MP - Guia Jurídico para Startups

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Guia jurídico

básico para
startups
O essencial que você precisa
saber para empreender
com segurança

1
INFORMAÇÕES GERAIS

O presente guia tem como finalidade apresentar


conteúdo jurídico básico aos empreendedores e
auxiliá-los no exercício da atividade comercial.

Desde o início as startups demandam cuidados


jurídicos que, se não forem observados, podem
causar problemas e até mesmo a extinção do
negócio.

Portanto, listamos os principais aspectos, com


linguagem descomplicada, que devem ser ob-
servados no início de uma startup.

Autor:
Márcio Rino Pompeu, advogado, com registro
na OAB/SP nº 357.343.

AVISO:
Este material não constitui opinião legal
ou recomendação.

Os temas que serão abordados são complexos, de


modo que é impossível esgotá-los nesse material.
Consulte sempre um advogado de confiança.
SUMÁRIO

Introdução 1

Cuidados com o nome da startup 5

Análise das legislações e normas setoriais 9

Registro da Marca 12

Proteção da Propriedade Intelectual 16

Como escolher o regime societário ideal 18

Elaboração de um acordo de sócios 24

Contratos & Termos de uso 30

LGPD 33

Mecanismo de Vesting 41

Formalização dos investimentos 45

O seu cap table 55


01.
Introdução

Nos últimos anos, as startups ganharam posi-


ção de destaque no setor econômico brasileiro,
proporcionando soluções inovadoras em diver-
sos segmentos.

De forma simples, as startups podem ser con-


ceituadas como empresas com perfil inovador,
dotadas de extrema incerteza quanto ao suces-
so, com produto altamente escalável e que utili-
zam a tecnologia para o modelo de negócio.

1
A título ilustrativo, podemos citar as mais co-
nhecidas: Nubank, Stone Pagamentos, Quinto
Andar, iFood, Loggi, Gympass, entre outras em-
presas inovadoras brasileiras.

A “taxa de mortalidade” das startups é conside-


ravelmente alta, mas o risco do insucesso pode
ser reduzido por meio da adoção de boas práti-
cas de governança.

Em regra, as startups costumam ter quatro fa-


ses que, em termos de governança corporativa,
cada fase possui suas particularidades. Veja:

1. Ideação 2. Validação 3. Tração 4. Escala

Memorando entre Fundadores / Memo-


rando de Entendimentos

Na fase da ideação, os fundadores de uma star-


tup devem resolver várias questões relevantes,
pois, basicamente, estão criando uma empresa,
com um modelo de negócio que talvez ainda
nem tenha sido validado pelo mercado.

Nessa fase, os fundadores podem contribuir de


diversas maneiras: enquanto alguns aportam

2
capital, outros dedicam seu tempo ou seus co-
nhecimentos ao desenvolvimento da empresa.

Nesse cenário, enquanto um ou mais funda-


dores atuam com dedicação exclusiva, outros,
eventualmente, podem manter atividades pro-
fissionais paralelas, com dedicação parcial à
startup.

É extremamente importante que cada sócio


defina como irá contribuir sociedade: com di-
nheiro, esforço intelectual, ou a combinação de
ambos.

Aqui, surge a possibilidade de elaborar um me-


morando entre fundadores.

Esse documento, com poucas páginas, pode


conter detalhes do projeto, direitos de proprie-
dade intelectual, definição da futura partici-
pação societária, investimentos de cada sócio,
cláusulas de confidencialidade, não-alicia-
mento ou não-concorrência, bem como regras
sobre soluções de conflitos.

Portanto, o mencionado acordo, embora não


seja muito utilizado na prática, pode ser a solu-
ção ideal para o início da startup, especialmente
se prever um gatilho para a formalização legal
da futura sociedade.

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Afinal, o que seria o “gatilho?”

O gatilho seria alguma condição que pode


acontecer em futuro próximo, como, por exem-
plo:

• A celebração de um contrato que resulte em


receita financeira;
• O lançamento do produto/serviço/MVP no
mercado;
• A realização de investimento relevante por
terceiro;
• Outras opções que podem ser discutidas
pelo time fundador.

Assim, com o acionamento de um dos gatilhos,


o time formalizará a startup.

Memorando de Entendimentos: Também chamado


de MoU — ou Term Sheet —, o memorando de
entendimentos é um acordo, que pode ou não ser
vinculante, utilizado para formalizar os detalhes de
uma negociação. Em outras palavras, este documento
tem a finalidade de alinhar as bases negociais e as
expectativas das partes.

4
02.
Cuidados com
o nome da
startup

Logo no início, um dos primeiros passos que


deve ser feito é o cuidado com o nome da
startup.

É essencial que os fundadores pesquisem se


o nome já está sendo utilizado e registrado por
outra empresa para evitar a utilização indevida
de nome ou marca, pois esse fato pode trazer
transtornos e frustrações de ter que alterar todo
o conteúdo/material já elaborado para a startup.

5
Também é importante que seja verificado — e
até mesmo adquirido — o registro do domínio
na internet.

Alguns empreendedores confundem o nome


empresarial com a marca ou com o nome de
domínio, motivo pelo qual vamos explicar a fun-
ção de cada um deles.

O nome empresarial é o nome jurídico da so-


ciedade, ou seja, é por meio dele que a socie-
dade se obriga no mundo jurídico.

Em alguns casos, o nome empresarial pode


coincidir com o título do estabelecimento ou
com a marca/domínio. Além disso, o nome em-
presarial pode se apresentar sob as modalida-
des de firma ou denominação.

Já a marca, por outro lado, é considerada um


sinal distintivo cujas funções principais são iden-
tificar a origem e distinguir os produtos ou ser-
viços de outros idênticos, semelhantes ou afins
de origem diversa.

As marcas, para gozarem de proteção no terri-


tório nacional, devem ser registradas no Ins-
tituto Nacional da Propriedade Intelectual
(INPI). Por outro lado, o nome empresarial de-
verá ser arquivado e registrado na Junta Co-
mercial, sendo que a sua proteção se restringe

6
ao estado no qual o registro for realizado.

Com relação ao nome de domínio, é aquele


que serve para localizar e identificar conjuntos
de computadores na internet.

Esse nome existe com a finalidade de facilitar a


memorização dos endereços de computadores
na internet, pois, sem ele, seria necessário me-
morizar uma sequência de números, correspon-
dente ao endereço IP.

Explicando o nome de domínio: Também chamado


apenas de “domínio”, é aquele nome que aparece após
o símbolo @ nos endereços de e-mail e, também, após
www. nos endereços da web, como, por exemplo:
“marciopompeu.com.br”.

A proteção de um nome de domínio é feita


mediante registro, com base no princípio do
first to file, ou seja, o direito ao domínio na inter-
net será do primeiro que o requerer.

No Brasil, entre outras possibilidades, o domínio


pode ser registrado no site do Registro.BR.

Portanto, agora que explicamos, ficou fácil en-


tender que a marca não se confunde com o
nome empresarial (aquele utilizado para abrir
uma empresa e que constará no CNPJ), nem
com o nome fantasia (nome popular da empre-
7
sa ou título do estabelecimento), muito menos
com o nome de domínio (endereço eletrônico
utilizado para localizar o seu negócio na inter-
net).

8
03.
Análise das
legislações e
normas setoriais

Infelizmente, não é brincadeira quando falamos


que o Brasil é um país super regulado.

Por isso, de acordo com o modelo de negó-


cio escolhido para a startup, é importante pen-
sar nas legislações e órgãos que regem aquele
meio específico ao qual estará inserida.

Assim, é essencial conhecer e atender todas as


legislações para evitar problemas legais com a
startup.

9
Em algum momento na jornada empreendedo-
ra, alguém que tenha conhecimento das legisla-
ções poderá encontrar a sua startup e questio-
ná-lo sobre as ilegalidades, algo que poderá se
tornar um transtorno aos founders.

Além disso, em caso de violação, a startup tam-


bém pode ser objeto de fiscalização, com o ris-
co de sofrer autuações administrativas.

Portanto, no início da startup, você deve efetuar


as seguintes perguntas:

• Estou montando um aplicativo de trans-


portes?
• Como estou coletando os dados para o
meu negócio?
• A minha empresa precisa de autorização
da ANVISA, ANAC, BACEN?
• Será que o modelo de negócio viola nor-
mas da SUSEP, BACEN ou algum Código de
Ética profissional?

Exemplo: As fintechs de crédito compreendem as


Sociedades de Crédito Direto (SCD) e as Sociedades de
Empréstimo entre Pessoas (SEP), regulamentadas pela
Resolução 4.656, de 26 de abril de 2018.

10
Vamos conhecer um caso recente?

A startup Buser atua em um mercado conside-


rado regulado (transporte rodoviário de pessoas
— fretamento coletivo), por isso, infelizmente, a
empresa vem sofrendo repressões por parte do
setor de transportes.

Por exemplo, alguns sindicatos têm argumen-


tado que a atividade de transporte coletivo de
passageiros somente pode ser exercida dire-
tamente pelo Estado ou por empresas que te-
nham delegação para tal, de modo que a Buser
não poderá exercê-la. Além disso, a ANTT tem
realizado fiscalizações constantes.

Um outro exemplo que você pode lembrar, é o


da “guerra” entre os taxistas e os motoristas do
aplicativo Uber.

Portanto, no início da startup, embora esses não


sejam motivos válidos para desistir de inovar,
é bom saber quais problemas poderão ser en-
frentados no futuro.

11
04.
Registro
da Marca

A marca é um sinal distintivo cuja principal fun-


ção é identificar a origem e distinguir os pro-
dutos ou serviços de outros idênticos, seme-
lhantes ou afins de origem diversa. Em outras
palavras, a marca é um dos fatores de identifi-
cação de um produto ou serviço.

A titularidade de uma marca será concedida por


meio da concessão de um registro pelo Institu-
to Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

12
Nesse passo, são suscetíveis de registro os si-
nais distintivos visualmente perceptíveis, não
compreendidos nas proibições previstas em lei.

A partir do registro, com a validade de dez


anos, prorrogáveis por igual período, será con-
ferido o direito de titularidade e uso exclusivo
dentro do território nacional, prevenindo o uso
não autorizado.

É importante destacar que a marca é conside-


rada um ativo intangível, que aumenta o valor
patrimonial, e a depender do modelo de negó-
cio adotado pelo empreendedor, o valor desse
ativo pode atingir quantias expressivas.

Assim, ao obter a titularidade de uma marca, há


a possibilidade de exploração desse ativo, com
o recebimento de royalties mediante a celebra-
ção de contratos de licenciamento ou de fran-
quia.

Além das contraprestações financeiras diretas,


o titular também se posiciona positivamente
no mercado, demonstrando credibilidade aos
clientes e parceiros.

Por último, é bom ressaltar que o uso de meca-


nismos jurídicos de defesa da marca é muito
mais rápido e fácil quando se tem o registro.

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Portanto, é fácil notar os inúmeros benefícios
que a obtenção de um registro de marca pode
trazer, motivo pelo qual esse ativo deve ser tra-
tado com carinho, uma vez que proporciona se-
gurança e agrega valor ao seu negócio.

Você conhece as formas de


apresentação de uma marca?
Marca Nominativa

É o sinal constituído por uma ou mais palavras


no sentido amplo do alfabeto romano, compre-
endendo, também, os neologismos e as com-
binações de letras e/ou algarismos romanos e/
ou arábicos, desde que esses elementos não se
apresentem sob forma fantasiosa ou figurativa.

Marca Mista

Marca mista, ou composta, é o sinal constituí-


do pela combinação de elementos nominativos
e figurativos ou mesmo apenas por elementos

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nominativos cuja grafia se apresente sob forma
fantasiosa ou estilizada.

Marca Tridimensional

É o sinal constituído pela forma plás-


tica distintiva em si, capaz de indi-
vidualizar os produtos ou serviços a
que se aplica. Para ser registrável,
a forma tridimensional distintiva de
produto ou serviço deverá estar dis-
sociada de efeito técnico.

Curiosidade:
Cotitularidade de marcas: Em 2020, o INPI começou
a permitir o registro de marca em nome de mais de
um titular, a partir do depósito de novos pedidos
de registro e também mediante o requerimento de
anotação de transferência de titularidade de pedidos
ou registros já existentes.

*Imagens utilizadas com finalidade ilustrativa, sem intuito comercial.


O autor não possui qualquer direito sobre as marcas utilizadas.

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05.
Proteção da
Propriedade
Intelectual

A proteção da propriedade intelectual da star-


tup não se limita ao registro da marca.

Amparada pelo Direito Autoral, embora a prote-


ção do software independa de registro, o autor
tem a possibilidade de registrar o código-fonte
no Instituto Nacional de Propriedade Industrial
(INPI), comprovando a titularidade.

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Além disso, é importante que a startup elabore
termos de cessão da propriedade intelectual
de todos os colaboradores.

A cessão garante que a empresa seja, de fato, a


titular das criações que foram feitas para impul-
sionar o negócio.

Em outras palavras, a cessão da propriedade in-


telectual dos colaboradores é um instrumento
essencial ao fortalecimento da startup, evitando
que fique sujeita ao risco de demandas relativas
aos direitos autorais dos funcionários.

Portanto, para que fique protegida contra possí-


veis disputas relativas a direitos autorais e de ti-
tularidade, a elaboração do mencionado termo
de cessão se revela essencial, garantindo a titu-
laridade sobre as criações, projetos e outros di-
reitos importantes ao negócio.

FAQ
Posso comprar as palavras do meu
concorrente no Google Ads?

É vedada a conduta de comprar as palavras-chave do


concorrente no Google Ads, pois configura concorrência
desleal. A depender do caso, a parte prejudicada pode
pleitear por indenização.

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06.
Como escolher o
regime societário
ideal

A escolha do regime societário é um dos pri-


meiros passos na hora de formalizar o seu
negócio. Constituir uma pessoa jurídica é
fundamental, principalmente para garantir a se-
paração e a gestão patrimonial.

Uma das vantagens da sociedade limitada e


da sociedade anônima é a limitação da respon-
sabilidade dos sócios ou acionistas.

18
A escolha do tipo societário deve ser feita de
acordo com a situação concreta, por profissional
especializado. Isso porque a escolha vai envol-
ver a análise de inúmeros fatores como: o nú-
mero de sócios, regime tributário, tempo de ne-
gócio, objetivos, área de atuação, etc.

A título de exemplo, as fintechs, constituídas sob


a forma de Sociedade de Crédito Direto e So-
ciedade de Empréstimo entre Pessoas, devem
ser formalizadas por meio de uma sociedade
anônima (S.A.), conforme Resolução nº 4.656/18
do Banco Central.

Sem aprofundar, a sociedade anônima tem um


custo maior de manutenção, pois pressupõe
uma governança corporativa mais robusta.

Por exclusão, as demais startups podem ser


constituídas inicialmente sob a forma de socie-
dade limitada, que agora permite a constituição
por apenas uma pessoa. Ao contrário da socie-
dade anônima, a sociedade limitada também
tem as vantagens de permitir a adoção do regi-
me do SIMPLES Nacional e ter um custo menor
de manutenção.

Por último, antes de qualquer escolha, é bom


consultar um profissional (advogado ou conta-
dor) para te ajudar nesse assunto.

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A seguir, elaboramos uma tabela comparando a
sociedade limitada com a sociedade anônima:

Tabela Comparativa

Sociedade Limitada Sociedade Anônima

Constituída por contrato social Constituída por estatuto social

Constituição mais simples;


Menor visibilidade/exposição dos
Inexigibilidade de laudo de avaliação
acionistas frente a passivos fiscais,
dos bens integralizados;
trabalhistas, etc; Maior facilidade na
cessão de ações;

Responsabilidade: subsidiária e limi-


Responsabilidade: limitada ao preço
tada ao valor das quotas (art 1.052 do
de emissão das ações adquiridas ou
CC).
subscritas (art. 1 da LSA)

Capital Social:
Capital Social:
Constituído em dinheiro ou em bens
Impossibilidade de constituição do
suscetíveis de avaliação em dinheiro
capital por serviços;
(art. 7 da LSA);
Os sócios respondem pela exata esti-
Se forem bens, necessário laudo de
mação dos bens conferidos no capi-
avaliação de 3 peritos ou empresa
tal social;
especializada (art. 8 LSA).
Capital Social divido por quotas.
Capital Social dividido por ações.

A publicação de balanços não é A publicação de balanços é obriga-


obrigatória tória

Posso começar a minha


startup como MEI?

A falta de recursos no início de uma startup é


comum e esse fator deve ser levado em consi-
deração.

O registro de Microempreendedor Individual


(MEI) foi criado com a finalidade de enquadrar
profissionais que exerciam suas atividades pro-
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fissionais na informalidade.

A constituição do Microempreendedor Individu-


al (MEI) possui alguns benefícios como a emis-
são de número de CNPJ, acesso a crédito ban-
cário empresarial, enquadramento no Simples
Nacional e direitos previdenciários.

ATENÇÃO: Nesse cenário, a startup somente pode


exercer as atividades permitidas nas opções do SIMEI e
listadas no Portal do Empreendedor. Se a sua atividade
não for admitida como MEI, em hipótese alguma pense
em “burlar” o sistema, adotando atividade diversa da
efetivamente exercida, pois praticará infração. Toda
empresa deve pertencer a uma CNAE de acordo com
a sua área de atuação.

Por outro lado, também existem desvantagens


de iniciar a startup como MEI, pois embora con-
siga obter o CNPJ, o empreendedor deve ficar
atento com relação a algumas particularidades
do microempreendedor individual.

Desse modo, embora não seja o ideal, eventu-


almente o MEI pode ser a solução mais rápida e
barata para a startup testar o MVP no mercado,
mas não para escalar o seu negócio.

21
Pontos negativos de iniciar a sua startup
como MEI:

1. O MEI não é tipo societário e não admite só-


cios.
2. O MEI possui responsabilidade ilimitada de
modo que qualquer dívida contraída devido
à falha do negócio será suportada pelo patri-
mônio do próprio do empreendedor.
3. A atividade que se pretende exercer deve
ser uma das previstas no portal do empre-
endedor.
4. Atualmente, o limite de faturamento anual
do MEI é de R$ 81 mil.
5. O empreendedor registrado no MEI não
pode ter participação em outra empresa,
conforme Resolução nº 02 do DREI (Depar-
tamento de Registro Empresarial e Integra-
ção), o que ocorre com frequência em star-
tups.

Escolheu a sociedade limitada? Cuidado


com o contrato social!

É aconselhável que o empreendedor busque


ajuda de um profissional para elaborar o con-
trato social, evitando modelos de minutas en-
contrados facilmente na internet, pois o docu-
mento deverá ser registrado na Junta Comercial
e regulará a atividade da sua empresa.
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Resumidamente, neste documento constarão
todas as informações básicas da startup, como,
por exemplo: a denominação, a sede da em-
presa, as obrigações, deveres e responsabilida-
des de cada sócio, capital social, tempo de du-
ração, a possibilidade de regência supletiva da
sociedade anônima.

Além disso, o contrato social também deve con-


ter disposições sobre condições de entrada e
saída de sócios e retirada de valores.

Por último, não se esqueça de classificar corre-


tamente a Classificação Nacional de Ativida-
des Econômicas (CNAE), que é utilizada para
determinar quais atividades serão exercidas por
uma empresa.

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07.
Elaboração
de um acordo
de sócios

Um bom acordo de sócios pode salvar a sua


empresa.

O acordo de sócios, tecnicamente denomina-


do de “acordo de quotistas” ou “acordo de acio-
nistas”, é um contrato parassocial utilizado para
compor os interesses das partes, tendo papel
fundamental para refletir as premissas acorda-
das entre os sócios.

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Trata-se de um instrumento de governança da
sociedade empresarial relevante e que, no caso
das startups, ganha ainda mais destaque nas
rodadas de investimentos.

Além disso, o acordo de sócios não precisa ser


arquivado na Junta Comercial, somente na
sede da sociedade, de modo a garantir o sigi-
lo das regras de governança lá previstas. E, por
natureza privada, o documento vai privilegiar
a autonomia de vontade das partes podendo
estabelecer diversos critérios para situações de
controle da sociedade.

O acordo tem como finalidade resguardar não


apenas os interesses das partes, mas também a
segurança do negócio, ao dispor sobre regras
para soluções de potenciais conflitos societá-
rios.

É importante que o acordo de sócios seja ela-


borado no início da sociedade, regulando a for-
ma de resolução de conflitos ou impasses que,
caso sejam levados ao Poder Judiciário, serão
resolvidos de forma lenta e custosa, podendo
trazer prejuízo à continuidade do negócio.

Via de regra, o acordo pode abordar direitos de


voto e veto, drag along, tag along, put e calls
options, cláusulas de saída da sociedade em
casos de eventos de divórcio, falecimento ou

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invalidez, entre outras possibilidades. Também
há a possibilidade de previsão de cláusulas de
não-concorrência e não-aliciamento.

Esse instrumento societário tem como finalida-


de facilitar a solução de impasses e, se não for
bem redigido, a controvérsia acabará no Poder
Judiciário. Por isso, mesmo tendo um contrato
ou estatuto social, é importante que seja feito o
acordo.

Por fim, é bom lembrar que não há uma recei-


ta de bolo para elaborar um acordo de sócios e
cada instrumento deve ser redigido de acordo
com a realidade do negócio, seja ele considera-
do inovador ou tradicional.

Conheça algumas das principais cláusulas que


podem estar previstas em um acordo de sócios:

Cláusula de Lock up
(Vedações à Venda de Ações)

Essa cláusula impõe a restrição à venda direta


ou indireta de ações, por determinado período e
conforme as condições determinadas no acor-
do, por acionistas signatários do acordo (todos
ou alguns acionistas específicos).

Eventualmente, também há a possibilidade de


impor que o acionista controlador não possa re-

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duzir sua participação abaixo de certo limite, por
determinado período, denominado standstill.

Direito de Preferência e Primeira Oferta

Direito de Preferência: trata-se da preferência


na aquisição de ações, em igualdade de condi-
ções, obedecendo a um rito de oferta pactuado
no acordo (No inglês: right of first refusal).

Direito de Primeira Oferta: caso um dos acio-


nistas vinculados ao acordo deseje vender suas
ações, deve notificar os demais acionistas — ou
quotistas —, que poderão fazer, primeiramente,
a oferta de compra de suas ações (No inglês: ri-
ght of first offer)

Tag Along
(Direito de Venda Conjunta)

É a possibilidade que é conferida aos sócios mi-


noritários de acompanhar a venda das quotas/
ações da sociedade por sócios a terceiros, nos
mesmos termos e condições.

O tag along pode ser integral ou proporcional.


Na forma integral, o detentor do direito, caso
acionado o gatilho, pode vender a totalidade
das suas ações, independentemente do per-
centual vendido pela outra parte.

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O tag along integral, geralmente, é estabelecido
em favor do minoritário contra o controlador, de
modo a garantir que poderá deixar a sociedade
em caso de mudança de controle.

Drag Along
(Direito de Provocar a Venda Conjunta)

Falando de uma forma simples, é o inverso do


Tag Along. O Drag Along é o direito do sócio,
geralmente majoritário, de obrigar os sócios mi-
noritários a aderirem à uma venda de quotas/
ações da sociedade a um terceiro que tenha fei-
to uma proposta de aquisição de todas as quo-
tas/ações.

Trata-se de um mecanismo de proteção do


acionista majoritário, o qual pode “arrastar” os
acionistas considerados minoritários em uma
eventual negociação.

Opção de venda (put option) e


Opção de compra (call option)

Opção de venda: trata-se da faculdade de o


acionista obrigar outro acionista a adquirir suas
ações, em condições que serão determinadas
no acordo.

Opção de compra: trata-se da faculdade de o


acionista obrigar outro acionista a alienar-lhe

28
suas ações, em condições que serão determi-
nadas no acordo.

29
08.
Contratos
& Termos
de uso

A elaboração de contratos traz segurança ao


negócio.

É de suma importância a formalização, a análise


e a adequação de contratos de acordo com o
que for exatamente combinado entre as partes,
inclusive com penalidades para o caso de des-
cumprimento.

30
Os contratos surgem como instrumentos de
alocação de riscos da atividade empresarial de-
senvolvida pela startup. Isso porque o futuro de
relações contratuais traz interrogações que po-
dem ser diminuídas se forem observadas as re-
gras previamente determinadas.

Essas circunstâncias ganham relevância na me-


dida em que nem todas as controvérsias são
levadas ao Poder Judiciário ou à arbitragem,
tendo em vista que a estrada na busca de uma
decisão judicial ou arbitral costuma ser longa e
custosa.

Nesse cenário, é essencial a formalização dos


contratos com os seus fornecedores, parceiros,
desenvolvedores e colaboradores.

Por fim, é bom não esquecer que o contrato


deve ser assinado pelas partes, com a assina-
tura de duas testemunhas, para que o docu-
mento possua força executiva.

Dica: Cuidado com a “pejotização” dos seus


colaboradores, pois se caracterizada a relação de
emprego, você violará a legislação nacional e, também,
estará acumulando um passivo trabalhista oculto,
colocando em risco a sua empresa e os direitos do seu
colaborador.

31
Qual é a finalidade do “Termos e Condi-
ções de Uso”?

Os Termos e Condições de Uso é o documento


por meio do qual um site ou um aplicativo defi-
ne as regras da utilização de seu serviço pelos
usuários. Em outras palavras, os usuários são in-
formados sobre regras como idade mínima, ca-
dastro, pagamento, direitos autorais e responsa-
bilidades.

32
09.
LGPD

LGPD é a sigla adotada para designar a Lei Ge-


ral de Proteção de Dados, em vigor desde 2020,
que tem como base a regulamentação euro-
peia, denominada General Data Protection Re-
gulation.

Seu principal objetivo é garantir transparência


no uso dos dados das pessoas físicas em quais-
quer meios, estabelecendo regras sobre coleta,
armazenamento, tratamento e compartilhamen-
to de dados pessoais, impondo mais proteção e
penalidades para o não cumprimento.

33
A lei adota um conceito amplo de dado pes-
soal, considerando-o uma informação relacio-
nada a uma pessoa identificada ou identificável.
Em outras palavras, se uma informação permite
identificar, direta ou indiretamente, um indivíduo,
então ela é considerada um dado pessoal.

O que são dados pessoais sensíveis?

São os dados sobre origem racial ou étnica, convicção


religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a
organização de caráter religioso, filosófico ou político,
dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético
ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural.

A LGPD é aplicada a qualquer pessoa física ou


jurídica, privada ou pública, que realize coleta
e tratamento de informações, ou seja, que exer-
ça alguma atividade econômica em que utili-
ze dados pessoais, seja por meio digital (online)
ou físico (presencial).

Portanto, é fácil notar que as empresas de tec-


nologia, especialmente as startups, que pos-
suem uma base de dados considerável, devem
buscar, com urgência, conformidade com a le-
gislação, ganhando a confiança do mercado e
dos investidores.

34
Conheça os riscos de
ignorar a LGPD:
- Perda da confiança de clientes
e parceiros de negócio;

- Sanções administrativas, previstas na lei;

- Ajuizamento de ações judiciais.

Quais direitos a LGPD prevê?

Direito de Acesso: consiste no direito de ser in-


formado e ter acesso aos seus dados pessoais
sob nosso tratamento.

Direito de Correção: consiste na possibilidade


de solicitar a atualização ou alteração dos seus
dados pessoais desatualizados, incompletos ou
incorretos.

Direito de Portabilidade: é o direito requerer


que os dados pessoais sob nosso tratamento
sejam transferidos a outro prestador de serviço
indicado por você.

Direito de Eliminação: o direito de ter seus da-


dos pessoais eliminados das nossas bases de
dados, ressalvadas as hipóteses legais de ma-
nutenção do armazenamento.

35
Direito de Oposição: é o direito de você se opor
ao tratamento de dados pessoais que esteja de-
salinhado com as obrigações da LGPD.

Direito de Revogação: é o direito de revogar o


seu consentimento para as finalidades de trata-
mento de dados pessoais a ele atreladas, sendo
cabível somente quando for utilizada a base le-
gal do consentimento. Neste caso, você será in-
formado sobre as consequências da revogação.

Direito de anonimização, bloqueio ou elimina-


ção: permite que você solicite a anonimização,
o bloqueio ou a eliminação dos dados pessoais
constantes na nossa base de dados.

Healthtechs & dados pessoais sensíveis

As startups voltadas ao setor da saúde são de-


nominadas de healthtechs. A título ilustrativo,
podemos citar as mais conhecidas: Dr. Consul-
ta, Alice, Vidia, iClinic, aFarma, Cuco Health, Pipo
Saúde, Sami, Vidia, Livance, Bright.

Entre outras categorias, as healthtechs trazem


soluções tanto para o relacionamento com pa-
cientes quanto para exames laboratoriais, te-
rapias digitais, telemedicina, wearables (tec-
nologias vestíveis), gestão clínica e hospitalar,
prontuário eletrônico, entrega de medicamentos
etc.

36
Nesse contexto, os dados de saúde se enqua-
dram dentro do conceito de dado pessoal sen-
sível. Com relação a esses dados, podemos ci-
tar os seguintes exemplos: frequência cardíaca,
tipo sanguíneo, se é doador de órgãos, resulta-
dos de exames laboratoriais, patologias etc.

Paralelamente, os dados pessoais sensíveis me-


recem proteção especial, pois podem ser utili-
zados para fins discriminatórios, de modo que
devem obedecer a padrões mais rigorosos para
o tratamento.

Desse modo, as healthtechs, que possuem uma


base de dados considerados sensíveis, devem
buscar, com urgência, conformidade com a le-
gislação, ganhando a confiança do mercado e
de futuros investidores.

Caso queira saber mais sobre a relação das


healthtechs com a LGPD, você pode ler o nosso
artigo “A LGPD como condição para as healthtechs
captarem investimentos”.

Para que serve a


Política de Privacidade?

A Política de Privacidade é um documento que


contém as práticas e medidas de Privacidade e
Segurança adotadas por determinada empresa

37
ou organização.

O objetivo é fornecer informações sobre como a


empresa obtém, utiliza, armazena e protege os
dados pessoais que coleta.

As Políticas de Privacidade ganharam maior vi-


sibilidade com a chegada da Lei Geral de Pro-
teção de Dados, mas o Marco Civil da Internet,
em vigor desde 2014, já ressaltava a importância
desse documento.

Agora, com a LGPD, a elaboração de uma Políti-


ca de Privacidade é uma medida de governan-
ça importante da empresa ou organização, de
modo a garantir transparência aos titulares dos
dados.

Cuidado: Não confunda a Política da Privacidade com


os Termos e Condições de Uso de uma plataforma,
pois são instrumentos com finalidades diferentes.

Estruturação de uma Política


de Privacidade

Embora a lei não exija conteúdo obrigatório, é


recomendável que a Política de Privacidade
aborde pelo menos alguns dos seguintes itens:

38
• Informações gerais sobre a empresa/organi-
zação;
• Informações sobre o tratamento de dados;
• Quais dados pessoais são coletados;
• As fontes de onde os dados pessoais são
coletados;
• Para quais finalidades os dados são utiliza-
dos;
• Onde os dados ficam armazenados;
• Qual o período de armazenamento dos da-
dos (retenção);
• Uso de cookies e/ou tecnologias semelhan-
tes;
• Com quem esses dados são compartilhados
(parceiros, fornecedores, subcontratados);
• Informações sobre medidas de segurança
adotadas pela empresa;
• Informações sobre exercícios de direitos;
• Informações de contato do Data Protection
Officer (DPO).

Quem é o DPO? O encarregado (Data Protection


Officer) é pessoa indicada pelo controlador e operador
para atuar como canal de comunicação entre o
controlador, os titulares dos dados e a Autoridade
Nacional de Proteção de Dados (ANPD).

39
Portanto, como a função da política de privaci-
dade é esclarecer para o usuário como esses
dados serão utilizados e para qual finalidade, é
importante que ela seja elaborada em um pro-
jeto de conformidade com a LGPD.

40
10.
Mecanismo
de Vesting

O vesting é um mecanismo de incentivo que


vem ganhando destaque no ecossistema de
startups, como forma de alinhar os interesses
de founders, investidores e colaboradores im-
portantes.

Você já deve ter visto aquela famosa frase que


o “contrato de vesting” é um importante meca-
nismo para a atração e retenção de talentos.

41
O vesting, que ficou popularmente conhecido
como “contrato de vesting”, consiste em uma
promessa de participação societária estabele-
cida com colaboradores estratégicos, impor-
tantes para o sucesso da startup.

Trata-se de uma opção de compra de participa-


ção societária, que é condicionada ao cumpri-
mento de prazos, metas, ou a combinação de
ambos.

Em outras palavras, o vesting, que geralmente é


formalizado por meio de contratos de opção de
compra, contém cláusulas com condição sus-
pensiva, as quais operam por meio do tempo e/
ou metas.

Nesse cenário, o padrão de mercado tem sido


de um ano de cliff period e quatro anos de
vesting.

O que é o cliff period? O cliff period é um prazo


mínimo a ser cumprido pelo colaborador para que ele
tenha direito a adquirir sua participação.

Explicando: somente após o decurso do pri-


meiro ano (cliff) que o colaborador terá direi-
to a adquirir a participação societária, que será
concedida de forma proporcional ao longo dos
quatro ou cinco anos do vesting. Veja a imagem:
42
É importante que antes de “sair distribuindo”
participação societária, seja definido um option
pool (que também pode ser chamado de em-
ployee pool ou talent pool). Esse bloco de parti-
cipação pode variar entre 5% e 20% das quotas/
ações.

Nesse passo, é importante que seja feito um


planejamento de longo prazo, pensando não
somente no controle societário, mas também
nas funções importantes que receberão o ves-
ting.

Como vesting torna o colaborador um potencial


sócio, também é importante que o contrato pre-
veja a obrigatoriedade de aderência aos termos
do acordo de quotistas/acionistas.

43
Por fim, embora tenha natureza comercial,
como o vesting envolve temas trabalhistas e fis-
cais, é essencial que o empreendedor somente
estruture esses mecanismos com o auxílio de
profissional especializado.

Dica final: Insira cláusulas que contenham condições


diferenciadas para o colaborador considerado good
leaver ou bad leaver.

Essas cláusulas têm como finalidade beneficiar aquele


que sai da startup com um bom relacionamento (good
leaver) e, por outro, não dar benefícios àquele que
infringiu as regras estipuladas entre as partes (bad
leaver), como se fosse uma “demissão por justa causa”.

44
11.
Formalização
dos
investimentos

No tocante à captação de recursos de terceiros,


fato é que, com frequência, as startups necessi-
tam de capital externo para viabilizar ou escalar
as operações, ou seja, para obter o crescimento
almejado.

Aqui, entram em cena os investidores-anjo, os


fundos de Venture Capital e de Private Equi-
ty, os amigos e os familiares. Além disso, não só
pela questão financeira, mas com finalidade es-
tratégica, o Corporate Venture Capital tem ga-
nhado espaço.
45
Quem é o investidor-anjo?
O investidor-anjo geralmente é um empresário ou
executivo que já obteve sucesso anteriormente com
investimentos e possui recursos financeiros disponíveis
para efetuar um investimento de risco. Além disso,
é dotado de uma ampla rede de networking e
de conhecimentos técnicos que podem auxiliar
no desenvolvimento de uma startup. Em outras
palavras, o investidor-anjo também atua como o
mentor do negócio. O termo “anjo”, aliás, vem dessas
características.

É importante que todo investimento seja for-


malizado, mesmo aquele realizado por amigos
ou familiares. Isso porque, caso você busque
investimentos futuros, os possíveis investidores
certamente exigirão que o investimento tenha
sido feito pela forma correta.

O mútuo conversível é o contrato mais utilizado


por investidores de startups, pois os contratos
de participação, opção e o AFAC não são muito
utilizados na prática, tanto por ineficiências tri-
butárias, quanto por motivos societários.

Por meio desse contrato, que prevê uma obri-


gação alternativa, o investidor disponibiliza um
empréstimo à sociedade em contrapartida ao
direito de escolher entre receber o dinheiro de
volta ou convertê-lo em participação societária
— por isso o nome de mútuo conversível.

46
Dúvida comum: O investidor será sócio
da empresa?

Enquanto não for efetuada a conversão do in-


vestimento em participação societária, o inves-
tidor não está sujeito aos riscos do insucesso
do negócio, como dívidas e demandas judiciais,
pois não faz parte do quadro de sócios.

Quais são as formas de cálculo da parti-


cipação do investidor após a conversão?

Existem algumas possibilidades de definir o va-


lor das participações que o investidor terá após
a conversão do mútuo em participação societá-
ria, vejamos:

• Valor fixo de quota ou ações: este modelo é


mais benéfico para a sociedade, pois causa
a diluição implícita do investidor a cada nova
rodada de investimento, com o consequente
aumento do valuation da startup. Exemplo:
vou pagar R$100,00 por ação no futuro;
• Porcentagem fixa do capital social da so-
ciedade: mais benéfica para o investidor,
pois independente de novas rodadas lhe
será assegurada uma porcentagem fixa no
capital (pouco utilizada atualmente). Ex.: vou
investir 50 mil reais em troca de 10% de parti-
cipação;
• Valuation cap e fórmula de desconto: ape-
47
sar de implicar a diluição do investidor, é ga-
rantido o valor máximo do valuation da so-
ciedade ou um desconto no valuation da
sociedade utilizado para a conversão (ten-
dência atual).

Portanto, a correta estruturação do investimen-


to, a devida orientação ao investidor e à startup
são medidas fundamentais para tornar o investi-
mento seguro sob o aspecto jurídico.

Vai receber investimentos de amigos ou


familiares (Family, Friends & Fools)?

O investimento “FFF” costuma ser o primei-


ro investimento da startup e ocorre até mesmo
quando ela ainda sequer gera receita. Em regra,
esse investimento visa subsidiar os custos ini-
ciais do negócio, como a construção do “MVP”
ou a busca pelo desejado product market fit.

Em regra, esses investidores iniciais já conhe-


cem alguém da equipe dos fundadores da star-
tup, dando esse voto de confiança.

Esse aporte financeiro costuma ser menos bu-


rocrático e mais flexível, pois é feito por pessoas
próximas, facilitando a negociação. Mas, ainda
assim, é importante formalizá-lo de forma corre-
ta.

48
Por fim, você só deve aceitar o dinheiro de
quem puder perdê-lo, sem danos ao susten-
to familiar. Explique, com calma, que se trata de
um investimento de risco, afinal, ninguém pode
garantir que um negócio vai dar certo.

Por que falam em “rodadas de investi-


mentos”?

As startups costumam receber os investimentos


na forma de rounds (rodadas sucessivas).

Para facilitar a contagem das rodadas após os


investimentos iniciais, utilizamos as letras A, B,
C, D etc.

*Quadro extraído do livro: Direito das startups. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 86.

49
Saiba o quanto você deve ceder no co-
meço

A participação societária deve ser tratada com


carinho, pois é o seu ativo mais valioso, de
modo que você não deve distribui-la sem crité-
rio ou estratégia.

Em um cenário ideal, em cada rodada de in-


vestimento você deve ceder o mínimo possível.
Veja a nossa sugestão:

Quem Quanto

Investimento feito por amigos


No máximo 5%
ou familiares

Investidor-anjo No máximo 15%,


ou pool de anjos mas o ideal seria até 10%

No máximo 2%
Advisor
(distribuídos por metas em vesting)

Portanto, você deve ser o guardião da participa-


ção da sua empresa, porque no futuro isto fará
muita diferença.

Quanto captar?

Trata-se de dúvida comum, mas pense em le-


vantar um valor suficiente para segurar a sua
operação por um período de 18 meses.

Os investimentos não são levantados da noite


50
para o dia, o roadshow é longo e pressupõe que
você faça apresentações, reuniões, análise de
documentos etc.

Por isso, você deve captar um valor que susten-


te a sua empresa por um longo período, pois,
em alguns casos, uma negociação pode se ar-
rastar por meses.

Por último, é importante que você tenha na


ponta da língua como vai usar o dinheiro levan-
tado, tendo em vista que o investidor certamen-
te vai te perguntar.

Quais são as fases de um investimento?

Embora os investimentos realizados na fase ini-


cial da startup possam ser feitos de uma forma
mais simples e direta, o procedimento comple-
to pode ser visualizado por meio das imagens
abaixo:

51
Atos preparatórios: LoLs, MoUs,
Term Sheets e NDAs.

Due Diligence: relatório de auditoria;


Risk Assessment;

Negociação: contrato principal;


contratos acessórios

Signin: assinatura do contrato


principal

Pré-closing: condições suspensivas;


curso normal

Closing: pagamento; transferência de


ações/quotas

O que é o NDA?
O Non-Disclosure Agreement (NDA ou acordo de
confidencialidade) geralmente é utilizado com a
finalidade a proteção de informações confidenciais
que serão trocadas entre as partes para a análise
de uma potencial parceria, investimento ou outra
finalidade. Qualquer pessoa física ou jurídica pode
celebrar um NDA. Mais, o acordo pode ser bilateral
(quando proteger as informações de ambas as
partes envolvidas) ou unilateral (quando proteger as
informações de apenas uma das partes)

52
Processo de Due Diligence

A Due Diligence é o processo de investigação e


análise das informações de natureza jurídica de
uma empresa ou ativo.

A Due Diligence — ou apenas “DD” — é reali-


zada com a finalidade de confirmar o preço/
valuation, renegociar ou ajustar o preço, ne-
gociar regras de indenização, avaliar os riscos,
averiguar a necessidade de reorganização so-
cietária.

A DD pode analisar as seguintes áreas: a) Jurídi-


ca; b) Contábil; c) Tecnologia da Informação; e d)
Ambiental.

Na Due Diligence Jurídica, o que é analisado?

• Societário: estrutura, organograma, gover-


nança, filiais, regularidade de registros, ônus
sobre as ações/quotas/ativos, etc.
• Contratos em geral: em especial com ban-
cos, seguradoras, fornecedores e clientes.
• Cível e Consumidor: processos judiciais –
em especial ações coletivas, práticas co-
merciais abusivas, propaganda enganosa,
procedimento adotado para sanar vícios de
produtos e serviços e para recalls, etc.
• Imobiliário: titularidade e posse dos imóveis,

53
garantias outorgadas, regularidade de licen-
ças e registros, existência de imóveis rurais,
etc.
• Tributário: processos judiciais e administrati-
vos, parcelamento de tributos, créditos tribu-
tários, procedimentos administrativos fiscais,
arrolamentos, etc.
• Trabalhista: reclamações trabalhistas, pro-
cessos administrativos, acordos e conven-
ções coletivas, etc.
• Propriedade Intelectual: regularidade da
titularidade e/ou uso de ativos intangíveis,
tais como patentes, marcas, nomes comer-
ciais, direitos autorais, contratos de licença e
transferência de tecnologia, proteção de se-
gredos de negócio, etc.
• Regulatório: regularidade de licenciamento
para operar o negócio, eventuais inadimple-
mentos, etc.
• Compliance: examinar/confirmar a existên-
cia de programa de compliance, a fim de ve-
rificar se há um programa de conformidade
e ética ou procedimentos adequados com
vistas a evitar as condutas consideradas im-
próprias.

LGPD: A tendência é que a adequação à Lei Geral de


Proteção de Dados seja incluída na checklist de uma
due diligence, como forma de garantir segurança ao
investimento.
54
12.
O seu cap
table

Organizar o cap table é fundamental para o su-


cesso do seu negócio.

O capitalization table ou apenas cap table vem


do inglês e quer dizer “tabela de capitalização”.
Em outras palavras, é uma tabela em que estão
listados os acionistas que participam de uma
certa empresa.

55
No cap table, temos os percentuais de partici-
pação societária, bem como a diluição de ca-
pital e valor do patrimônio em cada rodada de
investimento dos fundadores, investidores e ou-
tros proprietários.

É extremamente importante que desde o co-


meço de uma startup os sócios deixem claro
como estão organizadas as suas participações.
Isso porque as startups são empresas que estão
no início e precisam de recursos para crescer e
escalar o negócio.

Como manter o cap table organizado?

Em primeiro lugar, você deve se preocupar em


manter o controle da sociedade, pois um time
completamente diluído poderá perder o entu-
siasmo com o negócio.

Em segundo, cuidado com o dead equity ou


“equity morto”. O equity morto é verificado
quando um proprietário de determinada parti-
cipação societária não atua mais ativamente no
negócio e o equity foi conquistado sem ter in-
vestido dinheiro ou trabalho. Em outras palavras,
a pessoa está lá “pendurada” no seu cap table
sem trazer qualquer tipo de benefício, afastan-
do investidores.

Em terceiro, organize um pool para os funcio-


nários — também denominado employee pool.
56
Aqui, você deve separar uma parte das partici-
pações societárias para o uso de mecanismos
de vesting ou planos de stock options.

Dicas finais sobre o tema:

Agora vamos elencar algumas dicas finais para


você organizar o seu cap table:

• Um cap table estourado ou até mesmo de-


sorganizado certamente afastará investido-
res. Assim, atualize as tabelas sempre com
as alterações de cada rodada de investimen-
to, evitando deixar algo para trás. Até porque,
em uma eventual captação de investimen-
tos, o investidor pode vir a pedir para ver o
seu cap table atualizado. Você certamente
não quer passar pela situação constrange-
dora de dizer a ele que ainda não fez isso.
• Evite distribuir a sua participação societária
a pessoas que não participam do negócio,
aqui podemos citar amigos, cônjuges etc.
• Fique atento ao limite de 100% de participa-
ções societárias.
• Não saia distribuindo equity por meio de
vesting a todo e qualquer colaborador, sem
qualquer critério ou organização. O vesting
deve ser utilizado estrategicamente para ta-
lentos e colaboradores importantes.

57
Quer saber mais
sobre o tema?

Relação entre investidor-anjo e startup


pode configurar sociedade em comum
Artigo escrito pelo Márcio Pompeu,
publicado no Conjur

A LGPD como condição para as health-


techs captarem investimentos
Artigo escrito pelo Márcio Pompeu,
publicado no Conjur

Marco Legal das startups: análise so-


bre a nova modalidade de licitação
Artigo dos autores Márcio Pompeu & Gabriel
Magalhães Comegno, publicado no Conjur

AVISO:
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opinião legal ou recomendação

Consulte sempre um advogado de confiança.

marciopompeu.adv

[email protected]

www.marciopompeu.com.br

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