pelo exemplo,
n quando Deus proibiii ao profeta Jeremias de orar ou clamar eni favor de seu
povo: "Porque eu 1120 quero te ouvir (diz o SENHOR)", eni Jereinias 7.16.
E novamentc em Jerciiiias 15.1: "Ainda que Moisés e Samuel se pusesseni
diaiiie dc mim, mcsino assim eu não teria corrtqáo iilgiim para essc povo.
Lm~ii-ospara longe de mim." E Ezequiel 14.11: "Auida que estivesscin
25 entre essc povo os trCs homens, Noé, Daniel e Jú, eles iiada salvariam exceto
sua própi-ia alma". Pois realmente é terrível demais que nós alemãies, aléiii
do que passamos durante a terrível vida de outrora sob a idolatria papista,
também agora blasfememos e abominemos a luz da itiexprimível graça corri
a qual Deus nos visita graciosamente e junto a isso pratiquemos todo tipo de
1 arbítrio contra seus servidores e nosso próximo, etc.
Como, no entanto, não tenho a nova ordem que Jeremias tinha, pela qual
neo deva orar, e como também, é verdade, há alguns corações verdadei~i-
inente justos por aqui - mesmo sendo poucos, sâo sem dúvida bem mais
do que um Moisés, ou um Samuel, ou um Noé, Daniel e Jó -, &o se potlc,
v, de boa consci2iicia, permitir que fracassemos e deixemos de orar a partir (Ic
riossa necessidade e iniciativa própria. Precisamos cumprir a ordem comuiri
c iintiga: "Pedi, I>uscni,batei" [Mt 7.71, a fun de não sermos repi-eendi<lo:
:issiiii como Deus repreende aos profetas. Como em Ezecluiel 13.4s.: "O
Isr:icl, icus profetas sio coiiio raposas em lugar ermo, nêo se coloc;iiii iiiis
I>rccliasc n5o se fuciii dc iiiuralhas para a casa tle 1sr;iel. E náo pei-iii;iiicci~iii
ciii coiiih;itc no (lia do SENI IOI<". E cri1 [Ezcquiell 27.10s.: “Procurei ciili.
clcs sc Iioiivcssc :ilgiiCiii qiic <~uixssc
dcsvi;ir a ir-11 diiiiiiç (Ic inini. virti ~ I I C
ri! iiári arninasse a terra. Mas ninguém achei. Por isso despejei minha ira
solire eles e com o fogo de minha fúria os coiisurni. E destc inodo despejei
o seu prêinio sobre sua cabeça (diz o SENHOR)". Da mesma forma clama
1s;ii;is no capítulo 54 [sc. 64.71: "Ninguém invoca o teu nome", etc.
Por isso precisamos orar. Que as coisas andem e ocorram depois como 5

1)cus quiser. Mesmo quc dessa vez não obtenhamos na esfera temporal o que
!:ostaríamos, nossa oração é certamente ouvida e agradável [a Deus] (isso
116ssabemos) e trará obrigatoriaineiite uma conseqüência bem maior e me-
lhor do que aquilo que pedimos. Como diz S. Paulo em Elésios 3.20: "Ele
l;iL em medida excedente e superior além de tudo o quc pedinios ou com- 10

l~rccndemos". Ou20 bem-aventurados seríamos, se com essa oração tivésse-


iiios que sofrer por seu tumo uma derrota diante do turco e, não obstantc,
logo depois alcançásscrnos, por isso, o dia derradeiro, o qual por ccrio não
liode estar longe. Também o turco (como o papa) deve estar próximo de seu
I'iii:il, não tenho dúvidas quanto a isso. IS

E guarda-te da fé turca, epicuristaZ7,alinnada por alguiis: Que devo


l';izei-? Que proveito há na oração'? Que adianta preocupar-se muito? Está
11rc:detenninadoe, poriatito, precisa acontecer. Pois assim crêem e dizem os
1111-cos:"Ninguém podc morrer enquanto n,áo chega sua hora". Daí serem
táo loucos c temerários, e pensarem que fazem bem c procedem corre- 20
i:iiiiciitc. Siin, é verdade que o que cstá predeterminado, acontece. Porém,
ii:io tenho permissão, mas sou muito mais proibido de saber o que está
~~wdeteiminado. Agora, porque náo sei o quc cstá predetcrmiiiado, se avanço
si~hreos limites de tal desconhecimento, tento a Deus e me arruíno. A mim
i. ordenado que saiba o que deve ser feito. E é por isso que sua palavra nos 25
C dada: para que saibamos o que devemos fazer e não fac;amos o que não
s;ilicinos, relegando o último a Deus e observando de nossa parte nosso
iiiaiidameiito. vocaçáo e ofício. Deus bem saberá e apenas ele quer saber o
i~iiccstá predeterrniiiado. Tu nada deves saber. Joabe, o comandante militar
(li. Ibivi, quando tinha inimigos ria retaguarda e na vanguarda, não disse a 111

h<.ii iriiião Abisai: "Meu caro, espera u111 pouco, vamos ver o que cstá
~~ii~ilvicrrninad«, pois queremos agir de acordo", mas disse: "Luta contra
Aiiioiii. que eu lutarei contra os siros. Se os siros forem fortes demais para
i i i i i i i . cittlto vem em meu socorro. Se os de Amom forem fortes demais para
l i . i.ii ii-ci eni teu auxílio. Sê confiante, e que sejamos fortes por nosso povo 13

c . 11rl:is cidades de nosso Deus. O SENHOR, porém, faya o que lhe aprou-
v<.i" 12 Sin 10.lls.j.
Assim devemos nos guiar também em nossos ofícios, e não segundo a
Exuttaçào à Oraçào Contra <is Tùi-coh
predestinação, já que não temos palavra, luz nem ciência alguma a respeito
dela, devendo afastá-la da vista, do coração e de todos os sentidos e deixá-
la permanecer nas trevas e oculta ern mistério. Devemos fazer o que sabemos
e nos é ordenado por sua palavra e pela luz por ele apresentada. Aí, entâio,
5 a predestinação sc eiicontrará por si mesma e sem ser perscmtada, ela que
de resto não se deixa enconirar c, além disso, S u surgir epicuristasZ8,turcos,
pessoas atrevidas, tolas, estúpidas ou fracassadas, desesperadas e miseráveis.
O diabo monta sobre tais pessoas, que iiiiaginam serem elas próprias inteli-
gentes e sábias. Não vêcrn tratar-se aqui da maçã, com a qual Adão e Eva
lu juntamente com todos os seus descendentes devoraram a moite eterna. Eles
queriam conhecer, além do cliie Ihes fora ordenado, também o conselho
íntimc de Deus e a predestinação. Tentaram com isso a Deus e infringiram
seu smio mandamento.
Depois [de tratar] dessa nossa obra, dos que ocupam fun$õe.s clericais,
ii [digo] aos quc ocupam estados seculares: Refleti também sobre vossa própria
obra. Estai abertos ao que vos dizem e aconselham, ouvi a palavra de Deus
c orai conosco, Fazei justiça no território, castigai a usura e outros vícios
niais. Aplacai o indiçno e vergonhoso alcoolismo, a jogatina e o luxo. Buseai
também vós o Sacramento e não vos mostreis coiitririos a isso, corno alguns,
que o vêem como sc fosse veneno ou como se humilhar-se por causa disso
fosse uma vergonha para a Função. Se quisemos confessar a Palavra, preci-
samos também receber verdadeiramente o Sacramento, que C instituído para
a confissão (ou como o próprio Cristo diz) em memória. Do contrário tal
desprezo, pelo clual alguns até por muitos anos deixam de ir, não poderá
agradar a Deus, [denionstrando] que na verdade nem boa consciência e nem
seriedade para com a palavra de Deus estio presentes.
E, se investiides contra os turcos, então deveis estar seguros e sem a
inenor dúvida: nâo lutais contra canlc e sangue, isto é, contra seres humanos.
Do contrário, quero dar urna de profeta vosso, [dizendo] que um turco iri
'1 matar muitos cristãos. Estai seguros de quc lutais contra um grande exército
de diabos. Pois o exército do turco é, de fato, o exército do diabo. Por isso
não confieis em vossa lança, espada, mosqucte, poder ou número, pois os
diabos não se preocupam com isso. E bem como temos sido instruídos pcla
experiência at6 o momento, onde o turco meramente teve vitória e êxitu
5' contra nós e terá luturamente, se lut,umos como seres humanos contra sercs
liumanos. De igual modo, o papa e seus diabos não .puderam ser derrotados
soii a palavra de Deus, embora os imperadores Frederieo, Henrique, etc.
lilssem poderosos o suficiente. Ele tripudiou sobre todos, pois o diabo estnv:i
i i i i i i ~dclc.
~ Deveríamos aprender a cantar com o Salmo 44.7: "Não confio
iio iiieu arco, e minha espada não pode me ajudar", etc. Contra os diabos
precisamos ter anjos ao nosso lado, o que acontecerá se nos humilharmos,
orarnios e confiarmos na palavra de Deus.
Quando tivermos feito o que nos cabe, mando-nos ou defendendo-nos
coin a oraçâo, entâo dignmos com Joabez? Marchemos destemidos. Seja o 5

que Deus quiser, como ele predestúiou e como lhe agrada para a vida ou
para a morte. Quer ele permitir que sejamos castigados e derrotados, então
iiiommos e nos sujeitamos dentro de nossa voca$io, sob seu commdo c,
:ilém disso, por amor de seu nome, toinando-nos assim seus mártires. Afora
isso, temos a vantagem de, não obstante, nos tornamos, naquele dia, cteriia- 10

iiieiite juízes c senhores com Cristo e todos os anjos sobre o turco, o papa,
o mundo e todos os diabos. E que podeni fazer a nós, cristãos, o turco e
iodos os diabos'! Que i ~ a nos l poderá fazer'? Pois é, cle náo pode tirar-110s
iicm a vida e nem os restos inortais. Pois a vida já nos foi tirada muito tempo
tiiites, no piincípio do mundo, no paraíso, através do pecado de Adáo. Todos 15

11s qiie dele nascemos (o turco também, tanto quanto nós), perecemos e
iiiorretnos nesse [pccadoJ, confonue Roinanos 5.12. Em contrapartida, Cris-
t i l . riosso Salvador, há muito recriou e reconstituiu por meio de sua ressur-
i-cição a todos os que crêem nisso, quc a ele intercedem e por cle anseiam.
NZo, porém, os turcos c incrédulos, nem os diabos, que pemianecein na morte. 2u
O que ele bem pode fazer, é abreviar com a morte nosso tempo de
iiioi-tais, de maneira que sejamos sepultados mais cedo ainda, entremos em
clccomposiç~oe sejamos preparados para a ressurreição. Mais nada ele pode
iios fazer. E como o próprio Cristo nos consola em Mateus 10.28: "Não
iciiiiiis aquclcs que matam o corpo" e depois disso riada mais vos podem 25

I;izcr. Vede, se vos interessar, minhas Anota~ões.~" E 1 Pe 3.13-15: "E quem


vi~spoderia causar dano, se perseguirdes o que é bom'! E se sofreis por causa
1I;i jristiça, sois bem-aventurados. Não vos amedronteis com seu despeito e
iiio vos assusteis. Santacai, porém, a Deus, o SENHOR, ein vossos cora-
<(iis", pois não lutamos com o objetivo de conquistar território e povo, 30

I ii111c'":l c fama, ou para instituir e disseminar idolatria, mas para preservar a


~t;il;ivi.;i tlc Dcus c suas igrejas especialmente para nossa amada juventude e
~l~.si.<.ii(li.iicia. E rios preocupamos pela defesa contra o turco para que ele não
<l<.l~ositc scu excremerito diabólico e seu blasfemo Maomé no lugar de nosso
;iiii;~iIoSciihor Jesus Cristo. Sim, essa é a razão fundamental e a séna 37

I I I I ~ I I ~ : ; I O cíc nossa luta, morte e vida ncssa situação, isso é certamente verdade.
Exortacáo i Oracão Contra os liiic<i\
Por isso empreendemos uma guerra bendita por Deus" contra os turcos,
somos cristãos santos e morremos em bem-aventurança.
Também é bem possível que tudo esteja se cncamirihando rumo à deca-
dência do turco, arsim como do papa. Pois os dois reinos, o do papa e o do
5 turco, são os dois últimos fiagelos e a "cólera de Deus" ciiunciados pelo
Apocalipse [de Joáo 15.11, os "Falsos proletas" c a "besta", que juntos
precisam ser agarrados e lançados no "lago incandescente" [Ap 19.201. Pois
quanto aos reinos cxistentes no princípio, é inaudito que tenham exterminado
com o estado matriinonial assim t3o abominavelmente como o papa e o turco
iu o &em. O papa o proibiu e condenou coiiio impuro sob o simulacro da
castidade. O turco separa Iioinem c iiiulher um do outro, dando e vendendo
as muiheres como se fossem vacas ou bezerros. A respeito disso e de outras
coisas irais escrevi aquela vez na prédica ao c~ército'~. Em suma, isso nada
mais é senão destruir os regimes ecoiiômico, civil e eclesiástico em ambos,
15 no papado e na Turquia.
Por fim, que se faça, isso sim, com que as crianças aprendam o Catecis-
ino, 11fim dc saberem aigo da fé cristã no caso de serem sequestradas durante
a luta. Quem sabe o que Deus não pode operar por meio delas? Tainbém José
tinha dezcssetc aios, quando foi vendido no Egito". Ele, coniudo, tinha a
211 palavra de Deus, conhecia sua fé e, em conscquêilcia, converteu todo o
Egito. Assim também agiram Danicl e seus compaiiheiros na Babilônia. Do
incsmo modo, se as esposas sequestradas tiverem quc conviver na cania e à
mesa com outros homens na Turquia, que se resignem pacientemente e se
subinctam a semelhante situaqzo por ainor a Cristo. De modo algum se
25 desesperem por isso, achando estarem condenadas. A alma nada pode fazer
diante do que o inimigo faz no corpo. Quem é prisioiieiro, este é prisioneiro.
A palavra dc Deus e a fé permanecem em liberdade, assim como o próprio
Cristo também permanecc eiii liberdade. Isso os pregadores bem poderão
continuar ensinando e esclarecendo. Significa: "Maravilhosos, insondáveis,
$11 inesciutáveis são os seus caminhos" [Rm 11.331. E, como ele diz a Moisés:
"Não podes ver minha face, mas mc verás pelas costas" Fx 31.20 e 231.

I1 O conceitc d ç "gueira beii<lita" usado por Lutero n8o exprcssa uma Ici universal ou iiiii
princípio. Lutcrn apçiias o usa para resolver iun problema do coiitcxto do muinçntu. A
gucrn com os torçiis 6 bendiia porque Lutero entende quc, nicsino entrando na guerra q i ~ i :
n k quereinos, "somos cristXos santos e morremos em hcni-avcnturan~a",pois ~azeiiios;i
giicrr;i ' d e hria c«nsçit.nçia", <leSen<iendoo país sob o comando da pcsswa <Icsigxail;i p i ~ i ~
Ilciis para isso: Calos, r> governo da época. Como cristão a pcssoa luva çm unl~ão.
;irlcr>c~i<linicnto c fé. C<iini>ciitadZo ele entra na u euerra ao lado do uaovcino Taia diSiiiili.i
o ~ u i si~lacail~. Assiin a guçi-i-iiC "hen<lila".
i?lixisir i, icxiii Eirjiric Ilcvil>i<.ili.gi widc'r- ilie Türken, WA 1ll/11,1óIl-197,inas <idiiol-
i iii<lic:i
" I > ( <;I!C~V;I conlfit 05 'Ii~~cc!s''( v i ~ l clcxl<)~~111cri~~r).
Eu, poi.irii. iião gostaria iieiii uiii pouco de ter escrito 1i'( consolo, com
o qual Mogúricia, Henriquei4 e qiiantos forem os seus - os pérfidos,
traidores, assassirios, incendiários e iiialvados em meio ao desespero -
vicsscm a se conlòrtai.. Pois acho, e tnriihém tenho por verdade, que inuito
antes de aceitarem que iiossa doutrina, a palavra divina, iião 6 nossa e, sini, 5

verdadeiramente palavra de Deus - algo que eles próprios devrin iiecessa-


iiamcntc sabcr, rccoiihecer e confessru -. eles mesinos acabariani se toriian-
(i« turcos ou, se piidessern, coin prazer virwiam diabos. Isso para iião fala
que, se possível, iriaiii niui cor~lialmeiitctolcrar, servir. aconsclliar c auxiliar
os hircos, a exeriiplo do ditado de Virgílio: "Se não posso dobrar os céiis.
moverei os inlrinos"." Se o Deus dos c6iis iião nos ajudcu.. entáin todos os
diabos no infcmo nos ajudnr;to. Assuii sáo os Mogúncias e os Henric[ues,
juntamente coni seus pensameiitos. Isso eu sei conio verdade.
Mcsmo assiin náo sc trata para mim de um pequeno consolo que Deus
irá contemplar nossii lastimosa súplica, nosso clamor e geinido. Aléin disso, 15

igiiormdo nosso iiii.riio, sim, sciu d;u- arciiqZo a iiosso pccado, clc ir6 ajudar-
iios contra anibcis eis coiscts: contra 1;ini;mliit e traiçoeira incildade. bciii coino
cnntiii os :iteni;idos dialiiilicos dos I-leiiriqiies e Mogúncius, que sokenios r
airida tcmos qiic supoitar. Ao fiifiil. sç tios huiiiilliarmos, cIc Ihcs druá tias
c:ibeças a reconipcris;i que merecerli. Foi> ele tàz caiitnr a seu respeito: "Ele 211

l;iz justiça aos quc sofrem injúria" IS1 103.61 c "O SENHOR C justo" [SI
145.171. E assim como eles agora cantam: "Onde pois está vosso Deus?"
ISI 79.101 nós, cni resposta, um dia caniarcmos: "Ondc pois estão Mogún-
cici. Henrique, Jorgr'" e seus companheiros'?"
Do mesmo modo 1150 qiiero e 1:inibi'in iião posso ter consolndo nossos !5

riipí~íirn~',os riiaiios, usiii-iíuios c fig~irõcsdcntro do iiohrcza, que pciisam quc


Ocus nos deii [I Evangelho e libertoli da prisão papisia litira que pudessem
cnplorar ganaiiciosamentc, cspoliar c praticar todo tipo dc itialdadc, insurgir-
sc contra seus príncipes e oprimir teri-it<irioe povo. Em resuiiio, querendo o
{~iicnão Ihes foi ordenado, mas proibido. São esses os que colaboram para 1"

qiic ;i ira dc Deiis ciivic o turco como torturador sobre iiós e também sobre
vlcs pr6prios. se n.in fizerein penitência. Pois é impossível qiie a Alemanlia

1.1 No tcxio 0iigh31 Lutcro cxplora ;i r i n a ciiirç Mçiiirz (Mogúiiciai e H&IL (Hçnriiliic),
iiisiciiiiindo 3 idcntifica$k c n t dois ~ g < ~ v c n i : ~ ~tcnitorkais
tcs dc siia i'.poc:i Ihustis à Hcforina.
< ' < i n i"Mogúricia" IAlriiitdMainz) Lutcro s i ~rifcrca Alhcrto dc B~iridciiliirigo (14901545.
;iri.chispo de Mngdehu~o/Halhcistadtc Mogiiiicia, príncilic~clcitoi-.c:irdcal dcsdc 1518.
(.hi:iiiti~ ti Ifc~iriqu?(tlciiirzi. c f acima nota 2.
l i Ijiici<ta, 7,312: Flzcte,e [icqueo sirpciris. .Arclicroiita niovctio. tio oiigiiial.
111 l i I"<>v;~YcI que L-urcrcl sc rcfica a Jorge, o Bniliiido, duquc du S:~~i>iiia (1471 151<)).i i i i i i i i p i
<li.il;ir;i<h, <1;iRcfi>riii:i c iiir>rtodois :uii>s :uitci d:t pulilic?çL> ~Icrlcchcriti,.
i 1 li;iiisli!ii;ic;ii, i10 I i . i i i i i > Iicl>l-iiri,ilc < ; ) I h.4. Il;iiliiziilc> c111Aliiiciil;~I<A r ri;, li1.11 ciiiii
"i,il::iiiii.r".A 1)li 1.514 l i , i r l i i , 11i1r" l i i . i i i i ~ \ " .
Exi.naçii R Ora$30 Coiiha o b Turi-i,\
subsisia. Tmbi-m é insuportável e indmissível que tal tirania, uhura, gaiiaii
cia e nxddade de nobres, burgiieses, camponeses e de todas as camatln\
sociais permaneçam e aumentem. No h das contas, o pobre não conserva
sequer um resto de pão velho e duro em c a a , preferindo ou acreditando dar
na mesma ser prisioneiro sob o turco e estar sob cristãos assim. A coisa
chega até mesmo a scr exagerada t. nãio há nenhuma melhora em visla. Além
disso, ridicularizam a palavra de Deiis e flagelam os que o servem.
A certczn, porém, reside ein Driis. que é Pai de iodu misericórdia, uiii
correto Juiz e, aliiii do mais, irado algoz de todos: diabos, turcos, Maorné,
10 papa. Mogúncia, Henrique todos os criminosos, e que por sua cordial giriça
nos leiii dado sua sanla e prcciosa palavra para conhecermos seu amado
Filho. E que essa Palavra, apexu de ludo e de tantos hlasfemadores, perse-
guidores, desprezadores e f a o s desesperacios do diabo, está sendo acolhida,
Iioiirada e louvada por tantas pessoas hi'iiévolas e escolhidas. làsnbém é
ir inagnífico qur por causa dela iião s;io poucas as pessoas que puseram e niiidn
pUem seu corpo e vida, riqueza e hi>iu;~ em risco. A fé c a c)roc;Ão de pessoas
assim irão e devci'io estourar o fuiido do barril e acabar com a brincadeira.
Coino diz Cristo cm Lucas 18.7s.: "Acreditais que Deus náo irá salvar seus
escolliidos. que a ele clamam dia e iioite'?Digo-vos que ele os salv;uá em breve".
2" Em suma, nós. cristãos, nãio temos que depositar confiança alguma em
riossa sabedoria ou poder (corno fazciri o turco, o papa, Mogúncia e o
iiiundo). Por outro lado, nada temos que iios faça ~IesarUmauou temer. Ao
final, o turco, o papa, Mogúncia e o mundo terão que fnzer o mesmo que
Judas fez. Nosso consolo, obstinaçso, soberba, atreviiiieiito. orgulho, osten-
a tação, segurança, vitória, vida, alegria. fama e honra estZo sentados nas
alturas, i direita de Deus, do Pai todo-poderoso. Enfrenta-o, diabo! Torce um
fio de cabelo dele! Ele se c h m a e continua sendo schcblúnini7R. A ele foi
dada a aiitori<lade sobre todas as coisas. Ele as fará e deverá fazer plenas.
coiiio as Sez do pnilcípio até o iiiomento, e como as fará desde agora até a
ctemidade. Aiiiém.

38 L,utcri, ciiii :i cnpris:iir Iiclii:iic:! <IrSI I l i 1 I c q u i aqui se refcre "ao que por ni'sssc :issciri:i
3 íli~cii;~CIO ScnI~<,r''.
Paz Social
Paz Social

INTRODU(;AO AO ASSUNTO
Como bem sabem os conhecedores do Calecismo Meiior, Lutero considerava a
plv uma das condições que "peitencem ar> sustento e às necessidades da vida",
raz&o pela qual a incluiu iio "pão nosso de cada dia", que Jesus 110s ensina a p e d i
na quarta petição do Pai-Nosso (LC, 1981, p. 374).
No Catecisnio Maior Lutero esclarece: "à vida não pertence apenas que o corpo
teiiha alimento, vestuirio e outras coisas necessárias, mas também que seja de
tranqüilidade e paz nosso relacionamento com as pessoas com as quais viven~ose
lidamos em diário comércio e trato e toda sorte de atividades; em suma, tudo o que
se refere às relaçiies domésticas e vizinliais, ou civis e políticas". Para que se tenha
tranqüilidade e paz, porém, precisa haver ordem social e bom governo. "Pois ainda
que hajamos recebido de Deus plenitude de todos os bens, todavia não podemos reter
nenhum deles, nem deles usar seguros e contentes, se ele não nos dá um governo
estável e de pai. Porque onde há discórdia, contenda e guerra, aí o pão cotidiano já
nos está subtraído ou pelo menos ohstaculado" (LC, 1981, p. 467).
Ao leitor contemporiineo poderá parecer ingênua a relação que aí se estabelece
entre a ordem social, o bom governo e a paz social. Eletivamente não perpassa a
obra de Lutero o eihos revolucionário dos séculos posteriores. Não obstante, é
preciso lembrar que ele csiá enraizado lia tradição clássica e, portanto, não concebe
a ordein social senão ein termos da justiça, que dá a cada um o que lhe é devido.
Não coiicebe o governo seilão como bom governo, que promova a justiça e assegure
o bem de todos. Confrontado com mau governo, faz uso do recurso que lhe C próprio
e, mediante a palavra, exorta à justiça e retidão. Não admite, iiem fomcnla a rebelião,
pois considera que algum governo, ainda quc mau, seja preferível à anarquia. Quan-
do náo há governo algum, a humanidade fica exposta à ferocidade imprevisível da
turba. Revolução política pode haver, sim, mas como ação de legítima defesa do
povo huniilde contra a tirania e arbítrio da autoridade; neste caso, porgm, ter8 que
ser conduzida por líderes responsiveis, que tenham o direito e encargo de defender
os cidadãos.
Governo boin, poifanto, será aquele que, à base do direito, fizer uso dos meios
adequados para cumprir as funções que lhe são próprias, abstendo-se de interferir em
questões que não sejam de sua competência. Em hipótese alguma pode@ a autorida-
de fazer uso da f q a para obrigar alguém a cicr o que não queira. A fé se pode
pcrsuadir mediante a palavra, que L. o incio pióprio para se atingir a consciência
diante de Deus. Lutero, portanto, iião admite a guerra de religião. Luta pela liberdade
e tolerância religiosa com base no direito universal e na ordem jurídica do Império.
Nada melhor que o próprio autor para esclarecer e justificar tais convicções.
I'iil)licam-se neste volume três obras que correspondem a situaçócsespecíficas em
<li:c;idasdistintas do século XVT.
Em 1521 Lutcro eiicontrav;i-se refugiado no Wartburgo. O movimento de refor-
iii;i çstava resvalando para o quebra-quebra, ao menos na cidade de Wittenberg.
I .iiiero lançou em campo uma sincera exortação a todos os cristãos a se precaverem 5
iIc coiivulsão social e rebeldia. A reforma, sustenta ele, havia começado e deveria
13rosscguirpela palavra tão-someiite. Adeinriis, toda e qualquer alteração no culto ou
ii;is práticas religiosas deveria resultar da caridade e pauta-se pelo respeito cons-
ciciicili dos sercs humanos.
Ein 1530, abrigado iio Cnburgo, Lutem se dekoiitava com os resultados da iii
:issiinblEia imperial em Augsburgo. Apesar da grande expectativa, o imperador
c ';irlos V não hiivia realizado o propósito, alegado na c«nvocação, de elètuar a
i.i~iii.iliaçãoentrc os adeptos da rifonna e os defensores da tradição. A proposição
CIOS príncipes e cidades ditos protestantes, desde então conhecida como Confissão de
Aiigshurgor, só pôde ser lida publicamcntc depois de perlinaz ação diploinática por is
p:~rIcdos signatários. A proposiçáo dos defensores do status rluo foi lida e apresen-
i;i<I;i rijo como documento de uma das partes d» litígio religioso, mas como palavra
i t p o s t a oficial do imperador, razáo por que passou a ser conliecida como Refuta-
<;:I<I iI:i Confissão de Augsburgo. As iiegociaçOes entre príncipes e teólogos indicados
1x11 :unhas as partes, apesar de prolongadas, náo cc~ndu~iram a bom terrno. No 20
<lisciirso de encerramento e despedida o porta-voz do iinperador deixou claro aos
I~lulcsl.mtesque h i v i m sido ouvidos e refutados e, po~lanto,devcriain renunciar à?
ri,li1i-inas, ou entá« sofrer as sunçfies previstas em assembléias anteriores, notadamen-
1,. :i cle Worms2. Os luleranos, como eram alcunhados, tentarain colocar lias mZos do
iiiipcrador uma apologia ou defesa da Confissão de Augsburgo, para demonstrar que, 25
:io coiitrário do que se havia alegado, a Coniissáo não estava refutada. O iinperador,
~njrCrii,instado pelo imiáo, o rei Fernando', recusou o documento. Só restava, pois,
:iits lu(cranos preparar-se para uma ofensiva militar por parte dos príncipes e cidades
IiCis :i tra<liçãoe ao papa.
t o i nesta circunstância que Lutero desembainhou sua única arma, a pena de 31,
i.scritor, para d v c r l u a todos os alemães cnnira a preteiisão imperial de rccomr à
iii~y;iilas armas para subjugar os protestmtes e forçá-los a retroceder ao culto e
~~ii~il:irle tradicionais. Ele já havia publicado, com a data de 6 de março dc 1530, Um
1 iirl.%'lho do Doutor Mzitinho Lutero sc &permitidorc.sisíir com rar;ío ao h e r a d o r
,r.i,k ri,s;ir de viol~riciacontra iilguim por causa do Evmgellid. Nesta nova admoes- $5

I II ('iicilissZo de Augshurgo. h: Livro de Coriçórdia; as çunliss6ek-~da Igrrja Evangélica


l iiii.i;ici:i. 4. ed. São Sxopoida, Sinodal; Porti>Alegre, Concórdia, 1993. p. 27-63, mduçáo
i l i i ii.xl<> ;ilcinã<i;p. 63-93, traduçzu do texto latino.

. A :irscirihl&iaimperial de Woms aconteceu em 1521. Satcro foi excomiingadu e prosçril<i;


s i ~ clivriis dcveriam ser queimados. A yentcnça atingia tamMin seus adcptos. V+ ricsic
vi,liiiiic is p. (121)123-I26 o discurso de Lutcro perante o irnpcrddur e as cortcs rcunid;is ciii
W<,~iiis c a icspccJiva iiiUoduçáo.
i I.i~tii:iii<lc, 1. <!;i Ausiija (1503-15M). sriccssoc de C;irlus V iiii tii~iio<li>S;icii> Iliilkric,
I<<~IIK~IICI (;crtn5nic<1 ;L pitriir cic 1558. C O ~ :II r c ~ ~ f i ~do
~ cirn,Zo
i,~ I[O~<,.
I V . i i r s i c VOIUIIII. 1). (132)134-137.
taçio Lutero detalha, uma vez mais, os abusos e injustiças que bispos e príncipes
defendiam ou toleravam. Ele declara responsivcl por tais abusos e injustiça todo
demão quc, atendendo B convocaçZo do imperador, pegasse em armas parn liquidar
os dissidentes. Reivindica, em suma, que sejam respeitadas a consciência dos lutera-
s nos e a ordem jurídica do Império, para que se pudesse resolver a questao religiosa
mediante a palavra, vale dizer, por ineio do diálogo.
Nós, que vemos a inteivenção de Lutero em rctrospecto histórico, sabemos que
ele estava muitos anos ù Crente do seu tempo. A tese da tolerância religiosa, ou
ineihor, do respeito i consciência do cidadão, acabou prevalecendo na Europa,
10 primeiro Paz de Augsburgo de 1.555' e depois na Par dc Vestfáiia de 1618" que
pôs tini à calainitosa Guerra dos Trinta Anos. Os adeptos do status quo, porém, não
podiam saber que estaviim remando conwa o progresso. Quando as circunstâncias se
mostravam favoráveis, amaram-se para atacar a minona luterana.
Vendo a ameaça aproximar-se, Lutero mais uma vez sacou da pena para exoriar
i os phocos 2 exorta$áo pela paz. Isso no ano de 1539. Quanto se sabe, o texto
circulou como iniuiuscnto e foi divulgado a pxtir dos púlpitos. A iinpressZo oconeu
só depois da inorte do reformador, ein 1546, quaodo mais uma vez se ouviam
nimores de guelra.
As boas palavras, portm, não consegiiiram deter a violência das amas. Os
zo príncipes luteranos foram derrotados e tiveram de haver-se com as coiisequências do
interim, a soluç20 provisória imposta pelo imperador até pronunciar-se em definitivo
um concílio gemi da Igreja. Permanece, porém, a singela exoriação de Lutero como
testemunho de quc jamais admitiu, nem esiunidou a guerra e rebelião como formas
de resolver qucstão religiosa e realizar a paz social.

São Leopoldo, 22 de maio de 1995


Dr. Nestor Luiz João Beck

5 A P'u Religiosa
" dc Aurisbur~o,
- . de 25 dc sctcmbru (te 1555. foi uma teniaiiva ~rovisóriudc
superar, por meio dc unia solu$ão política intcrmcdijria, a perturhaçZo constilucional que sc
hwia instaiado pclr~cisma religioso, a16 o retorno à uiudade da f6. Para reslabelecei. I I
sussego e a ordcrn, criou-se para os adeptos da ConFissXo de Augsburgo uma lei ile exccçiiii.
ii;iocsi;mdo, porem, i~icluídosos refomiados (calvinistas e zwinglianos).
(i A I?i/ <i<: Virf;ili;i (IMX), que p6s um fim à Gucm dos %ta Anoi, gtalruitiii ;i t<i<losi,.
cv:iiigi:licor, IaniMni tiiis rcli>riii;iil<>s, ileiiriitivnrncntc a lihçrdede rcligicisa c ;I igii;~l<l;iilr<li.
<Ii~vit,>s,OSsfi~litos n~7nl i r , l ~ ; ~ u~>~ j a ;bi hohrig:tq.So dc i~c~~npzt~~h:ir
>L cnnfissZc <lcr~o~~~ir~itci<)~~;~l
<IOY s ~ ~ t l t c ~lcrriloci:$is.
rc~s
Paz Social

Uma Sincera Exortação


de Martinho Lutero a Todos os Cristãos i

para se Precaverem de Convulsão e Rebeldia1


1522
L"

INTRODUÇAO
Lutero escreveu esta obra ein fins de 1521. Melquior Lntter a publicou em
Wittenberg no início de 1522 e a reimprimiu no ano seguinte. Adáo Pctri de Basiléia
e outros editores anônimos a reproduziram em virias paitcs da Alemanlia. li
A obra figura nas diversas edições sucessivas das obra de Lutero e está
Iraduzida para as principais línguas modernas.

Dr. Ncstor Luiz JoZo Beck

JESUS.
Queira Deus dar graça e paz a todos os cristãos
que venham a ler ou ouvir esta carta. Amém.
Ncstcs últimos anos a bendita luz da verdade cristá, antes ofuscada pelo
p;rpa e seus asseclas, pa~soua brilliar novamente, pela graça de Deus e, por
iiicio dela, vieram à plena luz do dia e ruíram suas múltiplas, perniciosas e
virgoiihosas seduções e toda sorte de anomalia e tirania. Tudo indica que vá
1i:ivci- uma comoção, e que clérigos, monges, bispos e todo o clero sejam
;iss:issinados e expulsos, se não cuidarem de séria e sensível reforma; pois o V,

Iioiricm do povo, agitado e revoltado com os prejuízos em bens, corpo c


;iliiia, demasiadamente provocado e desmedida e covardemcntc explorado
~ n ieles,
' não aceita e não quer aguentar mais isso, achando-se até com
Exortaçdo aos Cristãos para se Precaverem dc Convulsão e Llclwl<li;i
motivo justo para bater com malhos e cacetes, como o João Karst2 amca<;i.
Não quero negar que até me agrada ouvir que o clero está com css:i
preocupaçiio e medo; com isso, talvez, caiam em si e amenizem sua furibuii.
da tirania; queira Deus que esse medo e temor fossem ainda maiores. Por
5 outro lado, estou tranqüilo e não me preocupo com uma iminente convulsão
ou revolução3, especialmente do tipo que venha a atingir tudo e todos, pelo
simples motivo de não querer nem dever duvidar que Deus sustentará sua
palavra e que haverá de preferir que céus e terra passem antes que caduquc
um vírgula ou letra de sua palavra, como ele mesmo diz em Mateus 5.18 c
11) 24.35. Por isso deixo que ameace e se assuste quem quiser, para que sc
cumpram as Escrituras que dizem dcsscs malfeitores clericais no Salmo 36.3:
"Sua malícia h i rcvelada, de maneira que a gente se toina inimigo deles"".
No incsmo sentido no Salmo 14.5: "Eles teinein quando náo há nada :I
temerM5.E Provérbios 28.1: "Fogem os perversos, sem que ninguém os
15 persiga". Ainda cm Levítico 26.36: "Até o ruído de uina folha movida os
assuslará". E em Deuteronômio 28.65-67: "Deus te dará um coração apa-
vorado, de maneira que tua vida oscila para lá e para cá diante de ti. Pcla
manhã dirás: Ah, quem me dera sobreviver a noite! E à noitinha dirás: Ah,
quem me dera sobreviver amanhá". Esse pavor e medo as Esciitura? reser-
211 vam para todos os inimigos de Deus como começo de sua condenaçáo. Por
isso é bom e me agrada que essa praga caia sobre os papistas, que perseguem
e condcnam a verdade divina. Tomara que se.jam mordidos mais ainda.
Digo mais. Se eu tivesse dez corpos c tivesse tanta graça com Deus que,
por meio dessa caícia, ele os macerasse até a morie ou entregasse à rebelizo,
15 eu os entregaria de todo coração pelo bando miserável. Meu Deus, náo i.
uma penalidade tão suave que está à porta; já começou a cair sobre eles rigor
c ira indescritível e interminável. O céu é de ferro, a terra, de b r ~ n z eNZo
.~
adianta mais implorar. Como S. Paulo diz dos judeus7, finalmente a ira veio
sobre eles. O que Deus quer não é uma rebelião. Já quc não se pode ajud;ii
30 ao bando todo, queira Deus que consigamos resgatar alguns e salvá-los do
tem'vel abismo. As Escrituras destinain ao papa e seus asseclas um fim beiii

7 Litcralmciitc "l<iáo ilo hado". Em 1521 circulou um panilclo iluc descicve ii K~uxrli:~ri\
conio c m p n ê s cvangéiicoI i d d e e honeslo, disposlo a toma m n s conba seu inimigo, o lxtp:t.
3 Cf a mudança dc opiniZo a esse respcilu em sua carta de 7 de março dc 1522 a<ipiíricil,i.
cliitoi- da Sax8nia: WA Br 2.461 e 469. Cl. também a carta a Vcnccslau Liiiçk dc 1') ili.
nixço dc 1522, WA Br 2,479:
4 ('1: o lexto na Vulgata: i,t invniialw-iniqoiias eius ad odium ("de soric quc sua iriicliii<l;iili.
sc t o t i l n ~111ais
~ odiÓsa3'- Si 35.3).
5 ('1: i, icnio iia Vulgat:~: illic trrpid:ivciirni firiioii, ubi iion er;il liniorc ("ircriicriirii <Ir~ t i i . < l i i
oiiilç i i ; i ~Iisvia r i iluc ic~~icl-" SI 11.5).
0 (,I'. 111 28.2.3,
.1 (,I'. I 'I'!, 2.10.
l'io. Social

iliíicrente do que o de rebelião c inoite física. Em Daniel 8.25 consta: "Será


i~uebradosem esforço de mãos humanas". Quer dizer, sem a espada e forra
lísica. E em 2 Ts 2.8 S. Paulo diz dele o seguinte: "O Senhor Jesus o matará
coiii o sopro de sua boca c o destruirá pela glória de sua vinda". Até os
:iilistas representain Jesus sentado no arco-íris, com uma vara e uma espada s
saindo de sua boca8, o que se deduziu de Isaías 11.4: "Ele ferirá a terra com
:i vara de siia boca, e com o sopro dos seus lábios ferirá o perverso". Só não
cslá certo que os artistas pintem tiina vara em flory.Deve ser um bastão ou
iirna vara, c ambos, vara e espada, devem estar estendidas sobre o mesmo
I:ido, sobre os condenados. Como se lê no Salmo 10.15: "Quebranta o braço 10

(10 perverso; esquadrinha-lhe a maldade, e sua perversidade nXo permanecerá".


Dessa passagem aprendemos que o regime anticristão"' do papa será
(icstruído cotn ele dessa maneira, isso é, pela palavra de Cristo, pelo Espírito,
vara e espada de sua boca, sua safadeza, trapaça, esperteza, tirania e scduçáo
scrão tomadas públicas e merecerão o repúdio de todo o mundci; pois a 1s
iiicritira e a sedtiçiio só serão dcstniídas quando reconhecidas e postas I? luz.
'1'20 logo sc identifica a mentira, já náo prccisa mais de golpc. Ela cai e
desaparece vergonhosamente por si mesma. E isso que o Salmo 10.15 pro-
<.iii-:texpressar ao dizer: "Esquadrinha-lhes a maldade, e sua perversidade já
iiio existe". Náo Iiá necessidade de outra coisa do que procurar c reconhe- 20
ccr. O esquema do papa, com seus coriventos, mosteiros, escolas superiores,
Iris e doutrinas mentirosas, foi criado ria basc da mentira, enganando e
seduzindo todo mundo com aparência c ostentaqão, para subjugar e arruiná-
10s em corpo, bcns e alma. Por isso náo se precisa de outra coisa do quc
ic~coiilicre torná-lo público; envio sucumbe tudo, com papa, clero e monges, 2s
~ : o icipr6biio
~i e vergonha. Acoritcce que nenhuma pessoa é táo tola quc siga
:I cvidcntc mentira e falsidade, e não as odcic. Quando, então, tiver acoute-
ciclo a descobcria da safadeza papal, e o espírito de Cristo estiver agindo com
vigor, o papa não terá mais valor nenhurn com suas mentiras e estará
coiiiplctamente desprezado, então irromperá e virá o dia derradeiro e, como 311

< l i L I'aulo, Cristo destruirá o papa definitivamente através de sua vinda".


Ncssa coisa toda o inais interessante é que o papa c seus asseclas são
ol~siiii:idos,não acreditam, mas se riem disso, para que se cumpra a palavra

S I\l\iir;irri vjnos dcsses quaclros ern Wincnkrg. Um na entrada cçmitério, outro n:i
i.iiii:i<I;i norte da igrqiii paroquiai e figurava também no sinete da antiga igreja de Witteci-
I v i ~Os . artista sc inspiraram em Ap I . l h c 19.21 e não em 1s 11, como s u p k Lutem.
'1 I .iilcii> inicrpreta o quadrri a partir de Ia. 11.4. Por isso estranha ;i "vara ein flor". N;i
vcril;i<lç. iriif;i-si clc um lírio significarido inocência e pureza.
l i 1 ( ' < i l i i i , iiiliii, Liiiiro usa com Sreqüêricia Endcch~sf- o Cristo do fim, ;to iiivi's <li.
I s ;iiilicri?lo.
I I 1'I, :! 'I's 2.8.
Exoilaçáo nos Crisrhs para se Prcçavçrem dc Convulsão c Rcl~l<li:i
de Paulo: "Qiiando andarem dizendo paz, quando andarem seguros e dissc
rem: Nada há o que tcmer, eis que Uies sobrevirá repentinamente destruiçzo"
I1 Ts 5.31. Para que os papistas não se emendem e procurem misericórdia.
não lhes é dado acreditar nisso, mas dirão: O juízo final ainda está distante,
5 até que, no momentiito em que menos csperam, estejam todos amontoados nas
profundezas do braseiro infernal.
Como já disse, em vista dcsses textos tenho certeza que o papado e a
classe clencd n2o serâo destruídos por ato ou rebelião Iiumana, uma vez quc
sua maldade é t5o hornvel, que não há castigo adequado. a não ser a própria
10 ira divina, sem qualquer inieimediaç2o. Por isso, nunca me deixarei levar a
querer impedir aqueles quc ameaçani com punho e malho. Eu sei que não
vão alcaiiçar nada. Ainda que alguns sejam atingidos, nào ser50 atingidos
todos em geral. No passado já foram iiioilos mais padres, setil grande alarde
e rebcliZo. quando ainda se temia sua excoiiiiinhão c a ira de Deiis ainda não
i havia coiiieçado. Agora, porerii. clue começou, e não se tem mais riiedo
deles, cabe a eles temer gratuitamente, assim como até há pouco nos fizerani
temer desneccssariamcnte com suit Lãlsa excomui~hão,enquanto ainda se
deliciavam com nosso temor1z.
Mesmo quc as coisas não cheguem 3s vias dc fato. e eu não tenha
20 necessidade de qiiercr impedi-los, é preciso que eu insirua um pouco os
corações. Por enqiiinito não vou trata da autoridade civil e da nobreza, que
deveriam colaborar por dever dc sua autoridade legal. cada inaiidatátio em
seu território. Pois o que acontece :iiravés da autoridade constituída nzo ckvc
ser considerado reheliâo. Acontece. porém, que estão deixando as coisas
2- correr, um impede o outro, alguns até ajudam e justificam a causa do
anticristo. Mas Deus há de achá-los c retribuir-lhes de acordo com o uso que
fizeram de scu poder e autoridade para salvação ou desgraça de seus súditos
em corpo, bens c alma. O homem do ovo, no entanto, deve ser apaziguado
e rilertado para qiie se abstenha tanto de setis desejos como das palavras que
1 se aliiiham com rebelião, c r i o tome nenhuma iniciativa sem ordem dn
autoridade oii apoio do poder. A esta atitude deveni levar as seguintes
considerações:
Primeiro porque, como foi dito, as coisas não chegariío i s vias de fato.
É tudo pensamento e palavra vã o que a respeilo se fala e pensa. Pois, como
ouvimos, Deus mesmo quer impor o castigo aqui, posto qtie cles não merc-
ccm um castigo tão brando. Por outro lado, estamos vendo como os príncipes
c senhorcs estão ciii discórdia e não toinain nenhuma iniciativa para lcv;ii-
tivante essa causa. Todas essas coisas são determinadas e enviadas por Dc~is.
p:ira quc soiiieiiic ele castigasse e derramasse sua ira sobre cles, em boi-;^,
coiiro já roi dito, os príncipes e senhores não estivessem inocentados com
isso. Deveriam fazer sua parte e agir com a espada que carregam o quanto
~)iidcssem,para se anteciparem, na medida do possível, à ira divina e abran-
<(;I-Ia.Tal como Moisés agiu em Exodo 32.28, quando mandou executar três
i i i i l de sua gente, para desviar a ira de Deus do povo, e como as Escrituras s
i;irirbém relatam de Elias e de Finéias"; nXo que agora se devesse matar os
p:i(lces, coisa que não é necessária; apenas que se proíba e cofba a força o
quc estão fazendo à margem e contra o Evangeiho. Com palavras e decretos
sc pode atingi-los mais que suficiente, de modo que não haverá necessidade
(lc ação sangrenta. 10

Segundo: Ainda que uma rebeliáo fosse possível, e Deus quisesse casti-
gii-los tão benignamente, essa alternativa não leva a nada e não vai trazer as
iiiclhorias que com ela se pretendem. Acontece que rebelião não é racional
c geralmente penaliza mais os inoceirtes do que os culpados. Por isso nenhu-
ni;i rcbeliáo é justa, por mais justa que seja a causa. O resultado sempre 15

ci)sttima ser mais prejuízo do que melhoria, para que se cumpra o ditado:
"l>c mal para pior". Por isso foi instituída a autoridade c o governo, para
(liic castigue os maus c proteja os piedosos, evitando assim a rebdião, como
S. I'aulo diz em Romanos 13 e 1 Pedro 2.13,14. Quando, porém, se levanta
;I iiii-ha, essa não tem condições de realizar nem sustentar essa distinção entre 20

iii;iiis e probos, investe contra as pessoas indiscriminadamente, o que não


11<1<lc acontecer sem grande e aboinináv61 in.justi$a.
Por isso, dê atenção i autoridade constituída; enquanto ela não agir e der
oi-clcin, sossegue a mão, a boca e o coras20 e não tome nenhuma iniciativa.
li~itrcti~~rto, se puder convencer as autoridades para que passem a agir, poderá 2s
Ilizc-lo. Porém, se as autoridades náo quiserem, você também não deve
qiici-cr. Se você agir por conta, já estará errado e será bem pior que os outros.
I(s1oii c sempre estarei do lado daqueles que sofrem a rebelião, por mais
iiijiista que seja sua causa, e serei contra aqueles que promovem rebelião, por
iii:iis jiista que se,ja sua causa, pelo simples lato de que não pode haver 311
~~.l\rli;io scrn sanguc inoccntc e prejuízo.
I < i i i terceiro lugar, rebelião é coisa proibida por Deus quando diz através
<I<.Mi)isés: Quod justum cst, justc cxcquaris - "o que é justo executarás
< < ~ I I iiisti~a"
I [Dt 16.201. E ainda: "A mim me pertence a vingança, eu
I < , I I iliiiii-ci" [Dt 32.351. E daí que vem o ditado verdadeiro: "Quem rebate
<.::I:I rii-:ido", c: "Ninguém pode ser seu próprio juiz". Ora, rebelião ouWa
cois;i iiáo <: do que julgar em causa própria e vingar-se; disso Deus não gosta.
1'01 isso :I rebelião sempre fará a coisa ficar pior, porque ela é contra Deus,
I Iciis irão está com ela.
Iiiii qinrilo lugar, no caso específico, a rebeliáo é, sem dúvida, uina r1

I i ('I. I IKv lX.40: N I 27.7s.


~
Exortii~âoaos Crislãos para sc Precaverem de Convulsão c Rebelili:i
especial insinuação do diabo. Pois, uma vez que vê a clara luz da verdade,
que põe a nu seus ídolos, papa e papistas em todo mundo, sem poder
enfrentá-la de alguma forma, pois o brilho lhe ofuscou os olhos, deixando-o
cego, ele não pode nada mais do que mentir e blasfemar, pretextando as
5 coisas mais loucas, a ponto de esquecer de pretextar aparência e brilho, como
estava acostumado até agora. Como provam as bocas mentirosas do papa, de
Eck e de Emser14 e comparsas em suas bulas e escritos, ele procura interferir
e quer provocar distúrbios através daqueles que se orgulham do Evangelho.
Com isso espera dcsabouar nossa doutrina como sendo do diabo, e não de
10 Deus, como alguns, aliás, já proclamam do púlpito, referindo-se ao incidente
que ele provocou com o clero em Erfurl15. Mas, se Deus quiser, não vai
conseguir. Temos que sofrer suas provocações; mas ele também deverá sofrer
algo que ihe dê o devido troco. Todos quanios lerem e compreenderem
corretamente meus ensinamentos não participam da rebelião. Os que o fize-
1s rcm não a aprenderam de mim. Que podemos fazer se, assim mesmo, alguns
o fizerem, invocando meu nome? Quanta coisa os papistas fazem em nome
de Cristo que o Mestre não proibiu apenas, mas que até distorce o próprio
Cristo? Por acaso, devemos nós manter nosso grupo tão puro que entre nós
nem S. Pedro tropece, enquanto entre os papistas pululam os Judas c as
20 safadezas de Judas, sem que admitam, no entanto, que sua douhina estivesse
vinculada ao diabo? Como já disse, o diabo procura motivo de tudo que é
jeito para desfazer esta doutrina o mais que puder; se pudesse fazer coisa
pior, também a faria. Ele perdeu o fôlego e vai ter que sofrer, se Deus
permitir, por atentar de maneira improcedente e infundada. Não vai conse-
a guir nada de rebelião, como tanto queria.
Por isso peço que todo aquele que quer gloriar-se de seu nome cristão
se p o a como recomenda Paulo em 2 Coríntios 6.3, no sentido de não
darmos razão a nossos opositores para desfazerem nossa doutrina. Pois já
notamos que os papistas são hábeis em ignorar o caibro em seus próprios
'i] olhos, enquanto procuram e cavocam com a f i c o na tentativa de acharem

14 Jogo Eck (1486-1543), professor de Teologia em Ingolstadt, foi ri adversátio de Lutero no


Debate de Leipzig em 1519 e permaneceu seu invelerado opositor. Fui ele quem promoveu
a cxcamunhão de Lutero junto ao papa através da bula Exurgc, Domine, de 1520. Sua tese
aiitilulerana De primam Petri foi publicada em Paris, 1521. - Jer6nimo Emser (1478-1527)
foi secretário do duque Jorge da Saônia.. Em sua batalha cpistolar e paniletária com elc,
Lutero se refere a ele como o "Ganso de Leipzig", reportando-se à figura do ganso qtic
aptirccia em seu escudo.
15 Ein Ei-furt surgiram vános tumultos c ataques a sacerdotes. É possível que Lutero tenha ciii
minti o luinullo envolvendo cstudmtes simpáticos à Reforma, ocorrido na noile dc 12 <Ic
julliii di 1521. Apesar de <is líilcics sercrn "bons luteranos", Lutcrn escreveu: "Klis ii;i<,
sái, diis ni>ss<isN (WA 2.307). Viii i i o ini,viminl<i urna inçitaqáo do diaki pani ililiiiii;ir ;i
I,,,;, c;i,,5z, ,I<, l<v:,,,gcIl,,,.
I':iz S<icial

iiiii;i lasquinha em nossos olhos1b. Não querem que lhcs mostremos que
i~i~:ix nada de bom possuem. Mas se alguim de nós não é puro espírito e
:ii!jo, pretendem que toda a nossa causa seja injusta. Então se alegam, pulam
c cantam, como se tivessem conseguido vitória completa. Por isso temos que
ici- o máximo cuidado em não dar motivo para suas difamações, das quais 5

isiZo cheios a ponto de lransbordar; não por causa deles; afinal, eles têm que
Iiilar mal e dar vazão ao fel do qual o coração esti cheio1', ainda que o façam
coin mentiras, como vemos que o fazem, mas por causa do santo Evangelho,
para resguardá-lo de opróbrio e para que, na medida do possível, calemos
suas bocas (como ensina S. Pedro [I Pe 3.161), de modo que não nos possam
Iiiiiriilhar com nenhuma verdade, o quanto depende de nós. Acontece quc de
iiiicdiato transferem para a doutrina o que de mal possam falar de nossa
]:crite, de modo que a sagrada palavra de Deus tivesse quc aguentar nossa
vergonha, quando a ela devemos toda a nossa honra. Querem que sua
iloiitrina fique scm mácula, ainda quc só produzam coisas vergonhosas, essa 1s
i-;i$a nobre, polida e correta!
Você dirá: Que faremos, uma vez que as autoridades não querem agir'?
I)cvcmos ficar aguentando e com isso fortalecer sua impertinência? Nada
ilisso! Não faremos nem uma nem outra coisa. Há ti.& coisas que cabe fazer.
I'siineiro: você deve reconhecer seu pecado, que a rigorosa justiça de Deus 20

isiii castigando com essas manifestações do anticristo, como S. Paulo diz em


. ' I 2 . 1 1 2 : "Deus lhes manda doucrina e regime falsos, porque não
:iccitaram o amor da verdade, a fim de serem salvos". A culpa por tudo que
(1 papa e os seus têm aprontado contra nosso corpo, bens e alma, é toda
iiossa. Poitanto, é prcciso que sc confesse o pecado e se renuncic a ele, antes 15

que possamos livrar-nos do castigo e do sofrimento; do contrário, você estará


iliiiido murros em ponia de faca e a pedra quc você jogou ao alto vai ihe
i.:iii- iia cabeça. O que deve fazer, porém, é rezar humildemente contra o
icgitiic papista,,como o faz e ensina o Salmo 10.12-15, quando diz: "Levan-
t:i ic, Senhor! O Deus, ergue a tua mão! Não te esqueças dos teus pobres. 30

I ' i ~ iqiie razão o únpio te despreza e diz em seu íntimo: Não te irnporias? Tu,
111ii"iri, o tens visto, porque atentas ao trabalho e à dor, para que os possas
i < t i i i ; i i - cm tuas mãos. A ti se entrega o desamparado; tu tens sido o defensor
C I, Grlao. Quebranta o braço do perverso e do malvado, esquadrinha-lhes a
iii;ilrl;iilc,e sua perversão não mais existirá". 31
l iiii ierceiro lugar: faça de sua boca um instrumento do espírito de Cristo,
i l i i i1ii:iI S. Paulo diz: "O Senhor Jesus o matará com o sopro de sua boca"
I.' 'I's 2.81. Estaremos fazendo isso se continuamos, como já iniciamos, a
iorii:ii- públicas as safadezas e trapaças do papa e dos papistas, seja pela
Exortação aos Cristjos para sc Precaverem de Conwlsdo e Rckl<li;i
palavra falada ou esc-ta, até que esteja desmascarado e desmoralizado pc-
rante o mundo todo. E preciso destruí-10 primeiro com argumentos; a b o a
de Cristo terá que fazê-lo; assim ele será mâTTmcado dos coraçóes das pessoas
e suas mentiras serão descobertas e desprezadas. Uma vez fora do coração,
i de modo que seu argumento não vingue mais, ele já está derrotado. Com isso
é possível prejudicá-lo mais do que com cem rebeliões. Coin violência nada
se tira dele; antes se reforça sua posição, como até agora aconteceu a
inuito~'~.Mas com a luz da verdade, quando o colocamos diante de Cristo,
e sua doutrina diante do Evangelho, ele desfalece e se acaba sem muito
i11 esforço e trabalho. Vejam minha ação. Não é que eu, sem um golpe de
espada, somente com a palavra, prejudiquei o papa, os bispos, clérigos e
monges mais do que todos os imperadores, reis e príncipes conseguiram com
todo o seu poder? Por que isso? Daniel já diz no capítulo 8.25: "Esse rei
será dcstmído sem a força de mãos huinauas". E S. Paulo: "Ele será
1s destmído pela boca de Cristo" 12 Ts 2.81. Acontece agora que eu e qualquer
um que divulga a palavra de Cristo pode orgulhar-se com toda razão de que
sua boca é a boca de Cristo. Eu estou convencido de que minha palavra não
é apenas minha, mas a de Cristo; logo, minha boca há de ser daquele cuja
p&vra proclama.
ui Por isso não há motivo para buscar uma convulsão corporal. Cristo já
iniciou com sua boca e ela ficará pesada demais para o papa; a essa vamos
seguir e dar continuidade. O que agora está acontecendo no mundo não é
obra nossa Não é possível que uma pessoa sozinha inicie e continue uma
causa desse gênero. A coisa chegou a esse ponto sem plano e conselho meu,
zj e também deverá chegar ao término sem meu conselho, de sorte que nem as
polias do inlemo podem impedi-la. E um outro que põe as coisa? em
movimento; a esse os papistas não enxergam e culpain a nós. Mas eles
haverão de descobri-10. O diabo por muito tempo temia por esses anos e
cheirou o assado de longe; evocou, inclusive, muita profecia contra isso, das
30 quais algumas se referem a mim", dc maneira que frequentemente me
admiro da safadeza dele. Por muitas vezes ele me quis ver morto. Agora quer
que aconteça uma comoção corporal, para que com ela seja evitada e desa-
creditada a rebelião espiritual. Mas, se Deus quiser, isso nXo vai lhe adiantar

18 Os atapcs ao papa emprecndiilos por Hemique 1V e seus sucessores imediatos no séc. XI


e X31 acabaram fodecendo r> papado. O ataquc dos Hohrnstaulen no séc. X111 deixou o
pap~dopor muito tcmpu sem qualquer r i v l perigoso tia Europa.
19 Um mSs antes em Vmi Missbrauch der Messe (Do Abuso da Missn), WA 8.482-503,
Liilcro interpretou uma profecia que ouvira quando criança: o imperador Fredciico iria
lilxri;ir <i siigrado sepulcro. I.iitçro viu essa profecia cumprida cm seu tcmpri no príticil,~
rlcii<,r. <lii<l~~c Frc<icricoilii S;ixi>iii;i,soh cujo govimri iluminado as Sagraikis F,sci-iliir:ir
I O ~ I I ; L ~ : ~ I IL:,I lu,.
ii:i<I;i. Ele terá que ser destr~iídosein violência físical apenas com a boca; não
Iiii outro jeito.
I'ortanto, promova e ajude a promover o Evanxeiho Sagrado; ensine,
hlc, escreva e pregue que as leis humanas não prevalecem; impeça e acon-
scllie que ninguém se tome clérigo, monge, freira, e que saia quem já está s
{Icntro;iião contribua mais com dinheiro para bulas, velas, sinos, tabuletas20
c igrejas, mas diga quc a vida cristã consiste em fé e 'amor. Vamos levar as
coisas mais dois anos assim, e veri onde vâo ficar papa. bispo, cardeal,
clerigo, moiige' freira. sinos. torres, iiiissa, vigília. hábitos, capuzes, regiila-
iiiciito. estatutos e toda (i parafemália do regime papai; tudo vai desaparecer io
que rieni fumaqa. Entretantol se nZo ensinamos isso nem divulgamos essa
~louliinaentre o povo, para que essas coisas ihe sejaii tiradas do coração, o
papa ainda vai prevalecer, ainda que organizemos mil rebeliões. Veja o efeito
que teve nossa atividade de um ano, cultivando e promulgando essa verdade.
('orno os papistas de repente sc viram apertados! Os estaci~nários~~ se i?
qiicixam que quase estão morreiido de fome. Que acoiitecerá se a boca de
('risto malhar por inais dois mos com seu espírito'? E isso que o diabo
j:ost"a de evitar com uiiia rcvolla física. Sejanos sábios, no enlaito. aga-
(l~,ccrid«a Deus por sua sciFtda palavra e emprestctndo nossa boca decidi-
iI;iinciite à rebelião espiritual. 20
Ficou evidente a ignorância dos papistas e seu jogo de aparências.
Vicram à Luz saas meniias e suas leis e regimentos, descobriu-se sua falsa
iii-nriia do bmimento. Enfim, veio à tona tudo com que até aqui enfeitiçavam,
:iiiicdroninvam e seduziam o miiiido. Hoje entendemos que foi mera fanto-
cliiala. Não Iiá mais nada ncles que seja de temer, a não ser um resto do 25
1x1der civil. Mas, uma vez que as apiirências caíram e eles têm que se
~~roicger com [orça bruta. iião é possível que dure iiiuito. O que escapar da
Ix~c;ide Cristo, sua vinda o destruirá, como diz S. Paulo 12 Ts 2.81. Por isso,
~~rossigmos decididamente, divulgando sinceramente a Palavra e extirpando
iis iiiciquinações humanas. Assim Cristo destmirá o papado através de nós. Já 30
ixti clamando "Eli, Eli!", porque foi atingido. Logo se dirá: "Morreu".
Ncssa questão tenho que advertir alguns que criam obstáculos ao Evan-
1:rIlio c Ilie provocam grande calúnia. Há alguns que, tendo lido uma ou duas
~~;i~iiiiis, ou ouvido uma prédica, querem logo fazer mesa limpa, avançam as
c.c.~:;isc iião fazcin mais do que difaniar os outros de que 1150 são evangéli- 35
< < I \ , Ycin considerarem que às vezes se trata de pessoas simples e ingênuas.

'li I)cci>i;iiivi thulctas vativas ou placas quc sc afixavam nas p d c s das igrcjds pelo
i ~ i i l t i l i i i i i i i i i t <dc
i votos.
I! I\r:ri.iitii:ilirn, iiiciiihr<is dc ordens i~iendiciuiies estlicionados cii, ddcriniti~<losIioritos,
i.li;iiii:sl:ir "c:is:is tciiiii~i:iri;is",cri?~.id:!ilc.;c ~r>vi>:ido.:
oii<lc;i orilclii ri;ii> ~ii:iiitiiili;iço!ivcilii,v.
Ex<ow$& aos CisLios pwa se fiew\,ei-eni de Convulsáo c Rehel<ll:i
que certamente entenderiam a verdade se ela Ilies fosse dita. Isso não ensinei
:i ninguém, e S. Paulo o proibiu expressanieiite, Só o fazem sob o pretexii)
de saberem algo mais c serem considerados bons luteranos. Mas abusam do
Sagrado Evangelho para seu proveito. Com isso jamais se colocará o Evm-
i geho no coração das pessoas. Antes. você as choca e será responsabilizado
por tê-las desviado da verdade. Nào faça isso, seu tolo; escute e aceite! Em
priiiieiro lugar, peço omitir meu nome e não se c h m a r de luterano, mas
crist5o. Que é Lutero? A doutrina não é minha. Talipouco fui crucificado eni
favor de alguém. Ein 1 Co 3.4-5 Paulo iiáo quer que os cristáos se chanias-
1 sem dc paulinos ou p e t ~ o s mas
, cristáos. Que pretensão seria essa de um
iniserivel e fcdorento saco de vcnnes como eu se quisesse que os filhos de
Cristo fossem clxunad~spor seu clesastrado noriie? Que não seja assim,
amigo. Vamos extirpar as siglas partidárias e nos chamar de cristãos. dc
quem temos a doutri~ia.Os papistas apropriadamente têm nome de partido.
1 Jú que querem ser papistas, que sejam do papa, que é seu mestre. De minha
pmte. não sou nem quero ser mestre de ninguéni. Junto com a comunidade,
coiiiuiigo da única ii~vessaldootrina de Cristo, que é nosso Mestre exclusi-
vo' Mt 23.8.
Por outro lado: se quiser praticar o Evairgellio de Coma cristã. leve em
:c1 conta a pcssoa com que Ma. Há dois tipos: uns são empederriidos, náo
quercm ouvir c ainda tentam seduzir e envenenar outros com sua língua
mentirosa, tais como o papa, Eck, E m ~ e ralguns~ ~ , de nossos bispos, clérigos
t. monges. Com esses você nXo devc lidar, mas seguir a palavra de Cristo
eiii Mt 7.6: "Não deis aos cães o que t' santo, iiein lanccis ante os porcos as
2' vossas pérolas, para que tião as pisoteiem.,e os cács volteni vara vos dil;lce-
rar". Deixe que continuem c3es e porcos. E csforqo viio! Como diz Saloirião:
"Onde nào há ouvido, não convérii espldhar a irierisageniV (Eclo 32.6).
Quando, porém, vê que esses mesiiios trapaceiros estdo cncbeiicio ttambérn
outras pessoas de meritiras e veneno, então deve enfrentá-los e lutar contra
30 eles, tal como Paulo eiifrentou Elimas. At 13.10-11, com palavras duras, e
coino Jesus chama os f'miseus de "raça de víboras" [Mt 23.331. Isso vocS
deve fazer, não por causa deles, porque não darão ouvidos, mas por causa
daqueles que. estão sendo envenenados. Nesse sentido. S. Paulo detemiiiia n
Tito" para que reprecend~iiiiduramente tais 1inguiii.udos e sedutores de alincis.
Por oiitro latlo, h2 aquelcs que jamais tinli.un oii\,ido essas cois;rs L,
gostariam de aprendê-las, se lhes fosse e~isiriado;ou então, são tão fracos quc
iiãi, as entendem facilmente. Esses nZo deverii ser atropelados nem suiprccii-
ilirlos, inas ensinados ciinigável e calmamente. explicando causa e rnotiv~i.I;
sc iiáo o entendereili logo, cabe dar teinpo e ter paciência com eles. Disso
S. Paulo Iàla em Rin 15 [sc. 14.11: "Acolhei ao que é débil lia fé". Da
iiiesma fonna S. Pedro em 1 Pe 3.16: "Estai sempre preparados pai I-espoii-
(ler a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em v6s' f'ucii-
do-o, todavia, coin mansidZo e tenior". Aí vocé vê que é para explicai- com
iii;uisidào e ternor a Deus as bases da fé, sempre que alguém o deseja ou r
iiccessita. Se você quiscr impressionar essas pessoas coiii seti grande conhc-
cimeiito. rifirrriando peremptoriamente que não r c z m direito. que não têm
cabiierito o jqiuin, a missa, a abstinência de carne, ovos e Ieitc nas scxtas-
feiras, e não acompanhar uma explicação paciente c respeitosa do porquê,
uma pessoa ingênua não pode outra coisa do que achar você um homem
orgulhoso, preterisioso e sacrílego, coino aliás seria de fato, e cluc acha que
não se deve rezar, fazer o bein, que a missa é besfeira, c outras coisas mais,
eiigano c escândalo do c1wal você seria culpado. E por isso que julgam inal
c falam mal do Santo Evangelho e acham que você aprendeu coisas extraor-
dinjrias. De que Uie vale afligir o próximo c criar obstáculos ao Evangelho? 1s
VocE satisfaz sua iinpertinência, mas eles dizem: "Ora, eu vou ficar na
minha religião", c fccham seu coração para a verdade exata.
Se, porém, argunieiitcir com teiiior e mansidão (como S. Pedro eiisiiia) e
disscr: "Meu caro, Jeju:ir, comer ovos, carne, peixe sáo coisas das quais não
depende a salvação. Pode scr observado como pode não ser; soineiite a fé 20
s;ilva". Aliás, cabe dizer: "Ali a missa seria correta se realirada direiio",
cnao eles virikn, ouviriam c apreridei-iam « que você sabe. SC, poréiii, for
:icrevid« r prepotcnte, inostiando que sabe algo que ri* é do conhecimento
dclcs? voct procede como o C'ariseu no cvangelhol'j, daiido iiiostras da arro-
gância de s:il>er algo que clcs nZo conhecem; então valc p m você a assertiva 25
de S. Paulo em Rm 14.15: "Já não anda no caminho do :ciiior", desprezando
o próximo, ao qual deveria servir com temor e mansidao. Aiote um exem-
plo: se seu iimão cstivesse perigosamente amarrado por unia corda ao pes-
coço por seu uiiriiigv, e você, de raiva da corda e do inimigo, sc precipitasse
c111puxar a corda com força, ou quisesse cortá-la com a faca, provavelmente m
você sufocaria ou sangraria seu irmão, causando mais pre.juízo do que a
coida e o inimigo. Se quiser ajudar, faça o seguinte: ao inimigo pode castigar
i. golpcar duramente, mas com a corda terá quc lidar com cuidado e prccau-

i,%>, até t%-Ia de seu pescoço, para não sufocar o irmão.


Poilanto, você podc atacar duramente os mcntirosos e tiranos eiiipeder- 35
iiidos c agir livrenieiite contra sua doutrina e obra, pois não qucrciii ouvir.
M:is com os ingêniios. que foram ainarrados perigosamente coiii os Iaqos
ilcssa doutrina, você terá que lidar de maneira bem diferente, dissolvendo
i.i,iii precaução e iiiaiisidão a doiitrina dos homens, moitraiido c;iiis;i e

~ ~

' I ('I. l i I X I I .
ExunaçCo aos Cristks pard se Precaverem dc Conwlsnu e Rebcl<li:i
motivo, de modo que. coin o tempo. as pessoas tainbém fiiluein livres.
Assim procedco S. PiiiiIn quando, a despeito da insistência ile todos os
judeus. não mandou til-cuncidar Tito, mas circuncidou Timó~eo'~.Veja, ;ts-
sim você tem que tratar os cachorros c os porcos diferentemente das pessoas,
5 os lobos c leões dierentcinente das ovelti:is liacas; c0111 os lobos não pode
scr d111.odemais; com as ovelhas fracas não pode ser cariiihoso demais. Não
cahc portar-nos dilerentemente do que se vivêsseiiios eiitrc os gentios, já que
viverrios critre os papistas. Na verdade, eles são su~~ergciitios;
por isso. como
diz S. Pedro'", devemos levar unia vida irrcpreeiisível entre os gentios, para
10 quc não possam falar de nós o qiie não tenha proccd~ncia,como tanto
gostariam. Eles adorani que você se vanglorie dessa doutrina e escandalize
os coniçóes dos fracos, para que possain difamá-la de todo como escandalosa
e perigosli. porque de outra maneira não consegueiii atuigi-Ia, tendo que
adriiitir. até, que é proccdenlc. Deiis permita que vivamos como ensinaii~os.
Ir e traisformemos as palavras em a ~ õ e s .Há muitos entre 116s que dizem:
"Senhor. Senlior" [Mt 7.211, e enaltecem a doutrina, mas a prática e a
obediência estáo difíceis. Por essa vez isso basta como nova advertênciaz7
contra iebeliáo e escândalo, para que a santa palavra de Deiis nzo seja por
nós desmcrecida. Ainéiii.

I5 ('I. Gl 2.3 c At 16.3.


1 i .I PC 2.12.
? I liiii plhi> dc 1.510 us sshidtuilea dc Wiltenhe~provocarxn um tumulto. Liilrru rcspi>iih:i
Iiili,i>ii i > icitor Ju uiiivrisid~uir.Prirr Burckhml. Luteto ectevc presente Intiiiia t r i i i i i C i i
<.<ifiiiic:i<l.i~pcloiciioi. in,i>:ili;md<inoii i>ieciiirti ao percckr que ' o encontro ehtovs scii<l<i
~,ii~\ii1~~Iii lwlii <li:ili<>". Ni, i i r i \ i i i o iii& pregou UIII >CL."?,%L c~i>lribO I ~ ~ m u l ta<> i ~ ,q11:11 ,.c.
!i.l< c,. ~ i i C ( 1 1 ~ 1 1 8 1 t 1 1 0 c I ) \cnw;L(>SC<I I I I C I I C ~ < , ! I ~ L <r~m
~ t ~ < ~ v . i ~ i . I i i i r,1<1111 < ~ ç.iri;i.;
S ;ifisli;il:iiiiai
<l;~i.i<i:i~<li. 1.1 c 17 <I<,iiilli~i.WA III<:'..I4? IU.
SEMINÁR~Q CONC0RDib
I'.i/ Social

Advertência do Dr. Martinho Lutero


a seus Estimados Alemáesl
1531

Lutero comp6s esta obra por volta de outubro de 1530. Abrigado no Coburgo,
ele recebia informações mais ou menos regulares do pnncipe-eleitor da Saxônia c
dos colcgas teólogos sobre as delibcraçõcs da assembléia e, pnrticulxincntc, sobre as ii
conversações amigáveis entre os representantes dos luteranos e dos tradicionalistas
cin Augsburgo. Oportun,mente recebia alguma visita, que lhe trazia "ai Últimas de
Augsburgo".
No dia 6 de agosto de 1530 o príncipe Filipc de Hesse, destacado líder dos
l~r(>testantcs c co-signatário da Conlissão de Augsburgo, havia ah;indonad« a assem- 20
I>ICiaimperial por questões ao incsmo tempo de seguranvi e conveiiiêiicia. Ele t i a
tidçrido ao acordo de proteçáo mútua de Zurique e náo queria estar por perto, se por
tiçaso o imperador o soubesse. Por outro, já nâo suportava mais as despesas de
Iiospedagem, que iam altas. Em fins de agosto o prínçipc cnviou a Lutero uma cópia
< l i , relatório que seus assessores Ibe haviam feito sobrc as negociaqões entre luteranos u
c católicos. Dizia-se preocupado com o and;uncnto das tratati~ts,e reiterou essa
pre(~çupa@oem vánas cartas trocadas com Lutero no mês de outuhr«. O relatório c
tis carias do príncipe, bem coni« as notícias esporádicas recebidas de Augsburgo
,mporcionaram tanto a molivação como a muniçzo para Lutero advertir os compatriotas.
A Adve~tênciafoi publicada em abril de 1531 por Hans Lufi em Wittenberg. iii
'linto ele como um editor anônimo em Estrasburgo a reimprimiram no mesmo ano,
ciii que tainhim surgiram pelo menos duas edições em baixo alemao, publicadas por
Mclquior Lotthcr e Hans Walther, ambas ein Magdeburgo.
Ein 1546 Hans Luft reeditou a obra, com um preficio de Filipe Mclanchthon,
i1;it;icto em 10 de juiho. Esta cdiçZo prefaciada foi republicada em Augsburgo, i5

Niiriiherg, Estriishurg» c Tubiigen no mesmo ano e sucessivamente em 1547, 1550,


1552, 1556, 1584, 1587, 1620, 1627, 1631 e 1616 tanto nestacomo ein outras cidades
:ilciiiZs. As sucessivas edições atestam a impoitância que, ao longo das gcrações, os
Iiiici-anos atribuíram ao testemunho de Lutero em favor da solução pacífica da
cli\\ciisáo religiosa. Observe-se quc as última? edições mencionadas coincidem com iii
~ ~ c r í n da
d oGuerra dos Trinta Anos, que vitimou mais de um terço dapopulaçâo aalmâ.
Advertência aos Estimados Alciiiiics
A Advefiência consta de toda as edições das obras completas de Lutero e ehtá
traduzida para as principais línguas modernas.
São Leopoldo, 22 de maio de 1995
Dr. Nestor Luiz João Beck

10

Dirigi publicamente aos clérigos presentes nessa Assembléia Nacional de


Augsburgo minha urgente e sincera advertência e implorei com a maior
insistência que, de forma alguma, deixassem terminar sem resultado a As-
sembléia, na qual todo o mundo põe suas esperanças e que aguarda com
15 tanta ansiedade2,mas que se esforçassem no sentido de que se faça par, que
se modifiquem algumas de suas abominações e que se dê espaço ao Evan-
gelho. Isso tainbém busquei em d a oração perante Deus com todas as
Iòrças com gemidos, juntamente com todos os cristãos piedosos. E fácil
calcular o que significa o fato de nem nossa oração insistente a Deus nem
20 nossa advertência sincera ter adiantado qualquer coisa: a estes homens endu-
recidos e obcecados, sobre os quais pesa tanto sangue inocente, blasfêmia e
u n a vida abominável c impeniteiite, Dcus náo considera dignos de inspirá-
10s com um bom pensamento ou suspiro, ou que obedeçam a alguma palavra
salutar e advertência pacífica. Eles se encontram na mesma siiuação em que
,i se encontravam os judeus no tempo de Jeremias, quando Deus Ihes disse: "E
ainda que Moisés e Samuel estivessem em minha presença, não tenho cora-
ção para este povo; expulsa-os de minha presença e manda-os embora" LJr
15.11; e em Jr 7.16: "E não deverás implorar por este povo, nem lamentar e
implorar por ele; também não intercederás por eles, pois não te ouvirei".
A mcsma resposta também eu e os meus temos que aceitar agora. Até
aqui oramos em vão pelos clérigos, porque Deus, de fato, testemunha deci-
didamente que não ouvirá nossa oração em favor deles, mas qucr deixá-los
sob a ira, para que, como Faraó, pequem contra o Espírito Santo, até que não
sc possa mais esperar nem penitência nem melhoramento. Pois se tivesse
I Iiuvido algo quc se pudesse ter conseguido abavés da oração a Deus e junto
tios clérigos por meio de advertência, rogo, humildade, paciência, proposlas,
vcrdLide,direito, atos de bondade, etc., ceifamente deveria ter sido possívcl
;ilc;inçá-lo nesta Assembléia. Pois eu sei com quanta sinceridade oraram os
i.iisiáiis, e quanta humildade, paciência e rogo foram dernonsirados e q ~ i c

' i 'I. i , irxio i ~ i WA


i +1,J 01. A A~sriiilili.i:i N;içi,iii;il <IcA~ig\hiirg<i
coniçyori ciii 20 ~ I c j i ~ ~ n l n o
,li. 15.10.
I';v Social
coisas táo boas e justas se haviam proposto. Visto, porém, que dissolveram
ii Assembléia não somente sem resultado e sem estabelecer a paz,mas ainda
confmaram a discórdia, encerrando-a com ameaças e obstinaçáo, cu c os
meus queremos interromper a oraçáo por eles, conforme o mandamento de
Deus, e não orar pelo pecado para a morte, como ensina João? Queremos 5
iicar olhando como Deus batizará o endurecido Faraó no Mar Vermelho. Pois
ainda que nossa oração c rogo pela par estejam perdidos com os empeder-
nidos, ela ajudará tanto mais e já fez grandes milagres em Augsburgo c, pela
graça de Deus, há de vencer a16 o fun. Pois fomos ouvidos e haveremos de
ser ouvidos. Isso náo faihou até agora e também iiáo haverá dc falhar no 10
Iùturo, disso tenho certeza. Amém. Haverá dc acontecer conforme a palavra
de Cristo: Se a saudação e a paz dos apóstolos alguma vez não for aceita
numa casa ou não encontrar filhos da paz, sua paz deverá retomar a eles4.
Assim também neste caso: visto que os clérigos náo se imporiam nem com
oração nem com a paz, nem por isso oraçáo e paz estão perdidas, mas 1s
rctornarão a nnós, e em lugar da oração, os clérigos terão somente maldições,
c cin lugar da paz, somente guerra, e ambas em abundância. Amém.
Por isso, visto que seus propósitos se baseiam exclusivainente na violên-
cia e que confiam nos punhos cerrados contra a pública e conhecida verdade
[Ic Deus, ninguém precisa temê-los; todos podem ficar confiantes e tranqui- 20
10s diante destes furiosos inimigos de Deus. Pois náo clamam nem oram a
I)cus, ncm podem orar por causa de sua má consciência e maldades; proce-
dein com arrogância e confiados em carne e sangue, e para tanto simples-
iiiente não precisam dc Deus, nem precisam perguntá-lo se é de sua vontade
o que pensam. Isso é do maior agrado de Deus e cle tolera perfeitamente esta 15
olcnsa e desprezo de sua graça; inclusive costuma recompensar esta pertiná-
cia e temeridade com grande sucesso e vitória, até que ambos, cavalo e
cavaleiro, este.jam .jogados no Mar Vermeiho e se estabeleça a maior confu-
sZo, até não sobrar um sequer. No entanto, Lemos certeza absoluta de que
scus propósitos furiosos não estão no poder deles, mas na mão dc Dcus, e ~~~
ii:io conseguirão tão depressa o que qucrcm. Ele há de querer ser um Senhor
i;iiiihém sobrc eles, como sempre foi até agora; isso eles ainda verão. Por
isso fisei agora de conta como se não existisse Deus, c pcnsarci cm vão,
i.oiiio em sonho, que seus pensamentos comcçam e prosseguirão com violência.
Sc as coisas chegarem ao extremo, haverá de acontccer uma das duas: 15
j:iii'rr;i ou tumulto, talvez a?duas coisas ao mesmo tempo. Pois se começa-
iciii urna guerra (estamos falando em sonho, como se não existisse Deus),
cai-i-ci-íamos o perigo de se ajuntar em algum lugar um gnrpinho ami. 'I do e
(Ic sc reunir um bando, inclusive entre seus próprios adeptos, de maneira quc
~;iiiioclcs quanto nós pereceremos. Pois neste caso iamhérn não podciii ,118
~p

I ('I'. I 1 0 5.16 4 ('I'. Ml lO.13.

4 80
Advcrtencin aos Estimados Alciii;irs
confiar em nossa doutrina, como se tivessem certeza que ninguém se levaii
tará contra eles, porque escrevemos rigorosamente contra o tumulto e ensi-
namos que sc deve tolerar inclusive a violência dos tiranos e não se defender.
Foi isso que ensinamos, é verdade, mas não sou capaz de produzir os
5 praticantes, visto que também praticam e respeitam muito pouco todos os
demais artigos de nossa doutrina. Se, pois, o povo também não observasse
nossa doutrina contra o tumulto, especialmente porque esta violência infame
c esta guerra maldosa orereceriam motivo tão insupollável, o diabo os
enganana maravilhosamente, e eles passaiam uma bela c ridícula vergonha.
l~ Sempre estou Saiando em sonho; eles, porém, cuidem para que o sonho nio
se transfonne ein realidade. A mim o sonho não prejudica. Caso se realizar
neles, o assunto é com eles.
Pois bem, quer a coisa vá para a guerra, quer para o tumulto, como disse
(caso realmente a jusla ira de Deus se retire, como tenho que temer), quero
15 ter testemunhado com o presente escrito, perante Deus e o mundo inteiro,
que nós, que somos xingados de luteranos, não aconselhamos nem concor-
damos com isso e nem demos motivo para tanto. Pelo contrário, oramos e
clainamos sempre e sem cessar por paz. E os próprios papistas sabem e têm
que conlèssar que até agora ensinamos paz e também a presewamos, e que
20 a desejamos ao extremo também na presente Assembléia. Portanto, se estou-
rar uma guerra ou um tumulto, náo se deve nem pode dizer: "Eis aí o
resultado da doutrina luterana", mas se haverá de dizer: "Esta é a doutrina
papista e seus frutos; eles não quiseram a paz para si nem quiseram tolerá-
Ia entre os outros". Pois até agora ensinamos e vivemos no silêncio, não
15 puxamos da espada, não queimamos, assassinamos, assaltamos a ninguém,
como eles o fizeram e continuam fazendo até agora; pelo contsáno, suporta-
mos seus assassínios e assaltos, sua fúria e raiva com a maior paciência.
Além disso, durante a presente Assembléia, quando os nossos soIkeram
toda sorte de ameaças, contestação, oposição, mofa e zombaria por parte dos
papistas, os nossos se humilharam sempre o mais possível, deixaram-sc
calcar aos pés e, não obstante, sempre pediram e imploraram paz, e se
ofereceram para tudo que agrada a Deus. E mesmo que os nossos íivessem
sido mendigos, ainda assim aquilo teria sido demais, que dizer quando se
trata de grandes príncipes e senhores de alto nível, de gente proba e honesta.
Creio até que urna confissão dessas, tanta humildade e paciência não liouvc
muitas vezes desde que existe o cristianismo, o que será minha maior
cspcrança no dia derradeiro. .Tudo isso, porém, de nada adianta. Tornis
Muntrer5 e os revoltosos não procederam desta forma, mas fizeram o qcic
~ -- .- .

5 'li~iii:í,sMiinticr ( ~ a .1488-1525). rcfonnador radical e de linha espirihialista. foi lí<ler iIci5


c:iiii~x~ncws c511SCU 1cv:uiii dc 1525. scndo que nii>rreu na batalha final, que teiiiiiri>iicolii
;i cIi.r1i>l:i1i>I;il CIOS c:ini1iiiocst.s. ('I.
~icsicvoloinc os Icxtos snhrc ;i <;iicrr;i rlcis < ' ~ ~ ~ L > I I I . \ C S ,
1,. ( ? / l ~ ~ U .<SO.
~l

81x7
l':l,. S<l&dl
~-

Iii~cmagora os papistas; não quiseram aceitar neni conceder paz; agiram


i:oin violência, não aceitaram mediação nem proposta e qu&am que tudo
li~ssefeito de acordo com a vontade deles; além disso, não quiseram expor
sua doutrina, como os nossos acabaram de fazer em Augsburgo, ma? sim-
~~lcsmente condenaram a todas as doutrinas e enalteceram sua própria acima 5

[Ic tudo, como também os papistas hoje não quiseram que seu escrito viesse
I luzh. Náo obstante, condenaram nossa doutrina. Disso falaremos mais
;il):iixo. Em resumo, ninguém nos pode culpar pela guerra ou por algum
iiiinulto, nem diante de Deus iiein diante dos homens.
Visto que, neste caso, nossa consciência esta inocente, pura e firme, 10

< . i ~ ~ u r natdos
o papistas há de ser culpada, suja e preocupada, vamos ení'ren-
i;ir as coisas com confiança e estar preparados para o que vier: seja guerra
o 1 1 iumulto, como a ira de Deus o decidir. Se resultar em tumulto, sem
iliivida rneu Deus c Senhor Jesus Cristo poderá salvar-me a mim c os meus,
<~iiiio salvou o caro Ló de Sodoma e como salvou a mim no último tuinulto 1s
qii:iiido, mais de uma vez, estive em perigo de corpo e vida7. Não obstante,
Ioi csia a recompensa que recebi dos miseráveis patifes, quero dizer, dos
~~:~l~isiiis.Se não quiser salvar-me, louvor e graça a ele. Já vivi o suficiente
C. i.i:i-i:unente mereci a morte e já comecei lealmente a vingar meu Senhor

Irsiis Cristo no papado; depois de minha moite é que eles passa60 a sentir zi~

( r I.iitcro de fatox. Mas também agora, se for assassinado neste tumulto


~~;il>isia e clerical, quero levar comigo um monte de bispos, padres e monges,
(I<. iiiorieira que se dirá que o doutor Martinho foi levado à sepultura acom-
~~:iiili;ido de uma grande procissão, pois é um grande doutor, acima de todos
os Ihispos, padres e monges; por isso também devem acompanhá-lo para a 2s

~rl~illiira, deitados de costas, de modo que o caso será decantado e divulga-


. iio final faremos uma peregrinaçãozinha em conjunto: os papistas para
i l ~ 1:.
( I ;il~islirodo inferno, para seu deus da mentira e do assassinato, ao qual
si.iviiiiiii com mentiras e assassínios, e eu para meu Senhor e Salvador Jesus
( 'I isii~,:to qual servi na verdade e na paz. io

I. I i i i i , l i . ;i>:i,riu ioi lida a Confùratio ppontiticia ein resposta à Confissáo de Au&vbuigo (cf
c, I V \ I < I t.iii I ;vil, <li Concórdia. Sào koooldo. Sinodal: Porto Alegre. Conciirdizi. 4. ed..

l.#u<Ii.
11.1i.i iii.~i.. s i i l ? :i cundi@o de aceitxen~scus temos, de não a íazerein circular, nem
11ns.x i w l t ii, !.ai ii>lvi;is. Mclançhíhun teve que basear sua Apologia (c[. o iexto cm: 1,im <I<:
i ;,i,, t 1 1 '1'1 104) ;i~xiinsem
,i~li.~. im«ta<;i>csfcitas durante a leitura, pois não tcve acçssi~:i,>
c1.x i i i i i ~ ~ i iVi<I<.
i, iIi.t;illics ali;iixo rio prriprio tento.
1 I ..*. ii.I<.ii. ;i i.xl~:ri?isi;i ~ U iC c ~ ctii in;ii<ide 1525, duraniç a <iucird di>s Camp<iiicscs.
(18, ~ w l \~ I rcgiZo
I W ,I * V I ; ~ C ; ~ I ~ I I > ; ~ ~ I L nC :I ~ ~<IS dç W,~t~~iiclcl c itlr:~v6s<ia Turíngici.
!i I t i l , c ,.i ii.v<.ii i.viI:i vw: 1'i.sli.s c,-i,i> vivciis. iiioriui.~ crr, na~r:?l~ur.jry>;i "Vivo cil ilii
I # # , \ 1 8 , ..I$ , t 1 1 < ? 1 1 < t vrci 1t1;i n ~ ~ r l~c ,~ ~ q(('I'. ~ ~WA ~ ' .~0/11~33~),
' . 8,. 3.)
Advcitência aos Estimados NemZcs
Pois é fácil calcular que aquele que matar ao doutor Lutero no tumulto
não poupará muitos dos clérigos. Assim partimos juntos - eles, em nome
de todos os diabos, para o inferno, eu, em nome de Deus, para o céu.
Ninguém mc pode Iàzer mal algum, isso o sei, tão pouco como desejo fazer
5 mal a alguém. No entanto, por pior que procedam, eu procederei pior ainda
com eles. Por mais duras que sejam suas cabeças, a minha será mais dura
ainda. E mesmo que não tivessem apenas a este imperador Carlos V' a seu
favor, mas também o rei turco, não me assustarão nem me amedrontarão. Eu
é que os assustarei c amedrontarei. Eles é que cederão a mim, pois eu não
ii' lhes cederei. Quero Ficar, eles que percçam; foram longe demais. Pois minha
vida há de scr seu carrasco, minha morte há dc ser seu diabo. E isso que
verão, e nada mais. Que riam à vontade.
Se, no entanto, o caso resultar em guerra, uma vez mais deverei sujeitar-
me juutamcntc com os meus e aguardar o que Deus intenta com isso, que
1s até agora nos assistiu fielmente e jamais nos abandonou. E também aqui
temos grande vantagem. Primeiro: se morrermos ou perecermos, isso nio faz
mal. Pois está escrito: "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por
causa da justiça" LMt 5.101. O quc diz isso não rnente, disso estamos c e ~ o s .
Os próprios papistas sabem e c o n f e s ~ a m-
' ~ c que o diabo os recompense
20 se disserem algo diferente - que nossa doutrina nÃo coritraria a nenhum
artigo de fé nem à Sagrada Escritura, mas contradiz ao costume de sua Igreja
e às leis do papa. Por isso também não podem considerar-nos hereges, a não
ser que então tcnhain que chamar seu próprio corayáo e sua boca de menti-
rosos; pois ninguém que não ensina contrário a Sagrada Escritura ou aos
u artigos dc fé pode ser chamado de herege. Muito menos podem acusar-nos
de hereges ou combater-nos como tais, e até agora, como mentirosos contra
si mesmos, como assassinos e traidores, acusaram e queimaram, assassina-
ram e perseguiram como hereges o piedoso Leonardo KaiserlLe mais outras
pessoas honestas. Até hoje não se penitenciaram disso nem revelaram m e -
I pendunento, mas permanecem endurecidos neste desejo sanguinário e nesta
mentira. Quem irá temer tais guerreiros?
Em segundo lugar, sabemos que eles não podem comeyar esta guerra em
nome de Deus, também nâio podem orar nem invocar a ajuda de Deus. Nós
os desafiamos a todos em conjunto e em especial se ousarem dizer a Deus

c) C:rlos V (1500-1558) foi imperador do Sacrr~Império Rornmo-Gemânico desde 1519.


I0 Jiisto Jo,izf.s, uni dos colabora<loresnrais diretos ile Lutcro, cscrevc~i-hcem junho dç 1510
i ~ i l c ,<Iclx>isde ter lido Confi.s.~Zo(12 Augsburgo, Christoph von Stadion, arcebispo ilc
Aii&:dhiiigii,exclamou: "E ;i pura veirladc; náo podenios contesti-la" (c1 WA 30D,400,1i.2).
I I I.i~iii;irrk>K;ri,scr, i:siii<lriii piii ;ino e mcio na Universiddile de Wiiienk~g,foi quciiii:iili>
i - i , c i ~ >I i i i i p i pc>r'.:ic1~:3 'lc sii;is i>piciiixsIii!çr;in;is inr I6 rlç ;ig<isir>d i 1527, cm Scliiilrliti&:.
1i;~v;íri;b. ('cu,Iir:~o l r : ~ t ; ~ l (<Ir > l.\tlvr<): h,,1 . c c ~ ~ ~Kci.scr
; ~ r ~ i i" 13;ticrn. L,,!, dc.7 E ~ ~ z t r ~ g ~ ~ I i i
ii'illi.ii iw.il!iii>ii,i WA lll/ll,~l5?.l70,
I':u Social

iIc coração: Ajuda-nos, Deus, na guewa por causa destc assunto. Pois sua
coiisciência está por demais onerada, não apenas com mentiras, blasfêmias,
siiiigue, assassinatos e toda sorte de abominações, mas, além de tudo isso,
com um coração obstinado e impenitente c com pecados contra o Espírito
Siiiito. Por isso, visto que fazem guerra de iiiá consciência e por motivos 5
I>lasfcmos,taiiibém não terao sucesso nem salvação. Por essa razão quere:
iiios dar uma bPri$ío a eles neste iriietito e dizer: "Deus vos conceda sucesso
c vitória na medida ein que sais piedosos perante Deus e lia medida em que
liir justo vosso moiivo de iniciar uma guerra. Amém". Havereis de ter a
iiiesina sorte que nós alemães tivcmos quando comcçamos a romper a paz 10
contra São João Hus e guerreamos contra os boêmios12, e quando o papa
s;icriSicou no açougue também a iiós, quando tivemos que satisfazer scus
iI~.sciosconi nosso scmgiic e nossas caberus. e tivemos que lutai- contra a
vcrdade e a justiya, como também vós proccdeis agora. Isso para que o papi
possa rir consigo mesmo por ter provocado um banho de sangue tão diver 17
lido entre nós, ele, o santíssimo padre e o mais bondoso pastor de nossas
;ilinas. No entanto, Deus pode inuito bem suscitar um Judas Macabeu (ein-
Ixir-a eu e os meus estiv6ssemos aquietados e sofrêssemos), que venha dcs-
i i i i i r o Antíocon com seu exército e lhe ensine ai artes d;i guerra, como
i.iisiiiou a guerrear e mantcr a paz a nós por meio dos boêmios. 20
Portanto, também n?io quero comemorai- juntamente com os meus com
c~iii$òese preces :i Deus, a iim de que Ihcs dê um coração desepesado, tímido
i covarde, quando estiverem no campo de batalha, para que aqui e acolá se
;icusc a consciêiicia de alguém que diga: "Ai, ai, estou nuiiia guerra perigo-
sa: iiossa causa é itiá e estamos lutando contra Deus c sua palavra! Que será u
(li: iids? que fun tercmos?" E quando vem contra eles um macabcu, quc
li[i;im e se dispersem como paiba ao vento. Não achas que Deus ainda é
c;ipaz dc tais portelitos? Pois diz a scu povo: "Eu te darei iim coração
ilcs:inimado, de maneira que, quando marchares contra teu inimigo por um
r;iiiiinho, hatcris em retú-dda por setc caminhos, c qualquer banilho de uiiili ~~~
li~lli;i v6s assustxi" [Dt 28.25; Lv 26.361. Na verdade. i10 Mar Vermclhn
11.1 :i mcsma coisa com os egípcios eiidurecidos, que, sem dúvida, estavam
i:io ciiipedernidos como hoje estao os pipistas. Apesar disso, ira hora em que
:i coiisci;ncia os aciisou, disseram: "Ai, ai! fujamos, porquc Deus luta contra
iiiis!" [Ex 14.251. Quem náo sabe o que é fazer guerra de má consciência c
iiii.:iq,:io desanimado. que o experimente agora. Se os papistas hrem para a

I ' l .iiicii>se rcfcir Zis fiacmsadas teniaiivas fcirar com o intuito de estcmin;ir os hussiios
<Ii.l,oisilç Jiikii> Hiis tcr sido queimado como Iiercgc pelo Coiicili<ide ('oiisiiinç;i, i m 1415.
(' 1 ; ;aiftd:t 11. 14.
I i liatis M;ic:ilk.ii. <i IicrcÍi iiiilcii q ~ t cli<lcn>ii;i x\islC~ici;idos iiiilçiis ciii Ihh I00 ;i.('. c<iiili;i
o síd~tA ~ ~ i í o cl$íCu~c!s
<> c scw s ~ ~ ~ ~ s s ~ ~ r ~ ~ ~ .
Advcitência aos Estimados AlemZcs
guerra, ele o verá do mesmo modo como nossos antepassados o experimen-
(aram nos boêmios e em ZizkaI4 no mesmo caso. E nossa oração não será
feita em secreto, nós a faremos em público, de acordo com o Salmo 7: em
sua primeira bataha derrotou a todo o Israel, de maneira que sobre o campo
s de batalha ficaram mortos vinte mil homens com Absalão, abatidos por um
pequeno Pois ele tem mosquetes e pólvora suficiente, disso estou certo.
Em terceiro lugar: a mim, como pregador no ministério espiritual, não
compete fazer guerra e lutar, nem aconselhar a guera ou incitar a ela, pelo
conlráno, aconsckar a paz em vez de guerra, o que, aliás, fiz até agora com
10 o maior empenho, do que todo o mundo é minha testemunha. Nossos
adversários, porém, não querem a paz, mas a guerra. Se, pois, realmente
estourar uma guerra, quero deixar muiha pena descansar e silenciar, e não
me envolver mais tanto como o fiz no último tuin~lto'~. Quero deixar as
coisas correr, mesmo que não sobre nenhum bispo, nem padre, nem monge,
1s e eu próprio tenha que perecer com eles. Pois sua obstinação c arrogância
são por demais insuportáveis a Deus, e seu coração endurecido vai além de
todos os litnites. Foram suficientemente instados, advertidos e implorados
por paz, além de toda a medida. Eles, porém, querem forçá-lo por meio de
carne e sangue. Pois também eu quero porfizar com eles por meio do Espírito
20 e Deus, e quero tomar sobre mim não apenas um ou dois papistas, mas todo
o papado, até que o juiz celestial intervenha. Não quero nem posso amedron-
tar-me diante de tais miseráveis inimigos de Deus, sua teimosia é meu
orgulho, sua ira é meu sorriso. Não me podem tirar mais do que um saco
cheio de came doente. O que, porém, sou capaz de tirar ,deles, isso o verão
75 ein breve.
Além disso, se vier a guerra, do que Deus nos guarde!, não quero ter
recriminado nem permitirei que se recrimine como sedicioso o partido que
se opuser aos assassinos e sanguinolentos papistas; quero aceitar que o
chamem de delèsa própria e com isso quero remetê-los ao direito e aos
1 juristas. Pois no caso em que os assassinos e algozes querem guerrear c
matar a todo custo, certamente não é revolta opor-se a eles e defender-se.
Não que eu quisesse com isso estimular e encorajar alguém a esta defesa ou
até justificá-la, pois isso não é de minha competência, menos ainda de minha
alçada julgá-lo. Um cristão sabe muito bem o que deve fazer, dar a Deus o
que é de Deus, e a César o que é de CEsar", todavia, não a estes homeiis

Zizki, (1376.1424) roi o er,mdc comandante inililar dos hussitas: combateu vilorios:i-
14 .lo:i(>
I':&, Sociitl
- --
s;iiiguiriirios o que nâo é deles. Mas quero fazer uma distiiiçáo entre a revolta
c oiiiii)s atos. e não quero deixar a estes hi)nieiis ~anguiiiánoso pretexto de
~ioilcrcnigloriar-se de estarem guerreando colilra gente sediciosa e qiie
iiiili;~mtodit a autoridade para isso dc acordo coiii n lei secular e divina,
c-oiiio o gatinho gostaria de adornar e enfeitar-se. Além disso, náo quero que s
II<:SC sobre a corisciência destas pessoas o perigo e a prcocupaçâo como se
siin defesa fosse sediciosa. Pois isso é uma designação maldosa e pesada
dciiiais para este çaso. Isso se deverá chamar de outro coisa. Os juiistas se
iiic;u-regarão disso.
Nem tudo que os sanguinolentos consideram sedicioso o é realmente. io
I'i~iscom essa alimiaçáo qucrem 1Cchar a boca e imobilizar a mão de todo
iiiiiiido, para que niiigliérn possa repreendê-los com seimões, nem defender-
si: com o punho cci~ad<i c pai-a que eles possarii falar r reriliam livre açXo.
l'oriiinto. tachando-o de sedic;ão. querem assusiar e repreender todo mundo,
i. ;i si mesmos, porém, coiisolar c pôr em segurança. Nio, iiieu caiiiarada, é 17

11rccisoexpor-te a definição e interprctaç3o de ouira maneira. Não se pode


~li;iinarde scdiçcío quando algu611i age contra a Ici. do conirário todas as
ii:iiisgressões da ld deveriam ser chamadas dc sediçzo. Se~liciosoé aquele
I I I I C nZn quer su,leitar-se à autoridade e à lei, mas as ataca e se revolta contra
cl;is, querendo oprimi-las e querendo ele próprio ser senhor e impor o direito, 211
<.<iiiroicz o M u n t ~ e r ' ~ Aliud
. est Ni,vasor, Ulilrd trunsgrsssor - Uma coisa é
< r iiivasor, outra o Lrarisgressor. E a isso que se charria um verdadeiro
scclicioso, de maneira que a defesa contra os sanguinários nZ» pode ser
ciiiisiderada sediciosa. Pois sáo os papistas que coinecarii e querem a guerra
c 1120qucrem consciv:u a paz, ncm pennitir que os outros que gostariam de li
ici- paz a tenham. Dr sorte que os papistas estão muito inais próximos
<I:i<liiiloque sc chama scdiçán.
Pois náo tem a seu favor direito algum, nem o direito divino nem
Iiiiiiiiirio, iiias agem por maldade, contra toda ;i Ici divjna e secular, como os
:ihs;issirios r celerados. Isso é fácil demonstrar. Pois eles próprios sabem 3n
i i i i iico hcm que nossa doutrùia está certa; náo obstante, qucreiii extirpá-la,
<iiiiio,aliás, o expressou pessoahiici~teuiil giwide bispo, dc nome Nico1auJ9,
i.111 Aiigsbiburgo: cle poderia admitir que se procedcsse em toda paric como
C I I I Wiitcnberg. Mas que tal doutrina pudesse proceder de um buraco e canto
< . I I I I I ~aquele, isso seria intolerável. Que achas? não são excelentes palavras .ti

l'í < '1; acin~:t11. 487, o. 5.


1'1 I iilciii ii> vi:/,cs xi: refclc <Icprci.i:ilivumiri1i aos hi\p<is c<iinci"Nic<>liiiix". 1p:ir;i ilc4iic;ii- ;i
~ l ~ ~ l ~ i c ~ l : ~,ií~i,,.~ ~ l ~ ''Nir<>I:~t'' 11r112 figura ~6111icik. l i p ~ ~ ~ ~ II Kl , i~V,~I~i~c<lo>
: ~ ~ ~ ,
iiil.iiiIi\. l i g u ~ : liI;i i l ~ rr~ j>txlc
~ l icr iIi,iiv:iil<i i , iii>\\i>
"l~~q>a~+~~ocI".
-
AdvenGncia aos Esiin~i<lus
-- - -AluiiÙc\
episcopais? Tamhéin o legado plipal CmiipégioZi'confessou que ele pióprio
poderia nitiiiitir esta doumiia. Mas isso se toniaria iim gande precedente c
por fun deveiia ser admitida também em outras n;ig0es e reinos. Isso, yor&m,
seria inadmisslvcl. TnnibEin outro grande bispo disse na presença de seus
5 doulores: "Nossos doiitores nos defendem maravilhosaiiiente. Eles próprios
confessam quc nossa causa não tem base na Esc~itura"~~. Portanto, sabem
petieiiamente que nossa doutrina não é incorreta, mas que tem hase na
Esciitura. NZo obstante, c«iideiiam-nos despropositadamente e querem extir-
par a doutriiia, contra o direito divino e a verdade.
in Que estão agiiido iatiibém contra o direito imperial e o direito natural,
está evidente. Pois, eni p~imeirolugar, nosso srupo quase iião teve chance
de falar. Depois, tendo apresentado oralmente siia longa e podre Contiitaçiio,
simplesmente não nos qiiisc~undar nenhuma cópia nem opoauiudade para
réplica. Temeram a luz do dia corrio os morcegos, até o dia de tioje. Ora, é
13 direito divino, imperial e natural, que, inclusive. o geniio Pórcio2?cuiiipriu
eni relliyão aos judais. que iião se deve condeniu 1%iliiiguém sem ouvir a
defesri do coiideiiado. ?ànibl:iii Deus nto quis coiideiias a Adio antes de
chamá-lo à rcspi~iis;ildidnde2'. Agora, poréiii, compaii-cen1o.s espontanea-
iiientc a Augshurg» c iios propusemos irespoiider &iii Iiumiltlade e empe-
20 ~iho.Não obstante, isso iios foi negado injuriosa e desciuadamente. E por
mais que rogássemos, sua CodutaçZo não nos foi entrzgue e foiiios coiide-
nados tanto pelos santos pais ein Deus como pelos príncipes cristãos. Exce-
lentes mesires, belos juízes estes que coagem todo mundo a crer e não têm
coragem de expor i luz o clue se deve crer. Devo crer sem saher o que devo
2s crer. Dizem que estou no cuiiiiitio errado, mas nào niohiun por que estou e ~ ~ a d o l
Miseráveis todos v6s qiir estivestes do lado d« papa eiii Aiisgburgo.
Todos os vossos dcscenderites se cnvergudicirtío de vós para seriipre e não
goslaráo de ouvir vossos iioriies, por terem tido aniepassados ti« tiiiseriveis.
Se nós tivésseiilos temido a luz e nos iivésscii~osnegado a responder, ieríeis

20 Lu[uc~i~o Carnp6gfo(IJi3~15.?4J, nascido em Bolonha. ecicaixgado pelo papa LeZo X <Ic


nuilierosds missóes pulitiru-icligiosas. Em 1524 foi a Nünikrg, .Alrmd~a.com 1iii5s;iii
coriciliatdria entre os luirraiius c Roma. Tmbém fui rcpi+serit.uite de Roma na desa\,ciiq;i
coni Hcnrique VIII, Jriglalena, dcseiicndeada p i o ws.unçiiio desse com Ciiianrla de ,\r;i
gio. Na i,çasiáo frac:issi>u. Krlomuu a liuma e awisliii à curr>a~Ão dc Carlos V. em 15111.
i nct>mpanhoiia Asscnihléia Nacional de Augsbui-gu.
? I Conra<loCordato (1476~15Jh1,preso vánas vezes por pregar a Rcfcinna, passoii alfiorii
ienrpu em Wittcnberg. lornnii~lo-seconhecido çoino colecionador dc conversas de Luicin ii
mesa c sua firme posição tcoldgiça na questZo da justificação. Foi uni dos repn^senl;illlcs
Iiilcrzuios na Asscinhli.ia. Elc airiti~iia ni:müestação acund s Allxtto de M<iginci;i e .l<iiii>
I,& jiroScss<iriia Uiiivcrsi<l;i<li.iIc Itignlstadi, oprisitor dc Luiçro iiu <Içh:~v
dc Lci[i,ig \<iIiii.
i, v~iloi-<kis iii<liilj!i.nci:is (('I.W:\ 30/111.?84, 11. 1.)
!' ('1.. ,AI 27.IO.
.> \ 1'1. (;,I 1.~1.
dc lida sua Contiit:igáo. abaixaram as cabeças e confessaram por meio iIc
gestos que, conipariidli corn nossa Confissáo. ela não passava de i i r r i docii-
mento podre c vago. Os riossos, porém, e inuitos corações piedosos sc
alcpriram sumamente e foram ioiialecidos de. modo exceleiite quando ouvi-
3 I-a111q11c de rodo seu poder e sabedoria, que iinliaii que demonstrar em gr;iu
rii5xiiiio iiaqucle momento, tiada souberam produnr seiiáo esta vaga Confii-
.- quc hoje, louvado seja Deus, pode ser refutada coiii boa argumentaçáo
.iç,io
da Escrihwa c da verdade por qualquer mulher, criaiiyii, leigo ou camponês.
Esta é a verdadeira razão básica por que náo qucrein liberar essa Confutação:
10 as levianas más consciências se apavoram diante de si iiicsmas, e não têrn
coragem de enfrentar a resposta da verdade.
E fácil perceber que organizaram essa Assembléia Nacional convictos dc
que nosso grupo jamais teria a coragem de comparecer. Pensavam que, se
trouxessem o imperador pessoalmente para a Alemanha, todos iriam assus-
15 tar-se e h c diriam: Clemente Senhor, que quereis? Visto, porém, que isso
Ihes lalhou, sendo quc o príncipe-eleitor da Saxôiiiaz5 hi o primeiro a
comparccer. por Deus, como Ihes começai.am a feder as calcas, como se
haviam enganado erii suas expectativas, que acorrência para rcuniões secretas
c cochichos! E iungdiii pôde ficar sabendo do quc se tralava. rierri o próprio
20 Cristo ncm eu. coiiio t:inihéni até o a i o passad« nada ficamos sabeiido da
conjuração dos prúicipic~'~.Ein resumo se tratava do seguinte: visto que os
nossos coinpareceram de 1%1io bm vonixle e ccnitYdntes como os p~imeiros,
teria que se achar uin jcito para que náo fosseiii ouvidos. Como, porém, isso
iiZo foi possível, empenharam por fim sua honra, iiáo oiismdo entregar sua
a vaga Co~ifirfaç;ioe n5o abrindo espaço para uma resposta.
Pois aquela boca desavergonhada e sanguinário sofista Doulor Eck, uni
de seus priiicipais conselheiros, dissc publicamente perante os riossos que, sc
o imperadoi- tivesse aceito o conselho tomado em Bolonha" e tivesse atacado
rápida e corajosamente os luteranos com a espada por ocasião de sua vinda
'i] à Alemanha, e tivesse decapitado um atr& do outro, certamente a quest,;io
estaria solucionada. Visto, porém, que consultou o pnncipe-eleitor da Sax6-
nia por meio de scu chanceler, tudo isso teria sido baldado. Que achas de tais

25 O príiicipc-cleiror <Ia ipoça cra Joso, o Constante, Irmâo de Frçdcrico. o S:b 1' 10, i SCII
succssor dc 1525-153, pdllidirio da Reforma e seu hábil neg<iciador politico.
2fi E i ~maio i de 1528. Ono vo~iPack, oficial do duque Jorge da Saxónia, coriiiinicuii :i E'ililx.
<Ic Ilcs\c n r.\isiC-i~iadc iinia alianga de príncipes c bispos cat4licos. coni o piiip«hii<iiIc
:ai:ic:ii c <Ic\iriiir us siipoitcs d.i Rcfnnrin. Logo se <lescohriu que a hist<iri;i<Ic v<iii l';icI, 1.1.1
o s forjeilos. Luiçr<i. p<irCn,. c<iiiiinu<iuc<i~ivciii.icl<i
i i i t i lhignt c qiic s c ~ i sd < e u ~ ~ i c i i tci:un <I;,
rxi\lc,,ci;, ,I,> cO,,,]>I<,.
27 I1rvc 1,;,1;,r >c, ,Ic, 'lk,i;lclo ,Ir l<;,rc~~ll,,,:,,,l,~29 LI?,,,,,I,,> ,lc I i 2 0 , c,,irc , I ,>;,I,;,L, l':,rl<>\ v,
c~INI<. o i h ~ ~ ~ v \c ~ ~c <t ~l ~o ~r l > c o ~:In 1or11:~r
r l < ~ u~ ~ ~ c d i cripjrc,<;~~
kih p ~ r , !~ ~ ~ ~ ):L l Ii <nc ~~ i rI c) t~
a ~II~.I
.\Ii.iii.iiiIi:i.
l'.i, \iiiii;ll
~ -- .. .--
ili~rii~iics c santos pais? de quanto amor e verdade estãn inibuídos! Desta
li~i.iii;iveio a público a decisão secreta que sua santidade papista havia
iirgi)ci;tdo coni o imperador em Bolonha. Que bficadeua faiitástica teria
ii.riill;ido sc o uiiperador tivesse atacado n questao com aisassínio, de ~iconlo
< . i i i i i csíc çonseiho papisia e diabólico. Teria sido uriia Asseinbléia na qual 5

ir:v) ici-i;i sobrado sequer iiiiia unha de bispos e príncipes, ~'spec~almente iieste
ii.ir11xi perigoso, quani\o tudo esiavii em cbuliyjio e todo o mundo estava na
~.x[~clativa de uma Assembléia propícia, conio, aliás, o propõe e pretcnta a
i.i11ivocaç50,iiias que, irfelizniente, jamais se realizou desta fom~a.
AlguCin podciia argumentay que o imperador estava disposto a entrega 10

;ias fi(isso.;a Confut;lf;iodestit parte, cotitrmto que os riossos e corripiurne-


irss~.iiin iiâo tomá-la pública. Isso é vcidade e foi o que se esperava dos
iiossi~s.N o entanto, aqui cada qual pode pcrceber de modo pirlpável, ainda
IIIIL. I ~ I S S C cego e surdo, que genre é essa que não qiiereni nein ousam qiie
,.(.ti:i\\iiiiio veiili;i i luz. Que sciiiido faz csconder de nós e de todo o inuiido 15

~ . ~ . \ :iliictks
i~ públicas. que haver50 de ser ensinadas e cunipridas entre eles?
St.. ii~ilavi:~,sc traia de d g o seni fundaiiiento e vago, por q ~ i cm a n d a m
1~iw~~l:iiii;ir no prinieiro desp:icho poi- meio do príncipe-eleitor de IIrandetibiir-
:,,c, <Iccrctaiampor cscriio que a Coi~íiss;íodos riossos foi refutada com a
I i i ~ i i i r i r i ie boiis ai-gument~s'?~~ Se isso Iòsse verdade e se sua própria razão 20

i i i i i , o s acusarsc dc meiitirosos ricste ponto, não apenas tcriain inandatlo clue


lo\\r lida essa precioslt c bcrn furidainenkda Corilirt;ic;io, {nas t:tmhém a
irii:iiii publicado por escrito c diio: "Cá o tcndes, enibora nirigutm se possa
iis~~)iixahilizar por isso", como, uliás, nós procedemos com nossa Conf;,$sZo
c coiiio o conru~uamosfzcndo. zs
No entaiito, deveni permiiiieccr vertladriras as palavras de Cristo: "Quem
~ ~ i ~ t ~ mal c c d eodeia a luz e i150 vem à luz, para que suas obras não sqjani
iiilg:i<las.Quem, todavici. pratica a verdiidc, esse vem A luz, para qiie suas
iil>r;issejam reveli~das.porque feitas em Deus" [Jo 3.70s.l. De ircordo coin
~ ~iiiízo s cde Crislo, Deus pcrmitiu quc os nossos saísseiii dcssa Asseriihléia 30

i.oiii Iioiiras eternas tais que também os advcrsjnos têm que confessar que
ii;io tviiiemos :i luz, mas que a buscamos c agiiadamos da iii;ineii'a mair livre
<.<<~iilnirilc possível. Por outro lado, cleisou a eles coni unia eterna ignoiiúi~
i;11 i~iicl u g i m da luz s a iemeram da h n n a mais vergonhosa, cortio as
<~iiiii:~s c os morcegos, sini, como o pai da mentira, e 1130 permitiram nem 35
iii1c.i-iiiiiin a rcsposta u sci~palavrório vago. podrc e ohscuro.
Vcja que bela atitude cristã esta de exigir que os nossos se comproine-

'i: I:iii ?2 iIc siicinhro de 1530, o eleiioi de Brmdrnburgo leu o vei.eilit<ido irnperadui dc quç
".i o l > i i i k i o i: conlissão do príncipe-elcitor da Saxônia c s?us ;~li;iili>s ... foi refutada
c
!cic~ii;c<kt U>IU hasc IIO Ev:ingeIlio e n;is Escrili~r;ts,com hot~s; t r ~ ~ ~ ~ ~ ~ c ~ ~ I ~~s''.
AdvertFncia aosEsiiniados Aleii,:i~.\
tessem a empenhar-se para que essa preciosa arte e bem fundamentad;~
sabedoria de sua ConfútaçZo não se tomasse conhecida, nem viesse a públi-
co. Até que poiito Deus cegou e desonrou os papistas que já não têm mais
juizo liem vergoiilia! Como seria possível - que dirá. justo - comprome-
ler-se a coiisenw em segredo um docunieilto desses que iria chegai- a tantas
niãos e que aiitei-ionnente fora lido perante o imperador? E se, depois, viesse
a público pelo ounu grupo, 116s levxíamos a culpa. Mas são esta a sabedoria
e as belas maqiiinações de que se tem que valer a r w i o írnpia, porque não
tolera a verdade e a luz. Alib. iião poderiari] achar saída melhor, para
poderc~iipemariecer lias trevas, e siia ConfufaqZo não viesse ù luz. Pois
bem, que penrianeça nas [I-evas ral qual está. e que pemiancqii também lias
erzrnas trevas infsmais; náo obstiinte, será julgada no dia den.adeiro, se náo
acoiitccer que venha I? clara luz já antes.
Sim, objetas tu, embora não tivessem entregue sua Confutação ou Con-
15 testa~.%~, esco1her;tni iima comiss3o e ordenaraili a alguns príncipes e douto-
res de arnbos os Lados a tratarem eiitre si a qucstâo amigavelrneiite. Lava e
cnihita-te, gatinho! teremos hóspedes2y.Coriio é bobo e rolo o coitado ho-
mzrn Cristo, totalmente incapaz de perceber essa malícia! A comissão real-
mente foi constituída, mas que se tratou nela? Absolutamente nada a respeito
20 de sua Confufação oii Res~~osta; esta permaneceu na escuridão, e a comissão
teve qiic ajudar a torcer as coisas de tal maneka que sua Codirt;içZo leviana
fosse retida sob alguin pretexto Iioiuoso e não viesse a público. Pois a
coniissão não h.atoii de sua Confutação, mas ocupou-se coiii iiossa Confissão
e negociou com os nossos o quanto estaríamos dispostos a retirar dela e
25 revoga ou, como eles o interpretam, até. que ponto estanamos dispostos a
uin eiitendimento com eles. Tudo foi planejado de tal maiieiia para que
pudessem berrar chcios de razao: "Vede, minha geiite, escuta, riiundo inteiro,
como são eiiipedeinidos e obstinados os luteraios! Em priiiieiro lugar: siia
Conti.s.são foi conrestada pela Escritura e argumentos bem fiindamentados:
311 em segundo lugar, negociamos com eles amigavelmente. Que mais se pode
fazer? Eles não querem ceder, quer sejam contestados, quer sejain instruídos
miiguvelmente".
Pois bem, riada podemos fazer contra essa gritaria mentirosa. Ela de
nada ihes adinntará, disso teiilio certcza. Deus já expôs a mcniua dessa sua
15 gl6ria vã. Pois quundo foi publicada a declaração final do pniicipe-eleitor dc
Brandcnburgo, dizendo que nossa CoBfissZo fora refutada com a Escritura e
boas razões, os nossos não o aceitaram nem silenciaram. Contestaram aber-
liiinciilc perantc o iiiiperador e testemunharmil qiie nossa Confissão nio
~ ~ i ; i v : rclùiadn,
i riias que estnvii fomiulada e fuiidamcntada de tal nianeirii
I';i/ Social
-~

qiic iieiii as portas infernais podem c]~ialquercoisa contra ela. Esta derrota
iivesiirii que engolir. Pois em alemão isso significa o seguinte: o que o
priiicipc-eleitor dc Brandcnburgo proclamoii erii sua dcclmção não C vcrda-
de, nias tnentira. Isso é certo, pois a bem fuiidamentada Confutação ainda
iráo veio á luz, talvez cstcja donnirido junto ao velho Danhauscr3" no monte 5

clc Vênus.
Está visto que querem conservar sua Confufação lona obscuridade e que
náo a prctcndcm publicar. Por isso sua aiegaçáo de que nossa ConfissZo teria
sid« refutada com a Escritura e bons argumentos não é somente uma desa-
vcrgoiihada iiientira pública, mas C a mentira do próprio diabo quando, além lu

clisso, se gloriam e mostram uma boa aparência, e ousam gritar que fomos
vencidos, irias que 11x0 nos queremos reiraiar. F;izeiii isso, apesar de sua
coiiscii.ncia os corivcncer podcrosanientc destas mcritu'is. Assirn fica cviden-
ic cm toda paite coriio recorreram ao pretexto, coiiio. ali&, procedem Lodus
tis que [Em maus iiitcntos. Rcmcndam-sc rniscravclmciitc c procurain roda i.

sai-lc de maquinações, para que, de foniia iilgiiina, seus maus intentos ve-
ii1i;iiii à luz. Em resumo, revela-se aqui qiir3desesperutlos de sua causa, a
i i l i i i i i ; ~coisa que esperaram foi que os nossos vicsscin c comparecessem. A
i;iI ponto confiaram cxclusivaincnte no poder e niio conlaram com nenhuma
vcdade ou luz. 20
O qu:into Iòi amigável seu intento com a coinissão se percebe facilmente
i10 único fato de que, entre outros artigos, ousaram exigir dos nossos que
riisiiiassem a respeito das duas espécies no Sacramento que nâo sei-ia errado,
iiias certo que também se oferecesse e recebesse apenas uma espécie3]. Se
116sconcord:isscmos, clcs, por sua vez, queriam concordar e admitir que
c:iisiiiiÍssem«s que se oferecessein e recebessem as duas espécies. Muito
:~iiiigávcl,iião c vcrdadc'? Quem iria cspcrar um ariior tio grande por parte
iI<:ss;i gente? Até o inornento perseguiram e torturiu.arii como hereges todos
;iqiiclcs que toriicivliin as duas espécies. Agora, poirii~,querem aceitá-lo
i.111iio~.orretoe cristão, desde que nós, eiii troca, ensinássemos que eles .:[I

i:iiiiIii:iii agem correia e cnstâmente com uma íinic;i csptcic. Em alemão se


I : irlii-ar frio e quente da mesma b o a . Está errado e, ao mesmo tempo,
i.si;i i.ii10,o que e como o querem. Não ohsiaiite, não deve ser chamado de
III~~II~~I.~I.
Sc os nossos tivessem concordado e aceito a proposta, aí sim terka 15

i.oi~ic$nd»um gloriar-se e grilar no mundo inteiro: "Vede, gente, os luteranos

li1 A l i ~ i d aJc 7.'t,iiiliii~r,sirrç<iiiibiiiaçleinçnu>sde um iniiiiic.si@r aleniZo d<i sec. X111 COIII


<i, <i<. i i i ~1iil;ilgo
i Icndii-i<ique, apiis inuitas vi-igrinayíi.~.cnilrg<iu-sc;i uiiiii viiki <1ç~i;jix:i<,
, . i i i h i i ; i I r < i i t ! VCiiii.: (ir> M<iiiii ilc VCiius, pcrlo <Iç tiiciii;icli.
I1 I ,~~irnct ~ ~ ~ I L I Z ~cspc5cics
~ ~ l i ~1:~s
~ I i ~ c ;L ~qt1c~l3<> S ( 1 2 S;~ula('ci;~ c t t ~s~I:, ' ' I ~ x ~ ~ r 'li>dos
I ~ ~ ~ ~ i ~ ~
I 'lrii,,t~\I < i . i i i i i < l < i \ ,\i~g%l>iirpi" WA 34. i W l
Advertência aos Estimados Alelii;i<h
revogam sua doiitruia. Antes ensinavam que não é certo usw apenas uiii:i
espécie. Agora ciisitiaiii que é correto. Agora podeis ver que nossa doutriiiii
era correta e que eles estão errados corn sua própria Conti,ss.7o". Assim esta
gente honesta e cordata tentou confirmar suas abominações c futilidades
5 diabólicas com este único artigo, para acusar-nos dc revogadores de toda a
nossa doutrina. Além disso, leriam instituído sua doutrina venenosa por
nossa própria boca em nossas igrejas e, ao inesmo tempo, teriam combatido
violentamente nossa doutrina em suas igrejas. Jamais iriam ensinar nossa
doutrina entre clcs. Desta fonna, queriam penetrar em nossas igrejas c
iil entrincheirar-se a í por mcio de nossa própria boca e, não obstante. expulsar-
nos a todos dc suas igrejas. Não são meios inaravilhosos, amigáveis, jiistos,
perfeitamente adequaclos p a u urna negociação amigável?
No entanto. a comissão 6 ig~icili Confutaçáo. A Coriíiulaç;io é uina
obscura coruja e náo quer aparecer lia liiz. A comissão é puro artifício e fcdso
'5 emhuste. E como é verdadeira e louvivel sua glória de terem retitado nossa
Confj.ssáo coiii n Escriiura e bons argumentos, assiin tainbém é verdadeira e
honesla a glória de terciii pretextado negociayao arnigivel - ambas as
coisas são pura mentii-a e ilusão. Evidentemente não gostaiii qiie os tratemos
dessa maneira. No eiiiaiito; não me propus aqui a escrever a respeito dos
negócios dessa Assembléia nem atacar sua Confuíaçáo- isso ainda i~coiitecerá~~,
se Deus quiser. Por esta vez quero apenas mostrar que os papistas não
desejam a paz, a verdade, o sosscgo, mas que qucrein impor sua vontade,
provocando ou uina gucrra ou uma revolta, quer gostemos quer não, isso
tudo não impowa. Nós, porém. temos que arriscar e aguardar, porqiir nossas
25 propostas, rogos e clamores por paz não são ouvidos e porque nossa Iiumil-
dade e paciência de nada valc.iii. Qiie venha, pois, o que não pode ser evitado.
Visto, porém, quc sou o profeta dos alemzes (pois doravante eu rriesrtio
lerei cluc me atribuir esse iitulo moç~mte,pai-a gozo e agrado dc nieiis
papistas e asnos), compete-ine, eotiio mestre fiel. advertir meus alemies de
"1 seu mal e peri:ol e instruí-10s cristãmente como deveiii proceder caso o
imperador, incitado por ineio de seus diabos, os papistas. os convocasse :i
guerra contra nossos príiicipes e cidades. Não quc estivesse preocupado que
a Majestade Imperial fosse dar ouvidos a esses envenenadores e que [osse
começar uma guerra tio uijusla, mas porque não quero ser oniisso e para,
' ciii lodos os casos, presen;:ir minha consciência desculpada e livre de peso.
I'ois pi-efiro ter estabelecido uma advertêricia supérflua e desnecessária c tcr
rcltitado em vão a deixar passar a oportunidade e que depois, caso as coisas
c:>!-rcssciiide outra maneira do que havia imaginado, chegasse tardc c ii;id:i
mais tivesse com que me consolar do que a palavra: Non putassem - Isso
eu não esperava. E preciso precaver-se embora as coisas estejam seguras
(dizem os sábios). Quanto mais agora, nestes singulares acontecimentos, em
que a fúria dos papistas provoca a ira de Deus de maneira tão horrível, não
sc pode confiar em nenhum vento nem tempo, por mais amigável que
pareça. Também Paulo ordena ein Rm 12.8 que os que presidem a outros
devem ser precavidos.
Os alemães que quiserem aceitar ineu conselho que o aceitem. Quem
não quiser, deixe-o. Não estou procurando meus próprios interesses, mas a
salvação e bem-aventurança de vós alemães. Para minha própria pessoa o
melhor que poderia acontecer seria que os papistas me devorassem, dilace-
rassem, despedaçassem com os dentes ou como quisessem livrar-mc deste
saco de vermes pecaminoso e mortal. Pois quando sua ira chega ao máximo,
digo: Caros senhores, se estais furiosos, afastai-vos da parede, cagai nas
cuecas c pcndurai-as no pescoço. De forma alguma me deixarei imporninar
c desafiar por eles. Pois sei perfeiiamente qual minha situação e onde devo
ficar, louvado seja Deus. Se não quiserem aceitar meu serviço para seu bein,
que osrecompense o malfadado diabo quando me demonstrarem um pingui-
tiho de amor ou misericórdia. Se não necessitarem de meu ensino, eu preciso
iiiuito menos de sua misericórdia, e os deixo raive,jar c bufar em nome de
iodos os diabos. E eu me rio ein nome de Deus.
Meu conselho sincero, porém, é o seguinte: Se o imperador fosse con-
vocar para a guerra e quisesse guerrcar contra nós por causa do papa ou de
iiossa doutrina, como os papistas se gloriam e ufanam horrivelmente (o que,
tio cntanto, náo espero da parte do imperador), neste caso ninguém deveria
llcixar-se usar para tanto nem deveria obedecer ao imperador, mas saiba com
ccrtcza que da parte de Deus lhe está proibido obedecer ao imperador neste
t:;iso. E quem lhe obedece, saiba que está desobedecendo a Deus e que por
tiicio da participação na guerra porá a perder corpo e alma eternamente. Pois
iiistc caso o imperador não age somente contra Deus e o direito divino, mas
i:~iiiI)Ciii contra sua própria lei, juramento, dever, selo e decretos imperiais.
i i 1~1r;iqiic não penses que isso é invenção minha ou que esteja tirando este
i~iiisrllioda própria cabeça, vou te mostrar razõcs e argumentos tão incisivos
C.(-I;IIOS q11c irás entender que náo se trata de meu conselho, mas do severo
t. i<.l~ciiclo, rigoroso mandamento de Deus, de cuja ira é justo que te ateino-
I i / ~ . st. por fim também terás que atemorizar-te.
I ( i i i ~)riiiicirolugar, tenho que desculpar o caro imperador Calos por
i:iiis:i <Icsua pessoa. Pois até agora, inclusive nesta Assembléia Nacional, sc
i ~ . v i . l i i i i iiiria pessoa que conquistou a afeição e o amor de todo o mundo c
hi.1 i;i (ligiio dc que nenhum mal lhe acontecesse. Tambçm os nossos soincntc
ii.iii ~i:il:ivci.; dc elogio ao impcrador e a suas virtudes. Para cilar algiiiis
i.s(.iiil~los:E uinii bondadc adinirávcl c sirigular o Iàto 11c sua Majcsi;alc
Advettência aos Estimados AleiiiSr\
Imperial se ter disposto a náo condenar nossa doutrina, embora tivesse sido
incitada e instigada a isso por príncipes clericais e seculares, com insistência
incessante, ainda antes de ter vindo da Espanha. Sua Majestade, porém, ficou
[ m e como uma rocha, apressou-se para a Assembléia Nacional e publicou
um edita1 dc convocação generoso, disposto a tratar do assunto com bondade
e amigavelmente. Também teria dito não poder &atar-se de uma doutrina tão
má, visto que iantas pessoas afamadas, importantes,doutas e honestas a aceitam.
O mesmo acontcceu ein Augsburgo. Quando nossa Confissão foi lida
perante a Majestade Imperial, os próprios opositores constataram que essa
11) doutrina não é tão má como foi pintada por seus venenosos pregadores e
aduladores e odiosos príncipes. Sim, inclusive nXo esperavam que poderia
ser uma doutrina tão boa, e muitos deles confessaram que era a pura Sagrada
Escritura, e que seria impossível refutá-la com a Escritura. As informações
que haviam recebido anteriormente eram bem diferentes. Esta também foi a
15 razão por que resistiram tanto a que fosse lida. Pois os príncipes invejosos e
os venenosos mentirosos temiam que, se fosse lida, suas mentiras venenosas
seriam desmascaradas e teriam visto com bons olhos que sua Majestade
Imperial tivesse condenado a tudo disctamente, sem leitura e sem ter ouvido
[do que se tratava]. Como, porém, sua Majestade Imperial não conseguiu
211 impor que fosse lida publicamente, para todas as pessoas, ao menos provi-
denciou que fosse lida perante os estados imperiais, por mais que isso
contrariasse a outros príncipes e bispos e sofistas e os desgostasse amargamente.
Embora se tivesse gasto muito dinheiro nessa Assembléia e possa pare-
cer que nada dela resultou, digo por minha pessoa que, mesmo se fosse gasto
25 o dobro, já teria valido a pena pelo simples fato de dom Inveja e mesire
Mentira terem sido desmascarados em sua inveja e mentira. Tiveram que ver
e ouvir que nossa doutrina não contraria a Escritura nem qualquer artigo de
fé, da qual anteriomeute haviam falado horrores com mentiras e inveja, por
meio de livros, sermões e difamações, como se jamais tivesse surgido dou-
"' bina pior. Essa inveja, digo eu, foi desmascarada na Assembléia e essas
mentiras foram reveladas. Por isso devemos querer bem a nosso amado
imperador Carlos e agradcccr-lhe por essa virtude, porque desde o início de
nossa doutrina, Deus a honrou através dele e a libertou dos mentirosos e
hlasfemos títulos da heresia e outros nomes vergonhosos, tapando, dessa
forma, exemplarmente a boca dos mentirosos e invejosos, embora sejam de
tcsia dura e não conheçam vergonha. Isso, porém, não faz mal. O começo
tios satisfaz, e a coisa há de melhorar.
A Majestade Imperial também tcna dito: "Se os clérigos fossem probos,
iiio ~irccisasiainde nenhum Lutero". Aí está o que diz Salomão: "Os lábios
(Iii sci proktizam" [Pv 16.101. Pois Sua Majestade quis dizer com isso q ~ i c
< I I .iilcso E n vasi~dos cl&~-igos. c hcm que o mereccram, pois náo são corrclos
ciii sii:is liiii@cs. Isso I:iiiilii.iii clcs ~ii-(ípi-ios
o rcconhccem suficierilci~iciiic.
I'ois o bispo de Salsburgo disse a iiicstre Filipe3? ''0% por que teritaiii
rcli~riiiiti:i 116s clérigos'? Nós clérigos jnii~us prestainos". Vede aqui os
liicdosos senhores! Sabem e confessam que sio iiiaus e que não térn razio,
iii;is querem permanecer corno são, nZo-refomados, c fio qucreiii ceder i
verdade pública. Não obstante. c1;uiiam ao imperador e aos pi-íiicipcs pura s
i~ticse f a ~ guerra
a por eles e se os proteja. Isso é a mesma coisa que dizer:
Foro imperador, amados alemãcs, ei~traina guerra, derramai vosso sangue,
saciificai todos os vossos bens, corpo, f&os e mulher, para proteger-nos em
iiossa vida e conduta vergonhosas e diabólicas contra a verdade que, aliás,
rçcorihecemos perfeitamente, mas que, não obstantc, não podemos tolcrar; lu

iainbém não queremos emendar-nos. Que achas? Se guerreares por pessoas


dcste quilate e derramares teu sangue por elas, não serás um belo mártir e
11ãoteris empenhado teu sanguc por iiiiia causa excelente?
Mais airida: Quando os nossos quisei-arii entregar à Majestade 1rnpzii:il
>ira resposta h Confutaçáo dos sofistas, riioto qiianto se havia guardado 1s
ilcpois da leitura, c qiiando ;i Majestade Imperial esteiideii a inio para
rccebé-Ia, o rei Femando"" puxoii a iiião de su;i Majestade Inipcrial, para que
css;i resposla não fosse aceita. Daí se deprecnde uma vez mais qiieiii s5o 21s
~>~,ssoas que dão curso a seu ódio e inveja sob o nome da Majestadc Iiiiperial,
qii:indo a Majestade lmp~rialtem outra opiiiião e teiidéncias. 20
Mais ainda: o príncipe-eleitor de Brandenburgo concluiu a dcc1;iração
liiial com palavras exceleiites, pomposas e aineaqadoras, aí'imando que a
Majestade Imperial, príncipes c estados do império sr. haviam unido no
sciitido de quererem cmpenhar terra e scnte, corpo, bens c sanguc, pensando
;~ssustarOS nossos com essas palavras. Coino, porém, não havia acresccritii- 2s
CIO:"se Deus quiser", tudo permaneceu xis palavras e desapareceu com o
hrlin. tHo Ioso emudeceu. Ninguém sc ariiedroiitou. Mais uma vez, poréin, ri
M;i.icstlide Tinpcrilil se manifestou. Não disse que o orador cstava mentindo,
iii;ts afirmou que havia exagcrcidu. Muitos outros grandes príncipes e senho-
r~,sse empenharam na interpretaçjio dessas pilavras. Alguns diziam que o 311
hiiiiido deveria ser o seguinte: Se tiosso lado fosse atacar alguém do lado
iI<,l~,scom violência, eles estariaili dispostos a empenhar corpo r. bens,

ii 1.11ipe Mel;uichrhon, colaborador íntimo dc Lutero, autor do tcxto da Confi,ssio de liigs-


I i r i r g i (vidc tcxto em: Livro de Concórdia. S,io Leopoldu, Sinodal; Porto Alcgre, Cariciir-
,ii;i, 4. cd. 1993, p. 23-61).
i.1 I<clcr-seà Apologia dz Coiifis.são<li.AugsOiu~c~(cf. texto completo elahor:i<lu em W i i ~
i r i i l ~ l ge ~iiiblicailoein 1531, cin: Livro dr Cortcórdi:*, p. 9.5-304), quc o chmcclcr <li,
vlrii<ir iI:i S:lxiinia, Gm<iiioRnick, tentou etiirzu.ir ao imperadrx, depois dc ~munciailiiii
i i c i , s \ < > iI;i i\ssr~iihléia. O tento csii ilisp~iriivelerii C q u s Rcliirni;iroiii,ii (çd. 11. li.
Iliiiihcil: I\m~i\.vipic: T A . Srhwrtschkc cl Fil., IX5Y: N. Yirk JiiIiii\iiii I<i.piiiitC L > I ~ > C > ~ ~
I I k t . M.: M i . i I ) v 2 I . 275-115 (1;$111ii1. VI,. 1221'lX
I ; I I ~ , I > I ; I ~Oc<.i ~~~ V,
> ) . l ~ ~ r ~ ~ ~ ~ r ~~\ ~~ ~ l ~ ~l f i~ ; ~C . ~';~rlos C I ~~~C~>~L~~~I I ~rI ; ~~ C~lI OcI~, VS( Iv~~l . i ~ l ~ ~
c; Ic~C ~
Advcfiikcia aos Estiinados Alcf~i:ii..:
-
s m y c . teira e gentc - quando nosso lado jainais cogitou dessa possihili<l;i
de, mas seriipie pediu e clamou por paz. coriio eles todos sabem perkitzi~
mentc. Alguiis, porzm, confessarai11 publicarrieiite perante o imperador quc
jaiiiais haviam concordado cor11 tais palavras do margrave e que aquilo iiâo
5 coi-re>pondia a sua opinião.
E fácil cmpenhar terra e gente da boca p m fora. Agora, sc ir80 ser t,io
valeiites rambém com seus punhos, arriscando sangue, corpo e bens seni
necessidade e, além disso, em oposiçio a Dcus e ao direito, isso a experhcia
o mostrará. Em minha opinião, dcvei-iam ao menos ser perguntados e não se
lu Ihes devcna ocultar esse propósito. Ademais, é preciso saber que Deus não
precisa conceder e razcr o que pensamos c ousamos dizcr. Senhores maiores
do que esses já [oram traídos miseraveliiiente por suas bocas meritirosas, e
scus iriteiitos foram íirustrados vergoiihosiiiiiente. O melhor, poiern, é quc
não iiivoc;ini :i Deus em ravor de sua causa ou nem se lembram dele quaiid<i
1s aineaGaiii e biiiam desta forma. Aí, poréni. se percebc que o iniperador te111
co~ayio,que nâo 6 um sangiiinário louco desses e não se agada dessas
palavras e procedimentos.
No entanto, o caro imperador havcrá de ter a mesina sorte de todos os
priiiçipes e senhores piedcisos. Pois onde uni príncipe nao é semidiabo. inas
211 ~ U C I .governar com hi-andura, a coisa 1150pode ser diferente: logo se iilfiltram
no governo os maiores trapaceiros e patiles e assumem os cargos governa-
mentais, para fazercm o que quercin em nome do príncipe. Não têm o que
tciner, pois sabem que o príncipe é generoso c aceita conselho. Quc poderá
fazer o piedoso imperador no meio de tantos trapaceiros e patifes, especkil-
2s mcute contra o arquipatife, o papa CIcniente3', homem cheio de maLíçii.
como o de~nonstrouidamente no impei'acior? Eu, Dr. Lutero, sou mais
instruído iia Escritura e tenho maior experiêiicia na prática diária No entaiito.
temo que, se vivesse entre tantos trapaceiros e ouvissc constaatemente suis
Iíiiyas envenenadas, sem rccrher qualquer outra iilforn~;i$b. taiiihém cii
w scria piedoso demais para eles' e certamente ine enganariaili em alguns
poiitos, como, aliás, já me aconteceu muitas vezes da parte de alguns espíri-
tos c espertalhões.
Por isso ninguém se admire nein se espante quando, em noiiie do
imperador, são decretadas ordens que contrarkam a Deus e ao direito. Ele não
pode impedi-lo. Deves ter a certeza de que tudo isso é maquinação do maior
patife i10 mundo, do papa, que promove essas coisas através de seus gara-
tihõcs tonswados c hipócritas, procuraiido provocar entre nós alemães tini
hanlio de sangue para acabar conosco. Teriho por mim que. sc não o lev;ir ;i
coho piir iiicio deste imperador, dcbandasá para o lado do imperador turco c,
I':,, Sc~ri;il

iio li> 11015 no calcanhar. Aí então aparecerá o dinheiro que viemos dando ao
II:III:I lalr tantos anos para suas indulgências e negócios, a fim de fomar um
l i i i i ( l < ~~ s r a guelra com os turcos.
Isso basta por ora em desculpa do imperador. Agora queremos fazer a
:i~lv<~i-ii.ricia e mostrar as razões por que cada qual deve recuar e abster-se dc 5
i,l)r(lccer ao imperador nestc ponto e de guerrear contra nós. E repito o que
;:i disse acima: não qucro aconselhar nem incitar qualquer pessoa ii guerra.
I)cscjo do fundo do coração que se preserve a paz e que nenhum lado
coiiicce a guerra nem dê motivos para tanto. Pois quero prescrvar minha
coiisciência tranqüila e não desejo ser acusado, nein perante Dcus, nem io
perante os homens, pelo fato de alguém estar guerreando ou se defendendo
:I rncu conseil~oou por minha vonhde, cxceto aqueles quc têm essa ordem
c a autoridade para tanto (Rm 13). Se, porkin, o diabo tomou possc dos
~>;ipistasde tal forma que não querem nem podem prcsetvar a paz nem
siipottá-la, e têm a firme intenção de tàzer guerra ou provocá-la, isso recairá 15
50l1i.e a consciência deles. Tenho que deixá-lo acontecer, visto que minha
ii~sisienciade nada vaíc e niio pode ajudar.
A primeira razão para náo obedeceres ao imperador nesta questáo, indo
p;ir,i a guerra, é a seguinte: no Batismo juraste (tão bem quanto o próprio
iiiipcrador) que nZo irias perseguir nem combatcr o Evangelho. Agora, sabes 20
iiiiiito bem quc no presente caso o imperador está sendo incitado e enganado
l~i'lopapa a guerrcar contra o Evangelho de Cristo, visto que em Augsburgo
sr rcconheceu publicameiite que nossa doutrina é o verdadeiro Evangelho e
:I liscritura. A convocação do imperador ou de teu príncipe responderás:
(':ira imperador, amado príncipe, se cumprisses leu juramento feito no Ba- u
iisiiio, haverias de ser ineu querido senhor c eu te obedeceria na convocação
1I:ir:i a guerra, quando quisesses. Se, porém, não queres cumprir teu voto de
I<;iiisiiioe tua aliança cristã coin Cristo, mas persegui-lo, então te obedcça
i i i i i Inipaceiro em meu lugar. Por tua causa niio blasl~emareicontra Deus,
~~ciscguindo sua palavra e, desse modo, correndo e saltando contigo corajo- 311
s:iiiiciiic para o abismo do inferno.
lista primeira razão encerra cm si muita, outras grandes e hom'veis
i:i/i~cs.Pois quem luta e guerreia contra o Evangelho está lutando também
coi~ii-iDeus, contra Jesus Cristo, contra o Espírito Santo, contra o prccioso
!::iiij:iic: de Cristo, contra seu morrer, conhr a palavra de Deus, contra todos 35
C I S;liiigos de 15, contra todos os sacranlenios, contra toda doutrina dada por
iiiiio r i o Evangelho e confirmada e presewada por meio dele, como, por
i~ui~iiiplo, a respeito da autoridade c da paz e dos estados seculares; em
i<.siiiiio,contra todos os anjos e santos, contra céu e tcrra e todas as criaturas.
I >1115 ' , qiicm luta contra Deus está lutando contra tudo que é de Deus ou cluc 1"

IIii. diz rcspcito. Mas que fim tudo isso ainda levaria, tu haverás de ver. E o
c ~ i i i . il pior, esta luta estaria acontccendo em plena consciêiicia. Pois sc sabe
Advertência aos Estiinadidr~sAli.iii;i<.;
e se confessa que esta doutrina é o Evangelho. Os turcos e tártaros i i i i i
sabem que ela é a palavra de Deus. Por isso nenhum turco pode ser tão i-liiiii
como tu, mas tu hás de ser condenado dez vezes mais do que todos os turcos,
t h o s , gentios c judeus.
7 No entanto, é algo assustador teimos chegado ao ponto de a cristandaclc
necessitar dessa advertência, como se ela própria não soubesse o quanto C
abominável e horrendo lutar conscientemente contra Deus e sua palavra. Isso
é sinal de que entre os cristáos há menos cristãos e turcos muito piores do
que na Turquia ou até no infeino. Os verdadehs cristãos, porém, ainda yuc
111 sejam poucos, o sabem perfeitamente e não necessitam dessa advertência.
Quem necessita dela são os papistas que usam o nome e a aparência de
cristãos com toda a desonra e que, não obstante, são dez vezes piores que os
turcos. A esses é preciso admoestar. Se adiantar alguma coisa, está bem; se
não adiantar nada, nós cslamos desculpados e seu castigo será tanto maior.
15 Pois o turco não é insensato a ponto de lutar e bufar contra seu Maomé ou
seu Alcorão, como fazem estes diabos, os papistas, raivejando e bufando
contra seu próprio Evangelho que reconhecem como correto. Em compara-
ção a eles, os turcos são legítiunos santos, e cles, verdadeiros diabos.
A segunda rzãa Ainda que nossa doutrina não í'osse correta (quando
20 todos sabem que é o contrário), deveria desencorajar-te ao extremo o fato de
assumires, desta forma, todas as abominações cometidas no papado e que
ainda são cometidas, tomando-te partícipe e culpado delas. Essa razão encer-
ra em si inumeráveis abominações e toda sorte de maldade, pecado e dmo.
Em suma, é o abismo do inferno já aqui, com todos os pecados dos quais te
27 tornas partícipe se obedeceres ao imperador no presente caso. No entanto,
enumeremos e tragamos à lembrança algumas mais, para que não caiam no
esquecimento. Pois os papistas gostariam de mascarar-se e esconder essas
abominações debaixo do banco, sem penitência e meihoramenlo, até o teinpo
em que pudessem retomar e reinstituí-Ias.
311 Aqui irás tomar sobre ti em primeiro lugar toda a vida escandalosa que
levaram e airida levam. Pois não pensam em emendar-se, mas querem que
tu derrames teu sangue e arrisques a vida para que sua maldita vida escan-
dalosa seja protegida e fique preservada. E então recairá sobre tua nuca c
consciência todo o meretrício, adultério e impudicícia que foram e sào
3s praticados até hoje nos bispados e fundações. E teu coração terá a honra e ;i
glória de ter lutado pelos maiores e piores fomicadores e patifes que existe111
sobre a terra, a fm de confirmar sua vida de fornicadores e patifes c te toriiar
paiiícipe de tudo isso. Que bela glóiia será e que maravilhoso motivo para
ai-riscares a vida c servires a Deus! Pois não melhoram essa vida e nem s.io
1 ~ i l x ~ x e d i s s visto
o , ser impossível que tantos milhares de pessoas possaiii
vivcr ciii castidade, como cles imaginam.
AlCiii disso, ~ i i i i t l ;tcsi;is
~ qtic Iornai- sobre as tiias costas a casiidatlc ~ > ; ~ ~ i : i l
!';r, Suci:iL
c cardiiialícia, que é uma castidade especial enire a castidade clerical comum,
qiic em italiano se chama "buseron" - "coi~cubiio", ou seja, a castidade
sodomita ou gomorra. Deus teve que cegar e castigar seu inimigo e adversá-
rio, o papa c os cardeais, desta iorma, acima dos demais, para que nâio
1)cnnanecessern dignos de pecar com mulheres dc modo rialural, mas, de s
;icordo com o que merecem, desonrassem seu próprio corpo c suas pessoas.
AI6111 disso, tiveram as mentes tão pervertidas c cndurecidas que não consi-
dei-am isso pecado, mas brincam com essas coisas como se fossc um jogo
<Ic camas, com o ilu;ll pudessem divertir-se seni perigo. A cervejai foi bem
clnhorada, por isso cln cxpele todos os escândalos c vícios pela lennentagán
i. ~iclaespuma (como diz Judas [iio v. 1.11). Vai agora, e arriscri turi vida por
csscs concirbinos iinpciiitcntcs c di'savcrgoiiha<los quc ainda rieiii e Iir-iiicain
<.i)inesses pecados escandalosos.
NZo te eslou coiitando mentiras. Quein ji esteve em Roma sabe iriiiito
Irciii que infelizmente as coisas sho piores do quc dgu6m poderia expressar 1s
c. iiiiiiginar. Quando estava por encerrar o último Concílio Lateraneiise cin
I<i~iii:i. sob o papa Lcão3", dcfinira-sc, cntrc outros artigos, que se deveria
C - I ~ Yque a altiin é iinortal. Daí se depreendc quc para clcs a vida elcrna é
i i i i i ; ~pura zombaiia e esciimio. Coin isso coiifessam que parii eles é crenya
~'iil~liw que no fiitirro nào cxistc vida cicmci c ;tgorit querein ensinar isso 20

:ici:ivi.s <Ic urna hiila. O caso, porém, foi ainda iiiiiis bonito. Na mesma bula
1i:ivi;iiii deteirnuiado que nenhum cardeal dcvcria mniltcr tantos meninos de
I I I ; I / NO. papa Leão, porém, ni:iiido~i retirar a proposta, do coritr~íiotcria
c<rrii<loriiiirido com quc libcrtinisiiio e iinpudicícia o papa e os cardeais
~~r:ilicniii sodornia em Roma. Nâio quero nxzncionar o papa. No cntanto. visto 25
L I I I 11s ~ patifes não querem penitenciar-se, irias. inclusive, condenam o Evm-
!rcllio. hlasfernani contra a palavra de Deus c a desonram c sc mascaram, que
c.liiiic.iii, por sua vez, sua pi-@ria sujeira do modo mais escandaloso. Estc
v i < - i 1 1 C tZo comum ciltrc eles quc recentemente, inclusive, um papa pecou
; I I < . ;i iiioric ncste pecado c vício, c dc fato caiu morto no inesmo instante. 30
!\i c\i:i. ~);il';is.cardeais, papistas, senhores clericais, persegui mais a palavra
,I(. I )c.iis. ~lcfciideiagora vossa doutrina e vossa Igrcja!
Ni.iiliiiiii p;ip;i, r;iideal, bispo, doutor, padre, monge, freira recrimiiia
%-.:..I vi<I:i i~.;c;iii~lnlosa que está tno h vista de todos, antes riem. m:iscaram e
t.111, I I . I I I I ii:~.
c iiistigani reis, príncipi's. t i r i ~ i el gente a del'endererii tais patifes i

c a B I I I < < DI 1 1 0 vi<l:i. tcrra e genle e a preservli-los fielmente, a fim de qiic. csscs

11, 1 1 \ ' I s ~ i i ii I i i > ili. l .;iii;ii, realizou scss6cs ir>tcnncdi<íiiasdc 1512 a 1517 soh os'p;rpas Jiilici
I 1 I i ~ l l l1 . 7 1 0 i l.i.;i<i X (1513-1121). Na oiliiv;~cr\s;i<i dc 19 de iIç,,cirihro <1ç 1517, lini
I, I,,II;~
, J I I U ~ ! . ~ ~ I ,8 8~. 8 , ~ I ~ ~ ~ ~ .Rcg;r~?;oi.~
~ l o / i c i a i ~ ~ ~ ~ ~ r (Ia i ~ ; I~I ~ lI ; Ii, ~C Cl N~I I~C ;I~~ ~l çl o ~ ~ i clc,
~~io:~
;iIi.iiii. .i\,iiiii..i.i..i. ocit ;irisii,iCliciis qiic ; i l i ~ i i t ; i v : 8 i i iCIO" ;L :11r11;1 h i l r i l ; i i l ; ~ <: iii<,il:!i.
Adveiiiiicia aos Estimados Alci~i:ic\
vícios náo sejam penitenciaclos c nem emendados, mas Iòrtalecidos, aprov~i
dos e elogiados. Para isso deves agora arriscar corpo c vida, para que l u t l i ~
isso venha pesar em teus ombros e lua consciência. Gostaria de contar innis
exemplos dessa abominção, mas é vergonhoso demais. Tenio que o solo
5 alemão iria iremer. Se todavia aparecer um asno papista sem-vergonha para
protestar, quc venha e eu lho mostrarei. Se é que argüir e adveni serve para
a penitência, enláo estão suticienteiiiente advertidos. No entanto. isso não dá
em linda. Tudo isso agora se translòrinou ein louvável costume geral, quasc
coriiparrivel a uma grande vinude. quc 1150 tolera penitência, pelo coiiirário,
I o impei-ador e tu devem protegê-los iiisso e providenciar a fim de que esse
exemplo surja e se &istre taiiihéin ein outros países, coiiio liás ás, infelizmeii-
te. j.5 se pode observar etii aburidância.
Depois deves tomar sobre ti toda a avareza, rapinagerri e roubalheira de
todo o papado, as inconliveis soinas de dinheiro que arreciidaram falsa e
1s dolosamente com as indulgências. Acaso não é pura rapinagerii e roubalheira
escandalosa que perpassa toda a cristandade? Acaso o dinheiro incontável de
que se apropriaram por meio de seu purgatório tramado e inventado não C
pura rapinagem c ladroagem escaiidalosa pelo mundo inteiro? Acaso a in-
contive1 soma de dinheiro que coiiscguiram com missas usurárias e missas
21 de s;ici-ifício náo é um escandaloso assalto e roubo pelo inundo todo? O
incoiitivel dinheiro que ganharam coiii bi-eves de manteiga37,pereguiações,
serviço saiito e um seni-número de iiiveiições, acaso nZo C pura rapuiageiii
c roubalheira escandalosa pelo inundo intcuo? De otide « papa, os cardeais,
os bispos conseg~iiramprllicipctdos, reinos e como se roriiarain donos do
2s tiiiiiido inteiro? Náo é, por acaso, pura rapinagem e roubaltieira vergonhoso
ssrn limites? Que mais são eles senio os maiores salteadores e ladrões qiic
o mundo sustenta'?Por enquanto riinguém pensa em penitência ou devoluçâo.
sequer há ein suas veias suficiente saiigiie bom para exercerem um pouco
seu ministério, para ao tnenos poderem possuir esses bens coin uma pequeii:i
30 aparencia de honra. Pelo c«nirári«, coiidenam, blasfemam, perseguem o
nonie, a palavra e a obra de Deus. Pois bem. Deverás derender com tcii
sangue esses salteadores e ladrões. ti30 apenas p u a que possaiii continuiir
impeniteiites; mas ainda sejam lortalccidos a praticarem ludo isso cada vcl
mais. Vê, pois, que eiioiiiic ladrão e patife, salteador e traidor tc torrias c Cs
: quando fortaleces e dcfencles esses salteadores e ladrões coni teu sangue c
tuii vida. Pois tudo recairá sobre ti c scrás cúmplice deles.
Depois deverás assiunir todo o sangue que o papa dei~riiiiou,todos os
Iioinicídios e guerras que procovou, toda a miséria e sofrimerito que caiisoii

7 Ilic.w.,\ <li.rii;irilcig:i sáii r:irl:i\ <liiilieiro e ipie pcniiitkiiii a scii pai-i;rl<ii ciiiii<.i
4
I., i , i, : .
iiiiii\ iios < l i ; i \ ili. ,ii:iilrii.
:iililiiiii<l.!s ;i

i c )7
I';, , Scxial
no inuiido inteiro. Quem será capaz de enumerar todo o sangue, assassinatos
L, miséria que o papa provocou com os seus? Houve quem calculasse que
idcsde que o papado se sobrepôs ao império) foram mortas um milhZo e cem
i i i i l pessoas por causa do papa. Alguns calculam que foram mais'8. Como
quererás levar sobre tuas costas tantos assassinatos e sangue quando um s
iíiiico homicídio já é insuporiivel, e Cristo já condena Ò ódio no coraçáo ao
logo eterno (Mt 5.22)'? Que estarás fazendo se arriscas a vida por causa
dcsses assassinos'? Tomas-te cúmplice de tudo isso e ajudas a fortalecer e
justificar o papa, a fun de que possa continuar nesta prática eternamente e
cin segurança. Pois aí não existe penitência, sim, eles o consideram pura 10
virtude c honra, de sorte que é impossível esperar qualquer melhora, o que,
iiliás, também nao desejam. Tu, porém, deves ajudar a protegê-los para que
eles possam assassinar, derramar sangue e cobrir o mundo de miséria, inces-
santemente e sem qualquer impedimento, como o fizeram até agora e conti-
iiiiam fazcndo. Eis aí os santíssiinos pais, os santos cardeais, bispos, clérigos, 1s
qiic querem ser juízes do Evangelho e instruir e governar o mundo!.
Quero silenciar a respeito dos demais vícios que praticam com veneno,
ii-:ii$ãoe tudo que contribuiu para o ódio e a inveja. Quem seria capaz de
ilcscrever toda a vida escandalosa no papado? Dos pontos supracitados e dos
<,xcinplosdiáxios pode-se fazer uma idéia. Pois ele é o anticristo e por isso 20

Icni quc lutar contra Cristo com todas as forças. Daí segue-se que assim
1.111110 foi bela, maravilhosa, casta, disciplinada, santa, celestial e divina a
vida que Cristo viveu e ensinou, assim há de ser escandalosa, blasfema,
iii~lccente,maldita, infernal diabólica a que seu anticristo leva e ensina. Do
contrário, como poderia ser o adversário de Cristo ou o anticristo? Isso tudo
;iiiiilii seria tolerável se não o defendessem e não quisessem ter razão a todo
ciisio. Tudo isso, porém, é, por assim dizer, apenas brincadeira; passaremos
:igoi-a a denunciar a verdadeira borra e principais aboininações que deverá
:issiiinir quem protege o papa ou ajuda a preservar e fortalecê-lo em seu
i.sf;ido ou mentalidade impenitente, endurecido e destruidor da cristandade. 30

A vida devassa ainda se poderia admitir. No entanto, condenar a doutrina


C . :i lxilavra de Deus e elevar-se acuna de Deus, isso ninguém pode nem deve

iolcr;ir, muito menos ajudar a derender. No entanto, introduziram tantas


iloiiti-irias abomináveis na cristandade, que é impossível enumerá-las todas.
N:io sc pcnitenciam de nenhuma delas, nem querem mudá-las, mas defen- 35

i1i.111 ;i todas e querem à força que sejam aceitas e consideradas corretas. Tudo

i><<> 1)csaria sobre ti e tua consciência e serias cúmplice e réu de todas essas
:iIx~iiiiria~ões, se entrasses na luta em sua defesa. Para dar alguns exemplos:

~ S;uiiíssiino Senhor Padrz, o Papa, com Jcsus", Ifeirriquc Kcttciih:ich


i S liiii " ( ' o i i i l ~ ; i i ; i ~ ; i ~d<i
i.s<ii.vi.. ri,, ;lia, <lc 1521: "<:alculou-se quc por cciiiii da aniigâliçi:i c iliis c;ilii-iclios do pa11:i
l111:1111 111<1110s~lli!is LIIIC 11111 11li111Zu C LIUXCII~<>S~ n icl.islX<,s
l c111 < I ~ I ~ > c c I I I ~iiia,\".
,\
Advertência aos Estimados Alciii;ii.,.
Como queres suportar cm tua consciência o escandaloso e mentiroso emhiis
te da indulgência, com a qual seduziram tão vergonhosamente tantos mil li:^
res de almas, sim, toda a cristandade e o mundo inteiro, enganado-os c
roubando-lhes dinheiro e bens. Não obstante, não se penitenciam de nada,
s nem sequer cogitam de abandonar essas práticas, embora saibam que enomic
patifaria praticaram. Ensinaram as pessoas a porem sua confiança na indul-
gência e a morrerem nessa confiança. Somente isso já é tão horrendo c
abominável que, mesmo que no mais fossem santos e puros como S. JoXo
Batista, deveriam, com justiça, ser condenados ao mais profundo abismo do
10 inferno por causa desse fato, não sendo dignos de que a tcrra os suporte c
que o sol os ilumine, muito menos que ainda se devesse lutar por eles c
defendê-los.
Calcula tu mesmo que grande ladroeira é o caso das indulgências. Quem
confiou nas indulgências e morreu, ou morreu confiado nelas, teve que
15 renunciar a Jesus Cristo, negar e esquecê-lo, e não pode ter nele nenhum
consolo. Pois quem põe sua confiança em outra coisa que não seja Jesus
Cristo, este não pode ter a Cristo por consolo. Ora, todos nós sabemos, c
seus livros o demonstram incisivamente que nos ensinaram a confiar em
indulgências. Do contrário, quem teria dado atenção a elas ou as teria
211 comprado? Simultaneamente csses mensageiros do diabo e patifes silencia-
ram escandalosamente a respeito da fé em Cristo, sim, inclusive a reprimiram
e eliminaram. Pois quem sabe que seu consolo e confiança estão em Cristo,
essc mio pode tolerar a indulgência nem qualquer outro consolo. Quando,
porém, quererão penitenciar-se desse enorme dauo e pagar por ele? Sim,
u penitenciar-se. Empedemidos nessa maldade, ainda querem coagir-te a dc-
fendê-los com corpo e sangue e que assumas toda essa carga. Se não fossem
possessos e loucos, pelo menos teriam um pouquinho de vergonha de solici-
tar essa defesa nessa maldade impcnitente, desavergonhada e blasfema. E
não venham dizer: Clérigos não preslarn.
3" Como irás suportar ainda em tua consciência o blasfemo embuste do
purgatório", com o qual enganaram e intimidaram todo o mundo traiçoeir:)
e falsamente, roubando-lhe assim quase todos os seus bens e riquezas? Pois
com isso eliminaram totalmente o único consolo e a esperança em Cristo c
ensinaram os cristãos a confiarem e se basearcm no mérito conquistado por
suas doações. Pois quem confia nas doações e obras que lhe hão de segliii-
na morteM,tem que colocar a Cristo de lado e entrementes esquecê-lo. Pois

7<) l'iiigatório ciri um conccito muito comnte para Lutcro. Ele foi criticado por que ii C'otil'is
s%i de Aiig.shi~irgodcinarzi de assuniir um posicionamcnto claro a respciio. M i111 ~iic;iili>r
ili: 1510, elc pr<ipri<iprccnrhcii ;t I;içuiia crini seu WRicmir vom Fegcfcirn-" (Rcliitscào <I<>
I'~ir~::iiOi.io) WA ~ I l l l l l%O7
~ , .3cJ0.
,111 (' I .. AI, Vl.13.
oiidc Dcus iião tivesse protegido os seus de modo especial, deveriam ter
c;iído disetwiiente no abismo do inferno lia liora da morte, a exemplo dos
j~idcus c gentios. Seria como se alguém caísse de uma alta inonianha:
pcrisando que o caminho é seguro. pisa do lado, no ar e cairia no vale ou no
iii;ir. Que grandes assassinos de riliiias estcs! Até o juízo dcrradciro, neiihuin s
corrição humano jamais compreeiiderá a extensão do assassinato de almas
que cometeram com o purgatório. Muito menos ainda se poderá corripreen-
(lci-o Vmanho do dano e horrenda bkisfêmia que causarani com isso ~ i i fé i e
ria confiança em Cristo. Não obstante, nada de penithcia, nem a ititenção de
;icebar coin isso, mas exigem que tu os protejas nisso e ajudes a defendê-los. 111
Tunbém tens que tomar sobre ti todas as abominações e blasl'êtnias que
coineiemm e cometem diariamente no papado com a cara nussa, com coi~i-
pia c vciida, com iriúmcras práticas dcsonrosas do santo Sacratneiiio: saci-i-
1ic:iiii a Deus seu próprio Filho, como se eles fossem melhores e mais santos
i111 que o Fillio tle Deus; não uceiiam o Snci.;iiiierito como dádiva tle Deus 15

qiic se deve receber com n fé. mas tr;cnsformam-rio crn sacrifício e obra, coin
( i qual Iãzem expiação por si pr<ípi'iose por outros e adquire111 tuda sorte dc

,:i:iy;is c ajuda; fizeram urna iiiissa própria para cada um dos santos. sim,
iiii-lusive para cada caso e necessid;ide. Em todos os seus livros e doutrinas
i i ; i i ~ciiconiras uma letra a respcito da [é. Todos eles a f i a m e canlaiii que 20
:i iiiissa é um sacrifício e uma obra, cluando em nenhum artigo a fé deveria
sci iratada e exercitada coin tanto afinco como iia missa ou no Sacramento.
I'ois o próprio Cristo o instituiu para sua meinóiia, a fim de que aí se
;iiiiiiici;isse a ele, que ele fosse lembrado e se cresse nele. Ao iiivés disso
:iiiiiiici;uii seus sacrifícios e obras e, aléiii disso, os vendem do modo mais zi
i~.;c:iiirl;ilos».Apesar disso, não existe aí penitência, mas apenas maldade
~.ii~liiii.cida e desesperada para se defeiidei-eiii e protegerem por meio de teu
i.1~1)"i. Iii;i vida.
.I:[ scria abominação suficiente o grosseiia uso exterior quando os cléri-
ti;it;ivain o Sacramento coiii taiit:~leviandade nas missas pela? aliiias ou 30
ii:i\ Ic\i:is de inauguração de igrejas ou de patronos como se fosse um
~.,q~<'i:i<.iilo de ilusionismo. A c o n i m por causa de comilanças, bebedeisas e
~ l i i i l i ~ . i i ~lcpois
~~. se embebedavam, vomitavam, jogavam e brigavam - um
.iI,ii..ci ~~sc.;iii~l:iloso conhecido em todos os povoados. Não obstante, não se
~ ~ ~ ~ ~ i i i ~ ~ iiicm i ~ ~ i se
; i iemendam,
i i nem é reconhecido como pecado entre os 35
iiiI;iiiii.~~ ;isiios papísticos. No entanto, esse nada é em comparação ao belo
. i I , i i . . ~ , (1,. t ~ ~ i i . i ipwvertido
i e mudado o Sricramento e terem transformado o
:;.I, i.i~~i~.iiiii coiiium da fé em obra e sacrifício de determinadas pessoas,
t ~ > i i i t )1"" . ~.ui:iiiplo,dos clérigos. Isso é tão assustador que nem gosto de
l ~ i i ~ l ~ i ; i i>s ~~~:iis;iiiicntos poderiam me matar. A essa abominação acresce 4 0
t l l ~ ~~\ioiiil~.i;iiii
l c silciiciaram as pal;ivr;is do S;icrninenio e da fc ii ponto dc
< < { ~ I I I O 1;i i l i . . ~ . ) i:o tci- sol)rri~lo~iiii:i Ictr;i hcqucr, iicnhum ponto cri1 to<l«o
Adverlfncia aos Esiirnadoc Alcitl.ti-\
papado, ein todas as niissas e livros. Esse vício excede a todas as palavriis C.
pensaiiieiitos, iiinguéin pode argüir e recriiiiiiiar isso suficientemericc i . i i i
eternidade. Qualqucr outro vício tem seu demônio ou uma legião de dcini,
iiios que o cultuam; no entanto. crcio que a missa sacrifiçal seja a obi.;i
5 coiiiurn de todos os diabos, na qultl conjugam todas as miios, todo o coiisc~
Uio, pensamentos, maldade e toda a patifaria; for:un elcs que institiiíratn em1
aboiuinação e a prcservarain. Isso se deduz do fato de os diabretes de todii
o niuiido, em todos os caiitos. terem, como almas i'alccidas, pedido a iniss;~.
Jamais uma alrna pcditi ou perguntou por Cristo, todas pedem ;i riussa. Isso
tambt'm é um forte siiial de que ein neiihuriiii piute os diabos estão tão vivo\
como em suas niissas, escravizando do modo mais escandaloso coni tod;i
sorte de unpudicícia, ganâiicia, blasfii~uue lodos os vícios. E isso scr;i,
evidentciiiente, motivo da inaior e derr;~dciraira de Deus sobrc a terra antcs
do juizo linal. Pois 1120pode haver maior inotivo de irri. Aí tens a verdadeira
15 viiíiidc do yapado, pelo que deves gueri-ear e dcrr;unar teu salgue em favoi-
dos blasfemos endurecidos, asslissinos das almas e patifcs.
Aqui alguCm poderia objetar qiic estou envolvido deinais coin paiilès c
que nada mais sei fazer do quç rcilliar contra patifes. A isso rcspoiido em
priiiieuu lugar que essa recriminação ainda riio é nada em relação ? iiidirivcl
i
211 rnal<ladc. Acaso isso é ralhar quando chamo o diabo de assassino, patife,
traidor, blasfemo, menliroso? Para ele isso é como uma brisa. Pois que siio
os asnos papistas senão puros dcmônios em pessoa, que não conhecem
penitência, mas têm os corações etidiirccidos e que rimda defendem essa
blasfEtnia pública consciciitemenle e pedem proteçiio para ela do imperiidor
25 e dc ti'? Ora, podes raihar e dcilominur iiin burro papístico como quiseres oii
puderrs; isso para ele C gr;isii:u- ile garis». Ele é tão supeiior que csti miiiiii.
muito, rniiito ncirria de teu raihar. Chnina-o de papista, então acertaste c
disseste 117aisdo q ~ i eo 111undoé capaz de coiiiprccnder. Não há uisulto pivi.
O resto é como atacar uiii urso corn uina palJiit ou como se golpeasses uiiis
1 rocha com uma pena.
Respondo, em segundo lugar. qiie os cardeais Campégio e Sal~biirgo'~~
me advertiram e mandaram proceder dessa forma pelo fato de um deles tci
dito que preferiria dcixar-se dilacerar do quc peniiitir que se modificasse i ~ i i
eliiiiiiiasse a missa. E o ouh-o diz: Cléiigos não prcsram, e não se deve tciii:ii-
$5 rei'oiniá-10s. Esses dois contan entre os priilcipais, e como falum e ci-Cciii
tamhém fala e crê o papa juntamcnte coni todos os papistas. Visto que clcs
próprios dizem que sáo inlãmcs patifes e qiic querem coiitinuar seiido p;iii-
ks, ~ ~ r r k r i n ddeixar-se
o dilacerar do que desisiir das blasfêmias conh.;i l)~,iis,
cu Ilics riiria injustiça perante Deus e o inundo se os chamasse por < i i i i i i ~
iioinc que náo fossc sei1 prúprio, que eles mesmos escolheram. Se os cha-
iiiiisse de digníssimos, sluitos pais em Cristo, ninguém os reçonheceiia e trio
siihcriam de quem estou faiaido. Pois não conhecem esses nomes, miis são
c permanecem patiles e blasfenios endurecidos. Por isso meu xingat iião 6
xiiigar, mas é como chamar iiina hetrrraha de belerraba, uma maçã de nia~â. 5
iiina pera de pcra.
Depois, como queres suponar as abomináveis idolatrias'! Visto que não
sc satisf~eramern lio~iraros santos e louvar a Deus neles, mas transforma-
itirn-nos cm deuses, colocmm a nobre criatura, a mãe Maia' ein lugar de
Cristo e fizeram de Cristo um juiz e o pintaram para as miserjveis consciên- 10
cias como um tirano. de modo que toda a confiança foi tirada de Cristo e
transferida para Maia. Depois cada qual se desviou de Cristo e se voltou
1 x 1seu~ santo. Alguém pode negar isso? Acaso não é verdade'? Não o vimos
c cxpenmentamos tantas vezes, infelizmenle? Não estão aí especialmente os
livros dos miseráveis pés-descalços c dos monges predicante~~~, cheios des- 1s
s;is coisas como marialia. stellaria, rosaria, coronarid3 ou então simplesmenle
~1i:tholariae satanaria? Apesar disso, não há sinal de penitência ou de rrielho-
ia. mas querem impor sua \,«titade e defender tudo obstinadamentc, exigirido
I I siicrifício de corpo e vida para sua proteção.
Quero chamar a ateiic;âo para um delaíhe acontecido na Asseiribleia 20
Nacional de Augshurgo, prua que se possa ver a preciosa razão que eles têiii
Il:irii cssa santa idolatria. Quando a coriiissáo estava tratando do artigo da
iiivocayio dos saitos, o Dr. Eck citou a frase de Gil 38.16, onde Jacó diz a
i-cspcito de Efrauii c Mmassés: "Quc esles meninos seja111 rlianiados pelo
iiicu nome"4. Depois de muitas explicações do mestre Filipe, João Brenz" 2s
disse mais ou meiios o seguinte: Na Escritura não se encontra nada a respeito
1I:i iiivocação dos santos. Enião interveio o Dr. Cócleo6 a fim de contribuir
11;ii<i a solução, conio homem muito respeitado, e disse que no Antigo
'li~sl;itiicntonão se invocavam os santos porque naqueles lempos os santos
;iiiicl:i não cstavam no céu, rnas se encontravam na ante-sala do inferno. 30

Ncstc inomento meu clemente senhor, duque João Fredrico, duque da Saxô-
iii;i, cic., apertou o laço nos dois e disse ao Dr. Eck: "Aí tendes, Dr. Eck, a
ii.sl~i~sr;i à frase que citastes do Antigo Testamento". Vê como esião seguros

.I ' 1 )s iiionges irmciscanos e doininic;inos.


1 i li>iiii;is dc dcvoção a Maria: .srcll;lri~z.Mxia como cstrela: r m a . r<isdrio dedicado n
M;iri;i: curun;úiã, dcvoçjo a coro:i de Mxin ou a Maria como rainha.
i 1 lii ~ll!'(hitl,,rnoinrii ineuni suprr puems istos, no urigin,il.
.I' , .Iri:io niiix (147Y~155?)foi um dos teiilngos luteranos rrpresenlaiiles eni Augsburgo.
Mcrlrc I'ilip C McI.uiclitlioii.
Ilv .I<~;ir, < iklco (1470 1552) foi um dos ci>mutoresda Retula$iÍo da <:oiitiss3o iii~ii:mciiic çoni
I k h (viclc 11. 21) r F;il>cr (viclc n. 24). um acre crítico dc Lutcro, cu,os csciiii,~pol?iiiici>s
c i i i i i i i i i l o ci>iili-iliiiii:uii l>am ~ t " ~ ~ l i c i < i n :il
ililer[iicl;iç;ío c:iliilic;i <I;, Ki:li,iiii;i.
Adverteiici.~aos Estimados Alciii;ii,\
de sua causa. como a f m maravilhosamente um coni « outro, os fabulosos
autores das Contra&~Ões2~. Um diz: No Antigo Testameiito iião houve invo-
cação dos santos. O outro afirma que sim, e aduz citac;ões do Antigo
Testamento, como sc não soubéssemos que Deus fez todos os grandes mila-
r grcs acontecidos no Antigo Testamento por amor de Abraão. Isaquc e Jacó,
como ele próprio o confessa com freqüência, sendo que por amor de nenhum
santo do Novo Testamento fez a metade. siiii, a décima parte. São como os
tolos. Ducm o que lhes vem 3 boca. Não obst'mte, aí têm eles razão e
fundaliieiito dos artigos da fé e dc nada se peiiitenciam; pelo contrário, o
I defeiideni e condenam e matam as pessoas por causa dele. Em favor disso
deves ir para a guerra e lutar, etc.
E para também irazer um exemplo neste longo sermão, quero contar
entre milhares este que se encontra num livro de devoçzo a Maria, instruindo
como se deve honrar a virgem Maria com sacrifícios. Era uma vez um
15 salteador oii assaltante de ma que em toda sua vida jamais fizera algo de
bom. Certa vez, porém, entrou casualmente na igreja por ocasião da festa de
Nossa Sentiora de C a n d e l á ~ i ae~observou
~ como as pessoas ofereciam pe-
quenas moedas e velas sobre o altar. Então também ele trouxe sua oferta.
Depois disso foi preso e enforcado. Os diabos, então, queriam levar sua alma
20 para o inferno. No entanto, um anjo bom interveio e disse: Seus diabos, por
que estais levarido estc homem, visto que não tendes esse d~reito?Eles
responderam: Ele coiiieteu muitos males c jamais Sez o berii. Então cornpa-
recermi Juntos perante o tribunal de Deus. Os diabos acusaram o bandido,
dizeiido quc jamais fizera o bem. O anjo. poréiii, mostrou a mocdinha com
2s a inarca da cruz e tambCm a vela que haviam sido oferecidos sobre o altar.
O juiz eiit5o proferiu a sentença: Que o bandido se. defenda contra os diabos.
E o ai,;» lhe aconselhou que tomasse a moedinhn lia mão esquerda 31 guisa
de escudo, e a vela na mão direita, a guisa de espada ou lança. E assim
lutasse contra os diabos, dando golpes em forma dc cruz. Isso ele fez c
30 expulsou os diabos. Neste momento a ahn? retomou ao corpo, e ele foi tirado
da forca e passou a viver honestamente. E isso aí.
Quem diria, se não fosse verdade? Os monges e clérigos bolraram tantos
livros com fjhulas mentirosas deste tipo, que inundaram com eles toda a
cristandade corrio um dilúvio. Apesar disso, nenhum papa. bispo ou doutoi-
ir deu atenção a isso ou disso tomou conhecimento. Agora. porém, quando sc

47 .lo:h, F a k r (vidc ti. 14) havii iornpiladu para u imperador conuadiçòr.~rios escnios dc
I.iiiclr>: Anlilogiu~irn,hoc c.?r conuadictionrinl A% Liitlicri I>nbyIonica,rx eiusdern ;~p»l;if:ic
I i l ~ ~~ cr Dr ~ J Ifiihri . cxccrpti,..
JS A I'.rl;i I: cclc1irad;i clii 2 dc kvcrcin>çrii çoineiiiuinyio i nl>rrseniaçi!i> dc Jçsiis ni>íciiipli>
i. iI:i In~r~lir;i(;i<> iki Virgciii M;ici;i. A Ics1.i ela ocasiai>p;ro conipr:i r ci>nr;igr;i@k>iIc vrl:is
I,;,,;, ,,s,, , I , l , ~ , , , l ~0 L,,,,,. ~'(~;,,,,IrIiíri;,''.
I).,; , I ,,<,,,,r
I:, Social
~wcgique Cristo é nosso Salvador, reagem corno loucos e insensatos. Quan-
ilo. porém, se pregava que uma vela ou utiia moedinha oferecida a Nossa
Scriliora pode salvar um patife e assassino impenitente sem Cristo, sem fé, e
;iI'ugeiitar todos os diabos, e quando se blasfeniava conira os sofrimentos de
('risto e os suprimia, aí, sim, todos os sermõcs eram bons e preciosos. Aí 5
iiio havia hereges. Mas está tudo explicado: clérigos jamais prestaram.
Como poderá tua consciência suportar o grande suplício, martírio e
violência que infligiram a todo mundo com sua confissão apavorante, com a
qiiril levaram tantas almas ao desespero e roubarani das pobres consciências
iodo o coiisolo cristão e iho negaram. Pois ocultaram e silenciaram de modo l i 1
i50 traidor r inriiicioso o poder da absolviç5o e a fé. e insistiram somente no
iiisuportável sacrifício e empreendimento impossível de eiiumerar os pecados
I, de arrepeiider-se. E a esse arrependimento e enuiiieraçZo, como nossa obra
~pr~ípria, pronietertiiii graça e bem-aventurança, reiiirteiido-nos de Cristo a
ii<is mesmos. Em resumo: tudo que erisiriam e fazem tem por objetivo 1s
ilcsvinr-nos de Cristo para sua e nossa obra. E por menor que seja a palavra
<.i11 siia doutrina e por insignificante que seja a obra, ela nega e blasfema a
i 'iisio e desonra a fé nele, e exige dos pobrcs coraqões coisas impossíveis,
Icvmido-os ao desespero. Pois era isso que cal>iaSazer ao verdadeiro anticiis-
IO: cluc, fazendo honra a seu nome, ensinasse e vivesse bastante em oposição 211

; i ('risto e se elevasse a si mesmo acima de Deus c sua palavra. Isso o vemos


ciiiiipi-ido no papado de modo mais concreto do que se pudesse compreender.
Niio obstante, ainda não se penitenciaram de tudo isso, defendem esse tipo
~ l cconfissZo ainda hoje e ainda querem que ajudes a lutar por esse marlírio,
solriiiieiito, desepero e todas as torturas dessa co~ifissiio,e que assumas toda a
i.~s:iiniséiin da alma.
Ainda teris que tomar sobre tuas cosias a enfndoiilia miséria e o maldito
;il)iisod;i cxcoiiiuiili2o e do poder das chaves. Só esse abuso já mereceria que
ilcixasse o papndo ir à ruína, que dirá lutar por ele, para confirmar e
liiii:ilccC-10. Como bufou e esbravejou o papa por causa disso contra o m
iiii~~~~i;i~lor. rcis e o mundo inteiro, sirii. contra o próprio Deus e sua santa
~~:il:iviii. 'ludo que o diabo lhe punha iio coraqão tinha quc ser certo e bom.
<.III:IIII:I giicrni e derramamento dc sangue provocou no mundo inteiro por
C i i i i ~ i i<lix\ii. E quem seria capar de enumerar todas as abominações? O que

(.I(.11ii1.1 iii ( I U C fosse considerado pecado, isso Iiavcria de ser pecado. O que 3
,.I<.< l i i ~ . i i ; iqiic fosse considerado bem-aventurado, isso haveria de ser bem-
;ivi~iiiiiiii~lo. L>cssa Soma, tornou-se um senhor tem'vel sobre o iriundo intei-
! $ i . soliii. corpo, alma, bens, terras e gente, sobre o purgatGrio, S e m o ,
,li;il~~)s. i.i:ii, ;iijos, Deus e sobre tudo. Abria e fechava o céu e o inferno a
~ I I ~ I qi~i\cssc.
I I Tirava ou deixwa corpo, bens, hoiira, terras, reino, mulher, lii
Iilliirs. L.:I\;I,~pi-opi-icdadc,dinheiro e iudo a queiii i~iiiscssc.E que seria o
I I ii:io c~xislissco nhuso do poder d;is cli;ivrs?
~ ' . I ~ I ; I I ~si.
Adverrêncid aos Estimados Ali.iti.ii.,.
Fizeram tudo isso por pura prcpotência, sem terem o direito para taiifo.
por amor a seu ventre e domínio. E o que é pior, ainda abusaram do noiiic
de Deus da forma mais vergonhosa. Pois maquinaram todas essas abomiii:~
ções inauditas, seu bufar e raivejar sob o nome de Deus. E jamais cogitaraiii
5 de melhorar, mas, como duras bigornas, deixam que se os marreteie c
continuam firmes nesse propósito e ainda querem ver tudo defendido c
fortalecido por teu sangue. Nào admuana se céu ,e terra se fendessem c
ruíssem à vista de tal maldade S a n e e pettinaz. E um milagre que Deus
tolera por tanto tempo ess;i iiialdade incessante, essa pertinácia e desmmdos.
10 Creio até que, se o turco soubesse que está tão errado como os papistas
sabem que sao tio infames patifes, ele nào seria tão obstinado e não des:i-
fiana a seu deus tão atrevidiuncntc com sua maldadc. Pois creio que o turco
não diria: Nós turcos jamais pres1:uiios. como dizem nossos papistas: N6s
clérigos jamais prestamos. Isso só o diabo faz. Ele também sabe que é mau
5 c ainda quer deletider sua maldade. O papado làz a iiiesiiia coisa. Elc
reconhece essa sua aborniriável maldade e não quer que ela seja emendada.
mas confirmada e, além disso, defendida por teu corpo e sangue. Tens
vontade de lutar? Pois cá tens um motivo honesto [para lutar] pelas pessoas
mais santas e espirituais. No cntanto, lembra-te apenas da milésuna parte da
20 maldade da qual te tornarias cúmplice, e perderás a vontade de lutru e dirás:
Prefiro mandar esscs arquipatifes impenitentes para o fogo infernal no abis-
mo do inferno a mover uma palha por causa deles, que dirá arriscar corpo c
vida por cles.
Também terás que tomar sobre teus ombros e fortalecer a tem'veel mcii-.
= tuosa e escandalosa prestidigitaçáo do diabo que promoveram com as relí-
quias e peregrinações e B qiinl, de forma alguma, estão dispostos a pôr uiii
termo. Meu Deus, quanta nevc c chuva, sim, verdadeiros aguaceiros dc
mentiras e falácias caíram aqui! Qiiaiitns ossadas, roupas e utensílios o di;ihi>
apresentou como ossadas e utensílios de santos, com que seguranqa sc
acreditou erii todos os mentirosos! Que c o k a para as pere,@ações. E ;i
tudo isso o papa. os bispos, padres, monges codmai.aiii ou, ern todos os
casos, silenciaram a respeito, deixando as pessoas no engario e pemiiindo
que se Ihes arrancasse o dinliciro. Que tumulto causa sonirnte o novo
embuste em Tréveris coni o manto de Cri~to?~"ue feira proiiiovcu aí o
diabo no mundo inteiro e quao inumeráveis milagres falsos conseguiu vcii.
dcr! Que é tudo que se pode dizer a respeito? Se todas as fokas c o capiiii
Sosscm línguas, nem cntão seriam capazes de enumerar somente esta urri;i
p;itilaria. No entanto, temos que constatar que não o confessam nein dcsis..
I'.,, S,,c,:,l

I<.III. iii;i\ querem preservar. proinover e inelhorá-10, e isso aiiida às custas de


I<.II <-<rilio c sangue.
( > pior cle tudo, portrn, é que seduziram as pessoas coiii essas coisas e
.i, :~i;~,~i;~r;tiii de Cristo, ensinando-as a coiifiar eni tais mentiras. Pois todos
<11i<. correram aims das relíquias ou das peregririrtq6es e colocaram nela 5

~ i : c.iiriliança
i e esperança, deixaram seu Cristo, o Ev;uigelho e a fé em casa,
<..~ i o ioutro lado, desprezam sua condic;ão [de crislâos] e consideram tudo
<.1,iiiosendo nada. Os papistas, porém, não apenas náo se opuseram a essa
s<~lti~,'io das almas, a essa negação e desprezo de Cristo e da fé nele, mas se
;ili.l:r;ir;irn com isso e o recompensaram e fortaleceran com indulgências e 10

l~i.itl;ii). deleitaram-se coiil esfolar e prejudicar o mundo uiteiio. Por enquan-


i,,. ii;i<I:i dc mudartç;~o11 desistência. O quc se vê uiiic;uiieiite é o propósito
i~i~oli~r;~iitc de multiplica- e c o n f i a r todas essas coisas e de forma iilguriilt
~ i i l r i ; i rrlu:ilquer renovnçio. Aqui deve ser mencionado o alio de jiihileusu que.
ir; ;iii~iiiiiicntirosos,os papas, inventaram, ordenando inclusive nos anjos 15

c ~ ~ i i i l i i / i i c ~ ias
i i alrnas dos peregrinos ao céu". Mas as coisas são tantas e
I : I I I I ; I ~ . i~iic6 iiiipossível falar e lembrar-se de todas elas. A isso se chama
.ii~~~~iiiri;irii~ in loco santo - aboininação no Iiigar santo. Foi assiiii que Cristo
~l~.iiirvcii (I papado com palavras simples, no entaiiiio. iricompreen~íveis'~.
( ' i ~ , i ique
~ o papado é uma ahoniiiiação não apenas por causa desses 20

I : i i i r > ~~crvcrsos, m;ts também por causa da impenitência, não qucrcndo cmen-
cI:ii r5s:is coisas, mas que sejam defendidas. Portanto, r i o peca somenle de
I ; i l i i coiiira si mesmo, iiias confirma esse pecado com imprnilência, isso é,
~ . I I I~I~I r c a d contra os o Espírito Santo, como não pode ser pior. Pois o próprio
i l i : i l > i ~riao pode pecar de forma pior. Eis aí os comparsas qtie querem julgar ii

:I 11;il;ivrade Deus e que exigem dc nós que revoguriiios nossa douhina e


~li.\isi;iiiiosdela. Aléni disso. querem que adoremos a todns cssas abomina-
q1a.s coitiii palavra e obra de Deus. Querem continuar irref»rinados e, em
siiiii:~,ii;io icilerar renovação alguma. Se isso não é provocar iumulto, que
<.ii~:ii) ~>odcr-i:i ser consitlerado provocaçã» de tutniilto? Se isso n2o é prcivocar 30
~~,\iili:iiri;i, c;ucstin, turcos, guerra, assassuiato e toda a ira e casiigo dc Deus,

coiiio
' , l i hl.it.. i<~iilicciili> ";mo santo" em que, por um decrçto especifico do papa, se podc
. i i l i l t t t ~ ~iiiiliil~Cciciu
t plcna pcla perçgrinação a Roma ou outros sannianos e pelo cumpri-
i t ~ci.cii,\ cxcrrícios religiosos, especilicados no decreto. O ano santo foi promulgado
i i ~ ~ i i <li.
1.1.1 1~1iiiii.ii;i vi.,, ciii 1300 pclo papa Bonifácio VIiI (12941303). Originalmente se havia
I W L ,..I" (11)t iiiicrhiicii, dc 1IW) mos. Mais tarde o inteivalii foi grailuiivamo~te reduzido parli
',li . J I ~ ~ I ,I. I iVl). 13 ( I 391)) c 25 (1470). A prática vigora ;i16 h q r .
8 1 I'iii iii .i..i.iii ( l i , ;inii dc juhilril dc 1500 niorreu uni grtmde nutiicru <li: pregiinos durante ;i

I " . O ~ I . A:i I I<i>iiiu. I ~ . I ~Por


.IO
rqrc cnsqjo foi piiblicadii um;) hiila airil>tií<l;i;ai, papa Clemciiic
VI. ( , I I . ~i~i~i~.t>iiciil;~ilc. ~ii>r<iii.
C i.ii~itruverii<l;i.orilen;indo :$os ;inio\ qiir çarrcgassiin p;u;~
L 8 L $.I, ;r, ;,i,,,;,\ ,I,>s pcrcgr,,,,>s I ' ~ , I c ~ ~ , I , ~ s .
' I h11 .'.I.Ií.
Advrngncia aos Estiniadoi AI~.iii:ii.>
qiie é pior do que isso para o provocar? Trilho que parar por aí de toc;ir ii;is
aboniinações, pois aiiida restam muitas, conio. por exemplo, as fraiernidadcs,
os votos a saiitos e a grande feira anual na qual os clérigos e monges de todo
o mundo venderii suas boas obras e seus capuzes. vestindo com elas os
5 moribundos e levando-os ao céu5'. Tudo isso poderia levar-nos à loucura. Há
assunto demais na metade de um só ponto.
Agora, porém, graças a Deus, chegamos ao ponto que homem e muiíier,
joveiis e velhos conhecem o Catecismo, sabem coiiio se deve crer, viver,
orar, sofwr e morrer. Há urna boa instnição das consciências, de como scr
1" crist5o e reconhecer a Cristo. Pois agora se prega corretamelite sobre a fé e
boas obras. Em resuino, os fatos mencionados foram novaniente h-aridos à
luz, púlpito, allar e pia batisiiial retomaram a sei1 devido lugai. Graça? a Deus.

15 '4 lerceir;~rzZo para iião obedeceres ao imperador nessa convocação é


que não apenlis ter5s que assumir lodas essas aboriiinações e ajudar a coii-
fumá-las, ma? tarrihéni teris que ajudar a derrubai- e exterminar todas as
coisas boas que o c ; ~ oEvangelho recuperou e restdxleceu. Pois os patifes
nào se satisfarem erii preservar essas diabruras e aboiniiiaqóes, iião tolerm-
do, além disso, qualqucr renovaçáo (como ordenam no Editos4), mas querem
extirpar e exterminar tudo que ensinamos, vivemos e fizemos até agora e
ainda fazemos e vivemos. Também essa razáo encerra muitas coisas, pois
nosso Evangelho conseguiu muitas grandes coisas boas, graças a Deus.
Antes, ninguém sabia o que é o Evangelho, Cristo, Batismo, Confissão,
Sacr:miento, fé, Espírito, carne, boas obras, os Dez Mandamentos, Pai-
Nosso. orar, sofrer. consolo, autoridade secular, inatrimonio, pais, ffios,
senhores, empregados. esposa. eiiipregada, diabo, anjos, mundo, vida. morte,
pecado, direito, perdào dos pecados, Deus, bispo, pastor, Igreja. uiii cristão,
cmz. Em resuino: não sabíamos absolutamente nada do que um ciisLão devc
,,, saber. Tudo foi ohsçurecido e reprimido pelos asnos papistas, pois são asnos,
grandes, grosseiros e incultos asnos em questões cristBs. Pois também eu fui
um deles e sei quc estou dizendo a verdade. Isso me confumarão todos os
cora~6esprobos que foram escravos do papado como eu e desejaram coniic-
cer ao riienos um desses 'migos. mas não o puderam. Nâo sabíamos ouira
, coisa c peiisávamos que os padres e monges e somente eles eram tudo. E
conliávamos em suas obras, não em Cristo.
Agora, porém, grays a Deus, chegamos a um ponto eni que homem c
miilher, jovens e velhos sabem o Catecismo e como se deve crer, vivei-, orar,

5 N.i I,l;i<lcMÇili:i sc c~i;ilwlvcri;i;I pi-:iric~de vestir os cndiveres iIc prssr>;is Ivipir t'<>iti
l b ; d ~ ~ ~ .(Ic
tk monges l'rcir;n\. Y ! ~ ~ I I I ~que
< > xssin~sc xqegur:t\,~un<I;$
saIvi~<fiu.
\ I ('1, ;t<.i~tc;t 1,. -1O(a, ( I . 28
:A >l'i~ri
c morrer. E há uma bela instrução das consciências de como ser cristão
<. i<.coiiliccera Cristo. Já agora se prega corretamente a respeito da fé e das
Iit;is i,l)ras. Em resumo: os artigos supramencionados vieram novamente à
lii/.. c pdpitos, altas e pia batismal reassumiram seus lugares, de sorte que,
jii:i(:;isa Deus, pode-se reconhecer novamente a Corma de uma igreja cristã.
'liiilo isso, porém, terás que ajudar a extiipar e exterminar se fores para a
t:iii.i.i.;i em favor do papa. Pois não querem tolerar nenhum dos artigos
<.iisiii;idos c instituídos por nós, mas (conforme se expressam) ter o direito
i I i posse, retomar as antigas possessões e não tolerar nenhuma renovaçào.
'li.riis que ajudar a queimar todos os livros alemães, o Novo Teslameiito, o
S;iIiCrio, o Livro de Orações, o Hinário e todas as coisas boas que escreve-
iiios, como elcs mesmos reconhecem. Terás que ajudar para que ninguém
;ipic~~<la os Dez Mandamentos, o Pai-Nosso, o Credo (pois assim era antes).
'li.i-:ísque ajudar para que ninguém aprenda algo sobre o Batismo, o Sacra-
iiii.iico, a fé, autoridade, matrimônio nem sobre o Evangelho. Terás quc
:iiii<l:ii- para que ninguém conheça a liberdade cristã. Terás que ajudar para
i ~ i i i .iiiiiguém ponha sua cofiança c esperança em Cristo. Pois tudo isso não
i.\isiiii antes e é pwa inovação.
'llimbém lerás que colaborar para que os filhos de nossos pastores e
~)wpidores,pobres órfaos abandonados, sejam condenados e desonrados
<.i)iiiobastardos. Terás que ajudar para que, ao invés de confiar em Cristo, se
t.i~iilicnovamente nas obras dos monges e dos clérigos e se comprem seus
iiiCi.it«s e capuzes na hora da morte. Terás que ajudar para que, em lugar do
iii;iirimônio, encham a cristandade com prostituição, adultério e outros escan-
(l;ilosos vícios contrários à natureza. Tcrás que ajudar a reinstituir o aborni-
ii:ivcl mercado das missas sacrificais. Terás que ajudar a defender toda a sua
:iv;ircza, rapinagem, roubalheira, com as quais conseguem seus bens. Que
iii:iis direi? Terás que ajudar a destruir a palavra de Cristo e todo seu reino e
ii.<:oiistruir o reino do diabo. Pois é isso que intentam esses patifes que
iiisistem nas antigas possessões. Eles são do contracristo ou anticristo. Por
isso ruiia sabem fazer do que aquilo que contraria a Cristo, especialmente
iii,sic. ;irrigo principal: que nosso coração não deve colocar seu consolo e
i-oiili;iiic;a em nossas obras, mas somente em Cristo, isso é: que somos
1il)i.i-i;i(iosdo pecado e justiíicados exclusivamente pela fé, como está escrito
< . i i i I<iii 10.10: "Crê-se com o coração e assim se é justificado".
A cste artigo (digo) eles simplesmente não querem tolerar. Assim nada
1111ilririosfazer. Pois faltando este artigo, tira-se a Igreja, e já não se pode
ii.sisiir ;i nenhum erro, porque sem esle artigo o Espírito Santo não quer nem
~ i < ~ cstarl c . conosco. Pois é ele que nos revela a Cristo. Por causa deste artigo
,i iii~iiido caiu tantas vezes em ruínas por meio do dilúvio, temporais, enchen-
ii.s. giicri-as e todas as pragas. Por causa deste artigo foram assassinados Abcl
i .ii)ilos os santos e por causa dele também têm que morrer todos os crislãos.
Advertcnçia aos Estimados Alriii;ii.r
Não obstante, pemianeceu e terá que permanecer, e o mundo terá 1111'.
perecer sempre por causa dele. Por isso tnmbCm teri que sofrer agora c si.1
dembado por causa deste artigo. E ainda que enlouqiieça, este artigo ficai-i
de pé e o mundo que vá para o abismo do inferno por cansa dele, améiii.
Pensa, pois, c considera. Se quiseres lutar contra Deus. contra sua plilavra c
tudo que diz respeito a Deus; se quiseres tornar sobre tuas costas todas as
aboiliiiiações do papado e todo o sangue iiioccnte derramado desde Abel; sc
quiseres ajudar a exterminar todas as coisiis boas que nos aconteceram por
meio do Evangelho e, por fim, destruir o reino de Cristo e construir o reino
do diabo - vê qual a vitória que alcançarás e com que consciência obedc-
cerás a convocu$Zo do imperador.
Se estás disposto a aceitar conselho, tens adverirncias suficientes para
não obedeceres ao imperador e a teu príncipe neste caso, como dizem os
apóstolos: "E preciso obedecer mais a Deus do que a hotnens" [At 5.291.
Se quiseres seguir iiieu conselho, está bem; se não, deixa estar, vai e luta
corajosamente. Cristo r i o terá medo de ti e (se Deus quiser) subsistira
perante ti. Se subsistir, arranjará luta suficiente para ti. Enquanto isso, que-
remos ficar aguardando quem superará o outro c levar'a a vitória.
E isso que quis dizer a meus estimados alemãcs para advertência. E,
20 como acima, tomo a afirmar qiie nâo quero incitar iiem estimular ;i ninguém
para a guerra, nem para o tumiilto, nem para a defesa, mas tão-somente para
a paz. Se, porém, o nosso diabo, os papistas, nâo querem preservar a paz e,
náo obst'mte, fossem declarar :i guerra com tais abomina$iies endtuecidas,
sem penitência, raivejando contra o Espírito Santo. e saíssem de cabeças
25 sangrando ou at6 perecessem. quero ter declarado publicamente que não fui
eu que o provoquei e que nâo dei motivo para isso. Eles o querem assim,
que seu sangue recaia sobre suas cabeças. Eu sou inocente e fiz
minha parte
com a maior fidelidade. Doravante deixo o juízo para aquele que quer, devc
e também pode julgar. Este náo se omiti18 ?em faihiui. A ele seja louvor c
3 honra, gratidáo e glória em eternidade. AMEM.
Exortação do Dr. Martinho
a Todos os Párocos a Oração pela Paz1 5

1539

Esle opúsculo foi composto por Lutero presumivclmente em maqo de 1539. A


iliviilgação se deu nos púlpitos a pdrlir do manuscrito. A publicaqáo se deu no verk
(Ir 1546 por inicidtiva do príncipc João Frederico, que incumbiu o pregador da çotte,
'I-isiiiforoHoflmann, de redigir o prefiçio.
"
A Exoitaçáo foi publicada por José Klug em Wittenbcrg em 1546 e 1547, bem
i.i,~iic~por João Petrius em Numherg também ein 1546. Está reproduzida nas princi-
1':1iscdiçócs das obras dc Lutero.

São Leopoldo, 22 de maio de 1995


Dr. Nistor Liiiz JoZo Beck 20

A todos os párocos em Cristo


que têm amor ao Evangelho, graça e paz, etc.
Ai6 pouco tempo fomos totalmente confundidos por toda sorte de notí-
ui:is c hoatos a respeito do avanço dos turcos2, a ponto de não sabemos no 311

~111'. :ic~-cdilx.A ira de Deus poderia estar-nos mais próxima do que pensa-
iiios. ~ ~ ~ l c ioi dturco
o tomar-nos de surpresa quando mais seguros estivésse-
iiio:. c.. Ii:il>itiiados ao berreiro como o camponês idos uivos] dos lobos,
\,i\.~.ii;iiiios ~lcspreocupadoscomo na época d o rei Luís3. Por isso considero

I Ircii.iliiiiii,!: :i,, :illc I%lircrrum Gehet fiir den Fiiafen. - WA 50,485487. Tradu~kn:Wdlrr
I J .>'c l,lt,~b,~.
Nti . i i i i t < l i ISi7 c, çxcl-citodc Fcmando I havia sofrido dura dcrrnta çonua os turcos, a mais
i,i.ivi. iIi.sili, :i iIi.ir<ii;i cni Mohács (1526 - vidc nota 3). Agora se tcinia um novo ataqui <Ir>s
i i u i i!,. i iiiit!:i Vicii:i.
i I ,ti,\ 11, i I ; i IIiiiil:ri;i c 13oêniia. foi dcrn~la<li> pelii sultXn SoIiinL>11, r> Grandc (1526). N a
l t t ~ , , : ~I , I1 ; ~ I ' c q ~ , c tsc
u ;~tr:ivc~szirurn ri<!.('OIII :i vilbria, os tllrcn5 tinl~:~~n
o c ; ~ ~ ~ iIivw
~ihu
ii.ii.t Vii,ii;i.
t i i ; i i i I ~ . i i si,l,~<.
que a melhor defesa doravante será amar-nos contra eles com oração, p;ii-:i
que Deus queira conduzir os acontecimentos misericordiosamente, afastarido
este açoite, c perdoando os nossos pecados que são grandes e numerosos,
para a glória do seu santo nome.
i Além disso, há muito que os papistas pretendiam provocar uma desgraçii
na Alemanha. Não conseguem abandonar essa idéia, raivejam cada vez mais
e bem que gostariam de tê-lo perpetrado no verão passado4, se Deus não o
tivesse evitado expressamente; e estão tão cegos que não levam em conta
que o início pode depender deles, mas não o cessar; ao invés, talvez tenham
10 que sucuinbir junto; pois não me preocupo (a nzo ser que Deus queira aplicar
excepcional tormento) com a i.calização de seu intcnto, porque para isso
ainda falta muito. Mas o que me preocupa é que eles poderiam tomar a
iniciativa c o nosso lado teria que se defender (o que, ali&, é sua obrigação
c o que também recomendo com a maior tranqüilidade: que não se tenha
15 escrúpulos de consciência nem tema essas questões malditas de f o m a algu-
ma, investindo contra eles como contra cães raivosos). Desta forma poderia
resultar uma guerra tal que não cessaria até que a Alemanha acabasse
totalmente arninada.
Mas, como de ambos os lados nossos pecados estão muito maduros,
20 grandes e formidáveis, do lado dc lá com meiitiras, blasfêmias contra Deus,
violência, matança, sanguinária perseguição de inocentes, ctc., já aqui com
ingratidão, desprezo da palavra divina, ganância e muita arbitrariedade, tenho
a grande preocupaçáo de que Deus, pelo abuso com que se dcsafia sua ira,
faça vir sobre nós um desses dois açoites, ou talvez ambos de uma vez.
25 Por isso vai a todos os párocos - com isto faço a minha parte - o
benevolente pedido de que admoestem lealmente a sua gente, empenhando-
se em dcscrever esses dois açoites, para que as pessoas tenham temor e se
apliquem mais na ré, pois não é brincadeira, e fico temvclmente preocupado
com nossos pecados; não gosto de bancar o profeta, pois geralmente costuma
30 acontecer aquilo que prenuncio.
Ein segundo lugar, peço que também queiram invocar e implorar a Deus
com toda a seriedade. Pois, sem dúvida, um dia a Alemanha ainda pagará a
Deus por suas tolices, pois o pecado não quer moderar-se, mas cresce e piora
cada vez mais. Rogo que implorem que sua graça paternal nos fustigue coni
35 outro açoite, seja a pestilência ou qualquer outra, de modo que os principa-
dos, estamentos e governos acabcm permanecendo, e que não nos surpreeii-
dam os turcos cm nossa segurança e sonolência; menos ainda que nós 110s
devoremos e destruamos reciprocamente pela fúna dos papistas. Deveras esiií

,1 l I ~ t iiliilio
i :I Ali:inça dc Nürnbirg contra <is çv;uig6licns, piir iriici;iiiv:i
ilr 153X h:ivi:$ si~igi<lo
CIO ihqxr:~~Ior.

521
I'sz Social

111:lisdo que na hora de imploramos. Pois o diabo não dorme, o turco não
perde a oportunidade, e os papistas não descansam. Não há esperança de que
cles mudcm sua sede de sangue, não Ihes í'alta a vontade, a raiva, nem
recursos, nem dinheiro. Para começar, nada Ihes falta, só que Deus não Ihes
concedeu coragem e f o r p suficientes. Caso contririo há muito que a Ale-
inanha teria se afogado em sangue, como no-lo ameaçaram o papa e os seus.
Como neste ponto não há recurso nem podcr humano para impedir esses
cães sanguinirios, sendo quc só Deus pode impedi-los, como ele fez até
agora, seja crcnte e ore quem puder, que Deus não afaste a sua mão e não
110s deixe agir segundo o mérito de nossos graves pecados de ambos os 111

lados. Os papistas não oram, e de tanta sede de sangue nem conseguetn oras,
iampouco enxergam sua completa perdição, nem conseguem vê-la, de tanta
cegueira, maldade, petulância e riqueza. Sejamos, pois, crentes e vigilantes e
oreinos nós que enxergamos e oramos pela gniça de Deus. Assim sabemos
qiic com certeza somos atendidos, como experimentamos até agora quão 15

grandes coisas nossa oração alcançou, só quc neuhum papista ímpio conse-
gue percebê-lo, confonne está escrito: "O ímpio é destruído, para que nZo
veja a glória de Deus", Amém.
PASSAGENS B~BLICAS

ANTIGO 'I'ESTAMENTO

Gênesis

Êxodu

2.Zh-27 3x6 n. 98
7.5 297 n. 52
12.6 375 11. 69
13.13 16') 11.7(J
18.1 325 ri. h9
4.4s. 20. l0ss lll.15
4.13~~. 20.16-18 391 n. 113
(i.4 25.4 325 n. h9
6.5~~.
(i12
.
7
7.1-24
9.6

18.24-33 43534 Juizes


19.16 183 n, 93 Levitico
19.24 440 n. 50 2.16 367 n. 32
19.24s. 313 n. 33 25 299 n. 58 3,10 367 n. 31
19.24-28 418 22
", 26.36 293 n. 33: 310 n. 23; 3,15~30 435 n. -15
20.6 112.12 473.15; 490.31 4.4.5.31 435 n. 45
22. lsi. 298 11. 54 6.11-8.28 435 n. 45
22.18 73,2 Núnicros 7.20 393.36
25.5s. 47.26 9.23 378 ti. 81
32.25s~. 72,l 6.1-21 423 n. 30 13ss. 147 n. 20
32.28 72 n. 58 11.4-6 35 11. 18 13.2-16.31 435 n. 45
34.25s~. 147 11. 18 14.45 387,h 15.11 96,22ss.
55 n. 39 51.1-6 456.22 Provérbios
55.29 51.4 454.12
82 n.11 51.10 27.19 1.16 176 ii. 80
1W,28 57.10 194,X 3.9 325 i). O X
58.4 55 n. 38 8.14 142,l: 143.211
Salmos 58.11 173.3 16.1s. 104.70
16924 60.6 159,3s.; 179,4 16.2 67.11
160,2; 160,27; 60.10-12 434,13 16.10 501,40
178,28: 180,Y 63.11 96,4 17.7 208 n. I50
159.26 68.4 185.23 20.22 96.25

44 n. 28 115.16 10l,i5 saias


170.13 116.10 3627
37,1 116.11 144,30; 196.9 2.4 88.15
455,6 118 169,26 1.4 101.14
26.38 119.140 48,31 5.14 296 n. 40
36,l 119.171 48,33 6.9s. 143,IX
473,ll 127 139,42 7.14 50 ii. 37
67,35 128 139,42 8.10 143,111h.
57 n. 40 131.1 38,21 11.1s. 20.1
62.19 133.1 29,7 11.4 104,18: 296.1: 474.0
434,ll 137 200,24 11.9 XX.14
4 138.6 24.3 14.5 .i472 1
25>5 147.10s. 418,lX 14.12 47 n. 31: 102 11. ,!I):
13.27 147.11 434.7: 450,18 108 t i . i?: 1x0 ti. 'JS
i21,2<); 453.1 145.17 464.22 1h.h 55.15
450.31 3.55 24.2 e n. X 2 Macabeus
137.3 7.1s. 433 i,. 42
35 11. 17 7.23 221 i!. 12 7.15
69,lh 8.25 296 n. 4s:
61,lO 474.1; 479;13
400,22 4.18 3W n. 112; 456 n. 21 Eclesiástico
332 n. 10; 45334 9.23 456,26
176 n. 80 11.36 220 ri. 9 2.1,2
318 n. 47 10.2
325.18 10.5
M.7 460.4 Oséias ..
26.25-27 172.17
5.2 173;2V 27.28 345 n. 14
Jereinias 12.3 72 n. 58 31.34 205 i i . 145
13.11

62.4

NOVO TES'I'AMt~;Nl'O
Matcus
175.24
2.lss..lhss. 212 ii 171

1 Macabeus 5.44 84):; 317,21 e ii. 42


5.44.48 95 ii. I V
206 n. 148 3.19 434.28 5.45 417 n. ?I
6.41-42 47X i i . I0
6.45 343 ii. 'J
7.45 371 ii. 40
9.56 345.10
10.18 102 11. 40: 102 i,. SL

Marcos

Juáu
IS.??..!\ 125,20
IX.21 294,3
IX. I0 XX 11. 1'): 290 n. 23;
i IS.l'l: 356.20: 3h7 n. 31;
414,25
18 \I,\. 84,38 243 n. 37
ILlI I 216 ii. 7: 477.40 396.23
395 ii. 111
296 n. 44

2 Coríntios

.>.->J 447.9; &9>1


1.8 315,7
I Corintios
i.? 85 n. 17
\.24 364 n. 19 1.26~~. l88,l
1.27s. 37,2
1.28 65.40
2.3 292.6
2.5 66.2
3.4-5 481,9
3.7 l42,ls.
3.8 11,22
3.11-15 427 n. 38
4.8 342.29
1 Pedro
2.1 31.1.1 1

Efésios

Filipenses

2 Pedro

Colosseuses
1 João

Hebreus
Cristóvão, São 399 n. 138 Francisco I, da França 142 n. 10; 360 ii. r>.
Cniciger, Gaspar 263 ii. 73 386 n. 96; 386 li. 97; 405.28; 416 ii. l i )
Fredenco I da Dinaiiiarca 380 11. 79
Dâmaso (papa) 91 n. 23 Frederiço I Rarbar~uiva147 n. 19
Dmiel 67,8; 90,34; 463,21 Frederico 11 da Suonia 119 n. I
Dano I 3 7 5 n. 65 Frede~icoI1 (imperador) 147 li. 19
Davi 26,11; 26,39: 27.1: 36,31; 4h.6; 57.11; Frederiiço I11 (iinperador) 147 n. 19; 163 11.
59,12; 67,7: 7h,2hss.: 88.4; 90,32; 101.34 59; l M n. 63
105,32; 110,24; 140.21; 147,19; 149.8; 164,h: Fre<trrii.o, o Sâbio 7Y n. 2 ; 98 n. 33; 119 (I.
lh5,12 3; 122,13; 133 i i . 4; 150 n. 32; 202 11.
Dcbora 435,25 141; 207.14; 278 11. 23; 286 n. 6; 292 11.
Dcrnóslzncs 157,47 31; 3M) n. 6; 363 n. 14; 380 n. 78; 386.3:
Dcnner. Lienhard 277.16 412.22s.: 479 n 19
~~~ ~

Diocleçiano 254 ii. 56; 384 11. 92 Fredcri'co vón Holstcin 375 ri. 60
Dionisiu 1, o Velho 14<)n. 132; 378 n. 69 Friiz, Joss 274 n. 3
Dobrieck, Joáo 287 n. 39 Fmndskrg, Jorgç 416 n. 16
Doeguz 163,29; 173.2Y; 194,29; 435.27
Dbring, Ciistiaiiil 2S5,17 Giihriel (arcaiijo) 143.13: 456,26
Durer, Alhriclii 160 n. 52 G.~is~iiair, h5icli;irl 274,13
-.....- .
C;:alhn . . .n.. .i.7.
174
F L ~Joáo
, 122 21. 4; 177 n. 17; 291 n. 25; 292 Gere30 92 n. 24
n. 31; 477 n. 14; 481,22; 493 n. 21; 495.261: Gideão 435,25
512.23 %de, Heiinig 151 n. 36
Elias 67.32: 90.30; 453.6; 476,6 tiolias 149.8; 210,2
Eliiiias 481.30 Gordiano I11 374 i i . 57
Ernsci; ~erinirno477 ii. 14; 481,22
Epicuro 181 n. 87 Girsório W 43 n. 26
Eliirii6nides 189 n. 103 Guillicrnic TV da Bavirin 81 t i . 9; 102 ii. 41
Erarmo 152n. 37: 277 11. 15; 3h6 n. 24; 368 i i . .33 Ciuilhcmic de Nognrrl 241 n. 15
Ernesto das Sa*í>iiin 119 ii. I
Ernesto dc Manslcld 288 n. 13 Hiifcrie, Sirnoii 284,?5; 2S5,38; 289 n. 16
Esopo 103 n. 42; 190 11. 109; 198,16; 379 n. 74 Himariins 90,33
Espalaiino, Jorge 123.3; 284.34; 483 n. 27 Hiinleiii, Migucl 126,4ss.: 127 n. 4
Esrer 39,23 Hans Worst 153 n. 39
E?i.iirvio L75,24 Hausrnmn, Nicoluu 410.15
Eúdç 435.25 tlédio, Caspar 279 i i . 27
lleiirique 11, o Jovcrn 360 n. (i; 448 n. 2
E i i ~ e ~ TV
~ i o(papa) 415 t i . 14 I<e~lriqucTV 479 n. 18
Eva 3920
H6rculcs 194.37
Pdlxr, João 494 n. 24; 513 n. 47
FX~Ó 202. I n
Hemdias 174.31
i ~ 150 n. 51
F e i l i ~ z s c k ' k n b v<in
Fernando I (da Austriaj 254 ri. 57; 405,45; 470 Hisólido. Matcus '3Ml.33
~~~,

n. 3: 502.17: ~r>rner/l88n. 102; 192.8


, . 520 ri. 2 Honório (imperador) 80 11. 5
Fcm~iido11, o Calrilico 108 n. 155
Filipe (evai>gelisiaj92.12 Hiibmeier, Baltasar 274 ri. 4; 279,3
Hus. 103043 n. 26; 292 ti. 31: 190 ri. 12; 401
Filirx. li da Macrdiinia 189 i i . 107: 375 n. h3 14.
.n.. .
Husai 371.18
. ...-..., . . , ..,,. Hutten, Ulriço von 277 n. 15
I:i>c:is ?50,13 e ii. 48
I.iiiiiiii, 148.13~~.
Pack. Oito von 495 n. 76 Sigismuido (imperador) 43 n. 26; 164 ii. ir.1
Sigi~mundoI da Hiitigria 127 n. 4; 491 11. 1.1
Simcio {io. (Ir Pacó) 147,4
Solimão n, o Magnifico 401 n. 146; 405.20
S6lon 199 ri. 131: 373 n. 52
Swdion, Christoph von 489 n. 10
184,7 Siliupitr, João vori 202 n. 141; 211.26
Paulo 111 (papa) 214.32 Slein, Wolfgung 79.17
Paiilo Si-rmo 92.15 Siorcli, Nicolau 778 n. 19; 289 n.17 e n. 20
Strauss, Jacó 277 n. 18
Stubner 289 n. 20
Suclonio 151 n. 34; 199 n. 131

~ickheinier,~ k b a l d o 2 8 . 1n. 39 T a m 112,LZ


Pilatos 84,37; 367,lfi ' R ~ ~ s t o c l e147
s 11. 22
Pio X ü 98 n. 32 Tcrêncio 141 n. 7: 172.26: 369.36
Platáo 155,36 Tersites 192.8
Plauto 207 n 151 Terlitiano 94 n. 28
Plutarco 196 n 128 Teuscldein, vidc Dcii~ier,L.
Pommer, Joio, uidr Bugenhagen Thomii. Marçus 289 n. 20
Pórclo 493 n. 22 nir;a,M a x h i ~ ~374 o n. 57
Thur, JwBu
Quinno. São 384 n. 92 Tini6tzo 340,18; 483,3
Tiio 483.3
Redtwiw. Wcigand 149 n. 23 Eajcuio 189 n. 108: ?48 n. 46
Regio. Urbano 279 ri. 30: 304n. 4; 7%. Y en. 73 Thso 172.31
ReCa 175,25 Tnichsess von Wddburg 274,25; 282 n. 37
Rolh. Stciihan 140 n. 5
R ú k n 1i6,24; 147,I
Rufo 340 11. 5
Riihçl. loào 330,2X; 340,18

Saul 163.29; 169,37; 186.39; 212.9; 344,21 ~ i i i í i i o188 n. 102


Siilomão 26,12; 77,38: 88.7: 107,20ss.; 110,27; Vdo, São 384 n. 92
I12,IS; 146,23; 1M.h; 176,28 Volusiano 80 n. 5
Sainiicl 90,29; 163.29
Saiisán 90.32; 96.22: 147,IY; 435.26
Schapprler, Christopli 274 n. 4
Schmid, vide Fnhcr, Joáo
Sciarre Colrina 241 n. 35 . .
Selim I, i)Cruel 405.23 Z i h ' I ~ I , I I195.29
;
Senaquerik 2C12.10 Zizka, I<ião491 n. I4
Sêneca 21 1 n. 160 Z\\.illing, Gabriel 361 n. 9
Sickingsn, Francisco von 277 n. 14; 383 n. 90 Zwínglio, Ulnco 174, 14; 277 n. 15; 279 n. 26
~NDICEREMISSIVO
Abandonar - impor-lhe leis humanas 97,23ss.
- os bens 21h.6ss. - fora do alcance dos homens %;I7
- tudo por causa da 1' tábua 117.32-218,1 - governada a ferro 104,3Y
- iu<lo por causa de Ciisto 219,<)s. - mona pela mentira 176.38s.
Abandono dos sçivido~spúblicos 172,')ss. - negligencidas 182,26s.
Ah<iliçZ<ida lci 94.29-96,4 - sua imorwlida<le
Abrimina$ksppapais 5135,19-519.12 - sú pedem missas
Absolutamcntc livrcs 182 n. 91 Ainigi~s506, IKss.; 51 1.9~s.;170,7
Abuso Amor 26,27
- da aotoridadc h 5 . 7 ~ ~ . - a DPLIS 112 devida i~nlern13.4
d o noriic dc Dcus 3l3,lOss. - cm imp~iwzae peiversio . :i, l l34,31
- d a espada 351,17ss. - a hido pcnricia 91.20
AyZo popular 231,36 - consbange Y1,24
Acepção de pessoas 203.14 - aos inimigos 95,23ss.
Acordos -- ao próximo Oh,15
- de Miliciibiii; 375,ls. - obras inspiradas por ele 106,27ss.
d e Wcing:utcn 274.24; 181 11. 37 -- iuriscar a vida por a. 111.21s.
Adãu, o vcllio 170.10 -- lei mais segura em caso de Liligio
Adcpius, caininho dos juslos não os encontra 112,35-113,11
169.19 - deve prevalecer 113,24ss.
Admiiiistiric;ii>doméstica 199.11; 224,23 - çstúpirlo 1 4 5 . 2 7 ~ ~ .
é ordcni hiii~iiuizi226,lls. - às inulhçrcs 1 9 5 ~ 1 ~ s .

Adniiriistm@n púhlica 316,14-26 - ri;iiki niaiur 294.27

Adulação 194,24-197,lS Aiiabatistas 46 !I. 18; 168 11. 36; 447,21


Adulador, pior dos animais doniésticos Anatas 411 11.
200,35-201,I4 Aniniais domésticos, adiduladoré a pii>r200,35s
Adultério, o priiprio Davi caiu ein a. 212,10 Aniniiiis sclviigcns, r> pior 6 o ti~:mo2íXI,36
Advogados podein ser crisliou? 96.6 Anjo da luz 169.21
,.\ffkchis viliralis 37.37 Anjo supirnio (vidc tb. Lúcifer) 104.38
Agir de Deus Ai~jos
p o r meio das criatuias 294.33~s.;h1.17 - cntrc clcs ocorrc ariogCmciu l9X,23

Agricullura 393,lX sob a lei de Deus 260,lXs.


Ajoelha-sr 456.8 Ano de jubileu 116,14ss. e n. 50
Alcorão Anomia do papa 260,10.38
- iuizo de L. sobre ele 422.6-127.18 Avopou IhY,X
- dzstiui ? ~iikirçsda s<icic<l.~de 427,14ss. hticristo 160,7; 178,13; 180,365s.; 236,8,
s u a douuiri;i 4 3 9 . 2 ~ ~ . 287,12; 475,Zh; 518,30
Alcmães - se exaltará sohre Palavra e culto 181,9
- siia pr<ivcrbial fidelidade 207. IOss. - ser5 destruído sem violancia 296.35~~.
- - L. sr>brc clcs 370,31s. p a p a é o a. 508,20
Alcinai~hu Antigo Teswmriitu
- L. Lcrnc um dorriiriaç3o itiili;ina Ih'l,lSss. - n<u rst;í abolido 90,35ss.
- cstú rn,ldura 206,10 s u p e r a d o 91.5~s.
virtudes itdianas se instalar11 nclu 211.22~~. p o d e - s e çuiiipR-lo 91,15s.
Aliiinça - cumprido e suspnso 438.40~~.

de Esmalcalde 214.27 AparEncia


iIç Nürnkrg 521 n. 4 - arrcbata niultidiics 6339

i \ I ~ i i ; i 27.5: 27.73-35; 29.6; 60.1; 91.7 d o u t r i n a Msa c prcgaçáo cngcinis:i lh9,17<\.


,jusla 57,<) - maravilhosa da rncntirsi 170.1
s i : i I c g ~i'oiii i>s bcns 69.30 - - artiiicidl dos p:ipisi:is 177.41
si; 1 ) ~ :I s~ < I Y C I I I I I07.16 Al~ostiisi;~ sint~l f i ~ u180.38
Apego aos bcns 56,28-58.33 -visa a paz 219,20
Aperfciçoamcnto da Palavra 176,lss - do Esrxlo 224,22
Apologia da Confissão 214.17 - dos tribunais 2 3 1 . 5 ~ ~ .
ApGstoloi 60,X; 297,4 - defesa contra ela 246.42s~.
~~~~~~ ~~~~
. ~-
- do dia110 97.40 - exercirla por lodos 258,l ss.
- dos pagjiis 189.3 - ci>~isiiiuídu 298.18: 475.23; 476,23ss.
- sua sociedade 242,17-243.21
- e a ~.omunhãode beiis 334,lss.
. - . 311 .19ss.
- ii riiide irnocdir a iiir2:icdo

- L. íi dcicnde suas prdtiças 320,3ss.


Arbítrio 181.1 . - L. instrui suas consciências 332,12s.
Argumento ila razâo 126 i]. 10 - pagá c sco direito 334,16s.
Arianaos 424,34ss. e i i . 13 - Iiitw pnr ria 335.23~~.
h g 2 i c i ; i 19.16; 54,17ss.; 1YS.S-202.14 - agc de niodo justo 358,4cs.
- e>"iril,,al lYX.21 -deve scr res~iladti375,17-376,25
- caniponesa 1YR,2Xss.; 204.21s. - como punir a a. 377,10-379,27
- resislinçia a cla I99,llss. - assunto i p r a i l o 412,8>s.
A i i i g simtis c1 aaloilir 518,36ss. -- cnsião pode exercê-la 414,18ss.
Asidssi~iati> Autoridade uisiituída por Dciis
- inscparivil ila doutrina I.ds:i 176.36s. E scrvidora dc Deus 91,5; 314,lX
- ir:m\lonnti<lo eni ciilio 177.8s. - Dciis :i quci- vcr ~rspcitada129,20s.
- Davi comcteu a. 211.10s. - é or~lçiiluiieiito divino 135,15
Assassino tolerável 337.27s - çnaltçcida por Paulo 201,36
Assemhl4a Nacioiial - dr~iiidc Dcus 266,25
-de Aupsbrirgo 133,13ss.: 134". 9; 214,101s.; Ai~taridadcscculai
292 ii. 31: 405.41: 406.15: 485. 12ss. - tcni o dwrr dc proteger 58,37ss.
- analise de ~ u t e ~ 4 9o3 s ; 493.12~499.2h: - coinn dcvc pinrcdcr 59.1.1; 334,1(lss.
501.8-5M,3 - a1c:iiicc dc scu h r q o 47ss.
- IVdr Espira 132,11ss.: 3h1,22: 40n. 144. - csqucccu seus devereh 140,10ss.
405.41 - seli dever 290.12~~.
- 2" dc Espira 133,8ss.; 444,$7ss. - - sua meta 112,ls.
- dç Woniis 132,ISss.; 291 n. 31 -- sua coiiipetêticia 314,lh
Assçnibléias ii;tçionais Autoridade, resistência a ela
- sc dr'vi;iram dc su.1.: fuiiçócs lhb,lh - II,TO com violêiicia 111.<Js.
- Deiis ;ts ridiçiilariz~415,17 -- náo se deve resistir-lhe 134,31ss.
Assiria h5,14 - resisiêiicia a ela 229,25sb.
Atividade huinma Autoridade rriá
- agiiciiltiira c niilitar 19?.18ss. - 6 ira <IrDeus 266.27s.
Atrcvimeiito 143,40 - Iir2nic-a 310.1s.
C fatal 431.31~~. - prn8eisa314, I4
Átrio 28,s - inalvada 3 7 7 9 s
Autor c sua obra iíd,lss. e ti. 17 i\uiuridade crisij 3 3 4 . 2 0 ~ ~ .
Autoridade 58,19; 185,19 s e u devcr 256.6~~.
t e r em vista o bem do povo 59,21 Auti>ridarlcespiritunl 54,24
- tenr que rxislir 65.6s. Autnrid:idc d;i Igrcja 224,23
-- Deus as iii;uiiérn nu trniur 7 6 . 3 6 ~ ~ . - usada para iiiaiar 192.21s.
- seli1 amor ao povo 77.7s. Autoirdiicle d<ipapa 230.7s.;.
-- hizpos e papas como a. 81,7 Avarciitos 69.36s.
- o crisião ii ncessita ilclas 94,21
- fi pode haver entre cristãr>s105,26ss.
c<iili<> ;i ilevc usar o príiicipc 106,17-114,16 Baùilonia 65;14; 67,s; 69,12: 144.17
;i[< agor:i iiiriguim siihiti o qiic C 192,24s. Batalha de Fxuikenhauscn 275.4; 282.25
< I U Nalc;ir~scacirii:~dc Dcus 1'12,?6s. Ralisnio
oiilcii:~~csistii21X.37~~. Tísicci tia ágil;i 294.11; 133.23; 20.1.1s~
Confe<iera$ZoHzlvética 375 n. 59
I Causa
Causa C<iiifiança29,22
- própria 94,19-22; 135,35; 220,134s. - em ninguém 77,25; 108,38: 109,10.:17
- jii~la143,35ss. - em pcsscias 196.6~1.

I Celibato 216.35: 293 n 35


- Ç imundo 267.L'ls.

Cf u
- como merece-lu 1 3 5 . 1 3 ~ ~ .

- merrçc-lo com motaiça 357,27


Coiiliss.ío
-:ib;indonar tudo por çausa<lel.i217,32-21X.i
- auricular 514.7~26
Confissão de Augsburgo 214,12; 494,35ss.;
496,19; 501,Xss.
Chamado 303,8ss. CniilissBo Teuanolitana 214.13
Chaves 414,27<ç
Clulrea dç Deus 61.15
Cida<lsnia218,2Xss. 141
Ci<ladão218,32ss. Conhecimcnio dc Deus 14.32~s.;40,32; 5330
- Li7stn<lC. do mundo 259,lss. Consci8ncias
~ i ,idd.es ~clugio
. ., ' 112.5 - enganadas 29.23
Circiiiicisão 9 1 3 - Yua domin;i<;5o81.33
- crcr assunta de c. 99,?4s.
~ - ~ ~ , - \,ioladas 1W,3r.
- sco nllnisierio I ~ ~ , I I ~ ~ -. seri1 culpa 112,ll
- sc melem no govcino 185.3~~. - emcdadas por leis 124,27ss.
- culp;tdos de rebeliãu 108,17ss. - presas na Piilavra 126,28
- eram ludo eiii mdo 412.24 - agk conm ela 126,29a.
- devc~se comhaiS-loh 180,4ss. - papisti~sas violam 177.41
- L. vara dos c. 501,41 - boa 6 ~16divade Deus 178.21s.
j a m a i s prewriuii 502,lss.: 509,?'4; 514,6: - boa 312,21ss.
511.34 - L. as instrui 332,121.; 429,3s.
Clero 182.17 - L. Uies dií forp 338.373.
Co@c 352,19-351.37 L . .ta. aconseltia
. 363,ll-34
C~~iiiedimcnio 480.32~~. - problemas dr 3X1,9
Conipadrc dos gr,"eniaiitrs 213.17 L . as ririrnta 35X,15
Competência iii a~itoriiladc101,14ss. - prcocupasZu constaiite de L. 412.30s.
Comuiili3o 207,281 - retas na guerra J17,13ss.
Corni~nliáode k n i 228,30ss.; 216.23-237.26; - ~?i~r:i e túme 48X,10
242.37~~. - dos papistas oneradas 490, lss.; 492,6
- de\,e scr de cariilade 246.26~~. - esta0 sendo instruídas 517.9; 518,l
- 11 Evangelho fi ;i isfahilece 331,30ss. Conselhos 166.16; 170,8
CoiircrirZo imaculada 74.9 - ile Caifás 177.I5
~oncili&i<mo 201 n. h9 r 70 - de Deus: c n x riiuridu novo 210.5%?.
Coricnios Cuiiselhos evaii.'ilicoi 80 ri. 7: 30, 14~81.l I :
- crer neles 97,23s*. 84.17s.: 87,35: 89.35: 94,293.: 413.3~s.:
439,23ss. e n. 49
- papa acima delei 226,31 ConieiiiplayXo 445.15; 46.41; 47.15
- srii poder 292 n. ?I - da Iiuiiiildade 27.27
- de Basiléia 261,10 r n. 70 - é exrludx,idode dc Deus 40.8
- dc Constançs 43 ri. 26; 261,10?s e n. 69; C<iiirernplar,I' obra dc Deus 4 . 1
2'12 n. i l Coiiiradiq6es 213.12
- V c i ~ ~ a t 506 r ~ o,I. 36 Conventos 35,24
- dc Pisa 43 n. 26 Coiivivência 354,16ss.
C'oiicupisiência 266,15ss. C~>iivocaçáo p/ sei~içomilitar 392.25s~.
('i>nili.ii>raçfics175,7 Cniivuls5n. L. fi cr>nlaruim ela 473.4~q.
( 'iiii<I~,ii;i(.í<i pr<~bi<l:i 331.41s.
( 'i>,i$i,~S -cidadãos dcstc mundo 105.26-37
perversos 175.8; 176.18: 180,3 - como cidadãos 218,ZXss.
separadns 20730s. - ii rzonilin à violência 259,) w.
( ',tru$5o-bi\,ej:1 197,16ss. - ;ave ra;i 299.lOss.
('irpu Ihiirn;uiri 27,ih-28.11; 29.26
('i>rrupçiu
- <la ii<ilircra204.22~~.

- geral 229,35ss. - mártires na tena 324,17ss.


(,,lrlc - fi ligam p/ heiis teirenus 326,Zls.
- sii:is :utimanhss 16?,3(Jss. - dispostos zo xsotiitnr~ito 11ó.l~Js.
siias cari-ncias 171,10s,. - sujeitos à auroridade 347.26~~.
- c os c~~crtalhóes 172.9~s. - podem exercer autoridade 368.25~~.
-desvio de hn@o 414.28~~.
- ii devem piemar 415,3ss.

f i resisreni;winJ1415,25;415.2ís.; 429,365s.
Cristimo
ii prciism de espada 8 5 . 4 ~ ~ l u t a contra o iurcr~418,8-422.18
sai poucos 86.9 -- ataca th. o pap;i~lo440,34ss.
( 'rcr Cristo 25.19; 26,1?: 36.32; 60,X
c:ida uni para si 99,20ss. - - n "rheiiio" 2b.4
;irsorito de conscPncia 99.24s. iiaiciiiienro sobrenatural Ih,')<s.
,,,i., . ilo nadu 23,35
.7
c.10 - - quis ler raiizãu 56.12
C 'ii;i<lageni447,34ss. - impr~isiiiçira ciuz 61.35
< 'ii:iilur 25.13 - ciialtecidi>63,ll
( 'li:il"~>,\ - - cuiiii<lo0;)pri>iiicssaa Ahnoo 73,7
I)cris age por iiicio dclus 01,17ss. - verdadçiiii Fccdcrico c S:ilom;ii~88,7
I>ciis dcslrói uma por outra 61.22 - nada ensiiioii scihrc a cspdciid;~94,5
nova c. 91,9 - seu iniiiisfi.ri<i94.14s.

c\l>cciais 147,ll-154,lY - ii anula a Ici %,Iss.


I 'iiiiic de 1rs;i-mitjcst:%dc j71.4 e 11. 44 - i i i i r i ~ frcqiicnfc~iicnli
i 96,1
I '~isli~n~t~~dc - pi-íiicipc Foprenio 108.3
jaz i i ~ iprofunde7.a 36.37 - nosso exeriiplo 154,23
os i>lliosdc Deus relmusam sobre ela 36,38 - prcgador 168,L 4
cloiva dc Cristo 72,lIss. - impelido a insfdar o juizo 178,17
~p~n:uicccrá 418,25 - scii espírito 293.34s~.
ilii,xr:idor n é seu guardino - scil reino 290.6~s.
( 'YisIAoh - p ~ c i dos p rx6rcitos 290.21
,xm,>"i, afflicu,hui~iiiiaii28,h -- ii usoii de violència 297,4
i~iicíi se imporiam c1 Cristo 16,2h - o Diiqirç 317.20s.; 320,15
i i plccicarn da espada 76,lss. - - 6CU p0dçl 320.16~~.
!i ~ircci<aiii de lei 85,Jss. - sc sill>rnctcuao iriipeiíidor 333.24s.

i WII eriiie inil 8 5 . 2 5 ~ ~ . - aprova a dcfcsa da auroriilade 338,13ss.

ctic>i;iiri distdl~tcsurri do oufro 86,IYs. - scu nome profanado 414,9ss.

1 1 \ujciios a Ici c espada 87,6s. - scu ofício 414,21ss.

\c uhmetem :i çspada 87,lss. - sua vinda 441 ,I5

i . i v i > i i12 todos 8 8 . 2 7 ~ ~ . - dcstmirá o papa 474,31

:i c\piilla llics compete 88.27-89.31 - niestre ercluiivu 481,17

uii:i 1i:ilurcra Y3,l.'ss. - traiisfomaúo eni tirano 512.10~~.


!i ~>rcc'isani da aloridade 94,19ss. Critica i é tolerada 210,20ss.
qiic sc vingam são gentios 94,19s. CNZ 25,10
11 iis:l>ii;i cip;~clap m si 94,3lss. - atasta do caminho 170,lss.
t i 1i.i :~~~lc)aidi$tli CIIITC eles 95,11~90,4 - deve perniwrcei ?h5,2[>si.
- o direito dos cnslios 317,30 - :io imperador 50-1,18-519,19
Culpa dos 173,l Desperdício 312,X
Culto Dcsixdir funcionários 170.38s~.
- falso 173,16
- aos saitos 46,30s.
Curiiplicidadii 335,36ss.; 343,3s. Deus
"
- com hlrcu 437,L4ss. - olha uara as orohndezas 24s
c o m os pal~istas505,301s. - sua doçura 2633
- coiii o dcriiuliamento dc s;uigue - sotrcr sua obra 26.75
507.17-508.16 - <I;< p:z 28.12

c o m o ainicrcio de uiilule~n~iiis 507. IJ - d:i paz e &i iinijio 2Y,1

509,l-29 - pensar grande dele 30,33; 32,1?

c o m o emhiistc do purgatório 509.10-510,10 - t' Unutávcl 30,34

c o m a idolatria 512,7-514.6 - nos mantém na phrcza 32,24

c o i i i osuplíciod:~conlxsão;iiuiçiilx 514.7.26 - Saivador c hem-a\~enhlranyd32.36

- coin as ahoniin:içCks papais 505,1<)L517.12 - s i i a caactcrí~rcc~ 37.8


Cumprimento do AT 9L,5bs. - "Lha para os Iiiiiiiildes 40,34

- todo-poderoso 50.18-51,20
Debate de 1,fipaig 292 11. 31 - n%odescansa 51 ,I1
Dcc;xl&icia do regime secular I(K),25ss. - sua maneira de ser 5 l,l5

Decreloa - scii nome 5 2 . 5 ~ ~ .

- pap;iis 22,129. - sii:i?, obras 53,W~711.17


- de Ciraciano 212 n. 172 -rniscricordiosocios querenu[icim óO,l6ss.
capitula 380 11. 78 -dois modos de agir 61,4-64.19
Dcfcsa - Feu braço 61.6
- do direito e dos heci 5 6 . 9 ~ ~ . - rem cluires nas mias 61,15
- fi cm prcjuí~omaior 39.5 - age pur meio d a criaturas 61,17ss.
-em c;iilsa própria 94;1Y-22: 95.29~s.;135.33s.; - age cm secreto 61.30
'220.13s.: 491.29 - sua mente 62.33

- dos outrns 135,339. - fi tolera abuso do podcr 65.7s


contra os su~h-iiores246.42s~ - ií julga pelzis aparpnçias 67,12ss.: 201,15

- é direito ridturd 253;LL - f i z o que o hotiiern quer 7 1 . 1 0 ~ ~ .

p o r justa causa 387,2ss. - i i i z vistas grossas 141,21

DeficiCiicia mental 373.33-374,28; 374 n. 55 - age em liberdade 150,3s.; 203,27s.


Dclitus - cnlnci castiga 155.35; 334,23s.: 417.32~~.
- não se pode pinir.a todos 146,lss -juiz do mundo 173.2; 327.34
p ú b l i c o s e sectctos 1 1 6 . 6 ~ ~ . - tmslomado erii diabu 177.27
Delinqüente 355,29ss. - fi ter Dçus 181,1ss.
Demisstio de funcion:uios 171,15ss. - Ir-lo por Palavra r fé 181.5

Derramni~icntode sanguc 358,3ss. - rrcompcnia 182.?0s.

Desinimo 450.9~s. - Criador 183.36


Descren~a68.3~22 - permite o sofrimento 184,ls.
Descendência de Abraão 73.1-763 - ú ~ u ç aaulondadc 185,21
Descrentes 62.24 - gcrieruso c/ os gçntios 188,Xss.
Desculpa3 353,ZIss. - E c~>mudo 2iXI.h
Desejo 353.23~~. -cria ilrn mundo novo 210,5ss.
DeseryZo 436,3438.30 - nasceu dc Davi 213,Sss.
Dcscspero 435,30ss. - prescrever-lhe como agir 294.33s.
Desigualdade 326,5ss. - como faz sua obra 297.25~~.

DcsolxdiSncia - p e d e o agir do diabo 310,6ss.


- kni-aveniiirada 102,17 - 6 justo 31632
Icv;i ai>insiirriso 416,1?~25 - fi deve explicaqùes 344,301.
- usa hoinens especiais 435,12-436,3 Diíersnças têm que haver 67.15
- (lá tudo por causa dos crcntcs 455,15ss, Dignidade 37,18
- coage à oração 456,16 Dilúviu 83,ll; 313,23
- se toma pecador 4 5 9 . 5 ~ ~ . - por causa dos Liranos 202,12s.
- soire 459,11 Direito çan6nico 259,37
l~'!\,o$xo - t: piirrii e ridículo 188,26
- ficlsa 31.1 .- Direito cristão
- ;i Muia 513,12ss. deescollizi-«P;.o~'o311,14ss.; 324.32.325.6
0iab~1 56.2: h6,38; 71.14: 137,14; 143.1; 152,X: - i é cornpruinisso dos gentios 316.37s.
153.4: 154,10; 155.31; 161,32; 168.27; 169,lO; - f íi rcsistii à iiijustiqa 317337
198.14; 201.13; 225,3(>;15.15; 287,2ss. Direito divino 228,23; 314.3.11s.
- scus pctisços preferidos 6 5 . 3 7 ~ ~ . - e direito natural 22S.19~~.
fi suporta o Evangelho 68.37 -observado Dor m c o s c iudcus 3167
- sc ari<iss«udas universidades 81.7 Direito de guc;rd 372,13ss:
icm que sei expulsu dos coiaçCes 104,25s. Direito imperial 188,14ss.
Icv gato c sapato do povo lM.41~. Direitoiiahiml 130.35: 228.21s; 233.2: 253.21:
ii d i tréguas 175,30s. . ,
n ,c dcis;~CXPUISUI 173,35s. - deve prr~alrcer113,24cs.
iiilia dcscnçio dclc 175,37ss. - observado por turcos e judcus 316.7
[ p i da mcntira 176,10 - pacífico entre os gentios 3l6.IYs.
lilhos iguais ao pai 176.25si Direito secular 5 6 . 9 ~ ~ .
tii;it;i a alma 176.38s. i ~Iidivade Deus 57,23ss.
ti~iris1onnaúoem Deus 177.27 - ii 6 motivo para guerra 59,20
v:iivija 181,15 - rçnúnçia a ele 60,17ss.: 113,20ss.
iiiirtlira os dois reinos 184,35s. - tem que existir 65.16
iiiiiiiigo do regime secular 191.21 - 6 vontade de Deus 82.25s.
iliis alemães é o alcoolismo 2U-i.401~. - sua fuiiilamentação 82.25-83,39
i.i>iiip;idredos govemanies 213.17 - crisijus rí precisam dele X5,43s.
\i!;\ cslraiégia 2S7s. - g<~veinxlo p/ sensatez 107.6s~.
siiii haTadeza 290.1 - s~ijeito à r u j o 114,14
iigc por falsos proleas 310.7; 316,36 - >id<itx <i direito local 129.31
;iiiigimeiituu muitas hordis 312,34 - dc cnsinar e crer livremenle 311,20s.
<ILICI devorar a L. 320.34~~. - Cristo nos submeteu a ele 333.22s.
Iciii planos terríveis 328,36; 355,15s. - exciçócs ao d. 369.33-372,12
~pwssciitco dia final 333.13 - regido pela qüidade 370,4-373,12
liiiIi>.: çiicamxam nus cainpoiieses 3343s. -tem pwfaêncin sobre interesses 306,33ss.
l )~.II> i, estimulou 334,23s. Direito uiiivcrsal 316.7
\i. ircoridc más da misericórdia 345.33s~. Disciplina do clcro 161,27ss.
,.iiiii<i\scus prisionciliis 353.28 Discípulos ii são princikxs 290,7
l i i l i < i I I sciiii-diabo 416.30 Disposi~ão29 n, 14
i i i i < i > \i.iwi do d. 417,37: Jl8,Xs. Dis~iisSes125.35s.
imiiiii ili.iioi;i-10 418,15s. Distlii<;ãoentre Igreja e Estado 224.31
<li.'.iii~l<l<i SI vir>l$ncia480.1 Distribuição de terra 352,13
c , s i i t ~.iiii;i<I<i ~ i ; imissa 511,4ss. Dizimo 311,17
I h d x < I ~ ~ ~ ~ I195.7: < . ~ ,198,l
IIVC~ - scu dcstino 325.10-24
118 8 #l~.,,,,<l,. , , c , .l7~1,3Il Doçura dc Dcus 26,33: 27.3
( 8 mli.il,i, i , 1~c<.ss5"11ç 333.13 Dogmas riiarimos 98 n. 32
(..i.i .i I X ' I I . ~ ~1511.0~. Dons 47,285s.; 56.30; 168,25
ii ,..i.\ liiiil.,.~If>O.I1 - íriipios reccbcm as iiielliores 170.27s~.
I c,ic,iiii.i < l i , ,.,.i Iiiilti;ui<i 27 n. 9 Dorniriação italiana 181,10ss.
I iiciii. i i ~ l i -,\:.~,~.iiilili.i:is N:ici<in;iis Domínios espiritual c tcmporiil 8 6 . 2 2 ~ ~ .
I i i l . i i i i . i < t u ~ . .I 1K;l~s. IX>naiistas4 2 5 . 6 ~ ~c .i,. 35
u0uirin:is - ohra, ordem e criação de Deus Y'2.2'1
f a l s a s 29.22; 173.16 - Cristo na& eiisinou sob,= ela 94.5
-papais 17432s. - CnsEi~ii a usa para si 95.11-96.4
- falsa tem aparência bonita 169,17ss. - r3 invocá-la em causa própria 95,29ss.;
- falsas associadas a assassinato 176.36s. 96,18-33
-como avaliá-las 294.28~~. - sua rcspoiis:ibilidade 290,18
-admi~iistradap/ autoridade secular 334, I XY.
- símholo da i i i r 347.31

364.29: 361,22 - senhores ahuaain dela 351,18ss.


Educa~iiodos filhos 431,Ssr. - mão dc Deus a cunduz 366,12-16
EmanciLiqãa 180,16ss. L . jamais %idcscjou 425,ZYss.
Emoréstirrio 130.3s. p r e c i s a do apoio do CCniano 428,?3sc.
Engrandecer a Dcus 32,12 - nada tem a vcr com a ié 430,12ss.

Envio comprovado p/ sinais 322.26~~. Espada espmtual 93,38


Epicureus 181 n. 87 EsperidhGes na coiie 172.9~~.
c l e r o uuei- o muiido e. 182.9~~. Espírilo humano L7.16ss.; 29,16.25; 32.14,r.;
''nItIKI.I,, I<,! I%, :I, ~1 .l-l..!h.< 35,s
I.~,I,I1.t.I~13,) l i . !I , 4 1 i,?l)c n. 722.7. Espíritos
334.12; 370.7 - falsos, dois tipos 31.13-32,2
- deve reger o dircito 370,4-373.2 - falsos 35.25 ~ .
Eremilas ;igostinianos 202 n. 141 - devcin ser examinad<is291,3s.
Escâiidalo 298,24-299.6 -de Cristo 291,7; 296.12~~.
Escolha do ~ároco311.14s~. - entusiastas 129,15s.
Escolas -fanáticas 198,25
- devem pemaneccr 182.33 - perigosos 293.12s~.
-sua iiçcessidade 3 5 4 . 5 ~ ~ . - sectbios 3 4 8 . 5 ~ ~ .
- dcsa>mproiiiissocom clas 4 3 1 . 8 ~ ~ . Espírito Saiito 25.7: 74,6; 178,27; 240.16
- dcvcm SZI. pro~no\~idas 451.7 - expcrièiicia do E. S. ?3,23ss.
Escr.ividto 325.28-326,lO - corisoki 65.27
Escravo 326.1 S. - aluno dos príncipes 81,34
Escrituras c r i s t ã o s o tem no coraçáo 85.7
- muntzcnan«s querem invalidá-lo 294.30s. - cria pessoas Juslas 86.22s.

- têm olhos bons 350.1s. - ninguém justo s/ ele 87,26

Esmalcalde, Guerra de 119 n. 4 - Cristo governa alravés delc 88.1s.

Espada secukir - anles do Batismo 92.6s.

- sua fmalidadc 58.38; 86.18-87,17 r i q u e z a do E. S. 96,21


- coníenda ;i Mspis e papa 81,7 t e m muito serviço 170,12
- sua iundanieiita~Zo82.25-83,39 - suii ordem foi cxtiiita 225,33
c x b i r p/ vontadc dc Deus 82,253.: 365,14bs. - scu r,ii1o IY1,Xs.
- exisrr desde o comqu do niurido 8 3 . 6 ~ ~ . - sua pleliiwde 294,24s.
- confiniilida por Moisés 83,24-27 - tolera os iracos na fé 296,4s.
- confiniiada por Cristo 83.28-39 é dif.mado 411,7
- antítese da nova Iiança 84,l-30 t e m o s o mesmo dos profetas 453,3ss.
-- cristáos riáo pil-cisam dela 85,4ss. - pcçado conua o E. S. 454,16; 485.33;
-que significa climuiá-la 86,28ss. 490,4; 516.24
- cristãos n sujeitos a ela 87,lss. -revela a Cristo 518,38s.
- ci-isiãos sr suhinctcm a ela 88,27ss. EspirituIisias 86 n. 18; 368 n. 36
- sçlvir-lhe 88.77-90.25 Estaciondnus 480 n. 21
r o ciistáu a pude usar 8'4.32-qh.4 Estado
- 6 dcver hervir-lhe 90,lss. - perfeiio S4.17
- toilos 05 s;iiilos a usaian 90.20 - de graça 96.55s.
uno NT 91,1c)-93.4
cor~Iirc~~:~<l;t Estado Matriinoiiisl 140,IX: 1')9.21.
Cristo o confirmou 94.7
C divino 364,8s.
cxtcnninado 463,9 ~-
listado sccular 168,32 -no escuro 28,7
cotisidcrado dcsprcrívcl 140,lss. - s6 ela jusiilica 29.5; 29,10; 357.35
sua autoridade 224.22 -tudo dçoendç dela 29.20
listand.vtc do imperador 433,2-30 - fortalecida 30,7
listáter 89,14 - fé sscm vidor 30,18
li~in~ico 92,ll - viva e ativa 30.22
livluigilho - quc tudo pude 10,30
hern sublime 59,28 - hem sublimc 59,28
- fi se difunde com fúria 60,12 -príncipes querem doininá-la X1,33
o s homens ii o suporiam 68,37s. - sob coação 97s.
- e E. do reino de Deus 85,2s. - fundamentada na Palavra 97.28
- goveinar p/ E. 86.28~s.;87,lOss.; 129.23 - obrigar a ela 129,36s.
é lei espiritual 129,34 - disiorcida 136,40
- cnsina a abrir má<> dos bens 110,26s. - ile leite 169,33ss.
c' minadc 182.Iss. - quz basia a si inçsma 182,24
ndda cnsinii sohrc governo 187,12 - i i ç g q á i ~da fé 21R,12ss.
riiliguún é hostil a clc 210,34s. - nada maior 294,27
obcdi6ncia ti clc 216.34 - cpicuristi 460.16
;icusado de desordeni 309,ZZss. - e cspada 430.12~~.
opor-se a ele 318,IYss. - silenciada e reprimida 509,20ss.
ciisina a solrer injustiça 322,Zls. Feudos 392,29-393,17
ii se envolve c/ assunlos seculares 3 2 3 . 8 ~ ~ . Fidelidade 206.24-209.7
ímico meio de salvaç2o 323,23s. - proverbial dos almkes 207,10ss.
fi pode ser negado a ningut'm 323,29s. Filhos
ii prccisa de espqo físico 324,7 - sua erluça$do 4 3 1 . 5 ~ ~ .
ii cstabclccc comunhão dc kiis 333.30~~. -das oastorcs 518.19s.
scu insi~cessu343,llss. Filho da perdiçáo 220,35
pcrxguido c indcscjado 354,2ss. Filhos dc Adão 84,31ss.; 97,lOss.
deve feder 411.13 Flautista de Niklashausen 273.20
pouco pregado e crido 435.4s. Fome 69,31ss.
luta contra ele 5W,32ss. Força de Deus 62,R
I<v~~igelistas 296,20 Forhrna (a deusa) 190,27s.
llruiiie dos espíritos 291,3ss. Fracos 481,35ss.
I:rccç?ks das leis 369,33ss. Fraldas de Jesus 213,24
l iiconiunhão Prankenhausen, BaWha de 282,25
de Idutero 411,33 Fraqueza da came 170,10
iiin abuso 514,27ss. Frutos do Espírito 291,Rss.; 294,24; 2 9 5 . 5 ~ ~ .
I irimplos Funcionários públicos I7l,L0-16
Iigrai p/ sçgui-los 154,20ns. - relegados ao abandono 172,9ss.
CIO príncipe p/ o povo 161,42-162,lss. - caça rara no céu 201,20s.
l ixCl-cito -ladres e desleais 448.37~~.
L. se mantém longc dclc 194,Il
cristzo algo impossível 413,33-414,27 Ganância 395 n. 123; 447.25
I(xlxriéncia 23,22s.; 25.29; 26,37 Gemidos de oração 420,lss.
CIO tigu de Deus 27,2 Gentios
;il~rcn<ler por e. 142.4 -hábeis em assuntos de governo 187,35ss.;
201,2s.
- suas mjximas 200,31s.
- c o diicitii cristáo 3l6.37~.
- os maiores emditos 66,21s. Impostores 63,28ss,
Humilhação 68,34 Imoulso divino
p a r a o regime secular 1191,9s.
Idolatria 173,15.21.41; 446,32; 512.7-514.6 e s p e c i a l 197,15
d e Maria &,I7 indignidade de Mana 49.18-50,17
- continuou sob Moisés 175,23ss. indulgências 41.34; 413,lS; 507,13-509.29
- dos judeus 175.24~~. - escandaloso embuste 509,lsa
- não combatida no papado 211.20s. Infortúnios 40,17
í<tolo Inferno 71.14: 177.28
- Maria como é. 51,16 o terceiro e mais profundo 178,ll
Ignorância 353.39 Iflação 449.3~~.
Igreja ingratidão 355,17ss.
c r e r nela 9 7 . 3 8 ~ ~ . - dos alemães 446,26ss.
- pequeno rebanho 144,14 Inimigos
d o diabo 175,37ss. -amor aos i.s 95.23~~.
- a Santa I. Cristã 176.15 -os piores são os mais próximos 196,15ss.
- abuso de seu nome 192,ZIs. Iniqüidade 169,3
- primitivas 223,13 Iníquo
- sua autoridade 224.23 - o anticristo é o i. 169,7ss.
- acima da Escritura 231.12 injustiça
- Deus a preservou 262.10~~. - não é motivo para guerra 59,20
- Cristo a governa 269.8~~. - sofrê-la 63,16; 94.20; 111,11; 314,25;
não luta com a espada 416,20ss. 317.8~s.;322.21s.; 373,29; 374,24s.
noiva de Cristo 453,19 - ninguém a comete 210.34
fonna reconhecível 518,s - defesa contra ela 246.42.249.3
Igualdade 228,Zss. inspiração divina 288,14ss. e n. 15
Iluminação do E. S . 23.23s. - faz o homem milagroso 165,27ss.
Iniaculada conceição 98 n. 32 -entre os gentios 190.31s.
Iiiiagens 129,18 instrução aos príncipes
- caem por si 297.5s. - servir aos súditos 107.33-108,31
- turcos não as tolemm 428,Ilss. - precaver-se das pessoas próximas
Iirioiialidade da alma 506,IXss. 108.32-110,20
I~ripcrador81,36; 82.3.11.18; 98.24; 135,Sss. -aplicar a lei com sabedoria 110,21-112.14
17s.; 136,lO-28 - pitar-se cristãmente 112,15-29
limite de seu poder 101.28~~. insucesso com a pregação 352.26s.
é a lei viva 154,7 insmição inadmissível 336,19s.
dcfensor da Igreja? 222.5s. Intenção 29 n. 14; 371.7-372,12
defensor do papa 241,6ss. Intercessão 42,4
resistência a ele 252,41ss. p e l a s autoridades 144.14~~.
diferente do papa 260,23ss. Intennediação
Cristo nos submeteu a ele 333.24s. -Deus age sem i. humana 474,lss.; 475,lO
se Lutero fosse i. 415,33-416,ll Intervenção direta de Deus 475,34ss.
- inão é cabeça da cristandade 429,35ss. Intmmissão em funçües alheias 166.2-168,14
- seu dever e ofício 430,22ss. Inveja 197,16ss.
- deve assumir seu mandato 430,36-433.31 -espiritual 198,ISss.
guardião da fé? 431.30 - mandou o diabo ao paraíso 201,13
I.utero sobre sua pessoa 500,37-504,3 inversão da Palavra 176,lss.
Iliil+rio, seus quatru pilares 143.3 Invocação
Iliipios - de Maria 51.17
como converte-bs 104.20 -dos santos $,18; 512,20ss
rcçeixm dons mais bonitos 170,27ss. Ira 143.41
Iriiposiçáo de leis às almas 97.23~~. - dar-lhe lugar 220,13
Ira de Deus 308.7.30~s.;316,35 -precisam de um Lutero 205.15~~.
-incita o clero 182,12 - pode o cristão seM-los? 2 4 7 . 0 ~ ~ .
-Deus ameaça com ela 313.17 - ~ o m p t o 448.1s;
s
-representada pelo príncipe 347,22 Juros
- como aplacá-la 418.17~~. - anti-evangélicos 130,3s.

- opor-se a ela 421,4ss. - como proceder com eles 130.13; 111.1 1

- príncipes deveriam antecipar-se 476,2ss. - como regulamentá-los 130.28~~.


Israel 57.11; 69.17; 70,27; 71,s; 71,33-72,23; Justiça
90,32; 11,14; 144,Z; 322.24~~. - do phcipe 145,6ss.

- é um mistério 72,23 - sã e doente 155,36-156,lss.


- não aceito por méritos 72,29s. - oculta nos livros 193,32
- seus reis 76,23ss. -da fé 227.21~s.;364,14ss.
- calúnia pecado m o d em I. 192,lOs. - feita com as próprias mãos 322.28~~.
- seu direito 205,18 - exterior 364.18~~.
Justificação
Jejuar 29,31; 482,lA.; 28.24 - antes das o b m 151.33s.
Jemsalém 36,36 Justo
- cercada de inimigos 191,15 - método para tomar-se j. 28,20
Jesus nosso Duque 317.20 - só cela fé 29.5
Joio 211.31 - é quem confia no Senhor 67,35s.
Judá 7 6 . k . ; 159,28 - faz mais do que a lei exige 85,15-28
Judeus 55,18; 63,12; 91,lO; 104,30 - seu caminho é desprezado 169.19

- inimieos da verdade 63.31 Juventude


- sua vantagem 75,5ss. - Lutero preocupado com ela 182,20
- descendência de Abraáo 75.21 - negligenciada 204.31~s.
- endurecidos 75,22ss.

- como má-los 75,27ss. Karsthans 279 n. 31; 280 n. 32; 473 n. 2


-têm promessa exclusiva 75,29s.
- se baseiam nas obras 91.27 Lansquenetes 191,36
- lei de Moisés exclusiva dos j. 129.30s Lapites 195,ll
- idólatras 161.4~s.:175.24s~. Lavoura
-nela se pode seMi. a Deus 93.16s.
Lealdade 427.19~s.;436,16ss.
Legítima defesa 387,3ss. 26
- resoeitam o direito universal 316.8 Lei
Juizes' d a d a aos judeus 75,l
- podem ser cristãos? 96,6 - seu sentido 75,12ss.

- em causa própria 135,34s.; 314,19 - sua razão de ser 85,28-86,7


- presos à cupidez 222.23s. - que significa eliminá-la 86.28~~.
- ofício divino 364,4ss. - cristZos não sujeitos a ela 87,lss.
- devem agir com eqüidade 372.3~~. - sua abolição 94,29-96,4
Juiz Supremo 351,22ss. -Cristo não a anula 95.1
Juím final está próximo 182,lss. - os dois tipos 97,12
Jurar 95.33-96,4 - do regime secular 97.14
Jii~mnciito - em caso imprevisto 107,lss.
kiio n Abraáo 74,29 - não se pode governar por ela 129,22
il:is ;iiiloridades 380.8~~. - de Moisés está mona 129.30
ilc Icaldnde 436,17ss. - Lutem não a condena 143.24
h;iiisiii:il 504,18ss. -mendicância e remendagem 156,Sss. 26ss
Jiirisl~r~~cl?ricia cormpta 44X,5ss. - para combater vícios 209.27~~.
.Iiiiisi:is 114:) - útil pan a Igreja 222,Y
;IIX'II~S ctiiifiiiiilirii 111.2X k i çrisiá. exemplos de 3lX,I-114,17
Lci di~uia313.10 e n. 32: 316.26s. - longe (Ias corres e do exercilo IY4.Lls.
Lei i r n p z d 205,27ss. - sem ilusães 206.14s.; 435,6ss.
Lei natural 153,hss.; 159,24; 253.17; 314,18; - teme riclos aleniães 208.1
378 n. 71; 381,33
Lei papal 124.27~~.
Lei universal 314,18
Lesa-n~a.iestade371 n. 44; 381.17: 397.36 - niocuia o papa 235.23
Leviatã 55 n. 39 - sua condicão de súdito 290,IOs.
Liberdade - se considera desamparddo 291,25
- em relaçáo ao AT 91,13ss. - pobre e miseirivrl 292,3s.; 310.17
-- cristã 166.23: 325.29 - se exp" a perigos 292,12ss.
- seu abuio 180.17~s. - seus sentimenlos 292,12ss.
- de expresso 197,IOs. - luta com o diabo 293.13; 320,33ss.
- de ensinar e crer 31 1.20 -arrisca a vida 293.21s.: 318.17; 488.16
- da opressão 322,211s. - inais douto que os sofistas 294.3~~.
- tn:il-cntendida 447,Il-24 - o iiiaior pcador 29ó.ls.; 320.41
Libetiinismo dos cardeais 506.24 -secolocawn1oe~cmplo297,12ss.; 119,4as.:
Liga 479,IOss.
-- de Gotli.florgau 361.19 -jamais causou mal a alguém 303,7ss.
- Hanseática 380 n. 81 - sofreu perseguiç2o 310,lOss.
- Simta 386 n. 97 -acusado de hipúcrita 313,l e n. 31
- de Esmalcalde 406 n. 1 - não defende autoridades injustas 320.3s~.
- dc Coguac 416 n. 16 - adulador de príncipes 327,3s.; 338,20;
Línguai 382.20~~. e 11.87
- livrei na Roma livrp 192,LO - inucenta-sc 324,17s.
- falsa7 na cone 193.29~~. - age cmifome siia consciência 329,37s.
Litariia 419.35~~. - suas am~ns:boca e oena 339.1s.
Livros. pouco sucesso 35225s. - símbolo de contestação 342.23~~.
Lixo do niundo 65.39 -sequeixade insucesso343.IIss.:35225ss.
Loriibardos 375 n. 64 - sua desesperança 343,211s.
I.ouçun 373.33-374.28 - seu ministério 351,25ss.
Inuvor 33.6: 42.11; 4 8 . 9 ~ ~ . - >obre os alemzes 370.31
Lucifer 32.2; 47,13 e ri. 31; 102.12; 105i.30 - leme coisa pior 355,ZOss.; 450,3ss.
I .,,Ia - acusado de incitar a rcbelião 355,25sr.;
- espiritual 396,34ss. 412,35; 425,29
- contra o Evangeiho 504,32ss. -disposto a tomar a espada 356,33ss.
- com reta consciência 417,23ss. - não acredita na re-romaniwção 357.20s.
I.iiIcnuios 180.27.29; 182.13; 481,7; 487.16 -convicto da vitória 359.13; 480.7~s.
488,36 - quer ser deixado en>paz 359,12
I.iixo ?12,7s. - sempre. leva a culpa 411,lss.
I .tItcm - s i ele losse iniperador 415,33416,ll
r i i o e s t á habituado i5 cones 123.39; 140,24s. - se ele fosse soldado 416,269s.
- c considera humilde 123,41 - quer servir a a i ~ g o es inimigos 417,275.
confessa que se excede 125.10s. - necessita de penitência diária 419.23s.
se considera um refugo 125.23 - sua missão 429,3ss.
sua obra um serviço à páaia 126,lO - sobre Maomé 438.36~~.
- consciência presa à Palavra 126,28 - inapto em assuntos de guerra 442.10s.
1i2u deseja viver na corte 142.l7s. - se considera profeta 48.16; 449.24;
grato a Frederico. o Sábio 151,14s. 521,29s.
icme uma dominação italiana 181,IOss. - chega a duvidar da oração 459.16~~.
cstiipelato diante da decadência 181,20ss. - não teme uma convulsão social 473,4ss.;
~"c<wiipado com a juventude 182.20 475.33~~.
-conta com a destruição t o d do regime -sua experiência 23.22~s.:25.2')
romano 473,31475,18 - do tronco de Jessé 26.4
- é boca dc Cristo 479.17~~. - se despoja 31,39
- saco de vermes 481,11 - um alegre albergue 32.10
- sua pedagogia 481,35483,19 - coração firme 32,27
- sua esperança no dia derradeiro 48736s. - de espírito temo e elevado 33,9
-já viveu o núicicnte 488,18ss. - seu espírito puro 34.37
- tiao quer mais envolver-se em conílitos - moça desprezada 40.20
491,llss. - sua nulidade 44.18
- n profeta dos alemáes 499.26 - sua bem-aventwança 44,14
- não açrrdita em guerra 499,32ss. - conio honrá-la 44,211

o nieUiorque Ihcpo~lenaacontecer500,lDss. - bansfnmadd cm Ídolo 45,6; 50.14 51. l h


- avtiiia Carlos V 500.37-SM,3 - exeinplo da graaça 45,34
- é a vwa dos clérigos 701,41 - exemplo pw:i o mundo 46.9

- mais instmído e experimentado 50?,26s. - buscar auxíiio nela 46.17

- grandc asno 517,31s. - sua singularidade 49.4s.


- é sem pecado 49,15
blacaheus 187 n. 100 -indigna e sem méritos 49.1Xss.
hl;icacos 151.20-153,s - rainha do céu 49,26; 50,14

M:icaquiçcs 154.25s~. - a oficina de Deus 5125


MBe - como invocá-la 51,17
d e Dcus 22.11.21; 32 n. 16: 41.1; 44,2b; - colocada em lugar de Cristo 5 1 2 . 9 ~ ~ .
45.26; 49.2; 51,5.26.33;52,25; 53.32; 57.10:
67.4.30; 70,l; 72.35; 77,17
- dr Cristo 25.28 - ncle se pode servir a Deus 93.16s.
- M.,ma ' O rmta m. 30.37 - rcino de Deus subsiste sem ele 94.1 1
Mal - iiiotivo dc perseyiçáo 174,3
- deve ser çoiiibalido na raiz 211.9s - 6 com'upiscência? 266,35-265.33

-não resisitir-lhe 413,lss. - Alcorão o descotisidera 4 2 6 2 6 s ~


- resistência a ele 414,4s. - ilicito 4 4 0 . 5 ~ ~ .
ivIiiI-da-aueda 165.19 Máxima? dos gentios 2C4I.31~.
Mcdida áurea 145.34~~.
Mcmmingen, União de 307 n. 9
. . meloschni 194.25
Mandamçnms Mendigo 198,12ss.
- adjudicados ao estado perieito 84,18s Mentalidade
- o Rirnciro 143.30~s. - itafiana domina 181.13: 182.18s
- os D w 295,14 - papai e epicurista s i a l a t r i 182,18
- o Segundo 313,12s.; 321.4 Mentira 173,14s..41; 207,15s?.
- niotivn para guerra 390,30-391.9 - dos monges 216,37-217,30
Manilaio Merito 37,lX; 60,23: 71,20
- ci>iiiprovadopor sinais 314,30 Mestrrs
di, pniicipc 334,32ss. f a l s o s 28,19; 175.21
<I<) imperador 430,36433,31 - da picdade aparcnre 28,31
bl;iiijc<l<iurn213,24 - do dircito é a sensatez 107,6ss.
M;i~ii<i <IçCristo 515 n. 49 Meste*scola é o turco 450,33ss.
Miii, <~i~cconduz. a espada 366,12-I6 Mercenários 35,17; 398,29ss.
ivl:i<riiii:.Lui<;rosnhre ele 422,6427.18 Milagrcs 170,17ss.; 308.32
- não se herdam 150.1
- odiai- os tansgrcss«irs C m. 174.17s.

- sisçsso de Davi inn in. 210.27s~.

- - pnrv;i <Ir iiiitoridadc 20X.20~~. i. ii. 5 0


- prova do mandato divino 314,30; 322,28 - de homem e mulher é maldito 73,27
dos últimos tempos 329,32s. -de Ciisto sem aconcorrênciade um homem
Mi~iiqrério
~~~~-~~~ 74.6%
de Cristo 94.14s. ~atureiã
dos bispos e cardeais 182.11 - humana üicotômica 27.13~s.;228.42~~.
- inverter sua função 414,13-415,26 - do aistão 94.19s~.
- de Lutem 351,25ss. - ensina o mesmo que o amor 113.17
-espiritual 491.7s -perversa e conupta 201.31
Ministério da Palavra - incapaz de criar um mundo novo 210,13
- sua rime ira obra 450.9-455.20 Negaçdo da fé 218,12ss.
- não'deve ser impedidá 296.16~~. Nepotismo 175,Zss.
- - seu ofício 297,3ss. "Ninguém" leva a culpa 193,6ss.
Miscricórdia 54.33-60,31; 341,20 Nobres
-- a obra mdis nobre de Deus 60.27
- pecar por meio dela 344,17ss.
-
-minam o Evangelho 182.1s~.
- sua ibnorânçia 447,28ss.

Missas Nobreza
- enfureciam a Deus 446,30 - se corrompe desde a mocidade 2W,22ss.

- podem ser correas 482,21 - iovem. seus vícios 209.24

- usurdnai 507,19 NO& dc 'Deus 200.4s.


- dc sacrifício 507,19; 510,13-511,16 Nome
-bmsiomadas em abominação 510,11-511.1 6 d e Deus 52.5ss.15
Misthio. oredestinacio é um in. 461.1~~. - de Cristo profanada 414,9ss

Nu perante o inundo 60,21


Nulidade 37,8; 44,18; 46.2
Monges
- sua heresia e hipocrisia 216,33-217,30 Ohedecer e dar ordens 185,17ss.
- culpados dc rebeliáo 308,17ss. Obediência
MoisEs náo prcvelecc no NT 333,23 - que dcçorre do poder 101,8ss.

Murada de Deus 28,6 - dos súdiios 111.4-112,22

Mortc 25,9 - suprcma a Deus 111,37

bem-aventuidda 336.10s. - i autoridade 135,24ss.

h o n r o s a 356.10 - çm caso de perseguiçdo à fé 136.18-28


Modm(;a de rcgime 205,30ss. - coroa c glória da vimde 168.1
Mula, Deus fala avavCs de uma in. 108,36 - obediência à auioridade, ordcm de Cristo
Midhcres 223,Yss.
amor por elas 195,lss. à autoridade tirjnica 310,ls.
<lespreiadasciiw os turcos 426,30ss. - aos senhores 332.19
Milndo - ai> i i n ~ r a d o 429.13~s.:
r 500.22s~.
pcrmmece acristão 87.5 Obras 28:19; 28.25; 35.7-36,2
nio merece príncipes Iionestos 103.21s. -de escolha própria 28,26; 35.11; 294,38
coisa dr>ente 156,18ss. - provocam divGgencia 29.4
siia carência 171,lOs
~iincanapicho cspinhentc 192,23
- nári deixain luear .
- venda de obias 41.19
" oara Dcus 29.14

nZo ficou melhor desdc Davi 20,24ss. - em beneficia próprio 106.26~~.

novo 210,Sss. -do amor cristão 108,12


çsle m. não presta 221,7 -trucidar e m a t a r obra dc amor 111.25s.
csiá como ria época do dilúvio 450,lss. - da came 209,16

Miintziiianos 447.20 - compiinsadas 35734

extinguem os sacramentos 294,31 - ç seu aulor 364,lss. e n. 17


Obras de Deus 30,12
.:
N..q.io alemá é devorada 124,19s
, , ,.',IICI110
N <,\'
- motivo para m a r 41.7

- devc ser louvaila 42.12


- é o urso-lobu 221,2Yss. Paz de Madri 386 n. 96
- prinia por avareza e arrogância 222.18~~. Paz de Vestfáiia 471 n. 6
- seu poder '224.35~s.;261,37ss.; 292 n. 31 Paz Religiosa de Augsburgo 405.43: 171 n. 5
- acima hi Escritura 226,28ss. Pccado 25.11
- é tirano 229,Xss.
- defição 23fl,16ss.; 234,39
-vigário de Cristo 233.36
- deve ser deshuído 240,16ss. -contra a sçguida tábua 218,16ss.
- Fucessor de Pcdro 244.7s. -contra o E. Santo 454,16; 485,33; 490.4;
- Lutero lhe faz injustiça 259.18~~. . .. ,-
.516 74.
- seu direito de criar leis 263,33ss. - recoiùie&-lo 478.20~~.
- é o anticristo 187;11s.; 508,20 - alheio 10.29 c n. 37
- era tudo em tudo 412.26~~. Pecado original 155,31s.
- nZo lhe compele a espada 416,IRss. -um de seus tiiatos 166.9s.
- srtihor scculu 425.17s~. - praga inata 186,25
-sr11iel1i:uite a Maoini 439,1741.9; 419.36s.;. Pecar vir misiricórdia 344,17ss.
- será d c s t ~ í d o 473.31~s. Pedagogia dc Lutero 481.35481.14
- foi desniascaradu 480,21ss. Pcdcrastia entre o clero 506.21~s.
- maior patife do mundo 503,36 Pciia de escrever, a impcratnz 431,17
Papado Pctiitência 329,2
- dorme e ronca cm segurança 175.34s. - afasta a ira de Deus 3 0 9 . 5 ~ ~ .
- iranslumid o pecado ern mentira 176,13ss. - premissa precípua 418,26-419,26
- não combatcii a idolatria 211,20s. - nenhuma iniciativa sem p. 428.37~5.;
- instituição desnecessária 268.19~~. 31,4.30s.
Papisias -primeira obra do ministério 455,21
- assas~iiiostrês vezes piores 177,35ss Perrgrinayíxs 507.21; 515,24ss.
- mofantes 2W.25~. Perlei<iu 84.25
- sSn supergentios 483.8 I'cifeiti~s80,15 t. n. 7; 84.16: 94.20; S . 2 3 ~ .
- 11iores que os lurc<is505.15~~. Pcrsas 65.14
s e r 11. 6 u pior iiisult<i511.28 Piirscguiç.?o por causa de Cristo 219.<~ss.
Parentes, sua influência 170,7 Fcrscverar na Palavra 168.28~s.:16919
Paraíso 198.13 Personagens prodigiosas 298 n. 56
Piroco Pclversão
- direito de escolhê-lo 324.32-325,6 - da Palavra 176,l ss.
. - seu suslenrr>325,1 - sexual 440. lss.
I >,uoquias
, .I . abandonadas 182,6s.
Pés-descalços 294.24s.; 512.15
, . .
1.utidanamo C condenado 481,6ss. Pessoas
I':liiilhar 242.37~~. - os dois tipos 147,ll-154.19
1:ist<ir - iii;Ís 176.21s~.
- vida disciplinada 161.18~~. - ufíci~> r I>.. disiinçáo enue 364,Iss. e n. 17
- dircito de escc>llie-lu311.14~s. Pleniiiidr do Espúito 294.24s.
ilcsvio de lunçào 415,4ss. Pichações 171,22ss.
<iqwulu depcndc dele 421,10ss. Picdosos 61.27
solte oposiçh 448.3Iss. Pobrcs
1':itriti celesli~il258,24ss. - dc cspúito 60,18; 63.16
. ....
I>:w - Dcus os acolhe 65.39
siia ongerii 29.9 - para ele turco ou cristão é a mesma coisa
1ir:tniça 199.3~~. 465.3~~.
coiszi preciosa 352,7ss. Pobre Co11~'ddo273.20; 359 n. 49
.nikraprcciá-1s 354,25ss. Pobreza 32.24; 226.35
I .iiicr<i scmprc. a buscou Poder
si~liiclilccla 425.30~s.;5íM.X: 519,21. - Irm que existir 65,hs.
- toma arrogante 199,13ss. - sáo anjos, deuses 21.26~8.
- público 225,23; 226.10s. - pagáos 76,ZOs.
- legal 298,19 - os perigos que curretii 76.38-77,ll
-apodem-se delc 315,15ss. - sua oração 77.32-37
- abuso do p. 351,20ss. d i f i c i l m e n t e são crisiãos 81.27; 159 ti. SI:
Poder dai chaves 514,27ss. 178,25ss.
Poder de Deus 51,9ss.; 61.16 - querem dominar a s consciências 81.33
Poder espiritual 54,24 -deveriam ser Iwns çristiios 93,lls.
Podenisos - assassinos de Cristo 102.27s.
- niaiores inimigos de Deus 64.12 - sábio 6 ave rara 103,Sss.
- Dçins os destrói @,29 - náo cumprem sua funçáo I~kl.32ss.;
- Ii~cimciintra Deus e o direito 65,33 413,14ss.; 415,5ss.
- adcrcm a doulrinas ídsas l69,17ss. - coiiseho de Lutcro a eles 105.4s~.
Poetas gaitios lS8.15~~. - Ilagelo de Deus 105,11
n u k r ~ v p a258.24~~. - cristdos dcsistcm da violência lOh.24\\.
Postilas 85 n. 15 - iiislrução a eles 107.33-114.16
Populacho-povão-povari.u - çaFd riird no cEu 108.10; 160,hs>.:201.10:

- náu deve ~ipiiardcmais 374.21~~. 388.16~~.


- sú quer mudança 379,17 q u a t r o áreas de ateiiçiio l12,19-29
- se toma estúpido c selvagem 182,7ss. - o quc devem saber 144,23ss.

- é ürano 374.26 t ê m que usar graça e justiça 145,lSss.


P0i.0 t ê m carsncia de sabedoria 156,23s.
- governado com mão de feno 352,2X - que seguem a namrcza 15Y,24s.
- eiilouquccido 379,22 -inimigos de Dcus 159,23ss.: 382,29
- alilcrniio, grosseiro e selvagem 4111,39s. -toleram inimigos da Palavra l61,35ss.
Povu dc Deiis - aos qudis Deu? quer heni 162,17ss.
- poucosr~isinocentes 178,26 - garmhões indnmito? 163,llss.
- sofre de.~gaça e miririi 184.1s. s u ; i maior praga 1 6 4 . 2 ~ ~ .
Povo judeu 200,24 - Davi tem a pniiimia entre elcs 180.6s.

Praga 754.16~~. - desprezam a caliuua 191.39~192.lss.

Prebendas 174,h - oalhacos no amor Dor inulhcrcs 1 9 5 . 1 ~ ~ .

Preces 355,6ss.
Predestinação 460.16; 461.13
Predicantes 512.15 - sua posição 2 5 5 . 6 ~ ~ .
Pregação - seu destino 287,23
- enganosa tcm aparência bonita 169ss. - culpados de rebelião 308,16ss.
- de ira e misericórdia 344,3684. - instnimenliis da iid dç Deus 334,32ss.:
- ilr I ~ O U C Oefeito 352,25ss. 347.22
Piegadi?rcs - i-enrescnlante de Deus 313.12
- íttlsos .35,8;309,lss.

- kil;ini por íoqa de ofício 185,2699.

- dos pagáoh 189.3

- instniern as conscifncias 26,17s. Problemas de consciêiiciii 381.9


- sua crimpçtêiicia 338,21ss.; 441.7~s. Probos pcrseguidos 173.42-174.1\S.
- <i i~wtntodepende dcles 421,IOss. Proccsso judicial IOj,5s.
-- \<iITcmupusição 448,31ss. Procissões, costume inútil 419.34s.
I1rr.l>tiçio91,R Prodígios e vocação 303.15~~.
I'w\i;~yL,i I i contas 182,26s. Profanação do nome dc Cristi? 414,')s~.
I'ri~~ici~w t~íh~~! Profetas 60.8; 73.4
:ili;iriiliiii:ir iildo por causa dela 217.12-218 , 1 - livertun a nicsma fé quc 116s74.31s.
I'!ir~ci[ws5X,19.3% 6l,Ick 98,24; lOíl.ll: - - - cntcndcram o sciitidr, d;i Iri 75.1 1 s ~ .
IIlL.17 103.22 . - iijcitarmii as hoas <iI>i-is75.1.1s~.
-dos pagZos 189,Zss.; 195.33 Keconçiliaçáo 428.37~~.
- denuncimn os vícios 192,16s. Regime
- Homem, p. dos gentios 192 n. 114 - ila espada 86,11
-falsos 198.25; 309,lss. - cristáo p m o mundo
- Bias, p. gcritio 200.33s. - tirimo dcve ser tolerado 8 7 . 7 ~ 200.18~~.
~;
- pouco coiiseguir:mi 450.26~~. -sua ~iiudonçase fará com sangiie 205.30~s.
- 160superiores a nús 453,12ss. - de Davi o mais sobliriir 213,Xs.
Prufetiis de Zlvickau 285,40; 289 n. 20; 291 n. - mais constante 375,17ss.
30; 293 n. 34; 298 n. 56 - anticristão será destruido 474.l?ss.
Profissk 396.20s. Regime espirilual 158.25-183,3
Pioiiicssa - separado do sccular 129,38-130.3
- a Abraáo 72,28-76.7 - E serviço à autoridade 185,29
- exclusiva dos judeus 75,29s. Regimes, os dois 17 n. 4; 368.25~s.;369.10~~.
Propriedade 228.21; 236.24~~. -distinguirenlreclcs87,18-30; 183.24-187.15
Prúximo, como seivir-lhe 88,27-90,25 - Davi os mistura 185,7ss.
Pseudopii>t'rtas 236.13 - misturados em relação a Deus 185,36ss.
Púlpito 18?,33 - confusão delcs 186,9ss.
Puni~áo - scus ofícios 187,20ss.
- C i~npossí\~el punir todo o mal 146,lis. Rcgiiiir secular 145,s; 183,10~212,3;308.2
- tcm sua hora 146.16: 147,10 - silits leis 97.14~~.
- como punir a auloridadc 377.20s~;378.7%~. - C decndeiite 100,25

P ~ l r ~ t ó r446.30
io - servo dç Cristo não se tncte cvk 168.6s.
- ~1111 embuste 509.30-510.10 - or<lemç criatura de Deus I 8 3 . 3 1 ~ ~ .

- tem existsncia própria 181.37s.


Quaresma 45.32 - simbolo da hem-aveniurança 187.25s.
Queda 73,23 - sujeito à razão 187,29
-do nome dc Cristo 414.9~~. - precisa do impulso divino 191,9
Reino
Kainha do céu 49,26; 50,14 -de Davi 175,27ss.
Razão 27.30; 159,23 - do inundo 86.8-88.21
q u e loura a Dçus 30.38 Rcino de Deus
- estar corii eia 56,9ss. - os qiie perienccm a ele 84,33-86,7
- superior a lodos os livros jurídicos 114,lOs. - suhqiste pzla Palavra 94,ISs.
- fonte de todo direito 114,14ss.; 153,6ss. Rcino de Cfisto 93,31ss.; 144,39-145,lss.;
- Lutero n.io a roiidrna 143,24 ?<>O.Osr
- natural irwniga de i k u s 159.15-160,lss. Reino Espiiitoal
Rcklde - transl<imadoem r. sccul.ir 326.4
- deve scr morto 3 3 3 . 3 ~ ~ . Reiiios. os dois 97,lOss.; 307 ri. 10; 347,12ss.
. ca~.iiorroraivoso 333.5 - existem simullancamcnte 184.9~s.
. - pior dos assassinos 337,27ss. - u diaho os mistura 184,35ss.
não rncrece misericórdia 344,Sss. Rçis
- difcisnte do delinqüente coinuin 355.29~~. p a g ã o s 76.20s.; 173,7ss.

I<ibcldia, cnme incomparávzl 356,30s. - de Israel 76,23ss.


I<chclião 355,25-357.21 j u s t o s ein Judá 159,28ss.
sua gravidade 35ss. - ininigos de Deus 159,33ss.
dcsokdi&çia 3 autoridade 135,28S. d e s v i a d u s d c sualùnçãn IG6,20ss.;412,14ss.
jamais Irirnina bem 328,4ss. -jiisto é miserável 171,33s.
lutero aciis;ido de r. 355,25ss. - de boa consciência m o s 178,25ss.
ileve sci rvitada 475,30 - D.~ Y' tcm I a primazia 180,6s.
irada resi~lvr476.11~~. - viiiinas da adulação 195.33~~.
ilisir1u:içiío do diabo 476,40ss. - nZo toleram crítica 210.20s~.
I<<,i.<illipciisa 35,32ss.; 38.9 - defensores da Igreja 222,Ss.
- por amor 35.37-36.2 'Terra. distribuição da 352.13
- ao próximo pela espada 88.27-90.25 Tirania 1<l8.?7ss.
- a Deus em maüimônio e Iavoiira 93,165 -do povo 374.20-29
- a Deus de modo hipócrita 183.15~s. Tuanicídio 373,jss.
S e ~ i ode Cristo Tiranos
- i se mete rio regime secular 168.66. -- devem sei- tolerados 200,lXss.
Sinai 53.17 - como enfren6-los 373,3-376,26
Sinagoga dc Satanás 169,16 -pior dris animais selvagens 200,36-201.14
Sinais -porcausa deles sobreveio o dilúvio 202,12s.
-crimo pmvade autoridade298 n. 56;303,15ss.; - sujeito a Icis 235.7
314.30; 322,27; 439.9s.; 452,24 - seu dcstino 327.26s.
-dos tempos 308,8ss. c n. 12; 308,311 329,12 L . náo pretende rnsiiib~los358,21ss.
Si?kraiio Tolerância
- pcsson piihlica e pxticular 391,301s. d o s tiranos 200,18ss.
Socicda.de dos apóstolos 242.37-243.21 - corri os fr~qcoi 296.3~14
Soiistas 80 n. 6; 84,14ss.; 87.15: SCl,34;94,20: Tiabalho no cmipo 296.8
Y8,25; 294.5 Tradicão 98 n. 32
Sotrer Tirad!&ão 165.35
- por causa de Cristo 238.19~s. Transgressores 173,1Sss..42
- é o direito dos çrist2ios 331.30 - sabem se imoor 174.20s.
-tudo 413,lss. - odiá-los C milagre lj4,37s.
Sohnenia 25,10; 40,16 Tratado d i Barcelona 495 n. 27
- afasta do caminho 170,lss. Tregua dç Fiankfuit 215.4
- Deus o peirnite 184,ls. Trigua dc Niunberg 214,29
- cristão disposto ao S. 347,2hss. Tnbunal humaio 94,21.7?
Suld:*diis - sua autoridade 231,5s.
- olício coilfirmado 91,33 Tnbulos 311,23 c n. 28
- supcisticiosor 399.15~s. Xicolomk~do ser hurnano 27.5-2Y..i7
- sua orriç3o 399,29400.9 Tronos
- se L. fossc S. 416,26ss. - n.ío são dcsmtídos h5,4
Soldo 392,20ss.; 394,lss. - têm ~ U existir
C 65.6s.
Soitc 190,28s. - prínci~iessentar11 no wonu dc Dcus 81.32
Siibordina~ão185.19 Turco 205,19s.; 232,221; 260,33
Sucessão apostólica 244,7ss. - sua fidelidade 208,25s.
Succsso 434,29ss. -- ~cspcita a lei universal 316.8
Si~bvcrsãoda ordem 430,13ss. - servo do diabo 421.20
Súditos L . sobre ele 427,19428,33
- seu engano 81,30 c a s t i g o de Deus 417.32~~.
- sw proçediment<i 102,24~s. - ensinará o temor 450.13~~.
- ol>edi2niia ao príncipc 11 1,4-112,12
- devsrii proiegçr o matidaláno 337.30~6. LTniio Cristã 306 ri. h
Supersticão cios soldados 309.15~~. U~niáode Meiiiniingcn 3117 n. 9; 313 n. 32
Universidades 81.7
T;~~ieinophrosyne 37,37 Uso dos bens 60.24
Iixaçks 111,22 Urso-lobo 221 ,I ss.
lklhas nos telhados de Wunns 292.28 Usiira 181,21
'lbineridade 143,25ss. - falta de coragem para combatê-la 21 1,20
'lknirii-h0,19; 77,6 - avança com fúria 448,19ss.
'ltrnlirx estranhos 335,23ss.; 357,22ss.
'ltiirla do sanlu.ino 28,l Vara
li.iil;ir a Dcus 456,20ss. - o pai n pode poupá-la 145,25ss.
'li.iili,gi>sil<ispagãos 189,3 - b m iein quc scnti-l;i 352.17s.
Vara de Deus 450.33~s.:4 7 4 . 5 ~ ~ .
- o príncipe a representa 347.22
- o turco c v. de Deus 417,37-418,Y

Velas, é tolice acender 183,16 - apelar a ela 313,29s.


Venda - contra a autoridade 376.17~~.
- de hoas obras - diabo desimido sem v. 480.1
- dos bens 41,19; 216,5ss. - deve ser tolerada 4873
- dc capuzes 517,3ss. Virgindade de Maria269 37,26;50,lss. e n. 17
Ver a Dcus 26.38 Virtudes
Verbas públicas 167;2?ss. - hunuldade, v. suprema 36.20
Verdade incômda 174.33 - milagr~>sas 166.2s.
Vespertina, oração 22.19 c n. 6 - çlevadss dcmais p/ o povo 192.5s.
Vícios - itdliiu~as211,22ss.
d a intromissão 166,3ss. Vistas b~oss;is59.12
d a s ni8s Lúigiias 194,3 - Deus faz v. g. 141,21
- da arrogXnci;~198.8-202.14 - govemantc tem que fazer v. g. 117.8
-da mentira 207.15~~. Viver sem Deus 181,3ss.
- da nobreza Jowm 209.24 Vocação
- leis p/ combat2-Ias 209,27ss. - dc L. c dos nistãos 182,26
- combatê-los a temoo 211.4s~. - p u a o ministério 302.25s.

- mverier sua iunção 414,13-415,26

Vontade
- de Deus 30,20
.
em benefício .nrónrio 106.25s~.
- escandalosa dos pipistas 503.30-507,12
- livre 60.19
- fi pode ser coagida 352,35ss.
- desregrada tolerada ZYh,Sss. Voz celeste 288.16-289,lss.; 298,13
- cristã 480,7 Voz de Deus 294.14~~.
- eterni 182.31: 506,18ss. Viilgata 91 n. 23
Vigdno de Cristo 233,36
Vinda dc Cristo 441.15: 474,31 Weingarten, Acordo de 282 n. 37
Vingador, ser seu próprio 314.19. Woms, Assembléia Nacional de 292 11. 31
Vingança 94,20; 265,25ss.
Vinho 205,lO Zelo, assassinato por 177,Y
Violação das consciências 100,3s. Zwickau, os profetas de 285.40; 289 n. 20;
Violência 291 n. 30; 293 n. 34; 298 n. 56
- seu uso 103,2X 104,lss. Zwinglims 447,20
c o m b a t e r v. com v. 111,14ss.; 135,30ss.

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