4 - Texto - A Percepcao e A Comunicacao No Ambiente Organizacional
4 - Texto - A Percepcao e A Comunicacao No Ambiente Organizacional
4 - Texto - A Percepcao e A Comunicacao No Ambiente Organizacional
INTRODUÇÃO
Falar em percepção é falar do ser humano, nas suas relações com outros seres humanos,
objetos, animais, símbolos, mitos, conceitos, referências.
O estudo do processo perceptivo é antigo. Segundo Aguiar, MAF (1992) “os estudos da
percepção levantaram a hipótese de que os objetos emitiriam cópias deles próprios, as
quais se transmitiriam ao cérebro. Os estudos da Física vieram contribuir para o
abandono dessa hipótese ao mostrar que os objetos não emitem cópias. Na realidade, a
maioria dos objetos limita-se a refletir ondas que os atingem”.
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Texto desenvolvido com o envolvimento e participação dos docentes da área de Psicologia Organizacional para as
disciplinas de Psicologia Organizacional I e II da UNIP.
Assim, o processo perceptivo passa a ser analisado de modo objetivo, trazendo ao ser
humano a perspectiva de ser ele o único percebedor no mundo em que vive.
Somos dotados de órgãos dos sentidos, que nos permitem ver, tocar, cheirar, ouvir,
degustar, e assim interagimos com o mundo, percebendo as formas, os jeitos, as
tonalidades e suas distinções. A cada ser humano, entretanto, é possível perceber de
modo distinto um mesmo objeto, e isto nos traz a questão a ser tratada neste artigo:
Como se dá o processo perceptivo?
Trataremos desta pergunta nos Capítulos seguintes, onde buscaremos contribuir para a
reflexão do processo perceptivo na vida organizacional.
A percepção, segundo Robbins, SP (2002) pode ser definida como o processo pelo qual
os indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais, com a finalidade de
dar sentido ao seu ambiente.
AUTOPERCEPÇÃO
Quem sou?
Desde seu nascimento esta pergunta instiga o ser humano a olhar para si mesmo na
busca de uma resposta. Esta resposta, entretanto, começa a se delinear no contato com o
mundo (outros seres, objetos, símbolos,...).
Ele busca no mundo referências que lhe darão as primeiras noções de quem é.
Assim, um recém-nascido esquimó somente terá referência de quem é no contexto em
que vive e com quem vive.
Isto nos traz a importância do espaço em nosso processo de percepção. Outro fator
importante é o tempo. O ser humano se reconhece em uma época específica. Desta
forma, acolhe o contexto onde está inserido nas dimensões espacial e temporal.
O bebê esquimó somente tem a possibilidade de se reconhecer como esquimó naquele
contexto, ou seja, de acordo com o espaço e tempo em que está inserido.
Então vejamos, se isto se dá assim, dois bebês esquimós que nasceram no mesmo
contexto terão as mesmas percepções?
Para responder esta pergunta, sugiro uma nova reflexão.
Ao tentar responder a primeira pergunta (“quem sou?”) o ser humano, primeiramente,
encontra a resposta para outra questão: “O que sou?”.
Perceber que é um esquimó, por exemplo, não o diferencia dos outros esquimós.
Responde “apenas” o que é: Um esquimó. O que o diferencia não é ser um esquimó
dentre outros, mas sim quem é, como um esquimó.
A pergunta quem sou, no entanto, nunca é respondida, pois o ser humano não é um ente
parado no tempo presente. Ele se projeta para o passado e para o futuro, revivendo
momentos, lembrando situações, e desejando, sonhando e fantasiando o que ainda lhe
falta.
Assim, por ser dinâmico, vai acolhendo de modos distintos o que se apresenta no mundo,
interagindo com outros seres humanos e atuando nos objetos e animais.
O ser humano tem a capacidade de perceber sua própria existência, percebendo-se nas
relações com os demais entes no mundo. Deste modo, ele coexiste, ou seja, existe
dinamicamente com outros seres.
No meio organizacional, os seres humanos ocupam cargos que lhes dão uma posição e
responsabilidades dentro do núcleo das atividades produtivas. Vejamos o exemplo
seguinte:
Assim, quando perguntamos quem é, estamos esperando uma resposta ligada ao seu
desempenhar.
Mecânico de Manutenção, entretanto, não o diferencia dos demais Mecânicos de
Manutenção, apenas o enquadra dentro de uma categoria funcional. E, deste modo
simplificador, o percebemos nas possibilidades de interação dentro do contexto
institucional. Isto possibilita, também, que este empregado Mecânico se perceba dentro
desta categoria, recebendo e atribuindo referências àquilo que faz, fala, escuta, como um
Mecânico de Manutenção.
O PERCEBIDO
Somente o ser humano, ao ser percebido pode se dar conta disto. Um objeto é percebido,
mas não percebe isto, e conseqüentemente, não atua.
Um objeto não é percebido isoladamente, mas sim dentro de um contexto. Assim, não se
percebe somente um automóvel, mas também sua cor, tamanho, forma. Percebe-se ainda
que está entre outros automóveis, de noite ou de manhã, entre outros aspectos.
Um automóvel não é percebido, portanto, de modo igual. Ao perceber, o ser humano
transforma o automóvel em um fenômeno. Fenômeno vem do grego phanesthai
(Heidegger, M., 1988), que significa, mostrar-se, mas como se mostra somente àquele
percebedor. Desta forma, um automóvel para aquele ser humano percebedor será
acolhido como só a ele o automóvel se mostrará.
As características e o comportamento do percebido podem também afetar a percepção.
Robbins (2002) nos mostra que os movimentos, sons, tamanho e atributos de um alvo
influenciam a forma como ele é percebido. Estes alvos não são, entretanto, percebidos
isoladamente, ou seja, estão em um contexto. Esta relação com o cenário influencia a
percepção, pois temos a tendência de agrupar elementos ou parecidos.
Segundo Robbins (2002), objetos próximos uns dos outros tendem a ser percebidos em
conjunto. Esta proximidade pode ser tanto física como temporal. Robbins cita como
exemplo dois acidentes fatais com esqui que ocorreram com poucas semanas um do
outro. Relata que as pessoas começaram a considerar o esqui um esporte muito
perigoso. Assim, embora os dois eventos fatais tenham ocorrido em situações diferentes a
tendência foi de agrupa-los pela proximidade temporal, influenciando a percepção sobre o
esquiar.
PERCEPÇÃO E SENSAÇÃO
O ser humano transita pelo mundo de acordo com referências que colhe desde cedo.
Estas referências são importantes para o estabelecimento de padrões de segurança em
suas ações e reações.
Desta forma, sente-se inseguro em contextos desconhecidos, podendo sentir-se perdido.
Por isto, nomeia os seres e objetos, na busca de uniformizar e dar significado a eles (o
que é?).
Proponho uma reflexão: tente imaginar o mundo sem nomes. Damos nomes aos objetos e
assim unificamos o plural, criando uma unidade denominada conjunto.
Assim posso falar que sei o que é um vaso, não pelas características específicas de um
determinado vaso, mas pelo conjunto de vaso unificado pelos aspectos que determinam
todos os vasos que conheço (formato geral, tamanho, utilidade, fragilidade, material,...).
Uma das primeiras preocupações que os pais têm ao saber de uma gravidez é dar um
nome para a criança que vai nascer.
Desde o início dos tempos este fato acontece, sendo em algumas épocas revestido de
extrema importância. As dinastias no Egito Antigo eram determinadas por nomes de
faraós, definindo uma linhagem nas sucessões de poder. Povos aborígines associam os
nomes a variáveis ambientais para descrever padrões de conduta futuros.
De modo geral, podemos falar que o nome diz de seu dono, pelo contexto onde está
inserido, a época, valores e crenças.
O ser humano, ainda, cria nomes para atividades, que determinam papéis que
desempenhará na comunidade.
Surgem assim, os papéis sociais e profissionais.
De modo geral, espera-se um padrão de comportamento daquele ser que tem o nome
(papel social) de mãe, distintamente de outra com o nome de filha.
Nas relações estabelecem-se “pactos” que se espera não serem rompidos. Estes “pactos”
são “secretos”, ou seja, são determinados pelo processo perceptivo de cada ser humano.
É comum a frase: “Não esperava isto de você!”.
Deste modo, para cada ser humano, com sua percepção são estabelecidos padrões que
orientam seus relacionamentos e suas buscas de realização de desejos e sonhos.
No contexto organizacional, seus integrantes recebem nomes (papel profissional) que
estabelecem seus poderes, deveres e limites dentro da organização.
Estas referências são de grande importância, pois determinam o que se espera de cada
grupo de trabalho e, individualmente, àquele que ocupa um cargo.
Também o ocupante do cargo considera seu desempenho pela percepção que tem de
seu papel profissional, e como percebedor de si no grupo.
Estes papéis, tanto o social como o profissional, somente podem fazer sentido na
condição do comum, de onde vem a palavra comunidade.
Os papéis profissionais são montados a partir dos papéis sociais. O professor, por
exemplo, tem como base os papéis sociais de pai e mãe. Este fator interfere na
percepção tanto do aluno como do professor em suas relações.
A PERCEPÇÃO E A COMUNICAÇÃO
Para que entre duas pessoas ocorra uma comunicação, alguns aspectos precisam estar
presentes.
Em primeiro lugar, como já vimos nos capítulos anteriores, é necessária a relação
percebedor-percebido.
Em segundo, há a necessidade de que haja uma relação do ser-comunicador com o ser-
comunicado. Uma ou mais pessoas na qualidade de emissores do conteúdo a ser
comunicado e outra (s) na posição de receptor (es).
Por último, o conteúdo deve ser entendido por ambos, ou seja, comum àquele contexto
onde estão inseridos.
Como já citado, a palavra comunicação vem de “comum”. Assim, a comunicação só
ocorre se o conteúdo fizer parte do modo em que vivem, seus valores, crenças, época,
lugar. Mesmo quando se comunica sobre algo incomum, o ser humano o faz na referência
do que lhe é comum.
O conteúdo pode ser comunicado de diversos modos: impresso, oral, subliminar,
virtualmente, gestual e simbolicamente.
Dependendo do modo escolhido, a comunicação interferirá na percepção do conteúdo,
provocando uma reação. Neste processo de volta, o primeiro comunicador será agora o
ser-comunicado, podendo tanto obter a satisfação pelo entendimento como a denúncia de
distorções no que tentou transmitir. Os dois terão, neste momento, suas percepções
acerca um do outro alteradas, ou melhor, re-significadas.
Mesmo na comunicação impressa onde o emissor não está presente na recepção do
conteúdo, o receptor necessita criar uma imagem de quem escreve, o presentificando.
É comum ouvirmos pessoas estranhando a aparência de um escritor, pois o imaginava
diferente. Esta percepção tem por base o conteúdo lido e os seus próprios valores e
significações.
O fato do receptor da comunicação impressa não ter a presença física do emissor cria a
possibilidade de múltiplas interpretações “livres”, podendo ocorrer distorções e conclusões
inadequadas ao objetivo do conteúdo emitido.
Muitas vezes, na área Organizacional encontramos problemas de comunicação advindos
de distorções no processo perceptivo.
A linguagem é de suma importância no processo de comunicação. Martin Heidegger
(1989), em seu artigo “Linguagem”, cita que “Refletir sobre linguagem significa atingir o
falar da linguagem de tal maneira que esse falar tome lugar como aquilo que concede
uma morada para o ser dos mortais”.
Heidegger tenta explicar a comunicação a partir do falar, em 03 evidências: expressão,
atividade humana e verdade.
Ao falar, o ser humano expressa seus conteúdos internos, exteriorizando-os. Não se trata,
entretanto, de emissões sonoras exteriorizadas e superficiais. Trata-se de algo complexo,
subjetivo e particular a cada comunicador. Falar, neste sentido é próprio a cada um.
Em segundo lugar, falar é uma condição humana. O ser humano fala sempre uma
linguagem. Isto quer dizer que o ser humano não apenas fala, mas sim fala dentro de um
contexto comum e peculiar para a compreensão do falar.
Por último, qualquer fala expressa numa linguagem uma verdade. O ser humano sempre
busca representar e apresentar na fala uma dimensão do que para si é real e irreal.
Para Heidegger (1988), a verdade pode ser compreendida de 02 modos: verdade como
convencimento e como descobrimento.
Convencer é uma atividade comunicativa de algo comprovado, mensurado, inexorável.
Descobrir, ao contrário, trata-se de desvelar, trazer à luz, aquilo que está ainda ocultado,
no momento de cada um, com a afinação do olhar e da escuta.
Estas duas formas de falar a verdade são importantes e não excludentes. Precisamos de
referências advindas do convencimento, mas também o desvelamento é imprescindível,
pois nos dá a dimensão, ainda que parcial, de quem somos.
Muitas dificuldades de comunicação são decorrentes da desconsideração deste desvelar.
Ao comunicar, o ser-comunicador deve considerar que o ser-comunicado é um ser
humano e, portanto, dinâmico, sensível, sonhador, passível de todo o processo perceptivo
que buscamos detalhar neste artigo.
ARMANDO FARIAS MACEDO FILHO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HEIDEGGER, Martin. “El ser y el tiempo”. Fondo de Cultura Economica, México, 1988.