Anda 2020 Ebook 6 Dança e Diáspora
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NEGRA
POÉTICAS POLÍTICAS, MODOS DE SABER E
EPISTEMES OUTRAS
ISBN 978-65-87431 02 4
1 Dança 2 Dança Negra 3 Políticas Título II Série III Alcântara, Celina Nunes
de IV Ferraz, Fernando Marques Camargo V Paixão, Maria de Lurdes Barros
da
CDD 371
ISBN 978-65-86440-27-0
ANDA Editora
Av. Adhemar de Barros s/n
Ondina – Salvador, Bahia.
CEP 40170-110
AMÉLIA VITÓRIA DE SOUZA CONRADO
CELINA NUNES DE ALCÂNTARA
FERNANDO MARQUES CAMARGO FERRAZ
MARIA DE LURDES BARROS DA PAIXÃO
DIRETORIA
EDITORIAL
Dr. Lucas Valentim Rocha (UFBA)
Dr. Marco Aurélio da Cruz Souza (FURB)
Me. Vanilto Alves de Freitas (UFU)
COMITÊ EDITORIAL
Dr.ª Dulce Tamara da Rocha Lamego da Silva (UFBA)
Dr.ª Eleonora Campos da Motta Santos (UFPEL)
Dr. Marcílio de Souza Vieira (UFRN)
Dr.ª Marina Fernanda Elias Volpe (UFRJ)
PRODUÇÃO EDITORIAL
Dr. Thiago Silva de Amorim Jesus (UFPEL)
Dr.ª Lígia Losada Tourinho (UFRJ)
REVISÃO
Os autores
CONSELHO CIENTÍFICO
IMAGINAÇÕES DIASPÓRICAS
Luciane Ramos-Silva (Acervo África)
Inicio esta conversa com uma memória. Nossa mestra Nadir Nóbrega,
então Profa. Dra. do curso de licenciatura em dança da Universidade Federal
de Alagoas, hoje aposentada, em entrevista para a revista O Menelick2Ato há
aproximadamente oito anos. Discutíamos a presença/ausência das pessoas
negras nas universidades públicas, suas reverberações nas ordens
hegemônicas e mais especificamente nos currículos dos departamentos de
dança. A memória ganha tom de crônica da vida cotidiana quando lembro que
um vírus no HD danificou o arquivo, de modo que perdemos o registro, mas
aquela pergunta, que vinha com certo tom de profecia, só atiçava nossos
planos de conjura para a construção de uma outra história da dança no Brasil e
soava também como um chamado, cujo eco remonta há décadas, nas escritas
de intelectuais do campo das danças afro diaspóricas, bem como nas
reivindicações de docentes, discentes e artistas negras/os.
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APRESENTAÇÃO
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1ª PARTE
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Chegando na encruzilhada...
Pensamos com esse mesmo corpo desde a ponta dos cabelos até a
ponta dos pés, aceitando que nossas ancestralidades se manifestam
em/através do nosso mover, contando nossa história e trazendo nosso legado
de continuidade e resistência. Pois bem, cá estamos diante de uma sociedade
que se ergueu nas costas de pretos e indígenas e que defende o discurso de
que somos todos iguais, quando na verdade, sabemos bem que quando o
assunto em questão é igualdade de direitos e oportunidades, existe um abismo.
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Introdução
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A performance afro-brasileira
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Ver FU-KIAU in THOMPSON, Robert Farris. Face of Gods (1993) e Kongo gesture (2003).
Indicações coletadas na obra de Ligiéro (2011).
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Ogan ou ogã é o sacerdote masculino que não entra em transe e que recebe a função de
convocar as entidades/divindades a se manifestarem nos médiuns de incorporação. Isto, na
Umbanda, é feito através dos toques e do canto.
4
Expressão muito comum das comunidades de terreiro usada como sinônimo de entrar em
transe. Também se utiliza as expressões “virar no santo”, “rodar”, “incorporar”.
5
Os movimentos e gestos das Pombagiras descritos neste trabalho estão referenciados no
Sistema Universal da Dança (SUD), criado pela professora Helenita Sá Earp. Para saber mais
sobre a SUD, ver Motta (2006).
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Terminologia do balé clássico, escrito na língua francesa. Representa a curvatura que se
realiza com a coluna para trás.
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Considerações finais
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Referências
NOGUERA, Renato. Entrevista com Renato Noguera dos Santos Jr. Revista
Ensaios Filosóficos, Rio de Janeiro, Volume X, Dez. 2014.
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EXU:
UM CORPO E UM FAZER EM DANÇA, POSSÍVEL PELA DIÁSPORA
João Paulo Petronílio (UFBA)
Introdução.
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Em sua obra Agadá, Luz (2017) se apoia nos estudos de Santos (1976)
para apresentar Exu em uma multiplicidade de nomes, diretamente ligados às
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A fim de distinguir semanticamente a compreensão de sígnico e símbolo, remeto à Sodré
(2017) que nos fornece uma orientação acerca de sua perspectiva conceitual. Para este autor,
o signo enquanto campo semântico tem significante comum à interpretação, o que torna
diferente do símbolo, que não significa, não remete a nada além dele mesmo. Portanto, sua
funcionalidade é de inicialmente organizar os elementos “[...] pondo-os em interação tanto
opositiva quanto combinatória.” (SODRÉ 2017, p.117).
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Religião entendida como originalmente brasileira criada nas primeiras décadas do séc XX-
logo após a suposta abolição da escravidão e o advento da República. Antes de tudo é preciso
afirmar que não desejo aqui aprofundar nos dados históricos e religiosos da umbanda no
Brasil. Entendo que já há um número considerável de estudos que fornecem essas
informações. Procurei seguir, na construção da problematização do pensar/fazer Exu através
de sua elaboração cultural, sígnica e simbólica, uma perspectiva territorial brasileira
atravessada pelas fricções, tensões, contatos e conflitos evidenciados no contexto de sua
formação.
9
Sistema político, social e ideológico que se caracterizou pelo domínio de outros territórios ou
países, tornando-os como colônias dos países dominadores. Transformados em colônias,
tornaram-se territórios de produção exclusiva movidos primacialmente pelo objetivo de
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Bom, e o que Exu tem a ver com isso?12 O que proponho elaborar,
perpassando por todo esse caminho de reflexão, é questionar como a
simbologia de Exu no contexto brasileiro é atravessada e posicionada
hierarquicamente. Na umbanda, em seu momento inicial, pelo pensamento
eugenista e evolucionista, que derivam num pensamento racista, sutilmente
presente em toda formação do Kardecismo desde sua origem francesa até seu
assento em solo brasileiro, onde deu-se em continuidades.
12
Grifo meu.
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Como Santos (2006) nos direciona ao compartilhar em seus estudos de Corpo e
ancestralidade o que ela nomeia de exercícios técnicos. (Grifo meu)
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Riscar o ponto: termo utilizado no vocabulário da Umbanda que é inaugurado pela ação de
riscar o chão com a pemba (espécie de giz sagrado que se risca o chão) desenhando símbolos
e signos contextuais. Segundo alguns praticantes o ponto riscado é a assinatura da entidade
que se caracteriza também por desenho de cruzes, setas, círculos entre outros.
15
Castiel Vitorino Brasileiro (1996). Artista visual, macumbeira e psicóloga mestranda no
programa de Psicologia Clínica da PUC-SP sob orientação de Suely Rolnik. Desenvolve
estéticas macumbeiras de sua Espiritualidade e Ancestralidade Travesti.
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Considerações Finais
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Referência Bibliográficas
ALMEIDA, Sílvio Luiz de. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro;
Pólen 2019.
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PADE:
BARAFUTURISMO
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17 o o
Altera a Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei n 10.639, de 9 de
janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena”.
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Orixá da caça, o deus dos caçadores (VERGER, 2002, p.112).
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Um sonho do alto
Danço com espíritos, com outro espírito de corpo, onde Bara gesta a
episteme, o caminho e a visão para a sensibilização de diversos outros corpos
dentro e fora da Universidade. Observando os caminhos e atalhos que o sonho
tomava, pude ver mais adiante, do alto do tronco da árvore sagrada como diz
Kopenawa:
“Fincou no chão/ Sua raiz forte Nanã acolheu/ Subiu no ar/ Seu
tronco devida/ Que o tempo ornou/ Brilhou no céu/ Sua folha de Asé
/Aos olhos de Olorum/ Obatalá, fez um Opaxôro/ Do tronco que tirou/
Irokô dança com seu corpo inteiro/ O terreiro do Mundo/ Ele é
memória de um tempo/ Que o homem não pode alcançar/ Em seu
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Música: Iroko Terreiro do Mundo (autor. Xandy Carvalho, 2015).
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Nome de Exu. (VERGER, Pierre, 1981).
21
Exu feminino. (CACCIATORE, 1988, p.213).
22
Divindades do Candomblé Congo-Angola.(CACCIATORE, 1988, p.148).
23
Divindades do Candomblé Jêjê Nagô. (CACCIATORE, 188, p. 154).
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Referências
ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade. Trad. Renato Nogueira Jr.\ufff
Professor do Instituto Multidisciplinar Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro ASANTE, MolefiKete. Afrocentricity IN
http://www.asante.net/articles/1/afrocentricity/ acessado me 18/08/2020.
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2ª PARTE
ABORDAGENS EDUCACIONAIS
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Chamo a atenção para os sentidos das grafias Dança, dança, arte ou Arte no decorrer deste
texto, pois quando tais palavras estiverem escritas com letras iniciais maiúsculas, estarei me
referindo à elas enquanto campo epistemológico e/ou área de conhecimento, um substantivo,
portanto. Por outro lado, quando forem escritas com letras iniciais em minúsculas, estarei
compreendendo-as como fenômeno artístico e/ou expressões/formas artísticas (linguagens do
teatro, da música, dança e artes plásticas/visuais).
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Inicialmente, presumo que falar do currículo não deve ser uma tarefa
fácil, ainda mais quando aliamos suas discussões ao o universo do ensino da
Dança/Arte no recinto escolar. Por outro lado, considero que o
currículo/Currículo27 desponta tanto como um conceito polissêmico, quanto
como um campo epistemológico de pesquisa, composto por histórias, teorias e
abordagens sociológicas. (FORQUIN, 1996). Aliás, “[...] o termo ‘currículo’ pode
designar não mais aquilo que é formalmente prescrito, oficialmente ‘inscrito no
programa’, mas aquilo que é realmente ensinado nas salas de aula e que está,
às vezes, muito distante daquilo que é oficialmente prescrito”. (FORQUIN,
1996, pg. 188).
Por outro viés, até mesmo é possível dizer que alguns dos aspectos
comuns às discussões acerca do currículo correspondem ao fato de pensá-lo
como sendo um organizador de experiências e situações de aprendizagens a
fim de promover, consolidar e/ou configurar um processo educativo, conforme
Alice Casimiro Lopes e Elizabeth Macedo (2011). Pois, de acordo com as
autoras, “Há, certamente, um aspecto comum a tudo isso que tem sido
chamado de currículo: a ideia de organização, prévia ou não, de
experiências/situações de aprendizagem realizada por docentes/redes de
ensino de forma a levar a cabo um processo educativo”. (LOPES & MACEDO,
2011, p. 19). Assim, considerando a complexidade do processo
educativo/formativo, assinalo que o sentido do currículo está para além da sua
etimologia, que “[...] significa caminho, trajetória, percurso a seguir e encerrar
[...]” (MACEDO, 2017, p. 22).
27
Diferencio a grafia Currículo de currículo, pois, quando a palavra for escrita em minúscula,
estou a compreendê-la enquanto forma de organização das atividades escolares. Já quando
grafá-la em maiúsculo, autorizo-me a destacá-la e reconhecê-la como um conceito e campo de
estudo construído/constituído social e historicamente, um substantivo, portanto.
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A partir dessa obra, pode-se resumir as três perspectivas da seguinte forma: baseada
em Bobbit e Tyler, as teorias tradicionais se voltam para a instrumentalização, o utilitarismo e o
tecnicismo, a fim de tornar o currículo simplesmente funcional, como instrumento eficiente e
eficaz, corroborando com a manutenção e aceitação das desigualdades e injustiças sociais;
assentada no marxismo e neomarxismo, de Michael Young, Michael Apple, Henry Giroux, a
teoria crítica está mais preocupada em compreender as dinâmicas e implicações políticas,
sociais e ideológicas do currículo, problematizando a forma como o conhecimento é inserido na
escola, na esperança e na empreitada de transformá-la; já a perspectiva pós-crítica de
currículo inspirava-se na dimensão pós-estruturalista da linguagem cujas categorizações
modernas, a exemplo de “sujeito” e “identidade”, são tomadas como alvo de especulação e
postas em dúvida, expandindo-se para discussões referentes à identidade, alteridade,
diferença, subjetividade, gênero, raça, etnia, sexualidade e multiculturalismo, representação,
cultura, saber-poder e discurso.
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Segundo Ligiéro (2011), a performance surge em contraponto à tradição do teatro greco-
romano, e baseia-se num modo de pensar/fazer teatro incluindo diversas artes, cujo sentido
corresponde, estética e antropologicamente, ao comportamento expressivo das festas e dos
rituais.
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Trata-se de uma Lei ordinária/normativa que fora instituída/legislada em 02 de maio de 2016,
ainda no governo presidencial da senhora presidenta Dilma Rousseff. Assim, a Lei 13.278 de
2016 altera, historicamente/significativamente/pedagogicamente/politicamente, o 6º parágrafo
do Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mais conhecida como Lei Nº
9.394/1996 (BRASIL, 1996), que regulamenta o sistema da Educação Básica brasileira,
inclusive o ensino de Arte nas escolas. Ainda segundo a Lei 13. 278/2016, as instituições de
Educação Básica têm a obrigatoriedade de incluir o ensino da Dança, do Teatro, da Música e
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atualmente.
Sublinho ainda, que não é uma tarefa fácil tratar da introdução do ensino
da Dança no currículo escolar brasileiro, mais especificamente revisando e
apontando, criticamente, algumas abordagens do seu ensino na Educação
Básica, sem recorrer aos passos/processos pretéritos sobre o ensino da Arte
no Brasil. Ou seja, é quase que inevitável falar sobre o ensino da Dança/Arte
na escola sem partir de uma trajetória histórica comum sobre a qual tantos
trabalhos já partiram. De todo modo, como forma de exercício, saliento que
este texto busca se esquivar de qualquer perspectiva única para contar essa
história. Além disto, compartilho compreensivamente da noção de que fazer
história é comprometer-se sobretudo com narrativas que são silenciadas e/ou
invisibilizadas, pois, “O historiador, assim como as rendeiras, deve saber
conectar os fios, amarrar os nós, respeitando os vazios e silêncios que também
constituem o desenho do passado, o entramado dos tempos”.
(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2009, p. 8-9).
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Ademais,
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Considerações
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Referências
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MELO, Victor Andrade de. A Dança nas Escolas do Rio de Janeiro do Século
XIX (décadas de 1820-1860). Revista Brasileira de História da Educação,
Maringá: v. 16, n. 3 (42), 2016b, p. 323-352.
MELO, Victor Andrade; SANTOS, Flávia da Cruz. Escola de Virtudes: a dança
na São Paulo do século XIX (décadas de 1830-1860). Educação & Realidade.
Porto Alegre: v. 43, n. 3, 2018, p. 1031-1054.
PEDERIVA, Patrícia Lima Martins; MARTINEZ, Andréia Pereira de Araújo.
Trans-Formar: A sala de aula e as artes. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro;
SILVA, Edileuza Fernandes (Orgs.). Ensino Fundamental: Da LDB à BNCC.
1ª ed. Campinas: Papirus, 2018, p. 272.
REZENDE E FUSARI, Maria F. de & FERRAZ, Maria Heloísa C. de T.
Metodologia do ensino de arte: fundamentos e proposições. 2ª ed. São
Paulo: Cortez, 1993.
RUFINO, Luiz. Pedagogia das Encruzilhadas. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Mórula,
2019.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às
teorias do currículo. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005.
VICENTE, Ana Valeria. Entre a ponta do pé e o calcanhar: reflexões sobre
como o frevo encena o povo, a nação e a dança no Recife. 1ª ed. Recife:
UFPE, Associação Reviva, 2009.
VIEIRA, Marcilio de Souza. História das ideias do ensino da dança a
educação brasileira. 1ª ed.Curitiba: Appris, 2019.
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Para um panorama atualizado dos contextos de formação em Dança na cidade de Salvador,
ver MATOS, Lúcia; NUSSBAUMER, Gisele (Coord). Mapeamento da Dança: diagnóstico da
Dança em oito capitais de cinco regiões do Brasil. Salvador: UFBA, 2016. Disponível em:
http://www.mapeamentonacionaldadanca.com.br/wp-content/uploads/2016/08/Relatorio-
Mapeamento-Resultado.pdf. Acesso em 17/03/2020
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A escolha da abordagem do tema foi feita por acreditar que a arte é uma
potencialidade de transformações sociais, muitos jovens que além de
mostrarem seu talento e vocação para alguma linguagem da arte, por meio das
iniciativas de formação artística proposta também pelos espaços não formais
de educação, conseguiram um posicionamento crítico e de empoderamento
enquanto sujeitos pertencentes a uma classe menos favorecida, e assim
conquistarem espaços que sempre lhes foram negados socialmente.
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Onde vive uma comunidade da religião de matriz africana onde acontecem as cerimônias
religiosas
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Como é Popularmente conhecida a religião de matriz africana no Brasil
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Dançarina e coreógrafa polonesa, foi à primeira diretora da Escola de Dança da UFBA e uma
das personagens mais importante da Dança brasileira contemporânea. Nasceu em 1916 e
faleceu em 2008.
35
Movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no ínício do século XX,
disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Expressionismo, acessado dia: 30/04/2020.
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Segundo a professora Lia Robatto responsável pelas Bolsas Artes e
idealizadora da Escola de Dança da FUNCEB, a segunda maior instituição
pública de ensino da Dança do Norte Nordeste do Brasil, o que levou sua saída
do corpo docente da Escola de Dança da UFBA, foi a incompatibilidade das
suas produções artísticas com os protocolos acadêmicos vigente da época, a
especificidade da técnica corporal, e a falta de diálogo do currículo na Escola
de Dança da UFBA com a cultura da cidade de Salvador, que no seu ponto de
vista é uma cultura riquíssima e não era evidenciada.
Há 30 anos, só entrava na Escola de Dança apesar dela ser grátis,
quem já tinha um nível social mais alto, porque tinha uma boa base
escolar. Não adianta a universidade finge que não é, mas ela é
elitista. Aí eu pensei... (Eu quero fazer uma escola que atenda
meninas e meninos sem poder aquisitivos, para frequentar uma
academia particular de dança e ao mesmo tempo aproveitar o
manancial cultural dessa terra, que a Escola de Dança da UFBA era
refrataria...). (ROBATTO, 2020. Informação verbal).
36
A professora foi ate Brasília e articulou a instituição de bolsas artes no Brasil e para seus
Bailarinos /Estudantes, que ganhavam um valor para manter suas atividades artísticas e
estudantis. ( relato da professora em entrevista para essa pesquisa em 2020)
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Desde 2009, quando o Projeto Político Pedagógico foi reelaborado, o curso foi incluído no
Censo Escolar do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
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Os terreiros de candomblé
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O Ilê Axé Iyá Nassô Oká, popularmente conhecida como Casa
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Branca, O Ilê Axé Iyá Omin Iyamassê – Terreiro do Gantois, O Ilê Axé Opô
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Divindades de matriz africana no Brasil
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Instrumentos percussivos da cerimônia religiosa do candomblé
40
No dialeto Yorubá africano, nome de uma das sacerdotisas que trouxe a religião de matriz
africana para o Brasil e também nome de uma comunidade religiosa do candomblé em
Salvador, fundado em 1830, no bairro do Engenho Velho da Federação.
41
Nome de uma das comunidades religiosa de matriz africana o candomblé em Salvador,
fundado em 1849 no bairro da Federação, terreiro muito conhecido pelo prestígio da sua quarta
liderança religiosa Maria Escolástica da Conceição Nazaré, conhecida como Mãe Menininha do
Gantois
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Afonjá , são alguns das comunidades entre outras tantas que existem em
salvador, que vem aos longos dos tempos mantendo atividades educativas e
formando crianças, jovens e adultos, em especial, com aspectos da cultura
afrodiaspórica, tornando possível através dessas ações formativas a
permanência e manutenção da cultura dos ancestrais.
Assim, com orgulho, podemos afirmar que as comunidades-terreiros
ensinaram os blocos afro-baianos e estes, como entidades que
compõem o movimento negro, ensinaram a sociedade brasileira a
praticar ações afirmativas, visando à igualdade racial e social
(NOBREGA, 2012, p.113)
As Associações Carnavalescas
42
Nome de uma das comunidades de candomblé e de uma divindade de matriz africana em
Salvador, fundado em 1910 por Eugenia Anna dos Santos, conhecida como Mãe Aninha, no
bairro de São Gonçalo do Retiro.
43
Dialeto Yoruba que significa O mundo ou A Terra da Vida ou ainda Festa do ano-novo,
disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilê_Aiyê, acessado no dia 01/05/2020.
44
Criado com inspiração na população descendente dos Malês povo de origem africana e
religião muçulmana, que lutaram na Revolta dos Malês contra o sistema
escravocrata brasileiro. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Malê_Debalê, acessado 01-
05-2020.
45
de origem banto que significa reunião de pessoas, Disponível em:
http://www.blococultural.com.br/bankoma_32.html, acessado dia 01-05-2020
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quais a Cia de Dança Robson Correia se pauta para explicitar suas estratégias
didático-metodológicas para criação de repertórios, coreografias, temáticas,
seja em nível profissional, seja para as ações educativas na comunidade, e
para colaborar no desenvolvimento desse estudo busco referencias pautadas
nas potencialidades afrodiaspórica, como o conceito mito como fundamentação
para as criações artísticas e pedagógicas, como traz SANTOS:
Meu objeto de investigação tem sido a tradição cultural e a
criatividade, porém devidamente compreendidas como expressão da
diversidade corporal dos povos que vivem no Brasil e que tem
colaborado para esse tecido social complexo, colorido, belo e tão mal
compreendido. A homogeneidade de expressão é destruidora, sendo,
por isso, indispensável compreender a pluralidade cultural brasileira (
SANTOS,2019,P.36)
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Consideração
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REFERÊNCIAS
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SILVA, Marilza Oliveira. Ossain como poética para uma dança afro-brasileira.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de Dança,
Salvador, Bahia, 2016.
Entrevistas
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Introdução
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47
Partindo de uma interpretação de GOMES (2011) se compreende as ações afirmativas como
políticas públicas e privadas que visam a correção das desigualdades históricas que atingem
especificamente alguns coletivos sociais racializados em determinada sociedade.
103
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
104
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48
O Coletivo EnegreSer, atualmente, é configurado por André Sousa, Anne Caroline Vaz e Eli
Nunes e Julia Martins. Em sua gênese contou também com as contribuições de Maira
Rodrigues e Nayara Almeida.
105
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
49
Entende-se que Epistemologias do Sul é uma teoria epistêmica apresentada por Boaventura
de Sousa Santos (2010) que denuncia o sistema que sustentou a hierarquização epistêmica
moderna. Um sistema que se desenvolveu com a exclusão e o ocultamento de conhecimentos
dos povos e culturas, que ao longo da história foram dominados pelo capitalismo e pelo
colonialismo. A finalidade das Epistemologias do Sul passa, primeiramente, por um
reconhecimento das epistemes desses povos marginalizados, seguida pela propositiva que
exista um diálogo entre os conhecimentos procurando ressaltar saberes calados.
50
Reuni é o programa de apoio à Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
instituído pelo Decreto no 6.096, de 24 de abril de 2007 e tem o objetivo de criar condições de
expansão física, acadêmica e pedagógica do ensino superior. Cabe falar que o Reuni é uma
das ações que integram o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e hoje se configura
como um dos responsáveis pelo aumento substancial do número de vagas nos cursos de
graduação, bem como a ampliação da oferta de cursos noturnos, a promoção de inovações
pedagógicas e o combate à evasão. Esses itens que também se constituem como metas do
programa têm o propósito de diminuir as desigualdades sociais no país.
106
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Considerações Finais
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Referências
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ERÉ EKO:
JOGOS EDUCATIVOS
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
É a partir dessa grande lacuna sobre tudo o que diz respeito às questões
que envolvem a negritude no ambiente escolar, que desenvolvo a minha
pesquisa em busca de ações que favoreçam um empoderamento infantojuvenil
a partir das diversas estéticas dos corpos negros.
Dentre as ações elaboradas está Eré Eko (livre tradução para jogos
educativos em yorubá), um combo com dois jogos afro-educativos que eu
desenvolvi conjuntamente com os(as) estudantes da comunidade escolar onde
leciono.
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Eré Eko é um kit composto por dois jogos afro-educativos: Ere Iranti
(Jogo da Memória), e Ere Domino (Jogo de Dominó). Para a construção do Ere
Iranti, fiz um apanhado de figuras importantes da cultura baiana, atuantes na
sociedade, apresentei em slide para as alunas e alunos do 3° e 4° anos,
imprimi as imagens e coletivamente recortamos e colamos em pedaços de
papelão as personalidades negras escolhidas. Assim construímos o nosso
jogo. Eré Eko foi uma das possibilidades que encontrei para abordar a questão
da representatividade negra com os(as) estudantes.
119
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
O Eré Eko contribui de forma lúdica para uma educação antirracista, que
está diretamente ligada à uma educação afrocentrada.
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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Foi importante deixá-los (as) livres para fazer estas escolhas, mas, a
partir do desenvolvimento da atividade, percebi que, uma personalidade negra
sem envolvimento com as questões relacionadas à negritude, apesar de ser
importante no que diz respeito à representatividade e à posição de destaque
social na qual se encontra, é insuficiente para efetivar um trabalho de
consciência e valorização da cultura afro-brasileira.
Com o Ere Iranti, percebi a felicidade por parte dos meus alunos e
minhas alunas dos anos iniciais do ensino fundamental, tanto pela criação
coletiva das turmas na confecção do jogo, quanto pelas figuras que ali se
apresentavam, escolhidas por eles, representando cada um (a) que participou
do processo. Inicialmente feito de papelão e papel ofício, Ere Iranti será
reconstruído posteriormente em MDF (placas de madeira, sigla de medium
density fiberboard) ou EVA (espuma sintética, sigla de acetato-vinilo de
etileno).
123
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
seja construído em casa com os materiais que os (as) alunos (as) tenham
disponíveis.
Essa construção dos jogos em casa, foi a maneira que encontrei de dar
continuidade ao trabalho desenvolvido presencialmente ao longo de todo o ano
de 2019 e início de 2020, além de contribuir como atividade pedagógica
remota, solicitada pela Secretaria Municipal da Educação de Salvador (SMED).
O mesmo será feito com o Ere Domino. O jogo também fará parte das
atividades pedagógicas que são encaminhadas semanalmente às famílias
dos(as) estudantes; mas ao invés de ser recortado e colado em papelão como
sugerido no Ere Iranti, as personalidades negras deverão ser localizadas em
um caça- palavras.
Considerações Finais
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Por último, construímos coletivamente o Ere Iranti, o qual foi jogado por
todos (as) os (as) alunos (as) do 2° ao 5° ano do ensino fundamental da escola
aonde trabalho. Foram momentos de muita diversão, bagunça e aprendizado.
125
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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MÃE STELLA
RITA BATISTA MARGARETH
DE OXÓSSI
MENEZES
MÃE STELLA
MARGARETH
DE OXÓSSI RITA BATISTA
MENEZES
NELSON JAIME
BOB MARLEY MANDELA SODRÉ
JORGE
EMICIDA MILTON SANTOS PORTUGAL
127
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
264 p.(Feminismos Plurais/ coordenação de Djamila Ribeiro).
GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da
identidade negra. 3 ed.rev.amp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
(Coleção Cultura Negra e Identidades).
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RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? São Paulo: Pólen, 2019. 128p.
(Feminismos Plurais/ coordenação de Djamila Ribeiro).
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ínicio da década de 90, sob fortes influências de ritmos africanos como o lundu,
o maxixe e também o samba, como nos mostra Ari Lima:
134
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51
Cada letra da sigla LGBTQIA+ compõe um grupo de pessoas que se reconhece por uma
orientação sexual ou uma identidade de gênero diversa daquelas que a sociedade
convencionou como únicas (orientação heterossexual; gêneros masculino e feminino). “L” de
lésbicas, “G” de gays, B”” de bissexuais, “T” de transexuais, transgêneros e travestis, “Q” de
queer, “I” de intersexo, “A” de assexuais e o “+” abriga outras possibilidades de orientação
sexual e identidade de gênero que existam.
135
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Nem todos percebem que por trás das produções culturais do povo
negro no Brasil existe um sistema perfeitamente estruturado. É isso
que não permite a diluição de suas criações. Há, no entanto, uma
dificuldade em admitir que a cultura brasileira é profundamente
marcada por esses saberes. A tentativa de apagar essas marcas
consiste em um traço muito evidente do racismo e reitera as
estratégias de luta do povo negro que persistem desde o período da
escravidão. (WILLIAM, 2019, p.36, grifo nosso)
52
Música de banda Parangolé, composta em 2008 pelo artista Nenel. Letra retirada da
página do Youtube da própria banda. Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=u3gX38kFVcs&list=OLAK5uy_nIbhyvbyFP_aKc34gpW9VNt
U47pTfDYcI&index=5>. Acesso em: 05 set. 2020.
136
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53
Disponível em:
<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=34784>.
Acesso em: 26 set. 2020.
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Queremos fazer ecoar as vozes que por anos são invisibilizadas para lhes
devolver o direito de existir, como colocado por Djamila Ribeiro (2017):
139
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
54
Pesquisa realizada entre os dias 9 e 10 de setembro de 2020 nos seguintes site:
https://bdtd.ibict.br/vufind/Search/Results?lookfor=PAGODE+BAIANO&type=AllFields&limit=20
&sort=relevance;
https://repositorio.ufba.br/ri/simplesearch?location=ri%2F7239&query=pagode+baiano&rpp=10
&sort_by=score&order=desc;
https://pantheon.ufrj.br/simple-
search?location=11422%2F1&query=pagode+baiano&rpp=10&sort_by=score&order=desc&filte
r_field_1=subject&filter_type_1=equals&filter_value_1=pagode+baiano
140
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Referências
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro;
Pólen, 2019.
143
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LIMA, Ari. Uma crítica cultural sobre o pagode baiano: música que se ouve,
se dança e se observa. 1. ed. Salvador: Pinaúna, 2016.
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Agô!55
Eji Ogbè – Leste. Oyekún Méjì57 - Oeste. Ìwòrì Méjì58 – Sul. Òdí Méjì59 –
Norte.
55
Canto yorubá para pedir licença.
56
Textos da filosofia de Ifá.
57
Textos da filosofia de Ifá.
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58
Textos da filosofia de Ifá.
59
Textos da filosofia de Ifá.
60
Deus Criador no mito da criação yorubana.
61
Personagem místico por excelência que foi um dos ‘ìránsë Olódùmarè’, uma espécie de
colegiado de conselheiros e ministros do Deus Criador que o assessoravam tanto na criação
do mundo como na sua gestão.
62
Atêwõnrõ literalmente significa “aquele que desce mediante uma cadeia”.
63
Tradução: Olhem a terra tão vasta que surgiu!
64
Trad.: Cidade da criação do mundo, de onde sai o alvorecer. Este último apelido de Ile-Ifê
aponta para o fato de que os yorubanos consideram Ile-Ifê, não somente como a origem da sua
nação, mas também, como a origem de toda a humanidade. No entanto, havia historiadores
que não hesitavam em interpretar esse apelido como uma referência que apóia a vertente
histórica que atribui aos yorubanos uma origem localizada no oriente. Ou seja, que seus
ancestrais teriam migrado desde o leste, desde a região da “nascença do sol”. Em
contrapartida, é preciso mencionar ainda aqui, que um outro apelido de Ile- Ifê, referido em
outra versão do mito como Ifê oòyé lagbò (cidade dos sobreviventes), costuma ser
apresentado, não somente como prova da antiguidade de Ile-Ifê, mas também como prova de
sua qualidade de cidade pós-diluviano.
147
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Figura 2-Odùduwà
Fonte:https://pages.stolaf.edu/bandel1/b1-my-hometown-as-a-famous-place/
148
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149
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
65
Texto elaborado a partir da conversa com o prof. Dr. Félix Ayoh´Omidire.
66
Terreiro de Candomblé situado na rua Sakete 32, Alto da Vila Praiana, fundado em Lauro de
Freitas, BA, no ano de 1966.Tombado pelo Instituto Patrimônio Artístico e Cultural IPAC
Decreto 9495/05. É dirigido pelo babalorixá Balbino de Xangô, Obarayin.
150
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67
Nome dado em Cuba à religião de origem yorubá.
151
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Figura 3 – Oyekún
Fonte: https://www.orisaifa.blogspot.com.orisaifa.org/2018/05/eji-ogbe.html
68
Conjunto de conhecimentos filosóficos que fazem parte do oráculo de Ifá da cultura yorubá.
152
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Na cosmologia yorubá existe uma cadeia ancestral que nos conecta com
todos os nossos antepassados, com nossa ancestralidade. Nós somos a
expressão da nossa ancestralidade, como ensina a filosofia de Ifá. A filosofia
yorubá de Ifá, é uma filosofia de vida, uma forma de ser e ver o mundo.
Dona Cici
153
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69
Célula ritmica curta que se repete ciclicamente.
70
Tambor de afinação grave utilizado nos candomblés.
154
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Em 1970, por questões religiosas ela vai morar em Salvador para fazer a
sua iniciação no candomblé. Primeiro ela faz iniciações no Tum Tum em
Itaparica e logo ela vai para o Ilê Asé Opo Aganjú.
No Ilê Asé Opo Aganjú ela conheceu Pierre Verger, onde se iniciou um
forte laço de amizade, o que a levaria a ser, anos depois, a sua assistênte. Ela
trabalhou durante três anos legendando fotografias junto a Verger, ao total
foram mais de onze mil fotografias. Com seu “Pai Fatumbi” (forma carinhosa
que ela o chamava) Dona Cici adquiriu grandes conhecimentos. Ela ouvia as
histórias que Pierre Verger contava sobre o Benin, a Nigéria e Cuba.
Ela fez parte da Ação Griô, trabalhando com várias escolas do bairro em
conjunto com outros mestres e vários aprendizes, acompanhando a contação
com música e dança. Como contadora de histórias algumas das suas histórias
viraram livros infantis. Cada história contada tem um ensinamento, momento de
reflexão, uma moral, e também um momento de virar cantiga, som e
movimento. Dona Cici tem muitos conhecimentos do candomblé, da cultura
afrobrasileira, mitologia, culinária tradicional, dança e saberes, que ela ensina,
como a grande Mestra que é.
155
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71
A palavra significa Irmã menor.
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Por mais que conheçamos a frase “palavra de honra” que é dita quando
alguém jura cumprir algo que promete verbalmente, a história das invasões
coloniais comprovam que dentro da cultura dos povos colonizadores europeus
eles não respeitaram a força da palavra, o seu carater sagrado, por esse
motivo o desprezo da palavra oral e a valorização da palavra escrita.
72
Instrumento musical, campana de ferro que se percute com uma pequena barra de ferro, e
que tem a função de marcar o tempo, a pulsação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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JAGUN, Márcio de. Orí: A cabeça como Divindade. 1. ed. Rio de Janeiro:
Litteris Editora, 2015.
160
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RUFINO, Luiz, SIMAS, Luiz Antonio. Fogo no mato: A ciência encantada das
macumbas. Rio de Janeiro: Mórula, 2018.
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Introdução
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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Referencial teórico
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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O nosso corpo é somático segundo Silvia Soter (1999), ele tem uma
consciência cultural local, cognitiva e social, por isso o corpo acaba absorvendo
uma reação diante daquilo que experimenta e diante destas experiências ele
tem uma reação conformadora ou acaba se libertando dos padrões impostos.
por isso escolho ressignificar a linguagem corporal e assim com e através da
Dança há uma descolonização desses corpos reconhecendo todos os saberes,
tanto os estereotipados adotados pela sociedade, como os populares e talvez
mais orgânicos.
169
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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Daí por diante passei 8 anos no grupo Cia Dançart’ de Sergipe o grupo
mais velho de Sergipe e me afastei do grupo em 2013, exatamente no ano em
que passei em dança pela Universidade Federal de Sergipe. A filosofia de
trabalho com a Dança Afro da Cia Dançar´t de Sergipe era, atentamente, não
dançar a nossa religiosidade, porque Cleanis Maria, coreógrafa do grupo, que é
do Axé, falava que: “como não se coloca Nossa Senhora para dançar no palco,
também não colocamos o nosso Sagrado no palco”. A Cia Dançar’t fazia
releituras das danças dos Orixás, dessa ancestralidade, dessas histórias
ancestrais do nosso Sagrado,outro aspecto que a profa. Cleanis Maria ressalta
em entrevista dada em 26 de agosto de 2018 é que a Dança Afro: [...] é
história, é ancestralidade, é história viva,por isso temos muito a contar.
171
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
deste espetáculo me fez ver o quão diversificada e forte pode ser a expressão
da ancestralidade e da cultura e como é bom reconhecer-se nesse espaço e
valorizar o seu próprio espaço, território, sabendo que este chão tem muito o
que contar.
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Considerações finais
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Referências
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Gerson Moreno
INTRODUÇÃO
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Assumir essa formação como campo de pesquisa foi crucial para que
minha investigação ganhasse novas proporções reflexivas e propositivas. Por
meio de rituais de integração, exercícios de dança e jogos de criação pré-
elaborados, me inseri na roda das vivências para estar junto, descobrindo,
refletindo e recriando em interação com cada educador dançante, sem a
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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
73
Companhia de dança atuante na cidade de Itapipoca CE fundada por mim em 1994. Suas
bases de investigação corporal/cênica/poética nascem de questões relacionadas ao corpo afro-
indígena ancestral contemporâneo. Ao longo de 25 anos, vem desenvolvendo metodologias de
183
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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75
Os Tremembé mantêm a dança do torém como sua expressão cultural mais singular. É uma
dança de roda, acompanhada por canções que misturam palavras em português com palavras
de origem indígena na forma de quadras. No centro do círculo, fica um ou dois dançarinos, os
toremzeiros, que dançam por meio de passos compassados e alguns razoavelmente
estilizados. Os dançarinos são acompanhados pelo som do maracá. Ao longo da dança, os
dançarinos consomem uma bebida fermentada de caju, conhecida como mocororó.
185
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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2ª etapa – Batidas
As pontuações com toques de mão deverão ser transformadas aos
poucos em batidas, como quem toca um pandeiro ou tambor. O corpo da
pessoa tocada se tornará um instrumento percussivo de onde se tira som,
ritmo, movimento e alegria. As batidas poderão ganhar velocidades e
dinâmicas diversas no corpo/tambor, que estará livre para ajudar a compor a
música batendo em si mesmo e liberando sons com a própria boca. Nessa
confluência musical dançante não há regras determinantes ou limitações de
comandos. Os pares podem gerar outras possibilidades de contato, locomoção
e movimentação conforme as necessidades que irão surgir ao longo do
experimento.
3ª etapa - Raspadas
As batidas de tambor deverão aos poucos se transformar em gestos de raspar,
deslizando as mãos para baixo, cima, lados, em linhas retas como quem risca
e corta a pele do outro, como quem limpa, purifica e retira impurezas. As
raspagens poderão ganhar velocidades, ritmos e dinâmicas diversas à
proporção que os corpos interagem entre si e constroem locomoções no
espaço;
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CABEÇAS SAGRADAS
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RELEASE DA OBRA
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que ela ganhe outras dimensões, estados e texturas, conduz os seres para a
encruzilhada... E retorna-se ao berço ancestral, e devolve-se a terra-mãe tudo
o que dela é desde sempre. Iemanjá reaparece entre ondas de gente. Guarda
e cuida de todas as Cabeças Sagradas até que elas precisem retornar ao
mundo dos movimentos e seguir com suas missões.
191
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMANTINO, Marcia. Priori, Mary Del. História do corpo no Brasil/ Mary Deli
Priori, Marcia Amantino (orgs.). – São Paulo: Editora Unesp, 2011.
FORD, Clyde W. O herói com rosto africano: mitos da África/ Clyde W. Ford:
(tradução: Carlos Mendes Rosa). – São Paulo: Summus, 1999.
193
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3ª PARTE
INTERSECCIONALIDADES
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Introdução
76
O termo participação observante tem sido aplicado nos Estados Unidos e Brasil para referir-
se à um dos métodos de pesquisa utilizados em etnografias críticas, quando a/o/e
pesquisador/a/e se identifica como parte do grupo ou comunidade investigada (Madison, 2012).
195
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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Figura 1 - Gráfico elaborado por Silvestre que simboliza o corpo universo com os três triângulos
e os elementos da natureza e Orixás que atravessam estes triângulos.
197
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198
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200
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78
O termo africanista é usado por Gottschild para referir-se a conceitos, práticas, atitudes ou
formas de matriz africana e afro-diaspóricas. (GOTTSCHIL, 1998; tradução nossa).
201
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Figura 2 - A figura representa o corpo na relação com o eixo vertical e os eixos que surgem
numa proposta estética africanista, como sugerido por Gottschild.
OLIVEIRA, 2019.
202
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Figura 3 - A figura representa o corpo na relação com o eixo vertical e os eixos curvos que
surgem no mover do quadril observado em movimentos de mulheres negras estadunidenses,
como sugerido por Zolla.
OLIVEIRA, 2019.
Figura 4 - A figura representa o corpo na relação com o eixo vertical e os eixos oblíquos que
surgem na proposta dos eixos alternativos de ação.
OLIVEIRA, 2019.
203
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Movo minhas mãos enquanto falo para mostrar a Exú que estou viva.
(Iyá Nla Beata de Iyemonjá (1931-2017), em entrevista no programa RJ TV)
79
Tal afirmação é baseada em experiência vivida como abiã num terreiro de Candomblé (Ilê
Omiojuaro – RJ) desde 2009 até os dias atuais.
204
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80
“aspirante, pessoa que vai nascer (bi=nascer); aquela que se submeteu apenas à primeira
etapa dos ritos de integração ao culto, isto é, à lavagem do colar.” (Lépine, 2011, p. 67)
205
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206
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Considerações Finais
Referências
209
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210
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211
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
INTRODUÇÃO
81
O Projeto CorpoTerritório circulou, entre os anos 2018 e 2019 por quatro quilombos rurais:
Lages dos Negros, Alagadiço, Bebedouro, Patos (Campo Formoso - Bahia); e um quilombo
urbano: Cajazeiras V (Salvador - Bahia). Além de passar por territórios quilombolas e
remanescentes, o projeto foi convidado por duas vezes no ano de 2019 a construir suas
oficinas junto com as mulheres negras, cidade de Chicago/EUA no programa de intercâmbio
Close To There.
212
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82
Utilizarei muito este termo ao longo do texto. “Corpas” indica uma re-feminilização do termo
corpo, na tentativa de dar enfâse à autonomia e saber do corpo feminino. Termo que também
indica o entendimento do “feminino” para além da biologia e das determinações de gênero
impostas na nossas relações no social.
213
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Ritualizar para dançar tem sido um dos caminhos que escolhi vivenciar
junto ao projeto CorpoTerritório. Os procedimentos são estes rituais que
preparam o nosso território corporal/coletivo para a experiência desde o fluir, a
intuição e o sentir. Portanto, estes procedimentos que compõem o Projeto
CorpoTerritório são práticas que objetivam sensibilizar o corpo, mergulhá-lo
nos seus próprios sentidos. E é justamente na busca pelo sensorial que temos
possibilitado uma prática de dança, de movência mais integradas e conectadas
com o corpo: corpo individual e corpo coletivo.
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ANDA | ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA
83
Escrevivência é um termo cunhado pela escritora e intelectual negra, Conceição Evaristo.
Como forma de aproximar as nossas experiências do cotidiano com as nossas escritas, a
Escrevivência é também vista hoje por muitas/os intelectuais negras/os como método de
investigação nas Ciências Sociais e Humanas e Psicologia Social (SOARES; MACHADO,
2017). Atrevo-me a dizer que também no campo da Dança temos construído escrevivências
corpadas nas nossas produções, pesquisas, investigações.
215
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
84
Para está ideia acalento-me e referencio-me nas proposições da historiadora negra Beatriz
Nascimento, que nos restituiu a ideia de quilombo como território de liberdade (NASCIMENTO
1982 apud ALCÂNTARA 2017, p.9) deslocando através do seu extenso trabalho os
pensamentos científicos e institucionais sobre os sentidos dos quilombos reduzido somente a
espaço de fuga e resistência nos contextos coloniais vividos aqui no território brasileiro. A partir
deste território de liberdade, penso que os quilombos podem se retraduzir (e re-atualizar) em
nosso próprio corpo, em cada camada que nos compõem, como possibilidade de investigarmos
dentro de nós mesmas os reais sentidos que compõem a nossa vida. E assim, entrar em
contato com o sentido de liberdade corpado e que se potencializa no mover-se em Dança.
Afinal, quais os acionamentos de liberdade a dança proporciona e conecta com as experiências
restituídas no aquilombamento de agora?
216
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Neste sentido, creio que vale também refletirmos sobre a nossa relação
com a Natureza e portanto com, nosso corpo, dentro de uma perspectiva
negra, comunitária e quilombola.
85
Sobre esta reflexão de como os quilombos podem inspirar as nossas práticas artísticas tenho
pensando sobre isto, desde 2016 no curso das minhas andanças pelos quilombos. Junto com
a Dança tenho adentrado as comunidades quilombolas para compartilhar e trocar saberes
desde o corpo, o movimento e conhecimentos artísticos. Em 2017, através do projeto e
residência artísticas “Dendêar”, dirigido pela artista baiana Ariana Andrade e artistas
colaboradores pudemos adentrar os territórios quilombolas do recôncavo baiano e baixo sul.
Foram eles: Quilombo do Dendê (Cachoeira), Quilombo Jatimane (Nilo Peçanha), Quilombo
Mulungu (Boninal) e também no bairro de Periperi (Salvador). Além destas andanças junto ao
projeto Dendêar, tive a oportunidade de conhecer o Quilombo do Cambury (Ubatuba, São
Paulo) e conhecer um pouco das resistências negras e originárias que residem naqueles
territórios. Estas experiências impulsionaram a criação e gestão do Projeto CorpoTerritório e
seus desdobramentos, como a pesquisa no Mestrado Profissional em Dança da UFBA e deste
presente artigo.
86
Para compreender mais esta questão da colonização nos nossos corpo-sentidos, penso que
a feminista Franchesca Gargallo (2013) traz uma excelente contribuição desde as perceptivas
das organizações de mulheres chicanas e seus territórios nas fronteiras do México. Os saberes
comunitários ancorados nas ancestralidades dos povos originários, indicam caminhos de
descolonização dos sentidos na construção de diversos entendimento sobre o nosso corpo, a
natureza, as nossas relações.
217
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Isto nos leva ao resgate dos modos comunitários das relações dos
povos quilombolas, indígenas ou dos povos rurais do sertão, do cerrado e
beira-rio como espelho de um entendimento, que compreendo como ancestral,
para ver a nós mesmos, as outras/os e a Natureza como uma unidade
interativa. Viver da terra e honrá-la através do canto, da música, da dança, do
alimento, dos movimentos comunitários são modos de resistências contra
coloniais, que podem inspirar nossas construções artísticas, por exemplo, nas
cidades.
218
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Para esta prática, nos dividimos entre três mulheres. Nos posicionamos
e caminhamos em círculo, e deixamos que a Dança flua nesta circularidade.
Nos movemos no fluxo deste encontro, a partir do toque, do olhar e da
presença. Cada movimento que surge se transforma em uma criação contínua
entre as três. Dançamos em movimento circular, criamos uma sinergia entre
nossos movimentos. Deixamos que a própria dança nos guie, nos leve e nos
abrace.
87
Importantíssimo destacar que estes procedimentos metodológicos são práticas para
o Dançar, práticas para o mover e intuir com todo corpo. Longe de separá-los como
práticas independentes uma das outras, ou até mesmo de negar a potência dançante
que existe no interior de cada um deles - os mesmos foram concebidas para ser uma
preparação, um ritual de início para o corpo em movimento.
219
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Assim como nos três quilombos mencionados, esta prática foi feita no
Quilombo Alagadiço em novembro de 2018. Contei com a presença de dez
mulheres, das quais convidei-as para as práticas de Dança CorpoTerritório por
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A Organização Filhos do Mundo (FEME) é uma entidade pública que atua na implantação de
políticas públicas e sociais, voltadas para a Economia Solidária e para o comércio justo,
fomentando e fortalecendo a agricultura familiar, o artesanato e as produções comunitárias.
Através do apoio financeiro da FEME puder adentrar os quilombos e realizar o Projeto
CorpoTerritório no período de duas semanas, em novembro de 2018 e agosto de 2019. Para
saber mais sobre esta organização acesse: http://feme.org.br/
221
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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Considerações Finais
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Para nós mulheres negras em diáspora, estes saberes nos impulsionam e nos
movimentam em direção a busca dos nossos próprios corpos-danças, corpos-
sentido como produtores legítimos de conhecimento, resgatando as nossas
biointerações nas nossas trajetórias vivas, cujo os saberes foram
comprometidos e invisibilizados. Corpamos portanto desde a memória e desde
intuição, outros circuitos de afeto e resgate distintos das políticas de
apagamento do biopoder, para que os nossos corpos ocupem a centralidade
dos saberes e fazeres, nos mantendo vivas, acessíveis, visíveis.
Por fim, pretendo profundamente que esta escrita seja mais um caminho
de acendimento de sol, como sugere a pesquisadora Aza Njeri (2020, p.1), no
exercício de despertar as potencialidades femininas no interior dos corações de
mulheres negras, viventes em territórios urbanos e rurais. Neste acender os
nossos Sols para a construção de uma qualidade de futuro também me
reconstruo, me refaço como educadora que reverencia as experiências
conjuntas, quilombistas, ancoradas na memória e no legado dos e das nossas
ancestrais.
Àṣẹ!
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Referenciais Bibliográficos
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
MOVIMENTO QUADRIL:
DOS RICOCHETES DA BUNDA FEMININA PRETA À CONSTRUÇÃO DE
SUBJETIVIDADE EM CONTEXTOS AFROCENTRADOS
A minha intenção com esta definição não é reduzir estas danças, estas
manifestações culturais, e suas origens africanas a um único aspecto, mas sim
reconhecê-las como parte de um movimento cultural que se hibridiza entre
suas diferentes vertentes e constantemente se reinventa, mantendo suas
singularidades mas mantendo, também, domínios comuns. A prática destas
danças em ambientes comuns a partir de suas similaridades e sob uma
perspectiva de identidade afrocentrada vem se multiplicando em territórios
diversos como festas, aulas e encontros informais, e a estes ambientes, que só
fazem crescer, chamo Movimento Quadril. E que por suas potencialidades
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
89
Racismo brasileiro, como em outras sociedades de origem latina é o racismo disfarçado ou,
conforme classificado por Lélia Gonzalez (2018), racismo por negação, onde “prevalecem as
‘teorias’ da miscigenação, da assimilação e da ‘democracia racial’” (p. 324).
228
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
90
“Segundo Butler, enquanto a agência está ligada à capacidade de ação de um sujeito (não
transcendental) nos discursos, a resistência está relacionada não só com a ação desse sujeito,
mas também com a possibilidade de que essa ação resulte, de alguma maneira, em uma
ressignificação radical dos discursos (BUTLER, 1997 apud LOPES, 2011, p. 169).
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91
O termo refere-se à apropriação cultural: “o poder que uma sociedade, que se colocou no
posto de dominante, no caso pela colonização, tem para definir que as demais culturas e,
consequentemente, os integrantes dessa cultura, são inferiores em relação a ela, MAS, a partir
do momento que essas culturas ou seus elementos são apropriados pela estrutura dominante,
esses elementos perdem a inferioridade e ganham o status de exótico e/ou se tornam
lucrativos. Portanto, apropriação cultural é um fenômeno estrutural e sistêmico” (Ribeiro, S.
Afinal, o que é apropriação cultural? Portal Geledés. Disponível em:
<https://www.geledes.org.br/stephanie-ribeiro-afinal-o-que-e-apropriacao-cultural/>. 2017).
231
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
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Eu não acredito que se possa afirmar que por elas usarem o corpo,
elas são aquilo que elas apresentam, apenas. Eu gosto demais de
pensar em performance. Eu acho que há uma performance dessas
mulheres. Aquelas que trabalham nisso entenderam que esse nicho
de mercado é um nicho onde o corpo é o elemento mais importante
para geração de renda. [...] o espetáculo se sobrepõe à letra e ao
protesto, esse é um ponto que eu acho que tanto para mulheres
quanto para homens. Para a mulher ainda mais, porque essa imagem
atualiza o estereótipo da mulata sensual, a mulher brasileira sensual.
[...] esse lugar dessa mulher é muito narcotizante; as pessoas –
homens e mulheres – vêm nessa forma de usar a roupa, essa forma
de dançar e mexer o bumbum, uma ideia de descolamento e hiper
sensualidade. E eu acho que essa é uma ideia muito construída,
muito performática – de fato nem todas essas mulheres são esse
boom de sexualidade, mas é um produto que gera renda, renda para
elas inclusive (apud FORNACIARI, 2011, p. 69).
233
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
[...] a juventude que hoje canta e dança o funk era a criança que
assistia ao Faustão apresentar, em seu programa dominical, os
concursos de loira e morena do Tchan!, e aprendeu a “ralar na
boquinha da garrafa” (FORNACIARI, 2011, p. 70).
92
Beat de funk criado, no final dos anos 90, a partir da cadência de batidas de atabaque
reproduzidas eletronicamente, difundida e agregada a outros elementos musicais. Esse ritmo
disseminou-se nacional e internacionalmente como grande “ritmo do funk carioca para o
mundo” (A historia do tamborzao griado (sic) por DJ Luciano DJ Cabide ano 1999. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=z1ZKRUAkUgs&feature=youtu.be>.)
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Digo forjando novidades, pois a embalagem pode até ser outra, mas o
conteúdo ainda é o mesmo:
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Sendo assim, creio que abrir mão da dança que objetifica não resolverá
a questão da objetificação. Porque a objetificação jogada sobre a dança é ela
mesma um sintoma, não a razão. Não creio que abandonar algumas de
nossas expressões corporais mais potentes, como as danças de quadril,
resolverá o problema de nossas opressões. Enquanto o ideal que objetifica for
o parâmetro, não vejo soluções em definitivo, “pois as ferramentas do senhor
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
conexão com meu corpo, com minha sexualidade, e ter consciência de todas
as partes do meu corpo, inclusive daquelas negadas por prerrogativas
machistas ocidentais, é o ideal para mim.
Considerações Finais
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Finalizo, por hora, parafraseando Lélia Gonzalez (1984), que com ironia crítica
já ressaltava a “bunda” (termo que provém do tronco linguístico bantu) como
língua, linguagem, sentido e coisa: “neste trabalho assumimos nossa própria
fala”. Ou seja, agora a raba vai bater, e numa boa.
Referencial Teórico
______. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria
performativa de assembleia. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.
241
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
GOTTSCHILD, Brenda Dixon. Butt. In: The black dancing body: a geography
from coon to cool. New York: Palgrave Macmillan, 2003. p. 144-187.
LORDE, Audre. Irmã Outsider. 1. Ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
PÉREZ, Elizabeth. The ontology of twerk: from ‘sexy’ black movement style to
afro-diasporic sacred dance. African and black diaspora: an international
journal. vol. 9, n. 1, p. 16-31, 2016. Special issue: “Sounds of Freedom Across
the Black Atlantic.”
SOUZA, Miguel Alves de. “Sou feia, mas tô na moda”: o funk como canal de
transmissão da voz feminina negra periférica. Revista Humanidades e
Inovação. v.6, n.16, 2019, p. 146-155.
242
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243
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Sem uma forma de nomear a nossa dor, nós também não temos
palavras para articular nosso prazer. De fato, uma tarefa fundamental
dos pensadores negros críticos tem sido a luta para romper com os
modelos hegemônicos de ver, pensar e ser que bloqueiam nossa
capacidade de nos vermos em outra perspectiva, nos imaginarmos,
nos descrevermos e nos inventarmos de modos que sejam
libertadores. Sem isso, como poderemos desafiar e convidar os
aliados não negros e os amigos a ousar olhar para nós de jeitos
diferentes, a ousar quebrar sua perspectiva colonizadora? (hooks,
2019, p.33)
93
Não estamos aqui buscando reduzir a potência de saberes corpóreos e históricos no que
consiste às linguagens das danças afro-brasileiras ou de matriz afro. Consideramos tais
fazeres de extrema relevância no que concerne a uma linguagem em dança tão importante
para compor o nosso o patrimônio imaterial do corpo cultural dos Brasileiros.
94
Este período histórico é de extrema relevância para a tecitura de narrativas para a dança e
discursos para a performance, porém, a pesquisa das proponentes questiona isso.
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Qualidade ou condição de negro. Sentimento de orgulho racial e conscientização do valor e
da riqueza cultural dos negros.
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Tokenismo: é a prática de fazer apenas um esforço superficial ou simbólico para ser inclusivo
com membros de minorias, especialmente recrutando um pequeno número de pessoas de
grupos sub-representados para dar a aparência de igualdade racial ou sexual dentro de uma
força de trabalho. Aqui especificamente dentro dos núcleos artísticos porto-alegrenses.
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Referências
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Mantemos aqui o uso da palavra raça para referir-se a etnicidade das pessoas negras, pois
consideramos que esse termo ainda é um operador sociológico de peso na reprodução dos
estigmas racializantes em nosso país.
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O afeto, portanto, é uma tenda bem ampla sob a qual deposito não só
todos os sentimentos possíveis, mas também as situações e
mecanismos responsáveis por produzi-los, ou seja, por produzir as
ações cujas experiências tornam-se sentimentos. (DAMASIO, 2018,
p.96).
98
Capacidade do organismo de se manter constante, para que suas funções e reações
químicas essenciais não sejam influenciadas e permaneçam dentro dos limites aceitáveis à
manutenção da vida. (HOMEOSTASE, 2020).
259
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Com isso o autor aponta para uma diferenciação das emoções e dos
sentimentos, sendo que o primeiro acontece por meio de um processo orgânico
e inconsciente, o segundo de maneira totalmente consciente, a partir da
localização, perspectiva e construção social de cada indivíduo.
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Termo utilizado com “x” pelos ativistas homossexuais negros como transgressão da
linguagem formal e ação política que intersecciona raça e sexualidade.
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100
Programa Institucional de Experimentação Artística da Pró-reitoria de Extensão da
Universidade Federal da Bahia (PROEXT)
101
Os interpretes são: Daniel Dias, Eduardo Almeida, Patrick C. de Jesus e Wiliam Gomes. E
no início do ano 2020, o aluno Allan Fradique também foi convidado para integrar o elenco.
102
Anteriormente era intitulada como “Mapa de afetividade”. Assim como a própria
metodologia, o nome está em desenvolvimento. Essa mudança ocorreu por uma busca poética
para o título por tratar-se de um processo em dança.
265
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Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queers, intersex, agêneros,
assexuados e mais).
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Movimento iniciado na década de 80 nos Estados Unidos por bixas pretas em clubes gays,
que mesclava concursos com desfile de moda com várias categorias e batalhas de danças
Vogue, inspirados nas estrelas das revistas, cinema, publicidade e televisão. (BERTE, 2014)
105
Dança criada na Ball Culture, tendo como inspiração as poses das modelos da revista
VOGUE. A dança funde movimentos do Break Dance, ginastica artística e desfiles de moda,
encadeando linhas corporais sinuosas e retilíneas e posições refinadas. (PARIS IS BURNING,
1990)
106
Plataforma virtual para reuniões em vídeo
267
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na qual realizei cinco perguntas fixas para todos os interpretes, depois houve
um momento de improvisação e a partir das respostas eu formulava novas
perguntas durante a entrevista. Posteriormente, criei um mapeamento de
afetos com base nas entrevistas, criando uma tabela de post-it virtuais, ligando
temas, questões, atravessamentos e diálogos que ocorreram durante o
processo de criação e apresentação do espetáculo. Dessa forma, o próprio
processo de pesquisa é atravessado pela metodologia em desenvolvimento,
alicerçando a curadoria dos depoimentos com base na mesma.
107
Um tipo de discriminação baseado na cor da pele onde, quanto mais escura a tonalidade da
pele de uma pessoa, maior as suas chances de sofrer exclusão em sociedade. (SILVA, 2017,
p. 03)
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Quilombo de Afetos
108
É uma expressão cultural, que denota uma deslumbrante aparição, uma ação esplendorosa.
Quando utilizada reflete as gírias das pessoas LGBTQIA+, em contextos múltiplos e em
situações variadas. (SANTOS, 2019, p.89). Neste contexto me inspiro em Leonardo Santos ao
utilizar o termo como sinônimo de “conclusão” em sua dissertação de mestrado.
270
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Referências Bibliográficas
hooks, bell. Living to Love: Women’s Health. Emmaus: Rodale, vol. 05, 1993,
p. 231-236
272
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VEIGA, Lucas. Além de preto é gay: diáspora da bixa preta. In: RESTIER,
Henrique; SOUZA, Rolf (org). Diálogos contemporâneos sobre homens
negros e masculinidades. Ed. São Paulo: Ciclo Contínuo, 2019, p. 77-93
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CORPO-NANÃ:
EXPERIÊNCIA PERFORMÁTICA NO MANGUEZAL
109
CELINA NUNES DE ALCÂNTARA - [email protected] - Professora adjunta no
curso de Teatro, no Departamento de Arte Dramática e Programa de Pós-Graduação em Artes
Cênicas, do Instituto de Artes, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
110
Está noção é marcada por uma subjetividade própria de um corpo-mulher-negra, que
segundo Evaristo (2009), inventa e cria o ponto de vista do texto desde a experiência de sua
existência. Em outras palavras, é uma escrita que se dá colada a vivência do corpo
afrodescendente.
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111
O entendimento de ancestral nesta pesquisa extrapola a noção de ancestralidade genética,
indo em direção aos ancestrais que compõem a umbanda, como os pretos-velhos, boiadeiros,
malandros, caboclas, ciganas, baianas, etc.
112
A ideologia do branqueamento é parte de um projeto do estado brasileiro para a
transformação da população não branca em branca, essa ideologia impõe aos corpos não
brancos uma assimilação do comportamento branco. O embranquecimento é uma das formas
de manutenção do racismo por parte do colonialismo, esse artifício é um modo de destruição
dos valores africanos. Para a autora, Machado (2016, p. 2169) “A dimensão ideológica do
embranquecimento consiste na assimilação do comportamento do branco e na negação da
cultura africana.”
275
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113
A umbanda é um fenômeno plural que congrega diferentes práticas litúrgicas, podendo ser
elas africanistas, cristãs, indígenas e orientais. Tais práticas se cruzam em maior ou menor
grau podendo até não aparecerem em determinadas agremiações. O encontro dessas práticas
múltiplas, gera uma dificuldade em pensar a umbanda como uma unidade, dessa maneira
pondero esse aspecto e ressalto que o modo como essa religião é aqui pensada diz respeito a
minha experiência dentro do cultivo religioso.
114
Para o autor Rufino (2016) a encruzilhada fratura a pureza dos cursos únicos, uma vez que
é o espaço-tempo onde as fronteiras aparecem como zonas interseccionais, em outras
palavras as diferenças e os múltiplos saberes coexistem e se pluralizam, enquanto
esculhambam às verdades únicas.
115
Exu dentro das religiões afro-brasileiras é o orixá da transformação, da comunicação, é o
senhor das encruzilhadas, bem como potência diante da multiplicidade de caminhos. Para
Martins (1997, p. 26) ele é “[...] princípio dinâmico que medeia todos os atos de criação e
interpretação do conhecimento. Como mediador, Exu é o canal de comunicação que interpreta
a vontade dos deuses e que a eles leva os desejos humanos.” Para a autora ele “simboliza um
princípio estrutural significante da cultura negra, um operador semântico da alteridade africana
na interseção cultural nos Novos Mundos. Senhor das encruzilhadas e, principalmente, da
encruzilhada dos sentidos e dos discursos, ele é trickster, uma instância de mediação e
ressignificação através da qual a mitologia iorubá desliza pela religião cristã, mantendo uma
enunciação diferenciada e descentralizadora.” (MARTINS, 1995, p.56). Exu no Brasil também é
lido como entidade e não orixá, essa é uma das transformações dessa divindade no Brasil. A
qual é apresentada pelo autor Nogueira (2014), como parte do processo de ressignificação
desse orixá no “Novo Mundo”, vale ressaltar que esses processos de hibridização que as
religiões africanas passaram em terras brasileiras, são meios de reexistência a um longo
período de opressão europeia aos valores africanos, o qual segundo o autor transfigurou Exu
de divindade iorubá para um espírito ancestral (entidade) nas umbandas.
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Escritas do Corpo
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(MARTINS, 2006, p. 84). O uso do conceito por Martins (2003) institui a noção
de corpo como escrita, para ela
116
Os pontos, são cantos ritualísticos acompanhados de atabaques, danças e palmas.
117
Dentro da religião de Umbanda, o transe é o momento onde os ancestrais e Orixás se
manifestam nos corpos dos adeptos, para festejar, curar e encantar a vida.
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118
Me utilizo do termo sensível com base no autor Sodré (2017), onde o sensível é
configurado como uma condição da corporeidade iorubá, para o autor “O sentir é a
comunicação original com o mundo, é o ser no mundo como corpo vivo. O sentir é o modo de
presença na totalidade simultânea das coisas e dos seres. O sentir é o corpo humano
enquanto compreensão primordial do mundo. O homem não é si mesmo por derivação ou,
progressivamente, por etapas. Ele é de vez ele mesmo, estando nele mesmo junto a coisas e a
outros, na atualidade do mundo. O sentir é a correspondência a essa presença [...]. Pelo sentir
do corpo, o homem não está somente no mundo, mas este está nele. Ele é o mundo” (SODRÉ
apud BOULAGA, 2017 p.124
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Corpo-Nanã119
Com base no que me foi apontado pelo meu pai de santo, os saberes e
a ética do terreiro que perspectivam a investigação Corpo-Nanã, não trazem os
segredos e mistérios próprios desta religiosidade, os quais são preservados
nesta pesquisa. Os saberes que trago em meu trabalho a respeito do chão do
terreiro são conhecimentos e públicos e não se referem aos ritos de iniciação.
Essa delimitação, busco estabelecer pela necessidade de definir o uso da
experiência religiosa dentro das artes cênicas.
119
Link com material áudio visual produzido durante o experimento:
https://youtu.be/5FfvDwrM6zg
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Neste ponto vejo convergência com o que o autor Muniz Sodré (2019)
nos apresenta em relação à dança que tem como base a filosofia africana, a
qual é uma expressão de um saber que não se reduz a um símbolo de uma
língua, sendo ela um saber “colocado a experiência de um corpo próprio”
(SODRÉ, 2019, p. 127), onde
283
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Considerações
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nossa história. Este corpo me mostra um caminho ético para a criação, onde as
diferenças e a multiplicidade de sentidos se encontram em um respeito
profundo a vida. Penso que o experimento vai em direção a uma produção de
mudança por meio do reconhecimento da ancestralidade e da noção de que
não somos a única espécie viva.
REFERÊNCIAS
286
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RIBEIRO, Ronilda Iyakemi & SALAMI, Sikiru. King. Omoluwabi, Alakoso, teu
caráter proferirá sentença a teu favor! Valores pessoais e felicidade na
sociedade iorubá. In ANGERAMI, Waldemar. Augusto(org) Psicologia e
Religião. São Paulo: CengageLearning, 2008.
287
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
120
Segundo Prandi (2001, p. 22), “Oxum preside o amor e a fertilidade, é dona do ouro e da
vaidade e senhora das águas doces.”.
121
Danças populares de matrizes africanas.
288
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negro escravizado, da mesma forma como ocorre fora dos muros da escola,
numa sociedade racista.
122
Bailarino Pesquisador Intérprete, difundido em Alagoas por sua aluna, a professora e
diretora do solo, Paula Caruso.
123
Companhia de dança dirigida por Telma César, atuante em Alagoas desde os anos 2000,
realizando pesquisa com as danças populares do Nordeste e criações de espetáculos em
dança contemporânea.
289
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
124
Termo utilizado para referir-se aos médiuns na umbanda e no candomblé.
291
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
No filme, o corpo Cavalo é composto por todos nós, sete caminhos que
constroem uma unidade potencializada pelas diversidades corporais, as quais
advêm das danças, personalidades, crenças, lutas, orientações sexuais, do
modo como cada pessoa se relaciona com o ambiente onde vive, seja este um
bairro de Maceió ou uma outra cidade do estado de Alagoas. Assim, são
retratadas histórias de vida distintas, mas que se unem através da força criativa
da dança, do corpo e da ancestralidade. Desse modo, identifico a harmonia do
trabalho em grupo, desde o início até a finalização da trajetória de cada um no
decorrer do filme, como um rastro pujante da singularidade completa em si e
decomposta no que forma o robusto corpo Cavalo, signo maior do filme.
Observo as relações pessoais e a construção artística no filme e traço uma
analogia com os parâmetros educacionais de sociedade presentes na cultura
do povo africano Dogon.
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Atividades como as aulas das danças dos orixás também fizeram parte
da preparação corporal do elenco, de maneira a nos aproximar da
ancestralidade do corpo através do movimento. Essas aulas foram guiadas
pelos candomblecistas Lulinha (babalorixá) e pela Leide Serafim Olodum (iaô).
Olodum126 nos apresentou os aspectos sobre a dança dos orixás:
125
Entrevista concedida a Joelma Ferreira no dia 31/7/2020.
126
A fala de Olodum foi extraída do filme Cavalo.
293
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
127
Elemento da natureza proposto pelo preparador de elenco Glauber Xavier, considerado
quase uma não-matéria, ligado à cultura indiana ayurveda, com a qual Glauber trabalha.
Dentro da dinâmica do filme, esse elemento foi associado ao orixá Oxalá.
294
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Fez parte do meu estudo a pesquisa acerca dos mitos dos orixás e seus
arquétipos. Segundo Rodney William128 (2020), Oxum é vista como
emancipadora das mulheres, empoderando-as, deseja que todas elas vejam os
seus próprios potenciais através de seu espelho, não só a vaidade. Com o
mesmo objeto, ela ilumina seus filhos, mas também o transforma em arma,
repelindo o inimigo com o reflexo espelhado do sol. É popular, diplomata, sabe
influenciar politicamente e tem como símbolo o rio. Age sorrateiramente,
conquistando o que deseja e divide-se em 16 qualidades.
128
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AAMU4wfop 7c&t=2s . Acesso em: 4 jun.
2020.
295
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Oxum que alafia129 a mim tal parentesco, anunciado na cena do jogo dos
búzios130.
129
No jogo dos búzios significa positivo ou confirmação.
130
A orientação para o jogo acontecer foi para que eu não tivesse ingerido bebida alcoólica
nem ter tido relação sexual por, no mínimo, três dias, além de realizar uma limpeza corporal,
tomando banho de ervas e vestir roupas brancas antes de ir à mesa.
131
Oferenda feita com alimentos, relacionada à saúde e oferecida aos meus ancestrais.
132
Espaço sagrado onde ficam recolhidos os iniciados no candomblé.
296
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Acredito que estar imbuída das características do orixá Oxum foi parte
fundamental no processo de ressignificação da dança criada. Cabe aqui
ressaltar que não faço parte do candomblé ou da umbanda, não vivi a
incorporação que acontece no momento do transe religioso, portanto, não
consigo traduzir essa experiência em palavras que possam alcançar tal força e
potência vinda da ancestralidade africana. Ao fim da minha dança, estava
instaurado um clima de suspensão estendido no extenso silêncio de todo
espaço do set, configurando-se para mim um tempo outro, um momento
atemporal.
No filme, percebo que os mitos de Oxum não foram usados para serem
interpretados como um roteiro de criação para minha dança, mas como porta
de acesso aos saberes africanos e, por não conhecer as dinâmicas de
compreensão sobre os mitos, deparava-me com certa dificuldade em traduzi-
los para além da literalidade. Nas palavras de Oliveira (2009, p. 5): “Talvez,
também, porque o mito mantenha seu poder de segredo e encantamento, pois
ao mesmo tempo em que revela, esconde e, ao mesmo tempo em que oculta,
manifesta”. Para Prandi (2001, p. 18), os mitos “são histórias primordiais que
relatam fatos do passado que se repetem a cada dia na vida dos homens e
133
Entrevista concedida a Joelma Ferreira no dia 31/7/2020.
298
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Uma dança aberta para uma política do chão é uma dança aberta
para aceitar e experimentar com efeitos cinéticos das matérias
fantasmas que interrompem a ilusão de uma dupla neutralidade, a do
espaço e a do nosso movimento nele.
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Considerações finais
301
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Referências
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PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.
303
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4ª PARTE
MANIFESTAÇÕES
AFRO-DIASPÓRICAS
304
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AFRO MANDINGA:
MATRIZES DO MOVIMENTO
305
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134
http://nossaescrevivencia.blogspot.com/2012/08/da-grafia-desenho-de-minha-mae-um-
dos.html
306
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307
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308
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A dança enquanto reza, tem o corpo como lugar sagrado de sua morada
presente no fazer dos povos da terra enquanto narrativas. Foi dançando que
nossos povos desenvolveram durante séculos as suas culturas e suas
tradições como uma experiência dançante. Assim, a dança enquanto memória
do corpo propõe uma descoberta de si e do outro, sugere uma vivência estética
do que acontece. Tiganá Santana (2020) em Live135, onde discutia sobre
tradução, ritmo e força vital. Dança sobre o pé do baobá, aproxima de nós o
sentido do cosmograma bakongo enquanto pergaminho, todavia, o que nos
conduz a complementar que a roda traduz um modo de pensar em fluxos
coletivos cultivando determinados signos presentificando as manifestações e
matrizes de forma divinatória.
Por fim uma breve reflexão sobre as formas de uso das práticas
holísticas e somática dentro do que estamos construindo. Pensar
afromandingas a partir de corpos de mulheres negras, nos leva diretamente a
questionar os espaços que não validam os conhecimentos produzidos por
estas. Assim Gilroy, fortalece ao afirmar que alguma prática podem levar ao
apagamento da tradição:
135
Cosmologia Banto: interações tradução ritmo e força vital. Visto em < 18/09/2020>
310
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II.
311
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Assim, é preciso que você leitor observe a escrita literária como uma
coreografia onde as pontuações representam o ritmo e a história são como
movimentos e expressões. Se ainda assim ficar difícil, podemos recorrer a
capoeira, esta brincadeira existe a partir do corpo que dança, mas há também
uma narrativa. Cada movimento está compassado com o outro corpo num jogo
de pergunta e resposta e por trás destes movimentos existe uma narrativa
marcada pela música, pelo som dos instrumentos, pela chamada no pé do
berimbau. Enquanto ginga o corpo compõem um poema.
312
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A oralidade, e por isso falo sobre Kerinde e não Ana Maria Gonçalves,
pois ela (re)escreveu algo que foi escrito por alguém que ouvia Kerinde, e
neste sentido está é, primeiramente uma história oral, e reflete na nossa
sociedade atual. Somos nós pessoas negras produtos da oralidade, as nossas
tradições e produções culturais negras, são frutos da oralidade. “Esta herança
ainda não se perdeu e reside na memória das últimas gerações de grandes
depositários, de quem se pode dizer são as memórias vivas da África”.
(HAMPATE BÂ, 2010, p.167). O tradicionalista Bandiagara, mesmo falando da
suas experiências e da sua comunidade, aspectos que atravessam esta
herança se mantêm vivas, haja vista, as nossas movimentações culturais e
como os ensinamentos são passados nos grupos de capoeira, tambor de
crioula, samba de roda , nos terreiros de candomblé e outros.
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Quando kerinde escolhe escrever esta carta, talvez ela não tenha tido a
dimensão da sua escrita e o que ela significaria nos dias de hoje. Este livro
traduz uma sociedade que violentou e marginalizou a população negra, mas
que diante desta opressão não se rendeu. Pelo contrário, é possível identificar
que as pessoas negras escravizadas conseguiram diante deste processo
construir estratégias e reorganizar suas vidas e ajudar o outro.
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Uma das coisas que estamos tentando dizer é que tanto a dança quanto
a escrita ou a oralidade são testemunhos da consciência do corpo,
proporcionando um entrelaçamento entre as pessoas negras. Dentro do que a
Afro Mandinga abarca, se a mulher negra através da dança experiência o
agenciamento da sua vida e do seu entorno, dentro da literatura acontece o
mesmo, através da produção de outras narrativas, construindo referências e
remendando os buracos das nossas narrativas, nos tornando mais humanos
para o mundo a partir de correções na literatura universal.
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Conclusão
319
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Referências bibliográficas
BÂ. Hampâté Amadou. Amkoullel, o menino fula. São Paulo. Palas Athena,
2003;
CONDÉ, Maryse. Eu, tituba bruxa negra de Salem. Rio de Janeiro. Rosa dos
Tempos, 2019;
GILROY, Paul. “Uma história para não se passar adiante”: A memória viva e o
sublime escravo. In: O Atlântico Negro. São Paulo. Editora 34, 2012;
320
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INTRODUÇÃO
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corpo é questionador e tudo é por meio dele e reflete nele, logo “O corpo é
ciência. O corpo é um campo de produção de saberes, de epistemologias
desse corpo que é físico, químico, biológico, cultural que se dá a história, que
faz história, que se constrói no universo, que é filosófico (SILVA,2020, p. 25).
324
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Paulo Freire (2012) nos diz que “Não há utopia verdadeira fora da
tensão entre a denúncia de um presente tornando-se cada vez mais intolerável
e o anúncio de um futuro a ser criado, construído, política, estética e
eticamente, por nós, mulheres e homens”. Esse lugar de fala do professor,
sustenta que a não linearidade provém de um professor flexível, maleável, que
entende o mundo das relações pedagógicas como mutáveis e recíprocas,
adotando a cumplicidade como elemento fundamental na construção do
conhecimento.
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possível que alguns dos tantos conteúdos abordados, tenham origem na aula
anterior, é o que podemos chamar de AÇÃO- REFLEXÃO- AÇÃO
metodológica.
Essa iniciativa, que não é muito comum por parte dos professores mais
conservadores, suscita confiança e responsabilidade, ambiência e bem-estar
para as pessoas. Essas ocorrências relatadas acima, foram experimentadas
em diversas turmas de crianças, adolescentes e adultos, alunos da Escola de
Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB e do Balé
Folclórico da Bahia – BFB, além dos estudantes do primeiro semestre do curso
de Licenciatura em Dança, da Escola de Dança da Universidade Federal da
Bahia – UFBA, quando foi realizado o Tirocínio docente como ação obrigatória
do componente curricular, no ano de 2011. Ao conduzir as aulas com esses
procedimentos metodológicos menos rígidos, obtive êxitos duradores e
consequentes homenagens nessas Instituições de Ensino. Faz-se, necessário
informar que todo o processo relatado se deu entre 2003 a 2016.
329
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136
Portal da ANDA. Acesso em: 02 jul. 2012.
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Brasil, pelos africanos que aqui chegaram. Kastrup (2014) postula que “A
aprendizagem, é sobretudo, invenção de problemas, é experiência de
problematização”. Se tentarmos estabelecer relação entre a ideia da autora e o
“mundo visível” da capoeira, veremos o quanto elas se entrecruzam.
Nos referimos a uma espécie de sui generis, que evolui a partir de uma
educação em arte, “Integral, aberta, dinâmica, construtiva, sem esquecer as
dimensões de segurança, firmeza, autoridade sem autoritarismo e imensa
inquietude para criar, pensando e agindo prospectivamente” (D`AMORIM,
2007). Após as extensivas reflexões dissertadas nesse artigo, essas são
algumas das características do profissional que desejamos ver na
universidade. Salve os nossos mestres, salve os nossos alunos. Que
possamos desenhar as danças do por-vir.
Considerações
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Referências
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GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6.ed. São Paulo:
Atlas, 2017.
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Introdução
339
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137
Em Mulheres, Raça e Classe (2016), Angela Davis faz um estudo mais aprofundado sobre a
ausência de publicações que tratasse da questão das mulheres escravizadas, e apresenta
algumas das mais importantes obras da época que discorreram sobre período da escravidão
na América do Norte. Cf. DAVIS, 2016.
340
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Nordeste, Diário do. “Em comício no Rio, Mano Brown critica PT e é defendido por Chico e
Caetano.” 2018. (5m27s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ojQ0QuYDT9Q>.
Acesso em: 27 set. 2020.
341
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139
Dedicamos alguns parágrafos mais à frente no texto para uma breve reflexão sobre a nossa
escolha no uso deste termo.
342
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A Groove Party uma festa com protagonismos diversos, o que cria uma
sensação de conforto e segurança para desejos de libertação, subjetividades e
performances. Entendemos que é essencial olhar para a produção de encontro
como um recurso indispensável às lutas das existências subalternizadas e
precarizadas. Como observa Butler:
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140
EJARA, Frank. O novo termo “danças urbanas”. Blogspot, 25/10/2011. Disponível em:
<https://frankejara.blogspot.com/2011/10/o-novo-termo-dancas-urbanas.html> Acesso
em 20 set. 2020
141
MILARÉ, Gabriel. Caso George Floyd: o estopim do #BlackLivesMatter. R7, Blog do QG,
08/06/2020. Disponível em:<https://blog.enem.com.br/caso-george-floyd-o-estopim-do-
blacklivesmatter/> Acesso em 27 set. 2020.
347
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142
REDAÇÃO. Após VMA, redes sociais passam a acusar MTV de racista; saiba por quê.
Catraca Livre, Entretenimento, 31/08/2020. Disponível em:
<https://catracalivre.com.br/entretenimento/apos-vma-redes-sociais-passam-a-acusar-mtv-de-
racista-saiba-por-que/ > Acesso em 27 set. 2020.
143
MILLAN, Camilla. Como categorias ‘urbanas’ criam barreiras para músicas e danças negras
e perpetuam o racismo. Rolling Stone, 29/06/2020. Disponível em:
<https://rollingstone.uol.com.br/noticia/como-categorias-urbanas-criam-barreiras-para-as-
musicas-e-dancas-negras-e-perpetuam-o-racismo/>. Acesso em 20 set. 2020.
348
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A festa
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Xô falar
Tenho tanto irmão de outras mãe que tão junto nessa trilha
Ela foi chamada de sistah. O termo que o jovem usou indica uma/um
ancestral comum: a irmã compartilha a mesma ascendência que o
irmão que a aborda como tal. Ambos têm a mesma mãe e/ou pai, são
parentes e membras/os da mesma unidade famílias. Essa
terminologia, comum entre africanas/os e africanas/os da diáspora,
recorda a existência de uma família imaginária, uma família onde
todas/os as/os integrantes são irmãs e irmãos, crianças do mesmo
continente-mãe – a África (KILOMBA, 2019, p. 210).
351
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352
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(...)
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Referências
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Ao ouvir de quem não sofre e de quem acha que é exagero falar que
tudo trata-se de racismo, surge a pergunta: O que é racismo? Sueli Carneiro
(2011) responde assim:
356
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Outro quem?
Fora!
Dona Francisca Silva, D. Chica, minha sábia avó, dizia que fazer ouvido
de mercador144 era a melhor saída para quem não quer dar ouvidos ao
outro/outra. E foi essa a melhor saída do ator em questão: não ouvir, seguir em
frente com suas lágrimas nos olhos, mas seguir fazendo suas aulas de ballet.
144
Aquele que não dá importância ao que escutou.
357
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Nesses dois casos, do rapaz que queria ser bailarino e do outro que
entrou no shopping para trocar o presente do dia dos pais, essa frase tão forte
e verdadeira de Conceição Evaristo se faz presente.
145
Maria da Conceição Evaristo de Brito, escritora, nascida na cidade de Minas Gerais no dia
29 de novembro de 1946. Romancista, contista e poeta. Recebeu o seu Doutorado pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). Suas obras abordam temas sobre raça, gênero e
classe.
358
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origem. Um rapaz pobre e que, para ela, não tinha família. Scottini (2011),
explica sobre os sobrenomes e diz o seguinte:
Pois bem, o rapaz Luiz fez valer seu distinto e bíblico sobrenome, Jesus,
e a desvalorização e o apagamento pretendidos pela diretora não deram frutos,
pelo contrário, fizeram crescer nele a vontade e a luta diária para ser o melhor.
Reação contraria a de muitas pessoas negras, que adoecem por se sentirem
oprimidos, segregados, humilhados, violentados, estuprados nos seus direitos.
Não foi fácil - o muro era muito alto para a escalada e ultrapassagem. O
ballet na sua estrutura nasceu com os brancos e com eles continuava, e nos
anos 70 eram pouquíssimos homens na dança clássica, e os poucos que
havia, eram brancos. O ballet também era feminino e aí entra a questão de
gênero. Homem e negro. O muro estava cada vez mais alto.
No mesmo instante que escrevo que o passado não pode justificar mais
atitudes de hoje, uma juíza do Paraná diz em sentença que um homem negro
de 42 anos, acusado de furto é criminoso em razão da sua raça. Justifica a
condenação de 14 anos de prisão assim: seguramente integrante de grupo
criminoso, em razão da sua raça. (Jornal Correio da Bahia, 2020).
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No caso do rapaz negro que estava indo trocar o presente do dia dos
pais e foi abordado injustamente, por exemplo, ali temos a máquina racista
acionada que identifica: preto no shopping center é suspeito. Mas para a
decepção dos agentes de segurança racistas, aquele corpo negro que
adentrava o estabelecimento comercial também trabalhava no mesmo, porém
sem a farda da empresa para a qual prestava serviço, naquele dia, ele era um
cliente comum e, como tal, aos olhos dos seguranças, era quem deveriam
abordar por suas características.
360
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Ora, tudo leva a crer em crime de racismo por parte do aluno, então por
que o delegado não o condena como tal? Por que essa agressão contra a
professora negra foi resumida em um mal-entendido e pronto?
362
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Outros institutos com igual objetivo precisam ser fundados, para abrir
mais espaço para negros e negras na preparação intelectual, no intuito de
enfrentar o universo acadêmico sem vergonha da própria história, com
alteridade, resgatando a cultura afro-brasileira como fonte inesgotável de
363
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
saberes e fazeres, sem abrir mão de serem negros de cabelos crespos, que
crescem para cima, e sem aversão a um nariz mais largo e a lábios carnudos.
Sem dar importância para a cor dos olhos; se são azuis, verdes, castanhos ou
pretos, o que importa mesmo é enxergar, vislumbrar que juntos/juntas somos
mais fortes. E acreditar nessa força. É dizer: povo preto unido, povo preto forte,
que não teme a luta e que não teme a morte. Grito de guerra que escuto nas
passeatas de protesto de negros e negras. Somos assim, não devemos
abominar o que herdamos, essa é uma herança ancestral, ricamente escrita
nos nossos corpos. Nessa abordagem, Sueli Carneiro afirma que:
Que pé é esse?
364
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146
Líder quilombola, nascido em 1655 e morto em 20 de novembro de 1695.
147
Nascido em São Paulo em 14 de março de 1914, foi ator, poeta, escritor, dramaturgo,
artista plástico, professor universitário e ativista dos direitos humanos. Falecido em 23 de maio
de 2011.
148
Raimundo Bispo dos Santos, Dançarino, Professor de dança baiano, especialista em dança
afro, nascido na cidade de Santa Cruz em 12 de outubro 1943 e falecido em 13 de janeiro de
2018, aos 74 anos.
366
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Luiz segue por todos esses anos, no amor a sua arte da dança, nessa
roda, trazendo positividade para o seu caminho. Bell Hooks diz que:
367
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No caso do bailarino Luiz Bokanha, filho de Ogã 150, ele conviveu com a
religião de matriz africana contada em casa, nas poucas vezes que seu pai, Sr,
Bernadino, parava para falar um pouco sobre os segredos do candomblé.
Assim, nesse período de tantos “nãos”, foi como canta a música “alegria da
cidade”, de Lazzo Matumbi151: “apesar de tanto não, tanta dor que nos invade,
somos nós a alegria da cidade”. Luiz Bokanha se aproxima da espiritualidade
como processo terapêutico, onde encontra forças para seguir, derrubando
muros e construindo pontes, como bem foi dito no filme Pantera negra.
149
Palavra em iorubá que significa cabeça, receptáculo da personalidade e do destino da
pessoa.
150
Para o candomblé, religião afro-brasileira, trata-se de um cargo masculino com diversas
funções.
151
Cantor baiano, com mais de 40 anos de carreira e ativista pelos direitos humanos, começou
sua carreira em 1981, como atração do bloco de carnaval Ilê Aiyê.
368
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152
Orixá ligado ao ferro, à tecnologia e à guerra, que tem características de dois orixás em um
só: ogum e exu.
153
Orixá da comunicação e da linguagem; é o mensageiro.
369
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
REFERÊNCIAS
370
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SCOTTINI, Lucas Costa. O que o nome nos ensina? Padrões Sociais e Raciais
de nomes e sobrenomes e performance escolar em São Paulo. São Paulo,
2011
SOUSA, Neusa Santos. Tornar-se Negro; as vicissitudes da identidade do
negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1983. Coleção
Tendências; v.40) Bibliografia.
Sites Consultados:
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diz-ministra-luiza-bairros-no-bom-dia-ministro/?
https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/juiza-diz-em-sentenca-que-
homem-negro-e-criminoso-em-razao-da-sua-raca/
https://www.metropoles.com/brasil/policia-br/aluno-diz-que-recusou-prova-de-
professora-negra-por-energia
https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2019/12/10/professora-da-urfb-denuncia-
racismo-de-aluno-que-recusou-receber-prova-em-sala-de-aula-video.ghtml
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fatores-que-explicam-por-que-o-caso-gerou-uma-onda-tao-grande-de-
protestos-nos-eua.ghtml
371
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Mbembe (2016) diz que a raça é algo inventado que surgiu para
estabelecer e concretizar o poder e que não está, unicamente, na esfera
sensorial. Para que a raça venha atuar como afeto, ela deve se transformar em
imagem, figura, forma e principalmente estrutura que se imagina. Sendo assim,
a raça é um local de realidade, aparência, mas também é um lugar de quebra e
movimentação.
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1.3 O corpo negro no balé clássico, ou das histórias que não nos
contam.
154
Nasceu em San Peterburgo, na Rússia, e estudou composição musical e piano no
Conservatório de Leningrado. Começou seus estudos de dança na Escola Imperial em 1914, e
em 1923 estreou como coreógrafo. Em 1924 foi convidadado para ingressar na companhia
Ballets Russes, e criou coreografias importantes. Durante sua vida de coreógrafo, criou mais
de 400 trabalhos, incluindo coreografias para filmes, óperas e musicais.
155
Nascido em Nova York, e criado numa familia rica, foi um escritor americano, empresário,
conhecedor de arte e especialista em muitas áreas. Estou na Haward, e concentrou suas
atividades para entender a carreira de George Balanchine após assistir a peça “Apollo”
coreografada por Balanchine, e realizada pelo Ballets Russes.
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O racismo no balé clássico pode ser de diversas formas, seja pela não
escolha racista de um.a bailarino.a negro.a com grau técnico elevado em
relação a um.a bailarino.a branco.a, ou seja pela idéia de que negro.as não
ocupam lugares de solistas por conta do imaginário que o repertório pede. O
balé é uma dança originária nas cortes européias e codificada a partir de
corpos brancos, que significava nobreza dominante. Princesas e príncipes são
ocidentais e historicamente branco.as, a mesma classe que seqüestrou
milhares de africanos e os levou para diversas partes do mundo, explorando-
os, retirando de seus legítimos processos identitários e os tratando como seres
inferiores.
Com tudo, por que negro.as deveriam amar o balé clássico, sendo que o
balé clássico nasce dentro de uma estrutura colonizadora que o exclui? Como
pessoas negras se inserem no contexto do balé clássico sem sofrer traumas?
É possível ou é um tiro no escuro?
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Após isso, Mitchell foi contratado como bailarino no New York City Ballet,
onde em 1955 fez sua estréia como o primeiro afroamericano a atuar na
companhia. Um ano após sua estreia, Mitchell foi para o posto de primeiro
bailarino, onde se apresentou em todas as grandes produções da cia,
dançando famosos balés de repertório.
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Três anos depois de sua estréia, Creole Giselle foi filmada na Dinamarca
para uma transmissão de tv. A inovação e a garra de remontar uma obra
conhecida mundialmente pelos amantes do balé clássico com um elenco
completo de pessoas negras foi extremamente importante quando falamos de
representatividade, superação e fissuras no sistema. Mitchell foi um
revolucionário, foi um insurgente.
381
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projeto social dançando para não dançar, que conheceu a companhia através
de Bethânia Gomes (a bailarina que dançou na tour de 1996). Outro bailarino
brasileiro que atua na companhia do Harlem é o Dylan Santos, baiano que teve
toda uma formação de balé clássico em São Paulo e atua como um dos
solistas da companhia, estrelando a turnê ao Brasil junto com Ingrid Silva.
REFERÊNCIAS
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mesma cidade. Com isto, chama-se atenção que este artigo não terá um
caráter cronológico regular, pois muitas ações descritas ocorreram de forma
simultânea em localidades diferentes, e depois tiveram seus “encontros”. Sobre
essa cronologia Risério (1981) cita:
Como bem disse Caetano, a coisa não anda linearmente: da
capoeira ao sintetizador, do sintetizador ao ijexá. Interessante, ainda,
notar que o Afoxé Filhos de Gandhi e o Trio Elétrico Dodô & Osmar
nasceram, ambos, no mesmo ano – 1949. Durante 30 anos, portanto,
eles se cruzaram pelas ruas de Salvador, nos dias de carnaval, mas
percorrendo caminhos paralelos[...] Foi só em 1979, a partir de
“Assim pintou Moçambique”, que o encontro se deu.( RISÉRIO,
1981,p.116)
156
criada em 1950, é a restauração de um Ford 1929, equipada com alto falantes e pintada
com vários círculos coloridos, o carro serviu como um palco itinerante, sendo o protótipo do trio
elétrico.
157
formado por Armandinho, Betinho, Aroldo e André Macêdo filhos do “Seu Osmar” criador da
Fobica, são músicos e lideram esse projeto de “frevo baiano”.
387
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158
Adolfo Antônio do Nascimento e Osmar Álvares Macedo, ambos estudantes de música e
eletrônica desenvolveram projetos como o “pau elétrico, concedida como guitarra baiana, e
junto a Temístocles Aragão desenvolveram a Fobica.
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159
Documentário: “Axé Canto de um povo de um lugar(2017)”, dirigido por Chico Kertész
160
Repórter e critico musical , foi o responsável por nomear o “Axé Music”
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Manoel Quirino que vai desenhar pra você essa história dessas
organizações carnavalescas negras desde o século XIX. Desde os
Pândegos da África, Embaixada Africana. Isso dá um outro desenho.
Porque os blocos, quer dizer eles eram afro porque traziam uma
temática afro, mas na verdade eles eram afoxés. A Embaixada
Africana era um afoxezão, inclusive com os instrumentos mesmo do
candomblé, como são os afoxés hoje. Não sei se você já viu alguma
coisa sobre a história da Embaixada, que eles foram pro carnaval de
1898 pra reivindicar a indenização das famílias da Revolta dos Malês.
Foi o tema do carnaval deles. Eles inclusive fizerem panfletos,
fizeram tema. Olha como são as coisas. E o tema era essa não sei o
que lá do Reino da Suazilândia. Eles diziam que se o governo no
Brasil não indenizasse as famílias dos Malês, que sofreram a
perseguição na revolta em 35, que o Reino da Suazilândia na África
ia invadir Salvador. Pensa ai o que é isso. Quer dizer, fizeram mesmo
o tema. Mandaram pro jornal da época. Não sei se era Álamo ou
Alabama. Um jornal daquele da época. Foram pra rua com carro
alegórico, fizeram um elefante. É um bloco afro no século XIX.
Manoel Quirino traz isso no livro dele. Nina Rodrigues fala muito
rapidamente naquele “Os africanos no Brasil”. Você vai buscando aí
esses caras. Então vale contextualizar essa história dessas entidades
carnavalescas negras desde o século XIX. E obviamente
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índio que em sua grande maioria era composto por negros que agora tinham
uma proposta de bloco que lhes cause mais empatia. O bloco trás a avenida a
identidade negra através da música, da dança, da vestimenta, e acima de tudo
do orgulho em ser negro. O bloco também vem marcar a presença do negro
nas ruas, é uma apresentação de um universo “exclusivamente” negro.
Após o Ilê surgem outros grandes blocos afro como: Ara Ketu, Malê
Debalê, Olodum, Muzenza, dentre outros não menos importantes. Seguindo a
configuração de movimentos da Cultura Negra proposto por Ligiero (2011), a
tríplice do Cantar, Dançar e Batucar, se faz presente nos Blocos Afro, dando
espaço para uma dança especificamente negra nas ruas de Salvador. É
importante salientar que todos os blocos afro promovem ações e movimentos
sociais no decorrer do ano em seus bairros. São oficinas, cursos, creches,
dentre outras atividades que promovem a construção de um cidadão melhor.
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Mas quem foi Cozido?! Sua primeira formação foi com Mestre King no
Sesc, com a perspectiva da Dança dos Orixás, depois formou-se em Dança
pela Universidade Federal da Bahia onde também se especializou em
Coreografia. Além destas formações acadêmicas o artista dançou Balé, Jazz.
Moderno, Contemporâneo além de danças populares onde desenvolveu seu
contato com os Blocos Afro. Cozido colecionou experiências no carnaval,
dançou por alguns anos no Muzenza e no Ara Ketu, bloco onde posteriormente
se tornara coreografo, além de ser frequentador assíduo dos ensaios do
Olodum e se tornar o primeiro dançarino de banda de Axé, com a cantora
Daniela Mercury. Antes dançarinos não ficavam no alto do trio elétrico, o
trabalho dos mesmos era feito no solo, até que a cantora faz o convite a
Cozido.
[...] Mas aqui em Salvador eu posso te dizer categórico: não existia
nada! O que existia em cima do trio não era dança. Era aeróbico, a
gente começou... quando Daniela começou a querer colocar
dançarino que era eu e o Erivaldo, Eri. Nós dois entramos no primeiro
CD de Daniela chamado Swing da Cor. Ela tinha dois dançarinos, foi
ali que nós começamos a abrir as portas dos palcos para bailarinos, e
eu na época falava assim! Olhe só! Eu estou falando da rua para o
palco. A primeira cantora a botar dançarino, quiçá no Brasil, foi
161
Daniela Mercury. Depois entrou com a gente Sueli que era minha
ex esposa e Estelinha, depois logo em seguida que elas entraram
Daniela optou pela formação com três mulheres. Ela e mais duas
back vocals, e ai entrou Sueli como bailarina e Estelinha, as duas
161
Sueli Machado Ramos: Mestre em Dança pela Universidade Federal da Bahia, primeira
dançarina de banda de axé – Daniela Mercury
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criei o Swing Baiano, que não era Swing Afro Baiano, era Afro de
Rua, coloquei o primeiro nome e não gostei, Afro Carnavalesco,
também não gostei, porque a minha história começou no Afro, depois
que eu fui para Universidade fiz faculdade e fiz pós graduação em
162
Dança ! Mas, antes disso a minha história começou na dança afro
com Mestre King, então eu depois comecei com esses nomes não
gostei, então peraê! Swing quer dizer ginga, molejo, mistura, tá aí um
nome, Swing Afro Baiano, o Swing Afro da Bahia, que é o que a
gente vê hoje na música, na dança, porque hoje todas essas bandas
que chegaram ou copiaram o Tchan, ou copiaram Daniela ou
copiaram Netinho, porque Ivete chegou depois que Daniela estava
fazendo coreografia[...] (COZIDO, 2020)
395
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[...] Eu levei 10 anos dando aula no ENAF, ou seja, ali você tem
turmas de 400 pessoas. Eram três dias, quatro horas, você tinha 12
horas só comigo. Fora os outros cursos, e além disso eu tinha um ou
dois Master Class de uma hora ou duas no palco[...] (COZIDO, 2020)
396
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ele não é meu! Eu copiei de alguém, só que quando ele cai no meu
corpo ele se transforma! Que ele tem a minha energia, eu quero que
vocês entendam isso, pois quando esse movimento cair no corpo de
vocês, eu quero que vocês assumam a energia de vocês! A energia
do Pará, a energia de Sergipe, a energia de Alagoas, a energia de
Pernambuco, a energia do Rio de Janeiro! Cada estado desse, cada
região do país, tem.... eu defendia muito a do Ceara, naquela época,
nos eventos de Fortaleza no Especial Lazer, eu to trazendo para
vocês o Swing Afro Baiano, mas vocês um ritmo aqui muito forte que
é o forró, usem a aula de forró como aula de aeróbica, eu dizia isso
naquela época para as pessoas. E eu trazia de vez em quando umas
aulas que eu preparava, uns movimentos. Eu digo, ó, faz o seguinte:
eu tenho uma coisa comigo chamada sabatina, que é um evento que
eu faço dentro da minha aula, onde eu coloco uma música de
qualquer ritmo e todas as pessoas que estão na minha aula vão ter
que primeiro colar nos meus quatro movimentos e depois que colar
nos meus movimentos, cada um vai ter que criar mais quatro
movimentos e assim vai virando uma sequência que cada um vai
parindo em cima do que foi feito. Sem sair do tema, sem sair da
proposta, sem sair do ritmo.(COZIDO, 2020)
REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
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ENTREVISTAS
LINKS:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-carnaval-que-bomba-mais-e-o-de-
salvador-ou-o-do-rio/
399
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Além disso, este estudo busca tecer uma discussão sobre as danças
populares brasileiras, os repertórios tradicionais e os processos de
(re)significações motivados e/ou impostos pela transmutação cultural, os
impactos das relações econômicas de consumo e as políticas públicas e de
salvaguarda para memória e autosustentabilidade desses grupos.
400
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163
Não estão inscritas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) o que dificulta a
participação em editais e a captação de recursos públicos.
401
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Prestidigitador: (adjetivo substantivo masculino) 1. que ou aquele que desenvolveu a técnica
da prestidigitação, que tem agilidade com as mãos para iludir os demais; prestímano,
manipresto. 2. que ou aquele que faz números de mágica; ilusionista, mágico, pelotiqueiro.
https://www.google.com/search?q=prestidigitador+significado&oq=prestidigitador+&aqs=chrom
e.1.69i57j0l7.11485j1j7&sourceid=chrome&ie=UTF-8 Acesso em 25/11/2019.
405
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406
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407
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Esse fluxo musical entre zonas rurais e urbanas parece ter ocorrido de
forma semelhante em diferentes partes do Brasil. Trazendo para os meados do
século XX e ainda dando ênfase ao aspecto musical, gostaria de fazer relação
com as composições de marchinhas juninas, ritmo largamente reproduzido em
toda a importante obra do artista pernambucano Luiz Gonzaga do Nascimento
(1912-1989).
408
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165
Dança presente em alguns estados da região Nordeste do Brasil.
166
Dança de origem pernambucana que teve sua divulgação e afirmação através do movimento
do Cangaço e o bando de Virgulino Ferreira, o Lampião.
167
A cartilha Cantando as Culturas Indígenas foi produzido pela ONG Thydêwá, em conjunto com
professores indígenas de sete etnias do Nordeste brasileiro. Não são numeradas as páginas.
409
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no Toré é a união grupal pela tradição, pisando no solo sagrado com pingos de
suor no esforço coletivo de afirmação étnica” (GERLIC & SOUSA, 2005).
168
Atua no Ensino Fundamental I na Escola Estadual Indígena Caramuru (Pau Brasil-BA)
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Considerações finais
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Referências
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IMASK KAPI’I:
DANÇAGOGIA AFRO DIASPÓRICA169
Mia Couto
169
IMASK KAPI’I é a expressão formada pela união de duas palavras: Imask, quer dizer
máscara em língua xhosa, xossa, ou cosa que é uma língua bantu nguni, um dos idiomas
oficiais da África do Sul e Zimbábue, como também na língua Zulu o sentido de máscara tem a
mesma pronúncia. Estas duas línguas Xhosa e Zulu, que nomeiam Máscara da mesma forma
abrangem as regiões de Cabo Oriental, Cabo Ocidental, KwaZulu-Natal, Cabo
Setentrional, Estado Livre e pertencem a família linguística formada por Línguas
bantas, Línguas nigero -congolesas, Línguas benue-congolesas, Línguas bantoides; KAPI’I
quer dizer palha em Guarani. Esse conjunto de povos com a mesma origem, falam um mesmo
idioma e haviam desenvolvido um modo de ser que mantinha viva a memória de antigas
tradições, praticando uma agricultura produtiva, a qual gerava amplos excedentes que
motivavam festas e a distribuição dos produtos, conforme determinava a economia de
reciprocidade. Do território tradicional, ocupado pelos Guarani, que se estende por parte da
Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil, os Guarani ocupam hoje apenas pequenas ilhas. Seu
território, é um tekoha, o lugar físico, o espaço geográfico onde os Guarani são o que são,
onde se movem e onde existem. No território brasileiro vivem os Mbya, Kaiowá e Guarani (ou
Nhandeva). Os Guarani e Kaiowá estão em Mato Grosso do Sul.
Imaski Disponível em
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KAPIÌ Disponível em <https://pt.glosbe.com/pt/gn/PALHA>=Acesso em: 25 set. 2020.
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414
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Aportes teóricos
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Quilombo é o nome dado no Brasil aos locais de refúgio de escravos fugidos de engenhos
e fazendas durante o período colonial e imperial. Os quilombos no Brasil também eram
conhecidos como mocambos. Na América espanhola, essas comunidades ficaram conhecidas
como palenques; na América francesa, o nome era maronage; e na América inglesa eram
nomeados como marroon communities. Locais de refúgio, mas também de resistência dos
escravizados. A população dos quilombos era formada tanto por africanos e ou afro
descendentes escravizados quanto por indígenas e homens livres, mestiços ou brancos
pobres. Parte da produção do quilombo era para subsistência e parte utilizada para
comercialização com comunidades vizinhas. Ao estabelecerem contatos com outros setores da
sociedade colonial e imperial criavam laços com a população livre, fortalecendo os quilombos e
enfraquecendo a sociedade escravista. Disponível em <https://clikak.com.br/e-um-
quilombo/index.php?pagina1>=Acesso em: 24 set. 2020.
419
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1996, p.51). Uma política iniciada por volta de 1520 e intensificado de variadas
formas a partir da chegada dos Jesuítas em 1549.
Por outro lado, a convivência dos grupos seja nos engenhos, aldeias,
como também em quilombos, favorecia os contatos de parceria. Muitas vezes,
os escravizados fugiam e iam viver nas redes de parentais ameríndias. Outro
bom exemplo era o insuficiente número de mulheres no tráfico de escravizados
que facilitava com que homens africanos, por vezes, se casassem com
indígenas. Nesse contexto, o contato entre pretos e indígenas causou
significativo número de filhos mestiços, chamados de cafuzos, curibocas e
caborés e, essas novas categorias, tornaram mais intricado o princípio dos
grupos sociais na colônia.
420
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Orixás (yoruba Òrìṣà) originários do sudoeste da atual Nigéria, e também de Benin e do
Norte do Togo, foram ancestrais africanos que foram divinizados, pois durante sua vida,
supostamente adquiriram determinados controle sobre a natureza, como: raios, chuvas,
árvores, minérios e controle de ofícios e das condições humanas, como: agricultura, pesca,
metalurgia, guerra, maternidade, saúde, entre outros. Disponível em
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Orix%C3%A1>=Acesso em: 25 set. 2020.
421
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172
https://indigenasbrasileiros.blogspot.com/2016/02/javae.html
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173
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacairis
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Figura 2 - Etnia Karajá próxima ao rio Araguaia nos estados de Goiás, Tocantins e Mato
Grosso. Figura 3 - Dança de Obaluaiê, com Débora Campos do Coletivo Muanes; Figura 4 -
Dança ritual Etnia Bakairi.
174
OMIZANBO, COSTA DO MARFIM - MAIO 08: c 8 de maio de 2019 em Bomizanbo, Costa
do Marfim. (Foto de Eric Lafforgue / Art in All of Us / Corbis via Getty Images). Disponível em
<https://www.alamy.es/goli-mascaras-sagradas-en-la-baule-tribu-durante-una-ceremonia-
region-des-lacs-bomizanbo-costa-de-marfil-image247266228.html>=Acesso em: 24 set. 2020.
424
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Etnia Karo, que habita a margem esquerda do rio Omo. O corpo pintado dos homens e o
corte de cabelo específico das mulheres são marcas próprias dessa tribo que conta com uma
população total de apenas 1.600 indivíduos. Disponível em <https://epoca.globo.com/colunas-
e-blogs/viajologia/noticia/2015/06/isolados-no-sul-da-etiopia-os-karo-ainda-pintam-e-enfeitam-
o-corpo.html>=Acesso em: 24 set. 2020.
176
Antigos moradores das margens do rio Araguaia, nos Estados de Goiás, Tocantins e Mato
Grosso, formam um grupo de 3198 pessoas. Falam uma língua que pertence ao tronco
linguístico Macro-Jê.
425
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177
Figura 7 - Etnia Karajá, Brasil. Figura 8 - Etiópia, projeto Rapport
177
Imagem: Brasília, BRASIL Disponível em <[email protected]>=Acesso em: 24
set. 2020.
426
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Sabemos que uma máscara não pode simplesmente nascer, ser criada
como objeto decorativo. Entendemos ser a máscara um objeto exato;
instrumento de comunicação. De cada linha emana um sentido que responde à
imperativa pergunta da sua utilidade. Isto é, para que serve e o que quer dizer,
que significado tem.
As correlações de máscaras nesses grupos sociais, trazem interesse
especial por permitir aprofundar qual significado tem a máscara para esses
povos. Se suas linhas determinam um caráter, uma idade, uma emoção, uma
cultura, tornam-se linguagem e também poética.
428
ANDA | ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA
Considerações Finais
429
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Figura 13 - Bailarina Ivana D’Rosevita e atriz Cátia Costa em O Rio de Muane, 2009. Foto do
acervo
430
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Referências
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GUILHON, Giselle (org.). Antropologia da Dança I. 2ª ed., Belém: PPGArtes,
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Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos, Pontificia
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VIDAL, Lux. (org.). Grafismo Indígena. São Paulo: Studio Nobel: FAPESP,
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431
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432
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5ª PARTE
EPISTEMES
AFRO-REFERENCIADAS
433
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Oxê
Xangô é o orixá da Justiça e rei da cidade de Òyó, que foi um império
iorubá que durou os anos de 1400 e 1835, na África Ocidental, atualmente a
Nigéria e situava geograficamente ao norte do planalto iorubano, com baobás
gigantes e com superfícies rochosas de granitos – baobá é considerada uma
árvore da vida importante para cultura africana e acreditam que o espírito do
baobá ajuda nas decisões importantes.
Xangô usa uma insígnia importantíssima chamada de Oxê, um
machado duplo de dois gumes. Segundo Luz (2017), diz que "o Oxê de Xangô
equivale ao edun-ara, as pedras de raio" (p. 54). O Oxê é uma tradução da
justiça de Xangô, proteção de seus filhos e fortalecimento de seu reino. Uma
das narrativas sobre Xangô diz que certo dia no alto de uma pedreira, ele
estava elaborando planos para derrotar os inimigos e refletindo sobre a
situação em que seus opositores tinha recebido ordem de destruir seu exército
e seu reino. Ao sentir a tristeza e dor do seu povo, foi tomado pela ira que o fez
bater seu machado, o oxê, em uma pedra que estava próxima. Esta ação gerou
faíscas tão fortes que ela parecia catastrófica, quanto mais força batia, mais
faíscas foram produzidas e atingiu os seus inimigos. Bateu incessantemente o
oxê na pedra que produziu fogo e raios os derrotaram. Libertou alguns
soldados que apenas tinham recebido ordens para destruí-lo, pois analisou a
situação para não ser injusto. Após esse feito foi considerado o rei e guardião
da justiça por salvar seu povo, o rei da cidade de Òyó.
O professor e pesquisador Marco Aurélio Luz (2017) nos diz que uma
das principais características de Xangô é garantir e expandir as suas linhagens
e seu reino. Um dos orixás mais importantes do panteão dos orixás da cultura
iorubá, é rei, dominador das chamas, da coragem, protetor, traz a sabedoria,
inteligência, liderança e guardião da justiça.
Dentre muitos elementos no contexto de Xangô, o oxê é o elemento abordado
neste artigo como pressuposto de ordem filosófica, de valores, saberes e
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Esta proposição não é uma receita ou um único modelo, nem pode ser
analisada como a recriação da roda, mas um modo a partir de ações realizadas
que geraram e possam vir gerar efeito na sociedade. Não é um pensamento
178
Termo referente a minorias sociais e raciais. Termo apresentado como força política
enquanto posicionamento em tensionamento ao termo minoria, que é maioria, ou seja, em
combate ao racismo e supremacia branca e hegemônica, entende-se que não somo minorias,
somos minorizados pelas instâncias de poder e dominação colonial e estrutural.
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conforma esta concepção social, mas também o senso de justiça, pois ele se
dá no corpo como enfrentamento.
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bem cultural pelos diversos campos de ação e atuação. A arte como ação
política em seus modos de se relacionar com a cultura local e global. O EPA!
contesta a hegemonia de poder das artes na Bahia. As artes negras que têm
sido usurpadas e organizadas por artistas, gestores e produtores brancos e
economicamente privilegiados. O EPA! é um espaço criativo, fundamental da
negritude periférica de Salvador, para colocar em voga suas poéticas e seus
pensamentos artísticos. Envolve uma base da sociedade, sobretudo mulheres
negras, LGBTQI+, jovens e crianças. O Encontro Periférico de Artes produz
uma programação com ações que articulam as pesquisas sobre
ancestralidades e manifestações populares em dança com a atuação e
produção dos artistas idealizadores jovens negros baianos, assumindo um
olhar crítico às tensões e paradoxos de nosso povo negro, oferecendo ao
público experiências emancipadoras. O EPA! realiza encontros, oficinas,
workshops com artistas e distintos profissionais para destacar a produção de
arte negra periférica baiana, para fomentar o mercado das artes na Bahia.
Realiza a batalha de pagode baiano para discutir políticas públicas para as
danças negras periféricas a incentivar o olhar para importância da manutenção
e financiamento de grupos independentes e artistas emergentes. Ao entrarmos
no campo de uma dança marginalizada, historicamente, a condição de
movimento cultural periférico em relação à dança como ação emancipadora,
convoca a ação de desconstruir o lugar da hegemonia e supremacia branca
enquanto único saber técnico, poético, crítico e centro exclusivo de produção
de sentido.
Pensa a manutenção de redes de articulação cênica, para
desenvolvimento, fortalecimento aos meios de fomento das linguagens
artísticas e difundir a dança como mobilizador social, propondo uma reflexão
sobre problemáticas cotidianas que são importantes na formação do cidadão e
em sua relação com a cultura na sociedade.
Assim como o Quilombismo, cunhado por Abdias do Nascimento,
segundo uma proposta atemporal, diz-nos ser uma forma de reagir, porque
vivemos em uma sociedade racista e eurocêntrica e precisamos de outras
maneiras de nos organizar enquanto sociedade para enfrentar o racismo e
seus produtos, na camada artística cultural em Salvador, no que tange às
danças negras, o EPA! gera uma ação como forma de reação ao sistema,
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como postulado por Nascimento, que ainda afirma na definição do seu conceito
construir suas próprias instituições de poder e dialogar em pé de igualdade
com outras culturas. Nessa pesquisa, referencio a relevância do Encontro
Periférico de Artes que realizou três edições, em 2017, 2018 e 2019,
respectivamente, realizando uma programação com ações artísticas com
profissionais da Bahia, Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo, Minas Gerais,
Assunção - Paraguai, destacando a produção de arte negra periférica baiana
em interconexões com outras periferias no âmbito nacional, internacional
fomentando o mercado das artes na Bahia em rede.
O EPA! como uma ação oxêtica situa na perspectiva de uma das
premissas do Quilombismo, quando em suas ações aquilomba os negros e
negras artistas para que toda a sociedade entenda e se apodere por
pertencimento e protagonismo do processo cultural e artístico, que por ser
histórico propõe ser preciso para que nós negros em diáspora construamos
nossas próprias posições para sermos ouvidos e respeitados nessa sociedade.
Ao invocar posições geradas pelo EPA! configura-se um encontro que
protagoniza seus agentes e suas artes que são marginalizadas e denegadas,
considerando a originalidade de uma programação por reunir linguagens como
literaturas negras, danças negras, teatros negros, performances, exibição de
filmes, lançamentos de livros, oficinas diversas, palestras, bate-papo, shows,
intervenções urbanas produzidas e protagonizadas por artistas, técnicos
negros e negras com uma parte da programação em espaços culturais,
transportes públicos, praças, estações rodoviárias e teatros no centro da
cidade de Salvador.
O Encontro Periférico de Artes uma ação oxêtica desloca não somente
as artes produzidas pelos artistas periféricos e negros, mas o público a
conhecer que podemos ocupar e transitar por toda cidade limitada pelo racismo
e suas violências resultantes.
A complexidade denota um novo hábito cognitivo, outra forma de fazer
conhecer e pertencer espaços que constroem memórias e geram outras
relações sociais, ao tempo que oportuniza artistas das muitas comunidades
periféricas, ter suas produções acessadas por/em outros espaços e
configurações, são modos de permitir que configuração cênica marginalizadas,
como os espetáculos de pagode baiano, sejam respeitados enquanto produção
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Conclusão
Silvio de Almeida (2018), no capítulo intitulado Racismo e Economia, do
livro Racismo Estrutural, diz que teorias neoclássicas que pautam a
discriminação consideram quase irrelevante o impacto da discriminação racial e
economia. Afirma ainda que, mesmo que timidamente, o crescimento de
negros e negras nas universidades apresenta impactos ideológicos e
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Referencia
ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte: Letramento:
Justificando, 2018.
CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento
do ser. (Tese) Educação. Faculdade de Educação. Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: Acesso em 10 out. 2019. 157
DOSSIÊ Matrizes do Samba do Rio de Janeiro: partido alto, samba de
terreiro, samba-enredo / Instituto do patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – Brasília, DF: Iphan, 2014.
JAGUN, Márcio de. Orí: A cabeça como divindade: História, Cultura,
Filosofia e Religiosidade. Ed. Litteris, 2018.
LABOR, Zé Viana Junior. Corpocatimbó. Publicação dia 27 de fevereiro de
2019. Disponível em:. Acesso em 2 out. 2019.
447
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Introdução
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Pensamento de areias
Eu penso que temos que ser orgulhosas do que somos. E digo que
nós negros sabemos nos portar, nos colocar. Há muitos discursos na
história, mas nós somos esquecidos o tempo todo – enquanto
negros, enquanto mulheres também. Mas não devemos ficar em
guetos e sim ocupar nossos lugares. É por isso que não é justo estar
em baixo. Devemos ser orgulhosas de nossos corpos. (Germaine
Acogny, depoimento pessoal, julho/2015)
453
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O Mudra Afrique
179
Entrevista disponível em <http://www.rfi.fr/afrique/20131205-germaine-acogny-danse-vie-
mudra- afrique-ecole-sables-theatre-ville-paris>. Acesso em 23 mai. 2015. Transcrição e
tradução nossas.
180
Para maiores informações sobre os balés nacionais ler Silva (2012).
http://www.omenelick2ato.com/artes-da-cena/danca-e-performance/conacry-em-movimento-
historia-social-horoya-e-arte-na-africa-do-oeste
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Imaginário em movimento
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181
Para referência da fala de Béjart, ver SILVA, 2018.
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Referências
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182
Oyèrónkẹ́, Oyěwùmí, 2016.
183
Schener. 2011.
184
Grotowski, 2015.
185
Opto por utilizar a maneira que escrevemos no cotidiano, mas para informação a grafia
Yorùbá é Òrìṣà.
462
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186
Oliveira, 2005.
463
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parar o meu ofício, também foi ali que ouvi “Você deveria tentar o mestrado em
dança também!”. Em Jabaquara/SP (Dez/2019), sendo abraçado pelo Centro
de Culturas Negras Mãe Sylvia de Oxalá, ouvindo relatos pessoais das
identificações com o tema, com o processo desestabilizador e rico que é ao
abraçar nossas raízes (origens), fazendo uma resenha ao fim, ouvindo o que
chegava ao público com suas dúvidas e abrindo o processo de criação.
Esse foi um breve histórico por onde passei com AutoEscavo, hoje,
encontro-me Mestrando no Programa de Pós-graduação em Dança na UFBA,
investigando justamente o processo da decolonização ao encontrar, resgatar
as danças afrodiaspóricas, as memórias ancestrais em um juntó187 com as
filosofias africanas.
Conheço esse material em 2015 e percebo que poderia fazer algo com
as portas de prática e reflexões despertadas. O objetivo era descobrir as
memórias, a ligação ancestral carregada neste corpo. Esse desejo aprofunda
e estabiliza devido ao apagamento histórico, as perdas de identidade, o
racismo estruturado e o racismo religioso em nosso país, que fazem e
impedem que jovens descendentes dessas linhagens encontrem relatos: de
quem veio antes, de onde e por quê? Para esse corpo de dançante-
pesquisador a vontade era e é, em se (re)conectar com os que passaram, pois,
é lá que está a força, o respiro para continuar, o sal e o bálsamo que sustenta,
desbravando caminhos passados, presente e para quem vai chegar...
187
Que está junto, não existe sem a outra ou outro.
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190
Provérbio em ganês.
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Logo, para este corpo que escreve e dança na procura do auto escavo,
no mergulho e no desvelamento daquilo que foi roubado, camuflado,
dilacerado, embranquecido e endemoniado, torna-se fundamental uma
reconexão ancestral, uma alimentação e abertura para desenvolvimentos que
essa pesquisa colheu e colherá, pelas sementes plantadas, os crescimento de
suas raízes, fazendo estourar o limite que tentaram moldar-me. Pois, as
manifestações de diáspora e africanas sempre tiveram um cunho espiritual-
cultural-medicinal, onde as artes que aqui tentamos coloca-las em “caixinhas”,
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Emaranhado
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Com isto, coloco-me no caminho das referências que trouxe aqui neste
artigo e de tantas outras que irão atravessar-me, na bússola decolonial nesta
trilha, nas disciplinas aqui neste artigo citadas, pensando-dançando junto a
elas. Pois, uma área de conhecimento pode instigar e alimentar outra, como
dito por Luciane Ramos Silva, a dança e a antropologia, com suas perspectivas
sobre o corpo, a cultura e as práticas pedagógicas, jogam luz na
ressignificação e (re)territorialização dos atores sociais, fortalecendo reflexões
e evidenciando que uma área pode alumiar/escurecer a outra (SILVA, 2017, p.
70). Logo, veremos o que esse caminho emaranhado, de encruzilhadas e
transdisciplinaridades irá plantar, crescer e coletar.
Tempos de Caos
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Barreira e Inconclusão
A leitora e o/ou leitor que chegaram até aqui pode estar se perguntando,
“tá, mas e a dança?”
471
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A dança cara leitora e leitore está na ação de livrar-me das amarras que
a sociedade tentou colocar-me, está dentro desse corpo que dança aqui em
meio as palavras, que dança para expurgar a tirania, que dança e performa
para afetar, incomodar, encantar, resgatar as sabedorias antigas e destruir
padronizações ocidentais, pois, nos pequenos passos dados por essa
pesquisa, inconcluso aqui, que a dança não está separada do cantar, do
batucar, do teatro, da performance, das artes visuais... e que todas essas
manifestações interligadas, transdisciplinadas, resulta, na abertura do
desconhecido e na sacralização (não-ocidental) do presente. Estou nessa caça
e nas viravoltas desse arcabouço vivo que é o corpo, na busca das memórias e
ancestralidade, pois:
A memória são conteúdo de um continente, da sua vida, de sua
história, do seu passado. Como se o corpo fosse o documento. Não é
à toa que a dança para o negro é um momento de libertação. O
homem negro não pode estar liberto enquanto ele não esquecer o
cativeiro, não esquecer no gesto que ele não é mais um cativo. A
linguagem do transe é a linguagem da memória. (NASCIMENTO,
1989).
Referências Bibliográficas
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191
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017.
192
Perspectivas decoloniais estão relacionadas a uma visão engajada no conceito da
decolonialidade, desenvolvido por feministas negras, intelectuais, ativistas, antirracistas e
negros(as), cujos estudos partem da premissa que o conhecimento está ligado ao poder para
se discutir o sistema-mundo moderno/colonial (BERNARDINO-TORRES, MALDONADO-
TORRES e GROSFOGUEL, 2018)
193
Curador é o profissional que atua na área da curadoria como principal oficio que media
processos e projetos curatoriais (ALVES, 2010).
475
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194
É um intelectual líder quilombola, poeta, escritor.
195
Líder indígena da etnia crenaque, escritor e ambientalista.
196
Artista multimídia, produtor, escritor da etnia indígena makuxi.
197
A UnB TV é uma emissora de televisão brasileira universitária instalada na cidade de
Brasília e vinculada ao Centro de Produção Cultural e Educativa da Universidade de Brasília.
198
Mestra em Artes pelo PPGA – UFES
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2010), mas esses interesses muitas vezes são incoerentes com conceitos
éticos do fazer curatorial.
199
Diretora criativa e curadora, mestra em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
200
Pesquisadora de dança, produtora, arte-educadora, mestranda orientada por Cássia Navas
do Programa de Pós-Graduação em Artes da UNICAMP.
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201
Diretor e coreógrafo, mestrando pelo programa de Pós-graduação em Dança da UFBA.
202
Dançarina, diretora e coreógrafa brasileira, primeira mulher negra a integrar o corpo de baile
do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1948 (MONTEIRO, 2007).
203
Dançarina afro-americana, coreógrafa, autora, educadora, antropóloga e ativista social.
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204
Intelectual, pesquisador e historiador brasileiro.
205
Maria Beatriz Nascimento foi uma historiadora, roteirista, poeta e professora influente nos
estudos raciais no Brasil mesmo após seu assassinato em 28 de janeiro de 1995.
206
Espaço de gestão coletiva e independente engajado no desenvolvimento educacional e
social de São Paulo desde 2005 no bairro de Perus, periferia da zona noroeste da capital
paulista (SOUZA, 2020).
481
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Soró foi um grande líder periférico para nós da cidade de São Paulo,
uma figura importantíssima para a construção do projeto de gestão-
colaborativa no território. Bem como, um sensível educador na formação de
agentes socioculturais. Foi, sem dúvidas, um dos maiores responsáveis pela
estruturação do modo de pensar-fazer metodológico embasado em uma lógica
de empreendedorismo e cidadania e da pedagogia da autonomia crítica
(FREIRE, 2004). Se hoje, a Quilombaque é este legado de articulação política
sociocultural, educacional, econômica e ambiental é devido a atuação dele:
207
Projeto aprovado pela lei 16.050/14 na última versão do Plano Diretor Estratégico da Cidade
de São Paulo em 2014. (SOUZA, 2020, p.50).
208
Foi um dos Coordenadores da Quilombaque, ativista e educador social que em vida atuou
nos campos de pesquisa de designer de ambientes pedagógicos, supervisão de análise de
projetos, planejamento estratégico, gestão e desenvolvimento institucional.
482
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Não tem como falar destes territórios sem falar dos corpos sujeitos que,
na perspectiva da sevirologia, criam as estratégias de aquilombamento. Somos
pesquisadores, músicos, artistas visuais, atores, dançarinos, palhaços,
diretores de arte, jornalistas, produtores culturais, educadores sociais,
arquitetos e escritores. Porém, diante a tantos sujeitos, quero destacar alguns
nomes que tenho como referências pra mim na Quilombaque: Janice
Albuquerque213, Priscila Rezende214, Almir Moreira215, Valmir Santanna216 e
Clébio Ferreira217.
209
Ver em SOUZA, 2020, p.25.
210
Integrante da Comunidade Cultural Quilombaque, educadora social e doutoranda em
Bioenergia pela Universidade estadual de São Paulo (UNESP).
211
Ver em SOUZA, 2020, p.35.
212
Ver em SOUZA, 2020, p.28.
213
Educadora social, produtora e gestora de projetos.
214
Chefe de cozinha e produtora.
215
Geografo, educador social e agente cultural.
216
Palhaço, iluminador, cenógrafo, diretor artístico e cofundador da Quilombaque.
217
Palhaço, ator, poeta, dramaturgo, escritor e diretor teatral.
218
Personalidade política, dramaturgo, escritor e autor brasileiro.
483
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219
Projeto de pesquisa coordenado por Valmir Santana sobre as rodas de jongo, manifestação
afro brasileira do sudeste brasileiro.
220
Artista da dança, performer independente, pesquisadora e curadora.
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221
Cia. Sansacroma, grupo de dança paulistano que tem como ponto de partida de criação as
poéticas e políticas do corpo negro.
485
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222
Em 18 de outubro de 2005 foi implementada a lei Fomento à Dança para a cidade de São
Paulo. Fruto de uma mobilização intensa dos artistas.
223
Projeto de formação de público da cia.
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224
O circuito vozes do corpo é um evento curado pela cia Sansacroma e é composto de várias
ações, mostras de espetáculos e processos em Dança principalmente na zona sul de São
Paulo.
225
Projeto documentário a partir da história de dez mulheres moradoras do bairro do Capão.
487
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Por fim, depois dessa análise crítica, convido a pensar-agir sobre como
podemos construir melhores condições de convívio social, respeito e
solidariedade. Mirando um horizonte de acessibilidade, valorização, revisão
crítica e ressignificação a partir de nossos corpos, evoco esse movimento de
dentro pra fora (SILVA, 2017), para que dê conta de uma ação política efetiva
em prol do corpo enquanto patrimônio histórico de bens materiais e imateriais
nos processos curatoriais em dança.
(...) Quais danças estão por vir ou quais sempre estiveram aqui e não
estão sendo vistas? Quais modelos curatoriais de dança estão por vir ou quais
modelos sempre estiveram aqui e não estão sendo vistos? Que noções de
democratização na dança estão por vir ou quais noções já estão aí? Como
estamos entendendo políticas de acessibilidade em nossos processos
curatoriais e que referências de dança e acessibilidade já existem e não estão
sendo vistos? O que nos impede de enxergar os privilégios de nossos corpos
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Referências Bibliográficas
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ALVES, Cauê. A curadoria como historicidade viva. IN: (ORG.), A.D.R.
Sobre o oficio do curador. Porto alegre, RS: Editora Zouk, v. 1, 2010. p. 65-75.
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balé clássico no Brasil e Estados Unidos. In: VI ENCONTRO CIENTIFICO
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Salvador, Anais. Salvador, ANDA, 2019, p. 2084-2094.
BERNARDINO-TORRES, MALDONADO-TORRES e GROSFOGUEL (org.).
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm acesso em 10 de
agosto de 2020.
BRASIL. Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008. Disponível em:
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CARNEIRO, Sueli. A construção do Outro Como Não-Ser como
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CIA. SANSACROMA. A dança da indignação. Ed. São Paulo: Papel Brasil,
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491
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A Sociedade Beneficente Cultural Floresta Aurora é o clube negro mais antigo do Brasil,
sendo fundado em 1872 por negros forros. Ainda em atuação, consolidou-se como uma das
principais sociedades negras do país, desenvolvendo trabalhos voltados para a área social,
cultural, esportiva, educacional e no movimento político a partir da década de 1980.
495
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228
Na sequência do texto trarei mais informações sobre o grupo Afro-Sul.
229
As cotas raciais são ações afirmativas que garantem a reserva de vagas em instituições
públicas ou privadas para negros e indígenas, a fim de combater a desigualdade e a
discriminação racial. A Lei Nº 12.711 foi sancionada em 29 de agosto de 2012.
496
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230
A palavra profissional aqui questiona e problematiza o fato de ser comumente utilizada em
Porto Alegre apenas para se referir aos artistas da dança contemplados por editais, com
temporadas em teatros públicos e principalmente que possuem formação clássica. Ou seja,
bailarinos que desenvolvem trabalhos em outros contextos que se diferem destes citados,
mesmo que sendo remunerados por seu trabalho, não são reconhecidos como profissionais.
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estética negra, como é o caso do Cenas Diversas - Cena Negra233. Como disse
anteriormente além das apresentações de coreografias em eventos e mostras
de dança, o Coletivo também desenvolve um projeto de ensino da história e
cultura afro-brasileira com alunos de escolas da rede municipal de Porto Alegre
e da região metropolitana oferecendo aulas de dança afro e contação de
histórias com personagens negros.
Assim como o Coletivo Corpo Negra, o Pretagô também foi formado por
artistas universitários que eram colegas, porém neste caso, no Departamento
de Artes Dramáticas da UFRGS. De acordo com o próprio grupo, o Pretagô é
um “quilombo de artistas que pesquisa e promove a representatividade e o
protagonismo negro nas artes da cena.”235 De lá para cá, o grupo já produziu
três espetáculos e dois projetos que mesclam atuação, música, dança e
performance borrando assim as fronteiras entre as linguagens cênicas.
233
Cenas Diversas - Cena Negra é um projeto promovido pela Casa de Cultura Mario Quintana
e que consiste em uma programação com oficinas, bate-papos e espetáculos locais e
nacionais de diversos temas sobre a diversidade e estética afro-brasileira.
234
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas.
235
Descrição retirada da rede social do Grupo, que no meu entendimento resume quem são e
de onde partem as suas propostas.
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Com esses aspectos que tenho observado, concluo até este momento
que é importante que mais olhares se voltem aos artistas e às produções
negras que compõem a cena local. Em igual proporção, que a arte, através do
seu viés político, também possa ser uma ferramenta de luta contra a
invisibilidade do nosso legado e dos nossos corpos.
Referências
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ARA-PAMOSI JÓ:
CORPO-ARQUIVO, DIÁSPORA E AS POLÍTICAS DA ANCESTRALIDADE
NA DANÇA
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Autenticidade e autoria
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também discussões sobre a temática dos direitos autorais nas artes, cuja
contribuição de autores como Carlos Sandroni (2007) e Anthea Kraut (2016)
nos auxiliam.
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Para o artista há uma demanda social que deve ser abarcada pela
produção de dança, uma abordagem que ultrapassa aos padrões de referência
dados pela academia, pelos críticos ou pelo mercado. Para Jorge as produções
que se reconhecem no âmbito da dança afro-contemporânea, embora
apresentem-se com múltiplas abordagens, correm o risco de enfraquecer-se
seja por aproximar-se de uma linguagem academicista, de uma dança
apreciada apenas por uma plateia de especialistas, descartando a necessidade
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Há, portanto, uma ética pela qual e com a qual se dança ou se deve
dançar, uma ética da memória incorporada naquele e naquela que
dança no instante em que se dança. Uma ética corporal que evoca,
repassa, celebra e expõe o que não pode ser esquecido, que atualiza
os antepassados, dá a ver a herança recebida, fortalece as
possibilidades de se manter e, ao mesmo tempo, de se ir adiante.
Desse modo, não se pode esquecer e deve-se lembrar da força
comunitária e de tudo o que lhe dá fundamento. (...) Dança-se com a
comunidade, para a comunidade e pela manutenção de sua
existência. Dança-se para celebrar, propiciar e ser propiciado por
encontros amplos, para estabelecer e manter laços intergeracionais,
interpessoais, de afeto, para ativar, enfim, espaços de convivência
sensível. Dança-se pela consciência de ser filho ou filha, neta, neto,
bisneto, bisneta… e pela certeza de se vir antes daqueles que
seguem: o coletivo é o centro da experiência, a comunidade, um
corpo único e o relacionamento entre os vivos e os mortos, sua
imanência. Os indivíduos existem porque a relação dinâmica com o
grupo no espaço e no tempo os constitui e os fortalece. Dança-se,
então, por fazer parte e porque dançar integra o jogo de retribuições e
o equilíbrio comunitário. (...) São muitos os enigmas, as
perversidades coloniais e encruzilhadas pós-coloniais a transitarem
na dança de um corpo negro, desde sua criação à sua recepção. As
estratégias negras de resistência, de ataque às invisibilidades,
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Referencial Bibliográfico
GILROY, Paul. Entre campos: nações, cultura e o fascínio da raça. São Paulo:
Annablume, 2007
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LUZ, Carmen. Técnicas de vida e morte: breves notas para dançar. Revista O
Manelick 2º ato, abril, 2020.
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Essa seiva habita o corpo de todos os seres, mesmo aqueles que não
acessam e não acreditam, possuem sua ancestralidade percorrendo ser corpo,
pois são vários mundos num universo desigual ou plural que apresenta a
mesma heterogeneidade do continente africano. O seu tamanho, também
remete a imensidão da sabedoria corporal e das ancestralidades africanas
(usarei o plural, por acreditar na luta antirracista e na pluralidade como
resistência a homogeneização colonizadora).
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raízes para fora. Para outros povos, ainda há lendas como a de que,
se alguém tiver o seu corpo velado e enterrado dentro do seu tronco,
o seu espírito permanecerá lá enquanto a árvore estiver viva. Dá para
perceber como a árvore é importante, não é? É um símbolo de
resistência do continente africano e de devoção do seu povo” (trechos
de https://www.thebodyshop.com.br/beleza-do-mundo/baoba-no-
brasil-conheca-historia-da-arvore-inspiracao-para-o-pequeno-
principe/, acessado em 26/11/2019, às 08:09).
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ecoa em meu corpo e sempre que sinto estar no limiar ativo esse lugar que ela
atribuiu a mim, lugar de resiliência e força, perante as dificuldades da vida e
memórias dos episódios de violência que vivi.
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Através das aulas práticas criei uma célula de movimentos (meus e dos
demais participantes), na disciplina “Dança e Africanidades: perspectivas
educacionais, poéticas e políticas”, que compõe o processo de criação em
dança “Oea: a flor branca do Baobá” que é a dança que é tecida e destecida
em meu corpo, concomitantemente com a tecedura da tese e da “oralitura”
(MARTINS, 1995) para a defesa após qualificação, buscando a poética do
Baobá, da Ancestralidade (Inaicyra) e da Caboclagem (Amélia Conrado), em
coletivo com os colegas (Beatriz Gonzalez, Carolina Luisa, Cleonildes Maria,
João Paulo, Renata Celina, Robson Correia, João Vitor, Francis, Zé, Soiane,
Luzia) que também dialogam, discordam e dão corda para a primeira disciplina
a tratar africanidades no espaço acadêmico da pós graduação em dança.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Doença provocada pelo "coronavírus” (Sars-CoV-2), em que um quadro agravante de
infecções respiratórias pode levar os indivíduos que o contraem à morte.
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237
Dados oficiais da Organização Mundial da saúde – OMS (World Health Organization -
WHO), cujas informações se referem ao número de infecções e óbitos da COVID-19 em
26/09/2020. A atualização diária dessas informações está disponível no site oficial da OMS
(WHO): <https://www.who.int>.
238
Dados oficiais do Ministério da Saúde no Brasil, cujas informações se referem ao número de
infecções e óbitos da COVID-19 contabilizados até 24/09/2020. A atualização diária dessas
informações está disponível no site oficial do Ministério: <https://www.gov.br/saude/pt-br>.
539
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Mas o que isso tem a ver com a ideia de aprisionamento que tratamos
neste artigo? É importante fazermos referência à aula magna240 de abertura do
semestre suplementar da UFBA, em que Ailton Krenak e Lilia Schwarcz
afirmaram que com a pandemia, as desigualdades sociais e os ataques e
violências racistas e discriminatórias contra pessoas negras, crianças,
mulheres e comunidade LGBTQIA+241 aumentaram. Por um lado, tal realidade
239
Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47206026>.
240
Aula Magna de Abertura do Semestre Suplementar da UFBA 2020.1, realizada pelos
programas de pós-graduação da UFBA com Lilia Schwarz (Palestra: “Intolerância – a outra (e a
mesma) face da cordialidade”) e Ailton Krenak (Palestra: “De mal a pior”) no dia 15/09/2020.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6S8vsE3_0xE>
241
Sigla referente à diversidade sexual e de gênero, constituída por: Lésbicas, gays,
bissexuais, transgêneros, transsexuais e travestis, Queer, intersexual, assexuais, e o +
simbolizando as outras possibilidades que venham a existir.
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242
<https://ciclovivo.com.br/planeta/meio-ambiente/mapbiomas-desmatamento-brasil-2019/>
243
O MapBiomas é uma iniciativa do Observatório do Clima, por meio de uma rede de co-
criadores formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia. Site oficial:
<http://mapbiomas.org>
541
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244
Aiyê e Orun significa o mundo e o além. (SANTOS, 1998, p.42).
245
A citação acima é retirada da obra "El Ashé está en Cuba”, de Martínez & Potts (2016) e
está presente no capítulo “Eleguá da el ashé”, cuja tradução significa "Eleguá é quem dá o
axé”. Eleguá é chamado Exú na Nigéria, assim como o chamamos de Exú no Brasil.
543
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247
Do original: Si en el socialismo la conciencia internacionalista une en el orden político e
ideológico a las diferentes naciones del sistema, en el capitalismo, las naciones burguesas
(divididas en desarrolladas y subdesarrolladas) hacen que convivan diversas nacionalidades y
tribos cada vez más oprimidas y atrasadas, con el objetivo de neutralizar la lucha de clases
para conservar el domínio de la minoria sobre las grandes mayorías.
248
Do original: se decía que los cubanos podían conducir esa República porque poseían uma
tradición cultural.
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Considerações finais
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249
CONRADO, Amélia. Capoeira Angola: Ginga, Corpo e Musicalidade. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=31u4g2phVi4>
BIRIBA, Raissa. "Chorrindo" - uma proposta de música e movimento para Lucinda Childs.
Disponível em: <https://youtu.be/A5Yh398g2MM>
549
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
cantando Capoeira
Aiyê,
me chamo tempestade
na ginga da minha pele preta
O leque do meu protesto
resolveu navegar na correnteza
um balanço salgado me espera
Ao som do silêncio
quebramar
Pedras em nossos caminhos, ah!
o mar há de levar...
(“um mar de Raissa para Amélia, De Amélia para Raissa”, 2020)
Referências
ACOSTA, Luz Merino. La cultura entre dos aguas. In: DÍAZ, Ana Suárez
(Coord). Cuba: iniciativas, proyectos y políticas de cultura (1899-1958) - La
Habana: Editorial Caminos, 2016.
CICLOVIVO. Área desmatada no Brasil em 2019 equivale a 8 cidades de São
Paulo. São Paulo, 27/05/2020. Disponível em:
<https://ciclovivo.com.br/planeta/meio-ambiente/mapbiomas-desmatamento-
brasil-2019/> Acessado em 26/09/20.
DÍAZ, Ana Suárez. Itinerario de la cultura republicana: sujetos, acciones,
processos y contextos em la primera mitad del siglo XX. In: DÍAZ, Ana Suárez
(Coord). Cuba: iniciativas, proyectos y políticas de cultura (1899-1958) - La
Habana: Editorial Caminos, 2016.
FORNET, Ambrosio. Narrar la Nación – La Habana: Editorial Letras Cubanas,
2011.
FRAGINALS, Manuel Moreno. "Aportes culturales e deculturación" in PÉREZ,
Esther; LUEIRO, Marce (org). Raza y Racismo: antología de caminos - La
Habana: Editorial Caminos, 2017, p.22-47.
GUANCHE, Jesús. Procesos etnoculturales de Cuba. - La Habana: Editorial
Letras Cubanas, 1983.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã
Yanomami. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Companhia das
Letras, 2015.
LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Cultura Negra e Ideologia do Recalque.
2ªed. Salvador: Edições SECNEB, 1994.
LUZ, Marco Aurélio de Oliveira. Agadá: dinâmica da civilização africano-
brasileira. 4 ed. Salvador: EDUFBA, 2017
550
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6ª PARTE
POÉTICAS E
PROCESSOS ARTÍSTICOS
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Introdução
Ao leitor, peço agô para uma correção conceitual antes do
desaguar sambático. No redemoinho das águas doces que acalmam e
orientam orí, lavo o abebé e miro sobre a manutenção do privilégio do sentido
da visão ocular ocidentalizada, ao trazer a cosmovisão africana para uma
discussão em que a cosmopercepção é a rede que lança e pesca outros
sentidos de mundo neste trabalho. Com a impossibilidade de alteração titular
pelas regras da publicação, jorro água para reconduzir o fluxo da sabedoria.
Considerações refrescadas, nadaremos para uma proposta caboclada de
contribuição para a experiência em processos artísticos e educacionais em
dança.
250
Local sagrado para os povos bantus. Um rio que os homens poderiam passar para entrar
em contato com os seus ancestrais e suas forças. Pelas palavras do Tata Anselmo Gomes
refere-se também a tudo que é imenso, a exemplo do mar, do cemitério.
553
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251
Lei que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira em
componentes curriculares de ensino no Brasil e a data de 20 de novembro no calendário
escolar como Dia da Consciência Negra.
252
Alteração da Lei anterior, com a inclusão do estudo da história e cultura indígena nos
currículos escolares.
555
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253
“Feito, sobretudo, da cintura para baixo, consiste num quase imperceptível sapatear para
frente e para trás dos pés quase colados ao chão, com a movimentação correspondente dos
quadris” (IPHAN, 2005, p.23).
559
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254
Uma quebra de linearidade da dança.
560
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Marujos
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255
Termo jeje que significa ombro, ou movimentar os ombros; e o toque ritual da orixá Yemoja
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Caboclos de Pena
Caboclos de Couro
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Boa noite
Bom dia
Sou o Caboclo
Pedrinha miudinha
na Aruanda auê
na Aruanda auê
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Considerações Finais
565
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Referências
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LIMA, Nailton Ronei Gomes; SILVA, Inah Irenam Oliveira da; SILVA, Regivaldo
Gomes da. Nós da cena: desatando normatividades em processos
colaborativos de criação. Anais do VI Encontro Científico da Associação
Nacional de Pesquisadores em Dança - ANDA. Salvador: ANDA, 2019. p.
1807-1812.
567
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SANTOS, Juliana Oliveira Gonçalves dos. O saber ancestral que vem dos
pés. Disponível em: http://amlatina.contemporaryand.com/pt/editorial/o-saber-
ancestral-que-vem-dos-pes-juliana-dos-santos/. Acesso em 29 de jun. 2019.
568
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ENCRUZILHADAS POÉTICAS:
ENTRE A REPRESENTAÇÃO E A METONÍMIA
256
A comunicação que deu origem a este artigo é um fragmento da dissertação de mestrado
intitulada Evocações e presenças negras na dança contemporânea paulistana (2000-
2015), cuja pesquisa foi desenvolvida no PPGArtes-Unesp e sob a orientação da Profa. Dra.
Marianna F. M. Monteiro.
569
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Das duas companhias deste estudo, a Nave Gris Cia. Cênica é a mais
jovem, com apenas cinco anos de caminhada até a data da pesquisa realizada.
Uma companhia ainda no processo de construção e entendimento de sua
metodologia de trabalho. Ela foi criada oficialmente em julho de 2012 por
570
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257
Para conhecer a trajetória em detalhes da Nave Gris Cia Cênica, acesse
http://navegris.com.br/ .
258
Em minha graduação em Dança na UNICAMP, realizei o projeto Em águas abundantes:
um estudo sobre as diferentes escrituras do corpo cênico a partir das matrizes corporais
das danças de Kayaia, entre os anos de 2006-2007 no Departamento de Artes Corporais
571
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
(DACO) da como bolsista CNPq e orientação da Profa. Dra. Livre Docente Inaicyra Falcão dos
Santos.
572
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573
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259
Na cultura e pensamento bantu-kongo elucidado Bunseki Fu-Kiau apud Santana (2019, p.
35), n’kisi, de onde se origina a palavra nkisi (singular) e minkisi (plural), que nomeia as
divindades do Candomblé Congo-Angola, é o elemento mais importante e central neste mundo,
da vida do homem, é força-elemento que cuida dos seres humanos em todos os aspectos de
vida no mundo (cuida, trata, guia, zela).
574
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575
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260
Como os I e II Encontro Mulheres Negras na Dança (2015 e 2017) e a VISIVEL+NAVE
Encruzilhada Ocupação Cênica (2016).
576
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261
O núcleo se constrói em torno de Eliana, do light design Hernandes de Oliveira, e de artistas
convidados a cada projeto. Conforme a entrevista que consta no capítulo I desta dissertação,
Eliana de Santana busca trabalhar com artistas negros (as), porém desde que estes dialoguem
com sua poética. Com exceção dos trabalhos solos, em que somente Eliana de Santana atua,
nos últimos quatro anos (2011 a 2016) a E² elaborou espetáculos com um elenco de
intérpretes-criadores negros(as) e não negro(s). Destaco a participação do artista da dança
(negro) Leandro de Souza, que atuou durante cinco anos na companhia e soube incorporar os
estados de dança da E².
262
Tragédia Brasileira (1997), Das Faces do Corpo (2001), Francisca da Silva de Oliveira
Chica da Silva - Um Esboço (2006), ...e das outras doçuras de deus (2008/2009), Onde os
Começos? (2010), Afro Margin (2011), Dos Prazeres (2011/2012), Das Faces do Corpo-
versão II (2012), Das Faces do Corpo-versão III (2013), Lost in Spaceshit (2014), Baleia
(2015), A Emparedada da Rua Nova (2015) e BLUE (2016).
577
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Santana foi levada a desbravar a selva de pedra e, como ela diz, romper, criar
frestas para a realização de sua formação e seu trabalho. Uma vez dentro
desses espaços hegemônicos, podemos identificar que foi se instaurando a
negociação entre o lugar de fala da artista-mulher-negra:
Eu fico pensando por exemplo, “será que eu tenho cor?” Eu não acho
que eu tenho mais cor, mas é claro que eu tenho cor. Então quando
eu vou dançar (...) sou eu fazendo. Então o público vai ver, e já está:
é uma mulher negra fazendo. Eu já não tenho entre aspas, “esse
pensamento da ação política”, porque já é! Já ESTÁ! Já SOU!
(...)
Quando Eliana conta que procura passar pelas frestas para ocupar
locais que lhe são negados e assim ir ampliando seu espaço de atuação,
rememoramos uma observação feita por Muniz Sodré (2002, p. 138) com
relação às danças nagô, sobre seus gestos de penetração e sedução, numa
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263
O espetáculo foi inspirado no romance A emparedada da rua Nova, de Carneiro Vilela, que
relata o caso de uma jovem burguesa, engravidada pelo namorado e que foi emparedada viva
em seu próprio quarto, a mando de seu pai.
580
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264
Ndumbe é o nome dado para o mona-nkisi (adepto do Candomblé Congo-Angola) não
iniciado ainda nos mistérios e segredos da religião.
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O intuito deste estudo não foi analisar indivualmente cada obra destas
companhias e, sim, olhar para todo o conjunto de ações que cada companhia
desenvolveu desde seu período de fundação até o ano de 2017, buscando
correlacioná-las com aspectos de uma filosofia negro-africana em fricção com a
cena da dança teatral contemporânea. Apesar disso, foi relevante destacarmos
alguns espetáculos. Espetáculos estes onde identificamos o jogo da
representação e metonímia, em que as narrativas plurais da experiência do ser
negra(o)(e) foram articuladas de formas diversas e complexas para o
estabelecimento de danças cênicas, danças teatrais com o protagonismo
negro-diaspórico.
Por fim, companhias como a E² Cia de Teatro e Dança e a Nave Gris Cia
Cênica, com artistas criadoras negras, protagonistas de ações poéticas com
visibilidade em espaços onde sujeitos negros(as)(es) não estão presentes ou
que quando estão ocupam os postos subalternizados – como profissionais da
limpeza e segurança -, fazem com que as gerações que estão porvir
vislumbrem o trabalho artístico e a continuidade de uma produção cultural-
artística a partir das experiências e saberes negro-diaspóricas.
583
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Referências bibliográficas
CERQUEIRA, Joana dos Santos Egyto. Forças em luta para invenção de uma
dança: política cultural e dança contemporânea em São Paulo. 2015.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC,
São Paulo.
584
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MANZINI, Yaskara Donizeti. Por que não dança Afro-brasileira? In: Caminhos
da pesquisa em dança: interculturalidade e diásporas. VOSS, Rita Ribeiro
(org.). Recife: UFPE, 2016.
MUGGIATI, Roberto. Blues: da lama a fama. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora 34,
1995, p. 12-13.
585
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Fotografia 1 - Fotografia 1 – Os artistas Jow Cordeiro, André Paulino, Kissy Luan, Rafaela
Araújo, Bruno Costa, Fernando Vitor, Ana Musidora e Jessica Maria em cena na residência
artística Corpo narrado, corpo dançado.
587
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265
O objetivo de Geopoéticas do Sul – Encontro Latino-americano de Criação e Gestão em
Dança foi o de fortalecer os laços de cooperação no contexto latino-americano, discutir temas
relacionados à criação em dança e apontar caminhos colaborativos que contribuam para
consolidar a rede existente e para o desenvolvimento de novas potencialidades. Aconteceu no
Centro de Referência da Dança de São Paulo entre 28/01 e 16/02/2019 com curadoria e
coordenação dos artistas Marcos Moraes, Uxa Xavier e Marcus Moreno.
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Fotografia 2 – Os artistas Jow Cordeiro, André Paulino, Kissy Luan, Rafaela Araújo, Bruno
Costa, Fernando Vitor, Ana Musidora e Jessica Maria em cena na residência artística Corpo
narrado, corpo dançado.
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Fotografia 3 – Os artistas Jow Cordeiro, André Paulino, Kissy Luan, Rafaela Araújo, Bruno
Costa, Ana Musidora e Jessica Maria em cena na residência artística Corpo narrado, corpo
dançado.
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Para nós, a roda, os pés que organizam o eixo das corpas, as danças do
imaginário popular negre, a vocalidade emitida no cantar, eram princípios
norteadores para a noção de memória e oralidade que iriam construir uma
dramaturgia cênica. Estes materiais faziam parte dos exercícios diários de
trabalho.
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Por fim, trago para este texto os recentes depoimentos de dois artistas
participantes, Jessica Maria e Fernando Vítor, que generosamente
compartilharam comigo reverberações da residência em suas vidas:
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2. Foi num dos experimentos, quando tínhamos que falar nosso nome
em meio a uma movimentação de "queda e recuperação", que eu me descobri
"Maria", o nome Jéssica me soava estranho naquele contexto por mais que eu
tentasse, e Maria de repente era o que fazia sentido. Quando criança odiava
ser Jéssica Maria, era motivo de chacota, achava "feio, nome de pobre" (como
se eu fosse rycah rs). Todas as mulheres da minha família tem esse Maria
como segundo nome, e durante a residência eu de fato des-cobri a narrativa,
ou pelo menos uma das, que o meu corpo tem pra contar. Hoje sou Jéssica
Maria, grata e orgulhosa de todas as Marias que carrego e me carregaram até
aqui.
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Considerações finais.
Cada corpo carrega uma história. E ainda que não pareça cada negre é
um negre. A dança negra é plural, pois, os corpos não são iguais, assim como,
os tons da pele e os contextos de vivência destes corpos. Isto determina
diferenças no mover-se, no estar junto, no existir e no criar em dança. Porém,
em vários lugares essas diferenças convergem formando um todo para uma
ação de resistência, que evidencia uma dimensão política. Resistência na vida
e na arte também, porque buscamos romper um espaço de criação que é
hegemônico e quer padronizar corpos mantendo-os como subalternos.
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Referências
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DESOBEDIÊNCIAS POÉTICAS:
AS TRAMAS DAS NARRATIVAS CORPORAIS E SEU LUGAR DO DEVIR
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ARTvismo Feminista
266
O grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CuS) foi criado em 207 e, em 2018, se
transformou em Núcleo de Pesquisa e Extensão em Culturas, Gênero e Sexualidades (NuCus),
com cinco linhas de pesquisas específicas – artes; educação;lesbianidades estudos trans,
travestis e intersexo; e processo de subjetivação e raça.
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T.A.P.A Arterapia
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80% delas nas mãos de amantes, namorados, maridos, ex ou atuais.
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Sobre uma perspectiva de vir a ser uma potência feminista, essa escrita
corporificada é fruto de uma manifestação interna sob a constante influência
externa, enquanto desejo de ser. Rejeitando a ideia de minoria e revelando que
o sujeito é uma construção cultural e do discurso, em que, “no jogo da
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habitação, justiça ambiental, saúde ou pelo fim do racismo estrutural. Que para
militantes como Cinzia Arruzza, Nancy Fraser e Tithi Bhattacharya é promover
um “outro” feminismo em associação aos ativismos antirracistas,
ambientalistas, trabalhistas e em defesa dos imigrantes. Um feminismo que:
Referências bibliográficas
269
Corpoéticas é uma terminologia que une em significado de que maneira se manifestae
compreende essas narrativas, esses lugares, que e sua importância na escritura de corpo
quando se deve levar em consideração o corpo, em sua licença poética e em diálogo com o
senso de ética na construção d euma sociedade. Termo cunhado pela autora desse artigo.
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RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. 1º ed. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen,
2019.
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SERESTAR CATIRINA:
ATRAVESSAMENTOS NO CORPO DO ATOR-BRINCANTE
Sebastião de Sales Silva (UFBA)
Chegança
270
José de Moura Sales, foi agricultor durante toda a sua vida e dedicou-se a brincadeira do Boi
de Reis desde adolescente, viajou pelo Rio Grande do Norte apresentando a sua brincadeira e
fez do folguedo do Boi um meio de aproximar o povo da cultura popular. Ele morou na
comunidade do Sítio de Santa Cruz, Vera Cruz/RN, levando a sua alegria para o povo daquele
lugar. Teve câncer na garganta, morreu e a sua voz, sua dança e suas memórias ficaram
suspensas no ar.
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Entre um gole e outro do café, a palavra Zé não saia da minha boca; foi
então que o meu pai fitou os olhos sobre mim e falou: “eu também fui brincante
de Boi de Reis, comecei como galante na fita e com o tempo passei a fazer o
271
Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/jspui/handle/123456789/22628?mode=full. Acesso
26 de setembro de 2020.
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Mateu, isso faz muito tempo, brinquei pouco, mas brinquei e sabia brincar” –
fiquei entrecortado pela revelação que o meu estava fazendo, abri um sorriso,
arregalei os olhos demonstrando espanto e tudo girou no meu corpo de
menino, continuamos a prosa e outras revelações aconteceram, mas preferi
deixá-las guardadas.
Nesse sentido, tudo isso atravessa uma questão cultural muito forte,
essa revelação fortalece o nosso vínculo de pai-filho, de brincantes, e registra a
questão da herança cultural das danças e tradições populares que são
passadas de geração em geração. Nessa trama, do sujeito atravessado e
formado por outro, do ceio cultural, comungo com o que a pesquisadora,
professora e intérprete Inaicyra Falcão dos Santos escreve sobre a troca de
experiência como uma pedagogia do sujeito.
621
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Pois bem, o meu pai me ajudou nessa autodescoberta. Considero que ele
tenha me dado uma das maiores heranças, passou o bastão da brincadeira
para o meu corpo-memória e tudo já estava ali, pulsando, dançando nas
nossas idas aos forrós (que aprendi a dançar com ele – Chico Boi, meu pai. Ele
por sua vez aprendeu a dançar com o meu avô, Sebastião Boi) e que hoje
tenho na minha história essa ancestralidade marcada, dançada e atravessada
de dizer: prazer eu também sou brincante de Boi de Reis, eu também sou Zé,
eu sou Tião do Boi.
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pela energia, pelos desejos e pelo corpo da Catirina. Vivo tudo o que o público
me oferece, coloco eles dentro da cena e escuto da plateia “essa Catirina é
danada, e quer logo a língua”. Isso mesmo, ela deseja a língua do Boi mais
bonito da fazenda. Ela está grávida e pede a Mateus que corte a língua para
que o seu filho não nasça com cara de Boi.
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Como já foi dito a Catirina é a mulher do Mateus (figura que cuida dos
Bois da fazenda. Ela está grávida e deseja comer a língua do Boi mais bonito),
sabemos do seu desejo, ela grita, subverte e transgredi a sociedade dizendo:
“Mateuuus, EU QUERO COMER A LÍNGUA DO BOI”!
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nossas histórias de nossos povos, das mulheres da minha vida, dos brincantes
do Boi de Reis e assim, nos projetarmos enquanto representação simbólica de
umas das tradições populares mais brincadas pela região do nordeste
brasileiro.
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REFERÊNCIAS
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Pedindo licença...
Não é que eu
Seja racista...
Mas existem certas
Coisas
Que só os NEGROS
Entendem.
Existe um tipo de amor
Que só os NEGROS
Possuem,
Existe uma marca no
Peito
Que só nos NEGROS
Se vê,
Existe um sol
Cansativo
Que só os NEGROS
Resistem.
Não é que eu
Seja racista...
Mas existe uma
História
Que só os NEGROS
Sabem contar
... Que poucos podem
Entender.
272
OLIVEIRA, Altair B. (T’Ògún). Cantando para os orixás. Rio de Janeiro: Pallas, 1997.
273
Disponível em http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/11-textos-dos-autores/732-ele-
semog-ponto-historico
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Terra, grão, pó
Uma forma
Um movimento
Um lugar
E outro lugar.
De seu útero emana vida, eeeeeh mana, cuidas dos seus e devemos
nos cuidar.
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No começo....
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Acho que esse dia, há mais de quarenta anos, marcou minha relação
com Iemanjá e, um pouco mais tarde, com a religião que abracei, o
Candomblé, a carreira de professora pesquisadora e artista da cena. Fiquei
impressionada com o tamanho da festa na praia de Paciência em Salvador,
festa que, aos meus olhos, revelou-se como uma imagem sedutora, uma
performance espetacular274 num terreiro aberto onde todos pareciam ser bem-
vindos.
274
Espetacular do francês spectaculaire, “tudo o que chama a atenção, atrai e prende o olhar”
(CUNHA, 2010, p.265). Do verbo latino spectare, olhar, contemplar e, ainda, apreciar ou julgar
[...] “o espetáculo no sentido de acontecimento cultural é uma representação visual ritualizada
ou previamente concebida, uma imitação ou demonstração de arte, no sentido geral de
habilidade, dirigida aos sentidos visuais e/ou auditivos, intentando causar admiração de um
público, de uma assistência ou comunidade (fiéis) – espectadores.” (CUNHA, 2003, p.255-256).
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Finalizando...
Segundo Júlio Tavares (2020, p. 22) “os ritos ocupam lugar ímpar como
territórios e ambientes de memória, já que, recriam e transmitem, pelos
repertórios orais e corporais, gestos, hábitos, formas e técnicas de criação e de
transmissão”. Assim, podemos pensar no corpo como local da inscrita de textos
de movimentos que guardam a memória de um grupo e coletivos no processo
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Referências
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TAVARES, Júlio César de. Dança da Guerra: arquivo e arma: elementos para
uma teoria da capoeiragem e da comunicação corporal afro-brasileira. Belo
Horizonte: Nandyala, 2012.
Zeca Ligiéro. Corpo a corpo: estudos das performances brasileiras. Rio de
Janeiro: Garamond, 2011.
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Ao empregarmos a palavra negrEs nos referimos as pessoas negras do gênero masculino e
gênero feminino (binário) e as pessoas negras que se consideram de um outro gênero que não
o masculino nem o feminino (não binário). (GUALTER, SANTOS, DAMASCENO, SILVA, 2020).
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276
Pioneira na associação do balé com a dança afro-brasileira. Com formação na escola de
Katharine Dunham, protagonizou a influência da dança negra na historicidade brasileira e em
toda América. Foi colaboradora e coreógrafa no TEN (Teatro Experimental do Negro) fundado
por Abdias do Nascimento.
651
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277
Porta bandeira do Salgueiro até 1986, retornando à agremiação em 2006.
278
Hoje o projeto de Mestre Dionísio tem inspirado diferentes escolas similares no Brasil e
recentemente uma escola no Uruguai.
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Eles ressaltam ainda que o corpo é a primeira referência que nós temos
do mundo e que o processo de tomada de consciência do corpo é um processo
que nos acompanha desde a primeira infância. O corpo é nosso existir em
expressão e emoção, no mundo. No entanto, segundo os referidos autores:
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Referências Bibliográficas
FREIRE, Louise. Valéria Monã: ‘Quero um futuro em que não precise provar
que sou atriz e bailarina’. Jornal Notícia Preta. Disponível em:
https://noticiapreta.com.br/valeria-mona-quero-um-futuro-em-que-nao-precise-
provar-que-sou-atriz-e-bailarina/. Acesso em 23/09/2020.
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ÍNDICE REMISSIVO
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C J
capoeira, 206, 307, 322, 325, 326, 330, 331, 334 Jogando com a Instabilidade, 195, 198, 202
Capoeira, 548
catiços, 30 L
Cavalo, 288, 291
Cia de Dança Robson Correia, 84 lei 10.639/2003, 463
colonialidade, 43, 102, 249, 479, 521 Lei 10.639/2003, 484, 555
Corpas da Terra, 219
corpo-arquivo, 522
Corpo-Baobá, 525, 529 M
Corpo-Nanã, 274, 280
corpoterritório, 212 Matripotência, 462, 557
Cosmograma Bacongo, 573 Mercedes Baptista, 77, 479, 508
cosmovisão africana, 179, 187, 284 Mestre King, 77, 366, 393, 395
COVID, 538 Mudra Afrique, 455, 459
curadoria, 475, 478, 480
currículo, 66, 68, 107, 168, 450, 542 N
Currículo, 67
Nave Gris, 569, 570
necropolítica, 244, 343
D
Necropolítica, 138
dança afroancestral, 175, 190
dança de Oxum, 288, 296 O
Dance Theatre of Harlem, 378, 381
Dona Cici, 150, 151, 154, 156 Odundê, 207
oralitura, 274, 277, 284, 315, 535, 588
Oralitura, 266
E
orixalidade, 281, 285
École des Sables, 452, 527, 531
empoderamento, 30, 118, 121, 176, 191, 344, 444,
545, 565
Empoderamento, 85
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pagode, 130, 131, 133, 135, 137, 226, 234, 405, 439, R
442, 447
performance afro ameríndia, 415 Robson Correia, Cia de Dança, 94
policentrismo, 201
polirritmia, 157, 201
políticas da ancestralidade, 508, 523
S
Pombagiras, 26, 28, 30, 35
samba de caboclo, 556, 558, 560
pretagonismo, 494
Samba de Caboclo, 554
Sankofa, 465, 466, 467
Q Sansacroma, 485
sevirologia, 482, 484
quadrilhas juninas, 401 Silvestre, 155, 196, 197, 202, 207
Quadrilhas Juninas, 400 Swing Afro Baiano, 384, 385, 393
665
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AUTORES
& AUTORAS
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Ana Carolina Alves de Toledo é Mestranda em Artes pela UNESP. Especialista em 'Corpo:
dança, teatro e performance' pelo Célia Helena, SP (2016). Bacharel em Esporte (2006) e
Marketing (2011) pela USP. Artista-educadora-pesquisadora das intersecções entre danças
negras, pedagogias e feminismos. Pesquisadora no Grupo Terreiro de Investigações Cênicas
(Instituto de Artes, UNESP). Educadora de Atividades Físicas no SESC SP.
E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8467-4739
Ana Maria de São José é Artista. Professora Adjunta do Curso de Licenciatura em Dança da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Professora do Mestrado Interdisciplinar em Culturas
Populares da Universidade Federal de Sergipe (PPGCULT-UFS). Doutora em Estudos
Culturais pela Universidade do Minho – Portugal. Mestra em Artes Cênicas pela Universidade
Federal da Bahia. Especialização em Coreografia pela Universidade Federal da Bahia.
E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-7594-3407
Ana Paula Silva dos Reis é professora de dança da rede estadual de ensino, produtora
cultural e bailarina. Atualmente mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
da UFRGS, é graduada e especialista em Dança.
Anne Caroline Vaz é artista-professora-pesquisadora da Dança. Natural de Belo Horizonte é
graduada em Dança pela UFMG e mestranda em Dança pela UFBA. É integrante e
idealizadora do Coletivo EnegreSer e atua na Secretaria de Educação do Estado de Minas
Gerais.
E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-5812-0537
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Aurionelia Reis Baldez (Dandara Baldez) é Mestra em Dança pelo Programa de Pós-
Graduação em Dança pela Universidade Federal da bahia (UFBA) Licenciatura em Dança e
Bacharel em Dança (UFBA). Pesquisadora no Grupo Interinstitucional de Pesquisa Corpo e
Ancestralidade. Mestra do grupo de Capoeira Preta Kalunga Capoeira Angola - BA, Produtora
Cultural do Grupo de Tambor de Crioula Baiei na Bahia. Professora substituta da Escola de
Dança da UFBA.
E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6166-903X
Beatriz Gonzalez Lagos é Licenciada em Dança pela UFBA, tem Especialização em Educação
Musical Escolar pela Universidad de Chile. É mestranda no PPGDança da UFBA e Bacharelanda
em Dança, UFBA. Membro do Grupo de Pesquisa em Culturas Indígenas, Repertórios Afro-
brasileiros e Populares na Escola de Dança da UFBA. É diretora e professora da Escola Aberta
de Dança do Candeal e do Projeto Social “Ballet da Luz”.
E-mail: [email protected]
Orcid: http://orcid.org/0000-0003-3649-2839
Denise Mancebo Zenicola é diretora, coreógrafa, bailarina e Artivista. DRT. 5.303. Doutorado
e Mestrado no PPGAC - UNIRIO. Psd. em Danças Negras /Capes, no ISCTE em Lisboa.
Docente UFF/IACS. Pesquisadora junto ao NEPAA, professora no Programa de Pós
Graduação em Artes Cênicas - UNIRIO. Formação em Dança Clássica, Contemporânea e
Danças Pretas, esta última com Gilberto de Assis. Trabalha com Danças Contemporâneas e
Afro Diaspóricas na cena. Atua em dança, teatro, arte preta, videodança. Diretora do Coletivo
668
ANDA | ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM DANÇA
Eric Barbosa Araújo é formado em Administração de Empresas, ano 2008, Unifacs, Educação
Física, ano 2017, Faculdade Social da Bahia, Pós Graduado em Gestão de Pessoas, ano
2010, Unifacs, Mestrando Escola de Dança Universidade Federal da Bahia, ano 2019/2020,
Professor de Swing Afro Baiano.
E-mail: [email protected]
Orcid: http://orcid.org/0000-0003-0399-6002
Fernanda Silva dos Santos é Mãe, Feminista, Capoeirista, Profª. de Dança Criativa como
caminho Dançaterapêutico. Mestra em Dança pelo PPGDANÇA/UFBA. Doutoranda em Dança
PPGDANÇA/UFBA, sob a orientação da Profª. Drª. Amélia Vitória de S. Conrado. É membro do
Grupo Gira de Pesquisa em culturas Indígenas, Repertórios Afro-Brasileiros e Populares do
Departamento de Dança da UFBA. Campos de Pesquisa: Artivismo Feminista; Prática da
Capoeira em Processos criativos.
E-mail: [email protected]
Orcid: http://orcid.org/0000-0001-9073-008X
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DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0901-3636
Gabriela Souza da Rosa (Rita Rosa Lende) é artista, mestranda em Artes Cênicas no
Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAC/UFRGS)
e graduada em Dança pela da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, membro
pesquisador do Grupo Interseccional de pesquisas em Negritude, Gênero e Artes (GINGA),
coordenado pela Dra. Celina Nunes de Alcântara e do Grupo de Estudos em Teatro, Educação
e Performance (GETEPE), coordenado por Gilberto Icle. Organizadora e idealizadora do
Seminário de Danças Negras do RS desde 2016 ao lado de Manoel Luthiery (UFPEL).
E-mail: [email protected]
Orcid: http://orcid.org/0000-0003-0744-9030
Gerson Moreno é Artista de dança, diretor-fundador da Cia Balé Baião de Itapipoca CE, artista
audiovisual, coordenador pedagógico da Escola livre Balé Baião (Ponto de Cultura Galpão da
Cena de Itapipoca CE – Escola da Cultura CE), curador do Festival Internacional de Dança do
Litoral Oeste CE, pedagogo formado pela Universidade Estadual do Ceará (UECE),
especialista em Educação Biocêntrica e mestre em Educação pela Universidade Federal do
Ceará (UFC).
E-mail: [email protected]
670
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Katya Souza Gualter/Nome artístico: Katya Gualter. Mulher preta. Doutora em Artes da Cena
pela UNICAMP. Diretora da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. Artista docente
e pesquisadora da Dança/UFRJ. Coordenadora do Laboratório PECDAN (Pesquisa em Cinema
e Dança)/UFRJ - Projeto Poéticas no cotidiano sob olhares de Exu e Pombagira. Integrante do
GrupAR.
E-mail: [email protected]
Kleber Rodrigo Lourenço Silva é doutorando em Artes pela UERJ e Mestre em Artes pela
UNESP. Artista da Dança e do Teatro. Integra como pesquisador o grupo Motim – Mito, Ritos e
Cartografias Femininas na Arte CNPQ/UERJ. Diretor do Visível Núcleo de Criação e encenador
na Capulanas Cia de Arte Negra.
E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/000-0002-6774-0834
671
DANÇA E DIÁSPORA NEGRA
Marcos Cezar Santos Gomes é Docente da Unijorge. Mestre em Dança pela - UFBA. Aluno
Especial do Doutorado no programa de Difusão do Conhecimento - FACED, 2017.
Psicopedagogo, especialista em Estudos Contemporâneos em Dança - UFBA e em
Metodologia da Educação do Ensino Superior. Licenciatura e Pós-Graduação Docente em
Educação Física. Mestre de Capoeira. Integrante do Grupo de Pesquisas Corponectivos em
Danças - UFBA.
E-mail: [email protected]
Orcid: http://orcid.org/0000-0003-3863-5856
Marilia Rameh Reis de Braga. Nome artístico: Marília Rameh. Mulher branca. Fundadora e
integrante da Cia de Dança Artefolia, artista da dança, pesquisadora com experiência na área
de criação artística em dança, gestão e produção cultural, atuando também na análise e
emissão de pareceres de projetos culturais. Tem experiência na gestão pública, em
organizações da sociedade civil. É especialista em Políticas Culturais de Base Comunitária
FLACSO - Argentina. Integrante do GrupAR.
Raphael Luiz Barbosa da Silva/Nome artístico: Raphael Arah. Homem preto. Artista docente
e pesquisador da dança. Professor do curso técnico em bailarino contemporâneo da Escola
Angel Vianna. Coordenador do Núcleo de Estudos Contemporâneos do Corpo Negro da
Faculdade Angel Vianna. Mestrando em Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da
UFRJ. Integrante do GrupAR.
Renato Mendonça Barreto da Silva/Nome artístico: Renato Mendonça. Homem preto. Doutor
em Artes Visuais pela UFRJ. Professor Ajunto do Departamento de Arte corporal da Escola de
Educação Física e Desportos da UFRJ. Bailarino Intérprete do Grupo Cultural Jongo da
Serrinha (2008). Integrante do GrupAR.
Robson Correia Santos é Licenciado e Bacharel em Dança pela UFBA, Ex-produtor, professor
e Coordenador na Escola de Dança da FUNCEB, Ex- produtor do Projeto “Arte no Currículo"
parceria entre UFBA e Prefeitura de Salvador, coreografo da Cia Baiana de Patifaria, Diretor,
Coreógrafo e produtor da Cia de Dança Robson Correia, Professor da Santa Casa da Bahia,
membro do grupo de Pesquisa Gira da UFBA.
E-mail: [email protected]
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5648-4356
Samira Lima da Costa/Nome artístico: Bia Samira. Mulher branca. Mãe, contadora de
histórias, professora de graduação no Departamento de Terapia Ocupacional da Faculdade de
672
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