SC Cosit N 310-2017
SC Cosit N 310-2017
SC Cosit N 310-2017
Fls. 1
Coordenação-Geral de Tributação
1
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 2
Relatório
2
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 3
3
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 4
Fundamentos
12. O presente processo de consulta tem seu regramento básico estatuído nos arts.
46 a 53 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, e nos arts. 48 a 50 da Lei nº 9.430, de 27
de dezembro de 1996. Sua regulamentação deu-se por meio do Decreto nº 7.574, de 29 de
setembro de 2011.
13. No âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) a matéria é
normatizada pela IN RFB nº 1.396, de 16 de setembro de 2013.
14. Satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos na IN RFB nº 1.396, de
2013, a presente consulta deve ser solucionada, exceto em relação à questão “e”, cuja
formulação carece de elementos necessários à sua resposta.
14.1. Falta à referida questão, com efeito, tanto a indicação de algumas informações
necessárias ao seu esclarecimento, quanto a especificação do dispositivo legal que a suscitou.
Deficiências de instrução dessa ordem configuram a hipótese de ineficácia prevista no inciso II
do art. 18 da IN RFB nº 1.396, de 2013, nos termos do qual não produz efeitos a consulta
formulada “em tese, com referência a fato genérico, ou, ainda, que não identifique o
dispositivo da legislação tributária e aduaneira sobre cuja aplicação haja dúvida”.
15. No que pertine à questão “g”, embora a indagação careça de esclarecimentos
adicionais para sua resolução, contém afirmação por parte do consulente, de que realiza ou
pode vir a realizar despesas com referido tipo de royalty, em relação a produto que ainda não
tenha sido vendido. A partir dessa situação, busca saber o critério contábil e fiscal que deve
usar para reconhecer o pagamento do dispêndio. Nesse contexto, cumpre destacar que o
tratamento para fins contábeis deve se submeter a normas situadas nessa seara normativa. Em
consequência, a presente análise se restringirá ao tratamento dos gastos ali indicados, à luz das
regras próprias da esfera tributária, visando à definição de seus efeitos fiscais.
16. A respeito do tratamento tributário relativo aos gastos com royalties, dispõe o
Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR/99), aprovado pelo Decreto nº 3.000, de 26 de
março de 1999:
4
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 5
Royalties
Art. 352. A dedução de despesas com royalties será admitida quando necessárias
para que o contribuinte mantenha a posse, uso ou fruição do bem ou direito que
produz o rendimento (Lei nº 4.506, de 1964, art. 71).
Art. 353. Não são dedutíveis (Lei nº 4.506, de 1964, art. 71, parágrafo único):
I - os royalties pagos a sócios, pessoas físicas ou jurídicas, ou dirigentes de
empresas, e a seus parentes ou dependentes;
II - as importâncias pagas a terceiros para adquirir os direitos de uso de um bem
ou direito e os pagamentos para extensão ou modificação do contrato, que
constituirão aplicação de capital amortizável durante o prazo do contrato;
III - os royalties pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de
fabricação, ou pelo uso de marcas de indústria ou de comércio, quando:
a) pagos pela filial no Brasil de empresa com sede no exterior, em benefício de
sua matriz;
b) pagos pela sociedade com sede no Brasil a pessoa com domicílio no exterior
que mantenha, direta ou indiretamente, controle do seu capital com direito a voto,
observado o disposto no parágrafo único;
IV - os royalties pelo uso de patentes de invenção, processos e fórmulas de
fabricação pagos ou creditados a beneficiário domiciliado no exterior:
a) que não sejam objeto de contrato registrado no Banco Central do Brasil; ou
b) cujos montantes excedam aos limites periodicamente fixados pelo Ministro de
Estado da Fazenda para cada grupo de atividades ou produtos, segundo o grau de
sua essencialidade, e em conformidade com a legislação específica sobre
remessas de valores para o exterior;
V - os royalties pelo uso de marcas de indústria e comércio pagos ou creditados a
beneficiário domiciliado no exterior:
a) que não sejam objeto de contrato registrado no Banco Central do Brasil; ou
b) cujos montantes excedam aos limites periodicamente fixados pelo Ministro de
Estado da Fazenda para cada grupo de atividades ou produtos, segundo o grau da
sua essencialidade e em conformidade com a legislação específica sobre remessas
de valores para o exterior.
Parágrafo único. O disposto na alínea "b" do inciso III deste artigo não se aplica
às despesas decorrentes de contratos que, posteriormente a 31 de dezembro de
1991, sejam averbados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI e
registrados no Banco Central do Brasil, observados os limites e condições
estabelecidos pela legislação em vigor (Lei nº 8.383, de 1991, art. 50).
(Grifos não constam do original)
17. O art. 352 do RIR/1999 prevê a dedutibilidade dos gastos com royalties, para
fins de apuração do lucro real, quando atendidos os requisitos para admissão como despesas
operacionais. A par disso, também são apresentadas hipóteses específicas de indedutibilidade
dessa espécie de despesa, no artigo 353 do RIR/1999.
18. No que se aplica ao caso narrado, verifica-se que o inciso I do citado artigo veda
a dedução de pagamentos de royalties a sócios. Por seu turno, o inciso III prevê casos
específicos de indedutibilidade para as espécies de royalties concernentes ao uso de patentes de
invenção, processos e fórmulas de fabricação, ou pelo uso de marcas de indústria ou de
comércio.
5
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 6
21. Cabe-nos observar ainda que, apesar de a IN RFB nº 1.700, de 2017, ter
adquirido vigência após a data de protocolo da consulta, aquela é plenamente aplicável ao caso
posto pela consulente. No que diz respeito à natureza jurídica das instruções normativas, estas
são atos que têm por função complementar e normatizar a legislação tributária, enquadrando-se
6
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 7
no art. 100, inciso I do Código Tributário Nacional, Lei nº 5.172, de 1966. Têm, também, esses
atos, natureza interpretativa, explicitando o sentido e alcance dos atos legais.
22. Entende-se, assim, que o valor pago a título de royalties pela exploração de
processos de fabricação é dedutível para fins de apuração do resultado ajustado se configurado
como despesa necessária à atividade da empresa, não se subordinando aos limites estabelecidos
pela legislação do Imposto sobre a Renda.
23. No tocante às perguntas sobre o tratamento das despesas relativas à “assistência
técnica, científica e administrativa”, cumpre analisar as disposições a seguir do RIR/1999:
7
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 8
Art. 355. As somas das quantias devidas a título de royalties pela exploração de
patentes de invenção ou uso de marcas de indústria ou de comércio, e por
assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante, poderão ser
deduzidas como despesas operacionais até o limite máximo de cinco por cento da
receita líquida das vendas do produto fabricado ou vendido (art. 280), ressalvado
o disposto nos arts. 501 e 504, inciso V (Lei nº 3.470, de 1958, art. 74, e Lei nº
4.131, de 1962, art. 12, e Decreto-Lei nº 1.730, de 1979, art. 6º).
§ 1º Serão estabelecidos e revistos periodicamente, mediante ato do Ministro de
Estado da Fazenda, os coeficientes percentuais admitidos para as deduções a que
se refere este artigo, considerados os tipos de produção ou atividades reunidos em
grupos, segundo o grau de essencialidade (Lei nº 4.131, de 1962, art. 12, § 1º).
§ 2º Não são dedutíveis as quantias devidas a título de royalties pela exploração
de patentes de invenção ou uso de marcas de indústria e de comércio, e por
assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante, que não satisfizerem
às condições previstas neste Decreto ou excederem aos limites referidos neste
artigo, as quais serão consideradas como lucros distribuídos (Lei nº 4.131, de
1962, arts. 12 e 13).
§ 3º A dedutibilidade das importâncias pagas ou creditadas pelas pessoas
jurídicas, a título de aluguéis ou royalties pela exploração ou cessão de patentes
ou pelo uso ou cessão de marcas, bem como a título de remuneração que envolva
transferência de tecnologia (assistência técnica, científica, administrativa ou
semelhantes, projetos ou serviços técnicos especializados) somente será admitida
a partir da averbação do respectivo ato ou contrato no Instituto Nacional da
Propriedade Industrial - INPI, obedecidos o prazo e as condições da averbação e,
ainda, as demais prescrições pertinentes, na forma da Lei nº 9.279, de 14 de maio
de 1996.
(Grifos não constam do original)
28. Nos termos normatizados, o montante objeto da limitação corresponde à soma
das quantias devidas a título de royalties pela exploração de patentes de invenção ou uso de
marcas de indústria ou de comércio, e por assistência técnica, científica, administrativa ou
semelhante. Nessa soma, as categorias de despesas devem ser consideradas englobadamente,
no que diz respeito ao IRPJ, inadmitindo-se o uso do percentual de forma separada entre as
espécies tratadas. Entretanto, cumpre repisar a indedutibilidade relativa aos royalties, para fins
de apuração do lucro real, no presente caso, conforme explanado no item 19 acima.
8
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 9
29. O limite percentual previsto no art. 355 do RIR/1999 - cinco por cento -,
constitui parâmetro genérico máximo, cabendo ainda a definição mais específica por meio de
ato do Ministro de Estado da Fazenda. Tal percentual é aplicado sobre o valor da receita
líquida das vendas do produto fabricado ou vendido, conforme a maneira pactuada para a dita
remuneração, em consonância com as regras previstas na Portaria nº 436, de 30 de dezembro
de 1958, do Ministro da Fazenda, baseada na Lei nº 3.470, de 28 de novembro de 1958.
30. Entretanto, dos dispositivos legais destacados anteriormente, erige uma questão
associada à atividade econômica da empresa, a qual indica como sua principal atividade na
CNAE a fabricação de artefatos de borracha, e informa que dentre os produtos fabricados
constam autopeças (linha de fabricação de autopeças). Só que a Portaria MF nº 436 de 30 de
dezembro de 1958, estabeleceu os seguintes limites máximos de dedução da receita líquida das
vendas do produto fabricado ou vendido decorrente de operações com emprego do novo
processo produtivo, integrado das novas tecnologias, como despesas operacionais decorrentes
de gastos a título de royalties pela exploração de patentes de invenção ou uso de marcas de
indústria ou de comércio, e por assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante:
a) até 5% para atividade de fabricação de autopeças; e
b) até 2% para atividade de fabricação de artefatos de borracha.
30.1. Cabe ao consulente segregar as receitas líquidas das vendas de cada tipo de
produto fabricado ou vendido decorrente de operações com emprego do novo processo
produtivo, integrado das novas tecnologias, como despesas operacionais decorrentes de gastos
a título de royalties pela exploração de patentes de invenção ou uso de marcas de indústria ou
de comércio, e por assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante.
31. Esse montante contempla tanto a receita relativa a vendas efetivas, como a
correspondente ao preço de venda dos estoques de produtos fabricados e não vendidos. Caso o
valor de royalties devidos seja determinado com base em produtos fabricados, deverá ser
adicionado o valor da receita líquida dos produtos não vendidos, com base no último preço de
fatura, e excluído o valor que tiver sido adicionado no ano anterior, por essa mesma forma, nos
termos da Portaria MF nº 436, de 1958.
32. Observa-se que a receita líquida corresponde à definição estabelecida no § 1º do
art. 12 do Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, a partir da receita bruta:
Decreto-Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977
Art. 12. A receita bruta compreende:
I - o produto da venda de bens nas operações de conta própria;
II - o preço da prestação de serviços em geral;
III - o resultado auferido nas operações de conta alheia; e
IV - as receitas da atividade ou objeto principal da pessoa jurídica não
compreendidas nos incisos I a III.
§ 1º A receita líquida será a receita bruta diminuída de:
I - devoluções e vendas canceladas;
II - descontos concedidos incondicionalmente;
III - tributos sobre ela incidentes; e
IV - valores decorrentes do ajuste a valor presente, de que trata o inciso VIII do
caput do art. 183 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, das operações
vinculadas à receita bruta.
9
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 10
(...)
§ 4º Na receita bruta não se incluem os tributos não cumulativos cobrados,
destacadamente, do comprador ou contratante pelo vendedor dos bens ou pelo
prestador dos serviços na condição de mero depositário. (Incluído pela Lei nº
12.973, de 2014)
§ 5º Na receita bruta incluem-se os tributos sobre ela incidentes e os valores
decorrentes do ajuste a valor presente, de que trata o inciso VIII do caput do art.
183 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, das operações previstas no
caput, observado o disposto no § 4º. (Incluído pela Lei nº 12.973, de 2014)
(Grifo não consta do original)
33. Outro questionamento acerca das despesas com “assistência técnica, científica e
administrativa”, diz respeito à composição do valor a ser computado como tal, em especial, se
a expressão "a soma das quantias devidas", "envolverá os desembolsos tributários inerentes a
esta obrigação, ou limitará ao valor enviado ao exterior e previsto no contrato de câmbio."
34. Esse questionamento carece de detalhes que permitam a identificação da dúvida
específica, em especial sobre os desembolsos tributários mencionados. De todo modo,
inobstante a ausência de detalhes, pode-se registrar que o valor a ser considerado para fins de
análise da dedutibilidade corresponde ao que deva ser contabilizado a débito de despesa da
pessoa jurídica pagadora, equivalendo ao valor bruto a ser atribuído ao beneficiário, sem
cômputo de qualquer espécie de dedução de valores a serem descontados da remuneração, ou
seja, “a soma das quantias devidas” corresponde ao valor total do rendimento pago ou
creditado.
37. De acordo com este artigo, as despesas necessárias à atividade da empresa serão
dedutíveis na apuração do resultado ajustado. E, conforme explicado no item 20, o Anexo I –
Tabela de Adições ao Lucro Líquido da IN RFB nº 1.700, de 2014, em seu item 99, não impõe
limite de dedutibilidade de valor pago a título de assistência técnica, científica, administrativa
ou semelhante no tocante à CSLL.
10
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 11
Conclusão
40. Com base no exposto, cumpre responder da forma seguinte às questões versadas
na consulta:
Questão “a”
40.1 Os valores pagos a sócia pessoa jurídica, a título de royalties, são indedutíveis
na apuração do lucro real e dedutíveis, para fins de apuração do resultado ajustado, quando se
constituírem despesa necessária à atividade da entidade.
Questão “b”
40.2 As importâncias pagas a pessoas jurídicas domiciliadas no exterior a título de
assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante podem ser deduzidas como
despesas operacionais, na apuração do lucro real, observados os limites previstos na legislação,
e do resultado ajustado. Para fins de dedução da base de cálculo da CSLL as importâncias
pagas devem ser caracterizar como despesa necessária à atividade da entidade.
Questão “c”
40.3 Sim, para fins de apuração do lucro real. As quantias devidas a título de
royalties relativos a processos de fabricação, e por assistência técnica, científica, administrativa
ou semelhante, devem ser consideradas em conformidade com as seguintes descrições na
Portaria nº 436, de 1958: 1º GRUPO - INDÚSTRIAS DE BASE TIPOS DE PRODUÇÃO:
a) item 5 - MATERIAL DE TRANSPORTES - Autopeças 5% da receita líquida
das vendas do produto; e
b) item 11 - ARTEFATOS DE BORRACHA E MATÉRIA PLÁSTICA 2 % da
receita líquida das vendas do produto.
40.3.1. Obedecidos os limites individuais assinalados nas letras “a” e “b”, pela sua soma, ou
seja, de forma englobada, poderão ser deduzidas como despesas operacionais até o limite
máximo de cinco por cento da receita líquida das vendas do produto fabricado ou vendido,
desde que os royalties relativos a processos de fabricação referidos não sejam pagos a sócia
pessoa jurídica, hipótese demonstrada no caso em análise. Caso o valor de royalties e de
assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante seja determinado com base em
produtos fabricados, deverá ser adicionado o valor da receita líquida dos produtos não
vendidos, com base no último preço de fatura, e excluído o valor que tiver sido adicionado no
ano anterior, por essa mesma forma, consoante prevê a Portaria MF nº 436, de 1958
Questão “d”
40.4 Para aferição da “soma das quantias devidas”, de que trata o art. 355 do
RIR/1999, considera-se o valor que deva ser contabilizado a débito de despesa da pessoa
jurídica pagadora, equivalendo ao valor bruto a ser atribuído ao beneficiário, sem cômputo de
11
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 12
À consideração superior.
Assinado digitalmente
JANSEN DE LIMA BRITO
Auditor-Fiscal da RFB
De acordo. Encaminhe-se à Coordenadora da Cotir.
12
Solução de Consulta n.º 310 Cosit
Fls. 13
Assinado digitalmente
ALDENIR BRAGA CHRISTO
Auditor-Fiscal da RFB
Chefe da Disit02
De acordo. Ao Coordenador-Geral da Cosit para aprovação.
Assinado digitalmente
CLÁUDIA LUCIA PIMENTEL MARTINS DA SILVA
Auditora-Fiscal da RFB
Coordenadora da Cotir
Ordem de Intimação
Assinado digitalmente
FERNANDO MOMBELLI
Auditor-Fiscal da RFB - Coordenador-Geral da Cosit
13