CURITIBA, Luana. Violência Contra o Idoso Na Mídia Impressa Capixaba

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO CIÊNCIAS JURIDICAS E ECONOMICAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

JOZIANE SOUZA CALMON

LUANA CURITIBA DIAS

MARCELA WU BISI DE MACEDO

MARIA LINDAMAR NASCIMENTO

VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO NA MÍDIA IMPRESSA CAPIXABA

VITÓRIA
2014
JOZIANE SOUZA CALMON
LUANA CURITIBA DIAS

MARCELA WU BISI DE MACEDO

MARIA LINDAMAR NASCIMENTO

VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO NA MÍDIA IMPRESSA CAPIXABA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Serviço Social do Centro de Ciências
Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito
Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Serviço Social.
Orientador: Profª Maria das Graças Cunha Gomes

VITÓRIA
2014
JOZIANE SOUZA CALMON

LUANA CURITIBA DIAS

MARCELA WU BISI DE MACEDO

MARIA LINDAMAR NASCIMENTO

VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO NA MÍDIA IMPRESSA CAPIXABA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço


Social do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal
do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Serviço Social.

Aprovada em ____/______/_______.

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________
Profª. Drª. Maria das Graças Cunha Gomes
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Orientador(a)

___________________________________
Profª. Drª. Cenira Andrade de Oliveira
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

___________________________________
Profª. Drª Gilsa Helena Barcelos
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Agradecemos ao corpo docente desta universidade por
nos apresentar um novo olhar sobre o mundo. Em
especial a professora Aniele Zanardo Pinholato pela
insistência em querer nos acompanhar até o final deste
processo. À nossa orientadora Maria das Graças Cunha
Gomes, por nos acolher em um momento delicado de
forma profissional e responsável durante o percurso
deste trabalho. Obrigada pelo apoio e insistência para
que alcançássemos nossos objetivos. À professora
Cenira Andrade de Oliveira pelo empréstimo de
bibliografias importantes a esta pesquisa. Enfim, a todos
que contribuíram para realização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS – JOZIANE

Meus agradecimentos primeiramente a Deus que me concedeu inteligência para que


eu pudesse chegar até aqui.

À minha mãe Rosângela pelo incentivo e por saber compreender a importância do


silêncio nos momentos de estudo.

Ao meu amado esposo Rafael pelas horas que foi deixado de lado para que eu
cumprisse esse estudo.

E às minhas colegas de curso pela troca de experiências e amizades cultivadas


durante os anos de estudo.
AGRADECIMENTOS - LUANA

Durante a formação da minha graduação eu tenho que agradecer a várias pessoas,


que de forma maior ou menor, fizeram dos meus dias corridos dias mais leves, ou
que com palavras de incentivo me ajudaram de alguma forma. Mesmo não sendo
possível eu lembrar ou citar a todos, eu agradeço. Agradeço também:

Primeiramente e acima de tudo a Deus por me permitir senti-lo nos piores e


melhores momentos da minha vida;

Ao meu pai, pela compreensão, e pelo silêncio (mesmo em época de Copa)... à


minha mãe: tudo que sou até hoje eu sei que foi por ajuda ou por um esforço seu.
Obrigada por me incentivar – mesmo que de uma forma diferente - por me ouvir, por
me orientar, por ser minha amiga, por me fazer chegar até aqui... eu sei que cada
conquista tem um “dedinho” seu;

À minha vó Maria, que já não está comigo, e à minha “vó Celi” - ...só Deus sabe o
quanto eu te amo, obrigada pelas conversas que tanto me acalmam - vocês devem
ser as principais “culpadas” pelo meu grande prazer de estar tão perto do público
idoso, obrigada;

À Liziene, obrigada por esta amizade conflituosa, pelos diálogos dos “porquês e de
caráter existenciais”, por me ajudar com as minhas dúvidas, e nas piores fases que
já vivi... por me ouvir;

Aos meus amigos, primos, e amigas-primas, que mesmo afastados, e até


questionando meu sumiço, me incentivavam e tentavam me entender;

Aos meus tios e tias, pelo incentivo, em especial a tia Penha... obrigada por estar
sempre aberta para me ajudar, pelos incentivos, por ser quem me acode nos
momentos de “socorro”;

Aos meus colegas do Salesiano: em especial Hirlã, amigo que sempre se mostra
muito aberto para as minhas análises e dúvidas; e Cida, agradeço pela forma
carinhosa, com amor, que sempre me tratou, e pelo incentivo enorme para eu
encarar um sonho que se tornou realidade: entrar na UFES;
Às minhas colegas de Núcleo... como eu poderei esquecer? Mari, Angélica, Luzia,
Renata... passamos ótimos momentos juntas! Foram muitos os aprendizados.
E...Lorena, você não sabe como foi importante a força que me deu durante o tempo
que passamos juntas, e nos momentos mais difíceis durante a graduação e de
tcc...obrigada;

Agradeço, à minha colega de UFES, colega de R.U., sub-orientadora de pesquisa,


orientadora de tcc, orientadora das minhas crises dialéticas, e participante das
minhas dúvidas constantes em relação a tudo, Aniele. Não compreendo as ações do
tempo e nem o nosso destino, apenas agradeço por ser em minha vida, a figura
personificada do otimismo, da persistência e da luta. Se Deus quiser, você vencerá
essa doença que já é resultado de uma sociedade doente;

Agradeço a Profª Graça, não só por aceitar o desafio de orientar um tcc em menos
de 3 meses, mas também, pelo carisma, por ter estado aberta durante todo o meu
período de núcleo e de estágio para os meus questionamentos, e pela maneira
sábia de lidar com situações aparentemente incontornáveis. E também à Profª
Cenira, pela sensibilidade e compreensão;

Por último, agradeço ao meu grupo, pois juntas passamos por momentos
inacreditáveis: de troca de orientadora, sustos com tcc, apertos de datas de entrega,
enfim, por momentos que eu tinha praticamente certeza que não passaríamos, mas
passamos. E, em especial à Josi... pelos muitos momentos –como sempre lembrado
por você- em que saiamos mais de dez horas da noite da UFES, pela calma
incompreensível que já se esgotava no final do tcc, e pelo esforço e
dedicação...fomos guerreiras, e estamos vencendo.
AGRADECIMENTOS - MARCELA

A Todos os professores que me acompanharam durante а graduação, em especial à


Professora Doutora Maria das Graças Cunha Gomes, pela sua inestimável ajuda na
orientação deste trabalho.

Ao meu esposo Epifanio pela contribuição com sua experiência acadêmica neste
processo. Sem sua ajuda eu não venceria!

Deus e ao anjo da guarda nos quais eu tanto acredito, e que se fizeram presentes
em todo processo. As luzes de vocês iluminaram meu caminho durante o percurso
deste trabalho!

Ás minhas colegas de projeto: Maria Lindamar, Luana e Joziane.

A todos que de alguma forma ajudaram, agradeço por acreditarem no meu potencial,
nas minhas ideias, nos meus devaneios.
AGRADECIMENTOS - MARIA LINDAMAR

Agradeço ao meu Pai Celestial pela oportunidade de vir a esta terra para além das
provações, adquirir conhecimentos e por meio dele, o prazer de conhecer pessoas
especiais que trilharam este caminho comigo.

À minha mãe e irmão, que mesmo não fazendo mais parte deste mundo, são e
sempre serão, exemplos de fé e humildade.

Aos meus amados e eternos filhos Danilo e Edghard, por terem compreendido os
momentos em que precisei me ausentar (mesmo que só fisicamente) de seus
cotidianos.

Ao meu querido irmão Léo, pelo apoio incondicional, não somente neste, mas em
todos os momentos de minha vida.

Ao meu pai Edmar, que além dá compreensão, me garantiu suportes indispensáveis


para que eu alcançasse meu objetivo. À todos os meus irmãos e irmãs, pelo carinho
e atenção sempre dedicados a mim e a meus filhos.

E por fim, mas tão importante quanto os demais citados, meu esposo Finamore, por
se mostrar compreensivo em minhas inquietações típicas deste processo.
“Desconfiai do mais trivial, na aparência
singelo. Examinai, sobretudo, o que parece
habitual. Suplicamos expressamente: não
aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta, de
confusão organizada, de arbitrariedade
consciente, de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer
impossível de mudar.”

Bertold Brecht
RESUMO
RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido através dos recortes do jornal A Gazeta no ano
de 2013 buscando identificar como a violência contra o idoso foi retratada por este
jornal. Para isso adquiriu-se recortes de uma pesquisa em andamento do NEEAPI
(Núcleo de Estudos Sobre o Envelhecimento e Assessoramento à Pessoa Idosa)
vinculado ao departamento de Serviço Social, do Centro de Ciências Jurídicas e
Econômicas (CCJE) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Segundo o
IBGE, o público escolhido representou no ano de 2013, 14,9 milhões da população
do Brasil. Mesmo sendo um número grande, através de nossos estudos
constatamos que o idoso sofre com diversas formas de violência (física, psicológica,
financeira, sexual, abandono e negligência) –como também constatado através da
pesquisa ao jornal- que em três grandes dimensões (sociopolítica, institucional e
intrafamiliar) chamam atenção para a falta de políticas eficazes para evitar a
violência contra este segmento. Como ferramenta, atualmente sob o domínio da
classe dominante, os meios de comunicação, podem e devem ser utilizados pela
sociedade e em especial pelo profissional de serviço social, como divulgador desta
violência e meio legitimador da necessidade de criação de novos direitos ou real
efetivação dos já existentes.

Palavras-chaves: Violência, Idoso, Mídia.


ABSTRACT

This work was developed through the cutouts of the Gazette newspaper in 2013
seeking to identify how violence against the elderly was portrayed by this newspaper.
For it was acquired clippings ongoing research of NEEAPI (Center for the Study of
Aging and the Elderly Advisory) linked to the Department of Social Services, from the
Federal University of Espírito Santo Center of Legal and Economic Sciences (CCJE)
(UFES). According to IBGE, the chosen audience represented in 2013, 14.9 million
of Brazil's population. Even being a large number, through our studies we found that
the elderly suffer from various forms of violence (physical, psychological, financial,
sexual, abandonment and neglect)-as also found through research that the jornal- in
three large (sociopolitical , institutional and intrafamilial) call attention to the lack of
effective policies to prevent violence against this segment. As a tool, currently under
the control of the ruling class, the media, can and should be used by society and
especially by social service professional, as this promoter and legitimating violence
through the need to create new rights or proper enforcement of existing.

Keywords: Violence, Elderly, Media.


LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 14/02/2013 ....................65

QUADRO 2 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 08/11/2013.....................67

QUADRO 3 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 07/05/2013.....................68

QUADRO 4 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 08/02/2013.....................72

QUADRO 5 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 27/03/2013......................72

QUADRO 6 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 23/02/2013.....................75

QUADRO 7 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 25/05/2013.....................75

QUADRO 8 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 25/01/2013.....................76

QUADRO 9 RESUMO DO JORNAL A GAZETA DO DIA 16/01/2013....................76


LISTA DE GRÁFICO

GRÁFICO 1 ESTRUTURA RELATIVA POR SEXO E IDADE–– BRASIL


1940/2050.........................................................................................
34

GRÁFICO 2 DISTRIBUIÇÃO DE POPULAÇÃO POR SEXO............................... 35

GRÁFICO 3 REPORTAGENS MENSAIS............................................................. 64

GRÁFICO 4 TIPOS DE VIOLÊNCIA REPORTADA............................................. 67

GRÁFICO 5 VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA REPORTADA......................................... 69

GRÁFICO 6 QUANTITATIVO DOS AGRESSORES............................................ 70

GRÁFICO 7 DIMENSÃO DA VIOLÊNCIA REPORTADA..................................... 72


LISTA DE SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada

CCJE Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas

CNDI Conselho Nacional de Direitos do Idoso

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

NEEAPI Núcleo de Estudos sobre o Envelhecimento e Assessoria à Pessoa Idosa

ONG Organizações Não Governamentais

PNAD Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios

PNI Política Nacional do Idoso

SBGG Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

UFES Universidade Federal do Espírito Santo


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 17

2 A VELHICE E O ENVELHECIMENTO....................................................................... 21

2.1 O Envelhecimento e a Questão Social.................................................................. 23

2.1.1 Aspectos Sociais do Envelhecimento................................................................. 27

2.1.2 O envelhecimento hoje: Aspectos Demográficos............................................... 33

2.2 A MÍDIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA.................................................... 42

2.2.1 A mídia como direito........................................................................................... 46

2.2.2 Rede Globo: entre o modelo burguês e a necessidade da população............... 49

2.3 VIOLÊNCIA............................................................................................................. 51

2.3.1 Violência contra a Pessoa Idosa......................................................................... 54

3 O JORNAL “A GAZETA”......................................................................................... 61

3.1- O Jornal A Gazeta segundo ele mesmo............................................................... 62

3.2 A VIOLÊNCIA PRATICADA CONTRA A PESSOA IDOSA NO ESPÍRITO


SANTO, SEGUNDO NOTÍCIAS DO JORNAL A GAZETA.......................................... 63

3.2.1 A configuração temporal da violência................................................................. 64

3.2.2 As faces reveladas da violência.......................................................................... 66

3.2.3 Violência cometida contra a Pessoa Idosa, de acordo com o sexo.................... 69

3.2.4 Dados referentes ao quantitativo de agressores ............................................... 70

3.2.5 A dimensão da violência..................................................................................... 71

3.3 DAS REPORTAGENS NÃO CATALOGADAS...................................................... 74

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 78
REFERÊNCIAS............................................................................................................. 84

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR............................................................................... 90

ANEXOS........................................................................................................................ 91

ANEXO A - Caso do senhor Cleuber Valentim............................................................ 91

ANEXO B - Aposentada assaltada e agredida............................................................ 92


17

1 INTRODUÇÃO

Com o interesse de analisar como a mídia impressa apresenta a violência contra a


pessoa idosa, o grupo selecionou o jornal A Gazeta, de veiculação impressa, do ano
de 2013, para realizar o estudo. O jornal escolhido foi devido a disponibilidade deste
meio de comunicação no Núcleo sobre o Envelhecimento e Assessoramento à
Pessoa Idosa (NEEAPI).

O objetivo geral do grupo é avaliar como o jornal A Gazeta retratou a violência


contra o idoso, no ano de 2013, ano em que o Estatuto do Idoso completou 10 anos,
tendo em vista a existência do artigo 4º do Estatuto do Idoso, que diz que: “Nenhum
idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência,
crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão,
será punido na forma da lei” (BRASIL, 2006, artª 4º).

Para tal proposta fizemos uma incursão teórica sobre a questão do envelhecimento,
da violência e da mídia. A partir destas informações e com os documentos de
análise, desenvolvemos uma leitura qualificada das notícias.

No primeiro capitulo deste trabalho apresentamos os conceitos de envelhecimento,


violência e mídia desenvolvidos por autores de reconhecida competência nas áreas
assinaladas. O envelhecimento foi entendido como um processo, sendo importante
considerar que este “é vivido de modo diferente de um indivíduo para o outro, de
uma geração para outra e de uma sociedade para outra” (UCHÔA; FIRMO; COSTA,
2002, p. 26), de acordo com o contexto social que a pessoa está inserida.

Assim como o envelhecimento, a violência também pode ser vista de várias formas.
Apoiamo-nos em Faleiros (2007) para entendê-la em suas dimensões (sociopolítica,
intrafamiliar e institucional), mas foi através da conceituação colocada por Minayo
(2005) que foi possível identificar a violência nas reportagens trabalhadas,
tipificando-as como física, psicológica, sexual, financeira, autonegligência, abandono
e negligência.

A partir do raciocínio de Sales e Ruiz (2009) problematizamos a mídia, como um


instrumento que privilegia uma parte da sociedade, gerando consensos de acordo
com interesses mercantis, mas que, por outro lado, torna-se um instrumento da
18

classe trabalhadora, ao divulgar informações inclusive no âmbito dos direitos,


mesmo que tendo seus principais objetivos voltados para os índices de audiência e
para lógica do mercado. Nesse ponto, mostraremos a função das mídias alternativas
e do assistente social na construção de um instrumento de comunicação entendido
como um direito humano.

Fizemos uma breve caracterização dos meios de comunicação em nível nacional


destacando as principais agências de informação do Brasil, o sentido dessas
empresas e suas principais funções dentro do sistema. No interior desta abordagem
destacamos as inevitáveis questões: a que e a quem servem estas agências? Quais
as suas verdadeiras intenções? Que contribuições trazem à sociedade? O nosso
percurso deu-se, portanto, na busca de encontrar respostas a essas questões.

Para seleção dos materiais a serem estudados, realizamos uma pesquisa na


Biblioteca de Teses e Dissertações (BDTD)1. Durante nossas pesquisas, por mais
que as teses se aproximassem do nosso trabalho, nenhuma era referente ao Estado
do Espírito Santo. Visualizamos a coleta de dados como uma forma de expor a
violência como algo que atinge a diversas pessoas, e mais especial, neste caso, ao
público idoso, e que deve ser uma constante pauta de luta dos movimentos sociais,
com respaldo do Estatuto do Idoso e outras leis inerentes.

Para tal objetivo utilizamos a pesquisa documental. Este tipo de pesquisa, conforme
abordam Silva, Almeida e Guidani (2009), é um procedimento que utiliza métodos e
técnicas para apreensão, compreensão e análise de documentos os mais variados
possíveis. Essa pesquisa recorre a materiais que ainda não receberam tratamentos
analíticos, ou seja, fontes primárias.

Segundo Silva, Almeida e Guidani (2009), na análise de documentos, e em especial,


neste estudo -a análise de jornais- temos que ter em vista a que público se destina,
os motivos que levaram os autores a escrevê-los, e em que período histórico eles se
encontravam. Os documentos de pesquisa consultados, - no caso, as notícias dos
jornais- foram divididos e analisados considerando: a data, a freqüência que

1
Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, que “integra os sistemas de informação de
teses e dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa brasileiras, e também estimula
o registro e a publicação de teses e dissertações em meio eletrônico” (Disponível em
<http://www.im.ufrj.br/biblioteca/?p=1937> . Acessado em 02 dez2013).
19

apareceu durante o mês e ano, o número e sexo de vitimas e agressores, os tipos


de violência, além da dimensão desta violência (podendo ser institucional,
intrafamiliar e sociopolítica).

Paralelo a este trabalho esta sendo realizada uma pesquisa sobre o “Idoso na mídia
impressa capixaba” em andamento desde 2012, pelo NEEAPI, vinculado ao
Departamento de Serviço Social, do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas
(CCJE) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Esta pesquisa consiste
em recortar todas as reportagens que direta ou indiretamente falam sobre a pessoa
idosa, tabulando e analisando-as. Os eixos selecionados para análise nesta
pesquisa são: violência, acessibilidade, serviços, cultura, lazer, e relações
intergeracionais. As tabulações abordam o ano de 2012 e 2013, sendo que dos
eixos abordados pela pesquisa do NEEAPI, utilizamos o que tange a violência,
especificamente no ano de 2013, ano escolhido por ser o mais recente, no período
de construção deste trabalho. Para o acesso e análise dos dados da pesquisa do
NEEAPI, foi solicitada autorização à coordenação do programa que respondeu
positivamente à execução do trabalho.

A partir dos resultados pretende-se fomentar o debate chamando a atenção da


sociedade para a violência contra a pessoa idosa. E a partir dos resultados de nossa
pesquisa, contribuir e instigar a sociedade civil a pensar e a cobrar políticas públicas
que atendam de forma mais efetiva aos idosos. Nosso objeto de pesquisa será
estudado aqui como expressão da Questão social que, em nossa concepção, deve
ser pauta de reivindicação e constante luta da população.

Durante o contato com os dados da pesquisa, as nossas indagações giravam em


torno das questões: - como estas informações são transmitidas ao público, levando
em conta o dualismo de classe que levam à defesa de uma ou outra ideologia?; -
como as informações que chegam até os leitores têm aguçado um debate crítico
sobre a questão, ou apenas tem polemizado de forma acrítica?; - se o objetivo da
mídia, é deixar os leitores informados sobre os reais motivos destes atos de
violência, ou estão apenas visando elevar os índices de audiência e vendas?. Foram
muitas as questões, e temos consciência de que o pouco tempo corria contra nós.
Assim, pretensiosamente desejamos que este trabalho seja pelo menos um
alavancar de novas e possíveis pesquisas.
20

Conforme procuramos evidenciar nesta introdução, o nosso objeto de estudo é a


incidência da violência cometida contra a pessoa idosa, de acordo com o noticiado
no principal jornal do Espírito Santo. A compreensão deste fenômeno requer uma
abordagem conceitual para melhor delimitação dos seus elementos constitutivos, o
que será abordado na sequência.
21

2 A VELHICE E O ENVELHECIMENTO

A velhice é um termo abrangente, e que para ser conceituada, é necessário abordar


as suas diversas dimensões. Para melhor entender nosso objeto – a violência que
atinge o idoso-, julgamos ser necessário saber antes, como o idoso e o processo de
envelhecimento é concebido nesta sociedade, e como este processo pode ser
entendido como uma expressão da “questão Social”, que sofre com a violência, que
é outra expressão deste grande problema social.

Falar do idoso, nas diversas épocas, segundo Beauvoir (1990) nunca foi tarefa fácil,
considerando que raramente se fazia referência ao mesmo. Os idosos, nas
considerações da autora, eram incorporados ao conjunto dos adultos.

No ocidente, Beauvoir (1990) relata que o primeiro texto conhecido dedicado à


velhice trata desta como um quadro triste e sombrio. Este texto encontra-se no Egito
e foi escrito em 2500 antes de Cristo por Ptah-hotep, como segue:

Como é penoso o fim de um velho! Ele se enfraquece a cada dia; sua vista
cansa, seus ouvidos tornam-se surdos; sua força declina; seu coração não
tem mais repouso; sua boca torna-se silenciosa e não fala mais. Suas
faculdades intelectuais diminuem, e lhe é impossível lembrar-se hoje do que
aconteceu ontem. Todos os ossos doem. As ocupações que até
recentemente causavam prazer só se realizam com dificuldade, e o sentido
do paladar desaparece. A velhice é o pior dos infortúnios que pode afligir
um homem. O nariz entope, não se pode mais sentir nenhum odor (PTAH-
HOTEP apud BEAUVOIR , 1990, p.114).

A citação acima apresenta uma dimensão de como o idoso era visto há séculos
atrás. Hoje a visão do envelhecimento tem mudado, sendo vista de forma mais
positiva, porém, de forma diversa e resultante de determinações físicas, sociais e
econômicas. Confirmando isto, Beauvoir (1990) considera que “a imagem da velhice
é incerta, confusa, contraditória” (BEAUVOIR,1990, p.109). Ela classificou a velhice
como um fenômeno biológico que acarreta consequências psicológicas, tem
dimensão existencial, não é um fenômeno estático e sim o resultado de um
processo.

Partindo do mesmo princípio que a autora acima citada, Veras (1994) também
defende que um único conceito de velhice é difícil de ser afirmado, visto que há
22

inúmeras questões a serem interpretadas, devendo-se levar em conta o contexto


biológico, psicológico, físico e sociológico.

Veras (1994) questiona:

[...] Quando uma pessoa se torna velha? Aos 50, 60, 65, ou 70 anos? Nada
flutua mais do que os limites da velhice em termos de complexidade
sociológica, psicológica e social. Uma pessoa é tão velha quanto suas
artérias, seu cérebro, seu coração, sua moral ou sua situação civil? Ou é a
maneira pela qual outras pessoas passam a encarar certas características
que classifica as pessoas como velhas? (VERAS, 1994, p. 25).

E argumenta que:

Não é possível estabelecer conceitos universalmente aceitáveis e uma


terminologia globalmente utilizável com relação ao envelhecimento.
Inevitavelmente, há conotações políticas e ideológicas associadas ao
conceito, que pode ser melhor visualizado dentro de sociedades específicas
(VERAS, 1994, p. 25).

Ao discorrer sobre o tema velhice e envelhecimento, Veras (1994) afirma que a


concepção de envelhecimento não possui um conceito universalmente aceitável,
pois a sociedade modifica estes conceitos de acordo com as contradições políticas e
ideológicas. O mesmo autor dá o exemplo de que idosos que vivem em favelas
superpovoadas terão uma experiência de velhice diferente dos que moram em um
local com boa infraestrutura e com diversos serviços à disposição.

As colocações de Coutrim (2006) seguem nessa linha de reflexão, ao considerar


que.

[...] velhice não pode ser interpretada pelas Ciências Sociais como uma
categoria única, abstrata, desprovida de pressupostos econômicos, sociais
e históricos. Nas sociedades contemporâneas convivem lado a lado as
diversas velhices: dos pobres, dos ricos, das camadas médias, dos
inválidos, dos que mantêm sua autonomia, do trabalho e a do lazer, a rural
e a urbana, a excluída e a inserida na luta pelos direitos, a de homens e a
das mulheres, dos asilados e dos chefes de domicílio, e assim por diante.
Por isso, o ideal seria não se falar a respeito da velhice, mas sim a respeito
das velhices (COUTRIM, 2006, s.p.).

Na visão de Minayo e Coimbra (2002), o envelhecimento não deve ser entendido de


forma homogênea ligada a privação, dependência, tristeza e frustração. Segundo os
autores, é necessário reconhecer essas complexidades como também entender que
cada pessoa vivencia esta fase da vida de uma forma, sendo necessário considerar
23

“sua história particular, e todos os aspectos estruturais (classe, gênero, etnia) a eles
relacionados, como saúde, educação e condições econômicas” (MINAYO,
COIMBRA, 2002, p. 14).

E, considerando a particularidade da realidade de cada indivíduo, Santos (2003),


expõe que:

Coexistem várias realidades num país que convive com a modernidade e o


atraso, a solidariedade e o individualismo, os valores familiares tradicionais
e um acentuado relativismo em relação ao que é certo e errado. As relações
das novas gerações com os idosos dão-se num cenário complexo e flexível
que não cabe em clichês e nem resiste a boas e a más idealizações e
generalizações (SANTOS, 2003, p. 07).

Trabalharemos então, com o conceito de velhice que é resultado de um processo,


que não pode ser entendido fora do contexto, que não é única, mas que é histórica,
e que sempre deve ser vista vinculada à classe que o individuo/grupo pertence.

2.1 O Envelhecimento e a Questão Social

Ao abordar o envelhecimento, percebemos que alguns pontos não conseguem ser


desvinculadas deste tema, como a questão de classe, por exemplo. Vimos à
questão colocada por Veras (1994), de que a velhice pode aparecer como uma
experiência diferente de acordo com a classe, e Coutrim (2006), ao falar das
diversas velhices, salienta a importância de olhar os “pressupostos econômicos,
sociais e históricos” (COUTRIM, 2006, s.p). Assim como Teixeira (2008) que
também busca aprofundar a discussão sobre o envelhecimento vinculado às
desigualdades de classe.

Teixeira (2008) inicia essa problemática destacando que o capital impôs à


humanidade produzir riquezas por meio da venda da força de trabalho,
transformando o ser humano em uma mercadoria, gerando um trabalho alienado “o
ser humano não se reconhece como produtor, não tem acesso ao produto do seu
trabalho, em que o próprio ato de produção e seu fim lhe são estranhos” (TEIXEIRA,
24

2008, p. 62). Essa mercadoria perde seu valor, quando perde sua capacidade de
uso, principalmente pela idade avançada.

Sendo assim, podemos considerar que no Modo de Produção Capitalista o ser


humano possui valor até o momento em que dispõe de capacidade física e
intelectual, quando chega à velhice, ela é colocada como uma fase improdutiva da
vida, perdendo seu valor de uso (TEIXEIRA, 2008).

A autora ainda aponta que o trabalhador envelhece ao ter seu tempo de vida
subordinado ao trabalho, no entanto, ele não participa da riqueza socialmente
produzida. Processo que ocorre de forma diferente em cada classe. A partir desse
ponto, podemos problematizar a questão de classe no
envelhecimento, considerando que no capitalismo existe “a classe que detém o
capital mantém-se proprietária dele, a classe que porta a força de trabalho continua
a só dispor dela” (NETTO; BRAZ, 2010, p.137). Fica evidente que “o homem
envelhece sob determinadas condições de vida, fruto do lugar que ocupa nas
relações de produção e reprodução social” (TEIXEIRA, 2008, p. 81).

Os trabalhadores idosos nessa sociedade, como uma parte da classe


trabalhadora na atualidade, não são sequer explorados, são os supérfluos
para o capital; a camada azarenta da classe trabalhadora, compondo o
pauperismo oficial cuja situação é decorrente do modo de produção e
reprodução social da sociedade capitalista, condição social que não afeta a
todos os de idosos (e a todas as classes) da mesma forma, nem em termos
de expectativa de vida, em condições de vida, nem no modo de vivenciar o
envelhecimento (TEIXEIRA, 2008, p. 79-80).

Compreende-se que o envelhecimento é um processo comum a todos os seres


humanos, mas é a classe a qual esses indivíduos pertencem que vai determinar
como será esse processo na vida, ou seja, se ele terá acesso à alimentação,
saúde, lazer, educação, cultura, esporte e os demais direitos sociais (TEIXEIRA,
2008).

Portanto, o envelhecimento na sociedade capitalista, segundo a autora, se


transforma em um problema social, não pelo fato do declínio biológico ou pelo
crescimento demográfico, e sim porque o trabalhador perde seu valor de uso ao
envelhecer, e não tem acesso à riqueza social produzida, recursos que poderiam
25

proporcionar uma vida digna para todos, são na verdade, transformados em


mínimos sociais para os idosos de classe menos favorecida.

É necessário afirmar que há, na sociedade capitalista, uma contradição que como
diz Iamamoto (2011), é fundamental a esta sociedade. Segundo ela, esta
contradição está na origem do capitalismo, onde alguns têm acesso “à natureza, à
cultura, à ciência” (IAMAMOTO, 2011, p. 28) e outros em contraface, vivem na
crescente miséria e pauperização. A Questão Social, assim aparece como:

Conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista


madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais
coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a
apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma
parte da sociedade (IAMAMOTO, 2011, p. 27).

Continuando, Iamamoto e Carvalho (1988), afirmam que


A questão social não é senão as expressões do processo de formação e
desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da
contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros
tipos de intervenção mais além da caridade e repressão (CARVALHO e
IAMAMOTO, 1988, p. 77).

A contradição causada pelo capital versus trabalho é a grande questão, que provoca
diversas expressões que de forma gritante atingem a classe mais pobre. A gênese
da Questão Social, segundo Santos (2012), é explicada pelo processo de
acumulação do capital. A pobreza e a desigualdade entre os membros de uma
sociedade já existiam antes do capitalismo, porém, como colocado por Santos
(2012), a diferença está no fato de que no capitalismo, sua existência é socialmente
produzida. A pobreza existente antes era

Determinada socialmente pela divisão entre as classes, mas se devia,


principalmente, ao baixo desenvolvimento das forças produtivas que
deixavam, por exemplo, a produção agrícola inteiramente vulnerável às
pragas que acometiam as plantações ou outras catástrofes naturais,
produtoras de longos períodos de fome e epidemias nos países do “velho
mundo” (SANTOS, 2012, p. 29).

Hoje, as forças produtivas que antes, como citado acima pela autora, eram pouco
desenvolvidas, avançam cada vez mais. Porém, a pobreza, e as várias outras
expressões da questão social existente, continuam.
26

A escassez, assim como as diversas expressões que aparecem na sociedade


atualmente, é resultado:

Da forma como estão estabelecidas as relações sociais de produção,


podendo ser superada caso sejam superadas as formas de exploração do
trabalho que garantem a apropriação privada do que é socialmente
produzido ( SANTOS, 2012, p. 30).

Santos (2012), expõe que cada expressão da Questão Social tem uma forma de se
manifestar, mesmo que tenha sido causado por um uma única contradição. A
precarização das condições de vida dos trabalhadores, desde o início do capitalismo
traz péssimos resultados para a vida dos mesmos. Sobre as péssimas condições
encontradas desde o início da concentração da produção, Santos expõe que:

Era flagrante a ausência de investimentos em infraestrutura urbana, o


desprezo pelas condições de vida operária, significativos níveis de
morbidade, mortalidade da população infantil e adulta, habitações em locais
insalubres, doenças, fome, baixos salários (SANTOS, 2012, p. 37).

Segundo Teixeira (2008), esta exploração da força de trabalho faz com que o
trabalhador esteja esgotado ainda em idade mediana, havendo assim um processo
de degradação natural. Quando o trabalhador já não é mais interessante ao capital,
os salários e a posição dentro da indústria se tornam cada vez menores, e a opção
de sobrevivência para estes, muitas vezes é o trabalho precário, temporário e
informal, necessitando algumas vezes ainda da assistência pública ou do
voluntariado.

Assim, salientamos, através de Teixeira (2008), que as condições materiais são


determinantes nos problemas enfrentados no envelhecimento. As diferenças de
classe dão à velhice um significado duplo, representando duas realidades, classe
social e formas de envelhecer. Neste aspecto, Teixeira (2008), expõe que “O homem
envelhece sob determinadas condições de vida, fruto do lugar que ocupa nas
relações de produção e reprodução social (TEIXEIRA, 2008, p. 81)”.

Confirmando ainda a existência dessas duas formas opostas de envelhecer, Teixeira


(2008) cita Lenoir, que expõe a diferença de idade para ser considerado velho,
dentro das profissões, de acordo com o lugar ocupado no processo produtivo. Os
27

trabalhadores braçais, por exemplo, só são considerados produtivos até os 51,4


anos, os executivos até 57,9 anos, e os empresários, não tem uma idade média.

O reconhecimento da exploração, e alcance de alguns direitos dos trabalhadores


idosos, segundo Teixeira (2008), só foi possível e tomou a cena pública através das
lutas operárias. Nas considerações da autora, é importante mencionar que mesmo
na lógica capitalista já ocorreram muitas conquistas diante das transformações e
lutas sociais para ampliação da expectativa de vida e longevidade, como melhoria
no saneamento básico, tecnologia de saúde e melhorias alimentares. Estas,
iniciadas pelas primeiras gerações de operários que envelheceram permitiram
também um reconhecimento do envelhecimento como expressão da Questão social.
No entanto, países periféricos como o Brasil ainda são marcados por desigualdades
sociais e por diferentes posições de classes dos indivíduos (TEIXEIRA, 2008).

Referindo-se às expressões da Questão Social, Santos (2012) apresenta a pobreza


e o desemprego, já Teixeira (2008) apresenta o envelhecimento como uma dessas
expressões. Ao término da apresentação do envelhecimento, e da discussão sobre
mídia, colocaremos mais uma expressão, que parece ser inerente a sociedade
capitalista: a violência.

O reconhecimento do público idoso como sujeito de direito foi ocorrendo lentamente,


mas que por estar no contexto de uma sociedade capitalista, pode ser considerado
como um grande avanço. No item que se segue, apresentaremos alguns dos direitos
consignados à população idosa nas normativas vigentes.

2.1.1 Aspectos Sociais do Envelhecimento

O Envelhecimento populacional é uma conquista e traz consigo grandes desafios em


relação às políticas públicas. As primeiras assembléias promovidas pela
Organização das Nações Unidas (ONU) onde foram levantadas questões
importantes relacionadas à população idosa, foram a Assembléia de Viena em 1982,
e a Assembléia de Madri, em 2002.
28

O Plano de Viena levantou questões relacionadas ao envelhecimento da população


e o bem-estar dos idosos. O documento foi estruturado com 66 recomendações para
os estados membros. As recomendações visavam à independência do idoso,
políticas associadas ao mundo do trabalho, saúde, moradia, proteção ao consumidor
idoso e meio ambiente. Esse plano foi pensado para os idosos que viviam em países
desenvolvidos e que eram independentes financeiramente, e tinham condições de
obter o poder de compra, tendo em vista o desenvolvimento de um novo mercado
para esse novo ator social (CAMARANO; PASINATO, 2004).

Camarano e Pasinato (2004) destacam também que, na década de 90, o assunto


envelhecimento ganhou mais visibilidade, entrando na agenda dos países
desenvolvidos. Apesar de esse acontecimento ser um grande avanço, o que
permeava nos debates políticos e acadêmicos sobre o envelhecimento eram as
seguintes questões: um segmento populacional enxergado como algo homogêneo; o
envelhecimento associado à dependência e a problemas sociais, pois representava
um peso econômico sobre a população jovem; e em contrapartida, o idoso ainda
inserido no mercado de trabalho - depois de aposentado para garantir o bem-estar
da família -, podia ser visto como algo positivo para o desenvolvimento econômico e
social.

Em 1991, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) adotou 18


princípios ligados à população idosa defendendo a independência, participação,
cuidados, auto realização e dignidade. Embasadas nestes princípios, Camarano;
Pasinato (2004) assim se colocam:

A promoção da independência requer políticas públicas que garantam a


autonomia física e financeira, ou seja, o acesso aos direitos básicos de todo
ser humano: alimentação, habitação, saúde, trabalho e educação. Por
participação, busca-se a manutenção da integração dos idosos na
sociedade. Isso requer a criação de um ambiente propício para que possam
compartilhar seus conhecimentos e habilidades com gerações mais jovens
e de se socializarem. Os cuidados referem-se à necessidade do desfrute
pelos idosos de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais,
através do cuidado familiar ou institucional. Auto-realização significa a
possibilidade de os idosos fazerem uso de oportunidades para o
desenvolvimento do seu potencial, por meio do acesso a recursos
educacionais, culturais, espirituais e recreativos. Por último, o quesito
dignidade requer que se assegure aos idosos a possibilidade de vida digna
e segura, livre de toda e qualquer forma de exploração e maus-tratos
(CAMARANO; PASINATO, 2004, p. 257).
29

As autoras apontam também que foi superada a visão do idoso como vulnerável e
dependente passando -esse segmento- a ser visto como ativo e atuante. Assim,
tivemos em 1999, a comemoração do “Ano Internacional do Idoso”.

Em 2002 aconteceu o Plano de Madri. Foi um plano mais amplo, com 35 objetivos e
239 recomendações. Estas recomendações foram voltadas para os governos
nacionais, destacando também a importância da cooperação internacional. Este
plano, segundo Camarano; Pasinato, obteve um aspecto diferencial que eram as
parcerias com membros da sociedade civil e com o setor privado. Porém, com
algumas limitações, pois suas recomendações eram vagas: um plano único sem
considerar as diversidades regionais (CAMARANO; PASINATO, 2004).

No que diz respeito às parcerias com instituições sociais e privadas da sociedade


civil colocadas no Plano de Madri são “sobretudo, um reflexo do contexto econômico
e político das décadas que antecederam esse momento com a consolidação do
Estado neoliberal” (PINHOLATO, 2013, p.116).

Nas palavras da autora Goldani,

As famílias e outras organizações da sociedade civil são necessárias, mas


não suficientes para lidar com o crescente envelhecimento da população.
Ao pretenderem substituir o Estado, levando a cabo ações privadas em
substituição as políticas públicas, essas instituições acabam compartilhando
com o Estado as falhas no cumprimento de suas obrigações constitucionais.
Entretanto, a atuação das famílias brasileiras através de instituições —
“grupos da terceira idade”, ONG’s e o Conselho Nacional dos Direitos dos
Idosos —, ao pressionarem o Estado por novas políticas, faz com que estas
se tornem, indiretamente, promotoras de políticas públicas (GOLDANI,
2004, p. 237).

Voltando a atenção para a agenda das políticas públicas brasileiras para a


população idosa temos um avanço com a constituição de 1988.

O grande avanço em políticas de proteção social aos idosos brasileiros foi


dado pela Constituição de 1988, que levou em consideração algumas
orientações da Assembléia de Viena. Introduziu o conceito de seguridade
social, fazendo com que a rede de proteção social deixasse de estar
vinculada apenas ao contexto estritamente social-trabalhista assistencialista
e passasse a adquirir uma conotação de direito de cidadania (CAMARANO;
PASINATO, 2004, p. 266).
30

É importante considerar os avanços no papel do Estado, lembrando que a família


ainda continua sendo a principal responsável pelo idoso como aponta a Constituinte
(1988):
No Brasil, a Constituição de 1988 considera responsabilidade da família, da
sociedade e do Estado dar suporte aos idosos, assegurar sua participação
na comunidade, defender sua dignidade e bem-estar, bem como garantir o
seu direito à vida (BRASIL, 1988, art.º230).

Complementando, Goldani (2004), coloca que:

No primeiro parágrafo desse artigo constitucional é dito também que os


programas de apoio para os idosos devem ser realizados,
preferencialmente, dentro de seus domicílios. Assim que, na atribuição de
responsabilidades, a família vem primeiro (GOLDANI, 2004, p. 224).

Após a Constituição Federal de 1988 foram criados outros dispositivos legais em


defesa aos direitos dos idosos, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Respaldado pela Constituição Federal de 88 que define: “A assistência social será
de quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social”
(BRASIL, 1988, art.º 203 §5 ) e instituído pela Lei Orgânica de Assistência Social
(LOAS), Lei nº 8.742/1993. O BPC é um programa de transferência de renda, esse
benefício não é vitalício é destinado a pessoas com deficiência e a idosos que não
possuem capacidade para o trabalho, com renda inferior a um quarto do salário
mínimo. Conforme explicitado no artº. 20, “o beneficio de prestação continuada é a
garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com
65(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção nem de tê-la provido por sua família” (BRASIL, 1993, art.º 20).

Sendo o critério de renda o que define o direito ao benefício, consideramos esse


critério seletivo, que gera a exclusão impedindo que muitas pessoas tenham acesso
a um direito garantido na Constituição.

Em 1994, é instituída a Política Nacional do Idoso, Lei nº 8.842, que é uma


legislação que tem por objetivo “assegurar os direitos sociais dos idosos, criando
condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na
sociedade” (BRASIL, 1994, art.1º). É uma lei que garante políticas sociais à
população idosa e também que instiga a se pensar no envelhecimento da
31

população: “o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral,


devendo ser objeto de conhecimento e informação a todos” ( BRASIL, 1994, art. 3º).
Este é um ponto muito importante, já que há um crescimento da população idosa, e
isso traz um efeito sobre a sociedade, e a necessidade de se pensar políticas
públicas que atendam a essa população.

Sintetizando o art. 4º das diretrizes da PNI, temos:

Viabilizar aos idosos alternativas de participação, ocupação e convívio com


as demais gerações; participação dos idosos em organizações
representativas na formulação, implementação e avaliação das políticas e
projetos; priorização do atendimento ao idoso através de sua família em
detrimento ao atendimento asilar; capacitação nas áreas de geriatria e
gerontologia; mecanismos que favoreçam a divulgação de informações
educativas sobe o aspecto do envelhecimento; priorização de atendimento
aos idosos em órgãos públicos, privados e prestadores de serviços; apoio a
estudos e pesquisas sobre o envelhecimento (BRASIL, 1994, art. 4º).

Neste sentido, a PNI é um instrumento que fortalece um conjunto de garantias à


população idosa, mas que ainda divide a responsabilidade da proteção social com a
família, a sociedade e o Estado, como aponta o art. 3º: “a família, a sociedade e o
Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo
sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à
vida” (BRASIL, 1994, art. 3º).

Teixeira (2008) faz um critica a PNI ao apontar que “A PNI é uma legislação
moderna que reforça a característica brasileira de legislações complexas, ricas de
proteção social, entretanto, com nítido caráter formal, legalista que não se expressa
em ações efetivas de proteção” (TEIXEIRA, 2008, p. 266).

Com essa crítica a autora revela que há fragilidades na PNI quanto à consolidação
das ações, o que podemos notar no art. 10º que aponta a necessidade de se
estimular alternativas de atendimento aos idosos, como centros de cuidados diurnos,
casas lares, oficinas obrigadas de trabalho e atendimentos domiciliares. Neste
sentido concordamos com Teixeira (2008) quando percebermos que essas ações
estão na legislação, no entanto, não é uma realidade vivida em boa parte dos
estados brasileiros, tendo em vista as desigualdades existentes.

Em 2003, foi promulgada a Lei nº 10.741 que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, essa
lei reafirma os direitos existentes na Constituição, esclarecendo no art. 10º que é
32

“obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o


respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos,
individuais e sociais” (BRASIL, 2003, art. 10º). O Estatuto do Idoso foi organizado
em cinco grandes tópicos: direitos fundamentais; medidas de proteção ao idoso em
estado de risco pessoal ou social; política de atendimento; acesso à justiça; crimes.

Um dos fatos que nos chamou a atenção foi que, há uma divergência entre o
Estatuto do Idoso que considera idosa a pessoa com idade igual ou superior a 60
anos, e a LOAS que considera idosa a pessoa com 65 anos ou mais, o que
desfigura o acesso aos direitos. O Estatuto do Idoso diverge e ao mesmo tempo
concorda ao definir no art. 39º, que fica assegurada a gratuidade dos transportes
coletivos públicos a partir dos 65 anos.

Para melhor avaliação dessas diferenças nas políticas destinadas aos idosos,
consideramos que o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI), instituído em
2002, por meio do decreto nº 4.227, tem muito a contribuir. Conforme esse decreto o
CNDI é composto por um representante de cada um dos Ministérios (saúde,
esporte, educação) e os demais, por dois representantes do Ministério da
Assistência e Previdência, e por dez representantes da sociedade civil atuantes na
promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa2.

O CNDI reúne-se trimestralmente, tem composição paritária e caráter deliberativo.


Dentre as suas competências destaca-se: avaliar a PNI, observar as diretrizes
presentes no Estatuto do Idoso, monitorar as atividades de atendimento ao idoso,
promover estudos, debates sobre a aplicação e os resultados dos programas e
projetos destinados à pessoa idosa3.

Isso nos remete a pensar que as leis são avanços, um demarcador de lutas
históricas, onde a velhice e o envelhecimento conquistam garantias nas políticas
sociais. Entretanto, precisamos de mais avanços para obtenção de maiores

2
Informações do Conselho Nacional dos direitos do Idoso retiradas do site:
<http://www.ipea.gov.br/participacao/conselhos/conselho-nacional-de-combate-a-discriminacao-
lgbt/132-conselho-nacional-dos-direitos-do-idoso/266-conselho-nacional-de-direitos-do-idoso>.

3
Ibid., (2)
33

resultados coletivos para os que envelhecem de formas variadas conforme será


explicitado no tópico a seguir.

2.1.2 O envelhecimento hoje: Aspectos Demográficos

Para falar do fenômeno envelhecimento é oportuno consultar os antecedentes


históricos informados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que
nos traz contribuições para melhor aprofundamento do assunto. Segundo o IBGE
(2009), até metade do século passado o padrão demográfico brasileiro apresentava-
se estável, com lentos declínios de mortalidade, as taxas brutas de natalidade
oscilavam entre 45 e 50 nascimentos por mil habitantes, a média de filhos por
mulheres era de 7 a 9 filhos, reflexos da concepção de família que se tinha na
época.

Em 1940, a taxa de mortalidade registrou declínios. Vários fatores podem ter


contribuído para esse fato, entre eles estão: o controle das doenças,
desenvolvimento da indústria farmacêutica, infraestrutura nas áreas urbanas, e a
previdência social, resultando na elevação da taxa de natalidade registrando assim o
crescimento demográfico brasileiro. Já na década de 70 ocorreram algumas
mudanças no comportamento reprodutivo da população, que passou a se concentrar
nas cidades, tornando-se assalariada incluída em um modelo econômico voltado
para o consumo. Com o surgimento dos métodos contraceptivos intensificou o
número de mulheres que usavam esses métodos contribuindo para queda da
fecundidade. Outro aspecto interessante relacionado a este indicador refere-se à
posição socioeconômica, onde é possível perceber que, quanto maior a instrução
feminina, menor é a fecundidade. Na década de 80, permaneceu o processo de
declínio da fecundidade, generalizando-se por todas as regiões e grupos sociais
conforme explicita o IBGE (2009).

Durante a década de 1980, manteve-se o ritmo de declínio, chegando-se,


em 2000, a estimativa da ordem de 2,38 filhos por mulher e, em 2006, de
1,99 filhos por mulher, valor este indicativo de que a fecundidade no país já
se encontra abaixo de seu nível de reposição, ou seja, com uma taxa de
fecundidade total inferior a 2,1 filhos por mulher. Trata-se de um vertiginoso
34

e espetacular declínio num tempo bastante reduzido (30 anos), quando


comparado com a experiência anterior dos países desenvolvidos, cujo
processo teve uma duração superior a um século para atingir patamares
similares (IBGE, 2009, s.p).

Posto o baixo nível da taxa de fecundidade no decorrer dos anos significa que há
uma elevação da população idosa ou “que há um envelhecimento pela base, isto é
quando decresce o número de nascidos no país” (PINHOLATO, 2013, p.107). A fim
de demonstrar a fala da autora, fazemos uso do seguinte gráfico:

Gráfico 1 - Estrutura relativa, por sexo e idade - Brasil - 1940/2050


Fontes: IBGE, Censo Demográfico 1940/2000 e Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade
para o Período 1980-2050– Revisão 2008./Fonte Dados Demográficos - SBGG Sociedade Brasileira
de Geriatria e Gerontologia.

O IBGE (2010), demonstra que a expectativa de vida dos brasileiros aumentará,


passando de 75 para 81 anos em 2060. O Brasil, que segundo o mesmo índice,
aponta para uma população de 201.032.714 habitantes em 2013, aparece, deste
número, com 14,9 milhões (7,4% do total) só de idosos, sendo que em 2060, este
número poderá ir para 58,4 milhões (26,7% do total).

A Síntese dos Indicadores Sociais de 2013 publicados pelo IBGE indica que o
envelhecimento é uma questão de gênero ao apontar que a população idosa 51,3%
é a proporção de mulheres e 48,7 % é a de homens. Esse indicativo possui um
35

aspecto importante que vamos apontar, que é a feminização da velhice,


demonstrado também no gráfico abaixo.

Gráfico 2- Distribuição da população por sexo


Fonte: IBGE 2010, Censo 2010

Como percebemos a partir do gráfico, há uma predominância da população


feminina. É importante destacar também, como aponta o IBGE (2013), que na última
década ocorreu um menor distanciamento no rendimento salarial entre homens e
mulheres, no entanto as mulheres permanecem ganhando menos que os homens,
tanto no trabalho formal quanto informal, sendo que se constata também que cresce
a responsabilidade das mulheres como referência familiar. Segundo o IBGE (2013),
“as evidências trazidas pela PNAD 2012 mostraram que 38% dos arranjos familiares
tinham como pessoa de referência a mulher, quando em 2002, essa proporção era
28%” (IBGE, 2013, p. 73).

É interessante colocar que esta feminização, conforme mostrado no gráfico, e


mostrado nos indicadores do IBGE (2010), cresce cada vez mais, uma vez que as
projeções indicam que em 2060 a expectativa de vida das mulheres chega a 84,4
anos, contra 78,03 dos homens.
36

No que se refere ao idoso no convívio familiar Camarano (2002) chama a atenção


para as implicações que a feminização da velhice pode gerar, ao mencionar que há
um alto contingente de viuvez feminina, com baixo grau de escolaridade e sem
experiência no mercado de trabalho formal.

Camarano;Kanso;Mello (2004), reafirmam isto ao dizer que há uma mortalidade


diferencial por sexo no que se refere às causas das mortes, e destacam que estas
(mortes), podem estar ligadas a algumas doenças como por exemplo as doenças
cardiovasculares, respiratórias e a neoplasia. Já no que diz respeito às mortes
externas é importante mencionar que na população idosa é maior entre os homens
do que entre as mulheres, podendo estar ligadas a alguns fatores entre eles a
violência. Ainda a esse respeito, as autoras demarcam que:

Na categoria causas externas estão incluídas as mortes decorrentes de


acidentes de transporte público, de trânsito, de quedas, de homicídios, de
afogamentos e envenenamentos. Muitas dessas causas estão relacionadas
diretamente com a circulação dos idosos pelos espaços públicos que,
apesar das leis existentes com o intuito de normatizá-los, são ainda
bastante inadequados. À medida que os idosos passam a utilizar mais o
espaço da rua no seu cotidiano, tornam-se mais suscetíveis e vulneráveis a
acidentes. Da mesma forma, passam a ficar mais expostos aos riscos da
violência urbana. (CAMARANO; KANSO; MELLO, 2004, p.43).

Disso, portanto, decorrem desafios para os gestores de políticas públicas. O


aumento da população idosa tem efeito sobre o contingente de velhos no mercado
de trabalho, serviços médicos, custos com a previdência social e sobre os
indicadores de violência.

A Síntese dos Indicadores Sociais de 2013, indicam que os idosos que trabalham
apresentam um percentual alto na informalidade. As taxas foram de 46,9% para
70,8% em 2012, levando-se em consideração que os idosos aposentados voltam ao
mercado de trabalho para complementar a renda, ou como um meio de socialização.

Camarano (2002) aponta que as famílias que possuem idosos aposentados estão
em condições econômicas melhores, pois contam com os benefícios previdenciários
desses idosos, sendo possível notar que os mesmos estão assumindo um
novo papel na família: o de participar com sua renda na renda familiar.
37

Ao responsabilizar-se pela família assumindo o papel de provedor, pode levar o


idoso a sofrer várias implicações, como aponta Gomes (2008):

Esta questão tem sido mencionada como importante nos indicadores de


violência contra a pessoa idosa. São frequentes os registros de violência,
por extorsão, cometida por familiares aos seus ascendentes, possuidores
de algum recurso. A possibilidade de tomar empréstimos bancários tem
atraído instituições financeiras que seduzem os tomadores com promessas
de suavidade no pagamento. Esse fato tem levado muitos idosos a se
endividarem para resolver problemas familiares, o que está acarretando um
ônus muito grande, tanto econômico quanto psicológico, uma vez que
sofrem consequências e as pressões do endividamento (GOMES, 2008,
p.65).

Há uma responsabilização dos idosos, que pode ser explicada por Debert (2012), ao
falar dos gerontólogos. Segundo a autora, quatro elementos do discurso
gerontológico constroem a imagem dos velhos no sentido de “transformar a velhice
em uma questão política ou em propor práticas que promovam um envelhecimento
bem-sucedido” (DEBERT, 2012, p. 198).

Debert destaca o primeiro elemento como um aumento de gastos públicos, para


atender ao público idoso, que a partir do século XX, cresce cerca de 8 (oito) vezes
mais que a população jovem, num país que ainda se autodefine como de jovens.
Além disso, experts em contabilidade nacional, sobre o envelhecimento, anunciam
uma verdadeira catástrofe, alertando -por toda esta conjuntura nova da sociedade -
para um possível risco para a reprodução da vida social (DEBERT, 2012).

O segundo, gira em torno da selvageria do sistema capitalista que desvaloriza o


velho por não ser mais apto para o trabalho, além do abandono do mesmo por parte
do Estado e da sociedade. A miséria e a exclusão existentes no Brasil se tornariam
mais amargas na velhice.

No terceiro elemento, há uma crítica à cultura de valorização do jovem e do novo, de


uma cultura que incorpora elementos externos, e se esquece das próprias tradições,
visto como “um país sem memória, que despreza seu passado” (DEBERT,2012, p.
200), sendo para o discurso gerontológico, a justificativa para a forma -de descaso-
com que os velhos são tratados.

O quarto e último elemento coloca a questão de que nos países em que o


capitalismo foi mais avançado, houve um declínio da família extensa, porém,
38

compensada pela criação do welfarstate, que amenizou possíveis problemas sociais


e econômicos que poderiam atingir estas famílias. No Brasil, este declínio também
aconteceu, porém, em condições incapazes "de resolver os problemas básicos da
maioria da população” (DEBERT, 2012, p. 201) e que deixa os idosos em extrema
vulnerabilidade. O envelhecimento do país surge junto com o aumento dos
problemas sociais, das desigualdades e junto à crise econômica.

Debert (2012), sobre os quatro pontos colocados pelos gerontólogos, expõe que é
difícil saber se este discurso influenciou na criação de políticas para a população
idosa. Porém, coloca que após 1990, este tema, cada vez mais, começou a
preocupar a sociedade brasileira. O resultado de novas pesquisas e a imagem da
velhice na mídia contrastam como será mostrado abaixo, com o próprio discurso dos
gerontólogos.

Ainda segundo Debert (2012), os paradigmas da teoria gerontológica, apresentam


duas formas de se conceber a problemática do idoso: a perspectiva da miséria,
ainda marca o discurso dos gerontólogos brasileiros, sobre as mudanças trazidas
pela modernização que impuseram aos idosos um papel menor, sem significados na
sociedade e na família. A outra perspectiva, dos idosos como fonte de recursos,
apresentaria os idosos como seres ativos, como por exemplo, novas formas de
lazer, redefinição de comportamentos e relação com familiares. Mas que por outro
lado, também falaria dos idosos que desmotivados, são considerados como seres
problemáticos, por não se esforçarem para desenvolver nova carreira ou fazer
alguma atividade de lazer ou de manutenção corporal.

Coloca-se que, como respostas aos problemas da velhice, agências estatais e


organizações privadas elegeram programas para a terceira idade, que favoreciam de
certa forma ao próprio capitalismo, de forma que serviriam como uma diminuição de
gastos com a manutenção de idosos. Debert (2012) coloca que apesar de tudo,
como sua pesquisa mostrou, as pessoas que participam destes programas
apresentam experiências positivas, sendo uma forma de ampliação do circulo social,
e nova qualidade de vida para os envolvidos. Esta nova visão criada, como coloca a
autora não é uma visão exclusiva para estas agências e organizações. É também
uma visão que a própria mídia tenta mostrar.
39

Ao abordar as atividades desenvolvidas para o público idoso, e lembrando da


feminização da velhice colocada por Camarano, Debert (2012), fala que neste
período da vida, há o privilégio de realização pessoal dos indivíduos, que em geral,
encontram nova carreira, realizam novas atividades, realizando sonhos que, em
especial as mulheres, não conseguiram desenvolver quando mais novas. A mídia,
salientando esta visão, mostra o momento em que a mulher “liberada dos papéis
sociais próprios das fases anteriores da vida, pode, enfim, se dedicar à realização
pessoal” (DEBERT, 2012, p. 211).

Os resultados de estudos mostram que nos anúncios publicitários, a figura do idoso,


pode demonstrar tanto a confiabilidade e tradição de determinado produto, como
investimentos bem ou mal sucedidos, obrigações de filhos adultos para com seus
pais, assim como, pode ser objeto para “atualização de outros significados como a
rebeldia, a contestação e a subversão de padrões sociais, o hedonismo” (DEBERT,
2012, p. 218). Para a autora, os publicitários utilizam esta imagem buscando
provocar determinado choque nos que estão vendo, invertendo o que acontece na
vida real, como se a pessoa que comprasse o produto “ganhasse” determinado tipo
de velhice (velhice mais animada, feliz e consumidora), trabalhando, como diz
Debert (2012), com uma inversão do que acontece na realidade, ou seja, com a
dimensão aspiracional.

Nas novelas, porém, a tendência está sendo mostrar personagens velhos de forma
privilegiada: se relacionando com mais jovens, sendo ricos, com poder,
revolucionando a moral sexual, adotando estilos alternativos, etc. Nas reportagens
de televisão a velhice é retratada através de velhos abandonados, mas que
geralmente logo depois, como diz Debert (2012), contrasta-se mostrando velhos que
desenvolvem suas atividades normalmente. Eles também mostram os problemas da
aposentadoria em 1990, com a luta dos aposentados em torno dos 147%4. Falam da
condição de miséria e vulnerabilidade dos mais velhos, sendo, porém, que por outro
lado, mostra-se nos jornais e televisão, por exemplo, militantes do movimento dos
4
Movimento organizado que ocupou a cena política brasileira, no final de 1991 e começo de 1992. A
luta pelos 147% “ visava repor as perdas no montante das aposentadorias e pensões, que perderam
seu valor real ao longo do processo inflacionário brasileiro nos anos 1980” (DBERT, 2012, p. 139).
Azevedo (2012) expõe que foi uma luta pela correção “do valor dos proventos dos aposentados/as e
pensionistas pelo mesmo índice de correção do salário mínimo. Naquela ocasião, a Portaria nº. 485
concedeu reajustes diferenciados aos aposentados/as e pensionistas. Para aqueles/as que
ganhavam até um salário mínimo, o reajuste foi de 147,06%. Aos demais, que ganhavam acima de
um salário mínimo, o reajuste dos benefícios foi de 54,6%” (AZEVEDO, 2012, p.97).
40

147% que ainda lúcidos e participantes estão prontos para lutar contra “ todo tipo de
preconceito e discriminação por parte do Estado e dos políticos”(DEBERT, 2012, p.
219).

Debert (2012) coloca a dificuldade que é falar da velhice no Brasil. Porém, o motivo
que a leva a pensar isto, é que de um lado os gerontólogos os traçam como vítimas
privilegiadas da miséria, mas que são mostrados pelos meios de comunicação como
seres lúcidos, participantes, ativos que querem se realizar e viver momentos felizes,
tendo apenas o dever de se auto realizar.

Sobre o tema a autora expõe ainda, que os gerontólogos, se impressionam com a


velhice mostrada pelos meios de comunicação e programas, enquanto a mídia
busca consultar os gerontólogos para indicar prevenções da velhice. O
envelhecimento ao se tornar um novo mercado de consumo não permite lugar para
a velhice que “tende a ser vista como consequência do descuido pessoal” (DEBERT,
2012, p. 227), dependendo das atividades desenvolvidas, formas de consumo e
estilos de vida inadequados. Abrindo novos mercados para indústria de
rejuvenescimento, a gerontologia, busca redução a custos da saúde (contribuindo
com o Estado) evitando a negligência corporal.

Esta visão culpabilizadora coloca os problemas da velhice, como algo de quem não
é ativo, sendo assim, culpa exclusiva deles. A interlocução de gerontólogos, mídia e
com espaços sociais para o envelhecimento trazem o processo de reprivatização,
que deixa de lado, o fato inegável de que o corpo, realmente está envelhecendo,
acreditando na “promessa de que –com esforço pessoal, com a adoção de estilos de
vida e formas de consumo adequadas- a velhice possa ser excluída do leque das
preocupações dos indivíduos e da sociedade” (DEBERT, 2012, p.191).

Acreditamos que a culpabilização não é o melhor caminho para explicar assuntos


referentes à sociedade, dentre eles o envelhecimento humano, como afirma Debert
(2012), que é natural e que faz parte do processo de todo ser humano. Ao
culpabilizar, ignora-se a realidade (social, cultural, econômica, política, etc.) de cada
idoso para alcançar uma melhor ou pior forma de envelhecer. Quando se discute
apenas com a família ou com o idoso - de forma focalizada- o que eles poderiam ou
não fazer, para melhorar sua situação, é de certa forma, ignorar que determinados
41

problemas que atingem a um elevado número de pessoas devem ser


responsabilidade do Estado também.

Os quatro pontos foram capazes de explicar, e pode sim, talvez representar a visão,
em parte, real dos idosos. Coloca-se em parte, pois, deve-se reconhecer que a visão
contrária que a mídia apresenta, também reflete uma realidade.

Debert (2012) apresenta o lado do idoso da revista, que aparece sempre como
aquele que não é nem desprezado nem abandonado. Nas palavras da autora, há:

Um novo ator, definindo um novo mercado de consumo em que a promessa


da eterna juventude é o subtexto através do qual um novo vestuário, novas
formas de lazer e de relação com o corpo, com a família, e com amigos são
oferecidos (DEBERT, 2012, p. 212).

E ainda:

Não há espaço para imagens de doença, de decadência física e de


dependência como destino dos que envelhecem. Mais do que definir a
ultima etapa da vida, trata-se de impor estilos de vida, criando uma série de
regras de comportamento e de consumo de bens específicos, que indicam
como aqueles que não se sentem velhos devem proceder (DEBERT, 2012,
p. 212).

Se por um lado os gerontólogos aparecem com uma visão considerada até


extremamente dramática, de outro, aparece a mídia, por meio da televisão, em
especial as revistas, com a criação de uma velhice que pode ser almejada por todos,
mas que não se encontra na realidade de muitos.

Mesmo que de uma forma idealizada, Debert (2012) chama a atenção para o fato de
estar havendo produções falando desta faixa etária, surgindo ai um espaço nos
anúncios publicitários, que antes era dominado pela juventude. A autora coloca que
o interesse principal ainda está neles, porém, cada vez mais estudos sobre a
população mais velha são encontrados.

A mídia é uma ferramenta que serve para instauração da ideologia dominante, e


como será colocado abaixo, é também um mecanismo divulgador de temas como a
violência, que se antes estava escondida, hoje, aparece com muita frequência nos
jornais (televisivos ou impressos).
42

2.2 A MÍDIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Como já colocado acima, a mídia que antes era predominantemente voltada para o
público jovem começou a voltar-se a um novo público: o idoso. Como é objetivo
deste trabalho, nos interessa de forma mais especifica saber como esta ferramenta
aborda a violência contra o seguimento mais envelhecido da população, no jornal A
Gazeta, porém, antes disso, achamos necessário, saber que instrumento é este, a
quem ele serve, e se é mesmo possível uma manifestação imparcial nas notícias
publicadas.

Entender a mídia enquanto instrumento da classe dominante, e compreender que há


duas classes sociais antagônicas em questão, esta e a classe trabalhadora,
dominada. A classe dominante produz ideologias que fazem com que suas ideias
pareçam naturais, como se fossem algo que sempre existiu, ajudando inclusive na
desmobilização de lutas contra a exploração de classe. Chauí expõe que

o que faz da ideologia uma força quase impossível de ser destruída é o fato
de que a dominação real é justamente aquilo que a ideologia tem por
finalidade ocultar. Em outras palavras a ideologia nasce para fazer com que
os homens creiam que suas vidas são o que são em decorrência da ação
de certas entidades (a Natureza, os deuses ou Deus, a Razão ou a Ciência,
a Sociedade, o Estado), que existem em si e por si e ás quais é legitimo e
legal que se submetam. Ora, como a experiência vivida imediata e a
alienação confirmam tais idéias, a ideologia simplesmente cristaliza em
verdades a visão invertida do real. Seu papel é fazer com que no lugar dos
dominantes apareçam ideias “verdadeiras” (CHAUÍ, 2012, p.95-96).

A ideologia serve-se dos meios de comunicação enquanto meio de dominação e


afirmação de suas “verdades” e modos de vida. Com o desenvolvimento do
capitalismo é evidente que a mídia passa a ter papel central na propagação da
ideologia dominante, como afirma Moraes:

o sistema midiático desempenha um duplo papel estratégico. O primeiro diz


respeito á sua condição peculiar de agente discursivo da globalização do
neoliberalismo. Não apenas legitima o ideário global, como também o
transforma no discurso social hegemônico, propagando valores e modos de
vida que transferem para o mercado a regulação das demandas coletivas. A
doxa neoliberal procura neutralizar o pensamento crítico, reduzir o espaço
por ideias alternativas e contestadoras, ainda que estas continuem se
manifestando, resistindo e reiterando-se. Trata-se, pois de uma função
ideológica que consiste em “realizar a lógica do poder fazendo com que as
divisões e as diferenças apareçam como simples diversidades condições de
cada um”, o que significa “escamotear o conflito, dissimular a dominação e
43

ocultar a presença do particular, enquanto particular dando-lhe a aparência


do universal” (MORAES, 2013, p. 46).

Ou seja, o capitalismo converteu um dos elementos fundamentais ao


desenvolvimento humano, em meio/ instrumento de dominação.

Assim o sistema capitalista estrutura-se, consolida-se e se reproduz na


medida em que sua lógica e princípios perpassam todos os aspectos da
vida de indivíduos e grupos sociais, como a cultura, o lazer, a educação, as
relações interpessoais, a política, a saúde, os meios de comunicação e na
medida em que estes (em especial os meios de comunicação) sejam
organizados e funcionem segundo a lógica do capital (COMPARATO, 2000,
p. 237).

Apesar de se falar dos meios de comunicação como um meio da classe dominante,


é importante dizer que ela também pode ser um instrumento da classe trabalhadora.
Os meios de comunicação ao divulgar fatos, também contribuem para o acervo de
conhecimento, para a formação de opinião, ou para instrumentalizar processos de
luta, inclusive dos dominados. O que se coloca em questão é a forma de apreensão
e o filtro como o fato noticiado é apropriado pelo conjunto da população. A
informação em si, é um direito que se inscreve no coração dos processos
democráticos e, portanto, um bem da humanidade.

Nos últimos séculos as descobertas no campo da comunicação produziram, entre


outras coisas, novas formas de ver o mundo, de viver a vida, formas de consumo e
de costumes. Sendo assim, Ruiz (2009) admite que “os meios de comunicação de
massa tiveram papel importante para o desenvolvimento cultural, profissional e
ideológico das populações” (RUIZ, 2009, p. 83).

No século XIX e XX a imprensa escrita, rádio, televisão, internet, etc., surgiram


marcando a humanidade, e uma só informação começou a atingir diversos públicos.
Além disso conceitos e produtos começaram a ser padronizados em vários e
distantes países (RUIZ, 2009).

No Brasil, ao se falar da influência dos meios de comunicação, pensa-se logo, como


colocado por Ruiz (2009), na Rede Globo de Comunicação, que tem seu histórico
marcado pela interferência em eleições presidenciais, cobertura de movimentos
44

sociais como o ABC paulista, mostrando as reportagens de acordo com o agrado


dos governantes-militares, modificando assim, as reportagens o quanto conseguia
(RUIZ, 2009). Por estes e outros acontecimentos, ainda hoje, vemos em
manifestações a crítica a esta Rede de comunicação, por ter este lado de manipular
a realidade.

Apesar disso, o outro lado que existe e que também é abordado por Ruiz (2009) é o
de influenciar o povo na luta por seus direitos, através, por exemplo, das novelas.

Talvez, este seja o momento em que somos capazes - com contribuições das
reflexões de Vaz (2009) - de visualizar que por trás de qualquer meio de
comunicação há um produtor, um jornalista, enfim, alguém que trabalha para este
instrumento fluir. Este produtor, por um lado, fica preso as técnicas de produção
(forma do título, forma do parágrafo, resumindo as principais informações das
reportagens no primeiro parágrafo), ao tempo, à produções que não necessitem de
muita reflexão por parte do receptor/leitor e sim afirmações, descontextualização da
notícia, distanciando o fato do real contexto, buscando fazer da notícia um
verdadeiro espetáculo da realidade, que segundo os autores supracitados, é sempre
possível nas reportagens sobre violência.

Por outro lado, este produtor/jornalista busca, quanto quer e é possível, uma
resistência aos discursos hegemônicos, através de mecanismos alternativos.
Moraes (2009), sobre isso, fala do dramaturgo e esquerdista Oduvaldo Vianna Fillho
que ajudou a renovar a teledramaturgia, em meio à censura e ao controle ideológico
da Globo. Para isto, ele, ao invés de recusar trabalhar numa rede como esta, usou o
seriado “A Grande família” para abordar “desigualdades sociais, o drama da classe
média empobrecida e as mazelas políticas do país, através de alusões , ironias,
bom-humor e metáforas”( MORAES, 2009, p. 49).

Segundo o autor, Oduvaldo ainda dizia que apesar de trabalhar para uma rede como
esta, não se pode deixar de denunciar a manipulação e omissão da mídia de acordo
com os interesses políticos e econômicos, pois segundo o dramaturgo, o problema
não é o que a TV mostra e sim o que ela deixa de mostrar (MORAES, 2009).
45

Apesar de toda crítica existente aos meios de comunicação, e tendo noção da


ideologia capaz de alienar o pensamento da sociedade, é interessante colocar aqui,
que “fatores mercadológicos, socioculturais e políticos repercutem de alguma
maneira na definição das programações” (MORAES, 2009, p. 46). Pois, os meios de
comunicação estão entranhados no mercado, tendo “seus radares
permanentemente ativados para captar sinalizações, insatisfações e carências – e
com isso preencher vácuos abertos, antecipar tendências, criar modismos, atenuar
variações e repensar aproximações” (MORAES, 2009, p. 46).

Moraes (2009, p. 47), fala da impossibilidade de conceber a mídia como um campo


harmonioso e homogêneo, pois é um campo de “imposições e refúgios” sendo
“campo permeado por contradições, oscilações de gostos, preferências e
expectativas”.

Sendo assim, Moraes (2009), ajuda-nos a compreender o campo midiático como


algo não rígido, e que apesar de construído de acordo com a ajuda da ideologia
dominante e obedecendo ao mercado, é capaz de se abrir para captação das
necessidades da população que podem não ter sido supridas pela imposição da
ideologia. Sobre isso, Moraes expõe que “enquanto mediadora auto assumida dos
desejos, a mídia tenta identificar indicações do cotidiano e eventuais alternâncias de
sentimentos que podem incidir em predisposições consensuais ao consumo”
(MORAES, 2009, p. 47).

Deixando claro que essa absorção das inquietações do público, é “essencialmente


por razões de mercado” (MORAES, 2009, p. 47). Ao citar Gramsci, Moraes (2009),
coloca que o limite destas concessões está na condição de não afetar os pilares da
dominação.

Ao pensar os meios de comunicação como também absorventes dos desejos e


tendências da sociedade, pode-se melhor entender, num momento de processo de
envelhecimento da população, o porquê da utilização cada vez maior do idoso na
mídia, como percebido –e abordado no item acima- por Debert (2012).
46

O direito a comunicação, de liberdade e de expressão é de todos, pensa-se, porém,


nas razões que limitam esse direito. No item abaixo exporemos sobre isso.

2.2.1 A mídia como direito

A comunicação que se deseja ter como direito é mais que liberdade de expressão ou
de ter informação, é poder produzir e veicular informações, de dizer e ser ouvido, de
“ser protagonista de um sistema de comunicação plural” (RUIZ, 2009, p. 97)
compreendendo a comunicação como uma bem público pertencente a sociedade,
como algo que deveria ser indispensável (RUIZ, 2009).

Democratizar a informação seria igual a “reconhecer legal e legitimamente a


comunicação como direito humano; criar instrumentos e mecanismos que garantam
a socialização da informação sem filtros e vieses ideológicos” (SALES; RUIZ, 2009,
p. 22). Desconcentrar o poder midiático e assegurar a fala, por exemplo, dos
movimentos sociais (SALES; RUIZ, 2009).

Neste meio, entraria o assistente social como participante da luta por uma
democratização dos meios de comunicação, deslindando, como coloca os autores,
os fundamentos mostrados pela mídia de acordo com a visão neoliberalista. Esta
seria mais uma ferramenta deste profissional, lutando pela “ ampliação e
consolidação da cidadania, a defesa do aprofundamento da democracia” (ARRAIS,
2009, p. 350), podendo utilizar deste meio como forma de se manter informado,
utilizando de sua visão crítica para analisar as informações recebidas, além de poder
usá-los como porta-vozes dos direitos humanos (ARRAIS, 2009).

Os meios de comunicação alternativos existem em nossa sociedade, porém com um


reconhecimento ínfimo perto dos grandes meios conhecidos. Visto que as empresas
de comunicação necessitam de alto investimento monetário, concentram-se nas
mãos de poucos, dos que detém o poder econômico. Neste sentido, fica claro que
suas informações propagam seus ideários. Segundo Silva (2009):
47

No Brasil, assim como em grande parte do mundo, os canais que veiculam


a comunicação e a informação encontram-se concentrados, em sua maioria,
nas mãos de uma pequena parcela da população, aqueles que compõem a
classe mais abastada da sociedade, ou seja, os detentores da maior parte
da renda produzida, de acordo com a lógica capitalista (SILVA, 2009, p.
266).

A empresa, por exemplo, “Globo” é a maior empresa de comunicação do Brasil,


conhecida pela monopolização dos meios de comunicação. Segundo Savazoni;
Valente (2005), as organizações Globo alcançam mais de 99% do território e da
população brasileira, através de suas cinco emissoras próprias, suas mais de 108
afiliadas, além de empresas de rádio, internet, revistas, cinema. Deste exemplo
consideram:

A “Globo” é, acima de tudo, uma organização política, que atua nos


bastidores dos governos brasileiros (sejam eles democráticos ou ditatoriais)
em busca de garantir a execução de seus interesses. E que, não uma ou
outra, mas muitas vezes, jogou contra a vontade da maioria da população
para garantir o seu quinhão (SAVAZONI; VALENTE, 2005, s.p.).

Nas palavras de Zanetti (2009):

Esse “pequeno império” possibilita seu metamorfoseamento e adaptação


aos diferentes públicos, a exemplo dos jornais impressos chamados
populares, como o Extra e o Expresso que utilizam linguagem especifica e
preço acessíveis a esta camada da população, facilitando seu acesso a
5
compreensão, capitalizando assim as opiniões da classe hegemônica
também nessa classe, só que agora com “a cara do povo (ZANETTI, 2009,
p. 239).

Ou seja, “os megagrupos midiáticos detém a propriedade dos meios de produção, a


infraestrutura tecnológica e as bases logísticas como parte de um sistema que rege
habilmente os processos de produção material e imaterial” (MORAES, 2013, p. 21),
dificultando muito a divulgação e consequente crescimento de um meio de
comunicação com condições menores.

Abre-se um parênteses, porém, para lembrar que o inicio do jornalismo, por


exemplo, no século XIX, foi através dos imigrantes ligados ás lutas operárias, assim
como marxistas como Lênin e Gramsci, acreditavam no jornal como ferramenta de
5
"Hegemonia - termo derivado do grego - egheminoa - de origem militar, que significa direção,
supremacia no comando de um exército. Modernamente, a expressão significa a capacidade de
direção política e cultural de um grupo ou classe social sobre as demais classes e suas frações." Cf.
Novo Dicionário Político (1992, p.19).
48

luta, organização e combate no campo das idéias, tendo um caráter educativo (VAZ,
2009).

Havendo um megagrupo do poder, e o objetivo acima de tudo de alcançar as


expectativas do mercado, pensa-se na existência da imparcialidade que muitas
vezes é colocada como troféu pelos mídia/jornais (VAZ, 2009).

A imparcialidade como colocado por Vaz (2009), é o que dá credibilidade ao jornal,


porém, poucos acreditam que ela realmente exista. Na busca dela, busca-se
técnicas que obedeçam ao senso comum, relatando o que é comum sem mostrar
opiniões contrarias. Porém, os autores chamam a atenção para o fato de que a
ausência da fala do jornalista não representa falta da existência de algum tipo de
pensamento (VAZ, 2009). Então, mais uma vez retornamos a questão do jornalista
ou produtor de algum meio de comunicação.

Por maior esforço e busca de esconder sua subjetividade, ao fazer reportagem o


repórter consegue no máximo, tentar aprender técnicas de disfarce. “Ouvir os dois
lados e não omitir opinião é alguns dos preceitos do texto jornalístico comercial”
(VAZ, 2009, p. 112), porém a neutralidade ainda é impossível, pois cada um tem sua
forma de olhar uma referência externa da realidade que de alguma forma é
mostrada. Segundo Vaz, a realidade não passa de uma percepção da nossa
experiência de estar no mundo (dependendo dos nossos sentidos, experiências e
crenças). O que acreditamos ver, não passa de combinação de imagens captadas (o
que o olho viu) somado ao que há na nossa memória.

Assim “[...] O jornalista conta o que vê. Mas o que vê depende do que ele pensa, de
suas crenças e experiência, de sua subjetividade” (VAZ, 2009, p. 115). Além disso,
“o fato já nasce como relato” (VAZ, 2009, p. 115).

O jornalista, como mostrado por Vaz (2009), aparece com uma função
extremamente difícil, pois, ele luta contra os desejos mercadológicos e a ideologia
midiática, contra ele mesmo – contra seus próprios preconceitos, modo de ver o
mundo, senso comum - , além disso, contra uma realidade que não depende dele,
49

que é o fato de, por exemplo, em uma entrevista a uma pessoa analfabeta, ter que
editar o discurso do entrevistado para fazer com ele seja entendido.

Assim, rompe-se com a neutralidade e a imparcialidade. Isto é possível de ser


afirmado numa pequena citação de Vaz (2009, p. 119) “Todas as reportagens,
incluindo a minha, são ecos do senso comum da dominação, da ordem social
estabelecida que, antes de tudo, define quem tem e quem não tem direito à fala”.

2.2.2 Rede Globo: entre o modelo burguês e a necessidade da população

Como já mencionado no item anterior, e nas considerações de Ruiz, novelas


entendidas como uma das maiores disseminadoras do modelo burguês de vida,
onde estão embutidas várias formatações idealizadas do que seria certo ou errada
na sociedade, também propagaram informações importantes à sociedade. Como
destaca Ruiz (2013):

O predomínio de ações ideológicas conservadoras da rede Globo não nos


permitiu desconsiderar certa contribuição para conquistas obtidas pelo
próprio povo. Por exemplo, alguns fenômenos de audiência da Globo
interferem na promoção de direitos humanos. Têm se intensificado as
repercussões de novelas e programa da emissora sobre o debate público
de direitos violados e/ou negados a vários segmentos da população. [...] Há
interferência sobre a própria legislação: o Estatuto do Idoso teve maior
publicidade quanto á sua agenda de debates e aprovação em função de
situações familiares vivenciadas por um casal de idosos personagens em
novela global (Mulheres Apaixonadas, 2003) (RUIZ, 2013, p. 86- 87).

Além da televisão, a Rede Globo buscou atingir outros públicos ao produzir jornais
impressos, utilizando uma linguagem para o povo, capitalizando as opiniões desta
classe. Como resposta, na contramão dessas agencias de comunicação em massa,
as agências alternativas criticam os meios de comunicação convencional, e grupos
como dos movimentos sociais passaram a produzir seus próprios meios de
comunicação – as mídias alternativas-, tendo, porém de forma concreta o
rompimento com a imparcialidade. Estas, viram nas ferramentas digitais uma
alternativa para a produção e difusão de notícias priorizando a temática dos direitos
(ZANETTI, 2009).

Sobre isso, Moraes (2013), expõe que:


50

Elas utilizam-se das ferramentas digitais com sentido contra hegemônico:


difundem conteúdos de contestação ás formas de dominação impostas por
classes e instituições hegemônicas, ao mesmo tempo em que priorizam
temáticas relacionadas aos direitos da cidadania e à justiça social
(MORAES, 2013, p. 103).

Em meio a difusão da internet a possibilidade de se comunicar, disseminar ideias


ficou mais fácil, esta possibilitou:

Desde a multiplicação de espaços para expressar/ interagir opiniões e


preferências em redes sociais até a convocação, articulação, cobertura e
socialização de atos públicos, manifestações protestos em tempo real
(como um simples “tuitaço” com hora marcada ou a reação simultânea em
cadeia quando curtimos ou compartilhamos um post) (MORAES, 2013, p.
103).

Em linhas gerais o que estas agências buscam é oportunizar a sociedade um debate


crítico e real em torno dos acontecimentos, além do debate é claro em torno do
grande monopólio midiático, que prevê a manutenção do mercado e não a
informação a serviço da sociedade (MORAES, 2013). O autor defende que:

Em sentido geral, eis a tarefa da comunicação contra-hegemônica:


reivindicar o pluralismo e o valor das histórias e culturas e motivar-nos a
reflexão sobre o mundo vivido. É isso que distingue os seres humanos
como sujeitos capazes de interferir em seus próprios destinos, vergando a
passividade e recusando as razões do mercado como bússola para a vida
social (MORAES, 2013, p. 103).

A exposição até aqui desenvolvida reforça a importância de se entender a mídia


como uma ferramenta, que não obstante configurar-se como mecanismo
favorecedor da ordem capitalista, que também – e mesmo no intuito de promover
impactos para ampliar o seu volume de vendas ou audiências –acaba prestando um
serviço à população, que pode se apropriar dessas informações para fortalecer os
seus projetos.

O jornal fonte da presente pesquisa é o jornal A Gazeta, que circula na região da


Grande Vitória, sendo um dos “braços” da grande Rede Globo de Comunicação no
Espírito Santo.

Após conhecermos alguns mecanismos utilizados pela mídia, exporemos no próximo


item s o nosso objeto de estudo – a violência – que é um tema muito presente nas
51

edições consultadas, e no próximo capítulo, o jornal A Gazeta, assim como as


reportagens trabalhadas.

Para fechar esta discussão da dimensão dual dos meios de comunicação, é


interessante citar, mesmo que rapidamente, programas que são do jornal ES TV, da
TV Gazeta, que é a filiada da rede Globo no Espírito Santo, voltados para as
necessidades da população, por exemplo: “Calendário do ES TV”, que através das
reclamações dos moradores, o jornal chama uma figura representante da autoridade
do município, vendo o que este pode ou não fazer pela população, anotando num
calendário para depois voltar na data marcada, e conferir o que foi cumprido ou não
pela a autoridade; “Você no G1” onde as pessoas podem participar do jornal
enviando fotos e vídeos; “Sem noção” onde se pode expor erros cometidos por
alguém ou algum grupo no dia-a-dia; “S.O.S.” onde os moradores pedem
melhorarias6.

O jornal, assim, aparece como um denunciador, um caminho mais fácil, para a


reclamação ou denuncia da população chegar até alguma autoridade.

2.3 VIOLÊNCIA

A violência começa na história como um fenômeno que sempre existiu assumindo


diversas formas. Várias atrocidades cometidas foram consideradas como toleráveis,
pois estavam dentro dos “padrões éticos” como, por exemplo, em situações de
guerra onde diversas vidas são tiradas, em caso de legítima defesa ou em situações
respaldadas pela lei (BAIERL, 2004).

Sobre a violência, Odalia (1991) expõe que a primeira imagem que temos dela é a
agressão física, que atinge o homem no que possui: seu corpo, bens, família e
amigos. Essa é a violência que está presente em todos os lados, tanto em bairros
sofisticados como em favelas. Diante disso percebe-se mudanças nos bairros

6
Estas informações podem ser confirmadas através da visita ao site da do
G1(<http://g1.globo.com/videos/espirito-santo/estv-1edicao/>), porém, nenhum texto explicando cada
quadro existente no jornal foi encontrado.
52

sofisticados, em sua arquitetura urbana, onde as casas que antes tinham seu
espaço visual ampliado com jardins, agora, passam a ser projetada com espaços
fechados com altos muros ( favorecendo o isolamento familiar, pois a casa não é
mais compreendida como local de tranqüilidade e sim de refúgio contra a vida
exterior), fazendo com que o autor inclusive, veja semelhança com os antigos
castelos medievais. Já nas favelas, a violência não pode ser evitada com os muros,
por ser uma realidade na qual os moradores convivem com muita proximidade
(ODALIA, 1991). Sobre isso o autor afirma que a “arma contra a violência é permitir
que a promiscuidade e o hábito teçam uma rede de conformismo que, aqui ou ali
rompida, não deixam de funcionar como uma falsa proteção” (ODALIA, 1991, p. 12).

Ao se pensar na origem da violência, Odalia (1991), fala da idade média onde havia
violentas punições aos criminosos, hereges e apóstolos do cristianismo que tinham
as mãos decepadas, mortes públicas, purificações em fogueiras, lembrando que a
violência não é algo presente somente em algumas épocas.

Ele lembra que essas são violências físicas, mas, existem também àquelas
violências que são sutis e maliciosas, que sujeitam o corpo e o espírito do homem
como apontam o autor:

[...] para que o índio pudesse ser considerado um ser humano houve a
necessidade de uma bula papal, declarando ser ele possuidor de uma
alma. E que os negros até 1888 foram considerados como coisas que
podiam ser compradas, vendidas, trocadas, permutadas, gastas de acordo
com a vontade soberana de seu Senhor (ODALIA, 1991, p. 18).

Ao contrário de épocas atrás –conforme colocado acima- , hoje, agredir uma pessoa
física e moralmente, se tornou ilegal. Dizer que algo é lícito ou ilícito é algo
construído em cada sociedade. A destruição de patrimônio, quando um criminoso é
morto e todos ficam aliviados, quando uma mulher que é agredida pelo marido e
revida com a mesma intensidade e todos se sentem satisfeitos. Estas são faces da
violência (BAIERL, 2004).

Há um lado da face onde o agressor, pode se tornar o agredido, e assim também ser
violentado, ou mesmo, onde o agressor, só se tornou um, pelas várias violências
sofridas ao longo de sua vida.
53

A violência sempre ocorreu, mudando apenas os autores que a cometem, tendo


como característica em comum, o poder e a força (BAIERL, 2004).

A violência, como mostrado por Baierl (2004), aparece para todos, porém, de formas
diferentes. A autora coloca que uma criança, por exemplo, que mora na favela que
convive com cenas de morte, terá uma visão diferenciada, da de uma criança que só
vê a mesma violência, pela televisão. Há, segundo a autora, aqueles que convivem
com os tipos de violência mais cruéis – conforme colocado acima através de Odalai
(1991) -, e aqueles que só a visualizam num real imaginário. Mesmo estes, que a
visualizam num real imaginário, sabe-se que também são suscetíveis de sofrerem
com alguma das faces da violência.

Como colocado por Baierl (2004), com o passar dos anos, novos medos, causados
pelas novas formas de violência aparecem, fazendo assim, da violência “[...] produto
de processos mais amplos nos quais se constituem e se desenvolvem as novas
formas de sociabilidade, aonde as relações sociais vêm sofrendo profundas
mudanças” (BAIERL, 2004, p. 24).

Ao buscar-se analisar e ter explicações para o medo e a violência, percebe-se que


ela não pode ser estudada desvinculada das diferentes formas de exclusão da
sociedade. Porém, mesmo com a exclusão existente, a violência não pode ser
colocada como sinônimo de pobreza, pois, como colocado por Baierl (2004):

Numa sociedade onde o consumo se amplia, onde as diferenças entre ricos


e pobres cada vez mais se afirmam, onde o acesso a direitos mínimos e
básicos não é respeitado, onde direitos sociais (moradia, saúde, educação,
alimentação, lazer, segurança), promulgados na Carta Magna de 1988, são
negados, onde impera a impunidade e o desrespeito à legalidade
constituída, sem dúvida, há que se pensar as várias dimensões que fazem
emergir e reforçar as diversas facetas da violência (BAIERL ,2004, p. 25).

Por falar em Carta Magna, no artigo 226º, § 8º, a Constituição Federal afirma que o
Estado deve coibir a violência dentro das famílias e entre suas relações, além de ter
o dever de junto com a família e a sociedade “ amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-
estar e garantindo-lhes o direito à vida” (BRASIL, 1988, art. 230º).

Fala-se pouco da pessoa idosa na Constituição, e dela em relação com a violência,


não se fala. Porém, sabe-se que este segmento, e de maneira geral, a sociedade,
54

necessita de leis e principalmente do cumprimento das mesmas. Baierl (2004) afirma


que a sociedade vive com medo fazendo existir o medo social7, que cada vez mais
está impregnado na sociedade, em um contexto em que o “Estado de direito” não
propicia direito, construindo estratégias na esfera do particular e ampliando ainda
mais formas de discriminação, desqualificando inclusive, as estratégias de
transformação social.

A autora continua, colocando que o medo é apenas um sentimento, mas que produz
reações violentas, sendo instrumento de manipulação das pessoas, instrumento e
mecanismo de escravidão. Assim, a violência faz emergir o medo, levando “as
pessoas a paralisarem e alterarem suas relações e suas formas de ser no espaço
em que vivem em seus contextos individuais” (BAIERL, 2004, p.45).

Banalizando o que ocorre cotidianamente, a violência no Brasil é vista como algo


comum e típico na cidade e nas zonas rurais, se tornando corriqueiro:

[...] homicídios, chacinas, ocupações violentas de terra, dizimação de índios,


morte perinatal, estupros, acidentes de trânsito, assaltos, roubos a bancos,
sequestros, vitimização de mulheres e crianças, violência policial, extorsão,
tráfico de drogas, linchamento, tráfico de crianças, e uma violência que não
ganha visibilidade pelas marcas que deixa no corpo, mas que se expressa
no conjunto das relações sociais e na vida cotidiana: ausência de
equipamentos sociais mínimos, tempo gasto no transporte, desemprego,
filas de espera, baixos salários, qualidade e quantidade dos serviços
públicos de direito do cidadão, desrespeito, perda da dignidade, ausência
de cidadania, que vai minando o cotidiano dos sujeitos (BAIERL, 2004,
p.53).

Entre as formas de violência que podem existir, colocaremos no próximo item, a


violência, em sua dimensão e tipificação contra o sujeito que nos interessa: o idoso.
Mesmo com as leis e normativas existentes, a violência contra este grupo
permanece, e a mídia, neste caso através do jornal, acaba sendo um instrumento
confirmador deste fato.

2.3.1 Violência contra a pessoa idosa

7
Termo utilizado pela autora como algo construído socialmente, tendo sua gênese na coletividade, e
na dinâmica da mesma. Este medo é produzido e construído em certos contextos para atingir
objetivos como o de subjugar e dominar o outro/grupo através da intimidação e coerção (BAIERL,
2004).
55

É assombrosa a forma de violência existente na sociedade. Ela é colocada por


vários autores, como uma questão de saúde pública, atingindo principalmente -
como colocado por Silva; França (2006) - as crianças, mulheres e idosos. O Brasil,
conforme os autores, futuramente será um dos países em desenvolvimento que terá
o 5º maior número de idosos, e ao se olhar para a realidade do país, isto se torna
um dado preocupante.

A violência pode ser vista a partir de três grandes dimensões: sociopolítica,


institucional e intrafamiliar. A sociopolítica é caracterizada por crimes socialmente
conhecidos, causados geralmente por estranhos, como: furto, acidentes de trânsito,
discriminação, etc.; a institucional infringe direitos, principalmente o Estatuto do
Idoso, numa organização ou instituição pública ou privada. Já a intrafamiliar pode
ser múltipla, mas em sua maioria é representada pela violência, física, psicológica,
negligência e abandono, além de ser financeira, sexual e simbólica (FALEIROS,
2007).

Na Constituição Federal, a família – junto com o Estado – é colocada como uma das
responsáveis para proteger seus membros. Porém, Silva; França (2006) chamam a
atenção para o fato de que o ambiente familiar também é um espaço de violências,
opressões e abusos. Para Valadares; Souza (2010) a maioria das queixas de
violência ocorrida é por parentes sendo que:

Noventa por cento dos casos de violência contra esse grupo ocorrem no
interior dos lares; 2/3 dos agressores são filhos homens, noras, genros e
cônjuges, e há uma forte associação nos casos em que o agressor físico e
emocional usa drogas. Contribuem para a maior vulnerabilidade os
seguintes fatores: o agressor viver na mesma casa que a vítima; existirem
relações de dependência financeira entre pais e filhos; o ambiente de pouca
comunicação, pouco afeto e vínculos frouxos na família; o isolamento social
da família e da pessoa idosa; haver história de violência na família; o
cuidador ter sido vítima de violência doméstica; e a presença de qualquer
tipo de sofrimento mental ou psiquiátrico. Em relação à violência cometida
contra idosos, estudos mostram a dificuldade das vítimas de revelarem os
maus-tratos, seja por constrangimento, seja por temor a punições e
retaliações de seus agressores (VALADARES; SOUZA, 2010, s.n.).

Silva; França (2006) colocam que o seio familiar, mesmo com estas características é
um local confortável, aonde mesmo sofrendo agressões, o idoso prefere continuar
nele. A sociedade capitalista obriga cada vez mais o idoso a estar dependente da
família, existindo:
56

Uma exposição do idoso a uma vulnerabilidade social, muitas vezes


decorrente de aspectos ligados à questões sociais, culturais e econômicas (
SILVA; FRANÇA, 2006, p.124).

Segundo Faleiros (2007), a violência está presente na sociedade, porém se


mostrando de forma diferenciada em cada região, família, instituição, etc. Em
contrapartida, a percepção e sensibilidade da população sobre o problema também
se ampliou.

Para este autor o tema violência contra o idoso ainda é muito incipiente,
considerando que apenas nos anos de 1970 estudiosos voltaram-se à questão
discorrendo sobre o tema da violência intrafamiliar. Porém, a partir de 1980 o
número de pesquisas e publicações ganharam força.

Para Faleiros (2007), a violência é mais do que um ato, é a negação do outro,


negação da tolerância e

[...] implica relações desiguais de condições sociais e de poder que negam


a vida, a autoridade legítima, a diferença, que destroem a tolerância,
transgridem o pacto social de convivência ou legal, violam direitos, negando
a construção de uma relação mediada de conflitos. A violência implica,
ainda, prejuízos materiais, morais ou de imagem/imaginário ou a morte do
outro, em função de aumento de desvantagens para si ou de manutenção
de uma estrutura de desigualdade (FALEIROS, 2007, p. 30).

Além do uso da força, a violência se dá pelo desrespeito e constrangimento, sendo


contrário ao direito e à justiça. Ela usa do poder, da força, da dominação, imposição
de uma solução repressiva e eliminação do outro, significando uma dominação da
convivência em cada momento histórico (FALEIROS, 2007).

Para a Organização Mundial de Saúde, conforme colocado por Paz, Melo e Soriano,
a violência é definida

como um conceito referente aos processos,às relações sociais


interpessoais, de grupos, de classes, de gênero, ou objetivadas em
instituições, quando empregam diferentes formas, métodos e meios de
aniquilamento de outrem, ou de sua coação direta ou indireta, causando-
lhes danos físicos, mentais e morais (PAZ, MELO; SORIANO, 2012, p. 61).

Paz, Melo; Soriano (2012) expõe que as denúncias de negligências e maus tratos
são comuns no âmbito das instituições de saúde e assistência social, porém, nada
57

se iguala com abusos e negligência dentro de casa. Como colocado, há também


violações feitas pelo próprio Estado quando descumpre o seu papel de

Executor de políticas e de ser o principal responsável pela garantia dos


direitos, entretanto, vem sendo aquele que fomenta as discrepâncias entre o
direito legal e o direito real no cotidiano dos idosos pela não efetivação da
Política Nacional do Idoso e pelo descumprimento na execução e garantia
dos Direitos conforme o Estatuto do Idoso, pelo contrário, registram-se nas
ações do Estado, omissões, paralelismos de ações com a multiplicidade,
diversidade e sobreposição de papéis e ações fragmentadas e focais nos
programas governamentais (PAZ, MELO; SORIANO, 2012, p. 67).

Os autores denunciam a forma de captação de denúncias pelo Estado, além da


dificuldade dos “espaços públicos de exercer Controle Social Democrático” (PAZ,
MELO; SORIANO, 2012, p. 67). Os conselhos que devem fazer esse controle,
operam com precariedade no exercício e dificuldade na defesa dos direitos.

Abre-se aqui, um pequeno espaço, pois falamos de um Estado que é negligênte,


que preza acima de tudo pelo valor de uso e os ganhos que as pessoas/mercadorias
podem ter e que dificulta através da precariedade os órgãos ainda existentes para
verdadeira proteção dos direitos da população, e em especial da população idosa.
Porém, achamos importante colocar que o Estado de que falamos , é o Estado
neoliberal.

A política deste Estado, começou por Pinochet, em 1973 no Chile, seguido depois
por Thatcher (Inglaterra) e Reager (Estados Unidos). Ela ingressou no Brasil
plenamente, através do governo de Collor, em 1989 (MONTAÑO; DURIGUETTO,
2010).

O neoliberalismo está sustentado por três pilares: “ a) a ofensiva contra o trabalho e


suas formas de organização e lutas; b) a reestruturação produtiva e c) a (contra)
reforma do Estado” (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2010, p. 193). Com esse novo
modelo de Estado que avança desde a crise das últimas lutas pós-70, além das
lutas sindicais e de direita, as leis e direitos trabalhistas são fortemente atingidas.
Como colocado por Montaño; Duriguetto (2010) ao citar Petras (1999), o
neoliberalismo, tenta abolir cinquenta anos de avanço sociais.
58

Na busca de ampliar seus fundamentos de acumulação, há um rompimento com o


pacto keynesiano com o Estado de Bem-Estar Social, e com tudo que é “acessório (
o modelo de desenvolvimento e o “pacto” entre classes) para manter o fundamental (
a acumulação capitalista, baseada na exploração da força de trabalho)” (MONTAÑO;
DURIGUETTO, 2010, p. 194). No neoliberalismo, junto com a ampliação de novas
formas de exploração, enriquecimento, e de acumulação veio o empobrecimento,
que como colocado pelos autores, não surge com o neoliberalismo (MONTAÑO;
DURIGUETTO, 2010 ), mas que com certeza, se torna mais gritante com este.

Sem dúvida, diariamente nota-se um descaso e violação de direitos por parte do


Estado, Sociedade e Instituições. Sobre isto, Paz, Melo; Soriano (2012) dizem que
estas são formas de violência, maiores e mais graves do que a aquela que ocorre
entre indivíduos e familiares. Assim, Paz, Melo; Soriano (2012) colocam que
associada ao capitalismo, mas que ainda tendo-se a idéia de soberania do povo e
igualdade entre os indivíduos surge a maior violência: a institucional. Ela é de cunho
político, cometida pelo Estado ou instituição de maneira macrossocial, ocorrendo
quando há a anulação, simulação ou impedimento da participação dos idosos na
sociedade. Da mesma forma, a microssocial, se realiza quando praticada em
Instituições públicas ou privadas. O Estado democrático não “reconhece” a violação
de direitos tornando-os praticamente invisíveis. Eles colocam:

A “Violência Institucional” não empurra a faca no idoso ou o amarra na


cadeira, ofendendo-o ou discriminando-o, mas, normatiza e regula, como se
dispusesse ou disponibilizasse a faca e a corda indiretamente nas mãos dos
agentes da sociedade para que se realize, concretamente, a violência (PAZ,
MELO; SORIANO, 2012, p. 71).

E esta, que é uma violência do Estado, recai como um ato individual. Eles afirmam
que é pela
[...] plena ineficiência e ineficácia do Estado de gerir com responsabilidade e
compromisso ético os fundos públicos, as políticas públicas e ações que na
prática devem ser aplicadas com a finalidade de melhorar as condições de
vida do povo e, por conseguinte, dos idosos (PAZ, MELO; SORIANO, 2012,
p. 71).

A violência está “diretamente relacionada à desigualdade social e a questão de


classe” (PAZ, MELO; SORIANO, 2012, p. 67) sendo “fruto de um processo social
relacional complexo e diverso e que nos provoca a refletir a violência não apenas
59

como um fator individual, fragmentado, mas como um todo” (PAZ, MELO; SORIANO,
2012, p. 68).

Entre os tipos de violência que mais afetam a população idosa, para além das que
são diretamente causadas pelo Estado, Minayo (2005), expõe e as define de forma
clara, como:

• Abuso físico ou violência física – expressões que se referem ao uso da


força física para compelir os idosos a fazerem o que não desejam, para feri-
los, provocar-lhes dor, incapacidade ou morte;
• Abuso psicológico ou violência psicológica – correspondem a agressões
verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar os idosos, humilhá-los,
restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social;
• Abuso ou violência sexual – se referem ao ato ou jogo sexual de caráter
homo ou hetero-relacional, utilizando pessoas idosas. Esses abusos visam
a obter excitação, relação sexual, ou práticas eróticas por meio de
aliciamento, violência física ou ameaças;
•Abandono – é uma forma de violência que se manifesta pela ausência ou
deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de
prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção;
• Negligência – refere-se à recusa ou à omissão de cuidados devidos e
necessários aos idosos, por parte dos responsáveis familiares ou
institucionais. A negligência é uma das formas de violência mais presentes
no país. Se manifesta associada a outros abusos que geram lesões e
traumas físicos, emocionais e sociais, em particular, para as que se
encontram em situação de múltipla dependência ou incapacidade;
• Abuso financeiro e econômico – consiste na exploração imprópria ou ilegal
dos idosos ou ao uso não consentido por eles de seus recursos financeiros
e patrimoniais. Esse tipo de violência ocorre, sobretudo, no âmbito familiar;
• Auto-negligência– diz respeito à conduta da pessoa idosa que ameaça sua
própria saúde ou segurança, pela recusa de prover cuidados necessários a
si mesma (MINAYO, 2005, p.15).

Outra violência existente e comum a este segmento é o assédio moral, causada por
uma aposentadoria forçada e/ou repentina, podendo causar depressão e até a
morte. Aqui no Brasil, apesar de ser proibida a discriminação pela idade na
contratação de funcionários, há a contradição na aposentadoria compulsória
estabelecida pelo governo aos 70 anos (SILVA; FRANÇA, 2006).

O medo de prejudicar a família, medo de ir para um asilo, medo de mais violência,


são as causas que fazem os idosos se calarem. E os que decidem denunciar
geralmente necessitam de ajuda de um psicólogo, e da segurança de que os
agressores serão punidos.

Silva; França (2006) expõem as formas de violências visíveis e constantemente


presentes em nosso dia-a-dia contra a pessoa idosa, como: os problemas de
60

transporte público que se não adaptados dificultam a mobilidade; falta de


sensibilidade dos usuários; motoristas que não param ou não esperam o embarque
destes usuários se completar. Isto, segundo os autores, é reflexo da

[...] falta de educação de um povo e a pouca articulação entre poder público,


empresas de transportes, mídia e demais instituições sociais e educacionais
(SILVA; FRANÇA, 2006, p. 126).

Todas as formas de violência caminham contra os direitos garantidos pela


Constituição Federal de 1988. Mas, quando se fala de violência contra o idoso,
deve-se mencionar Estatuto do Idoso (2003), que de forma clara, tem estabelecido
no artigo 4º que: “Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,
discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos,
por ação ou omissão, será punido na forma da lei".

No que diz respeito à divulgação da violência contra o idoso na sociedade, Liz


(2009) destaca que foi a partir da mídia que os maus tratos contra este segmento
começaram a ser divulgados e medidas foram criadas visando à proteção dos
mesmos.

Baierl (2004) fala da triste realidade da violência, que alimenta a cultura do medo,
apesar de ter se tornado como algo que faz parte do cotidiano das pessoas, algo
que virou um hábito. Segundo a autora, “os altos índices de violência sempre
atraíram manchetes de jornais, principalmente aquelas notícias em que a crueldade
parece na sua maior sordidez” (BAIERL, 2004, p. 51).

É esta violência que já se tornou comum que vamos observar de forma específica no
ano de 2013 no segundo capítulo deste trabalho.
61

3 O JORNAL “A GAZETA”8

A Rede Gazeta é considerada um dos maiores complexos de comunicação do


Espírito Santo, e “é constituída do jornal A Gazeta, TV Gazeta, TV Cachoeiro, TV
Norte, das rádios Jovem Pan II FM, Antena 1 FM, Litoral FM, Aracruz FM, Gazeta
AM Popular e CBN AM, Gazeta Produções, Powernet (Pagers) e Gazeta Zaz.”
Trabalhando ao todo com cerca de 900 funcionários.

O jornal A Gazeta foi fundado em 11 de setembro de 1928 por Thiers Velloso, sendo
o veículo mais antigo da Rede, afiliado a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e ao
Instituto Verificador de Circulação (IVC). Este jornal além do conhecimento nacional
é considerado um dos “maiores jornais de média circulação no país” e circulando em
todos os municípios do Espírito Santo e em parte dos Estados de “Minas Gerais e
Bahia, e nas cidades de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro” justificando o porquê
de em algumas reportagens analisadas serem encontradas informações de outros
Estados. Este jornal possui cerca de 90 jornalistas e “uma circulação média de 45
mil exemplares, chegando ao número de 90 mil aos domingos”.

Nos seus 86 anos de existência, segundo o site pesquisado, ela soube dar passos
importantes tecnologicamente, passando em 1992 a ter edições diárias impressas
em cores e, em 1994, “inaugurou o sistema de redação informatizada”, criando, em
1995, A Gazeta Online.

Continuando sua evolução, a “A Gazeta” inaugurou em 1999 um novo parque gráfico


com uma impressora de fabricação americana – a Newsliner-, sendo uma das mais
modernas do mercado e “podendo rodar até 70 mil exemplares/hora de cadernos
com até 24 páginas totalmente coloridas”, sendo uma das mais modernas.

Hoje, a Rede Gazeta está instalada em Bento Ferreira, dispondo de um auditório de


195 lugares para “palestras, simpósios, conferências e outros eventos sócio-políticos
e culturais” permitindo, segundo o site, mais aproximação entre a rede e a
população do Estado.

8
Informações obtidas no site:< http://www.aberje.com.br/antigo/guia/redecor.htm>.Acessado em
junho2014.
62

3.1 O Jornal A Gazeta segundo ele mesmo

O Jornal A Gazeta é o jornal impresso que referenciaremos em nossa pesquisa.


Conforme descrito no site da Rede Gazeta é um dos principais meios de
comunicação desta empresa. De acordo com esta fonte, “é a opção de comunicação
preferida e a mais presente na vida da comunidade, servindo à sociedade e
garantindo a liderança de mercado e o seu crescimento empresarial”. Ainda
conforme a mesma fonte, “considera-se como o maior grupo de comunicação do
Espírito Santo” defendendo que “a credibilidade, compromisso e modernidade são
seus pilares, que prima pela ética e pela transparência em suas relações”.
Reconhece-se pelo jornalismo isento e plural, e, como empresa “tem compromisso
com os capixabas e trabalha em favor do desenvolvimento do Espírito Santo”.
Afirma a responsabilidade social como um dos valores da Rede Gazeta favorecendo
“a participação ativa na comunidade para estimular e exercer o desenvolvimento
socioeconômico e cultural, a liberdade de expressão, o fortalecimento a democracia
e a livre iniciativa e o bem-estar da comunidade”.

Declara que por se fazer presente na comunidade, acredita que a maior contribuição
que pode dar à sociedade é usar seu poder de mobilização para dar visibilidade a
projetos, causas e campanhas desenvolvidos em entidades, além de mobilizar,
prestar contas e esclarecer a sociedade.

Em sua Política de Responsabilidade Social, de acordo com site pesquisado, a Rede


Gazeta, tem como missão “informar”, entreter e prestar serviços de comunicação ao
público capixaba e de regiões onde atue, com qualidade, ética e inovação,
contribuindo para os desenvolvimentos socioeconômicos, culturais e da cidadania
servindo à sociedade e garantindo a liderança de mercado e o seu crescimento
empresarial.

Conforme a política da empresa firmou, em 2000, compromisso com a ONU –


Organização das Nações Unidas, que estabeleceu oito Objetivos para o Milênio
destacados como: combate à pobreza, associada à implementação de políticas de
saúde, saneamento, educação, habitação, meio ambiente e promoção da igualdade
de gênero. Sendo assim, a Rede Gazeta entende ser o seu papel assumir
63

compromisso com a sociedade capixaba, e com isto, “fazer a diferença e contribuir


para a discussão e para a concretização das Metas do Milênio na região. Isso,
conforme a empresa citada, se dará de forma transparente e participativa, por meio
da discussão, mobilização, divulgação de bons exemplos, esclarecimento e
prestação de contas à sociedade.

A gestão da responsabilidade social, conforme a Rede Gazeta “é um jornalismo


socialmente responsável, acreditando que os meios de comunicação existem para
ajudar as pessoas a formarem suas próprias opiniões” e entende que seu papel
social está “fortemente ligado ao desenvolvimento da capacidade de análise crítica
do mundo”. Ou seja, seu papel “é informar para formar. Por isso investe num
jornalismo de qualidade, que provoca a inquietação e a mudança nas pessoas e na
sociedade9”.

Este foi o meio de comunicação selecionado pelo Núcleo de Estudo sobre o


Envelhecimento e Assessoramento a Pessoa Idosa (NEEAPI) para a coleta de
dados, acreditando em sua abrangência no Estado do Espírito Santo.

3.2 A VIOLÊNCIA PRATICADA CONTRA A PESSOA IDOSA NO ESPÍRITO


SANTO, SEGUNDO NOTÍCIAS DO JORNAL A GAZETA

O NEEAPI, vinculado ao curso de serviço social UFES, como já mencionado na


introdução deste trabalho, desenvolve a Pesquisa “O Idoso na mídia impressa
Capixaba: determinantes ideológicos e culturais no envelhecimento” que tem como
objetivo geral “configurar os determinantes ideológicos e culturais que condicionam o
processo de envelhecimento na sociedade capixaba”10.

As reportagens que subsidiaram o presente estudo, foram catalogadas pelos


bolsistas do referido núcleo, que também fizeram “levantamento, recorte e colagem,
considerando os seguintes itens: a manchete, o texto, a data da publicação, o

9
Informações podem ser encontradas através da visita ao site da do G1. Disponível em
<http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/redegazeta/capa/index.php>. Acesso em 06 jun..2014.
10
Informações retiradas do subprojeto de Iniciação Cientifica “O idoso na mídia impressa capixaba:
determinantes ideológicos e culturais no envelhecimento”.
64

caderno e o (a) autor(a) da matéria”, conforme informado no subprojeto, que tem


como proposta “a compreensão dos determinantes ideológicos e culturais no
envelhecimento, na medida em que são temas que comparecem na mídia, geram
repercussões para o entendimento e encaminhamento de respostas do Estado e da
Sociedade”11.

Ao fazermos a seleção das reportagens buscamos demarcar como a violência


contra o idoso, no ano de 2013, é veiculada no jornal impresso A Gazeta. Situamos
algumas características dessas notícias como: a frequência de casos de violência
por mês, os tipos de violência, quando o idoso foi à vítima ou o agressor e o
percentual de homens ou mulheres na mesma condição, e a dimensão da violência
identificada nas reportagens.

3.2.1 A configuração temporal da violência

Do mês de janeiro a dezembro de 2013, foram coletadas um total de 75 reportagens


alusivas à questão em foco. Conforme demonstrado do gráfico que se segue:

Reportagens Mensais
DEZEMBRO
NOVEMBRO
OUTUBRO
SETEMBRO
AGOSTO
JULHO
JUNHO Reportagens Mensais
MAIO
ABRIL
MARÇO
FEVEREIRO
JANEIRO

0.00% 5.00% 10.00% 15.00% 20.00% 25.00%

Gráfico 3 – Distribuição de frequência mensal do ano de 2013, em uma amostra de 75 reportagens do


jornal A Gazeta.
Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

11
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO. Subprojeto de Iniciação Cientifica do NEEAPI,
2013.
65

Conforme os dados do gráfico 3 , os meses com maiores números de publicações


foram: fevereiro (22,37%), maio (10,53%) e julho (12%). No mês de fevereiro,
ocorrem casos como o da idosa Judith (do dia 14/02/2013), segundo resumo da
matéria do jornal:

“Idosa é resgatada, após 5 dias trancada.”

Judith Hosken Souza, 79 anos, foi resgata por policiais que tiveram
que serrar um cadeado da casa. Segundo a idosa ela teria sido trancada pela
neta durante o carnaval, não sendo essa a primeira vez que ela sofre maus
tratos. Em uma das portas havia marcas de um banco de madeira que a neta
teria jogado contra a avó. Não havia comida no local, e Judith também não
havia tomado banho, pois precisa de ajuda para realizar algumas atividades.
Ontem a idosa teria sido alimentada por vizinhos que lhe deram de comer
pela grade. Ao ver a viatura da policia, a idosa começou a chorar.

Ela foi levada para dois abrigos de Vila Velha que não tinha ninguém
para recebê-la, e depois, para o Hospital Antonio Bezerra de Faria e
encaminhada para Hospital da Mulher.Segundo vizinhos a agressão estaria
acontecendo há 4 meses, desde que a neta de 21 anos teria ido morar na
casa da avó. A jovem ainda estaria usando o cartão da aposentadoria da
idosa. Vizinhos contam que já viram a namorada da neta beliscar Judith,
mandando ela entrar para casa.

Há um ano a filha da idosa morreu com um tiro na cabeça. Neste dia, a


neta de Judith foi ferida com seis facadas, uma namorada de 18 anos morreu
com um tiro na cabeça, e Rita que tentou interferir na briga das namoradas
também. (Resumo da reportagem de Ana Paula Mill)

Quadro 1 – Resumo jornal A Gazeta do dia 14/02/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Em 2013, fevereiro foi o mês de Carnaval, e ao contrário do que esperávamos – por


ser um mês de festividades como o de dezembro, por exemplo – e mesmo com 5
66

reportagens falando do mesmo idoso ( episódio Judith –Quadro 1), foi o mês que
mais se cometeu crimes, segundo esta pesquisa.

É importante lembrar que o mês de junho - que apareceu em quarto lugar (9,21%),
entre os meses que mais se cometeu violência contra este público, conforme
mostrado no gráfico 3 -no dia 15, é tido como o Dia Mundial de Conscientização da
Violência contra a Pessoa Idosa12. Neste dia, o jornal publicou um caso falando
sobre a violência contra o idoso e até citou atos públicos feitos para lembrar a data,
porém, este não parecia ser o foco principal da reportagem já que o título da
matéria, “Aposentado estupra idoso com microcefalia dentro de asilo” não
evidenciava que no final da matéria, este dia seria lembrado.

Em contrapartida, como apresentado na gráfico 1, os meses de agosto (2,63%) e


dezembro (1,32%) foram os meses que tiveram menor número de reportagens
catalogadas. Meses em que respectivamente, voltam as aulas e em que o mercado
volta-se para o Natal, ou seja, para o consumo. É interessante lembrar que no mês
de agosto é comemorado o dia dos avós, e em dezembro, o da família e da
Declaração dos Direitos Humanos.

Estas reportagens foram analisadas qualitativamente e dentre as características


observadas estava o tipo de violência que a matéria retratava, estando ela nítida ou
subentendida no texto do jornal.

3.2.2 As faces reveladas da violência

Os tipos de violência, foram classificados de acordo com Minayo (2005), que tipificou
a violência em: física, negligência, financeira, institucional, psicológica, abandono e
sexual. Os números encontrados foram:

12
Maiores informações no site: <http://www.nuppess.uff.br/index.php/15-de-junho-dia-mundial-de-
conscientizacao-da-violencia-contra-a-pessoa-idosa>. Acessado em Jul/2014.
67

Tipos de Violência Reportada


ABANDONO

SEXUAL

INSTITUCIONAL

INUSITADAS

NEGLIGÊNCIA Tipos de Violência Reportada

PSICOLOGICA

FINANCEIRA

FÍSICA

0.00% 10.00% 20.00% 30.00% 40.00%

Gráfico 4 – Distribuição de frequência dos tipos de violência reportada do ano de 2013, em uma
amostra de 75 reportagens do Jornal A Gazeta.
Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Como visualizado, a violência física, financeira e psicológica foram as que tiveram


um quantitativo maior de reportagens. Atentamos o leitor, porém, para o fato de que,
a violência psicológica, apesar de ter sido a terceira maior, acreditamos que os
números reais são ainda maiores. De acordo com Minayo, a violência psicológica
“corresponde a agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar os
idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio social”
(MIMAYO, 2005, p.15). Porém, na leitura das reportagens, este sentimento de
humilhação e terror conforme colocado pela autora, nem sempre estava expressado
na reportagem. Sendo assim, por mais assustador que parecesse ser o crime, se o
jornal não desse nenhum indício de como a vítima estava ou se comportou durante a
ocorrência da violência, nós não a consideramos como violência psicológica.

Mas em alguns casos, como o colocado abaixo, na reportagem do dia 08/11/2013,


está mais enfatizado o uso dela.

“Aposentado é rendido por ladrões em Itapoã.”

Aposentado de 72 anos foi vítima de dois assaltantes armados, em Vila


68

Velha, quando parava para estacionar seu Corolla. Os ladrões entraram no


veículo, obrigaram a vítima a entrar também. A mesma –a vitima- ficou sob a
mira de revólver durante assalto. Ele foi abandonado em Cariacica. Além do
carro, levaram também R$3 mil e o celular da vítima. A ocorrência foi
registrada em Vitória.

(Jornal não cita o autor)

Quadro 2 - Resumo jornal A Gazeta do dia 08/11/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Acredita-se que o fato de a vítima ficar sob a mira de um revólver causou para além
da violência financeira, a psicológica, conforme foi contabilizada.

Algumas reportagens foram colocadas na categoria “Inusitadas” (ou bizarras) por


não sabermos como classificá-las de uma forma melhor. A exemplo disso
recordamos a reportagem abaixo, do dia 07/05/2013, que tem como título “Rapaz
invade casa de idosas e suja tudo de sangue”, dando a entender que um tipo de
violência (a física), foi cometido contra as idosas, ou com alguém dentro da casa,
sendo que na verdade não foi o que aconteceu, e nenhum tipo foi de violência foi
considerada.

“Rapaz invade casa de idosas e suja tudo de sangue.”

Um homem transtornado invade casa de duas idosas. Ele quebrou o vidro da


janela, ensanguentado sujou o sofá, as paredes da casa, e pediu socorro a
idosa porque acreditava estar sendo perseguido, mas a idosa disse não ter
visto ninguém. A outra idosa desesperada tentou pular a janela, mas ele a
puxou e acabou sujando-a toda de sangue. Elas conseguiram sair de casa e
ele ficou dentro imóvel. As idosas falaram com vizinhos que acionaram a
polícia e o invasor foi levado para o hospital. Além de ter que limpar toda a
casa as idosas vão ter que pintar as paredes e trocar o vidro da janela.

(Jornal não cita o autor)

Quadro 3 - Resumo jornal A Gazeta do dia 07/05/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.
69

A reportagem que retratava o episódio de Judith (Quadro 1) apareceu cerca de 5


vezes : nos dias 14, 15, 16, 19 e 28 de fevereiro. Em cada data um dado novo foi
sendo liberado, trazendo de certa forma um acompanhamento do caso até o dia 28,
quando a investigação foi concluída.

O caso desta idosa deixou claro que uma mesma pessoa pode sofrer diversos tipos
de violência. Neste caso, houve a violência financeira, física, psicológica,
negligência, abandono e institucional. Sendo que para este último tipo de violência,
foi feita uma reportagem com o título “Idosa abandonada: feriado atrasa polícia”
onde o chefe da Polícia Civil admite que o que atrasou as investigações foi o feriado
de Carnaval, chamando a atenção para o fato de que a delegacia do idoso, por ser
especializada, tem funcionamento diferenciado e reduzido em relação às delegacias
não especializadas.

3.2.3 A violência cometida contra a Pessoa Idosa, de acordo com o sexo

Vítimas da Violência Reportada


AMBOS
1%

HOMENS
43%
MULHERES
56%

Gráfico 5 – Distribuição de frequência das vítimas da violência reportada do ano de 2013, em uma
amostra de 75 reportagens do Jornal A Gazeta.
Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Em relação ao sexo das vítimas de violência cometidas em 2013, nossas pesquisas,


apontam para o predomínio do segmento feminino.
70

Baseadas nas leituras feitas, em que se incluem a do IBGE 2013, identificamos que
a morte por causas externas, entre elas a violência, é maior entre o sexo masculino.
Porém, a nossa pesquisa, apontou para uma predominância da violência contra a
mulher idosa –que como colocado por Camarano (2002), vive mais, havendo uma
feminização da velhice. Esta diferença pode ser explicada por alguns fatores.

Em primeiro lugar, o fato de o sexo masculino ( de diversas idades) ser mais


suscetível à violência, decorre da sua maior exposição a fatores externos,
ocasionados inclusive, pelas necessidades decorrentes do trabalho, como
deslocamentos e outros fatores associados à vida ativa. Com a pessoa idosa, a
exposição é reduzida e o papel da mulher assume destaque no cuidado, na proteção
e até no fato de ficar mais tempo susceptível a sofrer violência por viver mais, por
ser mais quantitativamente e por ficar mais tempo – aí a situação se inverte – dentro
de casa, no suporte familiar.

3.2.4 Dados referentes ao quantitativo de agressores

Quantitativo de agressores
Mulheres idosas que cometeram violência

Homens idosos que cometeram violência

Instituições agressoras

Mulheres que cometeram violência

Homens que cometeram violência

Agressores não identificados

0.00% 10.00% 20.00% 30.00% 40.00% 50.00%

Quantitativo de agressores

Gráfico 6 – Distribuição de frequência do quantitativo dos agressores do ano de 2013, em uma


amostra de 75 reportagens do Jornal A Gazeta.
Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.
71

Em relação ao gráfico acima, é importante acrescentar que: os 2,6% de “homens


idosos que cometeram violência”, a cometeram contra pessoas de outro segmento
etário, e também contra pessoas idosas; os 2,6% das “mulheres idosas que
cometeram violência”, cometeram mais especificadamente um tipo de violência, que
foi a violência financeira (foram flagradas cometendo furtos). Os 4%de “ instituições
agressoras” refere-se a instituições como asilos, hospitais, postos policiais,
resultantes – ou não – da própria omissão do Estado.

Em relação ao número expressivo de 42,67% de “agressores não identificados” é


referente às reportagens que não identificaram os agressores, nomeando-os como:
inquilino, assaltante, bandido, criminoso, sequestrador, desconhecido ou em
investigação. Nestes casos, não identificamos o total real de agressores, pois na
reportagem não especificava o número de participantes da ação (falando de “um
grupo de criminosos”, por exemplo). Assim, ao quantificar, considerávamos apenas
como 1 (um) infrator. Em relação a isso, lembramos também que o sexo da pessoa
que cometeu a violência também não pode ser identificado. E, em relação a estas
observações, deixa-se claro que o total (em relação ao sexo e a quantitativo de
agressores) pode variar para mais.

3.2.5 A dimensão da violência

Em relação à dimensão das notícias, sua classificação foi feita segundo o aporte
teórico de Faleiros (2007), que as divide em sociopolítica, intrafamiliar e institucional.
Os dados encontrados foram:
72

Dimensão da Violência Reportada


INSTITUCIONAL
7,69%

INTRAFAMILIAR
15,38%

SOCIOPOLÍTICA
76,92%

Gráfico 7 – Distribuição de frequência da dimensão da violência reportada do ano de 2013, em uma


amostra de 75 reportagens do Jornal A Gazeta.
Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa no NEEAPI.

Das reportagens analisadas, dois casos que envolvem a dimensão intrafamiliar


chamaram a atenção pela barbaridade cometida pelos familiares, onde pode-se citar
novamente o caso de Srª Judith (Quadro 1), e dois casos abaixo

“Preso por esfaquear a própria mãe em Guaçuí.” (reportagem do dia


08/02/2013)

Homem de 39 anos foi preso em flagrante após esfaquear a própria


mãe de 69 anos. Ele pediu ajuda para tomar banho, por estar com o pé
machucado e, ao ter o pedido negado, pegou a faca e atingiu o abdômen da
idosa que foi transferida em estado grave para a Santa Casa de Cachoeiro.
(Jornal não cita o nome do autor)

Quadro 4 – Resumo do jornal A Gazeta do dia 08/02/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

“Idoso de 83 anos é agredido pela neta de 27” ( reportagem do dia


27/03/2013)

Aposentado de 83 anos, foi agredido pela neta de 27 anos, que é


professora. O idoso relata que o motivo da agressividade da neta é o fato
73

dela querer que o avô passe o apartamento dele para o nome dela. Segundo
ele, esta não era a primeira vez que a neta o agrediu.

Ao falar que ela havia entrado numa rua errada, ela começou agredir
segurando-o pela blusa, e ainda queria descer do carro para chutá-lo mas o
marido da outra neta não deixou. A neta agressora disse que só os levaria
para o destino se a gasolina e o almoço dela fossem pagos. Ela deixou o
cunhado, avo e a irmã no meio da estrada.

Na segunda, ela queria ir até a casa do irmão, onde o idoso estava,


para agredi-lo. O carro que ela anda é do idoso, mas ela não deixa ninguém
chegar perto. Uma filha do idoso, disse que ela deixa ele, que não enxerga
direito, sem comer. O aposentado disse que ela vive com ele desde os 13
anos, mas que ela não era violenta. Após a morte de sua esposa, ela se
tornou agressiva.

(Resumo da reportagem de Mayra Bandeira).

Quadro 5 – Resumo do jornal A Gazeta do dia 27/03/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

No caso do aposentado de 83 anos, por meio da reflexão de Gomes (2008) citado


no capítulo anterior, pode-se visualizar idosos que se tornam objeto de violência por
seus familiares, na tentativa de se apropriarem de seus recursos financeiros.

Nas matérias analisadas não foram encontrados altos índices de reportagens, onde
o agressor era o familiar da vítima idosa. Porém, sabe-se que o tempo de corte para
análise é pequeno para se colocar contra a afirmativa de Valadares e Souza, que diz
que “Noventa por cento dos casos de violência contra esse grupo ocorrem no interior
dos lares; 2/3 dos agressores são filhos homens, noras, genros e cônjuges, e há
uma forte associação nos casos em que o agressor físico e emocional usa drogas.”
(VALADARES; SOUZA, 2010, s.n.). Apesar de nossa pesquisa não concordar em
números com a afirmação de Valadares e Souza (2010) - pois a pesquisa apontou
para uma existência acentuada da violência sociopolítica - os agressores citados
pelos autores estiveram presentes em nossa pesquisa.
74

Em relação à dimensão institucional, os “agressores” identificados enquanto


instituições ou agentes nelas envolvidos foram: um posto policial, um gerente de
agência bancária que na ocasião negou empréstimo a uma idosa, asilo, e em casos
que foram considerados o Estado como agressor. No caso da Srª Judith (Quadro 1),
uma das reportagens mencionaram que as investigações foram atrasadas porque a
Delegacia do idoso funcionava em horário especial, como já mencionado acima.

Em relação ao caso do gerente que negou empréstimo a uma idosa, abre-se um


parêntese, para falar da peculiaridade deste caso publicado pelo jornal. Os bancos
geralmente não negam empréstimo para este segmento, que como apontado no
primeiro capítulo, vêem os idosos como fonte de recurso. Estes idosos geralmente,
são seduzidos a tomar empréstimo consignado a longo prazo comprometendo sua
renda e se endividando. Sobre isso, Gomes (2008) fala que “a possibilidade de
tomar empréstimos bancários tem atraído instituições financeiras que seduzem os
tomadores com promessa de suavidade de pagamento” (GOMES, 2008 p. 65).

Das reportagens que entraram na contagem para catalogação, é importante


salientar que nem todas citavam a idade. Porém, ao citar “idoso” automaticamente
considerávamos a idade reconhecida pelo Estatuto do Idoso.

Em relação aos dados de maneira geral, pode-se concluir que no ano de 2013, das
75 reportagens, observou-se uma violência que é maior no mês de fevereiro, que é
cometida principalmente por estranhos, sendo que os maiores tipos cometidos foram
a física, financeira e psicológica. Além disso, como colocado acima, constata-se que
os maiores agressores são do sexo masculino (sendo que dos 38,6% dos
agressores, apenas 2,6% são idosos), além de haver uma feminização da velhice há
uma feminização referente às vitimas de violência.

3.3 DAS REPORTAGENS NÃO CATALOGADAS

Durante a construção dos dados desta pesquisa, algumas reportagens classificadas


como “outros” foram retiradas da contagem, no geral, por avaliarmos que de alguma
forma não se encaixava dentro da nossa seleção. Por outro lado, entende-se que de
75

alguma forma estas reportagens poderiam contribuir para uma melhor análise e
compreensão deste meio de comunicação (jornal A Gazeta). Algumas serão
abordadas neste texto.

Dentro desta categoria, desconsideramos casos em que o idoso foi citado na


reportagem, porém, não causou, nem foi vítima da violência, sendo apenas
testemunha da ação; reportagens que falam de um “aposentado”, porém, não é
citada a idade, ou a idade mencionada está abaixo do que o Estatuto do Idoso
considera como idoso (igual ou acima dos 60 anos). Quatro reportagens com esta
característica foram encontradas. Em uma delas, a do dia 23/02/2013, a
“aposentada” tinha 59 anos. Ou seja, faltava apenas 1 (um) ano para ela ser
considerada idosa segundo o Estatuto.

“Garoto viciado em internet agride avó e cospe nela.”

Menino de 13 anos viciado em internet agride avó. Ele cuspiu e tentou


enforcar a aposentada de 59 anos, que por sinal, tem hematomas nos braços
pela força que o adolescente a segura. A agressividade começou há 3 anos
porém episódios mais violentos, se somados, dão cerca de 5 anos.

(Resumo da reportagem de Daniella Zanotti)

Quadro 6 – Resumo do jornal A Gazeta do dia 23/02/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Desconsideraram-se também reportagens em que o idoso não sofreu o atentado de


forma direta, mas que foi atingido violentamente e sofreu ao ver uma pessoa
próxima como um filho, por exemplo, sofrendo a violência. Casos como estes
podem-se observar nas duas reportagens abaixo:

“Mãe perde dois filhos em cinco meses” (reportagem do dia 25/05/2013)

Idosa de 64 anos, que há cinco meses perdeu seu filho usuário de drogas,
76

quando o mesmo se enforcou, teve outro filho também usuário de drogas,


morto de forma violenta.

(Jornal não cita o nome do autor)

Quadro 7 – Resumo do jornal A Gazeta do dia 25/05/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

“Corpo de homem achado na praia” (Reportagem do dia 25/01/2013)

Corpo de José Santos de 29 anos, foi encontrado na praia. A mãe dele


de 71 anos, Gidalva de Jesus Mota, disse que o filho já havia sido ameaçado
no bairro, segundo ela ele bebia muito.

(Jornal não cita o nome do autor)

Quadro 8 – Resumo do jornal A Gazeta do dia 25/01/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Apesar da forte tendência especulativa e por vezes acrítica das reportagens, não
entrou na nossa contagem, porém, chamou-nos atenção reportagens que apenas
destacavam a violência contra a pessoa idosa, sem porém, falar de um idoso
específico.

Uma reportagem em especial, mostrou certa preocupação por parte do jornal na


divulgação – e até denúncia- de um dado importante, como os números de casos de
agressão cometidos no Estado. Isto pode ser observado no resumo abaixo,da
reportagem do dia 16/01/2013:

“VIOLÊNCIA. AGRESSÃO A IDOSOS CRESCE 63% NO ESTADO”

Casos de violência contra idosos no Espírito Santo cresceram 63%. Foram


408 ocorrências contra 258 no ano anterior. Após a TV Globo, no fantástico,
77

indignar o país ao mostrar imagens de idosos agredidos, e entre elas, a de


uma idosa agredida pelas próprias cuidadoras. No mesmo período os casos
no Estado aumentaram muito, sendo que os números praticamente
triplicaram. Estas denúncias são praticamente a metade de todas as ligações
feita para o Disque 100. A cidade na lista de denúncias foi Vitória. Para o
presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas do ES, a
população ainda não está encorajada para denunciar, mas isso aos poucos
está mudando.

A prefeitura da Serra, conta com o SOS Idoso. Após denúncia, uma equipe
vai ao local, conversa com a família e com o idoso. A assistente social afirma
que as maiorias dos casos são por negligência.

(Resumo da reportagem de Elton Lyrio)

Quadro 9 – Resumo do jornal A Gazeta do dia 16/01/2013


Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

Sendo assim, dentro desta categoria “outros” - que não foram catalogadas-, das 9
reportagens colocadas nesta categoria: 2 falam dos idosos, 2 o idoso sofreu de
forma indireta, 1 o idoso é testemunha e 4 falam de um aposentado (de 59, 58 e 57
anos e 1 aposentado de idade não revelada). Neste sentido foi entendido que o
jornal fala deste segmento mais velho independentemente de seu protagonismo no
caso reportado.
78

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Intimamente relacionado com a dignidade humana. O acesso à informação


de qualidade atua positivamente na proteção e no desenvolvimento de toda
a coletividade, contribuindo para a realização de outros direitos, tais como o
direito a saúde, educação, moradia, etc. (OLIVEIRA, 2013, s.p.).

O caminho percorrido durante o trabalho até o resultado da presente pesquisa


trouxe várias inquietações. Esperava-se encontrar uma série de elementos não
constatados durante a análise.

Os dados da pesquisa demonstram que o maior número de casos de violência foi


cometido por desconhecidos, identificados nas matérias do jornal como: assaltantes,
bandidos e criminosos. Ao início da pesquisa após várias leituras sobre o tema,
constatamos que o maior número de casos de violência contra a pessoa idosa eram
cometidos por pessoas da família, ou seja, a violência intra-familiar, de acordo com
reflexões de Faleiros (2007). Os resultados nos apresentam os seguintes números:
76,92% cometidos por desconhecidos contra 15,38% cometido por familiares ou
pessoas que moravam junto.

Algumas questões devem ser ressaltadas como o número de vezes em que o


mesmo caso foi noticiado no jornal, como o caso da Dona Judith (uma das
reportagens apresentadas no capítulo anterior - Quadro 1 - 14/02/2013), que
apareceu 5 vezes no mesmo mês. O que teria de diferente no crime? O fato de a
agressora ser homossexual? Ou seria esta apenas coincidência? Entendeu-se que
este poderia sim ser um motivo para a multiplicidade de matérias contando sobre o
mesmo caso.

Ficou evidenciado durante a leitura do material que muitos tipos de violência


cometidos contra a pessoa idosa são comuns as demais faixas etárias. Como
constatado no caso do senhor Cleuber Valentim (ANEXO 1) atingido e morto por
uma bala perdida, e de uma aposentada que foi assaltada e agredida durante roubo
do seu carro (ANEXO 2). Deve-se considerar, no entanto, que o mesmo ato de
violência tem consequências diferentes de uma idade para a outra, por exemplo uma
agressão física como um empurrão. Entre uma pessoa jovem e uma idosa, o idoso
79

sentirá mais a agressão considerando a fragilidade maior do corpo deste último


(conforme mostrado em uma das reportagens).

Ficou claro na análise que o jornal nas matérias analisadas pouco se atenta a
informar sobre os direitos desses idosos. Não foi constatada nas notícias a presença
de informações que evidenciassem as leis de proteção a esses idosos como o
Estatuto do Idoso (2003). No ano em que o Estatuto do idoso completava 10 anos-
especificamente do dia 01 de outubro, mês que por sinal, não se encontrou
nenhuma reportagem que falasse da violência e ao mesmo tempo lembrasse que
este tipo de agressão infringia esta lei- nos assusta o quanto este é negado, omitido
e o número alto de violências cometido a este segmento.

Durante a construção do primeiro capítulo, reconhecer o lado dual do


envelhecimento e da mídia, nos ajudou a pensar muitas reportagens encontradas.
“Se em alguns bairros o socorro da polícia parecia chegar mais rápido, em outros
casos “ainda estavam em investigação” ou “os suspeitos continuavam sem
identificação”; se para alguns, o envelhecimento aparecia como uma fase da vida
como outra qualquer, para outros estava sendo um peso onde a independência
(física e financeira) já não existia; se em algumas reportagens, nome e sobrenome
da vítima apareciam, em outras, era colocado no lugar do nome, a descrição “idoso”
ou “aposentado”, e quando continuávamos lendo, aparecia a profissão (de
advogado, por exemplo, não necessariamente evidenciando a classe, mas como
alguém que sabe de seus direitos e que assim sabe que o sigilo pode ser mantido
de acordo com sua vontade).

Em nenhum momento conseguimos negar que esta mídia contribui para que a
informação de alguma forma chegue até seus usuários, inclusive, algumas
reportagens publicadas, até facilitavam a visualização do problema social. Não
consideramos que a pesquisa tenha sido capaz de dizer qual o objetivo deste meio
de comunicação. Entretanto, podemos afirmar que há uma ideologia, uma forma de
pensamento que se quer construir, e que caminha de acordo com as reflexões dos
autores citados no primeiro capítulo deste trabalho. Fica claro isso, quando vemos a
construção de um “sentimento” pela mídia, na população – como foi no caso da Srª
Judith - fazendo certa mobilização social ainda que de forma superficial em prol do
caso que foi repetido inúmeras vezes. A partir do estudo dos dados podemos
80

perceber que as informações que chegam aos leitores tem apenas polemizado de
forma acrítica os acontecimentos cotidianos.

Em nossa análise, fica evidente que apesar da contribuição que os meios de


comunicação trouxeram para a disseminação de informações de serviço à
sociedade, ainda não o visualizamos enquanto instrumento da classe trabalhadora.
O jornal analisado não promoveu incentivo a discussões e lutas sociais para a
pessoa idosa apesar de em seu discurso ressaltar a importância de servir a
sociedade.

Este jornal afirma servir a população e ao mesmo tempo garantir liderança, buscar a
transparência e ser isento e plural (sendo que em relação a quê não é explicado). E
ainda, de estimular a liberdade de expressão e fortalecer a democracia fazendo com
que as pessoas que têm acesso a suas reportagens formem suas próprias opiniões,
contribuindo ainda para a análise crítica da população. Apesar de concordamos que
alguma mobilização ou inquietação mínima são capazes de surgir com a leitura do
jornal, não acreditamos no caráter imparcial de suas informações, estando
embutidos nas matérias, valores que correspondente à classe dominante. Eles
informam, mas também “pretendem seduzir o conjunto dos cidadãos desvirtuando
ou ampliando sua linha editorial” (RAMONET, 2013, p. 54), estando acima de tudo a
afirmação de sua ideologia e interesses de mercado.

Sobre os questionamentos colocados na introdução deste trabalho reafirmamos: há


a ideologia de uma classe dominante que não busca mostrar a verdade/realidade
como um todo, nem tampouco o escancaramento dela, mas que também não rompe
com a mesma. A forma de expor um caso não direciona para uma crítica, e
dificilmente deixar claro o real posicionamento do autor do texto na reportagem
(apesar de termos achado a opinião/analise do próprio jornal em dois casos: uma
de São Paulo em que um especialista dava a opinião sobre um caso bárbaro que foi
divulgado, falando da violência e a impaciência nesta sociedade, e um outro caso ,
que retomava ao caso da Srª Judith que colocava o absurdo da delegacia funcionar
em horários especiais).

Entende-se que não foram publicados mais casos de violência, por não atrair
lucratividade - por não chamar tanta atenção da população. Em relação a isto
retornamos ao caso da Srª Judith. O que aconteceria se o jornal apenas falasse
81

dessa reportagem 1(uma) vez, sem dar tanta ênfase como eles e outros meios de
comunicação deram? Será que o leitor iria sentir a diferença ou gostar do “novo”
jornal que mostra “novas informações”? Ou ainda, para um jornal que pouco
acompanhou/deu resposta a determinados acontecimentos, porque não acompanhar
a conclusão do caso de todas as reportagens, ao invés de apenas acompanhar o
que lhe interessa?

Os jornais não estão dispostos a correr o risco de abaixar o índice de audiência com
“qualquer” novo acontecimento. Seleciona-se o que vai vender, e o que vende é
divulgado. E, assim, através do que foi escolhido para ser divulgado, a população
tem acesso.

Quanto a nossa pergunta de início: Como é retratado a violência contra o idoso no


jornal A Gazeta, no ano de 2013? Respondemos que esta violência, neste ano, foi
retratada de acordo com a forma de seletividade do jornal, correspondendo a uma
verdade “trabalhada” e “manipulada”, sem chamar a atenção para o grande
problema social que atinge de forma maior ou menor, todo segmento da sociedade.
De qualquer forma não se pode desconhecer a importância da matéria na
exposição, pelo jornal, de uma dura realidade, que mesmo com pretensões
mercantis, tem capilaridade e meios de penetrar no interior e na atualidade do fato.
A exposição, por si, mesmo com todos os vieses já comentados, é importante no
meio de tanta barbárie e do silêncio que ainda paira sobre o envelhecimento em
nossa sociedade.

Através dos estudos feitos, em especial após estudos da política nacional do idoso,
e os números de violência no ano de 2013 adquiridos através da pesquisa,
confirmamos a necessidade da criação de políticas voltadas para a violência contra
o idoso. A necessidade de políticas para o combate a uma violência que aparece
silenciada na sociedade, apesar dos números gritantes, constitui-se numa
necessidade premente e uma dívida inadiável em termos de proteção pública.

Na busca de maiores informações de como denunciar a violência contra a pessoa


idosa, notamos a dificuldade para chegar ao órgão realmente especializado nesta
área. Encontramos o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) e o ou o Disque
Denuncia 181. Ambos atendem diversos segmentos a sociedade entre eles o idoso,
mas que não é especifico do idoso. Especifico a ele temos a Delegacia de
82

Atendimento e Proteção às Pessoas Idosas13, que mesmo sendo especialmente


voltada a este público recebe críticas de ser ineficaz e de funcionar em dias e
horários especiais (como já citado no capítulo anterior, ao falarmos de uma
reportagem).

Apesar não estar disponível a todo o momento, percebemos que a delegacia do


idoso é a única indicada para denúncia de violência contra este público.
Constatamos isso através de uma experiência vivenciada durante a construção do
nosso trabalho, quando tivemos a oportunidade de presenciar um atendimento a
uma mulher idosa que, ao procurar a delegacia da mulher para prestar queixas
contra agressão do marido, foi encaminhada a comparecer a delegacia do idoso,
colocando a burocracia acima da necessidade de atendimento. Isto pode levar a
impunidade (em relação ao agressor) e até a uma possível reincidência de novos
atos. Em relação a isto ressaltamos a falta de um bom atendimento por parte do
profissional e a não articulação em redes dos atendimentos já existentes.

Em relação ao assistente social, este deve ter a preocupação de fortalecer as


conquistas sociais, de mobilização e socialização das informações e “não pode
deixar de atentar para o importante papel da comunicação na ampliação das
possibilidades que os sujeitos e atores sociais podem conquistar, quando bem
informados” (CORREIA, 2009, p. 365). Disto, percebemos a importância dos
conselhos, a exemplo o Conselho do Idoso, que é um importante espaço de debate
e de luta voltados para a defesa dos direitos deste público.

Referente ao papel do serviço social neste processo Paz, Melo; Soriano (2012)
evidenciam que:

Este tema não pode fugir aos olhos dos assistentes sociais, como principais
atores no processo de implementação de políticas públicas, dentre elas as
que abrangem a atenção e proteção à pessoa idosa, representadas no
projeto de pesquisa pelos programas de captação de denúncias de
violências praticadas contra a pessoa idosa (PAZ, MELO; SORIANO, 2012,
p. 80).

13
Delegacia do idoso: 3227 9545 - Endereço: Av. Nossa Senhora da Penha, 2290, Santa Luiza,
Vitória - ES CEP 29045-402.
83

Para além das lutas que garantem a integridade do idoso, é fundamental ressaltar
que ele está inserido numa conjuntura de banalização dos direitos de toda a
sociedade. Sofrendo com as inúmeras expressões da Questão Social, existentes
dentro de um sistema –capitalista- que é explorador e desigual.

Diante desta expropriação de direitos, julgamos ser necessário enfatizar os direitos


garantidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (que mesmo ilusório
pode ser vista como um mirante para profissionais que trabalham na busca de
direito) que afirma que “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade, e a segurança
pessoal” (ONU, 1948, artº 3 ), sem:

[...] distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política, ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza,
nascimento, ou qualquer outra condição (ORGANIZAÇÕES DAS NAÇÕES
UNIDAS,1948, artº 2).

Acreditamos que a divulgação desses direitos –e um possível despertar para lutar


por eles- podem ser facilitados com a divulgação possível através do bom uso da
mídia. É claro, que talvez ainda seja audacioso querer competir com os grandes
megablocos de comunicação existentes, porém, a chave para abertura de diversas
portas de informações pode ser distribuída nos pequenos espaços já existentes
dentro da sociedade.
84

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91

ANEXOS

ANEXO A - Caso do Senhor Cleuber Valentim

“Empresário morto próximo a posto policial” (Reportagem do dia


27/10/2013)

O empresário Cleuber Valentim da Silva, 70 anos, que tinha quatro filhos e


uma esposa, morreu após ser atingido por uma bala perdida a 100 metros do
posto policial, em Vila Velha. De acordo com testemunhas ele estava
tomando água de coco na esquina. Por volta de 10 horas, ele fez uma pausa
na verificação de seus imóveis, quando duas motos em alta velocidade (a
primeira com apenas um homem , que era perseguida por uma segunda
moto, com dois homens) que passaram disparando três tiros. Um dos tiros
atingiu Cleuber no peito. Ele foi socorrido por membros da Guarda de
Trânsito, porém, quando chegou ao hospital ele já estava morto. Moradores e
policiais ficaram abalados. A divisão de homicídios e Proteção à Pessoa
(DHPP) diz já esta recebendo denúncias.

Disputa entre traficantes pode ter causado morte

A família do empresário ficou transtornada. Eles acreditam que disputa entre


traficantes rivais pode ter resultado no homicídio. Um dos quatro filhos de
Cleuber Valentim a Silva disse que os bandidos estão cada vez mais
ousados não respeitando nem a polícia. O empresário morava em Itapoã,
mas ia todo dia visitar imóveis alugados. O velório acontece numa Igreja
Cristã Maranata, onde o empresário era obreiro.

(Resumo da reportagem de Rhayan Lemes)

Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.
92

ANEXO B – Aposentada assaltada e agredida

“Idosa é agredida e tem carro roubado em Santa Mônica” (Reportagem


do dia 19/07/2013)

Aposentada de 63 anos foi agredida por quatro assaltantes entre eles uma
mulher, quando chegava em casa com o carro após ir a uma farmácia. Dois
dos assaltantes estavam armados. Os bandidos ainda empurraram a idosa
que caiu e bateu com as costas em uma grade de bicicleta. Ela já tinha
problemas crônicos na coluna, e ainda ficou com dores fortes nas costas. No
carro havia celular, roupas, sapatos, sombrinha e jaquetas de couro. Esta é a
segunda vez que a aposentada tem carro roubado. Este último carro ela
comprou em julho do ano passado, e ainda tem 21 prestações para pagar.

(Jornal não cita o autor)

Fonte: dados construídos pelas pesquisadoras por meio de documentos de pesquisa do NEEAPI.

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