Função Afim

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Material Teórico - Módulo Função Afim

Noções Básicas

EP
Nono Ano - Ensino Fundamental

BM
Autor: Prof. Angelo Papa Neto
Revisor: Prof. Antonio Caminha M. Neto

O
l da
rta
Po
1 Função afim: definição e propri-
edades básicas
Em um material anterior (veja o módulo Funções - Noções
básicas, parte 1, exemplo 3), vimos que duas grandezas são
chamadas diretamente proporcionais se a razão entre elas
for uma constante, que chamamos constante de propor-

EP
cionalidade. Vejamos um exemplo:
Exemplo 1. Quatro amigos foram almoçar em um restau-
rante de comida por quilo. A tabela a seguir mostra os
resultados das pesagens do almoço e o valor pago por cada Figura 1: os pontos A, B, C e D são colineares.
um. Qual o preço do kg de almoço nesse restaurante?

“peso” em g R$

BM
372 16,74
470 21,15 Uma função linear f : R → R tem as seguintes proprie-
512 23,04 dades:
540 24,30 (i) f (x + x′ ) = f (x) + f (x′ ), para quaisquer x, x′ ∈ R.
Solução. Dividindo o valor pago pela massa de comida (ii) Para cada c ∈ R constante, tem-se f (cx) = c · f (x),
consumida, obtemos o preço de um grama de almoço. para todo x ∈ R.
Como esse valor é o mesmo para todos os consumidores,
devemos ter as seguintes igualdades: De fato, se x, x′ ∈ R, então f (x + x′ ) = a(x + x′ ) = ax +

16, 74
372
=
21, 15
470
=
23, 04
512
=
24, 30
540
=a

De fato, executando cada uma das divisões acima, obte-


O ax′ = f (x) + f (x′ ), e isso justifica a afirmação (i). Por
outro lado, se c ∈ R, então f (cx) = a(cx) = c(ax) = cf (x),
o que justifica a afirmação (ii).
Reciprocamente, se f : R → R satisfaz a condição (ii),
mos sempre o mesmo valor: a = 0, 045 R$/g, que é o preço então f (x) = f (x · 1) = x · f (1) = ax, com a = f (1). Em
por grama de comida. Uma vez que 1Kg = 1000g, con- particular, para funções de R em R, a condição (ii) implica
da
cluı́mos que o preço por quilograma de comida é esse valor a condição (i).
multiplicado por 1000, ou seja, 45 reais. Uma função f : R → R, dada por f (x) = x + b, onde
b ∈ R é uma constante, é chamada de translação.
Na tabela acima, os valores da segunda coluna po- Cabe observarmos que, em geral, uma translação não é
dem ser obtidos a partir dos valores da primeira coluna, uma função linear, pois, se c 6= 1, então
multiplicando-os por a = 0, 045. Obtemos, assim, uma
relação de dependência f (cx) = cx + b 6= cx + cb = cf (x).
l

f (x) = ax (1) O efeito geométrico da translação dada por f (x) = x + b


rta

é “mover” um ponto x situado na reta real. Realmente,


com a = 0, 045, onde x denota a massa de comida (em se b > 0, o ponto f (x) está b unidades à direita de x; se
gramas) e f (x) o valor pago por ela, em reais. b < 0, o ponto f (x) está b unidades à esquerda de x; por
Claramente, na situação do exemplo apenas valores in- fim, se b = 0, então os pontos f (x) e x coincidem.
teiros positivos de x podem ser considerados. Contudo, se Como já vimos no material Funções - Noções Básicas,
fizermos x variar em R, obteremos a função f : R → R, parte 2, página 4, a função f : R → R dada por f (x) = x
dada por f (x) = 0, 045 · x. Esse tipo de função é sufici- é chamada função identidade. Essa é a única função linear
Po

entemente importante para merecer uma definição que o que também é uma translação.
destaque. A definição a seguir generaliza a classe de funções vistas
acima.
Definição 2. Uma função f : R → R cuja lei de formação é
dada como em (1), com a 6= 0, é chamada função linear. Definição 3. Uma função f : R → R dada por f (x) =
ax + b, onde a, b, c ∈ R, é chamada de função afim.
A escolha do adjetivo linear pode ser justificada obser-
vando-se o gráfico de f . Na figura 1 podemos ver os pontos Toda função linear é uma função afim, com a 6= 0 e
A = (372; 16,74), B = (470; 21,15), C = (512; 23,04) e D = b = 0. Toda translação é uma função afim, com a = 1. Se
(540; 24,30). Esses quatro pontos pertencem a uma mesma a = 0, a função afim pode ser escrita como f (x) = b, e a
reta que passa pela origem do plano cartesiano. chamamos de função constante.

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Reciprocamente, toda função afim que não é cons- 2 Caracterização de funções afins
tante pode ser construı́da a partir de funções lineares e
translações, da seguinte maneira: seja f : R → R uma Nesta seção, vamos exibir uma propriedade que caracte-
função afim, dada por f (x) = ax + b, com a 6= 0. Então riza as funções afins. Também veremos que é fácil decidir
f = T ◦ L, onde T : R → R é a translação dada por quando uma função afim é crescente ou decrescente, de
T (x) = x + b e L : R → R é a função linear dada por acordo com a definição a seguir.
L(x) = ax. De fato, para todo x ∈ R, temos
Definição 6. Uma função f : R → R é chamada cres-

EP
(T ◦ L)(x) = T (L(x)) = T (ax) = ax + b = f (x). cente se o valor de f (x) cresce quando x cresce, ou seja,
se para x, x′ ∈ R, tivermos
Exemplo 4. Uma função f : R → R é chamada de in-
volução se f não é a função identidade e f (f (x)) = x, x < x′ ⇒ f (x) < f (x′ ).
para todo x ∈ R. Vamos obter todas as funções afins que
são involuções. Para tanto, seja f (x) = ax + b, para todo Uma função f : R → R é chamada decrescente se o
x ∈ R, e suponhamos que f (f (x)) = x, também para todo valor de f (x) decresce quando x cresce, ou seja, se para
x ∈ R. Então, f (ax + b) = x, isto é, a(ax + b) + b = x. x, x′ ∈ R, tivermos

BM
Dessa igualdade segue que
x < x′ ⇒ f (x) > f (x′ ).
2
a x + (ab + b) = x, (2)
Lembremos que, dados x, x′ ∈ R, escrevemos x < x′ para
para todo x ∈ R. Em particular, se x = 0, então indicar que x′ = x + h, com h ∈ R, h > 0. O número po-
ab + b = 0, o que implica b = 0 ou a = −1. Consideremos, sitivo h, que devemos somar a x para obter x′ , é chamado
pois, esses dois casos: incremento.
O Teorema 7 a seguir caracteriza as funções afins em
(i) Se b = 0, (2) pode ser rescrita como a2 x = x, para termos da razão
todo x ∈ R. Fazendo x = 1, encontramos a2 = 1 e, daı́,
a = 1 ou a = −1. Se a = 1, então f (x) = x seria a função
identidade, o que não é permitido para involuções. Logo,
a = −1 e f (x) = −x.
O f (x + h) − f (x)
h
, (3)

onde h é um incremento arbitrário. A razão (3) é chamada


taxa de variação da função f no ponto x, para um in-
(ii) Se a = −1, então (2) é trivialmente satisfeita, indepen- cremento h. Podemos ver a taxa de variação como uma
da
dentemente do valor de b. Logo, f (x) = −x + b. (Observe medida da “velocidade” de crescimento de uma função.
que esse caso, no final das contas, inclui o caso anterior.) Em geral, essa taxa de variação depende de x, mas para
Se A é um subconjunto não vazio de R, uma função funções afins ela é constante, como veremos a seguir.
f : A → R, dada por f (x) = ax + b, com a, b ∈ R também Teorema 7. Seja f : R → R uma função.
é chamada de função afim. Analogamente, repetimos
a mesma nomenclatura definida acima para translações, (a) f é uma função afim se, e somente se, a taxa de va-
funções lineares, etc., no caso de funções f : A → R. Veja- riação
l

mos um exemplo relevante nesse sentido. f (x + h) − f (x)


h
rta

Exemplo 5. A função f : N → R dada por f (n) = an + b,


com a, b ∈ R, é uma função afim cujo domı́nio é o conjunto é constante, para quaisquer x, h ∈ R, com h > 0. Neste
N dos números naturais. A imagem de f forma a sequência caso, temos f (x) = ax + b, onde a é o valor constante
f (1), f (2), f (3) . . ., tal que a diferença entre dois termos da taxa de variação e b = f (0).
consecutivos é sempre a mesma: (b) Uma função afim dada por f (x) = ax + b é crescente
f (n + 1) − f (n) = a(n + 1) + b − (an + b) = a. se, e somente se, a > 0, e é decrescente se, e somente
se, a < 0.
Po

Uma sequência desse tipo é chamada de progressão


aritmética (PA) de razão a. O termo f (1) = a + b Prova.
é chamado termo inicial da PA. Denotando an = f (n), (a) Assumindo que f é uma função afim, podemos escrever
temos que a1 = f (1) = a + b, isto é, b = a1 − a. Logo, f (x) = ax + b, com a, b ∈ R. Então,

an = f (n) = an + b = an + a1 − a, f (x + h) − f (x) a(x + h) + b − (ax + b)


=
h h
e podemos escrever ax + ah + b − ax − b
=
an = a1 + (n − 1)a, h
ah
a qual é denominada a fórmula do termo geral da PA. = = a.
h

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Reciprocamente, supondo que a taxa de variação de f é Teorema 9. Sejam f, g : R → R as funções afins dadas por
constante e igual a a, temos f (x) = ax + b e g(x) = cx + d, para todo x ∈ R. Então, a
composta f ◦ g : R → R também é uma função afim, dada
f (x + h) − f (x) por
= a,
h f (d)
z }| {
para quaiquer x, h ∈ R, com h > 0. Em particular, se (f ◦ g)(x) = acx + (ad + b).
x = 0, obtemos Além disso, se f e g forem ambas crescentes ou ambas

EP
f (h) − f (0) decrescentes, então f ◦ g é crescente. Se uma delas for
= a ⇒ f (h) − f (0) = ah. crescente e a outra for decrescente, então f ◦ g é decres-
h
cente.
Da mesma forma, temos
Prova. A primeira parte é um cálculo imediato:
f (x) − f (x − h)
= a, (f ◦ g)(x) = f (g(x)) = f (cx + d)
h

BM
= a(cx + d) + b
para todos x, h ∈ R, com h > 0 (observe que h é o incre-
mento para passarmos de x − h a x). Em particular, se = acx + (ad + b).
x = 0, obtemos
Observe que f (d) = ad + b.
f (0) − f (−h) Para a segunda parte, o Teorema 7 garante que, se f
= a ⇒ f (−h) − f (0) = −ah. e g são ambas crescentes ou ambas decrscentes, então a
h
e c têm um mesmo sinal (são ambos positivos ou ambos
Chamando f (0) de b, obtemos f (h) = ah + b e negativos). Em qualquer caso, temos ac > 0, e a fórmula
f (−h) = a(−h) + b, para todo h ∈ R, h > 0. Logo, para (f ◦ g)(x), juntamente com o Teorema 7, garante que
escrevendo x no lugar de h e −h na lei de formação de
f , obtemos f (x) = ax + b, para todo x ∈ R (veja que
tal fórmula vale também quando x = 0, uma vez que
f (0) = b).
O f ◦ g é crescente. Se uma das funções é crescente e a outra
é decrescente, então a e c têm sinais contrários, logo ac < 0
e f ◦ g é decrescente.

O exemplo a seguir generaliza o teorema anterior. Dei-


(b) Seja f (x) = ax + b. Suponhamos que f crescente e xamos a verificação dos detalhes para o leitor.
da
consideremos h ∈ R, h > 0. Então x < x + h e, por f ser
Exemplo 10. Considere as funções f1 , . . . , fn : R → R,
crescente, f (x) < f (x + h), ou seja, f (x + h) − f (x) > 0.
onde, para cada 1 ≤ i ≤ n, temos fi (x) = ai x + bi , com
Assim,
f (x + h) − f (x) ai , bi ∈ R. A composta F = f1 ◦. . .◦fn , obtida aplicando-se
a= > 0, sucessivamente as funções fn , . . . , f1 , é dada por
h
pois o numerador e o denominador dessa fração são posi- F (x) = (a1 . . . an )x + f1 (f2 (. . . fn (bn ) . . .)),
tivos.
l

Reciprocamente, se f (x) = ax + b, com a > 0, então onde f1 (f2 (. . . fn (bn ) . . .)) = (f1 ◦. . .◦fn )(bn ) é o resultado
da aplicação sucessiva das funções fn , . . . , f1 ao coeficiente
rta

f (x′ ) − f (x) bn .
=a>0
x′ − x Ademais, se, dentre as funções f1 , . . . , fn o número de
funções decrescentes for par, então o produto a1 . . . an tem
para quaisquer x, x′ ∈ R, onde x′ = x+ h. Se x < x′ , então
um número par de fatores negativos, sendo portanto po-
x′ − x > 0 e
sitivo, e a composta F = f1 ◦ . . . ◦ fn é crescente. Caso
f (x′ ) − f (x) = a(x′ − x) > 0, o número de funções decrescentes seja ı́mpar, o produto
Po

a1 . . . an tem um número ı́mpar de fatores negativos, sendo


pois o segundo membro é o produto de dois números posi- portanto negativo, e a composta é decrescente.
tivos. Logo, f (x) < f (x′ ) e, portanto, f é crescente.
A demonstração de que f é decrescente se, e somente se,
a < 0 é análoga e convidamos o leitor a escrevê-la.
3 Gráfico de uma função afim
Observação 8. Uma função afim f : R → R tem taxa de Lembremos que o gráfico de uma função f : A → B, de-
variação igual a zero se, e somente se, é constante. notado por gr(f ), é o subconjunto do produto cartesiano
A×B, formado pelos pares ordenados (a, f (a)), com a ∈ A.
Veremos agora que a composição de funções afins ainda No caso em que A ⊂ R e B ⊂ R, é possı́vel identificar gr(f )
é uma função afim. com um conjunto de pontos do plano cartesiano, fazendo

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com que o gráfico gr(f ) passe a ser uma representação Em particular, os ângulos formados pelas hipotenusas dos
geométrica da função f . mesmos com a horizontal são congruentes, e isso significa
Em uma aula anterior (Funções - Noções Básicas, parte que os pontos (0, f (0)), (1, f (1)) e (x, f (x)) são colineares.
2, exemplo 4, página 2) vimos que o gráfico da função Por fim, como (x, f (x)) é um ponto qualquer do gráfico,
afim f : R → R, dada por f (x) = 2x + 1, é uma reta. concluı́mos que o gráfico de f é a reta que passa pelos
Nesta seção, vamos mostrar que o gráfico de uma função pontos (0, f (0)) e (1, f (1)).
afim f : R → R, dada por f (x) = ax + b, é uma reta, e Reciprocamente, suponhamos que gr(f ) é uma reta.

EP
daremos interpretações geométricas para os coeficientes a Então, os pontos (0, f (0)), (1, f (1)) e (x, f (x)) são coli-
e b. Sugerimos que o leitor releia agora o exemplo exibido neares, para todo x ∈ R. Assim, os triângulos retângulos
na aula anterior, citada acima, pois repetiremos o mesmo tracejados na figura 2 são semelhantes, dessa vez pelo caso
argumento lá utilizado. AA de semelhança. Portanto, vale a seguinte relação entre
seus catetos:
Teorema 11. O gráfico de uma função afim f : R → R é EC CD
uma reta. = ,
OA AB
Prova. Consideremos os pontos (0, f (0)) e (1, f (1)), am-

BM
isto é,
bos pertencentes ao gráfico de f . Supondo, primeiro, que f (1) − f (0) f (x) − f (1)
a função f é afim, dada por f (x) = ax + b, vamos mostrar = .
1−0 x−1
que um ponto qualquer (x, f (x)) do gráfico de f está sobre
a reta que passa por (0, f (0)) e (1, f (1)) (veja a figura 2). Essa última igualdade, resolvida para f (x), implica

f (x) = (f (1) − f (0))x + f (0).

Por fim, denotando a = f (1) − f (0) e b = f (0), obtemos


f (x) = ax + b, com a, b ∈ R. Logo, f é uma função afim.
O Observação 12. Sabemos, da geometria plana, que dois
pontos determinam uma reta. Como o gráfico de uma
função afim é uma reta, podemos afirmar que uma função
afim fica totalmente determinada se soubermos as imagens
da
de dois dos elementos de seu domı́nio. Na demonstração
do Teorema 11, usamos os pontos (0, f (0)) e (1, f (1)) para
determinar a reta que é o gráfico de f .

A seguir, veremos que os coeficientes a e b da função


afim dada por f (x) = ax + b têm significados geométricos.
Primeiramente, como f (0) = a · 0 + b = b, o coeficiente
b é igual à ordenada do ponto (0, f (0)), onde o gráfico
l

Figura 2: o gráfico de uma função afim é uma reta.


de f intersecta o eixo y. Por essa razão, chamamos b de
rta

coeficiente linear do gráfico de f (figura 3).

Observando a figura acima, vemos que OA = 1 − 0 = 1,


EC = f (1) − f (0) = a · 1 + b − a · 0 − b = a, AB = x − 1 e
CD = f (x) − f (1) = ax + b − a − b = a(x − 1). Assim,

EC a
= =a
Po

OA 1
e
CD a(x − 1)
= = a.
AB x−1
Portanto,
EC CD
= ,
OA AB
de sorte que os dois triângulos retângulos tracejados na
figura 2 têm catetos proporcionais. Pelo caso LAL de se-
melhança de triângulos, tais triângulos são semelhantes. Figura 3: o coeficiente linear.

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Consideremos, agora, os pontos A = (0, f (0)) e B = Observação 13. No caso em que o domı́nio de uma função
(1, f (1)) sobre gr (f ). O ângulo θ que o gráfico de f forma afim f é um subconjunto A ⊂ R, o gráfico de f é um
com a horizontal é ângulo interno do triângulo retângulo subconjunto da reta que é gráfico de f , com o domı́nio
ABC (veja a figura 4). A tangente desse ângulo é, por estendido a todos os reais.
definição,
Exemplo 14. O gráfico da função f : [1, 2] → R, dada
f (1) − f (0) por f (x) = 3x − 1 é o segmento de reta que liga os pon-
tg θ = = f (1) − f (0) = a + b − b = a.
1

EP
tos (1, f (1)) = (1, 2) a (2, f (2)) = (2, 5) (figura 5). Este
Dessa forma, o coeficiente a é igual à tangente do ângulo segmento de reta está contido na reta r = gr (F ), onde
que a reta gr (f ) forma com a horizontal. Por isso chama- F : R → R, dada por F (x) = 3x − 1, estende o domı́nio da
mos a de coeficiente angular do gráfico de f . função f a todos os números reais.

BM
O
da
Figura 5: o segmento de reta que é gráfico da função afim
f : [1, 2] → R, dada por f (x) = 3x − 1.
Figura 4: o coeficiente angular.

Alguns casos particulares merecem atenção especial. Terminamos este material apresentando um exemplo que
l

ilustra uma aplicação de funções afins que está além do


(1) Se f : R → R é uma função constante, dada por material de que dispomos. Tal aplicação diz respeito ao
rta

f (x) = b, então tg θ = a = 0, o que implica θ = 0. problema de encontrar a função afim que melhor aproxima
Logo, o seu gráfico é uma reta horizontal. uma função dada, num entorno suficientemente pequeno
(2) Se f : R → R é a função identidade, dada por de um ponto de seu domı́nio. Historicamente, o desenvol-
f (x) = x, então tg θ = a = 1 o que implica θ = 45◦ . vimento das técnicas para obter essa melhor aproximação
Isso significa que o gráfico de f é a bissetriz dos deu origem ao Cálculo Diferencial, área da Matemática de
ângulos retos que formam o primeiro e o terceiro qua- importância central para a ciência moderna.
Po

drantes (veja a aula: Funções - Noções Básicas, parte Exemplo 15. Seja R+ o conjunto dos números reais não
2). Dizemos, pois, que o gráfico da função identidade negativos. As
é a bissetriz dos quadrantes ı́mpares. √ funções f : R+ → R e g : R+ → R, dadas
por f (x) = x e g(x) = x4 + 1, têm seus gráficos esboçados
(3) Uma reta vertical r não pode ser gráfico de uma na figura 6. Nas proximidades do ponto de tangência (4, 2),
função, pois dois pontos quaisquer dessa reta têm a a distância entre os dois gráficos é pequena. Assim, para
mesma abscissa. Sendo assim, se fosse r = gr (f ), dois valores de x próximos à abscissa do ponto de tangência,

pontos distintos de r seriam do tipo (x, y) e (x, y ′ ), isto é, para valores de x próximos de 4, temos que x =
com y 6= y ′ . Porém (x, y), (x, y ′ ) ∈ gr (f ) implicam f (x) pode ser razoavelmente
√ bem aproximado por g(x).
y = f (x) e y ′ = f (x), ou seja, x teria duas imagens Por exemplo, 5 = f (5) ∼ = g(5) = 45 +1√= 2, 25. Usando
diferentes, o que não é possı́vel se f for uma função. uma calculadora, você pode verificar que 5 ∼ = 2,236, com

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três casas decinais
√ exatas. Isso significa que g(5) é uma de g (a derivação). Dependendo do nı́vel da turma, você
aproximação de 5 com uma casa decimal exata. pode citar o Teorema 7 e dizer que a derivada é dada pela
Outro exemplo: g(4,5) = 4,5 4 + 1 = 2,125. Usando no- expressão (3) da taxa de variação, mas que, para funções
vamente
√ uma calculadora, podemos verificar que f (4,5)
√ = mais gerais, essa taxa de variação não é constante, como
4,5 ∼= 2,121. Logo, g(4, 5) é uma aproximação de 4, 5 no caso da função afim, o que dificulta o seu tratamento
com duas casas decimais exatas. em nı́vel elementar.
O estudo da taxa de variação da função afim, como exi-

EP
bido neste texto, de sua interpretação geométrica como
coeficiente angular e de aplicações como a do exemplo 15,
são excelentes oportunidades para se falar sobre um dos
conceitos fundamentais do Cálculo (e da ciência moderna)
– o de derivada. Nesse caso, podemos fazê-lo em um con-
texto elementar (isto é, sem o uso de limites), devido à
simplicidade das funções afins.
As referências listadas a seguir discutem funções em ge-

BM
ral, e afins em particular. As referências [1] e [3] tra-
zem vários problemas simples envolvendo funções afins, ao
passo que a referência [2] estende o estudo de funções até
os rudimentos do Cálculo.
Figura 6: os gráficos das funções f e g. Note que a reta
tangencia a curva no ponto (4, 2).
Sugestões de Leitura Complementar

Dicas para o Professor


Três encontros de 50 minutos cada são suficientes para co-
O 1. A. Caminha. Tópicos de Matemática Elementar,
volume 3: Introdução à Análise, segunda edição.
Coleção do Professor de Matemática, Editora S.B.M.,
Rio de Janeiro, 2013.
brir o material desta aula.
Funções afins são importantes por dois motivos princi- 2. G. Iezzi. Os Fundamentos da Matemática Elementar,
da
pais: primeiro, seu estudo é relativamente simples e pode- volume 1: Conjuntos Numéricos e Funções. Editora
mos dizer muito sobre uma função afim conhecendo apenas Atual, São Paulo, 2013.
seus coeficientes, ou sua ação em dois elementos distin-
tos do seu domı́nio. Segundo, é possı́vel estudar funções 3. E. L. Lima et al. A Matemática do Ensino Médio, vo-
mais gerais usando funções afins como uma primeira apro- lume 1. Coleção do Professor de Matemática, Editora
ximação (essa é a ideia central do Cálculo Diferencial). S.B.M., Rio de Janeiro, 1998.
Evidentemente esse segundo motivo é mais difı́cil de ser ex-
l

plicado a alunos do ensino básico, que nunca tiveram con-


tato com o Cálculo, mas alguns exemplos, como o exemplo
rta

15, podem ajudar o estudante a compreender a utilidade


das funções afins como ferramenta de aproximação.
Faça experiências com seus alunos envolvendo apro-
ximações de raı́zes quadradas ou raı́zes cúbicas. Você vai
precisar um pouco de Cálculo Diferencial (derivadas) para
elaborar os exemplos, mas não precisa falar sobre Cálculo
para os alunos. Uma vez obtida a função afim que apro-
Po

xima uma função dada em torno de um ponto (como no


exemplo 15), você pode usar um software de geometria
dinâmica para traçar os gráficos e, visualmente, checar com
seus alunos a proximidade dos dois gráficos em torno do
ponto em questão (como na figura 6).
Algum aluno mais curioso pode questionar como obter
a expressão da função afim cujo gráfico tangencia o gráfico
da função dada (no exemplo √15, como encontramos g(x) =
x
4 + 1 a partir de f (x) = x?). Nesse caso, fale sobre a
existência de uma técnica para descobrir a lei de formação

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