Apostila Linha Transmissao

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 114

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO


DEPARTAMENTO DE SISTEMAS E CONTROLE DE ENERGIA

EE 754 – ONDAS GUIADAS

APOSTILA

Prof. Dr. José Pissolato Filho

Campinas, SP
2012

1
2. LINHA DE TRANSMISSÃO

A disciplina EE540 apresentou um modelo eletromagnético, onde variações temporais de


cargas e correntes se faziam sentir à distância através de efeitos eletromagnéticos, sendo tais efeitos
explicados em termos de campos e ondas eletromagnéticas, e é conhecido como propagação de
ondas eletromagnéticas. Na transmissão através de fontes eletromagnéticas isotrópicas (que radiam
a energia igualmente em todas as direções), e mesmo as antenas altamente diretivas (com
propriedades de direcionar a energia radiada), a energia é espalhada por uma vasta área à medida
que a onda se propaga. Esta energia não é guiada e a transmissão do sinal entre os pontos
transmissor e receptor pode ser ineficiente, para uma transmissão ponto-a-ponto eficiente, essa
energia deve ser guiada entre tais pontos.
Neste capítulo estudaremos o guiamento das ondas eletromagnéticas através das linhas de
transmissão, estruturas que suportam a propagação da onda eletromagnética transversal (TEM), a
qual possui campos elétrico e magnético mutuamente perpendiculares e transversais à direção de
propagação. Mostraremos que muitas das características da onda TEM guiadas através de linhas de
transmissão são iguais àquelas das ondas planas uniformes que se propagam em meios dielétricos
ilimitados e que foram detalhadamente estudadas na disciplina EE540.
Três dos tipos mais comuns de estruturas guiantes que suportam ondas TEM são:
(a) linha de transmissão de placas paralelas: este tipo de linha de transmissão consiste de duas
placas condutoras separadas por uma lâmina dielétrica de espessura uniforme. Em freqüências
de microondas este tipo de linha de transmissão pode ser fabricada usando tecnologia de
circuito impresso e são conhecidas como linhas de microfita;
(b) linha de transmissão a dois fios: tal tipo de linha consiste de um par de fios condutores
paralelos. Linha de transmissão de potência, linhas telefônicas (vistas em áreas rurais) as
linhas das antenas de telhado para recepção de TV são exemplos desse tipo de linha de
transmissão;
(c) linha de transmissão coaxial: este tipo de linha consiste de dois cilindros condutores coaxiais
– condutor interno maciço e o condutor interno oco, e ambos separados por um meio
dielétrico. Tal estrutura apresenta a vantagem de confinar os campos elétrico e magnético na
região dielétrica entre os condutores. Exemplos desse tipo de linha são os cabos de TV por
assinatura e os cabos de instrumentos de precisão de alta freqüência.

2
Devemos observar que ondas com configurações de campo mais complicadas que as ondas
TEM podem se propagar ao longo dos tipos de linha de transmissão descritos acima quando a
separação entre os condutores é maior que uma determinada fração do comprimento de onda de
operação – tais modos serão detalhadamente estudados no decorrer deste curso.
Iniciaremo este capítulo mostrando que a solução das equações de Maxwell para a onda
TEM, suportada por uma estrutura formada por placas paralelas, leva diretamente a um par de
equações de propagação que podem se generalizar facilmente para linhas de transmissão de
qualquer geometria. Tais equações são escritas em termos de tensão e corrente ao longo da linha e
podem ser representadas através de um modelo circuital distribuído, ou seja, em termos de
resistência, condutância, indutância e capacitância por unidade de comprimento. No restante do
capítulo nos concentraremos no estudo do modelo circuital distribuído obtido, tanto nos domínios
do tempo e freqüência.

2.1. Ondas TEM num Guia de Placas Condutoras Paralelas

Seja o guia construído por placas perfeitamente condutoras separadas por um dielétrico de
espessura d e características µd e ε d , vist em corte transversal na Figura 2.1(a).

y
y

V µd , ε d
z V ( z)

x
w x⊗
z

(a) (b)

Figura 2.1: Guia de placas condutoras paralelas. (a) corte transversal; (b) corte longitudinal.

Vamos considerar, sem perda de generalidade, que essa linha é alimentada por uma fonte de tensão
v ( t ) = V0 cos (ωt ) , ilustrado na Figura 2.2. As leis de Faraday e Ampère para a região dielétrica

entre as placas (região sem fontes), podem ser escritas, respectivamente, na forma integral:

3
y
x z

~ v = V0 cos (ωt )

Figura 2.1: Guia de placas condutoras paralelas alimentada com tensão v ( t ) .

∂B
∫ E ⋅ dl = −∫ ∂t ⋅ ds ,
C S
(2.1)

∂D
∫ H ⋅ dl = ∫ ∂t ⋅ ds .
C S
(2.2)

Usando como referência o sistema cartesiano de coordenadas mostrado na Figura 2.2, vamos
considerar uma onda eletromagnética que se propaga segundo a direção z . Além disso, vamos
assumir que as soluções da onda eletromagnética são do tipo TEM, isto é, possuem, de maneira
geral, apenas as componentes dos campos transversais à direção de propagação. Assim, tomando
um caminho C num plano qualquer paralelo ao plano x − y (z = constante), e assumindo que na

solução proposta E z = H z = 0 (condição TEM), as Eqs. (2.1) e (2.2) podem ser reescritas, tal que:

∫ E ⋅ dl = 0 ,
C
(2.3)

∫ H ⋅ dl = 0 .
C
(2.4)

As Eqs. (2.3) e (2.4) indicam que os campos elétrico e magnético, da solução TEM, são campos
conservativos no plano x − y e, portanto, análogos aos campos estáticos estudados na disciplina
EE521. Assim, devido à característica conservativa do campo elétrico, cada placa para z=cte.
coincide com uma equipotencial, e consequentemente ao medirmos a tensão entre um ponto
qualquer na placa inferior e um ponto qualquer sobre a placa superior, com ambos pontos sobre o
mesmo plano z=cte., observaremos que a diferença de potencial entre esses dois pontos será sempre

4
a mesma. Isto não ocorreria se existisse campo magnético axial. Além disso, dos conceitos da
eletrostática lembramos que, uma vez aplicada uma diferença de potencial entre dois condutores,
surgirá um campo elétrico normal às placas condutoras. Como as placas são consideradas
perfeitamente condutoras, analisando as condições de contorno observamos as componentes do
campos elétrico tangenciais tangenciais às placas são nulos, isto é, E x = 0 . Similarmente, a

componente de campo magnético nornal às placas deve ser nula, isto é, H y = 0 . Dessa forma, os

campos elétrico e magnético da onda elétromagnética propagante ao longo da linha de transmissão


de placas paralelas se comportarão transversalmente como campos estáticos, isto é,

E = $yE y , (2.5)

$ ,
H = xH (2.6)
x

serão constantes no plano transversal x − y , contudo, possuirão variação ao longo da direção z ,


indicado na Figura 2.1(b) pela dependência da tensão ao longo da linha como função da posição z .
Partindo da discussão anterior, vamos então considerar uma onda TEM polarizada na direção y e
se propagando na direção + z em um linha de transmissão de placas paralelas, infinitamente longa,
de largura w e separadas por uma distância uniforme d , como ilustra a Figura 2.3.

y z
d x

w
Figura 2.3: Linha de transmissão de placas condutoras paralelas de largura w e separadas por uma distância d .

Para uma excitação harmônica, os campos elétrico e magnético, solução da equação


homogênea de Helmholtz, para onda de propagando na direção + z , desprezando-se os efeitos de
borda, (assumindo w suficientemente grande), serão:

5
E = $yE y = $yE0 exp ( −γ z ) , (2.7)

$ = − x$ E0
H = xH x exp ( −γ z ) , (2.8)
ηd

onde γ e η d são a constante de propagação da onda TEM na linha e a impedância intrínseca da


linha, repectivamente. Assumindo placas perfeitamente condutoras e dielétricos não-dissipativos,
temos que:

γ = j β = jω µ d ε d , (2.9)

µd
ηd = . (2.10)
εd

As condições de contorno nas interfaces dielétrico/paredes condutoras, isto é, em y = 0 e


y = d , são:

Et = 0 , (2.11)

Hn = 0 , (2.12)

as quais são devidamente satisfeitas, uma vez que E x = E z = 0 e H y = 0 . Na interface y = 0 – placa

inferior (lower – l) temos que: n$ = $y . Aplicando as condições de contorno dielétrico/condutor


perfeito, temos:
$y ⋅ D = ρ , (2.13)
Sl

$y × H = J , (2.14)
Sl

e, assim:

ρ Sl = ε d E y = ε d E0 exp ( − j β z ) , (2.15)

E
J Sl = − $zH x = z$ 0 exp ( − j β z ) . (2.16)
ηd

Na interface y = d – placa superior (upper – u) temos que: n$ = − $y , logo:

− $y ⋅ D = ρ Su , (2.17)

6
− $y × H = J Su , (2.18)

portanto:

ρ Su = −ε d E y = −ε d E0 exp ( − j β z ) , (2.15)

$ = − z$ E0 exp ( − j β z ) .
J Su = zH x (2.16)
ηd

Os campos fasoriais E e H nas Eqs. (2.7) e (2.8), respectivamente, devem satifazer às


equações rotacionais de Maxwell:

∇ × E = − jωµ H , (2.17)

∇ × H = jωε E . (2.18)

Como E = $yE y e H = xH
$
x possuem apenas variação segundo a direção z , então:

dE y
= jωµd H x , (2.19)
dz
dH x
= jωε d E y . (2.20)
dz

Integrando a Eq. (2.19) no intervalo 0 ≤ y ≤ d , temos:

d d
d
dz ∫0
E y dy = jωµ d ∫ H x dy .
0

dV ( z )  d
= jωµd J Su ( z ) d = jω  µd   J Su ( z ) w  ,
dz  w
dV ( z )
= jω LI ( z ) , (2.21)
dz
onde,
d
V ( z ) = ∫ E y dy = − E y ( z ) d ,
0

7
é a diferença de potencial, ou tensão, entre as placas inferior e superior, indicada na Figura 2.4. A
corrente total que flui na direção + z na placa superior é dada por:
y
I ( z)
B
d
+
µd , ε d V (z) E ( z ) = $yE y ( z )

x⊗
A z
I ( z)

B
V ( z ) = VB − VA = − ∫ E ⋅ dl
A

Figura 2.4: Tensão e corrente na linha de transmissão de placas paralelas em um ponto z .

w
I ( z ) = ∫ J su ⋅ dxx$ = J Su ( z ) w ,
o

onde,
d
L = µd [ H/m ] , (2.22)
w

a indutância por unidade de comprimento da linha de transmissão de placas paralelas.


De forma similar, integrando a Eq. (2.20) no intervalo 0 ≤ x ≤ w ,temos:

w w
d
dz ∫0
H x dx = jωε d ∫ E y dx ,
0

ou,
dI ( z )  w
− = − jωε d E y ( z ) w = jω  ε d   − E y ( z ) d  ,
dz  d
dI ( z )
− = jωCV ( z ) , (2.23)
dz
onde,
w
C = εd [ F/m] , (2.24)
d

8
é a capacitância por unidade de comprimento da linha de transmissão de placas paralelas.
As Eqs. (2.21) e (2.23) constituem o par de equações harmônicas, relacionando os fasores
tensão e corrente ao longo da linha de transmissão, como ilustra a Figura 2.4. Essas equações
podem ser combinadas para gerar equações diferenciais de segunda ordem para tensão ou corrente,
isto é:
d 2V ( z )
+ ω 2 LCV ( z ) = 0 , (2.25)
dz 2
d 2I ( z)
+ ω 2 LCI ( z ) = 0 . (2.26)
dz 2

As soluções das Eqs. (2.25) e (2.26), supondo as placas paralelas infinitas, são ondas propagantes na
direção + z na forma:

V ( z ) = V0 exp ( − j β z ) , (2.27)

I ( z ) = I 0 exp ( − j β z ) , (2.28)

onde,

V0 = − E0 d , (2.29)

E0
I0 = − = H0w , (2.30)
ηd

A constante de fase e a impedância característica da linha são, respectivamente:

β = ω µd ε d [ rad/m] , (2.31)

V ( z ) V0 L d
Z0 = = = = ηd [ Ω ] . (2.32)
I ( z ) I0 C w

A velocidade de fase da onda na linha é:

ω 1 1
up = = = [ m/s] . (2.33)
β LC µd ε d

9
2.2. Linhas de Transmissão de Placas Paralelas Dissipativas

Até o momento, em todas as nossas considerações a respeito das linhas de transmissão de


placas paralelas, assumimos que tais linhas não apresentavam perdas. Porém, em situações reais, as
perdas em LT’s podem surgir devido a duas causas: o meio dielétrico que separa as placas pode ter
uma tangente de perdas não-nula ou as placas podem não ser perfeitamente condutoras. Para
caracterizar esses dois efeitos definiremos dois novos parâmetros: G , a condutância por unidade de
comprimento entre as placas condutoras, e R , a resistência por unidade de comprimento das duas
placas condutoras. Lembrando os conceitos da eletrostática, a condutância entre os dois condutores
separados por um dielétrico com permissividade ε d e uma condutividade equivalente σ d , ilustrada

I A

d µd , ε d , σ d

Figura 2.5: Linha de transmissão de placas paralelas – corte transversal.

na Figura 2.5, pode ser facilmente determinada quando a capacitância entre os dois condutores é
conhecida. Assim,
σd
G= C. (2.34)
εd

Usando a Eq. (2.24), temos:


w
G = σd [S/m ] . (2.35)
d

Se as as placas condutoras têm condutividade σ c finita, então, pela lei de Ohm na forma pontual
temos que:

10
J = σ cE ,

$ , neste caso existirá a


indicando a dissipação de potência nas placas. Considerando que J = zJ z

presença de uma componente axial não-nula do campo elétrico, E z = $zEz e, portanto, a onda deixa
de ser puramente TEM.
A impedância total (EE540) em um comprimento ∆z , de uma placa, pode ser calculada
como sendo:

∆z
Zi = Z S , (2.35)
w
onde
Ez E
ZS = = z = RS + jX S , (2.36)
J Su H x
e,

1 π f µc
RS = X S = = . (2.37)
σ cδ σc

A impedância por unidade de comprimento em uma única placa é:

Z S RS X Z
= +j S = i . (2.37)
w w w ∆z

A impedância total por unidade de comprimento nas duas placas é:

2Z S 2 RS 2XS
= +j = R + jX ′ [ Ω/m ] , (2.38)
w w w
onde
2 RS
R= [Ω/m ] , (2.39)
w

é a resistência total por unidade de comprimento, responsável pelas perdas ôhmicas nas placas.
σc
Convém ainda, observar que para bons condutores X ′ << ω L , visto que >> 1 . Além disso, da
ωε c

11
Eq. (2.39) observamos que a resistência total da linha é diretamente proporcional à frequencia de
operação, isto é:

2 π f µc 2 πµc
R= = f ,
w σc w σc

R=K f ,

2 πµc
onde K = é uma constante.
w σc

A partir da modelagem acima, podemos representar uma seção de comprimento ∆z segundo


o modelo circuital ilustrado na Figura 2.6.

Z ∆z = ( R + jω L + jX ′ ) ∆z

Y ∆z = ( G + jωC ) ∆z

∆z

Figura 2.6: Modelo circuital de uma seção de linha de transmissão de placas paralelas de comprimento ∆z .

2.3. Equações Gerais da Linha de Transmissão

2.3.1. Parâmetros Distribuídos

A partir da modelagem feita nas seções anteriores, a Figura 2.7 mostra o modelo de linha de
transmissão (LT) baseado em parâmetros distribuídos, onde as grandezas elétricas R (ambos
condutores), G (ambos condutores), L e C são tomadas por unidade de comprimento. Aplicando a
lei de Kirchoff das tensões na malha da Figura 2.7, temos:

∂i ( z , t )
v ( z, t ) − R∆z i ( z , t ) − L∆z − v ( z + ∆z, t ) = 0 ,
∂t

12
v ( z + ∆z , t ) − v ( z , t ) ∂i ( z, t )
− = R i ( z, t ) + L .
∆z ∂t

i ( z, t ) N i ( z + ∆z, t )
+ +
R ∆z L ∆z

v ( z, t ) G ∆z v ( z + ∆z , t )
C ∆z

− −

Figura 2.7: Circuito equivalente de comprimento diferencial ∆z de uma linha de transmissão de dois
condutores ou TEM – LT.

Fazendo ∆z → 0 , temos:

∂v ( z , t ) ∂i ( z , t )
− = R i ( z, t ) + L . (2.40)
∂z ∂t

“Existe queda de tensão com a distância z na linha devido à passagem da corrente nos
elementos distribuídos R e L em série.”
Similarmente, aplicando a lei de Kirchoff das correntes no nó N , temos:

∂v ( z + ∆z , t )
i ( z, t ) − G ∆z v ( z + ∆z , t ) − C ∆z − i ( z + ∆z , t ) = 0 ,
∂t

Dividindo por ∆z e fazendo ∆z → 0 , temos:

∂i ( z, t ) ∂v ( z , t )
− = Gv ( z, t ) + C , (2.41)
∂z ∂t

O par de equações diferenciais de primeira ordem (2.40) e (2.41), são chamadas de equações
gerais das LT’s ou também equações do telegrafista. Contudo, é possível obtermos as equações
diferenciais da linha, expressas apenas em tensão ou apenas em corrente. Para a tensão, por

13
exemplo, pode-se diferenciar (2.40) em relação à z e a (2.41) em relação à t , a fim desacoplar as
equações e eliminar a variável i ( z, t ) , obtendo-se:

∂ 2v ( z, t ) ∂i ( z, t ) ∂ 2i ( z , t )
− = R + L , (2.42)
∂z 2 ∂z ∂z∂t
∂ 2i ( z , t ) ∂v ( z, t ) ∂ 2v ( z, t )
− =G +C . (2.43)
∂z∂t ∂t ∂t 2

Substituindo (2.43) em (2.42) e usando (2.41), rearranjando termos e omitindo a dependência ( z, t )

para melhor visualização, temos:

∂ 2v ∂ 2v ∂v
2
− LC 2 − ( RC + LG ) − RGv = 0 . (2.44)
∂z ∂t ∂t

Da mesma maneira, pode-se obter uma equação diferencial parcial só em corrente, isto é:

∂ 2i ∂ 2i ∂i
2
− LC 2
− ( RC + LG ) − RGi = 0 , (2.45)
∂z ∂t ∂t

As equações (2.44) e (2.45) são equações duais e identificadas como equações diferenciais parciais
de onda.

2.3.2. Linha não-Dissipativa

Consideramos uma linha não-dissipativa, também chamada de ideal ou sem perdas, onde
R = G = 0 . Nessa situação as Eqs. (2.44) e (2.45) se simplificam tal que:

∂ 2v ∂ 2v
− LC = 0, (2.46)
∂z 2 ∂t 2
∂ 2i ∂ 2i
− LC = 0. (2.47)
∂z 2 ∂t 2

14
Podemos mostrar, facilmente, que (2.46) e (2.47) admitem solução do tipo f z ± t / LC . Para ( )
tanto, substituindo essa função em (2.46) ou (2.47), temos:

∂2 ∂2
∂z 2 ( ) (
f z ± t / LC − LC 2 f z ± t / LC =
∂t
)
∂ ∂  ∂ ∂ 

∂z  ∂z
( 
)
f z ± t / LC  − LC  f z ± t / LC  =
∂t  ∂t 
( )
∂  ∂  ∂ ∂ 

∂z 
(
f ′ z ± t / LC
∂z
) (  ∂t 
) (
z ± t / LC  − LC  f ′ z ± t / LC
∂t
) (
z ± t / LC  =

)
∂  ∂
f ′ z ± t / LC  − LC (±1/ LC ) f ′ z ± t / LC =
( ) ( )
∂z   ∂t

( ) (
f ′′ z ± t / LC − LC (±1/ LC ) 2 f ′′ z ± t / LC = 0 . )

Obs: aqui f ′ ( ⋅) significa a derivada da função f em relação ao argumento composto z ± t LC . ( )


Examinemos, agora, o comportamento de uma onda (perturbação) f z − t / LC ( ) de

formato arbitrário propagando-se em uma linha de transmissão, conforme ilustrado na Figura 2.8,
onde ξ = z − t / LC .

f (ξ )

hp P

ξ
ξp

Figura 2.8: Onda f (ξ ) lançada na linha de transmissão a fim de se observar seu comportamento ao longo
da linha.

Ao acompanharmos a propagação do ponto P ao longo da direção + z , como ilustrado na


Figura 2.9, observamos que basta fazermos com que o argumento correspondente, f (ξ P ) = hP , se

15
mantenha constante todo o tempo, isto define a trajetória de P, que será dada pela
equação: ξ P = z P − t P / LC , ou seja:

z1 − t1 / LC = z2 − t2 / LC = ξ p = cte ,

t2 − t1
z2 − z1 = .
LC

(
f z1 − t1 / LC )
(a)
hp P
t = t1 z

(b) (
f z2 − t2 LC )
t = t2 > t1 P1 ( z1 , t1 ) P2 ( z2 , t 2 )
z

∆z
z1 z2

( )
Figura 2.9: Propagação de uma onda f z − t / LC , se propagando no sentido + z . (a) onda no instante

t1 ; (b) onda no instante t2 > t1 .

z2 − z1 1
= ,
t2 − t1 LC
∆z 1
= .
∆t LC

Fazendo ∆t → 0 , vemos que o pulso se propaga com uma velocidade de propagação u , tal que:

dz 1
u= = [m/s] . (2.48)
dt LC

16
Analogamente, a perturbação (onda) f z + t / LC ( ) se propaga na direção − z , com velocidade

1
u= . Temos na linha, portanto, ondas de tensão e corrente na forma:
LC

(
v ( z , t ) = V ± z ± t / LC , )
i ( z, t ) = I± (z ±t / LC ) ,

onde o sinais sobrescrito ( + , − ) significam propagação no sentido ( − , + ). Assim, para uma onda
V + deve existir uma onda I + , tal que:

V+
I+ = .
K+

Aqui, K + é uma constante com dimensões de ohms. Derivando a equação anterior em relação à t ,

∂ I+ 1 ∂ V+
∂t
( z − t / LC = +)
K ∂t
z − t / LC , ( )

e usando (2.40), com R = 0 , temos:

∂ V+  1 ∂ V+ 

∂z
( )
z − t / LC = L  +
 K ∂t
z − t / LC  ,

( )
′  1 ∂ V+ 
−  V + z − t / LC  = L  − +
( ) z − t / LC  , ( )
   K LC ∂t 

L L
K+ = , K + = Z0 = = R0 [Ω]
LC C

V+
I+ = . (2.49)
Z0

A constante K + é nada mais do que a impedância característica, Z 0 , da linha sem perdas, já

intrduzida em (2.32). De forma similar, para uma onda V − deve existir uma onda I − , tal que:

17
V−
I− = .
K−

Derivando em relação à t e usando (2.40), com R = 0 , temos:

K − = −Z0 ,
logo,
1 −
(
I − z + t / LC = − ) Z0
(
V z + t / LC . ) (2.50)

Assumindo que uma solução geral admite a combinação das soluções ( + ) e ( − ), podemos
escrever:

( ) (
v ( z , t ) = V + z − t / LC + V − z + t / LC , ) (2.51a)

i ( z, t ) = I ( z − t /
+
LC ) + I ( z + t

LC , ) (2.51b)

1  +
i ( z, t ) = V z − t / LC − V − z + t / LC  ,
( ) ( ) (2.51c)
Z0  

L
Z0 = , (2.51d)
C
1
u= . (2.51e)
LC

Consideremos, agora, uma LT sem perdas, terminada numa carga puramente resisitiva,
Z L = RL , mostrada na Figura 2.10.

R0 vL RL

Figura 2.10: Linha de transmissão sem perdas carregada com carga Z L = RL .

A corrente na carga ( iL ) será:

18
1
iL = I +L + I −L =
R0
( VL+ − VL− ) ,

Definimos a seguir a impedância ao longo da LT como sendo,


v ( z, t ) V + ( z − ut ) + V − ( z + ut )
Z ( z, t ) = = .
i ( z, t )  1  +
 ( V ( ) V )

z − ut − ( z + ut ) (2.52a)
 R0 

Na carga,
VL+ + VL−
Z ( zc arg a , t ) = RL = ,
 1  +
  ( VL − VL )

 R0 

RL VL+ + VL−
= .
R0 VL+ − VL−

A partir da equação anterior definiremos o parâmetro denominado coeficiente de reflexão, Γ , ao


longo da linha de transmissão, como a razão,

V − ( z + ut )
Γ ( z, t ) = + . (2.52b)
V ( z − ut )

Combinando (2,52a) e (2.52b),


R0 V+ − V−
= + + 1−1 ,
Z ( z, t ) V + V −

R0 2 V+ 2
= + −1 = −1,
Z ( z, t ) V + V 1 + ( V− V+ )

R0 2
= − 1,
Z ( z , t ) 1 + Γ( z , t )

1  R0  1
 + 1 = ,
2  Z ( z, t )  1 + Z ( z, t )

2Z ( z, t )
1 + Γ( z , t ) = ,
Z ( z, t ) + R0

Z ( z , t ) − R0
Γ ( z, t ) = , (2.53a)
Z ( z, t ) + R0

19
A Eq. (2.53a) mostra o coeficiente de reflexão em função da impedância ao longo da LT.
Particularizando (2.53a) na carga, temos:

RL − R0
ΓL = . (2.53b)
RL + R0

O coeficiente de reflexão, definido em (2.52b), (2.53a) existe em uma determinada faixa de valores,
que pode ser determinada a partir das duas situações limites para a impedância de uma linha de
transmissão: (a) linha curto circuitada em z = z1, ou seja, Z ( z1 , t ) = 0 ; (b) linha aberta em z = z1, ou

seja, Z ( z1 , t ) = ∞ . Levando tais condições em (2.53a) teremos, respectivamente: Γ( z1 , t ) = −1 e

Γ( z1 , t ) = +1 . Dessa forma, as faixas de valores para o coeficiente de reflexão são:

−1 ≤ Γ( z , t ) ≤ +1 .
Observamos que se em algum ponto z = z1, temos Z ( z1 , t ) = R0 , nesse ponto, Γ( z1 , t ) = 0 . Se

RL = R0 , temos Γ L = 0 , e chamamos esta situação de carga casada com a LT, ou simplesmente de


“carga casada”.

O coeficiente de reflexão em (2.52b) foi definido como a razão das tensões refletida e transmitida,
poderíamos, porém, ter adotado as correntes em lugar das tensões, assim:
I − ( z + ut )
Γ′ ( z , t ) = .
I + ( z − ut )

De (2.49) e (2.50), obtemos facilmente que os coeficientes de tensão, Γ( z , t ) , e corrente, Γ′( z , t ) ,se
relacionam por: Γ′( z , t ) = −Γ( z, t ) .

Analisemos, agora, o caso simples da Figura 2.11, onde uma fonte DC é aplicada em uma
linha de transmissão (LT) com carga RL = R0 .

20
Rg

+ V0 RL Rg
− R0
+ V0 R0

z =0 z = z1 z =l (b)
(a)
Figura 2.11: (a) Chave fechada para t = 0 ; (b) Representação elétrica da LT no instante t = 0 .

Quando t = 0 a linha da Figura 2.11(a) pode ser representada conforme ilustrado na Figura
2.11(a). A LT nesse instante se “apresenta” para a fonte como se fosse infinita, portanto, a
impedância “sentida” pela onda lançada na LT é a impedância característica.
v ( z1 , t )

V1+

z1
t
u

Figura 2.12: Tensão em z = z1 .

A tensão injetada na LT na entrada, z = 0, no tempo t = 0 , e que viaja na direção + z com uma


1
velocidade u = , é calculada através do divisor de tensão:
LC

R0
V1+ = V0 ,
R0 + Rg

A magnitude da onda de corrente correspondente dada por:


V1+ V0
I1+ = = .
R0 R0 + Rg

Se traçarmos o gráfico da tensão na posição z = z1 como função do tempo, obteremos a função

degrau ilustrado na Figura 2.12. A corrente no ponto z = z1 apresenta a mesma forma, porém com o

valor I1+ calculado acima.

21
+

Rg R0 RL VL

+ V0
− −

z =0 z =l

Figura 2.13: Fonte DC aplicada a uma LT – caso geral sem perdas.

Quando as ondas de tensão e corrente atingem a carga, em z = l , não há reflexão pois


Γ L = 0 . O estado estacionário fica, assim, estabelecido e a linha inteira fica carregada com uma

tensão igual a V1+ . Se, contudo, tanto Rg e RL são diferentes de R0 , como na Figura 2.13, a

situação é mais complicada. Assim, para t = 0 a fonte envia uma tensão de magnitude,

R0
V1+ = V0 , (2.54)
R0 + Rg

na direção + z com velocidade u = 1 LC . Como no caso anterior, pulso V1+ não “conhece” o
comprimento da linha e nem a carga e, portanto, se propaga como se a linha fosse infinita; quando
t = T = l u , onde T é o tempo de trânsito da LT, esta onda atinge a carga, no ponto z = l . Aqui,
como RL ≠ R0 , surge uma onda refletida que viajará na direção − z com magnitude,

V1− = Γ L V1+ , (2.55)

onde Γ L , o coeficiente de reflexão na carga, é dado por:

RL − R0
ΓL = . (2.56)
RL + R0

A onda refletida na carga atinge a entrada da linha no tempo t = 2T , onde é refletida, pois Rg ≠ R0 .

Uma nova onda com magnitude V2+ , viajando na direção + z , surge com amplitude

22
V2+ = Γ g V1− = Γ g Γ L V1+ , (2.57)
sendo,
Rg − R0
Γg = ,
Rg + R0

o coeficiente de reflexão devido à resistência Rg . Este processo continua indefinidamente, com

ondas viajando em direção à carga ( + z ) e em direção ao gerador ( − z ), sendo refletidas a cada


t = nT ( n = 1, 2, 3,L ).
Observemos dois pontos: primeiro, como Γ L ou Γ g , ou ambos, podem ser negativos, as

ondas refletidas podem ter amplitudes negativas; segundo, exceto para o circuito aberto ou fechado,
Γ L e Γ g < 1 . Isto significa que as magnitudes das sucessivas ondas refletidas se tornam menores a

cada reflexão até atingirem um valor convergente. Este processo, para RL = 3R0 ( Γ L = 1 2) e

Rg = 2 R0 ( Γ L = 1 3) é ilustrado nas Figuras 2.14 e 2.15, para ondas de tensão e corrente,

respectivamente. As tensões e correntes em qualquer posição da linha de transmissão, e em


qualquer intervalo de tempo, podem ser calculadas através das somas algébricas ,
V1+ + V1− + V2+ + V2− + V3+ + L e I1+ + I1− + I +2 + I −2 + I3+ + L , respectivamente.

Vamos calcular o valor final da tensão sobre a carga VL = V ( l ) , quando a variável t

aumenta indefinidamente. Assim,

VL = V1+ + V1− + V2+ + V2− + V3+ + V3− + L

VL = V1+ (1 + Γ L + Γ g Γ L + Γ g Γ 2L + Γ 2g Γ 2L + Γ 2g Γ 3L + L)

VL = V1+ (1 + Γ g Γ L + Γ 2g Γ 2L + L) + Γ L (1 + Γ g Γ L + Γ 2g Γ 2L + L) 

 1   ΓL 
VL = V1+   +   ,
 1 − Γ g Γ L   1 − Γ g Γ L  

 1+ ΓL 
VL = V1+ 
 1 − Γ Γ 
. (2.58)
 g L 

23
V0 1 1 9 3
Para o exemplo em questão: V1+ = , Γ L = e Γ g = , logo: VL = V1+ = V0 quando t → ∞ .
3 2 3 5 5

v( z, t )

V1+

z
0 l
(a)

v( z,t )
V1−
+
V 1

z
0 l
(b)

v( z, t )

V2+

V1+
V1+ + V1−

z
0 l
(c)
Figura 2.14: Transiente de tensão na LT da Figura 2.12 para RL = 3 R0 e Rg = 2 R0 . (a) pulso de tensão de amplitude
V0 V+ V
V1+ = , em 0 < t < T ; (b) pulso de tensão de amplitude V1− = 1 = 0 , em T < t < 2T ; (c) pulso de tensão
3 2 6
V −
V
de amplitude V2+ = 1 = 0 , em 2T < t < 3T .
3 18

24
i ( z,t )

I1+

z
0 l
(a)
i ( z,t )

I1+
I1−

z
0 l
(b)

i ( z, t )

I 2+
I1+ + I1−
z
0 l
(c)
Figura 2.15: Transiente de corrente na LT da Figura 2.12 para RL = 3R0 e Rg = 2 R0 . (a) pulso de corrente de amplitude
V1+ V V− V
I1+ = = 0 , em 0 < t < T ; (b) pulso de corrente de amplitude I1− = − 1 = − 0 , em T < t < 2T ; (c)
R0 3R0 R0 6 R0
V2+ V
pulso de corrente de amplitude I +2 = = 0 ,em 2T < t < 3T .
R0 18 R0

Este resultado é, obviamente correto, porque na situação estacionária, V0 é dividido entre RL e Rg

na razão de 3 a 2. Da mesma forma,

 1 − Γ L  V1+
IL = 
 1 − Γ Γ  R
,
 g L  0

ou seja,
3 V1+ V
IL = = 0 .
5 R0 5 R0

A Figura 2.16 apresenta o modelo elétrico de uma LT em estado estacionário.

25
Rg = 2 R0

V0 +− RL = 3R0

Figura 2.16: Modelo elétrico de uma LT em estado estacionário.

2.4. Diagrama de Reflexão (zig-zag)

O diagrama de reflexão de tensão para a LT da Figura 2.13 é apresentado na Figura 2.17.


Este começa com uma onda V1+ para t = 0 , viajando do gerador ( z = 0 ) na direção + z com

velocidade u = 1 LC .
t

Γ 2g Γ 2L V1+

P5
t5
4T
t4
P4
Γ g Γ 2L V1+

3T

P3 Γ g Γ L V1+
t3
2T
t2 P2
Γ L V1+

V 1
+

P1
t1
z
0 z = z1 l
Figura 2.17: Diagrama de reflexão de tensão para a LT ilustrada na Figura 2.13.

26
Esta onda está representada pela linha reta associada a V1+ , tendo esta linha uma inclinação positiva

1
igual à (tangente). Quando a onda V1+ atinge a carga, em z = l , uma onda refletida V1− = Γ L V1+
u
surge, caso RL ≠ R0 . A onda V1− (representada no diagrama por uma linha reta direcionada,

1
associada a Γ L V1+ , com tangente negativa igual à − ) viaja na direção − z , incide na fonte em
u
t = 2T , gerando uma onda refletida V2+ = Γ g V1− = Γ g Γ L V1+ , representada no diagrama por uma

1
segunda linha direcionada com tangente positiva . Este processo continua indefinidamente.
u
O diagrama de reflexão de tensão pode ser usado convenientemente para determinar a
distribuição de tensão ao longo da linha de transmissão em um determinado instante de tempo,
assim como, a variação da tensão como função do tempo em um ponto arbitrário da linha. Assim,
suponhamos que queiramos saber a distribuição de tensão ao longo da linha para t = t4 , com

3T < t4 < 4T . Para tanto, procede-se da seguinte forma:

1. Marque t 4 no eixo vertical do tempo do diagrama de reflexão de tensão;

2. Trace uma linha horizontal a partir de t 4 , intersectando a linha direcionada associada com

Γ g Γ 2L V1+ em P4 . Observe que todas as linhas direcionadas acima de P4 são irrelevantes ao nosso

problema, uma vez que pertencem a t > t4 ;

3. Trace uma vertical através do ponto P4 , intersectando o eixo horizontal em z = z1 . O

significado de z1 é que no intervalo 0 < z < z1 (à esquerda da linha vertical) a tensão tem o valor

igual à V1+ + V1− + V2+ = V1+ (1 + Γ L + Γ g Γ L ) , e no intervalo z1 < z < l (à direita da linha vertical) a

tensão é: V1+ + V1− + V2+ + V2− = V1+ (1 + Γ L + Γ g Γ L + Γ g Γ 2L ) . Existe, portanto, uma descontinuidade em

z = z1 , igual a Γ g Γ 2L V1+ ;

4. A distribuição de tensão ao longo da LT em t = t4 , V ( z , t4 ) é, portanto, como ilustra a Figura

2.18 para RL = 3R0 ( Γ L = 1 2 ) e Rg = 2 R0 ( Γ g = 1 3) .

A seguir, vamos achar a variação da tensão como uma função do tempo no ponto z = z1 e,
para tanto, usaremos o seguinte procedimento:

27
1. Trace uma vertical em z1 , intersectando as linhas direcionadas nos pontos P1 , P2 , P3 , P4 , P5 e

assim por diante. Existirá um número infinito de tais intersecções se RL ≠ R0 e Rg ≠ R0 , como

também teremos um número infinito de linhas direcionadas se ( Γ L ≠ 0 ) e ( Γ g ≠ 0 ) ;

v ( z , t4 )

V1+ (1 + Γ L + Γ g Γ L ) Γ g Γ 2LV1+

V1+ (1 + Γ L )

V1+

z
0 z = z1 l

1 1 V0
ΓL = Γg = V1+ =
2 3 3

Figura 2.18: Transiente de tensão em uma LT sem perdas: RL = 3R0 , Rg = 2 R0 .

2. A partir desses pontos (intersecções), trace linhas horizontais intersectando o eixo vertical
(eixo t ) em t1 , t 2 , t3 , t 4 , t5 e assim por diante. Estes são os instantes para os quais uma nova onda

de tensão chega e, abruptamente, muda a tensão em z = z1 ;

3. A tensão em z = z1 , como uma função de t , pode ser lida do diagrama de reflexão de tensão,

conforme a Tabela 2.1 para t5 .

Tabela 2.1 – Variações da tensão na LT no ponto z = z1 .

Intervalo de tempo Tensão Discontinuidade de tensão


0 ≤ t < t1 ( t1 = z1 u ) 0 0

t1 ≤ t < t2 ( t2 = 2T − t1 ) V1+ V1+ em t1

t 2 ≤ t < t3 ( t3 = 2T + t1 ) V1+ (1 + Γ L ) Γ LV1+ em t 2

t3 ≤ t < t4 ( t4 = 4T − t1 ) V1+ (1 + Γ L + Γ g Γ L ) Γ g Γ LV1+ em t3

t 4 ≤ t < t5 ( t5 = 4T + t1 ) V1+ (1 + Γ L + Γ g Γ L + Γ g Γ 2L ) Γ g Γ 2LV1+ em t 4

28
4. O gráfico de V ( z1 , t ) é apresentado na Figura 2.19 para Γ L = 1 2 e Γ g = 1 3 . Quanto t

aumenta indefinidamente a tensão em z1 (e em todos os outros pontos da LT sem perdas) assumirão

3
o valor V0 .
5

v ( z1 , t )
Γ g Γ 2LV1+
3V0
5
Γ 2g Γ 2LV1+
Γ LV1+
V0 Γ g Γ LV1+
3

t
0 t1 T t2 2T t3 3T t4 4T t5

Figura 2.19: Transiente de tensão em uma LT sem perdas: RL = 3 R0 e Rg = 2 R0 .

O diagrama de reflexão da corrente é similar. A diferença essencial é o sinal negativo das ondas
viajando na direção − z , como observamos na Eq. (2.50). O gráfico de I ( z1 , t ) é mostrado na

Figura 2.20.

i ( z1 , t )

V0
3R0
Γ L I1+ Γ g Γ L I1+ Γ 2g Γ 2L I1+
V0
5 R0
Γ g Γ 2L I1+

t
0 t1 T t2 2T t3 3T t4 4T t5

1 1 V0 V0
ΓL = Γg = I1+ = I ( z1 , ∞ ) =
2 3 3R0 5 R0

Figura 2.20: Transiente de corrente em uma LT sem perdas: RL = 3 R0 e Rg = 2 R0 .

A seguir apresentamos duas situações especiais:

29
a. Quando RL = R0 (carga casada, Γ L = 0 ), tanto a tensão como a corrente apresentarão nos seus

diagramas de reflexão apenas uma linha direcionada no intervalo 0 < t < T , independente do valor
de Rg ;

b. Quando Rg = R0 (gerador casado, Γ g = 0 ) e RL ≠ R0 , os dois diagramas terão apenas duas

linhas direcionadas, existindo nos intervalos 0 < t < T e T < t < 2T .

2.5. Propagação de Pulsos em Linhas de Transmissão

A fonte DC estudada anteriormente pode ser representada como,

vg ( t ) = V0 U ( t ) , (2.59)

onde U ( t ) é a função degrau unitário, definida como:

0, t<0
U (t ) =  . (2.60)
1, t>0

Se tivermos uma excitação em forma retangular, podemos aproveitar a análise desenvolvida


para a fonte DC, decompondo o pulso em duas funções degrau. Por exemplo, um pulso com
amplitude V0 e duração de t = 0 a t = T0 , mostrado na Figura 2.21, pode ser escrito como,

vg ( t ) = V0  U ( t ) − U ( t − T0 )  . (2.61)

Se o sinal vg ( t ) , descrito na Eq. (2.61), for aplicado a uma LT, a resposta transiente é

simplesmente a superposição dos resultados obtidos devido a uma tensão DC, V0 , aplicada em

t = 0 , e outra, −V0 , aplicada em t = T0 . Ilustraremos este processo no Exemplo 2.1.

30
vg ( t )
V0

t
0 T0

Figura 2.21: Função degrau com amplitude V0 .

Exemplo 2.1:

Um pulso retangular de amplitude 15 V e duração 1 µ s , ilustrado na Figura 2.22(a), é lançado na


entrada de uma LT de 50 Ω (cabo coaxial sem perdas), cujo material isolante no cabo possui
constante dielétrica igual a 2, 25 . A LT tem 400 m e está curto-circuitada. Sabendo que

Rg = 25 Ω , determine a resposta no ponto médio da LT como função do tempo até 8 µ s . A Figura

2.22(b) apresenta uma ilustração da LT descrita anteriormente.

vg ( t ) [ V ]

15
Rg
R0 = 50 Ω
vg ( t ) +−
t [ µs]
0 1 0 200 m 400 m

Figura 2.22: (a) Pulso retangular de 15 V e duração de 1 µ s ; (b) Modelo elétrico da LT.

Solução:
25 − 50 1
RL = 0 ⇒ Γ L = −1, Γg = =− ,
25 + 50 3

vg ( t ) = 15  U ( t ) − U ( t − 10−6 )  ,

c 3 ×108
u= = = 2 ×108 m s ,
εr 2, 25

Em t = 0 , e z = 0:

31
Rg = 25 Ω

+
15 V− R0 = 50 Ω

 50 
V1+ = 15   = 10 V ,
 50 + 25 
l 400
T= = =2 µ s ,
u 2 × 108
onde V1+ é a tensão inicial na LT e T o tempo de transito.
O diagrama zig-zag para a tensão é mostrado na Figura 2.23, onde as linhas cheias (sólidas)
correspondem aos +15 V aplicados no instante t = 0 , e as linhas tracejadas aos −15 V
aplicados em t = 1 µ s . As tensões associadas ao degrau negativo estão entre parêntesis.

Traçamos uma vertical em z = 200 e uma horizontal em t = 8 µ s . A tensão devido à 15 U ( t )

pode ser lida das intersecções da vertical com as linhas direcionadas sólidas, veja va ( t ) na

Figura 2.24(a). Já a tensão devido à −15 U ( t − 10 −6 ) é tirada das intersecções com as linhas

direcionadas tracejadas, veja vb ( t ) na Figura 2.24(b). A reposta solicitada v ( 200, t ) , para

0 < t ≤ 8 µ s é obtida somando va + vb , veja Figura 2.24(c).

t [ µs]

+1 9
9

8 ( + 1 3)

−1 3 7

( −1 3) 6

5 +1 3

4 ( +1)

−1 3

( −1) 2

1 +1

0 z [ m]
0 200 400

Figura 2.23: Diagrama de reflexão para a LT mostrada na Figura 2.21.

32
va ( t )

(a)
V1+ V1+ 3

t [ µ s]
0 1 2 3 4 5 6 7 8

vb ( t )

1 2 3 4 5 6 7 8
(b) 0 t [ µ s]

V1+ V1+ 3

v ( 200, t )

3 4 7 8
(c )
0 t [ µ s]
1 2 5 6

Figura 2.24 – Transiente em uma LT com os terminais curto-circuitados. (a) tensão no ponto médio da LT devido ao degrau
positivo; (b) tensão no ponto médio da LT devido ao degrau negativo; (c) tensão total no ponto médio da LT.

Exemplo 2.2:

Uma LT sem perdas, sem dielétrico entre os seus condutores, em circuito aberto, R0 e comprimento

l , é inicialmente carregada a uma tensão V0 , como ilustra a Figura 2.25. Quando t = 0 , a LT é

conectada a uma resistência R = R0 . Esboce a tensão e a corrente na carga R em função do tempo.

Solução:

Para t = 0 e z = 0,
+ R0 V
(V1′) =− V0 = − 0 .
R + R0 2

l +
Em t= , (V1′) atinge o extremo aberto, onde Γ L = 1 , e surge a onda refletida
c
− + V0 2l
(V1′) = (V1′) = − . Esta onda volta na entrada, quando t = e é totalmente transmitida ( Γ g = 0 ),
2 c
+
porém, somando-se com a tensão na entrada – (V1′) .

33
+

(a) R V0 R0

z=0 z =l

IR
I LT +
+ +
VLT′ R0
(V1′) R0
t =0
− R VR VLT −
R VR VLT +
+ V0
V0 −

(b) (c )

Figura 2.25 – Modelo da LT; (a) LT com os terminais em aberto; (b) LT carregada modelada como uma fonte de tensão V0

mais uma LT′ descarregada; (c) modelo para LT t = 0 e z = 0.

VLT′ ( 0, t ) ′ ( 0, t )
I LT
2l 2l
= 2T
c c
0 t 0 t

V1− V
V V I1− = = 0
− 0 − 0 R0 2 R0
2 2 R0

−V0

(a) (b)

VR ( t ) IR (t )

V0 V0
2 2 R0

0 t 0 t
2l 2l
c c

(c) (d )
Figura 2.26 – Modelo da LT; (a) LT com os terminais em aberto; (b) LT carregada modelada como uma fonte de tensão V0

mais uma LT′ descarregada; (c) modelo para LT t = 0 .

34
Temos, portanto, uma forma de gerarmos um pulso retangular através do descarregamento de
uma LT, com largura ajustável de acordo com o comprimento l da linha, como mostra a
Figura 2.26.

Exemplo 2.3:

Considere uma LT em estado estacionário antes da abertura da chave, conforme mostra a

Figura 2.27. Calcular a tensão e corrente no ponto z = l como função do tempo.


2
t =0
I0

Rg R0 RL

Vg +

Figura 2.27 –LT carregada

O modelo equivalente da LT acima é mostrado na Figura 2.28, onde Γ′ é o coeficiente de


reflexão de corrente.

t =0
I0

I0 LT′ RL ( supondo RL > R0 )

Γg = 1 ΓL > 0
Γ′g = −1 Γ′L < 0
Figura 2.28 – Modelo equivalente LT carregada

i ( z, t ) = i′ ( z , t ) + I 0

l  l 
v  , t  = v′  , t  + V0
2  2 

35
l 
i′  , t 
2 

T 2 T 3T 2 2T 5T 2 3T 7T 2 4T 9T 2
t

ΓL I0
Γ 2L I 0
−I0

l 
i  ,t 
2 

I0

ΓL I0
Γ 2L I 0
t
T 2 T 3T 2 2T 5T 2 3T 7T 2 4T 9T 2

l 
v′  , t 
2 

T 2 T 3T 2 2T 5T 2 3T 7T 2 4T 9T 2
t

V1+ = − I 0 R0
V1+
V1+ Γ L
V1+ Γ L
V1+ Γ 2L
V1+ Γ 2L
−V0

l 
v ,t 
2 

V0

t
T 2 T 3T 2 2T 5T 2 3T 7T 2 4T 9T 2

36
v′ ( z, ∞ ) = V + + 2V + Γ L + 2V + Γ 2L + 2V + Γ3L + L ,

v′ ( z, ∞ ) = V + + 2V + Γ L (1 + Γ L + Γ 2L + L) ,

 1 
v′ ( z, ∞ ) = V + + 2V + Γ L  ,
 1− ΓL 

 2Γ L  +  1+ ΓL  +  RL 
v′ ( z , ∞ ) = V +  1 +  =V   =V  ,
 1 − ΓL   1− ΓL   R0 
V + = I + R0 = − I 0 R0 ,

Vg
I0 = − ,
Rg + RL

RL
V0 = Vg ,
Rg + RL

R  RL
v ( z , ∞ ) = v′ ( z, ∞ ) + V0 = − I 0 R0  L  + Vg ,
 R0  Rg + RL

Vg RL Vg RL
v ( z, ∞ ) = − + = 0.
Rg + RL Rg + RL

2.6. Linha de Transmissão com Carga Reativa

2.6.1. Carga Indutiva

Vamos considerar o circuito mostrado na Figura 2.29(a), cuja chave é fechada no instante
V0
t = 0 . Nesse momento, uma onda de tensão V1+ = viaja pela LT até atingir a carga no tempo
2
l
t= = T , a onda refletida V1− ( t ) é gerada devido ao descasamento de impedância na carga.
u
Precisamos achar a relação entre as tensões V1− ( t ) e V1+ . Em z = l , as relações abaixo valem para

t ≥T ,

vL ( t ) = V1+ + V1− ( t ) , (2.62)

37
iL

R0 R0 LL vL

V0 +
− −

z = z0 z =l
(a)
R0 iL
+

2V1+ + LL vL

z =l
(b)
Figura 2.29 – Cálculo de transitente para uma LT sem perdas com uma terminação indutiva. (a) circuito de uma LT com
terminação indutiva; (b) circuito equivalente para a carga, t ≥ T .

1
iL ( t ) = V1+ − V1− ( t )  , (2.63)
R0
d
vL ( t ) = LL iL ( t ) . (2.64)
dt

Eliminando V1− ( t ) , usando (2.62) e (2.63), obtemos,

vL ( t ) = 2V1+ − R0iL ( t ) . (2.65)

A Eq. (2.65) descreve a aplicação da Lei de Kirchoff ao circuito da Figura 2.29(b), o qual é de fato
o circuito equivalente na carga para t ≥ T . Combinando (2.64) e (2.65), temos, para t ≥ T :

d
LL iL ( t ) + R0iL ( t ) = 2V1+ , (2.66)
dt
cuja solução,

38
2V1+   R0 
iL ( t ) = 1 − exp  − ( t − T )   , (2.67)
R0   LL 

2V1+
mostra que iL (T ) = 0 (CA) e iL ( ∞ ) = (CC). A tensão na carga, via (2.64), é:
R0

d  R 
vL ( t ) = LL iL ( t ) = 2V1+ exp  − 0 ( t − T )  . (2.68)
dt  LL 

A amplitude da onda refletida V1− ( t ) pode ser determinada diretamente de (2.62),

V1− ( t ) = vL ( t ) − V1+ . (2.68)

  R  1
V1− ( t ) = 2V1+ exp  − 0 ( t − T )  −  (2.69)
  LL  2

A tensão distribuída ao longo da LT é mostrada na Figura 2.30(d), para T < t1 < 2T .

iL ( l , t ) V1− ( l , t )

2V1+
V1+
R0
t
T
t −V1+
T
(a) (c)
vL ( l , t )
v ( z , t1 )

2V1+ 2V1+ z1
t1 = 2T −
u
V1+

t t
z1 l
T

(b) (d )
Figura 2.30 – (a) corrente na carga indutiva como função do tempo; (b) tensão na carga indutiva como função do tempo; (c)
tensão refletiva na carga como função do tempo; (d) tensão ao longo da LT para T < t1 < 2T .

39
2.6.2. Carga Capacitiva

Como ilustra a Figura 2.31, o circuito para uma LT carregada com carga capacitiva é similar ao
problema anterior (carga indutiva), logo a análise é similar. Aqui, entretanto, usaremos a relação:

d
iL ( t ) = C L vL ( t ) . (2.70)
dt

Assim, levando (2.70) em (2.65), obteremos, para t ≥ T ,

d 1 2
CL vL ( t ) + vL ( t ) = V1+ , (2.71)
dt R0 R0

V0
com V1+ = . A solução de (2.71), para t ≥ T , é:
2
iL

R0 R0 CL vL

V0 +
− −

z = z0 z =l
(a)
R0 iL
+

2V1+ + CL vL

z =l
(b)
Figura 2.31 – Cálculo de transitente para uma LT sem perdas com uma terminação capacitiva. (a) circuito de uma LT com
terminação capacitiva; (b) circuito equivalente para a carga, t ≥ T .

40
  ( t − T ) 
vL ( t ) = 2V1+ 1 − exp  −  . (2.72)
  R0CL  

A corrente pode ser obtida de (2.70), tal que:

2V1+  (t − T ) 
iL ( t ) = exp  − . (2.73)
R0  R0CL 

Usando (2.72) em (2.62) temos:

1  (t − T ) 
V1− ( t ) = 2V1+  − exp  −  . (2.74)
 2  R0C L  

A Figura 2.32 ilustra uma representação gráfica para vL ( t ) , iL ( t ) , V1+ ( l , t ) e v ( z, t1 ) .

vL ( l , t ) V1− ( l , t )

2V1+ V1+
T
t

t −V1+
T
(a) (c)
iL ( l , t )
v ( z, t1 )

2V1+ 2V1+ z1
t1 = 2T −
R0 + u
V1

t z
z1 l
T

(b ) (d )
Figura 2.32 – (a) tensão na carga capacitiva como função do tempo; (b) corrente na carga capacitiva como função do tempo;
(c) tensão refletiva na carga como função do tempo; (d) tensão ao longo da LT para T < t1 < 2T .

41
2.7. Análise das Linhas de Transmissão no Domínio da Freqüência

Para a análise da linha com dependência temporal harmônica, usaremos uma representação
fasorial, tomando a função cosseno como referência. Deste modo, podemos escrever a tensão e
corrente instatâneas na linha sob a forma:

v ( z , t ) = Re V ( z ) exp ( jωt )  , (2.75)

i ( z, t ) = Re  I ( z ) exp ( jωt )  , (2.76)

onde, V ( z ) e I ( z ) são funções da coordenada espacial z e ambas podem ser funções complexas.

Substituindo (2.75) e (2.76) nas Eqs. (2.40) e (2.41), temos:

d
− V ( z ) = ( R + jω L ) I ( z ) , (2.77)
dz

d
− V ( z ) = ( R + jω L ) I ( z ) . (2.78)
dz

Combinando (2.77) e (2.78), podemos desacoplar as equações, escrevendo:

d2
− V ( z ) = γ 2V ( z ) , (2.79)
dz 2
d2
− I ( z) = γ 2I ( z) , (2.80)
dz 2
onde,

γ = α + jβ = ( R + jω L )( G + jωC )  m-1  , (2.81)

As equações (2.77) e (2.78) são as equações da LT no regime harmônico ou domínio da freqüência.



Estas podem ser obtidas diretamente das Eqs. (2.44) e (2.45), substituindo por jω . O parâmetro
∂t
γ é chamado constante de propagação, cujas partes real e imaginária, α e β , são as constante de
atenuação [ Np/m ] e constante de fase [ rad/m] , respectivamente. Observe que a nomenclatura aqui

42
empregada é análoga àquela usada no estudo da propagação de ondas planas em meios com perdas
(disciplina EE540). Essas quantidades não são totalmente constantes e, em geral, dependem da
freqüência de forma complicada.
A solução para as Eqs. (2.79) e (2.80) serão:

V ( z) = V + ( z) +V − ( z) ,

V ( z ) = V0+ exp ( −γ z ) + V0− exp ( γ z ) , (2.82)

I (z) = I + (z) + I − (z) ,

I ( z ) = I 0+ exp ( −γ z ) + I 0− exp ( γ z ) , (2.83)

onde os sinais sobrescritos, ( +, − ) , representam ondas propagando-se nas direções + z e − z ,

respectivamente. As amplitudes (V0+ , I 0+ ) e (V0− , I 0− ) estão relacionadas através das Eqs. (2.77) e

(2.78), sendo fácil de verificar que:

V0+ V0− R + jω L
= − = . (2.84)
I 0+ I 0− γ

Para uma linha infinita (realmente uma LT semi-infinita com a fonte na entrada) os termos
contendo o fator exp ( −γ z ) devem se atenuar até desaparecer. Como não existem ondas refletidas, a

linha suportará somente ondas viajando na direção + z . Assim, a tensão e corrente na LT podem ser
escritas sob a forma:

V ( z ) = V0+ exp ( −γ z ) , (2.85)

I ( z ) = I 0+ exp ( −γ z ) . (2.86)

A razão da tensão e a corrente em uma LT infinitamente longa, definida na Eq. (2.84),


independe da posição z e é denominada impedância característica, Z 0 [ Ω ] da LT. Assim:

R + jω L γ R + jω L
Z0 = = = . (2.87)
γ G + jωC G + jωC

43
Note que γ e Z 0 são propriedades características da LT, independente de seu comprimento. Tais

parâmetros dependem apenas de R , L , G , C e ω , e não do comprimento da linha.


Convém observar que existe uma analogia perfeita entre uma linha de transmissão e as
ondas planas uniformes com incidência normal num meio com perdas.

γ = α + j β = ω 2 µε
%%
µ% ,
η=
ε%
com,

 µ% = µ ′ + j µ ′′
 .
 ε% = ε ′ + jε ′′

Vejamos os casos especiais:

1. LT sem perdas ( R = 0 , G = 0 ):

a. Constante de Propagação:

γ = α + j β = jω LC , (2.88)
α =0, (2.89)

β = ω LC ( função linear de ω ) . (2.90)

b. Velocidade de Fase:

ω 1
up = = ( constante ) (2.91)
β LC

c. Impedância Característica:

L
Z 0 = R0 + jX 0 = (2.92)
C

44
L
R0 = (2.93)
C
X0 = 0 (2.94)

2. LT com baixas perdas ( R << ω L , G << ωC ):


As condições de baixas perdas são mais facilmente satisfeitas para altas freqüências.

a. Constante de Propagação:

1/ 2 1/ 2
 R   G 
γ = α + j β = jω LC 1 + 1 + jωC  .
 jω L   

Usando a expansão,
1/ 2 x
(1 + x ) = 1+ + θ ( x 2 ) , para x << 1 ,
2
temos,

 R  1   R  1 
γ = jω LC 1 + + θ  2   1 + + θ  2  ,
 j 2ω L  ω   j 2ωC  ω 

 1 R G  1 
γ = jω LC 1 +  +  + θ  2  ,
 j 2ω  L C   ω 
1 R G 1
γ= LC  +  + jω LC + θ   ,
2 L C ω 

1 C L
γ ≅  R +G  + jω LC . (2.95)
2 L C 

1 C L 1 R
α ≅  R +G = , (2.96)
2 L C  2 R0

e,

β ≅ ω LC ( aproximadamente uma função linear de ω ) . (2.97)

45
R G
Na Eq. (2.96) assumimos que >> . Esta relação se aplica na maioria das LTs práticas, por
L C
exemplo, para linhas telefônicas bifilares típicas temos:
R = 25 Ω km ,
G = 0,3 µS km ,
L = 2,5 mH km ,
C = 5 pF km ,
1
Rd = = 3,33 × 106 Ω ,
G
e, portanto,
C L
= 0, 016666 e = 10−4 .
G R
Assim:
R L
= 166, 66 ,
GC

atendendo a condição R L >> G C . Para cabos coaxiais essa relação é da ordem de 104.

b. Velocidade de Fase:
ω 1
up = ≅ ( aproximadamente constante ) .
β LC

c. Impedância Característica:

1/ 2 −1/ 2
L R   G 
Z 0 = R0 + jX 0 = 1+ 1 + jωC  ,
C jω L   

L  1 R G  1 
Z0 = 1 + j 2ω  L − C  + θ  ω 2   ,
C     

L L  1  R G 
Z0 ≅ −j   −  . (2.98)
C C  2ω  L C 
Assim,

46
L
R0 ≅ , (2.99)
C

L  1  R G 
X0 ≅ −   −  ≅ 0 , (2.100)
C  2ω  L C 

R G
3. LT sem distorção  =  :
L C

a. Constante de Propagação

( R + jω L )  
RC
γ = α + jβ = + jωC  ,
 L 

C
γ= ( R + jω L ) . (2.101)
L
Assim,

C
α =R ≠ 0, (2.102)
L

β = ω LC ( função linear de ω ) . (2.103)

b. Velocidade de Fase

ω 1
up = = ( constante ) . (2.104)
β LC

c. Impedância Característica

R + jω L L
Z 0 = R0 + jX 0 = = , (2.105)
G + jωC C

L
R0 = ( constante ) , (2.106)
C
X0 = 0 . (2.107)

47
Obs.: Neste caso, exceto pelo fato da constante de atenuação ser não-nula, as características de
uma LT sem distorção são as mesmas de uma linha de transmissão sem perdas.
Um fenômeno conhecido como dispersão surge quando existe dependência da velocidade de
fase ( u p ) com a freqüência. A condição u p constante é satisfeita pela LT sem perdas e é

aproximadamente satisfeita pela linha com baixas perdas. Numa linha de transmissão com perdas as
amplitudes das ondas serão atenuadas, e a distorção surgirá quando as diferentes componentes de
freqüência atenuam-se diferentemente, mesmo quando as mesmas viajam com a mesma velocidade.
Em geral, uma LT com perdas é dispersiva, da mesma forma que um dielétrico com perdas.

Exemplo 2.4:

A atenuação numa LT de 50 Ω , sem distorção, é de 0, 01 [ dB/m ] e a linha tem uma capacitância

de 0,1 [ nF/m ] .

a. Calcule resistência, indutância e condutância por unidade de comprimento, da LT.


b. Ache a velocidade de propagação da onda na LT.
c. Determine a percentagem para a qual a amplitude de uma onda de tensão propagante se reduz
em 1 km e 5 km .

Solução:

R G
a) Para a LT sem distorção, = .
L C
 L
 R0 = = 50
 C
Por outro lado, sabendo que α dB = 8,868α Np , 
 α = R C = 0, 01/ 8, 686 = 1,15 ×10 −3
 L

As relações acima são suficientes para determinar R , L e G . Assim:

R
α= ⇒ R = α R0 = 0, 057 [ Ω/m ]
R0
2
C R
α 2 = R2 ⇒ L = C   = 0, 25 [ µ H/m ]
L α 

48
RC R
G= ⇒ G= = 22,8 [ µS/m ]
L R02

1
b) up = = 2 ×108 [ m/s ]
LC

V2
c) = exp ( −γ z )
V1

V2
z = 1 km ⇒ = exp ( −1,15 ) = 0,317 ⇒ 31, 7%
V1

V2
z = 5 km ⇒ = exp ( −5, 75 ) = 0, 0032 ⇒ 0, 32%
V1

2.7.1. Constante de Atenuação a partir de Relações de Potência

Da Eq. (2.81) temos que:

α = Re {γ } = Re { ( R + jω L )( G + jωC )} .

Para uma carga casada (ou linha de transmissão infinita),

V ( z ) = V0 exp  − (α + j β ) z  , (2.108)

V0
I (z) = exp  − (α + j β ) z  . (2.109)
Z0

Sabendo que a potência média em um ponto qualquer da linha é dada por:

1
P(z) = Re {V ( z ) I * ( z )} ,
2
então,

49
2
V0
P( z) = 2
R0 exp [ −2α z ] . (2.110)
2 Z0

Como a potência média por unidade de comprimento, PL , pode ser calculada por,


PL = − P (z) , (2.111)
∂z
então,

PL ( z ) = 2α P ( z ) ,

E, assim:

PL ( z )  Np 
α= . (2.112)
2 P ( z )  m 

Exemplo 2.5:

a. Calcule α em função de R , L , G e C .

Solução:
Considerando uma LT casada:

1
R I ( z) + G V ( z) 
2 2
PL ( z ) =
2  
2
V0
PL ( z ) =
2 Z0
2 ( R + G Z ) exp [−2α z ]
0
2

α=
1
2 R0
(
R + G Z0
2
)  Np 
m 

R G
b. Para uma LT com baixas perdas e, considerando  >>  :
L C

L
Z 0 ≅ R0 = , logo:
C

50
1 C L 1 R
α ≅  R +G ≈ ,
2 L C  2 R0

onde,

L
R0 = .
C

O resultado acima coincide com os resultados para altas freqüências, onde R << ω L e
G << ωC

R G
c. Para uma LT sem distorção  =  :
L C

L
Z 0 = R0 = e,
C

1  L R C
α= R+G  = =R ,
2 R0  C  R0 L
visto que,
L
R=G .
C

2.8. Características das Linhas de Transmissão Descasadas

De (2.82) e (2.83), vimos que:

V ( z ) = V0+ exp ( −γ z ) + V0− exp ( γ z ) , (2.113)

I ( z ) = I 0+ exp ( −γ z ) + I 0− exp ( γ z ) , (2.114)

com,

V0+ V−
+
= − 0− = Z 0 , (2.115)
I0 I0

51
onde V0+ exp ( −γ z ) representa a onda se propagando à direita e V0− exp ( γ z ) a onda se propagando à

esquerda. Além disso, conforme visto anteriormente, para ondas lançadas em linhas infinitas (ou LT
casadas), não temos ondas refletidas.
Para uma LT com carga arbitrária, conforme ilustrada na Figura 2.33, as Eqs. (2.82) – (2.83)
podem ser escritas como função dos parâmetros de carga, isto é, V0+ e V0− como função de VL , I L e

ZL .

Zg IL

+
Vg (γ , Z0 ) VL ZL

− V  VL
  = = ZL
 I  z =l I L
z z′ = l − z

z=0 z =l
z ′ = −l z′ = 0
Figura 2.33: LT finita terminada com uma carga de impedância arbitrária Z L .

Assim, fazendo z = l em (2.113) e (2.114), e lembrando que:

V ( l ) = VL ,

I (l ) = IL ,

temos:

VL = V0+ exp ( −γ l ) + V0− exp ( γ l ) ,

V0+ V−
IL = exp ( −γ l ) − 0 exp ( γ l ) .
Z0 Z0

Resolvendo as equações acima para V0+ e V0− , temos:

1
V0+ = (VL + I L Z 0 ) exp (γ l ) , (2.116)
2
1
V0− = (VL − I L Z 0 ) exp ( −γ l ) . (2.117)
2

52
Lembrando que, VL = I L Z L , os coeficientes V0+ e V0− podem ser reescritos:

IL
V0+ = ( Z L + Z 0 ) exp ( γ l ) , (2.118)
2
IL
V0− = ( Z L − Z 0 ) exp ( −γ l ) . (2.119)
2

Observando, ainda, que z′ = l − z , a tensão e a corrente na linha de transmissão podem ser escritas
como função da coordenada z′ , medida a partir da carga.Assim:

IL
V ( z′) = ( Z L + Z 0 ) exp ( γ z ′ ) + ( Z L − Z 0 ) exp ( −γ z ′ )  , (2.120)
2 
IL
I ( z′) = ( Z L + Z 0 ) exp ( γ z ′ ) − ( Z L − Z 0 ) exp ( −γ z ′ )  . (2.121)
2Z0 

Considerando as relações matemáticas,

exp ( γ z ′ ) + exp ( −γ z ′ ) = 2 cosh ( γ z′ ) ,

exp ( γ z ′ ) − exp ( −γ z ′) = 2senh ( γ z′ ) ,

as Eqs. (2.120) e (2.121) podem ser reescritas na forma hiperbólica, sob a forma:

V ( z ′ ) = I L  Z L cosh ( γ z′ ) + Z 0 senh ( γ z ′ )  , (2.122)

IL
I ( z′) =  Z L senh ( γ z ′ ) + Z 0 cosh ( γ z′ )  . (2.123)
Z0 

A impedância da onda na linha, em um ponto z′ qualquer, pode ser derivada diretamente das Eqs.
(2.120) – (2.121) ou (2.122) – (2.123). Assim, na forma hiperbólica a impedância pode ser escrita:

V ( z′)  Z + Z 0 tanh ( γ z′ ) 
Z ( z′) = = Z0  L  [Ω] . (2.124)
I ( z′ )  Z 0 + Z L tanh ( γ z′ ) 

53
Na fonte, z′ = l , o gerador “olhando” em direção à carga “vê” uma impedância de entrada
Z i , como ilustrado na Figura 2.34, tal que:

Zg IL

+
Vg Zi VL

Figura 2.34: Circuito equivalente no gerador.

 z′ = l  Z L + Z 0 tanh ( γ l )
Zi = Z   = Z0 . (2.125)
 z = 0 Z 0 + Z L tanh ( γ l )

Obs.: Para outra posição na LT o circuito equivalente da Figura 2.33 não se aplica.

A partir do circuito da Figura 2.34, observamos que a tensão na entrada da linha de


transmissão pode ser facilmente determinada através de um divisor de tensão. Portanto:

Zi
Vi = Vg , (2.126)
Z g + Zi

e,
Vg
Ii = . (2.127)
Z g + Zi

A potência média aplicada na carga é:

1
( Pav )L = Re {VL I L* } ′ ,
2 z =l , z = 0

onde VL e I L são dados em valores de pico. Lembrando da relação VL = I L Z L , podemos reescrever


a potência entregue à carga sob a forma:

54
2
1 V 1 2
( Pav ) L = RL L = RL I L , (2.128)
2 ZL 2

A potência média aplicada na entrada da linha é:

1
( Pav )i = Re {Vi I i* } , (2.129)
2 z = 0, z ′ =l

e para uma linha sem perdas,

( Pav )i = ( Pav ) L . (2.130)

Para o caso particular onde Z L = Z 0 , a impedância em um ponto z′ qualquer é constante, tal que:

Z ( z′) = Z 0 . (2.131)

Nesse caso, a tensão e a corrente, definidas em (2.120) e (2.121), respectivamente, podem ser
escritas como:

V ( z ) =  I L Z 0 exp ( γ l )  exp ( −γ z ) = VL exp ( γ l )  exp ( −γ z ) = Vi exp ( −γ z ) , (2.132)

I ( z ) =  I L exp ( γ l )  exp ( −γ z ) = I i exp ( −γ z ) . (2.133)

Como podemos observar as Eqs. (2.132) e (2.133) correspondem a um par tensão/corrente que
propaga na LT no sentido + z (gerador para carga), sem a presença de ondas refletidas da carga.
Esta situação diz-se que a linha de transmissão está casada, simulando uma linha infinita.

Exemplo 2.6:

Um gerador de sinais com Rg = 1 [ Ω ] e tensão vg ( t ) = 0,3cos ( 2π ×108 t ) [ V ] é conectado a uma

LT sem perdas de 50 [ Ω] . O comprimento da LT é de 4 m e a velocidade de propagação da onda

55
é de 2,5 × 108 [ m/s ] . Para uma carga casada, determine: (a) as expressões instantâneas da tensão e

corrente em um ponto qualquer da linha; (b) as expressões instantâneas para a tensão e a corrente na
carga; (c) a potência transferida à carga.

Solução:

a. Vg = 0,3∠0o [ V ] ( fasor tendo como referência o cosseno )

Z g = Rg = 1 [ Ω ]

Z 0 = R0 = 50 [ Ω]

ω = 2π ×108 [ rad/s ]

u p = 2,5 ×108 [ m/s ]

l = 4 [ m]

Na situação casada, Z L = Z 0 = 50 [ Ω] , temos apenas ondas se propagando à direita, ou em

direção à carga. Assim:


50
Vi = × 0,3∠0o = 0, 294∠0o [ V ]
1 + 50
0,3∠0o
Ii = × = 0, 0059∠0o [ A ]
1 + 50
ω 2π × 108
β= = =0,8π [ rad/m ]
up 2,5 ×108

V ( z ) = 0, 294 exp ( − j 0,8π z ) [ V ]

I ( z ) = 0, 0059 exp ( − j 0,8π z ) [ A ]

As expressões instantâneas correspondentes são:

{ }
v ( z , t ) = Re 0, 294 exp  j ( 2π ×108 t − 0,8π z )  =0,294cos ( 2π × 108 t − 0,8π z ) [ V ]

i ( z, t ) = Re {0, 0059 exp  j ( 2π × 10 t − 0,8π z ) } =0,0059cos ( 2π ×10 t − 0,8π z ) [ A ]


8 8

56
b. Na carga z = l = 4 [ m ] . Assim:

v ( 4, t ) = 0,294cos ( 2π ×108 t − 3, 2π ) [ V ]
i ( 4, t ) = 0,0059cos ( 2π ×108 t − 3, 2π ) [ A ]

c. Usando a Eqs. (2.129),

1
( Pav ) L = ( Pav )i = Re {V ( z ) I * ( z )}
2
1
( Pav ) L = ( Pav )i = ( 0, 294 × 0, 0059 )
2
( Pav ) L = ( Pav )i = 8, 7 ×10−4 [ W ]

( Pav ) L = ( Pav )i = 0,87 [ mW ]

2.9. Linhas de Transmissão como Elementos de Circuito

As linhas de transmissão, além de serem utilizadas como guias de ondas para transferir
informação e potência entre dois pontos podem, na faixa UHF (freqüências na faixa
300 [ MHz ] a 3 [ GHz ] e comprimentos de onda entre 1 [ m ] a 0,1 [ m ] ), serem utilizadas como

elementos de circuitos.
Como discutimos anteriormente, para uma LT sem perdas temos que: γ = j β e Z 0 = R0 .
Lembrando que:

tanh ( γ l ) = tanh ( j β l ) = j tan ( β l ) ,

a impedância Z i , a uma distância l da carga, Z L será:

Z L + jR0 tan ( β l )
Zi = R0 . (2.134)
R0 + jZ L tan ( β l )

. Terminação em Circuito Aberto ( Z L → ∞ )

57
Levando a condição Z L → ∞ na Eq. (2.134),

R0
Z i = jX i = − j = − jR0 cot ( β l ) . (2.135)
tan ( β l )

Lembrando que β l = 2π l λ , a Eq. (2.135) mostra que a impedância de entrada de uma linha sem
perdas, terminada em circuito aberto, é puramente reativa, podendo ser tanto indutiva como
capacitiva, dependendo de seu comprimento l , visto que −∞ < cot ( β l ) < ∞ . A Figura 2.35 mostra

o gráfico da reatância de entrada X i = − R0 cot ( β l ) como função do comprimento normalizado

( l λ ) . Para β l << 1 , tan ( β l ) ≈ β l .

( indutiva )

( capacitiva )

Figura 2.35: Reatância de entrada para uma seção de LT com os terminais em aberto.

Assim:

R0 LC 1
Zi = jX i ≅ − j =−j =−j ,
βl ωl LC ωCl
e,
1
Xi = − . (2.136)
ωCl

58
2.9.2. Terminação em Curto – Circuito ( Z L = 0 )

Levando a condição Z L = 0 na Eq. (2.134) temos,

Zi = jX i = jR0 tan ( β l ) . (2.137)

Assim como para a terminação em aberto, a Eq. (2.137) mostra que a impedância de entrada de uma
LT sem perdas, terminada em curto-circuito, é puramente reativa, podendo ser tanto indutiva como
capacitiva, dependendo de seu comprimento l , uma vez que −∞ < tan ( β l ) < ∞ . A Figura 2.36

apresenta o gráfico da reatância de entrada X i = R0 tan ( β l ) como função do comprimento

normalizado ( l λ ) . Se β l << 1 , tan ( β l ) ≈ β l e,

L
Z i = jX i ≅ jR0 β l = jωl LC = jω Ll ,
C
e,
X i = ω Ll . (2.138)

2.9.3. Seção de Quarto-de-Onda

Quando o comprimento da LT é um múltiplo ímpar de quarto-de-onda, isto é,

λ
l = ( 2n − 1) , n = 1, 2, 3, L
4

então,

59
( indutiva )

( capacitiva )

Figura 2.36: Reatância de entrada para uma seção de LT com os terminais em curto-circuito.

2π λ π
βl = ( 2n − 1) = ( 2n − 1) .
λ 4 2
Lembrando que:

 π
tan ( β l ) = tan ( 2n − 1)  → ±∞ ,
 2

a impedância de entrada, Eq. (2.125), pode ser reescrita como,

R02
Zi = . (2.139)
ZL

A Eq. (2.139) mostra que uma linha de transmissão sem perdas, de comprimento múltiplo ímpar de
quarto de comprimento de onda, transforma a impedância da carga para a entrada como sua inversa
multiplicada pelo quadrado da resistência característica, sendo denominado transformador de
quarto-de-onda. Assim,

Carga em circuito aberto ( Z L → ∞ ) ⇒ Z i = 0 ,

Carga em curto-circuito ( Z L = 0 ) ⇒ Z i → ∞ .

60
Em geral como R0 ≠ 0 , quando Z L = 0 a impedância Z i é muito alta, similar a de um circuito
paralelo ressonante.

2.9.4. Seção de Meia-Onda

Quando comprimento da linha de transmissão é um múltiplo inteiro de meio comprimento


λ
de onda, isto é, l = n , n = 1, 2, 3, L , então,
2
2π  λ 
βl = = nπ .
λ  2 
n

Lembrando que,

tan ( β l ) = tan [ nπ ] = 0 , para n = 1, 2, 3, L ,

a impedância de entrada, Eq. (2.125), pode ser reescrita como,

Zi = Z L . (2.140)

A Eq. (2.140) estabelece que uma seção de meio comprimento de onda transfere a impedância de
carga para os terminais de entrada. Convém observar que, segundo a Eq. (2.125), para uma linha
de meio comprimento de onda com perdas a igualdade será válida somente se Z L = Z 0 .
Medindo a impedância de entrada de uma LT qualquer, com os terminais de carga em curto
e em aberto, podemos determinar a impedância característica e a constante de propagação na
linha. Usando a Eq. (2.125) obteremos, para os terminais de carga em aberto ( Z L → ∞ ) ,

Zia = Z 0 coth ( γ l ) . (2.141)

Da mesma forma, para os terminais de carga em curto-circuito ( Z L = 0 ) ,

Zic = Z 0 tanh ( γ l ) . (2.142)

61
Multiplicando as Eqs. (2.141) e (2.142), e resolvendo para Z 0 , temos:

Z 0 = Z ia Z ic . (2.143)

Dividindo (2.141) por (2.142), e resolvendo para γ , teremos:

1  Z 
γ = tanh −1  ic  . (2.144)
l  Z ia 

As Eqs. (2.143) e (2.144) se aplicam a qualquer linha de transmissão, com ou sem perdas.

Exemplo 2.7:

As impedâncias medidas na entrada de uma seção de linha sem perdas, de comprimento


l = 1,5 [ m] < λ 4 , com os terminais de carga em aberto e curto-circuitados, são: Zia = − j54, 6 [ Ω ]

e Zic = j103 [ Ω] , respectivamente. (a) Calcule Z 0 e γ ; (b) Sem mudar a freqüência de operação,

encontre as impedâncias de entrada para terminais de carga em aberto e em curto, para l ′ = 2l [ m ] .

(c) Qual o comprimento da LT curto-circuitada de forma que a sua impedância de entrada se


comporte como um circuito-aberto.

Solução:

a. Z 0 = Z ia Z ic = 54, 6 ×103 = 75 [ Ω ]

1  Z  1  j103  j
γ = tanh −1  ic  = tanh −1   = tan −1 (1, 373) = j 0, 628 [ rad/m ]
l  Z ia  1, 5  − j 54, 6  1,5

b. Para uma LT curto-circuitada com l ′ = 2l = 3 [ m ] :

γ l ′ = j 0, 628 × 3, 0 = j1,884 [ rad ]

62
75
Zia = Z 0 coth ( γ l ) = j = j 24,35 [ Ω] ⇒ impedância indutiva
tan (1,884 )

Zic = Z 0 tanh ( γ l ) = j 75 tan (1,884 ) = − j 231 [ Ω] ⇒ impedância capacitiva

λ
Dos resultados acima podemos concluir que: 1,5 < < 3, 0 [ m ] .
4

c. Para que a impedância de entrada de uma LT curto-circuitada esteja em aberto é


necessário que a seção de LT tenha comprimento múltiplo ímpar de quarto-de-onda,
como mostra a Figura 2.37.

( indutiva )

( capacitiva )

Figura 2.37: Reatância de entrada para uma seção de LT com os terminais em curto-circuito.

2π 2π
Como λ = = = 10 [ m ] , então:
β 0, 628

λ 10
l = ( 2n − 1) = ( 2n − 1) , para n = 1, 2, 3,L
4 4

l = 2,5 + 5 ( n − 1) [ m ]

Vamos, agora, analisar uma seção de linha de transmissão com perdas de comprimento
l e com os terminais curto-circuitados. Nesse caso, a impedância de entrada será:

63
senh (α + j β ) l  senh (α l ) cos ( β l ) + j cosh (α l ) sen ( β l )
Z i = Z 0 tanh ( γ l ) = Z 0 = Z0 . (2.145)
cosh (α + j β ) l  cosh (α l ) cos ( β l ) + j senh (α l ) sen ( β l )

λ
Para l = n , β l = nπ e senh ( β l ) = sen ( β l ) = 0 . Dessa forma, a Eq. (2.145) reduz-se a,
2

Zic = Z 0 tanh (α l ) .

Assumindo uma LT com baixas perdas (contudo, não nulas), isto é, α l << 1 , então:

Zic = Z 0 tanh (α l ) ≅ Z 0 (α l ) , (2.146)

onde Z ic é pequeno, porém não-nulo. Assim, para l = n λ 2 temos um circuito ressonante em série,
como ilustra a Figura 2.38(a), onde, na ressonância,

Zi = R .

I
I
R
R C L
L

C
Zi
Zi

(a) (b)
Figura 2.38: (a) Circuito ressonante em série; (b) circuito ressonante paralelo.

Para uma seção de LT com perdas de comprimento múltiplo ímpar de λ 4 , a impedância de

entrada Z i não tende a infinito, como mostra a Figura 2.35. Fazendo l = ( 2n − 1) λ 4 ,

β l = ( 2n − 1) π  2 e cos ( β l ) = 0 na Eq. (2.145), assumindo, ainda, α l << 1 , temos:

64
Z0 Z
Zic = ≅ 0. (2.147)
tanh (α l ) α l

λ
Como mostra a Eq. (2.147), para uma seção de comprimento l = ( 2n − 1) a impedância Z ic é
4
grande, porém finita, o que caracteriza um circuito ressonante em paralelo, Figura 2.38(b). Esse
circuito é, portanto, um circuito seletivo em freqüência e, sendo assim, podemos determinar seu
fator de qualidade – Q, determinando sua largura de banda de meia potência ou largura de banda.
Em um circuito ressonante paralelo a largura de banda, ∆f , é definida como:

∆f = f 2 − f1
onde,
∆f
f1 = f 0 − ,
2

∆f
f 2 = f0 + ,
2

são as freqüências de meia potência e f 0 é a freqüência ressonante.


Considerando o circuito paralelo da Figura 2.38(b) e utilizando os conhecimentos de teoria
de circuitos elétricos, a impedância de entrada, Z ic , pode ser calculada tal que,

1 1
Zic = = ,
G + j X G − j  1 − ωC  (2.148)
 
 ωL 

onde, G = 1 R é a admitância do circuito na ressonância e ω a freqüência de operação. Sabendo


que a potência média transferida ao circuito é

1 2
Pav = I Re {Z ic } ,
2

e que,

65
1
Re {Zic } =
2
( Zic + Zic* ) ,
1 2G
Re {Z ic } = ,
2 G2 + X 2

2 1 2
Re {Z ic } = G Z ic = Z ic , (2.149)
R
então:
1 2 2
Pav = I Zi~c . (2.150)
2R

Assim, conforme mostra a Eq. (2.150), em um circuito paralelo potência média é diretamente
proporcional à impedância de entrada Z ic e, portanto, podemos determinar a largura de banda da
2
seção de LT diretamente da curva Z ic × f , como mostra a Figura 2.39.

Vamos assumir que f = f 0 + δ f , onde δ f é um pequeno desvio a partir da freqüência de


ressonância. Dessa forma,

2π f 2π ( f 0 + δ f )
βl = l= l.
up up

2
Zic
2
Zic max

2
Z ic max

2
∆f

f [ Hz ]
f1 f0 f2

Figura 2.39: Variação da impedância de entrada versus frequencia em um circuito ressonante paralelo.

Tomando,

66
λ
l=n , para n = 1, 3, 5, L ,
4

então,

nπ nπ  δ f 
βl = +  , para n = 1, 3, 5, L . (2.151)
2 2  f0 

2π f 0 ω0 2π δ f 
Lembrando que = = = β 0 , e assumindo   << 1 , temos:
u u λ  f0 

 nπ  δ f  nπ δ f 
cos ( β l ) = − sen    ≅ −  , (2.152)
 2  0 
f 2  f0 

 nπ  δ f 
sen ( β l ) = cos    ≅ 1 . (2.153)
 2  f0 

Substituindo as Eqs. (2.152) – (2.153) em (2.145), considerando ainda α l << 1 , obtemos:

j
Z ic ≅ Z 0 ,
cos ( β l ) + j tanh (α l )

j Z0
Z ic ≅ Z 0 = ,
cos ( β l ) + jα l − j cos ( β l ) + α l

Z0
Z ic = ,
nπ  δ f  (2.154)
αl + j  
2  f0 

e,
2
2 Z0
Zic = 2
.
2  nπ  δ f   (2.155)
(α l ) +  
 2  f0 

2
Em f = f 0 , δ f = 0 e, portanto, Z ic max
será:

67
2
2 2 Z0
Z ic max
= Z ic = 2
.
f = f0
(α l )

Desta forma,

2
Z ic Pav 1
2
= = 2
.
Z ic max
( Pav )max  nπ  δ f  (2.156)
1+   
 2α l  f 0 

∆f nπ  δ f 
Quando δ f = ± temos   = 1 e, dessa forma, as freqüências f1 e f 2 são chamadas
2 2α l  f 0 


freqüências de meia potência. Como = β 0 , nas freqüências de meia potência podemos escrever,
2l

nπ  ∆f  β 0 ∆f
 = = 1, para n = 1, 3, 5, L . (2.157)
2α l  2 f 0  2α f 0

Desde modo, o fator de qualidade, Q , de um circuito ressonante paralelo, de uma seção de linha de
transmissão com perdas e de comprimento múltiplo ímpar de quarto-de-onda, será:

f0 β0
Q= = . (2.158)
∆f 2α

Lembrado que, para uma linha de transmissão com baixas perdas,

β 0 = ω LC ,
e

1 C L
α =  R +G ,
2 L C 

R G
observando, ainda, que >> , temos:
L C

68
1 C GL 
α= R+ ,
2 L C 

1 C R G
α= L +  ,
2 L L C

1 C R
α≅ R= .
2 L 2 R0

Sendo assim, a Eq. (2.158) pode ser reescrita como:

ωL
Q= . (2.159)
R

A Tabela 2.2 apresenta um resumo dos resultados obtidos anteriormente.

Tabela 2.2 – Características das seções de LT com baixas perdas.


l = nλ 4, n=1,3,5,L l = nλ 2, n=1,2,3,L
curto-circuito ressonante paralelo ressonante série
circuito aberto ressonante série ressonante paralelo

Exemplo 2.8:

O coeficiente de atenuação de uma linha coaxial, medida em 400 MHz , é 0, 01 dB/m . Determine a
o fator de qualidade, Q , e a largura de banda, ∆f , uma seção de quarto-de-onda com terminação
curto-circuitada.

Solução:
f 0 = 4 ×108 [ Hz ]

c 3 × 108
λ= = = 0, 75 [ cm ]
f 0 4 × 108

β= = 8, 38 [ rad/m ]
λ

69
dB 0, 01  Np 
α = 0, 01 = = 0, 0012 
m 8, 69  m 

Assim, o fator de qualidade será:

β 8,38 × 8, 69
Q= = = 3641 ,
2α 2 × 0, 01

que é um o fator de qualidade muito maior do que se obteria em um circuito ressonante


paralelo com parâmetro concentrados, operando em 400 MHz.
A largura de banda (banda passante) do sistema será:

f0
∆f = = 0,11 [ MHz ] ou 110 [ kHz ]
Q

2.10. Linhas de Transmissão com Terminação Resistiva

Quando a linha de transmissão é terminada com uma impedância de carga Z L diferente da

impedância característica da linha ( Z 0 ), existirão na linha ondas propagantes (que se propagam do


gerador para a carga) e ondas contra-propagantes (propagando-se a partir da carga). Da Eq. (2.120),
temos:

V ( z′) = V + ( z′) + V − ( z′) ,

 V − ( z′ ) 
V ( z ′ ) = V + ( z ′ ) 1 + +  = V ( z ′ ) 1 + Γ ( z′ )  ,
+

 V ( z′) 
IL
V ( z′) = ( Z L + Z 0 ) exp ( γ z ′ ) + ( Z L − Z 0 ) exp ( −γ z ′ ) 
2 

IL
V ( z′) = ( Z L + Z 0 ) exp (γ z′ ) 1 + Γ L exp ( −2γ z′ ) ,
2
IL
V ( z′) = ( Z L + Z 0 ) exp ( γ z′ ) 1 + Γ ( z′ )  , (2.160)
2

70
onde,
Γ ( z′ ) = Γ L exp ( −2γ z′ ) , (2.161)

Z L − Z0
ΓL = Γ (0) = = Γ L exp ( jθ Γ ) . (2.162a)
Z L + Z0

1 + ΓL
Z L = Z0 (2.162b)
1 − ΓL

O parâmetro Γ ( z′ ) é adimensional e é denominado coeficiente de reflexão de tensão na linha de

transmissão. O parâmetro Γ L , o coeficiente de reflexão de tensão na carga é, normalmente, uma

grandeza complexa e com Γ L < 1 . A corrente correspondente à Eq. (2.160) será,

IL
I ( z′) = ( Z L + Z 0 ) exp ( γ z′ ) 1 + Γ′ ( z′ )  , (2.163)
2Z0

onde,
Γ′ ( z ′ ) = −Γ ( z′ ) , (2.164)

é o coeficiente de reflexão de corrente, definido tal que:


I− V−
Γ′ ( z ′ ) = +
=− + . (2.165)
I V

Para uma linha de transmissão sem perdas, γ = j β e, portanto:

IL
V ( z′) = ( Z L + R0 ) exp ( j β z′ ) 1 + Γ L exp ( − j 2β z′ )  ,
2
IL
V ( z′) =
2
{
( Z L + R0 ) exp ( j β z′ ) 1 + Γ L exp  j (θ Γ − 2β z′ )  , }

ou,
IL
V ( z′ ) = ( Z L + R0 ) exp ( j β z′ ) 1 + Γ L exp ( jφ )  , (2.166)
2
e,

71
IL
I ( z′) = ( Z L + R0 ) exp ( j β z′ ) 1 − Γ L exp ( jφ )  , (2.167)
2 R0
onde,
φ = θ Γ − 2β z′ . (2.168)

Na forma hiperbólica temos que:

V ( z′ ) = I L  Z L cosh ( γ z ′ ) + Z 0senh ( γ z′ )  , (2.169)

IL
I ( z′ ) =  Z L senh ( γ z ′ ) + Z 0 cosh ( γ z ′ )  . (2.170)
Z0 

Para uma linha sem perdas, lembrando que cosh ( jθ ) = cos (θ ) , senh ( jθ ) = j sen (θ ) e

considerando VL = I L RL , temos:

V ( z′ ) = I L Z L cos ( β z′ ) + jI L R0sen ( β z′ ) , (2.171)

VL
I ( z ′ ) = I L cos ( β z′ ) + j sen ( β z ′ ) . (2.172)
R0

Se a terminação é puramente resistiva Z L = RL , então:

2
R 
V ( z′ ) = VL cos ( β z ′) +  0  sen 2 ( β z ′ ) ,
2
(2.173)
 RL 

2
R 
I ( z′) = I L cos ( β z ′ ) +  L  sen 2 ( β z ′ ) .
2
(2.174)
 R0 

onde R0 = L C .

Analogamente ao caso das ondas planas, podemos definir a razão entres os máximos e
mínimos (tensão e/ou corrente) na linha de transmissão. Assim:

72
Vmax I 1+ Γ
S= = max = , (2.175)
Vmin I min 1 − Γ

onde S é um parâmetro adimensional, denominado: SWR (standing-wave ratio), TOE (taxa de


onda estacionária) ou ainda ROE (razão de onda estacionária). A relação inversa à Eq. (2.175)
define o módulo do coeficiente de reflexão. Assim:
S −1
Γ = . (2.176)
S +1

Normalmente, a taxa de onda estacionária é informada em dB, tal que,

SdB = 20 log10 ( S ) . (2.177)

A Tabela 2.3 apresenta, a partir das Eqs. (2.175) e (2.176), os resultados comparativos para três
cargas.

Obs.: Quando S é grande isso indica que existe um descasamento grande na carga (grande
diferença entre a impedância característica e a impedância de carga), o que é indesejável.

Tabela 2.3 – Coeficiente de reflexão e TOE para três tipo de carga em LT sem perdas.
CARGA ZL ΓL S

casada Z0 0 +1
curto 0 −1 ∞
aberto ∞ +1 ∞

Examinando as Eqs. (2.166) e (2.167), observamos que Vmax e I min ocorrem quando,

θ Γ − 2 β zm′ = −2nπ , para n = 0, 1, 2, 3, L . (2.178)

Por outro lado, Vmin e I max , ocorrem quando,

73
θ Γ − 2β zm′ = − ( 2n + 1) π , para n = 0, 1, 2, 3, L . (2.179)

As relações apresentadas nas Eqs. (2.178) e (2.179) podem ser facilmente retiradas da representação
fasorial, ilustrada na Figura 2.40 para tensão e/ou corrente na linha como função de θ Γ e z ′ .

θΓ

−2 β z ′
Vmin , I max Vmax , I min

Figura 2.40: Representação fasorial para tensão e corrente ao longo da linha.

Para uma LT sem perdas e com carga resistiva, isto é, Z 0 = R0 e Z L = RL , podemos reescrever a Eq.
(2.162), tal que:
RL − R0
ΓL = . (2.180)
RL + R0

Nesse caso, o coeficiente de reflexão é puramente real, e dois casos são possíveis:
a. RL > R0 − aqui Γ L > 0 e, portanto, θ Γ = 0 . No ponto z′ = 0 a condição (2.178) é satisfeita

para n = 0 , significando um máximo de tensão (mínimo de corrente) sobre a carga resistiva.


Outro máximo de tensão da onda estacionária estará localizado no ponto z′ = nλ 2 , para
n = 1, 2, L , medido a partir da carga;
b. RL < R0 − aqui Γ L < 0 e, portanto, θ Γ = −π . No ponto z′ = 0 a condição (2.179) é satisfeita

para n = 0 , significando um mínimo de tensão (máximo de corrente) sobre a carga resistiva.


Outro mínimo de tensão da onda estacionária estará localizado no ponto z′ = nλ 2 , para
n = 1, 2, L , medido a partir da carga.

74
A Figura 2.41 ilustra o padrão de onda estacionária típico para uma carga resistiva, obtido
diretamente das Eqs. (2.173) e (2.174), respectivamente. Assim, para RL > R0 ,

 V ( z ′ ) para RL > R0

 I ( z ′ ) para RL < R0

 I ( z′ ) para RL > R0

 V ( z′ ) para RL < R0

λ 3λ 4 λ 4 λ 4 0 z′
2π 3π 2 π π 2 0 β z′
Figura 2.41: Padrão de onda estacionária de tensão e corrente para uma linha sem perdas e com carga resistiva.

Vmax = VL e I min = I L , (2.181)

então,
R0 R
Vmin = VL e I max = L I L , (2.182)
RL R0

Para RL < R0 ,

Vmin = VL e I max = I L , (2.183)


e, portanto,
R0 R
Vmax = VL e I min = L I L , (2.184)
RL R0

O padrão de onda estacionária para uma carga em aberto é similar ao padrão para uma carga
RL > R0 , exceto pelo fato de que as curvas V ( z′ ) e I ( z ′ ) são funções senoidais da posição z′ .

75
Assim, tomando as Eqs. (2.173) e (2.174) e fazendo RL → ∞ , temos:

V ( z ′ ) = VL cos ( β z′ ) , (2.185a)

VL
I ( z′) = sen ( β z′ ) . (2.185b)
R0

De forma similar, padrão de onda estacionária para uma carga curto-circuitada, ilustrado na Figura
2.42, é similar àquele apresentado para uma carga RL < R0 , sendo as curvas V ( z ′ ) e I ( z ′ )

funções senoidais da posição z′ . Assim, tomando as Eqs. (2.173) e (2.174) e fazendo RL = 0 ,


temos:

V ( z′ ) = I L R0 sen ( β z′ ) , (2.186a)

I ( z ′ ) = I L cos ( β z ′ ) . (2.186b)

A partir de (2.185) podemos verificar que para terminais de carga em aberto ( RL >> 1) ,

I ( 0 ) = I L = 0 , contudo, V ( 0 ) = VL é finita. De forma dual, as Eqs. (2.186) mostram que, para os

terminais em curto ( RL << 1) V ( 0 ) = VL = 0 , enquanto a corrente na carga é finita e igual a:

I (0) = I L .

Exemplo 2.9:

A taxa de onda estacionária de uma LT é facilmente mensurável através de um medidor de SWR –


SWRM (“standing-wave ratio meter”). (a) Mostre como o valor de uma carga RL pode ser

determinado a partir da medida de S ; (b) Qual a impedância da linha “vista em direção à carga”, a
uma distância z′ = λ 4 ?

Solução:
(a.1) Se RL > R0 , então θ Γ = 0 e, portanto Vmax e I min ocorrem para β z ′ = 0 , enquanto Vmin

e I max ocorrem para β z ′ = π 2 . Usando as Eqs. (2.171) e (2.172), temos:

76
 V ( z ′ ) para circuito aberto

 I ( z ′ ) para curto circuito

 V ( z ′ ) para curto circuito



 I ( z ′ ) para circuito aberto

λ 3λ 4 λ 2 λ 4 0
Figura 2.42: Padrão de onda estacionária para uma LT sem perdas com terminais em curto e em aberto.

Vmax = VL e I min = I L ,

R0 RL
Vmin = VL e I max = IL .
RL R0
Assim,
Vmax I R
S= = max = L ,
Vmin I min R0

RL = SR0

(a.2) Se RL < R0 , então θ Γ = −π e, Vmin e I max ocorrem para β z ′ = 0 , enquanto Vmax e

I min ocorrem para β z ′ = π 2 . Usando as Eqs. (2.181) e (2.182), temos:

R0
Vmin = VL e Vmax = VL ,
RL
RL
I max = I L e I min = IL ,
R0
e,

77
Vmax I R R0
S= = max = 0 , RL =
Vmin I min RL S

(b) Como em z′ = λ 4 , β z ′ = π 2 , cos ( β z′ ) = 0 e sen ( β z ′ ) = 1 . Assim, levando tais

condições nas Eqs. (2.171) e (2.172), temos:

VL
V ( λ 4 ) = jI L R0 e I ( λ 4 ) = j , logo,
R0

V ( λ 4 ) I L R02 R02
Zi ( λ 4 ) = = =
I (λ 4) VL RL

R02
Zi ( λ 4 ) = .
RL

Obs: O resultado acima lembra o “transformador de quarto-de-onda”.

2.11. Linhas com Terminação Arbitrária

As análises anteriores foram realizadas considerando-se linhas de transmissão sem perdas e


com cargas puramente resistivas, de tal maneira que sobre a carga havia sempre um máximo de
tensão (e mínimo de corrente) se RL > R0 e um mínimo de tensão (e máximo de corrente) se

RL < R0 . Nesta seção analisaremos uma situação geral, quando a linha é terminada com uma carga
arbitrária, discutindo o que acontece na linha quando a carga não é puramente resistiva. Vamos
assumir que uma impedância de carga Z L = RL + jX L , gerando o padrão de onda estacionária

mostrado na Figura 2.42. Como podemos observar, sobre a carga, em z′ = 0 , não há máximo ou
mínimo de tensão. Considerando a característica periódica do padrão de onda estacionária, se
assumirmos que este se prolonga por uma distância lm à direita da carga, então alcançará um
mínimo de tensão, conforme ilustra a parte pontilhada do padrão de onda estacionária mostrado na
Figura 2.42, caso a carga Z L fosse substituída por uma seção de LT de comprimento lm e com

78
terminação Rm , ( Rm < R0 ). Convém observar que a distribuição de tensão na linha, à esquerda do

ponto z′ = 0 , não seria alterada por essa mudança.

V ( z′ )

z′

ZL
Z 0 = R0

zm′ z′ = 0
lm

Z 0 = R0 Rm < R0

zm′ z′ = 0
λ 2

Figura 2.40: Padrão de onda estacionária de tensão para uma LT sem perdas com carga arbitrária e linha equivalente
com seção de comprimento lm e terminal resistivo.

Segundo a Eq. (2.125), a impedância de uma seção de uma LT sem perdas, de comprimento
lm , e terminada com carga Rm , será:

Rm + jR0 tan ( β lm )
Zi = Z L = R0 . (2.187)
R0 + jRm tan ( β lm )

Sabendo que
R0
Rm = , (2.188)
S
então,
1 + jS tan ( β lm )
Zi = Z L = R0 . (2.189)
S + j tan ( β lm )

79
Como,
λ
lm = − zm′ , (2.190)
2

então a Eq. (2.189) pode ser reescrita como,

1 − jS tan ( β zm′ )
Zi = Z L = R0 . (2.191)
S − j tan ( β zm′ )

O procedimento descrito acima e resumido na Eq. (2.191), onde a impedância Z L é expressa em

termos da razão de onda estacionária ( S ) na linha e a distância da carga ao primeiro mínimo ( zm′ )
pode ser realizado experimentalmente. A seguir apresentamos os passos para tal procedimento:

1. Determinar Γ L a partir da Eq. (2.176),

S −1
Γ = .
S +1

2. Calcular θ Γ a partir de zm′ usando a Eq. (2.179), para n = 0 , isto é:

θ Γ = 2 β zm′ − π .

3. Determinar Z L a partir da razão entre as Eqs. (2.166) e (2.167) em z′ = 0 , tal que:

1 + Γ exp ( jθ Γ )
Z L = RL + jX L = R0 . (2.192a)
1 − Γ exp ( jθ Γ )

1+ Γ
Z L = R0 (2.192b)
1− Γ

80
onde Γ = Γ exp ( jθΓ ) . Conforme comentado anteriormente, o valor de Rm pode ser determinado a

partir da medição de S , tal que Rm = R0 S , onde R0 é a resistência característica da linha sem


perdas.
O procedimento anterior mostra como determinar a impedância de carga usando S , zm′ e a

determinação da distância entre a carga e o primeiro mínimo de tensão ( lm ). Obviamente, o mesmo

procedimento pode ser adotado tomando como referência o primeiro máximo de tensão ( Rm > R0 ) à

esquerda da carga. Para tanto, basta observar que, para Rm > R0 , zm′ + lm = λ 2 e Rm = SR0 .
Os resultados descritos anteriormente podem ser generalizados para uma situação arbitrária.
Para demonstrar tal propriedade, vamos considerar o circuito da Figura 2.43. A partir da Eq.
(2.125), a impedância no ponto l1 pode ser determinada, conhecendo-se a impedância no ponto l2 , o
comprimento da seção e seus parâmetros característicos (impedância característica e constante de
propagação). Portanto, para uma linha sem perdas:

Z ( l2 ) + jR0 tan  β ( l1 − l2 ) 
Z ( l1 ) = R0 . (2.193)
R0 + jZ ( l2 ) tan  β ( l1 − l2 ) 

De forma simétrica, a impedância no ponto l2 pode ser determinada, conhecendo-se a impedância

no ponto l1 , o comprimento da seção e seus parâmetros característicos (impedância característica e


constante de propagação). Assim:

Z ( l1 ) Z ( l2 )

GERADOR CARGA
( Z0 )

z ′ = l1 z ′ = l2

Figura 2.44: Seção se linha de transmissão de comprimento d .

Z ( l1 ) + jR0 tan  β ( l2 − l1 ) 
Z ( l2 ) = R0 . (2.194)
R0 + jZ ( l1 ) tan  β ( l2 − l1 ) 

81
Entretanto,

tan  β ( l2 − l1 )  = − tan  β ( l1 − l2 )  ,

l1 − l2 = d ,
logo,
Z ( l2 ) + jR0 tan [ β d ]
Z ( l1 ) = R0 , (2.195a)
R0 + jZ ( l2 ) tan [ β d ]

Z ( l1 ) − jR0 tan [ β d ]
Z ( l2 ) = R0 . (2.195b)
R0 − jZ ( l1 ) tan [ β d ]

Exemplo 2.10:

A taxa de onda estacionária de uma LT sem perdas de 50 [ Ω] , em cujos terminais de carga está

conectada uma carga desconhecida, é igual a 3, 0 . A distância entre dos mínimos de tensão

adjacentes é 20 [ cm ] , e o primeiro mínimo está localizado a 5 [ cm ] da carga. (a) Determine o

coeficiente de reflexão Γ . (b) Determine a impedância de carga Z L . (c) Calcule o comprimento de


uma seção equivalente e como sua carga resistiva, tal que sua impedância de entrada seja igual a
ZL .

20 cm
zm′ = 5 cm

ZL

z′ = 0

Solução:

82
S −1
(a) λ = 2 × 0, 2 = 0, 4 [ m ] , Γ = = 0,5 , θ Γ = 2β zm′ − π = −0,5π [ rad ] , logo:
S +1

Γ = Γ exp ( jθΓ ) = − j 0,5

 1 − j 0,5 
(b) Usando a Eq. (2.192) temos que: Z L = 50  
 1 + j 0,5 

Z L = 30 − j 40 [ Ω]

(c) Sabendo que, lm + zm′ = λ 2 e Rm = R0 S , tomamos o primeiro mínimo à direita. Assim:

lm = 0,15 [ m] .

Rm = 16,7 [ Ω]

Outra solução pode ser encontrada considerando o primeiro máximo à direita. Assim, sabendo
que zm′ + lm′ = λ 4 , então, lm , a distância da carga ao primeiro máximo à direita, será:

lm′ = 0, 05 [ m ]

A impedância Rm′ = SR0 será:

Rm′ = 150 [ Ω ]

2.12. Linha de Transmissão como Circuito – Solução Completa

Até aqui nossa análise em regime estacionário tem considerado apenas uma das condições
de contorno para a solução geral (2.113) – (2.114), a condição de contorno da carga, VL = I L Z L ,
cuja solução fechada é apresentada nas Eqs. (2.120) – (2.121). Entretanto, a solução em regime
estacionário para tensão e corrente em uma linha de transmissão pode, também, ser apresentada a
partir de sua segunda condição de contorno, os efeitos do gerador sobre a linha de tranmissão.

83
Zg Ii
+

+ Vi
Vg ZL

Zi

Figura 2.44: Circuito da linha de transmissão em função do parâmetros de entrada.

Analisando o circuito da Figura 2.44 podemos facilmente determinar a tensão na linha em z = 0 ,


onde Vi será:

Vi = Vg − I i Z g . (2.196)

A partir da determinação da tensão de entrada podemos determinar V ( z ) e I ( z ) completamente,

em termos de Vg , Z g , γ , Z 0 , l e Z L . Das Eqs. (2.160) e (2.163), fazendo z′ = l , temos que:

IL
Vi = ( Z L + Z 0 ) exp (γ l ) 1 + Γ L exp ( −2γ l )  , (2.197a)
2
IL
Ii = ( Z L + Z 0 ) exp (γ l ) 1 − Γ L exp ( −2γ l )  (2.197b)
2Z0

Substituindo (2.197a) e (2.197b) em (2.196), temos:

IL ZV 1
( Z L + Z 0 ) exp (γ l ) = 0 g , (2.198)
2 Z g + Z 0 1 − Γ g Γ L exp ( −2γ l ) 

onde Γ g é o coeficiente de reflexão no gerador, tal que,

Z g − Z0
Γg = . (2.199)
Z g + Z0

84
Substituindo (2.198) nas Eqs. (2.160) e (2.163), temos,

Z 0Vg 1 + Γ L exp ( −2γ z′ )


V ( z′) = exp ( −γ z ) , (2.200a)
Z g + Z0 1 − Γ g Γ L exp ( −2γ l ) 

Vg 1 − Γ L exp ( −2γ z′ )
I ( z′) = exp ( −γ z ) , (2.200b)
Z g + Z0 1 − Γ g Γ L exp ( −2γ l ) 

onde z = l − z ′ .
As Eqs. (2.200) são expressões fasoriais que descrevem a variação de tensão e corrente na
linha de tranmissão como função dos parâmetros do gerador e, embora não sejam expressões
simples, podem ser utilizadas para uma interpretação do fenômeno transmissão que ocorre nas
LT’s. Para tal análise tomaremos da tensão na linha, descrita pela Eq. (2.200a), como objeto de
estudo e, obviamente, a análise da corrente, através da Eq. (2.200b), é similar. Desta forma,
−1
assumindo que Γ g Γ L < 1 , podemos expandir o fator 1 − Γ g Γ L exp ( −2γ l )  em uma série

geométrica, tal que:

1
= 1 + Γ g Γ L exp ( −2γ l ) + Γ 2g Γ 2L exp ( −4γ l ) + L . (2.201)
1 − Γ g Γ L exp ( −2γ l ) 

Substituindo (2.201) em (2.200a), temos,

Z 0Vg
V ( z′ ) = exp ( −γ z ) 1 + Γ L exp ( −2γ z′ )  1 + Γ g Γ L exp ( −2γ l ) + Γ 2g Γ 2L exp ( −4γ l ) + L ,
Z g + Z0

Z 0Vg
V ( z′) =
Z g + Z0
{exp ( −γ z ) + Γ L }
exp ( −γ l )  exp ( −γ z′ ) + Γ g Γ L exp ( −2γ l )  exp ( −γ z ) + L (2.202)

A Eq. (2.202) pode ser reescrita de forma compacta, em termos das ondas propagantes na linha (nas
direções + z e − z ), como ilustra a Figura 2.45, tal que:

V ( z′ ) = V1+ + V1− + V2+ + V2− + L , (2.203)

85
Zg
V2+

+ V1−
Vg Z0

V1+

z z′ = l − z
z=0 z =l
z′ = l z′ = 0
Figura 2.45: Circuito da linha de transmissão e as ondas propagantes.

onde,
V1+ = VM exp ( −γ z ) , (2.204a)

V1− = Γ L VM exp ( −γ l )  exp ( −γ z ′ ) , (2.204b)

V2+ = Γ g  Γ LVM exp ( −2γ l )  exp ( −γ z ) , (2.204c)

M
e,
Z 0Vg
VM = . (2.204d)
Z g + Z0

Assim, se Z L = Z 0 (carga casada), Γ L = 0 , não há reflexões e apenas a onda de tensão V1+ se

propaga na linha. Se Z L ≠ Z 0 , mas Z g = Z 0 , então Γ L ≠ 0 Γ g = 0 , há apenas as ondas V1+ e V1− .

Exemplo 2.11:

Um gerador operando em 100 [ MHz ] , com Vg = 10∠0o [ V ] e Z g = 50 [ Ω] está conectado a uma

LT isolada a ar, com Z 0 = 50 [ Ω ] e 3, 6 [ m ] de comprimento, em cujos terminais está conectada

uma carga Z L = 25 + j 25 [ Ω] . Determine: (a) V ( z ) , onde z é a coordenada referenciada à entrada.

(b) As tensões Vi e VL . (c) a taxa de onda estacionária na linha. (d) a potência média entregue à
carga.

86
Solução:
Vg = 10∠0o [ V ] , Z g = 50 [ Ω] f = 108 [ Hz ]

Z 0 = 50 [ Ω ] Z L = 35,36∠45o [ Ω] l = 3, 6 [ m]

ω 2π × 108 2π
β= = = [ rad/m ] β l = 2, 4π [ rad ]
c 3 × 108 3

Z L − Z0
ΓL = = 0, 447∠116, 6o = 0, 447∠0, 648π
Z L + Z0

(a) Levando os dados acima na Eq. (2.198)

  2π   2  
V ( z ) = 5 exp  − j z  + 0, 447 exp  j  z − 0,152  π   [ V ]
  3   3  

(b) Levando os dados acima na Eq. (2.194)

Vi = V ( 0 ) = 7, 06∠ − 8, 43o [ V ] em z = 0

VL = V ( l ) = 4, 47∠ − 45,5o [ V ] em z = l

1+ Γ
(c) VSWR = = 2, 62
1− Γ

2
1 VL
(d) Pav = RL
2 ZL
2
1 4, 47
Pav = × 25 = 0, 2 [ W ]
2 35,36

Vamos comparar o resultado anterior com a potência entregue à uma carga Z L = 50 [ Ω ] e,

portanto, Γ L = 0 . Dessa forma,

Vg
VL = Vi = = 5 [V] .
2

87
Dessa forma, a potência máxima transferida à carga será:

VL2 52
Pav = = = 0, 25 [ W ] ,
2 RL 2 × 50

que é maior que a potência média calculada para uma linha descasada, pois, para uma linha de
transmissão sem perdas, com carga casada no gerador,
Pav 2
1− = Γ L , ou 1 + T = R
Pav max

Pav 2
onde T = e R = Γ L . Assim, a diferença entre a potência máxima e a potência entregue
Pav max

a uma carga descasada será,


2
Pav max
− Pav = Γ L Pav max

Pav max
− Pav = 0, 05 [ W ]

2.13. Carta de Smith


2.13.1. Carta de Smith para uma Linha sem Perdas

Os cálculos envolvendo dos parâmetros da linha de transmissão – impedância, tensão,


corrente, etc., envolvem trabalhos manipulações de números complexos que podem ser
minimizadas através de métodos gráficos. O melhor e mais difundido método gráfico, conhecido
como carta de Smith, foi desenvolvido por P. H. Smith em 1944.
Sucintamente, a carta de Smith é a representação gráfica, no plano do coeficiente de
reflexão, da impedância (ou admitância) normalizada. Para entender o processo de cálculo, para
uma linha sem perdas, através da carta de Smith é conveniente discutirmos o processo de
construção da carta. Para tal, vamos examinar o coeficiente de reflexão de tensão na carga, definido
na Eq. (2.162),
Z L − Z0
ΓL = = Γ L exp ( jθ Γ ) . (2.205)
Z L + Z0

88
Normalizando a impedância de carga Z L , com relação à impedância característica Z 0 , temos:

Z L RL X
zL = = + j L = r + jx , (2.206)
Z0 Z0 Z0

onde r e x são a resistência e a reatância normalizadas, respectivamente. A partir do resultado


apresentado em (2.206), a Eq. (2.205) pode ser reescrita em função da impedância de carga
normalizada, isto é,

zL − 1
Γ L = Γ r + jΓ i = , (2.207)
zL + 1

onde Γ r e Γ i são as partes real e imaginária do coeficiente de reflexão de tensão, respectivamente.


A Eq. (2.207) pode ser escrita de forma inversa, tal que,

(1 + Γ r ) + jΓi .
zL = r + jx = (2.208)
(1 − Γ r ) − jΓi

Multiplicando (2.208) por seu complexo conjugado e separando as partes reais e imaginárias,
obtemos:
1 − Γ 2r − Γ i2
r= 2
, (2.209)
(1 − Γ r ) + Γi2

2Γ i
x= 2
. (2.210)
(1 − Γ r ) + Γi2

A Eq. (2.209) pode ser rearranjada, tal que,

2 2
 r  2  1 
 Γr −  + Γi =   . (2.211)
 1+ r  1+ r 

89
A Eq. (2.211) representa, no plano Γ r × Γ i , o lugar geométrico para r constante – circunferência de

raio 1 (1 + r ) , centrada nos pontos Γ r = r (1 + r ) e Γ i = 0 . Assim, variando-se os valores de r

obteremos uma família de circunferências, conforme ilustrado na Figura 2.46.

Γi
1

r =0 r = 0, 5 r =1 r=2
Γr

−1

Figura 2.46: Lugar geométrico para valores constantes de r .

Convém, ainda, ressaltar algumas características importantes da família de circunferência descritas


pela Eq. (2.211):

1. Os centros de todas das circunferências localizam-se sobre o eixo Γ r ;

2. A circunferência r = 0 tem raio unitário e está centrada no ponto ( 0, 0 ) ;

3. As circunferências tornam-se progressivamente menores com o aumento da resistência


normalizada r ;
4. A circunferência r → ∞ tem raio nulo e está centrada no ponto circunferências;
5. Todas as circunferências passam pelo ponto circunferências,

Da mesma maneira, a Eq. (2.210) pode ser rearranjada tal que,

90
2 2
2  1 1
(2.212)
( Γ r − 1) +  Γi −  =   .
 x x

A Eq.(2.212) descreve o lugar geométrico para a reatância normalizada, x , constante, sendo uma
equação de circunferência de raio 1 x , com centro nos pontos Γ r = 1 e Γ i = 1 x . Assim, diferentes

valores da reatância normalizada x geram circunferência com diferentes raios, todas centradas em
(1,1 x ) . A família de circunferências, geradas a partir da Eq. (2.212), está ilustrada na Figura 2.47
(curva pontilhada) para alguns valores de x .

Figura 2.47: Lugar geométrico para valores constantes de x .

Assim, como no caso anterior, convém observar algumas características dessa família de curvas:
1. Os centros de todas as circunferências estão localizados na reta Γ r = 1 . As circunferências

associadas aos valores x > 0 (reatância indutiva) estão localizadas acima do eixo Γ r , enquanto

as circunferências associadas aos valores x < 0 (reatância capacitiva) estão localizadas abaixo
do eixo Γ r ;

2. Para x = 0 a circunferência coincide com o eixo Γ r ;

91
3. As circunferências tornam-se progressivamente menores com o aumento de x ;

4. A circunferência x → ±∞ tem raio nulo e está centrada no ponto (1, 0 ) ;

5. Todas as circunferências passam pelo ponto (1, 0 ) .

A carta de Smith é uma carta de impedâncias, composta pela superposição dos lugares
geométricos para r e x constantes, ilustrados individualmente nas Figuras 2.46 e 2.47,
respectivamente, para Γ ≤ 1 . A Figura 2.48 apresenta um modelo da carta elaborada por P. H.

Smith. Pode ser provado que as circunferências r e x são ortogonais entre si em qualquer ponto. A
intersecção uma circunferência r e uma circunferência x define um ponto P que representa uma
impedância normalizada z = r + jx . Como o módulo do coeficiente de reflexão é constante, em uma
LT sem perdas, este pode ser representado na carta de Smith como uma circunferência de raio
Γ = Γ L . Observe ainda que a carta possui quatro escalas (raias) externas indicando os ângulos dos

coeficientes de transmissão e reflexão (em graus), além das distâncias medidas do gerador para a
carga e da carga para o gerador (normalizadas em relação em ao comprimento de onda).
Até aqui baseamos nossa discussão e a construção da carta de Smith na definição do
coeficiente de reflexão de tensão na carga. Entretanto, sabendo que a impedância medida a uma
distância d da carga é a razão entre V ( d ) e I ( d ) , usando as Eqs. (2.166) e (2.167) para z′ = d ,

temos que:

1 + Γ exp ( − j 2 β d ) 
Z ( d ) = Z0  . (2.213)
1 − Γ exp ( − j 2 β d ) 

A impedância no ponto d , normalizada em relação à Z 0 será,

Z ( d ) 1 + Γ exp ( − j 2 β d ) 
z= = ,
Z0 1 − Γ exp ( − j 2 β d ) 
ou
1 + Γ exp ( jφ ) 
z= , (2.214)
1 − Γ exp ( jφ ) 
onde,
φ = θ Γ − 2β d . (2.215)

92
A Eq. (2.175) mostra a relação entre as tensões máxima e mínima em uma LT descasada, onde:

1+ Γ
S= . (2.216)
1− Γ

Fazendo φ = 0 na Eq. (2.214) e comparando com (2.216), vemos que a taxa de onda estacionária

S , pode ser lida da carta no ponto onde a circunferência Γ intercepta o eixo Γ r .

Figura 2.48: Carta de Smith

93
Exemplo 2.12:

Use a carta de Smith para determinar a impedância de entrada de uma seção de LT sem perdas de
50 [ Ω] , de comprimento igual a um décimo de comprimento de onda curto-circuitada em seus

terminais de carga.

l
Solução: Z L = 0 [ Ω] Z 0 = 50 [ Ω ] = 0,1
λ
 Marcamos na carta de Smith a interseção das curvas r = 0 e x = 0 (ponto PSC no extremo
esquerdo da carta – veja a Figura 2.49;
 Percorremos, ao longo do perímetro da carta ( Γ = 1 ), a distância 0,1λ no sentido “em

direção ao gerador” (sentido horário) e marque um ponto P1 ;

 Em P1 lemos os valores da impedância normalizada – r = 0 e x ≅ ~ 0, 725 , ou zi = j 0, 725 .

 A impedância na entrada da LT é determinada multiplicando a impedância normalizada zi


pela impedância característica da linha. Assim:

Zi = Z 0 zi = 50 ( j 0, 725 ) = j 36,3 [ Ω]

Obs: Este resultado por ser determinado a partir da Eq. (2.125)

 2π 
Z i = jZ 0 tan ( β l ) = j 50 tan  0,1λ 
 λ 

Zi = j 50 tan ( 0, 2π ) = j36,3 [ Ω]

Exemplo 2.13:

Uma linha de transmissão sem perdas, de comprimento normalizado 0, 434λ e impedância

característica 100 [ Ω ] , possui em seus terminais uma carga Z L = 260 + j180 [ Ω ] . Encontre: (a) o

94
coeficiente de reflexão de tensão na entrada; (b) a taxa de onda estacionária, (c) a impedância de
entrada, (d) a localização do(s) máximo(s) de tensão na linha.

Figura 2.49: Cálculos na carta de Smith para os exemplos 2.12 e 2.13.

Solução:
l
Z L = 260 + j180 [ Ω ] Z 0 = 100 [ Ω ] = 0, 434
λ

Normalizando a impedância de carga em relação à impedância de entrada, temos:


ZL
zL = = 2, 60 + j1,80 .
Z0
b. Para determinarmos o coeficiente de reflexão na entrada seguimos os seguintes passos:
 Marcamos zL = 2, 6 + j1,8 na carta de Smith, indicado pelo ponto P2 na Figura 2.49;

95
 Com um compasso centrado no ponto O , (1, 0 ) , traçamos uma circunferência de raio

OP2 = Γ L = 0, 60 (o raio da carta é unitário);

 Traçamos uma linha reta OP2 , estendendo-a até o ponto P2′ , onde lemos 0, 220 na
escala “comprimentos de onda para o gerador”. O ângulo de fase do coeficiente de
reflexão pode ser lido diretamente: θ Γ ≅ 21o . Assim:

Γ L = Γ L exp ( jθΓ ) = 0, 60∠21o .

c. No ponto onde a circunferência de raio Γ L = 0, 60 intercepta eixo real OPOC lemos

diretamente a taxa de onda estacionária. Assim:

S = 4.

d. Para determinarmos a impedância de entrada procedemos da seguinte maneira:


 Caminhamos sobre a circunferência de raio Γ L = 0,60 a partir do ponto P2′ , na

escala “em direção ao gerador”, uma distância igual ao comprimento da linha


normalizado, isto é, 0, 434 . Como uma volta completa na carta é igual à 0,5λ , então

o ponto de entrada na LT será determinado no ponto P3′ , onde lemos 0,154 na escala
“comprimento de onda para o gerador”.
 Traçamos uma reta OP3′ , e no ponto onde essa reta intercepta a circunferência de raio

Γ L = 0, 60 , marcamos o ponto P3 ;

 Lemos a impedância definida pelo ponto P3 , onde r ≅ 0, 69 e x ≅ 1, 2 . Assim:

Zi = Z 0 zi = 100 ( 0,69 + j1, 2 ) = 69 + j120 [ Ω] .

e. Como podemos observar, ao nos deslocarmos, na carta, do ponto P2 ao ponto P3

cruzamos duas vezes o eixo real, uma em r = 0, 24 e outra em r = 4 , onde existe um


mínimo e um máximo de tensão, respectivamente. Assim, entre a carga e a entrada da LT
existe apenas um máximo de tensão.

96
Exemplo 2.14:

Resolver o problema apresentado no Exemplo 2.10 usando a carta de Smith.

Solução:
a. No semi-eixo real-positivo OPOC , localizamos o ponto PM , definido por r = S = 3, 0 ,

como mostra a Figura 2.50. Assim, o segmento OPM define o módulo do coeficiente de

reflexão na LT sem perdas, isto é: OPM = Γ = 0, 5 ;

b. Para determinarmos a impedância de carga procedemos da seguinte maneira:

 Traçamos uma circunferência de raio OPM , que intercepta o semi-eixo PSC O no

ponto Pm , posição de um mínimo de tensão;

 Como zm′ = 0, 05 / 0, 4 = 0,125 , a partir do ponto PSC , nos deslocamos 0,125 na escala

“comprimentos de onda para a carga” (sentido anti-horário) até o ponto PL′ ;

 Traçamos uma reta OPL′ , que intercepta a circunferência Γ = 0,5 em PL . Este ponto

representa a impedância de carga normalizada;


 O ângulo do coeficiente de reflexão pode ser lido diretamente da carta, tal que,
θ Γ = −90o . Assim:

Γ = 0, 5∠ − 90o = − j 0,5 .
 A impedância de carga é lida diretamente a partir do ponto PL , pois:

zL = 0, 60 − j 0,80 . Assim:

Z L = 30 − j 40 [ Ω] .

c. O comprimento de seção equivalente e assim como sua carga resistiva para que sua
impedância de entrada seja igual a Z L pode ser determinado facilmente:

λ
lm = − zm′ = 0, 2 − 0, 05 = 0,15 [ m ] ,
2

R0 50
Rm = = = 16, 7 [ Ω ] .
S 3

97
Figura 2.50: Cálculos na carta de Smith para o exemplo 2.14.

2.13.2. Carta de Smith em uma Linha com Perdas

Na discussão da seção anterior, nos cálculos utilizando a carta de Smith consideramos uma
linha sem perdas. Para uma seção de linha dissipativa de baixas perdas ( α << 1 ), de comprimento
d , se o fator de atenuação 2α d não puder ser desprezado quando comparado com a unidade, o
módulo do coeficiente de reflexão no ponto qualquer z′ = d pode ser calculado diretamente da Eq.
(2.161), tal que,

Γ ( d ) = Γ L exp ( −2α d ) . (2.217)

Assim, a Eq. (2.214) deve ser corrigida para levar em conta as perdas na linha. isto é,

98
1 + Γ L exp ( −2α d ) exp ( − j 2 β d ) 
z= .
1 − Γ L exp ( −2α d ) exp ( − j 2 β d ) 
ou, como

1 + Γ L exp ( −2α d ) exp ( jφ ) 


z= , (2.218)
1 − Γ L exp ( −2α d ) exp ( jφ ) 

onde φ é dado pela Eq. (2.215). A Eq. (2.218) mostra que para encontrar a impedância normalizada

z a partir de zL , não podemos simplesmente percorrer a circunferência Γ de um ângulo φ . Um

cálculo auxiliar faz-se necessário para determinar o valor do módulo do coeficiente de reflexão no
ponto z′ = d . É fundamental observar, ainda, que na carta de Smith as distâncias são normalizadas
em função do comprimento de onda de operação λ .

Exemplo 2.15:

A impedância de entrada de uma LT com perdas, com 2 [ m] de comprimento e impedância

caracteristica de 75 [ Ω] (aproximadamente real), curto-ciruitada em seus terminais, é

45 + j 225 [ Ω] . (a) Determine α e β da LT. (b) Determine a impedância de entrada se o curto-

circuito é substituido pela impedância Z L = 67,5 − j 45 [ Ω ] .

Solução:
a. O curto-circuito é marcado na carta no ponto PSC (ponto extremo esquerdo na carta de
Smith).
 Marcamos zi1 = 0, 60 + j 3, 0 na carta de Smith, indicado pelo ponto P1 (veja Fig.
2.51);
 Traçamos uma linha reta a partir do ponto O , através de P1 , até do ponto P1′ ;

 Sabendo que OP1 OP1′ = exp ( −2α l ) = 0,89 , então:

1  1  1
α= ln = ln (1,124 ) = 0, 029 [ Np/m ] ;
2l  0,89  4

99
Figura 2.51: Cálculos na carta de Smith uma LT com perda – exemplo XV.

 Observando que o arco PSC P1′ é igual a 0, 20 (na escala “comprimento de onda para o

gerador”) então, l λ = 0, 20 e 2 β l = 4π l λ = 0,8π . Assim:

0,8π 0,8π
β= = = 0, 2π [ rad/m ] .
2l 4

b. Para determinar a impedância de entrada para a carga Z L = 67,5 − j 45 [ Ω ] :

 Entramos com zL = Z L Z 0 = 0,9 − j 0, 6 na carta, marcando com o ponto P2 ;

 Traçamos uma linha reta a partir do ponto O , através de P2 , até do ponto P2′ , onde na

escala “comprimentos de onda para o gerador” lemos 0, 364 ;

100
 Com o auxílio de um compasso traçamos uma circunferência centrada no ponto O e
com raio OP2 ;

 Deslocamos o ponto P2′ de uma distância 0,20, longo da escala “comprimento de

onda para o gerador”, até o ponto P3′ , onde lemos 0,364 + 0, 20 = 0,564 ou 0, 064 ;

 Unimos o ponto P3′ ao ponto O através de uma lina reta, intersectando a

circunferência traçada anteriormente no ponto P3 ;

 Sabendo que OPi OP3 = exp ( −2α l ) = 0,89 , marcamos o ponto Pi sobre a reta OP3′ ;

 No ponto Pi lemos a impedância de entrada normalizada zi = 0, 64 + j 0, 27 . Assim:

Zi = 48, 0 + j 20,3 [ Ω ] .

2.14. Casamento de Impedância em Linhas de Transmissão

Conforme mencionamos anterioremente, as linhas de transmissão são usadas para transmitir


potência e informação. Em radiofreqüências (transmissão de informação), além da condição de
perdas mínimas, é altamente desejável que o máximo de potência seja transmitida do gerador para a
carga e que o mínimo de potência seja dissipada na linha. Isto exige que a linha esteja casada, de tal
maneira que a taxa de onda estacionária seja unitária, ou o mais próximo possível da unidade. Para
transmissão de informação é essencial que a linha esteja casada, uma vez que as reflexões
provenientes do descasamento da carga distorcerão a informação transmitida. A seguir discutiremos
alguns métodos para o casamento de impedância em linhas de transmissão sem perdas. Contudo,
convém ressaltar que tais métodos não produzirão os mesmos efeitos em linhas de transmissão de
potência ( 60 [ Hz ] ), visto que as perdas são consideráveis e, geralmente, essas linhas têm um

pequeno comprimento quando comparado ao comprimento de onda (da ordem de 106 [ m ] ) e, por

este motivo, as linhas de potência são analisadas em termos de uma rede equivalente a parâmetros
concentrados.

2.14.1. Casamento de Impedância com Transformador de Quarto-de-Onda

101
Como vimos na seção 2.9.3, um método simples para o casamento de uma carga resistiva
Z L = RL com uma LT sem perdas de característica Z 0 é a inserção de um transformador de quarto-

de-onda com impedância característica Z 0′ . Assim, se:

λ
4

Z0 Z 0′ ZL

Zi

Zi
(Z′ )
= 0 ,
ZL

Z 0′ = Z i Z L ,

e, sendo
Zi = Z 0 ,

Z 0′ = R0′ ,
então:

R0′ = R0 RL . (2.219)

Entretanto, como o comprimento da seção depende do comprimento de onda, esta técnica de


casamento é sensível à freqüência como os outros métodos discutidos à seguir.

Exemplo 2.16:

Um gerador de sinais é utilizado para alimenta igualmente duas cargas, RL1 = 64 [ Ω ] e

RL 2 = 25 [ Ω] , através de uma LT sem perdas de R0 = 50 [ Ω] . Para tanto, são usados

transformadores de quarto-de-onda, como ilustra a Figura 2.52. (a) Determine as impedâncias


características dos transformadores de quarto-de-onda. (b) Determine a taxa de onda estacionária
nas seções de quarto-de-onda.

102
Solução: RL1 = 64 [ Ω] RL 2 = 25 [ Ω] R0 = 50 [ Ω]

λ 4
RL1 = 64 [ Ω ]


R02
R0 = 50 [ Ω ]


R01
RL 2 = 25 [ Ω ]
λ 4
Zi

Figura 2.52: Casamento de impedância com transformador de quarto-de-onda.

a. Para alimentar igualmente as duas cargas, a impedância de entrada na junção dos


transformadores e a linha principal deve ser igual a Z i = R0 e, para isso, visto que os terminais

de entrada das seções de quarto-de-onda estão em paralelo, Ri1 = Ri 2 = 2 R0 = 100 [ Ω] . Assim:

′ = Ri1 RL1 = 100 × 64 = 80 [ Ω ] ,


R01

′ = Ri 2 RL 2 = 100 × 25 = 50 [ Ω ] .
R02

b. Sob a condição de casamento não há ondas estacionárias na LT principal ( S = 1) . As taxas

de ondas estacionárias nas duas seções de linhas são calculadas como segue.

Seção 1:


RL1 − R01 64 − 80
Γ1 = = = −0,11 ,
RL1 + R01 64 + 80

1 + Γ1 1 + 0,11
S1 = = = 1, 25 .
1 − Γ1 1 − 0,11

Seção 2:

103

RL 2 − R02 25 − 50
Γ2 = = = −0,33 ,

RL 2 + R02 25 + 50

1 + Γ 2 1 + 0,33
S2 = = = 1, 99 .
1 − Γ 2 1 − 0,33

2.14.2. Casamento de Impedância com Toco-Simples

Quando a inserção de um transformador de quarto-de-onda não é viável, o casamento de


impedância pode ser obtido pela colocação de pequenas seções de linha de transmissão, com os
terminais em curto ou em aberto, em série ou paralelo com a linha principal. Este método é
conhecido como casamento de impedância com toco-simples (em inglês, single-stub method). Tal
processo consiste em deteminar o comprimento l do toco e sua distância da carga, d , de maneira
que a impedância no ponto de conexão do toco seja igual à impedância característica da linha
principal; a Figura 2.53 ilustra o método apresentando o casamento de impedância com um toco
curto-circuitado conectado em paralelo à linha no ponto a – b.

d
a
yi yB yL

R0 ZL
yS

b
R0

Figura 2.53: Casamento de impedância pelo método do toco simples.

A conexão em paralelo da linha com carga Z L e um toco-simples no ponto a – b visto na


Figura 2.53, sugere que é mais simples analisar o circuito em termos de admitâncias. A exigência
básica é,
Yi = YB + YS , (2.220a)

104
1
Yi = Y0 = . (2.220b)
R0

Em termos de admitâncias normalizadas, a Eq. (2.220a), combinada com (2.220b), pode ser escrita
como:
1 = y B + yS , (2.221)

onde yB = R0YB = g B + jbB é a admitância de entrada da seção de carga e yS = R0YS é a admitância


de entrada do toco. De qualquer modo, como a admitância de entrada do toco é puramente
susceptiva, yS é puramente imaginário. Como conseqüência, a Eq. (2.221) pode ser satisfeita
somente se

yB = 1 + jbB , (2.222)
e,
yS = − jbB , (2.223)

onde bB pode ser positivo ou negativo. Nosso objetivo é, então, encontrar o comprimento d tal que

a admitância yB tenha uma componente real unitária e encontrar o comprimento do stub, l ,

necessário para cancelar a parte imaginária da admitância yB .


Usando a carta de Smith como uma carta de admitância, os seguintes procedimentos são
necessários para os cálculos do toco-simples:

1. Localizar yL na carta;
2. Caminhar na carta em direção ao gerador até interceptar, em dois pontos, a circunferência
g B = 1 . Nesses pontos yB1 = 1 + jbB1 e yB 2 = 1 + jbB 2 – ambas são soluções possíveis;

3. Anotar os comprimentos das seções de linha de comprimento d1 e d 2 e os valores das

admitâncias normalizadas yB1 e yB 2 ;


4. Localizar a admitância de saída do toco (zero ou infinita);
5. Caminhar na carta em direção ao gerador até localizar os pontos jbB1 e jbB 2 e determine os

respectivos comprimentos l1 e l2 .

105
Exemplo 2.17:

Uma linha de transmissão de 50 [ Ω ] possui em seus terminais uma impedância de carga

Z L = 35 − j 47,5 [ Ω] . Determine a posição e o comprimento de um toco curto-circuitado, necessário

para casar a carga à linha.

Solução: Dados:
R0 = 50 [ Ω] ,

Z L = 35 − j 47,5 [ Ω] ,

zL = 0, 70 − j 0,95 .

Figura 2.54: Cálculos na carta de Smith para casamento com toco simples – exemplo 2.17.

106
 Marcamos zL na carga se Smith, indicado pelo ponto P1 na Figura 2.54;

 Traçamos uma circunferência Γ , centrada em O e com raio OP1 ;

 Traçamos uma linha reta a partir do ponto P1 , passando pelo ponto O , até o ponto

P2′ , intersectando a circunferência Γ em P2 , que representa yL .No ponto P2′ lemos

na escala “comprimentos de onda para o gerador”, 0,109 ;

 Anotamos os valores de admitância nos dois pontos onde a circunferência Γ

intersecta o círculo g = 1 :
Em P3 : yB1 = 1 + j1, 2 = 1 + jbB1 ,

Em P4 : yB1 = 1 − j1, 2 = 1 + jbB 2 ;


 Para determinar a posição do toco:
Para P3 (de P2′ a P3′ ): d1 = ( 0,168 − 0,109 ) λ = 0, 059λ ,

Para P4 (de P2′ a P4′ ): d 2 = ( 0,332 − 0,109 ) λ = 0, 223λ ;

 Para determinar o comprimento do toco curto-circuitado tal que yS = − jbB :

Para P3 (de PSC até P3′′ , que representa − jbB1 = − j1, 2 ):

lB1 = ( 0,361 − 0, 250 ) λ = 0,111λ ;

Para P4 (de PSC até P4′′ , que representa − jbB 2 = j1, 2 ):

lB 2 = ( 0,139 + 0, 250 ) λ = 0,389λ .

Obs: em geral, a solução utilizando o menor comprimento é preferível a menos que


existam impedimentos práticos.

2.14.3. Casamento de Impedância com Toco-Duplo

O método de casamento de impedância através de toco simples, descrito na seção anterior,


pode ser usado para casar uma carga arbitrária (não-nula e de impedância finita) à resistência
característica da linha de transmissão. Entretanto, este método exige que o toco seja conectado à
linha principal em um ponto específico, que varia com a impedância de carga ou quando a
freqüência de operação é alterada. Esta exigência muitas vezes apresenta dificuldades de ordem

107
prática, uma vez que a conexão LT/toco pode ocorrer em um ponto indesejável do ponto de vista
mecânico. Além disso, é muito difícil construir uma linha com comprimento variável e impedância
característica constante. Em tais casos uma técnica alternativa pode ser usada, utilizando dois tocos
curto-circuitados conectados à linha principal em posições fixas, como ilustrado na Figura 2.53,
onde a distancia d 0 é fixa e escolhida arbitrariamente ( λ 16 , λ 8 , 3λ 16 , 3λ 8 , etc.) e os

comprimentos dos dois tocos ( l A , lB ) são ajustados para casar uma determinada impedância de

carga Z L com a linha principal. Esta técnica é conhecida como método do toco-duplo (double-stub
method) para casamento de impedância.
No arranjo mostrado na Figura 2.55 o toco de comprimento l A está conectado diretamente

em paralelo com a impedância de carga Z L nos terminais A − A′ , e o segundo toco, de

comprimento lB , está conectado nos terminais B − B′ , fixado a uma distância d 0 da carga.

d0
B A
yi yB yA ySA
R0 ySB ZL

B′ A′
R0 R0

lB lA

Figura 2.55: Casamento de impedância pelo método do toco duplo.

Para o casamento de impedância com a linha principal, com impedância característica R0 , é


necessário que a admitância de entrada nos terminais B − B′ , vista em direção à carga, seja igual à
condutância característica da linha principal, isto é,

1
Yi = Y0 = = YB + YSB . (2.224)
R0

Nomalizando a Eq. (2.224) temos:

108
1 = yB + ySB . (2.225)

Como a admitância de entrada ySB de um toco curto-circuitado é puramente imaginária, a Eq.


(2.225) pode ser satisfeita somente se,

yB = 1 + jbB , (2.226)
e
ySB = − jbB , (2.227)

Convém observar que tais exigências são as mesmas para o casamento com toco-simples.
Na carta de Smith de admitância, o ponto representando yB deve estar contido na

circunferência g = 1 . Esta exigência deve ser transladada de d 0 λ “comprimentos de onda para a

carga”, isto é, o ponto representando y A , nos terminais A − A′ , deve estar contido na circunferência

g = 1 rotacionada de um ângulo 4π d 0 λ na direção anti-horária. Como a admitância de entrada

ySA de um toco curto-circuitado é puramente imaginária, a parte real de y A deve ter apenas a

contribuição da parte real da impedância de carga normalizada, g L . A solução (ou soluções) é

determinada pela intersecção (ou intersecções) da circunferência g L com a circunferência

rotacionada g = 1 . Os prodecimentos para a resolução de um problema de casamento de impedância


usando toco-duplo são apresentados a seguir.

1. Traçar a circunferência g = 1 (onde o ponto representado yB deve estar contido);

2. Rotacionar a circunferência g = 1 no sentido anti-horário por um valor d 0 λ “comprimentos

de onda para a carga” (onde o ponto representando y A deve estar contido);

3. Entrar com o ponto representando a admitância de carga normalizada, yL = g L + jbL ;

4. A circunferência g = g L , intersecta a circunferência rotationada g = 1 em um ou dois pontos,

onde y A = g L + jbA ;

5. Marcar o ponto correspondente a yB na circunferência g = 1 : yB = 1 + jbB ;

6. Determinar o comprimento l A do toco conectado à carga a partir da distância entre os pontos

representando y A e yL ;

109
7. Determinar o comprimento lB do toco conectado nos terminais B − B′ a partir da distância

entre os pontos representando − jbB e PSC .

Exemplo 2.18:

Uma linha de transmissão de 50 [ Ω] possui em seus terminais uma impedância de carga

Z L = 80 + j80 [ Ω] . Um sintonizador com toco-duplo espaçado por λ 8 é usado para casar a carga

à linha, como mostra a Figura 2.55. Determinar os comprimentos dos tocos curto-circuitados.

Solução: Dados:
R0 = 50 [ Ω] ,

Z L = 60 + j80 [ Ω] ,

yL = 0,30 − j 0, 40 .
A partir desses dados seguiremos os procedimentos descritos anteriormente, usando a
carta de Smith como uma carta de admitância.
 Traçamos a circunferência g = 1 (veja Figura 2.56);

 Rotacionamos a circunferência g = 1 de 1 8 de “comprimentos de onda para a carga”

no sentido anti-horário. O ângulo de rotação é 4π 8 [ rad ] ou 90o ;

 Entrar com o ponto PL , referente à yL = 0,30 − j 0, 40 ;

 Marcamos os dois pontos PA1 e PA2 , definidos a partir da intersecção entre a

circunferência g L = 0,30 e a circunferência rotacionada g = 1 ;

Em PA1 lemos: y A1 = 0, 30 + j 0, 29 ,

Em PA2 lemos: y A2 = 0,30 + j1, 75 .

 Usando um compasso centrado no ponto O marcamos os pontos PB1 e PB 2 na

circunferência g = 1 , correspondente aos pontos PA1 e PA2 , respectivamente;

Em PB1 lemos: yB1 = 1 + j1,38 ,

Em PB 2 lemos: yB 2 = 1 − j 3,5 .

 Determinamos os comprimentos l A1 e l A2 dos tocos a partir de:

110
( ySA )1 = y A1 − yL = j 0, 69 , l A1 = ( 0, 096 + 0, 250 ) λ = 0,346λ (ponto A1 ),

( ySA )2 = y A2 − yL = j 2,15 , l A 2 = ( 0,181 + 0, 250 ) λ = 0, 431λ (ponto A2 );

 Determinamos os comprimentos lB1 e lB 2 dos tocos a partir de:

( ySB )1 = − j1,38 , lB1 = ( 0,350 − 0, 250 ) λ = 0,100λ (ponto B1 ),

( ySB )2 = j 3,5 , lB 2 = ( 0, 206 + 0, 250 ) λ = 0, 456λ (ponto B2 );

Figura 2.56: Construção do casamento de impedância por toco-duplo usando carta de Smith.

Um exame da construção da solução pela carta de Smith, ilustrado na Figura 2.56, mostra que se o
ponto PL (representando a impedância normalizada yL = g L + jbL ) estiver contido na circunferência

111
g = 2 (se g L > 2 ), então a circunferência g = g L não intersecta a circunferência rotacionada g = 1

e não existe solução para toco-duplo espaçado de d 0 = λ 8 . A região onde não há solução possível

varia com a escolha da distância d 0 entre os tocos. Em tais casos, o casamento de impedância pela

técnica de toco-duplo pode ser obtido inserindo uma seção de linha entre a carga Z L e os termanais
A − A′ , como ilustra a Figura 2.57.

d0 dL
B A

R0 ZL

B′ A′
R0 R0

lB lA

Figura 2.57: Casamento de impedância com toco-duplo adicionando uma linha seção de linha entre a carga e os
terminais A − A′ .

112
Apêndice A – Coeficiente de Reflexão de Corrente
O coeficiente de reflexão de corrente ( Γc ) ao longo da linha de transmissão pode ser

definido como a razão,

t  I ( z − t u)


Γc  z −  = + . (A.01)
 u  I ( z − t u)

A impedância em um ponto qualquer da LT pode ser escrita sob a forma,

 t  V+ + V− I+ − I−
Z  z −  = + − = R0 + − , (A.02)
 u I +I I +I
Assim,
Z I + − I−
= + 1−1 ,
R0 I + + I −

Z 2 I+
= + − −1,
R0 I + I
Z 2
= −1.
(A.03)
R0 1 + I −
( I) +

Usando a Eq. (A.01) podemos reescrever (A.03),

Z 2
+1 = ,
R0 1 + Γc
e, assim,
2
Γc = −1 ,
 Z + R0 
 
 R0 
2 R0
Γc = −1,
Z + R0
2 R0 − Z − R0
Γc = ,
Z + R0

113
 t Z ( z − t u ) − R0
Γc  z −  = − . (A.04)
 u Z ( z − t u ) + R0

A Eq. (A.04) apresenta o coeficiente de reflexão de corrente como função da resistência


característica da linha e a impedância Z . Comparando a Eq. (A.04) com (2.53b), vemos que:

 t  t
Γ  z −  = −Γ c  z −  . (A.05)
 u  u

114

Você também pode gostar